At Pentateuco e Históricos (Apostila 1)

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Antigo Testamento: Pentateuco e Livros Históricos.

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DIOCESE DE ESTNCIA/SE FORANIA DE ESTNCIA

INSTITUTO DE TEOLOGIA BEATO JOO XXIII

BBLIA I (Pentateuco e Livros Histricos)

Pe. Fagner Santos de Oliveira

DIOCESE DE ESTNCIA/SE FORANIA DE ESTNCIA

INSTITUTO DE TEOLOGIA BEATO JOO XXIIICurso: Teologia

Disciplina: Bblia I (Pentateuco e Livros Histricos)

Docente: Pe. Fagner Santos de Oliveira(Discente:Perodo curricular: 2013/1PLANO DE ESTUDOAulas 1 e 2 (09 de maro): Introduo geral (esquema do Antigo e do Novo Testamento; abreviaturas bblicas) (apostila)Aulas 3 e 4 (09 de maro): Introduo geral (termos bblicos) (apostila)Aulas 5 e 6 (23 de maro): Histria do povo de Deus (cenrio internacional; e histria do povo de Israel); e escrita do Antigo Testamento (fase das tradies quase s orais; Reino Unido ou Monarquia; Reino de Israel ou do Norte; Reino de Jud ou do Sul; Exlio na Babilnia; depois do Exlio) (slide) (vdeo A criao do Universo, 9min)Aulas 7 e 8 (20 de abril): O Pentateuco (etimologia; os nomes dos livros; sees mais importantes; principais dificuldades; teorias de sua composio) (slide) (vdeos: As pragas do Egito I, 7min)Aulas 9 e 10 (20 de abril): Exegese de Gn 1-11 (1 parte) (o hexameron; e, as origens do mundo e do homem) (texto) (vdeos: As pragas do Egito II, 8min)Aulas 11 e 12 (27 de abril): Exegese de Gn 1-11 (2 parte) (a queda original; e, Caim e Abel) (texto) (vdeo A arca de No, 9min)Aulas 13 e 14 (27 de abril): Exegese de Gn 1-11 (3 parte) (o dilvio bblico; e, os setenta povos, Babel) (texto) (vdeo A torre de Babel, 20min)Aulas 15 e 16 (18 de maio): Livros Histricos ou Livros da Tradio Proftica Oral (1 parte): Josu; Juzes; Rute; 1-2 Samuel; e 1-2 Reis (slide) (vdeo O milagres de Moiss no Mar Vermelho, 20min)Aulas 17 e 18 (25 de maio): Livros Histricos ou Livros da Tradio Proftica Oral (2 parte): Obra do cronista (1-2 Crnicas, Esdras e Neemias); Tobias; Judite, Ester; 1-2 Macabeus (slide) (vdeo Os Dez mandamentos de Moiss, 20min)

Aulas 19 e 20 (15 de junho): Avaliao (objetiva; 20 questes; com consulta)

Secretaria (22 de junho): Entrega das notas e concluso da disciplina( Pe. Fagner Santos de Oliveira, nascido aos 18 de Fevereiro de 1985, natural de Lagarto/SE, e pertence ao clero da Diocese de Estncia, SE. licenciado em Filosofia pelo Instituto de Filosofia e Teologia Santo Alberto Magno, de Unio da Vitria/PR (2006), e tambm licenciado em Filosofia pela PUC-Anpolis/GO (2013); bacharel em Teologia pelo Instituto de Filosofia e Teologia Santo Alberto Magno, de Unio da Vitria/PR (2009), e tambm bacharel em Teologia pela Pontifcia Universidade Catlica do Paran, em Curitiba/PR (2010); ps-graduado em Filosofia pelas Faculdades Integradas de Jacarepagu/RJ (2012); e, possui licenciatura plena em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe (2013). Ordenado Sacerdote aos 23 de Abril de 2010, foi vigrio da Parquia de N. Sra. da Guia (em 2010). Atualmente o reitor do Seminrio Propedutico N. Sra. de Guadalupe (desde 2010), vigrio da Parquia N. Sra. de Guadalupe, Catedral de Estncia (desde 2011), promotor vocacional diocesano (a partir de 2012) e diretor do Instituto de Teologia Beato Joo XXIII, da Forania de Estncia (a partir de 2012). Lecionou a disciplina de Atos, Cartas Paulinas e Catlicas, no Curso de Teologia de Leigos da Diocese de Unio da Vitria/PR, em 2009; a disciplina de Introduo Bblia no Curso de Teologia para Leigos da Parquia de N. Sra. da Guia, em Umbaba/SE, no ano de 2010; a disciplina de Introduo Bblia nos Cursos de Escola da F da Parquia de Senhora SantAna, em Boquim/SE e da Parquia de Santa Luzia, em Santa Luzia do Itanhi, no ano de 2011; a disciplina de Bblia I (AT: Pentateuco e Livros Histricos) na Escola Teolgica Beato Joo XXIII, da forania de Estncia, em 2012; e titular da disciplina de Introduo Bblia no Seminrio Propedutico N. Sra. de Guadalupe, em Estncia/SE, desde 2010; e das disciplinas Bblia I (AT: Pentateuco e Livros Histricos), Bblia II (AT: Escritos Sapienciais e Profticos), Bblia III (NT: Evangelhos Sinticos e Atos dos Apstolos) e Bblia V (NT: Cartas Paulinas) no Instituto de Teologia Beato Joo XXIII, da forania de Estncia, em Estncia, a partir de 2012. (Email: [email protected])Parte I - INTRODUO GERAL

Viso esquemtica

1 Esquema do Antigo Testamento

2 Esquema do Novo Testamento

3 Abreviaturas bblicas

4 Termos bblicos

Parte I - INTRODUO GERAL

CONTEDO

I - ESQUEMA DO ANTIGO TESTAMENTO:1) AT (composio): ___________________________________________________ 46 livros:

1) Pentateuco (Gn, Ex, Lv, Nm e Dt) _________________________________ 5 livros

2) Livros histricos (Js, Jz, Rt, 1 e 2 Sm, 1 e 2 Cr, 1 e 2 Re, Esd, Ne, Tb, Jd, Est, 1 e 2 Mac) _____________________________________________________________________ 18 livros

3) Livros Sapienciais ou poticos (J, Sl, Prov, Ecle, Ct, Sb, Eclo) _________ 7 livros

4) Livros Profticos (Is, Jr, Lm, Br, Ez, Dn, Os, Jl, Am, Ab, Jn, Mq, Na, Hab, Sf, Ag, Zc, Ml) _____________________________________________________________________ 16 livrosII - ESQUEMA DO NOVO TESTAMENTO:1) NT (composio): ____________________________________________________ 27 livros:

1) Sinticos (Mt, Mc e Lc): _________________________________________ 3 livros;

2) Ev. de Jo _____________________________________________________ 1 livro;

3) Atos (Lc) _____________________________________________________ 1 livro;

4) Cartas Paulinas ________________________________________________ 14 livros:

a) Diviso (de Harrington): critrio do contedo teolgico:

1) 1 (e 2)Ts ________________________________________________ 2 livros;

2) As grandes epstolas (Gl, 1Cor, 2Cor e Rm) ____________________ 4 livros;

3) As Epstolas do Cativeiro (Fl, Fm, Cl e Ef) _____________________ 4 livros;

( Porque falam de Paulo na priso;

4) As Epstolas Pastorais (1Tm, Tt e 2Tm) ________________________ 3 livros;

( Porque so destinadas a chefes de Igrejas;

5) Hebreus _________________________________________________ 1 livro.

b) Outra diviso (de Fabris): critrio das informaes (destinatrios, lugar, data, etc):

1) Epstolas Autnticas de Paulo (= Protopaulinas): escritas ou ditadas por Paulo (so sete):

1) 1Ts _____________________ (50-51);

2) 1Cor ____________________ (53-54);

3) Fl ______________________ (54-55);

4) Fm _____________________ (54-55);

5) 2Cor ____________________ (55-56);

6) Gl ______________________ (56-57);

7) Rm _____________________ (57-58).

2) Hebreus ______________________ (67-75).

3) Epstolas da Tradio Paulina (= Deuteropaulinas): escritas aps a morte de Paulo (5-67 d.C.) por discpulos da sua tradio; so seis:

1) 2Ts _____________________ (75-82);

2) Cl ______________________ (82-84);

3) Ef ______________________ (84-85);

4) 1Tm ____________________ (85-87);

5) Tt ______________________ (87-90);

6) 2Tm ____________________ (90-92).

5) Epstolas Catlicas (Tg, 1Pd, Jd, 2Pd, 1Jo e 2-3Jo) ___________________ 7 livros.

( Porque so destinadas a cristos em geral (e no a comunidades em particular);

6) Apocalipse (Jo) ________________________________________________ 1 livro.III ABREVIATURAS BBLICAS:

a) A vrgula (,): separa captulo de versculo;

b) O ponto e vrgula (;): separa captulos e livros;

c) O ponto (.): separa versculo de versculo, quando no seguidos;

d) O hfen (-): indica sequncia de captulos ou de versculos;

e) As letras (s) ou (ss): versculo seguinte ou versculos seguintes;f) As letras (a), (b) ou (c): primeira, segunda ou terceira parte de um versculo.

IV - TERMOS BBLICOS:1) INSPIRAO BBLICA:

1) No inspirao no sentido usual da palavra, pois no ditado mecnico nem comunicao de idias que o homem ignorava.

2) Inspirao bblica a iluminao da mente de um escritor para que, sob a luz de Deus, possa escrever, com as noes religiosas e profanas que possui, um livro portador de autntica mensagem divina ou um livro que transmite fielmente o pensamento de Deus revestido de linguajar humano.

3) A finalidade da inspirao bblica religiosa, e no da ordem das cincias naturais.

4) Toda a Bblia inspirada de ponta a ponta, em qualquer de suas partes.

5) Certas passagens bblicas, alm de inspiradas, so tambm portadoras de revelao ou da comunicao de doutrinas que o autor sagrado no conhecia atravs da sua cultura: Deus Pai e Filho e Esprito Santo; mandou-nos o Filho como Redentor; etc.2) REVELAO:

1) A Bblia nos d a saber que Deus falou aos homens comunicando-lhes o mistrio da sua vida trinitria e o seu desgnio de salvao, centrado em Cristo Jesus. Nunca os homens chegariam por si a conhecer tais verdades. Por isto o Cristianismo religio revelada.

2) A Bblia contm a revelao de Deus aos homens, mas nem todas as pginas da Bblia, embora inspiradas, so portadoras de revelao divina. Ex.: Is 7,14 profetiza que uma virgem conceberia e daria luz um filho (= por efeito de dois carismas: o da revelao e o da inspirao); Mt 1,20-23 e Lc 1,26-38 dizem que a virgem concebeu e deu luz um filho (= por efeito unicamente da inspirao).

3) Toda profecia efeito (fruto) da revelao divina.

3) CNON:

1) Do grego kann, canio. Significa: medida, rgua.

2) Metaforicamente designa regra ou norma de vida (cf. Gl 6,16).

3) Os antigos falavam do cnon da f ou da verdade, para designar a doutrina revelada por Deus, que era critrio para julgar qualquer doutrina humana e para nortear a vida dos cristos.

4) Cnon significava tambm catlogo, tabela, registro. Aqui os cristos passaram a falar do cnon bblico (= catlogo dos livros bblicos).

5) Temos trs tipos de cnones:

1) Cnon Judaico: o cnon da Bblia hebraica foi fixado em Jmnia, no final do primeiro sculo de nossa era. Conta ao todo 22 livros divididos em Lei, Profetas e Escritos. Houve hesitaes sobre o Cntico e Ester;

2) Cnon Helenstico: os compiladores dos Setenta acrescentaram aos livros judaicos os Deuterocannicos, cuja lista autorizada s existe no meio cristo. Foram rejeitados pelas Igrejas da Reforma;

3) Cnon Cristo (Cnon do NT):1) A coleo dos livros do NT como livros sagrados teve sua origem com a conservao dos escritos pelos apstolos.

2) Desde o sc. I j temos o comeo dessa coleo. Citaes (implcitas) dos escritos do NT eram encontradas nos escritos de Clemente de Roma (+ 100), Incio de Antioquia (+ 107), Policarpo de Esmirna (+ 156), no Pastor de Hermas (em Roma, entre os anos 140-155) e na annima Didach Apostolorum (Doutrina dos Apstolos), escrita entre 80-100 na Sria ou na Palestina.

3) Depois de 150, o NT citado como Escritura, ou seja, como livro.

4) O mais antigo cnone do NT devido a cristos herticos, no a cristos ortodoxos.

5) Marcio (por volta de 150) rejeitou todo o AT; do NT, aceitou apenas Lc, Rm, 1-2Cor, Gl, Ef, Cl, 1-2Ts, Fl e Fm.

6) Isto apressou a definio de um cnone ortodoxo, que aparece pela primeira vez no Fragmento de Muratori, escrito por volta de 200. Este omite Hb, Tg e 1-2Pd.

7) Nunca tivemos dvidas consistentes sobre o cnone do NT.

8) Restaram dvidas pessoais e locais sobre alguns livros, especialmente no Oriente, as quais perduraram at os sculos V e VI. Tais livros eram Hb, Tg, 2Pd, 2-3Jo, Jd e Ap.

9) Motivos destas dvidas: Hb e 2Pd, as diferenas de estilo entre essas obras e, respectivamente, as obras de Paulo e 1Pd; Tg e Jd, algumas questes doutrinais que pareciam suspeitas; 2-3Jo, uma temtica que parecia muito comum; Ap, o seu estilo e sua obscuridade.

10) Depois disso o cnone tradicional foi aceito at o sc. XVI. Erasmo e Gaetano fizeram renascer antigas dvidas. Lutero e alguns outros reformadores alemes rejeitaram Jd, Hb, Tg e Ap: conhecida a objeo de Lutero a Tg, que ensina que a f sem as obras morta.

11) As outras Igrejas reformadas no colocaram em discusso o cnone e at mesmo os luteranos retornaram ao cnone tradicional no sc. XVII.

12) Na sesso de 8 de abril de 1546, o Conclio de Trento definiu o seguinte cnone do NT: os quatro evangelhos Mt, Mc, Lc e Jo , os At escritos por Lc, as catorze epstolas de Paulo isto , Rm, 1-2Cor, Gl, Ef, Fl, Cl, 1-2Ts, 1-2Tm, Tt, Fm, Hb , 1-2Pd, 1-2-3Jo, Tg, Jd e Ap de Joo Apstolo.

4) CANONICIDADE:

1) a qualidade de um livro inscrito no cnon.

5) PROTOCANNICO:

1) Do grego prton (= primeiro), da primeira hora.

2) Protocannico o livro que sempre pertenceu ao cnon ou catlogo.

3) Ttulo atribudo por Sixto de Sena (1566) aos livros do AT, a cujo respeito nunca se duvidou da sua canonicidade.

6) DEUTEROCANNICO:

1) Do grego duteron (= segundo), em segunda instncia.

2) Deuterocannico o escrito que primeiramente foi controvertido e s depois entrou definitivamente no cnon sagrado.

3) o ttulo atribudo por Sixto de Sena (1566), s obras do AT cuja canonicidade foi objeto de controvrsia e que foram admitidos em ltimo lugar no Cnon.

4) So os livros de: Judite, Tobias, 1 e 2 Macabeus, Sabedoria, Eclesistico, Baruc e Carta de Jeremias (Br 6), e algumas passagens de Ester e de Daniel.

5) A canonicidade desses livros foi oficialmente reconhecida pelo Conclio de Trento.

7) APCRIFO:

1) Em grego apkryphos quer dizer oculto.

2) Tal era o livro no lido em assemblia pblica de culto, mas reservado leitura particular.

3) Apcrifo ope-se a cannico, pois este era o livro lido no culto pblico, porque considerado Palavra de Deus inspirada aos homens.

8) PSEUDEPGRAFO:

1) H dois tipos de obras que se podem designar como pseudepgrafas:

1) as obras encabeadas pelo nome de algum autor fictcio. Ex.: Tobit (Tobias), Tb 1,1-3; Daniel, Dn 7,2; etc.

2) aqueles que trazem por um ato ficcional o nome de algum autor real. Ex.: os livros sapienciais atribudos a Salomo (Prov; Ct; Ecle; Sb); paulinos (pastorais); etc.

2) Os apcrifos so pseudepgrafos, mas a pseudepigrafia no constitui obstculo para a canonicidade de um livro.

9) BBLIA:

1) Do grego bblos, livro.

2) O diminutivo bblion, livrinho, que no plural faz bblia, livrinhos.

3) Com o passar dos tempos o diminutivo perdeu sua fora, de tal sorte que bblia passou a ser o mesmo que livros.4) A Bblia , portanto, etimologicamente uma coleo de livros.

10) TESTAMENTO:

1) O AT e o NT so as divises principais da Bblia crist.

2) A razo desta diviso a seguinte:

1) Os judeus, movidos pelo prprio Deus, designavam as suas relaes com Jav como sendo um Berith (= aliana). Por isto falavam dos livros da Aliana.

2) Todavia nos sculos III/II a.C., quando se fez a verso da Bblia hebraica para o grego em Alexandria, os intrpretes traduziram Berith por diatheke (= disposio). Queriam desta maneira ressalvar a unicidade e soberania de Deus. Na verdade, quem faz aliana com algum, par ou igual a esse algum, ao passo que quem faz uma disposio soberano ou Senhor. Assim, os livros sagrados de Israel foram chamados livros da diatheke ou da disposio (de Deus em favor dos homens).

3) Quando a palavra diatheke foi traduzida para o latim entre os cristos, estes usaram o termo testamentum (= disposio que se torna vlida em caso de morte do testador). Recorrem palavra testamentum, porque ficou comprovado que a disposio de Deus em favor dos homens se tornou plenamente vlida e eficiente mediante a morte de Cristo.

4) Assim, os livros sagrados, entre os cristos, foram distribudos em duas categorias: os da Aliana (ou Testamento) antiga e os da nova Aliana ou do novo Testamento (cf. 2Cor 3,14s).

11) PERCOPA:

1) Do grego cortar em volta.

2) O termo designa um fragmento de texto tirado de seu contexto. utilizado sobretudo na liturgia; designa ento um fragmento da Escritura, preparado para ser lido durante uma celebrao.

12) HAGIGRAFO:

1) Autor sagrado ou autor de algum escrito bblico.

2) Um s livro pode ter mais de um autor ou hagigrafo.

13) AUTOR:

1) A pessoa que concebe idias ou o contedo de determinado escrito.

2) o responsvel pelo contedo do livro.

14) VULGATA:

1) a traduo latina da Bblia que se deve a So Jernimo (+ 421).

2) No sculo IV era grande o nmero de tradues latinas das Escrituras, todavia apresentavam grandes deficincias de forma e de contedo.

3) Por isto o Papa So Damaso pediu a So Jernimo que preparasse uma verso nova e fiel dos livros sagrados.

4) So Jernimo se dedicou a isto entre os anos de 384 e 406. No chegou a traduzir de novo o texto do Novo Testamento, mas fez a reviso dos textos j existentes cotejando-os como bons manuscritos gregos.

5) Para traduzir o AT, Jernimo estabeleceu-se na Terra Santa, onde aprendeu o hebraico com os rabinos e traduziu em Belm todo o AT, menos Br, 1 e 2Mac, Eclo e Sb.6) A traduo de So Jernimo aos poucos substituiu as anteriores, de modo a chamar-se Vulgata editio (ou edio divulgada). Tornou-se a traduo oficial da Igreja at o Conclio Vaticano II (1962-65).

7) Ora, mesmo assim a traduo de So Jernimo no estava livre falhas, dado a limitao dos recursos utilizados por ele na sua poca.

8) Por isto, aps o Conclio Vaticano II, o Papa Paulo VI mandou refazer a traduo latina dos livros sagrados, denominada de Neo-Vulgata.

15) EXEGESE:

1) Do grego exgesis, significa explicao, explanao.2) a arte de expor ou explicar o sentido de determinado texto, especialmente da Bblia.

3) Para ser rigorosamente conduzida requer o estudo de lnguas, histria, arqueologia, etc, orientais.

4) Segundo So Joo (Jo 1,18), Jesus o Grande exegeta do Pai, pois Ele nos revelou (exegsato) o Pai.

16) HERMENUTICA:

1) Arte de interpretar (hermeneuein, em grego).

2) Interpretar procurar compreender e explicar, o que precisa ser feito mediante critrios objetivos, e no meramente subjetivos nem de opinies.

3) Embora a Bblia seja Palavra de Deus, que tem eficcia santificadora prpria, ela a Palavra de Deus encarnada na palavra do homem.

4) Por isto precisa ser entendida primeiramente como instrumento das cincias histricas e lingsticas para se perceber o sentido da roupagem que a Palavra de Deus quis assumir.

5) S depois de depreender o que o autor sagrado tinha em vista exprimir com sua linguagem, possvel passar para o plano da f e da teologia.

17) CIRCUNCISO:

1) Ablao ou retirada do prepcio, feita no 8 dia aps o nascimento (Lv 12,13; Gn 17,12), inicialmente com facas de pedra (Ex 4,25; Js 5,3), depois com instrumentos de metal. feita pelo pai (Gn 21,4), excepcionalmente pela me (Ex 4,25) ou por um mdico (1Mc 1,16).

2) Remonta a Abrao (Gn 17), praticada pelos patriarcas (Gn 34,13-24) no Egito, esquecida no deserto e retomada aps o retorno a Cana (Js 5,4-9).

3) Originalmente, fora de Israel, era um rito de integrao do menino no cl e de iniciao ao matrimnio (cf. Gn 34; Ex 4,24-26).

4) Os profetas insistiam na espiritualizao da circunciso, que deveria coincidir com a converso do corao (cf. Jr 4,4; 6,16; Dt 10,16; 30,6).5) Aps o exlio afirmada sua importncia religiosa, pois era um meio de distinguir-se da vizinhana que no a praticava. Era, pois sinal de agregao comunidade de Israel (Gn 34,14-16; Ex 12,47s), sinal da aliana que Deus fez com Abrao e seus descendentes (Gn 17,9-14).

6) Jesus foi circuncidado (Lc 2,21). Paulo tambm (Fl 3,5). Timteo foi circuncidado porque sua me era judia (At 16,3), mas Tito, filho de pagos, no foi (Gl 2,3).

7) Em At 15 os judeu-cristos querem impor a circunciso aos pagos. A Assemblia decide em sentido contrrio (v. 28-29).

8) Paulo justifica a sua doutrina sobre isso em Rm 2,25-29; 4,9-12.

9) A redeno operada por Cristo tornou caduca e v as exigncias da Lei judaica. A circunciso no mais necessria. A f substitui a circunciso (Gl 5,6), pois pela f e no pela circunciso que Abrao foi justificado. O mesmo vale para seus descendentes (Rm 4,1-17).

10) A verdadeira circunciso , nas palavras de Jeremias (Jr 9,24-25) a do corao (Rm 2,26-29).

11) Portanto, a cada um, circunciso ou no, cabe permanecer no estado em que foi chamado por Deus (1Cor 7,17-20), pois em Cristo o que conta no a circunciso ou no, mas somente a f que opera pela caridade (Gl 5,6).18) CHEOL:

1) Um lugar subterrneo, no entendimento dos judeus, onde estariam, inconsciente ou adormecidos, todos os indivduos humanos aps a morte.

2) A terra era tida como mesa plana, desta forma, logo abaixo estaria a manso dos mortos, Hades (em grego), inferni (do latim, infra = abaixo ; donde inferni = inferiores lugares)3) Os antigos judeus no podiam admitir retribuio pstuma, nem para os homens bons nem para os infiis, pois todos se achavam inconsciente.

4) Desta forma, a justia divina, devia exercer-se no decorrer mesmo da vida presente; Seriam recompensados com sade, vida longa e dinheiro. Ao passo que os pecadores sofreriam doenas, morte prematura, misria...

5) J no Sc. II a.C os judeus admitiam a ressurreio dos mortos e a retribuio final para bons e maus depois da morte.

6) No tempo de Jesus, os judeus j admitiam sorte pstuma diferente para os bons e maus.

19) GEENA:

1) Deriva do termo em aramaico: ge-hinnom. Nos arredores de Jerusalm havia um vale (ge, em hebraico) pertencente aos filhos de Hinnom (bem-hinnom). Donde ge-bem-hinnom ou gehinnom, em hebraico. 2) Nesse vale se sacrificavam crianas ao deus Moloc, da Babilnia. (cf. 2Rs 16, 3c; 21,6; Jr 32, 35).

3) Depois do exlio (587-538 a. C), os judeus l queimavam seu lixo. Por isso, o ge-hinnon ou a ge-hinnan era um lugar de fogo. Jesus se serviu do vocbulo para designar a sorte pstuma dos que renegam a Deus (cf Mc 9, 43. 45.47).

20) INFERNO:

1) Adjetivo deriva do vocbulo latino infernus.

2) Regio inferior, colocada debaixo da superfcie da terra. Significa o CHEOL dos judeus antigos. 3) Na linguagem crist, feita abstrao de topografia ou de geografia do alm, inferno significa o estado pstumo dos que renegaram consciente e voluntariamente a Deus.

21) JAV: 1) Nome com o qual Deus se revela a Moiss em Ex 3, 14s.

2) Para os judeus de Alexandria, levados por especulaes filosficas, Jav, do grego ho on, Aquele que , queriam indicar o absoluto ou o transcendente de Deus.3) Para os judeus da Palestina, menos propensos a especulaes filosficas, Jav, do grego, Aquele que fiel, que acompanha o seu povo e lhe est sempre presente.22) LEI:

1) Na linguagem paulina designa, frequentemente, a Tor ou a Lei de Moiss.

23) MIDRAXE: 1) Narrao de fundo histrico.

2) Utilizada pelo autor sagrado para servir de instruo teolgica e edificao dos seus leitores.

24) SAT OU SATANS:

1) Termo hebraico que significa adversrio.

2) A partido do Sc. V a. C, di reservado ao anjo que Deus criou bom , mas que se perverteu pelo pecado.

3) Sat, no uma figura mitolgica, nem uma realidade neutra do mal, mas uma criatura inteligente , incorprea.

25) SEMITAS: 1) Descendentes de Sem, filho de No. (cf. Gn 10, 22-30).

2) Correspondem a vrios povos, entre eles: Hebraico ou israelita, o assrio, o babilnico, o etope, o fencio, o pnico, o moabtico, o aramaico.

26) TEOFANIA:

1) Termo grego, etimologicamente, manifestao de Deus.

27) TEODOCIO:1) Proslito ou pago convertido ao judasmo.

2) Traduziu o antigo testamento para o grego no sc. II d. C afim de tentar extinguir o uso do texto dos LXX.

3) Objetivava provar para muitos cristos a messianidade de Jesus.

28) QUILA:1) Fez uma autentica traduo grega do antigo testamento no sc. II.

2) O seu texto se prende muito letra do hebraico.3) Caracteriza-se por guardar em grego as expresses tipicamente semitas.29) SMACO:

1) Terceiro tradutor do antigo testamento para o grego.2) Verso mais livre.

3) Procura levar em conta o esprito e as particularidades da lngua grega.

Parte II FORMAO DO POVO DE DEUSViso esquemtica

1 Formao do Povo de Deus:

1.1 Cenrio internacional:

i. Egito;

ii. Mesopotmia

iii. Cana

1.2 Histria do povo de Israel:

i. Os Patriarcas

ii. No Egito

iii. No deserto

iv. Entrada em Cana

v. Ocupao no sistema de 12 tribos

vi. Juzes

vii. Monarquia

viii. Diviso do Reino

ix. Reino de Israel

x. Reino de Jud

xi. Exlio na Babilnia

xii. Volta do Exlio

xiii. Helenismo

xiv. Ocupao romana

Parte II FORMAO DO POVO DE DEUSCONTEDO

1 FORMAO DO POVO DE DEUS1.1 CENRIO INTERNACIONAL: 3 regies frteis se destacam:

i. EGITO: Imagem de relativa UNIDADE

Ordem e desenvolvimento (paz?)

Governo absolutista (fara adorado como a um deus)ii. MESOPOTMIA Imagem de MOVIMENTO

Povos que chegam e saem, fundam cidades, criam, constroem, inventam

Cidades Estados autnomas, centradas no templo (= zigurate)

Alicerces da Bblia;

iii. CANA (Sc. 15 a. C.) ou TERRA DE ISRAEL ou PALESTINA (Sc. 6 a. C.) Imagem de CONFUSO

Pequenas cidades independentes

Fraca e atraente, constantemente explorada

Geografia estratgica1.2 HISTRIA DO POVO DE ISRAEL: i. OS PATRIARCAS (Sc. 18 a. C.): BABILNIA, HICSOS e HITITAS

So pastores seminmades, vivem em cls e acreditam no Deus dos seus pais.

Origem da histria do povo de Deus ABRAO e SARA (Sc. 18 a. C.): Semitas liderados por Abrao

Saem de Haran (ou Ur?), na MESOPOTMIA

Chamados de HEBREUS (= grupos sem cidadania, de diversos cls ou povos; = hapiru ou habiru = biscateiros = trabalhavam de tudo = conotao inicial de marginais)

Em busca da terra de Cana

ISAAC e REBECA JAC (= ISRAEL) e RAQUEL Vo para o Egito Buscam melhores condiesii. NO EGITO (Sc. 13 a. C.): JOS: intrprete dos sonhos do fara

AARO, MOISS E MIRIAM

MOISS (Sc. 13 a. C.): libertao do Egito (1250-1200 a. C.)iii. NO DESERTO (xodo) (= 40 anos) (Sc. 13 a. C.): MOISS: Guia o povo no deserto

40 anos no deserto

Celebram o xodo (= Pscoa = passagem = libertao da escravido do Egito)

Povo reclamo: man (saudades do Egito: alhos, cebolas, pepinos, verduras...); codornizes, gua

Aliana: 2 tbuas da Lei (10 mandamentos), depositadas na ARCA x bezerro de ouro (= idolatria)

Vislumbra de longe a terra prometida, mas no entra nelaiv. ENTRADA EM CANA (Sc. 12 a. C.): JOSU E CALEB: Reconhecem a terra Conduzem o povo de Deus na entrada na terra prometidav. OCUPAO NO SISTEMA DE 12 TRIBOS (= 12 filhos de Jac ou Israel) (Sc. 12-11 a. C.) POVOS DO MAR ou FILISTEUS Os cls (= famlias) so organizados em tribos CONFEDERADAS, MAS INDEPENDENTES. Se estabelecem nos espaos vazios (piores terras) Ficam dispersos, vulnerveis aos inimigosvi. JUZES (Sc. 12 e 11 a. C.): Ou interventor = litgios entre as famlias das tribos

DBORA, BARAQUE, GEDEO, JEFT, SANSO e DALILA, SAMUEL (unge SAUL como rei)vii. MONARQUIA (de 1030 a 931 a. C.) (= Sc. 10 a. C.): FENCIOS

1) SAUL: Cidades, acumulao de poder e terras

JNATAS (amigo de DAVI), GOLIAS (x DAVI) 2) DAVI: Tributos pesados dos estrangeiros

3) SALOMO:

Organizao do culto: construo do Templo, tributos pesados, cultos estrangeiros, incio dos Profetas (NAT e AAS)

viii. DIVISO DO REINO (931 a. C.): EGITO, ASSRIA E BABILNIA

Com a morte de Salomo o Norte do pas se proclama independente e forma o REINO DE ISRAEL

ix. REINO DE ISRAEL (ou do NORTE) (de 931 a 722 a. C.) (= durao de 2 sculos) Capital: Samaria 19 reis = 8 assassinados Jeroboo 1 Acumulao e idolatria Profetas enfrentam os reis: Elias, Eliseu, Ams, OsiasExlio na Assria (em 722 a. C.)x. 10) REINO DE JUD (ou do SUL) (de 931 a 587 a. C.) (= durao de 350 anos) Capital: Jerusalm

20 reis

Roboo

Injustias, duros impostos, muitas religies

Influncia dos Profetas: 1Isaas (1-39), Miquias, Sofonias, Jeremias, Naum, Habacuc

Destruio de Jerusalm (em 587 a. C.)

Exlio na Babilnia (em 587 a. C.)

GODOLIAS = Reforma Agrriaxi. EXLIO NA BABILNIA (de 587 a 537 a. C.) (durao de 50 anos) BABILNIA

Boa parte da populao de JUD exilada (os intelectuais e as autoridades)

os pobres ficaram em JUD = tributos

Nabucodonosor e sucessores

Trabalhos forados

Sem terra, sem Templo, sem rei

Nova Aliana

Profetas: Jeremias, Ezequiel (21s = Luz das naes), 2Isaas (40-45)xii. VOLTA DO EXLIO (538 a. C.) PRSIA

Ciro: decreta que podem voltar e ajudar nos projetos de reconstruo.

Dois projetos:

1) RESTAURAO: Reconstruir o Templo e Jerusalm

Profetas: Zacarias e Ageu2) RENOVAO: Rute: po, terra, vida Convivem de 538 a 445 a. C. (= 7 anos)

Prevalece a RESTAURAO (em 445 a. C.): Esdras e Neemias

RENOVAO prevalece na oposio: 3Isaas (46-66), Rute, Eclesiastes, J, Jonas, Cntico dos cnticosxiii. HELENISMO (333 a. C.)

MACEDNIA e EGITO

Invaso e assimilao da cultura grega

Provocaes, perseguies: resistncia, causas: latifndio e escravizao

MATATIAS: foge para as montanhas

MACABEUS: Judas, Jnatas, Simo

PARTIDOS: Saduceus, Fariseus, Essnios, Zelotes em conflito

Profeta: 2Zacarias

Sinagogas (Escribas)

Dispora comeaxiv. OCUPAO ROMANA (63 a. C.) ROMA

Ocupao por Roma

Grandes dificuldades sociais

Saduceus predominam: Legalismo

Tributos e impostos

Camponeses no podem ter terras

Esperana do Messias

Domnio da famlia dos Herodes

Herodes, o GrandeParte III ESCRITA DO ANTIGO TESTAMENTO

Viso esquemtica

Escrita do Antigo Testamento (6 perodos):

1 Fase das tradies quase s orais

2 Reino Unido ou Monarquia

3 Reino de Israel ou do Norte

4 Reino de Jud ou do Sul

5 Exlio na Babilnia

6 Depois do ExlioParte III ESCRITA DO ANTIGO TESTAMENTO

CONTEDO

ESCRITA DO ANTIGO TESTAMENTOO ANTIGO TESTAMENTO foi escrito em 6 perodos:

1. FASE DAS TRADIES QUASE S ORAIS:

Os hebreus nada escreveram;

Vivem de tradies orais;

Durou uns 8 sculos, de Abrao (SC. 18 a. C.) at a Monarquia (1030 a. C.).2. REINO UNIDO ou MONARQUIA (Saul, Davi e Salomo):

Durou 1 sculo: de 1030 a 931 a. C.;

No fim do perodo, surge com Salomo, os primeiros escritos intencionais.3. REINO DE ISRAEL (ou do Norte, capital: Samaria):

Com a morte de Salomo o Norte do pas proclama independncia: Reino de Israel;

Durou 2 sculos (de 931 a 722 a. C.);

Produo literria pequena, mas muito importante.4. REINO DE JUD (ou do Sul, capital: Jerusalm): Durou uns 350 anos (de 931 a 587 a. C.); Surge uma literatura notvel mas pouco explorada do AT.5. EXLIO NA BABILNIA: Grande parte da populao do Reino de Jud sofreu o Exlio Babilnico;

Durou uns 50 anos (de 587 a 538 a. C.).

Alguns escritos6. DEPOIS DO EXLIO: Grande nmero de escritos.Parte IV O PENTATEUCO

Viso esquemtica

1 Antigo Testamento

i. Pentateuco:

- Etimologia de PENTATEUCO

- Os nomes dos livros

- Sees mais importantes - Em grandes linhas temos um percurso histrico

- Principais dificuldades

- Anacronismos

- Contradies

- Duplicados

- Teorias da composio do Pentateuco

- Teoria das quatro fontes (J. Welhausen, 1918):

- Javista

- Elosta

- Deuteronomista

- Sacerdotal

- Teoria de GERHARD VON RAD

- Teoria da memria popular

Parte IV O PENTATEUCOCONTEDO

1. ANTIGO TESTAMENTO (= 46 livros) Pode ser dividido em 4 blocos:

i. PENTATEUCO (= 5 livros);ii. LIVROS HISTRICOS ou Livros da Profecia Oral (= 16 livros);iii. Livros Sapienciais (= 7 livros);iv. Livros Profticos ou Livros da Profecia Escrita (= 18 livros).i. PENTATEUCO: Etimologia de PENTATEUCO:A palavra Pentateuco (Pentteukhos biblos) provm dos Padres gregos (Cirilo de Alexandria, 444), significa livro em cinco estojos. Os nomes dos livros:Os nomes dos livros, em grego referem-se ao contedo, enquanto no hebraico usa-se a primeira palavra (ou as primeiras) do livro:

GregoHebraico

Gnesis (Origem)Bereshit (No princpio)

xodos (Sada)Shemot (Nomes)

Leutikon (dos Levitas)Wayyikr (E chamou)

Arithmi (lat. Numeri)Bammidbar (No deserto)

Deuteronmion (Segunda Lei)Debarim (Palavras)

Sees mais importantes:GNESIS: Gn 1-11: Histria das Origens; Gn 12-50: Histria dos Patriarcas.XODO:

Ex 1-18: Israel no Egito, Pragas, Sada, caminhada at chegar aos ps do Monte Sinai; Ex 19-40: Aliana do Sinai (Declogo, Cdigo da Aliana, construo do Santurio).LEVTICO:

Leis sacerdotais: 1-7: Sacrifcios; 8-10: Sacerdotes; 11-16: Pureza; 17-26: Cdigo de Santidade; 27: Apndice.NMEROS: Nm 1-10: Preparativos para a marcha; Nm 11-19: Marcha at Cades; Nm 20-36: De Cades a Moab.DEUTERONMIO: Dt 1,1-4,43: Primeiro discurso de Moiss; Dt 4,44-28,69: Segundo discurso de Moiss; Dt 29-30: Terceiro discurso de Moiss; Dt 31-34: Fim da vida de Moiss. Em grandes linhas temos um percurso histrico: Desde a Criao At a morte de Moiss Principais dificuldades:

Anacronismos:

A narrativa da morte de Moiss (Dt 34); A lista dos reis de Edom (Gn 36,31); O nome de Dan (Gn 14,14); A meno dos Filisteus (Gn 21,32); A expresso alm do Jordo (Dt 1,1); Cana, pas dos Hebreus (Gn 40,15); A frase os Cananeus moravam no pas (Gn 12,6). Contradies:Os animais so criados: antes do homem (Gn 1,20-25.26-28); depois do homem (Gn 2,7.19).A mulher criada junto com o homem (Gn 1,27); depois do homem (Gn 2,22).Na arca de No: entra um casal de cada espcie de animais (Gn 7,15); dos animais puros entram sete casais (Gn 7,1).A durao do Dilvio de: 40 dias (Gn 8,6); 150 dias (Gn 7,24).Jac vai Mesopotmia: fugindo de Esa (Gn 27,41-45); para casar dentro da tribo (Gn 27,46-28,5).Jos vendido por seus irmos: aos ismaelitas (Gn 37,27); aos madianitas (Gn 37,28).A etimologia de Bersabia : poo dos 7: das sete ovelhas (Gn 21,31); poo do juramento (Gn 26,33).Jac nomeou Betel (Casa de Deus): na ida de sua viagem Mesopotmia (Gn 28,19); na volta (Gn 35,15).Jac chamado Israel: em Penuel (Gn 32,28); em Betel (Gn 35,10). Duplicados:

A Criao (Gn 1 e 2)

A aliana com Abrao (Gn 15 e 17)

A expulso da Agar (Gn 16 e 21)

A vocao de Moiss (Ex 3 e 6)

O declogo (Ex 20 e Dt 5)

A mulher cobiada (Gn 12; 20 e 26)

Nomes:

de Deus: Elohim, Jav, Jav-Elohim

do lugar da Aliana: Sinai (Ex 19,11), Horeb (Ex 33,6)

do sogro de Moiss: Raguel (Ex 2,18) e Jetr (Ex 3,1)3

Teorias da composio do Pentateuco:

A partir do sc. XVIII so formuladas vrias teorias para explicar a composio do Pentateuco:a. Teoria das quatro fontes (J. Welhausen, 1918):

I. JAVISTA (J): Sc. 9 a. C.;

Sapiencial;

Em Jerusalm, por sbios; Trata problemas humanos;

Deus se manifesta antropomorficamente.

II. ELOSTA (E):

Sc. 8 a. C. ;

Proftico;

No Reino de Israel;

Deus se comunica atravs de sonhos, profetas, anjos;

Deus no se confunde com o homem.

III. DEUTERONOMISTA (D):

Sc. 7-6 a. C.;

Do fim da poca monrquica;

Em Jerusalm;

Proftico e Sapiencial;

Grande preocupao cultual: unificar os templos, ficando somente o de Jerusalm;

Prxima ao Exlio.

IV. SACERDOTAL (P):

Sc. 6 a. C.;

Pelos sacerdotes do Exlio: Ezequiel;

Aps o Exlio, o sacerdote Esdras promulga a Tor na grande celebrao: Ne 8.

b. Teoria de GERHARD VON RAD: 1930, sc. XX;

Dos Blocos Temticos: criao, Patriarcas, xodo, deserto, Sinai, conquista da Terra etc.

c. Teoria da memria popular:

De Milton Schwantes;

O Pentateuco foi construdo aos poucos, em pocas diferentes, de materiais diversos, formados por percopes;

Atualmente a teoria mais aceita para explicar a composio atual do Pentateuco. Parte V EXEGESE DE Gn 1-11 (O hexameron e as origens do mundo e do homem)Viso esquemtica

1 O Hexameron:

a. A Pr-histria bblica;

b. O hexameron;

c. A mensagem do hexameron.2 As Origens do mundo e do homem:

a. O relato javista e a origem do homem;

b. Criacionismo e Evolucionismo;

c. Monogenismo e poligenismo.Parte V EXEGESE DE Gn 1-11 (O hexameron e as origens do mundo e do homem)CONTEDO

1. O HEXAMERON:a. A pr-histria bblicaA seo de Gn 1-11 chama-se pr-histria bblica porque se refere a acontecimentos anteriores histria bblica, que comeou com o Patriarca Abrao (sc. XIX ou 1850 a.C.). Por conseguinte, a pr-histria bblica no coincide com a pr-histria universal, que vai desde tempos imemoriais at o aparecimento da escrita (8000 a.C.).

O gnero literrio dessa seco o da histria religiosa da humanidade primitiva. O autor sagrado no intencionou propor teses de cincias naturais, mas quis apresentar, em linguagem simbolista, alguns fatos importantes que constituem o fundo de cena e a justificativa da vocao de Abrao. Tais seriam:

1) A criao do mundo bom por parte de Deus, a elevao do homem filiao divina e a violao dessa ordem inicial pelo pecado (Gn 1, 1-3, 24);

2) O fratricdio de Caim, consequncia do fato de que o homem abandonou a Deus; perdeu tambm o amor ao seu semelhante (Gn 4, 1-16);

3) A linhagem dos cainitas, que mostra o alastramento do pecado (Gn 4, 17-24);

4) A linhagem dos setitas ou dos homens retos (Gn 5, 1-32);

5) O dilvio, provocado pela propagao do pecado (Gn 6, 1-9, 28);

6) A tabela dos setenta povos (Gn 10, 1-32);

7) A torre de Babel, nova expresso do pecado (Gn 11, 1-9);

8) As linhagens dos semitas (Gn 11, 10-26) e dos teraquitas ou descendentes de Ter (11, 27-32), que fazem a ponte at o Patriarca Abrao.

Em sntese:

Desta maneira, o autor mostra que Deus fez o mundo bom e convidou o homem para o consrcio da sua vida (ordem sobrenatural). Todavia o homem disse No. Deus houve por bem reafirmar seu desgnio de bondade, prometendo restaurar, mediante o Messias, a amizade violada pelo pecado (Gn 3, 15). Este foi-se alastrando cada vez mais, como atestam os episdios de Caim e Abel, do dilvio e da torre de Babel. Ento, para realizar seu intento de reconciliao do homem com Deus, o Criador quis chamar Abrao para constituir a linhagem portadora da f e da esperana messinicas. Assim chegamos a Gn 12 (a vocao de Abrao).Passemos agora considerao de cada qual dos bocs integrantes de Gn 1 -11.b. O Hexameron

O primeiro bloco no unitrio, mas consta de duas narraes: Gn 1, 1-2, 4a, a obra dos seis dias (hexameron, em grego), da fonte P (sculo V a.C.), e Gn 2, 4b-3, 24, da fonte J (sc. X a.C.). Isto se deduz do estilo e do vocabulrio prprios de cada uma dessas seces como tambm do fato seguinte: em Gn 2, 1-4a o mundo est terminado, o homem e a mulher foram criados; todavia, em Gn 2, 4b.5, o autor sagrado afirma que no havia arbusto, nem erva, nem chuva, nem homem, e narra a criao do homem a partir do barro como se ignorasse a criao j narrada em Gn 1, 27.

Se, pois, h duas peas literrias justapostas em Gn 1, 1-3, 24, preciso estudar cada uma de per si, pois cada qual tem sua mentalidade e sua mensagem prprias. Comecemos pelo hexameron (Gn 1, 1-2, 4a).

Para poder depreender a mensagem deste trecho bblico, precisamos, antes do mais, de observar a sua forma literria.

Ora verifica-se que tal pea apresenta um cunho fortemente artificioso: aps a introduo (1, 1s), o autor descreve uma semana de seis dias de trabalho e um de repouso; os dias de trabalho poderiam dispor-se em duas sries paralelas, das quais a primeira trata da criao das regies do mundo e a segunda aborda a povoao dessas regies, como se v abaixo:

1 dia4 dia 1, 14-19

1, 3-5

5 dia2 dia 1, 6-8 1, 20-23

3 dia6 dia 1, 9 - 13 1, 24-31

7 dia 2, 1-4aNotemos tambm que cada um dos dias da criao descrito segundo frmulas que se repetem e que constituem estrofes de um hino litrgico: Deus disse... E houve... E assim se fez... E Deus chamou... E Deus viu que era bom... Deus fez... Deus abenoou... Houve tarde e manh... dia.

A imagem do mundo pressuposta pelo autor bem diferente da nossa; haveria a regio dos ares, a das guas e a da terra. Esta seria uma mesa plana, pousada sobre colunas; debaixo da terra haveria as guas, donde emergem as fontes, e tambm a regio dos mortos ou o cheol. A luz era concebida como algo independente do sol e das estrelas, pois mesmo nos dias em que o sol no brilha, temos luz (por isto a luz criada no 1 dia, ao passo que os astros no 4 dia). A vegetao seria o tapete inerente terra; por isto ter sido criada no 3 dia, anteriormente ao sol. Tais concepes podem parecer irrisrias ao leitor moderno; notemos, porm, que elas no so objeto de afirmao da parte do autor sagrado; o autor se refere a elas to somente para propor uma mensagem religiosa a respeito do mundo e do homem, sem tencionar definir algum sistema de cosmologia.Pergunte-se, pois: qual a mensagem de Gn 1,1-2, 4a?

c. A mensagem do hexameronTrs so as finalidades do texto em foco:Antes do mais, o texto quer incutir a lei do repouso do stimo dia (sbado).Com efeito, imaginemos um grupo de sacerdotes recebendo fiis judeus para celebrarem o culto do sbado; era bvio que explicassem a esses fiis o porqu daquela assembleia e do repouso do stimo dia. Conceberam ento um hino litrgico, no qual Deus apresentado a trabalhar no quadro de seis dias teis e a repousar no stimo dia; em vez de fabricar mesas ou cadeiras, como o homem, o Senhor Deus ter fabricado o mundo. O importante, porm, que nesse hino Deus observa o repouso do stimo dia. Esse exemplo imaginrio do Senhor seria a melhor recomendao da lei do sbado; o homem deveria, pois, trabalhar em seis dias e no stimo dia afastar-se do trabalho para, no repouso, elevar mais detidamente o seu esprito a Deus. O exemplo divino evocado em Ex 20,11.Deve-se notar, porm, que a lei do sbado anterior ao texto do hexameron (sc. V a.C.); ela decorre do ritmo natural da Lua, muito importante para os trabalhadores rurais (de sete em sete dias a Luz passa de nova para crescente, de crescente para cheia...). Por conseguinte, Deus repousa poeticamente por causa do ritmo da semana do homem, e no vice-versa.Alguns perguntaro: o cristo no deveria ento observar o sbado assim incutido? A propsito lembramos que a palavra sbado vem de shabbath. A Bblia prescreve o repouso do stimo dia (cf. Ex 20, 8-11) sem definir qual deva ser o primeiro dia da semana.Ora os cristos sabem que Jesus ressuscitou no dia seguinte ao stimo dia (sbado) dos judeus; por isto comearam a contar os dias da semana no segundo dia (ou na segunda-feira) dos judeus para fazer o stimo dia coincidir com o dia da ressurreio de Jesus. Assim fazendo, os cristos observam todo stimo dia (sbado); no a materialidade do nome sbado que importa, mas a observncia de todo stimo dia; o domingo dos cristos vem a ser o sbado (stimo e repouso) dos cristos.2) Os autores sagrados quiseram tambm relacionar o mundo todo (como os hebreus o podiam conhecer) com Deus, mostrando que tudo criatura de Deus e, por conseguinte, no h muitos deuses. Com outras palavras, estas so as verdades teolgicas que o hexameron nos transmite:

a) Deus um s. No h, pois, astros sagrados (como os caldeus da terra de Abrao admitiam). Nem h bosques sagrados (como os cananeus da nova terra de Abrao professavam). Nem h animais sagrados (como os egpcios, entre os quais viveu Israel, professavam).

b) Deus bom e, por isto, fez o mundo muito bom. Se h mal no mundo, no vem de Deus, mas do homem (como explica o relato de Gn 3). Os autores assim rejeitavam toda forma de dualismo ou de repdio matria como se fosse essencialmente m.c) O mundo no eterno, mas foi criado por Deus e comeou a existir. Afirmando isto, o texto sagrado no tenciona dirimir a questo fixismo ou evolucionismo?, mas apenas assevera que a matria e o esprito tm origem por um ato criador de Deus; qualquer teoria cientfica que admita isto, aceitvel aos olhos da f.

d) O homem o lugar-tenente (imagem e semelhana) de Deus, no por sua corporeidade (Deus no tem corpo), mas por sua alma espiritual, dotada de inteligncia e vontade. Tenhamos em vista o relevo que o autor d criao do homem: quebrando o esquema habitual, o texto refere as palavras de Deus: Faamos o homem nossa imagem e semelhana... (Faamos um plural intensivo, que pe em relevo a grandeza do sujeito falante).Note-se, alis, que no h origem diversa, neste texto, para o homem e para a mulher, mas ambos surgem simultaneamente.e) O casamento abenoado por Deus, tornando-se uma instituio natural, que no depende dos deuses da fecundidade admitidos fora do povo bblico.

f) O trabalho do homem continuao da obra de Deus; santo, qualquer que seja a sua modalidade, desde que executado em consonncia com o plano do Criador.De maneira geral, pode-se dizer que toda a tendncia do hexameron apresentar o homem como mediador entre o mundo inferior e Deus; esse mediador exerce, por sua posio e sua atividade na terra, um sacerdcio ou a misso de fazer que todas as criaturas irracionais, devidamente utilizadas pelo trabalho do homem, deem glria ao Criador. o que o esquema abaixo ilustra:

DEUS Animais terrestres HOMEM Peixes e volteis6 dia

Astros 5 dia

Terras4 dia

guas 3 dia

Ares

2 dia

1 dia

Pode-se tambm dizer que o autor sagrado, utilizando o esquema 6 + 1 = 7, quer realar a ndole boa da obra de Deus. Sete , sim, um smbolo de perfeio conforme os antigos; essa ndole enfatizada pelo fato de se pr em evidncia a stima unidade (h seis dias de trabalho, homogneos entre si, e um ltimo, o stimo, de ndole diferente). Estes ensinamentos, como se v, no pretendem dirimir questes de cincias naturais. Podem parecer pobres aos olhos de quem procura na Bblia uma resposta para indagaes de astronomia, cosmologia, geologia, botnica, zoologia... Todavia, so de enorme valor, pois nenhum povo anterior a Cristo, fora Israel, chegou a to sublime conceito de Deus e de origem do mundo. O Deus da Bblia o Senhor nico que, com sua onipotncia, domina a natureza; por conseguinte, tudo produz a partir do nada ou por sua vontade criadora. Alis, o verbo bar (= fez), ocorrente em Gn 1, 1, sempre usado na Bblia para indicar a ao prodigiosa e singular de Deus; cf. Is 48, 7; 45, 18; Jr 31, 22; Sl 50(51), 12; 103(104), 30...Resta ainda observar que os dias do hexameron no significam eras ou perodos geolgicos.No sculo passado, quando as cincias naturais mostraram claramente que o mundo no pode ter surgido em seis dias de 24 horas, muitos autores julgaram que os dias de Gn 1 eram perodos longos correspondentes aos da formao do globo terrestre (era azica, primria, secundria...). Assim a Bblia teria antecipadamente descrito a origem do mundo, que s a cincia do sculo XIX conseguiu averiguar!Tal atitude chama-se concordismo, porque tenciona obter concrdia (ainda que forada) entre a Bblia e as cincias, como se visassem ao mesmo objetivo de narrar os fenmenos fsicos da origem do mundo.O concordismo errneo por causa deste seu pressuposto. O autor sagrado no tinha as preocupaes de um cientista; no queria seno oferecer um ensinamento religioso tal como acabamos de enunciar; por isto ele tinha em mira dias de 24 horas (nos quais houve tarde e manh, cf. 1, 5.8.13.19.23.31); em outras palavras: ele imaginou uma semana como a nossa, mas uma semana que nunca existiu,... a semana na qual Deus, como primeiro trabalhador, teria fabricado o mundo.Dito isto, ficam ainda abertas certas questes como o monogenismo ou poligenismo? , fixismo ou evolucionismo?, origem das raas?. 2. AS ORIGENS DO MUNDO E DO HOMEM:a. O relato javista e a origem do homem

Em Gn 2, 4b tem incio outra narrao referente s origens, de estilo mais primitivo que a anterior: Recorre a muitos antropomorfismos (Deus oleiro, jardineiro, cirurgio, alfaiate, em vez de criar com a sua palavra apenas, como em Gn 1,1-2, 4a); no menciona nem o mar com seus peixes nem os astros (o que revela horizontes limitados). Data do sculo X a.C. (fonte javista, J). Essa descrio comea por notar que no havia arbusto, nem chuva, nem homem, mas apenas uma fonte de gua, que ocasionava a existncia de barro. Para compreender a inteno do autor sagrado, examinemos, antes do mais, a dinmica do texto em pauta:Muito estranhamente, Deus cria em primeiro lugar o homem (2,7). Depois planta um jardim ameno, onde o coloca (2, 8.15); verifica que o homem est s (2,18). Cria os animais terrestres (2,19); mas o homem continua s (2, 20). Ento Deus cria a mulher e a apresenta ao homem, que exclama: Esta sim! osso dos meus ossos e carne da minha carne! (2,23). Este curso de ideias poderia ser assim reproduzido:HOMEM MULHER

PlantasAnimais

(o homem est s)(o homem est s)V-se, pois, que o relato no tem em mira descrever a fenomenologia ou o aspecto cientfico da origem das criaturas, mas, sim, visa a responder a uma pergunta: qual o relacionamento existente entre o homem e a mulher? Qual o papel da mulher frente ao homem? Estas questes de ordem filosfico religiosa perpassam todo o relato. Para responder-lhes, o autor apresenta o homem (varo) sozinho; verifica duas vezes que ele est s, porque nenhuma planta e nenhum animal se lhe equiparam; finalmente Deus tira matria do prprio homem para com ela formar a mulher; assim se justifica a exclamao: Esta sim! E da minha dignidade! Desta forma, o texto sagrado nos diz que a mulher no inferior ao homem, mas compartilha a natureza do homem; o vis--vis do homem. Esta afirmao de enorme valor: j no sculo X a.C. a Sagrada Escritura propunha uma verdade que muitos povos hoje no conseguem reconhecer e viver.b. Evolucionismo e Criacionismo

O autor sagrado apresenta origem distinta para o homem e para a mulher. Analisemos um e outro caso.i. Origem do homem. Ser que o texto de Gn 2, 7 quer dizer algo sobre o modo como apareceu o homem na face da terra?Respondemos negativamente. O autor sagrado utilizou a imagem do Deus-Oleiro, que era assaz frequente nas tradies dos povos antigos. Com efeito, no poema babilnico de Gilgamesh conta-se que, para criar Enkidu, a deusa Aruru plasmou argila. Na lenda assiro-babilnica de Ea e Atar-hasis, a deusa Miami, intencionando criar sete homens e sete mulheres, fez quatorze blocos de argila; com estes, suas auxiliares plasmaram quatorze corpos; a deusa rematou-os, imprimindo-lhes traos de indivduos humanos e configurando-os sua prpria imagem.No Egito um baixo-relevo em Deir-el-Bahari e outro em Luxor apresentam o deus Cnum modelando sobre a roda de oleiro os corpos respectivamente da rainha Hatshepsout e do Farad Amenofis III; as deusas colocavam sob o nariz de tais bonecos o sinal hieroglfico da vida (ank), para que a respirassem e se tornassem seres vivos.

Entre Os Maoris da Nova Zelndia, conta-se o seguinte episdio: Um certo deus, conhecido pelos nomes de Tu, Tiki e Tan, tomou argila vermelha margem de um rio, plasmou-a, misturando-lhe o seu prprio sangue, e dela fez uma cpia exata da Divindade; depois, animou-a soprando-lhe na boca e nas narinas; ela ento nasceu para a vida e espirrou. O homem plasmado pelo criador Maori parecia-se tanto com este que mereceu por ele ser chamado Tiki-Ahua, isto ., Imagem de Tiki.

Compreende-se, pois, que o tema do Deus-Oleiro, ocorrente tambm na Bblia, no passa de metfora. Quer dizer que, como o oleiro est para o barro, assim Deus est para o homem. E como que est o oleiro para o barro? Numa atitude de sabedoria, carinho, maestria, providncia... Assim tambm Deus est para o homem, qualquer que tenha sido a modalidade de origem do ser humano. No se queira extrair desta passagem alguma lio de teor cientifico.ii. Origem da mulher. Que significa a costela extrada de Ado (= homem) para dar origem mulher? No implica que esta tenha tido princpio diferente do homem. O tema da costela h de ser entendido a partir das palavras finais de Ado: Esta osso dos meus ossos e carne da minha carne (Gn 2, 23); tal afirmao rnetafsica, e significa: a mulher da natureza ou da dignidade do prprio homem, em oposio aos demais seres (pois, embora cercado destes, o autor enfatiza que o homem estava s). Ora, para preparar e justificar esta assero a respeito da dignidade da mulher, o autor descreve o prprio Deus a tirar carne e osso (uma costela) do homem a fim de formar o corpo da mulher; a extrao da costela e a formao da mulher, no caso, no tem sentido literal, mas vem a ser a maneira plstica de afirmar a igualdade de natureza do homem e da mulher. luz desta verdade que se deve entender tambm o desfile de animais perante o homem e a imposio de nome a cada um deles (2, 1 9s). Impor o nome, para os antigos, significa reconhecer a essncia, a identidade do ser nomeado. O autor sagrado magma Ado a impor nomes aos animais para poder enfatizar de modo muito concreto que nenhum animal era adequado ao homem; notemos que, antes e depois do desfile, O texto verifica que o homem estava s (2,18.20). Devemos, pois, concluir que tal cena no tem sentido literal, mas visa apenas fazer o contraste entre o homem e os animais inferiores e assim preparar o surto da mulher feita da costela ou participante da dignidade do homem.No se deve, pois, na base do texto bblico, atribuir a mulher origem diversa da que tocou ao homem.c. Resta, ento, indagar: que diz o texto sagrado sobre a maneira como apareceu o ser humano?A Bblia no foi escrita para dirimir o dilema criao ou evoluo. Todavia, a partir de premissas filosficas e teolgicas, preciso dizer que o dilema no existe. Vejamo-lo por partes.Quanto ao homem, a pergunta colocada popularmente nestes termos: Vem do primata ou no? - Responderemos distinguindo entre corpo e alma do homem. O corpo, sendo matria, pode provir de matria viva preexistente; no proviria dos macacos hoje existentes, pois estes j so muito especializados e no evoluem mais; proviria, porm, do primata ou do ancestral dos macacos e do corpo humano. A alma, contudo, no teria origem por evoluo, mas por criao direta de Deus; sendo espiritual, ela no provem da matria em evoluo (o esprito no energia quantitativa, nem fludo nem ter; por isto no pode originar-se da matria). Assim, se conciliam criao e evoluo no aparecimento do homem; pode-se admitir que, quando o corpo do primata estava suficientemente evoludo ou organizado, Deus lhe infundiu a alma espiritual, diretamente criada para dar-lhe a vida de ser humano. Isto ter ocorrido tanto no surto do homem como no da mulher.Considerando agora o universo, podemos dizer que a matria inicial, catica (nebulosa), donde ter procedido evoluo, foi criada diretamente por Deus (no matria eterna). Deus lhe haver dado as leis de sua evoluo de modo que dela tiveram origem os minerais, os vegetais e os animais irracionais at o limiar do homem. Quando o Senhor Deus quis que este aparecesse na face da terra, realizou outro ato criador, infundindo a alma espiritual no organismo do ser evoludo. o que se pode reproduzir no seguinte esquema:Ato Criador Evoluo Ato Criador Alma espiritual

Matria inicial minerais vegetais animais organismo aperfeioado (Nebulosa) irracionais HMNo tocante origem da vida, preciso distinguir vida vegetativa, da sensitiva e vida intelectiva. As duas primeiras modalidades dependem de um princpio vital material, que bem pode ter sido deduzido da matria em evoluo. Ao contrrio, a vida intelectiva depende de um princpio vital (a alma) espiritual, que s pode provir de um ato criador de Deus.c) Monogenismo ou poligenismo

Pergunta-se: quantos indivduos houve na origem do gnero humano atual? costume responder: um homem (Ado) e uma mulher (Eva). Esta afirmao pode ser licitamente repensada em nossos dias.

A cincia reconhece trs hipteses referentes ao nmero de indivduos primitivos:Polifiletismo:muitos troncos ou beros do gnero humano (na sia, na frica, na Europa...).

Monofitelismo(Um s tronco)

Ora, a primeira hiptese (polifiletismo) contraria a f e as probabilidades cientficas. No se diga que o gnero humano apareceu sobre a terra em localidades diversas simultaneamente. O monofiletismo monogentico (um casal s) a clssica tese, aparentemente deduzida da Bblia. Todavia verifica-se, aps leitura atenta do texto sagrado, que no a nica hiptese concilivel com a f. O poligenismo no se ope a esta. E por qu?

A palavra hebraica Adam significa homem; no um nome prprio, mas substantivo comum. Por conseguinte, quando o autor sagrado diz que Deus fez Adam (ou Ado) quer dizer que fez o homem, o ser humano, sem tencionar especificar o nmero de indivduos (um, dois ou mais...). Muito significativo o texto de Gn 1, 27: Deus criou o homem (Adam) a sua imagem; imagem de Deus Ele o criou; homem e mulher Ele os criou. Neste versculo verifica-se que a palavra Adam no designa um indivduo, mas a espcie humana diversificada em homem e mulher. O nome Eva tambm no nome prprio, mas significa em hebraico me dos vivos (Gn 3, 20). Fica, pois, aberta ao fiel catlico a possibilidade de admitir mais de um casal na origem do gnero humano. O que importa, em qualquer hiptese, afirmar que os primeiros pais (dois ou mais) foram elevados filiao divina (justia original) e que, submetidos a uma prova, no se mantiveram no estado de amizade com Deus (cometeram o pecado original). - Seria falso, porm, dizer que Ado e Eva nunca existiram ou que so fbula ou alegoria: so to reais quanto o gnero humano real; o texto sagrado nos diz que Deus tratou com o homem nas suas origens,... com o homem real, e no com um ser fictcio. E a histria referente aos primeiros pais da histria real, embora narrada em linguagem figurada (serpente, rvore, fruto...). De resto, intil insistir sobre a questo poligenismo ou monogenismo?, pois no h critrios cientficos para dirimi-la (a cincia at hoje no tocou a estaca zero do gnero humano); apenas interessa notar que a hiptese poligenista no contraria a f.

A origem das raas no exige o polifiletismo. Com efeito: o conceito de raa assaz flexvel; raa resulta de um conjunto de determinados elementos do ser humano (cor da pele, forma dos olhos, tipo de cabelo...). Todavia a mesclagem desses elementos to variegada sobre a face da terra que h uma gama contnua de tipos entre o indivduo branco, o negro, o amarelo... Em consequncia, a origem desses tipos raciais pode explicar-se a partir de um s principio: devem-se no somente as diversas condies de clima, alimentao, trabalho, das populaes, mas tambm ao fenmeno do mutacionismo (mudanas bruscas em indivduos raros, que se transmitem estavelmente).So estes alguns comentrios que o texto de Gn sugere ao estudioso contemporneo.Parte VI EXEGESE DE Gn 1-11 (A queda original e Caim e Abel)Viso esquemtica

3 A queda original:

a. O paraso terrestre;

b. O pecado dos primeiros pais;

c. As consequncias do pecado.4 Caim e Abel Cainitas, Setitas e Semitas:

a. Caim e Abel;

b. Os Cainitas;

c. Os Setitas;

d. Os Semitas.Parte VI EXEGESE DE Gn 1-11 (A queda original e Caim e Abel)CONTEDO

3. A QUEDA ORIGINAL:a. O paraso terrestre

O documento javista, alm de apresentar o casal humano e sua dignidade no mundo, aborda a difcil questo da origem do mal ou o tema do pecado original. Este assunto tem sido muito controvertido nos ltimos decnios; no de alcance das cincias naturais, nem da filosofia, mas pertence ao plano da f. Por isso s poder ser devidamente considerado se levarmos em conta as declaraes do magistrio da igreja atinentes temtica do pecado original. o que vamos fazer: estudaremos o texto bblico em seus aspectos lingusticos e humanos e procuraremos ouvir o que a respeito tem dito a S. igreja no decorrer dos sculos. O primeiro ponto a encarar o do paraso terrestre (Gn 2,8-15). A Bblia nos fala de um jardim ameno, irrigado por quatro rios: o Fison, o Geon, o Tigre e o Eufrates. Os estudiosos tm procurado localizar esse paraso: o Tigre e o Eufrates so rios da Mesopotmia muito conhecidos, mas o Geon e o Fison no podem mais ser identificados. Foram propostas, no decurso dos tempos, cerca de oitenta sentenas para situar o paraso terrestre. Hoje em dia, porm, os estudiosos julgam que esse jardim bblico no significa um lugar determinado, mas to somente o estado de harmonia e felicidade a que o homem foi elevado logo depois de criado.Com efeito, o rio , para os antigos, smbolo de vida e fecundidade. Quatro o nmero que designa a totalidade das coisas deste mundo; por conseguinte, quatro rios significam o bem-estar interior e exterior de que gozavam os primeiros pais logo aps a criao. Na verdade, quem l atentamente o texto bblico, verifica-se que os primeiros homens gozavam de dons especiais constitutivos da justia original ; esta compreendia:1. A filiao divina ou a graa santificante ou a elevao do homem condio do filho de Deus, chamado a participar da vida e da felicidade do prprio Deus. o que se deduz do texto sagrado, o qual indica claramente que Ado vivia na amizade com o Criador. Este Dom dito sobrenatural, isto , ultrapassa todas as exigncias de qualquer criatura.2. Os dons preternaturais, isto , ampliavam as perfeies da natureza:

a. A imortalidade, pois em Gn 2,7; 3,3s.19 a morte apresentada como consequncia do pecado; isto significa que, antes do pecado, o homem no morreria dolorosa e tragicamente como hoje morre;

b. A impassibilidade ou ausncia de sofrimentos, pois estes decorrem da sentena contraditria de Gn 3, 16;

c. A integridade ou a imunidade de concupiscncia desregrada, visto que os primeiros pais, antes do pecado, no se envergonhavam da sua nudez (cf. Gn 2,25; 3,7-11); os seus instintos ou afetos estavam em consonncia com a razo e a f; no havia neles tendncias contraditrias;

d. A cincia moral infusa, que os tornava aptos a assumir as suas responsabilidades diante de Deus. Os dons da justia original no implicam que os primeiros homens fossem formosos; tero sido dons meramente interiores, compatveis com a configurao rude e primitiva que as cincias naturais atribuem aos primeiros seres humanos.A Bblia menciona no paraso duas rvores: a da cincia do bem e do mal e a da vida (Gn 2,9). Hoje em dia, sabe-se pelo estudo das literaturas antigas que a rvore era um smbolo religioso assaz frequente; , pois, em sentido simblico que entendemos as rvores de Gn 2. A rvore da cincia do bem e do mal designa um preceito ou um modelo de vida que daria ao homem a cincia ou a experincia concreta do que so o bem e o mal. Era justo que Deus indicasse ao homem um modelo de vida, pois o homem, elevado filiao divina, no se deveria reger apenas por critrios racionais ou naturais, mas deveria seguir uma norma de vida incutida pelo prprio Deus. Devemos renunciar a pedir pormenores desse modelo de vida. Quanto rvore da vida, pode-se crer que ela dava ao homem o fruto da vida perptua ou o sacramento da imortalidade; o homem saberia assim que a imortalidade um dom de Deus.b. O pecado dos primeiros pais1. Em Gn 3, 1 entra em cena a serpente como o mais astuto de todos os animais do campo. Tal serpente imagem do demnio tentador. O livro da Sabedoria (2,23) diz que Deus no fez a morte, mas esta entrou no mundo por inveja do demnio; e Jesus, aludindo a Gn 3, chama o Maligno homicida desde o incio, mentiroso e pai da mentira (Jo 8,44). O demnio um anjo, que Deus criou bom. Mas que se rebelou contra o Criador por soberba (v-se que desde as suas primeira pginas a Escritura supe e afirma a existncia dos anjos, especialmente a dos anjos maus). O autor sagrado quis simbolizar o Maligno mediante a figura da serpente, porque esta frequentemente na S. Escritura representa o homem malvado e fraudulento (Gn 49,17; Is 59,5; Mq 7,17; J 20,14-16; Sl 140 [ 141 ], 4). Mais: de observar que a serpente era, para os cananeus (antigos habitantes da terra de Israel), uma divindade associada fecundidade e vida; ora, precisamente para condenar essa figura, o autor talvez tenha apresentado o tentador sob forma de serpente; assim a descrio da serpente paradisaca assumia, para o israelita, o valor de admoestao contra a seduo dos cultos idlatras que cercavam a verdadeira religio.

No necessrio admitir que a mulher tenha visto uma serpente diante de si, mas pode-se dizer que o dilogo entre o tentador e a mulher foi meramente interno, como acontece geralmente nas tentaes ao pecado.2. Em Gn 3,6s est dito que os primeiros pais comeram da fruta proibida. Isto quer dizer que desobedeceram a Deus ou no aceitaram o modelo de vida que o Senhor lhes havia apontado.

A raiz desse pecado foi a soberba. Notemos que a serpente, ao tentar os primeiros pais, disse explicitamente: No dia em que comerdes os vossos olhos se abriro e sereis como Deus, versados no bem e no mal (Gn 3,5). Precisamente o homem quis ser como Deus, capaz de definir o que o bem e o que o mal, sem ter que pedir normas ao Senhor. A soberba o pecado do esprito, o nico que os primeiros homens, portadores da harmonia original, podiam cometer. A soberba se exteriorizou em determinado ato, que no podemos identificar.

H quem diga que o primeiro pecado foi o de ordem sexual. Argumentam afirmando que 1) cincia ou conhecimento na Bblia significa por vezes o relacionamento sexual (cf. Gn 4,1.17.25); 2) os primeiros pais estavam nus, e no se envergonhavam um do outro (2,25), mas aps o pecado se recobriram (3,7); 3) a mulher foi punida pelas dores do parto (3,16). A propsito observamos: 1) quando se trata do relacionamento sexual, o texto sagrado diz conhecer sua esposa (cf. Gn 4,1.17.25), ao passo que em Gn 2,17; 3,5 se l conhecer o bem e o mal; 2) o aparecimento da concupiscncia sexual e a vergonha se seguem culpa e no a precedem, como seria lgico no caso de um pecado sexual; 3) a mulher, punida pelas dores do parto, foi atingida em sua funo especfica de me, como o homem, condenado a ganhar o po ao suor da sua fronte (3,19), foi atingido em sua funo tpica de trabalhador; no h, pois, necessidade de recorrer a pecado sexual para explicar o tipo de punio da mulher.Vejamos agora.

c. As consequncias do pecadoEnumeremos as consequncias do pecado: 1) em relao aos primeiros pais e 2) em relao aos seus descendentes.

1) Em relao aos primeiros pais, o pecado acarretou a perda da justia original, ou seja, da filiao divina e dos dons que a acompanhavam. O texto sagrado (Gn 3,7) diz que, aps o pecado, abriram-se-lhes os olhos e reconheceram que estavam nus Essa nudez , antes do mais, o despojamento interior ou a perda dos dons originais; a concupiscncia ou a desordem das paixes se manifestou; por isto sentiram a necessidade de se vestir a fim de encobrir a sua natureza desregrada. No h dvida, a diversidade de tendncias dentro do homem algo decorrente da prpria natureza humana (sensvel e espiritual, ao mesmo tempo); todavia ela estaria superada se o homem no tivesse pecado em suas origens; ela hoje existe como consequncia do pecado. Da mesma forma, os homens perderam o dom da imortalidade (ou o poder no morrer); sem dvida, a morte um fenmeno natural, inerente criatura, mas a sua realidade hoje consequncia do primeiro pecado, conforme a S. Escritura (cf. Rm 5,12.19). O mesmo se diga em relao ao sofrimento; um dos precursores da morte.O pecado acarretou tambm a desarmonia no mundo irracional que cerca o homem; este j no o ponto de convergncia das criaturas inferiores; ao contrrio, estas muitas vezes prejudicam o homem e lhe negam a sua serventia; tendo-se rebelado contra Deus, o homem sente contra si a rebelio das criaturas inferiores.

Depois da queda, o Senhor Deus quis interrogar os primeiros homens (Gn 2,8-13). As respostas so bem caractersticas de quem culpado: o homem, antes de confessar, acusa, com certa covardia, a esposa como causa da sua desgraa (3,12); da mesma forma, a mulher acusa a outrem, a serpente (3,130. Ambos silenciam o verdadeiro motivo da sua desobedincia: a soberba ou o desejo de serem iguais a Deus, arbitrando entre o bem e o mal ou definindo a sua prpria regra de vida. Na verdade, o pecado acovarda o homem e separa-o do seu semelhante e mesmo mais ntimo amigo.

Todavia o Senhor no quis apenas condenar os pecadores. Ao mesmo tempo, props-lhe a esperana da reconciliao que chamada, no caso, o proto-evangelho (ou o primeiro Evangelho). Ler Gn 3,14s A sentena sobre a serpente no recai sobre o animal irracional, mas sobre o tentador: rastejar e comer a poeira da terra so imagens que significam derrota (os vencedores, na antiguidade, colocavam os adversrios derrotados no cho, debaixo de seus ps); o texto sagrado quer assim dizer que o demnio um lutador j vencido; poder maltratar os fiis de Deus no decorrer da histria, mas pode estar certo de sua derrota final. Para corroborar esta afirmao, o Senhor promete colocar inimizade entre a serpente (o tentador) e a mulher, entre a descendncia da serpente (os homens maus) e a descendncia da mulher (os homens bons) o que significa: promete reconciliar a mulher e os seus descendentes so os homens bons, que no seguem as sugestes do tentador; todavia o papel da mulher e o de sua descendncia s se tornaram plenos e perfeitos em Maria e em seu Filho Jesus Cristo; por isto o proto-evangelho alude indiretamente a Maria e a Jesus Cristo, prometendo a vitria do Senhor Jesus sobre o Maligno atravs da Cruz e da Ressurreio.2) Em relao aos descendentes dos primeiros pais, o pecado original tornou-se algo de hereditrio. Dizemos que todos os homens nascem com a culpa original. Todavia preciso entender que no se trata de culpa pessoal ou de pecado voluntrio nos descendentes de Ado e Eva. Nestes o pecado original consiste na ausncia dos dons originais (graa santificante, dons preternaturais), que os primeiros pais deviam ter guardado e transmitido, mas no puderam transmitir porque pecaram. A criana que hoje nasce, devia nascer com a graa santificante, mas isto no acontece; ela nasce destoando do exemplar ou do modelo que o Senhor lhe tinha assinalado; essa dissonncia (que implica a concupiscncia desordenada e a morte) que se chama, por analogia, pecado original nos pequeninos.

Por que Deus quis que a culpa dos primeiros pais assim repercutisse nos seus descendentes? Seria Deus vingativo? A criana, que no pediu a eventualidade de nascer, muito menos pediu nascer com pecado!

Em resposta, diremos: toda criana que vem ao mundo, nasce dentro de um contexto social, geogrfico, do qual solidria; assim h crianas que nascem no Brasil, outras na China, outras em Biafra, outras na Europa; h crianas que nascem no sculo XX, outras nasceram no sculo II a.C., outras no sculo X d. C Cada uma traz a herana da famlia, do lugar e da poca em que nasce. Essa solidariedade palpvel, tambm no seguinte caso: imaginemos um pai de famlia que numa noite perde todos os seus bens numa jogatina de cassino; os filhos desse homem no tm culpa, mas ho de carregar as consequncias (misria, fome) decorrentes do desatino de seu pai. Ora a solidariedade mais fundamental que cada um de ns traz, a solidariedade com os primeiros pais; se estes perderam os dons originais, ns, sem culpa nossa, somos afetados por essa perda o que muito lgico. V-se, pois, que a transmisso do pecado original no se deve a inteno vingativa de Deus, mas consequncia da ndole mesma da natureza humana.

H, porm, quem julgue que o ato de gerar pecaminoso se por ele se transmite o pecado dos primeiros pais, responderemos que o ato biolgico de gerar foi institudo pelo prprio Criador; em si ele nada tem de pecaminoso; transmite a natureza como se acha nos genitores; tal ato no a causa do pecado original ou do estado desregrado em que nascem as crianas, nem pode exercer influxo sobre tal estado. O ato biolgico de gerar poderia transmitir tambm a graa santificante se os primeiros pais a tivessem conservado. O que a gerao no d, isto , a graa santificante, a regenerao ou o Batismo o deve dar. Por isto, que no se deve protrair o Batismo das crianas. O segundo Ado, Jesus Cristo, readquiriu a filiao divina para o gnero humano e a comunica mediante o Batismo.

A doutrina do pecado original pertence estritamente ao patrimnio da f. No lcito reduzir o conceito de pecado original ao de pecado do mundo, como se no fosse mais do que o acmulo de faltas pessoais que se cometeram desde o incio da histria, fazendo que todo homem seja, desde os seus primeiros anos, seduzindo ao mal.

Os povos primitivos antigos e contemporneos tm a noo de que os males existentes no mundo no so originais nem devidos ao Criador, mas provm de uma culpa dos primeiros homens ou de um pecado original; tal crena, to generalizada como , pode ser entendida como valioso argumento em favor da doutrina catlica.4. CAIM E ABEL CAINITAS, SETITAS E SEMITAS:a. Caim e Abel

Logo aps a descrio da queda original, o autor sagrado apresenta o morticnio de Caim que mata seu irmo Abel. Cf. Gn 4, 1-16. Quem observa este episdio, verifica que supe um estado adiantado da cultura humana, ou seja, o perodo neoltico: os homens j domesticavam os animais, de modo que Abel pastor, e j cultivavam industriosamente a terra, de modo que Caim agricultor (4, 2); Caim funda uma cidade (4, 17), tem medo de se encontrar com outros homens (4, 14), sabe que haver um cl pronto para defend-lo... Diante destes traos literrios, os autores propem duas maneiras de entender o episdio:

1. Fato histrico antigo descrito com roupagem da poca posterior. O autor sagrado estaria relatando um fratricdio realmente ocorrido nos incios da pr-histria bblica, mas teria usado linguagem da poca neoltica para tornar-se mais compreendido pelos leitores: os atores da cena tero sido apresentados como se fossem homens contemporneos do escritor sagrado. Esta interpretao aceitvel, mas no parece ser a melhor. prefervel a seguinte: 2. Fato meta-histrico ou trans-histrico. Observemos que houve uma tribo dos quenitas ou quineus ou cineus na poca de Moiss (sc. XIII a.C.); tinham por Patriarca fundador um certo Caim. Leiamos, por exemplo, Nm 24, 21: "Balao viu os quenitas e pronunciou o seu poema. Disse: 'A tua morada est segura, Caim, e o teu ninho firme sobre o rochedo"; os quenitas eram nmades (1Cr 2, 55); tinham relaes estreitas com Madi (Nm 10, 29; Jz 1, 16); ver tambm 1Sm 15, 4-6; Jz 4, 11.17; 5, 24. Ora pode-se crer que esse patriarca Caim tenha sido um fratricida famoso; o crime de Caim ocorrido nos tempos de Moiss ou pouco antes ter sido tomado como um fato tpico da maldade humana. Por isto o autor sagrado haver colocado esse fato logo no incio da pr-histria bblica, querendo assim significar, de maneira muito concreta, que, quando o homem dizNoa Deus, passa a dizerNotambm ao seu irmo; a fidelidade a Deus e a fidelidade ao prximo so inseparveis uma da outra; por isto tambm o Senhor Jesus quis resumir toda a Lei em dois preceitos: o do amor a Deus e a do amor ao prximo (cf. Mt 22, 40).

Neste caso no se pode dizer que Caim e Abel foram filhos diretos dos primeiros pais. Nem era a inteno do autor sagrado diz-lo. Nos onze primeiros captulos do Gnesis, a Bblia prope fatos histricos, sim, dispostos, porm, de maneira a nos fazer compreender o porqu da vocao de Abrao; ela quer mostrar que o primeiroNodito a Deus desencadeou uma srie de outras negaes, das quais a primeira oNodito ao homem. Segundo tal interpretao, o fratricdio cometido por Caim contra seu irmo Abel fato histrico, mas um fato que no ocorreu apenas uma vez no sculo XIII a.C.; Ocorre em todas as pocas, a partir da primeira fase da histria da humanidade; at hoje h muitos Cains que matam seus irmos, como houve tambm um no incio da histria sagrada.Quem aceita tal interpretao, j no formula a pergunta to frequentemente colocada por leitores da Bblia: com quem se casou Caim, se Ado e Eva s tiveram dois filhos e Caim matou Abel? Se o episdio de Caim e Abel datado do sculo XIII a.C., v-se que no h por que formular a questo: a populao humana j se alastrava sobre a terra. De passagem, digamos: se algum no aceita a interpretao proposta, pode-se-lhe responder apontando o texto de Gn 5, 4, onde est dito que Ado e Eva tiveram filhos e filhas; Caim tinha, pois, com quem se casar; o fato de se tratar de uma irm de sangue, filha de Ado, no era impecilho, porque no havia, naquela primeira gerao acmulo de taras hereditrias.Continuando a ler o texto sagrado, defrontamo-nos com duas listas genealgicas: a dos cainitas e a dos setitas. Examinemos cada qual de per si.b. Os Cainitas (Gn 4, 17-24)

Nessa tabela ocorrem sete geraes: Caim, Henoque, Irad, Maviael, Matusael, Lameque e seus filhos. Isto quer dizer que o autor sagrado quis propor um todo definido (sete smbolo de totalidade). Observemos as caractersticas dessa lista genealgica: 1) No h meno de um s nmero de anos (ao contrrio do que ocorre na lista dos setitas, toda marcada por nmeros); 2) Os Cainitas so todos promotores da civilizao e da cultura: fundam uma cidade (4, 17), so pastores de gado (4, 20), trabalham em metalurgia (4, 22), tocam harpa e flauta (4, 21); 3) So cada vez mais marcados pela vingana e sanguinolncia: Caim ser vingado sete vezes, mas Lameque, seu descendente, setenta e sete vezes (cf. 4, 24); 4) A devassido dos costumes se alastra nessa linhagem, de modo que Lameque tem duas esposas, Ada e Sila, em oposio imagem do casamento monogmico proposto em Gn 1-3: "Deixar o homem pai e me, e aderir sua esposa, e sero dois numa s carne" (Gn 2, 24).

Destas notas se depreende o seguinte: o autor sagrado quis mostrar o progresso do pecado na linhagem do homicida Caim: luxria e morticnio a se instalaram. Alm do que, associa entre si o pecado e as obras da civilizao (cidades, domesticao de animais, metalurgia, cultivo da msica...). Com isto o texto bblico no quer condenar os produtos do engenho humano (estes podem servir glorificao do Criador), mas quer mostrar como facilmente as conquistas da civilizao esto associadas ao pecado e levam ao pecado; elas provocam a ganncia do homem, so idolatradas, suscitam rixas e guerras... Era precisamente este o quadro que o autor sagrado podia contemplar quando considerava os grandes imprios da Mesopotmia (Assria e Babilnia) e do Egito, que cercavam o povo de Israel: eram imprios de elevada civilizao, mas alheios ao verdadeiro Deus, imersos na idolatria e na demanda insacivel do poder.

A audincia de nmeros na linhagem dos cainitas precisamente o sinal de que tais homens careciam de harmonia; no estavam inscritos no "livro da vida" (o nmero smbolo de ordem e sabedoria, segundo a Bblia). ("Livro da vida" expresso figurada da S. Escritura para significar a parte da humanidade que vive a verdadeira vida, a vida conforme o plano de Deus: cf. Ex 32, 32; Sl 68(69), 29).c. Os Setitas (Gn 5, 1-32)Na linhagem dos setitas, contam-se dez nomes, desde Ado at No. De novo temos uma pea que pretende transmitir uma mensagem definida (dez tambm um smbolo de totalidade). Observemos que nessa tabela.

1) Os nmeros so muito frequentes: o autor diz com que idade cada Patriarca gerou o primeiro filho; quantos anos viveram depois disto, e com que idade morreu;

2) Os anos de vida de cada Patriarca so muito elevados, variando entre oitocentos e novecentos. 3) No se menciona uma obra da civilizao realizada pelos setitas. Qual o significado destes traos?

O autor sagrado quis propor a linhagem dos bons; estes tm nmeros, isto , gozam de ordem e harmonia e esto inscritos no "livro da vida". Diz o livro da Sabedoria que "o Senhor tudo dispe conforme nmero, peso e medida" (Sb 11, 20). No se atribui aos setitas nenhuma obra civilizatria, pois tais obras estavam associadas, na mente do autor, aos imprios pagos da vizinhana de Israel.

A grande longevidade assinalada a cada Patriarca setita no quer dizer que, na verdade, viviam sculos; mesmo que entendamos os 930 anos de Ado, os 912 de Sete... como anos lunares (um pouco mais breves do que o ano solar), no estaremos atinando com a mensagem do autor sagrado. Para os antigos, a longevidade era sinal de venerabilidade e respeitabilidade; por conseguinte quando atribuam a algum longa durao de vida, queriam apenas dizer que tal pessoa era merecedora de toda estima e considerao. Este modo de falar est documentado, por exemplo, na tabela dos reis pr-diluvianos que o sacerdote Beroso, da Babilnia, nos deixou.

Aloro reinou 36.000 anos; Alaparo 10.800 anos; Almelon 46.800 anos; Amenon 43.200 anos; Amegalaro 64.800 anos; Amenfsino 36.000 anos; Otiartes 28.800 anos; Daono 36.000 anos; Edoranco 64.800 anos; Xisutro 64.800 anos.

Temos nesta lista dez nomes de reis de elevada longevidade. Tambm no Egito se encontrou a lista de dez reis que governam o povo nos seus primrdios; os persas conheciam seus dez Patriarcas; os hindus enumeravam nove descendentes de Brama; com os quais Brama completava uma srie de dez geraes pr-diluvianas.

a luz destes documentos que se deve entender Gn 5, 1-32. Os dez nomes significam os homens que transmitiram a f e a fidelidade aos seus descendentes; visto que a vida o bem fundamental, uma longa vida, para os antigos hebreus, era smbolo de bno divina e honrabilidade; a indicao de que cada Patriarca viveu elevado nmero de anos aps gerar o seu sucessor na lista, significa que esses pais do gnero humano tiveram a possibilidade de manter pura na sua famlia a revelao primitiva; donde se conclua que a religio que por tal via chegara a Israel, era a religio verdadeira, conservada atravs de uma srie de geraes providencialmente favorecidas por Deus.

Em sntese, no se dever crer que os Patriarcas bblicos viveram sculos. Ao contrrio, sabe-se hoje com certeza que a durao da vida humana na pr-histria era muito breve: oscilava entre os 20 e 40 anos, os homens no gozavam dos benefcios da medicina e da cirurgia para debelar seus males.

difcil explicar o porqu de cada uma das cifras atribudas aos patriarcas setitas. Como quer que seja, em dois caos parece possvel uma elucidao:

Henoque viveu 365 anos e, sem passar pela morte, foi arrebatado por Deus (Gn 5, 21-24). A sua vida a mais breve na lista setita; no obstante, o nmero que a acompanha, diz que atingiu a consumao devida; de fato, 365 o nmero caracterstico do ano solar; por isto, Henoque apresentado como um sol que consumou sua trajetria sobre a terra, difundindo luz e calor. Por isto tambm o stimo patriarca da lista setita (cf. Jd 14). Assim Henoque constitui o ponto culminante da tabela de Gn 5: em torno dele, o autor sagrado coloca os dois smbolos mximos de longevidade: seu pai Jared viveu 962, e seu filho Matusalm 969 anos; assim, diramos, a bno dada a Henoque se estendeu aos que lhe esto em comunho. timo comentrio da figura de Henoque a descrio do justo apresentada por Sb 4, 7-15. luz do que acaba de ser dito, v-se que no h motivo para afirmar que Henoque no morreu. Lameque representa, depois de Henoque, a vida menos longa da linhagem setita: 777 anos. Mas tambm esta vida tida como perfeita ou consumada, vista a insistncia no nmero 7. Alm do que, Lameque, ao gerar No (5, 28s), professa esperar deste filho alvio ou repouso, uma espcie de sbado (stimo dia!).d. Os Semitas (Gn 11, 10-26)Em Gn 11, 10-26 outra tabela genealgica ocorre, tambm est marcada por nmeros: a descendncia dos semitas, com dez geraes. Nesta os nmeros ho de ser entendidos de acordo com a chave acima exposta: so smbolos de bno divina e de venerabilidade. Esta proposio confirmada de modo especial por um particular da vida de Sem, que mostra como o autor sagrado no dava importncia matemtica aos nmeros: conforme 5, 32, No gerou Sem aos 500 anos de idade; o dilvio terminou no ano 601 da vida de No (cf. 8, 13s), ou seja, quando Sem devia ter 101 anos completos. Ora, dois anos aps o dilvio, Sem ainda tinha 100 anos (em vez de 103), conforme 11, 10!Note-se tambm que, com o tempo, vai diminuindo a longevidade atribuda pela Bblia aos Patriarcas: na linhagem dos semitas, Sem, o primeiro, vive 600 anos ( o mais longevo), e Tar, o ltimo, vive 205 anos.

Abrao viveu 175 anos, divididos em trs perodos: chamado por Deus, deixou a terra de Har aos 75 anos de idade (cf. On 12,4); gerou aos 100 anos (cf. 21, 5) e morreu aos 175 anos (cf. 25, 7). Ora esta distribuio em trs perodos mais ou menos simtricos evidencia o artifcio dos nmeros.

Jos do Egito viveu 110 anos (cf. Gn 50, 26). Moiss chegou a 120 (3 x 40) anos de idade cf. Dt 34, 7). Um salmo atribudo a Moiss reza: "Setenta anos o tempo da nossa vida; s os mais vigorosos chegam aos oitenta" (Sl 89[90], 10). O salmista j no utilizava linguagem simbolista, mas descrevia a realidade da durao humana em termos que at hoje correspondem nossa experincia. Poderamos dizer que, apresentando o decrscimo da longevidade atravs dos tempos, o autor sagrado queria significar que os homens se iam afastando, cada vez mais, da fonte da bno largamente concedida s primeiras geraes.Parte VII EXEGESE DE Gn 1-11 (O dilvio bblico e os sententa povos Babel)Viso esquemtica

5 O Dilvio Bblico:

a. Exame do texto de Gn 6-9;

b. A origem de Gn 6-9;

c. A mensagem de Gn 6-9.6 Os setenta povos Babel:

a. Os setenta povos;

b. Gn 11, 1-9 exame do texto;

c. A mensagem de Gn 11, 1-9.Parte VII EXEGESE DE Gn 1-11 (O dilvio bblico e os sententa povos Babel)CONTEDO

5. O DILVIO BBLICO:a. Exame do texto de Gn 6-9

Logo aps a linhagem dos setitas, o texto sagrado apresenta o dilvio bblico. Tal episdio se reveste de grande importncia no contexto de Gn 1-11: ocupa quatro captulos (6-9) e significa mais uma expresso do pecado, que, iniciado pelos primeiros pais, se vai alastrando cada vez mais.

O episdio do dilvio tem-se prestado a comentrios por vezes fantasistas, que destoam a mensagem do texto sagrado. Por isto comeamos o estudo desse trecho bblico examinando atentamente os seus dizeres.

Quem observa a seo de Gn 6-9 verifica que nela h repeties. Assim, por exemplo,

1) Por duas vezes indicada a corrupo moral dos homens como causa da catstrofe: Gen 6,5-7 e 11-13.

2) Segundo Gn 7,7-12, No entra na arca com os seus e logo comea a grande inundao. Mas, a seguir, so relatados de novo o ingresso na arca e a subseqente inundao ( 7,13-20), como se nada fora dito antes.3) Por duas vezes, e quase com as mesmas palavras, est dito que No executou tudo o que o Senhor lhe ordenara: 6,22 e 7,5.

4) H duas maneiras de explicar a enchente: ora a chuva que desaba sobre a superfcie da terra ( 7,4.12;8,2b);ora as guas jorram dos reservatrios postos acima do firmamento no alto e debaixo da terra ( 7,11;8,2a).

5) H diversas enumeraes de animais que entram na arca: em 6,19s;7,15s, trata-se de um casal de cada espcie, ao passo que em 7,2 aparece a distino entre animais puros e impuros ( sete casais daqueles, um casal destes). Tal distino anacrnica nos tempos de No; foi promulgada muito mais tarde pela lei de Moiss ( cf Lv 11; DT 14,3-20).6) Todos os seres vivos morrem duas vezes: 7,21 e 22s.

7) Em 8, 5 j aparecem os cimos das montanhas, ao passo que em 8,9 as guas ainda recobrem toda a face da terra;8) H duas cronologias do dilvio:

a. Conforme 7,4. 12.17 as guas duram 40 dias e 40 noites. Ao cabo de 40 dias, No soltou um corvo e, depois, por trs vezes consecutivas, uma pomba, a fim de verificar o estado da terra ( 8,6-12); julga-se que entre esses quatro lanamentos de animais houve, de cada vez, um intervalo de sete dias; cf. 8,10.12. Em consequncia, registra-se um total de 21 dias para a descida das guas aps as chuvas. O dilvio, ento, ter durado 40 + 21 = 61 dias.

b. Conforme 7, 11, porm, a enchente comeou no 17 dia do segundo ms do ano 600 da vida de No e durou 150 dias (7,24;8,2s); depois destes as guas comearam a baixar, de modo que no 1o dia do 10o ms apareceram os cumes das montanhas ( 8,5), no 1o dia do 1o ms do ano 601 a terra estava toda visvel ( 8,13) e no 27o dia do ms de 601 o continente estava seco ( 8,14). Em consequncia, o dilvio ter durado de 17/2/600 a 27/2/601. ora, sabendo-se que os israelitas contavam meses lunares, isto quer dizer: a catstrofe durou um ano lunar de 354 dias mais 11 dias, ou seja, precisamente um ano solar de 365 dias!Ponderados todos estes indcios, os exegetas com razo concluem que a narrao do dilvio bblico consta de dois documentos fundidos entre si, conservando cada qual seus pormenores prprios.Quais seriam esses documentos? No difcil responder: trata-se do documento sacerdotal (P) e do Javista (J). Com efeito, encontramos em Gn 6-9 muitas expresses que caracterizam o haxameron (relato sacerdotal da criao):

a. eis a histria de...