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Raimundo Simão de Melo* RESPONSABILIDADE OBJETIVA E INVERSÃO DA PROVA NOS ACIDENTES DE TRABALHO Resumo: O autor utiliza o princípio da harmonização das normas constitucionais para analisar o ônus da prova nos acidentes de traba- lho, dando uma nova interpretação ao Art. 7º, XXVIII da Constituição brasileira quanto à responsabilidade do empregador, fundamentando os casos em que a mesma deixa de ser subjetiva, tornando-se objetiva, invertendo-se o ônus da prova quanto à responsabilidade pelos preju- ízos à saúde do trabalhador. Sumário: 1 Conceito de acidente de trabalho; 2 Fundamentos da res- ponsabilidade pelos acidentes de trabalho; 2.1 Nas doenças ocupacionais; 2.2 Nos acidentes-tipo ou típicos; 2.2.1 Nas atividades de risco; 2.2.2 Por condições inseguras de trabalho; 2.2.3 Por ato inse- guro de culpa exclusiva do trabalhador; 2.3 Por ato ou fato de terceiro; 2.4 Em relação ao servidor público; 3 Conclusões; 4 Bibliografia. Palavras-chave: Acidente de trabalho. Ônus da prova. Responsabili- dade no acidente de trabalho. Responsabilidade objetiva. Servidor Pú- blico. Teoria do risco-proveito. *Procurador Regional do Trabalho. Mestre e Doutor em Direito das Relações Sociais pela PUC/SP. Professor de Direito e Processo do Trabalho. Membro da Academia Nacional de Direito do Trabalho. 1 Dicionário jurídico, v. I, p. 72. 2 Op. cit., p. 73. 3 O plenário do STF reformulou entendimento anterior e declarou que a competência para julgar ações por dano moral e material decorrente de acidente de trabalho é da Justiça Trabalhista. A decisão unânime foi tomada durante análise do CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA 7204. 1 CONCEITO DE ACIDENTE DE TRABALHO Acidente, na linguagem cor- rente, é um acontecimento impre- visto ou fortuito que causa dano à coisa ou à pessoa 1 . Para De Plá- cido e Silva 2 , “distingue-se como acidente do trabalho todo e qual- quer acontecimento infeliz que advém fortuitamente ou atinge o operário, quando no exercício nor- mal de seu ofício ou de suas ativi- dades profissionais” 3 . Essa era a definição vigorante no século XIX, que considerava o acidente de tra- balho como um acontecimento sú-

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Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, n. 30, 2007 79

Raimundo Simão de Melo*

RESPONSABILIDADE OBJETIVA E INVERSÃO DAPROVA NOS ACIDENTES DE TRABALHO

Resumo: O autor utiliza o princípio da harmonização das normasconstitucionais para analisar o ônus da prova nos acidentes de traba-lho, dando uma nova interpretação ao Art. 7º, XXVIII da Constituiçãobrasileira quanto à responsabilidade do empregador, fundamentandoos casos em que a mesma deixa de ser subjetiva, tornando-se objetiva,invertendo-se o ônus da prova quanto à responsabilidade pelos preju-ízos à saúde do trabalhador.

Sumário: 1 Conceito de acidente de trabalho; 2 Fundamentos da res-ponsabilidade pelos acidentes de trabalho; 2.1 Nas doençasocupacionais; 2.2 Nos acidentes-tipo ou típicos; 2.2.1 Nas atividadesde risco; 2.2.2 Por condições inseguras de trabalho; 2.2.3 Por ato inse-guro de culpa exclusiva do trabalhador; 2.3 Por ato ou fato de terceiro;2.4 Em relação ao servidor público; 3 Conclusões; 4 Bibliografia.

Palavras-chave: Acidente de trabalho. Ônus da prova. Responsabili-dade no acidente de trabalho. Responsabilidade objetiva. Servidor Pú-blico. Teoria do risco-proveito.

*Procurador Regional do Trabalho. Mestre e Doutor em Direito das Relações Sociais pela PUC/SP.Professor de Direito e Processo do Trabalho. Membro da Academia Nacional de Direito doTrabalho.

1Dicionário jurídico, v. I, p. 72.2Op. cit., p. 73.3O plenário do STF reformulou entendimento anterior e declarou que a competência para julgar

ações por dano moral e material decorrente de acidente de trabalho é da Justiça Trabalhista. Adecisão unânime foi tomada durante análise do CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA7204.

1 CONCEITO DE ACIDENTE DETRABALHO

Acidente, na linguagem cor-rente, é um acontecimento impre-visto ou fortuito que causa danoà coisa ou à pessoa1. Para De Plá-cido e Silva2 , “distingue-se comoacidente do trabalho todo e qual-

quer acontecimento infeliz queadvém fortuitamente ou atinge ooperário, quando no exercício nor-mal de seu ofício ou de suas ativi-dades profissionais”3 . Essa era adefinição vigorante no século XIX,que considerava o acidente de tra-balho como um acontecimento sú-

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bito, de obra do acaso, casual, for-tuito, ou imprevisto, de causa ex-terna. A idéia era de infelicidade efalta de sorte da vítima.

Isto não mais se sustenta nosdias atuais, porque grande partedos acidentes decorre da ausênciade cuidados mínimos e especiais naadoção de medidas coletivas e in-dividuais de prevenção dos riscosambientais. Além disso, há inúme-ras atividades caracteristicamenteperigosas, cujos acidentes não sãoconsiderados meros infortúnios doacaso. São eventos previsíveis epreveníveis. Suascausas são identificá-veis e podem ser neu-tralizadas ou elimi-nadas. Não se con-funde evento impre-visto com eventoimprevisível. O even-to imprevisível é des-conhecido da comu-nidade humana queo observa; o eventoimprevisto é indese-jado tão-somente.

Na legislação brasileira, oconceito de acidente de trabalho éabrangente, incluindo as doençasprofissionais e do trabalho e outroseventos acidentários. Estabelece oart. 19 da Lei 8.213/91 que aciden-te do trabalho é o que ocorre peloexercício do trabalho a serviço daempresa, provocando lesão corpo-ral ou perturbação funcional quecause a morte ou a perda ou redu-ção, permanente ou temporária, dacapacidade para o trabalho. Os ar-tigos 20 e 21 e § § da Lei 8.213/91

consideram outros eventos comoacidentes.

2 FUNDAMENTOS DA RESPON-SABILIDADE NOS ACIDENTESDE TRABALHO

Dos acidentes de trabalhodecorrem várias responsabilidades.O trabalhador vítima de acidente dotrabalho pode pleitear, conforme ocaso, benefícios previdenciários e/oureparações a cargo do empregador.

Quanto à Previdência Social(INSS), a responsabilidade pela

concessão dos bene-fícios previden-ciários é objetiva, in-dependente de cul-pa. No caso, basta aotrabalhador-segura-do provar o evento,o dano e o nexo cau-sal entre estes.

Diferentemen-te ocorre em relaçãoà responsabilidade

do empregador pelas reparações pordanos materiais, morais e estéticos,cada vez mais comuns nos pleitosperante a Justiça do Trabalho4.

Com relação a esta, dizem oart. 7º e inciso XXVIII da Constitui-ção Federal: “são direitos dos tra-balhadores urbanos e rurais, alémde outros que visem à melhoria de suacondição social: [...] seguro contraacidentes de trabalho, a cargo doempregador, sem excluir a indeni-zação a que este está obrigado,quando incorrer em dolo ou culpa”.

“Quanto à Previdência So-

cial (INSS), a responsabili-

dade pela concessão dos

benefícios previdenciários

é objetiva, independente

de culpa. No caso, basta

ao trabalhador-segurado

provar o evento, o dano e

o nexo causal entre estes.”

4O plenário do STF reformulou entendimento anterior e declarou que a competência para julgarações por dano moral e material decorrente de acidente de trabalho é da Justiça Trabalhista. Adecisão unânime foi tomada durante análise do CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA7204.

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Pela tradicional compreensãodesse dispositivo, o trabalhador so-mente tem direito às indenizaçõesrespectivas se provar a culpa oudolo do empregador. Nesse senti-do, preleciona Rui Stoco5.

Data venia, não concordo in-tegralmente com essa posição, antea necessidade de aprimoramento eevolução da responsabilidade civil,comungando, assim, entre outros,com Antônio Elias de Queiroga6 eCarlos Roberto Gonçalves7, para osquais os novos rumos da responsa-bilidade civil caminham no senti-do de considerar objetiva a respon-sabilidade das empresas pelos da-nos causados aos empregados, combase na teoria do risco-criado, ca-bendo a estes somente a prova dodano e do nexo causal com o aci-dente.

A interpretação do incisoXXVIII do art. 7º da CF precisa serbuscada levando-se em conta a fi-nalidade e razão de ser do mesmono contexto da Constituição e doordenamento jurídico como umtodo.

Nesse sentido, é oportuna aadvertência de Celso Ribeiro Bas-tos8 , que diz: “as normas constitu-cionais são como que envolvidaspor uma camisa-de-força. Destarte,o intérprete se vê na contingênciade descobrir para além da simplesliteralidade dos Textos o ‘para quê’e o ‘para quem’ das suas prescri-ções, de sorte a distender o fio dainterpretação até os limites daque-

les parâmetros sistemáticos”, o quedeve fazê-lo levando em conta,como acrescenta o referido autor,que “a importância da interpreta-ção é fundamental em razão docaráter aberto e amplo da Consti-tuição, sendo que por isso os pro-blemas de interpretação surgemcom maior freqüência que noutrossetores do Direito. Vimos que a nor-ma constitucional apresenta-se, nomais das vezes, com uma petiçãode princípios. Aqui a interpretaçãotransforma-se em elemento de cons-tante atualização dessas espéciesnormativas, dentro de certos limi-tes oriundos da forma (literalidadeda lei)”.

É certo, como lembraHumberto Theodoro Júnior9 “queé difícil inovar em doutrina acercade velhos institutos, não pelos em-baraços da argumentação, mas por-que há uma força muito atuanteentre os intérpretes e aplicadores dodireito positivo, que é a lei da inér-cia, pois é, sem dúvida, muito maiscômodo seguir antigos padrões, jáestabelecidos de longa data na pra-xe forense e nos manuais da dou-trina, do que repensar soluçõespara os quase complicados proble-mas da interpretação evolutiva dasnormas legais”. Porém, não se podeolvidar que “é imperioso, no entan-to, vencer as dificuldades, visto queo Direito do Trabalho existe e sejustifica enquanto instrumento derealização dos direitos reconhecidoscomo fundamentais aos trabalha-dores, o que significa que ao intér-

5Responsabilidade civil, p. 814/815.6Responsabilidade civil e o novo Código Civil, p. 132.7Responsabilidade civil, p. 461.8Curso de Direito Constitucional, p. 103/4.9Fraude contra credores: natureza jurídica da sentença pauliana, p. 25.

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prete das suas normas e princípioscabe adotar postura que permitatorná-los concretos”10.

A minha discordância ba-seia-se no caráter aberto da Cons-tituição e da disposição inscrita noinciso XXVIII do art. 7º; no “por-quê”, no “para quê” e no “paraquem” foi criada referida norma.

Não pode esse dispositivo serinterpretado isoladamente, comotem sido feito. Assim, enquanto o §3º do art. 225 da Constituição Fe-deral assegura a responsabilidadeobjetiva por danos ao meio ambi-ente, incluído o dotrabalho (CF, art. 200– VIII), o incisoXXVIII do art. 7º falaem responsabilidadesubjetiva por aciden-tes de trabalho. Sur-ge, desde logo, apa-rente contradição/antinomia ou confli-to de normas consti-tucionais. Enquantoo § 3º do art. 225, deâmbito maior, assegura a respon-sabilidade objetiva nos danos aomeio ambiente, o inciso XXVIII doart. 7º, fala em responsabilidade sub-jetiva nos acidentes individualmen-te considerados.

Com efeito, a partir do mo-mento que se compreender o dis-posto no § 3° do art. 225 como prin-cípio maior (regra supralegal) queprotege um direito fundamental –a preservação da vida em todas asespécies –, difícil não é admitir apossibilidade de mitigação do incisoXXVIII do art. 7º, norma de alcan-ce menor, para se aplicar a respon-

sabilidade objetiva em determina-dos casos. Cabe observar que pelanorma supralegal do § 3º do art.225, estabeleceu o constituinte,para os danos ambientais, a respon-sabilidade objetiva, mas de manei-ra contraditória, tratou diferente-mente os acidentes de trabalho, quesão a conseqüência maior dos da-nos que atingem o ser humano tra-balhador. Parece mesmo umaantinomia.

No sistema constitucional, assupostas antinomias ou tensões en-tre normas da Constituição são re-

solvidas por meiodos princípios daunidade e da har-monização dos tex-tos constitucionais.Procura-se ponderarvalores e delimitar aforça vinculante e oalcance de cadauma das normas em“conflito”, para seharmonizá-las eotimizá-las a fim de

se produzir um equilíbrio sem ne-gar, por completo, a eficácia de ne-nhuma delas.

O meu objetivo é buscar umasolução adequada para a aparenteantinomia entre os dois dispositivosconstitucionais, que tratam, respec-tivamente, da responsabilidade pe-los danos ao meio ambiente, gene-ricamente, e pelos danos à saúde dotrabalhador, especificamente.

Estou certo de que não sepode fazer uma leitura tópica e iso-lada do inciso XXVIII do art. 7º daConstituição. É necessário inter-pretá-lo em conjunto e de forma

10Cleber Lúcio de Almeida, Responsabilidade civil do empregador e acidentes de trabalho, p. 74/5.

“O meu objetivo é buscar

uma solução adequada para

a aparente antinomia entre

os dois dispositivos constitu-

cionais, que tratam, respec-

tivamente, da responsabili-

dade pelos danos ao meio

ambiente, genericamente, e

pelos danos à saúde do tra-

balhador, especificamente.”

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harmônica com o disposto no § 3ºdo art. 225 da mesma Lei Maior11.

A vida, como não resta dúvi-da, é o bem maior do ser humano eé exatamente em função desse bemsupremo que existe o Direito. As-sim, não é lógico nem justo quepara a conseqüência do danoambiental em face da vida huma-na se crie maior dificuldade para abusca da reparação dos prejuízoscausados ao trabalhador.

Desse modo, não mais se sus-tenta uma interpretação literal doinciso XXVIII do art. 7º (“segurocontra acidentes de trabalho, a car-go do empregador, sem excluir aindenização a que este está obriga-do, quando incorrer em dolo ou cul-pa”), para desde logo se concluirque se trata unicamente de respon-sabilidade subjetiva. Esse dispositi-vo está umbilicalmente ligado aocaput do art. 7º, que diz textualmen-te: “São direitos dos trabalhadoresurbanos e rurais, além de outros quevisem à melhoria de sua condição so-cial (grifados).

A mais simples análise destasdisposições constitucionais mostraque o disposto no inciso XXVIIIconstitui garantia mínima do tra-balhador. Ademais, a expressãoconstante do caput do art. 7º, “ou-tros direitos que visem à suamelhoria” deixa claro que nenhumdos direitos encartados nos seusincisos é de conceito e conteúdo fe-

chados e imutáveis. De um lado,tem esta expressão dimensãoprospectiva, pois “estabelece umobjetivo a ser perseguido pelo Po-der Público, que é a melhoria dacondição social do trabalhador. Nãose cuida de exortação moral desti-tuída de eficácia jurídica. É cláusu-la vinculativa que carreia um juízode inconstitucionalidade aos atosque lhe são contrários”12 ; de outro,a vontade do constituinte e a ex-pressão da Lei Maior são no senti-do de assegurar, no referido artigo,um patamar mínimo de direitos fun-damentais, deixando aberta a pos-sibilidade de serem criados outrosdireitos e melhorados aqueles jáenumerados. Essa criação pode de-correr de alteração constitucional,infraconstitucional e convencional.

O que mais importa para apresente análise é que qualquer di-reito integrante do rol do referidoart. 7º pode ser alterado visandomelhoria para os trabalhadores. As-sim entende o Professor AmauriMascaro Nascimento13 , verbis: “AConstituição deve ser interpretadacomo um conjunto de direitos mí-nimos e não de direitos máximos,de modo que nela mesma se encon-tra o comando para que direitosmais favoráveis ao trabalhador ve-nham a ser fixados através da leiou das convenções coletivas. Ao de-clarar que outros direitos podemser conferidos ao trabalhador, aConstituição cumpre tríplice fun-

11Nesse sentido, alerta Eros Roberto Grau que “Não se interpreta o direito em tiras, aos pedaços.A interpretação de qualquer texto de direito impõe ao intérprete, sempre, em qualquer circuns-tância, o caminhar pelo percurso que se projeta a partir dele – do texto – até a Constituição. Umtexto de direito isolado, destacado, desprendido do sistema jurídico, não expressa significadoalgum” ( Ensaio e discurso sobre a interpretação/aplicação do direito, p. 34).

12Salvador Franco de Lima Laurino, Globalização, eficácia das normas constitucionais e realiza-ção dos direitos sociais, p. 196.

13Direito do Trabalho na Constituição de 1988, p. 40.

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ção. Primeiro, a elaboração das nor-mas jurídicas, que não deve perdera dimensão da sua função social depromover a melhoria da condiçãodo trabalhador. Segundo, a hierar-quia das normas jurídicas, de modoque, havendo duas ou mais nor-mas, leis, convenções coletivas,acordos coletivos, regulamentos deempresa, usos e costumes, será apli-cável o que mais beneficiar o em-pregado14 , salvo proibição por lei15.Terceiro, a interpretação das leis deforma que, entre duas interpreta-ções viáveis para a norma obscura,deve prevalecer aquela capaz deconduzir ao resultado que de me-lhor maneira venha a atender aosinteresses do trabalhador”.

Arnaldo Lopes Süssekind16,ao analisar o caput do art. 7º, as-sim se pronuncia: “E a expressão‘além de outros direitos que visemà melhoria de sua condição soci-al’, não só fundamenta a vigênciade direitos não previstos no artigoem tela, como justifica a institui-ção de normas, seja por lei, seja porconvenção ou acordo coletivo,seja, enfim, por um laudo arbitralou sentença normativa dos tribu-nais do trabalho. O que tem relevopara afirmar a constitucionalidadedessas normas jurídicas é que nãosejam elas incompatíveis com os

princípios e prescrições da LeiMaior”.

Os princípios e prescriçõesda Constituição Brasileira entreoutros, são o respeito à vida, à dig-nidade humana e, no âmbito tra-balhista, aos valores sociais do tra-balho, cabendo neste particular aointérprete colocar-se a favor domenor sacrifício do cidadão traba-lhador na escolha dos diversos sig-nificados de uma norma. No caso,o melhor significado para o dispos-to no inciso XXVIII do art. 7º é deconceito aberto que permiteharmonizá-lo com o disposto no §3º do art. 225 da CF, que asseguraa responsabilidade objetiva pelosdanos causados ao meio ambientee com outros preceitos legais. Nãose olvide que a Constituição esta-belece que os direitos nela expres-sos não excluem outros decorren-tes do regime e princípios por elaadotados (art. 5º, § 2º), o que afir-ma a necessidade de se buscaruma interpretação sistemática euniforme dos seus preceitos.

Quando o referido incisoXXVIII alude à culpa ou dolo doempregador como fundamento daresponsabilidade pelos acidentes detrabalho, não fixa a responsabilida-de subjetiva como questão fechada,porque conforme art. 7º, o legisla-

14Ao contrário do direito comum, no Direito do Trabalho, a pirâmide que entre as normas se formaterá como vértice não a Constituição Federal ou as convenções coletivas de modo imutável. Ovértice da pirâmide da hierarquia das normas trabalhistas será ocupado pela norma vantajosaao trabalhador, dentre as diferentes em vigor... Resulta do pluralismo do Direito do Trabalhoque é constituído de normas estatais e dos grupos sociais, da finalidade do Direito do Trabalhoque é a disciplina das relações de trabalho, segundo um princípio de melhoria das condiçõessociais do trabalhador com características marcadamente protecionistas como expressão dejustiça social e da razoabilidade que deve presidir a atuação do intérprete perante o problemasocial” (Amauri Mascaro Nascimento, Curso de Direito do Trabalho, p. 164/5).

15Não é o caso vertente, pois da combinação do disposto no artigo 7º, caput e inciso XXVIII nãodecorrem quaisquer proibições de alteração in melius. Proibição há se se tratar de alteração inpejus, pois o comando constitucional é cristalino ao assegurar aqueles direitos como garantiasmínimas que podem ser melhoradas pela lei ou pela negociação coletiva.

16Direito Constitucional do Trabalho, p. 80.

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dor ordinário está autorizado a criare modificar os direitos inscritos nosseus incisos, para a melhoria dostrabalhadores.

O Direito é um mecanismo aserviço da justiça e do bem comum,que abrange a atividade do legisla-dor, do intérprete e do aplicador,os quais devem levar em conta, sem-pre, certos valores assegurados noordenamento jurídico.

No caso, esses valores estãona Carta Magna, que dispõe no art.1º como fundamentos da nossa Re-pública e do Estado Democráticode Direito, entre outros, a cidada-nia, a dignidade da pessoa humana eos valores sociais do trabalho. O art.170 diz que a ordem econômicafunda-se na livre iniciativa e na va-lorização do trabalho humano.

Não se pode negar que essesvalores básicos ou princípios fun-damentais se inserem na perspecti-va da finalidade social da lei e dobem comum, pelo que toda normae cada instituto do nossoordenamento jurídico devem sercompreendidos e interpretados àluz desses fundamentos, devendoa interpretação exaltar a harmoniados sistemas jurídicos e se orientarpor tais princípios fundamentais (adignidade da pessoa humana, osvalores sociais do trabalho, o res-peito ao meio ambiente etc).

Diante das considerações su-pra, mais simples se torna a com-preensão e necessidade demitigação do inciso XXVIII do art.7º, mediante aplicabilidade ecompatibilização do § 1º do art. 14da Lei 6.938/81 (Lei de PolíticaNacional do Meio Ambiente) e do§ único do art. 927 do Código CivilBrasileiro, nos casos de acidentes e

doenças do trabalho, no que dizrespeito ao fundamento da respon-sabilidade do empregador.

O § 1º do art. 14 da Lei 6.938/81 diz que, “sem obstar a aplica-ção das penalidades previstas nes-te artigo, é o poluidor obrigado, in-dependentemente da existência deculpa, a indenizar ou reparar osdanos causados ao meio ambientee a terceiros, afetados por sua ati-vidade”.

O § único do art. 927 CódigoCivil, como importante novidadeem termos de responsabilidade ci-vil, acolhe a obrigação de reparar odano, independentemente de cul-pa, nos casos especificados em lei,ou quando a atividade normalmen-te desenvolvida pelo autor do danoimplicar, por sua natureza, riscopara os direitos de outrem.

Decorre do exposto que estesdois dispositivos legais são compa-tíveis com a disposição do incisoXXVIII do art. 7º no tocante à res-ponsabilidade do empregador de-corrente de acidentes e doenças dotrabalho, sem a pecha deinconstitucionalidade. Como dito,a imposição de responsabilidade aoempregador por acidente de traba-lho constitui um direito mínimo dotrabalhador, que pode ser melho-rado por meio de alteraçõeslegislativas e convencionais, porqueo aludido art. 7º assegura garanti-as mínimas e, no Direito do Traba-lho, a hierarquização das normasleva em conta aquela que for maisfavorável ao trabalhador.

Desse modo, se o art. 7º cui-da de direitos mínimos dos traba-lhadores; se esses direitos podem sermelhorados por outras normas le-gais; se os dois referidos dispositi-

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vos trazem, de fato, melhoriasdirecionadas à preservação do bemmaior da pessoa humana – a vida –; a conclusão natural é que são elesconstitucionais, porque compatíveiscom a norma suprema. Assim, de-vem esses dispositivos legais ser ob-servados na interpretação do incisoXXVIII do art. 7º, para uma aplica-ção conjunta e harmonizada.

Na busca dessa harmoni-zação e do respeito aos princípios evalores fundamentais antes aludi-dos, passo a objetar sobre a respon-sabilidade do empregador em facedos acidentes de trabalho: a) nasdoenças ocupacionais (doençasprofissionais e do trabalho); b) nosacidentes-tipo ou típicos; c) por atoou fato de terceiro; e d) em relaçãoao servidor público.

2.1 Nas doenças ocupacionais

As doenças ocupacionais de-sencadeiam-se pelo exercício do tra-balho peculiar a determinada ati-vidade ou pelas condições especi-ais em que esse trabalho é realiza-do e com ele se relaciona diretamen-

te17. Suas causas são o meio ambi-ente do trabalho inadequado. Essasdoenças decorrem dos danos aomeio ambiente do trabalho. Elasvêm aumentando a cada dia em de-corrência das mudanças no mun-do do trabalho, que se agravamcom a precarização do trabalhohumano, fenômeno existente emquase todo o mundo e intensifica-do nas economias emergentes,como é o caso do Brasil18.

Com relação à responsabilida-de pelas agressões ao meio ambientee pelos danos reflexos experimen-tados por terceiros, é pacífico o en-tendimento de que se trata da mo-dalidade objetiva (CF, art. 225, § 3ºLei 6.938/81, art. 14, § 1º).

As doenças profissionais e dotrabalho originam-se das agressõesao meio ambiente, ou seja, dasações de agentes insalubres de na-tureza física, química ou biológica,os quais, por sua natureza, sãoagressivos ao meio ambiente do tra-balho e, conseqüentemente, desen-cadeiam tais doenças19.

17Uma importante e crescente causa de doenças relacionadas com o trabalho, à qual ainda se dápouca importância, é o estresse no trabalho ou pelo trabalho ou por falta do trabalho. Sobre otema, veja-se Maria José Giannella Cataldi, “O stress no meio ambiente de trabalho”, EditoraLTr, 2003.

18Nesse particular, existem seqüelas bastante antigas e outras correlacionadas com o trabalho naatualidade. Por exemplo, a pneumoconiose, conhecida como pulmão negro, que podia ser encon-trada entre mineiros de carvão durante muito tempo, ainda persiste como verdadeira epidemia deintoxicação; outras, como câncer, agravam-se por conta da existência e proliferação de agentesnocivos dos ambientes de trabalho: presumem-se duas mil substâncias carcinogênicas nos locaisde trabalho. Por outro lado, as mudanças no mundo do trabalho ocasionam repercussões nosambientes de trabalho e aparecimento de novos riscos e repercussões sobre a vida e a saúde dotrabalhador. Por conta do desenvolvimento de novas tecnologias, como os vídeo-terminais, sur-gem conseqüências para o obreiro, por exemplo, catarata, fadiga, dor de cabeça, dor muscular,estresse, depressão, problemas neurológicos. A par disso, a síndrome da imunodeficiência adqui-rida (AIDS) ocasiona riscos e repercussões nos ambientes de trabalho da área da saúde (laborató-rios, hospitais, clínicas, emergências); tal como a manipulação de organismos geneticamentemodificados (OGM) pode disseminar agente biológico, com conseqüências para a saúde dostrabalhadores e meio ambiente. Por seu turno, no que diz respeito às relações humanas no meioambiente do trabalho, são cada vez mais importantes as análises acerca de elementos psicológicoscomo a pressão para desempenho da atividade, que desencadeia a depressão e distúrbios emoci-onais (Cf. Júlio César de Sá da Rocha, Direito Ambiental do trabalho, p. 138).

19Nas doenças auditivas provocadas por ruído ocupacional, não é razoável obrigar o trabalhadorque se submeteu a um ambiente ruidoso e, em conseqüência, ficou surdo, que comprove a culpado empregador, porque os danos à saúde, neste caso, decorrem da agressão maior ao meioambiente. A doença eclode como conseqüência do dano ambiental.

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O benzenismo, o hidragirismoe o saturnismo, são também, entreoutras, doenças decorrentes dacontaminação do meio ambiente dotrabalho. Essas doenças decorremdo risco da atividade e são previsí-veis como conseqüência da utiliza-ção do benzeno, do mercúrio e dochumbo, respectivamente. Nessassituações de contaminação parece-me descabido exigir do trabalhadorcom tais doenças a comprovação daculpa do empregador! A responsa-bilidade nesses casos não pode seroutra senão, a objetiva. Nesse sen-tido também entendem Júlio Césarde Sá da Rocha20 e Fábio Aurélioda Silva Alcure21.

Desse modo, forçoso é con-cluir que nas hipóteses de doençasocupacionais decorrentes dos da-nos ao meio ambiente do trabalho,a responsabilidade pelos prejuízosà saúde do trabalhador é objetiva(§§ 3º do art. 225 da Constituição e1º do art. 14 da Lei 6.938/81).Igualmente se aplica este entendi-mento em relação aos acidentes-tipodecorrentes de danos ambientaisgerais. A razão é que, sendo o meioambiente do trabalho um aspecto in-tegrante do meio ambiente geral(arts. 200 -VIII e 225 da Constitui-ção), toda e qualquer lesão decorren-te dos desequilíbrios ambientaisatraem a regra da responsabilidadeobjetiva assegurada nos aludidos dis-positivos.

Em contrapartida, a respon-sabilidade subjetiva de que trata oinciso XXVIII do art. 7º aplica-sesomente nos acidentes que não de-corram de degradação ambiental,

ressalvados os eventos oriundos dasatividades de risco, de fato de ter-ceiro e aqueles que envolvam os ser-vidores públicos, cuja responsabili-dade, como analisada a seguir, éobjetiva.

2.2 Nos acidentes-tipo ou típicos

Acidente-tipo é o evento ins-tantâneo que atinge o trabalhadorde súbito, causando-lhe gravameconsubstanciado numa incapacida-de parcial ou total (transitória oudefinitiva) para o trabalho, comdano lesivo à saúde física ou psí-quica, podendo ainda resultar namorte do trabalhador.

O evento acidentário pode tercomo causas (fatores): a) atividadesde risco; b) condições inseguras detrabalho; c) ato inseguro de culpaexclusiva do trabalhador; e d) atoou fato de terceiro.

2.2.1 Nas atividades de risco

O Código Civil (art. 927, §único) adotou a teoria do riscocomo fundamento da responsabili-dade objetiva paralelamente à teo-ria subjetiva, verbis: “Haverá obri-gação de reparar o dano, indepen-dentemente de culpa, nos casos es-pecificados em lei, ou quando a ativi-dade normalmente desenvolvida peloautor do dano implicar, por sua natu-reza, risco para os direitos de outrem(grifados)”.

Trata-se de conceito abertoque, por falta de regulamentaçãoexpressa do que seja atividade derisco, será uma tarefa árdua para ajurisprudência e a doutrina resol-verem, podendo, por isso, levar a

20Direito Ambiental e meio ambiente do trabalho: dano, prevenção e proteção jurídica, p. 67.21Meio ambiente de trabalho e perda auditiva. Responsabilidade objetiva do empregador, p. 46/7.

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um entendimento restritivo ouampliativo.

A atividade de risco pressu-põe a possibilidade de um perigo in-certo, inesperado, mas, em face deprobabilidades já reconhecidas porestatísticas, é esperado. A nature-za da atividade é a peculiaridadeque vai caracterizar o risco capazde ocasionar acidentes e provocarprejuízos. A atividade de risco éaquela que tem, pela sua caracte-rística, uma peculiaridade que des-de já pressupõe a ocorrência de aci-dentes. Tem ela intrinsecamente aoseu conteúdo um pe-rigo potencialmentecausador de dano aalguém. O exercíciode atividade quepossa oferecer perigorepresenta um risco,que o agente assume,de ser obrigado a res-sarcir os danos queresultarem para ter-ceiros.

O que configu-ra a responsabilidade objetiva pelorisco da atividade não é um riscoqualquer, normal e inerente à ativi-dade humana e/ou produtiva nor-mais, mas aquela cujo risco ineren-te é excepcional e incomum, embo-ra previsível22 ; é um risco que dápraticamente como certa a ocorrên-

cia de eventos danosos para as pes-soas. Este risco deve decorrer da ati-vidade potencialmente perigosa de-senvolvida com regularidade por al-guém que busca um resultado que,pela experiência acumulada, podeprever a ocorrência de acidentescom prejuízos para as pessoas.

A natureza potencialmenteperigosa da atividade de risco é apeculiaridade que a diferencia dasoutras atividades para caracterizaro risco capaz de ocasionar aciden-tes e provocar prejuízos indenizá-veis, com base na responsabilidade

objetiva (CC, art.927)23. Nesse senti-do, a decisão seguin-te: “... insta destacarque a responsabili-dade de reparar odano independe deculpa ‘quando a ati-vidade normalmen-te desenvolvida peloautor do dano impli-car, por sua nature-za, riscos para os di-

reitos de outrem’, nos termos do pa-rágrafo único do artigo 927, doCCB, que é exatamente o que ocor-re quando uma empresa impõe ascondições de trabalho aos seus em-pregados”24.

Se no direito comum as difi-culdades são grandes quanto à

“O que configura a respon-

sabilidade objetiva pelo ris-

co da atividade não é um

risco qualquer, normal e

inerente à atividade humana

e/ou produtiva normais,

mas aquela cujo risco ine-

rente é excepcional e

incomum, embora

previsível...”

22Dada a previsibilidade do evento danoso, é devida indenização ao empregado que acidenta-seno trabalho quando o empregador, sem oferecer o devido treinamento, requisita-o para operarmáquina (RT, 757:316. In Carlos Roberto Gonçalves, Responsabilidade civil, p. 466).

23O Direito espanhol reconhece as atividades de risco ou perigosas como caso de responsabilidadeobjetiva para efeito de reparação dos acidentes de trabalho, como registra Manuel Luque Parra2,verbis: “Por el contrario la doctrina civil suele partir de una aplicacion mucho màs restringida dela teoría del riesgo, acuidiendo únicamente a criterios de imputación objetiva ante actividadesempresariales peligrosas. Siendo, normalmente, supuestos de responsabilid previstos yanormativamente (navegación aérea, energía nuclear, vehículos de motor, caza... “Laresponsabilidad civil del empresario en materia de seguridad y salud loboral”, p. 204).

24Processo TRT/15ª R, nº RO 498-2002-114-15-00-0; 6ª Turma; publicado no DOESP em 23.01.2004;Rel. Juiz Jorge Luiz Souto Maior (www.trt15.gov.br).

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identificação das atividades de ris-co, no Direito do Trabalho tal nãoconstitui novidade, por pelo menosduas razões. Já existem dois amploscampos de atividades consideradasde risco: a) as atividades insalubres(CLT, art. 189 e NR nº 15 da Porta-ria 3.214/77); e b) as atividadesperigosas (CLT, art. 193 e NR nº 16da Portaria 3.214/77).

Também é considerada peri-gosa a atividade exercida em con-tato com eletricidade (Lei 7.410/85e Decreto nº 92.530/86). Emboranão prefixadas em lei, há inúmerasoutras atividades consideradas pe-rigosas, pela sua natureza e formade exercício, e, portanto, enquadrá-veis como de risco para os efeitosdo § único do art. 927 do CC. NoDireito do Trabalho, ajudará ao juiznesse enquadramento a classificaçãodas empresas segundo o grau de ris-co de sua atividade (CLT, art. 162 eLei 8.212/91, art. 22, inciso II, letrasa, b e c).

São exemplos de atividadesperigosas que caracterizam a res-ponsabilidade objetiva pelapotencialidade de risco, entre ou-tras: a) o transporte ferroviário, quefoi um dos primeiros casos reconhe-cidos pela lei como atividade de ris-co; b) o transporte de passageirosde um modo geral; c) a produção etransmissão de energia elétrica; d)a exploração de energia nuclear; e)a fabricação e transporte de explo-sivos; f) o contato com inflamáveise explosivos; g) o uso de arma defogo; h) o trabalho em minas; i) otrabalho em alturas; j) o trabalhode mergulhador subaquático; k) asatividades nucleares; e l) as ativi-

dades insalubres e perigosas.

Estes são alguns casosilustrativos de atividades de risco,porquanto existe uma infinidade desituações encontráveis no dia-a-dia,como certamente serão reconheci-das pela doutrina e jurisprudência.Foram exatamente as atividades demaior risco que deram origem à res-ponsabilidade objetiva do emprega-dor no mundo, sobretudo a partirda Revolução Industrial, com o au-mento dos acidentes e das doençasdo trabalho.

Ademais, não se pode esque-cer que o art. 2º da CLT consagraque o empregador que busca resul-tados com a sua atividade, assumeos riscos da mesma em face daque-le que lhe presta serviços.

Pablo Stolze Gagliano eRodolfo Pamplona Filho25 dizemque quem deve assumir os riscos daatividade econômica (ou mesmo osriscos econômicos da atividade) é oempregador, e não o empregado,que se subordina juridicamente, deforma absoluta, ao poder patronalde direção. Eis a premissa básicapara se entender a responsabilida-de civil nas relações de trabalho su-bordinado, a par do disposto no §único do art. 927 do CCB.

Negar a responsabilidade ob-jetiva como um direito do trabalha-dor brasileiro na situação ora emanálise, seria mesmo um inexpli-cável paradoxo.

Assim, considerando a recepçãodo § único do art. 927 do CódigoCivil pelo inciso XXVIII do art. 7ºda Constituição, com apoio do § 3ºdo art. 225 da mesma Carta e, le-

25Novo curso de Direito Civil – Responsabilidade civil, p. 264.

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vando em conta os princípios que in-formam o Direito do Trabalho, osfundamentos da dignidade da pes-soa humana e dos valores sociais dotrabalho (CF, art. 1º), entendo apli-cável a responsabilidade objetiva doempregador nos acidentes de traba-lho em atividades de risco. Outros-sim, o § único do art. 927 do CódigoCivil não autoriza afirmar que a te-oria do risco foi adotada em carátergeral, para abranger qualquer risco.No caso, aplica-se aos riscos especi-ais da atividade do empregador.

2.2.2 Por condições inseguras detrabalho

Insegura é a condição ineren-te às instalações, maquinários, equi-pamentos de trabalho etc. A con-dição insegura de trabalho é fatorpropício à ocorrência de acidentescom lesão para o trabalhador e podeser de causa simples (degrau danifi-cado de uma escada) ou de causacomplexa (uma cadeia de fatoresque podem causar os acidentes).

As condições inseguras ou fal-ta de segurança no trabalho são osfatores que mais provocam aciden-tes de trabalho, como afirma o mé-dico e perito do trabalho OsvaldoMichel26 . A condição insegura, di-ferentemente da atividade de ris-co27 , é passível de neutralização oucorreção por meio de adequada pre-venção a cargo do empregador,como cláusula obrigatória do con-

trato de trabalho. Assim, constituiatividade de risco o trabalho em con-tato com corrente elétrica; já as ins-talações elétricas mal feitas ou im-provisadas com fios expostos etc.,constituem condição insegura28.

O contrato de trabalho é umcontrato sinalagmático e de adesão.Da primeira característica decorremobrigações recíprocas. De um lado,o empregado está obrigado a colo-car à disposição do empregador asua força de trabalho e cumprir ri-gorosamente as regras fixadas nocontrato, como também aquelas de-correntes de lei, servindo de exem-plo o dever de obediência às ordense disciplina para o bom andamentodo trabalho. De outro, cabem aoempregador inúmeras obrigações,como o pagamento de salários pelacontraprestação dos serviços e a pre-servação da integridade física e men-tal do trabalhador no local de tra-balho mediante a redução dos ris-cos inerentes ao trabalho, por meiode normas de saúde, higiene e segu-rança (CF, art. 7º, inciso XXII).

É forçoso reconhecer que omais importante conteúdo do con-trato de trabalho é a preservaçãoda vida do trabalhador. Esta é amais importante cláusula inseridaimplicitamente no contrato de tra-balho, pelo que a responsabilidadedecorrente dos acidentes de traba-lho é do tipo contratual. A culpa,no caso, é contratual. Veja-se, nes-

26Acidentes do trabalho e doenças ocupacionais, p. 53.27Na atividade de risco o que se pode fazer é tomar precauções para diminuir as possibilidades de

ocorrência de acidentes, porquanto eliminar essa possibilidade por completo é praticamente impos-sível, como por exemplo, nas atividades em contato com inflamáveis, explosivos, com energiaelétrica, atividades nucleares etc.

28Como condição insegura pode-se citar outros exemplos: iluminação ou ventilação inadequada,defeitos dos equipamentos de trabalho, projetos e construções inseguras, processos, operações oudisposições perigosas (empilhamento e armazenamento errados, passagens obstruídas, sobrecar-ga sobre o piso, congestionamento de máquinas e operadores nos locais de trabalho), não forneci-mento de equipamentos individuais – EPIs – ou fornecimento de EPIs inadequados ou com otempo de uso vencido e falta de medidas coletivas de proteção no meio ambiente do trabalho.

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se sentido, decisão do STF: “Cuida-se, ademais, de responsabilidadecivil proveniente de culpa contra-tual e não de culpa aquiliana, eisque a empresa não cumpriu a obri-gação implícita concernente à segu-rança do trabalho de seus empre-gados e de incolumidade, durantea prestação de serviços, determi-nando, no caso, como reconheceuo acórdão, ‘a remoção de pesa-díssima peça sem o equipamentotécnico e as cautelas necessárias, desorte que o deslizamento verifica-do era perfeitamente previsível’”29.

A responsabilidade contra-tual deriva de um contrato entre aspartes, no caso, empregado e em-pregador, surgindo o dever de in-denizar por parte de um dos con-tratantes pelo descumprimento dedeterminada obrigação decorrentedo pactuado. Para ilustrar, lembre-se o caso clássico do contrato detransporte coletivo, celebrado taci-tamente, por adesão do passageiroàs regras oferecidas pela empresa,que assume implicitamente a obri-gação de transportá-lo de forma adeixá-lo no local de destino ilesoquanto à sua integridade física epsíquica. É o caso, mutatismutandis, do contrato de trabalho,pois além de estar implícita nele aobrigação de respeito à saúde e in-tegridade física do trabalhador30,

trata-se o mesmo de um contratode adesão, em que o trabalhador,pela situação de dependência eco-nômica que lhe é peculiar no con-trato de trabalho, arrisca a sua saú-de, integridade física e a vida31.

Há duas teorias sobre a res-ponsabilidade civil: a) a dualista,que procura embasar a responsa-bilidade extracontratual na culpa,e a contratual no simples descum-primento da norma avençada; e b)a monista, que diz ser o descum-primento da norma legal oucontratual o fundamento, em re-gra, para os dois tipos de responsa-bilidade.

O Direito Civil brasileiro ado-tou a teoria dualista (extracontra-tual: arts. 186 a 188 e 927 econtratual: art. 389 e seguintes).Existe uma importante distinçãoentre as duas formas de responsa-bilidade com relação à prova, poiscomo sustentam, entre outros,Carlos Roberto Gonçalves32, CaioMário da Silva Pereira33 e AntônioElias de Queiroga34 , a mais signifi-cativa diferença que há entre asduas formas de responsabilidadediz respeito ao onus da prova. As-sim, enquanto na responsabilidadecontratual o credor só está obriga-do a demonstrar que a prestação foidescumprida e que houve um pre-

29RE nº 94.429-0, 1ª Turma, Relator Ministro Néri da Silveira; DJU de 15/06/84.30Nesta linha também é o entendimento de João José Sady ao afirmar que “a garantia de condições

de trabalho sadias em termos de higiene e segurança constitui uma cláusula implícita docontrato de trabalho (Direito do meio ambiente de trabalho, p. 126).

31Pinho Pedreira, com apoio nas lições de Horácio de Fuente sustenta que enquanto nas contrataçõesprivadas se achem normalmente em jogo valores econômicos e como exceção podem ser afeta-dos bens pessoais dos contratantes, geralmente de forma indireta, no contrato de trabalho otrabalhador, pela situação de dependência pessoal em que se encontra, arrisca permanentemen-te seus bens pessoais mais valiosos (a vida, integridade física, honra, dignidade etc.) (A repara-ção do dano moral no Direito do Trabalho, p. 555).

32Responsabilidade civil, p. 27.33Responsabilidade civil, p. 247.34Op. cit., p. 8/9.

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juízo (dano), na extracontratual oqueixoso terá que provar todos oselementos da responsabilidade ci-vil: o dano, a infração à norma e aculpa do agente. Na culpa contra-tual inverte-se o onus probandi parao réu. Este, para não ser condena-do na obrigação, terá que provar aocorrência de alguma das causasexcludentes admitidas na lei, comoa culpa exclusiva da vítima, o casofortuito ou a força maior. É a hipó-tese do acidente de trabalho em queo empregador, no caso de acidentedecorrente de condição insegura,deverá, para se isentar da conde-nação, comprovar que cumpriu asobrigações contratuais no que dizrespeito às normas de segurança emedicina do trabalho, pois na res-ponsabilidade contratual, que é ocaso, a culpa é presumida, porquehá um dever positivo de adimple-mento do objeto do contrato.

Não estou abandonando aidéia do elemento culpa, pois, comoafirma Caio Mário da Silva Perei-ra35, na tese da presunção de culpasubsiste o conceito genérico de cul-pa como fundamento da responsa-bilidade civil. Onde se distancia daconcepção subjetiva tradicional éno que concerne ao ônus da prova.Dentro da teoria clássica da culpa,a vítima tem o dever de demons-trar a existência dos elementos fun-damentais de sua pretensão, so-bressaindo o comportamento cul-poso do demandado. Ao se enca-minhar para a especialização daculpa presumida, ocorre uma inver-são do onus probandi. Em certas cir-

cunstâncias, presume-se o compor-tamento culposo do causador dodano, cabendo-lhe demonstrar aausência de culpa, para se eximirdo dever de indenizar.

Há um importante traçodiferenciador entre as responsabi-lidades contratual e extracon-tratual: na primeira, existe um laçode direito, uma relação jurídica queune o autor do dano e a vítima doprejuízo, que é o contrato. Na se-gunda, inexiste qualquer relação dedireito ligando autor e vítima.

No caso do acidente de tra-balho há uma situação jurídica en-tre o autor do dano (o empregador)e a vítima (o empregado), ligadospor um contrato de trabalho quecontém cláusulas explicitadas nopróprio instrumento e outras cons-tantes do ordenamento jurídicopositivo, que integram o pacto detrabalho como direitos fundamen-tais do trabalhador. O exemplomais candente desta situação jurí-dica é o respeito à saúde e à vidado trabalhador, por meio daimplementação de condições segu-ras de trabalho. É isto que funda-menta a natureza contratual daresponsabilidade decorrente de aci-dentes de trabalho, para efeito dainversão do ônus da prova a favorda vítima do acidente, além, é cla-ro, do risco, que justifica a assunçãodas conseqüências para quem ocriou. Essa inversão decorre da pre-sunção de culpa do empregador,que tem a obrigação de resguardaros seus empregados dos riscos ine-rentes ao trabalho36 .

35Op. Cit., p. 26536Cumpria à empresa resguardar seus empregados dos riscos inerentes à atividade específica por

eles exercida. Assim, se deixa ela de fazer, ao lado dos rotineiros exames médicos adequados àfunção de cervejeiro – psiquiátricos, psicológicos –, de prestar ao empregado a assistência sociale de afastá-lo periodicamente da atividade específica, não há como deixar de reconhecer a suaculpa (TJRJ, Ap. 6.741/98, 5ª Câm. Cível., Des. Carlos Ferrari, j. 20-10-1998. In Carlos RobertoGonçalves, Responsabilidade civil, p. 467).

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Afirma Caio Mário da Silva Pe-reira37 : “Foi assim que nasceu a obri-gação de indenizar a vítima de umacidente no trabalho, antes que estedever assumisse as veras de um insti-tuto autônomo. Imaginou-se, diz DePage, que no contrato de trabalhoocorre a ‘obrigação de seguridade’.Sobrevindo o acidente, o empregadortem o dever de indenizar, como efeitode uma obrigação contratual”.

Trata-se da aplicação de teo-ria doutrinária antiga, existentedesde as origens das reparações poracidentes de trabalho, que vem jus-tificando, no mundo inteiro, aresponsabilização do empregadorperante o empregado inferiorizadono tocante à prova da culpa daque-le. É certo que a inversão do ônusda prova com base na responsabi-lidade contratual já vigora nas de-mais relações civis e comerciais, in-clusive no Direito do Trabalho, nãopodendo ser diferente nos aciden-tes de trabalho, nos quais encon-tram-se os mais justificados funda-mentos dessa inversão, como é ób-vio. Nesse sentido reconhece LuizArthur de Godoy38 . Assim, apenaspode exonerar-se o empregador seeste demonstrar o emprego das me-didas recomendadas, sem ter logra-do evitar, no entanto, o aconteci-mento danoso. Ou, se comprovar aculpa exclusiva da vítima, ou a in-tervenção de caso fortuito ou de

força maior. No mesmo sentidocompartilha José Cairo Júnior39.

Cabe lembrar que a inversãodo ônus da prova não constitui no-vidade no Direito do Trabalho,como há muito tempo reconhecema doutrina e a jurisprudência40 . Essainversão pode decorrer da lei ou decriação jurisprudencial, como afir-ma Caio Mário da Silva Pereira41.

A inversão do ônus da provatem como objetivo a busca da verda-de real e se norteia em princípio dejustiça. No Direito do Trabalho acres-ce-se, como fundamento, o princípioda hipossuficiência do trabalhador.

Não obstante isso, o funda-mento da responsabilidade, nocaso, continua sendo a culpa, quese presume, por um processo técni-co relativo ao sistema da prova. Sãopresunções juris tantum que, sendorelativas, permitem prova em con-trário daquilo que se presume. Nãose cogita de presunção juris et dejuris, que na verdade, seria a pró-pria responsabilidade objetiva ou,então, como afirmado por AlvinoLima42, tratar-se-ia de uma simplesficção de culpa, por não permitir aprova em contrário.

A regra da inversão do ônusda prova está consagrada na leibrasileira nos arts. 6º, inciso VIII43

e 3844 do CDC.37Op. cit., p. 266.38Responsabilidade de direito comum e dano resultante de acidente do trabalho, p. 110.39O acidente do trabalho e a responsabilidade civil do empregador, p. 86.40São exemplos as Súmulas: 68 (que trata do ônus da prova na equiparação salarial), 212 (que cuida

do ônus da prova do motivo do término da relação de emprego) e 338 (que cria presunção relativasobre a veracidade da jornada de trabalho alegada pelo empregado em processo judicial).

41Responsabilidade civil, p. 266.42Culpa e risco, p. 76.43Artigo 6º, inciso VIII do CDC – São direitos do consumidor: [...] a facilitação da defesa de seus

direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova a seu favor, no processo civil, quando, acritério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regrasordinárias da experiência.

44O ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária cabe aquem as patrocina.

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Essa regra aplica-se com mai-or razão nos acidentes de trabalho,porque a insegurança das condiçõesde trabalho como causa dos aci-dentes gera presunção juris tantumem face das estatísticas que mos-tram que a maioria dos acidenteslaborais tem como causa a falta deprevenção dos riscos ambientais.Neste caso, é muito mais fácil parao empregador provar que cumpriusuas obrigações contratuais do queo empregado demonstrar odescumprimento das mesmas.

Conclui-se, portanto, que nosacidentes decorrentes de condiçõesinseguras de trabalho, por se tratarde uma responsabilidade contra-tual, inverte-se o ônus da provapara o empregador. Cumpre a este,para não arcar com as conseqüên-cias reparatórias, comprovar quenenhuma culpa teve em relação aoacidente, ou seja, que cumpriu assuas obrigações contratuais atinen-tes às normas de medicina, higienee segurança do trabalho.

2.2.3 Por ato inseguro de culpaexclusiva do trabalhador

Ato inseguro é uma condutaindevida do elemento humano, queno caso do acidente de trabalhoconstitui “a maneira pela qual o tra-balhador se expõe, consciente ou in-conscientemente a risco de aciden-tes. Em outras palavras, é um certotipo de comportamento que leva aoacidente”45.

O ato inseguro, quando deculpa exclusiva do trabalhador,constitui hipótese de exclusão daresponsabilidade do empregadorpelos danos causados, cabendo aeste comprovar que de fato não con-correu de nenhuma forma para oevento, que aconteceu por culpaexclusiva da vítima. Na análise doacidente não pode ser desde logoconsiderada como causa, isolada-mente, o ato ou a condição que ori-ginou o evento. Devem ser analisa-das todas as causas, desde a maisremota, o que permitirá um ade-quado estudo e posterior neutra-lização ou eliminação dos riscos.Até o presente momento, nenhumadas máquinas construídas, nenhumdos produtos químicos obtidos porsíntese e nenhuma das teorias soci-ais formuladas alteraram funda-mentalmente a natureza humana.As formas de comportamento, quedevem ser levadas em consideraçãono esforço de prevenir atos insegu-ros, deverão ser analisadas demodo bastante abrangente46 .

É oportuno lembrar que aobrigação das empresas com rela-ção à prevenção de riscosambientais não é somente adotarmedidas preventivas de segurançae fornecer equipamentos aos em-pregados, mas também instruir ostrabalhadores e conscientizá-los danecessidade de se evitar acidentes,podendo, para tanto, utilizar-se doseu poder disciplinar em face do

45Cf. Osvaldo Michel, Acidentes do trabalho e doenças ocupacionais, p. 55.46É preciso que se examine em que situação e circunstâncias foi praticado o ato que levou ao

acidente; se o trabalhador agiu consciente ou inconscientemente; se estava usando equipamen-tos de proteção adequados; se os recebeu e se os mesmos estavam dentro do tempo de vida útil;qual o ritmo do trabalho; quais as exigências de produção por parte da empresa; se o trabalha-dor tinha capacitação técnica para a atividade e, se não a tinha, se recebeu autorização superiorpara tanto; se estava devidamente instruído para executar a tarefa que levou ao evento; seestava em jornada normal de trabalho ou se cumpria sobrejornada excessiva; se estava traba-lhando sob algum tipo de pressão psicológica ou econômica; se estava cumprindo aviso prévioetc.

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empregado recalcitrante. Comoafirma a jurisprudência, “o simplesfornecimento do aparelho de pro-teção pelo empregador não o exi-me do pagamento do adicional deinsalubridade, cabendo-lhe tomaras medidas que conduzam à dimi-nuição ou eliminação da nocivi-dade, dentre as quais as relativasao uso efetivo do equipamento peloempregado” (Súmula 289/TST).

Assim, o ato inseguro, de cul-pa exclusiva do empregado, com-provado pelo empregador, exclui aresponsabilidade deste com relaçãoà reparação pelos danos resultan-tes do acidente.

2.3 Por ato ou fato de terceiro

Além da responsabilidadepor ato próprio (arts. 186 e 927 doCCB), estabelece a lei alguns casosem que alguém deve suportar asconseqüências decorrentes do fatoou ato de terceiro (CC, art. 932 -III), verbis:

Artigo 932 – São também res-ponsáveis pela reparação civil:

III - o empregador ou comi-tente, por seus empregados, serviçaise prepostos, no exercício do traba-lho que lhes competir, ou em razãodele (grifados);

Prescreve o art. 933 do mes-mo Código que as pessoasindicadas nos incisos I a V do arti-go antecedente, ainda que não hajaculpa de sua parte, responderãopelos atos praticados pelos tercei-ros ali referidos. Finalmente, cons-ta do § único do art. 942 do CC quesão solidariamente responsáveiscom os autores os co-autores e aspessoas designadas no artigo 932.

Deflui dos dispositivos legaismencionados que alguém, mesmo

não tendo praticado diretamenteato danoso para outrem, pode res-ponder pelas conseqüências desseato, praticado por um terceiro comquem mantenha alguma relaçãojurídica estabelecida por lei ou con-tratualmente, sendo esta responsa-bilidade de natureza objetiva (art.933 e § único do art. 942).

É o caso das terceirizações deserviços, muito comuns no Direitodo Trabalho, onde existe um con-trato entre o tomador e a empresaprestadora, pelo qual esta recebeordens da contratante para a reali-zação dos serviços objeto do con-trato, na direção do interesseobjetivado pela tomadora, que de-termina à contratada o modo comodevem os serviços ser realizados,variando a fiscalização pelatomadora conforme cada caso. Emuns, a fiscalização é exercida diá-ria e diretamente pela tomadorados serviços, especialmente quan-do estes são executados no próprioestabelecimento do tomador; emoutros casos em que a prestação dosserviços é executada fora do esta-belecimento do tomador, não raroeste designa supervisores para ori-entarem e acompanharem a execu-ção dos serviços e a qualidade doproduto final, que se não estiveremde acordo com as suas necessida-des de mercado são rejeitados, daíresultando essa forma especial desubordinação.

No Código anterior, a res-ponsabilidade por fato de outremera presumida (juris tantum) em faceda chamada culpa in vigilando ouin eligendo, tendo o STF emitido aSúmula 341, com o seguinte teor:“É presumida a culpa do patrão oucomitente pelo ato culposo do em-

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pregado ou preposto”. Assim, se opatrão provasse haver tomado to-dos os cuidados reclamados pelacircunstância, ficava exonerado daresponsabilidade pelo ato do seuempregado ou preposto. Todavia,não valem mais tais consideraçõesporque, como afirma CarlosRoberto Gonçalves47 , “o novo Có-digo Civil, como já se afirmou, con-sagrou a responsabilidade objetiva,independente da idéia de culpa,dos empregadores e comitentes pe-los atos de seus empregados, servi-çais e prepostos (artigo 933), afas-tando qualquer dúvida que aindapudesse existir sobre o assunto e tor-nando prejudicada a Súmula 341do Supremo Tribunal Federal, quese referia ainda à ‘culpa presumi-da’ dos referidos responsáveis. Res-ta ao empregador somente a com-provação de que o causador dodano não é seu empregado oupreposto, ou que o dano não foicausado no exercício do trabalhoque lhe competia, ou em razãodele”48 .

Esta alteração legal represen-tou uma das mais importantes no-vidades em termos de revoluçãoprovocada pelo Código Civil de2002 em matéria de responsabilida-de de terceiro ou por fato de ou-trem, pela adoção da teoria do ris-co e pelo conseqüente abandono dorequisito da inversão do ônus daprova, ou seja, substituiu-se a cul-

pa presumida e o ônus probatórioinvertido pela objetivação efetivada responsabilidade civil.

Essa responsabilidade, queconsta explicitamente da lei e sobrea qual não cabe mais discussão, fun-damenta-se na teoria do risco-pro-veito49 do empregador ou tomadorde serviços pela atividade que de-senvolve, isto porque tanto o em-pregador em relação ao seu empre-gado, como o tomador em face àsempresas terceirizadas vivem emfunção do lucro, pelo que, como ad-verte Antônio Elias Queiroga50 ,deve a responsabilidade civil dopatrão ou comitente ser examina-da com maior rigor do que a res-ponsabilidade civil dos pais, tam-bém objetiva, porque estes não ti-ram nenhum proveito da ativida-de dos filhos menores, ao contráriodo patrão ou comitente que utilizaos seus empregados para fins lucra-tivos.

A responsabilidade por fatode terceiro surgiu em face de trêsmodalidades de culpa: culpa ineligendo, porque o tomador escolheumal a empresa terceirizada, porexemplo (preposto); culpa ininstruendo, porque não foram minis-tradas ao preposto (empresaterceirizada) as instruções devidase, culpa in vigilando, por falta deuma adequada e precisa vigilânciasobre a conduta do agente (empre-

47Responsabilidade civil, p. 148.48Analisando o projeto de Código Civil de 1975, que deu origem ao atual, já se manifestava Caio

Mário da Silva Pereira, dizendo que: “Todo aquele (pessoa física ou jurídica) que empreendeuma atividade que, por si mesma, cria um risco para outrem, responde pelas suas conseqüênci-as danosas a terceiros. Não haverá cogitar se houve um procedimento do comitente na escolhaou na vigilância do preposto, isto é, faz-se abstração da culpa in eligendo ou in vigilando”(Responsabilidade civil, p. 289).

49A insegurança material da vida moderna criou a teoria do risco-proveito, sem se afastar dosprincípios de u’a moral elevada, sem postergar a dignidade humana e sem deter a marcha dasconquistas dos homens (Alvino Lima, Culpa e risco, p. 336).

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sa terceirizada). Outrossim, pelosistema legal vigente no novo Có-digo Civil, essas modalidades deculpa são presumidas juris et de jure,não incumbindo mais à vítima,como no sistema anterior, prová-las51. O preponente somente se exo-nerará da indenização se provarcaso fortuito ou força maior ou queo evento se deu sem nexo de causa-lidade com relação a ele, ou seja,que a conduta foi praticada forados limites da preposição”52.

Conclui-se, assim, com baseno novo CC, que a responsabilida-de do empregador ou comitente(tomador de serviços) pelos atos,respectivamente, dos seus empre-gados e prepostos (empresasterceirizadas) que causem aciden-tes de trabalho e conseqüentes da-nos à saúde dos trabalhadores, é ob-jetiva53 e solidária54.

2.4 Em relação ao servidor público

Como qualquer trabalhador,o servidor público também está su-

jeito aos acidentes e doenças do tra-balho. A falta de prevenção, a es-cassez de funcionários e os movi-mentos repetitivos levam centenasde servidores a afastamentos pordoenças ocupacionais e até à inca-pacidade para a atividade habitu-al. O ritmo de trabalho, a mas-sificação do trabalhador, a perdada individualidade e os movimen-tos repetitivos são as causas demuitas doenças, como a LER/DORT, que vem se expandindo en-tre os trabalhadores públicos. Emoutros casos, v.g., na polícia, hámuitos acidentes com a morte ouinvalidez de policiais em serviçoscombatendo o crime, muitas vezessem as mínimas condições de tra-balho; noutras situações a ativida-de causa stress e provoca váriasdoenças (distúrbios psíquicos etc).

Toda evolução da responsa-bilidade civil do Estado, desde airresponsabilidade até a responsa-bilidade objetiva sem culpa levouem conta os fundamentos do risco

50Responsabilidade civil e o novo Código Civil, p. 228.51A responsabilidade por fato de outrem, no Direito do Trabalho, é muito mais facilmente justificada

pela teoria do risco-proveito ou, mesmo, do risco da empresa, do que com o emprego depresunção de culpa, tendo essa responsabilidade por fundamento o dever de segurança doempregador ou preponente em relação àqueles que lhe prestam serviços (Cf. Carlos AlbertoMenezes Direito e Sérgio Cavalieri Filho, Comentários ao novo Código Civil, p. 221/13).

52Cf. Silvio de Salvo Venosa, que inclusive alerta para o fato de que “o fornecedor e fabricanterespondem pelos danos de seus empregados e prepostos causados ao consumidor, indepen-dentemente de culpa. Fora do campo do consumidor, ainda se exige a culpa do preposto”(Direito Civil – responsabilidade civil, p. 69). Significa dizer que no aspecto da responsabilizaçãopelo Código de Defesa do Consumidor o direito já atingiu, talvez, o seu auge quanto àhumanização na reparação dos danos, o que não ocorreu ainda com relação aos outros camposdo direito, mas que, como pensamos, pode vir a ocorrer em breve na esteira da evolução doinstituto da responsabilidade civil, especialmente na área do Direito do Trabalho, pela semprepresente característica da hipossuficiência, que foi o fundamento maior da responsabilidadesem culpa no CDC.

53Acidente do trabalho. Indenização. A sentença penal condenatória transitada em julgado, quefixa culpa do empregado pelo falecimento de companheiro seu durante jornada de trabalho, fazemergir a responsabilidade objetiva do patrão, nos termos do artigo 1.521, III, do Código Civil(1916, correspondente ao art. 932, inciso III, do novo Código). (RT, 744:280. In Carlos RobertoGonçalves, Responsabilidade civil, p. 467).

54Pode o autor promover a ação de indenização acidentária, pelo direito comum, contra a empresaempreiteira contratada, de que é empregado, e contra a empresa contratante, quando entenderque são elas, solidariamente, responsáveis pelo acidente sofrido, do qual lhe advieram seqüelasincapacitantes (2° TACSP, AgI 488.253, 5ª Câm., Rel. Juiz Adail Moreira, J, 3-6-1997. In CarlosRoberto Gonçalves, Responsabilidade civil, p. 468).

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criado, da solidariedade social e daidéia de justiça, esta, sobretudo emface da desigualdade existente en-tre o particular e a AdministraçãoPública, com maior dificuldade da-quele para provar a culpa desta.Trata-se da teoria do risco adminis-trativo, consagrada no Direito bra-sileiro (CF, art. 37, § 6º) e (CódigoCivil, art. 43).

A pergunta que se faz é se aAdministração Pública também res-ponde objetivamente perante osseus servidores no caso de danos de-correntes de acidentes de trabalho,vez que o art. 37, §6º, faz referência a“danos causados aterceiros” e o § 3º doart. 39 da Constitui-ção não mandouaplicar aos servido-res públicos o incisoXXVIII do art. 7º, queprevê a obrigato-riedade do segurocontra acidentes detrabalho e da indeni-zação de direito co-mum, no caso de dolo ou culpa doempregador. Entendo que se o re-ferido inciso XXVIII não se aplicaao servidor público, não há razãopara excluir o acidente de trabalhoque o vitima, da responsabilidadeobjetiva (CF, art. 37, § 6º).

Simples, portanto, parece aresposta para o servidor públicovítima de acidente de trabalho, poisse for reconhecido como tal, é por-que estava no exercício de uma fun-ção pública. Outrossim, antes de serservidor público, trata-se de um ci-dadão, de um particular como qual-quer outro, que, em face da Admi-nistração Pública, submete-se duasvezes à desigualdade que justifica

a aplicação da responsabilidade ob-jetiva: como cidadão e trabalhador.Não seria justo, lógico e jurídico queem face de um dano causado pelaAdministração Pública, que acarre-te prejuízo a um particular e a umservidor público ao mesmo tempo,este tenha que provar a culpa doEstado e aquele não.

Assim, provados o fato, odano e o nexo causal, surge o de-ver de reparar os danos aciden-tários pelo Estado, em face da res-ponsabilidade objetiva. Nesse sen-tido é a seguinte decisão: “Aciden-

te do trabalho. Inde-nização pelo direitocomum. Teoria dorisco administrativo.Art. 37, 6º, da CF.Culpa da munici-palidade, ademaisdemonstrada. Repa-ração devida, inde-pendentemente doseguro social. Hono-rários advocatícios.Recurso voluntário

não conhecido. Reexame necessá-rio conhecido e provido parcialmen-te. 1. Não se conhece de recurso vo-luntário quando se apresenta caren-te de fundamentação. 2. Em face dodisposto no art. 37, 6º, da CF, queadotou a teoria do risco adminis-trativo, a obrigação da munici-palidade indenizar o dano causa-do a seu funcionário independe daprova de culpa daquela. Somentea culpa exclusiva da vítima ou for-ça maior eximiriam a administra-ção pública da aludida obrigação,o que não ocorreu na espécie, onde,ademais, restou amplamente de-monstrada a sua culpa” (Tribunalde Alçada do Estado do Paraná;Apelação Cível nº 124.761.200; 2ª

“...antes de ser servidor pú-

blico, trata-se de um cida-

dão, de um particular como

qualquer outro, que, em face

da Administração Pública,

submete-se duas vezes à

desigualdade que justifica a

aplicação da responsabilida-

de objetiva: como cidadão e

trabalhador.”

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Câmara Cível; Ac. nº 10.634; Rel.Juiz Pilde Pugliese, DJ-PR de 27/11/1998).

3 CONCLUSÕES

a) A responsabilidade pelosdanos causados à saúde do traba-lhador, quanto ao fundamento,aplica-se, além do inciso XXVIII doart. 7º da Constituição, o § 3º doart. 225 da CF, o § 1º do art. 14 daLei 6.938/81, o § único do art. 927e os arts. 932-III, 933 e 942, § únicodo Código Civil;

b) Nas doenças ocupacionaise acidentes decorrentes dos danosao meio ambiente, a responsabili-dade do empregador é objetiva;

c) Nos acidentes de trabalhodecorrentes de atividades de risco,a responsabilidade do empregadoré objetiva;

d) Nos acidentes em ativida-des comuns, por condições insegu-ras de trabalho (descumprimentodas normas-padrão de segurança ehigiene do trabalho), a responsabi-lidade do empregador é subjetiva,com inversão do ônus da prova parao autor do dano;

e) Por ato inseguro de culpaexclusiva do trabalhador, devida-mente comprovado pelo emprega-dor, este ficará isento do dever dereparação;

f) Pelos danos causados àsaúde do trabalhador por ato oufato de terceiro (terceirização,quarteirização etc.) responde oempregador ou tomador de servi-ços solidária e objetivamente;

h) Nos acidentes de trabalhoenvolvendo servidor público, a res-ponsabilidade do Estado é objetiva.

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