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1 FACULDADE INTEGRADA A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO DIREITO PRIVADO RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO ANGELICA RICARDO Rio de Janeiro Mar.., 2012

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FACULDADE INTEGRADA A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO DIREITO PRIVADO

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO

ANGELICA RICARDO

Rio de Janeiro

Mar.., 2012

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ANGELICA RICARDO

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO

Monografia apresentada a Faculdade Integrada

A Vez do Mestre, campus Centro II, como

requisito parcial para obtenção do certificado de

Pós-Graduação em Direito Privado e Direito

Civil

Orientador: Profª.

Rio de Janeiro

Mar.., 2012

ANGELICA RICARDO

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RESPONABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO

____________________________________________________ Prof ª

A Vez dez Mestre

Rio de Janeiro

Mar ., 2012

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4

Ao meu pai falecido ,

com amor.

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5

AGRADECIMENTOS

O Deus, minha mãe, irmãs e meu esposo.

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RESUMO

Conforme previsão do Código Civil, aquele que causar dano a outrem fica obrigado

a repará-lo.

Este estudo visa demonstrar que o advogado poderá ser responsabilizado civilmente

por uma ação ou omissão quando causar dano ao seu cliente, tendo em vista que

sua responsabilidade decorre de mandato, portanto puramente contratual. Conclui-

se que as obrigações do advogado são de meio e este só será responsabilizado

agindo com dolo ou culpa no decorrer do mandato. Ao aceitar uma causa não se

obriga o advogado a vencê-la,mas deve agir de maneira adequada a obter sucesso.

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Dentre os diversos erros que o advogado pode cometer irei abordar a perda de uma

chance do seu constituinte. Caberá ao magistrado, ao julgar, analisar no caso

concreto o grau de possibilidade que se tinha dessa chance obter sucesso, para que

seja responsabilizado civilmente o advogado.

Palavras-chave: Responsabilidade civil. Advogado. Perda de uma chance.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO......................................................................................................................07

CAPÍTULO 1 - A Responsabilidade Civil............................................................................09

1.1. Pressupostos da responsabilidade Civil..................................................................11

1.1.1. Ato/fato.........................................................................................................12

1.1.2. A culpa...........................................................................................................14

1.1.3. Nexo causal...................................................................................................18

1.1.4. Dano..............................................................................................................21

1.1.4.1. Dano material.......................................................................................22

1.1.4.2. Dano moral...........................................................................................23

1.2. Excludentes do nexo de causalidade......................................................................26

CAPÍTULO 2 – Espécies de Responsabilidade civil............................................................28

2.1. Responsabilidade contratual.................................................................................29

2.1.1. Obrigação de meio e de resultado...........................................................30

2.2. Responsabilidade extracontratual.........................................................................31

2.3. Responsabilidade civil subjetiva...........................................................................33

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2.4. Responsabilidade civil objetiva............................................................................33

CAPÍTULO 3 – Responsabilidade civil do advogado..........................................................36

3.1. Obrigações de meio ou obrigações de resultado?..................................................40

3.2. A responsabilidade do advogado pela perda de uma chance..................................42

3.3. Jurisprudências.......................................................................................................46

CONCLUSÃO........................................................................................................................50

REFERÊNCIAS.....................................................................................................................53

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INTRODUÇÃO

A responsabilidade civil é hoje um dos temas jurídicos mais discutidos, ensejando diversas

reflexões. É cenário que avulta a responsabilidade civil do advogado.

O tema é relativamente pouco explorado pela Doutrina, talvez em decorrência da noção

bastante difundida de que a obrigação de meio não seria capaz de acarretar tal consequência.

A tarefa de considerar a responsabilidade civil do advogado como tema da monografia de

conclusão de curso e persistir neste caminho não foi nada fácil, dada à exígua bibliografia

específica.

Mas, nestes tempos em que a responsabilidade em que a responsabilidade profissional tem

sido cada vez mais cobrada, foi também um prazer refletir sobre este assunto.

É indubitável que se exige, cada vez mais, dos advogados uma postura ética, condizente com

as premissas contidas na Lei 8.906, de 04.07.94 (Estatuto da Advocacia e da OAB) e por

consequência, aqueles que não trilharem esse caminho, poderão ser responsabilizados

civilmente pelos danos que acarretarem aos seus clientes.

Tal fato pediu a reflexão sobre a atuação dos advogados, os danos causados aos clientes, a

deficiência da Justiça, a falta de ética dos profissionais, e outros fatores que serão abordados

no decorrer do trabalho.

A presente pesquisa tem por objeto o estudo dos elementos que caracterizam a

responsabilidade civil do advogado, bem como a identificação de algumas das principais

situações em que este profissional poderá ser responsabilizado.

A metodologia utilizada abrangeu a reunião de algumas obras específicas sobre o tema

(raríssimas), além de outras obras que tratam sobre a responsabilidade civil de forma mais

abrangente.

No capítulo inicial, faremos um breve resumo histórico da responsabilidade civil.

Em seguida, no segundo capítulo, abordaremos conceitos e responsabilidade objetiva da

subjetiva e a aquilina da contratual.

No terceiro capítulo, trataremos dos elementos constitutivos da responsabilidade civil.

No quarto capítulo entraremos de fato na responsabilidade civil do advogado, passando por

seus elementos, características, fundamentos legais e abordando algumas das hipóteses em

que poderia ensejar indenização por parte do profissional do direito.

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Este capítulo, para melhor entendimento das questões abordadas, foi dividido em três fases:

pré-contratual, contratual e pós-contratual.

No quinto e último capítulo falaremos a respeito a respeito das peculiaridades da

responsabilidade civil do advogado enquanto profissional liberal, do advogado empregado e

da sociedade de advogados.

Após essas explanações, apresentaremos nossa conclusão. Na expectativa de que os

estudantes e os profissionais de Direito despertem para essa questão, e observem que o

exercício da advocacia requer constante estudo, prudência, eficiência e vigilância, pois, do

contrário, poderão suportar danos capazes de abreviar suas carreiras por causar perdas a

clientes nem sempre reparadas de forma satisfatória por uma indenização pecuniária.

1- BREVE HISTÓRICO DA RESPONASABILIDADE CIVIL

No início da nossa civilização, a ocorrência de um dano gerava na vítima uma ideia de

vingança para com o agressor, ou seja, a justiça era feita pelas próprias mãos. Limitava-se a

retribuição do mal pelo mal, como pregava a pena de talião, olho por olho, dente por dente.

Esta prática, na realidade, apresentava resultados extremamente negativos, pois acarretava a

produção de outro dano, uma nova lesão, isto é, o dano suportado pelo seu agressor, após sua

punição.

Posteriormente, surge o período da composição a critério da vítima, ainda sem se discutir a

culpa do agente causador do dano.

Num estágio mais avançado, o Estado toma a frente e proíbe a vítima de fazer justiça pelas

próprias mãos, estabelecendo a obrigatoriedade da composição, a partir de uma indenização

pecuniária. Durante esse período, cria-se uma espécie de tabela que estabelece o quantum

equivalente a um membro amputado, à morte, etc.

No ano 572 da fundação de Roma, um tribuno do povo, chamado Lúcio Aquílio, propôs e

obteve a aprovação e sanção de uma lei de ordem penal, que veio a ficar conhecida como Lei

Aquília, que possuía dois objetivos:

a) assegurar o castigo à pessoa que causasse um dano a outrem, obrigando-a a ressarcir os

prejuízos dele decorrentes;

b) punir o escravo que causasse algum dano ao cidadão, ou ao gado de outrem, fazendo-o

reparar o mal causado.

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O Direito francês aperfeiçoou essas ideias e, a partir dele, foram estabelecidos certos

princípios que exerceram sensível influência nos outros povos, tais como: direito à reparação,

sempre que houvesse culpa, ainda que leve, separando-se a responsabilidade (perante a

vítima) da responsabilidade penal (perante o Estado); a existência de uma culpa contratual (a

das pessoas que descumprem as obrigações), e que não se liga nem a crime nem a delito, mas

se origina da imperícia, negligência ou imprudência.

Surge o Código de Napoleão, e com ele a distinção entre culpa delitual e contratual. A partir

daí, a definição de que a responsabilidade civil se funda na culpa, propagou-se nas legislações

responsabilidade civil se funda na culpa, propagou-se nas legislações responsabilidade civil se

funda na culpa, propagou-se nas legislações de todo o mundo.

Com o advento da Revolução Industrial, multiplicaram-se os danos e surgiram novas teorias

inclinadas sempre a oferecer maior proteção às vítimas.

Sem abandonar a Teoria da Culpa, atualmente vem ganhando terreno a Teoria do

Risco, que se baseia na ideia de que o exercício de atividade perigosa é fundamento da

responsabilidade civil. Isto significa que a execução de atividade que ofereça perigo possui

um significa que a execução de atividade que ofereça perigo possui um risco, o qual deve ser

assumido pelo agente, ressarcindo os danos causados a terceiros pelo exercício da atividade

perigosa.

A Responsabilidade Civil

A atuação do homem em sociedade pressupõe a obediência a regras jurídicas, nas quais estão

dispostas as consequências relativas às condutas tomadas.

A teoria da responsabilidade civil busca estabelecer em quais circunstâncias uma pessoa pode

ser considerada responsável pelo dano sofrido por outra pessoa e em quais será obrigada a

repará-lo.

De acordo com o dicionário Aurélio, responsabilidade é “obrigação de responder pelas ações

próprias ou dos outros.”1 O estudo da responsabilidade civil engloba todo o conjunto de

princípios e normas que regem esta obrigação de reparar o dano, de indenizar.

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A responsabilidade civil surge quando uma obrigação não se cumpre, obrigação esta que pode

nascer da vontade dos indivíduos estabelecido num contrato ou da lei. Este descumprimento

obrigacional gera um dano, ou seja, a responsabilidade civil é o dever de indenizar um dano.2.

A necessidade pela busca de uma resposta ao dano causado à vítima foi constatado desde o

início das primeiras civilizações. Mas, no que consiste a responsabilidade civil?

Carlos Roberto Gonçalves conceitua o instituto da responsabilidade civil como: O instituo da

responsabilidade civil é parte integrante do direito obrigacional, pois a principal consequência

da prática de um ato ilícito é a obrigação que acarreta, para seu autor, de reparar o dano,

obrigação esta de natureza pessoal, que se resolve em perdas e danos.3

Segundo Maria Helena Diniz

1 Dicionário Aurélio

2 AZEVEDO, Álvaro Villaça, Teoria Geral das Obrigações: responsabilidade civil, São

Paulo: Atlas, 2004, 10.

ed. p. 276

3 GONÇALVES, Carlos Roberto, Responsabilidade civil. São Paulo: Saraiva, 2009. 11.ed. p.

2 .10

A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano

moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesmo praticado, por

pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição

legal.4

Para Sergio Cavalieri Filho (2005, p. 24): “responsabilidade civil é um dever jurídico

sucessivo que surge para recompor o dano decorrente da violação de um dever jurídico

originário.” Explica ainda, que o dever jurídico sucessivo é o de reparar o dano.

Álvaro Villaça Azevedo (2004, p. 277) conceitua responsabilidade civil: “é a situação de

indenizar o dano moral ou patrimonial, decorrente de inadimplemento culposo, de obrigação

legal ou contratual, ou imposta por lei, ou, ainda decorrente do risco para os direitos de

outrem.”.

Dos variados conceitos da responsabilidade civil, é possível expor que sua causa geradora e

principal é o interesse em restabelecer o equilíbrio moral ou econômico decorrente do dano

sofrido pela vítima, ou seja, colocando a vítima na situação em que estaria sem a ocorrência

do fato danoso.

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Importante, mencionar que é o patrimônio do devedor que responde civilmente.

Como afirma Gonçalves (2009, p. 21): “[…] a responsabilidade civil é patrimonial: é o

patrimônio do devedor que responde por suas obrigações.[...] Desse modo, se o causador do

dano e obrigado a indenizar não tiver bens que possa ser penhorados, a vítima permanecerá

irressarcida.”

Surge à obrigação de indenizar o prejuízo causado ou ressarci-lo, as decorrentes de atos

ilícitos, ações e omissões culposas ou dolosas do agente das quais resulta dano a outrem.

4-DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil, v. 7. 17. ed.

aum. e atual. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 36

1.1 Pressupostos da responsabilidade civil

Para que surja a obrigação de indenizar, faz-se necessária a existência de17. ed. aum. e atual.

São Paulo: Saraiva, 2003, p. 36 determinados fatores, denominados pressupostos ou

elementos da responsabilidade civil.

Apesar de a doutrina ser divergente entre os pressupostos necessários para a ocorrência da

responsabilidade civil, apontam-se quatro elementos necessários para sua caracterização.

Pode-se inferir da regra contida nos art. 186 e art. 927 do Código Civil esses requisitos

necessários para a existência da responsabilidade civil:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar

direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a

repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos

casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do

dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

a) ato/fato (ação ou omissão);

b) culpa do agente;

c) nexo de causalidade;

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d) dano sofrido pela vítima.

A ação ou omissão corresponde ao comportamento de uma pessoa. A culpa, que independe se

for com intenção (dolo) ou sem intenção de lesionar. O dano é o resultado do ato ilícito

praticado pelo agente. E o nexo de causalidade é a presença de alguma relação entre a causa e

o efeito.

O dano é o resultado do ato ilícito praticado pelo agente. E o nexo de causalidade é a presença

de alguma relação entre a causa e o efeito.

Sem a verificação desses requisitos não há de se falar em responsabilidade civil. Porém, no

caso da responsabilidade objetiva os requisitos necessários são apenas o ato, 12. Nexo causal

e o dano, excluindo-se a necessidade de demonstração da culpa. Essa responsabilidade será

abordada no item 2.4.

Irei abordar com mais profundidade cada pressuposto abaixo.

1.1.1. Ato/fato:

A ação pode ser entendida aqui como todo ato humano, voluntário e imputável, onde também

se incluem os atos praticados por negligência, imperícia e imprudência, e ainda onde também

as omissões do agente, se houver o dever de agir.

Para Silvio Rodrigues, a ação ou omissão do agente, que dá origem à indenização, geralmente

decorre da infração de um dever, que pode ser legal, contratual e social.5

Para que se configure a responsabilidade por omissão é necessário que exista o de dever

jurídico de praticar determinado fato, ou seja, de não se omitir.

A ação se configura como um fazer, um movimento comissivo, positivo, a prática de um ato

que não deveria se realizar. Já a omissão se caracteriza por uma abstenção de conduta que

deveria ter sido feita. Para se configurar a omissão é necessária à presença dois elementos: o

dever jurídico de praticar determinado fato e a demonstração de que o dano poderia ter sido

evitado se o agente não se omitisse. (Cavalieri Filho, 2005, p. 48; Gonçalves2009, p. 38-39).

Não necessariamente, a ação ou omissão deve ser praticada pelo agente (ato próprio), pois

poderá também ser fruto de ato de terceiro que esteja sob sua responsabilidade.

5 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: Responsabilidade Civil. São Paulo: Saraiva, 2007. 20a

ed. v.4. p.62

A responsabilidade indireta, prevista no artigo 932 do Código Civil, é aquela que se dá

quando alguém responde pelas consequências de ato ilícito praticado por outro agente, mesmo

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que não haja culpa de sua parte, conforme prevê o artigo 933 do Código Civil. Como

exemplo, temos a situação em que o advogado substabelece com ou sem reserva de poderes.

O substabelecimento, sem reserva de poderes, é aquele em que o procurador transfere para

outrem todos os poderes recebidos do mandante, e conforme o art. 1.328 do Código Civil, se

o procurador o fizer sem notificar o constituinte, não o isenta de responder pelas obrigações

do mandato. Já o substabelecimento, com reserva de poderes, é aquele que o procurador

transfere poderes que lhe foram outorgados no mandato pela parte a outro procurador,

mantendo para si os mesmos poderes, continuando a responder pelos seus atos e mantendo

para si os mesmos poderes, continuando a responder pelos seus atos e também pelos atos do

substabelecido.

Para caracterização do ato ilícito são necessários dois pressupostos: a Imputabilidade do

agente (elemento subjetivo) e a conduta culposa (elemento objetivo). A imputabilidade do

agente significa que seja possível atribuir a ele a Responsabilidade por alguma coisa.

Para Sérgio Cavalieri Filho (2005, p. 50): “imputabilidade é o conjunto de condições pessoais

que dão ao agente capacidade para poder responder pelas consequências.” Complementa

ainda “que não há como responsabilizar quem quer seja pela prática de um ato danoso se, no

momento em que o pratica, não tem capacidade de entender o caráter reprovável de sua

conduta e de determinar-se de acordo com esse entendimento.”6

A conduta (ação ou omissão) culposa é a reprovável, passível de um juízo de censura, que

será abordada no próximo tópico.

Portanto, a indenização deriva de uma ação ou omissão do agente que infringe censura que

será abordada no próximo tópico.

6 FILHO, Sergio Cavalieri. Programa de responsabilidade civil. São Paulo: Malheiros, 2005,

6 ed. Revista, aumentada e atualizada, p. 62. 14 um dever contratual.

1.1.2. A culpa

Para que exista a obrigação de indenizar, não basta que o agente causador do dano tenha agido

de maneira ilícita. No ordenamento jurídico brasileiro vigora, como regra geral, a culpa como

fundamento da responsabilidade civil, apesar de existirem alguns casos de responsabilidade

sem culpa.

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16

A culpa pode ser contratual ou extracontratual. Para essa distinção, o que se considera é o

dever violado. Se o dever for oriundo de contrato, ou seja, de uma relação jurídica

obrigacional preexistente, será contratual. Já se o dever tiver por causa geradora a lei ou um

preceito geral de Direito, será a culpa extracontratual ou aquiliana.

A culpa pode ser tratada em sentido amplo, latu sensu, que compreende o dolo e a culpa em

sentido estrito, stricto sensu, na qual é caracterizada pela imprudência, imperícia ou

negligência. Ainda, Caio Mário distingue dolo e culpa, o primeiro como infração consciente

do dever preexistente ou a infração da norma com a consciência do resultado, e a culpa como

violação desse dever sem a consciência de causar dano.7

A imprudência é a falta de atenção numa conduta comissiva, enquanto a negligência também

se caracteriza pela desatenção, todavia numa conduta omissiva. Já a imperícia é a falta de

habilidade na prática de uma atividade. (Cavalieri Filho, 2005, p. 61).

Neste sentido Maria Helena Diniz: A culpa em sentido amplo, como violação de um dever jurídico, imputável a alguém, em

decorrência de fato intencional ou de omissão de diligência ou cautela, compreende: o dolo,

que é a violação intencional do dever jurídico,

7 PEREIRA, Caio Mário da Silva, Instituições de Direito Civil – Introdução ao Direito Civil.

Teoria Geral de Direito Civil, v.1. Rio de janeiro:Forense, 2006, p. 657

15 e a culpa em sentido estrito, caracterizada pela imperícia, imprudência ou negligência,

sem qualquer deliberação de violar um dever. Portanto, não se reclama que o ato danoso tenha

sido, realmente, querido pelo agente, pois ele não deixará de ser responsável pelo fato de não

ter-se apercebido do seu ato nem medido as suas conseqüências.8

Cavalieri Filho conceitua culpa como “conduta voluntária contrária ao dever de cuidado

imposto pelo Direito, com a produção de um evento danoso involuntário, porém previsto ou

previsível.”9 Ele também conceitua dolo como: “a vontade conscientemente dirigida à

produção de um resultado ilícito.”10

O dolo consiste na ação ou omissão voluntária. É a vontade consciente de violar um direito,

provocar dano a outrem e atinge tal resultado.

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Para o caso de caracterização da culpa do agente, no caso do sentido estrito, a previsibilidade

da qual se fala aqui é a de um homem médio, ou seja, um homem comum que poderia prever

o resultado, e assim evitar o perigo.

A doutrina classifica a culpa pela gravidade como levíssima, leve ou grave.

Essa distinção de graus é necessária para auxiliar no quantum indenizatório

Culpa levíssima é aquela que a falta poderia ser evitada com atenção Essa distinção de graus é

necessária para auxiliar no quantum indenizatório extraordinário, ou seja, com conhecimento

singular ou com alguma habilidade especial, perita.

Já a culpa leve é a falta que pode ser evitada com atenção ordinária, com o cuidado próprio do

homem comum. A culpa é grave quando imprópria ao homem comum, é a que o agente atua.

com enorme falta de cautela, com descuido injustificável ao homem mediano. Esta, também

chamada de culpa consciente, é a que mais se aproxima do dolo eventual do Direito Penal,

pois nos dois casos há previsão do resultado, só que na culpa consciente, o agente acredita que

8 DINIZ, 2003, p. 42

9 CAVALIERI FILHO, 2005, p. 59

10 CAVALIERI FILHO, 2005, p. 55

16

O evento não ocorrerá e no dolo eventual o agente assume o risco de produzí-lo.11

Essa classificação é doutrinária, visto que o Código Civil não traz nenhuma distinção entre os

graus de culpa. O legislador prevê a obrigação de indenizar independente se o agente agiu

com culpa levíssima ou até mesmo com dolo. E ainda, que a indenização será calculada pelo

grau de culpa, mas sim pela extensão do dano, como dispõe o artigo 944.

Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.

Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano,

poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização.

Observa-se, que apesar do caput falar somente do dano, no parágrafo único, do art. 944 do

Código Civil, o legislador menciona a gravidade da culpa. Neste caso, sendo conferido ao juiz

o poder de reduzir a indenização quando excessiva, caso mostre desproporção entre seu valor

e o grau da culpa do agente responsável. 12

Pode ser ainda, a culpa, in eligendo (má escolha de preposto), in vigilando (ausência de

fiscalização), in committendo (decorrente de uma ação), in omittendo (decorre de omissão), in

custodiendo (falta de cuidado na guarda de coisa ou animal). (Gonçalves, 2.009 p.34).

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A culpa sendo um pressuposto da responsabilidade civil, de quem seria a obrigação de prová-

la?

A concepção clássica é a de que a vítima teria essa obrigação de provar que a culpa fora do

agente para obter a reparação do dano, conhecida como Teoria da culpa(subjetiva). Porém,

essa idéia passou por diversas etapas evolutivas, passando pela culpa presumida, isso por

conta do desenvolvimento industrial e do crescimento populacional, bem como dos problemas

derivados dos acidentes de trabalho, até chegar à Teoria do risco (objetiva)13.

11 CAVALIERI FILHO, 2005, p. 62

12 GONÇALVES, 2009, p. 539

17

A culpa presumida situa-se a meio caminho entre a responsabilidade culposa e a

responsabilidade sem culpa. É aquela que, inverte-se o ônus da prova da culpa, que deixa de

ser da vítima para ser do agente, que para se eximir terá de demonstrar não agiu com culpa.

Afirma Cavalieri Filho:

Sem se abandonar, portanto a Teoria da culpa consegue-se, por via da presunção, um efeito

prático próximo ao da teoria objetiva. O causador do dano, até prova em contrário, presume-

se culpado; mas por se tratar de presunção relativa – juris tantum -, pode elidir essa presunção

provando que não teve culpa14.

Infere-se que, na teoria da culpa cabe a vítima provar a culpa do causador do dano, já na

teoria da culpa presumida cabe ao demandado provar que não agiu com culpa.

Complementa Rui Stoco:

A jurisprudência, e com ela a doutrina, convenceram-se de que a responsabilidade civil

fundada na culpa tradicional não satisfaz e não dá resposta segura à solução de numerosos

casos. A exigência de provar a vítima o erro de conduta do agente deixa o lesado sem

reparação, em grande número de casos. De diversas dificuldades, tornando por vezes

impossível, que a vítima tinha em demonstrar a culpa do responsável pelo dano causado a sua

pessoa, como por exemplo, o do empregado em demonstrar a culpa do patrão, conforme Caio

Caio Mario afirma: “[...]O caso mais flagrante de aplicação da doutrina do risco é o da

indenização por acidente no trabalho.[...]A desigualdade econômica, a força de pressão do

empregador, a menor disponibilidade de provas por parte do empregado levavam

frequentemente à improcedência da ação de uma indenização.”16

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13 GONÇALVES, 2009, p. 539 a 541

14 CAVALIERI FILHO, 2005, p. 64

15 STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil. 6 ed. São Paulo: RT, 2004, p. 150

16 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Responsabilidade Civil, 8. ed. Rio de Janeiro: Forense,

2002, p. 275

18

A Teoria objetiva (risco) impõe a certas pessoas, em determinadas situações, a reparação de

um dano cometido sem culpa. Situações como as da pessoa que exerce atividade que por sua

natureza implique risco para os direitos dos outros e em casos especificados em lei.

E pode ser entendida segundo Cavalieri Filho como: “...todo prejuízo deve ser atribuído ao

seu autor e reparado por quem o causou, independentemente de ter ou não agido atribuído ao

seu autor e reparado por quem o causou, independentemente de ter ou não agido de se falar

em culpa, bastando a prova da relação de causalidade entre a conduta e o dano.18

Com isso, essa nova concepção nos trás a noção de que, terá a obrigação de reparar o dano

àquele que em razão de sua atividade criar algum tipo de risco que possa vir causar dano a

outrem, independente de culpa. E ainda, nos casos especificados em lei, conforme prevê o §

único, do artigo 927 do Código Civil.

Verifica-se que culpa presumida não se confunde com a teoria objetiva. Na culpa presumida a

culpa é imprescindível para a responsabilização, cabendo ao demandado afastar a presunção

de culpa mediante contraprova no sentido de não ter tido responsabilidade pelo dano. Já na

teoria objetiva ou de risco não se exige a verificação de culpa, é o caso em que há

responsabilidade sem culpa.

1.1.3. Nexo causal:

Outro requisito da responsabilidade civil é a existência de um nexo causal entre0 o fato ilícito

e o dano por ele produzido. Caso não exista essa relação de causalidade, não se

admite a obrigação de indenizar.

.

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20

O nexo causal é a relação que deve existir entre a ação ou omissão do agente e

17 CAVALIERI FILHO, 2005, p. 155

18 GONÇALVES, 2009, p. 23

19

o dano causado. Nexo, consoante o vernáculo significa ligação, vínculo, união. Causa, em

responsabilidade civil, significa o acontecimento que antecede o resultado lesivo.

O que se tem que verificar é que o dano não ocorreria se a ação do lesante não tivesse

acontecido.

Conforme preceitua Cavalieri Filho, temos que apurar se o agente deu causa ao resultado

antes de analisar se ele agiu ou não com culpa, pois não teria sentido culpar alguém que não

tenha dado causa ao dano. E ainda, conceitua nexo causal: “É o vínculo, a ligação ou relação

de causa e efeito entre a conduta e o resultado.”19

Assim, pode-se dizer que, em não havendo o elo entre a conduta do agente e o dano suportado

pela vítima, não há que se falar em responsabilidade civil, tendo em vista que o nexo causal é

elemento indispensável para que se possa buscar a reparação.

Caso o resultado danoso decorra de uma única conduta do agente, a identificação da relação

de causalidade entre os mesmos será facilmente perceptível. Contudo, se várias são as

condutas e circunstâncias que contribuem decisivamente para o prejuízo, certamente ficará

complicada a definição do nexo causal.

Na tentativa de elucidação do assunto, existem três teorias que tentam explicar a relação de

causalidade: a) teoria da equivalência das condições (ou dos antecedentes); b) teoria da

causalidade adequada e c) teoria do dano direto e imediato.

A primeira, teoria da equivalência das condições, considera que toda e qualquer circunstância

que haja concorrido para produzir o dano é tida como uma causa. A sua equivalência resulta

de que, suprimida uma delas, o dano não se verificaria. Permite uma regressão quase infinita.

Tem ampla aplicação no Direito Penal.

Cavalieri Filho (2005, p. 72) ressalta: “Critica-se essa teoria pelo fato de

19 CAVALIERI FILHO, 2005, p. 71

20

conduzir a uma exasperação infinita do nexo causal. Por ela, teria que indenizar a vítima de

atropelamento não só quem dirigia o veículo com imprudência, mas também quem lhe vendeu

o automóvel, quem o fabricou, quem forneceu a matéria-prima etc.”

Por sua vez, a teoria da causalidade adequada, somente considera como causadora do dano a

condição por si só apta a produzi-lo.

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21

De acordo com Cavalieri Filho

(2005, p. 73), “causa, para ela, é o antecedente não só necessário, mas, também, adequado à

produção do resultado. Logo, se várias condições concorrem para determinado resultado, nem

todas serão causas, mas somente aquela que for a mais adequada à produção do evento”.

Já para a teoria do dano direto ou imediato, também conhecida como teoria da interrupção do

nexo causal, causa é o elemento necessário que está direta (sem intermediário interrupção do e

imediatamente (sem intervalo) ligado com o resultado. Gonçalves (2009, p. 588) afirma que

interrupção do nexo causal, causa é o elemento necessário que está direta (sem intermediário

“é indenizável todo dano que se filia a uma causa, ainda que remota, desde que esta seja

necessária, por não existir outra que explique o mesmo dano Complementa ainda: “O agente

primeiro responderia tão só pelos danos que se prendessem a seu ato por um vínculo de

necessariedade. Pelos danos consequentes das causas estranhas responderiam os respectivos

agentes

Exemplo desta teoria seria: “A”, dirigindo em velocidade acima da permitida,

acaba atropelando “B”. “B” é socorrido por seu amigo “C”, que no caminho para o hospital

choca-se com outro veículo, e “B” vem a falecer. Em atenção à teoria do dano direto e

imediato, a causa para a morte de “B” seria o segundo acidente, pois a causa anterior deixou

de ser observada, constituindo-se outra relação de causalidade.

A maioria da doutrina adota esta teoria (direta e imediata), com base no art. 403 do Código

Civil. Porém, grandes são as discussões e divergências quanto à teoria que é

adotada pelo Código Civil brasileiro.

Muitos autores, como Carlos Roberto Gonçalves, entendem que devido ao seu art. 403, o

Código Civil teria se filiado à teoria direta e imediata.

21

Já outros estudiosos da área, como Orlando Gomes e Cavalieri Filho, entendem melhor a

aplicabilidade da teoria da causalidade adequada. Na realidade, a própria jurisprudência em

geral, por vezes, acolhe a teoria da causalidade adequada, existindo várias decisões ancoradas

também na teoria direta ou imediata.

Algumas situações retiram o nexo causal, fazendo que não ocorra a responsabilidade civil: a

culpa exclusiva da vítima, fato de terceiro, o caso fortuito ou a força maior, que será abordado

mais detalhadamente adiante. (item 1.2)

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22

1.1.4. Dano

O dano é um elemento indispensável à caracterização da responsabilidade civil.

Caso a pessoa cometa ato ilícito, mas não provoque dano a ninguém, não há que se falar em

responsabilidade civil, pois esta resulta da obrigação de ressarcir, que não poderá se

concretizar onde não exista o que reparar.

Indenização sem dano importaria pena para quem a pagasse e enriquecimento

sem causa (aumento de patrimônio de alguém, pela diminuição injusta de outrem sem uma

causa jurídica) para quem recebesse, o que não é admitido em nossa legislação, conforme

prevê os artigos 884 a 886 do Código Civil.

Inicialmente, quando se fala em dano, para muitos surge apenas a ideia do dano patrimonial,

no entanto, acrescenta Cavalieri Filho:

Conceitua-se, então, o dano como sendo a subtração ou diminuição de um bem jurídico,

qualquer que seja a sua natureza, quer se trate de um bem jurídico, qualquer que seja a sua

natureza, patrimonial, quer se trate de um bem integrante da própria personalidade da vítima,

com a sua honra, a imagem, a liberdade etc.

O dano pode ser divido em material e moral. Danos materiais são aqueles que atingem os

bens, causando diminuição patrimonial ao lesado, enquanto que os danos morais são aqueles

que atingem a honra, a imagem, liberdade etc. da vítima.

1.1.4.1. Dano material

Também chamado de dano patrimonial, é o que atinge os bens do patrimônio (apreciáveis em

dinheiro) do lesado.

Através da indenização que se busca reparar o dano causado à vítima integralmente, ou seja,

restaurar o statu quo ante, devolver ao estado em que se encontrava antes da ocorrência do ato

ilícito. Porém, em muitos casos se torna impossível “voltar” ao estado anterior, busca-se uma

compensação em forma de indenização monetária.

O dano pode ser avaliado tendo em vista a diminuição sofrida no patrimônio(dano emergente)

ou o que impediu seu crescimento (lucro cessante).

Dispõe o artigo 402 do Código Civil:

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23

Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao

credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.

Dano emergente é aquilo que efetivamente a vítima perdeu, é a diferença do valor do bem

jurídico entre aquele que ele tinha antes e depois do ato ilícito.

Já lucro cessante pode ser entendido como a privação de um ganho que o lesado deixou de

obter em razão do prejuízo que lhe foi causado. Deve ser levado em conta o20 CAVALIERI

FILHO, 2005, p. 96

23 que a vítima teria recebido caso o evento danoso não tivesse ocorrido. Contudo, não se

trata Contudo, não se trata de lucros imaginários, mas sim de um ganho futuro, perfeitamente

possível de ser esperado e possível também de ser adequadamente mensurado.

Manifesta-se Cavalieri Filho sobre lucro cessante:

A doutrina francesa, aplicada com frequência pelos nossos Tribunais, fala na perda de uma

chance nos casos em que o ato ilícito tira da vítima a oportunidade de obter uma situação

futura melhor, como progredir na carreira artística ou no trabalho, arrumar um novo emprego,

deixar de ganhar uma causa pela falha do advogado etc. É preciso todavia, que se trate de uma

chance real e séria, que proporcione ao lesado efetivas condições pessoais de concorrer à

situação futura esperada.21

O ressarcimento do dano emergente procura devolver, suprir à vítima o valor de seu

patrimônio antes da ocorrência do dano. O lucro cessante busca compensar o lesado pelo

lucro que ele deixou de ter em razão do dano ocorrido.

1.1.4.2. Dano moral

A caracterização e a mensuração do dano moral é mais complexa, ficando mais difícil a sua

avaliação, visto estar ligado ao ânimo da vítima, envolvendo questões psicológicas da pessoa.

Cada indivíduo apresenta reação diferente diante dos acontecimentos cotidianos, ou seja, o

que para alguns ocasiona algum tipo de sofrimento, para outros, é tratada como questão

normal, não acarretando prejuízo algum.

O dano moral é o prejuízo que afeta o ânimo psíquico, moral e intelectual da vítima. Sua

atuação está na esfera dos direitos da personalidade. Nesta área, o prejuízo transita pelo

imponderável, por isso aumentam as dificuldades de se estabelecer a justa recompensa

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24

21 CAVALIERI FILHO, 2005, p. 97-98

24

pelo dano. Não é qualquer dissabor simples da vida que pode acarretar indenização. Aqui

também é importante o critério objetivo do homem médio: não se levará em conta o

psiquismo do homem excessivamente sensível, que se aborrece com fatos diuturnos da vida,

nem o homem de pouca ou nenhuma sensibilidade, capaz de resistir sempre às rudezas do

destino.22

Afirma Sérgio Cavalieri Filho que: “Dano moral, à luz da Constituição Federal vigente, nada

mais é do que a violação do direito à dignidade’’. Depois, definindo melhor, esclarece que

“hoje o dano moral não mais se restringe à dor, tristeza e sofrimento, estendendo a sua tutela a

todos os bens personalíssimos – os complexos de ordem ética -, razão pela qual se revela mais

apropriado chamá-lo de dano imaterial ou não patrimonial, como ocorre no direito

português”. Concluindo depois que “em razão dessa natureza imaterial, o dano moral é

insusceptível de avaliação pecuniária, podendo apenas ser compensado com a obrigação

pecuniária imposta ao causador do dano, sendo esta mais uma satisfação do que uma

indenização”.23

Carlos Roberto Gonçalves, apoiado em Zannoni, afirma que o dano moral consistiria na lesão

a um interesse que visa à satisfação ou gozo de um bem jurídico extrapatrimonial contido nos

direitos da personalidade (vida, integridade corporal, liberdade, honra, intimidades etc) ou nos

atributos da pessoa (nome, capacidade), ou ainda que seria aquele que provoca prejuízo a

qualquer interesse não patrimonial, devido a lesão a um bem patrimonial (como exemplo, a

perda de uma objeto de valor afetivo).24

Segundo Maria Helena Diniz: "Dano moral vem a ser a lesão de interesses não patrimoniais

de pessoa física ou jurídica, provocada pelo fato lesivo"25

22 VENOSA. Sílvio de Salvo. Direito civil: Responsabilidade Civil, v. 4. 8. ed. atual. São

Paulo: Atlas, 2008, v.

1, p. 41-42

23 CAVALIERI FILHO, 2005, p. 101-102

24 GONÇALVES, 2009, p. 616-617

25 DINIZ, 2003, p. 84

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25

25

Não é qualquer descontentamento que caracterizará o dano moral. Desta forma, alguns

contratempos e transtornos que fazem parte do dia a dia, são inerentes a nossa atual sociedade.

Para que se possa configurar ou não o dano moral, o julgador vem buscando suporte na

jurisprudência e na doutrina, pois não existem critérios objetivos definidos em lei.

Na avaliação do dano moral é preciso que haja por parte do juiz, bom senso e também

prudência, considerando sempre o homem médio da sociedade, observando se também

prudência, considerando sempre o homem médio da sociedade, observando se com esse

entendimento, Cavalieri Filho (2005, p. 105) acrescenta:

Nessa linha de princípio, só deve ser reputado como dano moral a dor,

vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira

intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe

aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor,

aborrecimentos, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da

órbita moral, porquanto, além de fazerem parte da normalidade do nosso dia

dia, no trabalho, no trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar,

tais situações não são intensas e duradouras, a ponto de romper o equilíbrio

psicológico do indivíduo.

Enfim, todo aquele que causar prejuízo moral ou material submete-se a uma

pretensão ressarcitória do lesado.

1.2. Excludentes do nexo de causalidade

Já ficou demonstrado que, para ocorrer à caracterização da responsabilidade civil, tem que

haver o nexo de causalidade.

civil, tem que haver o nexo de causalidade.

Assim, fica excluída a aplicação da responsabilidade civil, nas situações que

podem ser caracterizadas pela culpa exclusiva da vítima, pelo fato de terceiro, por caso

26

fortuito ou por força maior, são estas os excludentes do nexo causal.

A culpa exclusiva da vítima ou como prefere dizer Cavalieri Filho, fato

exclusivo da vítima é caracterizado pelo fato de não existir nenhuma relação causal entre o

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26

dano efetivamente causado e o ato do devedor. Nesta situação, a vítima foi à única

responsável pela ocorrência do evento danoso, não havendo, então, possibilidade de se

transferir para outrem a responsabilidade de arcar com os prejuízos. Desta feita, comprovada a

culpa exclusiva da vítima, fica prejudicada a possibilidade de pleitear eventual indenização do

demandado.

No fato de terceiro, a responsabilidade recairá na pessoa do terceiro, uma vez

que foi este que efetivamente veio a contribuir para que houvesse o dano. Expõe Gonçalves:

A exclusão da responsabilidade se dará porque o fato de terceiro se reveste

de características semelhantes às do caso fortuito, sendo imprescindível e

inevitável. Melhor dizendo, somente quando o fato de terceiro se revestir

dessas características, e, portanto, equiparar-se ao caso fortuito ou à força

maior, é que poderá ser excluída a responsabilidade do causador direto do

dano.26

Já o caso fortuito ou força maior estão dispostos no artigo 393 do Código

Civil:

Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso

fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles

responsabilizado.

Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato

necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.

Na opinião de Venosa, o caso fortuito tem decorrência das forças da natureza,

podendo ser um terremoto, inundação, incêndio não provocado, a força maior, por sua vez,

decorre dos atos humanos, podendo ser em virtude de guerras, revoluções, greves e

determinações de autoridade. Ambas tem equiparação na prática, ou seja, fazem com que

esteja afastado o nexo de causalidade, uma vez que o prejuízo não é causado pelo fato do

26 GONÇALVES, 2009, p. 812

27

agente, mas em virtude de acontecimentos dos quais àquele não detinha o controle.27

Grande parte da doutrina, como Cavalieri Filho entende que a diferença entre

caso fortuito ou força maior é que, caso fortuito decorre de fato alheio à vontade das partes,

evento imprevisível e inevitável (ação do homem, guerra), já a força maior é proveniente de

acontecimentos da natureza, evento inevitável, podendo ser previsível (tempestades,

enchentes). Eles excluem o nexo causal por serem causa estranha a conduta do agente em

relação ao dano.

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27

As causas excludentes do nexo de causalidade deverão sempre ser

comprovadas e analisadas com muito cuidado pelo juiz da causa, para que a vítima não deixe

de ganhar sua reparação.

27 VENOSA, 2008, p. 51

28

CAPÍTULO 2 – Espécies de Responsabilidade Civil

De acordo com a doutrina dominante, a responsabilidade civil pode apresentarse

sob várias espécies, tal classificação deve-se as diferentes perspectivas sob as quais se

analisa a responsabilidade civil.

No que tange ao fato gerador da responsabilidade civil, pode-se abordar a

responsabilidade contratual (aquela proveniente de conduta violadora de norma contratual) ou

responsabilidade extracontratual ou aquiliana (resultante da violação de um dever geral de

respeito aos direitos alheios e legalmente previstos).

Quanto ao agente, poderá ser responsabilidade direta (proveniente de ato do

próprio responsável) e responsabilidade indireta (provém de ato de terceiro, vinculado ao

agente ou de fato de animal ou coisa inanimada sob sua guarda).

Quanto ao seu fundamento, poderá ser responsabilidade subjetiva (presente

sempre o pressuposto culpa ou dolo, devendo coexistir, para sua caracterização, a conduta, o

dano, a culpa e o nexo de causalidade entre a conduta e o dano) e responsabilidade objetiva

(não há a necessidade da prova da culpa, bastando a existência do dano, a conduta e do nexo

causal entre o prejuízo sofrido e a ação do agente).28

Em seguida, irei abordar mais detalhadamente sobre as responsabilidades:

contratual e extracontratual, subjetiva e objetiva.

28 Cadernos Jurídicos da Escola Paulista da Magistratura, São Paulo, ano 4, nº 16, p. 105,

julho-agosto/2003

29

2.1 – Responsabilidade contratual

A responsabilidade contratual é a que se situa na inexecução obrigacional,

ocorre por infração a uma obrigação assumida com base em autonomia de vontade. O dever

jurídico violado tem por fonte a própria vontade dos indivíduos. Está disciplinada nos artigos

389 e seguintes do Código Civil.

Conceitua Cavalieri Filho (2005, p. 294): “É infração a um dever especial

estabelecido pela vontade dos contraentes, por isso decorrente de relação obrigacional

preexistente”.

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28

Complementa Gonçalves (2009, p. 303): “Origina-se da convenção, das mais

diversas formas de contratos não adimplidos, com dano ao outro contratante”

Na responsabilidade contratual, a culpa é presumida e, dessa forma, cabe ao

autor demonstrar apenas o descumprimento contratual. Ficando a cargo do devedor o onus

probandi, o devedor terá que provar que não agiu com culpa ou que ocorreu alguma causa

excludente admitida na lei, que falarei mais a diante.

Segundo Cavalieri Filho (2005, p. 297), temos, além dos pressupostos já

mencionados, mais dois para que ocorra a responsabilidade contratual: existência de contrato

válido e inexecução do contrato. Tem que existir um contrato válido (com agente capaz,

objeto lícito, possível, determinado ou indeterminado – art. 104/CC) entre o devedor e o

credor, ou seja, não pode ser nulo nem possuir vícios que alterem sua validade. Além do

contrato válido, para que ocorra a responsabilidade contratual é necessária inexecução do

contrato em todo ou em parte, através do inadimplemento ou da mora.

Inadimplemento é quando a obrigação não foi cumprida, nem mais existe para

o credor a possibilidade de receber a prestação, já a mora é quando, embora não cumprida a

obrigação na forma convencionada, ainda existe a possibilidade de cumprimento, ou seja, o

30

devedor pode cumprir a obrigação, com proveito para o credor.29

2.1.1. Obrigação de meio e de resultado

A responsabilidade contratual pode ser subdivida em: obrigação de meio e

obrigação de resultado.

Segundo Cavalieri Filho (2005, p. 366):

[…]obrigação de resultado, entendendo-se como tal aquela em que o

devedor assume obrigação de conseguir um resultado certo e determinado,

sem o quê haverá inadimplemento. Difere da obrigação de meio porque,

nesta, o devedor apenas se obriga a colocar habilidade, técnica, prudência e

diligência no sentido de atingir um resultado, sem contudo, se vincular a

obtê-lo.

Caio Mário conceitua:

Nas obrigações de resultado, a execução considera-se atingida quando o

devedor cumpre o objetivo final; nas de meio, a inexecução caracteriza-se

pelo desvio de certa conduta ou omissão de certas preocupações, a quem

alguém se comprometeu, sem se cogitar do resultado final.30

Portanto, a obrigação de meio é a que o profissional se obriga a destinar seus

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29

melhores esforços e utilizar todos os meios disponíveis no sentido de obter o melhor sem,

contudo se comprometer na obtenção determinado resultado específico.

No caso da obrigação de resultado, o profissional deve alcançar um

determinado resultado, não o alcançando não terá cumprido sua obrigação, sobrevindo assim

o dever de indenizar.

Maria Helena Diniz sobre obrigação de meio:

A obrigação de meio é aquela em que o devedor se obriga tão-somente a usar

de prudência e diligência normais na prestação de certo serviço para atingir

29 CAVALIERI FILHO, 2005, p. 302

30 PEREIRA, Caio Mário da Silva, Instituições de Direito Civil – Teoria Geral das

Obrigações, v.2. Rio de

janeiro:Forense, 2007, p. 56

31

um resultado, sem, contudo, se vincular a obtê-lo. Infere-se daí que sua

prestação não consiste num resultado certo e determinado a ser conseguido

pelo obrigado, mas tão-somente numa atividade prudente e diligente deste

em benefício do credor. Seu conteúdo é a própria atividade do devedor, ou

seja, os meios tendentes a produzir o escopo almejado, de maneira que a

inexecução da obrigação se caracteriza pela omissão do devedor em tomar

certas precauções, sem se cogitar do resultado final.31

E, ainda, sobre obrigação de resultado:

A obrigação de resultado é aquela em que o credor tem o direito de exigir do

devedor a produção de um resultado, sem o que se terá o inadimplemento da

relação obrigacional. Tem em vista o resultado em si mesmo, de tal sorte que

a obrigação só se considerará adimplida com a efetiva produção do resultado

colimado. Ter-se-á a execução dessa relação obrigacional quando o devedor

cumprir o objetivo final. Como essa obrigação requer um resultado útil ao

credor, o seu inadimplemento é suficiente para determinar a responsabilidade

do devedor, já que basta que o resultado não seja atingido para que o credor

seja indenizado pelo obrigado, que só se isentará de responsabilidade se

provar que não agiu culposamente. 32

Na obrigação de meio, haverá inadimplemento se devedor agir com dolo ou

culpa ou se, determinada comportamento não ocorrer, sendo ele suficiente para dar uma

chance ao credor de obter o resultado (teoria da perda de uma chance)

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30

Na obrigação de resultado, haverá inadimplemento se não ocorrer o resultado.

Sendo que na obrigação de meio, cabe a vítima provar a culpa do agente, já na

obrigação de resultado a culpa é presumida.

Importa distinguir a obrigação de meio e a obrigação de resultado diante da

necessidade em definir a natureza da culpa contratual

2.2. Responsabilidade extracontratual ou aquiliana

Responsabilidade extracontratual é aquela em que o agente infringe um dever

31 DINIZ, 2003, p. 247

32 DINIZ, 2003, p. 248-249

32

legal, ou seja, da prática de um ato ilícito por pessoa capaz ou incapaz, da violação de um

dever fundado em algum princípio geral de direito. A fonte desta inobservância é a lei.

É a lesão a um direito sem que entre o ofensor e o ofendido exista nenhum

vínculo jurídico quando da prática do ato danoso.

A princípio a responsabilidade extracontratual baseia-se na culpa, o lesado

deverá provar para obter reparação que o agente agiu com imprudência, imperícia ou

negligência. Mas poderá abranger ainda a responsabilidade sem culpa, baseada no risco.

Na responsabilidade extracontratual a ocorrência de um ilícito previsto na lei

nos artigo 186 e 187 do Código Civil, independentemente de da existência de um contrato

estabelecido entre os envolvidos, surge do mesmo modo o dever de reparar o prejuízo.

Diniz (2003, p. 459):

A responsabilidade extracontratual, delitual ou aquilina decorre da violação

legal, ou seja, de lesão a um direito subjetivo ou da pratica de um direito

ilícito, sem que haja nenhum vinculo contratual entre o lesado e o lesante.

Resulta, portanto, da observância da norma jurídica ou de infração ao dever

jurídico geral de abstenção atinente aos direitos reais ou pessoalidade, ou

melhor, de violação negativa de não prejudicar ninguém.

Assim quando decorrer de uma responsabilidade extracontratual ocorre um

ilícito, ou seja, uma violação de dever legal. Nesta violação infringiu uma norma jurídica,

para que exista esta responsabilidade, não é necessário que exista um liame Jurídico, entre a

vítima e o causador do dano. O que se faz necessário é que a vítima demonstre através de

provas o prejuízo que sofreu.

Pode-se dizer então que na responsabilidade extracontratual se o agente

cometer um ilícito, infringir um dever legal, nasce à obrigação indenizatória. Pois todos têm

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31

direitos e deveres que estão submetidos a seguirem uma norma jurídica, cometendo um ilícito,

tem obrigação de ressarcir a vítima.

33

2.3. Responsabilidade Subjetiva

A responsabilidade civil subjetiva está fundada na Teoria da culpa, ou seja, se

configura essa responsabilidade, se o causador do dano tenha agido com dolo ou culpa na

pratica do ato ilícito.

Cumpre destacar que o Código Civil adota, como regra, o princípio da

responsabilidade subjetiva fundada na culpa. A responsabilidade independentemente de culpa

é adotada de forma subsidiária nos casos específicos previstos em lei, bem como em razão das

atividades que envolvam riscos. Tem seu fundamento no art. 186 do Código Civil.

Conforme Gonçalves (2009, p.22): “Diz-se, pois ser 'subjetiva' a

responsabilidade quando se esteia na idéia de culpa. A prova da culpa do agente passa a ser

pressuposto necessário do dano indenizável”

A prova da culpa do agente passa a ser pressuposto (subjetivo) necessário do

dano indenizável, tendo a vítima de provar o nexo entre o dano e a culpa do agente.

Desta forma, é subjetiva a responsabilidade quando se ampara na idéia de

culpa. A prova da culpa do agente passa a ser pressuposto necessário do dano indenizável. A

responsabilidade do causador para que possa surgir a obrigação de indenizar do dano, apenas

se configura se agiu com culpa ou dolo.

2.4. Responsabilidade Objetiva

Ao contrário da responsabilidade subjetiva que é fundada na teoria da culpa, a

responsabilidade objetiva tem fundamento Teoria do risco, ou seja, terá a obrigação de reparar

o dano aquele que em razão de sua atividade criar algum tipo de risco que possa vir causar

34

dano a outrem, independente de culpa (responsabilidade sem culpa).

Quem cria um risco deve responder por suas consequências, não havendo aqui

a busca da culpa, mas sim, a demonstração do dano e do nexo de causalidade.

Além dos casos específicos estabelecidos em lei, o Código Civil tem uma

cláusula geral da responsabilidade civil objetiva, conforme dispõe o art. 927, parágrafo único,

do Código Civil.

Segundo Gonçalves (2009, p. 23): “Uma das teorias que procuram justificar a

responsabilidade objetiva é a teoria do risco. Para esta teoria, toda pessoa que exerce alguma

atividade cria um risco de dano para terceiros. E deve ser obrigada a repará-lo, ainda que sua

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32

conduta seja isenta de culpa”

Conforme afirma, Cavalieri Filho (2005, p. 155-157), a teoria do risco tem as

seguintes modalidades: teorias do risco-proveito, do risco profissional, do risco excepcional,

do risco criado e do risco integral.

“Risco-proveito: responsável é aquele que tira proveito da atividade danoso, com

base no princípio de quem aufere o bônus, deve suportar o ônus.”

“Risco profissional: o dever de indenizar tem lugar sempre que o fato prejudicial é

uma decorrência da atividade ou profissão do lesado.” Foi desenvolvida especificamente

para justificar a reparação dos acidentes de trabalho.

“Risco excepcional: a reparação é devida sempre que o dano é conseqüência de um

risco excepcional, que escapa à atividade comum da vítima, ainda que estranho ao trabalho

que normalmente exerça.” (exemplo: exploração de energia nuclear). Em razão dos riscos

excepcionais a que essas atividades submetem os membros da coletividade de modo geral.

“Risco criado: aquele que, em razão de sua atividade ou profissão, cria um perigo,

está sujeito à reparação do dano que causar, salvo prova de haver adotado todas as medidas

idôneas a evitá-lo.” A diferença aqui para o risco-proveito é não se cogita aqui se o dano é

35

correlativo de um proveito ou vantagem para o agente.

“Risco-integral: modalidade extremada da teoria do risco em que o agente fica

obrigado a reparar o dano causado até nos casos de inexistência do nexo de causalidade. O

dever de indenizar surge tão-só em face do dano, ainda que oriundo de culpa exclusiva da

vítima, fato de terceiro, caso fortuito ou força maior.”

Assim, enquanto na responsabilidade subjetiva a vítima assume o ônus de

provar que o “agressor” agiu com culpa ou dolo, no caso da responsabilidade objetiva a

questão da prova incumbirá ao réu, o qual, para fugir à responsabilidade, poderá, em alguns

casos, alegar culpa exclusiva da vítima, ausência de nexo causal, caso fortuito ou qualquer

outra causa de irresponsabilidade.

36

CAPÍTULO 3 – Responsabilidade civil do advogado

Conforme o descrito acima, todo aquele que causar dano a alguém estará

obrigado a repará-lo, e assim, como qualquer um e em qualquer profissão, o advogado

responderá pelos erros cometidos no desempenho de sua função.

O advogado é o bacharel em direito, inscrito na OAB, que exerce atividade

advocatícia nos diferentes ramos que a profissão tem. Estas atividades podem ser de

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33

assessoria, consultoria e a postulação perante o Judiciário, e estão previstas no Estatuo da

OAB, no artigo 1º.

Com relação à postulação, o jus postulandi nada mais é do que a capacidade de

postular em juízo, que é a capacidade para a pessoa praticar pessoalmente, diretamente, atos

processuais. A capacidade postulatória é a aptidão conferida pela lei para se dirigir ao Estado

Juiz. Em princípio, tal capacidade somente é conferida ao advogado, art. 36, do Código de

Processo Civil e art. 1º, da Lei nº 8.906/94. Porém, o STF (Supremo Tribunal Federal) excluiu

a obrigatoriedade do advogado postular em alguns casos, como nos Juizados Especiais Cíveis

(em causas cujo valor não supere a 20 (vinte) salários mínimos), na Justiça do Trabalho e na

Justiça de Paz. Neles, a parte poderá postular diretamente.

A assessoria é atividade permanente que procura estabelecer orientação legal

para a tomada de decisões e para os procedimentos. A consultoria é permanente ou ocasional,

respondendo a questões específicas, tendo força de persuasão proporcional à reputação de

quem emite o entendimento. Ambas têm por objetivo prevenir o conflito e evitar a demanda

judiciária.

Além de observar as normas a que está sujeito o cidadão comum, o advogado

37

deve se ater também, às disposições específicas do Estatuto da Advocacia e a Ordem dos

Advogados do Brasil - Lei n° 8.906/94 e de seu Código de Ética e Disciplina da OAB.

A Constituição Federal, no seu artigo 133, dispõe: “O advogado é

indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no

exercício da profissão, nos limites da lei”. Desse modo, a Constituição Federal assegura ao

profissional inviolabilidade por seus atos e manifestações, nos limites da lei, visando

proporcionar ao advogado as condições necessárias para o exercício pleno da profissão.

Neste mesmo sentido se posiciona a Lei 8.906/94 (Estatuto da OAB), nos

artigos 2° e 31:

Art. 2º. O advogado é indispensável à administração da justiça.

§1º. No seu ministério privado, o advogado presta serviço público e exerce

função social.

Art. 31. […]

§ 1º O advogado, no exercício da profissão, deve manter independência em

qualquer circunstancia.

§ 2º Nenhum receio de desagradar a magistrado ou a qualquer autoridade,

nem de incorrer em impopularidade, deve deter o advogado no exercício da

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34

profissão.

Portanto, o advogado é aquele que desempenha um papel fundamental na busca

pela aplicação efetiva da justiça. Conforme afirma José Afonso da Silva: “...diz a Constituição

(art.133), que apenas consagra aqui um princípio basilar do funcionamento do Poder

Judiciário, cuja inércia requer um elemento técnico propulsor.”33

A advocacia, como destaca Sergio Cavalieri Filho, foi colocada na Constituição

Federal, ao lado do Ministério Público e da Defensoria Pública, entre as funções essenciais da

Justiça devido à relevância do seu papel social.34

Assim, é exigível do advogado uma conduta irrepreensível, compatível com a

33 DA SILVA, José Afonso, Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros,

2006. 28a ed, p.

597

34 CAVALIERI FILHO, 2005, p.410

38

função social que desempenha na sociedade e em sintonia com a grandeza do encargo público

que exerce, tanto assim, que usufrui de prerrogativas especiais previstas em legislação

especial justamente para melhor defesa de seu cliente.

Para que o advogado atue, é necessário a vontade do cliente. A atuação ocorre

através do instrumento do mandato. Conforme preconiza o Estatuto da OAB, no artigo 5°: “O

advogado postula, em juízo ou fora dele, fazendo prova do mandato.”

Conforme coloca o Código Civil, no artigo 653, o mandato é uma forma de

contrato: “Opera-se o mandato quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome,

praticar atos ou administrar interesses. A procuração é o instrumento do mandato.”

Gonçalves (2009, p. 430), complementa: “O mandato é uma das formas de

contrato previstas no Código Civil. O mandato judicial impõe responsabilidade de natureza

contratual do advogado perante seus clientes.”

Uma observação com relação à natureza da responsabilidade do advogado é

que em relação ao cliente ela é contratual, salvo nos casos em que atue como defensor público

ou procurador de entidades públicas, que responderá a pessoa jurídica de Direito Público em

nome da qual atue.35

A pessoa que recebe os poderes estabelecidos no mandato é o mandatário ou

procurador, quem delega é o mandante. O advogado (mandatário) tem a obrigação de utilizar

todos os meios de defesa e os recursos, previstos em lei, que sejam cabíveis e convenientes

aos interesses do cliente (mandante).

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35

É através do mandato que o cliente autoriza seu procurador a agir em juízo com

35 CAVALIERI FILHO, 2005, p. 410

39

poderes em seu favor, porém dentro dos limites legais. O contrato de prestação de serviços

profissionais inclui o mandato e o contrato de honorários, exceto no caso de assistência

jurídica.

O advogado não é obrigado a aceitar qualquer causa, conforme prevê o

parágrafo único do artigo 4° do Código de Ética da OAB, porém caso aceite, firmando um

contrato com o cliente, terá obrigação de agir de maneira adequada buscando o melhor para

seu constituinte.

Com relação a responsabilidade do advogado, o Estatuto da OAB, no seu artigo

32, estabeleceu que o advogado é responsável pelos atos que, no exercício da profissão,

praticar com dolo ou culpa.

E, segundo Venosa (2008, p. 263), para que ocorra o dever de indenizar do

advogado, com relação ao erro cometido:

[...] o erro cometido deve ser grave, inescusável e lesivo. Há que se entender

por inescusável, o erro grosseiro, palmar, inaceitável para um profissional

médio. O Código de Processo Civil apresenta alguns parâmetros nessa seara

(arts. 45, 267, I a III, 295, I e II), mas que nada tem de exaustivos.

Ainda, o Estatuto da OAB, no artigo 34, expõe uma série de faltas que podem

responsabilizar o advogado.

Portanto, advogado é profissional liberal que comprova estar competente a

exercer a advocacia, possuindo a aptidão postulatória para representar as pessoas que

almejam solucionar determinado conflito ante o juízo, e que o contrato celebrado entre o

advogado e o cliente é a base para a aferição da responsabilidade civil do profissional no

exercício da profissão.

A responsabilidade civil do advogado pode ser caracterizada como

40

responsabilidade civil subjetiva. E ainda, pode ser caracterizada como responsabilidade

contratual, pois decorre da violação de dever jurídico referente a contrato de mandato

celebrado entre advogado e cliente.

3.1. Obrigações de meio ou obrigações de resultado?

Ao firmar contrato com um cliente, o advogado assume a obrigação de meio,

posto que não se compromete a ganhá-la, e sim a defender o cliente com o maior zelo e o

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36

máximo de atenção, diligência e técnica, entendimento da doutrina e da jurisprudência.

Conforme entende a doutrina, apesar de estar configurada inicialmente como

obrigação de meio, em determinados casos referida atividade pode caracterizar-se como

específica obrigação de resultado, ou seja, dependendo do tipo de serviço prestado pelo

advogado terá este como assegurar o resultado previsto pelo contratante.

Para Venosa:

As obrigações do advogado consistem em defender a parte em juízo e darlhe

conselhos profissionais.[...] A responsabilidade do advogado, na área

litigiosa, é de uma obrigação de meio.[...] O advogado está obrigado a usar

de sua diligência e capacidade profissional na defesa da causa, mas não se

obriga pelo resultado, que sempre é falível e sujeito às vicissitudes

intrínsecas ao processo.36

Porém, ainda, Venosa (2.084, p.260) observa que:

[…]existem áreas de atuação da advocacia que, em princípio, são

caracterizadas como obrigações de resultado, característica de sua atuação

extrajudicial. Na elaboração de um contrato ou de uma escritura, o advogado

compromete-se, em tese, a ultimar o resultado. A matéria, porém, suscita

dúvidas e o caso concreto definirá eventual falha funcional do advogado que

resulte em dever de indenizar.

36 VENOSA, 2008. p. 260

41

Diniz afirma também que com a procuração judicial o advogado não se obriga

a ganhar a causa, pois só está assumindo uma obrigação de meio e não de resultado.37

Gonçalves comentando José de Aguiar Dias assegura que:

Suas obrigações contratuais, de modo geral, consistem em defender as partes

em juízo e dar-lhes conselhos profissionais. O que lhes cumpre é representar

o cliente em juízo, defendendo pela melhor forma possível os interesses que

este lhe confiou.38

Como já exposto anteriormente, o ônus da prova da culpa irá depender da

natureza da obrigação, ou seja, no caso de tratar-se de obrigação de meio o cliente ficará

incumbido de comprovar a culpa do advogado e, se referir à obrigação de resultado, tal

encargo ficará por conta do advogado, devendo ele então provar não ter agido com culpa.

Irei me ater a situações onde o advogado atua numa demanda defendendo os

interesses do seu cliente, que neste caso é uma responsabilidade contratual e uma obrigação

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37

de meio.

O advogado não tem como saber do futuro e o que acontecerá no decorrer do

processo, cabendo ao juiz a decisão, com isso, aquele deve passar ao cliente com base nos

seus conhecimentos técnicos o que acredita que possa ocorrer, não se comprometendo a

ganhar e sim, tendo a obrigação de ser zeloso com o direito do cliente. Diante disso, o cliente

só poderá responsabilizar o advogado pelo insucesso da demanda quando provar que o mesmo

agiu com dolo ou culpa.

Em razão da sua obrigação de meio, o advogado estará isento de

responsabilidade no caso de ter procedido com cuidado, diligência e competência. Sendo um

requisito para que se possa responsabilizá-lo, a comprovação da culpa por parte do cliente.

Dentre os diversos erros que o advogado pode cometer, será objeto de

discussão a perda de uma chance do seu constituinte.

37 DINIZ, 2003, p. 251

38 GONÇALVES, 2009, p. 431

42

3.2. A responsabilidade do advogado pela perda de uma chance

A definição da palavra chance segundo o dicionário Michaelis39 é “acaso

favorável, oportunidade.” Com isso, a perda de uma chance é a perda de uma oportunidade.

O advogado pode vir a cometer erros e causar danos ao seu cliente, e como

consequência deste dano, poderá ter a perda de uma chance de o cliente ver sua pretensão

examinada pelo Judiciário.

Venosa explica que: “[...] na perda da chance por culpa do advogado, o que se

indeniza é a negativa de possibilidade de o constituinte ter seu processo apreciado pelo

Judiciário, e não o valor que eventualmente esse processo poderia propiciar-lhe no final”40

Esclarece Gonçalves (2009, p. 434): “Utiliza-se, nesses casos, a expressão

'perda de uma chance', simbolizando a perda, pela parte, da oportunidade de obter, no

Judiciário, o reconhecimento e a satisfação integral de seus direitos”

Sérgio Novais Dias afirma que a responsabilidade civil na perda de uma chance

tem as características que a diferencia das outras formas de dano:

É que, na perda de uma chance, no caso específico da atuação do advogado,

nunca se saberá qual seria realmente a decisão do órgão jurisdicional que,

por falha do advogado, deixou, para sempre, de examinar a pretensão do seu

cliente.41

Ocorrendo a perda da chance, não há como adivinhar o que iria acontecer, qual

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38

seria o resultado que de fato teria o julgamento que não ocorreu, o que se pode fazer é analisar

o grau de possibilidade que se tinha dessa chance obter sucesso.

Sobre a possibilidade, Dias (1999, p. 46) entende como provável todo resultado

39 Dicionário Michaelis

40 VENOSA, 2008, p. 264

41 DIAS, Sérgio Novais. Responsabilidade Civil do Advogado – Perda de uma chance. São

Paulo: Ltr, 1999. p.

43

43

que decorrer de uma interpretação razoável (justa e correta) da norma legal. E ainda, que a

interpretação da lei não é uma só, dando muitas vezes margem a mais de uma considerada

razoável, conforme, também, entendimento do STF na Súmula 400: “Decisão que deu

razoável interpretação à lei, ainda que não seja a melhor, não autoriza recurso

extraordinário pela letra "a" do Art. 101, III, da Constituição Federal.”

Gonçalves citando Ênio Zuliani: “único parâmetro confiável para arbitramento

da indenização, por perda de uma chance, continua sendo a prudência do juiz”42 Por conta

dessa livre apreciação por parte do julgador (dentro da lei), os resultados de uma lide são

impossíveis de serem previamente conhecidos.

Para haver a configuração da perda de uma chance, a chance deve ser real, não

podendo ser hipotética, tendo em vista que já ocorreu a perda da possibilidade. Deve-se

analisar o caso concreto, quais chances que realmente foram perdidas e que poderiam

beneficiar, ser favorável ao cliente. A jurisprudência é muito importante nestes casos,

principalmente nas situações onde houver divergências na interpretação da lei. Sobre o

assunto, Dias afirma:

Caso, porém, o STF e o STJ tenham pacificado a jurisprudência para dizer

qual é a interpretação correta entre as consideráveis razoáveis, […] a

probabilidade é que o resultado do julgamento fique em sintonia com esse

entendimento, […]

O advogado só poderá ser responsabilizado pela perda de uma chance se, o juiz

ao analisar, perceber que haveria uma mínima possibilidade de êxito na causa para o cliente.

Caso contrário, ou seja, se o juiz analisar que o cliente não teria sucesso na causa, não será

responsabilizado o advogado.

A nossa legislação é omissa em relação a responsabilidade civil pela perda de

42 GONÇALVES, 2009, p. 434

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39

44

uma chance. Com isso, Dias, afirma que por analogia, a aplicação da parte final do artigo 399

do Código Civil tem cabimento para o advogado não ser responsabilizado na perda de uma

chance caso este demonstre que o dano ocorreria para o cliente mesmo se tivesse praticado o

ato:

[…] o advogado não será responsabilizado na perda de uma chance se

demonstrar 'que o dano sobreviria, ainda quando a obrigação fosse

oportunamente desempenhada.' Em outras palavras, não será o

responsabilizado se demonstrar que o cliente não teria acolhida sua pretensão

mesmo se o advogado houvesse praticado a tempo o ato que se omitiu em

realizar, como o ajuizamento de uma ação antes do prazo decadencial ou a

interposição do recurso cabível antes de findo o prazo preclusivo.43

Diniz (2003, p.253) sobre o assunto: “Pela perda da chance o advogado deverá

ser responsabilizado civilmente, exceto se comprovar que a interposição daquele recurso ou a

realização da referida prova não traria qualquer benefício ao seu constituinte.”

Como já visto, para caracterizar a responsabilidade civil do advogado, deve

existir um ato (ou omissão), um dano, a comprovação da culpa ou dolo e existência de nexo

de causalidade. Nesta situação da perda de uma chance, como demonstrar a existência do

dano e do nexo de causalidade? Através do juízo de probabilidade, onde as partes

(cliente/autor X advogado/réu) discutirão qual teria sido o provável resultado da decisão do

julgamento, caso tivesse ocorrido, do ato que foi ou deixou de ser praticado pelo advogado.

Com relação ao dano, cabe ao cliente demonstrar que o advogado agiu ou

omitiu-se na prática de um ato que lhe competia, que ocasionou a perda de uma chance.

Porém, competirá ao advogado, demonstrar que mesmo se tivesse praticado o

ato, o dano sofrido pelo cliente seria o mesmo. Se ficar demonstrado que era improvável o

êxito da pretensão, não há que se falar em responsabilidade do advogado, pois este

43 DIAS, 1999, p. 62

45

demonstrou que o dano ocorreria para o cliente mesmo se tivesse praticado o ato. Com isso, o

advogado provará a inexistência do nexo de causalidade, ou seja, que o dano não decorreu da

“falha” por ele cometida.

Expõe Diniz, que haverá responsabilidade do advogado pela conduta culposa

que resultou em perda de chance de seu constituinte de:

a) ver seu pleito analisado em instância superior, havendo probabilidade de o

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40

recurso cabível não interposto ser bem-sucedido; b) conseguir produção de

prova necessária de êxito de sua pretensão, que seria provável se tal prova

tivesse sido provocada etc. 44

Outros exemplos de questões que podem ser questionadas pela perda de uma

chance cometidas pelo advogado: falta de propositura de ação judicial, pedido não formulado,

extravio de autos, ausência de contra razões ao recurso e ausência de sustentação oral no

recurso entre outros.45

Diante do exposto, ficou mostrado que dependerá da análise de cada caso

concreto para o julgador avaliar se houve dano realmente. Pois, nem toda a chance perdida

pelo cliente poderá caracterizar-se efetivamente como perda de uma chance, pois não

vislumbra-se a possibilidade de indenizar situações hipotéticas.

Considerando que, em princípio, não há como comprovar efetivamente o nexo

causal entre a conduta do advogado e o evento danoso, quanto à certeza do dano final.

Comprovado que houve o prejuízo pela chance perdida, configurado estará o direito de buscar

o respectivo ressarcimento.

Assim, o que será objeto da indenização é a perda da chance de ver a solução

44 DINIZ, 2003, p. 253

45 DIAS, 1999, p. 72-80

46

final pretendida da causa.

3.3. Jurisprudências

Quanto à obrigação de meio do advogado já se posicionou a jurisprudência:

EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO -

NATUREZA SUBJETIVA. OBRIGAÇÃO DE MEIO E NÃO DE

RESULTADO. DESÍDIA DO ADVOGADO NÃO CONFIGURADA.

A Responsabilidade Civil do Advogado é de natureza subjetiva, sendo

sua obrigação de meio e não de resultado e só pode ser reconhecida por

desídia, quando deixar de praticar os atos judiciais de interesse da parte.

Cabe ao profissional do Direito avaliar as possibilidades e adequação quanto

à interposição ou não de recursos, não lhe sendo exigível interpor recursos

meramente procrastinatórios, visando retardar a prestação jurisdicional.

Recurso improvido (TJRJ - 7ª Câm. Cível; ACi nº 2007.001.52975-RJ; Rel.

Des. José Geraldo Antonio; j. 17/10/2007; v.u.).46 (grifo meu)

Quanto a perda de uma chance, não havendo culpa por erro grave que cause

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41

prejuízos ao cliente ou não sendo esta provada, o advogado não pode ser culpado por

eventuais perdas que seu cliente sofreu.:

EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL. ADVOGADO. SENTENÇA

DESFAVORÁVEL. OBRIGAÇÃO DE MEIO, NÃO DE RESULTADO.

AUSÊNCIA DO CAUSÍDICO À AUDIÊNCIA.

Para fixar-se a responsabilidade civil do advogado o juiz deve examinar

a repercussão da omissão ou ato praticado e sua influência no resultado

da demanda. Ainda, deve verificar as possibilidades de êxito do cliente.

Confissão ficta aplicada em causa solvida em prova documental, exceto

quanto à ocorrência de justa causa para a despedida. Todavia, é sabido que o

depoimento pessoal, sem outros elementos, faz prova contra o depoente.

Assim, conclui-se que a omissão do advogado não acarretou o decaimento.

Não reconhecimento da responsabilidade civil. Recurso provido. (Recurso

Cível Nº 71000513929, Terceira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais,

Relator: Maria José Schmitt Santanna, Julgado em 08/06/2004).47 (grifo

46 TJRJ - Apelação Cível Nº 2007.001.52975

47 TJRS - Recurso Cível Nº 71000513929

47

meu)

Não comprovado o que o cliente efetivamente perdeu e o que razoavelmente

deixou de lucrar, não há como responsabilizar civilmente o advogado, entendimento esse,

também seguido pela jurisprudência (perda de uma chance):

EMENTA: AGRAVO INOMINADO NA APELAÇÃO CÍVEL. SERVIÇOS

ADVOCATÍCIOS. CONDUTA DO ADVOGADO. AUSÊNCIA DE

RECURSO. DANO MORAL INCONTROVERSO. QUANTUM

DEBEATUR. 1. AUSÊNCIA DE ILICITUDE 2. ARBITRAMENTO DO

DANO MORAL 3. CONCLUSÃO

1. O apelado entendeu não ser pertinente a apresentação de recurso ao

grau de jurisdição trabalhista superior por se tratar de jurisprudência

consolidada no Tribunal Superior do Trabalho. Desse modo, na hipótese,

não se aplica a teoria da “perda de uma chance,” desenvolvida pela

doutrina francesa para aquelas situações em que o ato ilícito tira da vitima a

oportunidade de obter uma situação futura melhor, como a possibilidade de

deixar de obter uma posição favorável pela omissão do advogado. 2.

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42

Incontroverso o dano moral diante da ausência de recurso do apelado, deve

ser mantido o quantum debeatur. Princípios da proporcionalidade e da

razoabilidade. 3. Recurso não provido. (Apelação Cível nº 39026/09, 14ª

Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do RJ, Relator: José

Carlos Paes, Julgado em 12/08/2009).48 (grifo meu)

EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL. ADVOGADO. EXERCÍCIO

DO MANDATO. DANOS MORAIS E MATERIAIS. PERDA DE UMA

CHANCE. NÃO INTERPOSIÇÃO DE RECURSO. NEGLIGÊNCIA E

IMPERÍCIA. NÃO VERIFICADAS. HONORÁRIOS MAJORADOS.

A perda de uma chance leva a caracterização da responsabilidade civil

do causídico não quando há mera probabilidade de reforma de uma

decisão lançada no processo, porém quando a alteração dessa vai além

da eventualidade, tangenciando a certeza. Ainda, a responsabilidade civil

do patrono é subjetiva, sendo necessária a comprovação de culpa ou dolo

(art. 14, § 4º e art. 32 do CPDC). A advocacia trata-se de atividade de meios

e não de resultados, não podendo o profissional ser responsabilidade pelo

insucesso no certame. Comprovação de desvelo dos profissionais contratados

no exercício do mandato outorgado. Outrossim, não está o advogado

obrigado a recorrer de toda e qualquer decisão lançada no processo.

Majoração dos honorários. DESPROVERAM O APELO DO AUTOR E

DERAM PROVIMENTO AO APELO DOS RÉUS. (Apelação Cível Nº

70016523805, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:

Paulo Sérgio Scarparo, Julgado em 11/10/2006).49 (grifo meu)

48 TJRJ – Apelação Cível N° 39026/09

49 TJRS - Apelação Cível Nº 70016523805

48

Ainda, quanto a perda de uma chance, na situação que o advogado perde prazo

para recorrer, ocorre a responsabilização do advogado:

EMENTA: MANDATO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO

ADVOGADO. INDENIZAÇÃO POR DANOS CAUSADOS EM

VIRTUDE DE PERDA DE PRAZO. DANOS MORAIS JULGADOS

PROCEDENTES.

A responsabilidade do advogado é contratual e decorre especificamente

do mandato. Erros crassos como perda de prazo para contestar,

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43

recorrer, fazer preparo do recurso ou pleitear alguma diligência

importante são evidenciáveis objetivamente. Conjunto probatório contrário

a tese do Apelante. É certo que o fato de ter o advogado perdido a

oportunidade de recorrer em consequência da perda de prazo

caracteriza a negligência profissional. Da análise quanto a existência de

nexo de causalidade entre a conduta do Apelante e o resultado prejudicial à

Apelada resta evidente que a parte autora da ação teve cerceado o seu

direito de ver apreciado o seu recurso à sentença que julgou procedente

a reclamação trabalhista, pelo ato do seu mandatário, o qual se

comprometera ao seu fiel cumprimento, inserido que está, no elenco de

deveres e obrigações do advogado, aquele de interpor o recurso à sentença

contra a qual irresignou-se o mandante. Houve para Apelada a perda de

uma chance, e nisso reside o seu prejuízo. Estabelecida a certeza de que

houve negligência do mandatário, o nexo de causalidade e estabelecido o

resultado prejudicial demonstrado está o dano moral. RECURSO

CONHECIDO E IMPROVIDO. (Apelação Cível n° 2003.001.19138, 14a

Câmara Cível do Tribunal de Justiça do RJ, Relator: Ferdinaldo Nascimento,

Julgado em: 07/10/2003)50 (grifo meu)

EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL. ADVOGADO. PERDA DO

PRAZO.

O advogado que perde o prazo para recorrer apresenta conduta desidiosa.

Hipótese que caracteriza típica situação de perda de uma chance.

Recurso provido. (Recurso Cível Nº 71001091792, Segunda Turma Recursal

Cível, Turmas Recursais, Relator: Eduardo Kraemer, Julgado em

04/10/2006).51 (grifo meu)

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL E DIREITO CIVIL.

RESPONSABILIDADE DE ADVOGADO PELA PERDA DO PRAZO DE

APELAÇÃO. TEORIA DA PERDA DA CHANCE. APLICAÇÃO.

RECURSO ESPECIAL. ADMISSIBILIDADE. DEFICIÊNCIA NA

FUNDAMENTAÇÃO. NECESSIDADE DE REVISÃO DO CONTEXTO

FÁTICO- PROBATÓRIO. SÚMULA 7, STJ. APLICAÇÃO.

50 TJRJ – Apelação Cível N° 2003.001.19138

51 TJRS - Recurso Cível Nº 71001091792

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- A responsabilidade do advogado na condução da defesa processual de

seu cliente é de ordem contratual. Embora não responda pelo resultado, o

advogado é obrigado a aplicar toda a sua diligência habitual no exercício do

mandato.

- Ao perder, de forma negligente, o prazo para a interposição de

apelação, recurso cabível na hipótese e desejado pelo mandante, o

advogado frusta as chances de êxito de seu cliente. Responde, portanto,

pela perda da probabilidade de sucesso no recurso, desde que tal chance

seja séria e real. Não se trata, portanto, de reparar a perda de “uma simples

esperança subjetiva”, nem tampouco de conferir ao lesado a integralidade do

que esperava ter caso obtivesse êxito ao usufruir plenamente de sua chance.

- A perda da chance se aplica tanto aos danos materiais quanto aos danos

morais.

- A hipótese revela, no entanto, que os danos materiais ora pleiteados já

tinham sido objeto de ações autônomas e que o dano moral não pode ser

majorado por deficiência na fundamentação do recurso especial.

- A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial.

Aplicação da Súmula 7, STJ.

- Não se conhece do Especial quando a decisão recorrida assenta em mais de

um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles. Súmula 283,

STF.

Recurso Especial não conhecido. (REsp Nº 1.079.185 - MG (2008/0168439-

5), Terceira Turma Recursal, STJ, Relator: Nancy Andrighi, Julgado em

11/11/2008).52 (grifo meu)

52 STJ - Recurso Especial N°1.079.185 - MG (2008⁄0168439-5

50

CONCLUSÃO

A responsabilidade civil, conforme visto, é a obrigação de reparação que uma

pessoa tem com relação a outrem por ter lhe causado um dano, seja este patrimonial ou moral.

Em regra, em nosso ordenamento jurídico, vigora a responsabilidade civil

subjetiva, isto é, àquela preconizada no artigo 186, do Código Civil, necessitando a

caracterização de quatro requisitos, a saber: 1) ação ou omissão do agente; 2) culpa do agente;

3) dano provocado a terceiro e 4) nexo causal entre a conduta do agente e o prejuízo arcado

pela vítima.

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O presente trabalho tratou de uma responsabilidade profissional: a do

advogado. O advogado poderá vir a responder pelos danos causados ao cliente no exercício da

profissão, desde que comprovado que agiu com dolo ou culpa.

A responsabilidade civil do advogado é em regra subjetiva, na qual deve se

provar a sua culpa para que se tenha o direito a indenização, conforme preceitua o artigo 32

do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil. Dessa forma, não se provando a culpa do

advogado pelo erro, não há que se falar em indenização.

Sua responsabilidade também é contratual, visto que advém do mandato

outorgado pelo cliente, e o mandato está incluído nas relações contratuais conforme ditames

do Código Civil.

Com a outorga do mandato, o advogado adquire a formalidade necessária para

atuar. É por esse instrumento que os atos do advogado têm validade e liberdade para postular

em nome do seu cliente, dentro dos limites legais.

A obrigação correspondente ao advogado é a obrigação de meio, somente em

51

alguns casos caberá a obrigação de resultado (ex: elaboração de escritura). Trata-se de uma

obrigação de meio, pois cabe ao advogado a obrigação de agir com cuidado, diligência e

competência no desempenho do mandato, não podendo garantir que sairá vencedor das

demandas por ele intentadas em favor de seus clientes, mas sim que irá utilizar de todos os

meios possíveis para lograr o êxito.

Assim, o advogado responde pelos danos que causar pelos seus erros, desde

que provada a sua culpa.

Dentre os diversos erros que o advogado pode cometer foi abordado a perda de

uma chance do seu constituinte.

A perda de uma chance ocorre quando por algum erro do advogado, o cliente

perde a oportunidade de ver sua pretensão analisada pelo Poder Judiciário.

Como não há certeza de saber o que iria ocorrer se o advogado não perdesse tal

chance, não há como comprovar que se a demanda tivesse o trâmite normal, a ação teria sido

julgada favorável ao cliente. Caberá ao magistrado, ao julgar tal ação, analisar no caso

concreto o grau de possibilidade que se tinha dessa chance obter sucesso, e claro, se há culpa

do advogado.

A reparação que se busca é a perda da chance do cliente de ter a ação

tramitando dentro da normalidade.

Como exemplo da responsabilidade civil do advogado pela perda de uma

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chance, temos a situação em que, por culpa do advogado, o cliente perde o prazo para

interposição de recurso e vê a impossibilidade da sentença que lhe foi desfavorável ser

reapreciada pelas instâncias superiores.

52

No entanto, não podemos afirmar que, sempre que o advogado perde atos e

prazos para interposição de um recurso, ou de apresentação de contestação, entre outros

procedimentos, já estaria configurada a perda da chance do cliente, o que poderia levá-lo a

pleitear reparação. É necessário o advogado demonstrar, por exemplo, que mesmo que tivesse

sido respeitado o prazo previsto, o recurso poderia não ter sido recebido por outras razões, ou

seja, que era improvável o êxito da pretensão. Portanto, não haveria que se falar em

responsabilidade do advogado pela perda de um chance.

Diante do exposto, pude concluir que o bom advogado deve ser sempre

cuidadoso em seu ofício, manter constante estudo, atualizado com relação às jurisprudências

atuais, agir dentro das normas éticas previstas no Código de Ética e Disciplina da OAB, não

só para que não seja responsabilizado pelo seu erro, mas para que não prejudique outra pessoa

que lhe depositou sua confiança.

53

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______.Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Apelação Cível nº 2003.001.19138, 14ª

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