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DIREITO, LITERATURA E ESCRAVIDÃO: Reflexões do constitucionalismo liberal à brasileira a partir da obra ¿Negrinha¿, de Monteiro Lobato. RESUMO AUTOR PRINCIPAL: Luísa Giuliani Bernsts E-MAIL: [email protected] TRABALHO VINCULADO À BOLSA DE IC:: Pibic UPF ou outras IES CO-AUTORES: ORIENTADOR: Fausto Santos de Morais ÁREA: Ciências Humanas, Sociais Aplicadas, Letras e Artes ÁREA DO CONHECIMENTO DO CNPQ: Teoria do Direito UNIVERSIDADE: Instituto Meridional - IMED INTRODUÇÃO: O presente estudo tem como problema a (in)efetividade dos direitos fundamentais, diante da evidencia de um direito simbólico, incapaz de enfrentar normativamente os desafios impostos pelas revoluções liberais iniciadas ao séc. XVIII. Para tanto, valer-se-á da produtividade reflexiva do Direito na Literatura. Essa ideia decorreu da leitura do conto ¿Negrinha¿ de Monteiro Lobato. O trabalho literato focaliza a situação da menina de sete anos que, mesmo após a edição de normas que visavam proteger o negro escravizado, não conseguia se libertar da realidade de uma sociedade escravocrata. Evidencia- se, assim, o arcabouço normativo daquele tempo fundado na Constituição de 1824 que, embora previsse a inviolabilidade dos Direitos Civis e Políticos dos Cidadãos Brasileiros (art. 179, caput), considerando o escravo liberto nascido no país como seu cidadão (art. 6°), não outorgava a este a condição de eleitor (art. 94, III), embora houvesse o signo da igualdade positivado (art. 179, XIII). METODOLOGIA: A investigação do pano de fundo histórico que sustenta a narrativa de Monteiro Lobato torna possível (re)traçar o caminho das mudanças ocorridas no cenário jurídico brasileiro. Valendo-se do ¿método¿ fenomenológico-hermenêutico, é possível concluir que tal modelo jurídico, pensado a partir dos ideais constitucionalista daquele período , lidava apenas com a virtualidade de um contexto político social de afirmação das liberdades individuais. Isso porque, mesmo após as Revoluções Americana e Francesa, paradigmáticas pela afirmação das promessas da modernidade (STRECK), a realidade brasileira se apresentava muito mais simbólica que realizadora dos direitos de liberdade idealizado pelo constitucionalismo oitocentista, negando qualquer noção de um modelo de constituição de cunho dirigente e compromissório (CANOTILHO).

RESUMO DIREITO, LITERATURA E ESCRAVIDÃO: Reflexões do ...semanadoconhecimento.upf.br/download/anais-2013/humanas/luisa... · STRECK, Lenio Luiz. Ciência política e teoria geral

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DIREITO, LITERATURA E ESCRAVIDÃO: Reflexões do constitucionalismo liberal àbrasileira a partir da obra ¿Negrinha¿, de Monteiro Lobato.

RESUMO

AUTOR PRINCIPAL:Luísa Giuliani Bernsts

E-MAIL:[email protected]

TRABALHO VINCULADO À BOLSA DE IC::Pibic UPF ou outras IES

CO-AUTORES:

ORIENTADOR:Fausto Santos de Morais

ÁREA:Ciências Humanas, Sociais Aplicadas, Letras e Artes

ÁREA DO CONHECIMENTO DO CNPQ:Teoria do Direito

UNIVERSIDADE:Instituto Meridional - IMED

INTRODUÇÃO:O presente estudo tem como problema a (in)efetividade dos direitos fundamentais, diante da evidencia de um direitosimbólico, incapaz de enfrentar normativamente os desafios impostos pelas revoluções liberais iniciadas ao séc. XVIII. Paratanto, valer-se-á da produtividade reflexiva do Direito na Literatura. Essa ideia decorreu da leitura do conto ¿Negrinha¿ deMonteiro Lobato. O trabalho literato focaliza a situação da menina de sete anos que, mesmo após a edição de normas quevisavam proteger o negro escravizado, não conseguia se libertar da realidade de uma sociedade escravocrata. Evidencia-se, assim, o arcabouço normativo daquele tempo fundado na Constituição de 1824 que, embora previsse a inviolabilidadedos Direitos Civis e Políticos dos Cidadãos Brasileiros (art. 179, caput), considerando o escravo liberto nascido no paíscomo seu cidadão (art. 6°), não outorgava a este a condição de eleitor (art. 94, III), embora houvesse o signo da igualdadepositivado (art. 179, XIII).

METODOLOGIA:A investigação do pano de fundo histórico que sustenta a narrativa de Monteiro Lobato torna possível (re)traçar o caminhodas mudanças ocorridas no cenário jurídico brasileiro. Valendo-se do ¿método¿ fenomenológico-hermenêutico, é possívelconcluir que tal modelo jurídico, pensado a partir dos ideais constitucionalista daquele período , lidava apenas com avirtualidade de um contexto político social de afirmação das liberdades individuais. Isso porque, mesmo após asRevoluções Americana e Francesa, paradigmáticas pela afirmação das promessas da modernidade (STRECK), a realidadebrasileira se apresentava muito mais simbólica que realizadora dos direitos de liberdade idealizado pelo constitucionalismooitocentista, negando qualquer noção de um modelo de constituição de cunho dirigente e compromissório (CANOTILHO).

RESULTADOS E DISCUSSÕES:A análise da edição e efetividade de leis infraconstitucionais neste período evidencia o conflito do desenvolvimento de umaeconomia fundada na exploração do trabalho escravo diante da evolução dos direitos individuais nas nações desenvolvidasdo séc XVII, que culminaria na abolição do emprego da mão de obra escrava, em território nacional, no ano de 1888.A Lei Feijó sancionada em 7 de novembro de 1831 determinava que todo o escravo que adentrasse no Brasil teria acondição jurídica de livre (art. 1°). Excetuava-se dessa ordem aqueles escravos advindos de países cuja escravidão erapermitida e devidamente inscritos aos serviços das embarcações. A (in)efetividade da Lei deu origem ao jargão popular:¿lei para inglês ver¿. Aliás, a pressão inglesa contra o negócio do tráfico de escravos implicou na assinatura pelo Brasil, em1845, tratado atribuindo à Inglaterra a jurisdição sobre as embarcações e escravos (Bill Aberdeen). No ano de 1871, foieditada a Lei n° 2.040 (Lei do Ventre Livre), reconhecendo a liberdade aos filhos de escravas nascidos a partir da vigênciada lei. A ironia da lei era que o proprietário da mãe escrava seria responsável pela criação do nascido até aos 8 anos deidade, devendo ser indenizado pelo Estado por tal ato ou utilizar-se dos serviços do nascido até o momento em que elecompletasse 21 anos de idade. A escolha era do senhor da mãe escrava. No ano de 1880, foi promulgada a Lei doSexagenário criando requisitos jurídicos a libertação dos escravos a partir dos 60 anos de idade. Por fim, em 13 de maio de1888 adveio a Lei n° 3.353 (Lei Áurea).

CONCLUSÃO:Ao recupera-se o arcabouço jurídico à época, notou-se a (in)operatividade funcional do Direito diante do poder político-social marcado por um modelo de relações sociais senhoril, escravagista e patrimonial-individualista. Fica evidenciado opapel, muito mais simbólico do que efetivo, desempenhado pela Constituição de 1824.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 7. ed. Coimbra: Livraria Almedina, 2003.LOBATO, Monteiro. Negrinha. 2. ed. São Paulo: Globo, 2009.NABUCO, Joaquim. Essencial. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.STRECK, Lenio Luiz. Ciência política e teoria geral do estado. 4. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2004.

Assinatura do aluno Assinatura do orientador