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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS COMUNICAÇÃO E ARTES COMUNICAÇÃO SOCIAL JORNALISMO 2010.1

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Revista sobre linguagens da comunicação

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOASINSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS COMUNICAÇÃO E ARTESCOMUNICAÇÃO SOCIALJORNALISMO2010.1

Expressão. Essa é a palavra de ordem no mun-do em que vivemos. A todo momento, surgem novas formas de comunicação, de transmissão de idéias; ressignifi cações. Nesse ínterim, um elemento ganha destaque: a linguagem. Essa que é vasta, inovadora, fascinante e corporifi ca-dora das expressões.

Quando pensamos em disseminação de ideias, conhecimentos, informações, sentimentos, sen-sações, é para ela que apelamos. Podemos re-correr à fala, à escrita, aos sons, ao corpo e a muitas outras maneiras de exteriorização do pensamento; e quanto mais o tempo passa, mais essas formas de exteriorização de produções in-telectuais aumentam e se aperfeiçoam.

O mundo agora é movido pela tecnologia. São bits, bytes, microondas, campos eletromagné-ticos, cabos e todo um aparato digital voltado

EDITORIALà facilitação da troca de informações e da ge-ração do conhecimento entre as pessoas. Mas, ao mesmo tempo em que a modernização se faz presente em quase tudo, podemos encontrar ainda as velhas formas de expressão.

Partindo dessa visão de diversifi cação que a linguagem possui, apresentamos aos leitores a primeira edição da revista CÓDIGO, uma publi-cação elaborada para tratar das várias nuances da linguagem, sejam elas tradicionais ou inova-doras. Esta edição investigará a diversidade en-tre linguagem popular e alta cultura, o mundo da linguagem corporal, a evolução e a variedade das formas de linguagens, por meio das quais o leitor terá a oportunidade de aguçar seus sen-tidos.

Esperamos que apreciem a edição e que deci-frem o código do conhecimento. Boa leitura.

Rivângela Santana (editora)

Pág. 12ENSAIO EMOTICON

Pág. 6

ÍNDICE

O HIPERTEXTO

CONVERSA DE CINEMA

A FORÇA DO POVO NAS ONDAS DO RÁDIO

FONAUDIOLOGIA E JORNALISMO

OS AMORES DE GARCÍA MARQUEZ

COSPLAY

MANGÁ

LINGUAGEM CORPORAL

MÚSICA REGISTRANDO HISTÓRIA

INTERVENÇÕESARTISTICAS

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CÓDIGO11011110110111010 111011010111011

CINEMA É RESTRIÇÃO

Pág. 3

Pág. 23

Pág. 22

Pág. 18

Pág. 10

Pág. 8

Pág. 21 Pág. 4

Pág. 9

Pág. 5

PICHAÇÃO E GRAFITEPág. 7

EDITORESRivângela Santana|[email protected]|

Isaac José|[email protected]|

Roberta Batista|[email protected]|

Yzza Albuquerque|[email protected]|

William Correia|[email protected]|

Arthur Moura|[email protected]|

Ben-hur Bernard|[email protected]|

Filipe Alencar|fi [email protected]|

ARTE E DIAGRAMAÇÃO

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INTERVENÇÕESARTÍSTICAS:URBANASECÊNICAS

Intervenção. Ação inespera-da; ruptura de uma ordem já estabelecida; forma particular e peculiar de se fazer arte utili-zando diversas linguagens. É o que se sabe sobre esta forma de manifestação artística tão nova e imprevisível que, sem aviso prévio, se faz presente no nosso cotidiano, nos luga-res mais inusitados e tratando de temas importantes que, por vezes, são deixados de lado.

Existem dois tipos de inter-venções. A urbana é uma ma-nifestação que propõe discutir o valor dos espaços urbanos. É ligada à linguagem artística,

mas especialmente à arquitetu-ra e ao paisagismo. São ações feitas para dialogar sobre pra-ças mal aproveitadas, espaços depredados e áreas nobres.

As intervenções pretendem interferir, como o próprio nome supõe, sobre uma dada situa-ção, a fim de provocar reações, promover transformações, por menores que sejam, e desper-tar o sentir e o pensar das pes-soas. Atrelada às ações de te-atro, dança e até mesmo circo, este é o intuito das interven-ções cênicas.

Em Maceió, estas ações inter-vencionistas começaram desde

que se faz arte na cidade. Várias apre-sentações, que pode-riam se caracterizar como intervenções, sempre aconteceram aqui, porém o termo “intervenção” só pas-sou a ser utilizado recentemente com

as ações da Associação Artís-tica Saudáveis Subversivas, da Cia LTDA, da Cia. SentidosTe-atroDançaMúsicaArtevisuais e da Cia. do Chapéu.

Segundo o especialista no ensino da dança, Thiago Sam-paio, o trabalho de preparação para as ações é feito de manei-ra coletiva. “Nós conversamos sobre a cidade, sobre o sistema e a ordem da cidade e depois pensamos em ações simples que possam dialogar com es-ses espaços, que possa deixar os transeuntes surpresos”.

É fato que a correria do dia a dia impede uma reflexão mais profunda diante dessas perfo-maces. Mas é possível, e mui-to provável, que as reflexões iniciadas ali, em algum canto da cidade, timidamente, avan-cem.

Desconhecidos oferecendo carinho aos passageiros de um ônibus. Apesar do espanto ini-

cial, aos poucos é perceptível que os passageiros que-rem e precisam de carinho. Eles en-tendem a propos-ta e se entregam. Captam a men-sagem. E essa é apenas uma das vertentes dessa linguagem tão crí-tica e investiga-tiva, que é a das intervenções ar-tísticas.

Juliana dos Anjos | [email protected] | @judosanjoss

Intervenção cênica no centro da cidade de Maceió: surpresa e curiosidade

Foto

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njos

ro dia, criando um vínculo que será lembrado para toda a vida.

Já o segundo, produzido no Brasil por um estudante de cinema, con-ta o fi m do namoro de dois jovens. A menina resolve partir, abandonar tudo, e concede ao namorado uma hora para refl etir sobre a relação que tiveram. O forte dos fi lmes su-pracitados é o roteiro. Uma obra focada em conversa tem que ser inteligente e dinâmica para não cansar o telespectador, afi nal, não há cenas extraordinárias. São fi lm-es que trazem para o foco a nossa normalidade; como se ali coubés-semos eu e você.

As películas analisadas têm como semelhanças os casais, a pitada de humor nas conversas e

O cinema surgiu como uma for-ma antropofágica de arte, pois in-clui as linguagens visual, sonora e verbal. Os fi lmes já entraram na vida de todos como uma manei-ra de viajar. Dentre as obras que conhecemos vale a pena destacar os fi lmes baseados em diálogos; películas em que os personagens conversam do início ao fi m.

Ditos como simples, Antes do Amanhecer e Apenas o Fim são exemplos de fi lmes totalmente dialogados. O primeiro foi produz-ido pelos Estados Unidos, Suíça e Áustria e conta a história de dois jovens que se conhecem e se en-volvem durante uma viagem de trem. O casal para em Veneza e conversa até o amanhecer do out-

Por Sarah Mendes | [email protected] | @sarinham

CONVERSADECINEMA

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a despedida como desemboque. Quanto à diferença, pode-se dizer que é o fato de que um dos casais está se conhecendo e o outro está terminando uma longa relação. Matheus Souza - diretor e roteiris-ta de Apenas o Fim - revela que se baseou em Linklater - roteirista de Antes do Amanhecer. Portanto, não há entre os fi lmes uma mera coincidência.

Talvez, pela proximidade com o real, esses fi lmes sejam amados ou odiados. Amados pelas pes-soas que acreditam que a arte deve transmitir o que a vida tem de belo; odiados por aqueles que acham que os fi lmes têm que ser totalmente fi ccionais e não ter nen-huma relação com nossas vidas.

Cena do fi lme “Antes do Amanhecer”, uma longa conversa que não cansa o espectador.

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MANGÁ:ARTEETRADIÇÃOFábio José Nascimento de Souza | [email protected]

Não é difícil reconhecer um mangá. Os traços, as cores e as expressões dos personagens des-te quadrinho japonês são incon-fundíveis. Acredita-se que suas raízes datam do período Nara (século VIII d. c.) com o apareci-mento dos primeiros rolos de pin-turas japonesas: os emakimono. Eles associavam pinturas e textos que, juntos, contavam uma histó-ria à medida que eram desenrola-dos. Mas, o mangá, como conhe-cemos hoje, só foi concebido no século XX.

Graças à ocupação america-na no Japão durante a Segunda Guerra, os “mangakas”, como os desenhistas são conhecidos, so-freram grande infl uência das his-tórias em quadrinhos ocidentais, traduzidas e difundidas em grande quantidade na imprensa. Um des-ses desenhistas, Osamu Tezuka, considerado o pai do mangá mo-derno, foi quem revolucionou os quadrinhos, aumentando olhos, boca e nariz dos personagens, a fi m de adicionar expressividade a eles.

Já no Brasil, somente por volta de 1960 é que alguns desenhis-tas, descendentes de japoneses, começaram a usar infl uências grá-fi cas, narrativas ou temáticas de mangá em seus trabalhos, apesar de o termo não ser utilizado. Tra-balhos como O Super-Pinóquio, de Claudio Seto, O Robô Gigante, de Watson Portela e O Drácula, de Ataíde Braz e Neide Harue dei-xavam claro a infl uência oriental nos quadrinhos brasileiros.

Em Maceió, a presença de fãs é notória. Exemplo disso é o suces-so de eventos como Super Con-quest e Nipponseito, que reúnem diversos admiradores da cultura

nipônica e apresentam novos ta-lentos como os do estúdio Hoshi-zora. Mizael de Souza, Juliana Uchoa, Lucas Santos, Pablo Pei-xoto e Thiago Tenório formam o grupo que foi fundado em 2007 e que produz a revista Hoshizora Zine, que já está na quarta edi-ção.

No momento, eles estão em fase de reestruturação, estudam até a possibilidade de criar um site com novas histórias para os fãs acompanharem pela Inter-net. Todo o trabalho é feito de forma independente, tudo é cus-teado pelos integrantes do gru-po.

Cada edição conta com quatro histórias diferentes que vão con-tinuando no decorrer das publi-cações, são elas: 99Killers, que conta a história de Koiji Norimaki, um ex-assassino que luta pela paz e igualdade numa sociedade dominada pelo caos; W x C, que aborda o relacionamento entre William e Christine, uma história mais cotidiana e cheia de humor; Wolf-Joint, que traz Waru como personagem principal, um guer-reiro que se mete em várias aven-turas junto com seus amigos; e Magnum, história que se passa no faroeste e que tem como prota-gonista o pistoleiro Kurt.

O mangá vem conquistando ad-miradores de todas as idades em todo o mundo. E esse exemplo presente no nosso Estado mostra que não é preciso ir muito longe para encontrar trabalhos de qua-lidade.

EI! Você está começando do lado errado! Assim como nos mangás, esta matéria deve ser lida da esquerda para direita. Vá para a terceira coluna e volte para cá. Boa leitura

Uma comédia romântica que se passa em Maceió, apre-sentando cenários e situações que o leitor facilmente se iden-

tifi ca, como o visual do colégio onde os protagonistas estu-dam. O título é uma

brincadeira com o foco da trama: os confl itos e relações entre adolescentes de sexos difer-entes.

WxCÉ a saga de um ex-assassino cibernético em meio à devastação de um mun-do pós-apoc-alíptico é re-pleta de ação e referências ao gênero fu-turista conhe-cido como “cy-berpunk”.

assassino cibernético em meio à devastação de um mun-do pós-apoc-alíptico é re-pleta de ação e referências ao gênero fu-turista conhe-cido como “cy-

99 Killers

Uma interessante mistura de dois temas: o terror e o west-ern. É a aventura de um pis-toleiro que tem que enfrentar criaturas sobrenaturais trazi-das por uma maldição indí-gena.

Magnum

ODETECTORDEMENTIRAS

Nada como saber decifrar os gestos e notar quando alguém não está falando a verdade. Men-tir, algo que para muitos é um absurdo, na verdade faz parte do nosso cotidiano; afi nal, quem nunca mentiu?

A linguagem corporal vai mui-to além da expressão em forma de dança, teatro ou maneira de se vestir. É uma ferramenta de comunicação que nos torna ca-pazes de identifi car o que as pessoas querem realmente falar, mesmo usando palavras que vão de encontro ao que o corpo diz. O simples ato de coçar o nariz, ou o de esfregar o olho ou a ore-lha já é um sinal de mentira, mas pode signifi car também que o ouvinte considera mentira o que está escutando no momento.

Outros indicadores importan-tes para detectar mentiras po-dem ser mudanças no tom de voz ou na velocida-de da fala, engolir em seco, cruzar e descru-zar as pernas, me-xer na roupa, ser e x t r emamen t e defensivo, dar mais informa-ções e espe-

cifi cidades do que a pergunta requer, não usar pronomes ao falar e agir de forma extrema-mente calma.

O “mentiroso”, ao contar uma mentira, tende a se re-trair, a evitar olhar nos olhos, a fazer movimentos faciais que se limitam à região da boca, a mudanças bruscas de humor, assim como a usar tempos er-rados entre gesto e fala. Costu-ma também usar as palavras da pergunta para responder, como “Você quebrou o jarro da sala?” / “Não, eu não quebrei o jarro da sala.”

Outro aspecto interessante na linguagem do corpo é a possibili-

dade de iden-tifi car quan-do alguém está inte-r e s s a d o em você, afi nal, no jogo da sedução

vale mais a postura corporal do que a ‘lábia’. O corpo como um aliado na hora da paquera nos permite notar quando alguém quer chamar a atenção ao estu-far o peito, deixar materiais de valor à mostra, falar, rir alto e gesticular muito. Se estiver in-teressado vai sorrir, mexer no cabelo, inclinar o corpo em sua direção, não desviar o olhar e permitir que seja tocado no braço e no ombro várias vezes e retribuir.

Essa linguagem, ainda que pouco conhecida, muito fala a quem sabe observar e, na maio-ria das vezes, vale bem mais do que palavras ditas, pois os ges-tos são praticados inconsciente-mente e não podem mentir, as-sim retratam com precisão o que existe nas profundezas de nossa mente.

pode signifi car também que o ouvinte considera mentira o que está escutando no momento.

Outros indicadores importan-tes para detectar mentiras po-dem ser mudanças no tom de voz ou na velocida-de da fala, engolir em seco, cruzar e descru-zar as pernas, me-xer na roupa, ser e x t r emamen t e defensivo, dar mais informa-ções e espe-

dade de iden-tifi car quan-do alguém está inte-r e s s a d o em você, afi nal, no jogo da sedução

Cuidado com os gestos que for fazer em um país diferen-te do seu. Um único gesto signifi ca centenas de coisas diferentes, dependendo de onde você está.

Por exemplo, no Brasil, apontar o polegar para cima signifi ca que está tudo legal, já nos EUA ou na Europa, o gesto representa um pedido de carona. Em outros luga-res, como Alemanha e Japão, o sinal representa números, o um e o cinco, respectiva-mente. Por outro lado, na Turquia, apontar o polegar para cima é um convite para sair com um homossexual.

UMAQUESTÃODECULTURA

Renata Saldanha Gregorini | [email protected] | @renatasg

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ra técnicas menos elaboradas, fo-cando-se apenas na grafi a quase codifi cada e na máxima marcação de lugares. Por ser muitas vezes incompreendido, o picho acaba atraindo o repúdio das pessoas e se fortalecendo a partir disso. Essa técnica pode ser utilizada para as mais diversas fi nalida-des, entre elas: auto-afi rmação de quem o faz, protestos sobre os mais variados temas, pequenas homenagens a pessoas queridas e provocações a outro grupo de pixadores.

De acordo com Pablo Perez, grafi teiro, essas ‘artes proibidas’ são feitas geralmente em locais abandonados ou públicos, mas que tenham uma boa visibilida-de. “Gosto de fazer grafi te em grupo por me sentir mais segu-ro e quanto à escolha do tema, é algo bem momentâneo, depende muito da inspiração do dia”, diz Pablo.

O estudante de jornalismo, José Luiz Rios, que já pra-

ticou as duas formas de expressão de rua, considera esse tipo de atividade uma arte por ser um meio espontâneo de manifestação de pensamento, emo-ção e sentimento, atrelando-se a um contexto de delei-te de quem faz e de quem vê, e por fazer uma interlocução en-

Maceió ainda está entre as ca-pitais do Brasil que não possuem um cenário muito expressivo de pichação e grafi te, mas basta dar um volta no bairro histórico de Ja-raguá para notar que a atividade começa a ser praticada na cidade. Outro local que chama bastante atenção, devido à presença mar-cante desses dois meios de ex-pressão, é o Viaduto Ib Gatto Fal-cão, localizado no bairro do Poço.

O grafi te é caracterizado por pertencer a uma vertente mais ilustrativa e possuir técnica mais apurada. Ele explora tanto letras mais elaboradas quanto desenhos. Essas características ajudam-no a ser assimilado como algo positivo no espaço urbano. E, assim, ele consegue cada vez mais chamar a atenção de galerias e críticos de arte.

O mesmo não acontece com a pichação, que, ao contrário do g r a f i t e , explo-

Por Patricia Pacífi co | paty_pacifi [email protected]

PIXAÇÃOEGRAFITE:ARTEOUCRIME

tre o es-pectador e o artista. Porém, o estudante tem cons-ciência de que pi-c h a ç ã o é crime. “No fi nal das con-tas, a ile-g a l i d a d e da pichação é o que fortalece o seu contexto, porque se fosse algo liberado, fugiria to-talmente da sua essência e pas-saria a ser outra coisa, que não o picho”, afi rma José Luiz.

A pichação e o grafi te são consi-derados arte para alguns e crime para outros. E, embora não haja um consenso, esse tipo de comu-nicação visual é notavelmente uma forma de expressão encontrada por grupos marginalizados para partici-par e mostrar suas opiniões a uma sociedade que não os dá voz.

paty_pacifi [email protected]

da pichação é o que fortalece o seu contexto, porque

Ao lado, um grafi te de Daniel Hogrefe e João Marcelo. No alto da página, outro grafi te, este de Pab-lo Perez. E logo acima uma pixação sem autoria

O pix

o com X refe

re-s

e a uma

de quem o faz, o “erro” e uma afronta cultural .denominacao

Nada de glossários enormes e catálogos sem fi m. Esqueça o tempo perdido com a busca por um título ou autor favorito nas

estantes da biblioteca. No século XXI, quando a palavra-chave é velocidade, não há lugar para a simplicidade do papel.

MULTIPLICIDADELIBERDADELINGUAGEM:HIPERTEXTOPor Gabriela Lapa | [email protected] | @laapa

acessar não se restringe à cone-xão entre a informação escrita, mas também ao complemento sonoro e, sobretudo, visual que a internet condensa. Além dos textos, vídeos e músicas podem estar interligados, construindo uma mesma ideia, no ciberespa-ço. Esse é o seu diferencial.

Juntas, as matrizes da lingua-gem compõem não só um meio de comunicação abrangente e versátil, mas um conjunto de informações cada vez mais só-lidas, amparadas pelo universo audiovisual. Mesmo que a sua confi abilidade seja questionável, em função da quantidade de da-dos, elas ganham força quando acompanhadas de outras infor-mações, como o vídeo e o som. Um texto conectado a vários ou-tros pode ser verídico ou não; mas se uma série de vídeos e ar-quivos de áudio acompanha essa conexão, difi cilmente se contes-ta a veracidade da informação.

Alvo de múltiplas interpreta-ções, o hipertexto veio junto com a popularização do computador pessoal, quando a internet to-mou conta da casa das pessoas. Ele traduz exatamente o espíri-to do mundo cibernético, tangi-do por máquinas cada vez me-nores e mais efi cientes, onde a multiplicidade de interpretações combina um sem-número de in-formações concentradas nos hi-perlinks. Quem quer informação rápida não pode perder tempo procurando, a própria informação tem que se desdobrar em novos dados. O que está em jogo não é mais a qualidade ou a veracidade do que está sendo transmitido, mas sim quanto se transmite.

Numa mesma página da World Wide Web, um único parágrafo pode conduzir o internauta a vá-rias informações traduzidas em sons, imagens, e, até, outras pa-lavras. A multiplicidade de conte-údo que o hipertexto possibilita

Texto+áudio+vídeo fa-zem do hipertexto uma biblioteca de multimídia em constante expansão, e da qual não é fácil du-vidar. Por isso, imerso nesse mundo de signi-fi cados, o internauta se torna, mais do que nun-ca, senhor do seu próprio conhecimento. Verídicos ou não, os fatos só de-pendem de um elemento para chegar ao cérebro do seu conhecedor: a curiosidade.

Antes de ser uma com-binação de informações, os dados hipertextuais constituem um laborató-rio da linguagem, onde ler, ver e ouvir se mistu-ram para abrir as portas do conhecimento, que aparece em poucos se-gundos, na tela do com-putador.

“Texto+áudio+vídeo fazem do hipertexto uma biblioteca de multimídia em constante expansão, e da qual não é

fácil duvidar”

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COSPLAY:DOFAZDECONTAÀVIDAREAL

“Fazer um cosplay não é so-mente vestir uma roupa, mas encarnar um personagem, seu jeito, suas poses, seu modo de falar, de se portar. Cosplay é se fantasiar do seu personagem favorito, seja ele de um anime, videogame ou comic”. As pa-lavras da jovem Kêmila Lobato podem ser consideradas uma das melhores maneiras de de-fi nir a arte originada na déca-da de 70, nos Estados Unidos, durante convenções de quadri-nhos.

De acordo com o artigo Cos-players como fenômeno psicos-social: do refl exo da Cultura de massa ao desejo de ser herói, produzido pelos psicólogos Le-conte de Lisle e Sara Santos, “o termo é deri-vado das pala-vras inglesas:

cos = costume, traje, fantasia e play = brincar, jogar, o que pode ser entendido como “brincar de costumes”, “brincar de teatro” ou, simplesmente, “roupa de jo-gador”.

Para alguns cosplayers - como são chamadas as pessoas que se caracterizam como personagens -, a brincadeira assume propor-ções maiores, sendo encarada como uma manifestação artís-tica ou, até mesmo, como um estilo de vida e fonte de renda. “Não é o meu caso, mas tenho amigos que se mantêm com o dinheiro obtido em premiações nos campeonatos de cosplays”, diz o estudante de design gráfi -co Kayo Torres, de 19 anos. Ele revela que se tornou adepto da arte em 2007, quando “deu

vida” a Yoh Asakura, pro-tagonista da série de anime e mangá Sha-man King. “Desde en-tão, produzi mais dois cosplays. Minha atual produção é, também, a mais cara que já fi z, custando R$250,00”, declara o estudante, que utiliza o dinheiro da mesada para arcar com os gastos de seu hobby.

Atualmente, Kayo se prepara para en-carnar o persona-gem Irvine, do jogo Final Fantasy VIII.

“No mês de julho estarei indo à cidade de São Paulo para pres-tigiar o Anime Friends (evento que reúne cosplayers e conta com a participação de bandas e exibição de animes)”. Além dos gastos com a confecção das roupas, o estudante dedi-ca algumas horas de seu tempo ensaiando a apresentação que fará no evento, ao lado de dois amigos, com quem formará um trio. “É fundamental ter um en-saio prévio, principalmente se não for uma apresentação indi-vidual. Temos que montar um espetáculo relacionado ao cos-play em desenvolvimento, des-se modo, nós criamos um áudio para a encenação, que poderá acompanhar desde cenas de ba-talhas a danças”, afi rma Kayo.

Por Anyelle Cavalcante | [email protected]

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termo é deri-vado das pala-vras inglesas:

revela que se tornou adepto da arte em 2007, quando “deu

vida” a Yoh Asakura, pro-tagonista da série de anime e mangá Sha-man King. “Desde en-tão, produzi mais dois cosplays. Minha atual produção é, também, a mais cara que já fi z, custando R$250,00”, declara o estudante, que utiliza o dinheiro da mesada para arcar com os gastos de seu hobby.

se prepara para en-carnar o persona-gem Irvine, do jogo Final Fantasy VIII.

A personagem Taiga, do anime Toradora. E sua personifi cação em cos-play

Foto: Marco Fisher

A Bossa nova, tropicália e Jovem guarda. Esses movimen-tos representam a vida dos jovens dessa época, em dife-

rentes níveis. O jovem de classe média e sua relação com o amor e com a vida; a experimentação e a busca pela paz. Respectivamente temos os grandes nomes de cada movimento: Tom Jobim e Vinícius de morais; Caetano Veloso e Gilberto Gil; Erasmo Carlos e Roberto Carlos

MÚSICAREGISTRANDOHISTÓRIALívia Vasconcelos | [email protected] | @liviacalheiros

Música é apenas entretenimen-to, certo? Se você respondeu que sim, está errado. Dentro das mais variadas melodias, podemos en-contrar uma forma de contato com uma geração distante, ou até mesmo o reconhecimento de uma época vivida. Assim como em an-tigas culturas, que registravam suas histórias oralmente, a músi-ca se mostra, entre as mais varia-das formas de linguagem, como um instrumento pelo qual se re-vela o registro da vida cotidiana, na visão de autores que observam o contexto social em que vivem.

Para Lucas de Novaes, estudan-te de história da Universidade fe-deral de Alagoas, a música é uma das mais produtivas fontes histó-ricas da chamada “Nova História”, período em que aconteceu uma grande mudança na concepção de documento histórico. “A música carrega todo um contexto social. Ainda que não sejam letras polí-ticas, existe a realidade cultural por trás”. Ele se posiciona de for-ma positiva ao considerar a mú-

sica uma alternativa que auxilia a história, inclusive em compara-ção com a história oral. “A música normalmente não é feita com um intuito histórico, mas consideran-do a história oral como um todo, acredito que a relação é direta, e elas acabam atuando com um ob-jeto fi nal igual” completou.

O vocalista da banda Alagoa-na Gato Zarolho, Marcelo Mar-ques, acredita que cada música já sai com sua marcação histórica: “Tudo, mesmo num samba ino-cente de amor dos anos 30, já vincula aquela música a um con-texto que não é, originalmente, o atual”. Sobre registrar sua própria história, Marcelo revela que uma de suas novas composições, Av. Dropsie, nasceu de um momento vivido por ele. “Depois de um as-salto, eu fi z uma letra que fala de um cara que tem como veias as próprias ruas da cidade, que tem como umbigo os esgotos, como se

ele não fosse nem um assassino, mas o ato mesmo. Eu escrevi por-que aquilo me deixou com muita raiva, e pensando”, conta.

Marcelo aponta ainda um tipo de música atual que registraria a situação do país nos últimos anos. “À medida que não temos milita-res arrancando o povo de casa abertamente, as coisas contra as quais falar, do ponto de vista social, são do tipo ‘Miséria S.A.’ como O Rappa, por exemplo.”

Sem dúvida, a música é um do-cumento histórico; mas vale lem-brar que a história nunca é ver-dade absoluta. Mesmo os dados obtidos em documentos ofi ciais são questionáveis. O trabalho do historiador é de interpretar e apresentar as opções. Com a mú-sica, acontece a mesma coisa. Ela é um instrumento alternativo de armazenamento histórico, e só vem a acrescentar. Além de tudo, diverte o corpo e a alma

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1930

1950 e 60

1970 e 80

1990 e 2000

O teatro de revista e o rádio retratam bem o entretenimento dos brasileiros dessa época. Destaque para Carmen Miranda, sucesso internacional, representando a tropicalidade sul americana.

Nos anos 70 surgiu o que se convencionou chamar de MPB. Ampla gama de estilos derivados de várias matrizes, desde

o rock até os regionalismos. Temos nomes como Elis Regina, Gal Costa, Geraldo Vandré e Chico Buarque. Já nos anos 80, o rock renasceu em Brasília, com questões pessoais e a vida do adolescente. Temos a Legião Urbana, Paralamas do sucesso e Capital Inicial.

O ponto forte dessas décadas é a miscelânea de rit-mos. O samba, a música sertaneja, o BRock, o samba-

reggae, o baião, o forró, a Lambada, o funk, o frevo, o hip hop, o charme a música eletrônica, os regionalistas, entre tantos outros. A música dos anos atuais marca também a época violenta em que vivemos, deixando para épocas futuras, um pedaço dos tempos de hoje.

AONDAMIDIÁTICAPor Morena Melo | [email protected]

O longa A Onda, de Dennis Gan-sel, nos faz pensar sobre questões, interpretações e modos de agir re-ais da sociedade contemporânea. A história tem como pano de fundo uma escola alemã que propõe um mergulho no estudo teórico de dois tipos distintos de organizações polí-ticas: o Anarquismo e a Autocracia. Acontece que o professor Burt Ross mergulha fundo demais, a ponto de criar uma onda devastadora dentro da escola e na cabeça dos alunos. Vendo que não consegue reter a atenção dos estudantes com au-las tradicionais, o professor resolve adotar um modelo empírico e faz os alunos sentirem na pele o funciona-mento e os resultados de um regi-me autocrático.

Criou-se uma relação dicotômica entre os meios de comunicação e o sistema educacional. Os meios en-traram na estrutura educacional e mudaram seu papel social: a esco-la passou a ser mais um meio. Ela deixa de instruir e passa a estimu-lar o aprendizado por intermédio da pesquisa; a interatividade alcançou os processos educacionais, tanto quanto os comunicacionais. Talvez os meios de comunicação de mas-sa apliquem uma pseudoliberdade na qual o homem contemporâneo não está pronto para lidar.

O fato é que o homem moderno se sente livre demais para en-xergar suas próprias amarras ao sistema. Essa pseudoliber-dade nos permite analisar regimes como o do

Apartheid na África do Sul, de Pi-nochet no Chile e o próprio nazis-mo da Alemanha de Hitler, que são impensáveis nos moldes modernos ‘democráticos’ e ‘livres’. Como de-vemos analisar, então, os traços totalitários do governo de George W. Bush, Hugo Chávez e Mahmoud Ahmadinejad?

Talvez os meios de comunicação tenham projetado naqueles per-sonagens a ideia de que regimes como o nazismo da Alemanha e o fascismo da Itália não são nos-sos contemporâneos reais. Aí vale a reflexão de que esses regimes autocráticos escancarados já não existem, mas tomaram novas for-mas a partir das nuances geradas pela sociedade moderna / indus-trial, em que até os meios de co-municação ganharam caracteres de produção em larga escala.

Atualmente, essas lideranças se valem dos meios de comunicação, como já refletimos anteriormente, e podem ser exemplificados pelos movimentos fundamentalistas re-ligiosos (cristão, judaico, islâmico) que têm líderes e causas, além da união como força principal do gru-

po e de motivações que muitas ve-zes transcendem à convicção dos fiéis. A exemplo da Al Qaeda, cujo líder Osama Bin Laden, que nada tem de socialista ou marxista, ou seja, sua motivação não é, ou não parece ser, estritamente política, diz lutar por uma causa, suposta-mente “santa” contra os “infiéis do mundo ocidental”.

Os processos comunicacionais se tornaram muito rápidos, a ponto de nossos cérebros não percebe-rem as interfaces que compõem as mensagens. Recebemos as infor-mações todos os dias, mas dificil-mente retemos todas elas, e, com ainda mais dificuldade, interpreta-mos de forma crítica o nosso meio. Estamos inseridos nesse processo de tal forma que não conseguimos enxergá-lo completamente.

A interatividade entre meios de comunicação e homem transcen-deu de simples facilitadores da vida moderna para construtores de moldes antropológicos e so-ciais. A Onda se torna, por assim dizer, um ‘produto midiático pela mídia’, fazendo um paralelo com ‘arte pela arte’. Em outras pala-vras, o filme, enquanto produto midiático que é, sugere interpre-tações dos espectadores aos fe-

nômenos de massificação típi-cos dos produtos midiáticos. É como se fizesse um alerta de si para a sociedade cada vez mais apática e acrítica que a cultura de massa gerou.

O filme A Onda pode ser interpretado como um aler-ta para a venda escura que a comunicação de massa pôs nos olhos da sociedade, agora submetida a valores impostos

pelas indústrias culturais.

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ENSAIO

VOCÊÉOEMOTICON

Seja em salas de bate-papo, chats ou no clássico MSN, as “bolinhas” da vez são eles, os emoticons (Emo = emo-ção, icon = ícone). Surgiram como forma de comunicação

paralinguística em 1953, no cartaz do fi lme _Lili_,no qual Les-lie Caron interpreta a personagem principal. Atualmente mesmo com a possibilidade de utilizar equipamentos simples de áudio e vídeo, ainda são amplamente difundidos e colecionados. Todo mundo tem uma porção de emoticons no computador. Nesta edi-ção a Revista CÓDIGO transforma você em emoticon.

SARCÁSTICO - Está sem saco de res-ponder ou comentar uma besteira de um amigo? ALTgr + 66 nele!

PISCADELA - Uma grande ideia? Uma grande sacada? Para pontuar estes momentos ou simplesmente acabar algum raciocinio ;)

FOTOS: Janine Ribeiro | [email protected] | @89Janine Isabela Pedrosa | [email protected]

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DESISTÊNCIA - Entregou os pontos? Cansou de tentar explicar algo pra al-gum amigo? Não consegue entender este texto? #.# pra você.

DIABO - From Hell para o PC. Muita mal-dade para acentuar suas façanhas ma-lignas. (6) é o atalho para enviar o ícone do tinhoso para seus amigos.

DANDO LÍNGUA - Emoticon sa-peca. Geralmente acentua algu-ma travessura.

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SORRISÃO - A alegria aqui é tamanha que o clássico =) não basta. O X indica os olhos fechados, que geralmente sig-nifica vergonha.

“Hoje Você vai rir :) Você vai Chorar :( sim, você vai se apaixonar S2” Era o que dizia o cartaz do filme _Lili_. Desde então, o emoti-con dominou o mundo e é amplamente usado nos programas de mensagens instantâneas( (OPS, FALEI - O nome diz tudo. Quan-do nada devia ser dito, esse é um jeito singelo de confessar o lado tagarela.

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CORAÇÃO - Um coração para a pessoa ama-da. Um amigo que gosta muito. Muitas fun-ções para muitos atalhos: (L), SZ ou mesmo <3

FELIZ - Provavelmente o mais famoso ícone e pai de todo os emoticons. Tam-bém conhecido na versão =)

TRISTE - Encaixa para qualquer má no-tícia, dada ou recebida. Também conhe-cido na versão =( , =/ ou : /(

INFIELPor Marcel Henrique Leite | [email protected]

De acordo com a norma culta da nossa língua, Infidelidade é uma ruptura de uma dada fé. Para certos indivíduos trata-se do mais elevado grau de aten-tado ao pudor existente. Pois é. Até pensava da mesma for-ma que estas pessoas meses atrás. Agora, estou começando o meu exercício de adaptação à promiscuidade contemporâ-nea.

Lá estava eu, em uma mo-dorrenta tarde de terça-feira, pensando no estado de aporri-nhação no qual me encontraria quando retornasse para casa. Mas, qual a razão desse pessi-mismo anunciado? Simples. O maldito mau humor da minha senhora e sua irritante mania de reclamar de absolutamen-te tudo em sua volta. “O ca-chorro sujou tudo”, “O me-nino tá chorando”, “O pão tá velho”... Chegou a um patamar quase que ina-tingível, ao ápice do enchimento de saco feminino; é prati-camente uma TPM eterna! Por que não larga esta mulher? Não posso largar a Amélia. De jeito nenhum. Amo sua comida, amo a ma-neira que ela orga-niza as coisas, amo a casa limpinha sempre. Enfim, amo minha mu-lher! Não a larga-ria por nada.

Voltando à ter-ça, entrei em casa e recebi o já es-perado: um amon-toado de reclama-ções. Mal cheguei

e já parti para a casa ao lado. Ia ver o jogo na TV. Claro que é uma das desculpas mais mal lavadas da história. Tinha a Claudinha lá. Era bom. Claudi-nha era carinhosa, não recla-mava de nada. Era uma perfei-ção. O jogo “acabou” e rumei para a casa em frente. Dessa vez, Irene estava a me espe-rar. Também era maravilho-so. Nenhuma reclamação no pé do ouvido. No finzinho da

noite, ainda dei uma passadi-nha na casa da esquina. Oh, Silvinha! Que espetáculo. Lin-da e não me azucrinava. Vol-tei, então, para o meu doce e querido lar. Logo quando abri a porta: “Onde você tava? O que tava fazendo? Com quem você tava?”. Imediatamente, tirei um lindo buquê de rosas detrás das costas. E entreguei. Afinal de contas, eu amo a mi-nha mulher.

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Exemplos de bons cafajestes: Sawyer, de Lost, Charlie Harper, de Two and a half men, e qualquer persona-gem de José Mayer.

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VIVENDONUMACAIXAPor Ben-Hur Bernard | [email protected] | @benbernard

Novidade ou necessidade, o fato é que contêineres ma-rítimos são a nova revolução da arquitetura. Vários proje-tos com essas peças já foram executados em todo o mun-do, especialmente nos Esta-dos Unidos, onde a produção cresce. E os motivos para tudo isso são muito simples: rapidez na construção, custo, demanda no mercado, esté-tica etc. Além do mais, con-têineres são extremamente práticos em regiões devasta-das por fenômenos naturais, como foi o caso do Sri Lanka, após o tsunami em 2004. Os mais utilizados têm, em mé-dia, 2,44m de largura, 2,59m de altura e 12,19m de com-primento.

Você pode estar se ques-tionando: qual a van-tagem de viver num espaço tão limita-do? O lar anda em processo de adequação às novas for-mas de habitar do ser humano. Muitas famílias hoje são com-postas diferen-temente do que se entende por convencional: casais sem fi -lhos, mães ou pais sem côn-juge e pessoas

morando sozinhas são exem-plos desse novo cenário. Sem contar que o lar se tornou um ambiente-suporte, o qual “vi-sitamos” somente para dormir e fazer nossa higiene pesso-al.

A arquitetura, portanto, se comunica com essas novida-des, e acaba transformando a cidade num organismo vivo, que se modifi ca a cada nova necessidade. Uma casa precisa ser resistente, mas não tanto a ponto de resistir às mudan-ças frequentes da sociedade. O contêiner é fl exível, nesse sen-tido.

Esteticamente, uma cida-de feita de contêineres, ou ao

menos um prédio - já existen-te em muitos países -, parece ser uma antecipação do futu-ro. Contudo, este é o presen-te, e a moradia não é mais só uma necessidade de proteção, é também uma maneira de ex-pressão, um refl exo dos tem-pos modernos. Os contêineres são nômades, o que combina com o fato de ninguém, hoje, poder se dar ao luxo de fi n-car os pés no chão e ignorar o resto do mundo. Contêineres são modulares e permitem di-versas formas de montagem e confi gurações. Quem na con-temporaneidade pode ignorar as mutações que sofremos so-cialmente?

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de altura e 12,19m de com-de altura e 12,19m de com-primento.

Você pode estar se ques-tionando: qual a van-tagem de viver num espaço tão limita-do? O lar anda em processo de adequação às novas for-mas de habitar do ser humano. Muitas famílias hoje são com-postas diferen-temente do que se entende por convencional: casais sem fi -lhos, mães ou pais sem côn-juge e pessoas

de feita de contêineres, ou ao de feita de contêineres, ou ao

12m

2.60m

2.45m

Sua vida caberia nestas dimensões?

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AFORÇAPOPULARNASONDASDORÁDIOPor Nathália Honci | @nahonci | [email protected]

Funcionando com vasta programa-ção e de forma ofi cial e indepen-dente, a rádio comunitária Mar-tins 87,9 FM, lo-calizada no bair-ro do Tabuleiro dos Martins, é um exemplo de projeto inteira-mente popular, que visa à edu-cação, ao diver-timento e ao co-nhecimento da comunidade pela própria comuni-dade. O alcance dos programas da rádio vão das imediações do supermercado

Makro até alguns interiores próxi-mos.

Desde 2001, a Associação dos Mo-radores da Rua do Campo (Amorucam-po), entidade repre-sentativa da região do Tabuleiro, onde está sediada a rá-dio, vem tentando ofi cializar este projeto idealizado desde 1997; mas o pleito só foi conseguido há um ano. O proje-to popular foi enviado primeira-mente ao Programa Comunidade Solidária, criado pela antropólo-ga Ruth Cardoso, que o encami-nhou para a tramitação legal no Ministério das Comunicações e no Congresso Nacional.

Segundo a presidente da as-sociação, Maria José da Silva, os sete anos de espera foram mui-to difíceis. “Não tínhamos mais esperanças no processo, nunca fomos ligados a políticos para acelerar os trâmites, lutando so-zinhos eu, o diretor e os demais;

então resol-vemos entrar com a progra-mação no ar de forma pi-rata e fomos pegos pela Anatel [Agên-cia Nacional de Telecomu-n i c a ç õ e s ] ”, comentou a representan-te popular. E c o n t i n u o u : “De outra vez que também fomos pegos, eu, como pre-sidente da Amorucampo, respondi a pro-

cesso judicial e fui condenada a um ano de prisão, mas tínhamos a opção da doação de 40 cestas básicas para uma instituição de caridade”, relatou.

Atualmente, vencidos os en-traves à sua ofi cialização, a rádio funciona na casa da presidente e presta um grande serviço à comunidade, promovendo e di-vulgando eventos e oferecendo uma programação musical va-riada. Ensinamentos religiosos e programas educativos também são transmitidos pela rádio, di-versidade que segue o objetivo inicial de todos os que lutaram por essa iniciativa popular.

Além da presidente da Amoru-campo, a rádio conta com o co-municador Marcos Antônio Cezar Wanderlei, no cargo de diretor, e com diversos jovens colabora-dores, que têm a oportunidade de tão cedo interagir com a co-municação. “A rádio causa um impacto que traz mudanças, fa-lando de educação e de seguran-ça. Essa era uma comunidade ‘morta’, mas agora, tendo uma mídia aqui, nós próprios nos co-nhecemos”, afi rmou Alan Jones, de 16 anos, um jovem colabora-dor, que agora pensa em prestar vestibular para jornalismo.

Maceió possui apenas mais duas rádios comunitárias ofi cia-lizadas: a Voz de Bebedouro e a Rádio Serraria.

A rádio causa um impacto que traz mudanças. Essa era uma comunidade ‘morta’, mas ago-ra tendo uma mídia aqui, nós

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Equipamentos da rádio Martins

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ga – nome de origem indígena, que tem como signifi cado “fi -lhos da terra”, fazendo uma re-ferência ao uso do chão. A es-tudante Pei Fang Fon fez parte desse grupo durante um ano, e vê a atividade como uma supe-ração dos seus próprios limites e medos. “É interessante a prá-tica da atividade para acabar com qualquer tipo de paradig-mas pessoais que possam exis-tir”, diz a estudante. Para Pei, o movimento mais difícil é subir os muros. Ela afi rma que mui-ta força é necessária, e que já torceu o tornozelo, machucou o punho e o antebraço. “Não teve

uma única vez que voltei para

Reverso, Equilíbrio, Rolamen-to, Salto do Gato, Drop e Subi-da, esses são nomes de alguns dos movimentos utilizados no Le Parkour, atividade em que os homens que treinam são de-nominados de Traucer e as mu-lheres, Trauceres. O esporte foi criado na França, na década de 80, por David Belle, inspirado pelo pai, que foi combatente na Guerra do Vietnã e usava algu-mas das técnicas do Le Parkour (O Percurso). Essa prática, ain-da hoje, utiliza as habilidades do corpo para se mover de um ponto para outro de forma rá-pida e efi ciente, de forma que gaste menos energia possível. Além disso, não há limite para as manobras do Parkour, elas podem ser executadas em bancos, paredes, árvores, viadutos, calçadas ou em qualquer outro ponto.

Em Maceió, não se sabe ao certo quando começou a ser pra-ticado, mas exis-te um grupo que treina há seis anos, o Ybian-

Por Raphael Vasconcelos | @raphaelvasclins

LEPARKOUR:SUPERANDOLIMITES

casa sem algum machucado, apesar disso, aconselho a prá-tica”.

Aos poucos a técnica vem sen-do difundida por todo o país, in-clusive no nordeste, através de encontros em Alagoas ou inter-câmbios entre estados vizinhos. Para participar, basta usar roupas leves, ter um tênis que suporte impactos e força de vontade para fazer os exercícios. As datas, lo-cais e horários em que o grupo treina estão disponibilizados em uma comunidade do Orkut “Pa-rkour Maceió AL”, que dispõe de vários links de blogs e sites sobre eventos que foram realizados ou estão por vir, além de vídeos e fó-runs para debates.

David Belle: o criador do Le Parkour.

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INSTANTÂNEOINUSITADO

O ambiente caótico trazido pelo cenário urbano faz com que diferentes ideias e sensa-ções se cruzem criando formas novas de expressão. Essa difu-são de pensamentos contrasta com o ritmo controlado da vida na cidade, e algumas formas de expressão surgiram justamente com o objetivo de combater a monotonia da selva de concre-to. Recentemente, pessoas dis-postas a quebrar a rotina co-meçaram a usar a Internet, e outros meios de comunicação, para uma brincadeira que tam-bém acabou se tornando uma forma de linguagem: os flash mobs.

Flash mobs, ou “mobiliza-ção instantânea”, são eventos nos quais pessoas se organi-zam para realizar uma ação em conjunto, em um momen-to previamente determinado,

se dispersando logo depois. Essa ação sempre é algo inusi-tado para os que passam pelo local no momento do “mob”. Em um deles, por exemplo, ao ouvirem um sinal previamen-te marcado, todos que estão fazendo parte da mobilização “congelam” subitamente, fi-cando sem se mexer por um tempo e depois voltando ao normal como se nada tivesse acontecido.

Em Maceió, onde a ativida-de começou há pouco tempo, existem dois grupos que re-alizam as mobilizações. Um deles é o Flash Mobs Maceió, que utiliza principalmente re-des de relacionamentos virtu-ais para organizar as ações, criando uma comunidade que tem crescido após a realização de dois Zombie Walks (per-formance em que as pessoas

se maquiam como zumbis de filmes de horror) e um Pillow Fight (no qual os participantes lutam entre si com travessei-ros). O outro é o Coletivo na Rua, que, ao contrário do pri-meiro, prefere realizar even-tos anônimos.

O objetivo principal dessas movimentações é quebrar a rotina tanto dos participan-tes quanto dos espectadores, que podem ser convidados a se juntar, além de proporcio-nar diversão. Para Ednelson Jú-nior, um dos organizadores do Flash Mobs Maceió, esse tipo de evento ainda pode ser “um ve-ículo de construção de um ce-nário urbano, onde as relações interpessoais sejam mais fortes e mais ‘legais’, sem toda aquela paranóia moderna em que nos vemos engolidos e que gera um afastamento das pessoas.”

Marco Antônio Fischer de Araújo | [email protected]

A partida dos “zumbis” pelas ruas de Maceió, provocou vários olhares curiosos e até alguns sustos

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Memória de minhas putas tris-tes trata com uma beleza inegá-vel a relação sentimental entre um ancião e uma jovem garota, cuja maturidade estava, em ter-mos numéricos, ainda longe de ser atingida. Não é somente por isso que podemos considerar o li-vro como um dos mais marcantes da carreira do autor. Nem apenas por reafi rmar o Nobel conquis-tado. Tampouco pela linguagem simples ou pelo enredo capaz de unir, ao mesmo tempo, uma faci-lidade notória de compreensão e uma complexidade formidável ve-lada nas entrelinhas. É bem mais do que isso.

Explorando um viés talvez nem sempre pensado, ou mesmo abor-dado, notamos o amor presente no autor. Não, não estou repe-tindo algo possivelmente já dito anteriormente. Garcia Márquez, além de escri-tor, é também jornalista. As-sim como seu personagem no livro, o an-cião que assi-nava a coluna dominical do jornal. Duran-te a leitura, p e r c e b e - s e que quando não está bus-cando alter-nativas para c o n s e g u i r uma eventual conquista da jovem moça, o protagonista está a exercer a sua tão ama-da profi ssão. Quem sabe uma metáfo-ra simultânea em seu texto.

Até mesmo uma comparação dos sentimentos sentidos por ele, no ápice de uma dita fi gura de lin-guagem.

Outras obras do colombiano já dotam de uma emoção bastante aparente. “Memória” não é dife-rente, exceto por uma particu-laridade. Permita-me uma im-portante ressalva: o ancião, por mais passional que seja, já não é mais tão efusivo amorosamente falando quanto seus antepassa-dos em obras de García Márquez. De fato, trata-se de um homem mais calejado e menos deva-neador - me atreveria a dizer. Provavelmente, se aproximando mais de um possível Eu do autor. Talvez, um ceticismo amargura-do possa ser relacionado ao pró-prio exercício da profissão. Uma referência à forma de linguagem utilizada contemporaneamente.

Um ar nostálgico remetente a quando se fazia jornalismo com paixão. Sem uma falsa morali-dade hoje predominante, quiçá como em alguns de seus primei-ros trabalhos em Barranquilla.

Um possível intuito do livro pode ser exatamente uma rigoro-sa, e necessária, análise de como se transmite a informação nesse emaranhado de linguagens e infor-mações que nos bombardeiam a todo e qualquer momento. Sendo como uma elegia factual, em que se dá aquilo que tende a englobar o que se é momentâneo, e quase sempre irrelevante. Compara-se tamanha transformação à perda da inocência da menina do livro. Ou até não. Possivelmente, está mais próxima da falta dessa “ino-cência” na escrita daqueles que exercem a tão amada profi ssão de Gabriel García Márquez.

COLUNA:DECODIFICANDO

O AUTOR

Gabriel García Márquez, também con-hecido por Gabo, nasceu em 6 de mar-ço de 1928, na cidade de Aracataca, Colômbia,Gabriel estudou em Barran-quilla e no Liceu Nacional de Zipaquirá. Passou a juventude ouvindo contos das Mil e Uma Noites; sua adolescência foi marcada por livros. García Márquez é escritor, jornalista, editor e ativista político colombiano. Recebeu o Nobel de Literatura de 1982, por sua obra, que entre outros livros inclui o aclama-do Cem Anos de Solidão. Foi respon-sável por criar o realismo mágico na lit-eratura latino-americana.Viajou muito pela Europa e vive atualmente em Cuba. Em 1 de abril de 2009, declarou que se aposentou e não pretende es-crever mais livros.

Por Marcel Henrique Leite | [email protected]

Foto: Divulgação

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FONAUDIOLOGIA:ALIADADIÁRIADOJORNALISMO

Na década de 1980, começou a surgir uma grande mudança no formato dos telejornais. Aquele padrão estereotipado do apresen-tador, com uma voz impostada e certo distanciamento, foi sendo substituído pela necessidade de um profissional que utilizasse a comunicação de maneira natu-ral, aproximando-se do público e marcando um estilo próprio de atuação. É nesse contexto que surge a importância da atuação do fonoaudiólogo junto ao profis-sional de telejornalismo - repór-ter e apresentador.

A fonoaudiologia, diferente do que muitos pensam, não trabalha

apenas com a voz ou com a fala. É de competência do fonoaudió-logo trabalhar a comunicação hu-mana como um todo, adequan-do a postura, a expressão facial e o uso de gestos. “Não é nossa função analisar a parte escrita, o conteúdo do jornalismo. O nosso trabalho é estudar a melhor for-ma de transmitir esse conteúdo. Onde vai ser dada maior ênfa-se, por exemplo.”, disse Gabriela Sóstenes, professora de fonoau-diologia da UNCISAL e fonoaudi-óloga da TV Gazeta desde 2001.

Para Gabriela, o maior desafio do fonoaudiólogo não é trabalhar com a voz e com a fala dos re-pórteres e apresentadores, e sim com a espontaneidade e o poder

de improviso dos telejornalistas, que hoje é essencial. “O meu tra-balho maior aqui é a prosódia, leitura e a narração de um tex-to. Como dar a melhor ênfase, a melhor pausa, a melhor entoação para cada tipo de notícia. A ento-ação engloba também a questão do tom da voz, da melhor inten-sidade. Isso tudo é a prosódia, que é a minha maior demanda.”, explica.

O trabalho do fonoaudiólogo tem como objetivo desenvolver e aperfeiçoar os distúrbios e as di-ferenças da fala. Em um telejor-nal, o foco é a noticia. Um sotaque exagerado ou uma fala com um

padrão caricato acaba desviando a atenção do telespectador. Um exemplo de como é feito o tra-balho da fonoaudióloga, com os jornalistas, é a apresentadora do Bom Dia Alagoas, Michele Garzie-ra. “Eu sou de fora, e foi preciso adaptar o meu sotaque.”, explica, complementando que “aprende-mos a pronúncia correta das pa-lavras, a própria forma de narra-ção de acordo com um assunto”. Mas não só o sotaque é objeto de preocupação, como explica a re-pórter Hannah Copertino. “Minha respiração mudou muito, antes eu era muito ofegante, muito rá-pida. Nem mesmo eu entendia o que eu dizia. Com o trabalho da Gabi [Sóstenes], eu ganhei mui-

to mais ritmo”. Atualmente, o telejornalista

precisa de uma formação mais completa para participar da cons-trução e da edição de um texto. A espontaneidade e o poder de im-proviso são fundamentais, além de ter uma boa voz e um bom gestual. Com a mudança nos for-matos dos telejornais que vem acontecendo, foi necessária uma nova abordagem no trabalho feito com os profissionais. “O jornalis-mo sendo apresentado em pé re-presenta uma maior aproximação com o telespectador. O trabalho é mais difícil por exigir mais es-pontaneidade e mais controle do

corpo, da postura e dos gestos. Temos que trabalhar o jeito de andar e falar com naturalidade.”, explica Gabriela Sóstenes, com-plementando que “antigamente trabalhávamos contendo os ges-tos dos jornalistas. Nem levantar o braço da bancada podia”.

Como bem resumiu a jornalis-ta Hannah, “se jogassem a gente no vídeo sem ‘fono’ ia ser uma tragédia”. Realmente, o trabalho de fonoaudiólogos é fundamental para o bom exercício do telejor-nalismo, e o necessário treina-mento dos comunicadores que desejam trabalhar na televisão deve ser realizado antes e du-rante o ingresso no mercado de trabalho.

Filipe Alencar | [email protected] | @fiiliepalencar

Ilustração: Ben-hur Bernard

Laís Pita | [email protected]

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CINEMAÉRESTRIÇÃO

É bastante comum ouvir entre públicos e artistas que nosso país não investe em cinema como de-veria. Quando se diz “investir”, está se falando em dinheiro; quando se diz “deveria”, é comparando ao ci-nema hollywoodiano. É verdade que no cinema dinheiro está dire-tamente relacionado à imaginação, mas isso não quer dizer que quan-to mais, melhor. A relação inversa tem se mostrado muito boa nos últimos anos.

Uma grande quantia fi nanceira pode não ser tão boa assim. Isso porque, diante de alguns milhões de dólares, o autor do fi lme pode concretizar o que imaginar. No en-tanto, ele não imagina tudo que pode. Esse artista corre o sério risco de aceitar a primeira idéia (quase sempre a pior), já que tem um grande orçamento. Por exem-plo: estamos fi lmando um drama, faz parte da trama uma seqüência em que um carro fi ca em chamas com uma criança dentro. Com al-guns “mils” construímos um bone-co convincente; uma boa maquia-gem, atamos fogo em um, dois ou três carros e contrataremos dublê. Se tivermos um orçamento restri-to, nos obrigaremos a pensar, em uma solução e jamais aceitaremos que essa solução seja inferior a úl-tima idéia. E então o diretor resolve “poetizar” o fi lme, mostrando ima-gens de um parque de bairro vazio enquanto se ouve os gritos infantis a sons da chama. Assim, a falta de dinheiro deixa de ser uma inimiga da arte para ser uma aliada.

A restrição traz tantos benefícios que em 1995 os cineastas Lars von Trier e Thomas Vinterberg deram origem ao movimento cinemato-gráfi co Dogma 95. Juntos escre-veram um conjunto de dez regras, conhecido como “Voto de Castida-de”, que os diretores, ao fi lmarem seus fi lmes, deviam seguir.

Os fi lmes que foram feitos den-tro de tais mandamentos são tão bons, que até quem acha o Dog-ma um absurdo deve concordar que é para o bem do cinema. Além do mais as restrições são um exercício divertido e ainda essencial para manter o cérebro em forma.

Por Mayra Costa Pires | [email protected]

1. As fi lmagens devem ser fei-tas em locais externos. Não po-dem ser usados acessórios ou cenografi a (se a trama requer um acessório particular, deve-se escolher um ambiente externo onde ele se encontre).2. O som não deve jamais ser produzido separadamente da imagem ou vice-versa. (A músi-ca não poderá, portanto, ser uti-lizada, a menos que ressoe no local onde se fi lma a cena).3. A câmera deve ser usada na mão. São consentidos todos os movimentos - ou a imobilidade - devidos aos movimentos do corpo. (O fi lme não deve ser fei-to onde a câmera está colocada; são as tomadas que devem de-senvolver-se onde o fi lme tem lugar).4. O fi lme deve ser em cores. Não se aceita nenhuma ilumina-ção especial. (Se há luz demais, a cena deve ser cortada, ou en-tão, pode-se colocar uma única lâmpada sobre a câmera).5. São proibidos os truques fo-tográfi cos e fi ltros.6. O fi lme não deve conter ne-nhuma ação “superfi cial”. (Em nenhum caso homicídios, uso de armas ou outros).

Os mais importantes fi lmes que seguem o manifesto:

• Festen (DIN) Dirigido por: Thomas Vinterberg

• Idioterne (DIN)Dirigido por: Lars von Trier

• The King Is Alive (DIN) Dirigido por: Kristian Levring

• Lovers (FRA) Dirigido por: Jean-Marc Barr

• Interview (CDS) Dirigido por: Daniel H. Byun

• Fuckland (ARG) Dirigido por: Jose Luis Marques

• Babylon (SUE) Dirigido por: Vladan Zdravkovic

• Julien Donkey-Boy (EUA) Dirigido por: Harmony Korine

OS DOGMAS7. São vetados os deslocamen-tos temporais ou geográfi cos. 8. São inaceitáveis os fi lmes de gênero.9. O fi lme deve ser em 35 mm, standard.10. O nome do diretor não deve fi gurar nos créditos.

cartaz do manifesto dogma 95

Foto: Divulgação

REPÓRTERESAnyelle Cavalcante

Elaine GonzagaFilipe Alencar

Juliana dos AnjosLaís Pita

Lívia VasconcelosMarco Fisher

Nathália HonciPatrícia Pacífi co

Raphael Vasconcelos

EXPEDIENTEEDITORES

Ben-hur BernardFilipe Alencar

Isaac JoséJanine Ribeiro

Marcel Henrique LeiteMorena Melo

Rivângela SantanaRoberta Batista

Yzza AlbuquerqueWilliam Correia

CONTATO:Dê sua opinião, fale conoscocontato.có[email protected]

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1010 CÓDIGO 10101010110101010010101010101010010110101010010101010101010111000101011010101001011010101010101101010100101010101010101010110101010010101010101010010110101010010101010101010111000101011010101001010101010101010110101010010101010101010 010101101010100101010101001010110101010010101010101010010110101010010101010101010 01010110101010010101010101010 01010110101010010101010101010001010101101101010101010101101010101010100101010101010110101010

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Yzza AlbuquerqueYzza AlbuquerqueYzza AlbuquerqueWilliam Correia

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Yzza AlbuquerqueYzza Albuquerque

ARTICULISTASBen-hur Bernard

Fábio JoséGabriela Lapa

Arte e DiagramaçãoArthur Moura

Ben-hur BernardFilipe Alencar

Yzza Albuquerque

Marcel Henrique LeiteMayra Costa Pires

Morena MeloRenata GregoriniSarah Mendes