REVISTA ANGRAD

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Associao Nacional dos Cursos de Graduao em Administrao

REVISTA ANGRADVolume 7 Nmero 1

Rio de Janeiro Jan/Fev/Mar 2006

A Revista ANGRAD uma publicao da ANGRAD (Associao Nacional dos cursos de Graduao em Administrao). Com periodicidade trimestral, a Revista ANGRAD tem como misso ser um meio de difuso do estado da arte do ensino e pesquisa em administrao, oportunizando a apresentao de teorias, modelos, pesquisas e retrospectivas que abordem o processo de ensino-aprendizagem e intensifiquem a prtica da educao em disciplinas dos Cursos de Administrao.

Revista ANGRAD/Associao Nacional dos cursos de Graduao em Administrao. v.7, n.1, (Jan./Fev./Mar. 2006) - Rio de Janeiro: ANGRAD, 2006 trimestral 1. Administrao - Peridico ISSN 1515 -5532

Projeto Grfico e Editorao: Milla Santana Impresso: Grfica Dominaret Reviso Editorial: Milla Santana As opinies emitidas nos textos publicados so de total responsabilidade dos seus respectivos autores.Todos os direitos de reproduo, traduo e adaptao esto reservados. A Revista ANGRAD, publicada trimestralmente, completa um volume a cada ano e distribuda gratuitamente aos seus associados. Associaes atravs do Portal www.angrad.org.br e os nmeros anteriores estaro disponveis, enquanto durarem os estoques.

Conselho Editorial da Revista ANGRAD

EBAPE - Escola Brasileira de Administrao Pblica e de Empresas Fundao Getlio Vargas

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UNISINOS Universidade do Vale do Rio dos Sinos UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul ESPM Escola Superior de Publicidade e Marketing

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Profa. Manolita Correia de LimaUFBA - Universidade Federal da Bahia

Profa. Maria da Graa Piti Barreto (Editora) Profa. Maria Tereza FleuryUSP Universidade de So Paulo

Prof. Mrio Csar Barreto MoraesUniversidade do Estado de Santa Catarina HEC - cole des Hautes tudes Commerciales de la Universidad de Montreal - Canad UFPE Universidade Federal de Pernambuco PUC Minas Pontifcia Universidade Catlica Pontifica Universidade Catlica PUC Rio London School of Economics - Inglaterra FGV Fundao Getlio Vargas UNL - Universidade Nova de Lisboa - Portugal UFBA Universidade federal da Bahia

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Prof. Pedro Lincoln

Prof. Roberto Costa Fachin Prof. Roberto Moreno Profa. Silvia Roesch

Profa. Silvia Vergara Profa. Snia Dahab Profa. Tnia Fisher

Prof. Walter Fernando Arajo de MoraesFaculdade Boa Viagem Recife/PE

Diretoria da ANGRAD 2005-2007Conselho DiretorPresidente Nacional: Prof. Antonio de Araujo Freitas Jnior Vice-Presidente Nacional: Prof. Mria Miranda Freitas Oleto Vice-Presidente de Administrao e Finanas: Prof. Agammnom Rocha Souza Vice-Presidente de Ensino: Prof. Mrio Cesar Barreto Moraes Vice-Presidente Cientfico: Profa. Maria da Graa Piti Barreto Vice-Presidente de Relaes Institucionais: Prof. Joaquim Celso Freire da Silva Vice-Presidente de Marketing: Prof. Hamil Adum Filho

Conselho FiscalFrancisco Jos Batista Geraldo Gonalves Jnior Ndia Kassouf Pizzinatto Geraldo R. Caravantes

Conselho ConsultivoAlexander Berndt Manuel Santos B. Alvarez Rui Otvio B. de Andrade Mauro Kreuz

Equipe ANGRADLuiz Carlos da Silva Renata Demro Gleverson Bruno G. Soares Carlos Augusto Cruz

EditorialO primeiro volume de nossa Revista ANGRAD do ano de 2006 traz como novidades a reforma do nosso Comit Editorial e a modificao de sua misso. Buscando incrementar sua qualidade e internacionalizar nosso peridico, foram convidados novos componentes para integrarem o Comit Editorial. Os professores convidados so pesquisadores de renome internacional que vo contribuir para, atravs de suas sugestes, elevar o padro de nossa Revista, dando-lhe maior visibilidade e respeitabilidade no ambiente acadmico. A nova misso da Revista ANGRAD, exposta no verso da folha de rosto de cada exemplar, foi ajustada aos objetivos precpuos da ANGRAD que conduzem ao fomento da qualidade do ensino da Administrao. Entendemos que o ensino para ser eficiente precisa estar associado prtica, induzindo o estudante reflexo das teorias divulgadas nos livros adotados nos cursos existentes no pas, colocando-o em contacto direto com a realidade. Em nosso pas, parece no haver um peridico cientfico voltado, especificamente, para o tema Ensino e Pesquisa em Administrao. Para atender a essa misso, a nossa Revista estar veiculando teorias, modelos, pesquisa e retrospectivas que abordem o processo de ensino-aprendizagem e intensifiquem a prtica da educao em disciplinas do Curso de Administrao. Neste nmero, portanto, encontram-se artigos que abordam essa temtica e revelam resultados de pesquisa elaborada por docentes com a participao de discentes. Ressaltamos que os artigos continuam sendo escolhidos pelo sistema de blind-review com dois pareceristas, para garantir a imparcialidade do processo. Como convidado, temos, neste exemplar, a contribuio do Prof. Omar Acktuff, da Escuela de Altos Estudios Comerciales de Montreal Canad que aceitou fazer parte do nosso Comit Editorial e nos autorizou a divulgar um captulo de seu livro Administracin Y Pedagogia, que discorre sobre o objetivo do ensino de Administrao, destacando que nossas instituies de ensino precisam ser capazes de proporcionar uma formao aos futuros profissionais a fim de que possam administrar uma empresa de maneira economicamente eficaz, mas humanamente vivel. Expressamos nossos agradecimentos aos autores dos artigos que deram preferncia nossa Revista para divulgar sua contribuio cincia da Administrao. Convidamos os demais professores e pesquisadores que nos encaminhem suas reflexes e suas experincias na prtica do ensino de administrao e compartilhem os resultados de suas pesquisas, pois as teorias so renovadas a partir da observao da realidade.

Profa. Maria da Graa Piti Barreto

Editora - Chefe

Sumrio

09 A GestoA Gesto do Conhecimento na Educao Ambiental: do Conhecimento na Educao Ambiental: a Integrao a IntegraoPrimria e Secundriae Secundria das Escolas das Escolas Primria com a Universidade para um Futuro Melhor com a Universidade para um Futuro Melhor Edson RobertoEdson Roberto Scharf Scharf Eduardo Jos Floriano-Sierra Eduardo Jos Floriano-Sierra Comrcio Eletrnico: Tendncias e Necessidades de 23 Comrcio Eletrnico: Tendncias e Necessidades de Pesquisa Pesquisa Mauricio Gregianin Testa Mauricio Gregianin Testa Edimara Mezzomo Luciano Edimara Mezzomo Luciano Henrique Freitas Henrique Freitas Identificao dos Fatores Crticos de 43 Identificao dos Fatores Crticos de Sucesso Sucesso em Instituio de Ensino Superior em Instituio de Ensino Superior Romualdo Douglas Colauto Romualdo Douglas Colauto Caio Marcio Gonalves Caio Marcio Gonalves Ilse Ilse Maria Beuren Maria Beuren La Administracin y su Enseanza: Entre y Ciencia? 63 La Administracin y su Enseanza: Entre Doctrina Doctrina y Ciencia? Omar Aktouf Omar Aktouf 79 O EnsinoO Ensino da Burocracia: um Estudo Terico-Emprico da Burocracia: um Estudo de Caso de Caso Terico-Emprico Jaqueline de Ftima Cardoso Jaqueline de Ftima Cardoso Janana RenataJanana Renata Garcia Garcia Maurcio Fernandes Pereira Maurcio Fernandes Pereira Um Ambiente Virtual para Experincias em Administrao 99 Um Ambiente Virtual para Experincias em Administrao Jess Jess Alves AmncioAlves Amncio Elis Regina de Elis Regina de Paula Paula

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Edson Roberto Scharf Mestre em Administrao, professor universitrio Instituio: FURB Universidade Regional de Blumenau Rua Antonio da Veiga, 170 - 89010.970 Blumenau - SC e-mail: [email protected] Eduardo Jos Floriano-Sierra Dr., professor universitrio Instituio: UFSC Universidade Federal de Santa Catarina Campus da UFSC Trindade - 88010.970 Florianpolis - SC e-mail: [email protected]

ResumoAtualmente, o respeito pela natureza mais uma ateno s normas explicitadas pela propaganda do que por aquilo que deveria ser feito para auxiliar o planeta. As pessoas sabem que devem usar produtos que minimizam o impacto negativo na natureza, que devem reciclar o lixo e reutilizar o papel da impressora. No levam, porm, em considerao pequenos detalhes, achando que, somente, quem entra para o Greenpeace ou WWF que estar ajudando. Este trabalho pretende demonstrar de que possvel s pessoas serem mais conscientes com relao conservao da natureza, mas provvel que os resultados sejam melhores quanto mais cedo se tiver contato com o assunto de forma adequada e se aprender a respeitar a natureza de maneira correta e sem xenofobias. A integrao do sistema educacional, ligando a escola primria e secundria com a universidade, atravs de um nico pensamento sistmico com relao educao ambiental o fator primordial para um planeta com um futuro. O estudo toma por base uma instituio de ensino em Blumenau. Das 320 famlias questionadas, que representam a totalidade dos pais de alunos matriculados, 69% responderam. Atravs da pesquisa percebe-se que a integrao escola-

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universidade deve ocorrer em conjunto com a gesto do conhecimento para criao de valor para o tema. Palavras-chave: Educao ambiental, integrao escola-universidade

AbstractCurrently, the respect for the nature is plus an attention to the norms explanationed for the advertising of that by what it would have to be made to assist the planet. The people know that they must use products that minimize the negative impact in the nature, that they must recycle the garbage and reuse the paper of the printer. However, they do not take in consideration small details, finding that only who enters for the Greenpeace or WWF is that will be helping. This work intends to demonstrate of that it is possible the people to be more conscientious with regard to conservation of the nature, but is probable that the results are better the more early will have contact with the subject of adequate form and if to learn to respect the nature in correct way.The integration of the educational system, binding the primary and secondary school with the university, through an only sistmico thought with relation to the ambient education is the primordial factor for a planet with a future. The study it takes for base an institution of education in Blumenau. Of the 320 questioned families, who represent the totality of the parents of registered pupils, 69% had answered.Through the research it is perceived that the integration schooluniversity must occur, in set with the knowledge management for creation of value for the subject. Key-words: ambient education, integration school-university

1. IntroduoNo cotidiano das pessoas, o respeito pela natureza mais uma ateno a algumas normas explicitadas pela propaganda e pelo senso-comum do que exatamente por aquilo que deveria ser feito para auxiliar a continuidade do planeta. As pessoas, em geral, sabem que devem usar produtos que minimizam o impacto negativo na natureza, que devem reciclar o lixo e reutilizar o papel da impressora. Grande parte destas mesmas pessoas, porm, no leva em considerao pequenos detalhes, achando que somente quem entra para o Greenpeace ou WWF que estar ajudando, sem se aperceber de que as pequenas mudanas do dia-a-dia so as mais importantes, porque se repetem milhares de vezes. Os problemas ambientais esto entre os vrios que o homem criou, como conseqncia da sua procura incessante pela evoluo. Nas ltimas dcadas, diante da dificuldade de criar naturalmente uma forma de ao coerente, um modo de vida que inclua o conjun-

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to das pessoas e atenda s necessidades humanas, a questo ambiental passou a ser tratada oficialmente, pelo governo (1. reunio ocorreu em Estocolmo, 1972), e extra-oficialmente, pelas ONGs. Este trabalho pretende demonstrar de que possvel s pessoas serem mais conscientes com relao conservao da natureza, mas provvel que os resultados sejam melhores quanto mais cedo se tiver contato com o assunto de forma adequada e se aprender a respeitar a natureza de maneira correta e sem xenofobias. o pensamento, a conscincia e a ao das pessoas que pode mudar o quadro atual no ambiente em que se vive. Podem-se obter resultados mais facilmente quando as crianas e os jovens esto envolvidos e comprometidos com a idia. E sempre envolvido com aquilo que se pensa, se percebe, se entende. a Gesto do Conhecimento criando corpo. O estudo toma por base uma instituio de ensino em Blumenau, o Colgio Shalom, nica empresa da regio a ganhar duas vezes a medalha de ouro em premiao ecolgica. Das 320 famlias questionadas, que representam a totalidade dos pais de alunos matriculados, 61% responderam. Atravs da pesquisa possvel perceber que a maioria tem conscincia dos danos que o consumo no consciente traz, mas muitos crem mais na fora da propaganda do que na argumentao dos seus filhos. A integrao das escolas primria e secundria com a universidade, no sentido do ensino de educao ambiental pode minimizar impactos negativos que as pessoas fazem ao planeta.

2. Desenvolvimento2.1. Educao Ambiental Tema cada vez mais recorrente nos noticirios, nas salas de aula e nas conversas em meios mais intelectualizados, a proteo natureza e o reconhecimento das fraquezas humanas relacionadas a um convvio ideal tem se tornado para muitos uma obsesso. As conseqncias desta fragmentao de habitat tornam importantes os efeitos de movimentos individuais e da estrutura do habitat sobre a dinmica populacional. Ainda de acordo com Ricklefs (2003), ...a fragmentao de habitat coloca os organismos mais prximos s bordas do habitat adequado. Isto se torna muito importante quando se entende que a distribuio de uma populao a sua abrangncia geogrfica. A presena ou ausncia de habitats adequados freqentemente determina a extenso da distribuio de uma populao, embora outros fatores possam ter influncia. O mesmo autor argumenta de que, nessa questo, ...as distribuies geogrficas das populaes so determinadas pelos habitats ecologicamente adequados.

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Assim sendo, a preocupao, o cuidado e, em especial, o aprendizado de todos os assuntos que dizem respeito ao trato e a preservao da natureza so fundamentais. E a palavra fundamental, aqui, no quer dizer apenas importante, mas sim um fundamento, uma base. Ou seja, deve ser iniciado ainda em tenra idade, quando a capacidade de discernimento menor, mas, em compensao, a possibilidade de as crianas entenderem as reais importncias da natureza so bem maiores, visto que seus valores so outros, formarem uma base firme para os assuntos relacionados natureza. Ao chegar na universidade, a transio mais bem aceita. O planeta em que se vive caracteriza-se por ser semi-aberto, onde todos os elementos que o compem esto disponveis em quantidade determinada. Somente o Sol (energia) vem de fora do sistema. Tal qual a mensagem do comercial publicitrio da ONG OneEarth, veiculado no mundo inteiro em canais fechados, a Terra uma nave com muitos tripulantes. O que cada um faz dentro dela depende somente de cada um. 2.2. O cotidiano mostra a realidade Recentemente, o Dirio Catarinense trouxe matria de Ana Paulo Cardoso (Alunos Tm Aula Prtica em Rio, p. 32, de 05.06.2005) referindo-se a cerca de 120 alunos de duas escolas de Cricima que analisaram os recursos hdricos da bacia hidrogrfica do rio Cricima. Ao invs de discutir geografia e cincias em sala de aula, foram conferir de perto os problemas ambientais do municpio, como reas degradadas pelo carvo ou dejetos jogados nos rios, num projeto desenvolvido em parceria com acadmicos da Universidade do Extremo-Sul Catarinense. Na matria, h o depoimento de um aluno de 10 anos, Fernando Back, que ilustra bem a discusso, quando fala sobre a importncia de no destruir as florestas: Vi que Cricima tem poucas reas preservadas e que preciso manter o ar puro. Se as matas forem destrudas, vamos ter problemas tambm com os rios. No h pensamento aludindo sobre quanto o progresso necessrio ou se ser possvel gastar menos gua no banho de hoje noite; apenas a percepo de que preciso preservar. Isso, ele deve levar para a sua vida. um aprendizado prtico que o far perceber que as pequenas atitudes podem ser capazes de grandes alteraes positivas no mundo. Outro fato memorvel foi o discurso da menina canadense Severn Suzuki, de 12 anos, durante a Eco92, no Rio de Janeiro, que em determinada altura do seu discurso diz ...No meu pas, geramos tanto desperdcio. Compramos e jogamos fora. E os... Mesmo quando temos mais do que o suficiente, temos medo de perder nossas riquezas, medo de compartilh-las. Traz, tambm, uma fala em que cita o ensinamento paterno, e conclui o pensamento com base nele, ao dizer ...Meu pai sempre diz:Voc aquilo que faz, no aquilo que diz. Bem, o que vocs fazem nos faz chorar noite.Vocs, adultos, nos dizem que vocs nos amam. Eu desafio vocs. Por favor, faam suas aes refletirem suas palavras.

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So palavras que trazem ensinamentos simples, porm poderosos. o tipo de razo que pode dar sentido ao sentimento. uma ao contundente, ainda que seja apenas uma, no meio de milhares de aes que so tomadas contra a natureza. 2.3. Desenvolvimento sustentvel O conceito de desenvolvimento sustentvel, que contempla o equilbrio entre os aspectos econmico-financeiro, ambiental e social, vai sendo incorporado sua vida pouco a pouco, sem presso e sem falsos conceitos. Montibeller (2004) argumenta que o ser humano no tem instrues genticas quanto ao consumo de energia e materiais, e que isto mais uma questo cultural. E defende dizendo que ...o consumo exossomtico define-se em funo do modo de produo e consumo e das relaes e valores sociais que se estabelecem, refletindo um modo de vida. neste sentido que ele cultural. Landes (1998) comunga com esta idia ao raciocinar que ...se aprendemos alguma coisa atravs da histria do desenvolvimento econmico, que a cultura a principal geradora de suas diferenas. Uma economia baseada no mercado, em que cada um tem a liberdade de comprar e vender e os preos podem encontrar o seu prprio nvel baseado na procura e oferta, basicamente um mecanismo eficiente. Dahl (1996) diz que os problemas so atribudos no ao princpio abstrato, mas sua aplicao. Os poderosos so tentados a manipular a situao para seu maior proveito. Obviamente, se refere ao uso indiscriminado das riquezas naturais ou do prejuzo que podem fazer a ela. Conforme afirma Brgger (1998), porm, o conceito de natureza no natural, mas um produto histrico. E os efeitos dessa viso de mundo sobre tal conceito foram profundos: a natureza deixou de ser um todo vivo e tornou-se um conjunto de recursos (instrumentos para se atingir um fim). Dessa forma, na viso da autora, ...dentro do pensamento dominante, s o que recurso merece ser preservado, por sua utilidade (imediata ou potencial). Essa a essncia da tica conservacionista: a instrumentalizao e a reificao da natureza. A informao de que a Terra o nosso bem mais precioso deve ser repassada s crianas, de modo que entendam a importncia de tomarem pequenas aes no dia-a-dia que podem fazer uma grande diferena para a vida de todos os seres. Especialmente com relao a tecnologia e a produo, que normalmente so iados ao posto de viles do meio ambiente e o grande entrave para conseguir-se um desenvolvimento sustentvel, vlido buscar a teoria proposta por Eisler (1989), com o ttulo de Teoria da Transformao Cultural. comum atribuir-se tecnologia, em particular, a causa dos problemas ambientais. sabido, porm, que as pessoas no conseguiriam viver sem o uso de tecnologias. O que

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se torna conveniente discutir o uso que se d tecnologia, se para a vida ou para a morte, caso de muitas dos engenhosos produtos e programas desenvolvidos pelo homem. Considerando toda a extenso da evoluo cultural do ponto de vista da sua teoria, Eisler (1989) afirma que se ver que as razes das atuais crises globais remontam mudana fundamental na pr-histria, que trouxe grandes modificaes no s na estrutura social, mas tambm na tecnologia. Foi a mudana na nfase dada ...a tecnologias que sustentam e elevam a vida para as tecnologias simbolizadas para a lmina; tecnologias destinadas a destruir e dominar. Essa tem sido a nfase tecnolgica ao longo de grande parte da histria registrada. E essa nfase tecnolgica, em vez da tecnologia por si s, que hoje ameaa toda a vida no planeta. 2.4. Consumo consciente: questo de conscincia Novamente, chega-se a um ponto nico: na cabea das pessoas que o meio ambiente pode alterar seu curso. na maneira como se vem as coisas e no em como se fazem. A integrao escolas primria e secundria com a universidade carece de um trabalho com este foco. Pensando dessa mesma forma, Mendona (2005) diz que os impactos ambientais so problemas decorrentes de relaes sociais e estas, por sua vez, so resultados de processos mentais. ...Acostumamo-nos a pensar as coisas separadamente: indivduos, subjetividades, grupos, sociedades, economias, raciocnios, opinies, intuies, sensaes, ambientes internos e externos. H o convvio consciente com essas separaes, mas quando se aprofundam as reflexes, no longo caminho para a compreenso do mundo em que se vive, essas separaes perdem sentido, de acordo com a autora. ...Seno como explicar onde ficam as fronteiras que separam o ambiente interno (de nossas percepes sensoriais de sentimentos e intuies) do ambiente externo (do espao fsico e fbricas dos locais de residncia e trabalho)? 2.5. O projeto de educao ambiental para um futuro melhor O Colgio Shalom, na figura do seu atual diretor, prof. Joo Batista Cardoso de Aguiar, juntamente com a equipe de professores e funcionrios, iniciou o processo de ensino de disciplinas de ecologia nas salas de aula, aplicando os conceitos de gesto do conhecimento para criao de valor junto comunidade em geral e aos pais dos alunos, especificamente. O projeto que os alunos, mais conscientes, cheguem universidade e vida adulta vendo o planeta e as aes praticadas por eles mesmos, de uma nova maneira. Como cada aluno do Colgio Shalom pode ser um agente multiplicador do que aprendeu sobre ecologia e suas aes podem ser inspiradoras de outras aes de outras pessoas, natural se imaginar que a comunidade em que est inserida essa criana, agora com amplos

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conceitos sobre respeito natureza, tende a se influenciar por ela e tomar cuidados que talvez at ento no tivesse. O projeto do Colgio Shalom, denominado SGA Sistema de Gesto Ambiental foi vencedor por dois anos consecutivos do prmio de Gesto Ambiental institudo pelo rgo FAEMA. Essas medalhas de ouro vieram confirmar o esforo feito por todos os envolvidos. Na sua implantao, ele fez uma apresentao e avaliao de diversas reas, a saber: educao ambiental; matria-prima; otimizao do consumo de energia eltrica, otimizao do consumo de gua; esgotamento sanitrio, poluio sonora e visual; resduos slidos; paisagismo e horta orgnica. Este trabalho foca uma das reas, a educao ambiental. Brgger (1998) tece um comentrio interessante a este respeito, quando diz que...esse modo de pensar faz com que, na maioria das estratgias educacionais, o meio ambiente fique limitado a seus aspectos naturais e tcnicos, como mostra a forte identificao com poluio, extino e outros temas ecolgicos. H um empobrecimento conceitual, decorrente do dilogo insuficiente entre as reas do conhecimento, separadas historicamente em cincias humanas, cincias naturais e cincias exatas e ainda pulverizadas em disciplinas.

A equipe do Colgio Shalom, ainda sem a participao dos alunos, iniciou seus encontros no formato de reunies para que todos os envolvidos tivessem o mesmo vocabulrio e pensasse de forma dirigida aos objetivos. Para isso, determinaram, em conjunto, as metas do programa, para que pudessem agir e monitorar de forma mais constante e correta todos os passos do programa. Aos alunos, foi dispensado um tempo realmente grande para essa conscientizao. Todos foram envolvidos e a importncia desse tempo foi traduzida em dois momentos: um, a conquista das medalhas de ouro institudas pela FAEMA s empresas que se destacam em atividades de gesto ambiental. O outro foi a formao dos alunos como cidados zelosos do planeta, atentos s suas responsabilidades como pessoa da comunidade e multiplicadoras do esforo de conscientizao. A educao alimentar para a promoo da sade, por exemplo, foi um dos temas que teve ampla participao e resultados prticos. A idia bsica era mudar os hbitos alimentares das crianas, visando o melhor aproveitamento do que a natureza tem a oferecer em termos de alimentao. Os alunos deveriam aprender as inter-relaes entre solo, plantas microorganismos e sade. Dentre as aes feitas com as crianas, alguma delas surtiram especial efeito, como peas de teatro com fantoches, peas em caixote de papelo imitando televiso, palestras para pais e crianas sobre a pirmide alimentar, vrios lbuns de germinao (feijo e outros), brincadeiras com papel e idas a supermercados. Tambm, os trabalhos feitos com hortas orgnicas e jardinagem obtiveram efeitos excelentes, com a participao macia dos alunos, demonstrando interesse e tornando-se,

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naturalmente, multiplicadores do conceito de preservao e respeito natureza junto aos seus familiares, amigos e vizinhos. O trabalho ldico feito com as crianas, considerado fundamental por todos os envolvidos, inclusive por elas prprias, ao demonstrarem seu agrado com as tcnicas aplicadas pelas professoras, atravs do ensino teatral, das brincadeiras dirigidas e das aulas prticas em campo, teve um resultado timo. E isto traz um retorno tambm para as sries superiores, visto que adolescentes j tm muitos outros interesses, alm da escola. O simples fato de as crianas estarem fazendo os trabalhos (apresentados em cartazes periodicamente) j criava um clima de boa vontade para que os adolescentes tambm vestissem a camisa. provvel que, a partir disto, a integrao fcil entre a escola e a universidade traga resultados valiosos para a sociedade. Os resultados foram excelentes, tambm nessas fases, considerando os prmios recebidos. Para os pais dos alunos, essa conquista e posterior divulgao foi um motivo de orgulho e certeza de t-los num espao adequado para o aprendizado e para a formao de cidados equilibrados e respeitosos. Como bem afirmou Dahl (1996), a dimenso humana deve regressar ao seu lugar central no nosso conceito de sociedade (...referindo-se ao excesso de importncia dada a tecnologia e s coisas materiais...), atravs do reconhecimento da importncia do capital humano no funcionamento de todos os sistemas sociais. Temos exposta, a, a Gesto do Conhecimento. E ao adot-la como linha-mestra, considerando o exemplo estudado, faz necessrio entender o que pode estar por trs das aes e possveis reaes de alunos, pais e comunidade. Afinal, a gesto do conhecimento s possvel com seres pensantes alimentando o processo. 2.6. O pensamento como modelador da educao ambiental A cultura ocidental adota predominantemente o pensamento linear em contraponto aos pensamentos sistmico e complexo. Segundo Mariotti (2000) o modelo mental linear consolidou-se na Grcia clssica e ampliou-se tempos depois, como uma resposta do Renascimento Idade Mdia, poca em que tudo era visto em termos de dogmas e teologias. ...Foi no Renascimento que se firmou o uso da razo aristotlica e da argumentao lgica como balizadores do nosso sistema de raciocnio. O predomnio deste modelo foi se expandindo e tem perdurado na cultura ocidental. Esse modo de pensar conhecido por mtodo cartesiano. A competio predatria prpria do sistema mental linear, por exemplo. J o modelo mental sistmico relaciona os componentes de um sistema, no se restringindo a v-los separadamente. A ecologia, por exemplo, uma cincia sistmica, pois inclui o conhecimento das relaes entre os seres vivos, incluindo estudos do solo, gua,

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plantas, animais etc. A prioridade a compreenso dos fenmenos, das relaes, dos fluxos de influncia entre os diferentes componentes de um sistema. O pensamento sistmico, portanto, entende as coisas como um todo, v as partes como componentes de uma organizao, v as relaes entre as partes. Conforme Mariotti (2000), sistema um conjunto de dois ou mais componentes inter-relacionados e interdependentes, cuja dinmica se dirige a um objetivo comum. Qualquer alterao em uma das partes refletir na totalidade. O modelo mental complexo, no entanto, pede com que o usurio decida sobre as estruturas de pensamento que deseja utilizar, adequando-as s necessidades de cada situao. O pensamento complexo prope que se utilize o pensamento linear quando ele for mais eficaz. Quando for ineficiente, que se utilize o sistmico. Conforme a introduo deste trabalho preconizou quanto ao meio, tambm o sistema de pensamento complexo entende de que pequenas aes podem levar a grandes resultados, dependendo da compreenso do problema. Com uma leitura distanciada e desapegada, pode-se aprender com a experincia. Considerando o tema e a proposio deste trabalho, possvel que o pensamento complexo seja o mais adequado a ser adotado pelo colgio Shalom. O estudo dos ecossistemas, por exemplo, inclui todos os elementos que os compem, assim como todas as redes de relaes entre eles. Um dos autores que mais importncia d ao pensamento complexo (MORIN, 2000) prope que ...analisemos nosso prprio pensamento, pois temos sido muito apegados estrutura de pensamento na qual fomos educados.. E complementa dizendo que...o modelo mental proposto pelo pensamento complexo aceita e procura entender as constantes mudanas do mundo e no nega a multiplicidade, a diversidade, a aleatoriedade e a incerteza. Ao contrrio, ressalta a importncia de aprendermos a conviver com elas, uma vez que fazem parte da realidade.

Ao comparar com o sistema de pensamento que, normalmente, usado, o linear, v-se que se vive freqentemente situaes que no fazem sentido para ns. As sociedades modernas esto em processo de mudana cada vez mais rpida. Est ocorrendo um crescente distanciamento da natureza, o que favorece um modo de vida que supe a idia de que no se pertencer natureza. Ele vista de fora. Conseqentemente, os impactos ambientais gerados pelos seres humanos revelam que no so avaliados to graves. Novamente neste ponto, a importncia de processos bem realizados de educao ambiental, de valorao do meio, de aumento da conscincia quanto ao consumo e do entendimento do que vem a ser crescimento sustentvel, para que estas geraes vindouras consigam ser melhores do que as atuais na relao com a natureza.

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Levando em considerao essas explanaes, a expresso desenvolvimento sustentvel, em princpio, tem o risco de se tornar uma expresso nula, pois a maneira de vida das pessoas hoje no , por definio, sustentvel. Nesse sentido, Furtado e Furtado (2001) afirmam que a questo da sustentabilidade deve ter sido a maior vtima do processo de globalizao, forando blocos regionais a avanar isoladamente, ...onde a comunidade internacional falhou em agir. Continuam o raciocnio, dizendo que a pouca vontade poltica para implementar a regulamentao internacional e iniciativas voluntrias tmidas, ...fazem com que a arena internacional continue sendo bastante desigual, criando uma desvantagem competitiva para os pases que buscam maior valor agregado aos seus produtos e menor legado txico para o ambiente. Veiga (2005) acrescenta que...ningum duvida de que o crescimento um fator muito importante para o desenvolvimento. No se deve esquecer, contudo, que no crescimento a mudana quantitativa, enquanto no desenvolvimento ela qualitativa. Os dois esto intimamente ligados, mas no so a mesma coisa.

Realmente, difcil conciliar as duas coisas, crescimento e sustentabilidade, somente com aes isoladas, sem o envolvimento do pensamento integral dos envolvidos.

3. Apresentao dos dados/evidnciasFoi aplicado um questionrio com perguntas fechadas e abertas, com preenchimento feito pelos pais de alunos matriculados. Dos 320 questionrios enviados, 69% obtiveram resposta, sendo um excelente ndice de devoluo dos mesmos. Com relao coleta dos dados, foram obtidos os resultados a seguir detalhados: Sobre a Q1 Importncia dos comentrios e conversas dos filhos sobre o que aprendem de educao ambiental no colgio, tem-se que 85% dos pais responderam que os filhos comentam sobre o que aprendem de educao ambiental em casa. Por meio das respostas da Q2 Diminuio do consumo de industrializados, a partir das conversas com os filhos, em que os pais indicaram quais produtos eles diminuram o consumo, a partir das conversas com os filhos, obtiveram-se respostas diversas como: 14,5% diminuiu a compra de refrigerantes, 12,5% diminuiu a compra de enlatados, 8,5% reduziu o consumo de salgadinhos e quase 5% diminuiu o consumo de bolachas recheadas. Os demais produtos, como sacolas plsticas, detergentes, desinfetantes, alimentcios, gua e energia, condimentos, chocolates ou balas obtiveram em mdia de 1 a 2% das respostas. Nessa questo, alguns pais no responderam porque no adotaram o consumo consciente.

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Uma questo pode ser complementar outra, pois se os filhos comentam com os pais sobre o aprendizado de temas ambientais, conservao, sustentabilidade ou consumo consciente, talvez haja reaes positivas em direo a minimizar a compra de produtos industrializados. Alm disso, os pais percebem que se os filhos esto dando importncia ao tema, tambm eles tm que dar o exemplo, como pais cnscios das suas responsabilidades e como educadores. Quando perguntado na Q3 Percepo da conscincia sobre assuntos relacionados ao meio ambiente, 37% dos respondentes disseram que percebem estar conscientes no dia-a-dia sobre a importncia da educao ambiental e 38% afirmaram j ser conscientes antes mesmo das conversas com os filhos. Para quase 21% dos entrevistados, percebem que esto um pouco mais conscientes, mas quase 5% afirmaram que no, que continuam agindo como antes das conversas com os filhos. Embora a conscincia ecolgica possa ser estimulada por vrios meios, importante entender que os filhos podem ser os grandes motivadores de uma ao nessa direo, principalmente como forma de valorizar o ato de estudar. sabido que muitas crianas preferem brincar a estar no colgio e os pais, ao dar ateno, entender e praticar o que o filho comenta, est diretamente dando importncia a ida dos filhos escola. Na Q4 H conversas ou d exemplos a outras pessoas do seu crculo, 36% dos respondentes afirmaram que tm contato sobre o assunto educao ambiental com familiares, enquanto 22% dizem contatar ou dar exemplos a amigos. J 17% afirmam contatar vizinhos e, aproximadamente, 12% dizem contatar colegas de trabalho. O restante das respostas, como namorado ou conhecidos, no tem representatividade. O compartilhamento das informaes uma forma legtima e definitiva de fazer outras pessoas entenderem da importncia da educao ambiental. Como uma espiral, em algum momento essas aes desencadeadas voltam s crianas, o que vai ao encontro do que aprendem na escola. Na ltima questo a Q5 Acredita que o esforo do colgio Shalom no ensino de educao ambiental conseguir alterar a conscincia das pessoas, foi praticamente unnime o sim, o esforo do colgio pode gerar essa ao. Muito fortes, no entanto so as defesas do No. Como exemplo, 5% dizem que na escola os alunos aprendem, mas no dia-a-dia no conseguem aplicar o que aprenderam; aproximadamente, 2,5% dos respondentes disseram que os alunos no esto preparados para convencer outras pessoas e a mesma quantidade de respostas explicou que os esforos de propaganda so muito mais fortes do que o esforo feito pela escola. Essas explicaes dadas por quem optou pelo no, ou seja, que o esforo do colgio no consegue alterar a conscincia das pessoas quanto ao consumo consciente e que podem ser mltiplas, concordam com algumas das respostas da Q3, o que confirma a exatido das respostas.

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4. Concluso e propostasO Colgio Shalom buscou a excelncia no ensino da educao ambiental aos seus alunos, tentando faz-los cidados mais completos, cnscios de suas responsabilidades enquanto ocupantes deste planeta e preparando-os para a entrada na universidade, normalmente coincidente com o incio das responsabilidades da idade adulta. Educar, porm, s o primeiro passo do processo. Uma vez dotados de conhecimento necessrio e motivados por um conjunto de valores e crenas, os alunos deveriam ter a oportunidade de usar suas capacidades e potencial atravs do uso no ambiente. Os resultados vieram: primeiro, internamente, com alunos sabedores da sua importncia no sistema ambiental global e tomando frente na tomada de medidas para proteo natureza. Depois, como multiplicadores, atravs do repasse do conhecimento aos pais, amigos, vizinhos, conhecidos e demais pessoas. Neste sentido, Dahl (1996) afirma que a educao, incluindo os processos formais e informais pelos quais a pessoa adquire linguagem, capacidades, conhecimento e valores, a chave para a transmisso de informao e, assim, para o funcionamento, sobrevivncia e renovao de qualquer ecossistema. A Gesto do Conhecimento se encontra neste momento: a criao de valor para um ou mais conhecimentos adquiridos, nem sempre ligados diretamente, com um objetivo final claro de melhoria de algo ou alguma coisa. Deve-se lembrar que, na origem da palavra educao, no latim, encontra-se o conduzir para fora, fazer emergir. Esse fora (da conduo e do emergir) o ambiente. Portanto, o termo educao, em sua origem, j contm em si o componente ambiental. A sociedade constituda de um conjunto de pessoas. Como tm liberdade de pensar, elas podem induzir o desenvolvimento que desejarem. preciso refletir e analisar com distanciamento sobre a vida que se leva. Quanto mais tempo se estiver recebendo informaes e insights desse teor, maior a probabilidade de se agir como tal. Assim, aes como a do colgio Shalom so importantes, pois evocam sentimentos mais profundos nos alunos, desde cedo. Conforme sugere Brgger (1998),...para reverter ou amenizar esse processo de ruptura com o entorno preciso, portanto, ir alm das vises reificadas no tempo e no espao e empobrecidas tica e politicamente. S assim, o meio ambiente ser percebido como uma construo e uma possibilidade histrica - e com isso impregnado de escolhas e significados polticos, culturais, ticos, estticos, sociais e outros.

Mendona (2005) corrobora com esse pensamento ao dizer de que ...se quisermos desenvolver uma relao harmnica com a vida, devemos cuidar de questes profundas em cada indivduo, resgatar a ligao com a fonte da vida.

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Entre os resultados altamente positivos alcanados com o SGA Sistema de Gesto Ambiental do colgio Shalom, esto a medalha de ouro da FAEMA, a reutilizao de resduos em diversas atividades, inclusive moda, a separao de resduos, a reforma dos banheiros com instalao de torneiras de presso, construo de um espao para coleta seletiva de lixo, futura implantao de mini-usina de lixo, criao de vrias hortas orgnicas, lixeiras sinalizadas, reutilizao de papel e reutilizao de resduos na confeco de painis artsticos. No h dvida, no entanto, que o maior resultado foi o conhecimento como estado de conscincia coletiva para o respeito natureza por parte dos alunos e estes como multiplicadores da educao ambiental. Mesmo assim, no se pode iludir quanto aos resultados. Se este trabalho tem a inteno de enfocar a importncia da educao ambiental como fortalecedora de resultados positivos ao ambiente atravs dos alunos diretamente e dos pais, amigos, conhecidos e comunidade, indiretamente, ao mesmo tempo, importante entender que o mesmo pensamento pode ser entendido de formas diferentes por diferentes pessoas. Da, a relevncia da Gesto do Conhecimento. E essa relevncia mostra-se mais contundente quanto mais se aproxima de um modelo de pensamento complexo. Infelizmente, grande parte das pessoas, inclusive professores, adota fielmente o modelo linear. O que, dadas as caractersticas do modelo, pode criar restries adoo de uma cultura de desenvolvimento consciente quanto ao meio ambiente. Mariotti (2000) exprime o modelo linear com preciso, ao dizer que...o automatismo concordo-discordo tpico da orientao da lgica da cultura do patriarcado, que faz da desconfiana uma reao automtica. Com efeito, numa cultura competitiva e reativa como a nossa, gostar dos outros e confiar neles no nada fcil. O argumento ad hominem est na gnese dos preconceitos e continuar existindo e predominando enquanto durar a hegemonia desse sistema de pensamento.

Parece, portanto, que o modelo complexo de pensamento mostra-se como mais equilibrado. sabido que a Terra, a natureza so recursos esgotveis. Essa informao no parece estar presente nas aes quando se definem prioridades e necessidades em relao vida no mundo. Ao se olhar a quantidade crescente de shopping centers, de novos produtos de categorias antes desconhecidas e de novos modos de vida (e com eles, mais produtos), v-se que a prioridade no a manuteno do planeta. Mais uma vez, o pensamento a chave para o sucesso de um programa de educao ambiental, com base na Gesto do Conhecimento. Como propostas do trabalho para o colgio Shalom, de forma que ele, realmente, consiga seu intento maior, que o preparo das pessoas nas escolas primria e secundria para o desafio da universidade e da vida, seguem algumas idias:

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a) que o colgio Shalom realize pesquisa peridica com a totalidade dos pais sobre as prticas dos filhos quanto ao que aprendido em sala de aula e sobre a possvel influncia nos pais e comunidade; b) que o colgio Shalom faa interaes constantes com as universidades ao seu entorno, para que ambos os setores percebam a importncia dos trabalhos de conscincia ambiental; c) que o colgio Shalom incorpore um modelo de pensamento complexo no seu cotidiano de aulas. Assim, a possibilidade dos alunos reverterem o ensinamento em prtica muito maior; d) que o colgio Shalom tenha um plano de divulgao dos resultados e das aes implantadas, como forma de conscientizao de outras pessoas.

RefernciasBRGGER, P. Vises Estreitas na Educao Ambiental. Cincia Hoje, vol.24 (141),1998. CENTRO INTERNACIONAL DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL (org.). Comrcio e Meio Ambiente. So Paulo: Fundao Getlio Vargas, 2001. CLARKE, G. L.. Elements of Ecology. New York: John Wiley and Sons, 1954. DAHL, Arthur Lyon. O Princpio Ecolgico: Ecologia e Economia em Simbiose. Lisboa: Instituto Piaget, 1996. DIRIO CATARINENSE. Educao Ambiental se Aprende. Informe comercial de junho/ julho de 2005. EISLER, Riane. O Clice e a Espada. Rio de Janeiro: Ed. Imago, 1998. LANDES, David S. A Riqueza e a Pobreza das Naes. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1998. MARIOTTI, Humberto. As Paixes do Ego: Complexidade, Poltica e Solidariedade. So Paulo: ed. Palas Athena, 2000 MENDONA, RITA. Conservar e Criar. So Paulo: Ed. SenacSP, 2005. MONTIBELLER-Filho, Gilberto. O Mito do Desenvolvimento Sustentvel. Florianpolis: Ed. da UFSC, 2004. MORIN, Edgar e KERN, Anne Brigitte. Terra Ptria. Porto Alegre: Sulina, 2000. PINTO-COELHO, Ricardo Motta. Fundamentos em Ecologia. Porto Alegre: Artes Mdicas, 2000. RICKLEFS, Robert E.. A Economia da Natureza. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003 (5. ed.) VEIGA, Jos Eli. Desenvolvimento Sustentvel O Desafio do Sculo XXI. Rio de Janeiro: Garamond Universitria, 2005.

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Mauricio Gregianin Testa Doutorando em Administrao PPGA/EA/UFRGS Professor da FACE/PUCRS Endereo: Rua Washington Lus, 855 sala 309 90010-460 Porto Alegre e-mail: [email protected] Edimara Mezzomo Luciano Doutora em Administrao Professora da FACE/PUCRS Endereo: Av. Ipiranga, 6681 Prdio 50 Bairro Partenon 90619-900 Porto Alegre/RS e-mail: [email protected] Henrique Freitas Doutor em Gesto Professor e Pesquisador do PPGA/EA/UFRGS Endereo: Rua Washington Lus, 855 sala 309 90010-460 Porto Alegre e-mail: [email protected]

ResumoA internet e o comrcio eletrnico, mais do que modismos, esto se tornando uma alternativa estratgica. Assim, preciso pesquisar o tema, contribuindo com empresas que desejem operar via internet. O objetivo deste artigo identificar os diversos componentes do que se conhece genericamente como comrcio eletrnico (CE) ou e-business, traando um panorama do estado da arte das publicaes de CE e necessidades de pesquisa. A pesquisa exploratria, utilizando a pesquisa survey como estratgia de pesquisa. A tcnica de coleta de dados a anlise de documentos e, dessa forma, os dados coletados so secundrios. A base de dados foi composta por 515 artigos publicados em congressos realizados em territrio norte-americano, latino-americano e brasileiro, dos anos de 1997 a 2001. A anlise de dados ocorreu atravs de anlise de contedo a partir do resumo de cada artigo. Como resultados, identificaram-se temas e tendncias, no sentido de auxiliar pesquisado-

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res a fazerem pesquisas que possam vir a suprir as necessidades das organizaes que pretendem comprar e vender eletronicamente. Palavras-chave: Comrcio eletrnico, Internet.

AbstractThe Internet and electronic commerce are becoming a strategic alternative. Thus, its necessary to develop researches on the subject, contributing with companies that want to work by Internet. The objective of this article is to identify the diverse components which everyone knows generically as electronic commerce (e-commerce) and e-business, tracing a state of art overview of e-commerce publication and necessities of research.The research is exploratory, using a survey as strategy. The technique to data collection was documents analysis.The data base was composed by 515 articles published in North-American, LatinAmerican and Brazilian congresses, from 1997 to 2001. The data analysis has occurred through content analysis, from the summary of each article. As result, identified subjects and trends, in direction to assisting researchers to make researches that might come to supply the necessities of organizations that want to buy and sell electronically. Key-words: Electronic commerce, Internet.

1. IntroduoAs empresas hoje so mais complexas, o meio empresarial est mais dinmico e competitivo e, cada vez mais, passa a fazer parte do passado o cenrio de um mundo estvel. A economia globalizada impe desafios s organizaes tradicionais, diretamente afetadas pelas mudanas da chamada sociedade da informao. Essa nova realidade provoca uma reorganizao intensa em todos os setores, gerando modificaes profundas nas organizaes (HACKNEY, BURN e SALAZAR, 2004), que precisam adaptar-se aos novos tempos, sendo dinmicas, inovadoras e com alta capacidade de resposta s necessidades do ambiente. Nos ltimos anos, a internet a Tecnologia da Informao que mais tem se sobressado, pelo seu impacto na conduo de negcios e como um novo e rentvel canal para o desenvolvimento de relaes de trocas, provendo amplo acesso a servios, informaes e recursos (CHANG,TORKZADEH e DHILLON, 2004). Seu uso tem o potencial de revolucionar a forma de operao das organizaes, proporcionando ganhos significativos de produtividade, reinventando processos, reduzindo os custos operacionais e a eliminao de funes que no agregam valor (TURBAN e outros, 2004). Segundo Choi e Whinston,

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(2000, p. 19), a regra em TI agora o crescimento de projetos ambiciosos em comrcio eletrnico, sendo isto uma oportunidade reconhecida por estrategistas. Operar via internet exige a reestruturao da empresa em diversos aspectos: infraestrutura tecnolgica, processos, aplicaes, reviso de solues que envolvam pessoal interno e externo. A organizao deve deixar de olhar apenas para os seus processos e passar a enxergar a si prpria dentro de um contexto com diferentes atores, que inclui fornecedores, parceiros e clientes como parte essencial do negcio. A figura 1 mostra a inter-relao entre a TI e os vrios componentes da organizao. Figura 1 - Framework de impactos sociais da TI nas organizaes

Fonte: TURBAN et al. (1999, p.20)

Devido velocidade de crescimento e por trazer novas formas de comunicao, a internet muda a forma de conceber e realizar negcios nas organizaes, permitindo, alm de interaes entre pessoas, povos e culturas, o delineamento de um novo modelo de negcios. Com ela, as organizaes podem definir critrios de atuao em um ambiente competitivo onde o mais rpido melhor que o maior (FORGE, 1993, p. 493). Nesse contexto, o presente artigo tem como objetivo identificar, de forma exploratria, os diversos componentes do que se conhece genericamente como comrcio eletrnico, salientando os temas j pesquisados em congressos cientficos, verificando diferenas de enfoques

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e, tambm, necessidades de pesquisa. Desta forma, pode-se fornecer subsdios para averiguar se o que est sendo pesquisado academicamente til s organizaes, se tem relao com a prtica e com os temas que emergem do dia-a-dia, para com isso, ... buscando o rigor, caminhar na direo das necessidades da sociedade (FREITAS, 2000). Na seqncia deste documento, o item 2 aborda a base terica do estudo proposto, o item 3 expe o mtodo da pesquisa, enquanto o item 4 relata os resultados obtidos e o item 5 contm algumas consideraes finais.

2. Comrcio eletrnico: aspectos envolvidos, temas, aplicaes e desafiosO comrcio eletrnico (CE) est provocando mudanas intensas na organizao das empresas e na relao das empresas com seus clientes, parceiros e fornecedores, inaugurando uma nova era no mundo dos negcios. Por trs da aparentemente simples mudana na forma de comprar, h modificaes na economia, na organizao da indstria, na legislao, empregos, formas de consumo, de relacionamento e de criao de valor. A mudana to grande que possvel dizer que o mundo est em meio a uma revoluo na forma de fazer comrcio (KALAKOTA e WHINSTON, 1997, p. 28). Dessa forma, as empresas devem repensar a forma de operar os seus negcios, pois o comrcio eletrnico no significa apenas mais uma forma de vender e comprar (FREITAS e outros, 2001). O primrdios do comrcio eletrnico datam da dcada de 70 do sculo XX nos Estados Unidos, com a criao dos fundos eletrnicos de transferncia (EFT). Eles eram, no entanto, restritos a empresas de grande porte, principalmente a instituies financeiras. Na metade da dcada de 80, surgiu o intercmbio eletrnico de documentos (EDI), tambm utilizado por empresas de porte mdio. At a, o chamado comrcio eletrnico pr-internet (AMOR, 2000), ainda, sem nmeros expressivos e restrito a operaes entre empresas. Na dcada de 90, vrios avanos tecnolgicos iniciam: barateamento do hardware e software, popularizao da internet, melhoria na infra-estrutura telefnica e de redes, desenvolvimento de protocolos e especificao de padres, desenvolvimento de softwares de navegao mais intuitivos. Esse cenrio possibilitou o surgimento do comrcio eletrnico como se conhece hoje. 2.1. Aspectos envolvidos em operaes de comrcio eletrnico Atualmente, vender pela internet tornou-se quase um imperativo em alguns segmentos, como as livrarias e lojas de cds. Ainda que o crescimento do comrcio eletrnico esteja acelerado, j atingindo cifras bastante significativas, sabe-se que h desafios tecnolgicos, de estruturao de processos e estratgicos. Independente disto, porm, o comrcio eletrnico est revitalizando as necessidades e o valor inovador dos processos de

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negcio est abrindo novas formas de relaes entre as empresas e capacitar novos mercados, novos negcios e novos paradigmas de marketing (FRUHLING e SIAU, 2000). H vrias definies para comrcio eletrnico, com enfoque e profundidade diferentes. Para Kalakota e Robinson (2002), o CE pode ser definido sob vrias formas, de acordo com diferentes perspectivas: comunicao: entrega de informao, produtos, servios ou pagamentos via linha telefnica, redes de computadores ou outros meios; processos de negcios: a aplicao de tecnologia na direo de automao de transaes de negcios e fluxos de trabalho; servios: a ferramenta que permite cortar custos, ao mesmo tempo em que se aumenta a qualidade e a velocidade de entrega; on-line: permite capacidade de compra e venda de produtos e informao na Internet e outros servios on-line. Na definio de Zwass (1996), comrcio eletrnico o compartilhamento de informaes do negcio, manuteno de relaes de negcios e conduo de transaes por meio de redes de telecomunicao. Choi e Whinston (2000) observam que a tecnologia est transformando muitos aspectos dos modelos de negcios e atividades do mercado, por isso prope uma definio mais ampla: comrcio eletrnico se refere a usar meios eletrnicos e tecnologias para conduzir o comrcio, incluindo interaes dentro da empresa, entre empresas e da empresa com consumidores. Para Albertin (2000), comrcio eletrnico a realizao de toda a cadeia de valor dos processos de negcio em um ambiente eletrnico, por meio da aplicao intensa das tecnologias de comunicao e de informao, atendendo aos objetivos do negcio. Dessa forma, uma ferramenta que permite reduzir os custos administrativos e o tempo do ciclo fabricar-vender-comprar, agilizar processos de negcios e aperfeioar o relacionamento tanto com os parceiros de negcios quanto com os clientes (FRANCO, 2001). Uma definio mais simplista poderia dizer que comrcio eletrnico troca de bens e servios por pagamento na internet. Essa viso, porm, no leva em considerao as vantagens competitivas resultantes da associao dos participantes das cadeias de abastecimento e de valor (as pessoas envolvidas no fluxo de mercadorias, servios, dinheiro e informaes necessrios para levar os produtos de matria-prima at as mos do consumidor). Nesse sentido, comrcio eletrnico inclui qualquer atividade comercial que ocorra diretamente entre uma empresa, seus parceiros ou clientes, por meio de uma combinao de tecnologia de computao e comunicao (TREPPER, 2000, p. 4). J Rayport e Jaworski (2001, p. 3), propem uma definio contempornea de CE: trocas mediadas em tecnologia entre partes (indivduos, organizaes, ou ambos) bem como baseadas eletronicamente em atividades intra ou inter-organizacionais que facilitam tal troca.

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O conceito de comrcio eletrnico nos aporta diferentes percepes das suas potencialidades. De fato, as empresas podem usar o comrcio eletrnico como uma parte de sua estratgia de vendas business-to-business (B2B) ou para complementar mtodos de venda existentes. Dessa forma, comrcio eletrnico pode ser usado para aumentar o processo de prospeco, criao de credibilidade e qualificao e usado para substituir vendas representativas via servio arranjo e gesto de ps-venda (MIREE, 2000). A seguir, so abordados temas necessrios ao funcionamento do comrcio eletrnico e algumas reas de aplicao, bem como algumas potencialidades e desafios de operar atravs de comrcio eletrnico. 2.2. Temas relacionados ao comrcio eletrnico O comrcio eletrnico faz uso de diversas terminologias, utilizadas para descrever diferentes aplicaes e camadas, tcnicas e gerenciais, alm de polticas pblicas de utilizao, padronizao e segurana, indo da infra-estrutura de rede at a estrutura comum de negcios e servios. Para a compreenso da abrangncia desse universo, preciso elucidar algumas das terminologias principais, que correspondem aos aspectos mais relevantes do comrcio eletrnico, tais como: a) e-payment: a parte financeira das transaes de CE, que permite o intercmbio de dinheiro entre compradores e vendedores, para efetivar uma compra.Ainda aqum s expectativas, a meta desenvolver conjuntos de mtodos de pagamento que possam ser utilizados pelas pessoas e que sejam mais confiveis s instituies bancrias (CUNNINGHAM, 2001). Para Amor (2000, p. 38), uma transao via web requer: confidencialidade (as informaes s devem ser utilizadas para o que o cliente autorizou, ou seja, fazer a compra), integridade (a quantia deve ser a combinada, nunca com dbitos inapropriados) e a autenticao (certeza de que realmente a operao foi feita com segurana). Segundo Rayport e Jaworski (2001), ainda h carncia de mtodos convenientes (que evitem o uso do telefone ou cheques), de segurana (quem paga com carto precisa saber mais detalhes sobre sua compra) e carncia de cobertura (nem todas as pessoas possuem carto de crdito e estes no suportam todos os tipos de compra); b) e-security: a segurana nas transaes via web est muito prxima aos sistemas de pagamento. Turban e outros. (2004) citam como requisitos a uma compra segura: autenticao (verifica a identidade do comprador antes do pagamento ser autorizado), encriptao (criptografia de mensagens entre comprador e vendedor, s descriptografa com um cdigo chave autorizado) e a integridade (assegura que as informaes no sero acidentalmente ou maliciosamente alteradas durante a transmisso). A criptografia pode ser com chave pblica ( a mesma para criptografar e

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descriptografar) ou com chave privada (duas chaves, uma pblica e uma privada) e a assinatura digital (feita por uma empresa certificadora); c) e-SCM (supply chain management): quando o comrcio eletrnico comeou a se sobressair no Brasil, muitas empresas tinham constantes atrasos na entrega dos produtos, o que acabou criando uma conscincia da necessidade de uma eficiente gesto da cadeia de suprimentos. H alguns anos atrs, as empresas iniciavam as suas atividades no comrcio eletrnico preocupadas em como atrair clientes e vender pela internet e menos em como entregar nos prazos acordados com custos competitivos. Esse desafio mais acentuado no Brasil devido s suas dimenses, costumes e mercados diferentes e baseado, quase que exclusivamente, no transporte rodovirio e areo. Portanto, preciso um processo de planejamento, implementao e controle, de um eficiente e efetivo fluxo e armazenamento de produtos, servios e respectivas informaes desde a origem at o ponto de consumo (FRANCO, 2001). Muitos projetos de comrcio eletrnico tm fracassado por problemas de logstica, a qual precisa ser adequada ao tipo de produto comercializado e ao pblico-alvo. preciso considerar onde o produto est, quanto tempo leva at o consumidor, quais os canais de distribuio, qual a demanda, a sazonalidade, entre outras variveis. d) e-taxas e aspectos legais: h uma grande indefinio e muitas dvidas em relao a aspectos legais e ticos no comrcio eletrnico. Esses aspectos envolvem problemas de taxao (como a coliso entre taxas de pases diferentes), privacidade (em relao s informaes coletadas numa transao eletrnica), propriedade intelectual ( quase impossvel evitar cpias desautorizadas na internet), direitos do consumidor (como no caso de fraudes em vendas realizadas por empresas no exterior), liberdade de expresso (que possibilita, por exemplo, a divulgao de idias nazistas ou a promoo da pornografia), entre outros (TURBAN e outros, 2004; AMOR, 2000). Apesar de, muitas vezes, esses aspectos no estarem previstos em lei, certamente existem um problema tico envolvido. e) e-CRM: o comrcio eletrnico demanda mudanas radicais no processo de marketing. O CRM customer relationship management prope atender o cliente, cada cliente de forma unificada, mesmo que atravs de meios de comunicao e interao diferentes (e-mail, telefone, mala-direta, pessoalmente na loja), enfim, fazer com que o cliente perceba a empresa em cada atendimento. Junto a isso, pretende-se com o CRM, chegar a um atendimento maior das necessidades de cada cliente, atravs da identificao do que este valoriza, para ento diferenciar o atendimento, interagir mais profundamente e customizar os produtos e servios oferecidos a esses clientes. As possibilidades nessa rea so imensas, mas ainda existem erros nas estratgias de empresas, que, muitas vezes, reduzem sua atuao ao envio de e-mails ou a publicao de pginas institucionais na internet (KALAKOTA e WHINSTON, 1997).

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A seguir, sero abordadas outras terminologias referentes a comrcio eletrnico (outros e). A separao em dois itens foi proposital, pois apesar desses itens estarem listados adjacentemente na literatura, eles representam elementos ou aes diferentes dentro do comrcio eletrnico. 2.3. Aplicaes de comrcio eletrnico No incio da utilizao da internet para fins comerciais, vender era a nica experincia em comrcio eletrnico (AMOR, 2000). Aos poucos, com o refinamento das tcnicas e estruturas de venda pela internet, a ao de vender foi sendo refinada, aprimorada, dando origem a diversos termos (e-procurement, e-learning, e-banking, e-gambling, e-auctioning), que representam diferentes aplicaes dentro do comrcio eletrnico: a) e-procurement: a automao da compra de bens e servios no-produtivos, os chamados bens MRO (Manuteno, Reparo e Operaes), tais como material de escritrio e de informtica, copa, servios de manuteno (AMOR, 2000). Iniciando a desintermediao de vendas pelos produtos MRO, as empresas podem testar a integrao de seus dados com os das empresas conveniadas para a compra, podendo ento partir para compra de outros produtos. Com a desintermediao, a venda ocorre direto do fabricante ao consumidor, tendo uma intermediao eletrnica do portal de e-procurement (SCHUTZ, FREITAS e LUCIANO, 2002). Os benefcios para os compradores so a agilidade e dinamismo das compras, reduo expressiva de custos, menos burocracia, decises de compra mais rpidas (FRANCO, 2001). Para os vendedores, as vantagens so a ampliao da carteira de clientes, maior exposio atravs da internet, reduo de custos na administrao de vendas (RAYPORT e JAWORSKI, 2001). A figura 2 ilustra este processo. Figura 2 - Desintermediao e reintermediao pelo comrcio eletrnico

Fonte: TURBAN e outros (2004)

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Dessa forma, o e-procurement uma espcie de leilo reverso entre empresas previamente cadastradas, que agiliza e barateia o processo de aquisio de bens. No Brasil, j h diversos portais privados de e-procurement (BcomB, Webb etc.) e portais de grandes empresas (Cisco, montadoras de automveis) que criaram portais de e-procurement, os chamados portais verticais, pois renem participantes de um nico setor (madeira, papel, automotivo, construo civil). O e-procurement ideal para organizaes que sofrem de longos ciclos de requisio, tem muitos fornecedores, alto custo de processamento de pedidos e alta carga administrativa dos profissionais de compras. a) e-learning: tambm conhecido como educao a distncia atravs da internet. O objetivo do e-learning fazer com que o conhecimento chegue a um grande nmero de pessoas, e que estas possam acessar este conhecimento de qualquer lugar, a qualquer hora do dia, que possam voltar a ele rapidamente quando sentir necessidade, enfim, que seja algo constante, contnuo (CUNNINGHAM, 2001). b) e-banking: o e-banking um dos mais bem sucedidos negcios on-line (AMOR, 2000, p. 25), que possibilita que os clientes de um banco faam, distncia, uma srie de operaes em suas contas bancrias. Movidos pelo ambiente digital ou por fora dos concorrentes, o setor bancrio um dos mais afetados pela nova realidade do comrcio eletrnico e essa situao tem exigido um grande esforo para a assimilao e utilizao da tecnologia referente a comrcio eletrnico, na sua operacionalizao e na sua estratgia competitiva (RAMOS e COSTA, 1999). A atratividade do e-banking que o cliente no necessita um software especfico para acessar a sua conta bancria, basta um computador conectado internet e um browser. O e-banking tem crescido intensamente pois extremamente vantajoso ao cliente e tambm ao banco: ao cliente, traz comodidade e agilidade, para os bancos, uma reduo de custos considervel. c) e-gambling: refere-se aos cassinos eletrnicos, com apostas reais em dinheiro (carto de crdito ou dbito). Segundo Amor (2000, p. 26), o e-gambling um dos negcios mais rentveis da internet. A grande astcia do e-gambling contornar a ilegalidade do jogo em alguns pases, armazenando o site em um pas que autoriza o jogo, mas podendo ser acessado e utilizado por pessoas de qualquer pas (FRANCO, 2001). d) e-auctioning: os leiles ganharam uma nova dimenso na internet. Nos leiles tradicionais, os lances so limitados a um certo nmero de pessoas, alm da necessidade do deslocamento fsico at o local onde se realiza o leilo. Atravs do e-auctioning, os leiles tornaram-se mais acessveis, mais democrticas e mais rpidos (AMOR, 2000). Alm das citadas acima, h ainda outras categorias de menor expresso, como o edirectories (catlogos eletrnicos), e-franchising (franquias eletrnicas), e-trade (compra eletrnica de aes), e-engineering (desenvolvimento colaborativo de projetos), e-drugs (farmcias on-line), entre outras (AMOR, 2000; FRANCO, 2001).

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Conforme citado anteriormente, mesmo existindo diversas categorias e terminologias relacionadas ao que eletrnico, essas se referem a aes diferentes dentro de um ambiente de e-business, conforme evidenciado na figura 3. Figura 3 - Relao entre as reas de comrcio eletrnico

A figura acima mostra a diferena entre as categorias de aplicao (e-commerce, eprocurement, e-banking, e-learning, e-auctioning, e-gambling) e as categorias fundamentais ao funcionamento das demais (e-payment, e-security, e-SCM, taxas, legislao, e-CRM). 2.4. Potencialidades, vantagens e desafios A natureza global da tecnologia, o baixo custo, as inmeras oportunidades para alcanar centenas de milhares de pessoas, a natureza interativa, a variedade de possibilidades, reforada pelo rpido crescimento das infra-estruturas de suporte (especialmente a web) resultam em muitos benefcios potenciais para as organizaes, os indivduos e a sociedade (TURBAN e outros, 1999). Para as organizaes, os benefcios so (TURBAN e outros, 2004; TREPPER, 2000; AFUAH e TUCCI, 2001): possibilita a expanso do mercado de regional para nacional e internacional; com baixo investimento de capital, uma empresa pode facilmente obter mais clientes e melhores fornecedores e parceiros de negcios; reduo de custos para criao, processamento, distribuio, armazenamento e recuperao de bens baseados na informao; proporciona novas maneiras de gerenciar a cadeia de suprimentos e de valor; automatiza o fluxo de negcios e de informaes na empresa; proporciona a reduo de custos na prestao de servios ao cliente, ao mesmo tempo em que aumenta a qualidade do gerenciamento da relao; possibilita reunir parceiros de negcios em um meio operacional uniforme;

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menores custos para implementar produtos ou servios que propiciem grande vanta-

gem competitiva; tem baixo custo de comunicao; melhora a imagem e os servios ao cliente, possibilita novas parcerias, simplifica processos, reduz o tempo para atividades, melhora a produtividade, elimina papis, facilita o acesso a informao, reduz custos de transporte e aumenta a flexibilidade. Para os consumidores, o comrcio eletrnico traz os seguintes benefcios (TURBAN e outros, 2004; TREPPER, 2000; AFUAH &TUCCI, 2001): possibilita que clientes possam comprar ou fazer outras transaes 24 horas por dia, 7 dias por semana, de qualquer lugar do mundo; fornece mais opes de escolha aos clientes, mais produtos de mais vendedores; em alguns casos, como produtos digitais, tem entrega rpida e os consumidores podem receber informaes relevante e detalhada em segundos; facilita a interao com outros consumidores, formando comunidades eletrnicas para trocar idias e experincias; facilita a competio, resultando em preos menores para o consumidor. Para a sociedade, podem ser elencados os seguintes benefcios (TURBAN e outros, 2004; TREPPER, 2000; AFUAH e TUCCI, 2001): maior igualdade de acesso informao e ao conhecimento; contribuio para diminuir as diferenas entre pases e culturas; facilidade para a disponibilizao de produtos e servios por pequenas empresas ou por empresas isoladas geograficamente; democratizao do acesso a servios pblicos. Apesar dos benefcios, o comrcio eletrnico ainda tem em seu entorno diversos desafios, entre eles: privacidade: como compatibilizar e manter a privacidade que o usurio espera com a qualidade de atendimento e o targeting que a internet pode permitir ainda um desafio; logstica: a entrega precisa ser rpida e por um custo compatvel, em um pas de grandes dimenses, costumes e mercados diferentes, precariedade de diversos modos de transporte.Tambm, h dificuldade do produtor/fornecedor gerenciar sua cadeia de suprimentos e distribuio, conciliando estoque zero com entrega imediata pagamentos: uma pesquisa feita em outubro e novembro de 1999 (Fonte: Pesquisa Jupiter/Ibope, 1999) apontou que 48% das pessoas no possuem carto de crdito. Embora este dado no possa ser generalizado para todo o pas (a amostra de 1200 pessoas - no foi muito significativa), o retrato brasileiro no deve ser muito diferente; segurana: no h muita tranqilidade em comprar utilizando o carto de crdito, embora a fraude possa ocorrer de muitas outras formas alm da interceptao de uma compra eletrnica (LAUDON e LAUDON, 2000);

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entrega dos produtos: ainda no h confiana de que os produtos vo chegar em bom estado de conservao e, caso isto no ocorra, que a troca ou devoluo possa ser feita sem muita dor de cabea; a integrao dos sistemas de comrcio eletrnico com os aplicativos e bancos de dados existentes tambm um desafio de dimenses desafiadoras; a infra-estrutura de telecomunicaes ainda precisa melhorar, para que o acesso internet seja mais rpido (AMOR, 2000). Os benefcios e os riscos citados podem variar de intensidade, se ao invs da empresa atuar no comrcio eletrnico tradicional de bens fsicos, ela optar por comercializar produtos virtuais (LUCIANO e FREITAS, 2003).

3. Mtodo de pesquisaEste estudo explora um conjunto de dados secundrios (artigos de congressos cientficos, abordando o tema comrcio eletrnico), o qual permitiu organizar uma base de dados qualitativos, com base nos quais se fez uso de tcnicas de anlise lxica e de anlise de contedo para produzir sumarizaes que permitissem evidenciar temas, tendncias e mesmo necessidades de estudo. Os artigos selecionados so de renomados congressos nacionais e internacionais, exclusivamente sobre comrcio eletrnico (por exemplo, artigos sobre internet no fizeram parte do escopo desta pesquisa), identificando ttulo, sesso em que foram apresentados e as palavras-chave, para a partir disto identificar qual o tema abordado. Foram analisados 515 artigos, dos seguintes congressos: os norte-americanos AMCIS e ICIS, os europeus ECIS e BLED, o latino-americano CLADEA e o brasileiro ENANPAD, dos anos de 1997 a 2001. A tabela 1 lista o nmero de artigos por ano em cada um dos congressos. Tabela 1 Nmero de artigos por ano e congressoRevista/A noAIS/AMCIS BLED ECIS ICIS ENANPAD CLADEA Total

199726 26 1 1 2 0 56

199841 24 6 2 2 0 75

199936 47 3 2 3 3 94

200079 17 5 6 3 4 114

200176 41 33 17 5 4 176

Total258 155 48 28 15 11 515

Fonte: Dados do estudo

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Ao analisar cada um dos artigos, buscou-se identificar at cinco palavras-chave. Nos artigos que no citavam as palavras chave, a identificao das mesmas foi feita pelo ttulo, por uma leitura nos subttulos e chamadas no decorrer do artigo. O crescimento de publicaes pode ser observado, de 56 artigos em 1997 para 176 artigos em 2001.Tambm, possvel observar na tabela 1 que os congressos americanos e europeus tem uma quantidade maior de papers do que o latino-americano e o brasileiro, bem como iniciaram mais cedo a publicao de artigos sobre comrcio eletrnico. Mesmo assim, pode-se dizer que a produo na rea j adquiriu uma certa constncia, mesmo nos congressos com menor quantidade de publicaes.

4. Resultados: o que j foi publicado sobre comrcio eletrnico?Ao analisar as palavras-chave de cada um dos artigos selecionados, foram emergindo categorias ou temas, nos quais estes foram classificados. Havia um conjunto inicial de categorias, que foi sendo aprimorado e mesmo ampliado no decorrer da anlise. A fim de reduzir a subjetividade dessa etapa, essa classificao foi feita atravs da tcnica de teste-reteste (FREITAS e JANISSEK, 2000), ou seja, houve uma primeira classificao e, aps um certo intervalo de tempo, foi feita uma segunda classificao. Os resultados das duas etapas foram confrontados, chegando ento ao conjunto final de temas ou categorias. Foram identificados 37 temas, conforme ilustrado na tabela 2, a seguir. Conforme pode ser visto no na tabela 2, os artigos ainda so bastante genricos, no se atendo a aspectos mais especficos, de forma que uma grande quantidade de trabalhos foi classificada como sendo apenas sobre e-commerce, e-business, internet/WWW e emarkets. Em contrapartida, outros assuntos mais especficos no esto sendo muito abordados nas publicaes. Observando os temas pesquisados em diferentes anos, observa-se um crescimento de citaes para: redes e comunicaes, sistemas de informao, tecnologia da informao, lojas virtuais, tecnologias para CE, logstica e distribuio, segurana, e-procurement e comportamento do consumidor. Tambm, houve um acrscimo de citaes para planejamento/estratgia e dificuldade/riscos, que cresceram na mesma proporo. Houve um decrscimo de citaes aos temas EDI e redefinio de processos.

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Tabela 2 Temas e nmero de artigos em que so abordadosTemasE-commerce Internet/WWW E-business E-markets Aplicao em um setor Redes/comunicao SI TI E-shopping E-publishing/CRM E-tecnologia B2B Organizaes virtuais Logstica/distribuio E DI E-payment Informao Case empresa

A rtigos252 145 56 43 41 25 24 24 21 20 20 19 19 17 17 17 14 14

TemasInvestimentos Impacto Segurana E-mail Dificuldades/riscos Aspectos estratgicos B2C Redef. Processos Benefcios Conhecimento Comp. Consumidor E-procurement Supply chain Value chain Aspectos culturais Informao Pivacidade ERP

A rtigos13 12 12 11 8 8 7 7 7 7 7 6 4 4 3 3 2 2

Total de observaes: 515. Total de temas: 751 *

Fonte: Dados do estudo * O total de temas maior do que o total de observaes por se tratar de uma questo de resposta mltipla.

A fim de refinar a anlise, uma nova avaliao dos artigos foi realizada, onde se realizou um agrupamento dos artigos, que foram classificados em 10 categorias, obtendo a classificao mostrada na tabela 3.

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Tabela 3 Agrupamento dos temas citadosTemas agrupadosComrcio eletrnico (genrico) Infraestrutura tecnolgica Aplicao em um setor Marketing/vendas Impacto (interno e externo) E-learning Privacidade/segurana/pagamentos Intermediao Estratgia Legislao/taxas TOTAL DE CITAES

Citaes214 91 63 40 28 26 21 15 10 7 515

Fonte: Dados do estudo

Pode-se observar que boa parte dos artigos publicados se refere a comrcio eletrnico de uma maneira geral. Se, por um lado, ainda se est no incio do estudo do tema, o que de certa forma justifica os papers com enfoque mais genrico, faz-se necessrio estudos mais especficos, a fim de relatar experincias vivenciadas, a fim de acumular conhecimento acadmico e prtico na rea. Ao se fazer um cruzamento da varivel congresso com o tema, percebe-se a predominncia de temas especficos em alguns congressos. A figura 4 demonstra esta relao. Figura 4 Relao entre o Congresso e o Tema

aaaaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaaaaa aaaaaaaaa aaaaaaaaa aaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaa aaaaaaaa aaaaaaaa aaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaaa

aaaa aaaa aaaa aaaaa a aaaaa aa a a aaaaaaaaaaa a aaaaaaaaaaa aaaaaaaaa a aaaaaaa a a aaaaaaa aa a a a aaaaaaaaaaaaa a aaaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaa a

aa aa

aaa aaa aaa

Fonte: Dados do estudo

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4O item comrcio eletrnico (genrico) surgiu em bom nmero em todos os congressos. J o tem Infraestrutura tecnolgica foi mais citado no AIS/AMCIS, BLED e ICIS, ou seja, nos congressos norte-americanos e europeus e menos citado no ENANPAD e CLADEA. O tema privacidade/segurana/pagamentos s foi citado no AIS/AMCIS e BLED;legislao e taxas, assim como intermediao s foi citada nos AIS/AMCIS, BLED e ECIS. Os artigos abordando a aplicao em um setor foram citados em todos os congressos, com exceo do ECIS, marketing/vendas s no foi citado no CLADEA, mas este congresso privilegiou artigos referentes a estratgia, tema este que nem foi abordado (ENANPAD e ECIS) ou foi pouco abordado (AIS/AMCIS, BLED, ICIS). J o impacto (interno e externo) surgiu em todos os congressos, com exceo do CLADEA. A Tabela 3 ilustra a predominncia dos temas em cada congresso, onde pode ser identificado um certo perfil de temas privilegiados nos diferentes congressos. Tabela 3 Predominncia dos temas em cada congressoCongressoAIS/AMCIS (258)

Tema do artigo (os 3 mais citados)Comrcio eletrnico (genrico) Infraestrutura tecnolgica Marketing/vendas Comrcio eletrnico (genrico) Aplicao em um setor Infraestrutura tecnolgica Comrcio eletrnico (genrico) Infraestrutura tecnolgica Marketing/vendas

CongressoENANPAD (35)

Tema do artigo (os 3 mais citados)Comrcio eletrnico (genrico) Impacto (interno e externo) Marketing/vendas Comrcio eletrnico (genrico) Aplicao em um setor Infraestrutura tecnolgica Estratgia Comrcio eletrnico (genrico) Infraestrutura tecnolgica

BLED (155)

ICIS (28)

ECIS (48)

CLADEA (11)

Fonte: Dados do estudo

A pesquisa de questes gerais ao comrcio eletrnico aparece em todos os congressos. Nos congressos europeus e no latino-americano, surge o tema infra-estrutura, menos abordado no congresso brasileiro. O tema impacto uma preocupao maior do congresso brasileiro, provavelmente, devido escassez de recursos e particularidades culturais. Em relao ao local de origem do autor de cada paper, observa-se uma grande supremacia em relao quantidade de publicaes por parte dos pases do continente europeu, seguidos pela Amrica do Norte. A tabela 4 mostra essa relao.

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Tabela 4 Continente de origem dos autores dos papersLocal - continenteEuropa Amrica no Norte Oceania Asia Amrica do Sul Africa Amrica Central TOTAL CIT.

Citaes266 135 50 41 21 1 1 515

Fonte: Dados do estudo

Se por um lado, a Europa e a Amrica do Norte lideram a quantidade de papers, por outro lado, continentes historicamente menos favorecidos, tambm, foram bem representados nos congressos. Isso indica que o tema de interesse global, mesmo porque, como o comrcio eletrnico algo sem fronteiras, ele pode auxiliar pases do terceiro mundo a aumentar as suas exportaes, desenvolver-se e, em conseqncia, melhorar a qualidade de vida.

5. Consideraes finaisEstamos vivendo uma era sem igual no tocante a novas empresas, formas de gerenciamento e comunicao. A internet transformou a relao das empresas com seus clientes, parceiros e fornecedores, inaugurando uma nova era no mundo dos negcios, alterando processos, funes, relaes e formas de realizar negcios. No h mais necessidade dos elementos clssicos para que ocorra uma venda: endereo fsico, vendedor, dinheiro. Pode-se comprar sem sair de casa, receber em casa, pagar sem usar moeda em papel. Ainda, a internet pode ser acessada por novos meios, tais como telefones celulares (com tecnologia WAP) e dispositivos hand held. Ao mesmo tempo em que esta nova realidade fascinante, ela merece ateno, pois muito do que conhecamos sobre comprar e vender pode ser alterado, em maior ou menor escala. De fato, a rea ainda recente, necessitando de pesquisas cientficas sobre temas especficos, j aplicados nas organizaes e comentados no meio empresarial, tais como segurana (2,3% dos temas pesquisados nos artigos analisados), e-procurement (1,1% dos temas), micropagamentos (3,3% dos temas se referem a e-payment), entre outros. Como fatores limitantes desta pesquisa, pode-se considerar o fato de que as publicaes analisadas so at 2001, o que poderia representar uma base de dados um pouco

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desatualizada. Dada a complexidade de localizao de todos os papers, no entanto, (na maioria das vezes indisponveis em web sites), a criao do banco de dados e a anlise qualitativa dos resumos, um a um, ainda com teste/reteste, representa um esforo de pesquisa muito grande, o que torna compreensvel a necessidade de um tempo razovel para a realizao da pesquisa e a redao do artigo. Como pesquisas futuras, pretende-se tanto estudar os temas aqui indicados como lacunas, bem como continuar a montagem da base de dados e a explorao da evoluo dos temas. Acredita-se que esta pesquisa possa contribuir, ao fornecer aos pesquisadores o acesso a um mapeamento dos temas atuais e tendncias de pesquisa, como forma de embasamento na escolha dos temas de pesquisa. Tal postura refletiria na anlise de temas essenciais com maior proporcionalidade, evitando que temas j bastante pesquisados o sejam, novamente. O presente artigo analisou publicaes nacionais e internacionais sobre comrcio eletrnico, buscando identificar os temas estudados, possveis tendncias, enfoques e mesmo necessidades de pesquisa, alm da evoluo dos temas ao longo dos anos. De acordo com a anlise realizada, os dados parecem convergir para alguns temas: a diferena de enfoque e mesmo estrutura e planejamento das organizaes que operam com business-tobusiness (B2B) ou business-to-consumer (B2C), alm de temas-chave, tendo estes diferentes nveis de complexidade, conforme mostrado na figura 5. Figura 5: Temas-chave em CE e sua convergncia com B2B e B2C

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As setas indicam, para cada um dos grandes temas de comrcio eletrnico identificados atravs desta pesquisa, quais so de maior, menor ou igual complexidade para a atuao em B2B (business to business) ou B2C (business to consumer). Esta anlise pode auxiliar tanto na definio de um melhor escopo de pesquisa, como para que as organizaes entendam quais so os seus pontos cruciais de atuao. A ttulo de exemplo, o tema segurana mais crtico para B2C, onde o cliente desconhecido e em maior quantidade do que em B2B, onde os clientes so em nmero bem menor e mais conhecidos por parte da empresa cliente. J a discusso sobre novas atribuies dos profissionais igual para B2C e B2B, uma que o comrcio eletrnico altera processos, rotinas e metodologias nas organizaes que acabam por interferir nas atribuies profissionais de todas as operaes voltadas a e-commerce. As organizaes precisam repensar sua estrutura e diretrizes tecnolgicas e os seus processos de negcio, pois operar, eletronicamente, exige o pensar e repensar de diversos componentes de gesto de uma empresa. Tendo em vista essa realidade ainda pouco conhecida, meritrio o desenvolvimento de novas pesquisas de cunho cientfico sobre temas que possam auxiliar as organizaes a melhor planejar e gerir os seus negcios eletrnicos. Para acompanhar esse cenrio complexo e em constante transformao, preciso compreend-lo em todos os seus aspectos, a fim de minimizar seu impacto e maximizar seus benefcios.

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