Revista Citrica - Número 04

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    1ctrica. maio de 2013

    voc j foi ao museu? por carol vidal / qualquer semelhana com arte tersido mera coincidncia. por heber fontes. 20 anos de o tchan. por jssicaneri / literatura afrodescendente no brasil. por thiara lippo / impres-

    ses sobre urbanos, humanos, estranhos... por valdeck almeida de jesus encarte especial

    Comercial &Industrial : A dieta cinematogrca nadbalanceada dos baianos

    ano 1 | n 4 | 2013ISSN 2317-5923

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    2trica. maio de 2013 ctrica. maio de

    editorial

    expediente

    autores desta edio

    colaborador

    A 4 edio do Ctrica encerra um ciclo: conclui-se a primeira previso de nmeros nanciados pela Fundao Cultural doEstado da Bahia (FUNCEB), na inteno de oportunizar ao pblico e a novos crticos espao para o exerccio do debateobre a produo artstica da Bahia. Por isso, esta uma edio especial. H os textos de crtica, escritos sobre temas

    diversos, trazendo a estas pginas olhares mais cidos, que, se cumprindo o papel desta tarefa, podem contribuir paraa reavaliao de quem faz e usufrui da arte. H pginas dedicadas ao testemunho de membros da comisso de seleodo Prmio Nacional de Fotograa Pierre Verger 2012/2013, numa anlise sobre o processo seletivo da 5 edio desteconcurso realizado na Bahia e que um dos maiores da rea fotogrca do Brasil. H, ainda, um encarte com os vencedoresdo concurso cultural Capa Mgica, em que artistas recriaram capas de lbuns de baianos e como bacana que tenhamido ideias e execues de evidente qualidade.

    Esperamos que novos ciclos se abram, que novas edies venham, que novas iniciativas similares possam surgir e,especialmente, permanecer. Esperamos que o Ctrica tenha despertado interesse, que tenha instigado reexes, queenha desaado seus autores, que tenha provocado leitores. O Programa de Incentivo Crtica de Artes continua, porque a

    crtica tem de estabelecer seu lugar como meio de desenvolvimento do setor ar tstico na Bahia. At a prxima!

    01. Andr Bomm especialista em Anlise deCinema e TV e mestrando em Comunicao e Cul-ura Contemporneas pela FACOM/UFBA. [email protected]. Carol Vidal jornalistaormada pela PUC-Rio, com experincia em reda-o online. Carioca de nascimento e baiana de co-ao, apaixonada pela diversidade artstica queBrasil tem a oferecer.03. Heber Fontes bacha-

    el em Comunicao Social com habilitao em

    Rogrio Geo artista plstico e skatista por paixo. Oriundoda cultura punk, j fez exposies fora e dentro do Brasil,carregando na bagagem suas inuncias vindas da espiritu-alidade e paixo pela natureza. H nove anos, trabalha comsuas Mixed Media.www.ickr.com/indiedeadwww.cadaveramador.blogspot.com.br

    Fundao Cultural do Estado da Bahia - FUNCEBDiretoria das Artes - DIRART

    Programa de Incentivo Crtica de Artes:www.fundacaocultural.ba.gov.br/citricawww.fundacaocultural.ba.gov.br/criticadeartes

    Contato, sugestes e crticas:Telefone: (71) 3324-8505 | Ctrica: [email protected] Programa de Incentivo Crtica de Artes: [email protected] Fundao Cultural do Estado da Bahia Rua Guedes de Brito, 14 Pelourinho CEP. 40.020-260 Salvador/Bahia

    museus

    Museus: uma vastido dehistrias contadas para quem?em comemorao ao dia mundial dos museus, no ms de maio,

    vamos discutir a falta de pblico nesses espaos

    por carol vidal

    Os museus vo de mal a pior.Parece que a mxima de que eles s vivem de passadotem afastado espectadores. E, aproveitando que 18 de maio o Dia Mundial dosMuseus, vamos nos debruar em algumas questes sobre a escassez de pblicodessas instituies. No devemos responsabilizar apenas o poder pblico ou credi-tar a falta de acesso cultura por essa ausncia, j que a quantidade de museus noBrasil no pequena e boa parte deles tem entrada gratuita. O que ocorre, ento?

    Falta ao pas investir em algo que faz toda a diferena: a formao de pblico.Como o acesso a determinados bens culturais sempre foi quase que exclusivamentedestinado s classes de maior poder aquisitivo, a maioria da populao ainda sesente excluda desse meio. E os nmeros no mentem: de acordo com a pesqui-sa sobre prticas culturais realizada em 2010 pelo Instituto de Pesquisa Econmica

    Aplicada (Ipea), 7,4% das pessoas vo mensalmente a museus ou centros culturais.No adianta nem mesmo a possibilidade de ingressar gratuitamente para trans-formar esse nmero, por exemplo, se muitos nem sabem da existncia dos museus.Ou pior: o que parece que no se tem estmulo para visit-los. A impresso quetemos que os museus no conseguem ser atrativos para a maioria da populao. Eo que acontece? As visitas cam a cargo de pesquisadores e de alguns estudantes. Ea chave pode estar nesses estudantes: ser que estimul-los visitao espontnea(sem ser parte obrigatria de alguma disciplina) no seria um comeo?

    Para seduzir esse pblico ausente, os museus precisam estar integrados a fer-ramentas que faam parte do seu cotidiano.Como esperar que algum seinteresse em visitar um museu se ele tem uma divulgao precria e impossvel encontrar informaes online sobre ele, por exemplo?

    E mesmo que se argumente qso internet tambm no gzar esse meio apenas uma sno a nica.

    Vamos analisar o caso daestado abriga 152 dos 3.025mapeados no Brasil, segundo Instituto Brasileiro de MuseuDesse total, 71 esto em Salvjunto ao Recncavo, onde eszados quase todos os museus dPara atingir o pblico que nomuseus por habitar em bairr

    cidades que no os possuem, sies itinerantes podem contrnimizando essa carncia.

    Outro ponto a ser considegrau de atratividade que o acece sobre os visitantes. Organsies com caractersticas ie/ou que estejam includas, deforma, na vivncia das pesscolaborar para provocar interedevemos esquecer os artistasporneos, pois so eles os mzes de traduzir a viso e as expde quem vive na atualidade.Cespao maior de exposinovos talentos nos muse

    O assunto extenso e as ces so muitas. Resta o deseas pessoas despertem para a icia do vasto acervo culturalnos museus e do seu registro fomos e de quem somos. E a de que as discusses levanta

    ajudem a pensar no quanto deixando de lado nossa hists a passada, como a atual.

    Acesse a pesquisa Museus emNmeros, realizada pelo IBRAMd uma dimenso sobre a situamuseus no Brasil: www.museuscategory/publicacoes-e-docum

    Editora-chefe: Paula BerbertConselho Editorial:Aila Canto, Alexandre Molina, CaduOliveira, Paula Berbert, Rosalba LopesEditora Executiva:Rosalba LopesAutores: Andr Bonm, Carol Vidal, Heber Fontes, JssicaNeri, Thiara Filippo, Valdeck Almeida de JesusReviso:Cadu Oliveira, Carol Vidal, Paula Berbert, ThiaraFilippoProjeto grco e diagramao:Edileno Capistrano FilhoCapa:Rogrio GeoFotos no creditadas: divulgaompresso e acabamento: Empresa Grca da Bahia

    Tiragem:6 mil exemplares

    Ctrica um peridico realizado pela Fundao Cultural doEstado da Bahia em colaborao com os par ticipantes daOcina de Qualicao em Crtica, e integra o Programade Incentivo Crtica de Artes promovido pela instituio. permitida a reproduo integral ou parcial dos textospublicados desde que sejam citadas as fontes. A escolhadas pautas e as opinies expressas nos textos so deesponsabilidade dos seus respectivos autores.

    Memorial da Medicina Brasileira, em Salvador, o segundo museubrasileiro com a maior quantidade de objetos

    L e e - S

    e a n

    Jornalismo pela FAT, estudante de Especializaoem Psicologia da Comunicao e do Marketing doCentro Universitrio UNIARA-SP e aluno do Mestra-do em Crtica Cultural da UNEB. Atua como asses-sor de comunicao, danarino, ator, professor deFormao de Grupo em Teatro e crtico cultural.criticoheberfontes.blogspot.com.br. 04. JssicaNeri jornalista e mestre em comunicao. Adoraescrever e dar pitaco sobre o mundo. Recentemen-

    te, chutou o balde e virou escritora [email protected]. Thiara Filippo mes-tre em Letras (UFMG) e especialista em Educaoa Distncia (SENAC/BA). Atua como professora emcursos de ps-graduao e de formao de profes-sores, e como revisora de textos.06. Valdeck Al-meida de Jesus escritor e jornalista, membro daAcademia de Letras de Jequi, Fala Escritor e UnioBrasileira de Escritores.

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    dana

    O solo de dana autoral denomi-nado Qualquer semelhana meraoincidncia , de Rafael Rebouas,

    nicia de uma forma inusitadamen-e interessante: com a apario doator interpretando desde o foyer. Aapresentao cativa incipientemen-e, com um tom de comicidade enteratividade com o pblico, espe-

    cialmente pela expresso do ator,que oculta o seu notrio dom de re-presentar.

    A temtica embasada no ritmo tec-nobrega aposta numa crtica socialao mau gosto estilstico e cpia em

    Qualquer semelhana meracoincidncia subestima o pblicoportanto, qualquer semelhana com arte mera coincidncia!

    por heber fontes

    detrimento da originalidade na cultu-ra popular. A explanao de tais refe-renciais foi abordada num enredo de

    excessiva ridicularizao, decorrenteda falta de esforo em aproveitar oespao concedido, alm de fraca con-textualizao e utilizao de poucosrecursos imagticos.

    A repetitividade, a m qualida-de do udio e as tentativas de apelopara chocar camuaram o talento doperformer. A pesquisa de produodeveria ter sido enriquecida com ele-mentos cotidianos, justamente pelaabrangncia do tema. Portanto, qual-

    O estilo brega reproduzido de forma unilateral

    quer semelhana com arte meracoincidncia!

    A apresentao foi desenvolvida

    no projeto Arquiplago, do ColetivoConstrues Compartilhadas, atravsdo Prmio Funarte de Dana KlaussVianna, e participa da 6 edio doprojeto Abril O Corpo, do Teatro Gam-boa Nova, espao popular que foi es-truturado no intuito de disseminar acultura de forma mais democrtica,mas que no mantm a programaoatualizada no site e permite que os es-petculos iniciem com atrasos, o quedecorre em ausncia de pblico.

    convida

    Prmio Pierre Ver

    a aventura do conhecimepor rodrigo rosso A fotog rafia um fascina nte camp o de pesquisas , de produes xes. Posso at cometer a heresia ao armar que seja muito difcialgum que j no tenha sido fotografado ou at mesmo feito algucom uma cmera. O prazer de conseguir os instantes mais surprmove a prtica cotidiana de quase a totalidade da populao, sejamgrafos prossionais (que atuam em um mercado lucrativo), ou amaestejam interessados em registrar as belezas do mundo), ou os voradores do instagram (que no perdem praticamente nenhuma opode registrar onde esto, o que esto fazendo ou onde gostariam Esse movimento o que tem assegurado fotograa a sua forte supopular. Ela tem todos os ingredientes do sucesso: fcil de ser pbasta clicar -, tem baixo custo e tem um potente estatuto de veraci

    No ltimo ms de abril, foi divulgado o resultado doPrmio Nacional de Fotograa Pierre Verger 2012/20, maiores concursos para trabalhos fotogrcos do Brasil, promovido pela Fundao Cultural do Estado da BaNesta 5 edio, dentre 317 propostas inscritas, foram trs premiadas: na categoria principal, Livre Temtico selecionado foi Andr Penteado (SP), com o trabalhoO Suicdio de Meu Pai . Em Fotograa Documental, A(MG) venceu com a srieDesvios. Em Trabalhos de Inovao e Experimentao na rea de Fotograa, o prmLetcia Lampert (RJ), comConhecidos de Vista. O Ctrica convidou membros da comisso de seleo para falarncia deste processo seletivo e do que representam os resultados. Mais informaes e imagens dos ensaiospodem ser vistos no site da FUN CEB:www.fundacaocultural.ba.gov.br .

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    convidados

    Contudo, justo fazer uma pequena diferenciao. No a paixo que envolve esse universo que quero abordar.Para os adeptos da pesquisa, mais do que paixes h umagica que movimenta a prtica da investigao. H a ne-

    cessidade de se acompanhar os processos, os estilos, osusos e as rupturas que o fazer fotogrco contemporneoem produzido. Este fazer-se difere de prticas que, ante-iormente, foram inovadoras no seu tempo, mas que, com

    o prprio uxo do movimento de mudana da sociedadecontempornea, se abriu para novas possibilidades. Essemovimento irreversvel e, para a frustrao de muitos, in-dependente da nossa vontade, a fotograa mudou.

    A est a grande contribuio do Prmio Nacional de Fo-ograa Pierre Verger. Em uma linguagem da cincia clssi-

    ca, participar da comisso julgadora foi um grande labora-rio de pesquisa. Enumero dois relevantes motivos.

    O primeiro, centra-se no privilgio de ter acesso a tra-balhos fotogrcos de prossionais de todas as partesdo pas. O contedo dos projetos inscritos se apresentoucomo um inventrio histrico, terico e de prticas diver-as. Um grande diagnstico que aponta para o novo e ne-

    cessrio caminho que tem tomado a produo fotogrcabrasileira. No seu conjunto, cerca de 317 trabalhos, e umpouco de tudo: (a) a simples investida tcnica; (b) a buscapela imagem mais bela, ou mais dramtica ou simples-mente instantneos fugazes; (c) a experimentao sempropsitos; (d) a seleo aleatria de melhores imagensde uma carreira; (e) a crena na contradio da comisso,ou na sua falta de critrios; (f) e, por m, a noo de pro-eto fotogrco e da constituio de uma obra fotogrca,

    na qual o contemporneo se apresenta reivindicando oseu lugar tanto no estado da arte quanto na criao queengendra a fotograa documental.

    Em meio aos trabalhos, impossvel no fazer compara-es e chegar a algumas concluses: existem projetos queno cabem mais, apesar de serem muito bem apresenta-dos visualmente. Esto ultrapassados. Tiveram o seu tem-po e deram suas contribuies no passado. O novo reivindi-ca o seu lugar. Rompe com as estruturas tradicionais tantonas temticas como na relao com o que acostumamosa chamar de realidade. A fotograa se libertou dela e, porisso mesmo, no pode mais car enclausurada na funoutilitria de detentora do tempo e do espao, de momentosdecisivos e belos plasticamente.

    Em segundo lugar, e no menos importante, a experi-ncia de compartilhar ideias com prossionais competen-tes, estudiosos e curadores de arte tornaram a semana deavalies uma grande experincia de aprendizagem e deagenciamentos coletivos. Ali formou-se uma grande equipeem prol da fotograa. ramos sabedores da representativi-dade que nossas escolhas signicariam, porque sabamosda importncia do prmio para a fotograa brasileira.

    No debate de ideias sobre os ensaios ali nossa fren-te agregaram-se sabedorias. Houve avanos. No respeito divergncia de ideias uram aprendizagens. Talvez, estejaa uma das maiores aventuras do conhecimento na contem-poraneidade.

    Rodrigo Rossoni professor da Faculdade de Comunicao da UFBA, coor-denador do Labfoto e do Grupo de Pesquisa em Recepo, Crtica e Anli-se da Imagem Fotogrca na Facom/UFBA.

    lvaro Lins, um dos mais importantes crticos literrios dopas, volta e meia enfatizava a diculdade do seu ofcio,oexame da criao artstica contempornea. E esta diculda-de reside, em essncia, no fato de que o a to criativo contmmais questes (antigas e novas) do que respostas; da esseincmodo proveitoso e instigador.

    o que de imediato me ocorre ao discorrer sucintamen-te sobre a experincia de haver participado, na condio dejurado, de um dos mais importantes concursos fotogrcosdo pas. Frente a uma heterogeneidade de propostas, emque cada uma delas, muitas vezes, reivindica uma parti-cularidade prpria, cabe a quem aprecia distanciar-se dequaisquer partidarismos, provido to somente de um co-nhecimento que o habilite a tentar identicar a inquietudecriadora porventura contida nos ensaios apresentados, le-vando em considerao uma viso abrangente e necessriada produo fotogrca contempornea.

    E esse procedimento foi possvel no decorrer das ava-liaes dos trabalhos graas a um ambiente favorvel aodebate em que todos se manifestaram e expressaram seusjuzos. Sempre tenho em mente que os nossos entendimen-tos a respeito das decises tomadas so passveis de dis-cordncia, pois no podemos negar a falibilidade dos nos-sos atos de discernimento, mas, entretanto, no podemos

    Notas a propsito do Prmio Pierre Vpor emanoel castro

    ter dvida de que o discernimento responsabilmeira de um membro de comisso organizada paos trabalhos apresentados.

    Nesse passo, considero que os trabalhos premvaram a bom termo as prprias possibilidades dgem fotogrca, explorando e experimentando ocursos. Por outro lado, no se pode perder de vproduo da imagem fotogrca no pode ser pendo contexto mais amplo da cultura.

    At o mais erudito e informado crtico de arra correu os seus riscos e equvocos. Mrio Pedmanifestar em defesa do jri da 4 Bienal de So no inclura Flvio de Carvalho em sua seleo, a importncia da contribuio daquele artista. Anmesma Bienal, em sua nona edio, conferiu-lhena categoria de artista internacional.

    Inquestionvel, no entanto, o fato de que o Pcional de Fotograa Pierre Verger se integra s rda fotograa baiana e vem ao encontro de uma pEstado que proporciona estmulos para a produgrca contempornea, ao mesmo tempo em quetradio cosmopolita da nossa cultura.Emanoel Castro escritor, ps-graduado em Fotograa comode Pesquisa nas Cincias Sociais

    O Outro Ladodo Espelhopor pedro david

    Foi a primeira vez que participei deuma comisso de premiao para umprmio de fotograa.Como ganhadorda ltima verso do prmio, fui, comode praxe, convidado a formar parte dojri de premiao para este ano. Vineste convite a oportunidade de nal-mente conhecer o outro lado de umaprtica muito recorrente em meu tra-balho: a seleo de trabalhos.

    Os resultados destas reuniessecretas nem sempre agradam. Nem

    sempre so entendidos, principal-mente quando no nos contemplam.As crticas so cidas e, muitas ve-zes, impossvel afastar as descon-fianas sobre perseguies pesso-ais, favorecimentos, e at sobre aincompetncia do jri, quando este

    no reconhece aquele trabalho quefizemos com tanto afinco.Agora, com a oportunidade de

    adentrar o ambiente sempre proibi-do, e desvendar os segredos de umacomisso de premiao, minha curio-sidade foi aada.

    Sabia que dividiria as decisescom outros quatro colegas. Fator quedilui o poder de escolha de cada umdos membros e, por isto mesmo, dimi-nui um pouco a responsabilidade de

    cada um. Isto se pensarmosdeciso individual, onde cabro vota suas preferncias, e mpar prev sempre o voto dpara qualquer desempate.

    317 inscries, uma moncaixas e envelopes de todos

    e tamanhos. Uma semana pmos todos eles e escolhetrs vencedores do Prmio de Fotografia Pierre Vergerme que me parece pequenoproporo do prmio, um vsidervel em dinheiro, a opode de produzir uma exposividual, um catlogo... Emcontagens inconscientes hanmero muito maior de fointeressados.

    convida

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    audiovisual

    A primeira boa surpresa do proces-o foi ver, j nas primeiras conversas

    com os demais colegas da comisso,que tnhamos concepes muito pr-ximas sobre o que seria um projeto aer premiado. Estvamos todos inte-essados em escolher trabalhos onde

    o autor sobressasse s questes pro-postas em seu trabalho, onde, qual-quer que fosse a questo abordada, aexpresso pessoal marcasse suas pis-as e deixasse vestgios de sua nature-

    za, e que tratassem de uma forma con-empornea o mundo contemporneo.

    Pude perceber durante o processoo quanto a leitura de um portflio podeevelar sobre o trabalho, como a fotogra-

    a fala, por si prpria, sobre as questesque prope, e como a fraqueza de umprojeto mal conceituado, mal realizado,mal editado ou mal apresentado, sobres-ai, aparece frente do prprio trabalho.

    O projeto vencedor da categoria li-vre temtica, O Suicdio de Meu Pai, deAndr Penteado, foi visto ainda no pri-meiro dia, e conquistou toda a comis-so por sua qualidade tcnica, concei-tual e impecvel apresentao. Estavaclaro, ali no incio dos trabalhos, queestvamos diante de um dos possveisvencedores. Mesmo sem ver todos ostrabalhos, a fora que o projeto trouxeconsigo nos dizia que tinha toda a pos-sibilidade de ganhar o prmio. O proje-to estava completo, bem apresentado etratava uma questo tabu com corageme imensa criatividade, como nenhumoutro, como conrmamos dia aps dia,at o nal da seleo.

    Tivemos a notcia que foi criada acategoria documental para o pr-mio, pois houve um questionamentojunto Secretaria de Cultura do Esta-do da Bahia, onde dizia-se que o pr-

    prio Verger no ganharia o prmio senele se inscrevesse. Se mquina dotempo existisse, realmente, sob nossacomisso, um fotgrafo com o olhare as questes do sculo XX, por maismagistral que fosse sua fotograa, re-almente no ganharia o prmio.

    Como muitos outros fotgrafos ins-critos, que vivem no sculo XXI, masainda olham, registram e fazem tudopara que o mundo parea-se com omundo do sculo passado, no ga-nharam. Fizemos ento questo deselecionar para a categoria documen-tal um trabalho de documentao deum mundo contemporneo, um regis-tro crtico, plstico, sobre caractersti-cas do mundo de hoje.

    Pedro David artista visual, formado em Co-municao Social pela PUC-Minas. Dedica-se ainterpretar, atravs da fotograa, as relaes dohomem com seu ambiente.

    A ideia de um prmio, de uma escolha,de um destaque (ou dois ou trs...) fren-e regularidade de um grupo pressu-

    pe uma certa justeza das coisas...masque justia seria essa, o que ela preten-de e qual sinal provoca, porque, comouma antena, uma premiao emite; umprmio, isso se sabe, um emissor demensagens e sinais.

    Com Pierre Verger, a corrente de

    ransmisso toca diferentes questes.Aqui se fala do homem e do prmio Ver-ger. H Verger e a herana, Verger e aradio, Verger e a Bahia, Verger como

    parte da constituio da histria dasmagens do Brasil no sculo XX. Decidir

    por aqueles que devem passar a inte-grar e a estabelecer um dilogo diretocom essa narrativa, essa a missodos que julgam. E, como se espera, noe trata das mais simples decises.

    Ao menos desde as ltimas duasdcadas, o regime das imagens (logo,

    por marcelo rezende

    o regime da fabricao, consumo e fruio das imagens) tem sofrido aceleradosprocessos transformativos. Os avanos tecnolgicos que esto na base da pr-pria histria da fotograa tm gerado uma avalanche, e mesmo um dilvio,de uma certa documentao do real. Mas, curiosamente, enquanto se assistea essa progresso desmedida da relao entre o homem e os aparelhos (maisdo que cmeras) de captao da realidade, se observa ainda o aumento de seudescarte. Na era digital h uma certa nobreza perdida. Tudo pode ser registradoe destrudo em segundos, quase ao mesmo t empo, e algumas vezes mesmo porengano. A fotograa vive uma outra at mosfera: a da banalidade sem fronteiras.

    Esse sintoma visto em toda parte, a banalidade, e est presente em todasas esferas; e um prmio de fotograa, como o Pierre Verger, participa dessa mes-ma condio. Ou, melhor, se v diante dessa mesma condio porque est emcontato direto com o mundo e com a perspectiva e a sensibilidade brasileirasdiante desse mesmo mundo. O que o jri julga ento, o que ele decide? De in-cio, tateia e procura identicar na produo nacional estratgias de sobrevivn-cia possveis para que a imagem possa no ser apenas realizada, mas sobretudopensada sob uma corrente sem m de fabricao e abandono.

    O franco-suo Jean-Luc Godard, o gnio radical da demolio das imagensdo sculo passado, escreveu que a nica crtica possvel contra uma imagem fazer uma outra imagem; e armou ainda que a nica arma contra a imagem ba-nal a imagem justa. Ao jri do prmio Pierre Verger de fotograa no se permitefazer a crtica dessa forma, contrapondo a imagem do jri e a imagem dos con-correntes. O que seria, talvez, uma experincia de humildade, de todas as partesenvolvidas. Mas isso no impede que as pessoas responsveis pelo julgamento,pela deciso nal de uma premiao, deixem de procurar esse ponto justo entrea imagem fotogrca e o mundo. Pierre Verger teria entendido.

    Marcelo Rezende diretor do Museu de Arte Moderna da Bahia

    A imagem justa

    convidados

    Fast-foodrequentadoaspectos da dieta cinematogrca dosoteropolitano

    por andr bomm

    Como anda a dieta cinematogrca do soteropolita-no?Uma rpida comparao entre a frequncia dassalas do circuito alternativo e aquelas dos shoppingsj revela um farto consumo das frmulas cada vezmais repetidas e autorreferentes do cinema comer-cial estadunidense. Um exemplo desse fast-food re-quentado o novo lme estrelado por Tom Cruise,Oblivion. Na falta de uma ideia original, coloca-senuma caarola uma poro deWall-E , fartas dosesde Matrix , um toque nal de2001, Uma Odisseia noEspao e voil: sai um Xis Tudo no capricho.

    Seria leviano armar que no existe criatividadena indstria hollywoodiana. O problema que noseu esquema industrial, cada ciclo de inovao rentabilizado ao mximo. O que leva utilizao deuma mesma frmula at sua total exausto. O resul-tado so perodos ridos, como o atual. Mas para amaioria dos espectadores, assistir ao cinema-clich como ir sua rede de fast-food favorita. Eles j sa-bem exatamente o que vo levar em troca do ingres-so, picles por picles.

    Trados pelo inusitado - O resultado de uma dietato calrica em mesmice que esse espectador perdeo condicionamento mental para deglutir experincias

    mais provocadoras. Abro um parntese para contara pitoresca experincia de assistir a uma sesso de Amor , a tocante obra de Michael Haneke, numa dassalas do Glauber Rocha. A leva de casais apaixonadose munidos de sacos de pipoca j denunciava que pou-

    cos sabiam o que os esperava no apagar das luzes. contrrio do que o nome do lme e o cartaz com aterna de um casal de velhinhos podiam indicar, Am uma obra perturbadora, sobre decadncia e abadono no crepsculo da vida. E Haneke um cinereconhecido pelo seu estilo seco e sem concessclassicado at como cruel.

    O silncio sepulcral dos longos planos era, jincio, quebrado pelo crunch-crunch das pipocas bocas nervosas. medida que o lme se distancva do esperado, era possvel ouvir a inquietude dcorpos nas poltronas e os murmrios de indignaMas que lme esse? ou Isso um absurd

    Em meia hora de projeo, espectadoresaam aos bandos, balbuciando improrios, como se trados pelo contato cominusitado ou por no terem sido agraciacom mais do mesmo.

    Guloseimas visuais - Essas reaes denunciatrs problemas srios. O primeiro a falsa ideiaque a arte feita somente para o deleite sensoripara o consenso. Como arte, o cinema tambm pprovocar, perturbar e questionar.

    Segundo, a falta de informaes sobre o lmecolhido. O mnimo de ateno crtica, ou at mmo sinopse, fundamental para uma fruio mproveitosa da projeo. Sem informao contexto espectador se reduz a esse devorador de gulosmas visuais, escolhidas aleatoriamente nas vitrindos multiplexes.

    E, em terceiro, est a perda do respeito enespectadores. So conversas escancaradamastigaes ruidosas e telas de tabletscelulares profanando a sagrada escuriddas salas.

    Se eu pudesse receitar hbitos mais saudve

    recomendaria mais ateno crtica, o exercciocivilidade e um maior equilbrio entre o circuitomercial e o alternativo. Com uma dieta minimambalanceada j no haveria tanto mal em encarar ugororoba requentada de vez em quando.

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    Os 20anos nadatradicionaisdo o Tchan

    Cachaa, Resmungose Cadeira de Balanoantologia crtica literatura e

    afrodescendncia no brasil reascendepolmicas antigas

    por thiara lippo

    Quem no quiser enxergar vai continuar vivendoembriagado por esta cachaa genuinamente brasi-leira, produzida nos engenhos decadentes: o mitoda democracia racial. Pena que alguns, de to vicia-dos, no largam a garrafa1. Foi assim que o escritor Cutinalizou sua resposta ao polmico artigoPreconceito Cultu-ral que o poeta Ferreira Gullar havia publicado naFolha de S.Paulo, no dia 4 de dezembro de 2011. No artigo em questo,Gullar armava, entre outros despropsitos: Falar de literatu-ra brasileira negra no tem cabimento. Os negros, que para cvieram na condio de escravos, no tinham literatura, j queessa manifestao no fazia parte de sua cultura2.

    A declarao, assim como outras coisas ditas ali, suscitouinmeros revides, de tonalidades variadas: ora mais ferozese virulentos, ora mais consistentes e slidos. Teve quem ar-gumentasse que a literatura oral tambm literatura e men-cionasse a tradio dos contadores de histria, os gris,da qual Mestre Didi faz parte, como Francisco Maciel3. Tevequem criticasse a posio formalista e esteticista e a pos-tura burguesa e eurocntrica do poeta concretista, comoEduardo Duarte4. Teve, ainda, quem aproveitou a ocasiopara reclamar dos resmungos semanais de Gullar naFolha.

    O resmungo de Gullar, dessa vez, parece que tinha

    o que h por trs do grupo almde cumpadre washington gritandohutchutchup?

    por jssica neri

    msica

    Em abril passado, o o Tchan fez umhow para lanar o DVD comemorativo

    de 20 anos de carreira do grupo. Con-esso que fui pega de surpresa pela no-cia: como assim o o Tchan est ro-ando h 20 anos? Algum acreditava

    que duraria dois? Para explicar minhaestupefao, analisemos todo o lega-do, a essncia da tradio, percorrendoapidamente a trajetria dos principaisntegrantes.

    Carla Perez: de danarina virou multi-arefa (atriz, cantora, puxadora de trio in-antil e apresentadora); maior feito: ser a

    mais famosa das danarinas do o Tchan.Scheila Carvalho: apresentadora, mineira

    que se fez baiana, gurinha fcil em pe-idicos locais graas a fotos postadas emedes sociais; maior feito: ter sido eleita

    no Domingo do Fausto; Sheila Mello:atriz, ex-integrante do reality show A Fa-zenda, mulher do ex-nadador FernandoScherer; maior feito: idem ao da compa-nheira de mesmo nome. Jacar: eternodanarino da banda e atual integrante daA Turma do Didi , programa que esp-cie de purgatrio de artistas (dali, ou vo

    para um lugar melhor ou somem de vez); maior feito: nunca ter desistido do o Tchan. Dbora Brasil (lembra dela?): danarina que sumiu do grupo eevaporou no mundo; maior feito: ser ex-danarina do o Tchan. Beto Jamai-ca: msico; maior feito: o o Tchan. Cumpadre Washington: gura folclricalocal; maior feito: o o Tchan.

    Em resumo: o maior feito da chamada base do o Tchan foi ter per-tencido ao grupo. Depois disso ningum fez nada de realmente relevante desculpe a franqueza e, tirando Jacar, todos entraram numa relaosimbitica com a entidade o Tchan: enquanto eles vivem dos temposde glria do grupo, os atuais e desconhecidos componentes (que j devemsomar uns 150, pelo andar da carruagem) vivem dos tempos de glria da-queles. Ou seja: o o Tchan mesmo acabou. Ficou o nome e o sobreviven-te Jacar. Agora Beto e o nosso folclrico Cumpadre voltaram, e est todomundo feliz comemorando os 20 anos de uma coisa que essencialmentedeve ter acabado h uns dez.

    Que outro grupo local substituiu o fenmeno o Tchan? Tudo bem que o

    grupo no foi capaz de se reinventar ao longo dos anos, mas a cena musicallocal deste gnero em particular tambm no. Voc capaz de distinguir cla-ramente quem quem nesta multido de grupos cujos nomes possuem con-soantes dobradas? De todos, o o Tchan continua sendo o nome mais fortemesmo aps tantos anos, e, por isso, seus ex e atuais integrantes podem sedar ao luxo de viver da tradio do grupo.

    E assim, vivendo dos holofotes do passado e da necessidade do pblicode se apegar a um grupo de pagode local que dure mais de um carnaval, queo o Tchan completa 20 anos tocando msicas que no mudaram nossasvidas e que atualmente s fazem sentido por terem resistido ao tempo, aindaque pela simples falta de um outro fenmeno altura.

    P e

    d r o M a g a

    l h e s alvo certo: a publicao da antologia crticaLite

    afrodescendncia no Brasil, organizada por EdAssis Duarte, professor da Universidade FederaGerais. Fruto de um trabalho envolvendo 65 pe pesquisadores, vinculados a 21 universidadesras e seis estrangeiras (do qual fui integrante, esdois verbetes, um sobre Oswaldo de Camargo e oAntonio Vieira), a obra formada por quatro vtalizando pouco mais de 2 mil pginas. Trs deldados biogrcos, apresentao geral e anlise obra de cem escritores afro-brasileiros, informagrcas e fontes de consulta. J o quarto volumteoria e polmica, traz depoimentos e textos crtic

    Considerada pelo suplementoProsa & Verso dO Globo como uma das dez melhores obras liteblicadas em 2011, a antologia contempla tambmnegras da Bahia. O primeiro volume,Precursorepotica do Orfeu de Carapinha, Luiz Gama, eResende e Mestre Didi. J o segundo,Consolidaas escritoras Me Beata de Yemonj, Aline FranLeahy-Dios, e os escritores Antonio Vieira, Mu Jaime Sodr. No terceiro,Contemporaneidade, guCarlos Limeira, Jnatas Conceio, HermgenFernando Conceio e Lande Onawale.

    A antologia foi lanada em vrios cantos do Salvador, na Biblioteca Pblica do Estado da Bade dezembro de 2011. O evento teve direito a reco feito por atores do Bando do Teatro Olodum,outros versos, declamou A minha pele de basou parte de voc/ Mesmo que voc me negue5. Esos, trecho da cano de Lazzo Matumbi e Jorgna ocasio, foram escutados em reverncia silena resposta que faltava para, ao menos, enrubescedestila preconceitos inconfessveis. E, embora spergunta da escritora Cyana Leahy-Diosesta poderia ser uma nova resposta: E ofez, alm de falar da sua cadeira de balan

    literatura

    Os 4 volumes de Literatura e afrodescendncia

    J o r g e D

    e F

    i l i p p o

    1, 2, 3 Os textos A empa do poeta Gullar , de Luiz Silva (CuPreconceito cultural, de Ferreira Gullar, eO leninismo literrido poeta ocial, de Francisco Maciel, podem ser lidos na nem www.buala.org/pt/a-ler/polemica-acerca-de-literatura-nbrasileira.4 Causa Operria entrevista o professor Eduardo Duarte. www.pco.org.br/entrevista-da-semana/muito-de-nosganha-sentido-novo-quando-colocado-atraves-do-olhar-das-vida-pretensa-democracia-racial-aqui-existente/ejej,b.html.5 Trec Alegria da Cidade, msica de Lazzo Matumbi e Jorge Portugal6 do poemaMorro, de Cyana Leahy-Dios. In: DUARTE, EduarAssis. Literatura e afrodescendncia no Brasil: antologia crtiBelo Horizonte: Ed. UFMG, 2011. 2.v. p. 403.

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    12trica. maio de 2013 ctrica. maio de

    Envie seu texto crtico sobre a linguagem artstica de seu interesse e elepoder ser publicado em nosso blog ou nas edies impressas. Char-gistas, quadrinistas, cartunistas e ilustradores tambm podem enviarimagens explorando temas relacionados crtica de artes. Consulte asorientaes emwww.fundacaocultural.ba.gov.br/citrica, na seo Par-ticipe do Ctrica, e envie o seu material.

    participe do ctrica!

    Veja no blog! + Resenhas crticas,ensaios, fotograas, vdeos. www.fundacaocultural.ba.gov.br/citrica

    iteratura

    Urbanos, Humanos, Estranhos...o livro de maria p rado apresenta uma viso crtica da mdia edas relaes sociais.

    por valdeck almeida de jesus

    O livroUrbanos, Humanos, Estranhos... , de Maria Prado de Oliveira, atia acuriosidade pela capa de cor abbora, cortada por uma linha diagonal, prximade um casal que parece estar espiando por trs do o, por trs de uma porta ouechadura imaginria.

    Entre curioso e indignado, tambm perscruto por trs do o. E este misto deensaes me acompanha durante a leitura dos contos e comentrios livres,

    enquanto tento seguir a autora/narradora nas festas, nos lugares e nas situaesdescritas no livro. E assim permaneo, durante toda a leitura, como se eu, tambm,pudesse ver, pelos olhos de Maria Prado, o que ela olha, vigiando o que ela vigia,com o mesmo olhar desconado, buscando desvendar os acontecimentos, o diaa dia de advogados, mdicos, copeiros, conferencistas, empregados e patres...

    Logo de incio ela nos d a dica de seu olhar, crtico, pautado na observaolosca, no questionamento aos padres estabelecidos, no respeito diver-idade. Maria Prado tem seu prprio olhar, mas no aquele olhar comum, de

    humano comum. A linha de observao dela a de desestruturar as estruturas,denunciar a hipocrisia e o mundo de aparncias, de balanar as autarquias e depropor um novo olhar, uma nova viso, qui uma nova atitude do leitor diantedo que antes estava pronto e acabado; propor uma revoluo no mundo medo-cre e pasteurizado, empacotado e vendido pela mdia.

    E a mdia, to aplaudida e bajulada por muitos, cutucada nas linhas e entre-inhas de Urbanos, Humanos, Estranhos... O politicamente correto, o estabelecido,

    o conformismo, o viver de aparncias, o sucesso de estar em todas as revistas,ites, TVs, rdios e jornais, tudo isso colocado em xeque. O livro cido, crtico,

    questionador, nos faz repensar atitudes, nos reposicionarmos no mundo. E a per-

    gunta inevitvel: o que estou fazendopara tornar o mundo melhor? At queponto eu no sou responsvel, direta ouindiretamente, por tudo que acontece?Sair do conforto, fazer algo de concreto tambm losofar. E este , em suma, ochamamento que o livro nos faz.

    Maria Prado de Oliveira atuou emdiversos espetculos teatrais,apresentao de eventos e comerciais derdio e TV. Produziu inmeros espetculos deteatro, msica e outras expresses artsticas.

    >>Informaes sobre o lbum:

    Ttulo: Masculino e Feminino Artista: Pepeu GomesGravadora: Discos CBS

    Ano de Lanamento:1983

    O Ctrica perguntou: sabe aquele lbum de artista baiano que voc adora ou detesta s deolhar para a capa? E props um concurso cultural para selecionar recriaes destas imagens,com pitada de crtica e criatividade. Aqui esto as duas releituras vencedoras. Mais informaessobre elas e seus realizadores esto no blog:www.fundacaocultural.ba.gov.br/citrica.

  • 7/26/2019 Revista Citrica - Nmero 04

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    14trica. maio de 2013 ctrica. maio de

    >Realizao da releitura:

    Amana DultraCarolina Leal

    Leonardo PastorMarcelo Arglo

    Mais informaes em:www.fundacaocultural.ba.gov.br/citrica

  • 7/26/2019 Revista Citrica - Nmero 04

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    16ctrica. maio de 2013

    >>Realizao da releitura:

    Leandro de Cabral Farias

    Mais informaes em:

    www.fundacaocultural.ba.gov.br/citrica