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junho 2011 - CAMPO VIVO 1 DROGAS NO CAMPO OVOS ENTREVISTA Zona rural não resiste e também é invadida pelas drogas Atividade é destaque na agropecuária em Santa Maria de Jetibá Maria Izabel Vieira Botelho, economista e especialista em Sociologia Rural Ano III - nº 10 Jun/Jul/Ago - 2011 produzindo informação Turismo rural e cultural Seu Amadeo e Dona Aladia moram em Demétrio Ribeiro e preservam força cultural e histórica dos imigrantes que habitaram o local

Revista Campo Vivo - Edição 10

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Décima edição da revista sobre agricultura Campo Vivo, do Espírito Santo.

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junho 2011 - CAMPO VIVO 1

DROGAS NO CAMPO OVOS ENTREVISTAZona rural não resiste e

também é invadida pelas drogas

Atividade é destaque na agropecuária em

Santa Maria de Jetibá

Maria Izabel Vieira Botelho, economista e especialista

em Sociologia Rural

Ano III - nº 10Jun/Jul/Ago - 2011

p ro d u z i n d o i n fo r m a ç ã o

Turismo rural e culturalSeu Amadeo e Dona Aladia moram em Demétrio Ribeiro e preservam força cultural e histórica dos imigrantes que habitaram o local

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junho 2011 - CAMPO VIVO 3

Índice 22

14

26

10

19

30

16OVOS

Santa Maria de Jetibá é destaque nacional na avicultura de postura.

MUDANÇAS NO LEITE

MAPEANDO NOSSA AGRICULTURA

GOLPE NO CAMPO

CÓDIGO FLORESTAL APROVADO

ENTREVISTA ESPECIAL - Maria Izabel V. BotelhoEconomista e especialista em Sociologia Rural aborda o encolhimento da população rural do país

Pecuaristas terão que melhorar condições higiênicas para atender exigência

Produtores capixabas são vítimas de falsos fiscais

Relatório é aprovado na Câmara. Saiba o que diz o texto e como votaram os

parlamentares capixabas

Até novembro, todas as propriedades rurais do país terão que realizar georreferenciamento

Demétrio Ribeiro ainda preserva força cultural e histórica dos imigrantes que habitaram suas terras

TURISMO

O CAMPO NÃO RESISTIU Zona rural observa rápido crescimento no uso de

drogas entre trabalhadores e moradores do campo

28

6 - Notas

5 - Cartas

9 - Online

34 - Frases

33 - Opinião / Enio Bergoli

35 - Artigo / Wolmar Loss

36 - Receita

38 - Crônica / Antonio Bezerra Neto

Page 4: Revista Campo Vivo - Edição 10

Editor e diretor responsável: Franco Fiorot - 2603/ES

Diretor comercial e administrativo: José Carlos Fiorot

Colunistas e colaboradores: Wolmar Roque Loss, Antonio Bezerra Neto e Enio Bergoli da Costa

Diagramação: Caio Francisco Fiorot

Departamento Comercial Gilson Palauro (9964-5241)Gilmar Palauro (9919-3376)(27) 3371-2540 [email protected]

Revista Campo Vivo é uma publicação mensal da Campo Vivo Comunicações Ltda.

Redação e administração: Avenida Augusto Calmon, 1144, Sala 202, Centro, Linhares - ES - CEP: 29.900-064

Fone: (27) [email protected]

Campo Vivo não se responsabiliza por conceitos emitidos nos artigos assinados

RÁDIO GLOBO LINHARESPrograma Campo Vivo: Segunda a sexta, das 17h45 às 18hBoletim Rural, às 07h20

ASSINE A REVISTA CAMPO VIVO: www.campovivo.com.br/assineaqui

870 AMwww.globolinhares.com.br

EXPEDIENTE

Editorial

O campo em perigo

DROGASEx-usuário, hoje Marleisson ajuda na

recuperação de dependentes

O rural está perdendo um pouco do seu brilho. Sim, os ín-dices de produtividade crescem a cada dia em diversas ativida-des agrícolas. Novas tecnologias e acesso a informações estão proporcionando melhorias na produção no campo. Mas com a mesma velocidade que o avanço tecnológico chega ao interior, as drogas também estão tomando conta de comunidades rurais e preocupando famílias. Nesta edição da Campo Vivo, abordamos esse tema. O relato de um jovem, ex-usuário de drogas, mostra como os traficantes estão agindo no interior, abastecendo locais com dias definidos. Na colheita do café, o movimento de di-nheiro atrai os vendedores. As drogas que invadiram a cidade, agora chegam ao campo com o mesmo poder de destruição. Au-toridades e projetos sociais tentam frear esse avanço. A matéria principal desta edição não foi ilustrada na capa porque prefe-rimos mostrar a beleza do campo. O casal da capa representa a história e a cultura preservadas em Demétrio Ribeiro, João Neiva. O turismo rural começa a nascer na região.

Uma entrevista especial com a especialista em sociologia rural, Maria Izabel Botelho, esclarece algumas questões sobre o encolhimento da população rural brasileira, demonstrada em

recente levantamento realizado pelo IBGE. As causas, as con-seqüências e o que precisa ser feito para tentar mudar essa situ-ação são temas abordados nessa entrevista.

Em Santa Maria de Jetibá, região serrana capixaba, conhece-mos o município que preserva suas tradições e tem na agricul-tura a força da economia. O segundo maior produtor nacional de ovos une a força cooperativa com o empreendedorismo de grandes produtores para manter a posição de destaque na avi-cultura de postura.

Nesta edição você ainda pode conferir como funciona o georreferenciamento, sistema de levantamento topográfico de imóveis rurais que está sendo exigido para regularização cadas-tral das propriedades; os novos parâmetros de qualidade do leite que entram em vigor, vamos saber o que muda para os pecuaris-tas; e o que foi aprovado no Novo Código Florestal Brasileiro.

Completando com brilhantismo em cada edição, os artigos de Wolmar Loss e Enio Bergoli, e a crônica de Antonio Bezerra Neto, sempre com temas e textos que fazem jus a qualidade dos escritores. A informação está produzida, colha o conhecimento. Boa leitura!

Franco [email protected]

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junho 2011 - CAMPO VIVO 5

Ouço falar no galinheiro móvel freqüente-mente em minha região. Parabéns aos ideali-zadores. A revista explicou bem sobre o pro-jeto. A inovação é necessária para o campo.

Marina Souza, por e-mail

Excelente matéria sobre a fazenda Mode-na. Serve de base para quem quer mudar a mentalidade e a forma de produzir café. Cada produtor pode mudar sua forma de trabalhar aos poucos. O resultado vai apa-recendo.

Francisco Chagas, por e-mail

Correta a análise do presidente da Asplames (Entrevista, ed. 09) sobre a importância da boa procedência das mudas para avanço do setor. Não só no setor de mudas, mas nos outros também da agricultura, a tendência é conhecer a procedência e garantir a qualida-de do produto. O consumidor está ficando atento para isso e quem produz deve seguir esse caminho.

Cristiano Reis

Fiquei intrigada com a foto do retrato rural da edição 09 da revista Campo Vivo. Mas a foto ficou muito boa. Interessante. Os elementos retratam bem o cenário rural.

Vanessa, por e-mail

Que bom ver algumas pessoas tentando salvar lavouras de cacau porque é referência do nosso municipio, por mais que exista outros tipos de lavoura, mas o cacau é imponente. É muito triste entrar numa roça de cacau e ver a vassoura de bruxa destruindo tudo. Hoje moro em Vitória, trabalho com música, mas meu pai ainda trabalha em Linhares e, e muito bom ver uma lavoura de cacau carregada. Cacau significa vida em abundância...

Jeffinhoguita, pelo YouTube, comentando vídeo sobre cacauicultura

retrato rural

Cartas

cacau

retrato rural galinheiro

modelo café

procedência das mudas

Envie seus comentários e opiniões sobre as reportagens publicadas para:

Campo Vivo - Av. Augusto Calmon, 1144 - Sala 202 - CEP: 29.900-064, Linhares, ES

[email protected]

ESCREVA PARA REDAÇÃO

Irrigando o futuro

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6 CAMPO VIVO - junho 2011

Coca-Cola vai investir no coco A água de coco é um dos objetos de

desejo do Sabb/Coca Cola e deverá estar na lista de produtos da fábrica nos pró-ximos dois anos. Um dos investimentos futuros da empresa será direcionado para o produto. Há a possibilidade, no futuro, de utilização da água de coco com mix de frutas. Mas o projeto inicial é o envasa-mento da água pura.

A GranExpoES, a maior feira rural do Espírito Santo e uma das maiores do país, terá a participação neste ano de mais de 350 empresas expositoras. Entre os expo-sitores, estarão produtores de várias partes do Brasil, agroindústrias e fornecedores de insumos e serviços incluindo as diversas cadeias produtivas, como pecuária, aqui-cultura, floricultura, cafeicultura e apicul-tura.

A expectativa da organização do evento é que, de 10 a 15 de agosto, a feira movi-mente cerca de R$ 45 milhões em negócios e receba um público superior a 100 mil pessoas. Desse total, aproximadamente 20 mil são crianças e adolescentes em visitas dirigidas.

Caju pode ser a saída para crise agrícola em Pedro Canário

GranExpoES 2011

Entre as alternativas em discussão para solucionar a crise no distrito de cris-tal do Norte, em Pedro Canário, está a implantação da cultura de caju, que seria uma forma de diversificar a produção e oferecer matéria prima para as indústrias de processamento de polpa e suco. A fruta encontraria boas condições para ser cul-tivada na região, além de haver mercado não só para a polpa como também para a castanha

O fechamento de uma usina sucro-alcoleira e a praga nematóide que atingiu boa parte das lavouras de goiaba da região levaram muitos agricultores da região a enfrentarem graves problemas econômi-cos e sociais.

Sala de degustação de café em Mantenopolis

Da cafeicultura irrigada para a fertirrigada

Destaque na produção de café arábica no Estado, o município de Mantenópolis inaugurou, no dia 13 de maio, uma sala de classificação e degustação de café. A iniciativa pretende aprimorar o trabalho voltado à qualidade do grão no municí-pio. O espaço possui um profissional de degustação para avaliar e emitir laudo a cerca da qualidade da bebida.

Um artigo publicado pelo Doutor em Fisiologia Pós-colheita, Ricardo Rodri-gues Teixeira, destacou a importância da fertirrigação para a cafeicultura. De acordo com o documento, em conjun-to com outras tecnologias, a irrigação proporcionou aumentos significativos de produtividade no café, superando 70 sacas beneficiadas por hectare, que equivale a 3,89 vezes a média nacio-nal. Apesar de destacar a importância da utilização da irrigação para a cafei-cultura, Teixeira destaca a necessidade de outros avanços, como o manejo do uso da água para que a atividade tenha sustentabilidade. O também consultor nas áreas de nutrição e fisiologia vege-tal destaca que com o manejo correto da água na irrigação é possível utilizar a mesma como veículo para aplicação de uma série de produtos, sejam eles de origem química ou biológica.

De acordo com o artigo, para que a

cafeicultura brasileira passe de irrigada para fertirrigada, e que isso gere mais rentabilidade e competitividade para o setor, é necessário pesquisa; formação de profissionais que estejam aptos a re-comendar e aplicar as recomendações corretamente, já que a fertilização em áreas de irrigação localizada é diferente das de sequeiro; interação entre os pro-fissionais das áreas de irrigação, nutri-ção e fisiologia vegetal; e utilização de informações e conhecimentos práticos de outros segmentos que utilizam fer-tirrigação no país, como fruticultura, floricultura e olericultura.

Notas

NEGÓCIOS

ALTERNATIVA

CAFEICULTURA

FERTIRRIGAÇÃO

Seag

/ES

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junho 2011 - CAMPO VIVO 7

Estimulando a produção cultural e valo-rizando a história capixaba, será realizado nos próximos meses um ciclo de concursos e exposições que vai mostrar a importância do café para o Espírito Santo. Durante qua-tro meses, o Festival vai percorrer quatro municípios e, em cada um, mostrará, através

de textos, fotos, documentos e exposições artísticas, como o café ajudou no desenvol-vimento econômico e cultural.

Nesse período, acontecerá um concurso de fotografia. Em outubro, um grande even-to de encerramento do festival reunirá vá-rias atrações, como feira com empresas do

setor, desafio de baristas, workshop, final do concurso do melhor café conilon e palestras e debates sobre cafeicultura. As melhores fotografias do concurso realizado irão com-por um livro sobre o café conilon capixaba. A realização é da Conilon Brasil e Espírito Cultura e Entretenimento.

Festival Internacional de Conilon

VII Simpósio Capixaba de Seringueira Brapex abre campo de atuação para setor produtivoO Espírito Santo realizará o seu VII Simpósio Capixaba

de Seringueira e I Fórum Interestadual nos dias 11 e 12 de Agosto, no Centro de Eventos de Carapina, na Serra. O obje-tivo do evento é promover uma am-pla discussão sobre a realidade e as perspectivas do setor heveicultor es-tadual e brasileiro, abordando temas relacionados a realidade do produtor de borracha capixaba.

As inscrições são limitadas ao número de vagas. Para se inscrever, acesse o site: http://www.cedagro.org.br/borracha2011

HEVEICULTURA

ARTE E HISTÓRIA

MAMÃO

Preocupada com o futuro do setor, a Associação Brasi-leira de Exportadores de Papaya (Brapex) está tentando me-lhorias para a classe produtiva e a intenção agora é fazer um diagnóstico detalhado do setor e agregar mais associados.

A associação, que foi criada por empresas exportadoras de papaya, pretende abrir sua atuação para os produtores de mamão com o intuito de unir todos os elos interessados nesse trabalho de fortalecimento.

A intenção é rediscutir o setor e criar estudos aprofun-dados sobre a cadeia produtiva para que se possa levar a produção aos antigos patamares.

Seag

/ES

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8 CAMPO VIVO - junho 2011

Notas OnlineCAFÉ & PROSA

RODRIGO MARTINS Em entrevista à Revista Campo Vivo, o sócio-diretor da UGPB, empresa exportadora de mamão, Rodrigo Martins, explica a escolha do uso de embalagens desenhadas pelo artista reconhecido internacionalmente, Romero Britto, que começaram a circular no final de 2010.

Qual o motivo da escolha do uso de em-balagens com desenhos do artista?Como nosso objetivo principal era inovar especificamente no mercado Americano, resolvemos atrair o consumidor com um produto diferente e que chamasse a aten-ção, tendo como tema a aliança entre saúde e arte. Veio a idéia do artista plástico Ro-mero Britto, pois sabemos que suas obras são muito valorizadas nos EUA.

Quais os resultados alcançados até ago-ra com a utilização destas embalagens?Não só nos USA, mas conseguimos tam-bém atrair outros mercados como a Ale-manha. Todos estão gostando muito da

idéia e estamos fazendo um trabalho forte de divulgação e venda para toda a Europa também. O próximo passo será investir no mercado nacional, mas escolhendo algu-mas redes específicas que possam traba-lhar bem o produto.

De que forma as embalagens repercuti-ram no mercado?Quando colocamos para o mercado este trabalho com frutas o retorno foi bem posi-tivo, pois despertam o interesse do consu-midor que muitas vezes compram até para ter uma pequena obra de arte em sua casa. A idéia foi excelente e os negócios têm au-mentado a cada mês.

Divu

lgaç

ão Veneza inaugura Fazenda Experimental em Nova Venécia

A Cooperativa Veneza inaugurou, em Nova Venécia, no dia 30 de abril, a FAEVE (Fazenda Experimental Ve-neza). O evento ocorreu durante a festa de comemoração dos 58 anos da entida-de. A área, que pertence à cooperativa Veneza, tem objetivo pedagógico, onde os cooperados poderão participar de cursos e de atividades práticas. Futura-mente, serão construídos alojamentos, auditórios e salas de aula na Fazenda.

PECUÁRIA

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junho 2011 - CAMPO VIVO 9

Online www.campovivo.com.brmais de 12.100 acessos/mês

Cobertura Código Florestal

Durantes os dias que o relatório do novo Código Florestal Brasileiro foi discutido na Câmara dos Deputados, o Portal Campo Vivo realizou cobertura, em tempo real, de toda movimentação no parlamento sobre o debate. Alguns leitores parti-ciparam, opinando sobre o tema:

“Parabéns a equipe Campo Vivo Comunicações pela cobertura da votação. O Brasil ainda não se deu conta da importância de atualização desta legislação que não protelar mais do que o temido 11/06. A produção de alimentos, de água e de nossas florestas agradecem”Murilo Pedroni, Área Técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Espírito Santo (Faes)

“É surpreendente notar que aqui no Estado do Espírito Santo, existe um Plano estratégico da agricultura que prevê um aumento da cobertura florestal dos atuais 11% para 16% até 2025, utilizando para isso sistemas agroflorestais, restauração de áreas com plantios e regeneração natural. Pergunta: Como vamos fazer isso com a isenção da reserva legal, com a redução de APPs em 50%? Só vejo uma forma: Apelar para a mágica!”Fábio Morandi de Morais, M.Sc. Engenheiro Agrônomo, Incaper - Pinheiros/ES

“Hoje é um dia histórico para o país, pois com a aprovação do novo código florestal, nossos agricultores terão tranquilidade para trabalhar na legalidade, ganhando o setor produtivo e o meio ambiente. Parabéns ao Campo Vivo pela cobertura”José Roberto, Assessor Técnico da Comissão de Agricultura da Assembleia Legislativa do ES

“É preciso manter nossa área de produção. Agricultores sabem que é preciso preservar”.Gustavo Borges, produtor rural, Linhares/ES

AS MAIS LIDAS

ENQUETES

MARÇO

ABRIL

MAIO

1. Produtores têm que parar de ‘jogar’ água na lavoura, diz especialista - 22/3/20112. Fazendeiro morre eletrocutado no interior de Jaguaré - 14/3/20113. Setor cacaueiro quer reunião com governa-dor - 17/3/2011

1. II Seminário de Qualidade do Café Conilon em Colatina - 18/4/20112. Dia de Campo destaca melhoramento gené-tico na pecuária capixaba - 13/4/20113. Governo fecha acordo sobre Código Florestal - 16/4/2011

1. II Seminário de Qualidade do Café Conilon em Colatina - 18/4/20112. Dia de Campo destaca melhoramento gené-tico na pecuária capixaba - 13/4/20113. Governo fecha acordo sobre Código Florestal - 16/4/2011

21/0

3 a

03/0

4

O que falta para o produtor rural utilizar a irrigação com mais eficiência, evitando desperdício de água?

Conscientização

48,15% 40,74% 11,11%

Informação

Tecnologia

Sim

46,15% 38,46% 15,38%

NãoUm pouco

Você conhece as vantagens de produtos com Indicação Geográfica?

25/0

4 a

16/

05

Cadastre-se no site e receba em seu e-mail, diariamente, as notícias do Portal Campo Vivo

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10 CAMPO VIVO - junho 2011

“Os espaços rurais só conseguirão assegurar população se tiver atrativos suficientes”

Maria Izabel Vieira Botelho, economista com pós-doutorado em Sociologia do Desenvolvimento Rural, aborda situação preocupante da zona rural brasileira com o encolhimento da população rural do país

Maria Izabel Vieira Botelho

Recente levantamento divulgado pelo IBGE mostra um problema visível nos últimos anos: a população rural segue em queda no Brasil. Na última década, o pro-

cesso de encolhimento da população rural continuou como acontece desde os anos 70.

O ritmo de crescimento da população urbana entre 2000 e 2010 foi de 1,55% ao ano, enquanto o número de habitantes da zona rural caiu em média 0,65% ao ano no mesmo período. As informações são da Sinopse do Censo Demográfico 2010, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O maior grau de urbani-zação continua sendo o do Sudeste, com 92,9%, segui-

Campo Vivo - Em sua opinião, o que está motivando esse esvaziamento na zona rural brasileira?Maria Izabel – O Brasil, na atualidade, apresenta uma imensa diversidade dos espaços rurais, decorrente, inicialmen-te, do processo de industrialização e das mudanças processadas nas formas de produção agrícola, a partir da “moderni-zação da agricultura”, a partir dos anos de 1950. Para entender este esvaziamento

é necessário voltar rapidamente na nossa história. Como se sabe, a população ru-ral no Brasil era, em 1950, de 63,8%. Em 1960 era de aproximadamente 54%. Já na década de 1970, a população rural era em torno de 40%. Desde então, pode-se visu-alizar um constante declínio, mas não tão intenso como naquelas décadas. No últi-mo censo realizado pelo IBGE, pôde-se saber que a população rural é atualmente em torno de 16%. Como já estudado por

diversos pesquisadores da área, este ex-pressivo êxodo rural tem como uma de suas causas, a intensa modificação da agricultura, que passa a se utilizar de di-versos insumos industrializados, com a introdução máquinas e de com a adoção de procedimentos com uma paulatina di-minuição dos postos de trabalho no cam-po. Ao mesmo tempo, visualiza-se, em algumas regiões, também um processo de aumento da concentração fundiária,

Entrevista

do pelos 88,8% da Região Centro-Oeste. A seguir vem o Sul, com 84,9%; o Norte, com 73,5%; e o Nordeste, com 73,1%.

A Revista Campo Vivo abordou a situação preocupante da zona rural brasileira com a economista Maria Izabel Vieira Botelho. Com mestrado pela UNICAMP em Socio-logia Rural, doutorado em Sociologia pela UNESP e pós -doutorado em Sociologia do Desenvolvimento Rural pela Universidade de Wageningen (Holanda), Maria Izabel Botelho, atualmente, é professora da Universidade Federal de Viçosa, lecionando Sociologia Rural e Teorias de Cam-pesinato e Sociedade.

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junho 2011 - CAMPO VIVO 11

denominado por José Graziano da Silva como “fagocitose”, quando as pequenas propriedades são engolidas pelas maiores, que foram, principalmente, as que intro-duziram alterações na produção agrícola. Vale ressaltar que na década de 1960 a região que apresenta o maior êxodo rural é a Sudeste, decorrente de modificações na base técnica produtiva da agricultura. Isto ocorre especialmente no estado de São Paulo, onde a erradicação dos cafe-zais e substituição por pastagens liberou enorme contingente de trabalhadores, que viviam dentro das fazendas de café, nas colônias. Os dois processos, máqui-nas substituindo trabalhadores e concen-tração fundiária, resultaram numa expul-são maciça da população rural. Naquelas regiões em que este processo de mudança do modelo agrícola não foi tão intenso, como a região Nordeste, também ocorre uma intensa emigração, direcionada prin-cipalmente aos grandes centros urbanos do Sudeste, mas também direcionada à região Norte, com a criação dos pro-jetos de colonização, como parte de uma política de ocupação do gover-no militar do período. Também não se pode esquecer, que a construção da cidade de Brasília também atraiu um montante bastante expressivo de pessoas de várias regiões do Brasil, mas principalmente do Nordeste.Desta forma, percebe-se que tanto as regiões que passam por uma profun-da modificação do sistema produtivo agrícola, como ocorreu em parte da re-gião Sudeste, expulsam população, como aquelas em que a economia não apresenta um dinamismo acentuado, como o Nor-deste, mas que tem também um sistema produtivo centrado em extensas proprie-dades, delineando uma estrutura fundiá-ria de imensa concentração. Também a migração em direção aos centros urbanos pode ser resultado de desejos pessoais e familiares de experimentar um novo modo de vida, fornecido pelos espaços urbanos, onde, imagina-se, o acesso aos serviços de saúde, de educação, etc., pro-piciaria melhores condições de vida e de trabalho. Entretanto, é ilusório imaginar que a desruralizacão significa acesso às condições mínimas próprias da vida ur-bana. O que se vê por todo o país, em di-ferentes cidades, são cidades que tiveram aumento exorbitante de população sem ter as condições necessárias para a ab-

sorção de todos aqueles que chegam. Em geral, o destino destes novos moradores urbanos, provenientes de zonas rurais, é moradia precária, o trabalho temporário de baixa qualificação profissional, etc. Campo Vivo - O aumento no grau de urbanização nos últimos anos é devido ao próprio crescimento vegetativo des-sas áreas, resultado de migrações pas-sadas, ou continua o êxodo rural ainda hoje?Maria Izabel – As análises que estão sendo realizadas pelos pesquisadores, principalmente com os novos dados do último censo, apontam para os dois pro-cessos, tanto este grau de urbanização é resultado do crescimento vegetativo nos espaços urbanos, quanto de contínuas saídas em direção aos centros urbanos. Algumas regiões, como Sudeste e Sul, percebe-se uma visível diminuição do fluxo rural/urbano. Entretanto, a região Nordeste ainda continua sendo aquela de

maior êxodo rural. Chama a atenção tam-bém a diminuição da média de idade da-queles que deixam as zonas rurais. Aque-les que migram são cada vez mais jovens e com forte predomínio das mulheres.

Campo Vivo - Quais as principais con-seqüências dessa queda na população rural brasileira?Maria Izabel - Pode-se pensar em mui-tas conseqüências. Uma delas seria um esvaziamento das zonas rurais, que por si não seria problemático. Porém, o lugar de destino destas populações é que pare-ce delinear um quadro bastante precário. Sabe-se que as cidades não têm como in-corporar minimamente todos aqueles que chegam. Em geral, o perfil profissional daqueles que deixam as zonas rurais em direção aos centros urbanos não se adéqua às novas demandas de trabalho urbano, que também vêm passando, nas últimas

décadas, por inúmeras transformações exigindo trabalhadores com diferentes qualificações nem sempre presentes entre os migrantes. Penso também que a ma-nutenção da população nas zonas rurais além de desafogar os espaços urbanos poderia significar a melhoria da produ-ção de alimentos para os que lá vivem, mas também para os vivem nas cidades. Entretanto, como o perfil dos que migram é cada vez mais jovem, os espaços rurais só conseguirão reter população se tiver atrativos suficientes para a permanência, como possibilidades de geração de renda, boas condições de educação, de saúde, de comunicação, etc.

Campo Vivo - As facilidades oferecidas pela cidade estão atraindo os jovens do campo?Maria Izabel - Sim, mas obviamente nem todos os jovens migrantes encon-tram nas cidades aquilo que buscavam, ou que imaginavam acessar nos centros

urbanos. Quando fiz a minha disser-tação de mestrado, entrevistei uma senhora idosa, filha de sitiantes, que à época tinha 82 anos. Ela me disse que seus pais incentivaram muito a sua migração para a cidade de São Paulo, pois para eles a vida no campo era muito dura e não propícia a uma moça com tantas possibilidades. Eles não a queriam com as mãos calejadas. Durante a entrevista ela me mostrou as mãos e me disse: de fato, minhas

mãos são de seda, mas meu coração se tornou pedra, porque a vida na cidade não era exatamente como nós imaginávamos. Perdi meus amigos, o contato diário com a minha família, tudo que o que me fazia bem e pertencendo a um lugar. Quais são hoje, efetivamente, as reais chances que têm os jovens que saem do campo em ci-dades? Este sentido de pertencimento po-deria ser substituído por boas oportuni-dades oferecidas pelas cidades? É difícil responder, mas não se pode criar a ilusão que o êxodo rural irá melhorar as condi-ções daqueles que o experimentam, prin-cipalmente para a grande maioria dos que migram, quase sempre aqueles de menor qualificação profissional, menor poder aquisitivo, que muitas vezes já partem as-sumindo dívidas para custear as saídas. Campo Vivo - Atualmente, podemos observar a perda de alguns valores, do

“Não se pode criar a ilusão que o êxodo rural irá melhorar as

condições daqueles que o experimentam“

Page 12: Revista Campo Vivo - Edição 10

12 CAMPO VIVO - junho 2011

vínculo pela terra, dos jovens do cam-po. O que está ocasionando isso?Maria Izabel - Como existem no Brasil diferentes modalidades de agricultura e, portanto, diferentes compreensões do que seja a terra e do uso que é feito dela, não sei se de fato ocorre a perda deste valor, do vínculo com a terra. Para alguns grupos sociais que lidam diretamente com o cultivo, com a organização e com o controle da produção, a terra pode ter um significado bastante diferente daque-les agricultores que detêm o controle da produção, como proprietários, arrendatá-rios, mas a terra é apenas fator de produ-ção. Para os primeiros, a terra é o local de moradia, de produção, de constituição de laços familiares, de vizinhança, mas também o espaço de conflitos e de nego-ciações, enfim local de realização de toda a família, e dos seus valores. Assim, a terra seria, nos dizeres de Beatriz Here-dia, morada da vida. Para os segundos, o investimento do seu capital naquela ativi-dade poderia se dar em qualquer outro se-tor produtivo. Por exemplo, na Argentina já se faz agricultura sem agricultores, pois todo o processo produtivo é através da contratação de empresas terceirizadas que atuam em diferentes ramos produti-vos. Assim, a terra tem um significado bastante diferenciado entre os diversos tipos de produtores.

Campo Vivo - O que precisa ser feito para segurar as famílias que ainda per-manecem no campo?

Maria Izabel – Vale ressaltar que alguns estudiosos sobre mi-gração ou ruralida-des são explícitos em afirmar que a idéia de fixação do homem no campo é bastante conservadora e que dificilmente a popu-lação jovem que é a que mais tem saído das zonas rurais, di-

ficilmente encontrará aquilo que buscam nas cidades. Pode-se incluir nesta atração inclusive o acesso a outras formas de la-zer, disponíveis apenas nos meios urba-nos. Meu entendimento sobre o êxodo ru-ral e de todos os problemas vivenciados principalmente pelos migrantes de menor poder aquisitivo é que se no campo os di-reitos básicos de cidadania são limitados, estes grupos sociais também não os en-contrarão nas cidades.

Campo Vivo - E para atrair famílias urbanas para o campo, existe essa pos-sibilidade? O que deve ser feito?Maria Izabel - Não saberia dizer se é possível este movimento contrário, ou seja, o êxodo urbano. O que eu tenho percebido, nos últimos anos, em pesqui-sas que tenho realizado ou em estudos de outros pesquisadores é que alguns esti-los de agricultura podem ajudar a fixar e mesmo atrair a população que migrou em décadas anteriores. Por exemplo, na Zona da Mata mineira, que já foi uma re-gião de expressivo êxodo rural, começa a ocorrer um leve movimento contrário em algumas áreas, principalmente na-queles municípios que têm modificado os sistemas de cultivo do café, fazendo a transição para a agroecologia. Nesta re-gião predominam pequenas propriedades e que no momento de divisão da herança alguns filhos eram obrigados a sair, pois a terra não era suficiente para garantir a reprodução de todos os membros do grupo doméstico. Pesquisas recentes em

algumas localidades, e que ainda preci-sam ser ampliadas para visualizarmos a dimensão deste processo, têm apontado para o retorno de famílias que migraram nas décadas passadas; algumas consegui-ram comprar pequenas parcelas de terra e outras têm voltado para aquelas áreas que haviam sido consideradas insuficien-tes e agora nelas estão introduzindo ma-nejos agroecológicos. Isto tem garantido a produção do café, diminuído seus cus-tos, pois passam a utilizar minimamente insumos externos e aumentado a diversi-ficação da produção, com a introdução de sistemas agroflorestais, os quais passam a produzir novos bens agrícolas, tanto para o consumo imediato, quanto para a comercialização. É interessante observar que nestas localidades de experiências agroecológicas a presença dos jovens é realmente surpreendente. Outro fator também perceptível em várias regiões do país é o retorno de população que mi-grou sazonalmente, ou mesmo por 20, 30 anos consecutivos, e com uma aposenta-doria podem voltar a viver em áreas que haviam deixado para trás. Nestas áreas voltam também a produzir em pequenas quantidades, mas o suficiente para suprir parte do consumo doméstico. Esta me pa-rece ser também uma perspectiva bastan-te interessante para parte da população.

Campo Vivo – As políticas públicas fe-deral, estadual e municipal estão sendo suficientes para tentar reverter essa si-tuação?Maria Izabel - De maneira alguma. Penso que muitas medidas precisam ser tomadas para melhorar as condições de vida da zona rural. Entretanto, isto co-meçou a mudar nos últimos anos, mas ainda de maneira muito tímida. Não se pode negar, ao mesmo tempo, o enorme montante de recursos públicos que já foram destinados principalmente para a agricultura voltada essencialmente para a exportação, o agronegócio. E o mais contraditório disto é que estes incentivos promoveram e vem promovendo novos

“De fato, minhas mãos são de seda, mas meu coração se tornou pedra, porque a vida na cidade não era exatamente como nós imaginávamos –

relato de uma senhora que deixou o campo”

“Se no campo os direitos básicos de cidadania são limitados, estes grupos sociais também

não os encontrarão nas cidades”

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êxodos rurais. Um exemplo recente é a ocupação da produção de soja na região amazônica que tem sido atualmente uma das regiões que mais tem perdido popu-lação. Quando falo em políticas públicas e incentivos para o meio rural tenho em mente outros tipos de agricultores. Sem incentivos específicos direcionados a es-tes agricultores, provavelmente as áreas rurais irão desertificar, e os problemas urbanos crescerão de forma assustadora. Durante a minha pesquisa de campo para a realização do meu doutorado, permaneci

no Vale do Jequitinhonha/MG por alguns meses. Pude ver de muito perto as con-dições daqueles que migravam para SP, principalmente para o trabalho no corte da cana de açúcar, na condição de bóias-frias. Em geral, todos os entrevistados e outros com os quais conversei durante a minha estadia afirmaram que eles só se submetiam à super exploração do corte de cana para manter a sua condição de agricultor minifundista, seja como pro-prietário ou mesmo parceiro, etc. Com o

pouco que conseguiam durante a colheita da cana eles podiam plantar, alimentar alguns animais, manter as cercas, en-fim, reproduzir-se socialmente em suas regiões de origem. Se fossem destinadas políticas públicas a este grupo social, parte significativa destes agricultores não migraria. Nesta região em especial, como em boa parte da região nordestina, os problemas com a seca são constantes. Desta forma, seria necessário elaborar mecanismos efetivos para atenuar a fal-ta de água, melhorar os sistemas de co-

mercialização, com a melhoria das estradas que ligam as pequenas comunidades aos pequenos centros urbanos, onde vendem nas feiras, criar um sistema rural de saúde, escolas que valorizem o lugar onde vivem, e não ao contrário, como vem acontecendo nas zonas rurais, onde os professores reforçam a idéia do êxodo rural, quando de-senvolvem e fortalecem junto aos estudantes a idéia de atraso rural, pelo fato de praticarem outros esti-

los de agricultura.

Campo Vivo - Qual sua expectativa e como você observa o futuro rural bra-sileiro?Maria Izabel – Acredito que determina-das políticas públicas bem direcionadas poderiam modificar substancialmente as condições de permanência nas zonas rurais. As migrações ocorrem, princi-palmente, porque estar no meio rural é estar distante dos serviços básicos que

podem promover um maior conforto para as famílias. Os indicadores educacionais brasileiros nas zonas rurais são mais pre-cários do que os urbanos e, ainda, um dos piores da América Latina. As dificul-dades encontradas pelas famílias rurais de menor poder aquisitivo são generali-zadas. Assim, qualquer possibilidade de romper com este quadro de precariedade gera o desejo de sair e tentar encontrar uma condição social mais digna. É preciso incentivar e permitir a diver-sidade de produção nas áreas rurais. O modelo agrícola preconizado pós déca-da de 1950 tem seu espaço delimitado e, portanto, não pode moldar os diferentes estilos de agricultura. Nós sabemos que alguns estilos de agricultura deman-dam menos força de trabalho; outros, ao contrário, utilizam força de trabalho em maior quantidade. Os dados do últi-mo censo também reforçam esta idéia. O agronegócio emprega menos que outras modalidades de agricultura. É deste setor mais demandante de força de trabalho, portanto, que gera mais empregos, que advém parte significativa do que come-mos no nosso dia a dia. E é exatamente neste perfil produtivo que podemos ad-quirir alimentos de melhor qualidade, mais seguros, garantindo assim a sobera-nia alimentar. Acredito que o incentivo à agroecologia, por meio de financiamen-tos apropriados, poderia propiciar a ga-rantia de alimentos de qualidade e com justos preços para a população brasileira. Assim tanto a população urbana quanto a rural estaria se beneficiando.

“Muitos dos que já deixaram o meio rural e suas terras, o fizeram

porque não encontraram condições para ficar”

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Mudanças na pecuária leiteiraNovos parâmetros de qualidade do leite entram em vigor

em julho. Pecuaristas terão que melhorar condições higiênicas para atender exigência

Produtores de leite de todo país es-tão se movimentando para atender uma determinação do Ministério

da Agricultura que objetiva a melhoria da qualidade do leite brasileiro. A partir do dia 1º de julho, passa a valer novos parâmetros de contagem de células somá-ticas (CCS) e contagem bacteriana total (CBT) para as diferentes regiões do país, medida prevista na Instrução Normativa 51, que entrou em vigor em 2002 com prazos escalonados para essas mudanças na produção leiteira. A norma faz parte do Programa Nacional de Melhoria da Qualidade do Leite, que visa a melhoria da qualidade do leite produzido no Brasil e, com isso, a oferta de um produto mais seguro e de alto valor nutricional ao con-sumidor, oportunizando aos produtores alcançar novos mercados de consumo e melhorar a renda no campo.

Com as mudanças previstas, o pecu-arista terá que atender critérios para co-

mercialização do leite. De acordo com o Ministério da Agricultura, a única mu-dança prevista a partir de primeiro de julho próximo é na contagem de células somáticas (CCS) e na contagem bacte-riana total (CBT) que serão reduzidas de 750.000/ml para 400.000/ml e 100.000/ml respectivamente. A CCS trata-se de um indicador da saúde da glândula ma-mária e da qualidade do leite, sendo utili-zada como parâmetro para pagamento do leite. Os critérios físico-químicos do leite entregue pelo produtor à indústria (teor de proteína, gordura, acidez, densidade, índice crioscópico e outros já estabeleci-dos) permanecem os mesmos. Esses cri-térios são alcançados com alguns proce-dimentos na propriedade rural.

É o caso da Fazenda Adriana, em Li-nhares. Em 2008, o pecuarista Cirilo Pan-dini Júnior mudou o sistema de criação do gado. Antes, ele havia trabalhado com pecuária extensiva. “Não sabia de ganha-

va ou se perdia”, diz o produtor, lembran-do da falta de planejamento e adoção de técnicas mais eficientes na propriedade. “O que aconteceu aqui foi mudança de mentalidade”, destaca Pandini. Após ini-ciar o projeto com acompanhamento téc-nico, a fazenda passou a utilizar menor quantidade de terra e aumentou a produ-ção. Com resultados satisfatórios, a meta é, em breve, chegar a produção de 3.000 litros de leite por dia com 170 vacas em lactação. “É um projeto de médio e longo prazo. A disciplina é fundamental”, acon-selha o pecuarista.

Para conseguir produzir o leite de acordo com as novas mudanças, o pecua-rista tem que atentar para procedimentos essenciais na propriedade, como higie-ne, alimentação e bem estar animal. “O conforto do animal é importante. O som-breamento vai ajudar no bem estar das vacas”, ressalta Lúcio Antônio Oliveira Cunha, engenheiro agrônomo, especialis-

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ta em pecuária de leite. Nas horas quen-tes do dia, os animais da fazenda Adriana recebem mais conforto. O piquete para as vacas ‘pastejar’ é aberto no fim da tarde, em horário com temperatura mais amena. A arborização da área destinada a criação dos animais favorece o clima resultando em melhorias na produtividade.

O êxito na pecuária de leite vai depen-der muito dos trabalhadores que lidam diretamente com os animais. O carinho e a higiene podem ser o toque especial da atividade. A diminuição da lama, por exemplo, melhora a higiene e ajuda a pre-venir a mamite (ou mastite), doença, mui-to comum em rebanhos bovinos leiteiros, que apresenta-se como um processo de inflamação da glândula mamária, acom-panhado pela redução de secreção do leite e pelo comprometimento da qualidade do leite produzido. A prevenção da mamite é fundamental para atingir a nova meta da Instrução Normativa 51. As células somáticas (CS) do leite são oriundas da descamação normal do tecido secretor da glândula mamária. Com isso, com a ocor-rência da infecção, o número de células aumenta indiscutivelmente, prejudican-do a qualidade e produtividade do leite. Quando ocorre período de muita chuva é necessário aumentar ainda mais o cuida-do com a higiene, pois a maior quantida-de de lama deixa o animal vulnerável a possíveis problemas. “O gado tem chegar limpo no curral”, diz o agrônomo.

A atenção na ordenha deve ser redo-brada para evitar resíduos no leite. No caso da ordenha mecânica, que é mais in-dicada devido a maior higiene, é necessá-rio limpar bem os equipamentos. “A ma-nutenção deve ser realizada para o bom funcionamento do processo”, diz Lúcio Cunha. Quando a ordenha for realizada

de forma manual, o ordenhador deve lavar as mãos com sabão e água antes de começar a ordenhar ou sempre que necessário. A lavagem dos tetos com água clorada seguida da secagem com papel-toalha. É fundamental manter o local de ordenha sempre limpo e seco. A contaminação do leite durante a or-denha e as condições de armazenamen-to (tempo e temperatura) até chegar na indústria de laticínios são os principais fatores da perda de qualidade do leite.

Aliada a boa higiene, a alimenta-ção complementa a receita para o su-cesso na produção leiteira. O rebanho da fazenda Adriana recebe alimentação indicada: pastagem com volumoso bá-sico e suplemento com concentrado a base de milho e soja. Na época fria, a cana é inserida no cardápio dos ani-mais. A alimentação adequada, aliada a genética bovina, proporciona teores de gordura e proteína compatíveis com o mercado. “Quando o leite é produzido atendendo a critérios do laticínio, rece-bemos bônus pela qualidade superior do produto”, diz Pandini.

Seguindo as orientações técnicas, a propriedade de Pandini está muito pró-xima dos novos parâmetros de contagem de CCS e CBT que entrarão em vigor em julho. Os procedimentos terão que ser adotados por pecuaristas leiteiros de todo país. De acordo com o agrônomo Lúcio Cunha, o maior rigor na contagem de cé-lulas somáticas vai melhorar o rendimen-to do leite na industrialização e também a qualidade do produto. “O rendimento maior vai beneficiar a cadeia do leite”, afirma.

O Ministério da Agricultura continu-ará realizando a fiscalização nos moldes atual, fiscalizando os estabelecimentos

registrados no Serviço de Ins-peção Federal (SIF), em regi-me de inspeção periódica. Dos que recebem leite diretamen-te do produtor a fiscalização do leite entregue baseia-se na aná-lise laboratorial do mesmo no estabelecimento e na verificação dos resultados

de análise laboratorial mensal. A fisca-lização dos produtores é feita, de forma geral, através da análise do leite do mes-mo no laticínio e em laboratório da Rede Brasileira de Monitoramento da Qualida-de do Leite (RBQL). Em casos excepcio-nais (suspeita de fraude, detecção de re-síduos, por exemplo) a fiscalização pode ser realizada “in loco” na propriedade rural. O Ministério ainda não definiu as ações a serem com os produtores que não atenderem aos novos parâmetros de qua-lidade do leite a partir de junho. De acor-do com o órgão federal, qualquer ação a ser tomada deve estar contemplada na legislação sanitária atual que está em fase de atualização e este assunto está em fase de discussões internas e com os diversos setores da cadeia produtiva do leite.

Porém, o mercado deverá ser um fis-calizador também das práticas adotadas nas propriedades. Com a nova exigência, as empresas irão cobrar mais qualidade e os pecuaristas que não se enquadrar nos novos padrões pode perder mercado. “Quem não atingir metas pode ser pena-lizado no preço. Essa instrução normati-va e o prazo para se adequar não são de hoje. Quem não começou a mudar tem que correr atrás do prejuízo”, diz o agrô-nomo Lúcio. Para ele, independente da estrutura da propriedade, os pecuaristas têm condições de atingir as metas esta-belecidas seguindo os procedimentos ne-cessários. “A obrigação é de produzir lei-te com qualidade é nossa, de toda cadeia do leite. E ela começa na propriedade”, finaliza.

HIGIENEna ordenha

mecânica favorece qualidade do leite

PECUARISTAe agrônomo buscam melhorias no processo produtivo

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Santa Maria de Jetibá é destaque nacional na avicultura de postura. Força cooperativista favorece famílias

que vivem da atividade

Ovos

OUROde

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A cidade se denomina a mais pomerana do Brasil. E é só chegar nela, pelas curvas da ES-368, que é possível constatar a for-ça desses descendentes. Ao chegarmos à cidade, o ambiente

festivo dos imigrantes contagia. Bandeiras da Pomerânia, país de origem dos desbravadores de Santa Maria de Jetibá, estão expostas nas casas, comércio, e nas ruas da cidade. Os habitantes vestidos com trajes típicos do extinto país europeu recebem com cordialidade os visitantes. Mas não é só pela expressão cultural e histórica que o município se destaca. Mesmo preservando as raízes culturais, o progresso também é observado. No primeiro semáforo que paramos, um caminhão carregado com caixas de uma granja local mostra a po-tencialidade na produção de ovos do município. Santa Maria é o se-gundo município que mais produz ovos no Brasil com uma produção estimada em 7,5 milhões de ovos, de acordo com dados do IGBE.

A atividade é encontrada em grandes propriedades que traba-lham com granjas mais tecnificadas. Oura parte da produção local é dividida em pequenos e médios produtores rurais, como é o caso de Manfredo Kruger. A propriedade da família fica na localidade de Rio Bonito. Kruger nasceu na região serrana capixaba e sempre tra-balhou no campo. Resolveu ingressas na avicultura de postura em 1990. No começo, ele criava as galinhas para aproveitar o esterco na horta da propriedade. “Naquela época, o grande lucro era o esterco. Hoje, pensamos em produzir ovos”, diz. A propriedade trabalha com café arábica, principal produto econômico da região, mas acredita no potencial da produção de ovos. “O desafio é em todas as atividades. Você tem que viabilizar, potencializar o que gosta. Por isso, conside-ro a avicultura um bom negócio”, diz Kruger.

A limpeza das granjas é uma das receitas principais. O esterco é retirado e aproveitado na lavoura de café e também comercializa-do. O criador é associado da Coopeavi, a Cooperativa Agropecuária Centro Serrana. Lá, ele compra as pintainhas, a ração e comerciali-za os ovos. “O segredo é no início. Com a pintainha bem tratada, vacinada, a gente trabalha despreocupado. Depois é a preocupação regular de tratamento das aves”, diz o avicultor. O sistema de criação de Manfred é o convencional. De acordo com ele, a estrutura para uma granja com capacidade para 10 mil aves fica em torno de R$80 mil, enquanto com equipamentos automatizados o valor sobe até oito vezes. Na granja do seu Kruger, as 26 mil aves produzem cerca de 21 mil ovos por dia. A alimentação dos animais é a base de milho e soja, acrescida de composto mineral. “Uma galinha come 100 gramas por dia e evacua 50. O esterco produzido vai para lavoura ou pode ser vendido”, diz.

A produção de centenas de produtores do município é comercia-lizada para a Coopeavi. A entidade, fundada em 1946 com o objeti-vo de fortalecer a avicultura local, atende atualmente um plantel de 800 mil aves, entre assistência técnica, venda de rações e compra da produção. “O ovo chega no entreposto da cooperativa e o produ-tor recebe por peso, com preço baseado no JOX, índice de valores nacional”, explica Luis Carlos Brandt, gerente de comercialização de ovos da cooperativa. Após passar pela ovoscopia, sistema que analisa rachaduras nos ovos, o produto passa por uma máquina clas-sificadora que divide os ovos por tamanho e, por fim, por uma última análise manual. Antigamente, o procedimento era feito manualmen-te pelos produtores na roça. De acordo com Brandt, a comercializa-ção na Coopeavi varia de 800 a 1.000 caixas por dia. “O preço pago ao produtor oscila de acordo com a demanda, principal fator dessa variação”, diz Luiz Carlos.

A produção de ovos de Santa Maria é vendida para diversas re-giões. Alguns produtores comercializam direto com redes atacadis-tas. Outros preferem vender na Ceasa ou no comércio da Grande

Manfredo Kruger está na atividade há 21 anos. Em Santa Maria de Jetibá,

empreendedorismo de produtores e força cooperativa fazem do município destaque no país.

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Vitória. No caso da Coopeavi, o principal destino é a região nordeste do país, onde os ovos são comercializados no varejo. “Isso aumenta o valor agregado e evita di-ficuldade de pagamento, além de diminuir a competição no mercado interno capixaba com os próprios produtores de Santa Ma-ria”, explica Daniel Piazzini Neves, gerente de marketing da Cooperativa. A intenção da entidade é começar a exportar a produção, mas Luiz Carlos Brandt diz que o ovo é um produto diferenciado e depende de habilita-ções específicas.

Já pensando na conquista de novos mer-cados, a Coopeavi trabalha, junto aos seus associados, na implantação de uma gestão de qualida-de, pautada nas boas práticas de produção. As oportunidades do mercado externo despertaram o inte-resse pela mudança de algumas práticas no campo. “Toda ca-deia produtiva deve estar engajada neste

processo, observando detalhes como os cui-dados na armazenagem da ração, a higiene do trabalhador, dos animais, entre outros requisitos”, diz Fábio Júnior Braga, gerente executivo de produção. A busca pela quali-dade dos ovos produzidos em Santa Maria de Jetibá ocorre paralelamente ao trabalho de desenvolvimento de uma marca para os ovos da cooperativa Coopeavi. O setor de marketing realizará uma ação para que os colaboradores da instituição sugiram nomes para a nova marca. Além disso, a entidade busca o diferencial do ovo local para ser

destacado no mercado, baseado na quali-dade e responsabilidade social com a agri-cultura familiar. “O papel da cooperativa é trabalhar com o produtor familiar. Nossa importância é muito mais social. Temos que melhorar a condição para o cooperado”, afirma Piazinni. Através de capacitações en-tre os produtores, Fábio Braga acredita que seja possível conquistar novos mercados. “A gente incentiva o avicultor a aumentar a qualidade e, com isso, conseguir agregar valor ao produto”, destaca.

Adepto da causa cooperativista há vá-rios anos, Manfredo Kruger recebe assis-tência técnica da cooperativa em sua gran-ja, uma das vantagens dos 120 associados da Coopeavi que trabalham com avicultura. A força do cooperativismo local, aliada a capacidade empreendedora de produtores mais tecnificados, proporciona a posição de destaque do município na avicultura nacio-nal, que é motivo de orgulho para a popula-ção santa mariense. “Se tirar ovo de Santa Maria, quebra”, diz Manfredo, referindo-se a importância econômica e social da ativi-dade.

CULTURA DANIEL

LUIZ

local é destacada em festa de

imigrantes

cuida do marketing dos ovos da cooperativa

FÁBIOaposta nas boas práticas

de produção para conquista de mercados

coordena a comercialização dos ovos para o mercado nacional

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Golpe no campoFalsos fiscais exigem dinheiro de produtores

para cadastro na Previdência e aplicam golpe no interior capixaba

Um golpe está sendo aplicado em propriedades rurais do Espírito Santo. No início do mês de maio,

o programa Campo Vivo, na Rádio Glo-bo Linhares, relatou, em primeira mão, a farsa de bandidos que estavam atuando na zona rural capixaba. Os golpistas esta-vam se passando por fiscais do Ministério do Trabalho, solicitando dinheiro de pro-dutores rurais para um eventual cadastro na Previdência e ficando com a quantia.

Um agricultor de Linhares foi vítima do golpe. Outros produtores de Jaguaré e São Mateus também foram abordados pelos falsos fiscais. No caso da vítima li-nharense, ele relatou que as pessoas que o abordaram estavam com crachá do Mi-nistério do Trabalho e fizeram algumas perguntas sobre a colheita do café. Em

seguida, solicitaram R$ 120,00 alegan-do que a quantia era para um cadastro na Previdência. Após receberem o cheque do produtor ainda na propriedade, os gol-pistas, posteriormente, alteraram o valor para R$5.120,00 e sacaram o dinheiro, finalizando o golpe.

Para o presidente do Sindicato Ru-ral de Linhares, Antonio Roberte Bour-guignon, os agricultores ficam com tan-tas preocupações devido a quantidade de exigências e leis que devem cumprir que acabam caindo em golpes desse tipo. “Eles se aproveitam às vezes da falta de informação do produtor rural ou do medo de ficarem irregular e exigem o dinheiro aplicando o golpe”, diz Bourguignon.

O auditor e superintendente substitu-to do Ministério do Trabalho no Espírito

Santo, Alcimar Candeias, afirma que as pessoas devem ligar para polícia quan-do algum cidadão exigir dinheiro para eventuais taxas de órgãos públicos. “Pa-gamento direto para servidor não existe. Qualquer cidadão que fizer esse tipo de abordagem não se trata de servidor, é ban-dido”, destaca Candeias.

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O campo não resistiu

Zona rural observa rápido crescimento no uso de drogas entre trabalhadores e moradores do campo. Projetos para a

juventude rural podem diminuir esse problema

“Os traficantes estão agindo dentro das comunidades rurais distribuindo drogas. Na colheita do café, se infil-

tram como trabalhadores só para repassar drogas”. A afirmação é de quem vivenciou esse mundo por muitos anos e viu a zona rural ser invadida pelas drogas. Marleisson de Souza Angelo começou a usar droga aos 14 anos. Após perder empregos na cidade, onde morava, foi para o interior trabalhar em propriedades rurais. “Na época que co-

mecei a trabalhar na roça, a droga já estava lá. Agora aumentou muito. Hoje, é uma tris-te realidade”, diz.

Na zona rural, os contatos com outros usuários permitiram, logo, encontrar os pontos de venda de drogas. Trabalhando na colheita, viu traficantes se infiltrarem como trabalhadores para repassar seus produtos. “Muitos saem da cidade e se instalam na zona rural. Se infiltram como trabalhador rural para passar a droga. Conheci vários

que estavam lá só para isso”, afirma Mar-leisson. Quando não se infiltram na lavoura, os vendedores têm dias definidos para abas-tecer as comunidades. “Eles sabem os dias que os trabalhadores recebem e vão lá para vender”, diz o ex-usuário.

O município de Sooretama é um dos que enfrentam grandes problemas com a criminalidade na zona rural. Diversas ocor-rências policiais são registradas no interior do município. Durante a colheita do café,

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muitos trabalhadores vêm de outros Es-tados em busca de um emprego e acabam permanecendo na região sem muitas pers-pectivas. “Hoje em dia é muito fácil ver pessoas usando drogas. No barzinho, na esquina, no futebol de domingo nas comu-nidades, a gente fica sabendo desses casos. Os próprios jovens falam sobre isso. Apesar de proibido, não está escondido mais”, diz a jovem Ranieli Badiani Bianchi, que mora no Córrego Rodrigues, em Sooretama, e atua em trabalhos sociais no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Linhares e Soore-tama. Para a jovem, apesar de o setor agro-pecuário ser predominante no município, a proximidade de centros urbanos favorece o acesso as drogas. “A população jovem se influencia ainda maia”, afirma Ranieli.

O poder dos entopercentes no ser huma-no é devastador, de acordo com Marleisson. Ele afirma que o crack foi a pior droga que usou. “Ela devastou minha vida. O poder dominador na mente é muito grande. Você sabe que vai destruir, mas você não conse-gue forças para parar sozinho. É uma droga barata e o prazer eufórico é muito curto. Passou ali, a sua mente entra em ansiedade compulsiva. Se for possível, você passa dias trancado usando crack. Perde noção, o amor as pessoas”, relata, lembrando de quando tentou o suicídio se jogando na frente do caminhão. A buzina do veículo foi ‘um des-pertar de Deus’. “Nesse momento procurei ajuda. Minha vida estava se destruindo”.

A ajuda ele encontrou na Casa de Res-gate São Francisco de Assis, localizada no interior de Linhares. Os aconselhamentos, trabalho religioso e terapia ajudaram Mar-leisson a se recuperar da dependência. Atu-almente, 63 usuários são atendidos e rece-bem auxilio de assistentes sociais, médicos, enfermeiros e psicólogos. O jovem Marleis-son é funcionário da Casa, ajudando agora a recuperação de ou-tros dependentes.

O voluntário e ex-presidente da entidade, Altamir Ribeiro de Moura, diz que a Casa de Resgate tem rece-bido muitas pes-soas oriundas do campo. “Já se tor-nou até uma rotina receber pessoas do campo envolvidas com drogas”. Para ele, o uso de drogas aumentou tanto no

interior que não se diferencia mais com a situação da cidade. “A diferença é que na cidade existem muitos adolescentes que praticam furtos que incomodam mais a po-pulação. Na roça, esse número é mais re-duzido, porque são pessoas que trabalham, ganham seu dinheiro e compram a droga”, explica.

A opinião é compartilhada pelo produ-tor rural e presidente do Sindicato dos Tra-balhadores Rurais de Linhares e Sooretama. Morador da zona rural linharense, Giuriato acredita que proporcionalmente o consumo de drogas se equivale entre zona rural e ur-bana. “Avançou muito rápido isso no inte-rior. Imaginávamos que estava longe, mas está cada vez mais freqüente”, diz. Segun-do o produtor, a melhoria na qualidade de vida dos moradores do campo, nos últimos anos, favoreceu o contato com ‘coisas da cidade’. “O meio rural, historicamente, era conhecido como local de atraso. Mas, ulti-mamente, as melhorias em infra-estrutura, como o asfalto que chegou às comunidades, e outros programas de incentivo ao produ-tor, fizeram com que a população passasse a fazer parte do mercado. Possibilitou que pessoas vivessem bem. E, em conseqüência disso, possibilitou o acesso às coisas ne-gativas também. É preocupante. Sabemos do malefício das drogas para as famílias e moradores dessas comunidades”, diz Jonas Giuriatto.

Altamir Ribeiro, da Casa de Resgate, concorda que o progresso levou benefícios para o interior, porém também facilitou a chegada das drogas. “Com essa moderni-dade atual, com as estradas, com os meios de locomoção, a zona rural não tem muita dificuldade de acesso como era em tempos atrás. Hoje tem muita facilidade para as drogas chegarem. As fazendas hoje se tor-naram pequenas empresas, se organizaram,

tem muitos funcionários, principalmente na colheita do café. Há uma procura muito grande do tráfico em ofertar a droga para os trabalhadores do campo”, afirma Ribeiro. “

Com a firmeza de que sabe o quer para seu futuro, o jovem Marleisson acredita que a família é essencial para evitar que os fi-lhos sigam o caminho errado. Há dois anos funcionário da entidade que o recebeu no seu pior momento, Marleisson completou os estudos, está na faculdade e de casamen-to marcado para novembro. “Reconstruí a minha vida. Parei dos 14 até os 28 anos. Co-mecei a viver de novo”, diz entusiasmado. O apoio da Casa de Resgate na recuperação do jovem mostra a importância de projetos sociais para a juventude rural. “Se não es-tivesse aqui estaria morto. O usuário que não pedir ajuda, vai morrer ou vai pra ca-deia. Não há benefícios com a droga. Você pode até se iludir, achar que vai se enturmar melhor, vai ficar mais descontraído, mas é pura ilusão. Com o uso contínuo, essa falsa euforia vai se tornar em sofrimento profun-do. Dói na alma. Eu sei o que é isso”, diz emocionado.

No Sindicato coordenado por Jonas existe um programa que tem como obje-tivo ocupar os jovens com atividades que possam criar novas oportunidades de ge-ração de trabalho e renda nos elos das ca-deias produtivas agrícolas e em atividades rurais não agrícolas. O PAJE (Programa Atitude da Juventude Empreendedora) tra-balha na organização coletiva, capacitação e formação dos jovens rurais e com ativi-dades de cultura, lazer, esporte, entre ou-tras ações. “Não trabalhamos no sentido de fazer algo para enfrentar algum problema, e sim capacitar a juventude para que ela possa entender que só vai ser um cidadão de reconhecimento quando conhecer opor-tunidades e ameaças. As oportunidades no

VOLUNTÁRIO,Altamir observa crescimento das drogas no interior

MARLEISSON: das drogas para

‘outra vida’

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Segurança no campo

A dificuldade da fiscalização nas zo-nas rurais do Espírito Santo é um dos problemas dessas comunidades. Se na cidade já é difícil, o vasto território rural não consegue ser atendido pela polícia de forma suficiente. Mas, de acordo com a Polícia Militar do Estado, a fis-calização do tráfico de drogas na zona rural capixaba é feita com operações rotineiras com base em informações coletadas pelo setor de inteligência para evitar que este tipo de crime se espalhe. Durante o período de colheita do café, a fiscalização é intensificada visando combater os crimes contra o patrimônio. A sociedade pode denun-ciar esse tipo de crime pelo telefone 181, do Disque-Denúncia.

Em Cabeça Quebrada, distrito da região interiorana de Guarapari, o casal Leomar Poton e Luciana Ricieri Ponton, filhos de agricultores familiares, demonstraram es-pírito empreendedor e enxergaram uma rentável oportunidade na comunidade rural onde residem. Ao concluírem capacitação técnica no Movimento de Educação Promo-cional do Espírito Santo (Mepes), em 2002, os jovens apresentaram como trabalho de conclusão do curso um projeto de plantio de 30 pés de graviola e 160 pés de maracu-já, aplicado na propriedade das famílias.

Os jovens produtores fizeram polpas das frutas colhidas e as comercializaram

campo existem, de renda, de qualidade de vida. Temos que levar essas oportunidades e orientar sobre os cuidados necessários. As ofertas desses produtos que podem ofere-cer bem estar, prazer imediato, precisa ser orientada”, destaca Giuriatto. A jovem Ra-nieli é uma das coordenadoras do PAJE e já observa os resultados desse trabalho. “Es-tamos bem próximos. A gente percebe que os jovens que estão nesses programas vêem como uma oportunidade. Ele gasta energia nessas oportunidades e, com isso, deixa de gastar em coisas erradas. Talvez é no tempo vago que o jovem entra no mundo negati-vo”, diz.

José Braz Venturim, coordenador de agricultura familiar e crédito rural do Ins-tituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), vincu-lado à Secretaria de Estado de Agricultura, afirma que a atenção em fomentar atrativos à permanência dosjovens no interior têm aumentado. “Políticas públicas com esfor-ço de valorizar a autoestima do jovem rural e mantê-lo no campo estão mais presentes. É uma medida que, inclusive, influencia na economia nacional, uma vez que o custo para gerar um emprego no campo é bem menor que no meio urbano. Sem falar que é uma maneira eficaz de evitarmos proble-

mas sociais provenientes do êxodo ru-ral. Na maioria das vezes, essas pessoas saem do interior e se deparam com as dificuldades de emprego nas cidades”, ressalta.

A importância da família é prati-camente uma unanimidade na preven-ção do uso de drogas. Muitos casos de dependentes têm relação direta com problemas na estrutura familiar. Esse é um ponto que preocupa a zona rural. Famílias tradicionais, que conseguiam preservar princípios e valores, estão en-frentando o tormento das drogas. “A ca-

rência familiar é a principal causa das dro-gas”, diz taxativo Altamir Ribeiro, baseado na experiência do trabalho com dependen-tes. Para o voluntário da Casa de Resgate, muitas vezes a falta de informação acaba atrapalhando a tentativa de solucionar pro-blemas de familiares usuários. A informação sobre os efeitos e as conseqüências da droga é importante para saber orientar os filhos de forma correta. “Às vezes a opinião da pes-soa não está correta. Você chegar pro filho e falar: ‘Filho, não mexe com droga porque é uma coisa ruim’. Ele vai usar droga e vai achar bom, porque a droga produz uma sen-sação de prazer. Aí o filho vai entender que o pai é careta, que o pai não conhece. Mas com conhecimento, ele vai dizer que aquele primeiro momento da droga tem essa falsa felicidade e depois vêm as conseqüências. Esse é maior problema da sociedade, a falta de informação para orientar a nossa juven-tude”, afirma.

As transformações da sociedade estão evidentes em qualquer região. O campo não está mais isolado dos centros urbanos. O crescimento tecnológico e econômico proporcionou avanços em diversos setores, mas resultou também em problemas so-ciais. “Hoje, mesmo na zona rural, não vejo

um local que podemos dizer que não tem droga”, diz Marleisson. O combate as dro-gas é complexo e parece estar longe de uma solução. A receita para amenizar os proble-mas talvez seja o fortalecimento da família e de valores esquecidos. “Quando você per-de esses valores você perde seu referencial. Esses valores que estão se perdendo são fundamentais para que possa ter uma vida equilibrada. Na hora de tomar decisão po-der falar ‘eu aprendi assim’. Quando você perde o respeito pelo bem público, pela família, pelo próximo, acha que tudo pode ser feito. Pra quem não tem rumo, qual-quer vento é bom”, ressalta Jonas Giuriatto. “Droga é sinônimo de sofrimento, de morte. Vamos fazer coisas boas, como eu faço hoje graças a Deus. Aprendi a fazer. Ficar com a família, se divertir com os amigos na comu-nidade, na igreja, sem bebedeira, sem dro-ga. Hoje eu sei o que é viver feliz”, finaliza Marleisson, com sorriso no rosto.

na comunidade local e em comunidades vi-zinhas. O sucesso se estendeu e, em 2005, precisaram ampliar a área de cultivo da graviola.“Aproveitamos e criamos um po-mar de goiaba e um de caju-anão-precoce. Também construímos uma casa onde fun-ciona a nossa agroindústria, a Lara Frut. Com o auxílio conquistado pelo financia-mento de crédito do Pronaf e assistência técnica do Incaper, investimos nas lavou-ras, em equipamentos, em câmaras frigorí-ficas e na aquisição de um veículo especí-fico para distribuição das polpas”, conta o casal.

Para o extensionista do Incaper em Ibi-

tirama, Aristodemos Hassen, o exemplo de Leomar e Luciana ilustra bem a capacida-de do jovem em visualizar oportunidades e aplicar as novas tecnologias em benefício do desenvolvimento econômico da família. “O jovem tem essa percepção e lida bem com as novidades. Outra vantagem, é que pode aliar a experiência dos pais ao conhe-cimento técnico”, diz.

Para auxiliar nesse desenvolvimento, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) oferece li-nhas de crédito para agricultores, como o Pronaf Jovem, uma linha exclusiva a jovens maiores de 16 anos e com até 29 anos.

Oportunidade no campo

ESTUDANTES:Raniele, do Sindicato, com jovens em evento em Minas Gerais

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junho 2011 - CAMPO VIVO 25

Projeto difunde dicas para boa colheita do café conilon

Com o objetivo de auxiliar os pro-dutores de café do Norte do Espí-rito Santo para garantir uma boa

colheita na safra 2011, a empresa 7D Pro-dução realizou a quarta edição de um pro-jeto voltado para o setor produtivo, com a divulgação de informações sobre os pro-cedimentos adequados para manter a qua-lidade dos grãos e a boa produtividade.

Através da difusão na mídia regional de dicas para o momento da colheita e pós-colheita, as informações ressaltam a necessidade de práticas corretas no cam-po para obter sucesso na atividade. “Esse período é importante para o agricultor, já que é o resultado do trabalho realizado durante um ano”, destaca Rafael Lucas,

sócio da produtora 7D.As dicas para os produtores foram

veiculadas nos meses de maio e junho em emissoras de rádio e TV, outdoor, encarte em jornal, site e revista especializada no segmento rural. Sempre apoiado por gran-des empresas da região, o projeto teve a participação nessa edição da Pianna Ru-ral, Defesa Agrícola e Adriano Veículos.

Para o gerente de vendas da Pianna Rural, Altamir Biancardi, essa integra-ção é benéfica para o homem do campo. Segundo ele, as particularidades de cada cultura devem ser conhecidas. “Até mes-mo na fabricação das máquinas estão sen-do observadas as necessidades de cada atividade, como é o caso do café coni-

lon”, diz.O engenheiro agrônomo José Guilher-

me Rizzo, da Defesa Agrícola, reafirme a necessidade da informação para os cafei-cultores. “Durante todo ano os produtores precisam de informações para conduzir a lavoura adequadamente. A colheita é um momento importantíssimo. Além disso, é preciso preparar bem a lavoura para a próxima safra”, destaca Rizzo.

Opinião compartilhada por Eberson Fantin, da Adriano Veículos. “Observa-mos em nossa região o potencial do café e a relevância na questão social e econômi-ca. Temos que apoiar projetos desse tipo para contribuir com nossa agricultura”, afirma.

INFORMAÇÃO

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26 CAMPO VIVO - junho 2011

Código Florestalaprovado

Deputados aprovam alterações no Código Florestal. Saiba o que diz o texto e como votaram os parlamentares capixabas

Após muitos debates nos últimos meses, o Novo Código Florestal Brasileiro foi aprovado na Câmara

dos Deputados no dia 24 de maio. O tex-to-base do relator, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), foi aprovado por 410 votos a 63 e 1 abstenção. Mas a polêmica que divi-diu a base aliada foi a emenda 164, dos de-putados Paulo Piau (PMDB-MG), Homero Pereira (PR-MT), Valdir Colatto (PMDB-SC) e Darcísio Perondi (PMDB-RS), que permite o uso das áreas de preservação permanente (APPs) já ocupadas com ati-vidades agrossilvipastoris, ecoturismo e turismo rural e também dá aos estados, por meio do Programa de Regularização Ambiental (PRA), o poder de estabelecer outras atividades que possam justificar a regularização de áreas desmatadas. A emenda foi aprovada por 273 votos a 182.

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PRINCIPAIS PONTOS DO TEXTO APROVADO NA CÂMARA

Áreas de Preservação Permanente (APPs)

Reserva Legal

Competência para emitir licença para supressão de vegetação nativa

Registro da Reserva Legal

Áreas consolidadas

Punição

- Mantém as mesmas medidas previstas a lei vigente (1965) para APPs- Admite culturas lenhosas perenes, atividades florestais e de pastoreio nas APPs de topo de morro, encostas e de altitude elevadas (acima de 1,8 mil metros)

- Para cursos d’água de até dez metros de largura, permite a recomposição de 15 metros*Para as APPs de margens de rios, prevê a medição a partir do nível regular da água

Itens incluídos pela emenda 164- Permite a manutenção de atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural nas APPs se estiverem em áreas consolidadas até 22 de julho de 2008- Outras atividades em APPs poderão ser permitidas pelos estados por meio do Porgrama de Regularização Ambiental (PRA) se não estiverem em áreas de risco- Atividades em APPs consideradas de utilidade pública, interesse social ou baixo impacto ambiental serão definidas por lei;

- No Espírito Santo: 20%- Admite a soma de APPs no calculo da reserva legal desde que a área esteja conservada e isso não implique mais desmatamento- Imóveis de até quatro módulos fiscais poderão considerar como reserva legal a área remanescente de vegetação nativa existente em 22 de julho de 2008- Admite exploração econômica da reserva legal, mediante aprovação do órgão competente do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama)

- Fica o órgão estadual integrante do Sisnama- O órgão federal dará licenças no caso de florestas públicas e unidades de conservação criadas pela união ou de empreendimento que causem impacto nacional ou regional ao meio ambiente- O órgão municipal dará licenças no caso de florestas públicas ou unidades de conservação criadas pelo município e por delegação

- Acaba com a exigência da averbação em cartório- A reserva deverá ser registrada no Cadastro Ambiental Rural criado pelo projeto para todos os imóveis rurais

- Dispensa propriedades de até quatro módulos fiscais da necessidade de recompor as áreas de reserva legal utilizadas- Que desmatou antes do aumento dos percentuais de reserva legal (a partir de 2000) deverá manter a área exigida pela legislação da época

- Isenta os proprietários rurais das multas e demais sanções previstas na lei em vigor por utilização irregular, até 22 de julho de 2008, de áreas protegidas- Para ter o perdão das dividas, o produtor deverá assinar termo de conduta para regularização das áreas de proteção- Para os agricultores que se inscreverem no cadastro ambiental, serão suspensas as sanções administrativas, inclusive as relativas ao decreto 7020/09, que prevê penalidades para quem não tiver reserva legal averbada até 11 de junho deste ano

Contrário - Audifax – PSB

Favorável - Lauriete PSC / Lelo Coimbra PMDB / Manato PDT / Paulo Foletto PSB / Camilo Cola PMDB / Cesar Colnago PSDB / Dr. Jorge Silva PDT / Sueli Vidigal PDT

Contrário - Camilo Cola PMDB / Cesar Colnago PSDB / Audifax – PSB / Dr. Jorge Silva PDT- / Sueli Vidigal PDT

Favorável - Lauriete PSC / Lelo Coimbra PMDB / Manato PDT / Paulo Foletto PSB

Votações dos deputados capixabas Relatório Aldo Rebelo Emenda 164

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28 CAMPO VIVO - junho 2011

GEORREFERENCIAMENTO

As propriedades rurais brasileiras estão estabelecendo seus ‘ende-reços’. Através do sistema de ge-

orreferenciamento, os imóveis rurais do país estão definindo sua forma, dimensão e localização, utilizando métodos de levan-tamento topográfico. A descrição dos limi-tes, características e confrontações das pro-priedades irá permitir ao governo conhecer melhor a realidade da agricultura nacional. Para isso, um decreto governamental define prazos para os produtores rurais realizarem o levantamento de suas áreas através do sis-tema. Para áreas inferiores a 500 hectares, o prazo vence no dia 21 de novembro desse

Até novembro, todas as propriedades rurais do país terão que realizar georreferenciamento

Tony Baldi utiliza equipamento para realizar levantamento topográfico de fazenda em Linhares

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junho 2011 - CAMPO VIVO 29

Mapeando nossa agricultura

ano. Áreas superiores já estão com os pra-zos vencidos.

Na fazenda Radiante, em Linhares, o pecuarista Zaudino Ceolin Neto já está rea-lizando o procedimento. Os 395 hectares da propriedade estão sendo referenciadas. “Já tenho a planta da terra, mas hoje o sistema (GPS) é muito mais moderno, mais eficien-te”, diz o produtor. O engenheiro agrônomo Tony Baldi é quem coordena os trabalhos do georreferenciamento na propriedade de Zaudino. Para realizar o processo, é insta-lada uma base com um aparelho GPS espe-cial, que capta o sinal do satélite, que deve ser em um local aberto e sem possíveis in-terferências para pegar bem o sinal. Os pro-fissionais percorrem o terreno com outro aparelho móvel, em vértices variáveis, para ir ‘marcando’ os pontos da propriedade. “Os vértices são definidos de acordo com levantamento da área realizado. Quando há curvas, por exemplo, é necessário fazer os pontos em cada uma”, explica Baldi. Os dados são confrontados com o sistema de

órgãos federais.Através do georreferenciamento, o pro-

prietário poderá atualizar a situação car-torial ou cadastral da terra. Em qualquer procedimento documental da propriedade, como compra e venda, será exigido o le-vantamento topográfico. “Se amanhã eu precisar fazer um financiamento tem que ter georreferenciamento. Precisa disso para pegar”, diz Zaudino Neto, que trabalha com pecuária. O custo para realizar o método va-ria de acordo com a topografia, vegetação e dificuldades da propriedade. “Oscila entre R$10 e R$40”, diz o agrônomo Tony Baldi. Segundo ele, alguns produtores só querem fazer quando precisar. Mas ele alerta que o processo não é rápido. “Leva cerca de 60 dias até protocolar o levantamento no Incra, que depois libera a certificação”, afirma.

A exigência do governo, atrelando o georreferenciamento aos processos cadas-trais da terra, vai beneficiar a União fazer um mapeamento do setor agropecuário. O Incra, órgão federal, poderá conhecer me-

lhor a produção rural do país por meio dos laudos agronômicos que são enviados pelas empresas que realizam o levantamento. Ao produtor, será possível regularizar a docu-mentação; conhecer a área real da terra, através de um sistema mais preciso; e ficar em dia com a legislação. “Na verdade, atu-almente quem possui áreas acima de 500 hectares e não fez ainda o georreferencia-mento está ilegal”, afirma o agrônomo.

Quais são os prazos para a realização do Georreferenciamento?

O decreto 5.570/05 de 31 de outubro de 2005 fixou os prazos legais para o geor-referenciamento de imóveis rurais:

Zaudino quer ficar com a situação

cadastral em dia

O PRODUTOR

• Áreas iguais ou superiores a 5.000 ha o prazo venceu em 21-02-2004;

• Áreas entre 1.000 e 5.000 ha o prazo venceu em 21-11-2004;

• Áreas entre 500 e 1.000 ha o prazo venceu em 21-11-2008;

• Áreas inferiores a 500 ha o prazo vencerá em 21-11-2011;

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30 CAMPO VIVO - junho 2011

BelezaTradição

Cultura

DEMÉTRIO RIBEIRO AINDA PRESERVA FORÇA CULTURAL E

Doze quilômetros cercado por la-vouras de cacau, café e rema-nescentes da Mata Atlântica. A

estrada que liga a cidade de João Neiva até a localidade de Demétrio Ribeiro é o início de um passeio recheado de belezas naturais e culturais. A entrada da localida-de que hoje possui cerca de 120 famílias demonstra quem começou a desbravar es-sas terras. “Começou aqui a história dos imigrantes italianos deste município”, diz, em italiano, a placa que recebe os vi-sitantes.

A força e a história das famílias que habitaram a localidade ainda podem ser encontradas por aqui. Ao chegar, o local nos passa a sensação de um pedaço de ter-ra ainda preservado pelo tempo. Uma vila singela entre as montanhas do município de João Neiva. Os moradores vivem na simplicidade de um povo que tem a hos-

pitalidade e a fé como valiosas virtudes. Somos recebidos por Celso Luiz Guzzo e pelo jovem Guilherme Campagnaro Car-rareto. Duas gerações que têm em comum o amor por Demétrio Ribeiro. Ao cami-nhar pelas bucólicas e aconchegantes ruas, encontramos registros de dezenas de décadas atrás. A igreja, com a beleza em sintonia com a fé dos moradores, foi construída pelos primeiros moradores, e depois reformada. Ao lado dela, a Casa Paroquial data de 1900. As escadarias re-cebem grãos de café para secagem, feito por vizinhos da igreja que aproveitam o cimento para melhorar o processo de be-neficiamento do produto que foi a princi-pal fonte de renda dos imigrantes que ali se instalaram por volta de 1891. Um deles foi a avó materna da Dona Aladia Malo-vini Correia, de 66 anos. A casa que ela mora ao lado do esposo, seu Amadeo An-

tonio Correia, de 74 anos, é uma das atra-ções da localidade. Feita de pedra, a casa tem uma arquitetura própria. O moinho de pedra dentro da casa prepara o fubá com o milho produzido por eles mesmos. “Estu-dei aqui em Demétrio. As aulas eram em latim e português para que todos pudes-sem aprender na época”, relembra Aladia. A Casa de Pedra do casal é um dos pontos turísticos de Demétrio Ribeiro. A ideia do circuito começou há quatro anos, mas em 2010 que começaram a colocar em práti-ca com apoio da Secretaria de Cultura de João Neiva e do Sebrae.

Bem perto dali, o Museu do Imigrante reúne alguns objetos históricos do local. Fotos antigas das famílias pioneiras, fer-ramentas usadas no trabalho do campo e um confessionário dão a dimensão da for-ça cultural. Um livro de canto em latim exposto no centro do museu é uma das

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junho 2011 - CAMPO VIVO 31

HISTÓRICA DOS IMIGRANTES QUE HABITARAM SUAS TERRAS

principais recordações da comunidade. Quem lem-bra bem do tempo passado é Davina Pelissari Recla. A simpatia e a conversa cativante nos prendem nas histórias de vida. Aos 66 anos, ela recorda de quando tinha seus 13, 14 anos e já participava da Reunião do Apostulado de Demétrio. O encontro de mulheres da localida-de perdura até hoje e ela não deixa de ir. “Todo mês nos reunimos. Hoje, temos cerca de 20 mulhe-res que ainda freqüentam a reunião”, afir-ma. Com alegria, Davina prepara o cape-letti que aprendeu com a mãe para vender na região. “Antigamente, era só em época de festa, na Páscoa, Natal e no primeiro dia do ano. O capeletti tinha cheiro de festa”, diz, com os olhos brilhando pelas recordações. Saudosa, ela diz que as coi-sas mudaram nos tempos atuais. “Antes, a maneira de receber as pessoas em casa era diferente. Havia felicidade e prazer”, diz. Mas ela não esquece a boa hospitalidade. Morando na localidade há 43 anos, dona Davina recebe todos com simpatia e defi-ne-se como uma apaixonada por capeletti

e macarrão. “Acho que é a descendên-cia”, brinca. As re-ceitas preparadas com as lembranças de épocas passa-das são servidas na Festa dos Imigran-tes realizada anual-mente em agosto. A comunidade se en-volve para propor-cionar aos turistas um fim de semana recheado de comi-

das típicas, histórias, cultura, tradi-ção e alegria.

No Casarão dos Violinos uma atração a mais. Antiga, a casa abri-ga uma mostra de instrumentos de várias partes do mundo. O banjo (EUA), a lira de Creta (Grécia), o Violino de Boca (Vietnã), o Ruan (China) e o Quatro Portoriquenho (Porto Rico) são alguns dos que podem ser apreciados. “Há 14 anos comecei a coletar e colecionar”, diz o músico Renato Casara. Ele realiza cursos programados durante o ano de fabricação de instrumentos reu-

Renato Casara e seu amor pelos instrumentos; história e arte no mesmo local

CASAParoquial

foi construída em 1900

Dona Aladia e Seu Amadeo moram

na Casa de Pedra, ponto turístico de Demétrio Ribeiro

na igreja de Demétrio, um dos pontos turísticos do local

CELSO E GUILHERME

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32 CAMPO VIVO - junho 2011

nindo pessoas de várias partes do Brasil. No Casarão também é possível apreciar a culinária italiana. Um restaurante acon-chegante prepara pizzas para os visitan-tes.

Esse ano será a quinta edição da festa.

O jovem Guilherme Campagnaro ajuda na divulgação. A paixão pela comunidade vem da família. O avô, seu Narcizo Cam-pagnaro, tem 86 anos e ainda prepara o fubá no moinho de pedra na propriedade da família, atendendo aos pedidos de mo-radores da região. Enquanto regula o moi-nho, Narcizo observa as irmãs Maria José, Monica, Maria Alice e Leonilda Campag-naro, planejando a inauguração de uma loja para comercializar o artesanato feito manualmente, fomentando o turismo local. A ideia de alavancar o agroturismo em João Neiva ganha apoio da Prefeitura local. De acordo com o prefeito do município, Luiz Carlos Peruchi, Demé-trio Ribeiro se torna uma op-ção de lazer em uma região que se desenvolve a cada dia. “Estamos no meio do desen-volvimento. Linhares, Ara-cruz, Colatina,Serra,são mu-nicípios que estão crescendo muito industrialmente. A lo-

calidade de Demétrio Ribeiro, uma região mais alta e com clima mais frio, se torna uma ótima opção para os turistas. Temos uma logística incomparável. João Neiva tem tudo para crescer no agroturismo”, afirma o prefeito.

Reunindo suas belezas naturais, hos-pitalidade do seu povo e a força cultural e histórica, Demétrio Ribeiro pode ser con-siderado, realmente, um pedaço de terra ainda preservado pelo tempo.

Artesanato da Família Campagnaro

gera renda

Aos 66 anos, Davina lembra a reunião do Apostolado que

freqüenta desde jovem

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Enio Bergoli

Engenheiro Agrônomo, pós-graduado em Administração Rural e Secretário de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca

Opinião

Consumo de café nos países produtores e emergentes na nova década

Em 2010, o mundo produziu e consumiu um volume recorde de cafés: 134 milhões de sacas! Agora que esta-mos iniciando a nova década 2011-2020, muitos estudos inferem sobre novos hábitos, tendências e perfil do con-sumo de café.

A pesquisa “Tendências de Consumo 2010” da Asso-ciação Brasileira da Indústria do Café – ABIC e os estudos da P&A International Marketing e da Orlam International Limited são fontes recentes e confiáveis sobre o mercado de café, e alguns desses dados são citados a seguir.

Atualmente, os países produtores de café já represen-tam uma fatia de 30% do consumo. Contudo, enquanto o consumo mundial de café cresceu 2,4% de 2009 para 2010, nesses países cresce muito mais, na casa dos 3,3% ao ano. E em muitos deles acima de 5%.

O Brasil, maior produtor e exportador mundial de ca-fés, será também o maior con-sumidor, ultrapassando os Es-tados Unidos nesta década que se inicia. A evolução do consu-mo de cafés no Brasil é, defini-tivamente, um caso de sucesso. Nos últimos 20 anos, saímos de um consumo doméstico de apenas 8 milhões de sacas para 19,3 milhões no ano passado. O consumo de 6 kg/habitante/ano ainda coloca os brasileiros entre os maiores consumidores do produto no mundo.

Também é expressivo o crescimento do consumo nos demais países produtores de café, embora a quantidade consumida por habitante ainda seja muito baixa. No Vie-tnã, segundo maior produtor mundial, o consumo cresceu 15% de 2009 para 2010. Mas, cada vietnamita consome apenas 880 gramas de café por ano. No mesmo período, o consumo da Indonésia cresceu 9%. Destaque ainda para México com 7% e Índia com 5% de ampliação no consu-mo.

Considerando o dever de casa que fizemos por aqui, e a liderança que tem nosso país no mercado internacional de cafés, é muito importante que apoie e colabore com estra-tégias de marketing que promovam e acelerem o aumento de consumo nos países produtores e emergentes. Precisam

beber mais café os 300 milhões de consumidores poten-ciais da Índia (que hoje consomem apenas 90 gramas/ha-bitante/ano) e os 500 milhões de chineses. É claro que não podemos nos descuidar dos mercados nos países ricos que ainda consomem 70% dos cafés produzidos no mundo. Mas, no momento, devemos também ter foco na ocupação dos mercados onde o consumo de cafés terá crescimento maior.

De acordo com a P&A International Marketing, nesta nova década serão atores importantes os chamados “novos consumidores”, ou seja, os jovens, as novas classes mé-dias (a D que sobe para a C) e as diferentes preferências e novos padrões de consumo da bebida. E ainda, o consumo “fora de casa”, cada vez com maior participação, tende a puxar o consumo “dentro de casa”. Assim, precisaremos mais volume e melhor qualidade dos cafés.

Para o Espírito Santo, que produz mais de 70% do café Co-nilon do país, chama a atenção o estudo da Olam International Limited sobre cenários para o consumo de café robusta. Para a Olam, em 2020 o mundo de-verá consumir no mínimo mais 10,3 milhões de sacas de café do grupo dos robustas, poden-

do chegar a 23,1 milhões de sacas, desde sejam estabeleci-das campanhas de incentivo ao consumo.

As oportunidades estão postas para a década! O au-mento do consumo nesses países em que a classe média é crescente se traduz em oportunidades para a base da ca-deia produtiva, que são os cafeicultores. Mas isso não sig-nifica que não teremos percalços ao longo dos próximos dez anos. É fundamental a união de todos os elos da cadeia produtiva dos cafés para que aproveitemos esses espaços.

Jamais poderemos abdicar da busca e do uso constante de tecnologias que reduzam custos, aumentem a produti-vidade e garantam a qualidade da produção. Essas são as “armas”, não só para a superação de crises, que em algum momento virão, mas para a conquista da sustentabilidade da nossa cafeicultura, de forma a melhorar a qualidade de vida, principalmente das famílias rurais.

“No momento, devemos também ter foco na ocupação dos

mercados onde o consumo de cafés terá crescimento maior”

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34 CAMPO VIVO - junho 2011

“Agricultores brasileiros foram considerados heróis no passado, e hoje são tratados como bandidos”HOMERO PEREIRA, deputado federal, da bancada ruralista, em 04 de maio, discursou favorável ao projeto do Código Florestal apresentado pelo relator Aldo Rebelo

JOE VALLE, deputado distrital (PSB/DF), em 17 de maio, na abertura da AgroBrasília

JOSÉ IZIDORO RODRIGUES, secretário de Desenvolvimento Rural, em 04 de maio de 2011, falando sobre investimento do município na cultura do milho

“Esse não é o relatório dos pequenos, é dos grandes fazendeiros”

“Será que desaprendemos a plantar mamão?”

“O nosso pré-sal é a agricultura”

“Colatina já tem produtores de milho e vamos apoiá-los para que a produção cresça a cada dia”

IVAN VALENTE, deputado federal (Psol), da bancada ambientalista, em 03 de maio, discursando contrário ao Código Florestal

JOSÉ ROBERTO MACEDO FONTES, engenheiro agrônomo, no dia 13 de maio, durante reunião em Sooretama sobre o futuro da produção de mamão papaya no Espírito Santo, ao mostrar a diminuição da produção da fruta nos últimos anos no Estado

FrasesDi

vulg

ação

Divu

lgaç

ão

Divulgação

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junho 2011 - CAMPO VIVO 35

Investimentos e Desigualdades Regionais: O interior sob ameaça

O Instituto Jones dos Santos Neves-IJSN acaba de divulgar o documento sobre os investimentos anuncia-dos para o Espírito Santo no período 2010-2015. São R$ 98,80 bilhões, inversões auspiciosas e inigualáveis para as dimensões capixabas, destacando-se, inclusive, que não foram considerados os projetos com investimentos inferiores a R$1,00 milhão.

O que mais chama a atenção no documento elabo-rado pelo IJSN é o baixo investimento anunciado para o interior, transmitindo a impressão de que o problema da desigualdade regional tenderá a se aguçar. De fato, con-siderando as regiões litorâneas, de norte a sul, 84,50% do total dos investimentos programados estão direcio-nados para essa faixa litorânea. Se a ela agregarmos a Região do Polo Cachoeiro, chegaremos a 97,20% dos investimentos previstos/anunciados.

Na distribuição setorial, nem aparece a agricul-tura, admitindo-se que algum investimento programado nesse setor esteja associado, principalmente, à Cnae 15 - Fabricação de produtos alimentícios e bebidas.

Não resta dúvida de que há uma forte concentra-ção de investimentos anunciados nessas regiões referen-ciadas pelo documento do IJSN. E não é de agora, todos os levantamentos realizados desde 2002 apontam essa concentração, estendendo-se a partir da Grande Vitória para as faixas litorâneas Norte e Sul.

A questão que se coloca, com essa disparidade sus-tentada de investimentos entre as regiões litorâneas e o interior, é a ampliação das desigualdades regionais, con-trapondo-se à intenção do Governo de corrigir tais desi-gualdades. Não resta dúvida de que é um desafio enorme, eis que o crescimento e o desenvolvimento desiguais no Espírito Santo seguem um padrão histórico, cuja origem vem das políticas de transferência de renda entre o rural o urbano, desde os primórdios da colonização. Tributa-ções e confiscos nas transações comerciais dos produtos agropecuários (açúcar, algodão madeira e, principalmen-te, café) confirmam essa evidência histórica.

Quanto, de fato, é investido no interior e quanto da renda gerada no interior circula na própria região? Esta é uma questão crucial a responder para avaliar o dina-mismo econômico interiorano e construir alternativas de

investimentos, empregos e ocupações produtivas. A título de ensaio especulativo, considerou-se um

PIB da ordem de 72 bilhões para o todo o estado do Es-pírito Santo e que 80% desse PIB tem origem na Grande Vitória e demais regiões litorâneas. Ademais, do total do PIB agropecuário do interior, 60% tem origem na agro-pecuária. Considerando a taxa de Formação Bruta do Ca-pital Fixo – FBCF de 20% ( média estadual dos últimos anos, excluído 2009), e que na agricultura essa taxa é de 15%, então teríamos um valor de investimentos da ordem de 2,60 bilhões/ano, para todo o interior. Somam-se a isso os investimentos novos anunciados, da ordem de 2,70 bilhões, em 5 anos, representados pela soma de todas as regiões afora as litorâneas, Grande Vitória e a do Polo Cachoeiro, conforme documento do IJSN. Te-ríamos, tudo somado, condições de investimentos no interior, endógenos e anunciados, da ordem de 15,70 bilhões, em 5(cinco) anos – 2010/2015. Isto poderá ser um pouco mais alavancado com o crédito rural de inves-timentos, mas não fugiria muito desses grandes números. Mesmo porque, o crédito antecipa investimento, segun-do a capacidade de pagamento, cujo custo é o juro do empréstimo.

Seguindo o mesmo critério de cálculo, pode-se comparar com os investimentos anunciados e autônomos da ordem de 153 bilhões nos mesmos cinco anos para as regiões mais dinâmicas, ou seja, uma relação de 1:10, entre interior e essa regiões com maior atratividade de capital. Esta é uma razão desigual, cujo esforço público deve ser imenso para amenizar essas disparidades.

No volume de dinheiro, perderemos sempre, e as desigualdades se ampliam. Temos que formular estraté-gias de disputar na qualidade do investimento, distribu-ído para milhares de produtores rurais e pequenos em-presários do interior. Temos mais: fazer com que a renda gerada circule no interior, em cada município, vila e po-voado. Para isto, não vejo outra saída senão recorrer às estratégias de desenvolvimento local, focar a qualifica-ção das organizações, do capital humano e na agregação de valor aos produtos regionais/municipais. Por fim, as-segurar mobilidade e serviços públicos de qualidade em educação, saúde, assistência técnica e extensão rural.

Wolmar LossEngenheiro agrônomo, mestre em Economia Rural

e Desenvolvimento Econômico

Artigo

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Receita

O ciclo das festas juninas começa em todo país em meados do mês de junho, quando se festejam

quatro santos muito conhecidos no Brasil: Santo Antônio, no dia 13; São João, dia 24; e São Pedro e São Paulo, no dia 29 de junho.

Segundo historiadores, nos países eu-ropeus católicos, a festa era inicialmente chamada de “joanina” (em homenagem a São João). Trazida pelos portugueses para o Brasil, virou festa “junina” e passou a

fazer parte dos costumes locais, com a in-trodução de alimentos, como o aipim e o milho, e também os cantos e danças. Mas não foi somente a influência portuguesa que caracterizou as comemorações. A qua-drilha, por exemplo, foi uma adaptação de uma dança da nobreza européia (quadril-le), muito presente nos salões franceses do século 18.

As Festas Juninas são um dos eventos mais consagrados no território brasileiro. As ruas, praças e escolas de muitas cidades

são decoradas com bandeirinhas coloridas. No Espírito Santo, a tradição é celebrada em localidades de várias regiões do Esta-do. Nas festividades, as barracas montadas ao ar livre servem comidas e bebidas típi-cas que dão o toque especial nas festas.

A canjica e a pamonha são receitas tra-dicionais da festa na região, devido à épo-ca ser propícia para colheita do milho. E é no ritmo das festas juninas que ensinamos as receitas típicas: canjica e pé de moleque com leite condensado.

Canjica e pé de moleque

Período de festas juninas movimenta comunidades que mantém tradição com comidas típicas

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INGREDIENTES:- 500g amendoim torrado e sem casca - 1 xícara (chá) de açúcar - 1 lata leite condensado

MODO DE PREPARO:Em uma panela acrescente todos os ingredientes, mexa até começar a desgrudar do fundo da panela, despeje em uma assadeira untada com margarina sem sal, quando começar a esfriar corte em quadradinhos, depois de frio pode desenformar.

INGREDIENTES:- 2 xícaras (chá) de milho para canjica

- 1 litro de água - 1 litro de leite

- 1 pauzinho de canela

MODO DE PREPARO: Deixe a canjica de molho na água de um dia para o outro. A seguir, coloque na panela de

pressão e acrescente a canela e a casca de limão. Cozinhe até amolecer o milho. Retire da pressão e coloque em uma panela. Adicione o leite quente e cozinhe em fogo

baixo por 25 a 30 minutos. Junte o leite condensado, mexa e desligue.

Canjica

Pé de moleque

Dica: Sirva com amendoim triturado e coco ralado.

- Casca de limão - 1 lata de leite condensado

- Opcional: Amendoim, Coco ralado

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As muitas messes do café

Antonio Bezerra NetoSecretário de Cultura de Linhares

[email protected]

O café tem seu fetiche, talvez seja a bebida mais presente no cotidiano da modernidade. Uma confis-são já nestas primeiras linhas: tomo café desde mo-leque, não obstante ter nascido no semiárido onde é impraticável produzir a estimulante bebida. Ouvia do dono da torrefação de minha cidade, em pleno Seri-dó: “Esse café veio da cidade de Guaçuí, no Estado do Espírito Santo”. Passava horas ouvindo relatos do motorista vindo das terras cafeeiras dos guaçuienses. Idealizava os pés de café; imaginava-os intensamente verdes cercados de camponeses em lúdicas colheitas, cobertos pelas névoas outonais. Ine-gavelmente a imaginação é a única condição que o homem tem para espairecer.

O café influenciou enormemen-te os intelectuais, de maneira espe-cial aqueles que viveram a chama-da Belle Èpoque, em Paris e outras capitais europeias. É interessante ressaltar que a Paris de agora foi gestada a partir da criação de ele-gantes cafés. Honoré de Balzac (1799—1850), prolífico escritor francês, deixou escrito numa das tabernas parisienses que o café é a bebida que desliza para o estôma-go e põe tudo em movimento.

Já ouvi de um irrequieto toma-dor de café que é mais fácil trocar de religião do que de café. O café já teve seu estig-ma ideológico quando de um pronunciamento de Che Guevara, em Havana. Disse o carismático líder re-volucionário: “Se não há café para todos, não have-rá para ninguém”. Che proferiu essa sentença quando nos primeiros racionamentos da bebida, em Cuba. Na verdade, o século 20 foi gradativamente se impreg-nando de cafés.

Pois bem, com o tempo fui nutrindo curiosidades as mais claras sobre o universo do café desde o plantio até a colheita. E fica um reconhecimento: O Instituto

Capixaba de Pesquisa e Extensão Rural (Incaper) foi a grande divisa, embora sem formação agronômica; a propósito, digo-vos que o Estado do Espírito Santo caprichou em sua política de melhoramento dos cafés. Hoje, bebem-se excepcionais cafés pelas muitas geo-grafias capixabas.

A cultura cafeeira já tem longa duração em nosso meio. A historiografia é serena em afirmar que a cul-tura dos cafezais capixabas iniciou-se sob a expansão da província do Rio de Janeiro, na primeira metade do século 19. Na realidade, o café chegou a solos espírito-

santenses pelo sul e com o transcorrer dos anos a cultura foi se firmando como alento econômico para o Es-tado, e logo, para o País.

Naquela ocasião, o café, apon-tava benefícios comparativos, conquistando, progressivamente, campos antes tomados por cana-de-açúcar. E fica um dado de ordem estrutural: toda a estrutura produti-va canavieira terminou sendo re-produzida nos cafezais: monocul-tura e regime escravocrata. É justo dizer que a atividade cafeicultora não se traduziu nesse início em um novo padrão de desenvolvimento econômico, mas em uma substi-tuição interna no modelo primário

exportador canavieiro. O alargamento da cafeicultura foi rápido: já em

1850 era evidente o valor da cultura no universo capi-xaba. Com o curso dos anos, foram surgindo estradas, navegação, ferrovias, aumento da movimentação do Porto de Vitória, que terminaram por ensejar o pro-gresso do Espírito Santo.

Interessante é que o café continua nutrindo o de-senvolvimento das terras atualmente governadas por Renato Casagrande. A colheita que corre por quase todo o Estado é um prova inconteste da força da cul-tura cafeeira.

Crônica

O lavrador de café - Portinari

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