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1 DURHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. Lisboa, Editorial Presença. 2004. Na obra “As Regras do Método Sociológico”, primeiramente publicada em 1958, o pensador francês Émile Durkheim empenha-se a demonstrar a importância de se reconhecer a sociologia como ciência social. O autor apresenta esta ideia como inédita afirmando que muito pouco se trata cientificamente os fatos sociais e que seu principal objetivo é “estender ao comportamento humano, o racionalismo científico” (p. 17). Ao conceituar a sociologia como ciência da sociedade, o autor a difere da filosofia, da psicologia e das ciências naturais, afirmando que a sociedade tem uma natureza própria, e seu estudo deve tratar do ser coletivo e não apenas do indivíduo. Interessa a Durkheim compreender o homem no meio social e estudar os aspectos que o condicionam a se moldar de acordo com a realidade social em que está inserido. Durkheim procura demonstrar que a sociologia para se constituir como ciência deve ser objetiva como as ciências naturais. Para isso é necessário um objeto específico que se distinga dos objetos das outras ciências e que possa ser observado e interpretado. Assim, a sociologia teria por fundamento uma teoria do fato social, como objeto claramente definido, e método científico de investigação comparativo baseado na observação e experimentação. Seu método tem como ideia principal o estudo do fato social e todo primeiro capítulo é dedicado à sua conceituação. Durkheim explica que o fato social é exterior e anterior aos indivíduos, tão natural aos olhos daqueles já inseridos naquela realidade que só é perceptível quando o individuo se opõe ao fato em si. Destaca a coerção como fato regulador e repressor e exemplifica citando a educação como elemento de coerção, tanto na variante formal como informal, internalizando e transformando regras e hábitos, interferindo na formação de padrões sociais. Segundo o autor a educação tem o objetivo de formar o ser social, basta observar a maneira como são educadas as crianças, que consiste "num esforço contínuo para impor à criança maneiras de ver, de sentir e de agir às quais ela não teria chagado espontaneamente" (p.41)

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Resenha sobre “As Regras do Método Sociológico”, publicada em 1958, por Émile Durkheim

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Page 1: RESENHA_DURKHEIN

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DURHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. Lisboa, Editorial Presença. 2004.

Na obra “As Regras do Método Sociológico”, primeiramente publicada em 1958, o

pensador francês Émile Durkheim empenha-se a demonstrar a importância de se

reconhecer a sociologia como ciência social. O autor apresenta esta ideia como inédita

afirmando que muito pouco se trata cientificamente os fatos sociais e que seu

principal objetivo é “estender ao comportamento humano, o racionalismo científico”

(p. 17).

Ao conceituar a sociologia como ciência da sociedade, o autor a difere da filosofia, da

psicologia e das ciências naturais, afirmando que a sociedade tem uma natureza

própria, e seu estudo deve tratar do ser coletivo e não apenas do indivíduo. Interessa a

Durkheim compreender o homem no meio social e estudar os aspectos que o

condicionam a se moldar de acordo com a realidade social em que está inserido.

Durkheim procura demonstrar que a sociologia para se constituir como ciência deve

ser objetiva como as ciências naturais. Para isso é necessário um objeto específico que

se distinga dos objetos das outras ciências e que possa ser observado e interpretado.

Assim, a sociologia teria por fundamento uma teoria do fato social, como objeto

claramente definido, e método científico de investigação comparativo baseado na

observação e experimentação.

Seu método tem como ideia principal o estudo do fato social e todo primeiro capítulo

é dedicado à sua conceituação. Durkheim explica que o fato social é exterior e

anterior aos indivíduos, tão natural aos olhos daqueles já inseridos naquela realidade

que só é perceptível quando o individuo se opõe ao fato em si. Destaca a coerção

como fato regulador e repressor e exemplifica citando a educação como elemento de

coerção, tanto na variante formal como informal, internalizando e transformando

regras e hábitos, interferindo na formação de padrões sociais. Segundo o autor a

educação tem o objetivo de formar o ser social, basta observar a maneira como são

educadas as crianças, que consiste "num esforço contínuo para impor à criança

maneiras de ver, de sentir e de agir às quais ela não teria chagado espontaneamente"

(p.41)

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Ao pesquisador-arquiteto é de grande interesse o entendimento do fato social como

um conjunto de maneiras de agir, pensar e de sentir. É importante considerar que da

mesma forma que fatores como o idioma, a educação, o sistema jurídico e financeiro,

a consciência coletiva, os dogmas religiosos, etc., são fatos consolidados e que se

impõe numa sociedade, a forma como nos relacionamos com o espaço, com o meio

onde vivemos, com a arquitetura, a forma como habitamos, como nos deslocamos,

etc. obedecem a padrões culturais, construtivos e estéticos, que segundo Dukheim

seriam exteriores às consciências individuais.

Para haver um bom resultado, segundo Durkheim, deveria-se encarar os fatos sociais

como coisas, isto é, objetos que, lhe sendo exteriores, deveriam ser medidos,

observados e comparados independentemente do que os indivíduos envolvidos

pensassem ou declarassem a seu respeito. Com esse rigor, o autor busca um método

que garanta o sucesso das ciências exatas, bem como a definição de sociologia como

ciência, rompendo com a opinião do senso comum, dos "achismos” que interpretam

de maneira imprecisa e parcial a realidade social.

Na perspectiva desenvolvida por Durkheim, o pesquisador deveria ir além dos

preconceitos tradicionais, isto é, seus valores e sentimentos pessoais em relação ao

acontecimento a ser estudado “pois o objeto de toda ciência é fazer descobertas, e

toda descoberta desconcerta mais ou menos as opiniões aceitas” (p.15). Além disso,

seria preciso manter certa distância e neutralidade em relação aos fatos, resguardando

a objetividade de sua análise. Nesse sentido vale também a reflexão sobre a

importância da pesquisa e o enfrentamento crítico a que está sujeita, pois como afirma

Dukheim: “não há inovação sem oposição à uma ideia pré-estabelecida”.

Esta obra é considerada um marco nos estudos da sociologia. Fez-se notar por romper

com a filosofia e a psicologia, afirmando que eram os fatos sociais o objeto de estudo

da ciência, assim traçando um novo paradigma e revolucionando a sociologia. O

impacto de sua obra fica evidente já nos prefácios I e II em que o próprio autor aponta

controvérsias, esclarece alguns pontos e responde a algumas críticas.

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É também no prefácio à II edição que o autor apresenta uma idéia fundamental para o

entendimento do trabalho de pesquisa: ele lembra que as fórmulas podem ser revistas

e modificadas no futuro e evoluem, assim como os métodos, que tem caráter

provisório, e “mudam à medida que a ciência avança”.

A compreensão da ordem social dá bases e elementos para repensar as condições

sociais e sentido à pesquisa, a partir do entendimento de que pesquisa é investigação,

produção de conhecimento e também proposição, ou seja, projeto. Interessante

pensar que os conceitos apresentados por Durkheim abrem caminho para a reflexão

sobre o papel do arquiteto urbanista e do pesquisador na sociedade e sobre a

influência do espaço, do discurso e da pesquisa com vista à (re)construção de uma

consciência coletiva.