274
Promotor de Justiça Estadual (Grupo de Estudo) https://www.facebook.com/groups/376254489177552/ [email protected] Resumo da Obra INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS ESQUEMATIZADO (edições 2011 e 2013) Alberto Tenório - Pág. 1 a 83 1. FUNDAMENTOS DE DIREITO COLETIVO 1.1 - EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITO HUMANOS Historicamente, à medida que a sociedade evolui, traz consigo novos tipos de conflitos de interesses. Para sua pacificação, faz-se necessária a atuação do direito em duas frentes: (i) na primeira delas, o direito material é reordenado, com o reconhecimento, pelas normas jurídicas (direito objetivo), de novos direitos subjetivos; (ii) na segunda, ferramentas de direito processual são aperfeiçoadas para introduzir mecanismos mais eficientes para a resolução das novas modalidades de conflitos, garantindo o respeito aos novos direitos reconhecidos. 1.1.1 – Direitos Humanos de primeira geração (ou de primeira dimensão) Inaugurou-se, à época, um novo modelo de relação cidadão x Estado, invertendo-se a concepção tradicional, segundo a

Resumo de Interesses Difusos e Coletivos Esquematizado (Grupo Do Face)

Embed Size (px)

DESCRIPTION

olgjfuf

Citation preview

Promotor de Justia Estadual (Grupo de Estudo)

https://www.facebook.com/groups/376254489177552/

[email protected]

Resumo da Obra

INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS ESQUEMATIZADO (edies 2011 e 2013)

Alberto Tenrio - Pg. 1 a 83

1. FUNDAMENTOS DE DIREITO COLETIVO

1.1 - EVOLUO HISTRICA DOS DIREITO HUMANOS

Historicamente, medida que a sociedade evolui, traz consigo novos tipos de conflitos de interesses. Para sua pacificao, faz-se necessria a atuao do direito em duas frentes: (i) na primeira delas, o direito material reordenado, com o reconhecimento, pelas normas jurdicas (direito objetivo), de novos direitos subjetivos; (ii) na segunda, ferramentas de direito processual so aperfeioadas para introduzir mecanismos mais eficientes para a resoluo das novas modalidades de conflitos, garantindo o respeito aos novos direitos reconhecidos.

1.1.1 Direitos Humanos de primeira gerao (ou de primeira dimenso)

Inaugurou-se, poca, um novo modelo de relao cidado x Estado, invertendo-se a concepo tradicional, segundo a qual a liberdade individual era mera concesso do Poder Estatal, para declarar-se que era esse poder que derivava da vontade dos componentes da nao, e que todos os homens, independentemente de sua nacionalidade, nasciam livres e iguais em direitos.

O reconhecimento de direitos individuais civis (liberdade, propriedade, segurana etc.) e polticos foi paradigma do Estado Liberal (voltado para assegurar um mnimo intransponvel de liberdade do indivduo em face do Estado) e continua a inspirar inmeras constituies. A fase que a se iniciou consagrou os direitos de liberdade, que ficaram conhecidos como liberdades clssicas, formais ou pblicas negativas (pois implicavam prestaes negativas do Estado em relao ao individuo, ou seja, limitaes da interveno estatal), tambm sendo denominados direitos humanos de primeira gerao.

1.1.2 Direitos Humanos de segunda gerao (ou de segunda dimenso)

A partir de meados do sculo XX, observou-se que o modelo jurdico criado para sustentar a nova realidade poltico-econmica, produzida pela conjugao dos ideais da Revoluo Francesa em meio ao contexto da Revoluo Industrial, era insuficiente para a pacificao dos conflitos sociais.

Os mais fracos, para se fazerem ouvir perante o Estado, perceberam que somente agrupados e organizados conseguiriam contrapor-se ao poder poltico e econmico dos industriais. Isso motivou a ecloso de corpos intermedirios, que consistiam em grupos, classes ou categorias de pessoas, que se organizaram para lutar pelo reconhecimento dos interesses que tinham em comum. O exemplo mais tpico o do movimento sindical.

Como resposta aos clamores desses corpos intermedirios, os Estados foram sendo gradualmente forados a reconhecer direitos econmicos, culturais e sociais (direitos proteo contra o desemprego e condies mnimas de trabalho, direito educao bsica, direito assistncia na invalidez e na velhice etc.), que ficaram conhecidos como direitos de igualdade ou liberdades reais, concretas, materiais (por visarem reduo das desigualdades materiais que ento se disseminavam), ou pblicas positivas (pois implicavam prestaes positivas do Estado para reduo das desigualdades).

1.1.3 Direitos de Terceira gerao (ou de terceira dimenso)

Aps o terror de duas guerras mundiais e do holocausto, a paz entrou na pauta das discusses internacionais. Na mesma poca, o incremento da industrializao trouxe a reboque a poluio sem fronteiras. Por outro lado, tornou-se inaceitvel o abismo econmico que tornava cada vez mais distantes os pases desenvolvidos dos no desenvolvidos.

O direito paz, ao desenvolvimento (no apenas dos pases, mas de cada indivduo), e a um meio ambiente hgido no poderia ser concretizado seno por meio da cooperao entre as naes, ou seja, por meio do entendimento entre os povos, e, at mesmo, por meio da solidariedade entre as presentes e as futuras geraes de seres vivos. Por tal razo, os direitos surgidos nessa fase ficaram conhecidos como direitos de fraternidade ou de solidariedade, e compem os direitos humanos de terceira gerao.

1.1.4 Direitos de Quarta gerao (ou de quarta dimenso)

No h consenso quanto s espcies que comporiam uma quarta gerao (dimenso) de direitos humanos. Bobbio, por exemplo, aponta ser ela composta pelo direito integridade do patrimnio gentico perante as ameaas do desenvolvimento da biotecnologia. Bonavides, por sua vez, entende ser, principalmente, o direito democracia, somado aos direitos informao e ao pluralismo.

1.1.5 Direitos de quinta gerao (ou de quinta dimenso)

Bonavides defende que o direito paz deveria ser deslocado da terceira para uma quinta gerao (dimenso) de direitos humanos. Para o autor, sua classificao tradicional entre os direitos de terceira gerao o relega ao esquecimento. Em sua opinio, a paz, pela importncia cada vez mais proeminente que vem assumindo nos ltimos anos, deveria ter seu valor reconhecido nas constituies de todos os povos, como fez o Brasil.

1.2 - SURGIMENTO E EVOLUO DO DIREITO COLETIVO

Os direitos humanos de segunda e terceira geraes caracterizavam-se por possurem uma dimenso coletiva, ou seja, por consagrarem interesses de grupos, classes ou categorias de pessoas, quando no de toda a humanidade, diferenciando-se dos direitos tipicamente individuais, reconhecidos no interesse da autonomia privada (disciplinados, p. Ex., no direito civil e no direito comercial), bem como dos direitos tipicamente pblicos (regrados, p. Ex., no direito administrativo e no direito penal).

Aqui so necessrios parnteses. Parte da doutrina, com destaque para o jurista e para o membro do Ministrio Pblico de Minas Gerais, Gregrio Assagra de Almeida, divide o direito processual coletivo em dois ramos: Direito processual coletivo comum e direito processual coletivo especial. O primeiro tem por objeto material a tutela de direitos coletivos (difusos, coletivos em sentido estrito ou individuais homogneos) lesados ou ameaados de leso, ou seja, a resoluo de um ou vrios conflitos coletivos surgidos no plano da concretude. O segundo, o controle abstrato de constitucionalidade das normas jurdicas, ou seja, a tutela de um interesse coletivo objetivo legitimo. As normas do primeiro regem, p. Ex., as aes civis pblicas, as aes populares e os mandados de segurana coletivos. As do segundo disciplinam, entre outras, as aes diretas de inconstitucionalidade por ao ou omisso, as declaratrias de constitucionalidade e as arguies de descumprimento de preceito fundamental.

1.2.1 Antecedentes remotos do processo coletivo

Antes do advento do contexto socioeconmico ps-revoluo industrial, que abriu caminho para o reconhecimento de direitos materiais de dimenso coletiva e do processo coletivo na forma como atualmente o conhecemos, possvel identificar, na histria mundial mais remota, alguns instrumentos destinados tutela de interesses coletivos. So eles:

Aes Populares do direito romano

Bill of peace ingls, que consistia numa autorizao, a pedido do autor da ao individual, para que ela passasse a ser processada coletivamente, ou seja, para que o provimento beneficiasse os direitos de todos os que estivessem envolvidos no litgio, tratando a questo de maneira uniforme, e evitando a multiplicao de processos.

1.3- DEFINIES E TERMINOLOGIA

1.3.1 Interesse e Direito Subjetivo

Interesse qualquer pretenso em geral, o desejo de obter determinado valor ou bem da vida, de satisfazer uma necessidade. O interesse de algum pode encontrar, ou no, respaldo no ordenamento jurdico.

Direito subjetivo, por sua vez, segundo Reale, A possibilidade de exigir-se de maneira garantida, aquilo que as normas de direito atribuem a algum como prprio. , portanto, a posio jurdica que o ordenamento jurdico assegura a uma pessoa, um grupo de pessoas ou a ente, em relao a um determinado bem e/ou pessoas.

1.3.2 Por que a CF/88 e o CDC referem-se defesa tanto de interesses como direitos?

Sem embargo, a doutrina mais conservadora, ainda movida pelos valores individualistas herdados dos ideais liberais, somente reconhece como direitos subjetivos passiveis de tutela jurisdicional, aqueles cujos titulares sejam perfeitamente individualizveis (requisito de difcil ou impossvel consecuo no que toca aos interesses de dimenso coletiva).

Por conta dessa divergncia, e visando evitar questionamentos sobre a possibilidade de defesa judicial desses novos direitos (ou interesses, na voz da opinio conservadora), a Constituio de 1988 e o Cdigo de Defesa do Consumidor empregaram ambos os termos direitos e interesses -, deixando clara a possibilidade de tutela judicial tanto de uns, quanto de outros.

1.3.3 Interesse Pblico x Interesse privado

A expresso interesse pblico admite mais de uma acepo. Vejamos cada uma delas.

a) Num primeiro significado temos o interesse pblico propriamente dito, ou interesse pblico primrio, que normalmente definido como sendo o interesse geral da sociedade, o bem comum da coletividade. Nessa acepo, o interesse pblico sinnimo de interesse geral e de interesse social.

Bandeira de Melo conceitua essa dimenso de interesse pblico como o interesse resultante do conjunto dos interesses que os indivduos pessoalmente tm quando considerados em sua qualidade de membros da sociedade e pelo simples fato de o serem.

b) Numa segunda acepo, observa-se que o Estado, na prtica, atua por meio de pessoas jurdicas. Esse interesse concretamente manifestado pelo Estado-Administrao, como pessoa jurdica, denominado interesse pblico secundrio (a classificao do interesse pblico em primrio ou secundrio tornou-se clebre a partir dos estudos do italiano Renato Alessi).

c) Sob outro enfoque, tambm se denomina interesse pblico aquele que limita a disponibilidade de certos interesses que, de forma direta, dizem respeito a particulares, mas que, indiretamente, interessa sociedade proteger, de modo que o direito objetivo acaba por restringir, como, por exemplo, em diversas normas de proteo dos incapazes. Nessa acepo, o interesse pblico afigura-se como o interesse indisponvel.

J o interesse privado aquele buscado por uma pessoa fsica ou um ente privado (aqui, afasta-se do interesse pblico secundrio) para a satisfao de necessidade exclusivamente particular (aqui se ope ao interesse pblico primrio), e cujo objeto pode ser livremente disposto por seu titular (aqui se contrape ao interesse pblico como interesse indisponvel).

1.3.4 Direito Pblico x Direito Privado

A partio do direito objetivo em direito pblico e direito privado herana do Direito romano. So consideradas de Direito pblico as regras que disciplinam relaes entre o Estado e particulares em que predomine o interesse pblico, e de Direito privado todas as outras, entre particulares ou mesmo entre o Estado e particulares, desde que predomina o interesse privado.

1.3.5 Interesse transindividual: objeto do direito coletivo

Tais direito/interesses, de dimenso coletiva, foram sendo consagrados, sobretudo, a partir da segunda (direitos sociais, trabalhistas, econmicos, culturais) e da terceira (direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado etc.) dimenses de direitos humanos, e podem ser denominados como transindividuais, supraindividuais, metaindividuais (ou, simplismente, coletivos em sentido amplo, coletivos lato sensu, coletivos em sentido lato), por pertencerem a grupos, classes ou categorias mais ou menos extensas de pessoas, por vezes indeterminveis (como a coletividade), e por no serem passveis de apropriao e disposio individuais.

1.3.6 Interesse Difusos, coletivos e individuais homogneos

Direitos ou Interesses DifusosDireitos Coletivos Latu SensuDireitos ou Interesses Coletivos Latu Sensu

Direito ou Interesses Coletivos stritu sensu

1.3.6.1 - Interesse Difuso

Nos termos do art. 81, pargrafo nico, I do CPC, so interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste cdigo, os transindividuais, de natureza indivisvel, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstncias de fato.

Os direitos difusos pertencem, a um s tempo, a cada um e a todos que esto numa mesma situao de fato. Por tal razo, Abelha critica o legislador que os qualificou como transindividuais atributo supostamente incompatvel com o componente individual da titularidade do direito, pois pressupe a transcendncia do individual preferindo denomin-los plurindividuais.

O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado exemplo clssico de direito difuso. um direito que assiste a cada ser humano segundo convenes e declaraes internacionais, sem que, porm, o individuo possa dele dispor como bem entenda, como se fosse um direito subjetivo individual.

Conceito: Os interesses ou direitos difusos, por tudo o que se explicou, so os interesses ou direitos objetivamente indivisveis, cujos titulares so pessoas indeterminadas e indeterminveis, ligadas entre si por circunstncias de fato.

Analisemos as caractersticas identificadoras dos direitos difusos.

(a) Indivisibilidade do objeto(b) Situao de fato em comum(c) Indeterminabilidade dos titulares

Indivisibilidade do objeto

Isso significa que a ameaa ou leso ao direito de um de seus titulares configura igual ofensa ao direito de todos os demais titulares, e o afastamento da ameaa ou a reparao do dano causado a um dos titulares beneficia igualmente e a um s tempo todos os demais titulares.

A indivisibilidade do objeto confere coisa julgada em aes coletivas sobre direitos difusos efeitos erga omnes: a sentena que versar sobre tais direitos emanar sua eficcia para alm das partes do processo, beneficiando a todos os que, mesmo no tendo composto um dos polos processuais, tiverem ameaado ou lesado o direito versado em juzo.

Situao de fato em comum

Portanto, o que caracteriza, sob esse aspecto, um direito difuso, que todos os seus titulares so titulares exatamente por estarem numa determinada situao ftica homognea. Ao contrrio do que ocorre nos direito coletivos, para cuja defesa coletiva se exige que os titulares do direito atacado estejam ligados por um vinculo jurdico entre si ou com a parte contrria, na defesa dos direitos difusos, o liame ftico, no jurdico. Basta que as pessoas se encontrem na situao prevista na norma de direito material que positivou o direito.

Indeterminabilidade dos titulares

Enfim, outro atributo dessa categoria jurdica que seus titulares so indeterminados e indeterminveis.

1.3.6.2 Interesses Coletivos stricto sensu

Segundo o art. 81, pargrafo nico, II, do CDC, trata-se dos transindividuais, de natureza indivisvel de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrria por uma relao jurdica base.

Conceito: Entende-se como interesses ou direitos coletivos stricto sensu os interesses ou direitos objetivamente indivisveis, de que seja titular grupo, classe ou categoria de pessoas, ligadas entre si ou com a parte contrria por um vinculo jurdico base e, por tal razo, determinveis.

Vejamos seus atributos:

(a) Indivisibilidade do objeto(b) Relao Jurdica em comum (relao jurdica base)(c) Determinabilidade dos titulares

Indivisibilidade do objeto

Tal como nos direitos difusos, os coletivos se notabilizam pela indivisibilidade de seu objeto. Neles, a leso ou ameaa ao direito de um dos seus titulares significar a leso ou ameaa ao direito de todos, ao passo que a cessao da leso ou ameaa beneficiar concomitantemente a todos.

exatamente a indivisibilidade do seu objeto que faz que a coisa julgada em relao aos direitos coletivos seja ultra partes, o que quer dizer que uma sentena de procedncia beneficiar no apenas, por exemplo, aos membros de uma associao ou sindicato que porventura tenha ajuizado a ao, mas a todas as pessoas que estejam na mesma situao jurdica base que fundamentou a sentena.

Relao Jurdica em comum (relao jurdica base)

Os titulares dos direitos coletivos tm um comum uma relao jurdica que os une entre si, ou que une cada um deles com a parte contrria.

A relao Jurdica bsica pr-existente ou surge com a leso ou ameaa ao interesse?

Nos casos em que, a relao-base se d entre os titulares do interesse ou direito, essa relao-base preexistente quela relao jurdica que surge aps a leso ou ameaa de leso, consistente no direito de ver cessada a ameaa ou corrigida a leso.

Alguma das espcies de relao-base prevalece sobre a outra?

Ante a divergncia doutrinria, em resposta a uma questo objetiva recomenda-se ao candidato em concurso pblico apontar como suficiente para caracterizar o interesse coletivo alm dos demais requisitos da determinabilidade dos titulares e indivisibilidade do objeto a presena ou de relao jurdica base entre os titulares, ou dos titulares com a parte contrria, sem prevalncia de uma espcie de relao jurdica sobre a outra.

Determinabilidade dos titulares

Graas relao jurdica existente entre os titulares do direito coletivo, ou deles com a parte contrria, possvel determin-los, identific-los.

1.3.6.3 Interesses Individuais Homogneos

O CDC os define singelamente, em seu art. 81, pargrafo nico, III, como sendo os decorrentes de origem comum. Os direitos individuais homogneos, como sua prpria definio legal indica, nada mais so que direitos subjetivos individuais com um trao de identidade, de homogeneidade, na sua origem.

Conceito: podem ser entendidos como sendo direitos subjetivos individuais, objetivamente divisveis, cuja defesa judicial passvel de ser feita coletivamente, cujos titulares so determinveis e tm em comum a origem desses direitos, e cuja defesa judicial convm seja feita coletivamente.

Caractersticas:

(a) Divisibilidade do objeto(b) Origem comum (situao ftica ou jurdica em comum)(c) Determinabilidade dos titulares(d) Recomendabilidade de tratamento conjunto

Divisibilidade do objeto

Os direitos individuais homogneos so divisveis: a leso sofrida por cada titular pode ser reparada na proporo da respectiva ofensa, o que permite ao lesado optar pelo ressarcimento de seu prejuzo via ao individual. Nos direitos difusos e nos coletivos, pelo contrrio, o objeto indivisvel. Portanto, esse o principal trao distintivo dos direitos individuais homogneos.

Suponhamos, agora abordando um outro aspecto do mesmo contexto, que determinados cidados que viviam perto daquela indstria poluidora, em virtude dos gases txicos por ela emitidos, venham a desenvolver uma doena pulmonar incapacitante para o trabalho. certo que o prejuzo material e moral sofrido por cada um desses lesados em razo da doena oriunda da poluio poder ser aferido individualmente, e sua reparao poder ser buscada em juzo, na proporo do dano sofrido por cada um.

Vale ressaltar tambm que o aumento ilegal nas prestaes de um plano de sade, ante a indivisibilidade do objeto, retrata ofensa a um direito coletivo. Em meio a esse mesmo contexto, porm, possvel que alguns dos titulares do plano, antes mesmo de sobrevir uma deciso judicial determinando a cessao de incidncia do aumento, j tenham pago algumas mensalidades ilicitamente majoradas. Neste caso, nem todos os titulares tero direito restituio dos valores pagos, mas apenas aqueles que os pagaram.

Origem comum (situao ftica ou jurdica em comum)

Adiante, conclui-se que, nos interesses individuais homogneos, a relao jurdica subjacente, quando existente, invocada apenas como causa de pedir, sempre tendo em vista a reparao de um dano ftico.

Determinabilidade dos titulares

A determinabilidade dos titulares dos direitos individuais homogneos deve-se sua natureza: eles so direitos subjetivos individuais.

Recomendabilidade de tratamento conjunto

Alm dos requisitos acima expostos, previstos em lei, a doutrina e a jurisprudncia tm exigido um quarto: que seja recomendvel o tratamento conjunto dos direitos ou interesses individuais em razo da utilidade coletiva dessa tutela. Em outras palavras, mister que, num caso concreto, em razo da eventual presena dos j apontados bices e incovenientes da tutela individual, a tutela coletiva mostre-se mais vantajosa.

1.3.6.4 Consideraes finais sobre direitos difusos, coletivos e individuais

1.3.6.4.2 Interesses essencialmente coletivos x interesses acidentalmente coletivos

Tanto os interesses difusos como os coletivos versam sobre objetos indivisveis, e ambos tm, ao menos em princpio, titulares indeterminados, embora nos coletivos, em funo da existncia de um vinculo jurdico base, eles sejam passveis de determinao. Tendo em conta tais semelhanas (principalmente a indivisibilidade de seus objetos), alguns autores apontam nos difusos e coletivos uma transindividualidade real (material), razo pela qual os denominam interesses essencialmente coletivos.

Os interesses individuais homogneos, por sua vez, como o prprio nome indica, so interesses individuais: seus titulares so determinveis e seu objeto divisvel. Seu ponto de contato com os difusos e coletivos a possibilidade de sua defesa judicial dar-se por meio de aes coletivas. Sem embargos, enquanto uma ao coletiva ajuizada para tutela de direito difuso ou coletivo versa sobre uma nica relao jurdica determinado direito difuso ou direito coletivo no possvel ao coletiva para a defesa de um nico direito individual homogneo: toda ao coletiva sobre tal espcie jurdica buscar a defesa de um feixe de relaes jurdicas individuais, em nmero to grande quanto forem os titulares dos direitos individuais envolvidos. Por tais razes (principalmente pela divisibilidade do seu objeto), verificando que os interesses individuais homogneos, em essncias, distanciam-se dos difusos e coletivos, aqueles mesmo autores neles vislumbram uma transindividualidade artificial (meramente formal). Denominando-os como interesses acidentalmente coletivos.

Interesse Difuso

Interesse essencialmente coletivo

Interesse Coletivo

INTERESSE COLETIVO EM SENTIDO AMPLO

Interesse Individuais HomogneosInteresse acidentalmente coletivo

1.3.6.4.3.1 Conceito de interesses ou direitos coletivos em sentido amplo

Podemos definir os interesses ou direitos coletivos lato sensu como o gnero de interesses ou direitos pertencentes a um grupo, classe ou categoria de pessoas, ou coletividade, e cuja defesa em juzo pode ser feita, independentemente de litisconsrcio, por um legitimado que no necessariamente seja titular do direito material invocado.

A Ao Civil Pblica e o Mandado de Segurana Coletivo, por seu turno, tambm so aes em que interesses coletivos em sentido amplo podem ser tutelados, sendo que, nelas o autor no est entre os titulares do direito em jogo.

1.3.6.4.4 Classificao do direito mataindividual determinada pelo tipo de tutela pretendida na ao coletiva?

bastante difundido o pensamento de Nery Junior, segundo o qual o que determina a classificao de um direito como difuso, coletivo, individual puro ou individual homogneo o tipo de tutela jurisdicional que se pretende quando se prope a competente ao judicial, ou seja, o tipo de pretenso de direito material que se deduz em juzo.

DIFUSOS

COLETIVOSINDIVIDUAIS HOMOGNEOS

Transindividual Real (material): essencialmente coletivo.

Transindividual Real (material): essencialmente coletivo.

Transindividual artificial (formal): Acidentalmente Coletivos

Objetivo Indivisvel

Objetivo Indivisvel

Objetivo divisvel

Titulares agregados por circunstncias de fato

Titulares agregados por relao jurdica entre si ou com a parte contrria.

Titulares agregados por situao em comum: de fato ou de direito.

Indivisibilidade absoluta dos titulares.

Determinabilidade dos titulares (indeterminabilidade relativa)

Determinabilidade dos titulares

Recomendabilidade do tratamento conjunto (caracterstica apontada pela doutrina e jurisprudncia).

2. AO CIVIL PBLICA

2.1 CONSIDERAES INICIAIS

A ao civil pblica , ao lado da ao popular e do mandado de segurana coletivo, um dos mais teis instrumentos de defesa de interesses metaindividuais.

2.1.1 Princpios do Direito Processual Coletivo Comum

Em sendo um ramo do Direito Processual, os princpios gerais do processo, como o contraditrio e a ampla defesa, tambm se aplicam ao Direito Processual Coletivo Comum.

2.1.1.1 Princpio do acesso Justia

Assim, enquanto no processo individual a regra a legitimao ordinria (apenas o titular do direito material controvertido pode ir a juzo em nome prprio), no processo coletivo foi necessrio instituir a legislao extraordinria como padro, admitindo-se que determinadas pessoas ou entes compaream a juzo, em nome prprio, para defender direito ou interesse alheio.

2.1.1.2 Princpio da Universalidade da Jurisdio

Trata-se de princpio estreitamente relacionado com o princpio do acesso justia, j que tem por escopo ampli-lo a um nmero progressivamente maior de pessoas e de causas. Se, no processo individual, o alargamento do acesso justia limitava-se s lidas interindividuais, o desenvolvimento do processo coletivo representou um imenso ganho para a universalizao da jurisdio, uma vez que somente ele levou a tutela jurisdicional s massas e aos conflitos de massas.

2.1.1.3 Princpio da participao no processo e pelo processo

Participar no processo, em suma, ter assegurado o direito ao contraditrio, ou seja, de ser informado acerca dos atos processuais e de pratic-los. Participar pelo processo, diversamente, utiliz-lo para influir nos destinos da nao e do Estado, ou seja, empreg-lo com vistas ao seu escopo poltico.

O processo coletivo valorizou a participao pelo processo ao outorgar aos corpos intermedirios (sindicatos e associaes em geral) a legitimidade para a defesa em juzo de grandes causas, caracterizadas pelos conflitos de massa, bem como ao outorgar ao cidado a legitimidade para fiscalizar a gesto da coisa pblica e a gesto pblica do meio ambiente. De outro lado, enquanto no processo individual o contraditrio quase sempre exercido pelo titular do direito material, no coletivo isso feito por um legitimado extraordinrio (o representante adequado).

2.1.1.4 Princpio da economia processual

Trata-se do princpio segundo o qual o direito deve resolver os conflitos de interesses empregando o mnimo possvel de atividades processuais. So exemplos de sua aplicao os casos de reunio de processo e decises conjuntas por conexo e continncia, bem como de extino de processo em razo de litispendncia e de coisa julgada.

2.1.1.5 Princpio do interesse jurisdicional no conhecimento do mrito do processo coletivo

Na sociedade de nosso tempo, por meio de um processo coletivo comum eficaz que o Judicirio soluciona as grandes causas, cumprindo sua funo de pacificao social, e, desse modo, legitima sua existncia. Para a consecuo de tal escopo pacificao advinda da resoluo dos grandes conflitos sociais - mais que uma simples intensificao do princpio da instrumentalidade das formas, Gregrio Assagra de Almeida visualiza a existncia de um verdadeiro novo princpio, por ele denominado princpio do interesse jurisdicional no conhecimento do mrito do processo coletivo.

2.1.1.6 - Princpio da mxima prioridade jurisdicional da tutela coletiva

Prioridade ao processamento e julgamento dos feitos coletivos em relao aos individuais:

Pela soluo das lides coletivas, pode-se evitar a proliferao de processos individuais, j que ser lcito aos interessados individuais aproveitar-se dos efeitos da coisa julgada coletiva.

Em se priorizando o julgamento dos processos coletivos pode-se, muitas vezes, afastar o indesejvel efeito das sentenas individuais conflitantes entre si e com a sentena coletiva.

A prioridade recomendada pela regra interpretativa do sopesamento: uma vez que, em geral, o interesse social prevalece sobre os individuais, nada mais justo que dar preferncia soluo das lides coletivas.

2.1.1.7 - Princpio da disponibilidade motivada da ao coletiva

Dada a relevncia social dos interesses objeto das aes coletivas, delas no se pode desistir sem um justo motivo, tampouco se pode simplesmente abandon-las. Segundo esse princpio, a desistncia infundada ou o abandono da ao coletiva demandam a assuno do polo ativo pelo Ministrio Pblico ou por outro legitimado.

Se a desistncia for fundada (motivada), at mesmo o Ministrio Pblico estar dispensado de assumir o polo ativo. Tal princpio refere-se disponibilidade da ao, mas no de seu objeto.

2.1.1.8 - Princpio da no taxatividade da ao coletiva

O CDC, porm, incluiu um inciso IV ao art. 1, tornando possvel o manejo das aes civis pblicas em prol de qualquer outro interesse difuso ou coletivo. E, a partir da integrao entre o artigo 90 do CDC e o artigo 21 da LACP, tambm se tornou possvel a defesa, via civil pblica, de quaisquer espcie de interesse individual homogneos. No se pode, desde ento, falar em taxatividade dos bens defensveis por aes coletivas.

2.1.1.9 - Princpio do mximo benefcio da tutela jurisdicional coletiva comum

Trata-se do princpio segundo o qual a imutabilidade dos efeitos da sentena de procedncia da ao coletiva beneficia as vtimas e seus sucessores, que, para verem satisfeitas suas pretenses, podero invocar o direito nela reconhecido, e proceder liquidao e execuo do ttulo, em proveito individual. Em outras palavras, elas no precisaro ajuizar aes individuais visando a obter um ttulo judicial: desde que estejam includas na situao de fato que motivou a sentena coletiva, podero utiliz-la para, desde j, promover a sua liquidao e execuo no que disser respeito aos seus direitos individuais.

2.1.1.10 Princpio da mxima amplitude do processo coletivo

Conforme tal princpio, para a defesa dos interesses coletivos em sentido amplo (difuso, coletivo e individuais homogneos) so cabveis todas as espcies de aes (conhecimento, cautelar, execuo), procedimentos, provimentos (declaratrios, condenatrio, constitutivo ou mandamental), e medidas, inclusive liminares (cautelares e de antecipao de tutela).

2.1.1.11 Princpio da obrigatoriedade da execuo coletiva pelo Ministrio Pblico

No processo coletivo comum, caso o autor da ao deixe de executar a sentena, o Ministrio Pblico obrigado a faz-lo. No caso de ao civil pblica, tal obrigao s incide depois do trnsito em julgado.

2.1.1.12 Princpio da ampla divulgao da demanda

Art. 94. Proposta a ao, ser publicado edital no rgo oficial, a fim de que os interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuzo de ampla divulgao pelos meios de comunicao social por parte dos rgos de defesa do consumidor.

Embora o dispositivo seja especificamente voltado para as aes coletivas em prol das vtimas das relaes de consumo, nada obsta que a regra, com as devidas adaptaes, seja aplicada s aes coletivas em geral.

2.1.1.13- Princpio da informao aos rgos legitimados

Segundo ele, qualquer pessoa pode e o servidor pblico deve levar ao conhecimento dos rgos legitimados para ajuizar uma ao coletiva a ocorrncia de fatos que possam motiv-la.

Art. 6 Qualquer pessoa poder e o servidor pblico dever provocar a iniciativa do Ministrio Pblico, ministrando-lhe informaes sobre fatos que constituam objeto da ao civil e indicando-lhe os elementos de convico.

Art. 7 Se, no exerccio de suas funes, os juzes e tribunais tiverem conhecimento de fatos que possam ensejar a propositura da ao civil, remetero peas ao Ministrio Pblico para as providncias cabveis.

2.1.1.14 Princpio da integrao entra a LACP e o CDC

Art. 21. Aplicam-se defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que for cabvel, os dispositivos do Ttulo III da lei que instituiu o Cdigo de Defesa do Consumidor.

Art. 90. Aplicam-se s aes previstas neste ttulo as normas do Cdigo de Processo Civil e da Lei n 7.347, de 24 de julho de 1985, inclusive no que respeita ao inqurito civil, naquilo que no contrariar suas disposies.

2.1.2 Ao civil pblica ou ao coletiva?

Mazzilli, por exemplo, advoga que a expresso ao civil pblica seja reservada a essa ao quando ajuizada pelo Ministrio Pblico ou outro ente estatal. Quando proposta por ente privado, entende seja mais apropriado denomin-la de ao coletiva. Por tal razo, para fins prticos e didticos, defende que a expresso ao civil pblica seja reservada para denominar os instrumentos processuais de defesa de interesses transindividuais (que, para ele, so apenas os difusos e os coletivos em sentido estrito), ao passo que os instrumentos de tutela dos interesses individuais homogneos deveriam ser denominados distintamente como ao coletiva ou ao civil pblica.

Em uma acepo mais ampla, a locuo aes coletivas empregada para significar o gnero de aes onde se faz possvel a tutela coletiva, seja dos direitos difusos, coletivos ou individuais homogneos. Nesse sentido, pode-se dizer que so aes coletivas a ao popular, o mandado de segurana coletivo, e as aes civis pblicas (ou coletivas em sentido estrito, conforme os diferentes entendimentos).

2.1.3 Natureza jurdica: norma de direito material ou de direito processual?

A LACP, especificamente, lei de natureza predominantemente processual, pois objetiva, basicamente, oferecer os instrumentos processuais aptos efetivao judicial dos interesses difusos reconhecidos nos textos substantivos.

Apenas dois dispositivos fazem exceo a essa regra, veiculando normas de direito substantivo. O primeiro o art. 10, que tipifica como crime o descumprimento (retardamento ou omisso no atendimento) das requisies formuladas pelo Ministrio Pblico, quando o atendimento for indispensvel propositura de aes civis pblicas. O segundo o art. 13, que criou um fundo para reconstituio dos bens lesados, destinado a perceber os recursos provenientes das condenaes em dinheiro.

2.2 A INFLUNCIA DAS CLASS ACTIONS

A class actions so aes coletivas existentes em pases de sistema jurdico common law. Elas foram criadas para suprir a ineficcia das clssicas aes individuais na tutela de direitos supraindividuais.

O modelo norte-americano de class actions conta com mais de 70 anos de existncia, e veio influenciar no apenas as class actions de outros pases do sistema common law (Austrlia e Canad), mas tambm inspirou as concepes das aes coletivas em pases de civil law, como o caso do Brasil. No por menos que nossa ao coletiva por vezes chamada de class action brasileira. Da a importncia de conhecermos a class action norte americana, para bem compreendermos nosso modelo de ao coletiva.

2.2.1 - Pressuposto da comunho de questes de fato ou de direito

Um dos requisitos para a admissibilidade das class actions a existncia, entre os interessados que se pretende tutelar, de uma comunho de questes de fato ou de direito. Pode-se considerar, portanto, como um ponto de influncia sobre nossa ao civil pblica.

2.2.2 Legitimidade Ativa

Nas class actions, qualquer dos integrantes do grupo, classe ou categoria interessada tem legitimidade para a propositura da ao. Nas aes civis pblicas brasileiras, diferentemente, a legitimidade ativa atribuda pela lei apenas a determinados rgos ou entidades.

De todo modo, apesar dessa divergncia, no se pode negar a possibilidade de algum defender interesses de uma coletividade, independentemente de expressa autorizao dos componentes do grupo, classe ou categoria seja outro fator de influncia das class actions sobre nossa ao civil pblica.

2.2.3 Coisa Julgada

Nas class actions norte-americanas, os efeitos da coisa julgada alcanam todos os componentes do grupo, classe ou categoria, ainda que no tenham participado do contraditrio, nem tenham expressamente desejado submeter-se a tal sentena. Ademais, essa eficcia se d pro et contra, quer dizer: seja a sentena de procedncia ou de improcedncia. Esse modelo influenciou parcialmente o sistema brasileiro.

Em nosso pas, tradicionalmente, os efeitos da coisa julgada somente atingiam quem fosse parte no processo (CPC, art. 472), excetuadas remotas hipteses de substituio processual autorizadas por lei (CPC, art. 6). Com efeito, h diferena entre os dois sistemas. Se nas class actions, normalmente, a coisa julgada pro et contra, nas aes coletivas brasileiras ela secundum eventum litis: no caso de procedncia da ao, em regra, os efeitos da coisa julgada beneficiaro todos os interessados (coisa julgada in utilibus), ainda que no tenham composto o polo ativo (efeitos erga omnes, nas aes para defesa de interesse difuso e individuais homogneos, ou ultra partes, nas aes para defesa de interesse coletivo em sentido estrito); j no caso de improcedncia da ao, na maior parte das vezes, os efeitos no afetaro quem no foi parte na relao jurdica processual.

2.2.4 Pressuposto da representatividade adequada

Representatividade adequada ou representao adequada a qualidade que habilita algum a comparecer em juzo como representante dos interesses de um grupo, classe ou categoria de pessoas, e a exercer com zelo e competncia a defesa judicial desses interesses. No Brasil, o problema da representatividade adequada assume dimenso diferente. Aqui, a condio de representante de interesses metaindividuais e a capacidade para bem represent-los em juzo controlada pela lei (ope legis), que a presume de modo absoluto (iuris et de iure): desde que o autor seja um dos rgos ou entidades previstos nos respectivos diplomas legais, e preencha os requisitos nela especificados (caso das associaes), no cabe ao julgador contestar sua representatividade adequada, ao contrrio do sistema norte-americano, em que cabe ao magistrado, em cada caso concreto, verificar se h representatividade adequada (o controle ope judicis). Ademais, em nosso pas, de fato, no h tanta necessidade de se constatar a representatividade adequada, pois a coisa julgada normalmente s alcana os demais interessados para benefici-los (coisa julgada).Pelas razes expostas no ltimo pargrafo, no se pode dizer que nosso pas foi influenciado pelo modelo de representatividade adequada das class actions estadunidenses. As diferenas so muitas. Isso, porm, no quer dizer que nosso modelo simplesmente no se preocupou com a representatividade adequada, mas sim que adotou soluo distinta daquela escolhida pelo pas do norte.

2.2.6 Legitimidade Passiva

Nos Estados Unidos, possvel a legitimao passiva coletiva, ou seja, que o grupo, classe ou categoria de pessoas interessadas atue no polo passivo, nas denominadas defendant class actions. A maior parte da doutrina processualista ptria entende no ser possvel o mesmo fenmeno em nossa ao civil pblica.

2.3 CONDIES DA AO

So condies da ao a legitimidade ad causam, o interesse de agir (interesse processual) e a possibilidade jurdica do pedido. De sua presena depende a existncia do direito ao, ou seja, o direito a um provimento de mrito. A ausncia de qualquer dessas condies leva extino do processo sem resoluo do mrito, por carncia da ao. A anlise das condies da ao feita, inicialmente, in statu assertionis, ou seja, simplesmente com base na descrio ftico-jurdica apresentada na petio inicial. Nada obsta, porm, que, caso posteriormente se verifique que aquela descrio no correspondia realidade, e que determinada condio no estava presente, a carncia do direito de ao seja ento declarada.

2.3.1 Legitimidade ad causam

2.3.1.1 Legitimidade ativa

A legitimao para agir nas aes civis pblicas em geral extrada da combinao dos seguintes dispositivos:

Art. 129, III e seu 1 da CF:

Art. 129. So funes institucionais do Ministrio Pblico:(...)III - promover o inqurito civil e a ao civil pblica, para a proteo do patrimnio pblico e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos.(...) 1 - A legitimao do Ministrio Pblico para as aes civis previstas neste artigo no impede a de terceiros, nas mesmas hipteses, segundo o disposto nesta Constituio e na lei.

Art. 5, caput e seu 4 da LACP prescrevem:

Art. 5 Tm legitimidade para propor a ao principal e a ao cautelar:

I - o Ministrio Pblico; II - a Defensoria Pblica; III - a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios;IV - a autarquia, empresa pblica, fundao ou sociedade de economia mistaV - a associao que, concomitantemente:

a) esteja constituda h pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteo ao meio ambiente, ao consumidor, ordem econmica, livre concorrncia ou ao patrimnio artstico, esttico, histrico, turstico e paisagstico.

4. O requisito da pr-constituio poder ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimenso ou caracterstica do dano, ou pela relevncia do bem jurdico a ser protegido.

Por seu turno, o art. 82, caput e 1 do CDC rezam:

Art. 82. Para os fins do art. 81, pargrafo nico, so legitimados concorrentemente: I - o Ministrio Pblico,II - a Unio, os Estados, os Municpios e o Distrito Federal;III - as entidades e rgos da Administrao Pblica, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurdica, especificamente destinados defesa dos interesses e direitos protegidos por este cdigo;IV - as associaes legalmente constitudas h pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este cdigo, dispensada a autorizao assemblear.

1 O requisito da pr-constituio pode ser dispensado pelo juiz, nas aes previstas nos arts. 91 e seguintes, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimenso ou caracterstica do dano, ou pela relevncia do bem jurdico a ser protegido.

E, finalmente, o art. 91 do CDC tem a seguinte redao:

Art. 91. Os legitimados de que trata o art. 82 podero propor, em nome prprio e no interesse das vtimas ou seus sucessores, ao civil coletiva de responsabilidade pelos danos individualmente sofridos, de acordo com o disposto nos artigos seguintes

------ > Conclui-se, portanto, que nosso sistema misto ou pluralista, em que tanto entes pblicos como privados (associaes) esto legitimados a agir.

Ademais, impede frisar que a legitimidade dos entes previstos nas citadas normas para a propositura de ao civil pblica em prol de direitos difusos, coletivos ou individuais homogneos. A ausncia desses direitos pode importar na carncia da ao, pela ilegitimidade ativa.

2.3.1.1.1 Natureza jurdica: Legitimao concorrente e disjuntiva

Concorrente Desde que preenchidos os requisitos legais, todos aqueles previstos nas citadas normas podem propor a ao civil pblica.

Disjuntiva Porque cada legitimado pode agir sozinho, caso queira.

2.3.1.1.2 Natureza Jurdica: Legitimao ordinria, extraordinria, ou tertium genus?

Para parte da doutrina, a legitimao extraordinria gnero, do qual a substituio processual seria espcie. Segundo tal vis doutrinrio, h substituio processual quando o legitimado extraordinrio prope a ao isoladamente, sem litisconsrcio com o suposto titular do direito material. Diferentemente, se ambos propusessem a ao conjuntamente, o primeiro ainda seria legitimado extraordinrio, mas no estaria substituindo o alegado titular do direito material, que tambm estaria presente na relao jurdica processual. De todo modo, a doutrina em geral emprega as locues legitimado extraordinrio e substituto processual como sinnimas.

interessante anotar que, na jurisprudncia, amplamente majoritrio o entendimento de que, sejam direitos difusos, coletivos, ou individuais homogneos, a legitimao para sua defesa na ao civil pblica extraordinria, havendo substituio processual. Primeiramente, importa dizer que h consenso doutrinrio quanto natureza da legitimidade para a defesa coletiva de direitos individuais homogneos: trata-se de legitimao extraordinria.

A controvrsia aparece quando se fala nas aes coletivas para defesa dos interesses difusos e dos coletivos em sentido estrito. Uma parte da doutrina entende que, nesses casos, a legitimidade tambm extraordinria. Alega-se que, mesmo quando atue na defesa de seus interesses institucionais (como p. ex. a tutela do meio ambiente pelo Ministrio Pblico ou por uma associao ambientalista), o ente legitimado estaria defendendo direitos que no so apenas seus, mas tambm de terceiros, havendo, por essa ltima razo, substituio processual.

Outra corrente defende, com relao a esses mesmos direitos, que a legitimao ordinria. Argumenta que, quando uma entidade atua em defesa de seus interesses institucionais, sejam eles difusos ou coletivos stricto sensu (p. ex., conforme a entidade, podem estar eles entre seus fins institucionais a defesa do meio ambiente, dos consumidores etc.), ela no est simplesmente buscando a tutela de interesses de terceiros, mas de interesses que dizem respeito a ela prpria.

Ateno: Caso em um concurso formule-se questo objetiva que somente permita escolher como correta uma nica espcie de natureza jurdica para a legitimao nas aes civis pblicas, seja em prol de direitos difusos, coletivos ou individuais homogneos, recomenda-se apontar como correta a alternativa que indique a legislao extraordinria ou substituio processual, pois a tese amplamente majoritria na jurisprudncia.

2.3.1.1.3 Representatividade Adequada

Anote-se, contudo, que, embora implicitamente, e sem deferir ao julgador o mesmo grau de liberdade que os magistrados norte-americanos possuem para aferi-la caso a caso, nosso legislador preocupou-se, de certo modo, com a representatividade adequada dos autores, pelas seguintes razes:

1) Apenas os entes previstos na lei e no qualquer pessoa ou entidade esto legitimados propositura das aes civis pblicas.

2) Em relao s associaes, imps-se uma srie de requisitos:

A Elas devem estar legalmente constitudas (requisito da constituio legal)

B Devem existir h pelo menos um ano antes da propositura da ao (requisito da pr-constituio).

C Devem ter em seus fins institucionais a defesa dos mesmos tipos de interesses objeto da ao (requisito da pertinncia temtica)

D Nas aes em face da Unio, Estado, Distrito federal, dos Municpios, e suas Autarquias e fundaes, deve haver expressa autorizao da assembleia dos associados, e a petio inicial deve vir acompanhada da respectiva ata, bem como da relao nominal dos associados e indicao dos respectivos endereos.

2.3.1.1.4 Ministrio Pblico

Algumas vezes, a Constituio ou a lei atribuem ao Parquet a promoo da ao civil pblica para a tutela de interesses difusos, coletivos, ou individuais homogneos especficos. Outras vezes, o ordenamento jurdico incumbe ao Ministrio Pblico a tutela de direitos transindividuais no especficos, valendo-se de frmulas abertas para atribuir-lhes, genericamente, a proteo de qualquer espcie de direito difuso, coletivo ou individual homogneo.

Em funo de tais frmulas abertas, no se exige do Ministrio Pblico pertinncia temtica, ou seja, no se pode afirmar que s lhe compete defender direitos difusos, coletivos ou individuais homogneos relacionados a um determinado tema (p. ex., somente interesse relacionado ao meio ambiente, ou ao consumidor, ou ao patrimnio pblico). Ele est autorizado defesa de direitos transindividuais de qualquer temtica. Essa uma das razes pelas quais o MP transformou-se no autor da esmagadora maioria das aes civis pblicas em nosso pas.

Em suma, temos que o Ministrio Pblico est legitimado a defender em juzo qualquer interesse difuso (tendo em vista sua inegvel relevncia social), e, no que se refere aos interesses coletivos e individuais homogneos, tem legitimidade para a defesa: a) daquele cuja tutela, em razo de sua presumida relevncia social, lhe for especificamente atribuda na lei ou na Constituio (p. ex. direitos inerentes aos idosos ou s crianas e adolescentes); e b) dos indisponveis (p. ex. direitos vida, sade ou dignidade da pessoa humana).

Observaes:

1) Embora a Lei 7.913/89 tenha outorgado ao Ministrio Pblico a legitimidade para a ao civil pblica em prol dos interesses individuais homogneos dos investidores lesados no mercado de capitais, tal legitimidade somente se justificar se o caso apresentar relevncia social (v.g., quando necessrio para evitar a propositura de milhares de aes individuais).

2) O STJ tem reconhecido a legitimidade do Ministrio Pblico para promover aes civis pblicas nos casos de loteamentos irregulares ou clandestinos, inclusive para que se promova a indenizao dos adquirentes (o que, neste particular, configura proteo de interesses individuais homogneos do consumidor lesado).

3) Desconsiderando entendimento de parte da doutrina, para quem a defesa dos interesses dos contribuintes seria ornada de relevncia social a legitimar a atuao do Ministrio Pblico, o STF consolidou entendimento de que a instituio carece de legitimidade para ao civil pblica contra cobrana de tributos, entendendo versar tal questo sobre interesses individuais homogneos disponveis. Diferentemente, o Ministrio Pblico est legitimado a propor ao que vise a impedir que federativo, ilegalmente, conceda a determinada empresa a insero em regime especial de apurao tributria, com risco de leso ao patrimnio pblico (cobrana de imposto em valor menor que o devido).

2.3.1.1.4.1 Principio da obrigatoriedade

Uma vez constatada pelo Ministrio Pblico uma leso ou ameaa de leso a um direito difuso, coletivo ou individuais homogneos pelos quais lhe incumbe zelar, seu dever, e no mera faculdade, agir em defesa deles. A atuao do Ministrio Pblico em prol dos interesses que a Constituio e a lei lhe determinam proteger , portanto, regida pelo principio da obrigatoriedade.

Isso no quer dizer que qualquer comunicao (representao) levada a um membro do Ministrio Pblico sobre eventuais fatos lesivos ou ameaadores de interesses supraindividuais o obrigue a propor uma ao civil pblica. Cada membro do Ministrio Pblico dotado de independncia funcional, de modo que lhe cumpre analisar, caso a caso, se h ou no elementos para a propositura da ao. Havendo necessidade de maiores investigaes, poder lanar mo do valioso instrumento do inqurito civil.

Havendo, da representao e documentos (peas informativas) recebidos, ou, ainda, das informaes colhidas no inqurito civil, fundamentos suficientes acerca do dano ou da ameaa, impe-se ao Ministrio Pblico atuar para afast-los, o que, no necessariamente, ser feito por meio de ao civil pblica, j que se pode optar, eventualmente, pela via alternativa do compromisso de ajustamento de conduta.

2.3.1.1.4.2 Reparties de atribuies entre os diversos Ministrios Pblicos

MPM

A LOMPU no deferiu ao Ministrio Pblico Militar atribuio para instaurar inquritos civis e promover aes civis pblicas, mas, to somente, para atuar na rea penal militar. Logo, em tese, ele no possui atribuio para promover aes civis militares.

MPT

J no que se refere ao Ministrio Pblico do Trabalho cumpre-lhe promover a ao civil pblica no mbito da Justia do Trabalho, para defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente garantidos.

MPF (funes eleitorais)

Logo, a ele cumprir promover eventuais aes civis pblicas eleitorais. O que no quer dizer que Promotores de Justia no possam propor tais ao.

MPF (funes no eleitorais)

Compete ao MPF ajuizar perante a Justia Federal comum as aes civis pblicas para a defesa de interesses supraindividuais sempre que houver evidente interesse federal. A simples existncia de dano de mbito nacional no configura interesse federal. A presena daquele no leva necessariamente a este, nem vice-versa. Logo, o dano ou ameaa de dano ambiental em um bem localizado em um dos componentes desse patrimnio nacional, por si s, no tem o condo de caracterizar interesse federal (da unio ou de seus entes da administrao indireta ou funcional).

MPDFT

Na distribuio dessa atribuio residual, o MPDFT propor, em suma, as aes civis pblicas que forem de competncia da Justia do Distrito Federal e Territrios, que basicamente ditada pelo local do dano ou ameaa de dano: competente para as causas em que o dano ou ameaa de dano estejam restritos ao territrio do DF, sendo, portanto, locais, ou nas hipteses em que sejam regionais ou nacionais.

2.3.1.1.5 Defensoria Pblica

O art. 5, II da LACP, incluiu expressamente a Defensoria Pblica entre os legitimados propositura de aes civis pblicas em prol dos bens arrolados no artigo 1. Desde o advento do CDC, porm, a Defensoria j estava legitimada a promov-las, por se amoldar ao art. 82, III do CDC (entidades ou rgos da Administrao Pblica direta).

No se exige da Defensoria Pblica pertinncia temtica. Queremos dizer, com isso, que ela no est limitada defesa de um tema especifico (p.ex. s do consumidor, ou apenas do meio ambiente, ou exclusivamente da infncia e da juventude etc.). Sem embargos, discute-se se sua legitimao seria to ampla quanto a do Ministrio Pblico.

Para outra linha de pensamento, a funo primordial da Defensoria, de fato, a defesa e orientao jurdica dos necessitados. Sem embargos, haver-se-ia que levarem em conta os princpios que regem a ao civil pblica, dentre os quais se insere a preocupao com a soluo coletiva do litgio em temas de relevncia social. No seria razovel, por exemplo, tolher a atuao da Defensoria sob o argumento de que determinada ao em tutela de direitos difusos ao meio ambiente equilibrado beneficiaria no apenas os moradores de uma comunidade carente, mas tambm outros interessados. Ante sua funo institucional, mister que a Defensoria atue em prol de necessitados, mas nada obsta a que, ante a natureza difusa do direito a ser defendido, o espectro de beneficiados extravase o circulo dos necessitados.

STJ = A Defensoria Pblica tem legitimidade para propor a ao principal e a ao cautelar em aes civis coletivas que buscam auferir responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artstico, esttico, histrico, tursticos e paisagstico e d outras providncias.

2.3.1.1.6 Entes da Administrao Direta

Tais entes federativos no esto jungidos ao requisito da pertinncia temtica, de modo que eles no esto jungidos defesa, na ao civil pblica, de um determinado tema, sendo legitimados defesa dos mais diversos direitos passveis de tutela via ao civil pblica.

Assim, por exemplo, um municpio A pode ajuizar aes coletivas em prol do meio ambiente, do consumidores, dos portadores de deficincia etc., pois no lhe necessrio o requisito da pertinncia temtica. Sem embargos, ele no tem legitimidade para ajuizar uma ao que visa a beneficiar, to somente, consumidores residentes em um Municpio b. Nesse caso, faltaria ao Municpio A um mnimo de vinculao com a lide. A doutrina interpreta essa vinculao como interesse de agir (interesse processual)

Evidentemente, porm, que, se determinada leso ou ameaa a direito transindividual acometer o territrio de mais de um Municpio, ou de mais de um Estado, qualquer deles ter interesse de agir.

2.3.1.1.7 Entidades da Administrao Indireta

Diferentemente do que se d em relao aos entes da administrao direta, a legitimao dos entes da Administrao indireta est condicionada existncia de pertinncia temtica. A despeito de a LACP (art. 5, V, b) e o CDC (art. 82, IV) apenas exigirem tal requisito das associaes, as entidades da administrao indireta, por fora do principio da especialidade, extrado do art. 37, XIX e XX, da Constituio, no podem se desviar das finalidades para as quais foram criadas. Uma autarquia criada, por exemplo, para o fomento do turismo no pode atuar na rea da sade, ou em outras que lhe distanciem de sua finalidade legal. Do mesmo modo, ao Ibama, autarquia federal criada para a proteo do meio ambiente, no dado ir a juzo zelar por direitos de pessoas portadores de deficincia, e assim por diante.

Dentre os entes da Administrao indireta legitimados encontram-se tanto as agncias reguladoras (ANATAL, ANA, ANEEL), por serem autarquias (ainda que de natureza especial), como as agncias executivas, por serem autarquias (Inmetro) ou fundaes pblicas.

Tambm as associaes pblicas esto legitimadas, pois so espcies do gnero autarquias.

2.3.1.1.8 Fundaes privadas

No h dvidas de que as fundaes pblicas (sejam de direito pblico ou privado) esto legitimadas a propor aes coletivas. A doutrina, porm, se divide quanto legitimao das fundaes privadas.

A propsito: a 1 Seo do STJ j se manifestou pela legitimidade de fundao privada para propositura de ao civil pblica.

2.3.1.1.9 Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)

Sendo uma entidade de classe, est legitimada a defender, via ao civil pblica, os interesses coletivos e individuais homogneos dos advogados a ela filiados. O problema surge relativamente aos direitos difusos (p. ex. ao de reparao de dano ambiental), pois, nesse caso, os titulares so indeterminados, no se limitando ao quadro de filiados. Na doutrina, h quem defenda que sua legitimidade no se restringe s matrias inerentes aos seus associados. Desde que os advogados se incluam entre os titulares dos interesses a serem defendidos (como no caso da proteo do meio ambiente, em que o interesse da coletividade, ou na defesa do interesse dos consumidores em geral) estar presente a legitimao da ordem para a defesa de tais interesses, ainda que difusos. Sob tal ponto de vista, a OAB no estaria jungida pertinncia temtica. Para outros, somente se admite a atuao da entidade em prol dos interesses coletivos e individuais homogneos de seus associados. Sob essa tica, ela estaria submetida pertinncia temtica.

2.3.1.1.10 Entes Despersonalizados

2.3.1.1.11 Associaes de Direito Privado (associaes civis)

Arnaldo Bruno Oliveira Pg. 89 - 178 da edio 2013.

2.3.1.1.12 Partidos Polticos

H duas vertentes doutrinrias. A primeira entende que os partidos polticos so espcie do gnero associao, logo estariam legitimados a proporem aes civis pblicas. A outra entende que os partidos polticos, embora sejam dotados de personalidade jurdica de direito privado, no correspondem s associaes de direito privado nos moldes desenhados pelo direito civil e que no estariam legitimados. Para quem inclui os partidos polticos nas associaes, eles tambm tm legitimao, dispensando-se, ademais, a pertinncia temtica, embora devam guardar vinculao entre a ao e seus fins institucionais.

2.3.1.1.13 Sindicatos

Os sindicatos tambm tem legitimao para a propositura de ACP, j que constituem instrumento processual especificamente voltado tutela coletiva, o que compatvel com a Constituio Federal em seu art. 8, III. Sua legitimao no se limita defesa dos seus filiados, estende-se a toda categoria. Quando atua em juzo atua como substituto processual. Portanto, desnecessria qualquer autorizao dos substitudos. As centrais sindicais, por terem natureza associativa, tambm esto legitimadas promoo de aes civis pblicas. Na Lei Maria da Penha, nada obsta que lhes sejam aplicadas as regas da LACP e CDC quanto legitimidade para agir dos rgos da administrao direta e indireta.

2.3.1.1.14 Observaes quanto a Legitimidade na Lei 7.913/1989

A Lei 7.913/1989, em seu artigo 1., legitima o MP a tomar as medidas judiciais necessrias para evitar prejuzos ou obter ressarcimento de danos causados aos titulares de valores mobilirios e aos investidores do mercado. O instrumento para tais medidas a ao civil pblica.

2.3.1.1.15 Observaes quanto a Legitimidade na Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha)

O art. 37 da Lei Maria da Penha (norma voltada a coibir a violncia domstica e familiar contra a mulher) atribui concorrentemente ao MP e associaes regularmente criadas h pelo menos um ano a defesa dos direitos transindividuais nela assegurados.

2.3.1.1.16 Tabela resumo (pg. 92)

2.3.1.1.17 Legitimidade Ativa subsidiria

Legitimao ativa subsidiria ocorre no caso de desistncia infundada ou abandono da ao por associao legitimada, caso em que o MP ou outro legitimado assumir a titularidade ativa.

2.3.1.2 - Legitimidade passiva

Legitimidade passiva o CDC e a LACP nada dispem sobre essa legitimao, motivo pelo qual qualquer pessoa, fsica ou jurdica, que seja responsvel pelo dano ou pela ameaa de dano coletivo poder ser r, e at mesmo os entes sem personalidade jurdica, quando dotados de personalidade judiciria. vlido mencionar que o MP, embora possua legitimidade ativa, no pode ser ru em ACP. Se der causa a ameaa ou dano a interesse difuso a ao dever ser ajuizada em face da pessoa jurdica de direito pblico interno que este integra.

2.3.1.2.1 Legitimao extraordinria passiva (correntes):

A) Favorvel: o art. 5, par. 2 da LACP facultaria ao Poder Pblico e s associaes legitimadas a se habilitarem como litisconsortes de quaisquer das partes, inclusive do ru. Seria necessrio, todavia, que se controlasse caso a caso a representatividade adequada dos rus.

B) Desfavorvel: a substituio processual instituto excepcional e as normas que regem a ao coletiva somente autorizam a legitimao extraordinria no polo ativo. a que prevalece!

2.3.2 - Interesse de agir (necessidade e adequao)

Segue-se o modelo das aes em geral. necessrio demonstrar necessidade de buscar um provimento jurisdicional e que existe adequao entre o pedido deduzido e a pretenso a ser satisfeita. Um legitimado ter necessidade de ajuizar uma ACP sempre que houver leso ou ameaa de leso a um interesse supraindividual que lhe caiba tutelar, e no for possvel afast-la sem a propositura de ao perante o Pode Judicirio. Parte da doutrina v inadequao na veiculao de ACP para a defesa do errio por entender que estas defendem direitos coletivos, categoria dentre a qual o errio no se enquadra, pois seria objeto de interesse pblico secundrio. Tanto que, no caso de sua leso, o valor da reparao no remetido ao fundo de direitos difusos, mas restitudo aos cofres do ente pblico lesado.

2.3.3 - Possibilidade jurdica do pedido

O pedido ser juridicamente possvel desde que no seja vedado explcita ou implicitamente pelo ordenamento Jurdico.

2.3.3.1. Controle de constitucionalidade

Sobre o tema, tem-se que inadmissvel o pedido de controle de constitucionalidade em sede de ACP como pedido principal, pois este instrumento estaria fazendo o papel da ADIN, o que poderia deflagrar verdadeiro controle concentrado de constitucionalidade. permitido o controle desde que em carter incidental, ou seja, como causa de pedir, uma vez que os fundamentos da ao no ensejam coisa julgada material, valendo-se apenas no respectivo processo. importante que se mencione que nesse cenrio no cabe ao declaratria incidental, pois isso ampliaria os efeitos da coisa julgada e geraria efeito erga omnes, uma vez que a questo da constitucionalidade no poderia ser rediscutida em outros processos. Lado outro, possvel, em tese, postular em ACP a declarao de nulidade (por inconstitucionalidade) de uma norma de efeitos concretos.

Ainda sobre o pedido, importante tomar nota que o STJ e o STF entendem ser possvel pedido em ACP buscando impingir ao Poder Pblico o cumprimento de uma obrigao de fazer, visando compelir a Administrao, no significando isso qualquer violao independncia dos Poderes Estatais, sendo perfeitamente possvel o controle judicial de polticas pblicas. Afinal, a convenincia e a oportunidade do ato administrativo encontram limites nos princpios da moralidade, da razoabilidade e eficincia.

2.3.3.2 Controle Judicial de Polticas Pblicas

2.3.3.2.1 Noes de Polticas Pblicas

Trata-se, de um conjunto de normas (Poder Legislativo), atos (Poder Executivo) e decises (Poder Judicirio) que visam realizao dos fins primordiais do Estado.

2.3.3.2.2 Fundamento constitucional do controle JudicialNas aes pblicas em que se postula a condenao da Administrao em obrigaes de no fazer, os argumentos normalmente empunhados pela R-Admistrao tem menos fora, pois no se liga com os bices da falta de previso oramentria e dos limites de gastos previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal. Esses entraves, porm, esto presentes quando se busca condenar a Administrao a uma obrigao de fazer.

2.3.3.2.3 Alcance do controle Judicial: Mnimo existencial e reserva do possvel.

O alcance do controle judicial representado pelo debate entre mnimo existencial e reserva do possvel. Sabe-se que os direitos fundamentais tem aplicabilidade imediata, independente de concretizao legislativa. Pode o Poder Judicirio, quando provocado, suprir omisses que venha a colocar em risco o princpio da dignidade da pessoa humana, uma vez que o mnimo existencial um direito s condies mnimas de existncia digna. Somente em relao aos direitos fundamentais que no integram o mnimo existencial que o Poder Pblico poder alegar insuficincia de recursos e falta de previso oramentria para implementao de polticas pblicas.

2.3.3.3 - Questes tributrias, contribuies previdencirias, FGTS e outros fundos

Em sede de ACP est previsto no art. 1, pargrafo nico, da LACP, que no ser cabvel ACP para veicular pretenses que envolvam tributos, contribuies previdencirias, fundo de garantia por tempo de servio FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficirios podem ser individualmente determinados.

A redao clara, no entanto, o STF reconheceu que o MP tem legitimidade para propor ACP que vise anular acordo que conceda benefcio fiscal a determinada empresa, pois nesse caso no se defende interesse de contribuintes determinveis, mas sim interesse mais amplo no que respeita integridade do errio e higidez do processo de arrecadao tributria. A questo teria natureza metaindividual, cuja legitimidade do MP assegurada no art. 129, CF. Ressalta-se que a vedao do artigo em comento no abrange as tarifas pblicas (preos pblicos), pois elas no constituem tributos, nem contribuio, e envolvem relaes de consumo. Exemplo interessante da prova oral do MPTO: Se um prefeito criar uma determinada taxa sem previso legal no caber ACP no caso, pois seria caso de ADIN (hiptese de controle de constitucionalidade) e a previso do art. 1, p. , tambm vedaria a questo tributria.

2.4 - ELEMENTOS DA AO

Os elementos identificadores de uma ao so as partes, causa de pedir e pedido.

2.4.1 - Parte

Parte aquela que demanda em seu prprio nome (ou em cujo nome demandada) a atuao duma vontade da lei, e aquele em face de quem essa atuao demandada. A ideia de parte ministrada, pela prpria lide, pela relao processual, pela demanda; no necessrio rebusc-la fora da lide e, especialmente, na relao substancial que objeto da controvrsia. 2.4.2 Causa de Pedir

Causa de pedir so os fundamentos fticos e jurdicos da ao.

Os fatos normalmente descritos em uma ACP so:

a) aqueles que configuram a leso ou ameaa ao direito ou interesse supraindividual;

b) qual a conduta comissiva ou omissiva do ru (neste caso, esclarecendo como deveria ter ele agido) e, a menos que se trate de hiptese de responsabilidade objetiva, quais os indicativos de sua culpa;

d) o nexo entre a conduta do ru e a leso ou ameaa ao direito supraindividual.

Os fundamentos jurdicos, por sua vez, normalmente expem:

a) as normas que regulavam a relao jurdica de direito material, ou seja, que atribuem a determinada classe, categoria, ou grupo de pessoas, ou a coletividade, os direito ou interesses atingidos, bem como as consequncias jurdicas (sanes) de tal ataque;

b) as regras de direito processual que autorizam o autor a formular os pedidos por eles deduzidos;

c) doutrina e jurisprudncia em suporte dessa argumentao.

2.4.3 - Pedido

O pedido deduzido em toda e qualquer ao tem um objeto imediato (pedido imediato) e um objeto mediato (pedido mediato).

2.4.3.1 Objeto Imediato

o provimento jurisdicional que o autor espera conseguir ao fim do processo.

Por fora do princpio da integrao CDC x LACP, infere-se que em defesa de quaisquer interesses transindividuais possvel o ajuizamento de todas as espcies de aes capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela. Entenda-se, assim, ser possvel a propositura de aes civis pblicas de conhecimento, cautelares ou executivas e, naquelas de conhecimento, a busca de provimentos de quaisquer naturezas: condenatrias, constitutivas ou meramente declaratrias.

Registra-se que o STJ j admitiu cumulao trplice de pedidos em ACP, em que se buscava, concomitantemente, provimento constitutivo negativo (anulao), condenatrio em obrigao de pagar e condenatrio em obrigao de no fazer.

Informa-se que, sempre que possvel, a ACP deve buscar a tutela inibitria (que vise impedir a prtica, a continuao ou a repetio de atos ilcitos, ou a evitar o inadimplemento contratual), ou reintegratria (que vise remoo de um ato ilcito), visto que, repelindo-se os atos ilcitos e prevenindo-se o inadimplemento contratual, evitam-se os danos em massa que tais fatos poderiam desencadear.

Primeiramente, deve-se optar pela medida que obrigue reparao do bem in natura ou a entrega da prestao inadimplida (tutela especfica). Se isso no for vivel, deve-se postular a concesso de uma medida que assegure o resultado prtico equivalente. A condenao em obrigao de pagar (converso da obrigao em perdas e danos = pagamento do equivalente em dinheiro) deve ser a derradeira escolha.

Deve-se seguir a presente ordem:

1 tutela preventiva (inibitria ou reintegratria); 2 Tutela ressarcitria especfica;3 tutela ressarcitria pelo resultado prtico equivalente;4 tutela ressarcitria pelo equivalente em pecnia (perdas e danos).

Por fim, especificamente nas aes coletivas que versem sobre interesses individuais homogneos o pedido ser genrico, pois se busca to somente que se reconhea que o fato danoso ocorreu e que o ru por ele responsvel (ver art. 95 CDC).

2.4.3.2 Objeto Mediato

Consiste no bem da vida cuja tutela se postula judicialmente. Tratando-se de ACP, qualquer bem que possa ser objeto de interesse difuso, coletivo ou individual homogneo pode ser objeto mediato do pedido, com exceo dos que envolvam tributos, contribuies previdenciria, o FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficirios possam ser individualmente determinados.

Especificamente nas aes coletivas que versem interesses individuais homogneos, o pedido (e, consequentemente, a eventual sentena condenatria) ser sempre genrico, pois nele no se busca que seja desde j fixado o valor que o ru deve pagar a cada vtima, mas, to somente, que se reconhea que o fato danoso ocorreu e que o ru por ele responsvel e que, portanto, seja ele condenado a ressarcir as vtimas.

2.5 - COMPETNCIA

a medida da jurisdio, ou, em uma definio mais elaborada, o conjunto de atribuies jurisdicionais de cada rgo ou grupo de rgos, estabelecidas pela constituio e pela lei.

2.5.1 Competncia originria nos tribunais de superposio

Sabe-se que o STF e STJ possuem competncia originria e recursal fixada na CF/88 (art. 102 e art. 105 respectivamente) e nenhuma das hipteses de competncia originria do STJ permite-lhe processar e julgar, originariamente, ACP. J o STF ser originariamente competente para as ACP nas seguintes hipteses:Litgios entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a Unio, Estados, DF ou Territrio;Causas e conflitos entre a Unio e os Estados, a Unio e o DF ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administrao indireta;Aes em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados, e aquelas em que mais da metade dos membros do tribunal de origem esteja impedida ou seja direta ou indiretamente interessada; Aes contra o CNJ e o CNMP.

O livro destaca que, em regra, no existe foro por prerrogativa de funo em ACP. No que toca ao de improbidade administrativa o STF em deciso de 2013 firmou posio que tambm no haveria foro por prerrogativa de funo. No entanto, um tema polmico e que a jurisprudncia oscila, o mais indicado observar qual a ltima deciso sobre o assunto no perodo do concurso.

A propsito, o STF j decidiu que o fato do Presidente da Repblica ou um ministro de Estado estar no polo passivo de uma ACP no o faz competente originariamente para processa-la, pois tal hiptese no est prevista no art. 102 da lei maior. Do mesmo modo, o fato de um governador ou de um deputado estadual figurar o polo passivo de uma ACP no afasta a competncia originaria dos rgos de primeiro grau para process-la e julg-la. Em regra, portanto, no existe foro por prerrogativa de funo para ACP.

As aes coletivas de cunho ambiental sero propostas perante a Justia Estadual e somente quando presentes algumas das hipteses do art. 109, CF que a ao ser da competncia da Justia Federal.

2.5.2 Competncia de Jurisdio

Roteiro para definio de competncia:

1.Tribunais de superposio (STF STJ)2.Justia Especial (Trabalhista ou Eleitoral)3.Justia Comum (competncia residual em relao a Especial)3.1Federal art. 109, CF.3.2Estadual competncia residual em relao federal.4.Competncia originria (rgo superior ou inferior).5.Competncia de foro (ou territorial).

2.5.3 Competncia Originria na respectiva Justia

O fato de uma ACP ser proposta contra um Prefeito Municipal, um Deputado Federal ou Estadual, ou Senador, um Governador, ou at mesmo contra o Presidente da Repblica no faz com que a competncia originria para apreciar uma ACP seja de um Tribunal. Sendo assim, tais aes devero ser deduzidas perante um rgo jurisdicional monocrtico (p. ex., Juiz de Direito, Juiz Federal etc.).

2.5.4 Competncia de foro (ou territorial)

A competncia de foro tambm denominada competncia territorial, pois determinada ratione loci, ou seja, o juzo competente ser o do local (comarca, seo ou subseo) onde estiver presente a hiptese prevista na lei.

2.5.4.1 Regra geral

A regra geral para a definio da competncia de foro nas ACP ditada pela conjugao do art. 2, caput, da LACP c/c o art. 93 do CDC. Eles tratam da competncia territorial, pois levam em conta o local onde a dano ocorreu ou poder ocorrer.

2.5.4.1.1 Competncia funcional ou territorial?

O art. 2 da LACP, fala em competncia funcional, que nada mais do que uma competncia absoluta, pois ela estabelecida no interesse pblico da eficincia jurisdicional. Trata-se de competncia determinada ratione loci, pelo local do dano, o que normalmente implicaria hiptese de competncia relativa. Sem embargo, por ser funcional, a competncia a estabelecida absoluta. O STF e o STJ tm denominado a competncia do art. 2 da LACP como territorial e absoluta.

2.5.4.1.2 (im)prorrogabilidade da competncia territorial

No sistema processual previsto no CPC (arts. 102, 111, 114), a competncia de natureza territorial pode ser modificada. As causas de modificao podem ser legais (p. ex., conexo e continncia), ou voluntrias (no oposio de exceo de incontinncia, foro de eleio). Nas legais, a modificao decorre de algum comando normativo, independentemente da vontade das partes. Nas voluntarias, a alterao decorre da inteno das partes.

Tampouco pode ser alterada a competncia territorial pela no oposio de exceo de incompetncia. Essa hiptese de prorrogao destina-se aos casos de competncia territorial relativa (CPC, arts. 112 e 114). Como vimos, a competncia territorial nas ACP funcional e, portanto, absoluta.

2.5.4.1.3 Interesses individuais homogneos: Competncia absoluta ou relativa?

Embora o art. 93 do CDC tenha fixado a competncia para as ACP de defesa dos interesses individuais homogneos conforme o local do dano, silenciou quanto natureza absoluta ou relativa de tal competncia, diferentemente do que fez o art. 2 da LACP em relao competncia para as aes de tutela dos interesses difusos e coletivos, por ela determinada de funcional.

A despeito dessa omisso, amplamente predominante na doutrina que a competncia de foro nas ACP voltadas defesa de direitos ind. homog. tambm de natureza absoluta, sob o argumento de que o art. 2 da LACP, por fora do art. 90 do CDC, aplicvel s aes coletivas regradas por este estatuto. Interesses difusos e coletivos, por ela determinada de funcional (portanto absoluta).

A obra de Mazzilli defende que em se tratando de ind. homog. a competncia relativa, pois a LACP trata apenas dos direitos difusos e coletivos e que a competncia para a ao coletiva daqueles direitos regrada apenas no art. 93 do CDC.

2.5.4.1.4 Dano ou ameaa local, regional ou nacional

Quando o dano ou risco de dano limitar-se ao territrio de determinado foro, ser de mbito local. Por fora do art. 2., caput, da LACP, e do art. 93, I, do CDC, a competncia ser de juzos (varas) do respectivo foro. Caso o dano ou risco abranja poucos foros, ainda que em dois estados diferentes (imagina-se, por exemplo, um dano que atinja duas comarcas vizinhas, cada qual situada em um Estado diferente), continuar sendo de mbito local: a competncia ser de juzos de qualquer um dos foros atingidos ou ameaados. No caso de litispendncia, competente ser o juzo em cujo o processo ocorreu a primeira citao ( art. 219, CPC).

Logo, se o dano ou ameaa apresenta-se sobre vrios foros de um mesmo Estado, ser de mbito regional. Tendo em vista que o dano ou risco se circunscreve ao territrio de tal Estado, a competncia ser exclusiva de juzos de sua Capital.

Distribuio da competncia territorial:Extenso do dano ou do riscoCompetncia

LOCAL (um nico ou poucos foros, ainda que em dois Estados vizinhos)Juzo de quaisquer dos foros atingidos.

REGIONAL (muitos foros de um nico Estado, sem abranger todo o territrio Estadual)Juzo com foro na capital do Estado atingido.

REGIONAL (vrios Estados, e, eventualmente o DF, sem abranger todo o territrio nacional)Juzo com foro nas capitais dos Estados atingidos e juzos com foro no DF (quando atingido).

NACIONAL (todo o territrio nacional)Juzos com foro nas capitais de quaisquer dos Estados e juzos com foro no DF.

2.5.4.2 Regras especficas

2.5.4.2.1 Causas em que a Unio for autora ou r

Se a unio for autora da ao dever ser proposta na seo judiciria do domicilio do ru, ainda que o dano ou ameaa de dano ocorram em uma outra seo, ou tenham mbito regional ou nacional. De outro modo, se a Unio figurar como r, o autor poder optar por um dos seguintes foros, cujos juzos federais so territorialmente competentes: 1) do seu prprio domiclio; 2) do Distrito Federal; 3) do local onde esteja situada a coisa, ou onde tenha ocorrido o ato ou fato que deu origem demanda.

2.5.4.2.2 - Estatuto da Criana e do Adolescente

ECA local onde ocorreu ou deva ocorrer a ao ou omisso (art. 209);

2.5.4.2.3 Estatuto do Idoso

IDOSO local do domiclio do idoso (art. 80);

2.5.5 Competncia do Juzo

Tratando-se de aes coletivas, normalmente sero competentes as varas cveis, ou, quando for o caso, da fazenda pblica. interessante, ainda, apontar a existncia, e, alguns locais, de varas com competncia especializada em matria ambiental.

2.5.5.1 Juizados Especiais Cveis Federais

JESP. FEDERAL expressamente no tem competncia para ACP, (art. 3, par. 1, I);

Ressalva-se, porm, que a vedao diz respeito s aes coletivas sobre tais direitos ou interesses, no s individuais. Assim, as vitimas titulares dos direitos individuais homogneos no esto impedidas de demandarem perante esses Juizados por meios de aes individuais, desde que preenchidos os demais requisitos da Leis 1.259/2001

2.5.5.2 Juizados Especiais Cveis Estaduais

JESP. ESTADUAL implicitamente no tem competncia para ACP (no seriam causas cveis de menor complexidade).

2.5.6 Competncia Interna

Busca definir qual o Juiz competente quando mais de um atuar em uma mesma vara, ou qual a cmara, grupo de cmaras, turma, seo ou rgo competente, quando mais de um atuar em um mesmo tribunal.

2.5.7 Competncia recursal

Define-se qual o rgo judicirio competente para apreciar o recurso.

2.6 - LITISCONSRCIO E INTERVENO DE TERCEIROS

2.6.1 Litisconsrcio e assistncia

2.6.1.1 Noes preliminares

O litisconsrcio pode ser considerado sob diversos ngulos: a) ativo, se h mais de um autor; b) passivo, se h mais de um ru; c) bilateral, na hiptese de mais de um autor e mais de um ru. Os autores e os rus que atuam em litisconsrcio do denominados litisconsortes.

Tradicionalmente, a assistncia definida como modalidade de interveno de terceiros em que algum (o assistente) por ter interesse jurdico na lide (a sentena pode, indiretamente, afetar sua esfera jurdica), ingressa no processo para auxiliar (com requerimento e produo de provas, interposio de recursos e etc) uma das partes processuais, que passa a ser seu assistido.

2.6.1.2 Litisconsrcio ativo inicial de colegitimados

Cada coletigimado pode ajuizar a ACP isoladamente (legitimao concorrente e disjuntiva), mas nada obsta a que dois ou mais colegitimados a proponham em litisconsrcio, que ser facultativo, portanto. Alm disso, ele unitrio.

2.6.1.3 Litisconsrcio ativo superveniente de colegitimados

Lado outro, a LACP autoriza em seu art. 5, par. 2, que o Poder Pblico e outras associaes legitimadas que no tenham ajuizado a ao possam posteriormente habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes.

2.6.1.4 Litisconsrcio ativo entre Ministrios Pblicos

Sobre o litisconsrcio ativo entre Ministrios Pblicos (ver art. 5, p. 5 da LACP), a doutrina controvertida, para os que defendem a possibilidade alega-se que o princpio da unidade s existe dentro de cada ramo do Ministrio Pblico, no haveria de se falar em violao ao princpio federativo.

2.6.1.5 Facultatividade do litisconsrcio passivo em aes ambientais

No tocante s aes ambientais, tem-se litisconsrcio passivo facultativo, tendo em vista que doutrina e jurisprudncia vem entendendo que a responsabilidade dos poluidores pelos danos ambientais solidria.

2.6.1.6 Assistncia simples de no colegitimados

Registra-se que no h impedimento assistncia simples de no colegitimados no polo ativo ou passivo.

2.6.1.7 Litisconsrcio e assistncia litisconsorcial de no colegitimados

Excepcionalmente a doutrina admite que cidados atuem como litisconsortes dos colegitimados no polo ativo, caso o objeto (pedido) da ACP seja idntico ou inclua um daqueles que o cidado seria autorizado a formular em uma ao popular (anulao de ato lesivo ao patrimnio pblico ou de entidade de que o Estado participe, moralidade adm, ao MA e ao patrimnio histrico e cultural).

Litisconsrcio e assistncia de no colegitimados no polo ativo de ACP:ACP para defesa de:Litisconsrcio e assistncia litisconsorcial

Interesses difusosRegra: impossveis, pois: 1) a lei s previu litisconsrcio no caso de colegitimados de interesses indiv. homog.; 2) risco de tumulto processual.Exceo: cidado, nos casos em que tambm for possvel ajuizar AP em idntico objeto ou conexa.

Interesses coletivos em s.e.Impossveis, pois: 1) idem supra; 2) idem supra. Obs.: a exceo doutrinria do cidado no se aplica aqui, pois ele no poderia defender direitos coletivos, nem mesmo em AP.

Interesses individuais homogneosPossveis para os indivduos lesados (art. 94, CDC). `A letra da lei, tratar-se-ia de litisconsrcio ulterior, mas os autores pensam que a hiptese de aproxima de assistncia litisconsorcial.

Em uma sntese ainda mais breve, pode-se afirmar que pessoas no legitimadas a propositura de aes civis pblicas somente podero intervir como litisconsortes (ou assistentes litisconsorciais, dependendo do posicionamento adotado) no polo ativo:

1) Conforme entende parte da doutrina, caso sejam cidados, e desde que o objeto (pedido) da ao civil pblica seja idntico a um ou inclua um objeto que poderia ser postulado em uma ao popular;

2) Caso sejam vitimas (indivduos lesados) na hiptese prevista no CDC, Art. 94.

2.6.2 - Oposio

No parece possvel a incidncia da oposio no processo coletivo, por no ser possvel aos autores das ACP defenderem direito alheio em nome prprio no polo passivo de uma relao processual. 2.6.3 Nomeao autoria

Por outro lado, no h incompatibilidade entre a nomeao autoria e a ACP.

2.6.4 Denunciao Lide

No que diz respeito denunciao da lide, no existe vedao genrica de seu uso nas ACP, de modo que, em tese, possvel admiti-la, aplicando-se a disciplina do CPC. Apesar da inexistncia de bice legal genrico, a denunciao da lide defesa em aes (individuais ou coletivas) movidas em face de fornecedores, quando fundadas no fato do produto, por conta do que dispe o art. 88 c/c o art. 13, par. .do CDC.

Todavia, atualmente est sendo consolidado no STJ o entendimento de que a denunciao da lide s vedada nas aes de responsabilidade civil pelo fato do produto. Ainda sobre o tema, o STJ tem frequentemente repelido a denunciao da lide nas ACP fundadas na responsabilidade objetiva do ru, quando a denunciao invoca a responsabilidade subjetiva de terceiro.

2.6.5 Chamamento ao Processo

Finalmente, em relao ao chamamento ao processo, em tese, ele vivel na ACP, embora, muitas vezes, possa no ser possvel.

2.6.6 Amicus Curiae

Trata-se de pessoa fsica ou jurdica, estranha relao jurdica processual, cuja ateno tem por finalidade fornecer subsdios tcnico-jurdicos ao Magistrado, em prol de uma prestao jurisdicional mais justa e eficiente.

2.7 - CONEXO, CONTINNCIA E LITISPENDNCIA

2.7.1 Conexo e Continncia

Importante consignar tambm que so perfeitamente possveis a conexo e a continncia entre ACPs, sendo necessria apenas a coincidncia de rus e de causas de pedir, e que o objeto de uma, por ser mais amplo, contenha o da outra. possvel conexo entre ACP, AP e MSC. admissvel ainda a conexo entre uma ACP e aes individuais, bastando a identidade da causa de pedir ou do objeto.

2.7.1.1 Efeito da Conexo ou Continncia: prorrogao da competncia

Dispe o art. 105 do CPC que, havendo conexo ou continncia entre duas ou mais aes, o juiz de ofcio ou de requerimento de qualquer das partes, pode ordenar a reunio de aes propostas em separado, a fim de que sejam decididas simultaneamente.

2.7.1.1.1 Prorrogao de competncia e a questo funcional

Na ACP, diferentemente das aes em geral, o juzo prevento no ser necessariamente o que prolatou o primeiro despacho, nem o que determinou a primeira citao vlida, mas, sim, o juzo perante o qual houve a propositura da primeira ao (LACP, art. 2, PU). O pargrafo nico do art. 2 da LACP, diz que a propositura da ao prevenir a jurisdio do juzo para todas as aes posteriormente intentadas que possuem a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto.

Assim, como o dispositivo fixa a preveno em relao a todas as aes futuras, no se limitando quelas propostas em um mesmo foro, conclui-se que a partir de sua introduo na LACP, a competncia territorial das ACP ganhou um carter sui generis, pois, a despeito de funcional (absoluta) e, portanto, declinvel pelo magistrado ex officio, e insuscetvel de prorrogao por causas voluntrias (como a no oposio de exceo de incompetncia; eleio de foro), prorrogvel por causas legais (conexo e continncia).

2.7.1.1.2 Prorrogao de competncia e os limites territoriais da coisa julgada coletiva

Art. 16. A setena civil far coisa julgada erga omnes, nos limites da competncia territorial do rgo prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficincia de provas, hiptese em que qualquer legitimado poder intentar outra ao com idntico fundamento, valendo-se de nova prova.

A aplicabilidade do art. 16 bastante controvertida, convm observar que, caso o rgo prolator da sentena seja um juzo prevento, no qual tenham sido reunidas vrias aes ajuizadas inicialmente em outros foros, sua competncia ordinria acabou sendo prorrogada para permitir-lhe decidir as causas a ele atradas. Logo, os efeitos de sua sentena no se limitaro ao territrio onde ele ordinariamente exerce sua jurisdio, como tambm alcanaro os territrios dos foros em que as aes conexas ou continentes haviam sigo originariamente ajuizadas. 2.7.1.1.3 Prorrogao de competncia nas relaes entre aes de justia Estadual e Federal

A competncia da Justia Federal, fixada no artigo 109 da Constituio, absoluta, razo pela qual no se admite sua prorrogao, por conexo, para abranger causa em que ente federal no seja parte na condio de autor, ru, assistente ou opoente. A Smula 489, afirma que, Reconhecida a continncia, devem ser reunidas na Justia Federal as aes civis pblicas propostas nesta e na Justia Estadual.

2.7.1.1.4 Prorrogao de competncia nas relaes com mandados de segurana coletivos

Na jurisprudncia, versando especificamente sobre casos de conexo, encontramos decises a favor e contra a possibilidade de reunio dessa espcie.

2.7.2 Litispendncia

A litispendncia tem lugar quando h coincidncia entre os elementos identificadores (partes, causa de pedir e pedido) de duas ou mais aes em curso (CPC, art. 301).

2.7.2 Efeito da litispendncia

possvel a litispendncia entre aes coletivas. Havendo tal fenmeno, parte da doutrina sustenta ser melhor, em ateno ao ideal de efetividade do processo e garantia justia, a reunio dos processos, mesmo porque a extino de algum