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RESUMO V DAS PESSOAS 5- Das incapacidades. A incapacidade é a restrição legal ao exercício dos atos da vida civil. As incapacidades estão ligadas à idade, saúde e ao desenvolvimento mental e intelectual que não permitem que a pessoa exerça pessoalmente os seus direitos e deveres. No Brasil não há incapacidade de direito, salvo se estiver enquadrado em alguma restrição legal. Em outras palavras, a partir do nascimento com vida, a capacidade de direito torna-se genérica, o que dá ao individuo aptidão para ocupar qualquer posição jurídica, com exceção das situações vedadas pelo CC. Por exemplo, os artigos 1.618 e 1.735 do CC trazem casos de incapacidade de direito. No primeiro caso, a pessoa que não completou 18 anos não pode adotar. No segundo caso, quem foi declarado pródigo não pode ser tutor pois não tem a livre administração do seu patrimônio. Outro caso de limitação à capacidade de direito está no artigo 1.521 do CC que impede o novo casamento de pessoa que antes não providenciar a dissolução do casamento anterior. Os artigos 1.872 e 1.641 também se referem a limitações à capacidade de direito. O primeiro artigo veda ao cego e ao analfabeto a possibilidade de testar por meio de testamento cerrado. No segundo caso, a lei veda a quem tem mais de sessenta anos escolher o regime de bens do seu casamento. 1 O que a lei prevê é a incapacidade de fato ou de exercício, isto é, aquela capacidade que permite ao indivíduo uma aptidão concreta para o exercício livre e direto de direitos e deveres. O que distingue a capacidade de direito da capacidade de fato é que a capacidade de direito representa uma situação estática do sujeito, o que não acontece na capacidade de fato que traduz uma atuação dinâmica onde o sujeito age por si mesmo adquirindo direitos e contraindo obrigações. A incapacidade pode ser absoluta ( art. 3º CC) e relativa (art. 4º CC). Os primeiros são representados (art. 166,I, do CC), sob pena de nulidade. Já os relativamente incapazes são assistidos ( art. 171, I do CC), pena de anulabilidade do ato realizado. 5.1. Da incapacidade absoluta – Art. 3º do Código Civil 1 RIBEIRO. Gustavo Pereira Leite, op. cit.. p. 20

Resumo- Parte Geral - V

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RESUMO V

DAS PESSOAS

5- Das incapacidades.

A incapacidade é a restrição legal ao exercício dos atos da vida civil. As incapacidades estão ligadas à idade, saúde e ao desenvolvimento mental e intelectual que não permitem que a pessoa exerça pessoalmente os seus direitos e deveres.

No Brasil não há incapacidade de direito, salvo se estiver enquadrado em alguma restrição legal. Em outras palavras, a partir do nascimento com vida, a capacidade de direito torna-se genérica, o que dá ao individuo aptidão para ocupar qualquer posição jurídica, com exceção das situações vedadas pelo CC. Por exemplo, os artigos 1.618 e 1.735 do CC trazem casos de incapacidade de direito. No primeiro caso, a pessoa que não completou 18 anos não pode adotar. No segundo caso, quem foi declarado pródigo não pode ser tutor pois não tem a livre administração do seu patrimônio. Outro caso de limitação à capacidade de direito está no artigo 1.521 do CC que impede o novo casamento de pessoa que antes não providenciar a dissolução do casamento anterior. Os artigos 1.872 e 1.641 também se referem a limitações à capacidade de direito. O primeiro artigo veda ao cego e ao analfabeto a possibilidade de testar por meio de testamento cerrado. No segundo caso, a lei veda a quem tem mais de sessenta anos escolher o regime de bens do seu casamento.1

O que a lei prevê é a incapacidade de fato ou de exercício, isto é, aquela capacidade que permite ao indivíduo uma aptidão concreta para o exercício livre e direto de direitos e deveres. O que distingue a capacidade de direito da capacidade de fato é que a capacidade de direito representa uma situação estática do sujeito, o que não acontece na capacidade de fato que traduz uma atuação dinâmica onde o sujeito age por si mesmo adquirindo direitos e contraindo obrigações.

A incapacidade pode ser absoluta ( art. 3º CC) e relativa (art. 4º CC). Os primeiros são representados (art. 166,I, do CC), sob pena de nulidade. Já os relativamente incapazes são assistidos ( art. 171, I do CC), pena de anulabilidade do ato realizado.

5.1. Da incapacidade absoluta – Art. 3º do Código Civil

A incapacidade absoluta tolhe completamente a pessoa que exerce por si só atos da vida civil. Para esses atos será necessário que seja devidamente representadas pelos pais ou representantes legais.

São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:

a) Os menores de dezesseis anos: por falta de discernimento suficiente para dirigir a sua vida e negócios. A França não regulamenta a incapacidade absoluta e relativa, cabe ao juiz dizer se o menor tem ou não discernimento. A Argentina estabelece 14 anos para a incapacidade absoluta. Na Itália é aos 18 anos. Ao estabelecer essa idade de 16 anos, o legislador considerou não a simples aptidão genérica, isto é de procriação, porém o desenvolvimento intelectual que, em tese, torna o indivíduo plenamente apto para reger sua vida. A regra geral é: qualquer ato praticado por menor dessa idade é nulo.

b) A deficiência mental: a compreensão da alienação mental é sumamente complexa para a medicina e para o direito, pois varia de pequenos distúrbios, cujo enquadramento na dicção necessário discernimento pode não ser conclusivo, até a completa alienação, facilmente perceptível mesmo para os olhos dos leigos. A lei

1 RIBEIRO. Gustavo Pereira Leite, op. cit.. p. 20

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refere-se a qualquer distúrbio mental que possa afetar a vida civil do indivíduo. A expressão abrange desde os vícios mentais congênitos até aqueles adquiridos no decorrer da vida, por qualquer causa. A lei utiliza as expressões: privados de necessário discernimento por enfermidade (entenda-se por enfermidade toda a anomalia que comprometa as funções psíquicas do indivíduo), ou deficiência mental (entenda-se deficiência mental como o atraso no desenvolvimento psíquico). Acabou a antiga denominação: loucos de todo o gênero. Agora o termo é mais técnico e mais abrangente, porque envolve casos de deficiência de proveniência congênita ou adquirida (assim, compreende: oligofrenia, esquizofrenia, doença do pânico, etc.).

c) Os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Estes casos referem-se a patologias não permanentes, mas temporárias. Tais como: arteriosclerose, bebedeira não habitual, hipnose, uso eventual de entorpecentes, etc. Estas pessoas não vão ser interditadas, pois a patologia é temporária, mas o ato praticado por elas são nulos.2 Há críticas à redação do artigo, pois alguns autores entendem que estas pessoas não podem ser denominadas incapazes, porque apenas estão momentaneamente num estado de incapacidade que desaparece com o fim da situação transitória em que se encontravam privados de consciência. Assim, serão nulos os atos praticados, por exemplo, pela pessoa embriagada, em estado etílico tal que não possa compreender o ato; por quem tenha ingerido drogas alucinógenas que interferem na compreensão, etc.;

5.2 Questões controvertidas nos casos de incapacidade. Intervalos Lúcidos. A lei brasileira não os contempla. Se alguém é declarado incapaz, ainda que tenha lucidez em certos momentos, os atos praticados por ele são nulos. Se não for interditado a parte interessada na anulação terá de fazer prova de que no momento do ato praticado a deficiente mental já existia e era do conhecimento da outra pessoa. Esta posição da legislação brasileira é criticada por causa da evolução da medicina na área da psiquiatria biológica. De fato, nos tempos atuais é possível manter o doente mental largos períodos saudável através do uso de drogas, restando-lhe apenas alguns pequenos lapsos de enfermidade.

5.3 Efeito retroativo da sentença que decreta a interdição. Não se aceita. A sentença produz efeitos ex nunc e não ex tunc. Logo, atos praticados pelo amental pouco tempo antes da sentença não poderão ser anulados pelo efeito retroativo da sentença, devendo a questão da anulação ser discutida em processo próprio, onde terceiro interessado deverá participar necessariamente. A sentença de interdição para ter eficácia erga omnes deve ser registrada no Cartório d o 1º Ofício de Registro Civil da Comarca onde for proferida e publicada na imprensa, por três vezes.

5.4 Senilidade e velhice como causa de interdição. Não existe, embora seja comum. Só será viável se envolver estado patológico que impeça o agente de ter discernimento.

OBS: Quanto aos surdos-mudos o novo Código não os colocou com absolutamente incapazes. Poderão eles dependendo da situação ser relativamente incapazes ou absolutamente incapazes (art. 3º, II e 4º III), bem como capazes. Os ausentes também não se encontram mais no rol dos absolutamente incapazes.

5.5. Incapacidade relativa – Art. 4º do Código Civil2 Gonçalves, Carlos Roberto. Op. cit., p. 86 – 93.

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A incapacidade relativa permite que o sujeito realize certos atos, em princípio apenas assistidos pelos pais ou representantes.

Atinge determinadas pessoas que podem praticar por si atos da vida civil, desde que assistidos por outrem legalmente autorizado.

São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:

a) Maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. São pessoas que já tem certo discernimento e, por isso, a sua opinião já deve ser levada em consideração. São assistidos pelos seus representantes. Não há negócio jurídico possível se o menor discordar ou o seu assistente. Devem também ser citados nas ações em que forem partes, sob pena de nulidade do processo. O relativamente incapaz equipara-se ao maior quando dolosamente oculta a sua idade, sendo responsável pelos prejuízos que causar. (art. 928 CC).

b) Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido. As pessoas com discernimento reduzido (a jurisprudência deverá estabelecer o que será, exatamente, este discernimento reduzido), por serem dependentes de tóxicos ou bebidas alcoólicas são considerados pelo legislador relativamente incapazes. Se, no entanto, a sua dependência de bebida ou drogas evoluir para um estado patológico que aniquile e forma absoluta a capacidade de autodeterminação da pessoa, esta passará a ser absolutamente incapaz.

c) Excepcionais sem desenvolvimento mental completo. Abrangendo os fracos da mente, os surdos-mudos sem educação apropriada e os portadores de anomalia psíquica genética ou congênita (p. ex., a síndrome de Down), que apresentem sinais de desenvolvimento mental incompleto, comprovados e declarados em sentença de interdição, que os tornam incapazes de praticar atos na vida civil, sem assistência de um curador (CC., art. 1767, IV). Estas pessoas excepcionais se não receberam educação que lhes permita expressar a vontade, de forma plena ,são consideradas relativamente incapazes.

d) Os pródigos. Pródigos são aqueles que dissipam o seu patrimônio sem razão aparente, imoderadamente, por causa de um distúrbio da personalidade. Normalmente, a origem da prodigalidade está na prática do jogo e no alcoolismo. A interdição do pródigo visa protegê-lo e à sua família, evitando que caiam na ruína. O pródigo não pode dispor de seu patrimônio, mas os outros atos da vida civil pode praticar normalmente. A interdição do pródigo pode ser requerida pelo Ministério Público e não se levanta mesmo que deixe de ter família, pois, nos dias de hoje, a interdição do pródigo não visa apenas salvaguardar os interesses da sua família, mas também os dele mesmo. Não pode ser comerciante e para casar precisa de ser assistido pelo curador se o casamento implicar alteração do seu patrimônio.

5.6 A incapacidade do índio. A lei 6001/73 é que regulamenta a situação jurídica dos índios, colocando-os como absolutamente incapazes. Esta lei, no entanto, considera válido o ato que o índio praticar se dele teve consciência e se não lhe causou prejuízo. Ao nascer, o índio que não viver nas comunidades integradas à civilização, de forma automática, está sob a tutela da Funai. E só sai dela aos 21 anos se estiver aculturado. Esta idade é mantida apesar do Código Civil ter fixado a maioridade civil aos 18 anos.

6. Cessação das incapacidades (art. 5º do CC)

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6.1 Ao completar 18 anos. O critério é unicamente etário, não se considera a maturidade precoce e nem o sexo da pessoa. Entende o legislador que a pessoa ao atingir dezoito anos tem discernimento suficiente para conduzir a sua vida, sem necessidade de ser assistido ou representado, isto é, através da sua própria vontade.

6.2 Pela emancipação. A emancipação permite à pessoa natural a aquisição da personalidade antes da maioridade. Pode ser voluntária, judicial ou legal.

A emancipação voluntária é concedida pelos pais, se o menor tiver 16 anos (art. 5 § único, I ). Não é um direito do filho e apenas os pais que exercem o poder familiar a podem conceder, isto é, os pais que tiveram o poder familiar suspenso ou cassado não têm legitimidade para emancipar os filhos voluntariamente. A emancipação voluntária é formalizada por instrumento público (escritura pública), sem necessidade de homologação judicial. Não isenta os pais da responsabilidade civil se o emancipado causar prejuízos a terceiros e não tiver patrimônio para pagar a indenização devida. A emancipação é irrevogável. Pode, no entanto, ser anulada por vícios formais como o dolo, a coação ou o erro.

A emancipação judicial ocorre numa única situação, isto é, nos casos de menor com 16 anos que estiver sob tutela. Esta emancipação e a voluntária devem ser registradas no Cartório do 1º Ofício da Comarca do domicílio do menor e devem ser anotadas à margem do registro de nascimento. A emancipação legal não precisa de registro.

A emancipação legal pode ocorrer pelo casamento, pelo emprego público efetivo, pela colação de grau em curso superior, pelo estabelecimento de comércio com capital próprio e com existência de relação de emprego.

Só o casamento válido torna o menor emancipado. O nulo e o anulável não. Anulado o casamento o menor volta a ser incapaz, salvo se o casamento for putativo (de boa-fé). Esta é a posição majoritária e conta com o apoio de Carlos Roberto Gonçalves, Pablo Stolze, Gustavo Tepedino, etc. Maria Helena Diniz entende que a anulação não faz o menor retornar à situação de menor, mas não explica se isso só ocorre no casamento putativo ou em todos os casos de casamento nulo ou anulável. A maioridade conseguida pelo casamento, todavia, não afasta regras especiais que exigiam determinada idade para certos fins: carteira de motorista p. ex. Repare-se que o casamento, de maneira excepcional, pode gerar a maioridade de pessoas com 14/15 anos, quando estas são autorizadas a casar, p. ex. caso de gravidez (art. 1.520 do CC).

Emprego público efetivo. Corrente minoritária entende que o emprego público não efetivo também emancipa. Entendem ainda que no caso de demissão a maioridade permanece. O entendimento de Sílvio Venosa é contrário. Caio Mário entende que sendo a emancipação irrevogável, não há como afastar a emancipação, em caso de abandono de emprego público.

Colação de grau em curso superior, estabelecimento civil ou comercial com economia própria ou a existência de relação de emprego. É difícil, quanto às duas primeiras, ocorrer a emancipação, porque é muito difícil alguém acabar curso superior antes de 18 anos ou estabelecer-se civil ou comercialmente. O artigo 972 do CC exige que o empresário tenha capacidade, essa capacidade pode ser antecipada se o menor tiver economia própria. Bens próprios são só os que o pai do menor não administra. Quanto à emancipação pelo emprego é mais fácil. Não se exige que o emprego seja formal.

QUESTÕES FORMULADAS SEGUNDO O CONTEÚDO DA AULA

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1.- Como se distingue a incapacidade absoluta da relativa?2.- Os pais responde em alguma hipótese por prejuízos causados por filhos emancipados? Justifique3.- A emancipação torna o emancipado apto para a prática de todos os atos e ações da vida civil, ou há restrições? Justifique.4.- O que você entende por pródigo? No interesse de quem é ele interditado? Justifique.5.- Quando ocorre a emancipação judicial?6.- A emancipação é direito do filho? Justifique