542
PUBLICAÇÃO OFICIAL Revista de Súmulas SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

PU

BL

ICA

ÇÃ

O O

FIC

IAL

Revista de Súmulas

SUPERIOR

TRIBUNAL

DE JUSTIÇA

Page 2: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 3: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

VOLUME 10, ANO 4

JULHO 2010

Revista de Súmulas

SUPERIOR

TRIBUNAL

DE JUSTIÇA

Page 4: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Gabinete do Ministro Diretor da Revista

Diretor

Ministro Hamilton Carvalhido

Chefe de Gabinete

Marcos Perdigão Bernardes

Assistentes

Andrea Dias de Castro Costa

Gerson Prado da Silva

Maria Angélica Neves Sant’Ana

Max Günther Feitosa Albuquerque Alvim

Técnico em Secretariado

Fagno Monteiro Amorim

Mensageiro

Cristiano Augusto Rodrigues Santos

Estagiários

Ricardo Rodrigues Fonseca Júnior

Samuel da Mota Cardoso Oliveira

Superior Tribunal de Justiça

www.stj.jus.br, [email protected]

Gabinete do Ministro Diretor da Revista

Setor de Administração Federal Sul, Quadra 6, Lote 1,

Bloco C, 2º Andar, Sala C-240, Brasília-DF, 70095-900

Telefone (61) 3319-8003, Fax (61) 3319-8992

Revista de Súmulas do Superior Tribunal de Justiça – n. 10 -

Brasília: STJ, 2010

Sem periodicidade

ISBN 978-85-7248-103-8

1. Direito - Periódico - Brasil. 2. Jurisprudência -

Periódico - Brasil. 3. Brasil.

Superior Tribunal de Justiça

CDU 340.142(81)(05)

Page 5: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

MINISTRO HAMILTON CARVALHIDO Diretor

Revista de Súmulas

SUPERIOR

TRIBUNAL

DE JUSTIÇA

Page 6: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 7: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

Resolução n. 19/1995-STJ, art. 3º.

RISTJ, arts. 21, III e VI; 22, § 1º, e 23.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Plenário

Ministro Cesar Asfor Rocha (Presidente)

Ministro Ari Pargendler (Vice-Presidente)

Ministro Felix Fischer (Diretor da ENFAM)

Ministro Aldir Guimarães Passarinho Junior

Ministro Gilson Langaro Dipp (Corregedor-Nacional de Justiça)

Ministro Hamilton Carvalhido (Diretor da Revista)

Ministra Eliana Calmon Alves

Ministro Francisco Cândido de Melo Falcão Neto (Corregedor-Geral da Justiça Federal)

Ministra Fátima Nancy Andrighi

Ministra Laurita Hilário Vaz

Ministro Paulo Geraldo de Oliveira Medina

Ministro Luiz Fux

Ministro João Otávio de Noronha

Ministro Teori Albino Zavascki

Ministro José de Castro Meira

Ministro Arnaldo Esteves Lima

Ministro Massami Uyeda

Ministro Humberto Eustáquio Soares Martins

Ministra Maria Th ereza Rocha de Assis Moura

Ministro Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin

Ministro Napoleão Nunes Maia Filho

Ministro Sidnei Agostinho Beneti

Ministro Jorge Mussi

Ministro Geraldo Og Nicéas Marques Fernandes

Ministro Luis Felipe Salomão

Ministro Mauro Luiz Campbell Marques

Ministro Benedito Gonçalves

Ministro Raul Araújo Filho

Page 8: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 9: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUMÁRIO

Súmulas

135 ...............................................................................................................................11

136 ...............................................................................................................................41

137 ...............................................................................................................................59

138 ...............................................................................................................................91

139 .............................................................................................................................157

140 .............................................................................................................................191

141 .............................................................................................................................215

142 (Cancelada) .........................................................................................................237

143 .............................................................................................................................283

144 .............................................................................................................................317

145 .............................................................................................................................355

146 .............................................................................................................................377

147 .............................................................................................................................393

148 .............................................................................................................................423

149 .............................................................................................................................447

150 .............................................................................................................................475

ÍNDICE ANALÍTICO ........................................................................................................................................... 511

ÍNDICE SISTEMÁTICO ...................................................................................................................................... 523

SIGLAS E ABREVIATURAS ............................................................................................................................. 529

REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA ............................................................................................................ 535

Page 10: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 11: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

Súmula n. 135

Page 12: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 13: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULA N. 135

O ICMS não incide na gravação e distribuição de fi lmes e videoteipes.

Referências:

CF, arts. 155, I, b, e 156, IV.

Lei Complementar n. 56/1987, item 63.

Decreto-Lei n. 406/1968, art. 8º, § 1º.

Precedentes:

REsp 32.133-SP (2ª T, 20.09.1993 — DJ 11.10.1993)

REsp 33.860-SP (1ª T, 16.03.1994 — DJ 16.05.1994)

REsp 35.551-SP (2ª T, 02.03.1994 — DJ 11.04.1994)

REsp 35.573-SP (2ª T, 1º.06.1994 — DJ 20.06.1994)

REsp 42.860-SP (1ª T, 11.04.1994 — DJ 16.05.1994)

REsp 45.686-SP (1ª T, 18.04.1994 — DJ 16.05.1994)

Primeira Seção, em 09.05.1995

DJ 16.05.1995, p. 13.549

Page 14: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 15: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

RECURSO ESPECIAL N. 32.133-SP (93.0003410-3)

Relator: Ministro Antônio de Pádua Ribeiro

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Advogados: Neide Sousa da Silva e outros

Recorrida: América Vídeo Filmes Ltda

Advogados: Célio Rodrigues Pereira e outros

EMENTA

Tributário. ICMS. ISS. Gravação e distribuição de filmes e

videotapes.

I - Não podem ser tributados pelo ICMS a gravação e distribuição

de fi lmes e videotapes, porquanto estão incluídas no item 63 da lista

de serviços tributados pelo ISS, aprovada pela Lei Complementar n.

56, de 15.12.1987.

II - Ofensa ao art. 8º do Decreto-Lei n. 406, de 1968, não

caracterizada.

III - Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima

indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na

conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas anexas, por unanimidade, não

conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram

do julgamento os Srs. Ministros Peçanha Martins e Américo Luz. Ausentes,

justifi cadamente, os Srs. Ministros José de Jesus e Hélio Mosimann.

Brasília (DF), 20 de setembro de 1993 (data do julgamento).

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente e Relator

DJ 11.10.1993

Page 16: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

16

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Trata-se de recurso especial

interposto pela Fazenda do Estado de São Paulo, com fundamento no art. 105, III,

letra a, da Constituição Federal, contra o v. acórdão da Décima Terceira Câmara

Civil do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que, por maioria, afastou a

incidência de ICMS à distribuidora de fi lmes em fi tas de videocassete.

Alega a recorrente negativa de vigência ao art. 8º do Decreto-Lei n.

406/1968 e ao art. 21 do Convênio ICMS n. 66/1988.

Contra-arrazoado (fls. 277-289), o recurso, cujo processamento foi

admitido (fl . 306), subiu a esta Corte, onde me veio distribuído.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): Esta é a

fundamentação do douto voto condutor do acórdão recorrido, da lavra do ilustre

Desembargador Fernandes Braga (fl s. 184-186):

O tributo, como consta do relatório, foi declarado pela apelada e até objeto de

pedido de parcelamento.

E a apelada importa e exporta fi lmes e fi tas de videocassetes, que também

produz, transformando fi ta virgem, portanto, em fi ta gravada, com valor artístico

ou não, pagando os direitos autorais, comercializando-a, sendo, também, uma

distribuidora desses produtos.

Não faz gravação de encomenda, ainda que com fornecimento de mercadoria,

a determinada pessoa.

A apelada tem atividade múltipla, mas sempre com relação a filmes e

videocassetes.

Mas, assim como no fornecimento de alimentação e bebidas em bares e

restaurantes não há separação do serviço, no caso dos autos, não há separação

pretendida pela apelante (gravação e circulação).

Como decidido por esta Câmara, com o voto condutor do Desembargador

Paulo Shintate (Apelação n. 169.729-2/8, de São Paulo — fl s. 170-171):

A gravação em fi tas, quer própria, quer de terceiros, não se inclui em

atividade de telecomunicação, mas de serviços com ou sem fornecimento

de mercadorias.

Page 17: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 11-39, julho 2010 17

A gravação e distribuição de fi lmes e videoteipes estão incluídos no

item 63 da lista de serviços tributados pelo ISS municipal constante da Lei

Complementar n. 56, de 15.12.1987 pelo que não podem ser tributadas

pelo ICMS estadual como bem decidido pela r. sentença.

No item 63 da lista de serviços aprovada pela Lei Complementar n. 56, de

15.12.1987 inclui entre os serviços sujeitos ao ISS “gravação e distribuição

de fi lmes e videotapes.”

A expressão distribuição usada pelo legislador abrange a circulação,

pois ao distribuir o distribuidor está promovendo a circulação. Assim, se a

distribuição de fi lmes e videotapes gravados pela autora, ou por terceiro,

é tributada pelo ISS, nova tributação pelo ICMS como pretendido pela

apelante importará em bitributação.

Como, também, decidido no Processo n. 586/1989, da 5ª Vara da Fazenda

Pública, da Capital:

O Município tem competência para instituir imposto sobre “serviços de

qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, I, b, defi nidos em lei

complementar” (art. 156, VI, da Constituição Federal).

Cuida-se, pois, de hipótese que não está compreendida no art. 155, I,

b, da Constituição Federal, e bem como inexiste lei complementar que

coloque a prestação de serviços da autora como da competência dos

Estados (ICMS). Daí que, o tributo devido é o ISS.

Efetivamente, a prestação de serviço da autora não é simplesmente

venda de videocassetes, isto é, não comercializa o produto, mas sim presta

serviços inerentes ao conteúdo (artístico ou não) dos videocassetes. O mais

importante não é a pura venda do produto, mas sim, que com a venda está

embutida a prestação de serviço.

A atividade ampla da autora é compatível, também, com o item 65 da atual

lista de serviços, dado que a aquisição de direitos e a produção visam à cópia e à

reprodução de matrizes.

Tem aplicação, assim, o Código Tributário Nacional, como também, a Lei

Complementar n. 56/1987, recepcionados pelo art. 34, § 5º, do ADCT da Carta

Magna/1988.

Desse modo, a atividade da autora não está alcançada pela Lei Estadual n.

6.374/1989, e Convênio n. 66/1988, razão pela qual a sentença não pode ser

reformada.

Consoante se depreende dos transcritos fundamentos, não há divisar ofensa

ao art. 8º do Decreto-Lei n. 406, de 1968. Na mesma linha de entendimento do

Page 18: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

18

acórdão recorrido, argumentou o ilustre Desembargador Carlos Ortiz, no voto

que proferiu na Apelação Cível n. 177.940-2/4, nestes termos (fl s. 239-242):

No mérito, é patente que o principal, nas fi tas de fi lmes gravadas e distribuídas

pela autora, e o fi lme, a envolver gama de direitos, que se cederam a ela para

comercialização no País, ou em região do mesmo.

Quando alguém adquire numa loja a fi ta de um determinado fi lme, é, menos

a fi ta ou a gravação per se que interessam e, sim, o direito de exibi-lo em aparelho

de videocassete, abrangendo toda a complexidade de direitos antes envolvidos,

como os de autor, imagem, etc., transferidos pelos titulares à autora, desta para o

varejista e deste para o consumidor fi nal, que ganha o de exibição do fi lme.

Comercializa-se, por assim dizer, o fi lme e não o instrumento (fi ta, película, etc.)

no qual está contido.

Não se discute que, enquanto não sobrevenha nova lei complementar, a que

alude o art. 156, inciso IV, da Constituição da República, serve como tal o Decreto-

Lei n. 406/1968, para o fi m de estabelecer o elenco dos serviços de qualquer

natureza, não compreendidos no art. 155, inciso I, letra b, da mesma Carta Magna,

que fi cam sujeitos ao ISS municipal e não ao ICMS estadual.

Considerado, como deflui dos dispositivos constitucionais aludidos, o

caráter residual do imposto municipal sobre serviços de qualquer natureza e,

conseqüentemente, deve ser interpretada restritivamente a listagem de serviços

a que se refere o art. 8º do Decreto-Lei n. 834, de 08.09.1969, ao qual se dá,

corretamente, como diploma instituidor de normas gerais tributárias, a força de

lei complementar. Bem por isso, como ensina Aliomar Baleeiro, “todo serviço não

incluído na lista, se envolver emprego de mercadorias, será englobado no valor

destas, para sofrer o ICM, e só este” (“Direito Tributário Brasileiro”, Ed. Forense, 3ª

ed., 1971, p. 264).

Não se há de desconsiderar, todavia, a regra do § 1º do art. 8º do Decreto-Lei n.

406/1968, ao estabelecer que os serviços incluídos na aludida lista fi cam sempre

sujeitos ao tributo municipal, “ainda que sua prestação envolva fornecimento

de mercadorias”. Nesse sentido é o que o mesmo Aliomar Baleeiro, após afi rmar

a taxatividade da lista, por isso que “tributáveis serão só os serviços nela

mencionados”, adverte que cada item da listagem comporta “interpretação ampla

e analógica” (obra e página citadas). No mesmo diapasão, Hely Lopes Meirelles,

que, embora destacando a taxatividade da lista, pondera que, “todavia, a lista

contém itens que não abrangem todas as atividades pretendidas pelo legislador

complementar, que por ser muito grande o seu número, ou por não querer

subtrair à competência municipal futuros serviços relacionados com um mesmo

campo de atividades, preferiu deixar ao intérprete a tarefa de arrolá-las” (“Direito

Municipal Brasileiro”, Ed. Revista dos Tribunais, 3ª ed., 1977, p. 262).

Page 19: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 11-39, julho 2010 19

Até mesmo Bernardo Ribeiro de Moraes, que sempre sustentou a exaustividade

da lista de serviços sujeitos ao ISS, terminou por concordar com Aliomar Baleeiro,

no tocante à possibilidade de interpretação ampla e analógica de cada item da

mesma (cf. trabalho sob a epígrafe “Imposto Sobre Serviços”, in “Curso de Direito

Tributário”, Ed. Saraiva, 1982, pp. 371 e ss, n. 11, p. 379).

Não se haveria de aplicar no caso, como leciona Arthur A. Pereira Gomes,

a interpretação integrativa por analogia, como se lacuna houvesse, porque

equivaleria à criação de tributo sem lei, o que é inadmissível, mas de interpretação

analógica, “a qual leva a juízos autorizados pela lei e assim completa o alcance do

direito existente, sem criar direito novo” (cf. trabalho sob a epígrafe “Aspectos do

Imposto Sobre Serviços”, in “Noções de Direito Tributário”, Ed. LTr, pp. 169 e ss., n.

27, p. 183).

Ora, a Lei Complementar n. 56, de 15.12.1987, ao arrolar em nova lista, em

consonância com o art. 8º do Decreto-Lei n. 406/1968, os serviços tributados

pelo ISS municipal, inclui no item 63, os de gravação e distribuição de fi lmes e

videotapes, certo que os fi lmes aludidos sempre o serão, estejam em película ou

fi ta de videocassete.

A expressão “distribuição” nenhuma incompatibilidade tem com a

comercialização dos fi lmes, distribuídos pela autora por meio de fi tas gravadas

em atividade obviamente lucrativa e, pois, sujeita, exclusivamente, ao tributo

municipal.

Diz a Fazenda do Estado nas razões de apelação, em suma, que o produto,

levado à comercialização, não é mais, precipuamente, a obra artística, mas a fi ta

gravada. Aí está seu equívoco, pois que o precípuo nesse produto sempre será o

fi lme, não o instrumento no qual foi gravado para reprodução.

Nesse sentido, veja-se julgado da colenda Décima Oitava Câmara Civil, Relator

o Desembargador Barbosa Pereira, na Apelação Cível n. 164.913-2, datado de 10

de dezembro de 1990 (fl s. 94-95 v.).

Assinalo, por último, que a alegação de ofensa a convênio, celebrado entre

Estados, não enseja recurso especial, consoante reiterados precedentes desta

Corte.

Isto posto, em conclusão, não conheço do recurso.

RECURSO ESPECIAL N. 33.860-SP

Relator: Ministro Humberto Gomes de Barros

Page 20: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

20

Recorrente: Estado de São Paulo (Fazenda Estadual)

Recorrida: América Vídeo Filmes Ltda

Advogados: Pasqual Totaro e outros e Célio Rodrigues Pereira e outros

EMENTA

Tributário. Distribuição. Filmes para videocassete. ICMS. Não-

incidência.

A distribuição de fi lmes e video tapes, por integrar o conjunto

de atividades descrito no item 63 da relação anexa ao Decreto-

Lei n. 406/1968, está livre da incidência do ICMS (Decreto-Lei n.

406/1968, art. 8º, § 1º).

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por maioria, vencidos os Ministros Milton Luiz Pereira

e Cesar Asfor Rocha, negar provimento ao recurso. Votaram com o Ministro-

Relator os Ministros Garcia Vieira e Demócrito Reinaldo.

Brasília (DF), 16 de março de 1994 (data do julgamento).

Ministro Demócrito Reinaldo, Presidente

Ministro Humberto Gomes de Barros, Relator

DJ 16.05.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros: O Estado de S. Paulo opõe

recurso especial contra o v. acórdão de fl . 177.

A decisão recorrida acertou que o ICMS não incide na distribuição de

fi lmes para videocassete.

No sentir do Recorrente, o aresto contrariou o art. 8º do Decreto-Lei n.

406/1968.

É o relatório.

Page 21: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 11-39, julho 2010 21

VOTO

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros (Relator): O tema já é

conhecido desta Turma.

Reporto-me ao voto-vista que proferi no REsp n. 36.809-0-SP, nestes

termos:

Acompanho os votos dos eminentes Ministros Garcia Vieira e Demócrito

Reinaldo.

A distribuição de fi lmes integra o conjunto de atividades, descrito no item 63

da lista anexa ao Decreto-Lei n. 406/1968, in verbis:

Gravação e distribuição de fi lmes e video tapes.

O eminente Ministro Garcia Vieira, reportando-se ao v. acórdão recorrido,

lembrou que o DL n. 406/1968, no § 1º do art. 8º é peremptório, ao dizer que “os

serviços incluídos na lista fi cam sujeitos apenas ao imposto previsto neste artigo,

ainda que sua prestação envolva fornecimento de mercadorias.”

Nego provimento ao recurso.

Neste processo, o v. acórdão recorrido observou, com muita propriedade (fl .

178):

Como consta no v. acórdão proferido na Apelação n. 177.940-2/4, relator o

eminente Desembargador Carlos Ortiz, cuja cópia está às fl s. 132-136, é patente

que o principal, nas fi tas de fi lmes gravadas e distribuídas pela autora, é o fi lme, a

envolver gama de direitos, que se cederam a ela para comercialização no País, ou

em região do mesmo e, por isso, quando alguém adquire numa loja a fi ta de um

determinado fi lme, é, menos a fi ta ou a gravação per se que interessam e, sim, o

direito de exibi-lo em aparelho de videocassete, abrangendo toda a complexidade

de direitos antes envolvidos, como os de autor, imagem etc., transferidos pelos

titulares à autora, desta para o varejista e deste para o consumidor fi nal, que

ganha o de exibição do fi lme. Comercializa-se, por assim dizer, o fi lme e não o

instrumento (fi ta, película etc.) no qual está contido (passim).

Nego provimento ao recurso.

VOTO

O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira: Sr. Presidente, examinando o referido

voto, anotei que não estive presente na sessão em que se deu aquele julgamento.

Page 22: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

22

Nesta assentada, fi lio-me, pedindo vênia aos Srs. Ministros, à exposição feita

pelo eminente Advogado, porque me parece muito nítida a verifi cação de duas

atividades: uma, que diz respeito à distribuição — é uma operação autônoma —,

e outra, a de venda.

Foi lembrado da tribuna, como exemplo, de que a distribuição de fi lmes

para os cinemas é o caso típico da usufruição exclusiva dos resultados econômicos

da própria distribuição. Ora, as locadoras de vídeo exercem a mesma atividade

típica de distribuir. Entretanto, quando há a venda autônoma de uma fi ta de

vídeo, obvia-se que não há distribuição, porque o adquirente não está locando,

mas adquirindo, ou seja, incorporando-a ao patrimônio pessoal do adquirente.

Portanto, há uma aquisição na saída daquela fi ta da locadora de vídeo para o

adquirente, constituindo fato gerador diverso da locação.

O caso, para mim, pela natureza das operações, não apresenta nenhuma

difi culdade, bem distinguindo duas operações: a distribuição e a aquisição.

Desse modo, nesta assentada, divirjo dos demais, comungando com as razões

aduzidas pela parte-recorrente.

ADITAMENTO AO VOTO

O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira: Complementando meu voto, em

homenagem às bem colocadas razões feitas pelo eminente Ministro Gomes

de Barros, lembro que é preciso não se distanciar das origens do negócio

mercantil, porque as distribuidoras de vídeo são similares às distribuidoras

de filmes cinematográficos. A operação inicial que ocorreu no sistema de

distribuição do videocassete, do video-tape, foi assemelhada ao negócio jurídico

das distribuidoras cinematográfi cas.

Na distribuição, o produtor assegura e não cede o domínio da fita,

continuando a imagem e a fi ta úteis para sucessivas locações. Na venda, embora

mantido o direito autoral, o adquirente torna-se proprietário. Há, portanto, no

que se refere à segunda hipótese, uma típica compra e venda. Talvez possa ser

infeliz na comparação, mas na venda do aparelho “Lep Top”, o direito autoral do

inventor e o do fabricante continuam resguardados, mas realiza-se a venda para

permanente utilização.

Parece-me muito clara a compra e venda, vale dizer, o fato gerador. Há

uma saída autônoma da mercadoria. É o caso do disco, que não é locado, mas

vendido, tornando-se propriedade de quem o compra: há uma compra e venda.

Seria diferente se uma fi ta cassete ou o disco fossem distribuídos, como ocorre

Page 23: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 11-39, julho 2010 23

com a locação das fi tas, CDs, existindo casas locadoras. Não são vendidas.

São alugadas para serem ouvidas, com a obrigação de serem restituídas, para

que possam ser locadas sucessivamente, diferentemente das casas de discos ou

mesmo de fi tas, em que são vendidas.

A raciocinar-me que não se realiza a compra e venda, não seria possível a

cobrança do ICMS de uma casa que venda discos ou fi tas gravadas.

Faço essas referências no veio teórico dos princípios doutrinários quanto

ao fato gerador, para confi rmar a minha conclusão.

ESCLARECIMENTOS

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros (Relator): Sr. Ministro Milton

Luiz Pereira, V. Exa. me permitiria uma observação? Também meditei um tanto

a propósito desta preocupação de V. Exa., a respeito da diferença entre vender

e distribuir, mas parece-me que a venda é simplesmente um modo de distribuir,

porque distribuir é tirar várias coisas que estão acumuladas em determinado

conjunto e transferi-las para vários outros conjuntos, usando a linguagem da

matemática moderna: transferir de um só lugar para vários outros.

A distribuição pode ser feita através de doação, de venda, etc. Parece-me

que a locação é que talvez não traduza exatamente distribuição. É que no aluguel

ocorre uma distribuição provisória com posterior retorno ao conjunto originário.

Na venda existe a distribuição efetiva: as diversas unidades que estavam juntas,

são espalhadas, distribuídas entre diversos outros conjuntos.

Esta minha preocupação terminou com esta conclusão que agora transfi ro

a V. Exa.

VOTO-VISTA VENCIDO

Ementa: Tributário. Distribuição e comercialização de fi lmes e

vídeos tapes. ICMS. Incidência.

A atividade de comercialização é distinta da atividade de

distribuição de fi lmes e vídeos tapes, incidindo o ICMS sobre aquela.

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Cuida o recurso especial em análise de

questão já conhecida nesta egrégia Primeira Turma em que se discute sobre se é

ou não incidente o ICMS sobre comercialização de fi lmes e vídeos.

Page 24: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

24

As instâncias ordinárias fi xaram o entendimento de que, como a gravação

e a distribuição de fi lmes integram o conjunto de atividades descritas no item 63

da lista anexa ao Decreto-Lei n. 406/1968, com a redação que lhe foi dada pela

Lei Complementar n. 56/1987, não seria incidente o ICMS nem mesmo na

hipótese de haver comercialização dessas fi tas, visto que essa atividade também

estaria subsumida no item 63 acima mencionado.

O eminente Relator, Ministro Humberto Gomes de Barros, com a sua

habitual erudição, negou provimento ao recurso, tendo o eminente Ministro

Milton Luiz Pereira, provido-o, dando por regular a cobrança do ICMS.

Pedi vista dos autos e de logo observo que, no REsp n. 36.809-0-SP, de

que foi relator o eminente Ministro Garcia Vieira, votei no mesmo sentido do

entendimento expresso pelo eminente Ministro Humberto Gomes de Barros.

Todavia, ao fazer novos estudos sobre o tema em tablado reformulei o meu

ponto de vista, conforme a seguir exposto.

É que, em verdade, a lista anexa ao Decreto-Lei n. 406/1968, inclui, como

atividade sujeita à incidência do ISS, as “gravação e distribuição de fi lmes e

vídeos tapes”.

Todavia, o punctum saliens da questão em análise consiste em saber se a

atividade de comercialização de fi lmes e vídeos tapes está contida nas atividades

de gravação e distribuição.

A resposta a tal indagação exige, necessariamente, que se faça a distinção

entre atividade mista e operação mista, conforme, aliás, muito bem assinalado pelo

Dr. Adelmo Fioranelli Júnior, em bem lançada monografi a apresentada no “VI

Congresso Brasileiro de Direito Tributário”, promovido pelo Idepe - Instituto

Internacional de Direito Público, fonte que muito me socorreu na elucidação do

problema e de onde extraio muito do que restará exposto.

Na operação mista verifi ca-se a co-presença da prestação de serviço e da

circulação de mercadoria numa mesma operação econômica, tal como se dá no

fornecimento de refeições em bares, restaurantes e estabelecimentos similares,

quando ocorre a concomitância de uma circulação de mercadoria e de uma

prestação de serviço.

A teor do disposto no art. 8º e seus parágrafos do Decreto-Lei n. 406/1968,

nas operações mistas devido é o ISS, desde que o serviço prestado esteja

incluído na lista que lhe é anexa; e o ICMS, se o serviço prestado nela não

estiver especifi cado.

Page 25: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 11-39, julho 2010 25

Já a atividade mista possui dois ou mais fatos imponíveis autônomos,

por isso mesmo que existem tantas obrigações tributárias quantas sejam as

operações autônomas efetivadas pela empresa.

Lançadas essas premissas, verifi ca-se que a recorrida realiza atividades

mistas, a saber: a) distribuição de fi lmes e vídeos tapes, sujeita ao ISS, visto que,

mesmo se se tratasse de operação mista, o serviço prestado estaria previsto no

item 63 da lista anexa ao Decreto-Lei n. 406/1968; e, b) comercialização de

fi lmes e vídeos tapes, sujeita ao ICMS, pois que se cuida tão somente de uma

simples operação de circulação de mercadoria.

É que a atividade de distribuição nada mais é que a simples intermediação

realizada entre o titular de direitos da exploração econômica de fi lmes e vídeos

tapes e a empresa exibidora. Na execução dessa atividade, a empresa que

distribui os fi lmes e vídeos não transfere a titularidade deles à empresa que os

exibe, apenas presta o serviço de distribuição a possibilitar a projeção pública do

fi lme ou do vídeo.

Já no pertinente à atividade de comercialização, a mesma empresa

distribuidora vende os fi lmes e as fi tas de vídeo, operação através da qual é

transferida a titularidade dessas mercadorias.

Ora, mesmo que se queira dizer — o se admite apenas para dar calor ao

debate — que nesta atividade de comercialização poderia ser detectada uma

prestação de serviço, ainda assim o imposto incidente seria o ICMS, uma vez

que tratar-se-ía de uma operação mista e o serviço que tivesse sido prestado não

estaria incluído na lista anexa ao Decreto-Lei n. 406/1968.

Diante de tais pressupostos, com todas as vênias ao eminente Ministro

Humberto Gomes de Barros, na linha do voto proferido pelo eminente Ministro

Milton Luiz Pereira, dou provimento ao recurso.

RECURSO ESPECIAL N. 35.551-SP (93.0015237-8)

Relator: Ministro José de Jesus Filho

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Recorrida: Produtora Brasileira de Vídeo Ltda — PBV

Page 26: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

26

Advogados: Célia Mariza de Oliveira e outros e Célio Rodrigues Pereira

e outros

EMENTA

Tributário. ICMS. ISS. Gravação e distribuição de filmes e

videotapes.

I - Conforme já decidiu esta colenda Turma, a gravação e

distribuição de fi lmes para cinemas e videocassetes, estão incluídas

no item 63 da Lista de Serviços tributados pelo ISS, consoante a

Lei Complementar n. 56, de 15.12.1987, por isso que fi ca vedada a

tributação Estadual pelo ICMS. Precedente.

II - Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas,

decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,

não conhecer do recurso e determinar a remessa dos autos ao excelso Pretório,

na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam

fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os

Srs. Ministros Hélio Mosimann, Peçanha Martins, Américo Luz e Antônio de

Pádua Ribeiro. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 02 de março de 1994 (data do julgamento).

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente

Ministro José de Jesus Filho, Relator

DJ 11.04.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José de Jesus Filho: Trata-se de recurso especial interposto

pela Fazenda do Estado de São Paulo, com arrimo no art. 105, III, alínea a, do

permissivo constitucional, contra o v. acórdão proferido pela Décima Sexta

Page 27: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 11-39, julho 2010 27

Câmara Civil do Tribunal de Justiça daquele Estado, que afastou a incidência

de ICMS na distribuição de fi lmes e vídeos, reconhecendo que tal atividade está

sujeita ao tributo municipal (ISS).

Sustenta a recorrente, em síntese, negativa de vigência ao art. 8º do

Decreto-Lei n. 406/1968, e art. 21 do Convênio ICM n. 66/1988, editado com

força de lei complementar.

Às fl s. 178-186, recurso extraordinário.

Admitidos ambos os recursos, subiram os autos a esta egrégia Corte, onde

dispensei a manifestação da douta Subprocuradoria Geral da República.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro José de Jesus Filho (Relator): Tenho que a pretensão

da recorrente não merece guarida, posto que a matéria já é conhecida desta

colenda Turma que, ao apreciar, recentemente, o Recurso Especial n. 32.133-

9-SP, relator o eminente Ministro Pádua Ribeiro, votação unânime, entendeu-

se que a gravação e distribuição de fi lmes para cinemas e videocassetes estão

incluídas no item 63 da Lista de Serviços tributados pelo ISS, consoante a

Lei Complementar n. 56, de 15.12.1987, por isso que fi ca vedada a tributação

Estadual pelo ICMS.

É o que se vê de sua ementa, verbis:

Tributário. ICMS. ISS. Gravação e distribuição de fi lmes e videotapes.

I - Não podem ser tributadas pelo ICMS a gravação e distribuição de fi lmes e

videotapes, porquanto estão incluídas no item 63 da lista de serviços tributados

pelo ISS, aprovada pela Lei Complementar n. 56, de 15.12.1987.

II - Ofensa ao art. 8º do Decreto-Lei n. 406, de 1968, não caracterizada.

III - Recurso especial não conhecido.

Isto posto, por compartilhar da mesma linha de entendimento e não

vislumbrar qualquer ofensa ao art. 8º do Decreto-Lei n. 406/1968, não conheço

do recurso no âmbito desta Corte.

É o meu voto.

Page 28: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

28

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Peçanha Martins: Trata-se de recurso especial oposto ao

acórdão que proclamou a incidência do ISS sobre a produção e distribuição

de fi tas para videocassete. Pedi vista dos autos para examinar a argumentação

desenvolvida pela Fazenda Estadual em prol da incidência do ICMS. Sustenta

que o v. acórdão negou vigência ao art. 8º do Decreto-Lei n. 406 e ao art. 21 do

Convênio ICM n. 66/1988, editado com força de lei complementar. Argumenta

que na área da filmografia e cinematografia a Autora desenvolve quatro

operações básicas: gravação, distribuição, locação e comercialização de fi lmes e

“videotapes”. Chamou-me a atenção a última das atividades — comercialização

— desenvolvida sob grande publicidade. As três primeiras operações, não

contesta a Fazenda, têm a natureza jurídica de prestação de serviços. A última,

a venda dos fi lmes e “videoteipes” constituiria “atividade comercial autônoma”,

que não estaria descrita nos itens 63 e 79 da Lista de Serviços instituída pela

Lei Complementar n. 56/1987, e, por isso mesmo, confi guraria hipótese de

incidência tributária prevista no Convênio n. 66/1988, a que confere força de lei

complementar, e na Lei Estadual n. 6.374/1989.

Penso que não assiste razão ao Estado. É que no vocábulo distribuição (s.f.

ação de distribuir, repartição, Caldas Aulete) se insere circulação da mercadoria

com ou sem transferência da propriedade. Assim ocorre, por exemplo, no

comércio de livros, como bem acentuou o acórdão. Demais disso é indubitável

que a atividade comercial da Autora não é a venda da fi ta virgem, mas do fi lme,

da obra de arte nela gravada, como bem defi niu o Des. Carlos Ortiz, relatando a

Apelação Cível n. 177.940-2/4, cujo voto é parcialmente transcrito no acórdão

recorrido.

Por tais razões, acompanho o voto do eminente Relator.

RECURSO ESPECIAL N. 35.573-SP

Relator: Ministro Hélio Mosimann

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Advogados: Célia Mariza de Oliveira e outros

Recorrida: Distribuidora Internacional de Vídeo Ltda — DIV

Page 29: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 11-39, julho 2010 29

Advogados: Célio Rodrigues Pereira e outros

EMENTA

Tributário. Gravação e distribuição de filmes e videotapes.

Incidência do ISS e não do ICMS.

Estando a atividade ligada à gravação e distribuição de fi lmes e

videotapes incluída na competência dos Municípios, não pode sofrer

incidência do ICMS.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Participaram

do julgamento os Srs. Ministros Peçanha Martins, Américo Luz, Antônio de

Pádua Ribeiro e José de Jesus.

Brasília (DF), 1º de junho de 1994 (data do julgamento).

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente

Ministro Hélio Mosimann, Relator

DJ 20.06.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hélio Mosimann: Trata-se de recurso especial interposto

pela Fazenda do Estado de São Paulo, fundado no art. 105, inciso III, alínea a, da

Constituição Federal, contra acórdão da Segunda Câmara Civil do Tribunal de

Justiça do Estado que reconheceu a não-incidência do ICMS na distribuição de

fi lmes e vídeos, por estar dita atividade sujeita ao tributo municipal (ISS).

Alega a recorrente contrariedade ao disposto no art. 8º, § 1º, do Decreto-

Lei n. 406/1968.

A douta Subprocuradoria Geral da República, às fl s. 426-428, manifestou-

se pelo improvimento do recurso.

É o relatório.

Page 30: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

30

VOTO

O Sr. Ministro Hélio Mosimann (Relator): Sr. Presidente, a empresa ora

recorrida dedica-se à distribuição de fi lmes para videocassete, importando,

produzindo e comercializando obras cinematográfi cas.

A Lei Paulista n. 6.374, de 1º de março de 1989, instituidora do ICMS

no Estado, dispõe ocorrer o fato gerador do imposto no fornecimento de

mercadorias com prestação de serviços não compreendidos na competência

tributária dos Municípios.

A atividade em questão está inserta na competência originária dos

Municípios porque incluída na lista de que trata o Decreto-Lei n. 406/1968,

com a redação que lhe deu a Lei Complementar n. 56, de 15 de dezembro de

1987, constando do item 63 os serviços de “gravação e distribuição de fi lmes e

videotapes”.

Daí o acerto da decisão recorrida, em sua inteireza, ao dar por incidente, na

espécie, apenas o ISS.

Veja-se, a propósito, a ementa do acórdão no REsp n. 32.133-9-SP, Relator

o eminente Ministro Antônio de Pádua Ribeiro:

Tributário. ICMS. ISS. Gravação e distribuição de fi lmes e videotapes.

I - Não podem ser tributados pelo ICMS a gravação e distribuição de fi lmes e

videotapes, porquanto estão incluídas no item 63 da lista de serviços tributados

pelo ISS, aprovada pela Lei Complementar n. 56, de 15.12.1987.

II - Ofensa ao art. 8º do Decreto-Lei n. 406, de 1968, não caracterizada.

III - Recurso especial não conhecido.

No mesmo sentido REsps n. 36.809-0-SP, 39.816-9-SP e 40.121-6-SP,

todos da relatoria do eminente Ministro Garcia Vieira.

Face ao exposto, não conheço do recurso.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 42.860-SP (94.0001498-8)

Relator: Ministro Demócrito Reinaldo

Page 31: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 11-39, julho 2010 31

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Recorrida: Vídeo CAST Produções Ltda

Advogados: Valéria Bertazoni e outros e Célio Rodrigues Pereira e outros

EMENTA

Tributário. ISS. Distribuição de fi lmes e vídeos-tapes. Afastada

incidência do ICMS.

A distribuição de fi lmes e “vídeo-tapes” é hipótese de incidência

do ISS, por achar-se expressamente prevista na lista de serviços anexa

à Lei Complementar n. 406/1968.

O item 63 da referida lista trata da distribuição como gênero,

tornando defeso ao Poder Tributante identifi car, em suas espécies,

fatos geradores subsumidos a distintas hipóteses de incidência.

O vocábulo “distribuição”, para fins de tributação pelo ISS,

abrange inclusive a venda de fi tas às chamadas “videolocadoras”,

afastada, in casu, a incidência do ICMS.

Recurso improvido, por maioria.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas, decide

a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por maioria, vencidos os

Srs. Ministros Milton Luiz Pereira e Cesar Asfor Rocha, negar provimento

ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator, na forma do relatório

e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante

do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Humberto

Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira, Cesar Asfor Rocha e Garcia Vieira.

Custas, como de lei.

Brasília (DF), 11 de abril de 1994 (data do julgamento).

Ministro Demócrito Reinaldo, Presidente e Relator

DJ 16.05.1994

Page 32: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

32

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo: Trata-se de recurso especial interposto

pelo Estado de São Paulo, com arrimo na letra a do admissivo constitucional,

contra v. acórdão da Décima Terceira Câmara Civil do Tribunal de Justiça

Paulista, no sentido de afastar do campo de incidência do ICMS os serviços de

distribuição de fi lmes gravados em fi tas de videocassete.

Em suas razões, o Estado-recorrente aponta violação ao art. 8º do Decreto-

Lei n. 406/1968, fundado em que a atividade exercida pela recorrida caracteriza-

se como de “comercialização” de mercadoria, não se incluindo no conceito de

“distribuição” estatuído no item 63 da Lei Complementar n. 36, de 15.12.1987.

Ofertadas as contra-razões (fl s. 308-311), subiram os autos a esta Superior

Instância, vindo-me conclusos.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo (Relator): O thema decidendum reside

precipuamente na busca da correta delimitação do termo “distribuição”, contido

no item 63 da lista de serviços instituído pela Lei Complementar n. 56/1987,

que torna tributáveis pelo ISS os serviços de “gravação e distribuição de fi lmes e

vídeo-tapes”.

Entende o recorrente que a atividade desempenhada pela recorrida,

consistente na venda de fi tas de videocassete e empresas especializadas em sua

locação a consumidores desejosos de obter sua simples reprodução em aparelho

doméstico (videolocadoras), configura operação eminentemente mercantil,

traduzida na alienação de bem material.

Segundo lhe parece, não se pode conferir ao vocábulo “distribuição”

amplitude tal a ponto de englobar negócios jurídicos cujo elemento central

consista na venda de mercadoria.

Preambularmente, julgo oportuno rememorar alguns aspectos normativo-

conceituais relativos ao ISS, com força para esmaltar a controvérsia e concorrer

sobremaneira para seu adequado deslinde.

É cediço que tanto o ISS como o ICMS quadram-se como tributos

destinados a onerar a circulação, aqui concebida como a marcha de bens e

Page 33: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 11-39, julho 2010 33

serviços em direção ao consumo. Noutras palavras: ambas as imposições

tributárias têm por suporte fático idêntico fenômeno econômico, a saber, a

circulação (vide, a propósito, Bernardo Ribeiro de Moraes, in “Doutrina e Prática

do ISS”, 1ª ed., 3ª tiragem, 1984, pp. 74 e ss.).

Ao legislador coube a tarefa de diferençar e delimitar a hipótese de

incidência destes tributos, tendo por ponto de partida a preponderância do

elemento imaterial (serviço) ou material (mercadoria) dos bens “in comércio”

gravando a circulação onde impere o primeiro com o ISS e o segundo com o

ICMS.

Em determinadas situações, onde a prestação de serviço inclui

fornecimento de mercadoria, incidirá apenas a exação municipal, desde que o

fato imponível fi gure na lista instituída pela norma de regência (art. 8º, § 1º, do

DL n. 406/1968).

Igualmente, caso o fornecimento de mercadorias abranja prestação de

serviços especifi cados na citada lista, fi ca a operação sujeita, com reserva, ao ISS,

conforme dessume-se, a contrario sensu, da leitura do indigitado art. 8º, § 2º, do

DL n. 406/1968).

Desta maneira, solucionou o legislador os casos em que a operação possui

caráter misto, envolvendo prestação de serviços e fornecimento de mercadoria,

defi nindo a subsunção do ato de mercancia segundo a supremacia do fator

imaterial ou material nele incrustado.

Isto posto, há de se considerar, nesse passo, a taxatividade da lista de

serviços, cuja conseqüência primeira é afastar do campo de incidência do ISS

qualquer serviço que não se ache ali consignado.

Nesse ponto, adentro o meritum causae, analisando o significado do

vocábulo “distribuição” e seu contexto de inserção, no desiderato de precisar seus

exatos alcance e sentido.

Na oportunidade, reporto-me às bem lançadas razões do voto condutor do

aresto recorrido, da lavra do ilustre Desembargador Érix Ferreira, do seguinte

teor:

Não pode prevalecer, entretanto, o conceito restrito sustentado pela Fazenda.

O contrato de “distribuição” de fi lmes e “vídeo-tapes”, na acepção de mera “locação”

do direito de exibição da obra, sem perda para o produtor dos seus direitos sobre

ela, pode ocorrer, como de fato tem ocorrido nas práticas observadas. Estas,

entretanto, não se esgotam nessa única modalidade de “distribuição”, não sendo

Page 34: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

34

raros os negócios em que parece às partes mais conveniente “vender” a obra

ao seu consumidor e não simplesmente exibi-la. Essa alternativa viabilizou-se a

partir do surgimento dos videocassetes com os correspondentes equipamentos

domésticos destinados à sua reprodução. Se, quanto aos filmes, a “locação”

da obra por prazo determinado representava a opção mais interessante em

vista de sua reprodução restrita às salas dos cinemas públicos, no tocante aos

videocassetes a realidade prática tornou-se muito diferente. Ao lado da venda

das fi tas gravadas diretamente ao consumidor fi nal, em lojas especializadas e até

em magazines e supermercados, proliferaram-se as “videolocadoras”, empresas

dedicadas exclusivamente ao aluguel dessas fitas aos interessados na sua

reprodução doméstica. E essas empresas, por sua vez, têm suas fi tas adquiridas

dos produtores, normalmente por intermédio de empresas “distribuidoras”, tais

como a autora.

Percebe-se, pois, que a “distribuição” de videocassetes assemelha-se bastante

à prática equivalente costumeiramente adotada para a “distribuição” de livros

e revistas. E não se pode negar aos contratos que se fazem entre produtor e

“distribuidor” visando, tanto uma como a outra operação, o qualificativo “de

distribuição” apenas porque neles haveria uma transmissão do direito de uso da

obra, corporifi cada pela venda e compra do seu meio de gravação, a fi ta ou o livro.

O paralelo com o livro presta-se, ainda, a evidenciar que, tanto para a obra

gravada em fi ta como para a impressa no livro, preservam-se os direitos autorais,

vedada ao “adquirente” sua reprodução ou exploração comercial. E, como o livro

nas bibliotecas, permite-se às “videolocadoras” seu aluguel a terceiros.

Se consultada a doutrina, verifi car-se-á não ser estranho como objeto dos

contratos de distribuição em geral a venda de mercadorias. Ao contrário, esse é o

objetivo normal de tais contratos. A “distribuição” de fi lmes é que, diante de suas

peculiaridades, costumava exibir características especiais, como se viu.

Discorrendo sobre o contrato de concessão comercial, como nele

compreendido o contrato de distribuição, assim se manifesta Rubens Requião:

“Em todos esses conceitos de concessão comercial ou de franquia, vemos

que a operação comercial de “distribuição” de produtos e mercadorias se

correlaciona estreitamente com o contrato de compra e venda em massa.

O objetivo do contrato, qual seja, o seu nomen juris, é impor e expandir

a comercialização, vale dizer, a venda dos produtos ao consumidor.” E,

mais adiante: “O contrato de distribuição, como se sabe, está em via de

tipifi cação legal no Direito brasileiro, sendo objeto de defi nição no Projeto

de Código Civil, dispondo o parágrafo único do art. 708: ‘Caracteriza-se a

distribuição quando o agente tiver a sua disposição coisa a ser negociada.’ ”

(Fls. 269-270).

A toda evidência, a operação in comento (comercialização de obras

cinematográficas gravadas em fitas de videocassete) afigura-se passível de

Page 35: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 11-39, julho 2010 35

sujeitar-se à incidência do ICMS. Contudo, o legislador optou por tipifi cá-la

como fato gerador do ISS, de certo, repito, por considerar a prevalência do

elemento imaterial (prestação de serviço inclusa na produção e reprodução da

obra) sobre o corpóreo (venda da fi ta na qual acha-se encravado o trabalho

cinematográfi co).

O ponto de vista esposado pela Fazenda de São Paulo é incompatível com

a sistemática do ISS, pois o que mais importa no exame do fato imponível em

tela não é a comercialização do instrumento (fi ta de videocassete, película, etc.)

e sim a prestação de serviço nela embutida. Noutras palavras: o fator primordial

a delinear a moldura fática da exação é a supremacia da obra artística (fi lme)

sobre o instrumento à qual a mesma incorporou-se, restando óbvio, pelos fi ns da

atividade comercial examinada, que a aquisição da fi ta é motivada pelo conteúdo

a ela agregado.

Em resumo, a recorrente esforça-se na tentativa de diferenciar a distribuição

dos fi lmes e fi tas de videocassete de sua comercialização, apegando-se à natureza

de mercadoria desses bens.

Falece-lhe razão, contudo, na medida em que busca distinguir onde a lei

não o faz, separando a distribuição com propósito “locatício” daquela realizada

com escopo alienatório.

O item 63 da lista de serviços trata da distribuição como gênero, tornando

defeso ao aplicador da norma identifi car em suas espécies fatos geradores

subsumidos a distintas hipóteses de incidência tributária.

Ante o exposto, conheço do recurso e lhe nego provimento, para que

a distribuição de fitas de “vídeo-tapes” realizada pela recorrida sujeita-se

exclusivamente à tributação pelo ISS, afastada, assim, a incidência do ICMS

sobre a mesma operação.

É como voto.

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira: Sr. Presidente, data venia, fi co vencido.

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Data venia, fi co vencido.

Page 36: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

36

RECURSO ESPECIAL N. 45.686-SP (94.0007961-3)

Relator: Ministro Garcia Vieira

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Recorrida: América Vídeo Filmes Ltda

Advogados: Geórgia Grimaldi de Souza Bonfá e outros e Célio Rodrigues

Pereira e outros

EMENTA

ICMS. Distribuição e gravação de fi lmes e vídeos. Impossibilidade

de sua incidência.

A gravação e distribuição de fi lmes e vídeos estão incluídas no

item 63 da lista de serviços tributados pelo ISS constante da Lei

Complementar n. 56/1987, sendo ilegítima a incidência de ICMS.

Recurso improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

das notas taquigráfi cas a seguir, por maioria, vencidos os Srs. Ministros Milton

Luiz Pereira e Cesar Asfor Rocha, negar provimento ao recurso. Votaram com

o Relator os Srs. Ministros Demócrito Reinaldo e Humberto Gomes de Barros.

Brasília (DF), 18 de abril de 1994 (data do julgamento).

Ministro Demócrito Reinaldo, Presidente

Ministro Garcia Vieira, Relator

DJ 16.05.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Garcia Vieira: América Vídeo Filmes Ltda ajuizou ação

ordinária contra a Fazenda do Estado de São Paulo, visando a declaração de

Page 37: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 11-39, julho 2010 37

ilegalidade da cobrança de ICMS sobre sua atividade de distribuidora de fi lmes

para videocassete, a qual está sujeita somente ao pagamento de ISS.

Julgada procedente a ação (fl s. 160-165), foi a r. sentença monocrática

confirmada pelo egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, ao

argumento de que, se já incide o tributo municipal (ISS), resta expressamente

vedada a aplicação concomitante do ICMS (fl s. 244-248).

Inconformada, a Fazenda do Estado de São Paulo interpôs o presente

recurso especial, com apoio na alínea a do permissivo constitucional, apontando

como violado o art. 8º, § 1º, do Decreto-Lei n. 406/1968, com a redação da Lei

Complementar n. 56/1987, além do Convênio ICM n. 66/1988, art. 2º, inciso

VIII.

Esclarece a Fazenda que a atividade da recorrida desdobra-se em três fases

distintas, quais sejam, a gravação, distribuição e comercialização de fi tas de

videocassete, sendo que apenas as duas primeiras estão sujeitas ao ISS (art. 63 da

lista anexa ao Decreto n. 406/1968).

Prossegue aduzindo que a comercialização de fi lmes constitui operação de

circulação de mercadorias, estando sujeita ao ICMS (fl s. 267-272).

Deferido o processamento do especial (fl s. 450-451), subiram os autos a

este colendo Tribunal.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Garcia Vieira (Relator): Aponta a recorrente vários

dispositivos legais como violados, versando sobre questões devidamente

prequestionadas.

Conheço do recurso pela letra a.

O recurso é admissível, mas não merece provimento.

A autora tem por objetivo a produção, distribuição e comercialização de

fi lmes para videocassetes, cinema e televisão. Sua atividade encaixa-se no item

63 da lista de serviço anexa à Lei Complementar n. 56/1987,

Gravação e distribuição de fi lmes e videotapes.

O imposto a ser cobrado é apenas o ISS, de competência dos Municípios,

porque a estes compete instituir imposto sobre serviços de qualquer natureza,

Page 38: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

38

não compreendidos no art. 155, inciso I, letra b, defi nidos em lei complementar

(CF, art. 156, inciso IV). Ora, no caso não se trata de serviços de transporte

interestadual ou intermunicipal.

O ISS tem como fato gerador “a prestação por empresa ou profi ssional

autônomo, com ou sem estabelecimento fi xo, de serviço constante da lista anexa”

(art. 8º, caput, do Decreto-Lei n. 406/1968) e estes serviços incluídos na lista

fi cam sujeitos apenas ao ISS, ainda que sua prestação envolva fornecimento de

mercadorias (§ 1º).

Admite a recorrente que a gravação, distribuição e locação de filmes

e vídeos estão sujeitas apenas ao ISS, mas entende estar sujeita ao ICM a

comercialização das fi tas. No caso, a comercialização não é operação autônoma.

Com inteira razão o venerando aresto hostilizado, ao acentuar que:

Como, na nova lista que a Lei Complementar n. 56, de 15.12.1987, introduziu

no Decreto-Lei n. 406/1968, recepcionado pela nova ordem constitucional, no

tocante à matéria em questão, consta, no item 63, como serviços sujeitos à

tributação pelo ISS municipal, os de gravação e distribuição de filmes e

videoteipes, e considerando que o § 1º do art. 8º estabelece que os serviços

incluídos na referida lista fi cam sempre sujeitos ao tributo municipal, ainda que

a sua prestação envolva fornecimento de mercadorias, é evidente que sobre ela

não pode incidir o ICMS.

Não tem razão a apelante quando pretende desmembrar a gravação dos

fi lmes e das fi tas e a sua distribuição da alegada comercialização porque não

existe essa distinção na lei, estando todas as operações abrangidas pela expressão

“distribuição”.

No v. acórdão publicado na RJTJESP n. 138/151, da colenda Décima Quinta

Câmara, desta Corte, relatado pelo eminente Desembargador Roberto Stucchi,

foi consignado com precisão, que, como tem sido lembrado pelas inúmeras

sentenças proferidas nas Varas da Fazenda Pública de São Paulo, a distribuição

de videocassetes assemelha-se à distribuição de livros e revistas: inexiste lei

complementar autorizando a cobrança de ICMS; e a própria Lei n. 6.374, 1989,

dispõe que não cabe o ICMS quando há recolhimento do ISS, ou seja, disciplina

a ocorrência do fato gerador do imposto no fornecimento de mercadoria com

prestação de serviços não compreendidos na competência tributária dos

Municípios, ou que, embora nela compreendidos, sujeitam-se, por expressa

indicação de lei complementar, à incidência do imposto (art. 2º, inciso IV, a e b),

decisões que têm recebido confi rmação deste Tribunal, conforme julgamentos

relacionados no v. acórdão e outros cujas cópias estão nos autos (passim).

Não houve, assim, ofensa ao art. 8º do Decreto-Lei n. 406/1968, aos arts. 155, I,

b, e 156, IV, da Constituição Federal, ao art. 21 do Convênio ICM e ao art. 7º da Lei

Estadual n. 6.374/1989. (Fls. 246-247)

Page 39: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 11-39, julho 2010 39

Neste sentido vem, reiteradamente, decidindo esta colenda Corte, bastando

citar a decisão proferida no Recurso Especial n. 40.121-6-SP, julgado em

06.12.1993.

Nego provimento ao recurso.

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira: Sr. Presidente, data venia, fi co vencido.

Page 40: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 41: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

Súmula n. 136

Page 42: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 43: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULA N. 136

O pagamento de licença-prêmio não gozada por necessidade do serviço

não está sujeito ao imposto de renda.

Referências:

CC/1916, arts. 1.056 e 1.534.

CTN, art. 43, I e II.

Lei n. 7.713/1988, arts. 3º, §§ 4º e 6º, IV e V.

Precedentes:

EREsp 32.829-SP (1ª S, 13.12.1994 — DJ 20.02.1995)

REsp 39.726-SP (2ª T, 26.10.1994 — DJ 21.11.1994)

REsp 39.872-SP (2ª T, 1º.06.1994 — DJ 20.06.1994)

Primeira Seção, em 09.05.1995

DJ 16.05.1995, p. 13.549

Page 44: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 45: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 32.829-SP

(94.0028474-8)

Relator: Ministro Milton Luiz Pereira

Embargante: Estado de São Paulo

Embargado: José Fernando Vidal de Souza

Advogados: Artur Afonso Gouveia Figueiredo e outros e Ismenia Paula

Rosenitsch e outros

EMENTA

Tributário. Imposto de Renda. Indeferimento de licença-

prêmio não gozada por interesse público. Pagamento indenizatório

correspondente.

1. A indenização por licença-prêmio não gozada, indeferida

por submissão ao interesse público, o correspondente pagamento

indenizatório não signifi ca acréscimos patrimoniais ou riqueza nova

disponível, mas simples transformação, compensando dano sofrido.

O patrimônio da pessoa não aumenta de valor, mas simplesmente é

reposto no estado anterior ao advento do gravame a direito adquirido.

2. A doutrina e a jurisprudência, nesse contexto, assentaram que

as importâncias recebidas a título de indenização como ocorrente, não

constituem renda tributável pelo Imposto de Renda.

3. Embargos rejeitados.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por maioria, vencidos os

Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha e Demócrito Reinaldo, rejeitar os embargos,

nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator, na forma do relatório e notas

taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do

presente julgado. Os Srs. Ministros Américo Luz, Hélio Mosimann, Peçanha

Martins e Humberto Gomes de Barros votaram com o Sr. Ministro-Relator.

Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro. Presidiu o

julgamento o Sr. Ministro Garcia Vieira. Custas, como de lei.

Page 46: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

46

Brasília (DF), 13 de dezembro de 1994 (data do julgamento).

Ministro Garcia Vieira, Presidente

Ministro Milton Luiz Pereira, Relator

DJ 20.02.1995

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira: No julgamento do Recurso Especial

n. 32.829-0-SP, relatado pelo eminente Ministro Hélio Mosimann, a egrégia

Segunda Turma prolatou o v. acórdão espelhado na seguinte ementa:

Recurso especial. Licença-prêmio não gozada por necessidade do serviço.

Pagamento de natureza indenizatória. Não-incidência do Imposto de Renda.

O pagamento de licença-prêmio, como das férias, não gozadas por necessidade

do serviço, pela sua natureza indenizatória, não está sujeito à incidência do

imposto de renda (fl . 230).

Inconformado, o Estado de São Paulo opôs embargos de divergência,

alegando que o v. aresto hostilizado se antagoniza com julgado da egrégia

Primeira Turma, sendo apontado como paradigma o REsp n. 39.627-1-SP,

relatado pelo eminente Ministro Cesar Asfor Rocha, cuja ementa se transcreve:

Tributário. Imposto de Renda. Indenização pecuniária referente à licença-

prêmio não gozada por necessidade do serviço. Incidência.

Incide imposto sobre a renda auferida de indenização pecuniária relativa a

período de licença-prêmio não gozada por necessidade do serviço. Incidência.

Recurso provido (fl . 239).

Admiti os Embargos, proferindo decisão que se encerra nos seguintes

termos:

Andante, dispensando-se cotejo laborioso, por simples análise, sobressai que

as Turmas divergiram na interpretação da mesma questão jurídica.

Mais não é preciso para serem admitidos os embargos (art. 266, RISTJ).

II - Admitidos, intime-se a parte-embargada para impugnar no prazo legal.

Vencido o prazo, com ou sem impugnação, independentemente de nova

determinação, abra-se vista ao Ministério Público Federal (fl . 249).

Page 47: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 41-58, julho 2010 47

O prazo para impugnação decorreu sem manifestação da parte embargada.

O ilustre Subprocurador-Geral da República, Dr. José Arnaldo da Fonseca,

assim fundamentou e concluiu o pronunciamento do douto Ministério Público

Federal, verbis:

Ainda que pertinente a argumentação demonstrativa entre o acórdão e o

paradigma, dando ensejo à admissão dos embargos (fl . 249), com a devida vênia

os mesmos não devem ser providos, pois melhor sorte não assiste ao embargante.

Acontece que o recurso ora embargado não foi conhecido: “A Turma, por

unanimidade, não conheceu do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-

Relator” (fl . 229), e sendo assim:

Não cabem embargos de divergência contra decisão de relator que nega

seguimento a recurso especial (STJ — Segunda Seção, REsp n. 3.815-SP —

ED-AgRg, Relator Ministro Sálvio de Figueiredo, j. 27.02.1991, Theotonio

Negrão, nota 2 ao art. 266, Código de Processo Civil).

Do exposto, pelo improvimento dos presentes embargos (fl s. 253-254).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira (Relator): Como relatado, no amanho

de questão jurídica afi velada à tributação e indenização de férias não gozadas

por necessidade do serviço, o dissenso motivador dos presentes embargos

entremostrou-se nos julgados enunciados, respectivamente, assim ementados:

Recurso especial. Licença-prêmio não gozada por necessidade do serviço.

Pagamento de natureza indenizatória. Não-incidência do Imposto de Renda.

O pagamento da licença-prêmio, como das férias, não gozadas por necessidade

do serviço, pela sua natureza indenizatória, não está sujeito à incidência do

imposto de renda (Segunda Turma).

Tributário. Imposto de Renda. Indenização pecuniária referente à licença-

prêmio não gozada por necessidade do serviço. Incidência.

Incide imposto sobre a renda auferida de indenização pecuniária relativa a

período de licença-prêmio não gozada em face da necessidade do serviço.

Recurso provido. (Primeira Turma)

Page 48: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

48

Sem a possibilidade de enleios, a divergência é manifesta, em favor da

autoridade de compreensão harmonizada, clamando por uma composição

diluidora do desentendimento fi ncado nas motivações dos julgados confrontados.

Com esse pressuroso fi to, para alvorejar a solução, inicialmente compendio

os fundamentos do v. acórdão erguido como paradigma (Primeira Turma),

relatado pelo eminente Ministro Cesar Asfor Rocha, com a sua peculiar clareza,

depois de comentar a respeito dos princípios gerais e do fato gerador do

Imposto de Renda (art. 153, § 2º, I e III, CF, art. 43, I e II, CTN), rememorando

eméritas lições doutrinárias, averbou:

omissis

É certo, conforme observei acima, que nem toda aquisição de disponibilidade

econômica ou jurídica é tributável. Assim, estão fora do foco de incidência do

tributo em análise várias indenizações. Todavia, há de ser ressaltado que isso

decorre de isenção explicitamente concedida pela lei, de que são exemplos as

tratadas pela Lei n. 7.713/1988.

Chego até a admitir que seria de justiça isentar-se do pagamento do imposto

sobre a renda a indenização pecuniária paga a funcionário relativa a licença-

prêmio ou férias indeferidas por necessidade do serviço, uma vez que tal verba

não se consubstancia em rendimento do trabalho, não se confundindo com o

produto do trabalho do recorrido, mas de mera indenização que visa, de maneira

razoável, a recompor o patrimônio do interessado para, na medida do possível,

torná-lo indene, íntegro, após a consumação da lesão, conforme anotado no r.

acórdão hostilizado.

Todavia, tal isenção estaria a depender de lege ferenda. Enquanto não houver

diploma legal nesse sentido, é incidente o imposto na espécie.

Merecem destaque, por derradeiro, as judiciosas considerações do eminente

Desembargador Silva Ferreira, no voto (vencido) proferido quando do julgamento

da apelação no Tribunal a quo, verbis:

Entendo devido o Imposto de Renda na transformação de licença-

prêmio, ou férias, em dinheiro, visto que, inegavelmente, há aumento

patrimonial para o beneficiado. Antes receberia, no ano, somente 13

salários compreendido o 13º. Agora, com o recebimento dos três meses

de licença-prêmio, passará a receber em pecúnia, portanto, com aumento

de seu patrimônio monetário, possível de transformação em bens de

consumo, duráveis ou não, ou mesmo de lazer, de mais três meses, fi xando

excepcionalmente naquele ano com 16 salários.

Com estes três salários poderá quitar dívidas, viajar, adquirir bens, o que

não poderia com seus salários normais. Logo aumentou sua renda e deve

pagar o imposto devido, conforme o Código Tributário Nacional.

Page 49: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 41-58, julho 2010 49

Dizem que nada deve por ser indenização, por não poderem gozar de

licença-prêmio no tempo devido. Sabe-se, porém, com segurança, que

se pedissem a mesma, ser-lhe-ia, concedida, sendo que o pedido já é

feito, normalmente, com o sentido da denegação. Tanto assim que, quase

que diariamente, o Diário Oficial está a publicar concessão de licença-

prêmio referente aos anos de 1978/1988, cujo pagamento não se fez, a

desembargadores e juízes, sem qualquer problema operacional.

Finalmente, observe-se que, com aplicação do Estatuto dos Funcionários

Públicos, que é aplicado supletivamente, por exemplo para abono de faltas,

poderia, perfeitamente, o Apelante usar tal licença para se aposentar mais

cedo, permanece ou seja, se retirar do serviço três meses antes de completar

seu tempo, sem prejuízo de seus vencimentos, sendo obrigatório o uso do

tempo, ou em outras palavras, computar tal período, indiretamente, para

completar o tempo de aposentadoria.

Assim, não se vê como considerar o pagamento de licença-prêmio não

gozada como indenização, de algo que não houve, de prejuízo que não

existiu, visto que não usados os meios normais para conseguir seu uso, na

forma da lei. Além disto não está revogada a lei que permite pagamento

de metade dela, por exclusiva deliberação do benefi ciado, sem se falar em

rejeição ou negativa de fruição (fl s. 196-197). — Fls. 243 e 244.

À sua vez, a fundamentação lineada pelo exímio Ministro Hélio Mosimann,

relatando o v. aresto colocado frente ao paradigma, destacando o magistério do

ilustre Roque Antônio Carraza, alinhou:

A quantia recebida pelo servidor público, a título de ressarcimento, pelas férias

e licenças-prêmio vencidas e não gozadas, por absoluta necessidade de serviço,

é simples indenização. É medida reparatória que recompõe seu patrimônio, mas

que absolutamente não lhe cria, sob aspecto jurídico, riquezas novas, é dizer,

rendimentos ou ganhos de capital (proventos).

Temos por indisputável, pois, que o pagamento, em dinheiro, das férias e

licenças-prêmio não gozadas, por necessidade de serviço, tem caráter

indenizatório. E — repisamos — indenizações não podem ser objeto de

tributação, por via de IR. (“Novas Considerações Sobre a Intributabilidade, por Via

de Imposto Sobre a Renda”) — fl s. 227 e 228 .

Nesse cenáculo, bem se percebe árdego debate, sem dúvidas, vigiado por

argumentos armados com inteligência e erudição, denotando que não atraem a

trégua de fácil conciliação.

Mesmo assim, como obrigatório fi gurante no embate, fazendo refl exões,

já na Primeira Turma, embora vencido, conveci-me de que o pagamento de

Page 50: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

50

licença-prêmio não gozada, a tempo e modo requerida, indeferida por submissão

ao interesse público, tecnicamente, não constitui acréscimo patrimonial a

transformação daquela em pecúnia. Deveras, emoldurou-se direito afeiçoado

à indenização paga ao servidor público para compensá-lo pelo trabalho

desempenhado sem a contemporânea usufruição de benefício assegurado pela

lei.

Essa vertente, irradiando que a licença-prêmio, sob a auréola de indenização,

não constitui salário ou vencimento, tem precioso apoio do pranteado Orlando

Gomes, a dizer: “qualquer remuneração paga ao empregado sem trabalho não é

tecnicamente salário” (“O Salário no Direito Brasileiro”, p. 353, ed. 1957). Em

assim afi rmado, calham à fi veleta estas anotações:

... no mesmo campo do salário e da indenização, se aquele é típico e específi co

do contrato de emprego e, portanto, do Direito do Trabalho, esta, da indenização,

tem conteúdo conceitual, também típico e específi co, no Direito Comum. E o

preceito legal está expresso no art. 1.534 do Código Civil, assim enunciado: “Se o

devedor não puder cumprir a prestação na espécie ajustada, substituir-se-á pelo

seu valor, em moeda corrente, no lugar onde se execute a obrigação”. Contudo, o

princípio mesmo da indenização está consagrado no art. 1.056 do Código Civil,

a saber: ”Não cumprindo a obrigação ou deixando de cumpri-la pelo modo e no

tempo devido, responde o devedor por perdas e danos”. Os dois preceitos legais

invocados, dão-nos, de maneira irretorquível, as medidas certas e adequadas

para conceituação de indenização do Direito Comum, e que deve ser aplicada ao

Direito do Trabalho, como ramo da mesma ciência jurídica.

(...)

Serão tais verbas indenizatórias entendidas como “rendimentos de trabalho

assalariado”, para os efeitos da incidência do Imposto de Renda na fonte?

Segundo a Coordenadoria do Sistema de Tributação, sim.

Deixando de lado o aspecto abrangente dado pela aludida Coordenadoria,

sempre no sentido de arrecadar cada vez mais, há que se ater ao princípio maior

que regula a tributação sobre rendimentos do trabalho, no sentido de que as

indenizações trabalhistas estão isentas sem restrições, a não ser que houvesse lei

declarando o contrário, não sendo lícito ao intérprete distinguir se o texto legal

não distinguiu. O que há são pareceres normativos e acórdãos isolados, quase

todos, na esfera administrativa... (Irany Ferrari — “Férias Indenizadas — Tempo de

Serviço — Incidência de Iapas, Imp. Renda e FGTS”, in Rev. LTr, vol. 46, n. 1, 1982,

pp. 49 a 51).

Some-se:

Page 51: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 41-58, julho 2010 51

omissis

... que signifi ca a expressão “renda e proventos de qualquer natureza”? Ou, por

outro giro verbal: será que qualquer importância recebida, seja a que título for,

pode ser alcançada pelo IR? Entendemos que não.

Obviamente, o art. 21, IV, da Lei Maior, não deu ao legislador ordinário da

União liberdade para tributar o que lhe aprouver. Pelo contrário, conferiu-lhe

apenas o direito de tributar a renda e os proventos de qualquer natureza.

Melhor esclarecendo, o IR só pode alcançar a aquisição de disponibilidade de

riqueza nova, vale dizer, o acréscimo patrimonial, experimentado durante certo

período.

Logo, não é qualquer entrada de dinheiro nos cofres de uma pessoa (física

ou jurídica) que pode ser alcançada pelo IR, mas, tão-somente, os “acréscimos

patrimoniais”, isto é, “a aquisição de disponibilidade de riqueza nova”, como

averba, com precisão, Rubens Gomes de Sousa. Tudo que não tipifi car ganhos

durante um período, mas simples transformações de riqueza, não se enquadra na

área traçada pelo art. 21, IV, da CF.

É o caso das indenizações. Nelas, não há geração de rendas ou acréscimos

patrimoniais (proventos) de qualquer espécie. Não há riquezas novas disponíveis,

mas reparações, em pecúnia, por perdas de direitos.

Na indenização, como todos aceitam, há compensação, em pecúnia, por dano

sofrido. Em outros termos, o direito ferido é transformado numa quantia de

dinheiro. O patrimônio da pessoa lesada não aumenta de valor, mas simplesmente

é reposto no estado em que se encontrava antes do advento do gravame (status

quo ante).

Em apertada síntese, na indenização inexiste riqueza nova. E, sem riqueza nova,

não pode haver incidência do IR ou de qualquer outro imposto da competência

residual da União (neste caso, por ausência de indício de capacidade contributiva).

Assim, conquanto reinem dúvidas sobre o significado, o conteúdo e

o alcance da expressão ‘renda e proventos de qualquer natureza’, a doutrina

e a jurisprudência de há muito vêm entendendo que ela não compreende as

importâncias percebidas a título de indenização. A respeito, já se pacifi caram as

inteligências, motivo pelo qual julgamos dispensável ampliar estas considerações.

Enfi m, as indenizações não são — e nem podem vir a ser — tributáveis por

meio de IR... (Roque Antônio Carraza — “Intributabilidade por Via de Imposto

sobre a Renda — Férias e Licenças-Prêmio em Pecúnia”, in Rev. Direito Tributário,

vol. 39, pp. 165 e 166).

A quantia recebida pelo servidor público, a título de ressarcimento, pelas férias

e licenças-prêmio vencidas e não gozadas, por absoluta necessidade de serviço,

é simples indenização. É medida reparatória que recompõe seu patrimônio, mas

Page 52: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

52

que absolutamente não lhe cria, sob o aspecto jurídico, riquezas novas, é dizer,

rendimentos ou ganhos de capital (proventos).

Temos por indisputável, pois, que o pagamento, em dinheiro, das férias e

licenças-prêmio não gozadas, por necessidade de serviço, têm caráter

indenizatório. E — repisamos — indenizações não podem ser objeto de

tributação, por via de IR... (Roque Antônio Carraza — “Novas Considerações sobre a

Intributabilidade, por Via de Imposto Sobre a Renda, das Férias e Licenças-Prêmio

Recebidas em Pecúnia”, in Rev. de Direito Tributário, n. 52, p. 181, gf.).

Conforme, pois, essas eméritas considerações, quanto à licença-prêmio,

indeferido o seu aproveitamento por necessidade do serviço, as verbas percebidas

têm a natureza jurídica de indenização. Ilógico seria interpretação diversa,

inclusive porque, além do sacrifício à saúde, impedido o gozo do descanso, seria

duplo apenamento com a incidência do Imposto de Renda sobre a compensação

monetária.

Enfim, exprimindo o pagamento da licença-prêmio não gozada por

necessidade de serviço a reparação pecuniária, tem a natureza de indenização e

seria injusto, com a anulação parcial dos seus efeitos, ser diminuída no seu valor

pela incidência do Imposto de Renda. A rigor, seria modifi car o conceito da

reparação sofrida pelo servidor, decorrente de lesão ao seu direito constitucional

de férias anuais remuneradas (arts. 7º, XVIII, e 39, § 2º, CF).

Abordadas essas razões, edificado o convencimento, voto rejeitando os

embargos, fortifi cando o entendimento radicado pelo julgado constituído no v.

acórdão originário da egrégia Segunda Turma.

É o voto.

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Sr. Presidente, recebo os embargos, nos

termos do voto proferido no acórdão paradigma.

RECURSO ESPECIAL N. 39.726-SP (93.0028746-0)

Relator: Ministro Antônio de Pádua Ribeiro

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Page 53: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 41-58, julho 2010 53

Advogados: João Carlos Lopes de Souza e outros

Recorrido: Antônio Augusto Mello de Camargo Ferraz

Advogado: Diogo Rodrigues Filho

EMENTA

Tributário. Imposto de renda. Licença-prêmio indenizada.

I - Não incide o imposto de renda sobre o pagamento de licença-

prêmio não gozada por necessidade de serviço, em razão do seu caráter

indenizatório.

II - Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima

indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na

conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas anexas, por unanimidade, não

conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram

do julgamento os Srs. Ministros José de Jesus, Hélio Mosimann, Peçanha

Martins e Américo Luz.

Brasília (DF), 26 de outubro de 1994 (data do julgamento).

Ministro Hélio Mosimann, Presidente

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Relator

DJ 21.11.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Trata-se de recurso especial

interposto pela Fazenda do Estado de São Paulo, com fundamento no art. 105,

III, letra a, da Constituição Federal, contra o v. acórdão da Sexta Câmara Civil

do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, integrado pelo proferido nos

embargos declaratórios interpostos, que entendeu não incidir o recolhimento de

imposto de renda sobre o pagamento de licença-prêmio.

Page 54: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

54

Alega a recorrente negativa de vigência ao art. 43, I e II, do Código

Tributário Nacional, e aos arts. 3º e 6º da Lei n. 7.713/1988.

Sem contra-razões (fl . 239), o recurso, cujo processamento foi inadmitido

(fl s. 245-248), subiu a esta Corte em razão do agravo de instrumento interposto

(fl . 256).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): O acórdão recorrido

está assim fundamentado (fl s. 211-213):

Merece acatamento o recurso do impetrante.

Segundo estabelece o art. 29 do Decreto n. 85.450, de 04.12.1980, são

consideradas como rendimento do trabalho assalariado todas as espécies de

remuneração por trabalhos ou serviços prestados no exercício de empregos,

cargos ou funções, bem como quaisquer proventos ou vantagens pagos pelos

cofres públicos federais, estaduais ou municipais.

Entre tais formas de remuneração, especialmente relacionadas no mencionado

art. 29, não se inclui o pagamento em pecúnia da licença-prêmio auferida

por funcionário público, até porque não constitui esse benefício provento ou

rendimento de trabalho executado pelo servidor.

Com efeito, o direito à licença-prêmio em pecúnia “tem natureza indenizatória.

E encontra fundamento em princípio jurídico do mais elevado plano, assim o que

veda o enriquecimento sem causa, estabelecido à custa do patrimônio ou do

trabalho de outrem” (RJTJESP, 94/132; RT, 580/90, 598/69 e 606/89).

“A licença-prêmio conversível integralmente em dinheiro é uma vantagem

pecuniária anômala, porque não se enquadra nem como adicional de tempo de

serviço, nem como adicional de função, nem como gratifi cação. Abandonada

a sua finalidade higiênica, passou ela a ser um prêmio, mas um prêmio

condicionado a certo tempo de serviço efetivo, e a determinadas condições de

exercício do cargo — assiduidade e disciplina — pelo funcionário pretendente

à sua obtenção. Transcorrido o tempo e satisfeitas as condições de trabalho

exigidas pela lei, erige-se a licença-prêmio em direito subjetivo do servidor

à percepção do montante equivalente aos vencimentos correspondentes ao

período em que poderia fi car afastado do cargo” (Hely Lopes Meirelles, “Direito

Administrativo Brasileiro”, 12ª edição, p. 413).

“Possibilitada, eventualmente, a conversão da licença-prêmio em pecúnia,

desde que não representa vantagem permanente, mas simples vantagem

Page 55: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 41-58, julho 2010 55

anômala, que não se enquadra no adicional por tempo de serviço, nem pode ser

considerada como vencimento ou remuneração, não se colaciona a mesma na

base de cálculo dos vencimentos” (Yussef Said Cahali, “Dos Alimentos”, p. 489).

Destarte, como “prêmio de assiduidade” (Estatuto dos Funcionários Públicos

Civis do Estado, art. 209) ou como indenização, é óbvio que a licença-prêmio

em pecúnia não participa do conceito de provento ou rendimento assalariado

contemplado na lei, de sorte que o recebimento pelo funcionário da verba

respectiva, sem a característica de “acréscimo patrimonial” (Lei n. 5.172, de

25.10.1966, art. 43, II; Lei n. 7.713, de 22.12.1988, art. 3º, § 1º), não constitui fato

gerador de imposto de renda.

Foi o que elucidou parecer da lavra do Professor Geraldo Ataliba, ao mostrar

que “por ser a indenização mera reposição do valor de um bem, no patrimônio de

uma pessoa (física ou jurídica), não gera acréscimo patrimonial, representativo de

riqueza nova” (fl . 112).

No mesmo sentido tem sido o pronunciamento da colenda Oitava Câmara

Civil (Mandado de Segurança n. 143.348-1) e desta Sexta Câmara Civil (Apelação

Cível n. 145.814-1).

Quanto à contribuição previdenciária, igualmente não deve ser descontada do

valor pago a título de licença-prêmio. É que a contribuição em tela recai “sobre a

retribuição-base percebida mensalmente” (Lei Complementar n. 180/1978, art.

137). Ora, na espécie, embora a licença-prêmio conversível em dinheiro constitua

vantagem pecuniária, é evidente que não se integra na retribuição ordinária

e mensal recebida pelo servidor, dada exatamente a excepcionalidade desse

pagamento de caráter indenizatório.

As Primeira e Segunda Turmas, especializadas em Direito Público, vêm,

reiteradamente, repelindo a incidência do imposto de renda sobre o pagamento

de férias não gozadas por necessidade de serviço, em razão do seu caráter

indenizatório (REsps n. 32.770-6-SP; 34.988-0-SP; 35.770-6-SP; 36.088-9-

SP).

A mesma orientação tem aplicação no tocante ao pagamento de licença-

prêmio não gozada por necessidade de serviço. Com efeito, como bem

assinalado no acórdão recorrido, o valor recebido pelo servidor, em tal caso,

apresenta caráter indenizatório, pois visa à recomposição do seu patrimônio, não

signifi cando, pois, acréscimo patrimonial.

Isto posto, não conheço do recurso.

Page 56: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

56

RECURSO ESPECIAL N. 39.872-SP

Relator: Ministro Hélio Mosimann

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Advogados: Margherita Mascarenhas da Silva Duarte e outros

Recorrido: Sebastião Sérgio da Silveira

Advogados: José Sidnei Rosada e outro

EMENTA

Recurso especial. Licença-prêmio não gozada por necessidade

do serviço. Pagamento de natureza indenizatória. Não-incidência do

Imposto de Renda.

O pagamento da licença-prêmio, como das férias, não gozadas

por necessidade do serviço, pela sua natureza indenizatória, não está

sujeito à incidência do imposto de renda.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso, nos termos

do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros

Peçanha Martins e José de Jesus. Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros

Américo Luz e Antônio de Pádua Ribeiro.

Brasília (DF), 1º de junho de 1994 (data do julgamento).

Ministro Hélio Mosimann, Presidente e Relator

DJ 20.06.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hélio Mosimann: Trata-se de recurso especial interposto

pela Fazenda do Estado de São Paulo, fundado no art. 105, inciso III, alínea a, da

Constituição Federal, contra acórdão da Sétima Câmara Civil do Tribunal de

Page 57: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 41-58, julho 2010 57

Justiça do Estado que, confi rmando sentença de 1º grau, concedeu segurança

impetrada por Promotor de Justiça, assegurando-lhe o direito à percepção

de indenização por licença-prêmio não gozada, sem o desconto, na fonte, do

imposto sobre a renda.

Sustenta a recorrente, em síntese, que o v. acórdão recorrido contrariou

o disposto nos arts. 150 e 153 da Constituição Federal; 43, I e II, do Código

Tributário Nacional; e 3º e 6º da Lei n. 7.713/1988.

Contra-razões oferecidas às fl s. 293-302.

Foi interposto, simultaneamente, recurso extraordinário, às fl s. 268-273.

Pelo despacho de fls. 315-319, foi negado seguimento ao recurso

extraordinário e deferido o processamento do recurso especial.

A douta Subprocuradoria Geral da República, às fl s. 324-327, manifestou-

se pelo não-conhecimento do recurso, pelo óbice das Súmulas n. 282 e 356 do

Supremo Tribunal Federal.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hélio Mosimann (Relator): Sr. Presidente, conforme

destacado no relatório, a recorrente deu por violados, inicialmente, dispositivos

de índole constitucional — arts. 150 e 153.

Nada a estranhar, não fosse o recurso especial mera cópia do recurso

extraordinário.

De qualquer sorte, ainda que subsistente a irresignação no que se refere aos

demais dispositivos, de natureza infraconstitucional,

... é indiscutível que o v. acórdão recorrido não estabeleceu, como pretende a

recorrente, qualquer distinção em razão da natureza dos rendimentos, de forma

a contrariar os dispositivos legais invocados. Deu-lhe, ao contrário, interpretação

coerente com o texto constitucional, aplicando o conceito de renda tributável,

resultante da própria lei e da doutrina.

Portanto, ao entender que a percepção — indenização de licença-prêmio

— não constitui renda e, portanto, não está sujeita à incidência do imposto de

renda, o v. acórdão não contrariou dispositivos infraconstitucionais, dando-lhes

apenas interpretação compatível com o conceito doutrinário de renda (Parecer

do Ministério Público Estadual, fl . 312).

Page 58: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

58

Sobre o tema, destaco o magistério de Roque Antônio Carraza, “Novas

Considerações sobre a Intributabilidade, por via de Imposto Sobre a Renda”,

das Férias e Licenças-Prêmio recebidas em pecúnia, verbis:

A quantia recebida pelo servidor público, a título de ressarcimento, pelas férias

e licenças-prêmio vencidas e não gozadas, por absoluta necessidade de serviço,

é simples indenização. É medida reparatória que recompõe seu patrimônio, mas

que absolutamente não lhe cria, sob o aspecto jurídico, riquezas novas, é dizer,

rendimentos ou ganhos de capital (proventos).

Temos por indisputável, pois, que o pagamento, em dinheiro, das férias e

licenças-prêmio não gozadas, por necessidade de serviço, tem caráter

indenizatório. E — repisamos — indenizações não podem ser objeto de

tributação, por via de IR.

Cuidando da aplicação de idêntico princípio, embora se tratasse de

indenização por férias não gozadas, disse o eminente Ministro Pádua Ribeiro

que o pagamento, em pecúnia, “por sua natureza indenizatória, não está sujeito

a imposto de renda”. E negou provimento a agravo, “porquanto o aresto atacado

acha-se em harmonia com os precedentes desta Corte sobre a matéria” (REsp

n. 27.487-8-SP, 30.978-9-SP e 34.988-0-SP — Agravo de Instrumento n.

46.146-7-SP, DJ 24.02.1994). No mesmo sentido: REsp n. 40.249-2-SP,

Ministro José de Jesus, DJ 21.03.1994.

Não conheço, pois, do recurso.

É como voto.

Page 59: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

Súmula n. 137

Page 60: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 61: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULA N. 137

Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar ação de servidor

público municipal, pleiteando direitos relativos ao vínculo estatutário.

Referências:

CF/1988, art. 114.

CLT, art. 803.

Precedentes:

CC 2.068-RJ (1ª S, 20.08.1991 — DJ 09.09.1991)

CC 2.415-MS (1ª S, 25.02.1992 — DJ 06.04.1992)

CC 2.422-MG (1ª S, 10.03.1992 — DJ 30.03.1992)

CC 3.161-MG (1ª S, 27.04.1993 — DJ 24.05.1993)

CC 3.387-MG (3ª S, 04.03.1993 — DJ 22.03.1993)

CC 3.614-MG (3ª S, 05.11.1992 — DJ 23.11.1992)

CC 3.749-RJ (3ª S, 04.03.1993 — DJ 22.03.1993)

CC 3.826-MG (3ª S, 1º.12.1994 — DJ 20.02.1995)

CC 6.390-AL (3ª S, 16.12.1993 — DJ 13.06.1994)

CC 6.391-AL (3ª S, 04.08.1994 — DJ 29.08.1994)

CC 8.203-PE (3ª S, 18.08.1994 — DJ 26.09.1994)

Corte Especial, em 11.05.1995

DJ 22.05.1995, p. 14.446

Page 62: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 63: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 2.068-RJ (91.93114)

Relator: Ministro Hélio Mosimann

Autora: Marilza Cabral da Silva

Ré: Prefeitura Municipal de Teresópolis

Suscitante: Junta de Conciliação e Julgamento de Teresópolis-RJ

Suscitado: Juízo de Direito da 2ª Vara Cível de Teresópolis-RJ

Advogados: Katia Oliveira Brites, Carlos Eugenio C. de Albuquerque e

outros

EMENTA

Conflito negativo de competência. Mandado de segurança.

Funcionário público municipal contra ato do Prefeito. Competência

da Justiça Estadual.

É da competência da Justiça Comum Estadual o julgamento de

mandado de segurança impetrado por servidor municipal, sob regime

estatutário, contra ato do Prefeito.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, julgar

procedente o confl ito e declarar competente o Juízo de Direito da 2ª Vara Civil

de Teresópolis-RJ, suscitado, na forma do relatório e notas taquigráfi cas retro,

que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Custas como de lei.

Brasília (DF), 20 de agosto de 1991 (data do julgamento).

Ministro Pedro Acioli, Presidente

Ministro Hélio Mosimann, Relator

DJ 09.09.1991

Page 64: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

64

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hélio Mosimann: Cuida a hipótese de confl ito negativo

de competência entre a Junta de Conciliação e Julgamento de Teresópolis, Rio

de Janeiro, e o Juízo de Direito da 2ª Vara Cível da mesma localidade, em face

de mandado de segurança impetrado por Marilza Cabral da Silva, funcionária

pública municipal, contra ato do Prefeito local.

Fulcrado no art. 114 da Constituição Federal de 1988 e entendendo-

se absolutamente incompetente para a apreciação do feito, ordenou o Juízo

Estadual fossem os autos remetidos à Justiça Trabalhista.

Por seu turno, a JCJ de Teresópolis, com fundamento nos arts. 803 e

seguintes da CLT, suscitou o presente confl ito.

Parecer da Subprocuradoria Geral da República, à fl . 50, opinando pela

competência da Justiça Comum.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hélio Mosimann (Relator): Pelo que se depreende

do relatório, e pelo que mostram os autos, trata-se de confl ito negativo de

competência suscitado pela Junta de Conciliação e Julgamento de Teresópolis,

Rio de Janeiro, em face de mandado de segurança impetrado por funcionária

pública municipal, contra ato do Prefeito, perante o Juízo de Direito da 2ª Vara

Cível de Teresópolis, o qual se deu por incompetente para o julgamento do feito.

Como se vê, em conseqüência, toda a discussão gira em torno de tese sobre

de quem seria a competência para julgar o mandado de segurança.

Estabelecendo-se a competência em razão da autoridade apontada como

coatora que, in casu, é o Prefeito Municipal, a jurisprudência é fi rme no sentido

de que compete à Justiça Estadual apreciar e julgar os litígios entre servidores e

Município, sob o regime estatutário:

Constitucional. Processual Civil. Confl ito negativo de competência.

É da Justiça Comum Estadual a competência para apreciar e julgar os litígios

entre servidores e Câmara Municipal sob regime estatutário.

Confl ito julgado procedente (CC n. 394-PE, Relator Ministro Garcia Vieira).

Page 65: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 59-89, julho 2010 65

Assim sendo, entendo competente o Juízo de Direito da 2ª Vara Cível de

Teresópolis, o suscitado, como, aliás, se manifestou o Ministério Público Federal.

É o voto.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 2.415-MS (91.0020476-5)

Relator: Ministro Garcia Vieira

Autor: Sindate — Sindicato dos Agentes Tributários Estaduais do Estado

do Mato Grosso do Sul

Réu: Estado do Mato Grosso do Sul

Suscitante: Juízo de Direito da 1ª Vara Cível de Campo Grande-MS

Suscitado: Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região

Advogados: João José de Souza Leite e Maria Sueni de Oliveira

EMENTA

Competência. Servidor estatutário.

A relação entre o servidor estatutário e a União, Estado ou

Município não é relação de emprego entre trabalhador e empregador.

As questões envolvendo o servidor estatutário sempre foram da

competência da Justiça Federal ou da Justiça Comum Estadual e esta

competência não foi alterada pelo atual ordenamento constitucional.

Confl ito conhecido para declarar competente o Juízo de Direito

da 1ª Vara Cível de Campo Grande-MS, o suscitante.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da

Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos

e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e

declarar competente o Juízo de Direito da 1ª Vara Cível de Campo Grande-

Page 66: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

66

MS, suscitante, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o

Relator os Ministros Hélio Mosimann, Peçanha Martins, Demócrito Reinaldo,

Gomes de Barros, Pádua Ribeiro e José de Jesus.

Brasília (DF), 25 de fevereiro de 1992 (data do julgamento).

Ministro Américo Luz, Presidente

Ministro Garcia Vieira, Relator

DJ 06.04.1992

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Garcia Vieira: Trata-se de confl ito de competência entre

o MM. Juiz de Direito da 1ª Vara Cível de Campo Grande-MS e o egrégio

Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região para apreciar e julgar o dissídio

coletivo instaurado pelo Sindicato dos Agentes Tributários Estaduais do Estado

do Mato Grosso do Sul, postulando reajuste do IPC de março mais variação do

BTN fi scal, ou reajuste isonômico no percentual de 41,73.

Entendeu o C. TRT da 10ª Região ao acolher a exceção de incompetência

oposta pelo réu que:

à Justiça do Trabalho descabe apreciar ações ajuizadas por funcionários

públicos estatutários contra o Estado, sendo-lhe competente apreciar apenas

questões decorrentes das relações celetistas dos empregados da União, Estados e

Municípios, no que encaminhou os autos ao Tribunal de Justiça.

Encaminhados os autos ao Tribunal de Justiça do Estado, o eminente

Relator assim se pronunciou:

O art. 114, II, da Constituição Estadual não elenca entre as causas de

competência originária deste Tribunal, aquelas em que o Estado de MS seja parte;

essa competência determinada pela Lei de Organização e Divisão Judiciária é da

Vara privativa da Fazenda Pública da capital, ressaltando-se que nessas causas há

a obrigatoriedade do duplo grau de jurisdição estabelecida no art. 475, II, do CPC.

(Fl. 139)

O MM. Juiz de Direito da 1ª Vara Cível de Campo Grande, por sua vez,

invocando o art. 240 da Lei n. 8.112/1990, suscitou o presente confl ito (fl . 135).

A douta Subprocuradoria Geral da República opinou pela competência do

Page 67: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 59-89, julho 2010 67

Juiz de Direito suscitante, considerando que o regime a que se submeteram os

agentes tributários do Estado do Mato Grosso do Sul é do estatutário, não se

incluindo, portanto, na competência da Justiça do Trabalho (fl s. 138-140).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Garcia Vieira (Relator): Sr. Presidente, trata-se de dissídio

coletivo ajuizado por sindicato, visando reajustamento de vencimentos de

servidores estatutários estaduais, não sujeitos ao regime jurídico da Lei Federal

n. 8.112/1990. Ora, nos termos do art. 114, caput, da vigente Constituição:

Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e

coletivos entre trabalhadores e empregadores abrangindos os entes de direito

público externo e da Administração Pública direta e indireta dos Municípios, do

Distrito Federal, dos Estados e da União, e, na forma da lei, outras controvérsias

decorrentes da relação de trabalho, bem como, os litígios que tenham origem no

cumprimento de suas próprias sentenças, inclusive, coletivas (nossos grifos).

Como se vê, a atual Constituição Federal ampliou a competência da

Justiça do Trabalho porque esta agora além de poder julgar as ações trabalhistas

movidas contra os “entes de direito público externo e da Administração Pública

direta e indireta dos Municípios, do Distrito Federal, dos Estados e da União”,

também concilia e julga “os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores

e empregadores...” e, na forma da lei, “... outras controvérsias decorrentes

da relação de trabalho...”. Se é certo que a expressão “trabalhadores” é mais

ampla do que “empregados”, não abrange ela todo trabalhador e sim, apenas o

trabalhador subordinado. Como a expressão “trabalhadores” vem atrelada à de

“empregadores”, no art. 114, e empregador é quem emprega, admite, assalaria o

empregado, mediante contrato, não abrange o estatutário.

A própria Constituição, em seu art. 7º, usa a palavra trabalhador signifi cando

apenas o servidor regido pela CLT, conferindo-lhes direitos não atribuídos ao

estatutário, tais como relação de emprego protegida contra despedida arbitrária

ou sem justa causa, seguro-desemprego, fundo de garantia, salário mínimo

unifi cado, piso salarial, participação nos lucros, igualdade de direitos entre o

trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso, etc.

É o próprio legislador constituinte usando a palavra “trabalhador”, signifi cando

aquele que presta serviço subordinado e regido pela Consolidação das Leis do

Page 68: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

68

Trabalho. Celso Ribeiro Bastos, nos seus “Comentários à Constituição do Brasil”,

2º vol., ed. 1989, ensina que: “trabalhador é o empregado. É dizer, aquele que

vende o seu trabalho a outrem, sob uma condição de subordinação” (p. 404).

Amauri Mascaro Nascimento, no seu “Curso de Direito Processual do

Trabalho”, 10ª ed., 1989, já comentando a vigente Constituição Federal, acentua

que:

Os dissídios individuais da competência material da jurisdição trabalhista são

aqueles surgidos entre empregadores e empregados e não aqueles que decorrem

de qualquer relação de trabalho.

“Relação de trabalho é um gênero, do qual a relação de emprego ou

contrato de trabalho é uma das modalidades...” (p. 75). A relação entre o

estatutário e o Estado ou Município não é relação de emprego entre trabalhador

e empregador. Nela não existe o trabalhador subordinado, o empregador,

o contrato de trabalho. As questões conciliadas e julgadas pela Justiça do

Trabalho pressupõem a existência do trabalhador subordinado, o empregador e

o contrato, conceitos inexistentes na relação estatutária. As questões envolvendo

o servidor estatutário estadual da competência da Justiça Comum Estadual

e esta competência não foi alterada pelo atual ordenamento constitucional.

Continua com a Justiça do Trabalho a competência para conciliar e julgar as

reclamações trabalhistas movidas pelo pessoal celetista e não as ações movidas

pelos estatutários.

Assim, continuam com a Justiça Comum Estadual as questões decorrentes

das relações dos servidores estatutários estaduais. Neste sentido já temos vários

precedentes desta egrégia Seção, inclusive no Confl ito de Competência n.

2.202-SP, julgado no dia 11.10.1991, do qual fui Relator.

Conheço do confl ito e declaro competente o Juízo de Direito da 1ª Vara

Cível de Campo Grande-MS, o suscitante.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 2.422-MG (91.0021081-1)

Relator: Ministro Antônio de Pádua Ribeiro

Autora: Edna Cabrini Mendes Machado

Page 69: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 59-89, julho 2010 69

Advogado: Euclides Sousa Neto

Ré: Prefeitura Municipal de Santa Bárbara do Tugurio

Advogado: Geraldo Assunção A. de Oliveira

Suscitante: Juízo de Direito da 3ª Vara Cível de Barbacena-MG

Suscitada: Junta de Conciliação e Julgamento de Barbacena-MG

EMENTA

Competência. Ação intentada por servidor municipal. Vínculo

estatutário. Estabilidade.

I - Se, na ação, se alvitra a reintegração da servidora, ao

fundamento de achar-se regida por vínculo estatutário, compete à

Justiça Estadual julgar a causa.

II - Confl ito de que se conhece, a fi m de declarar-se a competência

da Justiça Estadual.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima

indicadas, decide a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na

conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade,

conhecer do confl ito e declarar competente o Juízo de Direito da 3ª Vara Cível

de Barbacena-MG, suscitante. Votaram com o Relator os Srs. Ministros José

de Jesus, Hélio Mosimann, Peçanha Martins, Demócrito Reinaldo e Gomes de

Barros. Ausente, o Sr. Ministro Garcia Vieira.

Brasília (DF), 10 de março de 1992 (data do julgamento).

Ministro Américo Luz, Presidente

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Relator

DJ 30.03.1992

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: O Juiz de Direito da 3ª Vara

Cível de Barbacena-MG, suscitou o presente confl ito de competência, aduzindo

(fl s. 2-3):

Page 70: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

70

No manejo dos autos observo que a decisão de fl . 33 é interlocutória, tanto

que há decisão entendendo que é agravável (RJTJESP 48/198, JTA 107/386, RT

505/83, RJTJESP 49/189. Assim sendo, tenho que posso revê-la, para o fi m de

suscitar o confl ito de competência.

Diga-se que o confl ito é negativo, pois que a Junta de Conciliação e Julgamento

entende que a competência é da Justiça Comum, ao passo que entendo que a

competência é da Justiça do Trabalho.

Estou que a norma do art. 114 da Constituição Federal é genérica e abrangente,

o legislador constitucional não fez qualquer distinção, elencando no artigo supra-

referenciado toda e qualquer relação de trabalho, verbis:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios

individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores abrangidos

os entes de direito público externo e da Administração Pública direta e

indireta dos Municípios, do Distrito Federal, dos Estados e da União, e, na

forma da lei, outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, bem

como os litígios que tenham origem no cumprimento de suas próprias

sentenças, inclusive coletivas. (Realcei)

Induvidoso que relação de trabalho existiu entre a autora e a ré, é a própria

Justiça do Trabalho que reconhece na decisão de fl s. 29-31 tal circunstância.

Doutro lado, venia maxima concessa não existe efetivamente no processo

prova de que a autora não seja servidora pública.

Ainda de se dizer que o consagrado Hely Lopes Meirelles em sua obra in

“Direito Administrativo Brasileiro”, ed. 15ª, assim aduz sobre o tema — fl . 388:

Competência da Justiça do Trabalho — De acordo com a atual

Constituição, “compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios

individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores, abrangidos os

entes de Direito Público externo e da Administração Pública direta e indireta

dos Municípios, do Distrito Federal, dos Estados e da União, e, na forma da

lei, outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, bem como os

litígios que tenham origem no cumprimento de suas próprias sentenças,

inclusive coletivas” (art. 114, caput). Como se infere desse dispositivo, toda e

qualquer reivindicação de servidor público — federal, estadual ou municipal

— há que ser decidida pela Justiça do Trabalho, sem qualquer privilégio de

Juízo, instância ou Tribunal. (Realcei)

É o escólio de Eduardo Gabriel Saad sobre o tema in “CLT Comentada”, 24ª

edição, 1991, diz à fl . 616.

Conforme a natureza do caso a Justiça Laboral ora aplica a CLT, ora o

Estatuto do Servidor Público (Realcei).

Page 71: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 59-89, julho 2010 71

Iniludivelmente, é a corroboração do entendimento que a competência é da

Justiça do Trabalho.

Com estes argumentos hei por bem suscitar o presente confl ito negativo de

competência para o Superior Tribunal de Justiça, e o faço com espeque no art.

105, I, d, da Constituição Federal.

Assim determino que forme o confl ito com os documentos de fl s. 2-3, fl s. 17-

21, fl s. 29-31, fl . 33, fl . 57, fl s. 59-60.

Após, dê-se vista ao Ministério Público. (Art. 116, parágrafo único, do CPC).

Ofi ciando nos autos, manifestou-se a douta SGR pela competência da

Justiça Estadual (fl . 24).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): A petição inicial

não é muito clara. Todavia, verifi ca-se, da sua leitura, que o objetivo da autora

é, na realidade, o de ser “imediatamente reintegrada ao quadro de funcionários

efetivos” da ré, invocando, nesse sentido, o art. 19 do ADCT (0.5).

De outra parte, aduz a contestação (fl . 7):

Todavia, a argumentação usada pela autora, não traduz a realidade dos fatos,

não podendo ser acatada a sua pretensão, tendo em vista o seguinte:

A autora não foi admitida nos quadros da Prefeitura suplicada, na qualidade de

servidora pública, pois, para isto teria que passar pelo concurso público de provas

e títulos, condições estas indispensáveis à admissão no serviço público. Não foi

a autora admitida anterior a junho/1962, quando então poderia ser considerada

estatutária (servidora pública), isto por força da Emenda Constitucional de 1967.

A autora não preenche nenhum dos requisitos acima, portanto, não poderá ser

considerada servidora pública estatutária.

E mais adiante (fl . 8):

Ora, a autora jamais foi estatutária, tendo sim, como exaustivamente

mencionado ocupado por todo este tempo o cargo em comissão, não tendo,

portanto, a alegada estabilidade, conseqüentemente, o seu pedido de

reintegração deverá ser rejeitado.

Page 72: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

72

Conforme se depreende, a controvérsia consiste, no caso, em saber se a

servidora vincula-se, ou não, estatutariamente ao Município, por ser efetiva e

estável, segundo alega, hipótese que estaria a amparar a sua reintegração no

pretenso cargo.

Fixados pelas partes os limites da lide nos termos assinalados, afi gura-se-

me que a competência, no caso, para apreciar o feito é da Justiça Estadual, como,

aliás, preconizam os pareceres do Ministério Público local (fl s. 19-20) e federal

(fl . 24).

Isto posto, conheço do confl ito e declaro competente a Justiça Estadual,

isto é, o MM. Juízo de Direito da 3ª Vara Cível de Barbacena-MG.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 3.161-MG

Relator: Ministro Humberto Gomes de Barros

Autor: Geraldo Luciano de Carvalho

Réu: Município de Matozinhos

Suscitante: 1ª Junta de Conciliação e Julgamento de Sete Lagoas-MG

Suscitado: Juízo de Direito de Matozinhos-MG

Advogados: Jader Rodrigues Guimarães e outro e Cláudio César da Silva

EMENTA

Confl ito de competência. Vínculo funcional com Município.

Justiça Estadual. Justiça do Trabalho.

A Justiça Estadual é competente para conhecer de confl itos,

oriundos de relação estatutária, entre funcionário público e Município.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira

Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar

Page 73: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 59-89, julho 2010 73

competente o Juízo de Direito de Matozinhos-MG, suscitado. Votaram com

o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros Milton Pereira, Cesar Rocha, Pádua

Ribeiro, José de Jesus, Garcia Vieira, Hélio Mosimann, Peçanha Martins e

Demócrito Reinaldo.

Brasília (DF), 27 de abril de 1993 (data do julgamento).

Ministro Américo Luz, Presidente

Ministro Humberto Gomes de Barros, Relator

DJ 24.05.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros: Geraldo Luciano de

Carvalho, funcionário público, intentou ação ordinária contra o Município

de Matozinhos, pretende ver reconhecidos direitos inerentes a seu vínculo

funcional com o Município demandado.

O Juiz de Direito de Matozinhos declarou-se incompetente, remetendo os

autos à Justiça do Trabalho.

A 1ª Junta de Conciliação e Julgamento de Sete Lagoas suscitou confl ito

negativo de competência.

O Ministério Público Federal, em parecer do e. Subprocurador-Geral José

Arnaldo da Fonseca, aponta como competente, o Juízo estadual (fl . 117).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros (Relator): Como registra o

Dr. José Arnaldo:

É evidente que a controvérsia não decorre de vínculo prepositivo sujeito às

regras trabalhistas.

O vínculo entre o autor e a prefeitura municipal é estatutário, consoante está

comprovado nos autos.

Simpliciter, emerge que a competência é do juiz estadual eis que a relação

entre o funcionário público e o Município obedece a normas estatutárias e à

legislação análoga, contidas em decretos e outros atos do Prefeito (fl . 117).

Page 74: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

74

Sem dúvida, está correta a indicação do MP.

Conheço do confl ito, para declarar competente o Juízo de Direito da

Comarca de Matozinhos-MG.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 3.387-MG (92.0019673-0)

Relator: Ministro Anselmo Santiago

Autor: Antonio Ribeiro Sobrinho

Réu: Município de Araçuaí-MG

Suscitante: Junta de Conciliação e Julgamento de Teófi lo Otoni-MG

Suscitado: Juízo de Direito da 2ª Vara de Araçuaí-MG

Advogado: Nerval Barbosa Cardoso

EMENTA

Conflito de competência. Servidor municipal submetido à

legislação estatutária.

Compete à Justiça Comum estadual processar e julgar ação

de cobrança de diferenças salariais proposta por servidor municipal

submetido à égide do regime estatutário.

Conflito conhecido e julgado procedente para declarar a

competência do Juízo de Direito, suscitado.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira

Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar

competente o suscitado, Juízo de Direito da 2ª Vara de Araçuaí-MG. Votaram

com o Relator os Srs. Ministros José Dantas, Flaquer Scartezzini, Costa Lima,

Assis Toledo, Edson Vidigal e Adhemar Maciel. Ausente, ocasionalmente, o Sr.

Ministro Vicente Cernicchiaro. Licenciado o Sr. Ministro Pedro Acioli.

Page 75: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 59-89, julho 2010 75

Brasília (DF), 04 de março de 1993 (data do julgamento).

Ministro José Cândido, Presidente

Ministro Anselmo Santiago, Relator

DJ 29.03.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Anselmo Santiago: Antonio Ribeiro Sobrinho, qualifi cando-

se como funcionário público efetivo da Prefeitura Municipal de Araçuaí-MG,

ingressou com “ação de cobrança cumulada com modificação de valor de

vencimento” em desfavor daquele Município, fazendo-o a pretexto de requerer o

pagamento de diferença de vencimentos, horas extras e fi xação de vencimentos

segundo salário de convenção da classe de motorista, cargo que ali ocupa, em

comissão, desde 1º de março de 1983. Propôs a demanda perante o Juízo de

Direito de seu domicílio, que, inferindo tratar-se de pedido originado de relação

de emprego, declinou de sua competência em favor da Junta de Conciliação e

Julgamento da Justiça do Trabalho do Município de Teófi lo Otoni-MG.

O Juízo trabalhista, pronunciando-se pela inexistência de vínculo

empregatício, reconheceu sua incompetência para prosseguir no feito, porquanto

se tratava de servidor nomeado através de decreto para ocupar cargo de

provimento em comissão.

Confi gurado o confl ito, manifesta-se a douta representante do Parquet

federal pelo conhecimento do confl ito e conseqüente declaração da competência

em favor da Justiça Comum Estadual (suscitada).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Anselmo Santiago (Relator): A leitura da peça inaugural

torna induvidoso cuidar-se de ação cuja causa de pedir remota é relação fundada

em regime estatutário, sujeito, evidentemente, a normas de direito público,

especifi camente da seara administrativa. Essa característica tanto se realça pela

natureza do cargo, quanto pela forma de sua investidura, mediante decreto

expedido pela Municipalidade de Araçuaí. Se assim é, não se inclui a demanda

entre aquelas sob a jurisdição trabalhista, mas do Juízo Comum.

Page 76: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

76

Nesse sentido, precedente desta Corte ao qual me reporto, assim ementado:

Confl ito de competência. Estatutários da Prefeitura Municipal de Araçatuba.

A Justiça do Trabalho continua competente para julgar as questões decorrentes

das relações dos celetistas e não dos estatutários dos Estados e Municípios.

Confl ito procedente para declarar competente o Juízo de Direito da 1ª Vara

Cível de Araçatuba-SP, o suscitado. (Primeira Seção, CC n. 2.202-SP, Relator Ministro

Garcia Vieira, julg. 11.10.1991).

Com essas considerações, conheço do confl ito, para declarar a competência

do MM. Juízo de Direito da Comarca de Araçuaí-MG, suscitado.

É o meu voto.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 3.614-MG (92.0024837-3)

Relator: Ministro José Dantas

Autor: Luiz Pereira dos Santos

Réu: Município de Araçuaí

Suscitante: Junta de Conciliação e Julgamento de Teófi lo Otoni-MG

Suscitado: Juízo de Direito da 2ª Vara Cível de Araçuaí-MG

Advogados: João Bosco Cordeiro e outros e Nylson Barbosa Andrade

EMENTA

Processual. Servidor estatutário. Competência.

Vantagens funcionais. Competência da Justiça Comum Estadual

para a ação ordinária de que se trata.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira

Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar

Page 77: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 59-89, julho 2010 77

competente o suscitado, Juízo de Direito de Araçuaí-MG, nos termos do

Relator. Votaram de acordo os Srs. Ministros Pedro Acioli, Flaquer Scartezzini,

Costa Lima, Assis Toledo, Edson Vidigal e Vicente Cernicchiaro.

Brasília (DF), 05 de novembro de 1992 (data do julgamento).

Ministro José Cândido, Presidente

Ministro José Dantas, Relator

DJ 23.11.1992

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José Dantas: A compreensão da espécie ressalta do parecer

da Subprocuradora-Geral Delza Curvello, emitido nos seguintes termos:

Luiz Pereira dos Santos promoveu ação ordinária de cobrança junto a Vara

dos Feitos da Fazenda Municipal contra o Município de Araçuaí, alegando sua

condição de funcionário público aposentado, a fi m de se ressarcir de valores que

entende lhe são devidos pela Municipalidade, em virtude da relação laboral entre

ele (autor) e a Prefeitura municipal, existente.

2. Citado, o Município apresentou defesa, argüindo, em preliminar, a

incompetência da Justiça Comum.

Apreciando a preliminar, entendeu o MM. Juiz de Direito que lhe falecia

competência dizer sobre o pedido, visto não comprovada pelo Autor sua condição

de estatutário, encaminhando-se os autos à Junta de Conciliação e Julgamento

de Teófi lo Otoni.

3. Na Justiça Especializada entendeu o MM. Juiz-Presidente da Junta que:

Entende este Juízo, com a devida venia, que não tem competência para

apreciar a presente ação ordinária de cobrança. Efetivamente, a matéria

discutida nos autos não se refere a litígio entre empregado e empregador.

O autor se qualifi ca na petição inicial como funcionário público municipal,

afi rmando que se encontra aposentado desde 19.12.1990 pretendendo

o pagamento de diferenças de proventos de aposentadoria, apesar de

constar na petição inicial diferenças de salário, porquanto o pedido refere-se

exclusivamente a período posterior à aposentadoria, não se enquadrando a

espécie no disposto no art. 114 da Constituição Federal.

Não tendo existido vínculo empregatício entre as partes, sob a égide da

CLT e, versando a ação sobre diferenças de proventos de aposentadoria,

Page 78: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

78

falece competência a esta Justiça Especializada, em razão da matéria, para

conhecer da ação.

Assim, com esses fundamentos suscita o presente confl ito negativo.

5. Os documentos existentes nos autos são claros em apontar o regime

estatutário como aquele que rege as relações entre o autor da ação de cobrança

e o Município de Araçuaí. Luiz Pereira dos Santos foi aposentado por portaria do

Prefeito Municipal, recebe sua aposentadoria dos cofres públicos (e não do INSS).

Assim entende o Ministério Público Federal que o conflito negativo de

competência encontra-se instalado e deve ser dirimido em favor do Juízo de

Direito suscitado. — Fls. 31-33.

Relatei.

VOTO

O Sr. Ministro José Dantas (Relator): Sr. Presidente, conforme destacado

no parecer, o autor da ação de cobrança de que se trata é aposentado pelos cofres

municipais, e como tal é que cobra as vantagens do cargo que ocupou.

Daí a indiscutível competência da Justiça Estadual para a causa; pelo que,

conheço do confl ito e declaro competente o suscitado — Juízo de Direito da 2ª

Vara de Araçuaí-MG.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 3.749-RJ

Relator: Ministro Assis Toledo

Suscitante: Juízo de Direito da Vara Única de Santo Antônio de Pádua-RJ

Suscitada: Junta de Conciliação e Julgamento de Itaperuna-RJ

Autor: Sirley Gomes Henriques

Réu: Município de Santo Antônio de Pádua

Advogados: Ulisses da Gama e outro e Marco Aurélio Daher e outro

Page 79: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 59-89, julho 2010 79

EMENTA

Processual Civil. Competência. Servidor público municipal com

regime próprio.

Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar ação

proposta por servidor público municipal quando a relação de trabalho

é eminentemente estatutária.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira

Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar

competente o suscitante, Juízo de Direito da Vara Única de Santo Antônio de

Pádua-RJ, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram de acordo os

Ministros Edson Vidigal, Adhemar Maciel, Anselmo Santiago, José Dantas,

Flaquer Scartezzini e Costa Lima. Ausente, ocasionalmente, o Ministro Vicente

Cernicchiaro. Licenciado o Ministro Pedro Acioli.

Brasília (DF), 04 de março de 1993 (data do julgamento).

Ministro José Cândido, Presidente

Ministro Assis Toledo, Relator

DJ 29.03.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Assis Toledo: Sirley Gomes Henriques propôs reclamação

trabalhista contra o Município de Santo Antônio de Pádua-RJ, alegando ser

servidor público estatutário pertencente aos quadros do reclamado, ocupando

o cargo de Fiscal de Rendas. Por ter sido eleito e empossado no cargo de

Presidente do Sindicato dos Funcionários e Servidores Públicos, o prefeito,

de forma ilegal e arbitrária, o transferiu para outro distrito, difi cultando o

desempenho de suas atribuições sindicais e do seu cargo efetivo. Requer seja

declarado nulo o ato de transferência com a conseqüente reintegração no cargo

de Fiscal de Rendas junto ao Distrito-sede do Município, tendo em vista a

Page 80: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

80

estabilidade e irremovibilidade previstas nos arts. 543, c.c. o 468 e 469, todos da

Consolidação das Leis do Trabalho.

A Junta de Conciliação e Julgamento de Itaperuna declinou de sua

competência e remeteu os autos ao Juízo de Direito da Comarca de Santo

Antônio de Pádua, que deu-se igualmente por incompetente, suscitando o

presente confl ito.

A douta Subprocuradoria Geral da República opinou pela competência da

Justiça Comum Estadual (fl s. 163-164).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Assis Toledo (Relator): Conforme consta dos autos, o autor

é funcionário público municipal, regido por estatuto próprio (fl . 84). Não está,

portanto, sujeito às normas previstas na CLT, pois a relação de trabalho mantida

com a Prefeitura é eminentemente estatutária.

Em hipóteses semelhantes esta Corte tem decidido em prol da competência

da Justiça Comum (CC n. 638-SP, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 20.11.1989;

CC n. 1.632-CE, Rel. Min. Barros Monteiro, DJ 08.04.1991, e CC n. 3.298-1-

SC, Rel. Min. Assis Toledo, DJ 05.10.1992).

Diante do exposto, acolhendo o parecer, conheço do confl ito para declarar

competente o Juízo de Direito da Vara Única de Santo Antônio de Pádua-RJ,

suscitante.

É o voto.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 3.826-MG (92.0028563-5)

Relator: Ministro Pedro Acioli

Autora: Andrea Pires Ceccheti Vaz

Advogados: Cláudia de Figueiredo Barata e outro

Réu: Município de Felixlândia

Page 81: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 59-89, julho 2010 81

Advogados: Mário Cézar da Silva Campos e outro

Suscitante: Juízo de Direito da 1ª Vara Cível de Curvelo-MG

Suscitada: Junta de Conciliação e Julgamento de Curvelo-MG

EMENTA

Processual Civil. Confl ito negativo de competência. Estatutário

municipal.

I - Sendo de natureza estatutária o vínculo jurídico entre as

partes, falece competência à Justiça Trabalhista para manifestar-se

sobre a lide.

II - Confl ito conhecido e declarado competente o Juízo de

Direito da 1ª Vara Cível de Curvelo-MG, o suscitante.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da egrégia

Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos

e das notas taquigráfi cas constantes dos autos, por unanimidade, conhecer

do confl ito e declarar competente o suscitante, Juízo de Direito da 1ª Vara

Cível de Curvelo-MG, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram

com o Relator, os Srs. Ministros Assis Toledo, Edson Vidigal, Luiz Vicente

Cernicchiaro, Adhemar Maciel, Anselmo Santiago e José Dantas. Ausentes, por

motivo justifi cado, os Srs. Ministros Cid Flaquer Scartezzini e Vicente Leal.

Brasília (DF), 1º de dezembro de 1994 (data do julgamento).

Ministro Jesus Costa Lima, Presidente

Ministro Pedro Acioli, Relator

DJ 20.02.1995

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Pedro Acioli: Trata-se de confl ito negativo de competência

instaurado entre a Justiça Comum e a Justiça Laboral, tendente a estabelecer

Page 82: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

82

o Juízo competente para processar e julgar reclamação trabalhista movida por

servidor público.

O Ministério Público Federal opinou pela competência da Justiça Comum.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Pedro Acioli (Relator): Consta dos autos que mesmo antes

da instituição do regime jurídico único, o vínculo jurídico entre as partes era

de natureza estatutária, não-empregatícia, logo falece competência à Justiça

Trabalhista para manifestar-se sobre a lide.

Nesta direção tem trilhado este Tribunal, in verbis:

Constituição. Administrativo e Trabalho. Ação proposta por servidor contra o

Município. Competência.

1. Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e

coletivos entre trabalhadores e empregadores, abrangidos os entes de Direito

Público externo e da Administração Pública direta e indireta dos Municípios, do

Distrito Federal, dos Estados e da União, na forma da Lei (art. 114 da CF).

2. Tratando-se de servidor público, prevê a Constituição — art. 39, que fi cam

sujeitos a um regime jurídico único, o qual segundo opinião do legislador é o

estatutário (Lei n. 8.112, de 11.12.1990).

3. Registre-se que o Supremo Tribunal Federal, no último dia treze por maioria,

decidiu (ADIn n. 492-1), pela inconstitucionalidade das alíneas d e e do art. 240 da

Lei n. 8.112/1990. Em suma, que a Justiça Comum é a competente para processar

e julgar as causas de interesse dos servidores públicos submetidos ao regime

estatutário. (CC n. 3.382-PE, Relator Ministro Jesus Costa Lima, in DJ 07.12.1992)

Processual Civil. Confl ito negativo de competência. Reclamação trabalhista.

Estatutário municipal. Competência do Juiz de Direito e não da Junta de

Conciliação e Julgamento. Precedentes do STJ. (CC n. 3.378-PE, Relator Ministro

Adhemar Maciel, in DJ 22.03.1993)

Assim, pelo expendido, conheço do confl ito e declaro competente o Juízo

de Direito da 1ª Vara Cível de Curvelo-MG, o suscitante.

É como voto.

Page 83: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 59-89, julho 2010 83

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 6.390-AL (93.0028953-5)

Relator originário: Ministro Edson Vidigal

Relator designado: Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro

Suscitante: Juízo de Direito de Traipu-AL

Suscitada: Junta de Conciliação e Julgamento de Arapiraca-AL

Autora: Maria Rozilia Alves Barbosa

Réu: Município de Traipu

Advogados: Alves Protazio da Silva e Ediel Lima Dias

EMENTA

CC. Constitucional. Competência. Servidor público municipal.

Regime único. Causa de pedir. A causa de pedir defi ne a competência,

havendo modifi cação da relação jurídica de trabalhista para estatutária.

Se o autor (reclamante) postula direito relacionado com o status de

funcionário público (municipal), a competência para processar e julgar

é da Justiça Comum.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira

Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas constantes dos autos, por maioria, conhecer do confl ito e declarar

competente o suscitante, Juízo de Direito de Traipu-AL, nos termos do voto do

Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro. Votaram com o Sr. Ministro Luiz Vicente

Cernicchiaro os Srs. Ministros Adhemar Maciel, Anselmo Santiago, Pedro

Acioli e Assis Toledo. Vencidos os Srs. Ministros Relator e José Cândido de

Carvalho Filho. Ausentes, por motivo justifi cado, os Srs. Ministros Cid Flaquer

Scartezzini e José Dantas.

Brasília (DF), 16 de dezembro de 1993 (data do julgamento).

Ministro Jesus Costa Lima, Presidente

Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, Relator designado

DJ 13.06.1994

Page 84: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

84

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Edson Vidigal: Servidor público municipal, regido pela

Consolidação das Leis do Trabalho ajuizou reclamação trabalhista, visando ao

recebimento de verbas referentes a diferenças de salários, 13º salários, férias,

FGTS, aviso prévio, horas extras e demais, por ter sido demitido, alega, sem

justa causa.

O Juízo comum entendendo ser a lide nitidamente trabalhista, suscitou

este confl ito, apontando o Juízo Trabalhista como competente.

O parecer do Ministério Público Federal é pelo conhecimento do confl ito

e competência da Justiça Trabalhista.

Relatei.

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Edson Vidigal: Sr. Presidente, com razão o Juízo-suscitante.

As verbas reclamadas são da esfera da Consolidação das Leis do Trabalho.

Assim, em acordo com o Ministério Público Federal, conheço do confl ito

e declaro competente a Junta de Conciliação e Julgamento de Arapiraca-AL.

É o voto.

VOTO-VOGAL

O Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro (Relator): Sr. Presidente, estou

levando em consideração a afirmação do Município; aliás, este caso vem,

exatamente, confi rmar a minha perplexidade, manifestada logo que cheguei a

esta Seção, quanto ao conhecimento desses confl itos de competência. No meu

modo de ver, o juiz não deveria suscitá-lo, deveria, sim, julgar-se incompetente,

indeferir a petição e extinguir o processo. No fundo, estamos apreciando a

natureza jurídica da demanda, o que não deveria ocorrer.

Entretanto, há essa afi rmação, que pode ou não ser procedente, o que vai

ser aferido no momento do julgamento do mérito, data venia do Sr. Ministro-

Relator e de precedentes anteriores, dou como competente o juiz estadual,

considerada a afi rmação de ser uma relação estatutária.

Page 85: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 59-89, julho 2010 85

VOTO

O Sr. Ministro Adhemar Maciel: Sr. Presidente, peço vênia — até pode ser

que, meritoriamente, o Ministro Edson Vidigal tenha razão, pois, efetivamente,

o reclamante fala em aviso prévio, etc. — mas, como observaram os Ministros

Assis Toledo e Luiz Vicente Cernicchiaro, na contestação a Prefeitura fala:

O Reclamante...

tem regime estatutário e não é CLT.

Entretanto, o reclamante juntou um contracheque da Prefeitura, e observo

aqui que tem um campo para FGTS, o que nos traz uma certa dúvida.

Mas, como temos o precedente, acompanho o Ministro Luiz Vicente

Cernicchiaro, data venia do Sr. Ministro-Relator.

VOTO-VOGAL VENCIDO

O Sr. Ministro José Cândido de Carvalho Filho: Sr. Presidente, acompanho

o Sr. Ministro-Relator, data venia.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 6.391-AL (93.028956-0)

Relator: Ministro Adhemar Maciel

Autores: Miguel de Melo Lima e outro

Advogada: Inaldiene Protázio de Oliveira

Réu: Município de Traipu

Advogado: Ediel Lima Dias

Suscitante: Juízo de Direito de Traipu-AL

Suscitada: Junta de Conciliação e Julgamento de Arapiraca-AL

EMENTA

Processual Civil. Confl ito negativo de competência. Reclamação

trabalhista. Estatutários municipais. Competência do Juiz de Direito e

não da Junta de Conciliação e Julgamento. Precedentes do STJ.

Page 86: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

86

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer

do confl ito e declarar competente o suscitante, Juízo de Direito de Traipu-

AL, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator, na forma do relatório e notas

taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do

presente julgado. Votaram de acordo os Srs. Ministros Anselmo Santiago, José

Dantas, Assis Toledo, Edson Vidigal e Luiz Vicente Cernicchiaro. Ausentes,

por motivo justifi cado, os Srs. Ministros Cid Flaquer Scartezzini e Pedro Acioli.

Custas, como de lei.

Brasília (DF), 04 de agosto de 1994 (data do julgamento).

Ministro Jesus Costa Lima, Presidente

Ministro Adhemar Maciel, Relator

DJ 29.08.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Adhemar Maciel: Servidores públicos municipais ajuizaram

reclamação trabalhista em desfavor do Município de Traipu-AL, na Junta de

Conciliação e Julgamento de Arapiraca-AL.

Vindicam direitos trabalhistas: horas extras, aviso prévio, férias, adicionais,

etc.

2. O Município-reclamado levantou a preliminar de incompetência

absoluta da Justiça do Trabalho, uma vez que se trata de servidores estatutários.

3. Acolhida a exceção, os autos foram encaminhados ao Juízo de Direito de

Traipu-AL, que suscitou o presente confl ito negativo de competência.

4. O Ministério Público federal opinou pelo conhecimento do confl ito

para julgar competente o Juízo de Direito.

É o relatório.

Page 87: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 59-89, julho 2010 87

VOTO

O Sr. Ministro Adhemar Maciel (Relator): Trata-se, como se viu do

relatório, de confl ito negativo entre Juiz de Direito e Junta Trabalhista. Os

reclamantes são servidores estatutários municipais.

No CC n. 3.375-4-PE, assim ementei o aresto:

Processual Civil. Confl ito negativo de competência. Reclamação trabalhista.

Estatutário municipal. Competência do Juiz de Direito e não da Junta de

Conciliação e Julgamento. Precedentes do STJ.

Com estas breves considerações, declaro a competência do Juízo-suscitante

( Juiz de Direito de Traipu-AL).

É como voto.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 8.203-PE (94.0009432-9)

Relator: Ministro Jesus Costa Lima

Autor: Severino da Silva

Advogados: Maria do Carmo Medeiros de Freitas e outros

Réu: Município do Recife

Advogados: Sylvio Rangel Moreira e outros

Suscitante: Juízo de Direito da 2ª Vara da Fazenda Municipal de Recife-

PE

Suscitada: 6ª Junta de Conciliação e Julgamento de Recife-PE

EMENTA

Constitucional, Administrativo e Trabalho. Servidor municipal.

Natureza da pretensão. Competência.

Compete à Justiça Comum do Estado processar e julgar ação de

funcionário público municipal que diga respeito ao vínculo estatutário,

enquanto cabe à Justiça do Trabalho julgar reclamação alusiva a

direitos e vantagens da relação de emprego.

Page 88: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

88

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira

Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar

competente a suscitada, 6ª Junta de Conciliação e Julgamento de Recife-PE.

Votaram com o Relator os Ministros Edson Vidigal, Luiz Vicente Cernicchiaro,

Adhemar Maciel, Anselmo Santiago e Pedro Acioli. Ausentes, nesta assentada,

o Sr. Ministro José Dantas e, por motivo justifi cado, o Sr. Ministro Assis Toledo.

Brasília (DF), 18 de agosto de 1994 (data do julgamento).

Ministro Cid Flaquer Scartezzini, Presidente

Ministro Jesus Costa Lima, Relator

DJ 26.09.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Jesus Costa Lima: Conflito negativo de competência

estabelecido entre a 6ª Junta de Conciliação e Julgamento de Recife-PE e o

MM. Juízo Federal de Direito da 2ª Vara da Fazenda Municipal de Recife-PE,

dissentindo sobre qual a Justiça competente para processar e julgar reclamação

trabalhista proposta contra a Prefeitura Municipal de Recife-PE, onde o

reclamante pleiteia o pagamento de diferenças salariais desde 1984, quando

cortadas as suas horas extras, e consectários.

Consta dos autos que o reclamante passou para o Regime Jurídico Único

— estatutário — através da Lei n. 15.335/1990 (fl . 12).

Opina a Dra. Delza Curvello Rocha, ilustrada Subprocuradora-Geral

da República, pela competência da Justiça do Trabalho, eis que os benefícios

pleiteados referem-se a período em que o reclamante ainda era regido pela CLT

(fl . 38).

Relatei.

VOTO

O Sr. Ministro Jesus Costa Lima (Relator): A matéria constante do

confl ito não comporta mais discussão, eis que objeto da Súmula n. 97 deste

Superior Tribunal de Justiça, in verbis:

Page 89: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 59-89, julho 2010 89

Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar reclamação de servidor

público relativamente a vantagens trabalhistas anteriores à instituição do regime

jurídico único.

A pretensão é de natureza trabalhista, conforme exsurge dos autos,

porquanto trata de direitos alusivos ao regime de emprego.

A Municipalidade não nega que o reclamante esteve submetido ao regime

de trabalho previsto na Consolidação das Leis do Trabalho e que as parcelas

reivindicadas, se devidas, seriam daquele regime jurídico.

Desse modo, cabe à 6ª Junta de Conciliação e Julgamento de Recife-PE

apreciar a causa.

Page 90: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 91: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

Súmula n. 138

Page 92: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 93: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULA N. 138

O ISS incide na operação de arrendamento mercantil de coisas móveis.

Referências:

Lei Complementar n. 56/1987, item 79.

Lei n. 6.099/1974.

Decreto-Lei n. 406/1968, art. 8º.

Precedentes:

EREsp 341-SP (1ª S, 08.11.1994 — DJ 08.05.1995)

EREsp 836-SP (1ª S, 07.12.1993 — DJ 07.03.1994)

REsp 5.438-SP (1ª T, 04.02.1991 — DJ 18.03.1991)

REsp 14.716-SP (1ª T, 13.11.1991 — DJ 03.02.1992)

Primeira Seção, em 16.05.1995

DJ 19.05.1995, p. 14.053

Page 94: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 95: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 341-SP

(92.0009904-1)

Relator: Ministro Humberto Gomes de Barros

Embargante: Município de São Paulo

Embargada: Crefi leasing S/A Arrendamento Mercantil

Advogados: Lísia Barreira Moniz de Aragão e outro e Hamilton Dias de

Souza e outro

EMENTA

Tributário. Arrendamento mercantil. Natureza jurídica. Lei n.

6.099/1974. LC n. 56/1987. Incidência do ISS.

Contrato misto, em sua origem, o leasing tornou-se, entre nós,

um negócio típico, nominado e autônomo: a “locação mercantil”

defi nida e regida pela Lei n. 6.099/1974.

Não faz sentido, atualmente, a pesquisa em torno de qual contrato

prepondera na formação deste novo instituto.

A prática de “arrendamento mercantil”, antes de 1º de janeiro de

1987, não constituía fato gerador de ISS.

A partir daquela data — quando se tornou eficaz a Lei

Complementar n. 56/1987, o ISS passou a incidir sobre o arrendamento

mercantil.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira

Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por maioria, receber parcialmente os embargos, vencido

o Sr. Ministro Demócrito Reinaldo, que os recebia integralmente. Votaram

com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros Milton Luiz Pereira, Cesar Asfor

Rocha, José de Jesus (voto-vista), Antônio de Pádua Ribeiro, Hélio Mosimann e

Peçanha Martins. Ausente, ocasionalmente, nesta sessão, o Sr. Ministro Antônio

de Pádua Ribeiro. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Garcia Vieira.

Page 96: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

96

Brasília (DF), 08 de novembro de 1994 (data do julgamento).

Ministro Garcia Vieira, Presidente

Ministro Humberto Gomes de Barros, Relator

DJ 08.05.1995

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros: Crefileasing S/A —

Arrendamento Mercantil, ora embargada, propôs contra o Município de São

Paulo (ora embargante), ação em que pediu se declarasse

a inexistência de relação jurídica entre a suplicante e a suplicada que obrigue

a suplicante ao pagamento de ISS devido pela suposta prestação de serviços

decorrente de contratos de leasing objeto da presente ação... (Fl. 17)

A Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por maioria, proveu

recurso especial, em acórdão resumido assim:

Não se aplica ao arrendamento mercantil, contrato típico que é, distinto da

locação de bens móveis, o item 52 da lista de serviços anexa ao DL n. 406/1968

(fl . 545).

O Município de São Paulo, arrolando acórdãos em sentido contrário,

provenientes da Primeira Turma, opôs embargos de divergência, que admiti (fl .

547).

Os acórdãos invocados como paradigmas são:

a) Tributário. ISS. Leasing. Incidência do ISS. Lista de serviços, item 52. I - O

ISS incide na operação de arrendamento mercantil de coisas móveis (leasing).

Subsunção no item 52 da Lista de Serviços. II - Recurso especial conhecido e

provido. (Recurso Especial n. 61-SP, Rel. Min. Carlos M. Velloso, Segunda Turma, in

DJ 04.12.1989, p. 17.878).

b) ISS. Arrendamento mercantil. Incidência. A realidade do arrendamento, sua

repercussão econômica, a contraprestação pelo serviço prestado (seu conteúdo

fático), constitui o fato gerador do imposto de competência dos Municípios sobre

serviços de qualquer natureza (art. 8º do Decreto-Lei n. 406/1968). Demonstrada a

negativa de vigência ao Decreto-Lei n. 406/1968.

Page 97: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 97

Recurso conhecido e improvido. (Recurso Especial n. 249-SP, Primeira Turma,

Rel. Garcia Vieira, in DJ 16.04.1990, p. 2.864).

c) Tributário. ISS. Leasing. De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal

Federal, a prestação habitual de serviço de leasing por empresa, está sujeita à

categoria prevista no item 52 da Lista de Serviços. Recurso especial conhecido

com base na letra a do inciso III do art. 105 da Constituição Federal, e provido para

reformar a sentença. (Recurso Especial n. 673-SP, Primeira Turma, Rel. Armando

Rollemberg, in DJ 06.11.1989, p. 16.686).

d) Tributário. ISS. Leasing. I - O Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza

— ISS — tem incidência nas operações de arrendamento mercantil (leasing).

Precedentes.

II - Recurso provido. (Recurso Especial n. 804-SP, Primeira Turma, Rel. Pedro

Acioli, in DJ 14.05.1990, p. 4.152, Recte.: Municipalidade de São Paulo; Recda.:

Crefi leasing S/A).

e) Tributário. ISS. Leasing.

De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a prestação

habitual de serviço de leasing por empresa, está sujeita ao ISS, em correspondência

à categoria prevista no item 52 da Lista de Serviços. Recurso especial conhecido

com base na letra c do inciso III do art. 105 da Constituição Federal e provido.

(Recurso Especial n. 682-SP, Primeira Turma, Relator Armando Rollemberg; Recte.:

Prefeitura Municipal de São Paulo; Recda.: Crefileasing S/A, Arrendamento

Mercantil, DJ 06.11.1989).

f ) ISS. Arrendamento mercantil. Incidência. A realidade do arrendamento, sua

repercussão econômica, a contraprestação pelo serviço prestado (seu conteúdo

fático), constitui o fato gerador do imposto de competência dos Municípios

sobre serviços de qualquer natureza (art. 8º do DL n. 406/1968). Afastada a

negativa de vigência à Lei n. 6.099/1974 e a violação ao Decreto-Lei n. 406/1968.

Recurso especial não conhecido. (Recurso Especial n. 331-SP, Recte.: Bamércio S/A.

Arrendamento Mercantil; Recda.: PMSP, Primeira Turma, Rel. Garcia Vieira, in DJ

02.10.1989).

g) Tributário. ISS. Leasing. I - O ISS tem incidência nas operações de

arrendamento mercantil. Leasing — na forma dos precedentes deste Tribunal.

II - Recurso a que se nega provimento. (Rec. Esp. n. 836-SP, Recte.: Crefi leasing S/A,

Recda.: PMSP — Prefeitura Municipal de São Paulo, Primeira Turma, Rel. Pedro

Acioli, in DJ 19.11.1990).

h) Tributário. Leasing. Incidência do ISS. I - A jurisprudência desta Corte é

pacífi ca no sentido de que o ISS incide nas operações de arrendamento mercantil

Page 98: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

98

de coisas móveis ou leasing. II - Recurso conhecido e provido. (Rec. Esp. n. 2.732-

SP, Recte.: PMSP; Recda.: Crefi leasing S/A, Primeira Turma, Rel. Geraldo Sobral, in

DJ 03.12.1990).

Ouvida a Embargada (fl . 565), trago o processo a julgamento.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros (Relator): Em assentada

recente, a Primeira Turma em julgamento onde funcionei como Relator, decidiu:

Tributário. Arrendamento mercantil. Natureza jurídica. Lei n. 6.099/1974. LC n.

56/1987. Incidência do ISS.

Contrato misto, em sua origem, o leasing tornou-se, entre nós, um negócio

típico, nominado e autônomo: a “locação mercantil” defi nida e regida pela Lei n.

6.099/1974.

Não faz sentido, atualmente, a pesquisa em torno de qual contrato prepondera

na formação deste novo instituto.

A prática de “arrendamento mercantil”, antes de 1º de janeiro de 1987, não

constituía fato gerador de ISS.

A partir daquela data — quando se tornou eficaz a Lei Complementar n.

56/1987, o ISS passou a incidir sobre o arrendamento mercantil. (REsp n. 7.234-0-

SP)

Peço vênia para reportar-me ao voto que proferi naquela oportunidade:

Minhas refl exões em torno do problema tiveram origem na observação de

que os contratos, no universo dos negócios jurídicos, guardam um denominador

comum: a circunstância de constituírem acordos de vontade, com o propósito de

satisfazerem interesses individuais de seus fi gurantes.

De início, todos os contratos ajustavam-se no modelo único da troca: trocavam-

se alimentos por materiais de vestuários; se permutava material por trabalho.

Com o desenvolvimento das relações de troca, a economia ganhou

complexidade.

Surgiu a moeda, como referencial abstrato para as operações de escambo.

Com ela nasceu a compra e venda (que, em última análise é uma troca, entre

bens e moeda, que também é bem de vida).

Page 99: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 99

Este modelo especial de permuta terminou por ganhar autonomia em relação

a seu ancestral.

Hoje, poucos lembram de que a troca, e a compra e venda constituem espécies

de uma mesma operação: a permuta de bens.

No Direito brasileiro recente ocorreu notável fenômeno de especialização:

as relações entre patrões e trabalhadores, que eram tratadas como locação de

serviços, ganharam autonomia. Passaram a contar com um estatuto próprio e, até,

com um ramo especializado da Justiça.

Na seara do empréstimo — palavra que traduz um fenômeno econômico a

que poderíamos denominar troca provisória ou a termo — têm ocorrido diversas

especializações.

Deste tronco destacaram-se vários ramos: comodato, mútuo, locação, mútuo

feneratício. Este último, terminou por ganhar o nome de “fi nanciamento”.

O leasing é resultado do cruzamento intrafamiliar, de dois institutos: locação e

fi nanciamento.

Em sua composição entram, ainda, traços marcantes de dois outros contratos

típicos: locação de serviços (evidentes, quando uma das partes se compromete

a adquirir de terceiros, bens que serão utilizados pela outra) e compra e venda

(presentes na opção que o tomador do leasing faz, no sentido de adquirir, em

defi nitivo, a coisa objeto da locação).

Esta entidade mestiça terminou por ganhar identidade, diferenciando-se,

por inteiro, daquelas que lhe deram origem. Tornou-se um contrato típico,

inconfundível com qualquer outro.

No Brasil, atribui-se-lhe o nome de “arrendamento mercantil”.

Tornou-se, portanto, um contrato nominado, distinto de qualquer outro. Não

há como o confundir com o arrendamento civil.

A Lei n. 6.099, de 12.09.1974 defi niu contornos da nova entidade fi xando-lhe o

conceito, dando-lhe autonomia e tipicidade.

Assim, quando o legislador brasileiro utiliza a expressão “arrendamento

mercantil”, (não esqueçamos a regra de hermenêutica, segundo a qual, o

legislador usa os termos jurídicos em sua acepção técnica) refere-se:

ao contrato realizado entre pessoas jurídicas, tendo por objeto o

arrendamento de bens que a locadora adquiriu de terceiros, mediante

especifi cações e para uso da arrendatária que reserva para ré a opção de

comprar o bem ou renovar o contrato. (Lei n. 6.099/1974 — arts. 1º e 6º).

Existe, nesta situação, um conceito estabelecido sobre “arrendamento

mercantil” — conceito que não se pode confundir com aquele expresso nas

palavras, “locação”, ”arrendamento”, etc...

Page 100: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

100

A lista anexa ao Decreto-Lei n. 406/1968 defi nia como fato gerador do ISS, a

“locação de bens móveis” (item 52).

Em nenhum item daquela relação, havia referência a “arrendamento mercantil”.

Consciente de que “arrendamento mercantil” e “locação” exprimem institutos

típicos, bem diferenciados, não podemos fugir à conclusão de que aquele

contrato não constitui fato gerador do ISS.

Por isto, não tenho dúvida em aderir à conclusão a que chegou a Primeira

Seção, no acórdão acima reproduzido.

Na época em que foi proposta a ação declaratória, o arrendamento mercantil

não acarretava obrigação de pagar ISS ao Município de São Paulo. O recurso

deveria, assim, ser desprovido.

Tal situação, persistiu até 15 de dezembro de 1987, quando veio a lume a Lei

Complementar n. 56.

Este diploma superveniente modificou a lista anexa ao DL n. 406/1968

inserindo, em seu item 79, como fato gerador de ISS, a “locação de bens móveis,

inclusive arrendamento mercantil”.

Nesta circunstância, o arrendamento mercantil é, desde 1º de janeiro de 1988,

fato gerador do ISS.

Por tudo isto, meu voto é no sentido de dar provimento parcial ao recurso,

para declarar que:

a) a prática de arrendamento mercantil, anterior a 1º de janeiro de 1988

não constitui fato gerador de ISS;

b) a partir daquela data, o tributo municipal passou a incidir sobre o

arrendamento mercantil.

Continuo fi rme nesta convicção.

Acolho, em parte os embargos. Como houve sucumbência recíproca,

cada parte arcará com metade das custas e despesas processuais e pagará os

honorários de seus respectivos patronos.

Siga o Processo, para apreciação do recurso extraordinário remanescente.

VOTO

O Sr. Ministro Milton Pereira: Sr. Presidente, acompanho o eminente

Ministro-Relator, fazendo a juntada do meu voto.

Page 101: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 101

ANEXO

RECURSO ESPECIAL N. 7.234-SP (91.00372-7)

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Milton Pereira: Atraído pela questão maior, a natureza

jurídica do contrato leasing, no singular âmbito das suas conseqüências

tributárias, com a curiosidade aguçada pelo erudito voto do Sr. Ministro-

Relator, senti-me compelido a pedir vista, propício anteparo regimental à

tranqüila meditação sobre o tema.

Guiado pelo voluntário mister de conveniente pesquisa, levantei que,

por ansiedade criada na atividade industrial ou na comercial, cada vez mais,

no círculo da modernidade, necessitada de meios ágeis e com a desforra do

barateamento dos custos — fontes primárias da produtividade e competitividade

—, liberando capital de giro, surgiu peculiar solução: o nominado arrendamento

mercantil ou, originariamente, leasing (alugar ou arrendar).

Na sua conceituação, os estudiosos não têm fugido de que tem bases na

economia e no estuário das fi nanças, cinzelada pela cláusula temporal cativa ao

período da vida útil do bem objeto do contrato, com a reserva do domínio pelo

proprietário, que entrega o uso ao tomador, para serventia no trabalho, pagando

o custo durante o prazo estabelecido. Espelhando a difi culdade conceitual,

autores de nomeada peleiam na procura de defi nição esclarecedora; assim, v.g.:

O leasing é uma operação de fi nanciamento para proporcionar aos empresários

o acesso a bens de produção necessários ao funcionamento da empresa, sem que

tenham de comprá-los.

Três empresas são necessárias à operação: a que vende as máquinas, a

que compra e paga o preço e a obtém, sem ter comprado os referidos bens. A

operação é realmente trilateral, entre o fornecedor das máquinas, o fi nanciador, e

a empresa interessada em usá-las.

A operação é, entretanto, bilateral, quando é o próprio interessado que aliena

o bem ao fornecedor ou concedente e o recebe de volta a título de leasing (lease-

back), ou quando não há fi nanciador.

O leasing é nova técnica jurídica imaginada para atender à necessidade

econômica de aquisição ou renovação de maquinaria de um estabelecimento

industrial, sem desembolso, pela empresa, da quantia necessária para comprá-la.

Page 102: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

102

É outra empresa que adquire esses bens e os aluga, com opção de compra dada à

empresa que os toma em arrendamento.

Em síntese: por meio do leasing a empresa equipa-se sem investir capital.

A operação deu nascimento ao novo tipo de contrato. Entre nós, a lei o

denominou arrendamento mercantil, mas continua a ser conhecido pelo vocábulo

empregado no Direito norte-americano.

Trata-se de um contrato integrante do grupo que tem como objeto o uso de

coisas, muito próximo da locação, cujas regras se lhe aplicam se não há próprias.

Da relação locativa distingue-se fundamentalmente, entretanto, pela causa, no

conteúdo, apresenta, porém, muitas semelhanças.

Pelo contrato de leasing uma instituição financeira, especializada ou não,

concede a um industrial, por longo prazo, o direito de utilizar máquinas que

adquiriu para esse fi m, cobrando-lhe aluguel por esse uso temporário e admitindo

que, a certo tempo, declare opção de compra, pagando o preço residual, isto é, o

que fi ca após a dedução das prestações até então pagas.

O contrato é vantajoso para as duas partes. Para o concedente do leasing,

porque permanece proprietário das máquinas enquanto se conservam alugadas,

estando desse modo garantido contra a insolvência de quem as arrendou.

Para este, porque não precisa comprar esses bens, poupando, desse modo,

imobilização de capital.

Para a sua confi guração, necessários são os seguintes elementos jurídicos:

a) a compra de equipamentos e máquinas por uma instituição financeira

para arrendá-los a longo prazo; b) a concessão do uso desses bens contra o

pagamento de um aluguel (renda); c) a faculdade assegurada ao concessionário

do uso das máquinas de adquiri-las, na totalidade ou em parte, mediante preço

convencionado no próprio contrato, deduzidos os pagamentos feitos a título de

aluguel.

Nesta enunciação falta a operação de compra de maquinaria, que é realizada

pela concedente do leasing com o vendedor, embora, na prática, seja o

concessionário quem as escolhe, limitando-se o concedente a pagar o preço. A

menção é, porém, necessária, porque, de regra, se inserem no contrato de leasing

cláusulas relativas a essa operação de compra, tornando-se, desse modo, negócio

jurídico-trilateral.

O elemento essencial de caracterização do leasing é a faculdade reservada ao

arrendatário de adquirir, no fi m do contrato, os bens que alugou. Se não existe, o

contrato não é de leasing. Essa faculdade é, ao se exercer, um direito potestativo,

bastando, portanto, a declaração optativa do concessionário do leasing para que

a relação pessoal de uso dos bens se transforme em relação real de propriedade.

A opção de compra, sendo um elemento jurídico essencial à caracterização

do leasing, determina a cobrança de um aluguel superior ao valor de uso dos

Page 103: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 103

bens, porquanto esse aluguel é ao mesmo tempo parcela eventual do preço

pelo qual serão comprados os bens arrendados. A eventualidade da compra

infl ui também na duração do contrato, devendo ser tal que o saldo represente

razoável preço residual. É admissível ainda a prorrogação do prazo do contrato,

mas, se, em conseqüência for integralmente coberto o valor substancial dos bens,

há desfi guração do leasing. De regra constam no contrato cláusulas relativas à

descrição dos bens arrendados às restrições a seu uso, às obrigações relativas

à sua conservação, ao seguro, às estipulações sobre a rescisão do contrato e

à devolução dos bens e sobre a opção de compra. A duração do contrato é

ordinariamente inferior à vida técnica do bem sendo esta a razão, segundo Ferrini,

pela qual o preço de aquisição é inferior ao valor do resíduo previsto ao ser

celebrado o contrato.

Na determinação da natureza jurídica do leasing, divergem os autores. De um

lado, os que tentam conduzi-lo a um tipo nominado de contrato; do outro, os que

têm como nova fi gura do comércio jurídico, irredutível a qualquer das conhecidas

dos contratos esquematizados.

No primeiro grupo, diversos contratos típicos, como a locação, a compra e

venda e até a gestão de negócios, são indicados como o contrato a que se reduz o

leasing. A maior afi nidade é com a locação, mas não pode ser tido como simples e

especial modalidade desse contrato porque encerra elementos jurídicos próprios

que impedem a assimilação e rejeitam a integral submissão ao seu regime legal.

É dominante na doutrina mais recente o juízo de que o leasing é um contrato

autônomo, muito embora resulte da fusão de elementos os de outros contratos,

mas não pode ser classifi cado como contrato misto composto por prestações

típicas da locação, da compra e de outros contratos, porque tem causa própria e

já se tipicizou.

Até mesmo o leasing operacional não deve ser enquadrado na locação, pois a

prestação adicional de assistência técnica lha modifi ca a função.

Não é possível qualifi car o leasing entre as modalidades da compra e venda

apesar de sua semelhança com a venda à prestação clausulada com reserva

de domínio. O concedente do leasing não se obriga a transferir a propriedade

dos bens entregues ao tomador, como sucede na venda com o referido pacto;

tal obrigação nasce do exercício, por este, da faculdade de opção que lhe é

reservada no contrato. De resto, o direito que o tomador do leasing adquire é de

uso temporário da coisa, mas de natureza obrigacional, como na locação e no

empréstimo.

Se bem que não seja uma locação, uma venda à prestação, aplicam-se ao

leasing algumas disposições legais próprias desses contratos e do negócio

creditício de fi nanciamento. Larenz caracteriza-o como um contrato que tem

a fi nalidade econômica de venda à prestação a ser alcançada mediante, com

mudança da titularidade, a cessão de uso da coisa por certo tempo, no caso de ser

exercida a opção (Orlando Gomes, in “Contratos”, pp. 522 a 525, Forense, 12ª ed.).

Page 104: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

104

Un contrato entre um dador y un tomador para el alguiler de un bien determinado

en un fabricante o proveedor de tales bienes por el tomador. El dador retiene el

dominio del bien. El tomador tiene la posesión y uso del bien pagando alguileres

convenidos durante un plazo (J.F. Byrne, “Leasing”, in Journal of the Institute of

Bankers, 4.100, parte 3, p. 111, citado por Jorge E. Lavalle Colo e Carlos A. Pinto, em

“Leasing Mobiliário”, Buenos Aires, Editorial Astrea, 1982, p. 25).

Tradução do texto anterior:

Um contrato entre um doador e um tomador para o aluguel de um bem

determinado selecionado de um fabricante ou fornecedor (provedor) de tais bens

por um tomador. O doador retém o domínio do bem. O tomador tem a posse e o

uso do bem, pagando aluguéis contratados durante um prazo.

... um acordo mediante o qual uma empresa, necessitando utilizar determinado

equipamento, veículo ou imóvel (terreno ou edifi cação), ao invés de comprar,

consegue que uma empresa (locadora) o adquira e o loque à empresa interessada

(locatária), por prazo determinado, fi ndo o qual poderá a locatária optar entre

a devolução do objeto do contrato, a renovação da locação ou a sua aquisição

por compra e venda, pelo valor residual avençado no instrumento contratual

(José Wilson Nogueira de Queiroz, “Arrendamento Mercantil — Leasing”, p. 6 , Ed.

Forense, 1983, 2ª ed.).

... na utilização de determinado equipamento, ou um certo imóvel, ... a

empresa... consegue que uma instituição financeira adquira o referido bem,

alugando-o ao interessado por prazo certo, admitindo-se que, terminado o

prazo locativo, o locatário possa optar entre a devolução do bem, a renovação da

locação, ou a compra pelo preço residual fi xado no momento inicial do contrato

(Arnoldo Wald, in “A Introdução do Leasing no Brasil”, Rev. Tribs, 415-10).

É um contrato mediante o qual uma pessoa jurídica que desejar utilizar

determinado bem ou equipamento, por determinado lapso de tempo, o faz por

intermédio de uma sociedade de fi nanciamento, que adquire o aludido bem e

lhe aluga. Terminado o prazo locativo, passa a optar entre a devolução do bem,

a renovação da locação, ou a aquisição pelo prazo residual fi xado inicialmente

(Paulo Roberto Tavares Paes, in “Leasing”, Ed. Rev. Tribs, 1977, p. 7).

De acordo com os princípios fundamentais do instituto, defi ne-se o mesmo

como a operação fi nanceira realizada por uma empresa arrendadora, constituída

e atuando sob o controle do Banco Central do Brasil, tendo por objeto o

arrendamento de bens móveis ou imóveis, adquiridos junto a terceiros, para fi ns

de uso próprio da arrendatária (art. 1º, parágrafo único, da Lei n. 6.099).

Page 105: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 105

Ou é o contrato essencialmente complexo, visto encerrar uma promessa

unilateral de venda, um mandato, uma promessa sinalagmática de locação de

coisa, uma opção de compra e, no leasing operacional, mais uma prestação de

serviços técnicos por parte da locadora, compondo, assim, obrigação contratual,

como partes essenciais do negócio.

Pela Lei n. 6.099, alterada pela Lei n. 7.132, de 21.10.1983, “considera-se

arrendamento mercantil, para efeitos desta lei, o negócio jurídico realizado

entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica,

na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens

adquiridos pela arrendadora, segundo especifi cações da arrendatária e para uso

próprio desta”.

Não se trata de uma simples locação com promessa de venda, como à primeira

vista pode parecer. Mas cuida-se de uma locação com uma consignação de

promessa de compra, trazendo, porém, um elemento novo, que é o fi nanciamento,

numa operação específi ca que consiste na simbiose da locação, do fi nanciamento

e da venda.

Em suma, é a figura em exame uma alternativa de financiamento para

aquisição de qualquer tipo de veículo, máquina ou equipamento de fabricação

nacional ou estrangeira, novo ou usado, incluindo, também, fi nanciamento de

imóveis.

Compõe-se de um misto de outras fi guras, na colocação de Arnoldo Wald:

“Trata-se, na realidade, de uma fórmula intermediária entre a compra e venda e

a locação, exercendo função parecida com a da venda com reserva do domínio e

com a alienação fi duciária, embora oferecendo ao utilizador do bem maior leque

de alternativa, no caso de não querer fi car com a propriedade do equipamento

após um primeiro prazo de utilização”.

Paulo Restiff e Neto apreendeu perfeitamente os elementos componentes, ao

ver no instituto uma operação fi nanceira, “que tem na locação a médio prazo a

sua essência, com a eventualidade de transformar-se ao fi nal em venda, em que

as importâncias pagas a título de aluguel passam a constituir parte do pagamento

do preço estimado, segundo as conveniências do empresário-locatário, isto é,

o aluguel converte-se em amortização da dívida que, ao fi nal, pode surgir da

efetivação de compra e venda desde o início possibilitada na opção franqueada

ao locatário (Arnoldo Rizzardo, in “Leasing Arrendamento Mercantil no Direito

Brasileiro”, pp. 4 e 5, Ed. Rev. Tribs, 1987).

Os autores nacionais pouco divergem entre si a respeito do conceito do

leasing. Para alguns, leasing é uma locação, mas não simplesmente uma locação,

pois ocorre uma simbiose do contrato de locação com uma operação de

fi nanciamento e, eventualmente, com uma opção para renovação do contrato ou

para a aquisição do bem pelo preço residual.

Page 106: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

106

O preço residual consiste dos preços de venda inicial acrescido do custo

fi nanceiro, descontadas as prestações locativas anteriormente pagas.

Não se trata de locação de bens móveis. Na verdade, os aluguéis são mais altos

que os existentes na locação comum, pois visam garantir, em prazo contratual

determinado, a amortização do preço do equipamento dos custos administrativos

e fi nanceiros e do lucro da empresa de leasing.

Outros autores consideram o leasing como uma operação de fi nanciamento,

geralmente a médio ou longo prazo, realizado por uma sociedade fi nanceira e

que tem por suporte jurídico um contrato de locação de bens com opção de

compra para o locatário.

Para a realização do leasing, concorrem três partes: o fabricante do bem, a

sociedade leasing que é a fi nanciadora e o usuário, que é o fi nanciado. Trata-

se de um sistema econômico do qual resultam vários negócios jurídicos. Uma

sociedade de leasing adquire a propriedade do bem, mediante um contrato de

compra e venda. Por sua vez, por um contrato de arrendamento, que quanto à

sua disciplina jurídica em nada se relaciona com o princípio (compra e venda), a

sociedade leasing, que é sempre instituição fi nanceira, arrenda o bem adquirido

ao usuário, podendo este, de comum acordo com aquela, avençar a cláusula

optativa de compra do bem ao fi nal do contrato do leasing. Desde que ocorra

a opção e seja ela exercida no tempo, um outro contrato de venda e compra se

efetivará entre a sociedade leasing e o usuário.

Certos autores, ainda, o definem como sendo um contrato entre duas ou

mais pessoas jurídicas, pelo qual uma das partes (empresa de leasing) se dispõe

a adquirir de terceiro, a pedido da outra parte (empresa-arrendatária), bens para

utilização em atividade de produção, e ceder, por prazo certo e determinado,

o seu uso a esta última, que se compromete a utilizá-los economicamente,

mediante certa remuneração, assegurado à empresa-arrendatária, no término do

contrato, a faculdade de adquirir a propriedade dos aludidos bens, por um preço

residual estabelecido, ou de renovar o contrato por remuneração menor.

Dos conceitos apresentados podemos concluir tratar-se o leasing de uma

operação de arrendamento com características especiais que o torna sui generis.

O que caracteriza a operação de arrendamento que se denomina leasing é o

seguinte: 1º) forma contratual, do tipo complexo (locação de coisas, promessa

unilateral de venda e eventualmente, uma venda); 2º) pagamento periódico pelo

arrendatário de quantia prefi xada (prestações locativas); 3º) opção de compra no

fi nal; por preço residual. Consistente no preço da venda inicial acrescido do custo

fi nanceiro, descontadas as prestações locativas já pagas.

No fi nal do contrato podem ocorrer três possibilidades: a) compra do bem

pelo locatário; b) renovação da locação; e, c) restituição do bem ao proprietário

locador.

Page 107: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 107

Assim, entendemos consistir o leasing numa operação de arrendamento pela

qual o arrendatário, contratualmente, obriga-se a pagar periodicamente, a título

de locação, uma quantia prefi xada e em cujo fi nal ocorre uma opção de compra

pelo preço residual.

O instituto é um negócio jurídico complexo, cujas múltiplas relações

obrigacionais têm um mesmo objeto — a promoção de investimentos produtivos,

permitindo a uma empresa a aquisição dos equipamentos necessários para o seu

fi nanciamento ou para a expansão de suas atividades, de modo a que possa

acompanhar o progresso tecnológico e aumentar a sua real produtividade, sem

aumentar o índice de sua imobilização.

1.2 Na legislação

O leasing no Brasil adotou o nome de “arrendamento mercantil” e teve seu

nascimento com a Lei n. 6.099, de 12.09.1974 que dispôs sobre seu tratamento

tributário. Essa lei foi regulamentada pela Resolução n. 351, de 17.11.1975 e pela

Circular n. 279/1975, ambas do Banco Central do Brasil.

O parágrafo único do art. 1º da Lei n. 6.099 assim conceitua o leasing:

“considera-se arrendamento mercantil a operação realizada entre pessoas

jurídicas, que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos a terceiros

pela arrendadora, para fi ns de uso próprio da arrendatária e que atendam às

especifi cações desta”.

A defi nição é incompleta por não conter principalmente a cláusula de opção

irrevogável. Entretanto, o art. 5º do mesmo diploma legal vem completar esta

conceituação.

A conceituação exposta sofreu mudança radical na Resolução n. 351/1975 e

entre elas a celebração do arrendamento mercantil por instrumento público ou

particular, com especifi cação dos bens arrendados, o valor das contraprestações e

a forma de seu pagamento por períodos não superiores a um semestre.

2. Demais considerações

2.1 Espécies de leasing

De conformidade com os estudiosos do assunto e tendo em vista algumas de

suas específi cas peculiaridades, existem as seguintes modalidades de leasing.

a) Leasing fi nanceiro — é uma coligação de negócios jurídicos pelos quais uma

empresa adquire determinado bem, a pedido de outra, para o fi m específi co de

arrendá-lo a esta em condições previamente estipuladas, dando-o em locação

por prazo certo e assegurando, à arrendatária, a opção de sua compra no término

da locação, por um preço residual.

Page 108: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

108

b) Leasing operacional — é um mero arrendamento de bens móveis a curto

prazo ligado a um ou mais negócios jurídicos que tem como característica

primordial sua coligação a um contrato de prestação de serviços de manutenção

e reparos do bem locado, ou a um contrato de treinamento de operadores do

equipamento arrendado e com a obrigação da locadora sobre o transporte e o

ônus do seguro. No mais, igual ao leasing fi nanceiro.

c) Leasing-back — é a operação pela qual uma empresa vende bens de capital

imobilizados a outra (empresa leasing) recebendo-os desta, simultaneamente, em

locação, com opção de compra exercitável após o término do prazo contratual. É

a operação chamada “venda-retorno”.

d) Self-lease — é celebrada entre empresas de um mesmo grupo com

personalidade jurídica distinta. Consiste na compra de bens imobilizados e sua

conseqüente locação à vendedora, de maneira a permitir a desmobilização do

ativo da locatária sem prejuízo de que continue a utilizar o equipamento alienado.

2.2 Pessoas que participam do leasing

Participam do leasing as seguintes pessoas: a) como arrendadora, pessoas

jurídicas registradas no Banco Central do Brasil; e b) como a rrendatária, também

pessoa jurídica. Pessoas físicas arrendatárias não são contempladas com os

benefícios fi scais previstos na Lei n. 6.099/1974 e na Resolução n. 351/1975.

2.3 Objeto do leasing

Consiste no objeto do leasing, qualquer bem móvel ou imóvel, suscetível de

utilização econômica e que possa ser locado. Necessário, em conseqüência, que

a coisa não esteja fora do comércio; tratando-se de bem móvel que também não

seja fungível nem consumível.

2.4 Contrato de leasing

Segundo Benedito Garcia Hilário, é aceitação geral, que o contrato de leasing

trata-se de um contrato de arrendamento, no qual surgem atos e fases diferentes,

mas que convergem para uma fi nalidade unitária, de característica essencial,

constituindo-se num contrato de categoria fl exível. Tem uma fase pré-negocial

que é a proposta da sociedade leasing ao usuário, a qual não envolve obrigações

para as partes. Manifestada pelo usuário a vontade de querer a operação, que

assim é aceita pela sociedade leasing, o contrato aperfeiçoa-se juridicamente pelo

consenso das partes, concluindo-se afi nal pelo documento escrito.

2.4.1 Prazo do contrato

A Resolução n. 351/1975 em seu art. 9º, estabelece o prazo mínimo de 3 anos

para o contrato, com exceção para os veículos em que o prazo mínimo poderá ser

de 2 anos.

Page 109: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 109

2.4.2 Prazo de opção

O parágrafo único do art. 10 da Resolução n. 351/1975, determina que o

exercício da opção em desacordo com o caput do artigo, ou seja, antes do término

da vigência do contrato será considerado como de compra e venda à prestação.

Este dispositivo tem como fi nalidade evitar a prática de expediente, como uma

simples compra e venda mascarada de arrendamento mercantil. (Djalma de

Campos, in ISS — um Aspecto Tributário do Leasing, in Rev. de Dir. Trib. n. 19/20,

pp. 334 a 338).

A respeito, com magistral síntese, por fi m, leciona o insigne jurista Horder

Comparato:

... trata-se evidentemente de um contrato comutativo, pelo qual se transfere o

uso de certa coisa mediante pagamentos periódicos (Rev. Tribs., vol. 389, pp. 7 a

14).

Na enseada desses registros, em inicial afi rmação singela, transluz que o

leasing, embora correspondendo a valor muito superior ao da própria coisa, viceja

o aluguel ajustado, fi ndo o prazo, com a opção da aquisição do objeto contratual,

abatendo-se parcial ou totalmente o preço correspondente às prestações pagas.

Delineado esse preparatório contorno, no moderno mundo jurídico

(inovador e criando perplexidades pela abrupta dinâmica dos fatos sociais,

políticos e econômicos), como um fotógrafo por lindes de exigências inesperadas

e investigatórias, a lente centralizadora de imagens, focalizando o leasing,

revela modernizado controle, com natureza típica, para a sustentação de nítido

f inanciamento, identificando um terceiro (banco ou empresa que contrata

com o fabricante ou importador), ponte vinculatória de recíprocas obrigações

entre o locador e o locatário (Lei n. 6.099, de 12.09.1974, e Lei n. 7.132,

de 21.10.1983). É contrato típico, autônomo, por sua inovadora natureza e

elementos constitutivos, que bem se acomoda no chamado Direito Econômico,

assim, não se fi xando nas peias tradicionais do Direito Comercial ou do Direito

Financeiro ( José Wilson, ob. cit., p. 57).

Aqui e agora, da análise dos ensinamentos colacionados, razão da pesquisa,

demanda que se exponham as motivações apropriadas às conclusões. Com essa

obrigação lógica, não devo deixar de afi rmar que o leasing, como instrumento

negocial, finca-se como, acolitado pela autonomia, contrato comutativo,

com identidade própria no mundo jurídico, lastreado em princípios gerais

norteadores de outros modelos contratuais específi cos: locação + fi nanciamento e,

Page 110: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

110

pela opção assegurada, a compra e venda. Porém, deles se diferenciando, quanto

à locação, porque o locador não é o fabricante ou o próprio importador de

material ou equipamento e, no leasing em causa, o objeto pode ser qualquer bem

de investimento. No fi nanceiro, de especial característica, ressai o fi nanciamento

puro. Compra e venda, só quando, a fi nal, houver o consenso.

Noutro eito, não pode ser negada a ocorrência de simbiose, desenhando

feição típica para o comentado leasing, com a dignidade de instituto próprio,

sem perder o caráter comutativo, revelador de contrato de operações múltiplas

ou sucessivas, engendrando decorrentes e variadas conseqüências jurídicas.

À palma, defi nindo-lhe nítidos contornos, a Lei n. 6.099/1974 (modifi cada

pela Lei n. 7.132/1983), portanto, ex legis, fi xando denominação, objetivando os

seus elementos identifi cadores, dispõe (art. 5º):

Os contratos de arrendamento mercantil, conterão as seguintes disposições:

a) prazo do contrato;

b) valor de cada contraprestação por períodos determinados, não superiores a

um semestre;

c) opção de compra e renovação do contrato, como faculdade do arrendatário;

d) preço para opção de compra ou critério para sua fixação, quando for

estipulada esta cláusula.

Parágrafo único. Poderá o Conselho Monetário Nacional, nas operações que

venha a definir, estabelecer que as contraprestações sejam estipuladas por

períodos superiores aos previstos na cláusula “b” deste artigo (grifei).

Vencida a amplitude dos comentários, por fi liação às anotações feitas,

é oportuno se acudir aos efeitos tributários do contrato analisado, fonte da

questão trazida para o exame recursal.

Tal como lembrado pelo eminente Relator, nesta Corte, duas correntes, no

tocante à incidência ou não do Imposto Sobre Serviços — ISS —, extremam-se:

1. a que enxerga na locação mercantil uma espécie de contrato de locação e,

como tal, fato gerador do ISS, conforme previsto no item 52 da lista de serviços

anexa ao DL n. 406/1968;

2. aquela que considera um negócio que tem como verdadeiro escopo o

fi nanciamento para aquisição de bens, estando por isto livre da incidência do ISS

e sujeito ao IOF.

Page 111: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 111

Como fontes de sustentação, tomando por base a argumentação dissertada,

emergem os votos proferidos pelos eminentes Ministros Garcia Vieira e

Américo Luz, respectivamente, nos REsps n. 331 e 341.

Vamos aos pontos controvertidos.

A leitura mostra que as empresas operadoras de leasing, considerando-o

como espécie de locação, alcançado pelo item 52 da lista de serviços, anexa ao

Decreto-Lei n. 406/1968 (modifi cado pelo Decreto-Lei n. 834/1969) e, por

isso, constitui-se como serviço tributável (Arnoldo Wald, “Aspectos Tributários no

Leasing”, in Rev. Informação Legislativa, pp. 121 e 122).

Em contrário, tem sido suscitado que o “item 52, enganosamente usado

para tributar o leasing, trata apenas de locação de bens móveis” (Dejalma de

Campos, local cit., p. 337), combativamente, arrematou Geraldo Ataliba:

omissis (...)

46. Com ou sem lista, não se pode entender como serviço o que serviço não

é. Estas têm sido as lições dos nossos tribunais. Brevitatis causa, basta destacar

o seguinte aresto: “ISSQN, não há incidência desse tributo na cessão que a

distribuidora faz de fi lmes de sua propriedade e produção aos exibidores” (RE n.

95.251-SP, Primeira Turma, Ministro Relator Soarez Muñoz, em 15.03.1983).

47. Na mesma esteira, o aresto da Sétima Câmara, do mesmo 1º TAC, nos

autos da Ap n. 335.140: “... se a locação (como arrendamento) dá origem a uma

obrigação ‘de dar’ e se a prestação de serviços confi gura obrigação ‘de fazer’ —

sendo as duas espécies inconfundíveis — já se vê que não é possível atribuir-lhes

o mesmo regime jurídico tributário”.

(E quando se vai à origem e evolução do contrato chamado de locação, estas

considerações resultam ainda mais claras: isto porque a locatio conductio romana

cuidava, sob esta única denominação, das três hipóteses que a este tipo de

contrato se aplicavam: arrendamento de coisa (locatio conductio rei) prestação de

serviço (locatio conductio operarum) e empreitada (locatio operis) — Gaio, 3, 142,

s.).

Mas a tripartição, elaborou-a o Direito Comum e assim permanece ela na

atualidade, bem se distinguindo as três modalidades e, em caráter ainda mais

acentuado, a dicotomia entre a locação de coisa e a locação de serviço.

Aquele serviço não é; não envolve “prestação de esforço pessoal para outrem”

essência do conceito de serviço.

Assim, por qualquer ângulo que se visualize o problema, sempre se terá, como

único resultado, a não incidência do tributo, porque incabível à hipótese.

48. Em síntese: é vedado à lei municipal estabelecer incidência do ISS, no caso

de locação de bens móveis. Pela mesma razão, não pode fazê-lo quanto a leasing

Page 112: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

112

(arrendamento mercantil). Sendo tal vedação de cunho constitucional, também

não pode a lei complementar superá-la.

Não basta para a incidência do ISS, que exercite atividade, ainda que fi gure

na “lista”; é de mister que a atividade exercitada constitua serviço. Daí a Suprema

Corte enfatizar: Para a incidência do tributo torna-se necessário o exercício de

uma atividade que represente “serviço”... (RE n. 100.178-0, DJ 31.08.1984, Segunda

Turma). Grifamos.

49. S. Exa., o Sr. Ministro Carlos Velloso, na cuidadosa colheita doutrinária e

jurisprudencial que efetuou, no REsp n. 61-SP, j. 08.11.1989, DJ 04.12.1989, p.

17.878, destaca (acolhendo) que a nota típica do leasing é o elemento tipifi cador

de locação”, sendo este “espécie desta”.

Ora, como pensamos ter demonstrado, a locação de coisas não se subsume

ao ISS. Logo, também o leasing como sua espécie, não pode sujeitar-se a esse

imposto municipal (“Locação e Leasing”, in Rev. Dir. Tributário, vol. 51, pp. 60 e 61,

jan./março 1990).

Logo, na linha destes últimos pensamentos explicitados, o leasing não tem

o condão de gerar ISS, conclusão que encontrou precioso apoio nesta Corte,

para exemplifi car, servindo precedente assim ementado:

Tributário. Leasing. Lista de serviços. Incidência do ISS.

O contrato de leasing, denominado impropriamente de arrendamento

mercantil, é um contrato típico, não relacionado na “lista de serviços”, que não

constitui fato gerador para a incidência do ISS (REsp n. 2.646-SP, Rel. Min. Peçanha

Martins, in DJ 03.02.1992).

Esse entendimento encontra forte escora no voto proferido pelo exímio

Ministro Américo Luz, no REsp n. 341, aconsoantado ao registro feito pelo

eminente Relator, nestes termos:

Em grau de apelação, o acórdão de fls. da Oitava Câmara do 1º Tribunal

de Alçada Civil do Estado de São Paulo, reformou a sentença que dera pela

procedência da declaratória proposta, ao fundamento de que a operação

consistente no arrendamento mercantil de coisas móveis (leasing) está subsumida

no item 52 da lista de serviços do ISS, e, portanto, sujeita à incidência desse

tributo — fl s. 426-433.

Processado em face do acolhimento da argüição de relevância, o extraordinário

interposto subiu ao Pretório excelso que, nos termos da decisão de fl . 509, o

converteu em especial no que concerne à matéria infraconstitucional.

Nesta egrégia Turma, o eminente Relator Ministro Carlos Velloso, apoiado em

precedente de sua própria lavra (REsp n. 61-SP) decidiu não conhecer do recurso.

Page 113: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 113

Na oportunidade, S. Exa. proferiu o seguinte voto, verbis:

Primeiro que tudo, esclareça-se que a lista de serviços tributáveis pelo

ISS, não obstante taxativa, certo é que às categorias ali postas deve-se

emprestar sentido amplo, compreensivo, por isso que a lista “pode designar

gêneros dos quais o intérprete extrai as espécies”. (A. Balleeiro, “Dir. Trib.

Brasileiro”, Forense, 10ª edição, p. 298). A interpretação extensiva da lista,

ou a natureza compreensiva da lista de serviços, tem sido acolhida pela

doutrina (Geraldo Ataliba, “Estudos e Pareceres de Direito Tributário”, Ed.

RT, 1980, 111/220) e pela jurisprudência (RE n. 91.737, RTJ 97/357; RE n.

106.047-SP, DJ 13 de dez./1985; RE n. 104.571-PE, RTJ 113/1.387).

Isto esclarecido, a questão a saber é se a locação de bens móveis, que é

o serviço tributado pelo ISS no item 52 da lista, compreenderia o leasing,

arrendamento mercantil, na linguagem da Lei n. 6.099, de 12.09.1974, art.

1º, parágrafo único, ou “arrendamento fi nanceiro”, segundo Penalva Santos

(“Leasing”, RF, 250/46, 57).

O leasing é, na verdade, um contrato complexo, porque composto de

elementos integrativos e caracterizadores de vários contratos: locação,

compra e venda, fi nanciamento, mútuo.

Importa verifi car, pois, no caso, o elemento factual que predomina no

leasing, vale dizer, importa perquirir, na hipótese, se o elemento factual que

predomina no arrendamento mercantil é o elemento tipifi cador da locação.

Esta é a questão.

Porque, se o elemento tipifi cador do leasing for aquele elemento que

caracteriza a locação, é razoável o entendimento no sentido de que aquele

é espécie desta.

A doutrina, ao que parece, caminha no sentido de caracterizar o leasing

como espécie de locação, não uma locação comum, porque nele está

presente, posto que de forma incerta, a opção futura de compra dos bens

locados pelo arrendatário.

Fábio K. Comparato, escrevendo sobre o tema, leciona que “... sobre

o leasing não incide o imposto federal sobre operações fi nanceiras. Sem

dúvida, o leasing pode representar economicamente uma operação de

fi nanciamento na aquisição do equipamento industrial ou comercial de

uma empresa. Juridicamente, porém, a operação é veiculada nos moldes de

uma locação, com opção unilateral de compra...” (“Contrato de Leasing”, RF,

250/7, 11; RT, 389/7, 13). Para Garcia Hilário, o leasing poderia ser classifi cado

como arrendamento (RF, 250/70, 75). Luiz Mélega entende que o leasing

está sujeito ao ISS, tendo em vista o item 52 da lista, “sob o nome genérico

de ‘Locação de Bens Móveis’, instituto de que o leasing é um caso particular”.

(Aspectos Fiscais do Leasing, RF, 250/89, 98; “O Leasing e o Sistema Tributário

Page 114: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

114

Brasileiro”, Saraiva, 1975, p. 77). Para Tavares Paes, o leasing é forma peculiar

de locação, pelo que está sujeito ao ISS (leasing), RT, 1977, p. 31).

Segundo El Mokhtar Bey, o que predomina no leasing é a locação: “C’est

le contracte de location qui constitue, assurement, l’instrument juridique

fondamental de l’opération de leasing ou crédit bail”. (“La Symbiotique dans les

Leasing ou Crédit-Bail”, p. 3, § 1º).

Para Sampaio de Lacerda, o leasing constituiria uma operação fi nanceira.

(“O Leasing e a sua Aplicação no Campo do Direito Aeronáutico”, RF, 250/

425). Isto, entretanto, não ocorre. É que a sociedade que pratica o leasing

não faz nenhum empréstimo de dinheiro. O que ocorre, na operação de

leasing, é a cessão de equipamento mediante uma certa remuneração, com

a opção de compra no fi nal do contrato. Em termos econômicos, pode-se

afi rmar que o elemento desse contrato está presente no leasing em termos

jurídicos, entretanto, o elemento que está presente é o da locação: cessão

de equipamento, do bem, mediante o pagamento de um aluguel.

Sendo assim, certo que predomina no leasing a locação, razoável é o

entendimento de sujeitar-se essa operação ao ISS, presente o item 52 da

Lista.

Esta é, na verdade, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (RE n.

108.665-SP, Rel. o Min. Oscar Corrêa, DJ 16.05.1986).

Após a competente sustentação oral feita pelo ilustre jurista Professor Geraldo

Ataliba, com o mesmo brilho e inteligência comum a tantas outras que já

assistimos, confesso que dúvidas me assaltaram no trato da questão ora discutida.

Em conseqüência, diante da oportunidade que se me abriu, resolvi pedir vista

destes autos, para rever meu entendimento sobre a matéria, trazendo-os, agora,

com este voto.

II - Consabido que a controvérsia sobre a legitimidade ou não da incidência do

ISS sobre o arrendamento mercantil de bens móveis é assaz polêmica, tanto na

doutrina como na jurisprudência de nossos tribunais.

Com efeito. Desprezando-se as divergências doutrinárias, por sinal ricas nos

argumentos que dão sustentação, fi co com a jurisprudencial, fundamento do

conhecimento do recurso.

E aqui reside o ponto nodal da questão.

Para concluir pela tributação, entendeu o acórdão recorrido que compondo-se

o leasing dos elementos de locação de bens móveis e opção por futura compra

dos bens locados pelo arrendatário, certo é o elemento factual do arrendamento

e incerto o evento da aquisição. Sendo, portanto, preponderante aquela atividade

prestada subsume-se, assim, no item 52 da lista respectiva.

O entendimento de que o arrendamento mercantil é equivalente à locação

foi contestado pelo acórdão exarado no Reexame Necessário n. 185011384,

Page 115: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 115

proferido pela Quarta Câmara Cível do egrégio Tribunal de Alçada do Estado do

Rio Grande do Sul. Do voto proferido pelo relator, eminente Juiz Décio Antônio

Erpen, destaco (fl s. 459-460):

Difere, todavia do arrendamento, porque a prestação no leasing é

sempre maior do valor que seria o aluguel mormente porque aquele em

seu somatórico fi nal pode integrar, no futuro, o preço de uma compra.

Ademais, o montante da prestação no leasing é o produto de vários

ingredientes, v.g. o parcelamento do preço do objeto (seu custo), acrescido

de juros compensatórios, mais a depreciação do bem, e o lucro, à guisa de

venda.

O custo de manutenção do mesmo objeto do contrato, normalmente

corre à conta do tomador-arrendatário, sendo que na locação é suportado

pelo locador.

No tocante às benfeitorias difere o tratamento num e noutro instituto,

porquanto nas locações incidem os preceitos contidos nos arts. 1.199 e 516

do CC, bem assim na atual Lei do Inquilinato. No leasing, o tratamento é

diverso.

No campo processual também há nítida distinção entre ambas as

fi guras. No caso de inadimplência, o proprietário, em se tratando de leasing

tem a ação de reintegração de posse, ação essa que não se harmoniza com

a locação, quando a ação própria é a de despejo.

Quanto ao prazo, nas locações essa é mais breve, ao contrário do leasing,

em que são mais amplos.

Da mesma forma, a jurisprudência tem admitido que o arrendatário

no leasing responde, isoladamente, pelos danos causados pelo objeto

a terceiros, afastada a responsabilidade, ainda que remota, da empresa

arrendante. O mesmo não ocorre na locação.

Por derradeiro, no leasing, há necessariamente uma opção de compra

irretratável em favor do tomador-arrendatário, preestabelecido o preço

residual, aproveitando-se o somatório das prestações já pagas. E, o valor

residual é tão ínfi mo que, na prática, o contrato que se aproxima da locação

no primeiro estágio, culmina em sendo um contrato de venda de bem

móvel, seu último momento.

Na locação, muito raramente se promove a cláusula de opção de compra,

e quase nunca isso ocorre em forma de adesão.

Assim, nítidas distinções existem entre o leasing, que nosso legislador

rotulou impropriamente de “arrendamento mercantil”, com a locação. As

Leis Fiscais n. 5.099/1974, com a nova redação dada pela Lei n. 7.132/1983,

mantiveram o instituto em sua plenitude, promovendo, tão-só a tradução

para o vernáculo com o nomen juris de arrendamento mercantil, quando

Page 116: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

116

em seu bojo não se fi zeram as aproximações para permitir a confi guração

de uma locação.

Sobre a hipótese, no Recurso Extraordinário n. 106.047-SP (RTJ 116/811),

proferiu extenso voto, após pedido de vista, o eminente Ministro Oscar Corrêa,

assim concluindo S. Exa.:

17. Para encerrar esse levantamento — que exclui outros eminentes

autores (como Orlando Gomes, “Contratos”, RF, 1979, 7ª ed., p. 570; e

Orlando Gomes e Antunes Varela, “Direito Econômico”, Saraiva, 1977, p.

279 — que consideram “elemento essencial da caracterização do leasing

a faculdade reservada ao locatário de adquirir no fi m do contrato, os bens

que alugou”), a opinião de Bernardo Ribeiro de Morais (“Doutrina e Prática do

Imposto Sobre Serviços”, RT, 1ª ed., 1984, pp. 373-374) que, taxativamente,

afi rma, analisando “alguns casos práticos”:

10. a locação de bens de equipamento com a opção de sua compra

afinal pelo arrendatário — contrato de leasing — não constitui

locação de bens móveis. Trata-se de um contrato típico, diverso

da locação de bens móveis, inomimado, mas com características

peculiares, inclusive a obrigação do locador em investir, a de constar

no preço do aluguel o valor das parcelas de autorização dos bens

alugados e percentagem sobre o montante decrescente do valor

do contrato, o que não existe na locação de bens móveis. Leasing

é contrato típico, que não se confunde com o nosso contrato de

locação de bens móveis. O que o caracteriza é o investimento a que

se obriga o locador e a cláusula de opção de compra em favor do

lessee após o término da locação.

18. Feito esse levantamento sumário da doutrina — e nos desculpamos

de tê-lo realizado, para nosso próprio convencimento — é a hora de nos

pronunciarmos.

Não há dúvida de que o leasing hoje, e não só entre nós, é contrato

típico, de características próprias, conceituação legal (ainda que defi ciente

e sumária), constituindo-se — como outros tantos se constituíram —

de elementos retirados de outros contratos, como a locação, a compra

a prestações, o mútuo mas assumindo contornos indisputáveis que o

diferenciam de todos eles.

Tanto que a Lei n. 6.099/1974 o defi niu e lhe deu características e nome

próprio — de arrendamento mercantil. Bastaria isso para, em face do texto

expresso da lei, não pretender incluí-lo na categoria de locação de bens

móveis, que se pretende, com a incidência do ISS (item 52 da lista).

19. Para nós, o traço fundamental do leasing é o fi nanciamento, sem

o qual não se completa e integra a operação fi nanceira em que importa.

Page 117: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 117

Enquanto arrendador e arrendatário estão frente a frente, mas não opera

o fi nanciamento, não há de falar em leasing. Pode haver locação de bens,

compra e venda; só o fi nanciamento leva ao leasing.

Não se trata, porém, de simples afirmação. A comprovação vem da

própria Lei n. 6.099/1974 que, ao dispor sobre o tratamento tributário das

operações de arrendamento mercantil, expressamente vinculou-o todo às

instituições fi nanceiras, sob o comando do Conselho Monetário Nacional e

o Banco Central.

E à lei seguiram-se as Resoluções do Banco Central que a regularam

miudamente.

Cria-se, pois, desde logo, situação estranha: instituto inteiramente

regulado por lei federal, que vincula a autoridades administrativas

federais, sujeito à regulação que lhe devem; que teve regime tributário

estabelecido (com a expressa indicação do imposto de renda e do imposto

sobre produtos industrializados) envolvendo, evidentemente, operação

financeira, não pode subordinar-se ao ISS, cobrado pelos Municípios

quando não se lhe podem encontrar os pressupostos para sua incidência.

Que aliás, hoje se discute mesmo a respeito da locação de bens móveis,

se a locação de bens móveis, se a locação de coisa não é serviço, etc.

E se o leasing não é necessariamente de bens móveis.

Com efeito, não há qualquer restrição ao leasing imobiliário na lei

brasileira (nem em outras legislações), como acentuam os autores (Fran

Martins, ob. cit., p. 554; Luiz Mélega, ob. cit., p. 50; Arnoldo Wald, RF 250/44;

Penalva Santos, art. cit., RF 250/49; etc.). E a Resolução n. 351 do Banco

Central, expressamente o previu.

2. Essas observações — longas que foram — objetivaram demonstrar

que não, data venia do voto do eminente Relator, como aceitar que o

leasing — arrendamento mercantil, pela lei brasileira — sofra a incidência

do ISS, se a locação de bens não lhe é nem mesmo o traço mais forte, e

até mesmo a compra a prestações — como se vê do art. 11, § 1º, da Lei n.

6.099/1974 — melhor serviria de a ele assemelhar-se, e se o elemento que o

confi gura é o fi nanciamento.

O importante, contudo, in casu, é que não se lhe aplica o item 52 da lista

anexa do Decreto-Lei n. 406/1968, referente à locação de bens móveis, com

o que negada vigência ao art. 8º do Decreto-Lei n. 406/1968 e ao referido

item, indebitamente aplicado; e, conseqüentemente, ao art. 24, II, da CF, se

não defi nida, na lei complementar, a referida incidência.

Destarte, após debruçar-me no exame das teses confl itantes, entendo, data

venia do ínclito relator, e não obstante a orientação contrária da Suprema Corte,

que não se aplica ao arrendamento mercantil, contrato típico que é distinto da

Page 118: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

118

locação de bens móveis o item 52 da lista de serviços anexa ao DL n. 406/1968.

(Fls. 397-406).

Com entusiasmo e brilho, essas razões são rebatidas pelo douto Ministro

Garcia Vieira, votando no REsp n. 331, verbis:

O arrendamento mercantil leasing, regulado pela Lei n. 6.099, de 12 de

setembro de 1974, é ‘... a operação realizada entre pessoas jurídicas, que tenham

por objeto o arrendamento de bens adquiridos a terceiros pela arrendadora, para

fi ns de uso próprio da arrendatária e que atendam às especifi cações desta (art. 1º,

parágrafo único). Constam sempre destes contratos o valor da contraprestação

pelo arrendamento e a opção de compra (art. 5º) e estão sujeitas à fi scalização

do Banco Central do Brasil, todas as suas operações (art. 7º). É um arrendamento

mercantil complexo, no qual prepondera a locação de bens móveis, perfeitamente

enquadrável no item XVIII da Lista de Serviços do Decreto-Lei n. 406, de 31 de

dezembro de 1968. A realidade de arrendamento, sua repercussão econômica,

a contraprestação pelo serviço prestado, (seu conteúdo fático), constitui o fato

gerador do Imposto de competência dos Municípios sobre serviços de qualquer

natureza (art. 8º do Decreto-Lei n. 406/1968). O colendo Supremo Tribunal

Federal, nos Recursos Extraordinários n. 106.047-SP, Relator eminente Ministro

Rafael Mayer (RTJ 116/811) e 108.665-SP, Relator eminente Ministro Oscar Corrêa

(RTJ 117/1.349), entendeu que o ISS de competência municipal incide sobre o

serviço de arrendamento mercantil (leasing). A ementa do primeiro (106.047) é a

seguinte:

ISS. Arrendamento mercantil de coisas móveis (leasing). Incidência do

imposto sobre serviços. Subsunção no item 52 da Lista de Serviços.

Razoável o entendimento de que a prestação habitual pela empresa,

de serviço consubstanciado no arrendamento mercantil (leasing) de bens

móveis, está sujeita ao ISS, em correspondência à categoria prevista no item

52 da Lista.

Recurso extraordinário não conhecido.

Por ocasião deste julgamento salientou o eminente Ministro-Relator, Rafael

Mayer que:

Trata-se, como se vê, de controvérsia sobre a legitimidade em face

da preceituação referida, da incidência do ISS sobre a realização, pela

empresa, de arrendamento mercantil de bens móveis (leasing), previsto

expressamente na legislação local como fato gerador do imposto, em face

da conceituação que se tem no n. 52 da lista de serviços anexa ao Decreto-

Lei n. 406/1968, referente à locação de bens móveis.

Page 119: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 119

Admitindo que o arrendamento mercantil tem constituição complexa,

integrada simultaneamente pelos elementos da locação de bens e da opção

de aquisição dos bens locados, o venerando acórdão recorrido, endossando

a doutrina da sentença de 1º grau invoca o critério da preponderância da

atividade desenvolvida, pela empresa prestadora de serviço, para o efeito

de incidência tributária e de subsunção no item 52 da lista pois “certo é o

elemento factual do arrendamento e incerto o evento da aquisição”.

Ora, o entendimento é decerto razoável.

Improcede, com efeito, a censura que se lhe faz ao argumento de que,

na doutrina dominante e na jurisprudência pacífica desta Corte, a lista

de serviços tributáveis é taxativa, não havendo como acrescentar-lhe

categoria nela não prevista. Pois, ao ser taxativa a lista, não inibe que

se dê às categorias o sentido amplo e compreensivo, de modo que o

Município possa exercitar plenamente a competência que lhe é deferida no

delineamento do que seja o fato imponível. Assim mesmo é o entendimento

do Supremo Tribunal Federal, como se vê do acórdão no RE n. 91.737, da

egrégia Segunda Turma, aliás, invocado pela Recorrente em seu prol, onde

ao mesmo tempo que se reconhece a propensão da jurisprudência do

Supremo Tribunal Federal pelo caráter taxativo da lista, admite-se que a

prestação de serviço de segurança e vigilância encontra correspondência

no item 16 da lista (RTJ-97/361).

Certamente, o arrendamento mercantil (leasing), cujo tratamento

tributário é regulado na Lei n. 6.099/1974, e para esse efeito vem aí defi nido,

tem aspectos complexos e um sentido econômico peculiar. Conceituado no

parágrafo único do art. 1º do diploma legal, como “a operação realizada

entre pessoas jurídicas que tenha por objeto o arrendamento de bens

adquiridos a terceiros pela arrendadora, para fins de uso próprio da

arrendatária”, ela envolve, de um lado, uma operação de fi nanciamento

da aquisição da mercadoria pela arrendadora e, de outro lado, a opção de

compra pelo arrendatário, ao término do arrendamento se não o renovar

ou apenas devolução do bem, mas o fundamental, a constituir como que o

núcleo e razão da atividade, está no arrendamento.

Esse arrendamento de bens, mediante contratos pertinentes, em que

a sua confi guração é essencial, quanto ao prazo, quanto ao uso da coisa

locada e quanto à retribuição, obviamente eventual a verificação da

cláusula optativa, é que constitui a substância da prestação do serviço a

que se propõe a empresa, pela qual a sua atividade se torna específi ca e

signifi cativa do ponto de vista fi scal.

Não há, portanto, emprego de analogia criadora de tributo à revelia do

art. 108, § 1º, do CTN, mas a apreensão da realidade de um serviço prestado

Page 120: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

120

habitualmente, cuja conotação essencial, própria do arrendamento

mercantil de móveis, encontra correspondência na categoria no serviço

prevista no item 52, a saber, a locação de coisas móveis.

Resta acentuar que o aspecto aqui salientado tem ponderável acolhida

na doutrina, como dentre outros vem preferido por Aliomar Baleeiro (“Dir.

Trib. Bras.”, 10ª ed., p. 292): a incidência tributária está prevista na legislação

dos mais importantes Municípios brasileiros e tem o beneplácito da

jurisprudência predominante dos tribunais estaduais.

Por isso há razão de invocar-se a Súmula n. 400.

Não conheço, portanto, do recurso.

Como se vê, a decisão recorrida se amolda ao entendimento da Corte Maior e

não negou vigência a nenhum dos dispositivos da legislação infraconstitucional,

apontados pelo recorrente. Não houve emprego da analogia para a exigência

de tributo não previsto em lei (art. 100 do CTN), mas, conforme bem acentuou

o eminente Ministro Rafael Mayer “... a apreensão da realidade de um serviço

prestado habitualmente, cuja conotação essencial, própria do arrendamento

mercantil de móveis, encontra correspondência na categoria do serviço prevista

no item 52, a saber, a locação de coisas móveis”.

Também, no caso, a lei tributária não alterou “a defi nição, o conteúdo e o

alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado... para definir ou

limitar competências tributárias” (art. 100 do CTN).

Não foi negada vigência à Lei n. 6.099/1974 e não foram violados os arts. 8º e

56 do Decreto-Lei n. 406/1968. (Fls. 391-394).

Esse entendimento, por ele, já fora exposto no REsp n. 14.716, (in DJ

03.02.1992), com esta ementa:

ISS. Operações de leasing. Arrendamento mercantil complexo.

O arrendamento mercantil (leasing) é de natureza complexa, preponderando a

locação de bens móveis, perfeitamente enquadrável no Decreto-Lei n. 406/1968,

lista de serviço, item XVIII.

O arrendamento, sua repercussão econômica, a contraprestação pelo serviço

prestado constituem o fato gerador do imposto de competência dos Municípios

sobre serviços de qualquer natureza.

Recurso provido.

Mas, à sua vez, diante das posições em confronto, a Primeira Seção deste

Tribunal, repelindo a incidência do ISS, assentou:

Page 121: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 121

Os contratos da espécie não constituem fato gerador do tributo em referência,

já que têm por traço fundamental a operação de fi nanciamento neles contida

e não a utilização temporária do bem, não sendo por outro motivo que estão

sistematicamente vinculados a uma instituição fi nanceira, nem tampouco, que

tais operações são regulamentadas e fi scalizadas pelo Banco Central.

De outra parte, ainda que pudessem ser assimilados à locação, não se

prestariam para tal, já que a locação não se confunde com prestação de serviço (fl .

383) (EREsp n. 2.732-SP, Rel. Min. Ilmar Galvão, in DJ 25.11.1991).

Não obstante essa erudita manifestação jurisprudencial, sou tentado a

direcionar-me, outra vez, para as disposições da Lei n. 6.099/1974, lembrando

que os contratos de leasing têm como alicerce dois elementos fundamentais:

— a locação de bens móveis certos;

— a opção de futura aquisição (eventual exercício de direito pactuado) do

bem locado ou a renovação da locação.

O contrato, pois, mesmo incorrendo a possível compra, desde a locação

contratada, aperfeiçoa-se como ato jurídico perfeito, dele decorrendo inafastáveis

conseqüências tributárias.

Pelo fi o dessas razões, enfi leiradas as origens híbridas do leasing, por

defi nição legal (arts. 1º e 6º, Lei n. 6.099/1974), consubstancia-se o arrendamento

mercantil — bem se diferenciando do “arrendamento civil” (arts. 1.188 e ss.,

Código Civil), desse modo escapando à incidência fi scal baseada no Decreto-

Lei n. 406/1968, que não faz registro específi co do arrendamento mercantil. Em

prol dessa assertiva — desobrigação — acrescente-se da inviabilidade legal, com

socorro na custódia da analogia, por categórica inexistência de lei (§ 1º, art. 108,

CTN).

Mais não é preciso, vigilante a época dos fatos, para se concluir pela não

tributação pelo ISS.

A situação, contudo, modifi cou-se após a edição da Lei Complementar

n. 56/1987 (art. 155, § 2º, XII, a, Constituição Federal), inserindo no item

79 do Decreto-Lei n. 406/1968, como fato gerador do ISS, além da locação,

o arrendamento mercantil, evidenciando que, anteriormente, não poderia

constituir obrigação tributária. Sem lei antecedente não há tributação (art. 150,

I, Constituição Federal).

Com as razões expostas, quanto à conclusão, pedindo vênia aos que pensam

em contrário, acompanho o eminente Relator, assim arrematando o seu lúcido

voto:

Page 122: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

122

a) a prática de arrendamento mercantil, anterior a 1º de janeiro de 1988, não

constitui fato gerador do ISS;

b) a partir daquela data, o tributo municipal passou a incidir sobre o

arrendamento mercantil.

Por igual, referentemente à sucumbência, o acompanho.

É o meu voto-vista.

VOTO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Sr. Presidente, acompanho o eminente

Ministro-Relator, nos termos do voto proferido no REsp n. 9.155-0-SP, do

seguinte teor:

Como bem observado na decisão atacada, a questão é tormentosa pois coloca

em campos opostos autorizados doutrinadores como também em posições

antagônicas respeitáveis magistrados.

Esta própria egrégia Corte tem sediado alternância de resultados, no âmbito

da colenda Primeira Seção, sensível que é o tema a qualquer modifi cação na

composição do Colegiado.

O tema central está em saber-se se as operações de leasing estão, ou não,

sujeitas à incidência do ISS.

Três posturas podem ser assumidas diante do problema.

Na primeira estão aqueles que entendem que não há incidência do ISS

sobre os contratos de leasing que têm “por traço fundamental a operação de

financiamento nele contida e não a utilização temporária do bem, mediante

remuneração, não sendo por outro motivo que os negócios da espécie estão

sistematicamente vinculados a uma instituição fi nanceira, nem tampouco, que

tais operações são regulamentadas e fi scalizadas pelo Banco Central”, conforme

argumento utilizado pelo eminente Ministro Ilmar Galvão, no seu erudito voto

proferido no REsp n. 341, quando S. Exa ilustrava a egrégia Segunda Turma desta

augusta Casa.

Com base nessas premissas, S. Exa concluiu afi rmando que, “assim, não pode

o contrato de leasing ser simplesmente assimilado a locação, para efeito de

incidência do ISS”.

A tese acima exposta foi acolhida, por maioria, nos Embargos de Divergência

no REsp n. 2.732-SP, Relator eminente Ministro Ilmar Galvão, em 09.04.1991,

votando com o Relator os Srs. Ministros Américo Luz, Hélio Mosimann e Peçanha

Martins; vencidos, os Srs. Ministros Geraldo Sobral, José de Jesus e Garcia Vieira.

Page 123: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 123

Cumpre assinalar que dos acima mencionados Srs. Ministros, apenas cinco

ainda continuam integrando, atualmente, a egrégia Primeira Seção. Destarte,

dos atuais dez integrantes, cinco Ministros não participaram do julgamento de

mencionados embargos.

A segunda corrente sustenta que, não obstante ser taxativa a lista de serviços

tributáveis pelo ISS, certo é que se deve emprestar sentido amplo às categorias ali

presentes, daí ter Baleeiro (in “Direito Tributário Brasileiro”, Forense, Rio, 9ª ed., p.

271) pontifi cado que “não se pode incluir na lista categoria que nela inexista. Mas

o que existe pode ser interpretado amplamente” daí porque assevera que “a lei

complementar pode ser mais ou menos compreensiva e pode designar gêneros,

dos quais o intérprete extrai as espécies”.

Essa segunda posição — que, aliás, é a adotada pelo aresto hostilizado —

recebeu o placet da Corte excelsa quando a ela estava afeta também a tarefa

de apreciar matéria infraconstitucional, consolidando-se em harmoniosa

jurisprudência, de que é expressivo exemplo o RE n. 106.047-SP (RTJ 116/811),

Relator eminente Ministro Rafael Mayer, assim ementado:

ISS. Arrendamento mercantil de coisas móveis (leasing). Incidência do

Imposto Sobre Serviços. Subsunção no item 52 da Lista de Serviços.

Razoável o entendimento de que a prestação habitual pela empresa,

de serviço consubstanciado no arrendamento mercantil (leasing) de bens

móveis, está sujeito ao ISS, em correspondência à categoria prevista no

item 52 da Lista.

Do corpo do acórdão extraio os seguintes elucidativos trechos:

Improcede, com efeito, a censura que se lhe faz ao argumento de que,

na doutrina dominante e na jurisprudência pacífica desta Corte, a lista

de serviços tributáveis é taxativa, não havendo como acrescentar-lhe

categoria nela não prevista. Pois, ao ser taxativa a lista, não inibe que se

dê às categorias o sentido amplo e compreensivo, de modo que o possa

exercitar plenamente a competência que lhe é deferida, no delineamento

do que seja fato imponível.

(...)

Certamente, o arrendamento mercantil (leasing), cujo tratamento

tributário é regulado na Lei n. 5.099/1974, e para esse efeito vem aí defi nido,

tem aspectos complexos e um sentido econômico peculiar. Conceituado

no parágrafo único do art. 1º do diploma legal, como “operação realizada

entre pessoas jurídicas que tenham por objeto o arrendamento de bens

adquiridos a terceiros pela arrendadora, para fins de uso próprio da

arrendatária”, ela envolve, de um lado, uma operação de fi nanciamento de

aquisição da mercadoria pela arrendadora e, de outro lado, a operação de

Page 124: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

124

compra pelo arrendatário, ao término do arrendamento se não o renovar

ou apenas devolução do bem, mas o fundamental, a constituir como que o

núcleo e razão da atividade, está no arrendamento.

Esse arrendamento de bens, mediante contratos pertinentes, em que

sua configuração é essencial, quanto ao prazo, quanto ao uso da coisa

locada e quanto à retribuição, obviamente eventual a verificação da

cláusula optativa, é que constitui a substância da prestação do serviço a

que se propõe a empresa, pela qual a sua atividade se torna específi ca e

signifi cativa do ponto de vista fi scal.

Não há, portanto, emprego da analogia criadora de tributo à revelia do

art. 108, § 1º, do CTN, mas apreensão da realidade de um serviço prestado

habitualmente, cuja conotação essencial, própria do arrendamento

mercantil de móveis, encontra correspondência na categoria no serviço

prevista no item 52, a saber, a locação de coisas móveis.

Observo que, à época desse julgado, constava, no item 52 da lista, apenas a

“locação de bens móveis”.

Essa tese foi acolhida no STJ nos REsps n. 61-SP (Relator eminente Ministro

Carlos Mário Velloso, da Segunda Turma, julgado em 08.11.1989); 682-SP (Relator

eminente Ministro Armando Rollemberg, julgado em 02.10.1989) e 14.716-SP

(Relator eminente Ministro Garcia Vieira, julgado em 13.11.1991), esses dois da

egrégia Primeira Turma.

A terceira corrente, por sua vez, é fi rme no entendimento de que o ISS somente

passou a ser incidente, sobre as operações de leasing, após 1º de janeiro de 1988,

pois que a Lei Complementar n. 56, de 15 de dezembro de 1987, modifi cou a lista

anexa ao DL n. 406/1968 fazendo constar no seu item 79, como fato gerador do

ISS, “a locação de bens móveis, inclusive arrendamento mercantil”.

Poder-se-ia até argumentar que referida inovação traria em si o vício da

inconstitucionalidade, já que rotularia como serviço o que serviço não seria, assim

contrariando o art. 156, IV, da vigente Constituição Federal.

Ora, este egrégio Tribunal não é o palco apropriado para debater tal tema, pois

quem a tanto está aparelhado é o conspícuo Supremo Tribunal Federal, porquanto,

dos dois recursos excepcionais existentes, não é o especial o apropriado para

sediar tal debate, mas o extraordinário, na forma constitucionalmente prevista.

Dá conta dessa terceira posição o r. acórdão unânime da lavra do eminente

Ministro Gomes de Barros, no REsp n. 7.234-0-SP (24.06.1992), de cujo julgamento

participaram, apenas, além de S. Exa, os eminentes Ministros Demócrito Reinaldo

e Milton Pereira.

Não há dúvida de que é remansoso o reconhecimento pretoriano de que a lista

de serviços tantas vezes acima cogitada é taxativa, embora cada item da relação

comporte interpretação ampla e analógica.

Page 125: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 125

Todavia, mesmo reconhecendo que o leasing, mais propriamente denominado

de arrendamento mercantil, tem elementos integrativos e caracterizadores de

vários contratos — tais como o de locação, compra e venda, fi nanciamento e

mútuo — ainda assim curvo-me à evidência de que o leasing é um contrato

típico, nominado, com identidade própria, tendo a Lei n. 6.099, de 12.09.1974,

na observação feliz do eminente Ministro Gomes de Barros no REsp acima

indicado, defi nido contornos de nova entidade, fi xando-lhe o conceito, dando-lhe

autonomia e tipicidade.

Por isso é que tenho como certo que por mais amplitude com que se queira

interpretar a expressão ‘locação de bens móveis’ (item 52 da lista anexa ao DL n.

406/1968), jamais será possível alcançar os limites do arrendamento mercantil

(leasing).

Por isso, impossível aceitar a incidência do ISS sobre as operações de leasing,

enquanto não havia expressa previsão na lista.

Todavia, a partir da Lei Complementar n. 56, de 15.12.1987, a lista dos serviços

foi alterada e no seu item 79 passou a fi gurar como fato gerador do ISS, a “locação

de bens móveis, inclusive arrendamento mercantil”.

Com efeito, o arrendamento mercantil, vale dizer, o leasing, passou a ser fato

gerador do ISS.

Por isso, aceito a sua cobrança do ISS sobre as operações de leasing a partir

daquela data (1º de janeiro de 1988) assim como rejeito-a para o período

antecedente.

Como, no caso concreto, os contratos que estão sob análise são do ano de

1986, portanto todos anteriores à vigência da LC n. 56/1987, tenho como indevida

a cobrança da exação cogitada, motivo pelo qual conheço do recurso para lhe dar

provimento, invertendo os ônus da sucumbência.

VOTO-VOGAL

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Sr. Presidente, acompanho o

eminente Ministro-Relator, reportando-me aos fundamentos do voto-anexo,

que proferi nos EDREsp n. 836-SP.

ANEXO

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 836-SP

(90.0013859-0)

Page 126: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

126

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Sr. Presidente, a questão diz

respeito ao reconhecimento da não incidência tributária do ISS sobre operações

relativas aos contratos denominados de leasing.

O eminente Ministro-Relator proferiu um brilhante voto em que analisou

em profundidade a matéria, baseando-se inclusive num precedente do Supremo

Tribunal Federal, do qual foi Relator o Ministro Rafael Mayer.

Depois de abordar os vários aspectos do tema, S. Exa. concluiu no sentido

de sustentar, conclusivamente, o seguinte: (lê)

Diante dos argumentos apresentados pelas duas correntes do dissídio

confi gurado, convenço-me de que, embora não correspondendo rigorosamente

à figura clássica da locação é o leasing, como modalidade do arrendamento

mercantil, contrato que se caracteriza predominantemente pela locação de bens

móveis, estando sujeito à incidência do ISS, quando ocorra a circunstância da

prestação habitual de serviço da espécie. Daí porque não vejo razões para mudar

o entendimento que vem sendo adotado pela colenda Primeira Turma deste

Tribunal, na esteira da jurisprudência da mais Alta Corte. Conhecido que foi o

recurso, sou pela manutenção desta diretriz jurisprudencial.

Em suma, o ilustre Relator entende que o ISS incide sobre os chamados

contratos de leasing.

Dele dissentiu o Sr. Ministro Américo Luz, que também proferiu um

brilhantíssimo voto. Não o lerei na sua íntegra, a fim de facilitar o nosso

julgamento, porque estou mais preocupado em resumir a tese básica, mesmo

porque todos os colegas já conhecem o tema. Se houver necessidade, o lerei com

grande prazer.

Em resumo, o Ministro Américo Luz abordou todos os aspectos da

questão controvertida, com apoio em precedentes jurisprudenciais. No fi nal, S.

Exa. discordou do ilustre Relator, dizendo: (lê)

Destarte, após debruçar-me no exame das teses confl itantes, entendo, data

venia do ínclito Relator, e não obstante a orientação contrária da Suprema Corte,

que não se aplica ao arrendamento mercantil, contrato típico que é, distinto da

locação de bens móveis, o item 52 da lista de serviços anexa ao DL n. 406/1968.

Em tal contexto, toda questão concerne em saber se o contrato de leasing

inclui-se ou não no item 52 da lista de serviços anexa ao Decreto-Lei n.

Page 127: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 127

406/1968. Essa é a grande controvérsia. E, para dirimi-la, creio que o tema há

de ser enfocado sob dois ângulos: se se trata de caso de interpretação do texto

legal ou se se trata de fazer analogia, diante do texto legal. Esse, no meu ponto

de vista, é o aspecto básico. Interpretar o texto legal signifi ca delimitar o seu

sentido e seu alcance. Fazer analogia signifi ca procurar pontos comuns em

coisas diversas. Identifi car pontos de semelhança em leis diversas.

Vejamos: o que seria o contrato de leasing?

Contrato de leasing, conforme sabemos, se pudermos seccioná-lo, envolve

algo parecido com contrato de locação, mais o contrato de fi nanciamento e,

afi nal, até mesmo, a possibilidade de um contrato de compra e venda.

Então, temos, com as ressalvas quanto à locação, pelo menos três contratos

englobados no chamado contrato de leasing: contrato de locação, contrato de

fi nanciamento e contrato de compra e venda. Para aqueles que preferem dar

interpretação compreensiva ao texto, há uma preponderância do contrato de

locação, daí o seu enquadramento na mencionada lista de serviços; outros, ao

contrário, sustentam que há uma predominância do contrato de fi nanciamento,

daí que o enquadramento não ocorreria, tratando-se de contrato típico.

Assumindo posição sobre a controvérsia, afi gura-se-me que sem se recorrer

à analogia não é possível concluir, no caso, pela incidência do tributo. E por

que, na hipótese, se trata de analogia. Explico. Fazer analogia signifi ca procurar

pontos comuns em coisas diversas. Considerando-se um determinado objeto,

cujos elementos constitutivos fundamentais são A, B e C. E outro objeto cujos

elementos constitutivos sejam A’, B’ e C’. São elementos sem os quais deixariam

de existir como tais, pois lhes são identifi cadores. Comparando os dois objetos,

através de seus elementos constitutivos comuns, podemos ter três tipos de

relação: relação de identidade, quando há uma correspondência entre esses

elementos constitutivos comuns; uma relação de diversidade, quando não há

correspondência entre os elementos constitutivos comuns; e relação de analogia

ou similaridade, quando há pontos comuns e pontos diversos. É o caso típico

da conexão de Direito Processual: quando comparamos duas ações, se têm as

mesmas partes, causas de pedir e objetos, são idênticas; se não têm, são diversas;

se têm alguns pontos comuns relativamente a esses elementos e outros diversos

a relação é de analogia que, processualmente, se chama conexão.

Exercitando esse raciocínio, verifi camos que o contrato de leasing compõe-

se de dois contratos pelo menos: um parecido com o de locação e outro de

fi nanciamento. Mas, alguns entendem que há, até mesmo, um terceiro contrato,

Page 128: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

128

o de compra e venda, se afi nal, o benefi ciário do fi nanciamento quiser adquirir a

coisa. Então, são três os contratos.

Comparando o contrato de locação com o de leasing podemos verifi car,

com muita boa vontade, que o máximo que há entre eles é uma relação de

analogia, na parte pertinente à locação. Com relação ao fi nanciamento, ninguém

jamais irá sustentar que o contrato de locação implica contrato de fi nanciamento.

Isso não é da natureza do contrato de locação. Tratando-se de analogia e não de

interpretação compreensiva penso que não é possível que se tribute sem lei. A

propósito, é expresso o § 1º do art. 108 do CTN: “o emprego da analogia não

pode resultar na exigência de tributo não previsto em lei”. E, no caso, não há

lei que permita fazer incidir o ISS sobre operações decorrentes de contrato

de leasing. Tanto assim que se promulgou a Lei Complementar n. 56, de

15.12.1987, alterando a lista de serviços que acompanha o Decreto-Lei n. 406,

de 31 de dezembro de 1968, dela constando o item 79 com a seguinte redação:

“Locação de bens móveis, inclusive arrendamento mercantil ” (grifei). Como

se sabe, o item 52 da referida lista, com a redação anterior à citada lei, falava

simplesmente em “locação de bens móveis”, sem se referir a “arrendamento

mercantil”. Todavia, a espécie refere-se a hipóteses ocorridas anteriormente à

referida lei.

Com essas breves observações e com a devida vênia ao ilustre Relator que

proferiu um voto muito bem fundamentado, tendo em vista a argumentação

antes expendida, acompanho o voto do Sr. Ministro Américo Luz.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro José de Jesus Filho: Sr. Presidente. A matéria é conhecida

de todos nós e não há necessidade de fazer a leitura do brilhante voto do Sr.

Ministro Humberto Gomes de Barros.

Naquela assentada, pedi vista para examinar a decisão em face da Lei

Complementar n. 56 e ajustar os votos que estava elaborando nos Embargos de

Divergência n. 322 e 14.716, de que era Relator.

Acontece, Sr. Presidente, que vinha mantendo o entendimento, dado pelo

Ministro Américo Luz, na Turma, juntamente com meus pares. O Ministro

Américo Luz leu um brilhante e longo voto — todos se recordam, — em que

analisou o problema do leasing. Trouxe, inclusive, julgado do STF, de que foi

Relator o Sr. Ministro Oscar Corrêa, e, em função de seus argumentos, fi z uma

Page 129: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 129

refl exão, chegando à mesma conclusão, tanto que o acompanhei no julgamento,

do Recurso Especial n. 341.

Aqui, ouvi o voto do Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros e, não

sei se por inadvertência ou por seguir a regra então estabelecida, julguei, e fui

acompanhado pelos ilustres Pares, os Embargos de Divergência no Recurso

Especial n. 14.716-SP, interpostos pela mesma fi rma que produziu os embargos

ora em discussão. Queria, mas, confesso, acabei não ajustando o meu voto.

Naquela oportunidade, a firma era a mesma e me filiei à corrente

majoritária nesta Seção, pedindo vênia aos Srs. Ministros que pensavam ao

contrário e acolhendo os embargos integralmente.

Mas, agora, Sr. Presidente, li atentamente o voto do Sr. Ministro Gomes de

Barros e S. Exa. fez uma colocação que me pareceu absolutamente procedente.

O fi nal do seu voto é:

Por tudo isto, meu voto é no sentido de dar provimento parcial ao recurso,

para declarar que:

a) a prática de arrendamento mercantil, anterior a 1º de janeiro de 1988

não constitui fato gerador de ISS;

b) a partir daquela data, o tributo municipal passou a incidir sobre o

arrendamento mercantil.

Essa foi a conclusão do voto do eminente Ministro-Relator.

O Sr. Ministro Garcia Vieira: Isso é o que dispõe a lei.

O Sr. Ministro José de Jesus Filho: É. Ele fez essa colocação, extraindo

da lei, que achei perfeitamente válida, no que foi acompanhado por três outros

Ministros que me antecederam neste julgamento. Fiquei convencido de que

essa conclusão seria a melhor para a nossa Seção, porque foi aperfeiçoado

o entendimento. A partir da Lei Complementar n. 56, é devido o ISS às

Prefeituras. Antes, não. Diante disso, o eminente Ministro-Relator recebeu em

parte, os embargos com essa fi nalidade. Não me movendo nenhuma outra razão

para discordar, vou acompanhar o seu voto. Em dezembro de 1993, julgamos uma

questão semelhante. Naquela ocasião, recebemos integralmente os embargos,

sem atentarmos para este detalhe: antes da lei, após a lei. Este argumento veio

despertar minha curiosidade depois que examinamos, na Turma, o problema

do ICMS sobre bares e restaurantes, quando dizíamos naquela argumentação

Page 130: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

130

inicial, hoje pacifi cada — que antes da Constituição o imposto não é devido

e depois da Constituição é devido. Mas agora faço a mesma refl exão, pedindo

vênia aos ilustres Ministros que me acompanharam naquela oportunidade, em

dezembro. Fruto do cansaço de fi nal de ano, acabei recebendo integralmente os

embargos, quando, na verdade, deveria recebê-los parcialmente.

VOTO

O Sr. Ministro Peçanha Martins: Sr. Presidente, votei, na Seção e também

na Turma, acompanhando o eminente Ministro Américo Luz — que, por seu

turno, reportou-se, em brilhante voto, a acórdão da lavra do Ministro Oscar

Corrêa, jurista e economista renomado e recordei a lição do Mestre Orlando

Gomes, examinando as novas formas contratuais e chamando a atenção de

seus alunos — entre os quais, para felicidade minha, encontrava-me — sobre a

necessidade de defi nição adequada dessas novas formas contratuais, importadas,

sobretudo, do Direito Inglês e Americano.

Por força disso, entendi que o leasing, contrato misto, que envolve um sem

número de fi guras de contratos típicos, tradicionais, teria uma natureza própria,

mais próxima, ou com predominância mesmo, do contrato de fi nanciamento, e

por isso mesmo a ele aplicável o Imposto de Operações Financeiras, o IOF, e

não o ISS.

Mas, afi nal, pacifi cou-se na Seção o entendimento de que há de prevalecer

a tradução dada ao instituto pelo legislador brasileiro de arrendamento mercantil

e, como tal, o temos submetido, porque elencado na lista de serviços editada pela

Lei Complementar n. 56, àquelas hipóteses de incidência do ISS.

Em razão disso, tenho acompanhado a corrente hoje unânime.

Acompanho o eminente Ministro-Relator.

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo: Sr. Presidente, no caso, recebo os

embargos integralmente, independentemente da fi xação de qualquer marco

temporal, porque o meu ponto de vista esposado aqui em oportunidades

diversas, era que no caso do leasing já incidia o ISS.

Recebo integralmente os embargos.

É como voto.

Page 131: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 131

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 836-SP

(90.0013859-0)

Relator: Ministro Demócrito Reinaldo

Embargante: Crefi leasing S/A Arrendamento Mercantil

Embargada: Municipalidade de São Paulo

Advogados: Hamilton Dias de Souza e outros e Carlos Robichez Penna e

outro

EMENTA

Tributário. Imposto Sobre Serviços (ISS). Leasing. Incidência do

imposto. Precedentes do STF e deste STJ.

Consoante jurisprudência predominante do egrégio Supremo

Tribunal Federal e desta egrégia Corte, a prestação habitual de serviços

de leasing por empresa, está sujeita ao ISS (subsunção no item 52 da

Lista de Serviços anexa ao Decreto-Lei n. 406/1968).

Embargos rejeitados. Decisão por maioria.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, após o voto-vista do Sr.

Ministro José de Jesus, a Seção, por maioria, rejeitar os embargos; vencidos

os Srs. Ministros Américo Luz e Antônio de Pádua Ribeiro (votos anteriores

proferidos na presidência do Ministro Pedro Acioli). Os Srs. Ministros

Humberto Gomes de Barros, José de Jesus (voto-vista), Garcia Vieira, Hélio

Mosimann e Peçanha Martins votaram com o Sr. Ministro-Relator. Não

participaram do julgamento os Srs. Ministros Milton Luiz Pereira e Cesar

Asfor Rocha. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 7 de dezembro de 1993 (data do julgamento).

Ministro Américo Luz, Presidente

Ministro Demócrito Reinaldo, Relator

DJ 07.03.1994

Page 132: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

132

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo: A empresa Cref ileasing S/A

Arrendamento Mercantil propôs ação declaratória contra o Município de São

Paulo-SP, visando obter o reconhecimento de não incidência tributária do ISS

sobre operações dos ramos das suas atividades: arrendamento de bens móveis,

através dos contratos denominados de leasing.

Julgada procedente a ação, (fl s. 235-241), a Municipalidade apelou e obteve

da Quinta Câmara do 1º Tribunal de Alçada Civil provimento do recurso, com

a reforma da sentença de 1ª instância (fl s. 288-294).

Interpostos embargos infringentes pela empresa, foram estes rejeitados

(fl s. 323-325), seguindo-se a interposição do apelo extremo, com o recurso

extraordinário admitido (fl s. 362-365) e posteriormente desdobrado em recurso

especial, remetido a esta Corte para decisão da matéria infraconstitucional (fl .

202).

Apreciado o recurso especial foi negado provimento, por unanimidade, na

forma do voto proferido pelo Ministro Pedro Acioli, de cuja decisão encontra-se

o acórdão assim ementado:

Tributário. ISS. Leasing.

I - O ISS tem incidência nas operações de arrendamento mercantil — leasing —

na forma dos precedentes deste Tribunal.

II - Recurso a que se nega provimento.

Inconformada com esta decisão, a recorrente traz à colação julgados mais

recentes da Segunda Turma deste Tribunal, para suscitar a divergência objeto

dos presentes embargos, destacando a ementa do acórdão, em cujo julgado foi

Relator o Ministro Hélio Mosimann, no REsp n. 322-SP:

Tributário. Imposto Sobre Serviços. Contrato de leasing ou arrendamento

mercantil. Não-incidência do tributo.

O leasing ou arrendamento mercantil é contrato típico, de características

próprias, embora adotando peculiaridades de outras avenças.

Não podendo ser incluído na categoria de contrato locatício de bens móveis,

na operação leasing não incide sobre serviços.

Recurso especial conhecido e provido. (Fl. 233)

Page 133: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 133

Admitidos os embargos, para discussão, ante a evidência da divergência

indicada (fl . 245).

É o relatório.

VOTO PRELIMINAR

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo (Relator): A matéria objeto do dissídio

suscitado nos presentes embargos de divergência, essencialmente polêmica

na doutrina e na jurisprudência, já mereceu estudos aprofundados do egrégio

Supremo Tribunal Federal, assim como das colendas Primeira e Segunda

Turmas deste Tribunal.

A discussão gira, fundamentalmente, em torno da natureza jurídica dos

contratos que envolvem operações de arrendamento mercantil de coisas móveis,

sob a forma de leasing, buscando-se saber se o denominado Imposto Sobre

Serviços (ISS) incide sobre tais negócios jurídicos. A verdade, entretanto, é que

tanto no Pretório excelso, quanto neste Tribunal, as dúvidas sobre os principais

aspectos jurídicos da controvérsia foram examinadas com percuciência,

resultando dos respectivos julgados votos que demonstraram, por parte dos

eminentes Ministros que os proferiram, grande conhecimento da questão

discutida.

Entre Turmas desta colenda Primeira Seção é que se configura a

divergência: de um lado, a Primeira Turma, com respaldo em votos proferidos

pelos eminentes Relatores Ministros Garcia Vieira (REsp n. 249-RS), Carlos

Mário Velloso (REsp n. 61-SP) e Armando Rolemberg (REsps n. 628-SP e

673-SP), Pedro Acioli (REsps n. 804-SP e 836-SP) e Geraldo Sobral (REsp

n. 2.732-SP), tem decidido, por unanimidade, seguindo a jurisprudência do

STF, no sentido de que o ISS incide na operação de arrendamento mercantil

de coisas móveis — leasing; do outro, a Segunda Turma, também unânime,

acompanhando o voto do eminente Ministro Hélio Mosimann (REsp n. 322-

SP), ao reconhecer que na operação de leasing não incide o ISS, por isso que se

trata de contrato típico, de características próprias, embora com peculiaridades

de outras avenças, mas não incluído na categoria de contrato locatício de bens

móveis.

Por reconhecer que se confi gura a divergência, preliminarmente, conheço

do recurso.

Page 134: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

134

VOTO-MÉRITO

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo (Relator): Com efeito, depois de fazer

acurado estudo sobre os principais fundamentos apresentados nas decisões que se

confi guram como divergentes, não tenho dúvidas em me inclinar para aceitação

do posicionamento adotado, por reiteradas vezes, pela colenda Primeira Turma.

E o faço, com convencimento formado diante da jurisprudência do Pretório

excelso, da qual tem sido destacada, em diversos julgados desta Corte, entre

outras, a decisão no recurso extraordinário, cuja ementa do acórdão é a seguinte:

ISS. Arrendamento mercantil de coisas móveis (leasing). Incidência do

Imposto Sobre Serviços. Subsunção no item 52 da lista de serviços. Razoável

o entendimento de que a prestação habitual, pela empresa, de serviço

consubstanciado no arrendamento mercantil (leasing) de bens móveis, está

sujeita ao ISS, em correspondência à categoria prevista no item 52 da Lista.

Recurso extraordinário não conhecido. (Proc. 106.047-2-SP, Primeira Turma do

STF)

Na motivação do seu voto, o eminente Relator, Ministro Rafael Mayer,

assim se manifestou:

Trata-se como se vê, de controvérsia sobre a legitimidade em face da

preceituação — referida, da incidência do ISS sobre a realização, pela empresa,

de arrendamento mercantil de bens móveis leasing, previsto expressamente na

legislação local como fato gerador do imposto, em face da conceituação — que

se tem no n. 52 da lista de serviços anexa ao Decreto-Lei n. 406/1968, referente à

locação de bens móveis.

Admitindo que o arrendamento mercantil tem constituição complexa,

integrada simultaneamente pelos elementos da locação de bens e da opção

de aquisição dos bens locados, o venerando acórdão recorrido, endossando a

doutrina da sentença de 1º grau, invoca o critério da preponderância da atividade

desenvolvida, pela empresa prestadora de serviço, para o efeito de incidência

tributária e de subsunção no item 52 da lista pois “certo é o elemento factual do

arrendamento e incerto o evento da aquisição”.

Ora, o entendimento é decerto razoável.

Improcede, com efeito, a censura que se lhe faz ao argumento de que, na

doutrina dominante e na jurisprudência pacífi ca desta Corte, a lista de serviços

tributáveis é taxativa, não havendo como acrescentar-lhe categoria nela não

prevista. Pois, ao ser taxativa a lista, não inibe que se dê às categorias o sentido

amplo e compreensivo, de modo que o Município possa exercitar plenamente a

Page 135: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 135

competência que lhe é deferida, no delineamento do que seja o fato imponível.

Assim mesmo é o entendimento do Supremo Tribunal Federal, como se vê

do acórdão no RE n. 91.737, da egrégia Segunda Turma, aliás, invocado pela

Recorrente em seu prol, onde ao mesmo tempo que se reconhece a propensão da

jurisprudência do Supremo Tribunal pelo caráter taxativo da lista, admite-se que a

prestação de serviço de segurança e vigilância encontra correspondência no item

16 da lista (RTJ 97/361).

Certamente, o arrendamento mercantil leasing cujo tratamento tributário é

regulado na Lei n. 6.099/1974, e para esse efeito vem aí defi nido, tem aspectos

complexos e um sentido econômico peculiar. Conceituado no parágrafo único

do art. 1º do diploma legal, como “a operação realizada entre pessoas jurídicas

que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos a terceiros pela

arrendadora, para fi ns de uso próprio da arrendatária”, ela envolve, de um lado,

uma operação de fi nanciamento da aquisição da mercadoria pela arrendadora e,

de outro lado, a opção de compra pelo arrendatário, ao término do arrendamento

se não o renovar ou apenas devolução do bem, mas o fundamental, a constituir

como que no núcleo e razão da atividade, está no arrendamento.

Esse arrendamento de bens, mediante contratos pertinentes, em que a sua

configuração é essencial, quanto ao prazo, quanto ao uso da coisa locada e

quanto à retribuição, obviamente eventual a verifi cação da cláusula optativa, é

que constitui a substância da prestação do serviço a que se propõe a empresa,

pela qual a sua atividade se torna específi ca e signifi cativa do ponto de vista fi scal.

Não há, portanto, emprego de analogia criadora de tributo à revelia do

art. 108, § 1º, do CTN, mas a apreensão da realidade de um serviço prestado

habitualmente, cuja conotação essencial, própria do arrendamento mercantil de

móveis, encontra correspondência na categoria do serviço prevista no item 52, a

saber, a locação de coisas móveis.

Resta acentuar que o aspecto aqui salientado tem ponderável acolhida na

doutrina, como dentre outros vem preferido por Aliomar Baleeiro (“Dir. Trib.

Bras.”, 10ª ed., p. 292); a incidência tributária está prevista na legislação dos

mais importantes Municípios brasileiros e tem o beneplácito da jurisprudência

preponderante dos tribunais estaduais.

Por isso há razão de invocar-se a Súmula n. 400.

Não conheço, portanto, do recurso.

Na mesma linha de entendimento tem se fi rmado a colenda Primeira

Turma desta Corte, nos precedentes dos recursos especiais já citados, dos quais

podem ser mencionados, em prol da tese então defendida, acórdãos e trechos

bem fundamentados dos respectivos votos dos eminentes Ministros-Relatores:

Page 136: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

136

Tributário. ISS. Leasing.

De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a prestação

habitual de serviço de leasing por empresa, está sujeita ao ISS, em correspondência

à categoria prevista no item 52 da lista de serviços.

Recurso especial conhecido com base na letra c do inciso III do art. 105 da

Constituição Federal, e provido.

ISS. Arrendamento mercantil. Incidência.

A realidade do arrendamento, sua repercussão econômica, a contraprestação

pelo serviço prestado (seu conteúdo fático), constitui o fato gerador do Imposto

de competência dos Municípios sobre serviços de qualquer natureza (art. 8º do

Decreto-Lei n. 406/1968). Demonstrada a divergência e afastada a negativa de

vigência ao Decreto-Lei n. 406/1968.

Recurso conhecido e improvido.

Tributário. ISS. Leasing.

O Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza — ISS, tem incidência nas

operações de arrendamento mercantil — leasing. Precedentes.

Recurso provido.

Tributário. Leasing. Incidência do ISS.

A jurisprudência desta colenda Corte é pacífi ca no sentido de que o ISS incide

na operação de arrendamento mercantil de coisas móveis ou leasing.

Recurso conhecido e provido.

Tributário. ISS. Leasing.

O ISS tem incidência nas operações de arrendamento mercantil — leasing —,

na forma dos precedentes deste tribunal.

Recurso a que se nega provimento.

Tributário. ISS. Leasing.

De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a prestação

habitual de serviço de leasing por empresa, está sujeita ao ISS, em correspondência

à categoria prevista no item 52 da lista de serviço. Recurso especial conhecido

com base na letra a do inciso III do art. 105 da Constituição Federal, e provida para

reformar a sentença.

Tributário. ISS. Leasing. Incidência do ISS. Lista de serviços, item 52.

O ISS incide na operação de arrendamento mercantil de coisas móveis leasing.

Subsunção no item 52 da lista de serviços.

Recurso especial conhecido e provido.

Page 137: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 137

O Ministro Garcia Vieira, na fundamentação do seu voto, como Relator do

REsp n. 249-RS:

Como se vê, a decisão recorrida se amolda ao entendimento da Corte Maior e

não negou vigência a nenhum dos dispositivos da legislação infraconstitucional,

apontados pelo recorrente. Não houve emprego da analogia para a exigência

de tributo não previsto em lei (art. 100 do CTN) mas, conforme bem acentuou

o eminente Ministro Rafael Mayer“... a apreensão da realidade de um serviço

prestado habitualmente, cuja conotação essencial, própria do arrendamento

mercantil de móveis, encontra correspondência na categoria do serviço prevista

no item 52, a saber, a locação de coisas móveis”.

Também, no caso, a lei tributária não alterou “a defi nição, o conteúdo e o

alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado... para definir ou

limitar competências tributárias (art. 110 do CTN).

Do mesmo modo, o Ministro Carlos Mário Velloso, depois de fazer

detalhado estudo sobre a natureza jurídica do leasing, afi rma que a doutrina,

ao que parece, caminha no sentido de caracterizar este contrato ‘como espécie

de locação, não uma locação comum, porque nele está presente, posto que de

forma incerta, a opção futura de compra dos bens locados pelo arrendatário’. E

arremata:

Sendo assim, certo que predomina no leasing a locação, razoável o

entendimento de sujeitar-se essa operação ao ISS, presente o item 52 da lista

(REsp n. 61-SP).

Diante dos argumentos apresentados pelas duas correntes do dissídio

confi gurado, convenço-me de que, embora não correspondendo rigorosamente

à fi gura clássica da locação, é o leasing, como modalidade do arrendamento

mercantil, contrato que se caracteriza predominantemente pela locação de bens

móveis, estando sujeito à incidência do ISS, quando ocorra a circunstância da

prestação habitual de serviço da espécie. Daí porque não vejo razões para mudar

o entendimento que vem sendo adotado pela colenda Primeira Turma deste

Tribunal, na esteira da jurisprudência da mais Alta Corte. Conhecido que foi o

recurso, sou pela manutenção desta diretriz jurisprudencial.

É o meu voto, não recebendo os embargos.

Page 138: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

138

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Américo Luz: Na questão ora em debate busca-se o

entendimento da Corte quanto à incidência ou não do ISS nos contratos de

leasing ou arrendamento mercantil, ante os precedentes deste egrégio Tribunal a

confi gurar decisões divergentes entre suas Turmas julgadoras.

Sobre a matéria, leio e faço juntar por cópia o voto-vista que proferi na

Segunda Turma, no julgamento do Recurso Especial n. 341-SP, convencido

de que o arrendamento mercantil é contrato típico, distinto da locação de bens

móveis.

Por tais motivos, recebo os embargos.

ANEXO

RECURSO ESPECIAL N. 341-SP (89.8883-1)

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Américo Luz: I - Em grau de apelação, o acórdão da Oitava

Câmara do 1º Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo, reformou a

sentença que dera pela procedência da declaratória proposta, ao fundamento

de que a operação consistente no arrendamento mercantil de coisas móveis

(leasing) está subsumida no item 52 da lista de serviços do ISS, e, portanto,

sujeita à incidência desse tributo — fl s. 426-433.

Processado em face do acolhimento da argüição de relevância, o

extraordinário interposto subiu ao Pretório excelso que, nos termos da decisão

de fl . 509, o converteu em especial no que concerne à matéria infraconstitucional.

Nesta egrégia Turma, o eminente Relator, Ministro Carlos Velloso, apoiado

em precedente de sua própria lavra (REsp n. 61-SP) decidiu não conhecer do

recurso.

Na oportunidade, S. Exa. proferiu o seguinte voto, verbis:

Primeiro que tudo, esclareça-se que a lista de serviços tributáveis pelo ISS, não

obstante taxativa, certo é que às categorias ali postas deve-se emprestar sentido

amplo, compreensivo, por isso que a lista “pode designar gêneros, dos quais o

Page 139: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 139

intérprete extrai as espécies”. (A. Baleeiro, “Dir. Trib. Brasileiro”, Forense, 10ª ed., p.

298). A interpretação extensiva da lista, ou a natureza compreensiva da lista de

serviços, tem sido acolhida pela doutrina (Geraldo Ataliba, “Estudos e Pareceres

de Direito Tributário”, Ed. RT, 1980, III/220) e pela jurisprudência (RE n. 91.737, RTJ,

97/357; RE n. 106.047-SP, DJ 13 de dez/1985; RE n. 104.571-PE, RTJ 113/1.387).

Isto esclarecido, a questão a saber é se a locação de bens móveis, que é

o serviço tributado pelo ISS no item 52 da lista, compreenderia o leasing,

arrendamento mercantil, na linguagem da Lei n. 6.099, de 12.09.1974, art. 1º,

parágrafo único, ou “arrendamento fi nanceiro”, segundo Penalva Santos (“Leasing”,

RF, 250/46, 57).

O leasing é, na verdade, um contrato complexo, porque composto de

elementos integrativos e caracterizadores de vários contratos: locação, compra e

venda, fi nanciamento, mútuo.

Importa verifi car, pois, no caso, o elemento factual que predomina no leasing,

vale dizer, importa perquirir, na hipótese, se o elemento factual que predomina

no arrendamento mercantil é o elemento tipifi cador da locação.

Esta é a questão.

Porque, se o elemento tipificador do leasing for aquele elemento que

caracteriza a locação, é razoável o entendimento no sentido de que aquele é

espécie desta.

A doutrina, ao que parece, caminha no sentido de caracterizar o leasing

como espécie de locação, não uma locação comum, porque nele está presente,

posto que de forma incerta, a opção futura de compra dos bens locados pelo

arrendatário.

Fábio K. Comparato, escrevendo sobre o tema, leciona que “... sobre o leasing

não incide o imposto federal sobre operações fi nanceiras. Sem dúvida, o leasing

pode representar economicamente uma operação de fi nanciamento na aquisição

do equipamento industrial ou comercial de uma empresa. Juridicamente, porém,

a operação é veiculada nos moldes de uma locação, com opção unilateral de

compra...” (“Contrato de Leasing”, RF, 250/7, 11; RT, 389/7, 13). Para Garcia Hilário, o

leasing poderia ser classifi cado como arrendamento (RF, 250/70, 75). Luiz Mélega

entende que o leasing está sujeito ao ISS, tendo em vista o item 52 da Lista, ‘sob

o nome genérico de “Locação de Bens Móveis”, instituto de que o leasing é um

caso particular. (“Aspectos Fiscais do Leasing, RF, 250/89, 98; “O Leasing e o Sistema

Tributário Brasileiro”, Saraiva, 1975, p. 77). Para Tavares Paes, o leasing é forma

peculiar de locação, pelo que está sujeito ao ISS (“Leasing”, RT, 1977, p. 31).

Segundo El Mokhtar Bey, o que predomina no leasing é a locação: “C’est le

contracte de location qui constitue, assurement, l’instrument juridique fondamental

de l’opération de leasing ou crédit bail.” (“La Symbiotique dans les Leasing ou Crédit-

Bail”, p. 3, § 1º).

Page 140: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

140

Para Sampaio de Lacerda, o leasing constituiria uma operação fi nanceira. (“O

Leasing e a sua Aplicação no Campo do Direito Aeronáutico”, RF, 250/425). Isto,

entretanto, não ocorre. É que a sociedade que pratica o leasing não faz nenhum

empréstimo de dinheiro. O que ocorre, na operação de leasing, é a cessão de

equipamento mediante uma certa remuneração, com a opção de compra no

fi nal do contrato. Em termos econômicos, pode-se afi rmar que o elemento desse

contrato está presente no leasing; em termos jurídicos, entretanto, o elemento

que está presente é o da locação: cessão de equipamento, do bem, mediante o

pagamento de um aluguel.

Sendo assim, certo que predomina no leasing a locação, razoável é o

entendimento de sujeitar-se essa operação ao ISS, presente o item 52 da lista.

Esta é, na verdade, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (RE n.

108.665-SP, Relator o Ministro Oscar Corrêa, DJ 16.05.1986).

Após a competente sustentação oral feita pelo ilustre jurista Professor

Geraldo Ataliba, com o mesmo brilho e inteligência comum a tantas outras

que já assistimos, confesso que dúvidas me assaltaram no trato da questão ora

discutida.

Em conseqüência, diante da oportunidade que se me abriu, resolvi pedir

vista destes autos, para rever meu entendimento sobre a matéria, trazendo-os,

agora, com este voto.

II - Consabido que a controvérsia sobre a legitimidade ou não da incidência

do ISS sobre o arrendamento mercantil de bens móveis é assaz polêmica, tanto

na doutrina como na jurisprudência de nossos Tribunais.

Com efeito. Desprezando-se as divergências doutrinárias, por sinal ricas

nos argumentos que lhe dão sustentação, fi co com a jurisprudencial, fundamento

do conhecimento do recurso.

E aqui reside o ponto nodal da questão.

Para concluir pela tributação, entendeu o acórdão recorrido que compondo-

se o leasing dos elementos de locação de bens móveis e opção por futura compra

dos bens locados pelo arrendatário, certo é o elemento factual do arrendamento

e incerto o evento da aquisição. Sendo, portanto, preponderante aquela atividade

prestada subsume-se, assim, no item 52 da lista respectiva.

O entendimento de que o arrendamento mercantil é equivalente à locação

foi contestado pelo acórdão exarado no Reexame Necessário n. 185011384,

proferido pela IV Câmara Cível do egrégio Tribunal de Alçada do Estado

do Rio Grande do Sul. Do voto proferido pelo Relator, eminente Juiz Décio

Page 141: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 141

Antônio Erpen, destaco (fl s. 459-460):

Difere, todavia do arrendamento, porque a prestação no leasing é sempre

maior do valor que seria o aluguel mormente porque aquele em seu somatório

fi nal pode integrar, no futuro, o preço de uma compra.

Ademais, o montante da prestação no leasing é o produto de vários

ingredientes, v.g. o parcelamento do preço do objeto (seu custo), acrescido de

juros compensatórios, mais a depreciação do bem, e o lucro, à guisa de venda.

O custo de manutenção do mesmo objeto do contrato, normalmente corre à

conta do tomador-arrendatário, sendo que na locação é suportado pelo locador.

No tocante às benfeitorias difere o tratamento num e noutro instituto,

porquanto nas locações incidem os preceitos contidos nos arts. 1.199 e 516 do CC,

bem assim na atual Lei do Inquilinato. No leasing, o tratamento é diverso.

No campo processual também há nítida distinção entre ambas as fi guras. No

caso de inadimplência, o proprietário, em se tratando de leasing tem a ação de

reintegração de posse, ação essa que não se harmoniza com a locação, quando a

ação própria é a de despejo.

Quanto ao prazo, nas locações essa é mais breve, ao contrário do leasing, em

que são mais amplos.

Da mesma forma, a jurisprudência tem admitido que o arrendatário no leasing

responde, isoladamente, pelos danos causados pelo objeto a terceiros, afastada

a responsabilidade, ainda que remota, da empresa arrendante. O mesmo não

ocorre na locação.

Por derradeiro, no leasing, há necessariamente uma opção de compra

irretratável em favor do tomador-arrendatário, preestabelecido o preço residual,

aproveitando-se o somatório das prestações já pagas. E, o valor residual é tão

ínfi mo que, na prática, o contrato que se aproxima da locação no 1º estágio,

culmina em sendo um contrato de venda de bem móvel, em seu último momento.

Na locação, muito raramente se promove a cláusula de opção de compra, e

quase nunca isso ocorre em forma de adesão.

Assim, nítidas distinções existem entre o leasing, que nosso legislador rotulou

impropriamente de “arrendamento mercantil” com a locação. As Leis Fiscais n.

5.099/1974, com a nova redação dada pela Lei n. 7.132/1983: mantiveram o

instituto em sua plenitude, promovendo, tão-só a tradução para o vernáculo com

o nomen juris de arrendamento mercantil, quando em seu bojo não se fi zeram as

aproximações para permitir a confi guração de uma locação.

Sobre a hipótese, no Recurso Extraordinário n. 106.047-SP, (RTJ

116/811), proferiu extenso voto, após pedido de vista, o eminente Ministro

Oscar Corrêa, assim concluindo S. Exa.:

Page 142: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

142

17. Para encerrar esse levantamento — que exclui outros eminentes autores

(como Orlando Gomes — “Contratos”, RF, 1979, 7ª ed., p. 570; e Orlando Gomes e

Antunes Varela — “Direito Econômico”, Saraiva, 1977, p. 279 — que consideram

“elemento essencial da caracterização do leasing a faculdade reservada ao

locatário de adquirir no fim do contrato, os bens que alugou”), a opinião de

Bernardo Ribeiro de Morais (Doutrina e Prática do Imposto Sobre Serviços, RT, 1ª ed.,

1984, pp. 373-374) que, taxativamente, afi rma, analisando “alguns casos práticos”:

10. A locação de bens de equipamento com a opção de sua compra

afi nal pelo arrendatário — contrato de leasing — não constitui locação

de bens móveis. Trata-se de um contrato típico, diverso da locação de

bens móveis, inominado, mas com características peculiares, inclusive a

obrigação do locador em investir, a de constar no preço do aluguel o valor

das parcelas de autorização dos bens alugados e percentagem sobre o

montante decrescente do valor do contrato, o que não existe na locação de

bens móveis. Leasing é contrato típico, que não se confunde com o nosso

contrato de locação de bens móveis. O que o caracteriza é o investimento a

que se obriga o locador e a cláusula de opção de compra em favor do lessee

após o término da locação.

18. Feito esse levantamento sumário da doutrina — e nos desculpamos de tê-

lo realizado, para nosso próprio convencimento — é hora de nos pronunciarmos.

Não há dúvida de que o leasing hoje, e não só entre nós, é contrato típico, de

características próprias, conceituação legal (ainda que deficiente e sumária),

constituindo-se — como outros tantos se constituíram — de elementos retirados

de outros contratos como a locação, a compra a prestações, o mútuo, mas

assumindo contornos indisputáveis que o diferenciam de todos eles.

Tanto que a Lei n. 6.099/1974 o definiu e lhe deu características e nome

próprio — de arrendamento mercantil. Bastaria isso para, em face do texto

expresso da lei, não pretender incluí-lo na categoria de locação de bens móveis,

que se pretende, com a incidência do ISS (item 52 da lista).

19. Para nós, o traço fundamental do leasing é o fi nanciamento, sem o qual

não se completa e integra a operação financeira em que importa. Enquanto

arrendador e arrendatário estão frente a frente, mas não opera o fi nanciamento,

não há falar em leasing. Pode haver locação de bens, compra e venda; só o

fi nanciamento leva ao leasing.

Não se trata, porém, de simples afi rmação. A comprovação vem da própria

Lei n. 6.099/1974 que, ao dispor sobre o tratamento tributário das operações

de arrendamento mercantil, expressamente vinculou-o todo às instituições

fi nanceiras, sob o comando do Conselho Monetário Nacional e o Banco Central.

E à lei seguiram-se as resoluções do Banco Central que a regularam

miudamente.

Page 143: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 143

Cria-se, pois, desde logo, situação estranha: instituto inteiramente regulado

por lei federal, que a vincula a autoridades administrativas federais, sujeito à

regulação que lhe devem; que teve regime tributário estabelecido (com a expressa

indicação do imposto de renda e do imposto sobre produtos industrializados),

envolvendo, evidentemente, operação fi nanceira, não pode subordinar-se ao ISS,

cobrado pelos Municípios, quando não se lhe podem encontrar os pressupostos

para sua incidência.

Que aliás, hoje se discute mesmo a respeito da locação de bens móveis, se a

locação de bens móveis, se a locação de coisa não é serviço, etc.

E se o leasing não é necessariamente de bens móveis.

Com efeito, não há qualquer restrição ao leasing imobiliário na lei brasileira

(nem em outras legislações), como acentuam os autores (Fran Martins, ob. cit., p.

554; Luiz Mélega, ob. cit., p. 50; Arnoldo Wald, RF 250/44; Penalva Santos, art. cit.,

RF 250/49; etc.). E a Resolução n. 351, do Banco Central, expressamente o previu.

2. Essas observações — longas que foram — objetivaram demonstrar que

não há, data venia do voto do eminente Relator, como aceitar que o leasing

— arrendamento mercantil, pela lei brasileira — sofra a incidência do ISS, se a

locação de bens não lhe é nem mesmo o traço mais forte, e até mesmo a compra

a prestações — como se vê do art. 11, § 1º, da Lei n. 6.099/1974 — melhor serviria

de a ele assemelhar-se, e se o elemento que o confi gura é o fi nanciamento.

O importante, contudo, in casu, é que não se lhe aplica o item 52 da lista anexa

do Decreto-Lei n. 406/1968, referente à locação de bens móveis, com o que negada

vigência ao art. 8º do Decreto-Lei n. 406/1968 e ao referido item, indebitamente

aplicado; e, conseqüentemente, ao art. 24, II, da CF, se não definida, na lei

complementar, a referida incidência.

Destarte, após debruçar-me no exame das teses confl itantes, entendo, data

venia do ínclito relator, e não obstante a orientação contrária da Suprema Corte,

que não se aplica ao arrendamento mercantil, contrato típico que é, distinto da

locação de bens móveis, o item 52 da lista de serviços anexa ao DL n. 406/1968.

Conheço do recurso pelas letras a e c do art. 105 da Constituição Federal,

e lhe dou provimento.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Sr. Presidente, a questão diz

respeito ao reconhecimento da não incidência tributária do ISS sobre operações

relativas aos contratos denominados de leasing.

Page 144: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

144

O eminente Ministro-Relator proferiu um brilhante voto em que analisou

em profundidade a matéria, baseando-se inclusive num precedente do Supremo

Tribunal Federal, do qual foi Relator o Ministro Rafael Mayer.

Depois de abordar os vários aspectos do tema, S. Exa. concluiu no sentido

de sustentar, conclusivamente, o seguinte: (lê)

Diante dos argumentos apresentados pelas duas correntes do dissídio

confi gurado, convenço-me de que, embora não correspondendo rigorosamente

à fi gura clássica da locação, é o leasing, como modalidade do arrendamento

mercantil, contrato que se caracteriza predominantemente pela locação de bens

móveis, estando sujeito à incidência do ISS, quando ocorra a circunstância da

prestação habitual de serviço da espécie. Daí porque não vejo razões para mudar

o entendimento que vem sendo adotado pela colenda Primeira Turma deste

Tribunal, na esteira da jurisprudência da mais Alta Corte. Conhecido que foi o

recurso, sou pela manutenção desta diretriz jurisprudencial.

Em suma, o ilustre Relator entende que o ISS incide sobre os chamados

contratos de leasing.

Dele dissentiu o Sr. Ministro Américo Luz, que também proferiu um

brilhantíssimo voto. Não o lerei na sua íntegra, a fim de facilitar o nosso

julgamento, porque estou mais preocupado em resumir a tese básica, mesmo

porque todos os colegas já conhecem o tema. Se houver necessidade, o lerei com

grande prazer.

Em resumo, o Ministro Américo Luz abordou todos os aspectos da

questão controvertida, com apoio em precedentes jurisprudenciais. No fi nal, S.

Exa. discordou do ilustre Relator, dizendo: (lê).

Destarte, após debruçar-me no exame das teses confl itantes, entendo, data

venia do ínclito Relator, e não obstante a orientação contrária da Suprema Corte,

que não se aplica ao arrendamento mercantil, contrato típico que é, distinto da

locação de bens móveis, o item 52 da lista de serviços anexa ao DL n. 406/1968.

Em tal contexto, toda questão concerne em saber se o contrato de leasing

inclui-se ou não no item 52 da lista de serviços anexa ao Decreto-Lei n.

406/1968. Essa é a grande controvérsia. E, para dirimi-la, creio que o tema há

de ser enfocado sob dois ângulos: se se trata de caso de interpretação do texto

legal ou se se trata de fazer analogia, diante do texto legal. Esse, no meu ponto

de vista, é o aspecto básico. Interpretar o texto legal signifi ca delimitar o seu

Page 145: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 145

sentido e seu alcance. Fazer analogia signifi ca procurar pontos comuns em

coisas diversas. Identifi car pontos de semelhança em leis diversas.

Vejamos: o que seria o contrato de leasing?

Contrato de leasing, conforme sabemos, se pudermos seccioná-lo, envolve

algo parecido com contrato de locação, mais o contrato de fi nanciamento e,

afi nal, até mesmo, a possibilidade de um contrato de compra e venda.

Então, temos, com as ressalvas quanto à locação, pelo menos três contratos

englobados no chamado contrato de leasing: contrato de locação, contrato de

fi nanciamento e contrato de compra e venda. Para aqueles que preferem dar

interpretação compreensiva ao texto, há uma preponderância do contrato de

locação, daí o seu enquadramento na mencionada lista de serviços; outros, ao

contrário, sustentam que há uma predominância do contrato de fi nanciamento,

daí que o enquadramento não ocorreria, tratando-se de contrato típico.

Assumindo posição sobre a controvérsia, afi gura-se-me que sem se recorrer

à analogia não é possível concluir, no caso, pela incidência do tributo. E por

que, na hipótese, se trata de analogia. Explico. Fazer analogia signifi ca procurar

pontos comuns em coisas diversas. Considerando-se um determinado objeto,

cujos elementos constitutivos fundamentais são A, B e C. E outro objeto cujos

elementos constitutivos sejam A’, B’ e C’. São elementos sem os quais deixariam

de existir como tais, pois lhes são identifi cadores. Comparando os dois objetos,

através de seus elementos constitutivos comuns, podemos ter três tipos de

relação: relação de identidade, quando há uma correspondência entre esses

elementos constitutivos comuns; uma relação de diversidade, quando não há

correspondência entre os elementos constitutivos comuns; e relação de analogia

ou similaridade, quando há pontos comuns e pontos diversos. É o caso típico

da conexão de Direito Processual: quando comparamos duas ações, se têm as

mesmas partes, causas de pedir e objetos, são idênticas; se não têm, são diversas;

se têm alguns pontos comuns relativamente a esses elementos e outros diversos

a relação é de analogia que, processualmente, se chama conexão.

Exercitando esse raciocínio, verifi camos que o contrato de leasing compõe-

se de dois contratos pelos menos: um parecido com o de locação e outro de

fi nanciamento. Mas, alguns entendem que há, até mesmo, um terceiro contrato,

o de compra e venda, se afi nal, o benefi ciário do fi nanciamento quiser adquirir a

coisa. Então, são três os contratos.

Comparando o contrato de locação com o de leasing podemos verifi car,

com muita boa vontade, que o máximo que há entre eles é uma relação de

analogia, na parte pertinente à locação. Com relação ao fi nanciamento, ninguém

Page 146: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

146

jamais irá sustentar que o contrato de locação implica contrato de fi nanciamento.

Isso não é da natureza do contrato de locação. Tratando-se de analogia e não de

interpretação compreensiva penso que não é possível que se tribute sem lei. A

propósito, é expresso o § 1º do art. 108 do CTN: “o emprego da analogia não

pode resultar na exigência de tributo não previsto em lei”. E, no caso, não há

lei que permita fazer incidir o ISS sobre operações decorrentes de contrato

de leasing. Tanto assim que se promulgou a Lei Complementar n. 56, de

15.12.1987, alterando a lista de serviços que acompanha o Decreto-Lei n. 406,

de 31 de dezembro de 1968, dela constando o item 79 com a seguinte redação:

“Locação de bens móveis, inclusive arrendamento mercantil ” (grifei). Como

se sabe o item 52 da referida lista, com a redação anterior à citada lei, falava

simplesmente em “locação de bens móveis”, sem se referir a “arrendamento

mercantil”. Todavia, a espécie refere-se a hipóteses ocorridas anteriormente à

referida lei.

Com essas breves observações e com a devida vênia ao ilustre Relator que

proferiu um voto muito bem fundamentado, tendo em vista a argumentação

antes expendida, acompanho o voto do Sr. Ministro Américo Luz.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro José de Jesus Filho: Para renovar a questão vou ler o relatório

e o voto do eminente Ministro Demócrito Reinaldo (lê). Divergindo do Relator

e por conseguinte recebendo os embargos votaram os Srs. Ministros Américo

Luz e Pádua Ribeiro. Faço agora meu pronunciamento sobre a controvérsia.

Esta colenda Primeira Seção nos Embargos de Divergência no REsp n. 2.732

publicado no DJ 25.11.1991 decidiu pela inincidência do ISS nos contratos de

leasing em acórdão exteriorizado nesta ementa:

Tributário. Contratos de leasing. Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza

(ISS).

Os contratos da espécie não constituem fato gerador do tributo em referência,

já que têm por traço fundamental a operação de fi nanciamento neles contida

e não a utilização temporária do bem, não sendo por outro motivo que estão

sistematicamente vinculados a uma instituição fi nanceira, nem tampouco, que

tais operações são regulamentadas e fi scalizadas pelo Banco Central.

De outra parte, ainda que pudessem ser assimilados à locação, não se

prestariam para tal, já que a locação não se confunde com prestação de serviço.

Embargos acolhidos.

Page 147: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 147

Sendo Relator o eminente Ministro Ilmar Galvão com a adesão dos Srs.

Ministros Hélio Mosimann, Peçanha Martins e Américo Luz. E vencidos eu, o

eminente Ministro Garcia Vieira e o saudoso Ministro Geraldo Sobral. Com a

modifi cação na composição dos integrantes da Seção com o ingresso de novos

Ministros seria conveniente rever aquela decisão, pois à época já se achava em

vigor a Lei Complementar n. 56, de 15.12.1987, que ampliou signifi cativamente

a lista de serviços inclusive o leasing. Assim tanto naquele caso como neste

incidiu a norma do art. 6º da Lei de Introdução ao Código Civil, que dispõe:

A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o

direito adquirido e a coisa julgada.

Sendo assim, a lei complementar retrocitada incidiu inclusive nas situações

anteriormente a sua promulgação respeitadas é claro as exceções. Do ponto

de vista legal é devido o ISS nos contratos de leasing como também já era

igualmente devido, apesar da lista ser taxativa, mas cada item comporta

interpretação ampla e abrangente segundo a jurisprudência fi rmada pelo STF na

análise pormenorizada do eminente Ministro Oscar Corrêa no RE n. 104.571-

0, publicado no DJ 24.05.1985. Tal entendimento veio a ser reafi rmado por S.

Exa e publicado na RTJ vol. 117, p. 1.353, verbis:

No mais, cinge-se a controvérsia à lista de serviços dos Decretos-Leis n.

406/1968 e 834/1965, sua extensão e abrangência. Quanto a isto reafi rma-se

a tese do acórdão, que esta Corte referenda, de que se a lista de serviços é

taxativa, admite interpretação extensiva, nos moldes em que o tem decidido

a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que tivemos oportunidade de

resumir no RE n. 104.571 (sessão de 30.04.1985), com o apoio da Turma.

Pelo exposto, rejeito os embargos acompanhando o eminente Relator,

embora reconhecendo os valiosos fundamentos dos que votaram diferentemente.

É o meu voto.

RECURSO ESPECIAL N. 5.438-SP (90.0010013-5)

Relator: Ministro Armando Rolemberg

Recorrente: Prefeitura do Município de São Paulo

Page 148: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

148

Recorrida: Crefi leasing S/A Arrendamento Mercantil

Advogados: Cláudia Adri de Vasconcelos, Léo Krakowiak e outros

EMENTA

Tributário. ISS. Leasing.

De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a

prestação habitual de serviço de arrendamento mercantil por empresa

(leasing), está sujeita ao ISS. Recurso provido para julgar a ação

inteiramente improcedente.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar

provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes

dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Custas, como

de lei.

Brasília (DF), 04 de fevereiro de 1991 (data do julgamento).

Ministro Armando Rolemberg, Presidente e Relator

DJ 18.03.1991

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Armando Rolemberg: Na sentença proferida pelo Juiz de

Direito da 1ª Vara da Fazenda Municipal do Estado de São Paulo, a matéria de

que tratam os autos foi assim relatada:

Crefi leasing S/A Arrendamento Mercantil, qualifi cada nos autos, moveu medida

cautelar preparatória contra a Prefeitura Municipal de São Paulo, objetivando

efetuar o depósito das parcelas do ISS, incidentes sobre os Contratos de

Arrendamento Mercantil de n. 753/1986 e 754/1986, por entender, diversamente,

da suplicada que sobre eles não incide o referido tributo. Anexou os documentos

de fl s. 7-44. Concedida a medida liminarmente, citada foi a Municipalidade (fl .

49), não se opondo ao pretendido depósito e, protestando contestar os fatos na

ação principal. Proposta, tempestivamente, a principal (fl . 53), determinou-se o

Page 149: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 149

apensamento. Na ação declaratória (fl s. 2-18), descreveu a Autora suas atividades

negociais e, invocando pronunciamentos doutrinários e jurisprudenciais, insurge-

se contra a incidência da tributação do ISS, sobre os contratos de leasing, negando

enquadramento na Lista e, pedindo a declaração de inexistência do vínculo que

a obrigue a pagar o Imposto Sobre Serviços. Pede a procedência da ação com

os ônus da sucumbência. A Municipalidade (fl s. 78-84), levantou preliminar de

coisa julgada. No mérito, sustentou que, o contrato de leasing está alcançado

pelo ISS, pois para o colendo STF, a lista é meramente exemplifi cativa. Colacionou

entendimento de Aliomar Baleeiro sobre o art. 97 do CTN. Busca enfatizar no

contrato de leasing a obrigação principal, como sendo a de locação de bens e,

invocando a Lei Municipal n. 7.687/1971 — art. 12, ali encontra a alíquota desse

contrato. Procura ressaltar na redação do contrato a cláusula 62 que prevê o

pagamento do ISS pelo arrendatário. Transcreve Súmulas de decisões dos RREE

n. 106.047-SP, 107.864-2 e 108.665-SP. Pede a improcedência com a condenação

nos ônus da sucumbência. Anexou os documentos de fl s. 85-116. Em réplica

combateu a preliminar e insistiu na exclusão dos contratos de arrendamento

mercantil da tributação do ISS (fl s. 118-131). Juntou os anexos de fl s. 132-181. As

partes pediram o julgamento antecipado por entender versar o objeto da lide,

exclusivamente, sobre matéria de direito (fl s. 185-187).

A decisão a seguir proferida julgou procedente o pedido e interposta

apelação pela Municipalidade, foi confi rmada pela Segunda Câmara do 1º

Tribunal de Alçada Civil, reafi rmando a tese de que “o arrendamento mercantil,

como contrato típico, não se incluía na tributação reservada à locação de

móveis”, tanto que “depois de julgada em 1º grau de jurisdição a demanda,

sobreveio a Lei Complementar Federal n. 56, de 15 de dezembro de 1987, que

deu nova redação à lista de serviços a que se refere o art. 8º do Decreto-Lei n.

406, de 31 de dezembro de 1968” na qual “passou a fi gurar, de modo expresso,

no item 79, “a locação de bens móveis, inclusive arrendamento mercantil”.

Inconformada, a Municipalidade de São Paulo interpôs recurso

extraordinário com argüição de relevância, com fundamento na letra d do

permissivo constitucional, apontando como divergentes do julgado recorrido

decisões do STF, de cujas ementas destacou os seguintes trechos:

RE n. 106.047-6-SP

Razoável o entendimento de que a prestação habitual pela empresa de serviço

consubstanciado no arrendamento mercantil (leasing) de bens móveis, está

sujeita ao ISS, em correspondência à categoria prevista no item 52 da lista.

Page 150: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

150

RE n. 107.864-2-SP

ISS. Arrendamento mercantil de coisas móveis (leasing). Incidência de Imposto

Sobre Serviços. Subsunção no item 52 da lista de serviços.

RE n. 108.665-3-SP

ISS. de competência municipal. Incide sobre serviços de cobrança e

arrendamento mercantil (leasing).

(...)

Vedado o exame de admissibilidade do apelo extremo pelas razões do

despacho de fl . 224, formou-se o instrumento de argüição de relevância da

questão federal, prejudicada com a instalação do STJ, devolvendo os autos o

STF para o Tribunal inferior para exame da admissibilidade do recurso especial

em que se convertera o recurso extraordinário, nos limites da matéria suscitada

na argüição de relevância.

Negado seguimento ao recurso especial pelo despacho de fl . 244, subiu este

à apreciação deste Tribunal por força de agravo de instrumento a que se deu

provimento.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Armando Rolemberg (Relator): O Supremo Tribunal

Federal tem interpretado a norma sobre a qual versa a discussão de forma

diversa daquela porque o fez o julgado recorrido, como se vê da ementa que

transcrevo:

ISS. Arrendamento mercantil de coisas móveis ((leasing). Incidência do

Imposto Sobre Serviços. Subsunção no item 52 da Lista de Serviços. Razoável

o entendimento de que a prestação habitual, pela empresa, de serviço

consubstanciado no arrendamento mercantil (leasing) de bens móveis, está

sujeita ao ISS, em correspondência à categoria prevista no item 52 da lista.

Recurso extraordinário não conhecido. (RE n. 107.864-2-SP, Primeira Turma do

STF, Relator Ministro Rafael Mayer).

Dou provimento ao recurso para julgar a ação inteiramente improcedente.

Page 151: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 151

RECURSO ESPECIAL N. 14.716-SP (91.0018868-9)

Relator: Ministro Garcia Vieira

Recorrente: Municipalidade de São Paulo

Recorrida: Crefi leasing S/A — Arrendamento Mercantil

Advogados: Cláudia Adri de Vasconcelos e outros e Silvana Bussab

Endres e outros

EMENTA

ISS. Operações de leasing. Arrendamento mercantil complexo.

O arrendamento mercantil (leasing) é de natureza complexa,

preponderando a locação de bens móveis, perfeitamente enquadrável

no Decreto-Lei n. 406/1968, lista de serviço, item XVIII.

O arrendamento, sua repercussão econômica, a contraprestação

pelo serviço prestado constituem o fato gerador do imposto de

competência dos Municípios sobre serviços de qualquer natureza.

Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas,

decide a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar

provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes

dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Custas, como

de lei.

Brasília (DF), 13 de novembro de 1991 (data do julgamento).

Ministro Pedro Acioli, Presidente

Ministro Garcia Vieira, Relator

DJ 03.02.1992

Page 152: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

152

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Garcia Vieira: Crefi leasing S/A Arrecadamento Mercantil

ajuizou ação declaratória e medida cautelar contra a Prefeitura Municipal de

São Paulo, objetivando eximir-se do pagamento do ISS que lhe está sendo

cobrado em razão da suposta prestação de serviços decorrentes das operações de

leasing que realiza.

Sustenta a não-incidência do ISS sobre os contratos de arrendamento

mercantil e sobre os valores mensalmente por ela recebidos a este título, por

falta de previsão expressa da lista de serviços, anexa ao Decreto-Lei n. 406/1968.

Contestou a Municipalidade de São Paulo, alegando, em preliminar, coisa

julgada e requerendo a extinção do processo. Quanto ao mérito, sustentou que

a lista que especifi ca os serviços tributáveis inclui a locação de coisas móveis, a

qual, por conseguinte, é sinônimo de arrendamento (fl s. 83-89).

Em 1ª instância a ação foi julgada procedente (fl s. 190-196), confi rmada a

sentença em grau de recurso (fl s. 232-234).

Irresignada, a Prefeitura Municipal do Estado de São Paulo interpôs

recurso extraordinário com argüição da questão federal, fundamentado no art.

119, III, alínea d, da Carta Magna precedente; sustentando divergência aos

Recursos Extraordinários n. 106.047-SP, 107.864-2-SP e 108.665-3-SP (fl s.

236-240).

Contra-razões às fl s. 246-248.

Transformado o recurso ipso iure em especial nos limites da relevância (fl .

276) e inadmitido às fl s. 283-284.

Subiram os autos a este egrégio Tribunal em razão do provimento de

agravo de instrumento (apenso).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Garcia Vieira (Relator): Sr. Presidente, o arrendamento

mercantil (leasing), regulado pela Lei n. 6.099, de 12 de setembro de 1974, é “... a

operação realizada entre pessoas jurídicas, que tenha por objeto o arrendamento

de bens adquiridos a terceiros pela arrendadora, para fi ns de uso próprio da

arrendatária e que atendam às especifi cações desta” (art. 1º, parágrafo único).

Page 153: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 153

Constam sempre destes contratos o valor da contraprestação pelo arrendamento

e a opção de compra (art. 5º) e estão sujeitas à fi scalização do Banco Central do

Brasil, todas as suas operações (art. 7º). É um arrendamento mercantil complexo,

no qual prepondera a locação de bens móveis, perfeitamente enquadrável no item

XVIII da Lista de Serviços do Decreto-Lei n. 406, de 31 de dezembro de 1968.

A realidade de arrendamento, sua repercussão econômica, a contraprestação

pelo serviço prestado, (seu conteúdo fático), constitui o fato gerador do Imposto

de competência dos Municípios sobre serviços de qualquer natureza (art.

8º do Decreto-Lei n. 406/1968). O colendo Supremo Tribunal Federal, nos

Recursos Extraordinários n. 106.047-SP, Relator eminente Ministro Rafael

Mayer (RTJ 116/811) e 108.665-SP, Relator eminente Ministro Oscar Corrêa

(RJT 117/1.349), entendeu que o ISS de competência Municipal incide sobre o

serviço de arrendamento mercantil (leasing). A ementa do primeiro (106.047) é

a seguinte:

ISS. Arrendamento mercantil de coisas móveis (leasing). Incidência do Imposto

Sobre Serviços. Subsunção no item 52 da lista de serviços.

Razoável o entendimento de que a prestação habitual pela empresa, de

serviço consubstanciado no arrendamento mercantil (leasing) de bens móveis,

está sujeita ao ISS, em correspondência à categoria prevista no item 52 da lista.

Recurso extraordinário não conhecido.

Por ocasião deste julgamento salientou o eminente Ministro-Relator,

Rafael Mayer que:

Trata-se, como se vê, de controvérsia sobre a legitimidade em face da

preceituação referida, da incidência do ISS sobre a realização, pela empresa de

arrendamento mercantil de bens móveis (leasing), previsto expressamente na

legislação local como fato gerador do imposto, em face da conceituação que se

tem no n. 52 da lista de serviços anexa ao Decreto-Lei n. 406/1968, referente à

locação de bens móveis.

Admitindo que o arrendamento mercantil tem constituição complexa,

integrada simultaneamente pelos elementos da locação de bens e da opção

de aquisição dos bens locados, o venerando acórdão recorrido, endossando a

doutrina da sentença de 1º grau, invoca o critério da preponderância da atividade

desenvolvida, pela empresa prestadora de serviço, para o efeito de incidência

tributária e de subsunção no item 52 da lista, pois “certo é o elemento factual do

arrendamento e incerto o evento da aquisição”.

Ora, o entendimento é decerto razoável.

Page 154: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

154

Improcede, com efeito, a censura que se lhe faz ao argumento de que, na

doutrina dominante e na jurisprudência pacífi ca desta Corte, a lista de serviços

tributáveis é taxativa, não havendo como acrescentar-lhe categoria nela não

prevista. Pois, ao ser taxativa a lista, não inibe que se dê às categorias o sentido

amplo e compreensivo, de modo que o Município possa exercitar plenamente a

competência que lhe é deferida, no delineamento do que seja o fato imponível.

Assim mesmo é o entendimento do Supremo Tribunal Federal, como se vê

do acórdão no RE n. 91.737, da egrégia Segunda Turma, aliás, invocado pela

Recorrente em seu prol, onde ao mesmo tempo que se reconhece a propensão da

jurisprudência do Supremo Tribunal pelo caráter taxativo da lista, admite-se que a

prestação de serviço de segurança e vigilância encontra correspondência no item

16 da lista (RTJ-97/361).

Certamente, o arrendamento mercantil (leasing) cujo tratamento tributário é

regulado na Lei n. 6.099/1974, e para esse efeito vem aí defi nido, tem aspectos

complexos e um sentido econômico peculiar. Conceituado no parágrafo único

do art. 1º do diploma legal, como “a operação realizada entre pessoas jurídicas

que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos a terceiros pela

arrendadora, para fi ns de uso próprio da arrendatária”, ela envolve, de um lado,

uma operação de fi nanciamento da aquisição da mercadoria pela arrendadora e,

de outro lado, a opção de compra pelo arrendatário, ao término do arrendamento

se não o renovar ou apenas devolução do bem, mas o fundamental, a constituir

como que o núcleo e razão da atividade, está no arrendamento.

Esse arrendamento de bens, mediante contratos pertinentes, em que a sua

configuração é essencial, quanto ao prazo, quanto ao uso da coisa locada e

quanto à retribuição, obviamente eventual a verifi cação da cláusula optativa, é

que constitui a substância da prestação do serviço a que se propõe a empresa,

pela qual a sua atividade se torna específi ca e signifi cativa do ponto de vista fi scal.

Não há, portanto, emprego de analogia criadora de tributo à revelia do

art. 108, § 1º, do CTN, mas a apreensão da realidade de um serviço prestado

habitualmente, cuja conotação essencial, própria do arrendamento mercantil de

móveis, encontra correspondência na categoria do serviço prevista no item 52, a

saber, a locação de coisas móveis.

Resta acentuar que o aspecto aqui salientado tem ponderável acolhida na

doutrina, como dentre outros vem preferido por Aliomar Baleeiro (“Dir. Trib.

Bras.”, 10ª ed., p. 292); a incidência tributária está prevista na legislação dos

mais importantes Municípios brasileiros e tem o beneplácito da jurisprudência

predominante dos tribunais estaduais.

Por isso há razão de invocar-se a Súmula n. 400.

Não conheço, portanto, do recurso.

Page 155: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 91-155, julho 2010 155

Como se vê, a decisão recorrida diverge do entendimento da Corte Maior.

Não houve emprego da analogia para a exigência de tributo não previsto em lei

(art. 100 do CTN) mas, conforme bem acentuou o eminente Ministro Rafael

Mayer “... a apreensão da realidade de um serviço prestado habitualmente, cuja

conotação essencial, própria do arrendamento mercantil de móveis, encontra

correspondência na categoria do serviço prevista no item 52, a saber, a locação

de coisas móveis”.

Conheço do recurso e dou-lhe provimento.

Page 156: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 157: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

Súmula n. 139

Page 158: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 159: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULA N. 139

Cabe à Procuradoria da Fazenda Nacional propor execução fi scal para

cobrança de crédito relativo ao ITR.

Referências:

CF/1988, arts. 131, § 3º, 153, VI, e 158, II.

Lei Complementar n. 73/1993, arts. 12, II e V, e 17, I.

Lei n. 6.830/1980, art. 2º, § 4º.

Lei n. 8.022/1990, art. 1º.

Lei n. 8.383/1991, art. 67.

Precedentes:

EDcl no REsp 44.087-RJ (1ª T, 09.11.1994 — DJ 05.12.1994)

REsp 37.000-RS (1ª T, 22.03.1995 — DJ 24.04.1995)

REsp 41.650-RJ (2ª T, 16.11.1994 — DJ 05.12.1994)

REsp 52.452-RJ (1ª T, 31.08.1994 — DJ 26.09.1994)

REsp 52.546-RJ (2ª T, 31.08.1994 — DJ 26.09.1994)

REsp 52.560-RJ (2ª T, 14.12.1994 — DJ 13.02.1995)

REsp 57.200-RJ (1ª T, 08.02.1995 — DJ 06.03.1995)

REsp 57.208-RJ (1ª T, 08.02.1995 — DJ 13.03.1995)

REsp 57.340-RJ (2ª T, 06.02.1995 — DJ 20.02.1995)

Primeira Seção, em 16.05.1995

DJ 19.05.1995, p. 14.053

Page 160: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 161: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL N. 44.087-RJ

(94.0004364-3)

Relator: Ministro Demócrito Reinaldo

Embargante: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária —

Incra

Embargado: Roberto Assis Valory

Advogados: Artur Vidigal de Oliveira e outros

EMENTA

Processual Civil. Tributário. Embargos de declaração. Erro de

fato. Alteração do julgado. Possibilidade.

Em julgamento de embargos declaratórios, é possível a alteração

do julgado, em sua essência, desde que tenha havido erro de fato, no

julgamento originário.

As Disposições Constitucionais Transitórias — elementos

formais de aplicabilidade — têm a primazia de regrar a vigência e,

até, o período de efi cácia de preceitos da Constituição, e possuem, por

defi nição e natureza, vida efêmera, porquanto, tão logo produzem os

seus efeitos, se exaurem no tempo.

Promulgadas as leis complementares (Organização do Ministério

Público e Advocacia Geral da União), perdeu a efi cácia o art. 29 do

ADCT, aplicando-se, já agora, a legislação complementar e ordinária

que rege a instituição do Imposto Territorial Rural.

Conquanto o ITR seja tributo de propriedade da União, a sua

apuração, inscrição e cobrança competem à Procuradoria da Fazenda

Nacional, sendo descabida a continuidade da Procuradoria do Incra

(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) no pólo ativo

de execução fi scal pertinente àquele tributo.

Embargos acolhidos. Decisão unânime.

Page 162: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

162

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos, em que são partes as acima indicadas, decide a

Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, receber os

embargos, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que

fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento

os Srs. Ministros Humberto Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira e Cesar

Asfor Rocha. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Garcia Vieira. Custas,

como de lei.

Brasília (DF), 9 de novembro de 1994 (data do julgamento).

Ministro Demócrito Reinaldo, Presidente e Relator

DJ 05.12.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo: Trata-se de embargos de declaração

contra acórdão desta Primeira Turma, assim ementado:

A jurisprudência pacificada nesta Corte é no sentido de que, matéria

essencialmente constitucional não é passível de julgamento em sede de recurso

especial.

Alega, o embargante — Incra — que o julgado padece de contradição e

omissão, desde que, as normas infraconstitucionais não foram recepcionadas

pela atual Carta Política.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo (Relator): O Instituto Nacional de

Colonização e Reforma Agrária opôs embargos de declaração ao acórdão desta

egrégia Turma que, ao julgar REsp, entendeu dele não conhecer por envolver

matéria constitucional.

Aduz, o embargante, que o acórdão se omitiu quanto ao exame da matéria

infraconstitucional (aplicação de lei complementar e ordinária) e que o Incra

apenas arrecadava o ITR, em nome da União, atribuição conferida por legislação

não recepcionada pela Constituição Federal.

Page 163: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 157-189, julho 2010 163

Parece-me com a razão, o embargante. Ao meu entender, o acórdão

se omitiu em julgar a matéria de natureza legal, incidindo em erro de fato,

remediável pela via dos embargos. A matéria tratada no recurso especial é de

índole infraconstitucional. No julgamento do REsp n. 52.776-7, assim me

posicionei:

Com efeito, dispõe o art. 29 do ADCT:

Art. 29. Enquanto não aprovadas as leis complementares relativas

ao Ministério Público e à Advocacia Geral da União, o Ministério Público

Federal, a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, as Consultorias Jurídicas

dos Ministérios, as Procuradorias e Departamentos Jurídicos de autarquias

federais com representação própria e os membros das Procuradorias das

Universidades Fundacionais Públicas continuarão a exercer suas atividades

na área das respectivas atribuições.

Trata-se, como se vê, de preceito constitucional transitório, destinado a regular

a matéria, até a promulgação de lei complementar. Promulgada esta, a “disposição

transitória”, uma vez tendo produzido os seus efeitos, se “exaure”, passando a

viger a legislação complementar.

Posteriormente, em 12 de abril de 1990, foi editada a Lei n. 8.022, cujo art. 1º

tem a seguinte dicção:

Art. 1º. É transferida para a Secretaria da Receita Federal a competência

de administração das receitas arrecadadas pelo Instituto Nacional de

Colonização de Reforma Agrária — Incra e para a Procuradoria Geral da

Fazenda Nacional a competência para a apuração, inscrição e cobrança da

respectiva dívida ativa.

Logo depois, em 30 de dezembro de 1991, se promulgou a Lei n. 8.383, que

dispõe, no seu art. 67:

Art. 67. A competência de que trata o art. 1º da Lei n. 8.022, de 12 de abril

de 1990, relativa à apuração, inscrição e cobrança da dívida ativa oriunda

das receitas arrecadadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma

Agrária — Incra, bem como a representação judicial nas respectivas

execuções fi scais, cabe à Procuradoria Geral da Fazenda Nacional.

A lei, no disciplinamento da matéria, é clara, ao indicar, de forma expressa e

induvidosa, qual o órgão competente para representar a União nos executivos

fi scais, ainda que no pertinente a receitas oriundas de arrecadação pelo Incra — a

Procuradoria Geral da Fazenda Nacional.

Page 164: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

164

Demais disso, o art. 29 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias já

perdeu a efi cácia, desde que promulgadas as leis complementares relativas ao

Ministério Público e Advocacia Geral da União. E a Lei Complementar n. 73/1993

(Lei Orgânica da Advocacia Geral da União), em seu art. 12, confere à Procuradoria

Geral da Fazenda Nacional a competência para inscrever os débitos tributários

da União, representando-a na execução dos créditos tributários ou fi scais de

qualquer natureza.

No julgamento do Mandado de Segurança n. 1.328-DF, de que fui Relator,

assim me manifestei:

Dentre os elementos das Constituições modernas, se encontram aqueles

denominados de “formais de aplicabilidade”, que se consubstanciam entre

as normas que estatuem regras de aplicação das Constituições, assim como

o “Preâmbulo”, o dispositivo que contém as “cláusulas de promulgação” e as

“disposições constitucionais transitórias”. Essas disposições constitucionais

transitórias, que têm a primazia de regrar a vigência e, até, o período de

efi cácia de preceitos da Constituição, possuem, por defi nição e natureza,

vida efêmera, porquanto, tão logo produzam os seus efeitos, elas se

exaurem no tempo, passando a constituir letra morta, no contexto da Lei

Maior. Mas essas regras, transitórias que são, com vigência geralmente

vinculada a certo trato de tempo ou a uma condição resolutiva, ainda que

vigente por um dia sequer, produzem efeitos concretos, já que a sua função

precípua é a de disciplinar ou regrar a aplicação de outros dispositivos

inseridos no corpo permanente da Carta Política (Rev. do Superior Tribunal

de Justiça, vol. 46, p. 48).

Como se observa, uma vez promulgadas as leis complementares e,

conseqüentemente, satisfeita a condição, não se há de falar em vigência do art. 29

do ADCT, aplicando-se, agora, a legislação complementar e ordinária, que rege a

matéria. E como, o ITR é tributo da União, a sua apuração, inscrição e cobrança, em

face da lei, compete à Procuradoria Geral da Fazenda Nacional. É, pois, descabida,

a continuidade da Procuradoria do Incra (Instituto Nacional de Colonização

e Reforma Agrária) no pólo ativo de execução fi scal para cobrança de débito

pertinente ao ITR. (REsp n. 52.776-7-RJ, fl s. 2-5).

A controvérsia, como bem se vê, se constringe na interpretação de leis

federais, independentemente de qualquer motivação constitucional sufi ciente.

Ademais, o acórdão recorrido (fl . 114) entendeu haver necessidade, para a

solução da pendenga, de ação direta de declaração de competência e não ter, o

judiciário, como impor a alguém, a obrigação de agir na condição de autor”.

A questão não é esta, todavia. Cuida-se, no caso, de se saber a quem

compete a execução de dívida ativa pertinente ao ITR. Como a lei confere à

Page 165: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 157-189, julho 2010 165

Procuradoria da Fazenda Nacional a legitimidade para fi gurar no pólo ativo da

execução fi scal, a Procuradoria do Incra há de ser excluída da relação processual.

Recebo os embargos e dou provimento ao recurso especial para excluir da

relação processual a Procuradoria do Incra.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 37.000-RS (93.0020253-7)

Relator: Ministro Milton Luiz Pereira

Recorrente: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária —

Incra

Recorrida: Fazenda Nacional

Advogados: Solange Buzeno Witt e outros

Procuradores: Cezar Saldanha Souza Junior e outros

EMENTA

Processual Civil. Execução Fiscal. ITR. Legitimidade ativa. Leis

n. 8.022/1990 e 8.383/1991. Portaria n. 230/1990-PGFN.

1. Por lei, autorizada a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional a

representar a União Federal na cobrança do ITR, carece de legalidade o

provimento administrativo delegando ao Incra a mesma incumbência.

Descortinada a ilegitimidade ativa do Incra, a Procuradoria Geral da

Fazenda Nacional é quem se legitima para mover a cobrança executiva

da dívida ativa do ITR.

2. Precedentes jurisprudenciais.

3. Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas decide

a egrégia Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar

Page 166: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

166

provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes

dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram

do julgamento os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha, Demócrito Reinaldo e

Humberto Gomes de Barros. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Garcia

Vieira. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Demócrito Reinaldo. Custas, como

de lei.

Brasília (DF), 22 de março de 1995 (data do julgamento).

Ministro Demócrito Reinaldo, Presidente

Ministro Milton Luiz Pereira, Relator

DJ 24.04.1995

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira: Insurge-se o Instituto Nacional

de Colonização e Reforma Agrária — Incra contra o v. acórdão do egrégio

Tribunal a quo assim ementado:

Constitucional. Processual Civil. Execução fiscal. ITR. Competência para a

cobrança judicial.

1. Cabe ao Incra ajuizar e cobrar, por meio de execução fi scal, dívida ativa

oriunda de prestação tributária relativa ao ITR.

2. Interpretação do art. 29, § 5º, do ADCT, bem como das Leis n. 8.022/1990,

8.383/1991, e da Portaria n. 230-PGFN/1990.

3. Agravo provido (fl . 28).

A irresignação recursal, (art. 105, III, a e c, CF) limita-se a alegada afronta

aos arts. 1º da Lei n. 8.022/1990, e 67 da Lei n. 8.383/1991, assim como à

divergência com julgados do mesmo Tribunal.

Para a Recorrida não foram claramente evidenciados os dispositivos legais,

bem como não foi juntada a cópia do acórdão divergente. Aduziu que a questão

legal não foi prequestionada no v. acórdão.

Por incidir o veto da Súmula n. 13-STJ, o Recurso foi admitido somente

pela alínea a do permissivo constitucional.

É o relatório.

Page 167: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 157-189, julho 2010 167

VOTO

O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira (Relator): No horizonte recursal,

em agravo de instrumento, surgiu a relação jurídica litigiosa aprisionada à

legitimação ativa para mover ação executiva de crédito decorrente do Imposto

Territorial Rural — ITR —, a respeito, fi cando ementado o desafi ado v. acórdão:

Constitucional. Processual Civil. Execução fiscal. ITR. Competência para a

cobrança judicial.

1. Cabe ao Incra ajuizar e cobrar, por meio de execução fi scal, dívida ativa

oriunda de prestação tributária relativa ao ITR.

2. Interpretação do art. 29, § 5º, do ADCT, bem como das Leis n. 8.022/1990,

8.383/1991, e da Portaria n. 230-PGFN/1990.

3. Agravo provido.

Para escumar dúvidas quanto à admissibilidade, primeiramente, convém

assinalar que o voto condutor do vergastado julgado, a par de apoiar-se no art.

29, § 5º, ADCT, às claras, igualmente, fez específi ca apreciação de texto federal,

lineando:

... E, em relação ao imposto sobre a propriedade territorial rural, com o advento

da Lei n. 8.022/1990, a sua cobrança judicial passou para a esfera de competência

da atual Procuradoria Geral da Fazenda Nacional... (fl . 26).

Desse modo, também constituindo questão federal autônoma, por certo,

diferenciando-se do contido no precedente contrário desta Turma (REsp n.

37.024-8-SC, Relator Ministro Cesar Asfor Rocha, in DJ 02.05.1994), deu

enchança à admissibilidade na via Especial (art. 105, III, a, CF), conforme

palmilhou a irrecorrida decisão no Juízo a quo (fl . 48).

Desamarrado processualmente o conhecimento, permeando os elementos

informativos oferecidos, com estridência sinfônica, ressoa questão jurídica

conhecidíssima, com julgados das egrégias Primeira e Segunda Turmas,

difundindo compreensão contrária àquela provocadora do recurso; confi ra-se:

Competência. Execução fi scal. Incra. Procuradoria da Fazenda Nacional.

Compete à Procuradoria da Fazenda Nacional propor e acompanhar as

execuções fi scais para a cobrança da dívida ativa oriunda das receitas arrecadadas

pelo Incra.

Não existe lei autorizando a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional a delegar

a competência que lhe foi atribuída pela Constituição (art. 131) e pelas Leis n.

Page 168: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

168

8.022/1990 (art. 1º) e 8.383/1991 (art. 67), para representar a União na cobrança

do ITR.

Recurso provido. (REsp n. 38.284-0-RJ, Relator Ministro Garcia Vieira, in DJU

08.11.1993).

Competência. Execução fi scal. Incra. Procuradoria da Fazenda Nacional. ITR.

I - A competência para propor e acompanhar as execuções fi scais na cobrança

da dívida ativa oriunda das receitas arrecadadas pelo Incra é da Procuradoria da

Fazenda Nacional. Precedente.

II - Recurso conhecido e provido. (REsp n. 35.366-1-RJ, Relator Ministro José de

Jesus Filho, in DJU 07.02.1994).

No mesmo sentido: REsp n. 41.641-8-RJ, in DJU 23.05.1994. Fincado o

convencimento na motivação dos precedentes, que reafi rmo, a foco de questão

muito conhecida, dispensáveis outras razões, voto provendo o recurso.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 41.650-RJ (93.0034326-2)

Relator: Ministro Antônio de Pádua Ribeiro

Recorrente: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária —

Incra

Advogados: Iza Geszikter Ventura e outros

Recorrido: Octacyl Leal Christo

EMENTA

Execução fi scal. ITR. Legitimidade para ajuizá-la e acompanhá-

la. Incra. Procuradoria da Fazenda Nacional.

I - A legitimidade para propor e acompanhar execução fi scal,

para cobrança de créditos relativos ao ITR, é da Procuradoria da

Fazenda Nacional. Precedentes.

II - Recurso especial conhecido e provido.

Page 169: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 157-189, julho 2010 169

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima

indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na

conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas anexas, por unanimidade,

conhecer do recurso e dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-

Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros José de Jesus, Hélio

Mosimann, Peçanha Martins e Américo Luz.

Brasília (DF), 16 de novembro de 1994 (data do julgamento).

Ministro Hélio Mosimann, Presidente

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Relator.

DJ 05.12.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Trata-se de recurso especial

interposto pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária — Incra com

fundamento no art. 105, III, letra a, da Constituição Federal, contra o v. acórdão

da Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, assim ementado

(fl . 81):

Processual Civil. Legitimação ativa para cobrar créditos tributários do Incra.

Leis ns. 8.022/1990 e 8.383/1991. E Lei Complementar n. 73/1993.

Até o advento da Lei Complementar n. 73/1993, competente para patrocinar

a cobrança executiva dos créditos do Incra era a Procuradoria da Fazenda

Nacional, face ao disposto nas Leis n. 8.022/1990 e 8.383/1991, mas como a

Lei Complementar n. 93 restringiu a competência da Procuradoria Geral da

Fazenda Nacional, tem-se como derrogados, nesse particular, os dois diplomas

em questão, readquirindo o Incra a legitimação processual que antes detinha.

Recurso parcialmente provido.

Alega o recorrente negativa de vigência ao art. 131, § 3º, da Constituição

Federal, as Leis n. 8.022/1990 e 8.383/1991 e ao art. 12, II e V, da Lei

Complementar n. 73/1993.

Sem contra-razões (fl . 158 v.), cujo processamento foi admitido (fl s. 160-

161), subiu a esta Corte, onde os autos me vieram distribuídos.

É o relatório.

Page 170: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

170

VOTO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): A jurisprudência das

duas Turmas Especializadas fi rmou-se no sentido de que a legitimidade para

propor e acompanhar execução fi scal, objetivando a cobrança de créditos relativos

ao ITR, é da Procuradoria da Fazenda Nacional. Eis alguns precedentes:

Competência. Execução fi scal. Incra. Procuradoria da Fazenda Nacional. ITR.

I - A competência para propor e acompanhar as execuções fi scais na cobrança

da dívida ativa oriunda das receitas arrecadadas pelo Incra é da Procuradoria da

Fazenda Nacional. Precedente.

II - Recurso conhecido e provido. (REsp n. 35.366-1-RJ (93.0014683-1); Relator

Ministro José de Jesus Filho; julg. 1º.12.1993; publ. DJ 07.02.1994. REsp n. 36.492-

2-RJ (93.0018242-0); Relator Ministro José de Jesus Filho; j ulg. 1º.12.1993; publ. DJ

07.02.1994 e REsp n. 41.641-8-RJ (93.0034317-3); Relator Ministro José de Jesus

Filho; julg. 20.04.1994; publ. DJ 23.05.1994) e

Execução fiscal. ITR. Competência. Cobrança. Dívida ativa. Representação

judicial. Procuradoria da Fazenda Nacional.

A jurisprudência das duas Turmas que integram a Primeira Seção firmou

entendimento no sentido de que a Portaria n. 449/1990 contraria as disposições

dos arts. 1º da Lei n. 8.022/1990, e 67 da Lei n. 8.383/1991, que estabelecem

a competência da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional para a apuração,

inscrição e cobrança do ITR, bem como a representação judicial em processos

executivos fi scais. (REsp n. 47.674-7-RJ (94.0012810-0); Relator Ministro Humberto

Gomes de Barros; julg. 06.06.1994; publ. DJ 27.06.1994).

Isto posto, em conclusão, pois, conheço do recurso e dou-lhe provimento.

RECURSO ESPECIAL N. 52.452-RJ (94.0024417-7)

Relator: Ministro Humberto Gomes de Barros

Recorrente: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária —

Incra

Recorrida: Combargo Industrial Ltda

Advogados: Marisa de Carvalho Menezes e outros

Page 171: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 157-189, julho 2010 171

EMENTA

Execução fi scal. ITR. Competência. Cobrança. Dívida ativa.

Representação judicial. Procuradoria da Fazenda Nacional.

A Portaria n. 449/1990 contraria as disposições dos arts. 1º da Lei

n. 8.022/1990, e 67 da Lei n. 8.383/1991, que outorgam competência

à Procuradoria Geral da Fazenda Nacional para a apuração, inscrição

e cobrança do ITR.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso. Votaram com

o Ministro-Relator os Ministros Milton Luiz Pereira e Demócrito Reinaldo.

Ausentes, justifi cadamente, os Ministros Cesar Asfor Rocha e Garcia Vieira.

Brasília (DF), 31 de agosto de 1994 (data do julgamento).

Ministro Demócrito Reinaldo, Presidente

Ministro Humberto Gomes de Barro, Relator

DJ 26.09.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros: Discute-se matéria relativa

à representação judicial da Fazenda Pública nas execuções fi scais, referentes à

dívida ativa oriunda de prestação tributária do ITR.

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária — Incra interpôs

recursos extraordinário e especial (art. 105, III, a e c, da CF) contraditando

acórdão do TRF da 2ª Região, assim ementado:

Processual Civil. Agravo de instrumento. Legitimação ativa do Incra. Cobrança

de crédito tributário.

I - A partir da Lei Complementar n. 73/1993 a Procuradoria da Fazenda Nacional

somente está legitimada a cobrar judicialmente a dívida ativa da União e não de

Page 172: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

172

suas Autarquias. O referido diploma revogou as Leis n. 8.022/1990 e 8.393/1991,

que haviam transferido para ela a tarefa de cobrar a dívida ativa do Incra.

II - Agravo de instrumento improvido, para confi rmar a decisão de 1º grau (fl .

84).

Admitidos os recursos, vieram os autos a este STJ.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Humberto Gomes de Barros (Relator): A matéria já é conhecida na

Corte.

Esta Turma apreciou a questão suscitada no julgamento do REsp n.

38.284-0, DJ 08.11.1993, Relator Ministro Garcia Vieira, lavrado o acórdão

nestes termos:

Competência. Execução fi scal. Incra. Procuradoria da Fazenda Nacional.

Compete à Procuradoria da Fazenda Nacional propor e acompanhar as

execuções fi scais para a cobrança da dívida ativa oriunda das receitas arrecadadas

pelo Incra.

Não existe lei autorizando a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional a delegar

a competência que lhe foi atribuída pela Constituição (art. 131) e pelas Leis n.

8.022/1990 (art. 1º), e 8.383/1991 (art. 67), para representar a União na cobrança

do ITR.

Recurso provido.

Em seu voto, o eminente Ministro acentuou:

A delegação de competência ao Incra pela Portaria n. 449/1990 (doc. de fl . 21)

violou os dispositivos constitucional (art. 131) e legais (art. 1º da Lei n. 8.022/1990

e art. 67 da Lei n. 8.383/1991) e não pode prevalecer. Pela delegação, a autoridade

administrativa transfere a seu subordinado atribuições decisórias, e no caso,

não existe subordinado e a competência é prevista em dispositivo permanente

da Constituição e em leis editadas após a sua vigência e com ela perfeitamente

compatíveis. O § 5º do art. 29 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias

não autorizou a delegação ao Incra para a cobrança do ITR. Por este dispositivo

constitucional transitório só foi prevista a delegação ao Ministério Público

Estadual, não para a cobrança da dívida ativa oriunda das receitas do Incra e

Page 173: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 157-189, julho 2010 173

sim para representar judicialmente a União em suas causas de natureza fi scal,

ajuizadas no interior do país. Não existe e não poderia existir lei nenhuma

autorizando a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional delegar a competência

a ela atribuída pela Constituição (art. 131) e pelas Leis n. 8.022/1990, art. 1º, e

8.383/1991, (art. 67), para representar a União na cobrança do ITR.

Na trilha do mesmo entendimento, destaco precedente da Segunda Turma,

no REsp n. 35.366-1, relatado pelo eminente Ministro José de Jesus.

Com efeito, o aresto impugnado dissentiu da orientação consagrada

na jurisprudência do STJ, e contrariou as disposições dos arts. 1º da Lei n.

8.022/1990, e 67 da Lei n. 8.383/1991, que estabelecem a competência da

Procuradoria Geral da Fazenda Nacional para a apuração, inscrição e cobrança

do ITR, bem como a representação judicial em processos executivos fi scais.

Dou provimento ao recurso.

RECURSO ESPECIAL N. 52.546-RJ (94.0024585-8)

Relator: Ministro José Jesus Filho

Recorrente: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária —

Incra

Recorrido: Clemente Ferreira dos Santos

Advogados: Iza Geszikter Ventura e outros

EMENTA

Competência. Execução fi scal. Incra. Procuradoria da Fazenda

Nacional. ITR.

I - A competência para propor e acompanhar as execuções fi scais

na cobrança da dívida ativa oriunda das receitas arrecadadas pelo Incra

é da Procuradoria da Fazenda Nacional. Precedente.

II - Recurso conhecido e provido, no âmbito desta Corte.

Page 174: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

174

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer

do recurso e dar-lhe provimento, na forma do relatório e notas taquigráfi cas

constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.

Participaram do julgamento os Srs. Ministros Hélio Mosimann, Peçanha

Martins e Antônio de Pádua Ribeiro. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro

Américo Luz. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 31 de agosto de 1994 (data do julgamento).

Ministro Hélio Mosimann, Presidente

Ministro José de Jesus Filho, Relator.

DJ 26.09.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José de Jesus Filho: O Instituto Nacional de Colonização e

Reforma Agrária — Incra, com fundamento no art. 105, III, alíneas a e c, do

permissivo constitucional, interpôs recurso especial ao v. acórdão proferido pela

Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, assim ementado:

Processual Civil. Representação judicial da União nas execuções fi scais relativas

a receitas do Imposto Territorial Rural.

Promulgada a lei complementar organizando a Advocacia Geral da União (Lei

Complementar n. 73, de 10.02.1993, publicada no Diário Ofi cial de 11.02.1993) a

representação judicial da União nas execuções fi scais relacionadas com as receitas

arrecadadas pelo Incra compete à Procuradoria deste Instituto.

Exegese do art. 17 da Lei Complementar n. 73/1993.

O princípio do art. 82, III, do CPC não acarreta a presença obrigatória do

Parquet nas execuções fi scais nem tampouco a Lei n. 6.830/1980 a impõe.

Tendo a Fazenda Nacional agravado da decisão que lhe determinou a remessa

dos autos, não poderia ter sido julgado extinto o processo de execução.

Agravo de instrumento de que se conhece, por economia processual.

Agravo de instrumento e apelação providos.

Decisão unânime. (Fl. 49)

Page 175: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 157-189, julho 2010 175

Sustenta o recorrente, em síntese, que o v. aresto hostilizado violou o

art. 131, § 3º, da Constituição Federal; o art. 12 da LC n. 73/1993; a Lei n.

8.022/1990 e a Lei n. 8.383/1991, porquanto a competência para representar a

União Federal nas execuções relativas a cobrança do ITR cabe à Procuradoria

da Fazenda Nacional e não à Procuradoria do Incra. Alega, ainda dissídio

jurisprudencial.

Às fl s. 87-111, recurso extraordinário.

Admitidos ambos os recursos, subiram os autos e esta egrégia Corte, onde

dispensei a manifestação da douta Subprocuradoria Geral da República.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro José de Jesus Filho (Relator): Tenho que o recurso merece

guarida, posto que o v. acórdão recorrido é contrário ao entendimento desta

Corte que já teve oportunidade de decidir a questão, consoante se vê do

julgamento do Recurso Especial n. 38.284-0-RJ, de que foi relator o eminente

Ministro Garcia Vieira, publicado no DJ 08.11.1993, cujo aresto é do seguinte

teor, verbis:

Competência. Execução fi scal. Incra. Procuradoria da Fazenda Nacional.

Compete à Procuradoria da Fazenda Nacional propor e acompanhar as

execuções fi scais para a cobrança da dívida ativa oriunda das receitas arrecadadas

pelo Incra.

Não existe lei autorizando a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional a delegar

a competência que lhe foi atribuída pela Constituição (art. 131) e pelas Leis n.

8.022/1990 (art. 1º), e 8.383/1991 (art. 67), para representar a União na cobrança

do ITR.

Recurso provido.

Naquela oportunidade, o ilustre relator assim se pronunciou:

Está bem claro pelo art. 131, § 3º, da Constituição Federal vigente que:

Na execução da dívida de natureza tributária, a representação da União

cabe à Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, observado o disposto em

lei.

Page 176: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

176

No caso, a dívida é de natureza tributária e sobre isto não paira a menor dúvida.

A Lei n. 8.022, de 12 de abril de 1990, em seu art. 1º transferiu para a

Procuradoria Geral da Fazenda Nacional a apreciação, inscrição e cobrança do

Imposto Territorial Rural.

Também a Lei n. 8.383, de 30 de dezembro de 1991, em seu art. 67, estabeleceu

que:

A competência de que trata o art. 1º da Lei n. 8.022, de 12 de abril de

1990, relativa à apuração, inscrição e cobrança da Dívida Ativa oriunda

das receitas arrecadadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma

Agrária — Incra, bem como a representação judicial nas respectivas

execuções fi scais, cabe à Procuradoria Geral da Fazenda Nacional.

Como se vê, bem clara a competência da Procuradoria da Fazenda Nacional

para propor e acompanhar as execuções fi scais para a cobrança da dívida ativa

oriunda das receitas arrecadadas pelo Incra.

A delegação de competência ao Incra pela Portaria n. 449/1990 (doc. de fl . 21)

violou os dispositivos constitucional (art. 131) e legais (art. 1º da Lei n. 8.022/1990,

e art. 67 da Lei n. 8.383/1991) e não pode prevalecer. Pela delegação a autoridade

administrativa transfere a seu subordinado atribuições decisórias, e no caso,

não existe subordinado e a competência é prevista em dispositivo permanente

da Constituição e em leis editadas após a sua vigência e com ela perfeitamente

compatíveis.

No mesmo sentido, trago à colação a ementa do Recurso Especial n.

36.492-2-RJ, de que fui Relator, julgado em 1º.12.1993, publicado no DJ

07.02.1994, do seguinte teor:

Competência. Execução fi scal. Incra. Procuradoria da Fazenda Nacional. ITR.

I - A competência para propor e acompanhar as execuções fi scais na cobrança

da dívida ativa oriunda das receitas arrecadadas pelo Incra é da Procuradoria da

Fazenda Nacional. Precedente.

II - Recurso conhecido e provido, com remessa dos autos ao Pretório excelso.

Isto posto, conheço do recurso e dou-lhe provimento no âmbito desta

Corte.

É o meu voto.

Page 177: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 157-189, julho 2010 177

RECURSO ESPECIAL N. 52.560-RJ (94.0024622-6)

Relator: Ministro Américo Luz

Recorrido: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

Recorrente: Paulo Cesar de Negreiros Lindoso

Advogados: Iza Geszikter Ventura e outros

EMENTA

Execução fi scal. Competência. ITR.

Compete à Procuradoria da Fazenda Nacional a representação

da União Federal nas execuções fi scais decorrentes da cobrança de

dívidas oriundas e do não recolhimento do ITR.

Precedentes.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda

Turma do egrégio Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas anexas, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe

provimento. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Hélio Mosimann e

Peçanha Martins. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Antônio de Pádua

Ribeiro.

Brasília (DF), 14 de dezembro de 1994 (data do julgamento).

Ministro Hélio Mosimann, Presidente

Ministro Américo Luz, Relator

DJ 13.02.1995

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Américo Luz: Após proposição de executivo fiscal

objetivando cobrança de dívida decorrente do não pagamento do ITR, o Incra

Page 178: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

178

veio a requerer a intimação da Fazenda Nacional, em face do que dispõe o art.

29, § 5º, ADCT e art. 1º da Lei n. 8.022/1990.

Recusou-se a Fazenda Nacional, argumentando que as Portarias n.

230/1990 e 449/1990 delegaram ao Incra a representação judicial da União no

tocante às receitas arrecadadas por aquela autarquia.

Ante a recusa de ambas as partes, o MM. Juiz de 1º Grau julgou extinto o

processo.

Dessa decisão apelou a autarquia, reafi rmando a competência da Fazenda

Nacional para a lide, sendo a controvérsia decidida por acórdão ementado nestes

termos (fl . 60):

Processual Civil. Representação judicial da União nas execuções fi scais relativas

a receitas do Imposto Territorial Rural.

Promulgada a lei complementar organizando a Advocacia Geral da União (Lei

Complementar n. 73, de 10.02.1993, publicada no Diário Ofi cial de 11.02.1993) a

representação judicial da União nas execuções fi scais relacionadas com as receitas

arrecadadas pelo Incra compete à Procuradoria deste Instituto.

Exegese do art. 17 da Lei Complementar n. 73/1993.

O princípio do art. 82, III, do CPC, não acarreta a presença obrigatória do

Parquet nas execuções fi scais, nem tampouco a Lei n. 6.830/1980 a impõe.

Tendo a Fazenda Nacional agravado da decisão que lhe determinou a remessa

dos autos, não poderia ter sido julgado extinto o processo de execução.

Agravo de instrumento de que se conhece, por economia processual.

Agravo de instrumento e apelação providos.

Decisão unânime.

Daí a interposição dos recursos extraordinário e especial, este fundado nas

alíneas a e c do art. 105, III, da Carta Constitucional, alegando, em síntese, que

referida decisão ao excluir a legitimidade da Fazenda Nacional para a causa,

violou os arts. 131, § 3º, CF, 29, § 5º, ADCT, § 1º da Lei n. 8.022/1990, e 67 da

Lei n. 8.383/1991.

Admitidos ambos os recursos, vieram os autos a esta Corte, manifestando-

se o Ministério Público pelo provimento do recurso.

É o relatório.

Page 179: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 157-189, julho 2010 179

VOTO

O Sr. Ministro Américo Luz (Relator): A questão posta nos autos,

consistente em saber a quem cabe a representação judicial da União Federal

para cobrança da dívida ativa relativa ao Imposto Territorial Rural — ITR, é

por demais conhecida desta Corte, que fi rmou o entendimento de que compete

à Procuradoria da Fazenda Nacional a representação em questão, como se

observa dos precedentes a seguir colacionados, verbis:

Execução fiscal. ITR. Competência. Cobrança. Dívida ativa. Representação

judicial. Procuradoria da Fazenda Nacional.

A Portaria n. 449/1990 contraria as disposições dos arts. 1º da Lei n. 8.022/1990,

e 67 da Lei n. 8.383/1991, que outorgam competência à Procuradoria Geral da

Fazenda Nacional para a apuração, inscrição e cobrança do ITR. (REsp n. 52.452-0-

RJ, Relator Ministro Humberto Gomes de Barros, DJ 26.09.1994).

(...)

Competência. Execução fi scal. Incra. Procuradoria da Fazenda Nacional. ITR.

I - A competência para propor e acompanhar as execuções fi scais na cobrança

da dívida ativa oriunda das receitas arrecadadas pelo Incra é da Procuradoria da

Fazenda Nacional. Precedente.

II - Recurso conhecido e provido, no âmbito desta Corte. (REsp n. 52.546-2-RJ,

Relator Ministro José de Jesus Filho, DJ 26.09.1994).

Ante o exposto, dou provimento ao recurso.

RECURSO ESPECIAL N. 57.200-RJ (94.0035996-9)

Relator: Ministro Cesar Asfor Rocha

Recorrente: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária —

Incra

Recorrida: Escola Técnica Nossa Senhora do Perpétuo Socorro

Advogados: Marisa de Carvalho Menezes e outros

Page 180: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

180

EMENTA

Processual Civil. Competência para representar judicialmente a

União em execução fi scal de débito relativo ao ITR.

É da Procuradoria da Fazenda Nacional, e não do Incra, a

competência para propor e acompanhar execuções fi scais de débitos

relativos ao Imposto sobre propriedade Territorial Rural.

Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso.

Participaram do julgamento os Srs. Ministros Garcia Vieira, Demócrito

Reinaldo, Humberto Gomes de Barros e Milton Luiz Pereira.

Brasília (DF), 08 de fevereiro de 1995 (data do julgamento).

Ministro Demócrito Reinaldo, Presidente

Ministro Cesar Asfor Rocha, Relator

DJ 06.03.1995

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: A egrégia Segunda Turma do Tribunal

Regional Federal da 2ª Região, rejeitando agravo de instrumento, manteve

decisão monocrática que declarou a legitimidade do Instituto Nacional de

Colonização e Reforma Agrária — Incra para representar judicialmente a União

Federal nas execuções fi scais relacionadas com as receitas oriundas da cobrança

do Imposto sobre a propriedade Territorial Rural — ITR.

Inconformado, o Incra ingressou com recursos extraordinário e especial,

este com fundamento nas alíneas a e c do permissivo constitucional, afi rmando

que o decisum violou “o art. 131, § 3º, da Constituição Federal (estabelece a

representação da União pela PGFN, na execução da dívida ativa de natureza

Page 181: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 157-189, julho 2010 181

tributária, observado o disposto em lei), a Lei n. 8.022, de 12.04.1990 (cujo art.

1º transfere para a Secretaria da Receita Federal a competência de administração

das receitas arrecadadas pelo Incra, e, para a PGFN, a de apuração, inscrição e

cobrança da respectiva dívida ativa) e a Lei n. 8.383, de 30 de dezembro de 1991

(cujo art. 67 determina que a competência de que trata o art. 1º da Lei n. 8.022,

de 12.04.1990, relativa à apuração, inscrição e cobrança da dívida ativa oriunda

das receitas arrecadadas pelo Incra, bem assim a representação judicial nas

respectivas execuções fi scais, cabe à Procuradoria Geral da Fazenda Nacional)”.

(Fl. 78)

O v. acórdão teria vulnerado, ainda, segundo o recorrente, a “Lei

Complementar n. 73, de 10.02.1993 (que institui a Lei Orgânica da Advocacia Geral

da União e dá outras providências), que determina expressamente em seu art. 12,

que à PGFN compete, especialmente, ‘representar privativamente a União na

execução de sua dívida ativa de caráter tributário’ (inciso II) e ‘representar a

União nas causas de natureza fi scal’ (inciso V), causas essas defi nidas no seu

parágrafo único como ‘as relativas a: I - tributos de competência da União,

inclusive infrações à legislação tributária’; e, ‘VIII - incidentes processuais

suscitados em ações de natureza fi scal.’” (Fl. 78).

Isto tudo porque o ITR não seria e nem nunca teria sido tributo do

Incra, mas sim da União, com destinação e repartição do produto da sua

arrecadação, depois da Carta Magna de 1988, para a própria União (50%) e para

os Municípios (50%).

Transcorrido in albis o prazo para contra-razões, ambos os recursos foram

admitidos na origem, vindo os autos a esta Corte.

Recebido no meu Gabinete em 09.12.1994, indiquei-o para julgamento no

dia 27 de janeiro seguinte.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha (Relator): Com efeito, o débito relativo

ao ITR se constitui em dívida ativa da União, não cabendo mais ao Incra, em

virtude da Lei n. 8.022/1990, sequer a administração do tributo, cuja receita,

antigamente destinada aos Municípios (arts. 22, III, 25, § 1º, a, da Constituição

Page 182: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

182

de 1967), está hoje, por força da atual Constituição (arts. 152, VI, e 158, II),

dividida entre a União e os Municípios.

Assim, a hipótese se enquadra no art. 12, incisos II e V, da Lei

Complementar n. 73, de 10 de fevereiro de 1993, que diz ser competência da

Procuradoria da Fazenda Nacional “representar privativamente a União na

execução de sua dívida ativa de caráter tributário” e “representar a União nas

causas de natureza fi scal”.

Esse o entendimento das egrégias Primeira e Segunda Turmas desta Corte

revelado nos seguintes julgados:

Competência. Execução fi scal. Incra. Procuradoria da Fazenda Nacional. ITR.

Compete à Procuradoria da Fazenda Nacional propor e acompanhar as

execuções fi scais para a cobrança da dívida ativa oriunda das receitas arrecadadas

pelo Incra.

Não existe lei autorizando a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional a delegar

a competência que lhe foi atribuída pela Constituição (art. 131) e pelas Leis n.

8.022/1990 (art. 1º), e 8.383/1991 (art. 67), para representar a União na cobrança

do ITR.

Recurso provido. (REsp n. 38.284-RJ, Relator o eminente Ministro Garcia Vieira,

DJ 08.11.1993).

Competência. Execução fi scal. Incra. Procuradoria da Fazenda Nacional.

I - A competência para propor e acompanhar as execuções fi scais na cobrança

da dívida ativa oriunda das receitas arrecadadas pelo Incra é da Procuradoria da

Fazenda Nacional. Precedentes.

II - Recurso conhecido e provido. (REsp n. 35.366-RJ, Relator eminente Ministro

José de Jesus Filho, DJ 07.02.1994).

Recurso especial. Execução fiscal. Cobrança do ITR. Dívida de natureza

tributária. Representação afeta à Procuradoria da Fazenda Nacional e não ao Incra.

Cabe à Procuradoria da Fazenda Nacional propor e acompanhar as execuções

fi scais para cobrança de dívida oriunda das receitas arrecadadas pelo Incra. (REsp

n. 35.960-PE, Relator o eminente Ministro Hélio Mosimann, DJ 30.05.1994).

Por tais razões, dou provimento ao recurso.

Page 183: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 157-189, julho 2010 183

RECURSO ESPECIAL N. 57.208-RJ (94.0036007-0)

Relator: Ministro Garcia Vieira

Recorrente: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária —

Incra

Recorrida: Fazenda do Frade Agroindustrial Pecuária S/A

Advogados: Marisa de Carvalho Menezes e outros e Sérgio Augusto

Malta Júnior e outro

EMENTA

Execução fi scal. Dívida ativa. ITR. Representação.

A Lei n. 8.022, de 12 de abril de 1990 transferiu para a

Procuradoria Geral da Fazenda Nacional a apreciação, inscrição e

cobrança do ITR. Portanto, é da PGFN a representação judicial na

cobrança da dívida ativa oriunda das receitas arrecadadas pelo Incra.

Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

P rimeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso.

Votaram com o relator os Srs. Ministros Demócrito Reinaldo, Humberto

Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira e Cesar Asfor Rocha.

Brasília (DF), 08 de fevereiro de 1995 (data do julgamento).

Ministro Demócrito Reinaldo, Presidente

Ministro Garcia Vieira, Relator

DJ 19.03.1995

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Garcia Vieira: Trata-se de recurso especial interposto pelo

Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, com apoio nas alíneas a

Page 184: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

184

e c, do permissivo constitucional, contra acórdão do egrégio Tribunal Regional

Federal da 2ª Região, assim ementado:

Processual Civil e Administrativo. Execução fi scal proposta pelo Incra. Decisão

que entendeu ser ela parte ativa legítima. Requerimento da autarquia agrária,

no curso do feito, de intimação da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, que,

teria passado a ter a competência para a representação judicial nos processos

da espécie, com invocação do art. 29, § 5º, do ADCT; art. 1º da Lei n. 8.022, de

12.04.1990; art. 67 da Lei n. 8.383, de 30.12.1991; e art. 45 do CPC. Resistência da

PFN, sob o argumento de que tal competência fora delegada, pelo Procurador-

Geral da Fazenda Nacional, ao próprio Incra (Portarias n. 230, de 15.05.1990 e 449,

de 03.09.1990). Contencioso interadministrativo, a ser resolvido no âmbito do

próprio Poder Executivo, ou em processo direto, eis que o confl ito de atribuições

tem identidade jurídica. Impossibilidade de o Judiciário obrigar uma entidade

executiva, incidenter tantum, assumir, em sucessão ou substituição, a titularidade

de uma ação proposta por outra (fl . 70).

Alega o recorrente que o v. aresto hostilizado violou o art. 131, § 3º, da

Constituição Federal, art. 1º da Lei n. 8.022/1990 e Lei n. 8.383/1991.

Sustenta, em síntese, competir à Procuradoria da Fazenda Nacional e não à

Procuradoria do Incra executar a dívida ativa da autarquia fundiária, sendo ilegal

a Portaria n. 449/1990 da PGFN, que delegou poderes para tal fi nalidade.

Indica acórdãos divergentes e requer o provimento do recurso (fl s. 75-91).

Admitido o especial (fl . 118), subiram os autos a este colendo Tribunal.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Garcia Vieira (Relator): Vários dispositivos legais, versando

sobre questões devidamente prequestionadas, foram apontadas como violados,

sendo caso de conhecimento do recurso pela letra a. Como a divergência restou

devidamente caracterizada e comprovada, é também caso de conhecimento pela

letra c.

Conheço do recurso pelas letras a e c.

O recurso merece provimento.

Está bem claro pelo art. 131, § 3º, da Constituição Federal vigente que:

Na execução da dívida de natureza tributária, a representação da União cabe à

Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, observado o disposto em lei.

Page 185: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 157-189, julho 2010 185

No caso, a dívida é de natureza tributária e sobre isto não paira a menor

dúvida.

A Lei n. 8.022, de 12 de abril de 1990, em seu art. 1º transferiu para a

Procuradoria Geral da Fazenda Nacional a apreciação, inscrição e cobrança do

Imposto Territorial Rural.

Também a Lei n. 8.383, de 30 de dezembro de 1991, em seu art. 67,

estabeleceu que:

A competência de que trata o art. 1º da Lei n. 8.022, de 12 de abril de 1990,

relativa à apuração, inscrição e cobrança da dívida ativa oriunda das receitas

arrecadadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária — Incra,

bem como a representação judicial nas respectivas execuções fiscais, cabe à

Procuradoria Geral da Fazenda Nacional.

Como se vê, está bem clara a competência da Procuradoria da Fazenda

Nacional para propor e acompanhar as execuções fi scais para a cobrança da

dívida ativa oriunda das receitas arrecadadas pelo Incra.

A delegação de competência ao Incra pela Portaria n. 449/1990 violou os

dispositivos constitucional (art. 131) e legais (art. 1º da Lei n. 8.022/1990 e art.

67 da Lei n. 8.383/1991) e não pode prevalecer. Pela delegação a autoridade

administrativa transfere a seu subordinado atribuições decisórias, e no caso,

não existe subordinado e a competência é prevista em dispositivo permanente

da Constituição e em leis editadas após a sua vigência e com ela perfeitamente

compatíveis.

O § 5º do art. 29 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias

não autorizou a delegação ao Incra para cobrança do ITR. Por este dispositivo

constitucional transitório só foi prevista a delegação ao Ministério Público

Estadual, não para a cobrança da dívida ativa oriunda das receitas do Incra e

sim para representar judicialmente a União em suas causas de natureza fi scal,

ajuizadas no interior do país. Não existe e não poderia existir lei nenhuma

autorizando a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional delegar a competência

a ela atribuída pela Constituição (art. 131) e pelas Leis n. 8.022/1990, art. 1º e

8.383/1991, art. 67, para representar a União na cobrança do ITR.

Dou provimento ao recurso para determinar seja o recorrente representado

pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional.

Page 186: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

186

RECURSO ESPECIAL N. 57.340-RJ (94.0036324-9)

Relator: Ministro Hélio Mosimann

Recorrente: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária —

Incra

Advogados: Marisa de Carvalho Menezes e outros

Recorrido: Geraldo de Rezende Martins

EMENTA

Recurso especial. Execução fi scal. Dívida de natureza tributária.

Representação afeta à Procuradoria da Fazenda Nacional e não ao

Incra.

Cabe à Procuradoria da Fazenda Nacional propor e acompanhar

as execuções fi scais para cobrança de dívida oriunda das receitas

arrecadadas pelo Incra.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da

Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos

e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e

dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram

do julgamento os Ministros Peçanha Martins e Antônio de Pádua Ribeiro.

Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Américo Luz.

Brasília (DF), 06 de fevereiro de 1995 (data do julgamento).

Ministro Hélio Mosimann, Presidente e Relator

DJ 20.02.1995

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hélio Mosimann: O Instituto Nacional de Colonização e

Reforma Agrária — Incra, com fundamento no art. 105, inciso III, alíneas a e c,

Page 187: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 157-189, julho 2010 187

da Constituição Federal, interpôs recurso especial ao v. acórdão proferido pela

Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, assim ementado:

Processual Civil e Administrativo. Execução Fiscal proposta pelo Incra.

Decisão que entendeu ser ele parte ativa legítima. Requerimento da autarquia

agrária, no curso do feito, de intimação da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional,

que, teria passado a ter a competência para representação judicial nos processos

da espécie, com invocação do art. 29, § 5º, do ADCT; art. 1º da Lei n. 8.022, de

12.04.1990; art. 67 da Lei n. 8.383, de 30.12.1991; e art. 45 do CPC. Resistência da

PFN, sob o argumento de que tal competência fora delegada, pelo Procurador-

Geral da Fazenda Nacional, ao próprio Incra (Portarias n. 230, de 15.05.1990, e 449,

de 03.09.1990). Contencioso interadministrativo, a ser resolvido no âmbito do

próprio Poder Executivo, ou em processo direto, eis que o confl ito de atribuições

tem identidade jurídica. Impossibilidade de o Judiciário obrigar uma entidade

executiva incidenter tantum, a assumir, em sucessão ou substituição, a titularidade

de uma ação proposta por outra.

Sustenta o recorrente, em síntese, que o v. acórdão, em decidindo pela sua

legitimatio ad causam, teria violado o art. 1º da Lei n. 8.022/1990, e art. 67 da

Lei n. 8.383/1991, bem como a Lei Complementar n. 73/1993. Alega dissídio

jurisprudencial.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hélio Mosimann (Relator): A jurisprudência do STJ vai-se

inclinando em sentido contrário à tese consagrada no acórdão recorrido.

Efetivamente, a jurisprudência das Turmas que compõem a Seção de

Direito Público tem se pronunciado no sentido de que a atribuição de propor e

acompanhar as execuções fi scais na cobrança da dívida ativa oriunda das receitas

arrecadadas pelo Incra é da Procuradoria da Fazenda Nacional. Confi ram-se:

Competência. Execução fi scal. Incra. Procuradoria da Fazenda Nacional.

Compete à Procuradoria da Fazenda Nacional propor e acompanhar as

execuções fi scais para a cobrança da dívida ativa oriunda das receitas arrecadadas

pelo Incra. Não existe lei autorizando a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional

a delegar a competência que lhe foi atribuída pela Constituição (art. 131) e pelas

Leis n. 8.022/1990 (art. 1º), e 8.383/1991 (art. 67), para representar a União na

cobrança do ITR.

Page 188: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

188

Recurso provido. (REsp n. 38.824-0-RJ, Relator Ministro Garcia Vieira, in DJ

08.11.1993).

Competência. Execução fi scal. Incra. Procuradoria da Fazenda Nacional. ITR.

I - A competência para propor e acompanhar as execuções fi scais na cobrança

da dívida oriunda das receitas arrecadadas pelo Incra é a Procuradoria da Fazenda

Nacional. Precedente.

II - Recurso conhecido e provido. (REsp n. 35.366-1-RJ, Relator Ministro José de

Jesus Filho, in DJ 07.02.1994).

No primeiro precedente, o eminente Relator pôs termo à controvérsia aos

seguintes argumentos:

Está bem claro pelo art. 131, § 3º, da Constituição Federal vigente que:

Na execução da dívida de natureza tributária, a representação da União

cabe à Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, observado o disposto em

lei.

No caso, a dívida é de natureza tributária e sobre isto não paira a menor dúvida.

A Lei n. 8.022, de 12 de abril de 1990, em seu art. 1º transferiu para a

Procuradoria Geral da Fazenda Nacional a apreciação, inscrição e cobrança do

Imposto Territorial Rural. Também a Lei n. 8.383, de 30 de dezembro de 1991, em

seu art. 67, estabeleceu que:

A competência de que trata o art. 1º da Lei n. 8.022, de 12 de abril de

1990, relativa à apuração, inscrição e cobrança da dívida ativa oriunda das

receitas arrecadadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma

Agrária — Incra, bem como a representação judicial nas respectivas

execuções fi scais, cabe à Procuradoria Geral da Fazenda Nacional.

Como se vê, está bem clara a competência da Procuradoria da Fazenda

Nacional para propor e acompanhar as execuções fi scais para a cobrança da

dívida oriunda das receitas arrecadadas pelo Incra.

A delegação de competência ao Incra pela Portaria n. 449/1990 (doc. de

fl . 21) violou os dispositivos constitucionais (art. 131) e legais (art. 1º da Lei n.

8.022/1990, e art. 67 da Lei n. 8.383/1991) e não pode prevalecer. Pela delegação,

a autoridade administrativa transfere a seu subordinado atribuições decisórias,

e no caso, não existe subordinado e a competência é prevista em dispositivo

permanente da Constituição e em leis editadas após a sua vigência e com ela

perfeitamente compatíveis.

Page 189: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 157-189, julho 2010 189

Na linha desses precedentes é que conheço do recurso e dou-lhe

provimento.

É como voto.

Page 190: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 191: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

Súmula n. 140

Page 192: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 193: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULA N. 140

Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que o

indígena fi gure como autor ou vítima.

Referência:

CF/1988, arts. 109, XI, e 129, V.

Precedentes:

CC 575-MS (3ª S, 21.09.1989 — DJ 16.10.1989)

CC 3.910-RO (3ª S, 17.12.1992 — DJ 1º.03.1993)

CC 4.469-PE (3ª S, 17.06.1993 — DJ 02.08.1993)

CC 5.013-RR (3ª S, 16.12.1993 — DJ 20.06.1994)

CC 7.624-AM (3ª S, 16.06.1994 — DJ 05.12.1994)

CC 8.733-MA (3ª S, 16.06.1994 — DJ 22.08.1994)

RHC 706-RS (6ª T, 16.10.1990 — DJ 29.10.1990)

Terceira Seção, em 18.05.1995

DJ 24.05.1995, p. 14.853

Page 194: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 195: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 575-MS (89.0009584-6)

Relator: Ministro Costa Leite

Suscitante: Juízo Federal da 1ª Vara-MS

Suscitado: Juízo de Direito da Vara Criminal de Miranda-MS

Autora: Justiça Pública

Réu: Cassimiro de Arruda

EMENTA

Competência. Crime. Índio.

Lesões corporais causadas por um silvícola em outro, sem

conotação especial, em ordem a confi gurar ofensa a interesse da

União. Competência da Justiça Estadual para o processo e julgamento

do crime.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Terceira Seção, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar competente

o Juiz de Direito da Vara Criminal de Miranda, o suscitado, na forma do

relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte

integrante do presente julgado. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 21 de setembro de 1989 (data do julgamento).

Ministro William Patterson, Presidente

Ministro Costa Leite, Relator

DJ 16.10.1989

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Costa Leite: Trata-se de confl ito negativo de competência

entre o Juízo da 1ª Vara Federal da Seção Judiciária do Mato Grosso do Sul e

o Juízo de Direito da Comarca de Miranda-MS, que se estabeleceu em torno

Page 196: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

196

de processo e julgamento de indígena por delito de lesões corporais em outro

indígena, ambos do mesmo posto.

O parecer do Ministério Público Federal é pelo conhecimento do confl ito,

para declarar-se a competência do Juízo-suscitado.

É o relatório, Sr. Presidente.

VOTO

O Sr. Ministro Costa Leite (Relator): O parecer do Ministério Público

Federal, da lavra do culto Subprocurador-Geral Cláudio Lemos Fonteles, após

proceder a uma minuciosa análise de competência da Justiça Federal em tema

de direito indígena, à luz do novo texto constitucional, concluiu não se justifi car,

no caso, a competência do foro federal.

Ponho-me inteiramente de acordo com a conclusão do parecer. Não

adianto juízo, porém, sobre a extensão da norma contida no art. 109, XI, da

Constituição, atributiva de competência aos juízes federais para processar e

julgar “a disputa sobre direitos indígenas”, se repercute ou não na competência

criminal da Justiça Federal, pois, sem o menor resquício de dúvida, o delito de

que os autos dão notícia não guarda relação com os direitos indígenas de que

cuida o dispositivo constitucional.

Com efeito, trata-se de lesões corporais causadas por um silvícola em

outro, em razão de a vítima haver dito que o seu agressor iria virar bicho, como

consta da denúncia (fl . 2).

Assim sendo, é de invocar-se, para a solução da questão competencial, a

jurisprudência fi rmada pelo extinto Tribunal Federal de Recursos, no sentido de

que é da Justiça Estadual a competência para o processo e julgamento de crime

praticado por silvícola ou contra este, salvo se, pela conotação especial, importar

em ofensa em interesse da União.

Do exposto, Sr. Presidente, conheço do confl ito, para declarar a competência

do MM. Juiz de Direito suscitado.

É o meu voto.

Page 197: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 191-213, julho 2010 197

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 3.910-RO (92.0030484-2)

Relator: Ministro Adhemar Maciel

Autora: Justiça Pública

Réu: Edijasmo Correia da Silva

Suscitante: Juízo Federal da Vara Criminal-RO

Parte A: Juízo de Direito da Vara Criminal de Espigão do Oeste-RO

EMENTA

Constitucional e Processual Civil. Confl ito de jurisdições. Índios.

Lesões corporais. Competência da Justiça Comum do Estado.

I - A Constituição, de um modo direto ou indireto, fi xa o juízo

natural para qualquer confl ito de interesses. No caso concreto, um

índio está sendo acusado de ter praticado crime de lesões corporais

em outro silvícola. O juízo suscitante (federal), em princípio, só

tem competência para dirimir “disputa sobre direitos indígenas”

(Constituição, art. 109, XI), o que não é o caso dos autos. Logo, a

competência é da Justiça Comum do Estado e não da Justiça Comum

da União.

II - Competência do juízo estadual (suscitado).

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do

confl ito e declarar competente o suscitado, Juízo de Direito da Vara Criminal

de Espigão do Oeste-RO, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator, na

forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo

parte integrante do presente julgado. Votaram de acordo os Srs. Ministros

José Dantas, Flaquer Scartezzini, Costa Lima, Assis Toledo, Edson Vidigal e

Vicente Cernicchiaro. Ausente, por motivo justifi cado, o Sr. Ministro Pedro

Acioli. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 17 de dezembro de 1992 (data do julgamento).

Ministro José Cândido, Presidente

Page 198: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

198

Ministro Adhemar Maciel, Relator

DJ 1º.03.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Adhemar Maciel: Trata-se de conflito negativo de

competência suscitado pelo juiz federal da Seção Judiciária de Rondônia nos

autos do processo, onde se apura prática de crime de lesões corporais causadas

por um silvícola em outro.

2. O juiz de Direito da Comarca de Espigão do Oeste-RO entendeu que,

em sendo a vítima um índio, a competência para processar e julgar o feito é da

Justiça Federal. O juiz federal, a seu turno, suscitou o confl ito por entender que

o delito encontra-se entre aqueles de competência da Justiça Estadual.

3. O Ministério Público Federal opinou pela competência do juízo

estadual. Ressalta que o índio, pessoa física, não possui foro privilegiado. Apenas

seus direitos e interesses estão especialmente protegidos, conforme dispõe a

Constituição Federal de 1988.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Adhemar Maciel (Relator): A razão me parece com o

suscitante.

Como se sabe, no sistema jurídico brasileiro o juízo natural está direta ou

indiretamente fi xado na Constituição.

A Constituição em vigor, preocupada com o permanente genocídio do

índio, trouxe algumas novidades. Na competência da Justiça Federal, acresceu

a “disputa sobre direitos indígenas” (art. 109, XI). No art. 129, inciso V, deu

legitimidade ativa ao Ministério Público para “defender judicialmente os direitos

e interesses das populações indígenas” etc. Mas, em passagem alguma tem o foro

federal como o competente para julgar crime individual praticado por silvícola

ou entre silvícolas. Logo, a competência é da Justiça Comum Estadual.

Já temos precedentes:

Page 199: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 191-213, julho 2010 199

Penal. Homicídio. Crime praticado por silvícola. Competência.

A proteção que a Constituição Federal confere à defesa dos interesses do

indígena não alcança o privilégio do foro federal para o processo e julgamento

de crime de homicídio por ele praticado. Recurso desprovido (RHC n. 706-RS, Rel.

Min. William Patterson, DJU 29.10.1990, p. 12.151).

Competência. Crime. Índio.

Lesões corporais causadas por um silvícola em outro, sem conotação especial,

em ordem de confi gurar ofensa a interesse da União. Competência da Justiça

Estadual para o processo e julgamento do crime. (CC n. 575-MS, Rel. Min. Costa

Leite, DJU 16.10.1989, p. 15.854).

Com tais ponderações, Sr. Presidente, declaro competente o juízo estadual,

ou seja, o suscitado (Comarca de Espigão do Oeste-RO).

É como voto.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 4.469-PE (93.0007021-5)

Relator: Ministro Vicente Cernicchiaro

Suscitante: Juízo Federal da 8ª Vara-PE

Suscitado: Juízo de Direito de Floresta-PE

Autor: Ministério Público Federal

Réus: Manoel Cirilo da Silva e outros

EMENTA

CC. Constitucional. Competência. Crime. Silvícola (vítima).

Reserva indígena. A competência da Justiça Federal está consagrada

no art. 109 (Constituição da República). O objeto jurídico é o

referencial. Não obstante a tutela da União aos índios, competente é a

Justiça Comum do Estado para processar e julgar crimes de homicídio

e lesão corporal, ocorridos em área de reserva indígena, ainda que a

vítima seja índio.

Page 200: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

200

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira

Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas constantes dos autos, por unanimidade, conhecer do confl ito e

declarar competente o suscitado, Juízo de Direito de Floresta-PE, nos termos

do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o Relator os Srs. Ministros

Adhemar Maciel, Anselmo Santiago, José Dantas, Pedro Acioli, Flaquer

Scartezzini, Jesus Costa Lima, Assis Toledo e Edson Vidigal.

Brasília (DF), 17 de junho de 1993 (data do julgamento).

Ministro José Cândido, Presidente

Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, Relator

DJ 02.04.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro: Trata-se de confl ito positivo de

competência, tendo como suscitante o Juízo Federal da 8ª Vara de Pernambuco

e suscitado o Juízo de Direito de Floresta-PE, em ação criminal.

Os réus foram denunciados perante o Juízo Federal da 8ª Vara de

Pernambuco e também perante o Juízo Estadual de Floresta, pelo homicídio dos

silvícolas Abdon Leonardo da Silva e Abdias João da Silva e lesões corporais em

Beatriz Adelaide da Conceição, mãe das duas vítimas, nos domínios da Reserva

Indígena de Atikum, no Município de Floresta, em Pernambuco.

Ambos os juízos declaram-se competentes para processar e julgar os

denunciados.

A tese do Ministério Público, ao oferecer a denúncia, é pela competência

da Justiça Federal, ao argumento de que, ocorrido o fato delituoso no interior

da reserva indígena, vitimando membros desses povos, tutelados pela União,

e sendo ainda um dos denunciados empregado da Funai, fi ca clara a ofensa

a interesse da União Federal para julgar o feito, conforme o art. 109, IV, da

Constituição Federal.

Page 201: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 191-213, julho 2010 201

Parecer do Ministério Público Federal, por entender não ser a

jurisprudência invocada, por ocasião do oferecimento da denúncia, aplicável à

espécie.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro (Relator): A competência da Justiça

Federal está consagrada na Constituição da República (art. 109). No tocante

aos crimes, menciona “as infrações penais praticadas em detrimento de bens,

serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas

públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça

Militar e da Justiça Eleitoral” (inciso IV).

Nota-se, o critério atrativo refere-se a “bens, serviços ou interesse”.

Evidencia, pois, o objeto jurídico.

No caso dos autos, trata-se de homicídio e lesões corporais, de que seriam

vítimas silvícolas, acontecimento ocorrido em área de reserva indígena.

O fato evidencia inocorrência de pressupostos de fi xação da competência

da Justiça Federal.

A tutela da União, relativamente aos índios, na espécie, ao contrário do

explanado pelo juízo-suscitante.

No CC n. 3.910-0, Relator, o ilustre Ministro Adhemar Maciel, decidiu

esta Seção:

Constitucional e Processual Civil. Conflito de jurisdições. Índios. Lesões

corporais. Competência da Justiça Comum do Estado. I - A Constituição, de um

modo direto ou indireto, fi xa o juízo natural para qualquer confl ito de interesses.

No caso concreto, um índio está sendo acusado de ter praticado crime de lesões

corporais em outro silvícola. O juízo-suscitante (federal), em princípio, só tem

competência para dirimir “disputa sobre direitos indígenas” (Constituição, art.

109, XI), o que não é o caso dos autos. Logo, a competência é da Justiça Comum

do Estado e não da Justiça Comum da União. II - Competência do juízo estadual

(suscitado).

Conheço do confl ito e declaro competente o juízo-suscitado, de Floresta,

PE.

Page 202: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

202

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 5.013-RR

Relator: Ministro Edson Vidigal

Autora: Justiça Pública

Réus: Abílio Inácio, Cosmo Mendes e Jango Inácio

Suscitante: Juízo Federal da 1ª Vara-RR

Suscitado: Juízo de Direito da Vara Criminal de Boa Vista-RR

EMENTA

Penal. Processual. Tentativa de homicídio. Índio acusado.

Competência.

1. Tratando-se de crime comum praticado por índio fora da

reserva, seu habitat, a competência para processar e julgar é da Justiça

Comum Estadual.

2. Confl ito conhecido; competência do suscitado.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira

Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar

competente o suscitado, Juízo de Direito da Vara Criminal de Boa Vista-RR,

nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o Relator os Srs.

Ministros Luiz Vicente Cernicchiaro, Adhemar Maciel, Anselmo Santiago, José

Cândido de Carvalho Filho, Pedro Acioli e Assis Toledo. Ausentes, por motivo

justifi cado, os Srs. Ministros. Cid Flaquer Scartezzini e José Dantas.

Brasília (DF), 16 de dezembro de 1993 (data do julgamento).

Ministro Jesus Costa Lima, Presidente

Ministro Edson Vidigal, Relator

DJ 20.06.1994

Page 203: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 191-213, julho 2010 203

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Edson Vidigal: Imaginar que isso tudo começou por causa

de uma porca que o vaqueiro da Fazenda Guanabara, na Normandia, Estado

de Roraima, foi procurar numa maloca próxima, sendo aconselhado a não se

aproximar muito porque os fi lhos de Dona Madina estavam bebendo e quando

fi cam bêbados são muito perigosos. Menos esperou e viu foi fl echas voando,

os índios estavam que nem doidos e Aguinaldo Rufi no, o vaqueiro, correu

morrendo de medo de ser morto.

A porca não foi achada mas o caso foi parar na Polícia de onde foi para a

Justiça onde o Juiz da Comarca de Boa Vista deu-se por incompetente. Essa

respeitável decisão acolheu o argumento do Ministério Público Estadual sobre a

falta de legitimidade para propor a ação penal contra os fi lhos de Dona Madina,

por ser matéria da alçada exclusiva da área federal.

O Juiz Federal recusou a competência suscitando o conflito por não

vislumbrar no caso interesse da União Federal, de suas entidades ou empresas

públicas. O Ministério Público Federal, nesta instância, opina pela competência

do Juiz de Direito da Vara Criminal de Boa Vista, Capital do Estado de

Roraima, o suscitado.

Relatei.

VOTO

O Sr. Ministro Edson Vidigal (Relator): Sr. Presidente, o que houve foi

uma tentativa de homicídio contra o vaqueiro que estava à procura da porca

desaparecida da fazenda onde presta serviços. Crime comum, praticado por

índio fora da reserva, seu habitat, não se confundindo isso com disputa sobre

direitos indígenas.

Por isso, conheço do confl ito e declaro competente o Juiz de Direito da

Vara Criminal de Boa Vista, Roraima, o suscitado.

É o voto.

Page 204: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

204

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 7.624-AM (94.0004305-8)

Relator: Ministro Anselmo Santiago

Autor: Ministério Público do Estado do Amazonas

Réus: Sebastião Conceição da Costa e outros

Suscitante: Juízo Federal da 3ª Vara da Seção Judiciária do Estado do

Amazonas

Suscitado: Juízo de Direito de Atalaia do Norte-AM

EMENTA

Processual Penal. Competência. Homicídio. Crime praticado

contra índio.

1. Cabe à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime

de homicídio praticado contra índio por não-índio, fora da reserva

natural.

2. Confl ito conhecido e declarado competente o juízo-suscitado.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira

Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar

competente o Juízo de Direito de Atalaia do Norte-AM, o suscitado. Votaram

com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros José Dantas, Pedro Acioli, Assis

Toledo, Edson Vidigal, Luiz Vicente Cernicchiaro e Adhemar Maciel. Ausente,

nesta assentada, o Sr. Ministro Cid Flaquer Scartezzini.

Brasília (DF), 16 de junho de 1994 (data do julgamento).

Ministro Jesus Costa Lima, Presidente

Ministro Anselmo Santiago, Relator

DJ 05.12.1994

Page 205: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 191-213, julho 2010 205

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Anselmo Santiago: Trata-se de conflito negativo de

competência entre o Juízo de Direito de Atalaia do Norte-AM e o Juízo da

3ª Vara Federal-AM para processar e julgar Sebastião Conceição da Costa,

Valdemar “de tal”, Raimundo Nonato Santos, Valdeci Rio de Souza, José

Ribamar Maciel, João Batista Vieira e Luiz Nazaré da Costa, acusados de matar,

a tiros de espingarda, três (3) índios da tribo “Kurubus”, conhecidos por “índios

caceteiros”, fato delituoso ocorrido na madrugada do dia 2 de setembro de 1989,

nas matas banhadas pelo rio Ituí, em Atalaia do Norte.

O confl ito foi suscitado pelo Juiz Federal.

A douta Subprocuradoria Geral da República manifestou-se pela

competência da Justiça Comum Estadual.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Anselmo Santiago (Relator): Sobre a matéria, assim opinou

a Procuradoria Geral da República:

A Carta Política de 1988, em seus arts. 22, XIV (Populações Indígenas) e art. 109,

XI (Competência da Justiça Federal para processar e julgar a disputa sobre direitos

indígenas), delega poderes à Justiça Federal para processar e julgar as causas

relativas às disputas sobre direitos indígenas, donde se conclui que — direitos

indígenas são aqueles decorrentes de causas onde existe o interesse da União em

proteger os silvícolas, signifi cando que os delitos praticados que não envolvam

bens, serviços ou interesses da União, não estão afetos à jurisdição federal.

Ressalte-se que o entendimento é no sentido de crimes por eles e contra eles

praticados.

A Quarta Turma do egrégio Superior Tribunal de Justiça proferiu em 14.12.1992,

decisão cuja ementa ora se transcreve:

Ementa

Processo Penal. Competência. Justiça Federal (art. 109 da CF). Genocídio.

1. A Justiça Federal, já reconhecida como incompetente para processar e

julgar crime de genocídio contra etnia indígena, não sofreu alteração com a

nova ordem constitucional.

Page 206: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

206

2. A competência para processar e julgar disputa sobre direitos indígenas

não abrange a atribuição para o crime de genocídio.

3. Recurso improvido.

No mesmo sentido decidiu a Terceira Seção desta colenda Corte, in DJ

02.08.1993, CC n. 4.493, Relator Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro, in verbis:

CC. Constitucional. Competência. Crime. Silvícola (vítima). Reserva

indígena.

A competência da Justiça Federal está consagrada no art. 109

(Constituição da República). O objeto jurídico é o referencial. Não obstante

a tutela da União aos índios, competente é a Justiça Comum do Estado para

processar e julgar crimes de homicídio e lesão corporal, ocorridos em área

de reserva indígena, ainda que vítima seja índio.

Da mesma forma foi o julgamento proferido na Sexta Turma, relatado pelo Sr.

Ministro William Patterson, publicado no DJ 02.01.1990, decisão unânime, no RHC

n. 706-RS:

Processual Penal. Competência. Homicídio. Crime praticado por silvícola.

A proteção que a Constituição Federal confere à defesa dos interesses

do indígena não alcança o privilégio do foro federal para o processo e

julgamento do crime de homicídio por ele praticado. Recurso desprovido.

Ex positis, tratando-se de crime comum praticado por não-índio, fora da

reserva natural, competente é a Justiça Comum Estadual para o processamento

e julgamento do feito, razão pela qual, opina o Ministério Público Federal, pelo

conhecimento do presente conflito negativo de competência, para que seja

declarado competente o Juízo-suscitado. (Fls. 99-101)

Adoto e acolho, como fundamentos do meu voto, o parecer acima

transcrito, da lavra da ilustre doutora Delza Curvello Rocha, Subprocuradora-

Geral da República.

Conheço do confl ito e declaro competente o Juízo de Direito de Atalaia

do Norte-AM, o suscitado.

É como voto.

Page 207: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 191-213, julho 2010 207

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 8.733-MA (94.0012941-6)

Relator: Ministro Pedro Acioli

Autora: Justiça Pública

Réu: Manasses Tabu Kaip

Suscitante: Juízo Federal da 1ª Vara da Seção Judiciária do Estado do

Maranhão

Suscitado: Juízo de Direito de Bom Jardim-MA

EMENTA

Constitucional. Confl ito de competência. Homicídio. Crime

praticado por silvícola.

I - A proteção que a Constituição Federal confere à defesa dos

interesses do indígena não alcança o privilégio do foro federal, para

processar e julgar crime de homicídio praticado por índio, ocorrido em

áreas de reserva indígena.

II - Conflito conhecido para declarar competente o Juízo

suscitado.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da egrégia

Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

das notas taquigráfi cas constantes dos autos, por unanimidade, conhecer do

confl ito e declarar competente o suscitado, Juízo de Direito de Bom Jardim-

MA, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o Relator

os Srs. Ministros Assis Toledo, Edson Vidigal, Luiz Vicente Cernicchiaro,

Adhemar Maciel, Anselmo Santiago e José Dantas. Ausente, ocasionalmente, o

Sr. Ministro Cid Flaquer Scartezzini.

Brasília (DF), 16 de junho de 1994 (data do julgamento).

Ministro Jesus Costa Lima, Presidente

Ministro Pedro Acioli, Relator

DJ 22.08.1994

Page 208: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

208

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Pedro Acioli: Cuidam os autos de confl ito negativo de

competência suscitado pela MM. Juíza Federal da 1ª Vara da Seção Judiciária

do Estado do Maranhão que considera competente para o presente feito o Juiz

de Direito de Bom Jardim.

O silvícola Manassis Tabu Kaip, residente na Aldeia Januária, Reserva

Indígena do Vale do Pindaré, localizada no Município de Bom Jardim-MA, foi

indiciado pela prática de homicídio, ao desferir tiros de espingarda em Carlos

Alberto de Farias que veio a falecer.

Acolhendo parecer do Promotor de Justiça, a MM. Juíza de Direito de

Bom Jardim encaminhou os autos à Justiça Federal, em razão dos interesses

indígenas serem tutelados em âmbito federal.

Recebendo o feito, o Representante do Ministério Público Federal-MA,

ponderou: — fl s. 51-52.

Data venia do posicionamento do ilustre Promotor de Justiça, agasalhado pela

Dra. Juíza de Direito da Comarca, não vislumbro, na espécie, a competência da

Justiça Federal para a futura ação penal.

De fato, apesar de não ter dúvida quanto à competência federal em se tratando

de crimes praticados contra índios, tutelados que são pela União (f. HC n. 6.819-

MG, TFR, Relator Ministro Nilson Naves, DJU 30.04.1987, p. 7.718; HC n. 65.912-

8-MG, STF, Relator Ministro Célio Borja, DJU 24.06.1988, p. 16.114), diversa é a

situação quando se cuida de delito cometido por índio, máxime em circunstância

alheia à disputa de suas terras ou à defesa de outros direitos e interesses.

Não vejo, ademais, como extrair-se da regra do art. 109, XI, da Constituição da

República, o foro privilegiado para processar e julgar silvícolas.

De outro lado, os aspectos circunjacentes ao homicídio não permitem entrever

lesão a interesse da União, no que tange à tutela dos índios.

Não se caracterizando, pois, a competência da Justiça Federal para o futuro

processo-crime, carece o Ministério Público Federal de legitimidade para ofertar

a peça acusatória.

Como o Ministério Público Estadual também já declinou da atribuição,

considerando-se incompetente, a seu turno, o Juízo Estadual, tem-se, então, a

presença de um confl ito.

Comungando com o posicionamento do parecer a MM. Juíza Federal

suscitou o presente confl ito.

Page 209: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 191-213, julho 2010 209

O Ministério Público Federal opina pela competência do Juízo de Direito

de Bom Jardim.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Pedro Acioli (Relator): O Ministério Público Federal

manifestou-se sobre a matéria nos seguintes termos, fl s. 52-54:

O atual Texto Constitucional, em seus arts. 22, XVI (Populações Indígenas) e

art. 109, XI (Competência da Justiça Federal para processar e julgar: a disputa

sobre direitos indígenas), delega poderes à Justiça Federal para processar e julgar

as causas relativas às disputas sobre direitos indígenas, donde se conclui que

direitos indígenas são aqueles decorrentes de causas onde existe o interesse da

União em proteger os silvícolas, signifi cando que delitos por eles praticados que

não envolvam bens, serviços ou interesses da União, não estão afetos à jurisdição

Federal.

In casu a União não foi atingida em seus interesses, não se confi gurando as

hipóteses dos artigos acima mencionados.

A jurisprudência sobre matéria discutida nos autos é remansosa, tendo essa

nobre Corte inúmeros julgados a respeito de homicídios praticados por silvícola.

A Sexta Turma desse colendo Tribunal proferiu decisão unânime, publicada no

DJ 21.01.1990, cuja ementa ora se transcreve:

Processual Penal. Competência. Homicídio. Crime praticado por silvícola.

A proteção que a Constituição Federal confere à defesa dos interesses

do indígena não alcança o privilégio do foro federal para o processo e

julgamento do crime de homicídio por ele praticado.

Recurso desprovido. (RHC n. 706-RS, Relator Ministro William Patterson).

No mesmo sentido decidiu a Terceira Seção desta colenda Corte, DJ 02.08.1993,

CC n. 4.493, Relator Ministro Vicente Cernicchiaro, verbis:

Conflito de competência constitucional. Crime. Silvícola (vítima).

Indígena.

A competência da Justiça Federal está consagrada no art. 109 (-

Constituição da República). O objeto jurídico é o referencial. Não obstante

a tutela da União aos índios, competente é a justiça comum do Estado para

processar e julgar crimes de homicídio e lesão corporal, ocorrido em áreas

de reserva indígena, ainda que a vítima seja índio.

Page 210: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

210

Assim sendo, opina o Ministério Público Federal pelo conhecimento do

confl ito, declarando-se competente o Juízo de Direito de Bom Jardim-MA.

Correto o parecer. Adotando-o como razões de decidir, conheço do confl ito

para declarar competente o Juízo de Direito de Bom Jardim-MA, suscitado.

É como voto.

RECURSO EM HABEAS CORPUS N. 706-RS (9066913)

Relator: Ministro William Patterson

Recorrente: Altayr Venzon

Recorrido: Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul

Paciente: Etelvina Alves de Souza

Advogado: Altayr Venzon

EMENTA

Penal. Homicídio. Crime praticado por silvícola. Competência.

A proteção que a Constituição Federal confere à defesa dos

interesses do indígena não alcança o privilégio do foro federal para o

processo e julgamento de crime de homicídio por ele praticado.

Recurso desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos, em que são partes as acima indicadas, decide a

Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, à unanimidade, negar provimento

ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator, na forma do relatório e

notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do

presente julgado. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 16 de outubro de 1990 (data do julgamento).

Ministro William Patterson, Presidente e Relator

DJ 29.10.1990

Page 211: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 191-213, julho 2010 211

RELATÓRIO

O Sr. Ministro William Patterson: Colho, às fl s. 137-138, adotando-os

como relatório, os seguintes lances do parecer exarado pelo Dr. Paulo Olímpio

Gomes de Souza, ilustre Procurador-Geral de Justiça do Estado do Rio Grande

do Sul, que retratam fi elmente a matéria controvertida nestes autos:

Etelvina Alves de Souza, também chamada Yaxuiá, índia da tribo Nandêva,

através de defensor, impetrou habeas corpus junto ao Tribunal de Justiça-RS

visando à revogação de prisão preventiva contra ela decretada na Comarca de

Alvorada, e a remessa dos autos à Justiça Federal, competente, nos termos da

atual Constituição Federal, para processar e julgar a paciente.

Trata, o caso sub judice, de processo de competência do Tribunal do Júri em

que a ré (ora recorrente) foi pronunciada, juntamente com Léo Dênis da Silva,

por homicídio qualifi cado pelo motivo fútil, com as agravantes do art. 61, II, e

(contra descendente) e h (contra criança) do CP, tendo o MM. Juiz a quo mantido

a prisão da ré, na sentença de pronúncia, por não ter a mesma cumprido com

as condições estabelecidas quando da concessão da liberdade provisória (de

comparecer a todos os atos do processo e não mudar de residência sem prévia

comunicação do juízo).

O Dr. Procurador de Justiça opinou pela denegação da ordem e pela

competência da Justiça Estadual, tendo a egrégia Primeira Câmara Criminal/TJ

adotado in totum o parecer do ilustrado órgão do Parquet, assim ementado, à

unanimidade:

Habeas corpus. Competência da Justiça Estadual para o julgamento de

silvícolas na hipótese de crimes dolosos contra a vida. Prisão preventiva não

revogada por decisão de pronúncia. Ordem denegada.

Inconformada, e tempestivamente, interpõe recurso ordinário, aludindo, como

fundamentos autorizadores, os arts. 30, 31 e 32 da Lei n. 8.038/1990 (fl . 89).

Em síntese, a recorrente sustenta que, após a promulgação da nova Carta

Constitucional, é da competência da Justiça Federal o exame e processamento

dos indígenas, a teor dos arts. 109, XI, 5º, § 1º, 129 e 232 da CF/1988.

Por outro lado, afi rma que o índio tem direito a regime especial de prisão,

não havendo razão, portanto, para a decretação da segregação preventiva da

recorrente, que deverá aguardar o julgamento em liberdade.

Concluindo sua manifestação, opina o referido parecerista pelo

desprovimento do recurso, no que foi secundado, nesta instância, pela digna

representante do Ministério Público Federal (fl s. 148-151).

É o relatório.

Page 212: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

212

VOTO

O Sr. Ministro William Patterson (Relator): Confi rmo a r. decisão recorrida

por seus próprios e judiciosos fundamentos. Com efeito, não se vislumbra

do elenco de competências que compõem o art. 109 da vigente Constituição

Federal, o privilégio de foro invocado pela paciente. Sequer o inciso XI pode ser

invocado para a espécie, pois trata da “disputa sobre direitos indígenas”, hipótese

que não se confunde com o julgamento de crime de homicídio praticado por

silvícola.

A explicitação referenciada no aludido inciso resulta da proteção que

o legislador constituinte pretendeu identifi car, embora, na Carta anterior, o

propósito já fosse contemplado com a interpretação que se conferia no item

I do art. 125, por conceber-se afetado o “interesse” da União, nas causas que

envolviam direitos dos índios. Jamais, porém, se admitiu idêntico princípio

quando em discussão a competência para o processo e julgamento de crime

de homicídio cometido por indígena. A propósito, vale lembrar os acórdãos de

minha lavra, em julgamentos do extinto TFR (CC n. 6.977-MG e CC n. 7.946-

MS), assim sumariados:

Competência. Crime praticado por índio. Homicídio. Justiça Estadual.

É da competência da Justiça Comum Estadual o processo e julgamento do

crime de homicídio praticado por silvícola.

Também não prevalece, como causa atrativa da competência federal,

em casos que tais, a incumbência deferida ao Ministério Público de defender

judicialmente os interesses das populações indígenas (art. 129, V). A proteção,

no particular, há de existir sempre, sem, contudo, servir como pretexto para

desvio de competência jurisdicional (cf. art. 232).

Diante dessas considerações, entendo corretos os seguintes comentários

ínsitos no v. acórdão impugnado:

O art. 109, XI, da Carta Magna ao atribuir à Justiça Federal o processo e

julgamento sobre a disputa de direitos indígenas, à evidência, não se referiu às

causas criminais e, sim, às causas cíveis, mesmo porque os casos de competência

para dirimir aquelas estão exaustivamente defi nidos na Constituição, como se

pode ver dos incisos IV, V, VII, VIII, IX e X do citado artigo, não havendo qualquer

menção a silvícolas.

“Apenas a competência da Justiça Comum Federal é pré-fi xada na Carta Magna.

Quando se trata de Justiça Comum Estadual, tem ela competência fi rmada por

Page 213: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 191-213, julho 2010 213

exclusão. Tudo quanto escape da esfera de atribuições das Justiças Especiais e da

Justiça Comum Federal será de competência da Justiça Comum Estadual” (Apud

“Processo Penal”, Tourinho Filho, 2º vol., Saraiva, 11ª ed., 1989, p. 67).

O art. 232, onde se estatui que o Ministério Público deve intervir em defesa

dos direitos e interesses dos indígenas, e o art. 129, V, da Lei Maior, que determina

caber ao Ministério Público defender judicialmente os direitos e interesses das

populações indígenas, não fez qualquer referência a ser esta uma função do

Ministério Público Federal ou Estadual, ou de ambos. A lei complementar poderá

defi nir as atribuições.

Assim sendo, por não consagrada expressamente pela Constituição da

República no art. 109 e incisos a competência da Justiça Federal ou Justiças

Especiais para o julgamento dos silvícolas, e, portanto, por se integrar no rol

da competência da Justiça Comum Estadual, através do Tribunal do Júri, o

julgamento dos crimes dolosos contra a vida, competente é o Juízo de Alvorada

para processar e julgar a índia Yaxuiá.

No que tange à decretação da custódia, a sua necessidade restou evidenciada,

consoante se extrai desses lances do decisum:

Ocorre que a paciente, por não cumprir uma das condições a que se propôs —

comparecimento aos atos processuais — teve revogada sua liberdade provisória.

(Sentença de fl s. 57-58).

A sentença de pronúncia manteve a prisão, pois, expressamente não a revogou

(fl s. 72-76).

A quebra de compromisso, aliada às conveniências da instrução criminal

e asseguração da aplicação da lei penal (art. 57) ainda persistem no presente

momento, porque a paciente não mais se apresentou, nem sequer, para a

intimação da sentença.

Seu descumprimento de obrigações assumidas recomenda a mantença da

revogação da liberdade provisória, pois, com seu comportamento demonstrou

não fazer jus àquela regalia, ainda que se trate de indígena. Ademais, onde a

segurança de que ela, solta, se apresentará para ser intimada do decisório!

Ante o exposto, nego provimento ao recurso.

Page 214: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 215: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

Súmula n. 141

Page 216: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 217: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULA N. 141

Os honorários de advogado em desapropriação direta são calculados sobre

a diferença entre a indenização e a oferta, corrigidas monetariamente.

Referência:

Decreto-Lei n. 3.365/1941, art. 27, § 1º.

Precedentes:

REsp 231-SP (1ª T, 31.10.1990 — DJ 03.12.1990)

REsp 24.486-SP (1ª T, 19.05.1993 — DJ 21.06.1993)

REsp 31.368-SP (2ª T, 04.04.1994 — DJ 18.04.1994)

REsp 36.160-SP (2ª T, 04.05.1994 — DJ 23.05.1994)

REsp 43.652-SP (1ª T, 25.05.1994 — DJ 27.06.1994)

Primeira Seção, em 06.06.1995

DJ 09.06.1995, p. 17.370

Page 218: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 219: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

RECURSO ESPECIAL N. 231-SP (8985174)

Relator: Ministro Geraldo Sobral

Recorrente: Município de São Paulo

Recorridos: Galdino Henrique da Silva — espólio, Moacyr Henrique da

Silva e outros e Joaquim da Silva Couto

Advogados: Carlos Henrique Absa e outro, Waldemar Mercadante Filho e

outros e Estanislau Franco Junior e outros

EMENTA

Desapropriação. Honorários advocatícios.

I - A jurisprudência do Pretório excelso é assente no sentido

de que os honorários advocatícios, em desapropriação, devem ser

calculados sobre a diferença entre a indenização fi xada e a oferta,

corrigidas ambas monetariamente.

II - Recurso conhecido e provido, com posterior remessa dos

autos ao colendo STF.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas,

decide a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça por unanimidade, dar

provimento ao recurso e determinar a remessa dos autos ao Supremo Tribunal

Federal, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que

fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 31 de outubro de 1990 (data do julgamento).

Ministro Armando Rolemberg, Presidente

Ministro Geraldo Sobral, Relator

DJ 03.12.1990

Page 220: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

220

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Geraldo Sobral: Trata-se de recurso extraordinário

interposto pela Prefeitura Municipal de São Paulo, com fundamento no art. 119,

inciso III, alíneas a e d, da Constituição Federal precedente, com argüição de

relevância da questão federal, irresignada com o v. acórdão da Décima Câmara

Civil do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

Em suas razões, alegou a recorrente ofensa aos arts. 153, § 22, da Lei

Magna e 27, § 1º, do Decreto-Lei n. 3.365/1941, bem como divergência

jurisprudencial com julgados da Suprema Corte. É que nos autos da ação

de desapropriação, o aresto guerreado deu parcial provimento à apelação da

Municipalidade, reduzindo a verba honorária de 10% (dez por cento) para

8% (oito por cento) sobre a diferença entre a oferta e a indenização singelas,

corrigida e com juros, negando-se, portanto, a correção monetária da oferta,

quando o Supremo Tribunal Federal determina que a verba honorária incide

sobre a diferença entre a oferta inicial e a indenização, ambas corrigidas.

Inadmitido o recurso (fl . 388), subiram os autos à Suprema Corte por

força do acolhimento da argüição de relevância tendo o eminente Ministro

Sydney Sanches convertido o recurso, ipso iure, em especial, quanto à matéria

infraconstitucional e, em extraordinário, quanto à constitucional, determinando

a remessa do feito a esta colenda Corte, com posterior devolução para o

julgamento do extraordinário (fl . 450).

Instado, o douto Ministério Público reportou-se ao parecer de fl s. 445-447,

o qual opina pelo provimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Geraldo Sobral (Relator): Sr. Presidente, o parecer da

douta Subprocuradoria Geral da República, no que pertine ao tema versado na

argüição de relevância, deu o correto deslinde à controvérsia, ao assim dispor:

Em face do acolhimento da argüição de relevância, mostra-se passível de

exame o imputado dissídio jurisprudencial, com relação aos arestos exibidos

a fls. 370 e 374-375 — os únicos dos quais são indicadas fontes autorizadas

de publicação — com razoável obediência às prescrições da Súmula n. 291 e

do art. 322 do Regimento Interno, para, então, reconhecer-se como travado o

Page 221: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 215-235, julho 2010 221

dissídio, que deve ser solvido em prol do pensamento manifestado nos vv. arestos

cotejados, que representam orientação hoje pacífi ca, nessa excelsa Corte:

Desapropriação. Honorários de advogado. Os honorários de advogado

devem ser calculados sobre a diferença entre a oferta e a indenização,

corrigido monetariamente o valor de uma e de outra. (RE n. 101.231-5-SP,

Rel. Min. Francisco Rezek, in DJ 02.03.1984, p. 2.787).

Desapropriação. Honorários advocatícios. Os honorários do advogado

do expropriado devem ser calculados sobre a diferença entre a oferta e a

indenização, ambas corrigidas monetariamente. (RE n. 101.247-1-SP, Rel.

Min. Soares Muñoz, in DJ 02.03.1984, p. 2.787).

O parecer é, por conseguinte, de que o recurso extraordinário comporta

conhecimento e provimento. (Fls. 446-447).

Tenho como escorreito o parecer supratranscrito, o qual adoto como razão

de decidir, pois assente com a jurisprudência do Pretório excelso.

Isto posto, conheço do recurso e lhe dou provimento, devendo os autos

retornarem ao colendo STF, consoante despacho de fl . 450.

É o meu voto.

RECURSO ESPECIAL N. 24.486-SP (92.0017183-4)

Relator: Ministro Demócrito Reinaldo

Recorrente: Companhia do Metropolitano de São Paulo — Metrô

Recorrida: Cecília Gava

Advogados: Rossana Dal Colletto e outros, e Maria Marlene Machado e

outro

EMENTA

Administrativo. Desapropriação. Honorários advocatícios.

Incidência sobre a diferença entre o preço oferecido e a indenização.

Critérios a obedecer.

Page 222: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

222

Consoante jurisprudência pacificada desta Corte, em

desapropriação, os honorários advocatícios incidem sobre a diferença

entre o preço oferecido e a indenização, ao depois de ser essa

diferença devidamente corrigida. Já computados, sobre ela, os juros

compensatórios e moratórios.

Recurso desprovido. Decisão unânime.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar

provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator, na forma

do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte

integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros

Milton Pereira, Cesar Rocha e Garcia Vieira. Ausente, justifi cadamente, o Sr.

Ministro Gomes de Barros. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 19 de maio de 1993 (data do julgamento).

Ministro Garcia Vieira, Presidente

Ministro Demócrito Reinaldo, Relator

DJ 21.06.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo: Trata-se de recurso especial interposto

pela Companhia do Metropolitano de São Paulo — Metrô, com fulcro nas letras a

e c do permissivo constitucional, contra acórdão que manteve a procedência de

ação expropriatória, adstringindo-se o inconformismo da expropriante à base de

cálculo da verba honorária advocatícia.

Sustenta a recorrente que o aresto recorrido violou o disposto no art. 27, §

1º, do Decreto-Lei n. 3.365/1941, além de divergir do enunciado das Súmulas

n. 121 e 617 do Supremo Tribunal Federal (fl s. 271-274).

Oferecidas contra-razões às fl s. 295-298, foi o recurso admitido na origem

(fl s. 301-303), subindo os autos a esta instância superior e vindo-me conclusos.

É o relatório.

Page 223: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 215-235, julho 2010 223

VOTO

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo (Relator): Ao julgar o recurso de

apelação, na via ordinária, o Tribunal a quo entendeu que “a honorária advocatícia

comporta elevação a 10% (dez por cento), a serem calculados sobre a diferença

entre o valor oferecido e a indenização, mais juros, corrigidos ambas as parcelas

e desconsiderado, para esse efeito, o depósito complementar decorrente da

avaliação provisória” (fl . 269).

Alega a recorrente que o aresto guerreado, alterando a base de cálculo de

incidência dos honorários advocatícios, com a inclusão das duas espécies de

juros e exclusão do depósito complementar decorrente da avaliação provisória,

contrariou o art. 27, § 1º, do Decreto-Lei n. 3.365/1941, as Súmulas n. 617 e

121 do Supremo Tribunal Federal, bem como julgado desta egrégia Corte, em

que recurso idêntico da mesma recorrente foi provido, por unanimidade.

De fato, em caso semelhante, esta egrégia Turma decidiu, conforme

acórdão que vem encimado pela seguinte ementa:

Desapropriação. Honorários advocatícios.

Nas ações expropriatórias os honorários de advogado são calculados sobre a

diferença entre a oferta e a indenização, devidamente corrigidos.

Recurso parcialmente provido (Recurso Especial n. 7.067-0-SP, Relator

eminente Ministro Garcia Vieira, DJ 22.04.1991, p. 4.773).

No seu voto condutor, o ínclito Ministro Garcia Vieira, ressaltou com

muita propriedade:

A elevação dos honorários para 10% da diferença entre a oferta e a indenização

seria correta. Mas, fazer incidir a verba honorária sobre esta diferença acrescida

dos juros compensatórios e moratórios ou calcular estes sobre a mesma diferença,

acrescidos dos moratórios, contraria, frontalmente as Súmulas n. 121 e 617 do

colendo Supremo Tribunal Federal, porque isto importa em alterar a base de

cálculo dos honorários do advogado, em desapropriação, que é a diferença entre

a oferta e a indenização, sem nenhum acréscimo (Súmula n. 617) e admitir a

capitalização de juros, vedada pela Súmula n. 121 do STF.

Como se vê, consoante o entendimento predominante no Pretório excelso

e nesta egrégia Corte, assiste razão à recorrente, porquanto, nessa linha de

orientação, a base de cálculo dos honorários de advogado, em desapropriação,

é tão-só a diferença entre a oferta e a indenização, corrigidas ambas

monetariamente.

Page 224: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

224

Entretanto, ao julgar os Embargos de Divergência n. 26.459, a Primeira

Seção, por decisão unânime, entendeu, interpretando a Súmula n. 617 do STF,

que, em desapropriação, os honorários advocatícios incidem sobre a diferença

entre o preço oferecido e a indenização, mas, depois, de essa diferença ser

devidamente corrigida, já computamos, sobre ela, os juros compensatórios e

moratórios.

Unificado o entendimento, não vejo outro caminho, senão negar

provimento ao recurso.

É como voto.

VOTO

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo (Relator): Conheço do recurso e dou-

lhe provimento.

O Sr. Ministro Garcia Vieira (Aparte): Eminente Ministro Demócrito

Reinaldo, realmente defendia este ponto de vista, mas ontem na Seção julgamos

os Embargos de Divergência no Recurso Especial n. 26.459-0-SP e predominou

o entendimento contrário, com voto meu. Reformulei meu entendimento e

adotei... O sistema é o seguinte: a Súmula n. 617 do Supremo Tribunal Federal,

diz que a base de cálculo dos honorários de advogado, em desapropriação, é a

diferença entre a oferta e a indenização, corrigida monetariamente. Entendi,

e a Seção acompanhou-me, que na indenização estão incluídos os juros

compensatórios e moratórios. Se esses juros integram a indenização é claro

que os honorários de advogado têm que incidir também sobre eles. E esse

entendimento predominou.

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo (Relator): Então os honorários

incidirão sobre a diferença mais os juros?

O Sr. Ministro Garcia Vieira: Quando for calculada a indenização tem

que incluir os juros moratórios e compensatórios. Então, quando for fazer

a diferença entre a oferta e a indenização, nesta já estarão incluídos os juros

compensatórios moratórios.

Page 225: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 215-235, julho 2010 225

RETIFICAÇÃO DE VOTO

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo (Relator): Logo, os honorários

incidirão sobre a diferença, já computados os juros. Reformulo meu voto, no

fi nal, de acordo com o precedente da Seção, porque participei das discussões e

votei favoravelmente. Eu queria aplicar a Súmula n. 617, com outra compreensão.

Mas agora aplicou-a com a interpretação a que V. Exa. se refere.

No caso, ao invés de dar provimento ao recurso, nego-lhe provimento.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 31.368-SP (93.0000839-0)

Relator: Ministro Antônio de Pádua Ribeiro

Recorrente: Companhia do Metropolitano de São Paulo — Metrô

Advogados: Lindinalva Cunha e outros

Recorrido: Júlio de Oliveira Fernandes Sardão

Advogados: Laércio Tristão e outros

Recorrida: Maria da Costa Cambraia

Advogados: Antônio de Arruda Sampaio e outros

EMENTA

Desapropriação. Honorários advocatícios. Juros. Inclusão nos

cálculos.

I - Se os juros integram a indenização, o acórdão recorrido ao

determinar a incidência do percentual da verba advocatícia sobre a

diferença entre aquela e a oferta, corrigidas ambas, não ofendeu à coisa

julgada.

II - A incidência dos juros moratórios sobre os compensatórios, na

desapropriação, não constitui anatocismo vedado, em lei. Precedentes.

Page 226: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

226

III - Nas expropriatórias, os juros integram a indenização, para

fi ns de cálculo da verba advocatícia. Precedentes.

IV - Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima

indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na

conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas anexas, por unanimidade, não

conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram

do julgamento os Srs. Ministros Hélio Mosimann, Peçanha Martins e Américo

Luz. Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro José de Jesus.

Brasília (DF), 04 de abril de 1994 (data do julgamento).

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente e Relator

DJ 18.04.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Trata-se de recurso especial

interposto pela Companhia do Metropolitano de São Paulo — Metrô, com

fundamento no art. 105, III, letra a, da Constituição Federal, contra o v. acórdão

da Décima Quarta Câmara Civil do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,

integrado pelos embargos declaratórios, que, mantendo a sentença monocrática,

determinou o cálculo da verba honorária sobre o global da indenização, incluídos

os juros.

Alega a recorrente que o v. aresto guerreado contrariou os arts. 467 a 475

do CPC, o art. 27, § 1º, do Decreto-Lei n. 3.365/1941 e as Súmulas n. 617 e

121 do STF.

Contra-arrazoado (fl s. 473-475 e 477-480), o recurso, cujo processamento

foi admitido (fl s. 482-484), subiu a esta Corte, onde me veio distribuído.

É o relatório.

Page 227: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 215-235, julho 2010 227

VOTO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): Não há identifi car

ofensa aos preceitos atinentes à coisa julgada. Com efeito, o egrégio Tribunal a

quo elevou o percentual da verba honorária para 8% e determinou a aplicação da

Súmula n. 617 do Supremo, a fi m de que o percentual incidisse sobre a diferença

entre a “oferta e a indenização corrigidas (fl s. 420-422)”. Nesse contexto, não

procede a alegação do recorrente de que, em nenhum momento, foi determinada

a inclusão dos juros na base de cálculo da verba honorária, tornando a questão

preclusa. Com efeito, os juros integram a indenização.

De outra parte, não tem aplicação à espécie a Súmula n. 121 da excelsa

Corte, porquanto, na expropriatória, a incidência de juros sobre juros não

constitui anatocismo vedado em lei. A propósito, os seguintes precedentes,

dentre outros, de que fui Relator:

Desapropriação. Incidência dos juros moratórios sobre os compensatórios.

Cabimento.

I - Na desapropriação, os juros moratórios, à taxa de 6% ao ano fluem, a

partir do trânsito em julgado de sentença, sobre o total da indenização, nesta

abrangidos os juros compensatórios.

II - Essa incidência de juros sobre juros não constitui, no caso, anatocismo, não

se subsumindo a hipótese à Súmula n. 121 do STF, segundo precedente daquela

colenda Corte.

III - Recurso especial não conhecido. (REsp n. 29.650-3-SP, julg. 17.11.1993,

publ. DJ 06.12.1993);

Desapropriação. Incidência dos juros moratórios sobre os compensatórios.

Cabimento.

I - Na desapropriação, os juros moratórios, à taxa de 6% ao ano, fluem, a

partir do trânsito em julgado da sentença, sobre o total da indenização, nesta

abrangidos os juros compensatórios.

II - Recurso especial conhecido e provido. (REsp n. 36.143-5-SP, julg. 20.09.1993,

publ. DJ 04.10.1993);

Desapropriação. Incidência dos juros moratórios sobre os compensatórios.

Cabimento.

I - Na desapropriação, os juros moratórios, à taxa de 6% ao ano fluem, a

partir do trânsito em julgado de sentença, sobre o total da indenização, nesta

abrangidos os juros compensatórios.

Page 228: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

228

II - Essa incidência de juros sobre juros não constitui, no caso, anatocismo, não

se subsumindo a hipótese à Súmula n. 121 do STF, segundo precedente daquela

colenda Corte.

III - Recurso especial não conhecido. (REsp n. 39.583-6-SP, julg. 24.11.1993,

publ. DJ 13.12.1993);

Desapropriação. Indenização. Juros compensatórios e juros moratórios.

Cumulação. Inocorrência de anatocismo.

I - Os juros compensatórios integram a indenização, incidindo sobre o seu valor

os juros moratórios. Essa forma de cumulação dos juros não constitui anatocismo.

II - Embargos de divergência rejeitados. (Emb. Div. REsp n. 24.943-5-SP, julg.

04.05.1993, publ. DJ 30.08.1993).

Desapropriação. Incidência dos juros moratórios sobre os compensatórios.

Cabimento.

I - Na desapropriação, os juros moratórios, à taxa de 6% ao ano, fluem, a

partir do trânsito em julgado da sentença, sobre o total da indenização, nesta

abrangidos os juros compensatórios.

II - Essa incidência de juros sobre juros não constitui, no caso, anatocismo, não

se subsumindo a hipótese à Súmula n. 121 do STF, segundo precedente daquela

colenda Corte.

III - Recurso especial conhecido e desprovido. (REsp n. 35.661-0-SP, julg.

22.09.1993, publ. DJ 11.10.1993).

Finalmente, pacificou-se a jurisprudência no sentido de que, na

desapropriação, os honorários advocatícios devem ser calculados sobre

a diferença entre a oferta e a indenização, nesta compreendidos os juros

compensatórios e moratórios, devidamente corrigidos, à vista da Súmula n. 617

do egrégio Supremo Tribunal Federal, verbis:

A base de cálculo dos honorários de advogado em desapropriação é a

diferença entre a oferta e a indenização, corrigidas ambas monetariamente.

A propósito, está pacifi cada a jurisprudência da Primeira Seção desta Corte

e de julgados do Supremo Tribunal Federal, conforme se infere das ementas a

seguir transcritas:

Administrativo. Desapropriação. Honorários advocatícios. Incidência sobre a

diferença entre o preço oferecido e a indenização. Critérios a obedecer.

Page 229: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 215-235, julho 2010 229

Consoante jurisprudência pacificada desta Corte, em desapropriação, os

honorários advocatícios incidem sobre a diferença entre o preço oferecido e

a indenização, ao depois de ser essa diferença devidamente corrigida, já

computados, sobre ela, os juros compensatórios e moratórios. (REsp n. 24.486-2-

SP, Rel. Min. Demócrito Reinaldo, julg. 19.05.1993, DJ 21.06.1993)

Desapropriação. Honorários advocatícios. Base de cálculo. Juros.

“Nas ações de desapropriação computam-se, no cálculo da verba advocatícia,

as parcelas relativas aos juros compensatórios e moratórios, devidamente

corrigidos”.

Aplicação da Súmula n. 141 do extinto Tribunal Federal de Recursos.

Recurso improvido. (REsp n. 34.602-6-SP, Rel. Min. Garcia Vieira, julg. 07.06.1993,

DJ 02.08.1993)

I - A jurisprudência do Pretório excelso é assente no sentido de que os

honorários advocatícios em desapropriação, devem ser calculados sobre a

diferença entre a indenização fi xada e a oferta, corrigidas ambas monetariamente.

II - Recurso conhecido e provido, com posterior remessa dos autos ao colendo

STF. (REsp n. 231-SP, Rel. Min. Geraldo Sobral, julg. 31.10.1990, DJ 03.12.1990)

Desapropriação. Honorários advocatícios.

Nas ações expropriatórias os honorários de advogado são calculados sobre a

diferença entre a oferta e a indenização, devidamente corrigidos.

Recurso parcialmente provido. (REsp n. 7.067-SP, Rel. Min. Garcia Vieira, julg.

20.03.1991, DJ 22.04.1991)

Desapropriação. Honorários de advogado. Os honorários de advogado

devem ser calculados sobre a diferença entre a oferta e a indenização, corrigido

monetariamente o valor de uma e de outra. (RE n. 101.231-5-SP, Relator Ministro

Francisco Rezek, DJ 02.03.1984)

Desapropriação. Honorários advocatícios.

Os honorários do advogado do expropriado devem ser calculados sobre a

diferença entre a oferta e a indenização, ambas corrigidas monetariamente. (RE n.

101.247-1-SP, Rel. Min. Soares Muñoz, DJ 02.03.1984)

Pelo exposto, em conclusão, não conheço do recurso.

Page 230: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

230

RECURSO ESPECIAL N. 36.160-SP

Relator: Ministro Hélio Mosimann

Recorrente: Clara Manke

Advogados: José Giusto e outros

Recorrida: Companhia do Metropolitano de São Paulo — Metrô

Advogados: Manoel Silvio Puig e outros

EMENTA

Desapropriação. Procedência. Honorários advocatícios. Fixação.

Cálculo. Valor da diferença entre o preço oferecido e o valor da

indenização. Complementação do depósito.

No cálculo dos honorários de advogado, leva-se em consideração

o valor da diferença entre a oferta e a indenização. A complementação

do depósito, entretanto, não se equipara à oferta inicial, não se

adicionando a parcela complementar para cálculo da diferença sobre a

qual deve incidir a verba honorária.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe

provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do

julgamento os Srs. Ministros Peçanha Martins, Américo Luz e Antônio de

Pádua Ribeiro. Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro José de Jesus.

Brasília (DF), 04 de maio de 1994 (data do julgamento).

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente

Ministro Hélio Mosimann, Relator

DJ 23.05.1994

Page 231: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 215-235, julho 2010 231

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hélio Mosimann: Trata-se de recurso especial (art. 105,

inciso III, alíneas a e c, da CF), contra acórdão proferido pela Décima Primeira

Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, que manteve a procedência

de ação expropriatória, fi xando o valor da indenização e demais consectários

legais, inclusive honorários.

Alega-se que a decisão recorrida violou o art. 27, § 1º, do Decreto-Lei

n. 3.365/1941, além de dissídio jurisprudencial, ao determinar que a verba

honorária seja calculada entre o valor da oferta e o da indenização e que o valor

da prévia avaliação tem que ser considerado, a partir do respectivo depósito,

como integrante da oferta inicial para todos os efeitos.

Admitido o recurso, subiram os autos.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hélio Mosimann (Relator): Diz a lei, no dispositivo

tido como violado (art. 27, § 1º), que a sentença, na desapropriação, ao fi xar o

valor da indenização, quando este for superior ao preço oferecido, condenará o

desapropriante a pagar os honorários de advogado sobre o valor da diferença. A

diferença, segundo a jurisprudência fi rmada a respeito, é aquela entre a oferta e

a indenização.

A irresignação da expropriada está no conceito de oferta, para efeito de

incidência do percentual da verba honorária, entendendo que não se pode

considerar aí a parcela correspondente à complementação do depósito.

Concluo que lhe assiste razão e que a decisão impugnada contrariou a

jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, ao afi rmar:...“o valor da prévia

avaliação, tem que ser considerado, a partir do respectivo depósito, como

integrante da oferta inicial para todos os fi ns” (fl s. 231-232).

Efetivamente, decisões do Supremo colocam-se no sentido de que no

cálculo sobre a diferença entre a oferta e o valor da indenização, não pode

haver infl uência da complementação de depósito inicial, para efeito de imissão

na posse (art. 27, § 1º, da Lei n. 3.365/1941, e art. 3º do Decreto-Lei n.

1.075/1970). Em voto na Suprema Corte, acolhido por unanimidade (RTJ,

73/226), disse o Ministro Djaci Falcão: “A Lei Magna assegura ao expropriado

Page 232: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

232

justa indenização. Por isso, o legislador ordinário, inspirado na jurisprudência,

veio a estabelecer que, se o poder público faz oferta aquém da justa indenização,

impõe-se a condenação em honorários advocatícios calculados sobre o valor

da diferença entre o preço oferecido e o valor da indenização”... “Assim sendo,

a complementação não se equipara à oferta inicial a que se reporta o § 1º do

art. 27, antes citado. Em conseqüência, se os honorários devem recair sobre a

diferença entre o preço oferecido e o valor fi xado pelo juiz, não é de se admitir

o raciocínio de que ao preço da oferta seja adicionado o preço provisoriamente

avaliado para permitir a imissão na posse”. Outras decisões do Supremo Tribunal

ratifi cam a posição: RTJ 75/292 e 73/845.

Diante do exposto, confi gurada a divergência, conheço do recurso e lhe

dou provimento.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 43.652-SP (94.0003021-5)

Relator: Ministro Milton Luiz Pereira

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Recorridos: Jorge Fernandes de Mattos e outros

Advogados: Renato Franco do Amaral Tormin e outros e Eurico de Castro

Perente e outros

EMENTA

Desapropriação direta. Honorários advocatícios. Decreto-Lei n.

3.365/1941 (art. 27, § 1º) — Súmulas n. 12, 69 e 70-STJ, 617-STF e

141- TFR.

1. Os honorários advocatícios devem ser calculados sobre

a diferença entre a oferta e a indenização estabelecida, incluídas

as parcelas dos juros compensatórios e moratórios, uma vez que

compõem o valor reparatório da perda da propriedade, com a correção

monetária aplicada.

Page 233: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 215-235, julho 2010 233

2. Precedentes jurisprudenciais.

3. Recurso parcialmente provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar parcial

provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes

dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram

do julgamento os Srs. Ministros Demócrito Reinaldo e Humberto Gomes

de Barros. Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha

e Garcia Vieira. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Demócrito Reinaldo.

Custas, como de lei.

Brasília (DF), 25 de maio de 1994 (data do julgamento).

Ministro Demócrito Reinaldo, Presidente

Ministro Milton Luiz Pereira, Relator

DJ 27.06.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira: A Fazenda do Estado de São Paulo

opôs recurso especial, com fundamento no art. 105, inciso III, alíneas a e c, da

Constituição Federal, impugnando o v. aresto do egrégio Tribunal a quo que,

em ação de desapropriação, fi xou os honorários em 10% sobre o quantum da

indenização atualizada.

Os embargos de declaração interpostos foram acolhidos para sanar omissão

quanto ao valor da indenização.

Em suas alegações, sustenta a recorrente que o v. acórdão objurgado

contrariou o art. 27, § 1º, do Decreto-Lei n. 3.365/1941, além de dissentir do

teor da Súmula n. 617 da excelsa Corte e de julgados deste Tribunal (fl s. 226-

233).

Foi também interposto recurso extraordinário (art. 102, III, a e b, da CF),

cujo seguimento foi negado pelo Tribunal de origem, decisão contra a qual foi

apresentado agravo de instrumento.

Page 234: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

234

Contra-arrazoando, os Recorridos ressaltam que a matéria em discussão

deveria ter sido objeto de embargos de declaração, devendo, portanto não ser

conhecido o pedido, por falta de prequestionamento. No mérito, invocando

doutrina e jurisprudência da Suprema Corte disse que, se conhecido, o recurso

deve ser improvido (fl s. 236-241).

Entendendo preenchidos os requisitos, o egrégio Tribunal a quo admitiu o

recurso especial.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira (Relator): O repto recursal (art. 105,

III, a e c, CF), volta-se contra o v. acórdão que, no pormenor dos honorários

advocatícios, assentou:

O percentual da verba honorária foi fixada no mínimo previsto na lei

processual. O acórdão citado pela apelante foi prolatado para um determinado

caso em que a indenização era vultosa. (Fls. 207 e 208).

Com efeito, a r. sentença condenou a Fazenda Estadual, ora recorrente,

“... ao pagamento da verba honorária, que fi xo em 10% do valor da indenização

atualizada...” (fl . 179).

Feito o memento para facilitar a compreensão, presentes os seus requisitos,

conheço do recurso, que, na sua formulação, asseverou ter sido desconsiderada a

Súmula n. 617-STF — e contrariado o § 1º, art. 27, Decreto-Lei n. 3.365/1941.

Superado o plano da iniciação do exame preambular, tem signifi cância

registrar que, por declaração de utilidade pública, cuida-se de Desapropriação

Direta de imóvel urbano, na qual, a respeito dos honorários advocatícios,

expressamente, dispõe o art. 27, § 1º, Decreto-Lei n. 3.365/1941.

Divisa-se, assim, questão bem esclarecida, sinalizando legalmente que

a verba honorária deverá ser fixada sobre a “diferença” entre o “valor da

indenização” e o “preço oferecido”, sempre que aquela o ultrapassar.

Não obstante, o v. acórdão, confi rmando a r. sentença (fl . 179), estabeleceu

condenação abrangente, fugindo da diretriz legal e da orientação jurisprudencial.

Em sendo assim, deve ser afi rmado que, no caso, os honorários advocatícios

devem ser calculados sobre a diferença entre a oferta e a indenização, ambas

Page 235: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 215-235, julho 2010 235

corrigidas, incluídos os juros compensatórios e moratórios, uma vez que

compõem o valor reparatório da perda da propriedade (Súmula n. 617-STF e

Súmula n. 141-TFR).

No pertencente à fi xação do percentual (10%), anotando-se que resultou

de apreciação reservada à soberania das instâncias ordinárias, afeita aos aspectos

e critérios fáticos, descabe modifi cação na via especial (Súmula n. 7-STJ e

Súmula n. 389-STF, aplicável ao recurso especial).

Confluente à motivação, a fim de que os honorários advocatícios, no

percentual fi xado, sejam calculados sobre a diferença entre a oferta e o valor

fi xado, uma e outra corrigida monetariamente, computadas as parcelas dos juros

compensatórios e moratórios (Súmulas n. 12, 69 e 70-STJ), parcialmente, voto

provendo o recurso.

É o voto.

Page 236: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 237: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

Súmula n. 142

Page 238: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 239: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

(*) SÚMULA N. 142 (CANCELADA)

Prescreve em vinte anos a ação para exigir a abstenção do uso de marca

comercial.

Referências:

CC/1916, art. 177.

Lei n. 5.772/1971, art. 59.

Precedentes:

REsp 10.564-SP (3ª T, 26.11.1991 — DJ 09.03.1992)

REsp 19.355-MG (2ª S, 28.10.1992 — DJ 1º.02.1993)

REsp 26.752-SP (4ª T, 15.06.1993 — DJ 09.08.1993)

REsp 34.983-SP (4ª T, 13.12.1993 — DJ 21.02.1994)

Segunda Seção, em 14.06.1995

DJ 23.06.1995, p. 19.648

(*) Julgando a AR n. 512-DF, na sessão de 12.05.1999, a Segunda Seção

deliberou pelo cancelamento da Súmula n. 142.

DJ 10.06.1999, p. 49

Page 240: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 241: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

(*) AÇÃO RESCISÓRIA N. 512-DF (96.0036725-6)

Relator: Ministro Waldemar Zveiter

Revisor: Ministro Barros Monteiro

Autor: All Latex Indústria de Artigos Esportivos Ltda

Advogados: José Carlos Tinoco Soares e outros

Ré: Asics Corporation

Advogados: Newton Silveira e outros

EMENTA

Ação rescisória. Violação a literal disposição de lei. Inocorrência.

Ação visando a abstenção de uso de marca comercial com pedido de

revisão de Súmula n. 142-STJ, acolhido por maioria para revogá-la.

I - Rescisória improcedente, por inocorrência do pressuposto

autorizador do art. 485, V, do CPC.

II - Acolhido o pedido de revisão da Súmula n. 142-STJ, que

resta revogada por decisão majoritária.

III - Perda do depósito em favor do réu. Custas e honorários de

10% sobre o valor da causa.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, julgar improcedente a ação, e,

por maioria, cancelar a Súmula n. 142 desta Corte. O depósito reverter-se-á ao

réu. Custas em 10% (dez por cento) do valor da causa, bem como, os honorários

ao patrono do réu, ambos pelo autor. Votaram com o Relator os Srs. Ministros

Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar, Ari Pargendler,

Carlos Alberto Menezes Direito, Nilson Naves e Eduardo Ribeiro. Ressalvado

ponto de vista do Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha que entendia inadmissível a

ação. Restou vencido quanto ao cancelamento da Súmula n. 142, bem como, na

reversão do depósito ao réu, o Sr. Ministro-Relator. Ausente, Justifi cadamente,

Page 242: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

242

o Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira. Sustentou oralmente o Dr. José

Carlos Tinoco Soares, pelo autor.

Brasília, 12 de maio de 1999 (data do julgamento).

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente

Ministro Waldemar Zveiter, Relator

DJ 19.02.2001

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: All Latex Indústria de Artigos Esportivos

Ltda ajuíza a presente ação rescisória, com fulcro no art. 485, V, do CPC,

objetivando a desconstituição do decidido no REsp n. 23.732-8, Relator Sr.

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, cujo acórdão guarda a seguinte ementa (fl . 68).

Marca. Prescrição.

Ação para reparação dos danos causados pelo uso indevido de marca

prescreve em cinco anos (art. 178, § 10, IX, C. Civil); a ação fundada na obrigação

de não fazer, visando à cessação do uso da marca de propriedade da autora,

prescreve em vinte anos (art. 177 do C. Civil).

Apelo conhecido e provido para reconhecer e prescrição qüinqüenal.

Alega violação a literal disposição de lei, ao ter o acórdão rescindendo

aplicado ao caso o disposto no art. 177 do Código Civil, em lugar do que dispõe

o art. 178, § 10, IX, do mesmo diploma legal, sustentando serem qüinqüenais

os prazos, tanto para propor ação de indenização pelo uso indevido de marca,

quanto para requerer a abstenção de seu uso, ou seja, para pleitear uma obrigação

de não fazer.

Além de propor revisão da Súmula n. 142 desta Corte, a autora discorre

sobre o direito de propriedade, distinção entre direitos reais e pessoais e a

prescrição sobre eles incidentes e colaciona julgados do STF e deste STJ em

abono a sua tese.

Contestação às fl s. 190-197; réplica às fl s. 199-205; razões fi nais às fl s. 240-

241 e 243-250 e parecer da douta Subprocuradoria Geral da República às fl s.

252-260, pela improcedência da rescisória.

É o relatório.

Page 243: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 237-282, julho 2010 243

VOTO

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator): A matéria em destaque

consiste em saber qual o prazo prescricional para exigir a abstenção do uso de

nome ou marca comercial, tendo o acórdão rescindendo adotado a vintenária,

enquanto a Autora pugna pela aplicação do prazo qüinqüenal.

Rejeito o pedido de revisão da Súmula n. 142-STJ no âmbito desta ação

rescisória, que desacolho por não ver presente o pressuposto do art. 485, V, do

CPC, em que se arrimou.

Nesse mesmo sentido está o parecer da douta Subprocuradoria Geral da

República que adoto como razões de decidir, verbis (fl s. 256-260):

O direito de propriedade, é certo, corresponde a um direito real, na esteira do

elenco encartado no art. 674 do Código Civil.

O direito à marca industrial ou comercial é um direito de propriedade , como

se depreende do inciso XXIX do art. 5º da Constituição Federal.

O direito de propriedade, como óbvio, recai sobre a res e não sobre uma outra

pessoa, como ocorre com os direitos obrigacionais. Nestes, ainda que a relação

jurídica tenha por objeto uma coisa, como, verbi gratia, na compra e venda (cf.

Serpa Lopes, “Curso de Direito Civil”, Livraria Freitas Bastos S/A, 1960, 3ª edição,

vol. III, n. 177, p. 256), não há a ocorrência de um ius in re, senão, apenas, uma

obrigação a vincular as partes contratantes.

Da mesma forma, ainda que a obrigação derive do direito de propriedade,

como a do direito que possui o seu proprietário — credor — de que determinada

pessoa — devedor — abstenha-se da utilização do bem, essa relação jurídica é

sempre pessoal. É o escólio de Pontes de Miranda (“Tratado de Direito Privado”,

Parte Especial, Tomo XXII, Editor Borsoi, Rio de Janeiro, 3ª edição, 1971, p. 15):

A relação jurídica a que correspondem os direitos reais recai sobre

a coisa, a res, razão por que pode ser entre o titular do direito e todos: não

tem de incidir em ato positivo ou negativo de determinada pessoa,

o que a personalizaria. O poder, o senhorio exclusivo, sobre a coisa

está ligado a isso. Na relação jurídica do direito pessoal há objeto que

está no patrimônio do devedor e é devido, ou é devido com o ato do

devedor; na relação jurídica do direito real, o objeto já está no patrimônio

do sujeito ativo, de jeito que os sujeitos passivos só devem a abstenção,

o atendimento, o respeito. No patrimônio desses o objeto não está, está

o patrimônio do sujeito ativo. Ao passo que, tratando-se de direitos de

obrigação, está no patrimônio do credor a pretensão a que o objeto venha

a ele. O objeto pode ainda não existir, ter de ser feito pelo devedor (contrato

Page 244: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

244

de obra ou de serviço, contrato de trabalho, encomenda de livro, ou de obra

de arte). (negritos não originais)

Assim, consisitindo a pretensão de abstenção do uso de marca em uma

obrigação de não fazer, não se pode falar em direito real, pois obrigação implica

com a exceção das obrigações propter rem, direito pessoal, prestação.

Orlando Gomes (“Obrigações”, Forense, Rio de Janeiro, 1984, 7ª ed. pp. 11-12)

pontifi ca:

A obrigação pertence à categoria das relações jurídicas de natureza

pessoal.

Elemento decisivo do conceito é a prestação. Para constituir uma

relação obrigacional, uma das partes tem de se comprometer a dare, facere

ou praestare, como esclareceu o jurisconsulto Paulo, isto é a transferir a

propriedade de um bem ou outro direito real, a praticar ou abster-se de

qualquer ato ou a entregar alguma coisa sem constituir direito real. (grifos

originais)

De todo o exposto, é de se concluir que, posto decorrente do direito de

propriedade de marca industrial, a faculdade do proprietário quanto a exigir de

outrem a abstenção de seu uso se insere no campo dos direitos obrigacionais e

não no dos direitos reais.

Daí, o primeiro dos fundamentos de improcedência da presente ação

rescisória. Com efeito, quer a autora que, ante a só circunstância de o direito

sobre a marca constituir-se em direito real, também as obrigações daí derivadas,

inclusive as de abstenção ao seu uso indevido, sejam também reais, o que é de

todo em todo inadmissível.

Da mesma forma, não prospera, também, a tese levantada na presente ação

de desconstituição, quanto a serem unos os prazos para a ação de abstenção ao

uso indevido de marca industrial e para a ação de indenização decorrente de tal

ilicitude.

No pertinente ao tema do lapso prescricional, esse nobre Superior Tribunal

de Justiça, por reiteradas vezes, tem-se manifestado em sentido idêntico ao da

decisão rescindenda, conforme se depreende das seguintes ementas:

Nome comercial. Ação de preceito cominatório e ação para ressarcimento

dos prejuízos causados pelo uso indevido. Prescrição.

A ação cominatória objetivando fazer cessar o uso comercial prescreve

em vinte anos, não incidindo o art. 178, § 10, inciso IX, do Código Civil,

invocável tão só na demanda para ressarcimento dos danos causados pelo

uso indevido.

Page 245: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 237-282, julho 2010 245

Recurso conhecido em parte, mas improvido. (REsp n. 2.476-RJ, Rel. Min.

Antônio Torreão Braz, DJ 12.06.1993, p. 17.626)

Marca. Uso indevido. Ação de abstenção de uso. Prescrição.

A ação para impedir o uso indevido de marca prescreve em 20 anos (art.

177 do Código Civil); a de reparação de danos daí derivados é quem tem

prescrição qüinqüenal (art. 178, § 10, inciso IX, do Código Civil).

Recurso conhecido e provido. (REsp n. 30.727-SP, Rel. Min. Ruy Rosado de

Aguiar, DJ 13.03.1995, p. 5.299).

Inocorrendo, portanto, o pressuposto autorizador do art. 485, V, do CPC,

rejeito o pedido de revisão da Súmula n. 142 e julgo improcedente a presente

rescisória.

É o meu voto.

VOTO

O Sr. Ministro Barros Monteiro: A autora pretende desconstituir o v.

acórdão proferido no REsp n. 23.732-8-SP, que porta a seguinte ementa:

Marca. Prescrição.

A ação para reparação dos danos causados pelo uso indevido de marca

prescreve em cinco anos (art. 178, § 10, IX, Código Cívil); a ação fundada na

obrigação de não fazer, visando à cessação do uso da marca de propriedade da

autora, prescreve em vinte anos (art. 177 do Código Civil).

Apelo conhecido e provido para reconhecer e prescrição qüinqüenal (fl . 68).

A par de propor, preliminarmente, a revisão da Súmula n. 142 desta Corte,

a demandante sustenta que, tanto para a hipótese de pleito alusivo à reparação

de danos como para o caso de ação fundada em obrigação de não fazer, visando

à cessão de uso de determinada marca, o lapso prescricional é o de cinco anos.

Tocante à pretendida revisão do Verbete Sumular n. 142-STJ, penso ser

esta a oportunidade para fazê-lo, pois realmente o referido enunciado não

corresponde aos julgados que lhe deram origem. Tratando-se de ação proposta

para exigir a abstenção do uso de marca comercial, o prazo de prescrição, a rigor,

não é o vintenário, como consta da súmula em foco, mas sim, nos termos do

disposto no art. 177 do Código Civil, o de dez anos entre presentes e quinze

entre ausentes, visto que, na forma do que se assentou a colenda Segunda Seção,

Page 246: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

246

o prazo prescricional será aí o das ações reais (REsp n. 19.355-0-MG, voto

proferido pelo Sr. Ministro Eduardo Ribeiro, in RSTJ vol. 80, p. 287).

Quando do julgamento do REsp n. 43.480-7-SP, de que fui Relator, em

que se pretendia também a abstenção do uso de marca comercial, considerei

que o lapso prescricional pertinente é o das ações reais e, sendo a controvérsia

instaurada entre presentes, o prazo é de dez anos. Eis porque, naquele precedente

da Quarta Turma lançara uma reserva ao que enuncia a indigitada Súmula n.

142.

Proponho, destarte, que, na conformidade com o que reza o art. 125, § 1º,

do RI desta Casa, se proceda à revisão da referida súmula, independentemente,

porém, do sobrestamento do presente feito.

Quanto ao mérito, penso desassistir razão à autora em sua pretensão.

Cuidando-se de ação que objetive a cessação do uso da marca comercial, o

prazo da prescrição é diverso em relação à demanda que vise a obter a reparação

de danos.

Tal distinção foi feita pelo Sr. Ministro Eduardo Ribeiro de início quando

do julgamento do REsp n. 10.564-0-SP, posteriormente reafirmada pela

Segunda Seção ao apreciar o REsp n. 19.355-0-MG, acima mencionado. Do

voto de S. Exa. colhe-se o seguinte:

Está a questão em saber se aplicável à hipótese o prazo prescricional de que

cogita o art. 178, § 10, IX, do Código Civil , fi xando-o em cinco anos, quando se

trate de ofensa ou dano causado ao direito de propriedade.

Longamente se debateu sobre a natureza do direito do titular da marca,

discutindo-se quanto a ser possível classifi cá-lo como de propriedade.

Tenho para mim que como tal haverá de ser considerado, não subsistindo,

em relação ao tema, as dúvidas que existem quando se trata de nome comercial.

Abstenho-me, entretanto, de sobre a matéria deter-me mais longamente, uma

vez que, por outra razão, entendo não incidir a norma no caso ora em apreciação.

No julgamento do REsp n. 3.185, de que fui Relator, que o recorrente fez

juntar aos autos, decidiu esta Turma que o citado dispositivo poderia aplicar-se

quando se cogitasse de ação de reparação do dano. Não, se objetivasse impedir

continuasse a violação do direito. Transcrevo trecho do voto que então proferi:

“A aplicabilidade do item IX à espécie em exame sujeita-se à controvérsia.

De todo desnecessário, entretanto, dela cogitar neste julgamento. Refere-se

o dispositivo à pretensão relativa a dano na propriedade, já verificado.

Assim, a demanda que pleiteei indenização sujeita-se à prescrição

Page 247: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 237-282, julho 2010 247

qüinqüenal, tendo como termo inicial a data em que se verifi cou o dano.

Ora, no caso em julgamento foi negado pedido de reparação, fundado em

perdas e danos. Cingiu-se a condenação a que se abstivesse a ré de futuras

violações ao direito da autora. Relativamente a isso não incide a norma

invocada.”

Não é outra a autorizada opinião de Carpenter, a afi rmar que a prescrição

de que ali se cogita é da ação civil, ‘cujo fi m é a indenização do prejuízo

causado a quem sofreu dano na sua propriedade’ (“Da Prescrição”, 3ª ed.,

Editora Nacional de Direito, p. 716).

Reputo indispensável a distinção, pena de chegar-se a conclusões

inaceitáveis. Tome-se o exemplo da ofensa à propriedade de um imóvel,

que importasse esbulho. Se o prazo prescricional é de cinco anos, signifi cará

isso que, decorrido o qüinqüênio, não mais poderá o proprietário reaver a

posse? O absurdo da resposta afi rmativa foi salientado por Câmara Leal,

conforme transcrito em acórdão à fl . 253. Impossível concluir não pudesse o

proprietário reivindicar o bem. Isso envolveria a perda de um dos principais

atributos da propriedade, embora mais dilargado o prazo prescricional

quando se trate de ação real.

Útil se me afi gura discernir, no caso, como usualmente se admite em

teoria geral, entre direitos absolutos e relativos. Nos primeiros, oponíveis

a todos, incluem-se os reais. Os relativos vinculam determinadas pessoas.

Podem nascer, entre outras causas, da violação de um direito absoluto.

Assim o proprietário tem direito de exigir, de todos, o respeito a sua

propriedade. A prescrição rege-se pelas normas pertinentes aos direitos

reais. Violado, entretanto, aquele direito, surge um outro, de pedir reparação

do dano. Este, de natureza pessoal, tem prazo de prescrição distinto.

Decorrido o prazo de cinco anos, prescreve o direito do proprietário

da marca de pleitear reparação dos danos que, do desrespeito a ele, lhe

tenha advindo. Dela, entretanto, não deixou de ser titular. Nem perdeu

a propriedade seus atributos. Poderá demandar sejam impedidas outras

ofensas ou que cesse a existente. O prazo prescricional será o das ações

reais, como assinalado pelo Desembargador Oliveira Leite, do egrégio

Tribunal de Justiça de Minas, em acórdão cuja cópia se encontra nos autos.

(in RSTJ, vol. 80, pp. 286-287).

Conclui-se, destarte, que no caso em exame, se o prazo da prescrição não

é vintenário, também não o é de cinco anos, mas de dez, consoante defl ui do

estatuído no art. 177, segunda parte, do Código Civil brasileiro.

Por tais motivos, não vislumbrando ofensa aos arts. 177 e 178, §10, inciso

IX, do CC, julgo improcedente a ação, carreando à autora as despesas processuais

Page 248: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

248

e os honorários advocatícios arbitrados em 10% sobre o valor atualizado da

causa. Se unânime a decisão, perderá ela o depósito feito em favor da ré.

É como voto.

VOTO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Sr. Presidente, data venia, discordo

parcialmente do Ministro Waldemar Zveiter, para julgar parcialmente

inadmissível a rescisória. É que a ação foi proposta com base no art. 485, V,

do Código de Processo Civil, e, no caso, não posso admitir que o julgamento

tomado com base num verbete sumular do Superior Tribunal de Justiça tenha

violado literalmente dispositivo de lei.

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator)(Aparte): V. Exa. me permite

um aparte, sem querer interromper o raciocínio de V. Exa. Veja ao ponto que

estamos chegando. A parte ingressa com ação rescisória, com base no erro da

súmula. V. Exa está votando agora e dizendo: realmente, o que a parte quer é

dizer que a súmula está errada, o acórdão foi editado com base na súmula; não

rescindo o acórdão e reformo a súmula. Então vamos rescindir o acórdão.

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Não, estou primeiro votando pela

inadmissibilidade da ação rescisória.

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator): Só estou louvando naquilo

que V. Exa disse: o pedido dele é esse, a súmula está errada; a decisão foi errada

porque foi tomada com base na súmula. Então devemos admiti-la, data venia.

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Tenho para mim que não.

Prosseguindo no voto, com relação ao pedido de revisão de súmula, tenho,

também por incabível que a parte possa fazê-lo, sobretudo no seio de uma ação

rescisória. Mas considerando o disposto no § 1º do art. 125 de nosso Regimento

Interno, se eminente Ministro-Relator, ou, então, se o eminente Ministro-

Revisor não quiserem propor revisão da jurisprudência compendiada na súmula,

eu o faço agora.

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito (Aparte): Mas, o Ministro

Barros Monteiro já propôs.

Page 249: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 237-282, julho 2010 249

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Então, dou por inadmissível a ação

rescisória, tenho por incabível o pedido de revisão de súmula, sede de ação

rescisória, formulado pela autora, mas acolho a proposição do Sr. Ministro

Barros Monteiro de fazer a revisão da súmula.

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Aparte): E no mérito da revisão

que ele entrou?

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Estamos decidindo primeiro, se vamos

ou não fazer a revisão; depois, vamos ao mérito.

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: V. Exa. considera incabível a

revisão e está propondo que seja feita de ofício.

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Dou por inadmissível a ação rescisória,

tenho por incabível o pedido de revisão de súmula formulado em sede de ação

rescisória, mas acolho a proposição do Sr. Ministro Barros Monteiro de fazer a

revisão da súmula, tudo com base no art. 125, § 1º, do Regimento Interno desta

Corte.

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator): Parece-me que essa não foi a

proposta do eminente Ministro-Revisor. S. Exa. não está propondo depois do

julgamento quanto a isso não sou contra. Não sei se não estou compreendendo

bem ou se não estou me fazendo compreender, porque, se o propósito da parte é

suscitar um erro de julgamento do acórdão rescindendo que valeu-se da súmula,

julgo a ação improcedente, mas digo que a súmula está errada. Penso que se for

assim devemos acolher parcialmente o pedido para rever a súmula.

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha:

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator): Por isso julgarei parcialmente

procedente.

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Penso que, aqui, o autor apresentou,

numa mesma petição, duas pretensões: uma, rescindir o julgado; outra, pedindo

revisão da súmula.

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Quem sabe peço vista per

salto para podermos examinar com cautela.

Page 250: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

250

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: Não precisa pedir, pois não tenho nada

a opor. Fico com meu voto. Isso faz parte do Colegiado. O eminente Ministro

Cesar Asfor Rocha fez essa proposta. Penso que a sessão deve julgar. Se decidir

assim, fi co vencido.

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Vou fazer a seguinte ponderação

a V. Exa., Ministro-Relator. Um dos fundamentos do autor da ação é de que o

prazo para propor a ação principal é de cinco anos e, nessa fundamentação, bate

de frente com a súmula onde se diz que o prazo é de vinte anos. O Tribunal tem

que examinar essa questão e chegará à conclusão de que o prazo não é de vinte

anos, com isso tem que afastar a súmula e, para isso, tem que revisá-la. Dizendo

que não são vinte anos, chega depois à conclusão de que também não são de

cinco anos que a parte pretende. Então, revisa a súmula, porque teve que passar

por essa fase de argumentação, e julga improcedente o pedido, porque o prazo

de cinco anos, que é o que quer, não é correto.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Sr. Presidente, tenho a

sensação de que são duas as questões.

A primeira é a questão relativa à procedência ou à inadmissibilidade da

ação. Sobre essa questão, não tenho dúvida alguma. A jurisprudência não só do

Superior Tribunal de Justiça, como também a do Supremo Tribunal Federal

e a doutrina indicam que, nesses casos precisos, o que se deve fazer é julgar

improcedente a ação. Por quê? Porque o que a parte pede é que seja julgada

procedente a rescisória, uma vez presente violação literal do dispositivo de lei, no

caso o art. 178, § 10, inciso IX. Se, examinando a ação, verifi ca-se que não há essa

violação, a meu juízo, com todo o respeito a quem possa entender em sentido

contrário, aplica-se o dispositivo de improcedência e não de inadmissibilidade.

Com relação à segunda questão, que é de revisão de súmula, tenho a

sensação muito nítida de que a intervenção do eminente Presidente da Seção

é benfazeja. Há uma ação rescisória proposta com o objetivo de apontar uma

violação do art. 178, § 10, inciso IX, que impõe o prazo prescricional de cinco

anos.

O Ministro-Relator, examinando a matéria, tal qual o Ministro-Revisor,

entende que esse artigo não se aplica, porque se aplica ao prazo prescricional

Page 251: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 237-282, julho 2010 251

de dez anos. E por quê? Porque o exame da jurisprudência do Tribunal indica

que esse prazo contido na Súmula n. 142 não refl ete coerentemente os julgados,

mantido o prazo de cinco anos para reparação de danos e o de dez anos, o prazo

do art. 177. Ora, se esse fato é verdadeiro. A meu juízo, não é necessário que

no julgamento se possa fazer a revisão da súmula. Mas, também, nada impede

que se o faça, à medida que a conclusão do voto é no sentido de que o prazo de

cinco anos não se aplica, mas que o prazo aplicável seria de dez anos, ou seja, na

verdade, quando o Tribunal assim decide, não está decidindo a rescisória porque

o prazo de vinte anos está equivocado; ele está decidindo a rescisória porque o

prazo do art. 178, § 10, IX, não se aplica, ou seja, não há violação porque o prazo

de cinco anos não se aplica. Todavia, ao examinar a aplicação desse prazo de

cinco anos chega-se à conclusão de que não se aplicaria o prazo de vinte anos,

mas, sim, o prazo de dez anos, com o que não se está violando, com a decisão,

a súmula porque não se aplica o prazo de cinco anos, mas se entende que

também não teria de aplicar-se o prazo de vinte anos, impondo-se também, na

oportunidade, a revisão da súmula.

Com essas razões, Sr. Presidente, acompanho, na conclusão, o voto do

eminente Ministro Waldemar Zveiter no sentido de ser julgada improcedente a

ação, mas entendo também extremamente oportuna a ocasião para que façamos

a revisão da Súmula n. 142.

VOTO

O Sr. Ministro Nilson Naves: Sr. Presidente, duas questões: uma delas

diz respeito ao cabimento da rescisória, tratando-se de ação fundada no inciso

V (“violar literal disposição de lei”). A meu ver, não é lícito se abram duas

oportunidades aos litigantes, por ocasião do especial e quando da rescisória.

Por isso é que entendo inadmissível a ação. Contudo, aqui sou vencido. A

outra questão refere-se ao prazo de prescrição. De fato, conforme lembranças

da tribuna, entendia eu que o prazo era o do art. 178, § 10, IX, em qualquer

caso. Também fi quei vencido. Em Assim sendo, quanto à ação, voto pela sua

improcedência, e, relativamente à Sumula n. 142, voto pela sua revisão, ou pelo

seu cancelamento.

VOTO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Sr. Presidente, a meu ver, então, pode-

se dizer que o acórdão decidiu com base em uma súmula errada e, por isso,

Page 252: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

252

devemos revê-la. Mas, não obstante, a conclusão do julgado deve ser mantida

por outras razões, julgando-se improcedente o pedido de rescisão.

Vou pedir vênia ao eminente Ministro-Relator para acompanhá-lo, numa

parte, e ao eminente Ministro-Revisor, que também votou pela improcedência,

na outra parte.

VOTO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: De há muito se ter observado o equívoco

do enunciado da súmula em exame. Dele consta prazo de prescrição que

corresponde aos direitos pessoais quando, em verdade, se trata de direito real. É

antigo o propósito de revê-lo, mas a oportunidade regimental ainda não havia se

apresentado. Não tenho dúvida de que devemos fazê-lo neste julgamento.

Há, entretanto, uma particularidade. É que, não obstante errada a súmula,

a conclusão do julgado é de manter-se por outras razões, o que conduz à

improcedência do pedido de rescisão.

Voto, pois, por que se reveja a súmula, ainda que julgando improcedente a

rescisória.

Resta saber se simplesmente cancelamos o enunciado ou lhe damos outra

redação. Parece-me mais correto apenas cancelar.

ESCLARECIMENTOS

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Presidente): Tenho, então, com o

resultado da votação, que, por maioria, julgou-se improcedente a ação, a qual o

Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha julgou inadmissível.

Com relação à revisão da Súmula n. 142, ponho em votação a seguinte

questão: ou é revisão para defi nir outros quantitativos, ou simplesmente cancelar.

O Sr. Ministro Ari Pargendler: Sr. Presidente, parece-me que, em tese,

esses precedentes autorizariam a súmula na sua redação antiga; precisamos

agora de um novo precedente para justifi car uma nova súmula.

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Então, parece-me mais prudente

que a Súmula n. 142 seja simplesmente cancelada.

Page 253: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 237-282, julho 2010 253

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Ou então, se quiserem, adia-se essa

parte. Faço uma pesquisa para ver quais são os precedentes e edita-se uma nova

súmula.

O Sr. Ministro Ari Pargendler: Decide-se pela revisão, mas a aprovação do

enunciado se fará numa próxima sessão.

Pela revisão, já fi ca decidido que ela está sem efeito, faltando apenas o

enunciado.

O Sr. Ministro Nilson Naves: A questão é se cancela ou se faz de logo a

revisão da súmula.

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Os precedentes antigos autorizavam,

presume-se, a súmula.

É uma solução intermediária, e não se revisa a súmula.

VOTO VENCIDO (EM PARTE)

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator): Rejeito o pedido da revisão

da súmula e julgo improcedente esta ação rescisória, aguardando a conclusão do

julgamento para saber o que fazer com o depósito.

COMPLEMENTAÇÃO DE JULGAMENTO - VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator): Sr. Presidente, entendo que o

autor foi vitorioso em parte e, por isso, não ocorre a perda do depósito.

ESCLARECIMENTOS

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator): V. Exa. está fi xando honorários

de 10% corrigidos sobre o valor da causa?

O Sr. Ministro Barros Monteiro: Valor da causa atualizado. Se V. Exa. tiver

outro critério, eu aceito.

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator): Fiquei aguardando. Penso que

a parte tem que ser condenada em parte mínima de honorários.

Page 254: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

254

O Sr. Ministro Barros Monteiro: O mínimo é de 10% sobre o valor da

causa.

O Sr. Ministro Ari Pargendler: A parte sucumbiu e deve pagar os

honorários. Penso que 10%¨está razoável.

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator): Ele não sucumbiu, tanto que,

pelo que sustentou, saiu vitorioso. Ele até desistiu da ação.

RECURSO ESPECIAL N. 10.564-SP (91.0008263-5)

Relator: Ministro Nilson Naves

Relator designado: Ministro Eduardo Ribeiro

Recorrente: Vulcabrás S/A — Ind. Com.

Recorrida: Pandy Confecções Indústria e Comércio Ltda

Advogados: Waldemar Álvaro Pinheiro e outros, e Meire Ribeiro

Cambraia e outros

EMENTA

Marca. Violação. Prescrição.

O prazo prescricional de que cuida o art. 178, § 10, IX, do

Código Civil é aplicável quando se trate do direito à reparação do

dano, decorrente do desrespeito ao direito do titular da marca. Não à

ação em que intente fazer cessar a violação.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer

do recurso especial e, por maioria, dar-lhe provimento, na forma do relatório e

notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do

presente julgado.

Page 255: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 237-282, julho 2010 255

Brasília (DF), 26 de novembro de 1991 (data do julgamento).

Ministro Nilson Naves, Presidente

Ministro Eduardo Ribeiro, Relator designado

DJ 09.03.1992

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Nilson Naves: Em ação de modifi cação de nome comercial,

intentada por Vulcabrás S/A Indústria e Comércio contra Pandy Confecções

Indústria e Comércio Ltda, as instâncias ordinárias acolheram a prescrição do

art. 178, § 10, inciso IX, do Código Civil. Veja-se o acórdão do Tribunal de

Justiça de São Paulo, reproduzindo os fundamentos de outro julgado do mesmo

Tribunal:

Esta colenda Câmara, reiteradamente, tem sustentado ser qüinqüenal, nos

termos do art. 178, § 10, item IX, do Código Civil, o prazo prescricional relativo à

violação do “nome comercial” (cf. Apelação Cível n. 40.372-1, de Campinas).

Com efeito, na Apelação Cível n. 263.011, de Jundiaí, julgada em 11.10.1977,

sendo Relator o Desembargador Almeida Camargo (RT, vol. 510/84), ao enfrentar

a questão, esta colenda Câmara, com base na lição da doutrina e da jurisprudência

ditada pelo excelso Pretório, confirmou o entendimento de que, apesar da

divergência entre os doutos, prevalece hoje a posição pela qual o direito sobre o

“nome comercial” constitui uma propriedade, à semelhança do que ocorre com

o direito sobre marcas de fábrica e do comércio, motivo pelo qual, em temas de

ações por violação ao “nome comercial”, aplica-se o prazo prescricional de cinco

anos, que vem previsto no art. 178, § 10, item IX, do Código Civil.

Aliás, a colenda Sexta Câmara Civil asseverou que a ação ordinária de

abstenção do uso de nome comercial tinha um prazo de decadência de seis

meses a que aludia o art. 10, item II, do Decreto n. 1.236, de 1904, certo que o

Código da Propriedade Industrial disciplinou de outro modo a questão e concede

ação de nulidade no prazo de cinco anos, contados da data da expedição do

registro inicial do nome comercial (art. 156, § 1º, do Decreto-Lei n. 7.903, de 1945),

conforme precedente que indicou no seu acórdão unânime, em 15.06.1962, na

Apelação Cível n. 115.008, de São Paulo, Relator o Desembargador Martiniano de

Azevedo.

Esse entendimento foi reiterado, mais recentemente, pela mesma colenda

Sexta Câmara Civil, ao, por votação unânime, quanto à questão do lapso

prescricional, afi rmar inocorrer a pretendida prescrição, porque, “o direito sobre

Page 256: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

256

o nome comercial, apesar da divergência doutrinária, constitui um direito de

propriedade e sujeita-se, portanto, ao lapso prescricional do art. 178, § 10, inciso

IX, do Código Civil”. Assim se manifestou a jurisprudência do colendo Supremo

Tribunal Federal, no julgamento de Embargos ao Recurso Extraordinário n.

46.579, em 16.10.1960: “aplicação do art. 178, § 10, inciso IX, do Código Civil,

em lugar do art. 177 do mesmo Código e do art. 442 do Código Comercial, não

pode reputar-se ofensivo à letra da lei, porque se apóia na teoria da propriedade

do nome comercial, sustentada por notáveis juristas nomeadamente Carlos de

Carvalho, que a exprimiu no Decreto n. 916, de 1880, de sua lavra” (do voto do

Desembargador Ferreira Prado na Apelação Cível n. 15.812-1, de São Paulo, em

17.10.1981, RJTJESP, Ed. LEX, vol. 77/187).

Assim, também, tem entendido a colenda Quinta Câmara Civil ao sustentar

que a prescrição, na ação para proteção do “nome comercial”, é qüinqüenal,

nos termos do art. 178, § 10, item IX, do Código Civil, razão pela qual deve ser

pronunciada na hipótese da demanda ser intentada, como é o caso destes autos,

após o qüinqüênio contado da data do arquivamento dos atos constitutivos

da ré (acórdão unânime nos Embargos Infringentes n. 286.425, de Campinas,

em 11.12.1980, Relator Desembargador Nogueira Garcez, RJTJESP, Ed. LEX, vol.

70/228).

2. A autora interpôs recurso especial: pela alínea a, alega que o acórdão

recorrido violou o art. 177 do Código Civil (“que estabelece prazo vintenário

para a prescrição de ações pessoais, como a presente”); pela alínea c, aponta

dissídio com julgados do STF, TFR e de outros tribunais.

3. Admitido, veio o recurso ter ao Superior Tribunal de Justiça.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Nilson Naves (Relator): Dizendo-se proprietária da marca

“Panda”, quer a autora seja a ré compelida a excluir de sua denominação social

a palavra “Pandy”. A questão não chegou a ter solução porque acolhida a

prescrição. Controverte-se agora em torno do seu prazo: de cinco anos, como

afi rmaram as instâncias ordinárias, entendendo tratar-se, o nome comercial,

de propriedade, daí aplicável o referido art. 178, § 10, inciso IX; de vinte anos,

como quer a autora, considerando, no essencial, que, na espécie, não se trata de

propriedade, daí ter invocado o art. 177, quanto ao prazo das ações pessoais.

2. Dentre os acórdãos trazidos para a demonstração do dissídio, a recorrente

citou o do RE n. 46.597, de 1961, Sr. Ministro Cândido Motta, com essa

Page 257: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 237-282, julho 2010 257

ementa: “Ação para desfazer o mesmo nome registrado. Prescrição. Invocação de

direito comum, como subsidiário do comercial. Aplicação do art. 177 do Código

Civil. A ação não está prescrita”. Mas esse acórdão acabou reformado, em sessão

plenária, no julgamento dos embargos, relatados pelo Sr. Ministro Villas Boas,

conforme essa ementa: “Embargos opostos a acórdão que, conhecendo do

recurso extraordinário, lhe deu provimento, para cassar decreto de prescrição de

ação legitimada pelo art. 3º, § 2º, do Decreto-Lei n. 2.627/1940. Recebimento.

A aplicação do art. 178, § 10, IX, do Código Civil, em lugar do art. 177 do

mesmo Código e do art. 442 do Código Comercial, não pode reputar-se

ofensiva à letra da lei, porque se apóia na teoria da propriedade do nome

comercial, sustentada por notáveis juristas, nomeadamente Carlos de Carvalho

que a exprimia no Decreto n. 916 de 1890, da sua lavra. Restabelecimento da

decisão da Justiça local” (in RTJ-20/270).

Quando dos embargos o que fi cou entendido foi que não se poderia, no

julgamento do recurso extraordinário, ter-se por ofendido o art. 177, porquanto

a orientação local, ao aplicar o art. 178, § 10, inciso IX, dera, ao menos, razoável

interpretação à lei. Veja-se o que disse o Sr. Relator, ao fi nal de seu voto:

O meu voto, ainda agora com a latitude determinada pelo art. 101, III, a, da

Constituição, não concorda data venia, com a anulação do veredicto da Justiça

local, porque a antinomia entre este e o art. 177 do Código Civil, pressuposto

irrefragável do conhecimento e provimento do apelo excepcional, só se esboçaria

com o repúdio, por absurda, da teoria da propriedade do nome comercial que,

embora sujeita a controvérsia, é, todavia, de lançamento muito fi rme.

De resto, verificada a prescrição por um texto federal, dentre alguns

que podiam ser invocados, convém a esta Corte Suprema, na órbita da sua

competência, se plenamente não a aprova, acatar a decisão proferida na causa.

Assim, por este entendimento restrito que, de modo algum, signifi ca uma

defi nição, respeitosamente recebo os embargos.

3. O que interessa é que o acórdão dos embargos, conquanto tenha

afi rmado cuidar-se de matéria polêmica, ressaltou que a propriedade do nome

comercial possuía “lançamento muito fi rme”. Em conseqüência, duas coisas se

me apresentam: a difi culdade do recurso com base na alínea a; a falta de serventia

para o dissídio do RE n. 46.597, visto que alterado em grau de embargos.

4. Para o dissídio, a recorrente citou outros acórdãos, entre os quais dois

do Tribunal Federal de Recursos, do ano de 1971, Sr. Ministro Décio Miranda.

Um deles, a AC n. 29.655, com essa ementa: “Propriedade industrial. Nome da

Page 258: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

258

empresa. Cabível ação cominatória para constranger à modifi cação do nome

colidente. O prazo de prescrição da ação é o da lei comum. Procedência da

ação”. Noutro, AC n. 31.021, afi rmou, em seu voto: “Não cogitando de prazo de

prescrição para a ação de mudança de nome a legislação específi ca, desde o art.

10, § 3º, do Decreto n. 916, de 24.10.1890, até o art. 3º, § 2º, do Decreto-Lei

n. 2.627, de 26.10.1940, também dele não tratando Lei n. 4.726, de 18.07.1965,

que mais se ateve à parte adjetiva do registro do comércio, é bem de ver que esse

prazo é o da lei comum, ou seja, o do art. 177 do Código Civil”.

5. Respeitáveis as duas posições. Pelo que andei lendo, a tendência é a de

acatar o prazo menor, com a qual me afeiçôo. Embora o Sr. Ministro Décio

Miranda tenha dito, na AC n. 31.021, que não era de se estranhar o prazo maior,

o certo é que tal prazo, como deixou entrever o Sr. Ministro Cunha Peixoto, em

passagem citada na RT n. 491/40, repugna as normas de comércio. No artigo da

RT n. 491, anotaram os seus autores Luiz e Th omás Leonardos: “A proteção ao

nome comercial, em sua função objetiva, como objeto de propriedade industrial,

pertence, assim, à mais aceita tradição no Direito brasileiro e encontra amplo

respaldo na própria Constituição Federal ao incluir, entre as garantias à

propriedade, a da exclusividade do nome comercial (art. 153, § 24)”.

6. Temos julgados, recentes, do Supremo Tribunal e já deste Superior

Tribunal. Ei-los, por suas ementas:

Recurso extraordinário. Nome comercial. Em se tratando de nome fantasia,

a propriedade há de ser reconhecida a quem primeiro o registrou. Entretanto, a

ação por violação a nome comercial prescreve em cinco anos, de conformidade

com entendimento pelo Supremo Tribunal Federal no ERE n. 46.597 (RTJ 20/270) e

a teor do art. 178, § 10, inciso IX, do Código Civil.

A autora propôs a ação seis anos depois da ré haver registrado o nome fantasia

semelhante, portanto, quando já ocorrera a prescrição.

Recurso da autora não conhecido e provido o recurso da ré (STF, RE n. 104.497,

de 1990, Sr. Ministro Carlos Madeira).

Nome comercial. Ação de preceito cominatório, cumulada com pedido de

perdas e danos.

O direito sobre o nome comercial, segundo entendimento hoje prevalecente

na doutrina e na jurisprudência, constitui uma propriedade, à semelhança do que

ocorre com as marcas de fábrica e de comércio, motivo pelo qual, em ações por

violação de seu uso exclusivo, se aplica o lapso prescricional previsto no art. 178, §

10, inciso IX, do Código Civil.

Page 259: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 237-282, julho 2010 259

Recurso especial não conhecido. (STJ, REsp n. 4.055, de 1991, Sr. Ministro Barros

Monteiro)

7. Conheço, pois, do recurso especial, pela alínea c, mas lhe nego

provimento.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Está a questão em saber se aplicável à

hipótese o prazo prescricional de que cogita o art. 178, § 10, IX, do Código

Civil, fi xando-o em cinco anos, quando se trate de ofensa ou dano causado ao

direito de propriedade.

Longamente se debateu sobre a natureza do direito do titular da marca,

discutindo-se quanto a ser possível classifi cá-lo como de propriedade.

Tenho para mim que como tal haverá de ser considerado, não subsistindo,

em relação ao tema, as dúvidas que existem quando se trata de nome comercial.

Abstenho-me, entretanto, de sobre a matéria deter-me mais longamente, uma

vez que, por outra razão, entendo não incidir a norma no caso ora em apreciação.

No julgamento do REsp n. 3.185, de que fui Relator, e que o recorrente fez

juntar aos autos, decidiu esta Turma que o citado dispositivo poderia aplicar-se

quando se cogitasse de ação de reparação do dano. Não, se objetivasse impedir

continuasse a violação do direito. Transcrevo trecho do voto que então proferi:

A aplicabilidade do item IX à espécie em exame sujeita-se a controvérsia.

De todo desnecessário, entretanto, dela cogitar neste julgamento. Refere-se o

dispositivo à pretensão relativa a dano na propriedade, já verifi cado. Assim, a

demanda que pleiteie indenização sujeita-se à prescrição qüinqüenal, tendo

como termo inicial a data em que se verifi cou o dano. Ora, no caso em julgamento

foi negado pedido de reparação, fundado em perdas e danos. Cingiu-se a

condenação a que se abstivesse a ré de futuras violações ao direito da autora.

Relativamente a isso não incide a norma invocada.

Não é outra a autorizada opinião de Carpenter, a afi rmar que a prescrição

de que ali se cogita é da ação civil, “cujo fi m é a indenização do prejuízo causado

a quem sofreu dano na sua propriedade” (“Da Prescrição”, 3ª ed., Editora

Nacional de Direito, p. 716).

Reputo indispensável a distinção, pena de chegar-se a conclusões

inaceitáveis. Tome-se o exemplo da ofensa à propriedade de um imóvel, que

Page 260: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

260

importasse esbulho. Se o prazo prescricional é de cinco anos, signifi cará isso

que, decorrido o qüinqüênio, não mais poderá o proprietário reaver a posse?

O absurdo da resposta afi rmativa foi salientado por Câmara Leal, conforme

transcrito em acórdão à fl . 253. Impossível concluir não pudesse o proprietário

reivindicar o bem. Isso envolveria a perda de um dos principais atributos da

propriedade, embora mais dilargado o prazo prescricional quando se trate de

ação real.

Útil, se me afi gura, discernir, no caso, como usualmente se admite em

teoria geral, entre direitos absolutos e relativos. Nos primeiros, oponíveis a todos,

incluem-se os reais. Os relativos vinculam determinadas pessoas. Podem nascer,

entre outras causas, da violação de um direito absoluto. Assim o proprietário

tem direito de exigir, de todos, o respeito a sua propriedade. A prescrição rege-se

pelas normas pertinentes aos direitos reais. Violado, entretanto, aquele direito,

surge um outro, de pedir reparação do dano. Este, de natureza pessoal, tem

prazo de prescrição distinto.

Decorrido o prazo de cinco anos, prescreve o direito do proprietário da

marca de pleitear reparação dos danos que, do desrespeito a ele, lhe tenha

advindo. Dela, entretanto, não deixou de ser titular. Nem perdeu a propriedade

seus atributos. Poderá demandar sejam impedidas outras ofensas ou que cesse

a existente. O prazo prescricional será o das ações reais, como assinalado pelo

Desembargador Oliveira Leite, do egrégio Tribunal de Justiça de Minas, em

acórdão cuja cópia se encontra nos autos.

Conheço, pois, do recurso, não só pela divergência, que me parece

caracterizada, até mesmo com acórdão desta Turma, como por ter sido

contrariada a lei, e dou-lhe provimento para que se prossiga, em 1º grau, no

julgamento da causa, data venia do eminente Relator.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Cláudio Santos: Sr. Presidente, encontra-se no bojo destes

autos interessante questão pertinente à prescrição de ação do titular de marca,

tendo em vista o seu uso na denominação comercial por outra empresa. O

eminente Sr. Ministro-Relator Nilson Naves conheceu do recurso especial

em face do dissídio e negou-lhe provimento. Os eminentes Srs. Ministros

Eduardo Ribeiro e Dias Trindade, também conheceram, mas para dar-lhe

provimento. Parece-me que entre o eminente Sr. Ministro-Relator e o primeiro

voto discordante do eminente Sr. Ministro Eduardo Ribeiro, não há nenhuma

Page 261: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 237-282, julho 2010 261

controvérsia quanto ao direito aplicável à relação entre titular e marca, qual

seja um direito de propriedade. O Sr. Ministro-Relator, entretanto, concluiu

que a prescrição ocorreria por decurso do prazo de cinco anos, enquanto o Sr.

Ministro Eduardo Ribeiro manifestou em seu voto que, para alguns efeitos, essa

prescrição não ocorreria nesse prazo, mas, sim, no decurso de vinte anos. Essa,

portanto, é a questão.

No voto do eminente Sr. Ministro-Relator, encontro o seguinte: “Para o

dissídio, a recorrente citou outros acórdãos, entre os quais dois são do Tribunal

Federal de Recursos, do ano de 1971, do Sr. Ministro Décio Miranda: um deles,

a Apelação Cível n. 29.655, com esta ementa: ‘Propriedade industrial. Nome da

empresa. Cabível ação combinatória para constranger à modifi cação do nome

colidente. O prazo de prescrição da ação é o da lei comum. Procedência da ação’;

noutro, Apelação Cível n. 31.021, afi rmou em seu voto: ‘Não cogitando de prazo

de prescrição para ação de mudança de nome, a legislação específi ca desde o art.

10, § 3º, do Decreto n. 916, de 24.10.1890, até o art. 3º, § 2º, do Decreto-Lei

n. 2.627, de 26.10.1940, também nele não tratando Lei n. 4.726, de 18.07.1965,

que mais se ateve à parte adjetiva do registro do comércio, é bem de ver que este

prazo é o da lei comum, ou seja, o do art. 177 do Código Civil”.

Continua, ainda, o eminente Ministro-Relator: “respeitáveis as duas

posições — pelo que andei lendo, a tendência é de acatar o prazo menor, com o

qual me afeiçôo.

Embora o Sr. Ministro Décio Miranda tenha dito, na Apelação Cível n.

31.021, que não era de se estranhar, o prazo maior, o certo é que tal prazo —

como deixou entrever o Sr. Ministro Cunha Peixoto em passagem citada na RT

n. 491/40 — repugna as normas de comércio.

No artigo da RT n. 491, anotaram seus autores, Luís e Th omás Leonardos: ‘A

proteção ou nome comercial em sua função objetiva, como objeto de propriedade

industrial, pertence, assim, à mais aceita tradição no Direito brasileiro e encontra

amplo respaldo na própria Constituição Federal, ao incluir, entre as garantias à

propriedade, a exclusividade do nome comercial’.”

Finalmente, o Sr. Relator cita um acórdão da Quarta Turma deste

Tribunal, sendo Relator o Sr. Ministro Barros Monteiro, assim ementado:

“Nome comercial. Ação de preceito combinatório cumulada com pedido de

perdas e danos. O direito sobre o nome comercial, segundo o entendimento

hoje prevalente na doutrina e na jurisprudência constitui uma propriedade à

semelhança do que ocorre com as marcas de fábrica e de comércio; motivo pelo

qual, em ações por violação de seu uso exclusivo, aplica-se o lapso prescricional

Page 262: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

262

previsto no art. 178, § 10, inciso IX, do Código Civil. Recurso especial não

conhecido”.

Já o Sr. Ministro Eduardo Ribeiro trouxe à colação lição de Câmara Leal,

pela qual se recomenda uma certa distinção. Disse o Sr. Ministro Eduardo

Ribeiro: “Reputo indispensável a distinção. Pena de chegar-se a conclusões

inaceitáveis. Toma-se o exemplo da ofensa à propriedade de um imóvel, que

importasse esbulho. Se o prazo prescricional é de cinco anos, signifi cará que,

decorrido o qüinqüênio, não mais poderá o proprietário reaver a posse? O

absurdo da resposta afirmativa foi salientado por Câmara Leal, conforme

transcrito em acórdão à fl . 253. Impossível concluir não pudesse o proprietário

reivindicar o bem. Isso envolveria perda de um dos principais atributos da

propriedade, embora mais dilargado o prazo prescricional quando se trate de

ação real. Útil, se me afi gura, discernir, no caso, como usualmente se admite em

teoria geral, entre direitos absolutos e relativos. Nos primeiros, oponíveis a todos,

incluem-se os reais. Os relativos vinculam determinadas pessoas. Podem nascer,

entre outras causas, da violação de um direito absoluto. Assim, o proprietário

tem direito de exigir, de todos, o respeito a sua propriedade. A prescrição rege-se

pelas normas pertinentes aos direitos reais. Violado, entretanto, aquele direito,

surge um outro, de pedir reparação do dano. Este, de natureza pessoal, tem

prazo de prescrição distinto.

Decorrido o prazo de cinco anos, prescreve o direito do proprietário da

marca de pleitear reparação dos danos que, do desrespeito a ele, tenha-lhe

advindo. Dela, entretanto, não deixou de ser titular, nem perdeu a propriedade

seus atributos. Poderá demandar sejam impedidas outras ofensas ou que cesse a

existente”.

Concluo aqui a reprodução do voto do eminente Sr. Ministro Eduardo

Ribeiro, pedindo vênia ao eminente Sr. Ministro-Relator para fi liar-me a esse

entendimento. Compreendendo-se a relação como de direito de propriedade,

parece-me que outra não poderá ser a solução, senão esta, de admitir-se a

prescrição para a reparação do dano, mas sem que isso importe em perda do

direito de propriedade do titular da marca — no caso a marca “Panda”, utilizada

por outra empresa em sua denominação social como “Pandy”, nomes facilmente

confundíveis.

Entendo que não está prescrito, data venia, o direito para o titular da marca

reivindicar que outra empresa não utilize esta marca, seja em qualquer produto,

ou no próprio nome comercial.

Acompanho o voto do Sr. Ministro Eduardo Ribeiro.

Page 263: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 237-282, julho 2010 263

RECURSO ESPECIAL N. 19.355-MG (92.0004644-4)

Relator: Ministro Nilson Naves

Relator designado: Ministro Eduardo Ribeiro

Recorrente: Panda Promoções e Eventos Ltda

Recorrida: Vulcabrás S/A Indústria e Comércio

Advogados: Samia Amin Santos e outros, e Francisco Silviano Brandão

e outros

EMENTA

Marca. Violação. Prescrição.

O prazo prescricional de que cuida o art. 178, § 10, IX, do

Código Civil é aplicável quando se trate do direito à reparação do

dano, decorrente do desrespeito ao direito do titular da marca. Não à

ação em que se intente fazer cessar a violação.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e, por

maioria, dar-lhe parcial provimento, vencidos, em parte, os Srs. Ministros Relator

e Barros Monteiro, que proviam o recurso em maior extensão. Acompanharam

o voto do Sr. Ministro Eduardo Ribeiro, os Srs. Ministros Dias Trindade, Athos

Carneiro, Waldemar Zveiter, Fontes de Alencar e Sálvio de Figueiredo. Ausente,

justifi cadamente, o Sr. Ministro Cláudio Santos.

Brasília (DF), 28 de outubro de 1992 (data do julgamento).

Ministro Bueno de Souza, Presidente

Ministro Eduardo Ribeiro, Relator designado

DJ 1º.02.1993

Page 264: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

264

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Nilson Naves: Em ação ordinária, Vulcabrás S/A Indústria

e Comércio pleiteou fosse Panda Serviços Esportivos S.C. Ltda condenada a

modifi car sua denominação social, a abster-se de usar a expressão “Panda” como

marca e a compor perdas e danos, e a ré invocou, a seu favor, a prescrição do art.

178, § 10, IX, do Código Civil, mas o despacho saneador não lhe deu razão, por

aplicável à espécie o art. 177. Agravou, sem êxito, in verbis:

Na espécie dos autos, rebela-se a agravante contra o despacho saneador de fl .

73, que desacolheu a preliminar de prescrição da ação, fundado no argumento de

se tratar de ação pessoal, sujeita à prescrição vintenária estabelecida no art. 177

do Código Civil e não à prescrição qüinqüenal prevista no art. 178, § 10, inciso IX,

do Código Civil.

O despacho impugnado examinou bem a matéria e deu à questão a melhor

solução, uma vez que a jurisprudência dos Tribunais vem se orientando que o

prazo prescricional é da lei comum (cf. Apel. n. 29.655 da Guanabara e Apel. n.

62.040 de Monte Azul Paulista, publicados na RJTJESP, n. 99/197/198).

No corpo do referido acórdão, o referido aresto do egrégio Tribunal de Justiça

de São Paulo, estabeleceu o seguinte: ‘Em outras palavras, não teria sentido

limitar, p. ex. a cinco anos (lapso prescricional) obrigação negativa de usurpação

ou imitação de marca ou nome comercial. A prática desse teor sofre veto total

no tempo. A obrigação de non faciendi é permanente, ante a própria natureza do

direito de que é o verso... (apel. cível citada).

Embora encontre, na doutrina, defensores da tese de que o prazo prescricional

se opere em cinco (5) anos (Gama Cerqueira e Túlio Ascarelli, in RT n. 159), a

orientação predominante na jurisprudência é a fi xada pelo STF, considerando

como ocorrendo a prescrição das ações por violação do nome comercial, o prazo

é do direito comum, tendo por inaplicável a Lei n. 1.236, de 1904 (cf. STF, Segunda

Turma, acórdão de 04.05.1962, no RE n. 49.857).

Diante do exposto, mantenho o despacho recorrido, que se acha muito

bem fundamentado, tanto na forma como no fundo, e que, por isso mesmo,

recomenda muito seu jovem e ilustre prolator. Nego provimento, pois, ao agravo.

Interpôs recurso extraordinário, com argüição de relevância, inadmitido

aquele e subindo esta ao Supremo Tribunal Federal, que converteu o

extraordinário em especial, na medida da argüição. Despachou, após, o

Desembargador Vaz de Mello:

O recurso, no entanto, fora inadmitido, determinando-se, porém, que se

processasse a argüição de relevância, concomitantemente interposta (fl. 40)

Page 265: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 237-282, julho 2010 265

e a Suprema Corte, considerando não estar preclusa a matéria de nível legal,

deduzida na mesma argüição e que, diante do art. 105, III, a e c, da CF, ocorrera

conversão, ipso iure, do RE em REsp, determinou a devolução do instrumento para

o exame de sua admissibilidade (fl s. 109-110).

Vê-se dos autos que o próprio e eminente Desembargador-Relator do v. aresto

recorrido observa que o tema é polêmico, havendo, “na doutrina, defensores da

tese de que o prazo prescricional se opera em cinco (5) anos” (fl . 36).

A recorrente, a seu turno e ao que me parece, conseguiu demonstrar a

divergência pretoriana e isso, sem dúvida, justifi ca a admissão do REsp, pela letra

c do permissivo constitucional, sem prejuízo do outro fundamento, em face do

que dispõe o Enunciado n. 292 da Súmula-STF, aplicável à espécie.

Admitindo, assim, o REsp interposto e considerando que o fora antes da Lei n.

8.038/1990 mando que se abra vista dos autos, sucessivamente, à recorrente e à

recorrida, para que, cada uma, no prazo de dez dias, apresente suas razões.

Com razões e contra-razões, subiram os autos.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Nilson Naves (Relator): Na sessão do dia 12 de maio, sugeri

à Turma que submetesse este processo à Seção, de acordo com o disposto no art.

14, inciso II, do nosso Regimento. Disse o seguinte, naquele momento, fl s. 168-

169 (lê).

2. No REsp n. 10.564, onde fi quei vencido, proferi esse voto:

Dizendo-se proprietária da marca “Panda”, quer a autora seja a ré compelida

a excluir de sua denominação social a palavra “Pandy”. A questão não chegou

a ter solução porque acolhida a prescrição. Controverte-se agora em torno do

seu prazo: de cinco anos, como afi rmaram as instâncias ordinárias, entendendo

tratar-se, o nome comercial, de propriedade, daí aplicável o referido art. 178, § 10,

inciso IX; de vinte anos, como quer a autora, considerando, no essencial, que, na

espécie, não se trata de propriedade, daí ter invocado o art. 177, quanto ao prazo

das ações pessoais.

2. Dentre os acórdãos trazidos para a demonstração do dissídio, a recorrente

citou o do RE n. 446.597, de 1961, Sr. Ministro Cândido Motta, com essa ementa:

“Ação para desfazer o mesmo nome registrado. Prescrição. Invocação de direito

comum, como subsidiário do comercial. Aplicação do art. 177 do Código Civil.

A ação não está prescrita”. Mas esse acórdão acabou reformado, em sessão

plenária, no julgamento dos embargos, relatados pelo Sr. Ministro Villas Boas,

Page 266: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

266

conforme essa ementa: “Embargos opostos a acórdão que, conhecendo do

recurso extraordinário, lhe deu provimento, para cassar decreto de prescrição

de ação legitimada pelo art. 3º, § 2º, do Decreto-Lei n. 2.627/1940. Recebimento.

A aplicação do art. 178, § 10, IX, do Código Civil, em lugar do art. 177 do mesmo

Código e do art. 442 do Código Comercial, não pode reputar-se ofensiva à letra da

lei, porque se apóia na teoria da propriedade do nome comercial, sustentada por

notáveis juristas, nomeadamente Carlos de Carvalho que a exprimia no Decreto

n. 916, de 1890, da sua lavra. Restabelecimento da decisão da Justiça local” (in

RTJ-20/270).

Quando dos embargos o que ficou entendido foi que não se poderia, no

julgamento do recurso extraordinário, ter-se por ofendido o art. 177, porquanto

a orientação local, ao aplicar o art. 178, § 10, inciso IX, dera, ao menos, razoável

interpretação à lei. Veja-se o que disse o Sr. Relator, ao fi nal de seu voto:

O meu voto, ainda agora com a latitude determinada pelo art. 101, III,

a, da Constituição, não concorda data venia, com a anulação do veredicto

da Justiça local, porque a antinomia entre este e o art. 177 do Código

Civil, pressuposto irrefragável do conhecimento e provimento do apelo

excepcional, só se esboçaria com o repúdio, por absurda, da teoria da

propriedade do nome comercial que, embora sujeita a controvérsia, é,

todavia, de lançamento muito fi rme.

De resto, verifi cada a prescrição por um texto federal, dentre alguns

que podiam ser invocados, convém a esta Corte Suprema, na órbita da sua

competência, se plenamente não a aprova, acatar a decisão proferida na

causa.

Assim, por este entendimento restrito que, de modo algum, signifi ca

uma defi nição, respeitosamente recebo os embargos.

3. O que interessa é que o acórdão dos embargos, conquanto tenha afi rmado

cuidar-se de matéria polêmica, ressaltou que a propriedade do nome comercial

possuía “lançamento muito firme”. Em conseqüência, duas coisas se me

apresentam: a difi culdade do recurso com base na alínea a; a falta de serventia

para o dissídio do RE n. 46.597, visto que alterado em grau de embargos.

4. Para o dissídio, a recorrente citou outros acórdãos, entre os quais dois

do Tribunal Federal de Recursos, do ano de 1971, Sr. Ministro Décio Miranda.

Um deles, a AC n. 29.655, com essa ementa: “Propriedade industrial. Nome da

empresa. Cabível ação cominatória para constranger à modifi cação do nome

colidente. O prazo de prescrição da ação é o da lei comum. Procedência da

ação”. Noutro, AC n. 31.021, afi rmou, em seu voto: “Não cogitando de prazo de

prescrição para a ação de mudança de nome a legislação específi ca, desde o art.

10, § 3º, do Decreto n. 916, de 24.10.1890, até o art. 3º, § 2º, do Decreto-Lei n.

2.267, de 26.10.1940, também dele não tratando Lei n. 4.726, de 18.07.1965, que

Page 267: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 237-282, julho 2010 267

mais se ateve à parte adjetiva do registro do comércio, é bem de ver que esse

prazo é o da lei comum, ou seja, o do art. 177 do Código Civil”.

5. Respeitáveis as duas posições. Pelo que andei lendo, a tendência é a de

acatar o prazo menor, com a qual me afeiçôo. Embora o Sr. Ministro Décio

Miranda tenha dito, na AC n. 31.021, que não era de se estranhar o prazo maior,

o certo é que tal prazo, como deixou entrever o Sr. Ministro Cunha Peixoto, em

passagem citada na RT n. 491/40, repugna as normas de comércio. No artigo

da RT 491, anotaram os seus autores Luiz e Thomás Leonardos: “A proteção

ao nome comercial, em sua função objetiva, como objeto de propriedade

industrial, pertence, assim, à mais aceita tradição no Direito brasileiro e encontra

amplo respaldo na própria Constituição Federal ao incluir, entre as garantias à

propriedade, a da exclusividade do nome comercial (art. 153, § 24)”.

6. Temos julgados, recentes, do Supremo Tribunal e já deste Superior Tribunal.

Ei-los, por suas ementas:

Recurso extraordinário. Nome comercial.

Em se tratando de nome fantasia, a propriedade há de ser reconhecida

a quem primeiro o registrou. Entretanto, a ação por violação a nome

comercial prescreve em cinco anos, de conformidade com entendimento

pelo Supremo Tribunal Federal no ERE n. 46.597 (RTJ 20/270) e a teor do art.

178, § 10, inciso IX, do Código Civil.

A autora propôs a ação seis anos depois da ré haver registrado o nome

fantasia semelhante, portanto, quando já ocorrera a prescrição.

Recurso da autora não conhecido e provido o recurso da ré (STF, RE n.

104.497, de 1990, Sr. Ministro Carlos Madeira).

Nome comercial. Ação de preceito cominatório, cumulada com pedido

de perdas e danos.

O direito sobre o nome comercial, segundo entendimento hoje

prevalecente na doutrina e na jurisprudência, constitui uma propriedade, à

semelhança do que ocorre com as marcas de fábrica e de comércio, motivo

pelo qual, em ações por violação de seu uso exclusivo, se aplica o lapso

prescricional previsto no art. 178, § 10, inciso IX, do Código Civil.

Recurso especial não conhecido. (STJ, REsp n. 4.055, de 1991, Sr. Ministro

Barros Monteiro).

7. Conheço pois do recurso especial, pela alínea c, mas lhe nego provimento.

3. Em meu voto, pelo visto, conhecia do recurso especial pela alínea c

e lhe negava provimento, adotando, em conseqüência, a prescrição regida

pelo art. 178, § 10, inciso IX. Apesar de ter ali ficado vencido, quero, no

Page 268: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

268

caso presente, reiterar o meu entendimento, data venia. Portanto, coloco-me

em divergência com o acórdão recorrido, onde o Tribunal mineiro adotou a

prescrição estabelecida no art. 177. O recurso especial é viável, a meu sentir,

por ambos os seus fundamentos. Dele conheço e lhe dou provimento, para

pronunciar a prescrição.

VOTO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Sr. Presidente, no precedente citado pelo

eminente Relator, o Sr. Ministro Nilson Naves, proferi voto e me permito lê-lo.

(Lê):

Está a questão em saber se aplicável à hipótese o prazo prescricional de que

cogita o art. 178, § 10, IX, do Código Civil, fi xando-o em cinco anos, quando se

trate de ofensa ou dano causado ao direito de propriedade.

Longamente se debateu sobre a natureza do direito do titular da marca,

discutindo-se quanto a ser possível classifi cá-lo como de propriedade.

Tenho para mim que como tal haverá de ser considerado, não subsistindo,

em relação ao tema, as dúvidas que existem quando se trata de nome comercial.

Abstenho-me, entretanto, de sobre a matéria deter-me mais longamente, uma

vez que, por outra razão, entendo não incidir a norma no caso ora em apreciação.

No julgamento do REsp n. 3.185, de que fui Relator, e que o recorrente fez

juntar aos autos, decidiu esta Turma que o citado dispositivo poderia aplicar-se

quando se cogitasse de ação de reparação do dano. Não, se objetivasse impedir

continuasse a violação do direito. Transcrevo trecho do voto que então proferi:

A aplicabilidade do item IX à espécie em exame sujeita-se a controvérsia.

De todo desnecessário, entretanto, dela cogitar neste julgamento. Refere-

se o dispositivo à pretensão relativa a dano na propriedade, já verifi cado.

Assim, a demanda que pleiteie indenização sujeita-se à prescrição

qüinqüenal, tendo como termo inicial a data em que se verifi cou o dano.

Ora, no caso em julgamento foi negado pedido de reparação, fundado em

perdas e danos. Cingiu-se a condenação a que se abstivesse a ré de futuras

violações ao direito da autora. Relativamente a isso não incide a norma

invocada.

Não é outra a autorizada opinião de Carpenter, a afi rmar que a prescrição de

que ali se cogita é da ação civil, “cujo fi m é a indenização do prejuízo causado a

quem sofreu dano na sua propriedade” (Da Prescrição, 3ª ed., Editora Nacional de

Direito, p. 716).

Page 269: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 237-282, julho 2010 269

Reputo indispensável a distinção, pena de chegar-se a conclusões inaceitáveis.

Tome-se o exemplo da ofensa à propriedade de um imóvel, que importasse

esbulho. Se o prazo prescricional é de cinco anos, signifi cará isso que, decorrido

o qüinqüênio, não mais poderá o proprietário reaver a posse? O absurdo da

resposta afirmativa foi salientado por Câmara Leal, conforme transcrito em

acórdão à fl . 253. Impossível concluir não pudesse o proprietário reivindicar o

bem. Isso envolveria a perda de um dos principais atributos da propriedade,

embora mais dilargado o prazo prescricional quando se trate de ação real.

Útil se me afi gura, discernir, no caso, como usualmente se admite em teoria

geral, entre direitos absolutos e relativos. Nos primeiros, oponíveis a todos,

incluem-se os reais. Os relativos vinculam determinadas pessoas. Podem nascer,

entre outras causas, da violação de um direito absoluto. Assim, o proprietário

tem direito de exigir, de todos, o respeito a sua propriedade. A prescrição rege-se

pelas normas pertinentes aos direitos reais. Violado, entretanto, aquele direito,

surge um outro, de pedir reparação do dano. Este, de natureza pessoal, tem prazo

de prescrição distinto.

Decorrido o prazo de cinco anos, prescreve o direito do proprietário da marca

de pleitear reparação dos danos que, do desrespeito a ele, lhe tenha advindo.

Dela, entretanto, não deixou de ser titular. Nem perdeu a propriedade seus

atributos. Poderá demandar sejam impedidas outras ofensas ou que cesse a

existente. O prazo prescricional será o das ações reais, como assinalado pelo

Desembargador Oliveira Leite, do egrégio Tribunal de Justiça de Minas, em

acórdão cuja cópia se encontra nos autos.

Adotando estes fundamentos e pedindo vênia ao eminente Relator, que

proferiu douto voto, conheço do recurso pelo dissídio, mas nego-lhe provimento.

VOTO

O Sr. Ministro Dias Trindade: Sr. Presidente, parece-me que a prescrição

é vintenária, porque não se trata de ação de dano, senão de ação para coibir uso

da marca.

Acompanho o eminente Ministro Eduardo Ribeiro, data venia do

Ministro-Relator.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Athos Carneiro: Cuida-se de ação promovida por

Vulcabrás S/A Indústria e Comércio contra Panda Serviços Esportivos S/C

Ltda, afi rmando-se a autora proprietária da marca nominativa ‘Panda’, com

Page 270: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

270

direito portanto de impedir que a demandada use da aludida marca em sua

denominação social; postula, destarte, a condenação da ré a excluir de seu nome

a expressão ‘Panda’, abstendo-se de usá-la como marca ou insígnia ou expressão

de propaganda, devendo outrossim compor perdas e danos. A ré invocou a

prescrição qüinqüenal, a teor do art. 178, § 10, IX, do Código Civil.

Em decisão de saneamento, o juiz rejeitou a argüida prescrição. Agravou

a demanda, sem êxito, interpôs, então, recurso extraordinário, convertido em

recurso especial. O eminente Relator, Ministro Nilson Naves, invocando voto

vencido que proferira no REsp n. 10.564, recorrente a mesma fi rma Vulcabrás,

entendeu que ocorrera a prescrição, conhecendo do recurso e ao mesmo dando

total provimento.

O eminente Ministro Eduardo Ribeiro igualmente reportou-se ao voto

prolatado no REsp n. 10.564, para conhecer do recurso pelo dissídio, mas negar-

lhe provimento.

Afi rmado hodiernamente que o direito à marca ou ao nome comercial

constitui direito de propriedade, impende verifi car se a esse direito aplica-se a

regra do art. 178, § 10, IX, do CC, e/ou em que limites ocorre tal incidência.

A egrégia Quarta Turma, no REsp n. 4.055, Relator o eminente Ministro

Barros Monteiro, alusivo à lide entre fi rmas proprietárias de nomes comerciais

contendo expressões similares, decidiu pela prescrição de ação de preceito

cominatório, cumulada com perdas e danos, sob a ementa seguinte:

Nome comercial. Ação de preceito cominatório, cumulada com pedido de

perdas e danos.

O direito sobre o nome comercial, segundo entendimento hoje prevalecente

na doutrina e na jurisprudência, constitui uma propriedade, à semelhança do que

ocorre com as marcas de fábrica e de comércio, motivo pelo qual, em ações por

violação de seu uso exclusivo, se aplica o lapso prescricional previsto no art. 178, §

10, inciso IX, do Código Civil.

Recurso especial não conhecido.

Ao voto do Relator aderiram, sem explicitações, os Ministros. Sálvio de

Figueiredo e Athos Carneiro, ausentes os Ministros. Bueno de Souza e Fontes

de Alencar.

Devo, todavia, reformular em parte a posição então adotada, pois restei

convencido pelos argumentos expendidos pelo eminente Ministro Eduardo

Ribeiro, como redator designado no REsp n. 10.564, a saber:

Page 271: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 237-282, julho 2010 271

Longamente se debateu sobre a natureza do direito do titular da marca,

discutindo-se quanto a ser possível classifi cá-lo como de propriedade.

Tenho para mim que como tal haverá de ser considerado, não subsistindo,

em relação ao tema, as dúvidas que existem quando se trata de nome comercial.

Abstenho-me, entretanto, de sobre a matéria deter-me mais longamente, uma

vez que, por outra razão, entendo não incidir a norma no caso ora em apreciação.

No julgamento do REsp n. 3.185, de que fui Relator, e que o recorrente fez

juntar aos autos, decidiu esta Turma que o citado dispositivo poderia aplicar-se

quando se cogitasse de ação de reparação do dano. Não, se objetivasse impedir

continuasse a violação do direito. Transcrevo trecho do voto que então proferi:

A aplicabilidade do item IX à espécie em exame sujeita-se a controvérsia.

De todo desnecessário, entretanto, dela cogitar neste julgamento. Refere-

se o dispositivo à pretensão relativa a dano na propriedade, já verifi cado.

Assim, a demanda que pleiteie indenização sujeita-se à prescrição

qüinqüenal, tendo como termo inicial a data em que se verifi cou o dano.

Ora, no caso em julgamento foi negado pedido de reparação, fundado em

perdas e danos. Cingiu-se a condenação a que se abstivesse a ré de futuras

violações ao direito da autora. Relativamente a isso não incide a norma

invocada.

Não é outra a autorizada opinião de Carpenter, a afi rmar que a prescrição de

que ali se cogita é da ação civil, “cujo fi m é a indenização do prejuízo causado a

quem sofreu dano na sua propriedade” (“Da Prescrição”, 3ª ed., Editora Nacional

de Direito, p. 716).

Reputo indispensável a distinção, pena de chegar-se a conclusões inaceitáveis.

Tome-se o exemplo da ofensa à propriedade de um imóvel, que importasse

esbulho. Se o prazo prescricional é de que cinco anos, significará isso que,

decorrido o qüinqüênio, não mais poderá o proprietário reaver a posse? O absurdo

da resposta afi rmativa foi salientado por Câmara Leal, conforme transcrito em

acórdão à fl . 253. Impossível concluir não pudesse o proprietário reivindicar o

bem. Isso envolveria a perda de um dos principais atributos da propriedade,

embora mais dilargado o prazo prescricional quando se trate de ação real.

Útil se me afi gura, discernir, no caso, como usualmente se admite em teoria

geral, entre direitos absolutos e relativos. Nos primeiros, oponíveis a todos,

incluem-se os reais. Os relativos vinculam determinadas pessoas. Podem nascer,

entre outras causas, da violação de um direito absoluto. Assim o proprietário

tem direito de exigir, de todos, o respeito a sua propriedade. A prescrição rege-se

pelas normas pertinentes aos direitos reais. Violado, entretanto, aquele direito,

surge um outro, de pedir reparação do dano. Este, de natureza pessoal, tem prazo

de prescrição distinto.

Page 272: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

272

Decorrido o prazo de cinco anos, prescreve o direito do proprietário da marca

de pleitear reparação dos danos que, do desrespeito a ele, tenha-lhe advindo.

Dela, entretanto, não deixou de ser titular. Nem perdeu a propriedade seus

atributos. Poderá demandar sejam impedidas outras ofensas ou que cesse a

existente. O prazo prescricional será o das ações reais, como assinalado pelo

Desembargador Oliveira Leite, do egrégio Tribunal de Justiça de Minas, em

acórdão cuja cópia se encontra nos autos.

O eminente Ministro Cláudio Santos, no mesmo julgamento do REsp n.

10.564, tendo pedido vista, aderiu ao voto do Ministro Eduardo Ribeiro, com as

seguintes conclusões:

“Decorrido o prazo de cinco anos, prescreve o direito do proprietário da

marca de pleitear reparação dos danos que, do desrespeito a ele, lhe tenha

advindo. Dela, entretanto, não deixou de ser titular, nem perdeu a propriedade

seus atributos. Poderá demandar sejam impedidas outras ofensas ou que cesse a

existente”.

Concluo aqui a reprodução do voto do eminente Sr. Ministro Eduardo

Ribeiro, pedindo vênia ao eminente Sr. Ministro-Relator para filiar-me a esse

entendimento. Compreendendo-se a relação como de direito de propriedade,

parece-me que outra não poderá ser a solução, senão esta, de admitir-se a

prescrição para a reparação do dano, mas sem que isso importe em perda do

direito de propriedade do titular da marca — no caso a marca ‘Panda’, utilizada

por outra empresa em sua denominação social como ‘Pandy’, nomes facilmente

confundíveis.

Entendo que não está prescrito, data venia, o direito para o titular da marca

reivindicar que outra empresa não utilize esta marca, seja em qualquer produto,

ou no próprio nome comercial.

Pelo exposto, adotando tais fundamentos e reformulando anterior

orientação, acompanho o magistério dos votos majoritários na egrégia Terceira

Turma, para entender prescrita, nos termos do art. 178, § 10, IX, do Código

Civil, apenas a pretensão às perdas e danos ocorrentes até a data da citação

inicial, e para declarar não prescritas as pretensões com pedido cominatório. Isso

importa em conhecer do recurso e dar-lhe provimento apenas parcial.

É o voto.

Page 273: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 237-282, julho 2010 273

RETIFICAÇÃO DE VOTO

O Sr. Ministro Dias Trindade: Sr. Presidente, peço que se retifi que o meu

voto, pois estou de inteiro acordo com o Ministro Athos Carneiro que votou no

sentido de conhecer do recurso e dar-lhe provimento parcial.

RETIFICAÇÃO DE VOTO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Sr. Presidente, estou de pleno acordo com

as conclusões do eminente Ministro Athos Carneiro, que são perfeitamente

coerentes com o entendimento que tenho. Parece-me, aliás, que o Sr. Ministro

Dias Trindade perfi lha o mesmo entendimento. Está prescrito o direito de

pleitear a reparação de danos que se houverem verifi cado antes do qüinqüênio e

não mais do que isso.

Peço que retifi que minha conclusão, que é no sentido de conhecer do

recurso e dar-lhe parcial provimento.

VOTO

O Sr. Ministro Barros Monteiro: Sr. Presidente, com a vênia, mantenho a

posição adotada, quando do julgamento do Recurso Especial n. 4.055, de que

fui Relator, entendendo que a prescrição abrange também as pretensões relativas

ao preceito cominatório.

Acompanho o Sr. Ministro Nilson Naves.

VOTO-VOGAL

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: Sr. Presidente, assim como manifestado

na Terceira Turma, peço vênia ao eminente Ministro-Relator para acompanhar

os votos proferidos pelos eminentes Ministros Eduardo Ribeiro, Dias Trindade

e Athos Carneiro.

VOTO-VOGAL

O Sr. Ministro Fontes de Alencar: Acompanho o voto do eminente

Ministro Eduardo Ribeiro.

Page 274: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

274

VOTO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo: Acompanho o voto do Sr. Ministro

Eduardo Ribeiro e dos que se seguiram na mesma direção.

RECURSO ESPECIAL N. 26.752-SP

Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo

Recorrentes: Marchesan Implementos e Máquinas Agrícolas Tatu S/A e

outro

Advogados: Lanir Orlando e outros

Recorrida: Marchesan — Defensivos e Aplicações Ltda

Advogados: Walter Rodrigues de Rezende Junior e outro

EMENTA

Civil. Prescrição. Ação de abstenção do uso de marca. Arts. 177

e 178, § 10, IX, CC. Precedentes. Recurso provido.

O lapso qüinqüenal de prescrição previsto no art. 178, § 10, IX,

do Código Civil, somente se aplica, no âmbito do Direito Comercial,

às ações por meio das quais se busca reparação pelo uso indevido de

marca ou nome comercial.

Aquelas em que se pretenda a mera abstenção, a cessação do uso,

porque em essência ações reais, se sujeitam à disciplina do art. 177 do

mesmo diploma legal.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso. Votaram

com o Relator os Ministros Barros Monteiro e Fontes de Alencar. Ausentes,

ocasionalmente, os Ministros Bueno de Souza e Athos Carneiro.

Page 275: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 237-282, julho 2010 275

Brasília (DF), 15 de junho de 1993 (data do julgamento).

Ministro Fontes de Alencar, Presidente

Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Relator

DJ 09.08.1993

EXPOSIÇÃO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo: Marchesan Implementos e Máquinas

Agrícolas Tatu S/A e outra ajuizaram ação ordinária de preceito cominatório,

contra Marchesan Defensivos e Aplicações Ltda, objetivando compelir a ré a

retirar a expressão “Marchesan” de sua denominação social e desistir do pedido

de registro de marca junto ao INPI.

O juiz, acolhendo, em parte, a postulação, determinou à ré excluísse referida

expressão de seu nome comercial, bem como se abstivesse do uso da mesma

como marca, título de estabelecimento ou insígnia.

O Tribunal de Justiça de São Paulo, apreciando apelação interposta pela

suplicada, deu-lhe provimento, acolhendo preliminar de prescrição suscitada

com base no art. 178, § 10, IX, do Código Civil.

O voto condutor do acórdão, da relatoria do Des. Barbosa Pereira, no que

interessa, está assim fundamentado:

Não se pode confundir marca de indústria ou de comércio com o nome

comercial ou denominação social, pois a primeira constitui o sinal distintivo

de determinado produto ou mercadoria, enquanto que o segundo serve para

designar a pessoa do comerciante ou a empresa. Tanto é assim que o art. 119 do

Código de Propriedade Industrial exclui da sua proteção o nome comercial ou de

empresa e o título de estabelecimento.

Entretanto, no que concerne à prescrição, os dois conceitos se confundem,

já que tanto o nome como a marca são objeto de direito de propriedade, sendo

expresso, com relação à marca, o art. 59 do mesmo Código. Incide, portanto,

a regra do art. 178, § 10, inciso IX, do Código Civil, segundo o qual prescreve

em cinco anos a ação por ofensa ou dano causados ao direito de propriedade;

contado da data em que se deu a mesma ofensa ou dano.

Alegam as autoras, em recurso especial, contrariedade ao art. 177 do

Código Civil, argumentando não ser objeto da ação intentada o de apurar

Page 276: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

276

danos, mas sim o de proteger o seu direito de exclusividade de uso da marca

“Marchesan”.

Traz à colação acórdão do extinto Tribunal Federal de Recursos e dos

Tribunais de Justiça do Rio de Janeiro e São Paulo buscando demonstrar

divergência interpretativa em relação ao tema.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo (Relator): A ação de que se trata visa à

proteção do direito de exclusividade de uso de marca.

As sociedades-autoras possuem registros, junto ao INPI, datados de 1981

e 1982, de sua marca “Marchesan”, e ao longo dos anos vêm atuando no ramo

de fabricação e comercialização de implementos, máquinas e produtos agrícolas.

A empresa-ré, por seu turno, que veio a se constituir em 1984, tendo por

objeto social a exploração de defensivos agrícolas, traz ínsita, como característica

principal de sua denominação social, a expressão “Marchesan”.

O que pretendem as autoras é unicamente seja imposta à ré, ora recorrida,

obrigação de excluir de seu nome comercial referida expressão, bem como

de cessar sua utilização como marca, título de estabelecimento, insígnia ou

qualquer outro sinal distintivo. Não buscam reparação de danos pelo uso

indevido, hipótese em que, aí sim, teria aplicabilidade o disposto no art. 178, §

10, inciso IX, do Código Civil.

In casu, como sustentado pelas recorrentes, tem incidência a regra geral

relativa à prescrição, insculpida no art. 177 do mesmo diploma.

Neste sentido decidiu a Terceira Turma deste Tribunal, quando do

julgamento do REsp n. 10.564-SP:

Marca. Violação. Prescrição.

O prazo prescricional de que cuida o art. 178, § 10, IX, do Código Civil é aplicável

quando se trate do direito à reparação do dano, decorrente do desrespeito ao

direito do titular da marca. Não à ação em que intente fazer cessar a violação.

Do voto condutor do acórdão, da lavra do Sr. Ministro Eduardo Ribeiro,

reproduzo excerto que bem demonstra a orientação adotada:

Page 277: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 237-282, julho 2010 277

No julgamento do REsp n. 3.185, de que fui Relator, e que o recorrente fez

juntar aos autos, decidiu esta Turma que o citado dispositivo (art. 178, § 10, IX,

CC) poderia aplicar-se quando se cogitasse de ação de reparação do dano. Não, se

objetivasse impedir continuasse a violação do direito. Transcrevo trecho do voto

que então proferi:

A aplicabilidade do item IX à espécie em exame sujeita-se a controvérsia.

De todo desnecessário, entretanto, dela cogitar neste julgamento. Refere-

se o dispositivo à pretensão relativa a dano na propriedade, já verifi cado.

Assim, a demanda que pleiteie indenização sujeita-se à prescrição

qüinqüenal, tendo como termo inicial a data em que se verifi cou o dano.

Ora, no caso em julgamento foi negado pedido de reparação, fundado em

perdas e danos. Cingiu-se a condenação a que se abstivesse a ré de futuras

violações ao direito da autora. Relativamente a isso não incide a norma

invocada.

Não é outra a autorizada opinião de Carpenter, a afi rmar que a prescrição de

que ali se cogita é da ação civil, “cujo fi m é a indenização do prejuízo causado a

quem sofreu dano na sua propriedade” (“Da Prescrição”, 3ª ed., Editora Nacional

de Direito, p. 716).

Reputo indispensável a distinção, pena de chegar-se a conclusões inaceitáveis.

Tome-se o exemplo da ofensa à propriedade de um imóvel, que importasse

esbulho. Se o prazo prescricional é de cinco anos, signifi cará isso que, decorrido

o qüinqüênio, não mais poderá o proprietário reaver a posse? O absurdo da

resposta afirmativa foi salientado por Câmara Leal, conforme transcrito em

acórdão à fl . 253. Impossível concluir não pudesse o proprietário reivindicar o

bem. Isso envolveria a perda de um dos principais atributos da propriedade,

embora mais dilargado o prazo prescricional quando se trate de ação real.

Útil se me afi gura, discernir, no caso, como usualmente se admite em teoria

geral, entre direitos absolutos e relativos. Nos primeiros, oponíveis a todos,

incluem-se os reais. Os relativos vinculam determinadas pessoas. Podem nascer,

entre outras causas, da violação de um direito absoluto. Assim o proprietário

tem direito de exigir, de todos, o respeito a sua propriedade. A prescrição rege-se

pelas normas pertinentes aos direitos reais. Violado, entretanto, aquele direito,

surge um outro, de pedir reparação do dano. Este, de natureza pessoal, tem prazo

de prescrição distinto.

Decorrido o prazo de cinco anos, prescreve o direito do proprietário da marca

de pleitear reparação dos danos que, do desrespeito a ele, lhe tenha advindo.

Dela, entretanto, não deixou de ser titular. Nem perdeu a propriedade seus

atributos. Poderá demandar sejam impedidas outras ofensas ou que cesse a

existente. O prazo prescricional será o das ações reais, como assinalado pelo

Desembargador Oliveira Leite, do egrégio Tribunal de Justiça de Minas, em

acórdão cuja cópia se encontra nos autos.

Page 278: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

278

Comungo, às inteiras, desse entendimento. Apenas a ação indenizatória,

por meio da qual se busque reparação pelo indevido uso de marca, está sujeita

ao lapso qüinqüenal. Não assim a ação que vise à abstenção, à cessação do uso,

porque em essência ação real, destinada à defesa do direito de propriedade da

marca, oponível erga omnes. Aplicável, em casos tais, o disposto no art. 177, CC,

cuja aplicação foi negada pelo v. acórdão recorrido.

No que toca ao alegado dissenso pretoriano, reputo-o devidamente

demonstrado apenas em relação ao aresto do extinto Tribunal Federal de

Recursos, que sufragou tese no sentido de que “o prazo de prescrição para a ação

de mudança de nome... é o da lei comum, ou seja, o do art. 177 do Código Civil”.

Conquanto esse paradigma tenha vindo aos autos por cópia não devidamente

autenticada, dela constou indicação do Diário da Justiça em que publicado, o

mesmo não se tendo verifi cado relativamente ao julgado do Tribunal de Justiça

do Rio de Janeiro, da mesma forma carreado por cópia despida da necessária

autenticação. Já o aresto emanado do mesmo Tribunal de Justiça de São Paulo,

prolator da decisão recorrida, não se presta a lavrar a divergência (Enunciado n.

13 da Súmula-STJ).

Em face do exposto, conhecendo do recurso por ambos os fundamentos,

dou-lhe provimento para, afastada a ocorrência da prescrição, determinar

prossiga a egrégia Câmara julgadora no exame das demais questões devolvidas

ao seu conhecimento.

VOTO

O Sr. Ministro Barros Monteiro: Sr. Presidente, já sufraguei orientação

semelhante àquela adotada pelo acórdão recorrido. Todavia, em sentido oposto

já assentou a Segunda Seção deste Tribunal em julgamento ocorrido no ano

passado (REsp n. 19.355-0-MG, rel. para o acórdão Min. Eduardo Ribeiro).

Por essa razão, rendendo-me à diretriz adotada pela Seção referida,

acompanho o eminente Relator.

RECURSO ESPECIAL N. 34.983-SP

Relator: Ministro Fontes de Alencar

Page 279: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 237-282, julho 2010 279

Recorrentes: Oeste Dental Ltda e outro

Recorrida: ICI Brasil S/A

Advogados: Lanir Orlando e outro, e Luiz Leonardos e outros

EMENTA

Direito de propriedade. Dano. Prescrição. Abstenção do uso de

marca.

A ação para reparação do dano pelo uso indevido de marca

prescreve em cinco anos; àquela que visa à cessação do seu uso aplica-

se o lapso previsto no art. 177 do Código Civil.

Súmula n. 80 do STJ.

Matéria de fato. Súmula n. 7 do STJ.

Recurso especial não conhecido.

Unânime.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram com

o Relator os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo, Barros Monteiro, Antônio

Torreão Braz e Dias Trindade, convocado nos termos do art. 1º da Emenda

Regimental 3/1993.

Brasília (DF), 13 de dezembro de 1993 (data do julgamento).

Ministro Fontes de Alencar, Presidente e Relator

DJ 21.02.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Fontes de Alencar: Trata-se de ação ordinária proposta por

ICI Brasil S/A contra Oeste Dental Ltda e Dencril Comércio e Indústria de Plástico

Page 280: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

280

Ltda, objetivando a obtenção do uso da marca “Polycron”, além de indenização

pelo prejuízo causado.

A egrégia Primeira Câmara Civil do Tribunal de Justiça do Estado de

São Paulo afastou a matéria prescricional, mantendo a sentença que julgara

parcialmente procedente a ação, pelos seguintes fundamentos:

O MM. Juiz bem decidiu a questão quanto à prescrição da ação, pois, de fato

a posição jurisprudencial que prevalece é a de que “O direito sobre a marca

de fábrica e de comércio constitui uma propriedade”, aplicando-se, portanto o

prazo prescricional do art. 178, § 10, IX, do Código Civil, já que a empresa Dencril

tem divulgado desde 30.11.1983 a utilização da marca “Polycron” (fl . 411), não

cabendo, assim, almejada indenização, quanto a perdas e danos, pois sequer

fi caram demonstrados.

Quanto à abstenção do uso da marca “Polycron” não cabe a aplicação do artigo

já mencionado, por não se tratar, nesta parte, de ofensa a dano causado ao direito

de propriedade, mas sim de abstenção do uso da marca em questão, aplicando-

se, assim, a regra do art. 177 do Código Civil (“ações pessoais prescrevem,

ordinariamente, em 20 anos, ...”).

Não há também, como acolher a carência da ação quanto à primeira ré, pois,

esta deveria ter deixado de usar a marca ao menos quando de sua citação para

responder a ação.

No mérito, a procedência da ação é de rigor, haja vista que a marca “Polykron”

e a “Polycron” podem causar confusão ao consumidor, pois a pequena diferença

está na escrita de uma única letra, diferença esta não identifi cada auditivamente.

(Fls. 555 a 556)

Inconformados, os recorrentes manifestaram recurso especial com fulcro

no art. 105, III, a e c, da Constituição Federal, alegando violação do art. 178,

§ 10, inciso IX, do Código Civil, além de dissídio jurisprudencial, por não ter

o acórdão reconhecido também a prescrição referente à ação para abstenção

do uso da marca; argüiram, ainda carência da ação e disseram que as marcas

“Polykron” e “Polycron” estão incluídas em classe diversa.

Pelo despacho de fl s. 639 a 640 o recurso foi admitido.

VOTO

O Sr. Ministro Fontes de Alencar (Relator): As instâncias ordinárias ao

julgarem parcialmente procedente a ação, consideraram que quanto ao pedido

de perdas e danos a ação acha-se prescrita, nos termos do art. 178, § 10,

Page 281: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 237-282, julho 2010 281

inciso IX, do Código Civil, porém com relação a abstenção do uso da marca a

prescrição não se consumara, por ser o lapso de 20 anos.

Tal entendimento está pacifi cado consoante se percebe do julgamento do

REsp n. 19.355, relatado pelo Ministro Eduardo Ribeiro, perante a Segunda

Seção, de que resultou acórdão assim ementado:

Marca. Violação. Prescrição.

O prazo prescricional de que cuida o art. 178, § 10, inciso IX, do Código

Civil é aplicável quando se trate do direito à reparação do dano, decorrente do

desrespeito ao direito do titular da marca. Não à ação em que se intente fazer

cessar a violação. (Fl. 595)

Em caso idêntico, também se pronunciou esta Turma, no REsp n. 12.592,

relatado pelo Ministro Sálvio de Figueiredo, em cujo voto se lê:

(...) Apenas a ação indenizatória por meio da qual se busque reparação pelo

indevido uso de marca está sujeita ao lapso qüinqüenal. Não assim a ação que

vise à abstenção, à cessação do uso, porque em essência ação real, destinada à

defesa do direito de propriedade da marca, oponível erga omnes. Aplicável, em

casos tais, o disposto no art. 177, CC.

Inocorreu, pois, a invocada afronta ao art. 178, § 10, inciso IX, CC, a cuja

disciplina não se submete a hipótese vertente.

Neste particular, não ocorre afronta à lei federal.

A alegação de dissídio pretoriano, por sua vez, não logra êxito, pois os

paradigmas trazidos à colação acham-se superados, em face do posicionamento

da Segunda Seção deste Tribunal. Há no caso incidência da Súmula n. 80 do

STJ.

Quanto à alegância de carência da ação ao argumento de que:

não existe qualquer comprovação nos autos de que a primeira ré tenha

continuado a comercializar artigos/produtos, fabricados pela segunda ré, (fl . 570).

Nítido é o caráter de reexame da matéria fática.

Aliás, o acórdão ao repelir a preliminar correspondente registrou:

Não há também, como acolher a carência de ação, quanto à primeira ré, pois,

esta deveria ter deixado de usar a marca ao menos quando de sua citação para

responder a ação (fl . 556).

Page 282: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

282

Neste aspecto, a incidência da Súmula n. 7-STJ é de rigor.

Finalmente, trazem os recorrentes alguns julgados para sustentar que

estando as marcas “Polykron” das recorrentes e “Polycron” da recorrida, incluídas

em classes diversas, nada impede o registro da marca.

Os arestos colacionados não prestam para a caracterização do dissenso

pretoriano, porquanto não guardam similitude ou identidade com a situação

fática dos autos.

Para tanto, basta a transcrição do seguinte trecho da sentença:

Forçoso é reconhecer, igualmente, que, a despeito da destinação final do

produto fabricado ser distinta, o produto químico é o mesmo (resina acrílica),

podendo causar, por evidente, confusão ao público consumidor, que, em última

análise, associa a marca ao produtor ou fabricante.

Desse modo, merece proteção o fabricante, proprietário de marca, para

distinguir produto, mercadoria ou mesmo serviço, que seja semelhante, relativo

ou afi m, ao mesmo ramo de atividade. (Fl. 491)

Registre-se que a argüição de dissenso de jurisprudência já fora repelida

quando do juízo prévio de admissibilidade (fl . 40).

Destarte, não conheço do presente recurso.

Page 283: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

Súmula n. 143

Page 284: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 285: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULA N. 143

Prescreve em cinco anos a ação de perdas e danos pelo uso de marca

comercial.

Referências:

CC/1916, art. 178, § 10, IX.

Lei n. 5.772/1971, art. 59.

Precedentes:

REsp 10.564-SP (3ª T, 26.11.1991 — DJ 09.03.1992)

REsp 19.355-MG (2ª S, 28.10.1992 — DJ 1º.02.1993)

REsp 26.752-SP (4ª T, 15.06.1993 — DJ 09.08.1993)

REsp 34.983-SP (4ª T, 13.12.1993 — DJ 21.02.1994)

Segunda Seção, em 14.06.1995

DJ 23.06.1995, p. 19.648

Page 286: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 287: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

RECURSO ESPECIAL N. 10.564-SP (91.0008263-5)

Relator: Ministro Nilson Naves

Relator designado: Ministro Eduardo Ribeiro

Recorrente: Vulcabrás S/A — Ind. Com.

Recorrida: Pandy Confecções Indústria e Comércio Ltda

Advogados: Waldemar Álvaro Pinheiro e outros e Meire Ribeiro

Cambraia e outros

EMENTA

Marca. Violação. Prescrição.

O prazo prescricional de que cuida o art. 178, § 10, IX, do

Código Civil é aplicável quando se trate do direito à reparação do

dano, decorrente do desrespeito ao direito do titular da marca. Não à

ação em que intente fazer cessar a violação.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer

do recurso especial e, por maioria, dar-lhe provimento, na forma do relatório e

notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do

presente julgado.

Brasília (DF), 26 de novembro de 1991 (data do julgamento).

Ministro Nilson Naves, Presidente

Ministro Eduardo Ribeiro, Relator designado

DJ 09.03.1992

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Nilson Naves: Em ação de modifi cação de nome comercial,

intentada por Vulcabrás S/A Indústria e Comércio contra Pandy Confecções

Page 288: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

288

Indústria e Comércio Ltda, as instâncias ordinárias acolheram a prescrição do

art. 178, § 10, inciso IX, do Código Civil. Veja-se o acórdão do Tribunal de

Justiça de São Paulo, reproduzindo os fundamentos de outro julgado do mesmo

Tribunal:

Esta colenda Câmara, reiteradamente, tem sustentado ser qüinqüenal, nos

termos do art. 178, § 10, item IX, do Código Civil, o prazo prescricional relativo à

violação do “nome comercial” (cf. Apelação Cível n. 40.372-1, de Campinas).

Com efeito, na Apelação Cível n. 263.011, de Jundiaí, julgada em 11.10.1977,

sendo Relator o Desembargador Almeida Camargo (RT, vol. 510/84), ao enfrentar

a questão, esta colenda Câmara, com base na lição da doutrina e da jurisprudência

ditada pelo Excelso Pretório, confirmou o entendimento de que, apesar da

divergência entre os doutos, prevalece hoje a posição pela qual o direito sobre o

“nome comercial” constitui uma propriedade, à semelhança do que ocorre com

o direito sobre marcas de fábrica e do comércio, motivo pelo qual, em temas de

ações por violação ao “nome comercial” aplica-se o prazo prescricional de cinco

anos, que vem previsto no art. 178, § 10, item IX, do Código Civil.

Aliás, a colenda Sexta Câmara Civil asseverou que a ação ordinária de

abstenção do uso de nome comercial tinha um prazo de decadência de seis

meses a que aludia o art. 10, item II, do Decreto n. 1.236, de 1904, certo que o

Código da Propriedade Industrial disciplinou de outro modo a questão e concede

ação de nulidade no prazo de cinco anos, contados da data da expedição do

registro inicial do nome comercial (art. 156, § 1º, do Decreto-Lei n. 7.903, de 1945),

conforme precedente que indicou no seu acórdão unânime, em 15.06.1962, na

Apelação Cível n. 115.008, de São Paulo, Relator o Desembargador Martiniano de

Azevedo.

Esse entendimento foi reiterado, mais recentemente, pela mesma colenda

Sexta Câmara Civil, ao, por votação unânime, quanto à questão do lapso

prescricional, afi rmar inocorrer a pretendida prescrição, porque, “o direito sobre

o nome comercial, apesar da divergência doutrinária, constitui um direito de

propriedade e sujeita-se, portanto, ao lapso prescricional do art. 178, § 10, inciso

IX, do Código Civil”. Assim se manifestou a jurisprudência do colendo Supremo

Tribunal Federal, no julgamento de Embargos ao Recurso Extraordinário n.

46.579, em 16.10.1960: “aplicação do art. 178, § 10, inciso IX, do Código Civil,

em lugar do art. 177 do mesmo Código e do art. 442 do Código Comercial, não

pode reputar-se ofensivo à letra da lei, porque se apóia na teoria da propriedade

do nome comercial, sustentada por notáveis juristas nomeadamente Carlos de

Carvalho, que a exprimiu no Decreto n. 916, de 1880, de sua lavra” (do voto do

Desembargador Ferreira Prado na Apelação Cível n. 15.812-1, de São Paulo, em

17.10.1981, RJTJESP, Ed. LEX, vol. 77/187).

Assim, também, tem entendido a colenda Quinta Câmara Civil ao sustentar

que a prescrição, na ação para proteção do “nome comercial” é qüinqüenal,

Page 289: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 283-315, julho 2010 289

nos termos do art. 178, § 10, item IX, do Código Civil, razão pela qual deve ser

pronunciada na hipótese da demanda ser intentada, como é o caso destes autos,

após o qüinqüênio contado da data do arquivamento dos atos constitutivos

da ré (acórdão unânime nos Embargos Infringentes n. 286.425, de Campinas,

em 11.12.1980, Relator Desembargador Nogueira Garcez, RJTJESP, Ed. LEX, vol.

70/228).

2. A autora interpôs recurso especial: pela alínea a, alega que o acórdão

recorrido violou o art. 177 do Código Civil (“que estabelece prazo vintenário

para a prescrição de ações pessoais, como a presente”); pela alínea c, aponta

dissídio com julgados do STF, TFR e de outros tribunais.

3. Admitido, veio o recurso ter ao Superior Tribunal de Justiça.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Nilson Naves (Relator): Dizendo-se proprietária da marca

“Panda”, quer a autora seja a ré compelida a excluir de sua denominação social

a palavra “Pandy”. A questão não chegou a ter solução porque acolhida a

prescrição. Controverte-se agora em torno do seu prazo: de cinco anos, como

afi rmaram as instâncias ordinárias, entendendo tratar-se, o nome comercial,

de propriedade, daí aplicável o referido art. 178, § 10, inciso IX; de vinte anos,

como quer a autora, considerando, no essencial, que, na espécie, não se trata de

propriedade, daí ter invocado o art. 177, quanto ao prazo das ações pessoais.

2. Dentre os acórdãos trazidos para a demonstração do dissídio, a recorrente

citou o do RE n. 46.597, de 1961, Sr. Ministro Cândido Motta, com essa

ementa: “Ação para desfazer o mesmo nome registrado. Prescrição. Invocação de

direito comum, como subsidiário do comercial. Aplicação do art. 177 do Código

Civil. A ação não está prescrita”. Mas esse acórdão acabou reformado, em sessão

plenária, no julgamento dos embargos, relatados pelo Sr. Ministro Villas Boas,

conforme essa ementa: “Embargos opostos a acórdão que, conhecendo do

recurso extraordinário, lhe deu provimento, para cassar decreto de prescrição de

ação legitimada pelo art. 3º, § 2º, do Decreto-Lei n. 2.627/1940. Recebimento.

A aplicação do art. 178, § 10, IX, do Código Civil, em lugar do art. 177 do

mesmo Código e do art. 442 do Código Comercial, não pode reputar-se

ofensiva à letra da lei, porque se apóia na teoria da propriedade do nome

comercial, sustentada por notáveis juristas, nomeadamente Carlos de Carvalho

Page 290: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

290

que a exprimia no Decreto n. 916 de 1890, da sua lavra. Restabelecimento da

decisão da Justiça local” (in RTJ-20/270).

Quando dos embargos o que fi cou entendido foi que não se poderia, no

julgamento do recurso extraordinário, ter-se por ofendido o art. 177, porquanto

a orientação local, ao aplicar o art. 178, § 10, inciso IX, dera, ao menos, razoável

interpretação à lei. Veja-se o que disse o Sr. Relator, ao fi nal de seu voto:

O meu voto, ainda agora com a latitude determinada pelo art. 101, III, a, da

Constituição, não concorda data venia, com a anulação do veredicto da Justiça

local, porque a antinomia entre este e o art. 177 do Código Civil, pressuposto

irrefragável do conhecimento e provimento do apelo excepcional, só se esboçaria

com o repúdio, por absurda, da teoria da propriedade do nome comercial que,

embora sujeita a controvérsia, é, todavia, de lançamento muito fi rme.

De resto, verificada a prescrição por um texto federal, dentre alguns

que podiam ser invocados, convém a esta Corte Suprema, na órbita da sua

competência, se plenamente não a aprova, acatar a decisão proferida na causa.

Assim, por este entendimento restrito que, de modo algum, signifi ca uma

defi nição, respeitosamente recebo os embargos.

3. O que interessa é que o acórdão dos embargos, conquanto tenha

afi rmado cuidar-se de matéria polêmica, ressaltou que a propriedade do nome

comercial possuía “lançamento muito fi rme”. Em conseqüência, duas coisas se

me apresentam: a difi culdade do recurso com base na alínea a; a falta de serventia

para o dissídio do RE n. 46.597, visto que alterado em grau de embargos.

4. Para o dissídio, a recorrente citou outros acórdãos, entre os quais dois

do Tribunal Federal de Recursos, do ano de 1971, Sr. Ministro Décio Miranda.

Um deles, a AC n. 29.655, com essa ementa: “Propriedade industrial. Nome da

empresa. Cabível ação cominatória para constranger à modifi cação do nome

colidente. O prazo de prescrição da ação é o da lei comum. Procedência da

ação”. Noutro, AC n. 31.021, afi rmou, em seu voto: “Não cogitando de prazo de

prescrição para a ação de mudança de nome a legislação específi ca, desde o art.

10, § 3º, do Decreto n. 916, de 24.10.1890, até o art. 3º, § 2º do Decreto-Lei n.

2.627, de 26.10.1940, também dele não tratando Lei n. 4.726, de 18.07.1965,

que mais se ateve à parte adjetiva do registro do comércio, é bem de ver que esse

prazo é o da lei comum, ou seja, o do art. 177 do Código Civil”.

5. Respeitáveis as duas posições. Pelo que andei lendo, a tendência é a de

acatar o prazo menor, com a qual me afeiçôo. Embora o Sr. Ministro Décio

Miranda tenha dito, na AC n. 31.021, que não era de se estranhar o prazo maior,

Page 291: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 283-315, julho 2010 291

o certo é que tal prazo, como deixou entrever o Sr. Ministro Cunha Peixoto, em

passagem citada na RT n. 491/40, repugna as normas de comércio. No artigo da

RT n. 491, anotaram os seus autores Luiz e Th omás Leonardos: “A proteção ao

nome comercial, em sua função objetiva, como objeto de propriedade industrial,

pertence, assim, à mais aceita tradição no Direito brasileiro e encontra amplo

respaldo na própria Constituição Federal ao incluir, entre as garantias à

propriedade, a da exclusividade do nome comercial (art. 153, § 24)”.

6. Temos julgados, recentes, do Supremo Tribunal e já deste Superior

Tribunal. Ei-los, por suas ementas:

Recurso extraordinário. Nome comercial. Em se tratando de nome fantasia,

a propriedade há de ser reconhecida a quem primeiro o registrou. Entretanto, a

ação por violação a nome comercial prescreve em cinco anos, de conformidade

com entendimento pelo Supremo Tribunal Federal no ERE n. 46.597 (RTJ 20/270) e

a teor do art. 178, § 10, inciso IX, do Código Civil.

A autora propôs a ação seis anos depois da ré haver registrado o nome fantasia

semelhante, portanto, quando já ocorrera a prescrição.

Recurso da autora não conhecido e provido o recurso da ré (STF, RE n. 104.497,

de 1990, Sr. Ministro Carlos Madeira).

Nome comercial. Ação de preceito cominatório, cumulada com pedido de

perdas e danos.

O direito sobre o nome comercial, segundo entendimento hoje prevalecente

na doutrina e na jurisprudência, constitui uma propriedade, à semelhança do que

ocorre com as marcas de fábrica e de comércio, motivo pelo qual, em ações por

violação de seu uso exclusivo, se aplica o lapso prescricional previsto no art. 178, §

10, inciso IX, do Código Civil.

Recurso especial não conhecido. (STJ, REsp n. 4.055, de 1991, Sr. Ministro Barros

Monteiro)

7. Conheço, pois, do recurso especial, pela alínea c, mas lhe nego

provimento.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Está a questão em saber se aplicável à

hipótese o prazo prescricional de que cogita o art. 178, § 10, IX, do Código

Civil, fi xando-o em cinco anos, quando se trate de ofensa ou dano causado ao

direito de propriedade.

Page 292: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

292

Longamente se debateu sobre a natureza do direito do titular da marca,

discutindo-se quanto a ser possível classifi cá-lo como de propriedade.

Tenho para mim que como tal haverá de ser considerado, não subsistindo,

em relação ao tema, as dúvidas que existem quando se trata de nome comercial.

Abstenho-me, entretanto, de sobre a matéria deter-me mais longamente, uma

vez que, por outra razão, entendo não incidir a norma no caso ora em apreciação.

No julgamento do REsp n. 3.185, de que fui relator, e que o recorrente fez

juntar aos autos, decidiu esta Turma que o citado dispositivo poderia aplicar-se

quando se cogitasse de ação de reparação do dano. Não, se objetivasse impedir

continuasse a violação do direito. Transcrevo trecho do voto que então proferi:

A aplicabilidade do item IX à espécie em exame sujeita-se a controvérsia.

De todo desnecessário, entretanto, dela cogitar neste julgamento. Refere-se o

dispositivo à pretensão relativa a dano na propriedade, já verifi cado. Assim, a

demanda que pleiteie indenização sujeita-se à prescrição qüinqüenal, tendo

como termo inicial a data em que se verifi cou o dano. Ora, no caso em julgamento

foi negado pedido de reparação, fundado em perdas e danos. Cingiu-se a

condenação a que se abstivesse a ré de futuras violações ao direito da autora.

Relativamente a isso não incide a norma invocada.

Não é outra a autorizada opinião de Carpenter, a afi rmar que a prescrição

de que ali se cogita é da ação civil, “cujo fi m é a indenização do prejuízo causado

a quem sofreu dano na sua propriedade” (Da Prescrição - 3ª ed. - Editora

Nacional de Direito - p. 716).

Reputo indispensável a distinção, pena de chegar-se a conclusões

inaceitáveis. Tome-se o exemplo da ofensa à propriedade de um imóvel, que

importasse esbulho. Se o prazo prescricional é de cinco anos, signifi cará isso

que, decorrido o qüinqüênio, não mais poderá o proprietário reaver a posse?

O absurdo da resposta afi rmativa foi salientado por Câmara Leal, conforme

transcrito em acórdão à fl . 253. Impossível concluir não pudesse o proprietário

reivindicar o bem. Isso envolveria a perda de um dos principais atributos da

propriedade, embora mais dilargado o prazo prescricional quando se trate de

ação real.

Útil, se me afi gura, discernir, no caso, como usualmente se admite em

teoria geral, entre direitos absolutos e relativos. Nos primeiros, oponíveis a todos,

incluem-se os reais. Os relativos vinculam determinadas pessoas. Podem nascer,

entre outras causas, da violação de um direito absoluto. Assim o proprietário

tem direito de exigir, de todos, o respeito a sua propriedade. A prescrição rege-se

Page 293: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 283-315, julho 2010 293

pelas normas pertinentes aos direitos reais. Violado, entretanto, aquele direito,

surge um outro, de pedir reparação do dano. Este, de natureza pessoal, tem

prazo de prescrição distinto.

Decorrido o prazo de cinco anos, prescreve o direito do proprietário da

marca de pleitear reparação dos danos que, do desrespeito a ele, lhe tenha

advindo. Dela, entretanto, não deixou de ser titular. Nem perdeu a propriedade

seus atributos. Poderá demandar sejam impedidas outras ofensas ou que cesse

a existente. O prazo prescricional será o das ações reais, como assinalado pelo

Desembargador Oliveira Leite, do Egrégio Tribunal de Justiça de Minas, em

acórdão cuja cópia se encontra nos autos.

Conheço, pois, do recurso, não só pela divergência, que me parece

caracterizada, até mesmo com acórdão desta Turma, como por ter sido

contrariada a lei, e dou-lhe provimento para que se prossiga, em 1º grau, no

julgamento da causa, data venia do eminente Relator.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Cláudio Santos: Sr. Presidente, encontra-se no bojo destes

autos interessante questão pertinente à prescrição de ação do titular de marca,

tendo em vista o seu uso na denominação comercial por outra empresa. O

eminente Sr. Ministro-Relator Nilson Naves conheceu do recurso especial

em face do dissídio e negou-lhe provimento. Os eminentes Srs. Ministros

Eduardo Ribeiro e Dias Trindade, também conheceram, mas para dar-lhe

provimento. Parece-me que entre o eminente Sr. Ministro-Relator e o primeiro

voto discordante do eminente Sr. Ministro Eduardo Ribeiro, não há nenhuma

controvérsia quanto ao direito aplicável à relação entre titular e marca, qual

seja um direito de propriedade. O Sr. Ministro-Relator, entretanto, concluiu

que a prescrição ocorreria por decurso do prazo de cinco anos, enquanto o Sr.

Ministro Eduardo Ribeiro manifestou em seu voto que, para alguns efeitos, essa

prescrição não ocorreria nesse prazo, mas, sim, no decurso de vinte anos. Essa,

portanto, é a questão.

No voto do eminente Sr. Ministro-Relator, encontro o seguinte: “Para o

dissídio, a recorrente citou outros acórdãos, entre os quais dois são do Tribunal

Federal de Recursos, do ano de 1971, do Sr. Ministro Décio Miranda: um deles,

a Apelação Cível n. 29.655, com esta ementa: ‘Propriedade industrial. Nome da

empresa. Cabível ação combinatória para constranger à modifi cação do nome

Page 294: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

294

colidente. O prazo de prescrição da ação é o da lei comum. Procedência da ação’;

noutro, Apelação Cível n. 31.021, afi rmou em seu voto: ‘Não cogitando de prazo

de prescrição para ação de mudança de nome, a legislação específi ca desde o art.

10, § 3º, do Decreto n. 916, de 24.10.1890, até o art. 3º, § 2º, do Decreto-Lei

n. 2.627, de 26.10.1940, também nele não tratando Lei n. 4.726, de 18.07.1965,

que mais se ateve à parte adjetiva do registro do comércio, é bem de ver que este

prazo é o da lei comum, ou seja, o do art. 177 do Código Civil”’.

Continua, ainda, o eminente Ministro-Relator: “respeitáveis as duas

posições — pelo que andei lendo, a tendência é de acatar o prazo menor, com o

qual me afeiçôo.

Embora o Sr. Ministro Décio Miranda tenha dito, na Apelação Cível n.

31.021, que não era de se estranhar, o prazo maior, o certo é que tal prazo —

como deixou entrever o Sr. Ministro Cunha Peixoto em passagem citada na RT

n. 491/40 — repugna as normas de comércio.

No artigo da RT n. 491, anotaram seus autores, Luís e Th omás Leonardos:

‘A proteção ou nome comercial em sua função objetiva, como objeto de

propriedade industrial, pertence, assim, à mais aceita tradição no Direito

Brasileiro e encontra amplo respaldo na própria Constituição Federal, ao incluir,

entre as garantias à propriedade, a exclusividade do nome comercial’.”

Finalmente, o Sr. Relator cita um acórdão da Quarta Turma deste Tribunal,

sendo Relator o Sr. Ministro Barros Monteiro, assim ementado:

Nome comercial. Ação de preceito combinatório cumulada com pedido de

perdas e danos. O direito sobre o nome comercial, segundo o entendimento

hoje prevalente na doutrina e na jurisprudência constitui uma propriedade à

semelhança do que ocorre com as marcas de fábrica e de comércio; motivo pelo

qual, em ações por violação de seu uso exclusivo, aplica-se o lapso prescricional

previsto no art. 178, § 10, inciso IX, do Código Civil. Recurso especial não

conhecido.

Já o Sr. Ministro Eduardo Ribeiro trouxe à colação lição de Câmara Leal,

pela qual se recomenda uma certa distinção. Disse o Sr. Ministro Eduardo

Ribeiro:

Reputo indispensável a distinção. Pena de chegar-se a conclusões inaceitáveis.

Toma-se o exemplo da ofensa à propriedade de um imóvel, que importasse

esbulho. Se o prazo prescricional é de cinco anos, significará que, decorrido

o qüinqüênio, não mais poderá o proprietário reaver a posse? O absurdo da

resposta afirmativa foi salientado por Câmara Leal, conforme transcrito em

Page 295: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 283-315, julho 2010 295

acórdão à fl. 253. Impossível concluir não pudesse o proprietário reivindicar

o bem. Isso envolveria perda de um dos principais atributos da propriedade,

embora mais dilargado o prazo prescricional quando se trate de ação real. Útil,

se me afi gura, discernir, no caso, como usualmente se admite em teoria geral,

entre direitos absolutos e relativos. Nos primeiros, oponíveis a todos, incluem-se

os reais. Os relativos vinculam determinadas pessoas. Podem nascer, entre outras

causas, da violação de um direito absoluto. Assim, o proprietário tem direito de

exigir, de todos, o respeito a sua propriedade. A prescrição rege-se pelas normas

pertinentes aos direitos reais. Violado, entretanto, aquele direito, surge um outro,

de pedir reparação do dano. Este, de natureza pessoal, tem prazo de prescrição

distinto.

Decorrido o prazo de cinco anos, prescreve o direito do proprietário da marca

de pleitear reparação dos danos que, do desrespeito a ele, tenha-lhe advindo.

Dela, entretanto, não deixou de ser titular, nem perdeu a propriedade seus

atributos. Poderá demandar sejam impedidas outras ofensas ou que cesse a

existente.

Concluo aqui a reprodução do voto do eminente Sr. Ministro Eduardo

Ribeiro, pedindo vênia ao eminente Sr. Ministro-Relator para fi liar-me a esse

entendimento. Compreendendo-se a relação como de direito de propriedade,

parece-me que outra não poderá ser a solução, senão esta, de admitir-se a

prescrição para a reparação do dano, mas sem que isso importe em perda do

direito de propriedade do titular da marca — no caso a marca “Panda”, utilizada

por outra empresa em sua denominação social como “Pandy”, nomes facilmente

confundíveis.

Entendo que não está prescrito, data venia, o direito para o titular da marca

reivindicar que outra empresa não utilize esta marca, seja em qualquer produto,

ou no próprio nome comercial.

Acompanho o voto do Sr. Ministro Eduardo Ribeiro.

RECURSO ESPECIAL N. 19.355-MG (92.0004644-4)

Relator: Ministro Nilson Naves

Relator designado: Ministro Eduardo Ribeiro

Recorrente: Panda Promoções e Eventos Ltda

Page 296: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

296

Recorrida: Vulcabrás S/A Indústria e Comércio

Advogados: Samia Amin Santos e outros, e Francisco Silviano Brandão

e outros

EMENTA

Marca. Violação. Prescrição.

O prazo prescricional de que cuida o art. 178, § 10, IX, do

Código Civil é aplicável quando se trate do direito à reparação do

dano, decorrente do desrespeito ao direito do titular da marca. Não à

ação em que se intente fazer cessar a violação.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e, por

maioria, dar-lhe parcial provimento, vencidos, em parte, os Srs. Ministros Relator

e Barros Monteiro, que proviam o recurso em maior extensão. Acompanharam

o voto do Sr. Ministro Eduardo Ribeiro, os Srs. Ministros Dias Trindade, Athos

Carneiro, Waldemar Zveiter, Fontes de Alencar e Sálvio de Figueiredo. Ausente,

justifi cadamente, o Sr. Ministro Cláudio Santos.

Brasília (DF), 28 de outubro de 1992 (data do julgamento).

Ministro Bueno de Souza, Presidente

Ministro Eduardo Ribeiro, Relator designado

DJ 1º.02.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Nilson Naves: Em ação ordinária, Vulcabrás S/A Indústria

e Comércio pleiteou fosse Panda Serviços Esportivos S.C. Ltda condenada a

modifi car sua denominação social, a abster-se de usar a expressão “Panda” como

marca e a compor perdas e danos, e a ré invocou, a seu favor, a prescrição do art.

178, § 10, IX, do Código Civil, mas o despacho saneador não lhe deu razão, por

aplicável à espécie o art. 177. Agravou, sem êxito, in verbis:

Page 297: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 283-315, julho 2010 297

Na espécie dos autos, rebela-se a agravante contra o despacho saneador de fl .

73, que desacolheu a preliminar de prescrição da ação, fundado no argumento de

se tratar de ação pessoal, sujeita à prescrição vintenária estabelecida no art. 177

do Código Civil e não à prescrição qüinqüenal prevista no art. 178, § 10, inciso IX,

do Código Civil.

O despacho impugnado examinou bem a matéria e deu à questão a melhor

solução, uma vez que a jurisprudência dos Tribunais vem se orientando que o

prazo prescricional é da lei comum (cf. Apel. n. 29.655 da Guanabara e Apel. n.

62.040 de Monte Azul Paulista, publicados na RJTJESP, n. 99/197/198).

No corpo do referido acórdão, o referido aresto do Egrégio Tribunal de Justiça

de São Paulo, estabeleceu o seguinte: “Em outras palavras, não teria sentido

limitar, p. ex. a cinco anos (lapso prescricional) obrigação negativa de usurpação

ou imitação de marca ou nome comercial. A prática desse teor sofre veto total

no tempo. A obrigação de non faciendi é permanente, ante a própria natureza do

direito de que é o verso... (apel. cível citada).

Embora encontre, na doutrina, defensores da tese de que o prazo prescricional

se opere em cinco (5) anos (Gama Cerqueira e Túlio Ascarelli, in RT n. 159), a

orientação predominante na jurisprudência é a fi xada pelo STF, considerando

como ocorrendo a prescrição das ações por violação do nome comercial, o prazo

é do direito comum, tendo por inaplicável a Lei n. 1.236, de 1904 (cf. STF, Segunda

Turma, acórdão de 04.05.1962, no RE n. 49.857).

Diante do exposto, mantenho o despacho recorrido, que se acha muito

bem fundamentado, tanto na forma como no fundo, e que, por isso mesmo,

recomenda muito seu jovem e ilustre prolator. Nego provimento, pois, ao agravo.

Interpôs recurso extraordinário, com argüição de relevância, inadmitido

aquele e subindo esta ao Supremo Tribunal Federal, que converteu o

extraordinário em especial, na medida da argüição. Despachou, após, o

Desembargador Vaz de Mello:

O recurso, no entanto, fora inadmitido, determinando-se, porém, que se

processasse a argüição de relevância, concomitantemente interposta (fl. 40)

e a Suprema Corte, considerando não estar preclusa a matéria de nível legal,

deduzida na mesma argüição e que, diante do art. 105, III, a e c, da CF, ocorrera

conversão, ipso iure, do RE em REsp, determinou a devolução do instrumento para

o exame de sua admissibilidade (fl s. 109-110).

Vê-se dos autos que o próprio e eminente Desembargador Relator do v. aresto

recorrido observa que o tema é polêmico, havendo, “na doutrina, defensores da

tese de que o prazo prescricional se opera em cinco (5) anos” (fl . 36).

A recorrente, a seu turno e ao que me parece, conseguiu demonstrar a

divergência pretoriana e isso, sem dúvida, justifi ca a admissão do REsp, pela letra

Page 298: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

298

c do permissivo constitucional, sem prejuízo do outro fundamento, em face do

que dispõe o Enunciado n. 292 da Súmula-STF, aplicável à espécie.

Admitindo, assim, o REsp interposto e considerando que o fora antes da Lei n.

8.038/1990 mando que se abra vista dos autos, sucessivamente, à recorrente e à

recorrida, para que, cada uma, no prazo de dez dias, apresente suas razões.

Com razões e contra-razões, subiram os autos.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Nilson Naves (Relator): Na sessão do dia 12 de maio, sugeri

à Turma que submetesse este processo à Seção, de acordo com o disposto no art.

14, inciso II, do nosso Regimento. Disse o seguinte, naquele momento, fl s. 168-

169 (lê).

2. No REsp n. 10.564, onde fi quei vencido, proferi esse voto:

Dizendo-se proprietária da marca “Panda”, quer a autora seja a ré compelida

a excluir de sua denominação social a palavra “Pandy”. A questão não chegou

a ter solução porque acolhida a prescrição. Controverte-se agora em torno do

seu prazo: de cinco anos, como afi rmaram as instâncias ordinárias, entendendo

tratar-se, o nome comercial, de propriedade, daí aplicável o referido art. 178, § 10,

inciso IX; de vinte anos, como quer a autora, considerando, no essencial, que, na

espécie, não se trata de propriedade, daí ter invocado o art. 177, quanto ao prazo

das ações pessoais.

2. Dentre os acórdãos trazidos para a demonstração do dissídio, a recorrente

citou o do RE n. 46.597, de 1961, Sr. Ministro Cândido Motta, com essa ementa:

“Ação para desfazer o mesmo nome registrado. Prescrição. Invocação de direito

comum, como subsidiário do comercial. Aplicação do art. 177 do Código Civil.

A ação não está prescrita”. Mas esse acórdão acabou reformado, em sessão

plenária, no julgamento dos embargos, relatados pelo Sr. Ministro Villas Boas,

conforme essa ementa: “Embargos opostos a acórdão que, conhecendo do

recurso extraordinário, lhe deu provimento, para cassar decreto de prescrição

de ação legitimada pelo art. 3º, § 2º, do Decreto-Lei n. 2.627/1940. Recebimento.

A aplicação do art. 178, § 10, IX, do Código Civil, em lugar do art. 177 do mesmo

Código e do art. 442 do Código Comercial, não pode reputar-se ofensiva à letra da

lei, porque se apóia na teoria da propriedade do nome comercial, sustentada por

notáveis juristas, nomeadamente Carlos de Carvalho que a exprimia no Decreto

n. 916, de 1890, da sua lavra. Restabelecimento da decisão da Justiça local” (in

RTJ-20/270).

Page 299: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 283-315, julho 2010 299

Quando dos embargos o que ficou entendido foi que não se poderia, no

julgamento do recurso extraordinário, ter-se por ofendido o art. 177, porquanto

a orientação local, ao aplicar o art. 178, § 10, inciso IX, dera, ao menos, razoável

interpretação à lei. Veja-se o que disse o Sr. Relator, ao fi nal de seu voto:

O meu voto, ainda agora com a latitude determinada pelo art. 101, III,

a, da Constituição, não concorda data venia, com a anulação do veredicto

da Justiça local, porque a antinomia entre este e o art. 177 do Código

Civil, pressuposto irrefragável do conhecimento e provimento do apelo

excepcional, só se esboçaria com o repúdio, por absurda, da teoria da

propriedade do nome comercial que, embora sujeita a controvérsia, é,

todavia, de lançamento muito fi rme.

De resto, verifi cada a prescrição por um texto federal, dentre alguns

que podiam ser invocados, convém a esta Corte Suprema, na órbita da sua

competência, se plenamente não a aprova, acatar a decisão proferida na

causa.

Assim, por este entendimento restrito que, de modo algum, signifi ca

uma defi nição, respeitosamente recebo os embargos.

3. O que interessa é que o acórdão dos embargos, conquanto tenha afi rmado

cuidar-se de matéria polêmica, ressaltou que a propriedade do nome comercial

possuía “lançamento muito firme”. Em conseqüência, duas coisas se me

apresentam: a difi culdade do recurso com base na alínea a; a falta de serventia

para o dissídio do RE n. 46.597, visto que alterado em grau de embargos.

4. Para o dissídio, a recorrente citou outros acórdãos, entre os quais dois

do Tribunal Federal de Recursos, do ano de 1971, Sr. Ministro Décio Miranda.

Um deles, a AC n. 29.655, com essa ementa: “Propriedade industrial. Nome da

empresa. Cabível ação cominatória para constranger à modifi cação do nome

colidente. O prazo de prescrição da ação é o da lei comum. Procedência da

ação”. Noutro, AC n. 31.021, afi rmou, em seu voto: “Não cogitando de prazo de

prescrição para a ação de mudança de nome a legislação específi ca, desde o art.

10, § 3º, do Decreto n. 916, de 24.10.1890, até o art. 3º, § 2º, do Decreto-Lei n.

2.267, de 26.10.1940, também dele não tratando Lei n. 4.726, de 18.07.1965, que

mais se ateve à parte adjetiva do registro do comércio, é bem de ver que esse

prazo é o da lei comum, ou seja, o do art. 177 do Código Civil”.

5. Respeitáveis as duas posições. Pelo que andei lendo, a tendência é a de

acatar o prazo menor, com a qual me afeiçôo. Embora o Sr. Ministro Décio

Miranda tenha dito, na AC n. 31.021, que não era de se estranhar o prazo maior,

o certo é que tal prazo, como deixou entrever o Sr. Ministro Cunha Peixoto, em

passagem citada na RT n. 491/40, repugna as normas de comércio. No artigo

da RT n. 491, anotaram os seus autores Luiz e Thomás Leonardos: “A proteção

ao nome comercial, em sua função objetiva, como objeto de propriedade

Page 300: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

300

industrial, pertence, assim, à mais aceita tradição no Direito brasileiro e encontra

amplo respaldo na própria Constituição Federal ao incluir, entre as garantias à

propriedade, a da exclusividade do nome comercial (art. 153, § 24)”.

6. Temos julgados, recentes, do Supremo Tribunal e já deste Superior Tribunal.

Ei-los, por suas ementas:

Recurso extraordinário. Nome comercial.

Em se tratando de nome fantasia, a propriedade há de ser reconhecida

a quem primeiro o registrou. Entretanto, a ação por violação a nome

comercial prescreve em cinco anos, de conformidade com entendimento

pelo Supremo Tribunal Federal no ERE n. 46.597 (RTJ 20/270) e a teor do art.

178, § 10, inciso IX, do Código Civil.

A autora propôs a ação seis anos depois da ré haver registrado o nome

fantasia semelhante, portanto, quando já ocorrera a prescrição.

Recurso da autora não conhecido e provido o recurso da ré (STF, RE n.

104.497, de 1990, Sr. Ministro Carlos Madeira).

Nome comercial. Ação de preceito cominatório, cumulada com pedido

de perdas e danos.

O direito sobre o nome comercial, segundo entendimento hoje

prevalecente na doutrina e na jurisprudência, constitui uma propriedade, à

semelhança do que ocorre com as marcas de fábrica e de comércio, motivo

pelo qual, em ações por violação de seu uso exclusivo, se aplica o lapso

prescricional previsto no art. 178, § 10, inciso IX, do Código Civil.

Recurso especial não conhecido. (STJ, REsp n. 4.055, de 1991, Sr. Ministro

Barros Monteiro).

7. Conheço pois do recurso especial, pela alínea c, mas lhe nego provimento.

3. Em meu voto, pelo visto, conhecia do recurso especial pela alínea c

e lhe negava provimento, adotando, em conseqüência, a prescrição regida

pelo art. 178, § 10, inciso IX. Apesar de ter ali ficado vencido, quero, no

caso presente, reiterar o meu entendimento, data venia. Portanto, coloco-me

em divergência com o acórdão recorrido, onde o Tribunal mineiro adotou a

prescrição estabelecida no art. 177. O recurso especial é viável, a meu sentir,

por ambos os seus fundamentos. Dele conheço e lhe dou provimento, para

pronunciar a prescrição.

Page 301: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 283-315, julho 2010 301

VOTO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Sr. Presidente, no precedente citado pelo

eminente Relator, o Sr. Ministro Nilson Naves, proferi voto e me permito lê-lo.

(Lê):

Está a questão em saber se aplicável à hipótese o prazo prescricional de que

cogita o art. 178, § 10, IX, do Código Civil, fi xando-o em cinco anos, quando se

trate de ofensa ou dano causado ao direito de propriedade.

Longamente se debateu sobre a natureza do direito do titular da marca,

discutindo-se quanto a ser possível classifi cá-lo como de propriedade.

Tenho para mim que como tal haverá de ser considerado, não subsistindo,

em relação ao tema, as dúvidas que existem quando se trata de nome comercial.

Abstenho-me, entretanto, de sobre a matéria deter-me mais longamente, uma

vez que, por outra razão, entendo não incidir a norma no caso ora em apreciação.

No julgamento do REsp n. 3.185, de que fui Relator, e que o recorrente fez

juntar aos autos, decidiu esta Turma que o citado dispositivo poderia aplicar-se

quando se cogitasse de ação de reparação do dano. Não, se objetivasse impedir

continuasse a violação do direito. Transcrevo trecho do voto que então proferi:

A aplicabilidade do item IX à espécie em exame sujeita-se a controvérsia.

De todo desnecessário, entretanto, dela cogitar neste julgamento. Refere-

se o dispositivo à pretensão relativa a dano na propriedade, já verifi cado.

Assim, a demanda que pleiteie indenização sujeita-se à prescrição

qüinqüenal, tendo como termo inicial a data em que se verifi cou o dano.

Ora, no caso em julgamento foi negado pedido de reparação, fundado em

perdas e danos. Cingiu-se a condenação a que se abstivesse a ré de futuras

violações ao direito da autora. Relativamente a isso não incide a norma

invocada.

Não é outra a autorizada opinião de Carpenter, a afi rmar que a prescrição de

que ali se cogita é da ação civil, “cujo fi m é a indenização do prejuízo causado a

quem sofreu dano na sua propriedade” (Da Prescrição - 3ª ed. - Editora Nacional

de Direito - p. 716).

Reputo indispensável a distinção, pena de chegar-se a conclusões inaceitáveis.

Tome-se o exemplo da ofensa à propriedade de um imóvel, que importasse

esbulho. Se o prazo prescricional é de cinco anos, signifi cará isso que, decorrido

o qüinqüênio, não mais poderá o proprietário reaver a posse? O absurdo da

resposta afirmativa foi salientado por Câmara Leal, conforme transcrito em

acórdão à fl . 253. Impossível concluir não pudesse o proprietário reivindicar o

bem. Isso envolveria a perda de um dos principais atributos da propriedade,

embora mais dilargado o prazo prescricional quando se trate de ação real.

Page 302: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

302

Útil, se me afi gura, discernir, no caso, como usualmente se admite em teoria

geral, entre direitos absolutos e relativos. Nos primeiros, oponíveis a todos,

incluem-se os reais. Os relativos vinculam determinadas pessoas. Podem nascer,

entre outras causas, da violação de um direito absoluto. Assim, o proprietário

tem direito de exigir, de todos, o respeito a sua propriedade. A prescrição rege-se

pelas normas pertinentes aos direitos reais. Violado, entretanto, aquele direito,

surge um outro, de pedir reparação do dano. Este, de natureza pessoal, tem prazo

de prescrição distinto.

Decorrido o prazo de cinco anos, prescreve o direito do proprietário da marca

de pleitear reparação dos danos que, do desrespeito a ele, lhe tenha advindo. Dela,

entretanto, não deixou de ser titular. Nem perdeu a propriedade seus atributos.

Poderá demandar sejam impedidas outras ofensas ou que cesse a existente. O

prazo prescricional será o das ações reais, como assinalado pelo Desembargador

Oliveira Leite, do Egrégio Tribunal de Justiça de Minas, em acórdão cuja cópia se

encontra nos autos.

Adotando estes fundamentos e pedindo vênia ao eminente Relator, que

proferiu douto voto, conheço do recurso pelo dissídio, mas nego-lhe provimento.

VOTO

O Sr. Ministro Dias Trindade: Sr. Presidente, parece-me que a prescrição

é vintenária, porque não se trata de ação de dano, senão de ação para coibir uso

da marca.

Acompanho o eminente Ministro Eduardo Ribeiro, data venia do

Ministro-Relator.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Athos Carneiro: Cuida-se de ação promovida por Vulcabrás

S / A Indústria e Comércio contra Panda Serviços Esportivos S/C Ltda, afi rmando-

se a autora proprietária da marca nominativa “Panda”, com direito portanto de

impedir que a demandada use da aludida marca em sua denominação social;

postula, destarte, a condenação da ré a excluir de seu nome a expressão “Panda”,

abstendo-se de usá-la como marca ou insígnia ou expressão de propaganda,

devendo outrossim compor perdas e danos. A ré invocou a prescrição qüinqüenal,

a teor do art. 178, § 10, IX, do Código Civil.

Page 303: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 283-315, julho 2010 303

Em decisão de saneamento, o juiz rejeitou a argüida prescrição. Agravou

a demanda, sem êxito, interpôs, então, recurso extraordinário, convertido em

recurso especial. O eminente Relator, Ministro Nilson Naves, invocando voto

vencido que proferira no REsp n. 10.564, recorrente a mesma fi rma Vulcabrás,

entendeu que ocorrera a prescrição, conhecendo do recurso e ao mesmo dando

total provimento.

O eminente Ministro Eduardo Ribeiro igualmente reportou-se ao voto

prolatado no REsp n. 10.564, para conhecer do recurso pelo dissídio, mas negar-

lhe provimento.

Afi rmado hodiernamente que o direito à marca ou ao nome comercial

constitui direito de propriedade, impende verifi car se a esse direito aplica-se a

regra do art. 178, § 10, IX, do CC, e/ou em que limites ocorre tal incidência.

A egrégia Quarta Turma, no REsp n. 4.055, Relator o eminente Ministro

Barros Monteiro, alusivo à lide entre fi rmas proprietárias de nomes comerciais

contendo expressões similares, decidiu pela prescrição de ação de preceito

cominatório, cumulada com perdas e danos, sob a ementa seguinte:

Nome comercial. Ação de preceito cominatório, cumulada com pedido de

perdas e danos.

O direito sobre o nome comercial, segundo entendimento hoje prevalecente

na doutrina e na jurisprudência, constitui uma propriedade, à semelhança do que

ocorre com as marcas de fábrica e de comércio, motivo pelo qual, em ações por

violação de seu uso exclusivo, se aplica o lapso prescricional previsto no art. 178, §

10, inciso IX, do Código Civil.

Recurso especial não conhecido.

Ao voto do Relator aderiram, sem explicitações, os Ministros Sálvio de

Figueiredo e Athos Carneiro, ausentes os Ministros Bueno de Souza e Fontes

de Alencar.

Devo, todavia, reformular em parte a posição então adotada, pois restei

convencido pelos argumentos expendidos pelo eminente Ministro Eduardo

Ribeiro, como redator designado no REsp n. 10.564, a saber:

Longamente se debateu sobre a natureza do direito do titular da marca,

discutindo-se quanto a ser possível classifi cá-lo como de propriedade.

Tenho para mim que como tal haverá de ser considerado, não subsistindo,

em relação ao tema, as dúvidas que existem quando se trata de nome comercial.

Page 304: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

304

Abstenho-me, entretanto, de sobre a matéria deter-me mais longamente, uma

vez que, por outra razão, entendo não incidir a norma no caso ora em apreciação.

No julgamento do REsp n. 3.185, de que fui Relator, e que o recorrente fez

juntar aos autos, decidiu esta Turma que o citado dispositivo poderia aplicar-se

quando se cogitasse de ação de reparação do dano. Não, se objetivasse impedir

continuasse a violação do direito. Transcrevo trecho do voto que então proferi:

A aplicabilidade do item IX à espécie em exame sujeita-se a controvérsia.

De todo desnecessário, entretanto, dela cogitar neste julgamento. Refere-

se o dispositivo à pretensão relativa a dano na propriedade, já verifi cado.

Assim, a demanda que pleiteie indenização sujeita-se à prescrição

qüinqüenal, tendo como termo inicial a data em que se verifi cou o dano.

Ora, no caso em julgamento foi negado pedido de reparação, fundado em

perdas e danos. Cingiu-se a condenação a que se abstivesse a ré de futuras

violações ao direito da autora. Relativamente a isso não incide a norma

invocada.

Não é outra a autorizada opinião de Carpenter, a afi rmar que a prescrição de

que ali se cogita é da ação civil, “cujo fi m é a indenização do prejuízo causado a

quem sofreu dano na sua propriedade” (Da Prescrição, 3ª ed. - Editora Nacional de

Direito - p. 716).

Reputo indispensável a distinção, pena de chegar-se a conclusões inaceitáveis.

Tome-se o exemplo da ofensa à propriedade de um imóvel, que importasse

esbulho. Se o prazo prescricional é de que cinco anos, significará isso que,

decorrido o qüinqüênio, não mais poderá o proprietário reaver a posse? O absurdo

da resposta afi rmativa foi salientado por Câmara Leal, conforme transcrito em

acórdão à fl . 253. Impossível concluir não pudesse o proprietário reivindicar o

bem. Isso envolveria a perda de um dos principais atributos da propriedade,

embora mais dilargado o prazo prescricional quando se trate de ação real.

Útil se me afi gura, discernir, no caso, como usualmente se admite em teoria

geral, entre direitos absolutos e relativos. Nos primeiros, oponíveis a todos,

incluem-se os reais. Os relativos vinculam determinadas pessoas. Podem nascer,

entre outras causas, da violação de um direito absoluto. Assim o proprietário

tem direito de exigir, de todos, o respeito a sua propriedade. A prescrição rege-se

pelas normas pertinentes aos direitos reais. Violado, entretanto, aquele direito,

surge um outro, de pedir reparação do dano. Este, de natureza pessoal, tem prazo

de prescrição distinto.

Decorrido o prazo de cinco anos, prescreve o direito do proprietário da marca

de pleitear reparação dos danos que, do desrespeito a ele, tenha-lhe advindo.

Dela, entretanto, não deixou de ser titular. Nem perdeu a propriedade seus

atributos. Poderá demandar sejam impedidas outras ofensas ou que cesse a

existente. O prazo prescricional será o das ações reais, como assinalado pelo

Page 305: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 283-315, julho 2010 305

Desembargador Oliveira Leite, do Egrégio Tribunal de Justiça de Minas, em

acórdão cuja cópia se encontra nos autos.

O eminente Ministro Cláudio Santos, no mesmo julgamento do REsp n.

10.564, tendo pedido vista, aderiu ao voto do Ministro Eduardo Ribeiro, com as

seguintes conclusões:

Decorrido o prazo de cinco anos, prescreve o direito do proprietário da marca

de pleitear reparação dos danos que, do desrespeito a ele, lhe tenha advindo.

Dela, entretanto, não deixou de ser titular, nem perdeu a propriedade seus

atributos. Poderá demandar sejam impedidas outras ofensas ou que cesse a

existente.

Concluo aqui a reprodução do voto do Eminente Sr. Ministro Eduardo

Ribeiro, pedindo vênia ao eminente Sr. Ministro-Relator para filiar-me a esse

entendimento. Compreendendo-se a relação como de direito de propriedade,

parece-me que outra não poderá ser a solução, senão esta, de admitir-se a

prescrição para a reparação do dano, mas sem que isso importe em perda do

direito de propriedade do titular da marca — no caso a marca “Panda”, utilizada

por outra empresa em sua denominação social como “Pandy”, nomes facilmente

confundíveis.

Entendo que não está prescrito, data venia, o direito para o titular da marca

reivindicar que outra empresa não utilize esta marca, seja em qualquer produto,

ou no próprio nome comercial.

Pelo exposto, adotando tais fundamentos e reformulando anterior

orientação, acompanho o magistério dos votos majoritários na egrégia Terceira

Turma, para entender prescrita, nos termos do art. 178, § 10, IX, do Código

Civil, apenas a pretensão às perdas e danos ocorrentes até a data da citação

inicial, e para declarar não prescritas as pretensões com pedido cominatório. Isso

importa em conhecer do recurso e dar-lhe provimento apenas parcial.

É o voto.

RETIFICAÇÃO DE VOTO

O Sr. Ministro Dias Trindade: Sr. Presidente, peço que se retifi que o meu

voto, pois estou de inteiro acordo com o Ministro Athos Carneiro que votou no

sentido de conhecer do recurso e dar-lhe provimento parcial.

Page 306: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

306

RETIFICAÇÃO DE VOTO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Sr. Presidente, estou de pleno acordo com

as conclusões do eminente Ministro Athos Carneiro, que são perfeitamente

coerentes com o entendimento que tenho. Parece-me, aliás, que o Sr. Ministro

Dias Trindade perfi lha o mesmo entendimento. Está prescrito o direito de

pleitear a reparação de danos que se houverem verifi cado antes do qüinqüênio e

não mais do que isso.

Peço que retifi que minha conclusão, que é no sentido de conhecer do

recurso e dar-lhe parcial provimento.

VOTO

O Sr. Ministro Barros Monteiro: Sr. Presidente, com a vênia, mantenho a

posição adotada, quando do julgamento do Recurso Especial n. 4.055, de que

fui relator, entendendo que a prescrição abrange também as pretensões relativas

ao preceito cominatório.

Acompanho o Sr. Ministro Nilson Naves.

VOTO-VOGAL

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: Sr. Presidente, assim como manifestado

na Terceira Turma, peço vênia ao eminente Ministro-Relator para acompanhar

os votos proferidos pelos Eminentes Ministros Eduardo Ribeiro, Dias Trindade

e Athos Carneiro.

VOTO-VOGAL

O Sr. Ministro Fontes de Alencar: Acompanho o voto do eminente

Ministro Eduardo Ribeiro.

VOTO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo: Acompanho o voto do Sr. Ministro

Eduardo Ribeiro e dos que se seguiram na mesma direção.

Page 307: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 283-315, julho 2010 307

RECURSO ESPECIAL N. 26.752-SP

Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo

Recorrentes: Marchesan Implementos e Máquinas Agrícolas Tatu S/A e

outro

Advogados: Lanir Orlando e outros

Recorrida: Marchesan — Defensivos e Aplicações Ltda

Advogados: Walter Rodrigues de Rezende Junior e outro

EMENTA

Civil. Prescrição. Ação de abstenção do uso de marca. Arts. 177

e 178, § 10, IX, CC. Precedentes. Recurso provido.

O lapso qüinqüenal de prescrição previsto no art. 178, § 10, IX,

do Código Civil, somente se aplica, no âmbito do direito comercial,

às ações por meio das quais se busca reparação pelo uso indevido de

marca ou nome comercial.

Aquelas em que se pretenda a mera abstenção, a cessação do uso,

porque em essência ações reais, se sujeitam à disciplina do art. 177 do

mesmo diploma legal.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso. Votaram

com o Relator os Ministros Barros Monteiro e Fontes de Alencar. Ausentes,

ocasionalmente, os Ministros Bueno de Souza e Athos Carneiro.

Brasília (DF), 15 de junho de 1993 (data do julgamento).

Ministro Fontes de Alencar, Presidente

Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Relator

DJ 09.08.1993

Page 308: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

308

EXPOSIÇÃO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo: Marchesan Implementos e Máquinas

Agrícolas Tatu S/A e outra ajuizaram ação ordinária de preceito cominatório,

contra Marchesan Defensivos e Aplicações Ltda, objetivando compelir a ré a

retirar a expressão “Marchesan” de sua denominação social e desistir do pedido

de registro de marca junto ao INPI.

O juiz, acolhendo, em parte, a postulação, determinou à ré excluísse referida

expressão de seu nome comercial, bem como se abstivesse do uso da mesma

como marca, título de estabelecimento ou insígnia.

O Tribunal de Justiça de São Paulo, apreciando apelação interposta pela

suplicada, deu-lhe provimento, acolhendo preliminar de prescrição suscitada

com base no art. 178, § 10, IX, do Código Civil.

O voto condutor do acórdão, da relatoria do Des. Barbosa Pereira, no que

interessa, está assim fundamentado:

Não se pode confundir marca de indústria ou de comércio com o nome

comercial ou denominação social, pois a primeira constitui o sinal distintivo

de determinado produto ou mercadoria, enquanto que o segundo serve para

designar a pessoa do comerciante ou a empresa. Tanto é assim que o art. 119 do

Código de Propriedade Industrial exclui da sua proteção o nome comercial ou de

empresa e o título de estabelecimento.

Entretanto, no que concerne à prescrição, os dois conceitos se confundem,

já que tanto o nome como a marca são objeto de direito de propriedade, sendo

expresso, com relação à marca, o art. 59 do mesmo Código. Incide, portanto,

a regra do art. 178, § 10, inciso IX, do Código Civil, segundo o qual prescreve

em cinco anos a ação por ofensa ou dano causados ao direito de propriedade;

contado da data em que se deu a mesma ofensa ou dano.

Alegam as autoras, em recurso especial, contrariedade ao art. 177 do

Código Civil, argumentando não ser objeto da ação intentada o de apurar

danos, mas sim o de proteger o seu direito de exclusividade de uso da marca

“Marchesan”.

Traz à colação acórdão do extinto Tribunal Federal de Recursos e dos

Tribunais de Justiça do Rio de Janeiro e São Paulo buscando demonstrar

divergência interpretativa em relação ao tema.

É o relatório.

Page 309: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 283-315, julho 2010 309

VOTO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo (Relator): A ação de que se trata visa à

proteção do direito de exclusividade de uso de marca.

As sociedades autoras possuem registros, junto ao INPI, datados de 1981

e 1982, de sua marca “Marchesan”, e ao longo dos anos vêm atuando no ramo

de fabricação e comercialização de implementos, máquinas e produtos agrícolas.

A empresa-ré, por seu turno, que veio a se constituir em 1984, tendo por

objeto social a exploração de defensivos agrícolas, traz ínsita, como característica

principal de sua denominação social, a expressão “Marchesan”.

O que pretendem as autoras é unicamente seja imposta à ré, ora recorrida,

obrigação de excluir de seu nome comercial referida expressão, bem como

de cessar sua utilização como marca, título de estabelecimento, insígnia ou

qualquer outro sinal distintivo. Não buscam reparação de danos pelo uso

indevido, hipótese em que, aí sim, teria aplicabilidade o disposto no art. 178, §

10, inciso IX, do Código Civil.

In casu, como sustentado pelas recorrentes, tem incidência a regra geral

relativa à prescrição, insculpida no art. 177 do mesmo diploma.

Neste sentido decidiu a Terceira Turma deste Tribunal, quando do

julgamento do REsp n. 10.564-SP:

Marca. Violação. Prescrição.

O prazo prescricional de que cuida o art. 178, § 10, IX, do Código Civil é aplicável

quando se trate do direito à reparação do dano, decorrente do desrespeito ao

direito do titular da marca. Não à ação em que intente fazer cessar a violação.

Do voto condutor do acórdão, da lavra do Sr. Ministro Eduardo Ribeiro,

reproduzo excerto que bem demonstra a orientação adotada:

No julgamento do REsp n. 3.185, de que fui Relator, e que o recorrente fez

juntar aos autos, decidiu esta Turma que o citado dispositivo (art. 178, § 10, IX,

CC) poderia aplicar-se quando se cogitasse de ação de reparação do dano. Não, se

objetivasse impedir continuasse a violação do direito. Transcrevo trecho do voto

que então proferi:

A aplicabilidade do item IX à espécie em exame sujeita-se a controvérsia.

De todo desnecessário, entretanto, dela cogitar neste julgamento. Refere-

se o dispositivo a pretensão relativa a dano na propriedade, já verifi cado.

Page 310: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

310

Assim, a demanda que pleiteie indenização sujeita-se à prescrição

qüinqüenal, tendo como termo inicial a data em que se verifi cou o dano.

Ora, no caso em julgamento foi negado pedido de reparação, fundado em

perdas e danos. Cingiu-se a condenação a que se abstivesse a ré de futuras

violações ao direito da autora. Relativamente a isso não incide a norma

invocada.

Não é outra a autorizada opinião de Carpenter, a afi rmar que a prescrição de

que ali se cogita é da ação civil, “cujo fi m é a indenização do prejuízo causado a

quem sofreu dano na sua propriedade” (Da Prescrição - 3ª ed. - Editora Nacional

de Direito - p. 716).

Reputo indispensável a distinção, pena de chegar-se a conclusões inaceitáveis.

Tome-se o exemplo da ofensa à propriedade de um imóvel, que importasse

esbulho. Se o prazo prescricional é de cinco anos, signifi cará isso que, decorrido

o qüinqüênio, não mais poderá o proprietário reaver a posse? O absurdo da

resposta afirmativa foi salientado por Câmara Leal, conforme transcrito em

acórdão à fl . 253. Impossível concluir não pudesse o proprietário reivindicar o

bem. Isso envolveria a perda de um dos principais atributos da propriedade,

embora mais dilargado o prazo prescricional quando se trate de ação real.

Útil, se me afi gura, discernir, no caso, como usualmente se admite em teoria

geral, entre direitos absolutos e relativos. Nos primeiros, oponíveis a todos,

incluem-se os reais. Os relativos vinculam determinadas pessoas. Podem nascer,

entre outras causas, da violação de um direito absoluto. Assim o proprietário

tem direito de exigir, de todos, o respeito a sua propriedade. A prescrição rege-se

pelas normas pertinentes aos direitos reais. Violado, entretanto, aquele direito,

surge um outro, de pedir reparação do dano. Este, de natureza pessoal, tem prazo

de prescrição distinto.

Decorrido o prazo de cinco anos, prescreve o direito do proprietário da marca

de pleitear reparação dos danos que, do desrespeito a ele, lhe tenha advindo.

Dela, entretanto, não deixou de ser titular. Nem perdeu a propriedade seus

atributos. Poderá demandar sejam impedidas outras ofensas ou que cesse a

existente. O prazo prescricional será o das ações reais, como assinalado pelo

Desembargador Oliveira Leite, do Egrégio Tribunal de Justiça de Minas, em

acórdão cuja cópia se encontra nos autos.

Comungo, às inteiras, desse entendimento. Apenas a ação indenizatória,

por meio da qual se busque reparação pelo indevido uso de marca, está sujeita

ao lapso qüinqüenal. Não assim a ação que vise à abstenção, à cessação do uso,

porque em essência ação real, destinada à defesa do direito de propriedade da

marca, oponível erga omnes. Aplicável, em casos tais, o disposto no art. 177, CC,

cuja aplicação foi negada pelo v. acórdão recorrido.

Page 311: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 283-315, julho 2010 311

No que toca ao alegado dissenso pretoriano, reputo-o devidamente

demonstrado apenas em relação ao aresto do extinto Tribunal Federal de

Recursos, que sufragou tese no sentido de que “o prazo de prescrição para a ação

de mudança de nome... é o da lei comum, ou seja, o do art. 177 do Código Civil”.

Conquanto esse paradigma tenha vindo aos autos por cópia não devidamente

autenticada, dela constou indicação do Diário da Justiça em que publicado, o

mesmo não se tendo verifi cado relativamente ao julgado do Tribunal de Justiça

do Rio de Janeiro, da mesma forma carreado por cópia despida da necessária

autenticação. Já o aresto emanado do mesmo Tribunal de Justiça de São Paulo,

prolator da decisão recorrida, não se presta a lavrar a divergência (Enunciado n.

13 da Súmula-STJ).

Em face do exposto, conhecendo do recurso por ambos os fundamentos,

dou-lhe provimento para, afastada a ocorrência da prescrição, determinar

prossiga a egrégia Câmara julgadora no exame das demais questões devolvidas

ao seu conhecimento.

VOTO

O Sr. Ministro Barros Monteiro: Sr. Presidente, já sufraguei orientação

semelhante àquela adotada pelo acórdão recorrido. Todavia, em sentido oposto

já assentou a Segunda Seção deste Tribunal em julgamento ocorrido no ano

passado (REsp n. 19.355-0-MG, relator para o acórdão Ministro Eduardo

Ribeiro).

Por essa razão, rendendo-me à diretriz adotada pela Seção referida,

acompanho o eminente Relator.

RECURSO ESPECIAL N. 34.983-SP

Relator: Ministro Fontes de Alencar

Recorrentes: Oeste Dental Ltda e outro

Recorrida: ICI Brasil S/A

Advogados: Lanir Orlando e outro, e Luiz Leonardos e outros

Page 312: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

312

EMENTA

Direito de propriedade. Dano. Prescrição. Abstenção do uso de

marca.

A ação para reparação do dano pelo uso indevido de marca

prescreve em cinco anos; àquela que visa à cessação do seu uso aplica-

se o lapso previsto no art. 177 do Código Civil.

Súmula n. 80 do STJ.

Matéria de fato. Súmula n. 7 do STJ.

Recurso especial não conhecido.

Unânime.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram com

o Relator os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo, Barros Monteiro, Antônio Torreão

Braz e Dias Trindade, convocado nos termos do art. 1º da Emenda Regimental

n. 3/1993.

Brasília (DF), 13 de dezembro de 1993 (data do julgamento).

Ministro Fontes de Alencar, Presidente e Relator

DJ 21.02.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Fontes de Alencar: Trata-se de ação ordinária proposta por

ICI Brasil S/A contra Oeste Dental Ltda e Dencril Comércio e Indústria de Plástico

Ltda, objetivando a obtenção do uso da marca “Polycron”, além de indenização

pelo prejuízo causado.

A Egrégia Primeira Câmara Civil do Tribunal de Justiça do Estado de

São Paulo afastou a matéria prescricional, mantendo a sentença que julgara

parcialmente procedente a ação, pelos seguintes fundamentos:

Page 313: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 283-315, julho 2010 313

O MM. Juiz bem decidiu a questão quanto a prescrição da ação, pois, de fato

a posição jurisprudencial que prevalece é a de que “O direito sobre a marca

de fábrica e de comércio constitui uma propriedade”, aplicando-se, portanto o

prazo prescricional do art. 178, § 10, IX, do Código Civil, já que a empresa Dencril

tem divulgado desde 30.11.1983 a utilização da marca “Polycron” (fl . 411), não

cabendo, assim, almejada indenização, quanto a perdas e danos, pois sequer

fi caram demonstrados.

Quanto a abstenção do uso da marca “Polycron” não cabe a aplicação do artigo

já mencionado, por não se tratar, nesta parte, de ofensa a dano causado ao direito

de propriedade, mas sim de abstenção do uso da marca em questão, aplicando-

se, assim, a regra do art. 177 do Código Civil (“ações pessoais prescrevem,

ordinariamente, em 20 anos, ...”).

Não há também, como acolher a carência da ação quanto à primeira ré, pois,

esta deveria ter deixado de usar a marca ao menos quando de sua citação para

responder a ação.

No mérito, a procedência da ação é de rigor, haja vista que a marca “Polykron”

e a “Polycron” podem causar confusão ao consumidor, pois a pequena diferença

está na escrita de uma única letra, diferença esta não identifi cada auditivamente.

(fl s. 555 a 556)

Inconformados, os recorrentes manifestaram recurso especial com fulcro

no art. 105, III, a e c, da Constituição Federal, alegando violação do art. 178, §

10, inciso IX, do Código Civil, além de dissídio jurisprudencial, por não ter o

acórdão reconhecido também a prescrição referente a ação para abstenção do

uso da marca; argüiram, ainda carência da ação e disse que as marcas “Polykron”

e “Polycron” estão incluídas em classe diversa.

Pelo despacho de fl s. 639 a 640 o recurso foi admitido.

VOTO

O Sr. Ministro Fontes de Alencar (Relator): As instâncias ordinárias,

ao julgarem parcialmente procedente a ação, consideraram que quanto ao

pedido de perdas e danos a ação acha-se prescrita, nos termos do art. 178, § 10,

inciso IX, do Código Civil, porém com relação a abstenção do uso da marca a

prescrição não se consumara, por ser o lapso de 20 anos.

Tal entendimento está pacifi cado consoante se percebe do julgamento do

REsp n. 19.355, relatado pelo Ministro Eduardo Ribeiro, perante a Segunda

Seção, de que resultou acórdão assim ementado:

Page 314: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

314

Marca. Violação. Prescrição.

O prazo prescricional de que cuida o art. 178, § 10, inciso IX, do Código

Civil é aplicável quando se trate do direito à reparação do dano, decorrente do

desrespeito ao direito do titular da marca. Não à ação em que se intente fazer

cessar a violação. (fl . 595)

Em caso idêntico, também se pronunciou esta Turma, no REsp n. 12.592,

relatado pelo Ministro Sálvio de Figueiredo, em cujo voto se lê:

(...) Apenas a ação indenizatória por meio da qual se busque reparação pelo

indevido uso de marca está sujeita ao lapso qüinqüenal. Não assim a ação que

vise à abstenção, à cessação do uso, porque em essência ação real, destinada à

defesa do direito de propriedade da marca, oponível erga omnes. Aplicável, em

casos tais, o disposto no art. 177, CC.

Inocorreu, pois, a invocada afronta ao art. 178, § 10, inciso IX, CC, a cuja

disciplina não se submete a hipótese vertente.

Neste particular, não ocorre afronta à lei federal.

A alegação de dissídio pretoriano, por sua vez, não logra êxito, pois os

paradigmas trazidos à colação acham-se superados, em face do posicionamento

da Segunda Seção deste Tribunal. Há no caso incidência da Súmula n. 80 do

STJ.

Quanto à alegância de carência da ação ao argumento de que:

não existe qualquer comprovação nos autos de que a primeira ré tenha

continuado a comercializar artigos/produtos, fabricados pela segunda ré, (fl . 570).

Nítido é o caráter de reexame da matéria fática.

Aliás, o acórdão ao repelir a preliminar correspondente registrou:

Não há também, como acolher a carência de ação, quanto à primeira ré, pois,

esta deveria ter deixado de usar a marca ao menos quando de sua citação para

responder a ação (fl . 556).

Neste aspecto, a incidência da Súmula n. 7-STJ é de rigor.

Finalmente, trazem os recorrentes alguns julgados para sustentar que

estando as marcas “Polykron” das recorrentes e “Polycron” da recorrida, incluídas

em classes diversas, nada impede o registro da marca.

Page 315: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 283-315, julho 2010 315

Os arestos colacionados não prestam para a caracterização do dissenso

pretoriano, porquanto não guardam similitude ou identidade com a situação

fática dos autos.

Para tanto, basta a transcrição do seguinte trecho da sentença:

Forçoso é reconhecer, igualmente, que, a despeito da destinação final do

produto fabricado ser distinta, o produto químico é o mesmo (resina acrílica),

podendo causar, por evidente, confusão ao público consumidor, que, em última

análise, associa a marca ao produtor ou fabricante.

Desse modo, merece proteção o fabricante, proprietário de marca, para

distinguir produto, mercadoria ou mesmo serviço, que seja semelhante, relativo

ou afi m, ao mesmo ramo de atividade. (fl . 491)

Registre-se que a argüição de dissenso de jurisprudência já fora repelida

quando do juízo prévio de admissibilidade (fl . 40).

Destarte, não conheço do presente recurso.

Page 316: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 317: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

Súmula n. 144

Page 318: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 319: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULA N. 144

Os créditos de natureza alimentícia gozam de preferência, desvinculados os

precatórios da ordem cronológica dos créditos de natureza diversa.

Referências:

CF/1988, art. 100.

CF/1988, ADCT, art. 33.

CPC, art. 730, I e II.

Lei n. 8.197/1991, art. 4º, parágrafo único.

Precedentes:

RMS 3.536-SP (6ª T, 11.10.1994 — DJ 31.10.1994)

REsp 8.399-SP (1ª T, 20.06.1994 — DJ 22.08.1994)

REsp 51.473-SP (5ª T, 14.09.1994 — DJ 24.10.1994)

REsp 52.800-SP (5ª T, 19.10.1994 — DJ 21.11.1994)

REsp 52.978-SP (6ª T, 13.09.1994 — DJ 31.10.1994)

REsp 53.415-SP (6ª T, 26.09.1994 — DJ 12.12.1994)

REsp 54.762-SP (5ª T, 09.11.1994 — DJ 28.11.1994)

REsp 54.787-SP (5ª T, 19.10.1994 — DJ 07.11.1994)

Corte Especial, em 10.08.1995

DJ 18.08.1995, p. 25.079

Page 320: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 321: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N. 3.536-SP

(93.0024385-3)

Relator: Ministro Pedro Acioli

Recorrente: Instituto Nacional de Seguro Social — INSS

Advogados: Luiz Nogueira Santos e outros

Tribunal de Origem: 2º Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo

Impetrado: Juízo de Direito da Vara Única de Jardinópolis-SP

Recorrido: Fernando Carlos Arantes

Advogado: Ricardo Guimarães Junqueira

EMENTA

Constitucional e Previdenciário. Precatório. Crédito decorrente

de acidente do trabalho.

I - Os créditos de natureza alimentícia estão sujeitos aos

princípios orçamentários inerentes à despesa pública.

II - A exceção estabelecida na Constituição Federal limita-se

a isenção da observância da ordem cronológica em relação aos de

natureza geral.

III - Precedente do Supremo Tribunal Federal, Ação Direta de

Inconstitucionalidade n. 47.

IV - Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Egrégia

Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas constantes dos autos, por unanimidade, dar provimento ao

recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Votaram os Srs. Ministros

Adhemar Maciel e Luiz Vicente Cernicchiaro. Ausente, por motivo justifi cado,

o Sr. Ministro Anselmo Santiago.

Brasília (DF), 11 de outubro de 1994 (data do julgamento).

Page 322: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

322

Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, Presidente

Ministro Pedro Acioli, Relator

DJ 31.10.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Pedro Acioli: Trata-se de recurso ordinário em mandado

de segurança interposto pelo Instituto Nacional de Seguro Social — INSS,

com fulcro na letra b do inciso II do art. 105 da Constituição, contra aresto do

2º Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo, que não conferiu efeito

suspensivo a agravo de instrumento interposto contra decisão determinativa

do seqüestro de valores correspondentes à condenação em ação acidentária, por

considerar que a execução independeria da expedição de precatória.

A autarquia pondera que a execução contra a Fazenda Pública, inclusive

autarquias, obedece a procedimento próprio, necessitando de expedição de

precatória para pagamento.

O Ministério Público Federal pronunciou-se pelo provimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Pedro Acioli (Relator): Os argumentos do recorrente

procedem. Aliás, em prol de sua tese, impende trazer à colação o seguinte

acórdão do Supremo Tribunal Federal, in verbis:

Precatório. Crédito decorrente de acidente do trabalho. Art. 100 da Constituição

Federal.

A exceção estabelecida pela Constituição Federal em favor dos chamados

créditos de natureza alimentícia não chega ao ponto de abolir, em relação a eles,

os princípios orçamentários inerentes à despesa pública, limitando-se apenas a

isentá-los da observância da ordem cronológica em relação aos de natureza geral.

Precedente do Supremo Tribunal Federal: Ação Direta de Inconstitucionalidade

n. 47.

Recurso extraordinário conhecido e provido. (RE n. 173.047-1-SP, Relator

Ministro Ilmar Galvão, in DJ 02.09.1994).

Page 323: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 317-354, julho 2010 323

Assim, dou provimento ao recurso e concedo a segurança, a fi m de conferir

efeito suspensivo ao recurso veiculado.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 8.399-SP (91.0002894-0)

Relator: Ministro Milton Luiz Pereira

Recorrente: João Justino Cassemiro

Recorrido: Município de Santo André

Advogados: Luiz Gonzaga Curi Kachan e outros, e Heitor Donizete de

Oliveira e outro

EMENTA

Processual Civil. Execução por quantia certa contra a Fazenda

Pública. Crédito de natureza alimentícia. Precatórios. Constituição

Federal, art. 100. Código de Processo Civil, arts. 646, 648, 649, I, e

730. ADIn n. 47-STF.

1. A execução contra a Fazenda Pública, tendo por objeto crédito

de natureza alimentícia, não torna penhoráveis os bens públicos, nem

prescinde dos precatórios.

2. A exceção vincada no art. 100, CF, limita-se a resguardar o

pagamento do haver alimentício de sujeição à ordem cronológica dos

precatórios em geral, aprisionados a créditos de natureza diversa. É

a separação, em duas ordens, dos precatórios, fi ncando a prioridade

para o pagamento daquele referente a crédito de natureza alimentar.

Enfi m, esta espécie de crédito não dispensa a expedição do precatório,

inclusive servindo de critério para a ordem de pagamento dos créditos

de igual natureza alimentícia, conforme a disponibilidade de recursos

orçamentários.

3. Precedentes da jurisprudência.

4. Recurso improvido.

Page 324: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

324

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar

provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos

autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do

julgamento os Srs. Ministros Garcia Vieira, Demócrito Reinaldo e Humberto

Gomes de Barros. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha.

Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Demócrito Reinaldo. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 20 de junho de 1994 (data do julgamento).

Ministro Demócrito Reinaldo, Presidente

Ministro Milton Luiz Pereira, Relator

DJ 22.08.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira: João Justino Cassemiro, com

fundamento no art. 105, inciso III, alíneas a e c, da Constituição Federal,

interpôs recurso especial malferindo o v. aresto do Egrégio Tribunal a quo, que

negou provimento a agravo de instrumento, nos termos, verbis:

Execução por quantia certa contra a Fazenda Pública. Crédito de caráter

alimentar. Pagamento que independe da ordem cronológica dos precatórios

relativos a créditos doutra natureza. Precatório especial, sujeito a outra ordem

entre créditos de igual natureza. Necessidade. Interpretação do art. 100, caput,

da CF, e do art. 57, § 3º, da CE. O art. 100, caput, da Constituição Federal, não

fez expropriáveis os bens públicos nem subtraiu o fundamento de validade

normativa do art. 730 do Código de Processo Civil, que continua em vigor. E

não podia fazê-lo o art. 57, § 3º, da Constituição Estadual, onde apenas se prevê

pagamento de uma só feita. Um e outro dispositivos constitucionais limitam-

se a excepcionar o pagamento dos créditos de natureza alimentícia à ordem

cronológica dos precatórios relativos a créditos doutra natureza. Mas não

dispensam expedição de precatório nem ordem cronológica especial, entre os

créditos de caráter alimentar, porque, além de sua necessidade documental

primária, a apresentação dos precatórios é o único critério que permite pagar,

com justiça, pela ordem, vários créditos, para cujo pagamento simultâneo não

haja disponibilidade imediata de recurso. (fl . 73)

Page 325: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 317-354, julho 2010 325

Sustenta o Recorrente que o v. aresto violou o art. 100 da Constituição

Federal, negou aplicação aos arts. 646, 648, 649, inciso I, do Código de Processo

Civil, 66 e 67 do Código Civil, além de divergir do entendimento de outros

tribunais (fl s. 90-102).

Simultaneamente foi interposto recurso extraordinário (art. 102, III, a, da

CF), admitido pelo Egrégio Tribunal de Origem.

Em suas contra-razões, disse o Recorrido que os arts. 646, 648 e 649

do CPC não se aplicam ao caso em exame. Quanto aos arts. 66 e 67 do

Código Civil, também não houve negativa de vigência, “vez que estes artigos da

legislação federal, também, foram recepcionados pela nova ordem constitucional

implantada a partir de 5 de outubro de 1988”. E ainda, não restou comprovada a

dissenção jurisprudencial alegada.

O nobre Subprocurador-Geral da República, Dr. Getúlio Rivera Velasco

Cantanhede, concluindo que “a execução de prestação alimentar prescinde de

precatório, mas que nem por isso sujeita os bens públicos à penhora,” opinou

pelo parcial provimento do recurso, asseverando:

É que, no tocante ao art. 730 do CPC, este encontra-se em parte revogado pela

nova Constituição, que, no art. 100, exclui, expressamente, a prestação alimentícia

do precatório.

De fato, o art. 100, caput, da Constituição Federal está assim redigido:

Art. 100. À exceção dos créditos de natureza alimentícia, os pagamentos

devidos pela Fazenda Federal, Estadual ou Municipal, em virtude de

sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de

apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida

a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos

créditos adicionais abertos para este fi m.

Mas, da dicção desse preceito constitucional, não se extrai que os bens

públicos estejam sujeitos à penhora.

Na realidade, continua em vigor o art. 649, I (São absolutamente impenhoráveis

os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução),

porquanto, nem a Carta Magna, nem qualquer lei federal retirou o caráter de

impenhorabilidade dos bens públicos.

Ora, em assim sendo, na execução por quantia certa contra a Fazenda Pública,

esta é citada para oferecer embargos. Se não os oferece, ou são rejeitados, o

procedimento a seguir é o juiz requisitar o pagamento da dívida executada,

mediante ofício, sem precatório. (fl s. 126-127)

É o relatório.

Page 326: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

326

VOTO

O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira (Relator): Cuida-se de execução por

quantia certa, a trato de crédito de natureza alimentícia, vertente a questão do

pagamento, assim resolvida, cônsono o desafi ado v. acórdão, conforme a ementa:

Execução por quantia certa contra a Fazenda Pública. Crédito de caráter

alimentar. Pagamento que independe da ordem cronológica dos precatórios

relativos a créditos doutra natureza. Precatório especial, sujeito a outra ordem

entre créditos de igual natureza. Necessidade. Interpretação do art. 100, caput,

da CF, e do art. 57, § 3º, da CE. O art. 100, caput, da Constituição Federal, não

fez expropriáveis os bens públicos nem subtraiu o fundamento de validade

normativa do art. 730 do Código de Processo Civil, que continua em vigor. E

não podia fazê-lo o art. 57, § 3º, da Constituição Estadual, onde apenas se prevê

pagamento de uma só feita. Um e outro dispositivos constitucionais limitam-

se a excepcionar o pagamento dos créditos de natureza alimentícia à ordem

cronológica dos precatórios relativos a créditos doutra natureza. Mas não

dispensam expedição de precatório nem ordem cronológica especial, entre os

créditos de caráter alimentar, porque, além de sua necessidade documental

primária, a apresentação dos precatórios é o único critério que permite pagar,

com justiça, pela ordem, vários créditos, para cujo pagamento simultâneo não

haja disponibilidade imediata de recursos. (fl . 73)

No despique recursal (art. 105, III, a e c, CF), inconformada a parte

alvoroçou que o v. aresto contrariou aos arts. 646, 648, 649, I, CPC, e arts. 66 e

67, Código Civil, divergindo da jurisprudência de outros tribunais.

De inopino, por manifesta fuga às exigências do art. 26, parágrafo único,

Lei n. 8.038/1990, no defi nitivo juízo de admissibilidade, não conheço do

recurso pela alínea c, mas, presentes os requisitos, impõe-se o seu conhecimento

pela alínea a, III, art. 105, Constituição Federal.

Desembaraçado o exame dos lindes do conhecimento, na lida do desate, a

questão faz reboar, a trato de crédito de natureza alimentária, para o pagamento,

a necessidade ou não da expedição de precatório judicial, a respeito, pontifi cando

o art. 100 da Constituição Federal.

Muito embora, pontuado o art. 100 da Constituição Federal, versando

o recurso, objetivamente, enunciada a legislação infraconstitucional, na via

especial, não há impedimento para ser referenciada difusamente a Carta Maior,

como forte luminosidade à compreensão da questão de fundo, como purifi cação

e valioso adjutório ao raciocínio lógico-jurídico, não constitui desvio censurável,

Page 327: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 317-354, julho 2010 327

nem existe óbice mencionar, como luz indireta, princípios gerais e norteadores

colhidos na Constituição. Essa possibilidade está amparada por inestimáveis

lições doutrinárias e precedentes da jurisprudência; p. ex.:

A Constituição da República distingue, com nitidez, a competência do STJ e do

Egrégio Supremo Tribunal Federal. Este, mediante recurso extraordinário, declara

a inconstitucionalidade de tratado ou Lei Federal (art. 102, III, b). Aquele julga,

em recurso especial, as causas decididas pelos Tribunais Regionais Federais e os

Tribunais de Justiça, quando a decisão recorrida contrariar tratado ou lei federal,

ou negar-lhes vigência (art. 105, III, a).

O acórdão embargado não declarou a constitucionalidade ou a

inconstitucionalidade de qualquer lei. Restringiu-se, como fazem todos os órgãos

julgadores, a analisar e decidir a adequação normativa/fato, considerada uma

hipótese concreta.

Tecnicamente, cumpre registrar a diferença entre declaração de

inconstitucionalidade e reconhecimento incidenter tantum de uma lei. Aquela

obedece a rito específi co, ao passo que rejeitar a aplicação de lei, porque contrária

à Constituição, esta, sem procedimento especial, afeta a qualquer juiz, é própria

da atividade jurisdicional. Logicamente, o Superior Tribunal de Justiça não está

impedido de fazê-lo (REsp n. 695 - EDcl - Rel. Min. Vicente Cernicchiaro - in DJU de

09.03.1990 - p. 1.607 - apud - Recurso especial - Edson Rocha Bonfi m).

O Excelso Supremo, como guardião-maior da Constituição, com o vigor

da sua autoridade, averbou; verbis:

A possibilidade de que a mesma questão de direito venha a ser apreciada

tanto no recurso especial quanto no recurso extraordinário é uma contingência

do próprio sistema adotado na nova Constituição Federal, ao disciplinar esses

dois recursos (arts. 102, III, e 105, III). Isto ocorre, por exemplo, nos casos em que

a norma infraconstitucional, tida como contrariada no recurso especial, reproduz,

completamente, o regula norma constitucional, cuja ofensa é igualmente alegada

no recurso extraordinário.

Improcede, portanto, alegação do reclamante de que o Superior Tribunal de

Justiça usurpou a competência do Supremo Tribunal Federal. Limitou-se aquele

egrégio Tribunal Superior ao exame da matéria infraconstitucional, levada a

seu conhecimento através do recurso especial, sem qualquer pronunciamento

a respeito da incidência do art. 153, § 31, da Lei Maior, objeto do recurso

extraordinário.

Cumpre referir, por último, que, na missão de julgar, mediante recurso especial,

as questões federais de que tratam as alíneas a, b e c do inciso III do art. 105

da Constituição Federal, o Superior Tribunal de Justiça não está impedido,

Page 328: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

328

evidentemente, de apreciar questão constitucional, incidenter tantum, como tema

prévio à aplicação das normas infraconstitucionais.

O controle incidental de constitucionalidade é difuso entre todos os órgãos do

Poder Judiciário, pois se trata de atividade — no dizer de Alfredo Buzaid — co-

natural com a função de interpretar e aplicar o direito em cada caso concreto (“Da

Ação Direta”, São Paulo: Saraiva, 1958, p. 39).

Esse pronunciamento declarativo da invalidade ou da inefi cácia, restrito à

espécie submetida a julgamento, decorre, de um lado, na noção de Constituição

rígida e, de outro, da função do Judiciário de pronunciar o direito aplicável ao

caso concreto.

No sistema brasileiro, o direito positivo não atribui a uma instância diversa o

exame e a decisão a respeito do seu confl ito entre norma inferior e a Constituição,

cabendo ao próprio órgão judicial competente para a execução da norma a

apreciação de uma legitimidade constitucional. Se existe uma pirâmide de

normas — observa Kelsen —, o sentido de obrigatoriedade da norma e sua

aplicação está na conformidade dela com a norma suprema, de sorte que, no

silêncio da lei, la teoria no puede llegar a otro resultado que este: aquel ha de ejecutar

la norma, ha de examinar y decidir también se es o no una norma regular y, por tanto,

ejecutable (Teoria Generale del Estado, Barcelona: Labor, 1934, p. 374-375).

O que não pode o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do recurso

especial, é decidir a questão constitucional suscitada no recurso extraordinário.

Não há, contudo, nenhuma restrição a que aquele Egrégio Tribunal aprecie

matéria constitucional que entender conveniente à própria decisão do recurso

especial (Reclamação n. 324-8, STF. Rel. Min. Carlos Madeira, in DJU de 09.03.1990,

p. 1.607, apud ob. cit.).

Em abono:

A inversão na ordem de julgamento dos recursos especial e extraordinário

apenas deve ocorrer quando este contenha matéria que, estranha ao primeiro,

seja conducente à prejudicialidade.

A simples circunstância de se ter no extraordinário, como é a regra, a alegação

de mau trato à lei básica federal, isto quanto ao mesmo tema veiculado no

especial, não autoriza a aplicação do § 5º do art. 27 da Lei n. 8.038/1990, sob pena

de, quase sempre, exsurgir quadro ensejador do sobrestamento do especial.

A razão de ser do preceito está na possibilidade de se ter no extraordinário

matéria estranha à versada no especial e que, uma vez apreciada, possa implicar

o prejuízo deste último, valendo notar que não foge à competência do Superior

Tribunal de Justiça, ultrapassada a barreira do conhecimento, o crivo difuso

referente à constitucionalidade de ato normativo.

Page 329: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 317-354, julho 2010 329

Os fundamentos fáticos de ambos os recursos — o especial e o extraordinário

— são os mesmos. Destarte, tenho como imprópria a inversão. A recorribilidade

em face da legislação federal há de ser exaurida com a observância do disposto

no inciso III do art. 105 da lei básica.

Devolvam-se estes autos ao Superior Tribunal de Justiça, com as homenagens

merecidas. (RE n. 156.572-1-SP, Rel. Min. Marco Aurélio, in DJU de 06.11.1992, p.

20.127).

Nesse sentido, orientada pelo voto-condutor do exímio Ministro Adhemar

Maciel, é o entendimento da Colenda Sexta Turma (REsp n. 32.926-0-SP, item

I, da ementa, julgado em 30.06.1993).

Por esse pórtico, à fiveleta, calham as lúcidas observações feitas pelo

eminente Ministro Ilmar Galvão, relatando o RE n. 163.670-0-SP, a dizer:

omissis

O Supremo Tribunal Federal, ao apreciar a Ação Direta de Inconstitucionalidade

n. 47, de São Paulo, de que foi relator o eminente Ministro Octávio Gallotti,

considerou que a exceção estabelecida pela Constituição Federal em favor dos

chamados créditos de natureza alimentícia não chega ao ponto de abolir, em

relação a eles, os princípios orçamentários inerentes à despesa pública, limitando-

se apenas a isentá-los da observância da ordem cronológica em relação aos

demais pagamentos decorrentes de condenação de sentenças judiciárias mais

antigas.

A esse julgamento seguiu-se, nesta Egrégia Turma, o do Recurso Extraordinário

n. 134.166, coincidentemente do mesmo relator, cujo acórdão, que se baseou no

precedente plenário, dispõe em sua ementa:

Diferença de vencimentos reconhecida em favor de servidor público

estadual.

Não se acham dispensados, do regime de pagamento por meio de

precatórios, os créditos de natureza alimentícia, nem contraria o art. 100

da Constituição serem eles dispostos em ordem própria, com prioridade

sobre os de natureza geral. Precedente do Supremo Tribunal: Ação Direta

de Inconstitucionalidade n. 47 (sessão de 22.10.1992).

À sua vez, no RE n. 134.166-1-PR, o douto Ministro Octávio Gallotti,

minudenciou:

omissis

A questão proposta ao Tribunal consiste no indagar, em suma, se a exceção

estabelecida em favor dos chamados créditos de natureza alimentícia chega

Page 330: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

330

ao ponto de abolir, em relação a eles, os princípios orçamentários inerentes à

despesa pública, ou se limita a isentá-los da observância da ordem cronológica,

em relação às dívidas de outra natureza, porventura mais antigas.

Julgo que se impõe a última, e mais restrita, dessas duas acepções.

A regra da ordenação dos créditos resultantes de condenação da Fazenda,

em precatórios dispostos por ordem cronológica, que advém das Constituições

anteriores, tem dois objetivos bem distintos, a tutelar: um deles é a boa ordem da

elaboração e da execução orçamentárias; outro é o respeito da igualdade entre os

credores.

Penso que, só a esse segundo objetivo (a isonomia), está presa a exceção

constitucional, adotada para possibilitar que os credores de dívidas de natureza

alimentícia possam preferir os de débitos de outra sorte, resultantes de execuções

mais antigas.

Quanto a não considerá-los sujeitos à exigência de dotação orçamentária,

nem ao procedimento próprio dos precatórios, mas ao pagamento integral,

incontinente e atualizado, sempre à boca do cofre — como sugere o Dr. Eduardo

Ferreira Neto em sua representação —, não julgo ser lícito extrair, do texto

constitucional, as prerrogativas ali reclamadas.

Além de infringir, no plano teórico, os princípios da unidade e da universalidade

do orçamento, a possibilidade de tal prática se debate, desenganadamente, com

a realidade da limitação das dotações orçamentárias e da quantificação dos

recursos públicos em geral, demarcada pela receita.

Diante dessas inevitáveis contingências, e da circunstância de não serem

penhoráveis os bens públicos, o sistema de precatórios funciona como garantia

verdadeiramente recíproca, tanto do Estado, como do particular.

Os venerandos arestos, respectivamente, estão assim ementados:

Precatório. Crédito de natureza alimentícia. Art. 100 da Constituição Federal.

A exceção estabelecida pela Constituição Federal em favor dos chamados

créditos de natureza alimentícia não chega ao ponto de abolir, em relação a eles,

os princípios orçamentários inerentes à despesa pública, limitando-se apenas a

isentá-los da observância da ordem cronológica em relação aos de natureza geral.

Precedente do Supremo Tribunal Federal: Ação Direta de Inconstitucionalidade

n. 47.

Recurso extraordinário conhecido e provido. (in DJU de 18.06.1993, p. 12.118).

Diferença de vencimentos reconhecida em favor de servidor público estadual.

Não se acham dispensados, do regime de pagamento por meio de precatórios,

os créditos de natureza alimentícia, nem contraria o art. 100 da Constituição

Page 331: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 317-354, julho 2010 331

serem eles dispostos em ordem própria, com prioridade sobre os de natureza

geral.

Precedente do Supremo Tribunal: Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 47

(sessão de 22.10.1992). — in DJU de 18.12.1993, p. 24.380.

No particular, esta Corte tem precedente compreendendo diferentemente:

RMS n. 2.150-6-SP, Relator Ministro Costa Lima, in DJU de 30.11.1992, item

1 da ementa.

Concluída a vigiliatura sobre as fontes da relação jurídica litigiosa, no

pertencente à contrariedade aos indicados artigos da lei processual civil,

demonstrando a improcedência, calham à fi veleta as anotações feitas pelo ilustre

Subprocurador-Geral da República, textualmente:

omissis

... continua em vigor o art. 649, I (são absolutamente impenhoráveis os

bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução),

porquanto, nem a Carta Magna, nem qualquer lei federal retirou o caráter de

impenhorabilidade dos bens públicos.

Ora, em assim sendo, na execução por quantia certa contra a Fazenda Pública,

esta é citada para oferecer embargos. Se não os oferece, ou são rejeitados, o

procedimento a seguir é o juiz requisitar o pagamento da dívida executada,

mediante ofício, sem precatório. Esta é, por exemplo, a interpretação do

magistrado José Augusto Delgado (Em “Execução de Quantia Certa contra a

Fazenda Pública”, Revista de Processo, n. 57, fl s. 13-23):

O crédito de natureza alimentícia, após devidamente apurado, isto é,

liquidado por artigos, por cálculos ou por arbitramento, com sentença

trânsita em julgado, passa a se constituir de quantia certa e com condições

de ser exigido do devedor solvente. Daí a aplicação ao mesmo do art. 646

do CPC: “A execução por quantia certa tem por objetivo expropriar bens do

devedor, a fi m de satisfazer o direito do credor (art. 591)”. Por expropriação,

entende-se a alienação de bens do devedor para o patrimônio do credor

(art. 647, I, do CPC). Tratando-se da Fazenda Pública, esta será citada para

opor embargos no prazo de 10 dias (art. 730 do CPC). Se tais embargos

forem apresentados, passa-se aos demais atos necessários ao seu

julgamento (arts. 736 e ss. do CPC) até alcançar a fase fi nal. Considerados

improcedentes ou procedentes em parte, por decisão definitiva, o juiz

requisitará o pagamento ao ordenador de despesa competente da

repartição junto a qual está subordinado o servidor. Em caso de pensão

paga diretamente pelo Tesouro Nacional, a requisição deverá ser dirigida ao

Delegado da Fazenda Nacional do Estado.

Page 332: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

332

Do mesmo modo proceder-se-á, em 10 dias, a contar da citação, se

embargos não forem interpostos. (fl . 127)

Por essa estrias, no rebol das memoradas fundamentações, segue-se que o

ferretado v. acórdão revela semelhante modo de pensar; pois, concebendo idéias

a respeito dos precatórios, evidenciou:

omissis

... não podem ter o adimplemento sujeito à observância da ordem dos

precatórios referentes aos demais créditos, sob pena de sacrifício de sua vocação

legal.

Mas esta não é razão que justifi que tirar, ao arrepio dos limites semânticos

do texto normativo, cuja restrição parece óbvia, alguma repercussão sobre a

natural impenhorabilidade (rectius, inexpropriabilidade) dos bens públicos e o

procedimento executório, por quantia certa, contra a Fazenda Pública, enquanto

matérias cuja disciplina atende a princípios e valores distintos. Noutras palavras,

a temática da intagibilidade processual dos bens públicos nada tem com a regra

constitucional destinada a garantir solução rápida dos créditos de natureza

alimentícia.

Tampouco fi ca essa regra, que não dispõe coisa diferente, comprometida pela

necessidade de expedição de precatório, submetido a ordem diversa e própria

dos créditos de natureza alimentar. Ainda aqui, uma coisa nada tem com a outra.

A requisição judicial é indispensável à documentação do procedimento

administrativo de pagamento dos créditos, devam estes guardar ordem

cronológica comum, ou especial, ou ser pagos em várias parcelas, ou de uma

só vez. Os créditos de natureza alimentícia podem ter o pagamento previsto

de uma só feita, como reza o art. 57, § 3º, da Constituição estadual, mas não

dispensam expedição de precatório nem ordem cronológica particular, entre

créditos da mesma natureza, porque, além de sua exigibilidade documental

primária, a apresentação dos precatórios é o único critério que permite pagar,

com justiça, pela ordem, vários créditos, para cujo pagamento simultâneo não

haja disponibilidade imediata de recursos. Ou seja, havendo concurso de créditos

de natureza alimentar e escassez de verba disponível, deverão ser pagos de uma

só feita, mas na ordem cronológica especial de apresentação dos seus precatórios

e na proporção das disponibilidades orçamentárias. De que outra maneira se

poderia pagá-los com eqüidade? (fl s. 74 e 75)

São razões confluentes à compreensão vitoriosa na Suprema Corte

revelando proveitosa interpretação fi nalística e, demais, contemplando solução

lógica, aureolada pela eqüidade e, por isso, não merecendo o degredo ou reforma,

uma vez que, compatíveis com a incidência maior (art. 100, CF), sem colidir

Page 333: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 317-354, julho 2010 333

com as disposições infraconstitucionais apontadas como contrariadas. Bem ao

contrário, por imperiosa conclusão, no eco de sistemática análise, o acertamento

consagrado no v. acórdão está ligado ao notado convívio com as regras gerais do

Código de Processo Civil.

Enfi m, os créditos de natureza alimentícia, para o pagamento, sujeitam-se

aos precatórios, com ordem própria, para fi carem resguardados, com prioridade,

em relação aos de natureza geral.

Na enseada da motivação desenvolvida, voto improvendo o recurso.

É o voto.

VOTO

O Sr. Ministro Garcia Vieira: Sr. Presidente. O art. 730 do Código de

Processo Civil, como bem lembrou o eminente Ministro-Relator, é que regula

a execução contra a Fazenda Pública. Ora, este dispositivo legal esclarece que

na execução por quantia certa contra a Fazenda Pública citar-se-á a Fazenda

para opor embargos. Esses embargos sendo rejeitados ou não opostos, o juiz

requisitará o pagamento.

No inciso II, diz-se o seguinte: “far-se-á o pagamento na ordem de

apresentação do precatório e a conta do respectivo crédito”. O legislador

processual não fez nenhuma exceção. Tem que se expedir o precatório, inclusive

nos débitos de natureza alimentar.

O art. 100 da Constituição, no caput, deixa bem claro o seguinte: “a

execução dos créditos de natureza alimentícia dos pagamentos devidos pela

Fazenda Pública, Estadual ou Municipal em virtude de sentença, far-se-ão,

exclusivamente, na ordem cronológica de apresentação dos precatórios.”

Não se dispensa o precatório nos casos dos débitos de natureza alimentar,

apenas não estão sujeitos àquela ordem comum como bem lembrou o Eminente

Ministro Milton Luiz Pereira, mas que tem que ser expedido o precatório, isto

sim.

É bom lembrar que em casos de desapropriação em que o legislador

constitucional diz que o pagamento tem que ser prévio, justo e em dinheiro,

ainda assim, se expede o precatório. Então, por que que nestes casos de

débito alimentar não se expedirá o precatório? Mesmo porque não teria outra

sistemática para fazer o pagamento.

Page 334: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

334

Com essas breves considerações, acompanho o Eminente Ministro-

Relator.

RECURSO ESPECIAL N. 51.473-SP (94.0021960-1)

Relator: Ministro Cid Flaquer Scartezzini

Recorrente: Instituto Nacional de Seguro Social — INSS

Advogados: Luiz Nogueira Santos e outros

Recorrido: Jorge Orlando Mahtuk

Advogado: Valter Tavares

EMENTA

Acidentária. Crédito de natureza alimentícia. Execução.

Precatório.

As execuções acidentárias não estão isentas de precatórios, mas,

apenas desobrigadas da observância da ordem cronológica em relação

às demais dívidas.

Aplicação do art. 4º, parágrafo único, da Lei n. 8.197/1991.

Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar

provimento, nos termos do voto do Ministro Relator. Votaram com o Relator

os Srs. Ministros Assis Toledo, Edson Vidigal, Jesus Costa Lima e José Dantas.

Brasília (DF), 14 de setembro de 1994 (data do julgamento).

Ministro Jesus Costa Lima, Presidente

Ministro Flaquer Scartezzini, Relator

DJ 24.10.1994

Page 335: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 317-354, julho 2010 335

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini: O 2º Tribunal de Alçada Civil do

Estado de São Paulo, às fl s. 36-38, negou provimento a agravo de instrumento

interposto pelo Instituto Nacional do Seguro Social contra r. decisão de fl .

13, que dispensou a expedição de precatório e ordenou a intimação do agente

autárquico para efetuar o depósito da quantia homologada, sob as penas da lei.

Inconformado, o Instituto Nacional do Seguro Social ofereceu recurso

especial, fundado no art. 105, III, a, da Constituição Federal aduzindo, em

síntese, contrariedade ao art. 4º, parágrafo único, da Lei n. 8.197/1991, na

medida em que o acórdão entendeu que as execuções acidentárias não estão

sujeitas à expedição de precatório (fl s. 40-41).

Admitido o recurso (fl . 48), subiram os autos vindo-me conclusos.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini (Relator): Sr. Presidente, entendeu

o v. acórdão recorrido que a execução do crédito acidentário está dispensada

da expedição do precatório por força do disposto no art. 100 da Constituição

vigente, cuja clareza dispensa comentários interpretativos.

O art. 4º, parágrafo único, da Lei n. 8.197/1991, estabelece que os

pagamentos devidos pelas autarquias serão feitos exclusivamente mediante a

apresentação de precatórios judiciários.

O referido dispositivo foi alvo de ação direta de inconstitucionalidade junto

ao Supremo Tribunal Federal, que indeferiu cautelar objetivando suspender sua

efi cácia (ADIn n. 571-5, DJ 06.12.1991).

Por conseguinte, esta egrégia Turma, vem decidindo:

Recurso especial. Natureza do crédito alimentar. Precatório. Disponibilidade.

Autarquia. Seqüestro de bens e rendas. Impossibilidade.

1. Os créditos de natureza alimentar devidos pela Fazenda Pública, não se

sujeitam a precatórios (arts. 100 da CF, e 33 do ADCT).

2. O Supremo Tribunal Federal, entretanto, indeferiu, por maioria, cautelar

destinada a suspender à efi cácia do parágrafo único do art. 4º da Lei n. 8.197,

de 1991 (ADIn n. 571-5, DJ 06.12.1991) e, em decisão singular, suspendeu,

Page 336: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

336

cautelarmente, a vigência de expressões constantes do caput e do parágrafo

único do art. 130 da Lei n. 8.123, de 1991 (ADIn n. 675-4, DJU de 04.02.1992), à

dizer, “cumprindo-se, desde logo, a decisão ou sentença”. Em suma, considerou,

em juízo provisório, que também os créditos de natureza alimentícia sujeitam-se

à ordem cronológica dos precatórios. (REsp n. 27.923-SP, DJ 1º.03.1993, Rel. Min.

Jesus Costa Lima).

A Suprema Corte, consolidando esta orientação, vem entendendo que as

execuções acidentárias não estão dispensadas de precatórios, mas, todavia, têm

prioridade sobre as demais dívidas. Confi ra-se

Ementa: Constitucional. Precatório. Ação acidentária. Crédito de natureza

alimentícia. Constituição, art. 100.

I - O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADIn n. 47-SP, ocorrido

em 22.10.1992, decidiu, por maioria de votos, que a exceção estabelecida no

art. 100, caput, da Constituição, em favor dos créditos de natureza alimentícia,

não dispensa o precatório, mas se limita a isentá-los da observância da ordem

cronológica em relação às dívidas de outra natureza.

II - Ressalva do ponto de vista pessoal do Relator deste.

III - RE conhecido. (RE n. 167.294-3-SP, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ de 17.06.1994).

Desta forma, ao decidir que a dívida resultante de reparação infortunística

não está sujeita ao precatório do art. 4º da Lei n. 8.197/1991, o v. acórdão

recorrido contrariou entendimento tanto do Supremo Tribunal Federal como

desta egrégia Corte.

Com estas considerações dou provimento ao recurso.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 52.800-SP (94.25101-7)

Relator: Ministro Assis Toledo

Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social

Recorrido: Salatiel do Vale Pereira

Advogados: Carmen Lúcia Villanova e outros, e Ivo Arnaldo Cunha de

Oliveira Neto e outros

Page 337: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 317-354, julho 2010 337

EMENTA

Processual Civil. Execução contra o INSS.

Os créditos de natureza alimentar também estão sujeitos a

precatórios.

Precedentes.

Recurso conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da

Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos

e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e

dar-lhe provimento, nos termos do voto do Ministro-Relator. Votaram de

acordo os Ministros Edson Vidigal, Jesus Costa Lima e José Dantas. Ausente,

ocasionalmente, o Ministro Cid Flaquer Scartezzini.

Brasília (DF), 19 de outubro de 1994 (data do julgamento).

Ministro Jesus Costa Lima, Presidente

Ministro Assis Toledo, Relator

DJ 21.11.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Assis Toledo: O despacho de admissibilidade do recurso

especial, da lavra do ilustre Vice-Presidente do 2º Tribunal de Alçada Civil de

São Paulo, assim resume a espécie:

Trata-se de recurso especial fundamentado no art. 105, III, a e c, da Constituição

Federal, sob alegação de que o art. 4º, parágrafo único, da Lei n. 8.213/1991

estabelece claramente que os pagamentos devidos pelas autarquias serão feitos

exclusivamente mediante a requisição dos precatórios judiciários, priorizados,

contudo, aqueles de natureza alimentar (art. 100 da Magna Carta), daí porque não

pode o venerando acórdão entendê-lo dispensável.

Anota-se, o evidente equívoco da recorrente na menção à Lei n. 8.213/1991,

quando na realidade quis se referir à Lei n. 8.197/1991.

Page 338: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

338

Cinge-se a demanda à liberação ou não dos créditos dos benefícios

acidentários sem a expedição de precatórios em face do seu caráter alimentar,

tendo em vista a predita lei que regula, dentre outras matérias, os pagamentos

devidos pela Fazenda Pública, em virtude de sentença judiciária. Neste passo,

admissível o recurso, pois envolve o tema, interpretação e aplicabilidade do

direito federal.

Admito o recurso. Encaminhem-se os autos ao Superior Tribunal de Justiça. (fl .

94).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Assis Toledo (Relator): Alega o Instituto que a decisão

recorrida, ao entender que as execuções acidentárias não estão sujeitas

à expedição do precatório, contrariou o art. 4º, parágrafo único, da Lei n.

8.197/1991.

O citado dispositivo dispõe:

Art. 4º Os pagamentos devidos pela Fazenda Pública federal, estadual ou

municipal e pelas autarquias e fundações públicas far-se-ão, exclusivamente,

na ordem cronológica da apresentação dos precatórios judiciários e à conta do

respectivo crédito.

Parágrafo único. É assegurado o direito de preferências aos credores de

obrigação de natureza alimentícia, obedecida, entre eles, a ordem cronológica de

apresentação dos respectivos precatórios judiciários.

Na Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 571-5, o Supremo Tribunal

Federal indeferiu o pedido de medida cautelar para suspender a efi cácia do

parágrafo único do art. 4º da Lei n. 8.197/1991, acima transcrito.

Com base nesse precedente, vem a Suprema Corte reiteradamente

entendendo que os créditos de natureza alimentar também estão sujeitos a

precatórios.

Eis a ementa de recente decisão:

Constitucional. Precatório. Ação acidentária. Crédito de natureza alimentícia.

Constituição, art. 100.

I - O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADIn n. 47-SP, ocorrido

em 22.10.1992, decidiu, por maioria de votos, que a exceção estabelecida no

Page 339: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 317-354, julho 2010 339

art. 100, caput, da Constituição, em favor dos créditos de natureza alimentícia,

não dispensa o precatório, mas se limita a isentá-los da observância da ordem

cronológica em relação às dívidas de outra natureza.

II - Ressalva do ponto de vista pessoal do relator deste.

III - RE conhecido e provido. (RE n. 164.630-6-SP, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ

17.06.1994).

Ante o exposto, conheço do recurso e dou-lhe provimento para cassar a

sentença e o acórdão, determinando seja cumprida a exigência de precatório,

sem observância da ordem cronológica em relação a dívidas de outra natureza.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 52.978-SP (94.025664-7)

Relator: Ministro Adhemar Maciel

Recorrente: Instituto Nacional de Seguro Social — INSS

Advogados: Carmen Lúcia Villanova e outros

Recorrido: Jair Brega Marcatti

Advogados: Ivo Arnaldo Cunha de Oliveira Neto e outros

EMENTA

Constitucional. Previdenciário. Crédito de natureza alimentar.

Necessidade de precatório (ressalvado o ponto de vista do Relator).

Recurso especial conhecido pela alínea a do autorizativo constitucional.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do

recurso e lhe dar provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator, na

forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo

parte integrante do presente julgado. Votaram de acordo os Srs. Ministros

Page 340: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

340

Anselmo Santiago, Luiz Vicente Cernicchiaro e Pedro Acioli. Custas, como de

lei.

Brasília (DF), 13 de setembro de 1994 (data do julgamento).

Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, Presidente

Ministro Adhemar Maciel, Relator

DJ 31.10.1994

Republica-se por incorreção no original, publicado no DJ 10.10.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Adhemar Maciel: Trata-se de recurso especial interposto

pelo Instituto Nacional de Seguro Social contra acórdão do 2º Tribunal de Alçada

Civil de São Paulo, com fundamento no art. 105, III, a e c, da CF.

2. O ora recorrente interpôs agravo de instrumento de decisão que entendeu

dispensável a expedição de precatório em ações acidentárias, determinando o

seqüestro de valores para efetuar os pagamentos devidos. O 2º TACSP negou

provimento ao recurso. Argumentou que a questão da dispensa de precatórios

em execuções acidentárias já é pacífi ca (Súmula n. 27, 2º TACSP). Ainda,

o seqüestro do numerário correspondente às contribuições previdenciárias

foi feito com acerto, uma vez que tais valores são apenas administrados pela

autarquia.

3. Inconformado, o INSS interpõe recurso especial. Pondera violação ao

art. 4º da Lei n. 8.213/1991 (sic). Ressalta que os créditos de natureza alimentar

não estão dispensados de precatório.

4. Contra-razões, às fl s. 68-77.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Adhemar Maciel (Relator): Sr. Presidente, a questão gira

em torno da necessidade ou não de expedição de precatório para pagamento

de dívida de natureza alimentícia. O recorrente, no presente recurso especial,

alega que o acórdão negou vigência ao art. 4º, parágrafo único, da Lei n.

Page 341: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 317-354, julho 2010 341

8.213/1991 (sic), que fala que os “pagamentos devidos pelas autarquias serão

feitos exclusivamente meditante a apresentação dos precatórios judiciários”.

Sempre entendi, desde meus tempos de juiz do TRF da 1ª Região, que

a melhor interpretação do art. 100 da Constituição só nos podia levar ao

entendimento de que os créditos de natureza alimentícia não estavam sujeitos

a precatório. Seria um verdadeiro retrocesso, o que o constituinte de 1988

certamente não teve em mente. Ocorre, porém, que a matéria, embora envolva

questão legal, é predominantemente da alçada do STF, pois está em discussão a

interpretação do art. 100 da Constituição. E o STF, de modo pacífi co, vem, de

modo reiterado, decidindo:

Constitucional. Precatório. Ação acidentária. Crédito de natureza alimentícia.

Constituição, art. 100.

I - O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADIn n. 47-SP, ocorrido

em 22.10.1992, decidiu, por maioria de votos, que a exceção estabelecida no

art. 100, caput, da Constituição, em favor dos créditos de natureza alimentícia,

não dispensa o precatório, mas se limita a isentá-los da observância da ordem

cronológica em relação às dívidas de outra natureza.

II - Ressalva do ponto de vista pessoal do relator deste.

III - RE conhecido e provido. (RE n. 160.236-8-SP, Rel. Min. Carlos Velloso, DJU de

10.06.1994, p. 14.793).

Recentemente, em sessão de 20.06.1994, no REsp n. 8.399-0-SP, tendo

como Relator o eminente Ministro Milton Luiz Pereira, a egrégia Primeira

Turma deste STJ negou provimento a recurso interposto pelo credor em relação

à Fazenda Pública Municipal.

Quanto à alínea c do autorizativo constitucional, o recorrente não logrou

demonstrar a divergência analiticamente nos moldes do art. 255 e parágrafos, do

RISTJ.

Com essas observações, ressalvando meu ponto de vista pessoal, conheço

do recurso do INSS (alínea a do autorizativo constitucional) para fi car com

o entendimento do STF, que, por deferência da própria Constituição, tem a

última palavra. Assim, dever-se-á submeter o precatório a uma ordem especial.

É como voto.

Page 342: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

342

RECURSO ESPECIAL N. 53.415-SP (94.0026848-3)

Relator: Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro

Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social — INSS

Recorrido: Antônio Menezes

Advogados: Carmen Lúcia Villanova e outros, e Frederico Vaz Pacheco de

Castro e outros

EMENTA

REsp. Constitucional. Previdenciário. Precatório. A Constituição

da República (art. 100) confere trato diferente para o pagamento dos

créditos de natureza alimentícia. O STF, no julgamento da ADIn n. 47-

SP (22.10.1992) decidiu que, mesmo nesse caso, faz-se imprescindível

o precatório. Confere-se a seguinte interpretação: haverá duas ordens

de precatórios. Uma específi ca para os créditos de caráter alimentício.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas constantes dos autos, por unanimidade, conhecer e dar provimento

ao recurso especial para expedição de precatório, nos termos do voto do Sr.

Ministro-Relator. Votaram de acordo os Srs. Ministros Pedro Acioli, Adhemar

Maciel e Anselmo Santiago.

Brasília (DF), 26 de setembro de 1994 (data do julgamento).

Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, Presidente e Relator

DJ 12.12.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro: Recurso especial interposto

pelo Instituto Nacional do Seguro Social — INSS contra v. acórdão proferido

pelo 2º Tribunal de Alçada Civil de São Paulo.

Page 343: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 317-354, julho 2010 343

O v. acórdão manteve r. decisão agravada que determinou o seqüestro do

numerário correspondente às contribuições previdenciárias para satisfação do

crédito resultante de ação acidentária.

O Recorrente, com fulcro no art. 105, III, a e c, da Constituição Federal,

sustenta violação a Lei federal que determina que “os pagamentos devidos pelas

autarquias” serão feitos “exclusivamente” mediante “apresentação de precatórios

judiciários”. Aduz, outrossim, dissídio jurisprudencial.

Contra-razões às fl s. 52-56.

Despacho de admissão à fl . 67.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Vicente Cernicchiaro (Relator): O precatório é a via

jurídica tradicional para a execução de sentença judiciária quando o devedor for

a Fazenda Federal, Estadual ou Municipal. Em conseqüência, também quando

se tratar de entidade autárquica, como o INSS.

Explica-se. Tais devedores são sujeitos a orçamentos. Devem ter prévio

conhecimento dos créditos reclamados. Em contrapartida, providenciar o

numerário.

A Constituição da República, no art. 100 elaborou uma exceção: quando os

créditos forem de natureza alimentícia. Facilmente explicável e, certamente, com

aplauso generalizado.

Essa norma, contudo, há de ser interpretada lógico-sistematicamente. Em

outros termos, conforme os princípios reitores da espécie.

Notório e conhecido, o INSS, dado o volume de relações jurídicas,

diariamente, é chamado a efetuar pagamento. Ninguém duvida, há de preparar-

se para tal.

O Supremo Tribunal Federal cristalizou jurisprudência, no sentido de a

ressalva da Constituição não afastar a exigência do precatório. Ilustrativamente:

Constitucional. Precatório. Ação acidentária. Crédito de natureza alimentícia.

Constituição, art. 100.

I - O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADIn n. 47-SP, ocorrido

em 22.10.1992, decidiu, por maioria de votos, que a exceção estabelecida no

Page 344: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

344

art. 100, caput, da Constituição, em favor dos créditos de natureza alimentícia,

não dispensa o precatório, mas se limita a isentá-los da observância da ordem

cronológica em relação às dívidas de outra natureza.

II - Ressalva do ponto de vista pessoal do Relator deste.

III - RE conhecido e provido. (RE n. 155.536/1993-SP, Min. Carlos Velloso).

Urge, porém, levar em conta o raciocínio seguinte: nada que objetar à

exigência de os débitos de natureza alimentar impor também o precatório.

Cumpre, no entanto, elaborar uma distinção (interpretação sistemática).

Caso contrário, a pluralidade do art. 100 referido continuaria ser unidade.

Impõe-se distinguir: haverá duas espécies de precatórios. Um comum

(diga-se assim), compreendendo todos os débitos. Outro (especial) próprio,

exclusivo da dívida de caráter alimentar. Em outras palavras: há duas séries.

Uma, evidentemente, não interceptará na outra. Com isso, preservam-se a letra e

a teleologia da Constituição.

Inadequado, porém, em lugar de expedir o precatório (prestação

alimentícia) ser expedida guia para pagamento na boca do cofre, sem o devido

pré-aviso.

Esse procedimento, além de contrastar com o sentido da norma, poderá

dar margem a um inconveniente que a Constituição buscou evitar — rigorosa

obediência à ordem cronológica de apresentação dos créditos (precatórios, ou

outro nomem iuris, pouco importa).

Inadmissível, por isso, o seqüestro de numerário da Previdência para

satisfação de crédito a ser honrado por ela.

Conheço do recurso especial. Dou-lhe provimento, a fi m de cassado o v.

acórdão, determinar a expedição de precatório.

RECURSO ESPECIAL N. 54.762-SP (94.0029612-6)

Relator: Ministro José Dantas

Recorrente: Instituto Nacional de Seguro Social — INSS

Advogados: Valdelice Izaura dos Santos e outros

Page 345: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 317-354, julho 2010 345

Recorrido: Sebastião Florencio de Albuquerque

Advogado: Ivo Arnaldo Cunha de Oliveira Neto

EMENTA

Acidente do trabalho. Natureza alimentícia. Liquidação.

Precatório. Invariável orientação da Turma, sobre que tais

créditos a cargo da Previdência sujeitam-se a pagamento segundo a

ordem cronológica específi ca dos respectivos precatórios.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da

Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe

dar provimento, nos termos do voto do Ministro-Relator. Votaram com o

Relator os Ministros Assis Toledo, Edson Vidigal e Jesus Costa Lima. Ausente,

justifi cadamente, o Ministro Cid Flaquer Scartezzini.

Brasília (DF), 09 de novembro de 1994 (data do julgamento).

Ministro Jesus Costa Lima, Presidente

Ministro José Dantas, Relator

DJ 28.11.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José Dantas: À luz do colacionado art. 4º, parágrafo único,

da Lei n. 8.197/1991, o INSS rebelou-se contra o v. acórdão que deu por

correta a escusa do crédito indenizatório do acidente do trabalho ao regime de

precatório.

Nesta Instância, o Ministério Público Federal alude à antiga orientação da

Egrégia Sexta Turma, no mesmo sentido do acórdão recorrido; pelo que conclui

contrariamente ao recurso.

Relatei.

Page 346: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

346

VOTO

O Sr. Ministro José Dantas (Relator): Sr. Presidente, de tão presente às

nossas pautas de julgamento, a matéria já se dispensa a maiores indagações,

senão que à mostra de sua subsunção aos critérios estabelecidos pelo Supremo

Tribunal Federal ADIns n. 571-5 (DJ 06.12.1991) e 675-4 (DJ 14.10.1994), tal

qual o tem feito esta egrégia Turma, em adesão ao voto-padrão proferido por V.

Exa., cujo acórdão restou ementado deste modo:

Mandado de segurança. Natureza do crédito alimentar. Precatório.

Disponibilidade. Autarquia. Seqüestro de bens e de rendas. Impossibilidade.

Agravo. Efeitos.

1. Os créditos de natureza alimentar devidos pela Fazenda Pública não se

sujeitam a precatórios (arts. 100 da CF, e 33 do ADCT).

2. O Supremo Tribunal Federal, entretanto, indeferiu, por maioria, cautelar

destinada a suspender a efi cácia do parágrafo único do art. 4º da Lei n. 8.197,

de 1991 (ADIn n. 571-5, DJU 06.12.1991) e, em decisão singular, suspendeu,

cautelarmente, a vigência de expressões constantes do caput e do parágrafo

único do art. 130, da Lei n. 8.213, de 1991 (ADIn n. 675-4, DJU de 04.02.1992), a

dizer, “cumprindo-se, desde logo, a decisão ou sentença”. Em suma, considerou,

em juízo provisório, que também os créditos de natureza alimentícia sujeitam-se

à ordem cronológica dos precatórios.

3. Recurso conhecido, mas improvido. - REsp n. 32.298, in DJ de 12.04.1993.

Ou por acórdão mais recente:

Recurso especial. Natureza do crédito alimentar. Precatório. Disponibilidade.

Autarquia.

Os créditos de natureza alimentícia devidos pela Fazenda Pública sujeitam-se

a pagamento segundo a ordem cronológica dos precatórios. - REsp n. 53.405-4,

sessão de 28.09.1994.

Pelo exposto, conheço do recurso e o provejo.

RECURSO ESPECIAL N. 54.787-SP (94.0029637-1)

Relator: Ministro Jesus Costa Lima

Page 347: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 317-354, julho 2010 347

Recorrente: Instituto Nacional de Seguro Social — INSS

Advogada: Carmen Lúcia Villanova

Recorrido: Eduardo Soares Menezes

Advogado: Ivo Arnaldo Cunha de Oliveira Neto

EMENTA

Recurso especial. Natureza do crédito alimentar. Precatório.

Disponibilidade. Autarquia.

Os créditos de natureza alimentícia são pagos através de

precatórios, mas sem observância da ordem cronológica daqueles

referentes às dívidas de natureza diversa.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar

provimento. Votaram com o Relator os Ministros José Dantas, Assis Toledo e

Edson Vidigal. Ausente, ocasionalmente, o Ministro Cid Flaquer Scartezzini.

Brasília (DF), 19 de outubro de 1994 (data do julgamento).

Ministro Jesus Costa Lima, Presidente e Relator

DJ 07.11.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Jesus Costa Lima: O Instituto Nacional de Seguro Social

— INSS interpõe recurso especial por não se conformar com o v. aresto de

fl s. 137-140, que decidiu não estarem sujeitos a precatório judicial os créditos

acidentários, dada a sua natureza alimentar (art. 100 da CF/1988). Manteve,

assim, a possibilidade de seqüestro de rendas da Autarquia.

O recorrente sustenta violação ao art. 100 da CF/1988 que não dispensa o

precatório no presente caso, mas apenas concede preferência ao crédito, e ao art.

4º da Lei n. 8.197/1991 (fl s. 143-146).

Page 348: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

348

Contra-arrazoado (fl s. 148-159) e o especial foi admitido (fl s. 170-171).

Relatei.

VOTO

O Sr. Ministro Jesus Costa Lima (Relator): Ao proferir voto no RMS n.

2.151-8-SP, julgado em 16.11.1992, assim me manifestei sobre o tema:

Fui juiz federal e sei das mazelas que causam os pagamentos através dos

precatórios, especialmente, tendo em conta a inflação e a necessidade da

atualização.

Foi, ao que penso, levando em consideração as injustiças cometidas, com a

demora dos pagamentos dos créditos de natureza alimentícia e decorrentes de

sentença judicial, que o art. 100, parte primeira, da Constituição, quis preservá-los.

A propósito, disse o Ministro Marco Aurélio (ADIn n. 571-DF):

A Constituição de 1988 trouxe, a meu ver, uma novidade substancial

que é a exclusão do sistema dos precatórios, dos créditos de natureza

alimentícia, certamente porque, quando se cogita de crédito de natureza

alimentícia, tem-se presente que visa à subsistência da pessoa, a

subsistência da família. Aí, mediante expressão que, a meu ver, não permite

qualquer dúvida, dispôs que a satisfação dos débitos da Fazenda far-se-ão

pelo sistema de precatórios, à exceção dos créditos de natureza alimentícia.

A lei impugnada nesta ação direta de inconstitucionalidade inovou

e, ao fazê-lo pelo menos ao primeiro exame, restringiu o preceito

constitucional. Por que restringiu o preceito constitucional? Porque, em

relação aos créditos alimentícios, ao contrário do que está no art. 100,

previu a satisfação via o mesmo sistema, sistema que projeta o pagamento,

pelo menos, para dezoito meses após, e sem que haja nesses dezoito meses

correção, recebendo o credor de dois a cinco por cento do total devido à

época.

Opôs-se questão relativa às balizas do orçamento, mas não creio que

haja problema maior quanto à suplementação de verbas. O Ministro Ilmar

Galvão noticiou, com a experiência que S. Exa. tem, que há o repasse em

duodécimos com a inclusão da correção monetária, que hoje está em

torno de trinta por cento. Pois bem, esta correção não se pode prever, pelo

menos com acerto aritmético, quando da aprovação da Lei Orçamentária.

Considerando esse mesmo aspecto é que o legislador constitucional fez

inserir na Carta o preceito do art. 165, § 8º, prevendo de forma clara a

suplementação dos créditos alimentícios, afastando o nefasto precatório.

Page 349: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 317-354, julho 2010 349

Por isso, Sr. Presidente, insisto na óptica firmada quando prolatei

o voto na assentada anterior, de que temos o sinal do bom direito e o

periculum in mora, porque não acredito que alguém que precise de um

crédito alimentício e dependa economicamente dele tenha fôlego para

suportar uma espera de dezoito meses e, mesmo assim, receber desse

crédito alimentício um quantitativo mínimo, equivalente a dois ou a cinco

por cento do valor real devido. Periculum in mora não existe na hipótese? Só

se desconhecermos a dependência econômica e o móvel, o objetivo maior

do crédito de natureza alimentícia.

O Ministro Sepúlveda Pertence adiantou:

Por mais que leia e releia o art. 100 da Constituição, não consigo chegar à

outra conclusão do que aquela a que chegou, no parecer citado na petição

inicial, o filólogo Antônio Houaiss: quando um dispositivo começa por

excetuar determinado assunto e, a partir daí, regula o que resta, signifi ca

apenas que não regulou a primeira matéria. Ora, o que faz a lei federal

ora questionada? Simplesmente, toma da Constituição, como se a tivesse

regulado, a disciplina do restante e a aplica àquilo que a Constituição

excetuou e tornou imune à regulamentação que deu aos créditos em geral,

que não aos de natureza alimentar.

É manifesto, data venia, Sr. Presidente, que não satisfaz, à inspiração

dessa exclusão constitucional dos créditos alimentares, de toda disciplina

do art. 100, a mera criação de duas ordens de precatórios. E não a satisfaz,

nem podia satisfazê-la uma lei, que subordina a satisfação dos créditos de

natureza alimentar, ao que há de mais iníquo e mais perverso no sistema de

execução por precatório: o tempo corrido entre a expedição do precatório

e o pagamento.

Sr. Presidente, voto agora de improviso, e de improviso votei em 24 de

maio de 91 na Ação Direta n. 47, mas continuo absolutamente convencido

da substância do voto que então proferi em que, depois de pedir vênia

ao eminente Ministro Octávio Gallotti, que então presidia a Sessão e aos

que o acompanhavam, aderi ao voto do eminente Ministro Carlos Velloso,

dizendo:

A meu ver, a exceção, posta no início do art. 100, visou a afastar

tudo o que, na disciplina do sistema normal de precatórios que se

lhe segue é incompatível com a prioridade, que é o objetivo óbvio

da regra discutida, da satisfação dos créditos de natureza alimentar.

Creio que é incompatível o sistema de precatório com a norma

constitucional invocada. Não é incompatível, obviamente, com o

que o Ministro Celso de Mello acaba de chamar da concorrência

interna entre os créditos da mesma categoria, no caso específi co, a

concorrência interna dos créditos de natureza alimentar.

Page 350: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

350

Creio que há implícito, no art. 100, a exigência de dotação

orçamentária, calculada, segundo os métodos normais de previsão

da despesa, bastante a suportar o pagamento, na ordem de sua

apresentação, das requisições judiciais para satisfação de créditos

alimentares.

“É também óbvio, Sr, Presidente” — dizia eu — “talvez por ser um

mundo que ignoro, e em que V. Exa. transita com tanta sabedoria — o

do Direito Orçamentário —, que não afasto de plano a necessidade

de legislação que viabilize o novo sistema. Parece-me, porém, que

preservar simplesmente o sistema do precatório é esvaziar a norma

constitucional de prioridade dos créditos alimentares.

Isso é um problema que teria que examinar oportunamente, mas

que em nada afeta o meu juízo de que nem o Direito Ordinário anterior

foi recebido, nem é possível submeter os créditos alimentares ao

sistema constitucional de precatórios para pagamento até o fi nal do

exercício seguinte, com reajustamento apenas em julho do exercício-

base: tudo isso é que me parece que se tornou incompatível com o

sentido fundamental da norma constitucional, que foi não apenas

a prioridade, mas a rapidez, à vista da necessidade pressuposta do

pagamento do crédito alimentar.

Obviamente, se a Constituição não recebeu direito anterior, por

isso também não autorizou o decreto questionado.

Referia-me, então, a um decreto do Governador de São Paulo, objeto da

Ação Direta n. 47, que é, em substância, exatamente a antecipação da lei

federal que ora se discute.

Naquele caso, tratava-se de julgamento de mérito, por isso julguei

procedente a ação.

Aqui se cuida de pedido liminar; a relevância da argüição, com as

venias do Ministro Néri da Silveira, parece-me gritante, ululante mesmo.

Impressionou-me, é certo, o quanto já se disse de que a suspensão não

resolveria. De fato, ela apenas afasta a vigência do parágrafo questionado

e, como disse no meu voto na ADIn n. 47, não há outra lei vigente,

compatível com a Constituição. Não estou convencido, data venia daqueles

que me acompanham, que o sistema da Constituição imponha o que se

tem chamado de “pagamento à boca do cofre,” que não existe sequer no

Processo Civil — para execução entre partes privadas e que é, de todo,

incompatível com a complexidade da execução orçamentária estatal. Mas,

o raciocínio do eminente Relator pode afastar o periculum in mora, no

sentido ortodoxo do termo, mas, a meu ver, não afasta — e esse é um

progresso que o Tribunal assumiu — a conveniência da suspensão. O que

há de urgente, para a missão deste Tribunal, é a efetividade da Constituição,

Page 351: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 317-354, julho 2010 351

e, conseqüentemente, a edição de regulamentação legal compatível com

a Constituição. A minha experiência como cidadão brasileiro — e não é

um fenômeno brasileiro — é que a forma melhor de frustrar a inovação

constitucional é, simplesmente, protrair, a título de que ainda é melhor

assim, o momento da sua efetivação.

Estou convencido de que deixar vigente essa lei, ao fundamento de que

“pior será sem ela”, é abrir caminho para a solução acomodatícia de protrair,

indefi nidamente, a efetividade da Constituição.

Por esses fundamentos, peço vênia aos votos que dele dissentem para

acompanhar o eminente Relator, deferindo a liminar.

Decidiu, então o Colendo Supremo Tribunal na ADIn n. 571-5-DF:

Por maioria de votos, o Tribunal indeferiu o pedido de medida cautelar,

vencidos os Ministros Relator, Carlos Velloso e Sepúlveda Pertence, que a

deferiam, para suspender a efi cácia do parágrafo único do art. 4º da Lei

n. 8.197, de 27.06.1991. Votou o Presidente, antecipando o seu voto, pela

necessidade de se ausentar. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Moreira

Alves (DJ 06.12.1991).

O Ministro Octávio Gallotti, no exercício da presidência proferiu, na ADIn n.

675-4-DF, o seguinte despacho:

1. Pela presente ação direta de inconstitucionalidade, o eminente

Procurador-Geral da República vem impugnar o art. 130, e seu parágrafo

único, da Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre os Planos de

Benefícios da Previdência Social:

Art. 130. Os recursos interpostos pela Previdência Social, em

processo que envolvam prestações desta Lei, serão recebidos

exclusivamente no efeito devolutivo, cumprindo-se, desde logo, a

decisão ou sentença, através de processo suplementar ou carta de

sentença.

Parágrafo único. Ocorrendo a reforma da decisão, será suspenso o

benefício e exonerado o benefi ciário de restituir os valores recebidos

por força da liquidação condicional.

2. O caput é atacado perante os arts. 100 e 167, II, da Constituição.

3. Confronta-se o parágrafo com os arts. 5º, LV, 37, caput, LXXIII, e 129, III,

e, ainda, com os arts. 102, II e III, 105, II e III e 108, II, também da Constituição

da República.

4. Confere inegável seriedade, à tese da inconstitucionalidade do caput

do art. 130 (parte fi nal), acima transcrito, o entendimento do Supremo

Page 352: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

352

Tribunal, ao apreciar a ADIn n. 571, da sessão de 28 de novembro próximo

passado. Considerou-se, então, em juízo provisório cautelar, que não são

infensos, no tocante ao pagamento de atrasados, ao regime constitucional

dos precatórios (art. 100), os créditos de natureza alimentícia, organizados,

entre si, na ordem cronológica, com preferência sobre os de outra natureza

(parágrafo único do art. 4º da Lei n. 8.197/1991).

5. Quanto ao parágrafo único do mesmo art. 130, bem pondera, o

Requerente, que, ao tornar irreparável o resultado lesivo da decisão de

primeiro grau, porventura equivocada, “suprime-se na prática, o duplo

grau de jurisdição constitucionalmente assegurado, dada a inocuidade do

recurso, principalmente nos casos de pagamento de benefícios, em uma

única prestação” (fl . 3).

6. Penso que assiste, ainda, razão, a S. Exa., no salientar que a plausível

ocorrência desse dano irreparável, ao patrimônio público, está a

recomendar o provimento liminar do pedido.

7. As razões até aqui expostas não invalidam, porém a parte inicial dos

dispositivos, tanto do caput (atribuindo efeito somente devolutivo aos

recursos da Previdência), como do parágrafo (determinando a suspensão

do benefício, em caso da reforma da sentença).

8. Defiro, portanto, em parte, o pedido de medida cautelar, para ad

referendum no Plenário, suspender, na Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991,

as expressões “cumprindo-se, desde logo, a decisão ou sentença, através

de processo suplementar ou carta de sentença”, constante do caput do art.

130, bem como as expressões “e exonerando o benefi ciário de restituir os

valores recebidos por força da liquidação condicionada”, constantes do

parágrafo único do mesmo art. 130 (DJ 04.02.1991).

9. Os bens da Fazenda Pública são impenhoráveis e não sujeitam-

se a seqüestros e o art. 731 do CPC não se aplica às execuções contra a

Previdência Social, ainda que se trate de infortunística.

10. Sublinhou, com propriedade, a Dra. Ela Wiecko V. de Castilho, ilustrada

Subprocuradora-Geral da República:

A tese da Autarquia é a de inconstitucionalidade do art. 130 e

parágrafo único, da Lei n. 8.213/1991 e, subsidiariamente, de sua

inaplicabilidade a ações propostas antes da vigência dessa lei. De

outro lado, sustenta a constitucionalidade do art. 4º e parágrafo

único, da Lei n. 8.197, de 26.06.1991.

Quanto à irreparabil idade do dano argumenta que,

financeiramente, o ressarcimento é praticamente impossível em

razão das condições econômicas do segurado. O seqüestro impedirá

o INSS de cumprir seu orçamento e, ante as suas notórias difi culdades

Page 353: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 317-354, julho 2010 353

fi nanceiras, sofrerão direta e imediatamente os titulares de benefícios

de prestação continuada. Observa que o número de decisões nesse

sentido reforça a magnitude do periculum in mora (fl . 84).

Acentuou, a seguir, a plausibilidade do fumus boni iuris concluindo:

O dano irreparável ou periculum in mora também parece presente. Como

afi rmou o Procurador-Geral da República na ADIn n. 675:

Sem colocar em dúvida o caráter alimentar dos benefícios

previdenciários, não se pode ignorar que estes somente são devidos

ope legis, não podendo o Poder Público pagar benefício contra legem,

sob pena de lesão ao patrimônio público, que se tornará irreparável

por decisão judicial monocrática eventualmente equivocada, porque

a reforma desta, por órgão colegiado do Poder Judiciário, será inócua,

quanto aos pagamentos já efetuados (fl . 85).

Penso que nesse tema, como em outros, a Constituição tem de ser vista em

seu contexto. Interpretada naquilo que ela quis disciplinar ou fi ncar as linhas

pragmáticas a serem respeitadas pelo legislador ordinário.

Daí que o art. 100 da parte permanente, não pode ser examinado sem

verificar o que o constituinte pretendeu estabelecer no Ato das Disposições

Constitucionais Transitórias.

Ora, aí e no art. 33, também se acham ressalvados os créditos de natureza

alimentar. Os demais, “pendentes de pagamento na data da promulgação de juros

e correção monetária“ poderão ser pagos ”em moeda corrente com atualização, em

prestações anuais, iguais e sucessivas, no prazo máximo de oito anos, a partir de 1º de

julho de 1989”.

Isso, a meu sentir, signifi ca que a lei não pode condicionar o pagamento de

créditos de natureza alimentícia a precatórios, ainda que a estes se confi ra o nome

de especiais ou preferenciais.

O constituinte quis, de forma inequívoca, excluir da regra geral os que

possuem crédito a ser quitado pela Fazenda Federal cuja origem reside

na própria subsistência da pessoa humana. É que esse crédito é condição de

sobrevivência e não pode fi car submetido a protelações. Não é privilégio. Direito

fundamental. O serviço público tem que organizar-se e prevenir-se com dotações

orçamentárias específi cas para situações tais e, se tornarem-se insufi cientes para

um determinado exercício, que venham, a tempo e modo, os suplementares.

Apesar disso e como o Supremo Tribunal Federal é o intérprete final da

Constituição, devo respeitar as decisões a que me referi.

Page 354: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

354

Em suma, os créditos de natureza alimentícia sujeitam-se a pagamento

mediante precatórios, porém, sem observância da ordem cronológica relativa a

créditos de natureza diversa.

Fazendo remissão ao precedente, dou provimento ao recurso.

Page 355: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

Súmula n. 145

Page 356: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 357: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULA N. 145

No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será

civilmente responsável por danos causados ao transportado quando incorrer em

dolo ou culpa grave.

Referência:

CC/1916, art. 1.057.

Precedentes:

REsp 3.035-RS (4ª T, 28.08.1990 — DJ 24.09.1990)

REsp 3.254-RS (4ª T, 17.11.1994 — DJ 16.10.1995)

REsp 34.544-MG (3ª T, 13.12.1993 — DJ 07.03.1994)

REsp 38.668-RJ (3ª T, 25.10.1993 — DJ 22.11.1993)

REsp 54.658-SP (4ª T, 12.12.1994 — DJ 13.03.1995)

Segunda Seção, em 08.11.1995

DJ 17.11.1995, p. 39.295

Page 358: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 359: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

RECURSO ESPECIAL N. 3.035-RS (90.0004340-9)

Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo

Recorrente: Sul América Terrestres, Marítimos e Acidentes Cia/ de

Seguros

Recorrido: Attilio Titton

Advogados: Carlos Mazeron Fonyat Filho e outro, e Diodenes Mário

Bertuol

EMENTA

Direito Civil. Responsabilidade civil. Transporte gratuito.

Orientação doutrinária. Recurso não conhecido.

Segundo autorizada doutrina, o transportador somente responde

perante o gratuitamente transportado se por dolo ou falta gravíssima

houver dado origem ao dano.

Não se conhece do recurso especial quando não demonstrado

satisfatoriamente o dissídio e nem prequestionada a questão federal,

mesmo implicitamente.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos, em que são partes as acima indicadas, decide a

Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer

do recurso, nos termos do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos,

que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.

Custas, como de lei.

Brasília (DF), 28 de agosto de 1990 (data do julgamento).

Ministro Athos Carneiro, Presidente

Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Relator

DJ 24.09.1990

Page 360: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

360

EXPOSIÇÃO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo: Cuida-se de ação de indenização que

o recorrido moveu em virtude de acidente de trânsito, no qual fora vitimado seu

fi lho menor.

Ao contestarem, os réus denunciaram à lide a Companhia Seguradora

(ora recorrente) e Edgar Nílson, proprietário do outro automóvel envolvido no

evento.

A seguradora permaneceu revel.

Edgar Nílson, por sua vez, ao manifestar-se, levantou preliminar de

ilegitimidade ativa, uma vez que o autor, em nome próprio, pleiteava direito

de seu fi lho, que seria o titular legítimo para a ação. No mérito, alegou não ter

concorrido com culpa para a produção do acidente, requerendo sua exclusão do

processo.

Acolhendo a ilegitimidade ativa ad causam, a primeira sentença julgou

extinto o processo nos termos do art. 267, VI, do Código de Processo Civil.

A egrégia Segunda Câmara Civil do Tribunal de Alçada do Estado do

Rio Grande do Sul, agasalhando o entendimento de que parte da pretensão

ali exposta pertenceria exclusivamente ao autor, em razão de ser ele quem

estava a suportar todas as despesas médicas e hospitalares, proveu parcialmente

seu apelo, declarando-o parte ativa legítima para pleitear o ressarcimento

das despesas necessárias ao atendimento do seu fi lho, excluindo o postulado

direito à indenização decorrente do dano pelas lesões sofridas pelo menor. E

determinou o retorno dos autos à origem, para apreciação do mérito.

A nova sentença julgou parcialmente procedente o pedido do autor,

condenando os réus, pai e fi lho, ao pagamento da importância correspondente

às despesas médico-hospitalares, incidindo juros, correção monetária e ônus da

sucumbência, julgando ainda improcedente a denunciação em relação a Edgar

Nílson e procedente em relação à seguradora-denunciada, condenando-a a

ressarcir os réus- denunciantes, regressivamente, em valor aproximado do total

em que condenados aqueles.

Apelaram os réus e a seguradora. Aqueles, objetivando a divisão da

responsabilidade com o outro denunciado, Edgar Nílson, por concorrência de

culpa no acidente. A seguradora, pugnando pela reforma da decisão, no sentido

da improcedência do pedido da ação ou da denunciação.

Page 361: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 355-375, julho 2010 361

Ambas as apelações foram desprovidas.

Considerou o v. acórdão ter sido provada a culpa do réu Marcos Tansini que,

ao conduzir o automóvel de propriedade de seu pai, com excesso de velocidade

e na contramão de direção, deu causa ao acidente, inexistindo concorrência de

culpa da outra parte. Considerou, outrossim, insustentável a tese da seguradora,

asseverando que não caracterizam relação contratual o convite e a aceitação

para passeio automobilístico, não se podendo falar em contrato de transporte,

nem oneroso, nem gratuito, devendo a matéria ser enfocada sob o prisma da

teoria das obrigações decorrentes de ato ilícito. E salientou que o sustento

recursal da seguradora foi introduzido nos autos a destempo, não tendo os réus

discutido o evento sob a regra de contrato de transporte gratuito. Irresignada,

a seguradora manifestou recurso especial, arrimado no art. 105, III, a e c da

Constituição, alegando, em síntese, tratar-se, a questão, de transporte gratuito

(a vítima encontrava-se no interior do veículo acidentado), não podendo ser

responsabilizado o transportador gratuito se não agiu com dolo, sendo aplicável

o art. 1.057 do Código Civil.

O recurso foi admitido pela alínea c, em face da divergência jurisprudencial

com julgado do Tribunal de Alçada do Estado do Rio de Janeiro (RJ-ATARJ

23/191-193), conforme se vê da decisão do eminente Presidente do Tribunal de

origem.

Sem contra-razões, subiram os autos.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo (Relator): Resume-se o apelo da

denunciada seguradora, condenada ao ressarcimento por regresso, em defi nir a

responsabilidade ou não dos réus-denunciantes, pai e fi lho, em face do chamado

transporte gratuito, benévolo ou de cortesia, uma vez que a vítima estava no

veículo que as instâncias ordinárias apontaram causador do acidente, por excesso

de velocidade e direção na contramão.

Ao dissertar sobre o tema em sua magistral obra “Da Responsabilidade

Civil Automobilística”, pela Ed. Saraiva, mostra Wilson Melo da Silva, mestre de

saudosa memória, que o transportador só responderia perante o gratuitamente

transportado se por dolo ou falta gravíssima (culpa rata dolo comparatur) houvesse

dado origem ao dano que tivesse ocorrido durante o transporte benévolo,

Page 362: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

362

exemplifi cando, em termos de culpa grave, com ultrapassagem em curva e

em alta velocidade (3ª ed., 1980, n. 65, p. 214). Destarte, sob tal enfoque, não

mereceria prosperar a pretensão recursal da recorrente.

É de considerar-se, porém, que, além das circunstâncias fáticas não se

identifi carem ou se assemelharem, a recorrente seguradora, como assinalou o v.

acórdão impugnado, não trouxe aos autos oportunamente o fundamento do seu

recurso, uma vez que sequer contestou a denunciação que lhe foi movida, sendo

certo que o debate na causa vinha sendo feito sob o prisma probatório, pelo que

não houve oportuno prequestionamento, mesmo implícito, da matéria.

Pelo exposto, não conheço do recurso.

RECURSO ESPECIAL N. 3.254-RS (90.0004867-2)

Relator originário: Ministro Bueno de Souza

Relator para o acórdão: Ministro Fontes de Alencar

Recorrente: Sul América Terrestres, Marítimos e Acidentes — Companhia

de Seguros

Recorridos: Antônio João Ortiz de Mello e cônjuge

Interessada: Maria Leitão Ungaretti

Advogados: Fernando Neves da Silva e outros, Ervandil Rodrigues Reis e

outro, e Diego Daniel Saldanha de Vergas e outros

EMENTA

Recurso especial.

Falta de prequestionamento do dispositivo de lei federal dito

contrariado.

Recurso especial não conhecido.

Maioria.

Page 363: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 355-375, julho 2010 363

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por maioria, não conhecer do recurso, vencidos os Srs.

Ministros Relator e Barros Monteiro. Votaram com o Sr. Ministro Fontes de

Alencar os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo e Ruy Rosado de Aguiar.

Brasília (DF), 17 de novembro de 1994 (data do julgamento).

Ministro Fontes de Alencar, Presidente e Relator para o acórdão

DJ 16.10.1995

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Bueno de Souza: Antônio João Ortiz de Mello e Lúcia

Couto de Mello propuseram ação indenizatória por acidente de trânsito contra

Maria Leitão Ungaretti, visando o ressarcimento de despesas médicas e de

tratamento com a saúde de suas fi lhas Mariana e Clarissa, fi sicamente vitimadas

quando viajavam de forma benévola (como “caronas”) no veículo de propriedade

da requerida, mas que era conduzido na oportunidade por seu fi lho Jaire Leitão

Ungaretti.

Após litisdenunciação da Cia. de Seguros Sul América (ora recorrente) e

sua respectiva intervenção no feito, a Dra. Juíza julgou improcedente a demanda

e a referida denunciação, sob o fundamento de que o transportador, em caso de

transporte benévolo, responde tão-somente por dolo (fl s. 121-126).

Em grau de apelação, a Quarta Câmara Cível do Tribunal de Alçada

do Rio Grande do Sul, sem discrepância de votos, deu provimento parcial ao

recurso dos autores para:

a) decretar a carência de ação quanto à filha Mariana, pois sendo

relativamente incapaz deveria integrar o pólo ativo da demanda.

b) julgar procedente a ação e a denunciação à lide com relação à menor

impúbere Clarissa (considerando-a representada por seus pais) diante da

imprudência do condutor do veículo (fl s. 157-162).

Embargos declaratórios opostos pela Seguradora foram acolhidos

somente para os fi ns de declarar que a atualização monetária com relação ao

Page 364: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

364

litisdenunciado só se fará a partir da sua citação e, bem assim, para excluir o

pagamento de acessórios da indenização (fl . 169).

Daí o presente recurso especial interposto por Sul América Terrestre,

Marítimos e Acidentes Cia. de Seguros, com fundamento nas alíneas a e c do

permissivo constitucional, para sustentar contrariedade ao art. 1.057 do Código

Civil, rechaçando, assim, a aplicação do art. 159 do mesmo codex e a tese de

responsabilização do transportador gratuito por simples culpa.

Por segundo fundamento invoca divergência jurisprudencial com acórdão

do Tribunal de Alçada do Rio de Janeiro.

VOTO

O Sr. Ministro Bueno de Souza (Relator): Sr. Presidente, no tocante ao

alegado dissídio jurisprudencial, a recorrente não fez por observar a exigência

expressa no art. 255, § 2º, in fi ne, do Regimento Interno deste Superior Tribunal

de Justiça, a consistir na transcrição dos trechos do único acórdão trazido por

paradigma, adequados a demonstrar “as circunstâncias que identifi quem ou

assemelhem os casos confrontados”.

A deficiência técnica da interposição do recurso advém, portanto, da

inobservância do disposto no art. 26, parágrafo único, da Lei n. 8.038, de

28.05.1990, uma vez que, sem a especial e devotada cooperação da Turma

julgadora na perquisição dos pontos de contato e divergência apenas alegados

(aliás, implicitamente), não será possível aferir o cabimento do recurso especial.

Tal colaboração é, contudo, inadmissível, eis que envolveria a quebra da

eqüidistância em que há de manter-se o Tribunal.

2. Conheço, porém, do recurso, pela alegada contrariedade ao art. 1.057

do Código Civil: na verdade, o v. acórdão recorrido, data venia, negou aplicação

desse preceito legal à espécie.

A propósito, eis o tópico central da r. decisão recorrida (fl s. 160-161):

Transporte benévolo, como trazido à fl . 115, como em Serpa Lopes, referido

na sentença, Antônio Chaves (Tratado de Direito Civil, 3, 484) informa sobre a

existência de três correntes, uma dando pela ausência de vínculo, outra defi nindo

como relação contratual e a terceira entendendo cabível a culpa aquiliana.

Esposou a decisora a segunda corrente e Pontes de Miranda, Tratado, XLV, 22,

entende ser o transporte por amizade acarretador de culpa extracontratual.

Page 365: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 355-375, julho 2010 365

Pois bem.

Aderindo-se à colocação da decisora, com efeito, não se vislumbra a presença

de dolo. Emprestada adesão à tese de Pontes, afastadas as presunções de culpa

do transportador, impor-se-ia a exigência da parte autora provar houvesse a parte

ré obrado de forma delituosa, ilícita, na forma do Código Civil, art. 159.

Pois bem.

Aí a imprudência é forte.

Em que pese serem as testemunhas ou informantes as meninas machucadas,

seus depoimentos são cônsonos, dando conta da inadequação da forma como

o garoto dirigia o automóvel. E por pior que sejam os materiais empregados na

fabricação dos veículos, somente uma colisão em velocidade descompassada

geraria os danos que são vistos nas fotografi as.

Pelo que, titular da pretensão à indenização em razão da ação culposa a menor

Clarissa, feitas as correções, deve ser ela ressarcida.

3. Vê-se, assim, que, a despeito de reconhecer o transporte benévolo das

vítimas pelo condutor do veículo; e não obstante excluir a ocorrência de conduta

dolosa, o v. acórdão deixou, porém, de subsumir a espécie ao citado art. 1.057

do Código Civil, para, em franca contra dictio in terminis, convocar o art. 159

do Código Civil, critério este que rende ensejo à admissão de responsabilidade

reparatória até mesmo em razão da culpa mais leve, consoante os dizeres “... in

lege aquilia, et culpa levissima venit”.

4. Todavia, em sentido diverso evoluiu a jurisprudência brasileira, a partir

do v. acórdão unânime da Primeira Turma do Supremo Tribunal, de que foi

Relator, em 1º.08.1960, o preclaro Ministro Gonçalves de Oliveira (RTJ 14/259),

cuja ementa resume:

Responsabilidade civil. Transporte gratuito rege-se pelos princípios de

responsabilidade delitual não havendo presunção de culpa do transportador.

Mesmo que regida tal responsabilidade pelos princípios da culpa contratual,

a responsabilidade do transportador deve ser examinada sem rigor. Ação de

indenização improcedente.

De fato, superando vacilações que ainda se registram em nossos repertórios,

o Superior Tribunal de Justiça se orienta no sentido de reconhecer, em caso de

transporte benévolo de passageiro por veículos automotivos, a responsabilidade

reparatória subordinada à conduta dolosa do condutor, na relação contratual

unilateral.

Page 366: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

366

Neste sentido, decidiu esta Quarta Turma, unânime, no julgamento do

REsp n. 3.035-RJ, de que foi Relator em 28.08.1990, o eminente Ministro

Sálvio de Figueiredo (DJU 24.09.1990), trazendo o v. acórdão esta ementa:

Direito Civil. Responsabilidade civil. Transporte gratuito. Orientação

doutrinária. Recurso não conhecido.

Segundo autorizada doutrina, o transportador somente responde perante o

gratuitamente transportado se por dolo ou falta gravíssima houver dado origem

ao dano.

Não se conhece do recurso especial quando não demonstrado

satisfatoriamente o dissídio e nem prequestionada a questão federal, mesmo

implicitamente.

Assim, também, a Terceira Turma, sempre unânime, nos REsps n. 38.668-

RJ (RSTJ, 6, 341) e 34.544-MG, DJ 07.03.1994, sendo Relatores os eminentes

Ministros Eduardo Ribeiro e Cláudio Santos.

Deste último aresto, eis a ementa:

Responsabilidade civil. Transporte gratuito. Art. 1.057 do Código Civil.

A responsabilidade do transportador gratuito radica no âmbito do dolo ou

falta gravíssima. Assim, mera culpa consubstanciada na impossibilidade de

impedir o evento danoso não rende ensejo à reparação.

Recurso conhecido e provido.

5. Como se vê, orienta-se a jurisprudência no rumo propugnado por

Beviláqua, conferindo-se primazia, em casos como o dos autos, ao art. 1.057 do

Código Civil, preceito que cumpria ser aplicado à espécie pelo Tribunal a quo.

Conheço, pois, do recurso pela letra a; e dou-lhe provimento, para,

reformando o acórdão, restabelecer, quanto à recorrente, a r. sentença do 1º

grau, que repeliu, relativamente a ela, a demanda reparatória, condenados os

recorridos a custas proporcionais e a honorários advocatícios de 10% do valor

da causa.

É o voto.

VOTO-VOGAL

O Sr. Ministro Fontes de Alencar (Presidente): Não conheço do recurso

por falta de prequestionamento, porquanto o art. 1.057 não foi cogitado, nem

foram opostos embargos de declaração.

Page 367: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 355-375, julho 2010 367

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Barros Monteiro: Sr. Presidente, peço vênia para

acompanhar o eminente Sr. Ministro-Relator, entendendo que, no caso, ocorre o

requisito do prequestionamento, porquanto a questão jurídica se acha enfocada

no acórdão recorrido.

RECURSO ESPECIAL N. 34.544-MG (93.11622-3)

Relator: Ministro Cláudio Santos

Recorrentes: Diana Farias Gonçalves Reis e outros

Recorrido: Antônio Rodrigues de Almeida

Advogados: Reinaldo Ribeiro da Silva, Irineu Faria Oliveira e outro

EMENTA

Responsabilidade civil. Transporte gratuito. Art. 1.057 do

Código Civil.

A responsabilidade do transportador gratuito radica no âmbito

do dolo ou falta gravíssima. Assim, mera culpa consubstanciada

na impossibilidade de impedir o evento danoso não rende ensejo à

reparação.

Recurso conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso especial e lhe dar

provimento. Votaram com o Relator os Ministros Costa Leite, Nilson Naves,

Eduardo Ribeiro e Waldemar Zveiter.

Brasília (DF), 13 de dezembro de 1993 (data do julgamento).

Page 368: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

368

Ministro Eduardo Ribeiro, Presidente

Ministro Cláudio Santos, Relator

DJ 07.03.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cláudio Santos: Trata-se de recurso especial interposto

com fundamento no art. 105, III, alíneas a e c, da Constituição Federal, onde se

alega negativa de vigência ao art. 1.057 do Código Civil, bem como divergência

jurisprudencial.

O v. acórdão hostilizado, proferido pela Terceira Câmara Civil do Egrégio

Tribunal de Alçada de Minas Gerais, recebeu a seguinte ementa:

Responsabilidade civil. Transporte gratuito. Indenização devida no caso de

culpa. Reparação completa do prejuízo. Provada causa efi ciente imputável a um

dos motoristas por violação de regra fundamental de trânsito. Concorrência de

culpa inexistente.

A responsabilidade civil no transporte gratuito repousa na culpa em seu

sentido amplo (art. 159, CC).

O ressarcimento do prejuízo deve ser completo, não se excluindo parcela que

possa ser mensurada em fase de execução de sentença.

A violação de regra fundamental de trânsito por um dos motoristas, surgindo

como causa efi ciente de acidente, afasta a concorrência de culpa. (fl . 300)

Sustenta a recorrente que ao transporte gratuito se aplica a regra prevista

no art. 1.057 do Código Civil, não respondendo o transportador por simples

culpa.

Contra-razões às fl s. 321-323.

O recurso foi admitido.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Cláudio Santos (Relator): Merece guarida o inconformismo

dos recorrentes. Com efeito, o acórdão recorrido ao entender aplicável a regra do

Page 369: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 355-375, julho 2010 369

art. 159 do Código Civil negou vigência ao art. 1.057 do mesmo diploma, além

de divergir da orientação adotada pelos tribunais pátrios.

Consoante a abalizada doutrina o transporte gratuito “não se regulará

pelo direito comercial, nem pelo civil sobre locação de serviços, mas pelas

regras gerais concernentes às obrigações de direito privado. Tratando-se de

um contrato unilateral, o condutor, no caso de se impossibilitar a execução por

algum acidente, só responderá pelo dano que resultar do seu dolo, Código Civil,

art. 1.057. É o caso do acidente sofrido por pessoa que o motorista amador,

ou dono do automóvel, transportava consigo por simples amabilidade” (Vieira

Ferreira, “Da Responsabilidade Civil em Acidentes de Trânsito”, Ed. Saraiva,

1944).

Destarte, induvidoso que o transportador somente responde perante o

gratuitamente transportado se por dolo ou falta gravíssima houvesse dado

origem ao dano que tivesse ocorrido durante o transporte benévolo. Nesse

sentido está o acórdão proferido no REsp n. 3.035-RJ, Relator Ministro Sálvio

de Figueiredo, Quarta Turma desta Corte Superior.

Pelo exposto, conheço do recurso por ambas as alíneas e dou-lhe

provimento, a fi m de julgar improcedente a ação, condenado o autor nas custas e

honorários de advogado na base de 10% (dez por cento) sobre o valor da causa.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 38.668-RJ (93.0025397-2)

Relator: Ministro Eduardo Ribeiro

Recorrente: Editora Mandarino Ltda

Recorridos: Celso de Souza Pinto Filho e Otto Diesel Ltda

Advogados: Lauro Mário Perdigão Schuch, Carlos José Victor Del Guércio

e Sérgio Rodrigues do Nascimento

EMENTA

Responsabilidade civil. Transporte de simples cortesia.

Page 370: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

370

No transporte benévolo, de simples cortesia, a responsabilidade

do transportador, por danos sofridos pelo transportado, condiciona-se

à demonstração de que resultaram de dolo ou de culpa grave, a que

aquele se equipara.

Hipótese em que se caracteriza contrato unilateral, incidindo o

disposto no art. 1.057 do Código Civil.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso especial

e lhe dar provimento. Afi rmou suspeição o Sr. Ministro Waldemar Zveiter.

Participaram do julgamento os Srs. Ministros Nilson Naves e Cláudio Santos.

Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Costa Leite.

Brasília (DF), 25 de outubro de 1993 (data do julgamento).

Ministro Eduardo Ribeiro, Presidente e Relator

DJ 22.11.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Trata-se de ação de reparação de danos,

em razão de acidente de veículo, julgada improcedente, tendo em vista que,

malgrado reconhecida a culpa do motorista do veículo da segunda ré, em que

era gratuitamente transportado o autor, entendeu-se que a indenização somente

seria devida se tivesse havido dolo.

A sentença foi reformada por acórdão assim ementado:

Responsabilidade civil. Acidente de veículo. Transporte gratuito (carona).

Responsabilidade aquiliana. Necessidade de se comprovar a culpa do

transportador ou de seu preposto. Comprovada a culpa, nasce o dever de

indenizar.

Provimento do apelo. (fl . 28)

Page 371: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 355-375, julho 2010 371

A ré, Editora Mandarino Ltda, interpôs recurso especial. Sustenta

vulneração ao art. 1.057 do Código Civil, ao argumento de que “somente

responderia o transportador, no caso o preposto da recorrente, se provado

que agiu ele com dolo, pois é certo que a relação estabelecida, a ele não trazia

qualquer vantagem” e acentuando que, por decisão transitada em julgado,

proferida pelo Juízo da Vara Criminal da Comarca de Nilópolis, o preposto

da recorrente foi absolvido da acusação e, assim, havendo decisão judicial que

declara inexistir culpa, não se pode ter como existente o dolo.

Aponta, ainda, ofensa dos arts. 348, 349 e 350, todos do Código de Processo

Civil, alegando que “o depoimento do autor recorrido, dando conta de como os

fatos se passaram e excluindo textual e expressamente a responsabilidade do

condutor preposto da recorrente, é na verdade uma confi ssão”.

O recurso não foi admitido, mas provi o agravo, para melhor exame,

convolando-o em especial.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro (Relator): A Fundamentação do acórdão

revela adesão ao entendimento doutrinário que considera inexistir vínculo

contratual no transporte gratuito. Havendo danos, a responsabilidade se regerá

pelas regras pertinentes à aquiliana. O tema é indiscutivelmente controvertido,

aqui e além-mar.

Parece-me se deva fazer inicialmente, à semelhança do que ocorre no

exame de outros ordenamentos, distinção entre o transporte simplesmente

gratuito e o realmente desinteressado, qualifi cado como benévolo, de cortesia.

Pode o transporte ser gratuito, mas ligado a algum interesse econômico. Assim,

alguns estabelecimentos propiciam-no a seus clientes sem nada cobrar. Agem,

entretanto, movidos pelo interesse óbvio de captação de clientela. Coisa diversa

é o que sucede quando alguém se dispõe a provê-lo por amizade ou simples

cortesia.

No transporte gratuito, mas não desinteressado, mais facilmente se pode

vislumbrar a natureza contratual. Parece-me, entretanto, também no outro

caso existir esse caráter. E é o que importa, pois o verifi cado na hipótese em

julgamento.

Page 372: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

372

Não pode haver dúvida de que há um acordo de vontades, em função do

qual passam a reger-se as relações entre o transportado e o transportador. A

circunstância de não resultar obrigação para o transportado nada signifi ca, pois

não se desconhece a existência de contratos unilaterais.

Negando-se a tese contratualista, equipara-se o transportado a um terceiro,

que viesse a sofrer dano, em virtude de acidente com o veículo. Assim, um

pedestre que fosse atropelado. Wilson Melo da Silva assinala tratar-se aí de

fi cção que só pode ser aceitável quando não destoe frontalmente da verdade dos

fatos. Acrescenta:

E na hipótese, nenhum simulacro de verdade, senão pura imaginação ou

fantasia, poderia haver entre aquele que se acidenta como transportado e o

terceiro, o pedestre que, como tal, é abalroado por um veículo.

(Responsabilidade Civil Automobilística - Saraiva - 1974 - p. 129).

Admitindo, pois, como admito, haver um contrato unilateral, tratando-se

de transporte de simples cortesia, incide o disposto no art. 1.057 do Código

Civil. Aquele a quem o contrato não aproveite só responde por dolo, a que se

equipara a culpa grave.

A matéria já foi levada ao exame da egrégia Quarta Turma deste Tribunal,

no REsp n. 3.035, Relator o Ministro Sálvio de Figueiredo. Embora não se

tenha conhecido do recurso, evidenciou-se adesão, em princípio, à tese que ora

se sustenta. Destaco trecho da ementa:

Segundo autorizada doutrina, o transportador somente responde perante o

gratuitamente transportado se por dolo ou falta gravíssima houver dado origem

ao dano.

As instâncias ordinárias não reconheceram o dolo nem afi rmaram culpa

particularmente grave. O pleito não merecia prosperar.

Conheço do recurso, por violação do art. 1.057 do Código Civil, e dou-lhe

provimento para julgar improcedente a ação. Custas e honorários pelo autor,

arbitrados estes em dez por cento sobre o valor da causa, somente exigíveis se

sobrevier mudança em sua fortuna, pois litiga amparado pela gratuidade.

Page 373: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 355-375, julho 2010 373

RECURSO ESPECIAL N. 54.658-SP (94.29441-7)

Relator: Ministro Ruy Rosado de Aguiar

Recorrentes: Késia Leonardo de Carvalho e outro

Recorrida: Regina Célia de Jesus Dias

Advogados: Manoel Sorrilha e Saulo Ferreira da Silva e outro

EMENTA

Responsabilidade civil. Transporte de simples cortesia (ou

benévolo). Dolo ou culpa grave.

Quem oferece transporte por simples cortesia somente responde

pelos danos causados ao passageiro em caso de dolo ou culpa grave.

Jurisprudência do STJ. Art. 1.057 do CC.

Recurso conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe

provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o

Relator os Srs. Ministros Antônio Torreão Braz, Fontes de Alencar, Sálvio de

Figueiredo e Barros Monteiro.

Brasília (DF), 12 de dezembro de 1994 (data do julgamento).

Ministro Fontes de Alencar, Presidente

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Relator

DJ 13.03.1995

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Regina Célia de Jesus Dias propôs

contra Késia Leonardo de Carvalho (motorista) e Ernestina Costa de Carvalho

Page 374: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

374

(proprietária do veículo), ação de reparação de danos causados em acidente de

trânsito, julgada procedente em 1º grau.

Contra essa decisão apelaram as demandadas (fl s. 373-379; 380-382). A

autora interpôs recurso adesivo (fl s. 384-386).

A Oitava Câmara Especial de Julho/1993 do 1º Tribunal de Alçada Civil

de São Paulo, por votação unânime, deu acolhida ao apelo de Ernestina e negou

provimento aos demais.

Irresignada, interpôs a ré Késia Leonardo de Carvalho o presente recurso

especial (alíneas a e c do permissivo constitucional), alegando negativa de

vigência ao art. 1.057, do CC, bem como dissídio jurisprudencial com as

Apelações n. 19.636-78 (RT 537/80) do TARJ, e 441.252-8 do TACSP e com

o REsp n. 3.035-RS, Relator o eminente Ministro Sálvio de Figueiredo. Nas

razões do recurso, sustenta a recorrente não ser cabível a indenizatória, tendo em

vista tratar-se de transporte gratuito e benévolo, assinalando que tal condenação

só é cabível quando presentes o dolo ou falta gravíssima o que, na hipótese, não

ocorreu.

Contra-razões às fl s. 435-438.

Admitido o recurso pela alínea c, tão-somente com relação à Apelação n.

19.636-78 (RT 537/80).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Relator): Encontramos na

jurisprudência de ambas as Turmas da Segunda Seção deste Tribunal, com

competência para julgar matéria de direito privado, precedentes que distinguem

entre transporte benévolo, ou de simples cortesia prestado sem nenhum interesse

econômico, do transporte que, embora gratuito, integra uma relação econômica:

Parece-me se deva fazer inicialmente, à semelhança do que ocorre no exame

de outros ordenamentos, distinção entre o transporte simplesmente gratuito, mas

ligado a algum interesse econômico. Assim, alguns estabelecimentos propiciam-

no a seus clientes sem nada cobrar. Agem, entretanto, movidos pelo interesse

óbvio de captação de clientela. Coisa diversa é o que sucede quando alguém se

dispõe a provê-lo por amizade ou simples cortesia (REsp n. 38.668-3-RJ, Terceira

Turma, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, de 25.10.1993).

Page 375: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 355-375, julho 2010 375

O transporte de simples cortesia tem sido definido como contrato

unilateral, ao qual se aplica o disposto no art. 1.057 do Código Civil: “Consoante

abalizada doutrina o transporte gratuito ‘não se regulará pelo direito comercial,

nem pelo civil sobre locação de serviços, mas pelas regras gerais concernentes às

obrigações de direito privado. Tratando-se de um contrato unilateral, o condutor,

no caso de se impossibilitar a execução por algum acidente, só responderá pelo

dano que resultar do seu dolo, Código Civil, art. 1.057. É o caso do acidente

sofrido por pessoa que o motorista amador, ou dono do automóvel, transportava

consigo por simples amabilidade’ (Vieira Ferreira, “Da Responsabilidade Civil

em Acidentes de Trânsito”, Ed. Saraiva, 1944)” (REsp n. 34.544-7-MG, da

Terceira Turma, de 13.12.1993, Rel. Min. Cláudio Santos).

A responsabilidade do transportador, nesse caso, somente se estabelece

quando tiver agido com dolo, como está expresso no art. 1.057 CC, ou com culpa

grave, que a ele para esse efeito se equipara, como acertadamente consignou o

eminente Ministro Eduardo Ribeiro: “Admitindo, pois, como admito, haver

um contrato unilateral, tratando-se de transporte de simples cortesia, incide o

disposto no art. 1.057 do Código Civil. Aquele a quem o contrato não aproveite

só responde por dolo, a que se equipara a culpa grave” (REsp n. 38.668, citado).

Nesta Quarta Turma, mais de um julgado acolhem a mesma orientação:

REsp n. 3.035-RS, de 18.08.1990, Relator Ministro Sálvio de Figueiredo; REsp

n. 3.254, de 17.11.1994, Relator Ministro Bueno de Souza.

No caso dos autos, as instâncias ordinárias não reconheceram dolo ou

culpa grave na conduta da motorista causadora do evento, razão pela qual

conheço do recurso, por ofensa ao art. 1.057 CC, e pela divergência, e lhe dou

provimento, para julgar improcedente a ação, liberada a autora do pagamento

das custas, porque litiga com o benefício da gratuidade, na forma do art. 12 da

Lei n. 1.060/1950, e sem honorários.

Page 376: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 377: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

Súmula n. 146

Page 378: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 379: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULA N. 146

O segurado, vítima de novo infortúnio, faz jus a um único benefício

somado ao salário-de-contribuição vigente no dia do acidente.

Referências:

Lei n. 6.367/1976, art. 6º, § 1º.

Decreto n. 79.037/1976, art. 41, III.

Decreto n. 83.080/1979, art. 261, parágrafo único, III.

Precedentes:

EREsp 12.628-SP (3ª S, 02.03.1995 — DJ 20.03.1995)

REsp 38.689-SP (5ª T, 03.08.1994 — DJ 29.08.1994)

REsp 41.326-SP (5ª T, 10.05.1995 — DJ 29.05.1995)

REsp 53.484-SP (6ª T, 02.05.1995 — DJ 19.06.1995)

Terceira Seção, em 07.12.1995

DJ 18.12.1995, p. 44.864

Page 380: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 381: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 12.628-SP

(94.0004009-1)

Relator: Ministro Jesus Costa Lima

Embargante: Benedito Martiniano dos Santos

Advogados: Luiz Gonzaga Curi Kachan e outros

Embargado: Instituto Nacional de Seguro Social — INSS

Advogados: Cícero Silveira Vianna e outros

EMENTA

Processual e Trabalho. Auxílio-acidente. Acumulação.

Impossibilidade. Benefício único.

Firmou-se a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no

sentido de que, se o segurado sofre novo acidente sem relação com o

anterior, faz jus a um só benefício devidamente reajustado.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira

Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, rejeitar os embargos. Votaram com

o Relator os Ministros Edson Vidigal, Adhemar Maciel, Vicente Leal e José

Dantas. Ausentes, justifi cadamente, os Ministros Cid Flaquer Scartezzini, Luiz

Vicente Cernicchiaro e Anselmo Santiago.

Brasília (DF), 02 de março de 1995 (data do julgamento).

Ministro Assis Toledo, Presidente (em exercício)

Ministro Jesus Costa Lima, Relator

DJ 20.03.1995

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Jesus Costa Lima: Embargos de divergência opostos

por Benedito Martiniano dos Santos ao v. aresto de fl s. 221-225, proferido pela

Page 382: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

382

egrégia Segunda Turma desta Corte, Relator Ministro José de Jesus Filho, assim

ementado:

Previdência Social. Auxílio-acidente. Acumulação. Impossibilidade.

I - Já decidiu esta Turma que o segurado, vítima de outro acidente, após a

consolidação das lesões resultantes do primeiro infortúnio, faz jus a um único

benefício, a ser calculado na forma do art. 41, III, do Decreto n. 79.037/1976.

Precedentes.

II - Recurso conhecido e provido. (fl . 225)

Busca o embargante o restabelecimento do v. julgado proferido pelo

Segundo Tribunal de Alçada Civil de São Paulo (fl s. 186-188), que admitiu

a cumulação de dois auxílios-acidente, posto que a nova lesão incapacitou o

obreiro para outra atividade, diversa daquela resultante do primeiro infortúnio.

Traz para comprovar a divergência o REsp n. 10.329-0-SP, Primeira Turma

desta Corte, Relator Ministro Milton Pereira, cuja ementa é a seguinte:

Previdenciário. Novo acidente do trabalho. Auxílio-acidente. Infortúnio

anterior. Cumulação. Lei n. 6.367/1976 (art. 6º, § 1º). Decreto n. 83.080/1979 (art.

261).

1. O contido na Lei n. 6.367/1976 (art. 6º, § 1º), por si, não impede outra

remuneração ou benefício não relacionado com o acidente anterior, portanto,

não embaraçando a possibilidade jurídica de concessão de mais de um auxílio-

acidente cumulativamente. Em contrário, o obreiro duplamente acidentado

sofrerá maior redução na sua capacidade, com refl exos negativos na sua atividade

laborativa e na subsistência econômica, com inequívoco e injusto gravame social.

2. Precedentes da jurisprudência.

3. Recurso provido (art. 105, III, a, CF). (fl . 242)

Admitidos os embargos (fl . 257), o Instituto Nacional do Seguro Social —

INSS apresentou sua impugnação (fl s. 260-262).

Relatei.

VOTO

O Sr. Ministro Jesus Costa Lima (Relator): A divergência está confi gurada

conforme fi cou visto no relatório pelo simples confronto das ementas dos

respectivos julgados.

Page 383: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 377-392, julho 2010 383

O segurado vítima de mais de um acidente não tem direito a acumular os

valores dos benefícios, porém que o mesmo seja calculado tendo em consideração

o salário-de-contribuição vigente na época do novo acidente, de modo a que,

somado ao outro passa a constituir um só benefício de valor melhorado.

O Decreto n. 79.037, de 02.12.1976, dispõe:

Art. 41. Se em conseqüência do mesmo acidente ou de outro o segurado vier

a fazer jus a auxílio-doença, o auxílio-acidente, observado o limite legal, será

mantido concomitantemente com o auxílio-doença.

Parágrafo único. Cessado o auxílio-doença com base em reavaliação médico-

pericial, o auxílio-acidente será:

I - cancelado, se for concedida aposentadoria por invalidez em conseqüência

do mesmo acidente;

II - mantido se, em conseqüência do novo acidente, não tiver ocorrido

agravamento da incapacidade ou for concedido auxílio-suplementar ou

aposentadoria por invalidez;

III - somado, para efeito de novo cálculo do auxílio-acidente, ao salário-de-

contribuição vigente no dia do novo acidente, se deste resultar incapacidade para

a atividade então exercida, mas não para outra.

O art. 261, inciso III, do Decreto n. 83.080, de 24.01.1979 reproduziu a

norma anterior.

A Corte Especial, no EREsp n. 22.315-4, Relator o eminente

Ministro Garcia Vieira, recebeu os embargos sufragando o entendimento da

inacumulabilidade dos auxílios.

Adotando essa fundamentação, rejeito os embargos.

RECURSO ESPECIAL N. 38.689-SP

Relator: Ministro Edson Vidigal

Recorrente: Instituto Nacional de Seguro Social — INSS

Advogados: Eliane Tabosa do Nascimento e outros

Recorrido: José Manoel dos Santos

Advogados: José Laurindo Galante Vaz e outro

Page 384: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

384

EMENTA

Previdenciário. Ocorrência de mais de um acidente. Cumulação

de benefícios. Impossibilidade.

1. Se o segurado está recebendo auxílio-acidente concedido em

outra ação, a ocorrência de um segundo infortúnio laboral implica

novo cálculo do valor do benefício, correspondente ao primeiro

somado com o salário de contribuição, vigente na data do acidente —

Decreto n. 79.037/1976, art. 43, III.

2. Precedentes desta Corte.

3. Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar

provimento, nos termos do voto do Ministro Relator. Votaram com o Relator,

os Srs. Ministros Jesus Costa Lima, José Dantas e Assis Toledo. Ausente,

ocasionalmente, o Ministro Cid Flaquer Scartezzini.

Brasília (DF), 03 de agosto de 1994 (data do julgamento).

Ministro Jesus Costa Lima, Presidente

Ministro Edson Vidigal, Relator

DJ 29.08.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Edson Vidigal: Em ação acidentária promovida pelo

Recorrido, obreiro em gozo de auxílio-acidente, contra o Instituto Nacional de

Seguro Social — INSS, com vistas ao reconhecimento do direito à percepção

de um segundo auxílio-acidente porque vítima de outro infortúnio, o pedido foi

julgado procedente pelo Juiz de Direito da 1ª Vara de Acidentes do Trabalho.

Confirmada a sentença no Tribunal de Alçada Cível de São Paulo,

apresentou o vencido recurso especial fundado na Constituição, art. 105, III,

Page 385: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 377-392, julho 2010 385

a, alegando que o acórdão impugnado, ao conceder a cumulatividade de dois

auxílios-acidente, violou a Lei n. 6.367/1976, art. 6º, e o Decreto n. 79.037/1976,

art. 41, III.

Sustenta o Recorrente, a não previsão, na legislação específi ca, de duplo

auxílio-acidente.

Contra-razões às fl s. 89-92.

Admitido o recurso, subiram os autos a esta Corte.

Relatei.

VOTO

O Sr. Ministro Edson Vidigal (Relator): Sr. Presidente, refere-se o presente

recurso ao cálculo do valor do benefício a ser pago pelo Instituto Nacional de

Seguro Social — INSS, a operário que sofreu mais de um acidente.

Dispõe a Lei n. 6.367/1976, em seu art. 3º:

Não será considerada agravação ou complicação de acidente do trabalho lesão

que, resultante de outro acidente, se associe ou se superponha às conseqüências

do anterior.

Regulamenta a matéria o Decreto n. 79.037/1976, art. 41, III:

Art. 41. Se em conseqüência do mesmo acidente ou de outro o segurado vier

a fazer jus a auxílio-doença, o auxílio-acidente, observado o limite legal, será

mantido concomitantemente com o auxílio-doença.

Parágrafo único. Cessado o auxílio-doença com base em reavaliação médico-

pericial, o auxílio-acidente será:

I - (...)

II - (...)

III - somado, para efeito de novo cálculo do auxílio-acidente, ao salário-de-

contribuição vigente no dia do novo acidente, se deste resultar incapacidade para

a atividade então exercida, mas não para outra.

A decisão recorrida violou a Lei n. 6.367/1976, em seu art. 6º e o Decreto

n. 79.037/1976, art. 41, III, além de divergir de julgados desta Corte, a propósito,

REsp n. 10.401-SP, Relator Ministro Hélio Mosimann; REsp n. 29.517-1-RJ,

Page 386: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

386

Relator Ministro Vicente Cernicchiaro; REsp n. 2.875-SP, Relator Ministro

Ilmar Galvão, respectivamente ementados:

Acidente do trabalho. Ocorrência de mais de um acidente. Impossibilidade da

acumulação dos benefícios. Alteração, entretanto, na forma do cálculo.

Se o segurado está recebendo auxílio-acidente concedido em outra ação e

ocorre um segundo infortúnio, faz jus a um único benefício, somado, para efeito

de novo cálculo do auxílio-acidente, ao salário-de-contribuição vigente no dia do

novo acidente (art. 41, III, Decreto n. 79.037/1976).

Recurso provido.

REsp. Previdenciário. Acidente de trabalho. Auxílio Suplementar.

A ocorrência de outro infortúnio laboral implica novo cálculo do valor do

benefício, correspondente ao do primeiro com o salário-contribuição, vigente na

data do acidente.

Previdenciário. Acumulação de auxílio-acidente. Impossibilidade.

O Segurado, vítima de outro acidente de trabalho, após a consolidação das

lesões resultantes do primeiro infortúnio, faz a um único auxílio-acidente a ser

calculado na forma do art. 41, III, do Decreto n. 79.037/1976.

Recurso provido.

Assim, na mesma linha dos precedentes deste Tribunal, conheço do recurso

e ao mesmo dou provimento.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 41.326-SP (93.0033357-7)

Relator: Ministro José Dantas

Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social — INSS

Advogados: Anete Rodello e outros

Recorrido: Gabriel José Nogueira

Advogados: Antonio Possidonio Sampaio e outros

Page 387: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 377-392, julho 2010 387

EMENTA

Previdenciário. Auxílio-acidente.

Padecimento de novo infortúnio. Novo direito ao benefício,

cumprida, porém, a forma preconizada nos arts. 6º da Lei n. 6.367/1976,

e 41, parágrafo único, inciso III, do Decreto n. 79.037/1976.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar

provimento para reformar parcialmente o acórdão recorrido, nos termos do

voto do Ministro Relator. Votaram com o Relator os Ministros Cid Flaquer

Scartezzini, Assis Toledo, Edson Vidigal e Jesus Costa Lima.

Brasília (DF), 10 de maio de 1995 (data do julgamento).

Ministro Jesus Costa Lima, Presidente

Ministro José Dantas, Relator

DJ 29.05.1995

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José Dantas: Além da aposentadoria especial cumulada ao

devido auxílio-acidente (varizes nos membros inferiores), o v. acórdão recorrido

assegurou ao Autor um outro auxílio-acidente (disacusia), ao fundamento de

que o obreiro permanecera no serviço e sofrera nova moléstia profi ssional — fl s.

73-76.

Daí o recurso especial do INSS, pelas letras a e c do permissivo, sob

invocação do art. 6º da Lei n. 6.367, e art. 41, III, do Decreto n. 79.037/1976,

e colação de acórdãos deste Superior Tribunal, asseverativos de que, na hipótese

de que se trata, o acidentado faz jus a um só auxílio, calculado na forma da

citada norma legal — fl s. 81-83.

Nesta Instância, o parecer do Ministério Público Federal é contrário ao

provimento do recurso, conforme ementa seguinte:

Page 388: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

388

Previdenciário. Recurso especial. Ação acidentária. Cumulatividade de auxílios-

acidente com aposentadoria especial. Negativa de vigência do art. 6º da Lei n.

6.367/1976, art. 41, inciso III, do Decreto n. 79.037/1976. Inocorrência. Divergência

jurisprudencial demonstrada. Parecer pelo conhecimento e improvimento do

recurso. — fl . 114.

Relatei.

VOTO

O Sr. Ministro José Dantas (Relator): Sr. Presidente, relembro que esta

Turma tem orientação sobre a matéria no sentido dos paradigmas invocados

(REsp n. 2.875, Relator Ministro Ilmar Galvão, e REsp n. 10.401, Relator

Ministro Hélio Mosimann), da mesma forma como foram colacionados no

REsp n. 28.797-6, aqui julgado em sessão de 18.11.1992, sob minha relatoria,

conforme voto que leio (anexo); fundamentos esses que resultaram assim

ementados:

Previdenciário. Auxílio-acidente.

Padecimento de novo infortúnio. Novo direito ao benefício, atendida, porém, a

forma preconizada nos arts. 6º da Lei n. 6.367/1976, e 41, parágrafo único, inciso

III, do Decreto n. 79.037/1976. — In DJ de 07.03.1994.

Daí que agora chego à mesma conclusão, isto é, a do conhecimento e

provimento do recurso, para reforma parcial do v. acórdão recorrido, no sentido

de limitar a procedência da ação à forma da unifi cação de proventos preconizada

nos analisados dispositivos legais.

ANEXO

RECURSO ESPECIAL N. 28.797-SP

VOTO

O Sr. Ministro José Dantas (Relator): Sr. Presidente, convenha-se que

a questão não se confunde com aqueloutra muito repetitiva, a acumulação do

auxílio-acidente com proventos da aposentadoria especial.

Page 389: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 377-392, julho 2010 389

Aqui, de fato, o cúmulo discutido é sobre dois auxílios, porque dois foram

os acidentes sucessivamente sofridos.

Daí que, consultados os acórdãos trazidos à colação, via de ementas cuja

clareza mostra a similitude das espécies confrontadas, quero crer que tais

precedentes revelam a melhor interpretação dos dispositivos legais em causa,

com os seguintes textos:

Art. 6º — Lei n. 6.367/1976

O acidentado do trabalho que, após a consolidação das lesões resultantes

do acidente, permanecer incapacitado para o exercício da atividade que exercia

habitualmente, na época do acidente, mas não para o exercício de outra, fará jus,

a partir da cessação do auxílio- doença, a auxílio-acidente.

Art. 41 — Decreto n. 79.037/1976

Se em conseqüência do mesmo acidente ou de outro o segurado vier a fazer

jus a auxílio-doença, o auxílio-acidente, observado o limite legal, será mantido

concomitantemente com o auxílio-doença.

Parágrafo único. Cessado o auxílio-doença com base em reavaliação médico-

pericial, o auxílio-acidente será:

I - (...)

II - (...)

III - Somado, para efeito de novo cálculo do auxílio-acidente, ao salário-de-

contribuição vigente no dia do novo acidente, se deste resultar incapacidade para

a atividade então exercida, mas não para outra. fl s. 201-202.

Ademais, ao que informam os anais, vários outros acórdãos, de ambas

as Turmas da Primeira Seção, consolidam esse mesmo entendimento (v.g.

REsp n. 7.022, Relator Ministro José de Jesus, in DJ de 24.06.1991); a salvo,

no entanto, o acórdão proferido pela Primeira Turma no REsp n. 8.556,

Relator o saudoso Ministro Geraldo Sobral, decisão essa, isolada, porém, pela

equívoca compreensão de que a matéria teria as mesmíssimas conotações da

cumulatividade do auxílio-acidente com a aposentadoria especial, semelhança

que, d.m.v., não acontece.

Em suma, tenho por prosperável o recurso por ambos os fundamentos, para

a proposição da reforma parcial do v. acórdão, no sentido de que, na execução da

sentença atenda-se à unifi cação daqueles auxílios, da forma preconizada pelos

analisados dispositivos legais.

Pelo exposto, conheço do recurso e lhe dou provimento.

Page 390: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

390

RECURSO ESPECIAL N. 53.484-SP (94.0026987-0)

Relator: Ministro Anselmo Santiago

Recorrente: Instituto Nacional de Seguro Social — INSS

Advogados: Anete Rodello e outros

Recorrido: João Laurindo de Paula

Advogados: Ivo Arnaldo Cunha de Oliveira Neto e outros

EMENTA

Previdenciário. Ocorrência de mais de um acidente. Cumulação

de benefícios. Impossibilidade.

1. Se o segurado está recebendo auxílio acidente concedido em

outra ação, a ocorrência de um segundo infortúnio laboral implica

novo cálculo do valor do benefício, correspondente ao primeiro

somado com o salário contribuição, vigente na data do acidente —

Decreto n. 79.037/1976, art. 43, III.

2. Precedentes desta Corte.

3. Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer e dar provimento ao recurso

especial. Votaram com o Sr. Ministro Relator os Srs. Ministros Vicente Leal,

Luiz Vicente Cernicchiaro e Adhemar Maciel.

Brasília (DF), 02 de maio de 1995 (data do julgamento).

Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, Presidente (art. 101, § 2º, do RISTJ).

Ministro Anselmo Santiago, Relator

DJ 19.06.1995

Page 391: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 377-392, julho 2010 391

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Anselmo Santiago: O Instituto Nacional de Seguro Social

— INSS interpõe, com fulcro no art. 105, III, a e c, da Constituição Federal,

o presente recurso especial contra o v. acórdão proferido pela Quinta Câmara

do 2º Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo que, julgando apelação

interposta, negou provimento ao recurso, prestigiando a sentença monocrática

que condenou a entidade autárquica a pagar o auxílio-acidente de 40% a partir

de 1º.06.1988 e consectários.

Alega o recorrente ter o v. acórdão ofendido aos arts. 6º da Lei n.

6.367/1976 e 41, III, do Decreto n. 79.037/1976, porque admitida a percepção

cumulativa de dois benefícios do auxílio-acidente, quando para a hipótese,

o decreto regulamentador determina que o auxílio-acidente anteriormente

concedido será somado, para efeito de novo cálculo daquele benefício, ao salário

de contribuição vigente no dia do novo acidente.

O recurso foi admitido pelo despacho de fl s. 279-280.

Com as razões e contra-razões de fl s. 264-270 e 272-274, subiram os autos

a esta Corte.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Anselmo Santiago (Relator): Sobre o thema decidendum,

assim se manifestou a douta Subprocuradoria Geral da República, em parecer

da lavra do Dr. Paulo da Rocha Campos, verbis:

No concernente ao ponto, esse Tribunal Superior possui entendimento

pacífi co no sentido de, em havendo padecimento de novo infortúnio, o obreiro

faz jus a auxílio-acidente, mas nos termos do art. 41, parágrafo único, III. É o que se

dessume das decisões assim ementadas:

Previdenciário. Ocorrência de mais de um acidente. Cumulação de

benefícios. Impossibilidade.

1. Se o segurado está recebendo auxílio-acidente concedido em outra

ação, a ocorrência de um segundo infortúnio laboral implica novo cálculo

do valor do benefício, correspondente ao primeiro somado com o salário

contribuição, vigente na data do acidente — Decreto n. 79.037/1976, art.

43, III.

Page 392: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

392

2. Precedentes desta Corte.

3. Recurso provido. (REsp n. 38.689-SP, Rel. Min. Edson Vidigal, in DJ

29.08.1994, p. 22.208).

Ementa: REsp. Previdenciário. Benefício. Pluralidade de acidentes.

Se, em conseqüência de outro acidente, o segurado vier a fazer jus a

auxílio-doença, o auxílio-acidente, observado o limite legal, será mantido

concomitantemente com o auxílio-doença. Cessado este, o auxílio-acidente

será somado, para efeito de novo cálculo, ao salário de contribuição. (REsp

n. 45.174-RJ, Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, in DJ de 02.05.1994, p.

10.029).

Ementa: Previdência Social. Auxílio-acidente. Acumulação.

Impossibilidade.

I - O segurado, vítima de outro acidente, após a consolidação das lesões

resultantes do primeiro infortúnio, faz jus a um único benefício, a ser

calculado na forma do art. 41, II, do Decreto n. 79.037, de 1976.

Precedentes.

II - Recurso especial conhecido e provido. (REsp n. 12.649-SP, Rel. Min.

Eduardo Ribeiro, in DJ 29.03.1993, p. 5.246).

Ementa: Previdenciário. Auxílio-acidente.

Padecimento de novo infortúnio. Novo direito ao benefício, atendida,

porém a forma preconizada nos arts. 6º da Lei n. 6.367/1976, e 41, parágrafo

único, inciso III, do Decreto n. 79.037/1976.

Por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento. (REsp n.

28.797-SP, Relator Ministro José Dantas, in DJ 07.12.1992, p. 23.332).

De fato, o inciso III do parágrafo único do art. 41 do Decreto n. 79.037/1976

proíbe a acumulação de auxílios-acidente ao prever que na hipótese de novo

acidente o referido benefício será “somado, para efeito de novo cálculo do auxílio-

acidente, ao salário de contribuição vigente no dia do novo acidente...”.

Note-se, ainda, que a aplicação da regra supracitada não prejudica o obreiro, já

que a soma do salário de contribuição do valor do auxílio-acidente anterior, para

efeito de novo cálculo, resultará em importância maior que absorverá o menor.

(fl s. 287-289)

Nos termos do parecer ministerial que acolho e adoto como razão de

decidir, conheço e dou provimento ao recurso.

É o voto.

Page 393: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

Súmula n. 147

Page 394: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 395: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULA N. 147

Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra

funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função.

Referência:

CC/1988, art. 109, IV.

Preedentes:

CC 1.964-DF (3ª S, 19.09.1991 — DJ 21.10.1991)

CC 3.593-SC (3ª S, 05.08.1993 — DJ 23.08.1993)

RHC 3.668-RJ (6ª T, 20.09.1994 — DJ 24.10.1994)

Terceira Seção, em 07.12.1995

DJ 18.12.1995, p. 44.864

Page 396: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 397: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 1.964-DF (91.0005979-0)

Relator: Ministro Edson Vidigal

Autora: Justiça Pública

Réu: José Darionízio Pereira da Cruz

Suscitante: Juízo Auditor da Auditoria da 11ª Circunscrição Judiciária

Militar Federal

Suscitado: Juízo Federal da 8ª Vara — Distrito Federal

EMENTA

Penal. Processual. Competência. Crime contra funcionário

público federal.

Sendo crime político ou crime comum contra servidor público

federal no exercício da função ou em razão dessa investidura, a

competência para processo e julgamento do acusado é da Justiça

Federal (CF, art. 109, IV).

Confl ito conhecido, declarando-se competente o Juízo Federal

da 8ª Vara, Distrito Federal.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer

do confl ito e declarar competente o suscitado, Juízo Federal da 8ª Vara-DF, na

forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo

parte integrante do presente julgado.

Custas como de lei.

Brasília (DF), 19 de setembro de 1991 (data do julgamento).

Ministro José Dantas, Presidente

Ministro Edson Vidigal, Relator

DJ 21.10.1991

Page 398: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

398

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Edson Vidigal: Duas facas estão apensas a estes autos,

uma delas de lâmina prateada, reluzente, corte a laser, 19 centímetros, cabo de

plástico preto, marca “mundial”, enrolada num exemplar do jornal “Tribuna da

Bahia”, Caderno de “Cidade”, edição de 5 de agosto de 1988. A outra, menor

e modesta, cabo simples de madeira, 14 centímetros e um ponto de ferrugem,

marca “tramontina”, enfi ada na bainha de plástico e papelão original da fábrica.

José Darionízio Pereira da Cruz, 33 anos, solteiro, desempregado, estava a

3 metros do Presidente da República, assim que ele desceu a rampa do Palácio

do Planalto, no fi m da tarde de 22 de março de 1991, uma sexta-feira. E deixou

cair no chão a faca que trazia enrolada num jornal, a menor, marca “tramontina”.

A outra faca, reluzente, corte a laser, marca “mundial”, foi encontrada só

depois na sacola que Darionízio havia deixado em Taguatinga, DF, (QNG

1, lote 24), na casa do seu amigo Eliezer Ferreira Marques, 65 anos, casado,

aposentado.

Ao ser informado de que Darionízio respondia a inquérito sob a acusação

de haver atentado contra o Presidente da República, Lei n. 7.170/1983, art.

27 c.c. o art. 3º, o Juiz da 8ª Vara da Seção Judiciária do Distrito Federal, Dr.

Francisco Neves da Cunha, despachou nos autos da Comunicação de Prisão em

Flagrante declinando competência para um dos Auditores Militares da Justiça

Militar no Distrito Federal, assim:

O ora custodiado, José Darionízio Pereira da Cruz, está incurso nas penas do

art. 3º c.c. o art. 27 da Lei n. 7.170/1983, conforme comunicação de prisão em

fl agrante de fl . 3.

Reza o art. 30 da Lei n. 7.170, de 14 de dezembro de 1983, “compete à Justiça

Militar processar e julgar os crimes previstos nesta Lei, com observância das

normas estabelecidas no Código de Processo Penal Militar, no que não colidem

com disposição desta Lei, ressalvada a competência originária do Supremo

Tribunal Federal, nos casos previstos na Constituição”.

Portanto, nos termos do retrocitado art. 30 da Lei n. 7.170, de 14 de

dezembro de 1983, reconhecendo a incompetência absoluta deste Juízo para o

processamento e julgamento do feito.

Declino de minha competência para a Justiça Militar — Auditoria Militar no

Distrito Federal — para um dos Exmos. Auditores.

Remetam-se os autos, com as nossas homenagens, via Corregedoria, dando-se

baixa. (Em 4 de abril de 1991).

Page 399: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 393-422, julho 2010 399

O Ministério Público Militar, na pessoa do Procurador Carlos Frederico

Oliveira Pereira, opinou recusando competência à Justiça Militar Federal,

entendendo que “a Constituição Federal é clara no art. 124 ao asseverar que a

Justiça Militar Federal só pode processar e julgar crimes militares. Os crimes

militares estão defi nidos em lei ordinária, ou seja no art. 9º do Código Penal

Militar (Decreto-Lei n. 1.001, de 21 de outubro de 1969), e o caso não tem

nenhum enquadramento do citado dispositivo”. (fl . 88).

O Juiz Auditor Substituto da 11ª Circunscrição Judiciária Militar, Roberto

Menna Barreto de Assumpção, suscitou Confl ito Negativo argumentando:

Ora, se induvidosa a circunstância de ter sido a Lei n. 7.170/1983 devidamente

recepcionada, pela atual Constituição Federal, sob pena de postergarmos

importante instrumento de defesa do Estado, não menos correto afi rmar-se que

seu art. 3º foi tacitamente revogado pelo art. 109, IV, de nosso codex fundamental.

Qualquer linha de raciocínio diversa macularia, frontalmente, o que determina

a Constituição, conferindo-se ao Código Penal Militar, feição abrangente distinta

da que lhe foi confi ada, como sistema repressivo situado no âmbito das Forças

Armadas, a fi m de impedir a ação dissolvente dos crimes, que atentam contra

sua destinação, segurança e estabilidade, tudo isso, sem intromissões indevidas e

prejuízos à harmonia do Poder Judiciário da União, como um todo.

No mais, cumpre ressaltar, secundando o bem lançado posicionamento

ministerial, que por entendermos nos desassistir competência, no concernente,

deixamos, também, de solicitar a comunicação da prisão em fl agrante, com o

fundamento do decisum excipiente ora hostilizado, mirando, destarte, evitar

demora incompatível com a natureza mesma da prisão. (fl . 101).

O Ministério Público Federal, nesta instância, através do Subprocurador-

Geral Haroldo Ferraz da Nóbrega, anota:

O tema não é estranho, pois tenho conhecimento de trabalho inédito do

eminente Procurador Geral da República intitulado competência criminal

constitucional onde, de modo preciso, diz sobre a matéria enfocada:

Compete, também, à excelsa Corte julgar, em recurso ordinário, o crime

político (art. 102, II, b).

Trata-se, a nosso ver, de segunda apelação relativa a processo penal

por crime político, quer a sentença de 1º grau tenha sido condenatória ou

absolutória.

Segunda apelação, porque a primeira há de ser julgada por Tribunal

Regional Federal (art. 108, II), uma vez que a competência originária para

Page 400: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

400

o processo e julgamento dos crimes políticos é dos juízes federais (art.

109, IV), cujas decisões estão sujeitas a recurso para os Tribunais Regionais

Federais.

Segundo Nelson Hungria, crimes políticos são os dirigidos, subjetiva e

objetivamente, de modo imediato, contra o Estado como unidade orgânica

das instituições políticas e sociais, sendo caracteristicamente políticos os

crimes eleitorais (3).

Assim, são crimes políticos os crimes hoje denominados contra a

segurança nacional e os crimes eleitorais.

Como estes últimos são processados e julgados pela Justiça Eleitoral,

resta à Justiça Federal o processo e julgamento dos crimes contra a

segurança do Estado, que, no ordenamento constitucional anterior,

competia à Justiça Militar Federal, também competente para o processo e

julgamento dos crimes militares ou contra as instituições militares (art. 129

da Constituição de 1967 com a Emenda Constitucional n. 1, de 1969) (3)

(Comentários ao Código Penal, 5ª ed., Rio de Janeiro, Forense, 1977, vol. I,

t. I, p. 195).

Conclui o parecer opinando pelo conhecimento do confl ito, decidindo-se

pela competência da Justiça Federal.

Relatei.

VOTO

O Sr. Ministro Edson Vidigal (Relator): A divergência entre as duas ilustres

autoridades judiciárias está em que nenhuma delas se considera competente

para processar e julgar José Darionízio Pereira da Cruz, levado preso para a

Polícia Federal depois que, estando a três metros do Presidente da República,

deixou cair no chão uma faca.

Por isso, a invocação das penas da Lei n. 7.170/1983, que defi ne os crimes

contra a Segurança Nacional, a ordem política e social, estabelece seu processo e

julgamento, art. 27 c.c. o art. 3º, que dispõem:

Art. 27. Ofender a integridade corporal ou a saúde de qualquer das autoridades

mencionadas no artigo anterior.

Pena: reclusão, de 1 a 3 anos.

(As autoridades a que se refere o artigo anterior são o Presidente da República,

o do Senado Federal, o da Câmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal.)

Page 401: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 393-422, julho 2010 401

Art. 3º Pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado,

reduzida de 1 (um) ano a 2/3 (dois terços), quando não houver expressa previsão

e cominação específi ca para a fi gura tentada.

Os autos do inquérito policial dão conta de que não houve tentativa de

ofensa à integridade corporal ou à saúde do Presidente da República.

A primeira testemunha, José Carlos Poppl Filho, 40 anos, Major do

Exército, lotado no Gabinete Militar da Presidência da República, disse:

que estava na sua posição a aproximadamente dois metros do Sr. Presidente,

quando observou um pequeno tumulto pelo lado esquerdo, na posição de

retaguarda da dita autoridade; que rapidamente virou-se para observar melhor

a ocorrência, observando que outros integrantes da segurança presidencial

imobilizaram um elemento retirando-o das proximidades em que se encontravam

as autoridades; que pôde observar algumas vozes alteradas, tendo também

observado cair no chão uma faca de marca tramontina; que inclusive recolheu

a referida faca; que em decorrência do tumulto ocorrido e pela rapidez com que

sucederam tais fatos, manteve consigo a faca recolhida até a saída do Senhor

Presidente; (fl s. 4-5).

A segunda testemunha, Raimundo de Melo Amorim, 51 anos, 2º Tenente,

lotado no Gabinete Militar da Presidência da República, disse:

que pôde observar perfeitamente que alguns integrantes do serviço de

segurança retiravam uma pessoa das proximidades das autoridades que ali

estavam; que aproximou-se então com o intuito inclusive de auxiliar os seus

companheiros; que uma viatura da Polícia Militar estava bem nas proximidades

do Palácio, em missão de apoio, sendo que para lá conduzido o elemento detido,

que mais tarde foi identifi cado como sendo José Darionízio Pereira da Cruz; que

recebeu determinação de seus superiores, no sentido de retirar das proximidades

do Palácio o elemento que de alguma forma tentara agredir o Sr. Presidente; que

assim procedeu, permanecendo na viatura um pouco afastada recebendo pouco

tempo depois o auxílio do Major Poppl que trazia consigo um envelope; que já na

Delegacia pôde constatar que no interior do mesmo continha uma faca nova, de

marca “tramontina”; que também na Delegacia tomou conhecimento de que fora

apreendido em poder do elemento detido, um bilhete no qual José Darionízio

relatava que não queria tirar a vida do Sr. Presidente e sim, só lhe dar um susto

(fl s. 5-6).

Portanto, a tentativa sequer ocorreu. Os autos evidenciam que o acusado

Darionízio tinha intenção de só “dar um susto” no Presidente da República.

Page 402: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

402

Como intenção não se confunde com tentativa, não vislumbro como possa

enquadrar o fato à luz da Lei que defi ne os crimes contra a Segurança Nacional

e a ordem política e social. A propósito diz a mencionada lei no seu:

Art. 1º Esta Lei prevê os crimes que lesam ou expõem a perigo de lesão:

I - a integridade territorial e a soberania nacional;

II - o regime representativo e democrático, a Federação e o Estado de Direito;

III - a pessoa dos Chefes dos Poderes da União.

A seguir, diz na mesma lei o:

Art. 2º Quando o fato estiver também previsto como crime no Código Penal,

Penal Militar ou em leis especiais, levar-se-ão em conta, para a aplicação desta lei:

I - a motivação e os objetivos do agente;

II - a lesão real ou potencial aos bens jurídicos mencionados no artigo anterior.

Ora, deixar cair uma faca na via pública, ainda que a três metros do

Presidente da República, não lesa e nem expõe a perigo de lesão a integridade

territorial, soberania nacional, o regime representativo e democrático, a

Federação, o Estado de Direito ou a pessoa dos Chefes de Poderes da União.

À luz do art. 2º acima transcrito, há que se indagar: qual foi a motivação

e quais foram os objetivos do agente? Indubitável que só “dar um susto” no

Presidente da República. Houve lesão real ou potencial aos bens jurídicos

mencionados no art. 1º, ou seja à integridade territorial e à soberania nacional,

ao regime representativo e democrático, à Federação e ao Estado de Direito?

Muito óbvio que não houve.

Então conclui-se que não estamos diante de crime contra a segurança

nacional, nem contra a ordem política e social. Vale lembrar aqui a lição de

Heleno Fragoso:

Quando se fala em segurança nacional, nas leis que defi nem os crimes contra

o Estado e a ordem política ou social, cogita-se de um bem jurídico, que se refere

ao estado de segurança política e social do País, em sua estrutura jurídica, ou seja,

em sua estrutura constitucional. Não se cogita de todo e qualquer fato que atente

contra os interesses sociais, a ordem e a segurança pública.

Segurança nacional, é em suma, a segurança do Estado em sua estrutura

jurídica, ou seja, é a ausência de perigos e riscos em relação à estrutura jurídica e

social do Estado, na forma em que a Constituição a estabelece.

Page 403: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 393-422, julho 2010 403

Como se atenta contra a segurança nacional? Atenta-se contra a segurança

nacional quando se põe em perigo o sistema político vigente; quando se põe em

perigo as bases políticas e econômicas da constituição social; quando se atenta

contra a existência ou contra a incolumidade dos órgãos supremos do Estado. Isso

é o que sempre se chamou de segurança interna. (Jurisprudência Criminal, Vol. I,

Borsoi, Rio-GB, 1973, p. 41).

Aliás, conforme bem lembrou o Ministério Público Militar Federal, em seu

parecer às fl s. 87-97, não há mais, pela Constituição Federal em vigor, a fi gura

do crime contra a segurança nacional. Já há menção, sim, a crime inafi ançável e

imprescritível resultante da ação de grupos armados, civis ou militares, contra a

ordem constitucional e o Estado Democrático. (CF, art. 5º, XLIV).

Assim, afora o crime contra a ordem constitucional e o Estado

Democrático, praticável por grupos armados, civis ou militares, trata ainda a

Constituição Federal do crime contra a ordem política e social (art. 144, § 1º, I).

Entendeu o Juiz Auditor Substituto da 11ª Circunscrição Judiciária

Militar, de Brasília-DF, que, ao dispor em seu art. 109, IV, que a Justiça Federal

é competente para processar e julgar os crimes políticos, a Constituição Federal

revogou na Lei n. 7.170/1983 o seu art. 30 assim redigido:

Art. 30. Compete à Justiça Militar processar e julgar os crimes previstos nesta

Lei, com observância das normas estabelecidas no Código de Processo Penal

Militar, no que não colidirem com disposição desta Lei, ressalvada a competência

originária do Supremo Tribunal Federal nos casos previstos na Constituição.

A nova ordem constitucional (art. 124) restringiu a competência da Justiça

Militar ao processo e julgamento dos crimes militares defi nidos em lei.

Nestes termos, resta induvidoso que não é a Justiça Militar a competente

para processar e julgar José Darionízio Pereira da Cruz, que, conforme

evidenciado no inquérito policial, não cometeu crime militar.

Seria então a Justiça Federal a competente para o caso? Deixar cair uma

faca, ainda que a três metros do Presidente da República é crime político?

Heleno Fragoso considera que a motivação política é elementar aos crimes

políticos (obra já citada, p. 43). Aristides Junqueira Alvarenga, lembrando

Nelson Hungria, anota que crimes políticos são os dirigidos, subjetiva e

objetivamente, de modo imediato, contra o Estado como unidade orgânica das

instituições políticas e sociais, sendo caracteristicamente políticos os crimes

eleitorais. E conclui, conforme transcrito pelo parecer da douta Subprocuradoria

Page 404: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

404

Geral da República: “Assim, são crimes políticos os crimes hoje denominados contra a

segurança nacional e os crimes eleitorais”.

Como a Constituição Federal não trata mais de crimes contra a

segurança nacional e sim de crimes políticos, que seriam, dentre outros aqueles

mencionados no art. 5º, XLIV, recepciona-se, parcialmente, a Lei n. 7.170/1983

no que ela contém de compatível com o espírito da nova ordem.

Assim, constatando, conforme os autos, que a ação atribuída a José

Darionízio Pereira da Cruz não tipifica crime militar nem crime político,

conheço do confl ito e declaro competente a Justiça Comum do Distrito Federal,

à qual determino a remessa destes autos para o prosseguimento do feito.

É o voto.

VOTO-VOGAL

O Sr. Ministro William Patterson: Sr. Presidente, em que pesem as

brilhantes considerações postas no voto do Sr. Ministro-Relator, entendo que se

trata de matéria de competência da Justiça Federal.

O cidadão Darionízio está sendo acusado da prática de um crime contra

a segurança nacional. Isso é o que consta no inquérito. Esse não é o melhor

momento para deslocarmos esses fatos dessa trilha, salvo melhor juízo, porque

teríamos que penetrar em outras provas que não apenas a declaração do próprio

acusado.

Para mim, toda tentativa, susto, ou qualquer ato contra a pessoa do

Presidente da República, tem conotação política, é crime contra a segurança

nacional. Qualquer ação que ameace a integridade física do Supremo Mandatário

da República afeta a segurança nacional, pois ao Estado interessa preservá-la.

Não vejo como desprezar o art. 109, item IV, que confere à Justiça Federal

a competência para o processo e julgamento dos crimes políticos. O próprio

Ministério Público indica, em seu parecer, lição do eminente Procurador-Geral

da República, que, fazendo remissão à doutrina, diz que os crimes contra a

segurança nacional são crimes políticos. Por isso, Sr. Presidente, com a devida

vênia do Sr. Ministro-Relator divirjo de S. Exa., para declarar competente a

Justiça Federal, nos termos do inciso IV do art. 109 da Constituição.

Page 405: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 393-422, julho 2010 405

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro José Cândido: Pedi vista dos autos para melhor exame da

matéria.

O presente conflito, suscitado pelo Juízo-Auditor da Auditoria da 11ª

Circunscrição Judiciária Militar Federal, atribui competência ao Juízo Federal

da 8ª Vara do Distrito Federal para processar e julgar José Darionízio Pereira da

Cruz, apontado em inquérito policial pelo Departamento de Polícia Federal, como

responsável por tentativa de ofensa à integridade física do Sr. Presidente da

República, Fernando Collor de Mello (art. 3º, c.c. o art. 27 da Lei n. 7.170/1983),

durante cerimônia de descida da rampa do Palácio do Planalto, no dia 22 de

abril do corrente ano.

O Ministério Público Federal opinou pela competência da Justiça Federal.

Está absolutamente fora de dúvida, ser a Justiça Militar Federal competente

para o processo e julgamento do feito. No particular, além das judiciosas

considerações do ilustre Procurador da Justiça Militar, fl s. 87-97, acolhidas

pelo nobre Juiz-Auditor substituto, Dr. Roberto Menna Barreto de Assumpção,

o próprio Relator, do presente Confl ito, eminente ministro Edson Vidigal, já

proclamou no seu voto: “Nestes termos, resta induvidoso que não é a Justiça

Militar a competente para processar e julgar José Darionízio Pereira da Cruz,

que, conforme evidenciado no inquérito policial, não cometeu crime militar”.

Porém, ao firmar tal posição, o ilustre Relator, também afastando a

competência da Justiça Federal, concluiu ser competente, para o deslinde da

causa criminal, a Justiça Comum do Distrito Federal, entendendo que a ação

atribuída ao então indiciado “não tipifi ca crime militar nem crime político”. Esta

colocação levou o eminente ministro William Patterson a divergir do nobre

Relator, votando pela competência do Juízo Suscitado, da 8ª Vara da Justiça

Federal-DF.

Entendo que o voto divergente se identifi ca com o melhor direito.

A Constituição Federal vigente é expressa, ao afi rmar, em seu art. 124,

que “À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares defi nidos

em lei”. Estes são os previstos no art. 9º do Código Penal Militar, alguns

também defi nidos na Lei n. 7.170/1983 (LSN), caso em que se distinguem pela

“motivação e os objetivos do agente e lesão real ou potencial aos bens jurídicos

mencionados” (art. 2º).

Page 406: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

406

O Dr. Delegado de Polícia Federal, Onézimo das Graças Souza, ao relatar o

inquérito policial, disse:

Quanto ao enquadramento do fato delituoso na Lei n. 7.170, de 14.12.1983,

entendeu esta autoridade policial, data venia, que com o advento da nova ordem

constitucional alterou-se tão somente os quesitos atinentes à segurança nacional,

vigindo portanto os que dizem respeito à ordem política e social, principalmente

no tocante à integridade física não-somente do Sr. Presidente da República, mas

também aos Srs. Chefes dos demais poderes da União. Considerei, destarte ao

próprio mandamento constitucional, previsto no art. 109, item IV, que prevê a

competência da Justiça Federal para processar e julgar os crimes políticos.

Com esteio nas comprovações trazidas para o bojo do inquérito, restou

provada a real ocorrência do fato delituoso de autoria do indiciado José Darionízio

Pereira da Cruz (fl . 83).

Em seguida, determinou a remessa dos autos do inquérito à Auditoria

da Justiça Militar do Distrito Federal, porque, anteriormente, havia recebido

“o Telex n. 340/91, oriundo do MM. Juiz da 8ª Vara da Justiça Federal, Seção

Judiciária do DF, datado de 04.04.1991, onde S. Exa.” declinava “de sua

competência para o processamento e julgamento do feito” (fl . 83). No telex a que

se reporta a autoridade policial, o Juízo Suscitado dizia, simplesmente:

Comunico a V. Sa. que, nesta data, proferi despacho nos autos de comunicação

de prisão em fragrante, declinando de minha competência para o processamento

e julgamento do feito, em que figura como acusado Joseh Darionizio Pereira da

Cruz, incurso nos arts. 3º c.c. art. 27 da Lei n. 7.170/1983, para um dos Srs. Auditores

Militares da Justiça Militar do DF.

Os autos do inquérito, por sua vez, deverão, outrossim, ser endereçados

diretamente à Justiça Castrense, se ainda estão em poder de V. Sa. (fl . 80).

Desta exposição, conclui-se que a dúvida, suscitada nos autos, reside em

saber se os delitos contra a segurança nacional sobrevivem na atual Constituição,

ao contrário do que ocorria na Carta revogada, e, em caso afi rmativo, qual o

Juízo competente para processar as pessoas que praticam crimes dessa natureza.

Respondendo a essa dúvida, vale transcrever as judiciosas considerações

do parecer do Dr. Carlos Frederico Oliveira Pereira, ilustre Procurador da Justiça

Militar, assim redigidas:

Uma interpretação apressada da Lei Magna pode dar a impressão de que a

última Lei de Segurança Nacional editada no País (Lei n. 7.170, de 14.12.1983)

Page 407: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 393-422, julho 2010 407

estaria revogada porque nenhum órgão do Poder Judiciário teria competência

para processar os delitos nela descritos. Realmente, no Capítulo III, do título IV, em

nenhum momento há referência a crimes de segurança nacional.

Mas tal interpretação conduziria ao absurdo de deixar o Estado sem proteção

e tratar os delitos contra o Estado como crimes comuns, e os agentes desses

crimes como criminosos iguais aos réus processados nas varas criminais que são

diariamente julgados pela justiça comum, quando sabemos que a motivação é

totalmente diversa daquela que norteia os crimes capitulados no Código Penal

brasileiro.

Evidentemente não foi esse o intento do legislador constituinte que, aliás,

teve grande preocupação com o tema, a ponto de, antes do legislador ordinário,

classificar de inafiançáveis e imprescritíveis as ações delituosas de grupos

armados contra a ordem nacional e o Estado Democrático, com se vê do art. 5º,

inciso XLIV, da CF, verbis:

(...)

XLIV - constitui crime inafi ançável e imprescritível a ação de grupos

armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado

Democrático...

No art. 136, § 3º, inciso I, há referência expressa a crimes contra o Estado, cujo

dispositivo se insere no título V que trata da defesa do Estado e das instituições

democráticas, verbis:

Art. 136. (...)

§ 3º (...)

I - a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo executor da

medida, será por este comunicada imediatamente ao juiz competente, que

a relaxará, se não for legal, facultado ao preso requerer exame de corpo de

delito à autoridade policial ...

O art. 144, § 1º, inciso I, inserido no capítulo III do mesmo título, expressamente,

dá atribuição à Polícia Federal para apurar delitos contra a ordem política e social,

verbis:

Art. 144. (...)

§ 1º A Polícia Federal, instituída por lei como órgão permanente,

estruturado em carreira, destina-se a:

I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em

detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades

autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja

Page 408: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

408

prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão

uniforme, segundo se dispuser em lei...

Por fi m, ainda considerou inafi ançável o crime de terrorismo, como se vê do

art. 5º, inciso XLIII, verbis:

Art. 5º (...)

XLIII - a lei considerará crimes inafi ançáveis e insuscetíveis de graça ou

anistia a prática de tortura, o tráfi co ilícito de entorpecentes e drogas afi ns,

o terrorismo e os defi nidos como crimes hediondos, por eles respondendo

os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem...

Ora, a ação de grupos armados contra a ordem constitucional e o Estado

Democrático; terrorismo; crimes contra o Estado; infrações penais contra a ordem

política e social, tudo isso são delitos que têm como traço comum a motivação

política. Aliás a Lei n. 7.170/1983, lei de segurança nacional, que defi ne os crimes

contra a ordem política e social, exige a motivação política, como conditio sine qua

non para a sua aplicação, como se vê do art. 2º, inciso I, verbis:

Art. 2º Quando o fato estiver também previsto como crime no Código

Penal, no Código Penal Militar ou em leis especiais, levar-se-ão em conta,

para a aplicação desta Lei:

I - motivação e os objetivos do agente.

Ao mesmo tempo estende a classifi cação quando a ação delituosa atinge

determinados bens, como se vê do art. 2º, inciso II, do mesmo dispositivo, o que

também se enquadra nos casos acima enumerados, verbis:

Art. 2º (...)

I - (...)

II - a lesão real ou potencial aos bens jurídicos mencionados no art.

anterior.

Doutrinariamente, crime político se defi ne por um critério objetivo, em razão

do bem jurídico atingido ou pela motivação; ou por ambos, que é a tendência

moderna, como anota o Professor Damásio E. de Jesus, e adotado pela Lei n.

7.170/1983, como já foi dito, verbis:

Crimes comuns e políticos

Crimes comuns são os que lesam bens jurídicos do cidadão, da família ou

da sociedade, enquanto os políticos atacam a segurança interna ou externa

do Estado, ou a sua própria personalidade.

Page 409: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 393-422, julho 2010 409

A doutrina apresenta dois critérios de distinção entre crimes políticos e

comuns:

a) objetivo — levam em conta a natureza do interesse jurídico lesado ou

exposto a perigo de dano pela conduta do sujeito;

b) subjetivo — a diversifi cação depende da intenção do sujeito.

De acordo com o primeiro critério, há delito político quando o

comportamento lesa ou ameaça o ordenamento político do País (objetivo

jurídico).

Para os subjetivistas, o que importa é o motivo que leva o agente a

cometer o fato. Se há motivo de natureza política, existe crime político. Em

caso contrário, o crime é comum.

Modernamente, aceita-se um critério misto (objetivo-subjetivo) ao

diferenciar delitos objetivamente políticos de crimes subjetivamente

políticos. Exemplo disso é o CP italiano, que, em seu art. 8º, conceitua o

delito político da seguinte forma: “Agli eff etti della legge penale, Š delitto

politico ogni delitto, che offende un interesse politico dello Stato, ovvero

un diritto politico del cittadino” (crime objetivamente político). “E altresi

considerato delitto politico il delitto comune determinato, in tutto o in parte, da

motivi politici” (crime subjetivamente político).

(In Direito Penal, 1º vol., Parte Geral, Saraiva, 1986, fl . 185.)

Todos aqueles dispositivos constitucionais acima citados tratam de crime

políticos, que são da competência da Justiça Federal o seu processamento e

julgamento à luz do art. 109, inciso IV, da CF, verbis:

Art. 109. Aos juízos federais compete processar e julgar:

I - (...)

II - (...)

III - (...)

IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de

bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou

empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência

da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral (...).

Aliás, a Constituição Federal anterior também atribuía aos magistrados federais

comuns a competência para processar e julgar crimes políticos, ressalvada a

competência da justiça militar federal, que também podia julgar crimes políticos,

sob o nomem iuris de crimes contra a segurança nacional. Ocorre que a Justiça

Federal comum nunca julgou crimes políticos diversos dos de segurança nacional,

Page 410: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

410

pelo motivo que iremos dispor mais adiante. Veja-se o art. 125, inciso IV, da antiga

CF, verbis:

Art. 125. Aos Juízes federais compete processar e julgar, em 1ª instância:

I - (...)

II - (...)

III - (...)

IV - os crimes políticos e os praticados em detrimento de bens, serviços

ou interesses da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas

públicas, ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral

(...).

Hoje, a Constituição Federal no art. 109, inciso IV, faz a mesma ressalva mas

não em relação a crimes políticos, porque a Justiça Militar Federal não pode mais

apreciá-los, mas faz em relação às “infrações penais praticadas em detrimento de

bens, serviços ou interesses da União”, pois nessas mesmas condições a justiça

militar pode julgar se o caso tiver enquadramento no art. 9º do Código Penal

Militar, ou seja quando a administração das Forças Armadas, que é a da União for

afetada pela ação delituosa.

Por fi m, entendemos que a Lei n. 7.170/1983, foi inteiramente recepcionada

pela Constituição Federal. A uma porque é perfeitamente compatível com o

atual texto constitucional e atende ao reclamo do constituinte de ver punidos

os crimes contra o Estado. A duas porque crime de segurança nacional é crime

político por essência, apenas no sistema constitucional anterior havia a distinção

nominal para separar a competência da justiça militar federal da federal comum.

Aliás, a Lei n. 7.170 defi ne genericamente delitos contra a segurança nacional

e contra a ordem política e social sem distinguir um do outro e não poderia

ser de outra forma, pois o assunto ali tratado é um só: crime político. Apenas

o legislador ordinário, no art. 30, resolveu dar competência à justiça militar

federal para processar e julgar; o que naquela época era possível, mas hoje não,

porque só quem julga crime político é a Justiça Federal comum. Sem querer ser

redundante, o legislador ordinário poderia também, naquela época, ao contrário

no mesmo art. 30, dar competência à Justiça Federal comum, posto que no

sistema constitucional anterior a Justiça Federal comum também podia julgar

crimes políticos, a teor do já citado art. 124 da antiga Constituição Federal. O

art. 30 da Lei n. 7.170/1983, está, portanto, revogado pelo art. 109, inciso IV, da

Constituição Federal. (fl s. 89-97).

Este judicioso parecer, com o qual estou de pleno acordo, serviu de

fundamento à decisão do Juízo-Auditor, ao declarar a sua incompetência para

processar e julgar o presente feito.

Page 411: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 393-422, julho 2010 411

De fato. Ao atentar contra a integridade física do Sr. Presidente da

República, Fernando Collor de Mello, como registra o inquérito policial, o

indiciado se opôs ao sistema constitucional, desde que investiu contra a ordem

política e social resguardada pela Lei n. 7.170/1983, ao procurar ofender a

pessoa de um dos chefes dos Poderes da União, protegidos expressamente pelo

Estatuto Político, no seu art. 109, inciso IV.

Desta forma, assegurada está a competência do Juízo Federal, para

processar e julgar o presente feito, desde que a ação delituosa apontada ao

indiciado se defi ne como crime político. Evidente que concluída a instrução,

ainda que não apurado o objetivo político da sua ação delituosa, ao Juiz Federal,

compete julgar o processo, desde quando se tem fi xado que à Justiça Federal

cabe julgar os crimes contra os seus servidores. É o caso dos autos, na hipótese

de restar apenas a tentativa de crime contra o Presidente da República. Mas

é cedo para se chegar a esse último entendimento, desde que a instrução

processual sequer foi iniciada.

Este conceito está compreendido na própria Lei n. 7.170/1983, quando

procura conhecer a natureza do crime, em seu art 2º, assim expresso:

Quando o fato estiver também previsto como crime no Código Penal, no

Código Penal Militar ou em leis especiais, levar-se-ão em conta para a aplicação

desta Lei:

I - a motivação e os objetivos do agente.

Fora de dúvida, que só a motivação e os objetivos do agente podem

demonstrar esteja ele incurso na lei de segurança nacional, ou em outras leis

punitivas que oferecem tutela ao cidadão.

Neste ponto, deve-se defi nir o crime político a que se reporta a Constituição.

Dentre as diversas teorias que tratam do assunto, coloco-me entre os que

defendem sistema misto, aquele que encerra, de forma unitária, os critérios

objetivo e subjetivo para a caracterização desse tipo de delito (bem jurídico

violado e fi m a ser alcançado pelo agente).

Esse critério misto é o adotado pelo Código italiano, ao defi nir no seu art.

8º (último parágrafo):

Para os efeitos da lei penal, é delito político todo delito que ofenda um

interesse político do Estado, ou um direito político do cidadão.

Page 412: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

412

Também se considera delito político o delito comum determinado, em todo ou

em parte, por motivos políticos.

No caso dos autos, parece-me que fi cou caracterizado o objetivo político

do indiciado, quando afi rmou, com desassombro:

Que desde o dia que deslocou-se de Belo Horizonte-MG para Brasília-DF,

já tinha pretensão de atentar contra a integridade física do Sr. Presidente da

República, mesmo sabendo das difi culdades para conseguir o seu intento; que

desde a sua chegada, durante as três últimas vezes em que o Sr. Presidente

descia ou subia a rampa, o interrogado lá se fazia presente com o único intuito de

observar o esquema e posicionamento do serviço de segurança (fl . 7).

Ainda no “Auto de Prisão em Flagrante” (fl . 6) afi rma “... que não queria tirar

a vida do Sr. presidente e, sim, só lhe dar um susto”.

Tratando especifi camente de atentado contra a vida do Presidente da

República, Giuseppe Maggiore, notável Professor da Universidade de Palermo

— Itália, comentando o art. 8º do Código Peninsular, afi rmou (Derecho Penal,

publicação espanhola da Ed. Temis Bogotá, 1971, v. I, p. 233):

También es delito politico (como lo era el regicidio) el atentaddo contra la vida del

presidente de la república (art. 276, CP; art. 2, Ley num. 1.317 del 11 de noviembre de

1947), que es punible según el art. 7, núm. 1, no según el art. 8, pues se trata de um

delito contra la personalidad del Estado (art. 276).

Também Cuello Callon, integrado à teoria mista, defi ne o crime político

como “el cometido contra el ordem politico del Estado, asi como todo delito

de cualquiera otra clase determinado por móviles politicos”. De igual modo

entenderam: Eugenio Florian, Manzini, Antolizei, Ranieri e Sebastian Soler, entre

outros (Cf. Asuá, Tratado, Ed. Losada, v. III, p. 200-1).

Expressas estas noções, é fácil concluir, tomando-se por base a ação do

agente, e a sua intenção, espontaneamente manifestada no inquérito policial,

que, por enquanto, trata de atentado contra a integridade corporal ou a saúde

do Presidente da República, expressamente defi ne a Lei de Segurança Nacional

(arts. 1º, inciso III, 2º, 3º, e 27, da Lei n. 7.170, de 14.12.1983).

Isto posto, declaro a competência do Juízo Federal da 8ª Vara Federal,

ora suscitado, para processar e julgar o presente feito. Acompanho o Ministro

William Patterson.

É o meu voto.

Page 413: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 393-422, julho 2010 413

VOTO

O Sr. Ministro Jesus Costa Lima: Sr. Presidente, estou de pleno acordo

com os eminentes Ministros que me precederam quanto à incompetência da

Justiça Militar.

Dispõe a Constituição que “compete à Justiça Federal processar e julgar

os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens,

serviços ou interesses da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas

públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça

Militar e da Justiça Eleitoral”. Crimes comuns, segundo Nelson Hungria, são

aqueles que atacam os bens, os interesses jurídicos do indivíduo, da família, da

sociedade, plenamente protegidos pelo Estado. Ainda segundo o próprio Nelson

Hungria, no segundo volume de sua obra, à p. 527, verbis: “crimes políticos são

aqueles que agridem a própria segurança interna ou externa do Estado, ou são

dirigidos contra a própria personalidade deste.” Portanto, crimes políticos são os

ilícitos penais contra a segurança interna ou externa do Estado. Alguns autores

consideram prevalentemente políticos, quando afetam os interesses políticos da

Nação; relativamente políticos, quando se referem a fatos tipifi cados na lei penal

comum e praticados com objetivos políticos.

Crime político, portanto, é aquele em que o agente atua mobilizado,

dirigido por um fato de natureza política, que lesiona o ordenamento da Nação,

colocando em risco a segurança interna ou externa do País.

No caso concreto, isso — a meu modo de ver — não ocorreu. Não se trata

de uma pessoa fi liada a partido político; não tinha nenhuma motivação política;

não foi dirigido e nem conduzido por ninguém com objetivos políticos.

O Sr. Ministro Assis Toledo: V. Exa. me permite um aparte?

Parece-me que a questão está sendo conduzida para um ponto que não

diz respeito bem à questão, ou seja, saber se o crime é de natureza política ou

comum. É que, para a fi xação da competência, essa questão é irrelevante.

Trata-se de um fato praticado contra servidor público, no caso, o Presidente

da República, em pleno exercício da função. Quando S. Exa. descia a rampa, não

o fazia em caráter particular, mas, em solenidade pública, como Presidente da

República.

Ora, temos jurisprudência no sentido de que o crime comum, praticado

contra o funcionário público federal, no exercício da função, em razão desta, é de

Page 414: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

414

competência da Justiça Federal. Portanto, aqui, seja o crime comum ou político,

a competência é Federal.

O Sr. Ministro Jesus Costa Lima: Agradeço a V. Exa. por completar o que

eu ia dizer mais à frente.

O Sr. Ministro Assis Toledo: Peço a V. Exa. que me desculpe. Pretendi

evitar que a discussão fosse desviada para questão irrelevante.

O Sr. Ministro Jesus Costa Lima: Eu estava conduzindo meu voto para

demonstrar que relevante não era a motivação, mas sim a pessoa, o funcionário.

Não se trata de um problema político.

O Sr. Ministro Assis Toledo: Correto. Não se pode mandar para a Justiça

Comum este caso. Ainda que o Juiz Federal venha a entender que não se trate

de crime político, a competência será dele.

O Sr. Ministro Jesus Costa Lima: Compete ao Juiz Federal, no caso, julgar

e processar o feito, porque contra um funcionário no exercício regular de sua

função.

O Sr. Ministro Assis Toledo: Se, por exemplo, o contínuo do Palácio

tivesse sido ameaçado com uma faca, no exercício da sua função, seria de âmbito

federal o crime. Por que se trata do Presidente da República, transfere-se o

processo para a Justiça Comum?

O Sr. Ministro Jesus Costa Lima: É exatamente esta conclusão do meu

voto: não porque se trate de um crime político, mas sim de crime, em tese,

contra o Sr. Presidente da República.

O Sr. Ministro José Cândido: A expressão “político” não deve ser entendida

na sua signifi cação comum. É crime político exatamente porque se trata de um

atentado contra uma personalidade do Estado. Sendo atribuição do Juiz Federal

julgar os crimes políticos, não há insistir na competência da Justiça Comum

Estadual.

O Sr. Ministro Jesus Costa Lima: Ministro José Candido, é exatamente isso.

Sustento que não é crime político, mas sim crime comum contra o funcionário

público no exercício de sua função. Logo, a competência é da Justiça Federal,

Page 415: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 393-422, julho 2010 415

não porque é crime político; no meu modo de ver, é crime comum. Por isso,

peço vênia a V. Exa. para concordar na conclusão com a competência da Justiça

Federal.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Th ibau: Sr. Presidente, se houve ou não motivação

política, tentativa ou mera intenção, somente poderá dizê-lo a Justiça Federal

Comum, face ao que dispõe o art. 109 da Constituição, porque, em princípio,

o bem jurídico tutelado seria a integridade física de uma autoridade federal no

exercício de seu cargo. Não chego ao exame da motivação política do agente.

Considero que somente o Juiz Federal poderá dizê-lo, tanto mais porque a ele é

atribuída a competência não somente de processar e julgar os crimes em que a

competência da Justiça Federal se estatui no art. 109, como também os crimes

políticos.

De maneira que dou pela competência da Justiça Federal Comum.

É como voto.

VOTO

O Sr. Ministro Costa Leite: Sr. Presidente, estou de inteiro acordo com

a observação feita pelo eminente Ministro Assis Toledo, em aparte que lhe

concedeu o Ilustre Ministro Costa Lima. Independentemente da conotação

política, a competência para o processo e julgamento é da Justiça Federal, na

conformidade do item IV do art. 109 da Constituição. Acompanho, pois, a

divergência, pela conclusão, data venia.

VOTO-MÉRITO

O Sr. Ministro Assis Toledo: Sr. Presidente, consta do voto do Ministro

Edson Vidigal que, no auto de prisão em fl agrante, José Darionízio relata que

não queria tirar a vida do Sr. Presidente da República, mas apenas lhe dar um

susto — com a faca, evidentemente. Admite-se, pois, no mínimo, um crime de

ameaça previsto no Código Penal. Se as coisas assim realmente se passaram,

tudo indica que estejamos diante de um crime comum. Não há a mínima

Page 416: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

416

possibilidade de se classifi car o fato, no estado atual da causa, em uma hipótese

de crime político.

É possível que, depois, no desenvolvimento da instrução criminal, apurem-

se outros fatos que venham dar a conotação política. Mas, como disse, no

aparte que dei, isso é irrelevante, porque, seja o crime político ou comum, a

competência é da Justiça Federal, uma vez que se trata de um ato delituoso,

endereçado a uma autoridade federal, em pleno exercício da função e em razão

da função (art. 109, IV, da Constituição).

Por essas razões, peço vênia ao Ministro-Relator para acompanhar, pela

conclusão, o voto do Ministro William Patterson.

É o meu voto.

RECONSIDERAÇÃO DE VOTO

O Sr. Ministro Edson Vidigal (Relator): Sr. Presidente, quero, de acordo

com o que me assegura o Regimento Interno, art. 161, alterar o meu voto mas

apenas quanto à conclusão. Quanto aos fundamentos não altero nada. Os fatos

a que se referem o processo não conduzem ao entendimento de que houve

crime militar, tampouco crime político. Nenhuma tipicidade militar, nenhuma

motivação política. Haveria, em tese, o crime comum do Código Penal comum,

talvez o de ameaça. Jamais crime político ou crime militar.

Um detalhe, porém, afi rma a competência da Justiça Federal, aliás já

lembrado pelo eminente Ministro Assis Toledo — o de ter sido o crime, em tese,

praticado contra funcionário público no exercício da função e em razão de sua

investidura, no caso o Sr. Fernando Collor, Presidente da República descendo a

rampa do Palácio do Planalto, portanto funcionário público em serviço.

Interpretando a Constituição Federal de 1969, art. 125, IV, o Tribunal

Federal de Recursos editou a Súmula n. 98 assim:

TFR. Súmula n. 98.

Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra

servidor público federal, no exercício de suas funções ou com estas relacionadas.

A Constituição Federal de 1969, art. 125, IV, dispunha:

Page 417: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 393-422, julho 2010 417

CF/1969.

Art. 125. Aos juízes federais compete processar e julgar:

(...)

IV - os crimes políticos e os praticados em detrimento de bens, serviços ou

interesses da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas,

ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

A Constituição Federal de 1988, em vigor, dispõe:

CF/1988.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

(...)

IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens,

serviços ou interesses da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas

públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar

e da Justiça Eleitoral;

Por isso, entendendo que não há crime militar e que pelo estado do

processo não se vislumbra até aqui a existência de crime político, quando

muito de crime comum em tese, e considerando que a ação do agente, segundo

apurado, foi dirigida contra o Sr. Fernando Collor, Presidente da República,

portanto servidor público federal no exercício da função, conheço do confl ito

e declaro competente o MM. Dr. Juiz Federal da 8ª Vara Federal, de Brasília

(DF), o suscitado, para processar e julgar o acusado.

É o voto.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 3.593-SC (92.0024020-8)

Relator: Ministro José Dantas

Autora: Justiça Pública

Réus: Paulo Eduardo Pastore e Valdecir Bonatto

Suscitante: Juízo Federal da 7ª Vara de Joaçaba-SC

Suscitado: Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal de Concórdia-SC

Page 418: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

418

EMENTA

Processual Penal. Ofensas à honra de funcionário público federal,

relacionadas com o exercício das suas funções.

Competência. Cabe à Justiça Federal processar e julgar os crimes

praticados contra servidor público federal no exercício de suas funções

e com estas relacionadas.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira

Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar

competente o Suscitante, Juízo Federal da 7ª Vara de Joaçaba-SC, nos termos

do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o Relator os Srs. Mins. Pedro

Acioli, Jesus Costa Lima, Assis Toledo, Edson Vidigal, Vicente Cernicchiaro, Adhemar

Maciel e Anselmo Santiago. Ausente nesta assentada o Sr. Ministro José Cândido.

Brasília (DF), 05 de agosto de 1993 (data do julgamento).

Ministro Flaquer Scartezzini, Presidente

Ministro José Dantas, Relator

DJ 23.08.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José Dantas: Para o processo e julgamento da ação penal

pública condicionada, por ofensas à honra de funcionário público federal,

assacadas em razão do exercício de suas funções e com estas relacionadas, dão-

se por competentes o Juiz Federal suscitante — forte no enunciado da Súmula

n. 98-TFR — e o Juiz Estadual suscitado, fi rmado esse em que a condição de

funcionário público federal portada pelo ofendido não guarda pertinência com

o pressuposto constitucional da competência por detrimento de bens, serviços e

interesses da União.

Nesta Instância, por sua Subprocuradora-Geral Delza Curvello, o

Ministério Público Federal é de parecer pela competência da Justiça Federal —

fl s. 43-46.

Relatei.

Page 419: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 393-422, julho 2010 419

VOTO

O Sr. Ministro José Dantas (Relator): Sr. Presidente, desde a sumulação da

matéria pelo ex-Tribunal Federal de Recursos (Verbete n. 98), até os primeiros

assentos desta egrégia Seção (CC n. 1.964, Relator Ministro Edson Vidigal, DJ

de 21.10.1991), não há margem para divergir-se da asserção de que praticado

contra servidor público federal, no exercício de suas funções e com estas

relacionadas, o delito se dá em detrimento de serviço ou interesse da União,

defi nindo-se por isso a competência da Justiça Federal — CF, art. 109, IV.

Outro não é o caso dos autos, consistente de ofensas à honra de um

Diretor de Escola Técnica Federal, a quem os denunciados teriam atribuído

a prática de crimes contra a administração, da forma como o confi rmam na

exceção da verdade já oferecida.

Pelo exposto, conheço do confl ito, para declarar competente o suscitante

— Juízo Federal da 7ª Vara de Joaçaba-SC.

RECURSO EM HABEAS CORPUS N. 3.668-RJ (94.0016276-6)

Relator: Ministro Pedro Acioli

Recorrente: Wilson Augusto de Figueiredo

Advogados: Rogério Marcolini e outro

Recorrido: Tribunal Regional Federal da 2ª Região

Paciente: Wilson Augusto de Figueiredo

EMENTA

Processual Penal. Ofensa à honra de magistrada federal

relacionada com o exercício de suas funções.

I - Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes

praticados contra a honra de magistrada federal, desde que relacionados

com o exercício de sua função.

II - Recurso improvido.

Page 420: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

420

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Egrégia

Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas constantes dos autos, por unanimidade, negar provimento ao

recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram os Srs. Ministros

Adhemar Maciel, Anselmo Santiago e Luiz Vicente Cernicchiaro.

Brasília (DF), 20 de setembro de 1994 (data do jugamento).

Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, Presidente

Ministro Pedro Acioli, Relator

DJ 24.10.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Pedro Acioli: Trata-se de recurso ordinário constitucional

interposto em favor de Wilson Augusto de Figueiredo, contra decisão do

Egrégio Tribunal Regional Federal da 2ª Região, dada a negativa da ordem

pleiteada, que objetivava a anulação do processo que condenou o paciente à

pena de quatro meses de detenção e multa, substituída a primeira por mais cem

dias de multa, como incurso nas sanções dos arts. 21 c.c. com 23, III, da Lei n.

5.250/1967 (Lei de Imprensa).

Argumentam os impetrantes a incompetência da Justiça Federal para

julgar a ação que versa sobre a ofensa a honra cometida através da imprensa.

Acrescentam ainda, que constrangimento ilegal confi gura-se pelo julgamento e

condenação do paciente por juiz incompetente.

O Tribunal a quo por unanimidade denegou o pedido com a seguinte

ementa à fl . 87:

Processual Penal. Habeas corpus. Crime contra a honra. Funcionário público.

Competência. Justiça Federal.

I - A tese dos Impetrantes de que a competência nos crimes contra a honra

é exclusivamente da Justiça Estadual não se sustenta. Inúmeros precedentes

esclarecem que quando o bem jurídico atingido é de honra do funcionário

público federal no exercício de seu cargo, a competência é da Justiça Federal.

Neste sentido, a Súmula n. 98 do extinto Tribunal Federal de Recursos.

II - Ordem de habeas corpus denegada.

Page 421: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 393-422, julho 2010 421

O Ministério Público Federal opina pelo não-conhecimento do recurso

por intempestivo e no mérito, pelo improvimento, editando a ementa — fl . 110:

Processo Penal. Recurso. Intempestividade.

O prazo para a interposição do recurso em habeas corpus é de 5 (cinco) dias,

excedido esse prazo, não se conhece por que intempestivo.

Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra a

honra dos servidores públicos federais, desde que relacionados com a sua função.

Parecer pelo não conhecimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Pedro Acioli (Relator): No que diz respeito à preliminar

de intempestividade argüida pelo Ministério Público Federal, não acolho.

O acórdão foi publicado em 04.01.1994, durante as férias forenses, que se

encerram em 1º.02.1994, data de ingresso do recurso, portanto, tempestivo.

Em matéria não assinada, e publicada em 14/jun/1991, o “Jornal do Brasil”,

do qual o recorrente é diretor de redação, atribuiu à Juíza da 14ª Vara Federal,

Dra. Maria Helena Cisne Cid, fato determinado lesivo à sua reputação, na

medida em que, insidiosamente, relacionou-a como envolvida nas fraudes que

ruidosamente estava a atingir, à época, a Previdência, sob a seguinte epígrafe:

Fita de vídeo mostra Escócia com juiz envolvido em fraudes.

A matéria é do teor seguinte:

Numa blitz realizada ontem, em três apartamentos de familiares do advogado

Ilson Escossia da Veiga, acusado de fraudes contra o INSS (Instituto Nacional de

Seguridade Social, uma comissão de policiais e defensores públicos encontrou

uma fita de videocassete do casamento da filha de Escossia, Vânia, em que

aparece sorridente o Juiz Nestor José do Nascimento, afastado da 3ª Vara Cível de

São João de Meriti (Baixada Fluminense) também por envolvimento nas fraudes

contra o instituto. Em seu depoimento, o juiz havia negado conhecer Escossia.

Além de Escossia aparecem envolvidos Maria Helena Cisne Cid, Juíza da 14ª Vara

Federal, a principal envolvida nas ações de bloqueio de bens, o Juiz Hudson

Lourenço, o desembargador João Dibb, o Juiz Marco Aurélio Fróes, da 4ª Vara de

Duque de Caxias, e o Juiz Pedro Diniz, de Nova Iguaçu. (fl s. 28-29)

Page 422: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

422

A leitura da matéria supratranscrita, deixa inconteste que o crime praticado

contra a Juíza Federal, não atingiu apenas bem jurídico pessoal seu, mas também,

a sua honra funcional de magistrada, ou seja, tem relação com o exercício de suas

funções.

Portanto, dúvidas não tenho de que a matéria inquinada atingiu a honra

funcional da Juíza, à qual tinham sido distribuídas diversas ações envolvendo

bloqueio de bens de pessoas envolvidas nas fraudes contra o INSS, insinuando,

claramente ligações da magistrada com os responsáveis pelos crimes apontados.

Esta Corte, através da Terceira Seção, ao julgar o Confl ito de Competência

n. 3.593-SC — Relator Ministro José Dantas, decidiu:

Processual Penal. Ofensas à honra de funcionário público federal, relacionadas

com o exercício das suas funções.

Competência. Cabe à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados

contra servidor público federal no exercício de suas funções e com estas

relacionadas.

Assim, nego provimento ao recurso.

É como voto.

Page 423: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

Súmula n. 148

Page 424: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 425: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULA N. 148

Os débitos relativos a benefício previdenciário, vencidos e cobrados em

juízo após a vigência da Lei n. 6.899/1981, devem ser corrigidos monetariamente

na forma prevista nesse diploma legal.

Referência:

Lei n. 6.899/1981.

Precedentes:

EREsp 52.846-SP (3ª S, 02.03.1995 — DJ 27.03.1995)

REsp 26.804-SP (5ª T, 08.06.1994 — DJ 1º.08.1994)

REsp 45.653-SP (6ª T, 09.05.1994 — DJ 23.05.1994)

REsp 49.328-SP (5ª T, 09.11.1994 — DJ 28.11.1994)

REsp 53.157-SP (6ª T, 20.09.1994 — DJ 24.10.1994)

REsp 59.318-MG (5ª T, 20.03.1995 — DJ 24.04.1995)

Terceira Seção, em 07.12.1995

DJ 18.12.1995, p. 44.864

Page 426: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 427: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 52.846-SP

(94.0038114-0)

Relator: Ministro José Dantas

Embargante: Instituto Nacional de Seguro Social — INSS

Advogados: Ivan Ferreira de Souza e outros

Embargado: Osvaldo Alves Freitas

Advogado: Jair do Nascimento

EMENTA

Previdenciário. Benefícios. Prestações atrasadas. Correção

monetária.

Critério. Cuidando-se de prestações devidas e cobradas, em juízo,

já na vigência da Lei n. 6.899/1981, não cabe aplicar-se o critério da

Súmula n. 71-TFR. Orientação assentada pela Terceira Seção, em

grau de embargos de divergência.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira

Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por maioria, receber os embargos, nos termos do voto

do Sr. Ministro Relator. Votaram com o Relator os Srs. Mins. Assis Toledo,

Edson Vidigal e Adhemar Maciel. Vencido o Sr. Ministro Vicente Leal. Ausentes,

por motivo justificado, os Srs. Mins. Cid Flaquer Scartezzini, Luiz Vicente

Cernicchiaro e Anselmo Santiago.

Brasília (DF), 02 de março de 1995 (data do julgamento).

Ministro Jesus Costa Lima, Presidente em exercício

Ministro José Dantas, Relator

DJ 27.03.1995

Page 428: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

428

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José Dantas: Cuida-se de embargos de divergência opostos

a acórdão da Colenda Sexta Turma, cujo voto condutor é do seguinte teor:

O Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro (Relator): Debate-se o critério para

reajuste dos benefícios e pensões do INSS.

Tenho entendimento reiterado na matéria. Trago, como ilustração o REsp n.

43.853-5-SP, de que fui Relator e julgado à unanimidade pela Egrégia Sexta Turma:

Os benefícios, e assim manifestei anteriormente, visam a compensar ou

substituir salário, que, por sua vez, evidencia caráter alimentar.

O valor da prestação está diariamente afetado pela infl ação. O poder

aquisitivo da moeda é corroído dia a dia. O princípio da justiça impõe, por

isso, promover a atualização do referido valor. Tecnicamente, ajustar o valor

real à sua expressão formal. Com isso, busca-se concretizar o equilíbrio que

deve, como princípio, reger as relações jurídicas.

Os índices de correção monetária são vários. Sucedem-se no tempo,

como ocorreu com a TR, o BTN e o IPC. A pluralidade justifica-se pelo

fi m, ou seja, buscar, para cada contexto, o critério que melhor atenda ao

mencionado equilíbrio.

A jurisprudência, face à complexidade de fatores, mostrou-se cautelosa

e nem sempre unânime.

Pessoalmente, cheguei a entender que, em função do caso concreto,

o juiz atento ao fato da causa de pedir, poderia escolher um ou outro

para alcançar, na hipótese, a realização do equilíbrio, evitando, assim

enriquecimento ilícito para uma das partes.

Recentemente, o STF dirimiu, como órgão constitucional de intérprete

da Constituição, ser legal (dirimindo dúvidas) a atualização dos benefícios

tomar como referência o salário mínimo.

Essa decisão, além da estabilidade de interpretação, tem o mérito de

corrigir prestação de conteúdo alimentar pelo índice que visa, considerando

a oscilação dos preços de mercadoria de consumo, a atualizar o quantum

do débito dessa natureza.

Em sendo assim, melhor a correção obedecer aos índices do salário

mínimo. Cumpre-se, ademais, o disposto no art. 58, ADCT. — fl . 106.

Nos seus embargos (fl . 120), o INSS recorrente, aponta acórdão divergente,

proferido pela Quinta Turma deste Tribunal, no que pertine à aplicabilidade da

Súmula n. 71-TFR, assim ementado:

Page 429: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 423-445, julho 2010 429

Previdenciário e Processual. Benefício. Reajuste. Honorários sobre prestações

vincendas e correção monetária.

1. Os débitos cobrados, em juízo, após a vigência da Lei n. 6.899/1981, inclusive

os de natureza previdenciária, devem ser corrigidos na forma prevista nesse

diploma legal. REsp n. 52.311-7-SP, Rel. Min. Costa Lima.

Alega o INSS que, em se tratando de parcelas devidas e constituídas já na

vigência da Lei n. 6.899/1981, no pertinente à correção monetária do débito,

deve aplicar-se essa lei e não a Súmula n. 71-TFR.

Admitidos os embargos a fl . 135, não houve impugnação.

Relatei.

VOTO

O Sr. Ministro José Dantas (Relator): Sr. Presidente, como visto do

relatório, demonstrada está a similitude dos casos confrontados — o v. acórdão

embargado, posto em confi rmar decisão que dera por aplicável a Súmula n. 71

do extinto Tribunal Federal de Recursos, como forma de correção monetária

do débito cobrado em juízo, a fundamento explícito de que “melhor a correção

obedecer aos índices do salário mínimo”; e o acórdão paradigma, explícito sobre

negar aplicação àquela Súmula, quando se trate de débitos cobrados na vigência

da Lei n. 6.899/1981.

Daí que conheço dos embargos. E a conhecer, o seu recebimento se

aconselha pelas razões da orientação predominante na Quinta Turma, a exemplo

do voto que proferi no REsp n. 47.174 (lê, xerocópia junta).

Aliás, embora se trate de julgamento anterior ao ora embargado, lembre-

se que, na própria Sexta Turma essas mesmas assertivas mereceram apoio, da

forma como adotadas em voto do Sr. Ministro Adhemar Maciel (ausente no

julgamento embargado), com este argumento-mor:

Sr. Presidente, tenho para mim que o recorrente tem razão. A Súmula n. 71 do

antigo TFR foi editada na ausência de lei expressa e por questão de eqüidade.

Com o advento da Lei n. 6.899/1981, e desde que as prestações tenham vencido

depois de sua entrada em vigor, não faz mais sentido a invocação da súmula. No

caso concreto, as prestações vencidas são posteriores à Lei n. 6.899/1981.

Com tais considerações, conheço do recurso especial para que incida o critério

de correção da Lei n. 6.899/1981. (REsp n. 48.121, decisão unânime, Sexta Turma,

sessão de 07.06.1994).

Page 430: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

430

Pelo exposto, recebo os embargos, a fim de que a discutida correção

monetária se faça pelos critérios da Lei n. 6.899/1981.

ANEXO

RECURSO ESPECIAL N. 47.174-SP

VOTO

O Sr. Ministro José Dantas (Relator): Sr. Presidente, como bem anotado

na decisão agravada (sic) “o ponto nodal da questão está em saber-se se o

entendimento adotado pela decisão impugnada: correção monetária nos termos

da Súmula n. 71 até o ajuizamento da ação e, a partir de então, aplicação da

Lei n. 6.899/1981, independentemente da época em que se instaurou o litígio deve

prevalecer sobre a tese que estabelece a aplicação da Súmula n. 71, apenas

e tão somente, enquanto não existia no mundo jurídico a Lei n. 6.899/1981,

passando, referida lei, a partir de então, a ser o diploma de regência para o

cálculo mencionado”.

A partir daí, relembre-se que, conquanto díspares as decisões iniciais sobre

a aplicação da Lei n. 6.899/1981 em face da Súmula n. 71-TFR, a jurisprudência

do sempre lembrado Tribunal Federal de Recursos veio a se fi rmar no sentido

da aplicação da Súmula n. 71-TFR nas decisões judiciais sobre benefícios

previdenciários enquanto vencidos anteriormente à Lei n. 6.899/1981, a partir

de cuja vigência (04.1981), passou a reger as novas prestações de benefício se

pagas com atraso.

Por outro lado, verifi ca-se que este Egrégio Superior Tribunal de Justiça,

em mais de uma oportunidade, já se manifestou sobre o assunto, a exemplo

desta Egrégia Turma ao julgar, em sede de agravo regimental, o Ag n. 45.544,

Relator o Sr. Ministro Costa Lima, destacando-se do seu voto esta asseveração:

“A correção de todos os débitos cobrados em juízo a partir de Lei n. 6.899/1981

deve ser efetuada segundo a fórmula ali prevista” (Quinta Turma, sessão de

02.02.1994).

Creio que essa asseveração serve ao caso dos autos, no qual se trata de

prestações previdenciárias concomitantemente vencidas e cobradas já na

vigência daquela lei, sem causa para adoção do critério da Súmula n. 71-TFR, de

aplicação exclusiva aos benefícios anteriores àquela vigência.

Page 431: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 423-445, julho 2010 431

Em suma, penso que o duplo critério corretivo somente teve sentido

enquanto se tratou de prestações anteriores à vigência da Lei n. 6.899/1981, art

1º, contrariando-se o injusto entendimento pretendido estabelecer-se, isto é, o

de corrigi-las apenas a partir da vigência da Lei n. 6.899/1981, vacatio legis que

então foi reparado pela celebrada Súmula n. 71.

Pelo exposto, conheço do recurso e o provejo, para reformar o v. acórdão

recorrido, no ponto da indevida aplicação da Súmula n. 71-TFR.

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Vicente Leal: Sr. Presidente, a minha tese é no sentido

de que o termo inicial da correção monetária é da época em que a prestação é

devida, porque se trata de dívida de valor. Deste modo, consagra-se um princípio

antigo da jurisprudência nacional, que mandava corrigir a dívida de valor desde

a época em que era devida.

RECURSO ESPECIAL N. 26.804-SP

Relator: Ministro Assis Toledo

Recorrente: Aloízio de Azevedo Borges

Recorrido: Instituto Nacional do Seguro Social — INSS

Advogados: Sebastião de Souza Sant’Anna e outro e Alfredo Martins da

Gama Neto e outro

EMENTA

Ação revisional de benefício previdenciário. Correção monetária.

Após a vigência da Lei n. 6.899/1981, a correção monetária de

débitos cobrados em juízo deve ser feita de acordo com essa lei.

Recurso não conhecido.

Page 432: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

432

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram com

o relator os Ministros Edson Vidigal, Jesus Costa Lima, José Dantas e Cid Flaquer

Scartezzini.

Brasília (DF), 08 de junho de 1994 (data do julgamento).

Ministro Jesus Costa Lima, Presidente

Ministro Assis Toledo, Relator

DJ 1º.08.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Assis Toledo: Aloízio de Azevedo Borges interpôs recurso

especial, com base na letra c do permissivo constitucional, contra acórdão da

Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região.

Do voto condutor do acórdão destaco o seguinte tópico:

No caso em exame, a ação foi proposta em 22.05.1989 (fl . 2), produzindo a

condenação efeitos a partir de 22.05.1984, face ao qüinqüênio prescricional a ser

observado, já na vigência da Lei n. 6.899/1981. Desta forma, incidirá a correção

monetária pelo critério da lei citada,... (fl . 46).

Alega o recorrente que a decisão dissente de muitas outras do antigo

Tribunal Federal de Recursos, nas quais se admitia que a correção monetária

era devida nos termos da Súmula n. 71 até o ajuizamento da ação, e, a partir daí,

pelos critérios estabelecidos pela Lei n. 6.899/1981.

Admitido o recurso, subiram os autos a este Tribunal.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Assis Toledo (Relator): Não vejo a alegada divergência. Os

acórdãos citados como paradigmas tratam da aplicação da correção monetária

Page 433: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 423-445, julho 2010 433

pelo critério da Súmula n. 71 do TFR até o ajuizamento da ação, e, a partir daí,

na forma da Lei n. 6.899/1981.

Já o acórdão recorrido não aplica a citada súmula por não ocorrer, no caso,

aquela hipótese.

Esse entendimento está em consonância com a jurisprudência desta

Turma (REsps n. 47.174-5-SP e 47.632-1, Rel. Min. José Dantas, julgados em

11.05.1994 e 16.05.1994; REsp n. 47.920-7, Rel. Min. Assis Toledo, julgado em

25.03.1994).

Ante o exposto, não conheço do recurso.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 45.653-SP (94.07891-9)

Relator: Ministro Adhemar Maciel

Recorrente: Instituto Nacional de Seguro Social — INSS

Advogada: Vilma Westmann Anderlini

Recorridos: Napoleão Matias de Menezes e outros

Advogados: Donato Lovecchio e outros

EMENTA

Processual Civil. Débito previdenciário. Correção monetária.

Incidência dos critérios estabelecidos pela lei de regência.

Afastabilidade dos critérios da Súmula n. 71 do antigo TFR,

uma vez que todas as prestações se constituíram sob o império da Lei

n. 6.899/1981. Recurso especial conhecido (alínea a do autorizativo

constitucional).

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do

Page 434: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

434

recurso para aplicar a correção monetária de que trata a Lei n. 6.899/1981,

nos termos do voto do Sr. Ministro Relator, na forma do relatório e notas

taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do

presente julgado. Votaram de acordo os Srs. Ministros Anselmo Santiago

e Pedro Acioli. Ausente, por motivo de licença médica, o Sr. Ministro Luiz

Vicente Cernicchiaro. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 09 de maio de 1994 (data do julgamento).

Ministro Pedro Acioli, Presidente

Ministro Adhemar Maciel, Relator

DJ 23.05.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Adhemar Maciel: Trata-se de recurso especial interposto

por Napoleão Matias de Menezes e outros, nos autos da ação revisional de benefício

previdenciário contra o INSS.

2. A sentença de 1º grau condenou a autarquia ao pagamento do reajuste

pleiteado, bem como à incidência de correção monetária, consoante a Súmula

n. 71 do TFR e Lei n. 6.899/1981 até 1986, e a partir daí, na forma do DL n.

2.283/1986.

3. Apelaram ambas as partes. A Segunda Turma do TRF da 3ª Região

rejeitou o recurso do INSS e acolheu parcialmente a apelação dos autores, em

acórdão assim ementado:

Previdenciário. Benefício. Reajuste de proventos. Aplicabilidade do Enunciado

n. 260 da Súmula do extinto TFR. Termo inicial. Correção monetária. Honorários

advocatícios.

I - Ao efetuar o primeiro reajuste dos proventos o INPS deve utilizar os índices

integrais da política salarial e não proporcional ao mês em que o segurado se

tornou inativo.

II - o enquadramento em faixas salariais previsto na Lei n. 6.708/1979, deve ter

em conta o valor do salário mínimo vigente à data-base do efetivo reajustamento.

III - Aplicação do Enunciado n. 260 da Súmula do extinto TFR.

IV - Os efeitos da condenação retroagem à data em que se iniciou a utilização

de critérios ilegais para o reajuste do benefício.

Page 435: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 423-445, julho 2010 435

V - As parcelas anteriores ao ajuizamento da ação atualizam-se de acordo com

o Enunciado n. 71 da Súmula do extinto TFR, às posteriores aplica-se o disposto

na Lei n. 6.899/1981.

VI - A verba honorária deve ser fi xada em 15% sobre o valor da liquidação,

excluídas as prestações vincendas.

VII - Recurso dos Autores, parcialmente provido. Improvido o recurso do INPS.

(AC n. 91.03.29819-1-SP, Rel. Juiz Aricê Amaral, julg. 04.05.1993).

4. Irresignado, o INSS interpôs recurso especial pela alínea a do art. 105,

III, da CF. Cogita a hipótese de marco temporal para a aplicação da Lei n.

6.899/1981. Alega o recorrente que a aplicação do V. 71 da Súmula do extinto

TFR, como disciplina para cálculo da correção monetária, há que ser afastado,

adotando-se como critério de atualização monetária o disposto na Lei n.

6.899/1981.

5. Contra-razões à fl . 95.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Adhemar Maciel (Relator): Como se viu do relatório, o

especial se faz pela alínea a do permissivo constitucional. O recorrente diz que

ferido restou o art. 1º da Lei n. 6.899/1981. Argumenta, mais, que o critério da

Súmula n. 71 só poderia se aplicar às prestações devidas anteriormente a abril

de 1981, data da Lei n. 6.899. Como as prestações vencidas datam depois do

advento da lei, não mais se pode invocar a súmula.

Sr. Presidente, tenho para mim que o recorrente tem razão. A Súmula n. 71

do antigo TFR foi editada na ausência de lei expressa e por questão de eqüidade.

Com o advento da Lei n. 6.899/1981, e desde que as prestações tenham vencido

depois de sua entrada em vigor, não faz mais sentido a invocação da súmula. No

caso concreto, a ação foi ajuizada em 24.05.1990, quando a Lei n. 6.899 já tinha

quase 10 anos de existência.

Com tais considerações, conheço do recurso especial (alínea a do

autorizativo constitucional) para que incida o critério de correção da Lei n.

6.899/1981.

É meu voto.

Page 436: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

436

RECURSO ESPECIAL N. 49.328-SP (94.0016400-9)

Relator: Ministro Jesus Costa Lima

Recorrente: Instituto Nacional de Seguro Social — INSS

Advogados: Cleci Gomes de Castro e outros

Recorrida: Aparecida Rodrigues de Souza Almeida

Advogados: Hilário Bocchi Júnior e outros

EMENTA

Previdência Social. Benefícios. Pagamento em atraso. Correção

monetária. Honorários de advogado quando vencida a Fazenda

Pública.

Os débitos de natureza previdenciária, vencidos e cobrados

na vigência da Lei n. 6.899/1981, sujeitam-se à correção monetária

prevista nesse diploma legal.

A honorária, quando vencida Fazenda Pública, deve ser fi xada

“consoante apreciação eqüitativa do Juiz”, atendidas as normas das

letras a e c e não do caput do § 3º do art. 20 do CPC.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar parcial

provimento. Votaram com o Relator os Ministros José Dantas, Assis Toledo e

Edson Vidigal. Ausente, justifi cadamente, o Ministro Cid Flaquer Scartezzini.

Brasília (DF), 09 de novembro de 1994 (data do julgamento).

Ministro Jesus Costa Lima, Presidente e Relator

DJ 28.11.1994

Page 437: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 423-445, julho 2010 437

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Jesus Costa Lima: O Instituto Nacional de Seguro Social

— INSS interpõe recurso especial pelas alíneas a e c, item III, art. 105 da

Constituição Federal, buscando não seja adotada, até o ajuizamento da ação, a

regra prevista na Súmula n. 71 do ex-TFR para efeito de apuração da correção

monetária, eis que o período referente ao litígio situa-se já na vigência da Lei

n. 6.899, de 08.04.1981; reduzir os honorários advocatícios ao mínimo de

10%, por força do disposto nos §§ 3º, a e c, e 4º do art. 20 do CPC, e que a

verba honorária seja corrigida monetariamente apenas a partir do julgamento,

conforme jurisprudência do Pretório Excelso a que faz remissão (fl s. 48-54).

A egrégia Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da Terceira Região

decidiu que a correção monetária deve incidir a partir dos vencimentos das

parcelas devidas, observando-se a Súmula n. 71 do ex-TFR quanto às vencidas

anteriormente ao ajuizamento da ação e a Lei n. 6.899/1981 relativamente às

vencidas em data posterior. Manteve a condenação em honorários advocatícios

no percentual de 15% sobre o valor da condenação (fl s. 41-46).

Não houve contra-razões (fl . 56) e o especial foi admitido (fl s. 58-59).

Relatei.

VOTO

O Sr. Ministro Jesus Costa Lima (Relator): O sempre lembrado Tribunal

Federal de Recursos visando a atender aos reclamos de milhares de segurados

e de benefi ciários da Previdência Social estabeleceu, na Súmula n. 71, que os

débitos em atraso seriam pagos de acordo com o salário-mínimo vigente na

época da liquidação, tendo em conta a inexistência de normas legais respeitantes

à matéria.

Resulta claro, portanto, que a partir do advento da Lei n. 6.899, de

08.04.1981, que “determina a aplicação da correção monetária nos débitos

oriundos de decisão judicial”, se estes se vencem e são cobrados já na vigência

desse diploma legal, devem ser pagos com observância do ali estabelecido sem

causa para se aplicar os dizeres daquela súmula.

Assim me pronunciei ao julgar o AgRg Ag n. 45.544-0-RS, no dia 2 de

fevereiro deste ano (1994). Também neste mesmo sentido decidiu esta Quinta

Turma no REsp n. 47.174-5-SP, de que foi Relator o eminente Ministro José

Dantas, julgado em 11.05.1994:

Page 438: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

438

Previdenciário. Benefícios. Prestações atrasadas. Correção monetária.

Critério. Cuidando-se de prestações devidas e cobradas já na vigência da Lei n.

6.899/1981, não cabe aplicar-se o critério da Súmula n. 71-TFR.

Relativamente aos honorários advocatícios o acórdão os fi xou em 15%

(quinze por cento) sobre o total da condenação, entretanto, a causa é simples.

Discutiu-se apenas matéria de Direito, tanto que o acórdão ressaltou que o tema

era conhecido da Corte.

Celso Agrícola Barbi — “Comentários ao Código de Processo Civil”, vol. I,

Tomo I, n. 189 — critica a disposição, por não haver motivo para tratamento

especial para a Fazenda Pública que, sendo vencida, devia ter tratamento igual

ao do particular.

O Supremo Tribunal Federal, em mais de uma oportunidade, decidiu

diversamente:

Sendo a parte vencida Fazenda Pública Municipal, fixam-se os honorários

consoante apreciação eqüitativa do juiz, nos termos do § 4º do art. 20 do CPC.

Não está o magistrado, portanto, adstrito à percentagem mínima sobre o valor

total da condenação, ao contrário do que sucede normalmente por força do

disposto no § 3º do citado dispositivo legal. (Ac. unân. da Segunda Turma do STF,

de 12.08.1975, no AgRg Ag n. 62.727-SP, Rel. Min. Moreira Alves).

Não viola dispositivo do CPC, a decisão que fi xa os honorários do advogado

devidos pela Fazenda Pública em menos de 10% do valor da condenação, eis que

aplicável, no caso, é o § 4º e, não, o § 3º do art. 20 do referido Código. (Ac. unân. da

Primeira Turma do STF, de 24.11.1977, no RE n. 87.648-SP, Rel. Min. Cunha Peixoto,

DJU de 10.03.1978, p. 1.175).

Nas causas em que for vencida a Fazenda Pública, os honorários serão

eqüitativamente fixados pelo juiz — art. 20, § 4º do CPC. Desatenção a esse

critério legal enseja o apelo extraordinário. (Ac. unân. da Segunda Turma do STF,

de 15.12.1978, no RE n. 90.273-2-RJ, Rel. Min. Cordeiro Guerra, DJU de 23.02.1979,

p. 1.224).

A condenação, mesmo vencida a Fazenda Pública, fazendo incidir o caput

do § 3º do art. 20 do CPC, contrariou, expressamente, o § 4º, que manda sejam

os honorários fi xados consoante apreciação eqüitativa do Juiz, atendidas as

normas das letras a e c do parágrafo anterior. Caso o legislador quisesse que

o percentual do § 3º (10% e 20%) fosse observado, teria dito simplesmente,

respeitado o disposto no parágrafo anterior e respectivas alíneas.

Page 439: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 423-445, julho 2010 439

A exceção fi ca evidente.

Quanto ao termo a quo da correção monetária dos honorários advocatícios

não ficou demonstrada a divergência jurisprudencial, mesmo porque os

honorários advocatícios foram fi xados sobre o valor da condenação e não sobre

o valor dado à causa.

Dou parcial provimento ao recurso especial para determinar que a correção

monetária se faça na forma determinada na Lei n. 6.899/1981 e, atendendo ao

grau de zelo do advogado, a simplicidade da causa e o tempo exigido para o

serviço, fi xar os honorários em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação.

RECURSO ESPECIAL N. 53.157-SP (94.0026182-9)

Relator: Ministro Pedro Acioli

Recorrente: Instituto Nacional de Seguro Social — INSS

Advogados: Anelise Penteado de Oliveira e outros

Recorrido: Oswaldo Pagotto

Advogados: Jarbas Miguel Tortorello e outro

EMENTA

Previdenciário. Benefícios. Correção monetária.

I - Após a vigência da Lei n. 6.899/1981, que passou a disciplinar

toda e qualquer forma de correção, não cabe invocar a Súmula n. 71 do

ex-Tribunal Federal de Recursos, como critério de correção monetária

dos débitos previdenciários vencidos após a vigência da citada lei.

II - Recurso conhecido e provido para excluir a indevida aplicação

da Súmula n. 71 do extinto TFR.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Egrégia

Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos

Page 440: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

440

e das notas taquigráfi cas constantes dos autos, por unanimidade, conhecer

e dar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Votaram os Srs. Ministros Adhemar Maciel, Anselmo Santiago e Luiz Vicente

Cernicchiaro.

Brasília (DF), 20 de setembro de 1994 (data do julgamento).

Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, Presidente

Ministro Pedro Acioli, Relator

DJ 24.10.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Pedro Acioli: O Instituto Nacional do Seguro Social —

INSS — interpôs recurso especial contra acórdão do Tribunal Regional Federal,

na parte que determinou a incidência da correção monetária das parcelas

anteriores ao julgamento da ação, na forma prevista pela Súmula n. 71 do

extinto Tribunal Federal de Recursos, e, às posteriores, pela Lei n. 6.899/1991.

Alega o recorrente que a aplicação sucessiva da Súmula n. 71 e da Lei

n. 6.899/1971, afronta o art. 1º da referida norma, visto que, como as parcelas

devidas datam depois do advento da Lei, não mais se pode invocar a súmula

como critério de correção.

Dispensei a manifestação do Ministério Público Federal.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Pedro Acioli (Relator): Sr. Presidente, a matéria discutida

nestes autos, cinge-se a questão em se saber se no pagamento da correção

monetária há que incidir a Súmula n. 71 do ex-TFR até a propositura da ação,

e a partir daí, a Lei n. 6.899/1981, independentemente da época em que se

instaurou o litígio, ou se a Súmula n. 71 era aplicável, apenas e tão-somente, até

o advento da Lei n. 6.899/1981, passando, então, referido diploma a disciplinar

toda e qualquer forma de correção.

A Súmula n. 71 do ex-TFR, foi editada na ausência de lei expressa, com

advento da referida lei, e desde que as prestações tenham vencido após sua

vigência, não faz mais sentido invocar-se a súmula.

Page 441: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 423-445, julho 2010 441

Este é o entendimento da Corte conforme ementas abaixo transcritas,

verbis:

Processual Civil. Débito previdenciário. Correção monetária. Incidência dos

critérios estabelecidos pela lei de regência. Afastabilidade dos critérios da

Súmula n. 71 do antigo TFR, uma vez que todas as prestações se constituíram

sob o império da Lei n. 6.899/1981. Recurso especial conhecido (alínea a do

autorizativo constitucional). (REsp n. 47.179-6-SP, Rel. Min. Adhemar Maciel, in DJ

de 13.06.1994).

Previdenciário. Benefícios. Correção monetária. Lei n. 6.899/1981.

Não cabe invocar a Súmula n. 71 do ex-Tribunal Federal de Recursos, como

critério de correção monetária dos débitos previdenciários vencidos após a

vigência da Lei n. 6.899/1981.

Recurso conhecido e provido. (REsp n. 47.442-6-SP, Rel. Min. Cid Flaquer

Scartezzini, in DJ 20.06.1994).

Com estas considerações, conheço e dou provimento ao recurso para

excluir a indevida aplicação da Súmula n. 71 do extinto TFR.

É o meu voto.

RECURSO ESPECIAL N. 59.318-MG (95.0002659-7)

Relator: Ministro Edson Vidigal

Recorrente: Instituto Nacional de Seguro Social — INSS

Advogados: Ayres Lourenço de Almeida Filho e outros

Recorridos: Gumercindo Araujo e outros

Advogados: Rosangela de Carvalho Martins e outro

EMENTA

Previdenciário. Revisão de benefícios. Correção monetária.

Honorários advocatícios. Prestações vincendas.

Page 442: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

442

1. A Súmula n. 71, TFR, não é mais aplicável em casos de correção

monetária, de débitos previdenciários vencidos após a vigência da Lei

n. 6.899/1981.

2. Exclui-se a incidência da verba honorária sobre as prestações

vincendas.

3. Recurso conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar

provimento, nos termos do voto do Ministro Relator. Votaram com o Relator, os

Srs. Ministros Jesus Costa Lima, José Dantas, Cid Flaquer Scartezzini e Assis

Toledo.

Brasília (DF), 20 de março de 1995 (data do julgamento).

Ministro Jesus Costa Lima, Presidente

Ministro Edson Vidigal, Relator

DJ 24.04.1995

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Edson Vidigal: Em ação ordinária promovida pelos

recorridos, contra o Instituto Nacional de Seguro Social — INSS, objetivando

a revisão e reajuste de seus proventos de aposentadoria, com as prestações

atrasadas e correção monetária, o pedido foi julgado procedente pelo Juiz

Federal da Vara Única de Juiz de Fora-MG.

Parcialmente provido o recurso do INSS por acórdão do Tribunal Regional

Federal — 1ª Região, nele ementou-se:

Previdenciário. Proventos. Reajuste. Súmula n. 260- ex-TFR. Correção monetária.

Custas. Honorários. Juros de mora.

1. “No primeiro reajuste do benefício previdenciário deve-se aplicar o índice

integral do aumento verificado, independentemente do mês da concessão,

considerado, nos reajustes subseqüentes, o salário mínimo então atualizado”

(Súmula n. 260-TFR).

Page 443: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 423-445, julho 2010 443

2. “A atualização monetária de diferenças resultantes de revisão dos cálculos

iniciais e dos reajustes posteriores dos valores de benefícios previdenciários é

devida a partir do primeiro pagamento a menor, sendo sua contagem feita de

acordo com Súmula n. 71 do Tribunal Federal de Recursos, até o ajuizamento da

ação e, após este, consoante o disposto na Lei n. 6.899/1981” (Súmula n. 13 - TRF,

1ª Região).

3. Juros de mora fi xados corretamente (CC, art. 1.536, § 2º, e art. 1.062, c.c. a Lei

n. 4.414/1964).

4. Honorários modicamente arbitrados em 10% (dez por cento) sobre o valor da

condenação, e sua incidência sobre doze prestações vincendas é entendimento

unânime desta egrégia Turma, em centenas de decisões.

5. Reembolso de custas conforme Súmula n. 1 - TRF, 1ª Reg.

6. Apelo parcialmente provido.

7. Sentença parcialmente reformada. (fl . 75)

Apresentou o Instituto recurso especial fundado na Constituição, art.

105, III, c, alegando que o acórdão combatido determinando o pagamento da

correção monetária nos termos da Súmula n. 71 do extinto Tribunal Federal

de Recursos até o ajuizamento da ação e Lei n. 6.899/1981, nos momentos

subseqüentes, contrariou o art. 1º da citada lei, rebelando-se contra fi xação da

verba honorária advocatícia sobre o valor total da condenação, acrescido de um

ano de prestações vincendas.

Admitido o recurso, subiram os autos a esta Corte.

Relatei.

VOTO

O Sr. Ministro Edson Vidigal (Relator): Sr. Presidente, ao contrário do

sustentado, o acórdão combatido não violou os preceitos legais apontados

no recurso, porque em perfeita harmonia com entendimento esposado neste

Superior Tribunal: REsp n. 45.648-SP, Relator Ministro Assis Toledo e REsp n.

38.514-SP, Relator Ministro Demócrito Reinaldo:

Processual Civil. Honorários advocatícios.

Firmou-se a jurisprudência no sentido da fi xação da verba honorária em 10%

sobre o valor da condenação, mais um ano de prestações vincendas, nas causas

previdenciárias.

Page 444: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

444

Recurso não conhecido.

Processual Civil. Honorários advocatícios fi xados com base no art. 20, §§ 3º e

4º. Alteração em grau de recurso especial. Impossibilidade.

É injurídico, em sede de recurso especial, alterar-se a quantificação da

verba honorária, fi xada nas instâncias ordinárias, mediante a reapreciação dos

elementos de informação do processo. (Súmula n. 7-STJ).

Em relação à correção monetária, prende-se a questão em se saber se no

seu pagamento há que incluir a Súmula n. 71 do extinto Tribunal Federal de

Recursos, até o ajuizamento da ação, e a partir daí, a Lei n. 6.899/1981, ou se

aquela Súmula era aplicável, apenas e tão somente, até o advento da referida lei,

que passou a disciplinar toda e qualquer forma de correção.

A Súmula n. 71-TFR, foi editada na ausência de lei expressa. Com edição

da Lei n. 6.899/1981, e desde que as prestações tenham vencido depois de sua

vigência, não faz mais sentido a invocação daquela súmula.

É este o entendimento deste Superior Tribunal, a propósito:

REsp n. 47.375-6-SP, Relator Ministro Assis Toledo:

Ação revisional de benefício previdenciário. Correção monetária.

Após a vigência da Lei n. 6.899/1981, a correção monetária de débitos

cobrados em juízo deve ser feita de acordo com essa lei.

Recurso especial conhecido e provido.

REsp n. 49.974-7-SP, Relator Ministro Flaquer Scartezzini:

Previdenciário. Benefícios. Correção monetária. Lei n. 6.899/1981.

Não cabe invocar a Súmula n. 71 do ex-Tribunal Federal de Recursos,

como critério de correção monetária dos débitos previdenciários vencidos

após a vigência da Lei n. 6.899/1981.

Recurso conhecido e provido.

REsp n. 45.653-3-SP, Relator Ministro Adhemar Maciel:

Processual Civil. Débito previdenciário. Correção monetária.

Incidência dos critérios estabelecidos pela Lei de Regência.

Afastabilidade dos critérios da Súmula n. 71 do antigo TFR, uma vez que

todas as prestações se constituíram sob o império da Lei n. 6.899/1981.

Recurso especial conhecido (alínea a do autorizativo constitucional).

Page 445: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 423-445, julho 2010 445

REsp n. 47.822-7-SP, Relator Ministro Jesus Costa Lima:

Previdência Social. Benefícios. Pagamento em atraso. Correção

monetária. Honorários advocatícios.

Os débitos de natureza previdenciária, vencidos e cobrados na vigência

da Lei n. 6.899/1981, sujeitam-se à correção monetária prevista nesse

diploma legal.

Nas ações visando a obter benefício previdenciário, não cabe a

condenação de honorários advocatícios sobre prestações vincendas, uma

vez que não se aplica o disposto no § 5º do art. 20 do CPC.

Assim, de acordo com o entendimento esposado, conheço do recurso e

ao mesmo dou provimento para excluir a indevida aplicação da Súmula n. 71-

TFR, determinando que a correção monetária seja efetuada na forma da Lei

n. 6.899/1981, e excluindo a incidência da verba honorária sobre as prestações

vincendas.

É o voto.

Page 446: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 447: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

Súmula n. 149

Page 448: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 449: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULA N. 149

A prova exclusivamente testemunhal não basta a comprovação da atividade

rurícola, para efeito da obtenção de benefício previdenciário.

Referência:

CF/1988, art. 202.

Lei Complementar n. 16/1973.

Lei n. 8.213/1991, art. 55, § 3º.

Decreto n. 83.080/1979, art. 57, § 5º.

Precedentes:

REsp 41.110-SP (6ª T, 14.03.1994 — DJ 28.03.1994)

REsp 46.834-SP (6ª T, 28.11.1994 — DJ 13.03.1995)

REsp 59.876-SP (6ª T, 24.05.1995 — DJ 19.06.1995)

REsp 64.708-SP (5ª T, 18.09.1995 — DJ 16.10.1995)

REsp 65.095-SP (5ª T, 14.06.1995)— DJ 11.09.1995)

REsp 66.210-SP (5ª T, 07.08.1995 — DJ 11.09.1995)

REsp 71.703-SP (5ª T, 18.09.1995 — DJ 16.10.1995)

REsp 75.120-SP (6ª T, 24.10.1995 — DJ 18.12.1995)

Terceira Seção, em 07.12.1995

DJ 18.12.1995, p. 44.864

Page 450: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 451: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

RECURSO ESPECIAL N. 41.110-SP (93.032804-2)

Relator: Ministro Adhemar Maciel

Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social – INSS

Advogados: Vilma Westmann Anderlini e outros

Recorrido: Cecília Stábile Goularte

Advogada: Rita Aparecida Scanavez

EMENTA

Previdenciário. Rurícola (bóia-fria). Aposentadoria por

velhice. Prova puramente testemunhal. Admissibilidade no caso

concreto: contestação abstrata e falta de contradita das testemunhas.

Interpretação de lei de acordo com o art. 5° da LICC, que tem foro

supralegal. Recurso especial conhecido pela alínea c, mas improvido.

Não conhecimento pela alínea a do autorizativo constitucional.

I - Mulher com 55 anos de idade, alegando que trabalhou anos

a reio como “bóia-fria”, ajuizou ação pedindo sua aposentadoria por

velhice (CF, art. 202, I). O juiz – e em suas águas o tribunal a quo

- julgou procedente seu pedido, não obstante ausência de prova ou

princípio de prova material (Lei n. 8.213/1991, art. 55, § 3°).

II - A Previdência, após sucumbir em ambas as instâncias,

recorreu de especial (alínea a e c do art. 105, III, da CF).

III - O dispositivo infraconstitucional que não admite “prova

exclusivamente testemunhal” deve ser interpretado cum grano

salis (LICC, art. 5°). Ao juiz, em sua magna atividade de julgar,

caberá valorar a prova, independentemente de tarifação ou diretivas

infraconstitucionais. No caso concreto, a contestação primou por

ser abstrata e não houve contradita das testemunhas. Ademais, o

dispositivo constitucional (art. 202, I), para o “bóia-fria”, se tornaria

praticamente infactível, pois difi cilmente alguém teria como fazer a

exigida prova material.

IV - Recurso especial conhecido e improvido pela alínea c e não

conhecido pela alínea a do autorizativo constitucional.

Page 452: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

452

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,

decide a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar

provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator, na forma

do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo

parte integrante do presente julgado. Votaram de acordo os Srs. Ministros

Anselmo Santiago, Luiz Vicente Cernicchiaro e José Cândido de Carvalho

Filho. Ausente, por motivo justifi cado, o Sr. Ministro Pedro Acioli.

Custas, como de lei.

Brasília (DF), 14 de março de 1994 (data do julgamento).

Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, Presidente

Ministro Adhemar Maciel, Relator

DJ 28.03.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Adhemar Maciel: Trata-se de recurso especial interposto

pelo Instituto Nacional de Seguro Social contra acórdão do Tribunal Regional

Federal da 3ª Região, com fundamento no art. 105, III, a, da CF.

2. Cecília Stábile Goularte, rurícola, ajuizou ação, pleiteando sua

aposentadoria por velhice. Teve seu pedido acolhido. O INSS recorreu. A 2ª

Turma do TRF da 3ª Região negou provimento ao recurso em acórdão assim

ementado:

Previdenciário. Benefício. Aposentadoria por velhice. Rurícola. Prova. Chefe.

Termo inicial. Valor do benefício. Juros de mora. Correção monetária. Honorários

advocatícios. Custas.

À míngua de outras provas, admitem-se, para comprovar a condição de

rurícola, os depoimentos testemunhais, tendo em vista a lastimável situação

daqueles que trabalham no campo.

O artigo 5°, da vigente Constituição Federal, ampliou o conceito de chefe de

família para nele incluir a esposa que contribui com o seu trabalho para mantença

do lar.

Benefício que se concede à falta de requerimento administrativo, a partir da

citação.

Page 453: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 447-473, julho 2010 453

Deve ser observado o valor de um salário mínimo desde 1º de setembro de

1989, já que a Lei n. 7.787, de 30.06.1989, em seu artigo 21 criou nova fonte de

custeio.

Juros de mora devidos.

Correção monetária nos termos da Lei n. 6.899/1981.

Honorários advocatícios fi xados com moderação.

A autarquia está isenta do pagamento de custas, devendo, contudo,

reembolsar aquelas despesas eventualmente despendidas pela autora.

Apelo improvido.

(AC n. 92.03.10063-6-SP, Rel. Juiz José Kallás, julgado em 17.11.1992).

3. Inconformado, o recorrente interpõe recurso especial. Alega violação

ao art. 25, II; ao art. 48, parágrafo único, e ao art. 55, § 3°, todos da Lei n.

8.213/1991; bem como ao art. 49, parágrafo único; ao art. 60, § 5º; ao art. 61;

ao art. 179, § 1°, § 2° e § 3°; ao art. 282 e ao art. 283, do Decreto n. 611/1992.

Aduz que a prova da atividade laborativa, por um período mínimo legal, é

indispensável para tornar devido o benefício pleiteado. Ressalta que a legislação

vigente não permite tão-somente prova testemunhal, como se deu in casu.

4. Sem contra-razões (conforme certidão, às fl s. 52).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Adhemar Maciel (Relator): Como se viu do relatório,

o recorrente, INSS, quer a reforma do julgado ao fundamento de que ele,

além de contrariar a jurisprudência, vai de encontro a dispositivos de leis

infraconstitucionais.

Conheço do recurso pela alínea c. O antigo TFR, como se pode ver da

ementa colacionada, da lavra do eminente Ministro Costa Lima, não admitia

prova exclusivamente testemunhal para confi gurar atividade laboral. Quanto ao

segundo aresto, ele não se presta para o fi m colimado, uma vez que é do mesmo

tribunal cuja decisão se ataca (Súmula n. 13-STJ).

No caso concreto, é certo, o juiz monocrático (fl s. 25-26) se baseou única

e exclusivamente no depoimento de duas testemunhas (fl s. 19-20). Ocorre,

todavia, que na contestação (fl s. 21-22) o ora recorrente se limitou a alegações

abstratas, falando que o art. 202 da Constituição Federal não é self executing,

Page 454: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

454

pois as despesas da Previdência sempre dependem de fonte de custeios etc. Por

outro lado, não houve contradita de testemunhas.

A recorrida, por ocasião da refrega processual, já contava com a idade

constitucional (art. 202, I). Segundo seu depoimento, corroborado pelas

testemunhas, trabalhou como “bóia-fria” nas fazendas da região.

A jurisprudência do TFR, embora não de todo firme, foi

predominantemente sensível à situação de nosso trabalhador rural:

Previdenciário Social Rural. Trabalhadores rurais avulsos. Aposentadoria-

invalidez. Não desmerece a prova de qualidade do trabalhador rural avulso a

sua produção só por via de testemunhas, pois só recentemente, e por via de

uma greve, tiveram eles reconhecido o direito do registro de seus contratos de

trabalho na carteira de trabalho e previdência social. Provada a invalidez do

trabalhador, correta é a concessão da sua aposentadoria, com prestações a partir

da data do laudo médico.

(AC n. 90.483-SP, Rel. Min. Carlos Madeira in DJU 22.06.1984)

Previdenciário. Prorural. Aposentadoria por velhice (artigos 2º, I, e 4º, da Lei

Complementar n. 11/1971). Benefício que se concede a trabalhadora rural que

enviuvando e necessitando sustentar-se e a seus fi lhos, comprovou ter mais de

65 anos de idade e que, por mais de 15 anos, exerceu a dura labuta de “bóia-fria”

em fazendas da região. Prova testemunhal que se acolhe, por não haverem os

depoentes sido contraditados em juízo. Sentença reformada apenas na parte

que diz respeito a condenação do INPS no reembolso de despesas de condução

do ofi cial de justiça e de correio, que pertencem ao gênero custa (art. 2° da Lei n.

6.032/1974)

(AC n. 94.997-SP. Rel. Min. Carlos Thibau in DJU de 19.12.1984).

Previdenciário. Aposentadoria por velhice. Funrural. Justifi cação. Decreto n.

72.711/1973.

1) O Decreto n. 72.711/1973 (art. 141, parágrafo único) quando estabelece

que a justifi cação por testemunhas deve estar acrescida de “razoável princípio de

prova material” endereça-se a própria administração, para a concessão, na esfera

administrativa, do benefício pleiteado. No âmbito judicial, todavia, submetido

qualquer assunto ao crivo do contraditório, todo meio de prova legalmente

permitido, inclusive o exclusivamente testemunhal, é admitido para formar a

convicção do juiz.

2) Procedência parcial do pedido, para a concessão da aposentadoria, por

velhice (regulamento do programa de assistência ao trabalhador rural, Decreto n.

73.617/1974, art. 15).

3) Apelo improvido.

(AC n. 46.059-SP. Rel. Min. Washington Bolívar in DJU de 06.11.1980).

Page 455: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 447-473, julho 2010 455

Assim, embora conhecendo do recurso pela alínea c do permissivo

constitucional, nego-lhe provimento.

O recorrente, também como se viu do relatório, recorreu com fulcro na

alínea a do autorizativo constitucional. O § 3° do art. 55 da Lei n. 8.213/1991,

é verdade, diz:

A comprovação do tempo de serviço para os efeitos desta lei, inclusive

mediante justifi cação administrativa ou judicial, conforme o disposto no artigo

108, só produzirá efeito quando baseada em início de prova material, não sendo

admitida prova exclusivamente testemunhal, salvo na ocorrência de motivo de

força maior ou caso fortuito, conforme disposto no regulamento.

Ora, esse dispositivo tem que ser interpretado cum grano salis. Ao juiz

é que caberá, dentro de seu livre convencimento, em cada caso, tomar como

provado ou não o fato deduzido em juízo. Todos nós que conhecemos a vida dos

“bóias-fria” sabemos que praticamente é impossível a qualquer deles, por meio

de documentos, provar que trabalhou para alguém no campo. O preceito legal,

tenho para mim, embora factível no meio urbano, difi cilmente o será no rural.

No tocante ao custeio previdenciário, vem a pêlo a argumentação do Juiz

José Kallás, relator a quo:

Com o advento da Lei n. 7.787, de 30.06.1989, que em seu artigo 21 criou

novos recursos para a Previdência Social, tornou-se aplicável o artigo 201, §§ 5° e

6°, da Constituição.

Com tais observações, inobstante as judiciosas argumentações do

recorrente, não conheço do recurso pela alínea a.

Em resumo, nego provimento ao recurso.

É meu voto.

RECURSO ESPECIAL N. 46.834-SP (94.0010907-5)

Relator: Ministro Pedro Acioli

Recorrente: Instituto Nacional de Seguro Social — INSS

Page 456: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

456

Advogada: Tereza Marlene F. Meirelles

Recorridos: Angelo Belotti e cônjuge

Advogados: Maria Ivanete Vetorazzo e outro

EMENTA

Previdenciário. Recurso especial. Aposentadoria. Trabalhador

rural. Prova testemunhal. Necessidade de início razoável de prova

documental.

I - Aposentadoria de trabalhador rural, com base exclusiva em

prova testemunhal, sem necessidade de prova ou princípio de prova

material, ofende o § 3º do art. 55 da Lei n. 8.213/1991.

II - No caso, quanto ao recorrido Angelo Belotti há início de

prova documental, logo o recurso especial não merece ser conhecido.

III - Recurso conhecido parcialmente e dado parcial provimento.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Egrégia

Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos

e das notas taquigráfi cas constantes dos autos, por unanimidade, conhecer

parcialmente do recurso e lhe dar provimento parcial, nos termos do voto do

Sr. Ministro Relator. Votaram os Srs. Ministros Adhemar Maciel, Anselmo

Santiago e Vicente Leal. Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Luiz Vicente

Cernicchiaro.

Brasília (DF), 28 de novembro de 1994 (data do julgamento).

Ministro Pedro Acioli, Presidente e Relator

DJ 13.03.1995

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Pedro Acioli: Trata-se de recurso especial interposto pelo

Instituto Nacional do Seguro Social — INSS, com esteio na letra a do inciso III

Page 457: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 447-473, julho 2010 457

do art. 105, da Constituição, contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 3ª

Região, que concedeu aposentadoria por idade a rurícola.

Alega-se vilipêndio a diversos dispositivos infraconstitucionais, pois não

pode prevalecer a prova de trabalho de rurícola baseada, exclusivamente, em

depoimentos testemunhais, sem início razoável de prova escrita. Ademais, diz

restar sem prova o período de carência mínima necessária para a concessão da

aposentadoria.

O Ministério Público Federal pronunciou-se pelo provimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Pedro Acioli (Relator): A Terceira Seção deste Tribunal,

ao julgar o EREsp n. 41.110-4-SP, por sua maioria, perfi lhou o entendimento

de que a aposentadoria de trabalhador rural, com base exclusiva em prova

testemunhal, sem necessidade de prova ou princípio de prova material, ofende

ao § 3º do art. 55 da Lei n. 8.213/1991.

No caso, quanto ao recorrido Angelo Belotti há início de prova documental

— fl . 6, logo recurso especial não merece ser conhecido, o que inocorre quanto à

recorrida Santina Scarante Belotti.

Em assim sendo, conheço parcialmente do recurso especial e dou-lhe

parcial provimento.

É como voto.

VOTO

O Sr. Ministro Adhemar Maciel: Sr. Presidente, nas conseqüências estou

concordando com V. Exa. Considero que da maneira como colocou estamos

avaliando provas.

Assim, quanto ao primeiro recorrido, não conheço do recurso por se

tratar de avaliação de prova. Quanto ao segundo, conheço do recurso e dou-lhe

provimento, ressalvando o meu ponto de vista.

É como voto.

Page 458: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

458

VOTO

O Sr. Ministro Vicente Leal: Sr. Presidente, no resultado, acompanho V.

Exa., porém nos termos do voto do Sr. Ministro Adhemar Maciel.

RECURSO ESPECIAL N. 59.876-SP (95.0004305-0)

Relator: Ministro Vicente Leal

Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social — INSS

Recorrido: Wilson Geraldo Argenton

Advogados: Rosa Brino e outros e Marcelo Lourencetti

EMENTA

Previdenciário. Trabalhador urbano. Contagem de tempo de

serviço. Início razoável de prova material.

A apresentação de início razoável de prova material é sufi ciente

para o reconhecimento de tempo de serviço de trabalhador urbano.

Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do

recurso especial, na conformidade dos votos e notas taquigráfi cas a seguir.

Participaram do julgamento os Srs. Ministros Luiz Vicente Cernicchiaro,

Adhemar Maciel e Anselmo Santiago.

Brasília (DF), 24 de maio de 1995 (data do julgamento).

Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, Presidente

Ministro Vicente Leal, Relator

DJ 19.06.1995

Page 459: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 447-473, julho 2010 459

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Vicente Leal: Nos autos de ação de rito sumaríssimo

proposta por Wilson Geraldo Argenton contra o Instituto Nacional do Seguro

Social — INSS, objetivando contagem de tempo de serviço, o pedido foi julgado

improcedente em 1º grau.

A egrégia Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por

unanimidade, deu provimento ao apelo do autor para, reformando a sentença,

julgar procedente o pedido, recebendo o julgado a ementa a seguir transcrita,

verbis:

Previdenciário. Averbação de tempo de serviço. Recurso provido.

I - Início de prova material, corroborada por depoimento de testemunhas,

basta para o reconhecimento de tempo de serviço prestado por empregados sem

o devido registro. Inteligência do art. 131 do CPC. Precedentes da Corte.

II - Apelação provida. (fl . 61).

Irresignado, o INSS interpõe o presente recurso especial, com fulcro nas

alíneas a e c do permissivo constitucional, sustentando ter o v. acórdão violado

o disposto no Decreto n. 83.080/1979 e no Decreto n. 89.312/1984 e na Lei n.

8.213/1991, ao reconhecer tempo de serviço com base em prova testemunhal.

Sem contra-razões, e admitido o recurso na origem, ascenderam os autos a

esta Corte.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Vicente Leal (Relator): A questão emoldurada no presente

recurso especial centra-se na alegação de inidoneidade da prova exclusivamente

testemunhal para efeito de reconhecimento de tempo de serviço, para fi ns de

aposentadoria de trabalhador urbano.

Sustenta o INSS que a legislação pertinente — Decretos n. 83.080/1979

e 89.312/1984 — afasta a possibilidade de comprovação da atividade laborativa

por via exclusivamente testemunhal.

É certo que, em regra, a comprovação do tempo de serviço para fi ns de

aposentadoria previdenciária deve fundar-se em indício razoável de prova

Page 460: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

460

documental, estando tal pensamento consagrado pela jurisprudência de nossos

pretórios.

Esta é, aliás, a determinação imposta pela legislação supostamente

afrontada.

Na hipótese sub examen, verifi ca-se que o v. aresto hostilizado, ao confi rmar

a sentença que reconheceu o tempo de serviço prestado pelo autor, ora recorrido,

fundou-se em início razoável de prova material, quais sejam: cópia do extrato

da conta do Pasep do autor, onde consta que seu primeiro emprego foi em

1963, e declaração fi rmada por ex-empregador, além de prova testemunhal.

Assim, tenho que não incidiu em desrespeito a preceito de lei federal, mas, pelo

contrário, fi elmente aplicou a norma ao caso concreto.

Note-se, por fi m, no que tange à alínea c, que o recurso também não

prospera, de vez que, ainda que se ultrapassasse o óbice da Súmula de n.

13 deste Tribunal, encontra-se o acórdão recorrido em consonância com

jurisprudência desta Corte. Assim a divergência jurisprudencial invocada torna-

se inconsistente, nos termos da Súmula n. 83 desta Casa.

Isto posto, não conheço do recurso.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 64.708-SP (95.0020757-5)

Relator: Ministro Cid Flaquer Scartezzini

Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social — INSS

Advogados: Ricardo Ramos Novelli e outros

Recorrida: Abigail Teixeira da Silva

Advogados: José Luiz Pereira Junior e outros

EMENTA

Previdenciário. Trabalhador rural. Aposentadoria por velhice.

Requisito.

Page 461: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 447-473, julho 2010 461

Para efeito de obtenção de benefício previdenciário, não se prestam

à comprovar atividade rural, prova exclusivamente testemunhal.

Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar

provimento, nos termos do voto do Ministro Relator. Votaram com o Relator

os Srs. Ministros Jesus Costa Lima, Edson Vidigal, Assis Toledo e José Dantas.

Brasília (DF), 18 de setembro de 1995 (data do julgamento).

Ministro Assis Toledo, Presidente

Ministro Flaquer Scartezzini, Relator

DJ 16.10.1995

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini: O Instituto Nacional do Seguro

Social — INSS interpõe recurso especial, com espeque no art. 105, III, a e c,

da Constituição Federal, contra o acórdão do Tribunal Regional Federal da

Terceira Região que, em ação de benefício previdenciário julgada procedente

(fl s. 21-24), acolheu pedido de aposentadoria por velhice, entendendo sufi ciente

à comprovação da qualidade de rurícola, a prova exclusivamente testemunhal.

Em sua súplica, sustenta o Instituto-recorrente negativa de vigência do

art. 55, § 3º, da Lei n. 8.213/1991, ao argumento de que a prova exclusivamente

testemunhal não se presta à comprovação de atividade laborativa de trabalhador

rural (fl s. 42-44).

Sem contra-razões (fl . 47), o recurso foi admitido (fl s. 49-50).

É o relatório.

Page 462: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

462

VOTO

O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini (Relator): Sr. Presidente, a matéria é

bastante conhecida da Turma.

Cuida-se, a hipótese, de valorar a prova exclusivamente testemunhal, para

obtenção de benefício previdenciário rural.

Embora sensível a dificuldade do trabalhador rural na obtenção de

prova escrita do exercício de sua profi ssão, na hipótese dos autos valorou-se,

unicamente, a prova oral, com violação do invocado art. 55, § 3º, da Lei n.

8.213/1991.

Assim, fora os depoimentos de fl s. 18-19, não se tem nenhuma outra prova

da qualidade rurícola da requerente, o que contraria o entendimento que temos

adotado, no sentido de que simples depoimentos testemunhais, sem qualquer

início de prova material, não se prestam a demonstrar tempo de serviço ou

mesmo exercício de atividade rural.

A propósito, confiram-se os seguintes precedentes, a teor de suas

elucidativas ementas:

Previdenciário. Trabalhador rural. Aposentadoria por idade. Requisito.

Aposentadoria da trabalhadora rural aos cinqüenta e cinco anos de idade de

que trata o inciso I do art. 202 da Constituição supõe prova dessa atividade, a qual

não pode resultar de simples testemunhos, na forma prevista no Regulamento de

Benefícios da Previdência. (REsp n. 59.404-9-SP, Rel. Min. Jesus Costa Lima, DJ de

10.04.1995).

Previdenciário. Trabalhador rural. Aposentadoria por idade. Exigências legais.

Valoração da prova. Inexistindo qualquer início de prova documental tocante à

atividade rurícola do benefi ciado, ainda que seja pela sua qualifi cação profi ssional

em atos do registro civil, no mister não cabe valorar a “prova exclusivamente

testemunhal”. (REsp n. 49.371-4-SP, Rel. Min. José Dantas, DJ de 1º.08.1994).

Previdenciário. Trabalhador rural. Aposentadoria. Requisitos.

1. A valoração da prova exclusivamente testemunhal, da atividade de

trabalhador rural, só é válida se apoiada em indício de prova material.

2. Recurso provido. (REsp n. 58.166-4- SP, Rel. Min. Edson Vidigal, DJ de

27.03.1995).

Previdenciário. Trabalhador rural. Aposentadoria por velhice. Requisito.

Page 463: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 447-473, julho 2010 463

Para efeito de obtenção de benefício previdenciário, não se prestam a

comprovar atividade rural, prova exclusivamente testemunhal.

Recurso provido. (REsp n. 46.828-0-SP, Rel. Min. Flaquer Scartezzini, DJ de

12.12.1994).

Em que pesem as lúcidas considerações do v. acórdão impugnado, não posso

concordar, data venia, com suas conclusões, em face da uníssona jurisprudência

desta Corte no sentido da necessidade de um mínimo de prova material, a

amparar a testemunhal.

Com estas considerações, dou provimento ao recurso, para julgar

improcedente a ação, sem ônus, por se tratar de Justiça Gratuita.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 65.095-SP (95.0021440-7)

Relator: Ministro Edson Vidigal

Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social — INSS

Advogados: Ricardo Ramos Novelli e outros

Recorrida: Catharina Virginia Caetano dos Santos

Advogado: Marcos Antonio Chaves

EMENTA

Previdenciário. Trabalhador rural. Aposentadoria. Requisitos.

1. A valoração da prova exclusivamente testemunhal, da atividade

de trabalhador rural, só é válida se apoiada em indício razoável de

prova material.

2. Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

Page 464: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

464

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar

provimento para cassar o acórdão recorrido e julgar improcedente a ação, sem

ônus da sucumbência. Votaram com o Relator, os Srs. Ministros Jesus Costa

Lima, José Dantas e Assis Toledo. Ausente, justifi cadamente, o Ministro Cid

Flaquer Scartezzini.

Brasília (DF), 14 de junho de 1995 (data do julgamento).

Ministro Jesus Costa Lima, Presidente

Ministro Edson Vidigal, Relator

DJ 11.09.1995

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Edson Vidigal: Em ação ordinária promovida pelo

recorrido, contra o Instituto Nacional de Seguro Social — INSS, com vistas

ao reconhecimento do direito à percepção da aposentadoria por idade, com as

prestações atrasadas e correção monetária, o pedido foi julgado procedente pelo

Juiz singular.

Improvido o recurso do INSS por acórdão do Tribunal Regional Federal

— 3ª Região, nele ementou-se:

Previdenciário. Aposentadoria por velhice. Rurícola. Comprovação do trabalho

rural. Período de carência. Correção monetária. Honorários advocatícios. Juros de

mora.

I - O trabalho rural pode ser comprovado mediante prova testemunhal.

II - A autora comprovou ter trabalhado em período superior ao exigido no art.

143, II, da Lei n. 8.213/1991.

III - Não há óbice a que a correção monetária obedeça às variações salariais.

IV - Os honorários advocatícios devem ser mantidos, eis que fixados com

moderação.

V - Os juros de mora devem ser fi xados ao percentual de 0,5% ao mês.

VI - Recurso improvido (fl . 36).

Apresentou o INSS recurso especial fundado na Constituição, art. 105,

III, a e c, alegando que a comprovação da condição de rurícola, feita por meio

de testemunhas, contraria a Lei n. 8.213/1991, rebelando-se contra fi xação da

verba honorária advocatícia.

Page 465: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 447-473, julho 2010 465

Admitido o recurso, subiram os autos a esta Corte.

Relatei.

VOTO

O Sr. Ministro Edson Vidigal (Relator): Sr. Presidente, violados os

dispositivos constitucionais questionados e comprovada a divergência

jurisprudencial, conheço do recurso e lhe dou provimento.

Assiste razão a autarquia recorrente, ao invocar a norma legal oposta a

que se baste o benefício previdenciário pela prova exclusivamente testemunhal,

vez que o regime das Leis Complementares n. 11/1971 e 16/1973, exige, além

daquela, um começo razoável de prova material como trabalhador rural.

A propósito, entendimento desta Turma, entre outros:

REsp n. 46.853-1-SP, Rel. Min. José Dantas:

Previdenciário. Trabalhador rural. Aposentadoria por idade. Exigências

legais.

Valoração da prova. Inexistindo início de prova documental tocante

a atividade rurícola do benefi ciado, ainda que seja pela sua qualifi cação

profi ssional em atos do registro civil, no mister não cabe valorar a “prova

exclusivamente testemunhal”.

REsp n. 40.838-5-SP, Relator Ministro Jesus Costa Lima:

Previdenciário. Rurícola. Aposentadoria. Requisitos.

A atividade de trabalhador rural pode ser comprovada mediante

depoimentos de testemunhas, se apoiados em algum início razoável de

prova material, o que não se vê nos autos.

Embora manifesta a difi culdade do rurícola na obtenção de prova escrita

do exercício de sua profi ssão, no caso dos autos, o único documento apresentado

foi uma carteira de trabalho e previdência social, onde a recorrida é qualifi cada

apenas civilmente, não existindo prova material da atividade como trabalhadora

rural, exigida pela Lei n. 8.213/1991.

Pelo exposto, conheço do recurso e lhe dou provimento para cassar o

acórdão recorrido, e julgar improcedente a ação, sem ônus de sucumbência.

É o voto.

Page 466: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

466

RECURSO ESPECIAL N. 66.210-SP (95.24130-7)

Relator: Ministro Assis Toledo

Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social

Recorrida: Geralda Izabel de Jesus

Advogados: Marcos Cézar Najjarian Batista e outro e Maria Ivanete

Vetorazzo e outro

EMENTA

Previdenciário. Trabalhador rural. Aposentadoria por idade.

Prova.

A prova exclusivamente testemunhal, sem um início razoável

de prova material, não serve para comprovar atividade de trabalhador

rural. Precedentes (EREsp n. 41.110-4-SP).

Recurso conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe

provimento, nos termos do voto do Ministro-Relator. Votaram de acordo os

Ministros José Dantas, Cid Flaquer Scartezzini e Jesus Costa Lima. Ausente,

ocasionalmente, o Ministro Edson Vidigal.

Brasília (DF), 07 de agosto de 1995 (data do julgamento).

Ministro Assis Toledo, Presidente e Relator

DJ 11.09.1995

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Assis Toledo: Trata-se de recurso especial interposto

pelo INSS, pelas letras a e c do permissivo constitucional, contra acórdão que

Page 467: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 447-473, julho 2010 467

entendeu comprovada a atividade rural com base exclusivamente na prova

testemunhal.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Assis Toledo (Relator): A orientação da Turma é no

sentido de que não se concede benefício previdenciário sem início razoável de

prova material (REsps n. 46.837-0-SP, 46.880-9-SP e 49.160-6-SP, Rel. Min.

José Dantas, DJ de 30.05.1994 e 13.06.1994; REsps n. 47.184-2-SP, 46.257-6-

SP e 45.568-5-SP, Rel. Min. Jesus Costa Lima, DJ de 30.05.1994).

Esse entendimento foi acolhido pela Terceira Seção a partir do julgamento

dos Embargos de Divergência no Recurso Especial n. 41.110-4-SP, Rel. Min.

José Dantas, assim ementado:

Previdenciário. Trabalhador rural. Aposentadoria por idade. Exigências legais.

Valoração da prova. Inexistindo qualquer início de prova documental tocante à

atividade rurícola do benefi ciado, ainda que seja pela sua qualifi cação profi ssional

em atos do registro civil, no mister não cabe valorar a “prova exclusivamente

testemunhal”.

No caso dos autos, além da prova testemunhal, o único documento

existente é a certidão de casamento, onde consta a profi ssão de lavrador do

marido da autora. Penso ser insufi ciente essa prova.

Ante o exposto, conheço do recurso e dou-lhe provimento para julgar

improcedente a ação, sem ônus da sucumbência.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 71.703-SP (95.0038927-4)

Relator: Ministro Jesus Costa Lima

Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social — INSS

Page 468: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

468

Advogados: Cleci Gomes de Castro e outros

Recorridos: Alvino Honorato da Silva e outro

Advogados: Luiz Antonio Spolon e outros

EMENTA

Previdenciário. Aposentadoria de trabalhador rural. Prova.

Honorários advocatícios.

1. A prova da existência da relação de trabalho como empregado

rural não pode limitar-se a meros testemunhos pois, geralmente,

em casos tais, prestados por favor recíproco. No caso, entretanto, a

certidão de casamento registra o exercício dessa atividade pelo cônjuge

varão, o que o benefi cia, o mesmo não ocorrendo com sua esposa, dada

como doméstica.

2. Nas ações visando a obter benefício previdenciário, não cabe a

condenação de honorários de advogados sobre prestações vincendas,

uma vez que não se aplica o disposto no § 5º do art. 20 do CPC.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe

parcial provimento para, relativamente a Alvino Honorato da Silva, excluir

da condenação dos honorários devidos pela Autarquia as doze prestações

vincendas, e julgar improcedente a ação quanto a Ana de Araujo Braga, sem

ônus da sucumbência. Votaram com o Relator os Ministros Edson Vidigal,

Assis Toledo, José Dantas e Cid Flaquer Scartezzini.

Brasília (DF), 18 de setembro de 1995 (data de julgamento).

Ministro Assis Toledo, Presidente

Ministro Jesus Costa Lima, Relator

DJ 16.10.1995

Page 469: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 447-473, julho 2010 469

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Jesus Costa Lima: O Instituto Nacional de Seguro Social —

INSS interpõe recurso especial pela alínea a, item III, art. 105 da Constituição

Federal, fundado em que teriam sido violados dispositivos dos Decretos n.

83.080/1979 e 89.312/1984 e da Lei n. 8.213/1991, os quais não admitem a

comprovação de atividade rurícola para efeito de aposentadoria por velhice,

exclusivamente através de prova testemunhal, sem que haja um início de prova

material, hipótese dos autos. Foram contrariados ainda os §§ 3º, 4º e 5º do art.

20 do CPC, que prevêem a incidência das prestações vincendas no cálculo dos

honorários advocatícios, apenas quando se tratar de indenização por ato ilícito, o

que não se verifi ca na hipótese (fl s. 52-57).

A egrégia Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região

acolheu o pedido de aposentadoria por velhice, ao entendimento de que os

depoimentos testemunhais comprovam a condição de rurícola da autora, que

preenche o requisito da idade. Determinou, ainda, que os honorários advocatícios

deverão incidir também sobre doze prestações vincendas (fl s. 45-48).

Houve contra-razões (fl s. 61-67) e o especial foi admitido (fl s. 72-73).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Jesus Costa Lima (Relator): O pedido é posterior à Lei n.

8.213/1991.

Por outro lado, a certidão do casamento celebrado em 1981 já registrava o

autor-varão como lavrador — fl . 9.

A decisão, como se vê, em relação a ele, tem base não apenas em

testemunhos, mas em documento hábil para demonstrar o exercício da atividade

rural do recorrido.

Já decidiu esta egrégia Quinta Turma:

Previdenciário. Trabalhador rural. Aposentadoria por idade. Prova.

Valoração da prova. A qualifi cação profi ssional de lavrador ou agricultor em

atos do registro civil constitui razoável início de prova da atividade rurícola.1

1REsp n. 52.853-SP, Relator Ministro José Dantas, DJU de 19.09.1994, p. 24.711

Page 470: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

470

Quanto à autora, esposa do também requerente, a ação não deve prosperar,

pois a certidão a qualifi ca como doméstica.

O art. 202 da Constituição Federal assegura a aposentadoria aos

trabalhadores rurais, na forma da lei, a qual exige que tenha apoio em algum

documento. Logo, não pode valer aquela resultante de meros testemunhos,

quase sempre de favor. Disso tenho ciência própria, pois fui Juiz de Direito em

comarca do interior e sei como são “trocadas” essas “gentilezas”: você depõe a

meu favor e quando chegar a sua vez eu retribuo.

A Lei n. 8.213, de 24.07.1991, que regulamenta este dispositivo é expressa:

Art. 55. O tempo de serviço será comprovado na forma estabelecida no

Regulamento, compreendendo, além do correspondente às atividades de

qualquer das categorias de segurados de que trata o art. 11 desta Lei, mesmo que

anterior à perda da qualidade de segurado:

(...)

§ 3º A comprovação do tempo de serviço para efeito desta Lei, inclusive

mediante, justifi cação judicial, conforme o disposto no art. 108, só produzirá

efeito quando baseada em início de prova material, não sendo admitida prova

exclusivamente testemunhal, salvo na ocorrência de motivo de força maior ou

caso fortuito, conforme disposto no Regulamento.

O Regulamento de Benefícios de que trata o Decreto n. 83.080, de

24.01.1979, dizia que a comprovação do tempo de serviço dependia de razoável

início de prova material — art. 57, § 5º.

O extinto Tribunal Federal de Recursos, sob o império das Leis

Complementares n. 11/1971 e 16/1973, sempre exigiu que a atividade de

trabalhador rural resultasse de um razoável meio de prova material.

Igualmente merece reparos o julgado, relativamente aos honorários,

porquanto evidente não se aplicar às ações que reivindicam benefício

previdenciário a forma de calcular os honorários advocatícios prevista no § 5º

do art. 20 do Código de Processo Civil.

Na verdade, o dispositivo mencionado refere-se taxativamente às ações de

indenização por ato ilícito contra pessoa, onde se faz necessária a constituição de

um capital com as prestações vencidas, a fi m de constituir a renda correspondente

às prestações vincendas, o que não é o caso dos autos.

A jurisprudência tem sufragado a conclusão do julgado. Todavia, desde

o Tribunal Federal de Recursos tenho sustentado que não se justifica a

Page 471: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 447-473, julho 2010 471

condenação de honorários advocatícios em ações de benefícios previdenciários

com a inclusão de um ano de prestações a se vencerem: AC n. 132.173-SP, DJ

de 29.10.1987 e AC n. 146.400-SP, DJ de 30.06.1988.

Neste mesmo sentido decidiu o eminente Ministro Edson Vidigal na AC

n. 133.302-SP, DJ de 13.03.1989.

Trago como precedentes desta egrégia Quinta Turma dois julgados de

minha lavra: REsp n. 38.044-8-MT, DJU de 13.12.1993 e REsp n. 39.768-5-

SP, DJU de 13.12.1993.

Registro, derradeiramente, que é hábil e regular a procuração de fl . 58

destes autos.

À vista do exposto, conheço do recurso e lhe dou parcial provimento para,

relativamente a Alvino Honorato da Silva, excluir da condenação dos honorários

devidos pela autarquia as doze prestações vincendas. Julgo improcedente a ação

quanto a Ana de Araujo Braga, sem ônus da sucumbência.

RECURSO ESPECIAL N. 75.120-SP (95.0048529-0)

Relator: Ministro William Patterson

Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social —INSS

Advogados: Cleci Gomes de Castro e outros

Recorrida: Carolina Menussi Duque

Advogados: Ana Luciene Martins Garcia e outros

EMENTA

Previdenciário. Trabalhador rural. Aposentadoria. Prova.

Conforme jurisprudência iterativa da Egrégia Terceira Seção

deste Tribunal, a comprovação de atividade rural, para fins de

aposentadoria do obreiro, deverá assentar-se em inícios materiais,

pois insufi ciente, nos termos da legislação previdenciária, a prova

exclusivamente testemunhal.

Page 472: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

472

Precedentes do STJ.

Recurso conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso especial, nos

termos do voto do Sr. Ministro Relator. Votaram os Srs. Ministros Luiz Vicente

Cernicchiaro, Anselmo Santiago, Vicente Leal e Adhemar Maciel.

Brasília (DF), 24 de outubro de 1995 (data do julgamento).

Ministro Adhemar Maciel, Presidente

Ministro William Patterson, Relator

DJ 18.12.1995

RELATÓRIO

O Sr. Ministro William Patterson: Trata-se de recurso especial ancorado

na letra a do item III do art. 105 da Constituição contra acórdão unânime do

TRF-3ª Região, assim ementado:

Previdenciário. Aposentadoria por idade. Rurícola. Comprovação da atividade.

Honorários advocatícios. Recurso parcialmente provido.

1 - Não é necessário, em se tratando de trabalhador rural, que a prova do

exercício dessa atividade seja exclusivamente documental, bastando, para tanto,

a prova testemunhal, como na espécie, eis que o Magistrado, no exercício de

seu mister, apreciará livremente as provas carreadas aos autos, haja vista não

existir, no sistema processual brasileiro, hierarquia entre qualquer uma delas.

Inteligência do art. 131 do CPC. Precedentes da Corte.

2 - Honorários advocatícios reduzidos ao índice de 15% do montante da

condenação.

3 - Apelação parcialmente provida. (Cfr. fl . 46)

Em seu apelo, insurge-se o INSS, a dizer contrariados dispositivos insertos

na Lei n. 8.213/1990, que, para fi ns de concessão do benefício em tela, exigem

início de prova material do tempo de serviço no campo e, ainda, violação ao

Page 473: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 447-473, julho 2010 473

disposto nos §§ 3º e 4º do art. 20 do CPC, no que se refere à fi xação dos

honorários.

Sem contra-razões, o recurso foi admitido por despacho de fl s. 59-60.

Nesta Instância, dispensei a audiência o MPF.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro William Patterson (Relator): Consoante orientação que veio

a prevalecer nesta Corte, para efeito de obtenção de benefícios previdenciários,

não se presta a comprovar atividade rural, prova exclusivamente testemunhal,

porquanto necessário início de prova material.

É ver-se, entre valiosos precedentes:

Previdenciário. Trabalhador rural. Aposentadoria por invalidez. Exigências

legais.

Valoração da prova. Inexistindo qualquer início de prova material tocante à

atividade rurícola do benefi ciado, ainda que seja pela sua qualifi cação profi ssional

em atos do registro civil, no mister não cabe valorar a “prova exclusivamente

testemunhal”. (REsp n. 66.336-SP, Rel. Min. José Dantas, DJ de 28.08.1993).

Previdenciário. Processual Civil. Trabalhador rural. Aposentadoria por idade.

Prova da atividade rurícola. Início razoável de prova documental.

A jurisprudência da Egrégia Terceira Seção consolidou o entendimento de

que, para fi ns de obtenção de aposentadoria previdenciária por idade, deve o

trabalhador rural provar sua atividade no campo por meio de, pelo menos, início

razoável de prova documental, sendo suficiente as anotações do registro do

casamento civil.

Recurso especial não conhecido. (REsp n. 63.757-SP, Rel. Min. Vicente Leal, DJ

de 19.06.1995).

Assim, e considerando prejudicada a apreciação do apelo, no que diz

respeito à fixação das verbas honorárias, conheço do recurso e dou-lhe

provimento.

Page 474: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 475: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

Súmula n. 150

Page 476: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 477: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULA N. 150

Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico

que justifi que a presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas

públicas.

Referência:

CF/1988, art. 109, I.

Precedentes:

CC 171-RO (2ª S, 28.06.1989 — DJ 21.08.1989)

CC 2.157-RS (2ª S, 10.06.1992 — DJ 29.06.1992)

CC 2.311-GO (2ª S, 26.08.1992 — DJ 21.09.1992)

CC 2.753-SE (2ª S, 10.06.1992 — DJ 14.09.1992)

CC 6.170-SP (1ª S, 09.11.1993 — DJ 06.12.1993)

CC 7.570-RJ (1ª S, 19.04.1994 — DJ 09.05.1994)

CC 11.149-SP (2ª S, 14.12.1994 — DJ 03.04.1995)

REsp 51.822-SP (4ª T, 25.10.1994 — DJ 21.11.1994)

REsp 52.726-SP (4ª T, 21.02.1995 — DJ 27.03.1995)

Corte Especial, em 07.02.1996

DJ 13.02.1996, p. 2.608

Page 478: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 479: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 171-RO (89.0007374-5)

Relator: Ministro Barros Monteiro

Partes: Ismael dos Santos e cônjuge, e Glória Sanches Garcia

Suscitante: Juízo Federal da 1ª Vara-RO

Suscitado: Juízo de Direito da 2ª Vara Cível de Vilhena-RO

Advogado: Sergio Zippin

EMENTA

Processual Civil. Competência.

Relação jurídica obrigacional restrita a particulares. Causa em

que a União Federal não possui interesse algum. Competência da

Justiça Federal para decidir sobre interesse jurídico na interveniência

da União. Confl ito procedente, declarada a competência do Juízo-

suscitado.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer

do confl ito para declarar competente o Juízo de Direito da 2ª Vara Cível de

Vilhena-RO, o suscitado, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes

dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Custas, como

de lei.

Brasília (DF), 28 de junho de 1989 (data do julgamento).

Ministro Bueno de Souza, Presidente

Ministro Barros Monteiro, Relator

DJ 21.08.1989

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Barros Monteiro: Trata-se de conflito negativo de

competência suscitado pelo Juiz Federal da Seção Judiciária de Rondônia

Page 480: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

480

nos autos da ação ordinária de rescisão contratual (compromisso de compra e

venda), por haver-lhe o Juízo da 2ª Vara Cível de Vilhena remetido o feito, sob

alegação de que o imóvel objeto da demanda teve a sua perda decretada em

favor da União.

O parecer da Subprocuradoria Geral da República é pela competência do

MM. Juiz de Direito suscitado nesses termos:

Revelam os autos que a ação ordinária objetiva a rescisão de um contrato de

compromisso de compra e venda, entre partes dois particulares, relativo a um

imóvel rural situado no Município de Vilhena, na Linha 155, Projeto Corumbiara,

gleba Guaporé, na qual a União, na Justiça Federal, deixou de manifestar o seu

interesse na causa, com base em informação do INTER, declarando que “... o

imóvel objeto da lide está situado em áreas de Projeto Fundiário, as quais não

estão vedadas suas transferências...”

O Juiz de Direito suscitado declinou de sua competência sob o fundamento de

que o referido imóvel teve a sua perda decretada por sentença em favor da União,

que foi citada como litisconsorte necessário na Justiça Estadual (fl . 9).

Entendemos, no entanto, que com razão está o Juízo suscitante ao dizer que

“... data venia a competência efetivamente é da Justiça Estadual, isto porque o

objeto da demanda circunscreve-se apenas e tão somente na esfera do direito

obrigacional, inexistindo qualquer discussão sobre posse ou propriedade.”

Por outro lado, conforme constitui jurisprudência dessa colenda Corte, o Juízo

competente para decidir se há interesse jurídico na interveniência da União é a

própria Justiça Federal, daí não ser vinculativa a citação dela promovida na Justiça

Estadual para a integração no feito, em razão de ter de ser demonstrado e julgado

o referido interesse no foro federal.

O parecer, por conseguinte, é para que se declare competente o Juiz de Direito

suscitado.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Barros Monteiro (Relator): Ainda que na esfera penal se

tenha decretado a perda do imóvel em favor da União (não há nos autos prova

desse fato), a competência para processar e julgar a espécie é do Juízo suscitado.

Cuida-se, com efeito, de litígio, que versa sobre relação jurídica obrigacional

restrita aos particulares apenas. Não possui a União Federal interesse algum na

causa, conforme declarou (fl . 16). E, como assinalou o parecer supra referido, o

Page 481: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 475-509, julho 2010 481

Juízo competente para decidir se há interesse jurídico na interveniência da União

é a própria Justiça Federal, daí não ser vinculativa a citação dela promovida na

Justiça Estadual. No sentido enunciado assentara por sinal, o Egrégio Tribunal

Federal de Recursos (Embargos Infringentes em AC n. 79.116-RJ, Rel. Min.

Nilson Naves).

Pelo exposto, conheço do conflito e declaro competente o MM. Juiz

suscitado.

É como voto.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 2.157-ES (91.0012344-7)

Relator: Ministro Eduardo Ribeiro

Suscitante: Juízo Federal da 3ª Vara-ES

Suscitado: Juízo de Direito da Vara dos Feitos da Fazenda Pública de

Vitória-ES

Autor: Florival Gomes da Silva

Advogado: Mário Alves de Lima

EMENTA

Confl ito de competência. Inexistência.

Requerida a citação da União, cabe ao Juiz Federal sobre isso

decidir.

Correta, pois, a decisão do Juiz Estadual que declinou da

competência para a Justiça Federal. Se, entretanto, no foro federal, é

indeferido o requerimento de citação, cessa a causa que determinou

sua competência. Os autos haverão de ser simplesmente devolvidos ao

Juiz Estadual. Inexistência de confl ito.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos

Page 482: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

482

e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do confl ito.

Votaram com o Relator os Srs. Ministros Dias Trindade, Athos Carneiro,

Waldemar Zveiter, Fontes de Alencar, Cláudio Santos, Sálvio de Figueiredo e

Barros Monteiro. Ausente, nesta assentada, o Sr. Ministro Nilson Naves.

Brasília (DF), 10 de junho de 1992 (data do julgamento).

Ministro Bueno de Souza, Presidente

Ministro Eduardo Ribeiro, Relator

DJ 29.06.1992

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Florival Gomes da Silva requereu,

para fazer prova junto ao Ministério do Exército, retifi cação de registro civil.

Pretende que lhe seja reconhecido o direito às vantagens previstas na Lei n.

5.015/1967. Com base na Súmula n. 120 do TFR, pediu fosse citada a União e

o MM. Juiz de Direito da Vara da Fazenda Pública Estadual de Vitória, perante

o qual ajuizado o feito declinou da competência, atribuindo-a à Justiça Federal,

que suscitou confl ito.

Opina o Ministério Público por que se reconheça a competência da

suscitada — Vara da Fazenda Pública Estadual de Vitória, Estado do Espírito

Santo.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro (Relator): Agiu bem o ilustre Juiz Estadual

ao declinar da competência. Requerida a citação da União, não lhe cabia decidir

se esta poderia ou não fi gurar na causa. Competia à Justiça Federal determinar

que aquela se fi zesse ou declarar inexistir razão para isso. O eminente Juiz

Federal optou por esta última solução, afi rmando inexistir interesse da União.

Decidiu no exercício de sua competência. Ao fazê-lo, entretanto, fez cessar a

razão que determinava fosse competente o foro federal. Não havia motivo para

suscitar confl ito. A causa fora-lhe submetida por ter sido pedida a citação da

União. Indeferida esta, afastado o motivo que levava a que fosse o competente,

os autos haveriam de ser simplesmente devolvidos ao Juiz Estadual.

Page 483: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 475-509, julho 2010 483

Não conheço do confl ito, devendo remeter-se cópia do acórdão a ambos os

juízes envolvidos.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 2.311-GO (91.177628)

Relator: Ministro Dias Trindade

Autor: Guilherme Dicier Santana

Réus: José Paulino da Silva e outros

Suscitante: Juízo Federal da 2ª Vara-GO

Suscitado: Tribunal de Justiça do Estado de Goiás

Advogados: Edmilson Francisco de Menezes e outro e Altair Garcia

Pereira

EMENTA

Confl ito de competência. Ação possessória. Interesse de autarquia

federal.

Compete ao Juízo Federal decidir sobre o interesse manifestado

por autarquia federal, no sentido de fi gurar como assistente de uma

das partes em litígio.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da

Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos

e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e

declarar competente o Juízo Federal em Tocantins-TO, nos termos do voto do

Sr. Ministro Relator. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Athos Carneiro,

Waldemar Zveiter, Fontes de Alencar, Sálvio de Figueiredo, Barros Monteiro, Nilson

Naves e Eduardo Ribeiro. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Cláudio

Santos.

Brasília (DF), 26 de agosto de 1992 (data do julgamento).

Page 484: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

484

Ministro Bueno de Souza, Presidente

Ministro Dias Trindade, Relator

DJ 21.09.1992

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Dias Trindade: Confl ito negativo de competência entre

o Juízo Federal da Segunda Vara de Goiás e o Tribunal de Justiça do Estado

de Goiás para processar e julgar ação de reintegração de posse promovida por

Guilherme Decier Santana e outro contra José Paulino da Silva e outros.

Processado o recurso vieram os autos a este Tribunal onde o Ministério

Público opina pelo conhecimento do confl ito a fi m de que a Justiça Federal do

Estado do Tocantins se manifeste sobre o interesse do Incra.

É como relato.

VOTO

O Sr. Ministro Dias Trindade (Relator): A autarquia encarregada da

reforma agrária, de natureza federal, interveio no processo possessório, na

qualidade de assistente, sem que até o momento se tenha decidido sobre o

interesse da referida entidade, o que somente poderá ser feito pelo Juiz Federal,

sem relevo a circunstância de se encontrar a área em litígio incluída em outra

que passou ao patrimônio do Estado de Tocantins, por determinação legal e de

haver ação discriminatória em curso no Juízo Estadual.

Isto posto, voto no sentido de conhecer do confl ito, para determinar a

competência do Juiz Federal da Seção Judiciária de Tocantins, para decidir

sobre o interesse da autarquia federal.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 2.753-SE

Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo

Autor: Petrotec Transportes S/A

Page 485: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 475-509, julho 2010 485

Advogados: Luiz Antonio S. Silva e outros

Ré: Petrobrás Mineração S/A Petromisa

Advogados: Silvio Santana Filho e outros

Suscitante: Juízo Federal da 2ª Vara da Seção Judiciária do Estado de

Sergipe

Suscitado: Juízo de Direito da 3ª Vara Cível de Aracaju-SE

EMENTA

Competência. Conflito. Assistência. Inexistência de interesse da

União. Confl ito não conhecido.

I - A competência para declarar eventual interesse da União é da

Justiça Federal, consoante iterativa jurisprudência.

II - Inadmitindo o juiz federal a assistência da União, impõe-se

o retorno dos autos à Justiça Estadual e não a suscitação do confl ito.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda

Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do confl ito. Votaram

com o Relator os Ministros Barros Monteiro, Eduardo Ribeiro, Dias Trindade,

Athos Carneiro, Waldemar Zveiter, Fontes de Alencar e Cláudio Santos.

Ausente, nesta assentada, o Ministro Nilson Naves.

Brasília (DF), 10 de junho de 1992 (data do julgamento).

Ministro Bueno de Souza, Presidente

Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Relator

DJ 14.09.1992

EXPOSIÇÃO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo: O douto parecer do Parquet federal,

antes de manifestar-se pela competência da Justiça estadual, suscitada, assim

resumiu a espécie:

Page 486: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

486

Trata-se de ação cautelar inominada movida pela Petrotec Transportes S/A

contra a Petromisa, empresa de economia mista, subsidiária da Petrobrás S/A, em

liquidação.

O Juízo Estadual, acatando preliminar da empresa ré, declinou de sua

competência em favor do Juízo Federal.

No Juízo Federal o Eminente Procurador da República requereu a admissão da

União Federal no feito, na condição de assistente da ré, fulcrado no art. 20 da Lei

n. 8.029/1990 que preceitua:

A União sucederá a sociedade que venha a ser extinta ou dissolvida, nos

seus direitos e obrigações (...).

O preclaro juiz federal suscitou confl ito negativo de competência, perante o

Tribunal Regional Federal, porque:

(...)

Deve-se dar ao contido no art. 20 da Lei n. 8.029, de 12.04.1990, a

conotação devida.

A União sucederá a sociedade que venha a ser extinta ou dissolvida,

enfatiza o legislador. A sociedade extinta ou dissolvida não é o mesmo

que sociedade em liquidação. Só depois de encerrada a liquidação é que

a sociedade alcançará a condição de extinta ou dissolvida, ocasião em

que assumirá os direitos e obrigações decorrentes de norma legal, ato

administrativo ou contrato, bem assim nas demais obrigações pecuniárias,

da sociedade liquidada, passando a condição de titular no pólo ativo e

passivo.

(...)

Nestes termos, a competência da Justiça Federal não se fi rma, porque

o interesse da União, por ser a sucessora, não chega a se constituir, no

momento, em interesse jurídico a legitimar a atuação da Justiça Federal.

A demanda presente envolve contrato firmado pela ré antes da

liquidação, o que deve ser resolvido na liquidação, por ser de sua inteira

alçada.

Aduzo que o ilustre Relator, no egrégia Tribunal Regional Federal da 5ª

Região, determinou a remessa dos autos a este Tribunal.

É o relatório.

Page 487: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 475-509, julho 2010 487

VOTO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo (Relator): O juiz federal suscitante

não acolheu o pedido de assistência da União, formulado pelo Procurador da

República à fl . 33, negando o seu interesse no feito, mediante a afi rmativa de que

ela somente sucederá a sociedade após a sua extinção ou dissolução, hipóteses

com as quais não se identifi ca a liquidação.

A competência para declarar o interesse da União no feito é da Justiça

Federal, consoante iterativa jurisprudência desta Segunda Seção e deste

Tribunal.

In casu, não vislumbro confl ito negativo, que pressupõe dois juízes negando

sua competência para a apreciação da causa.

O Juiz Estadual, suscitado, diante do requerimento de assistência

formulado pela União Federal, andou bem em encaminhar os autos à Justiça

Federal, competente para dele conhecer e decidir.

Declarada, na esfera judiciária competente, a inexistência de interesse da

União a justifi car seu pedido de assistência, cumpria ao Juiz Federal encaminhar

os autos ao Juízo de origem, a fim de que este prosseguisse no regular

processamento do feito. Nesse sentido decidiu a Primeira Seção desta Corte,

ao julgar o Confl ito de Competência n. 140-RJ (DJ 02.10.1989), relatado pelo

Sr. Ministro Carlos Mário Velloso, cujo acórdão guarda a seguinte ementa, com

inteira pertinência na espécie:

Processual Civil. Intervenção da União na causa. Não admissão dessa

intervenção. Inocorrência de confl ito de competência.

I - Não acolhendo o Juiz Federal o pedido de intervenção na causa formulada

pela União Federal, poderá essa decisão ser revista pelo Tribunal Regional Federal

competente, se dessa decisão tiver sido interposto o recurso cabível. O fato de

o juiz não ter acolhido o pedido de intervenção da União na causa não traduz

ocorrência de confl ito negativo de competência, porque, se a mencionada decisão

passar em julgado, não será da Justiça Federal a competência para processar

e julgar a ação. O mesmo poderá ser dito, no caso de o Tribunal, apreciando o

recurso, confi rmar a decisão do juiz de 1º grau.

II - Confl ito negativo de competência não conhecido.

Também esta Segunda Seção adotou entendimento afeiçoado a essa

orientação, quando do julgamento do Confl ito n. 1.741-BA (DJ de 12.08.1991)

da relatoria do Sr. Ministro Waldemar Zveiter, com a seguinte ementa:

Page 488: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

488

Processual Civil. Conflito de Competência. Ação de reintegração de posse

proposta por cooperativa habitacional. Caixa Econômica Federal. Credora

hipotecária. Assistente. Interesse jurídico inexistente.

I - Para que ocorra a intervenção da CEF no feito, necessário haja o interesse

jurídico. Inexistindo este, não poderá ela fi gurar como assistente, em qualquer

das modalidades. Cabe ao Dr. juiz de 1º grau decidir a respeito, admitindo ou

não a assistência simples, já que a litisconsorcial foi recusada. Admitida aquela,

a competência será do Juízo Federal. Caso contrário excluído o ente federal, os

autos retornarão à Justiça Estadual, inexistindo, no caso, confl ito.

II - Confl ito conhecido, para declarar-se competente a Justiça Federal.

No caso vertente, tendo o Juiz Federal recusado a assistência, excluindo,

via de conseqüência, o ente federal, impunha-se o retorno dos autos à Justiça

Estadual e não a suscitação do confl ito.

Nestes termos, do confl ito não conheço, determinando a remessa dos autos

ao MM. Juízo Estadual, da 3ª Vara Cível de Aracaju-SE, dando-se ciência desta

decisão, por cópia, ao MM. Juízo Federal, suscitante e ao eminente Relator no

TRF, 5ª Região.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 6.170-SP (93.0027308-6)

Relator: Ministro Garcia Vieira

Autores: Cândido José Marcos e cônjuge

Réu: Banco Bradesco S/A

Suscitante: Juízo de Direito da 8ª Vara Cível de Osasco-SP

Suscitado: Juízo Federal da 6ª Vara-SP

Advogados: Célio Rodrigues Pereira e Luciano Teixeira Leite e outros

EMENTA

Competência. Ação na qual se pleiteia a incidência do IPC sobre

depósitos de cruzados bloqueados.

Compete ao Juiz Federal decidir se há ou não interesse da União.

Page 489: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 475-509, julho 2010 489

A competência para dirimir controvérsia sobre a liberação de

cruzados novos e demais questões decorrentes é da Justiça Federal.

Precedente desta Corte.

Confl ito conhecido e declarada a competência do MM. Juízo

Federal da 6ª Vara da Seção Judiciária do Estado de São Paulo.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Exmos. Srs. Ministros

da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar

competente o Juízo Federal da 6ª Vara-SP, suscitado, nos termos do voto do Sr.

Exmo. Ministro Relator. Votaram com o Relator os Exmos. Srs. Ministros

Hélio Mosimann, Peçanha Martins, Demócrito Reinaldo, Gomes de Barros,

Milton Pereira, Cesar Rocha e José de Jesus Filho. Ausente, justifi cadamente, o

Exmo. Sr. Ministro Pádua Ribeiro.

Brasília (DF), 09 de novembro de 1993 (data do julgamento).

Ministro Américo Luz, Presidente

Ministro Garcia Vieira, Relator

DJ 06.12.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Garcia Vieira: Trata-se de conflito de competência

instaurado entre o MM. Juiz Federal da 6ª Vara da Seção Judiciária de São

Paulo e o MM. Juiz de Direito da 8ª Vara Cível de Osasco-SP para apreciar e

julgar ação ordinária ajuizada por particular contra o Banco Central do Brasil

e o Banco Brasileiro de Descontos S/A, objetivando a incidência do índice do

IPC, do IBGE, sobre os depósitos de sua conta corrente no Bradesco, bloqueada

em 15.03.1990.

Sustenta o ilustre suscitante - Juízo de Direito da 8ª Vara Cível de Osasco

- que:

Não pretendo aqui discutir se o Banco Bradesco é ou não parte legítima. O

ponto crucial da questão, a cujo respeito silenciou a douta Juíza suscitada, diz

Page 490: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

490

respeito à lide secundária instaurada no momento em que o réu, com base no

art. 70 do estatuto processual, requereu a citação, na condição de denunciados,

da União e do Banco Central. Releva aqui recordar que a denunciação cria uma

segunda lide dentro da ação principal. Em outras palavras, existem no bojo dos

autos duas ações: uma movida pelos autores contra o Bradesco e outra movida

pelo Bradesco contra os litisdenunciados.

A partir desse instante, cessou a competência da Justiça Estadual, incidindo

de forma soberana o comando do art. 109, inciso I, da Lei Maior. O cabimento da

denunciação, ou seja, o deferimento ou não do processamento da lide secundária,

já escapa à área de jurisdição desta Vara. Seja a simples prolação de um “cite-se”

ou o fundamentado indeferimento da denunciação, qualquer ato consistirá na

apreciação de uma ação movida contra a União e o Banco Central; e para essa

apreciação a competência, de índole absoluta, é da Justiça Federal. (fl . 4)

Ofi ciando no feito, a douta Subprocuradoria-Geral da República opinou

pela competência da Justiça Estadual (fl s. 49-63).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Garcia Vieira (Relator): Sr. Presidente, esse procedimento

sumaríssimo movido contra o Banco Bradesco S/A, pedem os autores seja o réu

condenado a pagar-lhes a diferença de correção monetária entre o valor aplicado

e o IPC, do IBGE (doc. de fl s. 6-11).

O réu, em sua contestação (doc. de fl s. 14-38), pediu a denunciação à lide

da União e do Banco Central do Brasil (fl . 31).

Ora, compete ao Juiz Federal decidir se há ou não interesse da União e

a MM. Juíza Federal suscitada não examinou se existia ou não o interesse da

União e do Banco Central nesta ação.

De qualquer sorte, esta Egrégia Seção, no Conflito de Competência

n. 3.537-4-SP, Relator o Exmo. Ministro Hélio Mosimann, julgado no dia

20.04.1993, fi rmou o entendimento de que compete à Justiça Federal dirimir

controvérsia sobre a liberação de cruzados novos e demais questões decorrentes.

Constou da ementa desse julgado que:

Embora liberados os cruzados novos, permanece a discussão sobre outras

parcelas. Para dirimir a controvérsia, cabendo ao Banco Central a responsabilidade

Page 491: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 475-509, julho 2010 491

pela guarda da grande massa de ativos financeiros, competente é a Justiça

Federal.

Por ocasião deste julgamento, salientou o Eminente Ministro Relator que:

Dissentem entre si Juiz Federal e Juiz Estadual, quanto à competência para

processar e julgar ação objetivando a liberação de cruzados novos, bem como

a incidência de correção monetária no período de 1º a 15 de março de 1990,

proposta contra estabelecimentos bancários e o Banco Central do Brasil.

A ilustrada Subprocuradoria-Geral da República colocou a espécie nos

seguintes termos, verbis:

Pela Lei n. 8.024/1990 em que se converteu a MP n. 168, o bloqueio dos

ativos fi nanceiros em poder dos bancos fi cou à disposição do órgão federal,

o Banco Central, que passou a administrá-los, “na qualidade de gestor da

política econômica implantada pelo Plano Brasil Novo”.

Assim, cabendo ao Banco Central a responsabilidade pela guarda e

disponibilidade da grande massa de ativos fi nanceiros, obrigatoriamente

há de integrar pleitos como os de que tratam estes autos, e, via de

conseqüência, consoante o art. 109, I, da CF a competência é da Justiça

Federal. Assim, procede a irresignação do juiz estadual suscitado.

Com efeito, o entendimento jurisprudencial desta Corte é pela competência da

Justiça Federal. Só não se julga prejudicado o confl ito porque, embora liberados

os cruzados, permanece a discussão em torno de outras parcelas não liberadas.

Para decidir a questão subsiste a competência da Justiça Federal.

Conheço do confl ito e declaro competente o Juízo Federal da 6ª Vara da

Seção Judiciária de São Paulo, o suscitado.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 7.570-RJ (94.0004248-5)

Relator: Ministro Antônio de Pádua Ribeiro

Autora: Companhia Siderúrgica Nacional — CSN

Advogados: Carlos Roberto de Almeida Leal e outros

Réu: Estado do Rio de Janeiro

Advogados: Letácio Jansen e outros

Page 492: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

492

Suscitante: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro

Suscitado: Tribunal Regional Federal da 2ª Região

EMENTA

Processual Civil. Competência. Ação civil pública. Agravo de

instrumento. Companhia Siderúrgica Nacional.

I - Encontrando-se o agravo de instrumento no Tribunal de

Justiça, a União Federal ingressou no feito na qualidade de assistente

facultativo da Companhia Siderúrgica Nacional, tendo aquela Corte

determinado a remessa dos autos ao Tribunal Regional Federal da

2ª Região. Recebendo os autos, a Corte Regional Federal afastou

o interesse da União Federal de intervir no processo e ordenou a

devolução dos autos ao Tribunal Estadual, que suscitou o presente

confl ito, insistindo na existência de interesse da União. Todavia, é

da competência da Corte Federal e não da Estadual decidir sobre a

ocorrência de interesse do ente federal.

II - Confl ito de que se conhece, a fi m de declarar-se a competência

do Tribunal de Justiça para prosseguir no julgamento do feito.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima

indicadas, decide a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na

conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas anexas, por unanimidade,

conhecer do confl ito e declarar competente o Tribunal de Justiça do Estado

do Rio de Janeiro, suscitante, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os

Srs. Ministros Garcia Vieira, Hélio Mosimann, Peçanha Martins, Demócrito

Reinaldo, Humberto Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira, Cesar Asfor

Rocha e Américo Luz votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 19 de abril de 1994 (data do julgamento).

Ministro José de Jesus Filho, Presidente

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Relator

DJ 09.05.1994

Page 493: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 475-509, julho 2010 493

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Perante o TRF – 2ª Região, a

ilustre Relatora, Juíza Tania Heine, assim expôs a controvérsia (fl s. 468-469):

Trata-se de Agravo de Instrumento interposto pela Companhia Siderúrgica

Nacional, de decisão proferida pelo MM. Juiz de Direito da 3ª Vara Cível da

Comarca de Volta Redonda-RJ, que nos autos da Ação Civil Pública por danos

causados ao meio-ambiente contra ela proposta pelo Estado do Rio de Janeiro,

deferiu medida liminar, cominando multa diária no valor equivalente a 1.000 (mil)

OTNs — Obrigações do Tesouro Nacional.

Alega a agravante, em resumo: a) decisão não fundamentada; b) ausência de

prova concreta da responsabilidade material da ré; c) ausência do periculum in

mora e fumus boni iuris; d) o pedido liminar confunde-se com o mérito da lide e, e)

vinculação da ré à União Federal.

Ante o exposto, requereu a reconsideração da decisão agravada, para tornar

sem efeito a medida liminar decretada, ou caso assim não fosse entendido, que

recebesse a presente como agravo de instrumento de 2ª Instância.

Formado o instrumento de agravo, contraminutou o Estado do Rio de Janeiro

às fl s. 409-413, com promoção da Procuradoria Geral da Justiça às fl s. 416-417.

Após o preparo, foram os autos conclusos ao Magistrado Singular, que à fl . 422,

manteve a decisão agravada, determinando sua remessa ao Egrégio Tribunal de

Justiça.

Distribuído à Quinta Câmara Cível, o Procurador da Justiça à fl . 426 requereu

que se ofi ciasse à União Federal no sentido de informar seu interesse em intervir

no feito, como assistente, tendo o MM. Juiz, determinado a expedição do ofício.

A União Federal se manifestou à fl . 429, dizendo de seu interesse em intervir no

feito, na qualidade de assistente facultativo, requerendo a remessa dos autos ao

Supremo Tribunal Federal.

O agravo se manifestou às fl s. 433-436 e a agravante às fl s. 439-440.

Nova manifestação da União Federal às fl s. 441-441v.

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro juntou parecer às fl s. 445-450.

Levado em mesa, a Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do

Rio de Janeiro, decidiu, à unanimidade, declinar da competência, em favor do

Egrégio Tribunal Regional Federal do Rio de Janeiro (acórdão fl s. 452-454).

À fl . 460, foram os autos remetidos ao Ministério Público Federal junto a esta

Corte, que às fl s. 462-464 emitiu Parecer, no sentido de devolução dos mesmos

ao Tribunal de Justiça do Estado, para julgamento do agravo de instrumento,

face a inexistência de interesse da União Federal no feito. Anexou à fl . 465, ofício

requerido a Bolsa do Rio de Janeiro.

Page 494: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

494

A seguir aquela magistrada proferiu voto, acolhido pela Primeira Turma

daquela Corte Regional, no sentido de determinar a devolução dos autos

ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. O acórdão fi cou assim

ementado (fl . 473):

Processual Civil. Competência. Cia. Siderúrgica Nacional.

I - Encontrando-se o agravo de instrumento no Tribunal de Justiça, a União

Federal ingressou no feito na qualidade de assistente facultativo da Cia.

Siderúrgica Nacional, o que determinou a remessa dos autos a esta Corte.

II - Diante da privatização da agravante, desaparecendo, portanto, aquele

interesse da União Federal, a hipótese não é de confl ito negativo, pois afastada a

assistência, devem os autos retornar ao Tribunal Estadual.

Recebendo os autos, o Tribunal de Justiça suscitou o presente confl ito em

acórdão assim ementado (fl . 479):

Confl ito negativo de competência. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de

Janeiro e Tribunal Regional Federal da 2ª Região. Tendo ocorrido, por acórdão, a

declinação de competência, não pode o órgão jurisdicional declinado devolver,

simplesmente, os autos ao Tribunal de origem. Controvérsia competencial a ser

dirimida através de confl ito negativo, pelo órgão hierarquicamente superior. O

fato da União ter cedido o controle acionário de empresa estatal, não é obstáculo

à sua intervenção, como assistente, em processos movidos por ou frente a

companhia da qual é acionista minoritária. Argüição de confl ito. Inteligência do

art. 105, letra d da Constituição Federal.

Ofi ciando nos autos, a douta Subprocuradoria Geral da República, em

parecer do Dr. José Arnaldo da Fonseca, ilustre Subprocurador-Geral da

República, manifestou-se pela competência do Tribunal de Justiça (fl s. 485-

487).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): Ao suscitar o confl ito,

aduziu o acórdão do Tribunal de Justiça (fl s. 480-481):

Conforme se pode verifi car, em face da intervenção da União neste processo,

na condição de assistente (fl . 429), esta 5ª Câmara declinou da competência em

Page 495: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 475-509, julho 2010 495

favor do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, em expressa obediência à regra

competencial do art. 109, I, da Constituição Federal.

O órgão jurisdicional declinado, todavia, pelas razões invocadas a fl. 470,

simplesmente, devolveu os autos a este Tribunal, para que se prosseguisse com

o julgamento.

A providência adotada, no entanto, salvo melhor entendimento, está ao

arrepio das normas legais.

A uma, porque não se pode ignorar a existência de um acórdão e,

simplesmente, negar-lhe efeitos processuais.

A duas, porque o fato de ter a União leiloado 60% de suas ações ordinárias,

transferindo o controle acionário da Companhia Siderúrgica de Volta Redonda,

não lhe retira, em absoluto, o direito de, como acionista minoritário, intervir, como

assistente, quer em ações propostas pela sociedade quer em ações contra ela

intentadas.

O fato inconteste é que houve a intervenção da União, como assistente e,

conseqüentemente, a competência para julgar a demanda passou a ser da Justiça

Federal, à luz da regra constitucional acima citada.

Se o Tribunal Federal da 2ª Região entende que não tem competência para

a questão, o caminho adequado, data venia, era o da argüição de conflito

negativo de competência, a ser dirimido pelo Superior Tribunal de Justiça, órgão

hierarquicamente superior, nos termos do art. 105, d, da Constituição Federal.

Dessa forma, procurando evitar novos percalços, resolve a Câmara, por

unanimidade, suscitar o confl ito negativo, determinando a remessa dos autos ao

Egrégio Superior Tribunal de Justiça para as providências cabíveis.

Todavia, não assiste razão ao suscitante. Com efeito, manifestado o

interesse da União Federal perante o Tribunal de Justiça, cabia a este, como o

fez, determinar a remessa dos autos ao Tribunal Regional Federal para decidir

sobre a existência, ou não, do citado interesse de intervir no feito. Afastado

o interesse pela Corte Federal, incumbia a esta o procedimento que tomou:

devolver os autos à Corte Estadual para prosseguir no julgamento do processo.

Foi o que fez, segundo se depreende do voto da Relatora, que acolheu (fl . 470):

O presente agravo de instrumento foi interposto pela Companhia Siderúrgica

Nacional em face de liminar concedida nos autos de ação civil pública contra ela

proposta pelo Estado do Rio de Janeiro.

Já no âmbito do Tribunal de Justiça, a União Federal informou que tinha

interesse no feito, nele pretendendo ingressar como assistente facultativo e que

a competência seria deslocada para o Supremo Tribunal Federal, consoante o

disposto no art. 102, I, letra f da Constituição Federal (fl . 429).

Page 496: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

496

O Estado do Rio de Janeiro salientou que a União Federal não explicitou qual o

seu interesse nem a quem pretendia assistir.

À fl . 441 foi esclarecido que a União Federal, e não o Ministério Público Federal,

pretendia ingressar no feito como Assistente da Companhia Siderúrgica Nacional,

entidade de administração indireta federal.

Novos fatos, entretanto, vieram alterar a natureza jurídica da Companhia

Nacional, diante da sua privatização.

O Ministério Público Federal, junto a esta Corte, anexou o ofício de fl . 465

onde o Presidente da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro ofi cialmente informa que

60% das ações ordinárias da Companhia Siderúrgica Nacional foram alienadas a

empresas privadas, o que, obviamente, faz desaparecer o fundamento para o seu

ingresso na lide, como assistente facultativo.

Poder-se-ia suscitar um conflito negativo de competência, porém, como

o fundamento do acórdão de fl s. 452-454 foi o ingresso da União Federal na

qualidade de assistente, interesse que não mais persiste diante da situação

fática superveniente, voto no sentido de que os autos sejam devolvidos à Quinta

Câmara Cível do Tribunal de Justiça deste Estado, afastada a assistência da União

Federal, eis que não incide, no caso, a hipótese do art. 5º da Lei n. 8.197/1991 (pois

não se trata de Ministério Público) nem o art. 4º, item II, letra c do DL n. 200/1967.

Isto posto, conheço do confl ito e declaro competente o Egrégio Tribunal

de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 11.149-SP (94.0032578-9)

Relator: Ministro Waldemar Zveiter

Autor: Cajuci de Quadros

Réus: Banco Central do Brasil, Nossa Caixa — Nosso Banco S/A e Caixa

Econômica do Estado de São Paulo S/A — Ceesp

Suscitante: Juízo de Direito da 7ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo-

SP

Suscitado: Juízo Federal da 9ª Vara Cível da Seção Judiciária do Estado de

São Paulo

Advogado: Cajuci de Quadros (em causa própria)

Page 497: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 475-509, julho 2010 497

EMENTA

Processual Civil. Conflito de competência. Inexistência de

interesse do Banco Central do Brasil.

I - Compete ao Juízo Federal avaliar o interesse da União Federal

ou de seus entes no processo. Inexistindo este, deve simplesmente

remeter os autos ao Juízo Comum Estadual. Caso em que deixa de

existir confl ito, eis que não mais subsistente o motivo de declinatória

de competência.

II - Confl ito conhecido e declarado competente o suscitante.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos

e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e

declarar competente o Juízo de Direito da 7ª Vara da Fazenda Pública de São

Paulo-SP, o suscitante. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Fontes de

Alencar, Cláudio Santos, Sálvio de Figueiredo, Barros Monteiro, Ruy Rosado

de Aguiar, Antônio Torreão Braz, Costa Leite e Nilson Naves.

Brasília (DF), 14 de dezembro de 1994 (data do julgamento).

Ministro Eduardo Ribeiro, Presidente

Ministro Waldemar Zveiter, Relator

DJ 03.04.1995

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: À guisa de relatório, adoto a parte

expositiva do parecer da douta Subprocuradora-Geral da República (fl s. 21-22):

Cuida-se de ação ordinária declaratória interposta por Cajuci de Quadros contra

o Bacen, Nossa Caixa — Nosso Banco e Caixa Econômica do Estado de São Paulo S/A,

distribuída por dependência à medida cautelar em curso perante o Juízo da 9ª

Vara da Seção Judiciária do Estado de São Paulo.

Page 498: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

498

S. Exa. declinou da competência em favor da Justiça Estadual após excluir da

lide a autarquia federal, como lhe competia.

O confl ito foi suscitado pelo MM. Juízo de Direito da 7ª Vara da Fazenda Pública

de São Paulo-SP, porque:

(...)

O MM. Juízo suscitado aceitou a competência para a ação cautelar, que

não foi remetida a este juízo. Assim, era ele competente, como já se decidiu,

em caso similar a este.

Acrescento que a manifestação é pelo não conhecimento do confl ito.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator): Cuida-se de Ação Ordinária

objetivando a correção monetária do saldo referente a depósito em caderneta

de poupança, calculando-se-a com base no índice divulgado pelo IBGE, o IPC,

para o mês de março de 1990, relativo a cruzados novos bloqueados.

O entendimento consolidado na jurisprudência da Corte é no sentido de

que ao Juízo Federal compete avaliar o interesse da União Federal ou de seus

entes no processo.

Se o Juiz Federal excluiu do processo o Banco Central, por entender

inexistente o indigitado interesse, deveria simplesmente remeter os autos ao

Juízo Comum Estadual.

Caso em que deixa de existir o Confl ito, posto que não mais subsiste o

motivo do deslocamento da competência. Nesse mesmo sentido se decidiu,

dentre outros, no CC n. 10.181-6-SP, de minha relatoria (DJ de 05.12.1994).

Consoante anotado pela eminente Subprocuradora-Geral da República,

Dra. Yedda de Lourdes Pereira (fl . 23):

Este Superior Tribunal de Justiça, em numerosos precedentes, vem decidindo

que, se o Juízo Federal inadmite a denunciação à lide ou exclui da quaestio o

ente federal, desaparece o motivo que o levava a ser competente, não havendo

confl ito a ser dirimido. Deve, simplesmente, devolver os autos ao Juízo Estadual

(CC n. 3.998-7-SP, j. 30.03.1993; 4.869-1-SP, j. 16.06.1993; 3.863-6-DF, j. 10.03.1993;

4.137-4-RJ, j. 31.03.1993; 4.904-0-SP, j. 25.08.1993; 7.735-4-SP, j. 13.04.1994), não

cabendo ao Juiz Estadual, nem ao Superior Tribunal de Justiça, ao apreciar o

Page 499: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 475-509, julho 2010 499

confl ito, decidir quanto ao acerto ou desacerto ao provimento do Juiz Federal. O

eventual reexame do decido caberá ao Tribunal Regional Federal. Enquanto não

revista a decisão, terá o processo curso perante o Juiz Estadual (STJ - Segunda

Seção, CC n. 1.555-RS, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, j. 27.02.1991).

Com base nesses lineamentos, conheço do confl ito e dou como competente

o Juízo de Direito da Sétima Vara da Fazenda Pública de São Paulo-SP,

suscitante.

RECURSO ESPECIAL N. 51.822-SP (94.0023157-1)

Relator: Ministro Antônio Torreão Braz

Recorrente: União Federal

Recorrida: Dulce Helena Alves dos Santos

Advogado: Nilton Garrido Moscardini

EMENTA

Ação de usucapião. Intervenção da União. Competência.

Para intervir na causa, deve a União manifestar o seu interesse

jurídico, demonstrando a que título se dá essa intervenção. Entretanto,

só à Justiça Federal cabe dizer da existência desse interesse.

Recurso conhecido e provido em parte.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, dar provimento em parte ao recurso,

nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Votaram com o Relator os Srs.

Ministros Fontes de Alencar, Sálvio de Figueiredo, Barros Monteiro e Ruy

Rosado de Aguiar.

Brasília (DF), 25 de outubro de 1994 (data do julgamento).

Page 500: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

500

Ministro Fontes de Alencar, Presidente

Ministro Antônio Torreão Braz, Relator

DJ 21.11.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Antônio Torreão Braz: Da decisão monocrática que repeliu

o seu interesse jurídico em ação de usucapião e entendeu competente a Justiça

Estadual interpôs agravo de instrumento a União.

A Egrégia Oitava Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo

confi rmou o decisório de 1º grau, ensejando o presente recurso especial, à base

das alíneas a e c do permissivo constitucional, em que se alega contrariedade ao

art. 1º, alínea h, do Decreto-Lei n. 9.760/1946, além de dissídio interpretativo

com julgados do extinto Tribunal Federal de Recursos e do Tribunal Regional

Federal da 3ª Região.

Admitido o recurso pela letra c, subiram os autos a esta Corte, onde o

Ministério Público opinou pelo seu conhecimento e provimento.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Antônio Torreão Braz (Relator): O v. acórdão recorrido

tem a seguinte motivação (fl s. 74-75):

A alegação é a de que o imóvel situa-se em aldeamento indígena e que,

portanto, deve haver o deslocamento da competência para a Justiça Federal.

O texto constitucional, art. 20, XI, assevera como bens da União as terras

“tradicionalmente ocupadas pelos índios”. A verdade é que o legislador constituinte,

ao empregar o termo “tradicionalmente ocupadas pelos índios”, pretendeu, por

certo, banir as infi ndáveis perlengas em torno do que é ou não é “terra indígena”

porque, se a exceção não houvesse, todo o território nacional deveria passar pelo

crivo do Poder Judiciário, em sua esfera federal. Não é preciso ir muito longe

na história. Seria sufi ciente retroagir-se a um ou dois séculos, e quase todo o

território nacional perderia sua característica de propriedade particular.

A União não tem razão.

Nega-se provimento ao agravo.

Page 501: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 475-509, julho 2010 501

É cediço o entendimento, conforme ressaltado pelo saudoso Ministro

Rodrigues Alckmin em voto no STF (RE n. 75.832-GB), de que “deve a União

manifestar interesse legítimo para intervir no feito, indicando qual a relação

jurídica intercorrente entre ela e qualquer das partes, sujeita aos efeitos da

sentença a ser proferida” (RTJ vol. 68/845). Entretanto, só à Justiça Federal cabe

dizer da existência desse interesse, na conformidade da jurisprudência assente

no extinto TFR e no STF (Confl ito de Jurisdição n. 5.993-SP, Relator Ministro

Moreira Alves, RTJ vol. 78/398).

Destarte, o aresto impugnado está às testilhas com pelo menos o julgado

do Egrégio Tribunal Regional Federal da 3ª Região, trazido a confronto pela

recorrente.

Isto posto, conheço do recurso pela letra c e em parte lhe dou provimento,

a fi m de que, reformados o acórdão recorrido e a decisão de inferior instância,

sejam os autos remetidos à Justiça Federal de São Paulo, à qual compete, na

espécie, dizer sobre o interesse da recorrente na demanda.

RECURSO ESPECIAL N. 52.726-SP (94.24979-9)

Relator: Ministro Ruy Rosado de Aguiar

Recorrente: União

Recorridos: Honório Antunes de Souza e cônjuge

Advogados: Admir Valentim Braido e outros

Interessados: João Perez ou João Perez Andreo ou João Jesus Perez Andreo

— espólio e outros

EMENTA

Competência. União Federal. Usucapião. Aldeamento indígena.

Manifestado pela União seu interesse na causa, que versaria

sobre imóvel localizado em antigo aldeamento indígena, cabe à Justiça

Federal decidir sobre a existência do alegado interesse na causa.

DL n. 9.760/1946. Art. 20, I, da CR.

Recurso conhecido e provido.

Page 502: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

502

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso, nos termos

do voto do Sr. Ministro Relator. Votaram com o Relator os Srs. Ministros

Antônio Torreão Braz, Fontes de Alencar, Sálvio de Figueiredo e Barros Monteiro.

Brasília (DF), 21 de fevereiro de 1995 (data do julgamento).

Ministro Fontes de Alencar, Presidente

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Relator

DJ 27.03.1995

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Honório Antunes de Souza e

sua mulher agravaram da decisão do Dr. Juiz de Direito da 4ª Vara Cível de

São Caetano do Sul-SP, que ordenou a remessa à Justiça Federal dos autos

da ação de usucapião que tem por objeto imóvel integrante de área de antigo

aldeamento indígena.

A egrégia 4ª CC do TJSP admitiu a competência da Justiça Estadual e deu

provimento ao recurso em excelente acórdão, de lavra do Des. Alves Braga, do

seguinte teor:

II - A questão em exame merece breve estudo da Geopolítica conseqüente

do Tratado de Tordesilhas. Começa com a linha imaginária traçada pela Bula

Inter Coetera. Com a rejeição por Portugal do traçado original, fi cava claro que

não satisfazia aos Lusitanos a forma de repartição das terras do Novo Mundo,

desejando Portugal também partilhar as terras ocidentais. Alterada a linha traçada

pela Bula do Papa Alexandre VI, o Tratado só veio a ser aprovado pelo Papa Júlio

II, em 24 de janeiro de 1506, quando Pedro Álvares Cabral já havia tomado posse

das terras da América para Portugal, enquanto a Espanha estava a conquistar seu

quinhão.

Começa aí a grande diferença entre a América Portuguesa e América

Espanhola. O português na América era brasileiro e o brasileiro português. Os

espanhóis nunca foram americanos e, quando crioulo, se inferiorizava perante o

metropolitano. Era profunda a diferença de tratamento. O espanhol conquistou

militarmente o que pôde, para depois colonizar. O português o que tinha para

colonizar colonizou para depois conquistar.

Page 503: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 475-509, julho 2010 503

O regime das Capitanias Hereditárias, forma de descentralizar a Administração

e dar início à organização municipal lusitana, permitia que o donatário concedesse

sesmarias a particulares e respeitassem as aldeias indígenas. Foi assim que se

doaram as terras no sítio que se denominaram Aldeias de Pinheiros e São Miguel,

aos índios de Piratinim.

Pedro Lopes de Souza, irmão de Martin Afonso de Souza, Governador da

Capitania de São Vicente, pelo Capitão Jeronymo Leitão, em 12 de outubro de

1580, pela “carta de data de sesmaria” deferiu o pedido dos índios, concedendo-

lhes a área pedida e imediata posse de ditas terras, com seis léguas em quadra,

conforme documento abaixo transcrito:

Traslado da carta de data de sesmaria das terras dos índios.

Jeronymo Leitão, capitão desta capitania de São Vicente pelo Sr. Pedro

Lopes de Sousa capitão e governador della por-el-rei nosso Sr. etc. faço a

saber a todos os juízes e justiças offi ciaes e pessoas desta capitania que

esta minha carta de dada de terras de sesmarias de hoje para todo sempre

virem em como a mim enviaram a dizer os indios de Piratinim da aldeia dos

Pinheiros e da aldeia de Ururay por sua petição que os indios dos Pinheiros

até agora lavravam nas terras dos padres por serem indios christãos e as

ditas terras se vão acabando elles descendo esperam por outros do sertão

e haviam mister quantidade de terras para se poderem sustentar e se a

não tiverem por já ser dada aos portuguezes que lhes não sentem lavrar

nellas elles supplicantes serem naturaes das ditas terras que nasceram por

não saberem as não pediram mais cedo e se agora as não derem ser-lhes-á

forçado irem viver tão longe que não possam ser doutrinados o que não

será serviço de Deus nem de el-rei nosso Sr. nem proveito dos portuguezes

os quaes se defendem com os ditos indios... suas fazendas pelo que me

pediram que antes que as ditas terras se acabassem de dar houvesse

respeito serem elles naturaes da mesma terra e lhes desse de sesmarias

seis leguas de terras em quadra onde chamam Carapucuiba ao longo do

rio de uma parte e da outra começando donde acabarem as dadas de

Domingos Luiz e Antonio Preto e para os da aldeia de Ururay outras seis

leguas em quadra começando donde se acabam as terras que se deram a

João Ramalho e Antônio de Macedo que dizem que eram até onde chamam

Jaguaporeçaba e por serem muitos e cada vez mais pediam tanta terra no

que receberiam mercê o que... mandei o tabelião que passasse... aos indios

e vendo sua petição e as razões que nella allegam serem justas e outrosim

a maior parte delles serem christãos e terem suas igrejas estarem sempre

prestes para ajudarem a defender a terra e sustental-a o que fi zeram assim

em meu tempo como dos capitães passados pela informação que disso

tenho e ser-lhe necessário terras e façam seus mantimentos para sua

sustentação e visto como cada dia vem mais gentio para as ditas aldeias

o que tudo é proveito e bem da republica pelas quaes razões em nome do

Page 504: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

504

dito Sr. Pedro Lopes de Sousa e pelos poderes que delle para isso tenho

dou aos suplicantes no logar aonde o pedem seis leguas de terra são para

os indios da aldeia de Pinheiros seis leguas de terras em quadra no sítio

aonde pedem que é Carapucuiba ao longo do rio do umbiaçaba tanto

de um aparte como da outra ficando o dito rio no meio as quaes seis

leguas se começarão a medir assim de uma parte como da outra do rio

onde acabarem as derradeiras dadas que antes desta carta foram dadas

aos brancos a qual terra assim dou para os moradores da dita aldeia dos

Pinheiros que agora são e pelo tempo em diante forem para nellas fazerem

e lavrarem seus mantimentos com a condição da sesmaria e assim pela

mesma maneira dou seis leguas em quadra ao longo do rio Ururay para

os indios da aldeia do dito Ururay as quaes começarão a partir adonde

acabar a data de João Ramalho e de seus fi lhos e vão pelo dito rio correndo

tanto de uma parte como da outra e até se acabem as ditas seis leguas em

quadra as quaes dou para os moradores da dita aldeia que agora são e pelo

tempo em diante forem com as condições de sesmaria porque assim hei

por bem dar-lhe as ditas seis leguas de terras conforme a ordenação de el-

rei nosso Sr. de hoje para todo sempre para os ditos indios e serviço feito a

ordenança e regimento do dito governador que para as dar tenho para que

logo os mettam de posse dellas e as aproveitem com as ditas condições

de sesmarias lh-as hei por dadas como dito é com todas suas entradas e

sahidas e aguadeiros forras de todos os direitos somente dizimo a Deus e as

poderão roçar e mandar roçar sem lhe nisso ser posto duvida nem embargo

algum porque assim o hei por bem e esta será sellada com o sello do dito

Sr. governador e registrada no livro do tombo de sua capitania cumpri-o

assim e al não façaes dada sob meu signal em esta villa de São Vicente ao

doze dias do mez de outubro Antonio Rodrigues tabelião nesta dita villa

o fez por meu mandado de mil e quinhentos e oitenta... Jeronymo Leitão

pagou nada.

Cumpra-se Antão de Mesquita/Cumpra-se Sá fi ca registrada no livro

segundo que nesta provedoria e feitoria e alfandega serve onde se

registram as cartas das dadas de terras de sesmarias... cento e setenta e

nove na... cento e oitenta por mim Francisco Casado escrivão da ouvidoria

e feitoria e da dita alfandega nas capitanias de São Vicente e Santo Amaro

de que passei a presente certidão de registro por mim feita e assignada em

esta villa do porto de Santos aos trinta e um dias do mez de outubro de

mil e quinhentos e oitenta annos pagou nada Francisco Casado... (Registro

Geral da Camara Municipal de S. Paulo, 1583-1636 — Publicação Offi cial do

Archivo Municipal — 1917).

Esse documento é o marco inicial do Aldeamento dos Índios de Pinheiros, São

Miguel e Guarulhos. Extinto o Aldeamento, as terras abandonadas pelos índios

foram devolvidas à União pela Lei n. 1.114, de 17.09.1860, fi cando o Governo

autorizado a aforá-las.

Page 505: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 475-509, julho 2010 505

Terras devolvidas, são terras devolutas.

Aureliano Leal, comentando a Constituição Federal Brasileira de 1891, afi rma

que “terras públicas e terras devolutas, sim, são sinônimos, são as mesmas terras

devolutas ou ainda agora desocupadas” (Teixeira de Freitas, Cons.; p. 54; not. 19,

3ª ed.).

Para Pontes de Miranda terras devolutas não se confundem com a res nullius

ou terras adéspotas. Portanto, as terras que nunca foram da União, Estados,

Município ou de particulares, são terras sem dono e podem ser usucapidas (cf.

Tratado de Direito Privado, Tomo XII, p. 445, § 1.419, 1, ed. 2ª, Borsói).

Nem sempre a terra não registrada em nome de particular pode ser classifi cada

como devoluta. Pontes de Miranda, nesse passo, reduz esse conceito à sua

verdadeira dimensão. Diz ele: “A concepção de que ao Príncipe toca o que, no

território, não pertence a outrem, particular ou entidade de direito público, é

concepção superada. As terras ou são de particulares, ou do Estado, ou nullius.

Nem todas as terras que deixam de ser de pessoas físicas ou jurídicas se devolvem

ao Estado. Ao Estado vai o que foi abandonado, no sentido preciso do art. 589, III.

Ao Estado foi o que segundo as legislações anteriores ao Código Civil, ao Estado

se devolvia. A expressão “devolutas” acompanhando terras, a esse fato se refere.

O que não foi devolvido, não é devoluto. Pertence a particular, ou ao Estado, ou a

ninguém pertence. Quanto às terras que a ninguém pertencem e sobre as quais

ninguém tem poder, o Estado como qualquer outra pessoa física ou jurídica delas

pode tomar posse. Então é possuidor sem ser dono” (cf. op. cit., p. 440).

Barbalho, comentando o art. 64, parágrafo único. Constituição Federal de

1891, anota que já no Império as Províncias vinham deixando de ser meras

circunscrições administrativas para apresentarem contornos de autonomia,

conforme a reforma de 12.08.1834. As Províncias eram “consenhoras, com o

governo geral, dos próprios nacionais existentes ao tempo da proclamação da

República”. Decorre daí, como adverte Barbalho, o dispositivo ora comentado que

diz: “os próprios nacionais que não forem necessários para os serviços da União,

passarão ao domínio dos Estados em cujo território estiverem situados”.

Essa disposição constitucional constitui a base da partilha prometida pelo

Ato Adicional à Constituição. Do acervo geral seriam separados para a União

os próprios necessários aos seus serviços. Nos outros, anota Barbalho, “fi cam

aquinhoados os Estados, cabendo a cada um destes os bens que se acharem em

seus respectivos territórios e que não tenha tocado à União pelo fato de serem

desnecessários aos serviços dela” (cf. Comentários, 2ª edição, p. 362, F. Briguiet &

Cia. Editores, Rio, 1924).

Há na Delegacia do Patrimônio da União uma planta abrangendo as terras

objeto da carta de data da sesmaria que deu origem às terras dos índios,

envolvendo as terras dos aldeamentos de Pinheiros e São Miguel. Ocorre,

entretanto, que o perímetro defi nitivo fi cou na dependência da demarcatória na

forma do Decreto-Lei n. 9.760/1946, como dispõem seus arts. 15 e 18. Mas não

consta haja sido regularizada essa demarcação.

Page 506: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

506

Ora, elevadas as Províncias, circunscrições administrativas, à categoria de

Estado na República, não havia como negar-lhes autonomia e, conseqüentemente,

garantir a intangibilidade de seu território.

O art 1º do Decreto-Lei n. 960/1946 inclui entre os bens da União “os terrenos

dos extintos aldeamentos de índios e das colônias militares que não tenham

passado, legalmente, para o domínio dos Estados, Municípios ou particulares”.

O parecer da Procuradoria Geral de Justiça destaca esse aspecto do conceito

de terras indígenas.

O art. 21 da Constituição da República, em seu inciso IX, completa o rol dos

bens da União, incluindo “as terras ocupadas permanentemente pelos índios”.

No art. 234 o constituinte defi niu essas terras, não deixando dúvidas que excluiu

qualquer vinculação com antigos aldeamentos, hoje desaparecidos, até sem

vestígios, para serem engolidos pela expansão urbana devastadora.

Diz o § 1º do art. 234 mencionado, que “são terras tradicionalmente ocupadas

pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as que utilizam para

atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais

necessários a seu bem-estar e as necessárias à sua reprodução física e cultural,

segundo seus usos, costumes e tradições”.

Essas terras destinam-se à posse permanente dos índios, seus usufrutuários e

são inalienáveis, indisponíveis e imprescritíveis.

O primeiro pressuposto, diante do texto constitucional é que haja índio.

Em havendo, sejam as terras por eles habitadas em caráter permanente e

tradicionalmente. Vale dizer à moda do índio, como se estivesse, permanecesse

e continuasse em seu habitat natural, sem embargo da interferência do branco e

do negro, como não.

Ora, no caso se houvesse dúvida em relação à interpretação do art. 64,

parágrafo único da Constituição da República de 1891, força é convir que a

pequena área urbana, com apenas 103 m2, é objeto de Matrícula n. 10.432,

registrado no Registro de Imóveis da Comarca de 1986, figurando como

proprietário o Espólio de João Perez ou João Perez Adreó ou João Jesus Peres

Adréo.

Desde que o imóvel está registrado em nome de particular, não prevalece a

presunção de que as terras das quais foi desmembrado são consideradas bens

da União. Enquanto não desconstituído esse título, na via regular, prevalece erga

omnes a presunção de domínio em favor daquele em cujo nome o bem está

transcrito.

Basta esse aspecto para afastar o interesse da União no feito, na condição de

titular do domínio.

Observe-se que não compete à Justiça Federal decretar ou não a nulidade ou

anulação do registro.

Page 507: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 475-509, julho 2010 507

A União não conseguiu, diante do registro do título em nome de particular

e da conceituação constituição de terra dos índios, demonstrar seu interesse na

causa a justifi car a deslocação da competência.

A contestação da União, portanto, não se apresenta com um mínimo de

viabilidade, não passando de simples manifestação de interesse com o objetivo

de deslocar a competência da Justiça Estadual.

III - Ante o exposto e acolhendo o parecer da Procuradoria Geral de Justiça

é dado provimento ao recurso para fixar a competência do Juízo agravado,

prosseguindo-se na ação. (fl s. 56-66)

A União Federal ingressou com recursos extraordinário e especial, este

pelas alíneas a e c, do art. 105, III, da CR, alegando negativa de vigência ao

disposto no art. 1º, alínea h, do Decreto-Lei n. 9.760, de 05.09.1946:

Art. 1º Incluem-se entre os bens da União:

(...)

h) Os terrenos dos extintos aldeamentos dos índios e das colônias

militares que não tenham passado legalmente para o domínio dos Estados,

Municípios ou particulares.

Invocou também divergência com os julgados que cita (Ap. Cível n.

49.107-SP, do TFR; Ap. Cível n. 91.03.10304-8-SP, do TRF, da 3ª Região).

Foi admitido apenas o recurso especial fundado na alínea c.

A douta Subprocuradoria Geral da República opinou pelo provimento, nos

termos dos precedentes da Egrégia Terceira Turma (REsp n. 49.984 e 50.406).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Relator): 1. A União interveio no

feito na condição de ré, e contestou o pedido. Assim manifestado o seu interesse,

somente à Justiça Federal compete avaliar da sua procedência, conforme tem

sido reiteradamente decidido pela Egrégia Segunda Seção, ao julgar confl itos de

competência:

a) Competência. Conflito. Assistência. Inexistência de interesse da União.

Confl ito não conhecido. I - A competência para declarar eventual interesse da

União é da Justiça Federal, consoante iterativa jurisprudência. II - Inadmitindo

Page 508: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

508

o Juiz Federal a assistência da União, impõe-se o retorno dos autos à Justiça

Estadual e não a suscitação do confl ito. (CC n. 2.753, Relator eminente Ministro

Sálvio de Figueiredo, DJU 10.06.1992).

b) Competência. Litisconsórcio necessário. União. Tramitando o processo em

vara estadual e entendendo o juiz que se impõe a intervenção da União, como

litisconsorte necessária, declinará da competência para a Justiça Federal. Para isso

não se requer prévia manifestação do ente federal, pois se cuida de fi gurar como

réu e não lhe é dado, por deliberação própria, recusar essa posição. O Juiz Federal

decidirá sobre a presença da União, devolvendo os autos ao estadual se entender

descabida a intervenção. (CC n. 5.219, Relator eminente Ministro Eduardo Ribeiro,

DJU 26.10.1994).

c) Processual Civil. Confl ito de competência. Usucapião especial. Inexistência

de interesse da União Federal. I - Compete ao Juízo Federal avaliar o interesse da

União Federal ou de seus entes no processo. Inexistindo este, deve simplesmente

devolver os autos ao juízo de origem. Caso em que deixa de existir o confl ito, eis

que mais subsistente o motivo de declinatória de competência. II - Tratando-se de

usucapião especial (Lei n. 6.969/1981 e art. 191 da CF), a competência é do foro da

situação do imóvel (Súmula n. 11 do STJ). III - Confl ito conhecido para declarar-se

competente o juízo de Direito, suscitado (CC n. 10.181, Relator eminente Ministro

Waldemar Zveiter, DJU 26.10.1994).

Não sendo assim, ficaria com a Justiça Estadual proferir julgamento

sobre a existência do interesse da União na causa, com desatenção à regra de

distribuição de competência instituída na Constituição da República.

2. Na especificidade dos recursos oriundos de ações de usucapião de

terrenos localizados em antigos aldeamentos indígenas, os julgados das duas

Turmas da Segunda Seção tem se orientado em sentido diverso da conclusão a

que chegou o douto acórdão recorrido, como se pode ver no REsp n. 49.984-SP,

Rel. Min. Cláudio Santos, Terceira Turma, j. 30.08.1994; REsp n. 52.007-SP,

Rel. Min. Nilson Naves, Terceira Turma, j. 26.09.1994; REsp n. 52.752-SP, Rel.

Min. Nilson Naves, Terceira Turma, j. 11.10.1994.

O interesse da União decorreria do fato de constituir o imóvel bem de

propriedade da União, na forma do disposto no art. 20, I, da CR, e art. 1º, h, do

Decreto-Lei n. 9.760/1946.

Nestes casos, tenho sempre ressaltado que a remessa dos autos à Justiça

Federal é simplesmente para resguardo de sua competência na avaliação do

interesse da União, sem antecipar com isso a real existência do alegado interesse

na causa, para o que devem ser examinados os argumentos aduzidos no v.

acórdão recorrido.

Page 509: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (10): 475-509, julho 2010 509

3. Isto posto, conheço do recurso pelas duas alíneas e lhe dou provimento,

para restabelecer a decisão de 1º grau.

Page 510: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 511: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

Índice Analítico

Page 512: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 513: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

A

Ação de perdas e danos - CC, art. 178, § 10, IX - Lei n. 5.772/1971, art.

59 - Marca comercial - Prescrição qüinqüenal. Súmula n. 143-STJ. RSSTJ

10/283.

Arrendamento mercantil - Coisa móvel - Decreto-Lei n. 406/1968, art.

8° - Imposto Sobre Serviços (ISS) - Incidência - Lei Complementar n.

56/1987, item 79 - Lei n. 6.099/1974. Súmula n. 138-STJ. RSSTJ 10/91.

B

Base de cálculo - Salário-de-contribuição - Benefício acidentário - Decreto

n. 79.037/1976, art. 41, III - Decreto n. 83.080/1979, art. 261, parágrafo

único, III - Lei n. 6.367/1976, art. 6°, § 1° - Segurado - Novo acidente.

Súmula n. 146-STJ. RSSTJ 10/377.

Benefício acidentário - Base de cálculo - Salário-de-contribuição - Decreto

n. 79.037/1976, art. 41, III - Decreto n. 83.080/1979, art. 261, parágrafo

único, III - Lei n. 6.367/1976, art. 6°, § 1° - Segurado - Novo acidente.

Súmula n. 146-STJ. RSSTJ 10/377.

Benefício previdenciário - CF/1988, art. 202 - Decreto n. 83.080/1979,

art. 57, § 5° - Lei Complementar n. 16/1973 - Lei n. 8.213/1991, art. 55, §

3° - Prova exclusivamente testemunhal - Insufi ciência - Rurícola. Súmula n.

149-STJ. RSSTJ 10/447.

Benefício previdenciário - Correção monetária - Fixação - Critérios -

Débitos vencidos - Cobrança em juízo - Lei n. 6.899/1981. Súmula n. 148-

STJ. RSSTJ 10/423.

C

CC, art. 178, § 10, IX - Lei n. 5.772/1971, art. 59 - Marca comercial

- Abstenção do uso - Prescrição vintenária. Súmula n. 142-STJ. RSSTJ

10/237.

CC, art. 178, § 10, IX - Ação de perdas e danos - Lei n. 5.772/1971, art.

59 - Marca comercial - Prescrição qüinqüenal. Súmula n. 143-STJ. RSSTJ

10/283.

CC, arts. 1.056 e 1.534 - CTN, art. 43, I e II - Imposto de Renda (IR)

- Não-incidência - Lei n. 7.713/1988, arts. 3°, § 4°, e 6°, IV e V - Lei n.

8.112/1990, art. 78, § 1° - Licença-prêmio não-gozada - Necessidade do

serviço. Súmula n. 136-STJ. RSSTJ 10/41.

Page 514: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

ÍNDICE ANALÍTICO

514

CC/1916, art. 1.057 - Culpa grave - Dolo - Necessidade - Responsabilidade

civil - Caracterização - Transporte de passageiros - Cortesia. Súmula n. 145-

STJ. RSSTJ 10/355.

CF/1988, ADCT, art. 33 - CF/1988, art. 100 - CPC, art. 730, I e II -

Crédito de natureza alimentícia - Preferência - Lei n. 8.197/1991, art. 4°,

parágrafo único - Precatório. Súmula n. 144-STJ. RSSTJ 10/317.

CF/1988, art. 100 - CF/1988, ADCT, art. 33 - CPC, art. 730, I e II -

Crédito de natureza alimentícia - Preferência - Lei n. 8.197/1991, art. 4°,

parágrafo único - Precatório. Súmula n. 144-STJ. RSSTJ 10/317.

CF/1988, art. 109, I - Competência - Justiça Federal - União - Interesse

jurídico - Existência. Súmula n. 150-STJ. RSSTJ 10/475.

CF/1988, art. 109, IV - Competência - Crime contra funcionário público

federal - Exercício da função - Justiça Federal. Súmula n. 147-STJ. RSSTJ

10/393.

CF/1988, arts. 109, XI, e 129, V - Competência - Indígena - Autor ou

vítima do crime - Justiça Estadual. Súmula n. 140-STJ. RSSTJ 10/191.

CF/1988, art. 114 - CLT, art. 803 - Competência - Justiça Estadual -

Servidor público municipal - Vínculo estatutário. Súmula n. 137-STJ.

RSSTJ 10/59.

CF/1988, arts. 131, § 3º; 153, VI, e 158, II - Execução fi scal - Imposto

Territorial Rural (ITR) - Legitimidade ativa ad causam - Procuradoria

da Fazenda Nacional - Lei Complementar n. 73/1993, arts. 12, II e V, e

17, I - Lei n. 6.830/1990, art. 2º, § 4º - Lei n. 8.022/1990, art. 1º - Lei n.

8.383/1991, art. 67. Súmula n. 139-STJ. RSSTJ 10/157.

CF/1988, arts. 155, I, b, e 156, IV - Decreto-Lei n. 406/1968, art. 8°, § 1° -

Filmes e videoteipes - Gravação e distribuição - Imposto sobre Circulação

de Mercadorias e Serviços (ICMS) - Não-incidência - Lei Complementar

n. 56/1987, item 63. Súmula n. 135-STJ. RSSTJ 10/11.

CF/1988, art. 202 - Benefício previdenciário - Decreto n. 83.080/1979,

art. 57, § 5° - Lei Complementar n. 16/1973 - Lei n. 8.213/1991, art. 55, §

3° - Prova exclusivamente testemunhal - Insufi ciência - Rurícola. Súmula n.

149-STJ. RSSTJ 10/447.

CLT, art. 803 - CF/1988, art. 114 - Competência - Justiça Estadual -

Servidor público municipal - Vínculo estatutário. Súmula n. 137-STJ.

RSSTJ 10/59.

Competência - CF/1988, art. 109, I - Justiça Federal - União - Interesse

jurídico - Existência. Súmula n. 150-STJ. RSSTJ 10/475.

Page 515: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

ÍNDICE ANALÍTICO

RSSTJ, a. 4, (10): 511-522, julho 2010 515

Competência - CF/1988, art. 109, IV - Crime contra funcionário público

federal - Exercício da função - Justiça Federal. Súmula n. 147-STJ. RSSTJ

10/393.

Competência - CF/1988, arts. 109, XI, e 129, V - Indígena - Autor ou

vítima do crime - Justiça Estadual. Súmula n. 140-STJ. RSSTJ 10/191.

Competência - CF/1988, art. 114 - CLT, art. 803 - Justiça Estadual -

Servidor público municipal - Vínculo estatutário. Súmula n. 137-STJ.

RSSTJ 10/59.

Correção monetária - Fixação - Critérios - Benefício previdenciário -

Débitos vencidos - Cobrança em juízo - Lei n. 6.899/1981. Súmula n. 148-

STJ. RSSTJ 10/423.

CPC, art. 730, I e II - CF/1988, ADCT, art. 33 - CF/1988, art. 100 -

Crédito de natureza alimentícia - Preferência - Lei n. 8.197/1991, art. 4°,

parágrafo único - Precatório. Súmula n. 144-STJ. RSSTJ 10/317.

Crédito de natureza alimentícia - Preferência - CF/1988, ADCT, art.

33 - CF/1988, art. 100 - CPC, art. 730, I e II - Lei n. 8.197/1991, art. 4°,

parágrafo único - Precatório. Súmula n. 144-STJ. RSSTJ 10/317.

Crime contra funcionário público federal - Exercício da função - CF/1988,

art. 109, IV - Competência - Justiça Federal. Súmula n. 147-STJ. RSSTJ

10/393.

CTN, art. 43, I e II - CC, arts. 1.056 e 1.534 - Imposto de Renda (IR)

- Não-incidência - Lei n. 7.713/1988, arts. 3°, § 4°, e 6°, IV e V - Lei n.

8.112/1990, art. 78, § 1° - Licença-prêmio não-gozada - Necessidade do

serviço. Súmula n. 136-STJ. RSSTJ 10/41.

Culpa grave - Dolo - Necessidade - CC/1916, art. 1.057 - Responsabilidade

civil - Caracterização - Transporte de passageiros - Cortesia. Súmula n. 145-

STJ. RSSTJ 10/355.

D

Débitos vencidos - Cobrança em juízo - Benefício previdenciário -

Correção monetária - Fixação - Critérios - Lei n. 6.899/1981. Súmula n.

148-STJ. RSSTJ 10/423.

Decreto n. 79.037/1976, art. 41, III - Base de cálculo - Salário-de-

contribuição - Benefício acidentário - Decreto n. 83.080/1979, art. 261,

parágrafo único, III - Lei n. 6.367/1976, art. 6°, § 1° - Segurado - Novo

acidente. Súmula n. 146-STJ. RSSTJ 10/377.

Page 516: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

ÍNDICE ANALÍTICO

516

Decreto n. 83.080/1979, art. 57, § 5° - Benefício previdenciário - CF/1988, art. 202 - Lei Complementar n. 16/1973 - Lei n. 8.213/1991, art. 55, § 3° - Prova exclusivamente testemunhal - Insufi ciência - Rurícola. Súmula n. 149-STJ. RSSTJ 10/447.

Decreto n. 83.080/1979, art. 261, parágrafo único, III - Base de cálculo - Salário-de-contribuição - Benefício acidentário - Decreto n. 79.037/1976, art. 41, III - Lei n. 6.367/1976, art. 6°, § 1° - Segurado - Novo acidente. Súmula n. 146-STJ. RSSTJ 10/377.

Decreto-Lei n. 406/1968, art. 8° - Arrendamento mercantil - Coisa móvel - Imposto Sobre Serviços (ISS) - Incidência - Lei Complementar n. 56/1987, item 79 - Lei n. 6.099/1974. Súmula n. 138-STJ. RSSTJ 10/91.

Decreto-Lei n. 406/1968, art. 8°, § 1° - CF/1988, arts. 155, I, b, e 156, IV - Filmes e videoteipes - Gravação e distribuição - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) - Não-incidência - Lei Complementar n. 56/1987, item 63. Súmula n. 135-STJ. RSSTJ 10/11.

Decreto-Lei n. 3.365/1941, art. 27, § 1° - Desapropriação direta - Honorários advocatícios - Cálculo - Critério. Súmula n. 141-STJ. RSSTJ 10/215.

Desapropriação direta - Decreto-Lei n. 3.365/1941, art. 27, § 1° - Honorários advocatícios - Cálculo - Critério. Súmula n. 141-STJ. RSSTJ

10/215.

E

Execução fi scal - CF/1988, arts. 131, § 3º; 153, VI, e 158, II - Imposto Territorial Rural (ITR) - Legitimidade ativa ad causam - Procuradoria da Fazenda Nacional - Lei Complementar n. 73/1993, arts. 12, II e V, e 17, I - Lei n. 6.830/1990, art. 2º, § 4º - Lei n. 8.022/1990, art. 1º - Lei n.

8.383/1991, art. 67. Súmula n. 139-STJ. RSSTJ 10/157.

F

Filmes e videoteipes - Gravação e distribuição - CF/1988, arts. 155, I, b, e 156, IV - Decreto-Lei n. 406/1968, art. 8°, § 1° - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) - Não-incidência - Lei Complementar n. 56/1987, item 63. Súmula n. 135-STJ. RSSTJ 10/11.

H

Honorários advocatícios - Cálculo - Critério - Decreto-Lei n. 3.365/1941,

art. 27, § 1° - Desapropriação direta. Súmula n. 141-STJ. RSSTJ 10/215.

Page 517: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

ÍNDICE ANALÍTICO

RSSTJ, a. 4, (10): 511-522, julho 2010 517

I

Imposto de Renda (IR) - Não-incidência - CC, arts. 1.056 e 1.534 -

CTN, art. 43, I e II - Lei n. 7.713/1988, arts. 3°, § 4°, e 6°, IV e V - Lei n.

8.112/1990, art. 78, § 1° - Licença-prêmio não-gozada - Necessidade do

serviço. Súmula n. 136-STJ. RSSTJ 10/41.

Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) - Não-

incidência - CF/1988, arts. 155, I, b, e 156, IV - Decreto-Lei n. 406/1968,

art. 8°, § 1° - Filmes e videoteipes - Gravação e distribuição - Lei

Complementar n. 56/1987, item 63. Súmula n. 135-STJ. RSSTJ 10/11.

Imposto Sobre Serviços (ISS) - Incidência - Arrendamento mercantil -

Coisa móvel - Decreto-Lei n. 406/1968, art. 8° - Lei Complementar n.

56/1987, item 79 - Lei n. 6.099/1974. Súmula n. 138-STJ. RSSTJ 10/91.

Imposto Territorial Rural (ITR) - CF/1988, arts. 131, § 3º; 153, VI, e 158, II

- Execução fi scal - Legitimidade ativa ad causam - Procuradoria da Fazenda

Nacional - Lei Complementar n. 73/1993, arts. 12, II e V, e 17, I - Lei n.

6.830/1990, art. 2º, § 4º - Lei n. 8.022/1990, art. 1º - Lei n. 8.383/1991, art.

67. Súmula n. 139-STJ. RSSTJ 10/157.

Indígena - Autor ou vítima do crime - CF/1988, arts. 109, XI, e 129, V -

Competência - Justiça Estadual. Súmula n. 140-STJ. RSSTJ 10/191.

J

Justiça Estadual - CF/1988, arts. 109, XI, e 129, V - Competência -

Indígena - Autor ou vítima do crime. Súmula n. 140-STJ. RSSTJ 10/191.

Justiça Estadual - CF/1988, art. 114 - CLT, art. 803 - Competência -

Servidor público municipal - Vínculo estatutário. Súmula n. 137-STJ.

RSSTJ 10/59.

Justiça Federal - CF/1988, art. 109, I - Competência - União - Interesse

jurídico - Existência. Súmula n. 150-STJ. RSSTJ 10/475.

Justiça Federal - CF/1988, art. 109, IV - Competência - Crime contra

funcionário público federal - Exercício da função. Súmula n. 147-STJ.

RSSTJ 10/393.

L

Legitimidade ativa ad causam - Procuradoria da Fazenda Nacional -

CF/1988, arts. 131, § 3º; 153, VI, e 158, II - Execução fi scal - Imposto

Territorial Rural (ITR) - Lei Complementar n. 73/1993, arts. 12, II e V, e

Page 518: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

ÍNDICE ANALÍTICO

518

17, I - Lei n. 6.830/1990, art. 2º, § 4º - Lei n. 8.022/1990, art. 1º - Lei n.

8.383/1991, art. 67. Súmula n. 139-STJ. RSSTJ 10/157.

Lei Complementar n. 16/1973 - Benefício previdenciário - CF/1988, art.

202 - Decreto n. 83.080/1979, art. 57, § 5° - Lei n. 8.213/1991, art. 55, §

3° - Prova exclusivamente testemunhal - Insufi ciência - Rurícola. Súmula n.

149-STJ. RSSTJ 10/447.

Lei Complementar n. 56/1987, item 63 - CF/1988, arts. 155, I, b, e 156,

IV - Decreto-Lei n. 406/1968, art. 8°, § 1° - Filmes e videoteipes - Gravação

e distribuição - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

(ICMS) - Não-incidência. Súmula n. 135-STJ. RSSTJ 10/11.

Lei Complementar n. 56/1987, item 79 - Arrendamento mercantil - Coisa

móvel - Decreto-Lei n. 406/1968, art. 8° - Imposto Sobre Serviços (ISS) -

Incidência - Lei n. 6.099/1974. Súmula n. 138-STJ. RSSTJ 10/91.

Lei Complementar n. 73/1993, arts. 12, II e V, e 17, I - CF/1988, arts. 131,

§ 3º; 153, VI, e 158, II - Execução fi scal - Imposto Territorial Rural (ITR)

- Legitimidade ativa ad causam - Procuradoria da Fazenda Nacional - Lei n.

6.830/1990, art. 2º, § 4º - Lei n. 8.022/1990, art. 1º - Lei n. 8.383/1991, art.

67. Súmula n. 139-STJ. RSSTJ 10/157.

Lei n. 5.772/1971, art. 59 - Ação de perdas e danos - CC, art. 178, § 10,

IX - Marca comercial - Prescrição qüinqüenal. Súmula n. 143-STJ. RSSTJ

10/283.

Lei n. 5.772/1971, art. 59 - CC, art. 178, § 10, IX - Marca comercial

- Abstenção do uso - Prescrição vintenária. Súmula n. 142-STJ. RSSTJ

10/237.

Lei n. 6.099/1974 - Arrendamento mercantil - Coisa móvel - Decreto-Lei

n. 406/1968, art. 8° - Imposto Sobre Serviços (ISS) - Incidência - Lei

Complementar n. 56/1987, item 79. Súmula n. 138-STJ. RSSTJ 10/91.

Lei n. 6.367/1976, art. 6°, § 1° - Base de cálculo - Salário-de-contribuição

- Benefício acidentário - Decreto n. 79.037/1976, art. 41, III - Decreto

n. 83.080/1979, art. 261, parágrafo único, III - Segurado - Novo acidente.

Súmula n. 146-STJ. RSSTJ 10/377.

Lei n. 6.830/1990, art. 2º, § 4º - CF/1988, arts. 131, § 3º; 153, VI, e 158,

II - Execução fi scal - Imposto Territorial Rural (ITR) - Legitimidade

ativa ad causam - Procuradoria da Fazenda Nacional - Lei Complementar

n. 73/1993, arts. 12, II e V, e 17, I - Lei n. 8.022/1990, art. 1º - Lei n.

8.383/1991, art. 67. Súmula n. 139-STJ. RSSTJ 10/157.

Lei n. 6.899/1981 - Benefício previdenciário - Correção monetária -

Fixação - Critérios - Débitos vencidos - Cobrança em juízo. Súmula n. 148-

STJ. RSSTJ 10/423.

Page 519: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

ÍNDICE ANALÍTICO

RSSTJ, a. 4, (10): 511-522, julho 2010 519

Lei n. 7.713/1988, arts. 3°, § 4°, e 6°, IV e V - CC, arts. 1.056 e 1.534 -

CTN, art. 43, I e II - Imposto de Renda (IR) - Não-incidência - Lei n.

8.112/1990, art. 78, § 1° - Licença-prêmio não-gozada - Necessidade do

serviço. Súmula n. 136-STJ. RSSTJ 10/41.

Lei n. 8.022/1990, art. 1º - CF/1988, arts. 131, § 3º; 153, VI, e 158, II -

Execução fi scal - Imposto Territorial Rural (ITR) - Legitimidade ativa

ad causam - Procuradoria da Fazenda Nacional - Lei Complementar n.

73/1993, arts. 12, II e V, e 17, I - Lei n. 6.830/1990, art. 2º, § 4º - Lei n.

8.383/1991, art. 67. Súmula n. 139-STJ. RSSTJ 10/157.

Lei n. 8.112/1990, art. 78, § 1° - CC, arts. 1.056 e 1.534 - CTN, art. 43, I e

II - Imposto de Renda (IR) - Não-incidência - Lei n. 7.713/1988, arts. 3°,

§ 4°, e 6°, IV e V - Licença-prêmio não-gozada - Necessidade do serviço.

Súmula n. 136-STJ. RSSTJ 10/41.

Lei n. 8.197/1991, art. 4°, parágrafo único - CF/1988, ADCT, art. 33 -

CF/1988, art. 100 - CPC, art. 730, I e II - Crédito de natureza alimentícia

- Preferência - Precatório. Súmula n. 144-STJ. RSSTJ 10/317.

Lei n. 8.213/1991, art. 55, § 3° - Benefício previdenciário - CF/1988, art.

202 - Decreto n. 83.080/1979, art. 57, § 5° - Lei Complementar n. 16/1973

- Prova exclusivamente testemunhal - Insufi ciência - Rurícola. Súmula n.

149-STJ. RSSTJ 10/447.

Lei n. 8.383/1991, art. 67 - CF/1988, arts. 131, § 3º; 153, VI, e 158, II -

Execução fi scal - Imposto Territorial Rural (ITR) - Legitimidade ativa

ad causam - Procuradoria da Fazenda Nacional - Lei Complementar n.

73/1993, arts. 12, II e V, e 17, I - Lei n. 6.830/1990, art. 2º, § 4º - Lei n.

8.022/1990, art. 1º. Súmula n. 139-STJ. RSSTJ 10/157.

Licença-prêmio não-gozada - Necessidade do serviço - CC, arts. 1.056 e

1.534 - CTN, art. 43, I e II - Imposto de Renda (IR) - Não-incidência -

Lei n. 7.713/1988, arts. 3°, § 4°, e 6°, IV e V - Lei n. 8.112/1990, art. 78, § 1°.

Súmula n. 136-STJ. RSSTJ 10/41.

M

Marca comercial - Ação de perdas e danos - CC, art. 178, § 10, IX - Lei

n. 5.772/1971, art. 59 - Prescrição qüinqüenal. Súmula n. 143-STJ. RSSTJ

10/283.

Marca comercial - Abstenção do uso - CC, art. 178, § 10, IX - Lei n.

5.772/1971, art. 59 - Prescrição vintenária. Súmula n. 142-STJ. RSSTJ

10/237.

Page 520: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

ÍNDICE ANALÍTICO

520

P

Precatório - CF/1988, ADCT, art. 33 - CF/1988, art. 100 - CPC, art. 730, I

e II - Crédito de natureza alimentícia - Preferência - Lei n. 8.197/1991, art.

4°, parágrafo único. Súmula n. 144-STJ. RSSTJ 10/317.

Prescrição qüinqüenal - Ação de perdas e danos - CC, art. 178, § 10, IX -

Lei n. 5.772/1971, art. 59 - Marca comercial. Súmula n. 143-STJ. RSSTJ

10/283.

Prescrição vintenária - CC, art. 178, § 10, IX - Lei n. 5.772/1971, art. 59 -

Marca comercial - Abstenção do uso. Súmula n. 142-STJ. RSSTJ 10/237.

Prova exclusivamente testemunhal - Insuficiência - Benefício

previdenciário - CF/1988, art. 202 - Decreto n. 83.080/1979, art. 57, § 5° -

Lei Complementar n. 16/1973 - Lei n. 8.213/1991, art. 55, § 3° - Rurícola.

Súmula n. 149-STJ. RSSTJ 10/447.

R

Responsabilidade civil - Caracterização - CC/1916, art. 1.057 - Culpa

grave - Dolo - Necessidade - Transporte de passageiros - Cortesia. Súmula

n. 145-STJ. RSSTJ 10/355.

Rurícola - Benefício previdenciário - CF/1988, art. 202 - Decreto

n. 83.080/1979, art. 57, § 5° - Lei Complementar n. 16/1973 - Lei n.

8.213/1991, art. 55, § 3° - Prova exclusivamente testemunhal - Insufi ciência.

Súmula n. 149-STJ. RSSTJ 10/447.

S

Segurado - Novo acidente - Base de cálculo - Salário-de-contribuição -

Benefício acidentário - Decreto n. 79.037/1976, art. 41, III - Decreto n.

83.080/1979, art. 261, parágrafo único, III - Lei n. 6.367/1976, art. 6°, § 1°.

Súmula n. 146-STJ. RSSTJ 10/377.

Servidor público municipal - CF/1988, art. 114 - CLT, art. 803 -

Competência - Justiça Estadual - Vínculo estatutário. Súmula n. 137-STJ.

RSSTJ 10/59.

Súmula n. 135-STJ - CF/1988, arts. 155, I, b, e 156, IV - Decreto-Lei

n. 406/1968, art. 8°, § 1° - Filmes e videoteipes - Gravação e distribuição

- Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) - Não-

incidência - Lei Complementar n. 56/1987, item 63. RSSTJ 10/11.

Page 521: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

ÍNDICE ANALÍTICO

RSSTJ, a. 4, (10): 511-522, julho 2010 521

Súmula n. 136-STJ - CC, arts. 1.056 e 1.534 - CTN, art. 43, I e II - Imposto de Renda (IR) - Não-incidência - Lei n. 7.713/1988, arts. 3°, § 4°, e 6°, IV e V - Lei n. 8.112/1990, art. 78, § 1° - Licença-prêmio não-gozada - Necessidade do serviço. RSSTJ 10/41.

Súmula n. 137-STJ - CF/1988, art. 114 - CLT, art. 803 - Competência - Justiça Estadual - Servidor público municipal - Vínculo estatutário. RSSTJ 10/59.

Súmula n. 138-STJ - Arrendamento mercantil - Coisa móvel - Decreto-Lei n. 406/1968, art. 8° - Imposto Sobre Serviços (ISS) - Incidência - Lei

Complementar n. 56/1987, item 79 - Lei n. 6.099/1974. RSSTJ 10/91.

Súmula n. 139-STJ - CF/1988, arts. 131, § 3º; 153, VI, e 158, II - Execução fi scal - Imposto Territorial Rural (ITR) - Legitimidade ativa ad causam - Procuradoria da Fazenda Nacional - Lei Complementar n. 73/1993, arts. 12, II e V, e 17, I - Lei n. 6.830/1990, art. 2º, § 4º - Lei n. 8.022/1990, art. 1º - Lei n. 8.383/1991, art. 67. RSSTJ 10/157.

Súmula n. 140-STJ - CF/1988, arts. 109, XI, e 129, V - Competência - Indígena - Autor ou vítima do crime - Justiça Estadual. RSSTJ 10/191.

Súmula n. 141-STJ - Decreto-Lei n. 3.365/1941, art. 27, § 1° - Desapropriação direta - Honorários advocatícios - Cálculo - Critério. RSSTJ 10/215.

Súmula n. 142-STJ - CC, art. 178, § 10, IX - Lei n. 5.772/1971, art. 59

- Marca comercial - Abstenção do uso - Prescrição vintenária. RSSTJ

10/237.

Súmula n. 143-STJ - Ação de perdas e danos - CC, art. 178, § 10, IX - Lei

n. 5.772/1971, art. 59 - Marca comercial - Prescrição qüinqüenal. RSSTJ

10/283.

Súmula n. 144-STJ - CF/1988, ADCT, art. 33 - CF/1988, art. 100 - CPC,

art. 730, I e II - Crédito de natureza alimentícia - Preferência - Lei n.

8.197/1991, art. 4°, parágrafo único - Precatório. RSSTJ 10/317.

Súmula n. 145-STJ - CC/1916, art. 1.057 - Culpa grave - Dolo -

Necessidade - Responsabilidade civil - Caracterização - Transporte de

passageiros - Cortesia. RSSTJ 10/355.

Súmula n. 146-STJ - Base de cálculo - Salário-de-contribuição - Benefício

acidentário - Decreto n. 79.037/1976, art. 41, III - Decreto n. 83.080/1979,

art. 261, parágrafo único, III - Lei n. 6.367/1976, art. 6°, § 1° - Segurado -

Novo acidente. RSSTJ 10/377.

Súmula n. 147-STJ - CF/1988, art. 109, IV - Competência - Crime contra

funcionário público federal - Exercício da função - Justiça Federal. RSSTJ

10/393.

Page 522: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

ÍNDICE ANALÍTICO

522

Súmula n. 148-STJ - Benefício previdenciário - Correção monetária

- Fixação - Critérios - Débitos vencidos - Cobrança em juízo - Lei n.

6.899/1981. RSSTJ 10/423.

Súmula n. 149-STJ - Benefício previdenciário - CF/1988, art. 202 -

Decreto n. 83.080/1979, art. 57, § 5° - Lei Complementar n. 16/1973

- Lei n. 8.213/1991, art. 55, § 3° - Prova exclusivamente testemunhal -

Insufi ciência - Rurícola. RSSTJ 10/447.

Súmula n. 150-STJ - CF/1988, art. 109, I - Competência - Justiça Federal -

União - Interesse jurídico - Existência. RSSTJ 10/475.

T

Transporte de passageiros - Cortesia - CC/1916, art. 1.057 - Culpa grave -

Dolo - Necessidade - Responsabilidade civil - Caracterização. Súmula n.

145-STJ. RSSTJ 10/355.

U

União - Interesse jurídico - Existência - CF/1988, art. 109, I - Competência

- Justiça Federal. Súmula n. 150-STJ. RSSTJ 10/475.

V

Vínculo estatutário - CF/1988, art. 114 - CLT, art. 803 - Competência -

Justiça Estadual - Servidor público municipal. Súmula n. 137-STJ. RSSTJ

10/59.

Page 523: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

Índice Sistemático

Page 524: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 525: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SÚMULA 135

REsp 32.133-SP ......Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro ....................... RSSTJ 10/15

REsp 33.860-SP ......Rel. Min. Humberto Gomes de Barros .................. RSSTJ 10/19

REsp 35.551-SP ......Rel. Min. José de Jesus Filho .................................. RSSTJ 10/25

REsp 35.573-SP ......Rel. Min. Hélio Mosimann .................................... RSSTJ 10/28

REsp 42.860-SP ......Rel. Min. Demócrito Reinaldo ............................... RSSTJ 10/30

REsp 45.686-SP ......Rel. Min. Garcia Vieira .......................................... RSSTJ 10/36

SÚMULA 136

EREsp 32.829-SP ...Rel. Min. Milton Luiz Pereira ................................ RSSTJ 10/45

REsp 39.726-SP ......Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro ...................... RSSTJ 10/52

REsp 39.872-SP ......Rel. Min. Hélio Mosimann .................................... RSSTJ 10/56

SÚMULA 137

CC 2.068-RJ ...........Rel. Min. Hélio Mosimann .................................... RSSTJ 10/63

CC 2.415-MS .........Rel. Min. Garcia Vieira .......................................... RSSTJ 10/65

CC 2.422-MG ........Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro ...................... RSSTJ 10/68

CC 3.161-MG ........Rel. Min. Humberto Gomes de Barros .................. RSSTJ 10/72

CC 3.387-MG ........Rel. Min. Anselmo Santiago .................................. RSSTJ 10/74

CC 3.614-MG ........Rel. Min. José Dantas ............................................. RSSTJ 10/76

CC 3.749-RJ ...........Rel. Min. Assis Toledo ........................................... RSSTJ 10/78

CC 3.826-MG ........Rel. Min. Pedro Acioli ........................................... RSSTJ 10/80

CC 6.390-AL ..........Rel. Min. Edson Vidigal ........................................ RSSTJ 10/83

CC 6.391-AL ..........Rel. Min. Adhemar Maciel .................................... RSSTJ 10/85

CC 8.203-PE ..........Rel. Min. Jesus Costa Lima .................................... RSSTJ 10/87

Page 526: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

ÍNDICE SISTEMÁTICO

526

SÚMULA 138

EREsp 341-SP ........Rel. Min. Humberto Gomes de Barros .................. RSSTJ 10/95

EREsp 836-SP ........Rel. Min. Demócrito Reinaldo ............................. RSSTJ 10/131

REsp 5.438-SP ........Rel. Min. Armando Rolemberg ........................... RSSTJ 10/147

REsp 14.716-SP ......Rel. Min. Garcia Vieira ........................................ RSSTJ 10/151

SÚMULA 139

EDcl no REsp

44.087-RJ ................Rel. Min. Demócrito Reinaldo ............................. RSSTJ 10/161

REsp 37.000-RS .....Rel. Min. Milton Luiz Pereira .............................. RSSTJ 10/165

REsp 41.650-RJ ......Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro .................... RSSTJ 10/168

REsp 52.452-RJ ......Rel. Min. Humberto Gomes de Barros ................ RSSTJ 10/170

REsp 52.546-RJ ......Rel. Min. José Jesus Filho .................................... RSSTJ 10/173

REsp 52.560-RJ ......Rel. Min. Américo Luz ........................................ RSSTJ 10/177

REsp 57.200-RJ ......Rel. Min. Cesar Asfor Rocha ............................... RSSTJ 10/179

REsp 57.208-RJ ......Rel. Min. Garcia Vieira ........................................ RSSTJ 10/183

Resp 57.340-RJ .......Rel. Min. Hélio Mosimann .................................. RSSTJ 10/186

SÚMULA 140

CC 575-MS ............Rel. Min. Paulo Costa Leite ................................. RSSTJ 10/195

CC 3.910-RO .........Rel. Min. Adhemar Maciel .................................. RSSTJ 10/197

CC 4.469-PE ..........Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro ................... RSSTJ 10/199

CC 5.013-RR ..........Rel. Min. Edson Vidigal ...................................... RSSTJ 10/202

CC 7.624-AM ........Rel. Min. Anselmo Santiago ................................ RSSTJ 10/204

CC 8.733-MA ........Rel. Min. Pedro Acioli ......................................... RSSTJ 10/207

RHC 706-RS ..........Rel. Min. William Patterson ................................ RSSTJ 10/210

SÚMULA 141

REsp 231-SP ...........Rel. Min. Geraldo Sobral ..................................... RSSTJ 10/219

REsp 24.486-SP ......Rel. Min. Demócrito Reinaldo ............................. RSSTJ 10/221

REsp 31.368-SP ......Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro .................... RSSTJ 10/225

REsp 36.160-SP ......Rel. Min. Hélio Mosimann .................................. RSSTJ 10/230

REsp 43.652-SP ......Rel. Min. Milton Luiz Pereira .............................. RSSTJ 10/232

SÚMULA 142

AR 512-DF .............Rel. Min. Waldemar Zveiter ................................ RSSTJ 10/241

REsp 10.564-SP ......Rel. Min. Nilson Naves ........................................ RSSTJ 10/254

REsp 19.355-MG ...Rel. Min. Nilson Naves ........................................ RSSTJ 10/263

REsp 26.752-SP ......Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira ............... RSSTJ 10/274

REsp 34.983-SP ......Rel. Min. Fontes de Alencar ................................ RSSTJ 10/278

Page 527: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

ÍNDICE SISTEMÁTICO

RSSTJ, a.4, (10): 523-528, julho 2010 527

SÚMULA 143

REsp 10.564-SP ......Rel. Min. Nilson Naves ........................................ RSSTJ 10/287

REsp 19.355-MG ...Rel. Min. Nilson Naves ........................................ RSSTJ 10/295

REsp 26.752-SP ......Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira ............... RSSTJ 10/307

REsp 34.983-SP ......Rel. Min. Fontes de Alencar ................................ RSSTJ 10/311

SÚMULA 144

RMS 3.536-SP ........Rel. Min. Pedro Acioli ......................................... RSSTJ 10/321

REsp 8.399-SP ........Rel. Min. Milton Luiz Pereira .............................. RSSTJ 10/323

REsp 51.473-SP ......Rel. Min. Cid Flaquer Scartezzini ....................... RSSTJ 10/334

REsp 52.800-SP ......Rel. Min. Assis Toledo ......................................... RSSTJ 10/336

REsp 52.978-SP ......Rel. Min. Adhemar Maciel .................................. RSSTJ 10/339

REsp 53.415-SP ......Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro ................... RSSTJ 10/342

REsp 54.762-SP ......Rel. Min. José Dantas ........................................... RSSTJ 10/344

REsp 54.787-SP ......Rel. Min. Jesus Costa Lima .................................. RSSTJ 10/346

SÚMULA 145

REsp 3.035-RS .......Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira ............... RSSTJ 10/359

REsp 3.254-RS .......Rel. Min. Bueno de Souza .................................... RSSTJ 10/362

REsp 34.544-MG ...Rel. Min. Cláudio Santos ..................................... RSSTJ 10/367

REsp 38.668-RJ ......Rel. Min. Eduardo Ribeiro ................................... RSSTJ 10/369

REsp 54.658-SP ......Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar ......................... RSSTJ 10/373

SÚMULA 146

EREsp 12.628-SP ...Rel. Min.Jesus Costa Lima .................................. RSSTJ 10/381

REsp 38.689-SP ......Rel. Min. Edson Vidigal ...................................... RSSTJ 10/383

REsp 41.326-SP ......Rel. Min. José Dantas ........................................... RSSTJ 10/386

REsp 53.484-SP ......Rel. Min. Anselmo Santiago ................................ RSSTJ 10/390

SÚMULA 147

CC 1.964-DF ..........Rel. Min. Edson Vidigal ...................................... RSSTJ 10/397

CC 3.593-SC ..........Rel. Min. José Dantas ........................................... RSSTJ 10/417

RHC 3.668-RJ ........Rel. Min. Pedro Acioli ......................................... RSSTJ 10/419

SÚMULA 148

EREsp 52.846-SP ...Rel. Min. José Dantas ........................................... RSSTJ 10/427

REsp 26.804-SP ......Rel. Min. Assis Toledo ......................................... RSSTJ 10/431

REsp 45.653-SP ......Rel. Min. Adhemar Maciel .................................. RSSTJ 10/433

REsp 49.328-SP ......Rel. Min. Jesus Costa Lima .................................. RSSTJ 10/436

REsp 53.157-SP ......Rel. Min. Pedro Acioli ......................................... RSSTJ 10/439

REsp 59.318-MG ...Rel. Min. Edson Vidigal ...................................... RSSTJ 10/441

Page 528: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

ÍNDICE SISTEMÁTICO

528

SÚMULA 149

REsp 41.110-SP ......Rel. Min. Adhemar Maciel .................................. RSSTJ 10/451

REsp 46.834-SP ......Rel. Min. Pedro Acioli ......................................... RSSTJ 10/455

REsp 59.876-SP ......Rel. Min. Vicente Leal ......................................... RSSTJ 10/458

REsp 64.708-SP ......Rel. Min. Cid Flaquer Scartezzini ....................... RSSTJ 10/460

REsp 65.095-SP ......Rel. Min. Edson Vidigal ...................................... RSSTJ 10/463

REsp 66.210-SP ......Rel. Min. Assis Toledo ......................................... RSSTJ 10/466

REsp 71.703-SP ......Rel. Min. Jesus Costa Lima .................................. RSSTJ 10/467

REsp 75.120-SP ......Rel. Min. William Patterson ................................ RSSTJ 10/471

SÚMULA 150

CC 171-RO ............Rel. Min. Barros Monteiro ................................... RSSTJ 10/479

CC 2.157-RS ..........Rel. Min. Eduardo Ribeiro ................................... RSSTJ 10/481

CC 2.311-GO .........Rel. Min. Dias Trindade ....................................... RSSTJ 10/483

CC 2.753-SE ..........Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira ............... RSSTJ 10/484

CC 6.170-SP ...........Rel. Min. Garcia Vieira ........................................ RSSTJ 10/488

CC 7.570-RJ ...........Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro .................... RSSTJ 10/491

CC 11.149-SP .........Rel. Min. Waldemar Zveiter ................................ RSSTJ 10/496

REsp 51.822-SP ......Rel. Min. Antônio Torreão Braz .......................... RSSTJ 10/499

REsp 52.726-SP ......Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar ......................... RSSTJ 10/501

Page 529: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

Siglas e Abreviaturas

Page 530: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 531: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

AC Apelação Cível

Adm Administrativo

Ag Agravo de Instrumento

AgRg Agravo Regimental

AI Argüição de Inconstitucionalidade

Ana Agência Nacional de Águas

Anatel Agência Nacional de Telecomunicações

Aneel Agência Nacional de Energia Elétrica

APn Ação Penal

AR Ação Rescisória

CAt Confl ito de Atribuições

CC Código Civil

CC Confl ito de Competência

CCm Código Comercial

Cm Comercial

CNE Conselho Nacional de Educação

Com Comunicação

CP Código Penal

CPC Código de Processo Civil

CDC Código de Proteção e Defesa do

Consumidor

CPP Código de Processo Penal

CR Carta Rogatória

CRI Carta Rogatória Impugnada

Ct Constitucional

CTB Código de Trânsito Brasileiro

CTN Código Tributário Nacional

Cv Civil

D Decreto

DL Decreto-Lei

Page 532: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SIGLAS E ABREVIATURAS

532

DNAEE Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica

E Ementário da Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça

EAC Embargos Infringentes em Apelação Cível

EAR Embargos Infringentes em Ação Rescisória

EAg Embargos de Divergência no Agravo

EC Emenda Constitucional

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

EDcl Embargos de Declaração

EJSTJ Ementário da Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça

El Eleitoral

EREsp Embargos de Divergência em Recurso Especial

ERMS Embargos Infringentes no Recurso em Mandado de

Segurança

ExImp Exceção de Impedimento

ExSusp Exceção de Suspeição

ExVerd Exceção da Verdade

ExecAR Execução em Ação Rescisória

ExecMC Execução em Medida Cautelar

ExecMS Execução em Mandado de Segurança

HC Habeas Corpus

HD Habeas Data

HSE Homologação de Sentença Estrangeira

IDC Incidente de Deslocamento de Competência

IExec Incidente de Execução

IF Intervenção Federal

IJ Interpelação Judicial

Inq Inquérito

IPVA Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores

IUJ Incidente de Uniformização de Jurisprudência

LC Lei Complementar

Page 533: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SIGLAS E ABREVIATURAS

RSSTJ, a. 4, (10): 529-534, julho 2010 533

LCP Lei das Contravenções Penais

Loman Lei Orgânica da Magistratura

LONMP Lei Orgânica Nacional do Ministério Público

MC Medida Cautelar

MC Ministério das Comunicações

MI Mandado de Injunção

MS Mandado de Segurança

NC Notícia-Crime

PA Processo Administrativo

Pet Petição

PExt Pedido de Extensão

Pn Penal

Prc Precatório

PrCv Processual Civil

PrPn Processual Penal

Pv Previdenciário

QO Questão de Ordem

R Revista do Superior Tribunal de Justiça

Rcl Reclamação

RE Recurso Extraordinário

REsp Recurso Especial

RHC Recurso em Habeas Corpus

RHD Recurso em Habeas Data

RMI Recurso em Mandado de Injunção

RMS Recurso em Mandado de Segurança

RO Recurso Ordinário

Rp Representação

RSTJ Revista do Superior Tribunal de Justiça

RvCr Revisão Criminal

S Súmula

Page 534: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

SIGLAS E ABREVIATURAS

534

SAF Secretaria de Administração Federal

Sd Sindicância

SEC Sentença Estrangeira Contestada

SF Senado Federal

SL Suspensão de Liminar

SLS Suspensão de Liminar e de Sentença

SS Suspensão de Segurança

STA Suspensão de Tutela Antecipada

Tr Trabalho

Trbt Tributário

Page 535: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

Repositórios Autorizados e Credenciados pelo

Superior Tribunal de Justiça

Page 536: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal
Page 537: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO SUPERIOR

TRIBUNAL DE JUSTIÇA

01. Lex – Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça – editada pela Lex Editora

S.A. – Portaria n. 1, de 19.08.1985 – DJ 21.08.1985 – Registro revalidado – Edital de

20.10.1989 – DJ 24.10.1989.

02. Revista de Direito Administrativo – editada pela Editora Renovar Ltda. – Portaria n.

2, de 19.08.1985 – DJ 21.08.1985 – Registro cancelado – Portaria n. 1, de 05.09.2007

– DJ 19.09.2007.

03. Revista LTr – Legislação do Trabalho e Previdência Social – editada pela LTr

Editora Ltda. – Portaria n. 5, de 26.08.1985 – DJ 28.08.1985 – Registro revalidado –

Edital de 20.10.1989 – DJ 24.10.1989.

04. Jurisprudência Brasileira Cível e Comércio – editada pela Juruá Editora Ltda. –

Portaria n. 6, de 09.09.1985 – DJ 12.09.1985 – Registro cancelado – Portaria n. 1, de

09.02.2006 – DJ 15.02.2006.

05. Julgados dos Tribunais Superiores – editada pela Editora Jurid Vellenich Ltda. –

Portaria n. 7, de 06.11.1987 – DJ 10.11.1987 – Registro cancelado – Portaria n. 2, de

06.03.2001 – DJ 09.03.2001.

06. Revista de Doutrina e Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Distrito Federal

e dos Territórios – Portaria n. 1, de 29.11.1989 – DJ 1º.12.1989 - Registro alterado/

retifi cado – Portaria n. 3, de 19.06.2002 – DJ de 25.06.2002.

07. Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul – Portaria

n. 1, de 08.02.1990 – DJ 12.02.1990 - Registro alterado - Portaria n. 3, de 19.03.2010

- DJe 22.03.2010.

08. Revista Jurídica Mineira – Portaria n. 3, de 02.04.1990 – DJ 04.04.1990 – Registro

cancelado – Portaria n. 4, de 13.05.1999 – DJ 04.06.1999.

09. Revista Jurídica – editada por Notadez Informação Ltda. – Portaria n. 4, de

02.04.1990 – DJ 04.04.1990.

10. Julgados do Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul – Portaria n. 5, de 02.05.1990

– DJ 09.05.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 8, de 16.11.2000 – DJ 24.11.2000.

11. Revista de Processo – editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. – Portaria n.

6, de 31.05.1990 – DJ 06.06.1990.

12. Revista de Direito Civil – editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. –

Portaria n. 7, de 31.05.1990 – DJ 06.06.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 4, de

06.06.2000 – DJ 09.06.2000.

13. Revista dos Tribunais – editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. – Portaria

n. 8, de 31.05.1990 – DJ 06.06.1990.

Page 538: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ

538

14. Revista de Direito Público – editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. –

Portaria n. 9, de 31.05.1990 – DJ 06.06.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 5, de

11.06.2001 – DJ 19.06.2001.

15. Revista Ciência Jurídica – editada pela Editora Nova Alvorada Edições Ltda. –

Portaria n. 10, de 21.08.1990 – DJ 24.08.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 2, de

04.07.2003 – DJ 14.07.2003.

16. Revista Jurisprudência Mineira – editada pelo Tribunal de Justiça do Estado de

Minas Gerais – Portaria n. 12, de 10.09.1990 – DJ 12.09.1990.

17. Revista de Julgados do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais – Portaria

n. 13, de 17.12.1990 – DJ 19.12.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 10, de

08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

18. Jurisprudência Catarinense – editada pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina –

Portaria n. 1, de 22.05.1991 – DJ 27.05.1991.

19. Revista IOB Trabalhista e Previdenciária – editada pela IOB Informações Objetivas

Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 3, de 16.09.1991 – DJ 20.09.1991 – Registro

retifi cado – Portaria n. 9, de 22.11.2006 – DJ 11.12.2006.

20. Lex – Jurisprudência dos Tribunais de Alçada Civil de São Paulo – editada pela Lex

Editora S.A. – Portaria n. 1, de 10.03.1992 – DJ 13.03.1992 – Registro cancelado –

Portaria n. 6, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

21. Jurisprudência do Tribunal de Justiça – editada pela Lex Editora S.A. – Portaria n. 2,

de 10.03.1992 – DJ 13.03.1992 – Registro retifi cado – Portaria n. 9, de 16.11.2000 – DJ

24.11.2000.

22. Lex – Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal – editada pela Lex Editora S.A.

– Portaria n. 2, de 10.03.1992 – DJ 13.03.1992.

23. Revista de Previdência Social – editada pela LTr Editora Ltda. – Portaria n. 4, de

20.04.1992 – DJ 24.04.1992.

24. Revista Forense – editada pela Editora Forense – Portaria n. 5, de 22.06.1992 – DJ

06.07.1992.

25. Revista Trimestral de Jurisprudência dos Estados – editada pela Editora Jurid

Vellenich Ltda. – Portaria n. 6, de 06.11.1992 – DJ 10.11.1992 – Registro cancelado –

Portaria n. 3, de 04.07.2003 – DJ 14.07.2003.

26. Série – Jurisprudência ADCOAS – editada pela Editora Esplanada Ltda. – Portaria

n. 1, de 18.02.1993 – DJ 25.02.1993 – Registro cancelado – Portaria n. 2, de 23.08.2004

– DJ 26.08.2004.

27. Revista Ata – Arquivos dos Tribunais de Alçada do Estado do Rio de Janeiro –

Portaria n. 2, de 11.02.1994 – DJ 18.02.1994 – Registro cancelado – Portaria n. 3, de

04.05.1999 – DJ 18.05.1999.

Page 539: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ

RSSTJ, a. 4, (10): 535-541, julho 2010 539

28. Revista do Tribunal Regional Federal da 4ª Região – editada pela Livraria do

Advogado Ltda. – Portaria n. 3, de 02.03.1994 – DJ 07.03.1994.

29. Revista de Direito do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro – Portaria n.

4, de 15.06.1994 – DJ 17.06.1994.

30. Genesis – Revista de Direito do Trabalho – editada pela Genesis Editora – Portaria

n. 5, de 14.09.1994 – DJ 16.09.1994 – Registro cancelado – Portaria n. 4, de 08.10.2007

– DJ 18.10.2007.

31. Decisório Trabalhista – editada pela Editora Decisório Trabalhista Ltda. – Portaria

n. 6, de 02.12.1994 – DJ 06.12.1994.

32. Revista de Julgados e Doutrina do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São

Paulo – Portaria n. 1, de 18.12.1995 – DJ 20.12.1995 – Registro cancelado – Portaria

n. 5, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

33. Revista do Tribunal Regional Federal da 3ª Região – editada pelo Tribunal Regional

Federal da 3ª Região – Portaria n. 1, de 11.04.1996 – DJ 22.04.1996.

34. Lex – Jurisprudência do Tribunal Federal de Recursos – editada pela Lex Editora

S.A. – Portaria n. 2, de 29.04.1996 – DJ 02.05.1996 – Registro cancelado – Portaria n.

11, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

35. Revista de Direito Renovar – editada pela Editora Renovar Ltda. – Portaria n. 3, de

12.08.1996 – DJ 15.08.1996.

36. Revista Dialética de Direito Tributário – editada pela Editora Oliveira Rocha

Comércio e Serviços Ltda. – Portaria n. 1, de 16.06.1997 – DJ 23.06.1997.

37. Revista do Ministério Público – Portaria n. 1, de 26.10.1998 – DJ 05.11.1998 –

Registro retifi cado – Portaria n. 9, de 14.06.1999 – DJ 22.06.1999.

38. Revista Jurídica Consulex – editada pela Editora Consulex Ltda. – Portaria n. 1, de

04.02.1999 – DJ 23.02.1999 – Republicada em 25.02.1999 – Registro cancelado –

Portaria n. 1, de 06.03.2001 – DJ 09.03.2001.

39. Genesis – Revista de Direito Processual Civil – editada pela Genesis Editora –

Portaria n. 2, de 12.04.1999 – DJ 15.04.1999 – Registro cancelado – Portaria n. 3, de

08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

40. Jurisprudência Brasileira Criminal – editada pela Juruá Editora Ltda. – Portaria n.

6, de 14.06.1999 – DJ 22.06.1999 – Registro cancelado – Portaria n. 2, de 09.02.2006

– DJ 15.02.2006.

41. Jurisprudência Brasileira Trabalhista – editada pela Juruá Editora Ltda. – Portaria n.

7, de 14.06.1999 – DJ 22.06.1999 – Registro cancelado – Portaria n. 3, de 09.02.2006

– DJ 15.02.2006.

42. Revista de Estudos Tributários – editada pela IOB Informações Objetivas

Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 8, de 14.06.1999 – DJ 22.06.1999.

Page 540: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ

540

43. Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça – editada pela Editora Brasília Jurídica Ltda. – Portaria n. 10, de 29.06.1999 – DJ 05.07.1999 – Registro cancelado – Portaria n. 1, de 23.08.2004 – DJ 26.08.2004.

44. Revista Interesse Público – editada pela Editora Fórum Ltda. – Portaria n. 1, de 14.03.2000 – DJ 21.03.2000.

45. Revista IOB de Direito Civil e Processual Civil – editada pela IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 2, de 14.03.2000 – DJ 21.03.2000 – Registro retifi cado – Portaria n. 9, de 22.11.2006 – DJ 11.12.2006.

46. Revista IOB de Direito de Família – editada pela IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 3, de 29.03.2000 – DJ 03.04.2000 – Registro retifi cado – Portaria n. 2, de 14.09.2009 – DJe 15.09.2009

47. Revista ADCOAS Previdenciária – editada pela Editora Esplanada Ltda. – ADCOAS – Portaria n. 5, de 21.06.2000 – DJ 27.06.2000 – Registro cancelado – Portaria n. 8, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

48. Revista ADCOAS Trabalhista – editada pela Editora Esplanada Ltda. – ADCOAS – Portaria n. 6, de 21.06.2000 – DJ 27.06.2000 – Registro cancelado – Portaria n. 7, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

49. Revista de Jurisprudência ADCOAS – editada pela Editora Esplanada Ltda. – ADCOAS – Portaria n. 7, de 21.06.2000 – DJ 27.06.2000 – Registro cancelado – Portaria n. 9, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

50. Revista IOB de Direito Penal e Processual Penal – editada pela IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 4, de 06.03.2001 – DJ 09.03.2001 – Registro retifi cado – Portaria n. 9, de 22.11.2006 – DJ 11.12.2006.

51. Revista Tributária e de Finanças Públicas – editada pela Editora Revista dos Tribunais – Portaria n. 6, de 11.06.2001 – DJ 19.06.2001.

52. Revista Nacional de Direito e Jurisprudência – editada pela Nacional de Direito Livraria Editora Ltda. – Portaria n. 1, de 08.04.2002 – DJ 02.05.2002 – Republicada em 19.04.2002 – Registro cancelado – Portaria n. 1, de 31.07.2009 - DJe 05.08.2009.

53. Revista do Tribunal Regional Federal da 5ª Região – editada pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região – Portaria n. 2, de 23.04.2002 – DJ 02.05.2002 - Registro cancelado - Portaria n. 5, de 09.04.2010 - DJe 18.04.2010.

54. Revista Dialética de Direito Processual – editada pela Editora Oliveira Rocha Comércio e Serviços Ltda. – Portaria n. 1, de 30.06.2003 – DJ 07.07.2003.

55. Revista Juris Plenum – editada pela Editora Plenum Ltda. – Portaria n. 1, de 23.05.2005 – DJ 30.05.2005.

56. Revista Bonijuris – co-editada pelo Instituto de Pesquisas Jurídicas Bonijuris, Associação dos Magistrados do Paraná (Amapar), Associação dos Magistrados

Catarinense (AMC) e Associação dos Magistrados do Trabalho IX e XII (Amatra) –

Portaria n. 2, de 18.10.2005 – DJ 27.10.2005.

Page 541: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ

RSSTJ, a. 4, (10): 535-541, julho 2010 541

57. Revista Juris Plenum Trabalhista e Previdenciária – editada pela Editora Plenum

Ltda. – Portaria n. 3, de 16.12.2005 – DJ 08.02.2006.

58. Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal – editada pela Editora Magister

Ltda. – Portaria n. 4, de 02.08.2006 – DJ 09.08.2006.

59. CD-ROM – Jur Magister – editado pela Editora Magister Ltda. – Portaria n. 5, de

09.08.2006 – DJ 15.08.2006.

60. DVD – Magister – editado pela Editora Magister Ltda. – Portaria n. 6, de

09.08.2006 – DJ 15.08.2006.

61. Revista Previdenciária e Trabalhista Gazetajuris – editada pela Editora Portal

Jurídico Ltda. – Portaria n. 7, de 09.08.2006 – DJ 15.08.2006 – Registro cancelado –

Portaria n. 2, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

62. CD-ROM – Gazetajuris – editado pela Editora Portal Jurídico Ltda. – Portaria n.

8, de 02.10.2006 – DJ 04.10.2006 – Registro cancelado – Portaria n. 6, de 12.11.2008

– DJe 17.11.2008.

63. Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil – editada pela Editora Magister

Ltda. – Portaria n. 1, de 1º.02.2008 – DJ 11.02.2008.

64. Revista Brasileira de Direito Tributário e Finanças Públicas – editada pela Editora

Magister Ltda. – Portaria n. 2, de 1º.02.2008 – DJ 11.02.2008.

65. Revista Brasileira de Direito das Famílias e Sucessões – editada pela Editora

Magister Ltda. – Portaria n. 4, de 10.10.2008 – DJe 15.10.2008.

66. Revista de Direito Tributário da Associação Paulista de Estudos Tributários –

editada pela MP Editora Ltda. – Portaria n. 5, de 30.10.2008 – DJe 07.11.2008.

67. Portal da Rede Mundial de Computadores “editoramagister.com” – editado pela

Editora Magister Ltda. – Portaria n. 7, de 15.12.2008 – DJe 17.12.2008.

68. “Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul”

(versão eletrônica) - Portal da Rede Mundial de Computadores - endereço eletrônico:

htpps://www.tjrs.jus.br/site/publicacoes/revista_da_jurisprudencia/ - editada pelo

Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Grande do Sul - Portaria n. 1, de 18.02.2010 -

DJe 24.02.2010 - Registro retifi cado e ratifi cado - Portaria n. 4, de 19.03.2010 - DJe

22.03.2010.

69. Portal da Rede Mundial de Computadores - “jusisprudência-online” - editada pela

Associação dos Advogados de São Paulo - Portaria n. 2, de 18.02.2010 - DJe 24.02.2010.

70. Revista do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (versão eletrônica) - Portal da

Rede Mundial de Computadores - endereço eletrônico: https://www.trf5.jus.br/revista_

jurisprudencia/- editado pelo Tribunal Federal Regional da 5ª Região - Portaria n. 5, de

09.04.2010 - DJe 13.04.2010.

Page 542: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA...Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal

Projeto gráfi coCoordenadoria de Programação Visual - STJ

EditoraçãoGabinete do Ministro Diretor da Revista - STJ

ImpressãoCapa: Gráfi ca do Conselho da Justiça Federal - CJFMiolo: Seção de Reprografi a e Encadernação - STJ