Revista Banco de Ideias nº 56

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    ndice

    CONSELHODEADMINISTRAO

    Arthur Chagas DinizElcio Anibal de Lucca

    Alencar BurtiPaulo de Barros Stewart

    Jorge Gerdau JohannpeterJorge Wilson Simeira Jacob

    Jos Humberto Pires de ArajoRaul Leite LunaRicardo Yazbek

    Roberto Konder BornhausenRomeu Chap Chap

    CONSELHO EDITORIAL

    Arthur Chagas Diniz - presidenteAlberto Oliva

    Alosio Teixeira Garcia Antnio Carlos Porto Gonalves

    Bruno MedeirosCndido Jos Mendes PrunesJorge Wilson Simeira Jacob

    Jos Luiz CarvalhoLuiz Alberto Machado

    Nelson Lehmann da SilvaOctavio Amorim Neto

    Roberto FendtRodrigo Constantino

    William Ling

    Og Francisco Leme eUbiratan Borges de Macedo

    (in memoriam)

    DIRETOR / EDITOR

    Arthur Chagas Diniz

    JORNALISTARESPONSVEL

    Ligia FilgueirasRG n 16158 DRT - Rio, RJ

    PUBLICIDADE/ ASSINATURAS:

    E-mail: [email protected]: (21) 2539-1115 - r. 221

    FOTOS

    ImagePlus, Photodisk e Wikipedia.

    INSTITUTO LIBERAL

    Rua Maria Eugnia, 167 - Humait22261-080 - Rio de Janeiro - RJ

    Tel/Fax: (21) 2539-1115E-mail: [email protected]

    Internet: www.institutoliberal.org.br

    Think Tank - A Revista da Livre-Iniciativa

    Ano XV - no 56 - Set/Out/Nov - 2011

    Expediente

    MATRIADE CAPA15

    ESPECIAL

    O BOM, O MAUEO FEIOUma viso liberal do fato

    PETRLEO

    AESDAPETROBRASEDOSETORDE PETRLEO BRASILEIRO

    Adriano Pires

    EDUCAO

    EDUCAONO BRASIL:FORMAOOU DEFORMAO?

    Mario Guerreiro

    14

    19

    5

    LIVROS

    A ESCALADADADVIDAPBLICAESEUS RISCOS

    Celso L. Martone

    O PAPEL TRANSFORMADORDOSVANT NADEFESANACIONAL

    Salvador Raza

    26DESTAQUE 22

    REALIZAO

    BANCODE IDIAS uma publicao do

    Instituto Liberal. permitida a reproduode seu contedo editorial, desde quemencionada a fonte.

    A TRAGDIADO EUROpor Rodrigo Constantino

    Nesta Edio

    NOTASMEDIDAPROVISRIAN 540 TUDO

    O

    QUE

    VOC

    SEMPRE

    QUIS

    SABERSOBREO LIBERALISMO

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    Editorial

    Sua opinio da maior impor-tncia para ns. Escreva paraBanco de Idias.

    Leitores

    Envie as suas mensagens paraa rua Rua Maria Eugnia, 167 -Humait - Rio de Janeiro - RJ -22261-080, ou [email protected].

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    educao brasileira formaou deforma? Essa a ques-

    to levantada pelo professor

    Mario Guerreiro ao analisar aeducao no Brasil sob a tica doconceito de igualdade de oportu-nidades. Com muita propriedadeo autor destaca dois tipos de des-vantagens que afetam o desem-penho das pessoas: desvanta-gens naturais e culturais. Essadistino permite ao professorGuerreiro elaborar sobre polticaspblicas que, incapazes de distin-guir esses dois tipos de desvanta-gens, acabam por produzir mais

    mal do que bem. Concentrandosuas consideraes nas desvan-tagens culturais, destaca o Pro-fessor a importncia das dife-rentes condies familiares parao desempenho das pessoas. Sobsua tica, abre-se uma larga ave-nida para orientao de polticaspblicas em favor do desenvolvi-mento do homem por valorizar asdiferenas entre as pessoas.

    O professor titular do Depar-

    tamento de Economia da FEA/USP, Celso L. Martone, deixa cla-ro em seu artigo sobre a dvidapblica brasileira que a escaladado endividamento pblico longeest de no representar riscospara o cidado brasileiro. Apsapresentar o pesadelo por quepassa o mundo com o aumentoda dvida pblica nos pasesavanados, o autor questiona seo caso brasileiro difere dos de-mais. Sua resposta um contun-dente no, a despeito da aparen-te calmaria com que o setor p-blico vem ampliando seuendividamento no Brasil. Ao ca-racterizar nosso sistema fiscalcomo um frankenstein tributrio,o autor destaca a importncia daimposio de limites constitucio-nais ao tamanho do setor pbli-co. O risco futuro de uma crisefiscal emerge claro do inevitvelcrescimento nos gastos pblicos

    que implicar uma expanso dadvida pblica bruta, a menos quea carga tributria possa crescerindefinidamente.

    O artigo do professor AdrianoPires, Diretor do Centro Brasileirode Infra Estrutura (CBIE), analisaos preos das aes de empresasdo setor petroleiro no Brasil. Emsua breve, mas acurada anlise,o Professor destaca como a inter-veno governamental e as dispu-tas internas entre foras polticastm afetado a ao empresarialda Petrobras com reflexos nos pre-os de mercado de suas aes.

    Para melhor contextualizar seusargumentos, o Diretor do CBIEcomenta ainda os preos de mer-cado das aes de trs petrolei-ras consideradas pequenas nocenrio internacional.

    O especialista em segurana,Diretor do Centro de Tecnologia,Relaes Internacionais e Segu-rana CETRIS, e professor deProjeto de Fora na Universidadede Defesa dos EUA, Salvador

    Raza, examina o papel transfor-mador dos Veculos Areos No-Tripulados VANT na defesa na-cional. Qualificando os principaisdesafios que os VANT gerampara um sistema de defesa, oautor destaca aqueles para osquais ainda no se tem soluesdefinitivas.

    Nessa edio, devido a recor-rentes questionamentos feitos aoIL por seus associados, estudan-tes, leitores de suas publicaes evisitantes de seu site na Internet,o resumo de um clssico liberalfoi substitudo por respostas doprofessor Jos L. Carvalho squestes mais frequentes.

    Rodrigo Constantino faz a re-senha do livro The Tragedy of theEuro, de Philipp Bagus.

    Encerrando a edio, NOTASexamina a Medida Provisria540, que instrumenta legalmenteo Plano Brasil Maior PBM.

    A

    Pelo menos o valor equivalente economia da Bolvia foi desviado (...)dos cofres do governo federal em seteanos, de 2002 a 2008, ... mdia deR$ 6 bilhes por ano, dinheiro quedeixou de ser aplicado na provisode servios pblicos.

    Mrcio Del Cstia, reproduzindomatria publicada naFolhaOnline / Poder, 03.09.2011.

    Pensa-se em criar novo imposto, nova

    CPMF (...), mas os polticos voaprovar esse imposto porque tmsalrios e mordomias estratosfricose esto pouco se lixando para o povo,para a moral, para a tica e para ahonestidade. Diminua-se o nmerode deputados federais e de senadores(...), diminua-se a quantidade demordomias desses congressistas, ehaver dinheiro de sobra para a sadee para a educao.

    Jos Augusto Carvalho

    Mrcio e Jos Augusto,

    A indignao de vocs procedentee seguramente reflete o sentimentoda maioria silenciosa. Um aspectopositivo dessa indignao que elareflete o repdio s maracutaias quegrassam em nosso sistema poltico eao furor tributrio do governo. Umaspecto negativo, e que pode tomarvulto, a descrena no processodemocrtico. Um ambiente comoesse favorece a demagogia e o

    surgimento de lideranas carismticasque se apresentem como capazes deresolver todos os problemas e aliviaras frustraes do cidado. Indignao sem ao consequente pode fazermais mal do que bem.

    O Editor

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    Educao no Brasil: formaoou deformao?

    Mario GuerreiroDoutor em Filosofia pela UFRJ.

    estrutura das universidadesde hoje foi basicamente

    arquitetada na Alemanha, naprimeira metade do sculo XIX. Eum dos artfices dessa estru-turao foi Wilhelm von Humboldt(1767-1835), irmo de Ale-xander, um dos naturalistas quevierem ao Brasil para estudarnossas ricas fauna e flora. Seuirmo mais velho, Wilhelm, foi ofundador da Universidade deBerlim, que serviu de modeloinovador para as demais uni-versidades europias e ame-

    ricanas. Diplomata, amigo ntimode Goethe, linguista e filsofo

    poltico, seu livro Ideen zu einemVersuch, die Grenzen der Wir-ksamkeit des Staats zu bes-timmen (Ideias para um ensaiosobre os limites da ao doEstado) exerceu forte influnciasobre On Liberty, de John StuartMill, economista da EscolaClssica e um dos maioresfilsofos do liberalismo no sculo XIX. De toda a erudio deWilhelm von Humboldt, ater-nos-emos aqui s suas ideias peda-

    ggicas, mais especificamente auma dessas ideias fundamentais:

    a de Bildung (formao). Eleentendia que o ensino, desde aVolksschule (escola bsica), eraum meio cujo fim, mais do queproporcionar educao, erarealizar a formao da cidadania.Evidentemente, isso inclua no sa aquisio de conhecimentocomo tambm a preparao parao exerccio de uma profisso e,sobretudo, a formao do carterdos indivduos componentes docorpo discente. Comparada com

    A

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    o estado atual da educao noBrasil, a grandiosa ideia deHumboldt transformou-se numa

    grotesca caricatura. No temosnada que se assemelhe a umaverdadeira formao (Bildung) docidado, nem sequer temos amera transmisso eficaz deconhecimento e boa preparaopara o exerccio de uma profisso.Mas antes de analisar a la-mentvel situao atual daeducao, pensamos ser opor-tuno retroceder a um perodoanterior ao da to decantadaNova Repblica instaurada coma Constituio dos Miserveis,segundo o epteto de UlyssesGuimares.

    Durante o perodo de exceo(1964-1985), os governos mi-litares, preocupados com nossavetusta carncia de conscinciade cidadania, fizeram algunsesforos dignos de nota paramelhorar nossa triste condio.Tornaram disciplina obrigatrianos currculos escolares o curso

    de Educao Moral e Cvica, enos currculos do ensino superioro Estudo de Problemas Brasileiros.Alm disso, os governos militaresestavam seriamente preocupadoscom as pssimas condies desade e com o analfabetismo noBrasil. Por isso mesmo, mo-bilizaram os jovens para participarde dois projetos de mbitonacional: o Projeto Rondon, quelevou jovens mdicos e estudantesde Medicina para os mais

    longnquos lugares do Pas, e oMobral (Movimento Brasileiro deAlfabetizao). Os efeitos desteltimo foram avaliados aps1985, e verificou-se que mais dametade dos que tinham aprendidoa ler simplesmente tinha de-saprendido. No me lembro dascausas apontadas pela comissoanalisadora, mas no difcilimaginar quais poderiam ter sido.Aprender a ler e escrever algo

    semelhante a aprender umalngua estrangeira ou a tocar uminstrumento. Na falta de cons-

    tante exerccio, o desaprendizado certo. Mas para que haja escritae leitura assduas preciso quehaja estmulos e motivao. Almdisso, levando em conta aprecariedade de meios e derecursos financeiros da maioria denossa populao, estmulos emotivao no bastam: precisoque haja bibliotecas pblicas emque os frequentadores possam lerao menos jornais e revistasculturais. E pensar que hoje amaioria da populao no l nemjornal... A maior prova disso queos mais importantes jornais doPas, em outras pocas, faziampublicidade dos mais variadosprodutos, porm hoje fazemtambm publicidade de siprprios, mediante campanhaspara assinaturas por meio detelemarketing, oferecendo brin-des aos assinantes. Outra provada falta de leitura fornecida

    pelas provas dos vestibulandos,em que se verificam poucainformao geral e verdadeirosatentados gramtica. Mas nofoi s o analfabetismo e aformao moral e cvica quepreocuparam os governos mili-tares. A eles devemos a criaode cursos de ps-graduaocomo a COPPE, da UFRJ,instituies de pesquisa cientfica,como o CNPq criado peloalmirante lvaro Alberto e a

    CAPES, bem como a lei decarreira do ensino superior,baseada na meritocracia, daautoria do general Ruben Ludwig,ento Ministro da Educao.Essas e outras criaes foram damxima importncia para umgrande salto qualitativo do ensinoe da pesquisa no Brasil, mas foramesquecidas, propositalmente ouno, nesta Nova Repblica emque os militares sofrem os efeitos

    de um ressentido revanchismo,principalmente aps a ascensodo PT. Mas se os governos

    militares produziram alguns feitosnotveis na educao, princi-palmente no ensino universitrio,sua contribuio para o ensino deprimeiro e segundo grau nofoi to grande assim. No sei sefoi durante o regime de exceoou logo aps o mesmo que sedeu uma excessiva centralizaoda administrao nas escolaspblicas de primeiro e segundograus, gerando os efeitos ne-gativos produzidos por toda equalquer centralizao que noobedece ao princpio de subsi-diariedade. Juntamente com oaviltamento do salrio dosprofessores e a m fiscalizao doMEC, esta parece ser uma dascausas da crescente deterioraodo ensino bsico. Chegamos,assim, a um quadro assazincongruente: o ensino dasuniversidades pblicas em geral muito melhor do que o das

    escolas pblicas de primeiro esegundo graus, razo pela qualas famlias com maior poderaquisitivo costumam matricularseus filhos em escolas parti-culares para depois tentarempassar no vestibular de universi-dades pblicas. As famlias demenor poder aquisitivo costumamfazer justamente o contrrio.

    Quando eu era aluno doprimeiro grau, l pela dcada de50, numa das boas escolas

    pblicas da poca, elas gozavamde uma autonomia adminis-trativa. A diretora da escolarecebia uma verba e eraresponsvel pela administraoda sua unidade. Posteriormente,sua funo ficou reduzida aoaspecto puramente acadmico, etodas as escolas pblicaspassaram a ser administradas porrgos centrais dos Estados. Essamesma centralizao ocorreu no

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    vestibular unificado. Antes, asfaculdades das universidadespblicas e particulares elaboravam

    suas provas especficas. Ainda eraassim quando fiz vestibular em1965, mas posteriormente no sacabaram o curso clssico e ocientfico nas escolas de segundograu como tambm o vestibularpassou a ser o mesmo. Oscandidatos a um curso de Admi-nistrao tinham de responderquestes de Biologia, e oscandidatos a um curso de Direitotinham de responder questes deFsica, no importando a poucaou nenhuma relevncia que asrespectivas disciplinas tinhampara os respectivos cursos. Piordo que essa homogeneizaoperversa foi o efeito gerado noscursos de segundo grau ecursinhos de pr-vestibular. Como fim do clssico e do cientfico,eles no se concentravam mais napreparao dos alunos para ovestibular numa das duas reas.O vestibular unificado acabou

    com isso, alm de introduzir a talda prova de mltipla escolha,tomando o lugar das provasdiscursivas. No foram poucos osvestibulandos que passaram ausar o mtodo de escolhaaleatria, tambm conhecido

    primeiro o que s poderia ter sidocursado depois. escusadoapontar os efeitos desastrosos de

    semelhante inverso.No Estado do Rio de Janeiro,em que padecemos sob o poderde dois (des)governos de LeonelBrizola (PDT), foi criada umainovao pedaggica: osCIEPS, com prdios projetadospelo escultor de monumentosOscar Niemeyer. Suas salas eramseparadas por biombos, pro-duzindo assim uma zoeirainsuportvel e dificultando asvozes dos professores chegaremaos ouvidos dos alunos de modointeligvel. Isso para no falar nogrande calor produzido porcaixotes de cimento armadosem nenhuma preocupao coma ventilao e com a iluminaosolar, marca registrada dasesculturas monumentais feitasanteriormente por Niemeyer emBraslia. Os CIEPS pretendiam sereducao integral, mantendo os

    como loteria esportiva. Atmesmo em disciplinas comoMatemtica e Fsica a mltipla

    escolha um procedimentodidaticamente desastroso. Umestudante podia marcar aresposta certa aps tirar cara oucoroa, mas isso no queria dizerque ele soubesse encaminharuma soluo para o problema. Poroutro lado, um estudante podia terequacionado corretamente oproblema, mas ter errado aresposta por distrao ou um errode clculo. Mas isso no eralevado em considerao. Almdisso, a criao do sistema decrditos gerou alguns problemasantes inexistentes. No s acaboucom a noo de turma, em queos discentes permaneciam namesma turma do incio ao fim docurso universitrio, como tambmestabeleceu grades de disciplinasobrigatrias e optativas que elespodiam cursar em qualquermomento. Na falta de umaorientao pedaggica de dis-

    ciplinas que eram pr-requisitosde outras, em muitas univer-sidades permitia-se que elescalassem sapatos antes de pras meias, ou seja: cursavam

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    Os CIEPS pretendiam ser educaointegral, mantendo os alunos nasescolas full time.

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    alunos nas escolas full time e, paraatingir essa finalidade, ofereciamatividades extracurriculares queraramente ocorriam de fato. Maseram construdos em locais degrande visibilidade, de modo acumprir sua verdadeira funo:mera propaganda do brizolismo.Mas como a histria se repete,s que a primeira vez tragdia ea segunda, farsa (Marx, 1929),Fernando Collor adotou abrilhante ideia de Brizola e DarcyRibeiro o guru do Pangar dosPampas, epteto da lavra dojornalista David Nasser e foram

    criados CIACS em todo o territrionacional em locais escolhidos nopor especialistas em Educao,mas sim por especialistas empropaganda e marketing poltico.

    Com a ascenso do PT aoPoder, como absolutamente tudofoi politizado, a educao nopoderia ser uma ilustre exceo. At mesmo o ENEM (ExameNacional de Ensino Mdio), umacriao inovadora de PauloRenato - Ministro da Educao de

    FHC comeou a apresentarimperdoveis falhas operacionais,uma vez gerenciados peloscompanheiros do PT, preju-dicando gravemente centenas decandidatos. Alm disso, come-aram a aparecer coisasinimaginveis por qualquerpessoa agraciada pelo bomsenso. Primeiramente, a menosque estejamos enganados, aomenos duas universidades, apesarde a maioria de seu corpo

    docente se mostrar antiame-ricanista quando na realidadeso simpatizantes do welfarestate do Partido Democrataamericano a UERJ e a UNBadotaram a Affirmative Actionposta em prtica por algumasuniversidades americanas. Tam-bm conhecidas como sistemasde cotas, essas medidas geraramvantagens esprias para as assimchamadas minorias desfavo-

    recidas: negros, mestios, ndios(e at mesmo hispnicos emulheres, em algumas univer-sidades americanas). Um recursode um estudante branco, que sesentiu prejudicado, subiu Suprema Corte e ficou conhecidocomo o caso de Allan Bakkecontra a Universidade daCalifrnia em Davies (Dworkin,1997). Apesar de ter recebido

    validade jurdica do sistema decotas. Com essa deciso, aSuprema Corte agradou a gregos,troianos e soteropolitanos, comoum demagogo no desejandoperder votos numa campanhaeleitoral.

    No final do sculo passado ouincio do sculo XXI, outro recursode um estudante prejudicado pela Affirmative Action chegou Suprema Corte dos EUA. Porm,desta vez a sentena declarou queo sistema de cotas, no impor-tando suas variaes de umEstado para outro, era incons-

    titucional. Embora desconhe-amos o contedo dessasentena, no difcil imaginaruma forte justificativa: em seusvinte anos ou mais de vigncia a Affirmative Action agredia esolapava um dos princpios maiscaros dos Founding Fathers danao americana: a meritocracia.Tanto no funcionalismo pblicocomo nas universidades, osindivduos devem ser aceitosmediante concursos pblicos

    capazes de avaliar seus mritos esua capacidade, no levando emconsiderao sua raa, sexo,religio, ideologia, etc. No que dizrespeito nossa Constituio, talcoisa abominvel escan-dalosamente inconstitucional,embora isto no tenha sidodeclarado pelo Supremo. Antes dequalquer coisa, porque o mesmoainda no foi provocado e, como sabido, ele s se manifestaquando . Contudo, a referida

    inconstitucionalidade salta aosolhos de qualquer esprito que noesteja nos limites da oligofrenia etenha lido a Carta Poltica de1988, ao menos no tocante questo da educao... O deverdo Estado com a educao serefetuado mediante a garantia de(...) V. Acesso aos nveis maiselevados de ensino, da pesquisae da criao artstica, segundoa capacidade de cada um .

    mdia 8 no concurso para areferida universidade, Allan Bakkeno foi aprovado porque suavaga estava reservada para um

    dos agraciados pelo sistema decotas, tendo grau muito inferiorao dele uma verdadeira reservade mercado para incompetentes!A sentena da Suprema Corte foiincapaz de convencer qualquerindivduo amante da lgica e dacoerncia. Por um lado, elareconhecia que Allan Bakke, porsua tima mdia, era merecedorde uma vaga na universidade,mas por outro reconhecia a

    Com a ascenso doPT ao Poder, como

    absolutamente tudofoi politizado, a

    educao no poderiaser uma ilustre

    exceo. At mesmoo ENEM comeou a

    apresentarimperdoveis falhasoperacionais, uma

    vez gerenciados peloscompanheiros

    do PT, prejudicandogravemente centenas

    de candidatos.

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    (Constituio da RepblicaFederativa do Brasil, Cap. III: DaEducao, da Cultura e doDesporto, Art.206,o grifo meu.) A Constituio est de plenoacordo com a DeclaraoUniversal dos Direitos do Homem(1948): A instruo tcnico-profissional ser acessvel atodos, bem como a instruo superior, esta baseada nomrito. (Declarao Universaldos Direitos do Homem, art. XXVI,1, (o grifo meu). Mas osmembros do PT parecem des-prezar ambas!

    Mas ser que a capacidadede cada um ou o mrito podeser avaliado pela cor da pele?Ser que cabe interpretar de outramaneira ambos os artigos, de talforma que seja justificada aaplicao de qualquer critrio decunho racial? Por favor, herme-neutas mil deste meu queridoBrasil, o referido artigo daConstituio de uma clarezacristalina e, como sabemos, inclaris cessat interpretatio! Uma

    faculdade dotada de professoresdo mais alto nvel acadmico como o caso da Faculdade deDireito da UERJ no pode teralunos com deficincias bsicasna sua formao decorrentes doprimeiro e do segundo graus. Mas,em vez de se melhorar a qualidadede ensino nestes ltimos deforma tal que todos gozassemdemocraticamente de umaigualdade de oportunidades aofazerem vestibular nossos

    iluminados dirigentes univer-sitrios criaram um remendoporco no terceiro grau. No tarefa do terceiro ensinar o quej se devia saber desde o primeiro.Com os cotistas junto com osoutros alunos aprovados novestibular, formam-se turmasextremamente heterogneas, detal modo que o professor contacom duas e, ao que parece,somente duas alternativas:

    reprovar aqueles que noapresentarem rendimento alturado esperado de um curso deexcelncia ou ento nivelar por

    baixo, com inevitvel queda donvel dos alunos em geral. NaUniversidade de Braslia, por suavez, foi fornada uma comisso deespecialistas para identificarquais so negros, ndios, cabo-clos, cafuzos, mamelucos, etc.,assim como existiram no TerceiroReich comisses semelhantespara distinguir, mediante critriosestapafrdios, quem era ariano equem era judeu. Mas a mdiadivulgou um caso no mnimo

    hilariante: dois irmos, em queum foi aceito por ser mestio, maso outro era demasiadamenteclaro para ser aceito. Sabemosque, de acordo com a gentica ecom a hereditariedade, ummenino alvo como o leite, lourinhoe de olhos azuis como o cu podeter antepassados negros como aasa da grana e, inversamente,uma menina negra como a noiteque no tem luar pode ter

    antepassados brancos e louroscomo Nicole Kidman e RobertRedford. No existe raa pura,isso no passa de um mito

    nazista! Mas parece que naUniversidade de Braslia no hbilogos ou suas vozes no solevadas em considerao. Por suavez, no Estado do Rio de Janeiroum recurso chegou ao TJRJ,provavelmente de algum ves-tibulando prejudicado pelosistema de cotas da UERJ. OTJRJ decidiu pela constitucio-nalidade das cotas, sob a pfiaalegao de que estava em jogoum princpio da Constituio: o

    da igualdade. Mas a igualdadeque proposta pela Constituio a igualdade perante a lei,segundo a qual todo cidadobrasileiro est sujeito s mesmasleis e no h lugar para privilgiosde nenhuma natureza.

    Ora, se as provas do vestibularso as mesmas para todos, oscritrios de aprovao devem seros mesmos para todos, sem quesejam oferecidas vantagens de

    Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ.

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    nenhuma espcie para ningum.Mas o que o sistema de cotas faz exatamente desrespeitar aigualdade de critrios para aaprovao. Porm, parece que noentendimento do TJRJ, como node muitos outros brasileiros bem-pensantes, ao oferecer vantagensaos cotistas que partem de umacondio desigual de opor-tunidades no se est fazendooutra coisa seno equalizar asoportunidades de todos osvestibulandos. Ora, no podemosnegar que os vestibulandoscotistas carecem de igualdade de

    oportunidades por serem pro-venientes geralmente de escolaspblicas de primeiro e de segundograus em que o ensino notoriamente inferior aos dasescolas particulares. Mas asoportunidades no devem serequalizadas em detrimento dameritocracia. Se querem fazermesmo essa equalizao, ou aomenos minimizar as desigual-dades, que tomem duas medidas,uma em curto e outra em longo

    prazo: de imediato, que asuniversidades pblicas ofereambolsas de estudo para cursinhosde pr-vestibular ou criem elasprprias seus cursinhos, para osque comprovadamente nopodem pagar. Para efeitos delongo prazo, que melhorem muitoas escolas pblicas de primeiro ede segundo graus, fazendo comque a medida de curto prazovenha a ter um carter mera-mente provisrio.

    At mesmo lderes do mo-vimento negro j declararam sercontra o critrio racial, talvez porterem percebido que isso nopassa de um preconceito savessas. O que eles reivindicam um sistema de cotas para alunospobres, independentemente desua raa. Menos ruim, mas nempor isso aceitvel, uma vez que ameritocracia continuaria sendoaviltada. No entanto, nossa

    proposta atende s necessidadesdos menos favorecidos, semaviltar a meritocracia. Na reali-dade, no possvel conseguiruma equalizao stricto sensude oportunidades, como mostrouNorberto Bobbio em seu exce-lente livro Igualdade e Liber-dade (1996). Como pensa-mos, juntamente com Bobbio,em nosso livro Liberdade ouIgualdade? (2001) j tnhamosdito: Curioso constatar que tantoos defensores como os adversriosda Ao Afirmativa apelam parao mesmo princpio: a igualdade

    de oportunidades. Os defensoresalegam que, se um indivduoconcorre a uma vaga na uni-versidade ou a um empregocarregando handicapsanteriores,ele no desfruta de uma igualdadede oportunidades. Desse modo,as vantagens que lhes sooferecidas visam justamente acoloc-lo em p de igualdade nacompetio. No se pode negara existncia de desvantagensanteriores competio, mas

    fundamental distinguir ao menosdois tipos gerais: (1) desvantagensnaturais [os diferentes graus detalento, capacidade e prudnciaa que se referiu David Hume] e (2)desvantagens culturais [o sdiferentes graus de qualidade daformao educacional bsica].Como j dissemos, as desvan-tagens do tipo (1) no podem sercreditadas a nenhuma injustiasocial. Quando muito, caberiafalar em injustia natural, e a

    autoria desta desigual distribuiode dotes e talentos teria de serremetida a Deus ou ao cdigogentico, ou mesmo a ambos[mas estamos certos de que Deus justo e a natureza sbia].Desvantagens do tipo (1) nopodem ser eliminadas, a menosque se recorra engenhariagentica e comecem a serproduzidos em provetas somenteseres inteligentes e belos. A este

    propsito, lembramo-nos de umaanedota. Conta-se que BernardShaw, que nunca chamou aateno por sua beleza, estavadanando com uma damaconhecida por sua grande beleza,mas pouca inteligncia. L pelastantas, ela observou: J pensouse nos casssemos e tivssemosum filho? Ele herdaria a minhabeleza e a sua inteligncia... Aoque Shaw observou: J pensouse ele herdasse a minha beleza ea sua inteligncia? Desvantagensdo tipo (2) parecem poder sereliminadas, sem que se tenha de

    recorrer engenharia gentica eenfrentar os espinhosos pro-blemas ticos suscitados por essamonstruosidade tecnolgica defabricar seres humanos porencomenda. Parece que bastariaoferecer ensino bsico gratuitoe de boa qualidade a todos, detal modo que todos teriam acessoa uma boa formao e estariamem p de igualdade quandoconcorressem a vagas em uni-versidades ou se candidatassem

    a empregos. Ainda que puss-semos de lado a desagradvelquesto econmica de quempagaria a conta e de que modo,teramos de enfrentar outrosimpasses no relacionados como custo monetrio. Referindo-se igualdade de oportunidades, N.Bobbio fez uma observao emque chama a ateno para osmencionados impasses: suprfluo aduzir que varia desociedade para sociedade a

    definio de quais devam ser asposies de partida a seremconsideradas como iguais, dequais devam ser as condiesmateriais e sociais que permitamconsiderar os concorrentes iguais.Basta formular perguntas doseguinte tipo: suficiente o livreacesso a escolas iguais? Mas aque escolas, de que nvel, at queano de idade? J que se chega escola a partir da vida familiar,

    Educao

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    no ser preciso equalizartambm as condies de famlianas quais cada um vive desde onascimento? Onde paramos?(Bobbio, 1996, pp.31-2, o grifo nosso). Temos a forte impressode que esta ltima questo j foirespondida por Hume no sculoXVIII: Tanta autoridade como estatem de degenerar rapidamente emtirania (Hume, 1969, p.194). Se,de um lado, h um limite bastanteclaro e demarcado para a li-berdade e este o da inte-gridade fsica, moral e patrimonialdo outro [J. Stuart Mill: No harm

    to others] por outro lado pareceno haver um limite claro e bemdemarcado para a igualdade. Noque diz respeito primeira, aliberdade limitada pelaigualdade [mas pela igualdadeperante a lei, sem a qual aliberdade destruiria a prprialiberdade]. Todavia, quando sepensa em ir adiante dessa formade igualdade e produzir igualdadematerial e social, corre-se o sriorisco de a ausncia de limites para

    essa outra forma de igualdadeacabar destruindo a liberdade.Passando do domnio dos

    valores e dos princpios para o dassituaes de fato, temos deconsiderar que a observao deBobbio tambm extremamenteoportuna ao chamar a atenopara as condies de famlia. As famlias so notadamentedesiguais, no s no que dizrespeito ao seustatuseconmicocomo tambm no que diz respeito

    natureza dos laos desolidariedade e de padro moralvigentes entre seus membros.Recusamo-nos por fortes razesa endossar o ponto de vistaeconomicista, de acordo com oqual o primeiro tipo de diferena a causa do segundo, pois no difcil encontrar famlias ricas emque seus membros mantm laosbastante frouxos de solidariedadee um padro moral bastante

    Educao

    precrio, e ao mesmo tempoencontrar famlias pobres em quese verificam fortes laos e umpadro moral elevado. Fe-nmeno bastante marcante nestenosso incio de sculo, adesagregao da famlia bsicano de nenhum modo umapeculiaridade de famlias ricasnem pobres, uma vez que podeser encontrada nas pertencentesa todas as gamas de estra-tificao socioeconmica. Segue-

    se que no podemos remeter areferida causa a fatoreseconmicos, embora os efeitosdesse problema de natureza tica

    acabem se refletindo tambm nodomnio econmico. A pa-ternidade irresponsvel talvez sejao principal fator de desagregaodas famlias, assim como apaternidade responsvel talvezseja o principal fator agregadordestas mesmas, independen-temente das suas condiessocioeconmicas. Uma famliagera heranas para seus mem-bros, e estas so de diferentes

    tipos: (1) herana gentica, (2)herana de bens materiais, (3)herana de bens morais, (4)herana de bons relacionamentossociais. Supondo que vriasgeraes de uma famliaconsigam ser bem-sucedidas naproduo desses quatro tipos deherana, o resultado s pode seruma famlia bem assentada ebem-sucedida, tanto do ponto devista material como espiritual. Noentanto, nada impede que oexerccio da paternidadeirresponsvel, aliado im-prudncia e m administrao

    dos bens herdados, destrua emuma gerao tudo o que foiconstrudo atravs de vrias. Oconhecido provrbio mostra-seoportuno aqui: Av rico, painobre, neto pobre.

    Como se poderiam igualar asdiferenas resultantes dessasquatro heranas beneficiando oudificultando a vida dos seusherdeiros? Suponhamos o casode geraes de uma famliavoltadas para esta ou aquela

    profisso liberal, que tenhamprestado bons servios comomdicos, dentistas, advogados,etc. No de surpreender queuma tradio de prestao debons servios tenha resultado nacriao e na expanso de umaboa clientela, de tal modo que ummembro dessa famlia partir deuma condio privilegiada emrelao a outros competidores nomercado. No entanto, no ocaso de nenhuma vantagem

    ilcita, pois ela resultou dotrabalho, da competncia e dadedicao de geraes da mesmafamlia. Para todos os efeitos,trata-se de um legtimo patrimniodessa famlia. Que fazer diantedisso? Obrigar um membro dessafamlia a dividir sua clientela comum desconhecido? E ainda que,por um ato extremamenteautoritrio do Estado, isso sejafeito, que fazer com as pessoas

    At mesmo lderesdo movimento negroj declararam ser

    contra o critrioracial, talvez por

    terem percebido queisso no passa deum preconceito s

    avessas. O que elesreivindicam umsistema de cotas

    para alunos pobres,independentemente

    de sua raa.

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    que no quiserem ser clientes deoutros? Obrig-las a s-los? Tantaautoridade assim no corre o riscode se transformar em tirania: j a pior de todas. N. Bobbio temtoda a razo quando alega que oconceito de igualdade vago,a menos que se responda a duasquestes bsicas: (a) igualdadeentre quem? e (b) igualdade emqu? Procedendo assim, eledescortinou quatro alternativaspossveis (Bobbio, 1996, p.35-6):(1) igualdade entre todos em tudo,(2) igualdade entre todos em algo,(3) igualdade entre alguns em

    tudo, (4) igualdade entre algunsem algo. No iremos nos deter naanlise desses quatro tipos deigualdade propostos por Bobbio.Queremos apenas enfatizar quea concepo de W. von Humboldtde Bildung (formao), emboraestivesse voltada para a educaoformal, no poderia deixar de levarem considerao a educaoinformal: as condies de famlia,tal como apontadas por Bobbio,ao que acrescentaramos: as

    condies do meio social de ondeso provenientes os educandos. As escolas no so refgioscapazes de imunizar seus alunosde uma contaminao dos mauscostumes e das precrias con-dies intelectuais e morais domeio em que vivem. Para darapenas um exemplo: oserial killerque invadiu, h pouco tempo,uma escola pblica em Realengo(Rio de Janeiro, RJ), matando edeixando feridos muitos alunos.

    Por melhores que sejam seusrecursos didticos e seus mestres,que podem fazer as escolas diantede um aluno cujo carter foidistorcido pela convivnciacom seu meio ou diante dasinterferncias indesejveis demarginais das redondezas, di-ficultando a aprendizagem dosalunos?! O sistema de cotas foiuma das piores coisas para aeducao no Brasil, e a julgar

    Educao

    pelas ltimas decises do STF,marcadas pela subservincia aoPoder Executivo, pelo desrespeitos prerrogativas do Legislativo epelo atendimento s reivin-dicaes das minorias ruidosas, pouco provvel que o STF venhaa declarar sua inconstitu-cionalidade. Como sabemos,inconstitucional no Brasil no oque a Constituio diz, mas simo que os ministros do STF dizemque . Isso me faz lembrar umafamosa fala de Humpty-Dumptydirigida a Alice, em Atravsdo Espelho, de Lewis Carroll.

    Quando a cndida Alice diz queo significado de uma palavradepende de muitas coisas observao corretssima, de umponto de vista semntico-prag-mtico Humpty-Dumpty devolve.Ora, Alice, depende apenas deuma nica coisa: de quemmanda!

    Mas depois da Ao Afirmativaapareceram muitos indcios deque a educao no Brasil no uma questo de formao, mas

    sim de deformao gradati-vamente crescente, justamentenessa poca de globalizao emque at os economistas dehorizontes mais estreitos inde-pendentemente de suas res-pectivas coloraes ideolgicasinevitveis passaram a con-siderar que a educao um dosfatores cruciais para a pros-peridade de uma nao. Comopode uma nao com pssimaqualidade de educao, como

    comprovadamente o caso doBrasil, almejar um desenvol-vimento socioeconmico capazde superar seus bolses de po-breza e alcanar um IDH maiselevado do que este medocre quehoje possui? Certamente no sesupera a misria fornecendo maisverbas para o Bolsa Famlia doque para a Educao. Programasassistencialistas nada mais fazemdo que tirar famlias da condio

    de misria (ou pobreza absoluta)para que fiquem estagnadas nacondio de pobreza e se tornemeleitores cativos em currraiseleitorais de seus benfeitores,que lhes do o peixe em vez de osensinarem a pescar, para usar umlugar-comum, mas no por issoinadequado. Como pode um pascontinuar tendo essa pssimaqualidade de blue collars emesmo de white collars? Se, porum lado, h uma carncia deempregos para a mo-de-obrano especializada, pois h grandedemanda e pequena oferta de

    empregos, por outro h tambmuma oferta de empregos es-pecializados muito maior do quea demanda pelos mesmos, devido carncia de especialistas.Nossa educao no preparabem pedreiros nem engenheiros!J foi dito que o Brasil um pasde fortes contrastes, e estes soos mais variados: ilhas deprosperidade, como Ribeiro Preto(SP), Chapec (SC) e o TringuloMineiro coexistindo com bolses

    de misria, como o Vale doJequitinhonha (MG) e o norte deMinas, etc. No entanto, Braslia(DF), que no produz xongas, temum ndice de poder aquisitivo percapita maior do que o da cidadede So Paulo!

    Apenas oito Estados daFederao do mais dinheiro doque recebem da Unio, os demaisrecebem mais do que do, ouseja: nunca to poucos carre-garam tantos nas costas! E o

    mesmo pode ser dito em relaoao Imposto de Renda progressivo,com suas alquotas. O PIB doBrasil atualmente o 8 ou 9o domundo, mas nossa melhoruniversidade, pelas avaliaes daCAPES e do CNPq, a saber, a USP,est abaixo do 200o lugar doranking das universidades, deacordo com o Times HigherEducation. Que disparidade entreo lugar ocupado pelo PIB e o

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    ocupado por nossa melhoruniversidade! Que vergonhanacional! Nos torneios interna-cionais de alunos do segundograu, em matrias bsicas comoLngua Materna e Matemtica, osprimeiros colocados so quasesempre Finlndia, Japo e Coriado Sul. O Brasil consegue apenaslugares abaixo do 40o lugar,

    ficando atrs de pases pobres daAmrica do Sul. S podem sentirorgulho de serem brasileirosaqueles que so muito malinformados ou fazem parte dogrande grupo dos perfeitos idiotaslatino-americanos. E o que faz oMEC diante desse quadro decalamidade pblica? Publica edistribui para as escolas pblicasde todo o Pas um livro deMatemtica alternativa, em que6+4=16 e 7-3=5! verdade

    que esses erros grosseiros foramdetectados a tempo pelo MEC, eos milhares de exemplaresdevidamente recolhidos. Masforam para um depsito, ficandoempoeirados ou vendidos paraempresas de reciclagem, para quefossem transformados em papelhiginico? Menos provvel, estaltima alternativa ao menosabateria um pouquinho o prejuzode R$14 milhes! Brasil, o pas

    do desperdcio! E o que mais fazo MEC? Publica para as escolaspblicas de todo o Pas o livro PorUm Mundo Melhor ttulo que spode ser ironia! de autoria daprofessora Helosa Ramos, em quea norma culta consideradauma questo optativa. No hnenhum problema, caso osalunos falem e escrevam coisas

    tais como: A gente gostamos deforr, Tem menas cadeirasnaquela sala, Tu vai ou novai a festa? Para a referidaprofessora, criticar ou corrigir osque se expressam de modogramaticalmente incorreto nopassa de um preconceito burgus.Mas acontece que os quecorrigem provas do vestibularagem de acordo com essepreconceito burgus, e quandoos doutrinados pela cartilha da

    professora forem procurar em-pregos, falando e/ou escrevendode acordo com essa normainculta, sero rejeitados e nosabero por que razo. E o quemais faz o MEC? Publica edistribui para as escolas desegundo grau o tal do Kit Gay.Sob o pretexto de inibir a ho-mofobia, estimula o homos-sexualismo entre os adolescentes.Quem viu o DVD percebeu como

    a coisa era escandalosa pro-paganda da misoginia, toescandalosa que Dilma acabouvetando o Kit Gay. Ao menosneste particular no podemosdiscordar da nossa atual go-vernanta...

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    Bobbio, N. (1996) Igualdadee Liberdade. Rio de Janeiro.Ediouro.

    Guerreiro, M. (2002) Igual-dade ou Liberdade? Porto Alegre.Edipucrs.

    Humboldt, W. von (1972) TheLimits of State Action. Indianpolis.Liberty

    Fund.Hume, D. (1969) Uma

    Investigao sobre Os Princpiosda Moral. Campinas.Unicamp. Dworkin, R (1997)

    The Rights of Allan Bakke, emLa Follette (organiz.) Ethics inPractice: An Anthology. Blackwell.Oxford, UK.

    Marx, K.H. (1926) TheEighteenth Brumaire of LouisBonaparte. Londres. Allen andUnwin.

    A USP est abaixo do 200 lugar no ranking das universidades, de acordo com a Times Highter Education.

    Educao

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    s escndalos de corrupo no

    governo da Presidente Rousseffemergiram inicialmente na CasaCivil, atingiram o Ministrio doTurismo, implodiram o Ministriodos Transportes e estacionaram,pelo menos momentaneamente,no Ministrio da Agricultura.Na Casa Civil, levaram seu titular,Sr. Antonio Palocci, demisso.No Ministrio do Turismo,resultaram no cancelamento decontratos, demisses e afastamentode funcionrios e uma espetacularoperao da Polcia Federal.No Ministrio dos Transportes, a

    faxina da Sra. Presidente foisubstancial, como havia prometido.No Ministrio da Agricultura, oSecretrio Executivo j se demitiu.Em entrevista Carta Capital(edio 659), a Presidente Roussefffoi enftica: Um governo que sedeixa capturar pela corrupo altamente ineficiente. Cantada emprosa e verso como uma profissionalcompetente, essa afirmao traduzseu fracasso como administradora,pois somente ela a responsvelpor seu ministrio. O que h debom nesse tsunami de lama?

    O trabalho da imprensa livre.Todos os casos de m condutaforam originalmente denunciadospela imprensa. provvel que,eventualmente, esses casos decorrupo tivessem desfechossemelhantes, graas s aes doMinistrio Publico Federal, do TCUe da Polcia Federal. provvel,mas no se tem certeza, comodenuncia a prpria imprensa: Parano perder sustentao, Dilmapoupar PMDB da faxina.(O Globo, 24-07).

    fisiologismo na poltica

    brasileira como a peste,espalha uma sombra negra deimoralidade (e de ilegalidade) quetem se alastrado de tal modo queo fisiologismo visto como um malnecessrio. Isso no faz bem nossa Repblica e tem inibido aao dos polticos que se rebelamcontra seu domnio. Basta lembrara forte reao dos lderesgovernistas no Senado proposio do Senador PedroSimon de, por meio de uma frentesuprapartidria, dar apoio faxinada Presidente. Negociaes

    polticas sempre envolvem trocasde favores: Se voc vota a favor demeu projeto, eu voto a favor doseu. Quando os projetos sosocialmente produtivos, h umganho para a sociedade. Nossomal maior que, na maioria doscasos, os projetos so instrumentosde transferncia de recursospblicos para alguns poucos que,em geral, financiam os polticosque do suporte a tais projetos.Eleita por uma coligaodominada por arrivistas, aPresidente Rousseff tornou-se refm

    da peste negra do fisiologismo.Seu pomposo anncio deconteno dos gastos pblicoscom destaque para aquelesassociados s emendasparlamentares foi ceifado pelapeste negra. Dos represadosR$ 4,6 bilhes de gastos referentesa tais emendas, para manter abase aliada foram tomadasmedidas para liberar R$ 1,3 bilhoat setembro, devendo atingirR$ 2,5 bilhes at o final desteano. Isso mau.

    eia tem sido a omisso das

    lideranas brasileiras emrelao s denncias dirias daimprensa de corrupo naadministrao pblica federal.

    Aparentemente, nossas lideranasacreditam que corrupo faz partedo jogo poltico. Seguem mudas,cegas e surdas s constantesdenncias veiculadas pelaimprensa livre. O esforo doSenador Pedro Simon, por umaFrente Suprapartidria contraCorrupo e Impunidade, conseguiumobilizar apenas nove senadoresque tiveram que enfrentar a

    resistncia de governistas (O Globo,16-08, p.3). Sem a adeso de outraslideranas polticas e da sociedadecivil, dificilmente a populao sermobilizada. A cultura do levarvantagem em tudo que predominano Brasil precisa ser substituda pelada valorizao da liberdade comresponsabilidade sob os bonspreceitos ticos. O excesso de poderdiscricionrio do governo tantofonte de corrupo quanto deimpunidade. Mudanas culturaisprecisam ser desejadas, e demandamtempo para ocorrerem. Nesse

    sentido, emerge na milenar ndia ummovimento inspirador. Noprecisamos de um Anna Hazare, masdevemos seguir seu exemplo lutando,de maneira pacfica, por umareforma institucional que reduza opoder discricionrio do governo, acorrupo e a impunidade. Sequisermos viver em um Estadoconstitucional democrtico de direito,nossas lideranas precisam sair doestado letrgico em que seencontram. Isso feio.

    O FO

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    EspecialUma viso liberal do fato

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    A escalada da dvida pblicae seus riscosCelso L. Martone

    Professor titular do Departamento de Economia da Faculdade de Economia e Administrao da USP.

    esde a crise de 2008, omundo passou a viver o

    pesadelo do aumento contnuoe insustentvel da dvida pblica

    nos pases avanados, causadopela indita interveno dosgovernos na economia a pretextode atenuar a crise, num primeiromomento, e de estimular arecuperao, num segundo mo-mento. Como mostra a tabela napgina seguinte, o problema dadvida dever se arrastar pormuitos anos frente, ainda quese aceite a hiptese otimista de

    que os programas de conso-lidao fiscal em curso nos vriospases sejam plenamente reali-zados. Mesmo os pases que, por

    muitos anos, cortejaram ainsolvncia, como Grcia, Por-tugal e Irlanda, embarcaram empolticas fiscais anticrise e sno quebraram, at agora, pelamacia transferncia de recursosde seus parceiros da UnioEuropia.

    Apesar disso, a economiadesses pases mantm elevadaociosidade de utilizao de

    recursos. O consumo quase nocresce, e o investimento estparalisado. Essa estagnao nodeveria surpreender. O problema

    que os governos fizeramdemais e no de menos, eacumularam dvidas de solvnciaduvidosa, mesmo nos EstadosUnidos, considerados por d-cadas como o paradigma dosmercados de capitais e o portoseguro (com risco zero) paraabrigar poupanas de todoo mundo. De fato, as pessoassabem que o excesso de endi-

    D

    Matria deCapa

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    Matria de Capa

    vidamento ser resolvido por umde quatro caminhos (ou por umacombinao deles): depreciaoda dvida, aumento da carga

    tributria, reduo do gastopblico ou inflao. Essas quatrosadas, bem conhecidas dosbrasileiros acima dos quarentaanos, tm incidncia diferente. Nofundo, trata-se de definir como ocusto da irresponsabilidade fiscalser dividido entre indivduos,empresas e mesmo pases. Comoisso no est claro ainda, osagentes econmicos adotamcomportamento defensivo, re-traem o consumo, deixam de

    investir e a economia no serecupera. No caso dos EstadosUnidos, dada sua posio mparcomo centro mundial de reserva, evidente que parte do custo deajustamento domstico serempurrado para o resto domundo, sob a forma de perda devalor real do passivo externo

    norte-americano e de inflaomundial.

    E o Brasil, diferente? In-felizmente no . O melhor que

    se pode dizer que, ao contrriodos chamados PIIGS, que estono estgio terminal da in-solvncia, ainda estamos numestgio intermedirio desse longoe tortuoso caminho. Essa afir-mao se apoia no fato de que,desde o Plano Real de 1994, opas realizou uma contnua ehistoricamente indita expansofiscal, apenas interrompidabrevemente pelas quebras de1998 e 20021. Ao longo desses

    dezesseis anos, os gastos pblicossubiram de 28% para 41% do PIBe a carga tributria de 25% para38%. A dvida pblica, mesmo emseu duvidoso conceito lquido,subiu de 30% do PIB (25% dedvida interna e 5% de dvidaexterna) para 39,7% (49,7% dedvida interna e menos 10% de

    dvida externa). Desses nmeros,fica claro que o problema dadvida no Brasil ainda no atingiuestgio agudo devido extraor-

    dinria capacidade do governo deapropriar-se de frao crescenteda renda e dos contribuintes deaceitar o fato.

    A partir da Constituio de1988 o Brasil transformou-senuma cleptocracia, como se podeverificar pela decomposio dosgastos do governo. Dos 41% doPIB de despesa, 15% referem-se produo de servios pblicostradicionais, 2% so investimentose 25% so transferncias de

    renda. O setor pblico gasta 15%do PIB nas funes tpicas degoverno (aquelas que justificamsua existncia), investe quasenada e transfere 25% da rendatotal de quem produz para quemno produz. A matriz institucionalbrasileira, consagrada pelaConstituio e aprimorada ao

    1 Em 1998, o Brasil tornou-se tecnicamente insolvente e s no decretou moratria pelo macio suporte financeiro do FMI e do conjunto dospases avanados, liderados pelo governo dos EUA. Em 2002, s vsperas da eleio presidencial, o fato se repetiu e s foi revertido pela rpidae oportuna converso de Lula ortodoxia fiscal e monetria.

    Tabela: Expanso da vida pblica nos Pases Avanados (% do PIB)

    (*) Projeo baseada nos atuais planos de ajuste fiscal dos governos. Fonte: FMI, World Economic Outlook, abril de 2011.

    Alemanha

    EUA

    Frana

    Itlia

    Japo

    Reino Unido

    Zona do Euro

    Pases 2007Bruta Lquida

    2011Bruta Lquida

    2016*Bruta Lquida

    64,9

    62,2

    63,8

    103,6

    187,7

    43,9

    66,2

    50,1

    42,6

    54,1

    87,3

    81,9

    38,2

    50,7

    80,1

    99,5

    87,6

    120,3

    229,1

    83,0

    87,3

    54,7

    72,4

    77,9

    100,6

    127,8

    75,1

    66,9

    71,9

    111,9

    86,7

    118,0

    250,5

    81,3

    86,3

    52,6

    85,7

    77,0

    98,9

    163,9

    73,5

    68,1

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    Matria de Capa

    longo dos anos, tem sido umacausa importante da divergnciada economia brasileira emrelao ao resto mundo, emtermos de renda percapita. Nastrs ltimas dcadas, o pascresceu pouco acima da mdiados pases desenvolvidos e cercada metade da mdia dos pasesem desenvolvimento2.

    Neste ponto, importante fixaralguns conceitos. Em primeirolugar, o valor de mercado dadvida pblica deve refletir o valorpresente dos supervits fiscaisfuturos esperados, na avaliaodos agentes econmicos. Ou seja,dficits correntes tm que sercompensados por supervitsfuturos, para manter o governosolvente. Dessa definio se tornaclaro que a dvida pblica servepara alisar a carga tributria aolongo do tempo, quando cir-cunstncias inesperadas ocorrem,e para financiar investimentopblico. A violao desse princpiopelo governo produzir, mais cedoou mais tarde, desconfiana no

    mercado de capitais sobre acapacidade do governo de honrara dvida, originando-se da umacrise fiscal semelhante queexperimentam os PIIGS.

    Em segundo lugar, o conceitode dvida lquida do setor pblico(DLSP), consagrado no Brasil, temque ser usado com cautela. Paraque o conceito seja relevante deve-se supor que a qualidade dosativos do governo igual qualidade de seu passivo, ou seja,

    que seus crditos contra o setorprivado e o resto do mundo sejamplenamente realizveis e tenhamtaxas de retorno iguais dvidapblica. Por exemplo, a dvidainterna bruta do governo era deR$2,1 trilhes em junho deste anoe seus crditos internos somavamR$1,1 trilho, entre os quais

    R$0,6 trilho em repasses sinstituies financeiras federais(BB, CEF e BNDES). poucoprovvel que os emprstimos aosetor privado realizados pelosbancos federais tenham a mesmaqualidade da dvida pblica. OBNDES, por exemplo, financiaprojetos de investimento deempresas privadas a taxas reaisde juro prximas de zero. Uma

    empresa privada que obtm essefinanciamento privilegiado est emuma de duas situaes: ou seuprojeto tem taxa de retorno to

    baixa que no obteria fundos nomercado de capitais e, neste caso,no deveria ser realizado, ou seuprojeto tem taxa de retornocompatvel com o mercado e,ento, recebe um presente dogoverno, sob a forma de jurosubsidiado. No primeiro caso, ofinanciamento no ser pago em

    sua integridade e, no segundo,uma transferncia arbitrria derenda, revelia do contribuinte,ter sido feita. Em ambos oscasos, um dficit fiscal futuroser criado, proporcional diferena entre o custo de rolagemda dvida pblica e a taxa de jurosubsidiada. Por esta e outrasrazes, o conceito de dvida bruta prefervel ao conceito de dvidalquida.

    Em terceiro lugar, a dvidapblica atual o valor capitalizadodos dficits passados e no refleteo desempenho fiscal futuro. Porexemplo, se o governo patrocinaum sistema de previdncia socialatuarialmente desequilibrado, eleter um fluxo de dficits futuros jcontratado, que no se refletena contabilidade corrente dadvida. No Brasil, o setor pblicogasta 13% do PIB em previdnciasocial e arrecada apenas 8%, doque resulta um dficit permanente- e provavelmente crescente, dadaa poltica de salrio mnimo esua vinculao aos benefcios

    previdencirios - de 5% do PIB acada ano. Esse passivo go-vernamental a garantia de quea dvida bruta do governoaumentar no futuro, a menosque seja possvel aumentar acarga tributria indefinidamente.Situao semelhante pode ocorrercom os chamados programassociais, como o Bolsa Famlia, seforem mal desenhados e noproverem uma porta de sada dosbeneficirios ou de seus des-

    cendentes no futuro.Finalmente, deve-se observarque a Lei de ResponsabilidadeFiscal, festejada como um aper-feioamento institucional im-portante, na verdade protege oscredores do governo e frauda oscontribuintes. A lei consagra o queos economistas batizaram desoft

    2 As transferncias so compostas pela Previdncia Social (13%), encargos da dvida pblica (6%) e programas sociais e subsdios (6%). Noesto a computadas as transferncias que se fazem pelo excesso de emprego no setor pblico e, sobretudo, pela corrupo. Portanto, provvelque o gasto nas funes tpicas de governo e nos investimentos seja ainda menor do que o estimado no texto. A este respeito, veja-se meuInstituies, Setor Pblico e Desenvolvimento, in A. Delfim Netto org., Brasil: Desafios do Sculo XXI, Saraiva Editora. So Paulo, 2011.

    O conceito de dvidalquida do setor pblico

    (DLSP), consagrado noBrasil, tem que serusado com cautela. Para

    que o conceito sejarelevante deve-se supor

    que a qualidade dosativos do governo igual

    qualidade de seupassivo, ou seja, que

    seus crditos contra osetor privado e o resto

    do mundo sejamplenamente realizveis etenham taxas de retornoiguais dvida pblica.

  • 8/4/2019 Revista Banco de Ideias n 56

    18/28

    Matria de Capa

    budget constraint, ao assegurarque o governo pode gastar quantodeseje, desde que a dvida pblicafique contida dentro de certoslimites. Ela fornece uma auto-rizao explcita ao governo paraaumentar a carga tributria sobreo setor produtivo do pas, comode fato ocorreu. Nos ltimos cincoanos, a relao entre a dvidalquida e o PIB ficou mais oumenos constante, mas a cargatributria (e os gastos do governo)aumentaram cerca de 5 pontosde percentagem do PIB (um pontoa cada ano). claro que, comodeve existir um limite superiorpara a frao da renda de que ogoverno pode se apropriar,eventualmente os prprios cre-dores do governo deixaro de ficarprotegidos pela LRF e tornaroa rolagem da dvida pblicamais difcil.

    claro que, num pas pobre,no seria possvel a um sistematributrio tradicional arrecadar38% do PIB, como se pode

    observar na grande maioria dospases emergentes, cuja cargatributria mdia gira em torno de27%. Para conseguir isso, osistema tributrio brasileiro deixoude atender a qualquer dosprincpios de finanas pblicas.Ele se caracteriza por alquotaselevadas, impostos em cascata,vrios impostos incidentes sobrea mesma base, impostos sobrereceita bruta e transaes,imprevisibilidade, iniquidade. Na

    ausncia de limites constitucionaisao tamanho do setor pblico,construiu-se um frankensteintributrio, que reduz a eficinciada economia, inibe o investimentoprodutivo e retarda o de-senvolvimento. A falta de trans-parncia dos tributos, todosembutidos no preo, umamaneira conveniente de o setorpblico ocultar a real cargatributria paga pelos cidados e

    consolidar o estado cleptocrtico.A existncia de um imenso setorinformal na economia, que poucocontribui para as finanas doestado, agrava o problema aoelevar a carga tributria sobre osetor formal provavelmente paraa casa dos 50% da renda.

    A discusso feita acima mostraque o fato de a dvida pblicabrasileira se situar apenas nacasa dos 53% do PIB, cerca dametade da dos PIIGS e bemabaixo da dos principais pasesdesenvolvidos, no deve serinterpretado como a ausncia deriscos de o pas recair numa crisefiscal no mdio prazo. Maisrelevante do que o tamanhocontabilizado da dvida hoje apercepo, pelos agentes demercado, do balano futuro entrereceitas e despesas do governo.Nos ltimos seis anos da ad-ministrao Lula, a despesa realdo governo federal aumentou taxa de 9,6% ao ano, o dobroda taxa de crescimento da

    economia. Parte importante desseaumento tem carter permanente(expanso do funcionalismo, porexemplo) e parte de difcilreverso, por razes polticas(aumentos reais do salriomnimo, programas sociais). Essaexpanso fiscal s foi compatvelcom a estabilidade da relaodvida-PIB devido bonanamundial de 2002 a 2008, quetrouxe ganhos transitrios economia brasileira e permitiu

    o aumento contnuo da cargatributria. Nos anos vindouros,o desempenho medocre es-perado para a economiamundial e os graves problemasde dvida do mundo desen-volvido no deixaro espaopara a irresponsabilidade fis-cal que tem caracterizado ogoverno brasileiro desde a pro-mulgao da Const i tuiode 1988.

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  • 8/4/2019 Revista Banco de Ideias n 56

    19/28

    m 2011 o valor de mercadoda Petrobras atingiu um nvel

    abaixo do patrimnio lquido daempresa pela primeira vez desde1999. Em junho, o ndice de preosobre valor patrimonial das aespreferenciais da Petrobras (PETR4)alcanou 0,98, e para as aesordinrias (PETR3) a relao foi de1,08. No auge da euforia do pr-sal, em 2008, o valor de mercadoda Petrobras era mais de quatrovezes acima do seu valor contbil.No final de julho, at o dia do

    Aes da Petrobras e dosetor de petrleo brasileiro

    Adriano Pires

    Diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE).

    anncio do Plano de Negcios de2011-2015, as aes prefe-renciais da estatal apresentavamqueda no preo de cerca de 16%em 2011 e de cerca de 13%desde a capitalizao emsetembro de 2010, conformeobservado no Grfico 1. Devidoa esta queda, a empresa j perdeuR$ 55 bi em valor de mercadoeste ano.

    A empresa, que havia setornado uma das cinco empresasmais valiosas do mundo em

    2010, recuou para a dcima-primeira posio, com US$209,38 bilhes, de acordo comuma pesquisa da agncia denotcias Bloomberg em julho. AExxon lidera o ranking dasempresas mais valiosas, com valorde US$ 406,5 bilhes, e outraempresa de petrleo, a anglo-holandesa Shell, estava em stimolugar, com US$ 232 bilhes. Atendncia de queda de valor demercado da Petrobras s serrevertida com o aumento da

    Petrleo

    E

    SET/OUT/NOV - 2011 - N 56 19

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    SET/OUT/NOV - 2011 - N 56 20

    Fontes: BMF&Bovespa

    confiana do mercado na em-presa. Parte dessa recuperaodepende da qualidade dosinvestimentos que a empresaplaneja executar, o que par-cialmente ocorreu aps a boarecepo do Plano de In-vestimento 2011-2015. A Petro-bras reconhece que a perda devalor resultado de um conjuntode fatores, tais como o processode capitalizao e da cessoonerosa, cujo preo do barrilcontratado foi considerado alto napoca e resultou em maiorcontrole do governo sobre aempresa.

    Contribuiu negativamentepara o comportamento de suasaes o fato de que a empresateve dificuldades bvias paraaprovar seu recente plano denegcios, com as discordnciaspor parte da diretoria e doConselho de Administrao sobreo volume de investimentos desti-nado aos setores de Refino,Biocombustveis e Gs e Energia.A interveno governamental na

    estatal um dos principais mo-tivos para o desconto no preo daao da empresa, e a situao daempresa pode piorar no futuro,

    tomando como exemplo o queaconteceu com a Eletrobras, poisaps anos de forte interfernciado governo na gesto da empresasuas aes ordinrias exibiam nofinal de julho um preo sobre valorpatrimonial de 0,36 e suas aespreferenciais, de 0,45.

    Um exemplo de interfernciapolt ica na Petrobras foi oquestionamento pela Transpetro,subsidiria de servios de trans-porte da Petrobras, acerca dautilizao da Sete BR, criada paraconstruir e operar 28 sondas deperfurao, como instrumentocapaz de reduzir o endividamentodo Sistema Petrobras. A brigainterna entre a Transpetro e aPetrobras acerca de contratos delicitao e contratao de sondase navios faz parte de uma disputaentre foras polticas. Este de-senvolvimento estaria no contextode uma negociao de uma novacomposio da diretoria executivada Petrobras e de suas subsi-dirias, o que corrobora a tese deinterveno poltica crescente na

    empresa.Outro exemplo de intervenogovernamental na Petrobras apoltica de preos de combustveis

    da empresa. A Petrobras defendeum aumento no preo da gaso-lina, que tem sido mantido nasrefinarias em R$ 1,05/litro, desde2009. Segundo a estatal, asrefinarias atingiram seu limite deproduo de gasolina, e a em-presa est arcando com o custodas importaes de combustveisem um setor que, em 2010, teveuma taxa de crescimento doconsumo de 19% e, no primeirosemestre de 2011, j est superiora 10%. Como os preos dopetrleo aumentaram em 2011,o preo da gasolina importadaaumentou 29% no ano para R$1,36/litro, causando um prejuzoestimado para a empresa de cercade R$ 125 milhes nos 413milhes de litros importados docombustvel at junho. O governono confirmou o aumento nospreos dos combustveis, decla-rando ser apenas uma hiptese,e a Petrobras indicou mais tardeque um aumento do preo doscombustveis no provvel nocurto prazo e que a empresa

    manter sua poltica de preosadotada desde 2003, de moni-toramento de longo prazo dospreos internacionais.

    Diante deste cenrio, o go-verno, que controla a poltica depreos de combustvel da Pe-trobras, tem duas opes. Aprimeira seria decidir por umaumento nos preos da gasolina,reduzindo o consumo e, portanto,as importaes. Alm disso, outroresultado desta deciso seria

    afetar positivamente o fluxo decaixa da Petrobras. O problema que o governo est comdificuldades em controlar ainflao, e um aumento nospreos dos combustveis teria umimpacto maior sobre o ndice depreos. A outra opo manter opreo da gasolina estvel, comesperada expanso do consumoe das importaes, compro-metendo o fluxo de caixa daPetrobras. Neste caso, o governo

    Petrleo

    Grfico 1 - Cotao das Aes da Petrobras

    22

    24

    26

    28

    30

    32

    34

    36

    set- 10 nov-10 jan-11 mar-11 mai-11

    R$

    PETR4 PETR3

    Jul -11

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    SET/OUT/NOV - 2011 - N 56 21

    Petrleo

    continuaria utilizando a empresacomo um instrumento paracontrolar a inflao, aumentandoa percepo de risco em relao empresa. Analistas do mercadoreconhecem que a Petrobras estaumentando sua lucratividade e

    tem fluxo de caixa slido, mas asdecises tomadas decepcionamao no privilegiar o acionista.

    Outras petroleiras brasileirasnegociadas na bolsa de valores,consideradas pequenas no setorde petrleo mundial, passam porcircunstncias distintas. Enquantoa Queiroz Galvo Explorao eProduo (QGEP) passa pormomento de relativo conforto porj apresentar produo, a OGX ea HRT planejam o incio de sua

    produo sob a anlise constantedo mercado financeiro. Ambaspreveem iniciar sua produo ato fim deste ano por meio de testesde longa durao (TLD) nasbacias de Campos (OGX) eSolimes (HRT). Os TLDs seroimportantes para confirmar asexpectativas criadas pelasempresas entre investidores eagentes do setor petrleo, e serodecisivos para a viabilidade dasempresas em se financiarem no

    mercado de ativos. As aes daOGX (OGXP3) tiveram perda devalor devido s incertezas domercado sobre suas reservas e seupotencial de produo e geraode caixa para os prximos anos,enquanto as aes da HRT

    (HRTP3) e as aes da QGEP(QGEP3) no perderam tantovalor em 2011, conforme obser-vado no Grfico 2.

    A Agncia Nacional do Pe-trleo (ANP) regulamenta a noti-ficao agncia de descobertasde colunas de hidrocarbonetos, depetrleo ou gs natural, duranteuma perfurao, mas empresasdo setor de petrleo no Brasil tmmaneiras distintas de divulgarsuas descobertas ao mercado.

    A OGX e a HRT consideraram quedescobertas de indcios de hi-drocarboneto so informaesrelevantes para serem divulgadasao mercado, devido importnciade divulgar suas operaes demaneira confivel no estgio emque se encontram, ainda semproduo.

    A Petrobras s informa suasdescobertas quando tem umaestimativa sobre a rea ou umacerteza maior sobre a comer-

    cialidade futura, e as grandespetroleiras privadas adotamprticas parecidas. A petroleiraamericana ExxonMobil, porexemplo, no fez qualquer noti-ficao ao mercado quandodescobriu petrleo em umaperfurao no nico bloco do pr-sal de Santos que no tem aPetrobras como operadora, obloco BM-S-22, e adotou omesmo procedimento de nodivulgao quando o resultado daterceira perfurao mostrou quea rea no comercial.

    Na avaliao da OGX e daHRT, a divulgao detalhada deindcios de hidrocarbonetos e deresultados de testes no exces-siva e segue padres interna-cionais. Ainda assim, apesar dosucesso da captao das pe-quenas petroleiras brasileiras, esseritmo de divulgao deixa aspetroleiras sujeitas volatili-dade do mercado. Em abril, porexemplo, a divulgao de rela-trio de reservas da OGX pela

    consultoria DeGolyer & Mac-Naughton foi considerado decep-cionante pelo mercado, e as aesda empresa registraram quedade 17%.

    Aps a divulgaes de infor-maes de resultado de explo-raes so necessrios vriostes tes para se aval iar osimpactos daquela descobertapara a companhia, alm de sernecessrio o conhecimento doplano de inves t imentos da

    companhia e uma estimativada produtividade e dos custosassociados operao deextrao. A uniformizao dadivulgao de informaesacerca de descobertas e dacomercialidade de reservasevitaria volatilidades nos preosdas aes e facilitaria a anlisedo setor de petrleo brasileiro,beneficiando tanto as pequenaspetroleiras quanto aos maioresplayers do mercado.

    Grfico 2 - Cotao das Aes da OGX, HRT e Queiroz Galvo

    500

    1.500

    2.500

    3.500

    6

    10

    14

    18

    22

    26

    jan-11 mar -11 mai-11 jul-11

    R$

    R$

    OGXP3 QGEP3 HRTP3Fontes: BMF&Bovespa

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    22/28

    SET/OUT/NOV - 2011 - N 56 22

    termo VANT a abreviatura

    para Veculos Areos No-Tripulados. Para um entendimentode partida, os VANT so um tipode aeronaves remotamente con-troladas que evoluram passandopor vrios estgios tecnolgicospara chegar a ocupar atualmenteposio central na guerramoderna, projetando grandes e

    *Uma verso ampliada deste artigo, com o detalhamento de requisitos operacionais e polticos, apresentando uma categoria de VANT, assimcomo explicando detalhadamente as caractersticas das guerras futuras projetadas, est disponvel com o ttulo: VANT: Passaporte para aModernidade da Defesa, em http://www.salvadorraza.com.

    revolucionrias mudanas na

    natureza dos conflitos futuros, aum custo relativamente baixo.A tabela a seguir apresenta os

    custos comparados de ataquescom msseis, com bombardeirose com VANT. O custo operacionalde um VANT, atuando com maiorpreciso e transportando o dobroda capacidade de explosivos, 28

    vezes menor do que o de um mssel

    Tomahawk1

    , isso sem incluir oscustos de aquisio, operao eapoio das plataformas delanamento (naval e area), queaumentariam ainda mais essediferencial.

    Estamos apenas no incio deuma trajetria tecnolgica queinsere definitivamente os sistemas

    O

    O papel transformador dos VANTna defesa nacional*

    Salvador RazaProfessor de Projeto de Fora na Universidade de Defesa dos EUA e Diretor do CETRIS.

    SET/OUT/NOV - 2011 - N 56 22

    Destaque

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    robticos nas guerras do futuro.Para uma percepo do que nos

    espera em termos de progressotecnolgica e novas alternativastticas e estratgicas antecipadascom o desenvolvimento dos VANT,podemos estabelecer um paralelohistrico entre os VANT Predador(RQ-1) americanos armados commsseis Hellfire, que se alojam nafronteira tecnolgica dos sistemasde armas no incio do Sculo XXI,exatamente onde estamos hoje,com os biplanos armados com

    metralhadoras no incio do SculoXX, exatamente um sculo atrs.Este artigo qualifica os prin-

    cipais desafios atuais e futuros que os VANT geram para adefesa, ao mesmo tempo em quea transforma, apontando ques-tes que os VANT colocaram,para as quais ainda no se temsolues definitivas.

    ROMPENDOFRONTEIRASDEMISSES

    Os VANT podem realizarmisses ao longo de todo oexpectro dos conflitos, indo desdeum extremo desse expectro, ondecontribuem enfrentando amea-as no convencionais, quandoatuam, por exemplo, em benefciodas aes policiais, at o extremooposto, onde podem se integrara misses cinticas (combates

    convencionais) de alta intensi-dade.

    Os VANT so o elemento quecarrega o fluxo de causalidadenesse ambiente de aes, amease funes multidimensionais paraa gerao dos efeitos polticosdesejados sem risco para ospilotos, com muito baixa capacidadede interceptao e a um custo muitomais baixo do que seria possvel comsistemas convencionais tripulados.E, se por acaso o VANT falhar emsua misso, no se tem nas mos o

    embarao poltico de ter pilotoscapturados.Enquanto gradativamente os

    VANT ganhavam espao noarsenal de meios blicos (estruturade fora) que os pases mantmpara a criao de opes polticasno enfrentamento de crises econflitos armados, eles passarama demandar a resoluo decomplicados arranjos polticos decooperao internacional e inter-agncias que eles mesmos torna-

    ram possveis.Os estatutos que regulam o di-mensionamento e o posicio-namento de sistemas de armasestratgicas (nucleares ou conven-cionais) de alcances curto eintermedirio, como o INF (Inter-mediate-Range Nuclear ForcesTreaty), por exemplo, deveropassar a incluir, alm dos msseis,limitaes dotao e ao esta-

    cionamento de VANT armados,capazes de realizar ataque a

    grandes distncias, com pequenotempo de alerta a alvos estra-tgicos dos adversrios, princi-palmente a sua infraestruturacrtica. Os estatutos sobre odimensionamento e a capacidadede defesa das foras conven-cionais, tal como o Tratato sobreForas Convencionais na Europa(CFE), bem como os Regimes deControle de Tecnologia de Msseis(MCTR) e de Transferncia de

    Tecnologias Sensveis, tambmdevero ser revistos. A projeo de possibilidades

    do uso operacional dos VANTest associada ao entendimentode que a natureza das guerrasfuturas ser substancialmentediferente da natureza das guerrascinticas. O impacto das tecno-logias de VANT e das tecnologiasde informao acelerado eirreversvel. Essa constatao referendada no exemplo do

    recente jogo de guerra sobre oprojeto de fora da Fora Areados EUA, que indicou a neces-sidade do desenvolvimento deuma moldura conceitual desntese dos requisitos de desenvol-vimento dos sistemas de VANTcom capacidades consistentescom a concepo de empregodas foras para os prximos 20-25 anos.2

    Tabela 1: Custo comparado de operao

    Destaque

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    PlataformaMssel Tomahawklanado de navio

    de superfcie

    Bombardeio efetuadopor B-52 com munio

    GM-86CVANT armado paraataque direto communio de presso

    Cabea de Combate 1.000 lb 2.000lb 2000 lbs(peso do explosivo)

    Custo unitrio U$ 600.000 U$ 1.160.000 U$ 21.000

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    SET/OUT/NOV - 2011 - N 56 24SET/OUT/NOV - 2011 - N 56 24

    Destaque

    Particularmente com relaos operaes especiais e deinteligncia, os VANT tm pro-vocado mudanas radicais naestrutura funcional das foras nosEUA, com a Agncia Central deInteligncia (CIA) realizandomisses tpicas de combate, quenaturalmente seriam objeto daao das foras especiaissubordinadas ao Exrcito, Fuzi-leiros Navais (Marines) ou Fora Area. A recente nomeao doGeneral David Petraeus, ex-comandante do teatro deoperaes do Afeganisto e

    agressivo defensor das operaesespeciais na guerra contra oterrorismo, manda uma men-sagem de alerta para a mili-tarizao das Agncias deInteligncia. Basta recordar que oraid americano no territrio doPaquisto que matou Osama BinLaden foi controlado pela CIA, eno pelo Departamento deDefesa.

    TRFICOE TERROR

    VANTERIZADO

    No mundo dos VANT, avantagem migra rapidamentepara o lado negro da fora. Umsistema de VANT pode paralisartodo o espao areo de umaregio equivalente Europa, aomesmo tempo em que um micro-vant operando em um ambientede reunio pode confiscar todosos cdigos de acesso dos tele-

    fones celulares presentes, per-mitindo rastrear seus usurios e,posteriormente, adentrando seussistemas de dados. Recentementefoi efetuado um teste com ummicrovant com resultados assus-tadores.

    O problema ganha formaquando estruturado no ambienteatual dos conflitos assimtricoscom atores utilizando tticas eestratgias terroristas. Um VANT

    desenhado com capacidade paratransportar um determinadosensor de esclarecimento e link dedados com um raio de ao de,por exemplo, 350 km, podetransportar volume/peso deexplosivos igual ao dobro dadistncia (700 km) para umataque suicida. VendemosVANT, eles compram msseis dealta preciso e alcance a um custo

    baixos, muito lentos, buscandoevaso, elevando o risco demanuteno do acompanha-mento pela aeronave de inter-ceptao; ou ento ascenderpara altitutes acima do tetooperacional dessas aeronaves deintercepo. E, se for derrubado,ninqum preso!

    Em contrapartida, a LockheedMartin est testando um novoradar embarcado nos VANTPredador B, capaz de identificarpessoas ou objetos enterrados,camuflados ou escondidos sobdensa folhagem (tal como nas

    florestas tropicais), provendoinformaes no disponveis comos sensores pticos. Esse radardeve contribuir para a iden-tificao e o ataque nas rotas dotrfico ilegal por florestas.4

    ASSASSINATOSSELETIVOSEESTRESSEDECOMBATE DE

    NOCOMBATENTES

    Um dos temas mais sensveise polmicos do emprego dos VANT a possibilidade de nocombatentes (sejam civis oumilitares aposentados) operarem VANT armados para neutra-lizar atores polticos. Mesmoque esse ator seja qualificadocomo terrorista, o ato pode serqualificado como assassinato.No de todo inverossmil que osEUA sejam levados ao TribunalInternacional de Justia por essespotenciais atos de assassinato.

    Vrias publicaes nos EUAostensivamente modificam asidentidades dos pilotos e analistasde inteligncia para evitarprocessos e mesmo retaliaosobre esses indivduos. Hoperadores de VANT operandodos EUA em locais como CristalCity, a menos de 2 km do centrode Washington, trabalhando emregime de funcionrio pblico(das 08:00 s 17:00 horas).

    muito mais barato do que o dosmsseis. Da a importncia daregulao governamental nocomrcio nacional e internacionalde VANT, o que gera um embatesobre quem deter o poder de

    controlar os VANT.3

    Os traficantes de drogas aindano descobriram as vantagensdos VANT. Um VANT pode serfacilmente convertido em umeficiente transporte de drogas,praticamente invisvel ao radardos sistemas de segurana,econmico e fcil de operar.Se for interceptado por umaaeronave de combate tripulada,ele pode efetuar voos muito

    Um dos temas maissensveis e polmicos

    do emprego dos VANT a possibilidade deno combatentes(sejam um civis ou

    militares aposentados)operarem VANT

    armados para neutra-lizar atores polticos.Mesmo que esse atorseja qualificado como

    terrorista, o ato podeser qualificado comoassassinato.

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    25/28

    SET/OUT/NOV - 2011 - N 56 25SET/OUT/NOV - 2011 - N 56 25

    Destaque

    Aps vetorarem VANT armadosem apoio a aes tticas reais no Afeganisto, ao trmino doexpediente regressam parasuas famlias. A qualificao decombatente para proteger direitosdesse operador de VANT ainda questo confusa, principalmentequando esses operadores recla-mam compensaes por estressede combate.

    EMBATEPELOCONTROLEDOS VANT

    Com o avano da tecnologia

    dos VANT impulsando seu em-prego para atividades civis,ademais da exploso de de-manda militar desses sistemas, em1999 a Adminstrao Federal deAviao (FAA Federal AviationAdministration) dos EUA cunhouo termo Aeronave RemotamenteOperada (ROA RemotelyOperated Aircraft) para assumirjurisdio sobre os VANT. A FAAtem atribuio normativa sobreaeronaves, e no sobre veculosareos.

    Assim, ao designar os VANTcomo ROA todos os sistemascom caractersticas gerais deaeronaves ficaram obrigados aser certificados para voo e operarcom pilotos licenciados.

    A incluso dos VANT militaresna categoria de ROA objeto dedebate e contestao pelo De-partamento de Defesa dos EUA.O argumento em defesa desse

    enquadramento dos VANT, com anecessidade de certificao elicena, que isso contribuirpara a segurana da aviao,principalmente quando se projetaque dentro de 10/15 anos oespao areo ser compartilhadopor aeronaves pilotadas e no-pilotadas para transporte decarga, passageiros, monito-ramento de culturas agrcolas evigilncia de propriedades pri-

    vadas, alm de voos suborbitaispara teste de produtos etecnologias. Os VANT oferecemuma plataforma para teste deprodutos em ambientes sub-orbitais e orbitais sem os exor-bitantes preos cobrados pelosgovernos proprietrios desistemas orbitais. Alm disso, os VANT iro possibilitar redes decomunicao de dados locaissobre determinados espaosurbanos onde a comunicaopor satlite j est saturada e muito cara, permitindo sempresas de telecomunicaes

    vender servios de telefonia mvela preos extremamente com-petitivos.

    A definio do que e no um VANT de extrema im-portncia para no s para osreguladores do trfego areo,mas tambm para as empresasfabricantes desses equipamentos,j que a normatizao dos VANTimplica questes legais, comnfase na definio de respon-sabilidades civis por danos aterceiros, o que impacta for-temente as formas, os tipos evalores dos prmios dos seguros.

    OBSERVAESCONCLUSIVAS

    O futuro dos VANT passa peloentendimento dos problemas queeles ajudam a resolver e dosproblemas que eles criam,enquanto avanam em suafuno transformadora da Defesa

    Nacional.Eles iro impactar o projeto defora dos pases, instruindo umaprofunda reforma dos conceitosde defesa. Essas reformas irodemandar mudanas nas po-lticas industriais em correlaocom novas prioridades de de-fesa, reduzindo diferenas (semequalizar) entre sistemas dedefesa de pases ricos eem desenvolvimento, enquanto

    aproximam as funes de se-gurana e defesa. A diminuiodas taxas de atrio (baixas mortes) de pilotos em operaesde combate aproximar (semnecessariamente integrar) asfunes e responsabilidades dasforas armadas singulares. Emcompasso com as reformas dedefesa, o desenvolvimento de umsegmento de VANT dentro da BaseIndustrial de Defesa Nacionalcertamente contribuir para ainteroperabilidade das foras e aautonomia logstica. Alm disso,a venda no exterior desses

    sistemas, enquanto possibilitas empresas alcanar escalaseconomicamente viveis comnveis sustentados de produ-o, contribui para a economianacional.

    NOTAS

    1. Chapman II, R. E. Unmaned

    Combat Aerial Vehicles: Dawn of a NewAge? Air&Space Power Journal; Summer2002. http://www.airpower. au.af.mil. P.2/16.

    2. The U.S. Air Force Remotely Pi-loted Aircraft and Unmanned Aerial Vehicle Strategic Vision http://www.globalsecurity.org/military/library/policy/usaf/afd-060322-009.pdf

    3. Esse tema foi amplamenteexplorado e debatido em oit iva(hearing) realizada pelo Congresso dosEUA em junho de 2002. O relatriopode ser encontrado em: U.S. Gover-nment 80-605PDF: Committee onGovernamental Affairs. Cruise Missileand UAV Threats to the United States.

    U.S. Government Printing Office: 2003.4. Forecast International. LockheedMartin Tactical Reconnaissance RadarBegins test Flights. http://emarket a a l e r t s . f o r e c a s t 1 . c o m / m i c /eabstract.cfm ?recon=178524.

    As informaes providas no texto so deexclusiva responsabilidade do autor, eno necessariamente correspondem posio de nenhuma instituio,organizao ou governo de nenhum pas.

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    Livros

    A tragdia do EuroResenha do livro The Tragedy of the Euro, de Philipp Bagus. Terra Libertas, 2011.

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    escalada da crise europiacoloca em dvida a prpria

    sobrevivncia do euro. Ser queMilton Friedman estava certo aoprever que a moeda comum nosuportaria sua primeira grandecrise? O livro The Tragedy of theEuro, de Philipp Bagus, ajuda alanar luz sobre este debate.

    Para o autor, existiam na po-ca da criao do euro duas vises

    distintas da Europa. De um lado,a viso liberal clssica, que defen-dia a livre circulao de bens, ser-vios, capital e mo de obra. Dooutro, a viso socialista, com focona harmonizao da regulaosocial, cuja padronizao pode-ria ameaar os trabalhadores depases menos competitivos.

    A Frana, devastada aps aocupao nazista e seus fracas-sos coloniais, encontrou na Co-munidade Europia um meio

    para recuperar sua influncia eorgulho. Um Estado centralizadoparecia adequado para sua elitegovernante, e uma moeda co-mum seria um importante passonesta direo. A Alemanha, afi-nal, possua uma arma muitopoderosa que precisava serdesativada: o marco.

    Com a criao de uma moedacomum, os pases menos compe-titivos acabaram tendo proble-mas. o pretexto perfeito para

    uma centralizao de polticas fis-cais, com harmonizao tribut-ria. Trata-se de uma forma deacabar com a competio entregovernos, que fora menos im-postos. Todos acabam pressiona-dos para elevar seus tributos aopatamar mais alto. O fim doeuro, ao contrrio do que alegamos alarmistas, no seria o fim daidia europia, apenas o fim desua verso socialista.

    Bancos centrais inflacionistasrepresentam o mais poderosoaliado de governos irresponsveis.O Bundesbank era um obstculoa esta poltica inflacionria na re-

    gio. A Alemanha viveu o infernoda hiperinflao e aprendeu coma experincia. Seu Banco Centralera a pedra no sapato daquelesgovernos sedentos por mais gas-tos, mas vidos por quebrar o ter-mmetro que mostrava a febre dodoente. A desvalorizao das de-mais moedas frente ao marco erahumilhante. Era preciso se livrarda tirania do Bundesbank.

    Uma moeda nica controladapor um Banco Central Europeu

    (BCE) era a soluo final para osgovernos com ambies inflacio-nrias. Esta soluo representa-va a abolio do esprito e da for-a do Bundesbank. Por isso seusprincipais membros foram total-mente contrrios criao doeuro. E por isso seu presidente,Alex Weber, decidiu renunciar hpouco tempo, quando o bito doBundesbank foi finalmente decre-tado aps o BCE rasgar sua

    tradio ortodoxa para salvar go-vernos deficitrios.

    Hoje se discute um Euro Bondou uma atuao ainda mais ativado BCE na compra de ttulos dosgovernos falidos. So eufemismospara uma transfer union, um me-canismo de redistribuio deriqueza dos mais produtivos paraos mais ineficientes. O plano damoeda comum contou com o

    empolgado apoio de JacquesDelors, com longa carreira naspolticas socialistas francesas. Pa-rece que seus ideais esto final-mente se tornando realidade.

    O Tratado de Maastricht, assi-nado em 1991, teoricamente im-pediria posturas muito irrespons-veis dos membros do euro. O d-ficit fiscal no poderia superar 3%do PIB, e a dvida pblica ficarialimitada a 60% do PIB. Esses limi-tes foram ultrapassados com mar-

    gem folgada, mas no houve pu-nio alguma. Ao contrrio, apresso crescente para que oBCE atue como salvador, usandosua varinha mgica inflacionria. A Alemanha foi seduzida a esteacordo com o discurso ameaa-dor de que o euro era necessriopara preservar a paz na regio.O sentimento de culpa aps onazismo fez o resto.

    Em suma, o euro um projetopoltico, que visa centralizao

    do poder na regio. Os alemesde classe mdia podero ser obri-gados a sustentar a farra dos gre-gos, italianos, espanhis e atfranceses mais irresponsveis. Essa justamente a viso socialista demundo. E ela nunca deu certo.

    A

    porRodrigo ConstantinoEconomista e escritor

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