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RESUMOS DE DIREITO AMBIENTAL AUTOR: RAFAEL COSTA FREIRIA 1 CAPÍTULO 5 5 PROTEÇÃO DA VEGETAÇÃO: Espaços territoriais especialmente protegidos. Código Florestal. O tema proteção da vegetação para o Direito Ambiental diz respeito, preponderantemente, ao conteúdo das principais legislações que disciplinam a relação do homem com aspectos florestais, preponderantemente espaços territoriais que são especialmente protegidos para salvaguardar elementos relevantes da flora e fauna, como Unidades de Conservação, Áreas de Preservação Permanentes e Reservas Florestais Legais. A necessidade de se estabelecer espaços territoriais que são especialmente protegidos está presente no próprio texto constitucional Art. 225, § 1º, III, que os coloca como uma das condições à efetividade do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: (...) III - definir, em todas as unidades da federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidos somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; A partir disso, o objeto de análise são as espécies e respectivos regimes jurídicos desses espaços territoriais especialmente protegidos. Há duas categorias de espaços protegidos para a legislação ambiental: aqueles em sentido estrito 1 Graduado em direito pela Universidade Federal do Paraná - UFPR (2000); mestre em direito pela UNESP (2002/2005); doutor em meio ambiente pela UNICAMP (2006/2010); pós-doutorado em Direito Ambiental e Sustentabilidade na Universidade de Alicante, Espanha (2013); professor de cursos de graduação e pós-graduação na área ambiental; advogado e consultor ambiental; (stricto sensu) que fazem parte as chamadas Unidades de Conservação e os espaços protegidos em sentido amplo (lato sensu) em que fazem parte as Áreas de Preservação Permanente e as Reservas Florestais Legais 2 . A primeira categoria, em sentido estrito, dependerá sempre da ocorrência de relevância e/ou importância ambiental de determinada porção do território para a criação de um espaço protegido definido e regulamento por lei específica, como são as unidades de conservação. Na segunda categoria, em sentido amplo, há uma lei geral (como é o caso do Código Florestal) que a partir das características de cada propriedade irá determinar a projeção de espaços protegidos, por exemplo, um curso d´água projeta a necessidade de áreas de preservação permanentes nas suas margens, da mesma forma um relevo de acentuada declividade. São essas espécies de espaços protegidos, Unidades de Conservação, Áreas de Preservação Permanente e as Reservas Florestais Legais, e os principais aspectos de seus regimes jurídicos, que representam os principais instrumentos de proteção da mais variadas formas de vegetação, que serão apresentados na sequência: (...) 5.2 Espaços Protegidos em Sentido Amplo: Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reservas Florestais Legais (RFL) – Base Normativa Conforme apontando na evolução histórica da legislação ambiental brasileira, atualmente é Lei Federal n. 12.651, de 25 de maio de 2012, que aprovou o Novo Código Florestal 3 , a base normativa em vigor para tratamento dos chamados espaços territoriais especialmente protegidos em sentido amplo, no caso a áreas de preservação permanente e reserva florestal legal. As obrigações previstas no novo Código Florestal, relacionadas com as áreas de preservação permanente e reserva florestal legal, têm natureza real e são transmitidas ao sucessor, de qualquer natureza, no caso de transferência de domínio ou posse do imóvel rural. (§ 2º, artigo 2º). Atenção! Responsabilidade Propter Rem: O atendimento das legislações ambientais relacionadas com os regimes jurídicos das áreas de preservação permanente (APP) e reserva florestal legal (RFL) consiste em obrigação propter rem; sendo automaticamente transferida do alienante ao 2 Neste sentido MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. 7. ed. São Paulo: RT, 2011. p. 199. 3 Para aprofundamento sobre o tema BESSA ANTUNES, Paulo. Comentários ao Novo Código Florestal. São Paulo: Atlas, 2013

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RESUMOS DE DIREITO AMBIENTAL

AUTOR:

RAFAEL COSTA FREIRIA1

CAPÍTULO 5

5 PROTEÇÃO DA VEGETAÇÃO: Espaços territoriais especialmente protegidos. Código Florestal.

O tema proteção da vegetação para o Direito Ambiental diz respeito, preponderantemente, ao conteúdo das principais legislações que disciplinam a relação do homem com aspectos florestais, preponderantemente espaços territoriais que são especialmente protegidos para salvaguardar elementos relevantes da flora e fauna, como Unidades de Conservação, Áreas de Preservação Permanentes e Reservas Florestais Legais.

A necessidade de se estabelecer espaços territoriais que são especialmente protegidos está presente no próprio texto constitucional Art. 225, § 1º, III, que os coloca como uma das condições à efetividade do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

(...)

III - definir, em todas as unidades da federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidos somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

A partir disso, o objeto de análise são as espécies e respectivos regimes jurídicos desses espaços territoriais especialmente protegidos.

Há duas categorias de espaços protegidos para a legislação ambiental: aqueles em sentido estrito

1 Graduado em direito pela Universidade Federal do Paraná - UFPR

(2000); mestre em direito pela UNESP (2002/2005); doutor em meio ambiente pela UNICAMP (2006/2010); pós-doutorado em Direito Ambiental e Sustentabilidade na Universidade de Alicante, Espanha (2013); professor de cursos de graduação e pós-graduação na área ambiental; advogado e consultor ambiental;

(stricto sensu) que fazem parte as chamadas Unidades de Conservação e os espaços protegidos em sentido amplo (lato sensu) em que fazem parte as Áreas de Preservação Permanente e as Reservas Florestais Legais2.

A primeira categoria, em sentido estrito, dependerá sempre da ocorrência de relevância e/ou importância ambiental de determinada porção do território para a criação de um espaço protegido definido e regulamento por lei específica, como são as unidades de conservação.

Na segunda categoria, em sentido amplo, há uma lei geral (como é o caso do Código Florestal) que a partir das características de cada propriedade irá determinar a projeção de espaços protegidos, por exemplo, um curso d´água projeta a necessidade de áreas de preservação permanentes nas suas margens, da mesma forma um relevo de acentuada declividade.

São essas espécies de espaços protegidos, Unidades de Conservação, Áreas de Preservação Permanente e as Reservas Florestais Legais, e os principais aspectos de seus regimes jurídicos, que representam os principais instrumentos de proteção da mais variadas formas de vegetação, que serão apresentados na sequência:

(...)

5.2 Espaços Protegidos em Sentido Amplo: Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reservas Florestais Legais (RFL) – Base Normativa

Conforme apontando na evolução histórica da legislação ambiental brasileira, atualmente é Lei Federal n. 12.651, de 25 de maio de 2012, que aprovou o Novo Código Florestal3, a base normativa em vigor para tratamento dos chamados espaços territoriais especialmente protegidos em sentido amplo, no caso a áreas de preservação permanente e reserva florestal legal.

As obrigações previstas no novo Código Florestal, relacionadas com as áreas de preservação permanente e reserva florestal legal, têm natureza real e são transmitidas ao sucessor, de qualquer natureza, no caso de transferência de domínio ou posse do imóvel rural. (§ 2º, artigo 2º).

Atenção!

Responsabilidade Propter Rem: O atendimento das legislações ambientais relacionadas com os regimes jurídicos das áreas de preservação permanente (APP) e reserva florestal legal (RFL) consiste em obrigação propter rem; sendo automaticamente transferida do alienante ao

2 Neste sentido MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. 7. ed. São Paulo: RT, 2011. p. 199. 3 Para aprofundamento sobre o tema BESSA ANTUNES, Paulo. Comentários ao Novo Código Florestal. São Paulo: Atlas, 2013

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adquirente em casos de alienação do imóvel que possui tais espaços protegidos.

#POSIÇÃO DO STJ AMBIENTAL - PROCESSUAL CIVIL - OMISSÃO INEXISTENTE - INSTITUIÇÃO DE ÁREA DE RESERVA LEGAL - OBRIGAÇÃO PROPTER REM E EX LEGE - SÚMULA 83/STJ - APLICAÇÃO DO ART. 68 DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL - IMPOSSIBILIDADE - DESRESPEITO AOS PERCENTUAIS EXIGIDOS PARA A ÁREA DE RESERVA LEGAL - VERIFICAÇÃO - IMPOSSIBILIDADE - SÚMULA 7/STJ - DEVER DE AVERBAÇÃO DA RESERVA LEGAL - IMPOSIÇÃO – PROVAS SUFICIENTES - DESNECESSIDADE DE REALIZAÇÃO DE PERÍCIA - CONJUNTO PROBATÓRIO - SÚMULA 7/STJ - PREJUDICADA A ANÁLISE DA DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL - AUSÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICA - 1- Não há violação do art. 535 do CPC quando a prestação jurisdicional é dada na medida da pretensão deduzida, com enfrentamento e resolução das questões abordadas no recurso. 2- A jurisprudência desta Corte está firmada no sentido de que os deveres associados às APPs e à Reserva Legal têm natureza de obrigação propter rem, isto é, aderem ao título de domínio ou posse, independente do fato de ter sido ou não o proprietário o autor da degradação ambiental. Casos em que não há falar em culpa ou nexo causal como determinantes do dever de recuperar a área de preservação permanente. 3- Este Tribunal tem entendido que a obrigação de demarcar, averbar e restaurar a área de reserva legal nas propriedades rurais configura dever jurídico (obrigação ex lege) que se transfere automaticamente com a mudança do domínio, podendo, em consequência, ser imediatamente exigível do proprietário atual. 4- A Segunda Turma desta Corte firmou a orientação de inaplicabilidade de norma ambiental superveniente de cunho material aos processos em curso, seja para proteger o ato jurídico perfeito, os direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada, seja para evitar a redução do patamar de proteção de ecossistemas frágeis sem as necessárias compensações ambientais. 5- Ademais, o art. 68 da Lei 12.651/2012 prevê a dispensa da recomposição, da compensação ou da regeneração, nos percentuais exigidos nesta Lei, nos casos em que a supressão de vegetação nativa tenha respeitado os percentuais de reserva legal previstos na legislação vigente à época dos fatos, o que não ocorreu na hipótese, uma vez a determinação do Tribunal de origem consistiu na apresentação de projeto de demarcação da área de reserva legal, com especificação de plantio, observadas as disposições do Decreto nº 6514/08 e do Decreto nº 7029/09 (fl. 696, e-STJ). Rever o decidido pela Corte estadual encontra óbice na Súmula 7 do STJ . 6- A jurisprudência do STJ é firme no sentido de que o art. 16, c/c o art. 44 da Lei 4.771/1965 , impõe a averbação da reserva legal, independentemente de haver área florestal ou vegetação nativa na propriedade. 7- A Corte estadual consignou que a falta de reserva legal por si só acarreta degradação ambiental e asseverou que as provas produzidas seriam suficientes para a composição do conflito, sendo desnecessária a

realização de perícia técnica. Nesse aspecto, não há como aferir eventual violação dos dispositivos infraconstitucionais invocados sem que se proceda ao reexame do conjunto probatório dos presentes autos ( Súmula 7/STJ ). 8- Prejudicada a análise da divergência jurisprudencial apresentada, porquanto a negatória de seguimento do recurso pela alínea "a" do permissivo constitucional baseou-se em jurisprudência recente e consolidada desta Corte, aplicável ao caso dos autos. Ademais, não há similitude fática e jurídica apta a ensejar o conhecimento do recurso, em face do confronto da tese adotada no acórdão hostilizado e na apresentada nos arestos colacionados, uma vez que cada um deles, individualmente, traz uma das teses abarcadas no recurso especial e não todas ao mesmo tempo, o que lhe retira a identidade necessária ao conhecimento do recurso. Agravo regimental improvido. (STJ - AgRg-REsp 1.367.968 -(2012/0004929-3) - 2ª T. - Rel. Min. Humberto Martins - DJe 12.03.2014 - p. 337)

5.2.1 Áreas de Preservação Permanente (APP)

As Áreas de Preservação Permanente tem uma relação direta com áreas que sempre terão uma função ambiental específica de preservação ou conservação ambiental, independentemente de relevância natural diferenciada e/ou paisagística.

Ou seja, sempre que se tiver um curso d´água (rios, córregos, nascentes, etc.), haverá a projeção legal de áreas de preservação permanentes no entorno desse curso d´água, voltadas não só para a proteção do próprio curso d´água e de sua qualidade, mas também para se evitar processos erosivos nas margens, proteger a biodiversidade local, asilar exemplares da fauna ou flora ameaçados de extinção.

Há também relação importante das Áreas de Preservação Permanente com locais em que ocorre grande declividade ou altitudes, no sentido de estabelecer espaços protegidos para proteção do solo e evitar ou minimizar processos de degradação do solo.

5.2.2 Definição legal de Áreas de Preservação Permanentes:

“Área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, facilitar o fluxo genético de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”. Novo Código Florestal (Lei Federal 12.651/12, art. 2º, parágrafo 3º, III)

5.2.3 Projeções de Áreas de Preservação Permanentes previstas pela Legislação:

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Segundo art. 4º do Código Florestal, são consideradas manifestações de APP as áreas cobertas ou não por vegetação nativa, situadas, em zonas rurais ou urbanas, como no quadro a seguir4:

I) As faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de:

a) 30 metros, para o curso d’água com menos de 10 metros de largura; b) 50 metros, para o curso d’água com 10 a 50 metros de largura; c) 100 metros, para o curso d’água com 50 a 200 metros de largura; d) 200 metros, para o curso d’água com 200 a 600 metros de largura; e) 500 metros, para o curso d’água com mais de 600 metros de largura.

II) Ao redor de lagos e lagoas naturais, com metragem mínima de:

a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 (vinte) hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros; b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas;

III) - as áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais, decorrentes de barramento ou represamento de cursos d’água naturais, na faixa definida na licença ambiental do empreendimento;

IV) - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros;

V) - as encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, equivalente a 100% (cem por cento) na linha de maior declive;

VI) - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues

VII) - os manguezais, em toda a sua extensão;

VIII) - as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;

IX) - no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100 (cem) metros e inclinação média maior que 25°, as áreas delimitadas a partir da curva de nível correspondente a 2/3 (dois terços) da altura mínima da elevação sempre em relação à base, sendo esta definida pelo plano horizontal determinado por planície ou espelho d’água

4 Fonte: Lei Federal n. 12.651, de 25 de maio de 2012 .

adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do ponto de sela mais próximo da elevação;

X) - as áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação;

XI) - em veredas, a faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de 50 (cinquenta) metros, a partir do espaço permanentemente brejoso e encharcado.

Ilustração de Projeções de algumas metragens de Áreas de Preservação Permanentes previstas pela Legislação (com base nas previsões atuais do Código Florestal):

Consideram-se também áreas de preservação permanente, aquelas declaradas de interesse social por ato do Chefe do Poder Executivo, as áreas cobertas com florestas ou outras formas de vegetação destinadas a uma ou mais das seguintes finalidades (as chamadas APPs legais):

I - conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos de terra e de rocha; II - proteger as restingas ou veredas; III - proteger várzeas; IV - abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de extinção; V - proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico, cultural ou histórico; VI - formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias; VII - assegurar condições de bem-estar público; VIII - auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades militares; IX - proteger áreas úmidas, especialmente as de

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importância internacional;

5.2.4 Regimes diferenciados de Áreas de Preservação Permanentes (advindos com o Novo Código Florestal):

É importante destacar que a Lei Federal n. 12.651, de 25 de maio de 2012, trouxe um regime excepcional voltado para as projeções de áreas de preservação permanente voltado prioritariamente para as pequenas propriedades rurais do território nacional e outras situações excepcionais.

Pelo novo Código Florestal, foi autorizada a continuidade de atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em APPs em áreas rurais consolidadas até 22 de julho de 2008, com redução da largura das áreas de preservação proporcional ao tamanho da propriedade

(conforme o tamanho do módulo fiscal5 que variará de acordo com a região do país), conforme Art. 61-A e seguintes do Novo Código Florestal.

Atenção!

Portanto é importante fixar os condicionantes para o regime diferenciado das APPs em áreas rurais consolidadas:

1) Possibilidade de tratamento diferenciado (continuidade da atividade em APP) para as atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural.

2) E que estejam ocorrendo em APP até 22 de julho de 2008.

Atendidos esses condicionantes, a dimensão da APP variará de acordo com a dimensão do imóvel:

Art. 61-A (Lei Federal 12.651/12)

Nas Áreas de Preservação Permanente, é autori-zada, exclusivamente, a continuidade das ativida-des agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em áreas rurais consolidadas até 22 de julho de 2008.

Tamanho da Pro-priedade

Largura da APP

5 Instituto que define critério de dimensão rural para fins de cálculo do ITR (Imposto Territorial Rural) e também da classificação dos imóveis rurais: minifúndio, pequena propriedade, média propriedade, latifúndio. Compete à estrutura Regimental do INCRA fixar o módulo fiscal. O número de módulos fiscais de cada imóvel rural será obtido dividindo-se sua área aproveitável total pelo módulo fiscal do Município. A partir da definição do Módulo Fiscal de acordo com a região do país onde se situe a propriedade, são definidos os critérios para classificação dos imóveis rurais.

§ 1º - Até 1 (um) Módulo Fiscal

5 metros

§ 2º - De 1 (um) Módulo Fiscal até 2 (dois) Módulos Fis-cais

8 metros

§ 3º - De 2 (dois) Módulos Fiscais até 4 (dois) Módulos Fis-cais

15 metros

Nos demais casos, com área superior a 4 (quatro) módulos fiscais, conforme determinação do PRA (Programas de Regularização Ambiental dos Estados e do Distrito Federal), é possível a autorização de a continuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em áreas rurais consolidadas de Preservação Permanente, até 22 de julho de 2008, com o critério mínimo de 20 (vinte) e o máximo de 100 (cem) metros, contados da borda da calha do leito regular.

Aos proprietários e possuidores dos imóveis rurais que, em 22 de julho de 2008, detinham até 10 (dez) módulos fiscais e desenvolviam atividades agrossilvipastoris nas áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente é garantido que a exigência de recomposição, nos termos desta Lei, somadas todas as Áreas de Preservação Permanente do imóvel, não ultrapassará:

I - 10% (dez por cento) da área total do imóvel, para imóveis rurais com área de até 2 (dois) módulos fiscais;

II - 20% (vinte por cento) da área total do imóvel, para imóveis rurais com área superior a 2 (dois) e de até 4 (quatro) módulos fiscais;

Nos casos de áreas rurais consolidadas em Áreas de Preservação Permanente no entorno de nascentes e olhos d’água perenes, será admitida a manutenção de atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo ou de turismo rural, sendo obrigatória a recomposição do raio mínimo de 15 (quinze) metros.

Para os imóveis rurais que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente no entorno de lagos e lagoas naturais, será admitida a manutenção de atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo ou de turismo rural, sendo obrigatória a recomposição de faixa marginal com largura mínima de:

I - 5 (cinco) metros, para imóveis rurais com área de até 1 (um) módulo fiscal;

II - 8 (oito) metros, para imóveis rurais com área superior a 1 (um) módulo fiscal e de até 2 (dois)

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módulos fiscais;

III - 15 (quinze) metros, para imóveis rurais com área superior a 2 (dois) módulos fiscais e de até 4 (quatro) módulos fiscais;

IV - 30 (trinta) metros, para imóveis rurais com área superior a 4 (quatro) módulos fiscais.

A existência das situações previstas no caput deverá

ser informada no CAR (Cadastro Ambiental Rural – explicado no último item deste Capítulo) para fins de monitoramento, sendo exigida, nesses casos, a adoção de técnicas de conservação do solo e da água que visem à mitigação dos eventuais impactos.

Para os reservatórios artificiais de água destinados

a geração de energia ou abastecimento público que foram registrados ou tiveram seus contratos de concessão ou autorização assinados anteriormente à Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001, a faixa da Área de Preservação Permanente será a distância entre o nível máximo operativo normal e a cota máxima maximorum.

Atenção! Conceito técnico de Nível máximo maximorum: Durante eventos de cheia excepcionais admite-se que o nível da água no reservatório supere o nível máximo operacional por um curto período de tempo. A barragem e suas estruturas de saída (vertedor) são dimensionados para uma cheia com tempo de retorno alto, normalmente 10 mil anos no caso de barragens médias e grandes, e na hipótese de ocorrer uma cheia igual à utilizada no dimensionamento das estruturas de saída o nível máximo atingido é o nível máximo maximorum6.

Na implantação de reservatório d’água artificial

destinado a geração de energia ou abastecimento público, é obrigatória a aquisição, desapropriação ou instituição de servidão administrativa pelo empreendedor das Áreas de Preservação Permanente criadas em seu entorno, conforme estabelecido no licenciamento ambiental, observando-se a faixa mínima de 30 (trinta) metros e máxima de 100 (cem) metros em área rural, e a faixa mínima de 15 (quinze) metros e máxima de 30 (trinta) metros em área urbana.

Na implantação de novos reservatórios d’água artificiais, o empreendedor, no âmbito do licenciamento ambiental, elaborará Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno do Reservatório, em conformidade com

6 COLLISCHONN, WALTER. Introduzindo Hidrologia, Capítulo 15, disponível em:http://galileu.iph.ufrgs.br/collischonn/apostila_hidrologia/cap%2015%20-%20Regulariza%C3%A7%C3%A3o%20de%20vaz%C3%B5es.pdf. Acesso em 10 de maio de 2014

termo de referência expedido pelo órgão competente do Sistema Nacional do Meio Ambiente - Sisnama, não podendo o uso exceder a 10% (dez por cento) do total da Área de Preservação Permanente.

O Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno de Reservatório Artificial, para os empreendimentos licitados a partir da vigência desta Lei, deverá ser apresentado ao órgão ambiental concomitantemente com o Plano Básico Ambiental e aprovado até o início da operação do empreendimento, não constituindo a sua ausência impedimento para a expedição da licença de instalação

Atenção! Nas áreas rurais consolidadas nos locais de: 1) encostas ou partes destas com declividade

superior a 45°, equivalente a 100% (cem por cento) na linha de maior declive;

2) bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de

ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;

3) topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100 (cem) metros e inclinação média maior que 25°, as áreas delimitadas a partir da curva de nível correspondente a 2/3 (dois terços) da altura mínima da elevação sempre em relação à base, sendo esta definida pelo plano horizontal determinado por planície ou espelho d’água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota do ponto de sela mais próximo da elevação;

4) das áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação;

Será admitida a manutenção de atividades florestais, culturas de espécies lenhosas, perenes ou de ciclo longo, bem como da infraestrutura física associada ao desenvolvimento de atividades agrossilvipastoris, vedada a conversão de novas áreas para uso alternativo do solo;

Atenção! Importante destacar posicionamento atual do STJ

relativo à intertemporalidade do Novo Código Florestal com relação a decisões judiciais baseadas no Código Florestal Anterior (Lei Federal n. 4771/65), no sentido que as previsão do Novo Código não podem retroagir para atingir ato jurídico perfeito, direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada. POSIÇÃO DO STJ ADMINISTRATIVO - AMBIENTAL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE - FORMAÇÃO DA ÁREA DE RESERVA LEGAL - OBRIGAÇÃO PROPTER REM - SÚMULA 83/STJ -PREJUDICADA A ANÁLISE DA DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL - SUPERVENIÊNCIA DA LEI 12.651/12 - IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO IMEDIATA - IRRETROATIVIDADE - PROTEÇÃO AOS ECOSSISTEMAS FRÁGEIS - INCUMBÊNCIA DO ESTADO -

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INDEFERIMENTO - 1- A jurisprudência desta Corte está firmada no sentido de que os deveres associados às APPs e à Reserva Legal têm natureza de obrigação propter rem, isto é, aderem ao título de domínio ou posse, independente do fato de ter sido ou não o proprietário o autor da degradação ambiental. Casos em que não há falar em culpa ou nexo causal como determinantes do dever de recuperar a área de preservação permanente. 2- Prejudicada a análise da divergência jurisprudencial apresentada, porquanto a negatória de seguimento do recurso pela alínea "a" do permissivo constitucional baseou-se em jurisprudência recente e consolidada desta Corte, aplicável ao caso dos autos. 3- Indefiro o pedido de aplicação imediata da Lei 12.651/12, notadamente o disposto no art. 15 do citado regramento. Recentemente, esta Turma, por relatoria do Ministro Herman Benjamin, firmou o entendimento de que "o novo Código Florestal não pode retroagir para atingir o ato jurídico perfeito, direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada, tampouco para reduzir de tal modo e sem as necessárias compensações ambientais o patamar de proteção de ecossistemas frágeis ou espécies ameaçadas de extinção, a ponto de transgredir o limite constitucional intocável e intransponível da 'incumbência' do Estado de garantir a preservação e restauração dos processos ecológicos essenciais (art. 225, § 1º, I)." Agravo regimental improvido. (STJ - AgRg-AG-REsp. 327.687 - (2013/0108750-1) - 2ª T. - Rel. Min. Humberto Martins - DJe 26.08.2013 - p. 1732)

5.2.5 Possibilidades de Intervenção ou Supressão de Vegetação Nativa nas Áreas de Preservação Permanentes:

O Art. 8º do Novo Código Florestal (Lei Federal 12.651/12), apenas permite a intervenção ou a supressão de vegetação nativa em Área de Preservação Permanente, mediante autorização do órgão ambiental competente, nas hipóteses de utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto ambiental.

Tais hipóteses estão previstas no Art. 3º do Novo Código Florestal:

VIII - utilidade pública: a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária; b) as obras de infraestrutura destinadas às concessões e aos serviços públicos de transporte, sistema viário, inclusive aquele necessário aos parcelamentos de solo urbano aprovados pelos Municípios, saneamento, gestão de resíduos, energia, telecomunicações, radiodifusão, instalações necessárias à realização de competições esportivas estaduais, nacionais ou internacionais, bem como mineração, exceto, neste último caso, a extração de areia, argila, saibro e cascalho; c) atividades e obras de defesa civil; d) atividades que comprovadamente proporcionem melhorias na proteção das funções ambientais

referidas no inciso II deste artigo; e) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto, definidas em ato do Chefe do Poder Executivo federal;

IX - interesse social: a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação nativa, tais como prevenção, combate e controle do fogo, controle da erosão, erradicação de invasoras e proteção de plantios com espécies nativas; b) a exploração agroflorestal sustentável praticada na pequena propriedade ou posse rural familiar ou por povos e comunidades tradicionais, desde que não descaracterize a cobertura vegetal existente e não prejudique a função ambiental da área; c) a implantação de infraestrutura pública destinada a esportes, lazer e atividades educacionais e culturais ao ar livre em áreas urbanas e rurais consolidadas, observadas as condições estabelecidas nesta Lei; d) a regularização fundiária de assentamentos humanos ocupados predominantemente por população de baixa renda em áreas urbanas consolidadas, observadas as condições estabelecidas na Lei no 11.977, de 7 de julho de 2009; e) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e de efluentes tratados para projetos cujos recursos hídricos são partes integrantes e essenciais da atividade; f) as atividades de pesquisa e extração de areia, argila, saibro e cascalho, outorgadas pela autoridade competente; g) outras atividades similares devidamente caracterizadas e motivadas em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional à atividade proposta, definidas em ato do Chefe do Poder Executivo federal;

X - atividades eventuais ou de baixo impacto ambiental: a) abertura de pequenas vias de acesso interno e suas pontes e pontilhões, quando necessárias à travessia de um curso d’água, ao acesso de pessoas e animais para a obtenção de água ou à retirada de produtos oriundos das atividades de manejo agroflorestal sustentável; b) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e efluentes tratados, desde que comprovada a outorga do direito de uso da água, quando couber; c) implantação de trilhas para o desenvolvimento do ecoturismo; d) construção de rampa de lançamento de barcos e pequeno ancoradouro; e) construção de moradia de agricultores familiares, remanescentes de comunidades quilombolas e outras populações extrativistas e tradicionais em áreas rurais, onde o abastecimento de água se dê pelo esforço próprio dos moradores; f) construção e manutenção de cercas na propriedade; g) pesquisa científica relativa a recursos ambientais, respeitados outros requisitos previstos na legislação aplicável; h) coleta de produtos não madeireiros para fins de

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subsistência e produção de mudas, como sementes, castanhas e frutos, respeitada a legislação específica de acesso a recursos genéticos; i) plantio de espécies nativas produtoras de frutos, sementes, castanhas e outros produtos vegetais, desde que não implique supressão da vegetação existente nem prejudique a função ambiental da área; j) exploração agroflorestal e manejo florestal sustentável, comunitário e familiar, incluindo a extração de produtos florestais não madeireiros, desde que não descaracterizem a cobertura vegetal nativa existente nem prejudiquem a função ambiental da área; k) outras ações ou atividades similares, reconhecidas como eventuais e de baixo impacto ambiental em ato do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA ou dos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente;

É importante mencionar que é permitido o acesso de pessoas e animais às APPs, para obtenção de água para realização de atividades de baixo impacto ambiental , desde que não cause a supressão e não comprometa a regeneração e a manutenção da vegetação nativa ao longo da área de preservação (Art. 9º da Lei Federal 12.651/12).

Todas essas situações de intervenção em áreas de APP dependem da expressa autorização do Órgão Ambiental competente. Os princípios ambientais a serem efetivados pela legislação direcionam para que se tenham sempre como excepcionais as situações de intervenções em APP, buscando se evitar, sempre que possível, a supressão da vegetação nativa dessas áreas.

#POSIÇÃO DO STJ AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - OCUPAÇÃO E EDIFICAÇÃO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE-APP - CASAS DE VERANEIO - MARGENS DO RIO IVINHEMA/MS - SUPRESSÃO DE MATA CILIAR - DESCABIMENTO - ART. 8º DA LEI 12.651/2012 - NÃO ENQUADRAMENTO – DIREITO ADQUIRIDO AO POLUIDOR - FATO CONSUMADO - DESCABIMENTO - DESAPROPRIAÇÃO NÃO CONFIGURADA – LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA - DANO AMBIENTAL E NEXO DE CAUSALIDADE CONFIGURADOS - AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO - SÚMULA 211/STJ - 1- Descabida a supressão de vegetação em Área de Preservação Permanente - APP que não se enquadra nas hipóteses previstas no art. 8º do Código Florestal (utilidade pública, interesse social e baixo impacto ambiental). 2- Conquanto não se possa conferir ao direito fundamental do meio ambiente equilibrado a característica de direito absoluto, certo é que ele se insere entre os direitos indisponíveis, devendo-se acentuar a imprescritibilidade de sua reparação, e a sua inalienabilidade, já que se trata de bem de uso comum do povo (art. 225, caput, da CF/1988 ). 3- Em tema de direito ambiental, não se cogita em direito adquirido à devastação, nem se admite a incidência da teoria do fato consumado. Precedentes do STJ e STF. 4- A proteção legal às áreas de preservação permanente não importa em vedação absoluta ao direito de

propriedade e, por consequência, não resulta em hipótese de desapropriação, mas configura mera limitação administrativa. Precedente do STJ. 5- Violado o art. 14, § 1º, da Lei 6.938/1981 , pois o Tribunal de origem reconheceu a ocorrência do dano ambiental e o nexo causal (ligação entre a sua ocorrência e a fonte poluidora), mas afastou o dever de promover a recuperação da área afetada e indenizar eventuais danos remanescentes. 6- Em que pese ao loteamento em questão haver sido concedido licenciamento ambiental, tal fato, por si só, não elide a responsabilidade pela reparação do dano causado ao meio ambiente, uma vez afastada a legalidade da autorização administrativa. 7- É inadmissível o recurso especial quanto a questão não decidida pelo Tribunal de origem, por falta de prequestionamento ( Súmula 211/STJ ). 8- Recurso especial parcialmente conhecido e provido. (STJ - REsp 1.394.005 - (2013/0227072-0) - 2ª T. - Relª

Minª Eliana Calmon - DJe 29.11.2013 - p. 739)

5.2.6 Diferença entre Áreas de Preservação Permenentes (APPs) e Áreas Verdes Urbanas

O art. 3 ˚, inciso XX da Lei Federal n. 12.651/2012, define - Área Verde Urbana: como espaços, públicos ou privados, com predomínio de vegetação, preferencialmente nativa, natural ou recuperada, previstos no Plano Diretor, nas Leis de Zoneamento Urbano e Uso do Solo do Município, indisponíveis para construção de moradias, destinados aos propósitos de recreação, lazer, melhoria da qualidade ambiental urbana, proteção dos recursos hídricos, manutenção ou melhoria paisagística, proteção de bens e manifestações culturais.

E, no que diz respeito ao seu regime de proteção e criação, o Art. 25 do Novo Código Florestal, estabelece que o poder público municipal contará, para o estabelecimento de áreas verdes urbanas, com os seguintes instrumentos:

I - o exercício do direito de preempção para aquisição de remanescentes florestais relevantes, conforme dispõe a Lei no 10.257, de 10 de julho de 2001;

II - a transformação das Reservas Legais em áreas verdes nas expansões urbanas;

III - o estabelecimento de exigência de áreas verdes nos loteamentos, empreendimentos comerciais e na implantação de infraestrutura; e

IV - aplicação em áreas verdes de recursos oriundos da compensação ambiental.

Tem-se, portanto, que o Novo Código Florestal claramente traz distinções entre os dois institutos ambientais. As Áreas de Preservação Permanentes com propósito mais preservacionista, como áreas de

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proteção, com função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.

Enquanto as Áreas Verdes Urbanas, com ênfase mais urbanística, previstas nas zonas urbanas das cidades, como espaços, públicos ou privados, mais ligados ao bem estar, qualidade de vida e interação da população, com função institucional de recreação, lazer, melhoria da qualidade ambiental urbana, proteção dos recursos hídricos, manutenção ou melhoria paisagística, proteção de bens e manifestações culturais.

5.2.7 Reserva Florestal Legal (RFL) e sua origem.

O Decreto Federal n. 23.793, publicado em 23 de janeiro de 1934 foi que introduziu no Direito Ambiental a concepção de “Reserva Florestal Legal” ao prever, no seu artigo 23, que nenhum proprietário de terras poderia abater mais de três quartas partes (3/4) da vegetação existente. Referida regulamentação tinha nitidamente propósito de regulamentação do regime jurídico de exploração das florestas existentes na época (primeira metade do século XX), ou seja, reservava uma parte de floresta existente (somente 1/4 da mata) como condição de exploração do excedente (3/4 para serem explorados). Essa é a origem histórica da Reserva Florestal Legal.

No entanto, a lógica de aplicação e interpretação da Reserva Florestal Legal foi alterada nos últimos tempos, ou seja, a exigência de que seja reservada uma parcela da propriedade rural para proteção florestal não é cobrada como condicionante para o processo de exploração florestal, mas sim enquanto forma das propriedades privadas rurais atuais, além da produção agrícola, cumprirem também função ambiental.

Por isso se falar em Reserva Florestal Legal atualmente é se falar num percentual da propriedade rural que deve ser destacado para fins de preservação ambiental e desenvolvimento sustentável, cujo regime jurídico está previsto também no Novo Código Florestal, Lei Federal n. 12.651, de 25 de maio de 2012.

Atenção !

Deve-se destacar que o instituto jurídico ambiental da Reserva Florestal Legal somente incide na propriedade rural. Considerada como aquela propriedade que realiza a atividade agrária7. Portanto, o imóvel localizado no perímetro urbano

7 O Estatuto da Terra, em seu artigo 4º, I, extrai o conceito quando define o imóvel rural, considerando atividade agrária a exploração extrativa agrícola, pecuária ou agroindustrial.

da cidade e que não realiza atividade agrária não tem a obrigação de constituir a Reserva Florestal Legal (RFL).

#POSIÇÃO DO TJ/SP

RESERVA LEGAL - RIBEIRÃO PRETO - CAMPUS UNIVERSITÁRIO - FACULDADE DE AGRONOMIA E VETERINÁRIA - IMÓVEL URBANO – O imóvel situado em zona urbana, não destinado à exploração agrícola, pecuária ou agroindustrial, ainda que de grande extensão, é considerado urbano e não rural (art. 4º da LF nº 4.504/64 e art. 4º da LF nº 8.629/93). A reserva legal grava o imóvel rural, sem aplicação aos imóveis urbanos. Não aplicação do art. 16 da LF nº 4.771/65 ou do art. 12 da LF nº 12.651/12. Procedência. Agravo retido desprovido. Apelação da ré provida para julgar a ação improcedente. (TJSP – Ap 9000098-61.2003.8.26.0506 - Ribeirão Preto - 1ª C.Res.MA - Rel. Torres de Carvalho - DJe 09.01.2014 - p. 1311)

5.2.8 Concepção de Reserva Florestal

Legal (RFL): O conceito de Reserva Florestal Legal está previsto

no Art. 3º, III, do Novo Código Florestal:

área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa;

5.2.9 Quais são os percentuais de Reserva Florestal Legal (RFL):

A área mínima a ser reservada em cada propriedade

rural, conforme o artigo 12 do Novo Código e varia de acordo com a região do País e segundo o quadro a seguir, é de8:

Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente, observados os seguintes percentuais mínimos em relação à área do imóvel,

8 Fonte: Adaptado da Lei Federal nº n. 12.651/12.

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I - se localizado na Amazônia Legal: a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas; b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado; c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais;

II – se localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento).

Abaixo ilustração relacionada com a localização no território brasileiro da Amazônia Legal (bem como os Estados que fazem parte):

Além de o percentual ser diferenciado para cada região do País de acordo com a relevância de proteção de cada bioma existente no nosso território, a vegetação desse percentual de Reserva Florestal Legal deve também ser, via de regra, a nativa de cada região, seja com a preservação dos fragmentos que não foram desmatados, seja através da execução de projetos de reflorestamento contemplados com espécies nativas que devem ser desenvolvimentos por profissionais com responsabilidade técnica para tanto e com a aprovação dos órgãos ambientais competentes.

5.2.10 Como regularizar a Reserva Florestal Legal:

A RFL é regularizada mediante procedimento administrativo (somente um órgão público pode fazê-lo), com o qual o órgão ambiental responsável autorizará ou não a localização pretendida pelo proprietário rural, conforme critérios como: áreas prioritárias definidas pelo Plano de bacia hidrográfica; áreas prioritárias para preservação ambiental definidas pelo Plano diretor municipal; proximidade com outra reserva legal, APP, unidade de conservação ou outra área legalmente protegida para fins ambientais.

Vale ressaltar que para a viabilização do procedimento de constituição de RFL, o proprietário rural deve ser assessorado por técnico habilitado junto ao CREA para elaboração de mapa do imóvel com a localização da área de Reserva.

A área de Reserva Legal deverá ser registrada no órgão ambiental competente por meio de inscrição no CAR (Cadastro Ambiental Rural – apresentado no tópico 5.3), sendo vedada a alteração de sua destinação, nos casos de transmissão, a qualquer título, ou de desmembramento, com as exceções previstas nesta Lei.

A inscrição da Reserva Legal no CAR será feita mediante a apresentação de planta e memorial descritivo, contendo a indicação das coordenadas geográficas com pelo menos um ponto de amarração, conforme ato do Chefe do Poder Executivo.

Na posse, a área de Reserva Legal é assegurada por termo de compromisso firmado pelo possuidor com o órgão competente do Sisnama, com força de título executivo extrajudicial, que explicite, no mínimo, a localização da área de Reserva Legal e as obrigações assumidas pelo possuidor por força do previsto nesta Lei.

Atenção! O registro da Reserva Legal no CAR desobriga a

averbação no Cartório de Registro de Imóveis, sendo que, no período entre a data da publicação desta Lei e o registro no CAR, o proprietário ou possuidor rural que desejar fazer a averbação terá

direito à gratuidade deste ato. (art. , , da Lei Federal nº n. 12.651/12).

#POSIÇÃO DO TJ/MG

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - INDEFERIMENTO DO PEDIDO LIMINAR - ÁREA DE RESERVA LEGAL - AVERBAÇÃO À MARGEM DO REGISTRO DO IMÓVEL - DESNECESSIDADE - SENTENÇA MANTIDA 1. A CF/88 prevê em seu art. 24, §4º que a superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrária.2. Embora a Lei Estadual nº. 14.309/2002 prevê a necessidade do registro, o vigente Código Florestal (Lei Federal nº.12.651, de 25 de maio de 2012) dispõe que o registro da Reserva Legal no CAR desobriga a averbação no Cartório de Registro de Imóveis, portanto, essa previsão estadual encontra-se suspensa. Nesse sentido, é o Provimento 242/2012 da Corregedoria Geral de Justiça doEstado de Minas Gerais, 3. Nessa estreita via cognitiva, não se vislumbra nem o fumus boni iuris e nem o periculum in mora. 4. Negar provimento ao recurso. (TJMG - Processo: Agravo de Instrumento Cv 1.0701.12.043008-0/001 Relator(a): Des.(a) Teresa Cristina da Cunha Peixoto Data da

publicação da súmula: 20/05/2013)

5.2.11 Possibilidade de se aproveitar área de APP como percentual de Reserva Florestal Legal:

Esta é mais uma inovação do regime jurídico estabelecido pelo Novo Código Florestal, o percentual

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de área de preservação permanente pode ser aproveitado no cômputo do percentual de área de reserva. No Código Florestal anterior (revogado) esta situação era apenas para casos excepcionais. Atualmente, as condições são somente no sentido que este aproveitamento (APP + RFL) não implique em conversão de novas áreas de aproveitamento econômico, bem como que as APPs computadas como reservas estejam conservadas ou em processo de reflorestamento, conforme disciplina do art. 15 do Novo Código Florestal:

Art. 15. Será admitido o cômputo das Áreas de Preservação Permanente no cálculo do percentual da Reserva Legal do imóvel, desde que:

I - o benefício previsto neste artigo não implique a conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo;

II - a área a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperação, conforme comprovação do proprietário ao órgão estadual integrante do Sisnama;

#POSIÇÃO DO TJ/SP

AGRAVO DE INSTRUMENTO AÇÃO CIVIL PUBLICA - Tutela antecipada para proteção de área de preservação permanente e demarcação de reserva legal. Liminar deferida para apresentar projeto e promover a demarcação da reserva legal, bem como de reposição da vegetação nativa, na totalidade da área e abstenção de exploração da área destinada à reserva florestal. Determinações impostas para evitar impactos negativos e não autorizados. Dever de constituição da reserva legal, nos termos do art. 15 da Lei nº 12.651/2012 autorizado o cômputo da área de APP na reserva legal, desde que preenchidos os requisitos do art. 15 da aludida lei. (TJSP - AI 2006781- 19.2014.8.26.0000 - Tremembé - 1ª C.Res.MA - Rel.

Moreira Viegas – Dje 06.05.2014 - p. 1537)

5.2.12 Possibilidade de Regime de Condomínio na instituição da Reserva Florestal Legal (RFL):

Há que se destacar também que a Reserva Florestal Legal pode também ser regularizada em regime de condomínio, desde que respeitados os percentuais legais, no caso de 20% para todas as regiões do país e as variações de 20%, 35% e 80% de acordo com o tipo de vegetação no território da Amazônia Legal (conforme art. 12 do Novo Código).

Numa situação hipotética, isto significa que uma propriedade de 100 hectares, localizada, por exemplo, no Estado de Minas Gerais (ou qualquer outro, que não esteja na parcela de Amazônia Legal), que tem uma mata (fragmento territorial com vegetação nativa) de

20 hectares, caso seja dividida em decorrência de processo de inventário entre dois irmãos (portanto duas glebas) de 50 hectares, poderá ser instituída uma Reserva (com o fragmento de mata de 20 hectares existente) em regime de Condomínio para regularizar as duas novas glebas. É o que possibilita o art. 16 da Lei Federal nº n. 12.651/12:

Art. 16. Poderá ser instituído Reserva Legal em regime de condomínio ou coletiva entre propriedades rurais, respeitado o percentual previsto no art. 12 em relação a cada imóvel.

5.2.13 Formas de Regularização da Reserva Florestal Legal (RFL) e Alternativas de aproveitamento econômico sustentável na área:

O Art. 66 do Novo Código, estabelece que o proprietário ou possuidor de imóvel rural com extensão inferior aos percentuais de Reserva Florestal Legal exigidos para cada região do país, poderá regularizar sua situação, adotando as seguintes alternativas, isolada ou conjuntamente: I - recompor a Reserva Legal; II - permitir a regeneração natural da vegetação na área de Reserva Legal; III - compensar a Reserva Legal.

A alternativa de recomposição das áreas de Reserva Legal sempre dependerá de projetos de reflorestamento que devem ser desenvolvimentos por profissionais com responsabilidade técnica para tanto e com a consequente aprovação do órgãos ambientais competentes. Ou seja, faz-se um projeto florestal com os tipos de mudas as serem plantas, cronograma e ações de execução e submete-se à aprovação do órgão ambiental competente. Com a aprovação tem-se que a área encontra-se em processo de recomposição segundo anuência do órgão administrativo competente.

A alternativa a regeneração natural da vegetação na área de Reserva Legal também depende de projeto técnico e aprovação do órgão ambiental competente e significa a autorização administrativa para que determinada área seja isolada para que ocorra a regeneração natural da vegetação para fins de cumprimento da função da Reserva Florestal Legal.

E, por fim, a alternativa da compensação da área de Reserva Florestal Legal, regular o percentual legalmente exigido com área de extensão equivalente, que dever estar localizada no mesmo bioma predominante da propriedade a ser compensada e se estiver em outro Estado, depende da identificação por parte dos órgãos ambientais competentes de que este área é prioritária para fins de recuperação ambiental. Conforme estabelece o § 6o , do Art. 66 do Novo Código:

§ 6o As áreas a serem utilizadas para compensação na forma do § 5o (compensação de

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área de Reserva) deverão:

I - ser equivalentes em extensão à área da Reserva Legal a ser compensada;

II - estar localizadas no mesmo bioma da área de Reserva Legal a ser compensada;

III - se fora do Estado, estar localizadas em áreas identificadas como prioritárias pela União ou pelos Estados.

#POSIÇÃO DO TJ/MG

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - CONSTITUCIONAL E AMBIENTAL -PRETENSÃO MINISTERIAL DE ANULAÇÃO DE AVERBAÇÃO DE RESERVA LEGAL COMPENSATÓRIA DE PROPRIEDADE RURAL - ADVENTO DO NÓVO CÓDIGO FLORESTAL - VIGÊNCIA IMEDIATA - ADEQUAÇÃO DA RESERVA CONSTITUÍDA À NOVEL LEGISLAÇÃO - MESMO BIOMA - IMPROCEDÊNCIA - RECURSO DESPROVIDO "IN CASU" - Diferentemente do estatuto anterior, o novo Código Florestal (Lei n.º 12.651/12) adotou o critério da identidade de biomas para a instituição da reserva legal compensatória, abandonando o critério antes vigente que condicionava a correspondente instituição numa mesma micro-bacia ou, excepcionalmente, numa mesma bacia hidrográfica. - Havendo reserva legal averbada à margem da matrícula da propriedade, no mesmo bioma, tal como autorizado pelo art. 66, §6º, II, da Lei nº.12.651/12, improcede o pleito de anulação do registro imobiliário para que se promova nova área de compensação segundo os moldes da Lei nº. 4.771/65. (TJMG - Processo: Apelação Cível 1.0702.11.023887-1/001 Relator(a): Des.(a) Belizário de Lacerda - Data da publicação da súmula: 01/04/2014)

Uma outra novidade do Novo Código Florestal é que ele traz alternativas de aproveitamento econômico sustentável na área a ser destinada para fins de Reserva Florestal Legal:

Isso significa que na hipótese de regularização da área de Reserva Legal por recomposição, o reflorestamento pode ocorrer em sistema agroflorestal, com a possibilidade de plantio intercalado entre espécies nativas, com exóticas e frutíferas, desde que o percentual de espécies exóticas não ultrapasse 50% da área total a ser recuperada. É o que faculta e o § 3o , do Art. 66 do Novo Código:

§ 3º A recomposição de que trata o inciso I (recomposição da área de Reserva Legal) do caput poderá ser realizada mediante o plantio intercalado de espécies nativas com exóticas ou frutíferas, em sistema agroflorestal, observados os seguintes parâmetros:

I - o plantio de espécies exóticas deverá ser combinado com as espécies nativas de ocorrência regional;

II - a área recomposta com espécies exóticas não poderá exceder a 50% (cinquenta por cento) da área total a ser recuperada.

Com relação à Reserva Florestal Legal relacionada com as pequenas propriedades rurais, que detinham, em 22 de julho de 2008, área de até 4 (quatro) módulos fiscais e que possuam remanescente de vegetação nativa em percentuais inferiores ao previsto no art. 12 (percentuais apresentados no tópico 5.2.9), a Reserva Legal poderá ser constituída com a área ocupada com a vegetação nativa existente em 22 de julho de 2008, vedadas novas conversões para uso alternativo do solo.

5.2.14 Obrigatoriedade da Averbação da área de Reserva Florestal Legal (RFL) na matrícula para fins de isenção do ITR (Imposto Territorial Rural) e desconto na caracterização de Propriedade Produtiva

Já previa a Lei de Política Agrícola, Lei nº 8.171/91, art. 104, parágrafo único, in verbis:

“Art. 104. São isentas de tributação e do pagamento do Imposto Territorial Rural as áreas dos imóveis rurais consideradas de preservação permanente e de reserva legal, previstas na Lei nº 4.771, de 1965, com nova redação dada pela Lei 7.803, de 1989. Parágrafo único – A isenção do Imposto Territorial Rural-ITR estende-se às áreas da propriedade rural de interesse ecológico para a proteção dos ecossistemas, assim declarados por ato do órgão competente federal ou estadual, e que ampliam as restrições de uso previstas no caput deste artigo.”

Já a Lei nº 9.393/96, que dispõe sobre o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural – ITR e sobre pagamento da dívida representada por Títulos da Dívida Agrária, teve seu inciso II do § 1o do art. 10, atualizado pelo art. 24, da Lei Federal n. 12.844, de 19 de julho de 2013:

Art. 24. A alínea a do inciso II do § 1o do art. 10 da Lei no 9.393, de 19 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação: Art. 10. A apuração e o pagamento do ITR serão efetuados pelo contribuinte, independentemente de prévio procedimento da administração tributária, nos prazos e condições estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal, sujeitando-se a homologação posterior. § 1º Para os efeitos de apuração do ITR, considerar-se-á: II - área tributável, a área total do imóvel, menos as áreas: a) de preservação permanente e de reserva legal, previstas na Lei no 12.651, de 25 de maio de 2012;

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Atenção! Portanto, as estudadas áreas de preservação permanente (APP) e reserva florestal legal (RFL) devem ser descontadas da área a ser tributável do imóvel para fins do cálculo anual do imposto territorial rural, conforme determina o regime jurídico do próprio ITR.

No entanto, segundo entendimento recente do STJ, para haver isenção tributária especificamente para áreas de reserva florestal legal, é imprescindível que ocorra também a averbação junto à matrícula do registro do imóvel.

O entendimento foi proferido pela 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça ao julgar agravos regimentais da Fazenda Nacional e do contribuinte sobre o assunto.

Segundo o Ministro relator, “a isenção do ITR, na hipótese, apresenta inequívoca e louvável finalidade de estímulo à proteção do meio ambiente, tanto no sentido de premiar os proprietários que contam com reserva legal devidamente identificada e conservada, como de incentivar a regularização por parte daqueles que estão em situação irregular”.

Pelo entendimento que foi pacificado pelo STJ, diferentemente do que ocorre com as áreas de preservação permanente, cuja localização se dá mediante referências topográficas e a olho nu, a fixação do perímetro da reserva legal necessita de prévia delimitação pelo proprietário, pois, em tese, pode ser situada em qualquer ponto do imóvel.

Pela recente decisão do STJ, o ato de especificação pode ser feito “tanto à margem da inscrição da matrícula do imóvel, como administrativamente, nos termos da sistemática instituída pelo novo Código Florestal” (artigo 18 da Lei 12.651/12).

Dessa forma, os ministros da 2ª Turma decidiram que, não havendo o registro, que tem por finalidade a identificação do perímetro da reserva legal, seria impossível cogitar a regularidade da área protegida e, por conseguinte, o direito à isenção tributária correspondente. O que não ocorre com as APPs, cuja isenção deve ser reconhecida independentemente da averbação no CRI.

#POSIÇÃO DO STJ

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVOS REGIMENTAIS NO RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. ITR. . ISENÇÃO. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. INSTITUIÇÃO POR DISPOSIÇÃO LEGAL. AVERBAÇÃO DA ÁREA DA RESERVA LEGAL NO REGISTRO DE IMÓVEIS. NECESSIDADE. 1. Quando do julgamento do EREsp 1027051⁄SC (Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Seção, DJe 21.10.2013), restou pacificado que, "diferentemente do que ocorre com as áreas de preservação permanente, as quais são instituídas por disposição legal, a caracterização da área de reserva legal exige seu prévio registro junto ao Poder Público". 2. Dessa forma, quanto à área de reserva legal, é imprescindível que haja averbação junto à matrícula do imóvel, para haver isenção tributária. Quanto às áreas

de preservação permanente, no entanto, como são instituídas por disposição legal, não há nenhum condicionamento para que ocorra a isenção do legal, não há nenhum condicionamento para que ocorra a isenção do ITR. 3. Agravos regimentais não providos.

Da mesma forma, a averbação da reserva florestal na matrícula do imóvel é condição para que o seu referido percentual seja descontado da área total do imóvel para avaliação se determinada propriedade rural é ou não produtiva no contexto do direito agrário.

A Lei Federal n. 8.629/1993, que dispõe sobre a regulamentação dos dispositivos constitucionais relacionados com o direito agrário, prevê o conceito de propriedade produtiva:

Considera-se propriedade produtiva aquela que,

explorada econômica e racionalmente, atinge, simultaneamente, graus de utilização da terra e de eficiência na exploração, segundo índices fixados pelo órgão federal competente. (Art. 6º)

O grau de utilização da terra, para efeito do caput deste artigo, deverá ser igual ou superior a 80% (oitenta por cento), calculado pela relação percentual entre a área efetivamente utilizada e a área aproveitável total do imóvel. (§ 1º)

A avaliação se determinada propriedade rural é ou não produtiva é condição para a verificação do cumprimento de sua função social e, por consequência, afastar ou sofrer a incidência do instituto de usucapião por interesse social.

#POSIÇÃO DO STF ―Não se encontrando individualizada na sua averbação, a reserva florestal não poderá ser excluída da área total do imóvel desapropriando para efeito de cálculo da produtividade.‖ (MS 24.113, rel. min. Maurício Corrêa, julgamento em 19-3-2003,Plenário, DJ de 23-5-2003.) No mesmo sentido: MS 24.924, rel. p/ o ac. min. Joaquim Barbosa, julgamento em 24-2-2011, Plenário, DJE de 7-11-2011.

5.3 Do Cadastro Ambiental Rural (CAR)

Como assunto relacionado tanto às áreas de preservação permanentes, quanto reservas florestais legais, tem-se a exigência trazida pelo Art. 29, parágrafos e incisos seguintes do Novo Código, de inscrição de todos imóveis rurais do território nacional, com a respectiva descrição de referidos espaços protegidos, no Cadastro Ambiental Rural (CAR). O caput de referido artigo define o CAR como:

Registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais,

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compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento.

Portanto, verifica-se que o CAR consiste em registro público eletrônico, obrigatório, com finalidade de levantar informações ambientais de todas as propriedade ou posses rurais nacionais, com vistas ao monitoramento, planejamento ambiental e econômico, bem como combate ao desmatamento nessas áreas.

Tais informações integrarão o Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente (SINIMA) e a inscrição do imóvel rural no cadastro deverá ser feita, preferencialmente, nos órgãos ambientais municipais ou estaduais, de acordo com a existência da respectiva estrutura apta para fazer o registro9 (BESSA ANTUNES, 2013).

A inscrição no CAR deve constar as seguintes informações:

I - identificação do proprietário ou possuidor rural;

II - comprovação da propriedade ou posse;

III - identificação do imóvel por meio de planta e memorial descritivo, contendo a indicação das coordenadas geográficas com pelo menos um ponto de amarração do perímetro do imóvel, informando a localização dos remanescentes de vegetação nativa, das Áreas de Preservação Permanente, das Áreas de Uso Restrito, das áreas consolidadas e, caso existente, também da localização da Reserva Legal.

Portanto, que a inscrição no CAR, que é obrigatória para todas as propriedades e posses rurais10, consiste em instrumento de monitoramento e fiscalização administrativa dos espaços territoriais especialmente protegidos em sentido amplo.

Atenção!

Importante destacar que em 05 de maio de 2014, foi publicado o Decreto n. 8.235/2014, regulamentando o CAR e estabelecendo normas gerais complementares aos Programas de Regularização Ambiental dos Estados e do Distrito Federal, de que trata o Decreto no 7.830, de 17 de outubro de 2012, bem como instituiu o Programa Mais Ambiente Brasil.

Em outras palavras, o Decreto traz normas gerais complementares ao Novo Código Florestal, para a regularização das Áreas de Preservação Permanente (APPs), de Reserva Legal (RL) e de Uso Restrito (UR) (aquelas áreas com inclinação entre 25° e 45°)

9 BESSA ANTUNES, Paulo. Comentários ao Novo Código Florestal. São Paulo: Atlas, 2013 10 O § 3o , do Art. 29, estabelece que a inscrição no CAR será obrigatória para todas as propriedades e posses rurais, devendo ser requerida no prazo de 1 (um) ano contado da sua implantação, prorrogável, uma única vez, por igual período por ato do Chefe do Poder Executivo.

mediante recuperação, recomposição, regeneração ou compensação. A recente regulamentação prevê a determinação que os proprietários ou possuidores de imóveis rurais deverão realizar o PRA após o preenchimento do Cadastro Ambiental Rural (CAR).

A inscrição no CAR será realizada por meio do Sistema de Cadastro Ambiental Rural (Sicar), que emitirá um recibo — nos mesmos moldes da declaração do Imposto de Renda.

Após realizada a inscrição no CAR, os proprietários ou os possuidores de imóveis rurais com passivo ambiental relativo às Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito poderão proceder à regularização ambiental mediante adesão aos Programas de Regularização Ambiental dos Estados e do Distrito Federal – PRA.

Após a solicitação de adesão ao PRA, o proprietário ou possuidor do imóvel rural assinará termo de compromisso que deverá conter:

I - o nome, a qualificação e o endereço das partes compromissadas ou dos representantes legais.

II - os dados da propriedade ou posse rural;

III - a localização da Área de Preservação Permanente ou Reserva Legal ou área de uso restrito a ser recomposta, recuperada, regenerada ou compensada;

IV - descrição da proposta simplificada do proprietário ou possuidor que vise à recomposição, recuperação, regeneração ou compensação das áreas referidas no inciso III

V - prazos para atendimento das opções constantes da proposta simplificada prevista no inciso IV e o cronograma físico de execução das ações

VI - as multas ou sanções que poderão ser aplicadas aos proprietários ou possuidores de imóveis rurais compromissados e os casos de rescisão, em decorrência do não cumprimento das obrigações nele pactuadas;

VII - o foro competente para dirimir litígios entre as partes

Caso opte o interessado, no âmbito do PRA, pelo saneamento do passivo de Reserva Legal por meio de compensação, o termo de compromisso deverá conter as informações relativas à exata localização da área de que trata o art. 66, § 6º, da Lei nº12.651, de 2012 (critérios técnicos já analisados para compensação da RFL), com o respectivo CAR.

A proposta simplificada a que se refere o inciso IV do caput poderá ser apresentada pelo proprietário ou possuidor do imóvel rural independentemente de contratação de técnico responsável.

Tratando-se de Área de Reserva Legal, o prazo de vigência dos compromissos, previsto no inciso V do caput, poderá variar em até vinte anos (conforme disposto no § 2o do art. 66 da Lei no 12.651, de 2012 – Novo Código Florestal).

Enquanto estiver sendo cumprido o termo de compromisso pelos proprietários ou possuidores de imóveis rurais, ficará suspensa a aplicação de

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sanções administrativas, associadas aos fatos que deram causa à celebração do termo de compromisso.

Quando houver necessidade de alteração das obrigações pactuadas ou das especificações técnicas, deverá ser encaminhada solicitação, com justificativa, ao órgão competente, para análise e deliberação.

Em assentamentos de reforma agrária, o termo de compromisso a ser firmado com o órgão competente deverá ser assinado pelo beneficiário da reforma agrária e pelo órgão fundiário.

Atenção! Conforme art. 12 do Decreto n. 8.235/2014, os

termos de compromissos (TACs) ou instrumentos similares em andamento para a regularização ambiental do imóvel rural referentes às Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito, firmados sob a vigência da legislação anterior (o Código de 65 e alterações), poderão ser revistos para se adequarem ao disposto na Lei 12.651, de 2012, de acordo com solicitação do proprietário.

Umas vez realizadas as adequações requeridas pelo

proprietário ou possuidor, o termo de compromisso revisto deverá ser inscrito no Sicar.

O decreto estabelece também os Programas de Regularização Ambiental dos Estados e institui o Programa Mais Ambiente Brasil, com o objetivo de apoiar, articular e integrar referidos Programas de Regularização Ambiental.

O programa está previsto especialmente com as seguintes ações de apoio à regularização ambiental de imóveis rurais:

(i) educação ambiental; (ii) assistência técnica e extensão rural; (iii) produção e distribuição de sementes e mudas; (IV) capacitação de gestores públicos envolvidos no processo de regularização ambiental dos imóveis rurais nos estados e no Distrito Federal.

As despesas com a execução das atividades do

referido programa e suas ações correrão à conta das dotações orçamentárias consignadas anualmente no orçamento do Ministério do Meio Ambiente.

O Ministério do Meio Ambiente também

regulamentou procedimentos relacionados à efetivação do CAR, especificamente a Instrução Normativa n. 02, de 05 de maio de 2014, que dispõe sobre os

procedimentos técnicos e administrativos11 para a integração, execução e compatibilização do Sistema de Cadastro Ambiental Rural-SICAR e define os procedimentos gerais do Cadastro Ambiental Rural-CAR.

11 Neste sentido Art. 7 : O registro do imóvel rural no CAR é nacional, único e permanente, constituído por um código alfa numérico composto da identificação numeral sequencial, da Unidade da Federação e do código de identificação do Município, de acordo com a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE.