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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ RENATA OWSIANY LEHMANN RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DOS AVÓS NA COMPLEMENTAÇÃO DOS ALIMENTOS CURITIBA 2015

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

RENATA OWSIANY LEHMANN

RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DOS AVÓS NA

COMPLEMENTAÇÃO DOS ALIMENTOS

CURITIBA

2015

RENATA OWSIANY LEHMANN

RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DOS AVÓS NA

COMPLEMENTAÇÃO DOS ALIMENTOS

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientadora: Prof.ª. Geórgia Sabbag

Malucelli Niederheitmann.

CURITIBA

2015

TERMODE APROVAÇÃO

Renata Owsiany Lehmann

A RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DOS AVÓS NA COMPLEMENTAÇÃO

DOS ALIMENTOS

Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do título de bacharel em

Direito no curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, _____ de __________________ de 2015.

____________________________________

Curso de Ciências Jurídicas da

Universidade Tuiuti do Paraná

_____________________________________

Orientador: Professora Geórgia Sabbag Malucelli Niederheitmann.

Universidade Tuiuti do Paraná.

Prof._______________________________________

Prof._______________________________________

Agradecimentos

Agradeço a Deus por tudo o que eu sou e por tudo o que tenho,

principalmente pela oportunidade diária de recomeçar um dia após o

outro.

Agradeço, também, aos meus pais pelo esforço sem limites a fim de

fazer acontecer a minha formação na graduação do curso de direito.

Dedicatória

Dedico o presente trabalho à minha família, em especial aos meus

amados pais pelo apoio e esforço incondicional, principalmente pelos

incentivos em momentos de fraquezas no decorrer dos cinco anos da

graduação no Curso de Direito.

RESUMO

O presente trabalho aborta o direito de família, regulador das relações

sanguíneas e afetivas, gerador das obrigações e responsabilidades para com

os parentes mais próximos, mais especificamente o instituto dos alimentos,

reconhecido por lei como um direito fundamental para qualquer ser humano.

Trata-se de uma obrigação alimentar, a sua natureza socorre os necessitados,

ou seja, aqueles que não possuem condições de manter o seu próprio sustento

sem a ajuda de outrem. Seu princípio regulador fundamental é garantir a

dignidade da pessoa humana através da solidariedade familiar. Os genitores

são tidos como os sujeitos iniciais desta relação, na falta ou incapacidade

destes, o ascendente mais próximo é chamado para integrar a relação.

Normalmente, tal obrigação recai sobre os avós, os quais respondem

subsidiaria e complementarmente na complementação da subsistência de seus

netos. Entretanto esta obrigação não é solidária, mas sim divisível,

possibilitando assim a cumprimento desta obrigação por mais de um parente.

Palavras-chave: alimentos, obrigação, responsabilidade subsidiária, avós.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................08

2 A FAMÍLIA E A SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA...............................10

2.1 FAMILIA CONTEMPORÂNEA...........................................................12

2.2 FAMILIA NO BRASIL........................................................................13

2.2.1 Código Civil de 2002......................................................................13

2.2.2 Constituição Federal de 1988............................................................14

2.3 EVOLUÇÃO LEGISLATIVA DA FAMÍLIA...........................................15

3 FAMÍLIA E SEUS PRINCÍPIOS BASILARES...................................17

3.1 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.......................18

3.2 PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE FAMILIAR...................................19

3.3 PRINCÍPIO DA IGUALDADE FAMILIAR...........................................20

3.4 PRINCÍPIO DA LIBERDADE FAMILIAR...........................................21

3.5 PRINCÍPIO DA AFETIVIDADE..........................................................22

3.6 PRINCÍPIO DA CONVIVÊNCIA FAMILIAR.......................................22

3.7 PRINCIPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA.....................23

4 DOS ALIMENTOS............................................................................25

4.1 CONCEITO DE ALIMENTOS............................................................27

4.2 ESPÉCIES DE ALIMENTOS.............................................................28

4.2.1 Quanto à natureza.............................................................................28

4.2.2 Quanto à causa jurídica...............................................................................29

4.2.3 Quanto à finalidade......................................................................................31

4.2.4 Quanto ao momento da reclamação............................................................32

4.3 CARACTERISTICAS DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR.................................33

4.4 PRESSUPOSTOS DA OBRIGAÇÃO DE PRESTAR ALIMENTOS.............34

4.5 NATUREZA DO DIREITO À PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS.....................35

4.6 SUJEITOS DA OBRIGAÇÃO.......................................................................36

4.7 FONTES DOS ALIMENTOS........................................................................38

5 RESPONSABILIDADE DOS AVÓS NA PRESTAÇÃO ALIMENTAR........40

5.1 RESPONSABILIDADE CIVIL NO ÂMBITO FAMILIAR................................42

5.2 RESPONSABILIDADE SOLIDADIA OU SUBSIDIÁRIA..............................45

5.3 RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DOS AVÓS.....................................46

5.4 RESPONSABILIDADE COMPLEMENTAR DOS AVÓS..............................48

5.5 PRISÃO CIVIL DOS AVÓS..........................................................................52

6 DIREITO DA CRIANÇA E DO IDOSO..........................................................56

7 CONCLUSÃO................................................................................................58

REFERENCIAS.......................................................................................................60

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1 INTRODUÇÃO

A realização do presente trabalho tem como objetivo demonstrar a

importância da prestação de alimentos resultantes do poder familiar e da relação

avoenga, tendo como princípios basilares a solidariedade familiar, a dignidade da

pessoa humana e o dever de assistência mútua que deve reinar entre os parentes.

A Constituição Federal de 1988 consagrou a proteção à família em seus

mais diversos elos de formação, sendo esta relação familiar aplicada como base da

sociedade e tendo proteção especial do Estado Democrático de Direito.

Observando-se com absoluta prioridade um importante dever da família, da

sociedade e do Estado, qual seja este, proporcionar à criança, ao jovem e ao

adolescente todo e qualquer tipo de assistência necessária relacionada ao direito, à

vida e à integridade.

Outra importante mudança advinda da Constituição Federal de 1988

encontra-se elencada na relação de igualdade instituída entre os filhos, tornando-a

parelha para a prole concebida dentro ou fora da relação do casamento, sendo a

filiação legítima ou ilegítima.

O Código Civil de 1916 tratava da obrigação alimentar limitada com relação

ao vínculo de parentesco e da dissolução da sociedade conjugal. Já com o novo

Código Civil de 2002, em consonância e respeito à Constituição Federal de 1988,

obteve-se maior amplitude relacionada aos alimentos.

Entrementes, tratando-se de responsabilidade alimentar, a obrigação é

resultante do parentesco, estando relacionada à responsabilidade dos pais com

relação aos víveres de seus filhos menores ou incapazes. Entretanto, caso os pais

não possuam recursos para tais mantimentos, a responsabilidade sobre o filho é

estendida aos ascendentes, com a finalidade de assegurar o princípio da proteção

integral da criança, proporcionando condições dignas de sobrevivência.

A obrigação de prestar alimentos tem como preceito a necessidade do

alimentando, o credor, e a possibilidade do alimentante, o devedor, em fornecer os

elementos básicos à subsistência.

Portanto, objetiva-se com este estudo se aprofundar na responsabilidade

que possa vir a recair sobre os avós, tanto paternos quanto maternos, em

decorrência do impedimento dos pais de assegurar o sustento de seus filhos

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menores ou incapazes, seja este impedimento causado pela ausência, morte, falta

de condições ou qualquer outra hipótese que seja devidamente comprovada.

A responsabilidade avoenga será tratada e analisada em todos os seus

parâmetros e até onde a lei pode a fim de cobrar dos ascendentes as prestações

alimentares.

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2. A FAMÍLIA E A SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA

O termo família adveio do latim famulus, o qual significa “escravo

doméstico”, termo este criado na Roma antiga a fim de servir como base para a

designação dos grupos que eram submetidos à escravidão agrícola. A família é

considerada a primeira célula da organização social formada por indivíduos com

ancestrais em comum, ligados através de laços sanguíneos e afetivos.

Nesse sentido leciona Orlando Gomes:

No próprio Direito Romano era empregado em várias acepções, aplicando-se às coisas e às pessoas. Ora significava o conjunto das pessoas sujeitas ao poder do pater famílias, ora o grupo dos parentes unidos pelo vínculo da cognação, ora o patrimônio ou a herança. (GOMES. 2002, p. 38).

O modelo de família brasileiro originou-se com base na família romana, que

por sua vez estruturou-se no modelo familiar grego. O pátrio poder existia em função

do pai, já em outra visão, atualmente, qualquer decisão da família deve ser tomada

objetivando a prole em suas necessidades e interesses fundamentais.

Com relação ao Direito Romano, explica Dill e Calderan:

No Direito Romano, a família era uma entidade que se organizava em torno da figura masculina, muito diferente da contemporaneidade. Em Roma, reinava o autoritarismo e a falta de direitos aos componentes da família, principalmente no que diz respeito aos filhos e à mulher. Existia uma concentração de poder e quem o detinha era a figura do pater. (DILL e CALDERAN. 2011, p. 23).

A evolução da sociedade e consequentemente do núcleo familiar, impôs a

necessidade social de alterações no texto da lei existente no então Código Civil de

1916, aspirando disciplinar a organização e a proteção da família, bem como a

guarda dos filhos quando houvesse a dissolução da sociedade conjugal, no que

toque a obrigação alimentícia para com os filhos e as necessidades de subsistência

básicas.

Segundo Orlando Gomes:

Outro é hoje o padrão do comportamento dos membros de uma família nuclear. Não mais marido tirano, mulher submissa e filhos aterrados. O ambiente familiar descontrai-se e as relações entre marido e mulher e entre pais e filhos travam-se numa atmosfera bem diferente, cada qual destes membros do grupo movendo-se com liberdade, ou ao menos compreensão

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dos outros, na esfera própria, observando aquele modelo de atividade que Hammond denominou sincrético, conforme o qual marido e mulher tendem a agir e a tomar decisões, em diversos contextos, de comum acordo, ou, quando menos, o modelo autonômico em que cada qual decide com independência em âmbitos diversos, que lhe toquem. (GOMES. 2002, p. 23).

Para Fustel de Coulanges os filhos sofriam, ainda, com o fato da

diferenciação, prova disso é de que a filha quando casava deixava de fazer parte da

família de origem, e mesmo que seu pai a amasse não podia lhe deixar bens, os

quais cabiam aos filhos homens. No decorrer dos séculos, porém, essa estrutura

familiar foi abalada e passou por transformações profundas na sua constituição.

Não se pode deixar de mencionar a grande influência do Direito Canônico

nos alicerces da família, que, a partir de então, formou-se apenas através de

cerimônias religiosas.

Contudo, após esse período, um novo conceito de família formou-se, não

unicamente embasada no sacramento imposto pela Igreja, mas também pelo elo do

afeto, formando a família moderna, atualizando o direito conforme a necessidade

atual que a sociedade vivência.

O elo do afeto pelo qual nasceu a família moderna é baseado na affectio da

família patriarcal, com suas raízes no direito romano, conforme o exposto por

Silvana Maria Carbonera:

A affectio, no modelo de família patriarcal, tinha sua existência presumida e condicionada à existência de uma situação juridicamente reconhecida. Desta forma, o casamento já trazia consigo a affectio maritalis, justificando previamente a necessidade de continuidade da relação. Não se questionava tal elemento, uma vez que ele fazia parte da estrutura do matrimônio. (CARBONERA. 1998, p. 247).

Neste sentido, o modelo familiar baseado no afeto tornou-se a nova forma

de se pensar no direito de família, fazendo com que o afeto tivesse importância

externa e desta forma pudesse ingressar no meio jurídico.

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2.1. FAMILIA CONTEMPORÂNEA

O modelo de família contemporânea iniciou-se a partir do século XIX e foi

procedido pelas Revoluções Francesas e Industriais, quando, àquela época, o

mundo vivia em constante processo de crise e renovação.

A partir de então, passou-se a valorizar a convivência entre seus membros a

fim de idealizar um lugar onde fosse possível integrar sentimentos, esperanças e

valores, permitindo desta forma, que cada um se sentisse no caminho da realização

de seu projeto pessoal de felicidade dentro da sua própria família.

Nas palavras de José Lamartine Correa de Oliveira:

A família transforma-se no sentido de que se acentuam as relações de sentimentos entre os membros do grupo: valorizam-se as funções afetivas da família, que se torna o refúgio privilegiado das pessoas contra a agitação da vida nas grandes cidades e das pressões econômicas e sociais. É o fenômeno social da família conjugal, ou nuclear ou de procriação, onde o que mais conta, portanto, é a intensidade das relações pessoais de seus membros. (OLIVEIRA, 2002. p. 13).

Vale ressaltar que o Direito de Família é o ramo do Direito que mais avançou

nos últimos tempos, levando-se em consideração que seu foco são as relações

interpessoais, e que estas acompanham os passos da evolução social.

A família contemporânea caracteriza-se pela diversidade, justificada através

da incessante busca do afeto e felicidade. Desse modo, a filiação também tem suas

bases no afeto, na felicidade e na convivência, abrindo-se espaço para a

possibilidade da filiação não ser somente aquela que deriva dos laços

consanguíneos, mas também do afeto, como é o caso da filiação socioafetiva.

A família teve inúmeras mudanças no decorrer dos anos, tais mudanças

estão relacionadas tanto aos valores quanto à sua composição, conforme ensina

Paulo Lôbo, com os dados dos censos demográficos do IBGE:

Contata-se a existência de uma população avassaladoramente urbana (80% no início do século XXI), completamente diferente do predomínio rural, cuja família serviu de modelo para o Código Civil de 1916, quando a proporção era inversa. Comparando-se com a década de 1980, o Censo Demográfico de 2000 apurou que:

a) A média nacional de membros por família caiu para 3,4, confirmando o declínio das famílias numerosas; b) O padrão de casal com filhos (família nuclear), com os pais casados ou convivendo em união estável caiu para 55%;

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c) Em contrapartida, as entidades monoparentais compostas por mulheres e seus filhos atingiram um quarto dos domicílios; d) O decréscimo da taxa de natalidade por mãe foi notável, atingindo-se menos de 2,1 filhos por mãe, cuja média é necessária para um país manter seus níveis de população; e) Os mais velhos estão vivendo mais, demandando atenção crescente das famílias; f) A população é mais feminina, em razão da maior taxa de mortalidade entre os homens e maior longevidade das mulheres. A Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD), realizada anualmente pelo IBGE, indica uma queda progressiva no modelo de família nuclear (pai, mãe e filhos), constituída pelo casamento ou pela união estável. Em metade dos domicílios as pessoas convivem em outros tipos de entidades familiares ou vivem sós. Contudo, a PNAD revela uma tendência de crescimento da taxa de conjugalidade, principalmente após a Emenda Constitucional n°. 66/2010, que facilitou a obtenção do divórcio, uma vez que os divorciados procuram constituir novas entidades familiares. (LÔBO, 2015, p. 18).

2.2. FAMÍLIA NO BRASIL

Era a família brasileira hierarquizada, a entidade familiar possuía funções

sociais, políticas e econômicas, restando claro o motivo pelo qual o casamento tinha

grande importância, levando-se em consideração que, com os arranjos conjugais era

dado maior importância aos interesses da classe e as conveniências econômicas.

2.2.1 Código Civil de 2002

Desde a transição do Código Civil de 1916 ao atual Código Civil de 2002,

ocorreu a chamada publicização do Direito Civil, sendo este o movimento introdutor

de um novo modelo de administração pública baseado em alianças estratégicas

entre o Estado e a sociedade.

Dessa forma, chamando o Estado para atuar na autonomia privada do

indivíduo, com a finalidade de garantir a tutela jurídica a todos, tendo sido

introduzido este novo modelo de administração pública baseado nas alianças

estratégicas que passaram a existir entre o Estado e a sociedade.

Uma das principais alterações no Código Civil de 2002, no que tange o

Direito de Família, diz respeito aos cônjuges ou conviventes terem o direito de pedir

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alimentos em caso de separação judicial, sendo fixada a pensão alimentícia ao

cônjuge necessitado, conforme dita o art. 1.694 do Código Civil atual.

No Código Civil de 1916 somente a mulher e os filhos tinham direito aos

alimentos, entretanto, caso esta se casasse novamente perdia o direito de requerer

alimentos em virtude do novo matrimônio.

Por conseguinte, encontra-se especificado no art. 1.708 do Código Civil de

2002 que não é mais somente a mulher quem perde o direito à pensão alimentícia,

mas sim o indivíduo credor da pensão alimentícia tem o seu direito de alimentos

cessado quando houver casamento, união estável ou concubinato por parte deste.

Outra significativa mudança versa no sentido de que há um limite para

solicitar alimentos, ou seja, é permitido por lei pedir alimentos até o 4° grau de

parentesco, conforme fundamenta o art. 1.592 do atual Código Civil, também

restando válido este dever em caso de o credor não possuir aptidão para trabalhar,

mesmo em caso de culpa, previsto no art. 1.704 do mesmo Codex.

Entretanto, os deveres de mútua assistência impostos aos cônjuges

decorrem do casamento, da união estável e da relação de parentesco, isto é, os

cônjuges só devem alimentos uns aos outros em circunstâncias especiais, e com

relação os deveres de mútua assistência imputados com exclusividade dos pais para

com os seus filhos. Nada tem a ver com os alimentos que decorrem do dever familiar

de sustento, assistência e socorro, não podendo confundi-los.

2.2.2 Constituição Federal de 1988

Com o advento da Constituição Federal de 1988, o Direito de Família passou

a ser constitucionalizado e a Constituição Federal dedicou exclusivamente um

capítulo ao ramo da família, consequentemente, passou a instituir regras e princípios

atinentes à família, ao casamento e à filiação.

Em 2010 o Congresso Nacional aprovou a Emenda Constitucional n°

64/2010, a qual altera o art. 6° da Constituição Federal, passando a admitir o Direito

à alimentação como um direito fundamental e social.

Também foi estabelecido na Constituição Federal a igualdade dos poderes e

deveres entre os cônjuges, afastando a mulher da posição de inferioridade

antigamente imposta, passando a ocupar o mesmo lugar do marido, com a mesma

posição na sociedade conjugal, fazendo com que ambos contribuam para a

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organização e manutenção da família, bem como o dever de educação e sustento

dos filhos.

A Constituição de 1988 estabeleceu um novo paradigma no âmbito do

Direito de Família, instituído a partir dos valores fundamentais, como o princípio da

dignidade da pessoa humana, objetivando a realização do indivíduo através da

família, passando a conservar as relações igualitárias baseadas no respeito mútuo e

na assistência básica, mas principalmente na afetividade.

2.3. EVOLUÇÃO LEGISLATIVA DA FAMÍLIA

As sucessivas transformações legislativas iniciaram na metade do século

passado e se depararam com o advento da Constituição Federal de 1988. A partir

de então, inúmeras leis nasceram para adequação das novas perspectivas da

família e da sociedade que foram surgindo com o passar do tempo.

Por consequência desta evolução humana, o que era aceitável antigamente,

hoje, passa a ser abominado pela sociedade, como o poder do pai sobre a vida e a

morte dos filhos, ou ainda, a possibilidade de anular o casamento caso seja

constatada a esterilidade do cônjuge.

Nesta caminhada evolutiva do Direito, é necessário acompanhar os anseios

sociais, sob pena de o Direito transformar-se apenas em escritas, sem força alguma

para que a sociedade o respeite e coloque-o em prática.

Em razão dessas mutações, existiram várias situações que urgiram respaldo

legal, a exemplo da união estável, a adoção, a investigação da filiação, a guarda e o

direito de visitas.

O art. 226 da Constituição Federal de 1998 especifica as espécies de

família, nas quais se encontram englobados o casamento, tanto civil quanto

religioso, a união estável entre homem e mulher, comunidade formada por qualquer

dos pais ou de seus descendentes, igualdade entre homem e mulher, a dissolução

de casamento por divórcio, dentre outros dispositivos.

Para Paulo Lôbo, resta claro que o Brasil presenciou três grandes períodos:

No Brasil, o direito de família refletiu as condições e modelos sociais, morais e religiosos dominantes na sociedade. Sob o ponto de vista do ordenamento jurídico, demarcaram-se três grandes períodos:

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I – do direito de família religioso, ou do direito canônico, que perdurou por quase quatrocentos anos, que abrange a Colônia e o Império (1500-1889), de predomínio do modelo patriarcal; II – do direito de família laico, instituído com o advento da República (1889) e que perdurou até a Constituição de 1988, de redução progressiva do modelo patriarcal; III – do direito de família igualitário e solidário, instituído pela Constituição de 1988. (LÔBO. 2015, p. 46).

O direito de família chegou a ser considerado matéria reservada aos

cuidados da Igreja Católica, sendo que esta era a religião oficial da época e tinha o

seu próprio ordenamento jurídico, deste modo ensina Paulo Lôbo:

A Lei de 03 de novembro de 1827 manteve como lei do Império as disposições do Livro 1º, título 68, § 291, das Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, elaboradas pelo Arcebispo D. Sebastião Monteiro da Vide e aprovadas por um Sínodo em 1707, que não apenas estabeleceram normas para os eclesiásticos, mas também para os leigos ou seculares, com jurisdição própria. (LÔBO. 2015, p. 63).

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3. FAMILIA E SEUS PRINCÍPIOS BASILARES

A formação da família é obtida através da afetividade existente no meio

social, tida como a principal forma de agrupamento humano em constante evolução.

Toda a sua estruturação é baseada no Direito, e este por sua vez, visa preservar o

lar e proteger os indefesos inseridos neste ambiente, haja vista que a família é o

sustentáculo para uma sociedade bem estruturada, devendo, de tal maneira, obter

toda e qualquer forma de atenção para que os direitos dos envolvidos possam vir a

ser protegidos da melhor maneira possível pelo Estado Democrático de Direito,

visando a igualdade entre ambos os sexos e o dever legal existente para com os

filhos gerados dentro ou fora da constância da união matrimonial.

Na lição ministrada por Orlando Gomes:

Nessa disciplina, há que considerar, entretanto, de um lado os interesses individuais dos componentes do grupo, e do outro os interesses superindividuais do próprio grupo, estes sintetizados na sua salvaguarda e preservação. Alterou-se esse equilíbrio com reflexos no próprio conceito da família. Se ainda se enquadra o grupo em função da posição jurídica dos seus membros e de relações que travam uma ótica nitidamente individualista, a disciplina das diversas posições passou por uma grande mudança; a posição do marido é hoje muito diferente do que era mesmo com os abrandamentos do Código Civil, como diferentes são a da mulher e a dos filhos. (GOMES. 2002, p. 127).

O homem, desde os primórdios da sociedade, carece do amparo de seus

responsáveis para proporcionar o seu sustento, suprindo as suas necessidades mais

básicas e garantindo desta forma, a sua subsistência.

Todo ser humano tem o direito a uma vida digna e para que isso se torne

realidade, o instituto dos alimentos é imperioso com a finalidade de garantir este

direito a todos.

No direito brasileiro os princípios são considerados a base do sistema

jurídico, dando suporte e sustento para todas as leis que regulam o sistema

normativo, constituindo assim, a relação jurídica entre todas as normas.

Em virtude dos princípios serem universais, independentes e

autossuficientes são considerados absolutos no direito brasileiro.

Após o grande progresso no direito pátrio, com a normatização da

Constituição Federal de 1988, os princípios constitucionais ganharam força

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normativa, consequentemente demonstrando os valores de uma sociedade plena,

aprimorando a função do Direito.

Pode-se considerar que o Direito de Família sofreu importantes alterações

no decorrer dos anos, aprimorando e desfazendo antigos conceitos, com a

consagração da Carta Magna de 1988, a qual desfez o efeito simbólico antigamente

destinado à Doutrina Tradicional.

Conforme podemos verificar, Gustavo Tepedino ensina em seu livro sobre a

hierarquia igualitária que passou a existir objetivando reunificar o sistema:

Ocorre uma verdadeira migração dos princípios gerais e regras atinentes às instituições privadas (historicamente tratadas exclusivamente no Código Civil de 1916 – de feição patrimonialista) para o Texto Constitucional. Assume a Carta Magna um verdadeiro papel reunificador do sistema, passando a demarcar os limites do Direito Civil, inclusive no que concerne à proteção dos núcleos familiares. (TEPEDINO. 2008, p.57).

Devido a esta intervenção do Estado na família, bem como às exigências

sociais impostas com o passar do tempo no Direito, embasados na ética e na justiça,

os princípios normatizados, reguladores do Direito em suas mais diversas

ramificações, mais especificamente no Direito de Família, visam a fiel proteção do

ente familiar no aspecto constitucional, a julgar que a família é tida como base da

sociedade, merecedora de especial proteção do Estado, objetivando o

desenvolvimento digno da pessoa humana, são eles:

3.1. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Tido como a base reguladora para a formação do Estado Democrático de

Direito, instituído como clausula pétrea, e um dos mais importantes princípios

consagrados na Constituição Federal de 1988, rege todas as relações jurídicas

reguladas pela legislação. Sua finalidade é garantir que o exercício do poder do

próprio Estado exista em função do ser humano, e não o ser humano exista em

função do Estado, reduzindo assim as desigualdades sociais.

A dignidade humana é inerente a todo e qualquer ser humano, impõe o

dever de respeito e é considerada violada quando alguém, em decorrência de uma

conduta ou um ato, discrimine o indivíduo, desmerecendo assim a sua condição de

sujeito de direito.

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Para Kant:

Todo ser humano tem um direito legítimo ao respeito de seus semelhantes e está, por sua vez, obrigado a respeitar todos os demais. A humanidade ela mesma é uma dignidade, pois um ser humano não pode ser usado meramente como um meio por qualquer ser humano (que por outros quer, inclusive, por si mesmo), mas deve sempre ser usado ao mesmo tempo como um fim. É precisamente nisso que sua dignidade (personalidade) consiste, pelo que ele se eleva acima de todos os outros seres do mundo que não são seres humanos e, no entanto, podem ser usados e, assim, sobre todas as coisas. (KANT. 2003, p. 306).

É pelo entendimento deste princípio que se busca o convívio entre os

parentes, visando preservar a dignidade da pessoa humana através da

solidariedade e afetividade entre seus membros.

3.2. PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE FAMILIAR

A solidariedade também é considerada um princípio basilar para o direito de

família. Encontra-se disposto no inciso I do art. 3° da Constituição Federal,

estabelecendo o vínculo existente entre os parentes e estes por sua vez, respeitam

os ditames éticos e morais guiados pelo sentimento afetivo para com ambos, a fim

de que possam se ajudar mutuamente, equilibrando assim as relações e interesses

pessoais.

A solidariedade familiar enquadra-se na esfera ética e moral, crescendo

conjuntamente com a consciência mútua social, transpassando o sentimento ético e

moral social para a normativa do Direito, buscando o dever não só do Estado para

com as suas realizações políticas públicas, mas também os deveres mútuos entre as

pessoas, sobrepujando o individualismo jurídico, modificando assim a maneira de

viver em sociedade, deixando para trás os direitos individuais.

Nas palavras de Paulo Lôbo:

Com fundamento explícito ou implícito o princípio da solidariedade, a legislação e os tribunais brasileiros avançam no sentido de assegurar aos avós, aos tios, aos ex-companheiros, aos padrastos e madrastas o direito de contato, ou de convivência com as crianças e adolescentes, uma vez que, no melhor interesse destas e da realização afetiva daqueles, os laços de parentesco ou os construídos na convivência familiar não devem ser rompidos ou dificultados. (LÔBO. 2015, p. 78).

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Assim, verifica-se que o princípio da solidariedade decorre dos deveres de

cooperação e de respeito mútuo e reciproco entre os membros do mesmo grupo

familiar.

3.3. PRINCÍPIO DA IGUALDADE FAMILIAR

Tido como o princípio que mais provocou mudanças na Constituição Federal

de 1988, quando igualou a relação entre homens e mulheres, alcançando

objetivamente o ideal de igualdade familiar entre os cônjuges, filhos e as entidades

familiares. O art. 226 em seu §6° faz jus a revolução ocorrida entre os deveres e

direitos dos cônjuges, não havendo mais a existência do poder marital soberano na

família.

Nas palavras de Orlando Gomes:

Abolida, do ponto de vista jurídico, toda distinção com fundamento na diferenciação dos sexos, resta saber, contudo, em que medida repercute na sociedade conjugal a igualdade. Consequência lógica e inevitável da paridade é a eliminação do poder marital, não se compreendendo subsista a submissão legal da mulher. Juridicamente, o poder do marido deve ser substituído pela autoridade conjunta e indivisa. Nenhuma concepção das relações conjugais “reflete mais fielmente o caráter orgânico do casamento que funde os cônjuges em uma só personalidade”. (GOMES. 2002, p. 289).

Igualou-se, portanto, no ponto de vista jurídico, a relação entre homem e

mulher, dando a ambos plena autoridade, sendo que em toda a sociedade alguém

terá que ter a palavra final e decisiva, devendo haver a harmonização entre os

cônjuges.

Encontra-se expressamente abarcado no art. 227,§ 6° do texto

constitucional a absoluta igualdade entre filhos, inexistindo quaisquer distinções,

independentemente se havidos dentro ou fora da permanência da sociedade

conjugal.

Conforme versa Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald:

A igualdade entre os filhos é medida que concretiza a dignidade da pessoa humana, olvidada pelo Código Civil de 1916 e pelas Constituições anteriores. Demais disso, a mais saliente consequência da afirmação do

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princípio da isonomia entre os filhos é tornar o interesse menorista o principal critério de solução de conflitos que envolvam crianças ou adolescentes, alterando o conteúdo do poder familiar – que, há muito, materializava uma concepção hierarquizada de família, salientando a primazia paterna. (FARIAS e ROSENVALD. 2009, p, 41 - 42).

Observa-se também o ensinado por Paulo Lôbo:

O princípio da igualdade familiar dirige-se ao legislador, vedando-lhe que edite normas que o contrariem, à administração pública, para que programe políticas públicas para a separação das desigualdades reais existentes entre os gêneros, à administração da justiça, para o impedimento das desigualdades, cujos conflitos provocaram a sua intervenção, e, enfim às pessoas para que o observem em seu cotidiano. Sabe-se que costumes e tradições transmitidos de geração a geração, sedimentaram condutas de opressão e submissão, no ambiente familiar, mas não podem ser obstáculos à plena realização do direito emancipador. (LÔBO. 2015, p.59).

Sendo assim, tornam-se incabíveis quaisquer desigualdades, tratamentos ou

qualificações diferenciadas entre cônjuges e filhos.

O princípio da igualdade familiar visa preservar a dignidade de todos

independente da existência de vínculo sanguíneo ou afetivo, consagrando as

entidades familiares em relações de igualdade através da solidariedade existente

entre elas.

3.4. PRINCÍPIO DA LIBERDADE FAMILIAR

O princípio da liberdade familiar diz respeito à livre autonomia da entidade

familiar, desde que sejam respeitados os princípios da dignidade da pessoa

humana, bem como à integridade e liberdade de agir de todos os entes, todos tem o

livre poder de escolha e autonomia para a constituição de sua família.

Conforme dita Paulo Lôbo:

O princípio da liberdade diz respeito não apenas à criação, manutenção ou extinção dos grupos familiares, mas à sua permanente constituição e reinvenção. Tendo a família se desligado de suas funções tradicionais, não faz sentido que ao Estado interesse regular deveres que restringem profundamente a liberdade, a intimidade e a vida privada das pessoas, quando não repercutem no interesse geral. (LÔBO. 2015, pg. 65).

Este princípio versa sobre a liberdade dos indivíduos pertencentes ao

mesmo núcleo familiar diante de cada membro da própria entidade familiar, mas

22

também diz respeito à liberdade da entidade familiar diante do Estado e da

sociedade. Torna o significado da liberdade o livre planejamento do casal sem que

existam interferências públicas ou privadas, tornando a relação familiar democrática,

reservada e solidária.

3.5. PRINCÍPIO DA AFETIVIDADE

Implicitamente contido na legislação pátria, o princípio da afetividade é

extraído de outros diversos princípios como o da dignidade da pessoa humana,

proteção integral, da igualdade entre cônjuges, companheiros e filhos, entre outros.

Fundamenta o direito de família na comunhão de vida e na estabilidade das

relações socioafetivas, sobressaltando os laços culturais da família e não somente

biológicos.

Nas palavras de Paulo Lôbo:

A família recuperou a função que, por certo, esteve nas suas origens mais remotas: a de grupo unido por desejos e laços afetivos, em comunhão de vida. O princípio jurídico da afetividade faz despontar a igualdade entre irmãos biológicos e não biológicos e o respeito a seus direitos fundamentais, além do forte sentimento de solidariedade recíproca, que não pode ser perturbada pelo prevalecimento de interesses patrimoniais. É o salto, à frente da pessoa humana nas relações familiares. (LÔBO. 2015, p. 66).

Nesse sentido, podemos entender a força da afetividade como o único elo

que mantém as pessoas unidas nas suas relações familiares, podendo citar como

exemplo a Lei n. 13.058, de 2014 a qual tornou obrigatória a guarda compartilhada

do filho caso os pais não cheguem a um acordo quando houver a separação,

visando única e exclusivamente à redução do espaço de conflitos e a permanência

do vínculo afetivo através da convivência direta.

3.6. PRINCÍPIO DA CONVIVÊNCIA FAMILIAR

A convivência familiar ao longo dos tempos adaptou-se com os fatos

cotidianos da vida das pessoas, assegurando assim os direitos e deveres de todos

como um princípio normativo. É definido pelo vínculo afetivo existente entre as

23

pessoas que constituem o mesmo grupo familiar, as quais tendem a dividir o mesmo

espaço ao longo do tempo.

Nas palavras de Paulo Lôbo:

[...] a convivência familiar é o substrato da verdade real da família socioafetiva, como fato social facilmente aferível por vários meios de provas. A posse do estado de filiação, por exemplo, nela se consolida. Portanto, já direito à convivência familiar e direito que dela se resulta. (LÔBO. 2015, p. 68).

O ambiente familiar tem o suporte legal de inviolabilidade como uma garantia

constitucional, previsto na Constituição Federal em seu art. 227, e também está

disposto no art. 1.513 do Código Civil.

Maria do Rosário Leite Cintra comentou o art. 227 da Constituição Federal

nos seguintes termos,

[...] A família é o lugar normal e natural de se efetuar a educação, de se aprender o uso adequado da liberdade, e onde há a iniciação gradativa do mundo do trabalho. É onde o ser humano em desenvolvimento se sente protegido e de onde ele é lançado para a sociedade e o universo. (CINTRA. 2003, p. 155).

Sendo assim, a convivência familiar é uma necessidade vital, é ela que fará

o indivíduo crescer no conforto e na segurança de sua casa para que, quando esteja

pronto, sair do ninho de seus pais, com o direito garantido perante o Estado, a

família e a sociedade.

3.7. PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA

Este princípio objetiva tratar todos os aspectos concernentes aos interesses

das crianças e adolescentes, segundo a Convenção Internacional dos Direitos da

Criança, os interesses dos menores e adolescentes devem ser assegurados e

tratados com prioridade pelo Estado, a sociedade e a família. Com uma possível

futura separação dos pais, qualquer decisão deve ser tomada considerando o

melhor interesse da criança, pensando na melhor maneira de lhe garantir uma vida

digna, com pleno desenvolvimento.

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Fundamentado na Constituição Federal em seu art. 227, o princípio do

melhor interesse da criança visa garantir única e exclusivamente as crianças e

adolescentes absoluta prioridade, garantindo-lhes ampla proteção, independendo

das diferenças entre os filhos matrimoniais, não-matrimoniais ou adotivos, haja vista

esta forma de discriminação inexistir atualmente, foi adotada a doutrina da proteção

integral à criança, vejamos conforme as palavras de Maria Regina Fay de Azambuja:

[...] está alicerçada em três pilares: a) a criança adquire a condição de sujeito de direitos; b) a infância é reconhecida como fase especial do processo de desenvolvimento; c) a prioridade absoluta a esta parcela da população passa a ser princípio constitucional. (AZAMBUJA. 2004, p. 181).

Sendo assim, quando há uma criança no núcleo familiar, a mesma deve ser

o centro das atenções, devendo a ela ser garantida absoluta prioridade, com a

mesma ampla proteção, até mesmo entre filhos legítimos e não legítimos, haja vista

não haver mais distinções entre eles.

25

4. DOS ALIMENTOS

O Estado, na qualidade de ente público, sendo responsável pela sociedade

e seu bem estar, devido aos seus inúmeros deveres, é inviável que consiga

responder integralmente pelo encargo de suprir toda e qualquer necessidade com

relação ao sustento e criação das crianças e adolescentes, desse modo divide a

obrigação com os indivíduos, através do ente familiar, ou seja, é um dever do Estado

ao mesmo tempo da família e da sociedade responder a obrigação legal dos

alimentos, a qual não possui caráter indenizatório, mas sim natureza assistencial,

conforme leciona Paulo Lôbo:

Os alimentos já foram concebidos como imposição do dever de caridade, de piedade ou de consciência, contendo-se nos campos moral e religioso. A grande família, com filhos numerosos e agregados, era a única segurança de amparo aos que não estavam no mercado de trabalho, especialmente os menores e os idosos. No século XX, com o advento do Estado social, organizou-se progressivamente o sistema de seguridade social, entendendo-se ser de inarredável política pública, com os recursos arrecadados dos que exercem atividade econômica, a garantia de assistência social, de saúde e de previdência. Mas a rede pública de seguridade social não cobre a necessidade de todos os que necessitam de meios para viver, especialmente as crianças e os adolescentes, mantendo-se os parentes e familiares responsáveis por assegurar-lhes o mínimo existencial, especialmente quando as entidades familiares se desconstituem ou não chegam a se constituir. (LÔBO. 2015, p. 213).

As mudanças introduzidas no Código Civil de 2002 classificaram os

alimentos em civis ou naturais, e em seu art. 1694, caput, consta que o dever de

prestar alimentos deve ser definido no montante que possibilite ao alimentando

“viver de modo compatível com a sua condição social”, sem tirar nem por, apenas o

suficiente para que possa manter o mesmo nível de vida que mantinha antes, nem o

mais caro e nem o mais barato, apenas o meio termo dos dois.

Nas palavras de Eduardo Oliveira Leite:

Alimentos, na linguagem jurídica, tem uma conotação amplíssima, que não pode ser reduzida à noção de mero sustento (alimentação), mas envolve, também, vestuário, habitação, saúde, lazer, educação, profissionalização, etc., como prevê de forma abrangente o atual texto constitucional. (LEITE. 2005, p. 129).

26

Deste modo, de forma já fortalecida pela doutrina e jurisprudência pátria e

expressamente contido no art. 1.696 do Código Civil, foi acolhido o posicionamento

de que os alimentos complementares podem vir a ser reivindicados aos parentes

quando o genitor não estiver nas circunstâncias adequadas para prover a obrigação,

passando a obrigação complementar subsidiariamente aos parentes mais próximos,

conforme estabelecido em lei.

Com relação a natureza jurídica do direito à prestação alimentar, conforme o

entendimento de alguns autores, a consideram um direito pessoal extrapatrimonial,

enquanto outros a consideram unicamente um direito patrimonial, entrementes o

entendimento preponderante, inclusive conforme preceitua o consagrado autor

Orlando Gomes, é o daqueles que imputam a natureza mista, qualificando-a como

um direito de conteúdo patrimonial e finalidade pessoal.

Estas mudanças merecem uma atenção especial, visto que no Código Civil de

1916, os alimentos não tinham distinções com relação às diversas modalidades

existentes atualmente, somente aos alimentos devidos em razão do parentesco.

Conforme prevê Orlando Gomes:

Alimentos são prestações para satisfação das necessidades vitais de quem não pode provê-las por si. A expressão designa medidas diversas. Ora significa o que é estritamente necessário à vida de uma pessoa, compreendendo, tão-somente, a alimentação, a cura, o vestuário e a habitação, ora abrange outras necessidades, compreendidas as intelectuais e morais, variando conforme a posição social da pessoa necessitada. Na primeira dimensão os alimentos limitam-se ao necessarium vitae; na segunda, compreendem o necessarium personae. Os primeiros chamam-se alimentos naturais, os outros, civis ou côngruos. (GOMES. 2002, p. 427).

O dever de prestar alimentos é previsto em lei, sendo assim, independe de

qualquer ato ilícito do devedor. O dever que os pais têm para com os seus filhos

depende de possibilidades deles em manter os seus filhos, tornando os alimentos

exigiveís se o credor encontrar-se necessitado, não tendo a possibilidade de manter

as suas condições básicas de sobrevivência.

Consagra Orlando Gomes:

O dever de sustento que incumbe ao marido toma, entretanto, a feição de obrigação de alimento embora irregular, quando a sociedade conjugal se dissolve pela separação judicial, ocorrendo a mesma desfiguração em relação aos filhos do casal desavindo. No rigor dos princípios, não se configura, nesses casos, a obrigação propriamente dita, de prestar

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alimentos, mas, para certos efeitos, os deveres de sustento, assistência e socorro adquirem o mesmo caráter. (GOMES. 2002, p. 428 - 429).

Inúmeros doutrinadores definem alimentos, cada qual com a sua

terminologia, porém defendendo os princípios da dignidade da pessoa humana, da

subsistência e do amparo legal, visando a garantia à sobrevivência, assegurando

que o individuo que realmente necessite de tal direito possa recorrer ao mesmo,

pretendendo assim a subsistência básica de qualquer individuo.

4.1 CONCEITO DE ALIMENTOS

Os alimentos implicam na subsistência, vestuário e educação, assim como

todas as necessidades básicas para a criança crescer nos parâmetros de uma

sociedade digna, com o direito de receber auxilio de quem integrar o pólo ativo da

relação existente, ou seja, daquele que tiver a obrigação legal de providenciar estes

custeios básicos para o alimentando. Prestando, desta forma, as satisfações vitais

para aqueles que não podem provê-las, fundando-se na solidariedade econômica e

humana que deve haver entre os parentes integrantes da mesma família.

Conforme versa Paulo Lôbo:

Alimentos, em direito de família, tem o significado de valores, bens ou serviços destinados às necessidades existenciais da pessoa, em virtude de relações de parentesco (direito parental), quando ela própria não pode prover com seu trabalho ou rendimentos, a própria mantença. Também são considerados alimentos os que decorrem dos deveres de assistência, em razão de ruptura de relações matrimoniais ou de união estável, ou dos deveres de amparo para os idosos (direito assistencial). Os alimentos podem ser em dinheiro, também denominados pensão alimentícia, e in natura, ou naturais como a entrega de imóvel para moradia e de coisas para consumo humano. O adimplemento da obrigação pode ser direto (quantia em dinheiro) ou indireto (pagamento das mensalidades escolares, de clubes, de academias de ginástica etc.). (LÔBO. 2015, p. 227).

O instituto da obrigação de prestar alimentos encontra-se fundamentado

principalmente na proteção do princípio da dignidade da pessoa humana, entretanto

deve se atentar para não confundir a obrigação de prestar alimentos com os deveres

familiares de sustento, socorro e de assistência, ambos existentes dos pais um para

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com o outro e também conjuntamente com os seus filhos. Caso haja o dever de

prestar tal obrigação, a mesma deve ser condizente com a condição social vivida,

não podendo haver a queda do padrão de vida, não sendo nem melhor e nem pior,

mas sim da maneira que já era prestada.

4.2 ESPÉCIES DE ALIMENTOS

Os deveres alimentares possuem diversas espécies para a sua

classificação, as quais levam em consideração o momento da reclamação dos

alimentos, natureza, causa jurídica e a finalidade de pedi-los.

4.2.1 Quanto à natureza

A natureza dos alimentos é dividida pela doutrina adotando diversos

critérios, sendo eles os naturais, que são indispensáveis para a satisfação das

necessidades básicas primárias, necessarium vitae.

Acerca dos alimentos naturais, Cahali assevera que,

Quando se pretende identificar como alimentos aquilo que é estritamente necessário para a mantença da vida de uma pessoa, compreendendo tão somente a alimentação, a cura, o vestuário, a habitação, nos limites assim do necessarium vitae, diz-se que são alimentos naturais. (CAHALI, 2007, p. 22).

Já os alimentos civis, são aqueles que mantêm a condição social do status

da família, necessarium personae nas palavras de Cahali:

[...] os alimentos civis ou côngruos, isto é, convenientes, que incluem os meios suficientes para a satisfação de todas as outras necessidades básicas do alimentando, segundo as possibilidades do obrigado [...] por outro lado, o § 1.° estabelece a regra geral dos alimentos amplos, denominados côngruos ou civis: “Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.”. (CAHALI, 2007. p. 372).

No que tange aos alimentos compensatórios, adotados recentemente pelo

direito brasileiro, são características desses, o cunho mais indenizatório do que

29

alimentar, objetivando regular e reparar o desequilíbrio econômico causado pela

ruptura da união conjugal ao cônjuge dependente, não possuindo caráter alimentar,

mas sim de ato unilateral.

Conforme ensina Maria Helena Diniz:

É divergente o entendimento quanto a natureza jurídica dos alimentos, alguns entendem ser um direito pessoal extra patrimonial, posto que correspondem a um interesse familiar superior e social. O valor recebido advindo da relação de credor e devedor, consubstancia-se em crédito de natureza personalíssima, não podendo dele dispor para garantir os seus credores, pois visa somente a preservação de sua vida. (DINIZ, 2007, p. 542).

Alguns doutrinadores consideram a obrigação alimentar compensatória de

conteúdo patrimonial, justificando que a mesma acresce ou diminui o patrimônio dos

entes familiares envolvidos na relação jurídica existente.

De acordo com Farias e Rosenvald:

[...] é preciso se frisar a possibilidade daquele cônjuge que, após a separação de fato, não mais teve a posse do patrimônio comum para reclamar a sua cota parte da renda liquida do patrimônio (ou seja, os seus frutos) ou uma indenização pelo uso exclusivo do outro consorte para recompor os seus interesses patrimoniais, sob pena de enriquecimento sem causa do esposo. (FARIAS e ROSENVALD. 2008, p. 357).

Existe também uma terceira corrente no que tange ao direito alimentar, a

qual classifica tal obrigação como de natureza mista, atribuindo conteúdo patrimonial

e finalidade pessoal, sendo esta teoria o entendimento majoritário do Direito pátrio.

Neste sentido versa Maria Helena Diniz:

Há ainda uma terceira corrente, que entende ser tal obrigação de natureza mista, ou seja, de conteúdo patrimonial e de finalidade pessoal, sendo este o entendimento majoritário já que é inegável a transferência de valor econômico na prestação, mas sem caracterizar aumento de riqueza de quem recebe, caso possível fosse, estaria descaracterizado tal instituto. (DINIZ, 2007, p. 542 - 543).

4.2.2 Quanto à causa jurídica

Com relação à causa jurídica, os alimentos dividem-se em legítimos ou

legais, voluntários e indenizatórios, sendo os legítimos aqueles que ocorrem em

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virtude de uma obrigação legal, podendo decorrer do parentesco, companheirismo

ou casamento, somente os alimentos legítimos pertencem ao ramo do direito de

família, sendo válida a prisão civil em caso de não pagamento de alimentos, prevista

na Constituição Federal, em seu art. 5°, LXVII, somente nos casos previstos nos

arts. 1.566, III, e 1.694 e seguintes do Código Civil, os quais tenham relação com o

direito de família.

Leciona Yussef Said Cahali que:

[...] são aqueles que se devem por direito de sangue (ex iure sanguinis), por um veículo de parentesco ou relação de natureza familiar, ou em decorrência do matrimonio; só os alimentos legítimos, assim chamados por derivarem ex dispositione iuris, inserem-se no Direito de Família. (CAHALI. 2007, p. 39).

Os alimentos voluntários derivam de uma declaração de vontade inter vivos,

como em uma obrigação assumida contratualmente por uma pessoa que

anteriormente não tinha o dever de pagar alimentos, ou também causa mortis, sendo

esta manifestada através de um testamento.

Conforme leciona Carlos Roberto Gonçalves,

Os alimentos voluntários, que resultam da intenção de fornecer a uma pessoa os meios de subsistência, podem tomar forma jurídica de constituição de uma renda vitalícia, onerosa ou gratuita; de constituição de um usufruto, ou de constituição de um capital vinculado, que ofereça as vantagens de uma segurança maior para as partes interessadas. (GONÇALVES. 2010, p. 314).

Tem-se por último os alimentos indenizatórios ou ressarcitórios, que

decorrem da prática de um ato ilícito, constituindo a forma de indenização do dano,

não podendo haver a prisão civil prevista na Constituição Federal em caso do não

pagamento destes, em decorrência de não poder haver prisão em caso de prestação

alimentar derivada de ato ilícito.

Embora as diferentes causas dos alimentos, estes seguem um regime

jurídico parecido, havendo um reaproveitamento das regras.

Neste sentido ensina Yussef Said Cahali:

Atento ao pressuposto da unicidade de destinação dos alimentos, não se pode pretender – apenas em função da diversidade das causas geradoras da obrigação alimentar – a fragmentação do instituto em compartimentos estanques, informando-se cada modalidade em princípios autônomos, com disciplina jurídica Exclusiva e incomunicável. (CAHALI. 2007, p. 23).

31

4.2.3 Quanto à finalidade

Classificam-se os alimentos em definitivos, provisórios, provisionais e

transitórios. Os alimentos definitivos são os estabelecidos em sentença por um juiz

ou através de acordo formulado entre as partes, o qual deve ser devidamente

homologado.

Provisórios são fixados liminarmente pelo juiz no despacho inicial da ação de

alimentos, devendo haver prova pré-constituída de parentesco, casamento ou de

companheirismo, sendo obrigatória a comprovação do vinculo para se exigir tais

alimentos.

Provisionais são aqueles fixados em medida cautelar, preparatória ou

incidental, como uma forma de garantia para manter o suplicante durante a

tramitação da ação, conservando a sua eficácia até o julgamento da ação principal,

podendo a qualquer tempo serem modificados ou revogados, como é o caso da

ação de investigação de paternidade, na qual serão fixados os alimentos

provisionais somente na sentença. Neste sentido dispõe a Súmula 277 do Superior

Tribunal de Justiça: “Julgada procedente a investigação de paternidade, os

alimentos são devidos a partir da citação”.

Silvio Salvo Venosa destaca que:

[...] denominam-se alimentos provisionais ou provisórios aqueles que precedem ou são concomitantes a uma demanda de separação judicial, divórcio, nulidade ou anulação de casamento, ou mesmo ação de alimentos. Sua finalidade é propiciar meios para que a ação seja proposta e prover a mantença do alimentando e seus dependentes durante o curso do processo. (VENOSA. 2009, p. 251).

Entretanto, ainda existe atualmente uma diferenciação entre alimentos

provisionais e provisórios por parte da doutrina nacional.

Maria Helena Diniz defende que:

[...] alimentos provisionais ou acautelatórios, se concedidos concomitantemente ou antes da ação de separação judicial, de nulidade ou anulação de casamento ou de alimentos, para manter o suplicante ou sua prole na pendência da lide, tendo, portanto, natureza antecipatória ou cautelar; alimentos provisórios, se fixados incidentalmente no curso de um processo de cognição ou liminarmente em despacho inicial, em ação de alimentos, de rito especial, após a prova do parentesco, casamento, ou união estável, tem natureza antecipatória. (DINIZ. 2007, p. 435).

32

Já os alimentos transitórios são reconhecidos pela jurisprudência do Superior

Tribunal de Justiça, o qual versa que estes quando prestados a tempo certo e a

determinada pessoa, que com a formação adequada, encontre-se apta a ingressar

no mercado de trabalho, entretanto, caso necessite de auxílio financeiro até que

consiga atingir a sua autonomia financeira, momento este no qual estará

emancipada da tutela do alimentante, extinguindo a obrigação automaticamente.

Nas palavras de Cahali:

Quando ocorre de virem os avós a complementar o necessário à subsistência dos netos, o encargo que assumem é de ser entendido como excepcional e transitório, a título de mera suplementação, de sorte a que não fique estipulada a inércia ou acomodação dos pais, primeiros responsáveis. (CAHALI, 2007, p. 476).

4.2.4 Quanto ao momento da reclamação

Classificam-se em pretéritos, quando o pedido retroage a um período

anterior ao ajuizamento da ação, entretanto não se pode confundi-los com as

prestações pretéritas, aquelas fixadas em sentença ou em acordo e que há tempos

vencidas e não cobradas, vez que o direito brasileiro não os considera devidos, em

decorrência de o alimentante não poder requerer os alimentos devidos no passado

sendo que este conseguiu sobreviver sem os mesmos.

Os alimentos atuais são aqueles postulados a partir do ajuizamento da ação,

estando os tribunais decidindo que a prisão civil só poderá ser decretada a fim de

que o alimentante cumpra com o seu dever e arque as necessidades atuais do

alimentado, condizente com as três últimas prestações devidas.

Alimentos futuros são os devidos somente a partir da sentença,

independendo do transito em julgado da decisão que os tenha concedido, tornando-

os devidos a partir da citação ou em virtude de um acordo formulado entre as partes.

Yussef Said Cahali ensina:

Alimentos futuros são os alimentos que se prestam em virtude de decisão judicial ou de acordo, e a partir dela; alimentos pretéritos são os anteriores a qualquer desses momentos. A distinção tem relevância na determinação do termo a quo a partir do qual os alimentos se tornam exigíveis. (CAHALI. 2007, p. 26).

33

Os alimentos devidos são contados a partir da propositura da ação

alimentar, cabendo ao credor requerer tal direito, o qual é automaticamente

presumido por lei.

4.3 CARACTERÍSTICAS DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR

A obrigação alimentar é prevista no ordenamento jurídico por se tratar de um

direito fundamental a subsistência da pessoa humana. Diz respeito a uma obrigação

transmissível, na qual os herdeiros do devedor arcam com a transmissão do ônus

até o limite da herança.

Assim dispôs Silvio de Salvo Venosa:

A obrigação de prestar alimentos decorre do casamento e da união estável transmite-se aos herdeiros do devedor, nos limites das forças da herança, desde que o credor da pensão alimentícia não seja herdeiro do falecido. (VENOSA. 2009, p. 416).

A divisibilidade é uma das suas características, sendo esta presumida e

conjunta, em virtude de que no caso de várias pessoas obrigadas a prestar

alimentos, cada devedor responde pela sua quota-parte proporcional, obrigando

desta forma o credor a não escolher apenas um devedor e deixar o outro de lado,

cabendo a todos os devedores arcar com a obrigação de maneira justa para todos,

e, caso o credor escolha apenas um devedor para arcar com todo o custo da

obrigação, este responderá pela sua omissão, tendo o direito de obter apenas ¼ do

valor da pensão.

Esclarece Carlos Roberto Gonçalves:

A obrigação alimentar é também divisível, e não solidária, porque a solidariedade não se presume; resulta de previsão legal ou da vontade das partes. Não havendo texto legal impondo a solidariedade, é ela divisível isto é, conjunta, onde cada devedor responde por sua quota parte. (GONÇALVES. 2010, p.452).

É também uma obrigação condicional, a sua eficácia é subordinada a uma

condição resolutiva, podendo ser extinta a qualquer momento em que cesse a

necessidade e a possibilidade, que são os seus pressupostos de existência. Da

mesma forma é uma obrigação recíproca entre os parentes, cônjuges e

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companheiros, havendo a reciprocidade no direito de exigir alimentos o qual

corresponde ao dever de também presta-los.

Consoante o entendimento de Monteiro:

Verifica-se, por esse artigo, que não pode requerer alimentos nem viver a expensas de outro quem possui bens, ou está em condições de subsistir com o próprio trabalho. Consequentemente, só pode reclamá-los aquele que não possuir recursos próprios e esteja impossibilitado de obtê-los por menoridade, doença, idade avançada, calamidade pública ou falta de trabalho. (MONTEIRO, 2007, p. 369).

Sua última característica é a mutabilidade, a qual versa sobre a possibilidade

da obrigação alimentar poder sofrer alterações, relativas a cada caso, tornando-se

variável, intrinsicamente ligada à necessidade do reclamante e a possibilidade da

pessoa obrigada.

4.4 PRESSUPOSTOS DA OBRIGAÇÃO DE PRESTAR ALIMENTOS

Os alimentos estão ligados diretamente ao direito à vida, classificados como

um auxílio direto, prestado àquele que não pode prover para si mesmo, o seu

próprio sustento. Esta obrigação é derivada do vínculo familiar, entretanto não pode

tornar-se exigível somente com base neste vínculo.

Neste sentido, leciona Orlando Gomes:

Não basta, todavia, a existência do vínculo de família para que a obrigação se torne exigível; é preciso que o eventual titular do direito à prestação de alimentos os necessite de verdade. Necessário, numa palavra, que esteja em estado de miserabilidade. Por tal deve-se entender a falta de recursos, sejam bens ou outros meios materiais de subsistências, mas, também, a impossibilidade de prover, pelo seu trabalho, à sua própria mantença. (GOMES, 2002, p. 262).

A obrigação alimentar deve ser condicional em decorrência do binômio:

necessidade versus possibilidade, a sentença alimentar procedente não faz coisa

julgada material, possibilitando assim, que seja alterada tal obrigação quando

considerada inexigível, ou seja, quando há mudança nas condições financeiras dos

interessados.

A legislação disposta no Código Civil, em seu §1°, art. 1.694, faz menção

direta a necessidade do reclamante e a possibilidade do reclamado, no que diz

respeito ao envolvimento existente na obrigação de alimentos: “Os alimentos devem

35

ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa

obrigada”.

A necessidade de reclamar alimentos é identificada quando inexistente a

possibilidade deste em provê-los, seja por qualquer motivo relevante ao caso. E a

possibilidade do indivíduo em fornecê-los é verificada quando não houver desfalque

do necessário ao seu próprio sustento, sendo expressamente vedada a imposição

de um sacrifício desta relevância em prol do alimentando.

Segundo entendimento de Orlando Gomes:

A potencialidade econômico-financeira da pessoa de quem podem ser exigidos alimentos é, assim, um pressuposto da obrigação, tal como a necessidade do alimentando. Não basta que um precise; importa, igualmente, que o outro possa dar, mas se há vínculo de família e o interessado se encontra em estado de miserabilidade, a obrigação existe, sendo apenas inexequível. A impossibilidade de execução é arrolada entre seus pressupostos porque a natureza da obrigação impossibilita sua formação. (GOMES. 2002, p. 295).

Ou conforme o entendimento lecionado por Maria Berenice Dias, o qual

versa resumidamente assim:

Tradicionalmente, invocava-se o binômio necessidade-possibilidade, ou seja, perquirem-se as necessidades do alimentando e as possibilidades do alimentante para estabelecer o valor da pensão. No entanto, essa mensuração é feita para que se respeite a diretriz da proporcionalidade. Por isso se começa a falar, com mais propriedade, em trinômio: proporcionalidade-possibilidade-necessidade. (DIAS. 2009, p. 168).

Entende-se, portanto, que, a condição financeira deve ser considerada como

fator relevante quando houver a escolha do dever obrigacional para o encargo de

prestar alimentos.

A pessoa obrigada arcar com o ônus de prover alimentos não pode passar

necessidades ela própria, assim como o reclamante não pode passar necessidades

para o seu próprio sustento, na mesma proporção.

4.5 NATUREZA DO DIREITO À PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS

Constata-se aqui o dever de se prestar auxilio à pessoa que dele necessite,

não podendo ser enquadrada a natureza da prestação alimentar no sentido moral ou

36

sentimental das pessoas, mas sim no direito natural do ser humano à sua

subsistência digna.

A obrigação de natureza alimentar é diretamente ligada ao vínculo jurídico,

estando este relacionado à prática de ato ilícito que venha a trazer tal obrigação

como consequência no âmbito do direito de família, correlativo ao dever dos pais de

sustento de seus filhos em todos os âmbitos, proporcionando o crescimento digno.

Em virtude dos pressupostos existenciais desta obrigação, decorrentes do

vínculo familiar, vislumbra-se o direito pessoal, com caráter extrapatrimonial, o qual

não visa o enriquecimento e o possível aumento do patrimônio do alimentando, mas

somente o auxilio para a sua subsistência.

Entretanto, Orlando Gomes dispõe no sentido de que:

A despeito dessas peculiaridades, não se pode negar a qualidade econômica da prestação própria da obrigação alimentar, pois consiste no pagamento periódico, de soma de dinheiro ou no fornecimento de víveres, cura e roupas. Apresenta-se, consequentemente, como uma relação patrimonial de crédito-débito; há um credor que pode exigir de determinado devedor uma prestação econômica. A patrimonialidade do direito a alimentos é desse modo, incontestável. (GOMES. 2002, p. 324).

Não tornando absolutos os demais entendimentos, existem diversas

controvérsias com relação ao direito à prestação e alimentos, a despeito destas

diversas particularidades, é mantida a posição clássica enquadrada no direito

privado, a extrapatrimonialidade, a qual manifesta o direito à vida, tido como

personalíssimo.

4.6 SUJEITOS DA OBRIGAÇÃO

Desde o momento do nascimento, todas as pessoas tem o direito ao amparo

daqueles que possuem o vínculo familiar e afetivo previsto em lei, garantindo assim

a subsistência digna. Com o passar dos anos, a legislação pátria vem fazendo

modificações e adaptações para regulamentar e acompanhar as mais diversas

transformações do instituto familiar.

O Estado tem o dever de amparar o seu povo, a fim de proporcionar uma

subsistência digna, entretanto, como não possui meios para arcar sozinho com

tamanha responsabilidade, apresentando deficiências para executar esta tarefa,

37

apoiou-se no vinculo familiar existente, dividindo dessa forma as obrigações junto ao

particular.

Com relação ao dever de sustento, Carlos Roberto Gonçalves aclama o

seguinte entendimento:

[...] e o mais importante de todos, incumbe aos pais velar não só pelo sustento dos filhos, como pela sua formação, a fim de torná-los úteis a si, à família e à sociedade. O encargo envolve, pois, além do zelo material, para que o filho fisicamente sobreviva, também o moral, para que, por meio da educação, forme seu espírito e seu caráter. (GONÇALVES. 2002, p. 263).

A Constituição Federal consagra em seu art. 227, o dever do Estado, da

sociedade e da família em manter com absoluta prioridade a subsistência digna

básica para qualquer pessoa. Caio Mário afirma que este artigo faz referência direta

ao real significado do princípio do melhor interesse da criança, entendendo que deve

ser visto como o pilar fundamental da sociedade no que diz respeito do Direito de

Família nos dias atuais, vendo esta obrigação de prestação alimentar como natural

entre pais e filhos.

O instituto dos sujeitos da relação de prestação alimentar tem como

característica básica que, aquele que pode ser devedor também poderá ser credor,

estando diretamente ligada à característica de reciprocidade, classificando como

partes principais os pais, outros ascendentes, descendentes, irmãos e cônjuges.

Trata-se de uma obrigação divisível, quando não há solidariedade entre os

parentes de primeiro grau, todos podem concorrer na medida em que tenham

condições para arcar com a complementação da obrigação perante o alimentando.

Assim, encontra amparo junto à legislação vigente contígua ao Código Civil:

Art. 1.695 São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento.

Dessa forma, fica visível na relação obrigacional que o alimentando só

poderá recorrer aos alimentos de seus ascendentes, que não seja o seu pai, quando

for devidamente analisada a real necessidade e a possibilidade de ambas as partes,

objetivando verificar a falta de condição econômica básica que justifique a

impossibilidade de suportar a obrigação.

38

Consagra Zeno Veloso:

Os parentes em grau mais próximo são os devedores da pensão alimentar. Assim, havendo pais (ascendentes de 1º grau), não se pode pleitear alimentos dos avós (ascendentes de 2º grau). Mas pode faltar o parente em grau mais próximo, ou este não ter meios ou recursos para atender à obrigação (o que equivale à falta), e, então, o pedido pode ser endereçado ao parente de grau mais afastado. Para que requeira alimentos de parentes mais distantes, o necessitado deve provar que os mais vizinhos já não existem, são incapazes, ou não têm recursos para cumprir a prestação. Portanto, o fato de existirem ascendentes em grau mais próximo não exclui, definitivamente, a obrigação dos ascendentes longínquos, que podem supletivamente, serem convocados. (VELOSO, 2003, p. 26).

Neste sentido, o entendimento jurisprudencial tem sido o seguinte:

AGRAVO DE INSTRUMENTO ALIMENTOS PROVISÓRIOS OBRIGAÇÃO AVOENGA DECORRENTE DA RELAÇÃO DE PARENTESCO - ART. 1.696 DO CÓDIGO CIVIL - REDUÇÃO DO VALOR ESTIPULADO DEMONSTRADA A IMPOSSIBILIDADE FINANCEIRA DE ARCAR COM A OBRIGAÇÃO CONSTITUIÇÃO DE NOVA FAMÍLIA E SUSTENTO DE TRÊS FILHOS - FIXAÇÃO EM CONFORMIDADE COM ELEMENTOS PROBATÓRIOS INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 1694, § 1º DO CÓDIGO CIVIL. Agravo parcialmente provido. 1 - A obrigação dos ascendentes de prestar alimentos tem caráter residual, quando verificada a precariedade da prestação alimentícia prestada pelo alimentante obrigado, restando isto comprovado. 2 - O alimentos devidos pelos avós ao neto, deverão ser fixados de acordo com os critérios legais (art. 1694, C.C.), devendo a verba guardar proporção com as necessidades do reclamante e os recursos da pessoa obrigada. (TJ-PR, Agravo de Instrumento, A.I. 17.722728-1 – 12ª Câmara Cível. Relator Fernando Wolf Bodziak – 16/03/2011).

4.7 FONTES DOS ALIMENTOS

A obrigação de prestar alimentos tem diversas fontes, nas quais é possível

identificar os laços formados entre os entes do mesmo núcleo familiar,

independendo da origem dos mesmos.

As fontes dos alimentos determinam a natureza jurídica destes, constituindo

desta forma características diversas, as quais provêm da solidariedade familiar e

decorrem do dever de sustento dos genitores com seus filhos tanto sanguíneos

quanto os de laços afetivos.

Importante ressaltar que a obrigação alimentar não pertence somente ao

Direito de Família, em virtude de esta obrigação decorrer de diversas fontes, como

de contratos, da lei, atos ilícitos, testamentos, etc.

Sobre o tema manifesta-se Orlando Gomes:

39

A obrigação alimentar pode resultar: a) da lei, pelo fato de existir, entre determinadas pessoas, um vínculo de família; b) de testamento, mediante legado; c) de sentença judicial condenatória do pagamento de indenização para ressarcir danos provenientes de ato ilícito; d) de contrato. Por disposição testamentária pode-se instituir, em favor de legatário, o direito a alimentos, enquanto viver. O legado de alimentos abrange o sustento, a cura, o vestuário e a casa, além da educação, se o legatário for menor. A indenização devida pelo que praticou ato ilícito pode consistir, por determinação legal, na prestação de alimentos, como ocorre, por exemplo, no caso de homicídio. (GOMES. 2002, p. 351).

Embora o primeiro entendimento formado para as pessoas seja de que os

genitores têm o dever de prestar alimentos para com os seus filhos menores, a

doutrina vem se posicionando no sentido de que o dever dos genitores de prestar

alimentos não cessa com a maioridade dos filhos, porém, quando já alcançada a

maioridade, deve-se demonstrar a razão pela qual necessitem do sustento, já que

não podem provê-lo.

Segundo o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE EXONERAÇÃO DE ALIMENTOS. MAIORIDADE. EXONERAÇÃO AUTOMÁTICA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 83/STJ. NECESSIDADE DO ALIMENTANDO. COMPROVAÇÃO. SÚMULA 7/STJ. 1. O Superior Tribunal de Justiça possui jurisprudência no sentido de que a maioridade não extingue, de forma automática, o direito à percepção de alimentos, de modo que caberá ao alimentando demonstrar a sua necessidade. Precedentes. Súmula 83/STJ. (STJ. 4ª Turma. E.Dcl no A.REsp 2013/0309450-5. Relatora Ministra Isabel Galloti – 28/10/2014).

40

5. RESPONSABILIDADE DOS AVÓS E A PRESTAÇÃO DOS ALIMENTOS

Conforme previsto no art. 1.696 do Código Civil, o dever de prestar

alimentos é uma obrigação recíproca entre os pais e filhos, porém, caso haja

necessidade, esta pode estender-se aos demais ascendentes.

Quando ocorrem estes casos, os avós são chamados para integrar a relação

alimentar, tomando lugar no papel principal de se responsabilizar pela obrigação

alimentar ou pela complementação da obrigação.

Neste sentido, leciona Orlando Gomes:

Na falta dos pais, a obrigação passa aos ascendentes de grau mais próximo, e na falta destes aos que lhes seguem na ordem do parentesco em linha reta. Primeiro, portanto, os avós, em seguida os bisavós, depois os trisavós e assim sucessivamente. (GOMES. 2002, p.440).

Trata-se de um direito de ordem pública, com relação à subsistência dos

netos, os avós não podem eximir-se de tal obrigação, prevalecendo aqui o princípio

da solidariedade familiar e da dignidade da pessoa humana, o qual dá preferência

ao amparo do indivíduo sem o desestabilizar e separá-lo de seu ambiente familiar,

oportunizando a assistência necessária para proteger o melhor interesse da criança.

Para Maria Helena Diniz: “Ter-se-á, portanto, uma responsabilidade

subsidiária, pois somente caberá ação de alimentos contra avó se o pai estiver

ausente, impossibilitado de exercer atividade laborativa ou não tiver recursos

econômicos. (p. 598)”.

Entrementes, para que a obrigação alimentar venha a ser cobrada dos avós

tanto paternos quanto maternos, há a obrigatoriedade em ser provada a

impossibilidade de os genitores arcarem com a prestação alimentar, conforme é

demonstrado no seguinte julgado:

AÇÃO DE ALIMENTOS PROMOVIDA CONTRA A AVÓ PATERNA. ALEGAÇÃO DE QUE O GENITOR DO REQUERENTE É DEVEDOR CONTUMAZ DE ALIMENTOS. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE SENTENÇA PROMOVIDA EM AÇÃO REVISIONAL DE ALIMENTOS. PAGAMENTO PELO GENITOR DO AUTOR. DETERMINAÇÃO DE REMESSA DOS AUTOS À CONTADORIA PARA CÁLCULO E DEDUÇÃO DOS VALORES PAGOS. RECOLHIMENTO DO MANDADO DE PRISÃO EXPEDIDO CONTRA O MESMO. NOVA AÇÃO REVISIONAL PROMOVIDA PELO PRÓPRIO PAI DO AUTOR, NO CURSO DA PRESENTE DEMANDA. ACORDO FIRMADO ENTRE O AUTOR E SEU GENITOR NA REFERIDA AÇÃO. ALIMENTOS FIXADOS EM 40% DO SALÁRIO MÍNIMO. AUTOR QUE VEM RECEBENDO ALIMENTOS TANTO DO PAI QUANTO DA AVÓ.

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INADMISSIBILIDADE. GENITORES DO AUTOR QUE SÃO PESSOAS JOVENS, SAUDÁVEIS E POSSUEM ATIVIDADE REMUNERADA. OBRIGAÇÃO DE ALIMENTOS QUE DEVE SER SUPORTADA PELOS PAIS. OBRIGAÇÃO DA AVÓ QUE É APENAS SUCESSIVA E SUBSIDIÁRIA. INFORMAÇÃO DE QUE O PAI DO AUTOR RECEBEU AVISO PRÉVIO DA EMPRESA ONDE TRABALHAVA. IRRELEVÂNCIA. AUSÊNCIA DE NOTÍCIAS DE QUE NÃO ESTEJA CUMPRINDO COM A OBRIGAÇÃO ALIMENTAR. AVÓ PATERNA PORTADORA DE DOENÇA DE PARKINSON E ALZHEIMER. NECESSIDADES ESPECIAIS, INCLUSIVE DE CUIDADOR PERMANENTE. REQUERIDA QUE ENCONTRA-SE ATUALMENTE INTERDITADA EM RAZÃO DAS DOENÇAS E ESTÁ RESIDINDO EM CASA DE REPOUSO. PENSÃO RECEBIDA PELA AVÓ QUE DEVERÁ SER DESTINADA ÀS SUAS NECESSIDADES ESPECIAIS. EXONERAÇÃO DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR EM RELAÇÃO AO AUTOR. COMUNICAÇÃO PARA IMEDIATO CANCELAMENTO DO DESCONTO DOS ALIMENTOS NA PENSÃO PREVIDENCIÁRIA DA AVÓ. OBRIGAÇÃO DOS GENITORES DE ARCAR COM O SUSTENTO DO FILHO, CADA QUAL NA PROPORÇÃO DE SUAS POSSIBILIDADES. INVERTER OS ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA. RECURSO DO AUTOR CONHECIDO E DESPROVIDO. RECURSO ADESIVO DA REQUERIDA CONHECIDO E PROVIDO. A obrigação dos avós de pagar alimentos para os netos é sucessiva e complementar, de sorte que a ação contra eles somente se justifica nos casos de falta ou comprovada impossibilidade dos pais, o que não ocorre na hipótese em questão, onde os genitores do autor são pessoas jovens, saudáveis e exercem atividade remunerada, de modo que podem perfeitamente prover alimentos para o filho menor. (Grifo Nosso) (TJ-SC. Apelação Cível, AC 2014.026734-2. Relator Saul Steil, Terceira Câmara de Direito Civil, julgado em 08/07/2014).

Caso a obrigação alimentar tenha que ser suprida por dois parentes em grau

mais próximo, em razão das circunstâncias financeiras, estes responderão por sua

parte proporcional, não havendo aqui a aplicação do princípio da solidariedade. É

tido como um direito irrenunciável.

A obrigação dos avós é subsidiária e complementar, só podendo existir caso

os genitores não tenham meios de obter o sustento, buscando a dignidade humana,

sendo um dever de todos respeitar a integridade física do ser humano, um dever

jurídico de um direito absoluto protegido pela legislação.

A jurisprudência tem entendido que os alimentos devidos pelos avós aos

seus netos que já atingiram a maioridade civil serão apenas os indispensáveis à

subsistência entendendo que estes decorrem não mais do dever de sustento e sim

em decorrência do parentesco, conforme se verifica na seguinte decisão:

DIREITO DE FAMÍLIA - APELAÇÃO CIVIL - EXONERAÇÃO DE ALIMENTOS - NETO MAIOR - PAGAMENTO DA PENSÃO PELO GENITOR E PELA AVÓ PATERNA - AUSÊNCIA DE PROVA DA NECESSIDADE DE SE MANTER O PENSIONAMENTO DA AVÓ PATERNA, CONCOMITANTEMENTE AOS ALIMENTOS PRESTADOS PELO GENITOR - EXONERAÇÃO DA AVÓ PATERNA CONFIRMADA.

42

- A teor do disposto nos artigos 1.696 e 1.698 do Código Civil, frustrada a obrigação alimentar principal, de responsabilidade dos pais, os avós poderão ser acionados para prestar alimentos ao neto de forma "restritiva", formando um litisconsórcio passivo necessário. Todavia, a obrigação subsidiária deve ser diluída entre os avós paternos e maternos na medida de seus recursos, diante de sua divisibilidade e possibilidade de fracionamento. Assim, configura-se injusta a obrigação direcionada somente à avó paterna. - Uma vez atingida a maioridade, o encargo alimentar não mais se fundamenta no dever de sustento, decorrente do poder familiar, mas, sim, em razão do parentesco, nos termos do art. 1694 do Código Civil, devendo restar comprovada a imprescindibilidade da prestação alimentar à subsistência da parte necessitada. A presunção de necessidade não mais subsiste, ficando a continuidade da prestação de alimentos condicionada à comprovação, por parte do beneficiário, da impossibilidade de prover seu sustento pelo próprio trabalho. Ausente prova da impossibilidade de contribuir para sua própria manutenção, deve ser confirmada a sentença que exonerou a avó paterna da obrigação alimentar. Deve-se considerar que a exoneração da avó não será suficiente para deixar o recorrente desamparado, uma vez que subsistirá a pensão por parte do pai e a genitora apresenta condições de contribuir para o sustento do apelante. (Grifo Nosso) (TJ/MG Apelação Cível n°. 10518120001822002 MG – Relator Dárcio Lopardi Mendes. 4ª Câmara Cível, julgado em 14/05/2015).

Trata-se de um direito de ordem pública, que prevê acima de tudo a

dignidade da pessoa humana, enquadrando os avós no dever de subsistência de

seus netos, com embasamento jurídico na solidariedade familiar.

Conforme leciona Clóvis Beviláqua:

A faculdade concedida ao necessitado de alimentos cria-lhe um direito de natureza especial. É um dever a que não se pode esquivar o parente, cônjuge ou companheiro a ele sujeito. E, neste sentido, o caráter é de ordem pública. Dada a sua finalidade de atender às exigências da vida, não é renunciável. (BEVILÁQUA, 1976, p. 124).

Portanto, somente nos casos de os pais não suportarem arcar com a

subsistência de seus filhos, poderão os avós serem chamados para integrar a

prestação jurisdicional alimentar dentro de seus meios possíveis, a fim de que estes

também não sejam prejudicados nem o seu próprio sustento.

5.1 RESPONSABILIDADE CIVIL NO ÂMBITO FAMILIAR

A conduta do indivíduo perante a sociedade democrática de direito é

revelada através de um direito positivo, o qual aplica sanções para aqueles que não

43

cumprem com o dever imposto por lei, desta forma, todas as pessoas devem

respeitar a integridade física de todos.

O significado da palavra responsabilidade enquadra-se no sentido de um

encargo a uma contraprestação aos indivíduos, devendo o Estado regular a situação

no âmbito familiar, haja vista não poder haver quaisquer chances de existir

negligência que impossibilite o crescimento digno e a vida digna que cada ser

humano deve ter.

Em relação ao ato de prestar alimentos, podemos enquadrá-lo como uma

obrigação proveniente de um dever jurídico originário, portanto, a preservação da

dignidade humana e da solidariedade familiar deve garantir condições de

subsistência a quem necessita, no caso o menor alimentando, nesse sentido Silvio

de Salvo Venosa assenta:

A matéria fica ainda mais delicada quando se trata de proteção ao direito e à personalidade de filhos menores. Assim, sustenta-se modernamente, com razão, que ofende a dignidade do filho não só a ausência de socorro material, como a omissão no apoio moral e psicológico. O abandono intelectual do progenitor com relação ao filho menor gera, sem dúvida, traumas que deságuam no dano moral. Nesse diapasão, a afetividade liga-se inexoravelmente à dignidade do ser humano. É evidente que uma indenização nessa seara nunca restabelecerá ou fará nascer o amor e o afeto. (VENOSA. 2009, p.286).

A família cumpre a sua função através dos elos afetivos derivados da

convivência familiar, prestando o auxílio necessário para a subsistência material e

moral de cada indivíduo.

Só existe o dever de responsabilidade caso haja prejuízo a outrem,

consequentemente sendo caracterizada a existência de um dano moral ou

patrimonial à vítima, podendo este dano ser enquadrado como lesão aos bens ou

aos direitos de qualquer pessoa, sendo este tema pacifico na Constituição Federal,

em seu art. 5°, incisos V e X e no art. 186 do Código Civil.

Neste sentido, adverte Washington de Barros Monteiro:

[...] só se decreta prisão se o alimentante, embora solvente, frustra, ou procura frustrar, a prestação. Se ele se acha, no entanto, impossibilitado de fornecê-la, não se legitima a decretação da pena detentiva. Assim, instituída como uma das exceções constitucionais à proibição de coerção pessoal por dívida, a prisão por débito alimentar reclama acurado e criterioso exame dos fatos, para vir a ser decretada, em consonância com o princípio da hermenêutica, que recomenda exegese estrita na compreensão das normas de caráter excepcional. (MONTEIRO. 2007, p. 378).

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O direito positivo brasileiro incorporou através do Decreto n°. 678/1992 a

Convenção Interamericana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa

Rica), a qual admite a prisão civil somente em caso de débito alimentar, hipótese

esta também contemplada no art. 5°, LXVII da Constituição Federal.

A prisão civil tem natureza coercitiva e não punitiva, como é o caso da prisão

penal, visando única e exclusivamente o cumprimento de uma obrigação, referindo-

se ao ilícito civil. Sendo este o meio coercitivo pelo qual o Estado obriga os

devedores ao cumprimento do dever alimentar, decorrente de uma sentença

transitada em julgado e cabível apenas nos casos dos alimentos previstos nos arts.

1.566, III, e 1.694 do Código Civil brasileiro.

No entanto, em caráter excepcional, vem sendo reconhecido pela doutrina e

jurisprudência pátria a compensação da obrigação de caráter alimentar, ou compor

parte da pensão alimentícia em pagamento in natura, conforme demonstrado no

julgamento do seguinte Agravo de Instrumento:

EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. PAGAMENTOS IN NATURA. EXISTÊNCIA DE DÍVIDA ALIMENTAR. ABATIMENTO DOS VALORES PAGOS RELATIVOS ÀS NECESSIDADES ESSENCIAIS. 1. Os alimentos devem ser pagos na forma definida em juízo, sendo descabida a alteração unilateral da forma de pagamento. 2. Os valores efetivamente destinados ao pagamento de despesas escolares não constituem mera liberalidade, senão pagamento parcial da pensão alimentícia feito in natura, motivo pelo qual deverá ser considerado para efeitos de cálculo da dívida. 3. Não admitir a compensação desses valores pagos implicaria enriquecimento sem causa para o credor. Recurso desprovido. (TJRS. Agravo de Instrumento nº 70025286816. Relator: Des. Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, julgado em 10/11/2008).

Em recente decisão, o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná assim

determinou:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE ALIMENTOS - DECISÃO QUE REDUZIU OS ALIMENTOS PROVISÓRIOS - PLEITO RECURSAL DE MAJORAÇÃO DO QUANTUM FIXADO - IMPOSSIBILIDADE - VALOR ARBITRADO CONDIZENTE COM O TRINÔMIO NECESSIDADE POSSIBILIDADE PROPORCIONALIDADE - QUANTIA EM PECÚNIA ACRESCIDA DE PAGAMENTO IN NATURA DE DESPESAS COM EDUCAÇÃO, SAÚDE E LAZER - DECISÃO MANTIDA - RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (TJPR. 12ª Câmara Cível. Agravo de Instrumento AI. 1.318.093-7. Relator Joeci Machado Camargo – 29-07/2015).

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Em outra decisão do mesmo Tribunal, restou assim decidido:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXECUÇÃO DE ALIMENTOS - PAGAMENTO IN NATURA - POSSIBILIDADE DE COMPENSAÇÃO, EXCEÇÃO A REGRA, QUE SE ADMITE SOB PENA DE ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA DO CREDOR - ADMITEM-SE TÃO SOMENTE OS GASTOS DE CARÁTER ALIMENTAR - NO CASO, OS PAGAMENTOS NÃO FORAM A TÍTULO DE NECESSIDADES PRIMÁRIAS - MERA LIBERALIDADE. A regra quanto à compensação de verba alimentar in natura é a sua impossibilidade, a qual somente é relativizada a fim de que se evite enriquecimento sem causa do credor e, por conseguinte, não constitua ato de mera liberalidade, pois a despesas devem ser relativas à necessidades essenciais dos alimentandos. No caso, a pretensa compensação decorre de gastos à margem das necessidades primárias do alimentando. (Grifo Nosso) (TJ-PR. 11ª Câmara Cível. Agravo de Instrumento Nº 1252597-6. Relator: Des. Gamaliel Seme Scaff, julgado em 06/05/2015).

O fato de a obrigação alimentar ser insuscetível de compensação, conforme

versam os arts. 373, II e 1.707 ambos do Código Civil, já é conhecido no direito

pátrio, entretanto, a doutrina tem admitido, em caráter excepcional, a compensação

da obrigação alimentar, sendo fundamental a existência de alguns requisitos.

Enquadram-se como pressupostos de caráter excepcional para que seja

possível a compensação alimentar, a dívida que se pretenda compensar tenha o

caráter estritamente alimentar ou que componha a pensão alimentícia, assim como o

alimentante deverá demonstrar nitidamente a excepcionalidade do caso, não

podendo haver acréscimo patrimonial sem justificativa plausível a fim de se

comprovar a inexistência do enriquecimento sem causa.

5.2 RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA OU SUBSIDIÁRIA

Conforme regula o art. 265 do Código Civil, a solidariedade é resultante da

vontade das partes ou do especificado em lei, isto é, caso houvesse a solidariedade

na obrigação alimentar, seria necessário que todos os alimentantes fossem

responsáveis simultaneamente pela soma da obrigação alimentar.

Não é dessa forma que a lei preceitua, tendo em vista que, conforme já visto

anteriormente no presente trabalho, cada um dos parentes, em obediência ao

suscitado em lei, sendo obrigado à prestação alimentar de acordo com as suas

possibilidades, sem prejudicar o seu próprio sustento.

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Partilha deste entendimento Cristiano Chaves de Faria e Nelson Rosenvald:

[...] havendo mais de uma pessoa obrigada à prestação, não pode o credor cobrar o valor integralmente de uma só (consequência típica da solidariedade obrigacional), mas apenas a cota que aquele co-devedor puder prestar, respeitadas as suas possibilidades. (FARIAS e ROSENVALD. 2008. p, 233).

É essencial entender que a obrigação alimentar não é caracterizada pela

solidariedade, podendo ser suportada em sua totalidade ou por apenas por um dos

devedores, no caso de somente um devedor possuir a condição financeira

necessária para arcar com o encargo.

O alimentante que não suportar suprir o encargo sozinho, tem o direito de

chamar ao processo os co-responsáveis da obrigação alimentar, com única e

exclusiva finalidade de que cada um dos devedores contribua com a obrigação de

acordo com as suas possibilidades financeiras individuais.

À luz do Código Civil, caso prejudicada a obrigação alimentar principal, da

qual os pais são responsáveis, a obrigação subsidiária deve ser consequentemente

dividida entre os avós tanto paternos quanto maternos, na proporção de seus

recursos financeiros, perante a sua possibilidade e divisibilidade de fracionamento,

devendo sempre a necessidade alimentar ser ajustada por quem recebe e não por

quem paga a obrigação.

5.3 RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DOS AVÓS

O legislador não limita a designação dos parentes que devem assumir a

obrigação alimentar, entretanto determina a ordem sucessiva que deve ser

respeitada a fim de se obter o débito alimentar, ou seja, os pais não podem se eximir

desta relação jurídica caso possuam a capacidade para assumi-la.

Há licitude no pedido de alimentos em face dos avós, entretanto, deve haver

a comprovação de que se esgotaram todos os meios processuais disponíveis para o

cumprimento da obrigação do alimentante primário, o genitor, e, somente assim,

poderá se buscar a pretensão alimentícia em face dos ascendentes, tornando assim

a obrigação subsidiária e complementar.

Nesse sentido ensina Rolf Madaleno:

47

Assim visto, os avós apenas complementam a pensão já alcançada pelos pais e que se revelou insuficiente, porque os netos só podem exigir alimentos dos avós na falta dos pais, porque falecidos ou inválidos, ou porque não tem rendimentos, ou, tendo rendas, estas se mostram insuficientes, podendo ser acionados os avós para alcançarem a devida complementação. (MADALENO. 2008, p. 83).

O art. 1.696 do Código Civil faz menção ao aspecto de que o alimentando

não pode escolher de maneira aleatória quem ele deseja que pague e arque com os

seus alimentos devidos, existindo uma ordem sucessiva dos devedores que possam

vir a ser chamados para arcar com a obrigação.

Yussef Cahali comenta o art. 1.696 do Código Civil da seguinte forma:

[...] estabelece apenas que os mais remotos só serão obrigados quando inutilmente se recorrer aos que os precederem; desse modo, se admissível ação de alimentos contra o avô, ocorre a carência dessa ação se qualquer dos genitores do menor tem patrimônio hábil para sustentá-lo, pois o avô só está obrigado a prestar alimentos ao neto se o pai deste não estiver em condições de concedê-lo, estiver incapacitado ou for falecido; assim, a ação de alimentos não procederá sem prova de que o mais próximo não pode satisfazê-la. (CAHALI. 2007, p. 677).

O fundamento da obrigação alimentar encontra-se basicamente no princípio

da solidariedade familiar em decorrência da necessidade existente entre as pessoas

do mesmo núcleo familiar uma para com as outras, tornando esse dever uma

obrigação natural e moral à prestação da assistência necessária.

Yussef Cahali ensina em sua obra:

O legislador não se limita à designação dos parentes que se vinculam à obrigação alimentar, mas determina do mesmo modo a ordem sucessiva do chamamento à responsabilidade, preferindo os mais próximos em grau, e só fazendo recair a obrigação os mais remotos à falta ou impossibilidade daqueles de prestá-los. (CAHALI. 2007, p. 680).

Quando já comprovada a necessidade do credor e a impossibilidade dos

pais em arcar com o encargo, é permitido ajuizar a ação alimentar contra um ou

contra todos os devedores. Da mesma forma que o autor tem a opção de escolha do

réu, o réu tem também a opção de chamar os demais parentes do mesmo grau em

que está inserido ou não.

Pode-se ver o entendimento recente na decisão de Apelação Civil, abaixo

colacionada:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ALIMENTOS. OBRIGAÇÃO ALIMENTAR AVOENGA. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. A obrigação alimentar dos avós tem por fundamento a solidariedade entre parentes e somente é

48

cabível de forma complementar e subsidiária à obrigação alimentar dos pais, que são os obrigados principais. No caso, como os apelantes não esclareceram as possibilidades da genitora para fornecer o sustento dos alimentados, inviável a constituição da obrigação alimentar avoenga. Por outro lado, também não foi provado que a avó/apelada, que recebe 02 salários mínimos de benefício previdenciário e possui despesas com tratamento de saúde, apresenta condições de ajudar financeiramente os netos sem desfalque do próprio sustento. Caso em que a sentença de improcedência do pedido alimentar contra a avó vai mantida. NEGARAM PROVIMENTO. (Apelação Cível Nº 70062339122, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José Pedro de Oliveira Eckert, Julgado em 11/12/2014).

A legislação pátria não aponta impedimentos com relação aos avós e os pais

serem responsáveis conjuntamente pela obrigação, devendo apenas não gerar a

acomodação dos genitores relacionada a assistência recebida por seus filhos

menores, desde que devidamente comprovada a insuficiência financeira ao

alimentando.

Neste contexto consagra Rolf Madaleno:

[...] obrigação subsidiária deve guardar coerência apenas como a verba indispensável para a subsistência dos netos, cuja quantificação não foi possível extrair dos pais. Os alimentos devidos pelos avós aos netos são de caráter subsidiário ou sucessivo e não simultâneo com os pais. (MADALENO. 2008, p.706).

Desse modo, em se tratando de vínculo familiar e havendo a necessidade do

credor, a responsabilidade de suprir tal encargo, em primeiro lugar é dos pais,

considerando que estes possuem dever absoluto de prestar toda e qualquer

assistência aos seus filhos.

Portanto, a obrigação irá recair sobre os avós quando os pais não possuírem

a condição básica necessária para cumprir com a obrigação alimentar, que possa vir

a causar prejuízo ao seu próprio sustento.

5.4 RESPONSABILIDADE COMPLEMENTAR DOS AVÓS

Na legislação pátria é pacífico o entendimento que admite a

complementação da prestação alimentar através do concurso entre parentes, sendo

que, deste modo, os avós são chamados a complementar a pensão, bastando que

reste devidamente comprovado a insuficiência dos genitores em arcar com o custeio

alimentar sem que possa interferir no seu sustento próprio.

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Eduardo Leite, em alusão ao art. 1.698 do Código Civil, o qual estendeu a

obrigação alimentar a todos os membros da família, argumenta o seguinte aspecto:

Nada impede, porém, que os avós possam ser chamados para complementar a pensão, se provada pelo alimentante à insuficiência do que recebe. A doutrina é pacífica na admissibilidade do pedido de complementação; isto é, nada impede que se cumpra a prestação alimentar por concurso entre parentes, caso seja necessário se obter de um devedor a complementação do que outro paga. Os avós são, assim, chamados a complementar a pensão, que o pai, sozinho, não pode oferecer aos filhos. (LEITE. 2006, p.78).

Porém, para que os avós suportem o encargo da obrigação alimentar, deve

restar comprovada a impossibilidade do genitor em não ter condições em prover o

encargo de maneira que não venha a prejudica-lo.

Neste sentido segue o exemplo da decisão prolatada na Apelação Cível:

AÇÃO DE ALIMENTOS - PEDIDO FORMULADO EM FACE DOS AVÓS PATERNOS - OBRIGAÇÃO ALIMENTAR DOS AVÓS - NATUREZA SUCESSIVA E COMPLEMENTAR - PRESSUPOSTOS PARA A FIXAÇÃO DO ENCARGO - NÃO CONFIGURAÇÃO - PEDIDO JULGADO IMPROCEDENTE - RECURSO DESPROVIDO. - O legislador determinou uma ordem sucessiva do chamamento à responsabilidade de prestar alimentos, obrigando-se primeiramente os parentes mais próximos em grau e, somente na falta ou na impossibilidade destes de prestá-los, a obrigação recai sobre os parentes mais remotos, obedecendo-se a ordem legal. Nessa perspectiva, "a responsabilidade dos avós, na prestação de alimentos, é sucessiva e complementar a dos pais, devendo ser demonstrado, à primeira, que estes não possuem meios de suprir, satisfatoriamente, a necessidade dos alimentandos" (AgRg no Ag 1010387), sem o que o pedido de alimentos formulado em face dos avós deve ser julgado improcedente. (TJ-MG – Apelação Cível AC 10024096394630001 MG. 1ª Câmara Cível. Relator Eduardo Andrade – 18/02/2014).

E no mesmo sentido:

DIREITO CIVIL. AÇÃO DE ALIMENTOS. RESPONSABILIDADE DOS AVÓS. OBRIGAÇÃO SUCESSIVA E COMPLEMENTAR. 1. A responsabilidade dos avós de prestar alimentos é subsidiária e complementar à responsabilidade dos pais, só sendo exigível em caso de impossibilidade de cumprimento da prestação – ou de cumprimento insuficiente - pelos genitores. 2. Recurso especial provido. (REsp 831497 / 61 MG, Quarta Turma, Superior Tribunal de Justiça, Relator Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA - 04/02/2010, STJ).

Mostra-se nitidamente claro que o valor adimplido pelo genitor obrigado,

deve ser evidentemente comprovado insuficiente perante a necessidade do neto ou

comprovada a impossibilidade em arcar com os gastos para que seja deferida a

50

complementação, não bastam apenas argumentos baseados em fatos que não tem

como comprovar, a fim de reivindicar a complementação dos avós.

Nesta mesma linha de raciocínio, caso efetivamente comprovada a

insuficiência, o encargo obrigacional recai complementarmente sobre os avós:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO DE ALIMENTOS. OBRIGAÇÃO ALIMENTAR AVOENGA DECORRENTE DA COMPROVADA IMPOSSIBILIDADE DO GENITOR. POSSIBILIDADE. OBSERVÂNCIA DO BINÔMIO POSSIBILIDADE-NECESSIDADE. PREVALÊNCIA DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA. 1. Consolidado o entendimento jurisprudencial de que a responsabilidade dos avós, na prestação de alimentos, é sucessiva e complementar a dos pais, desde que seja comprovada a impossibilidade financeira destes de suprir a necessidade do alimentando; 2. Recorrente fundou seu pedido apelatório exclusivamente na declaração escrita pelo genitor comprometendo-se a pagar R$400,00 (quatrocentos reais) mensais a título de pensão em favor do filho, o que, judicialmente, apresenta-se como completamente incabível; 3. Em caso de modificação da situação financeira do genitor, cabível apenas ação de oferta de alimentos ou ação revisional, meios processuais adequados para apurar a veracidade das informações sem colocar o infante em uma situação de risco de abandono material; 4.Observância do binômio possibilidade-necessidade e do princípio do melhor interesse da criança; 5. Recurso improvido. Encontrado em: DECORRENTE DA COMPROVADA IMPOSSIBILIDADE DO GENITOR. POSSIBILIDADE. OBSERVÂNCIA DO BINÔMIO... jurisprudencial de que a responsabilidade dos avós, na prestação de alimentos, é sucessiva e complementar...Acórdão EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO DE ALIMENTOS. OBRIGAÇÃO ALIMENTAR AVOENGA. (grifo nosso) (TJ-PE – Apelação APL 3181417 PE, 4ª Câmara Civel. Relator Eurico de Barros Correia Filho – 06/06/2014 TJ-PE).

Portanto, os avós têm sim a obrigação complementar perante o alimentando,

todavia, caso haja impossibilidade do genitor em arcar com a obrigação, esta

dificuldade deve ser devidamente comprovada para que, caso possível e sem a

interferência no sustento dos avós, estes possam vir a arcar, de acordo com suas

possibilidades, com a obrigação alimentar.

O direito material diz ser possível o chamamento ao processo de todos os

avós a integrar o polo passivo em lides alimentícias. Com o advento do art. 1.698 do

Código Civil se o parente que deve alimentos não puder suportá-los, serão

chamados a integrar a lide os parentes de grau imediato, devendo as pessoas

concorrerem na proporção de seus respectivos recursos, sem prejudicar o seu

próprio sustento.

Com o advento do art. 1698 do Código Civil, tornou-se entendimento

majoritário da jurisprudência pátria o de que, ambos os avós, tanto paternos quanto

51

maternos podem vir a ser chamados para integrar a lide do processo, quando se

fizer necessária a ajuda e cooperação para o sustento do alimentando.

Deve ser provada a insuficiência dos alimentos por parte dos genitores,

então caberá o pedido de litisconsórcio necessário.

Não há uma ordem obrigatória, se são os avós paternos ou maternos que

devem integrar a lide antes, mas sim a parte que tiver maiores possibilidades de

arcar com a obrigação sem prejudicar o seu próprio sustento, conforme verifica-se

na decisão abaixo:

APELAÇÃO. AGRAVO RETIDO. ALIMENTOS. AVÔ PATERNO. CHAMAMENTO DOS DEMAIS AVÓS. DESCABIMENTO. OBRIGAÇÃO SUBSIDIÁRIA. POSSIBILIDADES DO AVO." QUANTUM ". VISITAS PATERNAS. ÔNUS SUCUMBENCIAIS. Não há litisconsórcio passivo necessário entre avós, pelo que, proposta ação de alimentos subsidiários contra um deles, não há obrigatoriedade no chamamento dos demais. [...] Circunstâncias que demonstram a incapacidade dos genitores arcarem sozinhos com o sustento do filho, pelo que cabível a fixação de obrigação subsidiária contra o avô paterno. Avô paterno que tem boas condições financeiras (empresa, imóveis, carro importado e aplicações financeiras), e plena capacidade de alcançar valores ao neto, sem prejuízo do próprio sustento. [...] No entanto, este Superior Tribunal de Justiça vem entendendo com base no art. 1.698 do Código Civil que "não há óbice legal a que o demandado exponha, circunstanciadamente, a arguição de não ser o único devedor e, por conseguinte, adote a iniciativa de chamamento de outro potencial devedor para integrar a lide." (REsp 964.866/SP, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em 01/03/2011, DJe 11/03/2011). [...] O demandado, no entanto, terá direito de chamar ao processo os co-responsáveis da obrigação alimentar, caso não consiga suportar sozinho o encargo, para que se defina quanto caberá a cada um contribuir de acordo com as suas possibilidades financeiras. 3 - Neste contexto, à luz do novo Código Civil, frustrada a obrigação alimentar principal, de responsabilidade dos pais, a obrigação subsidiária deve ser diluída entre os avós paternos e maternos na medida de seus recursos, diante de sua divisibilidade e possibilidade de fracionamento. A necessidade alimentar não deve ser pautada por quem paga, mas sim por quem recebe, representando para o alimentado maior provisionamento tantos quantos coobrigados houver no pólo passivo da demanda. 4 - Recurso especial conhecido e provido."(REsp 658.139/RS, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURMA, julgado em 11/10/2005, DJ 13/03/2006, p. 326) Ante o exposto, nos termos do art. 557, § 1º-A, do Código de Processo Civil, dou provimento ao recurso especial para deferir o chamamento ao processo requerido pelo recorrente, determinando o retorno dos autos à origem para o prosseguimento do feito. (STJ-Recurso Especial REsp n. 2012/0056823-0 – 4ª Turma, Relator Ministro Raul Araújo – 29/12/2014).

Além do disposto no Código Civil, os interesses do alimentando devem ser

considerados prioridade, garantindo assim o chamamento ao processo de todas as

partes que possam vir a contribuir, conforme disposto em lei, para a devida

subsistência digna do alimentando, conforme podemos verificar na decisão abaixo:

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DIREITO CIVIL – AÇÃO DE ALIMENTOS EM DESFAVOR DO AVÔ PATERNO – COMPLEMENTAÇÃO DE PENSÃO – CHAMAMENTO AO PROCESSO DOS AVÓS MATERNOS – POSSIBILIDADE. O fato de as alimentandas viverem com os avós maternos e a presunção de que estes colaboram com o sustento das netas não afasta a possibilidade destes integrarem a lide. A obrigação de prestar alimentos deve ser partilhada entre todos os parentes do mesmo grau na proporção de suas possibilidades. (TJDF. Agravo de Instrumento Nº 108758220088070000. – 3ª Turma Cível, Relator Desembargador João Mariosa, julgado em 12/11/2008).

Na mesma linha, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais também decidiu

embasado na pluralidade de pessoas obrigadas cumprir com a relação alimentar, na

seguinte maneira:

Apelação - ação de alimentos - demandada - avó paterna - obrigação subsidiária e concorrente - chamamento da avó materna - possibilidade - art. 1.698 do CC2002 - preliminar de nulidade a que se acolhe. A obrigação dos avôs de prestar alimentos é subsidiária e concorrente. Demandada apenas a avó paterna, é possível o chamamento da outra avó para integrar a lide, conforme previsão do art. 1.698 do Código Civil de 2002. (TJ-MG – Apelação Cível n. 10338100127319001. 2ª Câmara Cível, Relator: Marcelo Rodrigues - 01/10/2013).

Quando houver inadimplemento dos genitores, a obrigação principal torna-se

conjunta e concorrente entre os avós paternos e maternos, devendo esta ser diluída

entre todos na medida das possibilidades de cada um, diante da divisibilidade e

possibilidade de fracionamento, devendo ser embasada na necessidade de quem

recebe, e, portanto, devem ser chamados quantos coobrigados necessários forem

para cumprir com a obrigação sem haver prejuízo para nenhuma das partes

integrantes da lide.

5.5 PRISÃO CIVIL DOS AVÓS

Na Constituição Federal, encontra-se o permissivo legal que autoriza a

prisão civil decorrente do inadimplemento de alimentos, em seu art. 5°, inc. LXVII,

que contempla:

Art. 5° [...] LXVII – não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia [...].

A Lei de Alimentos n° 5.478/1968 e o Código de Processo Civil em seus

artigos 19 e 733, regulam a prisão civil por débito alimentar. O caráter de coerção

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civil tem como principal objetivo a coerção do devedor para que preste pagamento

imediato ao alimentando, sob pena de que lhe seja retirada a liberdade por

determinado período. Nesse aspecto ensina Rolf Madaleno:

A coação física enfatiza a pressão psicológica da ameaça de prisão do devedor, sendo, portanto, meio de coerção, e não uma pena civil, equiparável a uma sanção penal, tanto que, paga a dívida alimentar, desaparece o motivo da segregação corporal, haja vista ser dívida para com o credor alimentar, e não para com a sociedade civil. (MADALENO, 2008, p. 189).

Na mesma seara, Humberto Theodor Júnior traz a baila que:

Essa prisão civil não é meio de execução, mas apenas de coação, de maneira que não impede a penhora de bens do devedor e o prosseguimento dos atos executivos propriamente ditos. Por isso mesmo, o cumprimento da pena privativa de liberdade ‘não exime o devedor do pagamento das prestações vencidas e vincendas. (JUNIOR. 2010, p. 418).

A redação do artigo 733, do CPC, dá a entender que a prisão civil caberia

somente nos casos de alimentos provisionais, excluindo os definitivos. Entrementes,

resta esclarecido esse assunto com a redação do artigo 19 da Lei de Alimentos, que

deixa claro que a prisão civil é cabível para todos os títulos que forem prolatados

pelo juiz.

Quando a obrigação alimentar dos avós for fixada por decisão judicial, estes

passam a ter obrigação de cumprir com o dever alimentar, não existindo

propriamente a obrigação alimentar, mas um dever familiar, respectivamente de

sustento e de mútua assistência, o qual deve ser fixado de acordo com a

necessidade e possibilidade das partes envolvidas, objetivando-as viver de modo

compatível a sua condição social.

É nítido que a jurisprudência brasileira, no caso da obrigação alimentar,

consolidou o posicionamento de que a coerção física só é possível na cobrança das

três ultimas prestações não pagas.

Assim leciona Maria Berenice Dias:

Sempre houve enorme dificuldade dos juízes em determinar a prisão do devedor, e cristalizou-se o entendimento, em sede jurisprudencial, de que caberia o uso dessa via executória somente para a cobrança das três ultimas prestações vencidas. (DIAS. 2009, p. 562).

54

A prisão civil é um modo de coerção imposto pelo Estado, visando conseguir

o adimplemento das prestações devidas, tendo o prazo máximo de 60 dias de prisão

civil em caso de alimentos definitivos ou provisórios, conforme versa o art. 19 da Lei

de Alimentos, e, no caso de inadimplemento dos alimentos provisionais, o prazo

máximo é de três meses de prisão, conforme o disposto no art. 733 do CPC.

A possibilidade de prisão civil dos avós é a mesma que para qualquer outro

devedor, devendo ser o ato decisório devidamente fundamentado e com motivação

consistente, entretanto, a medida coercitiva da prisão deve ser determinada somente

em último caso, haja vista existirem outras maneiras para a satisfação do crédito

alimentar, como pode-se verificar no Agravo de Instrumento julgado abaixo:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE EXECUÇÃO DE ALIMENTOS AVOENGOS PELO RITO DO ARTIGO 733, CPC -

PAGAMENTO PARCIAL - DECISÃO QUE INDEFERE A PRISÃO CIVIL

DOS AVÓS PATERNOS E QUE DETERMINA O PROSSEGUIMENTO DO FEITO MEDIANTE ATOS EXPROPRIATÓRIOS - PRETENSÃO DE IMPOSIÇÃO DE COERÇÃO PESSOAL - DESARRAZOADA NO CASO - MEDIDA DE CARÁTER EXCEPCIONAL - PRINCÍPIO DA MENOR RESTRIÇÃO POSSÍVEL - ARTIGO 620, CPC - PENHORA DE BENS JÁ REALIZADA NOS AUTOS - GARANTIA DE SATISFAÇÃO DO DÉBITO -PRISÃO CIVIL QUE PERDEU A SUA FINALIDADE - NÃO COMPROVAÇÃO DE QUE O INADIMPLEMENTO É INVOLUNTÁRIO E INESCUSÁVEL - ARTIGO 5º, LXVII, CF - DECISÃO MANTIDA.1. A prisão é a modalidade coercitiva mais agressiva ao seu devedor, e como, tal, deve ser adotada somente em situações excepcionais, segundo exegese do artigo 620, CPC, notadamente no caso de execução promovida contra os avós, haja vista se tratar de responsabilidade alimentar excepcional, subsidiária e complementar à dos pais.2. In casu, revela-se desarrazoada a continuidade do processo na modalidade coercitiva (artigo 733, CPC), já que a intervenção expropriatória se mostrou profícua no caso ante a concretização de penhora de bens, o que garante o resultado econômico almejado pela parte credora, qual seja, a satisfação do débito alimentício. Ademais, não restou demonstrado que o inadimplemento é voluntário e inescusável (art. 5º, LXVII, CF). RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (Grifo Nosso) (TJPR. 12ª Câmara Cível. Agravo de Instrumento Nº 941399-6. Relatora: Des. Rosana Amara Girandi Fachin, julgado em 03/07/2013).

Entretanto, em outra decisão, o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná

denegou a ordem impetrada, mantendo a prisão civil decretada:

HABEAS CORPUS PREVENTIVO - AÇÃO DE ALIMENTOS PROPOSTA CONTRA OS AVÓS PATERNOS - PRISÃO CIVIL DECRETADA NO ÂMBITO DE EXECUÇÃO DE PENSÃO ALIMENTÍCIA - PAGAMENTO PARCIAL - NÃO EXONERAÇÃO - DECRETO PRISIONAL MANTIDO. Não basta o pagamento parcial da pensão alimentícia, é necessária a quitação das 3 (três) parcelas vencidas, anteriores à execução, e das prestações

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vincendas no curso do processo até a data do efetivo adimplemento. Tratando-se de prisão civil por débito alimentar, respeitado o aspecto da legalidade e o fato de o devedor não ter adimplido sua obrigação, deve-se manter o decreto prisional. ORDEM DENEGADA. (Grifo Nosso) (TJPR. 11ª Câmara Cível. Habeas Corpus Nº 315890-3. Relator: Eraclés Messias, julgado em 13/01/2006).

Diante da jurisprudência citada acima, já houve o entendimento de que, em

caso de inadimplemento de obrigação alimentar de seus netos, os avós serem

presos, mas somente em últimos casos.

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6. DIREITO DA CRIANÇA E DO IDOSO

Os princípios constitucionais são os reguladores das relações entre avós e

netos. Visam assegurar a dignidade da pessoa humana sem distinções de raça, cor

ou credo, tornando todos iguais perante a lei, assegurando ao povo as condições

mínimas necessárias para o crescimento e a vivência digna dos mesmos.

Tratando-se de alimentos, as crianças possuem o Estatuto da Criança e do

Adolescente e os idosos o Estatuto do Idoso, tais Estatutos visam em uma

codificação legal própria o resguardo de ambos, que são amplamente protegidos

pela Constituição Federal.

A Constituição Federal visa garantir o desenvolvimento saudável à todas as

crianças e adolescentes, assim como proporcionar a todos os idosos um

envelhecimento saudável, em virtude da contribuição dada por eles no decorrer de

suas vidas para a nação através do trabalho realizado. Objetivando desse modo o

crescimento e a velhice dignos para qualquer pessoa.

Quando existir a obrigação alimentar entre netos menores de idades e avós

idosos, dos quais ambos estejam em condições de necessidades igualitárias, deve

prevalecer o critério da possibilidade sobre o da necessidade, pois há de se levar em

consideração que, se a condição financeira de ambos for igual, de nada adiantará

resolver um problema e ao mesmo tempo criar outro.

Conforme pode-se verificar no julgado abaixo:

DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO ALIMENTOS. AVÓS. RESPONSABILIDADE. CRITÉRIOS JURÍDICOS DE FIXAÇÃO DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR. TRINÔMIO POSSIBILIDADE DO ALIMENTANTE, NECESSIDADE DO ALIMENTADO E PROPORCIONALIDADE. Os avós, desde que economicamente capazes, respondem pelos alimentos necessários à manutenção dos netos. A obrigação não apenas sucessiva, não decorre somente da falta de capacidade econômica do genitor, sendo que os avós podem ser chamados, também, a complementar o pensionamento dos pais que não suprem de modo satisfatório a obrigação a eles imposta. Todavia, possuindo os pais da menor formação universitária e sendo jovens e aptos ao trabalho, não há que se falar em estender a obrigação de alimentos à avó, que já possui avançada idade e possui diversos gastos de saúde. (TJ-MG; APCV 1.0105.07.241956-4/0011; Governador Valadares; Quinta Câmara Cível; Relª Desª Maria Elza de Campos Zettel; Julg. 24/09/2009; DJEMG 14/10/2009).

Entrementes, caso a situação financeira dos avós seja privilegiada, a

condenação de prestar alimentos só poderá recair sobre eles, caso haja a

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comprovação necessária de que os genitores realmente não possuem as condições

necessárias para arcar com tal obrigação sozinhos.

Na tese jurisprudencial abaixo pode-se verificar o acima descrito:

CIVIL. ALIMENTOS. REQUERIMENTO CONTRA AVÓS. IMPROCEDÊNCIA DA POSTULAÇÃO. A extensão da obrigação alimentar aos avós, em favor de neto, não é incondicional, uma vez que pressupõe a apresentação de prova inequívoca da falta do pai, da sua impossibilidade de pagar alimentos ou da insuficiência da contribuição por ele prestada ao filho e a demonstração dos requisitos do §1º do art. 1.694 e do art. 1.695 do Código Civil. Recurso não provido. (Grifo nosso) (TJ-MG; APCV 2152232-40.2009.8.13.0056; Barbacena; Quarta Câmara Cível; Rel. Des. Almeida Melo; Julg. 18/11/2010; DJEMG 24/11/2010).

Não restam dúvidas que os alimentos só devem ser prestados pelos avós

que possuam as condições básicas necessárias e que não venham a ser

prejudicados futuramente.

Diante do direito assegurado aos avós e aos netos, em se tratando de

alimentos, gera-se uma tarefa árdua ao magistrado, nos casos acima estudados, já

que, no ponto de vista econômico, ambos estão fora do mercado produtivo,

consequentemente enseja-se a efetiva proteção da tutela jurisdicional.

Deve-se, então, observar com muita cautela cada caso que venha a surgir

no poder judiciário, com a finalidade de impossibilitar injustiças para com as partes

prejudicadas.

Incumbe exaurir as tentativas de pagamento de alimentos pelos genitores e,

caso realmente os pais não sejam capazes de executar com a obrigação, ai sim a

mesma deve ser adimplida dos avós, sem o prejuízo de seu sustento por óbvio, não

podendo esquecer de maneira alguma do binômio necessidade/possibilidade.

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7.CONCLUSÃO

O direito na sociedade moderna visa garantir os direitos de todos, evoluindo

constantemente, proporcionou efetivas mudanças no ramo do direito de família,

garantindo assim os valores da sociedade como um todo, mas também garantindo o

mínimo básico para o indivíduo como um particular.

A partir da Constituição Federal de 1988 o núcleo familiar foi altamente

valorizado, não só através das relações matrimoniais, mas também ao grande

avanço das relações entre pessoas do mesmo sexo, assim como da equiparação

entre os filhos de qualquer origem, as quais são legalmente admitidas atualmente.

Atualmente, os princípios constitucionais visam regular as relações

familiares, garantindo assim a dignidade da pessoa humana, a solidariedade,

igualdade, liberdade, afetividade e convivência familiar, bem como o melhor

interesse da criança.

É em virtude das relações familiares existentes que se consagra o instituto

dos alimentos, os quais entendem-se como tudo aquilo que faz-se necessário à

subsistência do alimentando tanto ética quanto moralmente, e são oriundos tanto do

vínculo afetivo quanto do vínculo sanguíneo.

A obrigação alimentar é tida como um dever moral de cada indivíduo a fim

de garantir as necessidades do alimentando. Entrementes, não se pode esquecer do

binômio da necessidade x possibilidade entre credor e devedor.

Deve-se assim, obedecer à forma do vínculo existente entre o alimentando e

o alimentante, a fim de se estabelecer a obrigação alimentar. Nos ditames do Código

Civil, os sujeitos da obrigação alimentar, primeiramente, são pais e filhos, sendo que

o rol de parentes estende-se ao ascendente mais próximo quando existir falta de

genitores.

Desse modo, quando efetivamente comprovado pelos genitores a

impossibilidade de arcar com a obrigação alimentar, é permitido por lei exigir o

adimplemento da obrigação dos parentes que tenham a condição necessária para

arcar com a obrigação sem prejudicar o seu próprio sustento.

Consequentemente, os ascendentes em grau mais próximo na falta de

genitores, são os avós, que podem vir a ser obrigados a contribuir

complementarmente para com esta obrigação no caso de insuficiência de valores

recebidos através de seu genitor ou, subsidiariamente, em decorrência de

59

impossibilidade financeira, ausência, morte ou desaparecimento dos genitores. Não

enquadra-se na obrigação solidária, pois não está prevista em lei desta forma,

entretanto torna-se divisível em virtude da necessidade de outros co-obrigados

adimplirem para com esta obrigação.

Em cada caso da obrigação alimentar, o binômio necessidade x

possibilidade deve ser visto individual e minuciosamente, visando não haver

prejuízos para o alimentando em decorrência de sua necessidade, mas também não

pode haver prejuízo para o alimentante em virtude de sua possibilidade de arcar

com o encargo, sendo inadmissível este arcar com a obrigação e ao mesmo tempo

comprometer o seu sustento.

Em virtude da responsabilidade atribuída aos avós perante o núcleo familiar,

responsabilidade esta, baseada na solidariedade e afetividade familiar, de uma

forma ou outra, acaba-se atribuindo aos avós a função de garantidor de todos os

membros do núcleo familiar ao qual este compõe.

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