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PUBLICAÇÃO OFICIAL Revista de Súmulas SUPERIOR T RIBUNAL DE JUSTIÇA

Revista de Súmulas S DE T UPERIOR RIBUNAL USTIÇA · Notas de crédito comercial. ... III, da Carta da República, ... negando a prestação jurisdicional devida nos

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VOLUME 22, ANO 5AGOSTO 2011

Revista de Súmulas

SUPERIOR

TRIBUNAL

DE JUSTIÇA

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Superior Tribunal de Justiçawww.stj.jus.br, [email protected] do Ministro Diretor da RevistaSetor de Administração Federal Sul, Quadra 6, Lote 1, Bloco C, 2º Andar, Sala C-240, Brasília-DF, 70095-900Telefone (61) 3319-8003, Fax (61) 3319-8992

Revista de Súmulas do Superior Tribunal de Justiça - V. 1 (nov. 2005) -. Brasília: STJ, 2005 -.

Periodicidade: Irregular.Repositório Ofi cial de Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.Nome do editor varia: Superior Tribunal de Justiça / Editora Brasília Jurídica, 2005 a 2006,

Superior Tribunal de Justiça, 2009 -. Disponível também em versão eletrônica a partir de 2009: https://ww2.stj.jus.br/web/

revista/eletronica/publicacao/?aplicacao=revista.sumulas

ISSN 2179-782X

1. Direito, Brasil. 2. Jurisprudência, periódico, Brasil. I. Brasil, Superior Tribunal de Justiça (STJ). II. Título.

CDU 340.142(81)(05)

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇAGabinete do Ministro Diretor da Revista

Diretor

Ministro Francisco Falcão

Chefe de Gabinete

Marcos Perdigão Bernardes

Servidores

Andrea Dias de Castro CostaEloame AugustiGerson Prado da SilvaJacqueline Neiva de LimaMaria Angélica Neves Sant’Ana

Técnico em Secretariado

Fagno Monteiro Amorim

Mensageiro

Cristiano Augusto Rodrigues Santos

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MINISTRO FRANCISCO FALCÃO Diretor

Revista de Súmulas

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Resolução n. 19/1995-STJ, art. 3º.

RISTJ, arts. 21, III e VI; 22, § 1º, e 23.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇAPlenário

Ministro Ari Pargendler (Presidente)

Ministro Felix Fischer (Vice-Presidente)

Ministro Francisco Cesar Asfor Rocha (Diretor-Geral da ENFAM)

Ministro Gilson Langaro Dipp

Ministra Eliana Calmon Alves (Corregedora Nacional de Justiça)

Ministro Francisco Cândido de Melo Falcão Neto (Diretor da Revista)

Ministra Fátima Nancy Andrighi

Ministra Laurita Hilário Vaz

Ministro João Otávio de Noronha (Corregedor-Geral da Justiça Federal)

Ministro Teori Albino Zavascki

Ministro José de Castro Meira

Ministro Arnaldo Esteves Lima

Ministro Massami Uyeda

Ministro Humberto Eustáquio Soares Martins

Ministra Maria Th ereza Rocha de Assis Moura

Ministro Antonio Herman de Vasconcellos e Benjamin

Ministro Napoleão Nunes Maia Filho

Ministro Sidnei Agostinho Beneti

Ministro Jorge Mussi

Ministro Geraldo Og Nicéas Marques Fernandes

Ministro Luis Felipe Salomão

Ministro Mauro Luiz Campbell Marques

Ministro Benedito Gonçalves

Ministro Raul Araújo Filho

Ministro Paulo de Tarso Vieira Sanseverino

Ministra Maria Isabel Diniz Gallotti Rodrigues

Ministro Antonio Carlos Ferreira

Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva

Ministro Sebastião Alves dos Reis Júnior

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SUMÁRIO

Súmulas

286 ...............................................................................................................................11

287 ...............................................................................................................................33

288 ...............................................................................................................................81

289 .............................................................................................................................115

290 .............................................................................................................................177

291 .............................................................................................................................213

292 .............................................................................................................................243

293 .............................................................................................................................269

Índice Analítico ................................................................................................................................................. 429

Índice Sistemático ........................................................................................................................................... 435

Siglas e Abreviaturas...................................................................................................................................... 441

Repositórios Autorizados e Credenciados pelo Superior Tribunal de Justiça ....................................................................................................................... 447

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Súmula n. 286

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SÚMULA N. 286

A renegociação de contrato bancário ou a confi ssão da dívida não impede a

possibilidade de discussão sobre eventuais ilegalidades dos contratos anteriores.

Precedentes:

REsp 132.565-RS (4ª T, 12.09.2000 – DJ 12.02.2001)

REsp 237.302-RS (4ª T, 08.02.2000 – DJ 20.03.2000)

REsp 450.968-RS (3ª T, 27.05.2003 – DJ 28.10.2003)

Segunda Seção, em 28.04.2004

DJ 13.05.2004, p. 201

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RECURSO ESPECIAL N. 132.565-RS (97.0034802-4)

Relator: Ministro Aldir Passarinho Junior

Recorrente: Banco do Brasil S/A

Advogados: Pedro Afonso Bezerra de Oliveira e outros

Recorrida: Villa Bella Hotéis e Turismo Ltda.

Advogados: Gustav Lívio Toniatti e outros

Sustentação oral: Gustav Lívio Toniatti, pelo recorrido

EMENTA

Civil e Processual. Acórdão. Nulidade. Omissão não confi gurada.

Notas de crédito comercial. Repactuação posterior em contrato de

confi ssão de dívida. Prova pericial. Investigação da legimitimidade de

cláusulas anteriores. Seqüência contratual. Possibilidade. Necessidade

da perícia. Reexame. Matéria de fato. Recurso especial.

I. Não se confi gura nulidade quando o acórdão, inobstante não

descendo a todos os múltiplos aspectos suscitados pela parte, se acha

corretamente fundamentado relativamente aos pontos essenciais ao

deslinde da controvérsia.

II. Possível a revisão de cláusulas contratuais celebradas antes da

novação por instrumento de confi ssão de dívida, se há uma seqüência

na relação negocial e a discussão não se refere, meramente, ao

acordo sobre prazos maiores ou menores, descontos, carências, taxas

compatíveis e legítimas, limitado ao campo da discricionariedade das

partes, mas à verifi cação da própria legalidade do repactuado, tornando

necessária a retroação da análise do acordado desde a origem, para que

seja apreciada a legitimidade do procedimento bancário durante o

tempo anterior, em que por atos sucessivos foi constituída a dívida

novada.

III. Devidamente justificada pelo Tribunal a quo a

imprescindibilidade da realização da prova técnica, cuja dispensa levou

à anulação da sentença por cerceamento da defesa, o reexame da matéria

recai no âmbito fático, vedado ao STJ, nos termos da Súmula n. 7.

IV. Recurso especial não conhecido.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, à unanimidade, não conhecer

do recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que

fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento

os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira, Barros Monteiro, Cesar Asfor

Rocha e Ruy Rosado de Aguiar.

Custas, como de lei.

Brasília (DF), 12 de setembro de 2000 (data do julgamento).

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente

Ministro Aldir Passarinho Junior, Relator

DJ 12.02.2001

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: - Adoto o relatório que integra o

acórdão recorrido, litteris (fl s. 178-179):

1. Villa Bella Hotéis e Turismo Ltda., interpôs Ação de Revisão de Contrato contra o Banco do Brasil S/A, alegando que confessou-se devedora da importância de Cr$ 7.800.000,00, valor a ser pago em parcelas; que houve cobrança indevida dos valores, incidindo juros superiores a 12% a.a., que houve capitalização de juros e correção monetária descabida. Juntou documentos (fl s. 21-44).

Citado, contestou o Banco do Brasil S/A. (fls. 74-102), aduzindo, preliminarmente, exceção de incompetência, pois o foro competente é o de Gramado, conforme cláusula 13ª do contrato; e, quanto ao mérito, que a regra contida no § 3º do art. 192, CF não o auto-aplicável, carecendo de regulamentação; que não houve a capitalização alegada. Pede a improcedência da ação. Juntou documentos (fl s. 103-122).

O juízo a quo prolatou sentença (fls. 141-142), julgando improcedente o presente feito, fi cando a autora condenada nos ônus sucumbenciais.

Inconformada, apelou Villa Bella (fls. 145-152), alegando cerceamento de defesa, pois não atendido seu pedido de perícia contábil. No mais, repisa os argumentos da inicial.

Houve contra-razões (fl s. 154-166).

Preparados, subiram os autos.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 11-32, agosto 2011 17

O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul deu provimento à

apelação para anular a sentença e determinar que seja realizada a prova técnica

requerida pela autora, nos termos de acórdão assim ementado (fl . 178):

Ação ordinária para revisão de contratos. Prova pericial. Necessidade.

Requerida pela autora a realização de prova pericial e demonstrada a sua necessidade para a apuração do real valor das obrigações contraídas, o julgamento antecipado da lide se constitui em cerceamento ao direito da apelante obter a completa prestação jurisdicional buscada.

Sentença desconstituída.

Apelo provido.

Opostos embargos declaratórios (fl s. 183-187), foram eles rejeitados às fl s.

192-194.

Inconformado, o Banco do Brasil S. A. interpõe, pela letra a do art. 105,

III, da Carta da República, recurso especial em que sustenta, inicialmente, a

nulidade da decisão por não haver examinado os dispositivos legais questionados

nas contra-razões de apelação, negando a prestação jurisdicional devida nos

termos dos arts. 2º, 128, 460, 515 e 535 do CPC, e 5º, LIV e LV, e 93, IX, da

Constituição.

Aduz que a dívida cobrada é representada por título novo, decorrente de

novação, pelo que há impedimento de revisão de contratos antigos extintos,

sendo desnecessária a perícia, ainda que venham a ser expungidos eventuais

excessos, bastando cálculos aritméticos, nada além.

Assim, salienta a contrariedade aos arts. 999 e 1.030 do Código Civil, a

par de omissão também verifi cada no exame dos arts. 939, 940, 964 e 965 da

mesma lei substantiva, e diz que não há nulidade no título e que é incabível a sua

desconstituição pela origem primitiva, já que superada com a novação.

Assere, mais, que segundo o art. 10 do Decreto-Lei n. 413/1969, a dívida é

líquida, certa e exigível, e que faltou ao devedor apresentar os valores cobrados,

apontando-se-lhes os defeitos extrapoladores do contrato, o que não fez.

Finalmente, amparando-se no disposto nos arts. 330, I, 334, III, 130, 420,

598 e 740, parágrafo único, do CPC, registra que (fl . 211):

O Banco do Brasil S.A. jamais negou tivesse aplicado taxa de juros superior à prevista no parágrafo 3º do artigo 192 da Constituição Federal; jamais negou realizar a capitalização dos juros; jamais negou a possibilidade de cobrar

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seus créditos inadimplidos com taxas de 2,5% a.m., também capitalizados mensalmente, bem como o prêmio de seguro e outros encargos que constem dos títulos emitidos quando de operações de financiamento rural, comercial ou industrial. Jamais negou a possibilidade de novar dívidas rurais mediante a emissão de novas cédulas rurais. Jamais foram negados os fatos. Houve, isso sim, negativa de todos os direitos pretendidos.

O demonstrativo de cálculo que acompanha o título executado espelha fi el e rigorosamente o resultado dos cálculos da dívida segundo os encargos contratados. Se existe algum excesso de execução este deverá ser excoimado, a partir da determinação judicial. Não há qualquer necessidade de verifi car-se por cálculos de perito que as taxas de juros, capitalização, correção monetária de março de 1990, etc. estão incorporadas no demonstrativo da dívida, porque isso o Banco já fez, anexando tal demonstrativo ao título em execução.

A questão de direito vem antes da questão de fato, ou seja, definidos literalmente os encargos, passe-se então ao cálculos do contador.

Resolvidas as questões de direito, pelos Tribunais Superiores competentes, ante os argumentos aduzidos pelas partes, será sufi ciente o cálculo do contador para chegar-se ao quantum devido. Esse procedimento ocorre em liquidação de sentença.

Não havendo fatos controversos, desnecessária qualquer instrução, desnecessária qualquer perícia, pois não se trata de estabelecer o quanto poderia o Banco do Brasil cobrar, mas apenas afastar aquilo que não poderia cobrar. Ou seja, caso entendesse a Egrégia Corte Julgadora que o réu utilizava-se de taxas ilegais em seus fi nanciamentos rurais, deveria sobre isso manifestar-se, de tal sorte que fi cassem determinados os limites admitidos de acordo com as leis vigentes.

Sem contra-razões (fl . 220).

O recurso especial foi admitido na Instância de origem pelo despacho

presidencial de fl s. 221-223.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior (Relator): - Cuida-se de recurso

especial aviado pela letra a do permissivo constitucional, em que o Banco do

Brasil S.A. sustenta uma multiplicidade de ofensas a dispositivos legais do

Código de Processo Civil e do Código Civil, em acórdão que anulou sentença

que, rejeitando pedido de prova pericial, julgou improcedente ação que visava à

revisão de cláusulas contratuais de contrato de confi ssão de dívida.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 11-32, agosto 2011 19

No tocante à nulidade do aresto, rejeito-a, porquanto o que pretende, em

essência, o recorrente, é que o Tribunal examine normas legais que conduzem à

procedência da tese bancária, com caráter nitidamente infringente. Não há que

se confundir omissão, com decisão desfavorável.

Com relação ao ponto central do recurso, qual seja, a desnecessidade da

realização da prova pericial e, em conseqüência, o aproveitamento da sentença

monocrática que julgou improcedente a demanda revisional, melhor sorte não

socorre o recorrente.

A possibilidade do reexame de cláusulas e condições dos contratos

primitivos, que deram origem ao pacto celebrado em 1990, novando a dívida, foi

implicitamente rejeitada pelo Tribunal Estadual, e se acha em harmonia com o

pensamento desta Corte, como se infere dos seguintes despachos monocráticos

exarados pelos eminentes Ministros Nilson Naves e Ruy Rosado de Aguiar,

respectivamente nos REsp n. 221.332-RS e n. 230.559-RS. Transcrevo, desse

último, o seguinte excerto:

De qualquer modo, observo que a renovação dos contratos bancários, com o pagamento de saldo apurado ou a confi ssão da dívida, com ou sem renegociação de cláusulas e condições, não signifi ca a perda do direito de ir a juízo discutir a eventual ilegalidade do que foi contratado. O direito a declaração de invalidade de cláusula contratual não se extingue com a prestação nele prevista, pois muitas vezes o obrigado cumpre a sua parte exatamente para poder submeter a causa a juízo, ou, o que é mais freqüente, para evitar o dano decorrente da inadimplência, com protestos, registros no SPC, Serasa e outros efeitos.

Por isso, não há razão para limitar o exercício jurisdicional na revisão de contratos, especialmente quando a dívida, que é no último reconhecida, ou que serve de ponto de partida para o cálculo do débito, resulta da aplicação de cláusulas previstas em contratos anteriores, em um encadeamento negocial que não pode ser visto isoladamente, apenas no último contrato.

Portanto, não tem razão o banco quando pretende estreitar o âmbito da revisão judicial.

(4ª Turma, DJU de 17.11.1999).

Como demonstrado no trecho acima reproduzido, a revisão é viável por se

considerar que, em havendo espécie de continuidade na operação, que é também

o caso dos autos, o direito da parte eventualmente lesada pela imposição de

condições viciadas não pode fi car afastado pelo pacto posterior, muitas das vezes

admitido pelo devedor sob pressão dos instrumentos coercitivos de cobrança,

para evitar males maiores para si ou sua empresa.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Ademais, e fundamentalmente, o que se busca, em essência, é a legalidade.

Assim é que, seria razoável o pensamento contrário, apenas se o contrato

renovado trouxesse, em seu bojo, inovações meramente no campo da livre

vontade das partes, da sua discricionariedade em acordar prazos maiores ou

menores, descontos, carências, taxas compatíveis e legítimas. Até aí, em princípio,

uma novação seria espécie de pá de cal sobre o que fi cou para trás.

Todavia, se a controvérsia, como na presente hipótese, gira exatamente

em torno da ilegalidade ou inconstitucionalidade da taxa de juros, na inserção

de “arredondamentos em operação de desconto de duplicatas” (fl . 10, sic, da

inicial), no aproveitamento a menor das amortizações parciais feitas ao longo do

tempo pela devedora (fl . 10), etc, exsurge evidente que a matéria transcende o

momento da repactuação, retroagindo para que seja apreciada a legitimidade do

procedimento bancário durante o tempo anterior, em que por atos sucessivos foi

constituída a dívida novada.

De outra parte, o acórdão, aí, explicitamente, deu pela necessidade da

perícia para a apuração de tais aspectos, no que a revisão da conveniência ou não

da prova descamba para o reexame fático (Súmula n. 7), incomportável nessa

órbita especial, mesmo porque, como visto acima, a discussão não é meramente

jurídica, mas também contábil. Nesse sentido:

Civil e Comercial. Embargos à execução. Cédula rural pignoratícia. Alegação de cerceamento de defesa pelo indeferimento de prova pericial. Súmula n. 7-STJ. Correção monetária. Juros. Capitalização. Proagro.

I - Decisão sobre a necessidade ou não de dilação probatória, tomada pelas instâncias ordinárias, não pode ser revista em sede de Especial, pena de se adentrar em terreno fático-probatório. Incidência da Súmula n. 7-STJ.

II - Pacifi cou-se nesta Corte jurisprudência no sentido de reconhecer o INPC como índice adequado à correção de valores a partir de fevereiro de 1991.

III - Capitalização mensal de juros admitida (Súmula n. 93-STJ).

IV - Pagamento do Seguro Proagro que resultou em interpretação de cláusula contratual (Súmula n. 5-STJ).

V - Recurso conhecido em parte e, nesta parte, provido.

(3a Turma, REsp n. 123.217-PR, Rel. Min. Waldemar Zveiter, unânime, DJU de 14.12.1998).

Ante o exposto, não conheço do recurso especial.

É como voto.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 11-32, agosto 2011 21

RECURSO ESPECIAL N. 237.302-RS (99.0100238-9)

Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira

Recorrente: Banco Bradesco S/A

Advogados: Clayton Müller e outros

Recorrida: Floresta Comércio de Produtos de Origem Animal Ltda.

Advogada: Beatriz Simões Gross

EMENTA

Direitos Comercial e Econômico. Financiamento bancário. Juros. Teto. Lei de Usura. Inexistência. Lei n. 4.595/1964. Enunciado n. 596 da Súmula-STF. Capitalização mensal. Excepcionalidade. Inexistência de autorização legal. TR como índice de correção monetária. Prequestionamento. Inocorrência. Possibilidade de revisão de contratos. Recurso parcialmente acolhido.

I - A Lei n. 4.595/1964, que rege a política econômico-monetária nacional, ao dispor no seu art. 4º, IX, que cabe ao Conselho Monetário Nacional limitar taxas de juros, revogou, nas operações realizadas por instituições do Sistema Financeiro, salvo exceções legais, como nos mútuos rurais, quaisquer outras restrições a limitar o teto máximo daqueles.

II - Somente nas hipóteses em que expressamente autorizada por lei específi ca, a capitalização de juros se mostra admissível. Nos demais casos é vedada, mesmo quando pactuada, não tendo sido revogado pela Lei n. 4.595/1964 o art. 4º do Decreto n. 22.626/1933. O anatocismo, repudiado pelo Verbete n. 121 da Súmula do Supremo Tribunal Federal, não guarda relação com o Enunciado n. 596 da mesma Súmula.

III - A “TR”, na dicção do Supremo Tribunal Federal, não serve como substituto do índice constante de contrato, por não ser indicador puro de correção monetária, haja vista incluir taxa de remuneração no seu cálculo, não servindo, também, como indexador legal, a incidir automaticamente sobre qualquer débito, inclusive os judiciais, ou, ainda, naquelas situações em que há norma proibindo a sua utilização ou estabelecendo a adoção de indexador específi co.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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IV - O Superior Tribunal de Justiça, na esteira dessa orientação fi rmada pela Suprema Corte, já assentou a valia da “TR” como índice, quando eleito pelas partes contratantes.

V - A renegociação de contratos bancários não afasta a possibilidade de discussão judicial de eventuais ilegalidades.

VI - Matéria não enfrentada pelo Tribunal de origem não pode ser objeto de análise na instância especial, por faltar o requesito do prequestionamento, consoante Enunciado n. 282 da Súmula-STF.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer em parte do recurso e, nessa parte, dar-lhe provimento. Votaram com o Relator os Ministros Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Aldir Passarinho Júnior.

Brasília (DF), 08 de fevereiro de 2000 (data do julgamento).

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente

Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Relator

DJ 20.03.2000

EXPOSIÇÃO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: Cuida-se de recurso especial interposto contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul que, nos autos de “ação declaratória e de repetição de indébito” referente a contratos de abertura de crédito em conta corrente e de refi nanciamento, limitou os juros em 12% a.a., com capitalização apenas anual, afastou a aplicação da TR como índice de correção monetária, além de admitir a revisão dos contratos renegociados porque demonstrada a continuidade negocial.

Alega o banco, além de dissídio, violação dos arts. 3º e 4º - IX da Lei n. 4.595/1964, 11 da Lei n. 8.177/1991 e 999-I do Código Civil, sustentando a inexistência de teto de juros, a prevalência do fator de correção pactuado e a impossibilidade de revisão de contratos extintos em virtude de novação.

É o relatório.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 11-32, agosto 2011 23

VOTO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira (Relator): 1. Quanto à

impossibilidade de revisão judicial de contratos objeto de novação, inviável se

apresenta o apelo.

Pela alínea a do permissor, não se verifi ca negativa de vigência ao art. 999-

I, CC porquanto o acórdão impugnado não afastou a ocorrência de novação,

assinalando apenas que, “havendo relação jurídica continuativa, caracterizada

por novações, renegociações e confi ssões de dívida”, possível é a revisão dos

contratos anteriores.

Pela alínea c do permissor, conquanto caracterizado dissídio com o

paradigma do Tribunal de Alçada do Estado do Rio Grande do Sul, que

entendeu que a “renovação do contrato de abertura de crédito opera novação

ut art. 999, I, CC, que extingue e substitui a dívida anterior e impossibilita a

revisão, salvo prova de pagamento por erro, ut art. 965 do mesmo Código”, não

merece prosperar a irresignação.

Conforme assinalou o Ministro Ruy Rosado no REsp n. 230.559-RS

(DJ 17.11.1999), “a renovação dos contratos bancários, com o pagamento de

saldo apurado ou a confi ssão da dívida, com ou sem renegociação de cláusulas

e condições, não signifi ca a perda do direito de ir a juízo discutir a eventual

ilegalidade do que foi contratado. O direito a declaração de invalidade de

cláusula contratual não se extingue com a prestação nele prevista, pois muitas

vezes o obrigado cumpre a sua parte exatamente para poder submeter a causa a

juízo, ou, o que é mais freqüente, para evitar o dano decorrente da inadimplência,

com protestos, registros no SPC, Serasa e outros efeitos. Por isso, não há razão

para limitar o exercício jurisdicional na revisão de contratos, especialmente

quando a dívida, que é no último reconhecida, ou que serve de ponto de partida

para o cálculo do débito, resulta da aplicação de cláusulas previstas em contratos

anteriores, em um encadeamento negocial que não pode ser visto isoladamente,

apenas no último contrato. Portanto, não tem razão o banco quando pretende

estreitar o âmbito da revisão judicial”.

2. No que diz respeito à capitalização, a jurisprudência deste Tribunal

uniformizou entendimento no sentido de que somente nos casos expressamente

autorizados por norma específica, como nos mútuos rural, comercial ou

industrial, é que se admite sejam os juros capitalizados, e, ainda assim, desde que

existente pactuação nos contratos.

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In casu, conforme asseverou o acórdão impugnado, a espécie dos autos versa sobre contrato de crédito, não incluído no elenco das leis especiais que admitem a capitalização. A propósito, os REsps n. 16.864-SP (DJ 29.03.1993), n. 58.088-PE (DJ 25.11.1996), n. 139.607-MG (DJ 15.12.1997), n. 52.598-RS

(DJ 29.06.1998) e n. 178.367-MG (DJ 03.11.1998), este último assim ementado:

Direitos Comercial e Econômico. Financiamento bancário. Capitalização mensal. Excepcionalidade. Inexistência de autorização legal. Recurso acolhido.

I - Somente nas hipóteses em que expressamente autorizada por lei específi ca, a capitalização de juros se mostra admissível. Nos demais casos é vedada, mesmo quando pactuada, não tendo sido revogado pela Lei n. 4.595/1964 o art. 4º do Decreto n. 22.626/1933.

II - O anatocismo, repudiado pelo Verbete n. 121 da Súmula do Supremo Tribunal Federal, não guarda relação com o Enunciado n. 596 da mesma súmula.

3. No que toca à limitação dos juros compensatórios, com base na “Lei da Usura”, em relação às operações realizadas com instituições pertencentes ao Sistema Financeiro Nacional, a tese esposada pelo acórdão recorrido acha-se em desarmonia com a jurisprudência dominante nesta Corte, consoante ressai do voto que proferi, como relator do REsp n. 122.777-MG (DJ 23.06.1997):

No que concerne à possibilidade de se pactuar juros além do limite estabelecido no Decreto n. 22.626/1933, comumente chamado de “Lei de Usura”, razão socorre o recorrente.

A Lei n. 4.595/1964, que rege a política econômica das instituições fi nanceiras, no seu art. 4º, IX, dispõe que cabe ao Conselho Monetário Nacional limitar as taxas de juros. Destarte, se foi prevista a referida limitação, lógico admitir que não subsistiriam quaisquer outras restrições, notadamente a que dispunha sobre teto máximo. Esta, a causa da edição do Enunciado n. 596 da Súmula-STF, que dispõe:

As disposições do Decreto n. 22.626/1933 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas, que integram o Sistema Financeiro Nacional.

Neste sentido, o REsp n. 4.285-RJ (DJ 22.10.1990), desta Turma, relator o Ministro Athos Carneiro, assim ementado:

Financiamento bancário. Taxas de juros e encargos. Decreto n. 22.626/1933.

Não incide a Lei da Usura, quanto à taxa dos juros, às operações fi rmadas com instituições do Sistema Financeiro. Súmula n. 596 do STF. Lei n. 4.595, de 31.12.1964.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 11-32, agosto 2011 25

No caso, tratando-se de fi nanciamento obtido em instituição fi nanceira, lícita a pactuação dos juros acima dos 12% ao ano, pelo que merece subsistir a tese posta nos paradigmas.

4. A jurisprudência deste Tribunal está sedimentada no sentido de admitir

a utilização da “TR” como índice de correção monetária quando pactuada

pelos contratantes, a exemplo do que se deu no caso em exame. Neste sentido,

dentre outros, o REsp n. 55.277-BA (DJ 1º.07.1996), assim ementado, no que

interessa:

III - A “TR”, na dicção do Supremo Tribunal Federal, não serve como substituto do índice constante de contrato, por não ser indicador puro de correção monetária, haja vista incluir taxa de remuneração no seu cálculo, não servindo, também, como indexador legal, a incidir automaticamente sobre qualquer débito, inclusive os judiciais, ou, ainda, naquelas situações em que há norma obrigando a adoção de um indexador específi co ou então proibindo a sua utilização.

IV - O Superior Tribunal de Justiça, na esteira dessa orientação fi rmada pela Suprema Corte, já assentou a valia da “TR” como índice, quando eleito pelas partes contratantes.

Na espécie dos autos, houve pactuação expressa da TR como índice de

atualização e, quando da celebração do instrumento, não havia qualquer vedação

legal à estipulação da correção monetária tomando-se por base o referido

indexador. Assim sendo, torna-se defeso ao Judiciário intervir diretamente na

vontade das partes sob o fundamento de não ser o critério escolhido o melhor

para refl etir a correção monetária. A propósito, exemplifi cativamente, dentre

muitos precedentes, os REsp n. 98.455-MG (10.06.1996), n. 70.234-RS (DJ

05.02.1996), n. 57.748-RS (DJ 29.09.1997), n. 154.392-RS (DJ 30.11.1998), n.

162.701-MS (DJ 29.06.1998).

5. Em face do exposto, conheço parcialmente do recurso e, nessa parte,

dou-lhe provimento para declarar a inexistência, no caso, do teto de juros e

para permitir a adoção da TR na correção monetária da dívida, conforme

convencionado.

Responderá o recorrente por 1/3 (um terço) das despesas processuais,

arcando com os restantes dois terços o recorrido, que pagará também honorários

advocatícios de R$ 130,00 (cento e trinta reais), já considerada a sucumbência

recíproca.

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RECURSO ESPECIAL N. 450.968-RS (2002.0094565-1)

Relator: Ministro Carlos Alberto Menezes Direito

Recorrente: Newton Danilo Castanho Sardá

Advogado: Sarjob Aranha Neto e outro

Recorrente: Banco ABN Amro Real S/A

Advogado: Sirlei Maria Rama Vieira Silveira e outros

Recorrido: Os mesmos

EMENTA

Recurso especial. Contratos bancários. Novação. Possibilidade de

revisão. Prejudicialidade.

1. A jurisprudência das Turmas que compõem a Segunda Seção desta Corte já pacifi cou que a renegociação de contratos bancários não afasta a possibilidade de discussão judicial de eventuais ilegalidades.

2. Deferida a revisão dos contratos anteriores, resta prejudicado o exame das demais matérias tratadas nos especiais.

3. Recurso especial do primeiro recorrente conhecido e provido, em parte, e do segundo recorrente julgado prejudicado.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do recurso especial interposto por Newton Danilo Castanho Sardá, dar-lhe parcial provimento e julgar prejudicado o recurso da instituição fi nanceira, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Antônio de Pádua Ribeiro e Ari Pargendler votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Nancy Andrighi e Castro Filho.

Brasília (DF), 27 de maio de 2003 (data do julgamento).

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente

Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Relator

DJ 28.10.2003

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RSSTJ, a. 5, (22): 11-32, agosto 2011 27

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Banco ABN Amro Real

S/A e Newton Danilo Castanho Sardá interpõem recursos especiais, ambos

com fundamento nas alíneas a e c do permissivo constitucional, contra acórdão

da Décima Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio

Grande do Sul, assim ementado:

Contrato de composição de dívida.

Juros remuneratórios: 12% ao ano.

Capitalização dos juros: anual.

Juros de mora: 01% ao ano.

Multa: 02%.

Correção monetária: IGP-M.

Comissão de permanência: indevida.

Compensação de valores: direito inexistente.

Apelação provida em parte (fl . 150).

Alega a instituição fi nanceira contrariedade aos artigos 4º, inciso IX, da

Lei n. 4.595/1964, 115, 1.062 e 1.262 do Código Civil, 51, incisos IV, X e XIII,

e 52, inciso II, da Lei n. 8.078/1990, e 27, § 5º, da Lei n. 9.069/1995, haja

vista que os juros não estão limitados em 12% ao ano, permitida a capitalização mensal e inaplicáveis, in casu, as disposições da Lei de Usura e do Código de Defesa do Consumidor.

Aduz ser lícita a utilização da Taxa Referencial como índice de atualização monetária; a cobrança de juros moratórios de 12% ao ano e a incidência da comissão de permanência no período de inadimplência.

Aponta dissídio jurisprudencial, colacionando julgados desta Corte e a Súmula n. 596-STF.

O segundo recorrente sustenta afronta aos artigos 52, inciso II, da Lei n. 8.078/1990 e 965 do Código Civil. Para o recorrente é imperativa a revisão dos contratos anteriores, que deram origem ao instrumento de confi ssão de dívida.

Destaca a possibilidade de compensação ou repetição de indébito sem a prova de que houve o pagamento por erro.

Aponta dissídio jurisprudencial, colacionando julgados desta Corte, inclusive no sentido de ser possível a revisão dos contratos extintos.

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Contra-arrazoados (fl s. 225 a 233 e 234 a 242), os recursos especiais (fl s. 159 a 172 e 208 a 215) foram admitidos juntamente com o recurso extraordinário interposto por Banco ABN Amro Real S/A (fl s. 245 a 250).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito (Relator): Newton Danilo

Castanho Sardá ajuizou ação ordinária revisional e de nulidade de cláusulas

contratuais cumulada com compensação, repetição de indébito e antecipação

de tutela contra Banco ABN Amro Real S/A, requerendo a revisão de todos os

contratos celebrados entre as partes. O Juízo monocrático julgou improcedente

a demanda. A Décima Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado

do Rio Grande do Sul deu parcial provimento à apelação para, limitando a

revisão “à composição da dívida, que é a contratação que está em vigor entre as

partes” (fl . 153), fi xar os juros de mora em 1% ao ano, a multa contratual em 2%

e os juros remuneratórios em 12% ao ano, capitalizados anualmente, vedando,

por sua vez, a cobrança da comissão de permanência.

Foram interpostos recursos especiais por ambas as partes. A instituição

fi nanceira, primeira recorrente, sustenta ser legal a cobrança dos juros de mora

de 12% ao ano, dos juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, capitalizados

mensalmente, e da comissão de permanência, bem como a correção monetária

com base na Taxa Referencial.

O segundo recorrente alega não ser lícita a capitalização anual dos juros

e que é possível a compensação ou repetição de indébito sem a prova de que

houve pagamento por erro. Aduz, outrossim, dissídio jurisprudencial, no sentido

de ser possível a revisão dos contratos extintos.

Em primeiro lugar, examino o recurso especial de Newton Danilo

Castanho Sardá, na parte em que busca a revisão de toda a relação negocial,

uma vez que a decisão adotada neste ponto, pode prejudicar o exame das demais

matérias trazidas em ambos os recursos.

Nesta parte, o acórdão recorrido decidiu que “a revisão se restringe à

composição de dívida, que é a contratação que está em vigor entre as partes.

Por ela foi admitida dívida em valor certo, sendo este valor redutível por força

da aplicação das conclusões do presente acórdão. Segundo entendimento desta

Câmara, o juízo revisional opera tão somente para abater o saldo devedor

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 11-32, agosto 2011 29

que se mantém em aberto, não atingindo relação jurídica no tanto em que foi

cumprida. Isto somente seria possível em caso de erro quando da contratação,

na forma do art. 965 do Código de Processo Civil. Não se verifi cando erro, não

se constitui o direito de repetição ou de compensação de valores” (fl . 153). O

especial sustenta, inicialmente, afronta ao artigo 965 do Código Civil, por ser

possível a compensação ou repetição de indébito sem a prova do pagamento

por erro, e destaca, também, dissídio jurisprudencial, apoiado em precedente

desta Corte, de que foi Relator o Senhor Ministro Ruy Rosado de Aguiar.

Tem razão o recorrente. A Corte já decidiu em diversas oportunidades, ser

possível a revisão dos contratos celebrados antes da novação ou renegociação,

estando pacifi cado na jurisprudência que a renegociação de contratos bancários

não afasta a possibilidade de discussão de eventuais ilegalidades do que foi

contratado. No caso dos autos, a própria instituição fi nanceira reconhece que “as

operações trazidas pelo Autor às fl s. 14 a 17 dos autos, foram liquidadas, extintas

pela novação face à Composição de Dívida n. 15.210259.3, que renegociou os

débitos relativos àquelas operações, sendo, portanto, o único contrato em aberto”

(fl . 27), destacando, também, que “a operação teve por fi nalidade liquidar débitos

inadimplidos pelo Autor, decorrente da utilização de créditos rotativos em

conta-corrente, assim como de empréstimos concedidos” (fl . 27). A propósito,

trago os seguintes precedentes:

Financiamento para compra de veículo. Renegociação: possibilidade de revisão. Juros. Capitalização. TR. Precedentes da Corte.

1. Tratando-se de renegociação de débitos fi nanceiros é válida a apreciação judicial do negócio desde a sua origem.

2. Não existe nos contratos de fi nanciamento comum a limitação dos juros remuneratórios.

3. É vedada a capitalização dos juros em contratos de fi nanciamento para os quais não exista previsão específi ca.

4. Desde que pactuada é permitida a utilização da TR.

5. Recurso especial conhecido e provido, em parte. (REsp n. 285.827-RS, Terceira Turma, de minha relatoria, DJ de 08.10.2001).

Civil e Processual. Acórdão. Nulidade. Omissão não confi gurada.

Notas de crédito comercial. Repactuação posterior em contrato de confi ssão de dívida. Prova pericial. Investigação da legitimidade de cláusulas anteriores. Seqüência contratual. Possibilidade. Necessidade da perícia. Reexame. Matéria de fato. Recurso especial.

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I. Não se confi gura nulidade quando o acórdão, inobstante não descendo a todos os múltiplos aspectos suscitados pela parte, se acha corretamente fundamentado relativamente aos pontos essenciais ao deslinde da controvérsia.

II. Possível a revisão de cláusulas contratuais celebradas antes da novação por instrumento de confi ssão de dívida, se há uma seqüência na relação negocial e a discussão não se refere, meramente, ao acordo sobre prazos maiores ou menores, descontos, carências, taxas compatíveis e legítimas, limitado ao campo da discricionariedade das partes, mas à verificação da própria legalidade do repactuado, tornando necessária a retroação da análise do acordado desde a origem, para que seja apreciada a legitimidade do procedimento bancário durante o tempo anterior, em que por atos sucessivos foi constituída a dívida novada.

III. Devidamente justificada pelo Tribunal a quo a imprescindibilidade da realização da prova técnica, cuja dispensa levou à anulação da sentença por cerceamento da defesa, o reexame da matéria recai no âmbito fático, vedado ao STJ, nos termos da Súmula n. 7.

IV. Recurso especial não conhecido. (REsp n. 132.565-RS, Quarta Turma, Relator o Ministro Aldir Passarinho Junior, DJ de 12.02.2001)

Direitos Comercial e Econômico. Financiamento bancário. Juros. Teto. Lei de Usura. Inexistência. Lei n. 4.595/1964. Enunciado n. 596 da Súmula-STF. Capitalização mensal. Excepcionalidade. Inexistência de autorização legal. TR como índice de correção monetária. Prequestionamento. Inocorrência. Possibilidade de revisão de contratos. Recurso parcialmente acolhido.

I - A Lei n. 4.595/1964, que rege a política econômico-monetária nacional, ao dispor no seu art. 4º, IX, que cabe ao Conselho Monetário Nacional limitar taxas de juros, revogou, nas operações realizadas por instituições do Sistema Financeiro, salvo exceções legais, como nos mútuos rurais, quaisquer outras restrições a limitar o teto máximo daqueles.

II - Somente nas hipóteses em que expressamente autorizada por lei específi ca, a capitalização de juros se mostra admissível. Nos demais casos é vedada, mesmo quando pactuada, não tendo sido revogado pela Lei n. 4.595/1964 o art. 4º do Decreto n. 22.626/1933. O anatocismo, repudiado pelo Verbete n. 121 da Súmula do Supremo Tribunal Federal, não guarda relação com o Enunciado n. 596 da mesma súmula.

III - A “TR”, na dicção do Supremo Tribunal Federal, não serve como substituto do índice constante de contrato, por não ser indicador puro de correão monetária, haja vista incluir taxa de remuneração no seu cálculo, não servindo, também, como indexador legal, a incidir automaticamente sobre qualquer débito, inclusive os judiciais, ou, ainda, naquelas situações em que há norma proibindo a sua utilização ou estabelecendo a adoção de indexador específi co.

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RSSTJ, a. 5, (22): 11-32, agosto 2011 31

IV - O Superior Tribunal de Justiça, na esteira dessa orientação fi rmada pela Suprema Corte, já assentou a valia da “TR” como índice, quando eleito pelas partes contratantes.

V - A renegociação de contratos bancários não afasta a possibilidade de discussão judicial de eventuais ilegalidades.

VI - Matéria não enfrentada pelo Tribunal de origem não pode ser objeto de análise na instância especial, por faltar o requisito do prequestionamento, consoante Enunciado n. 282 da Súmula-STF. (REsp n. 237.302-RS, Quarta Turma, Relator o Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ de 20.03.2000).

Por outro lado, anoto que, com relação à compensação ou repetição de

indébito, esta Corte já assentou que aquele que recebe pagamento indevido deve

restituí-lo para impedir o enriquecimento indevido, prescindindo da discussão a

respeito de erro no pagamento em hipóteses como a presente. Anote-se:

Cartões de crédito. Juros. Limitação. Fundamento íntegro. Capitalização. Repetição do indébito.

1. Não enfrentando o especial a questão central do acórdão recorrido, qual seja, a de que a empresa administradora de cartão de crédito não integra o Sistema Financeiro Nacional, fi ca o especial oco para resistir aos pressupostos de conhecimento.

2. Não é permitida a capitalização mensal de juros em contratos da espécie, na forma de precedentes da Corte.

3. Aquele que recebeu o que não devia, deve fazer a restituição, sob pena de enriquecimento indevido, pouco relevando a prova do erro no pagamento.

4. Recurso especial não conhecido. (REsp n. 345.500-RS, Terceira Turma, de minha relatoria, DJ de 24.06.2002).

Direito Bancário. Agravo no agravo de instrumento. Ação de conhecimento sob o rito ordinário. Contrato de abertura de crédito. Acórdão. Julgamento extra petita. Juros remuneratórios. CDC. Incidência. Capitalização.

- É inadmissível o recurso especial se não houve o prequestionamento do direito tido por violado.

- Nos contratos bancários, admite-se a capitalização de juros em periodicidade anual.

- A exigência da prova do erro, para fins de repetição de indébito pago voluntariamente, não se aplica ao contrato de abertura de crédito, uma vez que neste caso os lançamentos em conta são realizados pelo credor. (AgRgAg n. 425.305-RS, Terceira Turma, Relatora a Ministra Nancy Andrighi, DJ de 03.06.2002).

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Civil. Contrato de abertura de crédito em conta corrente. Acréscimos indevidos. Repetição do indébito. Cabimento.

I. Admite-se a repetição do indébito de valores pagos em virtude de cláusulas ilegais, em razão do princípio que veda o enriquecimento injustifi cado do credor.

II. Recurso especial conhecido e improvido. (REsp n. 79.448-RS, Quarta Turma, Relator o Ministro Aldir Passarinho Junior, DJ de 10.06.2002).

Em decorrência da possibilidade da revisão dos contratos extintos, nos

termos da jurisprudência desta Corte, restam prejudicados o recurso especial do

banco e os demais pontos tratados no especial do autor.

Ante o exposto, conheço parcialmente do recurso especial interposto

por Newton Danilo Castanho Sardá e, nessa parte, dou-lhe provimento para

permitir a revisão de todos os contratos que deram origem à composição de

dívida. Julgo prejudicado o recurso especial da instituição fi nanceira.

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Súmula n. 287

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SÚMULA N. 287

A Taxa Básica Financeira (TBF) não pode ser utilizada como indexador de

correção monetária nos contratos bancários.

Referências:

Medida Provisória n. 1.053/1995, art. 5º.

Resolução n. 2.171/1995-CMN, art. 2º.

Resolução n. 2.172/1995-CMN, art. 2º.

Precedentes:

AgRg no REsp 324.861-RS (3ª T, 09.09.2003 – DJ 29.09.2003)

AgRg no REsp 332.798-RS (4ª T, 11.12.2001 – DJ 22.04.2002)

EDcl no REsp 213.982-RS (3ª T, 19.03.2001 – DJ 30.04.2001)

REsp 252.940-MS (4ª T, 28.08.2001 – DJ 18.02.2002)

REsp 311.366-PR (4ª T, 26.05.2003 – DJ 08.09.2003)

REsp 439.882-RS (3ª T, 22.05.2003 – DJ 23.06.2003)

REsp 472.864-PR (4ª T, 26.05.2003 – DJ 08.09.2003)

Segunda Seção, em 28.04.2004

DJ 13.05.2004, p. 201

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AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL N. 324.861-RS (2001.0058056-1)

Relator: Ministro Antônio de Pádua Ribeiro

Agravante: BB Financeira S/A Crédito Financiamento e Investimento

Advogada: Magda Montenegro e outros

Agravado: Miguel Machado Ribeiro

Advogado: Ana Candida dos Santos Echevengua

EMENTA

Processual Civil. Agravo regimental. Recurso especial. Contrato

bancário. TBF.

I - A TBF não pode ser utilizada como índice de correção

monetária de contratos bancários. Precedentes.

II - Agravo regimental desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por

unanimidade, negar provimento ao agravo regimental.

Os Srs. Ministros Ari Pargendler, Carlos Alberto Menezes Direito, Nancy

Andrighi e Castro Filho votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 09 de setembro de 2003 (data do julgamento).

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente e Relator

DJ 29.09.2003

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Às fl s. 140-145 dei parcial

provimento ao recurso especial de BB Financeira S/A Crédito, Financiamento

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e Investimento, afirmando, no ponto que interessa nesta oportunidade, a

impossibilidade de adoção da TBF como fator de atualização do capital.

Inconformada, a instituição financeira interpõe o presente agravo

regimental, sustentando que o STF e o STJ admitem a pactuação da TR como

índice de correção monetária, e que, pelas mesmas razões, deveria também ser

admitida a utilização da TBF para a mesma função.

A propósito, afi rma o seguinte:

ainda que a TBF, a exemplo da TR, seja composta por índices de remuneração de capital, não há que ser afastada, haja vista que foi criada justamente para adoção nas operações do mercado fi nanceiro, num período em que vedada a estipulação de correção monetária. (fl . 150).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): A irresignação não

merece prosperar.

Com efeito, o posicionamento desta Corte permanece contrário à utilização

da TBF como índice de correção monetária dos contratos bancários, conforme

se verifi ca em recentes julgados. É ver:

Direito Bancário. Cédula de crédito industrial. Art. 535 do CPC. Ausência de violação. Nulidade do título. Não ocorrência. Juros remuneratórios. Limitados. Comissão de permanência. Incabível na espécie, ademais não pode ser cobrada cumulativamente com a multa contratual. TBF. Impossibilidade de utilização como índice de correção monetária. Multa contratual. Redução para 2% do valor do débito.

- Não há afronta ao art. 535 CPC quando todas as questões relevantes foram analisadas pelo julgado hostilizado.

- Não é nula a cédula de crédito industrial emitida para saldar débito de conta-corrente, porque a ninguém é lícito tirar proveito da própria torpeza.

- Inexistente nos autos a prévia autorização do CMN para a cobrança de juros remuneratórios acima do limite legal, em valor certo e especifi cado para cédula de crédito industrial, como no caso, fi cam eles adstritos à taxa de 12% ao ano.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 33-79, agosto 2011 39

- A cobrança da comissão de permanência nas cédulas de crédito industrial não é admissível. Ademais, é vedada a sua cobrança cumulada com a multa contratual.

- A Taxa Básica Financeira não pode ser usada como índice de correção monetária.

- A multa contratual deve ser reduzida para 2% por ser o contrato posterior à edição da Lei n. 9.298/1996.

- Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido. (REsp n. 332.994-DF, rel. Min. Cesar Asfor Rocha, DJ de 24.02.2003).

Execução. Embargos. Negativa de prestação jurisdicional. Cédulas de crédito comercial. Juros. Prova da autorização do Conselho Monetário Nacional. Correção monetária: TBF. Precedentes.

1. Não há falar em negativa de prestação jurisdicional, com afronta ao art. 535 do Código de Processo Civil, quando o acórdão recorrido desafi a toda a matéria posta em julgamento, não estando a descoberto o acesso pela ausência de prequestionamento.

2. Já decidiu a Corte, em muitos precedentes, que nas cédulas de crédito comercial, à míngua da demonstração de autorização do Conselho Monetário Nacional, que incumbe ao exeqüente fazer, os juros estão limitados a 12% ao ano.

3. Não desqualifi cou o especial, que fi ncou suas razões na legalidade da TBF, o fundamento do acórdão recorrido no sentido de que a aplicação do índice não é cabível, no caso, diante da limitação dos juros, porque se trata de forma de remuneração do capital e não de atualização monetária.

4. Recurso especial não conhecido. (REsp n. 326.288-RS, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ de 17.06.2002).

Juros. Capitalização. Comissão de permanência. Correção monetária. TBF. A comissão de permanência não pode ser cumulada com correção monetária. Súmula n. 30-STJ.

A TBF é taxa para remunerar operação fi nanceira, não servindo para calcular a correção monetária, especialmente porque ainda tem uma “sobretaxa” de 19.560 pontos percentuais efetivos ao ano.

Recurso não conhecido. (REsp n. 265.207-PR, rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ de 20.05.2002).

Posto isso, permanecendo íntegros os fundamentos da decisão agravada,

nego provimento ao agravo regimental.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL N. 332.798-RS (2001.0086365-0)

Relator: Ministro Cesar Asfor Rocha

Agravante: Banco do Brasil S/A

Advogado: Patrícia Netto Leão e outros

Agravado: Suitasa Agropecuária Comércio Indústria e Representações

Ltda. e outros

Advogado: Neri Perin e outro

EMENTA

Agravo em recurso especial. Crédito comercial. Juros. Limitação.

Ausência de autorização do CMN. Afastamento da mora. Taxas

abusivas e ilegais. TBF. Índice de correção monetária. Impossibilidade.

Agravo desprovido.

- Inexistente nos autos a prévia autorização do CMN para a

cobrança de juros remuneratórios acima do limite legal, em valor certo

e especifi cado para as cédulas de crédito comercial, como no caso,

fi cam os mesmos adstritos à taxa de 12% ao ano.

- A ausência de mora, decorrente da cobrança de taxas abusivas e

ilegais, exclui a cobrança da multa e dos juros moratórios.

- A Taxa Básica Financeira não pode ser usada como índice de

correção monetária.

- Subsistentes os fundamentos do decisório agravado, nega-se

provimento ao agravo.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao agravo

regimental. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Ruy Rosado de Aguiar,

Aldir Passarinho Júnior, Sálvio de Figueiredo Teixeira e Barros Monteiro.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 33-79, agosto 2011 41

Brasília (DF), 11 de dezembro 2001 (data do julgamento).

Ministro Cesar Asfor Rocha, Presidente e Relator

DJ 22.04.2002

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Agravo contra decisão por mim

proferida em conformidade com o autorizativo inserto no artigo 557

do Código de Processo Civil, com a redação da Lei n. 9.756/1998, na qual

neguei seguimento a recurso especial, para manter o aresto que limitou os

juros remuneratórios em 12% ao ano, excluiu os juros de mora e a multa

moratória e proibiu a correção monetária pela TBF e a cobrança da comissão de

permanência, nos seguintes termos:

No que tange aos juros remuneratórios, as Turmas integrantes da Segunda Seção vêm perfi lhando o entendimento, com base no disposto no art. 5º, da Lei n. 6.840/1980, combinado com o art. 5º, do Decreto-Lei n. 413/1969, de que as cédulas de crédito comercial ou industrial, no pertinente aos juros, têm a mesma disciplina de cédula de crédito rural, sendo-lhes, portanto, aplicável a limitação de 12% ao ano para os juros remuneratórios, salvo prévia fixação pelo CMN dos juros a serem praticados, em valor certo e especifi cado para as cédulas de crédito comercial ou industrial, o que não ocorreu na hipótese, sendo insufi ciente a invocação da genérica Resolução n. 1.064-Bacen. A propósito, os REsps n. 132.574-RS, Relator o eminente Ministro Waldemar Zveiter, DJ de 05.04.1999 e n. 181.051-RS, Relator o eminente Ministro Barros Monteiro, DJ de 14.12.1998.

Em relação à exclusão da multa e dos juros moratórios pela ausência de mora decorrente da cobrança de taxas abusivas e ilegais, a Quarta Turma já decidiu no sentido de que “Mora somente existe quando o atraso resultar de fato imputável ao devedor (art. 963 do Código Civil). Se a exigência do credor é abusiva, e portanto ilegítima, o devedor que não paga o que lhe está sendo indevidamente cobrado não incide em mora, pois pode reter o pagamento enquanto não lhe for dada quitação regular” (REsp n. 150.099-MG, Relator o eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ de 08.06.1998).

No que tange à pretensão de cobrar comissão de permanência no caso de inadimplemento, este Tribunal fi xou o entendimento de que cláusula acerca de inadimplemento de nota de crédito comercial deve observar o Decreto-Lei n. 413/1969, que prevê a incidência, no máximo, de juros moratórios à taxa de 1% a. a., mais multa contratual, sendo ilegal a previsão de aplicação de qualquer

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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outra taxa, comissão de permanência ou encargo, tendente a burlar o referido diploma legal. Nesse sentido, os REsps n. 89.294-SP, Rel. o em. Ministro Nilson Naves, DJ 19.08.1996 e n. 122.330-RS, Rel. o em. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ 10.11.1997.

Por sua vez, a Taxa Básica Financeira, instituída pela MP n. 1.053/1995, não pode ser usada como índice de correção monetária, para correção dos débitos bancários, ainda que pactuada, pois foi instituída para ser utilizada exclusivamente como base de remuneração de operações realizadas no mercado financeiro, de prazo de duração igual ou superior a sessenta dias, refl etindo os custos de captação do dinheiro no mercado, traduzindo-se, portanto, em verdadeira taxa de juros remuneratórios do capital, camufl ada em simples correção monetária. Confi ra-se, a propósito o REsp n. 252.940-MS, Relator o eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar, julgado no dia 28.08.2001.

Diante de tais pressupostos, autorizado pelo artigos 557 do Código de Processo Civil, com a redação da Lei n. 9.756/1998, nego seguimento ao recurso.

O Banco do Brasil S/A opôs os presentes embargos de declaração,

sustentando, relativamente aos juros, que a Lei de Usura não vige para as

instituições fi nanceiras, bem como que a Lei n. 4.595/1964 foi recepcionada

com força de lei complementar e que se desprezou o art. 192, § 3º, da CF.

Quanto aos encargos moratórios, aduz que a cobrança acima dos limites

entendidos por legais não afasta a liquidez e certeza da dívida e, por fi m, no

tocante à TBF aduz que foi pactuada e não há qualquer óbice que impeça a sua

contratação e que deve ser admitida por ser similar à TR.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha (Relator): O presente agravo não

procede, em absoluto.

No que tange à limitação da taxa de juros em 12% ao ano na cédula

de crédito comercial, a controvérsia traz a exame quatro diplomas legais, a

saber: o Decreto n. 22.626/1933 (art. 1º), a chamada “Lei de Usura”; a Lei n.

4.595/1964, a denominada “Lei da Reforma Bancária”; a Lei n. 6.840/1980,

que dispõe sobre títulos de crédito comercial; e o Decreto-Lei n. 413/1969

(art. 5º), que regula os títulos de crédito industrial, mas que se aplica àqueles

outros títulos.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 33-79, agosto 2011 43

O Decreto n. 22.626/1933, como de curial sabença, estabeleceu, no seu

art. 1º, ser “vedado, e será punido nos termos desta lei, estipular em quaisquer

contratos taxas de juros superiores ao dobro da taxa legal” de 6% a.a.

A norma inserta em tal dispositivo, contudo, com o advento da Lei n.

4.595/1964, deixou de jactar-se nas operações fi nanceiras procedidas pelas

instituições de crédito integrantes do Sistema Financeiro Nacional controladas

pelo Conselho Monetário Nacional, conforme, aliás, a orientação sumulada

do Supremo Tribunal Federal, nos termos do Enunciado n. 596, uma vez que,

em face do disposto no art. 4º, IX, passou a competir ao Conselho Monetário

Nacional “limitar, sempre que necessário as taxas de juros, descontos, comissões

e qualquer outra forma de remuneração de operações e serviços bancários ou

fi nanceiros, inclusive os prestados pelo Banco Central da República do Brasil,

assegurando taxas favorecidas aos fi nanciamentos”, que indica.

Com efeito, a partir daí, deixou de prevalecer o limite genérico do velho

Decreto n. 22.626, pelo que as taxas de juros fi caram liberadas para serem

livremente estabelecidas, em um primeiro momento, pelas forças do mercado,

mas sempre sob a tutela do Conselho Monetário Nacional, pelo poder que lhe

foi conferido para limitá-las, como órgão competente para “formular a política

da moeda e do crédito”, “objetivando o progresso econômico e social do País”

(art. 2º, da Lei n. 4.595/1964).

Vale dizer: as instituições fi nanceiras passaram, desde então, a indicar

livremente as taxas de juros a serem estabelecidas nas suas operações do dia-a-

dia, sem se sujeitarem ao limite imposto pelo Decreto n. 22.626/1933. Contudo,

conferiu-se ao Conselho Monetário Nacional o poder de, a qualquer momento,

como órgão formulador da política da moeda e do crédito, limitar, isto é,

estabelecer o teto máximo, das taxas de juros a serem praticadas.

Acontece, todavia, que veio a lume o Decreto-Lei n. 167/1967, cuidando

especifi camente das operações de crédito rural, que, pela importância desse setor

na economia nacional, despertou a necessidade de ter um regulamento próprio,

tanto que foi exaustivo nas suas previsões. E no seu art. 5º fi cou dito que “as

importâncias fornecidas pelo fi nanciador vencerão juros às taxas que o Conselho

Monetário Nacional fi xar”.

Com isso, a meu sentir, pretendeu o legislador dar ao crédito rural um

tratamento diferenciado, retirando-o do foco de incidência da Lei n. 4.595/1964.

E o fez, certamente, por perceber que a voracidade com que certa parcela

do Sistema Financeiro se deixava tocar, insaciavelmente, ao estabelecer juros

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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extorsivos, que não se coadunava com o tratamento diferenciado e estimulante

que imperiosamente se deveria e deve conferir à atividade rural.

Não fosse essa a intenção legislativa, e se esse novo diploma legal não tivesse

o condão de excluir o empréstimo rural do campo de incidência genérico dos

juros liberados (para o Sistema Financeiro) estabelecido pela Lei n. 4.595/1964,

seria inócua a inserção da expressão “às taxas que o Conselho Monetário fi xar”,

pois que as taxas do empréstimo rural já estariam também sob a regência do art.

4º, IX, da Lei n. 4.595/1964, como antes do Decreto-Lei n. 167 se encontravam.

Sendo assim, em princípio, as taxas de juros referentes ao crédito rural

serão as de que trata o Decreto n. 22.626/1933, aplicável analogicamente ao caso

concreto, sendo indispensável na hipótese a fi xação pelo Conselho Monetário

Nacional de outra taxa de juros. Omitindo-se o referido órgão governamental

na fi xação dos juros a serem praticados, em valor certo e especifi cado para as

cédulas de crédito rural, prevalece a limitação de 12% ao ano.

Tal entendimento foi vencedor, com a minha modesta participação ao

proferir voto-desempate, na egrégia Segunda Seção no julgamento do REsp n.

111.881-RS, (Relator o eminente Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, in

D.J. de 16.02.1998), cuja ementa transcrevo, no que relevante:

Crédito rural. Taxa de juros. Correção monetária no mês de março/1990. Precedentes da Corte.

1. O Decreto-Lei n. 167/1967, art. 5º, posterior à Lei n. 4.595/1964 e específi co para as cédulas de crédito rural, confere ao Conselho Monetário Nacional o dever de fi xar os juros a serem praticados. Ante a eventual omissão desse órgão governamental, incide a limitação de 12% ao ano prevista na Lei de Usura (Decreto n. 22.626/1933), não alcançando a cédula de crédito rural o entendimento jurisprudencial consolidado na Súmula n. 596-STF. (... omissis ...)

3. Recurso especial não conhecido.

Alicerçadas nessas mesmas premissas, ambas as Turmas integrantes da

Segunda Seção deste Tribunal vêm perfi lhando o entendimento, com base no

disposto no art. 5º, da Lei n. 6.840/1980, combinado com o art. 5º, do Decreto-

Lei n. 413/1969, de que as cédulas de crédito comercial ou industrial, no

pertinente aos juros, têm a mesma disciplina de cédula de crédito rural, sendo-

lhes, portanto, aplicável a limitação de 12% ao ano para os juros remuneratórios,

salvo prévia fi xação pelo CMN dos juros a serem praticados, em valor certo e

especifi cado para as cédulas de crédito comercial ou industrial. A propósito, os

seguintes acórdãos, cujas ementas transcrevo, no que interessa:

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 33-79, agosto 2011 45

Crédito comercial. Taxa de juros. Limitação. Autorização do Conselho Monetário Nacional. Capitalização mensal dos juros.

I - O art. 5º, da Lei n. 6.840/1980, combinado com o art. 5º, do Decreto-Lei n. 413/1969, posterior à Lei n. 4.595/1964 e específi co para as cédulas de crédito comercial, confere ao Conselho Monetário Nacional o dever de fi xar os juros a serem praticados. Ante a eventual omissão desse órgão governamental, incide a limitação de 12% ao ano prevista na Lei de Usura (Decreto n. 22.626/1933), não alcançando a cédula de crédito comercial o entendimento jurisprudencial consolidado na Súmula n. 596-STF. Precedente da Corte. (... omissis ...) (REsp n. 132.574-RS, Relator o eminente Ministro Waldemar Zveiter, in DJ 05.04.1999)

Cédula de crédito comercial. Taxa de juros. Limitação. A cédula de crédito comercial, no tocante à limitação dos juros, tem a mesma disciplina da cédula de crédito rural (art. 5º da Lei n. 6.840, de 03.01.1980, c.c. o art. 5º do Dec. Lei n. 413, de 09.01.1969). À míngua de fi xação pelo Conselho Monetário Nacional, incide a limitação de 12% ao ano prevista no Dec. n. 22.626/1933 (Lei de Usura). Precedentes da 2ª Seção e da C. Terceira Turma.

Recurso especial não conhecido. (REsp n. 181.051-RS, Relator o eminente Ministro Barros Monteiro, in DJ 14.12.1998).

Destarte aplicável na hipótese dos autos a Lei de Usura, sendo necessária

autorização do CMN para se cobrar juros acima dos 12% ao ano, por tratar-

se de atividade incentivada, que tem regramento próprio, qual seja, a Lei n.

6.840/1980 e o Decreto-Lei n. 413/1969.

Em relação à exclusão da multa e dos juros moratórios pela ausência

de mora decorrente da cobrança de taxas abusivas e ilegais, a Quarta Turma

já decidiu, no precedente já citado, no sentido de que “Mora somente existe

quando o atraso resultar de fato imputável ao devedor (art. 963 do Código

Civil). Se a exigência do credor é abusiva, e portanto ilegítima, o devedor que

não paga o que lhe está sendo indevidamente cobrado não incide em mora, pois

pode reter o pagamento enquanto não lhe for dada quitação regular” (REsp

n. 150.099-MG, Relator o eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ de

08.06.1998).

Registro que a cobrança de encargos acima dos limites entendidos por

legais, apesar de não retirar a executividade do título, afasta a mora, segundo

orientação desta Turma.

Quanto à Taxa Básica Financeira, instituída pela MP n. 1.053/1995, repito

que não pode ser usada como índice de correção monetária, para correção dos

débitos bancários, ainda que pactuada, pois foi instituída para ser utilizada

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exclusivamente como base de remuneração de operações realizadas no mercado

fi nanceiro, de prazo de duração igual ou superior a sessenta dias, refl etindo

os custos de captação do dinheiro no mercado, traduzindo-se, portanto, em

verdadeira taxa de juros remuneratórios do capital, camuflada em simples

correção monetária.

A questão foi amplamente debatida no citado REsp n. 252.940-MS,

Relator o eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar, julgado no dia 28.08.2001,

prevalecendo o entendimento da impossibilidade de utilização da TBF

para a correção monetária da dívida, mesmo que pactuada e a despeito do

entendimento desta Corte acerca da TR.

Quanto à assertiva de violação ao artigo 192, § 3º, da CF e de recepção

pela Carta Magna da Lei n. 4.595/1964 como lei de natureza complementar,

verifi ca-se que o agravo regimental tirado de recurso especial não se presta para

invocar novas questões de índole constitucional com o fi to de acesso à instância

suprema, razão pela qual não merece acolhida também nesse aspecto.

Assim, reitero integralmente as razões do decisório hostilizado e nego

provimento ao agravo.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL N. 213.982-RS (99.0041546-9)

Relator: Ministro Antônio de Pádua Ribeiro

Embargante: Banco do Brasil S/A

Advogados: Luiz Antônio Borges Teixeira e outros

Embargados: Rui Schuster e outros

Advogados: Antônio Nelson Nascimento e outro

EMENTA

Processo Civil. Embargos de declaração. Recurso especial. TBF.

Correção monetária.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 33-79, agosto 2011 47

I - A TBF foi instituída para ser utilizada exclusivamente como

base de remuneração e não como encargo moratório.

II - Embargos de declaração conhecidos, mas rejeitados.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas.

Decide a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas anexas, por unanimidade, rejeitar os embargos de declaração nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Participaram do julgamento os Srs. Ministros Menezes Direito e Nancy Andrighi.

Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Ari Pargendler.

Brasília (DF), 19 de março de 2001 (data do julgamento).

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente e Relator

DJ 30.04.2001

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Trata-se de embargos de declaração interpostos contra acórdão de relatoria do eminente Ministro Nilson Naves ementado nos seguintes termos:

Contrato de abertura de crédito. Embargos do devedor. Comissão de permanência. Juros. Embargos de declaração (multa).

1. Em lugar da correção monetária, admite-se a cobrança da comissão de permanência, desde que pactuada. Precedente da 3ª Turma do STJ: REsp n. 172.243, DJ de 28.02.2000.

2. Não se aplica o limite do Decreto n. 22.626/1933, quanto às operações realizadas por instituições bancárias. Duplo fundamento: constitucional e infraconstitucional. Caso em que a Turma afastou o fundamento infraconstitucional.

3. “Embargos de declaração manifestados com notório propósito de prequestionamento não têm caráter protelatório” (Súmula n. 98). Portanto, injustifi cável a aplicação da multa.

4. Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte, provido (fl . 171).

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Aduz o embargante que, apesar de ter suscitado nas razões do especial

matéria atinente a possibilidade de contratação da TBF como indexador da

correção do débito, o aresto incorreu em omissão ao não apreciar o tema.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): De fato, omitiu-se

o acórdão recorrido em apreciar o tema referente à substituição da TBF pelo

IGP-M como índice de correção monetária, tendo em vista o seu devido

prequestionamento a fl . 63 e a alegação de ofensa ao art. 115 do Código Civil e

à MP n. 1.053/1995 nas razões do especial (fl . 26-33).

Dessarte, conheço dos embargos e passo a examiná-los.

Quanto à matéria atinente à TBF, incabível a pretensão do agravante, na

medida que confunde remuneração do capital com a atualização do débito.

De fato, é indubitável a existência regular da TBF, entretanto o recorrente traz

legislação (MP n. 1.053/1951 que manda a taxa ser “utilizada exclusivamente

como base de remuneração de operações realizadas no mercado fi nanceiro”

(grifo). Sabe-se que aquilo auferido por correção monetária não é fruto de

remuneração alguma, mas sim da própria recomposição do capital depreciado

no decurso do tempo. Assim, invocar legislação que autorize a aplicação da TBF

exclusivamente sob auspícios remuneratórios não legitima seu uso com vistas à

correção de débito.

Ante o exposto, rejeito os embargos.

RECURSO ESPECIAL N. 252.940-MS (2000.0028220-0)

Relator: Ministro Ruy Rosado de Aguiar

Recorrente: Banco do Brasil S/A

Advogado: Patrícia Netto Leão e outros

Recorrido: Manoel Paula de Almeida

Advogado: Antônio César Jesuino

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 33-79, agosto 2011 49

EMENTA

Crédito bancário. Contrato de abertura de crédito. Correção

monetária. TBF. Comissão de permanência. Capitalização. Multa.

- A TBF (taxa básica fi nanceira) foi instituída para a remuneração

do capital, não podendo ser usada para a correção dos débitos. MP n.

1.053/1995.

- A comissão de permanência, calculada por índices fi xados pelo

credor, é exigência abusiva. Além disso, não pode ser cumulada com

juros e correção monetária.

- A capitalização mensal só é admitida quando prevista na lei,

situação em que não se encontra o contrato de abertura de crédito.

- Não se aplicam à multa as disposições da legislação superveniente

ao contrato, para a defesa do consumidor.

- Recurso conhecido em parte, quanto à multa, e nessa parte

provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, prosseguindo no julgamento, após o voto vista do Sr.

Ministro Cesar Asfor Rocha, acompanhando o voto do Sr. Ministro Relator,

por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe parcial provimento, vencidos

em parte os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior e Barros Monteiro, que lhe

davam provimento em maior extensão. Os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha e

Sálvio de Figueiredo Teixeira votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 28 de agosto de 2001 (data do julgamento).

Ministro Cesar Asfor Rocha, Presidente

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Relator

DJ 18.02.2002

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RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: - Manoel Paula de Almeida

propôs ação revisional de contrato de abertura de crédito fi xo, cumulada com

declaratória, contra o Banco do Brasil S/A, pretendendo a revisão das cláusulas

que determinaram a cobrança de juros remuneratórios superiores a 12% a.a. e

moratórios acima de 1% a.a., bem como das referentes à cobrança de comissão

de permanência e de correção monetária com base na TBF.

Julgado procedente o pedido, o Banco apelou, e a eg. Terceira Turma Cível

do TJMS negou provimento ao recurso:

Apelação cível. Ação revisional de cláusula contratual cumulada com declaratória. Contrato de abertura de crédito fi xo. Taxa Básica Financeira (TBF). Ilegalidade. Art. 192, parágrafo 3º, da Constituição Federal. Auto-aplicabilidade. Comissão de permanência. Invalidade. Multa contratual. 2% sobre o valor da prestação. Capitalização mensal dos juros. Inaplicabilidade. Recurso improvido.

A Taxa Básica Financeira (TBF) é imprestável como indexador da correção monetária, porquanto a sua incidência restringe-se à remuneração de operações realizadas no mercado fi nanceiro.

O art. 192, parágrafo 3º, da Constituição Federal é auto-aplicável, razão pela qual os juros moratórios não podem ser superiores a 12% ao ano.

Não é válida a comissão de permanência pactuada genericamente como “taxa de mercado” e calculada conforme as conveniências do banco-credor.

O negócio existente entre as instituições fi nanceiras e seus clientes também está sujeito às disposições do Código de Defesa do Consumidor, razão pela qual, a multa contratual aplicada deve ser aquela prevista neste Código, ou seja, 2% sobre o valor da prestação.

É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada. (fl s. 179-180).

Inconformado, o Banco apresentou recursos extraordinário e especial, este

pelo art. 105, III, a e c, da CF. Recorre o Banco da parte do julgado que declarou

a ilegalidade da correção monetária pela TBF, da comissão de permanência e

da capitalização mensal dos juros; e, ainda, da parte em que reduziu a multa

contratual a 2%. Aponta violação ao ato jurídico perfeito, à Lei n. 4.595/1964,

art. 4º, XVII, aos arts. 81, 82, 1.262 do CCB e 5º da MP n. 1.053/1995 e à

Circular n. 1.129-Bacen, além de divergência jurisprudencial, especialmente

com a Súmula n. 596-STF. Cita as Leis n. 7.770/1989, n. 7.892/1989, n.

8.056/1990, n. 8.127/1990, n. 8.201/1991 e n. 8.392/1991.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 33-79, agosto 2011 51

Diz o recorrente que o título encontra-se revestido dos requisitos essenciais

de validade do negócio e que inexiste nulidade nas cláusulas que compõem

o contrato, no que pertine aos encargos pactuados: a) “o índice utilizado na

correção dos valores utilizados pelo autor na situação de normalidade (TBF)

foi instituído através da MP n. 1.053/1995, mais precisamente pelo art. 5º, com

competência do CMN para legislar sobre operações fi nanceiras”; b) “os encargos

que atualizaram o saldo devedor na anormalidade (comissão de permanência)

foram divulgados pelo Bacen através da Res. n. 1.129/86, com amparo na Lei

n. 4.595/1964, art. 4º XVII”; c) no tocante à correção pela TBF, “o Tribunal a

quo utilizou argumento econômico para o qual não está habilitado, alterando

o índice pactuado na correção monetária ao invés de fundamentar o r. decisum

com argumento jurídico”; d) “comprova-se nos títulos e inclusive nos cálculos

acostados que a cobrança de encargos com base na comissão de permanência

não está cumulada com nenhum outro índice de atualização do débito, razão por

que merece reforma a decisão a quo. Quando prevista a cobrança de comissão de

permanência, há de se perceber que não agride o Enunciado da Súmula n. 30-

STJ. A comissão de permanência, uma vez contratada, desde que não cumulada

com outro índice de atualização, legal é a sua exigibilidade”; e) no tocante à

proibição da capitalização mensal dos juros, o acórdão diverge da jurisprudência;

f ) quanto à redução da multa moratória, sustenta ser inaplicável o Código de

Defesa do Consumidor, “porque este não é aplicado nas relações bancárias, que

ao contrário do que afi rma o r. acórdão, o título exeqüendo não é uma nota de

prestação de serviço, porém um contrato fi rmado entre as partes de acordo com

o disposto no art. 82 do CCB”.

Por fi m, argumenta que devem ser aplicados os princípios do pacta sunt

servanda e da intangibilidade do conteúdo dos contratos, “de forma a afastar a

violação que se deu ao art. 82 do CCB e à CF, em seu art. 5º, XXXVI”.

Admitidos os recursos, sem as contra-razões, vieram-me os autos.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Relator): - 1. Observo, inicialmente,

que muito embora tenha o r. acórdão examinado o tema da taxa de juros, que

limitou em 12%, usando, para isso, também de argumento infraconstitucional

(faltou autorização do CMN para a cobrança de taxas superiores à legal, com

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citação de precedentes do STJ), o banco recorrente não incluiu esse tópico no

seu recurso especial.

2. A Taxa Básica Financeira foi instituída pelo art. 5º da MP n. 1.053/1995,

“para ser utilizada exclusivamente como base de remuneração de operações

realizadas no mercado fi nanceiro, de prazo de duração igual ou superior a

sessenta dias”. Evidentemente, o que serve para remunerar o capital não pode

ser utilizado também para corrigir o saldo devedor, pois para isso existem os

juros. A não ser que o banco credor abra mão dos juros, a incidência cumulada

da TBF é anatocismo. Além dessa dupla incidência, ainda deve ser dito que a

correção do débito é feita para manter a equivalência do seu real valor, por isso

deve ser medida pelas taxas de desvalorização da moeda, e não pelo lucro do

capital.

Reproduzo a fundamentação expendida no REsp n. 253.157-RS, de

minha relatoria:

5. A questão relacionada com a TBF está restrita à aplicação de textos que não se defi nem como lei federal, daí a inadmissibilidade do recurso especial. De qualquer forma, é um índice que indica o custo do dinheiro e por isso não pode ser usado para a atualização dos débitos. Somar a diferença obtida com a TBF aos juros signifi ca anatocismo.

A Taxa Básica Financeira foi instituída pela MP n. 1.053, de 30.06.1995, cujo art. 5º assim dispôs: “Fica instituída a TBF para ser utilizada exclusivamente como base de remuneração de operações realizadas no mercado fi nanceiro, de prazo de duração igual ou superior a sessenta (60) dias”. A mesma norma veio a ser repetida na MP n. 1.950, de 26.07.2000.

Como se vê, é uma taxa para remunerar operações fi nanceiras.

Tratando de regular a sua aplicação, o CMN adotou a Resolução n. 2.172, de 30.06.1995, na qual fi cou bem explícito que servia ao cálculo da remuneração de depósitos bancários:

Art. 2º. Os depósitos a prazo de reaplicação automática terão por remuneração a Taxa Básica Financeira - TBF divulgada pelo Banco Central do Brasil.

Parágrafo 1º. Os depósitos poderão receber prêmio, em função de seu prazo de permanência na conta, na forma acordada entre as partes.

Parágrafo 2º. Os depósitos terão como aniversário o dia de abertura da conta.

Parágrafo 3º. Os depósitos farão jus a remuneração a cada intervalo de 3 (três) meses.

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E isso porque a TBF é defi nida a partir da remuneração mensal das operações passivas dos bancos:

Art. 2º - A TBF será calculada a partir da remuneração mensal média dos certifi cados e recibos do depósito bancário (CDB/RDB) emitidos a taxas de mercado prefi xadas, com prazo entre 30 (trinta) e 35 (trinta e cinco) dias, inclusive. (Res. n. 2.171-CMN, de 30.06.1995).

Portanto, o Banco que quera cobrar a TBF sobre suas operações ativas deve dispensar os juros. A cobrança cumulativa, penso eu, é indevida.

3. A comissão de permanência é uma parcela que o banco está cobrando

em razão da inadimplência, a ser acrescida aos demais encargos de acordo com

índices variáveis, a critério do credor. Tem sido por isso considerada abusiva

por decisões mantidas por este STJ (REsp’s n. 256.109-RS, n. 230.318-RS, n.

229.073-RS, n. 219.274-RS, n. 212.724-RS e n. 256.113-RS).

A capitalização mensal somente tem sido permitida nos casos previstos

em lei, entre os quais não se inclui o contrato de fi nanciamento bancário, na

modalidade de abertura de crédito fi xo.

II. Nos contratos de mútuo fi rmados com instituições fi nanceiras, ainda que expressamente pactuada, é vedada a capitalização mensal dos juros, somente admitida nos casos previstos em lei, hipótese diversa dos autos. Incidência do art. 4º do Decreto n. 22.626/1933 e da Súmula n. 121-STF.

III. Recurso especial conhecido em parte, e provido. (REsp n. 187.499-SP, Quarta Turma, Rel. em. Min. Aldir Passarinho Junior, DJ 22.05.2000).

II - A capitalização dos juros somente é permitida nos contratos previstos em lei, entre eles as cédulas de crédito rural, comercial e industrial, mas não para o contrato de mútuo bancário. (REsp n. 164.526-RS, Terceira Turma, Rel. em. Min. Waldemar Zveiter, DJ 29.05.2000).

4. No que diz com a multa, o recorrente tem razão. A aplicada redução,

por força da incidência do Código de Defesa do Consumidor, não pode ser

mantida porque os contratos foram celebrados antes da vigência do CDC e da

lei posterior, que veio reduzir o percentual da multa contratual.

Posto isso, conheço em parte do recurso, quanto à multa, para manter a

fi xada no contrato.

É o voto.

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VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: - Pedi vista dos autos para examinar exclusivamente a matéria alusiva ao afastamento da chamada “Taxa Básica Financeira” (TBF) prevista em contrato de abertura de crédito - Cheque Ouro, questionada em ação revisional e declaratória movida pelo correntista.

As demais questões - comissão de permanência, capitalização dos juros e incidência de multa - foram resolvidas com base na jurisprudência assente desta Turma, colocando-me de logo em acordo com a solução dada pelo ilustre relator.

No tocante à TBF, disse o acórdão a quo o seguinte (fl s. 167-168):

Da aplicação da Taxa Básica Financeira (TBF) como índice de correção monetária:

Pretende-se a incidência da TBF (taxa básica fi nanceira) como fator de correção monetária do crédito.

Sobre esse ponto, colho breve trecho da Apelação Cível n. 58.864-1, rel. Des. Hildebrando Coelho Neto, julgada em 19.05.1998, que adoto com razões de decidir:

A Taxa Básica Financeira é prevista no art. 5º da Medida Provisória n. 1.053, de 30 de junho de 1995 (RT 717/535), onde se lê:

Fica instituída Taxa Básica Financeira - TBF, para ser utilizada exclusivamente como base de remuneração de operações realizadas no mercado financeiro, de prazo de duração igual ou superior a sessenta dias.

Vê-se, pois, que sua utilização dar-se-á de forma exclusiva como base na remuneração de operações realizadas no mercado fi nanceiro, o que evidencia seu descabimento como indexador da correção monetária em determinado período. Tal como Taxa Referencial (TR), que já foi declarada pelo Supremo Tribunal Federal como imprestável para ser utilizada para índice de correção monetária, a Taxa Básica Financeira (TBF) não pode servir para atualizar o valor monetário da dívida executada.

A aplicação do IGPM como parâmetro de correção da moeda não traz nenhum prejuízo ao credor, pois este é o índice que melhor refl ete a variação do poder aquisitivo da moeda num determinado período, conforme atestam inúmeras decisões do nosso Tribunal. Tome-se como exemplo, colhidos à ventura, os Acórdãos n. 59.3804, n. 55.0574, n. 55.8574, n. 54.0683, n. 55.1997, n. 52.7015.

Assim, afasto a argumentação do apelante no sentido de que deve ser aplicada a Taxa Básica Referencial, como índice de correção monetária do crédito.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 33-79, agosto 2011 55

O eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar, confi rmando a orientação

daquele Sodalício, concluiu:

2. A Taxa Básica Financeira, foi instituída pelo art. 5º da MP n. 1.053/1995, “para ser utilizada exclusivamente como base de remuneração de operações realizadas no mercado fi nanceiro, de prazo de duração igual ou superior a sessenta dias”. Evidentemente que o que serve para remunerar o capital não pode ser utilizado também para corrigir o saldo devedor, pois para isso existem os juros. A não ser que o banco credor abra mão dos juros, a incidência cumulada da TBF é anatocismo. Além dessa dupla incidência, ainda deve ser considerado que a correção do débito é feita para manter a equivalência do real valor do débito, que se mede com as taxas de desvalorização da moeda, e não pelo lucro do capital.

Discussão assemelhada já aconteceu, antes, quando da instituição da Taxa

Referencial (TR) como fator de atualização monetária.

O Superior Tribunal de Justiça, em inúmeros precedentes, admitiu que

desde que formalmente prevista no contrato assinado após a vigência da Lei n.

8.177/1991, pode o débito ser atualizado pela variação da aludida taxa, servindo

de exemplo os seguintes arestos:

TR. Adoção como fator de correção. Não há impedimento à sua utilização, quando assim convencionado. Hipótese em que estabelecido dever-se adotar o fator que viesse a ser usado para remuneração das cadernetas de poupança, que é exatamente a TR (Lei n. 8.177/1991, artigo 12, I).

(3a Turma, REsp n. 39.616-GO, Rel. Min. Nilson Naves, unânime, DJU de 03.06.1996).

Recurso especial. Cédula rural. Correção monetária. Incidência da TR.

1. Não há violação ao art. 535, CPC quando o acórdão que desafiou os declaratórios repele as teses do embargante.

2. Quando pactuada é possível a aplicação da Taxa Referencial Diária - TRD, na linha de precedente desta Corte.

3. Recurso especial não conhecido.

(3a Turma, REsp n. 71.005-MG, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, unânime, DJU de 09.12.1996).

Crédito rural. Incidência da correção monetária. TR. Possibilidade de ser utilizada como indexador se assim convencionado.

(3a Turma, AgR-AG n. 98.455-MG, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, unânime, DJU de 10.06.1996).

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Crédito rural. Juros. Limite. Falta de autorização. Precedentes. TR. Aplicação para correção. Ressalva do Relator. Multa. Exclusão. Recurso conhecido em parte e provido.

(4ª Turma, REsp n. 205.740-RS, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, unânime, DJU de 23.08.1999).

AgRg(Ag) Agravo regimental. Processual Civil. Embargos à execução. Fazenda Pública. Agravo. Efeito suspensivo à apelação. Arts. 475, II e 520, V, ambos do CPC. Precedentes. Jurisprudência uníssona das turmas integrantes da Terceira Seção.

1 - Conforme uníssona jurisprudência das Turmas integrantes da Terceira Seção: “É de rigor o recebimento da apelação interposta contra sentença que julgou improcedente embargos à execução apenas em seu efeito devolutivo, ex vi do art. 520, V, do CPC, prosseguindo-se a execução provisória contra a Fazenda Pública nos termos do art. 730”. Precedentes: REsp n. 226.228-RS, DJ 28.02.2000, REsp n. 233.695-SC, DJ 21.02.2000.

2 - Agravo regimental desprovido.

(5ª Turma, AgR-AG n. 246.332-SP, Rel. Min. Gilson Dipp, unânime, DJU de 09.10.2000).

Direito e Processo Civil. Ação de repetição de indébito. Cédulas de crédito rural. Correção monetária. Alegação da violação dos arts. 965 CC, 1., 2., 515 e 535 CPC, 10 da Lei n. 7.827/1989 e 11 da Lei n. 8.177/1991. FNE - Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste. Unanimidade quanto a inocorrência de ofensa ao dispositivo do Código Civil e às normas processuais. Recurso provido, por maioria, por vulneração da legislação especial e dissídio com o Enunciado n. 16 da Súmula STJ.

I - A correção monetária, que o Tribunal tem afi rmado constituir imperativos econômico, jurídico e ético, incide nas operações de fi nanciamento com recursos do “FNE”, em face do disposto na Lei n. 7.827/1989. A demais, negá-la, sobretudo em período de infl ação acentuada, ensejaria enriquecimento indevido, que o direito repudia.

II - A Lei n. 8.177/1991, sob cujo império foi fi rmado o ajuste, - embora tenha vedado a pactuação, nos contratos referidos em seu art. 6º, com duração inferior a um ano, de indexador calcado em variação de preços -, preservou a possibilidade de estabelecer-se salvaguarda contra a desvalorização da moeda.

III - A “TR”, na dicção do Supremo Tribunal Federal, não serve como substituto do índice constante de contrato, por não ser indicador puro de correção monetária, haja vista incluir taxa de remuneração no seu cálculo, não servindo, também, como indexador legal, a incidir automaticamente sobre qualquer débito, inclusive os judiciais, ou, ainda, naquelas situações em que há norma obrigando a adoção de um indexador específi co ou então proibindo a sua utilização.

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IV - O Superior Tribunal de Justiça, na esteira dessa orientação fi rmada pela Suprema Corte, já assentou a valia da “TR” como índice, quando eleito pelas partes contratantes.

V - Tendo o acórdão local se arrimado em dois fundamentos, um dos quais relativos a não-incidência da correção monetária no crédito rural, caracterizado restou o dissídio com o Enunciado n. 16 da jurisprudência sumulada do Tribunal.

(4a Turma, REsp n. 55.277-RS, Relator para Acórdão Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, por maioria, DJU de 1º.07.1996).

Comercial. Revisão. Cédula de crédito industrial. Correção monetária. TR. Previsão contratual. Incidência. Juros na inadimplência. Limites

I - Não há vedação legal para utilização da TR como indexador de cédula de crédito industrial, desde que livremente pactuada.

II - Havendo inadimplência, admite-se a elevação da taxa de juros em apenas 1%.

III. Recurso especial conhecido em parte, e parcialmente provido.

(4a Turma, REsp n. 259.596-GO, Relator Min. Aldir Passarinho Junior, unânime, DJU de 30.10.2000).

A posição do ilustre relator, também em alguns desses precedentes, era de

ressalva. No julgamento do REsp n. 205.74-RS, S. Exa. afi rmou, verbis:

4. A utilização da TR para a correção de fi nanciamentos contratados depois da edição da Lei n. 8.177/1991 tem sido admitida nesta Quarta Turma, tese que deve ser reiterada no presente recurso.

Ressalvo a posição pessoal, pois entendo que uma taxa que serve para medir o custo do dinheiro não pode, de nenhum modo, servir para calcular a atualização do valor do débito, conclusão cujo acerto cada vez mais se evidencia, à medida que diminui sensivelmente a infl ação e o custo do dinheiro cada vez mais se eleva; cobrar juros - que é o custo do dinheiro - e, ainda, atualizar o saldo por índice que mediu o custo do dinheiro é cobrar juros duas vezes, além de corrigir o valor da dívida por índice que não se limita a refl etir a infl ação.

Verifi co que, basicamente, a argumentação restritiva se repete.

A Taxa Referencial - TR foi instituída pela Medida Provisória n. 294/1991,

convertida na Lei n. 8.177/1991, nos seguintes termos:

Art. 1º. O Banco Central do Brasil divulgará Taxa Referencial - TR, calculada a partir de remuneração mensal média líquida de impostos, dos depósitos a prazo

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fi xo captados nos bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos múltiplos com carteira comercial ou de investimentos, Caixas Econômicas, ou dos Títulos Públicos Federais, Estaduais e Municipais, de acordo com metodologia a ser aprovada pelo Conselho Monetário Nacional, no prazo de sessenta dias, e enviada ao Senado Federal.

Já a Taxa Básica Financeira foi citada pela Medida Provisória n. 1.053,

de 30.06.1995, que incumbiu o Conselho Monetário Nacional de expedir as

instruções necessárias à apuração da sua base de cálculo.

O Conselho Monetário Nacional, então, na sessão de 30.06.1995, deu

cumprimento ao pré-falado art. 5º, e, por intermédio da Resolução n. 2.171,

também de 30.06.1995, do Bacen, estabeleceu:

Art. 1º. Para fi ns de cálculo da Taxa Básica Financeira - TBF de que trata o art. 5º, da Medida Provisória n. 1.053, de 30.06.1995, será constituída amostra das 30 (trinta) maiores instituições fi nanceiras do país, assim consideradas em função do volume de captação de depósitos a prazo, dentre bancos múltiplos com carteria comercial ou de investimento, bancos comerciais, bancos de investimento e Caixas Econômicas.

(...)

Art. 2º. A TBF será calculada a partir da remuneração mensal média dos certificados e recibos de depósito bancário (CDB/RDB) emitidos a taxas de mercado prefi xadas, com prazo entre 30 (trinta) dias e 35 (trinta e cinco) dias, inclusive.

Do cotejo entre as normas legais e regulamentares que criaram tanto a

TR como a TBF, constata-se que ambas buscam a remuneração do capital ou

dinheiro, variando, apenas, quanto à forma de apuração. São, em essência, a

mesma coisa.

Destarte, se assim é, não vejo razão para não se aplicar, também à Taxa

Básica Financeira, o mesmo tratamento que o Superior Tribunal de Justiça, em

sua pacífi ca jurisprudência, vem dando à TR, para admitir aquela primeira como

válida, quando prevista no contrato celebrado entre as partes.

Ante o exposto, com a máxima vênia do eminente relator, conheço em

parte do recurso, para dar-lhe provimento, porém em maior extensão, para

determinar a aplicação da TBF ao contrato.

É como voto.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 33-79, agosto 2011 59

VOTO

O Sr. Ministro Barros Monteiro: Sr. Presidente, rogo vênia a V. Exª. e ao

Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira para acompanhar o voto divergente

do Sr. Ministro Aldir Passarinho Júnior. E o faço na linha dos precedentes desta

Corte em torno da aplicação da Taxa Referencial, conhecida TR.

Penso que a TR, como já salientado pelo Sr. Ministro Aldir Passarinho

Júnior, tem a mesma natureza da Taxa Básica Financeira, a TBF, que foi

instituída pela Medida Provisória n. 1.053/1995.

No caso, penso que não há cumulação de cobrança de juros, uma vez que

a TBF foi pactuada como fator de atualização. E em face dessas circunstâncias

e da pactuação expressa, penso que se aplica o mesmo entendimento dado por

esta Corte em relação à TR, ou seja, desde que haja convenção, a TBF funciona

como fator de atualização, como indexador, sendo possível assim a cobrança dos

juros contratuais.

Conheço em parte do recurso para dar-lhe provimento.

VOTO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: - Sr. Presidente, peço vênia

ao Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior para, não obstante a substância e a rica

fundamentação do seu voto, acompanhar o voto de V. Exa., conhecendo em

parte do recurso e, nessa parte, dando-lhe provimento, tendo por caracterizado,

no caso, o anatocismo pela incidência da TBF.

VOTO-VISTA

Ementa: Direito Econômico. Banco. Contrato de abertura de

crédito. Correção monetária. TBF.

A TBF (taxa básica fi nanceira), que foi instituída pela MP n.

1.053, de 30.06.1995, para ser utilizada exclusivamente como base de

remuneração de operações realizadas no mercado fi nanceiro, de prazo

de duração igual ou superior a sessenta dias, não pode ser usada como

índice de correção monetária para correção dos débitos bancários,

ainda que pactuada.

Recurso parcialmente conhecido e, nessa parte, provido.

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O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: 01. O eminente Ministro Ruy Rosado

de Aguiar assim relatou o feito:

Manoel Paula de Almeida propôs ação revisional de contrato de abertura de crédito fixo, cumulada com declaratória, contra o Banco do Brasil S/A, pretendendo a revisão das cláusulas que determinaram a cobrança de juros remuneratórios superiores a 12% a.a. e moratórios acima de 1% a.a., bem como das referentes à cobrança de comissão de permanência e de correção monetária com base na TBF.

Julgado procedente o pedido, o Banco apelou, e a eg. Terceira Turma Cível do TJMS negou provimento ao recurso:

Apelação cível. Ação revisional de cláusula contratual cumulada com declaratória. Contrato de abertura de crédito fi xo. Taxa Básica Financeira (TBF). Ilegalidade. Art. 192, parágrafo 3º, da Constituição Federal. Auto-aplicabilidade. Comissão de permanência. Invalidade. Multa contratual. 2% sobre o valor da prestação. Capitalização mensal dos juros. Inaplicabilidade. Recurso improvido.

A Taxa Básica Financeira (TBF) é imprestável como indexador da correção monetária, porquanto a sua incidência restringe-se à remuneração de operações realizadas no mercado fi nanceiro.

O art. 192, parágrafo 3º, da Constituição Federal é auto-aplicável, razão pela qual os juros moratórios não podem ser superiores a 12% ao ano.

Não é válida a Comissão de Permanência pactuada genericamente como “taxa de mercado” e calculada conforme as conveniências do banco-credor.

O negócio existente entre as instituições financeiras e seus clientes também está sujeito às disposições do Código de Defesa do Consumidor, razão pela qual, a multa contratual aplicada deve ser aquela prevista neste Código, ou seja, 2% sobre o valor da prestação.

É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada. (fl s. 179-180).

Inconformado, o Banco apresentou recursos extraordinário e especial, este pelo art. 105, III, a e c, da CF. Recorre o Banco da parte do julgado que declarou a ilegalidade da correção monetária pela TBF, da comissão de permanência e da capitalização mensal dos juros; e, ainda, da parte em que reduziu a multa contratual a 2%. Aponta violação ao ato jurídico perfeito, à Lei n. 4.595/1964, art. 4º, XVII, aos arts. 81, 82, 1.262 do CCB e 5º da MP n. 1.053/1995 e à Circular n. 1.129-Bacen, além de divergência jurisprudencial, especialmente com a Súmula n. 596-STF. Cita as Leis n. 7.770/1989, n. 7.892/1989, n. 8.056/1990, n. 8.127/1990, n. 8.201/1991 e n. 8.392/1991.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 33-79, agosto 2011 61

Diz o recorrente que o título encontra-se revestido dos requisitos essenciais de validade do negócio e que inexiste nulidade nas cláusulas que compõem o contrato, no que pertine aos encargos pactuados: a) “o índice utilizado na correção dos valores utilizados pelo autor na situação de normalidade (TBF) foi instituído através da MP n. 1.053/1995, mais precisamente pelo art. 5º, com competência do CMN para legislar sobre operações fi nanceiras”; b) “os encargos que atualizaram o saldo devedor na anormalidade (comissão de permanência) foram divulgados pelo Bacen através da Res. n. 1.129/86, com amparo na Lei n. 4.595/1964, art. 4°XVII”; c) no tocante à correção pela TBF, “o Tribunal a quo utilizou argumento econômico para o qual não está habilitado, alterando o índice pactuado na correção monetária ao invés de fundamentar o r. decisum com argumento jurídico”; d) “comprova-se nos títulos e inclusive nos cálculos acostados que a cobrança de encargos com base na comissão de permanência não está cumulada com nenhum outro índice de atualização do débito, razão por que merece reforma a decisão a quo. Quando prevista a cobrança de comissão de permanência, há de se perceber que não agride o Enunciado da Súmula n. 30-STJ. A comissão de permanência, uma vez contratada, desde que não cumulada com outro índice de atualização, legal é a sua exigibilidade”; e) no tocante à proibição da capitalização mensal dos juros, o acórdão diverge da jurisprudência; f ) quanto à redução da multa moratória, sustenta ser inaplicável o Código de Defesa do Consumidor, “porque este não é aplicado nas relações bancárias, que ao contrário do que afi rma o r. acórdão, o título exeqüendo não é uma nota de prestação de serviço, porém um contrato fi rmado entre as partes de acordo com o disposto no art. 82 do CCB”.

Por fim, argumenta que devem ser aplicados os princípios do pacta sunt servanda e da intangibilidade do conteúdo dos contratos, “de forma a afastar a violação que se deu ao art. 82 do CCB e à CF, em seu art. 5º, XXXVI”.

O ilustrado Ministro Relator, em primoroso voto, como de hábito,

conheceu parcialmente do recurso e, nessa parte, deu-lhe provimento, a fi m de

afastar a redução da multa contratual, sob o fundamento de que os contratos

foram celebrados antes da vigência do Código de Defesa do Consumidor.

Todavia, o eminente Ministro não conheceu do recurso no tocante à

capitalização dos juros e a cobrança de comissão de permanência a taxas

variáveis, bem como quanto à pretendida utilização da TBF como índice de

atualização monetária do mútuo, fazendo as seguintes judiciosas considerações

acerca desse último tópico:

2. A Taxa Básica Financeira foi instituída pelo art. 5º da MP n. 1.053/1995, “para ser utilizada exclusivamente como base de remuneração de operações realizadas no mercado fi nanceiro, de prazo de duração igual ou superior a sessenta dias”. Evidentemente, o que serve para remunerar o capital não pode ser utilizado

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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também para corrigir o saldo devedor, pois para isso existem os juros. A não ser que o banco credor abra mão dos juros, a incidência cumulada da TBF é anatocismo. Além dessa dupla incidência, ainda deve ser dito que a correção do débito é feita para manter a equivalência do seu real valor, por isso deve ser medida pelas taxas de desvalorização da moeda, e não pelo lucro do capital.

Reproduzo a fundamentação expendida no REsp n. 253.157-RS, de minha relatoria:

5. A questão relacionada com a TBF está restrita à aplicação de textos que não se defi nem como lei federal, daí a inadmissibilidade do recurso especial. De qualquer forma, é um índice que indica o custo do dinheiro e por isso não pode ser usado para a atualização dos débitos. Somar a diferença obtida com a TBF aos juros signifi ca anatocismo.

A Taxa Básica Financeira foi instituída pela MP n. 1.053, de 30.06.1995, cujo art. 5º assim dispôs: “Fica instituída a TBF para ser utilizada exclusivamente como base de remuneração de operações realizadas no mercado fi nanceiro, de prazo de duração igual ou superior a sessenta (60) dias”. A mesma norma veio a ser repetida na MP n. 1.950, de 26.07.2000.

Como se vê, é uma taxa para remunerar operações fi nanceiras.

Tratando de regular a sua aplicação, o CMN adotou a Resolução n. 2.172, de 30.06.1995, na qual fi cou bem explícito que servia ao cálculo da remuneração de depósitos bancários:

Art. 2º. Os depósitos a prazo de reaplicação automática terão por remuneração a Taxa Básica Financeira - TBF divulgada pelo Banco Central do Brasil.

Parágrafo 1º. Os depósitos poderão receber prêmio, em função de seu prazo de permanência na conta, na forma acordada entre as partes.

Parágrafo 2º. Os depósitos terão como aniversário o dia de abertura da conta.

Parágrafo 3º. Os depósitos farão jus a remuneração a cada intervalo de 03 (três) meses.

E isso porque a TBF é definida a partir da remuneração mensal das operações passivas dos bancos:

Art. 2º - A TBF será calculada a partir da remuneração mensal média dos certifi cados e recibos do depósito bancário (CDB/RDB) emitidos a taxas de mercado prefi xadas, com prazo entre 30 (trinta) e 35 (trinta e cinco) dias, inclusive. (Res. n. 2.171-CMN, de 30.06.1995).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 33-79, agosto 2011 63

Portanto, o Banco que queira cobrar a TBF sobre suas operações ativas deve dispensar os juros. A cobrança cumulativa, penso eu, é indevida.

Destarte, o eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar não conheceu do

recurso nos pontos em que o r. aresto recorrido afastou a cobrança de comissão

de permanência, a capitalização dos juros e a utilização da TBF como índice

de correção monetária, dando-lhe provimento apenas para manter a multa

moratória no percentual contratado, já que o contrato foi fi rmado antes da

vigência do Código de Defesa do Consumidor, no que foi acompanhado pelo

eminente Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira.

O eminente Ministro Aldir Passarinho Júnior, por sua vez, deu provimento

ao recurso em maior extensão, para permitir a contratação da TBF como índice

de atualização monetária da dívida, nos mesmos moldes da TR, no que foi

acompanhado pelo eminente Ministro Barros Monteiro.

02. Pedi vista dos autos para melhor exame da matéria, sobretudo quanto

ao cabimento da TBF no caso em análise, e de logo registro que acompanho

integralmente o Senhor Ministro Relator, em todos os temas, inclusive quanto

à TBF, que não pode ser utilizada como se fora um mero índice de correção

monetária.

E o faço fundamentalmente por entender que tendo a TBF sido instituída

pela MP n. 1.053, de 30.06.1995, exclusivamente para ser utilizada como base

de remuneração de operações realizadas no mercado fi nanceiro, de prazo de

duração igual ou superior a sessenta dias, não pode ser usada como índice de

correção monetária, para correção dos débitos bancários, ainda que tenha sido

pactuada.

Observe-se que a TBF refl ete, em realidade, os custos de captação do

dinheiro no mercado, traduzindo-se, portanto, em verdadeira taxa de juros

remuneratórios do capital, camufl ada em simples correção monetária.

Ademais, da conjugação do art. 5º da MP n. 1.053/1995, com o art. 2º da

Resolução n. 2.171/95-CMN e com o art. 2º da Resolução n. 2.172/95-CMN,

resta claro que a TBF é calculada com base na remuneração mensal média dos

certifi cados e recibos de depósito bancário (CDB e RDB), emitidos às taxas de

mercado.

Sendo assim, a TBF não foi criada para servir de índice passível de aferir a

correção monetária, mas simplesmente para aferir o preço do dinheiro, oscilando

de acordo com as constantes variações mercadológicas.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Tê-la por um índice a indicar a correção monetária só seria posssível por

uma fi cção criadora, pois a TBF não refl ete a realidade infl acionária, que é bem

distinta da realidade dos juros praticados.

Ademais, admitir-se o contrário, data venia, importaria em dar ensejo à

incidência cumulativa de juros da mesma natureza, o que não se afeiçoa ao nosso

ordenamento jurídico.

Transcrevo, por oportuno, trecho do voto-vista por mim proferido quando

do julgamento do REsp n. 236.775-RJ, da relatoria do em. Ministro Ruy

Rosado de Aguiar, oportunidade em que a Quarta Turma vedou, em contrato de

arrendamento mercantil, a substituição da correção monetária, originalmente

contratada pela Taxa Anbid, pelas taxas de remuneração dos CDB’s, verbis:

Como sabido, é ponto pacífico nesta Corte que se afigura descabida a incidência de juros às taxas de mercado ou às maiores taxas praticadas pelos bancos, pois a sua fi xação fi caria ao livre arbítrio de uma das partes ou, no mínimo, atrelada a índices apurados por associações vinculadas às instituições fi nanceiras, como é o caso da Anbid Associação Nacional dos Bancos de Investimento e Desenvolvimento ou da Cetip - Central de Custódia e de Liquidação Financeira, o que foi veemente repudiado por esta Corte, ensejando a formulação do Enunciado da Súmula n. 176-STJ, que reza: “É nula a cláusula contratual que sujeita o devedor à taxa de juros divulgada pela Anbid/Cetip”.

Com mais razão ainda, não poderia a referida taxa ser usada como índice de correção monetária, pois imprestável como indicador de atualização monetária, já que na verdade espelha o custo de captação do dinheiro no mercado fi nanceiro, sendo calculada pelas associações de bancos, de forma variável.

O mesmo entendimento se aplica aos CDB’s, que não podem ser utilizados em substituição à Taxa Anbid para a correção monetária das prestações mensais, justamente porque também refl etem o preço do dinheiro, oscilando de acordo com as constantes variações mercadológicas.

Não se pode perder de vista que as parcelas mensais do leasing a serem pagas pelo arrendatário são calculadas pela divisão do preço total do bem, acrescido dos custos operacionais e do lucro embutido.

Admissível, portanto, tão-somente a mera atualização monetária das prestações mensais do arrendamento, para que se mantenha íntegro o valor do aluguel, protegendo-o do fenômeno infl acionário.

No caso concreto, todavia, a própria empresa arrendadora, ora recorrida, admite que pretende fazer incidir sobre as contraprestações “taxas fl utuantes de juros” que, segundo ela, não são iguais à variação da correção monetária.

Inviável, assim, o uso de índices que refletem verdadeiras taxas de juros de mercado como se fossem índices de atualização do valor da moeda, o que

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 33-79, agosto 2011 65

ensejaria uma duplicidade de incidência de juros, já que o custo de captação do numerário se encontra agregado ao valor da prestação.

A propósito, transcrevo o que asseverado no REsp n. 151.664-RS, de minha relatoria, julgado à unanimidade, em 12.06.2000, no qual vedou-se à instituição financeira a cobrança, a título de correção monetária, de juros às taxas de mercado, verbis:

No caso, o recorrente aduz negativa de vigência ao dispositivo supra, para que lhe seja permitida a cobrança de correção monetária pela taxa mensal praticada pelo mercado fi nanceiro. Entretanto, a chamada Lei da Reforma Bancária, consoante entendimento pacífi co desta Corte, permite às instituições fi nanceiras a cobrança dos juros remuneratórios às taxas livremente pactuadas entre as partes, o que não quer dizer que se permita a cobrança de correção monetária com juros embutidos, como forma de remuneração pelo crédito concedido, posto que já cobrados juros remuneratórios e moratórios pela instituição fi nanceira, sendo certo que a própria recorrente atesta que a correção, feita na forma pretendida, “representa não somente fator de atualização monetária, mas sobretudo a reposição dos valores captados pela apelante, incluindo, neste contexto, as despesas operacionais, sem desprezo, evidentemente, às taxas praticadas pelo mercado fi nanceiro”.

Destarte, tendo por certo que nos contratos de arrendamento mercantil já se encontram embutidos os custos operacionais e o lucro da arrendadora, sobre as prestações mensais do leasing somente se afi gura cabível a incidência de correção monetária, que deve ser calculada pelos índices ofi ciais.

Registro que venho acompanhando o entendimento de ambas as Turmas

integrantes da Segunda Seção no sentido de se permitir a adoção da TR como

fator de atualização monetária, desde que contratada, com a ressalva de meu

entendimento pessoal, tão-somente porque já pacifi cado no âmbito desta Corte.

Todavia, uma vez aberta a discussão acerca da TBF, manifesto-me no sentido da impossibilidade de ser usada como índice de correção monetária do débito.

03. Devo gizar que todo o raciocínio acima exposto deve ser considerado apenas para obstar a TBF como base de cálculo para a correção monetária, não havendo nenhum pronunciamento quanto a valer ou não - a TBF - para aferição somente da taxa de juros.

04. Diante de tais pressupostos, acompanho o voto do eminente Relator, na íntegra, tão-somente para afastar a redução da multa moratória, já que o contrato foi fi rmado antes da vigência do Código de Defesa do Consumidor, mantendo-a no percentual contratado.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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RECURSO ESPECIAL N. 311.366-PR (2001.0031576-3)

Relator: Ministro Ruy Rosado de Aguiar

Recorrente: Unibanco União de Bancos Brasileiros S/A

Advogado: Cláudio Xavier Petryk e outros

Recorrido: Ademir Cacciatori e outro

Advogado: Júlio César Toniolo

EMENTA

Juros. Capitalização indevida (Súmula n. 121-STF). Correção

monetária. A TBF não pode ser usada como índice de correção porque

serve apenas para a remuneração de aplicação fi nanceira. Precedente.

Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso, nos termos do

voto do Sr. Ministro-Relator, com ressalvas dos votos dos Srs. Ministro Aldir

Passarinho Junior e Barros Monteiro. Os Srs. Ministros Fernando Gonçalves,

Aldir Passarinho Junior, Sálvio de Figueiredo Teixeira e Barros Monteiro

votaram com o Sr. Ministro-Relator.

Brasília (DF), 26 de maio de 2003(data do julgamento).

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Relator

DJ 08.09.2003

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Ademir Cacciatori e outro

opuseram embargos de devedor à execução de termo de renegociação de dívida

movida pelo Unibanco - União de Bancos Brasileiros S/A.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 33-79, agosto 2011 67

Os embargos foram acolhidos parcialmente “para estabelecer que sobre o

débito de R$ 27.900,00, menos o valor correspondente à prestação adimplida,

deverão incidir, somente, juros reais de 1% a.m. de forma não capitalizada,

correção monetária pelo INPC até 30.06.1995 e, após este período, pela média

do INPC X IGP, multa contratual de 2% sobre as parcelas inadimplidas, bem

como juros moratórios de 1% a partir do vencimento antecipado das parcelas”.

Os embargantes foram condenados ao pagamento de multa de 1% sobre o valor

da causa a título de litigância de má-fé.

A eg. Oitava Câmara Cível do TAPR negou provimento à apelação dos

embargantes, e, por maioria, deu parcial provimento ao recurso do Banco, nos

termos da ementa:

Execução de título extrajudicial. Embargos do executado. Quitação. Inexistência. Aplicação da Taxa Básica Financeira. Impossibilidade. Capitalização de juros. Inexistência. Limitação constitucional de juros. Aplicabilidade. Multa contratual. Regularidade de sua aplicação. Código de Defesa do Consumidor. Aplicabilidade.

1. A quitação exige expressa documentação, contendo todos os elementos da composição da dívida.

2. Ocorrendo a mora, a multa contratual não só é devida como pode ser cumulada com a verba honorária.

3. A regra do artigo 192, parágrafo 3º, da Constituição Federal é auto-aplicável e alcança as operações de crédito.

4. A capitalização de juros somente é permitida onde há previsão legal, como as matérias reguladas pelos Decretos n. 167 e n. 413. Inteligência da Súmula n. 93 do Superior Tribunal de Justiça. Apelação 1 desprovida. Apelação 2 parcialmente provida (fl s. 240-241).

Inconformado, o Banco interpôs recursos extraordinário e especial, este

pelo art. 105, III, a, da CF. Afi rma que o acórdão contrariou os arts. 82, 115 e

1.262 do CCB, no que diz respeito à capitalização mensal de juros e à utilização

da TBF para o cálculo da correção monetária. Argumenta que a substituição

da TBF pelo INPC fere a autonomia da vontade das partes e o ato jurídico

perfeito. Cita acórdão do TAPR.

Admitidos os recursos, com as contra-razões, vieram-me os autos.

É o relatório.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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VOTO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Relator): O recurso não pode

ser conhecido: a) é pacífi ca a orientação deste Tribunal sobre a inviabilidade

da capitalização dos juros em contrato igual ao dos autos, nos termos da

Súmula n. 121-STF (REsp’s n. 188.514-RS, 3ª Turma, rel. o em. Min. Carlos

Alberto Menezes Direito, DJ 28.06.1999; n. 164.545-RS, 4ª Turma, rel. o

em. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ 1º.03.1999); b) de outra parte,

no entendimento desta Quarta Turma, a TBF é índice de remuneração de

aplicação fi nanceira, não servindo para o cálculo da correção monetária (REsp

n. 252.940-MS, 4ª Turma, de minha relatoria).

Posto isso, não conheço.

É o voto.

VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior (Presidente): Srs. Ministros,

acompanho o voto do Sr. Ministro-Relator, não conhecendo do recurso especial,

ressalvando o meu entendimento de que é válida a indexação pela TBF.

VOTO

O Sr. Ministro Barros Monteiro: Sr. Presidente, acompanho o voto do

Sr. Ministro-Relator, não conhecendo do recurso especial, ressalvando o meu

entendimento de que é válida a taxa.

RECURSO ESPECIAL N. 439.882-RS (2002.0065584-0)

Relator: Ministro Castro Filho

Recorrente: Banco do Brasil S/A

Advogados: Ângelo Aurélio Gonçalves Pariz

Luciano José Giongo e outros

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 33-79, agosto 2011 69

Recorrido: Bergamin Paludo e Companhia Ltda. e outros

Advogado: Airto Luiz Ferrari

EMENTA

Processual Civil. Recurso especial. Violação aos artigos 458 e 535 do Cód. de Proc. Civil não caracterizada. Contrato de confi ssão de dívida. Limitação dos juros. CDC. Inaplicabilidade. Lei n. 4.595/1964. Legislação específi ca. Comissão de permanência. Cobrança no inadimplemento. Possibilidade. TBF. Atualização monetária. Afastamento.

I - Inexiste a alegada violação ao artigo 535 do Código de Processo Civil, eis que os temas foram devidamente analisados, não tendo o condão de macular a decisão, a ponto de anulá-la, o fato de não ter o Tribunal encontrado a solução buscada pelo recorrente. A negativa de prestação jurisdicional nos embargos declaratórios só se confi gura quando, na apreciação do recurso, o Tribunal de origem insiste em omitir pronunciamento sobre questão que deveria ser decidida e não foi, o que não corresponde à hipótese dos autos.

II - Embora seja pacífi co o entendimento desta Corte no sentido da aplicabilidade das disposições do Código de Defesa do Consumidor aos contratos bancários, no que se refere à taxa de juros, prepondera a legislação específi ca, Lei n. 4.595/1964, da qual resulta não existir para as instituições fi nanceiras a restrição constante da Lei de Usura, devendo prevalecer o entendimento consagrado na Súmula n. 596 do Supremo Tribunal Federal.

III - Consoante entendimento da egrégia Segunda Seção deste Tribunal, é admissível a cobrança da comissão de permanência no período de inadimplência, não cumulada com a correção monetária, nos termos da Súmula n. 30 da jurisprudência da Corte.

IV - Em consonância com o artigo 5º da Medida Provisória n. 1.053/1995, a Taxa Básica Financeira (TBF) foi instituída “para ser utilizada exclusivamente como base de remuneração de operações realizadas no mercado fi nanceiro”. Daí não se admitir sua utilização simultânea como fator de atualização monetária do débito, sob pena de se constituir verdadeiro anatocismo.

Recurso especial parcialmente provido.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos, acordam os Srs. Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso especial e dar-lhe parcial provimento.

Os Srs. Ministros Antônio de Pádua Ribeiro, Carlos Alberto Menezes Direito e Nancy Andrighi votaram com o Sr. Ministro Relator.

Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Ari Pargendler.

Brasília (DF), 22 de maio de 2003(data do julgamento).

Ministro Castro Filho, Relator

DJ 23.06.2003

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Castro Filho: - Trata-se de recurso especial interposto pelo Banco do Brasil S/A contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul.

Cuida-se, originalmente, de embargos à execução movida pelo recorrente, opostos por Bergamin Paludo & Cia. Ltda. e outros, argüindo a iliquidez e a nulidade do contrato executado e insurgindo-se contra a aplicação da TBF, sobretaxa, comissão de permanência, capitalização de juros e multa.

Por sentença de fl s. 161 a 167, o pedido foi julgado procedente em parte, para:

a) limitar os juros de mora a 1% ao ano;

b) determinar a capitalização anual da taxa de juros remuneratórios, mantida na razão avençada;

c) declarar a nulidade da comissão de permanência;

d) determinar a incidência do IGP-M/FGV como índice de correção monetária, tanto no período de normalidade quanto de inadimplemento, afastada a TBF;

e) limitar a multa à razão de 2% (dois por cento).

Interpostos apelação e recurso adesivo, a colenda Segunda Câmara Especial Cível do egrégio Tribunal a quo deu parcial provimento à primeira e negou provimento ao segundo, em acórdão assim ementado, verbis:

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 33-79, agosto 2011 71

Negócio jurídico bancário.

Embargos à execução.

Escritura pública de confi ssão e assunção de dívida e composição da forma de pagamento.

Revisão de contratos em sede de embargos. Descabimento. Em se tratando de embargos do devedor, não é viável a pretensão de ver revisados outros contratos que não aquele que está sendo executado.

Juros remuneratórios. Verificada abusividade na estipulação de juros remuneratórios, em evidente locupletamento do credor em detrimento do devedor, necessária sua limitação no patamar previsto pelo art. 192, § 3º, da CF. Incidência do CDC (art. 51, IV) no que diz com a aplicação da cláusula geral de lesão.

Comissão de permanência. Não incide como remuneração sobre parte do capital fi nanciado, pois fi xada unilateralmente pelo credor. Incidência contida no art. 115 do CC.

Capitalização dos juros. Permitida a incidência apenas às hipóteses expressamente previstas em lei.

Correção monetária. TR. Inaplicabilidade. Em sendo a TR taxa de juros e não simplesmente fator de atualização monetária, não é possível que seja adotada como forma de correção de valores, pois sua incidência acarreta a dupla cobrança de juros.

Multa contratual. Redução. Aplicabilidade da Lei n. 9.298/1996. Aplicável, in casu, a Lei n. 9.298/1996, que reduziu o percentual da multa contratual de 10% para 2%, visto que sua vigência iniciou antes da celebração do contrato.

Apelação parcialmente provida e recurso adesivo desprovido.

Os embargos de declaração opostos foram desacolhidos.

Interpõe o Banco do Brasil S/A o presente recurso especial, com

fundamento nas alíneas a e c do permissivo constitucional, alegando violação

aos artigos 458 e 535 do Código de Processo Civil, 82, 928 e 1.262 do Código

Civil, 4º, X e 9º da Lei n. 4.595/1994, bem como divergência relativa à Súmula

n. 596 do Supremo Tribunal Federal e à jurisprudência deste Superior Tribunal

de Justiça.

Afi rma violados os artigos 458, II e 535 do Código de Processo Civil, na

medida que o Tribunal não se manifestou acerca da lei específi ca que rege a

limitação dos juros (Lei n. 4.595/1964, art. 4º, IX).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

72

Sustenta que a limitação dos juros, com fundamento no Código de Defesa

do Consumidor, em 12% (doze por cento) ao ano, nega vigência à Lei n.

4.595/1964, bem como confl ita com jurisprudência deste Superior Tribunal,

afastando a inaplicabilidade do CDC para limitar juros nas operações realizadas

por instituições fi nanceiras, tendo em vista a incidência da Súmula n. 596 do

Supremo Tribunal Federal.

Alega ser legal a cobrança da comissão de permanência, que esclarece

não ter sido cumulada com correção monetária, eis que a escritura pública de

confi ssão de dívidas não previa a correção monetária, mas tão-somente juros

remuneratórios até o vencimento e, a partir do inadimplemento, a substituição

dos juros pela comissão de permanência. Afi rma divergir o acórdão recorrido de

julgados deste Superior Tribunal de Justiça.

Diz que a substituição da TBF pelo IGP-M, como índice de correção

monetária, ofendeu a legislação federal, na medida que o índice originalmente

pactuado é legal e foi livremente pactuado.

Requer o provimento do recurso especial e a redistribuição dos ônus

sucumbenciais.

Sem contra-razões (fl . 307), o recurso foi admitido por decisão do terceiro

vice-presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, tão-

somente em relação à correção pela TBF (fl s. 309 a 312).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Castro Filho (Relator): - A jurisprudência desta Corte

proclama que, desde que os fundamentos adotados bastem para justifi car o

concluído na decisão, o julgador não está obrigado a rebater, um a um, os

argumentos utilizados pela parte, dependendo a nulidade do julgamento por

omissão da necessidade de o órgão jurisdicional manifestar-se sobre as questões

que lhes são devolvidas (AGREsp n. 259.141-SP - Terceira Turma - Rel. Min.

Nancy Andrighi - DJ 02.04.2001; EDAGA n. 186.231-MG - Terceira Turma -

Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito - DJ 31.05.1999).

Como afi rmou o ilustre prolator da primeira decisão de admissibilidade

recursal, os temas foram devidamente analisados pelo Tribunal a quo, não

tendo o condão de macular a decisão a ponto de anulá-la o fato de não ter o

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 33-79, agosto 2011 73

Tribunal encontrado a solução buscada pelo recorrente. A negativa de prestação

jurisdicional nos embargos declaratórios só se confi gura quando, na apreciação

do recurso, o Tribunal de origem insiste em omitir pronunciamento sobre

questão que deveria ser decidida e não foi, o que não corresponde à hipótese dos

autos.

Por outro lado, embora seja pacífi co o entendimento neste Tribunal no

sentido da aplicabilidade das disposições do Código de Defesa do Consumidor

aos contratos bancários, no que se refere à taxa de juros prepondera a legislação

específi ca.

A Lei n. 4.595/1964, que rege a política monetária nacional, estabelece

sistema do qual resulta não existir, para aquelas instituições, a restrição quanto

à taxa de juros constante da Lei de Usura, sendo válido, portanto, o contratado

pelas partes. O artigo 4º, IX, do referido diploma dispõe que cabe ao Conselho

Monetário Nacional limitar as taxas de juros. Se àquele órgão é dado impor

limitações, é porque, para as instituições fi nanceiras, elas não existem, merecendo

prevalecer o entendimento consagrado na Súmula n. 596 do Supremo Tribunal

Federal.

Nesse sentido, encontra-se sedimentada a orientação jurisprudencial deste

Sodalício, conforme se infere dos seguintes julgados:

Agravo regimental. Recurso especial provido para afastar a limitação dos juros em 12% e permitir a incidência da comissão de permanência. Contrato bancário de abertura de crédito.

1. (...)

2. Tratando-se de contrato bancário de abertura de crédito, não se aplica a limitação dos juros em 12%, ficando afastada a abusividade da cláusula, mormente porque, no presente caso, as taxas de juros são fi xadas com base no mercado. A adoção desse posicionamento não exige o exame de fatos ou do contrato, não sendo o caso de aplicar-se as Súmulas n. 5 e n. 7 desta Corte.

3. Afastada a abusividade, não há falar em existência de cláusula limitadora dos juros pela aplicação do Código de Defesa do Consumidor, conforme temos decidido nesta Corte.

4. (...)

5. Agravo regimental desprovido.

(AGA n. 326.671-RS - Terceira Turma - Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito - DJ 05.02.2001);

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Contrato de financiamento bancário. Nulidade de cláusulas. Aplicação do Código de Defesa do Consumidor. Disciplina legal diversa quanto à taxa dos juros remuneratórios.

- Tratando-se de empréstimo tomado por consumidor final, a operação creditícia realizada pelo banco submete-se às disposições do Código de Defesa do Consumidor, na qualidade de prestador de serviços especialmente contemplado no art. 3º, § 2º, do citado diploma legal.

- Diversa é, porém, a disciplina legal tocante à taxa dos juros remuneratórios, área esta regida por legislação específi ca. Segundo assentou o C. Supremo Tribunal Federal, o Sistema Financeiro Nacional será regulado por lei complementar e, enquanto não advier esta, observar-se-á a legislação anterior à Constituição de 1988 (ADIn n. 4-DF).

- Fundamentação distinta expendida a respeito pelos Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha e Ruy Rosado de Aguiar.

Recurso especial conhecido, em parte, e provido.

(REsp n. 213.825-RS - Quarta Turma - Rel. Min. Barros Monteiro - DJ 27.11.2000).

Confi ram-se, ainda, nesse mesmo sentido: REsp n. 327.457-RS - Quarta

Turma - Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira - DJ 17.09.2001; REsp n.

330.977-RS - Terceira Turma - Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito - DJ

14.09.2001; e AG n. 394.724-RS - Quarta Turma - Rel. Min. Barros Monteiro

- DJ 11.09.2001.

Em relação à comissão de permanência, a Segunda Seção deste Tribunal,

no julgamento do Recurso Especial n. 271.214-RS (12.03.2003), Relator

para acórdão o Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, decidiu ser

possível a sua utilização para remunerar o capital no período da inadimplência,

calculado à taxa média dos juros de mercado, apurada pelo Banco Central do

Brasil, segundo a espécie de operação, desde que não cumulada com correção

monetária, nos termos da Súmula n. 30 da jurisprudência desta Corte.

Por fi m, nos termos do artigo 5º da Medida Provisória n. 1.053/1995, a

Taxa Básica Financeira (TBF) foi instituída “para ser utilizada exclusivamente

como base de remuneração de operações realizadas no mercado fi nanceiro, de

prazo de duração igual ou superior a sessenta dias”. Daí não ser possível sua

utilização simultânea como fator de atualização monetária do saldo devedor,

pois, conforme salientou o eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar, no

julgamento do REsp n. 252.940-MS, DJ 18.02.2002, de cujo acórdão foi relator,

“a correção do débito é feita para manter a equivalência do seu real valor, por

isso deve ser medida pelas taxas de desvalorização da moeda, e não pelo lucro do

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 33-79, agosto 2011 75

capital”, sob pena de se constituir verdadeiro anatocismo.

Ressalte-se que, a fi m de regular a aplicação da aludida taxa, o Conselho

Monetário Nacional editou a Resolução n. 2.172, de 30.06.1995, cujo artigo 1º

dispõe:

Para fins de cálculo da Taxa Básica Financeira –TBF de que trata o art. 5º da Medida Provisória n. 1.053, de 30.06.1995, será constituída amostra das 30 (trinta) maiores instituições fi nanceiras do país, assim consideradas em função do volume de captação de depósitos a prazo, dentre bancos múltiplos com carteira comercial ou de investimento, bancos comerciais, bancos de investimento e caixas econômicas.

Por sua vez, quanto à composição da base de cálculo da TBF, assim dispôs

o artigo 2º da referida resolução:

A TBF será calculada a partir da remuneração mensal média dos certifi cados e recibos do depósito bancário (CDB/RDB) emitidos a taxas de mercado prefi xadas, com prazo entre 30 (trinta) e 35 (trinta e cinco) dias, inclusive.

Como se vê, a TBF é defi nida a partir da remuneração mensal média paga

pelos 30 (trinta) maiores bancos às aplicações fi nanceiras, nas modalidades

CDB (certifi cado do depósito bancário) e RDB (recibo do depósito bancário),

as quais reembolsam o capital investido acrescido de juros e correção monetária.

Observe-se que a composição dos débitos oriundos de empréstimos

bancários obedece a uma metodologia na qual são agregadas parcelas de diversas

naturezas com vistas à obtenção do saldo devedor. Assim, a cobrança de juros

destina-se à remunerar o capital pelo período de sua utilização. Em caso de

inadimplemento, e com a fi nalidade de penalizar o devedor pela não restituição

do quantum devido no prazo avençado, incide sobre a dívida a cobrança de

multa contratual e juros de mora.

Logo, a utilização da TBF como fator de atualização monetária, a

pretexto de preservar o principal da depreciação sofrida pelo decurso do tempo,

representa, ao contrário, verdadeira forma de remuneração do capital, o que não

se admite, posto já existir com essa fi nalidade, a previsão do pagamento de juros.

Nesse sentido, entre outros julgados: REsp n. 265.207-PR - Quarta Turma

- Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar - DJ 20.05.2002; REsp n. 293.794-RS -

Quarta Turma - Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar - DJ 20.05.2002; AGREsp n.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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332.798-RS - Quarta Turma - Rel. Min. Cesar Asfor Rocha - DJ 22.04.2002;

EDREsp n. 213.982-RS - Terceira Turma - Rel. Min. Antônio de Pádua

Ribeiro - DJ 15.10.2001.

Feitas essas considerações, dou parcial provimento ao recurso, para afastar a

limitação de 12% ao ano à taxa de juros e permitir a cobrança da comissão de

permanência para o período da inadimplência.

Diante da sucumbência recíproca, determino a distribuição dos ônus

sucumbenciais na proporção de 50% (cinqüenta por cento) para cada uma das

partes, permitida a compensação dos honorários advocatícios.

É como voto.

ESCLARECIMENTOS 

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Senhor Ministro Castro

Filho, para afastar a TBF?

O Sr. Ministro Castro Filho: Exatamente, Senhor Ministro Carlos Alberto

Menezes Direito.

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Senhor Ministro Castro

Filho, Vossa Excelência mencionou juros e comissão de permanência. Os juros,

no entanto, não podem ser cobrados na inadimplência, cumulados com a

comissão de permanência. Quanto aos juros, não pode haver a limitação de

taxa média. O precedente da Segunda Seção, Recurso Especial n. 271.214-RS,

é no sentido de que os juros são cobrados durante o contrato de acordo com a

Súmula n. 596. Porém, os juros devem ser cobrados na inadimplência, como

a comissão de permanência, à taxa média de mercado. Se não for cobrada a

comissão de permanência, e os juros remuneratórios em razão da inadimplência

forem prorrogados, tais juros estarão subordinados à taxa média de mercado, o

que não ocorrerá com os juros do período do contrato.

RATIFICAÇÃO DE VOTO

O Sr. Ministro Castro Filho: Sr. Presidente, dou parcial provimento ao

recurso.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 33-79, agosto 2011 77

RECURSO ESPECIAL N. 472.864-PR (2002.0128993-3)

Relator: Ministro Ruy Rosado de Aguiar

Recorrente: Comércio de Cereais Rudek Ltda. e outro

Advogado: Cícero Belin de Moura Cordeiro e outros

Recorrido: Banco Banestado S/A

Advogado: Oksandro Osdival Gonçalves e outros

EMENTA

Correção monetária. TBF.

A TBF não pode ser usada como índice de correção de dívida.

Precedentes. Recurso conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe

provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator, com ressalva dos votos

dos Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior e Barros Monteiro. Os Srs. Ministros

Fernando Gonçalves, Aldir Passarinho Junior, Sálvio de Figueiredo Teixeira e

Barros Monteiro votaram com o Sr. Ministro-Relator.

Brasília (DF), 26 de maio de 2003 (data do julgamento).

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Relator

DJ 08.09.2003

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Comércio de Cereais Rudek Ltda. e

Edson Luiz Rudek opuseram embargos à execução movida pelo Banco do Estado

do Paraná S.A., argüindo exceção de incompetência, excesso de execução, iliquidez

do título e coação para a assinatura da confi ssão de dívida. Sustentam, ainda, que

houve cobrança de juros abusivos, capitalização e cumulação de juros com a TR.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Julgados procedentes os embargos do devedor, o Banco do Estado do

Paraná apelou, e a egrégia Terceira Câmara Cível do Tribunal de Alçada do

Estado do Paraná, por unanimidade, deu parcial provimento ao recurso, em

acórdão assim ementado:

Embargos à execução. Título exigível em decorrência de antecipado vencimento pelo não-pagamento dos encargos. Obrigação una. Contratação válida da Taxa Básica Financeira como índice de correção monetária. Inexigibilidade da comissão de permanência (cláusula potestativa). Inocorrência de decisão extra petita quando enfrentada matéria de ordem pública. Sucumbência invertida.

Recurso provido em parte (fl . 138).

Irresignados, os embargantes interpuseram recurso especial, fundamentado

no art. 105, III, c, da Constituição Federal. Alegam que a TBF, ainda que

contratada, não é índice de atualização do débito. Sustentam existir divergência

com decisões deste Tribunal e com a Súmula n. 176-STJ.

Contra-arrazoado, o recurso foi admitido na origem, vindo-me os autos.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Relator): Conforme entendimento

já manifestado em diversos outros processos - REsp n. 252.940-MS; REsp

n. 265.207-PR; REsp n. 293.794-RS -, a TBF é taxa criada em lei para a

remuneração de operações realizadas no mercado fi nanceiro (art. 5º da MP n.

1.750/1949, de 08.05.1999), o que signifi ca claramente não poder ser utilizada

para o cálculo da infl ação, pois não é índice para medir a desvalorização da

moeda. Remunerar o fi nanciamento implica pagar o custo do uso do dinheiro,

isto é, corresponde a juros remuneratórios. Se além disso ainda for aplicada

outra taxa, agora a título de juros, estão sendo contados juros duas vezes, para o

cálculo dos interesses e para medir a infl ação, o que parece evidente bis in idem.

Por isso, não há como substituir índice de atualização da moeda pela TBF.

Isso posto, conheço do recurso e dou-lhe provimento, para afastar a

utilização da TBF como índice de correção da dívida, devendo ser substituído

pelo INPC.

É o voto.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 33-79, agosto 2011 79

VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior (Presidente): Srs. Ministros,

acompanho o voto do Sr. Ministro-Relator, conhecendo do recurso especial

e dando-lhe provimento, ressalvando o meu entendimento de que é válida a

indexação pela TBF.

VOTO

O Sr. Ministro Barros Monteiro: Sr. Presidente, acompanho o voto do

Sr. Ministro-Relator, conhecendo do recurso especial e dando-lhe provimento,

ressalvando o meu entendimento de que é válida a taxa.

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Súmula n. 288

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SÚMULA N. 288

A Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) pode ser utilizada como indexador

de correção monetária nos contratos bancários.

Referências:

Lei n. 8.177/1991, art. 25.

Lei n. 9.365/1996, art. 8º.

Precedentes:

REsp 337.957-RS (4ª T, 17.10.2002 – DJ 10.02.2003)

REsp 401.165-MG (4ª T, 15.08.2002 – DJ 30.09.2002)

REsp 525.649-MG (3ª T, 20.11.2003 – DJ 25.02.2004)

REsp 525.651-MG (3ª T, 14.10.2003 – DJ 10.11.2003)

Segunda Seção, em 28.04.2004

DJ 13.05.2004, p. 201

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RECURSO ESPECIAL N. 337.957-RS (2001.0095806-6)

Relator: Ministro Aldir Passarinho Junior

Recorrente: Banco do Brasil S/A

Advogado: Gilberto Eifl er Moraes e outros

Recorrido: Cladimir Antônio Carioletti

Advogado: Leri Alberto Lonzetti

EMENTA

Comercial e Processual. Acórdão. Embargos de declaração.

Nulidade não confi gurada. Recurso especial. Contrato de fi nanciamento

e cédula rural pignoratícia. Comissão de permanência. Multa moratória.

Inacumulação. Inexigibilidade quanto a crédito rural. - Juros. Limitação

(12% a.a). Lei de Usura (Decreto n. 22.626/1933). Incidência apenas

quanto à segunda. Lei n. 4.595/1964. Disciplinamento legislativo

posterior. Ausência de fi xação pelo Conselho Monetário Nacional -

correção monetária. TR e TJLP. Possibilidade.

I. Não padece de nulidade acórdão que enfrenta

fundamentadamente a controvérsia fática, apenas com conclusão

desfavorável à pretensão da parte recorrente.

II. Inobstante a possibilidade da cobrança da comissão de

permanência em contratos estabelecidos pelos bancos, a cédula rural

pignoratícia tem disciplina específi ca no Decreto-Lei n. 167/1967,

art. 5º, parágrafo único, que prevê somente a cobrança de juros e multa

no caso de inadimplemento. Ademais, ainda que convencionada, a

incidência cumulada com a correção monetária, multa – esta última

estipulada in casu -, encontra óbice na própria norma instituidora

(Resolução n. 1.129/86 do Bacen).

III. Não se aplica a limitação de juros de 12% ao ano prevista na

Lei de Usura aos contratos de mútuo bancário.

IV. Ao Conselho Monetário Nacional, segundo o art. 5º do

Decreto-Lei n. 167/1967, compete a fi xação das taxas de juros aplicáveis

aos títulos de crédito rural. Omitindo-se o órgão no desempenho de

tal mister, torna-se aplicável a regra geral do art. 1º, caput, da Lei de

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Usura, que veda a cobrança de juros em percentual superior ao dobro da taxa legal (12% ao ano), afastada a incidência da Súmula n. 596 do C. STF, porquanto se dirige à Lei n. 4.595/1964, ultrapassada, no particular, pelo diploma legal mais moderno e específi co, de 1967. Precedentes do STJ.

V. Quando pactuadas, é possível a aplicação da TR e da TJLP como fatores de atualização monetária, porque possuem características semelhantes.

VI. Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte, parcialmente provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, à unanimidade, conhecer em parte do recurso e, nessa parte, dar-lhe parcial provimento, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira, Barros Monteiro e Ruy Rosado de Aguiar. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha.

Custas, como de lei.

Brasília (DF), 17 de outubro de 2002 (data do julgamento).

Ministro Aldir Passarinho Junior, Relator

DJ 10.02.2003

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: O Banco do Brasil S.A. interpõe,

com base no art. 105, III, alíneas a e c, da Constituição Federal, recurso especial

contra acórdão prolatado pelo Colendo Tribunal de Justiça do Estado do Rio

Grande do Sul.

Tratam os autos de ação revisional ajuizada por Cladimir Antônio

Carioletti em desfavor do banco recorrente, visando à redução de encargos que

oneram contrato de fi nanciamento garantido por alienação fi duciária e cédula

rural pignoratícia.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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O juízo de primeiro grau deu provimento ao pedido, limitando-se à apreciação do título rural.

Opostos embargos declaratórios, a instituição fi nanceira pugnou pelo julgamento do contrato bancário, com acolhimento parcial à fl . 143.

Apelou o banco credor.

A 14ª Câmara Cível do TJRS, por unanimidade, negou provimento ao recurso, rejeitando a preliminar de impossibilidade de revisão da cédula rural que se encontra em execução. Entendeu que a taxa de juros está limitada em 12% ao ano por força de Lei de Usura e do art. 1.062 do Código Civil; que no contrato de mútuo e na cédula rural a TR e a TJLP, respectivamente, não se prestam para medir a correção do débito, substituindo-as pelo IGP-M; que a capitalização dos juros é vedada no mútuo bancário, porém devida como pactuada no título rural; que a comissão de permanência, independente de cumular-se com correção monetária, em ambos os contrato é nula e potestativa, mantidos os ônus sucumbenciais. O julgamento foi resumido na seguinte ementa (fl . 165):

Ação de revisão de contrato de financiamento com garantia de alienação fi duciária e de cédula rural pignoratícia.

Preliminar de impossibilidade jurídica do pedido de revisão da cédula rural. Pendência de processo de execução.

A existência de processo de execução do crédito representado pelo título não constituiu óbice à revisão do contrato.

Juros remuneratórios. Limitados a 12% ao ano.

Correção monetária. Indexador o IGP-M. Afastadas a TR e a taxa de juros a longo prazo.

Capitalização em contrato de fi nanciamento.

Descabimento, por ausência de expressa previsão legal. Mantida, no entanto, a anual, por ausência de recurso do autor.

Comissão de permanência.

Possibilidade de afastamento, até de ofício, por se tratar de nulidade absoluta de cláusula contratual.

Apelação não-provida.

O Banco do Brasil apontou obscuridade e omissão no aresto quanto ao

enfrentamento da legislação que permite a cobrança da TR, da TJLP e da

comissão de permanência, porém seus embargos declaratórios foram rejeitados às fl s. 187-188.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 81-113, agosto 2011 87

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Insatisfeita, a instituição credora interpôs recurso especial, no qual apontou negativa de vigência dos arts. 115, 928 e 1.010 do Código Civil, 4º, IX, e 9º da Lei n. 4.595/1964, 4º da LICC, 535, II, do CPC, 1º, 2º, 6º, 10, 11 e 25 da Lei n. 8.177/1991, 8º da Lei n. 9.365/1996 e 2º da Lei n. 8.078/1990, às Circulares n. 1.130 e n. 1.064 do Banco Central e às Resoluções n. 1.129 e n. 1.574 do Conselho Monetário Nacional, bem como dissídio com a jurisprudência desta Corte e de outros Tribunais e com a Súmula n. 596-STF.

Preliminarmente, inquinou nulidade em que incidira o acórdão proferido nos embargos declaratórios, que não prestou a jurisdição requerida, pura e simplesmente consignando a inexistência de vícios.

No mérito, pleiteou o reconhecimento de que os juros legais, nos contratos bancários, são aqueles pactuados pelas partes, sem os limites do Decreto n. 22.626/1933, e de acordo com as normas do Conselho Monetário Nacional e com a Súmula n. 596-STF, utilizando a mesma argumentação para a adoção da capitalização mensal, inaplicável à espécie a Súmula n. 121 daquele Pretório.

Afi rmou que não existe lacuna legal que possa justifi car a aplicação da analogia, costumes ou princípios gerais do direito à espécie, que se encontra subsumida aos ditames da Lei de Reforma Bancária.

Adicionou que o Código de Defesa do Consumidor é legislação estranha à controvérsia, onde não se consubstancia relação de consumo nem estão presentes as fi guras do fornecedor e do consumidor, não podendo ser utilizado como instrumento para exclusão de cláusulas contratuais harmônicas com o ordenamento jurídico a pretexto de abusividade.

Asseverou que a comissão de permanência conta com previsão nas normas exaradas pelas autoridades monetárias e foi expressamente contratada, estando abrigada pela força obrigatória do pacto, afastada a potestatividade absoluta da cláusula, como o admite o Código Civil.

Argüiu que os índices pactuados para a atualização dos contratos o foram livremente, não se admitindo possa o Judiciário adentrar na seara da exclusiva disposição das partes para modifi car a correção prevista para a normalidade dos pactos, conforme as particularidades que a legislação específi ca lhes impõe, na qualidade de recursos repassados pelo BNDES, originários do Fundo PIS-Pasep e do FAT, pugnando pela manutenção da TR e da TJLP.

Não foram apresentadas contra-razões (cf. certidão de fl . 228).

Juízo prévio de admissibilidade no Tribunal de origem às fl s. 230-233.

É o relatório.

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VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior (Relator): - Insurge-se o recorrente,

com base nas letras a e c do permissivo constitucional, contra acórdão prolatado

pelo Colendo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, que manteve

a limitação da incidência dos juros previstos em contrato de fi nanciamento e

cédula rural pignoratícia em 12% ao ano, conforme preconizado no Decreto

n. 22.626/1933 e no art. 1.062 do Código Civil, bem assim a vedação da

capitalização dos juros no primeiro e a permissão quanto à segunda; excluiu

a comissão de permanência, substituindo a TR e a TJLP pelo IGP-M,

respectivamente.

Inicialmente, cumpre apontar que na análise do mérito que se procede a

seguir não têm lugar os arts. 928 e 1.010 do Código Civil e 4º da LICC, porque

não houve prévia manifestação da Corte Estadual a respeito, faltando-lhes o

requisito do prequestionamento, nos termos das Súmulas n. 282 e n. 356 do E.

STF.

Além disso, a via especial não comporta a análise de resoluções, portarias,

circulares e demais atos normativos de hierarquia inferior à do Decreto.

Ainda em preliminar, não conheço do recurso quanto à alegada violação

do art. 535, II, do Código de Processo Civil, tendo em vista que o acórdão dos

embargos declaratórios rejeitou a pretensão de imprimir efeito infringente ao

recurso, quando já dirimida a questão de forma completa, porém em sentido

oposto ao entendimento de incidência das normas legais apontadas pelo

recorrente, o que não desafi ava, de fato, a oposição de aclaratórios.

Cumpre ressaltar que o afastamento da capitalização dos juros no contrato

de fi nanciamento não foi inserida nas razões recursais.

Quanto às demais matérias constantes no presente recurso, vislumbro a

presença dos pressupostos constitucionais, conheço-as e passo a seu exame.

II

No que pertine ao tema da inaplicabilidade das disposições do Código de

Defesa do Consumidor, sem razão o recorrente. É que este Superior Tribunal

de Justiça já decidiu que a instituição fi nanceira está sujeita aos seus princípios

e regras, conforme, é claro, cada situação, assentando-se nelas a possibilidade de

rever os contratos bancários. Nesse sentido:

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 81-113, agosto 2011 89

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Código de Defesa do Consumidor. Bancos. Cláusula penal. Limitação em 10%.

1. Os bancos, como prestadores de serviços especialmente contemplados no artigo 3º, parágrafo segundo, estão submetidos as disposições do Código de Defesa do Consumidor. A circunstância de o usuário dispor do bem recebido através da operação bancaria, transferindo-o a terceiros, em pagamento de outros bens ou serviços, não o descaracteriza como consumidor fi nal dos serviços prestados pelo banco.

2. A limitação da cláusula penal em 10% já era do nosso sistema (Dec. n. 22.926/1933), e tem sido usada pela jurisprudência quando da aplicação da regra do artigo 924 do CC, o que mostra o acerto da regra do artigo 52, parágrafo 1º, do Codecon, que se aplica aos casos de mora, nos contratos bancários.

Recurso não conhecido.

(4ª Turma, REsp n. 57.974-RS, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, unânime, DJU de 29.05.1995).

Cédula de crédito comercial. Embargos à execução. Capitalização mensal dos juros. Código de Defesa do Consumidor.

I - Os bancos, como prestadores de serviços especialmente contemplados no art. 3º, parágrafo segundo, estão submetidos às disposições do Código de Defesa do Consumidor.

II - A jurisprudência desta Corte consolidou entendimento no sentido de que é admissível a capitalização mensal dos juros, desde que pactuada (Súmula n. 93, do STJ).

III - Ausência, no caso, de pacto de capitalização mensal dos juros.

IV - Recurso não conhecido.

(3ª Turma, REsp n. 175.795-RS, Rel. Min. Waldemar Zveiter, unânime, DJU de 10.05.1999).

Mútuo bancário. Contrato de abertura de crédito. Taxa de juros. Código de Defesa do Consumidor.

I - No caso de mútuo bancário vinculado ao contrato de abertura de crédito, a taxa de juros remuneratórios não está sujeita ao limite estabelecido pela Lei de Usura (Decreto n. 22.626/1933).

II - Os bancos, como prestadores de serviços especialmente contempladas no artigo 3º, parágrafo segundo, estão submetidas às disposições do Código de Defesa do Consumidor.

III - Recurso conhecido pelo dissídio e provido.

(3ª Turma, REsp n. 142.799-RS, Rel. Min. Waldemar Zveiter, unânime, DJU de 14.12.1998).

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III

Quanto ao inconformismo com a parte do acórdão que considerou indevida

a comissão de permanência, correto o acórdão estadual, visto ser necessário

ressaltar que, ainda que afastada a correção monetária, quando remanesce a

exigência da multa por inadimplemento, é incabível tal parcela.

Nesse sentido:

Direito Civil. Comissão de permanência. Multa. Inacumulabilidade. Precedentes. Recurso provido.

- Multa e comissão de permanência não podem ser exigidas conjuntamente, em razão do veto contido na Resolução n. 1.129 do Banco Central, que editou decisão do Conselho Monetário Nacional, proferida nos termos do artigo 4º, VI e IX, da Lei n. 4.595, de 31.12.1964.

(4ª Turma, REsp n. 174.181-MG, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, unânime, DJU de 15.03.1999).

Execução. Multa. Comissão de permanência. Cumulação.

São inacumuláveis a multa, a comissão de permanência e outros encargos.

Recurso conhecido e provido.

(4ª Turma, REsp n. 200.252-SP, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, unânime, DJU de 24.05.1999).

Comercial. Cédulas de crédito rural. Juros. Limitação (12% a.a). Ausência de fi xação pelo Conselho Monetário Nacional. Lei de Usura (Decreto n. 22.626/1933). Incidência. Correção monetária. Março de 1990. Proagro. Comissão de permanência. Inexigibilidade.

I. Ao Conselho Monetário Nacional, segundo o art. 5º do Decreto-Lei n. 167/1967, compete a fi xação das taxas de juros aplicáveis aos títulos de crédito rural. Omitindo-se o órgão no desempenho de tal mister, torna-se aplicável a regra geral do art. 1º, caput, da Lei de Usura, que veda a cobrança de juros em percentual superior ao dobro da taxa legal (12% ao ano), afastada a incidência da Súmula n. 596 do C. STF, porquanto se dirige à Lei n. 4.595/1964, ultrapassada, no particular, pelo diploma legal mais moderno e específi co, de 1967. Precedentes do STJ.

II. Segundo o entendimento pacífi co da egrégia Segunda Seção, no mês de março de 1990, a correção monetária de débitos rurais, deve ser calculada pelo percentual de variação do BTNF, no percentual de 41,28%. Ressalva do ponto de vista do relator.

III. A cobrança do Proagro só pode ser feita uma única vez.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 81-113, agosto 2011 91

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IV. Inobstante a possibilidade da cobrança da comissão de permanência em contratos estabelecidos pelos bancos, a cédula rural pignoratícia tem disciplina específi ca no Decreto-Lei n. 167/1967, art. 5º, parágrafo único, que prevê somente a cobrança de juros e multa no caso de inadimplemento. Ademais, ainda que convencionada, a incidência cumulada com a correção monetária, ou multa - esta última estipulada in casu -, encontra óbice na própria norma instituidora (Resolução n. 1.129/1986 do Bacen).

V. Recurso especial conhecido e improvido.

(4ª Turma, REsp n. 78.349-RS, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, unânime, DJU de 27.11.2000).

Especifi camente quanto à cédula rural, também tenho-a por inexigível em

relação a tais títulos de crédito, disciplinados pelo Decreto-Lei n. 167/1967.

A norma, em seu art. 5º, parágrafo único, prevê apenas a cobrança de juros

remuneratórios, moratórios e multa por inadimplemento.

A jurisprudência do STJ é remansosa neste sentido:

Recurso especial. Nota de crédito comercial. Limitação da taxa de juros. Capitalização dos juros. Súmula n. 596-STF. Comissão de permanência em caso de inadimplemento.

1. O art. 5º da Lei n. 6.840/1980 c.c. o art. 5º do Decreto-Lei n. 413/1969, posteriores à Lei n. 4.595/1964, conferem ao Conselho Monetário Nacional o dever de fi xar os juros a serem praticados nas cédulas e notas de crédito comercial. Ante a eventual omissão desse órgão governamental, incide a limitação de 12% ao ano prevista na Lei de Usura (Decreto n. 22.626/1933), não alcançando a cédula de crédito comercial o entendimento jurisprudencial consolidado na Súmula n. 596-STF.

2. Em caso de inadimplemento em nota de crédito comercial, o Decreto-Lei n. 413/1969 admite apenas que a taxa de juros seja elevada de 1% ao ano e a cobrança de multa de 10%, sendo ilegal a inserção no contrato de comissão de permanência decorrente da mora.

3. Recurso especial não conhecido.

(3ª Turma, REsp n. 183.048-RS, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, unânime, DJU de 31.05.1999).

Recurso especial. Fundamentação. Ausência de nulidade. Crédito industrial. Taxa de juros. Limitação. Juros moratórios. Limitação. Cláusula de majoração de juros por inadimplemento. Ilegalidade.

- Inexistência de nulidade em acórdão que se reporta ao embasamento jurídico da sentença, mormente quando fartamente fundamentado quanto aos argumentos da apelação.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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- O art. 5º, do Decreto-Lei n. 413/1969, posterior à Lei n. 4.595/1964 e específi co para as cédulas de crédito industrial, confere ao Conselho Monetário Nacional o dever de fixar os juros a serem praticados. Ante a eventual omissão desse órgão governamental, incide a limitação de 12% ao ano prevista na Lei de Usura (Decreto n. 22.626/1933), não alcançando a cédula de crédito industrial o entendimento jurisprudencial consolidado na Súmula n. 596-STF.

- Este egrégio Tribunal fixou o entendimento de que cláusula acerca de inadimplemento de nota de crédito industrial deve observar o Decreto-Lei n. 413/1969, que prevê a incidência, no máximo, de juros moratórios à taxa de 1% a.a. (art. 5º, § único), sendo ilegal a previsão de aplicação de qualquer outra taxa, comissão de permanência ou encargo, tendente a burlar o referido diploma legal.

- Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido.

(4ª Turma, REsp n. 207.231-MG, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, unânime, DJU de 25.10.1999).

Crédito rural. Correção monetária. Março/1990. Juros moratórios. Elevação em caso de inadimplemento. Capitalização mensal dos juros. “Proagro”. Legitimidade de parte. Recurso especial não conhecido.

- Tratando-se de crédito rural, em que prevista a correção monetária atrelada aos índices remuneratórios da caderneta de poupança, aplicável no mês de março/1990 o percentual de 41,28%, correspondente à variação do BTNF. Precedentes do STJ.

- Na hipótese de mora do devedor, aplica-se o disposto no art. 5º, parágrafo único, do Dec.-Lei n. 167, de 19.02.1967, sendo ilegal a previsão de aplicação de qualquer outra taxa, comissão de permanência ou encargo tendente a burlar o comando emergente do referido diploma legal. Precedentes do STJ.

- Indevida a capitalização mensal dos juros, uma vez não expressamente pactuada. Incidência da Súmula n. 5-STJ.

- Estando o “Banco do Brasil” a cobrar, na execução e sob determinada forma, o seguro, é ele, por via de conseqüência, parte legítima para fi gurar no pólo passivo da relação processual instaurada com o oferecimento dos embargos pelo devedor.

- Recurso especial não conhecido.

(4ª Turma, REsp n. 79.214-RS, Rel. Min. Barros Monteiro, unânime, DJU de 13.09.1999).

IV

No que cuida da limitação dos juros no contrato de fi nanciamento, a

questão é bastante conhecida da Turma.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 81-113, agosto 2011 93

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Tem-se que o entendimento aqui fi rmado é no sentido de que com o

advento da Lei n. 4.595/1964, diploma que disciplina de forma especial o

Sistema Financeiro Nacional e suas instituições, restou afastada a incidência

da Lei de Usura no tocante à matéria, tendo fi cado delegado ao Conselho

Monetário Nacional poderes normativos para limitar as referidas taxas. É o que

reza o art. 4o, IX, litteris:

(...)

IX – limitar, sempre que necessário as taxas de juros, descontos, comissões e qualquer outra forma de remuneração de operações e serviços bancários ou fi nanceiros, inclusive os prestados pelo Banco Central da República do Brasil (...)

Portanto, nesse tópico o recurso deve ser provido, pois as limitações

impostas pelo Decreto n. 22.626/1933 não se aplicam às taxas de juros cobradas

pelas instituições bancárias ou fi nanceiras em seus negócios jurídicos, cujas

balizas encontram-se no contrato e regras de mercado, salvo as exceções legais

(v.g. crédito rural, industrial e comercial).

A propósito, reza a Súmula n. 596-STF:

As disposições do Dec. n. 22.626/1933 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas que integram o Sistema Financeiro Nacional.

Os acórdãos abaixo refl etem essa mesma orientação, a saber:

Mútuo bancário. Contrato de abertura de crédito. Taxa de juros. Limitação. Capitalização mensal. Proibição. Precedentes.

I - No mútuo bancário vinculado a contrato de abertura de crédito, a taxa de juros remuneratórios não está sujeita ao limite estabelecido pela Lei de Usura (Decreto n. 22.626/1933).

II - A capitalização dos juros somente é permitida nos contratos previstos em lei, entre eles as cédulas e notas de créditos rurais, industriais e comerciais, mas não para o contrato de mútuo bancário.

III - Precedentes.

IV - Recurso conhecido e provido.

(3ª Turma, REsp n. 176.322-RS, Rel. Min. Waldemar Zveiter, unânime, DJU de 19.04.1999).

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Juros. Limite. Capitalização. Contrato de abertura de crédito em conta corrente.

Aplicação da Súmula n. 596-STF quanto ao limite dos juros remuneratórios, e da Súmula n. 121-STF tocante à capitalização.

Recurso conhecido em parte e, nessa parte, provido.

(4ª Turma, REsp n. 189.426-RS, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, unânime, DJU de 15.03.1999).

Direitos Comercial e Econômico. Financiamento bancário. Juros. Teto de 12% em razão da Lei de Usura. Inexistência. Lei n. 4.595/1964. Enunciado n. 596 da Súmula-STF. Capitalização mensal. Excepcionalidade. Inexistência de autorização legal. Enunciado n. 282, Súmula-STF. Recurso parcialmente acolhido.

I - A Lei n. 4.595/1964, que rege a política econômico-monetária nacional, ao dispor no seu art. 4º, IX, que cabe ao Conselho Monetário Nacional limitar taxas de juros, revogou, nas operações realizadas por instituições do Sistema Financeiro, salvo exceções legais, como nos mútuos rurais, quaisquer outras restrições a limitar o teto máximo daqueles.

II - Somente nas hipóteses em que expressamente autorizada por lei específi ca, a capitalização de juros se mostra admissível. Nos demais casos é vedada, mesmo quando pactuada, não tenho sido revogado pela Lei n. 4.595/1964 o art. 4º do Decreto n. 22.626/1933. O anatocismo, repudiado pelo Verbete n. 121 da Súmula do Supremo Tribunal Federal, não guarda relação com o Enunciado n. 596 da mesma Súmula.

III - Ausente o prequestionamento do tema, não há como analisar a insurgência recursal, nos termos do Enunciado n. 282 da Súmula-STF.

(4ª Turma, REsp n. 164.935-RS, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, unânime, DJU de 21.09.1998).

V

Quanto à correção monetária do contrato de financiamento, a

jurisprudência do Tribunal fi rmou-se no sentido de que é permitida a utilização

da TR nos contratos bancários. Nesse sentido:

Recurso especial. Direito Comercial. Arrendamento mercantil. Valor residual. Pagamento antecipado. Descaracterização do contrato. Direito Econômico. Juros. Limite. Instituição financeira. Inaplicabilidade da limitação do Decreto n. 22.626/1933. Anatocismo. Impossibilidade. Precedentes. TR pactuada. Possibilidade. Fixação dos encargos devidos.

-“A opção de compra, com pagamento do valor residual ao fi nal do contrato, é uma das características essenciais do leasing. A cobrança antecipada dessa

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 81-113, agosto 2011 95

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parcela, embutida na prestação mensal, desfi gura o contrato, que passa a ser uma compra e venda a prazo (art. 5º, c, combinado com o art. 11, § 1º, da Lei n. 6.099, de 12.09.1974, alterada pela Lei n. 7.132, de 26.10.1983), com o desaparecimento da causa do contrato e prejuízo do arrendatário” (REsp n. 181.095-RS, Relator o eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar, in DJ 09.08.1999).

- A limitação dos juros remuneratórios na taxa de 12% ao ano estabelecida pela Lei de Usura (Decreto n. 22.626/1933) não se aplica às operações realizadas por instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, salvo exceções legais, inexistentes na espécie.

- Salvo expressa previsão em lei específica, como no caso das cédulas de créditos rurais, industriais e comerciais, é vedada às instituições fi nanceiras a capitalização de juros.

- A Taxa Referencial pode ser usada para a correção monetária do débito, desde que pactuada em contrato posterior à edição da Lei n. 8.177/1991, como no caso.

- Descaracterizado o contrato para compra e venda a prazo, cumpre serem fi xadas os encargos devidos.

- Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido.

(4ª Turma, REsp n. 218.369-RS, Rel. Min. César Asfor Rocha, unânime, DJU de 21.08.2000).

Recurso especial assentado em dissídio jurisprudencial. Contrato de abertura de crédito. Limitação da taxa de juros. Capitalização dos juros. Súmulas n. 596 e n. 121-STF.

1. Conforme jurisprudência desta Corte, em regra, ao mútuo bancário não se aplica a limitação dos juros em 12% ao ano, estabelecida na Lei de Usura (Decreto n. 22.626/1933, art. 1º). Incidência da Súmula n. 596-STF.

2. No tocante à capitalização dos juros, permanece em vigor a vedação contida na Lei de Usura, exceto nos casos excepcionados em lei, o que não ocorre com o mútuo bancário comum, tratado nos presentes autos.

3. Quando pactuada, é possível a aplicação da Taxa Referencial (TR) na atualização do débito, na linha de precedentes desta Corte.

4. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido.

(3ª Turma, REsp n. 181.042-RS, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, unânime, DJU de 22.03.1999).

Juros. Limite. Súmula n. 596-STF. Capitalização. Súmula n. 121-STF. TR permitida para calcular a infl ação. Ressalva do relator. Cláusula mandato. Súmula n. 60-STJ.

Recurso conhecido em parte e provido.

(4ª Turma, REsp n. 188.712-RS, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, unânime, DJU de 22.03.1999).

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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VI

Passando-se, agora, ao exame da limitação dos juros na cédula rural

pignoratícia, pacífica tem sido a jurisprudência de que com o advento do

Decreto-Lei n. 167/1967, diploma que disciplinou especifi camente tais títulos,

é possível afastar-se a incidência da Lei de Usura, desde que o Conselho

Monetário Nacional fi xe as taxas de juros. É o que reza o art. 5º, litteris:

Art. 5º As importâncias fornecidas pelo fi nanciador vencerão juros às taxas que o Conselho Monetário Nacional fi xar e serão exigíveis em 30 de junho e 31 de dezembro ou no vencimento das prestações, se assim acordado entre as partes; no vencimento do título e na liquidação, ou por outra forma que vier a ser determinada por aquele Conselho, podendo o fi nanciador, nas datas previstas, capitalizar tais encargos na conta vinculada à operação.

Parágrafo único. Em caso de mora, a taxa de juros constante da cédula será elevável de 1% (um por cento) ao ano.

Portanto, somente prevalecem as limitações do antigo Decreto n.

22.626/1933, art. 1o, caput, se o aludido Conselho, omisso na atribuição que

lhe é cometida pelo referenciado art. 5o do Decreto-Lei n. 167/1967, deixa de

estabelecer tais taxas.

Os acórdãos abaixo refl etem essa orientação, a saber:

Crédito rural. Limitação da taxa de juros. Precedente da Corte.

1. O Decreto-Lei n. 167/1967, art. 5º, posterior à Lei n. 4.595/1964 e específi co para as cédulas de crédito rural, confere ao Conselho Monetário Nacional o dever de fi xar os juros a serem praticados. Ante a eventual omissão desse órgão governamental, incide a limitação de 12% ao ano prevista na Lei de Usura (Decreto n. 22.626/1933), não alcançando a cédula de crédito rural o entendimento jurisprudencial consolidado na Súmula n. 596-STF (REsp n. 111.881-RS).

2. Recurso especial não conhecido.

(3ª Turma, REsp n. 165.265-RS, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, unânime, DJU de 07.06.1999).

Direitos Econômico e Processual Civil. Mútuo rural. Juros. Teto. Lei de Usura. Taxas livres. Não-demonstração por parte do credor de autorização do Conselho Monetário Nacional. Correção. Preço do produto. Impossibilidade. Previsão de indexação monetária pelos mesmos índices da caderneta de poupança. Utilização da TR. Prequestionamento. Ausência. Inocorrência de violação do art. 535, CPC. Recurso parcialmente provido.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 81-113, agosto 2011 97

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I - O prequestionamento da matéria posta no recurso especial é indispensável, sob pena de impossibilitar-se o exame da insurgência, consoante Verbete n. 282 da Súmula-STF, ainda que se trate de questão surgida no próprio acórdão de segunda instância.

II - Entende a 4ª Turma ser defesa a cobrança de juros além de 12% ao ano se não demonstrada, pelo credor, a prévia estipulação pelo Conselho Monetário Nacional das taxas de juros vencíveis para o crédito rural, correspondentes à data de emissão da cédula.

III - Não se confi gura o dissídio, no tocante ao limite dos juros se os arestos paradigmas, inclusive o Enunciado n. 596 da Súmula-STF, não se referem ao caso específi co do crédito rural, que tem disciplina própria, mas às operações fi nanceiras em geral.

IV - O emitente de cédula de crédito rural, em caso de inadimplemento, responde pela multa de 10% prevista no art. 71 do Decreto-Lei n. 167/1967 e pactuada no contrato.

V - O preço do produto não serve como indexador no fi nanciamento rural, sendo, por outro lado, lícito o pacto de vinculação da correção monetária ao critério de atualização dos depósitos em caderneta de poupança, por conseqüência a TR.

(4ª Turma, REsp n. 198.243-RS, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, por maioria, DJU de 14.06.1999).

Crédito rural. Limitação da taxa de juros. Correção monetária no mês de março/1990. Precedentes da Corte.

1. O Decreto-Lei n. 167/1967, art. 5º, posterior à Lei n. 4.595/1964 e específi ca para as cédulas de crédito rural, confere ao Conselho Monetário Nacional o dever de fi xar os juros a serem praticados. Ante a eventual omissão desse órgão governamental, incide a limitação de 12% ao ano prevista na Lei de Usura (Decreto n. 22.626/1933), não alcançando a cédula de crédito rural o entendimento jurisprudencial consolidado na Súmula n. 596-STF.

2. Os precedentes deste Tribunal afi rmam que “em relação ao mês de março de 1990, a dívida resultante de fi nanciamento rural com recursos captados de depósitos em poupança deve ser atualizada segundo o índice de variação do BTNF. Ante o atrelamento contratual, é injustificável aplicar-se o IPC, para a atualização da dívida, se os depósitos em poupança, fonte do fi nanciamento, foram corrigidos por aquele índice”, sendo certo que o percentual a ser aplicado é o de 41,28% (RSTJ 79/155).

3. Recurso especial não conhecido.

(2ª Seção, REsp n. 111.881-RS, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, por maioria, DJU de 16.02.1998).

Oportuno observar que a Súmula n. 596 do Egrégio Supremo Tribunal

Federal é de ser afastada, superada que fi cou pela novel legislação (DL- n.

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167/1967), que, como antes frisado, disciplinou especifi camente os títulos de

crédito rural, enquanto tal Súmula resultou da interpretação de diploma outro,

mais antigo, a Lei n. 4.595/1964, que em seu art. 4o, IX, dava ao Conselho

Monetário Nacional apenas a faculdade de limitar, “sempre que necessário as

taxas de juros”, redação distinta do art. 5o do Decreto-Lei n. 167/1967, dirigido

ao crédito rural.

No caso dos autos, o recorrente não logrou demonstrar que o Conselho

Monetário Nacional fixou as taxas de juros em patamar acima do limite

estabelecido na Lei de Usura, de sorte que não se dá a hipótese do art. 5o do

Decreto-Lei n. 167/1967, aplicando-se, em conseqüência, o art. 1º, caput, do

Decreto n. 22.626/1933, devendo ser reduzidos os juros à taxa de 12% ao ano,

como acertadamente o fez o acórdão estadual.

VII

No que se refere à correção monetária da cédula rural pignoratícia, com

razão o recorrente, eis que a TJLP possui as mesmas características da TR,

não sendo possível vedar sua cobrança, quando expressamente pactuada, como

ocorre no caso dos autos, conforme se verifi ca à fl . 172, no v. acórdão recorrido.

Esta Turma já manifestou esse entendimento, conforme se verifi ca do

seguinte precedente, litteris:

Crédito rural. Multa. Redução a 2%. TJLP. Possibilidade de sua utilização como índice de correção. Ressalva do relator. Recurso conhecido em parte e provido.

(REsp n. 401.165-MG, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, unânime, DJU de 30.09.2002).

Ante o exposto, em conclusão, conheço em parte do recurso e, nessa parte, dou-lhe parcial provimento, para determinar que sejam observadas, com relação ao contrato de fi nanciamento, as taxas de juros contratadas e a TR para corrigir o débito, e em relação à cédula rural pignoratícia, a correção monetária com base na TJLP, mantido o aresto estadual quanto aos temas restantes.

Vencidas mutuamente as partes, altero a sucumbência imposta na r. sentença para que dividam pela metade as despesas processuais. Com base no art. 21, caput, do CPC, condeno o recorrente, já considerado seu êxito parcial nesta instância, ao pagamento de 5% (cinco por cento) a título de honorários advocatícios, incidentes sobre o valor em que reduzido o débito.

É como voto.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 81-113, agosto 2011 99

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RECURSO ESPECIAL N. 401.165-MG (2001.0198818-8)

Relator: Ministro Ruy Rosado de Aguiar

Recorrente: Agropecuária Magalhães Costa Ltda. e outros

Advogado: Márcio Bertocco e outro

Recorrido: Banco do Brasil S/A

Advogado: Gilberto Eifl er Moraes e outros

EMENTA

Crédito rural. Multa. Redução a 2%. TJLP. Possibilidade de sua

utilização como índice de correção. Ressalva do relator.

Recurso conhecido em parte e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por

unanimidade, conhecer em parte do recurso e nessa parte dar-lhe provimento,

nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Os Srs. Ministros Aldir Passarinho

Junior e Cesar Asfor Rocha votaram com o Sr. Ministro-Relator. Ausentes,

ocasionalmente, os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira e Barros

Monteiro.

Brasília (DF), 15 de agosto de 2002 (data do julgamento).

Ministro Cesar Asfor Rocha, Presidente

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Relator

DJ 30.09.2002

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Agropecuária Magalhães Costa

e outros opuseram embargos do devedor à execução de cédula de crédito rural

movida pelo Banco do Brasil S/A. Os embargos foram julgados parcialmente

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procedentes, reduzido o percentual da multa para 2% e declarada nula a cláusula

que estipula a cobrança da comissão de permanência.

As partes apelaram e a egrégia Primeira Câmara Cível do TAMG rejeitou

as preliminares e deu parcial provimento aos recursos, em acórdão assim

ementado:

Embargos do devedor. Execução por título extrajudicial. Cédula rural pignoratícia e hipotecária. Excesso de execução. Alongamento da dívida rural. Artigo 1.531 do CC. TJLP. Correção. Multa contratual. Encargos moratórios.

- Eventual excesso de execução não descaracteriza o título executivo, mas apenas enseja o acolhimento dos embargos, com o escopo de se decotar o respectivo excesso.

- Não se concede o alongamento da dívida, se o devedor não cuida de demonstrar, a contento, a satisfação dos requisitos normativos.

- Os encargos não contratados expressamente na cédula rural excutida não podem ser objeto de execução.

- A sanção prevista no artigo 1.531 do Código Civil, por ser nitidamente draconiana, somente deve ser aplicada quando evidenciada, de forma patente e induvidosa, a má-fé da parte que ajuíza a ação, no afã de receber dívida já paga ou pedir mais do que for devido.

- Afi gura-se devida a multa contratual de 10%, prevista na cédula rural, eis que arrimada no artigo 71 do Decreto-Lei n. 167/1967.

- Na cédula de crédito rural, somente se admite, como encargos moratórios, os juros de 1% (hum por cento) ao ano, além da multa de 10% (dez por cento), ex vi do artigo 5°, parágrafo único e artigo 71, ambos do Decreto-Lei n. 167/1967, cabendo ao Judiciário coibir qualquer tentativa de burlar a lei, com previsão na cédula de encargos outros, a título de inadimplência (fl . 504).

Rejeitados os embargos de declaração, Agropecuária Magalhães Costa

Ltda. e outros interpuseram recurso especial (art. 105, III, a e c, da CF), por

ofensa aos arts. 586 e 618, I, do CPC, 1.079 do CCB, 1º, 3º e 14 da Lei n.

4.829/1965, 2º, IV, da Lei n. 8.171/1991 e às Resoluções do Bacen n. 2.431/97

e n. 2.581/98; aos arts. 27, § 5º, da Lei n. 9.069/1995, 1º, 2º e 3º, III e IV, da

Lei n. 9.365/1996, 145, II e V, do CCB e 6º e 52, § 1º, do CDC. Alegam: a)

inexigibilidade do título face à alteração compulsória da data do pagamento; b) a

Resolução n. 2.581 não exige a apresentação de notas fi scais para a comprovação

da baixa cotação do produto; c) a baixa cotação é o único fator condicionante

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 81-113, agosto 2011 101

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para o alongamento; d) ilegalidade da TJLP como fator de correção monetária,

devendo ser aplicado o INPC (IBGE) e o IGP-DI (Fipe), conforme o Dec. n.

1.544/1995; e) o CDC é aplicável ao crédito rural, especialmente no tocante à

cláusula de vencimento extraordinário (antecipado) e para reduzir a multa de

10% para 2%; f ) “não há que se falar em qualquer agressão ao preceituado no

art. 192 da CF, que regula as atividades do Sistema Financeiro Nacional, pois

que nitidamente de ordem pública, aplicando-se diretamente sobre qualquer

abuso praticado, não havendo, assim, qualquer confl ito entre as disposições

do art. 48 do ADCT, o art. 192 da CF e o próprio Código consumerista”.

Enfi m, os recorrentes pretendem ver reconhecido o alongamento da dívida e

a inexigibilidade do título, bem como o afastamento da correção pela TJLP,

aplicando-se o INPC, com a redução da multa para 2%.

Admitido o recurso, com as contra-razões, vieram-me os autos.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Relator): Examino as alegações dos

recorrentes:

a) o indeferimento do alongamento do débito decorreu da conclusão de

que os devedores não demonstraram o preenchimento dos requisitos legais (fl s.

508-509), e isso envolve o exame de matéria de fato (Súmula n. 5-STJ);

b) a multa deve ser reduzida a 2%, percentual defi nido na Lei n. 9.298, de

1º.08.1996, sabendo-se que o contrato foi celebrado em 28.11.1997 (fl . 29 do

apenso);

c) a TJLP tem as características da TR, e foi a prevista no contrato como

índice de correção monetária. Embora entenda que padece do mesmo vício,

atendo aos precedentes do Tribunal sobre a admissibilidade da TR e estendo

a mesma interpretação para a TJLP, para mantê-la, com ressalva da posição

pessoal.

Isso posto, conheço em parte do recurso e lhe dou provimento, para reduzir

a multa a 2%.

É o voto.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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RECURSO ESPECIAL N. 525.649-MG (2003.0028354-0)

Relator: Ministro Carlos Alberto Menezes Direito

Recorrente: Banco do Brasil S/A

Advogados: Magda Montenegro

Carlos Guilherme Arruda Silva e outros

Recorrido: Mário Henrique de Almeida Clementino e outro

Advogado: Wilson Ursine Junior e outro

EMENTA

Crédito rural. Alongamento da dívida. Revisão do contrato. TJLP

- Taxa de Juros de Longo Prazo como índice de correção monetária.

Precedentes da Corte.

1. Não existe omissão a ser coberta pelo art. 458, II, do Código

de Processo Civil quando a parte interessada apresentou embargos de

declaração confi nados à questão dos honorários de advogado.

2. Afi rmando o acórdão recorrido que o alongamento é direito

subjetivo do produtor rural e não faculdade da instituição fi nanceira, o

que está em consonância com a jurisprudência da Corte, e, ainda, que

foram preenchidos os requisitos legais para o seu desfrute, fi ca sem

sustentação o combate centrado na questão da incompatibilidade do

enquadramento com o art. 239 da Constituição Federal.

3. Precedentes da Corte admitem a aplicação da TJLP - Taxa de

Juros de Longo Prazo, devidamente pactuada, como índice de correção

monetária, considerando a sua natureza em tudo similar à TR.

4. Recurso especial conhecido e provido, em parte.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por

unanimidade, conhecer em parte do recurso especial e, nessa parte, dar-lhe

provimento. Os Srs. Ministros Nancy Andrighi, Castro Filho e Antônio de

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 81-113, agosto 2011 103

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Pádua Ribeiro votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justifi cadamente, o

Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros.

Brasília (DF), 20 de novembro de 2003 (data do julgamento).

Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Relator

DJ 25.02.2004

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Banco do Brasil S.A.

interpõe recurso especial, com fundamento nas alíneas a e c do permissivo

constitucional, contra acórdão da Segunda Câmara Cível do Tribunal de Alçada

do Estado de Minas Gerais, assim ementado:

Ordinária de securitização de crédito rural c.c. revisão contratual. Nulidade da sentença por citra petita e por falta de fundamentação. Não-ocorrência. Recursos oriundos do FAT. Não-limitação aos recursos geridos pelo BNDES. Securitização das dívidas rurais. Direito subjetivo dos devedores. Taxa de Juros a Longo Prazo (TJLP) e comissão de permanência à taxa de mercado. Descabimento como índices de correção monetária. Substituição pelo INPC. Cláusulas abusivas. Revisão contratual. Possibilidade.

- A sentença que decide o ponto central da controvérsia e que, ao optar por uma solução, descarta as alternativas divergentes, mesmo sem referir-se a cada um dos argumentos das partes, não é citra petita, omissa, nem não fundamentada, pois o juiz não precisa convencer os litigantes, mas motivar o seu próprio convencimento, ainda que de modo sumário, até porque o Tribunal pode apreciar “todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro” (art. 515, § 1º, do CPC).

- Os recursos do FAT - Fundo de Assistência ao Trabalhador destinados ao programa de alongamento da dívida dos ruralistas não se restringem àqueles administrados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES, mas abrangem também os repassados pelas demais instituições fi nanceiras, públicas ou privadas.

- A securitização é direito subjetivo do devedor ruralista, desde que satisfeitos os requisitos legais enumerados pela Lei n. 9.138/1995 e pelas Resoluções do Banco Central de n. 2.471/1998 e n. 2.666/1999, que regulam a matéria.

- Os contratos de securitização das dívidas rurais são passíveis de revisão, de modo a se adequarem às diretrizes da Lei n. 9.138/1995, afastando-se cláusulas que adotem a TJLP e a comissão de permanência à taxa de mercado como

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índices de correção monetária, por impróprios a esse fi m, podendo aquelas ser substituídos pelo INPC.

- Preliminares rejeitados e recurso não provido (fl . 221).

Opostos embargos de declaração (fl s. 235 a 237), foram parcialmente

providos para “declarar que se dá parcial provimento à apelação do Banco do

Brasil, reduzindo os honorários advocatícios devidos pelo embargante aos

embargados a R$ 5.000,00 (cinco mil reais)” (fl . 241), corrigidos com juros de

0,5% ao mês.

Sustenta o recorrente contrariedade aos artigos 165 e 458, incisos I e II, do

Código de Processo Civil, aduzindo a falta de fundamentos da decisão, no que

se refere à exclusão do IOF, da comissão do seguro de vida e do seguro de vida.

Alega negativa de vigência dos artigos 4º, inciso VI, e 9º da Lei n.

4.595/1964; 4º e 14 da Lei n. 4.829/1965; 4º da Lei n. 9.365/1996 e 5º, § 2º,

da Lei n. 9.138/1995, haja vista ser legal a utilização da TJLP nas operações

contratadas com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador - FAT.

Afi rma que, sendo obrigatória a securitização, o saldo devedor deve ser

recalculado nos termos da Resolução n. 2.471/98 do Banco Central do Brasil.

Aduz violação dos artigos 2º da Lei n. 8.352/1991, 5º, inciso III, e 7º,

parágrafo único, da Lei n. 9.138/1995, tendo em vista que a cédula, no caso dos

autos, não preenche os requisitos legais para a securitização.

Aponta dissídio jurisprudencial, trazendo à colação julgado desta Corte.

Contra-arrazoado (fl s. 267 a 280), o recurso especial (fl s. 244 a 258) foi

admitido (fl s. 285 a 287).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito (Relator): Os recorridos

ajuizaram ação ordinária de securitização de crédito rural cumulada com revisão

de contrato alegando que são fazendeiros e exploram pecuária; que assumiram

dívida representada por cédula rural pignoratícia e hipotecária; que os recursos

foram aplicados conforme orçamento aprovado pela instituição fi nanceira;

que o pagamento da dívida tornou-se impossível; que fi rmaram aditivo em

25.09.1998 e ainda assim não conseguem cumprir com o pagamento; que

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 81-113, agosto 2011 105

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pediram o alongamento da dívida com base na Lei n. 9.138/1999, negado pela instituição fi nanceira ao fundamento de que os recursos eram oriundos do FAT (Fundo de Apoio ao Trabalhador) e por isso não podiam ser alongados; que têm direito à securitização; que não é possível adotar a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) como índice de correção monetária, devendo ser substituída pelo INPC; que a comissão de permanência deve seguir a taxa de mercado.

A sentença julgou procedentes os pedidos para determinar a revisão contratual recalculando o saldo devedor com a adoção do INPC em substituição à TJLP e a comissão de permanência pela taxa de mercado, acrescida de juros de seis por cento ao ano, exclusão dos demais encargos porventura existentes e, fi nalmente, para declarar o direito dos recorrentes ao alongamento da dívida, porque se trata de direito do devedor e não de faculdade da instituição fi nanceira.

O Tribunal de Alçada de Minas Gerais rejeitou as preliminares e negou provimento à apelação. Para o acórdão recorrido, a sentença enfrentou a lide com fundamentação suficiente para a conclusão adotada. De igual modo, afi rmou que pode examinar as questões que poderiam ter sido apreciadas pelo Juiz, mas não o foram, invocando precedente desta Corte.

Quanto ao alongamento, entendeu o acórdão recorrido ser um direito subjetivo dos ruralistas, desde que preencham as condições da lei, no caso, devidamente preenchidas pelos recorridos, nos termos da documentação constante dos autos; quanto ao contrato, o acórdão recorrido entendeu possível a revisão, considerando ilícita a utilização da TJLP, “dado o seu caráter remuneratório, o que confi guraria um plus ao capital que se pretende corrigido. A correção monetária calculada por um indexador remuneratório acarretaria, portanto, uma cobrança dissimulada de juros, em face da ocorrência de agregação ao capital” (fl . 232). Afastou, ainda, a comissão de permanência, porque não aceitável o evidente desequilíbrio que impõe ao devedor, com ofensa ao art. 115 do Código Civil de 1916, ademais de vedada a sua cumulação com a correção monetária, nos termos da Súmula n. 30 da Corte, “em razão da fi nalidade comum a ambos os institutos, de manter atualizado o valor da dívida” (fl . 232). Por fi m, afastou a denunciação da lide ao FAT-Codefat, “em face da ausência da responsabilidade de indenização regressiva do terceiro, decorrente de lei ou de contrato (art. 70, inc. III, do CPC)” (fl . 233).

Os embargos de declaração foram recebidos para reduzir os honorários a R$ 5.000,00.

Trata-se, como está claro nos autos e repisado no especial, de revisão de cédula rural.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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A primeira impugnação diz com o art. 458, II, do Código de Processo

Civil, alegando o recorrente que o Tribunal de origem permaneceu em silêncio

no que se refere à exclusão dos lançamentos referentes a IOF, seguro de vida,

comissão de seguro de vida, juros de mora e multa, que foram decotados sem

motivação. Mas não creio que deva merecer prestígio a impugnação. Anote-

se que nos embargos de declaração apresentados a instituição fi nanceira não

acusou a omissão, o silêncio, sendo que a sentença já os havia excluído no

conjunto dos demais encargos. Ora, o que deixou claro foi que os encargos da

cédula eram apenas aqueles que foram alvitrados pela sentença e pelo acórdão.

Se o acórdão recorrido, embora provocado, na apelação deles não cuidou, a parte

deveria ter ingressado com os embargos de declaração para suprir a omissão no

ponto. Se não fez, optando pela omissão quanto aos honorários, não há mais

oportunidade para que seja suprida a omissão ou a ausência de fundamentação.

No caso, o acórdão recorrido não cuidou expressamente dos demais encargos,

fi cando, apenas, naqueles pontos que indicou.

O acórdão recorrido ao enfrentar a questão da TJLP não o fez com base

nos artigos 4º, VI, da Lei n. 4.595/1964; 4º e 14 da Lei n. 4.829/1965 e 4º da Lei

n. 9.365/1996, mas, sim, em função de seu caráter remuneratório. No entanto,

o dissídio existe com o precedente da Quarta Turma, Relator o Ministro

Ruy Rosado de Aguiar (REsp n. 401.165-MG, DJ de 30.09.2002), também

tratando de cédula rural. Em outro precedente da Quarta Turma, Relator o

Ministro Aldir Passarinho Junior, também se admitiu a utilização da TJLP como

fator de atualização monetária, aduzindo o voto condutor que esta “possui as

mesmas características da TR, não sendo possível vedar sua cobrança, quando

expressamente pactuada, como ocorre no caso dos autos, conforme se verifi ca

à fl . 172, no v. acórdão recorrido” (REsp n. 337.957-RS, DJ de 10.02.2003). A

fundamentação acolhida nos precedentes da Quarta Turma não merece reparo.

De fato, os princípios informadores da TR e da TJLP são, basicamente, os

mesmos. Admitida a TR quando pactuada, segundo a jurisprudência da Corte,

não haveria mesmo razão expurgar a TJLP no caso da cédula de crédito rural.

No que concerne aos critérios para o benefício do alongamento, desde

logo, descarto o art. 90 da Lei n. 4.595/1964, porque não desafiado pelo

acórdão recorrido. A questão da TJLP fi cou superada com a sua inclusão por

efeito deste especial. Quanto aos juros de seis por cento ano, o tema não foi

especifi camente examinado pelo acórdão recorrido no pertinente ao termo de

renegociação, consideradas preenchidas as condições para tanto. Na verdade,

o Tribunal de origem cuidou daquelas condições sob o ângulo também da

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 81-113, agosto 2011 107

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Resolução n. 2.471/98, tratando de examinar a revisão do contrato com amparo na abusividade, afirmando que “as instituições financeiras, ao aderirem ao programa de crédito rural lastreado na Lei n. 9.138/1995, não mais podem impor contratos de adesão, previamente redigidos e imutáveis, sem consideração do teor protetivo daquela norma legal” (fl . 231). Ora, esse fundamento não foi enfrentado pelo especial.

Finalmente, o especial ataca a questão do enquadramento na operação sob julgamento porque foi contratada com recursos oriundos do FAT. Aponta violação do art. 2º da Lei n. 8.352/1991 e 5º, III, e 7º e seu parágrafo único, da Lei n. 9.138/1995. Em seguida, o recorrente afi rma que “os recursos originários do FAT são recursos oriundos do patrimônio do trabalhador (PIS/Pasep), e devido aos interesses do Estado em salvaguardar aqueles recursos de interesses particulares, foi-lhe destinada regulamentação específi ca pela Constituição Federal de 1988, artigo 239, não podendo destarte, uma resolução do Bacen sobrepor-se a um dispositivo constitucional, em virtude da hierarquia das normas jurídicas” (fl . 73). Menciona, ainda, Nota Técnica do Conselho Gestor do FAT.

O que pretende o recorrente é excluir as operações de crédito rural realizadas com recursos do FAT, sob a forma de depósitos especiais nas instituições financeiras oficiais, nos termos da Lei n. 8.325/1991, do alongamento previsto na Lei n. 9.138/1995. Ocorre que o acórdão recorrido considerou os termos das resoluções do Bacen para afi rmar que as condições foram preenchidas, não examinando a questão do art. 239 da Constituição Federal nem a incompatibilidade das referidas resoluções com tal dispositivo. E os embargos de declaração apresentados pela instituição financeira não cuidaram de prequestionar o tema, fi ncados apenas na questão dos honorários. Com isso, fi ca o especial inviável.

Em conclusão, eu conheço do especial, em parte, e, nessa parte, dou-lhe provimento para acolher a TJLP - Taxa de Juros de Longo Prazo, prevista no contrato como índice de correção monetária.

RECURSO ESPECIAL N. 525.651-MG (2003.0028353-9)

Relatora: Ministra Nancy Andrighi

Recorrente: Banco do Brasil S/A

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Advogados: Magda Montenegro

Carlos Guilherme Arruda Silva e outros

Recorrido: Guilherme Vasconcelos Clementino

Advogado: Wilson Ursine Junior

EMENTA

Processual Civil. Bancário. Recurso especial. Cédula de crédito rural hipotecária. Prequestionamento. Ausência. Securitização da dívida rural. Direito subjetivo. Reexame de prova. Interpretação de cláusula contratual. Vedação. Índice de atualização monetária. Taxa de juros a longo prazo. Pactuação.

- O recurso especial carece de prequestionamento a respeito de tema

não debatido no acórdão recorrido.

- Preenchidos os requisitos legais, o alongamento da dívida constitui

um direito do devedor e não mera faculdade das instituições fi nanceiras.

Precedentes.

- Inadmissível o revolvimento de matéria fático-probatória em sede

de recurso especial, tampouco a interpretação de cláusula contratual.

- Quando pactuada, é possível a aplicação da TJLP como fator de

atualização monetária. Precedentes.

Recurso especial parcialmente conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas constantes dos autos, por unanimidade, conhecer em parte do recurso especial e, nessa parte, dar-lhe provimento, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Castro Filho, Antônio de Pádua Ribeiro, Ari Pargendler e Carlos Alberto Menezes Direito votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Brasília (DF), 14 de outubro de 2003 (data do julgamento).

Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Presidente

Ministra Nancy Andrighi, Relatora

DJ 10.11.2003

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 81-113, agosto 2011 109

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RELATÓRIO

A Sra. Ministra Nancy Andrighi: Cuida-se do recurso especial interposto

por Banco do Brasil S/A, com fundamento nas alíneas a e c do permissivo

constitucional, contra acórdão do Tribunal de Alçada do Estado de Minas

Gerais.

Guilherme Vasconcelos Clementino ajuizou ação de securitização de

crédito rural cumulada com revisão contratual, pelo rito ordinário, relativa

a cédula de crédito rural hipotecária, em face do recorrente. Requereu

a securitização da dívida, o reconhecimento da abusividade e conseqüente

ilegalidade das cláusulas do contrato que estabelecem correção monetária pelos

índices da TJLP e comissão de permanência à taxa de mercado, pugnando pela

substituição daqueles pelo INPC.

O Juízo de primeiro grau julgou procedente o pedido para: (i) determinar

a revisão contratual e o recálculo do saldo devedor, adotando-se o INPC, em

substituição à TJLP e à comissão de permanência à taxa de mercado, com

acréscimo de juros de 6% ao ano, com a exclusão dos demais encargos; e (ii)

declarar o direito do recorrido à securitização da dívida, apelou o banco-

recorrente ao TAMG, que confi rmou a sentença nos termos da ementa, verbis:

Ordinária de securitização de crédito rural c.c. revisão contratual. Nulidade da sentença por citra petita e por falta de fundamentação. Inocorrência. Recursos oriundos do FAT. Não-limitação aos geridos pelo BNDES. Securitização das dívidas rurais. Direito subjetivo dos devedores. Taxa de juros a longo prazo (TJLP) e comissão de permanência à taxa de mercado. Descabimento como índices de correção monetária. Substituição pelo INPC. Cláusulas abusivas. Revisão contratual. Possibilidade.

- A sentença que decide o ponto central da controvérsia e que, ao optar por uma solução, descarta as alternativas divergentes, mesmo sem referir-se a cada um dos argumentos das partes, não é citra petita, nem omissa, nem desfundamentada, pois o juiz não precisa convencer os litigantes, mas motivar o seu próprio convencimento, ainda que de modo sumário, até porque o Tribunal pode apreciar “todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro” (art. 515, § 1º, do CPC).

- Os recursos do FAT - Fundo Assistencial ao Trabalhador destinados ao programa de alongamento da dívida dos ruralistas não se restringem àqueles administrados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES, mas abrangem também os repassados pelas demais instituições fi nanceiras, públicas ou privadas.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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- A securitização é direito subjetivo do devedor ruralista, desde que satisfeitos os requisitos legais enumerados pela Lei n. 9.138/1995 e pelas Resoluções do Banco Central de n. 2.471/1998 e n. 2.666/1999 que regulam a matéria.

- Os contratos de securitização das dívidas rurais são passíveis de revisão, de modo a se adequarem às diretrizes da Lei n. 9.138/1995, afastando-se cláusulas que adotem a TJLP e a comissão de permanência à taxa de mercado como índices de correção monetária, por impróprios a esse fi m, podendo aquelas ser substituídas pelo INPC.

- Preliminares rejeitadas e recurso não provido. (fl . 233)

Foram, então, interpostos embargos de declaração, os quais restaram

acolhidos, com efeito infringente, para dar parcial provimento à apelação, apenas

para reduzir o valor dos honorários advocatícios, fi xados em R$ 5.000,00 (cinco

mil reais). (fl s. 251-253).

Daí o presente recurso especial, no qual se alega:

I - ofensa aos arts. 165 e 458, I e II, do CPC, por ausência de fundamentação

do acórdão recorrido;

II - violação aos arts. 5º, III, § 2º, 7º, e seu parágrafo único, todos da Lei

n. 9.138/1995, 4º, VI e 9º, da Lei n. 4.595/1964, 4º e 14, da Lei n. 4.829/1965,

4º da Lei n. 9.365/1996, e 2º da Lei n. 8.352/1991, além de divergência

jurisprudencial, por ter sido a TJLP substituída pelo INPC, por ter entendido o

TAMG pela obrigatoriedade da securitização da dívida, e por não se enquadrar

a operação no Pesa, em virtude de ter sido contratada com recursos oriundos do

FAT.

Contra-razões às fl s. 304-318.

Admitido o recurso especial no prévio Juízo, subiram os autos.

É o relatório.

VOTO

A Sra. Ministra Nancy Andrighi (Relatora):

I - Da alegada violação aos arts. 165 e 458, I e II, do CPC

Com relação à alegada ofensa aos arts. 165 e 458, I e II, do CPC, verifi ca-

se que o TAMG esclareceu as questões suscitadas. Portanto, os embargos

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 81-113, agosto 2011 111

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de declaração foram corretamente rejeitados. A adoção de tese diversa da

pretendida pela parte não possibilita, por si só, sua interposição e mesmo

quando objetivam obter o prequestionamento da matéria, os embargos de

declaração devem levantar alguma das hipóteses previstas no art. 535 do CPC, o

que não ocorreu na espécie.

Saliente-se, ademais, que o recorrente não alegou ofensa direta ao art. 535

do CPC, o que inviabiliza, por si só, a análise da omissão aventada.

II - Do prequestionamento

A matéria jurídica versada nos arts. 4º, VI e 9º, da Lei n. 4.595/1964, 4º e

14, da Lei n. 4.829/1965, 4º da Lei n. 9.365/1996, e 2º da Lei n. 8.352/1991,

não foi debatida no acórdão recorrido e, em sede de embargos de declaração,

não foram argüidas as questões concernentes a referidos dispositivos de lei, com

o fi to de provocar o pronunciamento do TAMG.

Aplicam-se, nesse ponto, as Súmulas n. 282 e n. 356-STF.

III - Da securitização

No que se refere à securitização da dívida rural, reconhecida como direito

subjetivo do recorrido pelo TAMG, desde que satisfeitos os requisitos legais

insertos na Lei n. 9.138/1995 e nas Resoluções do Banco Central de n. 2.471/98

e n. 2.666/99 que regulam a matéria, observa-se que andou o acórdão guerreado

na linha de entendimento deste Tribunal, conforme se depreende de trecho de

ementa, transcrita somente quanto ao ponto, verbis:

Alongamento da dívida rural. (...)

1. É uniforme a jurisprudência das Turmas que compõem a Seção de Direito Privado da Corte sobre a obrigatoriedade do deferimento do pedido de securitização da dívida rural, desde que preenchidos os requisitos legais. (REsp n. 336.700-MS, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ de 1º.04.2002).

No mesmo sentido, o Recurso Especial n. 373.876-SP, Rel. Min. Barros

Monteiro, DJ de 09.12.2002.

Não merece reparo, portanto, o acórdão recorrido, quanto ao ponto.

Ademais, a pretensão do recorrente demandaria a incursão no campo

fático-probatório, além da interpretação de cláusulas do contrato celebrado

entre as partes, procedimentos vedados em sede de recurso especial, nos termos

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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das Súmulas n. 5 e n. 7 do STJ, não se olvidando que este Tribunal toma os fatos

tais como delineados no acórdão hostilizado.

IV - Da taxa de juros a longo prazo - TJLP

Quanto à taxa de juros a longo prazo - TJLP, estabelecida no contrato

celebrado entre as partes como índice de atualização monetária, entendeu

o TAMG por afastá-la e substituí-la pelo INPC, em virtude de seu caráter

remuneratório, porquanto sua adoção “acarretaria uma cobrança dissimulada de

juros, em face da ocorrência de agregação ao capital”. (fl . 244).

Contudo, a orientação deste Tribunal vem se fi rmando no sentido da

ementa a seguir transcrita apenas quanto ao ponto:

Quando pactuadas, é possível a aplicação da TR e da TJLP como fatores de atualização monetária, porque possuem características semelhantes. (REsp n. 337.957-RS, Rel. Min. Aldir Passarinho Júnior, DJ de 10.02.2003).

No mesmo sentido o Recurso Especial n. 401.165-MG, Rel. Min. Ruy

Rosado Aguiar, DJ de 30.09.2002.

Assim, por dissentir da jurisprudência do STJ, merece reforma o acórdão

recorrido tão-somente para manter a TJLP como índice de atualização

monetária, conforme se extrai dos termos da cédula de crédito rural hipotecária

às fl . 14.

Forte em tais razões, conheço parcialmente do recurso especial e, nesta parte,

dou-lhe provimento, a fi m de fi xar a TJLP como índice de atualização monetária,

porquanto pactuada.

Em razão da sucumbência recíproca, condeno as partes ao pagamento

das custas processuais e honorários advocatícios, mantido quanto a estes o

valor fi xado em 2º grau de jurisdição, que serão reciprocamente distribuídos

e suportados na proporção de 70% pelo recorrente e 30% pelo recorrido,

devidamente compensados, conforme entendimento firmado pela Corte

Especial no julgamento do Recurso Especial n. 290.141-RS, Rel. Min. Antônio

de Pádua Ribeiro, DJ de 31.03.2003.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 81-113, agosto 2011 113

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Súmula n. 289

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SÚMULA N. 289

A restituição das parcelas pagas a plano de previdência privada deve ser

objeto de correção plena, por índice que recomponha a efetiva desvalorização da

moeda.

Precedentes:

AgRg no Ag 477.274-RJ (3ª T, 10.02.2004 – DJ 08.03.2004)

AgRg no Ag 480.071-MG (3ª T, 08.05.2003 – DJ 09.06.2003)

AgRg no Ag 493.872-PR (3ª T, 16.12.2003 – DJ 16.02.2004)

AgRg no Ag 495.307-MG (4ª T, 26.08.2003 – DJ 29.09.2003)

AgRg no REsp 278.640-RJ (3ª T, 06.02.2003 – DJ 04.08.2003)

AgRg no REsp 487.824-RJ (3ª T, 10.02.2004 – DJ 08.03.2004)

EREsp 264.061-DF (2ª S, 22.08.2001 – DJ 11.03.2002)

EREsp 287.954-DF (2ª S, 23.10.2002 – DJ 09.12.2002)

EREsp 297.194-DF (2ª S, 12.09.2001 – DJ 04.02.2002)

REsp 367.116-RJ (4ª T, 05.12.2002 – DJ 24.03.2003)

REsp 403.732-DF (4ª T, 10.02.2004 – DJ 25.02.2004)

REsp 434.110-DF (4ª T, 11.03.2003 – DJ 30.06.2003)

REsp 435.029-MG (4ª T, 24.06.2003 – DJ 25.08.2003)

Segunda Seção, em 28.04.2004

DJ 13.05.2004, p. 201

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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 477.274-RJ (2002.0128082-7)

Relator: Ministro Castro Filho

Agravante: Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil - Previ

Advogado: Walfredo Frederico de Siqueira Cabral Dias e outros

Agravado: Kátia Maria Durães de Almeida Gomes

Advogado: Carla Eyer Pitanga de Freitas Lopes e outro

EMENTA

Processual Civil. Recurso especial. Embargos de declaração. Omissão e contradição. Violação ao artigo 535 do CPC não caracterizada. Prequestionamento de questão constitucional. Descabimento. Previdência privada. Previ. Restituição das contribuições a ex-empregada. Atualização monetária.

I - Dirimida a controvérsia de forma objetiva e fundamentada, não fi ca o órgão julgador obrigado a apreciar, um a um, os questionamentos suscitados pelo embargante, mormente se notório seu propósito de infringência do julgado.

II - Ainda que para fi ns de prequestionamento, independentemente de a questão ser de índole infraconstitucional ou constitucional, a oposição dos embargos não prescindirá do atendimento a um dos requisitos elencados no artigo 535 do Código de Processo Civil, ou seja, que remanesça no acórdão obscuridade, omissão ou contradição.

III - A restituição das contribuições destinadas às entidades de previdência privada deve se dar de forma plena, utilizando-se no cálculo da atualização monetária índice que refl ita a real desvalorização da moeda no período, ainda que outro tenha sido avençado.

Precedentes da Corte.

Agravo a que se nega provimento.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos, acordam os Srs. Ministros da

Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

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das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao agravo

regimental.

Os Srs. Ministros Antônio de Pádua Ribeiro, Carlos Alberto Menezes

Direito e Nancy Andrighi votaram com o Sr. Ministro Relator.

Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros.

Brasília (DF), 10 de fevereiro de 2004 (data do julgamento).

Ministro Castro Filho, Relator

DJ 08.03.2004

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Castro Filho: A Caixa de Previdência dos Funcionários do

Banco do Brasil S/A - Previ insurge-se, por meio do presente agravo, contra

a decisão que proferi às fl s. 114-117 dos autos, pela qual afastei a existência

de omissão no acórdão que julgou os embargos de declaração na origem e

confi rmei a determinação do Tribunal Estadual para que a restituição dos

valores das contribuições que lhe foram destinadas por ex-empregada se desse

de forma plena, utilizando-se no cálculo da atualização monetária índice que

refl etisse a real desvalorização da moeda no período.

Sustenta a agravante que, ao contrário do entendimento assentado na

decisão agravada, houve violação ao artigo 535 do Código de Processo Civil, na

medida que a sua pretensão de prequestionar questões de índole constitucional

e infraconstitucional, consubstanciadas nos artigos 5º, XXXVI, da Carta Magna,

42, V, da Lei n. 6.435/1977 e 31, § 2º, do Decreto n. 81.240/1978, não foi

atendida. Afi rma que, sem a manifestação da câmara a quo quanto à matéria

constitucional, teve inviabilizada a possibilidade de interposição de recurso

extraordinário.

Salienta que a relação estabelecida entre o particular e o plano de

previdência é contratual, de direito privado, onde são fi xadas cláusulas prevendo

a forma de resgate das contribuições realizadas na hipótese de distrato, as

quais, em respeito ao princípio pacta sunt servanda, devem ser observadas, sob

pena de violação ao ato jurídico perfeito, insculpido no artigo 5º, XXXVI, da

Constituição Federal.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Nesse passo, argumenta ser descabida a incidência dos percentuais

requeridos na exordial, visto que desrespeitam a relação jurídica de natureza

contratual e de direito privado estipulada entre as partes, infringindo o disposto

no inciso V do artigo 42 da Lei n. 6.435/1977, bem como o § 2º do artigo 31 do

Decreto n. 81.240/1978 e o inciso XXXVI do artigo 5º da Carta Constitucional,

devendo, por isso, ser reformada a decisão hostilizada.

Observa, ainda, encontrar-se pendente de apreciação no âmbito da Corte

Especial recurso de embargos de divergência quanto à questão em discussão,

alusiva à atualização monetária das importâncias resgastadas pelo associado,

quando do seu desligamento do plano de previdência (EREsp n. 303.380-RJ

e EREsp n. 299.425-RJ), cujo dissenso se encontra demonstrado com base em

precedentes desta Terceira Turma, onde se entendeu que a correção monetária

deveria ser aplicada em consonância com a regra contratual previamente

entabulada entre as partes.

Por fi m, caso não seja acolhido o presente agravo, pondera a recorrente

que somente contra aresto defi nitivo deste Superior Tribunal de Justiça é que

ela terá oportunidade de apresentar recurso extraordinário suscitando a questão

constitucional. Por esse motivo, conclui, a fi m de não ter suprimido seu direito

de acesso ao Supremo Tribunal Federal, requer seja promovido o debate da

matéria sob a ótica constitucional ora ventilada.

É, em síntese, o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Castro Filho (Relator): Versa a hipótese sobre pedido de

restituição de contribuições efetuadas à Caixa de Previdência dos Funcionários

do Banco do Brasil S/A - Previ, tendo sido determinada a restituição dos

valores recolhidos com a aplicação do IPC no cálculo da atualização monetária,

por melhor refl etir a infl ação do período.

Inicialmente, não vislumbro tenha o acórdão hostilizado incorrido nos

vícios apontados, uma vez que a matéria impugnada foi enfrentada de forma

objetiva e fundamentada no julgamento da apelação, não ficando o órgão

julgador obrigado a apreciar um a um os questionamentos suscitados pela parte,

mormente se notório seu propósito de infringência do julgado.

Nesse particular, é de se ter presente que, mesmo para fins de

prequestionamento, seja a questão de índole infraconstitucional ou

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 115-175, agosto 2011 121

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constitucional, a oposição dos embargos não prescindirá do atendimento a um

dos requisitos elencados no artigo 535 do Código de Processo Civil, ou seja, que

remanesça no acórdão obscuridade, omissão ou contradição.

No que diz respeito ao mérito recursal, em que pesem os precedentes

colacionados pela agravante em sentido contrário, inclusive a alegação de

encontrar-se pendente na Corte Especial julgamento de embargos de

divergência, a orientação jurisprudencial mais recente da Seção fi rmou-se no

sentido de que a restituição dos valores recolhidos pelo ex-associado deve se dar

de forma plena, utilizando-se no cálculo da atualização monetária índice que

refl ita a real desvalorização da moeda no período, ainda que outro tenha sido

avençado. Confi ram-se, na esteira desse entendimento, os seguintes julgados:

Embargos de divergência em recurso especial. Previdência privada. Contribuições de beneficiários. Resgate. Correção monetária. Expurgos infl acionários. Inclusão. A correção monetária não se revela em um acréscimo, mas na reposição do valor real da moeda, constituindo, por conseguinte, um imperativo de justiça e de eqüidade. Os valores resgatados pelos participantes de plano de benefícios de previdência privada devem ser corrigidos de acordo com índices de correção monetária que refl itam a real infl ação ocorrida no período, ainda que o estatuto da entidade estabeleça critério de reajuste diverso. (EREsp n. 297.194-DF, DJ 04.02.2002, Relª. Minª. Nancy Andrighi);

Previdência privada. Refer. Competência. Devolução. Correção monetária. Precedentes da Corte.

1. Como assentado em diversos precedentes, a Justiça Estadual é competente para processar e julgar as ações contra a Refer - Fundação da Rede Ferroviária de Seguridade Social.

2. Segundo a orientação fi rmada na 2ª Seção (EREsp n. 264.061-DF, julgado em 22.08.2001), o resgate das contribuições deve ser corrigido de forma plena, incluindo-se os expurgos infl acionários.

3. O IPC de janeiro de 1989 corresponde a 42,72%.

4. Recurso especial conhecido parcialmente e, nessa parte, provido. (REsp n. 299.756-MG, DJ 04.02.2002, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito).

Seguem ainda essa orientação, entre outros, os seguintes precedentes:

AGA n. 435.994-RJ, DJ 30.09.2002 (Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro),

REsp n. 198.033-RJ, DJ 30.09.2002 (Rel. Min. Cesar Asfor Rocha), REsp

n. 330.177-PR, DJ 06.05.2002 (Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar), AGA n.

375.125-DF, DJ 05.11.2001 (Rel. Min. Aldir Passarinho Júnior), REsp n.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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198.604-RJ, DJ 12.02.2001 (Rel. Min. Barros Monteiro), e REsp n. 172.169-

DF, DJ 19.06.2000 (Rel. Min. Nilson Naves).

Forte em tais razões, nego provimento ao agravo.

É o voto.

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 480.071-MG (2002.0130878-0)

Relator: Ministro Carlos Alberto Menezes Direito

Agravante: Postalis Instituto de Seguridade Social dos Correios e Telégrafos

Advogado: Luís Sobreira Soares e outros

Agravado: Raimundo de Souza Prado

Advogado: Lúcio Edison de Oliveira e outro

EMENTA

Agravo regimental. Recurso especial não admitido. Ação de cobrança.

Previdência privada. Diferenças de reserva de poupança. Correção

monetária. Súmula n. 182-STJ.

1. “É inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar especifi camente os fundamentos da decisão agravada” (Súmula n. 182-STJ).

2. Na restituição das parcelas ao associado retirante de plano de previdência privada deve incidir a correção monetária integral, que melhor traduz a perda do poder aquisitivo da moeda, como assentado em precedente da 2ª Seção.

3. Agravo regimental desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 115-175, agosto 2011 123

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unanimidade, negar provimento ao agravo regimental. Os Srs. Ministros Nancy

Andrighi, Castro Filho e Antônio de Pádua Ribeiro votaram com o Sr. Ministro

Relator. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Ari Pargendler.

Brasília (DF), 08 de maio de 2003 (data do julgamento).

Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Relator

DJ 09.06.2003

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Postalis - Instituto de

Seguridade Social dos Correios e Telégrafos ingressa com agravo regimental

inconformado com o despacho de fl s. 235 a 237, no qual neguei provimento ao

agravo de instrumento.

Alega o agravante, em suma, que, “desde o início, vem sustentando a

tese de que aplicou precisamente os índices previstos em seu Regulamento. O

autor nada provou em contrário. Como bem assentou o Recorrente, a relação

mantida entre as partes é, estritamente, de direito privado. Planos de Previdência

complementar obedecem a dispositivos legais. Estes norteiam os regulamentos dessas

instituições. Releva notar que a incidência dos índices pretendidos pelo autor não mais

autorizada em nenhuma Corte do País no presente. O réu e o autor deviam obediência

ao Regulamento do plano de benefícios, que contém as normas aplicáveis à adesão

ao plano de benefícios, ao destino e a manutenção do poder aquisitivo das

contribuições vertidas pelos participantes, através de correção monetária, e às

regras para desligamentos dos planos” (fl s. 244).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito (Relator): O despacho

agravado não merece reforma.

Os seguintes fundamentos do despacho não sofreram qualquer

impugnação:

Inicialmente, com relação à Lei n. 7.777/1989 e ao Decreto n. 81.240/1978, a alegação genérica, sem particularizar os dispositivos tidos por violados bem

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como em que consistiria a ofensa, não dá ensanchas ao processamento do recurso especial.

Com relação ao dispositivo constitucional, descabe ser examinado nesta sede.

No que tange à Portaria n. 289/90 do Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento, por ter natureza de ato administrativo, não cabe sua análise em recurso especial. (fl s. 235-236).

Inatacados os fundamentos do despacho, de rigor a aplicação da Súmula n.

182-STJ, verbis:

É inviável o agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar especifi camente os fundamentos da decisão agravada.

No mais, não se conforma o agravante com a determinação de que a

restituição das parcelas ao associado retirante de plano de previdência seja feita

com a correção monetária integral. Entende o agravante que deve ser observado

o previsto contratualmente. A irresignação, contudo, não pode prosperar ante o

pacífi co entendimento jurisprudencial no mesmo sentido da decisão agravada.

Vejamos:

Previdência privada. Agravo no agravo de instrumento. Ação de conhecimento. Rito ordinário. Contribuições previdenciárias. Devolução. Correção monetária. Aplicação do IPC. Honorários advocatícios. Prequestionamento. Ausência.

- A atualização monetária das contribuições a serem devolvidas ao associado retirante deve ser calculada não com base nos parâmetros estabelecidos pelas partes, mas pelo IPC, por ser o índice que melhor traduz a perda do poder aquisitivo da moeda. Precedente da Segunda Seção: EREsp n. 264.061.

- É inadmissível o recurso especial se resta ausente o prequestionamento do direito tido por violado. (AgRgAg n. 356.564-DF, 3ª Turma, Relatora a Senhora Ministra Nancy Andrighi, DJ de 08.10.2001).

Civil. Previdência complementar. Desligamento do empregado. Devolução da contribuição paga pela empregadora. Descabimento. Resgate das contribuições pessoalmente realizadas. Correção. “Expurgos infl acionários”.

I - Pertence exclusivamente à empresa empregadora a contribuição por ela vertida, como patrocinadora, à entidade de Previdência Complementar. Descabida a pretensão de resgate da aludida parcela pelo ex-empregado.

II - Firmou o Superior Tribunal de Justiça que no caso de desligamento do empregado, a restituição das importâncias com as quais pessoalmente contribuiu à entidade de previdência complementar, deve ser feita com correção monetária

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 115-175, agosto 2011 125

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por fatores de atualização que recomponham a efetiva desvalorização da moeda nacional.

(...)

IV - Recurso especial conhecido e provido em parte. (REsp n. 187.192-DF, 4ª Turma, Relator o Senhor Ministro Aldir Passarinho Junior, DJ de 07.05.2001).

Civil. Previdência complementar. Plano de demissão voluntária.

Desligamento do empregado. Resgate das contribuições pessoalmente realizadas. Correção. “Expurgos infl acionários”.

I - No caso de desligamento do empregado, a restituição das importâncias com as quais pessoalmente contribuiu à entidade de previdência complementar, deve ser feita com correção monetária por fatores de atualização que recomponham a efetiva desvalorização da moeda nacional.

II - Entendimento que fi ca pacifi cado na C. 2ª Seção.

III - Embargos conhecidos e rejeitados. (EREsp n. 264.061-DF, 2ª Seção, Relator o Senhor Ministro Ari Pargendler, Relator p/ Acórdão o Senhor Ministro Aldir Passarinho Junior, DJ de 11.03.2002).

Embargos de divergência em recurso especial. Previdência privada. Contribuições de beneficiários. Resgate. Correção monetária. Expurgos infl acionários. Inclusão.

A correção monetária não se revela em um acréscimo, mas na reposição do valor real da moeda, constituindo, por conseguinte, um imperativo de justiça e de eqüidade.

Os valores resgatados pelos participantes de plano de benefícios de previdência privada devem ser corrigidos de acordo com índices de correção monetária que refl itam a real infl ação ocorrida no período, ainda que o estatuto da entidade estabeleça critério de reajuste diverso. (EREsp n. 297.194-DF, 2ª Seção, Relatora a Senhora Ministra Nancy Andrighi, DJ de 04.02.2002).

Civil e Processual. Recurso especial. Previdência complementar. Plano de demissão voluntária. Desligamento do empregado. Resgate das contribuições. Juros de mora. Acórdão da apelação. Trânsito em julgado. Embargos infringentes. Correção. “Expurgos inflacionários”. IPC. Aplicação até janeiro/1991. Medida provisória n. 294/1991. Lei n. 8.177/1991. INPC. Aplicação de fevereiro a dezembro/1991.

I. Não apresentado recurso especial contra a parte unânime do acórdão que decidiu a apelação, sua interposição após o julgamento dos embargos infringentes é tardia quando àquela visa impugnar. Súmula n. 355-STF.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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II. Firmou o Superior Tribunal de Justiça que no caso de desligamento do empregado, a restituição das importâncias com as quais pessoalmente contribuiu à entidade de previdência complementar, deve ser feita com correção monetária por fatores de atualização que recomponham a efetiva desvalorização da moeda nacional.

III. O índice de correção monetária aplicável até janeiro de 1991 é o IPC, substituído pelo INPC, a partir da edição da Medida Provisória n. 294/1991, posteriormente convertida na Lei n. 8.177/1991, no período de fevereiro a dezembro do mesmo ano.

IV. Pacifi cação do entendimento pela C. 2ª Seção. Precedentes.

V. Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte, provido. (REsp n. 327.392-DF, 4ª Turma, Relator o Senhor Ministro Aldir Passarinho Junior, DJ de 04.02.2002).

Não há falar, portanto, em existência de divergência nesta Corte quanto à

matéria, sendo incidente a Súmula n. 83-STJ.

Nego provimento ao agravo regimental.

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 493.872-PR (2002.0156224-6)

Relator: Ministro Humberto Gomes de Barros

Agravante: Fundação Sistel de Seguridade Social

Advogados: Adriano Madeira Ximenes e outros

Adroaldo José Gonçalves

Agravado: Adir dos Santos Leal e outros

Advogado: Sidnei Machado

EMENTA

Agravo regimental no agravo de instrumento. Ausência de

argumento novo. Prescrição. Tema não prequestionado.

1. Em agravo regimental não se aprecia questão não ventilada em

recurso especial.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 115-175, agosto 2011 127

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2. A correção monetária não traduz acréscimo, mas a reposição

do valor real da moeda, corroído pela infl ação.

Os resgates pelos participantes de plano de benefícios de

previdência privada devem ser corrigidos monetariamente, de acordo

com índices que refl itam a real infl ação ocorrida no período. Nada

importa que o estatuto da entidade estabeleça critério de reajuste

diverso.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça na

conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade,

negar provimento ao agravo regimental. Os Srs. Ministros Carlos Alberto

Menezes Direito, Nancy Andrighi e Castro Filho votaram com o Sr. Ministro

Relator. Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro.

Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito.

Brasília (DF), 16 de dezembro de 2003 (data do julgamento).

Ministro Humberto Gomes de Barros, Relator

DJ 16.02.2004

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros: - Trata-se de agravo

regimental dirigido a decisão proferida nestes termos (fl . 222):

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça consolidou-se no sentido de que a correção monetária deve repor a perda infl acionária, tal qual se verifi ca na leitura do precedente da egrégia Segunda Seção, abaixo transcrito:

Embargos de divergência em recurso especial. Previdência privada. Contribuições de beneficiários. Resgate. Correção monetária. Expurgos infl acionários. Inclusão.

A correção monetária não se revela em um acréscimo, mas na reposição do valor real da moeda, constituindo, por conseguinte, um imperativo de justiça e equidade.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Os valores resgatados pelos participantes de plano de benefícios de previdência privada devem ser corrigidos de acordo com índices de correção monetária que refl itam a real infl ação ocorrida no período, ainda que o estatuto da entidade estabeleça critério de reajuste diverso (EREsp n. 297.194, DF, Relatora a eminente Ministra Nancy Andryghi, DJU 04.02.2002).

Nego, por isso, provimento ao agravo.

O agravante, além de repetir tese já examinada e decidida no agravo de

instrumento, sustenta ainda, a ocorrência de prescrição.

VOTO

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros (Relator): - De início afasto

a questão relativa a ocorrência de prescrição. Em que pese o tema tenha sido

objeto do recurso de apelação, não foi examinado pelo Tribunal a quo e nem foi

questionado nas razões do especial. Assim:

Segundo a jurisprudência do STJ, é vedado à parte inovar em sede de agravo regimental e, buscar apreciar questão que não foi impugnada e nem tratada em recurso especial. (AGA n. 323.595-RS-Humberto).

De outro lado, conforme foi consignado na decisão agravada, o Superior

Tribunal de Justiça pacifi cou orientação a dizer que:

A correção monetária não se revela em um acréscimo, mas na reposição do valor real da moeda, constituindo, por conseguinte, um imperativo de justiça e equidade.

Os valores resgatados pelos participantes de plano de benefícios de previdência privada devem ser corrigidos de acordo com índices de correção monetária que refl itam a real infl ação ocorrida no período, ainda que o estatuto da entidade estabeleça critério de reajuste diverso (EREsp n. 297.194, DF, Relatora a eminente Ministra Nancy Andryghi, DJU 04.02.2002).

No mesmo sentido, lembro ainda, os REsp’s n. 265.050, n. 367.116, n.

434.110, ADREsp n. 392.206 e AGA n. 375.125.

Subsistentes os fundamentos que abortaram o agravo de instrumento,

nega-se provimento ao agravo regimental.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 115-175, agosto 2011 129

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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 495.307-MG (2002.0169078-0)

Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira

Agravante: Instituto de Seguridade Social dos Correios e Telégrafos -

Postalis

Advogado: Edesio Gomes Cordeiro e outros

Agravado: Elian de Souza e outros

Advogado: Roberto Williams Moyses Auad

EMENTA

Agravo interno. Previdência privada. Devolução de contribuições.

Correção monetária. Precedentes.

- Na linha da jurisprudência sedimentada na Segunda Seção

deste Tribunal, EREsp n. 297.194-DF (DJ 04.02.2002), “os valores

resgatados pelos participantes de plano de benefícios de previdência

privada devem ser corrigidos de acordo com índices de correção

monetária que refl itam a real infl ação ocorrida no período, ainda que

o estatuto da entidade estabeleça critério de reajuste diverso”.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental.

Votaram com o Relator os Ministros Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha,

Fernando Gonçalves e Aldir Passarinho Junior. Presidiu a Sessão o Ministro

Aldir Passarinho Junior.

Brasília (DF), 26 de agosto de 2003(data do julgamento).

Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Relator

DJ 29.09.2003

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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EXPOSIÇÃO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: Trata-se de agravo interno manifestado contra decisão assim fundamentada:

Cuida-se de agravo contra decisão que não admitiu o recurso especial interposto contra acórdão assim ementado, no que interessa:

Previdência privada. Legitimidade passiva. Sentença. Nulidade. Devolução das parcelas vertidas pelo participante. Correção monetária. Juros.

[...]

As parcelas vertidas pelo participante de entidade de previdência privada fechada devem ser-lhe devolvidas quando de seu desligamento com correção monetária, tomando-se por base índice que melhor refl ita a desvalorização da moeda, inclusive os denominados “expurgos infl acionários”.

Alega a recorrente dissídio jurisprudencial e contrariedade aos arts. 40, 41 e 42 da Lei n. 6.435/1977.

Desacolho o inconformismo.

À exceção da questão da correção monetária, os fundamentos da decisão agravada permanecem íntegros, à míngua de impugnação.

Ademais, esta Corte já se pronunciou sobre a referida questão, no sentido de que “os valores resgatados pelos participantes de plano de benefícios de previdência privada devem ser corrigidos de acordo com índices de correção monetária que refl itam a real infl ação ocorrida no período, ainda que o estatuto da entidade estabeleça critério de reajuste diverso” (EREsp n. 297.194-DF, 2ª Seção, DJ de 04.02.2002).

No mesmo sentido, confi ra-se o REsp n. 468.402-MG, DJ 12.05.2003, com esta ementa:

Previdência privada. Postalis. Restituição de contribuição. Correção monetária. A correção das parcelas a serem restituídas ao segurado que se retira do plano deve ser feita de modo a refl etir a real desvalorização da moeda. Precedentes.

Pelo exposto, desprovejo o agravo.

Alega o recorrente, em síntese, que nos planos de previdência privada o resgate das reservas de poupança deve obedecer aos índices de correção monetária previstos no contrato e no regulamento da entidade.

É o relatório.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 115-175, agosto 2011 131

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VOTO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira (Relator): Na linha da

jurisprudência sedimentada na Segunda Seção deste Tribunal, EREsp n.

297.194-DF (DJ 04.02.2002), “os valores resgatados pelos participantes de

plano de benefícios de previdência privada devem ser corrigidos de acordo com

índices de correção monetária que refl itam a real infl ação ocorrida no período,

ainda que o estatuto da entidade estabeleça critério de reajuste diverso”.

Confi ra-se, a propósito, a fundamentação do voto condutor do referido

aresto, verbis:

Conforme entendimento assentado nesta Col. Corte de Justiça, a correção monetária não se revela em um acréscimo, mas na reposição do valor real da moeda, constituindo, por conseguinte, um imperativo de justiça e de eqüidade. (...)

Dessa forma, o resgate dos valores recolhidos pelos participantes de plano de benefícios de previdência privada deve considerar índices de correção monetária que refl itam a real infl ação ocorrida no período, ainda que o estatuto da entidade estabeleça critério de reajuste diverso, como no caso em exame, em que se pactuou a incidência do índice utilizado para as cadernetas de poupança.

Impõe-se, por outro lado, examinar se a inclusão dos expurgos infl acionários, com o afastamento do índice de correção monetária estabelecido no estatuto, poderia representar uma descapitalização da entidade e o desequilíbrio no cálculo atuarial.

É certo que, nas entidades de previdência privada, é necessária a preservação do equilíbrio atuarial entre as suas reservas e os compromissos assumidos com os benefi ciários, de forma a não ser possível a assunção de novas obrigações sem a criação de respectivas reservas ou fontes de custeio.

No caso em exame, o que se pretende é a preservação do valor real das contribuições efetuadas pelos benefi ciários e que objetivavam a formação da reserva de poupança destinada ao cumprimento das obrigações assumidas pela entidade.

Compete à entidade, ora embargante, a administração do seu patrimônio e a adequada aplicação das reservas técnicas, fundos especiais e provisões, cabendo-lhe, portanto, zelar pela preservação da reserva de poupança - cuja restituição se pretende no caso - dos efeitos da infl ação.

Assim, considerando que a correção monetária em nada acresce o valor original e que as contribuições dos benefi ciários passaram a integrar o patrimônio administrado pela entidade, configura-se devida, na espécie, a pretendida inclusão dos expurgos infl acionários.

À vista do exposto, desprovejo o agravo.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL N. 278.640-RJ (2000.0096040-3)

Relator: Ministro Ari Pargendler

Agravante: Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil - Previ

Advogado: Walfredo Frederico de Siqueira Cabral Dias e outros

Agravado: Maria de Lourdes Giacomelli e outros

Advogado: Iracema Canabrava Rodrigues Botelho e outros

EMENTA

Previdência privada. Devolução de contribuições. Correção monetária. As contribuições que, nos termos do estatuto da entidade de previdência privada, devem ser devolvidas ao associado que se retira estão sujeitas à correção monetária de acordo com índices que refl itam a infl ação do período. Agravo regimental não provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental. Os Srs. Ministros Carlos Alberto Menezes Direito, Nancy Andrighi e Castro Filho votaram com o Sr. Ministro Relator. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito. Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro.

Brasília (DF), 06 de fevereiro de 2003 (data do julgamento).

Ministro Ari Pargendler, Relator

DJ 04.08.2003

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ari Pargendler: O agravo regimental ataca a seguinte

decisão:

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça consolidou-se no sentido de que a correção monetária deve repor a perda infl acionária, tal qual se verifi ca da leitura do precedente da Egrégia 2ª Seção, abaixo transcrito:

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 115-175, agosto 2011 133

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Embargos de divergência em recurso especial. Previdência privada. Contribuições de beneficiários. Resgate. Correção monetária. Expurgos inflacionários. Inclusão. A correção monetária não se revela em um acréscimo, mas na reposição do valor real da moeda, constituindo, por conseguinte, um imperativo de justiça e de eqüidade. Os valores resgatados pelos participantes de plano de benefícios de previdência privada devem ser corrigidos de acordo com índices de correção monetária que refl itam a real inflação ocorrida no período, ainda que o estatuto da entidade estabeleça critério de reajuste diverso (EREsp n. 297.194, DF, Relatora a eminente Ministra Nancy Andrighi, DJU 04.02.2002).

Ante o exposto, nego seguimento ao recurso especial (fl . 766).

A teor do recurso, in verbis:

Logo, são manifestamente improcedentes os percentuais de expurgos requeridos na exordial, visto que os autores desrespeitam a relação jurídica de natureza contratual e de direito privado, infringindo o disposto no inciso V, do art. 42 da Lei n. 6.435/1977, bem como o § 2º do Decreto n. 81.240/1978 e o art. 5º, XXXVI da CF que garante o ato jurídico perfeito (fl . 777).

E “caso não se compreenda dessa maneira, dado o surgimento da questão constitucional no julgamento do recurso especial, ainda que se decida contrariamente ao princípio do ato jurídico perfeito, requer o recorrente seja ele conhecido, realizando debate explícito acerca da aplicação do princípio do ato jurídico perfeito, com alusão expressa ao princípio e à sua previsão constitucional, do contrário estar-se-á vulnerando o devido processo legal.

Por derradeiro, mantida a decisão ora agravada, em decorrência da necessidade de esclarecimento acerca dos momentos e índices a serem aplicados em eventuais diferenças a serem pagas pela recorrente em decorrência da decisão a ser proferida no presente caso, a Previ requer haja manifestação expressa sobre o tema e, em respeito ao direito adquirido, as diferenças sejam aquelas já fi xadas pelo STF no RE n. 226.855-7-RS” (fl s. 782-783).

VOTO

O Sr. Ministro Ari Pargendler (Relator): O precedente citado na decisão

agravada, EREsp n. 297.194-DF, se encaixa perfeitamente no caso em questão.

Lê-se no voto condutor:

Conforme entendimento assentado nesta Col. Corte de Justiça, a correção monetária não se revela em um acréscimo, mas na reposição do valor real da moeda, constituindo, por conseguinte, um imperativo de justiça e de eqüidade.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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(...)

Dessa forma, o resgate dos valores recolhidos pelos participantes de plano de benefícios de previdência privada deve considerar índices de correção monetária que refl itam a real infl ação ocorrida no período, ainda que o estatuto da entidade estabeleça critério de reajuste diverso, como no caso em exame, em que se pactuou a incidência do índice utilizado para as cadernetas de poupança.

Impõe-se, por outro lado, examinar se a inclusão dos expurgos infl acionários, com o afastamento do índice de correção monetária estabelecido no estatuto, poderia representar uma descapitalização da entidade e o desequilíbrio no cálculo atuarial.

É certo que, nas entidades de previdência privada, é necessária a preservação do equilíbrio atuarial entre as suas reservas e os compromissos assumidos com os benefi ciários, de forma a não ser possível a assunção de novas obrigações sem a criação de respectivas reservas ou fontes de custeio.

No caso em exame, o que se pretende é a preservação do valor real das contribuições efetuadas pelos benefi ciários e que objetivavam a formação da reserva de poupança destinada ao cumprimento das obrigações assumidas pela entidade.

Compete à entidade, ora embargante, a administração do seu patrimônio e a adequada aplicação das reservas técnicas, fundos especiais e provisões, cabendo-lhe, portanto, zelar pela preservação da reserva de poupança - cuja restituição se pretende no caso - dos efeitos da infl ação.

Assim, considerando que a correção monetária em nada acresce o valor original e que as contribuições dos benefi ciários passaram a integrar o patrimônio administrado pela entidade, configura-se devida, na espécie, a pretendida inclusão dos expurgos infl acionários.

Por outro lado, os precedentes colacionados nas razões do agravo regimental

não mais refl etem o entendimento da Turma.

O acórdão, como decidiu, não contrariou o artigo 5º, XXXVI, da

Constituição Federal, porque partes privadas não podem dispor sobre correção

monetária sem que ela refl ita a efetiva perda do valor aquisitivo da moeda.

Quais devam ser esses índices constitui matéria a ser apurada em execução

de sentença, definido apenas que devem ser “considerados os expurgos

infl acionários relativos aos Planos Collor e Verão” (fl . 603).

Voto, por isso, no sentido de negar provimento ao agravo regimental.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 115-175, agosto 2011 135

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AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL N. 487.824-RJ (2002.0163426-0)

Relator: Ministro Antônio de Pádua Ribeiro

Agravante: Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil - Previ

Advogados: Christina Aires Corrêa Lima e outros

Sérgio Murilo Santos Campinho e outros

Walfredo Frederico de Siqueira Cabral Dias e outros

Agravado: Cleude Maria dos Santos Souza e outros

Advogado: Ronidei Guimarães Botelho e outros

EMENTA

Entidade de previdência privada. Contribuições. Devolução.

Correção monetária.

I. - Firmou-se a jurisprudência da Segunda Seção no sentido

de que a restituição das contribuições efetivadas para entidade de

previdência complementar deve ser feita com correção monetária,

mediante índice que traduza a efetiva desvalorização da moeda

nacional.

II. - Agravo regimental desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por

unanimidade, negar provimento ao agravo regimental.

Os Srs. Ministros Humberto Gomes de Barros, Carlos Alberto Menezes

Direito, Nancy Andrighi e Castro Filho votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 10 de fevereiro de 2004 (data do julgamento).

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente e Relator

DJ 08.03.2004

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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RELATÓRIO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: A Caixa de Previdência dos

Funcionários do Banco do Brasil - Previ interpõe o presente agravo regimental

contra decisão que, com base em precedentes desta Corte, conheceu e proveu

parcialmente recurso especial. A decisão agravada se encontra assim ementada:

Entidade de previdência privada. Contribuição. Devolução. Correção monetária. Contribuições patronais.

I - Firmou-se a jurisprudência da Segunda Seção no sentido de que a restituição das contribuições efetivadas para entidade de previdência complementar deve ser feita com correção monetária, mediante índice que traduza a efetiva desvalorização da moeda nacional.

II. - As contribuições vertidas pela empregadora, como patrocinadora, a ela pertencem, sendo descabida a pretensão de resgate das respectivas parcelas por ex-empregados. Precedentes.

III. - Recurso especial conhecido e provido parcialmente (fl . 893).

Afirma a agravante, em resumo, que a matéria referente à correção

monetária dos valores resgatados deve obedecer à forma prevista no regulamento

da entidade de previdência privada, conforme já foi decidido pela 3ª Turma e

pela 1ª Seção deste Tribunal.

Alega que, em respeito ao princípio do “pacta sunt servanda”, os índices

previstos no estatuto da entidade são os que devem ser aplicados na correção

monetária, sob pena de contrariedade ao ato jurídico perfeito, previsto no art. 5º,

XXXVI, da Constituição Federal.

Por manter a decisão agravada, trago o feito a julgamento.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): Na parte ora agravada,

a decisão se encontra assim redigida:

A matéria referente à correção monetária de importâncias resgatadas por associado de previdência privada, quando do seu desligamento, já foi reiteradamente decidida por ambas as Turmas que compõem a colenda Segunda Seção, competente para decidir a controvérsia, no sentido de que é devida a

SÚMULAS - PRECEDENTES

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correção por fatores de atualização que recomponham a efetiva desvalorização da moeda nacional.

Vejam-se, entre outras, as seguintes ementas:

Previdência privada. Retirada de associado. Correção monetária. IPC.

A devolução das contribuição efetuadas pelo associado deverá ser calculada por índice que refl ita a realidade da infl ação.

Recurso conhecido e provido em parte para deferir o uso do IPC, sendo no quantitativo de 42,72% em janeiro de 1989.

(REsp n. 264.061-DF, rel. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ de 18.12.2000).

Previdência privada. Contribuições (devolução). Correção monetária.

É devida a correção real, de modo que, relativamente aos indicados meses de 1987, 1989, 1990 e 1991, corrige-se pelo IPC. Quanto a janeiro de 1989, há de se proceder à correção pelo índice de 42,72%.

Recurso especial conhecido pelo dissídio e provido.

(REsp n. 172.169-DF, rel. Ministro Nilson Naves, DJ de 19.06.2000).

Plano de previdência privada. Desligamento. Resgate das contribuições. Cabimento. Correção monetária. IPC. Janeiro de 1989. IPC de 42,72%.

- A atualização monetária das contribuições a serem devolvidas ao associado retirante deve ser calculada não com base nos parâmetros estabelecidos pelas partes, mas pelo IPC, por ser o índice que melhor traduz a perda do poder aquisitivo da moeda. Precedentes.

- A Corte Especial decidiu que o índice que refl ete a real infl ação do mês de janeiro de 1989 é o IPC de 42,72% (REsp n. 43.055-SP, Relator o eminente Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ de 20.02.1995).

- Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido.

(REsp n. 265.050-DF, rel. Ministro Cesar Asfor Rocha, DJ de 19.03.2001).

Civil. Previdência complementar. Desligamento do empregado. Devolução da contribuição paga pela empregadora. Descabimento. Resgate das contribuições pessoalmente realizadas. Correção. “Expurgos infl acionários”.

I - Pertence exclusivamente à empresa empregadora a contribuição por ela vertida, como patrocinadora, a entidade de Previdência Complementar. Descabida a pretensão de resgate da aludida parcela pelo ex-empregado.

II - Firmou o Superior Tribunal de Justiça que no caso de desligamento do empregado, a restituição das importâncias com as quais pessoalmente contribuiu à entidade de previdência complementar, deve ser feito com

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correção monetária por fatores de atualização que recomponham a efetiva desvalorização da moeda nacional.

III - O IPC em janeiro de 1989 obedece ao percentual de 42,72% (Precedente: REsp n. 43.055-0-SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJU de 20.02.1995).

IV - Recurso especial conhecido e provido em parte.

(REsp n. 187.192-DF, rel. Ministro Aldir Passarinho Júnior, DJ de 07.05.2001).

Entidade de previdência privada. Contribuições. Devolução. Correção monetária.

I - Firmou-se a jurisprudência da Segunda Seção no sentido de que a restituição das contribuições efetivadas para entidade de previdência complementar deve ser feita com correção monetária, mediante índice que traduza a efetiva desvalorização da moeda nacional.

II - Agravo regimental desprovido

(De minha relatoria, DJ de 15.10.2001).

É o que ficou decidido, também, no julgamento do EREsp n. 297.194-DF, julgado em 19.09.2001, publicado no DJ de 04.02.2002.

É devida, portanto, a correção monetária, que deve ser feita pelo IPC. Quanto à de janeiro de 1989, há de se proceder à correção pelo índice de 42,72% (Corte Especial, REsp n. 43.055-SP, DJ de 19.12.1995) (fl s. 896-897).

Portanto, a matéria, no âmbito da 2ª Seção, competente para apreciá-la,

já está pacifi cada, no sentido de que a restituição no sentido de que é devida a

correção por fatores de atualização que recomponham a efetiva desvalorização

da moeda nacional.

Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 264.061-DF (2001.0024213-8)

Relator: Ministro Ari Pargendler

Relator para o acórdão: Ministro Aldir Passarinho Junior

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 115-175, agosto 2011 139

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Embargante: Regius Sociedade Civil de Previdência Privada

Advogado: Heldofranio Manoel Cipriano Guimarães e outros

Embargado: Evandro Cortes do Prado

Advogado: Raimundo da Cunha Abreu e outro

EMENTA

Civil. Previdência complementar. Plano de demissão voluntária. Desligamento do empregado. Resgate das contribuições pessoalmente realizadas. Correção. “Expurgos infl acionários”.

I - No caso de desligamento do empregado, a restituição das importâncias com as quais pessoalmente contribuiu à entidade de previdência complementar, deve ser feito com correção monetária por fatores de atualização que recomponham a efetiva desvalorização da moeda nacional.

II - Entendimento que fi ca pacifi cado na C. 2ª Seção.

III - Embargos conhecidos e rejeitados.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer dos embargos e, por maioria os rejeitar, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Foram votos vencedores os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior, Sálvio de Figueiredo Teixeira, Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Barros Monteiro. Vencidos os Srs. Ministros Relator, Carlos Alberto Menezes Direito, Castro Filho e Antônio de Pádua Ribeiro. Impedida a Srª. Ministra Nancy Andrighi.

Lavrará acórdão o Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior.

Custas, como de lei.

Brasília (DF), 22 de agosto de 2001 (data do julgamento).

Ministro Barros Monteiro, Presidente

Ministro Aldir Passarinho Junior, Relator para o acórdão

DJ 11.03.2002

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ari Pargendler: Evandro Côrtes do Prado propôs ação

ordinária contra Regius - Sociedade Civil de Previdência Privada (fl . 02-13, 1º

vol.).

O MM. Juiz de Direito Dr. José de Aquino Perpétuo julgou improcedente

o pedido (fl. 214-221, 2º vol.), e a sentença foi confirmada pela Egrégia

Quinta Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, Relatora a

Desembargadora Ana Maria Amarante, nos termos do acórdão assim ementado:

Processual Civil. Entidade fechada de previdência privada. Contribuições dos associados. Índices de correção aplicáveis. Cuidando-se de entidade fechada de previdência privada, que não opera como instituição fi nanceira, as restituições de contribuições aos associados desligantes devem ser atualizadas segundo os índices contratualmente previstos e de acordo com o Estatuto próprio (fl . 2.788, 2º vol.).

A Egrégia Quarta Turma, Relator o Ministro Ruy Rosado de Aguiar,

conheceu e deu provimento ao recurso especial em acórdão de seguinte ementa:

Previdência privada. Retirada de associado. Correção monetária. IPC. A devolução das contribuições efetuadas pelo associado deverá ser calculada por índice que refl ita a realidade da infl ação. Recurso conhecido e provido em parte para deferir o uso do IPC, sendo no quantitativo de 42,72% em janeiro de 1989 (fl . 436, 3º vol.).

Os presentes embargos de divergência atacam o julgado à base do acórdão

proferido pela Egrégia Terceira Turma, Relator o Ministro Menezes Direito,

com esta ementa:

Entidade de previdência privada. Resgate. Índice de correção monetária. 1. Tendo a entidade de previdência privada aplicado o fator de atualização previsto nos estatutos, não é possível rever os cálculos para buscar o índice que melhor refl ita a infl ação dos diversos períodos. O que basta, no caso, é saber se a entidade aplicou, efetivamente, o índice de atualização estipulado; se aplicou, como afi rma o acórdão recorrido, não tem guarida, sob pena de desequilíbrio no cálculo atuarial, buscar a atualização pela adoção de índices mais próximos da chamada infl ação real. 2. Recurso conhecido e improvido (fl . 451).

Sem contra-razões (fl . 472-verso).

SÚMULAS - PRECEDENTES

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VOTO

O Sr. Ministro Ari Pargendler (Relator): “Cuidam os autos” - está dito no acórdão proferido pelo Tribunal a quo – “de pedido formulado por ex-empregado do Banco de Brasília S/A que teve seu contrato de trabalho rescindido em virtude de adesão a programa de demissão incentivada em razão da qual recebeu 100% (cem por cento) das contribuições à Regius. Alega que observou não ter sido atendido o disposto no art. 12, I, do Estatuto da Regius c.c. a Lei n. 6.435/1977, regulamentada pelo D. n. 81.240/1978, em relação às prestações devolvidas relativas aos meses de junho/1987, janeiro/1989, março/1990, abril/1990, maio/1990, de fevereiro/1991 e março/1991, sobre os quais deveria incidir o IPC.

A controvérsia, segundo a jurisprudência reinante neste col. TJDF, deve ser solucionada segundo o ajustado entre as partes no contrato. E, nesse passo, a pretensão do autor defi nitivamente não merece acolhida. Como bem anotou a em. Des. Maria Beatriz Parrilha ao relatar a APC n. 43.107/96:

Se o regulamento da Entidade Privada prevê o resgate das contribuições pessoais dos participantes, quando se retirarem do plano, a correção do valor resgatado há de ser feita na forma prevista no Estatuto. No caso, o Estatuto prevê correção monetária pelos mesmos índices utilizados para a correção dos depósitos de poupança, de modo que estes prevalecem, ainda que não retratem a real infl ação de determinado período. Não pode o segurado pretender eleger unilateralmente um índice que entende ser-lhe mais favorável nem pretender que a entidade de previdência privada responda pelo expurgo da infl ação.

De fato, a questão da devolução das prestações não pode ser vista apenas pela ótica individualista do apelante. A adesão à Regius lhe trouxe benefícios dos quais usufruiu em toda a plenitude e ainda teve toda a contribuição de volta. A correção destas importâncias - enfatize-se - deve atender ao estabelecido no contrato, já que as normas invocadas não se aplicam à espécie” (fl . 294-295, 2º vol.).

Salvo melhor juízo, essa é a melhor solução para a espécie.

Voto, por isso, no sentido de conhecer dos embargos de divergência e de dar-lhes provimento para restabelecer a autoridade do acórdão proferido pelo Tribunal a quo.

VOTO VENCIDO (EM PARTE)

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Senhor Presidente,

temos sempre decidido considerar o que está disposto nos estatutos da entidade

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de previdência privada. Se a parte fi rma contrato com a entidade já sabendo,

de acordo com os estatutos, qual o índice de correção que será utilizado e,

normalmente, tais entidades estabelecem o índice ofi cial, não me parece razoável

que, no pedido de devolução, seja dado além daquilo que foi contratado, além do

que está previsto no estatuto da entidade de previdência privada, ou seja, neste

caso, não se cuida de uma relação em que se procure a infl ação dita real, mas,

sim, saber qual o cálculo adotado pela entidade de previdência privada quando

efetivou o contrato para tal. Se desequilibrarmos esse cálculo, evidentemente,

a meu sentir, com todo o respeito àqueles que entendem em sentido contrário,

estaremos gerando uma total distorção na própria entidade, em prejuízo

daqueles que são dela benefi ciários.

Com essas razões, Senhor Presidente, acompanho o voto do eminente

Ministro Ari Pargendler, conhecendo dos embargos de divergência e acolhendo-

os.

VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: - Sr. Presidente, o entendimento

da Quarta Turma é no sentido de que, como se trata tão-somente da

recomposição da efetiva expressão econômica da moeda defasada pela infl ação,

há que se restituir a importância paga com a inclusão dos chamados expurgos

infl acionários.

Farei a juntada do voto que proferi no Recurso Especial n. 167.038-DF, do

qual fui Relator, no sentido de que a correção monetária deve ser plena.

Rogando vênia ao eminente Ministro-Relator, conheço dos embargos de

divergência, mas rejeito-os.

É como voto.

ANEXO

VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior (Relator): - Discute-se no presente

recurso especial, interposto pelas letras a e c do art. 105, III, da Constituição

Federal, sobre a forma de atualização monetária das parcelas resgatadas

por participante de previdência complementar (Previ), que se desligou

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 115-175, agosto 2011 143

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voluntariamente do Banco do Brasil S.A, atendendo a plano de demissão

daquela instituição.

No tocante à omissão do aresto a quo, com violação ao art. 535, I e II, do

CPC, tenho que ela não ocorre.

De efeito, as questões alusivas às Cartas Circulares que tratavam dos

índices de atualização e do percentual da restituição, em relação à data do

desligamento da autora, foram examinadas amplamente pelo Tribunal de

Justiça, como se infere às fl s. 293-296 e 309-317, apenas que com conclusão

desfavorável à recorrente, nada mais, o que não é motivo para nulifi cação do

decisum, em absoluto.

No mérito, a matéria já foi objeto de discussão no Superior Tribunal de

Justiça, que em diversos precedentes concluiu pela procedência da vindicação do

autor, porquanto a correção monetária nada mais é do que a mera recomposição

econômica da moeda corroída pela infl ação, de sorte que deve ser feita de modo

a representar, o mais fi elmente possível, tal critério.

Nesse sentido pode-se citar, dentre muitos outros, os seguintes arestos,

litteris:

Recurso especial. Processual Civil. Lei Federal. Ofensa não confi gurada. Plano de previdência privada. Desligamento. Resgate das contribuições. Cabimento. Parcelas pagas pela empresa patrocinante. Descabimento da restituição. Correção monetária. Janeiro de 1989. IPC de 42,72%.

- Ofensa aos artigos 458, II, 165 e 535, I e II do CPC não confi gurada.

- “Não é possível devolver o que não foi desembolsado pelo empregado. A devolução, efetivamente, só pode alcançar a parte que foi paga pelo empregado demitido e que interrompe o sistema de aposentadoria complementar. No caso, não se pode falar de salário indireto, à medida que o ingresso no plano é facultativo e que a poupança destina-se a uma complementação do valor da aposentadoria, para isso concorrendo o empregado diretamente, por sua livre e espontânea vontade” (REsp. n. 157.993-DF, Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, DJ de 17.05.1999).

- A Corte Especial decidiu que o índice que refl ete a real infl ação do mês de janeiro de 1989 é o IPC de 42,72% (REsp n. 43.055-SP, Relator o eminente Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ de 20.02.1995).

- Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido.

(4ª Turma, REsp n. 148.902-RJ, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, por maioria, DJU de 04.09.2000).

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Previdência privada. Previ. Devolução de contribuições. Correção monetária integral.

O associado que se retira da entidade previdenciária porque demitido do Banco do Brasil, tem o direito de receber a restituição das contribuições vertidas em seu favor, devidamente corrigidas por índices que revelam a realidade da desvalorização da moeda.

Recurso não conhecido.

(4ª Turma, REsp n. 254.006-DF, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, unânime, DJU de 11.09.2000).

Previdência privada. Contribuições (devolução). Correção monetária.

É devida a correção real, de modo que, relativamente aos indicados meses de 1987, 1989, 1990 e 1991, corrige-se pelo IPC. Quanto a janeiro de 1989, há de se proceder à correção pelo índice de 42,72%.

Recurso especial conhecido pelo dissídio e provido.

(3ª Turma, REsp n. 172.169-DF, Rel. Min. Nilson Naves, por maioria, DJU de 19.06.2000).

Civil. Previdência complementar. Plano de demissão voluntária. Desligamento do empregado. Resgate das contribuições pessoalmente realizadas. Correção. “Expurgos infl acionários”.

I. Firmou o Superior Tribunal de Justiça que no caso de desligamento do empregado, a restituição das importâncias com as quais pessoalmente contribuiu à entidade de previdência complementar, deve ser feito com correção monetária por fatores de atualização que recomponham a efetiva desvalorização da moeda nacional.

II. Redução do IPC em janeiro de 1989 ao percentual de 42,72% (Precedente: REsp n. 43.055-0-SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJU de 20.02.1995).

III. Recurso especial conhecido e provido em parte.

(4ª Turma, REsp n. 219.677-RJ, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, unânime, DJU de 12.02.2001).

Acontece, porém, que o índice relativo a janeiro de 1989 é de apenas

42,72%, conforme entendimento da Corte Especial do STJ, a partir do leading

case no REsp n. 43.005-SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJU de

20.02.1995.

Quanto ao índice aferido em março/1991 em 11,79%, adoto-o como

INPC e não IPC, apurado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografi a e

Estatística, conforme disposto no art. 4º da Lei n. 8.177/1991.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 115-175, agosto 2011 145

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Ante o exposto, conheço do recurso especial e dou-lhe parcial provimento,

para conceder a correção monetária dos valores devidos, levando-se em conta o

IPC de junho/1987 (26,06%), janeiro/1989 (42,72%), março/1990 (84,32%),

abril/1990 (44,80%), maio/1990 (7,87%), fevereiro/1991 (21,87%) e pelo INPC

de março/1991 (11,79%), deduzidos os índices já aplicados, apenas com a

fi xação do percentual de janeiro de 1989 em 42,72%.

É como voto.

VOTO VENCIDO (EM PARTE)

O Sr. Ministro Castro Filho: - Sr. Presidente, com a devida vênia do Sr.

Ministro Aldir Passarinho Junior, acompanho o voto do Sr. Ministro-Relator,

conhecendo dos embargos de divergência e acolhendo-os.

VOTO VENCIDO (EM PARTE)

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Sr. Presidente, estive refl etindo

sobre o tema e convenci-me - aliás, quando retornei à Turma, a divergência já

ocorria na Seção - pelo julgado da Terceira Turma, porque se trata de entidade

de previdência privada. Mesmo que o índice previsto no estatuto não refl ita a

real infl ação, não causará maior problema, no sentido de que a empresa fi cará

melhor capitalizada, inclusive, talvez constasse de seus planos atuariais, sendo

uma garantia de bom funcionamento da própria empresa, pagando o que foi

convencionado, ainda que ocorra uma certa defasagem, porque resulta em

benefício do todo, em benefício da solidez da empresa.

Tendo em vista essas peculiaridades, peço vênia para acompanhar

o eminente Ministro-Relator, conhecendo dos embargos de divergência e

acolhendo-os.

VOTO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: Com a devida vênia,

acompanho o voto divergente do Ministro Aldir Passarinho Júnior, conhecendo

dos embargos, mas os rejeitando.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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VOTO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Sr. Presidente, com a devida vênia do Sr. Ministro-Relator, acompanho o voto divergente do Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior, conhecendo dos embargos de divergência, mas rejeitando-os, nos termos dos votos proferidos em julgamentos da Quarta Turma.

VOTO-MÉRITO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Sr. Presidente, pelos fundamentos expostos pelo Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, data venia, acompanho a divergência, conhecendo dos embargos de divergência, mas rejeitando-os.

VOTO DE DESEMPATE

O Sr. Ministro Barros Monteiro (Presidente): Srs. Ministros, nos termos do que já tem decidido a Quarta Turma em inúmeros precedentes, alguns dos quais, inclusive, de que fui Relator, acompanho a divergência, conhecendo dos embargos, mas rejeitando-os, na linha do voto do Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 287.954-DF (2002.0029212-9)

Relator: Ministro Ruy Rosado de Aguiar

Embargante: Guilherme Fernando Scandelai e outros

Advogado: José Carlos de Almeida e outro

Embargado: Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil - Previ

Advogado: Luiz Antônio Borges Teixeira e outros

EMENTA

Previdência privada. Extinção do contrato de trabalho.

Contribuições. Devolução. Correção monetária.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 115-175, agosto 2011 147

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- A correção monetária das contribuições vertidas pelo

empregado e que lhe serão devolvidas em razão da extinção do

contrato de trabalho e desligamento da entidade de previdência devem

ser corrigidas por índices que refl itam a realidade da desvalorização da

moeda, desde quando feito o recolhimento, e não apenas depois de

extinto o contrato de trabalho. Precedentes da Segunda Seção.

- Embargos de divergência acolhidos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda

Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, acolher os embargos de divergência,

nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Os Srs. Ministros Ari Pargendler,

Carlos Alberto Menezes Direito, Aldir Passarinho Junior, Castro Filho, Antônio

de Pádua Ribeiro, Sálvio de Figueiredo Teixeira e Cesar Asfor Rocha votaram

com o Sr. Ministro-Relator. Impedida a Sra. Ministra Nancy Andrighi.

Brasília (DF), 23 de outubro de 2002 (data do julgamento).

Ministro Barros Monteiro, Presidente

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Relator

DJ 09.12.2002

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Guilherme Fernando Scandelai

e outros opuseram embargos de divergência ao r. acórdão da egrégia Terceira

Turma, que deu provimento em parte ao recurso especial interposto pela Caixa

de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil - Previ, em acórdão assim

ementado:

Previdência privada. Devolução da contribuição patronal. Pecúlio. Precedentes da Corte.

1. Assentou a Corte que não cabe a devolução da contribuição feita pelo empregador, porque só é possível devolver o que foi desembolsado pelo empregado.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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2. A correção monetária, como alinhado em precedentes da Corte, é devida na forma prevista no regulamento da entidade de previdência privada. “A correção até o efetivo pagamento, após o encerramento do contrato de trabalho e o último pagamento feito pelo segurado, segue as regras comuns”.

3. No caso, o sistema de pecúlios integra-se ao sistema de previdência privada, não havendo razoabilidade em vedar a sua restituição, havendo enriquecimento sem causa da entidade de previdência privada se tal não ocorrer.

4. Recurso especial conhecido e provido, em parte (fl . 1.190).

Nos embargos declaratórios, a mesma tese foi reafi rmada:

Embargos de declaração. Recurso especial. Omissão, obscuridade e contradição inexistentes.

1. Tratando-se de entidade de previdência privada, decidiu-se no acórdão que as cotas patronais não poderiam ser objeto de devolução porque não desembolsadas pelos empregados, sendo certo que a correção monetária, na linha da jurisprudência da Turma, deve obedecer ao que foi estabelecido no regulamento respectivo.

2. Não havendo defeito qualquer a ser sanado, os declaratórios não têm condições de acolhimento.

3. Embargos de declaração rejeitados (fl . 1.209).

Segundo os embargantes, o entendimento da egrégia Terceira Turma

diverge do que foi decidido pela Quarta Turma no REsp n. 299.425-RJ, no

sentido de que as contribuições a serem devolvidas devem ser reajustadas por

índices que recomponham a efetiva desvalorização da moeda, tomando-se por

base o IPC:

Previdência privada. Previ. Contribuições. Devolução.

- Segundo o entendimento majoritário, o associado que se desliga da empregadora não tem o direito de receber as contribuições feitas pela empresa à entidade previdenciária. Ressalva do relator.

- A Segunda Seção pacifi cou o entendimento de que as contribuições feitas pelo empregado e associado devem ser devolvidas, quando de sua demissão, com a devida correção, por índices que refl itam a realidade da desvalorização da moeda.

Recurso conhecido em parte e provido.

Constou do voto do Relator: “(...) (b) a atualização monetária das

contribuições a serem devolvidas deve ser feita de acordo com índices aceitos no

SÚMULAS - PRECEDENTES

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Tribunal para a liquidação judicial, de modo a refl etir a real desvalorização da

moeda, e não nos termos determinados no contrato”.

Os embargos não foram impugnados.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Relator): O recurso de embargos

de divergência propõe a questão relacionada com o critério a ser adotado

para a correção monetária da importância a restituir ao associado da entidade

previdenciária em caso de rescisão do contrato de trabalho e desligamento da

entidade.

Nos termos do r. acórdão embargado, a correção das contribuições vertidas

pelo associado deve ser feita pelo índice estabelecido no contrato até a data da

extinção do contrato de trabalho; a partir daí, de acordo com os critérios comuns

de correção monetária. Transcrevo trecho do voto proferido no julgamento do

especial:

O segundo ponto é sobre a indevida devolução das cotas patronais. E aqui tem toda razão a recorrente, na linha de precedentes da Corte. De fato, esta Turma já assentou “que não é possível devolver o que não foi desembolsado pelo empregado, com o que a devolução só alcança a parte que foi paga” (REsp n. 222.852-GO, da minha relatoria, DJ de 08.03.2000; no mesmo sentido: AgRgAg n. 164.424-RJ, Relator o Senhor Ministro Nilson Naves, DJ de 22.02.1999; REsp n. 187.194-DF, Relator o Senhor Ministro Ari Pargendler, DJ de 08.05.2000; REsp n. 173.599-DF, Relator o Senhor Ministro Waldemar Zveiter, DJ de 29.11.1999). Merece aqui, portanto, conhecido e provido o especial.

O terceiro ponto é sobre a correção monetária. Anota o especial que a ré aplicou corretamente os índices de correção monetária, conforme determina não apenas o contrato, mas, também, a legislação incidente. Sustenta que a ré “adotou, nesse período, os seguintes indexadores de correção da reserva de poupança das contribuições pessoais: de março/1980 até janeiro/1989, a variação da ORTN/OTN; de fevereiro/1989 a janeiro/1991, a variação do BTN; de fevereiro/1991 a junho/1994, a variação da TR; e a partir de julho/1994, o IPC-r”. Assere, também, que o critério “tão-somente observou alteração estatutária que conferiu, em 31.05.1993, nova redação ao já citado item I do art. 3º do Regulamento de Contribuições e Benefícios do Plano de Aposentadoria e Pensões, explicitando os índices de correção monetária a serem utilizados em caso de possível extinção da ORTN”, mencionando a Carta Circular n. 95/11, de 12.09.1995. Aqui, também,

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a meu sentir, tem razão a recorrente, contudo, em parte, como se verá. Já decidiu a Corte que a “correção monetária é devida na forma prevista no regulamento da entidade de previdência privada” (REsp n. 170.586-DF, Relator o Senhor Ministro Waldemar Zveiter, DJ de 03.04.2000). Neste precedente, ficou anotado que “a devolução será feita de acordo com as normas da entidade de previdência privada. Agora, o período que deixou de pagar espontaneamente será corrigido pelas regras comuns”. Desse modo, a “correção até o efetivo pagamento, após o encerramento do contrato de trabalho e o último pagamento feito pelo segurado, segue as regras comuns” (fl s. 1.186-1.187).

Já o entendimento esposado pela Quarta Turma é em parte divergente,

pois garante a correção monetária por índices que refl itam a infl ação, aplicados

desde quando efetivada a contribuição pelo empregado, único modo de se

garantir a exata devolução daquilo com que o empregado contribuiu:

Civil. Previdência complementar. Plano de demissão voluntária. Desligamento do empregado. Resgate das contribuições pessoalmente realizadas. Correção. “Expurgos infl acionários”.

I - No caso de desligamento do empregado, a restituição das importâncias com as quais pessoalmente contribuiu à entidade de previdência complementar, deve ser feito com correção monetária por fatores de atualização que recomponham a efetiva desvalorização da moeda nacional.

II - Entendimento que fi ca pacifi cado na C. 2ª Seção.

III - Embargos conhecidos e rejeitados (EREsp n. 264.061-DF, 2ª Seção, rel. o em. Min. Ari Pargendler, rel. p/ acórdão o em. Min. Aldir Passarinho Junior, DJ 11.03.2002).

Previdência privada. Retirada de associado. Correção monetária. IPC.

A devolução das contribuições efetuadas pelo associado deverá ser calculada por índice que refl ita a realidade da infl ação.

Recurso conhecido e provido em parte para deferir o uso do IPC, sendo no quantitativo de 42,72% em janeiro de 1989 (REsp n. 264.061-DF, 4ª Turma, de minha relatoria, DJ 18.12.2000).

Tenho que a divergência fi cou bem demonstrada, por isso, conheço dos

embargos.

Deles conhecendo, dou-lhes provimento, seguindo a orientação adotada

na Quarta Turma, que está de acordo com a antiga orientação deste Tribunal

de deferir aos contratantes, aos credores de um modo geral, aos débitos judiciais

índice que reflita a realidade da desvalorização da moeda, único meio de

garantir a manutenção do valor real das importâncias devidas. Caso seja feita a

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correção por índice que refl ita a infl ação apenas a partir da extinção do contrato

de trabalho, fi cará sem a devida atualização - uma vez que usados índices

expurgados - todo o período que durou a relação de emprego, aumentando

o prejuízo do empregado na medida em que maior foi a sua estabilidade no

emprego. No momento em que perde o emprego e a garantia que lhe assegurava

a entidade de previdência privada, o empregado se retira com menos do que

contribuiu, - e esse menos é sabidamente de percentual muito expressivo -, para

deixar com a entidade bilionária aquilo que corresponde à real valorização do

seu crédito. Certamente que os cálculos atuariais da entidade de previdência não

se fundamentam na devolução a menor a ser paga aos associados que se retiram.

Por isso, a regra estatutária poderia ser mantida se refl etisse um critério

seguro, entre outros muitos, para a conservação do valor das contribuições

a serem devolvidas. Quando isso não acontece, pois os critérios adotados

para a época são expressivamente prejudiciais ao associado, devem eles ser

abandonados, para que se garanta a real valorização das importâncias vertidas

durante todo o período.

Posto isso, com a devida vênia, acolho os embargos.

É o voto.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 297.194-DF (2001.0070009-7)

Relatora: Ministra Nancy Andrighi

Embargante: Regius Sociedade Civil de Previdência Privada

Advogado: Eduardo Panzolini e outro

Embargado: Clauberto Pereira Conceição e outros

Advogado: Clóvis Ferreira de Morais e outro

EMENTA

Embargos de divergência em recurso especial. Previdência

privada. Contribuições de benefi ciários. Resgate. Correção monetária.

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Expurgos infl acionários. Inclusão.

A correção monetária não se revela em um acréscimo, mas na

reposição do valor real da moeda, constituindo, por conseguinte, um

imperativo de justiça e de eqüidade.

Os valores resgatados pelos participantes de plano de benefícios

de previdência privada devem ser corrigidos de acordo com índices de

correção monetária que refl itam a real infl ação ocorrida no período,

ainda que o estatuto da entidade estabeleça critério de reajuste diverso.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda

Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas constantes dos autos, por unanimidade, conhecer dos embargos,

mas os rejeitar nos termos do voto da Sra. Ministra-Relatora. Votaram com a

Relatora os Srs. Ministros Castro Filho, Antônio de Pádua Ribeiro, Sálvio de

Figueiredo Teixeira, Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar, Ari Pargendler,

Carlos Alberto Menezes Direito e Aldir Passarinho Junior.

Brasília (DF), 12 de setembro de 2001 (data do julgamento).

Ministro Barros Monteiro, Presidente

Ministra Nancy Andrighi, Relatora

DJ 04.02.2002

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Nancy Andrighi: Cuida-se de Embargos de Divergência

opostos por Regius Sociedade Civil de Previdência Privada contra acórdão da

Col. Quarta Turma deste Tribunal, que deu provimento ao Recurso Especial

interposto, com fundamento no art. 105, III, letras a e c, da Constituição

Federal, contra acórdão proferido em ação de conhecimento em que se pretende

o pagamento das diferenças decorrentes da incidência do IPC na correção

monetária dos valores resgatados por participantes de plano de benefícios de

previdência privada em razão de rompimento de contrato de trabalho fi rmado

com o Banco de Brasília S/A.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 115-175, agosto 2011 153

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O acórdão embargado está assim ementado:

Civil. Previdência complementar. Demissão. Desligamento do empregado. Resgate das contribuições pessoalmente realizadas. Correção. “Expurgos infl acionários”.

I. Firmou o Superior Tribunal de Justiça que no caso de desligamento do empregado, a restituição das importâncias com as quais pessoalmente contribuiu à entidade de previdência complementar, deve ser feito com correção monetária por fatores de atualização que recomponham a efetiva desvalorização da moeda nacional.

II. IPC em janeiro de 1989 no percentual de 42,72% (Precedente: REsp n. 43.055-0-SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJU de 20.02.1995).

III. Recurso especial conhecido e provido.

Sustenta o embargante divergência com acórdão proferido pela egrégia

Terceira Turma deste Tribunal, por ocasião do julgamento do REsp n. 167.338,

e que restou ementado nos seguintes termos:

Entidade de previdência privada. Resgate. Índice de correção monetária.

1. Tendo a entidade de previdência privada aplicado o fator de atualização previsto nos estatutos, não é possível rever os cálculos para buscar o índice que melhor refl ita a infl ação dos diversos períodos. O que basta, no caso, é saber se a entidade aplicou, efetivamente, o índice de atualização estipulado; se aplicou, como afi rma o acórdão recorrido, não tem guarida, sob pena de desequilíbrio no cálculo atuarial, buscar a atualização pela adoção de índices mais próximos da chamada infl ação real.

2. Recurso conhecido e provido.

Admitidos os embargos, foram estes impugnados.

É o relatório.

VOTO

A Sra. Ministra Nancy Andrighi (Relatora): A questão objeto de

divergência diz respeito à inclusão dos denominados expurgos infl acionários

na correção monetária dos valores resgatados por participantes de plano de

benefícios de previdência privada em razão de rompimento de contrato de

trabalho fi rmado com o Banco de Brasília S/A.

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O voto condutor do acórdão embargado manifestou-se no sentido de

que “a matéria já foi objeto de discussão no Superior Tribunal de Justiça, que

em diversos precedentes concluiu pela procedência da vindicação dos autores,

porquanto a correção monetária nada mais é do que a mera recomposição

econômica da moeda corroída pela infl ação, de sorte que deve ser feita de modo

a representar, o mais fi elmente possível, tal critério”.

O acórdão apontado como paradigma, por sua vez, esposou o entendimento

de que “tendo a entidade de previdência privada aplicado o fator de atualização

previsto nos estatutos, não é possível rever os cálculos para buscar o índice que

melhor refl ita a infl ação dos diversos períodos. O que basta, no caso, é saber se

a entidade aplicou, efetivamente, o índice de atualização estipulado; se aplicou,

como afi rma o acórdão recorrido, não tem guarida, sob pena de desequilíbrio no

cálculo atuarial, buscar a atualização pela adoção de índices mais próximos da

chamada infl ação real”.

É certo que o acórdão embargado não explicitou o confronto entre

a previsão do índice de correção constante do estatuto da embargante e a

pretendida inclusão dos expurgos infl acionários.

Ocorre que, ao afi rmar que a jurisprudência deste Col. Tribunal fi rmou-se

no sentido da incidência de índices que “recompunham a efetiva desvalorização

da moeda nacional”, o acórdão embargado terminou, em verdade, por afastar a

prevalência do critério pactuado no estatuto, máxime em se considerando que a

par do Tribunal a quo ter esposado o entendimento do acórdão paradigma, tal

questão restou decidida por ocasião do julgamento do REsp n. 254.006-DF

(Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ 11.09.2000), apontado na fundamentação

do acórdão ora embargado.

A apontada divergência, portanto, está confi gurada.

Conforme entendimento assentado nesta Col. Corte de Justiça, a correção

monetária não se revela em um acréscimo, mas na reposição do valor real da

moeda, constituindo, por conseguinte, um imperativo de justiça e de eqüidade.

O em. Min. Cesar Asfor Rocha, por ocasião do julgamento do REsp n.

265.050-DF, DJ 19.03.2001, assim se manifestou:

(...) esta Corte já decidiu em incontáveis oportunidades que a atualização monetária do débito deve ser feita de forma a garantir a plena reposição da perda infl acionária, devendo utilizar-se, para tanto, os índices que melhor refl etiam a corrosão da moeda no período.

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Nesse sentido, tratando sobre a restituição de contribuições para planos de assistência privada, os seguintes precedentes: REsp n. 148.902-RJ, por mim relatado, DJ de 04.09.2000; REsp n. 254.006-DF, Relator o eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ 11.09.2000; REsp n. 172.169-DF, Relator o eminente Ministro Nilson Naves, DJ 19.06.2000.

Mais recentemente, no julgamento do REsp n. 168.643-DF, concluído em 27.06.2000, da relatoria do eminente Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, a questão foi novamente trazida à discussão no âmbito da Quarta Turma, que por unanimidade de votos no sentido de que a correção monetária das contribuições feitas deve ser calculada não com base nos parâmetros estabelecidas pelas partes, mas no IPC, por ser o índice que melhor traduz a perda do poder aquisitivo da moeda.

Dessa forma, o resgate dos valores recolhidos pelos participantes de plano de benefícios de previdência privada deve considerar índices de correção monetária que refl itam a real infl ação ocorrida no período, ainda que o estatuto da entidade estabeleça critério de reajuste diverso, como no caso em exame, em que se pactuou a incidência do índice utilizado para as cadernetas de poupança.

Impõe-se, por outro lado, examinar se a inclusão dos expurgos infl acionários, com o afastamento do índice de correção monetária estabelecido no estatuto, poderia respresentar uma descapitalização da entidade e o desequilíbrio no cálculo atuarial.

É certo que, nas entidades de previdência privada, é necessária a preservação do equilíbrio atuarial entre as suas reservas e os compromissos assumidos com os benefi ciários, de forma a não ser possível a assunção de novas obrigações sem a criação de respectivas reservas ou fontes de custeio.

No caso em exame, o que se pretende é a preservação do valor real das contribuições efetuadas pelos benefi ciários e que objetivavam a formação da reserva de poupança destinada ao cumprimento das obrigações assumidas pela entidade.

Compete à entidade, ora embargante, a administração do seu patrimônio e a adequada aplicação das reservas técnicas, fundos especiais e provisões, cabendo-lhe, portanto, zelar pela preservação da reserva de poupança - cuja restituição se pretende no caso - dos efeitos da infl ação.

Assim, considerando que a correção monetária em nada acresce o valor original e que as contribuições dos benefi ciários passaram a integrar o patrimônio administrado pela entidade, confi gura-se devida, na espécie, a pretendida inclusão dos expurgos infl acionários.

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Oportuna se faz a referência ao entendimento manifestou pelo em. Min.

Ruy Rosado Aguiar por ocasião do julgamento do REsp n. 168.643-DF, Rel.

Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, julg. 27.06.2000, verbis:

Assim decido de acordo com reiterada jurisprudência deste Tribunal, que sempre deferiu a correção de seus saldos com a aplicação de índice que realmente refl ita a desvalorização da moeda. Não encontro razão para alterar essa orientação quando se cuida da devolução feita ao associado, na condição de funcionário do Banco do Brasil, demitido sem justa causa. Para isso não é preciso que a Previ seja defi nida como instituição fi nanceira; basta considerar que o seu patrimônio se constituiu com a contribuição direta ou indireta do associado, não sendo justo que no momento em que lhe toca cumprir com a sua obrigação, o faça com moeda desvalorizada.

Forte em tais razões, rejeito os embargos de divergência.

É o voto.

VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: Sr. Presidente, peço juntada do

voto que proferi nos Embargos de Divergência no Recurso Especial n. 264.061-

DF a respeito dessa matéria.

Acompanho o voto da Sra. Ministra-Relatora.

ANEXO

VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: - Sr. Presidente, o entendimento

da Quarta Turma é no sentido de que, como se trata tão-somente da

recomposição da efetiva expressão econômica da moeda defasada pela infl ação,

há que se restituir a importância paga com a inclusão dos chamados expurgos

infl acionários.

Farei a juntada do voto que proferi no Recurso Especial n. 167.038-DF, do

qual fui Relator, no sentido de que a correção monetária deve ser plena.

Rogando vênia ao eminente Ministro-Relator, conheço dos embargos de

divergência, mas rejeito-os.

É como voto.

SÚMULAS - PRECEDENTES

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RECURSO ESPECIAL N. 367.116-RJ (2001.0121249-8)

Relator: Ministro Aldir Passarinho Junior

Recorrente: Fundação Petrobrás de Seguridade Social - Petros

Advogado: Carlos Maurício Maia Ribeiro e outros

Recorrido: Antônio Dias de Souza e outros

Advogado: Antônio Adolar Wolff e outros

EMENTA

Civil e Processual. Omissão. Nulidade não configurada. Previdência complementar. Plano de demissão voluntária. Pedido de desligamento do plano de benefícios feito pelo empregado. Fundamento de ordem constitucional. Súmula n. 126-STJ. Resgate das contribuições pessoalmente realizadas. Limites. Correção. Critério. “Expurgos infl acionários”.

I. Direito do empregado ao desligamento do plano de benefícios da Fundação-ré decidido com base em argumento de ordem constitucional, pelo que, sem que tenha sido interposto recurso extraordinário para impugnação do aludido fundamento, a questão específi ca recai no óbice da Súmula n. 126 do STJ.

II. Firmou o Superior Tribunal de Justiça que a restituição das importâncias com as quais pessoalmente contribuiu à entidade de previdência complementar deve ser feito com correção monetária por fatores de atualização que recomponham a efetiva desvalorização da moeda nacional.

III. Os valores pertinentes à contribuição da empresa empregadora a ela pertencem com exclusividade e não podem ser levantados pelo empregado.

IV. Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte, parcialmente provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, à unanimidade, conhecer em

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parte do recurso e, nessa parte, dar-lhe parcial provimento, na forma do relatório

e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante

do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Sálvio de

Figueiredo Teixeira e Ruy Rosado de Aguiar. Ausentes, ocasionalmente, os Srs.

Ministros Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha.

Custas, como de lei.

Brasília (DF), 05 de dezembro de 2002 (data do julgamento).

Ministro Aldir Passarinho Junior, Relator

DJ 24.03.2003

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: Aproveito o relatório que integra

o acórdão recorrido, verbis (fl . 150):

Trata-se de ação ordinária proposta por Antonio Dias de Souza, Eliseu Soares Marreiro, Márcio Galindo Motta e Renato Corrêa Abranches em face de Fundação Petrobrás de Seguridade Social objetivando a restituição dos valores pagos pelos autores, referentes ao plano de previdência a que aderiram.

Na sentença, afastada a alegação de prescrição e reconhecido não haver abusividade na restituição parcial das quantias pagas, foram julgados improcedentes os pedidos, condenados os autores nos ônus sucumbenciais.

Apelaram os vencidos sustentando que a limitação da devolução, bem como a retenção até o desligamento fere o direito de propriedade, caracterizando a criação de um “empréstimo compulsório”, sem atentar para os dispositivos constitucionais pertinentes (art. 148 e 150, III), reiterando o pedido.

Foram anexadas contra razões prestigiando a decisão recorrida.

É o relatório. À douta Revisão.

O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade, deu

parcial provimento à apelação dos autores em decisão assim ementada (fl . 153):

Ação ordinária. Pedido de devolução das quantias pagas para o plano de aposentadoria. Se já houve o pedido de desligamento, descabe a retenção dos depósitos, ante a ausência de contra partida de benefícios a serem recebidos, devendo ser devolvidos na forma prevista para a extinção do contrato de trabalho. Provimento parcial.

SÚMULAS - PRECEDENTES

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Opostos embargos de declaração por ambas as partes, buscando a Petros sanar alegada omissão quanto aos dispositivos legais utilizados para reforma parcial da sentença, conferindo-lhes efeitos infringentes, além de obter o necessário prequestionamento, enquanto os apelantes requereram manifestação acerca da correção monetária e da taxa de administração, foram ambos parcialmente providos às fl s. 164-165 e 166-167, respectivamente, também por decisão unânime, fi xando-se os fundamentos legais, a incidência da correção monetária e o desconto de 10% a título de taxa de administração.

Irresignada, Fundação Petrobrás de Seguridade Social - Petros, interpôs, pelas letras a e c do art. 105, III, da Carta Política, recurso especial no qual sustentou ofensa ao art. 31, caput e § 2º, do Decreto n. 81.240, de 20.08.1978, e ainda por divergência com precedentes de outros Tribunais.

Preliminarmente, argüiu que não se travou nos autos discussão relativamente ao direito de os autores se desligarem do plano de seguridade, não havendo lide quanto ao fundamento constitucional apontado pelo Desembargador-relator, o inciso XX do art. 5º da Constituição Federal, motivo pelo qual deixou de aviar recurso extraordinário.

Sustentou que a garantia de devolução integral dos valores depositados, sem a prévia rescisão contratual com a Petrobrás, patrocinadora, afronta o mandamento legal e o art. 56 do Regulamento do Plano de Benefícios da Petros, que nele se sustenta, fazendo jus os recorridos a apenas 50% das contribuições por eles vertidas.

Contra-razões às fl s. 197-200.

O recurso especial foi admitido na instância de origem pelo despacho presidencial de fl s. 202-205.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior (Relator): Trata-se de recurso

especial em que se discute sobre a restituição de contribuições feitas à Fundação

Petrobrás de Seguridade Social – Petros, por empregados que desejam se

desvincular do plano de benefícios, independentemente de seu desligamento da

empresa patrocinadora.

É suscitada pela ré-recorrente ofensa aos arts. 31, caput, e parágrafo 2º, do

Decreto n. 81.240, de 20.08.1978 e divergência jurisprudencial.

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No tocante ao direito ao desligamento, em si, tenho que a discussão esbarra no óbice da Súmula n. 126 do C. STF, eis que no julgamento dos aclaratórios opostos em 2º grau, o Tribunal Estadual decidiu que tal constituía um direito assegurado constitucionalmente, pelo que impossível, sob tal aspecto, a revisão do decisum, à míngua de interposição de recurso extraordinário.

Todavia, permanece, independentemente disso, o debate sobre a forma de restituição das contribuições.

Com relação ao índice de correção, o Superior Tribunal de Justiça, em diversos precedentes, concluiu pela procedência da vindicação dos autores, porquanto a correção monetária nada mais é do que a mera recomposição econômica da moeda corroída pela infl ação, de sorte que deve ser feita de modo a representar, o mais fi elmente possível, tal critério.

Nesse sentido pode-se citar, dentre muitos outros, os seguintes arestos, litteris:

Recurso especial. Processual Civil. Lei federal. Ofensa não confi gurada. Plano de previdência privada. Desligamento. Resgate das contribuições. Cabimento. Parcelas pagas pela empresa patrocinante. Descabimento da restituição. Correção monetária. Janeiro de 1989. IPC de 42,72%.

- Ofensa aos artigos 458, II, 165 e 535, I e II do CPC não confi gurada.

- “Não é possível devolver o que não foi desembolsado pelo empregado. A devolução, efetivamente, só pode alcançar a parte que foi paga pelo empregado demitido e que interrompe o sistema de aposentadoria complementar. No caso, não se pode falar de salário indireto, à medida que o ingresso no plano é facultativo e que a poupança destina-se a uma complementação do valor da aposentadoria, para isso concorrendo o empregado diretamente, por sua livre e espontânea vontade” (REsp n. 157.993-DF, Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, DJ de 17.05.1999).

- A Corte Especial decidiu que o índice que refl ete a real infl ação do mês de janeiro de 1989 é o IPC de 42,72% (REsp n. 43.055-SP, Relator o eminente Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ de 20.02.1995).

- Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido.

(4ª Turma, REsp n. 148.902-RJ, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, por maioria, DJ de 04.09.2000).

Previdência privada. Previ. Devolução de contribuições. Correção monetária integral.

O associado que se retira da entidade previdenciária porque demitido do Banco do Brasil, tem o direito de receber a restituição das contribuições vertidas

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 115-175, agosto 2011 161

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em seu favor, devidamente corrigidas por índices que revelam a realidade da desvalorização da moeda.

Recurso não conhecido.

(4ª Turma, REsp n. 254.006-DF, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, unânime, DJ de 11.09.2000).

Previdência privada. Contribuições (devolução). Correção monetária.

É devida a correção real, de modo que, relativamente aos indicados meses de 1987, 1989, 1990 e 1991, corrige-se pelo IPC. Quanto a janeiro de 1989, há de se proceder à correção pelo índice de 42,72%.

Recurso especial conhecido pelo dissídio e provido.

(3ª Turma, REsp n. 172.169-DF, Rel. Min. Nilson Naves, por maioria, DJ de 19.06.2000).

Civil. Previdência complementar. Plano de demissão voluntária. Desligamento do empregado. Resgate das contribuições pessoalmente realizadas. Correção. “Expurgos infl acionários”.

I. Firmou o Superior Tribunal de Justiça que no caso de desligamento do empregado, a restituição das importâncias com as quais pessoalmente contribuiu à entidade de previdência complementar, deve ser feito com correção monetária por fatores de atualização que recomponham a efetiva desvalorização da moeda nacional.

II. Redução do IPC em janeiro de 1989 ao percentual de 42,72% (Precedente: REsp n. 43.055-0-SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJU de 20.02.1995).

III. Recurso especial conhecido e provido em parte.

(4ª Turma, REsp n. 219.677-RJ, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, unânime, DJ de 12.02.2001).

Acontece, porém, que o índice relativo a janeiro de 1989 é de apenas

42,72%, conforme entendimento da Corte Especial do STJ, a partir do leading

case no REsp n. 43.005-SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJU de

20.02.1995.

No tocante à natureza das parcelas, também fi rmou-se, aqui, o entendimento

de que a parte das contribuições da patrocinadora não é direito do empregado, que,

portanto, somente pode levantar aquele montante correspondente aos depósitos

que pessoalmente efetuou, consoante se infere do julgado abaixo:

Civil. Previdência complementar. Desligamento do empregado. Devolução da contribuição paga pela empregadora. Descabimento. Resgate das contribuições pessoalmente realizadas. Correção. “Expurgos infl acionários”.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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I - Pertence exclusivamente à empresa empregadora a contribuição por ela vertida, como patrocinadora, à entidade de Previdência Complementar. Descabida a pretensão de resgate da aludida parcela pelo ex-empregado.

II - Firmou o Superior Tribunal de Justiça que no caso de desligamento do empregado, a restituição das importâncias com as quais pessoalmente contribuiu à entidade de previdência complementar, deve ser feito com correção monetária por fatores de atualização que recomponham a efetiva desvalorização da moeda nacional.

III - O IPC em janeiro de 1989 obedece ao percentual de 42,72% (Precedente: REsp n. 43.055-0-SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJU de 20.02.1995).

IV - Recurso especial conhecido e provido em parte.

(4ª Turma, REsp n. 187.192-DF, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, unânime, DJ de 07.05.2001).

Na hipótese dos autos, não está claro se a restituição determinada pelo

Tribunal (fl . 165), incluiu ou não as contribuições da patrocinadora, que são

dela própria e não dos empregados, já que se utilizou da expressão “montante

depositado”, que pode açambarcar tudo, indevidamente.

Ante o exposto, conheço em parte do recurso especial e, nessa parte,

acolho-o parcialmente, para explicitar que o montante a ser considerado no

levantamento se refere exclusivamente às contribuições vertidas pelos próprios

empregados, e é desse quantum que incidirão as deduções ordenadas pelo

Tribunal a quo, à fl . 165.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 403.732-DF (2001.0162996-7)

Relator: Ministro Fernando Gonçalves

Recorrente: Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil - Previ

Advogado: Humberto Barreto Filho e outros

Recorrido: Délsi Schneider e outros

Advogado: José Carlos de Almeida e outros

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 115-175, agosto 2011 163

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EMENTA

Processual Civil. Recurso especial. Omissão. Violação ao art. 535

do CPC. Previdência privada. Desligamento. Devolução das cotas

pessoais. Correção monetária. IPC.

1 - Não é omisso o acórdão que, exprimindo o sentido geral do

julgamento, decide todas as questões a ele submetidas.

2 - A correção monetária deve ser implementada com incidência

do IPC, nos meses em que apurado, pois é o índice que mais refl ete a

desvalorização da moeda. Precedentes iterativos do STJ.

3 - Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Os Ministros

Aldir Passarinho Junior, Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha votaram com o

Ministro Relator. Ausente, justifi cadamente, o Ministro Sálvio de Figueiredo

Teixeira.

Brasília (DF), 10 de fevereiro de 2004 (data do julgamento).

Ministro Fernando Gonçalves, Relator

DJ 25.02.2004

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Fernando Gonçalves: A espécie é de ação de rito comum

(ordinário), intitulada de “restituição de contribuições previdenciárias”,

ajuizada por Délsi Schneider e outros, visando compelir a Caixa de Previdência

dos Funcionários do Banco do Brasil - Previ ao pagamento de contribuições

vertidas (cotas pessoais e patronais), corrigidas sem expurgos infl acionários,

como também restituição dos prêmios de seguro pagos.

Em primeiro grau de jurisdição, o pedido foi julgado improcedente (fl .

562).

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Manejada apelação, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios

dá parcial provimento ao recurso, em acórdão que guarda a seguinte ementa:

Previdência privada. Ação de restituição de contribuições previdenciárias. Correção monetária.

1. Recurso parcialmente provido para corrigir o saldo das contribuições pessoais vertidas mediante a aplicação do IPC do mês de janeiro de 1989, no percentual de 42,72% e seus refl exos, deduzindo-se os percentuais eventualmente aplicados.

2. Decisão unânime. (fl . 605).

Contra essa decisão vem assestado recurso especial da Previ, com

fundamento no art. 105, inciso III, letras a e c da Constituição Federal,

suscitando, em preliminar, violação ao art. 535 do CPC e, no mérito, ao art.

42, IV da Lei n. 6.435/1977 e ao art. 31, § 2º do Decreto n. 81.240/1978, bem

como divergência jurisprudencial.

Quanto à preliminar, afirmam os recorrentes apresentar-se omisso o

julgado, mesmo após a oposição de embargos declaratórios.

No mérito, não se conforma com a incidência do IPC, como critério de

correção das contribuições devolvidas.

Sem contra-razões (fl . 845), o recurso teve inadmitido o seu processamento

(fl s. 846-847), ascendendo os autos a esta Corte, em virtude de provimento de

agravo (fl s. 854).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Fernando Gonçalves (Relator): Consoante se colhe da

leitura do acórdão recorrido, ao solucionar a controvérsia, longe de ser omisso,

bem delinea todas as questões a ele submetidas, razão pela qual não há se falar

em violação ao art. 535, do CPC.

Ademais, já proclamou a Corte que o órgão judicial, para expressar sua

convicção, não precisa tecer considerações acerca de todos os argumentos

expendidos, pois, ainda que fosse sucinta a decisão, hipótese não ocorrente

na espécie, não fere o mencionado dispositivo quando pronuncia-se sobre as

questões de fato e de direito, exprimindo o sentido geral do julgamento.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 115-175, agosto 2011 165

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Nesse sentido, a seguinte ementa:

Processual Civil. Acórdão. Motivação. Omissão. Artigos 282, 458, II e 535, II, CPC. Súmula n. 7-STJ.

1. O órgão judicial para expressar a sua convicção não precisa aduzir comentários sobre todos os argumentos levantados pelas partes. Embora sucinta ou deficiente, a motivação, pronunciando-se sobre as questões de fato e de direito para fundamentar o resultado, exprimindo o sentido geral do julgamento, não se emoldura negativa de vigência aos artigos 458, II e 535, II, CPC, nem se entremostra confronto com o art. 282, do mesmo código.

2. As razões fáticas, custofi adas em demonstração probatória, cujo exame está reservado à soberania das instâncias ordinárias, são desconsideradas na via especial (Súmula n. 7-STJ).

3. Recurso improvido.

(REsp n. 40.897-SP, DJ 19.06.1995, Min. Milton Pereira).

Até porque, in casu, é iterativo o entendimento desta Corte no tocante

à correção monetária, devendo haver incidência do IPC, nos meses em que

apurado, pois é o indexador que mais recompõe o valor da moeda.

Eis os precedentes:

Previdência privada. Contribuição. Devolução. Correção monetária. IPC.

I - A atualização monetária das contribuições a serem devolvidas pela entidade de previdência complementar deve ser feita pelo IPC, por ser o índice que melhor traduz a perda do poder aquisitivo da moeda.

II - Embargos recebidos para o fi m acima específi co. (EDAGA n. 435.994-RJ, Rel. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, DJU, 16.12.2002).

Civil e Processual. Omissão. Nulidade não configurada. Previdência complementar. Plano de demissão voluntária. Pedido de desligamento do plano de benefícios feito pelo empregado. Fundamento de ordem constitucional. Súmula n. 126-STJ. Resgate das contribuições pessoalmente realizadas. Limites. Correção. Critério. “Expurgos infl acionários”.

I. Direito do empregado ao desligamento do plano de benefícios da Fundação-ré decidido com base em argumento de ordem constitucional, pelo que, sem que tenha sido interposto recurso extraordinário para impugnação do aludido fundamento, a questão específi ca recai no óbice da Súmula n. 126 do STJ.

II. Firmou o Superior Tribunal de Justiça que a restituição das importâncias com as quais pessoalmente contribuiu à entidade de previdência complementar deve

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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ser feito com correção monetária por fatores de atualização que recomponham a efetiva desvalorização da moeda nacional.

III. Os valores pertinentes à contribuição da empresa empregadora a ela pertencem com exclusividade e não podem ser levantados pelo empregado.

IV. Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte, parcialmente provido. (REsp n. 367.116-RJ, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, DJU, 24.03.2003).

Previdência privada. Devolução de contribuições. Correção monetária.

As contribuições que, nos termos do estatuto da entidade de previdência privada, devem ser devolvidas ao associado que se retira estão sujeitas à correção monetária de acordo com índices que refl itam a infl ação do período. Agravo regimental não provido. (AGA n. 470.370-RS, Rel. Ministro Ari Pargendler, DJU, 16.06.2003).

Previdência privada. Previ. Contribuições. Devolução.

- Segundo o entendimento majoritário, o associado que se desliga da empregadora não tem o direito de receber as contribuições feitas pela empresa à entidade previdenciária. Ressalva do relator.

- A Segunda Seção pacifi cou o entendimento de que as contribuições feitas pelo empregado e associado devem ser devolvidas, quando de sua demissão, com a devida correção, por índices que refl itam a realidade da desvalorização da moeda.

Recurso conhecido em parte e provido. (REsp n. 299.425-RJ, Rel. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJU, 04.02.2002).

Ante o exposto, não conheço do recurso.

RECURSO ESPECIAL N. 434.110-DF (2002.0052542-4)

Relator: Ministro Cesar Asfor Rocha

Recorrente: Sebastião Inácio de Magalhães e outros

Advogado: Maria Edith Ferreira de Morais Souza e outros

Recorrido: Regius - Sociedade Civil de Previdência Privada

Advogado: Eduardo Panzolini e outros

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 115-175, agosto 2011 167

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EMENTA

Previdência privada. Resgate de contribuições. Correção monetária.

Recurso especial provido.

Conforme entendimento pacifi cado pela egrégia Segunda Seção

desta Corte, “no caso de desligamento do empregado, a restituição

das importâncias com as quais pessoalmente contribuiu à entidade de

previdência complementar, deve ser feito com correção monetária por

fatores de atualização que recomponham a efetiva desvalorização da

moeda nacional”. (EREsp n. 264.061-DF).

Recurso especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe

provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Votaram com o Relator

os Srs. Ministros Ruy Rosado de Aguiar, Aldir Passarinho Junior, Sálvio de

Figueiredo Teixeira e Barros Monteiro.

Brasília (DF), 11 de março de 2003 (data do julgamento).

Ministro Aldir Passarinho Junior, Presidente

Ministro Cesar Asfor Rocha, Relator

DJ 30.06.2003

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Sebastião Inácio de Magalhães e outros,

ora recorrentes, ajuizaram “ação de cobrança” em face da Regius - Sociedade Civil

de Previdência Privada, ora recorrida, a fi m de receber a restituição integral

das contribuições previdenciárias feitas, diretamente, por eles e, indiretamente,

pelo Banco de Brasília S.A., levando-se em conta, na correção, os expurgos

infl acionários relativos ao período de contribuição desde a adesão ao plano de

previdência privada.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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A r. sentença de fl s. 534-543 julgou parcialmente procedente o pedido,

considerando indevida a devolução das contribuições vertidas pelo empregador,

mas devidos os expurgos infl acionários referentes à contribuição dos autores.

A egrégia Quinta Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e

Territórios, por maioria, negou provimento à apelação da ré, mantendo in totum

a r. sentença, sob motivação sumariada da seguinte forma:

Previdência privada. Desligamento de associado. Resgate de contribuições. Correção monetária.

01. “As contribuições previdenciárias a cargo do empregado, a título de complementação de aposentadoria, são resgatáveis quando do seu desligamento do estabelecimento empregador por motivo de ruptura do contrato de trabalho. As importâncias restituíveis devem ser corrigidas monetariamente mediante aplicação de índices plenos de correção (IPC), que melhor resguarda o valor das contribuições” (APC n. 27.924-0/98, Rel. Des. João Mariosa). (fl . 647).

Opostos embargos infringentes pela Regius - Sociedade Civil de Previdência

Privada, estes foram acolhidos, restando o v. aresto assim ementado, verbis:

Cobrança. Ex-empregados do BRB. Desligamento da Regius. Restituição das parcelas vertidas. Correção monetária prevista no estatuto.

1. O empregado que, rompido o vínculo empregatício, se desliga da Regius, faz jus à restituição das parcelas vertidas, monetariamente corrigida nos termos do Estatuto ao qual aderiu, e não conforme entender mais vantajoso.

2. Recurso provido. Maioria. (fl . 748).

Inconformados, os autores interpuseram recurso especial, com fundamento nas alíneas a e c do permissivo constitucional, alegando divergência com julgados desta Corte, bem como ofensa aos artigos 42, inciso V, da Lei n. 6.435/1977 e 31, inciso VIII, § 2º, do Decreto n. 81.240/1978.

Respondido, o recurso foi admitido na origem, ascendendo os autos a esta Corte.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha (Relator): 01. Cuida o presente recurso

especial de pedido de resgate de contribuições efetuadas à Regius - Sociedade Civil

de Previdência Privada, por funcionários desligados do Banco de Brasília S.A.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 115-175, agosto 2011 169

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Os recorrentes postulam a restituição das parcelas de contribuição previdenciária vertidas em seu favor, com a inclusão dos expurgos infl acionários referentes ao período reclamado, entendendo ser cabível a aplicação dos índices infl acionários legais, não obstante a previsão contratual de outro índice.

02. Tenho que o apelo merece acolhida, sendo notória a discrepância entre os paradigmas desta Corte citados e a hipótese dos autos.

Com efeito, este Pretório já decidiu, em incontáveis oportunidades, que a atualização monetária do débito deve ser feita de forma a garantir a plena reposição da perda infl acionária, devendo utilizar, para tanto, os índices que melhor refl itam a corrosão da moeda no período.

Nesse sentido, tratando especifi camente sobre a restituição de contribuições para planos de assistência privada, os seguintes precedentes: REsp n. 148.902-RJ, por mim relatado, DJ de 04.09.2000; REsp n. 254.006-DF, Relator o eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ 11.09.2000; REsp n. 172.169-DF, Relator o eminente Ministro Nilson Naves, DJ 19.06.2000.

Ademais, no julgamento do REsp n. 168.643-DF, publicado no DJ de 27.06.2000, da relatoria do eminente Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, a questão foi novamente trazida à discussão no âmbito da Quarta Turma, que, por unanimidade, decidiu no sentido de que a correção monetária das contribuições deve ser calculada com base no IPC, índice que melhor traduz a perda do poder aquisitivo da moeda, e não nos parâmetros estabelecidos pelas partes.

Mais recentemente, a questão foi pacifi cada pela egrégia Segunda Seção desta Corte, no julgamento do EREsp n. 264.061-DF, sendo relator para o acórdão o eminente Ministro Aldir Passarinho Junior, que assim sintetizou o entendimento prevalente:

Civil. Previdência complementar. Plano de demissão voluntária. Desligamento do empregado. Resgate das contribuições pessoalmente realizadas. Correção. “Expurgos infl acionários”.

I - No caso de desligamento do empregado, a restituição das importâncias com as quais pessoalmente contribuiu à entidade de previdência complementar, deve ser feito com correção monetária por fatores de atualização que recomponham a efetiva desvalorização da moeda nacional.

II - Entendimento que fi ca pacifi cado na C. 2ª Seção. (in DJ de 11.03.2002).

03. Cumpre observar, ainda, no que tange ao mês de janeiro de 1989, que

a egrégia Corte Especial deste Sodalício, no julgamento do REsp n. 43.055-0-

SP (D.J. de 20.02.1995), relatado pelo eminente Ministro Sálvio de Figueiredo

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Teixeira, decidiu que o índice que refl ete a real infl ação do mês de janeiro de

1989 é de 42,72%.

04. Diante de tais pressupostos, conheço do recurso especial e dou-

lhe provimento, para determinar que a restituição das contribuições pagas

pelos autores sejam reajustadas pelos índices de correção monetária que

recomponham a desvalorização da moeda, tal qual determinado pela r. sentença,

aqui restabelecida.

RECURSO ESPECIAL N. 435.029-MG (2002.0055882-4)

Relator: Ministro Ruy Rosado de Aguiar

Recorrente: Fundação dos Economiários Federais - Funcef

Advogado: Mariza Moreira de Moraes e outros

Recorrido: Isis Rodrigues Pordeus

Advogado: Marcelo de Almeida e Silva

EMENTA

Previdência privada. Contribuições. Rescisão do contrato de trabalho. Devolução das contribuições. Percentual. Correção monetária.

- O associado de entidade de previdência privada que se desliga da empresa patrocinadora tem o direito de levantar a importância que lhe foi descontada.

- A restituição deve ser corrigida por índices que refl itam a realidade da desvalorização da moeda.

Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 115-175, agosto 2011 171

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taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso especial, nos

termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Os Srs. Ministros Fernando Gonçalves,

Aldir Passarinho Junior e Sálvio de Figueiredo Teixeira votaram com o Sr.

Ministro-Relator. Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Barros Monteiro.

Brasília (DF), 24 de junho de 2003 (data do julgamento).

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Relator

DJ 25.08.2003

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Isis Rodrigues Pordeus propôs ação

de restituição de quantias pagas contra a Fundação dos Economiários Federais

- Funcef.

O pedido foi julgado parcialmente procedente, condenada a ré a devolver

mais 40% do total das contribuições mensais pagas pela autora, atualizadas pelo

INPC.

A ré apelou e a egrégia Terceira Câmara Cível do TAMG negou

provimento ao recurso, em acórdão assim ementado:

Ação ordinária de restituição de quantia paga. Previdência privada complementar. Extinção do contrato de trabalho com a empregadora. Devolução de apenas 50% das parcelas pagas. Alegação de previsão contratual. Contrato de adesão. Código de Defesa do Consumidor. Cláusula abusiva. Art. 51, IV, do CDC, e potestativa, art. 115 do Cód. Civil. Correção monetária pelos índices do INPC. Manutenção da decisão primeva.

Na adesividade está o cunho mais nítido do contrato, posto que a aceitação pelo segurado das cláusulas determinadas pela entidade não permite qualquer discussão prévia. A apólice vem impressa, dando-se a adesão a todos os itens, sendo uniformes na generalidade dos contratos (fl . 150).

Inconformada, a Funcef - Fundação dos Economiários Federais interpôs recurso especial (art. 105, III, a e c, da CF).

Alega que, “ao decidir como decidiu a egrégia Turma Julgadora concedendo os reajustes pretendidos pelo recorrido que nula é a cláusula prevista no regulamento da Restituição Parcial das Contribuições pagas pelo recorrido e outorgando-lhe os expurgos infl acionários relativos ao IPC aferidos nos meses de junho/1987, janeiro/1989, março/1990, abril/1990, maio/1990,

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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fevereiro/1991 e março/1991, infringiu os arts. 42 da Lei n. 6.435/1977 e art. 31 do Dec. n. 81.240/1978, uma vez que prevendo o regulamento da entidade privada, resgate das contribuições pessoais dos participantes, quando se desligam do plano deve o valor do resgate e a correção monetária serem feitas na forma prevista no Estatuto”.

Além disso, o entendimento da egrégia Câmara, de que a cláusula contratual de restituição parcial de contribuições quando da ruptura do contrato de trabalho afi gura-se abusiva, devendo ser considerada nula em face do CDC, diverge da jurisprudência.

Diz ser direito do associado resgatar as contribuições pessoais, sem a incidência, contudo, da atualização pretendida unilateralmente pelo associado: “escorreita se mostra a devolução das contribuições pessoais no percentual pactuado no contrato, ao contrário dos propalados 90% sobre as contribuições totais do patrocinador e benefi ciários”.

Admitido o recurso, com as contra-razões, vieram-me os autos.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Relator): 1. O r. acórdão recorrido está fundado na abusividade existente na cláusula que limita o percentual da devolução das contribuições vertidas pelos funcionários, quando do desligamento da patrocinadora. Em princípio, tenho que tal conclusão não pode ser revista na via especial, pois não ultrapassa o óbice da Súmula n. 5-STJ.

2. Ainda que assim não seja, a conclusão deve ser a mesma a que chegou a egrégia Câmara. É que a entidade previdenciária recolhe a contribuição dos associados para poder cumprir com o compromisso previdenciário assumido. Extinto o contrato de trabalho e também o laço com a instituição de previdência privada, esta se desobriga do compromisso; logo, aquela receita perdeu sua causa e nada mais razoável devolva ao ex-empregado o quanto dele recebeu. Se não for assim, haverá por parte da fundação enriquecimento indevido.

3. De outra parte, a devolução deve ser corrigida por índice que refl ita a realidade da infl ação. Transcrevo a decisão que proferi no REsp n. 351.835-MG:

A questão que ora se coloca já foi suscitada no âmbito deste STJ, estando o entendimento esposado pelo v. aresto recorrido conforme a orientação que se fi rmou neste Tribunal. Cito os seguintes precedentes:

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 115-175, agosto 2011 173

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Previdência privada. Devolução de contribuições. Correção monetária integral. O associado que se retira da entidade previdenciária porque demitido do Banco do Brasil, tem o direito de receber a restituição das contribuições vertidas em seu favor, devidamente corrigidas por índices que revelam a realidade da desvalorização da moeda. Recurso não conhecido (REsp n. 254.006-DF, 4ª Turma, de minha relatoria, DJ 11.09.2000);

Previdência privada. Contribuições (devolução). Correção monetária. É devida a correção real, de modo que, relativamente aos indicados meses de 1987, 1989, 1990 e 1991, corrige-se pelo IPC. Quanto a janeiro de 1989, há de se proceder à correção pelo índice de 42,72%. Recurso especial conhecido e pelo dissídio provido (REsp n. 172.169-DF, 3ª Turma, rel. o em. Min. Nilson Naves, DJ 19.06.2000);

Previdência privada. Devolução. Correção monetária. Jurisprudência consolidada pela Segunda Seção.

1. A Segunda Seção consolidou a jurisprudência da Corte no sentido de que a devolução das contribuições deve ser corrigida pelo IPC (EREsp n. 264.061-DF, Relator para o acórdão o Senhor Ministro Aldir Passarinho Junior, julgado em sessão de 22.08.2001).

2. Recurso especial conhecido e provido (REsp n. 300.087-DF, 3ª Turma, rel. o em. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 04.02.2002);

Civil. Previdência complementar. Desligamento do empregado. Devolução da contribuição paga pela empregadora. Descabimento. Resgate das contribuições pessoalmente realizadas. Correção. “Expurgos infl acionários”.

I - Pertence exclusivamente à empresa empregadora a contribuição por ela vertida, como patrocinadora, à entidade de Previdência Complementar. Descabida a pretensão de resgate da aludida parcela pelo ex-empregado.

II - Firmou o Superior Tribunal de Justiça que no caso de desligamento do empregado, a restituição das importâncias com as quais pessoalmente contribuiu à entidade de previdência complementar, deve ser feito com correção monetária por fatores de atualização que recomponham a efetiva desvalorização da moeda nacional.

III - O IPC em janeiro de 1989 obedece ao percentual de 42,72% (Precedente: REsp n. 43.055-0-SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJU de 20.02.1995).

IV - Recurso especial conhecido e provido em parte (REsp n. 187.192-DF, 4ª Turma, rel. o em. Min. Aldir Passarinho Junior, DJ 07.05.2001).

Dentre outros, vide também: REsp n. 265.050-DF e AG n. 385.445-DF, 4ª Turma, rel. o em. Min. Cesar Asfor Rocha, DJ 19.03.2001 e 27.06.2001; AG n. 356.564-DF, 3ª

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Turma, rel. a em. Min. Nancy Andrighi, DJ 14.05.2001; AG n. 314.608-DF, 4ª Turma, rel. o em. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ 08.05.2001, e AG n. 415.301, 4ª Turma, de minha relatoria, DJ 15.02.2002.

Quanto ao enriquecimento ilícito, assim me manifestei no REsp n. 264.061-DF, 4ª Turma, DJ 18.12.2000:

3. Trata-se de contrato de adesão, de natureza previdenciária, a que está sujeito o empregado do Banco, com cláusula que permite a correção monetária por índice inferior à efetiva desvalorização da moeda. Não me parece que regra assim destoante da realidade possa ser considerada válida diante da reiterada jurisprudência deste Tribunal, que sempre assegurou aos credores o direito à atualização dos seus créditos pelos índices que espelham a infl ação, - e algumas vezes até permitindo que neles sejam embutidos ainda juros, como acontece com o uso da TR pelos bancos. Os fundos de pensão não são instituições fi nanceiras, mas isso não os impede de fazer aplicações dos seus recursos no mercado fi nanceiro, nem os exime de devolver o que descontaram do salário dos empregados, devidamente corrigido. Se não for assim, haverá enriquecimento indevido por parte da entidade, que reterá consigo parte integrante do principal recolhido a título de contribuição mensal, pois o devolve defasado.

4. Posto isso, não conheço do recurso.

É o voto.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 115-175, agosto 2011 175

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Súmula n. 290

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SÚMULA N. 290

Nos planos de previdência privada, não cabe ao benefi ciário a devolução da

contribuição efetuada pelo patrocinador.

Referências:

Lei n. 6.435/1977, art. 42, V.

Decreto n. 81.240/1978, art. 31, § 2º.

Precedentes:

AgRg no Ag 246.588-DF (3ª T, 15.05.2000 – DJ 1º.08.2000)

AgRg no Ag 356.563-DF (3ª T, 30.05.2001 – DJ 25.06.2001)

REsp 148.902-RJ (4ª T, 06.06.2000 – DJ 04.09.2000)

REsp 157.993-DF (3ª T, 09.03.1999 – DJ 17.05.1999)

REsp 198.604-RJ (4ª T, 15.06.2000 – DJ 12.02.2001)

REsp 299.425-RJ (4ª T, 16.10.2001 – DJ 04.02.2002)

Segunda Seção, em 28.04.2004

DJ 13.05.2004, p. 201

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AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 246.588-DF (99.0052431-4)

Relator: Ministro Ari Pargendler

Agravante: Luiz Antonio

Advogado: José Eymard Loguercio e outros

Agravado: O R. Despacho de fl s. 138-9

Parte: Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil - Previ

Advogado: Luiz Antonio Borges Teixeira e outros

EMENTA

Civil. Previdência privada. Decreto n. 81.240/1978, art. 31, § 2º.

“Contribuições vertidas”, no contexto do artigo 31, § 2º, do

Decreto n. 81.240, de 1978, são aquelas pagas pelo associado; as

contribuições recolhidas pela entidade patrocinadora são insuscetíveis

de devolução. Agravo regimental não provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental.

Participaram do julgamento os Srs. Ministros Menezes Direito, Pádua Ribeiro,

Eduardo Ribeiro e Waldemar Zveiter.

Brasília (DF), 15 de maio de 2000 (data do julgamento).

Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Presidente

Ministro Ari Pargendler, Relator

DJ 1º.08.2000

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ari Pargendler: - O agravo regimental ataca a seguinte

decisão:

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O presente recurso especial ataca acórdão da Egrégia 3ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, Relator o eminente Desembargador Vasquez Cruxén, assim ementado:

Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil - Previ. Pedido de restituição das parcelas vertidas ao plano de aposentadoria complementar em razão do desligamento do associado. I - Pretensão ao recebimento da totalidade das contribuições pessoais: Descabimento. A Lei n. 6.435/1977, em seu art. 42, V, não obriga a devolução total das contribuições pessoais, devendo, in casu, observar-se o percentual de 98% previsto no Estatuto. II. Impossibilidade de devolução das parcelas pagas pelo patrocinador. As contribuições do Banco do Brasil são oferecidas sobre a massa de salários dos empregados e não de forma individualizada (art. 2º, parágrafo único, Lei n. 8.020/1990). A restituição, se devida, seria para o patrocinador e não ao associado. III. Majoração dos juros. Descabimento. O Decreto n. 22.626/1933 veda apenas que os juros sejam estipulados acima de 12% ao ano, inexistindo disposição legal que proíba a pactuação de taxa menor, sendo de se aplicar, na espécie, o patamar estipulado contratualmente. IV - Aplicação do IPC sobre o período de janeiro de 1989. Impertinência do pedido. Em atenção ao princípio do pacta sunt servanda, os índices de correção monetária eleitos pelo Estatuto são os que devem ser aplicados sobre os saldos de poupança, sendo inviável a atualização fundada em índice diverso do pactuado. V - Ambos os apelos conhecidos. Provido apenas o da parte ré. Decisão unânime (fl . 39).

As razões do recurso especial, que foi interposto com base no artigo 105, inciso III, letras a e c, da Constituição Federal, sustentam que a Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil - Previ está obrigada a devolver a totalidade dos valores recebidos em função de Luiz Antônio, com as diferenças de correção monetária resultantes dos expurgos da inflação determinada por “planos econômicos”, mais juros de 12% ao ano (fl . 52-59).

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça se consolidou no sentido de que o associado que se desliga da Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil - Previ só tem direito à devolução dos valores correspondentes às suas contribuições pessoais.

Já a questão da correção monetária está prejudicada, pela letra a, porque não foi indicado o artigo de lei federal contrariado pelo julgado, e, pela letra c, por falta de demonstração do dissenso jurisprudencial.

Mantida assim improcedência da ação, não há que falar em juros.

Nego, por isso, provimento ao agravo (fl . 138-139).

A teor das razões:

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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O despacho denegatório do Agravo de Instrumento deixou de analisar o cerne da questão posta em debate, qual seja, a interpretação da Lei n. 6.435, de 15 de julho de 1977, bem como e especialmente o § 2º do art. 31 do Decreto n. 81.240, de 20 de janeiro de 1978, que a regulamentou, in verbis:

Parágrafo 2º - No caso do item VIII, o participante terá direito à restituição parcial das contribuições vertidas, com correção monetária, de acordo com as normas estabelecidas no pr prio plano, não inferior a 50% (cinqüenta por cento) do montante apurado (fl . 142).

VOTO

O Sr. Ministro Ari Pargendler (Relator): - O artigo 31, § 2º, do Decreto

n. 81.240, de 20 de janeiro de 1978, tem, na compreensão da Turma, sentido

diferente daquele que lhe empresta o Agravante.

“Contribuições vertidas”, no aludido contexto, são aquelas pagas pelo

associado; as contribuições recolhidas pela entidade patrocinadora são

insuscetíveis de devolução.

Voto, por isso, no sentido de negar provimento ao agravo regimental.

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 356.563-DF (2000/0141642-1)

Relatora: Ministra Nancy Andrighi

Agravante: Abdias Abreu Guimarães e outros

Advogado: José Carlos de Almeida

Agravado: Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil - Previ

Advogado: Humberto Barreto Filho e outros

EMENTA

Previdência Privada. Agravo no agravo de instrumento. Ação de

conhecimento. Rito ordinário. Divergência. Ausência de demonstração

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 177-212, agosto 2011 183

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do dissídio. Acórdão. Omissão. Inexistência. Recurso especial. Fundamentação deficiente. Contribuição patronal. Devolução. Inadmissibilidade.

- É inadmissível o recurso especial defi cientemente fundamentado e se

não restou demonstrado o dissídio jurisprudencial apontado.

- Inexiste ofensa ao art. 535, II do CPC se não há omissão no acórdão

atacado.

- Na restituição devida ao associado retirante, não se incluem as

contribuições solvidas pela empresa patrocinadora. Precedentes.

- Agravo no agravo de instrumento a que se nega provimento.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas constantes dos autos, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental. Os Srs. Ministros Ari Pargendler e Carlos Alberto Menezes Direito votaram com a Sra. Ministra Relatora. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro.

Brasília (DF), 30 de maio de 2001 (data do julgamento).

Ministro Ari Pargendler, Presidente

Ministra Nancy Andrighi, Relatora

DJ 25.06.2001

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Nancy Andrighi: Cuida-se de agravo no agravo de

instrumento em ação de conhecimento sob o rito ordinário, interposto por

Abdias Abreu Guimarães e outros, em face de decisão monocrática que negou

provimento ao agravo de instrumento.

Eis a ementa da r. decisão monocrática:

Previdência privada. Agravo de instrumento. Ação de conhecimento. Rito ordinário. Acórdão. Omissão. Inexistência. Recurso especial. Fundamentação defi ciente. Contribuição patronal. Devolução. Inadmissibilidade.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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- É inadmissível o recurso especial por ofensa ao art. 535, II do CPC se inexiste omissão no acórdão atacado.

- É inadmissível o recurso especial defi cientemente fundamentado.

- Na restituição devida ao associado retirante, não se incluem as contribuições solvidas pela empresa patrocinadora. Precedentes do STJ.

Aduz o agravante que a r. decisão monocrática deve ser reformada, uma

vez que o recurso especial preenche os requisitos genéricos e específi cos de sua

admissibilidade, e, no mérito, o v. acórdão recorrido:

I - no que respeita aos expurgos infl acionários das contribuições pessoais,

deferiu apenas a incidência do expurgo de janeiro de 1989, à taxa de 42,72%, e

não todos os expurgos infl acionários requeridos;

II - ao não se pronunciar sobre os argumentos do agravante relativos

à contabilização individualizada das contribuições, à adesão obrigatória por

força do contrato de trabalho e à declaração do superávit anunciado em 1996,

afrontou o art. 535, II do CPC;

III - ao afastar a existência de vício do consentimento no ato de adesão ao

regime de previdência privada, quando da celebração do contrato de trabalho,

considerando, em conseqüência, indevida a restituição das contribuições

patronais, afrontou os arts. 8o e 28 e incisos, do Decreto n. 81.240/1978, o art.

6o do CDC, o art. 1.372 do CC e o art. 42 da Lei n. 6.435/1977, bem como

divergiu de precedentes jurisprudenciais;

IV - ao admitir que a devolução das contribuições pessoais é devida apenas

após o mês de março de 1980, afrontou o Decreto n. 81.240/1978; e

V - ao inadmitir a devolução dos valores pagos a título de prêmio de

seguro, afrontou o Decreto n. 59.195/1996.

É o relatório.

VOTO

A Sra. Ministra Nancy Andrighi (Relatora):

I - Dos expurgos infl acionários

Quanto à questão dos expurgos infl acionários, colacionou o agravante

apenas um aresto paradigma, limitando-se a transcrever sua ementa, sem

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 177-212, agosto 2011 185

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proceder ao necessário cotejo analítico. Inadmissível, neste aspecto, o recurso

especial interposto.

II - Da existência de omissão no v. acórdão recorrido (violação ao art. 535,

II do CPC)

Os pontos suscitados pelo ora agravante - contabilização individualizada

das contribuições, adesão obrigatória por força do contrato de trabalho e

declaração do superávit anunciado em 1996 - não se constituem omissões do

julgado, mas argumentos que foram desconsiderados pelo v. acórdão recorrido,

ao se inadmitir a devolução das contribuições patronais (fl s. 286), in verbis:

(...) não há fundamento legal para a restituição das contribuições patronais, que não possuem, como querem fazer crer os apelantes, natureza de salário indireto, por serem oriundas de relação jurídica distinta, abrangendo apenas o Banco do Brasil e a Previ.

Inexiste, assim, ofensa ao art. 535, II do CPC.

III - Da restituição das contribuições patronais

A questão referente à violação aos arts. 8º e 28 e incisos, do Decreto n.

81.240/1978, 6º do CDC e 1.372 do CC não restaram prequestionadas no v.

acórdão recorrido. Aplicável à espécie o E. n. 282 do C. STF. O tema referente

à aplicação do art. 42 da Lei n. 6.435/1977, entretanto, restou prequestionado.

Demonstrado, ainda, o dissídio jurisprudencial quanto à questão.

O entendimento consolidado deste C. STJ veda a possibilidade de

restituição das contribuições patronais, in verbis:

Plano de aposentadoria complementar. Demissão do empregado. Devolução da contribuição paga pela empresa patrocinadora.

1. Não é possível devolver o que não foi desembolsado pelo empregado. A devolução, efetivamente, só pode alcançar a parte que foi paga pelo empregado demitido e que interrompe o sistema de aposentadoria complementar. No caso, não se pode falar de salário indireto, à medida que o ingresso no plano é facultativo e que a poupança destina-se a uma complementação do valor da aposentadoria, para isso concorrendo o empregado diretamente, por sua livre e espontânea vontade.

(REsp n. 157.993-DF, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, Terceira Turma, DJ 17.05.1999).

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Previdência privada. Desligamento do participante do plano. Resgate das contribuições. Exclusão daquelas pagas pela patrocinadora. Correção monetária. Janeiro/1989. 42,72%.

- Na restituição devida ao associado retirante, não se incluem as contribuições solvidas pela empresa patrocinadora. Precedentes do STJ.

(...)

(REsp n. 198.604-RJ, Rel. Min. Barros Monteiro, Quarta Turma, DJ 12.02.2001).

IV - Do termo a quo para a devolução das contribuições pessoais

Limitou-se o agravante, em suas razões de recurso especial, a apontar

violação genérica ao Decreto n. 81.240/1978, quanto à questão do Termo a

quo para a devolução das contribuições pessoais, não indicando os artigos de lei

tidos por violados. Incide à espécie o E. n. 284 do C. STF.

V - Do prêmio de seguro

Limitou-se o agravante, em suas razões de recurso especial, a apontar

violação genérica ao Decreto n. 59.195/1996, não indicando os artigos de lei

tidos por violados. Incide à espécie o E. n. 284 do C. STF.

Forte em tais razões, nego provimento ao agravo no agravo de instrumento.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 148.902-RJ (97.0066129-6)

Relator: Ministro Cesar Asfor Rocha

Recorrente: Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil - Previ

Recorrido: Joares Costa Martins

Advogados: Leônidas Cabral de Albuquerque e outros

Flávio Chiarelli Vicente de Azevedo e outros

Sustentação oral: Pedro Afonso Bezerra de Oliveira, pelo recorrente, e

Flávio Chiarelli, pelo recorrido

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 177-212, agosto 2011 187

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EMENTA

Recurso especial. Processual Civil. Lei Federal. Ofensa não

confi gurada. Plano de previdência privada. Desligamento. Resgate das

contribuições. Cabimento. Parcelas pagas pela empresa patrocinante.

Descabimento da restituição. Correção monetária. Janeiro de 1989.

IPC de 42,72%.

- Ofensa aos artigos 458, II, 165 e 535, I e II do CPC não

confi gurada.

- “Não é possível devolver o que não foi desembolsado pelo

empregado. A devolução, efetivamente, só pode alcançar a parte que

foi paga pelo empregado demitido e que interrompe o sistema de

aposentadoria complementar. No caso, não se pode falar de salário

indireto, à medida que o ingresso no plano é facultativo e que a poupança

destina-se a uma complementação do valor da aposentadoria, para

isso concorrendo o empregado diretamente, por sua livre e espontânea

vontade” (REsp n. 157.993-DF, Ministro Carlos Alberto Menezes

Direito, DJ de 17.05.1999).

- A Corte Especial decidiu que o índice que refl ete a real infl ação

do mês de janeiro de 1989 é o IPC de 42,72% (REsp n. 43.055-SP,

Relator o eminente Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ de

20.02.1995).

- Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão,

provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

das notas taquigráfi cas a seguir, por maioria, conhecer em parte do recurso e,

nessa parte, dar-lhe provimento, vencido o Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar,

que provia em menor extensão. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Aldir

Passarinho Júnior e Barros Monteiro. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro

Sálvio de Figueiredo Teixeira.

Brasília (DF), 06 de junho de 2000 (data do julgamento).

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente

Ministro Cesar Asfor Rocha, Relator

DJ 04.09.2000

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Joares Costa Martins - ora recorrido,

ajuizou “ação de indenização”, em face da ora recorrente Caixa de Previdência

dos Funcionários do Banco do Brasil - Previ, visando receber a restituição das

contribuições por ele feitas diretamente e, indiretamente, por parte do Banco do

Brasil S/A em seu nome, devidamente corrigidas, com o cômputo do expurgo

infl acionário dos meses de janeiro de 1989 e março de 1990, em razão de seu

desligamento voluntário da sociedade civil de previdência privada, decorrente de

sua despedida da instituição fi nanceira.

A r. sentença de fl s. 296-297 julgou parcialmente procedente o pedido,

“para condenar a ré a pagar ao autor 50% das contribuições pessoais e patronais

a partir do Decreto n. 81.240/1978, corrigidas conforme o parágrafo anterior e

com juros a partir da citação”.

Por sua vez, a egrégia Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do

Estado do Rio de Janeiro negou provimento à apelação da sociedade ré, em

aresto assim ementado, verbis:

I - Previdência privada.

Desligamento voluntário do associado. Restituição das contribuições. Correção monetária.

A retirada voluntária do associado de entidade previdenciária privada, decorrente da ruptura do contrato de trabalho com a entidade patrocinadora, enseja-lhe o direito à restituição de no mínimo cinqüenta por cento das contribuições feitas ao longo dos anos de vinculação, nelas incluídas não apenas aquelas feitas pessoal e diretamente pelo associado, mas também aquelas vertidas pela sociedade patronal, portanto integrante do salário direto do empregado associado.

II - Corrreção monetária. Índices expurgados pelos planos econômicos. Inclusão nos cálculos da restituição.

A OTN e, posteriormente, o BTN nada mais eram que títulos do governo indexados pela variação do IPC, este sim o indexador ofi cial da economia pelo

SÚMULAS - PRECEDENTES

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qual são medidas as oscilações da infl ação. Extinta a OTN e criado o BTN sem que no valor deste fosse incluída a infl ação efetivamente verifi cada em janeiro de 1989, março de 1990 e outros meses posteriores, não se pode deixar de computá-la nos cálculos das obrigações vencidas nesse período. A correção monetária não é um plus que se acresce ao valor da obrigação, mas um minus que se evita, sob pena de terminarem os créditos, face à permanente infl ação e o passar do tempo, reduzi-los a valores meramente simbólicos, dando, ensejo ao locupletamento sem causa.

Desprovimento do recurso. (fl s. 391).

Embargos de declaração opostos às fls. 399-409, foram os mesmos rejeitados.

Inconformada, a Previ interpôs recurso especial, com fundamento nas alíneas a e c do permissivo constitucional.

Para tanto, alega ter o v. acórdão contrariado o disposto nos artigos: a) 458, inciso II, 165 e 535 incisos I e II do Código de Processo Civil, pois a despeito da interposição dos embargos de declaração, não foram supridas as alentadas omissões, contradições e obscuridades no v. acórdão embargado; b) 42, inciso V, da Lei n. 6.435/1977, 31, § 2°, do Decreto n. 81.240/1978 e 3º, parágrafo único, da Lei n. 8.020/1990, na medida em que haveria uma mera faculdade na restituição das contribuições e que, mesmo admitida como obrigatória, seriam devidas apenas aquelas efetivadas diretamente pelo associado, excluídas as parcelas a cargo da patrocinadora, bem como que a correção monetária teria sido calculada em conformidade com as normas constantes de seus regulamentos.

Aduz, ainda, divergência jurisprudencial quanto ao percentual do IPC de janeiro de 1989, que pleiteia seja reduzido para 42,72%, em consonância com a jurisprudência desta Corte.

Às fl s. 456-458, o recorrente argúi incompetência absoluta da “Justiça Cível do Estado do Rio de Janeiro” para julgar a matéria, ao argumento de que o v. acórdão combatido decidiu baseado no fato de que “as contribuições do associado e aquelas feitas em seu favor pela patrocinadora, tem nítida e insofi smável natureza salarial”, de forma que o feito deve ser anulado e remetido para a Justiça Trabalhista.

Respondido, o recurso foi admitido na origem, ascendendo os autos a esta Corte.

Após a juntada de substabelecimentos e sucessivos pedidos de vista, os autos foram remetidos para a inclusão em pauta no dia 23.05.2000.

É o relatório.

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VOTO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha (Relator): 01. Cuida o presente recurso

especial de pedido de resgate de contribuições efetuadas à Caixa de Previdência

dos Funcionários do Banco do Brasil - Previ, por funcionário demitido do

Banco do Brasil S/A.

Insurge-se a recorrente quanto à suposta nulidade do v. acórdão hostilizado

em razão do desprovimento dos embargos de declaração; contra a sua condenação

no pagamento das contribuições efetivadas pelo banco patrocinador, bem como

contra a correção monetária do débito com a inclusão do expurgo referente ao

mês de janeiro de 1989, entendendo ser cabível a aplicação do IPC de 42,72%

em substituição aos 70,28% estipulados nas instâncias ordinárias.

O recurso merece parcial provimento.

02. Prefacialmente, registro que a argüição de incompetência absoluta da

Justiça Comum para julgar a matéria, suscitada somente após o julgamento

da apelação e a interposição do recurso especial que ora se analisa, mostra-se

insuscetível de análise por esta Corte, pela manifesta falta de prequestionamento.

Mesmo em se considerando que a possível caracterização da incompetência

para julgar o feito decorreu, segundo entende a recorrente, no próprio aresto

agora hostilizado, deveria a parte ter pelo menos se valido dos embargos

declaratórios por ela opostos para ventilar a questão.

Todavia, quedou-se inerte, vindo a suscitar a matéria, totalmente estranha

aos julgamentos anteriores, somente após a interposição do recurso especial.

Assim, inexistente o prequestionamento, fi ca obstaculizado o conhecimento

do tema nesta sede.

03. A seu turno, a afi rmada afronta ao art. 535, I e II do C.P.C. não merece

prosperar, eis que todas as questões relevantes para apreciação e julgamento do

recurso foram devidamente analisadas pelo acórdão hostilizado, não havendo

omissão, contradição ou obscuridade a ser sanada, revestindo-se os embargos de

declaração de caráter infringente e assumidamente prequestionador.

O recorrente sequer cuidou de mencionar adequadamente qual a efetiva

omissão, obscuridade ou contradição porventura perpetrada pelo aresto

embargado, sendo certo que a só rejeição dos embargos não caracteriza a

violação pretendida.

SÚMULAS - PRECEDENTES

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Como bem salientado no voto condutor do acórdão dos declaratórios,

“todas as omissões apontadas nos embargos versam sobre questões estranhas

aos autos sobre as quais a Câmara não tinha que se pronunciar. Como ressaltado

logo de início da fundamentação do acórdão, a matéria recursal dividia-se

em duas partes: direito à restituição das contribuições patronais e correção

monetária plena, sem os expurgos dos diversos planos econômicos. Essas duas

questões foram enfrentadas separadamente, com clareza e objetividade, de sorte

a não se fazer necessária nenhuma consideração” (fl . 412).

Por sua vez, a argüida violação aos artigos 165 e 458 do mesmo diploma

não subsiste, haja vista estar o v. acórdão recorrido devidamente fundamentado,

pouco importando se contrariamente ao entendimento do recorrente, sendo

certo que somente a falta de fundamento acarretaria sua nulidade.

Assim, não conheço do recurso na parte referente à sugerida violação à

legislação Processual Civil.

04. Quanto ao mérito, melhor sorte lhe assiste.

A questão principal versa sobre o cabimento da restituição, em favor do

associado retirante, da parte das contribuições efetivada pela chamada empresa

patrocinadora, no caso, o Banco do Brasil S/A, correspondente a duas vezes o

valor da prestação feita diretamente pelo benefi ciário.

O v. acórdão recorrido entendeu ser cabível o resgate de tais parcelas, por se

revestirem de natureza salarial, de forma que deveriam sempre reverter em prol

do associado, consoante se extrai do seguinte trecho, verbis:

Absolutamente injustifi cável a pretensão da apelante no sentido de excluir da restituição devida ao associado retirante as contribuições feitas pela entidade patronal. As contribuições do associado e aquelas feitas em seu favor pela patrocinadora, têm nítida e insofi smável natureza salarial, como bem colocou o insigne Des. Ellis Figueira, “portanto mantém a equivalência ao dobro do arrecadado dos empregados associados, isto é, é feita pela empresa-mãe em razão do número de seus empregados que se mantém associados à entidade privada. Não é percentual, nem tem valor fi xo; varia de acordo com o número de associados. Além disso, seu valor corresponde ao dobro daquele feito pelo respectivo associado. (fl s. 394).

Para melhor compreensão da controvérsia, transcrevo o disposto sobre

o tema no artigo 42, inciso V, da Lei n. 6.435/1977, que dispõe sobre as

entidades de previdência privada e no artigo 31, inciso VII e § 2º, do Decreto n.

81.240/1978, que regulamenta a referida lei, indicados como violados:

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Art. 42 - Deverão constar dos regulamentos dos planos de benefícios, das propostas de inscrição e dos certificados dos participantes das entidades fechadas, dispositivos que indiquem:

(... omissis ...)

V - existência ou não, nos planos de benefícios de valor de resgate das contribuições saldadas dos participantes e, em caso afirmativo, a norma de cálculo quando estes se retirem dos planos, depois de cumpridas condições previamente fi xadas e antes da aquisição do direito pleno aos benefícios;

Art. 31 - Na elaboração dos planos de benefícios custeados pelas empresas e respectivos empregados, serão observados os seguintes princípios:

(... omissis ...)

VII - a saída voluntária e antecipada do participante do plano de benefícios instituído, exceto no caso de cessação do contrato de trabalho, implicará a perda dos benefícios para os quais não foram completadas as contribuições necessárias;

(... omissis ...)

§ 2º - No caso do item VII, o participante terá direito à restituição parcial das contribuições vertidas, com correção monetária, de acordo com as normas estabelecidas no próprio plano, não inferior a 50% (cinqüenta por cento) do montante apurado.

Verifi ca-se que a Lei n. 6.435/1977 utiliza, para efeitos de resgate, a

expressão “contribuições saldadas dos participantes”, ao passo que o Decreto

n. 81.240/1978 refere-se às “contribuições vertidas”, de forma que não se

poderia ampliar a interpretação dos dispositivos citados ao ponto de entender

com cabível a restituição, ou o resgate, de substanciais parcelas para as quais o

antigo associado não contribuiu, sendo certo que ainda não havia adquirido o

direito à aposentadoria complementar, pois voluntariamente optou pelo seu

desligamento.

Não há como se concluir que as prestações que fi caram à cargo da empresa

patrocinadora, em montante duas vezes maior que a efetiva contribuição direta

feita pelo empregado, sejam consideradas como salário, direto ou indireto, pois

não visam a remuneração, de qualquer forma, do trabalho do ex-associado.

Registro, sobre a matéria, os seguintes precedentes da egrégia Terceira

Turma, respaldando o entendimento supra, no sentido de que a devolução

somente poderia alcançar a parte efetivamente paga pelo empregado, verbis:

Plano de aposentadoria complementar. Demissão do empregado. Devolução da contribuição paga pela empresa patrocinadora.

SÚMULAS - PRECEDENTES

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1. Não é possível devolver o que não foi desembolsado pelo empregado. A devolução, efetivamente, só pode alcançar a parte que foi paga pelo empregado demitido e que interrompe o sistema de aposentadoria complementar. No caso, não se pode falar de salário indireto, à medida que o ingresso no plano é facultativo e que a poupança destina-se a uma complementação do valor da aposentadoria, para isso concorrendo o empregado diretamente, por sua livre e espontânea vontade.

2. Recurso especial conhecido, mas improvido. (REsp n. 157.993-DF, Relator o eminente Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, in DJ de 17.05.1999).

Previdência privada. Aposentadoria complementar. Programa de desligamento voluntário. 1. Segundo a 3ª Turma do STJ, “Não é possível devolver o que não foi desembolsado pelo empregado. A devolução, efetivamente, só pode alcançar a parte que foi paga pelo empregado demitido e que interrompe o sistema de aposentadoria complementar. No caso, não se pode falar de salário indireto, à medida que o ingresso no plano é facultativo e que a poupança destina-se a uma complementação do valor da aposentadoria, para isso concorrendo o empregado diretamente, por sua livre e espontânea vontade”. Adoção desse entendimento, no caso.

2. Correção monetária. De fato, conforme o acórdão recorrido, “Os índices de correção do valor da moeda devem corresponder, assim refl etindo, sem engodo, ao seu real poder aquisitivo”. Aplicação, no entanto, quanto a janeiro de 1989, do percentual de 42,72%, de acordo com a orientação do STJ. Em conseqüência, adota-se, para fevereiro, o percentual de 10,14% (EREsp - n. 24.124). 3. Recurso especial conhecido e provido em parte. (REsp n. 137.012-RJ, Relator o eminente Ministro Nilson Naves, in DJ de 28.06.1999).

Assim, tenho por confi gurada a aludida ofensa aos artigos 42, inciso V, da Lei n. 6.435/1977 e 31, VII e § 2º, do Decreto n. 81.240/1978, merecendo o recurso ser conhecido e provido nesta parte, para que sejam restituídas ao associado retirante apenas aquelas parcelas para as quais efetivamente contribuiu.

05. No tocante aos índices de correção monetária dos valores a serem restituídos, tenho por não caracterizado o sugerido maltrato aos dispositivos trazidos pela recorrente, pois esta Corte já decidiu em incontáveis oportunidades que a atualização monetária do débito deve ser feita de forma a garantir a plena reposição da perda infl acionária, devendo-se utilizar, para tanto, os índices que melhor refl itam a corrosão da moeda no período.

Especifi camente no que tange ao mês de janeiro de 1989, contudo, tenho por demonstrada a divergência, face à notoriedade da matéria.

É que a egrégia Corte Especial deste Sodalício, no julgamento do REsp

n. 43.055-0-SP (D.J. de 20.02.1995), relatado pelo eminente Ministro Sálvio

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de Figueiredo Teixeira, decidiu que o índice que refl ete a real infl ação do mês de

janeiro de 1989 é de 42,72%. Em face do decisum acima transcrito, as egrégias

Turmas componentes da Segunda Seção vêm pacifi camente aplicando o referido

índice (42,72%) como real valor do IPC de janeiro de 1989 para fi ns de cálculo

da remuneração dos saldos de cadernetas de poupança e para as liqüidações de

sentença.

O mesmo índice deve ser utilizado no caso, para que se garanta somente a

efetiva reposição das perdas decorrentes do expurgo infl acionário incidente no

período em tela, sem qualquer enriquecimento injustifi cado por parte do autor,

em detrimento dos demais associados.

Veja-se, a propósito, o supracitado REsp n. 137.012-RJ que, em hipótese

idêntica, considerou como cabível a correção das restituições pelo IPC de

janeiro de 1989, em 42,72%.

Assim, o recurso merece conhecimento neste ponto apenas pela alínea c,

para que seja adotado o índice de 42,72% para a correção monetária no período.

06. Diante de tais pressupostos, conheço parcialmente do recurso e,

nessa extensão, dou-lhe provimento, para determinar que sejam restituídas ao

associado retirante apenas aquelas contribuições por ele feitas diretamente, bem

como para seja adotado o índice de 42,72% para a correção monetária no mês

de janeiro de 1989.

Em face da sucumbência recíproca, determino o rateio, por igual, das

despesas processuais e a compensação dos honorários advocatícios.

VOTO VENCIDO (EM PARTE)

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Presidente): Srs. Ministros, estou

acompanhando o eminente Ministro Relator no que diz com os temas sobre

a incompetência e a ofensa aos arts. 165, 458 e 535 do Código de Processo

Civil, e também quanto ao tema da correção monetária, objeto do anterior

pedido de vista, uma vez convencido de que a Caixa deve restituir esses valores

devidamente corrigidos por índices que representem a infl ação, como agora

votou o eminente Ministro Cesar Asfor Rocha.

Não vejo, porém, a ofensa ao disposto no art. 42 da Lei n. 6.435. Diz o

art. 42: “(...) o valor de resgate das contribuições saldadas dos participantes

(...)”. Não há contrariedade a esse dispositivo pela decisão que considera

SÚMULAS - PRECEDENTES

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como contribuições saldadas dos participantes tanto os depósitos feitos pelo

empregado como as contribuições efetuadas pela empregadora em razão do

contrato de trabalho.

Se não fosse o contrato de trabalho não haveria causa para a contribuição.

Logo, ela existe porque há o contrato de trabalho. No momento em que se

realiza o contrato, o empregador assume a obrigação, junto à Caixa, de efetuar

as contribuições. Como isso decorre diretamente da existência do contrato, não

há ofensa à lei por se considerar o fundo assim constituído como “contribuições

saldadas dos participantes”. A lei não exige que a devolução seja apenas daquela

feita pessoalmente pelo empregado.

Depois, se fosse o caso de não se devolver ao empregado que se retira por

rescisão, sem justa causa, seria então de se devolver à entidade empregadora.

Mas, não. Ao que parece, essa quantia fi ca com a Previ, e não vejo razão para a

Caixa reter valores existentes em razão do contrato de trabalho de seu associado.

Não está na lei a regra de que não serão devolvidas as contribuições feitas

pelos empregadores. E se estivesse, certamente a lei teria o bom senso de dizer

que deveriam ser restituídas à empregadora. Admitindo-se a tese sustentada

pela recorrente, a Previ, uma das instituições mais ricas do país, que por sua

vez tem participado da aquisição das empresas mais ricas dos país, também

deve, quando se retira o empregado que contribuiu para a formação dos seus

fundos, devolver a ele o valor com que ele colaborou, devidamente corrigido, e

incluir nessa devolução também as contribuições feitas pela empregadora, nesse

quantitativo de 50%, determinado pelo acórdão recorrido.

É preciso ponderar a fi nalidade para a qual existe a Caixa e a razão de ser

da regra da devolução. Se o contrato de trabalho persistisse, o empregado teria

direito à aposentadoria complementar. Rompido o contrato sem justa causa,

posto na rua o que fi cou desempregado em condições sabidamente difíceis de

conseguir novo posto, parece razoável, atendendo ao fi m social que é a razão de

ser da instituição, que ele possa levar parte substancial do capital que se formou

por causa da relação de emprego.

Destoa substancialmente dessa visão - que tenho como única aceitável

dentro do sistema - fi que com a Previ a maior quantidade do capital amealhado,

para o qual ela não contribuiu com nada, e ainda se disponha a devolvê-lo de

modo minguado e sem a devida correção. Não é certamente o comportamento

esperável.

Acompanho o Sr. Ministro Relator, com essa ressalva sobre as contribuições.

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VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: - Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha,

quanto ao primeiro tema não tenho dúvida nenhuma. Não há sentido, com

a máxima vênia da divergência, de se devolver, ou melhor, de se entregar

ao ex-empregado o valor pago pela patrocinadora, que é para custeio de

uma aposentadoria à qual ele não terá direito. Ele deve receber de volta,

evidentemente, o que pagou, mas não a parte da patrocinadora. O empregado

jamais desembolsou tal quantia. Aliás, é o mesmo princípio do Fundo de

Garantia. Este não se restitui. Se a pessoa é não-optante, e é mandada embora

sem justa causa, o dinheiro do FGTS que vinha sendo depositado pela empresa

numa conta, em nome do empregado, mas vinculada, ela resgata o valor que

depositou, que é a contribuição. É o mesmo princípio. De modo que concordo

inteiramente com V. Exa. no sentido de que ele só levanta a parte relativa à

própria contribuição, pois o contrário representaria enriquecimento sem causa.

Conheço do recurso e dou-lhe provimento.

VOTO

O Sr. Ministro Barros Monteiro: Sr. Presidente, rogo vênia a V. Exª para

acompanhar, na integralidade, o voto do Sr. Ministro-Relator, entendendo que

o demandante não faz jus à restituição das parcelas que foram depositadas pelo

órgão de previdência. Penso, como S. Exª, que houve, efetivamente, afronta ao

art. 42, inciso V, da Lei n. 6.435, e ao art. 31, inciso VII, do Decreto n. 81.240,

de 1978. Nessa linha, tem sido, por sinal, a jurisprudência mansa e pacífi ca

emanada da Terceira Turma, conforme os precedentes mencionados, REsp’s n.

157.993 e n. 187.184, que foram referidos da tribuna, dentre outros julgados.

Com a devida vênia, acompanho inteiramente o voto do Sr. Ministro-Relator.

RECURSO ESPECIAL N. 157.993-DF (97.87751-5) (4.662)

Relator: Ministro Carlos Alberto Menezes Direito

Recorrentes: Marcos Rogério Rocha Mendlovitz e outro

SÚMULAS - PRECEDENTES

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Advogados: Edewylton Wagner Soares e outros

Recorrida: Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil - Previ

Advogados: Nelson Buganza Júnior e outros

Sustentação oral: José Carlos de Almeida, pela recorrente

EMENTA

Plano de aposentadoria complementar. Demissão do empregado.

Devolução da contribuição paga pela empresa patrocinadora.

1. Não é possível devolver o que não foi desembolsado pelo

empregado. A devolução, efetivamente, só pode alcançar a parte

que foi paga pelo empregado demitido e que interrompe o sistema

de aposentadoria complementar. No caso, não se pode falar de

salário indireto, à medida que o ingresso no plano é facultativo

e que a poupança destina-se a uma complementação do valor da

aposentadoria, para isso concorrendo o empregado diretamente, por

sua livre e expontânea vontade.

2. Recurso especial conhecido, mas improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Senhores Ministros

da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso especial,

mas negar-lhe provimento. Participaram do julgamento os Senhores Ministros

Nilson Naves, Eduardo Ribeiro e Waldemar Zveiter.

Brasília (DF), 09 de março de 1999 (data do julgamento).

Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Presidente e Relator

DJ 17.05.1999

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Marcos Rogério Rocha

Mendlovitz e outra interpõem recurso especial, com fundamento nas alíneas a e

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c do permissivo constitucional, contra acórdão proferido pela 1ª Turma Cível do

Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, assim ementado:

Ação ordinária. Cobrança de contribuições patronais. Funcionários do Banco do Brasil S/A. Fundo de pensão. Salário indireto. Resgate de cotas restrito à cota pessoal. Defeso falar-se que a contribuição patronal, no caso dos Fundos de Pensão, represente salário indireto em favor do empregado associado. Destarte ao resgatar ou obter a devolução das contribuições vertidas, o empregado faz jus tão-só ao que desembolsou a esse título e o quantum pago pelo empregador, em nome da moral e dos bons costumes, há de se retornar ao órgão patronal, uma vez tratar-se nesses casos de dinheiro do erário público. (fl s. 169).

Sustentam os recorrentes que, ao assim decidir, o acórdão negou vigência

ao artigo 1.363 do Código Civil, pois, ao negar provimento à apelação, julgando

improcedente o pedido e desvinculando a contribuição patronal, indevidamente

retida, vertida durante todo o pacto laboral em nome dos recorrentes à recorrida

(salário indireto), contrariou o dispositivo acima mencionado, porque privilegia

uma parte da sociedade em desfavor da outra.

Foram oferecidas contra-razões (fl s. 201 a 210) e o recurso especial foi

admitido (fl s. 212).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito (Relator): Os recorrentes

ajuizaram ordinária alegando que ao serem admitidos no Banco do Brasil

aderiram ao Plano de Previdência Privada oferecido pela Previ, foram demitidos,

sem justa causa, e não receberam o que tinham direito pelo regulamento

porque foram excluídas as contribuições recolhidas pelo Banco. A sentença

julgou improcedente o pedido. O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos

Territórios manteve o julgado, considerando que a devolução alcança, apenas, a

cota pessoal dos autores.

Como é sabido, nas entidades de previdência privada o sistema de

aposentadoria complementar estabelece a contribuição do empregado

benefi ciário e a da empresa patrocinadora. Essas contribuições é que formam a

SÚMULAS - PRECEDENTES

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reserva para que o benefi ciário possa no futuro receber a aposentadoria a que faz

jus mais a complementação decorrente do plano de previdência privada.

A questão posta nos autos cuida da interrupção do contrato de trabalho,

por demissão sem justa causa, pretendendo o empregado demitido a devolução

das contribuições relativas ao plano de aposentadoria complementar.

Ora, neste caso, não é possível devolver o que não foi desembolsado pelo

interessado. A devolução, efetivamente, só pode alcançar a parte que foi paga

pelo empregado demitido.

É claro que não se pode falar, no caso, de salário indireto, à medida que

o ingresso no plano é facultativo, não obrigatório, e que a poupança destina-

se a uma complementação do valor da aposentadoria, para isso concorrendo o

empregado diretamente, por sua livre e expontânea vontade.

Admitir a devolução ao empregado demitido sem justa causa da parte

relativa à contribuição paga pela empresa patrocinadora seria repor valor que

não foi desembolsado por ele, não alcançada a fi nalidade para a qual se destina o

plano, assim a complementação da aposentadoria.

Quanto ao art. 1.363 do Código Civil, não é pertinente ao caso nos

pagamentos, o que inviabiliza o recurso pela letra a.

Quanto ao dissídio, há comprovação dele com o paradigma do Tribunal de

Justiça do Estado do Rio de Janeiro.

Conheço do especial pela letra c, mas nego-lhe provimento.

RECURSO ESPECIAL N. 198.604-RJ (98.0093111-2)

Relator: Ministro Barros Monteiro

Recorrente(s): Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil - Previ

Advogado(s): Leônidas Cabral de Albuquerque e outros

Recorrido(s): Olavo Pacheco de Souza Sobrinho

Advogado(s): Iracema Canabrava Rodrigues Botelho e outros

Sustentação oral: Pedro Afonso Bezerra de Oliveira, pelo recorrente

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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EMENTA

Previdência privada. Desligamento do participante do plano.

Resgate das contribuições. Exclusão daquelas pagas pela patrocinadora.

Correção monetária. Janeiro/1989. 42,72%.

- Na restituição devida ao associado retirante, não se incluem

as contribuições solvidas pela empresa patrocinadora. Precedentes do

STJ.

- Segundo assentou a Eg. Corte Especial, o índice que refl ete a

real infl ação no mês de janeiro/1989 é o de 42,72% (REsp n. 43.055-

SP).

Recurso especial conhecido, em parte, e provido parcialmente.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas: Decide

a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por maioria, conhecer em

parte do recurso e, nessa parte, dar-lhe parcial provimento. Vencido em parte

o Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, que lhe dava provimento em menor

extensão, na forma do relatório e notas taquigráfi cas precedentes que integram o

presente julgado. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha,

Aldir Passarinho Júnior e Sálvio de Figueiredo Teixeira.

Brasília (DF), 15 de junho de 2000 (data do julgamento).

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente

Ministro Barros Monteiro, Relator

DJ 12.02.2001

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Barros Monteiro: Trata-se de ação ordinária de indenização

por perdas e danos patrimoniais ajuizada por Olavo Pacheco de Souza Sobrinho

contra a “Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil - Previ”,

em que o autor alega: a) foi empregado do Banco do Brasil S/A no período

compreendido entre 19.06.1983 e 31.07.1995, durante o qual também foi

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associado da Previ; b) aderindo ao plano de desligamento voluntário do banco, optou por receber da ré parte das contribuições depositadas para sua “reserva de poupança”; c) a ré restituiu-lhe a quantia líquida de R$ 17.932.77, já descontado o imposto de renda, computando-se aí apenas as contribuições pessoais vertidas no citado período; d) ao elaborar os cálculos, deixou ela de observar os expurgos de correção monetária computados no período, no total acumulado de 288,9248%, que deveriam incidir sobre o valor recebido, acrescido do imposto de renda: d) a demandada também deixou de restituir as contribuições patronais - em dobro - pagas pelo Banco do Brasil, só tendo computado as contribuições pessoais pagas pelo suplicante. Requereu então o pagamento dos expurgos da correção monetária e a restituição das contribuições patronais em dobro, observado nos cálculos o valor do imposto de renda descontado por ocasião da restituição antes procedida, tudo com atualização monetária e juros de 6% até 31.07.1995, a partir de quando deverão ser atualizados pela TR mais juros legais de 12% a. a., além de encargos de sucumbência.

O magistrado de 1º grau julgou procedente o pedido “para condenar a ré a pagar ao autor: a) a diferença que for apurada entre o valor já restituído e o que deveria tê-lo sido à guisa de contribuições pessoais, após atualizadas pelos índices reais de correção monetária; b) contribuições patronais, correspondentes ao dobro dos valores já restituídos a título de contribuições pessoais, igualmente corrigidas pelos índices reais de infl ação; c) juros legais de seis por cento ao ano sobre o total apurado; d) retifi cação do cálculo do imposto de renda na forma e para os fi ns alvitrados no item “d” da inicial (fl . 09); e) custas processuais e verba honorária de dez por cento sobre o total da condenação” (fl s. 202).

A Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, à unanimidade de votos, negou provimento ao apelo da ré. Eis a ementa do

acórdão:

Previdência privada. Desligamento do associado. Restituição das contribuições, devidamente corrigidas.

O desligamento voluntário do associado da entidade previdenciária privada confere-lhe o direito à percepção dos valores previstos no Estatuto: contribuições pessoais e patrimoniais, corrigidas pelos índices reais da infl ação.

Confi rmação da sentença que deu pela procedência do pedido (fl s. 309).

Opostos embargos de declaração, foram os mesmos rejeitados.

Inconformada, a “Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do

Brasil - Previ” manifestou recurso especial com fulcro nas alíneas a e c do

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autorizativo constitucional, apontando afronta aos arts. 458, II, 535, I e II, do

Código de Processo Civil, 42, V, da Lei n. 6.435/1977, 2º, parágrafo único, e

3º, parágrafo único, da Lei n. 8.020/1990, além de dissenso com julgados do

Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. Argüiu a incompetência

absoluta da Justiça Comum Estadual para apreciar e julgar a demanda com

relação à devolução das contribuições da patrocinadora a favor do autor. Pugnou

pela declaração da nulidade do acórdão dos embargos de declaração, para que

outro seja proferido, por não haver o mesmo sanado as omissões apontadas pela

recorrente. Sustentou que “não são devidos os supostos expurgos infl acionários

pretendidos pelo recorrido na correção da reserva das contribuições pessoais. A

uma, porque a correção monetária não é expressamente aludida na legislação

que regulamenta as entidades fechadas de previdência privada. A duas, porque

as contribuições efetuadas não têm a natureza de aplicação exclusivamente no

mercado fi nanceiro. A três, porque o inciso V, do artigo 42, da Lei n. 6.435/1977,

faculta - não se trata de obrigação - às entidades fechadas de previdência privada

instituir no plano a devolução das contribuições saldadas dos participantes. Em

resumo: se pela Lei n. 6.345/1977 não está obrigada a devolver as contribuições

saldadas dos participantes, muito menos estará obrigada a corrigi-las por índices

eleitos pelo recorrido”. Alegou ainda que somente as contribuições saldadas

dos participantes, que se retirem dos planos de previdência, podem ser objeto

de restituição, jamais aquelas vertidas pelo Banco do Brasil S/A, por não terem

natureza salarial, mas destinarem-se ao custeio do Plano.

Contra-arrazoado, o apelo extremo foi admitido na origem.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Barros Monteiro (Relator): 1. Há uma alegação preliminar

formulada pela recorrente, tocante à incompetência absoluta da Justiça Comum

Estadual, vinda a lume, porém, sem forma nem fi gura de juízo, desde que a

interessada deixou de apontar aí qual o artigo de lei federal tido como contrariado,

assim como não indicou julgado algum considerado como discrepante. Não fora

este aspecto de cunho formal, há a anotar que a própria recursante sustenta,

nas razões meritórias de seu apelo extremo, não terem as contribuições vertidas

pela patrocinadora natureza salarial. Em verdade, a relação jurídica litigiosa diz

com a previdência privada, motivo por que não se vê motivo relevante para o

deslocamento da competência.

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2. De outro lado, a despeito de sucinto, o acórdão recorrido apreciou as

questões substanciais versadas na causa. Claro está que, para dirimir cada uma

delas, não era imperioso que mencionasse a legislação em que se arrimou, tanto

mais que, provocada, a Eg. Câmara esclareceu não ter admitido como pertinente

qualquer dos preceitos legais invocados pela ré.

3. O tema central do litígio já foi objeto de exame por ambas as Turmas

que compõem a Segunda Seção desta Corte. Assentou-se que as contribuições

prestadas pela patrocinadora do fundo de pensão não hão de ser restituídas ao

participante que dele se retira. Restou bem claro que tais contribuições não

possuem caráter salarial, ao reverso do que proclamou a decisão ora recorrida.

Estou referindo-me aos REsp’s n. 148.902-RJ, relator Ministro Cesar

Asfor Rocha, n. 157.993-DF, relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito

e n. 137.012-RJ, relator Ministro Nilson Naves.

Do primeiro desses julgados, o mais recente, transcrevo excerto do voto

proferido pelo Exmº Sr. Ministro Relator:

Verifica-se que a Lei n. 6.435/1977 utiliza, para efeitos de resgate, a expressão “contribuições saldadas dos participantes”, ao passo que o Decreto n. 81.240/1978 refere-se às “contribuições vertidas”, de forma que não se poderia ampliar a interpretação dos dispositivos citados ao ponto de entender com cabível a restituição, ou o resgate, de substanciais parcelas para as quais o antigo associado não contribuiu, sendo certo que ainda não havia adquirido o direito à aposentadoria complementar, pois voluntariamente optou pelo seu desligamento.

Não há como se concluir que as prestações que fi caram à cargo da empresa patrocinadora, em montante duas vezes maior que a efetiva contribuição direta feita pelo empregado, sejam consideradas como salário, direto ou indireto, pois não visam a remuneração, de qualquer forma, do trabalho do ex-associado.

Signifi cativas são as ementas lançadas para os mencionados REsp’s n.

157.993-DF e n. 137.012-RJ, respectivamente:

Plano de aposentadoria complementar. Demissão do empregado. Devolução da contribuição paga pela empresa patrocinadora.

1. Não é possível devolver o que não foi desembolsado pelo empregado. A devolução, efetivamente, só pode alcançar a parte que foi paga pelo empregado demitido e que interrompe o sistema de aposentadoria complementar. No caso, não se pode falar de salário indireto, à medida que o ingresso no plano é facultativo e que a poupança destina-se a uma complementação do valor da

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aposentadoria, para isso concorrendo o empregado diretamente, por sua livre e expontânea vontade.

2. Recurso especial conhecido, mas improvido.

Previdência privada. Aposentadoria complementar. Programa de desligamento voluntário. 1. Segundo a 3ª Turma do STJ. “Não é possível devolver o que não foi desembolsado pelo empregado. A devolução, efetivamente, só pode alcançar a parte que foi paga pelo empregado demitido e que interrompe o sistema de aposentadoria complementar. No caso, não se pode falar de salário indireto, à medida que o ingresso no plano é facultativo e que a poupança destina-se a uma complementação do valor da aposentadoria, para isso concorrendo o empregado diretamente, por sua livre e expontânea vontade”. Adoção desse entendimento, no caso. 2. Correção monetária. De fato, conforme o acórdão recorrido, “Os índices de correção do valor da moeda devem corresponder, assim refletindo, sem engodo, ao seu real poder aquisitivo”. Aplicação, no entanto, quanto a janeiro de 1989, do percentual de 42,72%, de acordo com a orientação do STJ. Em conseqüência, adota-se, para fevereiro, o percentual de 10,14% (EREsp n. 24.124). 3. Recurso especial conhecido e provido em parte.

4. Quanto à atualização monetária, a orientação já traçada é no sentido de

que a correção da identidade da moeda deve corresponder à efetiva perda de

seu poder aquisitivo. Tal como decidido há pouco por este órgão fracionário, a

correção monetária do débito deve ser feita de forma a garantir a plena reposição

da perda infl acionária, utilizando-se para tanto dos índices que melhor refl itam

a corrosão da moeda no período (REsp’s n. 148.902-RJ e n. 137.012-RJ, acima

citados).

Tal como no aludido precedente, tem-se aí apenas como evidenciada a

divergência no que concerne ao mês de janeiro de 1989. Segundo decidiu a Eg.

Corte Especial desta Casa, o índice que refl ete a real infl ação do referido mês de

janeiro/1989 é o de 42,72%, razão pela qual deve prevalecer também na hipótese

em análise.

5. Do quanto foi exposto, conheço, em parte, do recurso pela alínea c

do permisssor constitucional e, nessa parte, dou-lhe provimento parcial, para

excluir da condenação as contribuições vertidas pela patrocinadora, bem como

para adotar-se, no mês de janeiro/1989, a título de correção monetária, o

percentual de 42,72%.

Em face da sucumbência recíproca, as despesas processuais serão repartidas,

meio a meio, compensados os honorários advocatícios.

É como voto.

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VOTO VENCIDO (EM PARTE)

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Presidente): Srs. Ministros, estou de acordo com o eminente Relator e conheço em parte do recurso, mas lhe dou provimento em menor extensão, deferindo a correção monetária, como S. Exª., e também o índice em 42,72% em janeiro de 1989.

Pedindo vênia a S. Exª. e aos que o acompanham, conforme já votei no precedente indicado, penso que o associado da previdência privada tem o direito de levar consigo uma parte do capital constituído em razão do contrato de trabalho e para o fi m previdenciário. No momento em que ele mais precisa, porque fi ca sem o emprego, em economia com alto índice de desemprego, o capital formado em razão da existência do seu contrato de trabalho deve ser a ele repassado. Não há nenhuma razão de ordem jurídica para que fi que com a entidade de previdência, que não terá contraprestação a cumprir e, assim, se enriquece injustamente com o que foi a contribuição da empregadora.

Não me parece que realiza a fi nalidade social para a qual foi constituída a Previ, fi nalidade que justifi ca a existência e a participação da previdência privada no sistema de previdência do país, fi car a entidade com o que foi contribuição paga em razão de um contrato de trabalho desfeito.

Se não completado o tempo para que se garantisse o direito de pensão ou de aposentadoria, nem por isso deixou de haver um tempo em que houve a contribuição. Segundo a lei, o segurado tem o direito de receber, no caso de sair, o valor das contribuições saldadas em seu nome. E essas contribuições saldadas devo interpretar como sendo aquelas que ele fez, descontando do seu salário, e também aquelas que a empregadora efetuou em razão da existência do contrato de trabalho.

Reiterando o entendimento anterior, estou nesse ponto também conhecendo do recurso, mas lhe dou provimento em menor extensão.

VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: - Sr. Presidente, acompanho o eminente Relator com as considerações que fi z no Recurso Especial n. 148.902-RJ.

VOTO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: Sr. Presidente, acompanho

também o Ministro-Relator.

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No que diz respeito à correção monetária, após ter votado como relator

no REsp n. 168.643, que está com pedido de vista com V. Exa, esta Turma,

recentemente, teve oportunidade de julgar o REsp n. 148.902, sob a relatoria do

Ministro Cesar Asfor Rocha, oportunidade em que fi xou entendimento diverso,

na linha, aliás, do que já fora decidido na Terceira Turma.

Embora não plenamente convencido desse entendimento, mas

considerando que já se manifestou a Turma, e agora volta a reproduzi-lo com

aquele precedente da Terceira Turma, vou curvar-me à orientação prevalecente,

que optou pela incidência dos índices ofi ciais, à exceção do mês de janeiro de

1989, no qual se deverá aplicar, na linha da jurisprudência da Corte, o percentual

de 42,72%.

No tocante ao segundo aspecto, quanto à pretensão ao recebimento da

contribuição patronal, como já assinalei, vou também acompanhar os votos

até aqui majoritários, por entender que a parte a ela não faz jus, porque estaria,

s.m.j., a locupletar-se indevidamente, de uma importância que não desembolsou.

Em conclusão, acompanho o Ministro-Relator.

RECURSO ESPECIAL N. 299.425-RJ (2001/0003164-1)

Relator: Ministro Ruy Rosado de Aguiar

Recorrente: Paulo César Goulart e cônjuge

Advogado: Iracema Canabrava Rodrigues Botelho e outros

Recorrido: Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil - Previ

Advogado: Walfredo Frederico de Siqueira Cabral Dias e outros

EMENTA

Previdência privada. Previ. Contribuições. Devolução.

- Segundo o entendimento majoritário, o associado que se desliga

da empregadora não tem o direito de receber as contribuições feitas

pela empresa à entidade previdenciária. Ressalva do relator.

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- A Segunda Seção pacificou o entendimento de que as

contribuições feitas pelo empregado e associado devem ser devolvidas,

quando de sua demissão, com a devida correção, por índices que

refl itam a realidade da desvalorização da moeda.

Recurso conhecido em parte e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer em parte do recurso e, nessa parte, dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior, Sálvio de Figueiredo Teixeira, Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 16 de outubro de 2001 (data do julgamento).

Ministro Cesar Asfor Rocha, Presidente

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Relator

DJ 04.02.2002

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Paulo Cesar Goulart e s/m

ajuizaram ação de indenização contra a Caixa de Previdência dos Funcionários

do Banco do Brasil - Previ, objetivando a restituição das quantias recolhidas

a título de contribuição previdenciária pelo tempo de permanência no quadro

de funcionários do Banco do Brasil, abrangendo as contribuições patronais

de 2/3 e as pessoais de 1/3, bem como os resultados da compensação dos

expurgos de correção monetária, contados até os desligamentos voluntários

procedidos. Quando da demissão, optaram pelo resgate ou restituição parcial das

contribuições vertidas na forma do § 2o do art. 31 do Decreto n. 81.240/1978,

ocasião em que receberam apenas 98% das contribuições deduzidas por eles

próprios, o que se lhes afi gura ilegal.

Julgado improcedente o pedido, os autores apelaram, e a egrégia Nona

Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro negou provimento ao

recurso, em acórdão assim ementado:

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Previdenciário. Entidade fechada. Desligamento voluntário. Recebimento limitativo às contribuições pessoais. Exclusão das parcelas respondidas pela entidade patronal integrante de sistema. Correção monetária limitada aos termos do índice ofi cial. Recurso não provido. Decisão confi rmada.

Não integrando as contribuições patronais o salário do empregado, mesmo que indiretamente, não podem elas serem objeto de pretensão à devolução em caso de desligamento voluntário. Por outro lado, assentado que as contribuições pessoais que se agregam à fi nalidade da entidade previdenciária privada ostentar natureza e estrutura de conta poupança, não lhes alcançam outras correções que não as dos índices ofi ciais na forma em que se viram contratadas (fl . 459).

Rejeitados os embargos de declaração, os autores apresentaram recurso

especial, fundado em ambas as alíneas do permissivo constitucional, em que

alegam ofensa aos arts. 458, II e 535, I e II, do CPC, diante da omissão do v.

aresto recorrido, eis que permaneceu silente no que se refere aos arts. 5º, II e

XXXVI, da CF; 3º, I, 42, V, e 88 da Lei n. 6.435/1977; 20, V, 31, VIII e § 2º, e

42 do Decreto n. 81.240/1978, além de divergência jurisprudencial com outros

Tribunais. Afi rmam a necessidade de reforma do v. aresto para que seja feita

a “devolução/restituição das contribuições patronais em favor dos recorrentes,

desde suas admissões em 17.02.1975 e 18.10.1974, respectivamente, ou, na

última das hipóteses, retroativa à data da vigência do Decreto n. 81.240/1978,

acrescidas dos expurgos inflacionários, restabelecida a correção monetária

plena sobre o montante a ser apurado, com incidência de juros legais, juros

moratórios”. Sobre a correção, pedem seja utilizado o IPC para a atualização

das contribuições. Insistem em que “a recorrida indenize os recorrentes em

relação às contribuições pessoais por ele recebidas quando de sua demissão do BB. S.A., procedendo o reembolso dos valores expurgados de correção monetária, com base nos índices corretos determinados pelo STF e o STJ, que, realmente, venham refl etir a verdadeira infl ação do período, livre de artifícios escamoteadores que depreciam brutalmente a moeda nacional, fazendo com que o poder de compra dos recorrentes fi casse reduzido em proporções sensíveis, durante todo o período trabalhado pelos recorrentes em favor de seu ex-empregador, e, por fi nal seja efetivada a inversão do ônus de sucumbência, acrescido das respectivas verbas acessórias (juros legais, juros moratórios e demais cominações de estilo).”

Sem as contra-razões, o recurso foi admitido em parte na origem, por violação ao art. 535 do CPC, subindo os autos.

Os recorrentes apresentaram memorial.

É o relatório.

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VOTO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Relator): 1. Não há no r. acórdão recorrido a nulidade apontada, uma vez que examinou as duas questões propostas e as julgou adequadamente, ainda que em desacordo com as teses dos recorrentes.

2. Os temas submetidos a exame no recurso especial são dois:

(a) o direito de os associados da Previ receberem, quando se desligam do emprego e da entidade previdenciária, as contribuições feitas pela empregadora. Nesse ponto, a orientação predominante é no sentido de limitar a devolução às

contribuições dos empregados:

- “Não é possível devolver o que não foi desembolsado pelo empregado. A devolução, efetivamente, só pode alcançar a parte que foi paga pelo empregado demitido e que interrompe o sistema de aposentadoria complementar. No caso, não se pode falar de salário indireto, à medida que o ingresso no plano é facultativo e que a poupança destina-se a uma complementação do valor da aposentadoria, para isso concorrendo o empregado diretamente, por sua livre e espontânea vontade!” (REsp n. 157.993-DF, Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, DJ de 17.05.1999).

Na restituição devida ao associado retirante, não se incluem as contribuições solvidas pela empresa patrocinadora. Precedentes do STJ.

Segundo assentou a Eg. Corte Especial, o índice que refl ete a real infl ação no mês de janeiro/1989 é o de 42,72% (REsp n. 43.055-SP). Recurso especial conhecido, em parte, e provido parcialmente (REsp n. 198.604-RJ, 4ª Turma, rel. o em. Min. Barros Monteiro, DJ 12.02.2001).

Sobre o tema, devo ressalvar o entendimento pessoal, favorável à devolução

integral das contribuições feitas em favor daquele segurado:

Não vejo, porém, a ofensa ao disposto no art. 42 da Lei n. 6.435. Diz o art. 42: “(...) o valor de resgate das contribuições saldadas dos participantes (...)”. Não há contrariedade a esse dispositivo pela decisão que considera como contribuições saldadas dos participantes tanto os depósitos feitos pelo empregado como as contribuições efetuadas pela empregadora em razão do contrato de trabalho.

Se não fosse o contrato de trabalho, não haveria causa para a contribuição. Logo, ela existe porque há o contrato de trabalho. No momento em que se realiza o contrato, o empregador assume a obrigação, junto à Caixa, de efetuar as contribuições. Como isso decorre diretamente da existência do contrato, não há ofensa à lei por se considerar o fundo assim constituído como “contribuições saldadas dos participantes”. A lei não exige que a devolução seja apenas daquela feita pessoalmente pelo empregado.

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Depois, se fosse o caso de não se devolver ao empregado que se retira por rescisão, sem justa causa seria então de se devolver à entidade empregadora. Mas, não. Ao que parece, essa quantia fi ca com a Previ, e não vejo razão para a Caixa reter valores existentes em razão do contrato de trabalho de seu associado.

Não está na lei a regra de que não serão devolvidas as contribuições feitas pelos empregadores. E se estivesse, certamente a lei teria o bom senso de dizer que deveriam ser restituídas à empregadora. Admitindo-se a tese sustentada pela recorrente, a Previ, uma das instituições mais ricas do país, que por sua vez tem participado da aquisição das empresas mais ricas dos país, também deve, quando se retira o empregado que contribuiu para a formação dos seus fundos, devolver a ele o valor com que ele colaborou, devidamente corrigido, e incluir nessa devolução também as contribuições feitas pela empregadora, nesse quantitativo de 50%, determinado pelo acórdão recorrido.

É preciso ponderar a fi nalidade para a qual existe a Caixa e a razão de ser da regra da devolução. Se o contrato de trabalho persistisse, o empregado teria direito à aposentadoria complementar. Rompido o contrato sem justa causa, posto na rua o que fi cou desempregado em condições sabidamente difíceis de conseguir novo posto, parece razoável, atendendo ao fi m social que é a razão de ser da instituição, que ele possa levar parte substancial do capital que se formou por causa da relação de emprego.

Destoa substancialmente dessa visão - que tenho como única aceitável dentro do sistema - fi que com a Previ a maior quantidade do capital amealhado, para o qual ela não contribuiu com nada, e ainda se disponha a devolvê-lo de modo minguado e sem a devida correção. Não é certamente o comportamento esperável.

Acompanho o Sr. Ministro Relator, com essa ressalva sobre as contribuições (Voto vencido em parte no REsp n. 148.902-RJ, 4ª Turma).

(b) a atualização monetária das contribuições a serem devolvidas deve ser feita de acordo com índices aceitos no Tribunal para a liquidação judicial, de modo a refl etir a real desvalorização da moeda, e não nos termos determinados no contrato:

- Previdência privada.

- A atualização monetária das contribuições a serem devolvidas ao associado retirante deve ser calculada não com base nos parâmetros estabelecidos pelas partes, mas pelo IPC, por ser o índice que melhor traduz a perda do poder aquisitivo da moeda. Precedente da Segunda Seção: EREsp n. 264.061 (AGA n. 356.564-DF, 3ª Turma rel. a em. Min. Nancy Andrighi, DJ 08.10.2001).

Firmou o Superior Tribunal de Justiça que no caso de desligamento do empregado, a restituição das importâncias com as quais pessoalmente contribuiu à entidade de previdência complementar, deve ser feito com correção monetária por fatores de atualização que recomponham a efetiva desvalorização da moeda

SÚMULAS - PRECEDENTES

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nacional (REsp n. 187.192-DF, 4ª Turma, rel. o em. Min. Aldir Passarinho Junior, DJ 07.05.2001).

Plano de previdência privada.

A atualização monetária das contribuições a serem devolvidas ao associado retirante deve ser calculada não com base nos parâmetros estabelecidos pelas partes, mas pelo IPC por ser o índice que melhor traduz a perda do poder aquisitivo da moeda. Precedentes (REsp n. 265.050-DF, 4ª Turma, rel. o em. Min. Cesar Asfor Rocha, DJ 19.03.2001).

Previdência privada. Previ. Devolução de contribuições. Correção monetária integral. O associado que se retira da entidade previdenciária porque demitido do Banco do Brasil, tem o direito de receber a restituição das contribuições vertidas em seu favor, devidamente corrigidas por índices que revelam a realidade da desvalorização da moeda.

Recurso não conhecido (REsp n. 254.006-DF, 4ª Turma, de minha relatoria, DJ 11.09.2000).

Esse entendimento fi cou consolidado no âmbito da Segunda Seção a partir do julgamento do EREsp n. 264.061.

3. Posto isso, conheço em parte do recurso e lhe dou provimento, para deferir a correção pelo IPC (em janeiro de 1990 é de 42,72%) das contribuições que serão devolvidas aos autores, nos termos defi nidos nas instâncias ordinárias.

É o voto.

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Súmula n. 291

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SÚMULA N. 291

A ação de cobrança de parcelas de complementação de aposentadoria pela

previdência privada prescreve em cinco anos.

Referências:

Lei Complementar n. 109/2001, art. 75.

CC/1916, art. 178, § 10, II.

Lei n. 8.213/1991, art. 103.

Precedentes:

REsp 89.416-DF (3ª T, 27.04.1998 – DJ 03.08.1998)

REsp 173.826-RS (3ª T, 21.09.1999 – DJ 13.12.1999)

REsp 203.963-RS (4ª T, 03.06.2003 – DJ 08.09.2003)

REsp 297.547-MG (3ª T, 16.05.2002 – DJ 05.08.2002)

REsp 424.181-RS (3ª T, 06.12.2002 – DJ 10.03.2003)

REsp 450.352-RS (4ª T, 03.02.2004 – DJ 16.02.2004)

REsp 466.693-PR (4ª T, 07.08.2003 – DJ 22.09.2003)

Segunda Seção, em 28.04.2004

DJ 13.05.2004, p. 201

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RECURSO ESPECIAL N. 89.416-DF (96.0012384-5)

Relator: Ministro Eduardo Ribeiro

Recorrente: Euridice Carolina Pessoa Faria

Recorrido: Capemi Caixa de Pecúlios Pensões e Montepios Benefi cente

Advogados: Benedito José Barreto Fonseca e outros

Antônio Walter Galvão

EMENTA

Previdência privada. Pensão. Prescrição de parcelas não pagas integralmente.

Contrato de seguro, embora com peculiaridades, podendo, em certas circunstâncias, ser assimilado ao de constituição de renda. Não incidência da prescrição vintenária.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso especial.

Participaram do julgamento os Srs. Ministros Menezes Direito e Costa Leite.

Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Nilson Naves e Waldemar Zveiter.

Brasília (DF), 27 de abril de 1998 (data do julgamento).

Ministro Costa Leite, Presidente

Ministro Eduardo Ribeiro, Relator

DJ 03.08.1998

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Trata-se de ação ajuizada por Eurídice

Carolina Pessoa Faría, sendo ré Capemi - Caixa de Pecúlios, Pensões e

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Montepios Benefi cente. Pretende a autora que se mantenha a atualização da pensão, havida por morte de seu marido, pelas regras iniciais que determinavam reajustes de acordo com os do soldo correspondente ao posto de coronel.

A sentença julgou procedente em parte o pedido, excluída a pretensão da autora de receber 10% dos resultados dos balanços anuais da ré.

A autora manifestou dois embargos de declaração, acolhido o primeiro e rejeitado o segundo.

Recorreram as partes, tendo sido negado provimento a ambas apelações.

Esta a ementa do acórdão:

Previdência privada. Capemi. Pensão. Reajuste.

A lei de ordem pública não tem aplicação imediata aos contratos em curso.

A idéia de ordem pública não pode ser posta em oposição ao princípio da não-retroatividade da lei, pelo motivo que, numa ordem jurídica fundada em lei, a não-retroatividade das leis, é ela mesma uma das colunas de ordem pública.

A autora interpôs recurso especial. Alegou que contrariados os artigos 177 e 178, § 10, II do Código Civil, bem como divergência com julgados que arrolou. Argumentou que a obrigação da ré, de pagar o pecúlio, decorre de um contrato, sendo inadmissível entender-se incidir a prescrição qüinqüenal. Admitido pela letra a do permissivo constitucional.

A ré também utilizou-se do especial que não foi admitido.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro (Relator): - Sustenta o recurso que o acórdão violou o disposto nos artigos 178 § 10, II e 177 do Código Civil, na medida em que deixou de aplicar o último, por ter o primeiro como incidente. Afi rma que, sendo a pensão fruto de contrato, a ação é de natureza pessoal.

Não há a menor dúvida de que o direito em questão é pessoal. Isso, entretanto, de nenhum modo é decisivo para o julgamento. As obrigações pessoais sujeitam-se, em regra, à prescrição vintenária. Numerosos outros prazos menores são previstos, entretanto, quanto a relações jurídicas com essa natureza.

Tenho para mim que se trata de um contrato de seguro, embora com algumas peculiaridades que o fazem participar, também, em algumas de suas manifestações, da constituição de renda.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 213-242, agosto 2011 219

No caso específi co em exame, tem-se um contrato de seguro. Mediante o pagamento de determinadas prestações, que correspondem ao prêmio, cobriu-se o risco morte. Verifi cado esse fato, surgiu a obrigação de efetuar, à benefi ciária, o pagamento das prestações.

Já antiga doutrina se referia ao montepio como um seguro de vida, como se verifi ca de Clóvis, ao comentar o artigo 1.430 do Código Civil. E a Lei n. 6.435/1977 vincula a previdência privada aberta ao sistema de seguros.

Quando se trate de prestações devidas ao próprio segurado, não em virtude de acidente, mas por decurso de tempo, poder-se-á ter a fi gura da constituição de renda.

Seja uma a hipótese, seja a outra, de qualquer sorte terá havido prescrição das parcelas de que se cuida no recurso.

Não conheço do especial. O dissídio não está demonstrado. A questão relativa a tratar-se de contrato de constituição de renda foi afastada em virtude de circunstâncias de fato do caso concreto no julgamento invocado do Supremo Tribunal Federal.

RECURSO ESPECIAL N. 173.826-RS (98.0032208-6)

Relator: Ministro Waldemar Zveiter

Recorrente: Associação dos Funcionários do Banco da Província do Rio Grande do Sul S/A - DAB e outros

Advogado: Athos Gusmão Carneiro e outros

Recorrido: Adão Alves de Oliveira e outros

Advogado: José Alves da Rocha

Sustentação oral: Athos Gusmão Carneiro, pelos recorridos

EMENTA

Previdência privada. Complementação de aposentadoria. Bancários. Insurgência assentada em disposições estatutárias e regulamentares, de apreciação inviável no especial (Súmula n. 5-STJ). Prescrição quinquenal. Precedentes. Provimento parcial do recurso.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

220

I - A estreita via do recurso especial não comporta o reexame de

pretensão articulada com fundamento em disposições estatutárias e

regulamentares de entidades de previdência privada.

II - Consolida-se nesta Corte jurisprudência no sentido de

que, em se tratando de parcelas devidas em decorrência de plano de

benefício de previdência privada, prevalece a prescrição qüinqüenal,

prevista na legislação de regência (Lei n. 8.213, de 24.07.1991, art.

103), não incidindo a prescrição vintenária.

III - Recurso especial conhecido em parte e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Senhores Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer em parte do recurso especial e dar-lhe provimento. Sustentou oralmente, o Dr. Athos Gusmão Carneiro, pelos recorrentes. Participaram do julgamento os Senhores Ministros Ari Pargendler, Menezes Direito, Nilson Naves e Eduardo Ribeiro.

Brasília (DF), 21 de setembro de 1999 (data do julgamento).

Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Presidente

Ministro Waldemar Zveiter, Relator

DJ 13.12.1999

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: Adão Alves de Oliveira e outros, bancários aposentados, ajuizaram ação de rito ordinário contra a Associação dos

Funcionários do Banco da Província do Rio Grande do Sul S/A e outras entidades de previdência privada, visando a complementação de seus proventos, quanto a valores inerentes à Gratifi cação Especial de Função e ao Abono de Permanência em Serviço, na forma de inclusão, complementação e/ou reajuste.

Em Primeiro Grau, o pedido foi julgado procedente e estabelecida a prescrição vintenária.

Inconformados com o improvimento de sua apelação, por decisão unânime

da Quinta Câmara Cível do Eg. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 213-242, agosto 2011 221

do Sul, os Réus manifestaram recurso especial, com fundamento nas alíneas a e

c, do permissivo constitucional, sob a alegação de negativa de vigência aos arts.

178, § 10, II e 1.090, do Código Civil, além da dissidência exegética.

Propugnam pela prevalência na prescrição qüinqüenal, argüindo

o cabimento da aplicação subsidiária da legislação da previdência ofi cial às

entidades de previdência privada, especificamente o art. 103, da Lei n.

8.213/1991, que prevê tal prazo prescricional e, quanto ao mérito, aduzem a

ilegitimidade do pleito, ao argumento de que a pretendida complementação de

proventos não está prevista em seus respectivos regulamentos, cujas disposições

hão de ser interpretadas de maneira restritiva, sob pena de haver ofensa ao

citado art. 1.090, da Lei Substantiva.

Na demonstração do dissídio, apontam julgados dos Tribunais Regionais

do Trabalho da Segunda e Quarta Regiões, tanto no que diz com a prescrição

como no que tange ao mérito.

Oferecidas as contra-razões (fl s. 262-264) o recurso foi admitido pela letra

c, ao entendimento de que caracterizado dissídio, no atinente à prescrição.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator): A pretensão de ofensa ao

art. 1.090, do Código Civil e de dissídio jurisprudencial, quanto ao direito à

complementação de proventos, está assentada em disposições regulamentares

e estatutárias, cujo reexame, em sede de especial, se acha vedado pela Súmula

n. 5, deste Superior Tribunal de Justiça. Daí que, nesse ponto, o apelo não logra

prosperar.

No atinente à prescrição, em que se pretendeu violada o art. 178, § 10, II, do

Código Civil, apesar de os Recorrentes não haverem enfrentado os fundamentos

do aresto, no sentido de que a “complementação da aposentadoria representa

negócio jurídico diverso da constituição de renda, prevista no art. 1.424, do

Código Civil”, merecendo prescrição vintenária, melhor sorte lhes assiste nessa

parte, porque caracterizado o dissídio com a jurisprudência desta Corte, segundo

a qual, em tais hipóteses, aplica-se a Lei Especial de regência (Lei n. 8.213, de

24.07.1991, art. 103), que prevê a prescrição qüinqüenal, e não o art. 177, do

Código Civil.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Vale conferir as razões deduzidas pelo Exmo. Sr. Ministro Menezes Direito,

no Recurso Especial 180.833-RJ, de que foi relator, acórdão publicado no DJ.

1º.07.1999:

Tem razão a entidade apelante no que se refere à prescrição. No caso, aplica-se a lei especial de regência e não o art. 177 do Código Civil. Em precedente de que foi Relator o Ministro Willian Patterson, fi cou assentado:

Na verdade, a prescrição, in casu, está claramente prevista na legislação de regência (Lei n. 6.435, de 1977 - art. 94), ao mandar observar o critério do regime da previdência social. É ler-se:

Art. 94 - Ressalvado o disposto no parágrafo 3º do art. 14, aplicam-se ao recebimento das importâncias mensais das suplementações os mesmos critérios previstos nos artigos 418 e 419 do Regulamentado Regime Jurídico da Previdência Social (Decreto n. 72.771, de 06 de setembro de 1973).

Tal recomendação é, atualmente, regra contida na Lei n. 8.213, de 24.07.1991 (art. 103).

Isso é o bastante para a consideração do princípio. Já que não se discute a prescrição do fundo de direito, por se cuidar de prestação de trato sucessivo, onde, apenas, tem lugar a quinquenal, penso que, na execução, poder-se-á apurar as parcelas que estão sob alcance do instituto jurídico (REsp n. 61.134-RJ, DJ de 12.05.1997; no mesmo sentido: REsp n. 135.584-RJ, Relator o Ministro José Arnaldo, DJ de 1º.12.1997).

No REsp n. 89.416-DF (DJ de 03.08.1998), relator o Ministro Eduardo Ribeiro, afastando a prescrição vintenária, destacou a ementa:

Previdência privada. Pensão. Prescrição de parcelas não pagas integralmente.

Contrato de seguro, embora com peculiaridades, podendo, em certas circunstâncias, ser assimilado ao de constituição de renda. Não incidência da prescrição vintenária.

Forte em tais lineamentos, conheço do recurso pela letra c, e lhe dou

provimento, para reformar o acórdão na parte relativa à prescrição, e nessa

parte para reconhecê-la qüinqüenal, apurando-se em liquidação as parcelas

alcançadas.

É como voto.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 213-242, agosto 2011 223

VOTO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: - Sr. Presidente, acompanho o voto do

eminente Ministro Relator para reconhecer a prescrição das parcelas vencidas e

não pagas há mais de 05 anos antes da propositura da ação.

RECURSO ESPECIAL N. 203.963-RS (99.0013247-5)

Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira

Recorrente: MBM Previdência Privada

Advogado: Darci de oliveira e outro

Recorrido: Doralina Ferreira Benites

Advogado: Teresinha de Brito e outro

EMENTA

Civil e Processual Civil. Prescrição extintiva. Possibilidade de ser alegada pela primeira vez na apelação. Precedentes. Doutrina. Arts. 162, CC/1916 (193, CC/2002) e 303, III, CPC. Previdência privada. Benefícios. Prescrição qüinqüenal. Art. 178, § 10, II, CC/1916. Precedentes. Recurso provido.

I - Na linha da jurisprudência desta Corte, a prescrição extintiva pode ser alegada em qualquer fase do processo, nas instâncias ordinárias, mesmo que não tenha sido deduzida na fase própria de defesa.

II - É qüinqüenal a prescrição, em casos de parcelas oriundas dos planos de previdência privada, nos termos do art. 178, § 10, II, do Código Civil de 1916.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento, ressalvado o ponto de vista do Ministro Ruy Rosado de Aguiar. Votaram com o Relator os Ministros Barros Monteiro, Ruy Rosado de Aguiar e Aldir Passarinho Junior. Ausente, ocasionalmente, o Ministro Fernando Gonçalves. Presidiu a Sessão o Ministro Aldir Passarinho Junior.

Brasília (DF), 03 de junho de 2003 (data do julgamento).

Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Relator

DJ 08.09.2003

EXPOSIÇÃO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: Trata-se de recurso especial

contra acórdão assim ementado:

Previdência privada. Prescrição em nível recursal. Impossibilidade. Art. 162 do Código Civil.

A prescrição pode ser alegada em qualquer instância enquanto a causa pender de julgamento, mas evidentemente deverá ser feita no momento processual em que a parte argüente falar pela primeira vez no processo.

Após a sentença, somente se superveniente.

Alegação intempestiva.

Embargos infringentes desacolhidos (fl . 329, v. 2).

Aponta a recorrente violação dos arts. 162 e 178, § 10, II, CC/1916, e 303, III, CPC, além de divergência jurisprudencial. Sustenta que, no processo de conhecimento, a prescrição pode ser alegada pela primeira vez na apelação. Pretende o reconhecimento do prazo prescricional de cinco anos, “determinando o pagamento das pensões vencidas desde cinco anos anteriores ao ajuizamento da ação” (fl . 355), em vez do período de abril de 1982 a abril de 1989, como descrito na inicial.

Contra-arrazoado, foi o recurso admitido na origem.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira (Relator): 1. A prescrição

pode ser alegada pela primeira vez na apelação, pela parte a quem aproveita, na

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 213-242, agosto 2011 225

linha do art. 162, CC/1916, correspondente ao 193 do novo Código Civil (Lei

n. 10.406/2002). Neste sentido orienta-se a jurisprudência desta Corte, ao que

se vê dos REsps n. 157.840-SP (DJ 07.08.2000), n. 86.343-RS (DJ 14.09.1998)

e n. 35.145-MG (DJ 16.09.1996), da minha relatoria, e n. 205.130-RJ (DJ

1º.07.1999), n. 204.276-MG (DJ 08.11.1999) e n. 5.314-RS (DJ 11.11.1991),

relatores os Ministros Ruy Rosado, José Arnaldo e Hélio Mosimann, assim

ementados, no pertinente:

Direitos Civil e Processual Civil. Prescrição. Espécie extintiva. Alegação. Apelação. Possibilidade. Art. 162, CC. Silêncio em contestação. Irrelevância. Precedentes.

[...]

I - A prescrição extintiva pode ser alegada em qualquer fase do processo, nas instâncias ordinárias, mesmo que não tenha sido deduzida na fase própria de defesa ou na inicial dos embargos à execução.

Direitos Civil e Processual Civil. Prescrição. Espécie extintiva. Alegação. Apelação. Momento. Art. 162, CC. Silêncio do Tribunal. Precedentes. Recurso provido.

- A prescrição extintiva pode ser alegada em qualquer fase do processo, nas instâncias ordinárias, mesmo que não tenha sido deduzida na fase própria de defesa ou na inicial dos embargos à execução.

A prescrição extintiva pode ser alegada em qualquer fase do processo, nas instâncias ordinárias.

Prescrição. Alegação. Art. 162 do CC.

A prescrição pode ser alegada em qualquer instância ordinária, ainda que não suscitada na contestação. Precedentes.

Recurso conhecido e provido.

Recurso especial. Locação. Benfeitorias. Indenização. Prescrição. Alegação somente nas contra-razões de apelação. Art. 162, do Código Civil. Não conhecimento pela Corte a quo por ter sido objeto do recurso.

A prescrição pode ser levantada em qualquer instância. Não deduzida em primeira, pode ser alegada em segunda instância, nas razões do recurso. E se pode, nas razões de recurso, pode também ser deduzida nas contra-razões em homenagem ao princípio de igualdade de tratamento às partes (CPC, art. 125, I).

Recurso conhecido e provido para que o Tribunal, na origem, aprecie e delibere como entender de direito a prescrição articulada.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Recurso especial. Ação de procedimento ordinário. Prescrição. Matéria alegada nas razões recursais. Silencio da contestação, a respeito. Artigo 162 do Código Civil.

- Pode o Estado, réu na ação, alegar a prescrição ao interpor seu recurso, ainda que não o tenha feito ao apresentar a defesa, pois a prescrição pode ser alegada em qualquer instância, pela parte a quem aproveita.

A doutrina não destoa, como se vê nas lições de Sérgio Bermudes (Comentários ao Código de Processo Civil, vol. VII, 2. ed., RT, 1977, art. 517, n. 114, p. 142), Wellington Moreira Pimentel (Comentários, v. III, 2. ed., RT, 1979, art. 303, n. 4, p. 281), Calmon de Passos (Comentários, v. III, 8. ed., Forense, 1998, art. 303, n. 201, p. 290), Barbosa Moreira (Comentários, v. V, 10. ed., Forense, 2002, art. 517, n. 249, p. 453-454), Manoel Caetano Ferreira Filho (Comentários, v. 7, RT, 2001, art. 517, n. 2, p. 145) e, invocando precedente desta Corte, Nelson Nery Júnior (Princípios fundamentais - teoria geral dos recursos, 2. ed., RT, 1993, n. 2.5.1, p. 200), Joel Dias Figueira Júnior (Comentários, v. 4, t. II, RT, 2001, art. 303, n. 4, p. 262) e Th eotônio Negrão e José Roberto Ferreira Gouvêa (Código de Processo Civil e legislação processual em vigor, 35. ed., Saraiva, 2003, art. 303, nota 8, p. 394, art. 517, nota 8, p. 567).

2. Uma vez assentada a possibilidade de alegação da prescrição, resta aplicar o direito à espécie, na forma do art. 257 do Regimento Interno.

No ponto, a recorrente invoca o prazo qüinqüenal previsto no art. 178, § 10, II, CC/1916, com esta redação:

Art. 178. Prescreve:

[...]

§ 10. Em cinco anos:

[...]

II - As prestações de rendas temporárias e vitalícias.

Os precedentes desta Corte alinham-se no sentido da aplicação desse

dispositivo aos benefícios de previdência privada, como na espécie. É o que se

colhe, entre outros, dos REsps n. 424.181-RS (DJ 10.03.2003), n. 314.511-

RS (DJ 18.03.2002), n. 323.379-RS (DJ 18.02.2002), n. 180.833-RJ (DJ

1º.07.1999), todos eles relatados pelo Ministro Menezes Direito, n. 89.416-DF

(DJ 03.08.1998) e n. 61.134-RJ (DJ 12.05.1997), da relatoria dos Ministros

Eduardo Ribeiro, o primeiro, e William Patterson os dois últimos, assim

ementados:

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 213-242, agosto 2011 227

Previdência privada. Prescrição. Art. 178, § 10, II, do Código Civil. Precedentes da Corte.

1. Já assentou a Corte que a prescrição, em casos de parcelas devidas oriundas dos planos de previdência privada, é qüinqüenal.

2. Recurso especial conhecido e provido.

Previdência privada. Pensão. Prescrição de parcelas não pagas integralmente.

Contrato de seguro, embora com peculiaridades, podendo, em certas circunstâncias, ser assimilado ao de constituição de renda.

Não incidência da prescrição vintenária.

Previdência social. Entidade fechada. Benefícios. Reajustes. Prescrição. Critérios. Correção monetária. Compensação.

- Tratando-se de parcelas de trato sucessivo, a prescrição qüinqüenal deve ser reconhecida.

3. Ante o exposto, conheço do recurso especial, pela violação dos arts. 162, CC/1916, e 303, III, CPC, e dou-lhe provimento para reconhecer a prescrição qüinqüenal, na forma do art. 178, § 10, II, CC/1916, tornando devidos os benefícios no período de cinco anos anteriores ao “ajuizamento da ação”, como pretende a recorrente em seu apelo especial (fl . 355, v. 2).

VOTO-MÉRITO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Sr. Presidente, acompanho o Sr.

Ministro-Relator, conhecendo do recurso e dando-lhe provimento, com ressalva

do meu ponto de vista.

RECURSO ESPECIAL N. 297.547-MG (2000/0143960-0)

Relator: Ministro Ari Pargendler

Recorrente: Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil - Previ

Advogado: Walfredo Frederico de Siqueira Cabral Dias e outros

Recorrido: Francisco Ribeiro da Silva

Advogado: Taline Dias Maciel

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

228

EMENTA

Previdência privada. Prescrição qüinqüenal. A cobrança dos

valores devidos a título de complementação da aposentadoria prevista

em plano de previdência privada está sujeita à prescrição qüinqüenal.

Recurso especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça,

por unanimidade, conhecer do recurso especial e lhe dar provimento. Os Srs.

Ministros Carlos Alberto Menezes Direito, Nancy Andrighi, Castro Filho e

Antônio de Pádua Ribeiro votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 16 de maio de 2002 (data do julgamento).

Ministro Ari Pargendler, Presidente e Relator

DJ 05.08.2002

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ari Pargendler: Francisco Ribeiro da Silva propôs ação de

cobrança contra a Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil -

Previ, para vê-la condenada a pagar-lhe diferenças a título de complementação

de aposentadoria (fl s. 02-10).

O MM. Juiz de Direito Dr. Antônio de Pádua Oliveira julgou procedente

o pedido (fl . 200-204), sentença que foi mantida pela Egrégia Sexta Câmara

Civil do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, Relator o eminente

Juiz Alexandre Victor de Carvalho, em acórdão assim ementado:

Ação de cobrança. Complementação de aposentadoria. Previdência privada. Aplicação das normas estatutárias. Inclusão da gratifi cação natalina no cálculo do benefício. Cabimento. Recurso desprovido. A relação entre a entidade de previdência privada e seu associado é regida pelo Estatuto, sendo cabível a complementação de aposentadoria quando, indevidamente, foi excluída da base de cálculo do benefício a contribuição incidente sobre o 13º Salário. (fl . 244).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 213-242, agosto 2011 229

Opostos embargos de declaração (fl . 250-255), foram rejeitados (fl . 258-260).

Daí o recurso especial, interposto pela Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil - Previ, com base no artigo 105, inciso III, letra a da Constituição Federal, por violação dos artigos 177 e 178, § 10º, inciso II, do Código Civil e do artigo 103 da Lei n. 8.213, de 1991 (fl s. 263-269).

VOTO

O Sr. Ministro Ari Pargendler (Relator): Trata-se de saber se a prescrição qüinqüenal é aplicável à ação de cobrança de complementação de aposentadoria, devida em razão de plano de previdência privada.

A Turma fi rmou o entendimento de que, neste caso, prescreve em cinco anos a ação para cobranças de diferenças devidas e não pagas, de que é exemplo o acórdão proferido no REsp n. 314.511, RS, Relator o Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, assim ementado:

Previdência privada. Prescrição. Art. 178, § 10, II. Precedentes da Turma. Art. 1.090 do Código Civil. Prequestionamento. 1. Está orientada a jurisprudência da Corte no sentido de que, em se tratando de parcelas devidas em decorrência de plano de benefício de previdência privada, não se aplica a prescrição vintenária, mas, sim, a qüinqüenal (...) - D.J.U. 18.03.2002.

Voto, por isso, no sentido de conhecer do recurso especial e de lhe dar provimento para reconhecer a prescrição das parcelas vencidas há mais de cinco anos antes da propositura da ação.

RECURSO ESPECIAL N. 424.181-RS (2002/0037408-7)

Relator: Ministro Carlos Alberto Menezes Direito

Recorrente: Caixa de Auxilio dos Funcionários do Banco Nacional do Comércio - Caciban

Advogado: Roberto Carneiro da Cunha Moreira e outros

Recorrido: Ivanise Th ereza Mantovani

Advogado: Adalberto Libório Barros Filho e outros

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

230

EMENTA

Previdência privada. Prescrição. Art. 178, § 10, II, do Código Civil.

Precedentes da Corte.

1. Já assentou a Corte que a prescrição, em casos de parcelas

devidas oriundas dos planos de previdência privada, é qüinqüenal.

2. Recurso especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça,

por unanimidade, conhecer do recurso especial e lhe dar provimento. Os Srs.

Ministros Nancy Andrighi e Ari Pargendler votaram com o Sr. Ministro

Relator. Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Castro Filho e Antônio de

Pádua Ribeiro.

Brasília (DF), 06 de dezembro de 2002 (data do julgamento).

Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Relator

DJ 10.03.2003

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Caixa de Auxílio dos

Funcionários do Banco Nacional do Comércio - Caciban interpõe recurso

especial, com fundamento nas alíneas a e c do permissivo constitucional, contra

acórdão da Sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio

Grande do Sul, assim ementado:

Previdência privada. Caixa de Auxílio dos Funcionários do Banco Nacional do Comércio. Caciban. Prescrição. Lapso vintenário. Aplicação do art. 177/CC. Aposentadoria. Complementação. Princípio da isonomia. Detém o jubilado o direito de receber os proventos de aposentadoria como se na ativa estivesse. Incabível a interpretação restritiva ditada pelo art. 1.090/CC. Princípio da boa-fé. Na interpretação dos contratos há de vigorar acima de tudo o princípio da boa-fé. GEF. APS. Realinhamentos e reestruturações. Destas rubricas somente mostra-se incabível o APS, porquanto confi gura benefício de caráter transitório

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 213-242, agosto 2011 231

criado pelo INSS não vinculando a apelante. Juros de mora. Mantida a taxa de 6% ao ano, reformando-se, entretanto, o termo inicial de fl uência para o da citação. Inteligência do art. 1.536, § 1º, do CC e Súmula n. 163 do STF. Encargos decorrentes da sucumbência inalterados. Apelação parcialmente provida. (fl s. 179).

Sustenta a recorrente ofensa aos artigos 177, 178, § 10, inciso II e 1.090

do Código Civil e 103 da Lei n. 8.213/1991, aduzindo que, em se tratando de

parcelas decorrentes de plano de benefícios de entidade de previdência privada,

deve prevalecer a prescrição qüinqüenal, pois esta “aplica-se não apenas às

prestações vencidas há mais de cinco anos, como igualmente aplica-se ao próprio

fundo do direito questionado” (fl s. 213-214).

Alega que “seja porque o Regulamento de Benefícios não prevê a

concessão de outros benefícios além dos já concedidos, quer pela inexistência

de contribuições sobre as parcelas ora postuladas, é evidente a ofensa do

aresto recorrido ao art. 1.090 do Código Civil, que determina seja estrita a

hermenêutica dos contratos benéfi cos” (fl s. 219).

Para caracterizar a divergência jurisprudencial, colaciona julgados, também,

desta Corte.

Contra-arrazoado (fl s. 243 a 251), o recurso especial (fl s. 194 a 225) foi

admitido (fl s. 253 a 259).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito (Relator): A recorrida

ajuizou ação para receber diferenças relativas ao seu plano de previdência

privada. A ação foi contestada com alegação preliminar de prescrição, apoiada

no artigo 103 da Lei n. 8.213/1991.

A sentença afastou a prescrição porque a Lei invocada é posterior

aos benefícios que a ré alega estarem prescritos. No mérito, assinala que o

regulamento assegura aos associados a equivalência no pagamento dos proventos

especifi cados.

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul proveu, em parte, a apelação.

Primeiro, afi rma que a prescrição é vintenária, não se aplicando o art. 178,

§ 10, II, do Código Civil; segundo, no mérito, interpretando os estatutos da

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

232

ré, entendeu estar presente a previsão de “reajustamento dos benefícios dos

associados sempre que o banco empregador conceder vantagens, em caráter

coletivo, a seus funcionários”. Afastou o Tribunal local, contudo, o abono de

permanência em serviço (APS) porque não previsto nos estatutos e porque foi

criado pelo INSS, “revestindo-se de caráter transitório tendo pertinência apenas

naqueles casos nos quais o funcionário que adimpliu o prazo para aposentadoria

permanece trabalhando. A ressalva, porém, é que deve cessar a fruição desse

prêmio a partir do início da jubilação”. Deferiu, ainda, a fl uência dos juros de

mora da citação.

O especial começa por combater o julgado na parte relativa à prescrição.

Entende aplicável o artigo 178, § 10, II, do Código Civil. E com razão, na

linha dos precedentes da Corte apresentados no recurso. Ainda recentemente a

orientação foi mantida, aplicando-se a prescrição qüinqüenal e não a vintenária

(REsp n. 314.511-RS, da minha relatoria, DJ de 18.03.2002). Peço vênia

aos meus eminentes colegas para reproduzir a fundamentação que, naquela

oportunidade, apresentei:

O especial enfrenta, primeiro, a questão da prescrição, apontando violado o art. 178, § 10, II, e 177 do Código Civil. Sustentam os recorrentes que a prescrição é qüinqüenal; sendo elas entidades de previdência privada fechada, a prestação de rendas, expressão utilizada pela Lei n. 6.435/1977, não é vintenária. Indica precedente desta Terceira Turma.

A regra do art. 178, § 10, II, menciona rendas temporárias ou vitalícias. E é este o caso das entidades de previdência privada. Elas prestam rendas vitalícias na complementação da aposentadoria. Em precedente da minha relatoria (REsp n. 180.833-RJ, DJ de 1º.07.1999), aplicou-se precedente da relatoria do Senhor Ministro William Patterson, destacado o trecho que se segue:

Na verdade, a prescrição, in casu, está claramente prevista na legislação de regência (Lei n. 6.435, de 1977 - art. 94), ao mandar observar o critério do regime da previdência social. É ler-se:

Art. 94 - Ressalvado o disposto no parágrafo 3º do art. 14, aplicam-se ao recebimento das importâncias mensais das suplementações os mesmos critérios previstos nos artigos 418 e 419 do Regulamentado do Regime Jurídico da Previdência Social (Decreto n. 72.771, de 06 de setembro de 1973).

Tal recomendação é, atualmente, regra contida na Lei n. 8.213, de 24.07.1991 (art. 103).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 213-242, agosto 2011 233

Isso é o bastante para a consideração do princípio. Já que não se discute a prescrição do fundo de direito, por se cuidar de prestação de trato sucessivo, onde, apenas, tem lugar a qüinqüenal, penso que, na execução, poder-se-á apurar as parcelas que estão sob alcance do instituto jurídico. (REsp n. 61.134-RJ, DJ de 12.05.1997; no mesmo sentido: REsp n. 135.584-RJ, Relator o Ministro José Arnaldo, DJ de 1º.12.1997).

Na mesma direção decidiu a Corte, com a relatoria do Senhor Ministro Eduardo Ribeiro (REsp n. 89.416-DF, DJ de 03.08.1998), afastando a prescrição vintenária:

Previdência privada. Pensão. Prescrição de parcelas não pagas integralmente.

Contrato de seguro, embora com peculiaridades, podendo, em certas circunstâncias, ser assimilado ao de constituição de renda. Não incidência da prescrição vintenária.

Finalmente, merece, ainda, referido precedente da Turma, Relator o Senhor Ministro Waldemar Zveiter, destacando a ementa que está consolidada a jurisprudência “no sentido de que, em se tratando de parcelas devidas em decorrência de plano de benefício de previdência privada, prevalece a prescrição qüinqüenal, prevista na legislação de regência (Lei n. 8.213, de 24.07.1991, art. 103), não incidindo a prescrição vintenária” (REsp n. 173.826-RS, DJ de 13.12.1999).

Em seguida, aponta o especial violação ao art. 1.090 do Código Civil. Mas, não há prequestionamento, sendo certo que o deferimento nos termos postos pelo acórdão recorrido está amparado na interpretação dos estatutos das entidades rés, coberta a interpretação pela Súmula n. 5 da Corte.

Com tais razões, eu conheço do especial, em parte, e, nessa parte, dou-lhe provimento para reconhecer a prescrição das parcelas vencidas e não pagas há mais de cinco anos antes da propositura da ação, apurando-se em liquidação as parcelas alcançadas.

Quanto ao mérito, a impugnação está amparada no art. 1.090 do Código

Civil. Mas, não creio que mereça prosperar diante dos termos do acórdão

recorrido. O ilustre Relator, Desembargador Carlos Alberto Alvaro de Oliveira,

demonstrou que a “fi nalidade da vinculação do apelado à apelante decorre

justamente da garantia regulamentar da paridade de seus benefícios com os

salários que perceberiam se permanecessem em atividade. Ademais, não se há

de falar em contrato benéfi co propriamente dito, isto é, aquele por meio do

qual alguém intenta propiciar a outrem uma vantagem sem exigir compensação

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

234

equivalente. Isto porque, o associado para usufruir dos benefícios arca com o

custo necessário para tanto”. Por outro lado, considerou o princípio da boa-fé

para entender incabível a interpretação restritiva das disposições regulamentares,

devendo vigorar, “em casos como o dos autos, a aplicação do princípio da

isonomia. Daí decorre a necessidade de ser concedida ao recorrido que teve,

quando em atividade, funções similares aos funcionários ainda operantes, a

possibilidade de perceber reajustamento de benefícios”.

Veja-se que o especial anota que uma das conseqüências do acórdão

recorrido “que mais choca, dada a enorme injustiça, é a isonomia forçada com

os empregados em atividade!! Com efeito, o recorrido não é funcionário do

Banco, não está trabalhando, e mesmo assim obtiveram (sic) acesso a parcelas

pagas exclusivamente a quem está em atividade”. Ora, o acórdão recorrido

mostrou o contrário com o exame dos estatutos da ré. Afi rmou que neles está

prevista a majoração das complementações toda vez que houver aumentos para

os associados em atividade. Não há absurdo na prescrição regulamentar. Além

disso, esbarra o tema na Súmula n. 5 da Corte.

A meu sentir, a alegação de violação ao art. 1.090 do Código Civil está

fora de foco diante, também, das próprias assertivas do especial que reconhece

que as vantagens foram pagas apenas ao pessoal em atividade, “portanto de

natureza, transitória e personalíssima, decorrente da Convenção Coletiva de

Trabalho, cuja seriedade ninguém pôs em dúvida”. O que o acórdão recorrido

alinhavou, ademais dos anteriores fundamentos mencionados, foi que as verbas

não eram transitórias e sim coletivas, com o que se não pode ultrapassar tal

confi guração fática, pouco relevando que ao tempo da aposentadoria as parcelas

em discussão não eram pagas. Se fossem, é curial, não haveria necessidade de

prever a majoração das complementações.

Não há, portanto, sob nenhum ângulo, a alegada violação ao artigo 1.090

do Código Civil.

Por último, não bastasse o tanto que já foi deduzido no ponto, anote-

se que o especial pede, tão-somente, o conhecimento e provimento para o

reconhecimento da prescrição.

Em conclusão: eu conheço do especial e lhe dou provimento para

reconhecer a prescrição na forma do art. 178, § 10, II, do Código Civil.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 213-242, agosto 2011 235

RECURSO ESPECIAL N. 450.352-RS (2002/0091763-2)

Relator: Ministro Fernando Gonçalves

Recorrente: Montpépio dos Funcionários do Município de Porto Alegre

Advogado: Luciana Farias e outros

Recorrido: Maria Francisca Silvino

Advogado: Hélio Neumann Sant Anna e outros

EMENTA

Previdência privada. Pensão. Diferenças. Parcelas. Prescrição.

Prazo. Cinco anos.

1 - Em tema de previdência privada o prazo prescricional é

de cinco anos, razão pela qual prescritas estão, na espécie, todas as

parcelas anteriores ao último qüinqüênio precedente à propositura da

ação.

2 - Recurso conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento. Os Ministros Aldir Passarinho Junior, Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha votaram com o Ministro Relator. Ausente, justifi cadamente, o Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira.

Brasília (DF), 03 de fevereiro de 2004 (data do julgamento).

Ministro Fernando Gonçalves, Relator

DJ 16.02.2004

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Fernando Gonçalves: Trata-se de recurso especial interposto

pelo Montepio dos Funcionários do Município de Porto Alegre, com fundamento no

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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art. 105, inciso III, letra a da Constituição Federal, contra acórdão do Tribunal

de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, assim ementado:

Previdência privada. Ação de revisão de pensão cumulada com cobrança de diferenças pretéritas.

É devida a equiparação do valor da pensão ao valor dos proventos, incluídas as vantagens pessoais, conforme nova redação do art. 40, § 5º, da CF/1988. Emenda Constitucional n. 20.

A correção monetária é devida desde a data em que deveriam ter sido pagas as prestações.

A prescrição regula-se pela regra geral disposta no artigo 177 do CC.

Honorários fi xados de acordo com os parâmetros estipulados no art. 20, § 3º do CPC.

Preliminares rejeitadas, apelo do réu desprovido. Apelo da autora provido. (fl . 181).

Afi rma o recorrente violação ao art. 178, § 10, I e II do Código Civil,

argumentando que a prescrição é qüinqüenária e não vintenária, porquanto

versa a espécie pensão alimentar de previdência privada.

Apresentadas as contra-razões (fl s. 202-206), o recurso teve admitido o seu

processamento (fl s. 208-210), ascendendo os autos a esta Corte.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Fernando Gonçalves (Relator): A irresignação merece

acolhida, dado que é pacífi co o entendimento desta Corte, por suas duas Turmas

que compõem a Segunda Seção, no sentido de ser qüinqüenária a prescrição

para cobrança de parcelas, decorrentes de previdência privada.

A propósito:

Previdência privada. Pensão. Prescrição de parcelas não pagas integralmente.

Contrato de seguro, embora com peculiaridades, podendo, em certas circunstâncias, ser assimilado ao de constituição de renda. Não incidência da prescrição vintenária. (REsp n. 89.416-DF, Rel. Ministro Eduardo Ribeiro, DJU, 03.08.1998).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 213-242, agosto 2011 237

Previdência privada. Prescrição. Art. 178, § 10, II, do Código Civil. Precedentes da Corte.

1. Já assentou a Corte que a prescrição, em casos de parcelas devidas oriundas dos planos de previdência privada, é qüinqüenal.

2. Recurso especial conhecido e provido. (REsp n. 424.181-RS, Rel. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, DJU, 10.03.2003).

Civil e Processual Civil. Prescrição extintiva. Possibilidade de ser alegada pela primeira vez na apelação. Precedentes. Doutrina. Arts. 162, CC/1916 (193, CC/2002) e 303, III, CPC. Previdência privada. Benefícios. Prescrição qüinqüenal. Art. 178, § 10, II, CC/1916. Precedentes. Recurso provido.

I - Na linha da jurisprudência desta Corte, a prescrição extintiva pode ser alegada em qualquer fase do processo, nas instâncias ordinárias, mesmo que não tenha sido deduzida na fase própria de defesa.

II - É qüinqüenal a prescrição, em casos de parcelas oriundas dos planos de previdência privada, nos termos do art. 178, § 10, II, do Código Civil de 1916. (REsp n. 203.963-RS, Rel. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJU, 08.09.2003).

Civil e Processual. Previdência complementar. Desligamento do empregado. Devolução de contribuições. Ação que postula diferenças. Prescrição qüinqüenal. Inocorrência. Leis n. 6.435/1977, n. 8.213/1991. LC n. 109/2001. CC, art. 177. Termo inicial.

I. A prescrição das ações que discutem direitos advindos de Previdência Complementar é de cinco anos e não vintenária, sendo inaplicável à espécie o art. 177 do Código Civil.

II. Inobstante o reconhecimento da aplicabilidade do prazo mais breve, a sua fl uição, no caso dos autos, se dá a partir da data da restituição das contribuições feitas à ex-empregada, quando, então, surgiu o seu direito de postular as diferenças em face do recebimento a menor do que o efetivamente devido.

III. Ajuizada a ação em lapso inferior a cinco anos a contar daquele termo, é de ser afastada a prejudicial.

IV. Recurso especial conhecido e improvido. (REsp n. 466.693-PR, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, DJU, 22.09.2003)

Ante o exposto, conheço do recurso e lhe dou provimento para decretar

prescritas todas as parcelas anteriores ao último qüinqüênio precedente à

propositura da ação.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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RECURSO ESPECIAL N. 466.693-PR (2002/0106876-1)

Relator: Ministro Aldir Passarinho Junior

Recorrente: Fundo de Pensão Multipatrocinado Funbep

Advogado: Rafael Linne Netto e outros

Recorrido: Marlisa Dias Pinto

Advogado: Marlisa Dias Pinto (em causa própria)

EMENTA

Civil e Processual. Previdência complementar. Desligamento

do empregado. Devolução de contribuições. Ação que postula

diferenças. Prescrição qüinqüenal. Inocorrência. Leis n. 6.435/1977,

n. 8.213/1991. LC n. 109/2001. CC, art. 177. Termo inicial.

I. A prescrição das ações que discutem direitos advindos de

Previdência Complementar é de cinco anos e não vintenária, sendo

inaplicável à espécie o art. 177 do Código Civil.

II. Inobstante o reconhecimento da aplicabilidade do prazo

mais breve, a sua fl uição, no caso dos autos, se dá a partir da data da

restituição das contribuições feitas à ex-empregada, quando, então,

surgiu o seu direito de postular as diferenças em face do recebimento

a menor do que o efetivamente devido.

III. Ajuizada a ação em lapso inferior a cinco anos a contar

daquele termo, é de ser afastada a prejudicial.

IV. Recurso especial conhecido e improvido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, à unanimidade, conhecer do

recurso, mas negar-lhe provimento, na forma do relatório e notas taquigráfi cas

constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.

Participaram do julgamento os Srs. Ministros Barros Monteiro, Cesar Asfor

Rocha e Fernando Gonçalves. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Sálvio

de Figueiredo Teixeira.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 213-242, agosto 2011 239

Custas, como de lei.

Brasília (DF), 07 de agosto de 2003 (data do julgamento).

Ministro Aldir Passarinho Junior, Relator

DJ 22.09.2003

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: - Funbep - Fundo de Pensão

Multipatrocinado interpõe, pelas letras a e c do art. 105, III, da Constituição

Federal, recurso especial contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do

Paraná, assim ementado (fl . 374):

Ação de restituição. Contribuição. Seguridade social. Contrato de trabalho. Rescisão. Direito à devolução. 70% de todos os valores. Artigo 25, I e II regulamento básico do Fubep.

Embargos de declaração. Ausência de efeito modificativo. Suprimento de omissão.

Prescrição. Inocorrência. Prazo de 20 anos.

Julgamento extra petita. Inocorrência.

Improvimento do recurso.

Alega o recorrente que a decisão violou o art. 103 da Lei n. 8.213/1991,

eis que o prazo prescricional para ações dessa natureza é de cinco anos e não de

vinte, inaplicável à espécie o art. 177 do Código Civil.

Invoca dissídio jurisprudencial, apontando como paradigma a decisão

prolatada pela Egrégia 3ª Turma, no REsp n. 17.826-RS, de relatoria do

eminente Ministro Waldemar Zveiter.

Contra-razões às fls. 423-427, com preliminar de não conhecimento

porquanto não identifi cada propriamente a divergência. No mérito, diz que o

art. 103 não incide na espécie, eis que a Lei n. 8.213/1991 se refere a benefícios

e não à restituição de valores por desligamento após demissão sem justa causa.

O recurso especial foi admitido na instância de origem pelo despacho

presidencial de fl s. 439-440.

É o relatório.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

240

VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior (Relator): - Trata-se de recurso

especial em que é discutido qual o prazo prescricional, de cinco ou vinte anos,

para ação em que é postulada a restituição de diferenças de contribuições em

face de desligamento da autora - ex-empregada do Banco do Estado do Paraná

S/A - do Funbep, fundo de pensão de seguridade social que assiste os servidores

daquela instituição.

O Tribunal a quo considerou o prazo vintenário do art. 177 do Código

Civil, enquanto a Fundação recorrente postula a aplicação do art. 103 da Lei n.

8.213/1991.

O referenciado diploma legal dispõe sobre os planos de benefício da

Previdência Social, nesses termos:

Art. 9º A Previdência Social compreende:

I - o Regime Geral de Previdência Social;

II - o Regime Facultativo Complementar de Previdência Social.

§ 1º O Regime Geral de Previdência Social (RGPS) garante a cobertura de todas as situações expressas no art. 1º desta lei, exceto a de desemprego involuntário, objeto de lei específi ca.

§ 2º O Regime Facultativo Complementar de Previdência Social será objeto de lei específi ca.

(...)

Art. 153. O Regime Facultativo Complementar de Previdência Social será objeto de lei especial, a ser submetida à apreciação do Congresso Nacional dentro do prazo de 180 (cento e oitenta) dias.

Verifi ca-se, portanto, que tal diploma legal, que veio a lume, diga-se de

passagem, juntamente com a Lei n. 8.212/1991, que baixou o regulamento

de custeio, trata, especificamente, dos benefícios, em suas mais variadas

espécies e formas, concedidos pela Previdência Social Pública, não atinando

à complementação facultativa, que vem mediante a adesão de empregados

ou aderentes a regimes instituídos por entidades de previdência abertas ou

fechadas, custeados ou não por empresas patrocinadoras.

É certo que o entendimento que se consagrou em julgados do STJ é no

sentido da prescrição qüinqüenal, a partir da interpretação de que o art. 94 da

Lei n. 6.435/1977 remetia ao Regulamento do Regime Jurídico da Previdência

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 213-242, agosto 2011 241

Social, baixado pelo Decreto n. 72.771/1973 (cf. REsp n. 89.416-DF, Rel. Min.

Eduardo Ribeiro, 3ª Turma, DJU de 03.08.1998; REsp n. 173.826-RS, Rel.

Min. Waldemar Zveiter, 3ª Turma, DJU de 13.12.1999 e REsp n. 297.547-MG,

Rel. Min. Ari Pargendler, 3ª Turma, DJU de 05.08.2002), afi rmando o ilustre

Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, no REsp n. 180.833-RJ, que:

Tal recomendação é, atualmente, regra contida na Lei n. 8.213, de 24.07.1991 (art. 103).

Tenho, todavia, que tal regra é inaplicável.

Em face do novo disciplinamento jurídico dado à Previdência Social,

frisa-se, o art. 9o, parágrafo 2º, afastou da Lei n. 8.213/1991 a Previdência

Complementar, de sorte que não se tem como considerar que o art. 103 desta

mesma lei faz as vezes do antigo art. 94 da Lei n. 6.435/1977.

Quanto ao art. 153, ele previu o prazo de seis meses para que houvesse o

disciplinamento da Previdência Complementar.

Veio, somente agora, a Lei Complementar n. 109, de 29 de maio de 2001, a

suprir a lacuna, nesses termos:

Art. 1º O regime de previdência privada, de caráter complementar e organizado de forma autônoma em relação ao regime geral de previdência social, é facultativo, baseado na constituição de reservas que garantam o benefício, nos termos do caput do art. 202 da Constituição Federal, observado o disposto nesta Lei Complementar.

Art. 2º O regime de previdência complementar é operado por entidades de previdência complementar que têm por objetivo principal instituir e executar planos de benefícios de caráter previdenciário, na forma desta Lei Complementar.

Art. 75. Sem prejuízo do benefício, prescreve em cinco anos o direito às prestações não pagas nem reclamadas na época própria, resguardados os direitos dos menores dependentes, dos incapazes ou dos ausentes, na forma do Código Civil.

Diante desse quadro legal, há, portanto, que se compreender que no vácuo

legislativo entre a Lei n. 8.213/1991 e a novel Lei Complementar n. 109/2001,

permaneceu em vigor, no concernente à prescrição, a antiga Lei n. 6.435/1977,

porque, no particular, não revogada pela lei de benefícios, já que a mesma se

auto-excluíra do disciplinamento da previdência complementar.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

242

Também é de se registrar que não há prazo diverso consoante a natureza

da pretensão - se benefício ou restituição de contribuições - posto que o sistema

não permite distinção dessa ordem, em se cuidando de direito originário de uma

única relação jurídica.

Acontece, porém, que inobstante o reconhecimento de que a prescrição é

quinquenal, não há como se atender ao recurso especial.

É que equivocado o raciocínio do recorrente, no tocante ao termo inicial

do prazo prescricional.

A autora foi demitida do Banco do Estado do Paraná em 04.06.1992 e

recebeu a restituição das contribuições em 19.01.1993, segundo a inicial, não

infi rmada, no particular.

O que se postula, aqui, é o recebimento das diferenças, portanto se a

restituição foi dada a menor do que o esperado e devido, somente a contar dessa

data, ou seja, 19.01.1993, é que passou a fl uir o prazo prescricional qüinqüenal,

de modo que a ação, ajuizada em 15.01.1997, é tempestiva.

Ante o exposto, conheço do recurso especial, mas nego-lhe provimento.

É como voto.

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Súmula n. 292

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SÚMULA N. 292

A reconvenção é cabível na ação monitória, após a conversão do

procedimento em ordinário.

Referência:

CPC, art. 1.102c, § 2º.

Precedentes:

REsp 147.945-MG (5ª T, 06.10.1998 – DJ 09.11.1998)

REsp 222.937-SP (2ª S, 09.05.2001 – DJ 02.02.2004)

REsp 401.575-RJ (4ª T, 06.08.2002 – DJ 02.09.2002)

Corte Especial, em 05.05.2004

DJ 13.05.2004, p. 183

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RECURSO ESPECIAL N. 147.945-MG (97.64408-1)

Relator: Ministro Felix Fischer

Recorrente: Banco do Brasil S/A

Recorrido: Hidrolux Empreendimentos Gerais Ltda.

Advogados: Pedro Afonso Bezerra de Oliveira e outros

Ana Paula Cantão e outros

EMENTA

Processual Civil. Ação monitória. Reconvenção. Art. 1.531 do

CC.

- Não há que se falar em omissão quanto ao decisum vergastado,

uma vez que fundamentou e decidiu as questões postas na apelação.

O Poder Judiciário, para expressar sua convicção, não precisa se

pronunciar sobre todos os argumentos suscitados pelas partes.

- A ação monitória, com a impugnação do réu através

de embargos, se torna ação normal de conhecimento regida pelo

procedimento ordinário podendo, assim, dar ensejo a exceções

processuais, reconvenção inclusive.

- A penalidade prevista no art. 1.531 do CC só deve ser

aplicada no caso de má-fé. Porém, sendo julgada a reconvenção

antecipadamente, não houve oportunidade de produção de provas no

sentido de se demonstrar a alegada malícia.

- Recurso parcialmente conhecido e, nessa parte, provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer parcialmente do recurso

e, nesta parte, dar-lhe provimento, nos termos do voto do Ministro Relator.

Votaram com o Relator os Ministros Gilson Dipp, José Arnaldo e Edson

Vidigal.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

248

Brasília (DF), 06 de outubro de 1998 (data do julgamento).

Ministro José Reinaldo da Fonseca, Presidente

Ministro Felix Fischer, Relator

DJ 09.11.1998

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Felix Fischer: Trata-se de recurso especial interposto contra

acórdão do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais:

A decisão da e. Corte a quo, ao admitir o recurso às fl s. 227-228, assim

delineou a controvérsia:

Cuida-se de recurso especial interposto por Banco do Brasil S.A. contra acórdão proferido pela egrégia Sexta Câmara Cível deste Tribunal, com fulcro no art. 105, III, a da Constituição Federal.

O aresto impugnado manteve decisão monocrática que, em sede de ação monitória, promovida pela empresa recorrida, extinguiu a reconvenção oferecida pelo recorrente, sem julgamento de mérito, por não haver conexão entre a ação principal e a aludida reconvenção, nem entre a mesma e o fundamento da defesa produzida nos embargos.

Conclui a culta Câmara que, ainda que por extensão analógica, aplica-se à ação monitória a mesma regra que rege a execução forçada, onde não é viável a reconvenção, por incompatibilidade de ritos.

E, afastando a incidência, in casu, do art. 1.531 do Código Civil, decidiu a Turma Julgadora que o direito ali previsto há de ser confirmado em procedimento próprio, salvo exceções, dentre as quais não se enquadra a hipótese vertente.

Recorrendo, como se disse, à analogia, e com respaldo na jurisprudência anotada, acrescentou a egrégia Câmara que:

Não pode o executado, em embargos, formular contra o autor pedido cuja tutela reclame processo de conhecimento (fl s. 159).

Torna o recorrente aos autos, pretendendo a abertura da via especial, por suposta ofensa aos arts. 535, 297 e 1.102c do Código de Processo Civil, e ao art. 1.531 do Código Civil. Argúi, outrossim, a ocorrência de dissenso pretoriano.

Em suma, insurge-se o peticionário contra a rejeição de seus embargos declaratórios; insiste na compatibilidade entre os procedimentos da reconvenção e da ação monitória, que, segundo entende, obedece o rito ordinário; e argumenta

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 243-267, agosto 2011 249

que a extinção da reconvenção impossibilitou a tutela do direito previsto no art. 1.531 do Código Civil.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Felix Fischer (Relator): No que concerne à suposta omissão

do decisum vergastado, tenho que a pretensão recursal não merece prosperar.

Assevero que todas as questões postas na apelação foram decididas.

O Poder Judiciário, para expressar sua convicção, não precisa se pronunciar

sobre todos os argumentos suscitados pelas partes.

Neste sentido:

Processual Civil. Acórdão. Omissão. Não ocorrência. Percentual de honorários advocatícios. Art. 20, parágrafos 3 e 4, do CPC. Impossibilidade de exame na via eleita. Reexame de provas obstado pela Súmula n. 7-STJ. Interpretação de cláusula contratual. Súmula n. 5 da Corte.

1 - Não há se falar em violação aos arts. 458, II e III e 535, ambos do CPC, pois o órgão judicial, para expressar a sua convicção, não precisa aduzir comentários sobre todos os argumentos levantados pelas partes, não carregando a pecha de omisso aquele que assim o faz, bem delineado todas as questões a ele submetidas, o que também enseja, acaso opostos embargos declaratórios, a pretexto de prequestionamento, a aplicação da multa protelatória do art. 538, parágrafo único, do CPC.

2 - A par de negativa de vigência aos parágrafos 3 e 4 do art. 20, do CPC, a insurgência quanto a verba advocatícia, porque fixada dentro dos limites legais, conforme critérios de apreciação fática, e tarefa reservada às instâncias ordinárias, demandando, portanto, reexame de provas vedado pela Súmula n. 7-STJ. Precedentes.

3 - Não se conhece do especial, ante a incidência da Súmula n. 5-STJ, se os recorrentes, a pretexto de vulneração de Lei Federal, pretendem, na verdade, interpretar cláusula contratual.

4 - Recurso especial não conhecido.

(REsp n. 150.283-PR, Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJ 02.02.1998).

Passo ao exame da questão atinente à possibilidade de, em sede de

ação monitória, o réu apresentar reconvenção nos embargos previstos nesse

procedimento.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

250

Dispõe o art. 1.102c, § 2º, do CPC:

§ 2º Os embargos independem de prévia segurança do juízo e serão processados nos próprios autos, pelo procedimento ordinário.

Depreende-se do mandamento legal que ao se dispor o réu a discutir o

débito objeto da demanda com a apresentação dos embargos, a ação, que em

um primeiro momento tinha uma disciplina própria, passa a ser conduzida pelo

procedimento ordinário.

A Lei Processual referente à ação monitória, ao prever que o rito, no caso,

será o ordinário, não coloca nenhuma exceção. Nesse passo, conclui-se que ao

réu é facultada a apresentação de todas as defesas previstas nesse procedimento,

até mesmo a reconvenção.

Não é outro o ensinamento do renomado autor Humberto Th eodoro

Júnior (in As Inovações do Código de Processo Civil, Rio de Janeiro: Forense,

1996, p. 86):

Manifestados os embargos dentro dos 15 dias previstos no art. 1.102, b, o mandado de pagamento fica suspenso, e a matéria de defesa arguível pelo devedor é a mais ampla possível. Toda exceção, material ou processual, que tivesse aventada na resposta à ação monitória.

Ao contrário do que se passa a execução, os embargos aqui não são autuados à parte. São processados nos próprios autos, como a contestação no procedimento ordinário (art. 1.102, c, § 2º).

Após os embargos, o desenvolvimento do iter procedimental seguirá o rito ordinário do processo de conhecimento, até a sentença, que poderá acolher ou não a defesa.

Rejeitados os embargos, e execução terá início, pois a sentença transformará ação monitória em execução de título judicial. O devedor será intimado para pagar ou segurar o juízo e a execução prosseguirá dentro da marcha prevista para as obrigações de quantia certa ou de entrega de coisa (Livro II, Título II, Capítulos II e IV, do CPC).

Acolhidos os embargos, revogado estará o mandado inicial de pagamento e extinto será todo o processo. Se o acolhimento for apenas parcial, a execução terá curso sobre o remanescente do pedido do autor não alcançado pela sentença.

Como a ação monitória se torna, com a impugnação do réu, uma normal ação de conhecimento, em rito ordinário, pode dar ensejo também a exceções processuais e a reconvenção.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 243-267, agosto 2011 251

Também, no mesmo sentido, Fernando César Zeni (Aspectos Polêmicos

da Ação Monitória, artigo publicado no SÍNTESE JORNAL, ano 2 - n. 18 -

agosto/1998 - Editora Síntese Ltda.):

8. Reconvenção no procedimento monitório.

Também não é incompatível com o procedimento monitório a reconvenção (art. 315), na medida em que, com o oferecimento dos embargos, que se dá no prazo de quinze dias, o feito converte-se em ordinário. Assim, só pode o devedor reconvir ao credor, na medida em que ofereça embargos e a reconvenção no mesmo prazo (artigo 297 do CPC). Sendo a modalidade de resposta do réu, a reconvenção, constituindo-se como ação judicial do demandado ao autor do pedido, em cumulação objetiva de ações, deve ser aceita no procedimento injucional, apesar de ter este procedimento especial. Trata-se de cumulação objetiva de ações, não se confi nando à defesa o reconvinte, que vai ao ataque, propondo uma outra ação, no dizer de Clito Forniciari Junior, o qual sustenta ainda que o princípio da economia processual tem encontro com o pedido reconvencional. E segundo orienta a melhor doutrina, desde que a ação que se processa seja compatível com o processamento da reconvenção, sua admissão não encontra óbice algum, apesar de no Direito alemão a inoponibilidade de reconvenção ser prevista expressamente, segundo anota J. M. Othon Sidou. Porém, referido jusliterato não deixa de enaltecer a desvirtualização com que vem sendo utilizado o procedimento monitório no direito tedesco.

Constata-se, portanto, a possibilidade, em tese, de ingresso com a

reconvenção nos casos de aplicação do procedimento monitório.

Quanto à penalidade prevista no art. 1.531 do Código Civil, correto o

entendimento de que a sua aplicação somente é possível nos caso em que haja

comprovada má-fé.

Porém, ao ser julgada antecipadamente a reconvenção, não se possibilitou

ao reconvinte produzir qualquer prova para caracterização da alegada malícia.

Conforme já demonstrado, é possível a reconvenção no procedimento

monitório. Também é admissível a discussão acerca da pena prevista no art.

1.531 do CC em sede reconvencional. Portanto, merece reforma a decisão

reprochada, uma vez que afastados o fundamentos que lhe deram suporte.

Assim, conheço parcialmente do recurso e, nessa parte, dou-lhe

provimento para, anulando o acórdão e a sentença de primeiro grau, determinar

o prosseguimento do feito reconvencional.

É o voto.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

252

RECURSO ESPECIAL N. 222.937-SP (99.0062030-5)

Relatora: Ministra Nancy Andrighi

Recorrente: Great Food Produtos Alimentícios Ltda.

Advogados: Carlos Augusto Pinto Dias e outros

Flavio Lucas de Menezes Silva

Recorrido: Gesto Arquitetura S/C Ltda.

Advogado: Jose Parma

EMENTA

Processual Civil. Recurso especial. Ação monitória. Reconvenção. Admissibilidade.

Segundo a mens legis os embargos na ação monitória não têm “natureza jurídica de ação”, mas se identifi cam com a contestação. Não se confundem com os embargos do devedor, em execução fundada em título judicial ou extrajudicial, vez que, inexiste ainda título executivo a ser desconstituído.

Não pagando o devedor o mandado monitório, abre-se-lhe a faculdade de defender-se, oferecendo qualquer das espécies de respostas admitidas em direito para fazer frente à pretensão do autor.

Os embargos ao decreto injuncional ordinarizam o procedimento monitório e propiciam a instauração da cognição exauriente, regrado pelas disposições de procedimento comum. Por isso, não se vislumbra qualquer incompatibilidade com a possibilidade do réu oferecer reconvenção, desde que seja esta conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa.

A tutela diferenciada introduzida pela ação monitória, que busca atingir, no menor espaço de tempo possível a satisfação do direito lesado, não é incompatível com a ampla defesa do réu, que deve ser assegurada, inclusive pela via reconvencional.

Recurso provido, na parte em que conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda

Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 243-267, agosto 2011 253

taquigráficas constantes dos autos, por maioria, conhecer parcialmente do

recurso e nesta parte dar-lhe provimento. Votaram com a Relatora os Srs.

Ministros Antônio de Pádua Ribeiro, Sálvio de Figueiredo Teixeira, Cesar

Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Aldir Passarinho Junior. Vencidos os Srs.

Ministros Ari Pargendler e Carlos Alberto Menezes Direito.

Brasília (DF), 09 de maio de 2001 (data do julgamento).

Ministro Barros Monteiro, Presidente

Ministra Nancy Andrighi, Relatora

DJ 02.02.2004

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Nancy Andrighi: Originou-se a presente demanda com

a propositura, por parte da Recorrida, de ação monitória com o fi to de haver o

pagamento de importância pecuniária decorrente de contrato de prestação de

serviços de administração de obras civis entre elas fi rmado.

Citada a recorrente opôs embargos e, concomitantemente, reconvenção,

esclarecendo, em síntese, que em razão de descumprimento de cláusula

contratual por parte da Recorrida (atraso na entrega das obras contratadas),

nada devia a esta, visto que a multa incidente em seu favor, nesse caso, igualava-

se a quantia exigida pela recorrida.

Amparada por estes motivos, pugnou a recorrente pela compensação de

créditos em sede reconvencional, não admitida pelo juízo processante por falta

de interesse de agir.

A mesma sentença julgou os embargos à monitória improcedentes por não

ter o réu comprovado os fatos constitutivos de seu direito.

Em sede de apelação proferiu o Tribunal de Alçada Cível do Estado de

São Paulo o seguinte julgamento, assim ementado:

Monitória. Reconvenção. Impossibilidade de seu ajuizamento em razão da sistemática prevista para o processamento desta ação. Recurso improvido.

Monitória. Embargos. Inversão do ônus da prova decorrente de sua oposição. Aplicação do artigo 333, I, do Código de Processo Civil. Não demonstração do fato constitutivo do direito invocado pelo embargante. Embargos improcedentes. Recurso improvido.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

254

Irresignado, interpôs a recorrente o presente Recurso Especial com fulcro no art. 105, inciso III, alínea a, alegando violação aos artigos 131 e 315 do CPC.

Rebate o recorrente o acórdão recorrido de forma bifronte, alegando que:

a) na parte referente ao julgamento dos embargos, alega que não foram apreciadas as provas carreadas aos autos pela qual a autora demonstrou o fato constitutivo de seu direito, qual seja, o atraso na entrega das obras por parte da recorrida;

b) na parte relativa à possibilidade da reconvenção na monitória afi rma que a única restrição que a Lei Adjetiva Civil impõe à reconvenção refere-se ao procedimento sumaríssimo dada a sua celeridade e não aos outros, em que se aplica somente, para tanto, a regra geral da conexão.

É o relatório.

VOTO

A Sra. Ministra Nancy Andrighi (Relatora): Inviável se afigura a admissibilidade do Recurso Especial no que pertine a alegação de violação ao art. 131 do CPC, visto que, a supedanear a razoabilidade da tese da recorrente está a alegação do Tribunal não ter apreciado as provas carreadas aos autos, conclusão esta apenas alterável mediante o revolvimento da matéria fáctica, vedada em sede de recurso especial ante o veto contido no Enunciado da Súmula n. 7 do Superior Tribunal de Justiça.

No que tange a negativa do Tribunal em processar a reconvenção alega a recorrente violação ao art. 315 do CPC, verbis:

O réu pode reconvir ao autor no mesmo processo, toda vez que a reconvenção seja conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa.

Fixa-se, pois, o ponto da controvérsia no exame da admissibilidade da reconvenção em sede de ação monitória.

Sob a ótica do Tribunal de origem, a reconvenção é descabida, pois os embargos ao mandado apresentados pela agravada têm natureza de ação e não de defesa, sendo despicienda a reconvenção, que não se coaduna com o objetivo da reforma de abreviar, de forma inteligente e hábil, o caminho para a formação do título executivo.

A doutrina não é pacífi ca quanto à natureza da manifestação apresentada pelo devedor.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 243-267, agosto 2011 255

Consultando, porém, a mens legis vê-se que os embargos na ação monitória

não têm “natureza jurídica de ação”, como ocorre nos embargos do devedor, em

execução fundada em título judicial ou extrajudicial.

Estes embargos identifi cam-se com a contestação, até porque inexiste

ainda título executivo a ser desconstituído. Não se confundem com os embargos

do devedor. Eis que, estes têm natureza jurídica de ação incidental proposta

fi nalísticamente com o objetivo de extinguir o processo ou desconstituir a

efi cácia do título executivo.

Como os embargos representam defesa, e esta dirige-se contra o mandado

injuncional, que se apoia na pretensão inicial, pode o embargante opor-se à

pretensão do autor sob quaisquer espécie de resposta admitida em direito,

inclusive por meio de reconvenção.

Ordinarizado o procedimento monitório, por força do disposto no art.

1.102c CPC, não se vislumbra qualquer incompatibilidade com a possibilidade

do réu oferecer reconvenção, desde que seja esta conexa com a ação principal ou

com o fundamento da defesa.

Assim, em comentários ao Código de Processo Civil admite Th eotônio

Negrão ser possível a reconvenção no procedimento monitório “se o réu tiver

contra o autor um documento sem efi cácia de título executivo e que se relacione

com o pedido deste”.

Note-se que este tipo de tutela diferenciada busca atingir, no menor

espaço de tempo possível a satisfação do direito lesado. Tal escopo, todavia, não

é incompatível com a possibilidade do réu defender-se pela via reconvencional,

registrando-se que esta deve ser oferecida no prazo e concomitantemente à

oposição de embargos à monitória. Por outro lado, admitir reconvenção no

procedimento monitório contribui para a satisfatividade do processo na medida

em que permite a obtenção de um resultado mais amplo, no mesmo processo,

em que fi carão resolvidas todas as pendências entre as partes acerca daquela

relação jurídica, cumprindo-se com rigor, o princípio da economia e celeridade

processual.

Esta amplitude de defesa remonta as origens da ação monitória.

Com efeito, na exposição de motivos do projeto de lei que reinstaurou a

“ação monitória” em nosso ordenamento jurídico, há menção às suas raízes no

direito luso brasileiro, em evidente referência à ação de assinação de dez dias ou

ação decendiária.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

256

Por este processo “o devedor é citado, sine aliquo libello, como diz Castro,

e sob pena de imediata condenação, para dentro de um decêndio satisfazer

o empenho contraído pelo escrito ajuizado, ou alegar e provar pagamento ou

qualquer outro fato que o releve de pagar”.

À luz do Direito Comparado, outra não pode ser a conclusão adotada,

pois a disciplina da ação monitória sofreu direta infl uência do moderno direito

italiano. E neste, o procedimento injuncional foi considerado compatível com o

a reconvenção.

A doutrina corrobora este entendimento, como são exemplos as seguintes

lições:

Cabe reconvenção na ação monitória, pois, havendo oposição de embargos, estes têm natureza de defesa, podendo ser acompanhados de reconvenção (JTJ 195/235). in Código de Processo Civil Comentado, Nelson e Rosa Maria Andrade Nery Júnior

Neste sentido, o escólio de Fernando César Zeni

Também não é incompatível com o procedimento monitório a reconvenção (art. 315), na medida em que, com o oferecimento dos embargos, que se dá no prazo de quinze dias, o feito converte-se em ordinário. Assim, só pode o devedor reconvir ao credor, na medida em que ofereça embargos e a reconvenção no mesmo prazo (art. 297 do CPC). Sendo uma modalidade de resposta do réu, a reconvenção, constituindo-se como ação judicial do demandado ao autor do pedido, em cumulação objetiva de ações, deve ser aceita no procedimento injuncional, apesar de ter este procedimento especial. Trata-se de cumulação objetiva de ações, não se confi nando à defesa o reconvinte, que vai ao ataque, propondo uma outra ação, no dizer de Clito Fornaciari Júnior, o qual sustenta ainda que o princípio da economia processual tem encontro com o pedido reconvencional. E, segundo orienta a melhor doutrina, desde que a ação que se processa seja compatível com o processamento da reconvenção, sua admissão não encontra óbice algum, apesar de no Direito Alemão a inoponibilidade de reconvenção ser prevista expressamente, segundo anota J. M. Othon Sidou. Porém, referido jusliterato não deixa de enaltecer a desvirtualização com que vem sendo utilizado o procedimento monitório no direito tedesco.

(...)

Os embargos a ação monitória nada mais signifi cam do que uma contestação (art. 297 do CPC) e, neste contexto, a reconvenção é de ser admitida, porquanto os procedimentos da ação principal e da reconvenção não precisam ser idênticos, mas hão de ser compatíveis entre si.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 243-267, agosto 2011 257

Nada há de incompatíveis entre o procedimento monitório e o pedido reconvencional, na medida em que o rito comum ordinário afi gura-se como o mais amplo de todos os demais e o deferimento teria como fundamento legal o art. 292, § 2º do CPC.

A reconvenção, nos embargos à monitória, tem sua proteção na lex fundamentalis e se a lei ordinária não vedou expressamente tal pedido, de rigor sua aplicabilidade neste rito injuncional, assim como o fez o direito italiano, que considerou o procedimento injuncional compatível com o preceito constitucional, encontrando o contraditório e a ampla defesa completa atuação, sendo também, plenamente aceito no direito italiano a reconvenção neste procedimento.

Vicente Greco Filho, ensina que não só cabe embargos à monitória como

também reconvenção, citando exemplo em que o devedor pode naqueles pedir

compensação e nesta, “pleitear o excedente contra o autor por reconvenção

monitória”.

Nesta mesma esteira de raciocínio, leciona o em. doutrinador Humberto

Th eodoro Júnior:

Manifestados os embargos dentro dos 15 dias previstos no art. 1102, b, o mandado de pagamento fica suspenso, e a matéria de defesa argüivel pelo devedor é a mais ampla possível. Toda exceção, material ou processual, que tivesse aventada na resposta à ação monitória.

Ao contrário do que se passa a execução, os embargos aqui não são autuados à parte. São processados nos próprios autos, como a contestação no procedimento ordinário (art. 1.102, c, § 2º).

Após os embargos, o desenvolvimento do iter procedimental seguirá o rito ordinário do processo de conhecimento, até a sentença, que poderá acolher ou não a defesa.

Rejeitados os embargos, e execução terá início, pois a sentença transformará ação monitória em execução de título judicial. O devedor será intimado para pagar ou segurar o juízo e a execução prosseguirá dentro da marcha prevista para as obrigação de quantia certa ou de entrega de coisa (Livro II, Título II, Capítulo II e IV, do CPC).

Acolhidos os embargos, revogado estará o mandado inicial de pagamento e extinto será todo o processo. Se o acolhimento for apenas parcial, a execução terá curso sobre o remanescente do pedido do autor não alcançando pela sentença.

Como a ação monitória se torna, com a impugnação do réu, uma norma ação de conhecimento, em rito ordinário, pode dar ensejo também a exceções processuais e a reconvenção.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

258

Assim, também, manifestou-se a jurisprudência desta Corte Superior em

julgado assim ementado:

Processual Civil. Ação monitória. Reconvenção. Art. 1.531 do CC.

- Não há que se falar em omissão quanto ao decisum vergastado, uma vez que fundamentou e decidiu as questões postas na apelação. O Poder Judiciário, para expressar sua convicção, não precisa se pronunciar sobre todos os argumentos suscitados pelas partes.

- A ação monitória, com a impugnação do réu através de embargos, se torna ação normal de conhecimento regida pelo procedimento ordinário podendo, assim, dar ensejo a exceções processuais, reconvenção inclusive.

- A penalidade prevista no art. 1.531 do CC só deve ser aplicada no caso de má-fé. Porém, sendo julgada a reconvenção antecipadamente, não houve oportunidade de produção de provas no sentido de se demonstrar a alegada malícia.

- Recurso parcialmente conhecido e, nessa parte provido. (REsp n. 147.945-MG; DJ: 09.11.1998, Relator: Min. Felix Fisher).

Por todo o exposto, é inarredável concluir-se que é possível reconvir no procedimento monitório, quando a reconvenção for conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa.

Forte nestas razões, dou provimento ao recurso especial na parte em que conhecido, para, tão somente, determinar o processamento da reconvenção negado em segundo grau de jurisdição.

É como voto.

VOTO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Sr. Presidente, esta questão, a

Turma houve por bem submetê-la a apreciação da Seção, porquanto envolve

matéria jurídica realmente relevante e que ainda não foi apreciada por este órgão

julgador.

A minha tendência na Turma era a de acompanhar a eminente Relatora.

Com o brilhante voto proferido, não tenho dúvida em acompanhá-la. Se bem

examinarmos a ação monitória, a única característica que ela tem é a de apressar

a formação do título executivo. Só isso. Oferecida a defesa, que se faz por meio

de embargos, o processo se converte no rito ordinário. É um processo normal

em termos de aceitação ou não de reconvenção, por isso mesmo, se há conexão

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 243-267, agosto 2011 259

ou conexidade com a ação principal ou com fundamento da defesa, não há razão

para não permitir o posicionamento da eminente Ministra-Relatora, apoiado

em signifi cativa doutrina.

Acompanho o voto da Sra. Ministra-Relatora.

VOTO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: Acompanho a Ministra-

Relatora em seu substancioso voto. O instituto da ação monitória, segundo tem

assinalado este Tribunal, é uma das grandes inovações do Direito Processual

Brasileiro, a exemplo do direito europeu, onde esse procedimento tem largo

alcance e uma aplicação das mais acentuadas.

Acompanho o voto de S. Exa.

VOTO-VOGAL

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Sr. Presidente, também acompanho

a eminente Ministra Relatora. Ouvi com atenção o seu fundamentado voto.

Faço apenas uma ponderação: o reconvinte pode apresentar um título

executivo como expressão do seu crédito, diante do autor da ação monitória. Se

ele é também credor, não vejo por que não possa reconvir.

VOTO-MÉRITO

O Sr. Ministro Ari Pargendler: Sr. Presidente, já tenho voto na Turma

divergindo da eminente Ministra Relatora, porque sigo, no particular, a lição de

Ernane Fidélis dos Santos, a cujo teor os embargos na ação monitória não têm a

natureza de contestação.

Reporto-me a esse voto e não conheço do recurso especial.

VOTO-MÉRITO (VENCIDO EM PARTE)

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Senhor Presidente, peço

vênia à eminente Ministra Relatora que nos brindou com tão excelente voto,

mas acompanho o voto do Senhor Ministro Ari Pargendler.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

260

VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: Sr. Presidente, meditando a respeito, não vi, de fato, obstáculo à reconvenção na ação monitória. Penso que seria de se dar até maior largueza, como preconizou o Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, porque se se for aguardar que a pessoa seja executada para opor a reconvenção, ele teria, na verdade, para se utilizar da regra mencionada pelo Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, de se submeter à penhora, porque seria via embargos e, aí, ele teria a constrição no seu patrimônio. Então, se ele tem um título executivo guardado contra o autor da monitória, ele pode discutir essa questão na reconvenção, abrindo mão do seu título executivo, para evitar, exatamente, que, formado um título futuro, ele sofra uma constrição para poder se defender.

Acompanho o voto da Sra. Ministra-Relatora.

APARTE

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: É exatamente isso que acredito ser o perigo, porque, para fazer isso, ele abriu mão da execução e foi para o procedimento ordinário. Isso ele pode fazer, mas ele vai dilatar o procedimento da monitória para trazer um argumento dizendo que também é credor. Então, esses embargos tornam a monitória num procedimento ordinário, e, aí, será discutido, vem sentença e, depois, a possibilidade de apelação. Assim, fi ndo o procedimento ordinário, com mais apelação, é que ter-se-á isso, que ele pode obter com muito mais rapidez se, depois, esperar a execução e pedir a compensação.

VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: Sendo titular de um direito contra o autor, deveria ele fazer de logo a oposição ou esperar ser executado, ter que se sujeitar a uma penhora para, assim, se defender? E, depois, isso é uma opção do cidadão que pretende apresentar a reconvenção. Se acha melhor, é juízo dele.

APARTE

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: Na realidade, não estamos com a execução. Estamos naquilo que a Ministra Fátima Nancy Andrighi

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 243-267, agosto 2011 261

defendeu: ordinariza-se o procedimento e um dos argumentos que ele está alegando é que é credor. Então, é uma monitória que a parte embargou, ordinarizou-se, e nesse procedimento ordinário, ele vai discutir um direito que ele tem, mas tudo dentro de um procedimento ordinário. Aí acabou a monitória, não estamos nela. Estamos na ação de cobrança em procedimento ordinário. Que é possível na prática, não tenho dúvida. Monitória não é mais - então está fora da tese da Ministra Fátima Nancy Andrighi. Pode ser prático para o advogado, para o profi ssional, mas para a ordem jurídica está fora da monitória.

VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: Nessa hipótese, não. Acredito

que, na verdade, é uma questão de ponto de vista de quem está se defendendo.

Ou opta por sofrer uma constrição, uma penhora nos seus bens para poder se

defender de logo, ou ter que fi car assistindo aquela ação monitória prosseguir,

e se transformar num título que vai ser depois executado, para só, depois, ele

reagir? Parece-me que a possibilidade de se dar uma amplitude maior é efetiva

e eu estaria acompanhando, aí, a doutrina de Th eotônio Negrão, que, parece-me,

sufraga essa tese, com a maxima venia.

Estou de acordo com o voto da Sra. Ministra-Relatora.

RECURSO ESPECIAL N. 401.575-RJ (2001/0193809-2)

Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira

Recorrente: Leomar Jorás Lopes e cônjuge

Advogado: Oswaldo Servulo Tavares da Silva

Recorrido: Arylton Marino França

Advogado: Álvaro Jorge de Andrade e outros

EMENTA

Processo Civil. Ação monitória. Embargos. Conversão do

procedimento para ordinário. Reconvenção. Cabimento. Precedentes

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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do Tribunal. Doutrina. Recurso provido.

- É admissível a reconvenção no procedimento monitório, desde

que ocorra a conversão do procedimento para o ordinário, com a

oposição dos embargos previstos no art. 1.102c, CPC.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe

provimento. Votaram com o Relator os Ministros Barros Monteiro, Ruy Rosado

de Aguiar e Aldir Passarinho Júnior. Ausente, justifi cadamente, o Ministro

Cesar Asfor Rocha.

Brasília (DF), 06 de agosto de 2002 (data do julgamento).

Ministro Aldir Passarinho Junior, Presidente

Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Relator

DJ 02.09.2002

EXPOSIÇÃO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: Ajuizou o recorrido ação

monitória contra os recorrentes, fundamentada em promissória emitida pelos

réus em 15.09.1992, como parte do pagamento de um lote de terreno no

município de Cabo Frio, Rio de Janeiro.

Os réus opuseram embargos e, concomitantemente, apresentaram sua

reconvenção, que o Juízo indeferiu, ao fundamento de que “não cabe reconvenção

no presente rito”.

O agravo de instrumento, que interpuseram os réus-reconvintes, restou

desprovido pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em acórdão assim

ementado:

Ação monitória. Tendo os embargos, que vêm a ser interpostos contra a ação monitória, natureza de ação, não se admite reconvenção, sendo descabida a regra do art. 315 do CPC.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 243-267, agosto 2011 263

Orientando-se no sentido de que na ação monitória se está diante de procedimento sui generis que visa abreviar a formação do título executivo judicial, tem-se por inadmissível o oferecimento de reconvenção em virtude da total incompatibilidade dos ritos desta e da ação monitória. Decisão que se confi rma.

Adveio o recurso especial interposto pelos agravantes, apontando violação

do art. 1.102-C, § 2º do Código de Processo Civil, além de divergência

interpretativa com acórdãos do Tribunal de Justiça de São Paulo e deste Tribunal.

Sustentam os recorrentes, em linhas gerais, o cabimento da reconvenção na ação

monitória.

Com as contra-razões, foi o recurso admitido.

Acrescente-se que foi ajuizada cautelar nesta Corte, objetivando a obter

efeito suspensivo ao recurso especial, cuja liminar restou indeferida, em decisão

assim fundamentada:

Foi aforada a cautelar em exame, com pedido liminar, tendo por fi nalidade emprestar efeito suspensivo ao recurso especial em tela, lançando os requerentes em sua inicial, no que toca ao periculum in mora, os seguintes argumentos:

O pedido de efeito suspensivo objetiva possibilitar seja a reconvenção apreciada na mesma a.i.j. que se realizará no próximo dia 13.09.2001, data designada na audiência de conciliação que considerou impróprio o pedido reconvencional (Doc. 09).

Exatamente aí reside o periculum in mora, porquanto os reconvintes só poderão receber a diferença que lhes cabe, depois do julgamento do recurso especial manifestado contra decisão interlocutória, e que fi cará retido até decisão na apelação que fatalmente será apresentada pelo vencido na monitória, quando então subirá ao STJ mediante pedido manifestado nas razões ou contra-razões de recurso dessa mesma índole que então se interpuser.

E se for provido o especial contra a decisão no AI, o STJ certamente determinará voltem os autos à primeira instância para que julgue a reconvenção, daí se originando nova apelação do vencido, com eventual interposição de novo especial (...)

Daí se vê que decorrerá, desnecessariamente enorme espaço de tempo que poderá ser encurtado se a reconvenção já pudesse ser apreciada na a.i.j. designada para o próximo dia 13.09.2001.

2. A concessão da tutela de urgência, como cediço, demanda a ocorrência cumulativa do fumus boni iuris e do periculum in mora. No caso em exame a própria argumentação alinhada pelos requerentes evidencia que o periculum

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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in mora não se acha presente, não havendo o risco de dano de difícil ou incerta reparação. Ademais, não é este Tribunal órgão de consulta, notadamente na via cautelar, e nem se justifi ca que seja ensejado o seu acesso com tanta liberalidade e sem maior necessidade. Uma Corte superior, na realidade, reclama convocação mais relevante.

Questões como a refl etida nos autos é que congestionam a Corte, com volume desmedido de recursos e expedientes, sem similar no plano internacional, a difi cultar a apreciação mais rápida das causas que verdadeiramente estariam a merecer o seu pronunciamento.

3. À luz do exposto, indefi ro a liminar e própria cautelar.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira (Relator): 1. Tenho, em primeiro lugar, como caracterizada a divergência jurisprudencial com julgado desta Corte, da relatoria do Ministro Felix Fischer, assim ementado, no que interessa:

- A ação monitória, com a impugnação do réu através de embargos, se torna ação normal de conhecimento regida pelo procedimento ordinário podendo, assim, dar ensejo a exceções processuais, reconvenção inclusive (REsp n. 147.945-MG, DJ 09.11.1998).

Como se vê, enquanto o julgado impugnado não admitiu a reconvenção na ação monitória, o aresto paradigma entendeu diversamente.

2. Dispõe o art. 1.102c, § 2º, CPC:

Os embargos independem de prévia segurança do juízo e serão processados nos próprios autos, pelo procedimento ordinário.

Manifestados os embargos pelo devedor, portanto, o procedimento da

ação, até então com disciplina própria, passa a seguir o procedimento ordinário.

Em outras palavras, a defesa do devedor inaugura nova fase procedimental.

Assim sendo, alterado o procedimento com a impugnação do devedor,

não há razão para se deixar de admitir a reconvenção, instituto próprio do

procedimento ordinário.

Esta Turma, em caso em que se discutiu a admissibilidade da intervenção

de terceiros na ação monitória, mais precisamente do instituto do chamamento

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 243-267, agosto 2011 265

ao processo, decidiu pelo seu descabimento, tendo em vista a ausência de

apresentação de embargos (REsp n. 337.683-ES, j. 02.05.2002, relator o

Ministro Ruy Rosado de Aguiar). No caso dos autos, todavia, diferentemente,

houve a oposição de embargos, o que acarretou a alteração do procedimento

para ordinário.

3. Não se nega, é bem verdade, que tal entendimento não é unânime na

doutrina. Ernane Fidélis, por exemplo, sustenta posicionamento diverso, nestes

termos:

Os que vêem nos embargos a natureza de simples contestação, tanto no direito italiano quanto no brasileiro, admitem reconvenção. No entanto, numerosa é também a doutrina que a nega. Antônio Carlos Marcato, por exemplo, em seu substancioso trabalho sobre a matéria, afi rma: “Decorre daí também a inviabilidade da dedução de reconvenção pelo embargante (não obstante a adoção, para o processamento dos embargos, do procedimento comum ordinário, em cujo bojo aquela modalidade de resposta é permitida) (...)”

(...)

Não há dúvida de que, pelo que já se falou, o segundo entendimento é o mais correto, apesar da autoridade de quem defende a teoria oposta, mesmo porque, por mais ideal que possa ser a posição doutrinária, contra a lei não se pode interpretar e, no caso, pela lei brasileira, por sua inequívoca determinação, jamais se pode entender que a pretensão monitória objetive sentença de condenação.

O que se deve observar é que o procedimento monitório é técnica especial e diferenciada, com objetivo ditado não só no interesse das partes, mas também da própria jurisdição, sempre se orientando pela possibilidade acentuada de não haver oposição do injuncionado, justifi cando-se, pois, restrições procedimentais que só complicam e não facilitam (Ação Monitória, Del Rey, n. 93, p. 172-173).

Do outro lado, no entanto, ainda na seara doutrinária, encontram-se, entre

outros, Humberto Teodoro Júnior e Carreira Alvim. Das lições do primeiro, a

propósito, colho:

Manifestados os embargos dentro dos 15 dias previstos no art. 1.102, b, o mandado de pagamento fica suspenso, e a matéria de defesa argüível pelo devedor é a mais ampla possível. Toda exceção, material ou processual, que tivesse aventada na resposta à ação monitória.

Ao contrário do que se passa a execução, os embargos aqui não são autuados à parte. São processados nos próprios autos, como a contestação no procedimento ordinário (art. 1.102c, § 2º).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Após os embargos, o desenvolvimento do iter procedimental seguirá o rito ordinário do processo de conhecimento, até a sentença, que poderá acolher ou não a defesa.

Rejeitados os embargos, a execução terá início, pois a sentença transformará ação monitória em execução de título judicial. O devedor será intimado para pagar ou segurar o juízo e a execução prosseguirá dentro da marcha prevista para as obrigações de quantia certa ou de entrega de coisa (Livro II, Título II, Capítulos II e IV, do CPC).

Acolhidos os embargos, revogado estará o mandado inicial de pagamento e extinto será todo o processo. Se o acolhimento for apenas parcial, a execução terá curso sobre o remanescente do pedido do autor não alcançado pela sentença.

Como a ação monitória se torna, com a impugnação do réu, uma normal ação de conhecimento, em rito ordinário, pode dar ensejo também a exceções processuais e a reconvenção (Inovações do Código de Processo Civil, Forense, p. 86).

Do segundo, confi ra-se:

O processo monitório, ao contrário do processo de execução, não comporta qualquer restrição de defesa nos embargos, podendo ser formulada toda alegação que se destine a demonstrar a improcedência do pedido inicial. Os preceitos relativos aos embargos do executado não se aplicam à fase do conhecimento da ação monitória. A defesa, à semelhança do que sucedia com a antiga ação execução do Cód. Proc. Civ. de 1939 (art. 301) pode versar sobre qualquer questão, processual ou substancial, de rito ou de mérito, inclusive as exceções processuais. Também não é incompatível com o procedimento monitório a reconvenção (art. 315), à medida que, com o oferecimento dos embargos, o feito converte-se em ordinário.

Assim, só pode o devedor reconvir ao credor se tiverem lugar os embargos (Procedimento Monitório, Juruá, 2ª ed., p. 122-123).

Eduardo Talamini, por sua vez, ainda que com restrições relativamente

ao nome “reconvenção”, defende o cabimento do contra-ataque do devedor

nos mesmos autos da ação monitória, admitindo-o, apenas, como “demanda

cumulada” (Tutela Monitória, RT, 2ª ed., n. 7.5.8, p. 160-162).

4. O ponto central da divergência entre as duas posições, a meu ver, reside

na controvérsia em relação à natureza jurídica dos embargos monitórios: se de

“ação” ou de “defesa”.

Independentemente dessa discussão, data venia, é de admitir-se a

reconvenção. Primeiro, em homenagem aos princípios da economia e efetividade

processuais, uma vez decidida toda e qualquer controvérsia em relação ao objeto

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 243-267, agosto 2011 267

da ação de uma só vez, nos mesmos autos. Segundo, por inexistir qualquer

restrição na lei em relação ao seu cabimento. Terceiro, porque a admissão da

reconvenção não acarretará qualquer prejuízo ao suposto credor, já que, de

qualquer forma, o procedimento é convertido para ordinário com a apresentação

dos embargos.

A única restrição à admissibilidade da reconvenção na ação monitória,

registre-se, é a necessidade da apresentação dos embargos pelo devedor com

vistas a obter a conversão do rito em ordinário. Caso contrário, nos termos do

art. 1.102c, CPC, uma vez não opostos os embargos, a monitória é convertida

em execução. Logo, eventual reconvenção não terá como prosseguir, diante da

incompatibilidade dos procedimentos e da inadmissibilidade da reconvenção no

processo de execução.

5. À luz do exposto, conheço do recurso pelo dissídio e dou-lhe provimento,

para deferir o processamento da reconvenção.

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Súmula n. 293

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SÚMULA N. 293

A cobrança antecipada do valor residual garantido (VRG) não

descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil.

Referências:

Lei n. 6.099/1974, art. 5º, c.c. 11, § 1º.

Súmula n. 263-STJ (Cancelada).

Precedentes:

EREsp 213.828-RS (CE, 07.05.2003 – DJ 29.09.2003)

REsp 163.845-RS (3ª T, 15.06.1999 – DJ 11.10.1999)

REsp 164.918-RS (3ª T, 03.08.2000 – DJ 24.09.2001)

REsp 280.833-RO (4ª T, 26.08.2003 – DJ 08.09.2003)

Corte Especial, em 05.05.2004

DJ 13.05.2004, p. 183

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EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 213.828-RS (2001/0067779-5)

Relator: Ministro Milton Luiz Pereira

Relator para o acórdão: Ministro Edson Vidigal

Embargante: BB Leasing S/A Arrendamento Mercantil

Advogado: Luiz Antônio Borges Teixeira e outros

Embargado: Indústria e Comércio de Madeiras Bosan Ltda.

Advogado: Marilene Sueli Vencato e outros

EMENTA

Arrendamento mercantil. Leasing. Antecipação do pagamento do

Valor Residual Garantido. Descaracterização da natureza contratual

para compra e venda à prestação. Lei n. 6.099/1994, art. 11, § 1º. Não

ocorrência. Afastamento da Súmula n. 263-STJ.

1. O pagamento adiantado do Valor Residual Garantido -

VRG não implica necessariamente antecipação da opção de compra,

posto subsistirem as opções de devolução do bem ou prorrogação

do contrato. Pelo que não descaracteriza o contrato de leasing para

compra e venda à prestação.

2. Como as normas de regência não proíbem a antecipação do

pagamento da VRG que, inclusive, pode ser de efetivo interesse do

arrendatário, deve prevalecer o princípio da livre convenção entre as

partes.

3. Afastamento da aplicação da Súmula n. 263-STJ.

4. Embargos de Divergência acolhidos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Corte

Especial do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer dos embargos de divergência

e, por maioria, os receber nos termos do voto do Sr. Ministro Edson Vidigal.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Votaram vencidos os Srs. Ministros Relator, Ruy Rosado de Aguiar, José

Arnaldo da Fonseca, Antônio de Pádua Ribeiro, Fontes de Alencar, Barros

Monteiro e Humberto Gomes de Barros. Os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha,

Vicente Leal, Ari Pargendler, José Delgado, Fernando Gonçalves, Felix Fischer,

Gilson Dipp, Eliana Calmon, Sálvio de Figueiredo Teixeira e Francisco Peçanha

Martins votaram com o Sr. Ministro Edson Vidigal.

Ausentes, justifi cadamente nesta assentada, os Srs. Ministros Cesar Asfor

Rocha e Ari Pargendler.

Não participou do julgamento o Sr. Ministro Francisco Falcão (RISTJ, art.

162 § 2º).

Dispensado o voto do Sr. Ministro Garcia Vieira (RISTJ, art. 162 § 4º).

Não votou o Sr. Ministro Hamilton Carvalhido, que à época do início do

julgamento não fazia parte da Corte Especial.

Brasília (DF), 07 de maio de 2003 (data do julgamento).

Ministro Nilson Naves, Presidente

Ministro Edson Vidigal, Relator para o acórdão

DJ 29.09.2003

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira: A parte interessada apresentou

embargos de divergência em face de julgado constituído pela egrégia Terceira

Turma no Recurso Especial n. 213.828-RS, Relator p/ acórdão o Senhor

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, com o seguinte resumo:

Arrendamento mercantil. Leasing. Revisão contratual.

I - Descaracterizado pelo pagamento antecipado do Valor Residual Garantido (VGR), o contrato de leasing transforma-se em compra e venda a prestações.

II - É facultado às instituições fi nanceiras contratar juros a taxa superiores a 12% a.a. Súmula n. 596-STF.

III - Inocorre, no caso, potestividade da cláusula que estipula a comissão de permanência, que não pode ser cumulada com a correção monetária (Súmula n. 30-STJ).

IV - Ofensa aos arts. 939, 955 e 960 do Código Civil não caracterizada.

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RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 275

V - Recurso especial conhecido em parte e, nessa extensão provido, para afastar a limitação da taxa de juros e autorizar a cobrança da comissão de permanência, observada a Súmula n. 30-STJ (fl . 345).

A Embargante apresenta como divergente, aresto da colenda Primeira

Turma, Rel. Min. José Delgado, assim ementado:

Tributário. Leasing. Imposto de Renda. Descaracterização do contrato em compra e venda. Inocorrência.

1. O contrato de leasing, em nosso ordenamento jurídico, é um negócio jurídico complexo defi nido, no art. 1º, da Lei n. 6.099, de 12.09.1974, com as alterações introduzidas pela Lei n. 7.132, de 26.10.1983, como um “Negócio jurídico realizado entre pessoas jurídicas, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora segundo especifi cações da arrendatária para uso próprio desta”.

2. Por tais características, o referido contrato só se transmuda em forma dissimulada de compra e venda quando, expressamente, ocorrer violação da própria lei e da regulamentação que o rege.

3. Não havendo nenhum dispositivo legal considerando como cláusula obrigatória para a caracterização do contrato de leasing e que fixe valor específi co de cada contraprestação, há de se considerar como sem infl uência, para a defi nição de sua natureza jurídica, o fato das partes ajustarem valores diferenciados ou até mesmo simbólico para efeitos da opção de compra.

4. O Banco Central, por permissão legal, na Resolução n. 2.309, de 28.08.1996, considera arrendamento mercantil fi nanceiro a modalidade em que:

I - As contraprestações e demais pagamentos previstos no contrato, devidos pela arrendatária, sejam normalmente suficientes para que a arrendadora recupere o custo do bem arrendado durante o prazo contratual da operação e, adicionalmente, obtenha um retorno sobre os recursos investidos;

II - as despesas de manutenção, assistência técnica e serviços correlatos à operacionalidade do bem arrendado sejam de responsabilidade do arrendatária;

III - o preço para o exercício da opção de compra seja livremente pactuado, podendo ser, inclusive, o valor do mercado do bem arrendado.

5. Contrato de leasing, compondo todos os elementos acima anunciados, fi rmado livremente pelas partes, não pode ser descaracterizado pelo Fisco para fins tributários, como sendo de compra e venda, passando a não aceitar as prestações pagas como despesas dedutíveis.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

276

6. A descaracterização do contrato de leasing só pode ocorrer quando tique devidamente evidenciada uma das situações previstas em lei, no caso, a prevista nos arts. 2º, 9º, 11, § 1º, 14 e 23, da Lei n. 6.099/1974. Fora desse alcance legislativo, impossível ao Fisco tratar o contrato de leasing, por simples entendimento de natureza contábil, como sendo de compra e venda.

7. Homenagem ao princípio de livre convenção pelas partes quanto ao Valor Residual a ser pago por ocasião da compra.

8. Não descaracterização de contrato de leasing em compra e venda para fi ns de imposto de renda.

9. Precedentes jurisprudenciais: REsp’s n. 174.031-SC e n. 184.932-SP, ambos da 1ª Turma.

10. Recurso desprovido (fl . 369).

As razões apresentadas pela Embargante para reforma e modifi cação do

julgado foram deduzidas; desse modo:

Trata-se, numa síntese muito apertada, de saber se, à luz da Lei n. 6.099, de 1974, em especial do contido no seu artigo 11 e § 1º, a forma pela qual as partes avençaram o pagamento das prestações, seus valores, inclusive o montante do Valor Residual Garantido e sua forma de pagamento, acarreta ou não a descaracterização do contrato de arrendamento mercantil – leasing para uma simples compra e venda a prestação.

omissis

O r. acórdão ora embargado, embora de forma não unânime, entendeu que sim.

Verifi ca-se que a maioria dos em. integrantes da E. Terceira Turma comunga do entendimento consolidado no voto-desempate proferido pela Em. Min. Nancy Andrighi, no sentido de que de que a Lei n. 6.099/1974, ainda que disponha sobre o tratamento tributário das operações de arrendamento mercantil, deve ser interpretada sistematicamente, privilegiando a idéia de harmonia do ordenamento jurídico, para permitir a ilação de que o § 1º do artigo 11 apregoa a descaracterização.

Consignou, ainda, o r. voto, que mencionada lei também veicula norma de natureza civil, com previsão de cláusulas obrigatórias (art. 5º) e cominação por descumprimento dos fi ns da lei (art. 11, § 1º), que pode ser trazida no âmbito das relações entre particulares, sem interesse direto do Estado.

omissis

Observe-se que o citado voto-desempate, assim como os demais que predominaram na r. decisão embargada, apresenta-se, data venia, bastante escasso em fundamentação jurídica, circunstância que, cotejada com a fartura

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 277

de fundamentos presentes nos votos minoritários e no voto condutor do acórdão paradigma, por si só conduzem necessariamente à conclusão de que não é dali - da posição majoritária do acórdão embargado - que se extrai a melhor exegese do direito federal em debate.

A começar pelo elenco das cláusulas obrigatórias do contrato, contido no artigo 5º da Lei n. 6.099/1974. Enquanto o r. acórdão embargado faz mera alusão àquele artigo, para consignar que ele também veicula norma de natureza civil, o voto condutor do paradigma registra, uma a uma, as cláusulas que o dispositivo traz como obrigatórias, para fundamentar que não existe, ali, comando que vincule as partes contratantes em relação à estipulação dos valores e forma de pagamento. Aduz, depois de transcrever o artigo 1º, parágrafo único da lei sob exame - que defi ne a operação de leasing - que “Esse ajuste não altera a qualifi cação jurídica do mencionado contrato, porque não é de sua essência para a formação de sua estrutura”.

Além desse ponto, fundamenta o aresto divergência, através da lição de Arnoldo Wald, que o artigo 23 do diploma em debate atribui ampla competência ao Conselho Monetário Nacional para regulamentar as operações da espécie, estabelecendo mecanismos reguladores das atividades previstas na referida lei, de onde resulta que a descaracterização do contrato somente poderia decorrer nos casos previstos expressamente em normas legais formais, ou por normas do Conselho Monetário Nacional, em virtude da delegação prevista no citado artigo 23. A mesma doutrina explicita que a própria Administração Fazendária defi ne o Valor Residual Garantido como preço contratualmente estipulado para o exercício da opção de compra ou valor contratualmente garantido como o mínimo que será recebido pela arrendadora na venda a terceiros, do bem arrendado na hipótese de não ser exercida a opção de compra. A propósito, o em. Mm. Ari Pargendler, em seu voto vencido, já consignara que o Fisco admite a antecipação e parcelamento do VRG em seus normativos.

omissis

Em seguida, transcrevendo o art. 5º da Resolução n. 2.309, de 28.08.1996, do Conselho Monetário Nacional - que conceitua o arrendamento mercantil e discrimina seus elementos, em especial o inciso III que reza a livre pactuação do preço para o exercício da opção de compra - registra que não cabe descaracterizam tal tipo de contrato, com afronta à lei, tomando por base Valor Residual contábil ou o valor de mercado do bem.

omissis

Desse modo, para se constatar se a operação está em desacordo ou não com a disciplina legal e, assim, vislumbrar ou não a hipótese do artigo 11, § 1º, da Lei n. 6.099/1974 (Descaracterização da operação de arrendamento mercantil), há se examinar as disposições da Resolução n. 2.309, eis que ali estão as normas, condições e restrições contratuais. A Lei n. 6.099/1974 não impõe restrições e/ou condições à contratação.

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O Valor Residual é devido independentemente da aquisição do bem. Adquira ou não o bem, o arrendatário há de pagar ao arrendador o Valor Residual (...)

omissis

De tal sorte, contrariamente ao que entenderam os votos vencedores no r. acórdão ora embargado, a antecipação do VRG não faz desaparecer a fi gura da promessa de compra e venda ínsita no contrato, nem obriga a arrendatária a adquirir o bem. (fl s. 361-366).

Requer:

(...) o embargante que, admitidos e processados os presentes embargos de divergência, sejam eles conhecidos e providos, de modo a reformar a decisão embargada, consagrando a tese esposada pelo acórdão paradigma, no sentido de que as estipulações relativas ao valor das prestações, do Valor Residual Garantido e sua forma de pagamento nos contratos de arrendamento mercantil não encontram disciplina na Lei n. 6.099/1974, o que não autoriza a descaracterização do referido contrato para simples venda e compra a prestação pelo fato de ter-se ali ajustado o pagamento parcelado ou antecipado do VRG (fl . 368).

Não foi apresentada impugnação (certidão fl . 391).

É o relatório.

ESCLARECIMENTOS

O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira (Relator): Sr. Presidente, gostaria de justifi car a extensão das sustentações e comentários gerais. Na verdade, resulta do próprio negócio jurídico leasing, que surge em uma espécie de conseqüência na atoarda da globalização. Embora seja um instrumento contratual com mais de duas dezenas de anos, a rigor, na sua essência, ganhou importância na volatividade dos negócios fi nanceiros e expressão signifi cativa pelas suas ramifi cações até, de certo modo, desconcertantes em razão da sua própria essência e originalidade para os negócios jurídicos.

Em sendo um negócio jurídico com tal formação, diria, inclusive, com uma espécie de lava lançada de uma cratera fumegante de anseios no mundo fi nanceiro, traz inovações tão perturbadoras que verifi camos que, para entendê-lo, acomodá-lo ou interpretá-lo na vigência de uma lei, não podemos mais nos prender aos vetustos princípios regedores dos contratos ordinariamente estabelecidos, porque até as partes têm uma formação psicossocial no mundo social diferenciada, e essas diferenças afetam aqueles princípios e exigem e reclamam, angustiadamente, pelo estabelecimento de novos padrões de orientação.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 279

Tudo isso, Sr. Presidente, sem dúvida alguma, conturba o próprio

ordenamento jurídico, e quando a lei surge direcionada para corresponder ou

responder ao que se pede para dar uma orientação defi nitiva em termos de

tranqüilidade nos negócios, desvios surgem também paralelamente, mostrando

que a lei já está defasada, que precisa ser atualizada ou que a interpretação

precisa ser acomodada.

Não pude deixar de registrar, na motivação do voto, todas as manifestações

ocorrentes, seja no acórdão embargado, seja no acórdão paradigma, à vista de que

é um verdadeiro mosaico de boas razões, o que signifi caria dizer, em princípio,

que qualquer caminho encontra sustentação na ordem jurídica racional. São,

portanto, muito razoáveis todos os fundamentos, seja em termos dos votos

vencidos ou pelo prumo dos votos vencedores; são motivações importantíssimas,

e essa importância, nesse mosaico de análise, levou-me a trazer, dentro da

aridez do próprio tema, registros totalmente pertinentes. Sendo o tema árido,

o conteúdo do voto também o é; a leitura, por sua vez, até de certo modo, é

cansativa, mas indispensável.

VOTO-PRELIMINAR

O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira (Relator): Sr. Presidente, Srs. Ministros,

passo à leitura do voto:

A pervagar pelo itinerário dos registros processuais (...) e em contrato de arrendamento mercantil.

Portanto, Senhores Ministros, continuo convencido da possibilidade

da admissão processual, à vista dos contrastes que são fl agrantes, conforme

delineado nas transcrições, e do aparecimento da súmula retrorreferida. No

meu entender, não é por si óbice, porque pode surgir - como, no caso, penso

estar patente - uma divergência entre o julgado e a própria súmula. No caso, há

uma particularidade: a súmula foi editada pela egrégia 2ª Seção, e o acórdão é

de Turma ou de Órgão fracionário da egrégia 1ª Seção. Ora, nesse ponto surge

exatamente o quilate maior da oportunidade do pronunciamento desta Corte

Especial, à vista de que há Órgão fracionário de uma Seção, que não aquela que

cuidou, especifi camente, dos precedentes que deram causa à súmula, e outra, que

tem aqui entendimento divergente.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Gostaria de acrescentar que se outras razões faltassem, quero crer que

uma é primordial: a signifi cação do tema, que tem considerável repercussão

de natureza econômica. Parece-me sempre importante que o Órgão Maior do

Tribunal tenha, nessas ocasiões, pela dimensão da questão jurídica, oportunidade

da sua manifestação última.

Admito os embargos para conhecimento do seu merecimento.

VOTO-PRELIMINAR

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Sr. Presidente, não vejo difi culdade em

identifi car a admissibilidade dos embargos de divergência porque, em última

análise, o que se discute é se a aplicação do Valor Residual em Garantia importa

ou não em descaracterização do contrato de leasing.

Por isso, acompanho o eminente Ministro Milton Luiz Pereira quanto à

preliminar, conhecendo dos embargos.

VOTO-PRELIMINAR

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Sr. Presidente, o Sr. Ministro

Barros Monteiro tem razão. Na verdade, os bens jurídicos examinados em uns

e outros eram diversos. Em um, tratava-se de saber do interesse do Fisco e, no

outro, da situação da relação de direito privado entre arrendador e arrendatário.

A 2ª Seção só examinou a questão de direito privado e a situação do arrendatário

diante da arrendadora, e as conseqüências que daí decorrem em relação à ação

de reintegração de posse.

Embora o fundo da questão seja o mesmo, as conseqüências são diferentes,

conforme o direito que se está a examinar.

No entanto, acompanho o eminente Ministro-Relator, conhecendo dos

embargos pelo fundamento de julgar conveniente que a Corte Especial se

manifeste.

VOTO-PRELIMINAR

O Sr. Ministro Vicente Leal: Sr. Presidente, acompanho o Sr. Ministro-

Relator, conhecendo dos embargos.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 281

VOTO-PRELIMINAR

O Sr. Ministro José Delgado: Sr. Presidente, trata-se de condição de

validade do contrato e, portanto, elemento substancial. A divergência está bem

caracterizada.

Acompanho o voto do Sr. Ministro Relator, conhecendo dos embargos.

VOTO

O Sr. Ministro Edson Vidigal: Senhor Presidente, a divergência é evidente.

Os acórdãos postos a confrontos examinaram contratos de leasing. Enquanto

o acórdão embargado, da Terceira Turma, entendeu pela descaracterização

do contrato para “compra e venda a prestações”, em razão do pagamento

antecipado do Valor Residual Garantido, o acórdão paradigma, da Primeira

Turma, consignou pela prevalência do princípio de livre convenção pelas partes,

quanto ao pagamento do Valor Residual, considerando tal negociação incapaz

de descaracterizar o contrato de leasing.

Tavares Paes1 assim defi ne esse contrato mercantil:

O leasing é um contrato de arrendamento, mas com peculiaridades: o fabricante dos bens fecha o contrato com uma sociedade leasing (instituição fi nanceira) e não diretamente com o locatário. É um contrato mediante o qual uma pessoa jurídica que desejar utilizar determinado bem ou equipamento, por determinado lapso de tempo, o faz por intermédio de uma sociedade de financiamento, que adquire o aludido bem e lhe aluga. Terminado o prazo locativo, passa a optar entre a devolução do bem, a renovação da locação, ou aquisição pelo preço residual fi xado inicialmente.

Em face de diversos precedentes da Terceira e Quarta Turmas desta Corte,

foi editada a Súmula n. 263, de seguinte enunciado:

A cobrança antecipada do Valor Residual (VRG) descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil, transformando-o em compra e venda a prestação.

Tal entendimento tem como base os seguintes argumentos: 1) A Lei n.

6.099/1974, em seu art. 11, § 1º, estabelece que “a aquisição pelo arrendatário

de bens arrendados em desacordo com as disposições desta Lei será considerada

1 Leasing, 2ª ed. São Paulo: RT, 1993.

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operação de compra e venda a prestação”; 2) Como o art. 5º do mesmo diploma legal, em sua letra c, exige que “os contratos de arrendamento mercantil conterá a opção de compra ou renovação de contrato, como faculdade do arrendatário; em face da antecipação do pagamento do Valor Residual Garantido, não restaria outra opção que não a compra do bem, já que esse valor pago antecipadamente nas parcelas corresponde à quantia estipulada para o exercício da opção de compra.

Ou seja, da tríplice opção que esse tipo de contrato necessariamente tem que oferecer ao arrendatário (do que se depreende do artigo 5º, adquirir o bem arrendado, renovar o contrato ou devolver o bem arrendado), com a antecipação do pagamento da VRG, caberia a ele tão-somente a compra do bem.

Não obstante esse posicionamento já se encontrar fi rmado na Segunda Seção, tanto que deu margem à Súmula n. 263, com todas as vênias, entendo de modo diferente.

A Lei n. 6.099/1974, em seu art. 23, confere ao Conselho Monetário

Nacional a competência para regulamentar a matéria. Observe-se:

Art. 23 - Fica o Conselho Monetário Nacional autorizado a:

a) baixar normas que visem estabelecer mecanismos reguladores das atividades previstas nesta Lei, inclusive excluir modalidades de operações do tratamento nela previsto;

b) enumerar restritivamente os bens que não poderão ser objeto de arrendamento mercantil, tendo em vista a política econômico-fi nanceira do País.

A Portaria n. 564/1978, inciso 2, define o Valor Residual como

“preço contratual estipulado para o exercício da opção de compra, ou valor

contratualmente garantido pela arrendatária como mínimo que será recebida

pela arrendadora na venda a terceiros do bem arrendado, na hipótese de não se

exercida a opção de compra”.

Jorge Cardoso2 tece as seguintes considerações sobre o ponto:

O Valor Residual Garantido - VRG não se confunde com a Opção de Compra: “ao contrário: pelo fato de a compra ao fi nal do contrato ter caráter opcional para o arrendatário, sendo portanto um evento incerto, o VRG é uma forma de o arrendatário garantir ao arrendante que este, caso não seja exercida a referida opção, auferirá certa quantia mínima.”

2 “Aspectos Controvertidos do Arrendamento Mercantil”, (Revista dos Tribunais, n. 5)

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 283

Tem-se, pois, que o Valor Residual Garantido não se refere diretamente à Opção de Compra.

Cabe ao arrendador a recuperação do valor empregado para a obtenção do bem, mais um acréscimo evidentemente necessário para a continuidade da atividade empresarial.

Após o término do pagamento das parcelas, tem o arrendatário a opção de comprar o bem, tendo que pagar o Valor Residual previamente estabelecido. Se ele não quiser optar pela compra, nem renovar o contrato, deve devolver o bem ao arrendador, que terá como uma garantia mínima por parte do arrendatário o Valor Residual Garantido, na venda do bem a um terceiro.

Assim, se o bem for vendido por um preço equivalente ao VRG, nada se tem a acertar; caso vendido por um valor inferior, deverá o arrendatário pagar a diferença à arrendadora.

A antecipação do pagamento do Valor Residual não implica necessariamente na opção de compra, haja vista que, se no término do contrato, o arrendatário não se interessar pela compra, por se encontrar o bem com tecnologia superada ou por qualquer outro motivo, terá a quantia devolvida ou não, de acordo com o preço que o bem for vendido a um terceiro. Caso vendido pelo mesmo valor do VRG ou por preço superior, será totalmente devolvido ao arrendatário o valor do VRG por ele antecipado; caso vendido por valor inferior, receberá o arrendatário apenas a diferença.

Portanto, a antecipação não implica necessariamente na opção de compra.

Tanto é assim que consta da Resolução n. 2.309 do Conselho Monetário Nacional:

Art. 7. Os contratos de arrendamento mercantil devem ser formalizados por instrumento público ou particular, devendo conter, no mínimo, as especifi cações abaixo relacionadas:

(...)

VII - as despesas e os encargos adicionais, inclusive despesas de assistência técnica, manutenção e serviços inerentes a operacionalidade dos bens arrendados, admitindo-se, ainda, para o arrendamento mercantil fi nanceiro:

a) a previsão de a arrendatária pagar Valor Residual Garantido em qualquer momento durante a vigência do contrato, não caracterizando o pagamento do Valor Residual Garantido o exercício da opção de compra;

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Por certo que essa forma de pagamento do VRG benefi cia o arrendador, que recebe antecipadamente um valor que só teria direito ao término do contrato. Entretanto, também é possível que essa negociação seja de efetivo interesse do arrendatário, que poderá diluir em diversas parcelas a quantia ou aproveitar-se de um determinado momento econômico mais favorável para antecipar o pagamento.

O eminente Min. Athos Gusmão3 exemplifi ca outra possibilidade do arrendatário ver-se benefi ciado, utilizando o pagamento antecipado do VRG

como mecanismo para diminuir o valor despendido mensalmente:

O cliente propõe à empresa de leasing arrendar determinado bem, um caminhão, p. ex., com o preço de venda de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais). A empresa, de sua vez, a ele apresenta um Plano de Pagamentos, digamos: 36 contraprestações no valor, cada um, de R$ 2.700,00 (dois mil e setecentos reais), sujeitas a reajuste monetário pelo dólar ou por outro indexador, ou mesmo pré-fi xado (ante a atual estabilidade da economia) mais um Valor Residual Garantido, a ser pago ao fi nal, no montante de R$ 60.000,00 (seiscentos reais).

(...) Ao cliente, no entanto, pode interessar que o valor das contraprestações seja menor. Poderá ele escolher, então, outro plano de pagamentos, a avençar o depósito antecipado do Valor Residual Garantido, a título de “provisão” para o eventual e futuro exercício da opção de compra do veículo arrendado.

Assim, podemos supor que o novo plano de pagamentos conste de 36 contraprestações no valor, cada uma, de R$ 1.680,00 (um mil e seiscentos e oitenta reais), sujeitas ao reajuste monetário, mais o Valor Residual Garantido, a ser recolhido à empresa de leasing também em 36 parcelas, no valor, cada uma, de R$ 720,00 (setecentos e vinte reais).

Cumpre aduzir que, neste segundo plano, de depósito parcelado antecipado do VRG, comparativamente com o plano anterior, ocorrem as seguintes alterações:

a) o Valor Residual Garantido tornou-se maior, pois passou, com o somatório das 36 parcelas de R$ 720,00, a um total de R$ 25.920,00;

b) os valores das contraprestações tornaram-se menores, de apenas R$ 1.680,00, de forma que o cliente irá despender mensalmente apenas R$ 2.400; ou seja, despenderá a menor R$ 300,00 por mês.

Todavia, mesmo em antecipando a totalidade do Valor Residual, como já exposto, o arrendatário ainda não exerceu a opção de compra, e não está obrigado a comprar!

Portanto, por entender que a antecipação do VRG não implica em

antecipação do exercício de opção de compra, posto subsistirem as opções tanto

3 Revista Forense, out/nov/dez de 1997, Leasing fi nanceiro e a antecipação do Valor Residual, p. 90.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 285

pela compra, quanto pela devolução do bem ou prorrogação do contrato, não

vislumbro ofensa à Lei n. 6.099/1974, art. 5º, a viabilizar a descaracterização do

contrato de leasing para contrato de compra e venda a prestação, a teor do o art.

11 da mesma Lei.

Tendo em vista que as normas pertinentes permitem essa forma de

negociação, destacando expressamente a Resolução n. 2.309/1996 que o Valor

Residual Garantido pode ser pago a qualquer momento durante a vigência

do contrato, sem caracterizar exercício de opção de compra, bem como que

antecipação desse pagamento em parcelas pode vir a ser de efetivo interesse

também para o arrendatário, consigno que deva prevalecer o princípio da

livre convenção entre as partes, vez que tal acerto nada interfere, a meu ver, na

natureza do contrato.

Pelo que conheço e recebo os Embargos de Divergência, para afastar a

descaracterização do contrato, reconhecendo a sua natureza jurídica de leasing.

É o voto.

APARTE

O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira (Relator): Sr. Ministro Edson Vidigal,

lembro que a questão colocada para consideração e decisão, prende-se à

preliminar de admissibilidade. O merecimento ainda não está sob exame.

VOTO-PRELIMINAR

Sr. Ministro Garcia Vieira: Sr. Presidente, o acórdão embargado está de

acordo com a Súmula n. 263 que está em vigor; temos, portanto, que aplicar a

Súmula n. 168 e não conhecer dos embargos.

Acompanho o voto do Sr. Ministro-Relator, propondo o cancelamento da

Súmula n. 263.

VOTO-PRELIMINAR (VENCIDO)

O Sr. Ministro Fontes de Alencar: Senhor Presidente, ouvi com atenção

todos os votos já proferidos e, também, o ilustre Advogado, mas rogo licença a

S. Exªs para divergir por não encontrar a divergência. Explico-me: dois acórdãos

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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podem versar sobre o mesmo tipo de contrato, mas os dados empíricos das

causas podem não coincidir, e, a meu ver, nessa hipótese, não se pode desprezar

os dados factuais da causa para se avançar no tema relativo aos contratos. É o

que vejo no caso presente. O acórdão embargado tem algo que não se encontra

no precedente, qual seja, aquela referência à natureza da tributação.

Creio que essa não-coincidência de elementos de fato nas causas impede o

conhecimento dos embargos. É assim que voto, pedindo licença a todos aqueles

que não comungam dessa idéia.

VOTO-PRELIMINAR

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: Rigorosamente, na realidade

não há essa identidade ou semelhança fática que leva à apreciação de embargos

de divergência.

No caso, no entanto, pelas várias razões alinhadas em votos anteriores,

justifi ca-se o conhecimento dos embargos, notadamente para que possamos

enfrentar o tema, extremamente importante nos dias atuais, o qual, como diz o

Sr. Ministro-Relator, é de signifi cativa repercussão econômica e fi nanceira, um

tema que tem inquietado não só os juristas do País e a área fi nanceira, mas, em

particular, também a nós julgadores, tantos são os seus aspectos.

Por essas circunstâncias, acompanho os que estão admitindo os embargos.

VOTO-PRELIMINAR (VENCIDO)

O Sr. Ministro Barros Monteiro: Sr. Presidente, rogo vênia para

acompanhar o voto divergente do Sr. Ministro Fontes de Alencar, por entender

que, efetivamente, não está evidenciada em rigor a divergência jurisprudencial.

Os julgados da 2ª Seção apreciaram pedidos substancialmente referentes à

reintegração de posse, detendo-se no exame da admissibilidade ou não da

medida liminar. Então, o discutido na 2ª Seção cinge-se saber se a antecipação

do Valor Residual, que corresponde a uma opção antecipada da compra,

constitui ou não desvirtuamento do contrato de leasing. Tendo apenas este

enfoque de Direito Privado, a 2ª Seção considerou que esse Valor Residual

Antecipado já representa uma opção, desde logo, de compra do bem; logo,

por esse entendimento, transforma-se o contrato de leasing, de arrendamento

mercantil em compra e venda.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 287

Já o acórdão embargado cuidou de matéria distinta. Segundo o relatório

do Sr. Ministro José Delgado, trata-se ali de ação anulatória de débito fi scal

proposta pela Fazenda Nacional, ou seja, pretende ela descaracterizar o leasing

para efeitos tributários. Mas, não vejo no acórdão paradigma, em nenhum

momento, referência ao Valor Residual correspondente a essa opção de compra

antecipada do bem.

O aresto modelo diz que a pretensão do Fisco é ver reconhecido como

sendo compra e venda o contrato de leasing formalmente fi rmado, só porque,

a seu juízo, o Valor Residual Garantido funciona como uma espécie de seguro

da remuneração global objetivada pela arrendadora. Ora, isso não foi objeto de

nenhuma cogitação por parte da 2ª Seção em seus julgamentos. Ela se ateve

apenas à questão da admissibilidade ou não da liminar em ação de reiteração de

posse.

Por essas razões, entendendo que as questões são distintas, foram

examinadas sob óticas diferentes, data venia, não conheço dos embargos de

divergência.

VOTO-PRELIMINAR (VENCIDO)

O Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins: Sr. Presidente, também

pedindo muitas vênias ao eminente Ministro-Relator, acompanho a divergência

por não ver como se caracterizar o cabimento destes embargos. Trata-se de

circunstâncias diferentes e, por isso mesmo, os efeitos jurídicos aplicados a cada

caso não têm como ser confrontados nesta hipótese.

Não conheço dos embargos de divergência.

VOTO-PRELIMINAR

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros: Sr. Presidente, data venia da

divergência, parece-me que o que se discute é a natureza jurídica do contrato

que não pode ser considerado leasing para efeitos civis, nem compra e venda para

efeitos fi scais, até porque o Código Tributário diz que, em tema de institutos de

direito privado, aplicam-se os conceitos do Direito Civil.

Na verdade, esse contrato do tipo Jano, ou seja, de duas faces, não é possível.

Acompanho o eminente Ministro-Relator, conhecendo dos embargos.

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VOTO

O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira (Relator): A pervaguear pelo itinerário

dos registros processuais, visando ao afastamento das disposições contidas nas

cláusulas insertas no pacto, alinha-se que, em Ação Revisional de Contrato

de Arrendamento Mercantil ajuizada pela empresa, parcialmente procedente,

provendo a apelação, o verrumado v. acórdão sumariou:

Arrendamento mercantil. Juros. Comissão de permanência. Capitalização. Reintegração de posse. Prestações quitadas. TR.

As normas do Código de Defesa do Consumidor têm aplicação nas operações de leasing.

É entendimento da Câmara que a taxa de juros está limitada a 12% ao ano.

A cobrança de comissão de permanência a uma taxa variável, pela evidente potestatividade, não pode ser admitida ainda que não cumulada com a correção monetária.

O anatocismo é repelido pela Súmula n. 121 do Pretório Excelso que o afasta ainda quando expressamente convencionado.

Sendo expurgados encargos indevidos da dívida o embargante não estava em mora, sendo descabida a reintegração de posse pretendida, bem como a cobrança de multa e juros moratórios.

Não sendo a IR índice ofi cial de correção mas taxa remuneratória do custo do dinheiro, resta como índice mais apropriado e confi ável o IGP-M.

Primeira apelação desprovida.

Segunda apelação provida. (fl . 181).

A tempo e modo, seguiu-se a insurreição na via Especial, além da

divergência jurisprudencial, sustentando que o predito aresto contrariou e negou

vigência “a diversas disposições da Lei n. 6.099/1974, ao art. 928 do Código

Civil, à Lei n. 4.595/1964 que ampara a edição das Resoluções n. 1.064/1985,

n. 1.129/1986 e n. 1.572/1989, à Resolução n. 351, bem como ao disposto

na Circular n. 279, todas do Banco Central (...)” (fl . 207). No julgamento, foi

constituído o v. acórdão embargado, assim ementado:

Arrendamento mercantil. Leasing. Revisão contratual.

I - Descaracterizado pelo pagamento antecipado do Valor Residual Garantido (VGR), o contrato de leasing transforma-se em compra e venda a prestações.

II - É facultado às instituições fi nanceiras contratar juros a taxa superiores a 12% a.a. Súmula n. 596-STF.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 289

III - Inocorre, no caso, potestividade da cláusula que estipula a comissão de permanência, que não pode ser cumulada com a correção monetária (Súmula n. 30-STJ).

IV - Ofensa aos arts. 939, 955 e 960 do Código Civil não caracterizada.

V - Recurso especial conhecido em parte e, nessa extensão provido, para afastar a limitação da taxa de juros e autorizar a cobrança da comissão de permanência, observada a Súmula n. 30-STJ (fl . 345).

Sob o sinete processual de divergência jurisprudencial, foram interpostos

embargos (arts. 496, VIII e 546, I, CPC; arts. 266 e 267, RISTJ), apontando

como paradigma v. acórdão da egrégia Primeira Turma, Rel. Min. José Delgado,

abreviando:

Tributário. Leasing. Imposto de Renda. Descaracterização do contrato em compra e venda. Inocorrência.

1. O contrato de leasing, em nosso ordenamento jurídico, é um negócio jurídico complexo defi nido, no art. 1º, da Lei n. 6.099, de 12.09.1974, com as alterações introduzidas pela Lei n. 7.132, de 26.10.1983, como um “Negócio jurídico realizado entre pessoas jurídicas, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora segundo especifi cações da arrendatária para uso próprio desta”.

2. Por tais características, o referido contrato só se transmuda em forma dissimulada de compra e venda quando, expressamente, ocorrer violação da própria lei e da regulamentação que o rege.

3. Não havendo nenhum dispositivo legal considerando como cláusula obrigatória para a caracterização do contrato de leasing e que fixe valor específi co de cada contraprestação, há de se considerar como sem infl uência, para a defi nição de sua natureza jurídica, o fato das partes ajustarem valores diferenciados ou até mesmo simbólico para efeitos da opção de compra.

4. O Banco Central, por permissão legal, na Resolução n. 2.309, de 28.08.1996, considera arrendamento mercantil fi nanceiro a modalidade em que:

I - As contraprestações e demais pagamentos previstos no contrato, devidos pela arrendatária, sejam normalmente suficientes para que a arrendadora recupere o custo do bem arrendado durante o prazo contratual da operação e, adicionalmente, obtenha um retorno sobre os recursos investidos;

II - as despesas de manutenção, assistência técnica e serviços correlatos à operacionalidade do bem arrendado sejam de responsabilidade da arrendatária;

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III - o preço para o exercício da opção de compra seja livremente pactuado, podendo ser, inclusive, o valor do mercado do bem arrendado.

5. Contrato de leasing, compondo todos os elementos acima anunciados, fi rmado livremente pelas partes, não pode ser descaracterizado pelo Fisco para fins tributários, como sendo de compra e venda, passando a não aceitar as prestações pagas como despesas dedutíveis.

6. A descaractenzação do contrato de leasing só pode ocorrer quando fi que devidamente evidenciada uma das situações previstas em lei, no caso, a prevista nos arts. 2º, 9º, 11, § 1º, 14 e 23, da Lei n. 6.099/1974. Fora desse alcance legislativo, impossível ao Fisco tratar o contrato de leasing, por simples entendimento de natureza contábil, como sendo de compra e venda.

7. Homenagem ao princípio de livre convenção pelas partes quanto ao Valor Residual a ser pago por ocasião da compra.

8. Não descaracterização de contrato de leasing em compra e venda para fi ns de Imposto de Renda.

9. Precedentes jurisprudenciais: REsp’s n. 174.031-SC e n. 184.932-SP, ambos da 1ª Turma.

10. Recurso desprovido. (fl . 369).

Diante dessas enunciações, à ocasião processual apropriada, divisando a

divergência, registrei:

(...) no tratamento tributário das operações de arrendamento mercantil (Lei n. 6.099/1974, art. 11 c.c. art. 5º), algemando-se a atenção nas interpretações consubstanciadas nos arestos colocados em confronto, aqui e agora, sob o timbre da provisoriedade prenuncia-se a divergência ensejadora dos presentes embargos. Deveras, versando a mesma questão jurídico-litigiosa básica, um julgado assoalhou que o depósito antecipado do “Valor Residual Garantido” (VRG) contempla o pagamento antecipado do bem, via de conseqüência, descaracterizando o contrato de leasing, transformando-o “em compra e venda a prestações”. À sua vez, a composição judicial escolhida como paradigmática, ainda que sem relevo econômico, formalmente previsto, o VRG não descaracteriza o contrato de leasing, em suma: “3. Não havendo nenhum dispositivo legal considerando como cláusula obrigatória para a caracterização do contrato de leasing e que fi xe valor específi co de cada contraprestação, há de se considerar como sem infl uência, para a defi nição de sua natureza jurídica, o fato das partes ajustarem valores diferenciados ou até mesmo simbólico para efeitos da opção de compra” - fl . 369 (fl s. 387 e 388).

Elaborado o provimento inaugural no eito da provisoriedade, concluída

a instrução, a divergência persiste no juízo defi nitivo da admissibilidade. É

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 291

inegável que, ao depois, foi editada pela egrégia Segunda Seção a Súmula n.

263-STJ:

A cobrança antecipada do Valor Residual (VRG) descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil, transformando-o em compra e venda a prestação.

Em que pese a força do verbete, mais se evidenciou o dissídio; agora, manifestamente entre arestos da Primeira Turma com a prefalada Súmula, resultante de julgamentos ultimados em recursos especiais. Não há, pois, de ser cogitada a aplicação da Súmula n. 168-STJ. Pois está demonstrado o contraste entre o aresto embargado, de órgão fracionário integrante de Seção diferente e a compreensão sumulada pela colenda Segunda Seção (arts. 11, XIII, e 266 - parte fi nal - RISTJ).

Arrematando, reafirmo a admissão dos embargos, favorecendo o conhecimento do mérito. Nessa empreitada do exame ensejado pela divergência, o seu enredo tem assentamento básico na descaracterização, ou não, em face da antecipação do VRG (Valor Residual Garantido), do contrato de leasing em contrato de arrendamento mercantil.

A respeito do tema, inegavelmente, a jurisprudência predominante e sumulada tem revelado que dito pagamento antecipado transforma o contrato de leasing em compra e venda à prestações. É o entendimento adotado pelo voto-condutor proferido pelo eminente Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, quando da constituição do aresto embargado, no ponto, verbis:

No tocante à antecipação do VRG, temos entendido que ela desqualifica o contrato de arrendamento mercantil. Estamos convencidos dessa posição, que aliás é a posição da Quarta Turma. Na verdade, argumenta-se que, afi nal, ainda restaria a opção de quem tem o bem em alienação fi duciária em garantia relativamente à renovação do fi nanciamento, aquisição do bem ou sua alienação.

Mas, em termos práticos, quem já pagou antecipadamente o valor do bem, acredito, fi ca com essa opção reduzida apenas ao plano teórico. Com base nesse entendimento, temos concluído que o contrato se transmuta em uma verdadeira compra-e-venda, compra e venda essa fi nanciada (fl . 329).

Com esse alinhamento, no voto-desempate, comentou a eminente Ministra

Nancy Andrighi, palavra por palavra:

omissis

O leasing como negócio jurídico complexo veicula uma promessa unilateral de venda e dentre a tríplice opção ao tempo do término do prazo contratual, está

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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a opção de aquisição do bem, de caráter não obrigatório, conforme anunciado à unanimidade pela doutrina pátria e diplomas legais sobre o tema.

A antecipação do VRG é sinal claro de descaracterização do leasing por implicar no desaparecimento da fi gura da promessa unilateral de compra e venda e da respectiva opção, porque imposta a obrigação de compra desde o início da execução do contrato (fl . 339).

Viandante, para afi ançar a desejada elucidação, impõe-se a rememoração

dos motivos assoalhados pelo voto-condutor do v. acórdão escolhido como

paradigma, elaborado pelo eminente Ministro José Delgado, Relator, forte no

acompanhamento de eméritas lições doutrinárias (Arnold Wald e Fran Martins),

no arrolamento da legislação de regência e destacando a Resolução n. 2.309,

de 28.08.1996 (art. 5º) - Bacen -, com os seus reconhecidos conhecimentos

jurídicos (autor de “Leasing Doutrina e Jurisprudência” - Ed. Juruá), ditando:

omissis

Não tem, portanto, qualquer lógica de direito a pretensão do Fisco ver reconhecido como sendo de compra e venda o contrato de leasing formalmente fi rmado, só porque, ao seu juízo, o Valor Residual Garantido, que funciona como uma espécie de seguro de remuneração global pretendida pela arrendadora, foge da natureza das coisas quando se divorcia de qualquer dos parâmetros possíveis: a) o valor residual contábil, ou b) o valor do mercado do bem à época da alienação pela arrendadora.

A essência do leasing não está subordinada ao valor residual contábil nem, também, ao valor do mercado do bem à época da alienação pela arrendadora.

omissis

Apresentando-se o negócio jurídico com todos os elementos disciplinados no art. 1º, da Lei n. 6.099, de 12.09.1974, alterado pela Lei n. 7.132, não pode ser descaracterizado pelo Fisco, sob pena de se aceitar atitude ditatorial da atividade estatal tributante.

Esta Egrégia 1ª Turma, no julgamento do REsp n. 174.031-SC, seguiu esta mesma orientação. Naquela oportunidade, assim me pronunciei, litteratim:

Quanto ao mérito, não encontro razões jurídicas para impor provimento ao recurso. A sentença e o acórdão, conforme já se demonstrou, analisaram o contrato e, com base nas cláusulas que o compõem, entenderam que, realmente, uma operação de arrendamento mercantil foi firmada, pelo que, no mundo tributário, há de se reconhecer, como tal, a sua existência, validade, efi cácia e efetividade.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 293

Relembro que a discussão provocada na lide repousa, unicamente, em se defi nir se o contrato de leasing sobre transformação para o de compra e venda, ocorrendo, assim, a sua descaracterização, quando o valor residual do contrato apresentar-se puramente simbólico e o prazo do contrato for inferior à vida útil dos bens.

A Lei n. 6.099/1974, disciplinadora do contrato de leasing, em seu art. 5º, estabelece como cláusulas obrigatórias do referido pacto, apenas, a determinadora do prazo do contrato, a que fixa o valor de cada contraprestação por períodos determinados, não superiores a 1 (um) semestre, a que permite o exercício da opção de compra ou renovação do contrato, como faculdade do arrendatário e a que aceita a determinação, desde logo, do preço para opção de compra ou critério para sua fi xação.

A caracterização, portanto, do contrato de leasing está definida, de modo expresso, no art. 1º, parágrafo único, a Lei n. 6.099/1974, na redação da Lei n. 7.132, de 26.10.1983, como sendo “negócio jurídico realizado entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bem adquirido pela arrendadora, segundo especifi cações da arrendatária e para uso próprio desta”.

Como visto, não infl ui para a descaracterização do contrato de leasing o fato das partes estipularem preço simbólico ou de valor pouco expressivo para o exercício da opção ou compra do bem arrendado. Esse ajuste não altera a qualifi cação jurídica do mencionado contrato, porque não é de sua essência para a formação de sua estrutura.

No particular, convém se aceitar o posto às fls. 127-128 dos autos, parecer assinado por Geraldo Ataliba (fl s. 127):

Aliás, é unânime o entendimento doutrinário em considerar que a soma total das contraprestações pagas, pelo arrendatário, durante o prazo de arrendamento, corresponde ao preço de aquisição do bem arrendado, inclusive custos financeiros e administrativos da arrendadora, além da sua taxa de lucro. Assim, conforme pode inferir-se dessa inteligência - que, anote-se, é confi rmada pela interpretação sistemática das normas do direito positivo brasileiro, que disciplinam este negócio jurídico - a estipulação de preço pouco signifi cativo para o exercício da opção de compra do bem pelo arrendatário, antes de desfi gurar o esquema legal do contrato de arrendamento mercantil, é com ele consonante. Além disso, a expressão o valor do preço, para exercício da opção referida, não é considerado pela lei esquematizadora desse negócio jurídico como relevante para sua tipificação ou qualificação jurídica, podendo ser estipulado livremente pelas partes, observados os princípios e regras que regem os contratos em geral.

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Portanto, se a lei não confere, explícita ou implicitamente, a esse dado - grandeza do preço - relevância jurídica, para efeitos da qualifi cação do contrato de arrendamento mercantil, não se pode tomá-lo para fins de buscar caracterizar ou descaracterizar esse negócio jurídico; muito menos para “transmudá-lo” em compra e venda mercantil (que também, é no nosso direito positivo, contrato típico e, pois, corresponde a paradigma legal distinto do estruturado para o contrato de arrendamento mercantil), nem em qualquer outra espécie contratual.

A mesma posição há de ser tomada com referência aos dizeres de Arnold Wald, no parecer acostado dos autos (fl s. 209):

Cabe, aliás, acrescentar que, de acordo com a lei e com a regulamentação que a complementa, somente cabe a descaracterização do arrendamento mercantil para considerá-lo como forma dissimulada de venda na hipótese de violação da própria lei (art. 11, § 1º da Lei n. 6.099) e da regulamentação (artigos 11 e 41 do Regulamento aprovado pela Resolução n. 980).

Não havendo qualquer norma legal quanto ao valor específi co de cada contraprestação, evidencia-se que a existência de valores distintos (crescentes ou decrescentes e até o valor simbólico) não justifi ca a descaracterização do contrato de leasing.

A existência de prestações simbólicas não importa em fraude e não afeta o prazo do contrato de arrendamento mercantil que se mantém imutável, pois somente termina na data fixada contratualmente, pouco importando que as contraprestações tenham sido maiores, numa primeira fase, e menores ou até simbólicas, num segundo período (fl s. 379 a 381).

Feito o memento revigorador das compreensões em confronto, de um lado

e de outro, conquanto não possa ser negada a fortidão jurídica das sustentações,

ainda, como significativo adjutório para o convencimento, ganham espaço

próprio as refl exões orientadoras do voto-vencido pelo exímio Ministro Carlos

Alberto Menezes, na relatoria do recurso especial, motivo dos presentes

embargos de divergência, sustentando a não “descaracterização” do contrato,

assim:

(...)

Devo analisar, em primeiro lugar, a questão relacionada à efetiva existência do contrato de leasing, cabendo destacar, de plano, ser possível verifi car, no presente especial, se as bases fáticas e contratuais consideradas pelo acórdão conduzem,

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 295

ou não, à conclusão adotada, no sentido de estar descaracterizado o leasing e materializada uma compra e venda.

Aqui, anote-se, não se irá aferir a veracidade dos fatos ou dar nova interpretação às cláusulas do contrato, operações violadas pelas Súmulas n. 5 e n. 7-STJ, mas, apenas examinar os efeitos práticos das circunstâncias tidas como verdadeiras pelo Tribunal a quo sobre a natureza do contrato fi rmado.

O Tribunal local decidiu descaracterizar o contrato de leasing invocando o seguinte trecho da sentença, verbis:

(...)

Constata-se, assim, que não há como se caracterizar o contrato em tela como sendo autêntico arrendamento mercantil, já que desde o início o autor vem pagando o Valor Residual, sendo inócua qualquer previsão contratual de exercer opções ao fi nal, pois somente alguém afetado por prodigalidade deixaria de exercer a opção de compra do veículo após ter pago todo o Valor Residual ao longo do contrato, nada mais restando a pagar ao fi nal, como se verifi ca da leitura da Cláusula 10.4 do contrato. (fl s. 19- 9v).

“Assim, se o autor está pagando parcelas para amortizar o capital juntamente com o Valor Residual, resta evidente que está ele, na verdade, pagando o preço de aquisição do bem, não se tratando de verdadeiro leasing”.

“Tal deve ser declarado, tendo presente que pouco importa o nomen juris que as partes tenham dado ao contrato, a sua natureza jurídica deve ser inferida do efetivo teor das cláusulas avençadas e do que em concreto elas signifi cam em sua operacionalidade”.

“Assim, reconhece-se a descaracterização do contrato de arrendamento mercantil (leasing), declarando-se que o contrato efetivamente realizado entre as partes é o de uma compra e venda a prestações”. (fl s. 294-295)

Prende-se o acórdão, como se observa, no fato de que o Valor Residual Garantido (VRG) foi pago antecipadamente, durante o pagamento das prestações do leasing.

Penso não ter razão a Corte local.

O eminente Ministro Cláudio Santos, que já abrilhantou esta 3ª Turma, defi ne e traz diversas opiniões sobre o conceito de leasing assim, verbis:

(...)

Basicamente, no contrato de leasing, alguém titular da propriedade plena de uma coisa, móvel ou imóvel, cede a outrem, pessoa jurídica ou natural, o uso do bem, mediante a transferência de sua posse direta,

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que assim poderá utilizar-se dele ou explorá-lo economicamente, sendo assegurado ao fi nal do prazo do contrato a simples devolução da coisa, a renovação do contrato ou a sua aquisição pelo preço residual avençado, tudo contra o pagamento periódico ou simplesmente mensal de valor fi xado no contrato.

Disse antes cuidar-se de contrato de natureza híbrida e, efetivamente, vê-se no leasing uma aparência de locação, uma aparência de compra e venda à prestação, uma clara faculdade de utilização da coisa e uma nítida promessa unilateral de compra e venda. Não é só. Na modalidade mais importante economicamente, vê-se também um fi nanciamento, porquanto nem sempre a coisa é disponível no mercado para ter seu uso cedido; muitas vezes é ela solicitada pelo arrendatário ao arrendador que a compra para arrendar ao pretendente e, assim, proporcionar-lhe a aquisição futura. Essa pluralidade de relações jurídicas leva a doutrina a conceituar o contrato de arrendamento mercantil como um negócio complexo, com a predominância do contrato de locação, muito embora sua concretização traduza um verdadeiro fi nanciamento.

FÁBIO KONDER COMPARATO, em seu conhecido estudo denominado “Contrato de leasing”, publicado na RT 389, de 1968, diz que o leasing, “propriamente dito, não obstante a pluralidade de relações obrigacionais típicas que o compõem, apresenta-se funcionalmente uno: a ‘causa’ do negócio é sempre o fi nanciamento de investimentos produtivos”. Todavia, logo em seguida, com respeito às relações obrigacionais faz a seguinte afirmação: “Sem dúvida, dentre as relações obrigacionais típicas que compõem o leasing predomina a fi gura da locação de coisa. Mas a existência de uma promessa unilateral de venda por parte da instituição fi nanceira serve para extremá-lo não só da locação comum, como na venda a crédito”.

Para o mestre ARNOLDO WALD, em trabalho também pioneiro, cogita-se de um contrato pelo qual uma empresa “desejando utilizar determinado equipamento, ou um certo imóvel, consegue que uma instituição fi nanceira adquira o referido bem, alugando-o ao interessado por prazo certo, admitindo-se que, terminado o prazo locativo, o locatário possa optar entre a devolução do bem, a renovação da locação, ou a compra pelo preço residual fi xado no momento inicial do contrato”. Acentua, ainda, que o arrendamento mercantil é uma “fórmula intermediária entre a compra e venda e a locação, exercendo função parecida com a da venda com reserva de domínio e com a alienação fi duciária, (...)” (RT 415, de 1970).

O advogado LUIZ MÉLEGA, em livro com o título de “O Leasing e o Sistema Tributário Nacional” (SP, Co-edição IBDT e Ed. Saraiva, 1975) defi ne o leasing, em sua forma ortodoxa, como um arrendamento, mas além de colacionar a opinião de vários juristas, dentre os quais, o já citado FÁBIO KONDER COMPARATO, BENEDITO GARCIA HILÁRIO, com opinião igual a

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sua, menciona SAMPAIO DE LACERDA, que considera o leasing uma típica operação financeira, PHILOMENO COSTA E THOMAS BENES FELSBERG, para os quais o leasing não é uma operação fi nanceira, mas uma operação comercial, onde o elemento fi nanceiro é preponderante.

O Prof. FRAN MARTINS considera complexa a natureza jurídica do arrendamento mercantil, “compreendendo uma locação, uma promessa unilateral de venda (em virtude de dar o arrendador opção de aquisição do bem pelo arrendatário) e, às vezes, um mandato, quando é o próprio arrendatário quem trata com o vendedor na escolha do bem”. (“Contrato e Obrigações Comerciais”, 2ª ed., Rio, Forense, 1990, p. 547) (A referência ao mandado é infl uência da doutrina francesa que identifi ca esse contrato nas relações entre empresa arrendatária e sociedade fi nanceira arrendadora, quando a aquisição do material é feita segundo a necessidade da primeira, atuando esta como mandatária do adquirente inicial do bem).

A lei brasileira (L. n. 6.099/1974, alterada pela L. n. 7.132/1985) assim define o leasing financeiro ou arrendamento mercantil: “considera-se arrendamento mercantil, para efeitos desta lei, o negócio jurídico realizado entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora, segundo especifi cações da arrendatária e para uso próprio desta”.

ARNALDO RIZZARDO, a comentar o dispositivo reproduzido, observa: “Não se trata de uma simples locação com promessa de venda, como à primeira vista pode parecer. Mas cuida-se de uma locação com uma consignação de promessa de compra, trazendo, porém, um elemento novo, que é o fi nanciamento, numa operação específi ca que consiste na simbiose da locação, do fi nanciamento e da venda. Em suma, é a fi gura em exame uma alternativa de financiamento para aquisição de qualquer tipo de veículo, máquina ou equipamento de fabricação nacional ou estrangeira, novo ou usado, incluindo, também, fi nanciamento de imóveis”. (Leasing - Questões Controvertidas, Revista Jurídica, Ano XLIV, n. 223, Maio de 1996, páginas 06-07).

Com efeito, mediante o contrato de leasing, o dono de determinado bem cede o uso deste a terceiro, que pagará prestações e, ao fi nal, poderá exercer o direito de compra. Há, então, um contrato dentro do qual inserem-se vários tipos de relações contratuais, a saber: locação, promessa unilateral de venda e fi nanciamento.

Estando presente uma simples promessa unilateral de venda, o arrendatário poderá, ou não, comprar o bem ao fi nal do prazo contratado. É um direito de opção presente em qualquer tipo de leasing. A propósito, o eminente Ministro José Augusto Delgado, citando Celso Benjó, distingue o leasing operacional do fi nanceiro assim, verbis:

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(...)

Na visão de CELSO BENJÓ, contudo, o conceito de leasing há de ser fi rmado com vistas aos dois principais tipos existentes: o leasing fi nanceiro, e o operacional.

O leasing operacional para o mencionado autor consiste no contrato pelo qual uma das partes se obriga a proporcionar à outra o uso e gozo temporário de determinado bem e a mantê-lo em perfeito estado de funcionamento, por um período menor do que sua vida economicamente útil, mediante uma contraprestação, em geral, inferior à que seria necessária para uma completa amortização do preço da coisa locada. Teria, em conseqüência, conforme enumera e analisa, as seguintes características:

a) uma locação com prestação de serviço;

b) bens estandardizados e a especialização das locadoras;

c) curto prazo e obsolescência incidindo na pessoa do locador;

d) caráter de nonpayout lease e a necessidade de várias locações;

e) não obrigatoriedade da opção de compra;

f ) o desdobramento da posse e a tradição da coisa;

g) inexistência de regulamentação específica desta modalidade de leasing no Brasil.

O leasing fi nanceiro, registra CELSO BENJÓ, consiste “no negócio jurídico bilateral pelo qual uma das partes, necessitando utilizar um determinado bem, procura uma instituição fi nanceira para que promova a compra do mesmo para si e, posteriormente, lhe entregue em locação, mediante uma remuneração periódica, em geral, no seu somatório, superior a seu preço de aquisição. Ao fi nal do prazo contratual, via de regra, surgem três opções para o locatário: a de tornar-se proprietário mediante o pagamento de uma quantia, a de renovar a locação por um valor inferior ao primeiro período locativo ou a devolver a coisa locada”.

Os caracteres do leasing financeiro são, segundo o autor supra, os seguintes:

a) a participação de três sujeitos no contrato;

b) a escolha do material e a inexistência de mandato;

c) operação realizada de médio a longo prazo;

d) caráter de full payout lease;

e) a irrevogabilidade contratual;

f ) o risco da obsolescência é do locatário;

g) caráter de net lease;

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h) a tríplice opção (aquisição do bem, a título oneroso; a de renovação do contrato e a de devolução do bem locado);

i) a opção de compra;

j) a renovação do leasing;

l) a devolução da coisa locada;

m) a legislação específica no direito pátrio. (Leasing, Doutrina e Jurisprudência, Juruá Editora, 1977, páginas 54 a 58).

Enfim, não há obrigação de compra, mas, apenas, uma opção, consoante dispõe a Lei n. 6.099/1974 (alterada pela Lei n. 7.132/1983), no seu art. 5º, alínea c).

O exercício da compra e venda, por sua vez, deve obedecer às regras da própria Lei n. 6.099/1974, pena de ser considerada uma operação de compra e venda. É o que dispõe o § 1º do art. 11 da referida lei, verbis:

Art. 11 (...)

§ 1º - A aquisição pelo arrendatário de bens arrendados em desacordo com as disposições desta Lei será considerada operação de compra e venda à prestação.

Na hipótese dos autos, segundo o acórdão, o contrato prevê o pagamento do VRG parceladamente, junto com as prestações do contrato.

O Valor Residual, segundo define a Portaria n. 564/1978-MF, inciso 2, é “o preço contratual estipulado para o exercício da opção de compra ou valor contratualmente garantido pela arrendatária como mínimo que será recebido pela arrendadora na venda a terceiros do bem arrendado na hipótese de não ser exercida a opção de compra”.

O contrato, então, encontra-se em perfeita consonância com a Portaria n. 564/1978-MF, inciso 2. Basta agora, perquirir sobre os efeitos do recebimento antecipado do Valor Residual Garantido (VRG) sobre a natureza do leasing.

O recolhimento do VRG ao longo do contrato, entendo, não obriga o arrendatário a adquirir o bem. Findo o prazo do leasing, poderá o arrendatário não se manifestar favoravelmente à opção de compra, direito que lhe assiste, a teor da Lei n. 6.099/1974, art. 5º, alínea c. Quanto às importâncias adiantadas a título de Valor Residual Garantido, equiparado ao arrendatário entrar em acerto com a instituição fi nanceira segundo as normas legais pertinentes e o contrato acaso decida não optar pela compra do bem.

Nem se diga que o arrendatário, na hipótese de adiantamento do VRG, sofra prejuízo irreparável. Ao fi nal do contrato, mesmo que não seja efetuado o referido adiantamento, deverá pagar à arrendadora a diferença entre o VRG e o valor obtido da venda do bem a terceiros, quando este for inferior àquele. Optando,

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entretanto, pela compra, já terá quitado a importância necessária, não precisando desembolsar qualquer valor.

Não há no caso presente, por outro lado, infringência a qualquer regra da Lei n. 6.099/1974, que não veda, expressamente, o recebimento antecipado do valor da opção de compra, assim, esse fato, por si só, não caracteriza a operação de compra e venda, não incidindo o § 1º do art. 11 do diploma legal mencionado.

Com efeito, o contrato firmado tem a natureza legal de leasing e não de compra e venda, tendo o Acórdão violado o art. 85 do Código Civil, já que a antecipação do VRG não afeta a intenção das partes.

Anote-se, apenas, que a 4ª Turma desta Corte, no julgamento dos Recursos Especiais n. 178.272-RS e n. 181.095-RS, em 18.03.1999, ambos relatados pelo Ministro Ruy Rosado de Aguiar, decidiu, por maioria, que o pagamento antecipado do VRG descaracteriza o contrato de leasing para um contrato de compra e venda (fl s. 320 usque 325).

No mesmo julgamento, no ponto, com proficiência, centrando que a

desqualifi cação “como custa e despesa operacional” só produz “efeitos no âmbito

tributário”, o Senhor Ministro Ari Pargendler adensou estas observações:

omissis

A Lei n. 6.099, de 1974, “dispõe sobre o tratamento tributário das operações de arrendamento mercantil”. O efeito do § 1º do artigo 11 desse diploma legal, considerando “operação de compra e venda” o contrato de arrendamento feito em desacordo com as disposições da lei, é o de desqualifi car como custo ou despesa operacional da arrendatária as prestações pagas (art. 11, caput). À míngua de qualquer outra previsão, a desclassificação só produz efeitos no âmbito tributário. Nem teria sentido que um negócio, feito por uma instituição fi nanceira, só viabilizado por força de fi nanciamento, pudesse ser desfi gurado em razão do tratamento tributário. O aludido efeito tributário não altera a essência do negócio celebrado entre as partes, sendo resultado de outra relação, entre o Estado e a arrendatária. Esse fenômeno está pressuposto no artigo 109 do Código Tributário Nacional, que o valorizou sob outro prisma, a saber: “Os princípios gerais de direito privado utilizam-se para pesquisa da defi nição, do conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas não para defi nição dos respectivos efeitos tributários”. Não havendo lei, no âmbito do direito privado, proibindo a antecipação do Valor Residual Garantido, as partes podiam, sim, dispor a respeito, como simples decorrência da liberdade contratual. Quid, se o próprio Ministro da Fazenda, pela Portaria MF n. 140, de 27 de julho de 1984, resolveu que “As parcelas de antecipação do Valor Residual Garantido ou do pagamento por opção de compra serão tratadas como passivo do arrendador e ativo do arrendatário, não sendo computadas na determinação do lucro real”? Em outras palavras, se a Administração Fazendária, à vista da cláusula de antecipação

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do Valor Residual Garantido, não extraiu os efeitos previstos no § 1º do artigo 11 da Lei n. 6.099, de 1974, a que título a relação entre as partes poderia ser modifi cada por uma “ação revisional”?

O arrendamento mercantil é um contrato sui generis. Decomposto atomisticamente, nele pode-se identifi car cláusulas de locação, de promessa de compra e venda e, quando o arrendatário recebe do arrendador poderes para adquirir o bem, de mandato. O conjunto, todavia, é diferente de suas partes, e nem é o mesmo em todos os casos. O arrendamento mercantil tem uma função econômica importante quando a arrendatária é uma pessoa jurídica. Dá-lhe meios de produção, de um lado, e, de outro, facilita-lhe as coisas, pela redução dos encargos fi scais. Ao invés de investimentos próprios, a pessoa jurídica paga um aluguel e, como ganho secundário, aproveita o respectivo montante como custo ou despesa operacional, diminuindo o lucro operacional. Já a pessoa física opta pelo arrendamento mercantil quando as condições lhe pareçam mais favoráveis do que as outras formas de fi nanciamento, sem outras conseqüências. Quando, num ou noutro caso, o Valor Residual Garantido é antecipado gradualmente, o montante dessas parcelas e das contraprestações representa, ao fi nal do contrato, o custo total da operação fi nanceira, se regularmente cumprido (fl s. 334 e 335).

Sob o senhorio das motivações confl itantes, como denota-se, defronta-

se com uma fi eira de argumentos densos, úteis e, de parte a parte, fortes para

lastrear o convencimento. Mas, pendente a dissidência, pelos seus caminhos,

deve ser defi nida a solução, com a necessária fi ltragem.

Nessa esteira, aprisiona-se que o debate não tem blindagem infl exível

contra a temática nuclear sobre a “descaracterização do contrato”, porque

crispada de uma realidade: o contrato de leasing tem aspectos singulares. De

fato, descabe restringi-lo à variação do valor do bem, uma vez que refl ete

verdadeira equação: o arrendante adquire o bem mediante a captação de recursos

fi nanceiros, “para arrendá-lo ao interessado”. Outrossim, “as prestações pagas

pelo arrendatário não se referem ao valor do bem, mas ao capital empregado

pelo arrendante na aquisição de bem entregue ao arrendatário, mais sua renda e

custos operacionais em geral” (Wambier - Gazeta Mercantil - 25.03.1999).

Por essa senda, deveras, constitui uma espécie sui generis ou híbrida

de contrato, consubstanciando o financiamento na fase inicial, locação na

fase intermediária e venda na fase fi nal (art. 5º da Lei n. 6.099/1974). A sua

complexidade é altissonante, com decorrências inegáveis; por exemplo:

(...)

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A primeira delas refere-se à cobrança antecipada do Valor Residual Garantido - VRG, que nada mais é que a antecipação, por parte do arrendatário, do valor necessário à aquisição do bem arrendado. É cobrada concomitantemente à prestação do leasing propriamente dito, e seus valores são diversos e discriminados no corpo do contrato, não obstante serem cobradas conjuntamente, por meio de somatória.

Contudo, tal prática é manifestamente ilegal, pois exigindo-se do arrendatário o pagamento antecipado do valor necessário para aquisição do bem arrendado, descaracteriza-se o contrato de leasing que, por exigir o pagamento do VRG, transforma-se em contrato de compra e venda a prazo, conforme raciocínio adiante:

O leasing financeiro, regulamentado pela Lei n. 6.099/1974, com as alterações da Lei n. 7.132/1983, consiste, “no negócio jurídico bilateral pelo qual uma das partes, necessitando utilizar um determinado bem, procura uma instituição fi nanceira para que promova a compra do mesmo para que, posteriormente, lhe entregue em locação, mediante uma remuneração periódica, em geral, no seu somatório, superior ao preço de aquisição. Ao fi nal do prazo contratual, via de regra, surgem três opções para o locatário: a de tornar-se proprietário mediante o pagamento de uma quantia, a de renovar a locação por valor inferior ao primeiro período locativo ou a de devolver a coisa locada.” (Celso Benjó, Revista Forense, 274/11).

Trata-se, portanto, de uma espécie híbrida de contrato, misto de fi nanciamento na fase inicial, locação na fase intermediária, e venda na fase fi nal, tendo, como característica essencial, consoante a doutrina especializada, a oferta unilateral do arrendante ao arrendatário, no termo do prazo contratual, da tríplice opção de adquirir o bem, devolvê-lo ou renovar o contrato, nos termos do artigo 5º da Lei n. 6.099/1974.

Durante o prazo de vigência do contrato, o arrendatário se compromete a pagar prestações mensais ao arrendante como retribuição pelo uso da coisa, apenas facultado àquele, ao final, adquirir o bem arrendado, mediante o pagamento de um preço residual, acaso exerça esse direito, que é essencialmente potestativo.

E para que o arrendatário possa fazer a opção de, ao fi nal do contrato, adquirir o bem arrendado para si, deve pagar, no fi nal da vigência do contrato de leasing, uma quantia denominada Valor Residual Garantido - VRG, quantia necessária para que a propriedade do bem, ao fi nal, se consolide em suas mãos.

Ora, cobrando antecipadamente, inviabiliza-se o exercício do direito de opção do arrendatário no término do contrato, essencial ao leasing, de forma a desfigurá-lo e transformá-lo em contrato de compra e venda a prazo, pois invariavelmente, ao fi nal do contrato, o arrendatário se tornaria proprietário do

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bem, sem qualquer possibilidade de renovar o contrato, ou até mesmo devolver o bem (Leasing. Cobrança antecipada - Walter Farid Antonio Junior - in Bol. CE Proc. Geral SP - vol. 25).

Pelas mesmas guias, com lucidez, averbou o Ministro Ruy Rosado:

omissis

3. A opção de compra tem sido definida como “um fator de máxima importância no caracterização do leasing fi nanceiro” (op. cit. p. 17). Isso porque, esclareceu o il. Prof. Penalva Santos, “com boa razão, no parágrafo único do art. 10, a Resolução (n. 351/1975) capitulou que o exercício da opção, em desacordo com o disposto no caput do artigo, ou seja, antes do término da vigência do contrato (rectius: da opção) será considerado como de compra e venda a prestação. A ratio de tal dispositivo tem por fi nalidade evitar a prática de expediente como uma simples compra e venda mascarada de arrendamento mercantil”. (SANTOS, J. A. Penalva. Leasing. In Revista Forense, abril - maio - junho de 1975, p. 48).

4. A Lei n. 6.099, de 12.09.1974, alterada pela Lei n. 7.132, de 26.10.1983, dispondo sobre o leasing, estabelece no seu art. 5º que os contratos de arrendamento mercantil conterão, entre outras disposições, a cláusula de “opção de compra ou renovação de contrato, como faculdade do arrendatário”.

No art. 11, § 1º a lei dispõe que “a aquisição pelo arrendatário de bens arrendados em desacordo com as disposições desta Lei será considerada operação de compra e venda a prestação”.

5. Além das razões de ordem fi scal que levaram o legislador a manter a opção de compra, com o pagamento do Valor Residual como uma das características do contrato de leasing operacional, existem outras duas a considerar: a) o negócio do leasing fica sem causa, isto é, desaparece a razão do negócio se o arrendatário paga integralmente o preço do bem no curso da execução do contrato, uma vez que a finalidade básica do leasing financeiro é “sempre o fi nanciamento de investimentos produtivos” (Fabio Konder Comparato, Contrato de Leasing, Forense, 250/10) e não a compra e venda, sendo que a existência de uma promessa unilateral de venda por parte da instituição fi nanceira serve para diferenciá-lo da locação e da compra e venda a crédito; b) o arrendatário perde com a inclusão na prestação mensal da parcela correspondente ao Valor Residual, pois desembolsa antecipadamente aquilo que pagaria apenas no caso de exercer uma das três opções que a lei lhe reserva, ao fi nal do contrato. E isso lhe pode ser ainda mais prejudicial se considerarmos que tal parcela serve para compor o valor da prestação mensal, sobre o qual incidirão juros e outros acréscimos. E a inadimplência, que resulta do não pagamento da prestação mensal assim composta, terá graves refl exos na economia do contrato, com possibilidade de perda da posse do bem, embora uma parte do valor não pago constitua cobrança antecipada do que somente seria exigível a fi nal.

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Uma conseqüência dessa cobrança antecipada é que se elimina a opção de compra, pois é a única alternativa que resta a quem já pagou antecipadamente o preço. O em. Ministro José Augusto Delgado, ao considerar a hipótese de ser imposta ao arrendatário a obrigação de aquisição, com eliminação da opção, assim se manifestou: “Tenho a cláusula que impõe obrigatoriedade do exercício de tal manifestação (compra) como leonina. Não se pode deixar de considerar que essa opção deve ser entendida como em harmonia com os interesses negociais do arrendatário, inclusive de suas condições fi nanceiras. A imposição do arrendador viola o princípio da livre manifestação e o da razoabilidade negocial” (Leasing, Doutrina e Jurisprudência, Juruá, 1997, p. 128) - REsp n. 178.272-RS, in DJU de 21.06.1999.

Sobre as linhas tracejadas pelos nobres Ministros Antônio de Pádua Ribeiro, Nancy Andrighi e Ruy Rosado, e assinalados os comentários transcritos, mesmo presa a atenção aos votos elaborados pelos Senhores Ministros Carlos Alberto Menezes e Ari Pargendler, não é difícil a verifi cação de que a prática de antecipar a cobrança do VRG nas prestações mensais, em verdade, descarateriza as operações de arrendamento mercantil, sem diferença com a compra e venda. Soma-se que, embora se argumente que a aludida antecipação não é uma cobrança, mas um depósito, tudo permite deduzir que o seu valor não é devolvido aos clientes. Assim sendo, a antecipação disfarça o fi nanciamento, induzindo o arrendatário a fi car com o bem, livrando a empresa de permanecer com o domínio do bem usado. Por evidente, derruindo a perda da natureza jurídica do contrato original de arrendamento mercantil, migrando o leasing para efetiva negociação de compra e venda. Com efeito, repita-se, antecipado o VRG, o nominado arrendamento mercantil pode ser considerado compra e venda, sob a regência dispositiva do artigo 11, parágrafo 1º, da Lei n. 9.532/1997, textualmente: “A aquisição pelo arrendatário de bens arrendados em desacordo com as disposições dessa lei será considerada operação de compra e venda à prestação”. Ou seja, não obstante timbrado como arrendamento mercantil (leasing), porém, concretizada a comentada antecipação ou ditado o parcelamento, consubstanciada a operação de compra e venda, torna-se manifesta a desfi guração da tipicidade contratual originária (Boletim Lombardi - junho/2002, p. 2).

À derradeira mão de reforço, calham à fi veleta as esclarecedoras anotações lavradas pelo eminente Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, explicando:

omissis

Insta observar que a Lei n. 6.099/1974, em seu art. 5º, c, enumera entre os elementos caracterizadores do contrato de arrendamento mercantil, ou leasing, a faculdade do arrendatário exercer a opção de compra.

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Destarte, se desatendida essa disposição legal, com o exercício da opção de compra antes do término do contrato, este restará transmudado para operação de compra e venda à prestação, nos termos do art. 11, § 1º da referida lei, que dispõe:

A aquisição pelo arrendatário de bens arrendados em desacordo com as disposições desta lei será considerada operação de compra e venda a prestação.

No caso, cumpre verificar se o pagamento do denominado Valor Residual Garantido - VRG, simultaneamente ao pagamento das prestações, implica exercício antecipado da opção de compra, e conseqüente alteração da natureza do contrato para compra e venda a prestação.

Opção de compra é o direito potestativo do arrendatário de, ao final do contrato, consolidar em si o domínio e a posse indireta do bem, ao passo que Valor Residual é o preço contratual estipulado para o exercício da opção de compra, que deve constar expressamente do contrato (ou o critério para sua fi xação), consoante prevê o art. 5º, d da Lei n. 6.099/1974.

Já o denominado Valor Residual Garantido, na defi nição de Jorge G. Cardoso, “é uma obrigação assumida pelo arrendatário, quando da contratação do arrendamento mercantil, no sentido de garantir que o arrendador receba, ao fi nal do contrato, a quantia mínima fi nal de liquidação do negócio, em caso de o arrendatário optar por não exercer seu direito de compra e, também, não desejar que o contrato seja prorrogado”.

Quanto ao valor em si, é o mesmo do Valor Residual, ou saldo não depreciado, ou preço de opção de compra, que pode o contrato eleger seja o preço de mercado. É este valor que o arrendatário fi ca obrigado a cobrir se houver diferença entre o valor contábil e o valor conseguido na venda.

Analisando o tema, assim se pronunciou Arnaldo Rizzardo (Leasing, 3ª edição, Editora Revista dos Tribunais, p. 80 e 81):

A fi gura envolve uma contradição com o próprio leasing, eis que, de acordo com o sentido de VRG, o arrendador terá assegurado sempre um Valor Residual, ao final. Mesmo que não exercida a opção de compra, esse Valor Residual deverá ingressar na sua receita. Vendendo o bem para terceiro, se não atingido o VRG, ao arrendatário caberá a complementação. (...)

O que existe no arrendamento é a possibilidade de não se exercer a opção de compra. Exigindo a complementação do valor, caso a alienação a terceiro fi car aquém do Valor Residual, indiretamente está-se impondo a aquisição do bem.

Na verdade, o Valor Residual garantido não consta previsto na Lei n. 6.099, e muito menos na Lei n. 7.132. A Res. n. 980 introduziu-o

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expressamente, sobrepondo-se à lei. Instituiu mais uma obrigação, sem que nada constasse da lei, e descaracterizando a própria natureza do leasing, eis que as prestações calculam-se em vista do valor do bem, e não se justifi cando acréscimos, porquanto já prevista a remuneração da atividade por meio da incidência de juros (grifei).

Irineu Mariani, em artigo publicado na Revista dos Tribunais, vol. 756, p. 77-84, também sustenta que as Resoluções n. 980/1984 e n. 2.309/1996 do Bacen exorbitaram os limites da Lei n. 6.099/1974 ao instituírem o Valor Residual Garantido, aduzindo que, além desse vício,

o regulamento não diz que pode ser cobrado de modo instantâneo ou progressivo, como vêm sustentando os defensores da não descaracterização, e sendo pactuado nos contratos, cujo caráter adesivo impõe o adiantamento. É possível tão-só a previsão como faculdade do arrendatário. Poderá, este, quando entender conveniente, antecipar o pagamento, sem que isso caracterize opção de compra. Essa conveniência pode ocorrer quanto for eleito o VR de Mercado. Exemplo: uma greve nas montadoras de veículos paralisa o setor durante diversos meses. O aquecimento no comércio dos usados é efeito natural, elevando o preço. Nessa moldura, convém ao arrendatário, máxime se o contrato estiver na fase fi nal pagar o preço de mercado sic stantibus, antes que os efeitos se façam sentir. Em suma, é uma regra que traduz proteção aos interesses do arrendatário, e não imposição da vontade da arrendadora.

Como se vê, a cobrança antecipada do Valor Residual Garantido, na prática, desnatura o instituto do leasing, porquanto retira a possibilidade de, ao fi nal do contrato, ocorrer a sua renovação ou a devolução do bem, pois o arrendatário já terá pago tudo, inclusive o valor de compra que só deveria ocorrer ao fi nal do contrato.

Ademais, existe uma incompatibilidade com a causa econômica desse negócio jurídico, ou seja, a conveniência de não imobilizar ativos, possibilitando ao arrendador dispor de capital de giro. O que existe de fato é o desembolso de todos os valores, inclusive da parcela equivalente à compra, antes do término do contrato, tal qual na compra e venda à prestação. (REsp. n. 255.628-SP, in DJU de 11.09.2000).

Encerrada a exposição, aconchega-se à conclusão de que a exigência do

multicitado “pagamento antecipado do Valor Residual” constitui manifesta

desestima à legislação de regência, rodiando o contrato com o aguilhão da

natureza jurídica identifi cadora da compra e venda à prestação, inclusive, como

conseqüência imediata, em face da sua desnaturação, impedindo a reintegração

de posse.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

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Pela itinerância, pois, de assunto jurídico examinado à luz dos

argumentos contrapostos, balizada a solução, ficando incorporadas como

fontes do convencimento as autorizadas e pertinentes lições doutrinárias

e, significativamente, a motivação do julgado provocador deste recurso,

compreendendo que a exaltação do pagamento antecipado (VRG)

descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil, voto desacolhendo os

embargos, preponderando os fundamentos do v. acórdão embargado.

É o voto.

VOTO-MÉRITO ANTECIPADO

O Sr. Ministro Edson Vidigal: Senhor Presidente, peço vênia ao Sr.

Ministro-Relator para antecipar o meu voto-mérito caso seja superada a

preliminar pela Corte.

Recebo os embargos, afastando a descaracterização do contrato,

reconhecendo a sua natureza jurídica de leasing.

É o voto.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: O tema posto a desate é de larga

importância nas relações negociais e tributárias vivenciadas a todo instante pelas

empresas e pelas instituições fi nanceiras.

Conquanto tenha recebido tratamento diferenciado pelas Primeira e

Segunda Seções deste Superior Tribunal de Justiça, inclusive com dissídios

internos entre os seus eminentes Ministros, parece-me que o ponto em análise

seja de fácil compreensão, embora se saiba que, uma vez apreendida a questão

posta, dependendo do ângulo pelo qual se olhe, seja possível chegar a conclusões

distintas.

Busca-se aqui definir se o pagamento antecipado do Valor Residual

Garantido (VGR) descaracteriza ou não o contrato de leasing, transformando-o

em simples contrato de compra e venda a prestações.

O r. aresto embargado, da eg. Terceira Turma, lavrado pelo eminente

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, que foi acompanhado pelos eminentes

Ministros Waldemar Zveiter e Nancy Andrighi, por decisão de que ficaram

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vencidos os eminentes Ministros Ari Pargendler e Carlos Alberto Menezes

Direito, pontifi cou, no ponto que ainda interessa, que “descaracterizado pelo

pagamento antecipado do Valor Residual Garantido (VGR), o contrato de

leasing transforma-se em compra e venda a prestações”.

Já o v. acórdão colacionado como divergente, da eg. Primeira Turma,

da lavra do eminente Ministro José Delgado, prestigiado pela companhia dos

eminentes Ministros Garcia Vieira, Humberto Gomes de Barros, Milton Luiz

Pereira e Francisco Falcão, unânime, portanto, acolheu a tese oposta, asseverando,

em síntese, o seguinte:

1. O contrato de leasing , em nosso ordenamento jurídico, é um negócio jurídico complexo defi nido, no art. 1º, da Lei n. 6.099, de 12.09.1974, com as alterações introduzidas pela Lei n. 7.132, de 26.10.1983, como um “Negócio jurídico realizado entre pessoas jurídicas, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora segundo especifi cações da arrendatária para uso próprio desta”.

2. Por tais características, o referido contrato só se transmuda em forma dissimulada de compra e venda quando, expressamente, ocorrer violação da própria lei e da regulamentação que o rege.

3. Não havendo nenhum dispositivo legal considerando como cláusula obrigatória para a caracterização do contrato de leasing e que fixe valor específi co de cada contraprestação, há de se considerar como sem infl uência, para a defi nição de sua natureza jurídica, o fato das partes ajustarem valores diferenciados ou até mesmo simbólico para efeitos da opção de compra.

4. O Banco Central, por permissão legal, na Resolução n. 2.309, de 28.08.1996, considera arrendamento mercantil fi nanceiro a modalidade em que:

I - As contraprestações e demais pagamentos previstos no contrato, devidos pela arrendatária, sejam normalmente suficientes para que a arrendadora recupere o custo do bem arrendado durante o prazo contratual da operação e, adicionalmente, obtenha um retorno sobre os recursos investidos;

II - as despesas de manutenção, assistência técnica e serviços correlatos à operacionalidade do bem arrendado sejam de responsabilidade do arrendatária;

III - o preço para o exercício da opção de compra seja livremente pactuado, podendo ser, inclusive, o valor do mercado do bem arrendado.

5. Contrato de leasing, compondo todos os elementos acima anunciados, fi rmado livremente pelas partes, não pode ser descaracterizado pelo Fisco para

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 309

fins tributários, como sendo de compra e venda, passando a não aceitar as prestações pagas como despesas dedutíveis.

6. A descaracterização do contrato de leasing só pode ocorrer quando fi que devidamente evidenciada uma das situações previstas em lei, no caso, a prevista nos arts. 2º, 9º, 11, § 1º, 14 e 23, da Lei n. 6.099/1974. Fora desse alcance legislativo, impossível ao Fisco tratar o contrato de leasing, por simples entendimento de natureza contábil, como sendo de compra e venda.

7. Homenagem ao princípio de livre convenção pelas partes quanto ao Valor Residual a ser pago por ocasião da compra.

8. Não descaracterização de contrato de leasing em compra e venda para fi ns de Imposto de Renda.

9. Precedentes jurisprudenciais: REsp’s n. 174.031-SC e n. 184.932-SP, ambos da 1ª Turma.

O eminente Ministro Milton Luiz Pereira, Relator deste feito, em judicioso

voto, como de hábito, após rememorar as posições confl itantes de diversos

eminentes Ministros deste Superior Tribunal de Justiça, conheceu dos embargos,

mas para rejeitá-los, na compreensão de que “a prática de antecipar a cobrança

da VRG nas prestações mensais, em verdade, descarateriza as operações de

arrendamento mercantil, sem diferença com a compra e venda”.

Em douto voto antecipado, o eminente Ministro Edson Vidigal, conheceu

dos embargos e os acolheu, após o que pedi vista dos autos para melhor refl exão

sobre o tema.

Observo que esta Corte já decidiu, preliminarmente, pelo conhecimento

dos embargos, vencidos os eminentes Ministros Fontes de Alencar, Barros

Monteiro e Humberto Gomes de Barros.

Registro, ademais, que, nos primeiros julgamentos sobre a questão ora

posta na eg. Quarta Turma, votei vencido no sentido do r. aresto embargado.

Posteriormente, ressalvando o meu entendimento, passei a adotar a tese

consagrada pela maioria da eg. Segunda Seção.

O eminente Ministro Ari Pargendler, com a sua habitual profi ciência, já

consignou que “o arrendamento mercantil é um contrato sui generis. Decomposto

atomisticamente, nele pode-se identifi car cláusulas de locação, de promessa de

compra e venda e, quando o arrendatário recebe do arrendador poderes para

adquirir o bem, de mandato. O conjunto, todavia, é diferente de suas partes, e

nem é o mesmo em todos os casos. O arrendamento mercantil tem uma função

econômica importante quando a arrendatária é uma pessoa jurídica. Dá-lhe

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meios de produção, de um lado, e, de outro, facilita-lhe as coisas, pela redução dos encargos fi scais. Ao invés de investimentos próprios, a pessoa jurídica paga um aluguel e, como ganho secundário, aproveita o respectivo montante como custo ou despesa operacional, diminuindo o lucro operacional. Já a pessoa física opta pelo arrendamento mercantil quando as condições lhe pareçam mais favoráveis do que as outras formas de fi nanciamento, sem outras conseqüências. Quando, num ou noutro caso, o Valor Residual Garantido é antecipado gradualmente, o montante dessas parcelas e das contraprestações representa, ao fi nal do contrato, o custo total da operação financeira, se regularmente cumprido” (REsp n. 213.828-RS).

Em sede doutrinária, Cláudio Santos (in “Leasing - Questões Controvertidas”, Revista Jurídica, Ano XLIV, n. 223, Maio de 1996, p. 06-07) já escreveu que, “basicamente, no contrato de leasing , alguém titular da propriedade plena de uma coisa, móvel ou imóvel, cede a outrem, pessoa jurídica ou natural, o uso do bem, mediante a transferência de sua posse direta, que assim poderá utilizar-se dele ou explorá-lo economicamente, sendo assegurado ao fi nal do prazo do contrato a simples devolução da coisa, a renovação do contrato ou a sua aquisição pelo preço residual avençado, tudo contra o pagamento periódico ou simplesmente mensal de valor fi xado no contrato”.

Disse mais Sua Excelência, que se notabilizou como eminente Ministro deste Superior Tribunal de Justiça, ao afi rmar “cuidar-se de contrato de natureza híbrida e, efetivamente, vê-se no leasing uma aparência de locação, uma aparência de compra e venda à prestação, uma clara faculdade de utilização da coisa e uma nítida promessa unilateral de compra e venda. Não é só. Na modalidade mais importante economicamente, vê-se também um fi nanciamento, porquanto nem sempre a coisa é disponível no mercado para ter seu uso cedido; muitas vezes é ela solicitada pelo arrendatário ao arrendador que a compra para arrendar ao pretendente e, assim, proporcionar-lhe a aquisição futura. Essa pluralidade de relações jurídicas leva a doutrina a conceituar o contrato de arrendamento mercantil como um negócio complexo, com a predominância do contrato de locação, muito embora sua concretização traduza um verdadeiro fi nanciamento”.

E assim é que o art. 1º, parágrafo único, da Lei n. 6.099/1974, na redação da Lei n. 7.132, de 26.10.1983, considera arrendamento mercantil a operação realizada “entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora, segundo especifi cações da arrendatária e para uso próprio desta”.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 311

Verifi ca-se de logo, data venia, ser absolutamente desinfl uente para a caracterização do contrato de leasing o fato de as partes estipularem preço simbólico ou de inexpressivo valor para o exercício da opção de compra do bem arrendado, ou o arrendatário depositar antecipada e mensalmente nas mãos do arrendador alguma importância em garantia do pagamento do valor residual.

Não é, pois, só pelo depósito do valor residual - digo depósito, e não pagamento - parcelado e antecipado, concomitantemente com as prestações do contrato, que o contrato de leasing fi ca descaracterizado.

Contrato desse jaez, como já observado pelo eminente Ministro Carlos

Alberto Menezes Direito, no REsp n. 213.828-DF (DJU de 26.10.2002),

encontra-se em perfeita consonância com a Portaria n. 564/1978-MF, inciso 2.

O recolhimento do VRG ao longo do contrato, entendo, não obriga o arrendatário a adquirir o bem. Findo o prazo do leasing, poderá o arrendatário não se manifestar favoravelmente à opção de compra, direito que lhe assiste, a teor da Lei n. 6.099/1974, art. 5º, alínea c. Quanto às importâncias adiantadas a título de Valor Residual Garantido, equiparado ao valor da opção de compra, deverá o arrendatário entrar em acerto com a instituição fi nanceira segundo as normas legais pertinentes e o contrato acaso decida não optar pela compra do bem.

Nem se diga que o arrendatário, na hipótese de adiantamento do VRG, sofra prejuízo irreparável. Ao fi nal do contrato, mesmo que não seja efetuado o referido adiantamento, deverá pagar à arrendadora a diferença entre o VRG e o valor obtido da venda do bem a terceiros, quando este for inferior àquele. Optando, entretanto, pela compra, já terá quitado a importância necessária, não precisando desembolsar qualquer valor.

Não há no caso presente, por outro lado, infringência a qualquer regra da Lei n. 6.099/1974, que não veda, expressamente, o recebimento antecipado do valor da opção de compra, assim, esse fato, por si só, não caracteriza a operação de compra e venda, não incidindo o § 1º do art. 11 do diploma legal mencionado.

Com efeito, o contrato firmado tem a natureza legal de leasing e não de compra e venda (...) já que a antecipação do VRG não afeta a intenção das partes.

Afi rmei acima que o Valor Residual pode ser, como no caso, antecipado e

parceladamente depositado pelo arrendatário nas mãos do arrendador.

Tanto é assim que o próprio Ministro da Fazenda, pela Portaria MF n.

140, de 27 de julho de 1984, resolveu que “as parcelas de antecipação do Valor

Residual Garantido ou do pagamento por opção de compra serão tratadas

como passivo do arrendador e ativo do arrendatário, não sendo computadas na

determinação do lucro real”.

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Não posso deixar de manifestar o meu espanto com a iniciativa dos arrendatários, que se encontram na posição da ora embargada, de postularem pela descaracterização do contrato de leasing, como se dá no presente feito.

É que, a teor no disposto no caput do art. 11 da Lei n. 6.099/1974, “serão consideradas como custo ou despesa operacional da pessoa jurídica arrendatária as contraprestações pagas ou creditadas por força do contrato de arrendamento mercantil”.

Vale dizer que a pretensão da arrendatária, de querer descaracterizar o contrato de leasing posto em análise, importa em sua própria renúncia ao benefício fi scal que ela terá em lançar como “custo ou despesa operacional (...) as contraprestações pagas ou creditadas por força do contrato de arrendamento mercantil”.

Fico, então, a me perguntar, sem encontrar resposta saudável e convincente, qual a motivação que impulsiona as arrendatárias a se lançarem nesses pleitos, se imensos prejuízos sofrerão no campo fi scal, caso vingue a sua tese.

Diante de tais pressupostos, com respeitosa vênia ao eminente Ministro Milton Luiz Pereira, acompanho a divergência inaugurada pelo eminente Ministro Edson Vidigal, conhecendo dos embargos e os acolhendo, tornando prevalecente a tese adotada no r. aresto embargado.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: O recurso versa sobre a natureza do

contrato de arrendamento mercantil (leasing) quando o valor residual é inserido

nas prestações mensais, de tal sorte que, ao fi nal do cumprimento da avença, o

preço já está totalmente pago.

O Relator, eminente Min. Milton Pereira, assim relatou os embargos de

divergência, rejeitando-os. (Leu)

O eminente Min. Cesar Asfor Rocha, em voto-vista, os acolheu. (Leu)

Pedi vista dos autos para examinar a fundamentação exposta pelo eminente

Min. Cesar Asfor Rocha, uma vez que já proferi voto em sentido contrário.

Revendo aquela minha argumentação, estou em mantê-la, pelo que peço

permissão para acompanhar o relator, desacolhendo os embargos.

O leasing fi nanceiro, modalidade de que se trata, “consiste no negócio jurídico bilateral pelo qual uma das partes, necessitando utilizar um determinado

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 313

bem, procura uma instituição fi nanceira para que promova a compra do mesmo para si e, posteriormente, lhe entregue em locação, mediante uma remuneração periódica, em geral, no seu somatório, superior a seu preço de aquisição. Ao fi nal do prazo contratual, via de regra, surgem três opções para o locatário: a de tornar-se proprietário mediante o pagamento de uma quantia, a de renovar a locação por um valor inferior ao primeiro período locativo ou a de devolver a coisa locada.” (BENJÓ, Celso. O leasing na sistemática jurídica nacional e internacional. In: Revista Forense, abril - maio - junho de 1981, p. 15).

A opção de compra tem sido definida como “um fator de máxima importância na caracterização do leasing fi nanceiro” (op. cit. p. 17). Isso porque, esclareceu o il. Prof. Penalva Santos, “com boa razão, no parágrafo único do art. 10, a Resolução (n. 351/1975) capitulou que o exercício da opção, em desacordo com o disposto no caput do artigo, ou seja, antes do término da vigência do contrato (rectius: da opção) será considerado como de compra e venda a prestação. A ratio de tal dispositivo tem por fi nalidade evitar a prática de expediente como uma simples compra e venda mascarada de arrendamento mercantil” (Santos, J. A. Penalva. Leasing . In: Revista Forense, abril - maio - junho de 1975, p. 48).

A Lei n. 6.099, de 12.09.1974, alterada pela Lei n. 7.132, de 26.10.1983, dispondo sobre o leasing, estabelece no seu art. 5º que os contratos de arrendamento mercantil conterão, entre outras disposições, a cláusula de “opção de compra ou renovação de contrato, como faculdade do arrendatário”.

No art. 11, § 1º, a mesma Lei dispõe que “a aquisição pelo arrendatário de bens arrendados em desacordo com as disposições desta Lei será considerada operação de compra e venda a prestação”.

Além das motivações de ordem fi scal, que levaram o legislador a manter a opção de compra com o pagamento do valor residual, que é uma das características do contrato de leasing, existem outras duas e primordiais razões a ponderar para a não-aceitação da tese da embargante:

(a) O negócio do leasing fi ca sem causa, isto é, desaparece a razão do negócio se o arrendatário paga integralmente o preço do bem no curso da execução do contrato, uma vez que a fi nalidade básica do leasing fi nanceiro é “sempre o financiamento de investimentos produtivos” (Fabio Konder Comparato, Contrato de Leasing, Forense, 250/10), e não a compra e venda, sendo de observar que a existência de uma promessa unilateral de venda por parte da instituição fi nanceira serve para diferenciá-lo da locação e da compra e venda a crédito (idem);

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(b) O arrendatário perde com a inclusão, na prestação mensal, da parcela

correspondente ao valor residual, pois desembolsa antecipadamente aquilo que

pagaria apenas no caso de exercer uma das três opções que a lei lhe reserva, ao

fi nal do contrato. E isso pode ser-lhe ainda mais prejudicial se considerarmos que

tal parcela serve para compor o valor da prestação mensal, sobre o qual incidirão

juros e outros acréscimos. E a inadimplência, que resulta do não-pagamento da

prestação mensal assim composta, terá graves refl exos na economia do contrato,

com possibilidade de perda da posse do bem, embora uma parte do valor impago

constitua cobrança antecipada do que somente seria exigível a fi nal.

Uma conseqüência dessa cobrança antecipada é que se elimina a opção

de compra, pois comprar é a única alternativa que resta a quem já pagou

antecipadamente o preço. O eminente Ministro José Augusto Delgado, ao

examinar a hipótese de ser imposta ao arrendatário a obrigação de adquirir

o bem, com a eliminação da opção, assim se manifestou: “Tenho a cláusula

que impõe obrigatoriedade do exercício de tal manifestação (compra) como

leonina. Não se pode deixar de considerar que essa opção deve ser entendida

como em harmonia com os interesses negociais do arrendatário, inclusive de

suas condições fi nanceiras. A imposição do arrendador viola o princípio da livre

manifestação e o da razoabilidade negocial” (Leasing, Doutrina e Jurisprudência,

Juruá, 1997, p. 128).

Se o pagamento antecipado corresponde ao que poderia ser pago a fi nal, a

falta dessa prestação mensal jamais seria causa de resolução do contrato e perda

da posse do bem, porquanto se trata de uma quantia só exigível depois, na data

em que o arrendatário exerceria a opção de compra.

Se o pagamento antecipado é parte do pagamento do preço, então é

de se reconhecer que o arrendatário já pagou parte do valor da coisa com a

antecipação feita. No entanto, resolvido o contrato pela falta de pagamento de

uma prestação, ele perde tudo o que despendeu, a título de aluguel e também a

título de compra. No caso de já ter pago 80% das prestações, a inadimplência de

uma parcela implica a extinção do contrato com perda total. Se fosse locação, a

solução estaria correta; mas, como uma parte do preço foi antecipada, sobre isso

ele tem direito, não como arrendatário, mas como comprador. Logo, não caberia

a ação de reintegração de posse.

Na alienação fi duciária, o devedor tem o direito sobre o valor da coisa, e também a que se leve em conta tudo o que despendeu para a sua aquisição. Vendido o bem, poderá até receber o saldo eventualmente apurado. No leasing,

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 315

com o desvirtuamento que lhe está sendo emprestado, o devedor, que na verdade é um comprador, tudo perde, o bem, a posse do bem e as importâncias despendidas.

Pergunta-se: qual o interesse do arrendatário em ver reconhecido o contrato de compra e venda? Veja-se o caso de quem pagou 80% do bem. É legítimo seu interesse em afi rmar que se trata de compra e venda, que 80% daquele bem está pago e lhe pertence, o que deverá ser considerado no momento da rescisão. Se for leasing, perderá tudo o que pagou e sofre a ação de reintegração de posse. Logo, poderá preferir ter de pagar o imposto a perder muito mais. Além disso, com o vencimento antecipado, fi ca sem a possibilidade de purgar a mora.

De sua vez, a arrendadora antecipa a sua receita, recebendo antes aquilo a que só no final teria direito, mas tais parcelas não são computadas na determinação do lucro real, conforme consta na Portaria n. 140/1984, MF, a que se referiu o Sr. Min. Cesar Rocha.

Também foi dito que o recolhimento do VRG não obriga o arrendatário a adquirir o bem. Mas se ele já pagou, que alternativa lhe resta? E se ele não quiser optar, o pagamento antecipado fi ca sem causa.

Recebi algumas manifestações contrárias a esse entendimento, com a preocupação de que o negócio de leasing fi caria abalado no país. Basta que ele seja feito de acordo com a lei e mantidas as suas características, como ocorre nos outros países, e não transformado em contrato de fi nanciamento de compra e venda a prazo.

Transcrevo parte fi nal do voto do eminente Min. Milton Luiz Pereira: “Com efeito, repita-se, antecipado o VRG, o nominado arrendamento mercantil pode ser considerado compra e venda, sob regência dispositiva do art. 11, par. 1º, da Lei n. 6.099/1974, textualmente: ‘A aquisição pelo arrendatário de bens arrendados em desacordo com as disposições dessa lei será considerada operação de compra e venda à prestação’”.

O fato de existirem regulamentos administrativos expedidos para consagrar esse desvirtuamento não pode servir para que o Tribunal, deixando de lado o fi gurino legal do leasing , passe a reconhecer como tal um contrato que na verdade nada mais é do que compra e venda fi nanciada, mas executado de modo gravoso ao arrendatário e ao próprio Fisco.

Disso tudo extraio a conclusão de que estava acertado o r. acórdão embargado ao ter por desfi gurado o contrato de leasing, nos termos do art. 11 da lei especial.

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RATIFICAÇÃO DE VOTO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Sr. Presidente, no fi nal do meu voto-

vista, fi z a seguinte afi rmação:

Fico, então, a me perguntar, sem encontrar resposta saudável e convincente, qual a motivação que impulsiona as arrendatárias a se lançarem nesses pleitos, se imensos prejuízos sofrerão no campo fi scal se vingar sua tese?

O Sr. Ministro Ruy Rosado agora responde, evidentemente, sem se dirigir diretamente à minha colocação, dizendo que o interesse do arrendatário está no fato de que se não tiver condições de continuar pagando o leasing, perderá tanto as parcelas referentes ao aluguel, quanto as que S. Exa. chamou de pagamento antecipado do valor residual.

Gostaria de ponderar, data venia, que o aluguel é pago, pois o cidadão está usando o bem.

Com relação ao valor residual, este não está sendo pago antecipadamente. Na forma da resolução mencionada, está apenas sendo adiantado, e isso é contabilmente colocado em uma conta à sua disposição, que será pelo arrendador recebido se o contrato não chegar ao seu fi nal.

Observo que, antes dessas colocações, durante muitos e muitos anos, esses contratos de leasing foram feitos com um valor residual importando em menos de 1% do valor do bem; via de regra, as empresas utilizam o contrato de leasing

pelo benefício fi scal que proporciona - na verdade, elas têm o interesse de, ao fi nal, fi car com o bem. As empresas preferem esse tipo de contrato ao de compra e venda de uma forma completa, aparente e sem maiores tergiversações, apenas pela atração fi scal que oferece.

Àquela época em que o valor residual correspondia a 1% do bem nunca se questionou que o contrato de leasing estaria, na verdade, encobrindo um contrato de promessa de compra e venda. Somente posteriormente, quando se aumentou o percentual do valor residual e exigiu-se a antecipação do depósito do valor que virá a servir para o pagamento do valor residual é que se veio questionar que esse contrato de leasing seria de compra e venda.

Data venia, continuo, ainda, não obstante a colocação feita pelo Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, perplexo e a me perguntar qual é a razão de essas locatárias estarem, agora, tentando a obtenção de um entendimento do Superior Tribunal de Justiça no sentido de esse contrato ser realmente um contrato de compra e venda, se o prejuízo que essas arrendatárias terão perante

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 317

o Fisco será muito grande. Primeiramente, deixarão de receber aquele benefício fi scal que propicia esses contratos de arrendamento, e, em segundo lugar, em decorrência, terão que estornar os lançamentos referentes aos benefícios fi scais feitos quando se tinha como sendo verdadeiramente de leasing o contrato ora cogitado, que tenho como sendo efetivamente de leasing.

VOTO

O Sr. Ministro Vicente Leal: Sr. Presidente, a matéria está devidamente

esclarecida e peço vênia ao Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar para acompanhar

a divergência, no sentido de acolher os embargos.

VOTO

Sr. Ministro Ari Pargendler: A Lei n. 6.099, de 1974, “dispõe sobre o tratamento tributário das operações de arrendamento mercantil”. O efeito do § 1º do artigo 11 desse diploma legal, considerando “operação de compra e venda” o contrato de arrendamento feito em desacordo com as disposições da lei, é o de desqualifi car como custo ou despesa operacional da arrendatária as prestações pagas (art. 11, caput). À míngua de qualquer outra previsão, a desclassifi cação só produz efeitos no âmbito tributário. Nem teria sentido que um negócio, só viabilizado por força de fi nanciamento, pudesse ser desfi gurado em razão do tratamento tributário. O aludido efeito tributário não altera a essência do negócio celebrado entre as partes, sendo resultado de outra relação, entre o Estado e a arrendatária. Esse fenômeno está pressuposto no artigo 109 do Código Tributário Nacional, que o valorizou sob outro prisma, a saber: “Os princípios gerais de direito privado utilizam-se para pesquisa da defi nição, do conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas não para definição dos respectivos efeitos tributários”. Não havendo lei, no âmbito do direito privado, proibindo a antecipação do Valor Residual Garantido, as partes podiam, sim, dispor a respeito, como simples decorrência da liberdade contratual. Quid, se o próprio Ministro da Fazenda, pela Portaria MF n. 140, de 27 de julho de 1984, resolveu que “As parcelas de antecipação do Valor Residual Garantido ou do pagamento por opção de compra serão tratadas como passivo do arrendador e ativo do arrendatário, não sendo computadas na determinação do lucro real”? Em outras palavras, se a Administração Fazendária, à vista da cláusula de antecipação do Valor Residual Garantido, não extraiu os efeitos previstos no § 1º do artigo 11 da Lei n. 6.099, de 1974, a que título a relação entre as partes poderia ser modifi cada por uma “ação revisional”?

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O arrendamento mercantil é um contrato sui generis. Decomposto atomisticamente, nele pode-se identifi car cláusulas de locação, de promessa de compra e venda e, quando o arrendatário recebe do arrendador poderes para adquirir o bem, de mandato. O conjunto, todavia, é diferente de suas partes, e nem é o mesmo em todos os casos. O arrendamento mercantil tem uma função econômica importante quando a arrendatária é uma pessoa jurídica. Dá-lhe meios de produção, de um lado, e, de outro, facilita-lhe as coisas, pela redução dos encargos fi scais. Ao invés de investimentos próprios, a pessoa jurídica paga um aluguel e, como ganho secundário, aproveita o respectivo montante como custo ou despesa operacional, diminuindo o lucro operacional. Já a pessoa física opta pelo arrendamento mercantil quando as condições lhe pareçam mais favoráveis do que as outras formas de fi nanciamento, sem outras conseqüências. Quando, num ou noutro caso, o Valor Residual Garantido é antecipado gradualmente, o montante dessas parcelas e das contraprestações representa, ao fi nal do contrato, o custo total da operação fi nanceira, se regularmente cumprido. Diversamente do que ocorre nos fi nanciamentos em geral, no arrendamento mercantil o custo do dinheiro não é identifi cado por institutos jurídicos, v.g., juros remuneratórios

ou capitalização de juros. No empréstimo de dinheiro, pode-se discutir a taxa de juros (se limitada ou não) e a sua capitalização (se permitida, ou não). No arrendamento mercantil, o custo do dinheiro, aí não incluída a correção monetária, está embutido nas contraprestações, sendo impossível, por exemplo, discutir juros e capitalização de juros - estranhos ao contrato, que só prevê o montante das prestações, o respectivo número, o Valor Residual Garantido, a correção monetária e, no caso de inadimplemento, comissão de permanência, multa e juros moratórios. De fato, como distinguir o que, no custo do dinheiro, representa juros e o que corresponde à sua capitalização?

A jurisprudência que, descaracterizando o contrato de arrendamento, nele vê compra e venda e admite juros superiores a 12% ao ano incorre na seguinte contradição, a de admitir juros de mercado fi nanceiro numa operação de compra e venda.

Voto, por isso, no sentido de acolher os embargos de divergência.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro José Delgado: A questão referente ao Valor Residual

Garantido nos contratos de Leasing há de ser examinada, ao meu pensar, com as

atenções voltadas para a natureza jurídica da referida relação contratual.

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A respeito, tenho afi rmado:

A abordagem da natureza jurídica do contrato de leasing tem se apresentado como uma das questões mais controvertidas que, nos últimos tempos, tem enfrentado a doutrina.

Waldirio BULGARELLI entende que, ao ser utilizada a técnica tradicional civilista, o contrato de leasing deve ser considerado, em seu conteúdo jurídico, como: consensual, bilateral, oneroso, de tempo determinado, de execução sucessiva e intuitu personae.

Cláudio SANTOS, analisando a natureza jurídica de tal espécie contratual, demonstra que:

O leasing, em algumas modalidades, denominado de renting, embora guarde velhas raízes do antigo contrato de arrendamento é instituição jurídica moderna. Nas suas diversas espécies são contratos novos, atuais, criados e desenvolvidos para atender às necessidades do mundo, e permitir o uso e gozo de coisas, sejam bens, móveis ou imóveis, de uso, ou equipamentos de produção, sem que, necessariamente, o utente seja proprietário da coisa. A realidade econômica da civilização em que vivemos, e, sobretudo, o célere desenvolvimento tecnológico, fazem com que capitais sejam empregados em bens para serem usados por terceiros, sem a transferência da propriedade, e, portanto, sem grandes riscos, de um lado, e, de outro, fi quem os utentes do uso e gozo de equipamentos e máquinas a salvo dos prejuízos do obsoletismo dos bens de produção.

Fran MARTINS, após afi rmar que considera complexa a natureza jurídica do leasing, chamando-o de arrendamento mercantil, compreende que seja uma “locação, uma promessa unilateral de venda (em virtude de dar o arrendador opção de aquisição do bem pelo arrendatário) e, às vezes, um mandato, quando é o próprio arrendatário quem trata com o vendedor na escolha do bem”.

Até a quadra presente, tem se explorado o conceito de leasing como fi gura jurídica genérica e que, para uns, tem seus vínculos fortes com a locação, enquanto, para outros, a sua ligação maior é com os aspectos fi nanceiros que o circulam.

Na visão de Celso BENJÓ, contudo, o conceito de leasing há de ser fi rmado com vistas aos dois principais tipos existentes: o leasing fi nanceiro e o operacional.

O leasing operacional para o mencionado autor:

consiste no contrato pelo qual uma das partes se obriga a proporcionar à outra o uso e gozo temporário de determinado bem e a mantê-lo em perfeito estado de funcionamento, por um período menor do que sua vida economicamente útil, mediante uma contraprestação, em geral, inferior

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à que seria necessária para uma completa amortização do preço da coisa locada.

Teria, em conseqüência, conforme enumera e analisa, as seguintes características:

a) uma locação com prestação de serviços;

b) bens estandardizados e a especialização das locadoras;

c) curto prazo e obsolescência incidindo na pessoa do locador;

d) caráter de nonpayout lease e a necessidade de várias locações;

e) não obrigatoriedade da opção de compra;

f ) O desdobramento da posse e a tradição da coisa;

g) inexistência de regulamentação específi ca desta modalidade de leasing no Brasil.

O leasing financeiro, registra Celso BENJÓ, consiste “no negócio jurídico bilateral pelo qual uma das partes, necessitando utilizar um determinado bem, procura uma instituição fi nanceira para que promova a compra do mesmo para si e, posteriormente, lhe entregue em locação, mediante uma remuneração periódica, em geral, no seu somatório, superior a seu preço de aquisição. Ao fi nal do prazo contratual, via de regra, surgem três opções para o locatário: a de tornar-se proprietário mediante o pagamento de uma quantia, a de renovar a locação por um valor inferior ao primeiro período locativo ou a de devolver a coisa locada”.

Os caracteres do leasing fi nanceiro são, segundo o autor supra, os seguintes:

a) a participação de três sujeitos no contrato;

b) a escolha do material e a inexistência de mandato;

c) operação realizada de médio a longo prazo;

d) caráter defull payout lease;

e) a irrevogabilidade contratual;

f ) o risco da obsolescência é do locatário;

g) caráter de net lease;

h) a tríplice opção (aquisição do bem, a título oneroso; a de renovação do contrato e a de devolução do bem locado);

i) a opção de compra;

j) a renovação do leasing;

l) a devolução da coisa tocada;

m) a legislação específi ca no direito pátrio.

Tais noções sobre a natureza jurídica do leasing não são sufi cientes para se ter um entendimento mais fortalecido sobre as suas reais características.

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2.3 CONCEITO ANALÍTICO

Certo é que a tentativa de se conceituar o leasing só será revestida de êxito se não forem colocadas limitações para a sua defi nição.

A natureza híbrida que o compõe exige que não seja compreendido cientificamente por simples manifestações padronizadas. Deve, portanto, a fi xação do seu conceito se submeter a uma ampla investigação que parta da análise dos fatos que constituem o referido fenômeno jurídico até os efeitos produzidos no campo de sua aplicação.

Não se têm dúvidas a respeito de o leasing ser um contrato de estrutura complexa e que foge dos padrões normais até então conhecidos pela ciência do Direito, com a agravante que penetra no campo do negócio jurídico em toda a sua extensão.

A busca em fi xar a fi delidade do seu conceito deve partir, portanto, da posição assumida para a visão que se tem do negócio jurídico como um todo, em face das teorias que o defi nem pela gênese, ou pelo sentido voluntarista, ou pela função, ou por caminhos objetivos, ou pela sua estrutura.

Nada há que se discutir, na era contemporânea, sobre o conhecimento das entidades jurídicas via defi nições voluntaristas. Está assentado, com base nelas, que “O ato jurídico deve ser conforme a vontade do agente e as normas de direito; é toda manifestação da vontade individual, a que a lei atribui o efeito de movimentar as relações jurídicas”. Este pensamento que é de Clóvis BEVILAQUA foi acompanhado por João Franzen LIMA, Washington de Barros MONTEIRO, Sílvio RODRIGUES, Orlando GOMES e outros.

Os que procuram defi nições objetivas, ou seja, tendo em vista a função da entidade jurídica para explicá-las, compreendê-las, têm o negócio jurídico como um comando concreto do qual o ordenamento jurídico reconhece eficácia vinculante. Os seguidores dessa teoria são: BULLOW, Henle e LARENZ, na Alemanha, e BETTI, na Itália, conforme bem assinala Antônio Junqueira AZEVEDO.

Do outro lado, as correntes que cuidam do negócio jurídico tentando defi ni-lo só pela sua estrutura “não se preocupam como o negócio surge, nem como ele atua, e sim, simplesmente, o que ele é”, na feliz observação de Antônio Junqueira AZEVEDO. Com essa visão, o negócio jurídico passa a ser considerado por dois ângulos: a) como categoria (hipótese de fato jurídico); b) como fato jurídico concreto.

As teorias voluntarista e objetiva não vão ser interessantes para se alcançar o objetivo pretendido. Não só por elas se quedarem ante os argumentos da teoria estrutural, na atualidade, porém, por elas serem insufi cientes para solucionar as dificuldades conceituais sobre o leasing, em razão da sua complexidade constitutiva.

Diante de tais caminhos, só resta seguir por aquele que permite a perquirição do leasing como fato jurídico abstrato e, ao mesmo tempo, como fato jurídico concreto, para que se possa assentar o seu verdadeiro conceito. E, em outras palavras, se buscar defi ni-lo por via da compreensão da sua estrutura.

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Em razão de tais difi culdades, três principais correntes estão formadas no âmbito da doutrina a respeito da natureza jurídica do leasing. A de que ele é um negócio jurídico direto e complexo; uma outra, de que é um negócio jurídico indireto; a última que o tem como sendo fruto de um contrato misto.

Para que se possa desenvolver uma análise sistematizada do que é o leasing no campo da ciência jurídica, convém, em forma de síntese, mostrar as opiniões de alguns doutrinadores que exploraram o tema. A conjuntura atual forma o seguinte quadro:

a) No leasing tem-se como fi rmado um contrato de locação de material. Esta afi rmação foi, inicialmente, feita por Fábio Konder COMPARATO, nos termos que registro:

O empresário instrui a proposta de contrato com dados precisos sobre a sua situação fi nanceira, como quando solicita um empréstimo bancário. Aprovada a proposta, firma-se um contrato de locação do material em questão a ser adquirido pela instituição financeira, de acordo com as especifi cações recebidas,

b) Qualquer bem de capital pode constituir objeto do leasing, até mesmo imóvel.

c) Fábio Konder COMPARATO, após falar em locação no leasing, ele próprio lançou a sua perplexidade no qualifi cá-lo. E realmente locação? Não será mútuo “Compra e Venda”? Contrato sui generis, inominado? Ultima, porém, com a conclusão:

A assinatura do contrato de leasing importa, assim, segundo pensamos, no estabelecimento de uma relação defi nitiva de locação de coisas.

d) É uma relação de mandato, segundo alguns autores franceses. Teoria, hoje, totalmente, ultrapassada.

e) Trata-se de uma fórmula intermediária entre a compra e venda e a locação, exercendo função parecida com a da venda com reserva de domínio e a alienação fi duciária (Arnoldo WALD).

f ) O leasing está associado a um financiamento e os riscos do bem dado correm exclusivamente por conta do arrendatário.

g) O leasing é predominantemente uma operação fi nanceira.

h) É um arrendamento mercantil por força da Lei n. 6.099, de 12.09.1974 (art. 1º, parágrafo único).

i) Trata-se de uma locação com promessa unilateral de venda.

j) É um negócio jurídico indireto.

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É surpreendente a diversifi cação de entendimento. No entanto, ao se fi xar a conceituação de que o leasing é um negócio jurídico, por, in concreto, ser fato jurídico “consistente em declaração de vontade, a que o ordenamento jurídico atribui os efeitos designados como queridos, respeitados os pressupostos de existência, validade e efi cácia, impostos pela norma jurídica que sobre ele incide”, a conclusão a que se chega é a de que em nosso direito, se trata de um contrato misto de financiamento e arrendamento mercantil com cláusula especial de promessa unilateral de venda.

Em face do que foi espelhado, três correntes se formaram sobre a natureza jurídica do leasing: a primeira tem-no como um negócio jurídico direto e complexo; a segundo, como negócio jurídico indireto; a terceira, como decorrente de um contrato misto.

2.4 NEGÓCIO JURÍDICO DIRETO E COMPLEXO

A primeira é a que defende a teoria de ser o leasing um negócio jurídico complexo. Filiados a ela, vamos encontrar Fábio Konder COMPARATO, Rodolfo de Camargo MANCUSO, C. J. de Assis RIBEIRO, P. R. Tavares PAES, J. A. Penalva SANTOS. Arnold WALD e outros, conforme enumera Elvino SILVA FILHO. Seguindo o caminho deste autor, valho-me das observações feitas por Celso BENJO para comentar a mencionada teoria:

Argumentam estes autores que no leasing, não obstante as múltiplas cláusulas que por si só confi gurariam negócios jurídicos (locação, promessa unilateral de venda e operação financeira), todas as figuras jurídicas encontráveis no contrato estão indivisivelmente ligadas a uma única causa: o fi nanciamento de bens produtivos. Assim, a unicidade causal do instituto e a pluralidade de relações obrigacionais permitem caracterizá-lo como um único negócio jurídico complexo.

Embora a complexidade existente no leasing seja subjetiva, ela, contudo, se caracteriza pela pluralidade de declarações emitidas, em regra, por três sujeitos, o que levou Orlando GOMES a assinalar, conforme anotado por Elvino SILVA FILHO já citado:

Tais declarações de vontade podem ser emitidas contemporânea ou sucessivamente. Importa somente que confl uam para o mesmo negócio, completando-se. Nenhuma pode produzir efeito independentemente da outra, ou das outras. Não basta, contudo, a pluralidade de participantes; é preciso que a participação se dê mediante declarações homogêneas dirigidas ao mesmo fi m.

Tenho que a referida teoria é a que melhor se aproxima para a fi xação da natureza jurídica do leasing, por considerá-lo envolvido pelos aspectos complexos que estão presentes no seu funcionamento, valorizando, ainda, a pluralidade de

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vontades que contribuem para a formação do contrato, isto é, voltadas para um mesmo objetivo.

2.5 NEGÓCIO JURÍDICO INDIRETO

A confi guração do leasing como negócio jurídico indireto decorre, segundo a corrente que defende essa teoria, claramente, do quase caráter de arrendamento mercantil que tem, não obstante acrescido de um elemento, o fi nanceiro, que convive pacifi camente com os demais que são considerados básicos.

No contrato, há cláusula obrigacional no tocante ao aluguel combinado. Entretanto, o quantum representativo da obrigação assumida pelo arrendatário não se pode afirmar que seja equivalente ao uso da coisa, como ocorre na locação. O aluguel é fi xado tendo-se em consideração a soma de várias parcelas representativas da totalidade dos custos suportados pelo fi nanciador e dos seus lucros. E, não resta dúvida, um real fi nanciamento, sem que o fi nanciador perca a titularidade da propriedade do bem vinculado à transação.

Em decorrência dessa peculiaridade, a prestação não pode ser tida como se constituindo elemento de um contrato comutativo. Não se pode afi rmar que há equivalência de prestação como se aluguel fosse, por ocorrer, pelo contrário, desproporcional diferença entre o preço real do uso e o que é pago, na realidade, pelo fi nanciado.

É em face de tais aspectos que entendem os autores ser o leasing um negócio jurídico indireto, pois, a firmação do contrato, não fraudando a lei, encontra caminhos para realizar a transação pretendida.

A lição de Emilio BETTI posta na obra de sua autoria Teoria Generale del Negocio Giuridico. 2. ed., Turim, UTET, 1955, p. 305, citada por Orlando GOMES, reproduzida por Elvino SILVA FILHO, merece ser transcrita:

Uma vez que não vise a fraudar a lei, pode-se realizar determinado negócio para a obtenção de fi m distinto daqueles que sua causa típica defi ne. Betti justifi ca essa anomalia pela carência de tipos mais adequados à disposição da autonomia privada: II problema pratico dei negozio indiretto sta nel bisogno di mettere a profi tto um tipo di negozio per ii conseguimento di un fi ne diverso da quelio che la sua causa tipica rapresenta: bisogno, che nasce daila defi cienza di tipi piú adatti a disposizione dell’autonomia privata.

Em conclusão, entende tal corrente que, quando, de modo consciente, as partes se utilizam de uma entidade, embora, de modo inapropriado ao fi m a que visam, porém, os objetivos são alcançados, tem-se um negócio jurídico indireto realizado.

Mauro Brandão LOPES, citado, também, por Elvino SILVA FILHO, defende com muito ardor, essa teoria, com as razões que transcrevo:

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Essa natureza é manifestamente a de fi nanciamento, que constitui não a causa do contrato, mas o seu cerne, a relação fundamental de crédito e de débito nele estabelecida; este fi nanciamento, como todo fi nanciamento, é um contrato de mútuo. À realidade econômica do negócio deveria normalmente corresponder o seu contrato típico, específi co, que, como contrato principal, poderia ter a seu lado, como acessórios, contratos de garantia.

Ao invés, contudo, a realidade econômica do financiamento surgiu, neste caso, no mundo dos negócios, sob a capa de outro contrato, o de arrendamento, cujos efeitos são, ao mesmo tempo que o fi nanciamento, efetivamente desejados pelas partes.

Ora, este fenômeno é já corriqueiro nos sistemas legislativos modernos: trata-se de negócio indireto, de plena valia, e de manifesta utilidade, pela economia de esforços que traz à construção jurídica de institutos novos. Há negócio indireto quando as partes recorrem, em determinado caso concreto, a um contrato especial, nominado, para conseguir, por meio dele, não somente os seus efeitos normais mas também, fi m diverso daquele que decorreria de sua estrutura peculiar. E exatamente o caso do leasing: os efeitos normais de todo contrato de arrendamento são desejados pelas partes, e por meio dele, como fim indireto, querem também o fi nanciamento, que é a razão de ser do negócio jurídico.

A verdade é que a realidade econômica e a estrutura do negócio jurídico, entretanto, fi zeram construir, por via do leasing, um novo tipo de contrato que atenda aos interesses e garantias das partes. Armou-se, assim, um negócio que parece ser indireto e com vantagens para as partes, fenômeno, hoje, comum nos sistemas legislativos modernos, como assinala Tulio ASCARELLI:

“A escolha de determinado negócio, seja embora para escopos indiretos, não é feita ao acaso; encontra a sua explicação na intenção das partes de se sujeitarem não somente à forma mas também à disciplina do negócio adotado”, pois “esta (a forma de negócio adotada) abrange, assim, hipóteses para as quais não fora originariamente estabelecida; o velho negócio, através deste uso indireto, assume novas funções, realiza novas tarefas”.

Há, contudo, argumentos fortes colocados pelos opositores dessa corrente.

Ainda que se reconheça existir razão aos que estudaram a fi gura do negócio jurídico indireto ou, como querem alguns, caso de simulação relativa contratual, há de se ter como procedente a crítica feita a essa corrente por Custódio da Piedade Ubaldino MIRANDA:

Efetivamente, uma breve análise do histórico do negócio indireto revela-nos que ele surgiu como instrumento do preenchimento do descompasso,

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sempre existente, entre o Direito e a vida. E que os institutos novos, que resultam das necessidades práticas da vida social, sempre dinâmica, enquanto não surjam com um reconhecimento autônomo, em plano de igualdade com os institutos existentes, no âmbito do Direito Positivo, são utilizados pelas partes com cautelas, que preferem, assim, lançar mão de institutos conhecidos, típicos, submetendo-se à sua disciplina para, a partir dai obterem o resultado jurídico desejado.

É o que ocorre no leasing. As partes servem-se de um negócio que, mesmo não sendo uma locação típica, com ela se assemelha em quase tudo, exceto na equivalência das prestações, na comutatividade que lhe é inerente, o que a desfi gura, revelando o alto valor do confronto com o valor da fruição dos bens, alto valor, esse, que contribui para a paulatina amortização do preço da aquisição dos bens, que se trata de um autêntico fi nanciamento, e não de uma locação.

Do que fi ca exposto, pode-se concluir que o leasing não é um negócio indireto, nem um caso de simulação relativa. Trata-se, na realidade, de um negócio atípico, integrado por alguns elementos - não todos - de certos negócios típicos, como a locação, a compra e venda, o mútuo, o mandato.

Precisamente por se tratar de negócio atípico, que não é mera combinação ou somatório de negócios típicos, não redundando, por outro lado, em uma modalidade de negócio indireto ou simulado, com simulação relativa, é mister que o legislador, particularmente agora que a doutrina e a jurisprudência evoluíram consideravelmente na determinação da natureza jurídica e dos aspectos processuais e de Direito Material do leasing, o discipline em legislação própria, preenchendo aquele hiato ou descompasso entre o Direito e a vida, mencionado por ASCARELLI como sendo o substrato social do negócio indireto.

2.6 A TEORIA DO CONTRATO MISTO

Uma terceira corrente se formou a respeito da natureza jurídica do leasing: é a que o considera como sendo um contrato misto.

Tem sido comum a afi rmação de que tal tipo de relação jurídica é um contrato misto, por ser uma avença complexa, formada por diversas espécies contratuais, tais como, a locação, a compra e venda, o mandato, o mútuo etc.

Por o leasing ser formado pelas características de vários contratos é que aumentam as difi culdades de se defi ni-lo de forma unitária, especial, própria, isto é, descobrir os efeitos essenciais produzidos no ambiente jurídico. O que se busca, na verdade, é se conceituar uma terceira espécie de contrato, uma nova modalidade negocial que, embora formada por estruturas de outros contratos, com eles não se confunde.

Na verdade, a característica de contrato misto de financiamento e arrendamento mercantil se cristaliza. Existe real fi nanciamento, tendo uma típica finalidade, a de evitar que o financiado imobilize capital. O seu cerne, a sua

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relação fundamental, a sua estrutura obrigacional repousa em um elo de débito e crédito, ou melhor afi rmando, em um contrato de mútuo. Ao mesmo tempo há uma locação em prática e ajustada.

Waldírio BULGARELLI é um defensor dessa teoria, com os fundamentos assim alinhados:

Estruturalmente, a seqüência das obrigações decorrentes do contrato de leasing o caracteriza muito mais como misto do que como complexo. Nele estão contidos elementos de contratos típicos, devidamente ajustados numa unidade. A entrega do bem, em locação, por prazo determinado, mediante o pagamento de uma cota fi xada, de comum acordo, é elemento típico do contrato de locação; a possibilidade de o locatário, ao término do prazo, continuar a locação, ou dá-la por terminada, também; e a opção de compra é conhecida, portanto, fi gura típica; o que há de atípico é a forma de fi xar o preço em caso de exercício da opção de compra. Assim sendo, afi gura-se mais aceitável a qualifi cação entre nós como contrato misto na sua conformação, cujo elemento preponderante é, sem dúvida, a locação, até que seja devidamente tipifi cado pelo ordenamento legal.

2.7 O LEASING NO PLANO DA EXISTÊNCIA

De há muito a doutrina tem afi rmado que o negócio jurídico é uma espécie de fato jurídico. Esse entendimento levou KELSEN a considerá-lo como fato criador de direito.

Se o leasing é um negócio jurídico direto, pela opção que se fez pela primeira corrente e como se acabou de defi nir, ele necessita, portanto, existir; uma vez existindo, ser válido; e, após existir e ser válido, deve ter a capacidade de produzir efeitos, isto é, ser efi caz e efetivo. Tem-se afi rmado, com absoluta razão, que “plano da existência, plano da validade e plano da efi cácia, são os três planos nos quais a mente humana deve, sucessivamente, examinar o negócio jurídico, a fi m de verifi car se ele obtém plena realização”, conforme, de modo feliz, sintetizou Antônio Junqueira de AZEVEDO.

O que será que dá existência, no campo do Direito, ao leasing?

A resposta há de ser encontrada no exame dos elementos formais presentes, de modo obrigatório, na sua constituição.

São, em conseqüência, os elementos que contribuem para a sua formação e que, de acordo com classifi cação pouco contestada no campo da doutrina, podem ser: a) os elementos gerais; b) os elementos categorias e os particulares.

Os elementos gerais do leasing são aqueles sem os quais o negócio não existe. São comuns a todos os negócios jurídicos, subdivididos, portanto, em: a) intrínsecos (ou constitutivos); b) extrínsecos (ou pressupostos). Esta é a lição de Antônio Junqueira de AZEVEDO.

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Os elementos intrínsecos ou constitutivos do leasing são:

a) a forma do contrato, isto é, o tipo de manifestação que, no caso, é escrita. Não há leasing por via do contrato oral. Não se admite. Também, não se forma pacto em decorrência do silêncio das partes.

b) o seu conteúdo, o fi m misto a que se destina, o seu elemento central: o uso do bem e o fi nanciamento para tal ação.

c) as circunstâncias negociais que resultam das declarações de vontade das partes, com capacidade de produção de efeitos jurídicos, tudo transformado em cláusulas contratuais representativas do querer das partes.

Os elementos gerais extrínsecos do leasing são considerados como sendo: tempo, lugar e agente. Antônio Junqueira AZEVEDO não só assim os considera como necessários para a cristalização do negócio jurídico, bem como, seguindo lição de CARNELUTTI, os alarga para a categoria de elementos pressupostos, no sentido preciso do que existem antes de o negócio ser feito.

O agente é a pessoa que tem a possibilidade de praticar atos negociais, obrigando-se com os compromissos assumidos. No leasing três agentes estão presentes, sendo que, apenas, dois assumem diretamente obrigações.

Partindo da consideração incontestável de que “não há fato que não ocorra em determinado ponto do espaço e em determinado momento”, o leasing só tem condições de existência por se desenvolver, indispensavelmente, em um lugar e em um determinado tempo.

Os elementos categoriais são os que caracterizam o negócio celebrado, não resultando da vontade das partes, porém, do ordenamento jurídico.

No leasing, o consenso sobre o aluguel do bem arrendado e fi nanciado é o elemento categorial essencial para a formação do negócio jurídico.

Por último, há de se considerar que a existência do contrato de leasing se subordina aos chamados elementos particulares, que são os que “existem em um negócio determinado, sem serem comuns a todos os negócios ou a certos tipos de negócio”.

2.8 O LEASING NO PLANO DA VALIDADE

A qualidade que tem o leasing, após confi gurada a sua existência, de entrar no mundo jurídico, por se encontrar possuído de todas as regalias exigidas para tal, faz que ele ingresse no denominado plano da validade.

O leasing decorre de declarações de vontade que foram emitidas sem qualquer má-fé. Por isso, para ingressar no plano da validade, exige-se que:

a) se comprove a existência de uma obrigação assumida de se entregar um equipamento ou um imóvel ao utente;

b) que, em decorrência desse fato, haja uma obrigação fi rmada de pagamento de um aluguel ou renda por parte de quem vai se utilizar do bem;

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c) que exista a outorga de um direito de opção assegurado ao utente para a aquisição da propriedade do bem ou para continuar a locação, no fi nal do contrato, em condições mais favoráveis ou restituir a coisa que foi objeto da locação e geradora do fi nanciamento.

Os elementos citados são os exigidos pelo ordenamento jurídico para cercar de certas garantias o negócio, tanto no interesse das próprias partes, quanto no, de terceiros. Não terá, portanto, validade o contrato de leasing quando a coisa for indeterminada, ou o preço do aluguel não fi car estipulado. Tais ajustes ou qualquer omissão sobre eles não dariam validade à avença, porque representam arbítrio exclusivo de uma da partes, o que é proibido pelo art. 115, do Código Civil. Da mesma forma ocorre se o objeto a ser fi nanciado em forma de aluguel for coisa fora do comércio ou que tenha por fi nalidade servir de meio para a prática de crime.

2.9 O LEASING NO PLANO DA EFICÁCIA

A constatação da efi cácia do leasing tem a força de reconhecer, plenamente, os efeitos produzidos pela sua existência e validade. Sendo um negócio jurídico, só produz efeitos concretos se for efi caz, pois, “muitos negócios, para a produção de seus efeitos, necessitam dos fatores de efi cácia, entendida a palavra ‘fatores’ como algo extrínseco ao negócio, algo que dele não participa, que não o integra, mas contribui para a obtenção do resultado visado”.

Se, por exemplo, o contrato de leasing for fi rmado sob condição suspensiva, enquanto não ocorrer o acontecimento, não será efi caz.

O mesmo raciocínio cabe para o contrato de leasing nulo. Ele é inefi caz porque não passou a existir no plano da efi cácia. Observe-se, por último, que, no plano da efi cácia, o princípio da conservação é regra que serve para melhor interpretar o contrato de leasing, visando sempre a aproveitá-lo e torná-lo produtor de resultados.

Ao lado dessas três correntes formadas para determinar a natureza jurídica do leasing, considerem-se, ainda, manifestações que procuram compreendê-lo como sendo um contrato típico, diferente da posição que tem como um contrato atípico. Este entendimento se aproxima, de modo muito estreito, da teoria do contrato misto.

Álvaro Antônio Sagulo Borges de AQUINO enfocou tais manifestações, afi rmando:

Uma corrente sustenta que o leasing é um contrato atípico, no fato de o mesmo ser um contrato misto. Além disso, também fundamenta seu entendimento no fato de que a definição legal dada ao contrato de leasing, pela Lei n. 6.099/1974, em seu art. 1º, parágrafo único, não é suficiente para erigi-lo à condição de contrato típico. Para que um contrato seja considerado típico é preciso ter, além de defi nição em lei, uma regulamentação, uma disciplina jurídica prevista pela legislação.

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A corrente contrária, que é a majoritária, justifi ca a tipicidade do contrato de leasing no fato de que o mesmo possui causa própria e já se tipifi cou. Embora ele resulte da conjugação de elementos de outros contratos, como a locação por exemplo, o arrendamento mercantil não pode ser incluído na categoria dos contratos atípicos porque ele próprio já se tornou um contrato típico. Os eminentes Fran MARTINS e Orlando GOMES fi liam-se a esta corrente.

Apesar de a Lei n. 6.099/1974 ter tido por fi nalidade precípua apenas conferir um tratamento tributário às operações relativas ao contrato de leasing, após o seu advento não se pode mais considerar o arrendamento mercantil um contrato misto, espécie dos contratos atípicos, porque, ainda que formado de substâncias de outros contratos, o mesmo já se tornou um contrato típico.

Além disso, a lei citada, além de defi nir o leasing, prevê também as partes componentes do contrato, seu objeto jurídico, as opções de compra do bem e de renovação do contrato. Como exemplos legais podem ser mencionados os artigos 10, 11, § 10, 5º, alínea e, 1º e seu parágrafo único da Lei n. 6.099/1974 como fundamentos legais para considerar o leasing como sendo um contrato típico por estar regulamentado em lei e também por já ter se encontrado a sua identidade. (in “Leasing - Doutrina e Jurisprudência”, José Augusto Delgado, 2ª ed., Juruá, 2001, p. 54-71).

Em face do exposto, fi rmo as seguintes conclusões:

Após tão demorados debates sobre a natureza jurídica do leasing, fi rmo as seguintes conclusões:

a) o contrato de leasing é um negócio jurídico direto;

b) é contrato complexo típico que, pode ter por objeto qualquer bem produtivo, móvel ou imóvel, desde que suscetível de utilização econômica e que possa ser locado e ser dado como garantia de fi nanciamento;

d) o bem não deve se encontrar fora do comércio e, se for móvel, não pode ser fungível, nem consumível;

e) ao arrendatário compete manter a coisa, respondendo pelo desgaste natural dela;

f ) a natureza jurídica do leasing só pode ser fi elmente fi xada se for enfocada no plano da existência, da validade e da efi cácia do negócio jurídico;

g) o leasing é um contrato consensual, formal, bilateral, de trato sucessivo e oneroso;

h) consensual porque é celebrado após a manifestação de vontade das partes que se encontram na formação do trato negocial;

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SÚMULAS - PRECEDENTES

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i) formal porque há de ser celebrado sob o impacto de determinadas formalidades, sem se permitir a sua constituição de modo oral;

j) bilateral pelo fato de gerar obrigações para ambas as partes contratantes;

l) de trato sucessivo porque se consuma mediante pagamentos sucessivos, isto é, por via de prestações pecuniárias que não geram a extinção da obrigação, o qual só ocorre com o decurso do prazo contratual;

m) oneroso por que gera vantagens para ambas as partes. (ob. cit., p. 71-72).

Em decorrência do exposto, enfrento a questão específi ca do Valor Residual

Garantido.

Registro os fundamentos desenvolvidos pelos autores e Ministros que

entendem não descaracterizar o Leasing a cláusula que permite a efi cácia do

Valor Residual Garantido.

Cito, em primeira manifestação, o pronunciamento que a respeito tenha

emitido (fl s. 213-228):

O Superior Tribunal de Justiça enfrenta, atualmente, a questão relativa ao pagamento antecipado pelo arrendatário, em decorrência de cláusula assumida, do denominado Valor Residual Garantido (VRG).

O Valor Residual Garantido, conforme define a Portaria n. 564/1978, do Ministério da Fazenda, inciso 2, é “o preço contratual estipulado para o exercício da opção de compra ou valor contratualmente garantido pela arrendatária da opção de compra ou valor contratualmente garantido pela arrendatária como mínimo que será recebido pela arrendadora na venda a terceiros do bem arrendado na hipótese de não ser exercida a opção de compra”.

A Portaria n. 3, de 19.03.1999, da Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça, ao fi xar o rol de cláusulas abusivas contratuais, relativas ao fornecimento de produtos e serviços, com base no art. 51 do Código de Defesa do Consumidor, considerou, no seu Item n. 15, como abusivas, as cláusulas que “estabeleçam, em contrato de arrendamento mercantil (leasing) a exigência do pagamento antecipado do Valor Residual Garantido (VRG), sem previsão de devolução desse montante, corrigido monetariamente, se não exercida a opção de compra do bem”.

O Superior Tribunal de Justiça, considerando a disciplina legal sobre os efeitos do Valor Residual Garantido (VRG), tem emitido pronunciamentos conforme abaixo passam a ser identifi cados.

No âmbito da 1ª Turma do STJ está fi rmado o entendimento de que a fi rmação da cláusula de pagamento antecipado do Valor Residual Garantido, importância paga pelo fi nanciado de forma distribuída periodicamente no curso do prazo

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contratual, correspondente a um adiantamento em caso de aquisição de opção pela aquisição do bem, não descaracteriza a operação de leasing para fins tributários.

Os precedentes jurisprudenciais assumidos pela 1ª Turma estão apoiados nos fundamentos desenvolvidos nos acórdãos dos REsps n. 310.357-R5, n. 310.347-RS, n. 174.031-SC e n. 184.932-SP, entre outros.

O inteiro teor do voto condutor referente ao REsp n. 310.347-RS, julgado em 22.05.2001, passa a ser registrado, a fi m de que sejam conhecidas as razões desenvovidas no voto-condutor. Ressalte-se que a linha de pensar depositada nos outros julgamentos referidos segue a mesma fundamentação da agora exposta.

Eis o inteiro teor do acórdão:

Ementa: Processual Civil e Tributário. Violação ao art. 535, CPC. Inexistência. Leasing. Imposto de Renda. Descaracterização do contrato em compra e venda. Inocorrência.

1. Inexiste violação ao art. 535, do CPC, na rejeição de embargos declaratórios com propósito de prequestionamento se o embargante não apontou nenhum dos vícios elencados no mencionado dispositivo legal.

2. O contrato de leasing, em nosso ordenamento jurídico, é um negócio jurídico complexo defi nido, no art. 1º, da Lei n. 6.099, de 12.09.1974, com as alterações introduzidas pela Lei n. 7.132, de 26.10.1983, como um “Negócio jurídico realizado entre pessoas jurídicas, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora segundo especifi cações da arrendatária para uso próprio desta”.

3. Por tais características, o referido contrato só se transmuda em forma dissimulada de compra e venda quando, expressamente, ocorrer violação da própria lei e da regulamentação que o rege.

4. Não havendo nenhum dispositivo legal considerando como cláusula obrigatória para a caracterização do contrato de leasing a que fi xe valor específico de cada contraprestação, há de se considerar como sem influência, para a definição de sua natureza jurídica, o fato das partes ajustarem valores diferenciados ou até mesmo simbólicos para efeitos da opção de compra.

5. O Banco Central, por permissão legal, na Resolução n. 2.309, de 28.08.1996, considera arrendamento mercantil fi nanceiro a modalidade em que:

I - As contraprestações e demais pagamentos previstos no contrato, devidos pela arrendatária, sejam normalmente sufi cientes para que a arrendadora recupere o custo do bem arrendado durante

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o prazo contratual da operação e, adicionalmente, obtenha um retorno sobre os recursos investidos;

II - as despesas de manutenção, assistência técnica e serviços correlatos à operacionalidade do bem arrendado sejam de responsabilidade da arrendatária;

III - o preço para o exercício da opção de compra seja livremente pactuado, podendo ser, inclusive, o valor do mercado do bem arrendado.

6. Contrato de leasing, compondo todos os elementos acima anunciados, fi rmado livremente pelas partes, não pode ser descaracterizado pelo Fisco para fins tributários como sendo de compra e venda, passando a não aceitar as prestações pagas como despesas dedutíveis.

7. A descaracterização do contrato de leasing só pode ocorrer quando fique devidamente evidenciada uma das situações previstas em lei, no caso, as elencadas nos arts. 2º, 9º, 11, § 1º, 14 e 23, da Lei n. 6.099/1974. Fora desse alcance legislativo, impossível ao Fisco tratar o contrato de leasing, por simples entendimento de natureza contábil, como sendo de compra e venda.

8. Homenagem ao princípio de livre convenção pelas partes quanto ao valor residual a ser pago por ocasião da compra.

9. Não descaracterização de contrato de leasing em compra e venda para fi ns de imposto de renda.

10. Precedentes jurisprudenciais: REsp’s n. 174.031-SC e n. 184.932-SP, ambos da 1ª Turma.

11. Recurso desprovido. (Recurso Especial n. 310.357-RS (n. 200110030305-6) Rel.: Min. José Delgado - Recte: Fazenda Nacional - Procdor: Dolizete Fátima Michelin E Outros - Recdo: Victor Razerra e Companhia Ltda - Advdo: Walter Bitterlbrunn).

Acórdão

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Francisco Falcão, Garcia Vieira, Humberto Gomes de Barros e Milton Luiz Pereira votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasilia (DF), 22 de maio de 2001 (data do julgamento).

Ministro José Delgado

Presidente e Relator

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Certidão de Julgamento

Primeira Turma – Número Registro: n. 200110030305-6 - Pauta: 15.05.2001

Relator: Exmo. Sr. Ministro José Delgado

Presidente da Sessão: Exmo. Sr. Ministro José Delgado

Subprocurador-Geral da República: Exmo. Sr. Dr. Antônio Augusto César

Secretário: Bel. Francisco Ribeiro de Oliveira

Recorrente: Fazenda Nacional

Procurador: Dolizete Fátima Michelin e outros

Recorrido: Victor Razzera e Companhia Uda

Advogado: Walter Bittelbrunn

Certidão: REsp n. 3.103.571-RS - Julgado: 22.05.2001.

Certifico que a egrégia Primeira Turma ao apreciar o processo em epígrafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Francisco Falcão, Garcia Vieira, Humberto Gomes de Barros e Milton Luiz Pereira votaram com o Sr. Ministro Relator.

O referido é verdade. Dou fé.

Brasília, 22 de maio de 2001 -

Francisco Ribeiro de Oliveira - Secretário

Recurso Especial n. 310.357-RS (200110030305-6)

Relatório

O Sr. Ministro José Delgado: A Fazenda Nacional insurge-se, por meio do presente recurso especial, ao abrigo do art. 105, III, a, da Carta Magna, contra acórdão que, em ação anulatória de débito fi scal, não considerou descaraterizado o contrato de leasing celebrado pela recorrida, em compra e venda, reconhecendo a regularidade da operação efetuada, inclusive quanto aos seus efeitos fi scais, porquanto o leasing depende de manifestação de vontade da parte contratante e pagamento do resíduo existente.

O aresto recorrido recebeu a seguinte ementa (fl . 101):

Tributário. Imposto de Renda. Arrendamento mercantil. Prestações. Valor diferenciado.

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Não descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil o fato de as partes terem acordado que as parcelas teriam valor diferente umas das outras, sendo as primeiras de valor mais elevado.

Manejados embargos de declaração pela Fazenda, foram os mesmos rejeitados nestes termos (fl . 114):

Processo Civil. Embargos de declaração. Fundamentos do acórdão. Arrendamento mercantil.

Os embargos de declaração não se prestam para impugnar os fundamentos do acórdão.

Nesta instância, alega a recorrente violação dos seguintes dispositivos legais:

- Do CPC:

Art. 535. Cabem embargos de declaração quando:

(...)

II - for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou Tribunal.

- Do Decreto n. 85.450/1980 (antigo Regulamento do Imposto de Renda):

Art. 235. Serão consideradas como custo ou despesa operacional da pessoa jurídica arrendatária, as contraprestações pagas ou creditadas por força de contrato de arrendamento mercantil (Lei n. 6.099/1974, art. 11).

§ 1º. A aquisição pelo arrendatário de bens arrendados em desacordo com as disposições da Lei n. 6.099, de 12 de setembro de 1974, será considerada operação de compra e venda a prestação (Lei n. 6.099, art. 11, § 1º).

§ 2º. O preço de compra e venda, no caso do parágrafo anterior, será o total das contraprestações pagas durante a vigência do arrendamento, acrescido da parcela paga a título de preço de aquisição (Lei n. 6.099/1974, art. 11, § 2º).

§ 3º. Na hipótese prevista no § 1º, as importâncias já deduzidas, pela adquirente, como custo ou despesa operacional, serão adicionadas ao lucro líquido, para efeito de determinação do lucro real, no exercício correspondente à respectiva dedução (Lei n. 6.099/1974, artigo 11, § 3º).

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§ 4º. O imposto devido, na hipótese do parágrafo anterior, será recolhido com acréscimo de juros e correção monetária, multa e demais penalidades legais (Lei n. 6.099/1974, art. 11, § 4º).

Aduz, em síntese, que: a) ao deixar de acolher os embargos de declaração, o Tribunal a quo acabou por confi rmar a decisão anteriormente proferida e recusar à recorrente o necessário prequestionamento da matéria neles veiculada; b) a essência do contrato de arrendamento mercantil foi desvirtuada, tendo em vista a fi xação de valor residual ínfi mo em fl agrante desproporção com o preço de aquisição dos bens e das prestações do leasing. Desta forma, não se pode pretender que uma real compra e venda a prazo se benefi cie de disposições ditadas especifi camente para o arrendamento mercantil, motivo pelo qual não deverá prevalecer o argumento da autora de que seriam nulos os autos de infração, em face de inexistência de qualquer suporte jurídico ou legal para a tese da fi scalização.

Não foram ofertadas contra-razões, consoante certidão de fl . 128.

À fl . 129, decisão do Presidente do Tribunal a quo inadmitindo o apelo por entender que a pretensão da recorrente demandaria reexame de prova, vedado pela Súmula n. 7-STJ. Manejado o agravo de instrumento, dei provimento ao mesmo para melhor exame.

É o relatório.

Voto

O Sr. Ministro José Delgado (Relator): Tenho por conhecido o presente recurso, visto que os dispositivos legais indicados como violados, assim como a matéria jurídica correlata, foram perfeitamente discutidos.

Primeiramente, quanto à ofensa ao art. 535, II, do CPC, não a vislumbro. Da leitura da petição de interposição dos embargos declaratórios na Instância a quo, verifica-se que a recorrente não apontou qualquer dos vícios previstos no mencionado preceito legal. Apenas impugnou os fundamentos do acórdão recorrido, trazendo argumentos mais tarde expendidos em sede de recurso especial, e requereu o prequestionamento de alguns dispositivos legais. Ocorre que, mesmo na hipótese de aclaratórios com a fi nalidade de prequestionamento, este decorre sempre do saneamento dos defeitos apontados pelo embargante. Por esta razão, a rejeição dos embargos não violou qualquer preceito legal.

No tocante à possível descaracterização do contrato de arrendamento mercantil, a análise do presente recurso especial incentiva o intérprete, em primeiro momento, a ser tentado em não conhecê-lo pela possível caracterização de ter tratado o acórdão recorrido de interpretação de cláusula contratual.

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Um exame mais aprofundado sobre a matéria leva, contudo, a um posicionamento mais avançado, com força influente para se abrir o conhecimento do recurso especial, em face da predominância da matéria jurídica suportada em legislação infraconstitucional exigir defi nição, por ter ela sido aplicada.

O certo é que o recurso pretende definir se o contrato de leasing descaracteriza-se, por completo, passando a ser considerado para fins tributários, como contrato de compra e venda, quando estabelece, em uma de suas cláusulas, um valor residual ínfi mo e prazos de contrato muito inferiores à expectativa de vida útil do bem.

Tenho, a respeito da controvérsia, convicção fi rmada que se alinha ao entendimento sublimado pelo acórdão recorrido.

Na verdade, não merece qualquer apoio, por ausência de sustentação jurídica, a compreensão desenvolvida pelo Fisco. A este não é dado, pelo nosso ordenamento pátrio, a função de desconsiderar, sem apoio na lei, negócios jurídicos legitimamente fi rmados pelas partes.

A descaracterização do contrato de leasing só pode ocorrer quando presentes os pressupostos específicos consagrados por normas legais devidamente aprovadas pelo Congresso Nacional e sancionadas pelo Executivo ou por disposição expedida pelo Conselho Monetário Nacional, ao exercer, com os limites permitidos, a delegação expressamente prevista no art. 23 da Lei n. 6.099/1974.

A respeito, valho-me da opinião de Arnold Wald:

DA DESCARACTERIZAÇÃO DO LEASING

66. A partir da entrada em vigor da Lei n. 6.099, de 12.09.1974, o arrendamento mercantil passou a ser um contrato nominado, distinguindo-se dos demais e, em particular, do fi nanciamento, da locação e da compra e venda, estruturas jurídicas com as quais tinha certa analogia, em virtude de conter alguns dos elementos que caracterizam cada um deles.

67. A defi nição, que consta no § 1º, do artigo 1º, da Lei n. 6.099, e que mereceu nova redação em virtude do disposto no artigo 1º da Lei n. 7.132, de 20.10.1983, esclarece com precisão o conceito legal do novo instituto assim defi nido:

Art. 1º - (...)

Parágrafo único - Considera-se arrendamento mercantil, para os efeitos desta lei, o negócio jurídico realizado entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o

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arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora, segundo especifi cações da arrendatária e para uso próprio desta.

68. Não há, pois, como confundir o leasing com a compra e venda defi nida no artigo 1.122, do Código Civil, que tem a seguinte redação:

Art. 1.122 - Pelo contrato de compra e venda, uma das contraentes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e outro a pagar-lhe certo preço em dinheiro.

69. Por sua vez, a locação de bens é conceituada nos seguintes termos:

Art. 1.188 - Na locação de coisas uma das partes se obriga a ceder à outra, por tempo determinado, ou não, o uso e gozo de coisa não fungível, mediante certa retribuição.

70. A distinção é pacífica tanto nos textos legais, quanto na doutrina e na jurisprudência.

71. Examinando o conceito e definição do arrendamento mercantil, os autores têm salientado que a sua complexidade jurídica decorre da inadaptação ao novo instituto das fi guras clássicas do direito positivo.

72. Do nosso lado, já tivemos o ensejo de fazer a distinção entre o leasing e a venda, destacando as peculiaridades do arrendamento mercantil como negócio fi nanceiro, com uma estrutura de garantia própria.

73. A legislação específi ca do arrendamento mercantil esclarece quais são as hipóteses nas quais o instituto pode ser descaracterizado, deixando de gozar do tratamento que a lei lhe dá.

74. Assim, o artigo 2º, da Lei n. 6.099, determina que:

Art. 2º - Não terá o tratamento previsto nesta Lei o arrendamento de bens contratados entre pessoas jurídicas direta ou indiretamente coligadas ou interdependentes, assim como o contratado com o próprio fabricante.

§ 1º - O Conselho Monetário Nacional especificará em regulamento os casos de coligação e interdependência.

§ 2º - Somente farão jus ao tratamento previsto nesta lei as operações realizadas ou por empresas arrendadoras que fizerem dessa operação o objeto principal de sua atividade ou que centralizarem tais operações em um departamento especializado com escrituração própria.

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RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 339

75. O artigo 9º trata, especificamente, das operações entre coligadas e da competência do Conselho Monetário Nacional para regulamentá-las (artigo 9º, da Lei n. 6.099 com a redação que lhe deu o artigo 1º, inciso III, da Lei n. 7.132/1983).

76. O artigo 11 e o seu § 1º, da Lei n. 6.099, esclarecem que os aluguéis pagos serão considerados despesas operacionais e que a aquisição do bem em desacordo com as disposições da lei será considerada como compra e venda. É o seguinte o texto legal invocado:

Art. 11 – Serão consideradas como custo ou despesa operacional da pessoa jurídica arrendatária as contraprestações pagas ou creditadas por força do contrato de arrendamento mercantil.

§ 1º - A aquisição pelo arrendatário de bens arrendados em desacordo com as disposições desta Lei, será considerada operação de compra e venda a prestação.

77. Verifica-se que somente se cogita e se admite a descaracterização do arrendamento mercantil nos casos previstos em lei e não em qualquer outro diploma legal de nível inferior, devendo ser sempre respeitada a hierarquia do sistema jurídico que é o esteio fundamental do Estado de Direito.

78. O artigo 14 da Lei n. 6.099, determina, por sua vez, que:

Art. 14 - Não será dedutível, para fi ns de apuração do lucro tributável pelo imposto de renda, a diferença a menor entre o valor contábil residual do bem arrendado e o seu preço de venda, quando do exercício da opção de compra.

O referido artigo justifica, a contrario sensu, a nossa tese e foi regulamentado pela Portaria MF n. 564, de 03.11.1978.

79. Finalmente, o artigo 23 da lei dá competência regulamentar ampla, ao Conselho Monetário Nacional, para regulamentar a lei, conforme se verifi ca do seu texto, que é o seguinte:

Art. 23 - Fica o Conselho Monetário Nacional autorizado a:

a) baixar normas que visem estabelecer mecanismos reguladores das atividades previstas nesta Lei, inclusive excluir modalidades de operações do tratamento nela previsto;

b) enumerar restritivamente os bens que não poderão ser objeto de arrendamento mercantil, tendo em vista a política econômico-fi nanceira do País.

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80. Assim sendo, verifi camos que o Conselho Monetário Nacional tem, em relação às empresas de leasing, ex vi do artigo 23, da Lei n. 6.099, acima transcrito, a mesma competência ampla que a Lei n. 4.595 lhe atribui no tocante às instituições fi nanceiras, admitindo-se, inclusive, a revogação de textos legais anteriores pelas Resoluções do Conselho Monetário Nacional, como ocorreu em relação aos juros bancários, não mais sujeitos à Lei de Usura, mas sim à regulamentação dinâmica das autoridades monetárias (Súmula n. 596 do Supremo Tribunal Federal).

81. Assim sendo, entendemos que a descaracterização do contrato de arrendamento mercantil só pode ocorrer nos casos previstos por normas legais formais (oriundas do Congresso Nacional e devidamente sancionadas ou cujo veto foi rejeitado) ou por normas baixadas pelo Conselho Monetário Nacional, em virtude da delegação expressamente prevista no artigo 23 da Lei n. 6.099.

82. A contrario sensu, não é possível descaracterizar ou desconsiderar o contrato de arrendamento mercantil a não ser em virtude de violação de norma legal ou que lhe seja equiparada, como bem determina de modo expresso o artigo 11, § 1º, da Lei n. 6.099.

IV. DO PREÇO SIMBÓLICO CONVENCIONADO NA OPÇÃO DE COMPRA

83. A lei não prevê qualquer limitação à liberdade contratual das partes, na fi xação do preço fi nal convencionado, para o exercício da opção de compra previsto no contrato de arrendamento mercantil.

84. A única restrição existente para as empresas de leasing é a que consta no artigo 14, que não permite a dedução da diferença, a menor, entre o valor contábil residual do bem arrendado e seu preço de venda. O referido dispositivo legal não proíbe que a venda seja feita convencionando-se preço inferior ao valor contábil, mas se limita a não admitir que o eventual prejuízo decorrente possa ser deduzido, para fi ns de apuração de lucro tributável. Assim sendo, mesmo no caso do artigo 14, a operação de arrendamento mercantil é perfeita e não suscetível de descaracterização, ou de equiparação à compra e venda. A limitação legalmente estabelecida é, tão somente, referente à não dedutibilidade do lucro, sem que importe em viciar sob qualquer forma a operação realizada.

85. Ao contrário, a norma do artigo 14, pelos seus próprios termos, reconhece, implicitamente, a validade da operação, mesmo quando houver diferença, a menor, entre o valor contábil residual e o preço de venda, tanto assim que apenas considera tratar-se de valor não dedutível, sem estabelecer qualquer outra sanção, que somente em virtude de lei, poderia incidir sobre as partes.

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RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 341

86. Assim, o exame conjunto dos artigos 11, § 1º e 14, da Lei n. 6.099, nos permite concluir que:

a) somente a lei pode estabelecer os casos de descaracterização do contrato de arrendamento mercantil;

b) a lei não considera a convenção de preço não inferior ao valor residual contábil, condição da legalidade do arrendamento mercantil.

87. Por sua vez, o artigo 5º, também não exige que o preço fi xado no contrato tenha características especiais, consagrando assim, a contrario sensu, de acordo com o princípio da liberdade contratual, a possibilidade de fi xação de qualquer preço, conforme o interesse dos contratantes e sem qualquer interferência do poder público.

88. A legislação regulamentar fi scal, na Portaria M.F. n. 564, de 03.11.1978, também defi niu, adequadamente, os vários conceitos utilizados em relação ao arrendamento mercantil, esclarecendo que:

(...)

2 - Para os efeitos desta portaria considera-se:

Custo de Aquisição: o montante do dispêndio incorrido pela arrendadora para a aquisição do bem destinado a arrendamento. Integram o custo de aquisição, quando constituam ônus da arrendadora e devam ser recuperados no contrato de arrendamento, os custos de transporte, instalação, seguro e de impostos pagos na aquisição, bem como a taxa de compromisso que, tendo sido escriturada como receita de acordo com Item n. 05, para atender à cláusula contratual, seja capitalizada.

Taxa Mensal de Depreciação: 10/84 do inverso do número de anos de vida útil normal do bem arrendado, fixado pela Secretaria da Receita Federal (§ 4º, do artigo 193, do regulamento baixado com o Decreto n. 76.186/1975).

Valor a Recuperar: o custo de aquisição multiplicado por fator, de magnitude não superior à unidade, obtido pela multiplicação da taxa mensal de depreciação pelo número de meses do arrendamento.

Valor Residual Atribuído: a diferença entre o custo de aquisição e o valor a recuperar.

Recebimento de arrendamento: a soma de todas as contraprestações a que contratualmente se obrigou a empresa arrendatária, excetuadas as receitas referidas no Item n. 05.

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Receita de Arrendamento: a diferença entre o recebimento do arrendamento e o valor a recuperar.

Valor Residual Garantido: preço contratualmente estipulado para exercício da opção de compra, ou valor contratualmente garantido pela arrendatária como mínimo que será recebido pela arrendadora na venda a terceiros, do bem arrendado, na hipótese de não ser exercida a opção de compra.

89. O artigo 15, e seu parágrafo da Lei n. 6.099, também esclarece que:

Art. 15 - Exercida a opção de compra, pelo arrendatário, o bem integrará o ativo fi xo do adquirente pelo seu custo de aquisição.

Parágrafo único. Entende-se como custo de aquisição para os fi ns deste artigo, o preço pago pelo arrendatário ao arrendador pelo exercício da opção de compra.

90. Verifi camos, assim, que em todos os textos legislativos está assegurada a liberdade contratual na fi xação do preço, sem qualquer ressalva ou restrição.

91. Acresce que na regulamentação do Conselho Monetário Nacional, consubstanciada tanto na Resolução n. 351/75, quanto na Resolução n. 980/84, nenhuma restrição se encontra à livre fi xação do preço.

92. Efetivamente, o artigo 8º da Regulamentação aprovada pela Resolução n. 351 consagra a mais ampla liberdade na fixação do preço, prevendo, inclusive, várias modalidades alternativas (cláusulas determinando o preço ou o critério de sua fi xação, possibilidade de garantia do valor residual e reajuste do preço acordado ou do Valor Residual Garantido) e somente exigindo que o preço não seja pago antes do término do contrato. A regulamentação é, pois, imperativa, tão somente, em relação ao prazo do contrato e não quanto à modalidade de fi xação do preço, campo em que impera a mais ampla liberdade das partes.

93. Do mesmo modo, o regulamento anexo à Resolução n. 980 prevê a maior fl exibilidade das partes, quanto à fi xação do preço na opção de compra, admitindo as mais amplas variações, como se verifi ca no artigo 9º, que permitiu, exemplifi cativamente, a fi xação de:

a) preço certo;

b) critério de fi xação de preço;

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c) valor de mercado;

d) Valor Residual Garantido.

94. Em nenhum momento, nem a lei, nem a regulamentação, exigiram que o preço tivesse um valor mínimo, caracterizando-se a nossa legislação como ensejando, na matéria, critérios consensuais ou subjetivos.

95. Nunca houve, na legislação brasileira, determinação legal ou regulamentar que vinculasse o preço ao valor contábil residual, nos contratos de arrendamento mercantil, ressalvando a situação do lease back, que tem peculiaridades pela sua própria natureza e estrutura.

96. A doutrina reconhece a complexidade da fixação do valor residual e a existência de critérios subjetivos - dependentes da vontade das partes - ou objetivos, de acordo com determinações de caráter fi scal.

97. O legislador brasileiro admitiu e consagrou o critério subjetivo, adotado na maioria dos países do sistema jurídico ao qual pertencemos, como a Itália, a França, a Espanha e Argentina.

98. Na Itália, a doutrina faz referência específi ca à hipótese de ser convencionado um preço simbólico.

99. Na Espanha, os autores esclarecem que, na prática, “o preço de opção de compra se fi xa numa forma subjetiva e corresponde normalmente à conveniência dos contratantes”.

100. A doutrina espanhola, liderada por GUTIÉRREZ VIGUERA, considera que:

Como al locador le interesa la recuperación de la inversión, tenderá a valorar la opción de compra del locatário por un precio simbólico. (JORGE COBO, Leasing Mobiliário, p. 115).

101. Se a questão era, realmente, discutível no momento em que foi promulgada a legislação sobre leasing, o decurso do tempo consolidou a tese da legitimidade da venda por preço simbólico, desde que respeitado o disposto no artigo 14 da Lei n. 6.099, por parte da empresa de arrendamento mercantil.

102. Efetivamente, o próprio Fisco teve o ensejo de se manifestar no sentido da validade do preço de venda inferior ao mercado e reconheceu, por outro lado, que a venda por preço simbólico não importava em qualquer prejuízo para o Erário Nacional.

103. Em tese apresentada no III Congresso Nacional de Leasing, foi reconhecido que:

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A questão sob o ponto de vista fi scal, especifi camente na área do Imposto de Renda, também é cristalina no sentido de diferenciar o leasing das demais modalidades de contrato existentes.

O artigo 71 da Lei n. 4.506/1964, vedava expressamente a dedutibilidade dos aluguéis que constituíssem, total ou parcialmente, capital na aquisição do bem locado. Tal disposição está inserida no inciso II, artigo 231 do Regulamento do Imposto de Renda aprovado pelo Decreto n. 85.450/1980.

Com a introdução do nosso ordenamento jurídico de lei específi ca sobre o tratamento fi scal das operações de leasing (Lei n. 6.099/1974, alterada pela Lei n. 7.132/1983), logicamente abriu-se para essa nova modalidade contratual exceção à regra da indedutibilidade dos alugueres pagos e aproveitados na aquisição de bem locado.

A legislação reguladora do leasing, ao dispor sem restrições que as contraprestações de arrendamento mercantil serão consideradas custo ou despesa operação da arrendatária, não deixou dúvidas de que nessas contraprestações poderiam ser incluídas parcelas do preço de compra (artigo 11, Lei n. 6.099/1974).

Por outro lado, a letra d, do artigo 5º, desse mesmo diploma legal, que obriga a inclusão nos contratos de leasing, de cláusula contendo “o preço para opção de compra ou critério para sua fi xação”, não cria obrigatoriedade para que o preço ajustado pelas partes para opção de compra seja necessariamente o de mercado.

Outro aspecto de suma importância refere-se à inexistência de perda para o Fisco nas operações de Leasing .

Mesmo que as despesas sejam integralmente dedutíveis para o arrendatário, constituirão receita para o arrendador, que só poderá imputar custos de depreciação aos bens arrendados com base nas taxas admitidas na legislação.

Na prática, esse procedimento acarreta depreciação integral do bem após muitos meses de término do contrato de leasing. Nesse caso, o bem é registrado em “Bens Arrendados” e também sob a rubrica de perdas não dedutíveis, amortizáveis no prazo restante da vida útil do bem, após o exercício da opção de compra pelo arrendatário.

Para o Fisco, em termos de arrecadação tributária, ocorre uma verdadeira substituição na medida em que a parcela

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do preço do bem que não se encontra imobilizada pelo arrendatário, pelo fato da opção ter sido exercida a preços inferiores ao residual contábil, será ativada no permanente pelo arrendador, diferido, como perda a amortizar.

Já existe entendimento nesse sentido da coordenação do Sistema de Tributação, que exarou parecer favorável ao entendimento acima a propósito de consulta a ela encaminhada sobre o assunto (Parecer CST/SIPR n. 1.579 de 06.07.1983).

Por todo o exposto, isto é, não existir vedação legal é livre fixação entre as partes de valor residual em contratos de arrendamento mercantil, nem o fato dessa faculdade ter sido exercitada descaracterizar o contrato nos moldes da Lei n. 6.099/1974, concluímos que não procede a tese de que a opção de compra por valor residual inferior ao contábil, traduz-se em uma compra e venda com fi nanciamento.

Não tem, portanto, qualquer lógica de direito a pretensão do Fisco ver reconhecido como sendo de compra e venda o contrato de leasing formalmente firmado, só porque, ao seu juízo, o Valor Residual Garantido, que funciona como uma espécie de seguro de remuneração global pretendida pela arrendadora, foge da natureza das coisas quando se divorcia de qualquer dos parâmetros possíveis: a) o valor residual contábil, ou b) o valor do mercado do bem à época da alienação pela arrendadora.

A essência do leasing não está subordinada ao valor residual contábil nem, também, ao valor do mercado do bem à época da alienação pela arrendadora.

A sua caracterização depende, unicamente, dele se apresentar, como afirmado por Fran Martins, (in “Contrato e Obrigações Mercantis”, Forense, Rio, 4ª ed., 1976, p. 560):

Como um contrato de natureza complexa; mas apresentando autonomia no conjunto das relações criadas, o arrendamento mercantil pode ser considerado consensual, obrigatório que se torna pelo simples consentimento das partes; bilateral, criando obrigações para o arrendador (por a coisa à disposição do arrendatário, vendê-la no caso desse optar, ao fi nal, pela compra, recebê-la de volta não havendo compra ou renovação) e para o arrendatário (pagar as prestações convencionadas, devolver a coisa, se não houver a compra da mesma ou a renovação do contrato); oneroso,

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havendo vantagens para ambas as partes, comutativo, sendo certas as prestações por tempo determinado e de execução sucessiva. É, como foi dito, no direito brasileiro, um contato nominado, regendo-se pelos dispositivos da Lei n. 6.099, de 1974. É também, um contrato intuitu personae, devendo ser executado pelas partes contratantes sem que haja permissão a serem as mesmas substituídas na relação contratual.

Tenha-se, por último, que o Banco Central do Brasil, por delegação contida na Lei n. 6.099, com as modifi cações posteriores, defi niu, sem se afastar do mencionado dispositivo legal, o leasing fi nanceiro do modo seguinte, na Resolução n. 2.309, de 28.08.1996, art. 5º:

Art. 5º - Considera-se arrendamento mercantil fi nanceiro a modalidade em que:

I - As contraprestações e demais pagamentos previstos no contrato, devidos pela arrendatária, sejam normalmente suficientes para que a arrendadora recupere o custo do bem arrendado durante o prazo contratual da operação e, adicionalmente, obtenha um retorno sobre os recursos investidos;

II - as despesas de manutenção, assistência técnica e serviços correlatos a operacionalidade do bem arrendado sejam de responsabilidade da arrendatária;

III - o preço para o exercício da opção de compra seja livremente pactuado, podendo ser, inclusive, o valor do mercado do bem arrendado.

Ora, em face de tal disposição normativa, onde expressamente se permite que o preço, para o exercício da opção de compra, seja livremente pactuado, podendo ser, inclusive, o valor do mercado do bem arrendado, não cabe ao Fisco fazer exigência outra, unicamente para fi ns de tributação, pretendendo descaracterizar tal tipo de contrato, com afronta à lei, tomando por base valor residual contábil ou o valor do mercado do bem à época da alienação pela arrendadora.

Apresentando-se o negócio jurídico com todos os elementos disciplinados no art. 1º, da Lei n. 6.099, de 12.09.1974, alterado pela Lei n. 7.132, não pode ser descaracterizado pelo Fisco, sob pena de se aceitar atitude ditatorial da atividade estatal tributante.

Esta Egrégia 1ª Turma, no julgamento do REsp n. 174.031-SC, seguiu esta mesma orientação. Naquela oportunidade, assim me pronunciei, litteratim:

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Quanto ao mérito, não encontro razões jurídicas para impor provimento ao recurso.

A sentença e o acórdão, conforme já se demonstrou, analisaram o contrato e, com base nas cláusulas que o compõem, entenderam que, realmente, uma operação de arrendamento mercantil foi firmada, pelo que, no mundo tributário, há de se reconhecer, como tal, a sua existência, validade, efi cácia e efetividade.

Relembro que a discussão provocada na lide repousa, unicamente, em se definir se o contrato de leasing sobre transformação para o de compra e venda, ocorrendo, assim, a sua descaracterização, quando o valor residual do contrato apresentar-se puramente simbólico e o prazo do contrato for inferior à vida útil dos bens.

A Lei n. 6.099/1974, disciplinadora do contrato de leasing, em seu art. 5º, estabelece como cláusulas obrigatórias do referido pacto, apenas, a determinadora do prazo do contrato, a que fi xa o valor de cada contraprestação por períodos determinados, não superiores a 01 (um) semestre, a que permite o exercício da opção de compra ou renovação do contrato, como faculdade do arrendatário e a que aceita a determinação, desde logo, do preço para opção de compra ou critério para sua fi xação.

A caracterização, portanto, do contrato de leasing está definida, de modo expresso, no art. 1º, parágrafo único, a Lei n. 6.099/1974, na redação da Lei n. 7.132, de 26.10.1983, como sendo “negócio jurídico realizado entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bem adquirido pela arrendadora, segundo especifi cações da arrendatária e para uso próprio desta”.

Como visto, não influi para a descaracterização do contrato de leasing o fato das partes estipularem preço simbólico ou de valor pouco expressivo para o exercício da opção ou compra do bem arrendado. Esse ajuste não altera a qualificação jurídica do mencionado contrato, porque não é de sua essência para a formação de sua estrutura.

No particular, convém se aceitar o posto às fl s. 127-128 dos autos, parecer assinado por Geraldo Ataliba (fl s. 127):

Aliás, é unânime o entendimento doutrinário em considerar que a soma total das contraprestações pagas, pelo arrendatário,

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durante o prazo de arrendamento, corresponde ao preço de aquisição do bem arrendado, inclusive custos financeiros e administrativos da arrendadora, além da sua taxa de lucro. Assim, conforme pode inferir-se dessa inteligência - que, anote-se, é confi rmada pela interpretação sistemática das normas do direito positivo brasileiro, que disciplinam este negócio jurídico – a estipulação de preço pouco signifi cativo para o exercício da opção de compra do bem pelo arrendatário, antes de desfi gurar o esquema legal do contrato de arrendamento mercantil, é com ele consonante. Além disso, a expressão o valor do preço, para exercício da opção referida, não é considerado pela lei esquematizadora desse negócio jurídico como relevante para sua tipifi cação ou qualifi cação jurídica, podendo ser estipulado livremente pelas partes, observados os princípios e regras que regem os contratos em geral.

Portanto, se a lei não confere, explícita ou implicitamente, a esse dado - grandeza do preço - relevância jurídica, para efeitos da qualifi cação do contrato de arrendamento mercantil, não se pode tomá-lo para fi ns de buscar caracterizar ou descaracterizar esse negócio jurídico; muito menos para “transmudá-lo” em compra e venda mercantil (que também, é no nosso direito positivo, contrato típico e, pois, corresponde a paradigma legal distinto do estruturado para o contrato de arrendamento mercantil), nem em qualquer outra espécie contratual.

A mesma posição há de ser tomada com referência aos dizeres de Arnold Wald, no parecer acostado dos autos (fl s. 209):

Cabe, aliás, acrescentar que, de acordo com a lei e com a regulamentação que a complementa, somente cabe a descaracterização do arrendamento mercantil para considerá-lo como forma dissimulada de venda na hipótese de violação da própria lei (art. 11, § 1º da Lei n. 6.099) e da regulamentação (artigos 11 e 41 do Regulamento aprovado pela Resolução n. 980).

Não havendo qualquer norma legal quanto ao valor específico de cada contraprestação, evidencia-se que a existência de valores distintos (crescentes ou decrescentes e até o valor simbólico) não justifi ca a descaracterização do contrato de leasing.

A existência de prestações simbólicas não importa em fraude e não afeta o prazo do contrato de arrendamento mercantil que se mantém imutável, pois somente termina

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na data fixada contratualmente, pouco importando que as contraprestações tenham sido maiores, numa primeira fase, e menores ou até simbólicas, num segundo período.

Em face do exposto, nego provimento ao recurso especial.

No julgamento do Recurso Especial n. 184.932-SP, a 1ª Turma acolheu, por decisão unânime, voto no mesmo sentido. A citação da ementa é sufi ciente, haja vista que os fundamentos expostos são os mesmos acima referidos.

Ementa: Tributário. Imposto de Renda. Leasing. Descaracterização do contrato.

1. O leasing é um negócio jurídico complexo defi nido no art. 1º da Lei n. 6.099, de 12.09.1974, com as alterações introduzidas pela Lei n. 7.132, de 26.10.1983, como um “negócio jurídico realizado entre pessoas jurídicas, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora segundo especifi cações da arrendatária para uso próprio desta”.

2. O Banco Central, por permissão legal, na Resolução n. 2.309, de 28.08.1996, considera arrendamento mercantil fi nanceiro a modalidade em que:

I - As contraprestações e demais pagamentos previstos no contrato, devidos pela arrendatária, sejam normalmente suficientes para que a arrendadora recupere o custo do bem arrendado durante o prazo contratual da operação e, adicionalmente, obtenha um retorno sobre os recursos investidos;

II - as despesas de manutenção, assistência técnica e serviços correlatos à operacionalidade do bem arrendado sejam de responsabilidade da arrendatária;

III - o preço para o exercício da opção de compra seja livremente pactuado, podendo ser, inclusive, o valor do mercado do bem arrendado.

3. Contrato de leasing, compondo todos os elementos acima anunciados, fi rmado livremente pelas partes, não pode ser descaracterizado pelo Fisco para fins tributários, como sendo de compra e venda, passando a não aceitar as prestações pagas como despesas dedutíveis.

4. A descaracterização do contrato de leasing só pode ocorrer quando fi que devidamente evidenciada uma das situações previstas em lei, no caso, a prevista nos arts. 2º, 9º, 11, § 1º, 14 e 23 da Lei n. 6.099. Fora desse alcance legislativo, impossível ao Fisco tratar o contrato de leasing, por simples entendimento de natureza contábil, como sendo de compra e venda.

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5. Precedente jurisprudencial. REsp n. 174.031-SC, Primeira Turma.

6. Recurso especial conhecido e improvido. (Recurso Especial n. 184.932-SP, Rel.: Min José Delgado - Recte: Fazenda Nacional - Procdores: Olivia da Ascenção Correa Farias e outros - Recdo: Transleite Transportes Rodoviários Ltda. - Advdo: Eduardo José Menegatti Sanchez).

(A ementa citada é quase idêntica à do REsp n. 310.357, cujo acórdão está inteiramente transcrito).

A seguir, faço lembrar, além das jurídicas razões já emitidas pelo eminente

Ministro Cesar Asfor Rocha, no voto que proferiu, o pensamento que tornou

público no REsp n. 1.778.272-RS, do teor seguinte (fl s. 232):

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Sr. Presidente, data venia, ouso discordar de VV. Exas. porque tenho que este acerto entre as partes não descaracteriza o contrato de leasing. Na verdade, como a matéria é nova, deveria até pedir vista dos autos para oferecer um voto mais substancioso sobre esta questão. Mas, sendo o último a votar e estando já defi nido o resultado do julgamento, para não retardar, vou deixar para manifestar-me mais demoradamente em outra oportunidade, como Relator ou se eventualmente, a questão for levada à Seção.

Observo também que, por razões práticas, não me sinto motivado, data venha, em descaracterizar este contrato como de leasing. Certamente, se o valor residual está sendo fi nanciado concomitantemente ao período do contrato e parcelado em prestações que serão pagas simultaneamente com o valor da parcela referente ao leasing é para que aqueles que recebem o fi nanciamento possam ser contemplados com o prazo maior para utilização e futura aquisição do bem, uma vez que, como sabido, há restrições ao crédito para pagamento a longo prazo.

Essas são as razões básicas por que discordo de VV. Exas. para, na hipótese, conhecer do recurso e dar-lhe provimento, quanto a este aspecto.

Em seqüência, ha de ser considerado a posição do Min. Carlos Alberto

Menezes Direito sobre o assunto, ao votar no REsp n. 163.845, nos termos que

transcrevo (fl s. 237-243):

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: O recorrido propôs contra o recorrente “ação ordinária com pedido de liminar e declaração de nulidade de cláusula e cambial”, julgada parcialmente procedente em primeiro grau; verbis:

para o efeito de reconhecer a inconstitucionalidade e a inexigibilidade de taxa de juros compensatórios acima de 12% ao ano, para declarar que o negócio jurídico efetivamente existente entre as partes é o de compra e venda com pagamento a prestação, e para declarar que o débito do autor

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deverá ser calculado na forma supradefi nida (item conclusão) (fl . 204). O Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul negou provimento à apelação (fl s. 274 a 300).

Segundo consta dos autos, a matéria a ser examinada no presente recurso fica adstrita à possibilidade da incidência de juros acima de 12% ao ano e a descaracterização do contrato de arrendamento mercantil para compra e venda (fl s. 317 a 325).

O eminente Ministro Waldemar Zveiter, Relator, no presente especial, decidiu não conhecer do mesmo, entendendo estar caracterizado o contrato de compra e venda ante o pagamento antecipado do Valor Residual Garantido (VRG). Manteve, ainda, por conseqüência, a limitação dos juros.

Devo analisar, em primeiro lugar, a questão relacionada à efetiva existência do contrato de leasing, cabendo destacar, de plano, ser possível verifi car, no presente especial, se as bases fáticas e contratuais consideradas pelo acórdão conduzem, ou não, à conclusão adotada, no sentido de estar descaracterizado o leasing e materializada uma compra e venda.

Aqui, anote-se, não se irá aferir a veracidade dos fatos ou dar nova interpretação às cláusulas do contrato, operações violadas pelas Súmulas n. 5 e n. 7-STJ, mas, apenas examinar os efeitos práticos das circunstâncias tidas como verdadeiras pelo Tribunal a quo sobre a natureza do contrato fi rmado.

O Tribunal local decidiu descaracterizar o contrato de leasing invocando o seguinte trecho da sentença; verbis:

(...)

Constata-se, assim, que não há como se caracterizar o contrato em tela como sendo autêntico arrendamento mercantil, já que desde o início o autor vem pagando o valor residual, sendo inócua qualquer previsão contratual de exercer opções ao fi nal, pois somente alguém afetado por prodigalidade deixaria de exercer a opção de compra de veículo após ter pago todo o valor residual ao longo do contrato, nada mais restando a pagar ao fi nal, como se verifi ca da leitura da Cláusula n. 10.4 do contrato (fl s. 19-19v.).

Assim, se o autor está pagando parcelas para amortizar o capital juntamente com valor residual, resta evidente que está ele, na verdade, pagando o preço de aquisição do bem, não se tratando de verdadeiro leasing.

Tal deve ser declarado, tendo presente que pouco importa o nomen juris que as partes tenham dado ao contrato, a sua natureza jurídica deve ser inferida do efetivo teor das cláusulas avençadas e do que em concreto elas signifi cam em sua operacionalidade.

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Assim, reconhece-se a descaracterização do contrato de arrendamento mercantil (leasing), declarando-se que o contrato efetivamente realizado entre as partes é o de uma compra e venda a prestações. (fl s. 294-295).

Prende-se o acórdão, como se observa, no fato de que o Valor Residual Garantido (VRG) foi pago antecipadamente, durante o pagamento das prestações do leasing.

Penso não ter razão a Corte local.

O eminente Ministro Cláudio Santos, que já abrilhantou esta Terceira Turma, defi ne e traz diversas opiniões sobre o conceito de leasing assim; verbis:

(...)

Basicamente, no contrato de leasing, alguém titular da propriedade plena de uma coisa, móvel ou imóvel, cede a outrem, pessoa jurídica ou natural, o uso do bem, mediante a transferência de sua posse direta, que assim poderá utilizar-se dele ou explorá-lo economicamente, sendo assegurada ao fi nal do prazo do contrato a simples devolução da coisa, a renovação do contrato ou a sua aquisição pelo preço residual avençado, tudo contra o pagamento periódico ou simplesmente mensal de valor fi xado no contrato.

Disse antes cuidar-se de contrato de natureza híbrida e, efetivamente, vê-se no leasing uma aparência de locação, uma aparência de compra e venda à prestação, uma clara faculdade de utilização da coisa e uma nítida promessa unilateral de compra e venda. Não é só. Na modalidade mais importante economicamente, vêse também um fi nanciamento, porquanto nem sempre a coisa é disponível no mercado para ter seu uso cedido: muitas vezes é ela solicitada pelo arrendatário ao arrendador que a compra para arrendar ao pretendente e, assim, proporcionar-lhe a aquisição futura. Essa pluralidade de relações jurídicas leva a doutrina a conceituar o contrato de arrendamento mercantil como um negócio complexo, com a predominância do contrato de locação, muito embora sua concretização traduza um verdadeiro fi nanciamento.

Fábio Konder COMPARATO, em seu conhecido estudo denominado Contrato de Leasing, publicado na RT 389, de 1968, diz que o leasing, “propriamente dito, não obstante a pluralidade de relações obrigacionais típicas que o compõem, apresenta-se funcionalmente uno: a ‘causa’ do negócio é sempre o fi nanciamento de investimentos produtivos”. Todavia, logo em seguida, com respeito às relações obrigacionais faz a seguinte afi rmação: “Sem dúvida, dentre as relações obrigacionais típicas que compõem o leasing predomina a figura da locação de coisa. Mas a existência de uma promessa unilateral de venda por parte da instituição fi nanceira serve para extremá-lo não só da locação comum, como na venda a crédito”.

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Para o mestre Arnoldo WALD, em trabalho também pioneiro, cogita-se de um contrato pelo qual uma empresa “desejando utilizar determinado equipamento, ou um certo imóvel, consegue que uma instituição fi nanceira adquira o referido bem, alugando-o ao interessado por prazo certo, admitindo-se que, terminado o prazo locativo, o locatário possa optar entre a devolução do bem, a renovação da locação, ou a compra pelo preço residual fi xado no momento inicial do contrato”. Acentua, ainda, que o arrendamento mercantil é uma “fórmula intermediária entre a compra e venda e a locação, exercendo função parecida com a da venda com reserva de domínio e com a alienação fi duciária, (...)” (RT 415, de 1970).

O advogado Luiz MÉLEGA, em livro com o título de O Leasing e o Sistema Tributário Nacional (SP, Co-edição IBDT e Ed. Saraiva, 1975) defi ne o leasing, em sua forma ortodoxa, como um arrendamento, mas além de colacionar a opinião de vários juristas, dentre os quais, o já citado Fábio Konder COMPARATO, Benedito Garcia HILARIO, com opinião igual à sua, menciona Sampaio de LACERDA, que considera o leasing uma típica operação fi nanceira, Philomeno COSTA e Thomas Benes FELSBERG, para os quais o leasing não é uma operação fi nanceira, mas uma operação comercial, onde o elemento fi nanceiro é preponderante.

O Prof. Fran MARTINS considera complexa a natureza jurídica do arrendamento mercantil, “compreendendo uma locação, uma promessa unilateral de venda (em virtude de dar o arrendador opção de aquisição do bem pelo arrendatário) e, às vezes, um mandato, quando é o próprio arrendatário quem trata com o vendedor na escolha do bem”. (Contrato e Obrigações Comerciais, 2., Rio, Forense, 1990, p. 547). (A referência ao mandado é infl uência da doutrina francesa que identifi ca esse contrato nas relações entre empresa arrendatária e sociedade fi nanceira arrendadora, quando a aquisição do material é feita segundo a necessidade da primeira, atuando esta como mandatária do adquirente inicial do bem).

A lei brasileira (Lei n. 6.099/1974, alterada pela Lei n. 7.132/1985) assim defi ne o leasing financeiro ou arrendamento mercantil: “considera-se arrendamento mercantil, para efeitos desta lei, o negócio jurídico realizado entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora, segundo especifi cações da arrendatária e para uso próprio desta”.

Arnaldo RIZZARDO, a comentar o dispositivo reproduzido, observa: “Não se trata de uma simples locação com promessa de venda, como à primeira vista pode parecer. Mas cuida-se de uma locação com uma consignação de promessa de compra, trazendo, porém, um elemento novo, que é o fi nanciamento, numa operação específi ca que consiste na simbiose da locação, do fi nanciamento e da venda. Em suma, é a fi gura em exame uma alternativa de fi nanciamento para aquisição de qualquer tipo de veículo, máquina ou equipamento de fabricação nacional ou estrangeira, novo ou usado, incluindo, também, fi nanciamento de imóveis”. (Leasing - Questões Controvertidas, Revista Jurídica, Ano XLIV, n. 223, maio de 1996, p. 6-7).

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Com efeito, mediante o contrato de leasing, o dono de determinado bem cede o uso deste a terceiro, que pagará prestações e, ao fi nal, poderá exercer o direito de compra. Há, então, um contrato dentro do qual inserem-se vários tipos de relações contratuais, a saber: locação, promessa unilateral de venda e fi nanciamento.

Estando presente uma simples promessa unilateral de venda, o arrendatário poderá, ou não, comprar o bem ao fi nal do prazo contratado. E um direito de opção presente em qualquer tipo de leasing. A propósito, o eminente Ministro José Augusto Delgado, citando Celso BENJO, distingue o leasbng operacional do fi nanceiro assim, verbis:

(...)

Na visão de Celso BENJÓ, contudo, o conceito de leasing há de ser fi rmado com vistas aos dois principais tipos existentes: o leasing fi nanceiro, e o operacional.

O leasing operacional para o mencionado autor consiste no contrato pelo qual uma das partes se obriga a proporcionar à outra o uso e gozo temporário de determinado bem e a mantê-lo em perfeito estado de funcionamento, por um período menor do que sua vida economicamente útil, mediante uma contraprestação, em geral, inferior à que seria necessária para uma completa amortização do preço da coisa locada. Teria, em conseqüência, conforme enumera e analista, as seguintes características:

a) uma locação com prestação de serviço;

b) bens estandardizados e a especialização das locadoras;

c) curto prazo e obsolescência incidindo na pessoa do locador;

d) caráter de nonpayout lease e a necessidade de várias locações;

e) não obrigatoriedade da opção de compra;

l) o desdobramento da posse e a tradição da coisa;

g) inexistência de regulamentação específica desta modalidade de leasing no Brasil.

O leasing financeiro, registra Celso BENJÓ, consiste “no negócio jurídico bilateral pelo qual uma das partes, necessitando utilizar um determinado bem, procura uma instituição fi nanceira para que promova a compra do mesmo para si e, posteriormente, lhe entregue em locação, mediante uma remuneração periódica, em geral, no seu somatório, superior a seu preço de aquisição. Ao fi nal do prazo contratual, via de regra, surgem três opções para o locatário: a de tornar-se proprietário mediante o pagamento de uma quantia, a de renovar a locação por um valor inferior ao primeiro período locativo ou a devolver a coisa locada”.

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Os caracteres do leasing fi nanceiro são, segundo o autor supra, os seguintes:

a) a participação de três sujeitos no contrato;

h) a escolha do material e a inexistência de mandato;

c) operação realizada de médio a longo prazo;

d) caráter de full payout lease;

e) a irrevogabilidade contratual;

f ) o risco da obsolescência é do locatário;

g) caráter de net lease;

h) a tríplice opção (aquisição do bem, a título oneroso: a de renovação do contrato e a de devolução do bem locado);

i) a opção de compra;

j) a renovação do leasing;

l) a devolução da coisa locada;

m) a legislação específi a no direito pátrio. (Leasing, Doutrina e Jurisprudência, Juruá Editora, 1977, p. 54 a 58).

Enfim, não há obrigação de compra, mas, apenas, uma opção, consoante dispõe a Lei n. 6.099/1974 (alterada pela Lei n. 7.132/1983), no seu art. 5º, alínea c.

O exercício da compra e venda, por sua vez, deve obedecer às regras da própria Lei n. 6.099/1974, pena de ser considerada uma operação de compra e venda. E o que dispõe o § 1º do art. 11 da referida lei, verbis:

Art. 11.

§ 1º A aquisição pelo arrendatário de bens arrendados em desacordo com as disposições desta Lei será considerada operação de compra e venda à prestação.

Na hipótese dos autos, segundo o acórdão, o contrato prevê o pagamento do VRG parceladamente, junto com as prestações do contrato.

O valor residual, segundo define a Portaria n. 564/1978-MF, inciso 2, é “o preço contratual estipulado para o exercício da opção de compra ou valor contratualmente garantido pela arrendatária como mínimo que será recebido pela arrendadora na venda a terceiros do bem arrendado na hipótese de não ser exercida a opção de compra”.

O contrato, então, encontra-se em perfeita consonância com a Portaria n. 564/1978-MF, inciso 2. Basta agora, perquirir sobre os efeitos do recebimento antecipado do Valor Residual Garantido (VRG) sobre a natureza do leasing.

O recolhimento do VRG ao longo do contrato, entendo, não obriga o arrendatário a adquirir o bem. Findo o prazo do leasing, poderá o arrendatário não se manifestar favoravelmente à opção de compra, direito que lhe assiste,

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a teor da Lei n. 6.099/1974, art. 5º, alínea c. Quanto às importâncias adiantadas a título de Valor Residual Garantido, equiparado ao valor da opção de compra, deverá o arrendatário entrar em acerto com a instituição fi nanceira segundo as normas legais pertinentes ao contrato acaso decida não optar pela compra do bem.

Nem se diga que o arrendatário, na hipótese de adiantamento do VRG, sofra prejuízo irreparável. Ao fi nal do contrato, mesmo que não seja efetuado o referido adiantamento, deverá pagar à arrendadora a diferença entre o VRG e o valor obtido da venda do bem a terceiros, quando este for inferior àquele. Optando, entretanto, pela compra, já terá quitado a importância necessária, não precisando desembolsar qualquer valor.

Não há no caso presente, por outro lado, infringência a qualquer regra da Lei n. 6.099/1974, que não veda, expressamente, o recebimento antecipado do valor da opção de compra, assim, esse fato, por si só, não caracteriza a operação de compra e venda, não incidindo o § 1° do art. 11 do diploma legal mencionado.

Com efeito, o contrato firmado tem a natureza legal de leasing e não de compra e venda, tendo o acórdão violado o art. 85 do Código Civil, já que a antecipação do VRG não afeta a intenção das partes.

Anote-se, apenas, que a Quarta Turma desta Corte, no julgamento dos Recursos Especiais n. 178.272-RS e n. 181.095-RS, em 18.03.1999, ambos relatados pelo Ministro Ruy Rosado de Aguiar, decidiu, por maioria, que o pagamento antecipado do VRG descaracteriza o contrato de leasing para um contrato de compra e venda.

No tocante à taxa de juros limitados em 1% ao ano, deve ser reformado o acórdão também, eis que sobre o arrendamento mercantil, a teor do art. 7º da Lei n. 6.099/1974, incidem as normas da Lei n. 4.595/1964, cuja interpretação pelo Supremo Tribunal Federal gerou a edição da Súmula n. 596, que dispõe:

As disposições do Decreto n. 22.626/1933 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas, que integram o Sistema Financeiro Nacional.

Nesse caso, incide a taxa de juros fi xada no contrato, conforme votei, como Relator, nos seguintes precedentes de minha relatoria:

Mútuo bancário. Juros de mora. Capitalização dos juros. Medida Provisória n. 1.367, de março de 1996. Medida Provisória n. 1.410, de abril de 1996. Medida Provisória n. 1.457, de maio de 1996.

1. Havendo convenção entre as partes, os juros moratórios podem alcançar os 12% (doze por cento) ao ano, na forma do art. 1.062 do Código Civil.

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2. Na linha dos precedentes da Corte, a capitalização dos juros no mútuo bancário é vedada pela Lei de Usura.

3. Recurso especial conhecido e provido em parte. (REsp n. 111.181-SC, Terceira Turma, DJ de 19.12.1997).

Recurso especial assentado em dissídio jurisprudencial. Contrato de abertura de crédito. Limitação da taxa de juros. Capitalização dos juros. Súmulas n. 596 e n. 121-STF. Ausência de título executivo.

1. Conforme jurisprudência desta Corte, em regra, ao mútuo bancário não se aplica a limitação dos juros em 12% ao ano, estabelecida na Lei de Usura (Decreto n. 22.626/1933, art. 1º). Incidência da Súmula n. 596-STF.

2. No tocante à capitalização dos juros, permanece em vigor a vedação contida na Lei de Usura, exceto nos casos excepcionados em lei, o que não ocorre com o mútuo bancário comum, tratado nos presentes autos.

3. Conforme jurisprudência atual da Terceira Turma, o contrato de abertura de crédito, mesmo que acompanhado de extrato bancário, não é título executivo, haja vista que o contrato não consubstancia obrigação de pagar importância certa e determinada e os extratos são produzidos unilateralmente, sem a intervenção do possível devedor.

4. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido. (REsp n. 176.620-RS, Terceira Turma, DJ de 22.02.1999).

Especificamente sobre as taxas de juros no contrato de leasing, trago o seguinte precedente da Quarta Turma:

Direitos Comercial e Econômico. Contrato de arrendamento mercantil. Leasing. Teto de juros. Lei de Usura. Inaplicabilidade. Decreto n. 22.626/1933. Instituição financeira. Derrogação. Precedente. Enunciado n. 596 da Súmula-STF. Recurso provido.

A Lei n. 4.595/1964, que rege a política econômico-monetária nacional, ao dispor no seu art. 4°, IX, que cabe ao Conselho Monetário Nacional limitar taxas de juros, revogou, nas operações realizadas por instituições do sistema fi nanceiro, inclusive nos contratos de arrendamento mercantil, salvo nos mútuos rurais, quaisquer outras restrições que previam teto máximo daqueles. (REsp n. 102.082-RS, Relator o Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ de 03.08.1998).

Ante o exposto, conheço do recurso e dou-lhe provimento para declarar existente o contrato de leasing e afastar a limitação dos juros. Custas proporcionais e honorários advocatícios de 10% sobre o valor da condenação, arcando cada parte com a verba do próprio advogado.

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No campo doutrinário, ganha relevo as manifestações seguintes (fl s. 252-

258):

Destaco, agora, pronunciamentos doutrinários de alguns autores defendendo a não-caracterização do leasing em promessa de compra e venda, só pelo fato de as partes, livremente, terem ajustado pagamento antecipado de Valor Residual Garantido.

Arnoldo WALD’82, ao analisar o assunto, em parte de parecer que lhe foi solicitado, afi rmou:

66. A partir da entrada em vigor da Lei n. 6.099, de 12.09.1974, o arrendamento mercantil passou a ser um contrato nominado, distinguindo-se dos demais e, em particular, do fi nanciante, da locação e da compra e venda, estruturas jurídicas com as quais tinha certa analogia, em virtude de conter alguns dos elementos que caracterizam cada um deles.

67. A defi nição que consta no § 1º do artigo 10 da Lei n. 6.099 e que mereceu nova redação em virtude do disposto no artigo 1º da Lei n. 7.132, de 20.10.1983, esclarece com precisão o conceito legal do novo instituto assim defi nido:

Art. 1º

Parágrafo único. Considera-se arrendamento mercantil, para os efeitos desta Lei, o negócio jurídico realizado entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora, segundo especifi cações da arrendatária e para uso próprio desta.

68. Não há, pois, como confundir o leasing com compra e venda defi nida no art. 1.122 do Código Civil, que tem a seguinte redação:

Art. 1.122. Pelo contrato de compra e venda, uma das contraentes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro a pagar-lhe certo preço em dinheiro.

69. Por sua vez, a locação de bens é conceituada como sendo:

Art. 1.188. Na locação de coisas uma das partes se obriga a ceder à outra, por tempo determinado, ou não, o uso e gozo de coisa não fungível, mediante certa retribuição.

70. A distinção é pacifi ca tanto nos textos legais quanto na doutrina e na jurisprudência.

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71. Examinando o conceito e definição do arrendamento mercantil, os autores têm salientado que a sua complexidade jurídica decorre da inadaptação ao novo instituto das fi guras clássicas do direito positivo (BEY, El Mokhtar. De la symbiotique dans les leasing et crédit bail mobilier. Paris: Dalioz, 1970, p. 1)

72. Do nosso lado, já tivemos o ensejo de fazer a distinção entre o leasing e a venda, destacando as peculiaridades do arrendamento mercantil como negócio fi nanceiro com uma estrutura de garantia própria (WALD, Amoldo. “Noções básicas de leasing. In Revista Forense. v. 250, p. 31).

73. A legislação especifi ca do arrendamento mercantil esclarece quais são as hipóteses nas quais o instituto pode ser descaracterizado, deixando de gozar do tratamento que a lei lhe dá.

74. Assim, o art. 2º da Lei n. 6.099, determina que:

Art. 2º. Não terá o tratamento previsto nesta Lei o arrendamento de bens contratados entre pessoas jurídicas direta ou indiretamente coligadas ou interdependentes, assim como o contratado com o próprio fabricante.

§ 1º O Conselho Monetário Nacional especifi cará em regulamento os casos de coligação e interdependência.

§ 2º Somente farão jus ao tratamento previsto nesta Lei as operações realizadas ou por empresas arrendadoras que fizerem dessa operação o objeto principal de sua atividade ou que centralizarem tais operações em um departamento especializado com escrituração própria.

75. O art. 9º trata, especifi camente, das operações entre coligadas e da competência do Conselho Monetário Nacional para regulamentá-las (art. 9º da Lei n. 6.099 com a redação que lhe deu o artigo 10, inc. 1, da Lei n. 7.132/1983).

76. O art. 11 e o seu § 1º da Lei n. 6.099, esclarecem que os aluguéis pagos serão considerados despesas operacionais e que a aquisição do bem em desacordo com as disposições da lei será considerada como compra e venda.

É o seguinte o texto legal invocado:

Art. 11. Serão considerados como custo ou despesa operacional da pessoa jurídica arrendatária as contraprestações pagas ou creditadas por força do contrato de arrendamento mercantil.

§ 1º A aquisição pelo arrendatário de bens arrendados em desacordo com as disposições desta Lei, será considerada operação de compra e venda a prestação (Grifamos).

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77. Verifi ca-se que somente se cogita e se admite a descaracterização do arrendamento mercantil nos casos previstos em lei e não em qualquer outro diploma legal de nível inferior, devendo ser sempre respeitada a hierarquia do sistema jurídico que é o esteio fundamental do Estado de Direito.

78. O artigo 14 da Lei n. 6.099, determina, por sua vez, que:

Art. 14. Não será dedutível, para fins de apuração do lucro tributável pelo imposto de renda, a diferença a menor entre o valor contábil residual do bem arrendado e o seu preço de venda, quando do exercício da ação de compra (Grifamos).

O referido artigo justifica, a contrario sensu, a nossa tese, e que foi regulamentado pela Portaria MF n. 564, de 03.11.1978.

79. Finalmente, o artigo 23 da lei dá competência regulamentar ampla ao Conselho Monetário Nacional para regulamentar a lei, conforme se verifi ca do seu texto, que é o seguinte:

Art. 23. Fica o Conselho Monetário Nacional autorizado a:

a) baixar normas que visem estabelecer mecanismos reguladores das atividades previstas nesta Lei, inclusive excluir modalidades de operações do tratamento nela previsto:

b) enumerar restritivamente os bens que não poderão ser objeto de arrendamento mercantil, tendo em vista a política econômico-fi nanceira do País.

80. Assim sendo, verifi camos que o Conselho Monetário Nacional tem em relação às empresas de leasing, ex vi do art. 23 da Lei n. 6.099 acima transcrito, a mesma competência ampla que a Lei n. 4.595 lhe atribuiu no tocante às instituições fi nanceiras, admitindo-se, inclusive, a revogação de textos legais anteriores pelas Resoluções do Conselho Monetário Nacional, como ocorreu em relação aos juros bancários, não mais sujeitos à Lei de Usura, mas sim, à regulamentação dinâmica das autoridades monetárias.

81. Assim sendo, entendemos que a descaracterização do contrato de arrendamento mercantil só pode ocorrer nos casos previstos por normas legais formais (oriundas do Congresso Nacional e devidamente sancionadas ou cujo veto foi rejeitado) ou por normas baixadas pelo Conselho Monetário Nacional em virtude da delegação expressamente prevista no artigo 23 Lei n. 6.099.

82. A contrario sensu, não é possível descaracterizar ou desconsiderar o contrato de arrendamento mercantil a não ser em virtude de violação de norma legal ou que lhe seja equiparada, como bem determina de modo expresso o artigo 11 § 1º da Lei n. 6.099.

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Cito, a seguir, na íntegra, substancioso estudo feito por José Francisco Lopes de Miranda LEAO, advogado, sob o título “A antecipação do VRG não descamacteriza o leasing”. No mencionado trabalho, o seu autor apresenta argumentos apoiados na confi guração do contrato de leasing e o conceito que deve ser tomado para o denominado Valor Residual Garantido.

Eis o seu teor:

1. Valor Residual Garantido: conceito.

Entendo que, para exata compreensão da questão, deve-se iniciar pela análise do conceito de Valor Residual Garantido, quer sob o ponto de vista jurídico, quer sob o aspecto de sua função na estrutura da operação de leasing.

Ao celebrar negócio de leasing, o arrendador incorpora a seu patrimônio uma coisa (o bem que, sob escolha do arrendatário, vai adquirir para ser objeto do negócio) e uma expectativa de renda que o contrato vai proporcionar em troca do direito de uso da coisa, outorgado ao arrendatário. Para este último, manifesta-se um interesse imediato na utilidade que a coisa arrendada lhe proporciona, à qual terá pronto acesso, mesmo não podendo ou não querendo adquirir desde logo direito de propriedade sobre ela. Para o arrendador, no entanto, o interesse imediato que se manifesta é na renda fi nanceira que a coisa proporciona através do contrato de leasing e durante o período ajustado de arrendamento.

Terminado o período do arrendamento, a coisa interessa para o arrendador apenas pelo valor pecuniário que ainda represente, que obviamente não será o mesmo pelo qual foi adquirida, face ao tempo decorrido, ao desgaste, à obsolescência. Tal valor pecuniário de resíduo - ou valor residual - é que, somado às prestações de renda auferidas, irá compor o retorno de investimento, devendo resultar em montante sufi ciente para restituir o capital empregado, pagar o respectivo custo e proporcionar o lucro bruto da operação, apto a fornecer recursos para que o arrendador enfrente suas despesas administrativas e tributárias, e ainda aufi ra lucro líquido para colocar à disposição de sua Assembléia de acionistas.

Nas operações de leasing puramente fi nanceiro, as partes estipulam já no próprio momento da manifestação de vontade inicial o valor residual que o bem deverá ter no fi nal do período de arrendamento: este é o chamado Valor Residual Garantido, e representará o preço de venda do bem depois de usado, caso o arrendatário opte pela compra, servindo, por outro lado, como garantia de valor mínimo que o arrendador deverá receber na venda a terceiro (Esta descrição do Valor Residual Garantido está consagrada desde 03.11.1978, quando foi adotada pela Portaria MF n. 564, que dispõe (até hoje) sobre os critérios para apuração de resultado tributário das operações de leasing. Cabe lembrar, ainda, que, quando se trate de leasing

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operacional (previsto no artigo 6°, da Resolução CMN n. 2.309/1996, não cabe a estipulação contratual de garantia para o valor residual, devendo o bem ser vendido, no fi nal do arrendamento, pelo preço que alcançar no mercado). Pode-se, pois, defi nir Valor Residual Garantido como uma estipulação contratual de valor final para o bem objeto do contrato, livremente pactuada pelas partes já no início da relação de arrendamento, como fi xação do montante a que o arrendador fará jus, haja ou não haja exercício de opção de compra pelo arrendatário, compondo, esse valor, o montante total legitimamente esperado pelo arrendador e aceito pelo arrendatário como retorno do investimento fi nanceiro feito na operação (Tal estipulação de modo algum se confunde com exercício de opção de compra, como já anotou Jorge CARDOSO: “pelo fato de a compra ao fi nal do contrato ter caráter opcional para o arrendatário, sendo, portanto, um evento incerto, o VRG é uma forma de o arrendatário garantir ao arrendante que este, caso não seja exercida a referida opção, auferirá certa quantia mínima”, in “Aspectos controvertidos do Arrendamento Mercantil”, in Cadernos de Direito Tributário e Finanças Públicas. RT - 5/73).

Sob o ponto de vista do arrendatário, por outro lado, esse estabelecimento inicial de garantia de valor residual representa a certeza de que, fi ndo o arrendamento, poderá adquirir o bem, já usado, por preço antecipadamente conhecido, preço este que poderá também levar em consideração, caso não prefi ra adquirir o bem usado, de modo a participar ativamente da sua futura colocação no mercado. Convém lembrar que é o arrendatário quem escolhe o bem e tem para ele uso. Se optou pelo arrendamento do bem novo, foi ou porque não dispunha de recursos suficientes para comprá-lo, ou porque, ainda dispondo desses recursos, preferiu o arrendamento por qualquer razão (para beneficiar-se das vantagens tributárias ou para reservar seus recursos para outras fi nalidades). Seu interesse imediato pela utilidade do bem, no entanto, autoriza perfeitamente a suposição de que, terminado o prazo do arrendamento, esse interesse ainda persista, levando-o a adquirir a propriedade, agora por valor muito inferior (valor apenas residual) do que o valor do bem novo. De outra parte, mesmo quando não se interesse mais pela utilização pessoal do bem, ainda assim será sempre o arrendatário quem melhores condições terá de buscar no mercado quem o queima, uma vez que, presumivelmente, o bem é de seu métier.

Essas realidades a respeito das diferentes naturezas de interesses que arrendador e arrendatário ostentam em relação aos bens objeto de arrendamento mercantil refl etem, ainda no plano dos fatos, no que habitualmente acontece com os bens relacionados a contratos que chegam sem percalços a seu termo: na esmagadora maioria dos casos, ou o arrendatário opta pela aquisição, ou cede essa opção a terceiro que indicará ao arrendador para adquirir o bem. E isso é fácil de compreender, pois se é

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o arrendatário quem conhece a utilidade diretamente proporcionada pelo bem, é ele quem vai se interessar por esse bem, pessoalmente, ou, não se interessando por qualquer razão, é ele ainda quem, muito melhor do que o arrendador, sabe onde achar quem se interesse.

A estipulação contratual de um Valor Residual Garantido para o bem, portanto, não ofende a estrutura no negócio, nem representa uma antecipação da opção de compra que o arrendatário deverá fazer apenas ao fi nal do período de arrendamento. Para o arrendador, essa estipulação proporciona uma certeza de retorno financeiro predeterminado, o que evidentemente lhe interessa, uma vez que opera no sistema fi nanceiro; para o arrendatário, que não pode ou não quer disponibilizar os recursos necessários para a imediata aquisição do bem novo, a garantia de valor residual representa a possibilidade de, sabendo precisamente de quanto vai necessitar para tanto planejar, para quando chegue o termo fi nal do arrendamento, a atitude que mais consulte seus interesses: adquirir a propriedade do bem usado, continuando a fruir sua utilidade, ou então, caso não deseje essa continuidade, participar ativamente do processo de colocação desse bem no mercado (acrescente-se: ou ainda, exercer a outra alternativa da lei, pouco lembrada, que seria a renovação da relação de arrendamento, por um novo período, mediante contraprestações que teriam por base não mais o valor original de aquisição, mas o valor residual pactuado).

A parte acima citada do trabalho de José Francisco Lopes de Miranda LEAO esclarece, com muita clareza, a função do Valor Residual Garantido. Demonstra, de modo convincente, que ele faz parte da própria natura do negócio jurídico em questão e que o seu pagamento antecipado não é causa para transformar o contrato em promessa de compra e venda.

Athos Gusmão CARNEIRO comunga do mesmo entendimento. Em parecer ofertado sobre o assunto, afi rma:

O valor residual, conforme aliás defi nido na Portaria n. 564/1978, inc. 2, é o “preço contratual estipulado para o exercício da opção de compra, ou valor contratualmente garantido pela arrendatária como mínimo que será recebido pela arrendadora na venda a terceiros do bem arrendado, na hipótese de não ser exercida a opção de compra”.

Como explicou o prof. Jorge Cardoso “o Valor Residual Garantido - VRG - não se confunde com a Opção de Compra: ‘ao contrário: pelo fato de a compra ao final do contrato ter caráter opcional para o arrendatário, sendo portanto, um evento incerto, o VRG é uma forma de o arrendatário garantir ao arrendante que este, caso não seja exercida a referida opção, auferirá certa quantia mínima’ (“Aspectos Controvertidos do Arrendamento Mercantil”, Cadernos de Direito Tributário e Finanças Públicas - Revista dos Tribunais –, n. 5/73).

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Assim, e como à empresa de leasing assiste o direito de receber o reembolso total de seus custos e despesas operacionais, além do natural lucro, o VRG funciona como um mecanismo contratual de garantia à empresa lessor: se o arrendatário exercer a Opção de Compra, opera-se a devolução do bem ao arrendador e o VRG serve como um parâmetro: assim, se o bem, ao ser vendido pela arrendadora, alcançar um preço igual ao valor residual, as partes estão quites; se alcançar um preço maior, a arrendadora restituirá ao arrendatário a “mais valia”; se o preço de venda for inferior ao valor residual, ao arrendatário cumprirá pagar à arrendadora a diferença a menor.

E isto porque é da essência do leasing fi nanceiro “a recuperação pelo arrendador da totalidade do capital empregado na aquisição do bem arrendado, ocorrendo tal recuperação pelo recebimento hão só das contra-prestações como também pelo recebimento quem do preço da opção, quer do valor de venda a terceiros que, se for o caso, será complementado pelo arrendatário para atingir o mínimo estipulado contratualmente”. (id, ib., p. 74).

Sem que ocorra a mínima descaracterização do contrato de leasing, o valor residual pode ser “adiantado” pelo arrendatário, não a título de exercício da Opção de Compra, mas sim, como mero adiantamento em garantia as obrigações contratuais assumidas.

Complemento o exposto com o registro do voto proferido pelo, hoje, Des.

Brandão Teixeira, TJMG, na AC n. 341.216-MG, do teor seguinte:

Com a devida vênia do douto juízo sentenciante, divirjo do entendimento de que o pagamento antecipado do Valor Residual Garantido (VRG) descaracteriza o contrato de leasing.

Embora consciente de que o entendimento adotado pelo v. julgador monocrático encontra-se amparado por doutrina respeitável e pela jurisprudência das Turmas que compõem a 2ª Seção do Eg. Superior Tribunal de Justiça (ressalvada a posição em contrário mantida pelo ilustrado Ministro Carlos Alberto Menezes Direito), aquela exegese não me parece a mais acertada, com a devida vênia.

Vale ressaltar, também, que a matéria encontra-se longe de estar sepultada pelo Eg. Superior Tribunal de Justiça. Basta ver que as Turmas que compõem a 1ª Seção daquele Sodalício, a quem incumbe o julgamento de feitos relativos a tributos (e a matéria possui inequívocos refl exos tributários), dentre outros assuntos, tem fi rmado o entendimento de que a antecipação do Valor Residual Garantido não descaracteriza o contrato de leasing.

Neste sentido, temos:

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 365

Ementa - Tributário. Leasing. Imposto de Renda. Descaracterização do contrato em compra e venda. Inocorrência.

1. O contrato de leasing, em nosso ordenamento jurídico, é um negócio jurídico complexo defi nido, no art. 1º, da Lei n. 6.099, de 12.09.1974, com as alterações introduzidas pela Lei n. 7.132, de 26.10.1983, como um “Negócio jurídico realizado entre pessoas jurídicas, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora segundo especifi cações da arrendatária para uso próprio desta”.

2. Por tais características, o referido contrato só se transmuda em forma dissimulada de compra e venda quando, expressamente, ocorrer violação da própria lei e da regulamentação que o rege.

3. Não havendo nenhum dispositivo legal considerando como cláusula obrigatória para a caracterização do contrato de leasing e que fi xe valor específico de cada contraprestação, há de se considerar como sem influência, para a definição de sua natureza jurídica, o fato das partes ajustarem valores diferenciados ou até mesmo simbólico para efeitos da opção de compra.

4. O Banco Central, por permissão legal, na Resolução n. 2.309, de 28.08.1996, considera arrendamento mercantil fi nanceiro a modalidade em que:

I - As contraprestações e demais pagamentos previstos no contrato, devidos pela arrendatária, sejam normalmente sufi cientes para que a arrendadora recupere o custo do bem arrendado durante o prazo contratual da operação e, adicionalmente, obtenha um retorno sobre os recursos investidos;

II - as despesas de manutenção, assistência técnica e serviços correlatos à operacionalidade do bem arrendado sejam de responsabilidade da arrendatária;

III - o preço para o exercício da opção de compra seja livremente pactuado, podendo ser, inclusive, o valor do mercado do bem arrendado.

5. Contrato de leasing, compondo todos os elementos acima anunciados, fi rmado livremente pelas partes, não pode ser descaracterizado pelo Fisco para fins tributários, como sendo de compra e venda, passando a não aceitar as prestações pagas como despesas dedutíveis.

6. A descaracterização do contrato de leasing só pode ocorrer quando fique devidamente evidenciada uma das situações previstas em lei, no caso, a prevista nos arts. 2º, 9º, 11, § 1º, 14 e 23, da Lei n. 6.099/1974. Fora

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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desse alcance legislativo, impossível ao Fisco tratar o contrato de leasing, por simples entendimento de natureza contábil, como sendo de compra e venda.

7. Homenagem ao princípio de livre convenção pelas partes quanto ao valor residual a ser pago por ocasião da compra.

8. Não descaracterização de contrato de leasing em compra e venda para fi ns de imposto de renda.

9. Precedentes jurisprudenciais: REsp’s n. 174.031-SC e n. 184.932-SP, ambos da 1ª Turma.

10. Recurso desprovido.

(Superior Tribunal de Justiça, REsp n. 268.005-MG, Reg. 200000730220, Primeira Turma, v. un., julg. 23.10.2000, Primeira Turma, Primeira Turma, Rel. Min. José Delgado, pub. DJ 05.02.2001, p. 78).

Ementa - Processual Civil. Imposto de Renda. Leasing. Descaracterização para fins tributários. Inocorrência. Acórdão fundado na Lei Tributária Nacional. CTN, art. 110. Alegação de violação a preceitos legais não referidos na Instância a quo. Ausência do prequestionamento. Súmulas n. 282 e n. 356-STF. Precedentes.

- Se o Tribunal, ao decidir a lide, sequer mencionou os preceitos legais apontados como contrariados pelo recorrente, fundamentando a decisão na Lei Tributária Nacional, e não foram opostos embargos de declaração para suscitar o debate do tema omitido, tem-se por ausente o prequestionamento viabilizador da admissibilidade do recurso nesta instância superior.

- Incidem, na hipótese, as Súmulas n. 282 e n. 356 do STF.

- Em homenagem ao princípio da livre convenção das partes quanto ao preço pactuado por ocasião da compra, o contrato de leasing não pode ser descaracterizado como sendo de compra e venda, pelo Fisco, para fi ns tributários, se evidenciada uma das situações previstas legalmente.

- Recurso especial não conhecido.

(Superior Tribunal de Justiça, REsp n. 90.827-SP, Reg. 199600176981, Segunda Turma, v. un., julg. 16.11.2000, Rel. Min. Francisco Peçanha Martins, pub. DJ 18.12.2000, p. 174).

Então, diante da divergência entre as Seções daquele Eg. STJ, até que a matéria seja decidida por sua Corte Especial (art. 11, do RISTJ), é recomendável que a questão seja discutida pelos Tribunais Estaduais.

Excelente doutrina disponibiliza-nos o Ministro aposentado do Eg. STJ, ATHOS GUSMÃO CARNEIRO, em trabalho entitulado “O Contrato de leasing Financeiro e

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RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 367

as Ações Revisionais”, publicado na Revista de Direito Bancário e do Mercado de Capitais, Ed. Revista dos Tribunais, maio/agosto de 1998, n. 02, p. 11-40. A clareza, a lucidez e a segurança que são peculiares àquele jurista recomendam que daquele artigo sejam coletados os princípios jurídicos e estruturais do contrato de leasing, bem como o conceito de Valor Residual Garantido, indispensáveis para a exata compreensão da questão.

Desejando adquirir determinado bem, pode a pessoa (física ou jurídica), utilizar-se de várias alternativas. Poderá comprá-lo, com o inconveniente de imobilização de vultosa importância e decorrentes prejuízos à sua disponibilidade em capital de giro. Não dispondo de pecúnia, poderá tomar empréstimo em instituição fi nanceira, arcando com os decorrentes ônus (juros e encargos), talvez incompatíveis com os rendimentos que o uso dos bens lhe irá proporcionar, passando os mesmos a integrar seu ativo imobiliário, diminuindo sua liquidez. Como terceira possibilidade, poderá utilizar-se do contrato de leasing, que lhe permitirá a imediata utilização dos bens mediante o pagamento de contraprestações em quantias, prazos e condições predeterminadas, aberta sempre a opção de, ao término do prazo contratual, adquirir os bens mediante o pagamento de um preço residual, também contratualmente fi xado.

Segundo MAURO BRANDÃO LOPES, analisadas as implicações fi nanceiras dessa operação, o arrendador funciona manifestamente como autêntico fi nanciador, e o arrendatário como financiado. A importância do financiamento, aplicada pelo arrendador na compra de coisa, ou por esta representada, se já de sua propriedade, é simplesmente paga parceladamente sob a forma de “aluguel”, com todos os custos acessórios, e acrescida do lucro do fi nanciador. Mas não se cuida de simples locação, pois as prestações pagas pelo arrendatário não representam um mero aluguel, mas sim representam principalmente o pagamento parcelado do bem: as prestações, assim, já compreendem a totalidade dos custos suportados pelo operador, acrescidos do seu lucro, o que torna impossível considerar o contrato como de simples locação (Natureza Jurídica do leasing, Revista de Direito Mercantil, 14/35).

No Direito Brasileiro, o contrato de leasing, que no vernáculo adota o nomen juris de “arrendamento mercantil”, veio a ser regulado pela Lei n. 6.099/1974, que visou basicamente seu “tratamento tributário”.

Mas é na vigente Resolução Bacen n. 2.309, que regulamenta a matéria, que colhem-se os melhores conceitos do contrato de leasing e suas modalidades:

Art. 5º. Considera-se arrendamento mercantil fi nanceiro a modalidade em que:

I - as contraprestações e demais pagamentos previstos no contrato, devidos pela arrendatária, sejam normalmente suficientes para que a arrendadora recupere o custo do bem arrendado durante o prazo contratual da operação e, adicionalmente, obtenha um retorno sobre os recursos investidos;

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II - as despesas de manutenção, assistência técnica e serviços correlatos à operacionalidade do bem arrendado sejam de responsabilidade da arrendatária;

III - o preço para o exercício da opção de compra seja livremente pactuado, podendo ser, inclusive, o valor de mercado do bem arrendado.

Art. 6º. Considera-se arrendamento mercantil operacional a modalidade em que:

I - as contraprestações a serem pagas pela arrendatária contemplem o custo de arrendamento do bem e os serviços inerentes a sua colocação à disposição da arrendatária, não podendo o total dos pagamentos da espécie ultrapassar 75% (setenta e cinco por cento) do custo do bem arrendado;

II - as despesas de manutenção, assistência técnica e serviços correlatos à operacionalidade do bem arrendado seja de responsabilidade da arrendadora ou da arrendatária;

III - o preço para o exercício da opção de compra seja o valor de mercado do bem arrendado.

Parágrafo único. As operações e que trata este artigo são privativas dos bancos múltiplos com carteira de arrendamento mercantil e das sociedades de arrendamento mercantil.

Assim, convém sublinhar uma diferença substancial entre as duas modalidades de arrendamento mercantil:

a) no leasing fi nanceiro, as contraprestações devem ser sufi cientes para que a arrendadora recupere o “custo do bem arrendado” e ainda “obtenha um retorno, ou seja, um lucro sobre os recursos investidos;

b) no leasing operacional, as contraprestações destinam-se basicamente a cobrir o “custo de arrendamento do bem” e ainda dos serviços prestados pela arrendadora com a manutenção e assistência técnica postos à disposição da arrendatária, previsto ainda que o preço para a opção de compra será sempre o do valor de mercado do bem arrendado.

Embora não tratado especifi camente na Resolução Bacen n. 2.309, há também a fi gura do leasing back, ao qual se aplicam as mesmas regras do leasing fi nanceiro, embora dele se diferencie quanto a suas fi nalidades. Verifi ca-se o leasing back, segundo FRAN MARTINS:

(...) quando uma empresa é proprietária de um bem, móvel ou imóvel e o vende a uma outra empresa. Esta, adquirindo-o, imediatamente o arrenda à vendedora. Vê-se, assim, que no leasing back há apenas duas empresas que se envolvem na operação, já que a vendedora e, posteriormente, arrendatária já é possuidora do bem que vai servir de arrendamento; não

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 369

há, dessa forma, aquisição a um terceiro do bem dado em arrendamento (...). Destina-se essa operação às empresas que, tendo grande parte de seu ativo imobilizado, desejam desafogar, desfazendo-se de uma parcela desse ativo para utilizar o produto da venda como capital de giro. A empresa não fi ca desfalcada em sua estrutura, pois continua a usufruir o bem para suas atividades comerciais (CONTRATOS E OBRIGAÇÕES COMERCIAIS. Forense: 6ª ed., n. 407).

O Prof. JORGE R. G. CARDOSO ressalta que no leasing operacional é permitido ao cliente devolver o bem ao arrendador, pois sua característica dominante é a cessão do uso do bem a terceiro, o que pressupõe disponha a empresa de leasing operacional um sólido mercado de segunda mão, como é o caso dos veículos, alguns modelos de aviões e de equipamentos. Já no leasing fi nanceiro as partes objetivam também a transferência da propriedade do bem arrendado, o que justifi ca tenha sido acoplado ao arrendamento o termo “mercantil”, pois a propriedade necessariamente será transferida do arrendador, quer para o arrendatário em caso de exercício da opção de compra, quer para terceiros, caso não haja seu exercício. Em consequência disto, prossegue aquele articulista, no leasing financeiro não é admitido que o arrendatário devolva o bem ao arrendador e pretenda, eventualmente, desfazer o negócio e sustar o pagamento das contraprestações sob a alegação de que não deseja o uso do bem a ele dado em arrendamento mercantil, pois o contrato versa também sobre a transferência de sua disponibilidade (Cadernos de Direito Tributário e Finanças Públicas, Revista dos Tribunais, 1993, v. 5, p. 76).

Vê-se, então, que no leasing fi nanceiro prepondera o fator “fi nanciamento”, a contraprestação devida ao arrendador não é estabelecida em vista do valor de uso do bem, como em uma típica locação de coisas, mas em função da recuperação do capital empregado, acrescido do lucro. No leasing operacional sobreleva o aspecto “locação”. Já o leasing back é utilizado para obtenção de capital de giro pelo arrendatário, o que torna clara a natureza fi nanceira da operação.

No leasing fi nanceiro - que aliás é o leasing propriamente dito e também é a hipótese dos autos - a empresa arrendadora não era anteriormente a proprietária do bem. Esse bem é escolhido e indicado pelo arrendatário, que para tanto entra em contato com o vendedor, podendo, inclusive, com ele acertar o preço. É feita a indicação do bem à empresa de leasing, que o adquire e em seguida arrenda ao cliente que o indicou.

Outra característica do leasing financeiro é a obrigatoriedade do contrato no período determinado para a vigência do mesmo. Assim, todas as prestações pactuadas serão devidas, ainda mesmo que o arrendatário queira dar fi m ao contrato, devolvendo o bem à arrendadora antes de terminado o prazo contratual (assim, Fran Martins, ob. cit.).

Isto porque à empresa de leasing não interessa a coisa, mas a recuperação e a remuneração de seu capital. Não lhe interessa seja “restituído” o bem. Visa a empresa “lessor”, apenas, recuperar o valor do fi nanciamento que precisou

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fazer junto ao mercado bancário a fi m de habilitar-se a adquirir o bem, para poder, de sua vez, contratá-lo em leasing com o cliente. Temos, portanto, um “duplo financiamento”: a empresa de leasing é financiada por instituições prestadora dos capitais, para adquirir o bem; e necessita, imediatamente após, por sua vez, “fi nanciar” o cliente, em geral a médio prazo, mediante o leasing, recuperando assim paulatinamente os custos fi nanceiros de aquisição do bem, as despesas operacionais e, ainda, obtendo sua margem de lucro no negócio, como intermediadora.

Como à empresa arrendadora assiste o direito de recuperar a totalidade do capital empregado na aquisição do bem arrendado, o que compreende todos os seus custos e despesas operacionais, além do natural lucro, o Valor Residual Garantido funciona como um mecanismo de garantia à empresa “lessor” para as seguintes situações:

1) se o arrendatário exercer a opção de compra, ele se tornará proprietário do bem e pagará o “valor residual” em dinheiro, de uma só vez ou conforme contratualmente avençado;

2) se, todavia, o arrendatário não renovar o arrendamento e também não desejar executar a opção de compra, opera-se a devolução do bem ao arrendador. Neste caso, o Valor Residual Garantido serve como um parâmetro para:

b.1) se o bem, ao ser vendido pela arrendadora, alcançar um preço igual ao valor residual, as partes estarão quites;

b.2) se alcançar um preço maior, a arrendadora restituirá ao arrendatário o excedente;

b.3) se o preço da venda for inferior ao valor residual, ao arrendatário cumprirá pagar à arrendadora a diferença a menor.

Assim, pode-se definir o Valor Residual Garantido como uma estipulação contratual de valor fi nal para o bem objeto do contrato, livremente pactuada pelas partes já no início da relação de arrendamento, como fi xação do montante a que o arrendador fará jus, haja ou não haja exercício de opção de compra pelo arrendatário, compondo, esse valor, o montante total legitimamente esperado pelo arrendador e aceito pelo arrendatário como retorno do investimento fi nanceiro feito na operação.

Por isso, o pagamento “antecipado” do Valor Residual Garantido não importa em adiantamento de opção de compra, que o arrendatário deverá fazer apenas no fi nal do prazo do contrato. O arrendatário que antecipa o pagamento do VRG está apenas caucionando aquele valor mínimo assegurado, contratualmente, à arrendadora. Se o arrendatário optar pela compra, o valor residual será considerado pago mediante a “apropriação”, pela arrendadora, dos valores já antecipadamente entregues a título de VRG. Se o arrendatário resolver não comprar e nem renovar o contrato (e no caso de renovação as contraprestações pelo novo período do arrendamento tomam por base não mais o valor original

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RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 371

da aquisição, mas o valor residual pactuado ou seu saldo ainda devido), o bem é devolvido à arrendadora, que irá colocá-lo a venda. O valor apurado será abatido no que ainda for devido pelo “Valor Residual Garantido” e, como já foi dito, se o valor da venda for superior ao valor ainda devido, o excedente deverá ser devolvido ao arrendatário; se inferior, o faltante deverá ser satisfeito por esse.

Um último aspecto deve ainda ser levado em conta, e talvez este seja o motivo para os equívocos, data venia, na exata compreensão do tema: o leasing é uma operação fi nanceira, para a qual pouco importa o valor de uso ou de troca do bem arrendado.

Segundo ARNOLDO WALD:

O leasing não operacional e o leaseback são, evidentemente, operações fi nanceiras, pois nelas intervindo uma empresa que se dedica, habitual e profi ssionalmente, a adquirir bens produzidos por outros, para prover o mercado geral e atender à demanda de quem deles necessita, realiza, a mesma, uma atividade típica de instituição fi nanceira, entregando, ao cliente, recursos sob a forma do direito ao uso e à eventual compra e equipamentos ou outros bens dos quais ele necessita. (“Da legitimidade da cláusula de correção cambial nas operações de repasse realizadas por empresas de arrendamento mercantil”. in Revista do Direito Bancário e do Mercado de Capitais. Ed. Revista dos Tribunais, maio/agosto de 1999, n. 05, p. 18-19).

A obrigação do arrendatário é restituir à arrendadora, in totum, a totalidade do capital empregado por essa na aquisição do bem arrendado. Por isso, quanto antes o capital retorne ao investidor menores são os acréscimos incidentes sobre o valor fi nanciado. Por consequência, o arrendatário que antecipa o pagamento do valor residual reduz o valor das prestações mensais.

JOSÉ FRANCISCO LOPES DE MIRANDA LEÃO explica:

Para exata compreensão da questão das antecipações de valor residual, deve-se primeiro lembrar que uma das características categoriais dos contratos de leasing está em que o preço do arrendamento, nesses contratos, não se forma ao sabor da oferta e procura de bens para arrendar, mas através de uma equação fi nanceira que leva em consideração o capital dispendido pelo arrendador, seu respectivo custo e o lucro bruto esperado, conjunto de valores este que deve ser equivalente à somatória das contraprestações de arrendamento com o valor residual do bem, alcançado na sua venda ao término do período de arrendamento.

Evidentemente, como em toda equação fi nanceira, os acréscimos feitos ao capital inicial serão tanto maiores, quanto maior for o tempo que esse capital leve para retornar ao investidor, e quanto maiores forem os custos

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de captação desse capital. Estabeleça-se, pois, desde logo, o pressuposto de que a visão rígida, que transparece do conteúdo da respeitável decisão majoritária da Egrégia Quarta Turma (referida na consulta), de que o valor residual somente deve ser desembolsado pelo arrendatário no fi nal do período de arrendamento, sob pena de “desfi gurar” o leasing, leva inevitavelmente à conclusão de que, se assim for feito, o valor das contraprestações será mais elevado - pois se uma parcela importante do capital investido pelo arrendador somente retornará depois de 24 ou 36 meses, essa delonga inevitavelmente implicará em maiores custos financeiros, quer diretamente devido ao período maior de tempo de retorno, quer em razão do aumento do risco geral do negócio, que também incrementa a respectiva taxa.

Para melhor compreensão da questão, exemplificarei três contratos de leasing de igual prazo (24 meses), tendo por objeto o mesmo bem (cujo valor fi ca imaginado em R$ 25.000,00), com pactuação de igual Valor Residual Garantido (R$ 5.000,0), em que o retorno esperado do investimento seja calculado pelo arrendador à mesma taxa exponencial de 3,5% ao mês.

Na visão “rígida”, preconizada pelo v. acórdão já citado, o valor residual de R$ 5.000,00 somente pode ser desembolsado pelo arrendatário no fi nal do contrato. Nesse caso, pagará ele vinte e quatro parcelas de R$ 1.420,46 (mil, quatrocentos e vinte reais e quarenta e seis centavos).

Suponha-se, no entanto, que o arrendatário disponha de poupança pessoal de R$ 5.000,00. Se antecipar ao arrendador essa poupança, mantidos todos os demais pressupostos, o valor das contraprestações mensais de arrendamento será reduzido para R$ 1.245,46.

Considerado o desembolso total nas duas situações, teremos que, no primeiro caso (24 vezes 1.420,46 mais 5.000,00) ele será de R$ 39.090,95; no segundo caso (5.000,00 mais 24 vezes 1.245,46) o desembolso será de R$ 34.891,04. É, pois, mais vantajoso para o arrendatário antecipar o valor residual do que manter a respectiva importância depositada em caderneta de poupança, que, se render 1% ao mês, vai lhe proporcionar um incremento, ao fi nal de 24 meses, de apenas R$ 1.348,49, enquanto que a antecipação feita no contrato de leasing lhe proporcionará uma economia de R$ 4.199,91.

No terceiro exemplo, considerarei que o arrendatário não dispõe de R$ 5.000,00 para antecipar, mas aceita fazer, ao longo do contrato, 24 antecipações mensais no valor de R$ 208,33 cada uma (totalizando os R$ 5.000,00). Nessa hipótese, e sempre, mantidos todos os demais pressupostos, o valor mensal da contraprestação de arrendamento será de R$ 1.348,49, e o desembolso total será de R$ 37.363,70 (intermediário, portanto, entre os dois exemplos anteriores).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 373

A formação do preço do arrendamento através da equação fi nanceira assegura perfeitamente a inexistência de prejuízo para o arrendatário na antecipação de importâncias referentes ao valor residual, assim desmentindo, data venia, um pressuposto fundamental do v. acórdão produzido pela C. Quarta Turma do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, que é precisamente o prejuízo do arrendatário.

Por outro lado, o mecanismo de antecipação de valores residuais ainda atende a outras demandas da realidade, viabilizando operações que, de outro modo, não estariam ao alcance de muitos arrendatários (por restrições de crédito). Há que considerar, ainda, como um dado fático da maior importância, a população alcançada pelo leasing em operações que têm por objeto automóveis, nas quais é comum que o arrendatário pretenda utilizar seu veículo usado para reduzir o custo do veículo novo - operação que, no âmbito do leasing, somente pode ser viabilizada através da antecipação de Valor Residual Garantido.

Assim identifi cadas, de um lado, a clara demanda de realidade de que resulta a adoção do sistema de amortizações de valor residual e, de outro, a efetiva inexistência de prejuízo para os arrendatários como consequência normal de tal sistema, cabe, agora, passar à análise da natureza jurídica dessas antecipações, para concluir pela sua legitimidade ou não.

Inicie-se por anotar que nenhum dispositivo expresso de lei veda a prática da estipulação contratual de antecipações sobre o valor residual pactuado nos contratos de leasing. É fato que o art. 5º, da Lei n. 6.099/1974, não prevê, dentre as disposições que exige para os contratos, essa possibilidade. No entanto, resumindo a quatro itens, esse artigo de lei evidentemente elenca apenas as disposições mínimas que o contrato deve conter, não exaurindo, é claro, todo o seu conteúdo em apenas tão poucos elementos. Aliás, nem mesmo as disposições mínimas esse dispositivo disciplina: basta ver que não prevê nem mesmo uma óbvia, que seria a descrição do bem arrendado. É de concluir-se, portanto, que o contrato poderá, além dos elementos previstos no referido artigo, conter outros, que se coadunem com a natureza do negócio ou com ela tenham afi nidade, desde que não contrariem algum outro dispositivo legal específi co - o que não é, data venia, caso nem da estipulação de Valor Residual Garantido, nem de antecipações desse valor no início ou ao longo do contrato.

(A Antecipação do VRG não descaracteriza o leasing. in Revista do Direito Bancário, do Mercado de Capitais e Arbitragem. Ed. Revista dos Tribunais, janeiro/março de 2000, n. 07, p. 220-221).

Por tudo que acima se demonstrou, a antecipação do valor residual não implica em prejuízo algum para o arrendatário, não agride a natureza do leasing, não ofende proibição legal alguma nem mesmo desvirtua o negócio jurídico, muito menos o transforma em compra e venda a prazo.

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Ao contrário, além de não ser vedada pela Lei n. 6.099/1974 (a qual, insista-se, embora defi na os requisitos mínimos do contrato de leasing não regulamenta essa espécie contratual, mas apenas dispõe acerca de seu tratamento tributário), a antecipação do pagamento do valor residual é permitida pela Resolução Bacen n. 2.309/1996, verbis:

Art. 7º. Os contratos de arrendamento mercantil devem ser formalizados por instrumento público ou particular, devendo conter, no mínimo, as especifi cações abaixo relacionadas:

I - a descrição dos bens que constituem o objeto do contrato, com todas as características que permitam sua perfeita identifi cação;

II - o prazo de arrendamento;

III - o valor das contraprestações ou a fórmula de cálculo das contraprestações, bem como o critério para seu reajuste;

IV - a forma de pagamento das contraprestações por períodos determinados, não superiores a 01 (um) semestre, salvo no caso de operações que benefi ciem atividades rurais, quando o pagamento pode ser fi xado por períodos não superiores a 01 (um) ano;

V - as condições para o exercício por parte da arrendatária do direito de optar pela renovação do contrato, pela devolução dos bens ou pela aquisição dos bens arrendados;

VI - a concessão a arrendatária de opção de compra dos bens arrendados, devendo ser estabelecido o preço para seu exercício ou critério utilizável na sua fi xação;

VII - as despesas e os encargos adicionais, inclusive despesas de assistência técnica, manutenção e serviços inerentes a operacionalidade dos bens arrendados, admitindo-se, ainda, para o arrendamento mercantil fi nanceiro:

a) a previsão de a arrendatária pagar Valor Residual Garantido em qualquer momento durante a vigência do contrato, não caracterizando o pagamento do Valor Residual Garantido o exercício da opção de compra;

b) o reajuste do preço estabelecido para a opção de compra e o Valor Residual Garantido;

E nem se diga que tal Resolução estaria “extrapolando suas estritas atribuições regulamentares”.

A situação prevista no art. 7º, VII, a, a Resolução n. 2.309, acima transcrito, não passa, no plano regulamentar, de uma especialização para as sociedades arrendadoras, no setor do mercado de crédito que lhes foi reservado, como instituições fi nanceiras que são, da faculdade de cobrar o Valor Residual Garantido

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em qualquer momento durante a vigência do contrato, inclusive “pulverizando-o” nas prestações, não caracterizando o pagamento antecipado do Valor Residual Garantido exercício antecipado da opção de compra, como amplamente demonstrou-se.

Também não se deve perder de vista que o comando consubstanciado em Resolução da lavra do Conselho Monetário Nacional é lei no sentido material, tendo em vista o disposto no art. 4º, incisos VI e VIII, da Lei n. 4.595/1964, verbis:

Art. 4º. Compete ao Conselho Monetário Nacional, segundo diretrizes estabelecidas pelo Presidente da República:

(...)

VI - disciplinar o crédito em todas as suas modalidades e as operações creditícias em todas as suas formas, inclusive aceites, avais e prestações de quaisquer garantias por parte das instituições fi nanceiras.

(...)

VIII - Regular a constituição, funcionamento e a fi scalização dos que exercerem atividades subordinadas a esta Lei, bem como a aplicação das penalidades previstas.

Em amparo ao argumento supra, vale trazer as lições de GASTON JÉZE, para quem, substancialmente, não há diferença entre lei, medida provisória, regulamento, ordem, instrução, circulares ministeriais expedidas no uso do poder regulamentar, desde que qualquer desses atos estabeleça uma situação jurídica geral, impessoal e objetiva:

Toda manifestación de voluntad que en el ejercicio de un poder legal crea y organiza una situación jurídica general, impersonal, objectiva, es una ley, un acto legislativo. Poco importa la calidad del autor, ni las formas del acto, ni el procedimiento seguido para realizarlo (LOS PRINCIPIOS GENERALES DEL DERECHO ADMINISTRATIVO. Tradução da 2. ed. francesa por Carlos Garcia Oviedo. Madrid: Editora Reus. v. 1, p. 49).

Por fim, no concernente à função normativa do Conselho Monetário Nacional, o Supremo Tribunal Federal já teve oportunidade de reconhecer a constitucionalidade das normas por ele criadas em virtude de delegação legislativa, para disciplinar o mercado fi nanceiro.

Dúvida não resta, portanto, acerca da validade da Resolução n. 2.309/1996, como ato administrativo normativo, inserido no direito positivo pátrio, como norma jurídica e obrigatória, que compõe o sistema jurídico vigente no País.

Algumas outras considerações devem ser tecidas quanto à validade do contrato de arrendamento mercantil, ainda que antecipado o Valor Residual Garantido.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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No Direito brasileiro prestigia-se a liberdade contratual, não havendo qualquer determinação de que os contratos celebrados entre particulares devam ser forçosamente encaixados dentre os “contratos típicos” regulados por lei, para que sejam válidos. Basta apenas que as partes sejam capazes, o objeto seja lícito e a forma seja prescrita ou não defesa em lei (art. 82, do Código Civil). No caso específi co do leasing, trata-se de um contrato amplamente utilizado em outros países, mas que não possui qualquer regulamentação legislativa em nosso País, salvo no que toca aos seus aspectos tributários (Lei n. 6.099/1974) e operacionais (Resolução Bacen n. 2.309).

Também não se deve olvidar a real e expressa intenção das partes em contratar espécie diversa daqueles contratos típicos contemplados no Código Civil, sob pena de se contrariar frontalmente o disposto no art. 85, do Cód. Civil. Enfi m, se as partes preferiram usar padrão contratual distinto e diverso de contrato típico de compra e venda, ainda que praticado em outros países, tal fato não constitui razão para redução do contrato ajustado entre as partes a padrão contratual típico do direito brasileiro, que expressamente não quiseram adotar.

A ninguém, salvo às Receitas Federal e Estadual, a quem compete arrecadar o Imposto de Renda e o ICMS, respectivamente, aproveita a pretendida descaracterização do contrato de arrendamento mercantil em contrato de compra e venda.

Que se tratasse de um contrato de compra e venda fi nanciada, com reserva de domínio, que é a espécie contratual que talvez mais se aproxime do pretendido pelo apelado. Nesta hipótese, da mesma forma, se o consumidor não paga a totalidade das parcelas, mesmo que pague a maior parte delas, não adquirirá o domínio do bem, sendo garantido ao vendedor buscar reaver a coisa alienada.

A doutrina de HAMILTON MORAES E BARROS, sobre o tema, é esclarecedora:

Na venda a crédito com reserva de domínio haverá (haverá, ainda não há) transmissão de domínio, como é da essência da compra e venda, mas essa transmissão está sujeita a cláusula suspensiva, qual seja o pagamento das prestações convencionadas do preço. O comprador-devedor recebe a posse, mas o credor-vendedor retém o domínio até o integral pagamento do preço. Essa estrutura é relevante. Dela deflui o seu tratamento processual, sabido que existem relações estreitas entre o direito de base e a sua apuração, proclamação e execução em juízo. (in Comentários ao Código de Processo Civil. 2ª ed.. Rio de Janeiro: Forense, 1977, v. IX, p. 438).

Mais à frente, colhe-se:

Verificada a mora do comprador-devedor, no contrato de venda a crédito com reserva de domínio, duas opções se abrem para o vendedor e somente duas: ou a ação, para reaver o restante do preço ajustado, ou

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 377

a ação de rescisão do contrato. Pela primeira, mantém-se o contrato e transfere-se a propriedade, mas se busca em juízo a sua execução que consiste no implemento do preço. Na segunda opção, o que se tem em vista, é a recuperação da posse da coisa vendida, o que faz o vendedor, com base no domínio que ainda mantém, pois que o reservou e ainda o conserva. (ob. cit., p. 441).

E nem se diga que a situação do adquirente, nesta hipótese, seria atenuada porque o parágrafo 3º, do art. 1.071, do CPC, garantiria àquele a devolução dos valores pagos no caso do vendedor buscar rescindir o contrato e reaver o bem.

É princípio basilar do direito que, operando-se a rescisão de um contrato, devem as partes regressar ao status quo ante, ressarcindo-se perdas e danos mútuos. Se a empresa “lessor” capta recursos para aquisição do bem arrendado e deve pagar os encargos decorrentes daquela captação, obviamente o adquirente que dá causa à resolução do contrato e aos prejuízos dali advindos deve indenizar pelas perdas e danos suportados, hipótese em que voltará o consumidor ao mesmo estágio inicial: não adquirirá o bem e ainda deverá pagar pelos ônus decorrentes da rescisão do contrato.

Mas não param por aí as consequências da alteração da natureza jurídica do contrato.

De acordo com o art. 2º, XIV, do RICMS, o ICMS incidirá no momento da transmissão da propriedade da mercadoria objeto de arrendamento mercantil (no caso, veículo automotor), às alíquotas de 12% ou de 18%, conforme defi nido no art. 43, daquele Regulamento (nas operações internas). A base de cálculo do tributo é assim defi nida: “na venda de produto objeto de arrendamento mercantil, em decorrência de opção de compra exercida pelo arrendatário, o preço fi xado para o exercício da opção de compra”. Se o arrendatário for contribuinte do imposto, a operação é isenta do ICMS, a teor ditem 102, do Anexo I, do RICMS.

Se descaracterizada a operação de arrendamento mercantil em compra e venda fi nanciada, o ICMS incidirá sobre a seguinte base de cálculo (art. 50, inciso I, alínea a, do RICMS): “integram a base de cálculo do imposto: (...) todas as importâncias recebidas ou debitadas pelo alienante ou remetente, como frete, seguro, juro, acréscimo ou outra despesa”.

No caso dos autos, o valor fi xado para o exercício da opção de compra foi de R$ 7.900,00, enquanto que o preço do produto, consideradas todas as importâncias a serem recebidas pelo alienante, seria de R$ 11.781,88 (considerando os valores ajustados quando da contratação). O ICMS devido na hipótese da opção de compra no arrendamento mercantil, seja à alíquota de 12% ou 18% (conforme defi nido no art. 43 do RICMS), incidirá sobre R$ 7.900,00. Na compra e venda, por sua vez, incidirá sobre R$ 11.781,88. Por simples cálculo verifi ca-se que esta segunda operação será mais onerosa.

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O custo da diferença, por força da cláusula 18ª, c, do contrato celebrado entre as partes (fl . 07-verso), correria por conta do adquirente (arrendatário).

Todas as indesejáveis consequências retro decorreriam de uma, data venia, indevida intromissão do Judiciário na esfera das vontades dos particulares, sem que haja qualquer proveito prático para qualquer das partes - principalmente para o consumidor, que sairá devendo ainda mais do contrato descaracterizado em relação às suas feições originais.

Por fim, e redobrando vênias ao entendimentos em contrário, há que se manifestar preocupação de que, alterada a tipifi cação do contrato de leasing, não venha se a extinguir, ou a se tornar extremamente onerosa, por consequência indireta, tal modalidade contratual em nosso País, a despeito de se tratar, em todo o mundo, de importante instrumento de fomente à produção e ao consumo, com inúmeras vantagens, até para os próprios arrendatários, de ordem fi nanceira, contábil e tributária. Neste sentido, as palavras do já citado JOSÉ FRANCISCO LOPES DE MIRANDA LEÃO:

Na realidade, o contrato de leasing, inclusive quando preveja antecipações sobre o valor residual estipulado, constitui uma resposta extremamente hábil e rica do direito contratual a demandas específi cas da realidade econômica, oferecendo um instrumento a mais para a satisfação de desígnios perfeitamente aceitáveis e legítimos, sem prejuízo algum. Anatematizar a priori todo um mecanismo de satisfação desses desígnios da vida econômica, praticamente proibindo a livre estipulação de antecipações sobre valor residual, mesmo que sob forma de caução em dinheiro da obrigação contratual de garantir esse mesmo valor, constitui uma inibição inteiramente desnecessária e desfundamentada ao livre poder de contratar, privando indevidamente os particulares de um instrumento que tem servido por mais de uma década para a efi ciente veiculação jurídica de relações obrigacionais lícitas. Certamente não há porque fazer isso.(ob. cit., p. 223).

Afi rmo, conclusivamente, que (fl s. 258-259):

Ao me fi liar à corrente que reconhece a não-descaracterização do contrato em face do pagamento antecipado do Valor Residual Garantido, conforme vários pronunciamentos em decisões de minha lavra, no campo do Poder Judiciário, tenho como presentes as seguintes razões:

- o leasing é um contrato complexo pelo que a sua interpretação há de sem feita visando bem defi nir a sua função no mercado;

- sendo uma forma de fi nanciamento de bem, com o objetivo do arrendatário não imobilizar capital, há de se considerar que os seus resultados devem produzir vantagens para as partes, garantindo-se, contudo, o fenômeno do equilíbrio contratual;

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 379

- se o pagamento do Valor Residual Garantido pode ser efetivado no término do contrato, sem isso importar em descaracterização, em caso de opção pela compra do bem, não há qualquer ilicitude que previamente haja a antecipação desse pagamento em parcelas periódicas, de acordo com a vontade das partes, acertando-se no fi nal do contrato os resíduos em favor de uma ou de outra, dependendo se a ação de compra for feita ou não;

- o Valor Residual Garantido funciona como um equivalente monetário específico para os contratos de leasing, para garantir o valor do bem depois de usado durante o período contratado, pois, esse bem pode voltar para o arrendador, com valor defasado, no fi nal do contrato, caso não haja opção;

- o Valor Residual Garantido tem por função assegurar ao arrendatário que, no fi nal do contrato, o bem objeto do contrato, após ser usado, será vendido por aquele valor máximo prefi xado, bem como, assegura ao arrendador um valor mínimo que deverá receber por esse mesmo bem, ainda que a opção de compra não seja exercida - é fórmula para garantir o equilíbrio dos efeitos do contrato;

- no leasing, o preço é formado por uma equação fi nanceira formada pelo somatório das contraprestações mensais com o valor residual do bem, cujo resultado deve ser igual ao total do capital empregado na sua aquisição e colocado à disposição do arrendatário, a tudo acrescendo-se o custo fi nanceiro desse capital, inclusive o fator de risco específico decorrente da operação e a renda esperada pelo arrendador; é, portanto, um preço formado por vários elementos, representando uma das peculiaridades do mencionado negócio jurídico;

- considero, outrossim, que, apesar da similitude reconhecida, não se pode considerar, conforme exposto, que a antecipação do VRG signifi ca transformar o contrato em promessa de compra e venda, porque: a) primeiramente essa não foi a vontade das partes; b) não há vedação legal no artigo 11, § 1º da Lei n. 6.099/1974, pelo que com esse dispositivo está harmônico o artigo 7º, VII, a, da Resolução n. 2.309/1996, do Banco Central; c) a descaracterização provoca situação mais desvantajosa para a parte, pois, em termos fi scais, passaria a respondem pelo ICMS sobre o valor integral da operação, bem como, a tem de estornar, no caso de empresa, os lançamentos do Imposto de Renda, haja vista que as prestações pagas foram tidas como despesas e passarão, conseqüentemente, a integrar o quadro das receitas e, por isso, sujeitas à tributação sobre lucro, recolhendo as importâncias devidas decorrentes, com os acréscimos legais.

Isto posto, voto pelo conhecimento e recebimento dos embargos para

prevalecer o acórdão apresentado como paradigma.

É como voto.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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VOTO

O Sr. Ministro José Arnaldo da Fonseca: Sr. Presidente, a matéria já foi

devidamente explicitada e, com a vênia da divergência, acompanho o voto do Sr.

Ministro-Relator, conhecendo dos embargos e os rejeito.

VOTO

O Sr. Ministro Fernando Gonçalves: Sr. Presidente, acompanho a

divergência inaugurada pelo Sr. Ministro Edson Vidigal no sentido de conhecer

dos embargos e os receber.

VOTO

O Sr. Ministro Felix Fischer: Sr. Presidente, acompanho a divergência nos

termos do voto do Sr. Ministro José Delgado no sentido de conhecer e receber

os embargos.

VOTO

O Sr. Ministro Gilson Dipp: Sr. Presidente, acompanho a divergência no

sentido de conhecer dos embargos e os receber.

VOTO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Sr. Presidente, pelo que se

depreende, estamos na iminência de jogar por terra a Súmula n. 263 do Tribunal,

que está a vigorar há bastante tempo e se encaminha à Corte em sentido diverso.

Peço vênia para acompanhar o bem fundamentado voto do eminente Ministro-

Relator.

Com efeito, temos votado, reiteradamente, na Turma - e esse é o

entendimento que já prevalece há muito tempo, tanto mais que corporifi cado

em verbete sumular -, que o contrato de leasing se transforma em compra e

venda quando há o pagamento antecipado do Valor Residual Garantido, e

assim se tem sustentado porque a característica básica do leasing é o direito

de opção. Assim, ao fi nal do contrato, é possível pleitear-se a renovação do

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 381

fi nanciamento, a aquisição do bem ou sua alienação. Ora, se há antecipação do

Valor Residual Garantido, que espaço existe para essa opção se o valor do bem

já foi integralmente pago? A característica básica do contrato de leasing, data

venia, é o direito de opção; não há que optar por aquilo que, na prática, já foi

adquirido e foi objeto de pagamento.

A meu ver, há, sim, uma descaracterização: leasing que se transforma num

contrato de compra e venda à prestação.

Com essa breve observação, e tendo em conta a Súmula n. 263 em pleno

vigor, acompanho o voto do ilustre Ministro-Relator no sentido de conhecer

dos embargos e os rejeitar.

VOTO-VOGAL

O Sr. Ministro Fontes de Alencar: Senhor Presidente, reconheço que há

nuanças várias sobre a matéria, mas, por enquanto, estou a homenagear a Seção

de Direito Privado à luz da Súmula n. 263.

Acompanho o voto do eminente Ministro-Relator, conhecendo dos

embargos, mas os rejeitando.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: 1. Trata-se, em síntese, de

discussão quanto à permanência ou não na aplicação do Enunciado n. 263 da

Súmula desta Corte, editado pela Segunda Seção, que consigna:

A cobrança antecipada do valor residual (VRG) descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil, transformando-o em compra e venda a prestação.

Pedi vista dos autos a fim de reexaminar o tema e refletir sobre os

argumentos trazidos nestes embargos de divergência.

2. O leasing fi nanceiro é regulamentado pela Lei n. 6.099/1974, com as

alterações da Lei n. 7.132/1983, consistindo “no negócio jurídico bilateral

pelo qual uma das partes, necessitando utilizar um determinado bem, procura

uma instituição fi nanceira para que promova a sua compra e posteriormente

lhe entregue em locação, mediante uma remuneração periódica, em geral, no

seu somatório, superior a seu preço de aquisição. Nesse contrato, ao fi nal do

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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prazo surgem três opções para o locatário: a de tornar-se proprietário mediante

o pagamento de uma determinada quantia, a de renovar a locação por valor

inferior ao primeiro período locativo ou a de devolver a coisa locada” (Celso

Benjó, Revista Forense, 274/11).

Cuida-se, portanto, de espécie híbrida de contrato, misto de fi nanciamento

na fase inicial, locação na fase intermediária e venda na fase fi nal, não sendo essa

última imprescindível. Tem como característica essencial, segundo a doutrina

especializada, a oferta unilateral do arrendante ao arrendatário, nos termos do

contrato, da tríplice opção de adquirir o bem, devolvê-lo ou renovar o contrato,

sendo de aduzir-se que a Lei n. 6.099/1974, em seu art. 5º, c, enumera, entre os

elementos caracterizadores do contrato de arrendamento mercantil, ou leasing, a

faculdade de o arrendatário exercer a opção de compra.

Destarte, se desatendida essa disposição legal, com o exercício da opção de

compra antes do término do contrato, este restará transmudado para operação

de compra e venda à prestação, nos termos do art. 11, § 1º da referida lei, que

dispõe:

A aquisição pelo arrendatário de bens arrendados em desacordo com as disposições desta lei será considerada operação de compra e venda a prestação.

No caso, cumpre verifi car se o pagamento do denominado Valor Residual

Garantido - VRG, simultaneamente ao pagamento das prestações, implica

exercício antecipado da opção de compra, e conseqüente alteração da natureza

do contrato para compra e venda a prestação.

Opção de compra é o direito potestativo do arrendatário de, ao fi nal do

contrato, consolidar em si o domínio e a posse direta do bem, ao passo que valor

residual é o preço contratual estipulado para o exercício da opção de compra,

que deve constar expressamente do contrato (ou o critério para sua fi xação),

consoante prevê o art. 5º, d da Lei n. 6.099/1974.

Já o denominado Valor Residual Garantido, diferente do valor residual, na

defi nição de Jorge G. Cardoso, “é uma obrigação assumida pelo arrendatário,

quando da contratação do arrendamento mercantil, no sentido de garantir que o

arrendador receba, ao fi nal do contrato, a quantia mínima fi nal de liquidação do

negócio, em caso de o arrendatário optar por não exercer seu direito de compra

e, também, não desejar que o contrato seja prorrogado”.

Quanto ao valor em si, é o mesmo do valor residual, ou saldo não

depreciado, ou preço de opção de compra, que pode o contrato eleger seja o

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 383

preço de mercado. É esse valor que o arrendatário fi ca obrigado a cobrir se

houver diferença entre o valor contábil e o valor conseguido na venda.

Analisando o tema, assim leciona Arnaldo Rizzardo (Leasing, 3ª edição,

Editora Revista dos Tribunais, p. 80 e 81):

A fi gura envolve uma contradição com o próprio leasing, eis que, de acordo com o sentido de VRG, o arrendador terá assegurado sempre um valor residual, ao fi nal. Mesmo que não exercida a opção de compra, esse valor residual deverá ingressar na sua receita. Vendendo o bem para terceiro, se não atingido o VRG, ao arrendatário caberá a complementação.(...)

O que existe no arrendamento é a possibilidade de não se exercer a opção de compra. Exigindo a complementação do valor, caso a alienação a terceiro fi car aquém do valor residual, indiretamente está-se impondo a aquisição do bem.

Na verdade, o Valor Residual Garantido não consta previsto na Lei n. 6.099, e muito menos na Lei n. 7.132. A Res. n. 980 introduziu-o expressamente, sobrepondo-se à lei. Instituiu mais uma obrigação, sem que nada constasse da lei, e descaracterizando a própria natureza do leasing, eis que as prestações calculam-se em vista do valor do bem, e não se justifi cando acréscimos, porquanto já prevista a remuneração da atividade por meio da incidência de juros (grifei).

Irineu Mariani, em artigo publicado na Revista dos Tribunais, vol. 756, p.

77-84, sobre as Resoluções n. 980/1984 e n. 2.309/1996, aduz:

o regulamento não diz que pode ser cobrado de modo instantâneo ou progressivo, como vêm sustentando os defensores da não descaracterização, e sendo pactuado nos contratos, cujo caráter adesivo impõe o adiantamento. É possível tão-só a previsão como faculdade do arrendatário. Poderá, este, quando entender conveniente, antecipar o pagamento, sem que isso caracterize opção de compra. Essa conveniência pode ocorrer quanto for eleito o VR de Mercado. Exemplo: uma greve nas montadoras de veículos paralisa o setor durante diversos meses. O aquecimento no comércio dos usados é efeito natural, elevando o preço. Nessa moldura, convém ao arrendatário, máxime se o contrato estiver na fase fi nal pagar o preço de mercado sic stantibus, antes que os efeitos se façam sentir. Em suma, é uma regra que traduz proteção aos interesses do arrendatário, e não imposição da vontade da arrendadora.

Após adotar, nos precedentes de que fui relator, ou vogal, o entendimento refl etido no enunciado sumular em questão, não deixei de meditar sobre o tema, e com mais ênfase na oportunidade em que o assunto passou à apreciação da Corte Especial, pela via dos embargos de divergência.

Novas considerações afl oraram, então, no sentido de que, se por um lado não há nas leis de regência a previsão do Valor Residual Garantido, também não há nelas nada que estabeleça a aventada contradição conceitual entre o instituto

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do arrendamento mercantil e a estipulação dessa cláusula. Na espécie, de outro lado, se não é a lei que estabelece o VRG, também certo é que, não havendo impedimento legal para a sua contratação, há que ser considerada válida a cláusula que o estipula.

Considere-se, ainda (e isso pode ser comprovado por todos que tenham

experiência própria em adquirir bens, por exemplo automóveis, pelo sistema

de leasing), que os custos operacionais mais baratos desse tipo de operação

fi nanceira são benéfi cos ao consumidor, que acaba tendo acesso a um crédito

mais favorável do que as operações de fi nanciamento normais. E é de tal monta

essa vantagem que as prestações pagas pelos arrendatários, incluída a parcela do

VRG, são menores que as parcelas de um simples fi nanciamento bancário de

mesmo valor e idêntico prazo.

A oposição ao adiantamento do VRG, outrossim, tem sido veiculada pelos

arrendatários inadimplentes, como tentativa de frustrar as ações de busca e

apreensão dos bens adquiridos pela forma do leasing, sendo relevante observar

que esse argumento merece maior atenção nesta época de modernização no

regime das relações obrigacionais introduzida pelo novo Código Civil, que

privilegia, com infl uência do texto constitucional, o princípio da boa-fé.

Na prática, o adiantamento do VRG não retira a possibilidade de, ao fi nal

do prazo do contrato, ocorrer a sua renovação ou a devolução do bem. Apenas

representa uma garantia para o arrendante que, com a fi nalidade de atender

aos interesses do arrendatário, adquire bem durável, com alta probabilidade de

deterioração.

Quanto à incompatibilidade da contratação e do adiantamento do VRG

com a causa econômica desse negócio jurídico, o desembolso antecipado de

todos os valores, mas de forma parcelada, antes do término do contrato, não

é feita com característica de defi nitividade até a opção de compra, posto que,

apenas se exercida essa opção, passará ela a pertencer ao arrendante. Ocorrendo

a hipótese de renovação contratual a importância deverá ser devolvida ao

arrendatário; e se houver a venda do bem a terceiro, a diferença entre o VRG e o

valor obtido com a venda deverá ser igualmente repassada ao arrendatário. Isso

decorre automaticamente da sistemática contratual.

Trata-se aqui, portanto, apenas de defi nir quem fi cará com a guarda dos

valores em caráter provisório até o momento do desfecho da avença.

Se se permitir o adiantamento do VRG sem que haja a descaracterização

do leasing, estaremos dando a guarda provisória dessa importância à instituição

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 385

arrendadora. Se se entender o contrário, estar-se-á permitindo que o arrendatário fi que com a guarda dos valores. A solução, a meu sentir, repousa sobre a observância dos riscos e benefícios que cada parte aufere com o contrato.

Tenho que nessa espécie contratual, em especial, a parte que suporta mais riscos é o arrendante que, como já frisado, para concretizar uma operação de intermediação fi nanceira, adquire um bem durável (mas nem por isso infenso à depreciação), de escolha do arrendatário, fi cando o último com a sua posse direta. O capital do arrendante é imobilizado no momento do contrato para ser recuperado em parcelas, a longo prazo. No fi nal desse prazo o uso do bem pelo arrendatário estará estampado no seu estado de conservação, repercutindo sobre o seu valor de mercado. Ademais, a solvência das instituições fi nanceiras que operam com o leasing oferece menos riscos para o arrendatário, no caso de optar pela devolução do bem, no sentido de obter a restituição da diferença apurada entre o valor de venda do bem e o VRG contratado. Por outro lado, se o arrendatário escolher a aquisição do bem, já terá adiantado a importância para liquidação do negócio, em prestações de valor pré-fi xado.

De outro lado, nenhuma implicação tributária determina a descaracterização do contrato de leasing em face do adiantamento do VRG. Os regulamentos que permitem contratação e a cobrança do VRG foram editados pela própria União, por meio do Banco Central, um dos seus órgãos.

Com tais fundamentos, ao reexaminar a matéria, tenho que o adiantamento do VRG não descaracteriza o contrato de leasing.

3. Pelo exposto, com a vênia do Relator e dos em. Pares que o acompanharam

na conclusão, acolho os embargos de divergência.

VOTO-VOGAL (VENCIDO)

O Sr. Ministro Barros Monteiro: Sr. Presidente, um dos característicos do

contrato de arrendamento mercantil (leasing) é a opção de compra, tanto que o

art. 5º da Lei n. 6.099, de 12.09.1974, reza no que ora interessa:

Art. 5º - Os contratos de arrendamento mercantil conterão as seguintes disposições:

c) opção de compra ou renovação de contrato, como faculdade do

arrendatário;

d) preço para opção de compra ou critério para sua fixação, quando for estipulada esta cláusula.

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Esclareço que estou denominando o “valor residual” como o preço pelo qual o arrendatário, no vencimento do contrato, exerce a opção de compra, afastando de seu conceito, ao menos para o exame da espécie, a quantia mínima correspondente à depreciação, à obsolescência do objeto em virtude de seu uso.

Assim defi nido o “valor residual”, tenho que, se o arrendatário por força de estipulação contratual, vier pagando, juntamente com as contraprestações, o referido “valor residual”, inócua restará, a meu ver, a previsão pactual de que, ao término da avença, terá a faculdade de exercer a opção de compra. Já estará ele, por certo, pagando o preço da aquisição, de tal sorte que, ao fi nal, inexistirá opção alguma.

Daí, pois, a descaracterização do contrato de leasing, em conformidade, aliás, com o que enuncia o art. 11, parágrafo 1º, da citada Lei n. 6.099/1974, in

verbis:

§ 1º - A aquisição pelo arrendatário de bens arrendados em desacordo com as disposições desta Lei será considerada operação de compra e venda a prestação.

Pertinente, assim, a observação constante do voto proferido pela Ministra

Nancy Andrighi quando do julgamento do REsp n. 213.828-RS, precisamente

o que deu origem a estes embargos de divergência, segundo a qual:

O leasing como negócio jurídico complexo veicula uma promessa unilateral de venda e dentre a tríplice opção ao tempo do término do prazo contratual, está a opção de aquisição do bem, de caráter não obrigatório, conforme anunciado à unanimidade pela doutrina pátria e diplomas legais sobre o tema.

A antecipação do VRG é sinal claro de descaracterização do leasing por implicar no desaparecimento da fi gura da promessa unilateral de compra e venda e da respectiva opção, porque imposta a obrigação de compra desde o início da execução do contrato.

Na mesma linha também o pronunciamento do Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar nesta Corte Especial quando, na assentada do dia 04.12.2002, prosseguiu-se no julgamento destes embargos de divergência. Para S. Exa., “o fato de existirem regulamentos administrativos expedidos para consagrar esse desvirtuamento não pode servir para que o Tribunal, deixando de lado o fi gurino legal do leasing, passe a reconhecer como tal um contrato que na verdade nada mais é do que compra e venda fi nanciada, mas executado de modo gravoso ao arrendatário e ao próprio Fisco”.

Rogando vênia, rejeito os embargos, nos termos do que enuncia a Súmula n. 263-STJ.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 387

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins: Pedi vista dos autos para

melhor examinar a divergência estabelecida entre julgados da eg. 1ª Turma, com

a Súmula n. 263 deste STJ.

O acórdão da 1ª Turma, da Relatoria do E. Min. Delgado, apontado como

divergente, enfatiza na elucidativa ementa:

Tributário. Leasing. Imposto de Renda. Descaracterização do contrato em compra e venda. Inocorrência.

1. O contrato de leasing, em nosso ordenamento jurídico, é um negócio jurídico complexo defi nido, no art. 1º, da Lei n. 6.099, de 12.09.1974, com as alterações introduzidas pela Lei n. 7.132, de 26.10.1983, como um “Negócio jurídico realizado entre pessoas jurídicas, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora segundo especifi cações da arrendatária para uso próprio desta”.

2. Por tais características, o referido contrato só se transmuda em forma dissimulada de compra e venda quando, expressamente, ocorrer violação da própria lei e da regulamentação que o rege.

3. Não havendo nenhum dispositivo legal considerando como cláusula obrigatória para a caracterização do contrato de leasing e que fixe valor específi co de cada contraprestação, há de se considerar como sem infl uência, para a defi nição de sua natureza jurídica, o fato das partes ajustarem valores diferenciados ou até mesmo simbólico para efeitos da opção de compra.

4. O Banco Central, por permissão legal, na Resolução n. 2.309, de 28.08.1996, considera arrendamento mercantil fi nanceiro a modalidade em que:

I - As contraprestações e demais pagamentos previstos no contrato, devidos pela arrendatária, sejam normalmente suficientes para que a arrendadora recupere o custo do bem arrendado durante o prazo contratual da operação e, adicionalmente, obtenha um retorno sobre os recursos investidos;

II - as despesas de manutenção, assistência técnica e serviços correlatos à operacionalidade do bem arrendado sejam de responsabilidade da arrendatária;

III - o preço para o exercício da opção de compra seja livremente pactuado, podendo ser, inclusive, o valor do mercado do bem arrendado.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

388

5. Contrato de leasing, compondo todos os elementos acima anunciados, fi rmado livremente pelas partes, não pode ser descaracterizado pelo Fisco para fins tributários, como sendo de compra e venda, passando a não aceitar as prestações pagas como despesas dedutíveis.

6. A descaracterização do contrato de leasing só pode ocorrer quando fi que devidamente evidenciada uma das situações previstas em lei, no caso, a prevista nos arts. 2º, 9º, 11, § 1º, 14 e 23, da Lei n. 6.099/1974. Fora desse alcance legislativo, impossível ao Fisco tratar o contrato de leasing, por simples entendimento de natureza contábil, como sendo de compra e venda.

7. Homenagem ao princípio de livre convenção pelas partes quanto ao valor residual a ser pago por ocasião da compra.

8. Não descaracterização de contrato de leasing em compra e venda para fi ns de imposto de renda.

9. Precedentes jurisprudenciais: REsp’s n. 174.031-SC e n. 184.932-SP, ambos da 1ª Turma.

10. Recurso desprovido. (REsp n. 268.005-MG).

O acórdão embargado, da lavra do E. Min. Antônio de Pádua Ribeiro,

Relator para acórdão, expressa na ementa:

Arrendamento mercantil. Leasing. Revisão contratual.

I - Descaracterizado pelo pagamento antecipado do Valor Residual Garantido (VGR), o contrato de leasing transforma-se em compra e venda a prestações.

II - É facultado às instituições financeiras contratar juros a taxa superior superiores a 12% a.a. Súmula n. 596-STF.

III - Inocorre, no caso, potestividade da cláusula que estipula a comissão de permanência, que não pode ser cumulada com a correção monetária (Súmula n. 30-STJ).

IV - Ofensa aos arts. 939, 955 e 960 do Código Civil não caracterizada.

V - Recurso especial conhecido em parte e, nessa extensão provido, para afastar a limitação da taxa de juros e autorizar a cobrança da comissão de permanência, observada a Súmula n. 30 STJ.

Residiria, em resumo, a divergência na natureza jurídica do contrato de

leasing tendo em vista o pagamento antecipado do VRG - Valor Residual

Garantido.

Vejamos o que será o VRG, sigla que defi ne o Valor Garantido Residual,

inserido como cláusula nos contratos de leasing pela Resolução n. 980/1984 e n.

2.309/1996 do Bacen.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 389

A primeira perplexidade é a constatação de que o Bacen passou a legislar

neste país, criando encargos não previstos em lei e que vêm sendo impostos às

pessoas, como é o caso também da Selic. As Leis n. 6.099 e n. 7.132 não prevêem

o Valor Residual Garantido, como afi ançam Arnaldo Rizzardo (Leasing, 3ª ed.

Rev. Trib. p. 80-81), e Irineu Mariani (Rev. Trib. Vol. 756, p. 77-84).

Mas, da mesma forma como vem sendo imposto aos contribuintes o

pagamento da Taxa Selic, não há contrato de leasing que não preveja o VRG, a

partir da Res. n. 2.309, de 28.08.1996, do Bacen, que revogou a Res. n. 980, de

13.12.1984, e estabelece no seu art. 7º, in verbis:

Art. 7º. Os contratos de arrendamento mercantil devem ser formalizados por instrumento público ou particular, devendo conter, no mínimo, as especifi cações abaixo relacionadas:

I – a descrição dos bens que constituem o objeto do contrato, com todas as características que permitam sua perfeita identifi cação;

II – o prazo de arrendamento;

III – o valor das contraprestações ou a fórmula de cálculo das contraprestações, bem como o critério para seu reajuste;

IV – a forma de pagamento das contraprestações por períodos determinados, não superiores a 01 (um) semestre, salvo no caso de operações que benefi ciem atividades rurais, quando o pagamento pode ser fixado por períodos não superiores a 01 (um) ano.

V – as condições para o exercício por parte da arrendatária do direito de optar pela renovação do contrato, pela devolução dos bens ou pela aquisição dos bens arrendados;

VI – a concessão a arrendatária de opção de compra dos bens arrendados, devendo ser estabelecido o preço para seu exercício ou critério utilizável na sua fi xação;

VII – as despesas e os encargos adicionais, inclusive despesas de assistência técnica, manutenção e serviços inerentes à operacionalidade dos bens arrendados, admitindo-se, ainda, para o arrendamento mercantil fi nanceiro:

a) a previsão de a arrendatária pagar Valor Residual Garantido em qualquer momento durante a vigência do contrato, não caracterizando o pagamento do Valor Residual Garantido o exercício da opção de compra;

b) o reajuste do preço estabelecido para a opção de compra e o Valor Residual Garantido;

VIII - as condições para eventual substituição dos bens arrendados, inclusive na ocorrência de sinistro, por outros da mesma natureza, que melhor atendam

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

390

às conveniências da arrendatária, devendo a substituição ser formalizada por intermédio de aditivo contratual;

IX - as demais responsabilidades que vierem a ser convencionadas, em decorrência de:

a) uso indevido ou impróprio dos bens arrendados;

b) seguro previsto para cobertura de risco dos bens arrendados;

c) danos causados a terceiros pelo uso dos bens;

d) ônus advindos de vícios dos bens arrendados;

X - a faculdade de a arrendadora vistoriar os bens objeto de arrendamento e de exigir da arrendatária a adoção de providências indispensáveis a preservação da integridade dos referidos bens;

XI - as obrigações da arrendatória, nas hipóteses de:

a) inadimplemento, limitada a multa de mora a 2% (dois por cento) do valor em atraso.

b) destruição, perecimento ou desaparecimento dos bens arrendados;

(Redação dada ao inciso pela Resolução Bacen n. 2.659, de 28.10.1999).

XII - a faculdade de a arrendatária transferir a terceiros no País, desde que haja anuência expressa da entidade arrendadora, os seus direitos e obrigações decorrentes do contrato, com ou sem corresponsabilidade solidária.

Na definição da Lei n. 6.099/1974, alterada pela Lei n. 7.132/1985,

“considera-se arrendamento mercantil, para efeitos desta lei, o negócio jurídico

realizado entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou

jurídica, na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de

bens adquiridos pela arrendadora, segundo especifi cações da arrendatária e para

uso próprio desta”.

O legislador brasileiro por certo não primou na defi nição jurídica do

instituto importado do direito anglo-saxão. A nova forma contratual, na

tradução pátria, refl ete a natureza de um contrato misto e não de um contrato

típico.

Daí decorrem as difi culdades surgidas na interpretação da lei reguladora

às hipóteses diferenciadas utilizadas pelas partes e perseguidas pelo Fisco

consoante a voragem arrecadadora.

Em tese, a pessoa física ou jurídica interessada na utilização de um bem,

automóvel, por exemplo, por conveniência financeira ou impossibilidade

econômica dirige-se a uma fi nanceira e propõe que ela adquira o bem e lhe

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 391

permita pagá-lo em prestações, podendo optar por comprar o bem mediante

o pagamento do valor previamente ajustado (arts. 5º, c, 15 e § único, da Lei n.

6.099 e arts. 5º e 6º da Res. n. 2.309).

Mas o art. 11, § 1º, prescreve que “a aquisição pelo arrendatário de bens

arrendados em desacordo com as disposições desta Lei será considerada

operação de compra e venda à prestação”. O parágrafo foi inserido por pressões

fazendárias, bem se vê, pois, sendo opção legal do locatário a aquisição do bem

arrendado, não poderia contribuir para a desnaturação do contrato a compra do

bem.

Mas a lei impõe que assim seja e uma Resolução do Banco Central,

exorbitando da lei, inseriu nos contratos de leasing, a título de regulamentá-

los, o VRG - Valor Residual Garantido - preço contratualmente estipulado e

garantido pela arrendatária como mínimo que será recebido pela arrendadora na

venda a terceiros do bem arrendado, na hipótese de não ser exercida a opção de

compra (Portaria n. 564/1978-MG, inciso 2).

Na prática, o arrendador vem contratando o pagamento antecipado da

VRG, para cobrir-se de eventual prejuízo ou mesmo oneração de custos.

A verdade, porém, é que tal antecipação foi regulada pela Portaria MF

n. 140, de 27.07.1984, não desnaturando o contrato de leasing, pois prescreve

que “as parcelas de antecipação do Valor Residual Garantido ou do pagamento

por opção de compra serão tratadas como passivo do arrendador e ativo do

arrendatário, não sendo computados na determinação do lucro real”.

O contrato de arrendamento mercantil, longe de ser um contrato misto,

deve ser tratado como contrato típico que é, não obstante se possa observar, na

sua confi guração, traços de outros contratos típicos tais como locação, promessa

de venda, mandato, venda com reserva de domínio, alienação fi duciária. E,

por isso mesmo, a adoção desta ou daquela forma de pagamento do VRG

não poderia ser vista como conduzente a alterar a própria natureza jurídica do

contrato, violentando, em conseqüência, a vontade das partes contratantes.

A transmudação da natureza jurídica do contrato de leasing, pela

antecipação do pagamento da VRG, é a negação de tipicidade do contrato, e

uma violência à vontade das partes, resguardada, aliás, pelo Fisco Federal com a

Portaria n. 140/1984, quanto a possibilidade de antecipação do Valor Residual

Garantido pelo arrendatário (art. 7º, VII, a, Res. n. 2.309).

O E. Min. Ari Pargendler, com acuidade, assentou:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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O arrendamento mercantil é um contrato original. Decomposto atomisticamente, nele pode-se identifi car cláusulas de locação de promessa de compra e venda e quando o arrendatário recebe do arrendador poderes para adquirir o bem, de mandato. O conjunto, todavia, é diferente de suas partes, e nem é o mesmo em todos os casos. O arrendamento mercantil tem uma função econômica importante quando a arrendatária é – a pessoa jurídica. Dá-lhe meios de produção, de um lado, e, de outro, facilita-lhe as coisas, pela redução dos encargos fi scais. Ao invés de investimentos próprios, a pessoa jurídica paga um aluguel e, como ganho secundário, aproveita o respectivo montante como custo ou despesa operacional, diminuindo o lucro operacional. Já a pessoa física opta pelo arrendamento mercantil quando as condições lhe pareçam mais favoráveis do que as outras formas de fi nanciamento, sem outras conseqüências. Quando, num ou noutro caso, o valor residual é antecipado gradualmente, o montante dessas parcelas e das contraprestações representa, ao fi nal do contrato, o custo total da operação fi nanceira, se regularmente cumprido (EREsp n. 213.828-RS).

Divirjo, porém, do E. julgador quando admite a desclassificação do

contrato de leasing para efeitos tributários por força do disposto no art. 11, §

1º. O pagamento antecipado, em prestações, da VRG, não descaracteriza o

contrato. Estabelecido por força da Resolução n. 2.309 do Bacen como cláusula

opcional do contrato, a forma do seu pagamento não desnatura o contrato de

arrendamento mercantil.

A antecipação do valor da VRG, como estabelecido na Portaria n.

140/1984, ou o pagamento por opção de compra (art. 5º, c e d, da Lei n.

6.099/1974 e Portaria n. 140/1984), “serão tratados como passivo do arrendador

e ativo do arrendatário. Ora, a antecipação do valor da VRG se fará em favor do

arrendatário, nos termos da Portaria n. 140/1984. Corresponderá a um auto-

seguro pelo arrendatário para o caso de não querer optar pela compra do bem

arrendado, caso deteriorado pelo uso.

Demais disso, o pagamento do Valor Residual Garantido não caracteriza o

exercício da ação de compra do bem arrendado. É a Res. Bacen n. 2.309, que o

diz expressamente no item VII, alínea a, que vale mais uma vez transcrito:

VII - as despesas e os encargos adicionais, inclusive despesas de assistência técnica, manutenção e serviços inerentes à operacionalidade dos bens arrendados, admitindo-se, ainda, para o arrendamento mercantil fi nanceiro:

a) a previsão de a arrendatária pagar Valor Residual Garantido em qualquer momento durante a vigência do contrato, não caracterizando o pagamento do Valor Residual Garantido o exercício da opção de compra;

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 393

Ora, não caracterizando o pagamento da VRG, antecipado ou não, o

exercício da opção de compra, não vejo como possa, permissa vênia, transmudar-

se o contrato de leasing em contrato de compra e venda pelo pagamento

antecipado ou durante o curso da avença, em prestações, do Valor Residual

Garantido.

À vista do exposto, pedindo vênia ao E. Min. Relator, que ilustrou

esta Corte Especial, conheço dos embargos e os acolho para adotar o aresto

paradigma da Eg. 1ª Turma. Acresço, ainda, ao meu voto, requerimento de

questão de ordem para reexaminar-se a Súmula n. 263-STJ.

VOTO VENCIDO (EM PARTE)

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros: - Sr. Presidente, parece-me

que o leasing, por defi nição, é uma locação em que o locatário tem a opção de

adquirir o bem ao fi nal do contrato. Na hipótese, com o adiantamento desse

valor, que é o adiantamento do valor da compra, essa opção desaparece. Na

verdade, degenera-se em compra e venda.

Por isso, com todas as vênias, acompanho o voto do eminente Ministro-

Relator, conhecendo dos embargos de divergência, mas os rejeitando.

RECURSO ESPECIAL N. 163.845-RS (98.0009305-2)

Relator: Ministro Waldemar Zveiter

Recorrente: Finasa Leasing Arrendamento Mercantil S/A

Advogado: João Carlos Silva da Rocha

Recorrido: Marcos Roberto Goelzer Bastos

Advogado: Roberto Wisoski Amarante

EMENTA

Arrendamento mercantil. Leasing. Resolução do contrato por

inadimplemento do arrendatário. Conseqüências. Não exigibilidade

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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das prestações “vincendas”. Descaracterização do arrendamento.

Matéria de fato.

I - O inadimplemento do arrendatário, pelo não pagamento

pontual das prestações autoriza o arrendador a resolução do contrato

e a exigir as prestações vencidas até o momento da retomada de

posse dos bens objeto do leasing, e cláusulas penais contratualmente

previstas, além do ressarcimento de eventuais danos causados por uso

normal dos mesmos bens.

II - Descaracterizado tal contrato pelo pagamento antecipado do

valor residual, a título de aquisição do bem, a avença resulta nominada

como compra e venda.

III - Matéria de fato (Súmulas n. 5 e n. 7-STJ).

IV - Recurso conhecido em parte e nessa parte provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Senhores Ministros

da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos

e das notas taquigráfi cas a seguir, prosseguindo no julgamento, após o voto-

vista do Sr. Ministro Nilson Naves e da retifi cação do voto do Sr. Ministro

Waldernar Zveiter, por maioria, conhecer em parte do recurso especial e, nessa

parte, dar-lhe provimento, para afastar a limitação da taxa de juros, vencido

em parte o Sr. Ministro Menezes Direito. Participaram do julgamento os Srs.

Ministros Menezes Direito, Nilson Naves e Eduardo Ribeiro. Não participou

do julgamento o Sr. Ministro Ari Pargendler (§ 2º, art. 162, RISTJ).

Brasília (DF), 15 de junho de 1999 (data do julgamento).

Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Presidente

Ministro Waldemar Zveiter, Relator

DJ 11.10.1999

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: - Contra Finasa Leasing Arrendamento

Mercantil S.A, Marcos Roberto Goelzer Bastos ajuíza ação revisional de contrato

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 395

de arrendamento (leasing) em face das cláusulas abusivas inseridas naquele

contrato.

A sentença (fls. 204), julgando parcialmente o pedido reconheceu a

ilegitimidade dos juros compensatórios acima de 12% a.a. e declarou, de outro

modo, que o negócio jurídico efetivamente existente entre os contratantes, aqui

demandantes, é o de compra e venda, com pagamento em prestações.

Negando provimento à Apelação da empresa-ré, assim concluiu o aresto

(fl s. 274):

Ação de revisão contratual. Arrendamento mercantil.

O simples fato da mora não é sufi ciente à resolução automática do contrato, a ponto de impedir a sua ampla apreciação na via judicial, quanto mais, depositadas as parcelas entendidas corretas pelo arrendatário. Possibilidade de cumulação de ação principal com cautelar incidental.

Cabimento de revisão contratual, dado o atual enfoque à concepção jurídica do voluntarismo contratual, destacando-se o princípio da relatividade do contrato.

Limitação dos juros a 12% ao ano, tanto pela norma auto-aplicável do art. 192, § 3º, da Constituição Federal, como pela Lei da Usura - Decreto n. 22.626/1933.

Indexador contratual - TR - sem irresignação do autor.

Incidência do Código de Defesa do Consumidor, até por disposição expressa, contida em seu art. 3º, § 2º.

Descaracterização do contrato de arrendamento mercantil, leasing, declarando-se que o contrato efetivamente realizado entre as partes é de compra e venda a prestações. Tudo, porque, desde o início, o arrendatário já vem pagando o valor residual do veículo arrendado. Com isso, levando à redefi nição do valor da parcela inicial devida, com repercussão nas demais, excluindo a cogitação do ISSQN.

Distribuição da sucumbência na proporção do decaimento das partes e mediante compensação. Arts. 20, § 4º e 21, do CPC.

Inconformada, apresenta a demandada recursos extraordinários e especial

- fl s. 317.

Na irresignação infraconstitucional, alega que o aresto negou vigência às

normas da Lei n. 6.099/1974 e ao art. 965 do Código Civil, bem aos do Decreto

n. 22.626/1933, aduzindo ainda discrepância com a Súmula n. 596-STF e com

precedentes de outros Tribunais, insistindo, enfi m, na validade dos termos em

que avençado o negócio, de a título de arrendamento mercantil e não compra e

venda, como apontado pelos decisórios.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Às fl s. 362, deferiu-se o Extraordinário e bem assim o Especial (fl s. 317),

este ao entendimento de que, quanto ao tema dos juros, merece acolhida, por ter

preenchido os requisitos de admissibilidade.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator): - O recorrente, na insurgência,

pretende que a tese encampada pelo aresto, consignada no sentido de que o

Valor Residual (VRG) pago conjuntamente, em cada prestação, com o de locação

do bem, revela execução de contrato de compra e venda, é assertiva que deve

ser afastada, por colidir com entendimento jurisprudencial sedimentado em

precedente que apresenta a exame.

O em. Relator, perfi lhando as razões de decidir da sentença, procedendo à

análise das cláusulas do negócio fi duciário, aferindo os fatos e provas pertinentes

e trazendo, quanto ao aspecto, em prol de sua conclusão, argumentos doutrinários

e jurisprudenciais, registra que (fl s. 293-295), “de fato, das três espécies de leasing

reconhecidas e praticadas no país - leasing operacional, leasing fi nanceiro e lease

back - a espécie de que tratam os autos é a segunda, ou seja, leasing fi nanceiro.

Trata-se de negócio jurídico realizado por instituições fi nanceiras, tendo por

objeto qualquer bem móvel ou imóvel. Uma das características essenciais desse

contrato é a tríplice opção que se abre ao arrendatário, ao fi nal do contrato, de

adquirir o bem, renovar o contrato ou devolver o objeto.

O preclaro Des. ARNALDO RIZZARDO, em sua excelente obra sobre o

tema (“O leasing - Arrendamento Mercantil - no Direito brasileiro”, São Paulo,

RT, 1987, p. 61) após referir os dispositivos legais que permitem a antecipação

do exercício da opção antes do término do contrato, refere que nesse caso “uma

conseqüência ‘advirá: o contrato não continuará de como de ‘arrendamento

mercantil. Passará a considerar-se como ‘de compra e venda a prestação’.

“Tal entendimento é esposado por todos quanto tratam do tema, como

JORGE PEREIRA ANDRADE (‘Arrendamento mercantil - leasing’, in

‘CONTRATOS NOMINADOS’, coord. por YUSSEF SAID CAHALI, São

Paulo, Saraiva, 195, p. 216) o qual afi rma que:

É característica essencial do contrato de leasing a oferta unilateral da arrendante à arrendatária de três opções ao fi nal do contrato, sendo que uma delas obrigatoriamente deverá ser exercida:

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 397

a)comprar o bem por Valor Residual adredemente determinado;

b) devolver o bem;

c) renovar o contrato.

No mesmo sentido preleciona MARIA HELENA DINIZ, no seu

“TRATADO TEÓRICO E PRÁTICO DOS CONTRATOS” (São Paulo,

Saraiva, 1993, vol. 2, p. 358-359):

Infere-se daí que no arrendamento mercantil apresentam-se os seguintes elementos jurídicos, essenciais à sua caracterização:

(...)

5º O arrendatário, fi ndo o prazo do arrendamento, tem a tríplice opção de: a) adquirir os bens, no todo ou em parte, por preço menor do que o de sua aquisição primitiva convencionando no próprio contrato, levando-se em conta os pagamentos feitos a título de aluguel; b) devolvê-los ao arrendador, ou c) prorrogar o contrato, mediante o pagamento de renda muito menor do que a do primeiro arrendamento (...) É preciso, ainda, não olvidar, que nada impede (Res. n. 980/1984, art. 11, e Lei n. 6.099, art. 11, §§ 1º a 3º o exercício da opção antes do término contratual, mas o contrato deixará de ser leasing fi nanceiro e passará a ser considerado compra e venda a prestação.

PRISCILA MARIA PEREIRA CORRÊA DA FONSECA, dissertando

sobre o contrato de leasing, em obra coletiva coordenada pelo Prof. CARLOS

ALBERTO BITTAR (“NOVOS CONTRATOS EMPRESARIAIS”, SP, RT,

1990, p. 105-106), afi rma que:

Do contrato deve constar expressamente a tríplice opção a favor do arrendatário: adquirir o bem, renovar o contrato ou devolver o bem.

Tal opção deve ser exercia apenas por ocasião do término do contrato, sob pena de a operação vir a ser considerada como compra e venda a prestação.

Constata-se, assim, que não há como se caracterizar o contrato em tela

como sendo autêntico arrendamento mercantil, já que desde o início o autor

vem pagando o Valor Residual, sendo inócua qualquer previsão contratual de

exercer opções ao fi nal, pois somente alguém afetado por prodigalidade deixaria

de exercer a opção de compra do veículo após ter pago todo o Valor Residual

ao longo do contrato, nada mais restando a pagar ao fi nal, como se verifi ca da

leitura da cláusula 10.4 do contrato (fl s. 19-19v).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Assim, se o autor está pagando parcelas para amortizar o capital juntamente com o Valor Residual, resta evidente que está ele, na verdade, pagando o preço de aquisição do bem, não se tratando de verdadeiro leasing.

Tal deve ser declarado, tendo presente que pouco importa o nomen juris que as partes tenham dado ao contrato, a sua natureza jurídica deve ser inferida do efetivo teor das cláusulas avençadas e do que em concreto elas signifi cam em sua operacionalidade.

Assim, reconhece-se a descaracterização do contrato de arrendamento mercantil (leasing), declarando-se que o contrato efetivamente realizado entre as partes é o de uma compra e venda a prestações.

No inconformismo (fl s. 324), o recorrente limita seu pedido no sentido (SIC) de ser perfeitamente cabível o presente recurso especial, para que o contrato de arrendamento mercantil objeto da demanda, seja entendido como de fato é.

Como se vê, o insurgente pretende a vigência daquele contrato complexo estipulado pelos fi gurantes, contudo, razão cabe ao em. Relator, ao verifi car, com o revelado nos autos, que as cláusulas avençadas são abusivas e que refl etem natureza de compra e venda.

Revelam que, ao invés de consignarem a previsão de uma eventual promessa de compra do bem fi duciado, ao término do prazo contratual, na verdade, impuseram ao usuário do bem, desde o início, a cobrança de prestações ou execução destas, à título de compra.

Com esse entendimento, o aresto não merece censura e até se identifi ca com lineamento jurisprudencial desta Corte, como o que sedimenta o REsp n.

16.824-SP, da relatoria do em. Min. Athos Carneiro, assim ementado:

Arrendamento mercantil. Leasing . Resolução dos contratos por inadimplemento do arrendatário. Consequências. Não exigibilidade das prestações “vincendas”.

O inadimplemento do arrendatário, pelo não pagamento pontual das prestações autoriza o arrendador a resolução do contrato e a exigir as prestações vencidas até o momento da retomada de posse dos bens objeto do leasing, e cláusulas penais contratualmente previstas, além do ressarcimento de eventuais danos causados por uso normal dos mesmos bens.

O leasin é contrato complexo, consistindo fundamentalmente num arrendamento mercantil com promessa de venda do bem após o término do prazo contratual, servindo “então” as prestações como pagamento antecipado da maior parte do preço.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 399

No caso de resolução, a exigência de pagamento das prestações “posteriores” a retomada do bem, sem a correspondente possibilidade de o comprador adquiri-lo, apresenta-se como cláusula leonina e injurídica.

Bem por isso é que o em. Relator, repetindo dizeres de Carlos Alberto Bittar, no que tange à eventual aquisição do bem, manifestado ao fi nal do arrendamento, diz que o do contrato deve constar expressamente a tríplica opção a favor de arrendatário: adquirir o bem, renovar o contrato ou devolver o bem.

Tal opção deve ser exercida apenas por ocasião do término do contrato, sob pena de a operação vir a ser considerada como compra e venda a prestação.

Justamente isso foi o que ocorreu, no caso dos autos, como aponta o recorrido, ao afirmar que tal não foi seguida pela arrendadora, tanto que modifi cou a natureza do contrato de leasing para o de compra e venda à prestações.

A ilegalidade é manifesta, posto que, já efetuada a opção de compra desde o início do contrato, com pagamento da totalidade do Valor Residual, não mais podia o recorrente esquivar-se aos efeitos da efetivação dessa venda.

Num ponto, porém merece acolhido o recurso para afastar a limitação da taxa dos juros consoante pacífi ca jurisprudência da Colenda 2ª Seção.

Do quanto exposto, conheço do recurso em parte e nessa parte lhe dou provimento.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: O recorrido propôs contra o recorrente “ação ordinária com pedido de liminar e declaração de nulidade de cláusula e cambial”, julgada parcialmente procedente em primeiro grau, verbis: “para o efeito de reconhecer a inconstitucionalidade e a inexigibilidade de taxa de juros compensatórios acima de 12% ao ano, para declarar que o negócio jurídico efetivamente existente entre as partes é o de compra e venda com pagamento a prestação, e para declarar que o débito do autor deverá ser calculado na forma supra defi nida (item conclusão)” (fl s. 204). O Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul negou provimento à apelação (fl s. 274 a 300).

Segundo consta dos autos, a matéria a ser examinada no presente recurso fi ca adstrita à possibilidade da incidência de juros acima de 12% ao ano e a descaracterização do contrato de arrendamento mercantil para compra e venda (fl s. 317 a 325).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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O eminente Ministro Waldemar Zveiter, Relator, no presente especial,

decidiu não conhecer do mesmo, entendendo estar caracterizado o contrato

de compra e venda ante o pagamento antecipado do Valor Residual Garantido

(VRG). Manteve, ainda, por conseqüência, a limitação do juros.

Devo analisar, em primeiro lugar, a questão relacionada à efetiva existência

do contrato de leasing, cabendo destacar, de plano, ser possível verifi car, no

presente especial, se as bases fáticas e contratuais consideradas pelo acórdão

conduzem, ou não, à conclusão adotada, no sentido de estar descaracterizado o

leasing e materializada uma compra e venda.

Aqui, anote-se, não se irá aferir a veracidade dos fatos ou dar nova

interpretação às cláusulas do contrato, operações violadas pelas Súmulas n. 5 e

n. 7-STJ, mas, apenas examinar os efeitos práticos das circunstâncias tidas como

verdadeiras pelo Tribunal a quo sobre a natureza do contrato fi rmado.

O Tribunal local decidiu descaracterizar o contrato de leasing invocando o

seguinte trecho da sentença, verbis:

(...)

Constata-se, assim, que não há como se caracterizar o contrato em tela como sendo autêntico arrendamento mercantil, já que desde o início o autor vem pagando o Valor Residual, sendo inócua qualquer previsão contratual de exercer opções ao fi nal, pois somente alguém afetado por prodigalidade deixaria de exercer a opção de compra do veículo após ter pago todo o Valor Residual ao longo do contrato, nada mais restando a pagar ao fi nal, como se verifi ca da leitura da cláusula 10.4 do contrato fl s. 19-19v).

“Assim, se o autor está pagando parcelas para amortizar o capital juntamente com o Valor Residual, resta evidente que está ele, na verdade, pagando o preço de aquisição do bem, não se tratando de verdadeiro leasing.”

“Tal deve ser declarado, tendo presente que pouco importa o nomen juris que as partes tenham dado ao contrato, a sua natureza jurídica deve ser inferida do efetivo teor das cláusulas avençadas e do que em concreto elas signifi cam em sua operacionalidade”.

“Assim, reconhece-se a descaracterização do contrato de arrendamento mercantil (leasing), declarando-se que o contrato efetivamente realizado entre as partes é o de uma compra e venda a prestações”. (fl s. 294-295).

Prende-se o acórdão, como se observa, no fato de que o Valor Residual

Garantido (VRG) foi pago antecipadamente, durante o pagamento das

prestações do leasing.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 401

Penso não ter razão a Corte local.

O eminente Ministro Cláudio Santos, que já abrilhantou esta 3ª Turma,

defi ne e traz diversas opiniões sobre o conceito de leasing assim, verbis:

(...)

Basicamente, no contrato de leasing, alguém titular da propriedade plena de uma coisa, móvel ou imóvel, cede a outrem, pessoa jurídica ou natural, o uso do bem, mediante a transferência de sua posse direta, que assim poderá utilizar-se dele ou explorá-lo economicamente, sendo assegurado ao final do prazo do contrato a simples devolução da coisa, a renovação do contrato ou a sua aquisição pelo preço residual avençado, tudo contra o pagamento periódico ou simplesmente mensal de valor fi xado no contrato.

Disse antes cuidar-se de contrato de natureza híbrida e, efetivamente, vê-se no leasing uma aparência de locação, uma aparência de compra e venda à prestação, uma clara faculdade de utilização da coisa e uma nítida promessa unilateral de compra e venda. Não é só. Na modalidade mais importante economicamente, vê-se também um fi nanciamento, porquanto nem sempre a coisa é disponível no mercado para ter seu uso cedido: muitas vezes é ela solicitada pelo arrendatário ao arrendador que a compra para arrendar ao pretendente e, assim, proporcionar-lhe a aquisição futura. Essa pluralidade de relações jurídicas leva a doutrina a conceituar o contrato de arrendamento mercantil como um negócio complexo, com a predominância do contrato de locação, muito embora sua concretização traduza um verdadeiro fi nanciamento.

FÁBIO KONDER CAMPARATO, em seu conhecido estudo denominado “Contrato de leasing”, publicado na RT 389, de 1968, diz que o leasing, “propriamente dito, não obstante a pluralidade de relações obrigacionais típicas que o compõem, apresenta-se funcionalmente uno: a ‘causa’ do negócio é sempre o fi nanciamento de investimentos produtivos”. Todavia, logo em seguida, com respeito às relações obrigacionais faz a seguinte afi rmação: “Sem dúvida, dentre as relações obrigacionais típicas que compõem o leasing predomina a figura da locação de coisa. Mas a existência de uma promessa unilateral de venda por parte da instituição fi nanceira serve para extremá-lo não só da locação comum, como na venda a crédito”.

Para o mestre ARNOLDO WALD, em trabalho também pioneiro, cogita-se de um contrato pelo qual uma empresa “desejando utilizar determinado equipamento, ou um certo imóvel, consegue que uma instituição fi nanceira adquira o referido bem, alugando-o ao interessado por prazo certo, admitindo-se que, terminado o prazo locativo, o locatário possa optar entre a devolução do bem, a renovação da locação, ou a compra pelo preço residual fi xado no momento inicial do contrato”. Acentua, ainda, que o arrendamento mercantil é uma “fórmula intermediária entre a compra e venda e a locação, exercendo função parecida com a da venda com reserva de domínio e com a alienação fi duciária, (...)” (RT 415, de 1970).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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O advogado LUIZ MÉLEGA, em livro com o título de “O Leasing e o Sistema Tributário Nacional” (SP, Co-edição IBDT e Ed. Saraiva, 1975) defi ne o leasing, em sua forma ortodoxa, como um arrendamento, mas além de colacionar a opinião de vários juristas, dentre os quais, o já citado FÁBIO KONDER COMPARATO, BENEDITO GARCIA HILÁRIO, com opinião igual a sua, menciona SAMPAIO DE LACERDA, que considera o leasing uma típica operação fi nanceira, PHILOMENO COSTA e THOMAS BENES FELSBERG, para os quais o leasing não é uma operação fi nanceira, mas uma operação comercial, onde o elemento fi nanceiro é preponderante.

O Prof. FRAN MARTINS considera complexa a natureza jurídica do arrendamento mercantil, “compreendendo uma locação, uma promessa unilateral de venda (em virtude de dar o arrendador opção de aquisição do bem pelo arrendatário) e, às vezes, um mandato, quando é o próprio arrendatário quem trata com o vendedor na escolha do bem”. (“Contrato e Obrigações Comerciais”, 2ª Ed., Rio, Forense, 1990, p. 547) (A referência ao mandado é infl uência da doutrina francesa que identifi ca esse contrato nas relações entre empresa arrendatária e sociedade fi nanceira arrendadora, quando a aquisição do material é feita segundo a necessidade da primeira, atuando esta como mandatária do adquirente inicial do bem).

A lei brasileira (L. n. 6.099/1974, alterada pela L. n. 7.132/1985) assim defi ne o leasing financeiro ou arrendamento mercantil: “considera-se arrendamento mercantil, para efeitos desta lei, o negócio jurídico realizado entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora, segundo especifi cações da arrendatária e para uso próprio desta”.

ARNALDO RIZZARDO, a comentar o dispositivo reproduzido, observa: “Não se trata de uma simples locação com promessa de venda, como à primeira vista pode parecer. Mas cuida-se de uma locação com uma consignação de promessa de compra, trazendo, porém, um elemento novo, que é o fi nanciamento, numa operação específi ca que consiste na simbiose da locação, do fi nanciamento e da venda. Em suma, é a fi gura em exame uma alternativa de fi nanciamento para aquisição de qualquer tipo de veículo, máquina ou equipamento de fabricação nacional ou estrangeira, novo ou usado, incluindo, também, fi nanciamento de imóveis”. (Leasing - Questões Controvertidas, Revista Jurídica, Ano XLIV, n. 223, maio de 1996, p. 06-07).

Com efeito, mediante o contrato de leasing, o dono de determinado bem

cede o uso deste a terceiro, que pagará prestações e, ao fi nal, poderá exercer o

direito de compra. Há, então, um contrato dentro do qual inserem-se vários

tipos de relações contratuais, a saber: locação, promessa unilateral de venda e

fi nanciamento.

Estando presente uma simples promessa unilateral de venda, o arrendatário

poderá, ou não, comprar o bem ao fi nal do prazo contratado. É um direito de

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 403

opção presente em qualquer tipo de leasing. A propósito, o eminente Ministro

José Augusto Delgado, citando Celso Benjó, distingue o leasing operacional do

fi nanceiro assim, verbis:

(...)

Na visão de CELSO BENJÓ, contudo, o conceito de leasing há de ser fi rmado com vistas aos dois principais tipos existentes: o leasing fi nanceiro, e o operacional.

O leasing operacional para o mencionado autor “consiste no contrato pelo qual uma das partes se obriga a proporcionar à outra o uso e gozo temporário de determinado bem e a mantê-lo em perfeito estado de funcionamento, por um período menor do que sua vida economicamente útil, mediante uma contraprestação, em geral, inferior à que seria necessária para uma completa amortização do preço da coisa locada. Teria, em conseqüência, conforme enumera e analisa, as seguintes características:

a) uma locação com prestação de serviço;

b) bens estandardizados e a especialização das locadoras;

c) curto prazo e obsolescência incidindo na pessoa do locador;

d) caráter de nonpayout lease e a necessidade de várias locações;

e) não obrigatoriedade da opção de compra;

f ) o desdobramento da posse e a tradição da coisa;

g) inexistência de regulamentação específi ca desta modalidade de leasing no Brasil.

O leasing financeiro, registra CELSO BENJÓ, consiste “no negócio jurídico bilateral pelo qual uma das partes, necessitando utilizar um determinado bem, procura uma instituição fi nanceira para que promova a compra do mesmo para si e, posteriormente, lhe entregue em locação, mediante uma remuneração periódica, em geral, no seu somatório, superior a seu preço de aquisição. Ao fi nal do prazo contratual, via de regra, surgem três opções para o locatário: a de tornar-se proprietário mediante o pagamento de uma quantia, a de renovar a locação por um valor inferior ao primeiro período locativo ou a devolver a coisa locada”.

Os caracteres do leasing fi nanceiro são, segundo o autor supra, os seguintes:

a) a participação de três sujeitos no contrato;

b) a escolha do material e a inexistência de mandato;

c) operação realizada de médio a longo prazo;

d) caráter de full payout lease;

e) a irrevogabilidade contratual;

f ) o risco da obsolescência é do locatário;

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g) caráter de net lease;

h) a tríplice opção (aquisição do bem, a título oneroso; a de renovação do contrato e a de devolução do bem locado);

i) a opção de compra;

j) a renovação do leasing;

l) a devolução da coisa locada;

m) a legislação específi ca no direito pátrio. (Leasing, Doutrina e Jurisprudência, Juruá Editora, 1977, p. 54 a 58).

Enfi m, não há obrigação de compra, mas, apenas, uma opção, consoante dispõe a Lei n. 6.099/1974 (alterada pela Lei n. 7.132/1983), no seu art. 5º, alínea c).

O exercício da compra e venda, por sua vez, deve obedecer as regras da própria Lei n. 6.099/1974, pena de ser considerada uma operação de compra e

venda. É o que dispõe o § 1º do art. 11 da referida lei, verbis:

Art. 11. (...)

§ 1º - A aquisição pelo arrendatário de bens arrendados em desacordo com as disposições desta Lei será considerada operação de compra e venda à prestação.

Na hipótese dos autos, segundo o acórdão, o contrato prevê o pagamento do VRG parceladamente, junto com as prestações do contrato.

O Valor Residual, segundo defi ne a Portaria n. 564/78-MF, inciso 2, é “o preço contratual estipulado para o exercício da opção de compra ou valor contratualmente garantido pela arrendatária como mínimo que será recebido pela arrendadora na venda a terceiros do bem arrendado na hipótese de não ser exercida a opção de compra”.

O contrato, então, encontra-se em perfeita consonância com a Portaria n. 564/78-MF, inciso 2. Basta agora, perquirir sobre os efeitos do recebimento antecipado do Valor Residual Garantido (VRG) sobre a natureza do leasing.

O recolhimento do VRG ao longo do contrato, entendo, não obriga o arrendatário a adquirir o bem. Findo o prazo do leasing, poderá o arrendatário não se manifestar favoravelmente à opção de compra, direito que lhe assiste, a teor da Lei n. 6.099/1974, art. 5º, alínea c). Quanto às importâncias adiantadas a título de Valor Residual Garantido, equiparado ao valor da opção de compra, deverá o arrendatário entrar em acerto com a instituição fi nanceira segundo as normas legais pertinentes e o contrato acaso decida não optar pela compra do bem.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 405

Nem se diga que o arrendatário, na hipótese de adiantamento do VRG, sofra prejuízo irreparável. Ao fi nal do contrato, mesmo que não seja efetuado o referido adiantamento, deverá pagar à arrendadora a diferença entre o VRG e o valor obtido da venda do bem a terceiros, quando este for inferior àquele. Optando, entretanto, pela compra, já terá quitado a importância necessária, não precisando desembolsar qualquer valor.

Não há no caso presente, por outro lado, infringência a qualquer regra da Lei n. 6.099/1974, que não veda, expressamente, o recebimento antecipado do valor da opção de compra, assim, esse fato, por si só, não caracteriza a operação de compra e venda, não incidindo o § 1º do art. 11 do diploma legal mencionado.

Com efeito, o contrato fi rmado tem a natureza legal de leasing e não de compra e venda, tendo o acórdão violado o art. 85 do Código Civil, já que a antecipação do VRG não afeta a intenção das partes.

Anote-se, apenas, que a 4ª Turma desta Corte, no julgamento dos Recursos Especiais n. 178.272-RS e n. 181.095-RS, em 18.03.1999, ambos relatados pelo Ministro Ruy Rosado de Aguiar, decidiu, por maioria, que o pagamento antecipado do VRG descaracteriza o contrato de leasing para um contrato de compra e venda.

No tocante à taxa de juros limitados em 1% ao ano, deve ser reformado o acórdão também, eis que o arrendamento mercantil, a teor do art. 7º da Lei n. 6.099/1974, incidem as normas da Lei n. 4.595/1964, cuja interpretação pelo Supremo Tribunal Federal gerou a edição da Súmula n. 596, que dispõe:

As disposições do Decreto n. 22.626/1933 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas, que integram o Sistema Financeiro Nacional.

Nesse caso, incide a taxa de juros fi xada no contrato, conforme votei, como

Relator, nos seguintes precedentes de minha relatoria:

Mútuo bancário. Juros de mora. Capitalização dos juros. Medida Provisória n. 1.367, de março de 1996. Medida Provisória n. 1.410, de abril de 1996. Medida Provisória n. 1.457, de maio de 1996.

1. Havendo convenção entre as partes, os juros moratórios podem alcançar os 12% (doze por cento) ao ano, na forma do art. 1.062 do Código Civil.

2. Na linha dos precedentes da Corte, a capitalização dos juros no mútuo bancário é vedada pela Lei de Usura.

3. Recurso especial conhecido e provido em parte. (REsp n. 111.181-SC, 3ª Turma, DJ de 19.12.1997).

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Recurso especial assentado em dissídio jurisprudencial. Contrato de abertura de crédito. Limitação da taxa de juros. Capitalização dos juros. Súmulas n. 596 e n. 121-STF. Ausência de título executivo.

1. Conforme jurisprudência desta Corte, em regra, ao mútuo bancário não se aplica a limitação dos juros em 12% ao ano, estabelecida na Lei de Usura (Decreto n. 22.626/1933, art. 1º). Incidência da Súmula n. 596-STF.

2. No tocante à capitalização dos juros, permanece em vigor a vedação contida na Lei de Usura, exceto nos casos excepcionados em lei, o que não ocorre com o mútuo bancário comum, tratado nos presentes autos.

3. Conforme jurisprudência atual da 3ª Turma, o contrato de abertura de crédito, mesmo que acompanhado de extrato bancário, não é título executivo, haja vista que o contrato não consubstancia obrigação de pagar importância certa e determinada e os extratos são produzidos unilateralmente, sem a intervenção do possível devedor.

4. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido. (REsp n. 176.620-RS, 3ª Turma, DJ de 22.02.1999).

Especifi camente sobre as taxas de juros no contrato de leasing, trago o seguinte precedente da 4ª Turma:

Direitos Comercial e Econômico. Contrato de arrendamento mercantil. Leasing. Teto de juros. Lei de Usura. Inaplicabilidade. Decreto n. 22.626/1933. Instituição fi nanceira. Derrogação. Precedente. Enunciado n. 596 da Súmula-STF. Recurso provido.

- A Lei n. 4.595/1964, que rege a política econômico-monetária nacional, ao dispor no seu art. 4º, IX, que cabe ao Conselho Monetário Nacional limitar taxas de juros, revogou, nas operações realizadas por instituições do Sistema Financeiro, inclusive nos contratos de arrendamento mercantil, salvo nos mútuos rurais, quaisquer outras restrições que previam teto máximo daqueles. (REsp n. 102.082-RS, Relator o Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ de 03.08.1998).

Ante o exposto, conheço do recurso e dou-lhe provimento para declarar existente o contrato de leasing e afastar a limitação dos juros. Custas proporcionais e honorários advocatícios de 10% sobre o valor da condenação, arcando cada parte com a verba do próprio advogado.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Nilson Naves: - À apelação da ré o Tribunal de Alçada

negou provimento, quando a sentença decidira a causa do seguinte modo,

conclusivamente:

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 407

(...) julgo parcialmente procedente a ação revisional de contrato movida por Marcos Roberto Goelzer Bastos contra Finasa Leasing Arrendamento Mercantil S.A., para o efeito de reconhecer a inconstitucionalidade e a inexigibilidade de taxa de juros compensatórios acima de 12% ao ano, para declarar que o negócio jurídico efetivamente existente entre as partes é o de compra e venda com pagamento a prestação, e para declarar que o débito do autor deverá ser calculado na forma supra defi nida (item conclusão), o que faço com base no art. 192, § 3º, da Constituição Federal e arts. 4º, III, 6°, inc. V, primeira parte, 7º e 51, IV, todos do Código de Defesa do Consumidor, e art. 1º do Dec. n. 22.626/1933.

Tendo em vista a sucumbência recíproca, ambas as partes suportarão os respectivos efeitos, na proporção de 60% para o requerido e 40% para o autor, admitida a compensação parcial dos honorários advocatícios, que fi xo em 15 salários mínimos, forte no art. 20, § 4º, do CPC.

Consoante os votos aqui já proferidos (pelo Relator, não conhecendo

do recurso; pelo Ministro Menezes Direito, conhecendo e dando provimento

ao especial), “a matéria a ser examinada no presente recurso fi ca adstrita à

possibilidade da incidência de juros acima de 12% ao ano e a descaracterização

do contrato de arrendamento mercantil para compra e venda”.

Quanto à descaracterização, entendeu-se na sentença, confi rmada por

inteiro pelo acórdão, que, “se o autor está pagando parcelas para amortizar o

capital juntamente com o Valor Residual, resta evidente que está ele, na verdade,

pagando o preço de aquisição do bem, não se tratando de verdadeiro leasing.

Tal deve ser declarado, tendo presente que pouco importa o nomen juris que

as partes tenham dado ao contrato, a sua natureza jurídica deve ser inferida

do efetivo teor das cláusulas avençadas e do que em concreto elas signifi cam

em sua operacionalidade”. Pela ementa do acórdão, eis o ponto controvertido:

“Descaracterização do contrato de arrendamento mercantil, leasing, declarando-

se que o contrato efetivamente realizado entre as partes é de compra e venda a

prestações. Tudo, porque, desde o início, o arrendatário já vem pagando o Valor

Residual do veículo arrendado. Com isso, levando à redefi nição do valor da

parcela inicial devida, com repercussão nas demais, excluindo a cogitação do

ISSQN”.

Neste ponto, o acórdão gaúcho, ao contrário do que sustentado pela

recorrente, não ofendeu a Lei n. 6.099, alterada pela Lei n. 7.132; nem o art. 965

do Cód. Civil, aliás, quanto a este, de sua matéria nem sequer cuidou (Súmulas

n. 282 e n. 356-STF). Vejam as observações do Vice-Presidente Caldeira

Antunes, com as quais estou de acordo:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Tocante à Lei n. 6.099/1974, não se verifi ca a alegada violação, porquanto entendeu o julgado atacado que estando previsto o pagamento do Valor Residual, em parcelas, juntamente com as contraprestações, descaracteriza-se a operação de leasing.

Ora, a Lei supra citada prevê expressamente seja o arrendamento mercantil tratado como se compra e venda em prestações fosse, se a aquisição do bem verifi car-se em desacordo com o estatuído em suas normas.

Portanto, em tal ponto, adiro ao voto do Ministro Waldemar Zveiter.

Relativamente aos juros, também acho, a exemplo do Ministro Direito, que assiste razão à recorrente. Vejam as observações do Vice-Presidente Caldeira Antunes:

Com relação aos juros, entretanto, razão assiste à recorrente, sobretudo porque a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça pacifi cou-se no sentido de que não incide a Lei de Usura, quanto à taxa de juros, nas operações realizadas com instituições do Sistema Financeiro Nacional. Nesse sentido, entre outros, os seguintes arestos da Corte Superior: REsp’s n. 4.285-RJ, Rel. Min. Athos Gusmão Carneiro; n. 5.212-SP, Rel. Min. Dias Trindade; n. 20.577, Rel. Min. Eduardo Ribeiro; n. 26.927-5-RS, n. 29.913-9-GO e n. 65.430-RS, Rel. Min. Nilson Naves.

Por outro lado, a Súmula n. 596-STF permite visualizar divergência com o acórdão recorrido, pois o referido verbete sustenta que as disposições do Decreto n. 22.626/1933 não se aplicam às operações realizadas por instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional.

Na 4ª Turma, pela relatoria do Ministro Ruy, deferiu-se “a cobrança de juros de acordo com a taxa autorizada pelo Conselho Monetário Nacional” (REsp’s n. 178.272 e n. 181.095).

Portanto, em tal ponto, acompanho o voto do Ministro Menezes Direito.

Em suma, conheço em parte do recurso e, nessa parte, dou-lhe provimento, para afastar a limitação dos juros.

RETIFICAÇÃO DE VOTO

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator): Sr. Presidente, em verdade não fi z referência à questão dos juros, por isso, peço licença para retifi car meu voto. Minha preocupação maior foi com a caracterização do contrato, mas, com relação à limitação dos juros, escapou-me.

Quero fazer reconsideração nesse ponto para, também, conhecer em parte do recurso e nessa parte dar-lhe provimento para excluir a limitação dos juros.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 409

RECURSO ESPECIAL N. 164.918-RS (98.0012625-2)

Relator: Ministro Eduardo Ribeiro

Relator para o acórdão: Ministro Ari Pargendler

Recorrente: Companhia Itaú Leasing de Arrendamento Mercantil S/A

Advogado: Jorge Raul Ruschel

Recorrido: Antônio Carlos Meyer - microempresa

Advogado: André Roberto Mallmann e outros

EMENTA

Contrato de leasing. Valor Residual de Garantia. A cobrança

antecipada do VRG não descaracteriza o contrato de arrendamento

mercantil para compra e venda. Juros. Limitação. Nulidade. A

disposição do Decreto n. 22.626/1933, limitativa da taxa de juros, não

se aplica às instituições fi nanceiras, podendo aquela ser restringida

por determinação do Conselho Monetário Nacional. Incidência da

Súmula n. 596 do STF. Interpretação da Lei n. 4.595/1964.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça,

prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Pádua Ribeiro,

conhecendo do recurso especial e dando-lhe parcial provimento, no que foi

acompanhado pelo Sr. Ministro Waldemar Zveiter, por maioria, vencidos

em parte os Srs. Ministros Pádua Ribeiro e Waldemar Zveiter, conhecer do

recurso especial e dar-lhe provimento. Lavrará o acórdão o Sr. Ministro Ari

Pargendler (art. 52, IV, b, do RISTJ). Participaram do julgamento os Srs.

Ministros Waldemar Zveiter, Ari Pargendler, Menezes Direito e Pádua Ribeiro.

Brasília (DF), 03 de agosto de 2000 (data do julgamento).

Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Presidente

Ministro Ari Pargendler, Relator para o acórdão

DJ 24.09.2001

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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RELATÓRIO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Antônio Carlos Meyer - ME ajuizou

ação, objetivando a revisão de cláusulas de contratos de arrendamento mercantil,

celebrados com Companhia Itaú Leasing de Arrendamento Mercantil S/A.

Requereu, ainda, repetição de indébito e compensação.

Julgado parcialmente procedente o pedido, apelou a ré. O Tribunal de

Alçada do Rio Grande do Sul negou provimento ao recurso, em acórdão assim

ementado:

Arrendamento mercantil. Antecipação do VRG. Desnaturação do leasing e transmudação para compra e venda a prazo.

A antecipação do Valor Residual Garantido tem a propriedade de descaracterizar o contrato de arrendamento mercantil para o de compra e venda a prazo, em função de cujo fi nanciamento admissível a cobrança de juros, desde que no patamar permitido em lei, qual seja, 12% ao ano, com assento no D. n. 22.626/1933 c.c. o art. 1.063 do CC, dispositivos que se harmonizam com a CF/1988.

Apresentou a Companhia Itaú recurso especial, alegando, além de dissídio, negativa de vigência às Leis n. 4.595/1964, n. 6.099/1974 e à Resolução n. 980/1984 do Banco Central do Brasil. Sustenta, em síntese, que possível a cobrança do valor residual antecipado, não havendo descaracterização do contrato de leasing. Assevera que a Lei de Usura não se aplica às instituições fi nanceiras integrantes do Sistema Financeiro Nacional.

Contra-razoado o recurso, foi admitido, vindo os autos a esta Corte.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro (Relator): Cumpre observar, de início, que resoluções e portarias não se equiparam à lei federal, sendo imprestáveis para viabilizar o conhecimento do especial com base na alínea a do permissivo constitucional.

Argumentou a instituição fi nanceira que o pagamento antecipado do Valor Residual Garantido é lícito, não descaracterizando o contrato de leasing.

Tem razão. Observo, inicialmente, que esta Terceira Turma já apreciou a matéria, ao julgar o REsp n. 168.845, de que relator o Ministro Waldemar

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 411

Zveiter. Naquela oportunidade afi rmou-se, vencido o Ministro Menezes Direito, que o pagamento antecipado do chamado Valor Residual descaracterizava o contrato de leasing que haveria de ser considerado como de compra e venda com pagamento em prestações.

Formei com a maioria, sem outras observações, por me parecer que, no caso concreto, despida a questão de outras conseqüências práticas. Importava qual seria a taxa de juros e, em relação a isso, houve unanimidade, admitindo-se que não existiam as afi rmadas limitações.

Fui convocado, agora, a melhor refl etir sobre o tema e permito-me expor as conclusões a que chequei, embora continue a não me parecer ofereça a questão especial relevo, em relação os temas que importam no presente processo.

Convenci-me de que o fato de se antecipar o pagamento das parcelas relativas ao Valor Residual não signifi ca, necessariamente, que o contrato haja de ser considerado como de compra e venda. O que efetivamente importa é assegurar-se a opção do arrendatário. E isso se fez. Se a ele é dado, ao fi nal do contrato, adquirir ou não o bem, parece-me claro que a aquisição ainda não se aperfeiçoou.

Nem se trata de prodigalidade, mas de procedimento que também a ele interessa, como bem demonstra, a meu ver, José Francisco Lopes de Miranda Leão (Leasing - O arrendamento fi nanceiro - Malheiros - 1999 - p. 35-38). Cumpre ter-se em conta que o arrendador adquire o bem, investindo um capital que poderia ser aplicado a juros de mercado, que certamente não são baixos. Claro está que o arrendatário é que os haverá de suportar, ou não se faria o negócio. Menor será o ônus, em conseqüência, se o arrendador recuperar mais rapidamente o capital.

Findo o prazo contratual, efetuados todos pagamentos, não se deixam de abrir, para o arrendatário, as opções próprias deste tipo de contrato. Desejando fi car com o bem, poderá comprá-lo, sem outro desembolso, se já adiantado todo o Valor Residual. Se por isso não optar, será vendido a terceiro e a arrendatária receberá o valor líquido que resultar desse negócio. Note-se que essa cláusula, prevendo a venda a terceiro, é normal no leasing, haja ou não adiantamento do Valor Residual. Entende-se. O bem foi comprado no interesse do arrendatário, em nada convindo ao arrendador com ele fi car, pois poderá ou não encontrar outro interessado em idêntico contrato. E as diferenças que se verifi quem entre o Valor Residual contratado e preço da venda são suportados pelo arrendatário. Com o recebimento antecipado daquele valor fi ca o arrendador garantido contra eventual inadimplemento do arrendatário, no que diz com aquela diferença.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

412

Entretanto, uma vez mais deixo de encontrar maior relevo no fato. Admitindo-se que se tratasse de compra e venda, teria sido ela fi nanciada pela instituição fi nanceira. Isso me parece induvidoso. Adquiriu ela o bem e o vendeu - segundo essa tese - para receber o preço em prestações. Em outras palavras, desembolsou a totalidade do valor do bem, para fazer a compra, e o alienou, recebendo em parcelas. Está claro, aí, que houve um fi nanciamento. Economicamente o negócio não se distinguiria essencialmente, caso a instituição fi nanceira emprestasse o dinheiro para a aquisição direta do bem. A questão estaria nas repercussões jurídicas, notadamente as garantias.

Em verdade, o que se discute são taxas de juros e, a esse respeito, a jurisprudência é fi rme em considerar a não incidência das proibições da chamada “Lei de Usura” e outras razões, no plano infraconstitucional, não se vislumbram para limitá-los.

Conheço do recurso e dou-lhe provimento. Custas e honorários pelo recorrido, arbitrados os últimos em cinco por cento sobre o valor da causa.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Ação de revisão contratual

cumulada com repetição do indébito proposta por Antônio Carlos Meyer -

ME, recorrida, contra Companhia Itaúleasing de Arrendamento Mercantil,

recorrente, julgada procedente, em parte, “para o fi m de, em liquidação de

sentença, determinar a revisão dos contratos, declarando como devido apenas o

valor principal fi nanciado, acrescido de juros de 12% ao ano, com capitalização

anual, com correção monetária pela TR, deferindo a compensação com

os valores pagos a maior pela parte autora, com os valores ainda devidos,

determinando que as parcelas vincendas, até realização do cálculo contemplem o

principal, juros e correção como acima defi nidos” (fl s. 214). A 4ª Câmara Cível

do Tribunal de Alçada do Estado do Rio Grande do Sul negou provimento

à apelação da ré, constando da ementa do acórdão que “a antecipação do

Valor Residual Garantido tem a propriedade de descaracterizar o contrato de

arrendamento mercantil para o de compra e venda a prazo, em função de cujo

fi nanciamento admissível a cobrança de juros, desde que no patamar permitido

em lei, qual seja, 12% ao ano, com assento no D. n. 22.626/1933 c.c. o art. 1.063

do CC, dispositivos que se harmonizam com a CF/1988” (fl s. 285).

O especial vem com base nas alíneas a e c do permissivo constitucional,

alegando contrariedade às Leis n. 4.595/1964 e n. 6.099/1974 e à Resolução n.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 413

980/84, do Banco Central do Brasil, e dissídio jurisprudencial, tendo em vista

que a antecipação do Valor Residual não descaracteriza o leasing e o limite da

taxa de juros não está vinculado à Lei de Usura, incidindo a Súmula n. 596-STF.

O Senhor Ministro Eduardo Ribeiro, Relator, conheceu e deu provimento

ao recurso por entender que o pagamento do Valor Residual Garantido

antecipadamente não descaracteriza o contrato de leasing, já que assegurado o

direito à opção de compra. Quanto à taxa de juros, afastou a limitação, porque,

mesmo que se tratasse de compra e venda, o bem foi fi nanciado por uma

instituição fi nanceira, não alcançada pelo Decreto n. 22.626/1933.

A primeira questão jurídica que merece enfrentada alcança a natureza

do contrato. A meu sentir, o pagamento antecipado do VRG não desqualifi ca

o contrato de leasing, conforme votei no REsp n. 163.838-RS, como Relator,

encerrado o julgamento em 06.06.2000. Vejamos.

O eminente Senhor Ministro Cláudio Santos, que já abrilhantou esta 3ª

Turma, defi ne e traz diversas opiniões sobre o conceito de leasing assim, verbis:

(...)

Basicamente, no contrato de leasing, alguém titular da propriedade plena de uma coisa, móvel ou imóvel, cede a outrem, pessoa jurídica ou natural, o uso do bem, mediante a transferência de sua posse direta, que assim poderá utilizar-se dele ou explorá-lo economicamente, sendo assegurado ao final do prazo do contrato a simples devolução da coisa, a renovação do contrato ou a sua aquisição pelo preço residual avençado, tudo contra o pagamento periódico ou simplesmente mensal de valor fi xado no contrato.

Disse antes cuidar-se de contrato de natureza híbrida e, efetivamente, vê-se no leasing uma aparência de locação, uma aparência de compra e venda à prestação, uma clara faculdade de utilização da coisa e uma nítida promessa unilateral de compra e venda. Não é só. Na modalidade mais importante economicamente, vê-se também um fi nanciamento, porquanto nem sempre a coisa é disponível no mercado para ter seu uso cedido; muitas vezes é ela solicitada pelo arrendatário ao arrendador que a compra para arrendar ao pretendente e, assim, proporcionar-lhe a aquisição futura. Essa pluralidade de relações jurídicas leva a doutrina a conceituar o contrato de arrendamento mercantil como um negócio complexo, com a predominância do contrato de locação, muito embora sua concretização traduza um verdadeiro fi nanciamento.

FÁBIO KONDER COMPARATO, em seu conhecido estudo denominado “Contrato de leasing”, publicado na RT 389, de 1968, diz que o leasing, “propriamente dito, não obstante a pluralidade de relações obrigacionais típicas que o compõem, apresenta-se funcionalmente uno: a ‘causa’ do negócio é sempre o fi nanciamento de investimentos produtivos”. Todavia, logo em seguida, com respeito às

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relações obrigacionais faz a seguinte afi rmação: “Sem dúvida, dentre as relações obrigacionais típicas que compõem o leasing predomina a figura da locação de coisa. Mas a existência de uma promessa unilateral de venda por parte da instituição fi nanceira serve para extremá-lo não só da locação comum, como na venda a crédito”.

Para o mestre ARNOLDO WALD, em trabalho também pioneiro, cogita-se de um contrato pelo qual uma empresa “desejando utilizar determinado equipamento, ou um certo imóvel, consegue que uma instituição fi nanceira adquira o referido bem, alugando-o ao interessado por prazo certo, admitindo-se que, terminado o prazo locativo, o locatário possa optar entre a devolução do bem, a renovação da locação, ou a compra pelo preço residual fi xado no momento inicial do contrato”. Acentua, ainda, que o arrendamento mercantil é uma “fórmula intermediária entre a compra e venda e a locação, exercendo função parecida com a da venda com reserva de domínio e com a alienação fi duciária, (...)” (RT 415, de 1970).

O advogado LUIZ MÉLEGA, em livro com o título de “O Leasing e o Sistema Tributário Nacional” (SP, Co-edição IBDT e Ed. Saraiva, 1975) defi ne o leasing, em sua forma ortodoxa, como um arrendamento, mas além de colacionar a opinião de vários juristas, dentre os quais, o já citado FÁBIO KONDER COMPARATO, BENEDITO GARCIA HILÁRIO, com opinião igual a sua, menciona SAMPAIO DE LACERDA, que considera o leasing uma típica operação fi nanceira, PHILOMENO COSTA e THOMAS BENES FELSBERG, para os quais o leasing não é uma operação fi nanceira, mas uma operação comercial, onde o elemento fi nanceiro é preponderante.

O Prof. FRAN MARTINS considera complexa a natureza jurídica do arrendamento mercantil, “compreendendo uma locação, uma promessa unilateral de venda (em virtude de dar o arrendador opção de aquisição do bem pelo arrendatário) e, às vezes, um mandato, quando é o próprio arrendatário quem trata com o vendedor na escolha do bem”. (“Contrato e Obrigações Comerciais”, 2ª ed., Rio, Forense, 1990, p. 547) (A referência ao mandado é infl uência da doutrina francesa que identifi ca esse contrato nas relações entre empresa arrendatária e sociedade fi nanceira arrendadora, quando a aquisição do material é feita segundo a necessidade da primeira, atuando esta como mandatária do adquirente inicial do bem).

A lei brasileira (L. n. 6.099/1974, alterada pela L. n. 7.132/1985) assim defi ne o leasing financeiro ou arrendamento mercantil: “considera-se arrendamento mercantil, para efeitos desta lei, o negócio jurídico realizado entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora, segundo especifi cações da arrendatária e para uso próprio desta”.

ARNALDO RIZZARDO, a comentar o dispositivo reproduzido, observa: “Não se trata de uma simples locação com promessa de venda, como à primeira vista pode parecer. Mas cuida-se de uma locação com uma consignação de promessa de compra, trazendo, porém, um elemento novo, que é o fi nanciamento, numa

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 415

operação específi ca que consiste na simbiose da locação, do fi nanciamento e da venda. Em suma, é a fi gura em exame uma alternativa de fi nanciamento para aquisição de qualquer tipo de veículo, máquina ou equipamento de fabricação nacional ou estrangeira, novo ou usado, incluindo, também, fi nanciamento de imóveis”. (Leasing - Questões Controvertidas, Revista Jurídica, Ano XLIV, n. 223, Maio de 1996, p. 06-07).

Com efeito, mediante o contrato de leasing, o dono de determinado bem

cede o uso deste a terceiro, que pagará prestações e, ao fi nal, poderá exercer o

direito de compra. Há, então, um contrato dentro do qual se inserem vários

tipos de relações contratuais, a saber: locação, promessa unilateral de venda e

fi nanciamento.

Estando presente uma simples promessa unilateral de venda, o arrendatário

poderá, ou não, comprar o bem ao fi nal do prazo contratado. É um direito de

opção presente em qualquer tipo de leasing. A propósito, o eminente Ministro

José Delgado, citando Celso Benjó, distingue o leasing operacional do fi nanceiro

assim, verbis:

(...)

Na visão de CELSO BENJÓ, contudo, o conceito de leasing há de ser fi rmado com vistas aos dois principais tipos existentes: o leasing fi nanceiro, e o operacional.

O leasing operacional para o mencionado autor “consiste no contrato pelo qual uma das partes se obriga a proporcionar à outra o uso e gozo temporário de determinado bem e a mantê-lo em perfeito estado de funcionamento, por um período menor do que sua vida economicamente útil mediante uma contraprestação, em geral, inferior à que seria necessária para uma completa amortização do preço da coisa locada. Teria, em conseqüência, conforme enumera e analisa, as seguintes características:

a) uma locação com prestação de serviço;

b) bens estandardizados e a especialização das locadoras;

c) curto prazo e obsolescência incidindo na pessoa do locador;

d) caráter de nonpayout lease e a necessidade de várias locações;

e) não obrigatoriedade da opção de compra;

f ) o desdobramento da posse e a tradição da coisa;

g) inexistência de regulamentação específi ca desta modalidade de leasing no Brasil.

O leasing financeiro, registra CELSO BENJÓ, consiste “no negócio jurídico bilateral pelo qual uma das partes, necessitando utilizar um determinado bem,

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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procura uma instituição fi nanceira para que promova a compra do mesmo para si e, posteriormente, lhe entregue em locação, mediante uma remuneração periódica, em geral, no seu somatório, superior a seu preço de aquisição. Ao fi nal do prazo contratual, via de regra, surgem três opções para o locatário: a de tornar-se proprietário mediante o pagamento de uma quantia, a de renovar a locação por um valor inferior ao primeiro período locativo ou a devolver a coisa locada”.

Os caracteres do leasing fi nanceiro são, segundo o autor supra, os seguintes:

a) a participação de três sujeitos no contrato;

b) a escolha do material e a inexistência de mandato;

c) operação realizada de médio a longo prazo;

d) caráter de full payout lease;

e) a irrevogabilidade contratual;

f ) o risco da obsolescência é do locatário;

g) caráter de net lease;

h) a tríplice opção (aquisição do bem, a título oneroso; a de renovação do contrato e a de devolução do bem locado);

i) a opção de compra;

j) a renovação do leasing;

l) a devolução da coisa locada;

m) a legislação específi ca no direito pátrio. (Leasing, Doutrina e Jurisprudência, Juruá Editora, 1977, p. 54 a 58).

Enfi m, não há obrigação de compra, mas, apenas, uma opção, consoante dispõe a Lei n. 6.099/1974 (alterada pela Lei n. 7.132/1983), no seu art. 5º, alínea c.

O exercício da compra e venda, por sua vez, deve obedecer às regras da própria Lei n. 6.099/1974, pena de ser considerada uma operação de compra e venda. É o que dispõe o § 1º do art. 11 da referida lei, verbis:

Art. 11 (...)

§ 1º - A aquisição pelo arrendatário de bens arrendados em desacordo com as disposições desta Lei será considerada operação de compra e venda à prestação.

O Valor Residual Garantido, por outro lado, segundo defi ne a Portaria

n. 564/1978- MF, inciso 2, é “o preço contratual estipulado para o exercício

da opção de compra ou valor contratualmente garantido pela arrendatária

como mínimo que será recebido pela arrendadora na venda a terceiros do bem

arrendado, na hipótese de não ser exercida a opção de compra”.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 417

O contrato, por sua vez, penso, encontra-se em perfeita consonância com

a Portaria n. 564/1978-MF, inciso 2. Basta agora, perquirir sobre os efeitos do

recebimento antecipado do Valor Residual Garantido (VRG) sobre a natureza

do leasing.

O recolhimento do VRG ao longo do contrato, entendo, não obriga o

arrendatário a adquirir o bem. Findo o prazo do leasing, poderá o arrendatário

não se manifestar favoravelmente à opção de compra, direito que lhe assiste, a

teor da Lei n. 6.099/1974, art. 5º alínea c. Quanto as importâncias adiantadas

a título de Valor Residual Garantido, equiparado ao valor da opção de compra,

deverá o arrendatário entrar em acerto com a instituição fi nanceira segundo as

normas legais pertinentes e o contrato, acaso decida não optar pela compra do

bem.

Nem se diga que o arrendatário, na hipótese de adiantamento do VRG,

sofra prejuízo irreparável. Ao fi nal do contrato, mesmo que não seja efetuado

o referido adiantamento, deverá pagar à arrendadora a diferença entre o VRG

e o valor obtido da venda do bem a terceiros, quando este for inferior àquele.

Optando, entretanto, pela compra, já terá quitado a importância necessária, não

precisando desembolsar qualquer valor.

Não há no caso presente, por outro lado, infringência a qualquer regra

da Lei n. 6.099/1974, que não veda, expressamente, o recebimento antecipado

do valor da opção de compra. Assim, esse fato, por si só, não caracteriza a

operação de compra e venda, não incidindo o § 1º do art. 11 do diploma legal

mencionado.

Quanto à taxa de juros, encontra-se devidamente prequestionada, tendo

sido examinada na sentença e no acórdão, expressamente, ante os termos do

contrato, o que está sendo cobrado pelo credor e a legislação pertinente. Por

outro lado, discutida nas instâncias ordinárias a taxa de juros, não cabe nesta

fase especial apreciar a possibilidade de decompor e verifi car o percentual dos

encargos cobrados. É preciso anotar, no caso, que o acórdão recorrido impôs a

limitação dos juros a 12% ao ano.

De todos os modos, antes de decidir a questão da taxa de juros, vale a

pena tecer algumas considerações a respeito dos encargos cobrados diante de

arguta observação feita pelo Senhor Ministro Ari Pargendler. O voto do Senhor

Ministro Ari Pargendler, sem sombra de dúvida, trouxe questão que merece

examinada pela relevância dos fundamentos apresentados, em pioneiro trato

da matéria, conquanto entenda que a Corte, nesta fase processual, não deva

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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avançar no exame do tema, ainda que seja para dizer que a ação utilizada não é a

adequada para desafi á-lo, pena de desrespeitar o requisito do prequestionamento,

diante do julgado recorrido e do especial da empresa arrendadora, que se insurge

contra a limitação dos juros, não há dúvida de que a inteligente argumentação

do Senhor Ministro Ari Pargendler a respeito da identifi cação dos encargos é

relevante, merecendo ser aqui apreciada.

Ao votar no REsp n. 235.159-RS, assinalou o Senhor Ministro Ari

Pargendler o que se segue, verbis:

Diversamente do que ocorre nos fi nanciamentos em geral, no arrendamento mercantil o custo do dinheiro não é identifi cado por institutos jurídicos, v.g., juros remuneratórios ou capitalização de juros. No empréstimo de dinheiro, pode-se discutir a taxa de juros (se limitada ou não) e a sua capitalização (se permitida, ou não). No arrendamento mercantil, o custo do dinheiro, aí não incluída a correção monetária, está embutido nas contraprestações, sendo impossível, por exemplo, discutir juros e capitalização de juros - estranhos ao contrato, que só prevê o montante das prestações, o respectivo número, o Valor Residual Garantido, a correção monetária e, no caso, de inadimplemento, a comissão de permanência, multa e juros moratórios. De fato, como distinguir o que, no custo do dinheiro, representa juros e o que corresponde à sua capitalização.

Como afirmado anteriormente, o contrato de leasing é formado, por

vários tipos de relações jurídicas, assim a locação, a promessa unilateral de

venda e fi nanciamento, sendo certo que, ante a complexidade do contrato,

como conseqüência, pode-se afi rmar que, em regra, comporão o valor total do

arrendamento, até mesmo para a própria sobrevivência da instituição fi nanceira,

a prestação locatícia, o Valor Residual Garantido, a correção monetária, o custo

do dinheiro utilizado pela empresa arrendadora, e, em caso de inadimplemento,

os juros moratórios, a multa por inadimplência e a comissão de permanência.

Adotando uma técnica de exclusão e partindo-se do valor real do bem na época

da contratação, do número de prestações e do fato de que o contrato já distingue

o valor das prestações locatícias, o VRG, o índice de correção monetária a ser

utilizado, a taxa dos juros moratórios e o percentual da multa, e sabido que há

um custo de captação, que está embutido no preço do arrendamento, é possível,

a meu sentir, obter a variação das prestações e, após, extrair de cada prestação

os encargos previamente identifi cados no contrato, calcular os juros cobrados e

saber se os mesmos, estão, ou não, capitalizados.

A propósito, Arnaldo Rizzardo, em sua obra “Leasing - Arrendamento

Mercantil no Direito Brasileiro”, RT, 4ª edição, p. 119 a 124, abre um item

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 419

denominado “Juros e encargos no arrendamento mercantil”, onde cuida,

também, da limitação dos juros remuneratórios. Afi rma Rizzardo o que se

segue:

Mesmo que se entenda incluírem-se as sociedades arrendantes no conceito de instituição fi nanceira, ou equiparando-se aos bancos, e fazendo incidir sobre elas a inteligência do art. 4º, inc. IX, da Lei n. 4.595, e da Súmula n. 596 do STF, a taxa de juros não poderá ultrapassar a 12% ao ano sobre a remuneração que paga o banco, caso não proclamadas taxas de juros superiores pelo Conselho Monetário Nacional. É que o citado art. 4º, inc. IX, permite ao CMN delimitar, ou instituir, ou fi xar, taxa de juros. Não estende esta incumbência às demais instituições que integram o Sistema Financeiro Nacional. Raros os atos estabelecendo taxas a serem colocadas em prática. Unicamente em fi nanciamentos específi cos, como os de custeio agrícola ou rural, mas em percentuais reduzidos, e inferiores a 12% ao ano. Ora, se está no art. 4º, inc. IX, da Lei n. 4.595, que compete ao Conselho Monetário Nacional delimitar, isto é, fixar as taxas de juros, não se estende a competência às instituições fi nanceiras. Estas somente devem acatar as determinações daquele Conselho. Inexistindo, pois, uma taxa de juros introduzida pelo CMN, deve-se obedecer aos padrões comuns, regulados pelo Código Civil e pelo Dec. n. 22.626, art. 1º.

Silvia Vanti, por sua vez, in “Leasing - Aspectos Controvertidos do

Arrendamento Mercantil”, Livraria do Advogado - Editora, 1998-RS, escreve:

(...)

A taxa de juros vem inserida nas cláusulas de duas formas: ou mediante pura estipulação, ao lado de outros encargos, como correção monetária, comissão de permanência e multa por mora; ou cumulada e embutida na correção monetária ou comissão de permanência prefi xada, em padrões que ultrapassam os índices ofi ciais impostos pelo governo. Tanto numa como noutra hipótese, não há de se consagrar privilégios em favor de uma determinada classe de entidades ou pessoas, mesmo porque, por princípio constitucional, todos, são iguais perante a lei. (p. 81).

Na verdade, os juros e a sua forma de cobrança compõem o custo do

arrendamento mercantil. Com efeito, na minha compreensão, se embutidos

ou expressos no contrato, e como tal questionados judicialmente, devem ser

reparados os encargos abusivos de alguma forma. Por isso mesmo, entendo,

pedindo vênia ao Senhor Ministro Ari Pargendler, ser da competência do

Poder Judiciário decidir se no cálculo do preço do arrendamento mercantil a

arrendadora pode embutir os juros como se instituição fi nanceira fosse, e assim

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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subordinar-se ao regime da Súmula n. 596 do Supremo Tribunal Federal, ou, na

linha do entendimento de Rizzardo, deve haver a limitação de 12% ao ano.

Desse modo, tendo presente que, neste caso, as instâncias ordinárias

impuseram a limitação da taxa de juros em 12% ao ano, deve a matéria ser

examinada. E, a meu sentir, tratando-se de instituição fi nanceira, estando o

contrato no elenco de sua fi nalidade, deve ser afastada a limitação, respeitável

embora a opinião de Arnaldo Rizzardo, transcrita supra. De fato, a teor do

art. 7º da Lei n. 6.099/1974, incidem as normas da Lei n. 4.595/1964, cuja

interpretação pelo Supremo Tribunal Federal gerou a edição da Súmula n. 596,

que dispõe:

As disposições do Decreto n. 22.626/1933 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas, que integram o Sistema Financeiro Nacional.

Especifi camente sobre as taxas de juros no contrato de leasing, trago os

seguintes precedentes:

Comercial. Arrendamento mercantil.. Correção monetária. Plano Verão. Juros.

Aplica-se o disposto no art. 15 e seus parágrafos da Lei n. 7.730/1989 aos contratos de arrendamento mercantil. Precedentes.

Desde o advento da lei de reforma bancária não prevalecem, em relação às instituições fi nanceiras que integram o Sistema Financeiro, salvo exceções legais, as restrições do Dec. n. 22.626/1933, quanto à estipulação da taxa de juros.

Recurso conhecido em parte e, nesta parte, provido. (REsp n. 148.324-RS, 3ª Turma, Relator o Ministro Costa Leite, DJ de 03.08.1998).

Leasing. Juros. Capitalização.

- Não se aplica às instituições fi nanceiras a limitação de juros prevista no Dec. n. 22.626/1933 (art. 4º, inc. IX, da Lei n. 4.595/1964, Súmula n. 596-STF).

- A capitalização dos juros somente é permitida nas hipóteses previstas em lei, entre as quais não se inclui o contrato de leasing.

- Recurso conhecido em parte e provido. (REsp n. 198.293-RS, 4ª Turma, Relator o Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ de 14.06.1999).

Direitos Comercial e Econômico. Contrato de arrendamento mercantil. Leasing teto de juros Lei de Usura. Inaplicabilidade. Decreto n. 22.626/1933. Instituição fi nanceira. Derrogação. Precedente. Enunciado n. 596 da Súmula-STF. Recurso provido.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 421

- A Lei n. 4.595/1964, que rege a política econômico-monetária nacional, ao dispor no seu art. 4º, IX, que cabe ao Conselho Monetário Nacional limitar taxas de juros, revogou, nas operações realizadas por instituições do Sistema Financeiro, inclusive nos contratos de arrendamento mercantil, salvo nos mútuos rurais, quaisquer outras restrições que previam teto máximo daqueles. (REsp n. 102.082-RS, Relator o Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ de 03.08.1998).

Ante o exposto, acompanho o Senhor Ministro Relator.

VOTO

O Sr. Ministro Ari Pargendler (Relator): Acompanho o voto do eminente

Relator por motivação diversa.

A Lei n. 6.099, de 1974, “dispõe sobre o tratamento tributário das

operações de arrendamento mercantil”. O efeito do § 1º do artigo 11 desse

diploma legal, considerando “operação de compra e venda” o contrato de

arrendamento feito em desacordo com as disposições da lei, é o de desqualifi car

como custo ou despesa operacional da arrendatária as prestações pagas (art.

11, caput). À mingua de qualquer outra previsão, a desclassifi cação só produz

efeitos no âmbito tributário. Nem teria sentido que um negócio, só viabilizado

por força de fi nanciamento, pudesse ser desfi gurado em razão do tratamento

tributário. O aludido efeito tributário não altera a essência do negócio celebrado

entre as partes, sendo resultado de outra relação, entre o Estado e a arrendatária.

Esse fenômeno está pressuposto no artigo 109 do Código Tributário Nacional,

que o valorizou sob outro prisma, a saber: “Os princípios gerais de direito

privado utilizam-se para pesquisa da defi nição, do conteúdo e do alcance de

seus institutos, conceitos e formas, mas não para defi nição dos respectivos

efeitos tributários”. Não havendo lei, no âmbito do direito privado, proibindo

a antecipação do Valor Residual Garantido, as partes podiam, sim, dispor a

respeito, como simples decorrência da liberdade contratual. Quid, se o próprio

Ministro da Fazenda, pela Portaria MF n. 140, de 27 de julho de 1984, resolveu

que “As parcelas de antecipação do Valor Residual Garantido ou do pagamento

por opção de compra serão tratadas como passivo do arrendador e ativo do

arrendatário, não sendo computadas na determinação do lucro real”? Em outras

palavras, se a Administração Fazendária, à vista da cláusula de antecipação do

Valor Residual Garantido, não extraiu os efeitos previstos no § 1º do artigo

11 da Lei n. 6.099, de 1974, a que título a relação entre as partes poderia ser

modifi cada por uma “ação revisional”?

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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O arrendamento mercantil é um contrato sui generis. Decomposto

atomisticamente, nele pode-se identifi car cláusulas de locação, de promessa de

compra e venda e, quando o arrendatário recebe do arrendador poderes para

adquirir o bem, de mandato. O conjunto, todavia, é diferente de suas partes, e

nem é o mesmo em todos os casos. O arrendamento mercantil tem uma função

econômica importante quando a arrendatária é uma pessoa jurídica. Dá-lhe

meios de produção, de um lado, ou de outro, facilita-lhe as coisas, pela redução

dos encargos fi scais. Ao invés de investimentos próprios, a pessoa jurídica paga

um aluguel e, como ganho secundário, aproveita o respectivo montante como

custo ou despesa operacional, diminuindo o lucro operacional. Já a pessoa física

opta pelo arrendamento mercantil quando as condições lhe pareçam mais

favoráveis do que as outras formas de fi nanciamento, sem outras conseqüências.

Quando, num ou noutro caso, o Valor Residual Garantido é antecipado

gradualmente, o montante dessas parcelas e das contraprestações representa, ao

fi nal do contrato, o custo total da operação fi nanceira, se regularmente cumprido.

Diversamente do que ocorre nos fi nanciamentos em geral, no arrendamento

mercantil o custo do dinheiro não é identifi cado por institutos jurídicos, v.g.,

juros remuneratórios ou capitalização de juros. No empréstimo de dinheiro,

pode-se discutir a taxa de juros (se limitada ou não) e a sua capitalização (se

permitida, ou não). No arrendamento mercantil, o custo do dinheiro, aí não

incluída a correção monetária, está embutido nas contraprestações, sendo

impossível discutir juros e capitalização de juros - estranhos ao contrato, que

só prevê o montante das prestações, o respectivo número, o Valor Residual

Garantido, a correção monetária e, no caso de inadimplemento, comissão de

permanência, multa e juros moratórios. De fato, como distinguir o que, no custo

do dinheiro, representa juros e o que corresponde à sua capitalização?

VOTO-VISTA

Ementa: Contrato de leasing. Valor Residual Garantido.

Pagamento antecipado. Juros. Taxa. Instituições fi nanceiras.

I - O pagamento antecipado da VRG descaracteriza o contrato

de arrendamento mercantil.

II - O limite de juros previsto no Decreto n. 22.636/1933 não se

aplica às instituições fi nanceiras.

III - Voto-vista conhecendo do recurso e dando-lhe provimento.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 423

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Entendo que o pagamento

antecipado do Valor Residual Garantido descaracteriza o contrato de leasing.

Com essa orientação proferi o voto-vista no REsp n. 235.159-RS.

No tocante à taxa de juros, acompanho o Relator, pois a disposição do

Decreto n. 22.626/1933, que a limita em 12% ao ano, não se aplica a instituições

fi nanceiras, incidindo a Súmula n. 596 do STF.

Em conclusão: conheço do recurso, mas dou-lhe parcial provimento, ou

seja, apenas no que concerne à taxa de juros.

VOTO

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: Sr. Presidente, acompanho o eminente Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, pedindo vênia a V. Ex.ª e aos demais Ministros que já votaram, aduzindo os fundamentos que já tenho proferido nesta Turma e o proferido no voto-vista n. 235.159 do Rio Grande do Sul.

Todavia, como neste recurso a que estou fazendo referência, quanto à fundamentação, não há explicitação quanto à taxa de juro, peço licença a V. Exª. para expor, em rápidas palavras, a minha compreensão sobre a hipótese. Entendo que a desqualifi cação do contrato ou do ato negocial fi rmado entre a instituição fi nanceira e o adquirente do bem no contrato de leasing, por aplicação de sanção imposta pela lei, não tem o condão de desqualifi car a condição e o caráter da instituição no pólo inaugural da fi xação do contrato, continua sendo o promitente vendedor, já agora o então arrendador, instituição fi nanceira, porque esta é a sua característica própria. E, sendo instituição fi nanceira, que mantém o contrato com fi nanciamento próprio está abrangida pela Súmula n. 596 do Supremo Tribunal Federal.

Reiterando vênia, acompanho o voto do eminente Ministro Antônio de Pádua Ribeiro.

RECURSO ESPECIAL N. 280.833-RO (2000.0100321-6)

Relator: Ministro Fernando Gonçalves

Recorrente: Finasa Leasing Arrendamento Mercantil S/A

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Advogado: Odailton Knorst Ribeiro e outros

Recorrido: José Luiz Spindola Viana

Advogado: Francisco Nunes Neto

EMENTA

Civil e Processual. Arrendamento mercantil. Antecipação do

VRG. Não descaracterização da natureza jurídica do contrato. Ação

de reintegração de posse. Cabimento.

1 - A antecipação do Valor Residual Garantido (VRG) não

desnatura o contrato de leasing, consoante entendimento pacifi cado

pela Corte Especial (EREsp n. 213.828-RS, EREsp n. 286.649-RS,

EREsp n. 245.704-SP).

2 - Firmada a incolumidade do contrato o seu descumprimento

rende ensejo ao manejo da ação de reintegração de posse.

3 - Recurso conhecido e provido apenas para determinar ao Juízo

monocrático que julgue a reintegratória conforme entender de direito.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe

provimento. Os Ministros Aldir Passarinho Junior, Barros Monteiro e Cesar

Asfor Rocha votaram com o Ministro Relator. Ausente, ocasionalmente, o

Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira.

Brasília (DF), 26 de agosto de 2003 (data do julgamento).

Ministro Fernando Gonçalves, Relator

DJ 08.09.2003

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Fernando Gonçalves: A espécie é de ação de reintegração

de posse de coisa móvel ajuizada pela Finasa Leasing Arrendamento Mercantil

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 425

S/A contra José Luiz Spíndola Viana, em virtude de contrato de arrendamento

mercantil (leasing) de um automóvel.

Em primeiro grau de jurisdição, o Juízo, entendendo descaracterizado o

leasing, em face da antecipação do Valor Residual Garantido (VRG), decreta

a extinção do processo, sem julgamento de mérito (art. art. 367, I e 295, III,

ambos do CPC) (fl s. 19-20).

Manejada apelação, o Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, confi rma

a sentença, em acórdão que guarda a seguinte ementa:

Apelação cível. Leasing. Adiantamento do Valor Residual Garantido (VRG). Descaracterização do contrato de arrendamento mercantil. Inteligência do art. 10 da Resolução n. 2.309/96. Inocorrência do esbulho.

O adiantamento do Valor Residual Garantido (VRG) descaracteriza o contrato de leasing, pois o transforma em contrato de compra e venda a prestação, já que o arrendatário já exerceu sua opção de compra, não oportunizando, assim, que o credor venha utilizar-se dos interditos possessórios para a defesa de seus interesses, pois não há confi gurado o esbulho. (fl s. 41).

Contra essa decisão foi interposto o especial, com fundamento no art. 105,

inciso III, letras a e c da Constituição Federal, onde afi rma a autora violado o

art. 11 da Lei n. 6.099/1974, bem como os arts. 924, 926, 927 e 928 do Código

Civil, além de dissídio pretoriano, argumentando:

O esbulho possessório efetivou-se com o descumprimento da obrigação, ou seja, com a mora da Ré ao vencerem as contraprestações avençadas e não pagas.

Ademais, nossos Tribunais são unânimes em afirmar que a Ação de Reintegração de Posse, dada ao seu caráter especial, adequa-se à modalidade leasing, devendo usar-se o instituto possessório quando a necessidade o exigir.

Outrossim, temos que contrato tem de ser examinado com base nas normas do direito comum.

De início, se tem que nada obsta a cobrança do Valor Residual Garantido do bem por antecipação total ou parcial, exigindo-se o pagamento no início ou no curso do contrato.

Trata-se de obrigação contratual livremente assumida pelo arrendatário e, desta, não pode safar-se, pois pacta sunt servanda.

Sua natureza é a de mera poupança para possibilitar a aquisição do bem quando da efetiva opção ao fi nal do contrato. Se não lhe interessar a aquisição, por evidente, não se haverá falar em Valor Residual e o total pago a esse título deverá ser devolvido. Se sua opção for efetivada, o valor estará pago.

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426

A antecipação, de outro lado, garante o valor do saldo devedor, pondo-o a salvo das intempéries econômicas.

Não há norma que impeça o pacto.

Todavia, o pagamento do Valor Residual Antecipado, total ou parcialmente, gera conseqüência contratual que nem sempre é observada pela arrendadora.

É que não pode a arrendadora calcular o valor da contraprestação sobre o preço total do bem se houver pagamento antecipado. Se a antecipação for total, seu valor deverá ser deduzido do valor do bem utilizado. Se for parcial, o valor das parcelas pagas, referentes ao VRG, devem ser gradativamente abatidas para cálculo das prestações posteriores, de tal forma que as parcelas vincendas não sejam calculadas com base em valor já pago defi nitivamente.

Isto que, no caso dos autos, favoreceria a recorrente não foi alegado em seu favor, logo não pode ser concedido. O que se diz é apenas para explicar a viabilidade jurídica do pagamento do Valor Residual antecipadamente e seu interesse em favor da arrendatária.

Viável o pagamento antecipado do Valor Residual Garantido, o aspecto seguinte a ser abordado é o de que ele não descaracteriza o leasing, transformando o contrato em promessa de venda e compra de prestações.

O instituto, como acima referido, é unia operação complexa. Mesmo na hipótese de pagamento antecipado do VRG, ele mantém sua característica de locação, pois, como visto, a opção fi nal de compra do bem não é obrigatória. (fl s. 53-54).

Sem contra-razões, o recurso teve admitido o seu processamento (fl s. 63-

64), ascendendo os autos a esta Corte.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Fernando Gonçalves (Relator): A antecipação do Valor Residual Garantido (VRG) não desnatura o contrato de leasing, consoante entendimento pacifi cado pela Corte Especial (EREsp n. 213.828-RS, EREsp n. 286.649-RS, EREsp n. 245.704-SP).

Firmado isso, não há razão para manter a extinção do processo de reintegração de posse, como decidido pela sentença e o acórdão recorrido.

A conseqüência lógica do descumprimento do contrato de arrendamento mercantil, de um modo geral, rende ensejo ao ajuizamento da possessória, notadamente porque a propriedade do bem é do arrendador, ficando o arrendatário na situação de simples possuidor.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 5, (22): 269-428, agosto 2011 427

A respeito do assunto vale citar a doutrina de Arnaldo Rizzardo, in Leasing

arrendamento mercantil no Direito brasileiro, 4ª edição, p. 198-199:

O caminho judicial mais propício para o credor obter a posse direta do bem é a ação reintegratória.

Uma vez considerado rescindido o negócio, o que se verifica com o não atendimento, pelo devedor, da obrigação de colocar em dia as prestações, no prazo concedido, e não conseguindo o arrendador a restituição voluntária do bem tocado, assiste-lhe o direito de reaver a posse direta, pelo uso da ação em epígrafe.

Evidentemente, como foi salientado, a posse se tomou viciada, precária, ou contaminada de má-fé, justifi cando o remédio possessório, pois o devedor não mais encontra uma razão jurídica para continuar com a coisa. Em outros termos, há os pressupostos para o exercício da ação específi ca, inclusive com pedido de concessão liminar na retomada, sem audiência da parte contrária.

Esta a conclusão a que chega Paulo Restiff e Neto: “A lei é omissa, mesmo para as operações de bens móveis quanto às ações cabíveis ao locador para reaver o objeto do contrato, qualquer que seja o fundamento do término da relação de locação. A doutrina e a jurisprudência que se vêm formando em torno do instituto inclinaram-se para a ação de natureza possessória, por surpreenderem o esbulho caracterizado na retenção da posse sem justo título após a rescisão extrajudicial do contrato. Especificamente, a ação de reintegração de posse, com medida liminar quando, existente cláusula resolutória expressa, venham justifi cados os requisitos legais (...) Essa orientação supridora da omissão da lei vem abrindo caminhos à solução também do problema da retomada do objeto do contrato nas operações de leasing imobiliário. A via adequada é a genérica comum de natureza possessória, e não a ação de despejo própria das locações puras”.

A jurisprudência: “Para desatar contrato de leasing por mora do arrendatário, a ação própria é a reintegratória de posse”. “Na omissão da lei, a doutrina e a jurisprudência, por entenderem que a retenção da posse sem justo título, após a rescisão extrajudicial do contrato, caracteriza o esbulho, vêm admitindo ações possessórias. Esta solução está sendo adotada, também, para retomada do objeto do contrato nas operações de leasing imobiliário”. O Superior Tribunal de Justiça endossou o entendimento, inclusive admitindo a discussão do valor devido. E o que revela o Recurso Especial n. 150.099, da 4ª Turma, julgado em 05.03.1999, relatado pelo Min. Ruy Rosado de Aguiar:

Leasing - Âmbito da defesa do réu. A ação de reintegração de posse é a via processual que a lei concede ao credor para o desfazimento do contrato de leasing pelo descumprimento do devedor. A procedência da ação depende da existência da mora e da sua gravidade a ponto de justifi car a extinção do contrato. Tendo o devedor alegado que as prestações mensais estão sendo calculadas abusivamente, deve o juiz examinar essa defesa, pois a reintegratória é a via própria para isso.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Também Silvia Vanti, in Leasing Aspectos Controvertidos do

Arrendamento Mercantil, 1998, p. 97, assevera:

Constata-se que a rescisão contratual por parte da arrendante, em face do inadimplemento da arrendatária, motiva a cobrança das prestações vencidas, a reintegração do bem e a multa contratual proveniente da ruptura do contrato. Continuando com o nosso raciocínio, podemos dizer que no arrendamento mercantil a propriedade permanece com a empresa arrendante. Dessa forma, a arrendatária dispõe apenas do uso e posse do bem, objeto do contrato.

Além do precedente já citado, há um da relatoria do Ministro Sálvio de

Figueiredo, verbis:

Direitos Civil e Econômico. Contrato de arrendamento mercantil. Falta de pagamento das parcelas. Reintegração de posse. Liminar. Deferimento. Máquinas indispensáveis ao funcionamento da empresa. Depósito em mãos da arrendatária. Possibilidade. Circunstâncias peculiares. Recurso desacolhido.

I - A conseqüência natural do inadimplemento do contrato de leasing por parte do arrendatário é a restituição de fato do bem arrendado a seu possuidor originário e proprietário, que pode ser feita em provimento liminar.

II - Em se tratando, entretanto, de bem essencial ao desempenho da atividade econômica da empresa devedora, podendo a retirada imediata acarretar até mesmo a completa paralisação de suas funções, admite-se que ele fi que em depósito com o arrendatário até que seja resolvida a ação possessória. Se a conseqüência da antecipação dos efeitos da sentença for excessivamente drástica, melhor que a situação permaneça no estado em que se encontra. (REsp n. 121.109-SC, Rel. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJU, 05.10.1998).

No caso em exame, as instâncias ordinárias, entendendo descaracterizado

o contrato de leasing, deixaram de julgar o mérito da reintegratória, fi cando,

pois, esta Corte impedida de fazê-lo, sob pena de supressão de instância,

sobretudo na via especial, de índole extraordinária por excelência, cujo âmbito

de conhecimento adstringe-se às matérias debatidas no julgado recorrido

(prequestionamento).

Assim, conheço do recurso e lhe dou provimento apenas para determinar

ao Juízo monocrático que julgue o pedido de reintegração de posse, conforme

entender de direito.

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Índice Analítico

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A

Ação de cobrança - CC/1916, art. 178, § 10, II - Lei Complementar n. 109/2001, art. 75 - Lei n. 8.213/1991, art. 103 - Parcelas de complementação de aposentadoria - Prescrição qüinqüenal - Previdência privada. Súmula n. 291-STJ. RSSTJ 22/213.

Ação monitória - CPC, art. 1.102c, § 2º - Procedimento ordinário - Reconvenção - Cabimento. Súmula n. 292-STJ. RSSTJ 22/243.

C

CC/1916, art. 178, § 10, II - Ação de cobrança - Lei Complementar n. 109/2001, art. 75 - Lei n. 8.213/1991, art. 103 - Parcelas de complementação de aposentadoria - Prescrição qüinqüenal - Previdência privada. Súmula n. 291-STJ. RSSTJ 22/213.

Confi ssão de dívida - Contrato bancário - Renegociação - Contratos anteriores - Eventuais ilegalidades - Discussão - Possibilidade. Súmula n. 286-STJ. RSSTJ 22/11.

Contrato bancário - Correção monetária - Taxa Básica Financeira (TBF) - Não-cabimento - Medida Provisória n. 1.053/1995, art. 5º - Resolução n. 2.171/1995-CMN, art. 2º - Resolução n. 2.172/1995-CMN, art. 2º. Súmula n. 287-STJ. RSSTJ 22/33.

Contrato bancário - Correção monetária - Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) - Cabimento - Lei n. 8.177/1991, art. 25 - Lei n. 9.365/1996, art. 8º. Súmula n. 288-STJ. RSSTJ 22/81.

Contrato bancário - Renegociação - Confi ssão de dívida - Contratos anteriores - Eventuais ilegalidades - Discussão - Possibilidade. Súmula n. 286-STJ. RSSTJ 22/11.

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ÍNDICE ANALÍTICO

432

Contrato de arrendamento mercantil - Descaracterização - Não-ocorrência - Lei n. 6.099/1974, arts. 5º e 11, § 1º - Valor Residual Garantido (VRG) - Cobrança antecipada. Súmula n. 293-STJ. RSSTJ 22/269.

Contratos anteriores - Eventuais ilegalidades - Discussão - Possibilidade - Confi ssão de dívida - Contrato bancário - Renegociação. Súmula n. 286-STJ. RSSTJ 22/11.

Contribuição - Devolução - Não-cabimento - Decreto n. 81.240/1978, art. 31, § 2º - Lei n. 6.435/1977, art. 42, V - Previdência privada. Súmula n. 290-STJ. RSSTJ 22/177.

Correção monetária - Cabimento - Parcelas pagas - Restituição - Previdência privada. Súmula n. 289-STJ. RSSTJ 22/115.

Correção monetária - Taxa Básica Financeira (TBF) - Não-cabimento - Contrato bancário - Medida Provisória n. 1.053/1995, art. 5º - Resolução n. 2.171/1995-CMN, art. 2º - Resolução n. 2.172/1995-CMN, art. 2º. Súmula n. 287-STJ. RSSTJ 22/33.

Correção monetária - Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) - Cabimento - Contrato bancário - Lei n. 8.177/1991, art. 25 - Lei n. 9.365/1996, art. 8º. Súmula n. 288-STJ. RSSTJ 22/81.

CPC, art. 1.102c, § 2º - Ação monitória - Procedimento ordinário - Reconvenção - Cabimento. Súmula n. 292-STJ. RSSTJ 22/243.

D

Decreto n. 81.240/1978, art. 31, § 2º - Contribuição - Devolução - Não-cabimento - Lei n. 6.435/1977, art. 42, V - Previdência privada. Súmula n. 290-STJ. RSSTJ 22/177.

L

Lei Complementar n. 109/2001, art. 75 - Ação de cobrança - CC/1916, art. 178, § 10, II - Lei n. 8.213/1991, art. 103 - Parcelas de complementação de aposentadoria - Prescrição qüinqüenal - Previdência privada. Súmula n. 291-STJ. RSSTJ 22/213.

Lei n. 6.099/1974, arts. 5º e 11, § 1º - Contrato de arrendamento mercantil - Descaracterização - Não-ocorrência - Valor Residual Garantido (VRG) - Cobrança antecipada. Súmula n. 293-STJ. RSSTJ 22/269.

Lei n. 6.435/1977, art. 42, V - Contribuição - Devolução - Não-cabimento - Decreto n. 81.240/1978, art. 31, § 2º - Previdência privada. Súmula n. 290-STJ. RSSTJ 22/177.

Lei n. 8.177/1991, art. 25 - Contrato bancário - Correção monetária - Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) - Cabimento - Lei n. 9.365/1996, art. 8º. Súmula n. 288-STJ. RSSTJ 22/81.

Lei n. 8.213/1991, art. 103 - Ação de cobrança - CC/1916, art. 178, § 10, II - Lei Complementar n. 109/2001, art. 75 - Parcelas de complementação de aposentadoria - Prescrição qüinqüenal - Previdência privada. Súmula n. 291-STJ. RSSTJ 22/213.

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ÍNDICE ANALÍTICO

RSSTJ, a. 5, (22): 429-434, agosto 2011 433

Lei n. 9.365/1996, art. 8º - Contrato bancário - Correção monetária - Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) - Cabimento - Lei n. 8.177/1991, art. 25. Súmula n. 288-STJ. RSSTJ 22/81.

M

Medida Provisória n. 1.053/1995, art. 5º - Contrato bancário - Correção monetária - Taxa Básica Financeira (TBF) - Não-cabimento - Resolução n. 2.171/1995-CMN, art. 2º - Resolução n. 2.172/1995-CMN, art. 2º. Súmula n. 287-STJ. RSSTJ 22/33.

P

Parcelas de complementação de aposentadoria - Ação de cobrança - CC/1916, art. 178, § 10, II - Lei Complementar n. 109/2001, art. 75 - Lei n. 8.213/1991, art. 103 - Prescrição qüinqüenal - Previdência privada. Súmula n. 291-STJ. RSSTJ 22/213.

Parcelas pagas - Restituição - Correção monetária - Cabimento - Previdência privada. Súmula n. 289-STJ. RSSTJ 22/115.

Prescrição qüinqüenal - Ação de cobrança - CC/1916, art. 178, § 10, II - Lei Complementar n. 109/2001, art. 75 - Lei n. 8.213/1991, art. 103 - Parcelas de complementação de aposentadoria - Previdência privada. Súmula n. 291-STJ. RSSTJ 22/213.

Previdência privada - Ação de cobrança - CC/1916, art. 178, § 10, II - Lei Complementar n. 109/2001, art. 75 - Lei n. 8.213/1991, art. 103 - Parcelas de complementação de aposentadoria - Prescrição qüinqüenal. Súmula n. 291-STJ. RSSTJ 22/213.

Previdência privada - Contribuição - Devolução - Não-cabimento - Decreto n. 81.240/1978, art. 31, § 2º - Lei n. 6.435/1977, art. 42, V. Súmula n. 290-STJ. RSSTJ 22/177.

Previdência privada - Correção monetária - Cabimento - Parcelas pagas - Restituição. Súmula n. 289-STJ. RSSTJ 22/115.

Procedimento ordinário - Ação monitória - CPC, art. 1.102c, § 2º - Reconvenção - Cabimento. Súmula n. 292-STJ. RSSTJ 22/243.

R

Reconvenção - Cabimento - Ação monitória - CPC, art. 1.102c, § 2º - Procedimento ordinário. Súmula n. 292-STJ. RSSTJ 22/243.

Resolução n. 2.171/1995-CMN, art. 2º - Contrato bancário - Correção monetária - Taxa Básica Financeira (TBF) - Não-cabimento - Medida Provisória n. 1.053/1995, art. 5º - Resolução n. 2.172/1995-CMN, art. 2º. Súmula n. 287-STJ. RSSTJ 22/33.

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ÍNDICE ANALÍTICO

434

Resolução n. 2.172/1995-CMN, art. 2º - Contrato bancário - Correção monetária - Taxa Básica Financeira (TBF) - Não-cabimento - Medida Provisória n. 1.053/1995, art. 5º - Resolução n. 2.171/1995-CMN, art. 2º. Súmula n. 287-STJ. RSSTJ 22/33.

S

Súmula n. 286-STJ - Confi ssão de dívida - Contrato bancário - Renegociação - Contratos anteriores - Eventuais ilegalidades - Discussão - Possibilidade. RSSTJ 22/11.

Súmula n. 287-STJ - Contrato bancário - Correção monetária - Taxa Básica Financeira (TBF) - Não-cabimento - Medida Provisória n. 1.053/1995, art. 5º - Resolução n. 2.171/1995-CMN, art. 2º - Resolução n. 2.172/1995-CMN, art. 2º. RSSTJ 22/33.

Súmula n. 288-STJ - Contrato bancário - Correção monetária - Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) - Cabimento - Lei n. 8.177/1991, art. 25 - Lei n. 9.365/1996, art. 8º. RSSTJ 22/81.

Súmula n. 289-STJ - Correção monetária - Cabimento - Parcelas pagas - Restituição - Previdência privada. RSSTJ 22/115.

Súmula n. 290-STJ - Contribuição - Devolução - Não-cabimento - Decreto n. 81.240/1978, art. 31, § 2º - Lei n. 6.435/1977, art. 42, V - Previdência privada. RSSTJ 22/177.

Súmula n. 291-STJ - Ação de cobrança - CC/1916, art. 178, § 10, II - Lei Complementar n. 109/2001, art. 75 - Lei n. 8.213/1991, art. 103 - Parcelas de complementação de aposentadoria - Prescrição qüinqüenal - Previdência privada. RSSTJ 22/213.

Súmula n. 292-STJ - Ação monitória - CPC, art. 1.102c, § 2º - Procedimento ordinário - Reconvenção - Cabimento. RSSTJ 22/243.

Súmula n. 293-STJ - Contrato de arrendamento mercantil - Descaracterização - Não-ocorrência - Lei n. 6.099/1974, arts. 5º e 11, § 1º - Valor Residual Garantido (VRG)

- Cobrança antecipada. RSSTJ 22/269.

V

Valor Residual Garantido (VRG) - Cobrança antecipada - Contrato de arrendamento mercantil - Descaracterização - Não-ocorrência - Lei n. 6.099/1974, arts. 5º e 11, § 1º. Súmula n. 293-STJ. RSSTJ 22/269.

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Índice Sistemático

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Súmula 286

REsp 132.565-RS ...Rel. Min. Aldir Passarinho Junior .......................... RSSTJ 22/15REsp 237.302-RS ...Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira .................. RSSTJ 22/21REsp 450.968-RS ...Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito ............. RSSTJ 22/26

Súmula 287

AgRg no REsp 324.861-RS ...Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro ...................... RSSTJ 22/37AgRg no REsp 332.798-RS ...Rel. Min. Cesar Asfor Rocha ................................. RSSTJ 22/40EDcl noREsp 213.982-RS ...Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro ....................... RSSTJ 22/46REsp 252.940-MS ..Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar ............................ RSSTJ 22/48REsp 311.366-PR ...Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar ............................ RSSTJ 22/66REsp 439.882-RS ...Rel. Min. Castro Filho ............................................ RSSTJ 22/68REsp 472.864-PR ...Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar ............................ RSSTJ 22/77

Súmula 288

REsp 337.957-RS ...Rel. Min. Aldir Passarinho Junior ........................... RSSTJ 22/85REsp 401.165-MG .Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar .......................... RSSTJ 22/100REsp 525.649-MG .Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito ........... RSSTJ 22/103REsp 525.651-MG .Rel. Min. Nancy Andrighi .................................... RSSTJ 22/108

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ÍNDICE SISTEMÁTICO

438

Súmula 289

AgRg no Ag 477.274-RJ ...Rel. Min. Castro Filho .......................................... RSSTJ 22/119AgRg no Ag 480.071-MG .....Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito ........... RSSTJ 22/123AgRg no Ag 493.872-PR .......Rel. Min. Humberto Gomes de Barros ................. RSSTJ 22/127AgRg no Ag 495.307-MG .....Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira ................ RSSTJ 22/130AgRg no REsp 278.640-RJ ....Rel. Min. Ari Pargendler ....................................... RSSTJ 22/133AgRg no REsp 487.824-RJ ....Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro .................... RSSTJ 22/136EREsp 264.061-DF Rel. Min. Ari Pargendler ....................................... RSSTJ 22/139EREsp 287.954-DF Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar .......................... RSSTJ 22/147EREsp 297.194-DF Rel. Min. Nancy Andrighi .................................... RSSTJ 22/152REsp 367.116-RJ ....Rel. Min. Aldir Passarinho Junior ......................... RSSTJ 22/158REsp 403.732-DF ...Rel. Min. Fernando Gonçalves ............................. RSSTJ 22/163REsp 434.110-DF ...Rel. Min. Cesar Asfor Rocha ................................ RSSTJ 22/167REsp 435.029-MG .Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar .......................... RSSTJ 22/171

Súmula 290

AgRg no Ag 246.588-DF .......Rel. Min. Ari Pargendler ....................................... RSSTJ 22/181AgRg no Ag 356.563-DF .......Rel. Min. Nancy Andrighi ................................... RSSTJ 22/183REsp 148.902-RJ ....Rel. Min. Cesar Asfor Rocha ................................ RSSTJ 22/187REsp 157.993-DF ...Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito .......... RSSTJ 22/197REsp 198.604-RJ ....Rel. Min. Barros Monteiro .................................... RSSTJ 22/200REsp 299.425-RJ ....Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar .......................... RSSTJ 22/207

Súmula 291

REsp 89.416-DF .....Rel. Min. Eduardo Ribeiro ................................... RSSTJ 22/217REsp 173.826-RS ...Rel. Min. Waldemar Zveiter ................................. RSSTJ 22/219REsp 202.963-RS ...Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira ................ RSSTJ 22/223REsp 297.547-MG .Rel. Min. Ari Pargendler ....................................... RSSTJ 22/227REsp 424.181-RS ...Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito ........... RSSTJ 22/229REsp 450.352-RS ...Rel. Min. Fernando Gonçalves .............................. RSSTJ 22/235REsp 466.693-PR ...Rel. Min. Aldir Passarinho Junior ......................... RSSTJ 22/238

Súmula 292

REsp 147.945-MG .Rel. Min. Felix Fischer ......................................... RSSTJ 22/247REsp 222.937-SP ....Rel. Min. Nancy Andrighi .................................... RSSTJ 22/252REsp 401.575-RJ ....Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira ................ RSSTJ 22/261

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ÍNDICE SISTEMÁTICO

RSSTJ, a. 5, (22): 435-439, agosto 2011 439

Súmula 293

EREsp 213.828-RS .Rel. Min. Milton Luiz Pereira .............................. RSSTJ 22/273REsp 163.845-RS ...Rel. Min. Waldemar Zveiter ................................. RSSTJ 22/393REsp 164.918-RS ...Rel. Min. Eduardo Ribeiro .................................... RSSTJ 22/409REsp 280.833-RO ..Rel. Min. Fernando Gonçalves .............................. RSSTJ 22/423

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Siglas e Abreviaturas

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AC Apelação Cível

Adm Administrativo

Ag Agravo de Instrumento

AgRg Agravo Regimental

AI Argüição de Inconstitucionalidade

Ana Agência Nacional de Águas

Anatel Agência Nacional de Telecomunicações

Aneel Agência Nacional de Energia Elétrica

APn Ação Penal

AR Ação Rescisória

CAt Confl ito de Atribuições

CC Código Civil

CC Confl ito de Competência

CCm Código Comercial

Cm Comercial

CNE Conselho Nacional de Educação

Com Comunicação

CP Código Penal

CPC Código de Processo Civil

CDC Código de Proteção e Defesa do

Consumidor

CPP Código de Processo Penal

CR Carta Rogatória

CRI Carta Rogatória Impugnada

Ct Constitucional

CTB Código de Trânsito Brasileiro

CTN Código Tributário Nacional

Cv Civil

D Decreto

DL Decreto-Lei

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SIGLAS E ABREVIATURAS

444

DNAEE Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica

E Ementário da Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça

EAC Embargos Infringentes em Apelação Cível

EAR Embargos Infringentes em Ação Rescisória

EAg Embargos de Divergência no Agravo

EC Emenda Constitucional

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

EDcl Embargos de Declaração

EJSTJ Ementário da Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça

El Eleitoral

EREsp Embargos de Divergência em Recurso Especial

ERMS Embargos Infringentes no Recurso em Mandado de

Segurança

ExImp Exceção de Impedimento

ExSusp Exceção de Suspeição

ExVerd Exceção da Verdade

ExecAR Execução em Ação Rescisória

ExecMC Execução em Medida Cautelar

ExecMS Execução em Mandado de Segurança

HC Habeas Corpus

HD Habeas Data

HSE Homologação de Sentença Estrangeira

IDC Incidente de Deslocamento de Competência

IExec Incidente de Execução

IF Intervenção Federal

IJ Interpelação Judicial

Inq Inquérito

IPVA Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores

IUJ Incidente de Uniformização de Jurisprudência

LC Lei Complementar

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SIGLAS E ABREVIATURAS

RSSTJ, a. 5, (22): 441-446, agosto 2011 445

LCP Lei das Contravenções Penais

Loman Lei Orgânica da Magistratura

LONMP Lei Orgânica Nacional do Ministério Público

MC Medida Cautelar

MC Ministério das Comunicações

MI Mandado de Injunção

MS Mandado de Segurança

NC Notícia-Crime

PA Processo Administrativo

Pet Petição

PExt Pedido de Extensão

Pn Penal

Prc Precatório

PrCv Processual Civil

PrPn Processual Penal

Pv Previdenciário

QO Questão de Ordem

R Revista do Superior Tribunal de Justiça

Rcl Reclamação

RD Reconsideração de Despacho

RE Recurso Extraordinário

REsp Recurso Especial

RHC Recurso em Habeas Corpus

RHD Recurso em Habeas Data

RMI Recurso em Mandado de Injunção

RMS Recurso em Mandado de Segurança

RO Recurso Ordinário

Rp Representação

RSTJ Revista do Superior Tribunal de Justiça

RvCr Revisão Criminal

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SIGLAS E ABREVIATURAS

446

S Súmula

SAF Secretaria de Administração Federal

Sd Sindicância

SEC Sentença Estrangeira Contestada

SF Senado Federal

SL Suspensão de Liminar

SLS Suspensão de Liminar e de Sentença

SS Suspensão de Segurança

STA Suspensão de Tutela Antecipada

Tr Trabalho

Trbt Tributário

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Repositórios Autorizados e Credenciados pelo

Superior Tribunal de Justiça

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REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

01. Lex – Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça – editada pela Lex Editora S.A. – Portaria n. 1, de 19.08.1985 – DJ 21.08.1985 – Registro revalidado – Edital de 20.10.1989 – DJ 24.10.1989.

02. Revista de Direito Administrativo – editada pela Editora Renovar Ltda. – Portaria n. 2, de 19.08.1985 – DJ 21.08.1985 – Registro cancelado – Portaria n. 1, de 05.09.2007 – DJ 19.09.2007.

03. Revista LTr – Legislação do Trabalho e Previdência Social – editada pela LTr Editora Ltda. – Portaria n. 5, de 26.08.1985 – DJ 28.08.1985 – Registro revalidado – Edital de 20.10.1989 – DJ 24.10.1989.

04. Jurisprudência Brasileira Cível e Comércio – editada pela Juruá Editora Ltda. – Portaria n. 6, de 09.09.1985 – DJ 12.09.1985 – Registro cancelado – Portaria n. 1, de 09.02.2006 – DJ 15.02.2006.

05. Julgados dos Tribunais Superiores – editada pela Editora Jurid Vellenich Ltda. – Portaria n. 7, de 06.11.1987 – DJ 10.11.1987 – Registro cancelado – Portaria n. 2, de 06.03.2001 – DJ 09.03.2001.

06. Revista de Doutrina e Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios – Portaria n. 1, de 29.11.1989 – DJ 1º.12.1989 - Registro alterado/retifi cado – Portaria n. 3, de 19.06.2002 – DJ de 25.06.2002.

07. Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul – Portaria n. 1, de 08.02.1990 – DJ 12.02.1990 - Registro alterado - Portaria n. 3, de 19.03.2010 - DJe 22.03.2010.

08. Revista Jurídica Mineira – Portaria n. 3, de 02.04.1990 – DJ 04.04.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 4, de 13.05.1999 – DJ 04.06.1999.

09. Revista Jurídica – editada por Notadez Informação Ltda. – Portaria n. 4, de 02.04.1990 – DJ 04.04.1990.

10. Julgados do Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul – Portaria n. 5, de 02.05.1990 – DJ 09.05.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 8, de 16.11.2000 – DJ 24.11.2000.

11. Revista de Processo – editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. – Portaria n. 6, de 31.05.1990 – DJ 06.06.1990.

12. Revista de Direito Civil – editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. – Portaria n. 7, de 31.05.1990 – DJ 06.06.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 4, de 06.06.2000 – DJ 09.06.2000.

13. Revista dos Tribunais – editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. – Portaria n. 8, de 31.05.1990 – DJ 06.06.1990.

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REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ

450

14. Revista de Direito Público – editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. – Portaria n. 9, de 31.05.1990 – DJ 06.06.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 5, de 11.06.2001 – DJ 19.06.2001.

15. Revista Ciência Jurídica – editada pela Editora Nova Alvorada Edições Ltda. – Portaria n. 10, de 21.08.1990 – DJ 24.08.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 2, de 04.07.2003 – DJ 14.07.2003.

16. Revista Jurisprudência Mineira – editada pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais – Portaria n. 12, de 10.09.1990 – DJ 12.09.1990.

17. Revista de Julgados do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais – Portaria n. 13, de 17.12.1990 – DJ 19.12.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 10, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

18. Jurisprudência Catarinense – editada pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina – Portaria n. 1, de 22.05.1991 – DJ 27.05.1991.

19. Revista SÍNTESE Trabalhista e Previdenciária – editada pela IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 3, de 16.09.1991 – DJ 20.09.1991 – Registro retifi cado – Portaria n. 9, de 22.11.2006 – DJ 11.12.2006 – Registro retifi cado e ratifi cado – Portaria n. 8, de 25.10.2010 – DJe 28.10.2010

20. Lex – Jurisprudência dos Tribunais de Alçada Civil de São Paulo – editada pela Lex Editora S.A. – Portaria n. 1, de 10.03.1992 – DJ 13.03.1992 – Registro cancelado – Portaria n. 6, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

21. Jurisprudência do Tribunal de Justiça – editada pela Lex Editora S.A. – Portaria n. 2, de 10.03.1992 – DJ 13.03.1992 – Registro retificado – Portaria n. 9, de 16.11.2000 – DJ 24.11.2000.

22. Lex – Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal – editada pela Lex Editora S.A. – Portaria n. 2, de 10.03.1992 – DJ 13.03.1992.

23. Revista de Previdência Social – editada pela LTr Editora Ltda. – Portaria n. 4, de 20.04.1992 – DJ 24.04.1992.

24. Revista Forense – editada pela Editora Forense – Portaria n. 5, de 22.06.1992 – DJ 06.07.1992.

25. Revista Trimestral de Jurisprudência dos Estados – editada pela Editora Jurid Vellenich Ltda. – Portaria n. 6, de 06.11.1992 – DJ 10.11.1992 – Registro cancelado – Portaria n. 3, de 04.07.2003 – DJ 14.07.2003.

26. Série – Jurisprudência ADCOAS – editada pela Editora Esplanada Ltda. – Portaria n. 1, de 18.02.1993 – DJ 25.02.1993 – Registro cancelado – Portaria n. 2, de 23.08.2004 – DJ 26.08.2004.

27. Revista Ata – Arquivos dos Tribunais de Alçada do Estado do Rio de Janeiro – Portaria n. 2, de 11.02.1994 – DJ 18.02.1994 – Registro cancelado – Portaria n. 3, de 04.05.1999 – DJ 18.05.1999.

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RSSTJ, a. 5, (22): 447-454, agosto 2011 451

28. Revista do Tribunal Regional Federal da 4ª Região – editada pela Livraria do Advogado Ltda. – Portaria n. 3, de 02.03.1994 – DJ 07.03.1994.

29. Revista de Direito do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro – Portaria n. 4, de 15.06.1994 – DJ 17.06.1994.

30. Genesis – Revista de Direito do Trabalho – editada pela Genesis Editora – Portaria n. 5, de 14.09.1994 – DJ 16.09.1994 – Registro cancelado – Portaria n. 4, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

31. Decisório Trabalhista – editada pela Editora Decisório Trabalhista Ltda. – Portaria n. 6, de 02.12.1994 – DJ 06.12.1994.

32. Revista de Julgados e Doutrina do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo – Portaria n. 1, de 18.12.1995 – DJ 20.12.1995 – Registro cancelado – Portaria n. 5, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

33. Revista do Tribunal Regional Federal da 3ª Região – editada pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região – Portaria n. 1, de 11.04.1996 – DJ 22.04.1996 – Registro

cancelado – Portaria n. 18.06.2010 – DJe 22.06.2010.

34. Lex – Jurisprudência do Tribunal Federal de Recursos – editada pela Lex Editora S.A. – Portaria n. 2, de 29.04.1996 – DJ 02.05.1996 – Registro cancelado – Portaria n. 11, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

35. Revista de Direito Renovar – editada pela Editora Renovar Ltda. – Portaria n. 3, de 12.08.1996 – DJ 15.08.1996.

36. Revista Dialética de Direito Tributário – editada pela Editora Oliveira Rocha Comércio e Serviços Ltda. – Portaria n. 1, de 16.06.1997 – DJ 23.06.1997.

37. Revista do Ministério Público – Portaria n. 1, de 26.10.1998 – DJ 05.11.1998 – Registro retifi cado – Portaria n. 9, de 14.06.1999 – DJ 22.06.1999.

38. Revista Jurídica Consulex – editada pela Editora Consulex Ltda. – Portaria n. 1, de 04.02.1999 – DJ 23.02.1999 – Republicada em 25.02.1999 – Registro cancelado – Portaria n. 1, de 06.03.2001 – DJ 09.03.2001.

39. Genesis – Revista de Direito Processual Civil – editada pela Genesis Editora – Portaria n. 2, de 12.04.1999 – DJ 15.04.1999 – Registro cancelado – Portaria n. 3, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

40. Jurisprudência Brasileira Criminal – editada pela Juruá Editora Ltda. – Portaria n. 6, de 14.06.1999 – DJ 22.06.1999 – Registro cancelado – Portaria n. 2, de 09.02.2006 – DJ 15.02.2006.

41. Jurisprudência Brasileira Trabalhista – editada pela Juruá Editora Ltda. – Portaria n. 7, de 14.06.1999 – DJ 22.06.1999 – Registro cancelado – Portaria n. 3, de 09.02.2006 – DJ 15.02.2006.

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42. Revista de Estudos Tributários – editada pela marca SÍNTESE, de responsabilidade da IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 8, de 14.06.1999 – DJ 22.06.1999.

43. Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça – editada pela Editora Brasília Jurídica Ltda. – Portaria n. 10, de 29.06.1999 – DJ 05.07.1999 – Registro cancelado – Portaria n. 1, de 23.08.2004 – DJ 26.08.2004.

44. Revista Interesse Público – editada pela Editora Fórum Ltda. – Portaria n. 1, de 14.03.2000 – DJ 21.03.2000.

45. Revista SÍNTESE Direito Civil e Processual Civil – editada pela IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 2, de 14.03.2000 – DJ 21.03.2000 – Registro retifi cado – Portaria n. 9, de 22.11.2006 – DJ 11.12.2006 – Registro retifi cado e ratifi cado – Portaria n. 8, de 25.10.2010 – DJe 28.10.2010.

46. Revista SÍNTESE Direito de Família – editada pela IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 3, de 29.03.2000 – DJ 03.04.2000 – Registro retifi cado – Portaria n. 2, de 14.09.2009 – DJe 15.09.2009 – Registro retifi cado e ratifi cado – Portaria n. 8, de 25.10.2010, DJe 28.10.2010.

47. Revista ADCOAS Previdenciária – editada pela Editora Esplanada Ltda. – ADCOAS – Portaria n. 5, de 21.06.2000 – DJ 27.06.2000 – Registro cancelado – Portaria n. 8, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

48. Revista ADCOAS Trabalhista – editada pela Editora Esplanada Ltda. – ADCOAS – Portaria n. 6, de 21.06.2000 – DJ 27.06.2000 – Registro cancelado – Portaria n. 7, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

49. Revista de Jurisprudência ADCOAS – editada pela Editora Esplanada Ltda. – ADCOAS – Portaria n. 7, de 21.06.2000 – DJ 27.06.2000 – Registro cancelado – Portaria n. 9, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

50. Revista SÍNTESE Direito Penal e Processual Penal – editada pela IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 4, de 06.03.2001 – DJ 09.03.2001 – Registro retifi cado – Portaria n. 9, de 22.11.2006 – DJ 11.12.2006 – Registro retifi cado e ratifi cado – Portaria n. 8, de 25.10.2010 – DJe 28.10.2010

51. Revista Tributária e de Finanças Públicas – editada pela Editora Revista dos Tribunais – Portaria n. 6, de 11.06.2001 – DJ 19.06.2001.

52. Revista Nacional de Direito e Jurisprudência – editada pela Nacional de Direito Livraria Editora Ltda. – Portaria n. 1, de 08.04.2002 – DJ 02.05.2002 – Republicada em 19.04.2002 – Registro cancelado – Portaria n. 1, de 31.07.2009 - DJe 05.08.2009.

53. Revista do Tribunal Regional Federal da 5ª Região – editada pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região – Portaria n. 2, de 23.04.2002 – DJ 02.05.2002 - Registro cancelado - Portaria n. 5, de 09.04.2010 - DJe 18.04.2010.

54. Revista Dialética de Direito Processual – editada pela Editora Oliveira Rocha Comércio e Serviços Ltda. – Portaria n. 1, de 30.06.2003 – DJ 07.07.2003.

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REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ

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55. Revista Juris Plenum – editada pela Editora Plenum Ltda. – Portaria n. 1, de 23.05.2005 – DJ 30.05.2005.

56. Revista Bonijuris – versão impressa – co-editada pelo Instituto de Pesquisas Jurídicas Bonijuris, Associação dos Magistrados do Paraná (Amapar), Associação dos Magistrados Catarinense (AMC) e Associação dos Magistrados do Trabalho IX e XII (Amatra) – Portaria n. 2, de 18.10.2005 – DJ 27.10.2005.

57. Revista Juris Plenum Trabalhista e Previdenciária – editada pela Editora Plenum Ltda. – Portaria n. 3, de 16.12.2005 – DJ 08.02.2006.

58. Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal – editada pela Editora Magister Ltda. – Portaria n. 4, de 02.08.2006 – DJ 09.08.2006.

59. CD-ROM – Jur Magister – editado pela Editora Magister Ltda. – Portaria n. 5, de 09.08.2006 – DJ 15.08.2006.

60. DVD – Magister – editado pela Editora Magister Ltda. – Portaria n. 6, de 09.08.2006 – DJ 15.08.2006.

61. Revista Previdenciária e Trabalhista Gazetajuris – editada pela Editora Portal Jurídico Ltda. – Portaria n. 7, de 09.08.2006 – DJ 15.08.2006 – Registro cancelado – Portaria n. 2, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

62. CD-ROM – Gazetajuris – editado pela Editora Portal Jurídico Ltda. – Portaria n. 8, de 02.10.2006 – DJ 04.10.2006 – Registro cancelado – Portaria n. 6, de 12.11.2008 – DJe 17.11.2008.

63. Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil – editada pela Editora Magister Ltda. – Portaria n. 1, de 1º.02.2008 – DJ 11.02.2008.

64. Revista Brasileira de Direito Tributário e Finanças Públicas – editada pela Editora Magister Ltda. – Portaria n. 2, de 1º.02.2008 – DJ 11.02.2008.

65. Revista Brasileira de Direito das Famílias e Sucessões – editada pela Editora Magister Ltda. – Portaria n. 4, de 10.10.2008 – DJe 15.10.2008.

66. Revista de Direito Tributário da Associação Paulista de Estudos Tributários – editada pela MP Editora Ltda. – Portaria n. 5, de 30.10.2008 – DJe 07.11.2008.

67. Portal da Rede Mundial de Computadores “editoramagister.com” – editado pela Editora Magister Ltda. – Portaria n. 7, de 15.12.2008 – DJe 17.12.2008.

68. “Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul” (versão eletrônica) - Portal da Rede Mundial de Computadores - endereço eletrônico: htpps://www.tjrs.jus.br/site/publicacoes/revista_da_jurisprudencia/ - editada pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Grande do Sul - Portaria n. 1, de 19.02.2010 - DJe 24.02.2010 - Registro retifi cado e ratifi cado - Portaria n. 4, de 19.03.2010 - DJe 22.03.2010.

69. Portal da Rede Mundial de Computadores - “jurisprudência-online” - editada pela Associação dos Advogados de São Paulo - Portaria n. 2, de 19.02.2010 - DJe 24.02.2010.

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70. Revista do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (versão eletrônica) - Portal da Rede Mundial de Computadores - endereço eletrônico: https://www.trf5.jus.br/revista_jurisprudencia/- editado pelo Tribunal Federal Regional da 5ª Região - Portaria n. 5, de 09.04.2010 - DJe 13.04.2010.

71. DVD ROM Datadez - editado pela Notadez Informação Ltda. - Portaria n. 7, de 10.09.2010 - DJe 14.09.2010.

72. Portal da Rede Mundial de Computadores – “Plenum On-line” – endereço “www.plenum.com.br” – editado pela Plenum Editora Ltda. – Portaria n. 1, de 31.01.2011, DJe 02.02.2011.

73. DVD-ROM – Júris Síntese DVD – editado pela marca “Síntese”, de propriedade da IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 2, de 31.01.2011, DJe 02.02.2011.

74. Portal da Rede Mundial de Computadores – “JURIS SÍNTESE ONLINE” – endereço eletrônico: https://online.sintese.com/ - produto digital da marca Síntese, de propriedade da IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda - Portaria n.3, de 29.04.2011 - DJe 03.05.2011.

75. Portal da Rede Mundial de Computadores – “SINTESENET” – endereço eletrônico: https://online.sintese.com/ - produto digital da marca Síntese, de propriedade da IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda – Portaria n. 4, de 29.04.2011- DJe 03.05.2011.

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