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ESTUDO DA FENDILHAÇÃO EM LAJES RESTRINGIDAS, DEVIDA AO EFEITO CONJUNTO DA RETRAÇÃO E DAS AÇÕES DISTRIBUÍDAS NO PISO JORGE FREIRE DE CARVALHO Dissertação submetida para satisfação parcial dos requisitos do grau de MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL ESPECIALIZAÇÃO EM ESTRUTURAS Orientador: Professor Doutor Rui Manuel Carvalho Marques de Faria Coorientador: Professor Doutor Carlos Filipe Ferreira de Sousa JUNHO DE 2013

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ESTUDO DA FENDILHAÇÃO EM LAJES RESTRINGIDAS, DEVIDA AO EFEITO CONJUNTO DA RETRAÇÃO E DAS AÇÕES DISTRIBUÍDAS NO PISO

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  • ESTUDO DA FENDILHAO EM LAJES RESTRINGIDAS, DEVIDA AO EFEITO

    CONJUNTO DA RETRAO E DAS AES

    DISTRIBUDAS NO PISO

    JORGE FREIRE DE CARVALHO

    Dissertao submetida para satisfao parcial dos requisitos do grau de

    MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL ESPECIALIZAO EM ESTRUTURAS

    Orientador: Professor Doutor Rui Manuel Carvalho Marques de Faria

    Coorientador: Professor Doutor Carlos Filipe Ferreira de Sousa

    JUNHO DE 2013

  • MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL 2012/2013

    DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

    Tel. +351-22-508 1901

    Fax +351-22-508 1446

    [email protected]

    Editado por

    FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO

    Rua Dr. Roberto Frias

    4200-465 PORTO

    Portugal

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    Reprodues parciais deste documento sero autorizadas na condio que seja

    mencionado o Autor e feita referncia a Mestrado Integrado em Engenharia Civil -

    2012/2013 - Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia da Universidade

    do Porto, Porto, Portugal, 2013.

    As opinies e informaes includas neste documento representam unicamente o ponto de

    vista do respetivo Autor, no podendo o Editor aceitar qualquer responsabilidade legal ou

    outra em relao a erros ou omisses que possam existir.

    Este documento foi produzido a partir de verso eletrnica fornecida pelo respetivo Autor.

    mailto:[email protected]:[email protected]://www.fe.up.pt/

  • minha famlia

    Nothing is our own except the few cubic centimetres inside your skull

    George Orwell

  • Estudo da Fendilhao em Lajes Restringidas, Devida ao Efeito Conjunto da Retrao e Das Aes Distribudas No Piso

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    AGRADECIMENTOS

    Em primeiro lugar expresso o meu apreo ao Professor Rui Faria, orientador cientfico da presente

    dissertao, pelo apoio, motivao e disponibilidade prestada ao longo da realizao deste trabalho. A

    sua orientao e ensinamentos foram importantes no s para uma correta realizao deste trabalho

    mas tambm para a minha vida futura profissional.

    Estou tambm grato ao Professor Carlos Sousa, co-orientador cientfico desta dissertao, pela ajuda

    prestada na anlise dos modelos numricos realizados e por todos os conhecimentos transmitidos

    bastante teis ao longo da realizao desta dissertao.

    Gostaria tambm de agradecer ao Professor Mrio Pimentel e aos colegas do LABEST, em especial ao

    Lus Leito, pela disponibilizao do software e concelhos uteis de utilizao do mesmo.

    A todos os meus amigos que me apoiaram e motivaram atravs da sua amizade para que a realizao

    deste trabalho fosse bem sucedida. De diferentes formas a ajuda deles foi importante.

    Ao concluir este trabalho no poderia deixar de agradecer aos meus pais e minha irm por terem sido

    um exemplo durante toda a minha vida. Pelo apoio e dedicao que sempre me deram e por todas as

    possibilidades que me proporcionaram. Tornam-se poucas as palavras que traduzem o meu

    agradecimento.

  • Estudo da Fendilhao em Lajes Restringidas, Devida ao Efeito Conjunto da Retrao e Das Aes Distribudas No Piso

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    RESUMO

    No presente trabalho elaborado o estudo da fendilhao em lajes macias armadas numa direo,

    fortemente restringidas axialmente, pela existncia de paredes ou ncleos de caixas de elevadores,

    tendo tambm em considerao o efeito das aes distribudas no piso. Como essas lajes se encontram

    fortemente restringidas, as deformaes impostas devidas retrao esto impedidas, originado um

    esforo axial de trao na laje, provocando assim o aparecimento de fendas. Deste modo, a laje

    encontra-se submetida a flexo composta com trao em situaes de servio.

    Com vista a perceber este fenmeno, inicialmente caracterizou-se o comportamento diferido do beto

    no fendilhado atravs dos fenmenos de retrao e fluncia, e a modelao do comportamento do

    beto fendilhado, atravs dos efeitos de tension softenning e tension stiffening, tendo em conta um

    modelo de mltiplas fendas fixas com decomposio de extenses, permitindo a combinao dos

    efeitos de fendilhao, retrao, fluncia e variaes de temperatura.

    Numa fase seguinte, procedeu-se anlise de tirantes de beto armado com diferentes percentagens de

    armadura, sujeitos a: (i) uma deformao imposta externa, provocada por um assentamento de apoio

    horizontal; (ii) uma deformao imposta interna (retrao). Com a anlise destes tirantes, pretendia-se

    perceber qual a diferena, em termos de variao do esforo axial e abertura de fendas, devida ao tipo

    de deformao imposta (externa ou interna), e a importncia que essa variao pode ter no

    dimensionamento de estruturas de beto armado. Com estas anlises, pretendia-se tambm

    compreender e validar o procedimento empregue na anlise no-linear.

    Posteriormente, foram estudadas lajes, com diferentes tipos de vos, apoios estruturais e espessuras. O

    tipo de lajes em estudo, encontram-se fendilhadas em fase de servio, no sendo possvel estimar de

    modo simples o esforo axial instalado. Assim, comeou-se por estimar a armadura necessria, usando

    procedimentos correntes de projeto, considerando dois valores limite para o esforo axial instalado: (i)

    esforo axial N=0; (ii) esforo axial N=Ncr. Numa ltima etapa, recorrendo a uma anlise no linear,

    empregando o programa de clculo DIANA, obteve-se o esforo axial verdadeiramente instalado na

    laje, valor esse que pode ento ser usado na determinao da quantidade de armadura que garante o

    cumprimento do limite mximo para a abertura de fendas (sendo considerado, neste trabalho, uma

    limite de 0,3 mm). Concluiu-se que o esforo axial verdadeiramente instalado bastante inferior ao

    esforo de fendilhao Ncr=Acfctm, tendo sido possvel obter valores indicativos, a usar em projeto,

    para o valor do esforo axial verdadeiramente instalado, em percentagem do esforo de fendilhao.

    Foi tambm avaliada a importncia da dispensa de armaduras, em termos de comportamento em

    servio, assim como a resistncia ao esforo transverso destas lajes.

    PALAVRAS CHAVE: retrao, deformao imposta, laje axialmente restringida, fendilhao, esforo

    axial.

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    ABSTRACT

    The presente work focuses on the analysis of cracking in uni-directional solid slabs, axially restrained

    by the presence of earth retaining walls or bracing walls, considering the influence of vertical loads. In

    these structures, shrinkage deformations are heavily restrained, giving rise to important axial forces,

    and consequently cracking generally occurs. Thus, the slab is subjected to bending and axial forces, in

    service.

    In order to understand this phenomenon, initial studies were carried out, focusing on the numerical

    simulation of: (i) the long-term behaviour of non-cracked concrete structures, considering the effects

    of of shrinkage and creep; (ii) the mechanical response of concrete structures after cracking,

    considering the effects of tension softening and tension stiffening (by employing a model of multiple

    fixed cracks with strain decomposition, which makes possible the consideration of creep, shrinkage

    and temperature effects).

    Then, reinforced concrete ties with different reinforcement ratios were analysed, considering the

    following actions: i) external imposed deformation caused by a support displacement; ii) internal

    imposed deformation (shrinkage). The main purpose of these analyses consisted in understanding the

    influence of the nature of imposed deformations (internal or external), in terms of axial force in the tie,

    crack openings, and consequences for structural design works. These analyses also aimed at

    understanding and validating the adopted procedure for nonlinear analysis.

    Finally, different reinforced concrete slabs (with different spans, support conditions and thicknesses)

    were analysed. In these structures, the applied axial force (in service) can hardly been quantified by

    means of current analysis procedures. That effort can be quantified by using the adopted nonlinear-

    analysis procedure. Thus, lower- and upper-bound values for the required areas of steel reinforcement

    were initially quantified (by applying current design procedures): (i) a lower-bound value was

    estimated considering an axial force N = 0; (ii) an upper-bound limit was calculated considering N =

    Ncr in the verification of the maximum crack widths (which, in the present work, were limited to 0.3

    mm). Then, nonlinear analyses (using the finite element package DIANA) were carried out, in order to

    obtain realistic estimates for the applied axial force in service. It was found that the actual applied

    axial force, in service, is significantly lower than cracking effort Ncr=fctm*Ac. Indicative values for the

    applied axial force could be established, in percentage of the cracking effort. Some considerations

    regarding the curtailment of tensile reinforcements and shear strength were also made

    KEYWORDS: shrinkage, imposed deformations axially restrained slab, cracking, axial force,

    nonlinear analysis.

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    NDICE GERAL

    AGRADECIMENTOS ............................................................................................................................ i

    RESUMO ........................................................................................................................................... iii

    ABSTRACT.......................................................................................................................................... v

    1 Introduo ....................................................................................................................................... 1

    1.1. Enquadramento do tema e objetivos da dissertao ................................................................ 1

    1.2. Organizao em captulos ...................................................................................................... 2

    2 Modelao do Beto fendilhado, incluindo os efeitos da retrao e da fluncia ................................ 5

    2.1. Introduo ............................................................................................................................. 5

    2.2. Comportamento diferido do beto no fendilhado .................................................................. 6

    2.2.1. Retrao ...................................................................................................................... 6

    2.2.2. Evoluo da retrao e da tenso no beto .................................................................... 8

    2.2.3. Fluncia ......................................................................................................................10

    2.2.4. Curage e Aging ...........................................................................................................13

    2.3. Comportamento do beto fendilhado .....................................................................................15

    2.3.1. Modelos de fendilhao ..............................................................................................15

    2.3.2. Definio do Diagrama de Reteno de Tenses de Trao no Beto Simples,tension

    softening. ...................................................................................................................16

    2.3.3. Reteno de Tenses de Trao no Beto Armado,Tension Stiffenning .....................18

    2.3.4. Abertura de Fendas segundo o MC90 (CEB-FIP, 1991) ..............................................23

    2.4. Consideraes finais .............................................................................................................24

    3 Simulao da fendilhao em tirantes de beto armado devido a deformaes impostas internas e

    externas .........................................................................................................................................25

    3.1. Introduo ............................................................................................................................25

    3.2. Caracterizao das estruturas em anlise e do modelo adotado ..............................................26

    3.2.1 Materiais, geometria e condies de apoio ..................................................................26

    3.2.2 Esquema de integrao e definio das zonas de stiffening e softening .........................27

    3.2.3 Malha de elementos finitos e variao da resistncia de trao do beto ao longo dos

    elementos finitos. ........................................................................................................28

    3.3. Tirante sujeito a uma deformao imposta externa ................................................................28

    3.3.1 Modelao da deformao imposta e anlise numrica incremental. ............................29

    3.3.2 Anlise da variao do esforo axial ...........................................................................30

    3.3.3 Anlise da Abertura de Fendas ....................................................................................32

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    3.4. Tirante sujeito a uma deformao imposta interna ................................................................. 33

    3.4.1 Anlise do Esforo Axial ............................................................................................ 34

    3.4.2 Tenso no ao e no beto na seo da fenda ................................................................ 37

    3.4.3 Anlise da abertura de fendas...................................................................................... 39

    3.5. Concluses ........................................................................................................................... 40

    4 Simulao de lajes sob a ao de cargas verticais com impedimento das deformaes devido

    retrao. ......................................................................................................................................... 41

    4.1. Introduo ............................................................................................................................ 41

    4.2. Descrio do caso de estudo e do modelo adotado ................................................................ 43

    4.2.1. Propriedades dos Materiais e modelao das aes...................................................... 43

    4.2.2. Tamanho dos elementos finitos e sua importncia. ...................................................... 44

    4.2.3. Clculo da abertura de fendas e tenso do ao na seo da fenda ................................. 46

    4.3. Estimativa da espessura e armadura necessria com base em metodologias correntes de

    dimensionamento. ................................................................................................................ 46

    4.3.1. Deformao ................................................................................................................ 46

    4.3.2. Estado limite ltimo (ELU) e estado limite de servio (ELS)....................................... 48

    4.4. Analise no linear ................................................................................................................. 54

    4.4.1. Dispensa de armaduras ............................................................................................... 59

    4.4.2. Esforo transverso ...................................................................................................... 61

    4.5. Concluses ........................................................................................................................... 62

    5 Concluses e desenvolvimentos futuros ......................................................................................... 63

    5.1. Concluses ........................................................................................................................... 63

    5.2. Desenvolvimentos futuros .................................................................................................... 65

    Bibliografia ...................................................................................................................................... 66

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    NDICE DE FIGURAS

    Fig. 2.1 Componentes ci(t0), cc(t) e cs(t) da deformao total de um elemento de beto sujeito a

    tenso constante. (Sousa, 2004) ......................................................................................................... 6

    Fig. 2.2 Modelo utilizado na caracterizao do fenmeno de retrao. ............................................. 8

    Fig. 2.3 Evoluo da tenso no beto devido retrao com o tempo.............................................. 9

    Fig. 2.4 Evoluo da extenso de retrao do beto com o tempo ................................................. 10

    Fig. 2.5 Modelo usado na caracterizao da fluncia. .................................................................... 11

    Fig. 2.6 Tenso constante instalada no beto. ................................................................................ 11

    Fig. 2.7 Evoluo da Fluncia do beto com o tempo. .................................................................... 12

    Fig. 2.8 Evoluo da retrao para Aging 3 dia Curage 5 dias ........................................................ 14

    Fig. 2.9 Evoluo da retrao para Aging 14 dias Curage 0 dias. ................................................... 14 Fig. 2.10 Modelos de tension cut-off implementados no programa. (DIANA, 2012) ......................... 16

    Fig. 2.11 Diagrama de reteno de tenses de trao no beto simples (Sousa, 2004). ................. 17 Fig. 2.12 Diagrama de reteno de trao no beto simples considerado pelo software. ................ 18

    Fig. 2.13 Determinao da rea de beto efetivo: a) vigas; b) lajes; c) elementos em trao. (CEB-

    FIP, 1991) ......................................................................................................................................... 19

    Fig. 2.14 Diagrama de reteno de tenses de trao em elementos de beto armado. (Sousa,

    2004) ................................................................................................................................................ 19

    Fig. 2.15 Diagrama tenso-extenso para um tirante tracionado (Sousa, 2004). ............................. 21

    Fig. 2.16 Diagrama tenso-extenso considerado para a armadura no presente estudo. ................ 22

    Fig. 2.17 Diagrama, ilustrativo, de reteno de tenses de trao em elementos de beto armado

    fornecido ao software. ....................................................................................................................... 22

    Fig. 3.1 Modelo tipo utilizado para os tirantes de beto armado...................................................... 26

    Fig. 3.2 Esquema ilustrativo da integrao usado no modelo.......................................................... 27

    Fig. 3.3 Variao da resistncia a trao ao longo dos elementos finitos. ....................................... 28

    Fig. 3.4 Modelo utilizado na anlise de um tirante com deformao imposta externa. ..................... 29

    Fig. 3.5 Evoluo do incremento da deformao imposta externa ao longo do tempo..................... 29

    Fig. 3.6 Variao do esforo axial para tirantes com deformao imposta externa com diferentes

    percentagens de armadura. .............................................................................................................. 30

    Fig. 3.7 Abertura de fendas para um tirante com deformao imposta externa com percentagem de

    armadura de 0.85 %. ........................................................................................................................ 32

    Fig. 3.8 Abertura de fendas para um tirante com deformao imposta externa com percentagem de

    armadura de 1.68 %. ........................................................................................................................ 33

    Fig. 3.9 Esquema representativo da combinao de efeitos num tirante sujeito a deformao

    imposta interna. ................................................................................................................................ 34

    Fig. 3.10 Variao do esforo axial para tirantes com uma deformao imposta interna com

    diferentes percentagens de armadura. .............................................................................................. 35

    Fig. 3.11 Representao, simplificada, das tenses mdias na armadura em estado fendilhado

    (esquerda) e no fendilhado (direita). ................................................................................................ 35

    Fig. 3.12 Representao, simplificada, das tenses mdias no beto em estado fendilhado

    (esquerda) e no fendilhado (direita). ................................................................................................ 36

    Fig. 3.13 Variao, ilustrativa, da tenso no beto devido ao fenmeno de retrao....................... 36

    Fig. 3.14 Variao da tenso no beto ao longo do 1 elemento fissurado (t=363 dias, cs=-0,277

    ) .................................................................................................................................................... 38

    Fig. 3.15 Variao da tenso na armadura ao longo do 1 elemento fissurado (t=363 dias, cs=-

    0,277 ) .......................................................................................................................................... 38

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    Fig. 3.16 Abertura de fendas para um tirante sujeito a uma deformao imposta interna com

    percentagem de armadura de 0.85 %................................................................................................39

    Fig. 3.17 Abertura de fendas para um tirante sujeito a uma deformao imposta interna com

    percentagem de armadura de 1.68 %................................................................................................39

    Fig. 4.1 Variao do esforo axial considerando diferentes tamanhos de elementos finitos. ...........45

    Fig. 4.2 Variao da abertura de fendas a meio vo considerando diferentes tamanhos de

    elementos finitos. ..............................................................................................................................45 Fig. 4.3 Laje com armadura estritamente necessria pra cumprir ELU e ELS com N=0. .................48

    Fig. 4.4 Equilbrio usado para estimar armadura em flexo composta com trao numa seo

    generalizada. ....................................................................................................................................50

    Fig. 4.5 Armadura superior e inferior necessria para garantir wk< 0.3 mm em 3 sees

    transversais, com N=Ncr. ...................................................................................................................51

    Fig. 4.6 Esforo axial realmente instalado para uma estimativa de armadura com N=Ncr e N=NDIANA

    .........................................................................................................................................................57

    Fig. 4.7 Momento flector no apoio realmente instalado na laje para uma estimativa de armadura

    com N=Ncr e N=NDIANA

    ......................................................................................................................58

    Fig. 4.8 Padro de fendilhao para um instante de tempo igual a meio ano. .................................58

    Fig. 4.9 Padro de fendilhao para um instante de tempo igual a 1 ano. .......................................58

    Fig. 4.10 Padro de fendilhao para um instante de tempo igual a 3 anos. ...................................58

    Fig. 4.11 Padro de fendilhao para um instante de tempo igual a 5 anos. ...................................59 Fig. 4.12 Dispensa de armadura na laje com um esquema estrutural de vo interior com N=N

    DIANA.

    .........................................................................................................................................................60 Fig. 4.13 Dispensa de armadura na laje com esquema estrutural de vo exterior com N=N

    DIANA. ....60

    Fig. 4.14 Padro de fendilhao para um vo interior num instante de tempo igual a 50 anos: a)

    antes da dispensa; b) aps a dispensa. .............................................................................................61

    Fig. 4.15 Padro de fendilhao para um vo exterior num instante de tempo igual a 50 anos: a)

    antes da dispensa; b) aps a dispensa. .............................................................................................61

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    NDICE DE TABELAS

    Tabela 2.1 Caractersticas dos materiais do modelo......................................................................... 9 Tabela 2.2 Valores de e bk de acordo com MC90. (CEB-FIP, 1991) Erro! Marcador no definido.

    Tabela 3.1 Propriedades dos materiais considerados. .................................................................... 26

    Tabela 3.2 Percentagens de armadura utilizadas. .......................................................................... 27

    Tabela 3.3 Comparao entre o esforo axial de fendilhao sem recorrer a uma anlise no linear

    com o obtido pelo software para um tirante com deformao imposta interna. ................................... 37

    Tabela 4.1 Propriedades dos materiais utilizados na modelao da laje. ........................................ 43

    Tabela 4.2 Espessuras consideradas para um sistema estrutural de vo interior. ........................... 47

    Tabela 4.3 Iteraes para obteno de um critrio de deformao para um sistema estrutural de vo

    exterior. ............................................................................................................................................ 47

    Tabela 4.4 Espessuras consideradas para um esquema estrutural de vo exterior. ....................... 47

    Tabela 4.5 Armadura estritamente necessria para cumprir ELU e ELS com N=0 .......................... 48

    Tabela 4.6 Abertura de fendas e tenso na armadura na seo da fenda para flexo simples. ....... 49

    Tabela 4.7 Armadura necessria para cumprir abertura de fendas em flexo composta com trao,

    com N=Ncr ........................................................................................................................................ 51

    Tabela 4.8 Abertura de fendas, tenses na armadura e deformaes (N=Ncr) ................................ 51

    Tabela 4.9 Comparao do esforo axial usado no clculo e o realmente instalado na laje. ........... 52

    Tabela 4.10 Estimativa de armaduras para esquema estrutura de vo interior com N=Ncr .............. 52

    Tabela 4.11 Estimativa de armaduras para esquema estrutura de vo exterior com N=Ncr ............. 52

    Tabela 4.12 Abertura de fendas, tenso na armadura e deformao para o esquema estrutura de

    vo interior (N=Ncr)............................................................................................................................ 53

    Tabela 4.13 Abertura de fendas, tenso na armadura e deformao para o esquema estrutura de

    vo exterior. (N=Ncr).......................................................................................................................... 53

    Tabela 4.14 Comparao do esforo axial usado no clculo e o realmente instalado na laje para um

    vo interior. ....................................................................................................................................... 53

    Tabela 4.15 Comparao do esforo axial usado no clculo e o realmente instalado na laje para um

    vo exterior. ...................................................................................................................................... 54

    Tabela 4.16 Armadura resultante do clculo segundo uma anlise no linear para o sistema

    estrutural de vo interior. (N=NDIANA

    ) ................................................................................................. 55

    Tabela 4.17 Armadura resultante do clculo segundo uma anlise no linear para o sistema

    estrutural de vo exterior. (N=NDIANA

    ) ................................................................................................ 55

    Tabela 4.18 Abertura de fendas, tenses no ao e deformaes para um esquema estrutura de vo

    interno com N=Nreal

    . .......................................................................................................................... 55

    Tabela 4.19 Abertura de fendas, tenses no ao e deformaes para um esquema estrutura de vo

    extremo com N=Nreal

    . ........................................................................................................................ 56

    Tabela 4.20 Esforo axial para um sistema estrutural de vo interior .............................................. 56

    Tabela 4.21 Esforo axial para um sistema estrutural de vo interior .............................................. 57

    Tabela 4.22 Comparao entre esforo transverso resistente e actuante. ...................................... 62

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    SMBOLOS E ABREVIATURAS

    Para clareza de exposio no texto proceder-se- descrio de cada smbolo e abreviatura,

    simultaneamente com a sua primeira utilizao. A seguinte lista apresentada por ordem alfabtica.

    SMBOLOS

    L (t) Deslocamento horizontal num determinado tempo

    L Deformao externa aplicada

    Valor reduzido do momento fletor

    A Varivel auxiliar de clculo da fora de trao axial superior e inferior

    Ac rea da seo transversal de beto

    Ac,ef rea da seo efetiva de beto tracionado que envolve as armaduras tracionadas

    As rea transversal da armadura

    B Varivel auxiliar de clculo da fora de trao axial superior e inferior

    d Altura til dada pela distncia entre o centro de gravidade das armaduras e o bordo da

    seco

    e Excentricidade do esforo axial dado por N/M

    *2 Extenso de clculo associada ao diagrama tenso-extenso da metodologia tension

    stiffening

    *3 Extenso de clculo associado ao diagrama tenso-extenso da metodologia tension

    stiffening

    Ec Mdulo de elasticidade do beto

    c(t) Deformao total de um elemento de beto no instante t

    Ec,adj Mdulo de elasticidade efetivo ajustado do beto

    cc (t) Deformao de fluncia num instante t

    Eci (t0) Mdulo de elasticidade tangente na origem do diagrama tenso-deformao do beto

    Eci Mdulo de elasticidade tangente na origem, para uma idade de carregamento igual a

    28 dias

    ci(t0) Deformao instantnea do beto

    Ecm Mdulo de elasticidade mdio do beto

    cs (t,t0) Deformao total de retrao do beto no instante t

    cs0 Coeficiente de retrao nominal do beto

    cT(t) Deformao trmica, dada pelo produto da variao de temperatura pelo coeficiente de

    dilatao trmica

    ct(t) Deformao total de um elemento de beto

    m Extenso mdia no tirante de beto armado tracionado igual a L(t)/L

    emax Excentricidade mxima do esforo axial dado por d-(h/2)

  • Estudo da Fendilhao em Lajes Restringidas, Devida ao Efeito Conjunto da Retrao e Das Aes Distribudas No Piso

    xiv

    Es Mdulo de cedncia do ao

    s(fcm) Extenso dependente do tipo de beto

    sy Extenso de cedncia do ao

    ts Extenso de clculo associada ao diagrama tenso-extenso associada ao diagrama de

    efeito softening

    fck Valor caracterstico da resistncia do beto compresso em provetes cilndricos

    fcm Valor mdio da resistncia compresso no beto aos 28 dias

    fct Resistncia trao do beto

    fctm Resistncia mdia trao do beto

    Finf. Fora axial de trao na armadura inferior

    Fsup. Fora axial de trao na armadura superior

    fsy tenso de cedncia na armadura

    fsy

    tenso de cedncia fictcia na armadura

    fyk Valor caracterstico da tenso de cedncia trao do ao das armaduras de beto

    armado

    Gf Energia de fratura do material

    gf rea do grfico que define o efeito de tension softening

    Gk Valor caracterstico da ao permanente

    h Altura total da seco de beto

    hb Banda de fendilhao, dependente do tamanho do elemento finito

    hc,eff Altura de beto envolvente da armadura que efetivamente contribui para determinar o

    valor de Ac,eff

    heq Espessura equivalente do elemento de beto, dada pela razo entre o dobro da rea do

    elemento de beto e o permetro do mesmo em contacto com atmosfera

    L Comprimento do tirante

    l vo da laje em estudo

    L,elm Comprimento do elemento finito

    lk

    s,max Comprimento mximo ao longo do qual ocorre deslizamento entre o ao e o beto,

    calculado com base no valor relativo ao quantil inferior da tenso de aderncia

    M Momento fletor

    N Esforo axial

    Ncr Esforo axial que provoca a fendilhao num tirante de beto armado

    NDIANA

    Esforo axial realmente instalado obtido atravs de uma anlise no linear recorrendo

    ao programa de clculo usado (DIANA)

  • Estudo da Fendilhao em Lajes Restringidas, Devida ao Efeito Conjunto da Retrao e Das Aes Distribudas No Piso

    xv

    Nreal

    Esforo axial realmente instalado obtido atravs de uma anlise no linear recorrendo

    ao programa de clculo usado (DIANA)

    P Efeito das aes

    Qk Valor caracterstico de uma ao varivel isolada

    RH Humidade relativa

    s Coeficiente que depende do tipo de cimento

    t Idade do beto

    t0 Idade do beto data da aplicao da tenso

    tdiana Idade do beto desde o final da cura

    treal Idade do beto desde a betonagem

    ts Idade do beto no incio da retrao

    u Permetro do beto exposto atmosfera

    wk Abertura de fendas

    wmax Valor limite para a abertura de fendas

    e Razo entre o mdulo de elasticidade do ao e o mdulo de elasticidade do beto

    RH Coeficiente que depende da humidade relativa

    s Coeficiente que exprime o desenvolvimento da retrao com o tempo

    sc Coeficiente que depende do tipo de cimento

    t Parmetro que depende da durao da carga

    Peso volmico do beto

    cr Extenso de fendilhao

    Coeficiente de Poisson

    s Percentagem de armadura

    sef Percentagem efetiva de armadura dada por As/Ac,ef

    c Tenso no beto

    s,cedncia Tenso de cedncia da armadura

    s,fenda Tenso na armadura na seo da fenda

    s,mdia Tenso mdia na armadura

    s2 Tenso na armadura calculada em seo totalmente fendilhada

    sE Tenso da armadura no ponto de deslizamento nulo

    bk Tenso de aderncia mdia ao longo do comprimento de deslizamento entre ao e

    beto relativo ao quantil inferior

    (t,t0) Coeficiente de fluncia

    s Dimetro do varo

  • Estudo da Fendilhao em Lajes Restringidas, Devida ao Efeito Conjunto da Retrao e Das Aes Distribudas No Piso

    xvi

    Coeficiente de envelhecimento do beto

    0 Coeficiente para a determinao do valor de combinao de uma ao varivel

    1 Coeficiente para a determinao do valor frequente de uma ao varivel

    2 Coeficiente para a determinao do valor quase permanente de uma ao varivel

    ABREVIATURAS

    B.A Beto Armado

    C.A. Clculos Analticos

    c.q.p. combinao quase permanente

    EC2 Eurocdigo 2

    ELS Estado Limite de Servio

    ELU Estado Limite Ultimo

    inf. inferior

    MC90 CEB-FIP Model Code 1990

    MEF Mtodo de Elementos Finitos

    NR Normal and Rapid hardening cements

    REBAP Regulamento de Estruturas de Beto Armado e Pr-esforado

    RS Rapid hardening high Strengh cements

    RSA Regulamento de Segurana e Aes para estruturas de edifcios e pontes

    SL Slowly hardening cements

    sup. superior

  • Estudo da Fendilhao em Lajes Restringidas, Devida ao Efeito Conjunto da Retrao e Das Aes Distribudas No Piso

    1

    1

    INTRODUO

    1.1. ENQUADRAMENTO DO TEMA E OBJETIVOS DA DISSERTAO

    A fendilhao um fenmeno quase inevitvel em estruturas de beto armado, devido essencialmente

    baixa resistncia trao do beto. Como tal, deve ser encarado como um fenmeno natural numa

    estrutura de beto sendo o seu controlo um dos requisitos que o projetista deve respeitar. O controlo de

    fendilhao baseia-se no controlo da abertura de fendas que, dependendo do tipo de estrutura e seu

    ambiente envolvente, contribui de maneira decisiva para a funcionalidade, durabilidade e aspeto

    esttico, isto , para a qualidade estrutural. O controlo de abertura de fendas implica uma correta

    quantificao e distribuio de armadura por parte do projetista para evitar/prevenir anomalias como

    por exemplo a corroso de armaduras. Este fenmeno no independente e deve ser analisado

    conjuntamente com o controlo de tenses e deformaes na estrutura. Neste trabalho ser estudado o

    comportamento em fase fendilhada tendo sempre em considerao as deformaes da estrutura em

    anlise.

    A origem da fissurao est normalmente associada ao efeito das deformaes impostas, como por

    exemplo a prpria retrao do beto, a variao de temperatura e os assentamentos diferenciais. Estas

    aes podem no provocar o colapso da estrutura mas so responsveis pelo seu incorreto

    comportamento em servio da estrutura. Ao serem restringidas, isto , ao haver um impedimento do

    movimento livre, pelas condies de apoio ou de ligao a outros elementos estruturais, estas

    deformaes impostas geram esforos de trao significativos que, ao atingirem valores da resistncia

    trao do beto, resultam no aparecimento de fendas.

    A presente dissertao aborda o efeito das deformaes impostas no comportamento de estruturas

    laminares de beto armado (lajes) fortemente restringidas, em conjunto com aes verticais

    distribudas no piso, incidindo no estudo da retrao e da fendilhao atravs do controlo da abertura

    de fendas. Este efeito conjunto claramente visvel em pisos estruturais de obras enterradas, como por

    exemplo, caves de edifcios e parques de estacionamento, que esto submetidos restrio que as

    paredes de conteno laterais e ncleos de rigidez oferecem livre contrao da laje por efeito da

    retrao e das variaes de temperatura, e a cargas verticais provocadas pela movimentao de

    veculos. Nestas condies, a laje em situaes de servio encontra-se submetida a flexo composta

  • Estudo da Fendilhao em Lajes Restringidas, Devida ao Efeito Conjunto da Retrao e Das Aes Distribudas No Piso

    2

    com trao. Como nessas situaes de servio as lajes esto fendilhadas, o seu comportamento dever

    ser estudado recorrendo a uma anlise no-linear. No presente estudo essa anlise no-linear em fase

    de servio realizada tendo em conta os efeitos de fluncia e retrao, e simulando a fendilhao

    atravs de modelos de fendilhao distribuda.

    Para a anlise do comportamento destas estruturas laminares recorreu-se a simulaes numricas

    atravs de um programa de clculo baseado no Mtodo de Elementos Finitos (MEF) vocacionado para

    anlises no-lineares e diferidas em estruturas de beto armado. O software utilizado o DIANA que

    foi desenvolvido na Holanda pela empresa T.N.O. com a colaborao da Universidade de Delft.

    A utilizao deste software permitiu simular o processo de fissurao do beto em trao, a interao

    do beto entre fendas com as armaduras (efeito tension stiffening) e incluir os efeitos de retrao e

    fluncia do beto (essenciais para este tipo de analises a longo prazo). A obteno de resultados fiveis

    e realistas s possvel com uma correta caracterizao dos modelos constitutivos dos materiais, das

    aes e das condies de apoio.

    Contudo, os regulamentos de projeto para beto armado garantem o controlo de fendilhao impondo

    quantidades de armadura, que de um modo geral, so superiores s efetivamente necessrias. Este

    facto resulta da falta de informao sobre a influncia do efeito do grau de restrio na estrutura e sob

    o real efeito das deformaes impostas. Exemplo disto a quantificao da armadura mnima por parte

    do Eurocdigo 2 Parte 1-1 (EN 1992-1-1) no subcaptulo 7.3.2. (CEN, 2010).

    O objetivo final deste estudo a apresentao de indicaes prticas que auxiliem os projetistas a

    determinar a armadura efetivamente necessria para controlar a abertura de fendas nas lajes

    restringidas axialmente. Esta armadura dever estar compreendida entre a armadura estritamente

    necessria para fazer face, em estado limite ultimo de resistncia, atuao do momento flector devido

    s cargas aplicadas (caso de lajes no restringidas axialmente, N=0kN) e a armadura que corresponde

    armadura mnima para controlo de fendilhao de um tirante totalmente restringido considerando o

    esforo axial igual ao esforo de fendilhao N=Ncr (condio de armadura mnima do subcaptulo

    7.3.2. do Eurocdigo 2 Parte 1-1 (EN 1992-1-1) (CEN, 2010).

    Para que esse objetivo seja cumprido ter de ser dado ao projectista a quantificao do esforo axial

    que fica efetivamente instalado na laje, e resultado do impedimento s deformaes, esforo esse que

    deve ser usado para quantificao da abertura de fendas de um modo mais realista.

    O presente estudo incide em lajes macias, fortemente restringidas no contorno, com funcionamento

    unidireccional para uma gama de vos correntes (5,5 metros a 8,5 metros).Para alm do vo tambm

    feita a variao da espessura e do esquema estrutural.

    1.2. ORGANIZAO EM CAPTULOS

    O presente trabalho est dividido em 5 captulos, sendo o primeiro uma Introduo onde se pretende

    reportar ao leitor uma viso geral do tema apresentado no trabalho e seus objetivos.

    No captulo 2 apresentado o comportamento do beto no fendilhado atravs dos fenmenos de

    fluncia e retrao recorrendo a pequenos exemplos elaborados atravs do programa de clculo

    DIANA. Tambm so apresentados os modelos constitutivos do beto fendilhado de acordo com o

    efeito de tension softening e tension stiffening e ainda a modelao da fendilhao atravs do modelo

    de mltiplas fendas com decomposio de extenses permitindo a combinao com efeitos no

    lineares como a retrao e a fluncia. No final deste captulo apresentam-se consideraes finais

    acerca dos temas desenvolvidos no mesmo.

  • Estudo da Fendilhao em Lajes Restringidas, Devida ao Efeito Conjunto da Retrao e Das Aes Distribudas No Piso

    3

    No captulo 3 apresenta-se a anlise de tirantes com diferentes percentagens de armaduras sujeitos a

    deformaes impostas externa e interna. Para cada um dos tipos de deformaes analisado a variao

    do esforo axial e a abertura de fendas, com recurso ao programa de clculo automtico baseado no

    MEF usado neste trabalho. So apresentadas as caractersticas das estruturas e do modelo adoptado na

    simulao numrica, assim como as propriedades dos materiais, geometrias e condies de apoios

    adoptadas. Tambm se refere a importncia da malha de elementos finitos neste tipo de tirantes

    sujeitos exclusivamente a deformaes impostas e o seu esquema de integrao. No final do captulo

    so retiradas concluses importantes a reter para o leitor.

    No captulo 4 apresentado o estudo de lajes sob a ao de cargas verticais com impedimento das

    deformaes por retrao. Nesse captulo apresenta-se os critrios adotados para a variao de vo,

    espessura e apoios estruturais considerados para este tipo de laje. Seguidamente apresenta-se a

    estimativa de armadura tendo em conta metodologia correntes dimensionamento considerando N=0,

    depois recorrendo a flexo composta com trao estima-se a armadura com N=Ncr e por fim tomando

    em considerao uma anlise no-linear, com recurso ao programa de calculo, obteve-se o esforo

    axial verdadeiramente instalado na laje. Neste captulo so retiradas concluses importantes para a

    correta quantificao da armadura neste tipo de laje.

    Por fim no captulo 5 apresentada uma sntese do trabalho realizado, salientando as concluses mais

    importantes, sendo sugeridos alguns desenvolvimentos futuros no seguimento do presente trabalho.

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    4

  • Estudo da Fendilhao em Lajes Restringidas, Devida ao Efeito Conjunto da Retrao e Das Aes Distribudas No Piso

    5

    2

    MODELAO DO BETO

    FENDILHADO,

    INCLUINDO OS EFEITOS DA

    RETRAO E DA FLUNCIA

    2.1. INTRODUO

    Neste captulo pretende-se apresentar os fenmenos de retrao e de fluncia atravs de exemplos

    simples, elaborados no programa de clculo DIANA. Atravs destes exemplos, pretende-se perceber

    como se desenvolvem os fenmenos de retrao e de fluncia num elemento de beto ao longo do

    tempo. Posteriormente sero apresentados os modelos constitutivos, que se ter em conta nas anlises,

    para o comportamento do beto fendilhado.

    As componentes de deformao por fluncia e por retrao so tambm designadas por deformaes

    diferidas, por se processarem lentamente ao longo do tempo. importante referir que a distino entre

    fluncia e retrao convencional porque, na realidade, estes fenmenos no so independentes. No

    entanto, essa distino facilita a anlise e, para a maioria das aplicaes prticas, conduz a uma

    aproximao suficiente (Sousa, 2004).

    A extenso total num instante de tempo t, c (t), de um elemento de beto carregado uniaxialmente

    num instante de tempo t0 com uma tenso constante c (t0) pode ser expressa pela equao (2.1) (ver

    Fig. 2.1)

    (2.1)

    em que:

    ct(t) deformao total de um elemento de beto;

    ci(t) deformao instantnea;

    )()()()()( 0 ttttt cTcscccict

  • Estudo da Fendilhao em Lajes Restringidas, Devida ao Efeito Conjunto da Retrao e Das Aes Distribudas No Piso

    6

    cc(t) deformao de fluncia;

    cs(t) deformao de retrao;

    cT(t) deformao trmica, dada pelo produto da variao de temperatura pelo coeficiente de

    dilatao trmica;

    t0 inicio da ao.

    As componentes de deformao ci(t0) e cc(t) dependem do estado de tenso, sendo por isso tambm

    designadas por componentes de deformao mecnica. Por outro lado, cs(t) e cT(t) no dependem do

    estado de tenso, sendo tambm conhecidas por componentes de deformao no mecnica.

    Fig. 2.1 Componentes ci(t0), cc(t) e cs(t) da deformao total de um elemento de beto sujeito a tenso

    constante. (Sousa, 2004)

    2.2. COMPORTAMENTO DIFERIDO DO BETO NO FENDILHADO

    2.2.1. RETRAO

    A retrao uma propriedade reolgica do beto que consiste numa variao gradual de volume desde

    o final da compactao e ao longo do tempo, no sujeita a tenses exteriores, a uma temperatura

    constante. Distinguem-se quatro tipos de deformaes de retrao:

    Retrao plstica: devida evaporao de gua superfcie, quando o beto est ainda no seu

    estado plstico (antes da presa);

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    7

    Retrao autgena: resulta da diminuio de volume durante a hidratao do cimento, sendo

    independente das condies de humidade;

    Retrao de secagem: originada pela difuso da gua para as faces expostas secagem, na

    presena de um gradiente hdrico entre o beto e o meio ambiente;

    Retrao por carbonatao: causada pela reao da pasta de cimento hidratado com o dixido

    de carbono do ar na presena de humidade, que comea superfcie do beto e evolui para o

    interior medida que avana a carbonatao do beto;

    Retrao trmica: designada simplesmente como a contrao do beto, aps a sua presa, que

    ocorre com a dissipao das elevadas temperaturas geradas pela libertao do calor de

    hidratao. A evoluo deste tipo de retrao no igual em todos os pontos de uma estrutura,

    pois a hidratao do cimento tambm no se desenvolve de modo uniforme. (Sousa, 2004)

    Normalmente o conceito de retrao esta associado diminuio das dimenses de um elemento de

    beto, devido retrao por secagem. Este tipo de retrao processa-se essencialmente da superfcie

    para o interior das peas, dando origem ao aparecimento de tenses internas autoequilibradas (traes

    superfcie e compresses no interior do elemento).Esta propriedade revela-se importante nas

    construes em beto, pois devido restrio que normalmente imposta s variaes de volume,

    resultam tenses de trao que quando superiores resistncia trao do material originam o

    aparecimento de fissuras (Leito L. , 2011).

    A retrao depende de diversos fatores: da dimenso da pea, do teor de gua da amassadura, da

    dosagem de cimento, da a natureza e a da granulometria dos inertes, da durao do perodo inicial da

    cura, da luminosidade ambiente e da composio qumica do beto (Leito L. , 2011).

    No presente trabalho a deformao por retrao estimada a partir do Model Code 1990 (CEB-FIP,

    1991),de acordo com a equao (2.2),(2.3),(2.4) e (2.5).

    (2.2)

    (2.3)

    (2.4)

    (2.5)

    )(.),(00 sscscs

    tttt

    610

    10910160)( cmsccms

    ff

    3

    100155.1

    RHRH

    s

    eq

    sss

    tth

    tttt

    2

    100350

    )(

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    8

    em que :

    cs (t,t0) deformao total de retrao no beto no instante t;

    cs0 coeficiente de retrao nominal;

    s(fcm) extenso que depende do tipo de beto;

    fcm valor mdio da resistncia compresso no beto aos 28 dias (MPA);

    s coeficiente que depende do tipo de cimento : sc=4 para cimentos do tipo SL, sc=5 para

    cimentos do tipo NR e sc=8 para cimentos do tipo RS (sendo os diferentes tipos de cimento

    identificados no MC90 (CEB-FIP, 1991));

    RH coeficiente que depende da humidade relativa;

    RH humidade relativa (%);

    s (t-ts) coeficiente que exprime o desenvolvimento da retrao com o tempo;

    t idade do beto (dias);

    ts idade do beto no inicio da retrao (dias);

    heq espessura equivalente do elemento, dada por 2Ac/u;

    Ac rea de beto transversal;

    u permetro do beto exposto atmosfera (mm).

    2.2.2. EVOLUO DA RETRAO E DA TENSO NO BETO

    Para melhor se perceber a evoluo da retrao ao longo do tempo e a tenso que esta provoca no

    beto foi realizado um pequeno exemplo recorrendo ao programa de clculo DIANA. Este exemplo

    consiste na modelao de 1 elemento finito, de trs ns, impedido totalmente de rotao e translao

    num dos ns de extremidade. A nica ao relevante aplicada consiste na retrao do beto. Para alm

    dessa, aplicada uma fora de valor negligencivel para garantir um estado de equilbrio no incio da

    anlise. Este modelo tem um comprimento de 1 metro, uma espessura 0.24 metros e uma taxa de

    armadura de 0,42 % por metro linear, tal como se pode observar na Fig. 2.2.

    Fig. 2.2 Modelo utilizado na caracterizao do fenmeno de retrao.

    A barra do meio representada com os nmeros 1 2 3 (numerao dos ns) corresponde ao eixo da

    seco do modelo e as restantes barras verdes correspondem ao eixo da armadura de baixo e o eixo da

    armadura de cima.

    Nestes modelos foi considerado os efeitos de retrao, fluncia e a ausncia de fendilhao. Foram

    tambm consideradas as caractersticas dos materiais de acordo com a Tabela 2.1.

  • Estudo da Fendilhao em Lajes Restringidas, Devida ao Efeito Conjunto da Retrao e Das Aes Distribudas No Piso

    9

    Tabela 2.1 Caractersticas dos materiais do modelo

    Propriedades Unidades

    Beto

    Ec 30.5 GPa

    fck 30 MPa

    Gf 0.058 kN.m/m2

    Humidade relativa 60 %

    Coeficiente de Poisson ()

    0.2

    Temperatura 20 C

    heq=2.Ac/u 240 mm

    Ao fsk 500 MPa

    Es 200 GPa

    De acordo com as caractersticas mencionadas dos materiais e com o modelo apresentado observamos

    que a tenso no beto devido retrao e o prprio fenmeno de retrao variam de acordo com Fig.

    2.3 e Fig. 2.4,respetivamente.

    Fig. 2.3 Evoluo da tenso no beto devido retrao com o tempo

    0.00

    0.10

    0.20

    0.30

    0.40

    0.50

    0.60

    0.70

    0.80

    0 2000 4000 6000 8000 10000 12000

    Tenso (

    MP

    A)

    Tempo(dias)

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    10

    Fig. 2.4 Evoluo da extenso de retrao do beto com o tempo

    Foi considerado uma escala de tempo at aos dez mil dias por ser suficiente para a caracterizao da

    curva de retrao, visto que a partir de determinado tempo (aproximadamente 5 anos) esta se mantm

    praticamente constante.Com o desenvolvimento da retrao observa-se que este fenmeno no linear

    provoca tenses de trao no beto.

    2.2.3. FLUNCIA

    A fluncia define-se como sendo uma deformao adicional deformao elstica instantnea que

    ocorre num elemento de beto quando este se encontra sujeito a um estado de tenso constante (Leito

    L. , 2011).

    geralmente aceite que a fluncia do beto devida, exclusivamente, fluncia da pasta de cimento

    hidratado, uma vez que os agregados de densidade normal apresentam fluncia desprezvel. A

    fluncia da pasta de cimento hidratado condicionada, principalmente, pela gua contida na pasta.

    Para alm dos movimentos de gua (dependentes do estado de tenso) no sistema poroso da pasta,

    ocorrem processos de deslizamento e compactao. A alterao do contedo de humidade na pasta

    provocado, por exemplo, pela secagem, acelera este processo (Sousa, 2004).

    Como a presente dissertao envolve o estudo dos efeitos da retrao nas estruturas de beto armado,

    principalmente em lajes, ao diferida que envolve longos perodos de tempo para se desenvolver na

    sua globalidade, revela-se essencial modelar corretamente o fenmeno da fluncia. Neste trabalho usa-

    se a lei de fluncia preconizada pelo MC90 (que se revela praticamente idntica forma de estimar a

    fluncia sugerida pelo EC2). Convm referir que as normas existentes que permitem definir a fluncia

    so baseadas na idealizao que o beto se encontra sobre a influncia de tenses de compresso, pois

    muitas vezes, conhecida s a classe de resistncia na altura em que esto a ser realizados os clculos.

    Assim, a sua aplicabilidade a anlises que lidem com tenses de trao, tal como o caso do presente

    estudo, deve ser feita com alguma reserva. No entanto considera-se, que de uma forma global, o

    comportamento do beto em termos de fluncia consegue ser bem simulado pela aplicao do

    predisposto no MC90.No caso de solicitaes de longa durao, a fluncia altera significativamente a

    resposta da estrutura, devendo ser devidamente contabilizada pelos projetistas. Por este motivo,

    -0.6

    -0.5

    -0.4

    -0.3

    -0.2

    -0.1

    0

    0 2000 4000 6000 8000 10000 12000

    cs (

    )

    Tempo (dias)

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    11

    convm realar alguns dos fatores de que depende a fluncia: a idade do carregamento, o perodo do

    carregamento, a humidade relativa do ambiente, a temperatura relativa do ambiente, a composio do

    beto, a consistncia do beto e a forma da seco (Leito L. , 2011).

    Como o exposto para a retrao, procedeu-se anlise de um pequeno modelo para a compreenso do

    fenmeno de fluncia e como varia ao longo do tempo. Neste modelo as caractersticas das materiais

    mantm-se de acordo com a Tabela 2.1. Porm o esquema estrutural altera-se para apenas um

    elemento de beto com 3 ns onde um dos ns de extremidade se encontra impedido de rotaes e

    translaes em qualquer direo, como apresentado na Fig. 2.5. No foram considerados elementos de

    armadura, o fenmeno de retrao e fendilhao nem cargas verticais. Somente foi considerado uma

    pequena fora horizontal no n de extremidade para implementao de um estado de tenso constante

    no elemento. Esta fora foi estimada para que as tenses no beto fossem de 1 MPa, tal como mostra o

    grfico da Fig. 2.6.A evoluo do fenmeno de fluncia ilustrado pelo grfico da Fig. 2.7.

    Fig. 2.5 Modelo usado na caracterizao da fluncia.

    Fig. 2.6 Tenso constante instalada no beto.

    0

    0.2

    0.4

    0.6

    0.8

    1

    1.2

    0 2000 4000 6000 8000 10000 12000

    Tenso (

    MP

    A)

    Tempo (dias)

  • Estudo da Fendilhao em Lajes Restringidas, Devida ao Efeito Conjunto da Retrao e Das Aes Distribudas No Piso

    12

    Fig. 2.7 Evoluo da Fluncia do beto com o tempo.

    Como apresentado na Fig. 2.7 verifica-se que a extenso para o elemento de beto dada pelas

    equaes (2.6) e (2.7).

    (2.6)

    isto ,

    (2.7)

    em que ,

    c(t) deformao de um elemento de beto;

    ci(t0) deformao instantnea (inicial);

    cc (t) deformao por fluncia;

    c (t0) tenso constante aplicada ao beto;

    Eci (t0) mdulo de elasticidade tangente na origem do diagrama tenso-deformao do beto;

    Eci mdulo de elasticidade tangente na origem, para uma idade de carregamento igual a 28 dias;

    (t,t0) coeficiente de fluncia (podendo ser estimado de acordo com o MC90)

    t0 idade do beto data da aplicao da tenso.

    )()()( 0 ttt cccic

    ),()(

    )(

    )()( 0

    0

    0

    0 ttE

    t

    tE

    tt

    ci

    c

    ci

    c

    c

  • Estudo da Fendilhao em Lajes Restringidas, Devida ao Efeito Conjunto da Retrao e Das Aes Distribudas No Piso

    13

    Segundo o Model Code 1990 o mdulo de elasticidade tangente na origem do diagrama tenso-

    deformao do beto dado pela equao (2.8).

    (2.8)

    Onde o mdulo de elasticidade tangente na origem para idade de carregamento igual a 28 dias dado

    pela equao (2.9).

    (2.9)

    O coeficiente cc(t) depende da idade do beto e estimado segundo o MC90 pela equao (2.10).

    (2.10)

    Onde,

    s coeficiente que depende do tipo de cimento: s = 0.20 para cimento RS, 0.25 para cimento NR

    e 0.38 para cimento SL.

    Pela observao da Fig. 2.6 a tenso no beto aparece junta ao eixo das ordenadas, ou seja, para um t-

    t0 igual a zero dias. Este facto acontece porque neste exemplo, temos uma ao muito pequena a

    provocar tenses e logo no primeiro incremento de tempo sem a considerao da retrao.

    De acordo com a Fig. 2.7, depois de uma deformao inicial a deformao por fluncia tem uma

    variao no linear e a partir de uma determinado tempo torna-se praticamente constante. Neste

    exemplo a extenso de fluncia apresenta valores muito baixos pois o estado de tenso instalado

    muito pequeno.

    2.2.4. CURAGE E AGING

    Curage e Aging so dois conceitos associados ao software utilizado (DIANA) relativos ao modelo de

    retrao e fluncia. A compreenso destes dois conceitos fundamental para a modelao posterior de

    tirantes e lajes. Entende-se por Curage como sendo a idade (dias) do elemento no final da cura e Aging

    a idade do beto (dias) no incio da anlise. Para melhor se perceber a sua definio e diferena foram

    realizados 2 modelos com diferentes valores para as variveis. Estes exemplos tm por base as

    caractersticas dos materiais e o modelo apresentado em 2.2.2 do presente captulo.

    ciccci EttE )()(

    8

    1

    4

    101015.2 cmci

    fE

    tstcc

    281exp)(

  • Estudo da Fendilhao em Lajes Restringidas, Devida ao Efeito Conjunto da Retrao e Das Aes Distribudas No Piso

    14

    Os resultados obtidos so representados na Fig. 2.8 e na Fig. 2.9.

    Fig. 2.8 Evoluo da retrao para Aging 3 dia Curage 5 dias

    Fig. 2.9 Evoluo da retrao para Aging 14 dias Curage 0 dias.

  • Estudo da Fendilhao em Lajes Restringidas, Devida ao Efeito Conjunto da Retrao e Das Aes Distribudas No Piso

    15

    2.3. COMPORTAMENTO DO BETO FENDILHADO

    2.3.1. MODELOS DE FENDILHAO

    De acordo com a modelao de elementos finitos tm sido adotados dois tipos de modelos de

    fendilhao: o modelo de fenda discreta e o modelo de fenda distribuda.

    Nos modelos de fenda discreta, esta modelada atravs da separao dos ns pertencentes aos

    elementos adjacentes, introduzindo-se uma descontinuidade na respetiva interface. Este tipo de

    modelo torna-se mais apropriado para problemas com poucas fendas e onde a sua localizao pode ser

    prevista antes da anlise (Sousa, 2004) (Leito L. , 2011).

    Por outro lado, no modelo de fenda distribuda, o material fendilhado considerado como um meio

    contnuo, mantendo-se a continuidade da geometria e do campo de deslocamentos da malha. O efeito

    de fendilhao considerado atravs de uma modificao da lei tenso-extenso, inicialmente

    isotrpica substituda por uma relao tenso-extenso ortotrpica. Estes modelos so mais adequados

    para a anlise de problemas caracterizados pela ocorrncia de padres de fendilhao difusa, podendo

    tambm ser utilizados na anlise de problemas com fratura de tipo localizado (Sousa, 2004).

    Dentro do conceito de fenda distribuda, distinguem-se ainda dois tipos de modelos: modelos de fenda

    fixa e os modelos de fendas rodadas. Nos modelos de fendas fixas a direo normal fenda permanece

    inalterada aps a sua formao. Nos modelos de fendas rodadas a normal fenda pode rodar durante o

    processo de fratura do material (mantendo-se a co-axialidade com os eixos principais de deformao

    ou com os eixos principais de tenso) (Sousa, 2004).

    No sentido de representar com um maior grau de aproximao as leis constitutivas que definem a

    evoluo da fenda e tendo em conta o conceito de fenda distribuda revela-se fundamental uma correta

    interpretao das extenses na zona de fratura. Por este motivo, os modelos de fendilhao distribuda

    apresentam uma decomposio da extenso mdia em duas extenses distintas, tal como demostram as

    equaes (2.11) e (2.12): uma devido aos efeitos elsticos correspondentes ao beto existente entre as

    microfissuras (e) e outra correspondente prpria fissura (cr),denominado na nomenclatura inglesa

    de tensile crack strain.

    (2.11)

    Ento,

    (2.12)

    Em que c a tenso de trao no beto.

    No presente trabalho optou-se por um modelo de fendilhao distribuda que tem a possibilidade de

    formao de mltiplas fendas fixas com decomposio de extenses denominado na nomenclatura

    inglesa como multi-directional fixed crack devido essencialmente sua grande vantagem de

    combinao do efeito da fendilhao com efeitos no-lineares do beto, como a retrao e a fluncia.

    De referir ainda a possibilidade da existncia de mais do que uma fenda aberta simultaneamente num

    dado ponto de integrao. Este facto resulta de: aps a formao de uma fenda, quando usado um

    crem

    cm

    cmcr

    E

  • Estudo da Fendilhao em Lajes Restringidas, Devida ao Efeito Conjunto da Retrao e Das Aes Distribudas No Piso

    16

    modelo de reteno de tenses de trao entre fendas, o valor da tenso normal retida e o valor da

    tenso de corte instalada na fenda podem originar uma rotao dos eixos principais de tenso e o

    surgimento de uma tenso principal de trao tal que justifique a formao de uma nova fenda com

    orientao diferente da primeira. Forma-se uma nova fenda assim que atingido o critrio limite da

    relao entre os valores das tenses principais, designado na nomenclatura inglesa por tension cut-off

    criteria (Sousa, 2004).Na Fig. 2.10 encontra-se ilustrado as duas formulaes para tension cut-off

    disponveis no software. Em todos os modelos analisados no presente estudo utilizou-se o critrio de

    tension cut-off constante.

    Fig. 2.10 Modelos de tension cut-off implementados no programa. (DIANA, 2012)

    2.3.2. DEFINIO DO DIAGRAMA DE RETENO DE TENSES DE TRAO NO BETO SIMPLES,TENSION

    SOFTENING.

    O beto, mesmo aps fissurar, apresenta alguma capacidade de reteno de tenses de trao. O efeito

    de amaciamento ou tension softening ocorre numa rea que se encontra afastada dos vares,

    caracterizada somente por beto simples. O efeito de tension softening representado por um

    diagrama tenso-extenso descendente aps fendilhao, sendo a rea delimitada pelo diagrama e o

    eixo das extenses correspondente relao Gf/hb (energia de fratura do beto) (Leito, Faria, Azenha,

    & Sousa, 2012).

    Gf uma propriedade do material correspondente quantidade de energia necessria para formar uma

    fenda, numa superfcie com rea unitria. O valor da energia de fratura no depende da banda de

    largura hb. A banda de largura hb est relacionada com a configurao da malha de elementos finitos,

    para que os resultados da anlise no dependam da discretizao usada. Note-se que Gf pode ser

    estimado de acordo com o MC90 e depende essencialmente do tipo de inertes utilizados no fabrico do

    beto. No presente trabalho considera-se uma forma linear para o diagrama de reteno de tenses de

    trao no beto simples, tendo como principal vantagem a sua simplicidade e porque no presente

    trabalho analisam-se estruturas de beto armado pouco sensveis ao efeito de tension softening.

    O diagrama que representa o efeito softening dever ter uma rea gf=Gf/hb tal como definido na Fig.

    2.11.O parmetro ts, que define o ramo descente da curva ilustrada na Fig. 2.11 obtido pela equao

    (2.13).

  • Estudo da Fendilhao em Lajes Restringidas, Devida ao Efeito Conjunto da Retrao e Das Aes Distribudas No Piso

    17

    Fig. 2.11 Diagrama de reteno de tenses de trao no beto simples (Sousa, 2004).

    (2.13)

    em que :

    ts extenso de clculo associada ao diagrama tenso-extenso do efeito softening;

    Gf energia de fratura do material;

    hb banda de fendilhao, dependente do tamanho do elemento finito;

    fct resistncia trao;

    gf rea que define o grfico que traduz o efeito de tension softening.

    A definio deste ramo descendente do diagrama permite que a soluo no dependa da malha de

    elementos finitos. A definio de hb, de acordo com a malha de elementos finitos, serve somente para

    que exista uma correta dissipao da energia de fratura. Se tal no acontecesse os resultados ficavam

    dependentes do refinamento da malha e no do material utilizado. Podemos dizer ento que

    introduzimos dados em funo da malha para que os resultados obtidos no dependam desta (Leito L.

    , 2011).

    Os diagramas fornecidos ao DIANA so a relao tenso-extenso de fendilhao. Deste modo, em

    termos de tension softening o seu diagrama o representado na Fig. 2.11 e o considerado pelo

    software o representado na Fig. 2.12.

    ctb

    f

    tsfh

    G

    2

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    18

    Fig. 2.12 Diagrama de reteno de trao no beto simples considerado pelo software.

    Neste caso basta fornecer ao programa Gf (energia de fratura) e hb (banda de fendilhao) e o

    comportamento do beto simples modelado como se verifica na Fig. 2.12 sem qualquer pr-

    processamento.

    2.3.3. RETENO DE TENSES DE TRAO NO BETO ARMADO,TENSION STIFFENNING

    O tension stiffenning permite traduzir o efeito que o beto entre fendas provoca na rigidez dos

    elementos de beto armado atravs da reteno de tenses de trao aps fendilhar. Nesses elementos

    de beto armado a reteno de tenses de trao superior, ao que acorre no beto simples, devido

    transferncia de tenses entre os materiais associada sua aderncia. Deste modo confere ao elemento

    um aumento de rigidez adicional. O efeito de tension stiffening s deve ser considerado na zona

    efetiva de beto que envolve a armadura tracionada, tal como definido na Fig. 2.13 em que :

    h altura total da seco;

    d altura til dada pela distncia entre o centro de gravidade das armaduras e o bordo da seco;

    x profundidade do eixo neutro;

    dimetro do varo;

    t espessura;

    c recobrimento.

  • Estudo da Fendilhao em Lajes Restringidas, Devida ao Efeito Conjunto da Retrao e Das Aes Distribudas No Piso

    19

    Fig. 2.13 Determinao da rea de beto efetivo: a) vigas; b) lajes; c) elementos em trao. (CEB-FIP, 1991)

    Esta abordagem adequada quando a armadura modelada atravs de elementos embebidos no beto.

    Quando recorremos modelao baseada no efeito de tension sitffening, assente em parmetros

    mdios, possvel obter resultados bastante prximos da realidade, quer durante a fase de formao de

    fendas, quer na definio da rigidez do elemento aps a fendilhao estabilizar.

    Na presente dissertao, o efeito de tension stiffening modelado de acordo com o diagrama da Fig.

    2.14.

    Fig. 2.14 Diagrama de reteno de tenses de trao em elementos de beto armado. (Sousa, 2004)

  • Estudo da Fendilhao em Lajes Restringidas, Devida ao Efeito Conjunto da Retrao e Das Aes Distribudas No Piso

    20

    Como observamos pela Fig. 2.14, o tension stiffening representado por um ramo multilinear, no

    qual existe um patamar de tenso de trao assumido durante a fase de fendilhao estabilizada. Neste

    diagrama o esgotamento da energia de fratura Gf durante a fase de formao de cada fenda simulado

    igualmente atravs de um ramo descendente, correspondente ao adotado para o tension softening

    (que garante uma correta dissipao da energia de fratura) (Leito, Faria, Azenha, & Sousa, 2012).

    Este ramo descendente termina quando a tenso atinge t.fctm e uma extenso dada pela equao (2.14)

    (2.14)

    Onde a extenso associada tenso de rotura do beto traco simples obtida pela equao (2.15).

    (2.15)

    em que :

    *3 extenso de clculo associado ao diagrama tenso-extenso da metodologia tension

    stiffening;

    t parmetro que depende da durao da carga;

    fctm resistncia mdia trao do beto;

    ts definido pela equao (2.13);

    Ecm modulo de elasticidade mdio do beto.

    Na presente dissertao, por questes de ordem prtica e coerncia com o diagrama considerado para

    efeito de tension stiffening, na zona referente a esse efeito, aps a cedncia da armadura na seco da

    fenda, considerada uma reduo da tenso de cedncia da armadura, de modo a garantir na zona da

    seo da fenda que a tenso de cedncia nas armaduras no ultrapassada tal como ilustra a Fig.

    2.15.A tenso de cedncia fictcia da amadura, fsy, dada pela equao (2.16).

    ctm

    cttsctmtts

    f

    f

    3*

    cm

    ctmct

    E

    f

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    21

    Fig. 2.15 Diagrama tenso-extenso para um tirante tracionado (Sousa, 2004).

    (2.16)

    onde:

    fsy tenso de cedncia das armaduras;

    Ac,ef rea da seo efetiva de beto tracionado que envolve as armaduras tracionadas, calculada de

    acordo com a Fig. 2.13;

    As rea transversal da armadura.

    Os valores referentes s extenses, *2 e sy, representadas na Fig. 2.15 so dados pelas equaes (2.17)

    e (2.18).

    (2.17)

    (2.18)

    em que:

    *2 extenso de clculo associada ao diagrama tenso-extenso para modelao do ao em

    cedncia na seo da fenda;

    sy extenso de cedncia do ao;

    s,cedncia tenso de cedncia do ao;

    Es mdulo de cedncia do ao;

    s

    efc

    ctmsysyA

    Afff

    ,' 4,0

    efss

    ctmtsy

    E

    f

    ,

    2*

    s

    cedncias

    syE

    ,

  • Estudo da Fendilhao em Lajes Restringidas, Devida ao Efeito Conjunto da Retrao e Das Aes Distribudas No Piso

    22

    s,ef parmetro que traduz a percentagem de armadura existente na zona de beto que afetada pela

    interface ao/beto. O clculo deste parmetro est de acordo EC2, indica-se a leitura do seu

    subcaptulo 4.3.1 de forma a proceder a uma estimativa correta deste valor (ver Fig. 2.13).

    No presente estudo a armadura modelada em elementos embebidos de acordo com o grfico da Fig.

    2.16.

    Fig. 2.16 Diagrama tenso-extenso considerado para a armadura no presente estudo.

    A correta modelao do efeito de tension stiffening torna-se importante em estruturas em estado

    limite de servio para que sejam traduzidas corretamente as caractersticas de rigidez dos elementos de

    beto armado tracionado e a correta quantificao da abertura de fendas (Sousa, 2004) .

    Como j referido para a modelao do efeito de tension softening, os diagramas fornecidos ao

    software tm em conta as extenses de fendilhao. De acordo com as equaes (2.11) e (2.12),o

    diagrama fornecido ao programa para modelar o comportamento do beto armado entre fendas o

    ilustrado pela Fig. 2.17.

    Fig. 2.17 Diagrama, ilustrativo, de reteno de tenses de trao em elementos de beto armado fornecido ao

    software.

    De referir, que no presente trabalho no usado nenhum modelo de aderncia ao/beto concreto pois

    entendeu-se que esse fenmeno bem caracterizado pelo efeito tension stiffening.

  • Estudo da Fendilhao em Lajes Restringidas, Devida ao Efeito Conjunto da Retrao e Das Aes Distribudas No Piso

    23

    Nas anlises numricas efetuadas no presente estudo considera-se, durante a fase de fendilhao

    estabilizada, uma tenso mdia retida pelo beto igual a 40 por cento da sua resistncia a trao, tal

    como mostra a Fig. 2.14 e Fig. 2.17.Assim, o valor da abertura de fendas pode ser calculado (de forma

    coerente com o que estabelecido no MC90, para situaes em que as aes so de longa durao),

    multiplicando o valor da extenso de fendilhao dado pelo DIANA, , pela distncia mxima

    entre fendas, lks,max. (calculado de acordo com o MC90),tal como demonstram as equaes (2.19) e

    (2.20).

    (2.19)

    onde,

    (2.20)

    em que,

    lk

    s,max distncia mxima entre fendas em fase de fendilhao estabilizada;

    s dimetro do varo;

    sef percentagem efetiva de armadura dada por As/Ac,ef;

    2.3.4. ABERTURA DE FENDAS SEGUNDO O MC90 (CEB-FIP, 1991)

    Ao longo do presente trabalho o clculo analtico de abertura de fendas ser realizado de acordo com o

    estipulado pelo MC90.Este critrio usado para que o clculo analtico seja coerente com os

    resultados das anlises no lineares.

    Segundo o MC90 a abertura de fendas calculado pela equao (2.21).

    (2.21)

    A determinao da deformao relativa entre beto e ao calculada pela equao (2.22).

    (2.22)

    onde,

    s2 tenso na armadura calculada em seo totalmente fendilhada;

    sE tenso da armadura no ponto de deslizamento nulo;

    k

    s

    DIANA

    crk lw max,

    efs

    sk

    sl,

    max,6.3

    cscmsmk

    sk lw max,

    s

    efse

    efs

    ctms

    cmsmE

    f,

    ,

    2 1

  • Estudo da Fendilhao em Lajes Restringidas, Devida ao Efeito Conjunto da Retrao e Das Aes Distribudas No Piso

    24

    bk tenso de aderncia mdia ao longo do comprimento de deslizamento entre ao e beto

    relativo ao quantil inferior;

    e razo entre o modulo de elasticidade do ao e o modulo de elasticidade do beto.

    Os respetivos valores de e bk encontram-se na Erro! A origem da referncia no foi encontrada..

    Tabela 2.2 Valores de e bk de acordo com MC90. (CEB-FIP, 1991)

    Fase de Formao de

    fendas

    Fase de Fendilhao

    estabilizada

    bk bk

    Ao de Curta

    Durao 0.6 1.8 fctm (t) 0.6 1.8 fctm (t)

    Ao de Longa

    Durao 0.6 1.35 fctm (t) 0.38 1.8 fctm (t)

    De referir que a abertura de fendas segundo o MC90 resulta do deslizamento relativo entre os

    materiais ao longo do comprimento para um valor de aderncia relativo ao quantil inferior

    (bk).A contribuio da extenso de retrao (cs) tambm considerada sendo coerente com o tipo de

    anlise que se pretende com este trabalho, ao contrrio por exemplo do EC2 no subcaptulo 7.3.4, que

    no considera a extenso de retrao no clculo de abertura de fendas.

    2.4. CONSIDERAES FINAIS

    No presente captulo pretendeu-se clarificar as consideraes gerais efetuadas no presente trabalho

    para o comportamento do beto no fendilhado e fendilhado. Tendo em conta um comportamento do

    beto no fendilhado procurou-se analisar os fenmenos de retrao e fluncia com pequenos

    exemplos recorrendo ao programa de clculo DIANA. Por outro lado, atravs da caracterizao dos

    efeitos de tension softening e tension stiffening pretendeu-se explicar o comportamento do beto

    em fase fendilhada, assim como o clculo de abertura de fendas na presente dissertao. A fendilhao

    tratada usando modelos de fendilhao distribuda de mltiplas fendas fixas com decomposio de

    extenses permitindo considerar em simultneo os efeitos de fendilhao, retrao e fluncia. S uma

    correta modelao constitutiva dos materiais permite obter resultados realistas

  • Estudo da Fendilhao em Lajes Restringidas, Devida ao Efeito Conjunto da Retrao e Das Aes Distribudas No Piso

    25

    3

    SIMULAO DA FENDILHAO

    EM TIRANTES DE BETO

    ARMADO DEVIDO A

    DEFORMAES IMPOSTAS

    INTERNAS E EXTERNAS

    3.1. INTRODUO

    No presente captulo pretende-se analisar a variao do esforo axial e a abertura de fendas em tirantes

    sujeitos a deformaes impostas interna e externa. Entende-se como deformao imposta interna como

    a resultante de deformaes intrnsecas ao elemento em estudo, em resultado da retrao do beto ou

    de variaes de temperatura. De referir, que a prpria armadura apesar de no estar sujeita a

    deformaes impostas como o beto (por exemplo retrao), esta provoca uma restrio ao elemento

    de beto devido compatibilizao de extenses dos materiais. Por outro lado uma deformao

    imposta externa resulta de aes exteriores ao elemento em estudo, aplicadas nas suas fronteiras (um

    assentamento de apoio, por exemplo, ou deformaes de elementos vizinhos).

    A anlise numrica baseada no MEF surge ento como uma ferramenta essencial ao estudo destes

    fenmenos no-lineares. Porm no deixam de existir limitaes inerentes a esta anlise

    nomeadamente na discretizao da malha de elementos finitos e nos processos de convergncia. Neste

    captulo so usadas malhas no muito refinadas que consigam modelar o comportamento do beto, de

    acordo com o explicado no captulo 2, de modo a que se obtenham resultados realistas. Estas malhas

    sero aplicadas em modelos simples (tirantes) para que sejam posteriormente aplicveis a outras

    estruturas, como lajes.

    Os objetivos principais deste captulo so: perceber que influncia o fenmeno de retrao, quando

    restringido, tem na variao do esforo axial e na abertura de fendas e validar o procedimento de

    simulao numrica para posterior aplicao em lajes. Para que estes objetivos fossem concretizados,

    no presente captulo foram elaborados tirantes de beto armado, com 3 diferentes percentagens de

    armadura. Os mesmos tirantes so analisados com deformaes impostas externas e internas. Neste

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    capitulo considerou-se as propriedades geomtricas e materiais iguais quelas que foram consideradas

    por (Lus, 2005).Este autor analisou tambm, na sua dissertao de mestrado, o comportamento de

    tirantes de beto armado sujeitos a deformaes impostas impedidas, usando diferentes procedimentos

    de anlise. Deste modo podem ser comparados os resultados obtidos atravs das duas estratgias.

    De referir que em todas as simulaes efetuadas no presente captulo utilizou-se o programa de clculo

    DIANA.

    3.2. CARACTERIZAO DAS ESTRUTURAS EM ANLISE E DO MODELO ADOTADO

    Neste captulo, o modelo adotado comum aos dois tirantes de beto armado mudando apenas o tipo

    de deformao imposta. No foi considerado qualquer peso prprio para no introduzir nenhum tipo

    de flexo.

    3.2.1 MATERIAIS, GEOMETRIA E CONDIES DE APOIO

    O modelo caraterizado por um tirante constitudo por beto armado, bi-encastrado para que as

    deformaes estejam completamente restringidas, uma espessura de 0.24 m, um vo de 7 m e um ao

    S500, tal como mostra a Fig. 3.1 e a Tabela 3.1.

    Fig. 3.1 Modelo tipo utilizado para os tirantes de beto armado.

    Tabela 3.1 Propriedades dos materiais considerados.

    Propriedades Unidades

    Beto

    Ec 30.5 GPa

    fck 30 MPa

    fct 2.56 MPa

    Gf 0.058 kN.m/m2

    Humidade relativa 60 %

    Coeficiente de Poisson ()

    0.2

    Temperatura 20 C

    heq=2.Ac/u 240 mm

    Ao fsk 500 MPa

    Es 200 GPa

    Foi considerado nos dois modelos um recobrimento de 25 mm, medido at face da armadura, por se

    tratar do recobrimento para uma exposio ambiental normal (XC1) e para um tempo de vida til de

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    projeto de 50 anos segundo EC2.Tambm foi considerado um dimetro de 12 mm que entendemos

    adequado para esta anlise e para que o eixo da armadura fosse constante e igual para todos os tirantes.

    No presente trabalho foi considerado um cimento de classe NR.

    As quantidades de armadura utilizadas so as representadas na Tabela 3.2.

    Tabela 3.2 Percentagens de armadura utilizadas.

    Casos de

    Anlise

    As, superior

    (cm2/m)

    As, inferior

    (cm2/m)

    total (%)

    1 6.28 6.28 0.260+0.260

    2 10.18 10.18 0.425+0.425

    3 20.11 20.11 0.840+0.840

    Nestes tirantes a armadura simtrica por metro linear, sem qualquer tipo de dispensa e modelada no

    software por elementos embebidos com o diagrama de tenso-extenso que se apresenta na Fig. 2.16 e

    de acordo com o explicado em 2.3.3 relativo tenso fictcia de cedncia do ao.

    3.2.2 ESQUEMA DE INTEGRAO E DEFINIO DAS ZONAS DE STIFFENING E SOFTENING

    O modelo desenvolvido assume uma representao dos elementos de BA atravs de elementos finitos

    do tipo viga de trs ns e dois pontos de integrao na direo do eixo da barra. Cada ponto de

    integrao na direo do eixo da barra tem nove pontos de integrao na seco transversal de acordo

    com o mtodo de Simpson, tal como se pode observar na Fig. 3.2.Na transio de zonas h

    sobreposio de dois pontos de integrao na seco transversal, pois cada zona caracterizada por 3

    pontos de integrao nessa direo.

    Fig. 3.2 Esquema ilustrativo da integrao usado no modelo

    Na zona 1 e 3 o beto modelado de acordo com o diagrama de tension stiffening (ver Fig. 2.14) e a

    zona 2 de acordo com o tension softening (ver Fig. 2.11).Nestes modelos como a percentagem de

    armadura simtrica o diagrama de tension stiffening ser igual na zona 1 e na zona 3.A rea efetiva

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    associada ao efeito de tension stiffening, calculada segundo o EC2 para elementos de beto

    armados quando sujeitos a trao pura, semelhante ao considerado pelo MC90 e como representado na

    Fig. 2.13.

    3.2.3 MALHA DE ELEMENTOS FINITOS E VARIAO DA RESISTNCIA DE TRAO DO BETO AO LONGO DOS

    ELEMENTOS FINITOS.

    Neste modelo foi considerado um tamanho do elemento finito igual distancia mxima entre fendas,

    na fase de fendilhao estabilizada segundo MC90 (ver equao (2.20)).A reduo de rigidez que

    ocorre quando se forma uma fenda sente-se ao longo desse comprimento, estando em coerncia com o

    diagrama de tension stiffening adotado, que traduz o comportamento mdio ao longo desse

    comprimento. Ao longo desse elemento finito (hb=lks,max) a energia de fratura ser corretamente

    dissipada.

    Para que o tirante no fendilhe integralmente e simultaneamente, foi considerado uma variao da

    resistncia trao de 0,5% ao longo dos elementos sendo a resistncia trao do primeiro elemento

    considerada fct,1= 2,56 MPA, tal como ilustra a Fig. 3.3.

    Fig. 3.3 Variao da resistncia a trao ao longo dos elementos finitos.

    A utilizao deste critrio tambm visa aproximar o comportamento do tirante o mais prximo da

    realidade pois o valor constante da resistncia a trao ao longo de um tirante real no acontece.

    Se no fossem aplicados estes critrios quando aplicado uma deformao imposta axial todos os

    elementos fissuravam de uma s vez originam problemas de convergncia no modelo.

    3.3. TIRANTE SUJEITO A UMA DEFORMAO IMPOSTA EXTERNA

    O tirante seguidamente apresentado modelado de acordo com o descrito nos subcaptulos anteriores

    tendo em conta o fenmeno de fluncia, fissurao e no considerando a retrao. Este tirante sujeito

    a uma deformao imposta externa atravs de um assentamento de apoio horizontal (ver Fig. 3.4).

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    Fig. 3.4 Modelo utilizado na anlise de um tirante com deformao imposta externa.

    3.3.1 MODELAO DA DEFORMAO IMPOSTA E ANLISE NUMRICA INCREMENTAL.

    A utilizao de uma deformao imposta externa atravs do controlo de um assentamento de apoio

    horizontal deve-se ao facto de que atravs desta simulao verifica-se a queda