12
Resumo. A construção histórica das ciências sociais, do século XVIII até 1945 As ciências sociais constituíram um empreendimento do mundo moderno. As suas raízes mergulham na tentativa [...] de desenvolver um saber sistemático e secular acerca da realidade, que de algum modo possa ser empiricamente validado. A esse saber chamou-se scientia, uma palavra que significava simplesmente conhecimento. p. 14 A chamada visão clássica da ciência [...] foi erigida sobre duas premissas. Uma delas foi o modelo newtoniano, segundo o qual existe uma simetria entre o passado e o futuro. [...] A segunda premissa foi o dualismo cartesiano [...]. p. 15 A ciência passaria a ser definida como a busca de leis universais da natureza que se mantivessem verdadeiras para além das barreiras de espaço e tempo. p. 15 [...] a morada do nosso viver presente e passado passou a assemelhar-se menos a um lar e mais a uma rampa de lançamento, lugar a partir do qual nós, enquanto homens [...] de ciência, fomos capazes de pairar pelo espaço, posicionando-nos como senhores de uma unidade cada vez mais cósmica. p. 18 As ciências da natureza, tais como foram construídas no decurso dos séculos XVII e XVIII, provieram primordialmente do estudo da mecânica celeste. p. 18 [...] por volta do início do século XIX que o triunfo da ciência se iria firmar do ponto de vista linguístico. O termo ciência [...], passou, então, a ser associado primordialmente [...] à s ciências da natureza. p. 18-19 [O Estado moderno sentia a necessidade de possuir um conhecimento mais exato, delimitando suas definições e fronteiras]. Foi neste contexto que a universidade [...] foi revitalizada [...] tornando- se o lugar institucional preferencial para a criação de conhecimento. p. 20 Seria, enfim, na faculdade de Filosofia [...] que os praticantes tanto das artes como das ciências naturais iriam penetrar para aí edificarem as suas múltiplas estruturas disciplinares autônomas. p. 20-21

Resumo Para Abrir as Ciencias Sociais WALLERSTEIN

  • Upload
    jvtimao

  • View
    114

  • Download
    7

Embed Size (px)

DESCRIPTION

resumo

Citation preview

Resumo.A construo histrica das cincias sociais, do sculo XVIII at 1945

As cincias sociais constituram um empreendimento do mundo moderno. As suas razes mergulham na tentativa [...] de desenvolver um saber sistemtico e secular acerca da realidade, que de algum modo possa ser empiricamente validado. A esse saber chamou-se scientia, uma palavra que significava simplesmente conhecimento. p. 14

A chamada viso clssica da cincia [...] foi erigida sobre duas premissas. Uma delas foi o modelo newtoniano, segundo o qual existe uma simetria entre o passado e o futuro. [...] A segunda premissa foi o dualismo cartesiano [...]. p. 15

A cincia passaria a ser definida como a busca de leis universais da natureza que se mantivessem verdadeiras para alm das barreiras de espao e tempo. p. 15

[...] a morada do nosso viver presente e passado passou a assemelhar-se menos a um lar e mais a uma rampa de lanamento, lugar a partir do qual ns, enquanto homens [...] de cincia, fomos capazes de pairar pelo espao, posicionando-nos como senhores de uma unidade cada vez mais csmica. p. 18

As cincias da natureza, tais como foram construdas no decurso dos sculos XVII e XVIII, provieram primordialmente do estudo da mecnica celeste. p. 18

[...] por volta do incio do sculo XIX que o triunfo da cincia se iria firmar do ponto de vista lingustico. O termo cincia [...], passou, ento, a ser associado primordialmente [...] s cincias da natureza. p. 18-19

[O Estado moderno sentia a necessidade de possuir um conhecimento mais exato, delimitando suas definies e fronteiras]. Foi neste contexto que a universidade [...] foi revitalizada [...] tornando-se o lugar institucional preferencial para a criao de conhecimento. p. 20

Seria, enfim, na faculdade de Filosofia [...] que os praticantes tanto das artes como das cincias naturais iriam penetrar para a edificarem as suas mltiplas estruturas disciplinares autnomas. p. 20-21

A histria intelectual do sculo XIX marcada, antes de tudo, por este processo de disciplinarizao e profissionalizao do conhecimento, o que significa dizer, pela criao de estruturas institucionais permanentes destinadas, simultaneamente, a produzir um novo conhecimento e a reproduzir os produtores desse conhecimento. p. 21

As cincias naturais no tinham ficado espera da revitalizao da universidade para gerarem uma vida institucional autnoma. A razo por que puderam atuar mais cedo foi porque conseguiram angariar apoio social e poltico a troco da promessa de produzirem resultados prticos traduzidos numa utilidade imediata. p. 21

[...] as universidades passaram a ser o espao privilegiado da permanente tenso entre as artes (humanidades) e as cincias [...]. p. 22

[alguns estudiosos] voltaram-se para a fsica newtoniana, tornando-a como modelo a seguir. p. 23

Outros [...] voltaram-se para a criao das narrativas histricas nacionais [...]. p. 23

Para Comte, a fsica social iria permitir a reconciliao da ordem e do progresso ao entregar a soluo dos problemas sociais a um "nmero reduzido de inteligncias de elite" dotadas do nvel de instruo adequado. p. 26

A cincia positiva visava a libertao total relativamente teologia e metafsica, bem como a todos os demais modos de "explicao" da realidade. p. 27

Comte: cincia positiva.John Mill: cincia exata.

Para o seu inventor, Comte, a sociologia haveria de ser a rainha das cincias, uma cincia social integrada e unificada e caracterizada pelo "positivismo". p. 35

Havia os povos que viviam em grupos relativamente pequenos, sem um sistema de registros escritos, desinseridos de qualquer sistema religioso geograficamente amplo, e militarmente dbeis em relao tecnologia europia. Recorreu-se ento a diversos termos genricos para designar tais povos: em ingls, eram normalmente apelidados de "tribos". p. 37

O enraizamento dos antroplogos nas estruturas da universidade foi o fator que mais pesou para que estes mantivessem a prtica da etnografia dentro das premissas normativas da cincia. p. 39

Explicava-se a civilizao da Antiguidade como tendo sido a fase inicial de um desenvolvimento histrico uno e contnuo, que teria culminado com a moderna civilizao "ocidental". p. 41

[...] os estudos orientais oferecem total resistncia modernidade, mantendo-se, de um modo geral, margem do ethos cientfico. Os Orientalistas [...] preencheram um importante nicho nas cincias sociais, dado que durante muito tempo os estudiosos do Oriente foram praticamente os nicos que na universidade se dedicaram investigao das realidades sociais relativas China, ndia ou Prsia. p. 43

[...] durante o perodo anterior a 1945 a geografia foi a nica disciplina que se esforou de forma consciente por ter uma prtica verdadeiramente mundial quanto ao seu objeto de estudo. p. 44

[...] na prtica as cincias sociais baseavam-se numa viso especfica - ainda que no assumida - da especialidade. O conjunto de estruturas espaciais que, no pressuposto dos cientistas sociais, presidiam organizao da vida das pessoas eram os territrios soberanos que coletivamente definiam o mapa poltico mundial. p. 45

[...] as cincias sociais tero sido um produto mais ou menos direto dos Estados [...]. p. 45

A secularizao do conhecimento promovida pelo Iluminismo foi confirmada pela teoria evolucionista, e as teses de Darwin alastraram muito para alm das suas origens biolgicas. Embora a metodologia das cincias sociais fosse dominada pelo paradigma da fsica newtoniana, a biologia darwiniana teve uma influncia bastante grande nas teorias do social graas a essa metaconstruo irreversivelmente apelativa que dava pelo nome de evoluo, com a sua enorme nfase no conceito de sobrevivncia do mais apto. p. 48

Os grandes debates no interior das cincias sociais, de 1945 at o presente

Aps 1945, trs desenvolvimentos vieram afetar profundamente a estrutura das cincias sociais montada ai longo dos cem anos precedentes. O primeiro foi a mudana verificada na estrutura poltica mundial. p. 55

O segundo foi o fato de, nos vinte e cinco anos que se seguiram a 1945, o mundo ter conhecido a sua maior expanso de sempre tanto no respeitante capacidade produtiva como no que se refere populao. p. 56

O terceiro desses desenvolvimentos foi a subsequente e extraordinria expanso, quantitativa e geogrfica, do sistema universitrio no nvel mundial. p. 56

A utilizao de conceitos analticos e de abordagens tericas foi, em si mesma, uma maneira de exprimir a oposio ao paradigma "historicista" vigente [...]. p. 67

Nos anos 60, a crtica ausncia da perspectiva historicista encontrou um eco crescente entre os cientistas sociais mais jovens, que ento se voltaram cada vez mais para a crtica social. p. 69-70

Assistiu-se a uma convergncia dos escritos dos cientistas sociais de orientao histrica (ou historicizante) com os dos historiadores "estruturalistas" [...]. p. 70

As mltiplas sobreposies entre disciplinas tiveram uma dupla consequncia. No s se tornou cada vez mais complicado achar linhas de diferenciao ntidas entre elas [...] como tambm sucedeu que cada uma das disciplinas se tornou cada vez mais heterognea, devido ao alargamento das balizas dos tpicos de investigao considerados aceitveis. p. 73

[...] a estrutura terica das cincias sociais [...] tem sofrido a incrustao de certos pressupostos, e em muitos casos de preconceitos ou de raciocnios apriorsticos, desprovidos de qualquer justificao terica ou emprica, os quais deveriam ser elucidados, analisados e substitudos por premissas mais justificveis. p. 84

O universalismo foi acusado de ser uma forma disfarada de particularismo. [...] O problema que aqueles que detm o poder social tm uma tendncia natural para considerar universal a situao vigente, uma vez que ela os beneficie. p. 87

O fato de existirem vises particularistas competindo entre si para determinar o que universal obriga-nos a levar a srio as questes relativas neutralidade do estudioso. p. 87-88

O trazer as metalinguagens para primeiro plano e o submet-lo a uma racionalidade crtica pode ser a nica maneira que temos de poder escolher a nossa combinao do universal e do particular enquanto objetos, objetivos e linguagens. p. 88

Depois dos anos 60 ocorreram dois desenvolvimentos notrios nas estruturas do saber. Embora provindos de extremos opostos das divises do saber universitrias, ambos vieram pr em causa a realidade e a validade da distino entre as "duas culturas". O mal-estar que de h muito fervilhava nas cincias naturais relativamente aos pressupostos newtonianos [...] acabou, finalmente, por explodir [...]. p. 90

[...] a causa mais importante ter residido na crescente incapacidade das teorias cientficas mais antigas para fornecer solues plausveis para as dificuldades encontradas pelos cientistas medida que se foram abalanando resoluo de problemas relacionados com fenmenos cada vez mais complexos. p. p. 91

[...] as cincias naturais comearam a parecer-se mais com aquilo que tinha sido desdenhosamente apelidado de cincias sociais moles (soft) do que as apregoadas cincias sociais duras (hard). p. 91

A viso cartesiana da cincia clssica havia descrito o mundo como um automaton, determinista e totalmente passvel de ser descrito sob a forma de leis causais, ou "leis da natureza". p. 92

[...] o crescimento dos estudos culturais teve sobre as cincias sociais um impacto que de algum modo foi anlogo aos novos desenvolvimentos ocorridos na rea da cincia. p. 99

Que tipo de cincias sociais nos cabe, hoje, construir?

Existe um terceiro nvel de reestruturao possvel. que o problema no reside na questo das fronteiras interdepartamentais no interior das faculdades, nem na questo das fronteiras entre faculdades no interior das universidades. Parte da reestruturao ocorrida no sculo XIX implicou a renovao da prpria universidade enquanto lugar por excelncia da criao e reproduo do saber. p. 107

Toda a medio altera a realidade na tentativa mesma de a medir. Toda a conceitualizao assenta em vnculos filosficos. p. 110

A universidade no pode continuar a por-se margem num mundo em que, uma vez excluda a certeza, a funo do intelectual est necessariamente em vias de mudana e a ideia do cientista neutro fortemente posta em causa [...]. p. 114

O conceito de desenvolvimento [...] comeou por referir, antes de mais nada, o desenvolvimento de cada Estado isoladamente, tomado como entidade singular. p. 117

O mnimo que podemos exigir dos cientistas sociais que tenham conscincia do alcance conceitual das designaes que utilizam. p. 127

[...] as cincias sociais foram a tentativa de desenvolver, no mundo moderno, "um saber sistemtico e secular acerca da realidade, que de algum modo possa ser empiricamente validado". p. 128

Consideramos que empurrar as cincias sociais para o combate fragmentao do saber equivale a empurr-las na direo de um significativo grau de objetividade. p. 131

[...] o fato de o conhecimento ser socialmente construdo significa tambm que socialmente possvel haver um conhecimento mais vlido. O reconhecer-se as bases sociais do conhecimento em nada contradiz o conceito de objetividade. p. 132

Resumo.A construo histrica das cincias sociais, do sculo XVIII at 1945

As cincias sociais constituram um empreendimento do mundo moderno. As suas razes mergulham na tentativa [...] de desenvolver um saber sistemtico e secular acerca da realidade, que de algum modo possa ser empiricamente validado. A esse saber chamou-se scientia, uma palavra que significava simplesmente conhecimento. p. 14

A chamada viso clssica da cincia [...] foi erigida sobre duas premissas. Uma delas foi o modelo newtoniano, segundo o qual existe uma simetria entre o passado e o futuro. [...] A segunda premissa foi o dualismo cartesiano [...]. p. 15

A cincia passaria a ser definida como a busca de leis universais da natureza que se mantivessem verdadeiras para alm das barreiras de espao e tempo. p. 15

[...] a morada do nosso viver presente e passado passou a assemelhar-se menos a um lar e mais a uma rampa de lanamento, lugar a partir do qual ns, enquanto homens [...] de cincia, fomos capazes de pairar pelo espao, posicionando-nos como senhores de uma unidade cada vez mais csmica. p. 18

As cincias da natureza, tais como foram construdas no decurso dos sculos XVII e XVIII, provieram primordialmente do estudo da mecnica celeste. p. 18

[...] por volta do incio do sculo XIX que o triunfo da cincia se iria firmar do ponto de vista lingustico. O termo cincia [...], passou, ento, a ser associado primordialmente [...] s cincias da natureza. p. 18-19

[O Estado moderno sentia a necessidade de possuir um conhecimento mais exato, delimitando suas definies e fronteiras]. Foi neste contexto que a universidade [...] foi revitalizada [...] tornando-se o lugar institucional preferencial para a criao de conhecimento. p. 20

Seria, enfim, na faculdade de Filosofia [...] que os praticantes tanto das artes como das cincias naturais iriam penetrar para a edificarem as suas mltiplas estruturas disciplinares autnomas. p. 20-21

A histria intelectual do sculo XIX marcada, antes de tudo, por este processo de disciplinarizao e profissionalizao do conhecimento, o que significa dizer, pela criao de estruturas institucionais permanentes destinadas, simultaneamente, a produzir um novo conhecimento e a reproduzir os produtores desse conhecimento. p. 21

As cincias naturais no tinham ficado espera da revitalizao da universidade para gerarem uma vida institucional autnoma. A razo por que puderam atuar mais cedo foi porque conseguiram angariar apoio social e poltico a troco da promessa de produzirem resultados prticos traduzidos numa utilidade imediata. p. 21

[...] as universidades passaram a ser o espao privilegiado da permanente tenso entre as artes (humanidades) e as cincias [...]. p. 22

[alguns estudiosos] voltaram-se para a fsica newtoniana, tornando-a como modelo a seguir. p. 23

Outros [...] voltaram-se para a criao das narrativas histricas nacionais [...]. p. 23

Para Comte, a fsica social iria permitir a reconciliao da ordem e do progresso ao entregar a soluo dos problemas sociais a um "nmero reduzido de inteligncias de elite" dotadas do nvel de instruo adequado. p. 26

A cincia positiva visava a libertao total relativamente teologia e metafsica, bem como a todos os demais modos de "explicao" da realidade. p. 27

Comte: cincia positiva.John Mill: cincia exata.

Para o seu inventor, Comte, a sociologia haveria de ser a rainha das cincias, uma cincia social integrada e unificada e caracterizada pelo "positivismo". p. 35

Havia os povos que viviam em grupos relativamente pequenos, sem um sistema de registros escritos, desinseridos de qualquer sistema religioso geograficamente amplo, e militarmente dbeis em relao tecnologia europia. Recorreu-se ento a diversos termos genricos para designar tais povos: em ingls, eram normalmente apelidados de "tribos". p. 37

O enraizamento dos antroplogos nas estruturas da universidade foi o fator que mais pesou para que estes mantivessem a prtica da etnografia dentro das premissas normativas da cincia. p. 39

Explicava-se a civilizao da Antiguidade como tendo sido a fase inicial de um desenvolvimento histrico uno e contnuo, que teria culminado com a moderna civilizao "ocidental". p. 41

[...] os estudos orientais oferecem total resistncia modernidade, mantendo-se, de um modo geral, margem do ethos cientfico. Os Orientalistas [...] preencheram um importante nicho nas cincias sociais, dado que durante muito tempo os estudiosos do Oriente foram praticamente os nicos que na universidade se dedicaram investigao das realidades sociais relativas China, ndia ou Prsia. p. 43

[...] durante o perodo anterior a 1945 a geografia foi a nica disciplina que se esforou de forma consciente por ter uma prtica verdadeiramente mundial quanto ao seu objeto de estudo. p. 44

[...] na prtica as cincias sociais baseavam-se numa viso especfica - ainda que no assumida - da especialidade. O conjunto de estruturas espaciais que, no pressuposto dos cientistas sociais, presidiam organizao da vida das pessoas eram os territrios soberanos que coletivamente definiam o mapa poltico mundial. p. 45

[...] as cincias sociais tero sido um produto mais ou menos direto dos Estados [...]. p. 45

A secularizao do conhecimento promovida pelo Iluminismo foi confirmada pela teoria evolucionista, e as teses de Darwin alastraram muito para alm das suas origens biolgicas. Embora a metodologia das cincias sociais fosse dominada pelo paradigma da fsica newtoniana, a biologia darwiniana teve uma influncia bastante grande nas teorias do social graas a essa metaconstruo irreversivelmente apelativa que dava pelo nome de evoluo, com a sua enorme nfase no conceito de sobrevivncia do mais apto. p. 48

Os grandes debates no interior das cincias sociais, de 1945 at o presente

Aps 1945, trs desenvolvimentos vieram afetar profundamente a estrutura das cincias sociais montada ai longo dos cem anos precedentes. O primeiro foi a mudana verificada na estrutura poltica mundial. p. 55

O segundo foi o fato de, nos vinte e cinco anos que se seguiram a 1945, o mundo ter conhecido a sua maior expanso de sempre tanto no respeitante capacidade produtiva como no que se refere populao. p. 56

O terceiro desses desenvolvimentos foi a subsequente e extraordinria expanso, quantitativa e geogrfica, do sistema universitrio no nvel mundial. p. 56

A utilizao de conceitos analticos e de abordagens tericas foi, em si mesma, uma maneira de exprimir a oposio ao paradigma "historicista" vigente [...]. p. 67

Nos anos 60, a crtica ausncia da perspectiva historicista encontrou um eco crescente entre os cientistas sociais mais jovens, que ento se voltaram cada vez mais para a crtica social. p. 69-70

Assistiu-se a uma convergncia dos escritos dos cientistas sociais de orientao histrica (ou historicizante) com os dos historiadores "estruturalistas" [...]. p. 70

As mltiplas sobreposies entre disciplinas tiveram uma dupla consequncia. No s se tornou cada vez mais complicado achar linhas de diferenciao ntidas entre elas [...] como tambm sucedeu que cada uma das disciplinas se tornou cada vez mais heterognea, devido ao alargamento das balizas dos tpicos de investigao considerados aceitveis. p. 73

[...] a estrutura terica das cincias sociais [...] tem sofrido a incrustao de certos pressupostos, e em muitos casos de preconceitos ou de raciocnios apriorsticos, desprovidos de qualquer justificao terica ou emprica, os quais deveriam ser elucidados, analisados e substitudos por premissas mais justificveis. p. 84

O universalismo foi acusado de ser uma forma disfarada de particularismo. [...] O problema que aqueles que detm o poder social tm uma tendncia natural para considerar universal a situao vigente, uma vez que ela os beneficie. p. 87

O fato de existirem vises particularistas competindo entre si para determinar o que universal obriga-nos a levar a srio as questes relativas neutralidade do estudioso. p. 87-88

O trazer as metalinguagens para primeiro plano e o submet-lo a uma racionalidade crtica pode ser a nica maneira que temos de poder escolher a nossa combinao do universal e do particular enquanto objetos, objetivos e linguagens. p. 88

Depois dos anos 60 ocorreram dois desenvolvimentos notrios nas estruturas do saber. Embora provindos de extremos opostos das divises do saber universitrias, ambos vieram pr em causa a realidade e a validade da distino entre as "duas culturas". O mal-estar que de h muito fervilhava nas cincias naturais relativamente aos pressupostos newtonianos [...] acabou, finalmente, por explodir [...]. p. 90

[...] a causa mais importante ter residido na crescente incapacidade das teorias cientficas mais antigas para fornecer solues plausveis para as dificuldades encontradas pelos cientistas medida que se foram abalanando resoluo de problemas relacionados com fenmenos cada vez mais complexos. p. p. 91

[...] as cincias naturais comearam a parecer-se mais com aquilo que tinha sido desdenhosamente apelidado de cincias sociais moles (soft) do que as apregoadas cincias sociais duras (hard). p. 91

A viso cartesiana da cincia clssica havia descrito o mundo como um automaton, determinista e totalmente passvel de ser descrito sob a forma de leis causais, ou "leis da natureza". p. 92

[...] o crescimento dos estudos culturais teve sobre as cincias sociais um impacto que de algum modo foi anlogo aos novos desenvolvimentos ocorridos na rea da cincia. p. 99

Que tipo de cincias sociais nos cabe, hoje, construir?

Existe um terceiro nvel de reestruturao possvel. que o problema no reside na questo das fronteiras interdepartamentais no interior das faculdades, nem na questo das fronteiras entre faculdades no interior das universidades. Parte da reestruturao ocorrida no sculo XIX implicou a renovao da prpria universidade enquanto lugar por excelncia da criao e reproduo do saber. p. 107

Toda a medio altera a realidade na tentativa mesma de a medir. Toda a conceitualizao assenta em vnculos filosficos. p. 110

A universidade no pode continuar a por-se margem num mundo em que, uma vez excluda a certeza, a funo do intelectual est necessariamente em vias de mudana e a ideia do cientista neutro fortemente posta em causa [...]. p. 114

O conceito de desenvolvimento [...] comeou por referir, antes de mais nada, o desenvolvimento de cada Estado isoladamente, tomado como entidade singular. p. 117

O mnimo que podemos exigir dos cientistas sociais que tenham conscincia do alcance conceitual das designaes que utilizam. p. 127

[...] as cincias sociais foram a tentativa de desenvolver, no mundo moderno, "um saber sistemtico e secular acerca da realidade, que de algum modo possa ser empiricamente validado". p. 128

Consideramos que empurrar as cincias sociais para o combate fragmentao do saber equivale a empurr-las na direo de um significativo grau de objetividade. p. 131

[...] o fato de o conhecimento ser socialmente construdo significa tambm que socialmente possvel haver um conhecimento mais vlido. O reconhecer-se as bases sociais do conhecimento em nada contradiz o conceito de objetividade. p. 132

As disciplinas desempenham uma determinada funo: a funo de disciplinar as mentes e de canalizar a energia utilizada na atividade intelectual e de investigao. p. 134

A classificao das cincias sociais foi erigida em redor de duas antinomias que deixaram de concitar o vasto apoio de que j desfrutavam: a antinomia entre passado e presente e a antinomia entre disciplinas idiogrficas e nomotticas. p.134-135e de canalizar a energia utilizada na atividade intelectual e de investigao. p. 134

A classificao das cincias sociais foi erigida em redor de duas antinomias que deixaram de concitar o vasto apoio de que j desfrutavam: a antinomia entre passado e presente e a antinomia entre disciplinas idiogrficas e nomotticas. p.134-135