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Revista para tablet com foco em política, economia e variedades. Para ter acesso à Revista Atualize no tablet, faça download do aplicativo "Adobe Content Viewer" na App Store ou no Google Play. Após o download, faça login com os seguintes dados: E-mail - [email protected] Senha - Atualize Em seguida, a edição-piloto da Revista Atualize estará disponível para download.
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Alguém está pensando por você
ÍndiceReportagens
A era do consumo
consciente
Estocolmo: 40 anos depois
O Papa do jornalismo ambiental brasileiro
Indisponível Aguarde atualização
Apresentação
Contextualização
Editoriais
Variedades
Economia
Meio Ambiente
Política
Indisponível Aguarde atualização
Apresentação
Junho de 2012
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A Revista Atualize é fruto de um projeto ex-perimental em jornalismo desenvolvido por acadêmicos da Universidade de Santa Cruz do Sul. Com a ideia de trabalhar jornalismo espe-cializado, os acadêmicos Renan Silva e Bruna Travi, com a parceria das colegas Ana Cláu-dia Schuh, Emilin Grings, Laura Gomes, Luana Backes e Viviane Herrmann, e sob a orientação do professor Hélio Etges, desenvolveram uma revista interativa com foco em tablets.
Com edições temáticas, a equipe busca tra-balhar um mesmo assunto sob vários aspectos, sempre norteados pelas quatro editorias que conduzem a revista: política, economia, meio ambiente e variedades. Mas, para além da an-gulação das pautas, a equipe também preocu-pou-se com o desenvolvimento de uma lingua-gem exclusiva para a internet – ou ao menos, para um produto interativo. Assim você verá, em cada reportagem, textos curtos que ligam--se por meio do texto principal; as páginas da revista possuem links que permitem a você, caro leitor, criar seu próprio fluxo de leitura, não sendo necessário ler um texto exatamente na ordem em que foi disposto na publicação.
Em sua primeira edição, a Revista Atualize trabalhou suas reportagens sob a temática da Rio+20, evento que é referência mundial em discussões sobre sustentabilidade, preserva-ção ambiental e mudanças climáticas. Com pautas que buscaram trabalhar ângulos que normalmente não se vê na grande imprensa, a Atualize propôs discussões sobre o evento, seu significado e os possíveis avanços nas discus-sões. Mais do que uma fonte de informações e entretenimento, desejamos que esta seja uma experiência de leitura única, agradável e total-mente interativa.
Contextualização
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De 1972 para cá, muitos encontros e dis-cussões sobre preservação ambiental e de-senvolvimento sustentável tem ocorrido perio-dicamente. A Convenção de Estocolmo ficou famosa por ser a primeira iniciativa mundial em relação à preservação ambiental.
A partir deste primeiro encontro começou, de fato, o debate sobre desenvolvimento sus-tentável, criaram-se órgãos internacionais de preservação ambiental e definiram-se algumas das prioridades em relação ao meio ambiente.
Dez anos depois, em 1982, na 48ª plenária da Assembléia Geral, criou-se a Carta Mundial da Natureza. Nela continha a afirmação de que “a humanidade é parte da natureza e depen-de do funcionamento ininterrupto dos sistemas naturais”.
Já em 1992 ocorreu a Rio 92, primeira Con-ferência das Nações Unidas sobre o Meio Am-biente e Desenvolvimento. O evento é conside-rado o mais importante em relação aos avanços nas discussões ambientais. Foi na Eco 92 que formulou-se a Agenda 21, um programa de ação para o desenvolvimento sustentável.
Em 2002, 10 anos após a Rio 92, foi convo-cada uma conferência em Johanesburgo para renovar o compromisso das nações com o de-senvolvimento sustentável. Entretanto, apesar de vários eventos terem ocorrido periodica-mente, a Convenção de Estocolmo e o Rio 92 destacam-se pelos avanços nas discussões e pela importância que tiveram para a questão ambiental.
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Conferência de Estocolmo - 1972
Discutir sobre sustentabilidade e preserva-ção ambiental em nível mundial ainda é algo recente. Começou há pouco mais de 40 anos. Em 1971 foi lançado o 1º relatório do Clube de Roma, chamando a atenção para os limites do crescimento no planeta. Em junho do ano se-guinte, a ONU organizou a primeira conferên-cia internacional para debater o Meio Ambiente Humano. O eventou ocorreu em Estocolmo, ca-pital da Suécia, e foi a primeira atitude mundial com a intenção de discutir sobre a sociedade e sua relação com a natureza, na expectativa de encontrar um equilíbrio entre a satisfação das necessidades da população do presente sem comprometer as gerações futuras.
Antes disso, acreditava-se que a natureza era uma fonte inesgotável de recuros. Mas o evento trouxe um alerta mundial sobre os resul-tados da exploração humana sobre a natureza: secamento de rios e lagos, ilhas de calor e in-versão térmica. A Conferência de Estocolmo foi responsável não apenas por discutir sobre as atitudes que deveriam ser tomadas, mas tam-bém por incentivar os países a internalizarem essas ações. Foi elaborada a Declaração so-bre o Ambiente Humano. O documento trazia 26 princípios que deveriam servir de inspiração à humanidade para preservação e melhoria do ambiente humano. Além disso, após o encontro foram criados vários organismos internacionais referentes à preservação ambiental. No mesmo período, mais de 70 países criaram ministérios de Meio Ambiente ou organismos semelhantes.
Estiveram presentes na Conferência repre-sentantes de mais de 250 instituições, gover-namentais ou não, e participantes de 113 pa-íses. Surgiram dois movimentos antagônicos a partir do encontro. O primeiro, encabeçado pelos Estados Unidos - então governado por Richard Nixon -, defendia que os países deve-riam reduzir a poluição do planeta parando por algum tempo com as atividades industriais. De-nominaram esta corrente de “desenvolvimento zero”. A segunda enquadrava os países subde-senvolvidos, contrários aos ideais americanos. Defendiam que interromper as práticas indus-triais em seus países acarretaria na degradação dos mesmos, já que tinham uma base econô-mica frágil e centrada na industrialização. Este movimento denominou-se “desenvolvimento a qualquer custo”.
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Eco-92 - Rio de Janeiro
Vinte anos depois da I Conferência das Na-ções Unidas sobre Meio Ambiente e Desen-volvimento Humano, em Estocolmo, chegou a vez de uma cidade brasileira sediar o evento. Em 1992, o Rio de Janeiro abriu as portas para discutir sobre sustentabilidade. A preocupação era comum a todos e uma pergunta pairava so-bre a conferência: como reverter o processo de degradação ambiental?
Até então, a Rio 92 foi a maior reunião de chefes de Estado da história, com representa-ção de mais de cem países, todos buscando soluções para uma causa comum. O objetivo, no congresso, era discutir soluções para que as populações mais carentes do planeta tives-sem um desenvolvimento sustentável. Além da reunião dos chefes de estado, paralelamente ocorreu a Cúpula da Terra e o Fórum Global, ambos promovidos por ONGs.
Como resultado da conferência, surgiram pro-tocolos, convenções e acordos, sendo o mais importante deles a Agenda 21, documento no qual as nações participantes se compromete-ram a adotar métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica, criando um Fundo para o Meio Ambiente, o qual se-ria suporte financeiro das metas fixadas. Foi no Rio 92 que surgiu o tema sustentabilidade, como conceito e discussão. Também nesse ano, teve relevância a necessidade de auxí-lio financeiro aos países em desenvolvimento para a aplicação de estudos e práticas de um desenvolvimento sustentável.
Pensamento Egoísta
É mais fácil o presente. A certeza de que o mundo terá o suficente para me satisfazer por trinta, quarenta, ou o quan-to eu conseguir durar é confor-tável. Esse papo de preservar o meio ambiente é manjado, é papo de professora ou tema de redação de vestibular. É tão batido quanto falar de globa-lização. Folhas recicladas se parecem com papel higiênico e transporte coletivo não é tão confortável quanto o seu pró-prio carro, não é?
É esse o pensamento de muitas pessoas, eu sei. E, não posso ser hipócrita em dizer que nunca pensei que esse papo de sustentabilidade fosse só uma moda. Entretanto, esse é um pensamento individu-al, que mais do que isso, tem como consequência o consu-mo egoísta. É possível gerar-
mos menos prejuízos ao meio ambiente sem que façamos grandes mudanças em nossos hábitos. É tão fácil nos preocu-parmos com os outros que po-demos fazê-lo até sem senti-lo.
Nós, aqueles que já tiveram essa visão sobre sustentabi-liade, somos salvos por gene-rosos dedicados conscientes. Há pessoas que se preocupam com as próximas gerações e com o que o mundo pode ser daqui alguns anos. Entretanto, descobri que é tão simples aju-dar, que convido vocês, leito-res da Atualize, para conhecer sobre o que é sustentabilidade e, para depois dessa leitura, tentar, de forma simples, pen-sar em seus netos e bisnetos. Afinal, quando você mostrar a foto da sua casa de infância, eles podem lhe perguntar onde aquele jardim se perdeu.
Por: Bruna TraviEditora de Variedades
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Editorial
Ainda é enigmático o conceito de sustentabili-dade para muita gente. Há aqueles que carregam o conceito como sobrenome, sem saber ao certo o que significa, ou sem se preocupar em realmen-te ser sustentável em todos os âmbitos do pro-cesso. Mas algumas iniciativas nos salvam dessa obscuridade que há em torno do conceito e nos mostram que é possível viver, ser e utilizar-se da sustentabilidade. O Armazém Essencial é uma dessas inciativas louváveis, que tem a responsa-bilidade social como lema de empreendedorismo.
A sustentabilidade, diferente do que é senso comum, não está só na reciclagem de materiais. Pensar no processo como um todo, desde sua mão de obra, dos trabalhadores envolvidos, na produção em si, na venda e no consumo, cum-prindo, ao final do ciclo, a tarefa de danificar o menos possível o ambiente. É pensar que seus netos e bisnetos podem não mais aproveitar do que hoje você tem ao seu redor. É, mais do que tudo, pensar no próximo.
Introdução
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Variedades
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Foi juntando o espírito empreendedor e a res-ponsabilidade social sempre presente que Marie-le Hoff criou o Armazém Essencial. Mariele foi es-tudante de Ciências Biológicas, mas, por fim, se formou em Pedagogia com Pós-Graduação em Gestão. Sempre teve vontade de abrir o seu pró-prio negócio mas demorou a colocar o projeto em prática, pois era necessário ter certeza do que se queria. Com a ajuda do seu marido, engenheiro ambiental, e com sua vontade de conscientizar as pessoas sobre a preservação do meio ambiente e a preocupação com as próximas gerações, Ma-riele abriu uma loja, em Santa Cruz do Sul. É ali, naquele pequeno espaço em uma loja alugada, que é possível presenciar uma lição de vida: tudo que é comercializado é pensando no próximo. Os produtos, senão reciclados, provém de mão de obra sustentável.
O espaço é dedicado a exposição e venda de produtos que têm, desde a mão de obra, uma preocupação com a sustentabilidade. São jogos
O que é
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educacionais, enfeites para a casa, quadros e - o que mais chama atenção - artigos de moda: rou-pas, joias e bolsas. É possível sair de lá com o visual completo sem agredir o meio ambiente e, melhor, sabendo que, com essa preocupação, é possível poupar seus netos.
Fotografia: Bruna Travi/Revista Atualize
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O Brasil no cenário mundial de sustentabilidade
Embora o Brasil não figure entre os países mais sustentáveis, segundo um ranking publicado no blog Mundo Sustentável, o qual abre espaço na mídia para um planeta em transformação, a ca-pital paranaense é considerada a décima cida-de mais sustentável do planeta. Não é à toa que Curitiba é chamada de cidade modelo: tem um eficiente transporte público que atinge mais de 70% da população, possui um bom programa de conservação da biodiversidade e de reflores-tamento de espécies nativas e tem 51 metros quadrados de área verde por habitante.
Em outro segmento, o nosso país também tem três empresas listadas entre as cem mais sustentáveis do mundo. Todo o ano, a revista Corporate Knights traz o ranking Global 100, o qual, em 2011, teve três nomes de empresas brasileiras. Em um total de 22 países que en-traram no ranking e mais de 3.500 empresas analisadas, as brasileiras Natura, Petrobrás e Banco Bradesco marcaram presença.
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O ramo da produção de mercadorias preo-cupadas com a preservação ambiental cresce notoriamente no país. Entretanto, Mariele nos contou sobre a dificuldade de encontrar produ-tos para o Armazém Essencial aqui no estado do Rio Grande do Sul. Ela aponta o poder aqui-sitivo e o alto consumismo como causa des-sa falta de engajamento na área. Grande parte das mercadorias, Mariele recebe de Minas Ge-rais e da região norte, onde há a preocupação da sustentabilidade desde o envolvimento de trabalhadores com as matérias primas.
No Estado de São Paulo, em São José do Rio Preto, surgiu das mãos de duas designer de joias, a Mércia Stela e a Paula Santos, a mar-ca Mães da Terra. São bijuterias e assessórios que hoje ganharam o mundo. Com filias na Eu-ropa e nos Estados Unidos, a marca expressa a pureza de sementes e peças naturais do Bra-sil, que além com peças modernas, tem a sus-tentabilidade como atitude. O Armazém Essen-
O mercado
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cial revende peças de marcas com a Mães da Terra, que compram a mesma causa, tentando além de educar os consumidores, provar que é possível usufruir de produtos sustentáveis sem perder a qualidade.
Além disso, Mariele nos contou sobre a sua preocupação em atualização. Como é um mer-cado que cresce rápido, é necessário conhecer as novas técnicas e os novos produtos. Para isso, a pedagoga está sempre viajando em fei-ras de produtos sustentáveis e eventos que fa-lam do tema para cada vez mais proporcionar novas opções ao consumo consciente.
Fotografia: Bruna Travi/Revista Atualize
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Diferente de lojas voltadas a crianças, adul-tos, mulheres, homens, ou até mesmo, trabalhar com departamentos para que possa agradar a todos, o público alvo do consumo consciente é diferente. É necessário conquistar um públi-co novo, que é preocupado com a causa am-biental, ou até mesmo que nunca pensou nisso e, conhecendo, se convence da qualidade dos produtos e de que é possível tentar o consumo consciente.
O Armazém Essencial é caracterizado por ter um público bem variado, desde frequenta-dores assíduos, até consumidores que entram porque acharam os produtos bonitos e que-rem escolher um presente. Mariele conta que, para muitos clientes, a fidelidade veio com a missão e os valores do Armazém, “muitos gos-tam dos produtos e, mais do que isso, enten-dem o nosso papel na sociedade”, destacou a empreendedora.O sociólogo afirma que não há como responsabilizar o cidadão brasileiro pelo
Quem frequenta? Quem compra?
Variedades
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consumo, pois esse consumismo desenfreado está restrito a uma parcela muito pequena da nossa sociedade. A grande parte, segundo ele, precisa resolver outros problemas, diretamente relacionados com a falta de recursos e de po-líticas públicas que lhe garanta as condições mínimas para sobrevivência. Para a população que já tem acesso aos bens de consumo, Frei-tas sugere uma união de forças, para que se levantem objetivos em comum e metas para execução. Se uma empresa ou governo agem de maneira que prejudique o cidadão, é preciso se unir contra eles, seja deixando de comprar, seja protestando.
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No Armazém, além de artigos de decoração, brinquedos e outros produtos, o que chama atenção é a dedicação à moda. Uma parede repleta de suportes com camisetas feitas com a fibra da garrafa pet recepciona os clientes. Quem entra, já se encanta com as camisetas
Moda Sustentável
Fotografia: Bruna Travi/Revista Atualize
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de malha macia, muitas vezes com dizeres sobre a preservação ambiental e o consumo consciente.
Além da variedade de roupas, é possível completar o look com peças de bijuterias pro-vidas de sementes naturais, com mão de obra sustentável, ou ainda, é possível completar o visual com bolsas e clutches.
Algumas marcas, preocupadas com a agres-são ao ambiente causada pelo tingimento dos tecidos, já utilizam o algodão colorido 100% natural e ecologicamente correto. Ainda com a produção limitada em tons terra, ou melhor, em cores naturais, é possível vestir-se consciente-mente, pensando no tecido usado e em como o ambiente foi poupado na produção da peça de roupa.
Por: Ana Cláudia SchuhEditora de Economia
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O consumo estimula a eco-nomia. Isso é fato. O consumo desenfreado causa grande im-pacto no meio ambiente. Outro fato. Entretanto, em tempos de Rio+20 muito tem se falado em consumo consciente.
Mas esse modelo de con-sumo, que causa menos impacto ao meio ambiente, causa grande impacto eco-nômico. Num país em que a maioria da população final-mente está tendo condições de consumir produtos além do básico, esta consciência torna-se um paradigma.
Para quem sempre se inspi-rou no modelo norte-america-no de comprar – tome como exemplo a quantidade de franquias do McDonald’s que temos por aqui, ou o número de pessoas que viajam anu-almente para lá afim de fazer
compras – pode parecer es-tranho que, justo agora, com a possíbilidade se aproximar do padrão de lá, este seja visto como inadequado.
Se antigamente os eletrodo-mésticos duravam décadas, hoje a tecnologia evolui tanto e tão rapidamente que em pou-cos meses os aparelhos mais modernos se tornam ultrapas-sados. Se antes as roupas eram compradas para durar muitos anos, hoje existem as fast fashions, que vendem rou-pas a preços mais acessíveis e que duram tanto quanto a moda: poucos meses.
Agora, o desafio é, talvez, nos voltarmos um pouco para o passado. Produzir e consumir bens mais duráveis, ou, ainda, caminhar para o futuro desen-volvendo meios de produção que causem menos impacto.
Entre consumo e consumismo
Editorial
As mudanças nas classes sociais brasileiras e sua consequente entrada no mundo do con-sumo são alguns dos responsáveis pelo cres-cimento do número de consumidores indiferen-tes às consequências de seus gastos. Essa é apenas uma das mudanças apontadas em pes-quisa dos institutos Akatu e Ethos sobre con-sumo consciente. Os resultados são referentes ao ano de 2010, com questionários aplicados em 12 cidades do país.
O objetivo da pesquisa é debater soluções para a promoção do desenvolvimento susten-tável, que também é tema central da Rio+20. O movimento de ascensão social pode ser ve-rificado com a estabilização da economia e o fim da inflação em 1994, e a partir do início do governo Lula, em 2003. Segundo a pesquisa, 50,5% da população passaram a pertencer à classe C em 2009. Os novos membros da clas-se emergente possuem um perfil diferenciado: são mais jovens, em sua maioria afrodescen-
Consumidores indiferentes
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dentes e com famílias chefiadas por mulheres.Durante a Conferência das Nações Unidas,
inúmeros pontos de vista serão debatidos. En-tre eles está o das políticas públicas e gover-namentais para o desenvolvimento sustentá-vel, que nada mais é do que a promoção de ações que resultem num melhor planejamento do consumo no país. Outro tópico a ser discu-tido é o fato de a responsabilidade pelo futuro do planeta ser colocado apenas nas mãos dos cidadãos. Por fim, coloca-se em pauta o moti-vo de essa responsabilidade ser valorizada so-mente nessa instância, e não no momento das decisões sobre tudo aquilo que nos cerca.
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Os debates acerca da temática ambiental apontam para um mesmo caminho: mostrar para o cidadão comum seu papel na sociedade e de que maneira suas ações interferem no fu-turo da existência da raça humana no planeta. Um dos temas centrais da RIO+20 é a questão do consumo sustentável, ou a elaboração de campanhas de conscientização contra o con-sumismo. Luta-se por uma maior consciência na hora de fazer as compras. A idealização do padrão de vida norte-americano precisa ser deixada de lado para dar lugar à palavra da moda: sustentabilidade.
Heron Begnis, professor de Ciências Econô-micas, diz que, desde 1994, com o fim da infla-ção, o Brasil iniciou um processo de ganho e redistribuição de renda. Com esse acréscimo financeiro, o cidadão brasileiro pôde reservar uma parte do dinheiro que recebe para o con-sumo. “Não há uma necessidade de direcionar toda sua renda exclusivamente para garantia
Consumo x sustentabilidade
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da subsistência”, diz. Segundo Heron, com essa estabilização, o brasileiro pode planejar seu consumo, adquirir bens duráveis, obter fi-nanciamentos, e isso têm mudado as condi-ções de vida do brasileiro.
Em contrapartida, as famílias brasileiras estão cada vez mais endividadas. “À medida que nós temos acesso ao crédito, que nós temos aces-so a um padrão mais elevado de consumo, não há uma educação financeira das famílias, e isso tende a colocá-las em situação de vulnerabilida-
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de econômica”, afirma Heron. O professor sa-lienta que o acesso ao crédito é importante e benéfico, pois proporciona qualidade de vida às pessoas. Segundo ele, até pouco tempo, quem fazia parte das classes D e E não tinha acesso nem a eletrodomésticos. Normalmente ganha-vam ou compravam esses bens usados e hoje se tem acesso a aparelhos novos.
O consumo estimula a produção. Heron usa como exemplo o financiamento da casa própria pelo programa Minha Casa, Minha vida. Segun-do ele, o incentivo à aquisição da casa própria faz com que toda uma cadeia produtiva esteja en-volvida: desde a geração de empregos até o for-necimento de matéria-prima para a construção. Na avaliação do professor de economia, o con-sumo é importante, pois estimula a produção, e a produção gera renda. Em contrapartida, Heron aponta para o lado negativo. “A produção gera efeitos sobre o meio ambiente, isso é inegável”.
Ao se preocupar com a questão ambiental, é
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preciso lembrar que o tema não é isolado. Ele possui relação com todos os outros fatores da vida em sociedade. É preciso pensar a temática no âmbito social, cultural, econômico e político. O economista aponta uma das relações entre a temática ambiental e a economia ao falar do processo de reciclagem realizado no Brasil. Segundo ele, a preocupação com o destino do nosso lixo está diretamente relacionada com o valor econômico que o material descartado tem. “Existe um dado de que 97% do nosso alumínio é reciclado. Reciclado por quê? Por que somos eficientes? Não. Porque nós temos problemas sociais gravíssimos, o que faz com que catadores, pessoas que não conseguem emprego, que estão à margem do sistema pro-dutivo recolham esses materiais do lixo e deem início ao processo de reciclagem”, diz.
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Quando se fala em sustentabilidade, pouco se diz sobre o combate à pobreza. A Rio+20 possui dois temas principais sobre os quais se-rão gerados os debates: um é a estrutura insti-tucional para o desenvolvimento sustentável; o outro é a economia verde do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza. Para Valter de Almeida Freitas, sociólogo e professor universitário, a preocupação do senso comum e da grande mídia está concentrada no tema errado. Segundo ele, a questão do consumo ainda não se tornou um dilema. “Antes mesmo de nós chegarmos a uma situação de afirmar-mos categoricamente que o consumo é um di-lema do mundo, eu digo que não: a carência de consumo é o drama do mundo”, diz.
De acordo com o sociólogo, antes de pensar-mos no excesso de consumo, é preciso pen-sar na exclusão social, pois o mundo ainda não conseguiu resolver o problema da fome, da falta de moradia, ou de qualquer item de sub-
Consumo ou fome: qual é o dilema do mundo?
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sistência. O que, segundo ele, deve ser uma preocupação é a durabilidade dos bens mate-riais produzidos. “Para isso é preciso fazer um acerto de contas com a indústria”. Uma saída apontada por Freitas seria a criação de uma lei que estabelecesse um tempo mínimo para a durabilidade dos produtos.
Fotografia: Luana Backes/Revista Atualize
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O sociólogo afirma que não há como respon-sabilizar o cidadão brasileiro pelo consumo, pois esse consumismo desenfreado está res-trito a uma parcela muito pequena da nossa sociedade. A grande parte, segundo ele, preci-sa resolver outros problemas, diretamente re-lacionados com a falta de recursos e de po-líticas públicas que lhe garanta as condições mínimas para sobrevivência. Para a população que já tem acesso aos bens de consumo, Frei-tas sugere uma união de forças, para que se levantem objetivos em comum e metas para execução. Se uma empresa ou governo agem de maneira que prejudique o cidadão, é preciso se unir contra eles, seja deixando de comprar, seja protestando.
Por muito tempo o brasileiro não pôde con-sumir. Com o crescimento econômico e a distri-buição de renda, chegou o momento de investir em itens que extrapolem os de subsistência. Po-rém, movimentos mundiais querem lutar contra o consumismo. “Agora é o momento de pesqui-sar como essas pessoas estão pensando”, diz a antropóloga Maria Helena Santana. Segundo ela, para se ter uma maior consciência na hora da compra é preciso politizar o consumo, ou seja, fazer disso uma política, com cidadania, democracia e conscientização.
Maria Helena diz que muitas pessoas estão em fase de transição de classe social, e isso acarreta em novas prioridades. Os integrantes dessa classe emergente têm outras preocupa-ções, como adquirir os eletrodomésticos que sempre sonharam. “Essas pessoas não estão conectadas com o discurso consumidor-cida-dão, pois para eles, nesse momento, ser cida-dão é consumir”, diz.
Participação da sociedade deve ser constante
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O mais grave, de acordo com a socióloga, é a falta de participação da sociedade nas decisões governamentais e privadas que afetam o meio ambiente. “Por que não somos consultados na hora de decidir o tipo de energia usado no país? Por que adoção de modelos da década de 70? São caros, tecnologicamente ultrapassados, criam problemas ambientais gravíssimos, sem
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Fotografia: Luana Backes/Revista Atualize
falar no desrespeito à diversidade cultural das populações indígenas.” Maria Helena também cita o consumo de veículos no país como uma contradição, pois mesmo que existam campa-nhas contra, não existe um serviço de trans-porte público que dê conta minimamente das necessidades da população.
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Nas próximas páginas você, caro leitor, encontrará dois bons exemplos para seguir no dia a dia. O primeiro está na reportagem Estocolmo: 40 anos depois, da repórter Emi-lin Grings, matéria que ilus-tra a capa desta edição. Ao longo de 10 páginas, o texto traz exemplos de como a ca-pital Sueca tornou-se referêcia mundial em coleta seletiva de lixo, preservação e educação ambiental. Embora o avanço tecnológico do país europeu seja muito superior ao que te-mos no Brasil, existem atitudes bastante simples que podem ser implantadas no cotidiano, em busca de uma cidade mais limpa. São exemplos que ates-tam o nível de amadurecimento de um país em relação ao res-to do mundo. O segundo está na entrevista realizada pela
repórter Luana Backes com o jornalista Wilson da Costa Bue-no, referência quando o as-sunto é jornalismo ambiental. Na fala de Bueno, destaca-se a importância da imprensa e da filtragem de informações na cobertura de um evento como a Rio+20. Sobretudo, Bueno alerta para a importância de uma boa apuração, a neces-sidade do leitor em buscar um contexto para aquelas informa-ções e os problemas que um jornalista pode encontrar em uma cobertura tão especializa-da. Wilson mostra-se um con-selheiro às novas gerações de jornalistas ambientais, defen-dendo o ideal de que é pos-sível fazer bom jornalismo em todos os momentos. E mais do que isso, é papel da imprensa manter determinados assuntos em discussão.
Por: Renan SilvaEditor de Meio Ambiente
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Bons exemplos
Editorial
Pelo menos uma vez por semana, Paola Sar-toretto, 33 anos, leva o lixo que separa em casa até os containers de coleta seletiva espalhados por diversos pontos da cidade. A gaúcha, de Ca-choeira do Sul, mora há 5 anos em Estocolmo e, assim como grande parte dos forasteiros que visitam a capital, se surpreendeu com o nível de educação ambiental disseminado entre a po-pulação. Hábitos que ela tratou de aprender a partir do momento em que casou-se com Niklas Keijser, 34 anos, sueco de nascimento.
A cachoeirense está fora do Brasil desde 2002. Formada em Jornalismo e Relações Pú-blicas pela Universidade Federal de Santa Ma-ria (UFSM), Paola deixou a terra natal para es-tudar inglês em Londres. No velho mundo, fez mestrado em Comunicação Social, conheceu Niklas e se mudou para Suécia. Atualmente é professora na Karlstad University e faz douto-rado em mídia e comunicação com ênfase em movimentos sociais.
Gaúcha no país sustentável
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É responsabilidade de cada morador, separar o lixo em casa e levá-los até os containers. Pa-ola conta que cada um dos recipientes é desti-nado a um tipo de resíduo. “Temos para papel e papelão, plástico, metal, vidro transparente e colorido e pilhas”. Já os móveis e utensílios elé-tricos precisam ser levados para terminais de reciclagem. Segundo Paola, quem não obedece às regras é punido. “Deixar móveis ou eletroe-letrônicos na rua pode dar multa”, afirma a ca-choeirense. Os containers também fomentam a solidariedade, já que alguns deles são destina-dos ao recolhimento de roupas e calçados para doação.
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Para a pesquisadora, o incentivo do governo e as punições são fundamentais para que o siste-ma funcione. No entanto, reforça a ideia de que a consciência da importância da preservação do meio-ambiente é fator preponderante para que os hábitos de separação e descarte correto fa-çam parte da rotina entre a população.
“A Suécia é um país com apenas 9 milhões de habitantes, no qual as estruturas e serviços sociais funcionam relativamente bem para a maioria da população, e isso facilita bastante a conscientização para o cuidado com o meio ambiente”, justifica. Ao comparar a política ado-tada no Brasil, a gaúcha afirma que a série de problemas estruturais dificulta que a reciclagem se torne um hábito. “A população é 20 vezes maior no Brasil. Eu acho que, principalmente a classe média, que consome desenfreadamen-te por aí, deveria se preocupar em consumir com mais consciência”, ressalta.
A posição da cachoeirense confirma a tese
Educação Ambiental
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Meio Ambiente
defendida por ela durante a realização des-ta entrevista. Conforme Paola, trata-se de um problema cultural que denota o quanto é preci-so evoluir em termos de educação nas terras tupiniquins.
Da mesma opinião compartilha o professor do mestrado em Tecnologia Ambiental da Uni-versidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Dios-nel Lopez. Segundo ele, para que a educação ambiental se torne senso comum entre a popu-lação brasileira, seria necessário mais duas gera-ções. “Há um progresso, mas não há comprome- 5__
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Meio Ambiente
Fotografia: Piotr Zajac/Shutterstock
timento. No mínimo trinta ou quarenta anos para que a semente que está sendo plantada agora dê frutos”, prevê. Lopez também têm experiência no exterior. Viveu por cinco anos em Berlim, perí-odo em que cursou doutorado em Resíduos Sóli-dos. Conforme conta, a coleta seletiva na capital alemã é parecida com a da Suécia, mas não há sistema a vácuo.
Quanto à realidade daqui, o professor admite que o “jeitinho brasileiro” de burlar regras atra-palha quando o assunto é educação ambiental, e afirma que para as coisas funcionarem é ne-cessário fiscalização. “O poder público é mui-to passivo. Enquanto for assim, não há como cobrar da população uma mudança drástica. Acredito que a conscientização ambiental vai ocorrer de forma gradual no Brasil!”, resume.
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Meio Ambiente
Paola, Nicklas e milhares de pessoas depo-sitam diariamente toneladas de resíduos nos containers. O caminho que todo este entulho percorre até ser encaminhado para empresas de reciclagem é no mínimo surpreendente.
Neste vídeo, disponibilizado pela empre-sa responsável pelo sistema de coleta, você acompanha como o processo se dá de forma completa.
E para onde vai o lixo?
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Meio Ambiente
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É tanta tecnologia que se torna vulgar chamar os produtos transportados pelo sistema de lixo. São quase 27 mil metros de encanamento sub-terrâneo que ligam os coletores à central de con-tainers.
Com sistema de sucção a vácuo, o entulho chega a percorrer o trajeto até a central de con-tainers a uma velocidade de 70 km/h. Mas enga-na-se quem pensa que o processo terminou por aí. Depois do transporte, o lixo é encaminhado a empresas especializadas em cada tipo de resí-duo. É no chão de fábrica que se faz a transfor-mação do produto usado em matéria-prima.
O sistema aplicado no país garante que o des-carte de lixo seja feito de forma sustentável esta-belecendo um ciclo. Há pelo menos três séculos, a Lei de Conservação da Matéria de Laviosier já dizia: “nada se cria, nada se perde, tudo se trans-forma”.
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Foi em 1961 que a empresa sueca Evac ins-talou a primeira versão do atual sistema. A co-leta seletiva foi implantada em um hospital. No ano seguinte, foi criada uma versão residencial para a coleta a vácuo. A inovação deu tão certo que, em 2010, mais de 600 destes sistemas já haviam sido instalados pelo mundo.
Em Estocolmo são 8.150 residências atendi-das pelo sistema, conforme os últimos dados divulgados pela Evac. A maioria dos empreen-dimentos imobiliários opta por instalar a coleta seletiva a vácuo. Nas moradias que não têm, as pessoas precisam separar o lixo e levar até os containers. É o caso da residência de Paola e Nicklas.
Pioneirismo da capital sueca
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• Maior facilidade na coleta seletiva, uma vez que os diferentes tipos de resíduos não são mis-turados durante a coleta, como no método tradi-cional;
• Diminuição no número de caminhões de lixo em circulação, devido ao uso mais racional do espaço. Isso porque, ao invés dos resíduos se-rem colocados na calçada, em frente de cada imóvel, o caminhão de coleta se dirige somente à área onde os sacos são acumulados;
• Diminuição na poluição sonora e atmosférica causada pela coleta;
• Redução de 30% a 40% no custo total da coleta.
Resultados obtidos com a implantação do sistema:
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Meio Ambiente
Fotografia: Arquivo pessoal
PING-PONG
Wilson da Costa Bueno
O Papa do jornalismo ambiental brasileiroRepórter: Luana Backes
Descrever o perfil de Wilson da Costa Bueno é tarefa difícil. Resumir, talvez, seja um pouco menos complicado. Bueno, natural de Ribeirão Preto (SP), é jornalista, professor e pesquisa-dor. Atua nas áreas de jornalismo especializado – ambiental, científico, em saúde e em agribu-siness – e comunicação empresarial. Em 1985 defendeu a primeira tese de doutorado sobre jornalismo científico do país e já foi presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Cientí-fico (ABJC). Hoje é professor universitário, di-retor da Comtexto (empresa de consultoria em comunicação), diretor da editora Mojoara, coor-dena cursos à distância e um curso de especia-lização em Comunicação Empresarial, além de editar diversos sites e blogs.
Em conversa com a Revista Atualize, Wilson falou sobre aspectos relacionados à Rio92 e à Rio+20, além do papel da mídia nesse contexto.
Meio Ambiente
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Atualize - O que mudou no jornalismo am-biental de 1992 até hoje?
Wilson - A cobertura ambiental se intensifi-cou nos últimos 20 anos, sobretudo pela maior consciência sobre o impacto das mudanças cli-máticas, em particular o incremento do aque-cimento global, sobre a insegurança alimentar (os transgênicos são vistos como agentes de risco) e assim por diante. A maioria dos veí-culos tem incorporado pautas regulares sobre meio ambiente e há inclusive um amplo debate na sociedade, no mundo empresarial e político sobre a problemática ambiental, como acom-panhamos agora com a aprovação das altera-ções do Código Florestal.
Atualize - O que mudou na vida da popu-lação depois da Rio92? Algum país mudou sua conduta após o evento?
Wilson - Na prática, mudou menos do que se deveria esperar, embora as pessoas tenham
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passado a considerar, em quase todo o mun-do, a questão ambiental como um dos desafios maiores do nosso tempo com impacto no mun-do dos negócios, da política e o dia-a-dia das pessoas.
Atualize - Como você analisa o que é e o que deveria ser publicado sobre a Rio+20?
Wilson - Maior atenção à relação entre meio ambiente, questões sociais, de saúde, econô-micas etc deveria ser a tônica dos debates, mas , na maioria dos casos, adota-se uma pers-pectiva fragmentada, um olhar vesgo sobre o tema que deveria ser contemplado de maneira abrangente.
Atualize - Como as novas tecnologias de informação vão interferir na cobertura da Rio+20? Como os jornalistas devem tratar as informações publicadas por não jornalistas (participantes do evento, por exemplo)? 4__
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Fotografia: Arquivo pessoal
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Wilson - Certamente, sobretudo com a atu-ação ativa das redes sociais, a cobertura será ampliada e os jornalistas tenderão não apenas a utilizá-las mas se valer da opinião das pesso-as para respaldar suas matérias.
Atualize - De que forma o jornalista deve lidar com os movimentos pró e contra meio ambiente?
Wilson - O jornalista deve estar atento às diferenças de opinião tendo em vista que há interesses em jogo e que sobretudo governos e empresas tenderão a reduzir o impacto (so-bretudo o seu impacto) das suas ações sobre o meio ambiente.
Atualize - Das temáticas previstas para a Rio+20, qual deveria receber maior destaque da mídia?
Wilson - Não sabemos ainda, mas imagino que deva ser a falta de uma agenda concreta
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nos debates já que, no fundo, empresas e go-vernos não querem alterar de maneira subs-tantiva as suas posturas. A imprensa irá per-ceber isso e repercutirá o fato. Haverá, a meu ver, uma decepção flagrante com respeito ao andamento dos trabalhos que serão , no en-tanto, importantes a partir do envolvimento dos grupos mobilizados, das ONGs etc.
Atualize - O que os jornalistas devem fa-zer para transmitir a essência do evento, para que todos entendam de fato o que a confe-rência significa?
Wilson - Eles devem estar capacitados para tratar de temas complexos e suficientemente informados sobre os interesses em jogo. Será necessário enxergar sempre além das propos-tas e das notícias.
Atualize - Qual o papel da mídia e da po-pulação nessa mobilização mundial?
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Wilson - Aproveitar o momento para cons-cientizar a população sobre o impacto da ação humana no meio ambiente, com atenção à ação de empresas e de governos e a necessidade de comprometimento de todos nós.
Atualize - Por que a conferência será rea-lizada novamente no Rio de Janeiro?
Wilson - O Brasil é importante protagonista no debate sobre a problemática ambiental e se está comemorando os 20 anos da Rio 92, um evento muito importante na história do ambien-talismo mundial.
Atualize - Como os meios de comunica-ção devem tratar as decisões que serão to-madas no evento (documentos que serão for-mulados, por exemplo)?
Wilson - Analisar as decisões sob uma pers-pectiva crítica e denunciar as pressões de em-presas e governos com o objetivo de impedir
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que os avanços necessários não sejam alcan-çados.
Atualize - O que fazer para que a “consci-ência ambiental” não desperte na mídia ape-nas em anos de evento, mas que se perpetue e se torne parte do cotidiano das publica-ções?
Wilson - A mídia, nesse caso, tem sido mais atenta e, pela importância da questão ambien-tal nos dias de hoje, é pouco provável que o tema seja deixado de lado após a Rio + 20.
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Fotografia: Arquivo pessoal
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Atualize - No Brasil, o jornalismo ambien-tal ainda é pouco valorizado?
Wilson - Sim, sobretudo pelos governos, agências e anunciantes e, por esse motivo, as mídias ambientais têm dificuldade para se sus-tentar apesar de cumprir papel valioso no de-bate sobre a problemática ambiental brasileira e mundial. De qualquer forma, tem surgido es-paços na mídia para a cobertura ambiental e o jornalismo ambiental é hoje mais forte, mais capacitado do que antes.
Atualize - Que cuidados o jornalista “gene-ralista” deve ter ao cobrir um evento como a Rio+20, com um foco tão especializado?
Wilson - Tomar conhecimento dos princi-pais temas que estarão em debate, identificar as fontes de credibilidade, dominar conceitos e processos básicos e estar sobretudo disposto a olhar o debate com uma perspectiva crítica.
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Meio Ambiente
Atualize - Na sua opinião, qual o problema ambiental mais preocupante da atualidade?
Wilson - Não há apenas um problema am-biental que preocupa e, por isso mesmo, a área é complexa porque as questões estão articu-ladas. Não é possível contemplar os transgê-nicos, o efeito estufa, a ameaça à sociobiodi-versidade, a questão do lixo, a destruição das comunidades tradicionais como questões iso-ladas porque elas estão todas entrelaçadas.
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Ilustração de capaCamila Peres