17
Resumo da Política: Impacto da COVID-19 nas crianças 15 Abril 2020

Resumo da Política da...RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS 5 O terceiro canal é o risco que o vírus e a sua resposta representam aos esforços de longo prazo

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Resumo da Política da...RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS 5 O terceiro canal é o risco que o vírus e a sua resposta representam aos esforços de longo prazo

Resumo da Política:

Impacto da

COVID-19

nas crianças

15 Abr i l 2020

Page 2: Resumo da Política da...RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS 5 O terceiro canal é o risco que o vírus e a sua resposta representam aos esforços de longo prazo

Sumário Executivo

As crianças não são a face desta pandemia. Mas correm o

risco de estar entre as suas maiores vítimas. Embora

tenham sido felizmente bastante poupadas dos efeitos

directos à saúde da COVID-19 – pelo menos até à data – a

crise está a afectar verdadeiramente o seu bem-estar. Todas

as crianças, de todas as idades e em todos os países, estão

a ser afectadas, em particular pelos impactos

socioeconómicos e, em alguns casos, pelas medidas de

mitigação que podem originar inadvertidamente mais danos

que benefícios. Esta é uma crise universal e, para algumas

crianças, o impacto será para toda a vida.

Além disso, os efeitos prejudiciais desta pandemia não serão

repartidos de maneira equitativa. Prevê-se que sejam mais

prejudiciais para as crianças nos países mais pobres e nos

bairros mais pobres, e para aquelas em situações já

desfavorecidas ou vulneráveis.

Existem três canais principais através dos quais as crianças são

afectadas por esta crise: infecção pelo próprio vírus; os impactos

socioeconómicos imediatos das medidas para interromper a

transmissão do vírus e acabar com a pandemia; e os possíveis

efeitos a longo prazo da implementação tardia dos Objectivos de

Desenvolvimento Sustentável.

Tudo isso está a afectar as crianças de diversas formas:

> Risco da pobreza: Estima-se que 42-66 milhões de

crianças possam cair na pobreza extrema em resultado da crise

deste ano, somando-se aos estimados 386 milhões de crianças

que já estavam na pobreza extrema em 2019

> Agravamento da crise da educação: 188 países

impuseram o encerramento das escolas a nível nacional,

afectando mais de 1,5 mil milhões de crianças e adolescentes.

As perdas potenciais que podem resultar para a educação da

geração jovem de hoje, e o desenvolvimento do seu capital

humano são difíceis de imaginar. Mais de dois terços dos

países introduziram uma plataforma nacional de ensino à

distância, mas entre os países de baixa renda a participação

é de apenas 30%. Antes desta crise, quase um terço dos

jovens do mundo já eram excluídos em termos digitais.

> Ameaça à sobrevivência e à saúde da criança: As

dificuldades económicas vividas pelas famílias em resultado

da crise económica global podem resultar em centenas de

milhares de mortes infantis suplementares em 2020,

revertendo o progresso alcançado nos últimos 2 a 3 anos na

redução da mortalidade infantil num único ano. E este número

alarmante não toma em conta os serviços interrompidos

devido à crise - reflecte apenas a actual relação entre as

economias e a mortalidade, logo é possivelmente uma

subestimação do impacto. Prevê-se o aumento da

desnutrição em 368,5 milhões de crianças em 143 países,

que normalmente dependem das refeições escolares para

obter uma fonte fiável de nutrição diária e agora devem

buscar outras fontes. Os riscos para a saúde mental e bem-

estar infantil também são consideráveis. As crianças

refugiadas e deslocadas internamente, assim como as que

vivem em detenção e situações de conflito activo são

particularmente vulneráveis.

> Riscos para a segurança infantil: O confinamento e as

medidas de abrigo aumentam o risco de as crianças

testemunharem ou sofrerem violência e abusos. As crianças

em situação de conflito, assim como aquelas que vivem em

condições insalubres e aglomeradas, como os refugiados e

em assentamentos de deslocados internos, também estão

expostas a riscos consideráveis. A dependência das crianças

em plataformas online para o ensino à distância também

aumentou o risco de exposição a conteúdo inapropriado e a

predadores online.

Este resumo de políticas fornece uma análise mais profunda

destes efeitos. Identifica também uma série de acções

imediatas e sustentadas para a atenção dos governos e

decisores, incluindo em relação às três prioridades

identificadas a seguir:

• Reequilibrar a combinação das intervenções para

minimizar o impacto das estratégias do distanciamento

físico e do confinamento nas crianças em países e

comunidades de baixa renda e expandir os programas

de protecção social para alcançar as crianças mais

vulneráveis.

Page 3: Resumo da Política da...RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS 5 O terceiro canal é o risco que o vírus e a sua resposta representam aos esforços de longo prazo

• Priorizar a continuidade dos serviços centralizados na

criança, com especial foco na igualdade do acesso –

particularmente em relação à educação, programas de

nutrição, imunização e outros cuidados maternos e aos

recém-nascidos, e programas comunitários de protecção

infantil.

• Prestar apoio prático aos pais e cuidadores, incluindo

como falar sobre a pandemia com as crianças, como gerir a

sua própria saúde mental e a saúde mental dos seus filhos,

e ferramentas para ajudar a apoiar a educação dos seus

filhos.

Para cada uma das opções acima, devem ser criadas protecções

específicas para as crianças vulneráveis, incluindo refugiados,

deslocados, sem-abrigo, migrantes, minorias, habitantes de

bairros degradados, crianças com deficiência, crianças de rua, a

viver em assentamentos de refugiados e crianças em instituições.

Este é o momento de intensificar a solidariedade internacional

pelas crianças e pela humanidade — e de lançar as bases para

uma transformação mais profunda da maneira como nutrimos e

investimos na geração mais jovem do mundo.

O sistema das Nações Unidas – as nossas agências, fundos,

programas e entidades do Secretariado – estão a trabalhar em

todas as configurações e estão prontas para apoiar todos os

governos e sociedades.

Page 4: Resumo da Política da...RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS 5 O terceiro canal é o risco que o vírus e a sua resposta representam aos esforços de longo prazo

4 RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS

1. Os canais pelos quais a COVID-19 afecta as crianças

A pandemia da COVID-19 apresenta a maior prova que o mundo

enfrentou desde a Segunda Guerra Mundial e a criação das

Nações Unidas.

Para entender o impacto nas crianças a nível mundial, é útil

distinguir três canais pelos quais as suas vidas estão a ser

afectadas.

O primeiro canal é através da infecção pelo vírus.

Felizmente, as crianças foram amplamente poupadas das graves

reacções sintomáticas mais comuns entre os idosos — pelo menos

até à data. Já foram registados vários casos de hospitalizações e

mortes de crianças que sucumbiram ao vírus, mas estas são

excepções e provavelmente estão relacionadas a condições

anteriores. Mais comum são crianças que perdem tragicamente um

pai, um membro familiar ou um cuidador vítimas da COVID-19. Os

impactos psicossociais destas perdas nas crianças não devem ser

negligenciados.

O segundo canal é através dos efeitos socioeconómicos do vírus e

as medidas relacionadas para suprimir a transmissão e controlar a

pandemia.

À medida que os serviços sanitários ficam sobrecarregados ao

cuidar de um imenso número de pacientes infectados que

necessitam de tratamento, as crianças e as mulheres grávidas são

menos capazes de aceder ao tratamento padrão.1

Os filhos dos trabalhadores da linha de frente também tiveram

que se adaptar a estruturas alternativas de assistência à criança.

As crianças que vivem em áreas de conflito armado, que já

batalham extensivamente para aceder aos serviços sanitários,

podem ser ainda mais excluídas da atenção e acesso aos

sistemas de saúde extremamente sobrecarregados. As medidas

de distanciamento físico e confinamento, as restrições de

movimento e o encerramento das fronteiras e estratégias de

vigilância estão a afectar as crianças de formas infinitas. Os

serviços infantis presenciais – educação, programas de nutrição,

cuidados maternos e aos recém-nascidos, serviços de

imunização, serviços de saúde sexual e reprodutiva, tratamento

de HIV, estruturas alternativas de cuidados, programas

comunitários de protecção infantil, e gestão de casos para

crianças que necessitam de cuidados personalizados adicionais,

incluindo aquelas que vivem com deficiência e vítimas de abuso

– muitas vezes foram parcial ou completamente suspensos. O

impacto da pandemia estende-se muito além da esfera da saúde

física. Esta pandemia está a afectar profundamente o bem-estar

mental das crianças, o seu desenvolvimento social, segurança,

privacidade, segurança económica e muito mais, conforme

exploramos na secção a seguir. As crianças que vivem em

assentamentos de refugiados e as que vivem em assentamentos

de refugiados ou outras condições de aglomeração são

especialmente vulneráveis. Embora as crianças não sejam a

face dessa pandemia, os seus impactos mais vastos nas

crianças podem ser catastróficos e entre as consequências

mais duradouras para as sociedades como um todo.

1 Consultar: Resumo da política da ONU sobre o impacto da COVID-19 nas mulheres

Page 5: Resumo da Política da...RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS 5 O terceiro canal é o risco que o vírus e a sua resposta representam aos esforços de longo prazo

RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS 5

O terceiro canal é o risco que o vírus e a sua resposta representam

aos esforços de longo prazo para alcançar os Objectivos de

Desenvolvimento Sustentável e garantir a realização dos direitos

de todas as crianças.

Antes da ocorrência desta, vivíamos num mundo que não cuidava

adequadamente das crianças; onde uma criança com menos de 15

anos morre a cada cinco segundos; onde uma em cada cinco

crianças é malnutrida (atrofiada); mais da metade (53%) das

crianças de 10 anos de idade nos países de baixa e média renda

(até quatro em cada cinco crianças nos países pobres) não sabe

ler e entender histórias simples; e uma criança em cada quatro com

menos de 5 anos não foi registada ao nascimento. Quanto mais

longa for a crise actual, mais dramáticos serão os impactos sobre

estas crianças, enquanto as economias continuarem em

dificuldades e a despesa pública for limitada; mais provável o

aumento dos seus números. Em situações de conflito activo, a

pandemia ou a resposta à pandemia pode aumentar os factores de

incentivo e desincentivo para o recrutamento infantil, assim como

a exploração sexual e o rapto. O que começou como uma

emergência de saúde pública transformou-se numa prova

enorme para o desenvolvimento global e para as perspectivas

da geração jovem de hoje.

O impacto global da pandemia nas crianças reflecte os efeitos

combinados destes três canais, que é o foco da secção a seguir.

Page 6: Resumo da Política da...RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS 5 O terceiro canal é o risco que o vírus e a sua resposta representam aos esforços de longo prazo

6 RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS

2. Os impactos da COVID-19: dimensões

e escala

Assim como existem vários canais através dos quais a pandemia

está a afectar as crianças, existem também múltiplas dimensões

no seu impacto sobre os jovens. Os efeitos podem ser agrupados

em quatro partes: 1) risco de pobreza; 2) educação; 3)

sobrevivência e saúde; e 4) segurança.

Embora seja ainda prematuro quantificar a dimensão final destes

efeitos — e as decisões dos responsáveis políticos vão

desempenhar um papel crítico na determinação da sua escala —

é possível apresentar algumas estimativas iniciais e pontos de

referência.

1. Risco de pobreza

As medidas de distanciamento físico e de confinamento

necessárias para salvar vidas e para suprimir a transmissão do

vírus resultaram numa redução significativa da actividade

económica em todas as principais economias e na consequente

recessão global.

Falta ainda apurar a gravidade da recessão, mas os impactos

socioeconómicos foram detalhados [título do resumo da política

sobre o impacto socioeconómico]2. As estimativas do FMI3

avançam uma contracção da renda global em 3% em 2020, no

pressuposto que a pandemia retroceda no segundo semestre do

ano. Uma situação já grave poderia facilmente piorar se as saídas

de capital das economias emergentes e em desenvolvimento

desencadearem uma cascata de incumprimentos soberanos

desordenados.

Ao nível dos agregados familiares, o colapso da renda ameaça

os meios de subsistência de milhões de famílias com crianças

em todo o mundo. A introdução das previsões do cenário

optimista do FMI num modelo de pobreza do IFPRI4 aponta para

o aumento da pobreza extrema (PPP$1.90 / dia) para este ano

que afectará entre 84 a 132 milhões de pessoas,

aproximadamente metade das quais são crianças, em

comparação com um cenário contrafactual antes da pandemia.

Estas estimativas iniciais capturam apenas os efeitos de uma

desaceleração global nos agregados familiares pobres, e ignora

os efeitos localizados dos chefes de família que serão obrigados

a abrigar-se no local, ou a imigrar de volta para as suas

residências rurais, abandonando os seus meios de subsistência

normais. Os diários financeiros de 60 famílias de baixa renda no

bairro de Hrishipara, no centro de Bangladesh, capturam o

colapso repentino da renda diária quando foram introduzidas as

medidas de confinamento (consultar a Figura 1)5.

Historicamente, o encargo destes choques nas famílias tem sido

desproporcionalmente suportado pelas raparigas.

Estes choques de rendimento ao nível do agregado familiar,

mesmo que temporários, podem ter efeitos devastadores nas

crianças, especialmente aquelas que vivem em famílias pobres

com bens limitados.

2

2 Responsabilidade partilhada, solidariedade global: Relatório da ONU sobre a resposta aos impactos socioeconómicos da COVID-19 3 Perspectiva Económica Mundial 2020

4 IFPRI, 2020 5 Diários de Hrishipara, 2020

Page 7: Resumo da Política da...RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS 5 O terceiro canal é o risco que o vírus e a sua resposta representam aos esforços de longo prazo

RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS 7

Em muitos países, viu-se uma rápida expansão dos programas

de assistência social para compensar as famílias pela perda de

renda. A partir de 10 de Abril de 2020, 126 países tinham

introduzido ou adoptado medidas de protecção social, dos

quais 83 fornecem apoio explícito às crianças e suas

famílias6. No entanto, a cobertura às famílias afectadas e pela

perda de rendimentos está longe de estar completa. A duração

dos confinamentos actuais ainda são uma incerteza, assim como

a probabilidade da reintrodução de novos confinamentos em

resposta a futuros surtos da COVID-19.

2. Educação

O encerramento mundial das escolas não tem precedente

histórico. 188 países impuseram o encerramento a nível

nacional, afectando mais de 1,5 mil milhões de crianças e

jovens (consultar a Figura 2)7. Em contraste com surtos de

doenças anteriores, o encerramento das escolas foi imposto

preventivamente: em 27 países, foi realizado o encerramento

antes do registo de casos do vírus8. Com escolas em muitos

países a planearem confinamentos prolongados, pelo menos 58

países e territórios adiaram ou reagendaram os exames,

enquanto 11 países cancelaram completamente os exames9.

As potenciais perdas que poderão resultar na educação para a

geração jovem de hoje, e para o desenvolvimento do seu capital

humano, são difíceis de imaginar. De forma a minimizar estas

perdas, muitas escolas estão a oferecer o ensino à distância aos

seus alunos.

No entanto, esta opção está disponível apenas para alguns.

Enquanto mais de dois terços dos países introduziram uma

plataforma nacional de ensino à distância, apenas 30% dos

países de baixa renda o fizeram10. As raparigas têm menos

acesso à tecnologia digital que os rapazes, o que pode reduzir o

seu acesso e participação no ensino à distância11. As crianças

que vivem em assentamentos informais, acampamentos com

infra-estrutura limitada e sem acesso à internet são

particularmente afectadas. O confinamento e as restrições de

movimento podem ser incentivos para que as partes em conflito

ocupem, saquem ou destruam os estabelecimentos escolares e

os hospitais; enquanto as escolas vazias podem ser

seleccionadas para uso militar.

6 Gentilini et al., 2020 7 UNESCO, 2020 8 CGD, 2020

9 UNESCO, 2020 10 UNESCO, 2020 11 https://www.itu.int/en/ITU-D/Statistics/Documents/facts/FactsFigures2019.pdf

Média após o

Confinamento de 26 de Março

Média antes do confinamento

de 26 de Março

Renda líquida total combinada diária de 60 domicílios de baixos rendimentos, Bangladesh taka

FIGURA 1: DIÁRIOS DE HRISHIPARA

Page 8: Resumo da Política da...RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS 5 O terceiro canal é o risco que o vírus e a sua resposta representam aos esforços de longo prazo

8 RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS

FIGURA 2 – ENCERRAMENTO DAS ESCOLAS (FONTE: UNESCO)

Os limites e nomes exibidos e as designações usadas neste mapa não implicam endosso ou

aceitação oficial pelas Nações Unidas

As crianças com deficiência e necessidades especiais são

especialmente difíceis de serem atendidas através de programas à

distância. É de antecipar que a qualidade e a acessibilidade do

ensino à distância variem bastante entre os países e dentro de cada

país. Apenas 15 países estão a oferecer o ensino à distância em

mais de um idioma12.

Estas perdas serão maiores para as crianças que, accionadas

pela pandemia, abandonam completamente a escola. Esta

possibilidade torna-se maior quanto mais as escolas são

encerradas e quanto mais profunda a contracção económica

causada pela pandemia. A experiência com o HIV no Quénia

indica que as crianças que perdem um dos pais têm menos

probabilidades de voltar à escola13.

Em situações de conflito

persistente, as crianças que já não estão na escola podem ser

incentivadas a juntar-se às forças armadas ou grupos,

perpetuando o ciclo de violência.

3. Sobrevivência e saúde

O impacto directo da infecção por COVID-19 nas crianças tem

sido, até ao momento, muito mais ameno do que nas outras

faixas etárias. Dados preliminares dos casos observados na

China e nos EUA sugerem que as taxas de hospitalização das

crianças sintomáticas são entre 10 e 20 vezes mais baixas do

que na meia-idade, e 25 e 100 vezes menor que nos idosos14.

Dos pacientes hospitalizados, as crianças são as menos

propensas a necessitar de cuidados intensivos. A proporção de

crianças sintomáticas que perderam a vida devido ao vírus na

China foi estimada em 1 em 25.000, que é 30 vezes menor do

que na meia-idade e 3.000 vezes menor do que nos idosos. No

entanto, as deduções destes dados devem ser retiradas com

extrema cautela, dada a cobertura limitada dos conjuntos de

dados existentes, e os variados contextos nos quais a COVID-

19 se encontra actualmente.

12 CGD, 2020 13 Evans and Miguel, 2013

14 Verity et al., 2020; CDC, 2020; CDC, 2020. Consultar também Stoltenberg, 2020

Localizado Nacional Aberto

Page 9: Resumo da Política da...RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS 5 O terceiro canal é o risco que o vírus e a sua resposta representam aos esforços de longo prazo

RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS 9

O impacto epidemiológico do vírus pode variar ao longo do tempo

e em diferentes contextos.

Em contraste com o impacto directo da COVID-19, os efeitos

mais amplos da pandemia na saúde infantil são consideráveis. A

renda familiar reduzida vai forçar os agregados familiares mais

pobres a diminuir os gastos essenciais com a saúde e a

alimentação. Recorrendo novamente à previsão de crescimento

económico global do FMI e à relação histórica entre o

crescimento do PIB e a mortalidade infantil no mundo em

desenvolvimento15 , podem ocorrer centenas de milhares de

mortes infantis adicionais em 2020, em comparação com um

cenário contrafactual antes da pandemia. Isso efectivamente

retrocederia os últimos 2 a 3 anos de progresso na redução

da mortalidade infantil num único ano.

Estas estimativas focam apenas nos efeitos da recessão global

deste ano na saúde infantil e não incluem as várias maneiras

pelas quais os serviços sanitários estão a ser directamente

afectados pela pandemia. Isto inclui o acesso reduzido a

intervenções essenciais da saúde reprodutiva, materna, neonatal

e infantil, como seja o atendimento pré-natal, assistência

especializada ao nascimento e tratamento para a pneumonia.

Também inclui a suspensão de todas as campanhas de

vacinação contra a poliomielite a nível mundial, atrasando o

esforço de décadas para eliminar o vírus selvagem dos dois

últimos vestígios, Afeganistão e Paquistão, e combater os

recentes surtos do vírus derivado da vacina em África, Extremo

Oriente e Pacífico. Além disso, as campanhas de imunização

contra o sarampo foram suspensas em pelo menos 23

países que abrangeram cumulativamente mais de 78

milhões de crianças até os 9 anos de idade16. Enquanto isso,

as crianças e adolescentes com doenças crónicas, incluindo

aqueles que vivem com o HIV, correm o risco de acesso reduzido

a medicamentos e cuidados.

A nutrição infantil é uma preocupação fundamental. 368,5

milhões de crianças em 143 países que normalmente

dependem das refeições escolares como fonte fiável de

nutrição diária devem agora buscar outras fontes17.

Este desafio é aumentado pelo choque económico encarado

pelos agregados familiares, o que afecta negativamente a dieta

das crianças.

Este desafio é agravado pelo choque económico enfrentado

pelas famílias, o que afectará negativamente as dietas das

crianças, mulheres grávidas e mães lactantes. Além disso, as

medidas de confinamento implementadas precipitadamente

correm o risco de interromper as cadeias de abastecimento

alimentar e os mercados alimentares locais. Se estes efeitos não

forem resolvidos rapidamente, podem apresentar consequências

potencialmente graves para a segurança alimentar.

Se as escolas continuarem encerradas, o que pode originar o

abandono escolar por parte das raparigas, também se deve

antecipar um aumento na gravidez na adolescência no próximo

ano. Uma metaanálise recente da prevalência e dos

determinantes da gravidez na adolescência em África mostra que

as raparigas fora da escola têm duas vezes mais probabilidades

de começar a ter filhos do que aquelas que estão na escola18.

Os serviços de água, saneamento e higiene (WASH) também

correm o risco de serem interrompidos devido às medidas de

confinamento, colocando mais ameaças à saúde das crianças

por doenças associadas à água. Mais de 700 crianças com

menos de cinco anos morrem todos os dias de doenças

diarreicas relacionadas a serviços inadequados de WASH19 , e

este número pode aumentar bastante se os serviços existentes

entrarem em rotura. Isto é particularmente preocupante, dado o

papel fundamental da higiene na prevenção de infecções e no

controlo da disseminação da COVID-19.

Os efeitos das medidas de distanciamento físico e as restrições

de movimento sob a saúde mental das crianças representam

outro motivo de preocupação. Actualmente, as crianças

enfrentam ansiedade pelo impacto negativo da pandemia nas

suas vidas e comunidades e a incerteza em relação ao futuro:

quanto tempo durarão as circunstâncias excepcionais actuais e

como é que a pandemia será resolvida.

15 Baird et al., 2011 16 UNICEF, 2020 17 WFP, 2020

18 Kassa et al., 2018 19 data.unicef.org

Page 10: Resumo da Política da...RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS 5 O terceiro canal é o risco que o vírus e a sua resposta representam aos esforços de longo prazo

10 RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS

Para as crianças que sofrem de privações extremas, o stress

agudo pode afectar o seu desenvolvimento cognitivo e

causar problemas de saúde mental a longo prazo.

4. Segurança

Para a maioria das crianças, o lar representa uma fonte de

segurança e protecção. Mas para uma minoria, o oposto é

dramaticamente o caso. A violência por parte dos cuidadores

é a forma mais comum de violência sentida pelas crianças20.

As crianças também são frequentemente testemunhas da

violência doméstica contra as mulheres, acredita-se que as

taxas aumentaram em muitos países, conforme

pormenorizado no resumo da política sobre o impacto do

COVID-19 nas mulheres21. Estes actos de violência são mais

susceptíveis de ocorrer enquanto as famílias estão confinadas

em casa e sofrem momentos de stress intenso e de ansiedade.

60% de todas as crianças a nível mundial vivem em países

onde está actualmente instituído um confinamento total ou

parcial22.

Tragicamente os confinamentos também apresentam uma

oportunidade para os abusadores de menores infligirem danos

nas crianças. As crianças raramente estão em posição de

denunciar estes actos flagrantes. No entanto, num momento

de maior necessidade, as crianças não têm o mesmo acesso

aos professores para contar sobre os incidentes ocorridos em

casa, enquanto os serviços sociais e os serviços legais e de

protecção relacionados com as crianças estão a ser suspensos

ou reduzidos. A dependência das crianças nas plataformas

online para o ensino à distância também aumentou o risco da

sua exposição a conteúdos inapropriados e a predadores

online. A crescente digitalização aumenta a vulnerabilidade

das crianças ao perigo.

Tal como é provável que o efeito combinado do encerramento

das escolas e a angústia económica force algumas crianças a

abandonarem os estudos, pode-se prever a mesma

combinação para obrigar as crianças ao trabalho infantil, para

se tornarem crianças soldados e se casarem em países de alto

risco. As crianças sem cuidados parentais são particularmente

vulneráveis à exploração e a outras medidas negativas de

enfrentamento.

A implementação mal planeada ou executada das medidas de

contenção e mitigação apresenta riscos adicionais à segurança

das crianças e à violação dos seus direitos, particularmente

quando as medidas para cuidar dos mais vulneráveis também

não são adoptadas. Os confinamentos forçados, o recolher

obrigatório e as restrições de movimento levaram ao

encerramento repentino de campos de refugiados e

instituições residenciais, e à dispersão dos moradores de

bairros degradados, incluindo crianças. Os instrumentos de

vigilância mobilizados para aplicar as quarentenas e o

distanciamento social, e para permitir o rastreamento dos

contactos, demonstraram ser uma ferramenta poderosa no

controlo da propagação do vírus em certos países, mas,

ocasionalmente, violaram os direitos das crianças à

privacidade. Isso inclui a partilha pública de informações

pessoais das crianças infectadas, ou informações suficientes

para a sua identificação pessoal. Estas abordagens correm o

risco de anular protecções e direitos legais que podem ser

difíceis de recuperar.

20 UNICEF, 2017 21 Resumo da política da ONU sobre o impacto da COVID-19 nas mulheres

22 Para dados sobre países com confinamento total ou parcial, consulte acaps.org; para dados sobre a população infantil, favor consultar population.un.org

Page 11: Resumo da Política da...RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS 5 O terceiro canal é o risco que o vírus e a sua resposta representam aos esforços de longo prazo

RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS 11

3. O impacto díspar da COVID-19

O impacto da COVID-19 na pobreza, sobrevivência e saúde,

educação e segurança das crianças é de longo alcance. No

entanto, os seus efeitos não serão distribuídos de forma

idêntica. Algumas crianças estão destinadas a suportar com os

maiores custos na ausência de acções de mitigação. Da mesma

forma, o momento e a duração dos efeitos da pandemia são um

factor crítico para avaliar qual a influência que os mesmos terão

sobre a trajectória da vida das crianças.

Efeitos distributivos

Numa época qualificada pela sua extrema desigualdade, a

pandemia da COVID-19 é um evento fundamentalmente desigual.

Prevê-se que os seus efeitos sejam mais prejudiciais para as

crianças nos países mais pobres, nas famílias mais pobres dos

países e nas raparigas dos agregados familiares mais pobres.

Isso representa um desafio colossal ao princípio subjacente aos

Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, i.e.; não deixar

ninguém para trás.

Os países de baixa renda e os países onde são travados conflitos

são menos capazes de resistir aos efeitos de uma recessão global

e paralisações localizadas, dada a grande parcela da actividade

produtiva que ocorre no sector informal e os sistemas de

protecção social mais fracos. Estes mesmos países não têm infra-

estrutura para implementar soluções sofisticadas de ensino à

distância, têm sistemas de saúde mais fracos, uma força de

trabalho menor no seu serviço social, instalações de WASH

menos acessíveis e estão mais longe da imunização universal. As

Os agregados familiares pobres têm fontes de rendimento menos

seguras e menos bens, menos acesso aos cuidados de saúde e

mais comorbidades, e menos ferramentas para se conectarem ao

ensino à distância, ou seja, uma televisão, um rádio ou um

dispositivo online, e são mais propensos a tirar as crianças das

escolas.

As crianças mais pobres do mundo já enfrentam uma existência

precária e os efeitos desproporcionais da pandemia nas suas

vidas representam uma ameaça genuína à sua sobrevivência e

desenvolvimento. Como tal, é extremamente importante que as

estratégias de distanciamento físico e confinamento sejam

adaptadas aos ambientes de baixa renda para evitar privar as

famílias pobres de serem capazes de sustentar os seus meios

de subsistência ou compensá-las pelas suas perdas, e garantir

os mercados alimentares dos quais estas famílias e seus filhos

dependem.

Crianças vulneráveis

Além das crianças pobres, existem outras populações infantis

vulneráveis para as quais os efeitos do risco da pandemia são

particularmente graves e cuja protecção merece atenção

especial23.

23 UNICEF, 2017

Page 12: Resumo da Política da...RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS 5 O terceiro canal é o risco que o vírus e a sua resposta representam aos esforços de longo prazo

12 RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS

Mil milhões de pessoas em todo o mundo vivem em bairros da lata,

assentamentos informais e habitações inadequadas24. As medidas

padrões de distanciamento físico e de confinamento correm o risco

de acelerar a propagação da pandemia entre estas populações, que

muitas vezes não têm água canalizada nem instalações para lavar

as mãos em casa, e dependem de instalações sanitárias comuns.

Estas mesmas medidas correm o risco de destruir os meios de

subsistência destas pessoas, com efeitos graves para os seus

filhos. A aplicação das restrições de movimento e as medidas de

distanciamento físico pode servir como uma cobertura para a

discriminação e a violência contra estas e outras crianças

vulneráveis.

Dos 13 milhões de crianças refugiadas do mundo, as que

residem em campos ou assentamentos lotados enfrentam

desafios semelhantes. Estas crianças, juntamente com um

milhão de crianças em busca de asilo e 17 milhões de crianças

deslocadas internamente em todo o mundo, estão entre

aquelas com maior probabilidade de serem excluídas da

protecção social e de serem afectadas negativamente devido

às restrições de movimento que podem evitar que venham a

obter uma situação mais segura.

As crianças com deficiência estão entre as que mais dependem

dos serviços presenciais — incluindo a saúde, a educação e a

protecção - que foram suspensas como parte das medidas de

distanciamento social e de confinamento. É menos provável que

estas crianças venham a beneficiar das soluções do ensino à

distância.

As crianças que vivem em instituições e que estão detidas –

incluindo crianças migrantes – enfrentam outro tipo diferente de

vulnerabilidade. O seu cuidado contínuo é facilmente colocado em

risco em circunstâncias de crise.

As crianças que vivem em locais de conflito activo também

necessitam de apoio urgente. A autoridade contestada nestes

ambientes coloca desafios evidentes para a instituição de medidas

para controlar e mitigar a propagação do vírus. As medidas de

confinamento arriscam a aprisionar as crianças em situações

inseguras.

24 https://unstats.un.org/sdgs/report/2019/goal-11/

Efeitos a longo prazo

O impacto final da crise nas crianças depende do tempo

que levará para por fim a esta pandemia. Uma batalha

mais longa para conter o vírus não apenas prolonga a dor

causada pela pandemia, mas também eleva a perspectiva

de que o impacto da pandemia terá efeitos prolongados

ou persistentes nas crianças.

Por exemplo, quanto mais as economias estão

paralisadas, menor a probabilidade de “recuperarem”. Ao

nível do agregado familiar, as famílias em dificuldades

verão cada vez mais os chefes de família perderem os

seus empregos ou serão forçadas a vender activos

produtivos para sobreviver, com as consequências

duradouras para a pobreza infantil. O mesmo se aplica

para os outros impactos da pandemia. Quanto mais tempo

as escolas permanecerem encerradas, menor a

probabilidade de as crianças porem a educação em dia e

as habilidades essenciais da vida que apoiam uma

transição saudável para a idade adulta. Quanto mais

tempo as campanhas de imunização estiverem suspensas,

maior e mais dispendiosa será a luta para eliminar a

poliomielite e gerir os surtos do sarampo.

Para as crianças apanhadas no auge desta crise, existe uma

verdadeira possibilidade de que os efeitos da crise irão alterar

permanentemente as suas vidas. As crianças que sofrem de

grave carência alimentar, protecção ou estímulo, ou períodos

de exposição prolongada ao stress tóxico, durante o momento

fundamental do desenvolvimento na primeira infância,

provavelmente vão desenvolver desafios ao longo da vida visto

que o seu desenvolvimento neurológico será prejudicado. As

crianças que abandonam a escola vão enfrentar não apenas

um risco maior de casamento infantil, trabalho infantil e

gravidez na adolescência, mas verão uma redução precipitada

no potencial dos seus ganhos ao longo da vida. As crianças

que sofrem desintegração familiar durante este período de

stress aumentado correm o risco de perder a sensação de

apoio e segurança da qual depende o bem-estar das crianças.

Page 13: Resumo da Política da...RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS 5 O terceiro canal é o risco que o vírus e a sua resposta representam aos esforços de longo prazo

RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS 13

CAIXA DE TEXTO: O IMPACTO DA EPIDEMIA DA ÉBOLA NAS CRIANÇAS

Embora as características epidemiológicas da Ébola e d a COVID-19 variem significativamente, as medidas de contenção e

mitigação implantadas para conter a sua disseminação são muito idênticas. Consequentemente, a epidemia da Ébola fornece

evidências convincentes e recentes dos impactos socioeconómicos que ocorrem em ambientes de baixa renda durante uma

emergência de saúde pública.

> Regresso à escola: nas aldeias fortemente

afectadas da Serra Leoa, as taxas de matrícula

escolar para a raparigas entre os 12 e 17 anos

reduziram de 50 para 34%25.

> Acesso à saúde: o número de partos hospitalares e

cesarianas na Serra Leoa diminuiu em mais de 20%

durante o surto. Isto ocorreu em grande parte

devido ao encerramento dos hospitais privados e

sem fins lucrativos. O número da quarta consulta

para cuidados pré-natais das mulheres reduziu em

27%26.

> Imunização: a proporção de crianças liberianas

menores de 1 ano que foram totalmente imunizadas

reduziu de 73%, antes da epidemia, para 36%

durante a epidemia e recuperou apenas

parcialmente para 53% até ao final de 2015. Os

casos de sarampo nas crianças liberianas com

menos de 5 anos aumentaram, provavelmente

devido ao lapso nos programas de vacinação.

O número médio de casos mensais de sarampo

aumentou de 12 antes da epidemia para 60

imediatamente a seguir a epidemia27.

> Saúde infantil: num estudo realizado em 45

unidades sanitárias públicas na Guiné, o número de

crianças menores de 5 anos atendidas devido a

infecções respiratórias agudas caiu em 58% nos

hospitais e 23% nos centros de saúde entre

Novembro 2013 e Novembro 2014.

No mesmo período, o número de crianças atendidas por

problemas de diarreia caiu em 60% nos hospitais e 25%

nos centros de saúde28.

> Nutrição infantil: num distrito afectado pelo ébola na

Serra Leoa, o número de crianças diagnosticadas com

desnutrição aguda grave aumentou de 1,5% antes do

surto para 3,5% após o surto29.

> > Gravidez na adolescência: na Serra Leoa, a

probabilidade de gravidez para as raparigas entre os 12

e os 17 anos foi 11% maior nas aldeias fortemente

afectadas pela Ébola do que nas aldeias levemente

afectadas. Isso foi impulsionado por gravidezes fora do

casamento30.

> Violência sexual: 55% das crianças nos grupos focais

disseram que pensavam que a violência contra as

crianças na sua comunidade havia aumentado durante

ou após a epidemia31.

> Registo de nascimentos: Estima-se que 70.000 dos

nascimentos não foram registados na Libéria devido ao

surto; somente 700 crianças nascidas foram registadas

entre Janeiro e Maio de 201532.

> Perda de cuidador: pelo menos 16.600 crianças

perderam um dos pais ou cuidador, enquanto 3.600

perderam ambos os pais33.

25 Bandiera et al., 2018 26 Ribacke et al., 2016; UNICEF, 2014 27 Wesseh et al., 2017 28 Barden-O’Fallon et al., 2015 29 Kamara et al., 2017

30 Bandiera et al., 2018 31 Risso-Gill and Finnegan, 2015 32 UNICEF, 2015 33 UNICEF, 2015

Page 14: Resumo da Política da...RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS 5 O terceiro canal é o risco que o vírus e a sua resposta representam aos esforços de longo prazo

14 RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS

4. Fazer todo o possível para minimizar os riscos e impactos – Informação, solidariedade e acção

A pandemia da COVID-19 é potencialmente dramática para muitas

crianças em todo o mundo. O seu impacto corre o risco de arrasar

o progresso global de vários dos Objectivos de Desenvolvimento

Sustentável para as crianças, colocando as metas, já ambiciosas,

fora de alcance. Simplificando, não se pode permitir que isto

aconteça.

Evitar este resultado exige o progresso em três frentes.

1. Mais informações: Uma resposta optimizada à COVID-19,

contrabalançando os vários riscos para salvar mais vidas, só pode

ser feita se os nossos modelos forem alargados para capturar as

diferentes dimensões da pandemia, incluindo aqueles que afectam

as crianças. É necessária uma rápida acumulação de dados sobre

a escala e a natureza dos impactos entre as crianças — incluindo

especificamente as raparigas, famílias e comunidades. É

necessário dominar as incógnitas.

2. Mais solidariedade: A pandemia da COVID-19 é um teste à

nossa solidariedade: nas comunidades locais, na comunidade da

pesquisa científica e na comunidade das nações. As crianças

oferecem uma causa comum que pode nutrir um maior senso de

unidade entre as pessoas. Além disso, os adolescentes têm um

papel forte a desempenhar para gerar este espírito, como muitos

já demonstram em todo o mundo — seja oferecendo

voluntariamente a sua ajuda nas comunidades ou a combater o

estigma, a xenofobia e a discriminação online.

A solidariedade também é necessária nas situações de conflito

activo em que responder à chamada global de cessar-fogo do

Secretário-Geral apenas permitirá ao mundo concentrar-se na

verdadeira luta - contra a COVID-19.

3. Mais acção: Os governos em todo o mundo estão a

adoptar acções abrangentes para conter e mitigar a pandemia.

Com base nas melhores práticas já adoptadas por vários

governos, estas acções devem ser adaptadas para reflectir o

contexto local, e devem ser acompanhadas de etapas

adicionais para combater os efeitos indesejados nas crianças,

para garantir o bem-estar das crianças durante a pandemia e

após a conclusão da mesma.

Neste contexto, os governos e os parceiros devem considerar

as seguintes medidas para ajudar a minimizar os efeitos

negativos desta crise nas crianças:

> A implantação imediata ou expansão da assistência

social para as famílias, de preferência através do uso de

subsídios universais para as crianças, que oferecem uma

ferramenta simples e comprovada para proteger as crianças da

pobreza extrema.

> A fixação urgente de cadeias de abastecimento

alimentar e mercados alimentares locais, para proteger as

crianças de uma crise de segurança alimentar.

Page 15: Resumo da Política da...RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS 5 O terceiro canal é o risco que o vírus e a sua resposta representam aos esforços de longo prazo

RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS 15

> Adaptação urgente de estratégias padrão de

distanciamento físico e confinamento em ambientes de baixa

renda, particularmente em zonas urbanas, assentamentos de

refugiados e locais afectados por conflitos activos, que, de outro

modo, agravará os impactos negativos da pandemia nas crianças.

Embora a adaptação perfeita dependa de cada cenário, um

princípio orientador é a harmonização das intervenções —

testagem, distanciamento físico, rastreamento dos contactos,

higiene pública, restrições de movimento — para reflectir as

características, capacidades e recursos de cada ambiente.

> Priorizar a prossecução dos serviços centrados na

criança, com foco especial na equidade do acesso. Estes

serviços incluem a educação, programas de nutrição, cuidados

maternos e a recém-nascidos, serviços de imunização, serviços de

saúde sexual e reprodutiva, tratamento do HIV, saúde mental e

serviços psicossociais, registo de nascimentos, programas

comunitários de protecção infantil, e gestão dos casos para

crianças que necessitam de atendimento personalizado

complementar, incluindo as pessoas a viver com deficiência e

vítimas de abuso. Manter a continuidade dos serviços durante uma

pandemia, particularmente nos países que já enfrentam uma crise

humanitária, vai exigir que os decisores utilizem este momento

para:

• Proteger as crianças da violência, abuso ou exploração e

classificar os principais serviços de protecção à criança como

essenciais;

• Transformar as abordagens de prestação de serviços que

são actualmente insuficientes, incluindo aquelas para os

habitantes dos bairros degradados e para as crianças em

movimento;

• Fazer investimentos inovadores no acesso à banda larga e

bens públicos digitais que apoiam o ensino, juntamente com

investimentos complementares na literacia digital e regulamentos

que garantem a privacidade das crianças, protecção de dados e

segurança online enquanto também se toma medidas mais

dinâmicas para se proteger as crianças da exploração e abuso

sexual infantil online, assim como outros danos online;

• Criar sistemas de prestação de serviços resilientes e

adaptáveis, capazes de suportar melhor a próxima crise; e

• Aprender, trabalhando em parceria com iniciativas como

a COVID-19 Global Education Coalition, que está a apoiar os

governos a melhorar e a ampliar a educação equitativa durante

o encerramento das escolas.

> Implantação de protecções específicas para as

crianças vulneráveis, incluindo migrantes, deslocados,

refugiados, minorias, habitantes de bairros degradados,

crianças a viver com deficiência, crianças a viver em

assentamentos de refugiados e crianças em instituições. Isto

deve incluir a proibição de apreensão ou detenção de crianças

pela violação das directrizes relacionadas com a COVID-19;

garantindo que qualquer criança que for presa ou detida é

imediatamente devolvida à sua família; e libertando crianças

detidas, sempre que possível.

> Prestar apoio prático aos pais e cuidadores, incluindo

como falar sobre a pandemia com as crianças, como gerir a

própria saúde mental e a saúde mental dos seus filhos, além

de ferramentas para ajudar a apoiar a educação dos seus

filhos.

> Priorizar o restabelecimento dos serviços para as

crianças conforme as medidas de confinamento reduzem.

> Garantir que as crianças, adolescentes e jovens

tenham acesso aos testes, tratamento e vacinas da COVID-

19 conforme e quando estiverem disponíveis.

Page 16: Resumo da Política da...RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS 5 O terceiro canal é o risco que o vírus e a sua resposta representam aos esforços de longo prazo

16 RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS

Apoio nas políticas e orientação normativa sobre todos os aspectos da resposta à pandemia

Concepção de programas para manter os serviços centrados na criança e para mitigar os impactos negativos

do vírus, e medidas de contenção e mitigação nas crianças

Advocacia e informação pública para educar decisores e cidadãos sobre a realização dos direitos e bem-estar

da criança durante a pandemia

Monitoria da situação das crianças e dos serviços dos quais elas dependem, com particular atenção para as

crianças mais vulneráveis

Fornecimento global de produtos essenciais para as crianças, tanto relacionados com a COVID-19 como além disso

Os limites e nomes exibidos e as designações usadas neste mapa não implicam endosso ou aceitação

oficial pelas Nações Unidas

Download data

UNICEF Monitoria Rápida da Situação para os Impactos Socioeconómicos da COVID-19 e ACAPS

Desconhecido

Page 17: Resumo da Política da...RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS 5 O terceiro canal é o risco que o vírus e a sua resposta representam aos esforços de longo prazo

RESUMO DA POLÍTICA: IMPACTO DA COVID-19 NAS CRIANÇAS 17

Conclusão

Esta é uma crise sem precedentes e apresenta riscos sem precedentes para os direitos, segurança e desenvolvimento das crianças

em todo o mundo. Estes riscos só podem ser mitigados através de uma solidariedade internacional sem precedentes para as crianças

e para a humanidade.

Temos de trabalhar juntos para progredir nestas três frentes - informação, solidariedade e acção. Temos a oportunidade de não só

derrotar esta pandemia, mas de transformar a maneira como nutrimos e investimos na geração jovem. Mas temos de agir de imediato,

temos de agir decisivamente, e em grande escala. Esta não é uma questão gradual, é um forte apelo para as crianças do mundo, o

futuro do mundo.