69

Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Revista RAC da EPAGRI sobre pesquisa agropecuária e extensão rural

Citation preview

Page 1: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998
Page 2: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 1

NESTNESTNESTNESTNESTA EDIÇÃOA EDIÇÃOA EDIÇÃOA EDIÇÃOA EDIÇÃO

As matérias e artigos assinados nãoexpressam necessariamente a opinião darevista e são de inteira responsabilidade

dos autores.A sua reprodução ou aproveitamento,mesmo que parcial, só será permitida

mediante a citação da fonte e dos autores.

S e ç õ e s

Agrop. Catarinense, Florianópolis, SC, v.11, n.4, p.1-68, dezembro 1998

3 e 432 e 3340 e 4147 e 48

596568

Novidades de Mercado .............................................................Pesquisa em Andamento ..........................................................Agribusiness .........................................................................Registro ...............................................................................Lançamentos Editoriais .................................................................Flashes .....................................................................................Vida Rural - soluções caseiras .........................................................

5

9

15

19

22

27

49

52

56

60

T e c n o l o g i a

Desenvolvimento rural sem jovens?Artigo de Milton Luiz Silvestro e Nelson Cortina ..................................................

Subproduto da suinocultura na alimentação de bovinosArtigo de Rubson Rocha, Edison Azambuja Gomes de Freitas, Raul de Nadal,Celomar Daison Gross, Cláudio Bellaver, Ademar de Bona Sartor eIvan Casagrande Concer .......................................................................................

Redes sociotécnicas como ferramentas de pesquisaArtigo de Clovis Dorigon ......................................................................................

Duquesa: nova cultivar de macieira de baixa exigência em frio hibernale alta resistência à sarnaArtigo de Frederico Denardi e Anísio Pedro Camilo ..............................................

O estudo da cadeia produtiva como premissa para o desenvolvimento regionalArtigo de Jorge Bleicher .......................................................................................

O efeito da irrigação na cultura da batata no Litoral Sul CatarinenseArtigo de Darci Antônio Althoff e Antônio Carlos Ferreira da Silva ......................

Freqüência de distribuição de concentrados e o uso de bicarbonato desódio na produção e composição do leite em vacas HolandesasArtigo de Paulo Sérgio de Azevedo, Ivan Pedro de Oliveira Gomes,Walter Hoeschl Neto, André Thaler Neto e Vitor Hugo Sartori .............................

Clorose variegada dos citros: caracterização e alternativas no manejo da doençaArtigo de Giovanina Fontanezzi Huang e Luís Antônio Chiaradia ..........................

Necessidades de irrigação para a cultura do milho no Litoral Sul CatarinenseArtigo de Álvaro José Back ...................................................................................

Conhecimento, poder e pragas - reflexões sobre a intervenção no meio ruralArtigo de Michael McGuire ...................................................................................

R e p o r t a g e m

O cultivo de feijão no Oeste CatarinenseReportagem de Paulo Sergio Tagliari ...............................................................

A extensão rural do futuroReportagem e fotos de Homero M. Franco ......................................................

34 a 39

43 a 46

O p i n i ã o

A agricultura do século XXIEditorial ................................................................................................................

Melhoramento clássico e biotecnologiaArtigo de Haroldo Tavares Elias ............................................................................

Cenário do negócio agrícola catarinenseArtigo de Jorge Bleicher .......................................................................................

2

66

67

Amigo leitor, estamos fazendo chegar àssuas mãos mais um número desta revista, que seconstitui na 44ª edição circulada.

Nesta ocasião destacamos, entre dez maté-rias técnicas, o lançamento da cultivar de maçãDuquesa, de baixa exigência em frio e resistênciaà sarna, e os artigos sobre doença de citros,irrigação do milho e da batata e alimentação debovinos.

Registramos ainda, neste espaço, uma falhaocorrida na edição anterior, no artigo - Daiane:nova cultivar de macieira para colheita emmarço. Na página 7, Tabela 1 desse trabalho,onde está escrito 28/02 como data de início damaturação dos frutos da cultivar Gala, leia-se28/01. A colheita da Gala acontece durante omês de fevereiro e a da Daiane é realizada no mêsde março.

Boa leitura, boas festas e continue conosco!

Page 3: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

2 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

Edi tor ia lEdi tor ia lEdi tor ia lEdi tor ia lEdi tor ia l

A agricultura do século XXIA agricultura do século XXIA agricultura do século XXIA agricultura do século XXIA agricultura do século XXI

sumidor.Deverá ocorrer um aumento

espetacular na produtividadeagrícola por países voltados paraa exportação, que por sua vezterão grandes aumentos no co-mércio exterior, transporte ma-rítimo e serviços financeiros. Ha-verá uma acentuada transferên-cia de tecnologias novas, princi-palmente em termos de engenha-ria genética, que tendem a au-mentar a produtividade, a quali-dade e, ao mesmo tempo, reduzircustos. A produção agrícola, es-pecialmente cereais e pecuária,aumentará mais depressa que ocrescimento populacional.

Ainda haverá uma agriculturade produtos tradicionais de pou-co valor agregado, entretanto, aampliação do mercado interno,que ocorre principalmente porcausa de uma moeda estável e umaumento da renda per capita, fa-vorece o desenvolvimento de tec-nologias para produtos dirigidos

No próximo século a agri-cultura deverá eleger como seuprincipal insumo o conheci-mento, substituindo a profis-sionalização pela educação for-mal com a exigência de capaci-dade de compreensão e inter-venção global no processo pro-dutivo. O acirramento da com-petitividade deverá selecionaraqueles que ficarão no campo.Estes serão mais especia-lizados e com bons conhecimen-tos gerenciais.

Nos próximos anos, deverãoaumentar as informações demercado acessíveis ao produ-tor. Estas informações serãocolocadas à disposição por in-termédio da TV e do telefonecelular. Haverá uma tendênciada aproximação das necessida-des do consumidor com a pro-dução. Os produtores agríco-las deverão incorporar a pro-blemática ambiental guiando--se pelas preferências do con-

ao consumo de massa.A preocupação alimentar

será com os menos favorecidosnas áreas urbanas. Haverá re-dução gradativa da agriculturade subsistência e, por outro lado,ocorrerá o crescimento do mer-cado de “commodities”. Em vá-rios produtos ocorrerá a gera-ção de excedentes.

Diante desta realidade a pro-priedade familiar tende a assu-mir caráter de empresa – geren-ciar e vender tornam-se tão im-portantes quanto produzir.

A crescente diferenciação daagricultura em regiões e produ-tos exigirá novas áreas com ha-bilitação específica para a pro-dução de determinados produ-tos agrícolas com competi-tividade nacional.

Neste contexto, o zoneamen-to agroecológico e socioeconô-mico é fundamental como uminstrumento de política agríco-la.

REVISTA TRIMESTRAL COLABORARAM COMO REVISORES TÉCNICOS NESTA EDIÇÃO:Alvaro Afonso Simon, Amaury da Silva Júnior, Antonio CarlosFerreira da Silva, Antonio Trevisan, Eduardo Rodrigues Hickel,Eliane Rute de Andrade, Flávio Renê Bréa Vitória, FranciscoCarlos Deschamps, Inácio Hugo Rockenbach, João AfonsoZanini Neto, José Alberto Noldin, Luis Carlos Robaina Echeverria,Osvaldo Carlos Rockenbach, Osvino Leonardo Koller, OttoWerner Pires, Paulo Sergio Tagliari, Vera Magali Radtke Thomé,Zilmar da Silva Souza

JORNALISTA: Homero M. Franco (SC 00689 JP)

ARTE-FINAL: Janice da Silva Alves

DESENHISTAS: Vilton Jorge de Souza, Mariza T. Martins

CAPA: Osni Pereira

PRODUÇÃO EDITORIAL: Daniel Pereira, Janice da Silva Alves,Maria Teresinha Andrade da Silva, Marlete Maria da SilveiraSegalin, Rita de Cassia Philippi, Selma Rosângela Vieira, VâniaMaria Carpes

DOCUMENTAÇÃO: Ivete Teresinha Veit

COLABORAÇÃO ESPECIAL: Alexandre Cechetto Beck

ASSINATURA/EXPEDIÇÃO: Ivete Ana de Oliveira e Zulma MariaVasco Amorim - GMC/Epagri, C.P. 502, Fones (048) 239-5595 e 239-5536, Fax (048) 239-5597, 88034-901 Florianó-polis, SC.Assinatura anual (4 edições): R$ 15,00 à vista.

PUBLICIDADE: Florianópolis: GMC/Epagri, Fone (048)239-5673, Fax (048) 239-5597 - São Paulo, Rio de Janeiro eBelo Horizonte: Agromídia, Fone (011) 259-8566, Fax (011)256-4786 - Porto Alegre: Agromídia, Fone (051) 221-0530,Fax (051) 225-3178. Agropecuária Catarinense - v.1 (1988) - Florianópolis:

Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária 1988 -TrimestralEditada pela Epagri (1998- )1. Agropecuária - Brasil - SC - Periódicos. I. Empresa Catari-

nense de Pesquisa Agropecuária, Florianópolis, SC. II. Empresade Pesquisa Agropecuária e Difusão de Tecnologia de SantaCatarina, Florianópolis, SC.

15 DE DEZEMBRO DE 1998

Impressão: Epagri CDD 630.5

AGROPECUÁRIA CATARINENSE é uma publicação da Epagri -Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de SantaCatarina S.A., Rodovia Admar Gonzaga, 1.347, Itacorubi, CaixaPostal 502, Fone (048) 239-5500, Fax (048) 239-5597,88034-901 Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, Internet:http://www.epagri.rct-sc.br, E-mail: [email protected]

EDITORAÇÃO: Editor-Chefe: Jorge Bleicher, Editores-Assisten-tes: Marília Hammel Tassinari, Paulo Sergio Tagliari

COMITÊ DE PUBLICAÇÕES:PRESIDENTE: Jorge BleicherSECRETÁRIA: Marília Hammel TassinariMEMBROS: Airton Rodrigues Salerno, Airton Spies, AntônioCarlos Ferreira da Silva, Celso Augustinho Dalagnol, EduardoRodrigues Hickel, Gilson José Marcinichen Gallotti, JeffersonAraújo Flaresso, Roger Delmar Flesch

A Epagri é uma empresa da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural e da Agricultura.

Page 4: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 3

NOVIDADESDE MERCADO

Controle deControle deControle deControle deControle deformigasformigasformigasformigasformigas

A Rhodia Agro, empresa dogrupo Rhône-Poulenc Agro, estáfazendo o lançamento de umanova versão de embalagem deBlitz, a isca formicida que comba-te as formigas-cortadeiras (saúvae quenquém), responsáveis porprejuízos irreparáveis em cultu-ras agrícolas e áreas florestais.Inovadora, a nova embalagem éum embornal de plástico com al-ças reforçadas, contendo 5kg deBlitz acondicionados em microporta-iscas de 10g cada um.

Desenvolvido em parceriacom o departamento técnico dasempresas agrícolas e florestais, oembornal facilita o trabalho deaplicação da isca formicida juntoaos formigueiros ativos, melho-rando a produtividade da mão--de-obra empregada nesse servi-ço. Esse ganho é fundamental,por exemplo, em áreas florestais– geralmente enormes, com cen-tenas de formigueiros difíceis dese localizar e de se controlar.

Além das vantagens de ren-dimento de mão-de-obra, o em-bornal com os micro porta-iscasapresenta benefícios adicionaisno controle de formigas nas épo-cas mais úmidas do ano: o Blitzfica a salvo da umidade e conti-nua atrativo às formigas, que sãoatraídas pelo odor do produto,cortam o plástico do porta-iscas e

carregam os “pellets” para osformigueiros, onde contaminamas outras formigas.

“A ação do Blitz é rápida: ematé 72 horas, dentro de condi-ções normais de aplicação, o for-migueiro paralisa o corte”, afir-ma Joca Toledo, gerente de pro-duto da Rhodia Agro. A rapideze a eficácia no combate às formi-gas são essenciais, tendo em vis-ta os prejuízos causados por es-ses insetos.

Maiores informações peloFone (011) 3741-8590 ou peloE-mail: [email protected].

Texto de Roberto Custódio.

Novos produtosNovos produtosNovos produtosNovos produtosNovos produtosantiparasitáriosantiparasitáriosantiparasitáriosantiparasitáriosantiparasitários

A Schering-Plough Veteri-nária está colocando no merca-do dois novos produtos quecomplementam sua linha deantiparasitários para animais degrande porte: Ec-tox* CE 15% eCyclomec*. Os novos medica-mentos, em conjunto com o jáconsagrado Supramec*, propor-cionam total segurança e eficá-cia aos veterinários e criado-res.

Ec-tox* CE 15% é um poten-te piretróide (com base emCipermetrina) que com uma úni-ca aplicação proporciona exce-lente efeito carrapaticida emosquicida. O produto é rápido,estável, de baixa toxicidade e defácil aplicação. Ec-tox* auxiliano controle do berne e dabicheira, combate a mosca dochifre e inibe a postura de ovosférteis, diminuindo areinfestação por carrapatos. Suaaplicação deve ser feita atravésde banho de imersão ou pulveri-zação.

Cyclomec* é o novo endec-tocida da Schering-Plough, quepossibilita excelentes resultadosem ganho de peso e aparênciapara animais de engorda e ter-minação. Com base emAbamectina, Cyclomec* possuiamplo espectro de ação contra osprincipais parasitos internos(vermes redondos gastrin-testinais e pulmonares) e exter-nos (carrapatos, piolhos, bernese sarnas), podendo ser utilizadona prevenção de bicheiras apósas castrações.

Supramec* (com base emIvermectina) é recomendadopara animais de qualquer idade.

O produto melhora a taxa deprenhez e a aparência do reba-nho, com melhor aproveitamen-to do alimento, tendo como re-sultado um gado mais pesado elucrativo. Supramec* pode serutilizado na prevenção debicheiras no umbigo de bezer-ros, quando tratados nas primei-ras 24 horas de vida.

Supramec* e Cyclomec* de-vem ser administrados por via

subcutânea, na dose de 1ml paracada 50kg de peso, podendo seraplicados em animais de reprodu-ção e simultaneamente a vacina-ções contra febre aftosa eclostridioses.

Maiores informações podemser obtidas na Central de Atendi-mento Schering-Plough, telefone0800-117788.

Texto da jornalista FernandaA. Torres.

O embornal de Blitz, daRhodia Agro, facilita o

trabalho de aplicação de iscaformicida

Solução eficaz para o combate àsSolução eficaz para o combate àsSolução eficaz para o combate àsSolução eficaz para o combate àsSolução eficaz para o combate àspulgas e carrapatospulgas e carrapatospulgas e carrapatospulgas e carrapatospulgas e carrapatos

Insetos como pulgas e carra-patos geralmente são problemaspara os animais de estimação epara as pessoas que com elesconvivem porque, além de se-rem um meio de transmissão dedoenças, trazem muito descon-forto. Produtos com combateeficaz contra estes tipos de inse-tos vêm, ano após ano, sendotestados por inúmeros laborató-rios nacionais e estrangeiros ecolocados no mercado, mas nun-ca com um resultado 100% posi-tivo, já que eles ou matam oinseto adulto ou a larva.

Um produto com essa duplafunção (eliminar insetos adultose ovos) acaba de chegar ao mer-cado nacional. É o Garma IGR,desenvolvido e comercializadopela Agener, um laboratório es-pecializado na fabricação de me-dicamentos veterinários gené-ricos para todos os tipos de ani-mais, sejam eles de pequeno ougrande porte.

O Garma IGR apresenta nasua composição um IGR –

hormônio sintético, produzido emlaboratório: o metopreno. O IGRimita o hormônio de crescimento,induzindo o desenvolvimentoanormal e irregular dos ovos elarvas, promovendo assim a mor-te deles, eliminando-os imediata-mente, em qualquer fase de seudesenvolvimento.

“A ação imediata do GarmaIGR sobre os adultos é possívelporque, na sua composição, foiincluído o butóxico de piperonila,um inseticida que mata os insetospor contato (efeito “KnockDown”). A pulga não precisa picaro animal para morrer”, explica omédico veterinário da Agener,André Prazeres Gonçalves. Poroutro lado, Garma IGR tem tam-bém ação prolongada – o produtotem efeito residual, sendo ativopor dois meses contra pulgas (77dias contra os ovos) e um mêscontra carrapatos. “Isto é possívelgraças à cipermetrina, com açãoinseticida, que é a responsávelpelo efeito prolongado”, continua.

Além da eficácia e da ação

#

Page 5: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

4 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

Novidades de mercadoNovidades de mercadoNovidades de mercadoNovidades de mercadoNovidades de mercado

prolongada, o produto é seguropara o animal e para as pessoasque convivem com ele, podendoser usado em filhotes a partirdos quatro meses de idade e emfêmeas prenhes, devido ao seubaixíssimo grau de toxicidade.“Só não recomendamos o GarmaIGR para fêmeas que estiveremem lactação” , diz André.

Quando elaborou o GarmaIGR, a Agener também procu-rou inovar na sua forma de apli-cação. “Até então, os produtosantipulgas desse níveltecnológico vinham apresenta-dos nas formas de spray ou

spot-on”, fala Jean Marc Millet.“Nosso produto, no entanto, podeser encontrado na forma de spray(250ml) e na de shampoo (200ml),esta, uma alternativa mais econô-mica, já que custa menos que ospray, mas por ter a mesma for-mulação permite eficácia seme-lhante, permitindo ainda que fi-lhotes de dois meses tomem ba-nho com este shampoo.

Maiores informações pelo te-lefone (011) 575-2569, Fax (011)570-4074 e pelo E-mail:[email protected]

Texto da jornalista Jenny ElisaKanyó.

de gordura (lipídios de origem ve-getal); probiótico (10 milhões deBacillus sp); ômega 3 e ômega 6;enzimas; vitaminas C, A e E.

A família Fridog

Além da ração FridogPremium Vegetariana a famíliaFridog é composta por outrosprodutos da linha premium esuper-premium: Fridog PremiumCarnes; Fridog Premium Vege-tais (que difere da FridogPremium Vegetariana por sercomposta por proteínas e gordu-ras animal e vegetal); FridogPremium Filhotes; Vet Line FridogPuppy (linha super-premium,indicada para filhotes. Produtoético que deve ser administradosob orientação médico-veteriná-ria); Vet Line Fridog Active (linhasuper-premium, indicada paracães adultos ativos ou que este-jam sendo preparados para expo-sições. Produto ético que deve ser

Fridog – a primeira raçãoFridog – a primeira raçãoFridog – a primeira raçãoFridog – a primeira raçãoFridog – a primeira raçãovegetariana do Brasilvegetariana do Brasilvegetariana do Brasilvegetariana do Brasilvegetariana do Brasil

A Fri-ribe, uma das maioresempresas de nutrição animal doBrasil, com sede em RibeirãoPreto, está lançando em todo opaís o Fridog Premium Vegeta-riana – a primeira ração 100%vegetariana do mercado. Paraesse lançamento, a empresa estáinvestindo mais de US$ 1 mi-lhão, destinados à campanha pu-blicitária e aos eventos de lança-mento do produto, que serãorealizados em quase todas ascapitais e principais cidades bra-sileiras.

A ração Fridog Premium Ve-getariana foi desenvolvida pelaFri-ribe, a partir de uma pesqui-sa realizada pela empresa nasregiões da Grande São Paulo eRibeirão Preto, onde foi consta-tado o grande potencial de con-

sumo do produto, considerandoque os cães são animais onívoros(necessitam de proteínas de ori-gem vegetal e/ou animal).

Além de suprir as necessida-des protéicas dos cachorros, FridogPremium Vegetariana é uma ra-ção desenvolvida com ingredien-tes de altíssima qualidade, queconferem ao produto elevado graude digestibilidade e palatabilidade.A ração Fridog Premium Vegeta-riana também proporciona efei-tos estéticos nos cães, com pêlo,pele e dentes mais bonitos e sau-dáveis, além de contribuir paraossos mais fortes e melhorperformance.

A composição da ração FridogPremium Vegetariana é a seguin-te: 25% de proteínas de origemvegetal (cenoura, espinafre); 12%

administrado sob orientaçãomédico-veterinária).

A Fri-ribe, com base em Ri-beirão Preto, SP, é uma empre-sa que atua em 90% do territórionacional e possui cinco unidadesindustriais – Pitangueiras (SP),Anápolis (GO), Teresina (PI),Fortaleza (CE) e Lavras (MG). Afábrica de Lavras, no interior deMinas Gerais, entrou em opera-ção no mês de agosto.

A Fri-ribe possui uma linhacompleta de rações e concentra-dos (núcleos e premix), suple-mentos e sais minerais para to-das as espécies de animais, comobovinos, eqüinos, suínos, pei-xes, cães, gatos e criações espe-ciais (avestruz, coelhos, codor-nas, etc.).

Maiores informações sobreos produtos Fri-ribe podem serobtidas pelo telefone (016) 629-4060 ou via internet através doendereço: [email protected].

FundagroFundação de Apoio ao Desenvolvimento Rural Sustentável do Estado de Santa Catarina

Uma organização não-governamental para apoiar o setor agrícola público e privado do Estado de Santa Catarina.

• Diagnósticos rápidos.

• Pesquisas de opinião e de necessidades do setor agrícola.

• Consultorias.

• Realizações de cursos especiais.

• Projetos para captação de recursos.

• Produção de vídeos e filmes ligados ao setor agrícola.

• Projetos de financiamento do Pronaf e outros.

• Serviços de previsão de tempo.

Rodovia Admar Gonzaga, 1.347, Itacorubi, C.P. 1391, Fone (048) 234-0711, Fax (048) 239-5597, E-mail: fundagro@climerh. rct-sc.br, 88010-

970 Florianópolis, SC.

o

Page 6: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 5

Desenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento rural

Desenvolvimento rural sem jovens?Desenvolvimento rural sem jovens?Desenvolvimento rural sem jovens?Desenvolvimento rural sem jovens?Desenvolvimento rural sem jovens?

Milton Luiz Silvestro e Nelson Cortina

êxodo rural nas regiões de pre-domínio da agricultura familiar

atinge hoje as populações jovens commuito mais ênfase que em momentosanteriores. Ao envelhecimento acopla--se, mais recentemente, um severoprocesso de diferenciação de perma-nência no meio rural, evidenciando--se que as moças deixam o campoantes e numa proporção muito maiorque os rapazes.

Sucessão profissional, transferên-cia hereditária e aposentadoria são ostrês termos em torno dos quais sedesenrolam os processos sociais porque passa a formação de uma novageração de agricultores. Trata-se re-conhecidamente de tema pouco estu-dado entre nós, contrariamente aoque ocorre nos países capitalistas cen-trais e particularmente na EuropaOcidental.

É em grande parte em torno destestemas ligados à sucessão que vai serdecidido se o espaço rural poderá servitalizado com um grupo de jovensenvolvidos em sua valorização ou seele ruma para o esvaziamento.

Para tratar deste tema foirealizada uma pesquisa de campo, nomunicípio de Saudades, no Oeste deSanta Catarina. Os agricultoresentrevistados foram estratificadosem Consolidados, Transição e Ex-clusão, de acordo com o nível derenda da propriedade. A pesquisaprocura mostrar as mudanças porque vêm passando os processossucessórios na agricultura familiardo Oeste Catarinense e, sobre estabase, sugerir políticas que permitamampliar as chances de realização pro-

fissional dos jovens no mundo rural.

A especificidade daquestão sucessória naagricultura

O que caracteriza a agriculturafamiliar é que o pleno exercício profis-sional por parte das novas geraçõesenvolve, além do aprendizado de umofício, a gestão de um patrimônioimobilizado em terras e em capital.Desenvolvido a partir do trabalho detoda a família (ao qual o jovem seincorpora desde criança), estepatrimônio possui um duplo conteúdosocial: por um lado ele é a base mate-rial de um negócio mercantil e poroutro é sobre ele que repousa não sóa manutenção mas a própria organi-zação da vida familiar.

A formação de novas gerações deagricultores envolve, portanto, umprocesso composto de três partes (1):

• A sucessão profissional, isto é,a passagem da gerência do negócio, dopoder e da capacidade de utilização dopatrimônio para a próxima geração.

• A transferência legal da propri-edade da terra e dos ativos existentes

• A aposentadoria, quando cessao trabalho e sobretudo o poder daatual geração sobre os ativos de que secompõe a unidade produtiva. Cadauma destas etapas designa muito maisum processo que um ponto fixo notempo, cuja duração depende de cadacaso. Este processo dá lugar a umsem-número de conflitos, que vão des-de as formas de remuneração dosirmãos não-contemplados com a terrapaterna até a questão chave do viés de

gênero, que tende a acompanhar oprocesso sucessório e que - como ve-remos mais adiante - responde emgrande parte pela severidade do êxododas jovens agricultoras.

É importante frisar também que,embora a questão sucessória seja de-cisiva em qualquer empreendimento,no caso aqui tratado o negócio exige acontinuidade do caráter familiar dagestão e do trabalho e suas dimensõesnão permitem que dele dependa maisque uma família. Portanto, diferente-mente do que ocorre num grandeempreendimento fundado no empre-go assalariado, a agricultura familiarnão pode dividir sua gestão entre doisou mais irmãos sucessores, na esma-gadora maioria dos casos. Se o fizerela perde o tamanho mínimo que lhepermite viabilidade econômica. Osconflitos geracionais em grandes emédias empresas familiares são, commuita freqüência, de terceira gera-ção, enquanto que na agricultura fa-miliar eles vão aparecer na relaçãodireta de uma geração para outra.

O padrão reprodutivo dasunidades familiares até ofinal dos anos 60

Além de alimentos e matérias-pri-mas os agricultores do Sul do Brasilproduziam, até o final dos anos 60,algo para eles ainda mais importante:novas unidades de produção familiar,seja ali mesmo onde viviam - atravésda repartição de suas terras - seja pelapermanente tentativa de “colocar osfilhos”. Havia, portanto, uma fusãoentre os objetivos da unidade de pro-

OOOOO

#

Page 7: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

6 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

Desenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento rural

dução e as aspirações subjetivas deseus membros. Mas era muito fortea pressão moral para a continuidadeda profissão de agricultor, tantomais que os horizontes alternativoseram escassos e pouco acessíveis.Por um lado, há uma base objetivaque faz da agricultura a perspectivamais viável de reprodução socialpara as novas gerações. Por outro, aligação ao mundo comunitário, a in-corporação dos valores próprios àcontinuidade da profissão paternaestão também na raiz desta fusãoentre os objetivos da unidade econô-mica e as aspirações de seus mem-bros. É quando esta fusão desapareceque surge a questão sucessória naagricultura.

A agricultura familiar no Sul dopaís até o final dos anos 60 é, portanto,antes de tudo, uma máquina de pro-duzir novos agricultores familiares,que responde àquilo que alguns auto-res (2) chamam de “ética da continui-dade”. Para isso, é necessário que elacumpra dois objetivos aparentemen-te contraditórios: preservar tantoquanto possível seu patrimôniofundiário e garantir a instalação deoutros membros da família num pro-cesso migratório de abertura de fron-teira agrícola que se estendeu, a par-tir dos anos 30, do alto Uruguai, noRio Grande do Sul, até o Oeste deSanta Catarina, daí ao Sudoeste doParaná, entre os anos 1950 e 1970,para atingir então o Centro-Oeste, oNorte do país ou então o Paraguai.

Este duplo objetivo (a integridadedo domínio paterno e a instalação deoutros filhos) é assegurado, até o finaldos anos 60, basicamente de quatromaneiras:

• Pela instituição do minorato(também chamado de ultimogenitura),pelo qual a terra paterna é transmiti-da ao filho mais novo que, emcontrapartida, responsabiliza-se porcuidar dos pais durante a velhice (3;4).

• Pelo esforço permanente dedotar os filhos mais velhos dos meiosque permitam a reprodução de suacondição de agricultores.

• Pela valorização da atividadeagrícola como forma de realização navida adulta.

• Pela grande mobilidade espa-cial e um mercado de terras particu-larmente dinâmico entre os agriculto-res familiares.

A característica fundamental des-te período é uma certa naturalizaçãoda continuidade do modo de vida pa-terno para os rapazes, assim como dacondição materna para as moças. Apartir dos anos 70 a agricultura fami-liar do Sul do país expõe-se a umadupla ruptura: por um lado, as possi-bilidades objetivas de formação denovas unidades produtivas encontram--se cada vez mais limitadas; por outro,a idéia de que, na sua grande maioria,os jovens no campo destinam-se areproduzir os papéis de seus pais écada vez menos verdadeira no inte-rior das próprias famílias. É a partirdisso que emerge o que podemos cha-mar de questão sucessória na agri-cultura: é quando a formação de umanova geração de agricultores perde anaturalidade com que era vivida atéentão pelas famílias, pelos indivíduosenvolvidos nos processos sucessóriose pela própria sociedade. Diante destamudança, questiona-se qual o padrãosucessório que irá predominar nospróximos anos.

Quem serão os agricultorese as agricultoras do futuro?

A pesquisa realizada em Saudadesindica que apesar da profunda crisepor que passou o setor desde o iníciodo Plano Real, o desejo de desenvol-ver a profissão agrícola é bastante altoentre os jovens, não se verificando omesmo entre as moças.

Convidados a responder a respeitode seu futuro, 64,52% dos rapazesresponderam que seu destino deseja-do e provável está ligado à agricul-tura. Com relação às moças, a situa-ção é significativamente diferente,apenas 25% delas responderamnesta direção. Há, portanto, uma sen-sível desigualdade entre os gênerosquanto a esta aspiração, sendo nítidaa preferência das moças por ativida-des não-agrícolas. Apenas 6,25% des-tas gostariam de desenvolver as mes-mas atividades agrícolas dos filhoshomens.

Como se poderia esperar da prefe-rência pela profissão agrícola, mais dametade dos rapazes (58,06%) conside-ra que, com seu grau de instrução econhecimento, tem no meio rural ena agricultura suas melhores opor-tunidades. Se é verdade que 25,81%dos entrevistados dizem que suas me-lhores chances estão no “meio urba-no, em atividades urbanas”, é impor-tante assinalar que 50% entre elessão filhos de agricultores em exclusãoe apenas 10% são filhos de agriculto-res consolidados.

A maioria dos jovens consideraque a atividade agrícola é incompatí-vel com um baixo nível de escolarida-de. Apenas 6,45% dos rapazes dizemque, para ser agricultor, hoje, bastasaber ler e escrever. Dos entrevista-dos, 45,16% afirmam ser necessárioter o equivalente ao segundo grau.Não parece aqui reforçada a hipóteselevantada em outros estudos segundoa qual a educação poderia ser menosvalorizada pelos rapazes que têm aexpectativa de receber terra, já que osconhecimentos oferecidos pelo ensi-no formal não são, muitas vezes, per-cebidos como úteis.

Ao mesmo tempo, é preciso assina-lar que a freqüência a cursos técnicosque poderiam melhorar o desempe-nho profissional dos jovens é muitobaixa e irregular. Apenas 25,81% dosrapazes, na grande maioria entre osconsolidados, participaram de cursose palestras, o que não aponta parauma atividade formadora com ummínimo de durabilidade. Não há ne-nhuma resposta para a freqüência acolégios agrícolas. A situação é aindapior entre as moças: se 29,05% dosrapazes declararam nunca ter partici-pado de qualquer curso profissional,esta proporção se eleva a 56,25% en-tre as jovens.

Com respeito às perspectivas deorganização no momento da suces-são, 45,16% das respostas entre osrapazes concentram-se na necessida-de de melhorias tecnológicas e degerenciamento, o que poderia indicara consciência da importância da for-mação e do conhecimento na gestãode uma propriedade. Ao mesmo tem-po, a falta de capacidade, orientação

Page 8: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 7

Desenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento rural

técnica e gerenciamento só é vividacomo um importante ponto de es-trangulamento na gestão futura dapropriedade por 22,59% dos ra-pazes, quase todos entre os conso-lidados. Na maioria dos casos(74,22%), o que foi colocado como pro-blema é a falta de capital para inves-timento e custeio, muito mais quecapacitação.

Diante destas considerações, ques-tiona-se: de onde vem esta preferên-cia pela profissão agrícola entre osrapazes? Diferentemente do que ocor-reu com a geração anterior, onde seragricultor era um compromisso mo-ral com um certo modo de vida. Atu-almente, a agricultura aparece cadavez mais como uma escolha entreoutras possibilidades, inclusive a mi-gração. Assim, também, o êxodo ruralfaz parte dos recursos não-controla-dos pelos pais e dos quais os jovenspodem dispor na montagem de suasestratégias de vida (5).

Assim, é importante, também, le-var em conta que a saída dos jovensdo campo perdeu o caráter traumáti-co que teve no passado. A própriafamília estimula e patrocina a migra-ção das moças para as cidades nacondição de domésticas, numa famíliada qual se tenha referência personali-zada e que se comprometa a assegu-rar a continuidade dos estudos. Quan-to aos jovens, no Oeste de Santa Cata-rina existem algumas agências de re-crutamento que os levam para traba-lhar em Porto Alegre, São Paulo oupara a região litorânea do próprioEstado.

Por fim, a condição de agricultorparece estar ligada à valorização doespaço regional tanto quanto ao exer-cício desta profissão por si só. Comrelação aos rapazes, 51,61% deles nãoaceitariam sair do Oeste Catarinensepara continuar a atividade paterna. Aoutra metade tomaria eventualmen-te este rumo, desde que contasse,entretanto, com crédito para comprade terra e para sua instalação. Opadrão migratório dominante até ageração anterior, em que com poucosrecursos e muito trabalho desbrava-va-se o sertão, parece definitivamen-te sepultado.

Diferenciação social dosprocessos sucessórios

Uma unidade produtiva sem su-cessores dificilmente contará com in-vestimentos em capital, terra e for-mação necessários ao seu desenvolvi-mento. Esta é uma preocupação im-portante, constatada em países daUnião Européia e na Irlanda (1), ondemais da metade dos agricultores commais de 50 anos não tinha sucessores.

Entre nós, os problemas sucessóriosnão apresentam, nem de longe, amesma magnitude apresentada na Eu-ropa Ocidental. No entanto, a ameaçade problemas sucessórios é real. Umterço dos atuais responsáveis pelasunidades produtivas (32,08%) afirmanão saber se alguém ficará na propri-edade. A pesquisa mostrou tambémque os problemas sucessórios tendema aparecer predominantemente nosestabelecimentos que apresentammaiores dificuldades para a suaviabilização econômica. A dúvida comrelação à existência de sucessores étanto maior quanto mais precária fora situação da propriedade.

O poder paterno

O processo sucessório na agricul-tura familiar está articulado em tornoda figura paterna, que determina omomento e a forma da passagem dasresponsabilidades sobre a gestão doestabelecimento para a futura gera-ção. A transmissão leva em contamuito mais a capacidade e a disposi-ção de trabalho do pai do que as neces-sidades do sucessor ou as exigênciaseconômicas ligadas ao próprio desen-volvimento da atividade.

Enquanto o atual responsável ti-ver condições de dirigir o estabeleci-mento, a sucessão não terá lugar: é oque responderam 35,85% dos paisentrevistados. Além disso, somente22% concordam em passar seu poderadministrativo e gerencial “quando osucessor estiver preparado”. Com re-lação aos filhos, a perspectiva é bemdiferente: 45,16% dos rapazes dizemque o momento mais adequado paraque assumam a responsabilidade pelaunidade produtiva é quando “o filho

demonstrar capacidade de gestão au-tônoma”.

É bem verdade que o caráter rigi-damente hierárquico da organizaçãofamiliar tradicional na agriculturaparece hoje atenuado, o que apontapara a possibilidade de maior diálogoem torno dos processos sucessórios.Apesar disso, é importante observarque 63% dos pais responderam quecontrolam todas as atividades da pro-priedade. Em quase dois terços doscasos, portanto, o poder paterno épraticamente absoluto sobre a gestãodo estabelecimento.

O aumento na expectativa de vidaprofissional dos pais amplia o períodode contato adulto com os filhos. Apartilha das responsabilidades, entre-tanto, está longe de acompanhar estanova realidade demográfica: ao invésde criar uma sociedade com distribui-ção minimamente equânime de direi-tos e responsabilidades pela qual osfilhos pudessem assumir parte da ges-tão do imóvel (como foi o caso dosGrupos Associativos para ExploraçãoConjunta de Atividades Agrícolas —GAEC, na França, por exemplo), ospais continuam dirigindo os estabele-cimentos sem a participação ativa dossucessores. Esta situação é umaameaça ao próprio desenvolvimentoda unidade produtiva, já que inibe aatividade, o talento e a capacidadeinovadora dos jovens, estimulando-osa buscar outras alternativas de vida.

O viés masculino dosprocessos sucessórios

A migração seletiva não é um fenô-meno novo, o que impressiona, entre-tanto, é a ausência de estudos recen-tes a respeito e, sobretudo, a magni-tude que ela parece estar assumindonas áreas de predomínio da agricultu-ra familiar do Sul do país.

Em 1995 havia 5,2 milhões de ho-mens a mais que mulheres na zonarural latino-americana. Nos gruposentre 15 e 29 anos, esta diferençachegava a 1,8 milhão - há 12% a maisde jovens homens (6).

Na amostra por nós estudada exis-tiam, em 1993, na população entre 10e 34 anos, 104 rapazes e apenas 60#

Page 9: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

8 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

Desenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento rural

moças, ou seja 1,7 rapaz para cadamoça. Estas informações convergempara um severo processo demasculinização do meio rural quepode, evidentemente, comprometer areprodução da agricultura familiar eacelerar ainda mais o êxodo juvenil.

A partilha do poder paterno com opossível ou provável sucessor homemjá é complicada, o tema nem se colocaquando se trata da mulher. Mesmoque haja preocupação em nãoprejudicá-la sob o ângulo patrimonial,o fato é que na organização da propri-edade o papel das moças é inteira-mente subalterno.

Neste sentido, é nítido o contrasteentre a contribuição decisiva das mo-ças no trabalho agrícola e sua comple-ta distância de tarefas que envolvemresponsabilidades nas tomadas dedecisão quanto aos destinos do esta-belecimento.

As moças não participam das ativi-dades gerenciais e de comercialização,apenas 12,5% delas possuem bloco deprodutor rural e nenhuma tem contabancária. Com relação à possibilidadedas moças serem sucessoras, 77,36%dos pais entrevistados disseram queelas têm as mesmas chances que osrapazes; no entanto, apenas um terçodelas julga ter as mesmas oportunida-des.

Além do papel subalterno das mo-ças na organização da propriedade, oupor causa dele, elas manifestam expli-citamente seu desagrado com a ativi-dade agrícola.

A migração seletiva não pode serexplicada apenas por uma supostaatração especialmente favorável queo mercado urbano de trabalho seriacapaz de exercer sobre as moças emdetrimento dos rapazes. Na verdade,são fundamentalmente as perspecti-vas que se oferecem no interior dasunidades familiares de produçãorespectivamente para rapazes e mo-ças que estão na raiz do viés de gênerodos processos migratórios. Em últimaanálise, o que está em jogo aí é umaquestão de poder: embora as mulhe-res participem do trabalho na propri-edade no mínimo em condições iguaisàs dos homens, elas não têm qualqueracesso às tarefas que envolvem al-

gum grau de responsabilidade ou detomada de decisão.

Conclusões e propostas

Os padrões sucessórios dominan-tes na agricultura familiar são hojeuma ameaça ao seu próprio desenvol-vimento e, conseqüentemente, à inte-gridade social que responde pela ocu-pação de parte significativa do territó-rio brasileiro.

Os agricultores familiares e suasorganizações representativas não pa-recem preparados para enfrentar osnovos desafios dos processossucessórios: as mudanças nas condi-ções objetivas e no ambiente social dereprodução da agricultura familiar nãoforam acompanhados por transforma-ções importantes nas formas de rela-ção entre gerações e sexos.

É urgente que o Programa de Re-forma Agrária e o Programa Nacionalde Fortalecimento da AgriculturaFamiliar — Pronaf incorporem a seufuncionamento as dimensões de gera-ção e gênero, sob pena de colabora-rem com o processo que está fazendodo meio rural brasileiro, em escalacrescente, um refúgio de aposentadosque não conseguem melhores oportu-nidades de vida nas cidades.

Criação de Sociedades deOrdenamento Fundiário (7) como umdos meios de promover o acesso àterra — e este mecanismo pode conci-liar o desejo de muitos agricultoresaposentados de vender suas proprie-dades com o projeto de muitos jovensque gostariam de construir seu futurono campo. Esta iniciativa pode ate-nuar o preocupante processo de enve-lhecimento do meio rural.

Implantação e valorização de ativi-dades rurais não-agrícolas — e estasatividades apresentam um potencialde desenvolvimento importante paraa região. Além do que, as atividadesrurais não-agrícolas podem atenuar odesinteresse das moças pela vida ru-ral, uma vez que as liberam da neces-sidade de ser agricultoras.

A iniciativa dos jovens, vivendohoje no interior da agricultura fami-liar, encontra-se fortemente inibida,não só por razões econômicas, mas

também pela natureza da relação en-tre as gerações e entre os gêneros. Ointeresse dos jovens pela vida no meiorural passa pela valorização de suasiniciativas e, portanto, pelas respon-sabilidades que eles puderem assumirno interior das unidades produtivas.Além do estímulo à discussão dosprocessos sucessórios no interior dasfamílias por parte das organizaçõesrepresentativas é fundamental queos jovens possam ser contempladoscom programas de capacitação e li-nhas de crédito que propiciem a basematerial de sua afirmação como futu-ros agricultores.

Literatura citada

1. GASSON, R.; ERRINGTON, A. The farmfamily business. Wallingford: CabInternational, 1993. 290p.

2. MUNTON, R.; MARSDEN, T.; WARD, N.Uneven agrarian development and thesocial relations of farm households. In:BOWLER, I.; BRYANT, C.; NELLIS,D. (Org.). Contemporary rural systemsin transition. Wallingford: CAB,International, 1992, v.1., p.61-63.

3. WOORTMAN, E. F. Herdeiros, parentes ecompadres. Brasília: Hucitec/Edunb,1994. 336p.

4. PAPMA, F. Contesting the household Estate- Southern Brazilian peasants andmodern agriculture. Leiden, Holanda:Centre for Latin American Researchand Documentation, 1992. 276p.

5. DURSTON, J. Comparative internationalanalysis of rural youth policy indeveloping countries: Coping withdiversity and change. Rome: FAO,1996b. p32-39p.

6. CEPAL. Desarrollo rural sin jóvenes? San-tiago do Chile, 1995. 23p. (Mimeo).

7. FAO. Diretrizes de política agrária e desen-volvimento sustentável. Projeto UITF/BRA/036. Brasília, DF: FAO/INCRA,1994. 25p.

Nelson Cortina, adm., M.Sc., Cart. Prof.519, CRA-SC, Epagri/Centro de Pesquisa paraPequenas Propriedades-CPPP, C.P. 791, Fone(049) 723-4877, Fax (048) 723-0600, 89801-970 Chapecó, SC e Milton Luiz Silvestro,eng. agr., Cart. Prof. 5.472-D, Crea-SC, Epa-gri/Centro de Pesquisa para Pequenas Pro-priedades, C.P. 791, Fone (049) 723-4877, Fax(048) 723-0600, 89801-970 Chapecó, SC.

o

Page 10: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 9

Alimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animal

Subproduto da suinocultura naSubproduto da suinocultura naSubproduto da suinocultura naSubproduto da suinocultura naSubproduto da suinocultura naalimentação de bovinosalimentação de bovinosalimentação de bovinosalimentação de bovinosalimentação de bovinos

Rubson Rocha, Edison Azambuja Gomes de Freitas, Raul de Nadal,Celomar Daison Gross, Cláudio Bellaver,

Ademar de Bona Sartor e Ivan Casagrande Concer

estimativa do rebanho suíno bra-sileiro em 1993 era de 32 mi-

lhões de cabeças, concentradas prin-cipalmente na região Sul (36,25%).Mesmo com o menor rebanho (3,5milhões de cabeças), Santa Catarina élíder em abates, concentrados princi-palmente na região Oeste do Estado,que possui 80% da população suínaestadual (1). Nesta região, onde oproblema de poluição causada pordejetos foi primeiramente detectado,pode-se estimar que são produzidosaproximadamente 8,8 milhões demetros cúbicos de dejetos líquidos porano (2).

A utilização de dejetos suínos naalimentação de bovinos pode dimi-nuir os problemas de poluição e tam-bém reduzir os custos das rações (3).Bovinos recebendo uma dietapeletizada contendo 40% de estercoseco de suínos apresentaram um ga-nho médio de peso de 1,1kg/dia (4).

Há evidências que demonstramuma variação nos teores de nutrien-tes encontrados nos dejetos de suí-nos, devido principalmente ao aumen-to do peso dos suínos (5) e às diferen-tes composições das dietas.

O presente trabalho foi conduzidocom o objetivo de avaliar o uso dodejeto de suíno peneirado e prensado(DSP) na alimentação de bovinos decorte, determinando os seus efeitosno desempenho animal; nas caracte-rísticas de carcaça; na histopatologiado epitélio ruminal e economicidade.

Material e métodos

O experimento foi conduzido nomunicípio de Rio do Sul, SC, no perí-odo de 26 de agosto de 1993 a 08 defevereiro de 1994, sendo dividido emdois ensaios: um cujo volumoso erasilagem, com duração de 57 dias, eoutro com capim-elefante como volu-moso, que durou 81 dias.

Foram utilizados 30 bovinos ma-chos não-castrados, sem raça defini-da, com peso vivo médio de 254,9kg,os quais foram vermifugados, identifi-cados e aleatoriamente distribuídosno início do experimento.

Foram testadas três dietas, comníveis diferentes de DSP. O processode obtenção do DSP consistia na pas-sagem dos dejetos líquidos de suínospor uma peneira vibratória. O mate-rial que ficava sobre a peneira caía emum reservatório, sendo levado poruma rosca sem fim até uma prensa dedois cones, onde o material era pren-sado.

Os tratamentos no ensaio comsilagem foram os seguintes:

• Tratamento A – Silagem (21kg/animal/dia) e concentrado (3kg/ani-mal/dia) para suprir as necessidadesde mantença e proporcionar um ga-nho de peso diário de 1.000g/animal(testemunha);

• Tratamento B – Silagem (8kg/animal/dia) mais 8kg de DSP/animal/dia e concentrado (3,5kg/animal/dia)para obter um ganho de peso de 1.000g/

animal/dia.• Tratamento C – Silagem (8kg/

animal/dia) mais DSP à vontade, com-pletando a dieta com uréia(balanceamento protéico).

A silagem era constituída de doisterços de milho e um terço de capim--elefante, apresentando baixos teoresde nutrientes (26,7% de MS; 5,9% dePB e 44,1% de NDT), isto provavel-mente devido à inclusão de capim--elefante.

O concentrado, utilizado em am-bos os ensaios, foi composto com osseguintes alimentos: farelo de soja(10%), milho desintegrado com palhae sabugo (MDPS) (70%), farelo de tri-go (12%), casca de soja (6%), Ureon1

(1,5%) e sal mineral (1%). Apresentouem média 86,3% de MS, 18,9% de PBe 76,4% de NDT.

Os tratamentos no ensaio com ca-pim-elefante foram os seguintes:

• Tratamento A – Capim-elefan-te (36kg/animal/dia) e concentrado(3kg/animal/dia) para suprir as neces-sidades de mantença e proporcionarum ganho de peso diário de 1.000g/animal (testemunha);

• Tratamento B – Capim-elefan-te (17kg/animal/dia) mais 16kg de DSP/animal/dia, e concentrado (3,5kg/ani-mal/dia) para obter um ganho de pesode 1.000g/animal/dia.

• Tratamento C – Capim-elefan-te (17kg/animal/dia) mais DSP à von-tade, completando a dieta com uréia(balanceamento protéico).

AAAAA

1. Marca registrada da Sivam Companhia de Produtos para Fomento Agropecuária (contém 37% de uréia). #

Page 11: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

10 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

Alimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animal

O capim-elefante utilizado nãoapresentou boa qualidade (22,2% deMS; 5,2% de PB e 52,3% de NDT).

Em ambos os ensaios a alimenta-ção dos novilhos foi realizada às 8 e às17 horas de cada dia, com as quantida-des de alimentos (silagem, capim-ele-fante e DSP) suficientes para quehouvesse sobras não-superiores a 10%do oferecido, sendo os alimentos for-necidos em cochos separados. As even-tuais sobras das dietas nos comedourosforam recolhidas e pesadas – cadaalimento separadamente.

Os animais tiveram à disposiçãoágua e mistura de sal mineral. Asquantidades de mistura mineralfornecidas foram devidamente anota-das.

Os animais foram alocados em trêsbaias distintas de 48m² cada uma,permanecendo por catorze dias emadaptação às dietas, antes de cadaperíodo experimental, sendo pesadosapós jejum de 12 horas, no início e nofinal de cada ensaio.

As seguintes variáveis foram me-didas:

• Consumo diário de todos os in-gredientes (oferta e sobras);

• Ganho de peso - os animaisforam pesados a cada 28 dias;

• Rendimento de carcaça - os ani-mais foram abatidos no final do expe-rimento, sendo determinado o pesolíquido das carcaças;

• Análise qualitativa dos alimen-tos, sendo os mesmos amostrados acada catorze dias para o acompanha-mento da qualidade da dieta oferecidaaos animais. As amostras foramidentificadas e conservadas emfreezer; então seguiram para o Labo-ratório de Nutrição Animal da Epagride Lages, SC, onde foram preparadasas amostras compostas, com a uniãodas amostras do mês, sendo posteri-ormente analisadas.

O DSP foi analisado para teor dematéria seca, matéria orgânica, pro-teína bruta, extrato etéreo, fibra bru-ta, cálcio, fósforo, digestibilidade invitro da matéria orgânica, nutrientesdigestíveis totais, pH (por leitura di-

reta em potenciômetro digital), fibradetergente neutro, fibra detergenteácido, lignina ácido detergente,magnésio, cobre, ferro, zinco emanganês.

O ganho de peso, o peso final e opeso líquido das carcaças foram anali-sados estatisticamente para um deli-neamento inteiramente casualizado,sendo incluídos no modelo os efeitosde tratamento e da co-variável pesoinicial de cada fase. Os rendimentosde carcaça, após transformação angu-lar das percentagens, foram analisa-dos pelo mesmo procedimento.

Foram coletadas amostras doepitélio ruminal por ocasião do abatedos animais e enviadas em formol a10% ao Centro Agroveterinário deLages para a realização de análisehistopatológica.

A análise econômica pressupõe aexistência de uma estrutura completapara criação de suínos e de bovinos emconfinamento, inclusive silos e insta-lações para tratamento dos dejetos desuínos. A depreciação de máquinas ede instalações foi incluída como umitem do custo da silagem e do estercode suíno peneirado e prensado.

A avaliação econômica foi baseadanos conceitos de Benefício Líquido ede Taxa Marginal de Retorno (6). OBenefício Líquido é a diferença entrea Receita Total e a soma dos “CustosDiferenciados”2, isto é, dos itens decusto que variam segundo o trata-mento. A Taxa Marginal de Retorno éa relação percentual entre o BenefícioLíquido e a soma dos Custos Diferen-ciados.

Os preços médio, máximo e míni-mo de cada insumo, produto e serviçoforam obtidos dos dados da série his-tórica, da média de todas as regiões doEstado de Santa Catarina, até julho de1993 (7), convertidos a dólares. Paracada material foi escolhida a sériehistórica (número de meses para cál-culo dos índices) que obtivesse o me-nor coeficiente de variação.

Foi retirado um animal do trata-mento B durante o ensaio silagem porapresentar inapetência em decorrên-

cia de um abcesso na região das coste-las. Outro animal do tratamento Ctambém foi retirado do experimento,durante o ensaio capim-elefante, parao procedimento da análise sensorialda carne pela Universidade Federalde Santa Catarina.

Resultados e discussão

Observa-se na Tabela 1 que o DSPapresentou índices razoáveis de quali-dade (9,5% de PB e 53,4% de NDT).A análise do índice de digestibilidadein vitro da matéria orgânica (DIVMO)do DSP (18,5%) demonstrou a exis-tência de algum fator influenciando odesenvolvimento da microfauna emicroflora ruminal, pelo menos emensaios in vitro.

A passagem do dejeto líquido desuíno pela peneira e pela prensa pare-ce afetar os índices de proteína bruta,fibra bruta e minerais. Isto é eviden-ciado quando se comparam os resulta-dos obtidos por outros autores (5), queencontraram teores de proteína bru-ta (22,96%), cinzas (16,2%), cálcio(2,41%) e fósforo (1,48%) ao trabalha-rem com dejeto seco (34,9% de umida-de), com os deste trabalho (9,5; 7,5;0,98 e 0,58%, respectivamente). Osresultados obtidos com a ensilagemde dejeto de suíno, após 5 horas desecagem ao sol (3), também apresen-taram índices superiores de proteínabruta (18,4%) e cinzas (16,7%), masinferiores em termos de fibra bruta(9,9%).

Pela Tabela 1 pode-se observarelevados níveis de cobre, zinco e ferrodo DSP. Entretanto, os níveis tóxicosdestes elementos na matéria seca dadieta de bovinos encontram-se em115, 500 e 1.000 ppm, respectivamen-te.

Na Tabela 2 verifica-se que aingestão média de DSP, durante operíodo de 57 dias (ensaio silagem),para os animais do tratamento C foide 16kg/dia, enquanto que no ensaiocapim-elefante o consumo alcançou24,9kg/dia. Na análise do consumo,em ambos os ensaios, observa-se que

1. Evitou-se a denominação de “Custo Variável”, pois o “Custo Diferenciado” inclui Custos Fixos e Variáveis e não todos os CustosVariáveis da atividade.

Page 12: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 11

Alimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animal

Tabela 1 – Resultados da análisequímica do dejeto de suínos utilizado

no experimento

Dejeto suíno(B)

Análise(A)

Média CV(%)(C)

MS (%) 40,92 8,1

MO (% na MS) 92,50 1,8PB (% na MS) 9,46 13,0EE (% na MS) 1,60 28,6FB (% na MS) 30,23 8,8ENN (% na MS) 52,50 6,5DIVMO (% na MS) 18,50NDT (% na MS) 53,43 0,6FDN (% na MS) 84,10FDA (% na MS) 39,35 8,4LAD (% na MS) 11,00 20,6P (% na MS) 0,58 22,8Ca (% na MS) 0,98 21,4Mg (% na MS) 0,18 23,5

pH 7,30

Cu (ppm) 59,10 59,9Fe (ppm) 685,90 33,0Zn (ppm) 79,60 17,3Mn (ppm) 70,50 35,5

(A) Análises realizadas no Laboratório deNutrição Animal/Epagri - Lages, SC.MS = Matéria Seca; MO = MatériaOrgânica; PB = Proteína Bruta; EE =Extrato Etéreo; FB = Fibra Bruta;ENN = Extrativos Não Nitrogenados;DIVMO = Digestibilidade in vitro daMatéria Orgânica; NDT = NutrientesDigestíveis Totais; FDN = Fibra De-tergente Neutro; FDA = Fibra Deter-gente Ácido; LAD = Lignina ÁcidoDetergente; Ca = Cálcio; P = Fósforo;Mg = Magnésio; pH = potencialhidrogeniônico; Cu = Cobre; Fe = Fer-ro; Zn = Zinco; Mn = Manganês.

(B) Dejeto de suínos peneirado e prensa-do.

(C) Coeficiente de variação.

os animais do tratamento C consumi-ram mais matéria seca que os ani-mais dos outros dois grupos. As mai-ores ingestões de MS pelos animais dotratamento C foram causadas pelacompensação da mais baixa concen-tração de NDT da dieta neste trata-mento.

Os consumos de MS, em ambos osensaios, foram superiores às necessi-dades calculadas de acordo com NRC(8).

Houve diferença significativa(P<0,05) entre os tratamentos quanto

Tabela 2 – Número de animais; consumo diário (kg) de matéria verde (MV) e matériaseca (MS), pesos médios inicial e final; ganho de peso diário; rendimento de carcaça;

conversão alimentar, em termos de matéria verde (MV) e matéria seca (MS); consumo,em termos de percentagem do peso vivo e do peso metabólico, de matéria seca (MS),

proteína bruta (PB) e nutrientes digestíveis totais (NDT) apresentados por tratamentodentro de cada ensaio do experimento

Ensaio/Silagem Ensaio capim-elefante(tratamentos) (tratamentos)

A B C A B C

•Número de animais 10 9 10 10 9 9

•Consumo(kg MV/animal/dia)- Silagem 20,35 7,05 7,93 - - -- Capim-elefante - - - 35,03 16,36 15,75- Concentrado 2,98 3,37 - 2,98 3,42 -- DSP - 7,17 16,04 - 15,09 24,97- Sal mineral 0,18 0,21 0,20 0,09 0,10 0,09- Ureon - - 0,04 - - 0,04

Total 23,51 17,80 24,21 38,10 34,98 40,85

•Consumo(kg MS/animal/dia)- Silagem 5,42 1,88 2,11 - - -- Capim-elefante - - - 7,77 3,63 3,49- Concentrado 2,57 2,90 - 2,57 2,95 -- DSP - 2,93 6,56 - 6,18 10,22- Sal mineral 0,17 0,19 0,18 0,09 0,09 0,09- Ureon - - 0,04 - - 0,04

Total 8,16 7,90 8,89 10,43 12,85 13,84

•Peso médio- Inicial (kg) 251,7 261,3 251,7 302,0 317,7 289,3- Final (kg) 302,4 303,3 281,1 396,3 404,1 356,8

•Peso final ajustado(kg)(B) 305,4a 295,7b 284,5c 3,21 397,4a 404,1a 356,7b 3,31

•Ganho médio diário(kg)(B) 0,889a 0,737a 0,516b 24,75 1,164a 1,067a 0,833b 15,78

•Rendimento decarcaça (%)(B) 53,25b 55,89a 52,23b 1,62

•Conversão alimentar- kg MV/kg ganho 26 24 47 33 33 49- kg MS/kg ganho 9 11 17 9 12 17

•Consumo(% peso vivo) - MS 2,95 2,80 3,34 2,99 3,56 4,28 - PB 0,29 0,33 0,31 0,26 0,37 0,38 - NDT 1,57 1,64 1,67 1,73 2,07 2,26

(A) Coeficiente de variação.(B) Valores de uma mesma linha e de um mesmo ensaio, quando seguidos de diferentes

letras, diferem entre si pelo Teste t (P<0,05).

CV(A)

%CV(A)

%

#

Page 13: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

12 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

Alimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animal

aos ganhos de peso diários (Tabela 2).Em ambos os ensaios, os animais dostratamentos A e B apresentaram ga-nhos de peso diários superiores aosanimais do tratamento C. Entretan-to, quando se faz a análise dos pesosfinais corrigidos pelos pesos iniciais(ajuste dos efeitos de tratamento pelaco-variável peso inicial de cada en-saio) no ensaio silagem, os três trata-mentos são diferentes entre si(P<0,05), com o tratamento A sendosuperior aos outros dois e o tratamen-to B apresentando superioridade emrelação ao tratamento C. No ensaiocom capim-elefante, este mesmo tipode análise aponta os tratamentos A eB semelhantes e superiores ao trata-mento C (Tabela 2).

O ganho de peso diário apresenta-do pelos animais do tratamento C (516e 833g/dia) ficou abaixo do resultadoobtido por outros autores (4), queobtiveram ganho de peso de 1,1kg aodia. As diferenças encontradas podemser explicadas pelo tipo de material(esterco seco contra esterco peneira-do e prensado) e quantidade de dejetona dieta animal (40% contra 73,8%,em termos de matéria seca, médiadas fases).

O rendimento de carcaça foi afeta-do pelos tratamentos (P<0,05), sendoque os animais do tratamento B tive-ram melhor rendimento que os ani-mais dos outros dois tratamentos (Ta-bela 2).

Como pode ser visualizado na Ta-bela 2, os resultados encontrados comrelação a ganho de peso diário nãopodem ser explicados pela análise dosconsumos em termos de percenta-gem de peso vivo ou em relação aopeso metabólico, já que os animais dotratamento C tiveram os maiores con-sumos de matéria seca e nutrientesdigestíveis totais. Entretanto, a esti-mativa do conteúdo de NDT do DSPcarece de maior precisão, já que a vianormal de cálculo, pela digestão invitro, ficou prejudicada.

Economicamente, o ensaio silagemapresentou retornos negativos paraos três tratamentos (Tabela 3). Notratamento A, os bovinos confinadosrecebiam uma alimentação com baseem silagem e concentrado. No tra-

Tabela 4 – Avaliação econômica de sistemas de alimentação de bovinos confinados,utilizando esterco de suínos peneirado e prensado e considerando a carcaça bovina a

1,70 dólar por quilo, no ensaio silagem e 1,17 dólar por quilo no ensaio capim-elefante

Ensaio/Silagem Ensaio capim-elefante (tratamentos) (tratamentos)

A B C A B C

Benefícios•Valor da carne 0,8049 0,7005 0,4582 0,7253 0,6980 0,5091

Custos diferenciados•Silagem 0,4717 0,1635 0,1838 - - -•Capim-elefante - - - 0,0883 0,0412 0,0397•Concentrado 0,6027 0,6807 - 0,6027 0,6920 -•Dejeto suíno - 0,0550 0,1229 - 0,1157 0,1913•Sal mineral 0,0968 0,1119 0,1036 0,0494 0,0531 0,0474•Uréia - - 0,0100 - - 0,0100

Total Custos Diferenciados 1,1712 1,0111 0,4203 0,7404 0,9020 0,2884

Benefício Líquido(US$/animal/dia) -0,3663 -0,3105 0,0379 -0,0150 -0,2040 0,2207

Taxa de retorno sobre -31,27% -30,71% 9,02% -2,03% -22,62% 76,53%Custos Diferenciados

Tabela 3 – Benefício Líquido, em dólares por animal por dia, e Taxa de Retorno sobreCustos Diferenciados (%) para cada tratamento. Carcaça ao preço médio de 1,42 dólares

por quilo

Ensaio/Silagem Ensaio capim-elefante (tratamentos) (tratamentos)

A B C A B C

Benefícios•Valor da carne 0,6734 0,5861 0,3834 0,8818 0,8485 0,6189

Custos diferenciados•Silagem 0,4717 0,1635 0,1838 - - -•Capim-elefante - - - 0,0883 0,0412 0,0397•Concentrado 0,6027 0,6807 - 0,6027 0,6920 -•Dejeto suíno - 0,0550 0,1229 - 0,1157 0,1913•Sal mineral 0,0968 0,1119 0,1036 0,0494 0,0531 0,0474•Uréia - - 0,0100 - - 0,0100

Total Custos Diferenciados 1,1712 1,0111 0,4203 0,7404 0,9020 0,2884

Benefício Líquido- (US$/animal/dia) -0,4978 -0,4250 -0,0369 0,1414 -0,0535 0,3305

Taxa de retorno sobre -42,50% -42,03% -8,78% 19,10% -5,93% 114,59%Custos Diferenciados

tamento B, dois terços da silagemforam substituídos, parte pelo uso deDSP e parte pelo aumento do uso deconcentrado, o que piorou ainda maiso desempenho econômico, pois o Be-nefício Líquido negativo aumentou. O

tratamento C eliminou o uso de con-centrado, utilizou silagem em nívelbem abaixo do utilizado no tratamen-to A, entretanto um pouco acima doutilizado no tratamento B,incrementando sobretudo o uso de

Page 14: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 13

Alimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animal

DSP e chegando assim a um BenefícioLíquido negativo, porém, próximo azero.

A comparação entre os dois ensai-os (Tabela 3) demonstra, em primeirolugar, o efeito economicamente posi-tivo da substituição da silagem pelocapim-elefante. Além disso, tambémos resultados físicos de ganho de pesopor animal foram bem superiores noensaio capim-elefante (Tabela 2).

Segundo o CIMMYT, normalmen-te os agricultores adotam uma novatecnologia se ela proporciona umaTaxa Marginal de Retorno de no míni-mo 40% (6). Entretanto, no presentecaso, a recomendação para uso doesterco de suínos pode ser feita ataxas bem menores, uma vez que suautilização ajudaria a diminuir a maiorfonte de poluição do Oeste de SantaCatarina.

No tratamento A do segundo en-saio, o capim-elefante e o concentradoforam os alimentos básicos, proporci-onando um Benefício Líquido positivomas não suficiente para uma clararecomendação. O tratamento B, noqual diminuiu-se a quantidade de ca-pim-elefante, aumentou-se a de con-centrado e acrescentou-se DSP, oBenefício Líquido passou a ser ne-gativo. Já o tratamento C do ensaiocapim-elefante, que eliminou o con-centrado e ampliou a quantidade deDSP, é o único tratamento, de ambosos ensaios, que pode ser claramenterecomendado, pois proporciona umaTaxa de Retorno sobre os CustosDiferenciados superior a 100%, bemacima, portanto, dos 40% apresenta-dos como taxa mínima pelo CIMMYT(6).

As variações nos preços tambémdevem ser consideradas. Normalmen-te, as variações nos preços reais dosinsumos são menos relevantes do queas variações nos preços reais dos pro-dutos agrícolas. O preço da carne, nocaso, sofre variações cíclicas (entre osanos) e sazonais (entre os meses doano). Na série de preços considerada(55 meses), o preço médio foi de 1,42dólar por quilo de carcaça, chegando aum mínimo de 0,96 dólar e a ummáximo de 2,59 dólares, sendo de24,41% o coeficiente de variação.

O mais relevante, porém, das va-riações no preço da carne bovina, é aocorrência de sazonalidade, com pre-ços mais altos no final do inverno emais baixos no final da primavera:nos 55 meses considerados, a médiamais alta aconteceu na safra, com1,75 dólar por quilo de carcaça, e amais baixa na entressafra, com 1,17dólar.

Assim, a análise elaborada compreços médios pode ser modificada,aumentando o preço da carcaça paraníveis próximos ao máximo, no casodo ensaio silagem, e diminuindo parao nível mínimo, no caso do ensaiocapim-elefante, resultando a Tabela4.

Os dados e as análises apresentamum descompasso entre produção erentabilidade. Em ambos os ensaios,os tratamentos com menor ganho depeso foram os mais rentáveis.

Para os fabricantes de máquinasde separação de fases do dejeto suíno,recomendam-se estudos no sentidode reduzir o porte dessas máquinas,compatibilizando-as com a escala dossuinocultores típicos de Santa Catari-na.

Considerando, porém, a questãoambiental, se o impacto for positivo,as exigências para recomendação eco-nômica são abrandadas. Assim, o tra-tamento C do ensaio silagem tambémpode ser recomendado, mesmo comTaxa de Retorno baixa na época daentressafra (Tabela 4), pois seu im-pacto ambiental é certamente favorá-vel, em vista de dar um destino útil auma parte deste que é um dos maio-res causadores de poluição no Estadode Santa Catarina: o esterco de suí-nos.

Os resultados da análisehistopatológica do epitélio ruminalindicaram que o DSP, quando admi-nistrado a bovinos, não afetou o rúmen,uma vez que apenas um animal dotratamento C apresentou algum tipode alteração de mucosa ou submucosa,enquanto que este tipo de alteraçãoapareceu em dois animais do trata-mento B e quatro animais do trata-mento A.

A análise sensorial da carne reali-zada pelo Departamento de Ciência e

Tecnologia de Alimentos da Univer-sidade Federal de Santa Catarina nãodetectou nenhuma característica sen-sorial estranha ao produto.

Conclusões

Analisando os resultados encon-trados pode-se concluir que:

• As análises laboratoriais e es-timativas energéticas por cálculo nãorefletem os resultados obtidos em ter-mos de resposta animal.

• O dejeto de suínos peneirado eprensado pode fazer parte da dieta debovinos em até 66% da dieta total, emtermos de matéria natural, ou 74%em termos de matéria seca, proporci-onando ganhos de peso diários entre516 e 833g.

• O fornecimento de DSP parabovinos não provoca problemas clíni-cos nem alterações ruminais.

Recomendações

• Recomenda-se medir adigestibilidade aparente do DSP pelatécnica in vivo, com ovinos ou bovi-nos, utilizando-se calorimetria no ali-mento e fezes.

• É recomendado o uso de DSPcom capim-elefante na alimentaçãode bovinos para pecuaristas que pos-suam infra-estrutura de confinamentopara o rebanho.

Agradecimentos

Nossos agradecimentos aos pro-fessores Aldo Gava e Dalmo da SilvaNeves, do Laboratório de PatologiaAnimal do Centro Agroveterinário deLages, pela realização dos exameshistopatológicos do epitélio ruminaldos animais; e ao professor Celito deToni Júnior, do Departamento de Ci-ência e Tecnologia de Alimentos daUniversidade Federal de Santa Cata-rina, pela realização da análise senso-rial da carne. Agradecemos tambémao Senhor Jacir Pamplona, da Fazen-da Sant’Ana, pela cessão da infra--estrutura, animais, alimentos e fun-cionários necessários para a realiza-ção do experimento. #

Page 15: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

14 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

Alimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animal

Literatura citada

1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIA-DORES DE SUÍNOS. Suinoculturano Brasil. Estrela, 1993. 27p.

2. OLIVEIRA, P.A.V. de, (Coord.) Manual demanejo e utilização dos dejetos de su-ínos. Concórdia: EMBRAPA-CNPSA,1993. 188p. (EMBRAPA-CNPSA. Do-cumentos, 27).

3. SILVA, M.M.L. da; ANDRADE, A.T. de;VIEIRA, P. de F.; OLIVEIRA, M.D.S.de; SAMPAIO, A.A.M.; BARBOSA,J.C. Estudo da composição química ebromatológica das fezes de suínos fer-mentadas com diferentes níveis depalha de soja moída. Revista Socieda-de Brasileira de Zootecnia, Viçosa,v.16, n.4, p.364-369, 1987.

4. HENNING, A.; SCHULLER, D.; FREITAG,H.H.; VOIGT, C.; GRUHN, K.;JEROCH, H. Tests conducted to deter-mine whether pig feces could be usedas feedingstuff. Jahrbuch fur

Tierernahrung und Futterung, v.8,p.226-230, 1972.

5. ROSA, P.V. e; COSTA, P.M.A.; SOUZA, J.R.de; PEREIRA, J.A.A.; COSTA, C.L.S.Desempenho e determinação da den-sidade ideal de tilápia do Nilo, alimen-tada com dejetos de suínos. RevistaSociedade Brasileira de Zootecnia,Viçosa, v.19, n.6, p.530-535, 1990.

6. CIMMYT. La formulación derecomendaciones a partir de datosagronomicos: um manualmetodológico de evaluación económica.México, 1988. 79p.

7. INSTITUTO CEPA/SC. Preços pagos e rece-bidos pelos agricultores em SantaCatarina. Florianópolis, 1988-1993.

8. NUTRIENT requirements of beef cattle.Washington: National Academy ofSciences, 1976. 56p.

Rubson Rocha, méd. vet., M.Sc., CRMV-SC0886, Epagri/Centro de Pesquisa para

Pequenas Propriedades, C.P. 791, Fone (049)723-4877, Fax (049) 723-0600, 89801-970,Chapecó, SC; Edison Azambuja Gomes deFreitas, eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. 3.616-D,Crea-SC, Epagri/Estação Experimental deLages, C.P. 181, Fone (049) 224-4400, Fax(049) 222-1957, 88502-970 Lages, SC; Raulde Nadal, eng. agr., M.Sc., Cart. Prof. 4.197,Crea-RS, Epagri/Centro de Pesquisa paraPequenas Propriedades, C.P. 791, Fone (049)723-4877, Fax (049) 723-0600, 89801-970,Chapecó, SC; Celomar Daison Gross, eng.agr., M.Sc., Cart. Prof. 490-D, Crea-SC, Epagri/Gerência Regional de Rio do Sul, C.P. 73,Fone (047) 821-2879, Fax (047) 821-2942,89160-000 Rio do Sul, SC; Cláudio Bellaver,méd. vet., Ph.D., Embrapa/Centro Nacionalde Pesquisa de Suínos e Aves, C.P. 21, Fone(049) 444-0122, 89700-000 Concórdia,SC;Ademar de Bona Sartor, méd. vet.,Frigorífico Riosulense, Fone: (047) 821-2233,BR-470, km 150, nO 13.891, 89160-000 Rio doSul, SC e Ivan Casagrande Concer, méd.vet., Frigorífico Riosulense, Fone (047) 821-2233, BR-470 km 150, 13.891, 89160-000 Riodo Sul, SC.

A revista Agropecuária Catari-nense aceita, para publicação, artigostécnicos ligados à agropecuária, desdeque se enquadrem nas seguintes nor-mas:1. Os artigos devem ser originais e en-

caminhados com exclusividade àAgropecuária Catarinense.

2. A linguagem deve ser fluente, evi-tando-se expressões científicas e téc-nicas de difícil compreensão. Reco-menda-se adotar um estilo técnico--jornalístico na apresentação da ma-téria.

3. Quando o autor se utilizar de infor-mações, dados ou depoimentos deoutros autores, há necessidade deque estes autores sejam referen-ciados no final do artigo, fazendo-seamarração no texto através de núme-ros, em ordem crescente, colocadosentre parênteses logo após a infor-mação que ensejou este fato. Reco-menda-se ao autor que utilize nomáximo cinco citações.

4. Tabelas deverão vir acompanhadasde título objetivo e auto-explicativo,bem como de informações sobre afonte, quando houver. Recomenda-selimitar o número de dados da tabela,a fim de torná-la de fácil manuseio ecompreensão. As tabelas deverão virnumeradas conforme a sua apresen-

tação no texto. Abreviaturas, quandoexistirem, deverão ser esclarecidas.

5. Gráficos e figuras devem ser acom-panhados de legendas claras e obje-tivas e conter todos os elementos quepermitam sua artefinalização pordesenhistas e sua compreensão pe-los leitores. Serão preparados empapel vegetal ou similar, emnanquim, e devem obedecer às pro-porções do texto impresso. Dessemodo a sua largura será de 5,7 centí-metros (uma coluna), 12,3 centíme-tros (duas colunas), ou 18,7 centíme-tro (três colunas). Legendas claras eobjetivas deverão acompanhar osgráficos ou figuras.

6. Fotografias em preto e branco de-vem ser reveladas em papel brilhan-te liso. Para ilustrações em cores,enviar diapositivos (eslaides), acom-panhados das respectivas legendas.

7. Artigos técnicos devem ser redigidosem até seis laudas de texto corrido (alauda é formada por 30 linhas com70 toques por linha, em espaço dois).Cada artigo deverá vir em duas vias,acompanhado de material visualilustrativo, como tabelas, fotografi-as, gráficos ou figuras, num montan-te de até 25% do tamanho do artigo.Todas as folhas devem vir numera-das, inclusive aquelas que contenham

gráficos ou figuras.8. O prazo para recebimento de arti-

gos, para um determinado númeroda revista, expira 120 dias antes dadata de edição.

9. Os artigos técnicos terão autoria, cons-tituindo portanto matéria assinada.Informações sobre os autores, quedevem acompanhar os artigos, são:títulos acadêmicos, instituições detrabalho, número de registro no con-selho da classe profissional (CREA,CRMV, etc.) e endereço. Na impres-são da revista os nomes dos autoresserão colocados logo abaixo do títuloe as demais informações no final dotexto.

10. Todos os artigos serão submetidos àrevisão técnica por, pelo menos, doisrevisores. Com base no parecer dosrevisores, o artigo será ou não aceitopara publicação, pelo Comitê de Pu-blicações.

11. Dúvidas porventura existentes po-derão ser esclarecidas junto à Epagri,que também poderá fornecer apoiopara o preparo de desenhos e fotos,quando necessário, bem como na re-dação.

12. Situações imprevistas serão resolvi-das pela equipe de editoração da re-vista ou pelo Comitê de Publica-ções.

Normas para publicação de artigos na revista Agropecuária CatarinenseNormas para publicação de artigos na revista Agropecuária CatarinenseNormas para publicação de artigos na revista Agropecuária CatarinenseNormas para publicação de artigos na revista Agropecuária CatarinenseNormas para publicação de artigos na revista Agropecuária Catarinense

o

Page 16: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 15

SociologiaSociologiaSociologiaSociologiaSociologia

Redes sociotécnicas como ferramentasRedes sociotécnicas como ferramentasRedes sociotécnicas como ferramentasRedes sociotécnicas como ferramentasRedes sociotécnicas como ferramentasde pesquisade pesquisade pesquisade pesquisade pesquisa

Clovis Dorigon

este artigo discute-se, a partirde noções da sociologia da ciên-

cia, o uso da metodologia das redessociotécnicas para estudos que envol-vem mobilizações sociais a partir dequestões ambientais. Esta metodologiafoi utilizada na tese de mestrado“Microbacias como redes sociotécnicas- uma abordagem a partir do enfoquedo ator-rede” (1), que analisou o Pro-jeto Microbacias/Bird-SC procurandoentender a dinâmica e originalidade everificar em que medida o Projetotransformou a realidade no contextorural catarinense. Na tese procurou--se observar, também, a possibilidadedas microbacias constituírem-se naunidade de planejamento e interven-ção como uma nova estratégia dedesenvolvimento rural.

O poder da ciência

A ciência e a tecnologia são forçaspoderosas na moderna sociedade in-dustrializada e são, direta ou indireta-mente, de vital importância para to-dos (2). Além dos cientistas e dosresponsáveis por políticas de ciência etecnologia, estas atingem também fra-ções tão diversas quanto a grandeindústria, governos, militares,“lobbies”, grupos de interesse e o pú-blico em geral, os quais podem sentir--se impotentes frente ao avanço cien-tífico. Somente é possível entender aamplitude e a dinâmica da ciênciaquando a sua força, nas sociedades dehoje, for levada em consideração. Essacompreensão só pode ser alcançadapor meio de uma análise da sociedadee da mudança social que adote ummétodo que não separe a ciência dapolítica.

As relações sociais têm sido afe-tadas pelo progresso técnico (3). Este,por sua vez, é resultado da ação dohomem sobre a natureza, da incorpo-ração da natureza pela ciência. Emnossos dias, os grandes fatos da políti-ca são gerados pela ciência. Os labora-tórios e os centros de pesquisa pas-sam a exercer forte influência sobre asociedade, causando impactos sobreela e gerando mistos da ciência enatureza - denominados “artefatos”ou “quase-objetos” (2, 3 e 4). O queaparenta ser técnico é parcialmentesocial e o que parece ser social éparcialmente técnico. São frutos daação do homem sobre a natureza. Nocaso do Projeto Microbacias/Bird con-sidera-se como artefatos a erosão dossolos, murunduns, poluição, mosqui-tos borrachudos, moscas, agrotóxicos,

enchentes, secas, ventanias,desmatamento, doenças e pragas deplantas, queda de produtividade, den-tre outros. Evidentemente que mos-quitos, moscas, enchentes e secas,por exemplo, são entidades naturais.Mas a partir do momento que essasentidades naturais passam a ocorrerpela ação do homem - no caso, pelodesequilíbrio ambiental causado -,passam a ser também sociais. Torna--se importante também entender comoos atores sociais usam esses artefatospara mobilizar outros atores. No casodo Projeto Microbacias, a Epagri pas-sou a mobilizar atores como prefeitu-ras, cooperativas, agroindústrias,empresas do Estado, técnicos e agri-cultores, utilizando esses artefatospara convencê-los a aderir ao ProjetoMicrobacias.

NNNNN

#

Page 17: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

16 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

SociologiaSociologiaSociologiaSociologiaSociologia

A noção de redessociotécnicas

Ao se lidar com movimentos emrelação ao meio ambiente, o que so-bressai é o papel da ciência e os atri-butos aparentemente neutros e técni-cos que adquirem e que assumem afunção de atores. Para o entendimen-to dessas relações, busca-se o apoioanalítico na tradição específica da so-ciologia de redes sociotécnicas, de-senvolvida pela sociologia da ciência eda inovação por autores franceses emforte colaboração com a tradição anglo--saxônica (2, 3, 4 e 5).

A noção de redes sociotécnicas éum desdobramento da perspectivasocial construtivista (6). O socialconstrutivismo, por sua vez, baseia--se no princípio de que um fato socialpassa a existir a partir de sua inter-pretação e da ação dos atores emquestão e o significado atribuído poreles. Fundamenta-se na noção de queos fatos assumem uma dinâmica so-cial à medida que eles são interna-lizados e passam a estar sujeitos àação dos atores. Assim, problemasambientais, por exemplo, não exis-tem por si próprios, mas passam aexistir somente à medida que as pes-soas os reconhecem como tal e come-çam a agir em função deles. Então, aquestão ambiental não é uma questãode simples resultado objetivo, de ní-veis e eventos de poluição, ou deerosão do solo. Estas questões pas-sam a existir somente quando sãoreconhecidas socialmente pelos ato-res como problemas. Pode-se citarcomo exemplo o trabalho realizadopela Epagri para chamar a atençãodos agricultores e da sociedade emgeral do Oeste do Estado em relaçãoaos problemas causados pela polui-ção, principalmente por dejetos desuínos. A Epagri fez uma série de aná-lises de água e identificou a presençade coliformes fecais na maioria dasfontes de água utilizadas pelos agri-cultores para consumo. Identificada apresença desses coliformes nessasfontes d’água, a Epagri passou a fazerum trabalho junto aos agricultores eà sociedade em geral para demons-trar a gravidade do problema causado

pela poluição. E, a partir daí, apontousoluções como o manejo correto dosdejetos de suínos e as proteções defontes que ficaram conhecidas nacio-nalmente como Modelo Caxambu.

Depois deste trabalho, a Epagri feznovas análises de água e estas indica-ram a ausência de coliformes na gran-de maioria das fontes d’água que an-tes estavam contaminadas. Isso atraiuo interesse dos agricultores e facilitousua adesão ao Projeto Microbacias, jáque o controle da poluição faz partedos objetivos deste Projeto. Assim, aEpagri utilizou-se da presença decoliformes fecais para mobilizar osdemais atores e convencê-los a parti-cipar do Projeto Microbacias. A partirdesses artefatos citados anteriormen-te (coliformes fecais, moscas,borrachudos, erosão, dentre outros) aEpagri construiu a rede em torno doProjeto Microbacias, mobilizando osdemais atores.

Uma rede é sempre um conjuntode relações entre pontos ou “nós” quemantêm a cada momento uma inde-pendência relativa, ainda que ressal-te sempre, e ao mesmo tempo, umaforça que resulta do conjunto. Existeuma longa tradição de análise de re-des nas ciências sociais e usa-se otermo para designar relações entreatores em forma de redes sociais (4).

Em outras ciências, as redes po-dem ser não-sociais, como redes detelecomunicações, estradas e outras.Estas são as redes técnicas. Nessasredes técnicas a cadeia de componen-tes “não-humanos” está ligada a unspoucos humanos. Assim, diversosautores (2, 3, 4 e 5) propõem umaanálise de redes como “híbridos” des-sas duas formas de redes, compostaspor materiais heterogêneos, forma-dos por humanos e não-humanos -discursos, objetos técnicos, textos edinheiro. A palavra rede é usada parachamar a atenção para os recursosque são concentrados em alguns luga-res, chamados, neste caso, de nodos, eque são ligados a outros - os elos. Anoção de rede, portanto, incorpora aidéia de poder.

O termo rede é usado como umconceito unificador que engloba todasas formas de relação entre os atores,

entidades e artefatos, e permite mos-trar como o natural e o social estãointerrelacionados e como o mundo éfeito e refeito. Para entender esteprocesso, deve-se olhar como as rela-ções entre os atores são estabelecidase compreender como elas são mantidasatravés do tempo e do espaço. Asredes são resultados dessas duas ope-rações simultâneas. São feitas demateriais heterogêneos e os atoresnelas envolvidos as usam com o obje-tivo de controlar e envolver os demaisatores. Esses materiais heterogê-neos, como tecnologia, textos, entida-des naturais, além dos próprios hu-manos, seriam a “cola” que liga osatores nestas redes.

O objetivo da análise de redes éseguir a sua construção, com o propó-sito de mostrar como elas são feitas,bem como o alcance dos seus efeitos.Para tal deve-se “seguir os atores”para observar como eles constroem osseus mundos, usando todos os materi-ais ao seu alcance, a fim de fazer arede crescer e adquirir estabilidade.

O Projeto MicrobaciasHidrográficas/Bird comouma rede sociotécnica

Um projeto como o de microbaciashidrográficas é científico, político, eco-nômico e social, e não é possível dis-tinguir um do outro. Ou seja, o Proje-to Microbacias/Bird é construído apartir de um conjunto de elementosheterogêneos que a Epagri articula emobiliza, tornando-o possível. O Pro-jeto, para existir, precisa do emprésti-mo do Bird, mas só isso não é suficien-te. Para defendê-lo é necessário umaproposta científica que consiga resol-ver os problemas de degradação domeio ambiente e não seja contestadapelos demais atores que deseja envol-ver, como a unidade de planejamentoe intervenção mais eficiente: amicrobacia hidrográfica.

Para mobilizar tais atores que de-vem fazer parte desse Projeto, a Epa-gri precisou mostrar por que aconte-cem as enchentes que afligem boaparte da população do Estado e suarelação com a degradação dos recur-sos naturais. Qual é o ciclo biológico

Page 18: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 17

SociologiaSociologiaSociologiaSociologiaSociologia

do mosquito borrachudo, que infernizaa vida de milhares de agricultorescom suas picadas dolorosas, e qual asua relação com a poluição dos riospor dejetos de suínos e a erosão dosolo. Mostrou qual a relação dodesmatamento com o aumento davelocidade dos ventos. Detectou a pre-sença de coliformes fecais nas nascen-tes das águas consumidas pelos agri-cultores e mostrou como se dá a con-taminação do lençol freático e dos riospor dejetos de suínos. Chamou a aten-ção da sociedade sobre o problema daescassez da água e relacionou-o comas características peculiares dos solosde Santa Catarina, em sua maior par-te originários de derrames basálticos,e mostrou que devido a isso devem sermanejados de forma diferente paraque aumentem a infiltração da água,o armazenamento e a sua disponibili-dade no solo.

Por meio desses artefatos, a Epa-gri mobilizou todos os atores envolvi-dos pelo Projeto Microbacias e mos-trou quais os interesses que podemlevá-los a fazer parte dessa rede: oBanco Mundial sofrendo pressões dacomunidade internacional para inves-tir em projetos de proteção ao meioambiente, os técnicos da Epagri que,com a crise do sistema de extensãorural tradicional, precisavam encon-trar formas mais eficientes para suaatuação, recursos financeiros paracontinuar existindo e se legitimarperante a sociedade. As agroindústriasda carne resolveriam os problemas depoluição por dejetos, causados na pro-dução de sua matéria-prima, e passa-riam a contar com a simpatia dosconsumidores preocupados com ques-tões ambientais. As cooperativas pas-sariam a ter uma proposta de assis-tência para garantir a preservação dabase produtiva de seus associados. Asprefeituras poderiam, por meio doProjeto, auxiliar a viabilização da ativi-dade agrícola e garantir a assistênciatécnica aos agricultores, que com amunicipalização da agricultura tive-ram de assumi-la em sua maior parte,além de receber obras em trechos deestradas municipais. E, por fim, osagricultores que receberiam assistên-cia técnica gratuita para a reorganiza-

ção de sua propriedade, além de in-centivos financeiros para a execuçãode tais práticas conservacionistas. AEpagri trabalhou no sentido de mos-trar que esses objetivos seriam atingi-dos se tais atores aderissem ao Proje-to.

Outro conceito fundamental paraa operacionalização da metodologiadas redes sociotécnicas, para compre-ender-se como ocorre o envolvimentodos demais atores, é o conceito detradução. Tradução é uma metáforaque neste contexto significa traduçãode interesses de atores em relação aoutros. Permite analisar a ação dosatores e explicar os pontos de vistaconflituosos envolvidos nas negocia-ções da configuração da rede. Esseconceito permite descrever mais comoa sociedade é construída do que comoé em essência.

Os atores se unem em função dosinteresses coincidentes e a traduçãoacontece quando um ator em umadeterminada situação traduz o inte-resse dos demais através da produçãode novas interpretações e consegueconvencê-los de sua visão, envolven-do-os, assim, na construção de suarede (4). No caso do ProjetoMicrobacias a Epagri procurou con-vencer os atores de que deseja mobi-lizar e incorporar a rede em torno doProjeto Microbacias, identificando osinteresses que poderiam levá-los aparticipar do mesmo. A rede é tantomais forte quanto mais perfeita for atradução de interesses dos diversosatores componentes da mesma (4).

Para o entendimento das redes,deve-se identificar quais são as associ-ações que são feitas e estabilizadas.Para tanto, é necessário estudar osmundos construídos pelos atores, oselementos que os compõem, em rela-ção aos quais os atores impõem defini-ções e uniões sobre os outros.

Considerações finais

O enfoque das redes sociotécnicas,aplicado ao Projeto de MicrobaciasHidrográficas, permitiu captar aheterogeneidade do conjunto de ato-res que tem uma convergência pon-tual em torno de uma questão especí-

fica, como, por exemplo, uma deter-minada tecnologia de manejo de soloou de controle de poluição e, a partirdisso, como se deram as negociaçõesentre esses atores para adotar ou nãoessa tecnologia. Ao final desse proces-so de negociação, o resultado pode serbem diferente do que foi propostoinicialmente.

A discussão em torno de redesmostrou-se importante, pois permiteanalisar questões ligadas a mobiliza-ções sociais, evitando limitações deanálises a questões de interesses declasse ou de grupos sociais. Sobretu-do, permite captar movimentos hete-rogêneos e as oscilações no grau decoesão destes. Principalmente paraanalisar projetos como o demicrobacias hidrográficas, pois, nestecaso, não se trata apenas de movi-mentos sociais específicos, mas demovimentos que são fortemente in-fluenciados por fatores aparentemen-te técnicos e neutros, tendo-se a im-pressão de que os atores estão respon-dendo simplesmente à evolução doconhecimento científico.

O desenvolvimento do conheci-mento científico e dos sistemas técni-cos não pode ser entendido, a não sercom a reconstrução simultânea docontexto social, do qual ele faz parte.Neste sentido, a teoria das redessociotécnicas, que pretendem inte-grar o mundo das técnicas e o mundodos agentes, é uma ferramenta degrande valia, por incorporar estes ele-mentos em sua análise.

O diagnóstico dos problemas ru-rais tende a ser apresentado simples-mente como matéria da ciência obje-tiva, mas em muitos conflitosambientais existe confusão e disputaentre cientistas a respeito da nature-za, das causas e da extensão do proble-ma (5). Além disso, o que é relevanteem relação a incidentes causados pelapoluição ou um padrão de qualidade éo julgamento social. Entender comotais julgamentos surgem de constru-ções contestáveis aponta para umaanálise sociológica. Esta abordagem éparticularmente adequada para tra-tar de assuntos relativos às questõesambientais que envolvem a agricultu-ra, porque há complexas e hetero-

#

Page 19: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

18 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

SociologiaSociologiaSociologiaSociologiaSociologia

gêneas relações sociais em torno daprodução agrícola e o meio ambienterural.

O uso da metodologia de redessociotécnicas permitiu perceber agrande heterogeneidade de relaçõesexistentes num projeto como o demicrobacias, e possibilitou ver comoos vários atores usaram esses artefa-tos para mobilizar os demais e cons-truir seus mundos. A metodologia dasredes torna possível entender comose dão os conflitos, as negociações, ageração de alianças, as mobilizações eos recursos, envolvendo atores, tec-nologias e processos ambientais.

O princípio metodológico de “se-guir os atores” possibilitou compreen-der como a rede é construída e asdiversas clivagens que ocorrem a par-tir da interface entre esses atores,onde o social, o econômico, o natural,o político e o cultural vêm misturadose são interdependentes, não sendopossível separar um do outro. Esteenfoque permitiu discriminar todosos atores e possibilitou perceber osinteresses próprios de cada ator en-volvido no Projeto Microbacias e comoesses interesses convergiram apenasparcialmente. Os atores não se con-fundem com o Projeto e ao agir man-têm sua identidade. Assim, em vez deter um projeto, o que se tem realmen-te é uma frágil consolidação de atoresque têm interesses diferentes e quese envolvem em graus diferenciados.

A noção de tradução permitiu ob-servar como os atores vêem de dife-rentes formas o Projeto Microbacias esuas propostas para resolver os pro-blemas a que se propõem. O consensosobre determinada tecnologia ou prá-tica agrícola é resultado de um pro-cesso de negociação entre os atoresque inicialmente têm visões diversassobre o problema. Em torno de pro-postas, aparentemente apenas técni-cas, como planejamento da proprieda-de, conservação do solo, manejo dedejetos orgânicos, reflorestamento,uso de agrotóxico, retificação de es-tradas, só para citar alguns exemplos,ocorreu um complexo processo denegociação. Ao final pode alterar-se aforma dos atores envolvidos seposicionar frente a tal prática. Isto

depende de como o ator, que quertraduzir os demais, utiliza tais artefa-tos para mobilizá-los e incorporá-los asua rede.

A noção de redes sociotécnicas pos-sibilitou compreender como a Epagriassociou entidades heterogêneas,como poluição, coliformes fecais, se-cas, erosão, dentre outras, com atoressociais como agroindústrias, BancoMundial, agricultores, prefeituras,técnicos, governo e suas agências,cientistas, dentre outros. Esta noçãopermitiu observar como estes artefa-tos são usados pela Epagri para mobi-lizar os demais atores, construindo omundo do Projeto através deste “mix”de elementos. Não é possível enten-der um projeto desta natureza se fo-rem dissociados os elementos técni-cos dos sociais, políticos e ambientais.

Assim, um projeto que, à pri-meira vista é eminentemente técni-co, como é o caso do ProjetoMicrobacias, e que concentrou seusesforços em questões conserva-cionistas, acabou por trazer à tonauma série de outros aspectos, nãopossíveis de serem imaginados, antesde começar a ser executado. A cons-trução de uma rede para sua implan-tação colocou face a face uma diversi-dade de atores que até então nãohaviam interagido, ou pelo menos nãoneste nível. As interfaces que ocorre-ram a partir da formação desta redecriaram uma mobilização que possibi-litou ir além das questões que a prin-cípio o Projeto se propunha a tratar,lançando as bases para um outro pata-mar de discussão, onde preocupações

mais amplas, como a discussão dasustentabilidade, começaram a emer-gir.

Literatura citada

1. DORIGON, C. Microbacias como redessócio-técnicas. Uma abordagem a par-tir do enfoque do ator-rede. Rio deJaneiro: UFRRJ, 1997. 233p. (Tese deMestrado).

2. CALLON, M.; LAW, J.; RIP, A. Putting textsin their place. In: Mapping the dynamicsof science and technology: sociology ofscience in the real world. London:Macmillan Prees, 1986. p.221-231.

3. LATOUR, B. Jamais fomos modernos. Riode Janeiro: Editora 34, 1994. 147p.

4. MURDOCH, J. Weaving the seamless web:a consideration of network analysisand its potential application to the studyof the rural econnomy. Newcastle:University of Newcastle Upon Tyne,1994. 27p.

5. LOWE, P.; CLARK, J.; SEYMOUR, S.;WARD, N. Officials, advisors andfarmers: the local construction ofagricultural pollution and itsregulation. Part IV: on the interfacebetween policy and development.Newcastle: University of NewcastleUpon Tyne/Centre for Rural Economy,1994. p.369-385.

6. BERGER e LUCKMAN. A construção so-cial da realidade. Petrópolis: Vozes,1990. 247p.

Clovis Dorigon, eng. agr., M.Sc., Cart. Prof.7.293-D, Crea-SC, Epagri/Centro de Pesqui-sa para Pequenas Propriedades, C.P. 791,Fone (049) 723-4877, Fax (049) 723-0600,89801-970 Chapecó, SC. E-mail:[email protected].

Seu anúncio na revista

Agropecuária Catarinense atinge as

principais lideranças agrícolas do

Sul do Brasil.

Anuncie aqui e faça bons negócios.

o

Page 20: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 19

Maçã: nova cultivarMaçã: nova cultivarMaçã: nova cultivarMaçã: nova cultivarMaçã: nova cultivar

Duquesa: nova cultivar de macieira de baixaDuquesa: nova cultivar de macieira de baixaDuquesa: nova cultivar de macieira de baixaDuquesa: nova cultivar de macieira de baixaDuquesa: nova cultivar de macieira de baixaexigência em frio hibernal e altaexigência em frio hibernal e altaexigência em frio hibernal e altaexigência em frio hibernal e altaexigência em frio hibernal e alta

resistência à sarnaresistência à sarnaresistência à sarnaresistência à sarnaresistência à sarna

Frederico Denardi e Anísio Pedro Camilo

falta de adaptação climática dasatuais cultivares de macieira

Gala, Fuji e Golden Delicious e suaspolinizadoras é um dos fatores maislimitantes para a qualidade da maçãem altitudes inferiores a 1.200m (1).Estas cultivares, via de regra, reque-rem pelo menos 800 horas de frio emtorno de 7,2oC para brotar, florescer eproduzir satisfatoriamente. Com ex-ceção das altitudes acima de 1.200mno Sul do Brasil, a quantidade de friohibernal raramente ultrapassa as 700horas (2). Por outro lado, as chuvasfreqüentes e as altas temperaturasaliadas à elevada suscetibilidade àsdoenças das atuais cultivares elevamsubstancialmente os custos de produ-ção da maçã no Brasil (3).

Existem nesta região alguns im-portantes pólos produtores de frutasde caroço, principalmente pêssego eameixa. O grande volume de plantiodestas frutíferas nos últimos anosprovocou saturamento da oferta defrutas de caroço, com a conseqüentequeda dos preços médios. Neste con-texto, cultivares de macieira de baixaexigência em frio e maturação preco-ce são mais uma importante alterna-tiva para comercialização antes dacolheita dos frutos da cultivar Gala.Assim a cultivar Duquesa busca pre-encher esta lacuna: requer em tornode 450 horas de frio hibernal, tem altaresistência à sarna (Venturiainaequalis), principal doença da maci-

eira, é altamente produtiva e os frutosamadurecem antes da colheita dosfrutos da cultivar Gala, permitindoampliar o período de comercializaçãodas maçãs catarinenses.

Origem da cultivar demacieira Duquesa

A ‘Duquesa’ é produto de cruza-mento realizado na Universidade deCornell – EUA, em 1977, entre acultivar israelense Anna (mãe), por-tadora de baixa exigência em friohibernal (< 250h), e a seleção ameri-cana D1R100T147 (pai), portadora dealta resistência à sarna. As sementesforam introduzidas em Santa Catari-na no final daquele ano. Em 1984 foiselecionada a M-44 (inicialmente Malus44) pela sua produtividade, baixa exi-gência em frio hibernal, alta resistên-cia à sarna. Testes conduzidos naEstação Experimental de Caçador/Epagri, e na Estação ExperimentalAgronômica de Eldorado do Sul –UFRGS, RS, mostraram bom desem-penho desta nova cultivar em produti-vidade, adaptação climática em cli-mas de invernos amenos e, ainda,resistência à sarna. Isto motivou seulançamento como nova cultivar sob adenominação de Duquesa.

Características da planta

Na Tabela 1 são confrontadas as

principais características agronômi-cas e fenológicas das cultivares demacieira Duquesa, EPAGRI 408-Con-dessa e Gala.

As plantas da ‘Duquesa’ são vigoro-sas, com lançamentos longos,verticalizados, requerendo arquea-mento próximo de 90o para controlaro crescimento vegetativo e estimulara frutificação. Paralelamente a estacaracterística, a frutificação ocorrebem mais precocemente que em ou-tras cultivares vigorosas, como naFuji e na Melrose. Frutifica, princi-palmente, em esporões e lamburdasformados ao longo dos ramos de doisou mais anos de idade e em brindilasde crescimento do ano. Apresenta co-pa do tipo III, à semelhança da culti-var Golden Delicious, com a floraçãoe a frutificação bem distribuídas nasuperfície da copa (Figuras 1 e 2).Responde bem à poda de renovação docrescimento vegetativo, mesmo emramos com mais de dois anos de idade.

A cultivar Duquesa é muito produ-tiva. Em condições climáticas de 300horas de frio hibernal menor ou iguala 7,2oC, cultivada na densidade de 800plantas/ha sobre o porta-enxerto MM-106, produziu 46kg/planta (4).

Além de requerer baixa quantida-de de frio hibernal, tem alta resistên-cia à sarna, caracterizada como resis-tência monogênica e controlada pelogene Vf, procedente da espécie silves-tre Malus floribunda 821.

AAAAA

#

Page 21: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

20 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

Maçã: nova cultivarMaçã: nova cultivarMaçã: nova cultivarMaçã: nova cultivarMaçã: nova cultivar

Característicasdos frutos

Na Tabela 2 são con-frontadas as principaiscaracterísticas dos fru-tos das cultivares Du-quesa, EPAGRI 408-Con-dessa e Gala.

Os frutos apresen-tam formato arredonda-do-oblongo até arredon-dado (Figura 3). Amadu-recem entre as colhei-tas das cultivares Con-dessa e Gala. Têmepiderme vermelho-es-carlate, sobre fundo ama-relo-esverdeado, poden-do desenvolver estriasleves. Raramente produ-zem “russeting”, geral-mente restrito à cavida-de peduncular. Entre-tanto, poderão desenvol-ver “bitter pit”. Em anosmuito chuvosos poderãodesenvolver pingo demel e podridão amarga(Glomerella cingulatta)nos frutos e/ou mancha

Tabela 1 – Características agronômicas e fenológicas das cultivares de macieira Duquesa, EPAGRI 408-Condessa e Gala, obtidas sobre o porta-enxerto M-7

CultivarIndicativo

Duquesa EPAGRI 408-Condessa Gala

Característica da plantaPorte da copa Vigoroso Semi-anão SemivigorosoHábito vegetativo Fechado Aberto Semi-abertoExigência em frio(A) Baixa (400 a 450h) Baixa (400 a 450h) Alta (> 800h)Precocidade em frutificar Alta (2o ano) Muito alta (1o ano) Média (3o ano)

Resistência a doençasSarna Alta Média Muito baixaOídio Média Média BaixaPodridão amarga Média a baixa Média a baixa BaixaMancha de glomerela Baixa Baixa Baixa

Dados fenológicosBrotação – início 01/09 (20/08)(B) 01/09 25/09Floração Início 05/09 (25/08) 05/09 28/09 Plena 15/09 (10/09) 15/09 07/10 Final 25/09 (20/09) 25/09 25/10

Maturação dos frutos Início 20/01 (25/12) 05/01 28/01 Final 05/02 (10/01) 15/01 15/02

Produtividade(C) Muito alta Muito alta Alta

(A) Dados obtidos na Estação Experimental de Caçador/Epagri, SC, e na Estação Experimental Agronômicade Eldorado do Sul – UFRGS, RS, no período de agosto de 1992 a janeiro de 1996.

(B) Entre parênteses, datas de floração e de maturação na Estação Experimental Agronômica de Eldoradodo Sul – UFRGS, RS, sobre o porta-enxerto MM-106, onde ocorrem 300 a 350 horas de frio hibernal menorou igual a 7,2oC.

(C) Requer raleio criterioso dos frutos, sob pena de alterar a produção.

de glomerela (Colletotrichumgloeosporioides) nas folhas.

O sabor é apenas razoável quandocomparado ao dos frutos da cultivarEPAGRI 408-Condessa. Em virtudedo seu bom índice de floração e daboa coincidência com a floração da‘EPAGRI 408-Condessa’, a cultivar Du-quesa poderá ser utilizada comopolinizadora desta.

Porta-enxertos

A cultivar Duquesa poderá serempregada tanto como produtora co-mercial quanto para polinizar a culti-var EPAGRI 408-Condessa. Entretan-to, tende a produzir frutos pequenospara consumo in natura e tem portevigoroso. Por estas razões, recomen-da-se enxertá-la sobre porta-enxertosanões, como o M-9 ou o M-26, sobre osquais terá menor porte e frutos demelhor calibre.

Figura 1 – Planta da cultivar demacieira Duquesa em plena floração

Figura 2 – Planta da cultivar demacieira Duquesa em plena produ-

ção e com os frutos maduros

Page 22: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 21

Maçã: nova cultivarMaçã: nova cultivarMaçã: nova cultivarMaçã: nova cultivarMaçã: nova cultivar

Tabela 2 – Características dos frutos das cultivares de macieira Duquesa, EPAGRI 408-Condessa eGala obtidos de plantas enxertadas sobre os porta-enxertos M-7 e MM-106 nas Estações Experimentais

de Caçador – Epagri e Eldorado do Sul – UFRGS, RS

CultivarCaracterística dos frutos

Duquesa EPAGRI 408-Condessa Gala

Cor da epiderme Vermelho-escarlate Vermelho-escarlate Vermelho-escarlatecom estrias com estrias

Cor do fundo Amarelo-esverdeada Amarela AmarelaCor da polpa Branco-creme Branco-creme Branco-cremeFormato predominante Arredondado-oblongo Arredondado-oblongo ArredondadoPeso médio (g) 110 a 120 110 a 120 115 a 130Pedúnculo Curto a médio Médio a longo MédioSólidos Solúveis Totais (SST %) 12,0 a 12,5 12,5 a 13,0 12,0 a 12,5Acidez titulável (AT) 6,5 a 7,0 4,0 a 4,5 6,0 a 6,5Relação ‘SST/AT’ 1,7 a 1,9 2,8 a 3,3 1,8 a 2,0Firmeza da polpa (lb/cm2)

(A)15,0 a 16,0 15,0 a 16,0 18,0 a 18,5

Conservação(B) Até 10 dias Até 14 dias Até 14 dias“Russeting” Pouco Ausente Pouco“Bitter pit” Médio Médio AusentePingo de mel Médio(C) Médio Pouco

(A) Valores obtidos a partir de frutos maduros e recém-colhidos.(B) Em temperatura ambiente.(C) Em anos muito úmidos, poderá apresentar níveis altos.

Agradecimentos

Os autores querem expressar es-pecial agradecimento ao Dr. GilmarArduino Bettio Marodin, professor de

Figura 3 – Frutos da cultivar de macieira Duquesa

fruticultura temperada na Faculdadede Agronomia, Universidade Federaldo Rio Grande do Sul – UFRGS, RS,pela valiosa colaboração nos testes depomologia da nova cultivar de maciei-

ra Duquesa na Estação Experimen-tal Agronômica de Eldorado do Sul –UFRGS, RS.

Literatura citada

1. PETRI, J.L.; PALLADINI, L.A.;SCHUCK, E.; DUCROQUET,J.P.E.J.; MATOS, C.S.; POLA, A.C.Dormência e indução da brotação defruteiras de clima temperado. Flori-anópolis: EPAGRI, 1996. 110p.(EPAGRI. Boletim Técnico, 75).

2. EMPASC/EMATER-SC/ACARESC.Sistemas de produção para a culturada macieira; Santa Catarina. 3.rev.Florianópolis: 1991. 71p.(EMPASC/ACARESC. Sistemasde Produção, 19).

3. BERTON, O.; MELZER, R. Sistema dealerta para o controleda sarna da macieira.F l o r i a n ó p o l i s :EMPASC, 1989. 75p.

4. MARODIN, G.A.; ILHA,L.L.H. Avaliação daprodução de 13 sele-ções e cultivares demacieiras por 3 anosna depressão centraldo Rio Grande do Sul.In: CONGRESSOBRASILEIRO DEFRUTICULTURA,12., 1993, Porto Ale-gre, RS. Resumos.Porto Alegre: SBF,1994. v.2. p.639-640.

Frederico Denardi, eng.agr., M.Sc., Cart. Prof. 3.182-D, Crea-SC, Epagri/EstaçãoExperimetnal de Caçador,C.P. 591, Fone (049) 663-

0211, Fax (049) 663-3211, 89500-000Caçador, SC e Anísio Pedro Camilo, eng.agr., Ph.D., Cart. Prof. 2.532-D, Crea-SC,Epagri/Embrapa/Estação Experimentalde Caçador, C.P. 591, Fone (049) 663-0211, Fax (049) 663-3211, 89500-000Caçador, SC.

o

Page 23: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

22 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

O estudo da cadeia produtiva como premissaO estudo da cadeia produtiva como premissaO estudo da cadeia produtiva como premissaO estudo da cadeia produtiva como premissaO estudo da cadeia produtiva como premissapara o desenvolvimento regionalpara o desenvolvimento regionalpara o desenvolvimento regionalpara o desenvolvimento regionalpara o desenvolvimento regional

Jorge Bleicher

desenvolvimento econômico éacompanhado pela melhoria do

padrão de vida da população e poralterações fundamentais na estrutu-ra de sua economia. Os estudos dedesenvolvimento econômico partiramda constatação da profunda desigual-dade, de um lado, entre os países quese industrializaram e atingiram ele-vados níveis de bem-estar material,compartilhados por amplas camadasda população, e de outro, aqueles quenão se industrializaram e por issopermanecem em situação de pobrezae com acentuados desníveis sociais(1). O desenvolvimento é sempre umprocesso dinâmico, caracterizado nasregiões pelos setores de ponta, con-trastando com regiões de atraso rela-tivo.

O desenvolvimento depende denovas combinações ou métodos dife-rentes de emprego do capital humano- investe-se em educação do capitalhumano - e da tecnologia (boa parte docrescimento econômico é explicadopela tecnologia). Estas novas combi-nações podem se dar pela introduçãode uma nova cultura, de um novométodo de produção (tecnologia), aber-tura de novos mercados ou nichos demercado, redução de custos numafonte de insumos ou sua substituiçãopor outro insumo mais barato e eficaze pela agregação de valor na produçãode um determinado produto.

Uma das possibilidades de se iden-tificarem novas combinações favorá-veis ao desenvolvimento de uma zonaagroecológica é o planejamento

normativo desta região. O planeja-mento normativo preocupa-se com osestados futuros desejados. A dimen-são normativa trata de situações como:onde nós devemos ou onde queremosir? A premissa é a de que podemoscriar um futuro desejável, ou pelomenos influenciar o futuro a favor devalores desejáveis. A finalidade doplanejamento normativo é especificaro futuro desejado do negócio agrícolana zona agroecológica.

O planejamento normativo de umazona agroecológica depende de umabase de informações bastante amplaque se encontra no zoneamentoagroecológico, no estudo das cadeiasprodutivas, na identificação dos siste-mas produtivos de uma região e nocenário do negócio agrícola.

O negócio agrícola está voltadopara a compreensão da dinâmica exis-tente entre os sistemas do ambienteexterno à cadeia de produção de umdeterminado produto. Assim, pode-sedizer que o negócio agrícola é usadopara descrever a integração e a inter-dependência entre o setor produtivo,o mundo dos negócios, o governo e aciência e tecnologia. Os indicadoresdas cadeias produtivas são os elemen-tos do núcleo do negócio agrícola.

A construção de cenários dos negó-cios agrícolas aprimora o processo dedecisão e capacita as organizações alidar com a incerteza do futuro, consi-derando explicitamente situações fu-turas, diferente das tendências histó-ricas que prevaleceram no passado(2).

Zoneamento agroecológico

O objetivo do zoneamentoagroecológico e socioeconômico é o deidentificar as unidades relativamentehomogêneas sob o ponto de vista físi-co (clima, solo, geologia, etc.) biológi-co (vegetação) e socioeconômico (pre-sença do homem e suas atividades)além da avaliação destas unidadescom relação à sustentabilidade parausos específicos, numa região ou numEstado.

O Zoneamento agroecológico doEstado de Santa Catarina (Figura 1)foi elaborado a partir dos mapas cli-máticos e de informações de vegeta-ção nativa original. Cada áreaidentificada pressupõe um diferentepotencial edafoclimático. Para facili-tar a utilização deste trabalho foi feitauma descrição do potencial de aptidãode uso das terras para cada região/sub-região climática. As áreas das re-giões/sub-regiões climáticas foramplotadas pelo Sistema Geográfico deInformações - GIS e as de aptidão deuso das terras em cada região/sub--região climática, por grade de pon-tos. Posteriormente foram feitos osajustes proporcionais para se atingira área oficial de 95.985km2 do Estado.Como áreas urbanas foram incluídasapenas as maiores; como áreas deáguas foram consideradas as maioreslagoas, e como áreas de preservação,as reservas federais, estaduais e algu-mas municipais, protegidas por lei(3).

Assim, cada zona agroecológica é

OOOOO

Desenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento rural

Page 24: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 23

Desenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento rural

uma área com certa homogenei-dade caracterizando uma unidade am-biental. Esta unidade ambiental é aunidade básica de trabalho. Estasunidades servem como a primeirasubdivisão do espaço agrícola, consi-derado o instrumento básico para ainserção dos componentes socioeco-nômicos. As cadeias produtivas e sis-temas produtivos completam o triân-

gulo ecológico (Figura 2). A análisecriteriosa da realidade agrícola emcada zona agroecológica permitirá oplanejamento do seu desenvolvimen-to.

O zoneamento agroecológico tema característica de ser determinísticoquando se faz a inferência das espé-cies em relação à aptidão edafoclimá-tica. É o instrumento que permite a

primeira seleção das espécies maisaptas àquele ambiente. Além disso, ozoneamento permite o planejamentoracional e a sustentabilidade dosecossistemas, a preservação de áreasricas em termos de diversidade daflora e fauna e o diagnóstico da ques-tão florestal do Estado em termos detipificação climática e potencial futu-ro.

Cadeias produtivas

Uma cadeia produtiva pode serrepresentada por uma corrente ou fio(“filiére”, em francês), cujo elo inicialé o produtor e o final é o setor decomercialização nos diferentes mer-cados. Os agentes econômicos queconstituem os elos da corrente podemestar articulados em torno de umproduto ou dispersos, de acordo com onível de estruturação da cadeia (Figu-ras 3 e 4).

A estrutura e o nível de articulaçãointerna da cadeia representa um fatorde competitividade. Nas cadeiasestruturadas (Figura 3), as relaçõescomerciais entre os elos, ou agenteseconômicos, são extremamente for-tes e a coordenação e o poder econô-mico são facilmente reconhecíveis.Uma cadeia desestruturada (Figura4) e sem articulação interna é aquelaque mantém uma fraca integraçãoentre seus elos, tornando-se extre-mamente sensível às ameaças domercado.

Portanto, as ameaças vindas domercado consumidor influenciam acapacidade de sobrevivência das ca-deias a médio e longo prazos, ou, nomínimo, sinalizam a necessidade deeventuais mudanças estruturais e/oude articulação, introdução de novastecnologias e/ou reorganizaçãotecnológica.

As sucessivas etapas que seinterrelacionam desde o produtor,passando pelo beneficiamento, pelaindustrialização, distribuição até acomercialização, representam a ca-deia produtiva segundo o seu conceitooriginal. Entretanto, para que umacadeia esteja estruturada e seja com-petitiva ela necessita de agentes eco-nômicos auxiliares, como produtores

Figura 1 – Zonas agroecológicas de Santa Catarina

Figura 2 – Componentes básicos para o planejamento normativo da zonaagroecológica

Zoneamento agroclimáticoe socioeconômico

Cenáriosdo

negócioagrícola

Cadeiasprodutivas

Sistemasprodutivos

#

Page 25: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

24 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

Desenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento rural

de sementes e mudas, indústria detratores e colhedeiras, fábricas de fer-tilizantes, defensivos e herbicidas,indústria de embalagens e refrigera-ção, entre outros. Portanto, no estudodas cadeias produtivas é necessáriolevar em consideração estes elos ouagentes econômicos auxiliares.

Nos países com fortes barreirasalfandegárias, inclusive para o setoragrícola, havia pouco interesse nosestudos das cadeias produtivas, poisatrás das tarifas escondia-se a inefi-ciência produtiva, muitas vezes regadaa abundantes subsídios. Com aglobalização da economia, aberturado mercado agrícola, queda das tarifasalfandegárias e corte de subsídios, asobrevivência de uma cadeia produti-va ficou dependente da produtividade,da qualidade e da redução de custosem toda a corrente.

Este argumento é facilmente com-provado quando se observam produ-tos importados e nacionais nas prate-leiras dos supermercados – o consu-midor compara e considera que a que-da de preços das mercadorias produzi-das internamente não acontece nonível desejado e a qualidade muitasvezes deixa a desejar. O que ocorrepelo não-emprego total da tecnologiadisponível e conseqüentemente o não--alcance da produtividade potencial-mente desejável.

O Instituto Cepa de Santa Catari-na, estudando o cenário agrícola parao início do século XXI, concluiu que,em função da integração regional,particularmente o Mercosul, SantaCatarina tem o seu mercado ampliadopara os próximos anos para o fumo,suínos, aves, banana e mandioca esofre concorrência mais acentuadaem cebola, alho, uva/vinho, bovinos,lácteos e erva-mate. Sobre estes últi-mos pairam as ameaças do mercadolivre.

As ameaças para a cadeia produti-va têm suas origens no mercado. Oconhecimento do mercado é prioritárioquando internamente ele é exporta-

dor, isto é, a oferta supera a demandainterna. Caso contrário, se for impor-tador, a prioridade é a competitividadeda mercadoria produzida interna-mente, e, neste caso, geralmente asolução passa pela tecnologia. Osaldo comercial em nível estadual ouregional é que dará as primeirasindicações da possibilidade de sobrevi-vência da cadeia a médio e longoprazos. Um produto que não temmercado causará a miséria daquelesque o produzem. Se o saldo entre aoferta e a demanda for negativo, éimportante a análise da compe-titividade potencial, do produtointerno com o produto importado,para verificar a viabilidade de sebuscar a auto-suficiência. Quando aprodução interna for superior à de-manda interna, pressupõe-se a buscade mercados externos em nível nacio-nal e internacional. Somente após aidentificação e quantificação do mer-

cado externo passa-se para o estudoda competitividade1 do produto emrelação a outros Estados e países e,naturalmente, em relação ao país im-portador, se for o caso.

É o mercado aberto, concorrente,que demanda cadeias produtivasestruturadas. Estas cadeias atendemaos anseios do consumidor, ofertando--lhe um produto diferenciado, de me-lhor qualidade e mais barato, e tam-bém dos agentes econômicos, diminu-indo o grau de exposição ao risco delivre mercado.

Vê-se que o estudo de cadeiasexplicita a necessidade de conheci-mentos e tecnologias visando reduziro impacto das limitações nos seus elose/ou a melhoria de sua qualidade eeficiência produtiva em benefício doprodutor rural, consumidor e demaisagentes econômicos.

Também observa-se que a cadeiaestruturada e articulada tem a capaci-

1. Índice de competitividade: é o custo do produto para o consumidor dividido pelo custo para o varejista x produtividade por hectare, ou lucrobruto ao longo da cadeia produtiva/custos ao longo da cadeia x produtividade por hectare. Competitividade é o valor bruto alcançado pelo produtono final da cadeia produtiva dividido pelo custo do produto alcançado no final da cadeia produtiva. Por exemplo: o produto de Santa Catarinacolocado no porto do país importador (como a Argentina) deverá ter um preço menor para o atacadista argentino do que o do produto colocadopelo Equador e a mesma qualidade.

Figura 3 – Cadeias articuladas e estruturadas

Publicidadee/ou propaganda

Vendas: atacadoe/ou varejo

Consumidor

Processamentoe/ou beneficiamento

Comercializaçãoin natura

Transporte edistribuição

Sistemasprodutivos

Produção efornecimento de

insumos

Page 26: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 25

Desenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento rural

Comercializaçãoin natura

Consumidor

Transporte edistribuição

Vendas: atacadoe/ou varejo

Processamentoe/ou beneficiamento

Publicidadee/ou propaganda

Sistemas produtivos

Produção efornecimento de

insumos

Figura 4 – Cadeias desarticuladas, não-estruturadas

dade de influenciar as tomadas dedecisões nos centros de pesquisa edesenvolvimento, priorizando a gera-ção de tecnologias para a cadeia de umdeterminado produto. Os resultadosprevistos na estruturação de uma ca-deia são a minimização dos custos deprodução e a redução dos custos detransação entre as diversas etapas deum processo produtivo, o que é tradu-zido por competitividade. Aestruturação de uma cadeia produti-va é sinônimo de desenvolvimentoeconômico de uma região, redução doêxodo rural e uma melhor qualidadede vida para a família rural.

Os sistemas produtivos

Os sistemas produtivos são umdos elos mais importantes das cadeiasprodutivas. Um sistema produtivo éum conjunto de componentes que fun-ciona como uma unidade de produçãodentro de uma zona agroecológica.Em geral se pode definir um sistemaprodutivo como uma unidade com umasuperfície móvel, controlada por umindivíduo, ou um grupo de indivíduos,que tem um propósito agrícola.

Os objetivos principais do estudodos sistemas produtivos são o de clas-

sificar dentro de uma zonaagroecológica os tipos característicosde sistemas produtivos que a constitu-em e a renda destes sistemas produti-vos. A predominância de um ou váriossistemas produtivos numa determi-nada zona agroecológica evidencia umou vários públicos com um ou maismodelos de sustentabilidade. Estemosaico de públicos e modelos estáinserido dentro de uma zonaagroecológica, na qual a priorizaçãoda cadeia produtiva se faz necessáriaquando se pretende o desenvolvimen-to regional.

No gerenciamento dos sistemasprodutivos, busca-se em geralmaximizar a eficiência econômicado sistema produtivo para determi-nado cenário socioeconômico. Dessaforma, pode-se estender a definiçãode sistema produtivo como sendo“um conjunto de conhecimentos etecnologias aplicados a uma popula-ção de vegetais e animais emdeterminado meio ambiente, de utili-dade para o mercado consumidor, bus-cando atingir um dos objetivos descri-tos (3).

O grau de educação, o tamanho dapropriedade agrícola, o local de resi-dência, o acesso ao financiamento são

variáveis que, entre outras, estão re-lacionadas com a qualidade datecnologia que é adotada pelos diver-sos segmentos de produtores.

A classificação dos sistemas produ-tivos (ou seja, a sua segmentação) emfunção das característicassocioeconômicas é desejável como for-ma de determinar a taxa de adoção detecnologias. Entretanto, algumas ou-tras características do sistema produ-tivo podem ser agregadas, como arenda da operação agrícola - ROA, queé igual à renda bruta menos os custosreais. É através da ROA que serãoremunerados a mão-de-obra e o capi-tal (4).

Análise da zonaagroecológica

Uma vez tendo disponíveis as in-formações sobre o zoneamentoagroecológico, as cadeias produtivas,os sistemas produtivos e os cenáriosdo negócio agrícola, inicia-se o proces-so de análise.

A base do trabalho é a zonaagroecológica e a composição da suaprodução agropecuária. A configura-ção desse cenário envolve fundamen-talmente o ordenamento das cadeiasprodutivas, indo do maior impacto aode menor impacto, com base na des-crição qualitativa dos indicadores, queeventualmente também podem sertransformados em quantitativos pormeio de escores.

Analisando-se os impactos dos in-dicadores por atividade, descreve-se asituação projetada do negócio agrícolada zona nas condições otimizadas, istoé, solucionando todos os problemasdas cadeias ecologicamente aptas.Visualiza-se assim quais são as açõese atividades a serem desenvolvidaspara um futuro desejável.

Esta análise comparativa deve,obrigatoriamente, envolver:

• a partir do zoneamento agroe-cológico e socioeconômico da zonaagroecológica, a lista das espécies cli-maticamente preferenciais para azona agroecológica (já exploradas epotenciais);

• análise dos fatores críticos dascadeias preferenciais da zona (garga-#

Page 27: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

26 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

Desenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento ruralDesenvolvimento rural

Planejamento normativo para subsidiar adefinição do Plano de Desenvolvimento Regional

los tecnológicos, pro-blemas intra-seto-riais, restrições,mercados, competi-tividade, ameaças,pontos de germina-ção e tendências;

• informações demercado sobre espé-cies não-exploradascom adaptação climá-tica preferencial;

• a matriz de aná-lise comparativa en-tre espécies explora-das e potenciais, se-gundo os fatores crí-ticos das cadeias pro-dutivas e os estu-dos de mercado;

• seleção das ati-vidades mais pro-missoras sob o pon-to de vista econômi-co, social e ambien-tal;

• seleção deáreas para preser-vação permanente;

• descrição das di-retrizes para o de-senvolvimento re-gional baseando-sena superação dos en-traves à evolução donegócio agrícola dazona agroecológica.

Sistematicamen-te estes passos sãomostrados na Figu-ra 5.

Síntese:planejamentonormativo

A configuração do planejamentonormativo envolve fundamentalmen-te a descrição da situação projetada donegócio agrícola da zona agroecológicanas condições otimizadas, isto é, avisão de futuro para a zona agroeco-lógica (qual será o seu negócio?).

O zoneamento agroecológico e apriorização das cadeias produtivas são,neste sentido, os melhores indicado-res de quais as linhas de atividades

mais promissoras, de tal modo que oprodutor possa adequar o seu sistemaprodutivo a uma nova realidade doambiente externo, levando em contaprincipalmente o seu ambiente inter-no.

Literatura citada

1. SANDRONI, P. Dicionário de economia e admi-nistração. São Paulo: Nova Cultura, 1996.p.115.

2. EPAGRI. Zoneamento agroecológico e

Zoneamento agroecológico

socioeconômico de Santa Catarina. Flo-rianópolis, 1998 (no prelo)

3. EMBRAPA/SSE. Construção de cenários donegócio agrícola estadual - manual deorientação. Brasília, 1995. 56p.

4. EPAGRI. Manual de referências de administra-ção rural 1993/94 e 1994/95 – vol.1:desempenho técnico e econô-mico de pro-priedades agrícolas e atividades, SC.Florianópolis, 1997. 523p.

Jorge Bleicher, eng. agr., Dr., Cart. Prof. 4.167-D, Crea-SC, Epagri, C.P. 502, Fone (048) 239-5674, Fax (048) 239-5597, 88034-901 Florianó-polis, SC.

Seleção das espéciesexploradas com adaptação

climática preferencial

Estudo das cadeiasprodutivas: fatores críticos

Seleção das espécies não--exploradas com adaptação

climática preferencial

Estudo de mercado

Matriz de análise comparativa entre espécies exploradas enão-exploradas segundo os fatores críticos das cadeias

produtivas e dos estudos de mercado

Seleção das atividades mais promissoras sob oponto de vista econômico, social e ambiental

Seleção de áreas parapreservação permanente

Figura 5 – Estrutura didática do fluxo das várias etapas envolvidas no planejamento normativo

t t

t t

t t

tt

t

t

o

Page 28: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 27

I r r igaçãoIrr igaçãoIrr igaçãoIrr igaçãoIrr igação

O efeito da irrigação na cultura da batataO efeito da irrigação na cultura da batataO efeito da irrigação na cultura da batataO efeito da irrigação na cultura da batataO efeito da irrigação na cultura da batatano Litoral Sul Catarinenseno Litoral Sul Catarinenseno Litoral Sul Catarinenseno Litoral Sul Catarinenseno Litoral Sul Catarinense

Darci Antônio Althoff eAntônio Carlos Ferreira da Silva

batata é a hortaliça de maiorimportância socioeconômica no

Brasil e a quarta fonte de alimentospara a humanidade, ultrapassada ape-nas por arroz, milho e trigo. A culturadesempenha um papel importante nasubsistência das populações, pois, alémde apresentar alta produtividade eprodução de energia e proteína porhectare/dia, é também, fonte de vita-minas e sais minerais.

Os principais Estados produtoresestão localizados nas regiões Sul eSudeste do Brasil, que respondem pormais de 95% da produção e consomem80% da oferta do país. As condiçõesclimáticas favoráveis para o desenvol-vimento e produção, bem como o há-bito alimentar da população, em suagrande maioria, descendentes de eu-ropeus, explicam a concentração dabatata nestas regiões.

Em Santa Catarina, a batata é umadas culturas mais populares e tradi-cionais, sendo cultivada em todo oEstado, com plantios e colheitas, pra-ticamente, durante todos os meses doano. Em 1996, foram cultivados cercade 18.000ha de batata, que proporcio-naram uma produção de 194.000t eum rendimento médio de 10,7t/ha (1).O Estado, quinto produtor nacional,participou neste período com 7,2% dototal produzido no país. A produçãocatarinense está concentrada nas re-giões do Planalto Norte e Sul, LitoralSul e no Alto Vale do Itajaí. Em 1996,foram cultivados no Litoral Sul Cata-rinense em torno de 2.500ha, queproporcionaram, aproximadamente,27.000t de batata, representando

13,8% da produção estadual. A ativi-dade envolve 17.000 produtores, emsua grande maioria pequenos, utili-zando sistema de produção muito pou-co tecnificado e, por isso, obtendo umdos menores rendimentos inferior àmédia do país.

Dentre as principais causas do bai-xo rendimento de batata em SantaCatarina destacam-se: a péssima qua-lidade da batata-semente utilizadapelos produtores e o baixo níveltecnológico empregado. Por outrolado, o elevado rendimento médioobtido pelos Estados de São Paulo eMinas Gerais (em torno de 20t/ha)está ligado, principalmente, ao uso deirrigação e da batata-semente de boaqualidade. Santa Catarina, apesar deser o maior produtor de batata-se-mente certificada, utiliza apenas 5%desta na produção de batata-consu-mo, sendo cerca de 80% exportadapara Minas Gerais, São Paulo, Paranáe outros Estados; o baixo poder aqui-sitivo dos produtores, associado aoalto custo deste insumo, explicam opouco uso de semente de boa qualida-de (2).

Necessidades hídricasda batata

A batata, dentre as hortaliças, éuma das mais exigentes em água.Apesar de esta exigência ser o fatormais limitante da cultura para alcan-çar altas produtividades, o excessotambém é prejudicial, pois reduz aaeração do solo, aumenta a lixiviaçãode nutrientes e, ainda, favorece as

doenças. Em função disso, o supri-mento adequado de água à cultura,por meio da irrigação, é de fundamen-tal importância, tanto nas regiões declima seco quanto naquelas onde adistribuição de chuvas é irregular (3).

O planejamento da irrigação com-plementar deve ser fundamentado naprobabilidade de ocorrência de exces-so e deficiência de água no solo paradiferentes tipos de solo e regiões decultivo; dessa forma, considera-secomo inadequado um excesso hídricomensal de 50mm nos estádios de de-senvolvimento formação e maturaçãodos tubérculos e/ou deficiência hídricamensal superior a 20mm, no períododa emergência até o início dasenescência (4).

Estudos sobre irrigação na culturada batata revelaram que, para 10mmde água aplicada, ocorria um au-mento do rendimento de 1 a 2t/ha, atéo máximo de 2 a 2,5t/ha, eviden-ciando a dependência da produção emrelação ao adequado suprimento deágua (5).

A cultura da batata se caracterizapor apresentar quatro estádios dedesenvolvimento bem distintos (3 e6). A duração de cada um deles depen-de, principalmente, da cultivar e dascondições edafoclimáticas:

• Do plantio à emergência – oestádio inicial tem a duração de 10 a20 dias. O plantio deve ser realizadoem solo úmido e complementado comuma irrigação leve. Se o solo estiverseco, deve ser feita uma irrigação decerca de 20mm de um a três dias antesdo plantio. Irrigações muito freqüen-

AAAAA

#

Page 29: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

28 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

I r r igaçãoIrr igaçãoIrr igaçãoIrr igaçãoIrr igação

tes após o plantio provocam o apodre-cimento da batata-semente, resultan-do em falhas no estande. Por outrolado, a deficiência de água pode cau-sar desuniformidade na emergênciae, também, queima de brotos.

• Da emergência ao início datuberização – este estádio vai de 30a 40 dias após a emergência. Irriga-ções freqüentes e de pequena intensi-dade são recomendadas, tendo emvista que o sistema radicular é aindasuperficial e a evapotranspiração al-cança apenas 65% daquela verificadana fase de máximo desenvolvimentoda cultura. A deficiência hídricaneste período pode limitar o desenvol-vimento da cultura, mas poderá serrecuperada através do manejo ade-quado da umidade do solo no períodoseguinte. Irrigações freqüentes e pe-sadas neste estádio favorecem o de-senvolvimento de doenças do solo e daparte aérea.

• Do início da tuberização aoinício da senescência – esta fase,que vai de 45 a 55 dias após a emer-gência, é a mais crítica quanto àdeficiência hídrica, podendo haverdecréscimo da produtividade e o apa-recimento da sarna, doença causadapela bactéria Streptomyces scabies.Condições favoráveis de umidadepodem estimular o aumento do nú-mero e tamanho dos tubérculos porplanta e a percentagem de amido,com reflexos diretos na qualidade cu-linária e conservação da batata. Nascultivares com tendência à formaçãode muitos tubérculos, as condições dealta umidade no início da tuberi-zação podem aumentar muito o nú-mero, diminuindo o peso individualdos tubérculos. Nesta fase decrescimento dos tubérculos é que acultura necessita de maiores quanti-dades de água, implicando a produçãode maior número de tubérculosgraúdos. Por outro lado, irrigaçõesexcessivas neste período poderão fa-vorecer o aparecimento das doençasde solo e da folhagem da batateira. Aalternância de excesso e falta de águapode causar defeitos morfo-fisiológi-cos tais como embonecamento, ra-chadura e outras deformações nos

tubérculos.• Da senescência à colheita –

neste período, que dura dez a quinzedias, há uma redução acentuada douso de água pela cultura devido àdiminuição da evapotranspiração, emfunção da perda da folhagem das plan-tas. As irrigações devem ser paralisa-das entre cinco e sete dias antes dacolheita. Tal prática reduz o uso deenergia, favorece a qualidade do pro-duto colhido (batata mais limpa) epossibilita uma melhor conservaçãoapós a colheita, sem afetar a produti-vidade. A colheita deve ser feita deza quinze dias mais tarde para quea película dos tubérculos não sesolte.

No Litoral Sul ocorrem deficiên-cias hídricas no ciclo da cultura, comreflexos diretos sobre a produtivida-de, caso não seja utilizada a irrigação.Mesmo no plantio das águas (agosto/setembro), época onde o total de pre-cipitação ocorrida durante o ciclo énormal, tem havido deficiência hídricaque afeta o rendimento e a qualidadede tubérculos. A precipitação pluvio-métrica total em Urussanga, na mé-dia de 30 anos, foi de 364,2 e 491,7mm,nos períodos setembro/novembro edezembro/fevereiro, respectivamen-te. Esta região, com capacidade deretenção de água no solo igual a 75mm,tem apresentado deficiência hídricanos meses de novembro (4mm) e de-zembro (14mm). Porém, quando seconsideram períodos inferiores a ummês (decêndio – dez dias ou pêntada –cinco dias) no balanço hídrico, pode-seobservar valores superiores de defi-ciência hídrica (7).

O presente trabalho tem como ob-jetivo avaliar o efeito da irrigação poraspersão na produtividade e qualida-de dos tubérculos das cultivares maisplantadas em Santa Catarina, plantiodas águas, no Litoral Sul Catarinen-se.

Metodologia utilizada

Os experimentos foram conduzi-dos na Estação Experimental deUrussanga/Epagri, em Urussanga,SC, no solo Podzólico Vermelho

Amarelo (Morro da Fumaça) que re-presenta 42% da região Sul do Estadode Santa Catarina.

Os experimentos foram implanta-dos em 10/9/93, 19/9/94 e 21/9/95, comcolheitas em 7/1/94, 12/1/95 e 19/1/96,respectivamente.

O delineamento experimental uti-lizado foi o de blocos casualizadosconstituído por quatro cultivares(Achat, Baraka, Baronesa e Elvira) edois sistemas de cultivo (irrigado enão-irrigado), com oito repetições. Aunidade experimental ou parcela, for-mada por cinco linhas de 3,5m decomprimento, espaçadas de 0,80mentre linhas por 0,35m entre plantas,totalizou 17,5m2, sendo a área útil de8,4m2.

A adubação de base, indicada naanálise do solo, seguiu a recomenda-ção da Comissão de Fertilidade doSolo-RS/SC e constou de 60, 200 e150kg/ha de N, P

20

5 e K

20, respectiva-

mente, nos três anos de cultivo. Aadubação de cobertura constou de60kg/N/ha aplicados por ocasião daamontoa.

As batatas-sementes utilizadas dascultivares testadas foram prove-nientes da Embrapa/Serviço de Pro-dução de Sementes Básicas - Gerên-cia Local de Canoinhas, SC, e de pro-dutores de batata-semente certifica-da de São Joaquim, SC. Durante acondução dos experimentos seguiram--se as recomendações técnicas para acultura. Os plantios de batata foramprecedidos de outros cultivos, incluin-do-se espécies utilizadas em sistemasde rotação de culturas.

Os valores de temperatura e preci-pitação ocorridos durante o ciclo dacultura, nos três anos de experi-mentação, constam nas Figuras 1, 2,3 e 4.

As avaliações constaram do rendi-mento total, comercial e não-comer-cial de tubérculos, nas cultivares esistemas de cultivo testados. Os tu-bérculos comerciais foram classifica-dos e pesados, conforme as classes,em graúdos (> 45mm de diâmetro),médios (33 a 45mm) e miúdos (23 a33mm). Os tubérculos não-comer-ciais (podres e embonecados) foram

Page 30: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 29

I r r igaçãoIrr igaçãoIrr igaçãoIrr igaçãoIrr igação

pesados e descartados.

Manejo da irrigação

A quantidade total de água aplica-da foi calculada, com base nas caracte-rísticas do solo, cultura e sistema deirrigação, conforme Tabela 1.

O manejo da irrigação foi realizadopelo método do Tanque Classe A, uti-lizando-se coeficientes de cultura (Kc),os quais variam ao longo do ciclo(Tabela 2).

Com base nas características físi-cas do solo, nos coeficientes de cultu-ra para os diversos estádios de desen-volvimento e na evapotranspiração eprecipitação ocorridas, foram feitasas irrigações relacionadas na Tabe-la 3.

Observando-se somente os valoresde precipitação, nota-se que são supe-riores aos parâmetros citados pelaliteratura, onde a batata consome de350 a 600mm de água por ciclo, depen-dendo das condições climáticas predo-minantes e da duração do ciclo dacultivar (3). Porém estas precipita-ções não são bem distribuídas, confor-me verifica-se nas Figuras 1, 2 e 3.

Resultados e discussão

Os resultados obtidos revelaramque a irrigação influiu significativa-mente na produtividade e qualidadedos tubérculos das cultivares testadas(Tabela 4 e Figuras 5 e 6).

Produtividade

O sistema irrigado diferiu signifi-cativamente do não-irrigado quantoao rendimento de tubérculos (Tabe-la 4). Na média dos três anos, consta-tou-se que mesmo no plantio das águaso sistema irrigado superou o não irri-gado em 54%, quanto ao rendimentode tubérculos comerciais. Estes re-sultados foram superiores aos obtidospor pesquisadores no Rio Grande doSul, que verificaram perdas daordem de 30% em lavouras não--irrigadas, nos anos que choveu nor-malmente (5).

Em relação ao desempenho dascultivares, verificaram-se incremen-

Figura 1 – Evapotranspiração – ERA (Tanque Classe A), precipitação, irrigaçãoe água disponível – CC (mm) para a cultura da batata em Urussanga, SC. Safra

1993/94. Epagri/Estação Experimental de Urussanga, 1998

Figura 2 – Evapotranspiração – ERA (Tanque Classe A), precipitação eágua disponível – CC (mm) para a cultura da batata em Urussanga, SC.

Safra 1994/95. Epagri/Estação Experimental de Urussanga, 1998

Figura 3 – Evapotranspiração – ERA (Tanque Classe A), precipitação e águadisponível – CC (mm) para a cultura da batata em Urussanga, SC.Safra 1995/96. Epagri/Estação Experimental de Urussanga, 1998

#

Nota: No mês de dezembro realizaram-se duas irrigações, mas com atraso devido a problemasocorridos na coleta dos dados meteorológicos.

Page 31: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

30 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

tos na produtividade de 35, 55, 61 e67% para a Elvira, Achat, Baraka eBaronesa, respectivamente, quandose utilizou irrigação. Dentre as culti-vares, a Baraka foi a mais produtivano sistema irrigado, diferindo signifi-cativamente das demais. Por outrolado, a cultivar Achat, a mais plantadaem Santa Catarina, foi a menos pro-dutiva nos dois sistemas de cultivodevido a maior suscetibilidade à doen-ça pinta preta causada pelo fungoAlternaria solani.

Convém ressaltar que, embora asprodutividades médias alcançadas te-nham sido baixas, mesmo com irriga-ção, estas foram superiores em 70%,quando comparadas ao rendimentomédio obtido no Estado.

Qualidade dos tubérculos

Em relação ao tamanho dos tubér-culos comerciais (graúdos + médios>33mm de diâmetro), verificaram-sediferenças significativas entre os sis-temas de cultivo, sendo o irrigadosuperior ao não-irrigado em 6,9; 6,6;5,4 e 5,3t/ha, nas cultivares Baraka,Baronesa, Achat e Elvira, respectiva-mente (Figura 5). Dentre as cultiva-res, a Baraka e a Baronesa destaca-ram-se das demais, apresentando 58 e53% e 43 e 38% de tubérculos (graúdos+ médios) no sistema irrigado e não--irrigado, respectivamente.

Os resultados obtidos evidenciamque, embora tenha ocorrido elevadapercentagem de tubérculos não-co-merciais (16 a 18%), não houve dife-renças significativas entre os siste-mas na média dos três anos. A cultivarElvira, seguida da Baronesa, apresen-taram os maiores índices deembonecamento e apodrecimento nosdois sistemas (Figura 6). Odesequilíbrio hídrico ocorrido na fasede tuberização, maturação e colheita,associado a maior sensibilidade des-tas cultivares, explicam os resultadosobtidos.

Eficiência de uso da água

Os resultados obtidos evidenciamque houve diferenças significativasentre os sistemas de cultivo e as culti-

I r r igaçãoIrr igaçãoIrr igaçãoIrr igaçãoIrr igação

Figura 4 – Temperatura média diária nos ciclos da cultura da batata emUrussanga, SC. Safras 1993/94, 1994/95 e 1995/96. Epagri/Estação

Experimental de Urussanga, 1998

Tabela 1 - Características físicas do solo Podzólico Vermelho Amarelo, fator dedisponibilidade adotado para a batata e eficiência da irrigação por aspersão

Profun- Capacidade Ponto de Densidade Fator de Eficiência dedidade de campo murchamento do solo disponibilidade irrigação(cm) (%) (%) (g/cm3) (%) (%)

0 a 19 17,8 10,1 1,56 - -19 a 40 19,4 9,9 1,54 20 7040 a 60 25,0 16,0 1,46 - -

Tabela 2 - Coeficientes de cultura (Kc) para os diversos estádios de desenvolvimentoda batata

Estádio Kc Dias

I - Plantio à emergência 0,45 0 a 15II - Emergência ao início da tuberização 0,75 15 a 40III - Início da tuberização à senescência 1,10 40 a 80IV - Senescência à colheita 0,70 Após 80

Fonte: Doorenbos & Kassan, citados por DOORENBOS & PRUITT (2).

Tabela 3 - Precipitação total ocorrida, número, tempo e quantidade aplicada nas irriga-ções, durante o ciclo da batata, nos três anos de cultivo. Epagri/Estação Experimental

de Urussanga, 1998

SafraDescrição

1993/94 1994/95 1995/96

Precipitação ocorrida (mm) 706 537 950,2Irrigações (no) 10 7 9Tempo (hora) 30 20 24Quantidade aplicada (mm) 23 23 (6) 23 (7)

17 (1) 14 (1)11,5 (1)

Total irrigado (mm) 230 155 186Total de água 936,8 692,8 1.136,7

Nota: Os números entre parênteses significam o número de irrigações.

Page 32: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 31

I r r igaçãoIrr igaçãoIrr igaçãoIrr igaçãoIrr igação

Tabela 4 - Rendimento de tubérculos, eficiência de uso de água e vantagem do sistemairrigado sobre o não-irrigado, obtidos pelas quatro cultivares, no Litoral Sul

Catarinense. Epagri/Estação Experimental de Urussanga, 1998

Sistemas de cultivo

Irrigado(A) Não-irrigado(B) Vantagem daCultivar irrigação

Rendimento Eficiência de Rendimento Eficiência de nade tubérculos uso de água de tubérculos uso de água produtividade

(t/ha) (g/mm) (t/ha) (g/mm) (%)

Baraka 20,0 a 5,45 a 12,9 a 4,42 a 55,0Elvira 17,0 b 4,61 b 12,6 a 4,29 a 34,9Baronesa 16,9 b 4,60 b 10,1 b 3,44 b 67,3Achat 14,5 b 3,96 b 9,0 b 3,96 b 61,1Média 17,1 a 4,66 a 11,2 b 4,03 b 54,0

(A) Evapotranspiração real, na média dos cultivos = 368,12mm(B) Evapotranspiração real, na média dos cultivos = 293,07mmNota: Médias seguidas da mesma letra, na coluna para o mesmo sistema, não diferem entre

si, pelo teste de Duncan, a 5% de probabilidade.

vares quanto à eficiência do uso deágua (Tabela 4).

A ‘Baraka’ apresentou a maior efi-ciência, diferindo significativamentedas demais, nos dois sistemas de cul-tivo. A cultivar Elvira, a exemplo daBaraka, também apresentou valor altode eficiência, mas somente no siste-ma não-irrigado. A cultivar Baronesa,por sua vez, foi a que mais respondeuà irrigação, enquanto que a ‘Achat’obteve os menores valores, tanto nosistema irrigado quanto no não-irri-gado. O resultado obtido com a ‘Achat’não está de acordo com as caracterís-ticas desta cultivar (conhecida pelaalta dependência de tecnologias, taiscomo irrigação e adubação). A baixaeficiência de uso de água e o menorrendimento de tubérculos, obtidosnestes experimentos com esta culti-var, podem ser explicados pelas condi-ções climáticas altamente favoráveispara a ocorrência de pinta preta, asso-ciadas a maior suscetibilidade da‘Achat’ a esta doença e a estiagens.

Conclusões

Com base nos resultados obtidosconclui-se que:

• A irrigação é uma tecnologiaessencial para aumentar a produtivi-dade e melhorar a qualidade dos tu-bérculos, tornando o bataticultorcatarinense mais competitivo.

• Dentre as cultivares testadas, aBaraka é a que melhor responde àirrigação.

• O suprimento complementar deágua, por meio do manejo adequadoda irrigação, mesmo na safra daságuas, é fundamental para o sucessoda cultura no Litoral Sul Catarinen-se.

• A escolha de cultivares adapta-das às condições de cultivo e tambémresistentes às principais doenças dafolhagem é indispensável para obter--se maior eficiência da irrigação nocultivo de batata.

Recomendações

De um modo geral, as produtivida-des obtidas nos experimentos forambaixas para esta época de plantio,

Figura 5 – Rendimento total de tubérculos comerciais e graúdos + médios, das cultiva-res Elvira, Baronesa, Baraka e Achat, obtidos com e sem irrigação, no Litoral SulCatarinense – média das safras 1993/94, 1994/95 e 1995/96. Epagri/Estação

Experimental de Urussanga, 1998

Figura 6– Rendimento total de tubérculos não-comerciais, podres e embonecados, dascultivares Elvira, Baronesa, Baraka e Achat, obtidos com e sem irrigação, no LitoralSul Catarinense – média das safras 1993/94, 1994/95 e 1995/96. Epagri/Estação

Experimental de Urussanga, 1998

#

Page 33: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

32 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

I r r igaçãoIrr igaçãoIrr igaçãoIrr igaçãoIrr igação

especialmente nas safras de 1994/95 e1995/96. As elevadas temperaturasocorridas nestes anos (Figura 4), as-sociadas às precipitações irregulares(Figuras 1, 2 e 3) nas fases detuberização, maturação e colheita,podem explicar, em grande parte, osresultados obtidos.

O rendimento de tubérculos é afe-tado pela temperatura, sendo ótimasas médias diárias de 18 a 20ºC. Parainício de tuberização, são necessáriastemperaturas noturnas inferiores a15ºC, enquanto que a faixa ideal detemperatura do solo para o cresci-mento normal dos tubérculos é de 15a 18ºC. O crescimento do tubérculo éparalisado com temperaturas abaixode 10ºC e acima de 30ºC (6). Em funçãodestes fatores climáticos, reco-menda-se para a região do LitoralSul Catarinense realizar o plantiodesta hortaliça, preferencialmente,até o final de agosto e, no máximo, até10 de setembro, com o objetivo deevitar as elevadas temperaturas eprecipitações que ocorrem no final dedezembro e janeiro. Devido a estesfatores climáticos, o zoneamentoagroclimático para a cultura dabatata (7) determina que o Litoral SulCatarinense é região tolerada, consi-derando o plantio de primavera-ve-rão, e preferencial para o plantio deoutono-inverno, com restrições paraos locais onde ocorrem geadas (eleva-da altitude e/ou proximidades da ser-ra geral).

Outra recomendação, talvez a maisimportante para o sucesso nabataticultura, é o uso de batata-se-mente de boa qualidade e de origemconhecida. Todas as demais tecnolo-gias (irrigação, adubação e tratamen-tos fitossanitários) não terão o efeitodesejado quando a batata-semente forde baixa qualidade fitossanitária.

Agradecimentos

Os autores querem expressar es-pecial agradecimento à Embrapa/Ser-viço de Produção de Sementes Bási-cas – Gerência Local de Canoinhas,SC, pelo fornecimento de batata-se-mente das cultivares testadas nestetrabalho.

Literatura citada

1. INSTITUTO CEPA/SC. Síntese Anual deAgricultura de Santa Catarina-1996.Florianópolis, 1997. p.72-74.

2. SOUZA, Z. da; SILVA, A.C.F. da; BEPPLER,R.N. Cadeias produtivas do Estado deSanta Catarina: batata. Florianópolis:Epagri, 1998. (No prelo).

3. EMBRAPA-CNPHortaliças. Cultivo dabatata. Brasília, 1997. 35p. (EMBRAPA-CNPH, Instruções Técnicas, 8).

4. BISOGNIN, D.A. Recomendações técnicaspara o cultivo da batata no Rio Grandedo Sul e Santa Catarina. Santa Maria:UFSM/Centro de Ciências Agrárias,1996. 64p.

5. PURCINO, J.R.C. Irrigação na cultura dabatata. Informe Agropecuário, Belo Ho-rizonte, n.7, v.76, p.35-38, 1981.

6. DOORENBOS, J.; PRUITT, W.O. Las ne-cessidades de agua de los cultivos.Roma: FAO, 1977.

7. EMPRESA DE PESQUISA AGROPECUÁ-RIA E EXTENSÃO RURAL DE SAN-TA CATARINA. ZoneamentoAgroclimático do Estado de SantaCatarina. 1998. (No prelo).

8. EMPASC/ACARESC. Sistemas de produ-ção para batata: consumo e semente;Santa Catarina. 2.ed. atual. Florianó-polis, 1986. 53p. (EMPASC/ACARESC.Sistemas de Produção, 2).

Darci Antônio Althoff, eng. agr., M.Sc.,Cart. Prof. 846-D, Crea-SC, Epagri/EstaçãoExperimental de Urussanga. C. P. 49. Fone/fax (048) 465-1209, 88840-000 Urussanga,SC, E-mail: [email protected] e Antô-nio Carlos Ferreira da Silva, eng. agr.,M.Sc., Cart. Prof. 9.820-D, Crea-SC, Epagri/Estação Experimental de Urussanga. C. P. 49.Fone/fax (048) 465-1209, 88840-000Urussanga, SC, E-mail: [email protected].

o

PESQUISA EMANDAMENTO

Rotação de culturasRotação de culturasRotação de culturasRotação de culturasRotação de culturaspara a batata nopara a batata nopara a batata nopara a batata nopara a batata no

Litoral Sul CatarinenseLitoral Sul CatarinenseLitoral Sul CatarinenseLitoral Sul CatarinenseLitoral Sul CatarinenseA rotação de culturas pode ser defi-

nida como sendo um sistema de alter-nar, em uma mesma área, diversasculturas (que não tenham doenças epragas em comum) em uma seqüênciade acordo com um plano predefinido. Acultura da batata é muito suscetível apragas e doenças e este problema éagravado devido às condições climáti-cas desfavoráveis à cultura no LitoralSul Catarinense, principalmente no ou-tono. A rotação de culturas é umaprática recomendada, desde a antigüi-dade, como método eficiente na dimi-nuição de doenças e de pragas (especi-almente aquelas que afetam tubércu-los e raízes), contribuindo desta formacom a diminuição do uso de agrotóxicose, em conseqüência, redução da degra-dação do meio ambiente. Propicia tam-bém menor erosão do solo, maior esta-bilidade da produção, maior produtivi-dade e com qualidade, diversificaçãode cultivos, menor custo e, conseqüen-temente, maior rentabilidade.

Com objetivo de recomendar siste-mas de rotação para a batata, insta-lou-se, em março de 1993, um experi-mento na Estação Experimental deUrussanga. Segundo o engenheiro agrô-nomo Simão Alano Vieira, responsávelpela pesquisa, os sistemas testadosforam: sem rotação (batata/milho); umano de rotação (batata/milho; triticale/milho); dois anos de rotação (batata/milho; triticale/milho e aveia/milho).Em todos os anos de cultivo, seguiram--se as recomendações técnicas e utili-zou-se batata-semente básica da culti-var EPAGRI 361-Catucha, fornecidapela Embrapa/SPSB (Canoinhas, SC).Os resultados médios obtidos no perí-odo 1996-98, quanto ao rendimentocomercial de tubérculos, mostraram asuperioridade incontestável dos siste-mas de um e dois anos de rotação, emrelação ao monocultivo, com incremen-to médio de 86 e 83%, respectivamente.No sistema com dois anos de rotação, aprodução de tubérculos não-comerciaisfoi de 50 e 336% menor do que nossistemas com um ano de rotação e semrotação. A quase totalidade da produ-ção não-comercial de batata deveu-seao péssimo aspecto da casca danificadapor pragas e doenças, especialmentepela sarna, causada pelo fungoStreptomyces scabies.

Mais informações com a EstaçãoExperimental de Urussanga/Epagri,Fone (048) 465-1209.

Page 34: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 33

Sistemas de rotaçãoSistemas de rotaçãoSistemas de rotaçãoSistemas de rotaçãoSistemas de rotaçãopara hortaliças nopara hortaliças nopara hortaliças nopara hortaliças nopara hortaliças noLitoral CatarinenseLitoral CatarinenseLitoral CatarinenseLitoral CatarinenseLitoral Catarinense

A produção diversificada de hortaliçasé uma atividade típica de pequenoolericultor que utiliza intensamenteinsumos e área geralmente localizadapróximo aos grandes centros consumido-res. O plantio de diversas hortaliças namesma área, aliado às sucessivas e exa-geradas adubações, juntamente com omanejo incorreto do solo, têm levado osprodutores a aumentar o custo de produ-ção, além de obter baixa produtividade equalidade das hortaliças.

A rotação de culturas, uma práticamilenar esquecida, atualmente é citadana literatura como uma das medidas maiseficientes, no sentido de reduzir, princi-palmente, a ocorrência de doenças, pragase plantas daninhas e, em conseqüência,diminuir o uso de agrotóxicos e os riscos aomeio ambiente. O princípio da rotação é ode “matar o patógeno e/ou o inseto defome”. Quando se cultiva uma espécie nãosuscetível, estes ficam sem alimento, suapopulação decresce e até desaparece, nãocausando problemas para as culturas. Arotação de culturas visa também evitar oaumento da população dos organismoscausadores de doenças e de insetos preju-diciais, em decorrência do cultivo sucessi-vo com a mesma espécie de planta.

Com o objetivo de avaliar técnica eeconomicamente diversos sistemas derotação, está sendo conduzido umsubprojeto, executado pelos pesquisado-res Antonio Carlos Ferreira da Silva,Idelson José de Miranda e Darci AntonioAlthoff, na Estação Experimental deUrussanga, em solo da unidade demapeamento Morro da Fumaça (PodzólicoVermelho-Amarelo cascalhento). As cul-turas integrantes dos diversos sistemassão: tomate/feijão-de-vagem; cenoura/al-face/repolho e beterraba/batata-doce/aveia, testadas sem rotação e com um,dois e três anos de rotação. Nos diversossistemas utilizados incluem-se, além dasespécies citadas, a moranga, o milho ver-de e a mucuna cinza.

Para estabelecer os sistemas de rota-ção levaram-se em consideração algunsprincípios, tais como: empregar hortali-ças com importância econômica; não uti-lizar espécies pertencentes à mesma fa-mília botânica; alternar espécies maisexigentes com espécies menos exigentesem nutrientes e com sistemas radicularesdiferentes; usar espécies que forneçammaterial (cobertura morta) orgânico, al-ternadas com outras que favoreçam adecomposição deste material.

Embora preliminares, os resultados

obtidos no terceiro e quarto ano de experi-mentação permitem algumas considera-ções quando se comparam os tratamentossem rotação com os sistemas de um e doisanos de rotação. Beterraba, tomate, bata-ta-doce, cenoura e repolho tiveram osmaiores incrementos no rendimento, quan-do se comparou o sistema dois anos derotação com o sistema sem rotação, noquarto ano de cultivo consecutivo, alcan-çando valores de 48, 23, 21, 19 e 16%,respectivamente. Com apenas um ano derotação, já se verificaram incrementossignificativos no rendimento de cenoura,quando se comparou ao sistema sem rota-ção, no terceiro ano de cultivo.

A queima das folhas, causada pelofungo Alternaria dauci, explica, em grandeparte, a redução do rendimento comercialde cenouras, no sistema sem rotação, atin-gindo valores de 24 e 19%, já no terceiro equarto cultivo consecutivo, quando com-parado ao sistema com um e dois anos derotação.

Quanto ao ataque de pragas, consta-tou-se grande incidência, principalmente,de grilos, logo após a emergência, noscultivos de verão, nas culturas do feijão--de-vagem e repolho, especialmente, nossistemas onde não houve preparo do solo(plantio direto). Também têm ocorridoataques esporádicos do curuquerê da cou-ve em repolho, vaquinha em quase todasas hortaliças e broca pequena e traça emtomate, bem como ácaro em feijão-de--vagem.

As culturas de aveia preta e mucunacinza, incluídas nos sistemas de rotação,realizaram uma boa cobertura do solo, noinverno e verão, respectivamente, e comisso reduziram o número de capinas nasculturas subseqüentes. Observou-se, noentanto, de um modo geral, que há umatendência de redução do rendimento nasdiversas hortaliças plantadas e/ousemeadas após a aveia.

Em relação à fertilidade do solo cons-tatou-se, por meio de análises químicasrealizadas anualmente, que nos diversossistemas de rotação os níveis de fósforocontinuaram muito altos, enquanto que opotássio variou de médio a alto, na médiados anos 1995/96, 1996/97 e 1997/98.

Atratividade de adultosAtratividade de adultosAtratividade de adultosAtratividade de adultosAtratividade de adultosda broca-da-erva-mate ada broca-da-erva-mate ada broca-da-erva-mate ada broca-da-erva-mate ada broca-da-erva-mate a

luzes de diferentesluzes de diferentesluzes de diferentesluzes de diferentesluzes de diferentescomprimentos de ondacomprimentos de ondacomprimentos de ondacomprimentos de ondacomprimentos de onda

O cultivo de erva-mate, Ilexparaguariensis (Aquifoliaceae), deixou deser explorado de maneira extrativista, emalgumas regiões do Sul do país, para serexplorado em cultivos puros (monocul-turas). A supressão da diversidade de

plantas hospedeiras e de inimigos natu-rais favoreceu o crescimento populacionalde algumas espécies fitófagas, sendo quealgumas delas tornaram-se pragas deimportância econômica.

Na região Sul do Brasil, a cultura daerva-mate é hospedeira de mais de umacentena de espécies de insetos. Dentre asespécies que atacam a cultura, nos dife-rentes estádios fenológicos, destaca-se aespécie Hedypathes betulinus (Coleoptera,Cerambycidae), conhecida como a “broca--da-erva-mate” ou “corintiano”. Segundolevantamentos realizados no Estado doRio Grande do Sul, os índices de infestaçãodesta praga, em determinadas áreas, su-peram 90% das plantas cultivadas. Odano na erveira é provocado pela ação daslarvas que broqueiam tronco e galhos daplanta. Nos troncos, as larvas perfuram acasca e abrigam-se no lenho onde se ali-mentam. Durante o seu desenvolvimentoconstroem galerias descendentes que po-dem causar a morte das plantas, princi-palmente no caso de plantas mais jovens.

Com o intuito de oferecer subsídiospara futuros programas de manejo e con-trole desta praga, os pesquisadores JoséMaria Milanez e Luis Antônio Chiaradia,do Centro de Pesquisa para PequenasPropriedades/Epagri, estão testando emcondições de laboratório, a atratividadede lâmpadas de diferentes comprimentosde ondas, para a captura de adultos dabroca-da-erva-mate.

Os resultados obtidos evidenciam quea lâmpada UBL (ultravioleta) foi a maisatrativa para captura de adultos da bro-ca-da-erva-mate, seguida da BL (ultra-violeta). Tal comprovação poderá indicaro uso da referida lâmpada em armadilhasluminosas, visando estudos sobre a dinâ-mica populacional, dispersão e monito-ramento desta praga. Maiores informa-ções podem ser obtidas na Epagri deChapecó, Centro de Pesquisa para Peque-nas Propriedades, C.P. 791, Fone (049)723-4877, Fone/Fax (049) 723-0600,89801-970 Chapecó, SC, Internet: http://www.epagri.rct-sc.br/~cppp/cppp.html.

Pesquisa em andamentoPesquisa em andamentoPesquisa em andamentoPesquisa em andamentoPesquisa em andamento

o

Adulto da broca-da-erva-mate

Page 35: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

34 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

O cultivo de feijão no Oeste CatarinenseO cultivo de feijão no Oeste CatarinenseO cultivo de feijão no Oeste CatarinenseO cultivo de feijão no Oeste CatarinenseO cultivo de feijão no Oeste Catarinense

Reportagem de Paulo Sergio Tagliari

Produto básico na alimentação do povo brasileiro, o feijãovem passando por altos e baixos nos últimos anos. Em Santa Catarina, a

região Oeste é a principal produtora do grão, e o seu cultivoestá enfrentando crescentes desafios. A questão tecnológica,

destacando o trabalho de obtenção de novas cultivares, a realidade doprodutor e os aspectos de produção e comercialização são assuntos

enfocados nesta reportagem.

Nem só de feijão preto vive o povo brasileiro. Grãos de diferentes cores sãoencontrados no país afora

ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

Page 36: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 35

ove entre dez brasileiros prefe-rem feijão”, dizia a letra da mú-

sica de um popular conjunto de rockbrasileiro anos atrás. E com razão.Quem não aprecia um simples pratode feijão com arroz, ou então umadeliciosa feijoada, preparada com car-ne de porco e condimentos? O grão doPhaseolus vulgaris, nome científicodo nosso popular alimento, é rico emproteína, e seja ele preto, vermelho,bege com estrias, branco ou de outrascores, não importa, ele é preferêncianacional. Mas o que pouca gente co-nhece são alguns aspectos sobre aplanta que lhe dá origem, o feijoeiro,da família das leguminosas, como tam-bém o é a soja, a ervilha, o grão--de-bico e árvores como as acácias, abracatinga, o flamboyant, o pau-brasil,etc. Todas estas plantas têm em co-mum o fruto, ou seja, o legume, daíadvindo a denominação da famíliabotânica. Mas a semelhança não párapor aí. Uma característica marcantedas leguminosas é a presença de pe-quenos nódulos nas raízes, formadospor rizóbios. Trata-se na verdade deuma infecção bacteriana benéfica. Éque estas bactérias, que se fixam nasraízes, possuem a capacidade de cap-tar o nitrogênio diretamente do ar etransformá-lo em nitratos, essenciaispara a formação das proteínas na plan-ta e seu crescimento. Esta capacidadedas leguminosas também pode serconstatada na utilização dos chama-dos adubos verdes, como a ervilhaca,o tremoço ou lupínus, a crotalária, amucuna e assim por diante.

Os números do feijão

Mas voltando para o nosso feijão,vale registrar que o produto destaca--se econômica e socialmente no meionacional e estadual, por ser uma cul-tura bastante cultivada pelos agri-cultores, principalmente pequenos emédios. Além disso, por ser uma cul-tura de ciclo curto permite uma rápi-da entrada de dinheiro para conside-rável número de produtores, e é tam-bém importante fonte de proteína naalimentação de elevado percentual dapopulação, em especial a de baixarenda. Em Santa Catarina o feijão écultivado em várias regiões, desta-

cando-se o Oeste Catarinense. Assimcomo no resto do país, a produçãoestadual tem se mantido estável,embora ocorram flutuações influenci-adas por condições climáticas e even-tuais reduções de área, após umasafra com preços agrícolas poucocompensadores. Em função disso, adisponibilidade do produto por habi-tante diminuiu nos últimos anos.

Em Santa Catarina o feijão é asegunda cultura com a maior área(varia de 270 a 350 mil hectares),perdendo para o milho, que ocupa 750mil hectares. O Estado participa com10 a 13% na quantidade de feijãoproduzida no país. Segundo o Institu-to Cepa/SC, na safra 1993/94, SantaCatarina atingiu um volume de maisde 343 mil toneladas em 352 mil hec-tares, com um rendimento médio de974kg/ha, o maior do país naqueleperíodo. Um elevado número de pro-dutores dedica-se ao cultivo do feijãoneste Estado sulino, seja para finscomerciais, seja para consumo na pro-priedade, sendo 93.554 na primeirasafra (agosto a dezembro) e 36.057 nasegunda safra ou safrinha (janeiro efevereiro), conforme o CensoAgropecuário realizado pelo IBGE em1995.

Quanto à produtividade das lavou-ras no âmbito estadual, apesar de

situar-se acima da média nacional,está bem aquém das médias obtidasnos ensaios de avaliação de cultivaresconduzidos pela pesquisa agronômi-ca, que atingem em torno de 2.000kg/ha. Segundo os técnicos da Epagri, opotencial de rendimento da cultura ésuperior a 4.000kg/ha. De acordo ain-da com os técnicos, vários fatorescontribuem para a defasagem entre aprodutividade das lavouras e o poten-cial da cultura, tais como a incidênciade doenças e pragas, a reduzida utili-zação de sementes melhoradas e ou-tros insumos, como fertilizantes edefensivos, a degradação dos solos efatores climáticos.

A realidade do agricultor

A reportagem da RAC esteve nomunicípio de Palmitos, quase no Ex-tremo Oeste Catarinense, onde pôdeconstatar in loco a realidade de algunspequenos agricultores que têm nofeijão uma renda importante em suaspropriedades. A cidade é tradicionalprodutora do grão, e tem uma carac-terística, ou seja, a safrinha, que nor-malmente produz menos, nesta re-gião tem maior volume de produção.Para se ter uma idéia da diferença,conforme informam os extensionistaslocais da Epagri Luiz Antonio Cavalleri

NNNNN

Darci Ernzen e filho: à espera de bom preço nesta safra

ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

#

Page 37: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

36 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

e José Inácio Batistel, na safra sãocultivados cerca de 4 mil hectares defeijão, ao passo que na safrinha, de 10a 12 mil. Outro aspecto marcante dolocal, como de resto em boa parte doOeste Catarinense, é a declividadedas terras, que ainda, não raro, apre-sentam muita pedra. “Anos atrás nósproduzíamos bem mais feijão”, lem-bra o agricultor Darci Ernzen, da loca-lidade de Linha Gaúcha, perto do pe-rímetro urbano de Palmitos. Ele ex-plica que antigamente as terras erammais férteis, havia então muita áreaflorestada, não tinha tanta erosão,portanto a fertilidade natural dos so-los era maior. Batistel concorda como produtor e esclarece que a maioriados agricultores ainda usa pouco fer-tilizante nas lavouras, seja ele quími-co ou orgânico, o que contribuiu paraas baixas produtividades. “Não fossepelo trabalho de microbacias que vemincentivando o uso de adubos verdespara melhorar a fertilidade do solo eprotegê-lo da erosão, certamente res-taria muito pouca terra aproveitávelhoje no Oeste”, ressalta o técnico. OSr. Darci é um dos agricultores quefaz rotação nas terras para evitardoenças e pragas, outro grande pro-blema que incomoda e traz prejuízosà produção de feijão. Entre os adubos

verdes destaca-se a aveia que ele se-meia no meio do feijão da safrinha. Aocolher a planta manualmente, estamovimenta terra que cai por sobre asemente da aveia, favorecendo a ger-minação. A aveia permanece no in-verno cobrindo o solo, servindo dealimento eventualmente para algu-mas cabeças de gado. No período dasafra, planta milho na área. No culti-vo da safrinha, em janeiro ou feverei-ro ele geralmente semeia o feijão nomeio do milho plantado em setembroou outubro. Outros adubos verdesutilizados eventualmente pelo produ-tor são a gorga e o nabo forrageiro,este bom para plantio direto ou culti-vo mínimo com o milho. Darci Ernzendiz que o preço mínimo anunciado de26 reais o saco é insuficiente, mal dápara cobrir as despesas. “No ano pas-sado vendi por 0,75 a 0,80 real o quilo,um dos melhores preços nos últimosanos”, comemora o agricultor.

Outro pequeno produtor que pre-tende comemorar bem este Natal de1998 é o Sr. Zenildo Vacarin, da LinhaSanta Maria Goreti, também nãomuito longe do centro urbano de Pal-mitos. Semelhante ao primeiro agri-cultor visitado, é um típico produtorfamiliar do Oeste Catarinense, queproduz diversificadamente, a exem-

plo do milho, feijão (principais cultu-ras) e ainda soja, videira e a quaseindispensável criação de gado e suí-nos. “Morrer de fome eu não morro”,brinca Zenildo, que espera venderseus 3ha de feijão da safra a 60 reaiso saco posto na cooperativa. Ele espe-ra um rendimento de 20 a 25 sacos/ha,e se for considerado o rendimento de20 sacos ter-se-á: 20 x 60,00 = 1.200reais por hectare. O agricultor infor-ma que os seus custos envolvem nor-malmente esterco de aviário, uréia,semente, herbicida, fungicida e mão--de-obra, contabilizando cerca de 300reais/ha. Logo seu lucro, ou em lin-guagem mais técnica, margem bruta,será de 900 reais por unidade de área,e portanto nos 3ha somará 2.700 re-ais. Zenildo certamente terá um bomNatal este ano. Entre as variedadesde feijão plantadas pelos agricultoresda região citam-se Carioca, Pérola,Rio Tibagi, FT Nobre e IAPAR 44,estas recomendadas pela pesquisa.Além destas ainda são cultivados al-guns materiais crioulos na região e ofeijão denominado Cavalo ou Rajado,semelhante à cultivar Iraí.

A visão das cooperativas

O feijão é cultivado em pratica-mente todo o Estado, sendo que sesobressai em algumas regiões como aOeste, Meio Oeste e Planalto, sendotambém importante no Litoral Sul deSanta Catarina. Mas é no Oeste queapresenta a maior produção, com umtotal de mais de 120 mil toneladas,cerca de 38% do total estadual de 316mil toneladas registradas na safra1994/95, segundo dados do IBGE. In-teressante notar que cerca de 60% daprodução estadual é comercializadaem outros Estados, principalmenteSão Paulo.

Uma das mais tradicionais coope-rativas da região, a Cooperativa Regi-onal Arco Íris Ltda – Cooperarco, queestá comemorando 65 anos de funda-ção, está sentindo a falta de umamaior produção de feijão nos diasatuais. O engenheiro agrônomoGünther Halmann, do DepartamentoTécnico da Cooperativa, relata que dofeijão da safrinha de 1998 ela recebeusomente 1.187,84t de 2.653 produto-

Agricultor Zenildo (de chapéu) com técnicos da Epagri: custos menoresgarantem lucro

ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

Page 38: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 37

ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

res, entre associados e não-sócios.Vale registrar que a área deabrangência da Cooperarco englobaos municípios de Palmitos, Caibi,Mondaí, Riqueza e Iporã do Oeste.

Também a Cooperativa RegionalAlfa Ltda. – Cooperalfa, de Chapecó,que atua em 32 municípios do Oeste eque recolhe anualmente 43 mil tone-ladas de feijão, está preocupada com acrescente falta de interesse dos agri-cultores com o produto. O engenheiroagrônomo Lodaci Scartezim, do De-partamento Técnico, relata que já em1995 a diretoria da Cooperalfa envioutécnicos às principais regiões produ-toras do país para constatarem in locoquestões como comercialização, no-vas tecnologias, etc. Ele explica queestá cada vez mais difícil competircom produtores de feijão do BrasilCentral que utilizam cada vez maisalta tecnologia, como é o caso dairrigação por meio de pivô central,que é um sofisticado equipamento deirrigação. Além disso, lá o clima émais seco, tem menos chance de aslavouras contraírem doenças. Diantedesse desafio, a Cooperalfa decidiuinvestir na melhoria do rendimento equalidade do feijão catarinense. Paraisso iniciou a instalação de lavourasdemonstrativas de 1ha em proprieda-des de associados onde os técnicos e

agricultores utilizaram melhores emais atualizadas técnicas de cultivo.Para se ter uma idéia, as lavourasdemonstrativas geraram um rendi-mento de 36 sacos (2.160kg/ha) defeijão, considerado de primeira quali-dade, contra 15 sacos (900kg/ha) damédia regional. Lodaci explica aindaque, dos 36 sacos da lavoura modelo,cerca de 17 são custos, ao passo que namédia da região os custos são compu-tados em 11 sacos.

Mas não ficam por aí as ações daCooperalfa. Ela enviou para São Pau-lo um dos responsáveis pela área decomercialização para conhecer osmeandros da Bolsa de Cereais, emespecial a do feijão, denominada deBolsinha. “O feijão do Oeste Catari-nense, com exceção de um ou outrolocal, é considerado por certos“experts” como de menor categoria”,revela Lourenço Vicente Lovatel, ge-rente comercial da Cooperalfa, paraquem o envelhecimento da mão-de-obra dos agricultores é um fator im-portante a considerar na obtenção deuma melhor qualidade do produto.“Cada vez mais os jovens estão saindodo campo em busca de melhores alter-nativas, se é que existem, e vão so-brando os velhos que, em geral, nãoaceitam novas técnicas ou têm dificul-dade de mudar”, lamenta Lovatel. No

que se refere à qualidade, ele esclare-ce que existe uma tipagem ou classi-ficação dos grãos basicamente emquatro tipos, a saber: tipo 1 - dificílimode se obter, alta qualidade, tipo 2 -ótima qualidade, tipo 3 - média quali-dade e o tipo 4 - regular qualidade.Assim, para incentivar a melhoria dofeijão oestino, a Cooperalfa está pre-miando os agricultores. Exemplifi-cando, para o tipo 2 paga 45 reais osaco, para o tipo 3, 43 reais, ao passoque, para o tipo 4, o produtor ficacom 40 reais. “Fora destes quatrotipos, a Cooperalfa aplica um des-conto grande”, declara. Afora todosestes desafios e dificuldades, o geren-te lembra ainda que, para complicarmais a situação, o Brasil tem importa-do feijão de outros países como Argen-tina, Bolívia, México e Estados Uni-dos. “Só da Argentina importamos de100 a 200 mil toneladas”, completaLovatel.

Projeto Mais Feijão

No dia 17 de novembro, diversasentidades do Oeste Catarinense (Epa-gri, Cooperalfa, Cooperarco, CooperAuriverde, Cooper Itaipú, empresaZêneca, prefeituras municipais e Nú-cleo de Engenheiros Agrônomos doOeste) reuniram-se em Chapecó, SC,para dar início a uma abrangente eimportante campanha de incentivo àcultura do feijão, podendo integrar-seainda outras entidades. Trata-se doProjeto Mais Feijão, com duração dedois anos, começando em novembrode 1998 e terminando com a semeadu-ra da safra 2000/01, em setembro doano 2000. O objetivo é aumentar aprodutividade do feijoeiro, melhoraro padrão de qualidade do produto eaumentar a renda nas propriedadesenvolvidas com a cultura. Segundoinforma o engenheiro agrônomo Mar-cos Basso, da empresa Zeneca e coor-denador do projeto, para atingir asmetas referidas a estratégia é promo-ver, em várias etapas durante os doisanos, treinamento dos técnicos envol-vidos com a cultura, repassando, pormeio de especialistas de renome, asmais modernas tecnologias, que porsua vez serão testadas em lavourasdemonstrativas escolhidas em propri-O cultivo do feijão consorciado com milho é prática comum no Oeste Catarinense #

Page 39: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

38 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

edades de agricultores. Cada lavouraterá pelo menos meio hectare, emárea de fácil acesso, com rotação deculturas, e será comparada com umapequena área que servirá de testemu-nha utilizando tecnologia do produ-tor. As lavouras demonstrativas se-rão itinerantes a cada safra para ocor-rer uma ampla cobertura nas açõesdesencadeadas no período do projeto.Será preenchida uma planilha de cus-tos variáveis que serão anotados peloprodutor, tanto referente à lavourademonstrativa quanto à testemunha.As informações coletadas irão alimen-tar um banco de dados. Marcos Bassoinforma ainda que serão desenvolvi-dos dias de campo em diversas lavou-ras demonstrativas (está previsto umtotal de 64 áreas em diferentes locaisna região Oeste) com a presença deagricultores, técnicos e lideranças,que assim tomarão contato com no-

vas técnicas e produtos.A tecnologia a ser preconizada nas

lavouras demonstrativas é o que há demais atual sobre a cultura do feijão, eenvolve inicialmente a análise de solopara verificar as necessidades decalagem, adubação com NPK, aduba-ção de cobertura com base em nitro-gênio e/ou adubação orgânica comcama de aviário ou chorume de suí-nos. A população de plantas deverásituar-se entre 200 mil e 250 mil porhectare, utilizando-se espaçamento de0,45 e 0,50 entre linhas e doze a trezesementes por metro linear. Recomen-da-se a utilização de herbicida paradessecação do adubo verde, propician-do o plantio direto do feijão na palha.Os demais tratamentos fitossanitáriospara controle de doenças, ervas dani-nhas e insetos também estão previs-tos, devendo os técnicos que acompa-nham as lavouras orientar adequada-

mente os agricultoresnas necessidades de cadaárea. As sementes a se-rem utilizadas deverãoser fiscalizadas e reco-mendadas pela pesquisana região, tais como FTNobre, Pérola, Carioca,etc. E quanto à época deplantio, tanto da safraquanto da safrinha, de-verá ser observado o pe-ríodo recomendado pelapublicação da Epagri “Re-comendações técnicaspara a cultura do feijãoem Santa Catarina”, edi-tada em 1997.

Pesquisa buscanovas cultivaresde feijão

O grande desafiopara a pesquisa agrope-cuária catarinense emrelação à cultura dofeijoeiro tem sido a bus-ca de novas cultivaresadaptadas e resistentesàs principais doenças quea afetam. Para SilmarHemp, engenheiro agrô-nomo, pesquisador do

Centro de Pesquisa para PequenasPropriedades – CPPP – da Epagri, emChapecó, e responsável pelo subpro-jeto “Avaliação de Linhagens e Culti-vares de Feijão em Santa Catarina”,apesar da importância da cultura, aprodutividade estadual está muitoabaixo do seu real potencial. De acor-do com Silmar e outros técnicos daEpagri que trabalham com o feijão hámuitos anos, um dos fatores que afe-tam negativamente o rendimento dofeijão é o reduzido número de opçõesde cultivares adaptadas às diferentesregiões do Estado, que sejam produti-vas e apresentem resistência e/outolerância às principais doenças(antracnose, mancha angular,crestamento bacteriano, murcha defusarium). Um elevado percentual daárea cultivada com feijão ainda é im-plantada com cultivares indefinidasou que não foram testadas na redeexperimental. No nível de lavouras,conforme levantamento do IBGE eInstituto Cepa/SC, as produtividadesmédias têm sido oscilantes nas últi-mas safras, desde 527kg/ha na safra1990/91 a 974kg/ha em 1993/94, en-quanto que nas áreas experimentaisda Epagri, com as cultivares reco-mendadas, foram obtidas produtivi-dades acima de 2.000kg/ha com al-guns materiais. Trabalhos anteriorespossibilitaram a recomendação decultivares para cultivo pelos produto-res, porém o assunto é dinâmico, sejapela criação de novos materiais nasinstituições de pesquisa, seja pela in-cidência de novas doenças ou raçasnas cultivares em uso. Por exemplo,Silmar cita a cultivar FT 120: quandopassou a ser recomendada em SantaCatarina era uma das mais produti-vas, porém atualmente, devido à ocor-rência da raça Zeta de antracnose,apresenta reduzida produtividadequando as condições climáticas favo-recem a doença. O pesquisador tam-bém explica que para o melhorista, otécnico que promove os cruzamentosde plantas visando obter uma novavariedade, é importante os chamadosmateriais crioulos, ou seja, os feijõesque há vários anos são cultivadospelos agricultores catarinenses. É queestes materiais, apesar de algumasvezes apresentarem baixa produtivi-

Aspecto das vagens de cultivar de feijão recomendadapara plantio em Santa Catarina pela Epagri

Page 40: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 39

ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

dade, são adaptados ao clima e solo daregião, além do aspecto da diversida-de genética. Mas também é importan-te, diz Silmar, o intercâmbio comoutros centros de pesquisa no país eexterior, pois isto propicia trazermateriais diferentes e que poderãocontribuir na formação de uma novacultivar.

O pesquisador da Epagri esclareceque os materiais escolhidos são avali-ados em ensaios de campo em trêsetapas: – Introdução de linhagens ecultivares de feijão, ensaio instaladona área experimental do CPPP. Par-ticipam desta etapa materiais novosque ainda não foram avaliados pelapesquisa no Estado. As cultivares re-comendadas para o Estado servirão detestemunhas. Neste ensaio são avali-ados a adaptação, a fenologia, o hábitode crescimento, a resistência e/outolerância às principais doenças e aprodutividade de grãos. A segundaetapa – Ensaio intermediário de li-nhagens e cultivares de feijão – com-

preende o ensaio instalado na safra esafrinha com os materiais que apre-sentaram bom desempenho no ensaiode introdução, avaliando-se o estandeinicial e final, o hábito de crescimen-to, a fenologia, a sanidade das plantase a produtividade de grãos. Nestafase, no cultivo da safra, o ensaiotambém é instalado em Campos No-vos, no Planalto Catarinense. Já aterceira etapa – Ensaio estadual delinhagens e cultivares de feijão –abrange ensaios em cinco locais:Chapecó, Campos Novos, Ituporanga,Canoinhas e Urussanga. Nesta etapa,são escolhidos os materiais que sedestacaram no ensaio intermediário eestadual do ano agrícola anterior. Sãoobservados o estande inicial e final, ohábito de crescimento, a fenologia, aincidência de doenças, os componen-tes de rendimento, o peso de 1.000grãos e a produtividade de grãos. Porfim, a partir dos resultados no ensaioestadual, em diferentes locais, serádefinida a recomendação de novas

cultivares.Silmar Hemp lembra que as pri-

meiras pesquisas com feijão em SantaCatarina remontam ao período de1943-1950, quando foram conduzidosdois projetos, um de competição devariedades e outro de competição deépocas, densidades e espaçamentosna então Estação Experimental deRio Caçador (na época ligada ao Minis-tério da Agricultura), hoje EstaçãoExperimental de Caçador da Epagri.Outros trabalhos foram desenvolvi-dos nas décadas de 60 e 70, quandoforam indicadas variedades como Pre-to, Mulatinho, Preto Manteiga, Fei-jão 69, Rico 23 e Costa Rica. A partirde 1964, os trabalhos de introdução eavaliação de linhagens e cultivares defeijão continuaram sem interrupçãoaté a presente data. Paralelamente,também foram realizados experimen-tos sobre adubação, épocas de semea-dura, consorciação, espaçamento, etc.A partir da criação da então Empasc,em 1975, hoje Epagri, anualmente épublicada a relação das cultivaresindicadas para cultivo no Estado. Valeregistrar que as cultivares Carioca eRio Tibagi são indicadas desde a safra1976/77 e ainda são cultivadas pelosprodutores. No Oeste Catarinense aárea mais expressiva é da cultivarCarioca (grão de cor creme com estri-as mais escuras), apresentando po-tencial satisfatório quando manejadacom tecnologia adequada. A Rio Tibagi,embora apresentando certa estabili-dade no rendimento de grãos, estásendo gradualmente substituída poroutras cultivares pretas mais produti-vas. Das cultivares recomendadas pelaentão Empasc e hoje Epagri, nestesúltimos 20 anos, duas foram lançadaspela pesquisa estadual, quais sejam,EMPASC 201-Chapecó, em 1983, eBR 6-Barriga Verde em 1990, ambasde grãos pretos e que ainda estãosendo recomendadas. Até o momen-to, as avaliações ficaram restritas alinhagens geradas em outras institui-ções de pesquisa. Todavia, a partir de1998 foi retomado o projeto de melho-ramento genético de feijão pela Epa-gri, sob a responsabilidade do pesqui-sador Haroldo Tavares Elias. Destaforma, a esperança dos técnicos daEmpresa é obter cultivares própriaspara o Estado nos próximos anos.

o

Áreaexperimentalpara o ensaiode linhagens e

cultivares defeijão noCPPP/

Epagri...

...e detalhes dacultivarEMPASC201-Chapecó

Page 41: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

40 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

mensura a possibilidade de ad-quirir experiência técnico-pro-fissional e operacional na áreada pecuária de leite. “Além daoportunidade de treinamentoem c ampo, muitos desses estu-dantes, ao terminar o curso, sãocontratados pela empresa”, afir-ma Ricardo Gonçalves, dire-tor-presidente da filial brasilei-ra da Nestlé.

O coordenador técnico doprograma, o professor Sebasti-ão Teixeira Gomes, do Departa-mento de Economia Rural daUFV, confirma que os estudan-tes têm a oportunidade devivenciar na prática os conhe-cimentos ad-quiridos na sala deaula. “A Universidade, da mes-ma forma, ganha com a troca deexperiências, realizando o pro-cesso de interação e retribuin-do, com novos produtos etecnologia, os investimentosfeitos pela empresa”, dizTeixeira.

Atualmente, 150 estudan-tes dão assistência tecnoló-gica e social aos pequenos pro-dutores de leite. São atendidas30 fazendas e 7 escolas ruraisdos municípios mineiros deCajuri, Coimbra, Ervalia, SãoGeraldo, Teixeiras, além de Vi-çosa.

De acordo com dados da Uni-versidade Federal de Viçosa, oPrograma de Desenvolvimentoda Pecuária Leiteira promoveuo aumento da produtividade doleite na região de 2,5 para 9,5litros por animal/dia. Os dadosconfirmam que chega a 300% adiferença de produtividade en-tre as propriedades assistidaspelo programa em relação àsnão-assistidas.

O convênio entre a Nestlé ea UFV absorve investimentosanuais de cerca de R$ 250 mil. Aoimpulsionar a pecuária leiteirada região de Viçosa, o programainfluencia nos índices produti-vos e reprodutivos da atividade,além de fixar o homem ao cam-po.

Maiores informações comNestlé Assessoria de Imprensa,Fones (011) 5504-2370 e (011)5504-2371.

AGRIBUSINESS

Viçosa, mantido pela filialbrasileira da Nestlé, desde1989, em conjunto com a Uni-versidade.

A concessão do título de dou-tor “honoris causa” é a maior ou-torga honorífica da Universidade,concedida às pessoas que tenhamprestado contribuições públicasrelevantes à causa da Universida-de, por proposta apreciada e apro-vada pelo Conselho Universitá-rio. Trata-se de uma honrariaconferida a pessoas de alto nível egrau de conhecimentos, não sóespecíficos em suas áreas profis-sionais, como possuidoras de co-nhecimentos gerais que as identi-fiquem como detentoras de públi-co e notório saber.

“Além de honra pessoal, estetítulo representa a consagraçãoda parceria entre a Nestlé e aUniversidade, iniciada há quasedez anos com o Programa deDesenvolvimento da PecuáriaLeiteira na Região de Viçosa”, afir-ma Carlos Eduardo Represas, Di-retor-Geral da Nestlé S.A. (Suí-ça).

Ainda segundo Represas, oprograma é uma iniciativa semfins lucrativos, que atinge as áre-as de ensino, pesquisa e extensãode serviços à comunidade, permi-tindo o pleno exercício das fun-ções institucionais e sociais daUniversidade. “A cerimônia deoutorga representa um marconas relações entre a culturauniversitária e a cul-tura empre-sarial brasileira. Do ponto devista pessoal, trata-se de um mo-mento absolutamente inesquecí-vel na minha trajetória de vida”,finaliza Represas.

Pecuária leiteiratem maiorprodutividade

O Programa de Desenvolvi-mento da Pecuária Leiteira daRegião de Viçosa (PDPL/RV) foifirmado há nove anos e permiteque estudantes ajudem os produ-tores de leite a obter melhoresresultados.

O PDPL/RV oferece aos estu-dantes de Agronomia, MedicinaVeterinária, Zootecnia, EconomiaDoméstica, Laticínios e Agri-

Nestlé Brasil mantémNestlé Brasil mantémNestlé Brasil mantémNestlé Brasil mantémNestlé Brasil mantémPrograma de Desenvolvimento daPrograma de Desenvolvimento daPrograma de Desenvolvimento daPrograma de Desenvolvimento daPrograma de Desenvolvimento da

Pecuária LeiteiraPecuária LeiteiraPecuária LeiteiraPecuária LeiteiraPecuária Leiteira

O Diretor-Geral da NestléS.A. (Suíça), Carlos EduardoRepresas, recebeu o título dedoutor “honoris causa” da Uni-

versidade Federal de Viçosa, con-cedido em reconhecimento ao Pro-grama de Desenvolvimento daPecuária Leiteira da Região de

ChrChrChrChrChr. Hansen Biosystems anuncia. Hansen Biosystems anuncia. Hansen Biosystems anuncia. Hansen Biosystems anuncia. Hansen Biosystems anunciaparceria com a mineira BioTparceria com a mineira BioTparceria com a mineira BioTparceria com a mineira BioTparceria com a mineira BioTecnalecnalecnalecnalecnal

A Chr. Hansen Biosystems,divisão do grupo dinamarquêsChr. Hansen, especialmente vol-tada ao desenvolvimento de pro-dutos aplicados à saúde animalanuncia parceria com a Bio-Tecnal. A associação entre a Chr.Hansen Biosystems e a empre-sa mineira tem como objetivooferecer ao mercado uma maiorvariedade de produtos e servi-ços na área de biotecnologia.

Segundo o gerente geral daChr. Hansen Biosystems, HansHenrik Knudsen, a parceria foifirmada para fortalecer a estru-tura técnica e a pesquisa commicroorganismos, o que irá re-sultar em lançamentos de pro-dutos probióticos e enzimas, alémde outros avanços tecnológicospara o tratamento e manuten-ção da saúde animal. “Estamosnos preparando para colocar nomercado nacional, toda a nossatecnologia em nutrição animal,sendo a linha de probióticos damarca Probios a primeira a serlançada”, explica.

Knudsen explica que a asso-ciação entre as empresas estáapostando na maturidade domercado brasileiro. “Vamos par-ticipar, ativamente, da introdu-ção dos produtos probióticos nosegmento agropecuário e de suaconsolidação como substitutosnaturais dos antibióticos, utili-zados na dieta dos animais atu-almente. Essa é a tendência dospaíses da Europa e dos EstadosUnidos”, complementa.

Chr. Hansen

A Chr. Hansen, empresa di-

namarquesa fundada em 1874,possui 68 filiais no mundo – sendoque 47 delas estão voltadas aosetor alimentício -, além de cen-tros de excelência em biotec-nologia avançada.

Líder mundial dentro de seusegmento, o grupo Chr. Hansenapresenta um faturamento anualna casa de meio bilhão dedólares, dos quais 7% são destina-dos à pesquisa e ao desenvolvi-mento na área de biotecnologia. Amaior parte dos estudos é desen-volvida nas unidades da Dinamar-ca, França e dos Estados Unidos eenvolve cerca de 200 cientistas etécnicos.

A Chr. Hansen trabalha comtrês divisões e cobre diversas áre-as geográficas, como Escan-dinávia, Pacífico, Ásia, Europa doNorte e do Sul, Leste Europeu,América do Norte e do Sul. Aunidade brasileira, sediada emValinhos, São Paulo, é a respon-sável pela área correspondente atoda a América do Sul, e conta com120 pessoas em seu quadro fun-cional.

O grupo Chr. Hansen é espe-cializado no desenvolvimento deingredientes naturais para seusclientes – fermentos e aromaslácteos, probióticos, corantes na-turais, coalhos e enzimas paraqueijos, entre outros. A Chr.Hansen Biosystems pode serencontrada na Intenet no ende-reço http://www.chrbiosystems.com.

Para maiores informaçõescontatar com Know-How Asses-soria em Comunicação, Fones(019) 243-3739/2389 com KátiaKeller.

Page 42: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 41

AgribusinessAgribusinessAgribusinessAgribusinessAgribusiness

Chega ao Brasil a realidade européiaChega ao Brasil a realidade européiaChega ao Brasil a realidade européiaChega ao Brasil a realidade européiaChega ao Brasil a realidade européiaem pepino para piclesem pepino para piclesem pepino para piclesem pepino para piclesem pepino para picles

timentos, o RTE-GEL tem no seg-mento de sobremesas de gelati-nas preparadas “ready to eat”(pronto para comer) seu principalmercado. Com esta nova matéria--prima, a indústria alimentícia po-derá fabricar, ainda, o “drinkable--gel”, um gel que pode ser apenasaromatizado ou preparado comsuco de frutas ou chá, pronto parabeber.

“O semigel do drinkable-geldá uma sensação agradável deflocos às formulações que podemconter chás ou suco de frutas edevem, preferencialmente, serservidas geladas”, explica a coor-denadora da área de P&D emAplicações da Leiner Davis, TelmaGarcia. Segundo ela,esta bebida já é hojemuito consumidanos países asiáticos,principalmente en-tre crianças e ado-lescentes.

O RTE-GEL fa-cilita, ainda, o prepa-ro de sobremesas emcozinhas industriaisde hospitais, restau-rantes e escolas, jáque dispensa o usoda geladeira para ga-rantir consistência,tem um tempo degeleificação até 50%menor que o dos pro-dutos existentes nomercado e maior re-sistência à exposiçãoem altas temperatu-ras. “É especialmen-te interessante paramercados onde a re-sistência térmica éimportante, como

Um novo pepino híbrido, detamanho reduzido, entre 3 e 5cm,adaptado para a indústria tradi-cional de conservas, com quali-dade muito superior e tambémadaptado para cornichon ou“baby pepino”, vem ganhandoespaço junto aos agricultoresnos Estados do Rio Grande doSul, Santa Catarina, Minas Ge-rais e Mato Grosso do Sul, e jáestá sendo exportado para aEuropa e Estados Unidos. Tra-ta-se do pepino partenocárpicohíbrido Marinda.

Bastante conhecido pelosagricultores europeus, as se-mentes do pepino Marinda, des-tinadas ao mercado de pepinospara indústria, foram lançadascom exclusividade no Brasil pelaRoyal Sluis, tradicional empre-sa holandesa que está no merca-do mundial há 130 anos.

O pepino Marinda começoua conquistar o mercado inicial-mente entre os agricultores deMinas Gerais, mas os resultadosmais expressivos estão sendocolhidos no Sul do país, onde

várias empresas estão implantan-do projetos de produção deste tipode pepino para conserva. Somen-te na região de Lageado, RS, jáexiste uma área de 30ha. Segun-do o produtor Ancélio Wolkner, osresultados são excelentes: “OMarinda é muito produtivo, nãoapresenta frutos defeituosos, asanidade da planta é muito boa,mas o que chama mesmo a aten-ção é que ele apresenta normal-mente mais de seis frutos por nó,enquanto os materiais que euconhecia apresentavam somentetrês no máximo”, disse.

O pepino Marinda chegou aoBrasil para revolucionar o merca-do de pepino para picles, trazendoaos agricultores retorno econô-mico e aos consumidores um pro-duto de qualidade incomparável,já reconhecida em outros países.Trata-se de um produto diferenci-ado para consumidores cada vezmais exigentes.

Maiores informações com aRoyal Sluis, telefone (019) 278-3994, ou a Com Texto Comunica-ção, Fone (019) 876-4809.

Novo produto da Leiner Davis GelatinNovo produto da Leiner Davis GelatinNovo produto da Leiner Davis GelatinNovo produto da Leiner Davis GelatinNovo produto da Leiner Davis GelatinBrasil oferece opções para a indústriaBrasil oferece opções para a indústriaBrasil oferece opções para a indústriaBrasil oferece opções para a indústriaBrasil oferece opções para a indústria

alimentícia brasileiraalimentícia brasileiraalimentícia brasileiraalimentícia brasileiraalimentícia brasileira

Líder no mercado nacionalde gelatinas, a Leiner Davis,empresa de capital australiano,acaba de lançar no mercado na-cional o RTE-GEL, uma mescla

de agentes geleificantes que tema capacidade de agir em tempera-tura ambiente mantendo-se está-vel. Resultado de quatro anos depesquisas e US$ 400 mil de inves-

Ásia, México e mesmo o Brasil”,explica Telma.

A Leiner Davis tem fábricasna Austrália, Nova Zelândia,Brasil, África do Sul, Argentina,Estados Unidos e México, alémde joint-ventures nos EstadosUnidos, Colômbia e Equador.No Brasil, são duas fábricas, umano Paraná, outra no Rio Grandedo Sul. No mercado nacional,fabrica anualmente cerca de 10mil toneladas de gelatina. Seufaturamento atingiu, no anopassado, US$ 40 milhões deven-do chegar a US$ 45 milhões esteano.

Maiores informações peloFone (011) 816-1230 ou E-mail:[email protected].

Tipos de granulações da gelatina para aplicação em diferentesprodutos

Mousse feito com gelcosol

o

Page 43: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

42 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

Page 44: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 43

ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

A extensão rural do futuroA extensão rural do futuroA extensão rural do futuroA extensão rural do futuroA extensão rural do futuro

Reportagem e fotos de Homero M. Franco

extensão rural surgiu no Brasil,na década de 50, e levou a

milhões de agricultores os seus pacotestecnológicos que resultaram nocrescimento da produtividade dedezenas de culturas, em algumas delasmultiplicando astronomicamente odesfrute. Também inaugurou para opaís a era das exportações de grãos,frutas e animais.

Em que pese aos avanços extraor-dinários havidos, muito pouco da ren-tabilidade advinda do crescimento daprodutividade ficou com os produto-res. Na verdade, os maiores benefici-ados foram os segmentos de mercadopostados a montante e a jusante dapropriedade rural.

Hoje, quando se avalia a extensãorural brasileira, costuma-se apontarcomo seu erro principal a falta deatenção para com os negócios do ladode fora da porteira da propriedadeagrícola.

Um dos efeitos negativos do mode-lo de desenvolvimento aplicado aopaís nesse meio século foi o êxodorural. O Brasil era rural em 1960,porque 70% dos seus habitantes láviviam. Hoje é urbano, pois apenas23% dos brasileiros são rurais e nemtodos que lá estão são produtores.

Não bastasse o desestímulo provo-cado por décadas de política econômi-ca nociva aos interesses da maioriados agricultores, nos cinco anos maisrecentes de nossa história econômica,os agricultores se vêem obrigados aenfrentar mais um obstáculo: aglobalização.

A agropecuária de regiões de ter-ras dobradas, como é o caso de SantaCatarina, onde a erosão exige dosagricultores múltiplos cuidadosconservacionistas, forte calagem, adu-

A extensão rural,em sua vocaçãoprimeira,educar, numgrandecompromissocom os fatoressocial eeconômico dasfamílias comquem interage,tem se superadoem SantaCatarina apesardas constantesameaças deextinção desseserviço. Háregistros detrabalhossurpreendentes.

bação constante e limitação do uso demáquinas, é posta em competição coma agropecuária de regiões planas, dealta fertilidade, totalmente meca-nizáveis e apoiadas por subsídios go-vernamentais.

No meio dessa turbulênciamercadológica, a extensão rural, quequase desapareceu num eclipse deprioridades oficiais, procura sobrevi-

ver e adaptar-se à nova realidade dosagricultores que perseveram na ativi-dade.

Esta reportagem quer mostrar acriatividade e o esforço deextensionistas afinados com esta novarealidade. Muito antes que governose instituições apresentassem saídaspara o grave quadro das misérias ru-rais, boa parte dos extensionistas es-

Ary: vendas diretas ao consumidor

AAAAA

#

Page 45: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

44 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

tão levando a seus assistidos um tra-balho cujos resultados são surpreen-dentes.

Ainda que, no geral, o diagnósticosocioeconômico da agricultura sejadesanimador, como realmente o é,em Santa Catarina, a reportagem tevea oportunidade de conversar comextensionistas e agricultores entusi-asmados com o que fazem.

A vitória numa escala decinco degraus

Em São João do Itaperiú, um dosmunicípios mais jovens do NorteCatarinense, documentamos otrabalho de Ivo Rizzolli, técnicoagrícola, extensionista local. Asposições desse técnico em respostaaos questionamentos do jornalistaimprimem uma diferença filosófica.Ivo não incentiva a produção de grãos,exceto o arroz porque ainda é rentável,e discute abertamente com os seusassistidos a necessidade de mudançado perfil econômico da pequenapropriedade. “O pequeno deve produzirpara abastecer a mesa dos ricos. Ogrande deve produzir para abastecera mesa dos pobres”, diz ele, comjustificativas: “quem tem amplidão deespaço para mecanizar, facilidade paraobter financiamentos e produz combaixa utilização de mão-de-obra, deveplantar grãos e garantir a mesa dosbrasileiros de terceiro mundo. Opequeno, com mínimo espaço, semrecursos, sem acesso a financiamentoe com muitas mãos (filhos) paraproduzir, deve oferecer produtos maissofisticados, associando concentraçãode capital e mão-de-obra, agregandovalor também pela intensificação damão-de-obra em produtos cujacomercialização tenha valor intrínsecoe ainda adquira maior valor com aindustrialização caseira para servendido às classes média e alta

(Primeiro Mundo, com poderaquisitivo definido)”.

Nas suas observações, Rizzolli re-gistra: “o homem rural está acuado e,para ele, as alternativas vão numcrescendo dentro de uma escala decinco degraus. A primeira é não sairdo meio rural; a segunda é conseguirtrabalhar; a terceira é ter renda; aquarta é ter qualidade de vida; a quin-ta e última é ser feliz”.

Vendas diretas aoconsumidor

A maioria dos agricultores que res-pondem às recomendações do técnicoda Epagri em São João do Itaperiú jánão entrega sua produção sem agre-gar valor e dispensa o intermediário,vai diretamente ao consumidor.

atravessador continua comprandobanana na região a R$ 3,00.

O salto dado por Ari culminou coma entrega da banana ao Carrefour emLondrina, PR, para onde deslocou seufilho Altamir como gerente de vendasda agora empresa Ari Comércio deFrutas. Havia um problema: entrega-va 45t/mês e era obrigado a substituir12t por problemas advindos do manu-seio da fruta dentro do supermercado.A solução foi colocar seus vendedoresdiretamente dentro do supermerca-do, entregando a fruta embalada epesada diretamente no carrinho dosconsumidores. Todas as 45t/mês vãopara a mesa dos consumidores, semperdas.

Otimista, Ari já adquire parte dasfrutas dos seus vizinhos. Mas não secansa de dizer-lhes: “o êxito do agri-cultor de hoje está em percorrer ossete andares do sucesso: 1) produzirbem aquilo que o consumidor queradquirir; 2) armazenar e embalar comqualidade e arte; 3) agregar valor; 4)organizar-se com os demais colegasda mesma área; 5) conquistar o mer-cado atacadista; 6) conquistar o mer-cado varejista; 7) conquistar o merca-do consumidor”.

Outros exemplos

Existem, em São João do Itaperiú,muitos outros produtores colocandosua produção diretamente aoconsumidor. São os que montam umafeira aos sábados na cidade de BarraVelha, com maior sucesso durante overão, quando a cidade recebemilhares de turistas. Um deles,Gilberto Batista, processa 20 mil vidrospor ano de pepino em conserva, alémde outros 100 vidros por mês comconserva de outras hortaliças.Animado com a indústria, nem querlembrar do tempo em que forneciahortaliças à Ceasa através deintermediário. Com margem limpade R$ 0,15 por vidro, ele já busca 70%da matéria-prima nos vizinhos, pois,no afã de industrializar, nem lhe sobramuito tempo para dedicar-se àprodução de hortaliças.

A feira, com uma dúzia de feiran-tes, vende de tudo: pão, toda a linha

“O pequeno deve produzirpara abastecer a mesa dos

ricos. O grande deveproduzir para abastecer a

mesa dos pobres.”

“O êxito do agricultor dehoje está em percorrer

os sete andaresdo sucesso”.

O caso mais próspero é apresenta-do por Ari Kuchenbecker, produtor debananas. Durante dez anos ele procu-rou fazer o melhor em tudo, exceto nacomercialização. Os resultados che-garam a melhorar, mas não satisfato-riamente. O intermediário recebia aboa banana produzida por Ari, usava ogalpão do Ari para banhar, despencar,encaixotar, carregar e desaparecer nacurva do caminho, credenciando-se a100% de vantagem, sem os riscos,sem o capital e a mão-de-obra e sem oslongos meses de espera do ciclo produ-tivo a cargo de Ari.

Um dia, depois de conversar com oextensionista e de, junto com este,viajar para pesquisar mercado, Aridecidiu dispensar o atravessador. Hojeele atua em toda a cadeia: produz,trata, embala, transporta, climatiza,entrega diretamente ao consumidor egera de dez a quinze empregos dire-tos. A banana, que rendia em agostode 1997 cerca de R$ 1,00 por caixa de20kg, um ano mais tarde saltou paraR$ 6,00 com os custos estacionadosem R$ 1,50 por caixa. O mesmo

Page 46: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 45

ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

dos lácteos, dezenas de hortaliçasselecionadas, mel, melado, confeitos,derivados de carnes, etc.

É evidente que os produtores deItaperiú são beneficiados pela sua lo-calização próxima dos centros consu-midores, da praia e da presença deturistas, fórmula que talvez não possaser aplicada aos agricultores do Oestee Extremo Oeste. Mas aqui nestareportagem temos outros exemplosque modificam este raciocínio.

TTTTTestemunhas de umaestemunhas de umaestemunhas de umaestemunhas de umaestemunhas de umadura realidadedura realidadedura realidadedura realidadedura realidade

As moças da extensão rural voltadapara a família do agricultor acumulammilhares de horas de ricos diálogoscom mulheres, filhos e mesmo com osagricultores, chefes de família, eapresentam uma folha de serviçoscapaz de responder pelas primeirasações concretas em favor do meioambiente e do homem em nossoEstado.

Marinesa A. F. da Silveira atua emTreze de Maio, no Sul de SantaCatarina. O ambiente, pano de fundoda economia rural, é tão delicado comode outras regiões. O êxodo ruralprossegue e a desesperança é grande.Ainda assim, diz ela, a família rural éunida. “Existe muito amor, respeito eum intenso desejo de bem encaminharos filhos. Aqueles que conseguemparticipar do mercado com bonsresultados lutam para que seus filhosdêem seqüência aos negócios”. “Já –prossegue - os que não têm esperançade melhorar, estendem seus olhospara a estrada e pensam na cidade. Amoça, no geral, quer estudar etrabalhar fora, mas diante dapossibilidade de ganhar algum dinheiropoupando-se fisicamente aceitaempregos rurais. Os rapazes queprecisam abandonar a atividade ruralse atiram em qualquer emprego pordois a três salários mínimos. É pior asituação das moças de famílias malsucedidas: estas vão para a cidade eocupam qualquer vaga de empregadadoméstica, por menos de um salário

mínimo, ou até mesmo aceitamtrabalhar pela cama e comida, desdeque possam estudar.”

Nova extensão

Atuando com os olhos bem abertospara a realidade de seu município eregião, Marinesa opina que “aextensão rural voltada para a famílianecessita de profissionais sintoni-zados com todo o grupo familiar,entendendo como eles percebem avida, a família, a sociedade, o mercado.A partir disto tem de construir comeles um novo momento, de formaadequada ao que realmente énecessário a toda a família, sem impornem manipular”.

No meio das incertezas e fracassospresentes na vida de milhares de agri-cultores, Dorival, 37 anos, e Margari-da Fregnani, 34 anos, localizados apoucos quilômetros da cidade de Tre-ze de Maio, representam um avançono rumo do que poderá ser futura-mente a agricultura do Estado. Elesabandonaram a cultura do fumo e,depois de vários cursos deprofissionalização, estão transforman-do sua propriedade. Dos 2.400 litros/mês de leite tirado das oito vacas, que

substituíram os 16 animais comunsque ali havia, metade vai para a usinae metade vira iogurte, doce-de-leite,bolo, biscoito, cavaquinho, bolacha,além de ser vendido in natura de casaem casa.

“Os cursos serviram para abrir osolhos”, diz o casal. “A gente não podeaceitar a realidade, é precisotransformá-la e a oportunidade exis-te, ainda que com muito pouco apoiogovernamental. A falta de financia-mento é muito grande.”

O otimismo do casal e de seus trêsfilhos, o mais velho com treze anos deidade, é refletido pela transformaçãoda renda: antes não obtinham umsalário por mês com a safra de fumo.Agora obtêm R$ 1.300,00. Toda a pro-dução com valor agregado é vendidade casa em casa na pequena cidade deTreze de Maio. E não há o que chegue.

Com ordenhadeira mecânica,resfriador, cuidados genéticos(inseminação) e de manejo das vacas,fruto dos cursos efetuados por meio daEpagri, Dorival faz tudo certo e templanos. Quer criar suínosintegradamente com açudes de peixee industrializar tudo. Quer construiruma cozinha industrial com três seg-mentos: derivados de peixes, de suí-nos e de leite. E quer adquirir umutilitário para transporte.

E não é só. Está entre os 18 alunosde um curso de produção agroecológicade hortaliças realizado no município,que formalizam uma associação deprodutores, visando o processamentoe a venda daquilo que querem produ-zir. Dorival decidiu que vai produziralface, beterraba, repolho, cenoura,feijão-vagem, tomate e abobrinha.“Com isso, quero melhorar a renda”,garante.

Êxodo ao contrário

Varley Réchia, 51 anos, ex-gerentedo Besc, inverteu a maré do êxodorural. Aposentado, freqüentou oscursos de profissionalização em gadoleiteiro, manejo e conservação da águae do solo e administração rural. Hojeé citado como exemplo para osagricultores. Voltou a ser rural, deonde saíram, ele e a esposa Arminda,Margarida: mercado não falta #

Page 47: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

46 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

“Vim buscar o meu abraço.“Vim buscar o meu abraço.“Vim buscar o meu abraço.“Vim buscar o meu abraço.“Vim buscar o meu abraço.Preciso dele para sobreviver!”Preciso dele para sobreviver!”Preciso dele para sobreviver!”Preciso dele para sobreviver!”Preciso dele para sobreviver!”

Nos seus contatos com as famíliasdos agricultores assistidos, asextensionistas não raro encontramsituações de tensão emocional afetandoestímulo, auto-estima, saúde, espe-rança, disposição, relações matri-moniais.

Que fazer? Marinesa da Silveira responde: “Escu-tar, se possível dar conselhos, fazer algopor eles. Ensiná-los a ter fé em si edesejar mudar o quadro é a primeiracondição. Querer ser feliz e lutar porisso”, completa ela, que originalmente éuma enfermeira, mas que decidiu traba-lhar como extensionista.

Com assídua leitura sobre medicinaalternativa, Marinesa acompanha comvisão científica o devassador efeito dastensões decorrentes de fatores emocio-nais, morais, éticos e espirituais naspessoas. Conhecendo a infinidade dedoenças físicas com causa na mente ouno pensamento das pessoas, incluídos aíos vícios e as dependências, ela procurao diálogo e o aconselhamento como con-tribuição aos parceiros da extensão ru-ral, que são as famílias rurais.

Atuando muito próximo da linha dasconfidências pessoais, em clima de ami-zade, compreensão e interesse pelo serhumano, Marinesa tem vivido momen-tos incomuns. Lembra que algumas desuas assistidas costumam aparecer noescritório da Epagri para o inusitado:“Vim buscar o meu abraço. Preciso delepara sobreviver!”

Uma atitude comum da extensio-

nista é jamais reproduzir o negativo eprocurar capacitar-se para, nas horasgraves, poder atuar como “conselheira” e“enfermeira”, já que o contexto temimpingido às famílias um quadro de ten-são emocional com reflexos na saúde e nohumor.“Precisamos conversar com eles, poderdizer a eles uma receita de cháfitoterápico, um exercício de relaxamen-to. Essa relação muito próxima, huma-na, amiga, comprometida, faz muita di-ferença no meu trabalho”, completaMarinesa.

Cidadania também ajuda

O município de São Ludgero foi sacu-dido na semana do meio ambiente de1998. A extensionista Cleusa Ghizzi, àfrente de uma comissão, movimentou750 alunos das escolas municipais, como apoio da municipalidade e dos profes-sores. Foram sete dias de palestras, pes-quisas, trabalhos manuais, teatro, pas-seata, cartazes, faixas, fantoches,cânticos, exercícios de separação de lixoe plantio de árvores. O lema da semanafoi “devemos ser conscientes que a conti-nuidade da vida no planeta, em quanti-dade e qualidade, depende muito da nos-sa ação junto à natureza”.

“No entender da coordenação da Se-mana do Meio Ambiente, se a criança aosair da escola não souber colocar o conhe-cimento em prática na sua relação com omundo, não conseguirá exercer plena-mente a sua cidadania”, declarou Cleusa.

48 anos, quando jovens.São seis vacas produzindo 3.000

litros/mês, metade entregue paralaticínio e metade transformada emqueijos tipos minas meia cura,provolone, ricota, coalhada, iogurte enata, com vendas diretas aoconsumidor. A renda bruta passa deR$ 1.200,00/mês.

O filho Luiz Alberto, 23 anos, ex--funcionário de um posto de gasolina,está integrado também à atividaderural, o que permite ao casal traçarplanos: quer chegar a 6.000 litros/mêse dobrar a renda atual.

Pesque, brinque, coma,beba e pague

Leonardo Bez Fontana, 52 anos, eVilma Preve Fontana, 50 anos, comseus dois filhos adultos, Gilson, 22anos, e Giovani, 16 anos, modificaramo perfil de sua propriedade depois quetrês deles passaram por cursos depanificação, administração rural,piscicultura de água doce, indús-tria artesanal de pescados e agroe-cologia.

Quase 3ha de açudes, concluídosem março/98, estão povoados compeixes adultos: tilápia, quatro espéciesde carpas, bagre africano, pacu,curimbatã, piauaçu e traíra. Umrestaurante para 300 pessoas, ao lado,espera pelos clientes da região eturistas, a 3km do centro de Treze deMaio. “Ainda não deu para sentir aemoção dos negócios porque choveudemais desde que iniciamos”, dizLeonardo.

Entusiasmados, fazem planos:piscina, chuveirão, “play ground”,pedalinhos e um projeto de marketingpara melhorar as relações com aclientela.

E não é só. Produzirão hortaliças,como membros de uma associação dehorticultores que reunirá produtoresecológicos.

Como Treze de Maio não se vale desua proximidade aos centrosconsumidores, a que nos referimosquando do enfoque de São João doItaperiú, vislumbra-se aqui umaalternativa válida também para odistante Oeste Catarinense.

Fontana: a esperado sol e do cliente

ReportagemReportagemReportagemReportagemReportagem

o

Page 48: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 47

Centro de PesquisaCentro de PesquisaCentro de PesquisaCentro de PesquisaCentro de Pesquisacomemora 50 anoscomemora 50 anoscomemora 50 anoscomemora 50 anoscomemora 50 anos

As pesquisas em manejo e con-servação do solo e microbaciashidrográficas, os trabalhos com ouso de dejetos orgânicos na agricul-tura, as pesquisas com erva-mate e aorganização do setor ervateiro esta-dual e nacional e o lançamento dolivro “O desenvolvimento sustentá-vel no Oeste Catarinense” são al-guns resultados de destaque nacio-nal e internacional atingidos peloCentro de Pesquisa para PequenasPropriedades – CPPP da Epagri, emChapecó, que este ano comemorou50 anos de intensos trabalhos e açõesem prol da agropecuária catarinensee brasileira.

A história do Centro de Pesquisaremonta ao ano de 1948 com a cria-ção do Posto Agropecuário do Minis-tério da Agricultura, e em 1968 oPosto foi elevado à condição de Esta-ção Experimental, que além de fo-mento passou a desenvolver traba-lhos com novas culturas agrícolas.

Em 1975, o Ministério repassou àEmbrapa toda a sua estrutura depesquisa agropecuária, e com a cria-ção da Empresa Catarinense de Pes-quisa Agropecuária S.A., a entãoEmpasc, o Estado de Santa Catarinaabsorveu esta e também outras uni-dades de pesquisa do Ministério, aexemplo das Estações Experimen-tais de Videira, Caçador, Urussangae Lages.

Em 1983, a Estação foi transfor-mada em Centro de Pesquisa paraPequenas Propriedades, projeto iné-dito no país pois tratava-se de umaproposta nova, diferente do que vi-nha sendo feito em termos de pes-quisa, e inclusive o trabalho em con-junto entre pesquisa e extensão ru-ral atingindo basicamente a peque-na propriedade rural familiar doOeste Catarinense. Chefiando atual-mente o Centro de Pesquisa estáo engenheiro agrônomo RogerDelmar Flesch, que é um dos 29

pesquisadores que compõem esta uni-dade, a qual possui ainda 11 agentestécnicos de desenvolvimento rural einstrutores. Dos 29 pesquisadores (in-cluindo também o atual gerente regi-onal, engenheiro agrônomo Leandrodo Prado Wildner), 5 possuem douto-rado, 22 têm mestrado e 2 com cursosuperior. Exemplo concreto do reco-nhecimento nacional e internacionaldos trabalhos do CPPP foi a realiza-ção, em Chapecó, de dois grandeseventos, o II Workshop sobre Erosãodo Solo, em 1996, com a participaçãode técnicos de 20 países, e o Workshopsobre Sistema de Cobertura do Solo eAdubação Verde para Pequenos Agri-cultores, em março de 1997, com avinda de 100 especialistas de mais de25 países. Além disso, quase que anu-almente o CPPP tem sediado impor-tantes eventos técnicos regionais enacionais relacionados às culturas dofeijão, milho, trigo/triticale, soja, etc.

Análises laboratoriais edesenvolvimento municipal

A estrutura física do CPPP é com-posta pela sede, uma moderna unida-de de pesquisa científica na agropecu-ária, e pela área experimental ondesão conduzidos os projetos agronômi-cos. A unidade possui as seguintesinstalações: prédio da administração,laboratórios, auditório, biblioteca,unidade de beneficiamento de semen-tes, casa de vegetação, central decomputação, posto meteorológico ecasa de apoio às atividades de pesqui-sa. Fundamental tem sido o apoio doslaboratórios de solos, de sementes edo recém-inaugurado laboratório deanálise de água nos diversos traba-lhos de pesquisa e extensão do Cen-tro, bem como nas demandas dos agri-cultores, empresas, cooperativas, fa-culdades, colégios agrícolas e públicoem geral. O laboratório de análisede solos do CPPP é filiado à Rolas –Rede Oficial de Laboratórios de Análi-se de Solos-RS/SC, órgão coordenadordo controle de qualidade. Desde oinício de suas atividades, em janeirode 1979, o laboratório já processou emtorno de 180 mil amostras de solo,dentro de um alto padrão de eficiência

e qualidade, o que lhe dá o direito deutilização do selo de qualidade daRolas. As análises compreendem adeterminação da necessidade decalcário, pH em água, fósforo dispo-nível, potássio trocável, matéria or-gânica, alumínio trocável, cálcio emagnésio trocáveis e teor de argila.Também são feitas análises físicasdo solo que permitem a avaliaçãocorreta da estrutura e textura domaterial. Já o laboratório de análisede sementes realiza importante tra-balho na verificação da qualidade dasemente produzida, fazendo parte darede de laboratórios credenciadospelo Ministério da Agricultura quepresta serviços aos produtores desementes do Estado. A análise abran-ge o índice de germinação, o índicede pureza, presença ou não de se-mentes de ervas daninhas e presen-ça de doenças nas sementes. Hámais de 20 anos trabalhando emChapecó e região, o laboratório járealizou milhares de análises, bene-ficiando principalmente pequenos emédios produtores rurais.

Inaugurado em março de 1998, olaboratório de análise de água traba-lha basicamente em três blocos deanálises: no primeiro bloco são rea-lizadas nove determinações, entreelas nitrato, coliformes fecais e to-tais, alcalinidade, dureza, teor defosfato, DBO – Demanda Bioquímicade Oxigênio. Estas análises visampreencher os requisitos de um proje-to de monitoramento de recursoshídricos e educação ambiental. Estebloco é chamado de IQA – Índice deQualidade da Água. O segundo blocode determinações está voltado paraa população do meio urbano e rural.O objetivo é definir a potabilidade daágua, seja tratada ou natural, prove-niente de poços artesianos ou super-ficiais. E o terceiro bloco de análisesé direcionado para criação de peixes.As análises visam detectar a qualida-de da água para os peixes, principal-mente porque na região Oeste sãomuito utilizados os dejetos de suínose aves nas águas. O laboratório jáestá efetuando cerca de 50 análises

REGISTRO

#

Page 49: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

48 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

por dia.Por fim, mas não menos impor-

tante, é o trabalho dos agentes técni-cos de desenvolvimento, os ATDs.Esses técnicos, a maioria extensio-nista, foram preparados pela Epagripara assessorar os municípios nosaspectos de desenvolvimento e pla-nejamento e execução de ações nasáreas de abrangência das diversaslocalidades. Na região Oeste, cadaATD é responsável por sete ou oitomunicípios, e em recente avaliaçãodos seus trabalhos a região deabrangência do CPPP foi considera-da destaque estadual nas ações deassessoria ao desenvolvimento mu-nicipal.

Registro deRegistro deRegistro deRegistro deRegistro dePhytophthoraPhytophthoraPhytophthoraPhytophthoraPhytophthora em soja em soja em soja em soja em soja

no Estado de Santano Estado de Santano Estado de Santano Estado de Santano Estado de SantaCatarinaCatarinaCatarinaCatarinaCatarina

Duas áreas na comunidade deAraçá, município de Abelardo Luz,com aproximadamente 15 e 100hachamaram a atenção do engenheiroagrônomo Luiz Carlos Chiapinotto(Coopervale). As duas lavouras de

soja (safra 1997/98), que seencontravam no estádio dedesenvolvimento R3 e foramconduzidas no sistema deplantio direto com a cultivarFT-Iramaia, apresentavamsintomas de doença.

Segundo informações dopesquisador Armando CorrêaPacheco, do Centro de Pesqui-sa para Pequenas Proprieda-des/Epagri, a lavoura menorsituava-se num vale e apresen-tava plantas doentes (alta seve-ridade) e mortas (Figura 1) etambém muitas plantas indivi-duais com sintomas deamarelecimento das folhas maisvelhas, progredindo para asmais novas e escurecimento dahaste. Havia muitas plantasmortas (em vários estádios dedesenvolvimento), levando-se aacreditar que uma doença seinstalou já nos estádios iniciaisda cultura (Figura 2).

A lavoura com 100ha, situa-da num altiplano, tambémmostrava os mesmos sintomas,entretanto, com menor inci-dência. Plantas doentes foramusadas na tentativa de se fazer isola-mento de fungos, no Laboratório de

Fitossanidade do Centro de Pesqui-sa para Pequenas Propriedades –CPPP. Como resultado dos isola-mentos observou-se a presença dofungo Phytophthora sp. Plantas do-entes foram remetidas à Embrapa-Trigo, na cidade de Passo Fundo, RS,para análise, e a presença do patógenoPhytophthora sojae foi confirmadanas plantas de soja oriundas de San-ta Catarina.

A primeira ocorrência dePhytophthora sojae no Brasil foi ob-servada em 1993, no Rio Grande doSul, por Costamilan et al.(Fitopatologia Brasileira, 21, N.3,p.395, 1996).

Mais informações com o enge-nheiro agrônomo Armando CorrêaPacheco, Epagri/Centro de Pesquisapara Pequenas Propriedades – CPPP,Caixa Postal 791, Fone (049) 723-4877, Fax (049) 723-0600, 89801-970Chapecó, SC.Figura 1 – Phytophthora em reboleiras

Figura 2 – Plantas doentes (em váriosestádios de desenvolvimento) e mortas

RegistroRegistroRegistroRegistroRegistro

o

Page 50: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 49

Alimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animal

Freqüência de distribuição de concentrados e oFreqüência de distribuição de concentrados e oFreqüência de distribuição de concentrados e oFreqüência de distribuição de concentrados e oFreqüência de distribuição de concentrados e ouso de bicarbonato de sódio na produção euso de bicarbonato de sódio na produção euso de bicarbonato de sódio na produção euso de bicarbonato de sódio na produção euso de bicarbonato de sódio na produção ecomposição do leite em vacas Holandesascomposição do leite em vacas Holandesascomposição do leite em vacas Holandesascomposição do leite em vacas Holandesascomposição do leite em vacas Holandesas

Paulo Sérgio de Azevedo, Ivan Pedro de Oliveira Gomes,Walter Hoeschl Neto, André Thaler Neto e

Vitor Hugo Sartori

os últimos anos, o nível de pro-dução das vacas leiteiras de ra-

ças especializadas tem aumentado con-sideravelmente. Isto ocorreu devidoao melhoramento genético e aos pro-gressos obtidos nas áreas de manejo ealimentação. Atualmente, o manejode vacas de alta produção requer cui-dados. Pequenas mudanças no mane-jo dos animais provocam alteraçõessignificativas na produção e composi-ção do leite. Portanto, torna-se neces-sário o estudo de práticas de manejoque visem uma elevada produção deleite e de seus componentes, visto quea comercialização do leite já está sen-do feita levando em conta os teores degordura e proteína, como ocorre nospaíses desenvolvidos.

O método mais utilizado de distri-buição de alimentos para vacas leitei-ras caracteriza-se pelo fornecimentoindividualizado de quantidades limi-tadas de alimentos concentrados, nor-malmente duas vezes ao dia durantea ordenha dos animais, e o forneci-mento de volumosos à vontade emcochos coletivos e/ou através depastejo direto. Com a elevação donível de produção das vacas leiteirastorna-se necessário o uso de quanti-dades mais elevadas de alimentos parasuprir adequadamente a maior de-manda de nutrientes, principalmentede energia. Com isso, a dieta de umavaca leiteira de alta produção, eminício de lactação, pode conter umnível baixo de fibra (menor que 19%

de FDA).As principais conseqüências de uma

dieta com baixo nível de fibra são aredução do pH ruminal e a diminuiçãoda relação acetato:propionato (1).Além disso, em vacas leiteiras o pHruminal abaixo de 6,3 provoca redu-ção na digestibilidade da fibra emdetergente ácido (FDA) de 3,6 unida-des percentuais para cada 0,1 unidadede decréscimo do pH, podendo resul-tar na redução do consumo de alimen-tos (2).

O efeito mais pronunciado de die-tas com nível elevado de concentradosé a redução do teor de gordura doleite. A redução da relaçãoacetato:propionato provoca alteraçõesmetabólicas na vaca em lactação. Nosruminantes, a secreção de insulinaparece ser controlada pela concentra-ção de ácidos graxos voláteis no san-gue, sendo o ácido propiônico maispotente na estimulação de insulina doque o ácido acético (1). A insulinaprovoca o aumento na deposição degordura na glândula mamária(lipogênese), reduzindo a disponibili-dade de ácidos graxos para a síntesede gordura na glândula mamária (3).Em animais alimentados com altosníveis de concentrados, o aumento daproporção de ácido propiônico norúmen ocasiona uma elevação dosníveis plasmáticos de insulina, especi-almente após as refeições (1 e 4).

Um aumento da freqüência de ali-mentação, especialmente de concen-

trados, pode aumentar e tornar maisestável a relação acetato:propionato ecom isso provocar uma elevação dasíntese de gordura do leite (1, 4 e 5).Num experimento, o fornecimento deconcentrados duas vezes ao dia provo-cou uma grande variação do pH aolongo do dia, sendo que o valor infe-rior (pH 5,4) ocorreu 3 a 4 horas apósa ingestão do concentrado, ao passoque, com a distribuição mais freqüen-te de concentrados (doze vezes ao dia),ocorreu redução na variação diária depH, bem como aumento no seu nívelmédio (1).

Outra forma de diminuir os efeitosdo uso de níveis elevados de concen-trados é a utilização de substânciastamponantes, que auxiliam a açãofisiológica da saliva em manter o pHruminal em níveis estáveis (2). Alémdisso, essas substâncias aumentam aingestão de água e a taxa de diluiçãodo líquido ruminal, diminuindo a di-gestão ruminal do amido e a produçãode propionato (6).

O bicarbonato de sódio é atual-mente a substância tambonante maisutilizada para vacas leiteiras. Dadosde 82 experimentos com o uso detamponantes em dietas com baixosníveis de volumosos mostraram umaumento do pH ruminal, da relaçãoacetato:propionato e do teor de gordu-ra do leite, especialmente em dietascontendo menos de 30% de matériaseca (MS) de volumosos (2). Em 17trabalhos onde a silagem de milho foi

NNNNN

#

Page 51: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

50 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

Alimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animal

o único volumoso utilizado, a adiçãode bicarbonato de sódio aumentou oconsumo de MS em 0,5kg/dia e aprodução de leite corrigida a 4% degordura (LCG4%) em 1,1kg/dia (2).No Brasil (7), o uso de 200g/vaca/diade bicarbonato de sódio, em vacasalimentadas com silagem de milho econcentrados fornecidos duas vezespor dia, provocou um aumento de1,5kg/dia na produção de leite e umaelevação de 3,2 para 3,8% no teor degordura do leite. Também nesse tra-balho foi observado aumento no con-sumo de alimentos de 13,1 para 15,3kgde MS/dia, elevação na relaçãoacetato:propionato de 2,4 para 2,83 eaumento no pH ruminal de 6,2 para6,5.

Este experimento teve como obje-tivos verificar a influência da freqüên-cia de distribuição de concentrados edo uso de bicarbonato de sódio nadieta, sobre a produção e composiçãodo leite em vacas da raça Holandesa.

Material e métodos

O experimento foi conduzido nomunicípio de Correia Pinto, SC, noperíodo de julho a novembro de 1993.Foram utilizadas doze vacas da raçaHolandesa distribuídas em um deli-neamento experimental do tipo qua-drado latino 4 x 4, com quatro trata-mentos, repetido três vezes, num ar-ranjo fatorial 2 x 2, totalizando 48parcelas. Foram testadas duas fre-qüências de distribuição de concen-trados (duas e três vezes ao dia) e doisníveis de bicarbonato de sódio (0 e120g/vaca/dia).

As vacas foram distribuídas dentrode cada quadrado conforme a ordemde parição e a produção de leite. Cadavaca recebeu todos os tratamentosem quatro períodos diferentes, inicia-dos a partir de 60 dias pós-parto, sen-do submetidas a cada tratamento porum período de três semanas (duas deadaptação à dieta e uma de coleta domaterial).

Os animais foram alimentados comsilagem de milho à vontade e pastoreiorestrito em uma consorciação de aveia,azevém e trevo branco. Foram forne-cidos 12kg de concentrado/vaca/dia

com 16% de PB e 72% de NDT, com-posto por milho, farelo de soja, farelode trigo e suplemento mineral.

As ordenhas foram realizadas duasvezes ao dia, às 6 horas e 16 horas, ofornecimento de concentrado foi feitoàs 7 horas e 17 horas (duas vezes) e às7 horas, 12 horas e 17 horas (trêsvezes). O bicarbonato de sódio foi for-necido duas vezes ao dia, juntamentecom o concentrado (7 horas e 17 ho-ras).

Os parâmetros analisados foram:produção média diária de leite(kg/dia), produção de leite corrigida a4% de gordura (kg/dia), teor de gordu-ra do leite (%) e teor de proteína doleite (%).

Os dados obtidos foram submeti-dos à análise de variância (ANOVA) e,quando necessário, as médias foramcomparadas pelo teste de Tukey no

nível de 5% de significância (8).

Resultados e discussão

Os dados obtidos na Tabela 1 indi-cam que o uso de bicarbonato de sódio,nas condições desse experimento,promoveu aumento no teor de gordu-ra do leite e na produção de leitecorrigida a 4% de gordura (LCG4%)quando o concentrado foi fornecidoduas vezes ao dia. Quando o concen-trado foi fornecido três vezes ao dia,não se observou efeito da adição debicarbonato de sódio nos parâmetrosavaliados (Tabela 2). Aparentemente,o aumento da freqüência de distribui-ção de concentrados anulou o efeitode bicarbonato, provavelmente devi-do à menor quantidade de concentra-do fornecido em cada refeição (de 6para 4kg).

Tabela 1 – Resultados médios de produção e composição do leite com distribuiçãode concentrados duas vezes ao dia

Níveis de bicarbonato de sódio(g/dia)

0 120

Produção de leite (kg/dia) 20,76 21,15LCG4% (kg/dia)(A) 17,64a 18,55bGordura (%) 2,93a 3,24bProteína (%) 2,77 2,73

(A) Produção de leite corrigida a 4% de gordura.Nota: a, b na mesma linha diferem entre si (P < 0,05).

Tabela 2 – Resultados médios de produção e composição do leite com distribuição deconcentrados três vezes ao dia

Níveis de bicarbonato de sódio(g/dia)

0 120

Produção de leite (kg/dia) 20,94 20,91LCG4% (kg/dia)(A) 17,64 18,04Gordura (%) 3,10 3,04Proteína (%) 2,75 2,84

(A) Produção de leite corrigida a 4% de gordura.Nota: Não há diferença estatística entre os valores na linha.

Parâmetros

Parâmetros

Page 52: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 51

Alimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animalAlimentação animal

O aumento na produção de leitecorrigida a 4% (0,91kg/dia) obtido nes-te experimento, com o uso de bicarbo-nato de sódio duas vezes ao dia (Tabe-la 1), foi similar à média encontrada(1,1kg/dia) em 17 trabalhos realizadosnos Estados Unidos, onde a silagemde milho foi o único volumoso utiliza-do (2). O aumento no teor de gordurado leite encontrado neste experimen-to foi inferior à elevação de 3,2 para3,8% obtida com 200g/vaca/dia debicarbonato de sódio, em vacas ali-mentadas com silagem de milho econcentrados fornecidos duas vezesao dia (7).

Com relação à freqüência dedistribuição de concentrados, iso-ladamente, não se observou efeitosignificativo sobre a produção e a com-posição do leite (Tabela 3). Isto confir-ma a hipótese de que para vacas nametade da lactação, como as utiliza-das neste experimento, alimentadascom dietas de média ou baixafermentabilidade, o aumento na fre-qüência alimentar tem pouco ou ne-nhum efeito (4).

Conclusões

O uso de bicarbonato de sódio au-menta a produção de leite e a percen-tagem de gordura do leite quando oconcentrado é distribuído duas vezespor dia.

As freqüências de distribuição deconcentrados usados não afetam a

6. RUSSELL, J.B.; CHOW, J.N. Another

theory for the action of ruminal buffer

salts: decreased starch fermentation

and propionate production. Journal of

Dairy Science, Champaign, v.76, n.3,

p.826-830, 1993.

7. CAMPOS NETO, O.; LAVEZZO, W.;

LAVEZZO, O.E.N.M.; RIBEIRO,

U.F.F.; RAMOS, A.A. Efeito

tamponante do bicarbonato de sódio

em vacas leiteiras. In: REUNIÃO ANU-

AL DA SOCIEDADE BRASILEIRA

DE ZOOTECNIA. 26, 1989, Porto Ale-

gre. Anais. Porto Alegre: UFRGS/SBZ,

1989. p. 134.

8. PIMENTEL GOMES, F. Estatística Expe-

rimental. 13. ed., Piracicaba: Nobel,

1990. 468p.

Paulo Sérgio de Azevedo, méd. vet., CRMV-

SP 09589, pós-graduando em Produção Ani-

mal – DMFA/FCAV/Unesp Jaboticabal. De-

partamento de Morfologia e Fisiologia Ani-

mal, Faculdade de Ciências Agrárias e Vete-

rinárias – FCAV/Unesp Jaboticabal, Rodovia

Carlos Tonanni, km 05, 14870-000 Jaboticabal,

SP, E-mail: [email protected], Ivan

Pedro de Oliveira Gomes, méd. vet., CRMV-

SC 1078, professor doutor do Departamento

de Zootecnia DZOO/CAV/Udesc Lages. De-

partamento de Zootecnia, Centro de Ciências

Agroveterinárias – CAV/Udesc, C.P. 281,

88520-000 Lages, SC, Walter Hoeschl Neto,

eng. agr., Crea-SC 2011, professor do

Departamento de Zootecnia – DZOO/CAV/

Udesc Lages. Departamento de Zootecnia,

Centro de Ciências Agroveterinárias – CAV/

Udesc, C.P. 281, 88520-000 Lages, SC, André

Thaler Neto, méd. vet., CRMV-SC 1499,

professor do Departamento de Zootecnia

DZOO/CAV/Udesc Lages, doutorando do

Instituto de Melhoramento Genético,

Universidade Técnica de Munique, Ale-

manha. Departamento de Zootecnia, Centro

de Ciências Agroveterinárias – CAV/Udesc,

C.P. 281, 88520-000 Lages, SC, E-mail:

[email protected] e Vitor Hugo Sartori,

méd. vet., CRMV-SC 1740, C.P. 815, 89801-

070 Chapecó, SC.

Tabela 3 – Resultados médios de produção e composição do leite com duas freqüên-cias de distribuição de concentrados

Freqüência de distribuição de concentrados(vezes/dia)

2 3

Produção de leite (kg/dia) 20,95 20,23LCG4% (kg/dia)(A) 18,10 17,99Gordura (%) 3,09 3,07Proteína (%) 2,75 2,80

(A) Produção de leite corrigida a 4% de gordura.Nota: Não há diferença estatística entre os valores na linha.

produção e composição do leite.

Literatura citada

1. FRENCH, N.; KENNELLY, J.J. Effects of

feeding frequency on ruminal

parameters, plasma insulin, milk yield

and milk composition in holstein cows.

Journal of Dairy Science, Champaign,

v.73, n.7, p.1857-1863, 1990.

2. ERDMAN, R.A. Dietary buffering

requirements of the lactation dairy

cow: a review. Journal of Dairy Science,

Champaign, v.71, n.12, p.3246-3266,

1988.

3. BAUMAN, D.E.; CURRIE, W.B. Partioning

of nutrients during pregnancy and

lactation: a review of mechanisms

involving homeostasis and

homeorhesis. Journal of Dairy

Science, Champaign, v.63, n.9, p.1514-

1529, 1980.

4. ROBINSON, P.H. Dynamic aspects of

feeding management for dairy cows.

Journal of Dairy Science, Champaign,

v.72, n.3, p.826-830, 1993.

5. YANG, C.M.J.; VARGA, G.A. Effects ofthree concentrate feeding frequencieson rumen protozoa, rumen digestakinetics and milk yield in dairy cows.Journal of Dairy Science, Champaign,v.72, n.3, p.950-957, 1989.

Parâmetros

o

Page 53: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

52 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

Fi topatologiaFi topatologiaFi topatologiaFi topatologiaFi topatologia

Clorose variegada dos citros: caracterização eClorose variegada dos citros: caracterização eClorose variegada dos citros: caracterização eClorose variegada dos citros: caracterização eClorose variegada dos citros: caracterização ealternativas no manejo da doençaalternativas no manejo da doençaalternativas no manejo da doençaalternativas no manejo da doençaalternativas no manejo da doença

Giovanina Fontanezzi Huang eLuís Antônio Chiaradia

Clorose Variegada dos Citros ouCVC, doença também conheci-

da no Brasil por “amarelinho”, estásendo uma das principais preocupa-ções dos citricultores. Esta doença,causada pela bactéria Xylella fastidio-sa, foi constatada no Estado de SãoPaulo em 1987 e rapidamente difun-diu-se em pomares de laranjeiras dosEstados de Minas Gerais, Rio de Ja-neiro, Paraná, Rio Grande do Sul,Goiás e Distrito Federal (1). Em 1995,esta doença foi verificada em laranjei-ras ‘Valência’ e ‘Caipira’, de pomarescomerciais e domésticos situados nasregiões Oeste e Extremo Oeste doEstado de Santa Catarina (2).

Levantamentos realizados peloFundecitrus mostram a evolução des-ta doença nos pomares paulistas. Em1994, 16,6% das plantas manifesta-vam sintomas, aumentando para23,7% em 1996 (3). Em 1997, 34% dospomares do Estado de São Paulo apre-sentavam sintomas de CVC, sendoestimado em 66 milhões o número de

plantas infectadas (4).Na Argentina, uma doença deno-

minada pecosita, que surgiu em 1984,apresenta características muito se-melhantes à CVC (1).

Sintomas e danos da doença

Os sintomas causados pela bacté-ria X. fastidiosa nas plantas cítricassão clorose nas folhas, frutos miúdos,plantas com copas menores, seca par-cial ou total das árvores, e podemculminar com a morte da planta. Demaneira geral, os sintomas desta do-ença aparecem inicialmente em al-guns ramos da árvore e podem evo-luir para toda a copa. Estes sintomassão decorrentes da proliferação dabactéria X. fastidiosa nos vasos doxilema, que impedem ou dificultam ofluxo da seiva (5).

A clorose nas folhas se manifestainicialmente por pontuaçõesinternervais (Figura 1A), que evolu-em para formações necrosadas, que

podem estender-se até a borda dolimbo foliar (Figura 1B). As pústulasna face superior das folhas apresen-tam correspondente formação de bo-lhas de coloração amarelada na faceinferior. Podem surgir nas folhas sin-tomas semelhantes à deficiêncianutricional de zinco, boro e potássio(1 e 3).

Os frutos ficam miúdos (Figura1C), endurecidos, com sabor mais áci-do e a casca amadurece precocemen-te. Estes frutos, pela baixa qualidadeque apresentam, não são aceitos pelomercado de frutas frescas, nem pelasindústrias de processamento de suco.

As plantas jovens infectadas comCVC apresentam menor desenvol-vimento da copa em relação às plan-tas sadias. Por isso, os danos destadoença são mais expressivos em vi-veiros e pomares em formação, quepossuam árvores com menos dequatro anos de idade. Plantas commais de sete anos apresentamsintomas localizados e raramente

Figura 1 – Sintomas da Clorose Variegada dos Citros: (A) clorose inicial em folhas, (B) lesões emfolhas com início de necrose e (C) frutos miúdos comparados com fruto normal

A B C

AAAAA

Page 54: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 53

são totalmente afetadas (1).

Disseminação da doença

A bactéria causadora da CVC podeser disseminada por materialpropagativo, mudas contaminadas,ferramentas, tais como canivetes deenxertia, tesouras de poda, serrotes,e, principalmente, por meio de inse-tos vetores.

Os vetores da CVC em citros sãoinsetos conhecidos vulgarmente porcigarrinhas, que ao sugarem a seivadas plantas doentes se contaminamcom a bactéria e, posteriormente, ino-culam em plantas sadias. Mais de 70espécies de cigarrinhas são potenciaistransmissoras desta bactéria, pois sealimentam nas plantas cítricas e/ouna vegetação intercalar dos pomares(1 e 6).

As espécies Dilobopteruscostalimai, Oncometopia facialis eAcrogonia sp. (Homoptera,Cicadellidae) são comprovadamentetransmissoras de CVC para os citros(1, 6 e 7). Espécimes pertencentes aogênero Acrogonia (Figura 2A), queapresentam comprimento aproxima-do de 0,9cm, localizam-se predomi-nantemente na face superior de fo-lhas novas. A cigarrinha D. costalimai(Figura 2B) mede 0,8cm de compri-mento e tem o hábito de se alimentarnas hastes tenras, situadas logo abai-xo dos ponteiros, ou nas nervuras dasfolhas novas. A espécie O. facialis(Figura 2C), que mede 1,1cm de com-primento, é geralmente encontrada

se alimentando nos ramos mais de-senvolvidos das brotações (6).

Estas espécies, e outras potenciaistransmissoras desta bactéria para asárvores cítricas, tais como Molomeacincta, Sonesimia grossa, Ferrarianatrivitatta e Hortensia similis(Homoptera, Cicadellidae), foramconstatadas em pomares das regiõesOeste e Extremo Oeste do Estado deSanta Catarina.

Medidas para a convivênciacom a CVC

Até o momento não existem méto-dos ou práticas comprovados que se-jam eficientes para controlar estadoença nos citros, decorrente dos se-guintes fatores:

• A bactéria X. fastidiosa possuielevado número de outros hospedei-ros, destacando: cafeeiro, parreira,amoreira, pessegueiro, ameixeira,pereira, plátano e alfafa. Por outrolado, existem espécies vegetais quesão assintomáticas quando infectadaspela bactéria (1).

• O número de espécies decigarrinhas com potencial para seremvetoras da bactéria em citros é eleva-do, além de não serem pragas especí-ficas desta cultura (6).

• Não existe recomendação de pro-dutos químicos de ação profilática oupara o controle de X. fastidiosa emcitros. Por isso, o plantio de varieda-des tolerantes e/ou resistentes àdoença, uso de mudas sadias, poda deramos com sintomas de CVC, manejo

das cigarrinhas vetoras e da cobertu-ra vegetal intercalar dos pomares sãoalgumas práticas sugeridas para seraplicadas visando evitar a doença e/ouconviver com a bactéria em pomaresinfectados.

Reação de citros à CVC

Os resultados de pesquisa apon-tam diferentes graus de tolerânciae/ou resistência das plantas cítricas àCVC, conforme pode ser visto na Ta-bela 1.

Apesar de as laranjas doces seremsuscetíveis à CVC, existem diferençasna severidade da doença entre as va-riedades e clones. Em pomares muitoatacados é possível encontrar árvoresque não mostram sintomas da doen-ça, sendo prováveis plantas que nãoforam infectadas, que ainda não de-senvolveram a doença ou que apre-sentam níveis de resistência à bacté-ria. Por isso, é interessante procurarplantas assintomáticas em pomaresinfectados, pois estas plantas poderãose tornar fonte de material resistenteà doença.

Produção de mudas

A presença de insetos vetores nocampo dificulta a produção de mudasde citros livres da X. fastidiosa. O usode tela antiafídica para proteger asplantas matrizes, borbulheiras, por-ta-enxertos e mudas são alternativassugeridas para evitar a infecção comCVC (1 e 3).

A B C

Figura 2 – Espécies de cigarrinhas vetoras de CVC em citros: (A) Acrogonia sp.,(B) D. costalimai e (C) O. facialis

Fi topatologiaFi topatologiaFi topatologiaFi topatologiaFi topatologia

#

Page 55: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

54 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

Fi topatologiaFi topatologiaFi topatologiaFi topatologiaFi topatologia

Esta nova metodologia de produ-ção de mudas, que envolve ambientesprotegidos, tubetes, necessidade deirrigação, entre outras práticas, ape-sar de já estar sendo adotada poralguns viveiristas, merece maioresinvestigações de sua praticidade e efi-ciência para segurança de sua reco-mendação.

Os viveiristas que permanecem nosistema convencional de produçãodevem utilizar material comprova-damente livre de CVC, instalar seusviveiros distantes de pomares comcopas suscetíveis e controlar ascigarrinhas para evitar a contamina-ção das mudas (1).

Por outro lado, os citricultoresdeverão comprar mudas apenas dosviveiristas que atendam a estes requi-sitos.

Uso da poda

Estudos mostraram que a bactériaX. fastidiosa em citros está localizadapróxima dos locais em que surgem ossintomas na planta. Por isso, a elimi-nação dos ramos doentes passa a seruma prática recomendada para redu-zir a fonte de inóculo e diminuir aschances dos insetos dispersarem etransmitirem o patógeno (1 e 3).

Os melhores resultados de contro-le da CVC com o uso da poda sãoobtidos em pomares com mais de trêsanos, que possuem poucas árvoresdoentes e que apresentam sintomasiniciais da doença.

Durante o período de janeiro ajulho, os sintomas de CVC nas folhaspodem ser vistos facilmente, porém,de agosto a dezembro, ficam mascara-dos pela queda das folhas doentes epela presença de brotações novas (3).Por isso, a época e os critérios depoda sugeridos estão expressos naTabela 2.

As plantas doentes com idade infe-rior a dois anos devem ser erradicadas,enquanto que nas árvores com maisde seis anos, que produzem os primei-ros frutos miúdos, a poda deve serfeita na forquilha do galho doente (1 e3). É oportuno salientar que o contro-le da CVC com a poda poderá se mos-trar ineficiente quando a bactéria esti-

Tabela 1 – Reação das espécies e variedades de citros à CVC

Reação de citros à CVC Espécies/variedades

Resistentes Limões: ‘Eureka’ e ‘Siciliano’; limas ácidas: ‘Tahiti’ e‘Galego’; tangerinas: ‘Ponkan’, ‘Satsuma’ e ‘Dancy’;

tangelos; limas doces e laranja azeda.

Moderadamenteresistentes Toranjas; pomelos; tangerinas ‘Cravo’ e ‘Murcott’ e cidras.

Suscetíveis Laranjas doces e tangerinas ‘Tankan’ e ‘Clementina’.

Fonte: (1, 7 e 8).

Tabela 2 – Épocas e locais recomendados para a poda de ramos infectados pela CVC

Distância da poda abaixo daúltima folha com sintoma

Janeiro a março 50cmAbril e maio 70cmJunho e julho 1m

Fonte: (1 e 3).

Época do ano

ver infectando ramos sem mostrarsintomas visuais da doença.

Para evitar a disseminação da bac-téria pela poda, tesouras e serrasdevem ser desinfetadas com água sa-nitária ou amônia quaternária apóso corte de cada ramo. O pincelamentocom pasta cúprica nos locais em quefoi feita a poda é uma prática reco-mendada para prevenir a entrada defungos patogênicos.

Monitoramento e controle dascigarrinhas

O monitoramento da infestação decigarrinhas no pomar pode ser feitopelo uso de armadilhas adesivas decoloração amarela, captura dos inse-tos com rede entomológica (puçá) ouatravés da observação visual.

A observação visual deve ser feitadiretamente nas brotações, principal-mente as situadas na parte superiorda copa das árvores. É oportuno sali-entar que as cigarrinhas pertencen-tes à família Cicadellidae costumamse esconder atrás dos ramos quandoalguém se aproxima, fato que poderádificultar sua visualização. Aamostragem com redes entomológicas

deve ser feita desferindo a rede dire-tamente contra as brotações e con-tando as cigarrinhas capturadas narede. As armadilhas atrativas, queconsistem em cartões amarelos im-pregnados com cola especial, devemser instaladas na periferia das copasdas árvores, na altura de 1,5 a 2,0m dosolo.

Os levantamentos da infestação decigarrinhas a campo devem ser feitoscom periodicidade quinzenal, nas épo-cas de brotação, fazendo-seamostragem em 1% das árvores dopomar e no mínimo em 20 plantas, depreferência naquelas situadas na pe-riferia do pomar e nas áreas adjacen-tes de matas.

O nível de ação para o controlequímico destas pragas carece de mai-ores investigações para ser estabele-cido, mas por serem insetosdisseminadores da bactéria é interes-sante que suas populações sejammantidas baixas, principalmente nospomares infectados pela CVC (1).

Até o momento, existe apenas oingrediente ativo imidacloprid regis-trado para o controle destascigarrinhas em citros (9). Este produ-to apresenta formulação destinada à

Page 56: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 55

Nossa contribuição ao meio ambiente de

Santa Catarina se escreve assim:

sua aplicação no tronco das árvores,constituindo-se de uma alternativaecológica de controle destas pragas eque apresenta resultados de controlepor até 45 dias.

Pelo efeito que a CVC provoca nadinâmica da água dentro da plantacítrica, recomenda-se que em poma-res infectados com a doença não se-jam utilizadas gramíneas na cober-tura vegetal intercalar. Plantasdesta família competem com oscitros em água e nutrientes, além deexistir suspeita de que algumasespécies de cigarrinhas que sereproduzem nestas plantas tambémestejam associadas à transmissão deCVC (1).

Literatura citada

1. DONÁDIO, L.C.; MOREIRA, C.S. (Coord.).Clorose variegada dos citros. Bebe-douro, SP: FUNDECITRUS, 1997.162p.

2. LEITE JR., R.P.; HUANG, G.F.; UENO, B.Ocorrência da clorose variegada doscitros no Estado de Santa Catarina.Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.22,n.2, p.214, 1997.

3. FUNDECITRUS. Manual de convivênciacom a CVC. Araraquara: Centro dePesquisas Citrícolas, 1997. 16p.

4. OLIVEIRA, R. Doença ataca 34% dos poma-res em SP, Jornal Folha de São Paulo,São Paulo, 16 set. 1997. Agrofolha, p.1.

5. ROSSETTI, V.; DE NEGRI, O. Clorosevariegada dos citros (CVC): revisão.Laranja, Cordeirópolis, v.11, n.1, p.1-14, 1990.

6. FUNDECITRUS. Manual técnico de iden-tificação de cigarrinhas. Araraquara:Centro de Pesquisas Citrícolas, 1997.12p.

7. LI, W.B.; DONÁDIO, L.C.; SEMPIONATO,O.R. Pesquisas recentes sobre clorosevariegada dos citros na Estação Expe-rimental de Citricultura. InformativoCoopercitrus, Bebedouro, SP, v.10,n.116, p.20-21, 1996.

8. LARANJEIRA, F.F.; POMPEU JUNIOR,J.; HARAKAVA, R.; FUIGUEIREDO,J.O.; CARVALHO, S.A.; COLETTAFILHO, H. Cultivares e espécies cítri-cas hospedeiras de Xylella fastidiosaem condições de campo. Fitopato-logia Brasileira, v.23, n.2, p.147-154,1998.

9. AGROTIS CONSULTORIA AGRONÔMI-CA LTDA. Sistema para a orientaçãoao controle fitossanitário, impressãode receitas agronômicas e orientaçãode uso de defensivos agrícolas.Curitiba, 1998. Software.

Giovanina Fontanezzi Huang, enga agr

a,

M.Sc., Cart. Prof. 34.587-2, Crea-SC, Epagri/Centro de Pesquisa para Pequenas Proprie-dades, C.P. 791, Fone (049) 723-4877, Fax(049) 723-0600, 89801-970 Chapecó, SC, E-mail: [email protected] e Luís AntônioChiaradia, eng. agr., M.Sc., Fitotecnia, Cart.Prof. 11.485, Crea-SC, Epagri/Centro de Pes-quisa para Pequenas Propriedades, C.P. 791,Fone (049) 723-4877, Fax (049) 723-0600,89801-970 Chapecó, SC, E-mail:[email protected].

Fi topatologiaFi topatologiaFi topatologiaFi topatologiaFi topatologia

o

*Até julho/98

Conhecimento, tecnologia e extensão

rural para o desenvolvimento de

Santa Catarina em benefício

da sociedade. Governo do Estado de Santa Catarina

Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural

e da Agricultura

Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão

Rural de Santa Catarina S.A.

7.877 esterqueiras construídas*pelo Programa Microbacias

Page 57: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

56 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

Necessidades de irrigação para a culturaNecessidades de irrigação para a culturaNecessidades de irrigação para a culturaNecessidades de irrigação para a culturaNecessidades de irrigação para a culturado milho no Litoral Sul Catarinensedo milho no Litoral Sul Catarinensedo milho no Litoral Sul Catarinensedo milho no Litoral Sul Catarinensedo milho no Litoral Sul Catarinense

Álvaro José Back

produtividade da cultura do mi-lho no Estado de Santa Catarina

apresenta grande variabilidade de anopara ano, sendo a queda geralmenteassociada com a ocorrência de déficitshídricos no solo determinados pelamá distribuição das chuvas. A irriga-ção tem sido recomendada como prá-tica para aumentar a produtividade ereduzir os riscos da agricultura.

Para um manejo mais eficiente daágua no solo, o projeto de irrigaçãodeve ser dimensionado de forma acomplementar a precipitação naturalnos períodos com insuficiente precipi-tação — isso se chama de irrigaçãosuplementar.

Do total precipitado sobre umacultura, parte é interceptada pelasplantas, parte infiltra no solo e orestante escoa superficialmente. Afração da água da chuva que atendediretamente às necessidades das plan-tas é chamada de precipitação efetiva,sendo dada pela precipitação totaldeduzida das perdas por escoamentosuperficial e por percolação abaixo dacamada de solo explorado pelas cultu-ras.

A demanda de água pelas culturasé suprida pela água da chuva (precipi-tação efetiva) e pela irrigação. Conhe-cendo-se a demanda da cultura e aprecipitação efetiva obtém-se, direta-mente, as necessidades de irrigação.A precipitação efetiva pode ser obtidapor meio de um balanço hídrico dacamada de solo explorado pelas cultu-ras, usando-se longas séries de dadosclimáticos.

Os projetos de irrigação elabora-dos sem considerar a contribuição daprecipitação efetiva podem sersuperdimensionados, com custos de

investimento mais elevados. Nas re-giões de clima úmido, como o LitoralSul Catarinense, não existe um perí-odo de seca definido e as chuvas sãomal distribuídas ao longo do ano. Oefeito da irrigação suplementar não étão previsível como nas regiões declima árido, por depender da distri-buição da precipitação e também pelofato de, geralmente, a irrigação pro-porcionar menor retorno econômico.Portanto, esses projetos podem nãoser lucrativos, principalmente quan-do não são dimensionados e maneja-dos adequadamente.

O manejo adequado da irrigaçãodeve considerar a contribuição da pre-cipitação, de forma a minimizar airrigação suplementar. Como benefí-cios pode-se citar a economia de ener-gia na captação e condução de águapara irrigação, uso de estruturas eequipamento de menor custo e, ainda,redução nas perdas de solo e nutrien-tes. Portanto, é de grande importân-cia o conhecimento das necessidadesde irrigação e a contribuição da preci-pitação no atendimento da demandahídrica das culturas.

Este trabalho teve como objetivodeterminar as necessidades de irriga-

ção para a cultura do milho, em dife-rentes épocas de semeadura, no Lito-ral Sul Catarinense, com a finalidadede subsidiar a elaboração de projetosde irrigação nesta região.

Metodologia

A estimativa da necessidade deirrigação da cultura do milho foi rea-lizada por meio do balanço hídrico deThornthwaite e Mather, adaptadopara intervalos horários (1). O estudofoi realizado a partir dos dados daEstação Meteorológica de Urussanga,SC (latitude 28o31' S, longitude49o19'W, altitude de 48,2m). Foramutilizados dados de precipitação doperíodo de 1949 a 1996, sendo aevapotranspiração de referência cal-culada pelo método de Penman--Monteith, com base nos dados doperíodo de 1980 a 1996.

Foram consideradas seis datas desemeadura recomendadas para o Li-toral Sul Catarinense (1o/8, 1o/9,1o/10, 1o/11, 1o/12, 1o/1, 1o/2) e solos daclasse argilo-arenoso e franco-argilo--arenoso, com os parâmetros físicosrelacionados na Tabela 1.

As durações das fases fenológicas

AAAAA

Tabela 1 – Características físicas dos solos consideradas no modelo de balanço hídrico.Epagri/Estação Experimental de Urussanga, 1998

Parâmetro Solo

Classe textural Argilo-arenoso Franco-argilo-arenoso

Condutividade hidráulica (mm.h-1) 1,2 4,3Fator de armazenamento (mm) 240 180Capacidade de campo (cm3. cm-3) 0,339 0,275Ponto de murcha (cm3. cm-3) 0,239 0,125Porosidade efetiva (cm3. cm-3) 0,38 0,350Capacidade de armazenamento (mm.cm-1) 1,0 1,5

I r r igaçãoIrr igaçãoIrr igaçãoIrr igaçãoIrr igação

Page 58: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 57

I r r igaçãoIrr igaçãoIrr igaçãoIrr igaçãoIrr igação

da cultura do milho foram determina-das com base nas observações de 18anos em experimentos de competiçãode cultivares, na região de Urussanga,SC. A duração de cada fase e os valo-res considerados para os diversosparâmetros da cultura constam naTabela 2.

No balanço hídrico consideraram aprecipitação e a irrigação como entra-das de água no solo, e aevapotranspiração, o escoamento su-perficial e a percolação profunda, comosaídas. A evapotranspiração máximafoi calculada multiplicando o valor docoeficiente de cultura (1, 2 e 3) pelovalor da evapotranspiração de refe-rência. O escoamento superficial foiestimado pela equação de Green-Ampt(1) e, sempre que o volume da precipi-tação infiltrada superava a capacida-de de armazenamento, o excesso eraconsiderado como percolação profun-da. A irrigação foi computada no mo-delo sempre que a umidade do soloatingia o limite crítico da cultura (2 e3). Com esse balanço hídrico determi-naram-se a necessidade de irrigaçãosuplementar e a precipitação efetivapara o milho, durante o ciclo da cultu-ra e, também no período crítico, nasdiferentes épocas de semeadura reco-mendadas para o Litoral Sul Catari-nense.

Resultados e discussão

Os resultados obtidos evidencia-ram que as necessidades de irrigaçãosuplementar variaram conforme asdatas de semeadura recomendadaspara a cultura do milho no Litoral SulCatarinense (Figura 1 e Tabela 3).

Necessidades de irrigaçãodurante o ciclo da cultura

Na Figura 1, são apresentadas asogivas de freqüência relativa acumula-da da necessidade de irrigação do mi-lho, para os dois tipos de solo, nas seisépocas de semeadura, durante o ciclocompleto da cultura. Tomando-secomo referência a freqüência acumu-lada de 80%, que equivale a um perí-odo de retorno de cinco anos, tem-secomo necessidade de irrigação suple-

Tabela 2 – Duração das fases fenológicas, profundidade do sistema radicular e coefici-ente de cultura. Epagri/Estação Experimental de Urussanga, 1998

Profundidade CoeficienteDuração do sistema de

(dias) radicular cultura(cm) (Kc)

Inicial S – S30 30 20 0,50Desenvolvimento S30 – F (A) (B) (B)

Floração F – F30 30 50 1,10Maturação F30 – MF 30 50 0,55

(A) 60/52/41/34/30/30, para semeadura em 1o/8, 1o/9, 1o/10, 1o/11, 1o/12, 1o/1 e 1o/2, respecti-vamente.

(B) Interpolado entre a fase inicial e de floração.Nota: S = Semeadura; S30 = 30 dias após a semeadura; F = início da floração masculina; F30

= 30 dias após a floração; MF = maturação fisiológica.

Fase fenológica

Figura 1 – Freqüência relativa acumulada da necessidade de irrigação do milho,durante o ciclo, nos solos argilo-arenoso e franco-argilo-arenoso, em seis datas de

semeadura. Epagri/Estação Experimental de Urussanga, 1998

#

Page 59: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

58 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

I r r igaçãoIrr igaçãoIrr igaçãoIrr igaçãoIrr igação

mentar do milho no solo argilo-areno-so as quantidades de 198, 210, 202,180, 125 e 125 mm para as respectivasdatas de semeadura de 1o/8, 1o/9/,1o/10, 1o/11, 1o/12, 1o/1. Para o solofranco-argilo-arenoso esses valoressão de 158, 175, 165, 130, 90 e 75mm,nas mesmas datas de semeadura. Re-tardando-se a semeadura a partir denovembro, diminui-se a quantidadede irrigação suplementar.

Necessidades de irrigação noperíodo crítico da cultura

O período crítico do milho, deter-minado quando se dá a polinização eenchimento dos grãos (4), ocorre 30dias antes e 30 dias após o início doflorescimento masculino.

Os valores médios dos fatores quecompõem o balanço hídrico, durante operíodo crítico do milho, cultivado emdois tipos de solo, variaram conformeas datas de semeadura recomendadaspara a cultura (Tabela 3).

A evapotranspiração é crescente apartir da semeadura de 1o/8 até1o/11, decrescendo para as datas se-guintes, nos dois tipos de solo. Quantoà precipitação efetiva, observa-se queos menores valores são para as datas

Tabela 3 – Valores médios resultantes do balanço hídrico da cultura do milho, duranteo período crítico, para seis épocas de semeadura em Urussanga, SC. Epagri/Estação

Experimental de Urussanga, 1998

ETm Pef Ir Qp Nir(mm) (mm) (mm) (mm) (no)

Solo argilo-arenoso

1o/8 248,1 136,8 111,3 39,0 3,61o/9 262,9 134,4 128,5 38,2 4,21o/10 262,8 153,1 109,7 38,8 3,81o/11 270,5 175,3 95,2 32,3 3,31o/12 241,8 163,2 78,6 30,9 2,41o/1 216,1 146,3 69,8 29,8 2,0

Solo franco-argilo-arenoso

1o/8 248,1 161,0 87,1 37,3 1,81o/9 262,9 180,1 87,8 37,0 2,01o/10 262,8 180,1 87,7 36,9 1,81o/11 270,5 206,2 64,0 31,8 1,41o/12 241,8 191,4 49,8 28,4 0,91o/1 216,1 171,3 44,8 28,4 1,2

Nota: ETm = evapotranspiração máxima; Pef = precipitação efetiva; Ir = irrigação; Qp =demanda de pico e Nir = número médio de irrigações.

Semeadura

de semeadura de 1o/8 e 1o/9, coincidin-do com o período crítico da cultura nosmeses de outubro-novembro e no-vembro-dezembro, respectivamente,para o solo argilo-arenoso. Por outrolado, no solo franco-argilo-arenoso amenor precipitação efetiva verifica-seem 1o/8, ocorrendo o período críticoem outubro-novembro.

A necessidade de irrigação no soloargilo-arenoso é máxima na semea-dura de 1o/9, enquanto que no solofranco-argilo-arenoso, praticamentenão difere para as datas de semeadurade 1o/8 a 1o/10, decrescendo para asdatas seguintes, devido ao aumentoda precipitação efetiva e/ou reduçãoda evapotranspiração.

No solo argilo-arenoso a precipita-ção natural atende de 55 a 68% daevapotranspiração da cultura do mi-lho, dependendo da época de semea-dura, e para o solo franco-argilo-are-noso esses valores ficam na faixa de 65e 79%. É importante ressaltar quetodos os dados apresentados na Tabe-la 3 são obtidos por meio do balançohídrico, considerando a irrigação quan-do o armazenamento atinge o limitecrítico. Sob uma condição onde não háirrigação, a precipitação efetiva tendea ser maior, pois naturalmente o solo

estará com menor armazenamentode água, e, assim, maior será a fraçãoda chuva aproveitada. Também omanejo de irrigação pode ser altera-do, visando o aumento da precipitaçãoefetiva, como, por exemplo, fazendoas irrigações de modo a elevar o teorde umidade até um determinado va-lor, abaixo da capacidade de campo,permitindo assim que maior fraçãodas chuvas futuras possa ser aprovei-tada.

A demanda de pico é definida peladiferença entre a evapotranspiraçãomédia e a precipitação efetiva, que éigualada ou superada em 80% dosanos, no intervalo de dez dias. Essevalor é recomendado paradimensionar o projeto de irrigação (3).Em ambos os solos, observa-se umaredução no valor da demanda de piconas semeaduras mais tardias. Nassemeaduras de 1o/8 a 1o/10 pratica-mente não há variação na demandade pico, enquanto que nas datas de1o/11 a 1o/1 ocorre uma redução acimade 15% em relação às anteriores. Issose verifica porque nas semeaduras de1o/8 a 1o/10 a demanda de pico ocorrenos meses de novembro e dezembro,caracterizados por menor precipita-ção efetiva, com 80% de probabilidadede ser igualada ou superada, em rela-ção aos meses de janeiro e fevereiro.

O número médio de irrigações temvariação semelhante à necessidadede irrigação, variando de quatro irri-gações para a data de semeadura de1o/9 a duas irrigações para o plantioem 1o/1, no solo argilo-arenoso, e deduas até uma irrigação para o solofranco-argilo-arenoso.

Sendo de 60 dias a duração doperíodo crítico, pelos valores donúmero médio de irrigações, tem-seem média um intervalo entre irriga-ções superior a 14 dias no solo argilo--arenoso, e superior a 30 dias no solofranco-argilo-arenoso. Essas informa-ções podem ser importantes para lo-cais com pouca disponibilidade hídrica,ou nas condições em que o custo dacaptação e condução de água é muitoalto. Nestes casos é recomendada (5)a utilização da irrigação aplicando,prioritariamente, no período maiscrítico. Essa prática pode trazer in-

Page 60: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 59

I r r igaçãoIrr igaçãoIrr igaçãoIrr igaçãoIrr igação

clusive maior renda líquida ao produ-tor (6).

Conclusões erecomendações

Considerando os resultados obti-dos conclui-se que:

• As necessidades de irrigação su-plementar, durante o ciclo completoda cultura do milho, variam conformea data de semeadura, alcançando va-lores mínimos e máximos de 125 a210mm e de 75 a 175mm para os solosargilo-arenoso e franco-argilo-areno-so, respectivamente;

• O período crítico da cultura domilho, nas semeaduras de agosto aoutubro, coincide com os períodos demaior freqüência de déficit hídrico,determinando maior necessidade deirrigação, no Litoral Sul Catarinense;

• O número médio de irrigaçõesnecessárias, no período crítico da cul-tura do milho, varia conforme a data

de semeadura, de 2,0 a 4,2 e de 0,9 a2,0, para os solos argilo-arenoso efranco-argilo-arenoso, respectivamen-te.

Considerando-se as necessidadeshídricas da cultura do milho duranteo período crítico e não havendo possi-bilidade de irrigação, é preferível atra-sar a semeadura para novembro. Apartir de novembro, as necessidadesde irrigação são menores, diminuindoos riscos de déficits hídricos, no Lito-ral Sul Catarinense, nos dois tipos desolo.

Literatura citada

1. BACK, A. J. Determinação da precipitaçãoefetiva para irrigação suplementar pelobalanço hídrico horário: Um caso--estudo em Urussanga, SC. Porto Ale-gre: UFRGS/Curso de Pós-Graduaçãoem Recursos Hídricos e SaneamentoAmbiental. 1997. 132p. Tese Doutora-do.

2. DOOREMBOS, J., PRUITT, W. O.

Guidelines for predicting crop waterrequirements. Rome: FAO, 1977. 144p.(Irrigation and Drainage Paper, 24).

3. SEDIYAMA, G. C. Necessidade de águapara os cultivos. Brasília: ABEAS, 1987.143p. (Curso de Engenharia da Irriga-ção. Módulo 4).

4. FANCELLI, A. L. Tecnologia de produçãode milho para alta produtividade.Piracicaba: Gráfica Universitária, 1994.223 p.

5. FEPAGRO. Recomendações técnicas paraa cultura do milho no Rio Grande doSul. Porto Alegre, 1996. 121p.

6. OLIVEIRA, J. L. Resposta do milho (Zeamays, L.) a irrigação suplementar porsulcos. Porto Alegre: UFRGS/Cursode Pós-Graduação em Engenharia deRecursos Hídricos e Saneamento, 1986.70p. Tese Mestrado.

Álvaro José Back, eng. agr., Dr., Cart. Prof.30.755-5D, Crea-SC, Epagri/Estação Experi-mental de Urussanga, C.P. 49, Fone/fax (048)465-1209, 88840-000 Urussanga, SC. E-mail:[email protected].

o

LANÇAMENTOSEDITORIAIS

Caracterização desintomas visuais dedeficências nutricio-nais em alface. BoletimTécnico no 87. 57p.

O trabalho visacaracterizar os sintomasvisuais típicos e individua-lizados de deficiências demacro e micronutrientesem alface cultivada emmeio hidropônico. Osautores, Antônio AmaurySilva Júnior e Eliséo So-prano, esclarecem queuma das dificuldades maiscomuns observadas emnível de lavoura é aconfusão que há entre ossintomas de deficiêncianutricional e de doenças,que muitas vezes podemestar relacionados. Como

origem patogênica são maislocalizados na planta, isto é,podem ocorrer em uma folhasem que a sua antípoda apre-sente qualquer sintoma,enquanto que os sintomasde origem nutricional sãomais ou menos simétricosna planta, ou seja,distribuem-se uniforme-mente ao longo de umplano transversal da planta.Este boletim está ricamen-te ilustrado – mais de 50figuras coloridas – tornandoas deficiências nutricionaisde mais fácil identificação.

Receitas com baseem arroz. Boletim Didáti-co no 24. 31p.

Este boletim divulga asreceitas mais gostosasapresentadas no “Primei-ro concurso de receitas àbase de arroz”, realizadodurante a VIII Festa doArroz, em Gaspar, SC.

regra geral, os sintomas de

* Estas e outras publicações da Epagri podem ser adquiridas na sede da Empresa em Florianópolis, ou mediante solicitação aoseguinte endereço: GMC/Epagri, C.P. 502, Fone (048) 239-5500, 88034-901 Florianópolis, SC.

Page 61: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

60 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

Conhecimento, poder e pragas - reflexões sobreConhecimento, poder e pragas - reflexões sobreConhecimento, poder e pragas - reflexões sobreConhecimento, poder e pragas - reflexões sobreConhecimento, poder e pragas - reflexões sobrea intervenção no meio rurala intervenção no meio rurala intervenção no meio rurala intervenção no meio rurala intervenção no meio rural

Michael McGuire

obert Chambers e outros auto-res, na introdução do livro

Farmer First (1989), denotam a “ter-ceira agricultura” como aquela de bai-xos recursos, que tipicamente se de-senvolve em áreas desfavoráveis oudifíceis: depende da chuva, situa-seem topografia acidentada (com solosproblemáticos ou frágeis), em zonasmarginais, ou zonas de montanha, deestiagem, de alta umidade, sobre bos-ques, montanhas, morros, savanas, epântanos (1). Comumente carece deinfra-estrutura física, econômica, esocial: luz, estradas, irrigação, arma-zenagem, acesso a mercados, crédito,insumos, capacitação e informação. Ainvestigação agrícola convencionalgera pacotes insumo-intensivos, quesão simples e adequados à adoçãoampla em ambientes uniformes e debaixo risco. Mas pacotes simples e dealto uso de insumos não se adaptambem aos pequenos, complexos e diver-sificados sistemas agrários de altorisco, que caracterizam a agriculturade baixos recursos. Assim, a investi-gação convencional não responde àsnecessidades dos praticantes da ter-ceira agricultura. Cabe lembrar quebem mais de um bilhão de pessoas,aproximadamente uma quarta parteda população global, dependem parasua subsistência desta agricultura,que tem sido, em geral, pobrementeservida pela investigação agrária. Porconseguinte, a adoção das tecnologiasoriginárias das estações agrícolas temsido fraca: o processo que gera estastecnologias, e as prioridades que gui-am este processo, pouco tem a vercom o pequeno produtor.

O educador Roland Bunch vem hámais de duas décadas trabalhandocom pequenos produtores na AméricaCentral. Na sua monografia (1982) (2)

sobre o melhoramento agrário basea-do nas pessoas afirma que: “uma agri-cultura produtiva precisa de uma mis-tura de técnicas e insumos que mudacontinuamente. Serão muito poucosos pacotes de práticas que conseguemuma melhora permanente na produ-ção. Programas de desenvolvimentorural que só ensinam inovaçõestecnológicas são destinados ou a tor-nar-se fixação permanente ou a reti-rar-se, deixando os agricultores gra-dualmente descer aos seus níveis pré-vios de produção. A primeira eventua-lidade é inaceitável porque cria depen-dência e custa demais, e a segundaporque representa o desperdício detempo e esforço. O objetivo não deve-ria ser desenvolver a agricultura daspessoas, senão ensinar-lhes um pro-cesso com o qual podem desenvolversua própria agricultura (ênfase no ori-ginal)”.

Já em 1969 o pedagogo PauloFreire havia indicado o papel da edu-cação na transformação rural, umaeducação como atividade libertadora,na qual os educandos reúnam açãocom reflexão crítica para transformara realidade e ser agentes dentro desua realidade e sua história (3).

“Torna-se indispensável a supera-ção da compreensão ingênua do co-nhecimento humano, na qual muitasvezes nos conservamos, onde o conhe-cimento do mundo é tomado comoalgo que deve ser transferido e deposi-tado nos educandos. Este é um modoestático, verbalizado, de entender oconhecimento, que desconhece a con-frontação com o mundo como a fonteverdadeira do conhecimento... Conhe-cer não é o ato através do qual umsujeito, transformado em objeto, rece-be, dócil e passivamente, os conteúdosque outro lhe dá ou impõe. O conhe-

cimento, pelo contrário, exige umapresença curiosa do sujeito em face domundo. Requer sua ação trans-forma-dora sobre a realidade. Demanda umabusca constante. Implica invenção ereinvenção... Conhecer é tarefa de su-jeitos, não de objetos. E é como sujeitoe somente enquanto sujeito que o ho-mem pode realmente conhecer. Sóaprende verdadeiramente aquele quese apropria do aprendido, transfor-mando-o em apreendido, com o quepode, por isto mesmo, reinventá-lo;aquele que é capaz de aplicar o apren-dido-apreendido a situações existenci-ais concretas.”

Logo voltaremos à interpretaçãode Freire do conhecimento, em espe-cial na capacidade — e necessidade —das pessoas de inventar, reinventar,apropriar e transformar. Por en-quanto vamos ver como opõe, no meiorural, o conceito da educação ao deextensão, que considera inadequadopara a tarefa de transformar a reali-dade. Começa com uma análise lin-güística dos conceitos inseridos notermo extensão:

• transmissão unidirecional• sujeito ativo (o que estende)• conteúdo (que é escolhido por

quem estende)• recipiente passivo (do conteúdo)• messianismo (por parte de quem

estende)• inferioridade (dos que recebem)• mecanicismo (na ação de quem

estende)• invasão cultural (através do con-

teúdo levado, que reflete a visão domundo daqueles que levam, que sesuperpõe à daqueles que recebem).

Um extensionista, então, vai até aoutra parte do mundo, consideradainferior, para normalizá-la, para fazê--la mais semelhante a seu mundo. Os

RRRRR

Extensão rural e pesquisaExtensão rural e pesquisaExtensão rural e pesquisaExtensão rural e pesquisaExtensão rural e pesquisa

Page 62: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 61

Extensão rural e pesquisaExtensão rural e pesquisaExtensão rural e pesquisaExtensão rural e pesquisaExtensão rural e pesquisa

camponeses reduzem-se em objetos,meros recipientes de uma propagan-da, e aí se reduz sua capacidade detransformar seu mundo. O educadorrural recusará, portanto, estadomesticação do homem, procuran-do, ao invés da extensão, a comunica-ção e a educação para facilitar aoagricultor a tomada do poder dentrode sua realidade. Lamentavelmente,quase 30 anos depois de publicado odiscurso de Freire, suas idéias aindanão têm penetrado no edifício dasciências agrárias. Suas idéias são tãoválidas hoje como quando as escre-veu, e sua análise da prática da inter-venção rural antecipou o recenteflorescimento dos métodos de pesqui-sa social e participativa nas ciênciasde desenvolvimento agrário.

Ação participativa

Rocheleau e outros (1989) postu-lam como imperativo ético o controledos moradores rurais sobre qualquerprocesso que transformará a paisa-gem rural e a base biológica de suasobrevivência. Mas as populaçõesrurais são continuamente submeti-das a processos econômicos, sociais etécnicos que causam profundos im-pactos na sua sociedade, sem queninguém lhes consulte ou considere.Long e Villareal observam que o co-nhecimento não é meramente umassunto de instrumentalidades e efi-ciência técnica, — também consolidalaços de controle, autoridade e poderinseridos nas relações sociais (4). Ci-temos dois exemplos na área de con-trole de pragas: o antropólogo JefferyBentley documenta, em 1989, comoos olericultores da zona deComayagua, Honduras, têm notadoque há mais problemas de pragasagora do que quando começaram ausar pesticidas (5, 6 e 7). Sem umconhecimento dos efeitos deagrotóxicos sobre os inimigos natu-rais, eles atribuem o fenômeno a umcomplô das companhias químicas, queincorporariam pragas diretamentedentro de cada novo produto paraobrigar os agricultores a comprar maisprodutos químicos. O segundo exem-plo vem do Alto Vale do Itajaí, SC, que

se transformou nos últimos 20 anosnuma importante região produtora decebola: o agrônomo João Favorito deBarba, da Estação Experimental deItuporanga, SC, anota que, no come-ço, ninguém precisava usar pesticidaspara controlar os piolhos (Thripstabaci). Hoje este inseto tem-se torna-do a principal praga da cultura, obri-gando os produtores a aplicar produ-tos químicos três ou mais vezes porsemana, sem obter um controlesatisfatório. Em ambos os casos, osprodutores encontram-se numa espi-ral: nela têm que aplicar cada vezmais agrotóxicos, sem solucionar oproblema e sem saber como sair dociclo. Tornam-se, assim, dependentes— mediante vínculos tecnológicos,econômicos e conceituais — de clas-ses sociais alheias. Sem alternativasevidentes, eles continuam contami-nando suas culturas e seu ambiente.Receberam esta tecnologia através deuma larga cadeia de interesses econô-micos e profissionais. Independente-mente dos motivos dos atores nestacadeia, o resultado final provoca umproblema para os agricultores — quenão podem resolvê-lo — e, ao mesmotempo, os introduz numa relação dedominação por interesses externos.Recebem uma tecnologia de fora, quemuda seu meio e a base biológica desua sobrevivência, e sem informaçõessobre seu impacto não têm como a elaresponder.

Neste aspecto, tornam-se objetos,inertes e explorados. O sociólogoOrlando Fals-Borda e o economistaMohammed Anisur Rahman susten-tam, em 1991, que a dominação dosmarginalizados surge não somente docontrole polarizado dos meios de pro-dução material, mas também dosmeios de produção do conhecimento,incluindo controle sobre o poder so-cial de determinar o que é conheci-mento útil: um reforça o outro emaumentar e perpetuar a dominação(8). Durante os anos 70 e 80, Fals-Borda implementa na Colômbia ummétodo de intervenção social denomi-nado pesquisa-ação participativa –PAP, no qual tenta-se adquirir e gerarconhecimento útil e confiável, bus-cando construir poder de resistência

para grupos marginalizados: o conhe-cimento libertador/transformador époder de barganha na sociedade. Oesquema de Fals-Borda, com sua basemarxista, encontra respaldo em ou-tros pesquisadores da sociologia. Al-guns destes consideram a sociedade ea mudança social a partir de umaperspectiva estruturalista que abarcao conflito ao invés da harmonia. Esseenfoque dá maior oportunidade paraexpressar as necessidades e aspira-ções de grupos marginais.

Deschler e Ewert afirmam que apesquisa-ação participativa segue ocaminho do pensamento crítico, deconscientização e da luta pela liberda-de, liderado por Freire: a partici-pação representa uma lançademocratizadora na prática das ciên-cias sociais, que considera essencial àatividade da comunidade na geraçãode conhecimento útil sobre os seusproblemas; ação indica que as práti-cas se dedicam ao câmbio social; epesquisa denota um esforço sistemá-tico de gerar conhecimento para umasituação específica (9). Num processode investigação sistemática, aquelesque experimentam uma situação pro-blemática colaboram como sujeitosativos com pesquisadores em decidiro foco de geração de conhecimento,em coletar e analisar a informação eem tomar ação para gerenciar, me-lhorar ou resolver o problema. Oobjetivo principal é promover a capa-cidade dos marginalizados em gerar econtrolar seu próprio conhecimento.Tenta democratizar a produção e ouso do conhecimento, sob o axioma deque o conhecimento gera poder e queo conhecimento da comunidade é cen-tral na mudança social. Esta correntede pensamento floresce na disciplinado desenvolvimento comunitário e,mais tarde, na do desenvolvimentoagrário, ambas com ramos preocupa-dos em combinar educação popular eação coletiva de grupos marginais.Estes conceitos foram aplicados pordiversos trabalhadores na AméricaLatina, na África e na Ásia. Na atua-lidade existem importantes centrosde trabalho, pesquisa e divulgaçãodesta disciplina na Colômbia, naTanzânia, na Índia, na Tailândia e nas#

Page 63: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

62 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

Extensão rural e pesquisaExtensão rural e pesquisaExtensão rural e pesquisaExtensão rural e pesquisaExtensão rural e pesquisa

Filipinas.Na área agrícola, esta metodologia

foi chamada farmer participatoryresearch, participatory technologygeneration ou participatory ruralappraisal. Sua aparição nas ciênciasagrárias surge como uma autocrítica,a partir da constatação da inadequação,para os pequenos agricultores, dastecnologias produzidas nas estaçõesexperimentais: baixas taxas de ado-ção destas técnicas, salvo no uso deagroquímicos e sementes melhora-das. Nos anos 50 e 60, a não-adoção foiatribuída à ignorância dos produto-res, sendo a extensão vista como asolução. Nos anos 70 e 80, a não--adoção foi atribuída às limitações nonível da propriedade (farm-levelconstraints), conduzindo à investiga-ção em sistemas agrícolas (farmingsystems research). Ainda nos anos 80surge uma nova perspectiva. Nela oproblema não estaria nem no agricul-tor nem na propriedade, e sim natecnologia, nas prioridades e nos pro-cessos que a geram. Uma minoria decientistas sociais e agrônomos e detrabalhadores de ONGs colaboraramcom pequenos produtores, abrindonovos caminhos para identificar prio-ridades e desenvolver tecnologias.Suas metodologias, segundo Rahman,“devolvem às pessoas a legitimidadedo conhecimento de que são capazesde produzir eles mesmos, medianteos seus próprios sistemas de verifica-ção.” (8)

O filósofo Michel Foucault obser-vou uma vez que o critério do queconstitui o saber, o que se exclui, equem é consagrado como qualificadopara saber, envolve atos de poder. Oscasos dos produtores em Honduras eSanta Catarina, vistos sob os precei-tos da PAP, provocam perguntas como:Que tecnologias devem ser produzi-das? Por quem? Respondem aosinteresses de quem? Qual o objetivo?Quem tem acesso a qual conhecimen-to, quem pode gerar novos conheci-mentos e como? Os critérios e asprioridades que influem são de quem?Quem realiza os testes e avaliações?Scoones e Thompson (4) consideramnecessário: “explorar a relação entre ocaráter da dominação por certos gru-

pos e a evolução do discurso... paracompreender aqueles fatores dentrodas sociedades que dão forma e in-fluenciam o discurso nos termoslocalmente significativos, e que, aomesmo tempo, apresentam umaforça que resiste o dominante ouhegemônico discurso externo, da in-vestigação ou extensão formal... Oconhecimento, como os sistemaslingüísticos através dos quais étransmitido e transformado, semprehá de confrontar outros sistemas deconhecimento, bem como os dosagentes de desenvolvimento oubem como os das sociedades vizinhas.É sobre estes ‘campos de batalhado conhecimento’, mediante um pro-cesso dinâmico de contestação e assi-milação, que operam a inovação e acriação do conhecimento. E é nesteambiente social dinâmico que sepratica a investigação e a comunica-ção”.

Neste sentido, Freire reconheceque a extensão convencional tem sidomais um instrumento de imposição deconhecimento do que construção des-te conhecimento. Neste momento elequestiona:

“Na medida em que no termo ex-tensão está implícita a ação de levar,de transferir, de entregar, de deposi-tar algo em alguém, ressalta, nele,uma conotação indiscutivelmentemecanicista... Será o ato de conheceraquele através do qual um sujeito,transformado em objeto, recebe paci-entemente um conteúdo de outro?”

Desta forma a extensão, reiteraFreire, “não proporciona, na verda-de, as condições para o conhecimen-to, uma vez que sua ação não éoutra senão a de estender um‘conhecimento’ elaborado aos queainda não o têm, matando, destemodo, nestes, a capacidade crítica paratê-lo”.

A extensão, então, corre risco desó passar técnicas e não estimular oconhecimento. Mas é o conhecimentoque possibilita ao homem atuar paratransformar sua realidade. Enquantopassa só tecnologias e não o conheci-mento, a extensão só passa um objeto,criado por outros, que representa osinteresses de outros e que, portanto,

representa a extensão dos interessesde outros sobre o produtor. No piordos casos, a extensão mesma torna-seobjeto e transforma-se em mecanis-mo, em veículo para transmitir e es-tender a dominação de classes alheiassobre os moradores rurais.

Como seria, então, uma interven-ção no meio rural que, ao invés deestender os critérios e as tecnologiasde outras classes sociais, ampliasse abase de saber do agricultor e, portan-to, sua capacidade de enfrentar seumundo e mudá-lo? Além de transmi-tir relações de dominação, a extensãoconvencional, enquanto tenta esten-der tecnologias externas, fracassa emseu objetivo técnico, que é dotar oagricultor com alternativas úteis noseu contexto produtivo. Isso porqueos pacotes simples de alto uso deinsumo não se adaptam bem aos pe-quenos, complexos e diversificadossistemas agrários de alto risco quecaracterizam a agricultura terceiro--mundista. Segundo Rocheleau et al.,os cientistas carecem de pacotes vali-dados para os diversos ambientes ecircunstâncias dos agricultores pobres(4). Existe um número quase infinitode ambientes agrários, cada um comdiferentes perfis ecológicos e com di-versas demandas de pesquisa. As ins-tituições de investigação e extensão,por muito entusiastas que sejam, nãopodem desenhar tecnologia apropria-da para todos eles (5, 6 e 7). Estarealidade, por sua vez, fez com queprodutores e extensionistas conver-gissem para o mesmo discurso quan-do interatuam: Que produtoagroquímico deve-se aplicar aqui?Além desta dissonância entretecnologia universal e as situaçõesespecíficas, o agricultor continua-mente experimenta mudanças econô-micas, biológicas e sociais que alte-ram sua situação produtiva (1). So-mando as duas coisas, ressalta-se ain-da mais a necessidade apontada porRoland Bunch e Paulo Freire: osagricultores requerem apoio na suacapacidade de inovar independente-mente, de aplicar seu conhecimentocomo sujeitos ativos e autônomos.Precisam poder desenvolver sua pró-pria agricultura.

Page 64: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 63

Extensão rural e pesquisaExtensão rural e pesquisaExtensão rural e pesquisaExtensão rural e pesquisaExtensão rural e pesquisa

Agricultoresexperimentadores

A capacidade dos agricultores po-bres para inovar e adaptar tecnologi-as tem sido amplamente documenta-da (1, 5, 6 e 7). Basta lembrar queforam camponeses iletrados que do-mesticaram todos os cultivos, salvotriticale, que sustentam a vida huma-na, e que até o presente século inven-taram quase todas as ferramentasnecessárias para cultivá-los, dominan-do, no entanto, técnicas e conceitostão variados como melhoramento ve-getal, vigor híbrido, propagação sexu-al e assexual, adubação verde, rota-ção de culturas, policulturas e irriga-ção. Rhoades relata o caso de JaneGoodell, antropóloga do Centro Inter-nacional para Investigação em Arroz,Filipinas: ela revelou que 90% dastecnologias oferecidas pela institui-ção tinham suas origens em técnicasou idéias provenientes de agriculto-res asiáticos, resgatadas e transfor-madas pelos pesquisadores (1). Aquiem Santa Catarina, foram agriculto-res que desenvolveram os múltiplosimplementos de plantio direto comtração animal que, hoje em dia, sãoamplamente utilizados na região Sul,com pequenas modificações que osadaptam às condições locais. Os agri-cultores de subsistência são, por defi-nição, especialistas profissionais nasobrevivência1. Juma observou queos agricultores são, por natureza,experimentadores enquanto continu-amente testam e ajustam suas práti-cas em resposta a condições instáveis,ou seja, “um agricultor é uma pessoaque experimenta continuamente por-que está continuamente entrando emterritório desconhecido” (1).

Quando apresentados a uma novatecnologia que admita modificações,os produtores comumente a adaptam

às suas necessidades específicas.Rhoades, trabalhando no Centro In-ternacional da Batata no Peru, verifi-cou que, de aproximadamente 4 milagricultores que haviam adotado umatecnologia de armazenagem de bata-ta, 98% deles não haviam adotado atecnologia tal como especificada napropaganda, e sim às suas condiçõesespecíficas (1). Conclui que “na medi-da em que são experimentadores einovadores, os agricultores precisammenos de um pacote padronizado depráticas e mais de uma cesta de alter-nativas, com o papel de extensão sen-do menos o de transferir tecnologia emais o de ajudar os agricultores a seadaptarem”. E neste campo de adap-tação, o produtor tem a vantagem: eleconhece e usa seu local com toda a suadiversidade e variabilidade. Comocliente ele sabe os parâmetros parasatisfazer suas necessidades e ficabem situado para adaptar e ajustar astecnologias à sua realidade.

O papel do agrônomo educador tor-na-se, então, o de apoiar os esforçosdos agricultores nas suas observa-ções, experimentos e análises, paragerar e melhorar seu próprio conheci-mento, ajudando-lhes a procurar, pos-suir e usar informação e, quando é ocaso, a divulgar seu conhecimento aoutros produtores (4).

Certamente esta visão do agrôno-mo educador e libertador é linda. Mascomo seria na prática? Será possívelatingi-la? Existem registros de traba-lhos provocativos nos quais equipesmultidisciplinares tentaram ampliaro conhecimento de produtores emáreas de especial interesse. Bentleyrelata uma experiência na educaçãode camponeses hondurenhos em bio-logia e ecologia de pragas (5, 6 e 7). Elecomeçou estudando o conhecimentoque os agricultores tinham sobre in-setos para revelar o que sabiam e que

não sabiam, identificando, assim, osvazios no conhecimento deles nestaárea. Bentley descobriu que em de-terminadas áreas da entomologia oscamponeses conhecem muito, masem outras tinham lacunas profundas.Elaborou, então, uma hipótese paraexplicar o grau de desenvolvimento ecomplexidade do conhecimento popu-lar sobre o mundo natural. A profun-didade deste saber sobre um assuntodepende de dois fatores: a percepçãopelos camponeses de sua importância(sobretudo sua importância econômi-ca) e a facilidade com que se observao fenômeno em questão. Por exem-plo, os camponeses podiam identificarcom nome comum nove espécies deabelha pelo seu padrão de vôo; alémdisso, sabiam muito sobre a ecologiade cada uma delas: a estrutura doninho e sua forma de entrada, asplantas que freqüentavam, a qualida-de do mel, o comportamento defensi-vo e a intensidade de sua picada2. Osagricultores percebem a importânciadelas claramente: primeiro, por suaimportância econômica na produçãodo mel e, segundo, por suas picadasquando perturbado o ninho ao tombara mata. E elas são fáceis de observar;por conseguinte, o nível de conheci-mento dos camponeses sobre as abe-lhas é bastante sofisticado.

Mas quando a importância de umfenômeno não é claramente percebi-da, ou quando ele não é facilmenteobservado, os camponeses quase nadasabem sobre ele. Muitas coisas desco-nhecem ou mal compreendem. Dosinsetos, eles sabem pouco sobre areprodução ou a metamorfose: mui-tos acreditam na geração espontâneade insetos nas plantas. Não sabemque os insetos comem outros insetos:desconhecem a predação, oparasitismo e o conceito de inimigosnaturais. E sem equipamento especi-

1. Ino Sperber, um cebolicultor de Leoberto Leal, Santa Catarina, é reconhecido pelos extensionistas do município como experimentador e inovador,continuamente ajustando, alterando e provando novas técnicas, novo germoplasma e novas seqüências e manejos das culturas. Levaram-mepara conhecê-lo e sua propriedade, e quando, entusiasmado, afirmei que só assim a agricultura iria se desenvolver, Ino encolheu os ombros:“Pode ser. Eu faço para sobreviver porque a coisa é brava.”

É conveniente apontar aqui que os produtores de Santa Catarina não produzem dentro de uma economia de subsistência dada a altadisponibilidade de terras (tamanho médio da propriedade em torno de 20ha), o grau de inserção dos produtores numa economia comercial, oforte apoio dos sistemas de pesquisa e extensão e o efeito destes fatores sobre as mudanças na utilização de novos meios de produção.

2. As mesmas espécies tiveram que passar por vários taxônomos especialistas em abelhas, em vários continentes, até se localizar um que pudesseidentificá-las, e isto só com a ajuda do estereoscópio e de textos taxonômicos. #

Page 65: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

64 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

Extensão rural e pesquisaExtensão rural e pesquisaExtensão rural e pesquisaExtensão rural e pesquisaExtensão rural e pesquisa

alizado, como o microscópio, é difícilsaber como eles poderiam aprenderestas coisas por eles mesmos. Concei-tos errados (geração espontânea, in-setos não comem outros insetos) e afalta de equipamentos científicos po-dem, desta forma, se combinar paraproduzir conclusões que são interna-mente lógicas, mas equívocas. As-sim, uma senhora camponesa pensouque as mosquitas, que ela percebia naproximidade dos gorgulhos que infes-tavam seu milho armazenado, eramgorgulhozinhos mais novos,“pequeninhos”, quando de fato eramvespas parasíticas que atacam osgorgulhos.

“Os agricultores inovam eficaz econtinuamente, mas suas pesquisassão limitadas pela falta de equipa-mentos e conceitos científicos.” Base-ados nesta idéia, Bentley e sua equipetentaram explicar aos camponeses oque estes não sabiam dos insetos, deuma maneira compatível com o que jásabiam, baseados na hipótese de quenovas idéias ecológicas poderiam esti-mular a inovação e o melhor manejodas pragas e de seus inimigos. Umano depois do curso, procuraram oscamponeses capacitados nas suas pro-priedades. De 52 participantes, 23haviam adotado uma das tecnologiasexplicadas no curso e outros 23 havi-am inventado ou adaptado umatecnologia baseada nos conceitos apre-endidos no curso. Bentley conclui queos resultados foram fruto de “preen-cher lacunas chaves no saber dos cam-poneses e, então, deixar-lhes em pazenquanto criam soluções”.

As famílias rurais, como outrosgrupos marginalizados, estão sujeitasa uma cabala de interesses, expressa-dos em relações comerciais e sociaisque se penetram na sua realidade; ahistória agrícola de Comayagua e doAlto Vale do Itajaí são casos que serepetem sobre toda a Terra. Os servi-ços de pesquisa e extensão, na medidaem que se limitam a passar tecnologi-as, ignoram e perpetuam estas rela-ções de poder, controle e exploração.A experiência que nos relata Bentley,porém, é sugestiva na hora de pensarem como os agentes de desenvolvi-mento podem ajudar o agricultor:

investido de conhecimento, ele (agri-cultor) pode tomar controle do seumeio, ao invés de ter esta relaçãodeterminada por outros. Em compa-ração com outras partes do mundo,Santa Catarina goza de um amplo ededicado serviço de extensão e pesqui-sa voltado ao pequeno agricultor, que,sem dúvida, tem ajudado a desenvol-ver a agricultura catarinense e expan-dir a economia rural. Mas incremen-tos na produtividade não são condi-ções suficientes para buscar cami-nhos à independência e à autonomiado morador rural. A concepçãoinstitucional e convencional da exten-são é ingênua: baseia-se numa con-cepção estéril do conhecimento queignora o protagonismo de quem iaconhecer. É ingênua também quandoignora sua cumplicidade na transmis-são dos laços de dominação que ligamo agricultor a interesses externos. Eenquanto se limita a enxergar somen-te a produtividade, descarta a oportu-nidade de colaborar com o agricultor aampliar sua liberdade. É hora daextensão responder aos questio-namentos levantados por Freire há 30anos, de ampliar seu horizonte e deelaborar uma visão crítica de seu pa-pel no meio rural.

Agradecimentos

A Ana Maria da Silva pela colabo-ração na revisão deste trabalho.

Literatura citada

1. CHAMBERS, R.; PACEY, A.; THRUPP, L.A. Farmer first: farmer innovation andagricultural research. London:Intermediate Tecnology, 1989. 219p.

2. BUNCH, R. Two ears of corn: a guide topeople-centered agriculturalimprovement. Oklahoma: WorldNeighbors, 1982. 250p.

3. FREIRE, P. Extensão ou comunicação? Riode Janeiro: Paz e Terra, 1980. 93p.

4. SCOONES, I.; THOMPSON, J. Beyondfarmer first: rural people’s knowledge,agricultural research and extensionpractice. London: IntermediateTechnology, 1994. 301p.

5. BENTLEY, J. What farmers don’t knowcan’t help them: the strengths andweaknesses of indigenous technicalknowledge in Honduras. Agricultureand human values, v.6, p.25-31, 1989.

6. BENTLEY, J. Alternatives to pesticides inCentral America: applied studies oflocal knowledge. Culture andAgriculture, v.44, p.10-13, 1992.

7. BENTLEY, J.; ANDREWS, K. Pests,peasants, and publications. Humanorganization, v.50, n.2, p.113-124,1991.

8. FALS-BORDA, O.; RAHMAN, M. A. Actionand knowledge: breaking themonopoly with participatory action--research. New York: Apex, 1991. 182p.

9. DESHLER, D.; EWERT, M. 1995.Participatory action research:traditions and major assumptions. PARToolbox/Cornell Participatory ActionResearch Network. http://www.parnet .org /parch ire /docs /deschler–95.

Michael McGuire, mestrando de pós-gra-duação em Agroecossistemas, Centro de Ci-ências Agrárias, Universidade Federal deSanta Catarina, C.P. 476, 88040-900Florianóplis, SC.

Assine e leia

AGROPECUÁRIACATARINENSE

Uma das melhoresrevistas de

agropecuária dopaís!

o

Page 66: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 65

FLASHES

II Prêmio AlcatelII Prêmio AlcatelII Prêmio AlcatelII Prêmio AlcatelII Prêmio Alcatelà Inovaçãoà Inovaçãoà Inovaçãoà Inovaçãoà Inovação

TTTTTecnológicaecnológicaecnológicaecnológicaecnológicaA Alcatel acaba de anunciar a

realização da segunda edição doPrêmio à Inovação Tecnológica naAmérica Latina. Na versão 1998,os candidatos concorrem a prêmiosque totalizam 50 mil dólares.

O Prêmio Alcatel à InovaçãoTecnológica foi concedido pela pri-meira vez em 1997, quando maisde duzentos concorrentes da regiãoforam inscritos. A exemplo do anoanterior, neste ano poderão secandidatar as instituições e empre-sas que tenham aplicado uma ino-vação tecnológica que representeum processo significativo para amodernização empresarial ou parao bem-estar da sociedade.

As inovações tecnológicas apre-sentadas ao Prêmio Alcatel deve-rão ter sido realizadas durante1998, em qualquer país da Améri-ca Latina, assim como deverãopertencer a esta área os responsá-veis pela sua aplicação. O objetivodo prêmio é fomentar a inovação noâmbito da tecnologia, de acordocom a missão e a atividade daAlcatel, empresa líder mundial emsistemas de telecomunicação quededica grandes recursos à pesquisae desenvolvimento.

A escolha dos vencedores doPrêmio Alcatel à InovaçãoTecnológica será feita por um júriinternacional composto de perso-nalidades latino-americanas deprestígio científico, empresarial ouprofissional.

Para a segunda edição do Prê-mio Alcatel, os candidatos devemse inscrever do dia 1o de novembrode 1998 a 28 de fevereiro de 1999.Um júri local selecionará, em marçopróximo, o ganhador de cada paísou área em que a Alcatel possuauma sede social. A decisão e aentrega do prêmio acontecerão emmaio de 1999, em país latino-ame-ricano a ser designado.

De acordo com as regras, o júrivalorizará especialmente a origina-lidade, a criatividade e a imagina-ção da aplicação tecnológica concor-rente, seu valor e conteúdotecnológicos, o impacto sobre a mo-dernização da empresa e o empregode tecnologias de informação nosprocessos inovadores.

Os interessados poderão solici-tar as regras do Prêmio Alcatel àInovação Tecnológica e o módulo deapresentação de trabalhos nas se-des corporativas da Alcatel naAmérica Latina. Os contatos po-dem ser feitos com: Luiz Viana -Gerente de Comunicação da AlcatelTelecomunicações S.A. –, Fone (011)

6947-8672 e Márcio Gaspar -Edelman do Brasil –, Fone (011)866-8400.

Capins africanosCapins africanosCapins africanosCapins africanosCapins africanosx efeito estufax efeito estufax efeito estufax efeito estufax efeito estufaPesquisa do Centro Internacio-

nal para Agricultura Tropical - CIAT,em Cáli, Colômbia, mostrou que ca-pins africanos de raízes longasintroduzidas nos Cerrados da Améri-ca do Sul tropical têm um grandepotencial para reduzir a velocidadeda formação de gás carbônico (CO

2),

um dos principais gases formadoresdo efeito estufa, na atmosfera daTerra.

Cientistas do CIAT chamam istouma situação “ganha-ganha”. Emprimeiro lugar, quando usado comopasto pelo gado, os capins africanosampliam a produção de carne e leite,porque eles são mais nutritivos queos capins nativos dos Cerrados. Pode--se criar até dez vezes mais gadonuma mesma área, e eles crescemduas vezes mais rápido. No Brasil,cerca de 350 mil quilômetros de pas-tagens estão plantados com capinsafricanos. Em segundo lugar, estescapins têm capacidade para armaze-nar grandes quantias de carbono nosolo. Isto implica que eles podemreduzir a velocidade do aquecimentoglobal, que é ligada à formação at-mosférica de CO2.

As plantas, por meio dafotossíntese, capturam CO

2 da at-

mosfera. Ao armazenar quantiasgrandes de carbono no solo, os capinsafricanos servem como reservatóriospoderosos de carbono, de acordo comos pesquisadores do CIAT MylesFisher e Richard Thomas. “Um hec-tare de pastagem cultivada pode ar-mazenar até 15t de carbono por ano,afirma Fisher. Acrescenta que aindanão se sabe por quanto tempo umpasto plantado pode manter taxasaltas de acumulação de carbono: “issoé a quantia produzida por seiscarros gastando gasolina durante umano”.

“Estas pesquisas sobre acumu-lação de carbono nos Cerrados daAmérica do Sul são de importânciaglobal”, afirma Fisher. Consideran-do que pradarias tropicais cobremquase 9% da Terra, os capins podemacumular uma importante quanti-dade de carbono, atuando, então,como um freio biológico ao aqueci-mento global. No Brasil, Colômbia eVenezuela, os cerrados ocupam cercade 2,5milhões de quilômetros qua-drados, uma área equivalente a umterço do tamanho do Canadá.

Cientistas do CIAT acreditamque os governos que desejam contri-buir para proteger a atmosfera ter-restre poderiam dar incentivos paraa introdução dos capins africanos de

raízes longas e para um melhor ma-nejo das pastagens. Por exemplo,esta iniciativa poderia contribuir paraque os governos cumpram seus com-promissos na Convenção das NaçõesUnidas sobre Mudança do Clima. Aconvenção é um acordo internacionalpara estabilizar a concentração degases de efeito estufa na atmosferaem níveis que preveniram a interfe-rência do homem no sistema climáti-co. Ela entrou em vigor em 1994 e foiratificada por mais de 160 países. Nomês de dezembro, no Japão, a con-venção deu um passo adiante com oProtocolo de Kyoto, com o qual ospaíses industrializados concordaramcom o estabelecimento de metas deredução das emissões de gases deefeito estufa, entre eles o CO

2.

A pesquisa do CIAT e daEmbrapa Agrobiologia (unidade des-centralizada da Empresa Brasileirade Pesquisa Agropecuária) levantauma questão sobre o que pode serfeito em nível governamental paraincentivar a capacidade das pasta-gens cultivadas tropicais de armaze-nar carbono.

O CIAT é um dos 16 centrosinternacionais de pesquisa patroci-nados pelo Grupo Consultivo emPesquisa Agropecuária Internacio-nal - CGIAR, uma associação denações e agências internacionais quefinanciam pesquisas para odesenvolvimento. Mais informa-ções com Richard Thomas, Fone572-445-0000, ramal 3091, [email protected].

Texto do jornalista Roberto Pen-teado, Fone (061) 348-4113 [email protected].

Dia de campoDia de campoDia de campoDia de campoDia de campona TVna TVna TVna TVna TV

A Embrapa Suínos e Aves - Con-córdia, SC, a Embrapa e a Emater--MG realizaram, pela primeira vez,um Dia de Campo na TV. Essa é umanova forma que as duas empresasestarão utilizando para orientar osempresários e produtores rurais nouso de tecnologias agropecuárias de-senvolvidas pela pesquisa.

O tema desse primeiro dia decampo foi o controle biológico da la-garta-do-cartucho do milho, pragaque traz grandes prejuízos aos pro-dutores. Durante o programa, ostelespectadores foram orientadossobre as maneiras de identificar ecriar os inimigos naturais daquelapraga e tiveram a oportunidade defazer perguntas, ao vivo, aostécnicos e pesquisadores presentes.Os números do telefone e do faxforam divulgados no decorrer do pro-grama.

O programa foi ao ar pela TVExecutiva da Embratel, no dia 25 desetembro, e foi dirigido especialmen-

te aos produtores rurais, escritóriosde assistência técnica, cooperati-vas de empresas de insumos e má-quinas agrícolas.

Maiores informações pelo Fone(049) 442-8555. Texto de TâniaMaria Giacomelli Scolari.

Embrapa alertaEmbrapa alertaEmbrapa alertaEmbrapa alertaEmbrapa alertapara possívelpara possívelpara possívelpara possívelpara possível

nova praganova praganova praganova praganova pragaA importação de produtos agrí-

colas procedentes da África e Ásiadeve ser realizada com rigorosasprecauções de ordem sanitária equarentenária. Uma planta dani-nha, de nome Striga, é encontradade maneira endêmica em váriospaíses desses continentes e ataca omilho, arroz, sorgo, a cana-de-açú-car e mais de 70 espécies degramíneas. A Striga pode vir tam-bém junto com o cacau, algodão ecafé provenientes daquelas áreas,mesmo não afetando estes produ-tos. No ano passado o Brasilimiportou algodão da Nigéria e éprovável que proximamente sejamrealizadas importações de cacauafricano, devido à pequena produ-ção brasileira atingida pela praga“vassoura de bruxa”.

Esta planta daninha foiintroduzida nos Estados Unidos,mas neste país a área infestadaestá sob controle e rigorosa quaren-tena.

As lavouras atacadas pelaStriga podem sofrer até perda totale os danos ocorrem antes mesmo daemergência da planta, segundo aler-ta o pesquisador Roberto CarvalhoPereira, da Embrapa Cerrados,unidade da Empresa Brasileira dePesquisa Agropecuária - Embrapa,localizada no Distrito Federal. Aplanta daninha se espalha commuita rapidez e cada uma delas écapaz de produzir de 50 mil a 500mil sementes em um ano. Estassementes, de pequeno porte - 0,2 a0,4mm -, podem ficar em estado dedormência por um período de até 20anos antes de germinarem. As pre-cauções devem abranger cuidadosno transporte de produtos agrícolasde regiões contaminadas com se-mentes de Striga, fazendo a lava-gem, fumigação ou aquecimento deequipamentos e produtos agríco-las, além da incineração dos resídu-os. No porto de embarque do paísexportador os produtos agrícolasdevem ser analisados com rigor, pormeio de separação e identificaçãode sementes em amostras colhidasnos armazéns.

Mais informações com o pesqui-sador Roberto Carvalho Pereira, naEmbrapa Cerrados, Fone (061) 389-1171, ramal 2139. Texto do jorna-lista Jorge Reti.

Page 67: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

66 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

OPINIÃO

OOOOO

MelhoramentoMelhoramentoMelhoramentoMelhoramentoMelhoramentoclássico eclássico eclássico eclássico eclássico e

biotecnologiabiotecnologiabiotecnologiabiotecnologiabiotecnologia

Haroldo Tavares Elias

melhoramento de plantas conven-cional ou clássico, por meio de

hibridações e seleções, historicamentetem proporcionado aumentos significa-tivos de produtividade e maior eficiêncianas culturas agrícolas. O melhoramentotem sido responsável por 50% ou maisdos ganhos de produção por unidade deárea das mais importantes espécies cul-tivadas nos últimos 50 anos. Issocorresponde a um ganho genético médioanual de 1%, com a característicamarcante de não estar havendo tendên-cia a redução neste ganho.

Projeções indicam que, para as culti-vares a serem lançadas no ano 2000, éesperada uma produtividade média 5%acima da observada em 1995, apenascomo fruto do melhoramento genético.Em princípio, esse incremento na produ-tividade pode parecer pequeno, mas, con-siderando que em 1990 obteve-se umaprodutividade mundial de 528, 422 e 353milhões de toneladas para as culturas dotrigo, milho e arroz, respectivamente,esses 5% representam um aumento de26,4; 21,1 e 17,65 milhões de toneladaspara as culturas citadas. Esses três va-lores somados representam uma produ-ção superior à obtida na supersafra de1994/95, no Brasil, para as mesmas cul-turas. Esses avanços genéticos foramobtidos por meio de uma maior tolerân-cia a fatores ambientais adversos, taiscomo aspectos climáticos, de solo, de pra-gas e de doenças. E essa deverá ser atônica para o futuro.

A maior contribuição das CiênciasAgrárias para a ciência de uma formaglobal foi a descoberta do milho híbrido,fundamentado na exploração do fenôme-no da heterose, que confere o vigor dehíbrido. Inúmeros exemplos podem sercitados, como a elevação do conteúdo deaçúcar na beterraba de 7 para 18%, intro-dução e adaptação de cultivares de arrozde porte baixo, elevando sua produtivi-dade em mais de 100%, desenvolvimentode cultivares de soja adaptadas às condi-

ções de cerrado. E, na atualidade, uma dasmais importantes e conhecidas contribui-ções do melhoramento de plantas, com aperspectiva do auxílio de técnicasbiotecnológicas, está no desenvolvimentode cultivares resistentes a doenças e ainsetos e com maiores conteúdos de prote-ínas, óleos e outros elementos.

As perspectivas da aplicação das téc-nicas biotecnológicas no desenvolvimentode novas cultivares têm provocado opi-niões diversas. Por um lado, alguns pes-quisadores que atuam na área debiotecnologia, em caráter mais acadêmi-co, fizeram prognósticos de que o conjuntode novas técnicas biotecnológicas em en-genharia genética poderia “criar” cultiva-res com as mais diversas características,instantaneamente. Por outro lado, há tam-bém contundentes críticas à biotecnologia,prevendo-se erros catastróficos ligados aaspectos ambientais, colocando-a contrá-ria à agroecologia. Opiniões divergentesem muitos aspectos são salutares para ocrescimento da ciência. No entanto, é ne-cessário salientar aspectos científicos compropriedade.

A biotecnologia prometeu mais do quefez nos últimos anos. Isto é comprovadopela redução do número de empresas liga-das a esta área nos EUA no início dadécada de 90. Neste aspecto, há contesta-ções de pesquisadores de outras áreas dasupervalorização da biotecnologia nos úl-timos dez anos, por parte de órgãosfinanciadores de pesquisa, quanto à pro-porção de recursos aplicados em relação aoutras linhas de pesquisa. Essa discus-são é pertinente, pois, infelizmente, osrecursos aplicados em pesquisa etecnologia no Brasil vêm sofrendo sucessi-vos cortes nos últimos anos.

No entanto, há de se considerar asgrandes contribuições que técnicasbiotecnológicas utilizadas como ferramen-ta estão proporcionando ao melhoramen-to clássico e poderão auxiliar ainda maisquando associadas a programas de me-lhoramento genético. A biotecnologia comisso poderá ser essencial, não para subs-tituir, mas, para auxiliar a tecnologiaconvencional.

As perspectivas destas técnicas pode-rão ser principalmente em: seleçãomonitorada por marcadores molecularesassociada a características de interesse,determinação do grau de divergência ge-nética para escolha de parentais; trans-

formação genética (plantas transgênicas)para resistência a herbicidas e a insetos;técnicas de cultura de tecidos, jácomprovadamente utilizadas, e muitasoutras.

Destas técnicas, a que está proporci-onando melhores resultados e gerandopolêmicas é a das plantas transgênicas,como a da soja Roundup Ready (já regu-lamentada no Brasil, porém ainda nãoliberada para cultivo). Em vários semi-nários e encontros este assunto foi abor-dado, ultrapassando o âmbito científicoe acadêmico; inclusive a sociedade, pormeio de entidades civis, de defesa doconsumidor e ambientais, começa a semanifestar em relação a estes produtos.

Por tudo isso, a biotecnologia estácontribuindo muito para obtenção denovas cultivares, mais produtivas e comcaracterísticas desejáveis para melhoratender às necessidades do homem. Con-tudo, nada substituirá o melhoramentoconvencional na introdução de genótipos,hibridações e seleção de campo, para queas cultivares desenvolvidas melhor seadaptem às condições climáticas da re-gião onde serão cultivadas.

O desafio é continuar incrementandoa produtividade a um nível tal que possaalimentar uma população mundial deaproximadamente 8 bilhões de habitan-tes prevista para ser atingida nas duasprimeiras décadas do século XXI. Resul-tados obtidos no passado mostram que omelhoramento genético tem potencial,associado a outras tecnologias agrícolas,para suprir todas as necessidades ali-mentares do homem.

Para que isso ocorra, é necessárioexplorar mais a variabilidade genética eque haja disponibilidade de recursos paraa pesquisa, sobretudo sem descon-tinuidade, pois o melhoramento genéticoé um processo demorado. Além do mais,há a perspectiva de que as técnicasbiotecnológicas possam acelerar os ga-nhos do melhoramento genético conven-cional. Se tudo isso ocorrer, haverá umamaior possibilidade de segurança ali-mentar para a humanidade, que é o quetodos nós envolvidos com as CiênciasAgrárias almejamos.

Haroldo Tavares Elias, eng. agr., M. Sc.,Cart. Prof. 20.615, Crea-SC, Epagri/Centrode Pesquisa para Pequenas Propriedades,C.P. 791, Fone (049) 723-4877, Fone/fax(049) 723-0600, 89801-970 Chapecó, SC.

Page 68: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998 67

CONJUNTURA

DDDDD

Cenário doCenário doCenário doCenário doCenário donegócio agrícolanegócio agrícolanegócio agrícolanegócio agrícolanegócio agrícola

catarinensecatarinensecatarinensecatarinensecatarinense

Jorge Bleicher

e 1992 a 1996 a participação daprodução agropecuária cata-

rinense no produto interno bruto doEstado passou de 18,8% para 16,7%,uma queda de 2%, aproximadamen-te. Se esta projeção se mantiverlinearmente, no ano de 2003 tere-mos uma participação de aproxima-damente 14%.

Observamos que vários produtosestão contribuindo para isso, entreeles: alho, fumo, mandioca e trigo.Por outro lado, observa-se um cres-cimento nos segmentos da carne:suínos, frango, bovinos e leite. Ou-tros produtos como arroz, tomate,banana e mel também tendem aaumentar a participação no “bolo”que representa a agriculturacatarinense.

Uma das conseqüências desta si-tuação é a redução da populaçãorural. O IBGE, no censo de 1995/96,mostrou que hoje temos 26,9% dapopulação catarinense no meio ru-ral, enquanto que em 1981 esta po-pulação era de 40,6%.

Qual é o problema da agriculturacatarinense?

O problema na agricultura é abaixa rentabilidade agrícola da pro-priedade familiar, trazendo comoconseqüências: desemprego, exclu-são de agricultores, esvaziamentopolítico e econômico regional, êxodorural, agressão aos recursos natu-rais e miséria no campo. As causassão muitas e complexas.

O desconhecimento das necessi-dades edafoclimáticas para as espé-cies plantadas e o das possíveis espé-cies potenciais, a pouca terra dispo-nível para as culturas anuais e pere-nes e a pequena dimensão física das

propriedades inviabilizam a explora-ção agrícola de commodities e retra-tam um quadro onde não se consegueotimizar os rendimentos e reduzir oscustos e riscos.

O desconhecimento dos fatorescríticos da cadeia produtiva (gargalos,ameaças, restrições, fatores limitantesao sistema produtivo e eficiência com-petitiva) perpetua a baixa eficiênciatécnica do setor produtivo causandoum processo de exclusão dos produto-res.

Num passado bastante próximo,havia pouco interesse nos estudos dascadeias produtivas nos países comfortes barreiras alfandegárias, inclu-sive para o setor agrícola. Por trás dastarifas escondia-se a baixa eficiênciaprodutiva, muitas vezes regada a abun-dantes subsídios. Com a globalizaçãoda economia, abertura do mercadoagrícola, queda das tarifas alfandegá-rias e corte de subsídios, a sobrevivên-cia de uma cadeia produtiva ficoudependente da produtividade, da qua-lidade e da redução de custos em todaa corrente.

Este argumento é facilmentecomprovável quando se observam pro-dutos importados e nacionais, nas pra-teleiras dos supermercados; o consu-midor compara e considera que a que-da de preços das mercadorias produzi-das internamente não acontece nonível desejado e a qualidade muitasvezes deixa a desejar — o que de fatoacontece, pelo pouco emprego datecnologia e, conseqüentemente, onão-alcance da produtividade e quali-dade potencialmente desejável.

A baixa produtividade e qualidadedos produtos agrícolas, estrutura defi-ciente de comercialização, falta deinformações de mercado e excesso deoferta contribuem para que o produ-tor rural tenha uma baixa renda daoperação agrícola (ROA).

Geralmente, o produtor rural estátrabalhando mais por oferta do quepor demanda, desconhecendo, namaioria das vezes, as necessidades eos desejos do consumidor. As informa-ções de mercado que chegam até o

produtor são precárias. O sistema dedivulgação encontra muitas dificul-dades para cumprir o seu papel. Aspesquisas de mercado, a começarpelas cadeias produtivas, sãoincipientes. Os dados estatísticos nãosão analisados e sintetizados para setransformarem em informação parao produtor. O mercado de alimentosno mundo desenvolvido trabalha comsuperávit. Nesses países, aotimização das áreas de excelência,a exploração das vantagens compa-rativas e o uso intensivo de tecnolo-gias produzem altos índices de pro-dutividade e qualidade, além de bai-xos custos e menores riscos. Aliadosao excesso de oferta, observam-se osbaixos custos dos produtos agrícolasem função de redução de custos nacadeia produtiva, por meio do uso detecnologia, do uso de uma logísticacada vez mais sofisticada na distri-buição, de economia de escala emtoda a cadeia produtiva e da elimina-ção dos pontos de estrangulamentodas cadeias produtivas.

O produtor é um elo isolado den-tro da cadeia produtiva, a qual geral-mente é coordenada pelos distribui-dores e comerciantes atacadistas. Aorganização espacial da produção e alogística de distribuição ecomercialização inexistem, pelo fatode que o produtor não está organiza-do em termos de cadeia produtiva.

A baixa eficiência técnica do pro-dutor, o gerenciamento incipiente eas culturas estabelecidas em condi-ções edafoclimáticas inadequadas re-fletem a baixa produtividade e quali-dade do produto agrícola. Ogerenciamento incipiente do produ-tor rural está ligado ao pouco conhe-cimento sobre técnicas gerenciais, àeducação formal insuficiente, às pou-cas informações de mercado e, mui-tas vezes, a uma inadequação pes-soal para o gerenciamento da pro-priedade rural.

Jorge Bleicher, eng. agr., Dr., Cart. Prof.4.167-D, Crea-SC, Epagri, C.P. 502, Fone(048) 239-5674, Fax (048) 239-5597, 88034-901 Florianópolis, SC.

Page 69: Revista Agropecuária Catarinense - Nº44 setembro 1998

68 Agrop. Catarinense, v.11, n.4, dez. 1998

VIDA RURALSOLUÇÕES CASEIRAS

Combata a raivaCombata a raivaCombata a raivaCombata a raivaCombata a raiva

A raiva é uma doença provocadapor vírus, incurável se não tratada atempo, que ataca o sistema nervosode mamíferos como bois, cavalos,cães, suínos e o homem, causandoalterações no comportamento da ví-tima seguidas de morte. Bovinos eeqüinos contaminados apresentam,como principal sintoma, a paralisia,enquanto que em cães, gatos e suínosa raiva pode se manifestar pela perdade apetite, isolamento, formação ex-cessiva de baba e aumento daagressividade do animal (Figuras 1 e2).

manchas de sangue, geralmente nopescoço, lombo e garupa – sinais doataque de hematófagos (Figura 3).

Em casos de mordedura de cães egatos com comportamento suspeito,lave bem o local do ferimento comágua e sabão, procure o posto desaúde mais próximo e não mate oanimal agressor. Deixe-o confinadoem observação e chame um veteriná-rio para examiná-lo.

Ao encontrar sinais do ataque demorcego, refúgios ou quando ani-mais domésticos apresentarem alte-rações no comportamento, paralisiae morte, informe imediatamente omédico veterinário ou o escritório daCidasc de seu município. Você seráorientado sobre que medidas tomarpara proteger seus animais e a utili-zação da vacina anti-rábica (Figura5).

Figura 1 – A forma paralítica éconhecida também como raiva

dos herbívoros

A doença se transmite através damordedura ou contato com a saliva,urina ou lágrima do animal doente.O principal agente transmissor daraiva é o morcego hematófago (Figu-ra 3) ao se alimentar de sangue. Apresença desses morcegos na regiãopode ser denunciada quando ani-mais começam a apresentar feridas e

Figura 3 – O morcego hematófago é oagente transmissor da doença

Para controlar a raiva é necessáriosaber identificar o morcegohematófago, pois a grande maioriadas espécies de morcego é benéficapara o homem, controlando insetos,disseminando sementes e polinizandoflores. Das 150 espécies conhecidas noBrasil, apenas três delas se alimentamde sangue e podem transmitir a raiva.Os morcegos hematófagos têm osdentes da frente (incisivos) e os cani-nos bem desenvolvidos, apresentamuma fissura no lábio inferior e nãopossuem cauda (Figura 4).

Figura 4 – Os morcegos hematófagosapresentam dentes incisivos, fissura no

lábio inferior e não possuem cauda

Nas áreas de maior risco de ocor-rência da raiva, a Cidasc faz umtrabalho permanente de combate aomorcego hematófago. Para isso con-ta com equipes especializadas quepercorrem o Estado.

Depois de capturado e identifica-do pela equipe da Cidasc, é passadanas costas do morcego hematófagouma pasta anticoagulante especial.Em seguida o morcego é solto paraque volte ao refúgio, onde os demaismorcegos têm o hábito de lamber orecém-chegado para fazer a limpeza.Desse modo, um morcego tratadocom a pasta causa a morte de até 20morcegos hematófagos.

Maiores informações com a Cidascde São José, Rua Joaquim Vaz, 1.661,Praia Comprida, 88110-201 São José,SC, Fone (048) 247-9307.

Agradecimentos: Régis RobertoMaciel, médico veterinário da Cidasc.

Os principais refúgios dos morce-gos são cavernas, troncos ocos, sótãose casas abandonadas. No caso doshematófagos, a identificação do refú-gio pode ser feita pelas fezes escuras,malcheirosas e com aparência de óleoqueimado. Não entre nesses locais,pois existe o risco de adquirir a raiva,além de outras doenças.

Figura 5 – Aplicação da vacinaanti-rábica

Fonte: Cidasc.

Figura 2 – A forma furiosa é maiscomum em cães e gatos

Fonte: Cidasc.