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PUBLICAÇÃO OFICIAL Revista de Súmulas SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA · Para os efeitos do artigo 543-C do CPC, defi niu-se que, em ação de reparação de danos movida em face do segurado, a Seguradora

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Revista de Súmulas

SUPERIOR

TRIBUNAL

DE JUSTIÇA

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VOLUME 45, ANO 9

NOVEMBRO 2017

Revista de Súmulas

SUPERIOR

TRIBUNAL

DE JUSTIÇA

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Superior Tribunal de Justiça

www.stj.jus.br, [email protected]

Gabinete do Ministro Diretor da Revista

Setor de Administração Federal Sul, Quadra 6, Lote 1,

Bloco C, 2º Andar, Sala C-240, Brasília-DF, 70095-900

Telefone (61) 3319-8055

Revista de Súmulas do Superior Tribunal de Justiça - V. 1 (nov. 2005) -. Brasília: STJ, 2005 -.

Periodicidade: Irregular.

Repositório Ofi cial de Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.

Nome do editor varia: Superior Tribunal de Justiça / Editora Brasília Jurídica, 2005 a 2006,

Superior Tribunal de Justiça, 2009 -.

Disponível também em versão eletrônica a partir de 2009: https://ww2.stj.jus.br/web/

revista/eletronica/publicacao/?aplicacao=revista.sumulas

ISSN 2179-782X

1. Direito, Brasil. 2. Jurisprudência, periódico, Brasil. I. Brasil, Superior Tribunal de

Justiça (STJ). II. Título.

CDU 340.142(81)(05)

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Gabinete do Ministro Diretor da Revista

Diretor

Ministro Luis Felipe Salomão

Chefe de Gabinete

Marluce Sampaio Duarte

Servidores

Gerson Prado da Silva

Hekelson Bitencourt Viana da Costa

Maria Angélica Neves Sant’Ana

Marilisa Gomes do Amaral

Técnica em Secretariado

Ruthe Wanessa Cardoso de Souza

Mensageiro

Francisco Rondinely Ferreira da Cruz

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MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO Diretor

Revista de Súmulas

SUPERIOR

TRIBUNAL

DE JUSTIÇA

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇAPlenário

Ministra Laurita Hilário Vaz (Presidente)

Ministro Humberto Eustáquio Soares Martins (Vice-Presidente)

Ministro Felix Fischer

Ministro Francisco Cândido de Melo Falcão Neto

Ministra Fátima Nancy Andrighi

Ministro João Otávio de Noronha (Corregedor Nacional de Justiça)

Ministra Maria Th ereza Rocha de Assis Moura (Diretora-Geral da ENFAM)

Ministro Antonio Herman de Vasconcellos e Benjamin

Ministro Napoleão Nunes Maia Filho

Ministro Jorge Mussi

Ministro Geraldo Og Nicéas Marques Fernandes

Ministro Luis Felipe Salomão (Diretor da Revista)

Ministro Mauro Luiz Campbell Marques

Ministro Benedito Gonçalves

Ministro Raul Araújo Filho (Corregedor-Geral da Justiça Federal)

Ministro Paulo de Tarso Vieira Sanseverino

Ministra Maria Isabel Diniz Gallotti Rodrigues

Ministro Antonio Carlos Ferreira

Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva

Ministro Sebastião Alves dos Reis Júnior

Ministro Marco Aurélio Gastaldi Buzzi

Ministro Marco Aurélio Bellizze Oliveira

Ministra Assusete Dumont Reis Magalhães

Ministro Sérgio Luíz Kukina

Ministro Paulo Dias de Moura Ribeiro

Ministra Regina Helena Costa

Ministro Rogerio Schietti Machado Cruz

Ministro Nefi Cordeiro

Ministro Luiz Alberto Gurgel de Faria

Ministro Reynaldo Soares da Fonseca

Ministro Marcelo Navarro Ribeiro Dantas

Ministro Antonio Saldanha Palheiro

Ministro Joel Ilan Paciornik

Resolução n. 19/1995-STJ, art. 3º.

RISTJ, arts. 21, III e VI; 22, § 1º, e 23.

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SUMÁRIO

Súmulas

537 ...............................................................................................................................11

538 ...............................................................................................................................29

539 ...............................................................................................................................43

540 ...............................................................................................................................59

541 ...............................................................................................................................79

542 .............................................................................................................................151

543 .............................................................................................................................165

544 .............................................................................................................................181

545 .............................................................................................................................201

546 .............................................................................................................................213

547 .............................................................................................................................231

548 .............................................................................................................................261

549 .............................................................................................................................291

550 .............................................................................................................................319

551 .............................................................................................................................357

552 .............................................................................................................................383

553 .............................................................................................................................435

554 .............................................................................................................................459

555 .............................................................................................................................475

556 .............................................................................................................................491

557 .............................................................................................................................503

558 .............................................................................................................................517

559 .............................................................................................................................537

560 .............................................................................................................................551

561 .............................................................................................................................567

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562 .............................................................................................................................585

Índice Analítico ................................................................................................................................................. 601

Índice Sistemático ........................................................................................................................................... 609

Siglas e Abreviaturas...................................................................................................................................... 615

Repositórios Autorizados e Credenciados pelo

Superior Tribunal de Justiça ....................................................................................................................... 621

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Súmula n. 537

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SÚMULA N. 537

Em ação de reparação de danos, a seguradora denunciada, se aceitar a

denunciação ou contestar o pedido do autor, pode ser condenada, direta e

solidariamente junto com o segurado, ao pagamento da indenização devida à

vítima, nos limites contratados na apólice.

Referência:

CPC, arts. 70, III; 75, I, e 543-C.

Precedentes:

(*)REsp 925.130-SP (2ª S, 08.02.2012 – DJe 20.04.2012) –

acórdão publicado na íntegra

REsp 275.453-RS (3ª T, 22.02.2005 – DJ 11.04.2005)

REsp 686.762-RS (3ª T, 29.11.2006 – DJ 18.12.2006)

REsp 1.010.831-RN (4ª T, 28.04.2009 – DJe 22.06.2009)

REsp 670.998-RS (4ª T, 1º.10.2009 – DJe 16.11.2009)

REsp 886.084-MS (4ª T, 16.03.2010 – DJe 06.04.2010)

AgRg no REsp 792.753-RS (4ª T, 1º.06.2010 – DJe 29.06.2010)

REsp 943.440-SP (4ª T, 12.04.2011 – DJe 18.04.2011)

REsp 1.076.138-RJ (4ª T, 22.05.2012 – DJe 05.06.2012)

AgRg no AREsp 10.378-RS (4ª T, 06.11.2012 – DJe 20.11.2012)

(*) Recurso repetitivo.

Segunda Seção, em 10.6.2015

DJe 15.6.2015

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RECURSO ESPECIAL N. 925.130-SP (2007/0030484-4)

Relator: Ministro Luis Felipe Salomão

Recorrente: Unibanco AIG Seguros S/A

Advogado: Antônio Penteado Mendonça e outro(s)

Recorrido: José Francisco Pereira Silva

Advogado: Manoel Fonseca Lago e outro(s)

Recorrido: Francelino Almeida Bueno e outro

Advogado: Josmar Nicolau e outro(s)

EMENTA

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL

REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO

CPC. SEGURADORA LITISDENUNCIADA EM AÇÃO

DE REPARAÇÃO DE DANOS MOVIDA EM FACE DO

SEGURADO. CONDENAÇÃO DIRETA E SOLIDÁRIA.

POSSIBILIDADE.

1. Para fi ns do art. 543-C do CPC: Em ação de reparação de

danos movida em face do segurado, a Seguradora denunciada pode

ser condenada direta e solidariamente junto com este a pagar a

indenização devida à vítima, nos limites contratados na apólice.

2. Recurso especial não provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, por

unanimidade, negar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr.

Ministro Relator.

Para os efeitos do artigo 543-C do CPC, defi niu-se que, em ação de

reparação de danos movida em face do segurado, a Seguradora denunciada, a

ele litisconsorciada, pode ser condenada direta e solidariamente junto com este

a pagar a indenização devida à vítima, nos limites contratados na apólice. Os

Srs. Ministros Raul Araújo, Paulo de Tarso Sanseverino, Maria Isabel Gallotti,

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Antonio Carlos Ferreira, Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Buzzi e Massami

Uyeda votaram com o Sr. Ministro Relator.

Ausente, justifi cadamente, a Sra. Ministra Nancy Andrighi.

Sustentaram, oralmente, os Drs. Sérgio Ruy Barroso de Mello, pela

interessada Itaú Seguros (Amicus Curiae) e Sérgio Bermudes, pela interessada

Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização -

FENASEG (Amicus Curiae).

Brasília (DF), 08 de fevereiro de 2012 (data do julgamento).

Ministro Luis Felipe Salomão, Relator

DJe 20.4.2012

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luis Felipe Salomão: 1. José Francisco Pereira Silva ajuizou

ação indenizatória em face de Francelino Almeida Bueno e Gláucia Aparecida

Bueno, noticiando que, no dia 28.7.1993, quando atravessava a Av. Marechal

Rondon, n. 50, na cidade de Campinas/SP, foi atingido pelo veículo Ford

Escort de propriedade do primeiro réu, conduzido pela segunda ré, em razão

do qual o autor teria sofrido danos que deixaram sequelas, impossibilitando-o

de exercer suas funções laborais. Pleiteou a condenação dos réus ao pagamento

de dois salários mínimos mensais, até seu reestabelecimento para o exercício da

profi ssão.

Os réus contestaram e denunciaram à lide a Nacional Cia. de Seguros

(antiga denominação de Unibanco AIG Seguros S/A), em razão de contrato

celebrado com a litisdenunciada, com o escopo de eventual pagamento da

cobertura para danos a terceiros (fl s. 50-51).

A seguradora apresentou defesa reiterando “todos os termos da contestação

oferecida pela Ré-Denunciante”, assegurando que sua responsabilidade, no caso

de procedência do pedido, restringir-se-ia ao limite do seguro contratado (fl s.

88-89).

O Juízo de Direito da 8ª Vara Cível da Comarca de Campinas/SP julgou

improcedentes o pedido autoral e a denunciação da lide (fl s. 206-208).

Em grau de apelação, todavia, a sentença foi reformada para que o

pedido autoral fosse julgado parcialmente procedente, tendo sido reconhecida

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 11-28, novembro 2017 17

culpa concorrente no acidente, condenando solidariamente a seguradora

litisdenunciada ao pagamento da indenização, até o limite do valor coberto pela

apólice.

O acórdão recebeu a seguinte ementa:

RESPONSABILIDADE CIVIL. - Acidente de trânsito. Atropelamento. - Culpa

concorrente. - Autor que atravessou e rua sem a cautela devida. Ré que conduzia

veículo em velocidade incompatível com a sinalização da via púbica onde ocorreu

o evento. Laudo pericial informando que o autor foi considerado benefi ciário de

auxílio acidente do trabalho no INSS com incapacidade laboral de 50%. - Pensão

mensal a ser paga ao autor de 1/4 de dois salários mínimos, correspondente

aos seus vencimentos na data do acidente, até que o mesmo complete 65 anos

como pedido. Constituição de capital (CPC, art. 602 e Parágrafos). - Indenizatória

parcialmente procedente.

INTERVENÇÃO DE TERCEIROS. Denunciação da lide. Responsabilidade

civil. Acidente de trânsito. - Litisdenunciação não recusada pela seguradora

litisdenunciada. - Contestação da litisdenunciante encampada por esta.

Incidência do art. 75, I, do CPC. Caso em que cabe a seguradora litisdenunciada

fi car solidariamente condenada no valor da indenização devida pela segurada em

favor do autor, até o limite do valor coberto pela apólice.

- Recurso provido em parte. (fl s. 247-253)

Opostos embargos de declaração, foram eles rejeitados (fl s. 281-283).

Sobreveio recurso especial interposto por Nacional Cia. de Seguros

(Unibanco AIG Seguros S/A), apoiado nas alíneas “a” e “c” do permissivo

constitucional, no qual se alega, além de dissídio, ofensa ao art. 896 do Código

Civil e arts. 70, inciso III, 75, inciso I, e 76, todos do Código de Processo Civil.

Alega a recorrente, em síntese, que a solidariedade não se presume e que,

possuindo responsabilidade de natureza contratual, em razão de pacto celebrado

com um dos réus da ação, descabe sua condenação ao pagamento da indenização

diretamente ao autor, o qual não mantém com a recorrente nenhuma relação

jurídica.

Sem contrarrazões, o especial foi admitido (fl s. 342-343).

Os réus, Francelino Almeida Bueno e Gláucia Aparecida Bueno, também

interpuseram recurso especial (fl s. 289-294), ao qual foi negado seguimento (fl s.

342-343), tendo a decisão denegatória transitado em julgado.

Verifi cando que há multiplicidade de recursos que ascendem a esta Corte,

a versar sobre a possibilidade de condenação solidária de seguradora que

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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foi litisdenunciada pelo segurado, causador de danos a terceiro, em ação de

indenização por este ajuizada, afetei o julgamento do presente recurso especial

a esta Segunda Seção, nos termos do art. 543-C do CPC e da Resolução n.

08/2008.

O Ministério Público Federal, mediante parecer elaborado pelo

Subprocurador-Geral da República João Pedro de Saboia Bandeira de Mello

Filho, opina no sentido de que “se a seguradora comparece a Juízo aceitando

a denunciação da lide feita pelo réu e contestando o pedido principal, assume

ela a condição de litisconsorte passiva, formal e materialmente, podendo, em

consequência, ser condenada, direta e solidariamente, com o réu” (fl s. 501-507).

A FENASEG - Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e

de Capitalização, como amicus curiae, opina pela impossibilidade de condenação

solidária da seguradora em hipóteses como a dos autos (fl s. 443-456).

O recorrente carreou também parecer jurídico subscrito pelo Professor

Sylvio Capanema de Souza, amparando a tese recursal (fl s. 511-597).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Luis Felipe Salomão (Relator): 2. A controvérsia ora

analisada diz respeito à possibilidade de condenação direta e solidária da

Seguradora litisdenunciada, que interveio em ação ajuizada em desfavor do

segurado (denunciante), fi cando reconhecida a responsabilidade civil deste pelos

danos causados em razão de acidente de veículo automotor.

As soluções oferecidas pela doutrina e jurisprudência passam pelo exame

dos arts. 70, inciso III, e 75, inciso I, do CPC, e giram em torno, sobretudo,

da indagação quanto a posição processual assumida pelo denunciado na lide

principal.

Os mencionados artigos estão assim redigidos:

Art. 70. A denunciação da lide é obrigatória:

[...]

III - àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação

regressiva, o prejuízo do que perder a demanda.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 11-28, novembro 2017 19

Art. 75. Feita a denunciação pelo réu:

I - se o denunciado a aceitar e contestar o pedido, o processo prosseguirá

entre o autor, de um lado, e de outro, como litisconsortes, o denunciante e o

denunciado;

[...]

3. Malgrado a literalidade do inciso I, do art. 75, do CPC, apontar a

condição de litisconsorte para o denunciado que aceita a denunciação, e contesta

o pedido principal, a doutrina processualista se divide quanto à posição jurídica

do denunciado e, por consequência, quanto à possibilidade de condenação direta

para a satisfação do direito reclamado pelo autor, a variar conforme a posição

que assume.

A título de exemplos, Cássio Scarpinella Bueno acolhe entendimento

segundo o qual o litisdenunciado assume a posição de assistente simples do

denunciante, uma vez que somente em relação ao ré da demanda principal é que

se verifi ca a relação jurídica de direito material, e não com o adversário deste.

Nessa linha de raciocínio, em princípio não há falar em condenação solidária e

direta do denunciado para satisfazer a obrigação reconhecida do denunciante,

no caso, do segurado.

Confi ra-se o magistério do professor Scarpinella:

Destarte, o que deve ser posto em evidência para solucionar o impasse diz

respeito mais ao direito material do que ao plano processual. Deste prisma

de análise, é mais confortável sustentar que denunciante e denunciado não

têm qualquer vínculo jurídico de direito material em face do adversário do

denunciante e, ademais, nada pede para si e nada contra ele é pedido nesta

ação, a ‘ação principal’. Por implicação sistemática, o denunciado só pode ser

assistente simples do denunciante. Se não existe vínculo de direito material, disto

resulta a inviabilidade do binômio ‘condenação/execução direta’ (BUENO, Cássio

Scarpinella. Partes e terceiros no processo civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2003,

p. 264).

Em posição intermediária é a lição de Nelson Nery Junior e Rosa Maria

Nery, sustentando que a situação do litisdenunciado na lide principal é de

assistente simples, mas é possível a execução do título direcionada a ele, quando o

denunciante não possuir meios de suportar a obrigação, verbis:

Não é possível haver condenação solidária do denunciado e do denunciante em

face do adversário deste, já que não há relação jurídica entre eles. Nada obstante

não poder o juiz, tecnicamente, condenar o litisdenunciado solidariamente, a

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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sentença pode ser executada contra o litisdenunciado, por meio do cumprimento

da sentença (CPC 475-I et seq). Pode o ganhador da ação principal executar a

sentença diretamente contra o litisdenunciado, que perdeu a denunciação, caso

o devedor condenado na ação principal, e vencedor da denunciação, não tenha

condições de suportar a execução da ação principal. Ocorre sub-rogação do

credor da ação principal nos direitos do devedor, vencedor da denunciação (NERY

JUNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria. Código de processo civil comentado. 9 ed. São

Paulo: RT, 2006, p. 254).

Afi nado com essa posição, é o que preleciona Cândido Rangel Dinamarco,

para quem, ainda que se trate de assistente litisconsorcial, o denunciado continua

a ser assistente e nunca litisconsorte do denunciante, razão por que a sentença

dirigida às partes principais não pode atingi-lo.

Assim,

Como assistente - e ainda quando omisso no processo, sem participar - o

denunciado fi cará afi nal vinculado ao que se decidir quanto à causa pendente

entre o denunciante e seu adversário. Dados os limites do objeto do processo

colocado pela demanda inicial deste, o julgamento dessa causa não lhe dirá

respeito, diretamente (DINAMARCO, Cândido Rangel. Intervenção de terceiros. 5

ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2009, p 166).

Na mesma linha, em outra obra doutrinária, Dinamarco arremata:

A condenação disciplinada no art. 76 do CPC é imposta ao denunciado e

concedida exclusivamente em favor do denunciante. Não se admite a condenação

do denunciado em favor do autor da demanda principal, porque nenhuma

demanda moveu este àquele e sequer existia qualquer relação jurídica material

que os interligasse (o terceiro era parte ilegítima para a demanda proposta

pelo autor). Ainda que a condenação direta representasse vantagens, só por

disposição expressa de lei ela poderia ser admitida (DINAMARCO, Cândido Rangel.

Instituições de direito processual. 4 ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 409).

Há, em sentido diverso, doutrina de peso que aponta solução mais prática

e permissiva, de modo a franquear ao juízo sentenciante a possibilidade de

condenar direta e solidariamente o denunciado, sobretudo no caso de seguradora,

sem necessidade de o autor fi car a mercê da solvabilidade do réu-denunciante.

São as posições de Humberto Th eodoro Júnior e Athos Gusmão Carneiro.

Th eodoro Júnior - a par de franquear a via da execução direta da sentença

contra a denunciada, em havendo denunciação (Curso de direito processual civil.

46 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007, vol. I, pp. 149-150) -, assume posição

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 11-28, novembro 2017 21

mais arrojada, no particular relativo ao contrato de seguro, asseverando uma

corresponsabilidade entre o segurado e a seguradora no que concerne aos danos

causados por aquele a terceiros. Em razão dessa obrigação conjunta e primária,

afi rma que não há mais, sobretudo depois da vigência do Código Civil de 2002 -

diploma que conferiu nova roupagem ao contrato de seguro de responsabilidade

civil -, um direito de regresso tradicionalmente reconhecido do segurado para

com a seguradora, não cabendo, nessa hipótese, a denunciação da lide, mas o

chamamento ao processo, verbis:

d) Outra grande inovação de direito material se deu em relação ao contrato

de seguro de responsabilidade civil, que o CC não trata como fonte de obrigação

de reembolso de indenização paga pelo segurado à vítima do dano, e sim como

garantia de tal pagamento, a ser efetuado diretamente pela seguradora (CC, art.

787).

e) Dessa remodelação do seguro decorre, em primeiro lugar, a ação direta do

ofendido contra a seguradora, para haver a indenização a que esta se obrigou;

e, em conseqüência desse vínculo estabelecido imediatamente entre a vítima

do dano e a seguradora, não há mais lugar para falar-se em direito regressivo,

nos moldes tradicionais, quando o segurado vem a ser demandado pela citada

indenização. O que o CC implantou foi, na realidade, uma coobrigação do

segurado e da seguradora perante a vítima do dano.

f ) Não havendo direito de regresso, o caso do seguro de responsabilidade

civil, quando a vítima do dano aciona o segurado, não mais se acomoda no

regime da denunciação da lide, já que esta fi gura interventiva se acha estruturada

especifi camente para veicular ação regressiva (CPC, art. 70, III).

g) Transformando o contrato de seguro de responsabilidade civil em

instrumento de garantia, dele decorre uma coobrigação em prol da vítima do

dano, de modo que esta pode demandar a indenização tanto do causador do

prejuízo como de sua seguradora. Se assim é, a fi gura de intervenção de terceiro

de que o segurado terá de se valer, quando acionado pelo ofendido, será o

chamamento ao processo. É esse o remédio interventivo, e não a denunciação da

lide, o próprio para inserir outros coobrigados no processo pendente instaurado

apenas contra um deles (CPC, art. 77) (THEODORO JUNIOR, Humberto. Novidades

no campo da intervenção de terceiros no processo civil: a denunciação da lide

per saltum (ação direta) e o chamamento ao processo da seguradora na ação de

responsabilidade civil. in. Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil, vol. 1

(jul./ago. 2004). Porto Alegre: Magister, 2004, p. 37).

A solução proposta por Athos Gusmão Carneiro é bastante conhecida por

esta Corte, que a acolheu em diversos precedentes, a qual franqueia ao autor-

vencedor a execução direta contra o denunciado, verbis:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

22

Nos casos de ação regressiva por responsabilidade civil (inclusive nas

demandas contra o Estado), igualmente consideramos possível ao autor

executar a sentença condenatória não só contra o réu denunciante como contra o

denunciado, seu litisconsorte por força da lei processual, isso naturalmente dentro

dos limites da condenação na demanda regressiva (CARNEIRO, Athos Gusmão.

Intervenção de terceiros. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 153).

4. É bem de ver que as posições doutrinárias dissonantes traduzem duas

tendências claras: a primeira, mais formalista, confere maior relevo à estrita

técnica processual e está alicerçada na análise científi ca acerca da natureza

jurídica da denunciação da lide; a segunda, mais permissiva, busca maior

praticidade às vias de satisfação da obrigação reconhecida na sentença, em mira

valores de outro jaez, como a efetividade da tutela judicial, economia processual

e duração razoável do processo.

Assim exposta a questão, rogando as vênias devidas, tenho que a

fl exibilização do sistema, de modo a permitir a condenação direta e solidária

da seguradora litisdenunciada, é a técnica que melhor se afi na com os atuais

contornos dos direitos processual e material civil brasileiros.

É de se ter em vista que o processo não é instrumento exclusivo de

satisfação de interesses privados, mas certamente possui escopo social e público.

Remonta à década de 60, por exemplo, a lúcida percepção de Galeno

Lacerda acerca da imorredoura antítese verifi cada no processo, entre a justiça

individual e a paz social gerada pelo término dos litígios.

“Processo é meio”, dizia Galeno, “meio de solução justa de um confl ito

individual de interesses e meio também, efi caz e pronto, de harmonia social”.

No distante ano de 1961, apregoava o renomado professor dos pampas

que o ponto de equilíbrio entre esses dois vieses do processo (individual/privado

e social/público) se hospedaria na capacidade de o sistema não hipertrofi ar,

nem a fi nalidade individual, nem a social do processo, mas que, no Brasil, o

traço marcante da cultura individualista do processo encontrava-se presente

(LACERDA, Galeno. Processo e cultura. Revista de direito processual civil,

volume 3 (janeiro a junho de 1961), ano II. São Paulo: Saraiva S.A. livreiros

editores, 1961, pp. 74-86).

Nesse sentido, confi ra-se a lição de Galeno Lacerda acerca dessa disfunção

do processo civil brasileiro, que, por vezes, privilegia exacerbadamente sua feição

individual, em detrimento do escopo social e público:

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 11-28, novembro 2017 23

Esta deturpação do sentido da forma só pode servir aos fi ns de uma cultura

individualista. Se ela desserve aos ideais sociais de rápida solução do litígio, pela

variedade de recursos que oferece contra a decisão das múltiplas exceções de

nulidade, se contraria também a Justiça de mérito, só pode representar o papel

espúrio de defender o interesse da parte sem-razão, de se prestar aos fi ns da

chicana e da má-fé processual.

Lamentavelmente, também este traço marcante de individualismo se

apresenta no processo civil brasileiro. A reforma operada pelos Códigos Federais

de pouco ou nada adiantou, principalmente porque surgida uma cultura em que

a consideração dos valores sociais ainda está na infância (LACERDA, Galeno. Op.

cit. p. 84).

Na mesma linha, são as críticas mais atuais de José Carlos Barbosa Moreira,

nomeando de neoprivatismo essa pretensão de considerar o processo como “coisa

das partes”, de costas para sua relevante função social de colocar termo a pontos

de tensão existentes na sociedade.

Aduz Barbosa Moreira:

É duvidosa a designação que melhor convém ao pensamento criticado neste

trabalho. Visto que seus representantes aludem, com aspas manifestamente

depreciativas, a processo civil “social”, talvez se pudesse cogitar de designá-

la, com análogas aspas, como processo civil “anti-social”. Mas não desejamos

ferir, com tão antipático rótulo, as suscetibilidades de juristas ilustres, que nos

merecem todo o respeito.

Outra opção, menos áspera, pode basear-se na pecha, que se lança, de

exacerbação do elemento publicístico no processo civil. Pois bem: à orientação

contrária não cairá mal, nessa perspectiva, a denominação de privatismo.

Sejamos, porém, mais exatos: já que semelhante orientação nos remete à

mentalidade dominante em tempos idos - e infelizmente, ao que tudo indica,

reerguida da sepultura em que parecia jazer -, numa época em que o processo

civil era tido e havido como “coisa das partes” (Sache der Parteien, seguindo a

conhecida expressão alemã), tomamos a liberdade de chamar-lhe neoprivatismo,

na esperança de que isso não desagrade aos seus ardorosos propagandistas

(MOREIRA, José Carlos Barbosa. O neoprivatismo no processo civil. in. Teoria Geral

do Processo: panorama doutrinário. São Paulo: JusPodivm, 2010, p. 404).

Com amparo na função pública do processo, rejeitam-se tecnicismos

processuais, no mais das vezes servis exclusivamente a interesses privados postos

em juízo, em obséquio a propósito maior, que é a pacifi cação social, a efetividade

da tutela judicial prestada, a duração razoável do processo e, em hipóteses como

a tratada nos autos, a indenizabilidade plena do dano sofrido.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

24

5. No caso da controvérsia ora examinada, é de se ter em vista que, se é

verdade que a denunciação da lide busca solução mais expedita relativamente

à situação jurídica existente entre denunciante (segurado) e denunciado

(seguradora), dispensando ação regressiva autônoma, não é menos verdadeira a

afi rmação de que a fórmula que permite a condenação direta da litisdenunciada

possui os mesmos princípios inspiradores desse benfazejo instrumento

processual.

E ainda mais, com a vantagem de não se benefi ciar exclusivamente o

segurado, exatamente o causador do dano injusto, mas também o autor, a vítima

do dano causado injustamente pelo denunciante.

Essa solução satisfaz, a um só tempo, os anseios de um processo justo

e célere e o direito da parte contrária (seguradora) ao devido processo legal,

uma vez que, a par de conceder praticidade ao comando judicial, possibilita o

exercício do contraditório e da ampla defesa, com todos os meios e recursos a ela

inerentes.

Em uma palavra, realiza um processo judicial efetivo, que é “aquele que,

observado o equilíbrio entre os valores segurança e celeridade, proporciona às

partes o resultado desejado pelo direito material” (BEDAQUE, José Roberto

dos Santos. Efetividade do processo e técnica processual. 3ª ed. Malheiros Editores:

São Paulo, 2010, p. 49).

E, no caso, o exato resultado desejado pelo direito material não é outro

senão o de que a vítima de dano causado por acidente de veículo automotor seja

indenizada, efetiva e prontamente, e que a seguradora suporte, ao fi m e ao cabo,

esses prejuízos experimentados pelo terceiro, no limite dos valores contratados

pelo segurado, depois de reconhecida sua condição de causador do dano.

Caso contrário, é possível imaginar que o segurado obtivesse lucro com

o ilícito praticado, na medida em que poderia receber o valor do seguro de

responsabilidade civil, sem que automaticamente esse valor fosse repassado à

vítima.

Por outro lado, se a vítima for obrigada a litigar em execução exclusivamente

contra o segurado, nada poderá garantir o cumprimento da condenação, mesmo

que o segurado efetivamente recebesse o valor do seguro contra danos a terceiro.

6. Por esses motivos, e mais aqueles encartados nos precedentes desta

Corte, a jurisprudência remansosa das Turmas de Direito Privado deve ser

mantida, no sentido de que seguradora, aceitando a denunciação da lide

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 11-28, novembro 2017 25

realizada pelo segurado, inclusive contestando os pedidos do réu, assume

posição de litisconsorte passivo na demanda principal, podendo ser condenada

direta e solidariamente a pagar os prejuízos experimentados pelo adversário

do denunciante, nos limites contratados na apólice para a cobertura de danos

causados a terceiros.

Nesse sentido, confi ram-se os seguintes precedentes:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. LITISDENUNCIAÇÃO. SEGURADORA.

CONDENAÇÃO E EXECUÇÃO DIRETA E SOLIDÁRIA. POSSIBILIDADE. FUNÇÃO

SOCIAL DO CONTRATO DE SEGURO. SÚMULA 83/STJ.

1. Comparecendo a seguradora em juízo, aceitando a denunciação da lide feita

pelo réu e contestando o pedido principal, assume a condição de litisconsorte

passiva.

2. Possibilidade de ser condenada e executada, direta e solidariamente, com o

réu.

3. Por se tratar de responsabilidade solidária, a sentença condenatória pode

ser executada contra qualquer um dos litisconsortes.

4. Concreção do princípio da função social do contrato de seguro, ampliando o

âmbito de efi cácia da relação contratual.

5. Precedentes específi cos da Terceira e da Quarta Turma do STJ.

6. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

(AgRg no REsp 474.921/RJ, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,

TERCEIRA TURMA, julgado em 05/10/2010, DJe 19/10/2010)

PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO DIRECIONADA A SEGURADORA DENUNCIADA

EM PROCESSO DE CONHECIMENTO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. CABIMENTO.

OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA DECORRENTE DA RELAÇÃO PROCESSUAL ESTABELECIDA.

CAUSALIDADE RECONHECIDA.

1. Ao assumir a seguradora condição de litisconsorte com a denunciante no

processo de conhecimento, a obrigação decorrente da sentença condenatória

passa a ser solidária em relação ao segurado e à seguradora.

[...]

(REsp 886.084/MS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,

julgado em 16/03/2010, DJe 06/04/2010)

CIVIL E PROCESSUAL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. COLISÃO. MORTE.

AÇÃO INDENIZATÓRIA PROMOVIDA CONTRA O CAUSADOR DO SINISTRO.

DENUNCIAÇÃO À LIDE DA SEGURADORA ACEITA E APRESENTADA CONTESTAÇÃO.

INTEGRAÇÃO AO PÓLO PASSIVO, EM LITISCONSÓRCIO COM O RÉU. EXCLUSÃO

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

26

INDEVIDA PELO TRIBUNAL ESTADUAL. SOLIDARIEDADE NA CONDENAÇÃO, ATÉ O

LIMITE DO CONTRATO DE SEGURO. CPC, ART. 75, I.

I. Promovida a ação contra o causador do acidente que, por sua vez, denuncia

à lide a seguradora, esta, uma vez aceitando a litisdenunciação e contestando o

pedido inicial se põe ao lado do réu, como litisconsorte passiva, nos termos do

art. 75, I, da lei adjetiva civil.

II. Reinclusão da seguradora na lide e, por conseguinte, na condenação, até o

limite do seguro contratado.

III. Recurso especial conhecido e provido. (REsp 670.998/RS, Rel. Ministro ALDIR

PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 01/10/2009, DJe 16/11/2009)

PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS

MATERIAIS. DENUNCIAÇÃO DA LIDE DA SEGURADORA. ACEITAÇÃO DA

DENUNCIAÇÃO E CONTESTAÇÃO DO MÉRITO. CONDENAÇÃO DIRETA E SOLIDÁRIA

DA SEGURADORA. CABIMENTO. PRECEDENTES.

Em demanda onde se busca a indenização de danos materiais, aceitando o

litisdenunciado a denunciação feita pelo réu, inclusive contestando o mérito

da causa, exsurge a fi gura do litisconsórcio anômalo, prosseguindo o processo

entre o autor de um lado e, de outro, como litisconsortes, o denunciado e o

denunciante, que poderão vir a ser condenados, direta e solidariamente, ao

pagamento da indenização. Esta, nos termos da jurisprudência uníssona deste

Tribunal, é a interpretação a ser dada ao preceito contido no artigo 75, inciso I, do

Código de Processo Civil.

Recurso especial provido.

(REsp 686.762/RS, Rel. Ministro CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA, julgado em

29/11/2006, DJ 18/12/2006, p. 368)

CIVIL E PROCESSUAL. SINISTRO. VEÍCULO AUTOMOTOR. AÇÃO DE REPARAÇÃO

DE DANOS MORAIS. DENUNCIAÇÃO DA LIDE FEITA PELO RÉU. ACEITAÇÃO.

CONTESTAÇÃO DO PEDIDO PRINCIPAL. CONDENAÇÃO DIRETA DA DENUNCIADA

(SEGURADORA) E SOLIDÁRIA COM O RÉU. POSSIBILIDADE.

1 - Se a seguradora comparece a Juízo aceitando a denunciação da lide feita

pelo réu e contestando o pedido principal, assume ela a condição de litisconsorte

passiva, formal e materialmente, podendo, em conseqüência, ser condenada,

direta e solidariamente, com o réu.

Precedentes do STJ.

[...]

(REsp 699.680/DF, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURMA,

julgado em 29/06/2006, DJ 27/11/2006, p. 288)

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 11-28, novembro 2017 27

CIVIL E PROCESSO CIVIL - AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS - DENUNCIAÇÃO

DA LIDE - CONTESTAÇÃO - CONDENAÇÃO DIRETA DA LITISDENUNCIADA - CPC,

ART. 75, I - INTERPRETAÇÃO PRAGMÁTICA.

- A seguradora-litisdenunciada ao oferecer contestação, assume posição de

litisconsorte passiva do denunciante. Pode assim, ser condenada em conjunto

com este, à indenização por acidente de trânsito. Esta é a interpretação correta e

pragmática do Art. 75, I do CPC.

(REsp 275.453/RS, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, TERCEIRA

TURMA, julgado em 22/02/2005, DJ 11/04/2005, p. 288)

SEGURO. Acidente de veículo. Insolvência do causador do dano. Cobrança

contra sua seguradora. Legitimidade.

Insolvente o causador do dano, o crédito do lesado reconhecido em sentença

pode ser cobrado diretamente da sua seguradora, a quem fora denunciada a lide,

no limite do contrato. Não é requisito para a execução do contrato de seguro

para cobertura de danos resultantes de acidente de trânsito o prévio pagamento

por parte do segurado, quando ficar demonstrada essa impossibilidade pela

insolvência do devedor.

Recurso não conhecido.

(REsp 397.229/MG, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA TURMA,

julgado em 02/05/2002, DJ 12/08/2002, p. 220)

Verificam-se também diversas decisões monocráticas que caminham

no mesmo sentido: Ag 1.384.812/SP, Rel. Ministro Sidnei Beneti, REsp

1.203.813/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, AREsp 25.571/RS, Min. Massami

Uyeda, dentre muitas outras.

6. Assim, o entendimento a ser fi rmado para efeitos do art. 543-C do

CPC, que ora encaminho, é o seguinte:

Em ação de reparação de danos movida em face do segurado, a Seguradora

denunciada pode ser condenada direta e solidariamente junto com este a pagar a

indenização devida à vítima, nos limites contratados na apólice.

7. No caso concreto, o acórdão recorrido aplicou com exatidão o

entendimento ora proposto, razão pela qual deve ser mantido.

8. Diante do exposto, nego provimento ao recurso especial.

É como voto.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

28

VOTO

O Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino: Sr. Presidente, o eminente

Relator mencionou, inclusive, precedente da minha relatoria, na mesma linha

da sua conclusão. Acompanho integralmente o voto do Sr. Ministro Relator,

louvando o trabalho de Sua Excelência.

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Súmula n. 538

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SÚMULA N. 538

As administradoras de consórcio têm liberdade para estabelecer a respectiva

taxa de administração, ainda que fi xada em percentual superior a dez por cento.

Referências:

CPC, art. 543-C.

Lei n. 8.177/1991, art. 33, parágrafo único.

Circular - BACEN n. 2.386/1993, art. 34.

Circular - BACEN n. 2.766/1997, art. 12, § 3º.

Precedentes:

EREsp 927.379-RS (2ª S, 12.11.2008 – DJe 19.12.2008)

EREsp 992.740-RS (2ª S, 09.06.2010 – DJe 15.06.2010)

(*)REsp 1.114.604-PR (2ª S, 13.06.2012 – DJe 20.06.2012)

(*)REsp 1.114.606-PR (2ª S, 13.06.2012 – DJe 20.06.2012) –

acórdão publicado na íntegra

Rcl 12.836-BA (2ª S, 09.10.2013 – DJe 16.10.2013)

AgRg no

AgRg no REsp 1.059.453-RS (3ª T, 28.04.2009 – DJe 12.05.2009)

AgRg nos

EDcl no REsp 1.145.248-RS (3ª T, 24.11.2009 – DJe 02.12.2009)

AgRg no REsp 1.029.099-RS (3ª T, 14.12.2010 – DJe 17.12.2010)

AgRg no REsp 1.187.148-RS (3ª T, 03.05.2011 – DJe 10.05.2011)

AgRg no REsp 1.115.354-RS (3ª T, 27.03.2012 – DJe 03.04.2012)

AgRg no REsp 1.115.965-RS (3ª T, 11.04.2013 – DJe 16.04.2013)

AgRg no AREsp 18.874-RS (3ª T, 16.05.2013 – DJe 23.05.2013)

AgRg no REsp 1.092.876-RS (4ª T, 03.03.2009 – DJe 16.03.2009)

AgRg no REsp 1.102.636-RS (4ª T, 19.11.2009 – DJe 14.12.2009)

REsp 796.842-RS (4ª T, 18.03.2010 – DJe 12.04.2010)

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AgRg no REsp 1.188.974-RS (4ª T, 26.04.2011 – DJe 05.05.2011)

AgRg no REsp 1.145.921-RS (4ª T, 05.05.2011 – DJe 12.05.2011)

AgRg no REsp 1.097.237-RS (4ª T, 16.06.2011 – DJe 05.08.2011)

AgRg nos

EDcl no REsp 1.100.270-RS (4ª T, 04.10.2011 – DJe 13.10.2011)

AgRg no REsp 1.179.514-RS (4ª T, 20.10.2011 – DJe 26.10.2011)

AgRg no

AgRg no AREsp 100.871-SP (4ª T, 05.03.2013 – DJe 12.03.2013)

AgRg no REsp 1.105.493-RS (4ª T, 13.08.2013 – DJe 02.09.2013)

AgRg no AREsp 443.630-RS (4ª T, 10.06.2014 – DJe 24.06.2014)

(*) Recursos repetitivos.

Segunda Seção, em 10.6.2015

DJe 15.6.2015

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RECURSO ESPECIAL N. 1.114.606-PR (2009/0069909-9)

Relator: Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva

Recorrente: Randon Administradora de Consorcios Ltda

Advogados: Flávio Lauri Becher Gil e outro(s)

Osmar Mendes Paixão Côrtes e outro(s)

Recorrido: TTL Transportes e Representações Ltda

Advogado: Jonas Adalberto Pereira e outro(s)

EMENTA

RECURSO ESPECIAL. RITO DO ART. 543-C DO CPC.

CONSÓRCIO. TAXA DE ADMINISTRAÇÃO. FIXAÇÃO.

LIMITE SUPERIOR A 10% (DEZ POR CENTO). AUSÊNCIA

DE ILEGALIDADE E ABUSIVIDADE. LIVRE PACTUAÇÃO

PELAS ADMINISTRADORAS. POSSIBILIDADE.

1 - As administradoras de consórcio têm liberdade para fi xar

a respectiva taxa de administração, nos termos do art. 33 da Lei n.

8.177/91 e da Circular n. 2.766/97 do Banco Central, não havendo

que se falar em ilegalidade ou abusividade da taxa contratada superior a

10% (dez por cento), na linha dos precedentes desta Corte Superior de

Justiça (AgRg no REsp n. 1.115.354/RS, Rel. Ministro Paulo de Tarso

Sanseverino, Terceira Turma, julgado em 27/3/2012, DJe 3/4/2012;

AgRg no REsp n. 1.179.514/RS, Rel. Ministro Antonio Carlos

Ferreira, Quarta Turma, julgado em 20/10/2011, DJe 26/10/2011;

AgRg no REsp n. 1.097.237/RS, Rel. Ministro Raul Araújo, Quarta

Turma, julgado em 16/06/2011, DJe 5/8/2011; AgRg no REsp n.

1.187.148/RS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado

em 3/5/2011, DJe 10/5/2011; AgRg no REsp n. 1.029.099/RS, Rel.

Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em 14/12/2010,

DJe 17/12/2010; EREsp n. 992.740/RS, Rel. Ministro Luis Felipe

Salomão, Segunda Seção, julgado em 9/6/2010, DJe 15/6/2010).

2 - O Decreto n. 70.951/72 foi derrogado pelas circulares

posteriormente editadas pelo BACEN, que emprestaram fi el execução

à Lei n. 8.177/91.

3 - Recurso especial provido.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

34

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Segunda Seção, por unanimidade, conhecer do recurso especial e lhe dar

provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Para os efeitos do artigo 543-C, do CPC, fi cou defi nido o seguinte:

1 - As administradoras de consórcio têm liberdade para fi xar a respectiva

taxa de administração, nos termos do art. 33 da Lei n. 8.177/91 e da Circular

n. 2.766/97 do Banco Central, não havendo que se falar em ilegalidade ou

abusividade da taxa contratada superior a 10% (dez por cento), na linha dos

precedentes desta Corte Superior de Justiça.

2 - O Decreto n. 70.951/72 foi derrogado pelas circulares posteriormente

editadas pelo BACEN, que emprestaram fi el execução à Lei n. 8.177/91. Os

Srs. Ministros Marco Buzzi, Nancy Andrighi, Massami Uyeda, Luis Felipe

Salomão, Raul Araújo, Paulo de Tarso Sanseverino, Maria Isabel Gallotti e

Antonio Carlos Ferreira votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 13 de junho de 2012 (data do julgamento).

Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Relator

DJe 20.6.2012

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva: Trata-se de recurso especial

interposto por RANDON ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS

LTDA., com fundamento nas alíneas “a” e “c” do permissivo constitucional,

contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná que, no julgamento

de apelação cível interposta pela ora recorrente, reformou sentença terminativa

em virtude do reconhecimento de carência de ação da autora, empresa

TRANSPORTE E REPRESENTAÇÕES LTDA. - T.T.L., afastando a

possibilidade da cobrança de taxa de administração em percentuais acima do

legal, nos termos da seguinte ementa:

“AÇÃO DE COBRANÇA - CONSÓRCIO - DESISTÊNCIA - INTERESSE DE AGIR

RECONHECIDO - DIREITO À RESTITUIÇÃO DAS PARCELAS PAGAS - ENCARGOS

CONTRATUAIS - TAXA DE ADMINISTRAÇÃO - LIMITE 10% - DECRETO N. 70.941/1972

- DISPOSITIVO LEGAL EM VIGÊNCIA - APLICABILIDADE - REDUTOR CONTRATUAL -

PREJUÍZO - AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO - CORREÇÃO MONETÁRIA - MATÉRIA

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 29-41, novembro 2017 35

SUMULADA - JUROS DE MORA - INCIDÊNCIA APÓS O 31º DIA DA DATA DO

ENCERRAMENTO DO GRUPO - SUCUMBÊNCIA - INVERSÃO - PROVIMENTO DO

RECURSO” (fl . 253 e-STJ).

Nas razões do apelo nobre, sustenta a recorrente violação dos artigos 7º e

8º da Lei n. 5.768/71, 33 da Lei n. 8.177/91 e 39 do Decreto n. 70.951/72, bem

como dissídio jurisprudencial.

Para tanto, argumenta ser “equivocado o entendimento do julgador ao afi rmar

que o Banco Central do Brasil não pode deliberar acima dos permissivos legais,

porquanto tal incumbência lhe foi autorizada pelo art. 33, da Lei Federal n. 8.177 de

01.03.1991, que transferiu as atribuições previstas nos arts. 7º e 8º da Lei 5.768/71”

(fl . 292 - e-STJ).

Ainda de acordo com a recorrente, “as circulares editadas pelo BACEN

decorrem diretamente de atribuições conferidas por lei”, razão pela qual “sua

existência de determinações devem ser respeitadas como tais” (fl . 293 - e-STJ).

Ademais, entende “inaplicável o art. 42, do Decreto n. 70.951, de 09.8.1972,

vez que a partir de 30 de junho de 1992, com a edição da Circular n. 2.196, e,

posteriormente, em 03 de julho de 1997, com a Circular n. 2.766/97, ambas do

Banco Central do Brasil, o Governo, considerando que os percentuais permitidos eram

insufi cientes para a sobrevivência das administradoras não estabeleceu percentual

máximo para a cobrança de Taxa de Administração” (fl . 293 - e-STJ).

Aponta dissídio jurisprudencial entre o acórdão recorrido e o Recurso

Especial n. 918.627/RS, paradigma cujo teor destoa do posicionamento exarado

pelo Tribunal local por admitir “a total liberdade das empresas administradoras de

consórcio para fi xação da taxa de administração” (fl . 300 - e-STJ).

Após as contrarrazões, o recurso especial (fls. 325-328 - e-STJ) foi

admitido na origem como representativo de controvérsia.

Diante da multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica tese de

direito, qual seja, a aplicação das disposições do Decreto n. 70.951/72 no tocante

ao limite do percentual da taxa de administração cobrado pelas administradoras

nos contratos de consórcio, tanto o julgamento do presente recurso especial,

como o do REsp n. 1.114.604/PR, anexo, foram afetados à Segunda Seção desta

Corte, cumprindo o rito do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ n. 8/08.

Ofi ciados os Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal e

Territórios, os Tribunais Regionais Federais e o Banco Central do Brasil, não

houve manifestação nos autos.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

36

O ilustre Subprocurador-Geral da República, Dr. José Bonifácio Borges

de Andrada, opinou pelo provimento do recurso especial, nos termos da ementa

que ora se transcreve:

“DIREITO DO CONSUMIDOR - CONSÓRCIO - TAXA DE ADMINISTRAÇÃO.

- Consoante entendimento fi rmado pela Segunda Seção do Superior Tribunal de

Justiça, as administradoras de consórcio possuem liberdade para fi xar a respectiva

taxa de administração, nos termos do art. 33 da Lei 8.177/91 e da Circular 2.766/97

do BACEN.

- Parecer pelo conhecimento e provimento parcial do recurso especial” (fl . 358 -

e-STJ).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva (Relator): Conforme já relatado,

diante da multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica tese de

direito, qual seja, a imposição de limites de fi xação de taxa de administração às

administradoras de consórcio, tanto o julgamento do presente recurso especial

e como o do REsp n. 1.114.604, anexo, foram afetados à Segunda Seção desta

Corte, cumprindo o rito do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ n. 8/08.

Na origem, a ora recorrida - T.T.L. - TRANSPORTES E

REPRESENTAÇÕES LTDA. - propôs ação ordinária contra RANDON

CONSÓRCIOS S/C LTDA. com o fi m de requerer a condenação do Consórcio

à restituição dos valores pagos, com a incidência de juros, “declarando-se nula

toda e qualquer cláusula abusiva que venha a impedir o ressarcimento adequado e

legal” (fl . 25 e-STJ).

O Tribunal de origem afi rmou que “a taxa de administração estipulada no

contrato encontra-se fora dos parâmetros legais” (fl . 256 e-STJ).

Assim, para o Tribunal local, “o Decreto n. 70.951/72, ao tratar sobre

consórcios e outras formas de sociedades civis estabelece os limites de fi xação da taxa de

administração: ‘art. 42 - as despesas de administração cobradas pela sociedade de fi ns

exclusivamente civis não poderão ser superiores a doze por cento (12%) do valor do

bem, quando este for de preço até cinquenta (50) vezes o salário mínimo local, e a dez

por cento (10%) quando de preço superior a este limite” (fl . 257 - e-STJ).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 29-41, novembro 2017 37

Conheço do recurso especial e passo ao julgamento do mérito.

Antes de tudo, observe-se que a limitação anteriormente imposta às taxas

de administração havia sido fi xada por atos que já se encontram revogados. Por

isso, impõe-se breve digressão histórica:

1) A Lei n. 5.468/71, no caput e inciso I, e no art. 8º, caput e incisos I e

III, atribuía ao Ministério da Fazenda a competência para regulamentar as

atividades das administradoras de consórcio.

2) Com base na Lei n. 5.768/71, foi editado o Decreto n. 70.951/72, cujos

arts. 42 e 39 estabeleceram as seguintes diretrizes quanto à fi xação das despesas

de administração:

“Art. 42. As despesas de administração cobradas pela sociedade de fins

exclusivamente civis não poderão ser superiores a doze por cento (12%) do valor

do bem, quando este for de preço até cinquenta (50) vezes o salário-mínimo

local, e a dez por cento (10%) quando de preço superior esse limite.

§ 1º. As associações civis de fi ns não lucrativos e as sociedades mercantis, que

organizarem consórcio para aquisição de bens de seu comércio ou fabrico, somente

poderão cobrar as despesas de administração efetiva e comprovadamente realizadas

com a gestão do consórcio, no máximo até à metade das taxas estabelecidas neste

artigo.”

“Art. 39. O Ministério da Fazenda, visando adequar as operações de que trata o

artigo 31 às condições de mercado ou da política econômica fi nanceira, poderá fi xar

disposições diferentes das previstas neste Regulamento quanto a: limites de

prazo, de participantes, de capital social e de valores dos bens, direitos ou serviços;

normas e modalidades contratuais; percentagens máximas permitidas a título de

despesas administrativas; valores dos prêmios a distribuir.”

3) Com a edição da Lei n. 8.177/91, atribuiu-se a competência para

normatização das operações de consórcio ao Banco Central do Brasil - BACEN,

como se afere de seu art. 33:

“Art. 33. A partir de 1º de maio de 1991, são transferidas ao Banco Central

do Brasil as atribuições previstas nos arts. 7º e 8º da Lei n. 5.768, de 20 de dezembro

de 1971, no que se refere às operações conhecidas como consórcio, fundo mútuo

e outras formas associativas assemelhadas, que objetivem a aquisição de bens de

qualquer natureza.

Parágrafo único. A fi scalização das operações mencionadas neste artigo, inclusive

a aplicação de penalidades, será exercida pelo Banco Central do Brasil.”

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

38

4) O BACEN, ao fazer jus ao Poder Regulamentar que lhe foi garantido

pela nova norma, editou duas circulares sobre o tema, quais sejam, as Circulares

n. 2.386/93 e n. 2.766/97, que não fixaram nenhum limite às taxas de

administração. Nesse sentido, cite-se o teor do art. 34 da Circular n. 2.766/97:

“Art. 34. A taxa de administração será fixada pela administradora no

contrato de adesão do consorciado, devendo ser fi xado mesmo percentual para

todos os participantes do grupo, sendo vedada sua alteração para maior durante o

prazo de duração do grupo.

§ 1º. As associações de fi ns não lucrativos somente poderão cobrar as despesas

efetivas e comprovadamente realizadas com a gestão do grupo.”

5) Em novembro de 2006, o BACEN expediu portaria na qual afi rma

expressamente que o art. 42 do Decreto n. 70.951/72 está derrogado em razão

da Lei n. 8.177/91.

No particular, o BACEN, ao exercer sua competência normativa decorrente

da Lei n. 8.177/91, diploma que lhe transferiu a incumbência de regulamentar

o regime relativo aos consórcios, editou circulares que autorizam a cobrança de

taxas de administração nos moldes atuais, impedindo a aplicação do Decreto n.

70.951/72, que perdeu efi cácia.

Consequentemente, a regulamentação da Lei n. 8.177/91 pelo BACEN

por meio da edição de circulares que dispuseram sobre as taxas de administração,

já não se vinculava, por óbvio, ao Decreto n. 70.951/72.

No caso, não há nenhuma abusividade do órgão regulador e fi scalizador

da atividade econômica, que é o Banco Central do Brasil, ao não reeditar

atos fi xando patamar máximo para as taxas de administração concernentes ao

consórcio.

Ao contrário.

Ressalte-se que a Circular n. 2.196/96 minorou os limites impostos aos

consórcios e foi revogada pela Circular n. 2.766/97. Esta última deixou de expedir

nova regulamentação sobre a limitação máxima concernentes aos percentuais relativos

à taxa de administração.

O Decreto n. 70.951/72 foi derrogado pelas circulares posteriormente

editadas pelo BACEN, que emprestam fi el execução à Lei n. 8.177/91.

A sistemática atual, a partir da análise das normas que regulamentam a Lei

n. 8.177/91 editadas pelo BACEN, afasta qualquer limite em relação às taxas de

administração, que poderão ser fi xadas livremente pelo próprio mercado.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 29-41, novembro 2017 39

É o que se extrai dos seguintes arestos:

“AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL.

ART. 460 DO CPC. OBSERVÂNCIA DA PRETENSÃO RECURSAL. NEGATIVA DE AFRONTA.

CONSÓRCIO. BEM IMÓVEL. TAXA DE ADMINISTRAÇÃO. LIVRE PACTUAÇÃO. RECURSO

ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO.

1 - A alegação de julgamento extra petita não merece ser acolhida quando a Corte

de origem, ao conhecer da questão, observou os estritos lindes do recurso, devendo

a pretensão ser extraída da interpretação lógico-sistemática da petição, a partir da

análise de todo o seu conteúdo.

2 - Este Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento de que as

administradoras de consórcio possuem liberdade para fixar a respectiva taxa de

administração, nos termos do art. 33 da Lei n. 8.177/91, do artigo 34 do regulamento

anexo à Circular n. 2.386/93 e do artigo 12, § 3º, do regulamento anexo à Circular n.

2.766/97, não sendo consideradas abusivas, por si só, as taxas fi xadas em percentual

superior a 10%. Precedentes.

3 - Decisão agravada mantida pelos seus próprios fundamentos.

4 - AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO” (AgRg no REsp n. 1.115.354/RS,

Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em

27/03/2012, DJe 03/04/2012).

“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CONTRATO. CONSÓRCIO. BENS

MÓVEIS. TAXA DE ADMINISTRAÇÃO. FIXAÇÃO. ADMINISTRADORAS. ANÁLISE DE

OFENSA A DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS.

1. Conforme entendimento fi rmado pela Segunda Seção desta Corte Superior,

as administradoras de consórcio possuem liberdade para fi xar a respectiva taxa de

administração, nos termos do art. 33 da Lei n. 8.177/1991 e da Circular n. 2.766/1997

do BACEN, não sendo considerada ilegal ou abusiva a taxa fi xada em percentual

superior a 10% (dez por cento).

2. Descabe ao STJ examinar a suposta violação à matéria constitucional,

porquanto enfrentá-la significaria usurpar competência que, por expressa

determinação da CF, pertence ao STF.

Tema que deveria ter sido debatido pelo acórdão recorrido e não por decisão desta

Corte.

3. Agravo regimental desprovido” (AgRg no REsp n. 1.179.514/RS, Rel. Ministro

ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 20/10/2011, DJe

26/10/2011).

“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CONSÓRCIO. AÇÃO REVISIONAL.

TAXA DE ADMINISTRAÇÃO. LIMITAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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1. Consoante entendimento fi rmado pela Segunda Seção do Superior Tribunal de

Justiça, as administradoras de consórcio possuem liberdade para fi xar a respectiva

taxa de administração, nos termos do art. 33 da Lei 8.177/91 e da Circular 2.766/97

do BACEN, não sendo considerada ilegal ou abusiva a taxa fi xada em 13% (treze por

cento).

2. Agravo regimental não provido” (AgRg no REsp n. 1.097.237/RS, Rel. Ministro

RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 16/06/2011, DJe 05/08/2011).

“PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AGRAVO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA.

CONSÓRCIO. TAXA DE ADMINISTRAÇÃO. LIMITAÇÃO. FIXAÇÃO. LIMITE SUPERIOR A

10% (DEZ POR CENTO). AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE E ABUSIVIDADE.

- Consoante entendimento fi rmado pela Corte Especial, as administradoras de

consórcio possuem liberdade para fixar a respectiva taxa de administração, nos

termos do art. 33 da Lei 8.177/91 e da Circular 2.766/97 do BACEN, não sendo

considerada ilegal ou abusiva a taxa fi xada em mais de 10% (dez por cento).

- Agravo no recurso especial não provido” (AgRg no REsp n. 1.187.148/RS, Rel.

Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/05/2011, DJe

10/05/2011).

“RECURSO ESPECIAL. AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO REVISIONAL. CONTRATO

DE CONSÓRCIO. DISPOSIÇÕES DE OFÍCIO. INADMISSIBILIDADE. TAXA DE

ADMINISTRAÇÃO. NÃO LIMITAÇÃO. MORA. CARACTERIZADA.

I.- ‘Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da

abusividade das cláusulas’ (Súmula 381/STJ).

II.- As administradoras de consórcio têm total liberdade para fi xar a respectiva

taxa de administração, nos termos do art. 33 da Lei n. 8.177/91 e da Circular n.

2.766/97 do Banco Central, não havendo que se falar em ilegalidade ou abusividade

da taxa contratada.

III.- No que diz respeito à mora do devedor, é assente na jurisprudência desta

Corte que a sua descaracterização dá-se no caso de cobrança de encargos ilegais no

período da normalidade, o que não se verifi ca no presente caso.

IV.- Agravo Regimental improvido” (AgRg no REsp n. 1.029.099/RS, Rel. Ministro

SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 14/12/2010, DJe 17/12/2010).

“EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. CONSÓRCIO DE BENS

MÓVEIS. TAXA DE ADMINISTRAÇÃO. POSSIBILIDADE. LIVRE PACTUAÇÃO. AUSÊNCIA DE

ILEGALIDADE E ABUSIVIDADE.

1. Consoante entendimento firmado pela Corte Especial, as administradoras

de consórcio possuem liberdade para fixar a respectiva taxa de administração,

nos termos do art. 33 da Lei 8.177/91 e da Circular 2.766/97 do BACEN, não sendo

considerada ilegal ou abusiva a taxa fi xada em 13% (treze por cento).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 29-41, novembro 2017 41

2. Embargos de divergência acolhidos, com aplicação do direito à espécie” (EREsp

n. 992.740/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em

09/06/2010, DJe 15/06/2010).

Percebe-se, portanto, que a matéria ora analisada encontra-se pacifi cada

nesta Corte Superior de Justiça, que adotou o entendimento de que as

administradoras de consórcio possuem total liberdade para fi xar a respectiva

taxa de administração, nos termos do art. 33 da Lei n. 8.177/91 e da Circular

n. 2.766/97 do BACEN, não sendo consideradas ilegais ou abusivas as taxas

fi xadas em percentual superior a 10% (dez por cento), conforme ocorre no

presente caso (em 14% - quatorze por cento).

JULGAMENTO PARA EFEITOS DO ART. 543-C DO CPC

Diante das razões supracitadas, fi xo as seguintes premissas para efeitos do

artigo 543-C do Código de Processo Civil:

1) As administradoras de consórcio têm liberdade para fi xar a respectiva

taxa de administração, nos termos do art. 33 da Lei n. 8.177/91 e da Circular

n. 2.766/97 do Banco Central, não havendo falar em ilegalidade ou abusividade

da taxa contratada pelas partes, na linha dos precedentes desta Corte Superior

de Justiça (AgRg no REsp n. 1.115.354/RS, Rel. Ministro Paulo de Tarso

Sanseverino, Terceira Turma, julgado em 27/3/2012, DJe 3/4/2012; AgRg no

REsp n. 1.179.514/RS, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma,

julgado em 20/10/2011, DJe 26/10/2011; AgRg no REsp n. 1.097.237/RS, Rel.

Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em 16/6/2011, DJe 5/8/2011;

AgRg no REsp n. 1.187.148/RS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira

Turma, julgado em 3/5/2011, DJe 10/5/2011; AgRg no REsp n. 1.029.099/

RS, Rel. Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma, julgado em 14/12/2010,

DJe 17/12/2010; EREsp n. 992.740/RS, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão,

Segunda Seção, julgado em 9/6/2010, DJe 15/6/2010).

2) O Decreto n. 70.951/72 foi derrogado pelas circulares posteriormente

editadas pelo BACEN, que emprestaram fi el execução à Lei n. 8.177/91.

Em vista de todo o exposto, conheço do recurso especial para dar-lhe

provimento.

É o voto.

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Súmula n. 539

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SÚMULA N. 539

É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual

em contratos celebrados com instituições integrantes do Sistema Financeiro

Nacional a partir de 31/3/2000 (MP n. 1.963-17/2000, reeditada como MP n.

2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada.

Referências:

CC/2002, art. 591.

CPC, art. 543-C.

MP n. 1.963-17/2000, art. 5º, atual.

MP n. 2.170-36/2001, art. 5º.

Decreto n. 22.626/1933, art. 4º.

Súmulas n. 121 e 596 do STF.

Precedentes:

EREsp 598.155-RS (2ª S, 22.06.2005 – DJ 31.08.2005)

AgRg nos EREsp 691.257-RS (2ª S, 14.06.2006 – DJ 29.06.2006)

AgRg nos EREsp 785.469-RS (2ª S, 27.09.2006 – DJ 09.11.2006)

AgRg na Pet 5.858-DF (2ª S, 10.10.2007 – DJ 22.10.2007)

AgRg nos EREsp 911.070-DF (2ª S, 26.03.2008 – DJe 1º.04.2008)

AgRg nos EREsp 930.544-DF (2ª S, 12.03.2008 – DJe 10.04.2008)

(*)REsp 1.112.879-PR (2ª S, 12.05.2010 – DJe 19.05.2010) –

acórdão publicado na íntegra

(*)REsp 1.112.880-PR (2ª S, 12.05.2010 – DJe 19.05.2010)

(*)REsp 973.827-RS (2ª S, 08.08.2012 – DJe 24.09.2012) –

acórdão publicado na íntegra na

Súmula 541

AgRg no REsp 1.274.202-RS (3ª T, 19.02.2013 – DJe 25.02.2013)

AgRg no REsp 1.360.972-RS (3ª T, 02.04.2013 – DJe 05.04.2013)

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AgRg no AREsp 227.946-DF (3ª T, 11.06.2013 – DJe 18.06.2013)

AgRg no AREsp 74.052-RS (3ª T, 20.06.2013 – DJe 28.06.2013)

AgRg no AREsp 393.119-MS (3ª T, 08.04.2014 – DJe 15.04.2014)

AgRg no AREsp 575.614-MS (3ª T, 25.11.2014 – DJe 09.12.2014)

AgRg no REsp 1.321.170-RS (3ª T, 24.02.2015 – DJe 02.03.2015)

AgRg no REsp 1.196.403-RS (4ª T, 19.02.2013 – DJe 26.02.2013)

AgRg no AREsp 124.888-RS (4ª T, 19.03.2013 – DJe 25.03.2013)

AgRg no REsp 1.260.463-RS (4ª T, 11.06.2013 – DJe 14.06.2013)

AgRg no AREsp 420.441-MS (4ª T, 18.12.2014 – DJe 18.02.2015)

AgRg no

AgRg no AREsp 384.283-SC (4ª T, 10.02.2015 – DJe 19.02.2015)

(*) Recursos repetitivos.

Segunda Seção, em 10.6.2015

DJe 15.6.2015

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RECURSO ESPECIAL N. 1.112.879-PR (2009/0015831-8)

Relatora: Ministra Nancy Andrighi

Recorrente: Unibanco União de Bancos Brasileiros S/A

Advogados: Jose Augusto Araujo de Noronha e outro(s)

Luciano Correa Gomes

Recorrido: Transportadora Nery Ltda

Advogado: Marcia Regina Frasson

EMENTA

BANCÁRIO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL

DE CLÁUSULAS DE CONTRATO BANCÁRIO. INCIDENTE

DE PROCESSO REPETITIVO. JUROS REMUNERATÓRIOS.

CONTRATO QUE NÃO PREVÊ O PERCENTUAL DE JUROS

REMUNERATÓRIOS A SER OBSERVADO.

I - JULGAMENTO DAS QUESTÕES IDÊNTICAS QUE

CARACTERIZAM A MULTIPLICIDADE.

ORIENTAÇÃO - JUROS REMUNERATÓRIOS

1 - Nos contratos de mútuo em que a disponibilização do capital

é imediata, o montante dos juros remuneratórios praticados deve ser

consignado no respectivo instrumento. Ausente a f ixação da taxa no

contrato, o juiz deve limitar os juros à média de mercado nas operações da

espécie, divulgada pelo Bacen, salvo se a taxa cobrada for mais vantajosa

para o cliente.

2 - Em qualquer hipótese, é possível a correção para a taxa média se

for verifi cada abusividade nos juros remuneratórios praticados.

II - JULGAMENTO DO RECURSO REPRESENTATIVO

- Consignada, no acórdão recorrido, a abusividade na cobrança da

taxa de juros, impõe-se a adoção da taxa média de mercado, nos termos do

entendimento consolidado neste julgamento.

- Nos contratos de mútuo bancário, celebrados após a edição da MP n.

1.963-17/00 (reeditada sob o n. 2.170-36/01), admite-se a capitalização

mensal de juros, desde que expressamente pactuada.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido.

Ônus sucumbenciais redistribuídos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda

Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas constantes dos autos, por unanimidade, conhecer parcialmente

do recurso e, nesta parte, dar-lhe provimento, nos termos do voto da Senhora

Ministra Relatora. Para os efeitos do artigo 543-C, do CPC, consolidou-se o

entendimento de que:

1) Nos contratos de mútuo em que a disponibilização do capital é

imediata, deve ser consignado no respectivo instrumento o montante dos juros

remuneratórios praticados. Ausente a fi xação da taxa no contrato, deve o juiz

limitar os juros à média de mercado nas operações da espécie, divulgada pelo

BACEN, salvo se a taxa cobrada for mais vantajosa para o cliente.

2) Em qualquer hipótese, é possível a correção para a taxa média se

verifi cada abusividade nos juros remuneratórios praticados. Os Srs. Ministros

João Otávio de Noronha, Sidnei Beneti, Luis Felipe Salomão, Vasco Della

Giustina, Paulo Furtado, Honildo Amaral de Mello Castro e Aldir Passarinho

Junior votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Brasília (DF), 12 de maio de 2010 (data do julgamento).

Ministro Massami Uyeda, Presidente

Ministra Nancy Andrighi, Relatora

DJe 19.5.2010

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Nancy Andrighi: Trata-se de recurso especial interposto

por Unibanco - União Brasileira de Bancos S.A., com fundamento nas alíneas

“a” e “c” do permissivo constitucional, contra acórdão proferido pelo TJ/PR.

Ação: de revisão de contrato de cheque especial c/c repetição de indébito,

ajuizada pela TRANSPORTADORA NERY LTDA., em face do Unibanco.

Alegou que, no contrato fi rmado entre as partes, “o banco aplicou as denominadas

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 43-57, novembro 2017 49

‘TAXAS DE MERCADO’, ou seja, aplicou juros a seu ‘bel prazer’ – TAXA

FLUTUANTE’, conforme a variação de mercado e sem qualquer conhecimento ou

aprovação do cliente” (fl s. 03). Aduziu que é vedada a prática do anatocismo e que

os valores indevidamente pagos devem ser restituídos, de acordo com o art. 42,

parágrafo único, do CDC.

Ao final, requereu que fosse: (i) estipulada a aplicação de juros

remuneratórios de 6% (seis por cento) ao ano; (ii) excluída a capitalização

dos juros em qualquer periodicidade; e (iii) devolvida, em dobro, a quantia

indevidamente paga.

Sentença: julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados na inicial,

para fi xar os juros moratórios e remuneratórios em 6% ao ano e impossibilitar a

incidência de capitalização de juros.

Acórdão: deu parcial provimento à apelação interposta pelo recorrente,

apenas para afastar a incidência do CDC ao contrato. Confi ra-se a ementa:

“CONTRATO BANCÁRIO. REVISIONAL. PESSOA JURÍDICA. INAPLICABILIDADE DO

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. JULGAMENTO ANTECIPADO. CERCEAMENTO

DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. MP N. 2.170-36.

INAPLICABILIDADE AO CASO CONCRETO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.

1. “O princípio do pacta sunt servanda, ainda subsiste e é importante, mas deve

ser relativizado diante dos hodiernos princípios contidos na Carta Magna e no Código

Civil, visando ao interesse social e à proteção do cidadão contra as cláusulas abusivas

e excessivamente onerosas contidas nos contratos”.

2. “Deve a pessoa jurídica, com fi nalidade lucrativa, nos contratos fi rmados com os

bancos, fazer prova de ser destinatária fi nal do mútuo ou crédito bancário. Sem esta

prova, a aplicação consumerista é de toda inviável, pois a presunção é de que utilizou

o recurso em sua atividade produtiva, não podendo, assim, ser enquadrada como

consumidora”.

3. “O art. 131 do CPC consagra o princípio da persuasão racional, autorizando

o juiz, por força do seu convencimento e à luz dos fatos e do direito incidente sobre

o tema litigioso julgar antecipadamente a lide, razão porque eventual argüição de

nulidade do processo, por pretenso cerceamento de defesa implica na necessidade do

insurgente demonstrar quantum satis o prejuízo acarretado pela decisão acelerada

da lide. É que, em nosso sistema processual, não se decreta a invalidade de um ato, se

do vício que o macula não houver resultado prejuízo”.

4. “A falta de interposição de recurso contra o despacho do juiz que anuncia seu

propósito de proferir sentença imediata e, por isso, determina o cálculo e preparo das

custas, faz preclusão, de molde a impedir que qualquer das partes venha a alegar

cerceamento de defesa, pelo julgamento antecipado”.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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5. “O art. 5º da MP n. 2.170-36, só permite a capitalização dos juros, em período

inferior a um ano, nos contratos bancários celebrados após 31.03.2000, data em

que o dispositivo foi introduzido na MP n. 1.963-17, e, ainda, se houver previsão

contratual” (fl s. 630/631).

Embargos de declaração: interpostos pelo recorrente e pela recorrida, foram

rejeitados (fl s. 506/509).

Recurso Especial: interposto pelo Unibanco, alega-se violação:

I – do art. 4º, IX, da Lei 4.595/64 e dissídio jurisprudencial, pois os juros

remuneratórios devem ser limitados à taxa média de mercado, quando não há

prova da taxa de juros remuneratórios pactuada;

II – do art. 591 do CC/02 e dissídio jurisprudencial, porque é possível a

capitalização de juros.

Juízo Prévio de Admissibilidade: decorrido o prazo sem a apresentação das

contrarrazões ao recurso especial, foi este admitido na origem (fl s. 759/760).

Despacho de afetação (fls. 782/783): considerando a multiplicidade de

recursos com fundamento em idêntica questão de direito e o disposto no art. 2º,

§ 1º, da Resolução 08/STJ, afetei à 2ª Seção o julgamento do presente recurso

especial e do REsp 1.112.880/PR, para os efeitos do art. 543-C do CPC.

Determinei a expedição de ofícios ao Presidente do STJ, aos Presidentes

dos Tribunais Regionais Federais e aos Presidentes dos Tribunais de Justiça,

com cópia do acórdão recorrido e da petição de interposição do recurso especial,

comunicando a instauração do aludido procedimento, para que suspendam o

processamento dos recursos especiais que versem sobre a legalidade da cobrança

de juros remuneratórios devidos em contratos bancários, desde que não haja

prova da taxa pactuada ou a cláusula ajustada entre as partes não tenha indicado

o percentual a ser observado.

Manifestaram-se, nos termos do art. 3º, I, da Resolução 8/2008 do STJ,

a Defensoria Pública da União (fl s. 790/797), o BACEN (fl s. 799/811) e a

FEBRABAN (fl s. 813/870). O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor

– IDEC -, entretanto, não se manifestou apesar de ter sido notifi cado (fl s. 901).

Parecer do Ministério Público Federal: por fi m, o Ministério Público Federal

opinou às fl s. 896/900 - em parecer da lavra do i. Subprocurador-Geral da

República Dr. Pedro Henrique Távora Niess - pela parcial procedência do

especial, para limitar aos juros remuneratórios à taxa média de mercado.

É o relatório.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 43-57, novembro 2017 51

VOTO

A Sra. Ministra Nancy Andrighi (Relatora):

DELIMITAÇÃO DO JULGAMENTO

A natureza do procedimento do art. 543-C do CPC visa unificar o

entendimento e orientar a solução de recursos repetitivos.

No despacho que instaurou o incidente do processo repetitivo, determinei

que fosse suspenso o processamento dos recursos especiais que “versem sobre a

legalidade da cobrança de juros remuneratórios devidos em contratos bancários, desde

que (i) não haja prova da taxa pactuada ou (ii) a cláusula ajustada entre as partes

não tenha indicado o percentual a ser observado.” (fl s. 636).

Quanto à possibilidade de capitalização mensal dos juros trazida no

especial, esse tema será apreciado apenas no exame do recurso representativo,

em face da afetação dos REsps 1.046.768/RS, 973.827/RS, 1.003.530/RS, para

os efeitos do art. 543-C do CPC.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

JUROS REMUNERATÓRIOS

No julgamento do Recurso Especial Repetitivo n. 1.061.530/RS, de minha

relatoria, 2ª Seção, DJe de 10/03/2009, adotaram-se as seguintes orientações

quanto aos juros remuneratórios:

a) as instituições financeiras não se sujeitam à limitação dos juros

remuneratórios estipulada na Lei de Usura (Decreto 22.626/33), Súmula 596/

STF;

b) a estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só,

não indica abusividade;

c) são inaplicáveis aos juros remuneratórios dos contratos de mútuo

bancário as disposições do art. 591 c/c o art. 406 do CC/02;

d) é admitida, em relações de consumo, a revisão das taxas de juros

remuneratórios em situações excepcionais, desde que a abusividade (capaz de

colocar o consumidor em desvantagem exagerada – art. 51, § 1º, do CDC) fi que

cabalmente demonstrada, ante as peculiaridades do julgamento em concreto.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Todavia, no referido julgamento, não foi abordada a legalidade da cobrança

de juros remuneratórios devidos em contratos bancários, quando não há prova

da taxa pactuada ou a cláusula ajustada entre as partes não tenha indicado o

percentual a ser observado. Dessarte, passa-se a analisar essa questão, nos termos

do art. 543-C do CPC.

JULGAMENTO DAS QUESTÕES IDÊNTICAS QUE

CARACTERIZAM A MULTIPLICIDADE - ART. 543-C, § 7º, DO CPC

TAXA DE JUROS REMUNERATÓRIOS

A 2ª Seção desta Corte pacifi cou o entendimento de que é nula a cláusula

contratual que prevê a incidência de juros remuneratórios, sem precisar a

respectiva taxa, visto que fi ca ao exclusivo arbítrio da instituição fi nanceira o

preenchimento de seu conteúdo. A fi xação dos juros, porém, não fi ca adstrita ao

limite de 12% ao ano, mas deve ser feita segundo à taxa média de mercado nas

operações da espécie.

A maioria dos Ministros que compõem esta 2ª Seção já teve a oportunidade

de apreciar o tema, conforme se verifi ca dos seguintes julgados:

APLICAÇÃO DA TAXA MÉDIA DE MERCADO

Relator Julgado Órgão

Aldir Passarinho Junior AgRg no REsp 1.068.221/PR – DJe 24/11/2008 4ª Turma

João Otávio de Noronha AgRg no REsp 1.003.938/RS – DJe 18/12/2008 4ª Turma

Luis Felipe Salomão AgRg no REsp 1.071.291/PR – DJe 23/03/2009 4ª Turma

Massami Uyeda REsp 1.039.878/RS – DJe 20/06/2008 3ª Turma

Nancy Andrighi AgRg no REsp 1.050.605/RS – DJe 05/08/2008 3ª Turma

Paulo Furtado AgRg no Ag 761.303/PR – DJe 04/08/2009 3ª Turma

Sidnei Beneti AgRg no REsp 1.015.238/RS – DJe 07/05/2008 3ª Turma

Vasco Della Giustina EDcl no Ag 841.712/PR – DJe 28/08/2009 3ª Turma

Fernando Gonçalves AgRg no REsp 1.043.101/RS – DJe 17/11/2008 4ª Turma

Traçando o histórico dos julgamentos promovidos pelo STJ sobre a

matéria, nota-se que o precedente uniformizador da jurisprudência é o REsp

715.894/PR, de minha relatoria, 2ª Seção, DJ de 19/03/2007, assim ementado:

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 43-57, novembro 2017 53

“Direito bancário. Contrato de abertura de crédito em conta corrente. Juros

remuneratórios. Previsão em contrato sem a fixação do respectivo montante.

Abusividade, uma vez que o preenchimento do conteúdo da cláusula é deixado ao

arbítrio da instituição fi nanceira (cláusula potestativa pura). Limitação dos juros à

média de mercado (arts. 112 e 113 do CC/02). Art. 6º da LICC. Questão constitucional.

Honorários advocatícios. Ação condenatória. Estabelecimento em valor fixo.

Impossibilidade. Necessidade de observância da regra do art. 20, § 3º, do CPC.

- As instituições fi nanceiras não se sujeitam ao limite de 12% para a cobrança de

juros remuneratórios, na esteira da jurisprudência consolidada do STJ.

- Na hipótese de o contrato prever a incidência de juros remuneratórios, porém

sem lhe precisar o montante, está correta a decisão que considera nula tal cláusula

porque fi ca ao exclusivo arbítrio da instituição fi nanceira o preenchimento de seu

conteúdo. A fi xação dos juros, porém, não deve fi car adstrita ao limite de 12% ao

ano, mas deve ser feita segundo a média de mercado nas operações da espécie.

Preenchimento do conteúdo da cláusula de acordo com os usos e costumes, e com o

princípio da boa fé (arts. 112 e 133 do CC/02).

- A norma do art. 6º da LICC foi alçada a patamar constitucional, de modo que sua

violação não pode ser discutida em sede de recurso especial. Precedentes.

- Tratando-se de ação condenatória, os honorários advocatícios têm de ser fi xados

conforme os parâmetros estabelecidos no art. 20, § 3º do CPC. Merece reforma,

portanto, a decisão que os estabelece em valor fi xo. Precedentes.

Recursos especiais da autora e do réu conhecidos e parcialmente providos.”

Nesse precedente, declarou-se a nulidade da cláusula inserida em contrato

de abertura de crédito em conta corrente que previa a incidência de juros

remuneratórios sem defi nir a respectiva taxa, determinando-se a aplicação da

taxa média de mercado em operações da espécie.

- Da fi xação da taxa de juros remuneratórios.

A nulidade da cláusula em comento evidencia-se seja por abusividade (art.

51, X, do CDC) seja por ser potestativa (art. 122, do CC/02; 115 do CC/16).

Assim, têm-se apenas duas possibilidades: (i) a primeira, é a de simplesmente

extirpar a disposição do contrato, considerando não pactuados os juros

remuneratórios (arts. 168, parágrafo único e 169, do CC/02); (ii) a segunda,

seria a de estipular a taxa de juros a ser cobrada, segundo a intenção das partes,

para ajustar a disposição nula, nos termos do art. 170 do CC/02.

A primeira hipótese, de se considerar não pactuados os juros, não deve

prosperar, porque, mesmo quando não são previstos no contrato, a incidência

dos juros se presume nos empréstimos destinados a fi ns econômicos, nos termos

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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do art. 591 do CC/02, aplicável aos contratos fi rmados no período anterior à sua

vigência, no que diz respeito à regência dos respectivos efeitos, de acordo com

o art. 2.035 do CC/02 (REsp n. 691.738/SC). Conforme sustentei, juntamente

com o Ministro Sidnei Beneti e a Desembargadora Vera Andrighi, ao analisar

o art. 591 do CC/02 “nos mútuos contratados com fi ns econômicos, o mutuário recebe

o empréstimo, sob o compromisso de restituí-lo, juntamente com uma remuneração ao

mutuante, chamada de juros, prevalecendo tal regra mesmo naquelas hipóteses em que

as partes silenciaram sobre a retribuição ao empréstimo”. Vale dizer que “as partes

que queiram contratar gratuitamente mútuo com fi ns econômicos só poderão fazê-lo

se, por cláusula expressa, excluírem a incidência de juros”. (Comentários ao Novo

Código Civil, Vol. IX. Rio de Janeiro: Forense, 2008, pp 156-157).

Assim, o caminho é o da segunda hipótese, ou seja, deve-se preencher

a omissão do contrato, em relação aos juros que deixaram de ser previstos

na disposição reputada lacunosa. A partir daí, surgem dois desdobramentos

possíveis: a) perquirir se há previsão legal para o limite de juros, na espécie, ou

b) caso não haja esse limite legal, deve-se proceder à integração do contrato, de

acordo com a vontade presumida das partes.

Nos termos da jurisprudência do STJ, não há previsão legal que limite os

juros remuneratórios para as operações realizadas por instituições fi nanceiras.

Nesse sentido, entre outros, é o Recurso Especial Repetitivo n. 1.061.530/RS, de

minha relatoria, 2ª Seção, DJe de 10/03/2009.

Assim, ante a ausência de dispositivo legal indicativo dos juros aplicáveis,

torna-se necessário interpretar os negócios jurídicos, tendo em vista a intenção

das partes ao fi rmá-los, de acordo com o art. 112 do CC/02. Essa intenção, nos

termos do art. 113, deve ter em conta a boa-fé, os usos e os costumes do local da

celebração do contrato.

A jurisprudência do STJ tem utilizado para esse fi m a taxa média de

mercado. Essa taxa é adequada, porque é medida segundo as informações

prestadas por diversas instituições fi nanceiras e, por isso, representa o ponto de

equilíbrio nas forças do mercado. Além disso, traz embutida em si o custo médio

das instituições fi nanceiras e seu lucro médio, ou seja, um spread médio.

A adoção da taxa média de mercado ganhou força quando o Banco

Central do Brasil passou, em outubro de 1999, a divulgar as taxas médias,

ponderadas segundo o volume de crédito concedido, para os juros praticados

pelas instituições fi nanceiras nas operações de crédito realizadas com recursos

livres (conf. Circular n. 2.957, de 30.12.1999).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 43-57, novembro 2017 55

As informações divulgadas por aquela autarquia, as quais são acessíveis

a qualquer pessoa por meio da Internet (conforme http://www.bcb.gov.

br/?ecoimpom; ou http://www.bcb.gov.br/?TXCREDMES, acesso em

07.04.2010), são agrupadas de acordo com o tipo de encargo (prefi xado, pós-

fixado, taxas flutuantes e índices de preços), com a categoria do tomador

(pessoas físicas e jurídicas) e com a modalidade de empréstimo realizada (hot

money, desconto de duplicatas, desconto de notas promissórias, capital de giro,

conta garantida, fi nanciamento imobiliário, aquisição de bens, ‘vendor’, cheque

especial, crédito pessoal, entre outros).

Dessarte, nos contratos de mútuo em que a disponibilização do capital é

imediata, deve ser consignado no respectivo instrumento o montante dos juros

remuneratórios praticados. Ausente a fi xação da taxa no contrato, deve o juiz

limitar os juros à média de mercado nas operações da espécie, divulgada pelo

Bacen. Esses são os usos e costumes, e é essa a solução que recomenda a boa-fé.

Ressalta-se que a taxa média somente não deverá prevalecer nas hipóteses

em que o efetivo índice praticado pelo banco se mostrar inferior a ela e, portanto,

mais vantajoso para o cliente.

É certo, ainda, que o cálculo da taxa média não é completo, na medida em

que não abrange todas as modalidades de concessão de crédito, mas, sem dúvida,

presta-se como parâmetro de tendência das taxas de juros. Dessa forma, nas

hipóteses em que não houver a divulgação pelo Bacen da taxa média relativa a

um contrato específi co, nada impede o juiz de acolher, com base em regras de

experiência, a média adotada pelo mercado em contratos similares.

CONSOLIDAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA

Dessa forma, no que diz respeito aos juros remuneratórios, a 2ª Seção do

STJ consolida o entendimento de que:

a) nos contratos de mútuo em que a disponibilização do capital é

imediata, deve ser consignado no respectivo instrumento o montante dos juros

remuneratórios praticados. Ausente a fi xação da taxa no contrato, deve o juiz

limitar os juros à média de mercado nas operações da espécie, divulgada pelo

Bacen, salvo se a taxa cobrada for mais vantajosa para o cliente.

b) em qualquer hipótese, é possível a correção para a taxa média se for

verifi cada abusividade nos juros remuneratórios praticados.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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JULGAMENTO DO RECURSO REPRESENTATIVO

I - Dos juros remuneratórios (violação do art. 4º, IX, da Lei 4.595/64, e

dissídio jurisprudencial).

Neste julgamento, trata-se de ação de revisão de cláusula contratual,

decorrente de contrato de cheque especial, que previu a incidência de juros

remuneratórios, sem precisar a respectiva taxa, na qual requer a declaração de

nulidade dessa cláusula.

O acórdão recorrido concluiu, mediante análise do substrato fático-

probatório do processo, que “inexistindo contrato, impossível a constatação do

percentual dos juros remuneratórios; impossível, inclusive a utilização da taxa média

de mercado. Diante dessa omissão, devem ser fi xados segundo prescreve o diploma legal

brasileiro” (fl s. 642). Por isso, limitou os juros remuneratórios em 6% ao ano, até

o advento do CC/02 e, a partir deste, em 12% ao ano.

A partir daí, extrai-se que não foi demonstrada a regularidade quanto ao

montante dos juros cobrados.

Assim, o reconhecimento da abusividade na cobrança dos juros conduz à

aplicação da taxa média de mercado, divulgada pelo Bacen.

II – Da capitalização dos juros (violação do art. 591 do CC/02, e dissídio

jurisprudencial).

Nos termos da iterativa jurisprudência do STJ, é admitida a capitalização

de juros, inclusive em periodicidade inferior a anual, nos contratos de mútuo

bancário, desde que pactuada nos contratos bancários celebrados após 31 de

março de 2000. Nesse sentido: REsp 602.068/RS, Rel. Min. Antônio de Pádua

Ribeiro, 2ª Seção, DJ 21/03/2005; e AgRg no Ag 882.861/SP, Rel. Min. João

Otávio de Noronha, 4ª Turma, DJ 11/02/2008.

A esse respeito, o acórdão recorrido reconheceu que houve capitalização de

juros e que o recorrente não juntou aos autos o contrato fi rmado entre as partes

(fl s. 645). Dessa forma, não demonstrada a expressa pactuação da capitalização

dos juros, é de afastar a sua incidência.

Ademais, a alegação do recorrente, de que não houve capitalização de

juros, não merece prosperar, pois alterar o decidido no acórdão impugnado exige

o reexame de fatos e provas, procedimento vedado em recurso especial pela

Súmula 7/STJ.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 43-57, novembro 2017 57

Forte nessas razões, CONHEÇO PARCIALMENTE do Recurso

Especial e, nessa parte, DOU-LHE PROVIMENTO, para determinar a

incidência da taxa média de mercado aos juros remuneratórios.

Em razão da sucumbência recíproca, condeno as partes ao pagamento das

custas processuais e dos honorários advocatícios, fi xados estes no valor de R$

2.000,00 (dois mil reais), que serão reciprocamente distribuídos e suportados

na proporção de 70% pelo recorrente e de 30% pela recorrida, e devidamente

compensados, conforme a Súmula 306/STJ.

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Súmula n. 540

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SÚMULA N. 540

Na ação de cobrança do seguro DPVAT, constitui faculdade do autor

escolher entre os foros do seu domicílio, do local do acidente ou ainda do

domicílio do réu.

Referência:

CPC, arts. 94, 100, parágrafo único, e 543-C.

Precedentes:

CC 106.676-RJ (2ª S, 14.10.2009 – DJe 05.11.2009)

CC 114.844-SP (2ª S, 13.04.2011 – DJe 03.05.2011)

CC 110.236-MS (2ª S, 25.05.2011 – DJe 02.06.2011)

(*)REsp 1.357.813-RJ (2ª S, 11.09.2013 – DJe 24.09.2013) –

acórdão publicado na íntegra

AgRg no REsp 1.195.128-RS (3ª T, 05.06.2012 – DJe 18.06.2012)

AgRg no REsp 1.240.981-RS (3ª T, 02.10.2012 – DJe 05.10.2012)

AgRg no AREsp 578.659-SP (3ª T, 25.11.2014 – DJe 04.12.2014)

REsp 1.059.330-RJ (4ª T, 11.11.2008 – DJe 15.12.2008)

(*) Recurso repetitivo.

Segunda Seção, em 10.6.2015

DJe 15.6.2015

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RECURSO ESPECIAL N. 1.357.813-RJ (2012/0262596-6)

Relator: Ministro Luis Felipe Salomão

Recorrente: Marlene Felipe Madeira Gama

Advogados: Pedro Roberto das Graças Santos

Carla Moura Lobato Caldas Marins

Recorrido: Seguradora Líder dos Consórcios do Seguro DPVAT S/A

Advogados: Sergio Bermudes

Luis Felipe Freire Lisboa

Danielle Kahn Silva

Shaiana Amorim da Cruz Rosa

Bruno Castelo Branco C. Pereira

Marcus Cosendey Perlingeiro

EMENTA

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL

REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO

CPC. AÇÃO DE COBRANÇA. ACIDENTE DE VEÍCULOS.

SEGURO OBRIGATÓRIO DE DANOS PESSOAIS

CAUSADOS POR VEÍCULOS AUTOMOTORES DE VIAS

TERRESTRES - DPVAT. DEMANDA DE NATUREZA

PESSOAL. FACULDADE DO AUTOR NA ESCOLHA

DO FORO PARA AJUIZAMENTO DA AÇÃO. FORO DO

DOMICÍLIO DO RÉU. ART. 94, CAPUT, DO CPC. LOCAL

DO ACIDENTE OU DE SEU DOMICÍLIO. ART. 100,

PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC.

1. Para fins do art. 543-C do CPC: Em ação de cobrança

objetivando indenização decorrente de Seguro Obrigatório de Danos

Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres -

DPVAT, constitui faculdade do autor escolher entre os seguintes foros

para ajuizamento da ação: o do local do acidente ou o do seu domicílio

(parágrafo único do art. 100 do Código de Processo Civil); bem como,

ainda, o do domicílio do réu (art. 94 do mesmo Diploma).

2. No caso concreto, recurso especial provido.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

64

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da Segunda Seção

do Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso especial para

o fi m de declarar competente o Juízo de Direito da 52ª Vara Cível do Rio de

Janeiro-RJ, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Para os efeitos do art.

543-C, do CPC, foi fi xada a seguinte tese: Em ação de cobrança, objetivando

indenização decorrente de seguro obrigatório de danos pessoais causados por

veículos automotores de via terrestre - DPVAT, constitui faculdade do autor

escolher entre os seguintes foros para ajuizamento da ação: o do local do

acidente ou o do seu domicílio (parágrafo único do art. 100 do Código de

Processo Civil); bem como, ainda, o do domicílio do réu (art. 94 do mesmo

Diploma). Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Maria Isabel Gallotti,

Antonio Carlos Ferreira, Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Buzzi, Nancy

Andrighi, João Otávio de Noronha e Sidnei Beneti votaram com o Sr. Ministro

Relator.

Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Raul Araújo Filho.

Brasília (DF), 11 de setembro de 2013 (data do julgamento).

Ministro Luis Felipe Salomão, Relator

DJe 24.9.2013

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luis Felipe Salomão: 1. Marlene Felipe Madeira Gama

ajuizou ação de cobrança de indenização do Seguro Obrigatório de Danos

Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres - DPVAT em

face de Seguradora Líder dos Consórcios do Seguro DPVAT S.A., em virtude

de acidente automobilístico que levou a óbito sua genitora (fl s. 24/29).

A ação foi ajuizada perante o Juízo de Direito da 52ª Vara Cível do Estado

do Rio de Janeiro, tendo a ré apresentado, além da contestação, exceção de

incompetência (fl s. 104/108), em que alega que a autora reside no Estado de

São Paulo e o suposto acidente também teria ocorrido naquele local. Assim, nos

termos do art. 100, parágrafo único, do Código de Processo Civil, a demanda

deveria ter sido proposta no Estado de São Paulo. Defende que, alternativamente,

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 59-77, novembro 2017 65

seria aplicável o disposto no art. 100, inciso IV, alínea “d”, do CPC, o qual teria

o mesmo efeito prático, “na medida em que a competência seria declinada para a

Comarca de São Paulo, onde a obrigação deve ser cumprida”.

O Juízo de Direito da 52ª Vara Cível do Estado do Rio de Janeiro acolheu

a exceção de incompetência (fl s. 126/129).

Inconformada, a autora interpôs agravo de instrumento (fl s. 4/23) no

Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, defendendo seu direito de

escolher onde proporia a ação.

O relator julgou monocraticamente o agravo e negou-lhe seguimento, nos

termos da seguinte ementa (fl s. 134/140):

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO COM PEDIDO DE PAGAMENTO DE SEGURO

OBRIGATÓRIO DE DANOS PESSOAIS CAUSADOS POR VEÍCULOS AUTOMOTORES

DE VIAS TERRESTRES (DPVAT). AUTORA DOMICILIADA EM OUTRO ESTADO,

ONDE OCORREU O FATO. AÇÃO AJUIZADA NO FORO DO DOMICÍLIO DO RÉU.

ACOLHIMENTO DA EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA. AGRAVO DE INSTRUMENTO.

MANUTENÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA QUE DECLINOU DA COMPETÊNCIA

RELATIVA ATRAVÉS DE EXCEÇÃO, EM FAVOR DA COMARCA DE SÃO PAULO, LOCAL

DO ACIDENTE E DO DOMICÍLIO DA AUTORA. DECISÃO QUE DEVE SER MANTIDA,

EM RAZÃO DE POLÍTICA DE ADMINISTRAÇÃO JUDICIÁRIA, EVITANDO-SE O

DESVIO DA FINALIDADE DA LEI PROCESSUAL E A SOBRECARGA DESTE FORO. O

PAGAMENTO DO SEGURO DPVAT DECORRE DE OBRIGAÇÃO LEGAL (LEI 8441/92),

E NÃO POSSUI CARÁTER DE REPARAÇÃO DE DANO, DEVENDO A OBRIGAÇÃO SER

SATISFEITA NO DOMICÍLIO DO AUTOR. PREVALÊNCIA DO ART. 100, IV, ALÍNEA

“D”, DO CPC. JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE E DA CORTE SUPERIOR. RECURSO

A QUE SE NEGA SEGUIMENTO, COM AMPARO NO ARTIGO 557, DO CÓDIGO DE

PROCESSO CIVIL.

Em face da referida decisão, houve agravo interno assim ementado (fl s.

159/161):

AGRAVO INTERNO. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO. COBRANÇA DE

SEGURO OBRIGATÓRIO. DECLÍNIO DE COMPETÊNCIA CONFIRMADO. AUTOR

QUE RESIDE EM COMARCA E ESTADO DIVERSOS DESTE MUNICÍPIO. DECISÃO

MONOCRÁTICA NEGANDO SEGUIMENTO AO RECURSO. AGRAVO DO ARTIGO 557,

§ 1º, CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. MANUTENÇÃO DO PROVIMENTO JUDICIAL

VERGASTADO. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.

Opostos embargos de declaração, foram rejeitados. Confi ra-se a ementa

(fl s. 175/178):

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO. NÃO CONFIGURAÇÃO. EFEITOS

INFRINGENTES. IMPOSSIBILIDADE. 1) Os embargos de declaração são instrumento

de integração do julgado, quer pela pouca inteligência de seu texto, quer

pela contradição em seus fundamentos, quer, ainda, por omissão em ponto

fundamental. Para admissão e provimento dos embargos de declaração é

indispensável que a peça processual apresente os requisitos legalmente exigidos

para a sua interposição, o que não ocorre no presente feito. 2) Não se prestam os

embargos de declaração à rediscussão de matéria já apreciada e julgada, sendo

certo que o julgador não está obrigado a dissertar sobre todos os dispositivos

legais invocados pelas partes. Embargos não providos.

Interpôs a autora recurso especial (fl s. 181/220), com fundamento no art.

105, inciso III, alínea “a”, da Constituição Federal, sustentando violação aos arts.

94, 100, parágrafo único e 112, do Código de Processo Civil.

Afirma que, nas ações de reparação de dano, o autor da ação tem as

seguintes alternativas: ou escolhe o foro geral do art. 94 do Código de Processo

Civil ou o foro do lugar do ato/fato; ou, ainda, se o dano for causado por

veículo, poderá propor a ação em seu próprio domicílio, nos termos do art. 100,

parágrafo único, do Codex.

Assim, defende que, independentemente de o local do fato ou da residência

da autora ser em Estado diverso, é possível o ajuizamento da ação no foro do

domicílio do réu.

Salienta que as regras de competência foram criadas para favorecer a vítima

do acidente, que poderá, assim, escolher onde quer propor a ação e que, diante

do permissivo legal, optou em ajuizar a demanda no foro do domicílio do réu.

Em contrarrazões (fl s. 248/254), defende a recorrida que não há razão

para que a recorrente tenha optado em propor a ação em local que não seja o de

sua residência ou onde ocorreu o acidente, defendendo a aplicação do art. 100,

inciso IV, alínea “d” e parágrafo único, do CPC.

Salienta que “tem havido uma quantidade brutal de ações distribuídas na

comarca do Rio de Janeiro, que têm como objeto o seguro DPVAT, sendo que

os autores residem nos mais distantes locais, e os acidentes também ocorridos

em local distinto, não fazendo sentido a ajuizamento nesta comarca”.

Por fi m, levanta a hipótese de que as ações podem estar sendo propostas na

Comarca do Rio de Janeiro em benefício dos advogados dos autores e aduz não

haver qualquer prejuízo para a recorrida no declínio da competência para o foro

onde ocorreu o acidente ou o de sua residência.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 59-77, novembro 2017 67

Admitido o apelo nobre (fls. 261/263), ele foi selecionado como

representativo da controvérsia, nos termos do art. 543-C, § 1º, do CPC (fl . 263).

Na forma do que preceitua o artigo 543-C do CPC, determinei a ciência e

facultei manifestação, no prazo de 15 (quinze) dias (art. 3º, I, da Resolução STJ

n. 08/2008), ao Instituto Brasileiro de Direito Processual - IBDP.

Conforme certifi cado à fl . 295, o IBDP não se manifestou.

O Ministério Público Federal, em parecer da lavra do ilustre

Subprocurador-Geral da República, Dr. José Bonifácio Borges de Andrada,

opinou pelo conhecimento e “provimento do recurso especial, para fi xar-se a

tese de que o consumidor - enquanto autor - tem a plena faculdade de optar

pelo foro do seu domicílio, do local do fato ou do domicílio do réu ou o de

eleição para demandar o réu”, nos termos da seguinte ementa:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. COMPETÊNCIA. AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO

OBRIGATÓRIO.

- O contrato de seguro, não obstante se trate de DPVAT, é uma relação de

consumo, posto que toda relação securitária por disposição expressa de lei é

albergada pelo Código de Defesa do Consumidor.

- Na ação de cobrança do seguro DPVAT, constitui faculdade do autor escolher

entre o foro do seu próprio domicílio, o do local do acidente ou, ainda, o do

domicílio do réu. Trata-se de uma competência territorial múltipla ad nutum do

consumidor-autor.

- Se o autor-consumidor, renunciando tacitamente a foro melhor, opta por

demandar o réu no foro do seu domicílio, esta opção é inafastável porque mais

benéfi ca à defesa e atende à regra geral do art. 94, do CPC.

- Parecer pelo conhecimento e provimento do recurso especial.

A Associação Nacional do Ministério Público do Consumidor - MPCON

pugnou pela sua admissão no feito na condição de amicus curiae e vista dos autos

pelo prazo de 15 (quinze) dias, com base nos arts. 543-C, § 4º, do CPC e 3º, I,

da Resolução STJ n. 8/2008 (fl s. 297/317).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Luis Felipe Salomão (Relator): 2. Inicialmente, aprecio o

requerimento da Associação Nacional do Ministério Público do Consumidor -

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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MPCON (fl s. 297/299) para sua admissão no feito como amicus curiae e pedido

de vista dos autos pelo prazo de 15 (quinze) dias, com base nos arts. 543-C, § 4º,

do CPC e 3º, I, da Resolução STJ n. 8/2008.

Os fundamentos invocados estão sintetizados no trecho abaixo transcrito:

A MPCON - Associação Nacional do Ministério Público do Consumidor é

uma associação civil de âmbito nacional, multidisciplinar, sem fi ns lucrativos e

fi liação partidária, de caráter científi co e pedagógico, de duração indeterminada

e que congrega membros do Ministério Público Nacional e, conforme prescreve

o estatuto social no seu artigo 2º, alínea “a”, tem como objetivo “promover a

proteção dos interesses e direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos dos

consumidores, garantindo a sua defesa judicial e extrajudicial.” Logo, é legítima

sua intervenção como amicus curiae pois a relevância da matéria produz efeitos

de interesses difusos, coletivo em sentido estrito e individual homogêneo com

relevância e sem relevância social e, também, atinge a esfera jurídica de direitos

meramente individuais”.

Portanto, o interesse jurídico da MPCON no presente julgamento é

abstrato e não há relação direta com o objeto jurídico controvertido submetido

ao regime do art. 543-C do CPC, possuindo apenas interesse subjetivo no

resultado do julgamento.

Nesse sentido, confi ram-se os precedentes:

ADMINISTRATIVO. RECLAMAÇÃO. RESOLUÇÃO STJ 12/2009. TELEFONIA FIXA.

DECISÃO DE TURMA RECURSAL QUE JULGA ILEGAL A ASSINATURA BÁSICA.

AFRONTA À JURISPRUDÊNCIA DO STJ EVIDENCIADA. SÚMULA 356/STJ E RECURSO

ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA N. 1.068.944/PB (ART. 543-C DO

CPC).

[...].

2. Descabido o pedido de intervenção no processo, postulado pelo advogado

Márcio Adriano Caravina, na condição de amicus curiae, pois ele, diferentemente

de representar alguma instituição cuja fi nalidade esteja diretamente ligada ao

objeto discutido nestes autos, apenas possui interesse subjetivo no resultado do

julgamento, o que é insufi ciente para a habilitação no processo.

[...].

4. Pedido de ingresso no feito como amicus curiae indeferido, com

determinação de desentranhamento dos documentos juntados.

5. Reclamação procedente.

(Rcl 4.982/SP, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado

em 27/04/2011, DJe 04/05/2011)

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 59-77, novembro 2017 69

TRIBUTÁRIO E ADMINISTRATIVO – EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO SOBRE

ENERGIA ELÉTRICA – DECRETO-LEI 1.512/76 E LEGISLAÇÃO CORRELATA –

RECURSO ESPECIAL: JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE – INTERVENÇÃO DE TERCEIRO

NA QUALIDADE DE AMICUS CURIAE – PRESCRIÇÃO: PRAZO E TERMO A QUO –

CORREÇÃO MONETÁRIA – JUROS REMUNERATÓRIOS – JUROS MORATÓRIOS –

TAXA SELIC.

I. AMICUS CURIAE: As pessoas jurídicas contribuintes do empréstimo

compulsório, por não contarem com a necessária representatividade e por

possuírem interesse subjetivo no resultado do julgamento, não podem ser

admitidas como amicus curiae.

[...].

(REsp 1.003.955/RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado

em 12/08/2009, DJe 27/11/2009)

Ademais, a referida Associação é constituída por membros do Ministério

Público, tendo o referido órgão ministerial atuado regularmente nos autos e

emitido parecer conclusivo, juntado às fl s. 285/293.

Por fim, as questões jurídicas estabelecidas nos presentes autos estão

absolutamente maduras para o julgamento, mostrando-se desnecessários

esclarecimentos suplementares ao seu desate.

Ante o exposto, indefi ro a admissão da requerente na qualidade de amicus

curiae.

3. No mais, a controvérsia que ora se examina diz respeito à defi nição do

foro competente para processar e julgar ação de cobrança decorrente de Seguro

Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias

Terrestres - DPVAT.

3.1. A regra geral de competência territorial encontra-se insculpida no art.

94, caput, do Código de Processo Civil e indica o foro do domicílio do réu como

competente para as demandas que envolvam direito pessoal, quer de natureza

patrimonial ou extrapatrimonial, e para as que versem acerca de direito real

sobre bens móveis.

Confi ra-se o teor do dispositivo:

Art. 94. A ação fundada em direito pessoal e a ação fundada em direito real

sobre bens móveis serão propostas, em regra, no foro do domicílio do réu.

[...].

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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3.2. Nada obstante, o art. 100, excepcionando o dispositivo antes

mencionado, prescreve foros especiais em diversas situações; as quais, quando

confi guradas, possuem o condão de afastar o comando geral ou relegá-lo à

aplicação subsidiária.

Na hipótese, importa-nos o foro especial previsto no parágrafo único do

art. 100 do CPC, que assim dispõe:

Art. 100. É competente o foro:

[...].

Parágrafo único. Nas ações de reparação do dano sofrido em razão de delito

ou acidente de veículos, será competente o foro do domicílio do autor ou do local

do fato.

Em princípio, a norma contida no artigo 100, parágrafo único, do Código

de Processo Civil revela elementos que permitem classifi cá-la como específi ca

em relação à do artigo 94 do mesmo diploma, o que, em um exame superfi cial,

desafi aria a solução da conhecida regra de hermenêutica encartada no princípio

da especialidade (lex specialis derrogat generalis).

4. A situação dos autos, contudo, não permite esse tipo de técnica

interpretativa.

Na hipótese, a regra específi ca, contida no artigo 100, parágrafo único, não

contrasta com a genérica, inserta no artigo 94.

Na verdade, ambas se completam.

Com efeito, a demanda objetivando o recebimento do seguro obrigatório

DPVAT é de natureza pessoal, implicando a competência do foro do domicílio

do réu (art. 94, caput do CPC).

Acerca dessa natureza pessoal do seguro obrigatório DPVAT, Rafael

Tárrega Martins registra:

Com o advento do diploma que ainda vige entre nós (Lei n. 6.194/74), a

natureza jurídica do seguro obrigatório transmudou-se, abandonando o

campo da responsabilidade civil e surgindo como um seguro eminentemente

de danos pessoais. Assim, característicos próprios foram a ele incorporados,

diferenciando-o, por conseguinte, de outras modalidades de seguro. Mister

destacarmos que essa mudança de postura no tocante à sua natureza fez com

qua a própria nomenclatura e ele atribuída sofresse alteração. Foi quando

passamos a descrevê-lo como Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados

por Veículos Automotores de Vias Terrestres - DPVAT, e não mais como seguro

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 59-77, novembro 2017 71

de responsabilidade civil dos proprietários de veículos automotores de vias

terrestres, denominação que antes possuía. (MARTINS, Rafael Tárrega. Seguro

DPVAT. Campinas, Editora LZN, 2007, p. 29/30).

Por outro lado, o art. 100, parágrafo único, do CPC dispõe que “nas ações

de reparação do dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos será

competente o foro do domicílio do autor ou do local do fato”.

Celso Agrícola Barbi tece oportunas considerações a respeito da aplicação

do art. 100, parágrafo único, do CPC:

O parágrafo único do art. 100 introduz importante novidade em nosso direito.

O aumento da rede de rodovias e sua interligação, ao lado da decadência das

ferrovias, trouxe considerável acréscimo no tráfego de automóveis, caminhões

e ônibus em todo o País, e, em consequência, aumento no número de acidentes

causados por eles.

Dada a grande extensão territorial do País, veículos pertencentes a pessoa

residente em um local causam dano em acidente ocorrido em outro, a centenas

ou milhares de quilômetros. A regra geral do foro do domicílio do réu não era

capaz de atender às necessidades surgidas dessa nova fonte de demandas,

porque a vítima tinha de ajuizar a ação em distantes comarcas, longe de seu

domicílio e do local do fato.

O Código atual veio atender aos reclamos gerais, considerando o foro do lugar

do acidente competente para a ação de reparação do dano causado por ele.

(BARBI, Celso Agrícola. Comentários ao código de processo civil. Vol. I. 13. ed. Rio de

Janeiro: Forense, 2008. p. 351).

Nesse contexto, a regra prevista no art. 100, parágrafo único, do CPC cuida

de faculdade que visa a facilitar o acesso à justiça ao jurisdicionado, vítima do

acidente; não impedindo, contudo, que o benefi ciário da norma especial “abra

mão” desta prerrogativa, ajuizando a ação no foro domicílio do réu (art. 94 do

CPC).

Assim, trata-se de hipótese de competência concorrente.

Acerca da mencionada competência concorrente, Celso Agrícola Barbi

leciona:

A competência do foro do lugar do acidente, ou delito, para a ação de

reparação do dano por ele causado, não é exclusiva. O parágrafo em exame a

considera concorrente com a do foro do domicílio do autor, cabendo a este optar

por um desses dois foros.

Tratando-se de regra criada em favor da vítima do delito ou acidente, pode ela

abrir mão dessa prerrogativa e, se lhe convier, ajuizar a ação no foro do domicílio

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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do réu. Como se vê há, na realidade, três foros concorrentes, à escolha do autor:

o do lugar do fato, o do domicílio do autor e o do domicílio do réu. E o réu não

tem poder legal de se opor a essa escolha. (BARBI, Celso Agrícola. Comentários

ao código de processo civil. Vol. I. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 351-352).

Ou seja, como o Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por

Veículos Automotores de Vias Terrestres - DPVAT ancora-se em fi nalidade

eminentemente social, qual seja, a de garantir, inequivocamente, que os danos

pessoais sofridos por vítimas de veículos automotores sejam compensados ao

menos parcialmente, torna-se imprescindível garantir à vítima do acidente

amplo acesso ao Poder Judiciário em busca do direito tutelado em lei.

Aqui, mais uma vez, trago as lições de Rafael Tárrega Martins:

Como bem ressaltado por Paulo Lucio Nogueira (NOGUEIRA, Paulo Lúcio.

Prática, processo e jurisprudência: seguro obrigatório. Curitiba: Juruá, 1978. 32 v. p.

28.), “trata-se de uma inovação salutar introduzida pela lei processual civil vigente,

pois sempre foi nosso entendimento de que a justiça deve favorecer a vítima e

difi cultar o crime; auxiliar o que necessita obter a prestação jurisdicional e criar

embaraços ao desonesto.”

Mais uma vez o espírito do legislador caminhou para a visão social do seguro

obrigatório. Em verdade o autor da demanda atinente ao DPVAT possui três

opções de foro competente: seu domicílio; o local do fato; e o domicílio do réu.

Nenhuma exceção de incompetência argüida pela seguradora poderá modifi car

esta disposição, nem mesmo aquelas prescritas no código processual civil

tratando das prerrogativas conferidas às pessoas jurídicas de serem acionadas

onde estiver sua sede ou fi lial em que exerça sua atividade principal. (MARTINS,

Rafael Tárrega. Seguro DPVAT. Campinas, Editora LZN, 2007, p. 90).

Ademais, em relação à possibilidade de o réu, quando demandado em seu

domicílio, propor incidente de exceção de incompetência, importante ressaltar

que Antônio Carlos Marcato entende que, em princípio, inexiste interesse do

réu em arguir a incompetência do juízo, pois ele próprio será benefi ciado pela

prorrogação da competência (MARCATO, Antônio Carlos, coordenador.

Código de processo civil interpretado. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 310);

entendimento esse também adotado por Celso Agrícola Barbi, no sentido

de que “o réu não tem poder legal de se opor a essa escolha” (BARBI, Celso

Agrícola. Comentários ao código de processo civil. Vol. I. 13. ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2008. p. 352).

Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery também seguem a

mesma linha. Confi ra-se:

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 59-77, novembro 2017 73

19. Foros concorrentes. É do autor a opção pelo ajuizamento da ação no foro de

seu domicílio ou no foro do lugar do acidente. O réu não pode opor-se à opção do

autor. Este, entretanto, pode renunciar à prerrogativa de foro e ajuizar a ação no

domicílio do réu. Se isto ocorrer, ao réu é vedado arguir a incompetência relativa,

por falta de interesse processual, já que estaria sendo benefi ciado com a escolha

do autor pelo foro do domicílio dele, réu. NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria

de Andrade. Código de processo civil comentado e legislação extravagante. 11 ed.

rev., amp. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 372) - grifou-se.

Nesse diapasão, o réu não poderá opor-se à opção feita pelo autor da

demanda, por meio de exceção de incompetência, quando este último propuser a

ação em seu domicílio, por ausência de interesse de agir.

5. A jurisprudência deste Tribunal é tranquila a respeito do tema em

questão. Confiram-se diversos precedentes desta Corte Superior, que

demonstram a solidez do entendimento acerca dessa matéria:

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. DPVAT. AÇÃO DE COBRANÇA.

FORO. COMPETÊNCIA RELATIVA. LOCAL DO ACIDENTE. DOMICÍLIO DO AUTOR OU

DO RÉU. LIVRE ESCOLHA DO AUTOR DA AÇÃO. PRECEDENTES.

1. A Segunda Seção desta Corte fi rmou entendimento no sentido de que, na

ação de cobrança do seguro DPVAT, constitui faculdade do autor escolher entre

o foro do seu próprio domicílio, o do local do acidente ou, ainda, o do domicílio

do réu.

2. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

(AgRg no REsp 1.240.981/RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,

TERCEIRA TURMA, julgado em 02/10/2012, DJe 05/10/2012)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. DPVAT. AÇÃO DE COBRANÇA.

FORO. COMPETÊNCIA RELATIVA. PRECEDENTES.

1. A Segunda Seção desta Corte fi rmou entendimento no sentido de que, na

ação de cobrança do seguro DPVAT, constitui faculdade do autor escolher entre

o foro do seu próprio domicílio, o do local do acidente ou, ainda, o do domicílio

do réu.

2. Agravo regimental não provido.

(AgRg no REsp 1.195.128/RS, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,

TERCEIRA TURMA, julgado em 05/06/2012, DJe 18/06/2012)

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO DE COBRANÇA. ACIDENTE DE VEÍCULOS.

SEGURO OBRIGATÓRIO - DPVAT.

1. Constitui faculdade do autor escolher entre qualquer dos foros possíveis

para ajuizamento da ação decorrente de acidente de veículos: o do local do

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

74

acidente ou o do seu domicílio (parágrafo único do art. 100 do CPC); bem como,

ainda, o do domicílio do réu (art. 94 do CPC). Precedentes.

2. Confl ito conhecido para declarar competente o Juízo suscitado.

(CC 114.844/SP, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO,

julgado em 13/04/2011, DJe 03/05/2011)

DPVAT. COBRANÇA. COMPETÊNCIA RELATIVA. SÚMULA 33/STJ.

1 - Na ação por danos decorrentes de acidente de trânsito, o autor tem a

faculdade de propor a ação no foro do seu próprio domicílio (regra geral do art.

94 do CPC), no foro do local do acidente ou, ainda, no foro do domicílio do réu

(art. 100, parágrafo único do CPC). Se pode o autor optar em propor a demanda

no foro que lhe é mais conveniente, a competência é relativa, não podendo ser

declinada de ofício, conforme a súmula 33/STJ.

2 - Confl ito conhecido para declarar competente o JUÍZO DE DIREITO DA 1ª

VARA CÍVEL DE MURIAÉ - MG, suscitado.

(CC 106.676/RJ, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, SEGUNDA SEÇÃO,

julgado em 14/10/2009, DJe 05/11/2009)

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ACÓRDÃO ALVEJADO QUE, DE

OFÍCIO, DECLINA DA COMPETÊNCIA PARA COMARCA DIVERSA. IMPOSSIBILIDADE.

SÚMULA 33/STJ. DEMANDA DE NATUREZA PESSOAL. COMPETÊNCIA DO FORO

DO DOMICÍLIO DO RÉU. ART. 94, CAPUT, E ART. 100, PARÁGRAFO ÚNICO DO CPC.

RECURSO ESPECIAL PROVIDO PARA ANULAR O ACÓRDÃO RECORRIDO.

1. O foro competente para o ajuizamento da ação não é defi nido ao nuto do

julgador, mas sim em conformidade com as regras de fi xação e prorrogação de

competência entabuladas na Lei Instrumental.

2. “A incompetência relativa não pode ser declarada de ofi cio” (Súmula 33/STJ).

3. A demanda objetivando o recebimento do seguro DPVAT é de natureza

pessoal, implicando a competência do foro do domicílio do réu. Além disso, a

regra contida no art. 100 do CPC é mera faculdade que visa a facilitar o acesso à

Justiça.

4. Recurso especial provido.

(REsp 1.059.330/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,

julgado em 11/11/2008, DJe 15/12/2008)

Verifi cam-se também diversas decisões monocráticas que caminham no

mesmo sentido: CC 125155/SP, Rel. Ministro Raul Araújo, publicado em

15/8/2013; CC 129.208/SP, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, publicado

em 12/8/2013; CC 126.621/SP, Rel. Ministro Marco Buzzi, publicado em

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 59-77, novembro 2017 75

1º/7/2013; CC 128.243/RN, Rel. Ministra Nancy Andrighi, publicado

em 24/6/2013; CC 125.008/SP, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino,

publicado em 8/3/2013; CC 125.634/SP Rel. Ministro Antônio Carlos Ferreira,

publicado em 6/3/2013, dentre muitas outras.

O Ministério Público Federal, em parecer da lavra do ilustre

Subprocurador-Geral da República, Dr. José Bonifácio Borges de Andrada

(fl s. 285/293), também opinou no sentido de fi xar-se a tese de que o autor

tem a plena faculdade de optar pelo foro do seu domicílio, do local do fato ou

do domicílio do réu ou o de eleição, para ajuizar a demanda. Segue trecho do

parecer nesse sentido:

[...] a jurisprudência é pacífi ca no sentido de que na ação de cobrança do

seguro DPVAT constitui faculdade do autor escolher entre o foro do seu próprio

domicílio, o do local do acidente (parágrafo único do art. 100 do CPC) ou, ainda, o

do domicílio do réu (art. 94 do CPC). Acerca do tema:

[...].

Sobre esse aspecto, cumpre asseverar que trata-se de uma competência

territorial múltipla ad nutum do autor, que tem a faculdade de escolha entre

diversos foros possíveis.

Ad argumentandum tantum, a regra geral para a fixação competência no

foro do domicílio do réu (art. 94, do CPC), quando escolhida pelo autor, se torna

inafastável e o réu jamais poderá se opor a isso, simplesmente porque sempre lhe

será mais benéfi co. Nas lições de PONTES DE MIRANDA (Comentários ao Código

de Processo Civil. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000, Tomo II, p. 245. Atualizador:

Ségio Bermudes):

Basta pensar-se em quanto seria difl cil atribuir-se ao foro do autor, sendo

muitas as pessoas que poderiam, em diferentes circunscrições, propor

ações contra o mesmo réu, para se compreender o acerto de ser o domicilio

do réu, e não o do autor, que determine a competência. Assim, ficam

centralizadas no foro do réu todas as demandas contra ele. Ai, por ser o

do seu domicilio, mais fácil é encontrá-lo. Aí estão os bens, que possui,

os informes sobre a sua vida de negócios, porque, segundo a defi nição

de direito material, o domicilio civil é o lugar onde ele estabelece a sua

residência com ânimo defi nitivo.

Por outro turno, o argumento do Tribunal a quo de que “o pagamento de

seguro DPVAT não tem caráter de reparação de dano, mas sim de obrigação

decorrente de lei, qual seja, a Lei 8.441/92, devendo prevalecer, assim, a regra

estampada no art. 100, IV alínea “d” do CPC” (fl s. 135-136e) não colhe por duas

razões, data venia.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Em primeiro, a regra estampada no art. 100, do CPC trata de competência

territorial especial instituída, em regra, para benefi ciar a parte hipossufi ciente ou

vítima. Assim, por não ser absoluta, constituiu uma faculdade ao autor, que pode

renunciá-la expressa ou tacitamente. Ora, cui licet quod est plus, licet utique quod

est minus - quem pode o mais, pode o menos - pois a quem se concede o mais,

entende-se que lhe foi concedido o menos. A propósito:

Havemos de entender que o lugar em que tem de ser satisfeita

a obrigação é de grande relevância que a ação para exigência do

cumprimento da obrigação supõe existência e validade do negócio jurídico

de que se diz irradiar a obrigação. A solução mais adequada é a de se

considerarem competentes os dois foros: o do lugar em que teria de ser

cumprida a obrigação e o do domicílio do réu (art. 94 e §§ 1º, 2º, 3º e 4º).

Qualquer ação de reparação de dano pode ser proposta no foro do lugar

do ato ou do fato que lhe deu causa. Pegunta-se: pode ser proposta no foro

do domicílio do réu? Sim; o art. 94 permite-o em todas as espécies, pois que tal

propositura é, “em regra”, admitida.

[...].

Seja como for, a ação é proponível no lugar de onde veio a causa ou no

lugar em que o dano se causou. Mas isso não afasta a proponibilidade no

foro do domicílio do autor (art. 100, parágrafo único).

Ainda mais: não se exclua poder o lesado propor a ação no foro do domiclio

do réu. Escolhe ele entre os três foros, sem possível exceção de incompetência

oposta pelo réu. (MIRANDA, Pontes de. Comentários ao Código de Processo

Civil. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000, Tomo 11, pp. 208-281. Atualizador:

Ségio Bermudes - grifou-se).

Por fi m, o DPVAT, a par de seguro social, não deixa de ter natureza também

contratual, pois, não obstante seu caráter obrigatório e em que pese o conteúdo

de suas cláusulas ser amplamente regulado, ele é negócio jurídico que formaliza

uma troca econômica, em que os segurados mutuamente se caucionam contra

certos riscos, pagando um prêmio em busca da segurança própria e alheia.

Portanto, possui natureza reparatória ex lege privada de caráter social.

Em suma, diante da competência territorial múltipla estabelecida ad nutum

do autor-consumidor, tem-se uma opção dada ao autor-consumidor, que dela

poderá renunciar expressa ou tacitamente para, em benefício do réu, eleger a

regra geral, que é a do domicilio do demandado (art. 94, CPC).

6. Assim, o entendimento a ser fi rmado para efeitos do art. 543-C do

CPC, que ora encaminho, é o seguinte:

Em ação de cobrança, objetivando indenização decorrente de Seguro Obrigatório

de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres - DPVAT,

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 59-77, novembro 2017 77

constitui faculdade do autor escolher entre os seguintes foros para ajuizamento da ação:

o do local do acidente ou o do seu domicílio (parágrafo único do art. 100 do CPC); bem

como, ainda, o do domicílio do réu (art. 94 do mesmo Diploma).

7. No caso concreto, o Tribunal a quo manteve a decisão do juiz de primeiro

grau que acolheu exceção para declinar de sua competência para umas das varas

cíveis da Comarca de São Paulo, local do domicílio da autora e local onde teria

ocorrido o acidente.

Assim, nota-se que o acórdão recorrido não aplicou o entendimento ora

proposto, razão pela qual deve ser reformado.

8. Ante o exposto, dou provimento ao recurso especial para o fi m de

declarar competente o Juízo de Direito da 52ª Vara Cível do Estado do Rio de

Janeiro.

É como voto.

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Súmula n. 541

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SÚMULA N. 541

A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao

duodécuplo da mensal é sufi ciente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual

contratada.

Referências:

CC/2002, art. 591.

CPC, art. 543-C.

MP n. 1.963-17/2000, art. 5º, atual.

MP n. 2.170-36/2001, art. 5º.

Decreto n. 22.626/1933, art. 4º.

Súmulas n. 121 e 596 do STF.

Precedentes:

(*)REsp 973.827-RS (2ª S, 08.08.2012 – DJe 24.09.2012) –

acórdão publicado na íntegra

(*)REsp 1.251.331-RS (2ª S, 28.08.2013 – DJe 24.10.2013) –

acórdão publicado na íntegra na

Súmula 565

AgRg no AREsp 227.946-DF (3ª T, 11.06.2013 – DJe 18.06.2013)

AgRg no AREsp 581.366-MS (3ª T, 03.03.2015 – DJe 06.03.2015)

AgRg no REsp 1.196.403-RS (4ª T, 19.02.2013 – DJe 26.02.2013)

EDcl no

AgRg no REsp 1.260.463-RS (4ª T, 05.09.2013 – DJe 17.09.2013)

AgRg no AREsp 583.727-RS (4ª T, 24.02.2015 – DJe 03.03.2015)

AgRg no AREsp 591.460-RS (4ª T, 16.04.2015 – DJe 23.04.2015)

(*) Recursos repetitivos.

Segunda Seção, em 10.6.2015

DJe 15.6.2015

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RECURSO ESPECIAL N. 973.827-RS (2007/0179072-3)

Relator: Ministro Luis Felipe Salomão

Relatora para o acórdão: Ministra Maria Isabel Gallotti

Recorrente: Banco Sudameris Brasil S/A

Advogado: Luiz Carlos Sturzenegger e outro(s)

Recorrido: João Felipe Zanella Felizardo

Advogado: Daniel Demartini

Interes.: Banco Central do Brasil - “Amicus Curiae”

Procurador: Procuradoria-Geral do Banco Central

Interes.: Federação Brasileira de Bancos FEBRABAN - “Amicus Curiae”

Advogado: Luiz Rodrigues Wambier e outro(s)

Interes.: Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor IDEC - “Amicus Curiae”

Advogado: Maria Elisa Cesar Novais e outro(s)

EMENTA

CIVIL E PROCESSUAL. RECURSO ESPECIAL

REPETITIVO. AÇÕES REVISIONAL E DE BUSCA

E APREENSÃO CONVERTIDA EM DEPÓSITO.

CONTRATO DE FINANCIAMENTO COM GARANTIA

DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. CAPITALIZAÇÃO DE

JUROS. JUROS COMPOSTOS. DECRETO 22.626/1933

MEDIDA PROVISÓRIA 2.170-36/2001. COMISSÃO DE

PERMANÊNCIA. MORA. CARACTERIZAÇÃO.

1. A capitalização de juros vedada pelo Decreto 22.626/1933 (Lei

de Usura) em intervalo inferior a um ano e permitida pela Medida

Provisória 2.170-36/2001, desde que expressamente pactuada, tem

por pressuposto a circunstância de os juros devidos e já vencidos

serem, periodicamente, incorporados ao valor principal. Os juros não

pagos são incorporados ao capital e sobre eles passam a incidir novos

juros.

2. Por outro lado, há os conceitos abstratos, de matemática

fi nanceira, de “taxa de juros simples” e “taxa de juros compostos”,

métodos usados na formação da taxa de juros contratada, prévios ao

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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início do cumprimento do contrato. A mera circunstância de estar

pactuada taxa efetiva e taxa nominal de juros não implica capitalização

de juros, mas apenas processo de formação da taxa de juros pelo

método composto, o que não é proibido pelo Decreto 22.626/1933.

3. Teses para os efeitos do art. 543-C do CPC:

- “É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior

a um ano em contratos celebrados após 31.3.2000, data da publicação

da Medida Provisória n. 1.963-17/2000 (em vigor como MP 2.170-

36/2001), desde que expressamente pactuada.”

- “A capitalização dos juros em periodicidade inferior à anual

deve vir pactuada de forma expressa e clara. A previsão no contrato

bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é

sufi ciente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada”.

4. Segundo o entendimento pacifi cado na 2ª Seção, a comissão de

permanência não pode ser cumulada com quaisquer outros encargos

remuneratórios ou moratórios.

5. É lícita a cobrança dos encargos da mora quando caracterizado

o estado de inadimplência, que decorre da falta de demonstração da

abusividade das cláusulas contratuais questionadas.

6. Recurso especial conhecido em parte e, nessa extensão, provido.

ACÓRDÃO

Retifi cada, por unanimidade, a proclamação ocorrida na sessão do dia

27/06/2012 para modifi cação do item 2 das teses fi xadas para os efeitos do

artigo 543, C, do CPC, passando o item 2 a ser o seguinte: “... 2) A capitalização

dos juros em periodicidade inferior à anual deve vir pactuada de forma expressa

e clara. A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao

duodécuplo da mensal é sufi ciente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual

contratada.”

RETIFICADA, FICA A PROCLAMAÇÃO INTEGRAL DA

SEGUINTE FORMA:

Prosseguindo o julgamento, após o voto-vista da Sra. Ministra Isabel

Gallotti divergindo do Sr. Ministro Relator e dando provimento ao recurso

especial em maior extensão, no que foi acompanhada pelos Srs. Ministros

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 85

Raul Araújo, Antonio Carlos Ferreira, Villas Bôas Cueva e Marco Buzzi, a

Segunda Seção, por maioria, deu provimento ao recurso especial, em maior

extensão, vencidos os Srs. Ministros Relator, Paulo de Tarso Sanseverino e

Nancy Andrighi.

Lavrará o acórdão a Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti.

Para os efeitos do artigo 543, C, do CPC, foram fi xadas as seguintes teses:

1) É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior a um

ano em contratos celebrados após 31/3/2000, data da publicação da Medida

Provisória n. 1.963-17/2000, em vigor como MP n. 2.170-01, desde que

expressamente pactuada;

2) A capitalização dos juros em periodicidade inferior à anual deve vir

pactuada de forma expressa e clara. A previsão no contrato bancário de taxa

de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é sufi ciente para permitir a

cobrança da taxa efetiva anual contratada.

Impedido o Sr. Ministro Massami Uyeda.

Ausente, justifi cadamente, na assentada do dia 08/08/2012, a Sra. Ministra

Nancy Andrighi.

Brasília (DF), 08 de agosto de 2012 (data do julgamento).

Ministra Maria Isabel Gallotti, Relatora para acórdão

DJe 24.9.2012

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Luis Felipe Salomão: 1. João Felipe Zanella Felizardo

ajuizou ação revisional de contrato de fi nanciamento em face de Banco Sudameris

Brasil S/A buscando a declaração da nulidade de cláusulas supostamente

abusivas, referentes à taxa de juros remuneratórios, capitalização mensal de juros

e cumulação da correção monetária com a comissão de permanência. Na inicial,

o autor pleiteou a limitação da taxa de juros em 12% ao ano, o reconhecimento

da vedação do anatocismo e a declaração de impossibilidade de coexistência da

correção monetária com a comissão de permanência.

Foi indeferido o pedido de antecipação de tutela, efetuado com o intuito

de impedir o Banco de inscrever o nome do autor nos órgãos de restrição de

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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crédito, bem como para coibir o protesto das notas promissórias relativas ao

contrato objeto da demanda (fl . 23).

O agravo de instrumento interposto contra tal decisão foi provido “para

o fi m de conceder a medida acautelatória do direito do agravante e proibir o

agravado de incluir o nome deste em órgãos de proteção ao crédito, excluindo-o,

caso já efetivado o registro, e desde que deposite, mensalmente, na data do

vencimento de cada parcela, o valor que entende devido” (fl . 78).

Paralelamente a este feito, o Banco Sudameris Brasil S/A manejou ação

de busca e apreensão do veículo, objeto do contrato avençado entre as partes.

Na sequência, a instituição fi nanceira requereu a conversão do feito em ação de

depósito, o que foi deferido (fl . 75 dos autos em apenso).

O magistrado de primeiro grau apreciou os processos conjuntamente,

em razão da continência existente, julgando improcedentes os pedidos da ação

revisional e procedentes os da de depósito, “para condenar o réu, como devedor

fi duciário equiparado a depositário, a restituir ao autor o veículo descrito na

inicial, no prazo de vinte e quatro (24) horas, ou a importância equivalente em

dinheiro, sob pena de prisão como depositário infi el, nos termos dos artigos 901

e 904 e seu parágrafo único do Código de Processo Civil” (fl . 92). Na ocasião, o

julgador ressalvou ao autor a utilização da faculdade estabelecida no art. 906 do

CPC e estipulou a verba sucumbencial em desfavor do consumidor, fi xando os

honorários advocatícios em R$ 900,00, considerando o disposto no art. 20, § 4º,

do CPC.

A apelação interposta foi provida, por maioria, em acórdão assim resumido:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE FINANCIAMENTO

GARANTIDO POR ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. PRELIMINAR DE PRECLUSÃO

NO TOCANTE À MANUTENÇÃO NA POSSE DO BEM OBJETO DO CONTRATO.

POSSIBILIDADE DE REVISÃO. INCIDÊNCIA DO CDC. JUROS REMUNERATÓRIOS.

CAPITALIZAÇÃO. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO DE

BUSCA E APREENSÃO. COMPENSAÇÃO.

Não merece acolhimento a preliminar de preclusão no tocante à posse do bem

objeto do contrato, pois o ajuizamento da ação revisional de contrato poderá

afastar a mora, eis que está em discussão o contrato celebrado entre as partes, no

qual também se fundamenta a Ação de Busca e Apreensão, convertida em Ação

de Depósito.

É certa a incidência do Código de Defesa do Consumidor em Contrato, como

prevê o seu art. 3º, § 2º, assim como do art. 166 do Código Civil, que autorizam a

sua revisão.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 87

Não merecem manutenção os juros remuneratórios pactuados em taxa

superior a 12% ao ano, conforme limitação constante no Decreto 22.626/33, no

CDC, e diante de ausência de prova de que o fi nanciador tenha autorização do

CMN para praticar taxas superiores.

Inexistindo previsão legal, é incabível a capitalização mensal de juros, em

contrato de fi nanciamento garantido por alienação fi duciária, devendo incidir a

anual, nos termos do art. 591 do Código Civil.

É impossível a cobrança de comissão de permanência, mesmo que não seja

de forma cumulada com correção monetária, de percentual superior à taxa

do contrato (Súmula 294 do STJ), assim como não é cabível a sua incidência

cumulada com juros moratórios e multa.

É possível a compensação de valores quando se trata de ação revisional,

depois de liquidada a sentença.

A exigência de encargos ilegais e/ou abusivos afasta a mora, cuja conseqüência

é a improcedência da Ação de Busca e Apreensão.

Preliminar desacolhida.

Apelação Cível provida, por maioria (fl . 140).

Os embargos de declaração opostos pelo banco réu foram rejeitados (fl s.

165).

Irresignada, a instituição fi nanceira apresentou embargos infringentes,

buscando a prevalência do voto vencido, no tocante à capitalização mensal dos

juros.

Por seu turno, o autor apresentou impugnação às fl s. 183-191.

Os infringentes não foram providos. O acórdão então proferido foi

sintetizado da seguinte forma:

EMBARGOS INFRINGENTES. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. AÇÃO REVISIONAL DE

CONTRATO. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS.

Proibida a capitalização dos juros em período inferior a um ano, no caso

concreto.

EMBARGOS INFRINGENTES DESPROVIDOS. UNÂNIME.

Diante disso, o Banco Sudameris Brasil S/A interpõe o presente recurso

especial fundado no art. 105, III, “a” e “c”, da Constituição da República.

De início, aponta, “por cautela”, negativa de vigência ao art. 535 do CPC,

para o caso de esta Corte entender que as questões atinentes à comissão de

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

88

permanência e aos juros remuneratórios no período da inadimplência (Súmula

296/STJ) não terem sido prequestionadas.

No tocante ao suposto excesso da taxa de juros remuneratórios, bem como

à necessidade de autorização do Conselho Monetário Nacional-CMN para

praticar taxas superiores a 12% ao ano, o recorrente alega que o acórdão ofendeu

o disposto no art. 4º, IX, da Lei n. 4.595/61, e emprestou interpretação diversa

da atribuída pela Súmula 596/STF, além de divergir do entendimento fi rmado

por esta Corte.

No que se refere à capitalização mensal de juros, a instituição fi nanceira

reputa contrariados os arts. 4º, VI e IX, da Lei n. 4.595/64 e 5º da MP n. 1.963-

17/2000 (sucessivamente reeditada até a MP n. 2.170-36/2001).

Assevera que “a Medida Provisória n. 1.963-17 (31.03.2000) que

expressamente autorizou, em seu artigo 5º, a cobrança de juros capitalizados

mensalmente pelas instituições fi nanceiras, passou a ser defi nitiva em nosso

ordenamento jurídico, consoante a emenda constitucional n. 32, de 11.09.2001,

onde todas as Medidas Provisórias que naquela data encontravam-se em vigor, e

aquelas antes reeditadas, passaram a ser defi nitivas (art. 2º)” (fl . 229).

Indica precedentes desta Corte a fi m de defender o entendimento segundo

o qual, nos contratos de mútuo bancário posteriores a 31 de março de 2000,

incide capitalização mensal, desde que pactuada.

Pondera que o fundamento do acórdão recorrido relativo à prevalência do

Código Civil sobre a Medida Provisória não prospera, pois ambas convivem

em harmonia na órbita jurídica, não havendo se falar em hierarquia inferior

desta em relação àquele. Salienta, mais, que sendo esta norma especial, deve

preponderar no que tange ao Codex civilista, de caráter geral.

Ressalta que o contrato objeto desta demanda foi fi rmado em 21 de julho

de 2003 e os juros foram estipulados em valores prefi xados, sendo de pleno

conhecimento do recorrido, pois calculado com base na taxa anual constante do

instrumento contratual.

Relativamente à comissão de permanência, argumenta que o acórdão, além

de dissentir da orientação deste Tribunal Superior, vulnerou o já mencionado

art. 4º da Lei n. 4.595/64 e a Resolução n. 1.129/86 do CMN. Cita, ainda, a

Súmula 294/STJ como reforço de fundamentação. Afi rma que esse encargo

apenas deve ser afastado quando for cumulado com correção monetária e com

juros remuneratórios, o que não seria o caso.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 89

Pondera que “caso prevaleça o afastamento da cobrança de comissão

de permanência, deve ser autorizada a incidência cumulada dos juros

remuneratórios e moratórios no período da anormalidade (inadimplência) mês,

considerando a diversidade de origem de ambos (natureza), tópico suscitado

inclusive em sede de embargos” (fl s. 238/239). Ampara-se na Súmula 296/STJ

como esteio a seus argumentos.

Insurge-se contra o afastamento da mora debendi até o trânsito em julgado

da decisão. Observa que todos os encargos contratuais são legítimos e pugna

pela aplicação do art. 397 do CC/2002. Por consequência, ataca a possibilidade

de repetição de indébito e pontua a necessidade de comprovação de que pagou

em erro, consoante o art. 877 do CC/2002.

Ao fi nal, sustenta que o julgamento de improcedência da ação de busca e

apreensão violou o art. 3º do Decreto-Lei n. 911/69, pois, embora caracterizadas

a inadimplência e a mora do devedor fi duciário, o acórdão vetou ao Banco

recorrente a possibilidade de reaver o veículo alienado. Colaciona julgado deste

Tribunal que divergiria do aresto impugnado, no particular.

Concomitantemente, foi interposto recurso extraordinário (fl s. 268-286).

Não foram apresentadas contrarrazões (fl . 288).

Admitidos ambos os recursos (fl s. 289/290), subiram os autos a esta Corte

e, diante da multiplicidade de recursos acerca do tema relacionado à possibilidade

de capitalização de juros mensais em contratos bancários, afetei o julgamento do

feito a esta e. Segunda Seção, procedendo-se de acordo com o art. 543-C do

CPC e com a Resolução n. 08/2008 do STJ (fl . 304).

Manifestaram-se como amici curiae o Banco Central do Brasil-Bacen, a

Federação Brasileira de Bancos-Febraban e o Instituto Brasileiro de Defesa do

Consumidor-IDEC.

Da manifestação do Bacen (fl s. 312-326):

A instituição fi nanceira reitera os termos do parecer apresentado nos

autos do REsp 1.046.768/RS, que, inicialmente, foi afetado para julgamento

no termos do art. 543-C do CPC, e depois desafetado, tendo em vista o RE

568.396/RS, então pendente de análise perante o Supremo Tribunal Federal.

Salienta que esse apelo extremo veio a ser arquivado, sem a apreciação da

matéria, em razão de homologação de acordo entre as partes, resultando, por

consequência, prejudicado o recurso.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Destaca as seguintes conclusões provindas do aludido parecer:

“a) por ser defeso ao Superior Tribunal de Justiça, em sede de recurso especial, fazer

o contraste de lei federal em face da Constituição, o julgamento sobre a capitalização

mensal de juros deve se ater à questão da vigência do art. 5º da Medida Provisória n.

2.170-36, de 2001;

b) embora o Código Civil tenha sido instituído por lei posterior à Medida Provisória

n. 2.170-36, de 2001, não há que se falar em derrogação da Medida Provisória, tendo

em vista o critério positivado na Lei de Introdução ao Código Civil, segundo o qual ‘a

lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não

revoga nem modifi ca a lei anterior’;

c) a questão da invalidade da Medida Provisória n. 2.170-36, de 2001, em

face da Lei Complementar n. 95, de 1998, não pode ser examinada, por falta de

prequestionamento;

d) ainda que fosse analisada a questão retromencionada, seria forçosa a

conclusão pela incontrastabilidade da Medida Provisória frente a Lei Complementar,

por inexistir hierarquia entre ambas;

e) não só pelos aspectos jurídico-formais mencionados, mas também pela

compatibilidade material do art. 5º da Medida Provisória nº 2.170-36, de 2001, com

os princípios e objetivos positivados no Código de Defesa do Consumidor, deve ser

rejeitada qualquer interpretação da lei que afaste a aplicação daquele dispositivo”

(fl s. 312/313).

Da manifestação da Febraban (fl s. 422-444):

A Federação salienta que apenas a questão referente à capitalização mensal

dos juros nos contratos bancários encontra-se submetida à análise sob os

auspícios do art. 543-C do CPC, pois as demais matérias já foram decididas em

julgamento de recurso repetitivo (REsp 1.061.530/RS).

Discorre acerca do entendimento fi rmado nesse referido apelo quanto a

cada tema objeto deste recurso especial, e defende a constitucionalidade do art.

5º da MP 2.170-36/2001, porquanto, até o presente momento, não foi editada

regra que o revogasse, nem houve sua suspensão em decorrência da ADI n.

2.316/RS, haja vista o fato de que nem mesmo o julgamento da liminar nela

requerida foi concluído.

Entende que, por se tratar de regra especial, a medida provisória em

comento deve prevalecer em relação ao art. 4º do Decreto-Lei n. 22.626/33 (Lei

de Usura) e ao art. 591 do Código Civil/2002.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 91

Assevera que a capitalização mensal dos juros é importante para

o equilíbrio do Sistema Financeiro Nacional. Após realizar um escorço da

evolução normativa concernente à capitalização, observa que a cobrança dos

juros de tal forma se impõe, porque “todos os investimentos oferecidos ao

público pelos Bancos rendem juros capitalizados” (fl . 436).

Por fi m, sinaliza a existência de jurisprudência reiterada, nesta Corte, sobre

a legalidade da capitalização mensal em alusão, a partir da publicação da MP

1.963-17/2000.

Da manifestação do IDEC (fl s. 498-512):

O instituto propugna a inconstitucionalidade do art. 5º da MP 2.170-

36/2001, que versa a respeito da capitalização mensal de juros.

Destaca a inexistência de urgência ou relevância da matéria tratada na

norma em questão, a destoar do art. 62 da Constituição Federal. Reproduz

excertos doutrinários com o objetivo de trazer mais fundamentos no que tange

ao tema.

Obtempera que, além da inconstitucionalidade formal, verifica-se a

substancial, “revelada pelo abuso do poder regulador do Estado ao editar norma

de direito privado como se fosse de direito público” (fl . 503).

Aponta a existência de norma atual aplicável à espécie, qual seja, o art. 591

do CC/2002, que permite a capitalização anual.

Do parecer do Ministério Público Federal (fl s. 485-496):

O Ministério Público Federal, em parecer da lavra o ilustre Subprocurador-

Geral da República Dr. Henrique Fagundes Filho, opinou pelo parcial

conhecimento do recurso especial com base na alínea “a” do inciso III do art. 105

da Constituição Federal e pelo não conhecimento do apelo fundado na alínea

“c” do mencionado permissivo constitucional, como revela a seguinte ementa:

RECURSO ESPECIAL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. AÇÃO REVISIONAL. LIMITAÇÃO

DA COBRANÇA DE TAXA DE JUROS EM 12% AO ANO. INAPLICÁVEL ÀS

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS. POSSIBILIDADE.

COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. COBRANÇA NÃO CUMULÁVEL COM OUTROS

ENCARGOS MORATÓRIOS.

I - À míngua de omissão, obscuridade ou contradição, não há que se falar em

afronta ao art. 535 do Código de Processo Civil.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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II - O art. 4º, inciso IX, da Lei n. 4.595, de 1964, isentou as instituições fi nanceiras,

no concernente à limitação da taxa de juros, de se submeterem aos ditames da Lei

da Usura, podendo a taxa usurária ultrapassar a casa dos 12% ao ano.

III - Segundo reiterada jurisprudência desse Colendo Superior Tribunal de

Justiça, a capitalização mensal de juros em contratos fi rmados após a entrada

em vigor da Medida Provisória n. 1963-17, de 2000, modifi cada pela Medida

Provisória n. 2.170-36, de 2001, é lícita, desde que prevista contratualmente.

IV - Não comporta conhecimento o recurso que, com esteio na alínea “a” do

permissivo constitucional, não aponta especificamente os dispositivos legais

tidos por malferidos.

V - É incabível o recurso especial que se volta contra suposta violação a

dispositivo de Resolução do Banco Central, por não se enquadrar, essa, no conceito

de “lei federal”.

VI - Consoante a jurisprudência pacífica dessa Corte, mostra-se inviável a

convivência da comissão de permanência com os encargos moratórios.

VII - A cobrança abusiva durante o cumprimento de contrato descaracteriza a

mora do devedor e, por consequência, impossibilita a busca e apreensão do bem

dado em garantia de alienação fi duciária, consoante farta jurisprudência desse

Superior Tribunal de Justiça.

VIII - Não havendo o devido cotejo analítico entre os precedentes paradigmas

e o vergastado, não há como se verifi car a existência de identidade fática entre os

acórdãos nem se comprovar a existência de dissídio a ensejar o recurso especial

pela alínea “c” do permissivo constitucional.

Parecer pelo parcial conhecimento do recurso especial com esteio no art. 105,

inciso III, alínea “a”, da Constituição, e pelo não conhecimento do apelo fundado

na alínea “c” desse mesmo dispositivo (fl s. 485/486).

Após as manifestações, o recorrente veio aos autos reiterar a possibilidade

de capitalização mensal (fl s. 525-544).

É o relatório.

2. Mister salientar, de início, que foram várias as questões suscitadas no

recurso especial. Contudo, apenas em relação à capitalização mensal de juros nos

contratos bancários será fi xada tese para os efeitos do art. 543-C do CPC, nos

exatos termos da decisão de afetação.

2.1. Também é importante destacar que o presente apelo não abrange os

contratos relativos ao Sistema Financeiro Habitacional, pois quanto a eles já

houve defi nição da matéria no julgamento do REsp 1.070.297/PR, de minha

relatoria, submetido ao rito dos recursos repetitivos, tendo o acórdão recebido

a seguinte ementa:

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 93

RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO.

CAPITALIZAÇÃO DE JUROS VEDADA EM QUALQUER PERIODICIDADE. TABELA

PRICE. ANATOCISMO. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 5 E 7. ART. 6º, ALÍNEA “E”, DA LEI

N. 4.380/64. JUROS REMUNERATÓRIOS. AUSÊNCIA DE LIMITAÇÃO.

1. Para efeito do art. 543-C:

1.1. Nos contratos celebrados no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação, é

vedada a capitalização de juros em qualquer periodicidade. Não cabe ao STJ, todavia,

aferir se há capitalização de juros com a utilização da Tabela Price, por força das

Súmulas 5 e 7.

1.2. O art. 6º, alínea “e”, da Lei n. 4.380/64, não estabelece limitação dos juros

remuneratórios.

2. Aplicação ao caso concreto:

2.1. Recurso especial parcialmente conhecido e, na extensão, provido,

para afastar a limitação imposta pelo acórdão recorrido no tocante aos juros

remuneratórios (DJe 18/09/2009).

2.2. Cumpre mencionar, ainda, a inexistência de impedimento ao exame

da causa, em que pese a repercussão geral da matéria reconhecida pelo Supremo

Tribunal Federal no RE 592.377/RS, como já decidido no julgamento do

REsp 1.107.201/DF, analisado sob o prisma do art. 543-C do CPC e assim

sumariado, no que interessa:

RECURSOS ESPECIAIS REPETITIVOS. CADERNETAS DE POUPANÇA. PLANOS

ECONÔMICOS. EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. RECURSOS REPRESENTATIVOS DE

MACRO-LIDE MULTITUDINÁRIA EM AÇÕES INDIVIDUAIS MOVIDAS POR POUPADORES.

JULGAMENTO NOS TERMOS DO ART. 543-C, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.

JULGAMENTO LIMITADO A MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL, INDEPENDENTEMENTE

DE JULGAMENTO DE TEMA CONSTITUCIONAL PELO C. STF. PRELIMINAR DE SUSPENSÃO

DO JULGAMENTO AFASTADA. CONSOLIDAÇÃO DE ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL

FIRMADA EM INÚMEROS PRECEDENTES DESTA CORTE. PLANOS ECONÔMICOS

BRESSER, VERÃO, COLLOR I E COLLOR II. LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM.

PRESCRIÇÃO. ÍNDICES DE CORREÇÃO.

I – Preliminar de suspensão do julgamento, para aguardo de julgamento de

Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, afastada, visto tratar-se, no

caso, de julgamento de matéria infraconstitucional, preservada a competência do C.

STF para tema constitucional.

II – No julgamento de Recurso Repetitivo do tipo consolidador de

jurisprudência constante de numerosos precedentes estáveis e não de tipo

formador de nova jurisprudência, a orientação jurisprudencial já estabilizada

assume especial peso na orientação que se fi rma.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

94

III – Seis conclusões, destacadas como julgamentos em Recurso Repetitivo,

devem ser proclamadas para defi nição de controvérsia:

(...)

V – Recurso Especial da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL provido em parte, para

ressalva quanto ao Plano Collor I.

VI – Recurso Especial do BANCO ABN AMRO REAL S/A improvido (DJe

06/05/2011 - grifei).

3. Nesse passo, impende observar, quanto ao tema central do recurso, que

os juros remuneratórios cobrados nos contratos celebrados entre as instituições

fi nanceiras e o consumidor constituem a remuneração do capital emprestado.

Vale dizer, os juros representam o preço do dinheiro objeto do mútuo.

Nas palavras de Roberto Arruda de Souza Lima e Adolfo Mamoru

Nishiyama, os juros capitalizados são “juros devidos e já vencidos que,

periodicamente (v.g., mensal, semestral ou anualmente), se incorporam ao valor

principal” (in Contratos Bancários - Aspectos Jurídicos e Técnicos da Matemática

Financeira para Advogados, Editora Atlas S/A., São Paulo: 2007, p. 36).

No vetusto Código Comercial de 1850, o artigo 253 estabelecia que os

juros não poderiam ser capitalizados, salvo em periodicidade anual.

O Código Civil de 1916, em seu art. 1.262, autorizava, desde que

expressamente estabelecidos, os juros capitalizados.

Posteriormente, o Decreto n. 22.626/33 (Lei de Usura), em seu art. 4º,

passou a vedar a prática do anatocismo.

Diante dos inúmeros precedentes proferidos com base nessa norma, o

Supremo Tribunal Federal, na sessão plenária de 13/12/1963, editou a Súmula

121, que proibiu a capitalização em comento “ainda que expressamente

convencionada”.

Todavia, logo entraram em vigor normas específicas, relativas aos

contratos de crédito rural (Decreto-Lei n. 167/67), industrial (Decreto-Lei n.

413/69) e comercial (Lei n. 6.840/80), as quais permitem a pactuação de juros

capitalizados.

A fi m de uniformizar o entendimento sobre o tema, esta Corte Superior de

Justiça, na sessão de 27/10/1993, elaborou a Súmula 93, nos seguintes termos:

“A legislação sobre cédulas de crédito rural, comercial e industrial admite o

pacto de capitalização de juros”.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 95

No ano 2000, em razão dos questionamentos crescentes acerca da

possibilidade de previsão de juros capitalizados nas operações de mútuo

praticadas por instituições fi nanceiras ou entidades a elas equiparadas, o então

Ministro da Fazenda Pedro Malan, apresentou a Exposição de Motivos n. 210/

MF propondo projeto de medida provisória relativa ao assunto, oportunidade

em que assim se pronunciou:

Excelentíssimo Senhor Presidente da República,

Surgem frequentemente, questionamentos sobre operações de mútuo,

principalmente quando praticadas por instituições fi nanceiras ou entidades a

elas equiparadas, em que se discutem o cabimento da cobrança de taxas de juros

pactuadas e a grande diferença existente entre as taxas primárias e as taxas de

juros cobradas dos tomadores de fi nanciamentos, chamada de spread.

É publica a intenção do Governo Federal de buscar diminuição do spread e sua

convergência com os padrões mundiais, de forma a incentivar o decréscimo do

valor total da taxa de juros suportada pelas pessoas físicas e jurídicas, criando-se,

assim, panorama mais propício ao desenvolvimento econômico do Brasil.

As operações praticadas no mercado financeiro devem seguir padrões

internacionalmente aplicados e aceitos. Como regra geral, no mercado fi nanceiro

mundial, a não-capitalização de juros tanto se mostra como exceção que deve ser

expressamente estipulada.

No Brasil, a legislação, em especial o art. 4º do Decreto n. 22.626, de 7 de abril

de 1933, veda tal prática. No entanto, ao captar recursos, as instituições nacionais

remuneram os aplicadores com juros capitalizados. Até mesmo os depósitos da

população para pequenos valores (v.g. caderneta de poupança) rendem juros

capitalizados.

Quanto à possibilidade, no País, de se cobrar juros de juros nas operações

praticadas no Mercado Financeiro, a Súmula 596 do Supremo Tribunal Federal

dispõe que “as disposições do Decreto n. 22.626, de 7 de abril de 1933, não se aplicam

às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por

instituições públicas ou privadas, que integram o Sistema Financeiro Nacional”.

À primeira vista, parece claro não se aplicar o art. 4º do Decreto n. 22.626/33

às instituições fi nanceiras ou entidades a elas equiparadas, quando as operações

forem típicas. No entanto, o próprio Supremo Tribunal Federal entendeu, na

Súmula 596, estar afastada no Sistema Financeiro apenas a incidência do art. 1º

do mencionado diploma legal, subsistindo a aplicação do art. 4º, que proíbe a

capitalização de juros em período inferior ao anual.

Note-se que, presentemente, já é mansa e pacífi ca a jurisprudência, inclusive

nos Tribunais Superiores, no sentido da não aplicação do art. 4º do Decreto n.

22.626, DE 1933 quando há previsão legal, tal como já ocorre desde a edição

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

96

do Decreto-Lei n. 167, de 14 de fevereiro de 1967, que dispõe sobre a cédula de

crédito rural, seguido do Decreto-Lei n. 413, de 9 de janeiro de 1969, que trata

da cédula de crédito industrial, da Lei n. 6.840, de 3 de novembro de 1980, que

estabelece a cédula de crédito comercial e da Lei n. 8.929, de 22 de agosto de

1994, que dispõe sobre a cédula de produto rural. Mais recentemente, a Medida

Provisória n. 1.925-5, de 2 de março de 2000, permitiu a capitalização de juros nas

operações lastreadas na cédula de crédito bancário.

É importante considerar que, ante à restrição legal de capitalização de juros,

ocorre signifi cativo impacto nas taxas de juros efetivamente praticadas pelas

instituições financeiras, vez que os juros, por definição, espelham, além da

remuneração, o risco da operação. Dessa forma, o devedor pontual em seus

pagamentos está, pela via refl exa, fi nanciando aqueles que deixam de honrar

seus compromissos.

Destaque-se ainda que, sob o ponto de vista econômico, a capitalização

de juros apresenta-se benéfi ca ao devedor que, não podendo pagar ao credor

na data originalmente avençada pode renegociar sua dívida junto à mesma

instituição fi nanceira Proibida a capitalização, evidentemente, o montante de

juros devidos deverá ser imediatamente liquidado, o que força o devedor a

captar recursos junto a outra instituição para adimplir com a primeira. Tal situação

permite o chamado “anatocismo indireto”, prática possibilitada pela vigente

legislação. Desse modo, considerando a incerteza quanto à nova taxa de juros,

fi ca prejudicado o devedor no planejamento dos seus desembolsos, que de outra

forma já estariam previstos no contrato originário.

Pode-se, sem esforço, concluir que a lei vigente, ao invés de proteger o

devedor, acaba sendo-lhe prejudicial.

O panorama atual, como demonstrado, aumenta sobremodo o risco das

operações fi nanceiras, com refl exos expressivos no inadimplemento bancário, o

que resulta em impacto nas taxas de juros praticadas.

Com o objetivo de solucionar as questões acima apontadas, proponho projeto

de Medida Provisória, cujo art. 1º prevê a possibilidade de se capitalizar juros,

em periodicidade inferior à anual, no âmbito do Sistema Financeiro Nacional,

ou seja, em operações típicas do mercado fi nanceiro praticadas por instituições

fi nanceiras ou a elas equiparadas.

Por sua vez, o parágrafo único do artigo mencionado torna obrigatória a

transparência do negócio em favor do devedor, de forma a assegurar a lisura

das operações minimizando signifi cativamente as difi culdades dos cidadãos na

compreensão dos cálculos aplicáveis aos contratos.

Desta forma, será possível adequar os níveis das taxas de juros praticadas

no mercado financeiro às necessidades do crescimento sustentado e do

desenvolvimento do País.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 97

Assim, demonstradas a urgência e a relevância da matéria, submeto à

consideração de Vossa Excelência projeto de Medida Provisória que dispõe sobre

a capitalização de juros no âmbito do Sistema Financeiro Nacional.

Desse modo, em 31/3/2000 foi publicada a MP 1.963-17, que, no art. 5º,

autorizou a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano. Após algumas

reedições, entrou em vigor a MP 2.170-36/01 que manteve o mencionado

dispositivo legal, cuja redação é a seguinte:

Art. 5º Nas operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema

Financeiro Nacional, é admissível a capitalização de juros com periodicidade

inferior a um ano.

Parágrafo único. Sempre que necessário ou quando solicitado pelo devedor,

a apuração do valor exato da obrigação, ou de seu saldo devedor, será feita pelo

credor por meio de planilha de cálculo que evidencie de modo claro, preciso e de

fácil entendimento e compreensão, o valor principal da dívida, seus encargos e

despesas contratuais, a parcela de juros e os critérios de sua incidência, a parcela

correspondente a multas e demais penalidades contratuais.

Passados aproximadamente três anos, o novo Código Civil começou a

viger, trazendo o art. 591, assim redigido:

Destinando-se o mútuo a fi ns econômicos, presumem-se devidos juros, os

quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406,

permitida a capitalização anual.

3.1. Nesse passo, o Partido Liberal ajuizou, em 2000, ação direta de

inconstitucionalidade (ADI n. 2.316/DF), retorquindo a constitucionalidade do

art. 5º, caput e parágrafo único, da MP 2.170-36/01 e pleiteando, liminarmente,

sua suspensão.

A constitucionalidade ou não da referida medida provisória não será objeto

de análise neste apelo raro, pois cuida-se de matéria afeta ao Pretório Excelso.

Apenas a título de registro, em relação ao andamento do feito, constata-se

que, por ora, votaram favoravelmente à suspensão os ilustres Ministros Sydney

Sanches, Carlos Velloso, Marco Aurélio e Ayres Britto. Por seu turno, votaram

contra a suspensão a eminente Ministra Cármen Lúcia e o saudoso Ministro

Menezes Direito.

Em linhas gerais, impende ressaltar que a apreciação da liminar na ADI

gira em torno da questão relativa ao requisito da urgência, para efeito da validade

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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da medida provisória editada sobre o assunto, consoante se percebe da leitura

dos votos produzidos até aqui.

Em 5/11/2008, o julgamento foi suspenso para ser retomado com quorum

completo.

Dessarte, a efi cácia do art. 5º da Medida Provisória em menção, até o

presente momento, não foi suspensa, pois, como dito, o julgamento da liminar

requerida na ADI n. 2.136/DF ainda não foi concluído.

Segundo Carlos Alberto Lúcio Bittencourt, “a lei, enquanto não declarada

inoperante, não se presume inválida: ela é válida, eficaz e obrigatória” (in

“O Controle Jurisdicional da Constitucionalidade das Leis”, 2ª ed., Brasília:

Ministério da Justiça, 1997. p. 96)

Quanto ao tema, mostra-se conveniente citar as seguintes passagens da

obra do renomado jurista Luís Roberto Barroso:

A presunção de constitucionalidade das leis encerra, naturalmente, uma

presunção iuris tantum, que pode ser infirmada pela declaração em sentido

contrário do órgão jurisdicional competente.

[...]

No Brasil, e de longa data, o princípio tem sido afi rmado, assim pela doutrina

como pela jurisprudência, que já assentou que a dúvida milita em favor da lei,

que a violação da Constituição há de ser manifesta e que a inconstitucionalidade

nunca se presume.

[...]

O princípio da presunção de constitucionalidade das leis, conquanto implícito

em todo sistema constitucional, ganhou um reforço no ordenamento brasileiro

atual, por força do disposto no art. 103, § 3º, que determina que, sempre que o

Supremo Tribunal Federal apreciar a inconstitucionalidade em tese de norma legal

ou ato normativo, será citado o Advogado-Geral da União, que defenderá o ato ou

texto impugnado. Instituiu-se, assim, um curador especial com o dever jurídico

de sustentar a constitucionalidade das leis impugnadas em ação direta. Note-se

que, como o sistema brasileiro admite a declaração de inconstitucionalidade em

sede de jurisdição concentrada, tanto de norma estadual quanto federal, caberá

ao Advogado-Geral da União defender a uma ou a outra, desde que ajuizada ação

perante o Supremo Tribunal.

[...]

Também reverencia o princípio da presunção de constitucionalidade das leis

o art. 97 da Constituição, que prevê que somente pelo voto da maioria absoluta

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 99

de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os

tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder

Público.

[...]

O princípio da presunção de constitucionalidade dos atos do Poder Público,

notadamente das leis, é uma decorrência do princípio geral da separação dos

Poderes e funciona como fator de autolimitação da atividade do Judiciário,

que, em reverência à atuação dos demais Poderes, somente deve invalidar-lhes

os atos diante de casos de inconstitucionalidade fl agrante e incontestável (in

Interpretação e Aplicação da Constituição, 5ª ed, São Paulo: Saraiva: 2003, pp.

177-188)

Portanto, partindo do princípio segundo o qual, até que seja declarada a

inconstitucionalidade da norma presume-se a sua constitucionalidade, é razoável

entender que, apesar de não ter sido convertida em lei, a norma encontra-se em

vigor por força do art. 2º da Emenda Constitucional n. 32/2001.

A respeito do assunto, vale reproduzir o seguinte excerto do REsp

1.061.530/RS, submetido ao rito do art. 543-C do CPC, da relatoria da ilustre

Min. Nancy Andrighi:

O princípio da imperatividade assegura a auto-executoriedade das normas

jurídicas, dispensando prévia declaração de constitucionalidade pelo Poder

Judiciário. Ainda que esta presunção seja iuris tantum, a norma só é extirpada

do ordenamento com o reconhecimento de sua inconstitucionalidade. E essa

questão, na hipótese específi ca do art. 5º da MP n. 1.963-17/00, ainda não foi

resolvida pelo STF, nem mesmo em sede liminar (DJe 10/03/2009).

Na ocasião, esse foi o fundamento utilizado para negar o pedido de

sobrestamento daquele feito até o julgamento defi nitivo da ADI n. 2.136/DF,

efetuado pelo Ministério Público Federal, também aplicável à hipótese em

exame.

3.2. Nessa esteira, mesmo após o advento da MP 2.170-36/2001, o

Superior Tribunal de Justiça, no início, relutou em modifi car a orientação até

então fi rmada em sua jurisprudência, como se observa nos precedentes a seguir:

COMERCIAL. CARTÃO DE CRÉDITO. ADMINISTRADORA. INSTITUIÇÃO

FINANCEIRA. JUROS. LIMITAÇÃO (12% AA). LEI DE USURA (DECRETO N. 22.626/33).

NÃO INCIDÊNCIA. APLICAÇÃO DA LEI N. 4.595/64. DISCIPLINAMENTO LEGISLATIVO

POSTERIOR. SÚMULA N. 596-STF. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS. VEDAÇÃO.

LEI DE USURA (DECRETO N. 22.626/33). INCIDÊNCIA. SÚMULA N. 121-STF.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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I. As administradoras de cartões de crédito inserem-se entre as instituições

fi nanceiras regidas pela Lei n. 4.595/64.

II. Não se aplica a limitação de juros de 12% ao ano prevista na Lei de Usura aos

contratos de cartão de crédito.

III. Nesses mesmos contratos, ainda que expressamente acordada, é vedada

a capitalização mensal dos juros, somente admitida nos casos previstos em lei,

hipótese diversa dos autos. Incidência do art. 4º do Decreto n. 22.626/33 e da

Súmula n. 121-STF (REsp 450.453/RS, Segunda Seção, Rel. Min. Carlos Alberto

Menezes Direito, julgado em 25/06/2003, DJ 25/02/2004)

AGRAVO CONTRA DECISÃO DO RELATOR EM RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS

À EXECUÇÃO. CONTRATO DE EMPRÉSTIMO PESSOAL. CAPITALIZAÇÃO MENSAL.

CORREÇÃO MONETÁRIA. TR. PRECEDENTES DO STJ.

Salvo expressa previsão em lei específi ca, como no caso das cédulas de créditos

rurais, industriais e comerciais, é vedada às instituições fi nanceiras a capitalização

mensal de juros (REsp’s n. 476.663/RS, 387.931/RS e 324.088/RS).

A TR pode ser usada na correção dos débitos quando pactuada, o que não é o

caso dos autos (REsp’s n. 485.859/RS, 507.882/RS e 437.198/RS).

Subsistentes os fundamentos do decisório agravado, nega-se provimento ao

agravo (AgRg no REsp 608.790/MT, Quarta Turma, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha,

julgado em 19/04/2005, DJ 19/09/2005).

AGRAVO REGIMENTAL. CONTRATO DE CRÉDITO. CAPITALIZAÇÃO MENSAL.

CORREÇÃO MONETÁRIA. TBF. IMPOSSIBILIDADE. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA.

TAXA MÉDIA DE MERCADO.

- É defesa a capitalização mensal ou semestral dos juros em contrato de

abertura de crédito em conta-corrente ou de mútuo (Art. 4º do Decreto 22.626/33),

inda que convencionada (REsp 292.893/Direito e REsp 440.091/Passarinho).

- A Taxa Básica Financeira (TBF) não pode ser utilizada como indexador de

correção monetária nos contratos bancários (Súm. 287).

- A comissão de permanência deve observar a taxa média dos juros de

mercado, apurada pelo Banco Central do Brasil (AgRg no REsp 540.797/RS, Rel.

Min. Humberto Gomes de Barros, julgado em 20/09/2004, DJ 18/10/2004).

3.3. Todavia, em 22/9/2004, a Segunda Seção desta Corte alterou seu

entendimento, passando a admitir a capitalização mensal nos contratos

bancários fi rmados após 31/3/2000, data da publicação da Medida Provisória n.

1.963-17/00, desde que estipulada expressamente.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 101

Os acórdãos exarados na ocasião receberam as seguintes ementas:

Contratos bancários. Ação de revisão. Juros remuneratórios. Limite.

Capitalização mensal. Possibilidade. MP 2.170-36. Inaplicabilidade no caso

concreto. Compensação e repetição de indébitos. Possibilidade. CPC, art. 535.

Ofensa não caracterizada.

I A Segunda Seção desta Corte firmou entendimento, ao julgar os REsps

407.097-RS e 420.111-RS, que o fato de as taxas de juros excederem o limite de

12% ao ano não implica em abusividade, podendo esta ser apurada apenas, à

vista da prova, nas instâncias ordinárias.

II O artigo 5.º da Medida Provisória 2.170-36 permite a capitalização dos juros

remuneratórios, com periodicidade inferior a um ano, nos contratos bancários

celebrados após 31-03-2000, data em que o dispositivo foi introduzido na MP

1963-17. Contudo, no caso concreto, o contrato é anterior a tal data, razão por que

mantém-se afastada a capitalização mensal. Voto do Relator vencido quanto à

capitalização mensal após a vigência da última medida provisória citada.

III Entendidas como conseqüência lógica do pleito revisional, à vista da

vedação legal ao enriquecimento sem causa, não há obstáculos à eventual

compensação ou devolução de valor pago indevidamente.

IV Recurso especial conhecido e parcialmente provido (REsp 602.068/RS,

Segunda Seção, Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, DJ 21/03/2005 - grifei).

Contratos bancários. Ação de revisão. Juros remuneratórios. Limite.

Capitalização mensal. Possibilidade. MP 2.170-36. Inaplicabilidade no caso

concreto. Comissão de permanência. Ausência de potestividade. CPC, art. 535.

Ofensa não caracterizada.

I A Segunda Seção desta Corte firmou entendimento, ao julgar os REsps

407.097-RS e 420.111-RS, que o fato de as taxas de juros excederem o limite de

12% ao ano não implica em abusividade, podendo esta ser apurada apenas, à

vista da prova, nas instâncias ordinárias.

II Decidiu, ainda, ao julgar o REsp 374.356-RS, que a comissão de permanência,

observada a súmula n.º 30, cobrada pela taxa média de mercado, não é

potestativa.

III O artigo 5.º da Medida Provisória 2.170-36 permite a capitalização dos juros

remuneratórios, com periodicidade inferior a um ano, nos contratos bancários

celebrados após 31-03-2000, data em que o dispositivo foi introduzido na MP 1963-

17. Contudo, no caso concreto, não ficou evidenciado que o contrato é posterior

a tal data, razão por que mantém-se afastada a capitalização mensal. Voto do

Relator vencido quanto à capitalização mensal após a vigência da última medida

provisória citada.

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IV Recurso especial conhecido e parcialmente provido (REsp 603.643/RS,

Segunda Seção, Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, DJ 21/03/2005 - grifei).

A partir de então, o posicionamento em destaque passou a ser adotado

pelos integrantes desta Corte, sendo, atualmente, uníssono, como se verifi ca nos

julgados a seguir transcritos:

SEGUNDA SEÇÃO:

BANCÁRIO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL DE CLÁUSULAS

DE CONTRATO BANCÁRIO. INCIDENTE DE PROCESSO REPETITIVO. JUROS

REMUNERATÓRIOS. CONTRATO QUE NÃO PREVÊ O PERCENTUAL DE JUROS

REMUNERATÓRIOS A SER OBSERVADO.

I - JULGAMENTO DAS QUESTÕES IDÊNTICAS QUE CARACTERIZAM A

MULTIPLICIDADE. ORIENTAÇÃO - JUROS REMUNERATÓRIOS

1 - Nos contratos de mútuo em que a disponibilização do capital é imediata, o

montante dos juros remuneratórios praticados deve ser consignado no respectivo

instrumento. Ausente a fi xação da taxa no contrato, o juiz deve limitar os juros à

média de mercado nas operações da espécie, divulgada pelo Bacen, salvo se a

taxa cobrada for mais vantajosa para o cliente.

2 - Em qualquer hipótese, é possível a correção para a taxa média se for

verifi cada abusividade nos juros remuneratórios praticados.

II - JULGAMENTO DO RECURSO REPRESENTATIVO

- Invertido, pelo Tribunal, o ônus da prova quanto à regular cobrança da taxa

de juros e consignada, no acórdão recorrido, a sua abusividade, impõe-se a

adoção da taxa média de mercado, nos termos do entendimento consolidado

neste julgamento.

- Nos contratos de mútuo bancário, celebrados após a edição da MP n. 1.963-

17/00 (reeditada sob o n. 2.170-36/01), admite-se a capitalização mensal de juros,

desde que expressamente pactuada.

Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido (REsp

1.112.880/PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 19/5/2010 - grifei)

AGRAVO REGIMENTAL - EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA - AGRAVO DE

INSTRUMENTO - CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS - MEDIDA PROVISÓRIA

2.170-36 - POSSIBILIDADE - ORIENTAÇÃO FIRMADA NA 2ª SEÇÃO - SÚMULA 168/

STJ - RECURSO IMPROVIDO (AgRg na Pet 4.991/DF, Rel. Min. Massami Uyeda, DJe

22/5/2009 - grifei)

CONTRATO BANCÁRIO. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. MEDIDA PROVISÓRIA.

APLICABILIDADE.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 103

Nos contratos celebrados após a edição da Medida Provisória n. 1.963-17, de

2000, a capitalização mensal dos juros, se ajustada, é exigível. Quando aplica a lei,

o Superior Tribunal de Justiça como de resto, todo juiz e tribunal pressupõe a

respectiva constitucionalidade; aplicando a aludida Medida Provisória, no caso,

proclamou-lhe a constitucionalidade, decisão que só pode ser contrastada, em

recurso extraordinário, perante o Supremo Tribunal Federal. Agravo regimental

não provido (AgRg nos EREsp 930.544/DF, Rel. Min. Ari Pargendler, DJe 10/4/2008

- grifei)

PROCESSUAL CIVIL. PETIÇÃO. CONTRATO BANCÁRIO. CAPITALIZAÇÃO DE

JUROS. POSSIBILIDADE. MEDIDA PROVISÓRIA N. 2.170-36/2001.INCIDÊNCIA.

SÚMULA 168/STJ.

1 - A Segunda Seção desta Corte pacifi cou o entendimento no sentido de que nos

contratos bancários celebrados a partir de 31 de março de 2000, data da primitiva

publicação do art. 5º da MP n. 1.963-17/2000, atualmente reeditada sob o n. 2.170-

36/2001, é possível a capitalização mensal dos juros. Incidência da súmula 168/STJ.

2 - Agravo regimental a que se nega provimento (AgRg na Pet 5.858/DF, Rel.

Min. Fernando Gonçalves, DJ 22/10/2007 - grifei)

QUARTA TURMA:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL DE

CONTRATO BANCÁRIO.

1. O agravante não impugnou os fundamentos da decisão ora agravada,

circunstância que obsta, por si só, a pretensão recursal, porquanto aplicável o

entendimento exarado na Súmula 182 do STJ, que dispõe: “É inviável o agravo

do art. 545 do Código de Processo Civil que deixa de atacar especifi camente os

fundamentos da decisão agravada.”

2. A capitalização mensal dos juros é admissível nos contratos bancários

celebrados a partir da publicação da Medida Provisória n. 1.963-17 (31.3.00), desde

que pactuada.

3. As instâncias ordinárias não se manifestaram acerca da expressa pactuação

da capitalização mensal de juros, o que impossibilita a sua cobrança, já que, nesta

esfera recursal extraordinária, não é possível a verifi cação de tal requisito, sob pena

de afrontar o disposto nas súmulas n. 5 e 7/STJ.

4. O Tribunal de origem afastou a capitalização mensal de juros com base

na inconstitucionalidade da MP n. 2.170-63. O recurso especial não constitui

via adequada para o exame de temas constitucionais, sob pena de caracterizar

usurpação da competência do STF.

5. Agravo regimental não provido, com aplicação de multa (AgRg no REsp

1.076.452/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 24/08/2011- grifei)

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - AÇÃO REVISIONAL

- CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO EM CONTA CORRENTE - CAPITALIZAÇÃO

MENSAL DOS JUROS - FALTA DE PREVISÃO NEGOCIAL AUTORIZANDO A PRÁTICA

RECONHECIDA NAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS - IMPOSSIBILIDADE DE REEXAME DA

MATÉRIA POR IMPORTAR NOVO ENFRENTAMENTO DO QUADRO FÁTICO DELINEADO

NA LIDE E INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS - INCIDÊNCIA DAS

SÚMULAS N. 5 E 7 DO STJ - RECURSO DESPROVIDO (AgRg no AREsp 11.483/RS, Rel.

Min. Marco Buzzi, DJe 29/11/2011 - grifei)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. REVISÃO

CONTRATUAL. POSSIBILIDADE. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. AUSÊNCIA DE

PACTUAÇÃO. SÚMULA 5/STJ.

1. A jurisprudência do STJ pacifi cou-se no sentido de que, aplicável o Código de

Defesa do Consumidor aos casos que envolvem relação de consumo, é permitida

a revisão das cláusulas contratuais pactuadas, diante do fato de que o princípio

do pacta sunt servanda vem sofrendo mitigações, mormente ante os princípios

da boa-fé objetiva, da função social dos contratos e do dirigismo contratual.

2. A jurisprudência desta eg. Corte pacifi cou-se no sentido de que a cobrança da

capitalização mensal de juros é admitida nos contratos bancários celebrados a partir

da edição da Medida Provisória n. 1.963-17/2000, reeditada sob o n. 2.170-36/2001,

qual seja, 31/3/2000, desde que expressamente pactuada. Na hipótese em concreto,

não há pactuação expressa acerca do referido encargo, razão pela qual se aplica o

enunciado da Súmula 5/STJ.

3. Agravo regimental não provido (AgRg no AREsp 32.884/SC, Rel. Min. Raul

Araújo, DJe 1º/2/2012 - grifei)

CIVIL E PROCESSUAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CONTRATO

DE ABERTURA DE CRÉDITO EM CONTA CORRENTE E RENEGOCIAÇÕES. LIMITAÇÃO

DA TAXA DE JUROS. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA.

IMPOSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO COM DEMAIS ENCARGOS. FALTA DE INTERESSE

PROCESSUAL. ALEGAÇÃO DOS RECORRENTES QUE REMONTAM O REEXAME

DE MATÉRIA CONTRATUAL E FÁTICA, RELATIVA À PREVISÃO CONTRATUAL DE

CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 5 E 7 DO STJ.

DECISÃO EM CONFORMIDADE COM A JURISPRUDÊNCIA DO STJ.

1. A tese dos recorrentes é no sentido da ausência da previsão contratual de

capitalização mensal de juros, o que foi expressamente admitido nos autos, de modo

que a revisão do julgado impõe reexame do contrato e da matéria fática dos autos,

tarefa vedada pelo óbice dos enunciados sumulares 5 e 7 do STJ.

2. Segundo o entendimento pacifi cado na 2ª Seção (AgRg no REsp n. 706.368/

RS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, unânime, DJU de 8.8.2005), a comissão de

permanência não pode ser cumulada com quaisquer outros encargos

remuneratórios ou moratórios.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 105

3. A jurisprudência desta Corte é pacífi ca no sentido de que, nos contratos

bancários, não se aplica a limitação da taxa de juros remuneratórios em 12% ao

ano, e de que não se pode aferir a exorbitância da taxa de juros apenas com base

na estabilidade econômica do país, sendo necessária a demonstração, no caso

concreto, de que a referida taxa diverge da média de mercado.

4. A capitalização mensal de juros somente é permitida em contratos bancários

celebrados posteriormente à edição da MP 1.963-17/2000, de 31/3/2000, e desde que

expressamente pactuada.

5. Agravo regimental a que se nega provimento (AgRg no REsp 975.493/RS, Rel.

Min. Maria Isabel Gallotti, DJe 28/2/2012 - grifei)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. BANCÁRIO.

CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS. AUSÊNCIA DE PRÉVIA PACTUAÇÃO.

IMPOSSIBILIDADE. QUESTÃO PACIFICADA NO ÂMBITO DO STJ. SÚMULA N. 83/STJ.

1. Nos contratos firmados por instituições integrantes do Sistema Financeiro

Nacional, posteriormente à edição da MP 1.963-17/2000, de 31/03/2000, reeditada

sob o nº 2.170-36/2001, é admitida a capitalização mensal de juros, desde que

expressamente pactuada. Precedentes.

2. Aplica-se o verbete sumular n. 83 do STJ na hipótese em que o

posicionamento expresso pelo Tribunal recorrido se coaduna com a jurisprudência

desta Corte.

3. Agravo regimental a que se nega provimento (AgRg no Ag 867.739/GO, Rel.

Min. Maria Isabel Gallotti, DJe 4/8/2011 - grifei)

CONTRATO BANCÁRIO. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS. CONTRATOS

ANTERIORES À MEDIDA PROVISÓRIA N. 1.963-17/2000. IMPOSSIBILIDADE

DE COBRANÇA. PRESCRIÇÃO. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. FALTA DE

PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA N. 282/STF.

1. Nos contratos bancários fi rmados posteriormente à entrada em vigor da Medida

Provisória n. 1.963-17/2000, reeditada sob o n. 2.170-36/2001, é lícita a capitalização

mensal de juros, desde que expressamente prevista no ajuste.

2. Mesmo as questões de ordem pública, passíveis de conhecimento de ofício

em qualquer tempo e grau de jurisdição ordinária, não podem ser analisadas em

recurso especial, se ausente o requisito do prequestionamento.

3. Agravo regimental provido para se conhecer parcialmente do recurso

especial e negar-lhe provimento (AgRg no Ag 1.090.095/SP, Rel. Min. João Otávio

de Noronha, DJe 19/8/2011 - grifei)

COMERCIAL E PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DECLARATÓRIOS. PROPÓSITO

NITIDAMENTE INFRINGENTE. RECEBIMENTO COMO AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO

REVISIONAL. CONTRATOS DE ABERTURA DE CRÉDITO EM CONTA CORRENTE E

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIA. JUROS REMUNERATÓRIOS. LIMITAÇÃO. TAXA

MÉDIA APURADA PELO BANCO CENTRAL. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS.

MP. 2.170-36. ÔNUS SUCUMBENCIAIS. COMPENSAÇÃO. IMPROVIMENTO.

I. A 2ª Seção do STJ, no julgamento do REsp n. 715.894/PR (Relatora Ministra

Nancy Andrighi, por maioria, julgado em 26.04.2006) entendeu que a ausência

do percentual contratado, contraposta pela inequívoca incidência de juros

remuneratórios no contrato, autoriza a aplicação da taxa média de mercado para

operações da espécie, à época da fi rmatura do ajuste.

II. Ao apreciar o REsp n. 602.068/RS, esta Corte fi rmou que nos contratos fi rmados

após 31.03.2000, data da publicação da Medida Provisória n. 1.963-17, revigorada

pela MP n. 2.170-36, em vigência graças ao art. 2º da Emenda Constitucional n.

32/2001, é admissível a capitalização dos juros em período inferior a um ano.

III. Quando ocorrer sucumbência parcial na ação, impõem-se a distribuição e

compensação de forma recíproca e proporcional dos honorários advocatícios, nos

termos do art. 21, caput, da lei processual.

IV. Embargos declaratórios recebidos como agravo regimental, improvido este

(AgRg no REsp 1.105.641/PR, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, DJe 24/3/2011 -

grifei)

TERCEIRA TURMA:

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DO DEVEDOR.

EXECUÇÃO. CÉDULA DE CRÉDITO RURAL. OMISSÃO NO ACÓRDÃO RECORRIDO.

INEXISTÊNCIA. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS

JUROS. POSSIBILIDADE.

1.- Os Embargos de Declaração são corretamente rejeitados se não há omissão,

contradição ou obscuridade no acórdão embargado, tendo a lide sido dirimida

com a devida e sufi ciente fundamentação; apenas não se adotando a tese do

recorrente. 535

2.- É inadmissível o recurso especial quanto à questão que não foi apreciada

pelo Tribunal de origem.

3.- “Os embargos do devedor constituem um meio de impedir a execução, não

de pedir; não se prestam para a tutela de pedido estranho ao título executivo, tal

como a aplicação da penalidade do artigo 940 do Código Civil” (AgRg nos EDcl no

REsp 915.621, PR, Rel. Min. Ari Pargendler, DJ, 20.09.2007).

4.- Permite-se a capitalização mensal dos juros nas cédulas de crédito rural,

comercial e industrial (Decreto-Lei n. 167/67 e Decreto-Lei n. 413/69), bem como

nas demais operações realizadas pelas instituições financeiras integrantes do

Sistema Financeiro Nacional, desde que celebradas a partir da publicação da Medida

Provisória n. 1.963-17 (31.3.00) e que pactuada.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 107

5.- Agravo Regimental improvido (AgRg no Ag 1.150.316/RJ, Rel. Min. Sidnei

Beneti, DJe 13/3/2012 - grifei)

BANCÁRIO E PROCESSO CIVIL. AGRAVO NO AGRAVO DE INSTRUMENTO.

RECURSO ESPECIAL. TAXA DE JUROS REMUNERATÓRIOS. CAPITALIZAÇÃO DE

JUROS.

- É admitida a revisão das taxas de juros remuneratórios em situações

excepcionais, desde que caracterizada a relação de consumo e que a abusividade

(capaz de colocar o consumidor em desvantagem exagerada - art. 51, § 1º, do

CDC) fi que cabalmente demonstrada, ante às peculiaridades do julgamento em

concreto.

- É admissível a capitalização mensal dos juros nos contratos bancários celebrados

a partir da publicação da MP 1.963-17 (31.3.00), desde que seja pactuada.

- Agravo no agravo de instrumento não provido (AgRg no Ag 1.371.651/RS, Rel.

Min. Nancy Andrighi, DJe 25/8/2011 - grifei)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO - REVISIONAL

- JUROS REMUNERATÓRIOS - LIMITAÇÃO À TAXA MÉDIA DE MERCADO -

ACÓRDÃO RECORRIDO EM HARMONIA COM O ENTENDIMENTO DESTA CORTE

- CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS - CONTRATOS FIRMADOS APÓS A EDIÇÃO

DA MP N. 1.963-17, DE 30 DE MARÇO DE 2000 (reeditada pela MP N. 2.170-36/2001)

- AUSÊNCIA DE PRÉVIA PACTUAÇÃO - COBRANÇA - IMPOSSIBILIDADE - MORA -

EXISTÊNCIA DE ENCARGOS ABUSIVOS NO PERÍODO DA NORMALIDADE -

DESCARACTERIZAÇÃO - REPETIÇÃO DO INDÉBITO - PROVA DO PAGAMENTO EM

ERRO - DESNECESSIDADE - RECURSO IMPROVIDO (AgRg no Ag 1.327.327/SC, Rel.

Min. Massami Uyeda, DJe 10/11/2011 - grifei)

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. BANCÁRIO. AÇÃO

REVISIONAL. CAPITALIZAÇÃO MENSAL. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE

PACTUAÇÃO EXPRESSA.

1. Cabível a capitalização dos juros em periodicidade mensal para os contratos

celebrados a partir de 31 de março de 2000, data da primitiva publicação da MP

2.170-36/2001, desde que pactuada.

2. Não comprovação da pactuação no caso em tela, conforme consignado no

acórdão recorrido.

3. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO (AgRg no Ag 1.327.358/RS, Rel. Min.

Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 29/2/2012 - grifei)

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO ESPECIAL.

CONTRATO BANCÁRIO. VIOLAÇÃO AO ARTIGO 535 DO CÓDIGO DE PROCESSO

CIVIL. INOCORRÊNCIA. JUROS REMUNERATÓRIOS. TAXA MÉDIA DE MERCADO.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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ABUSIVIDADE. OBSERVÂNCIA DE UMA FAIXA RAZOÁVEL PARA VARIAÇÃO DOS

JUROS. CAPITALIZAÇÃO MENSAL. IMPOSSIBILIDADE DE EXAME. SÚMULAS 5 E 7/

STJ.

1. Inocorrência de maltrato ao art. 535 do CPC quando o acórdão recorrido,

ainda que de forma sucinta, aprecia com clareza as questões essenciais ao

julgamento da lide, não estando magistrado obrigado a rebater, um a um, os

argumentos deduzidos pelas partes.

2. Consoante firmado no voto condutor do REsp 1.061.530/RS, Rel. Min.

NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 22/10/2008, DJe 10/03/2009,

o simples fato de a taxa de juros remuneratórios contratada superar o valor

médio do mercado não implica seja considerada abusiva, tendo em vista que a

adoção de um valor fi xo desnaturaria a taxa, que, por defi nição, é uma “média”,

exsurgindo, pois, a necessidade de admitir-se uma faixa razoável para a variação

dos juros.

3. O exame da existência ou não de ajuste para cobrança de capitalização dos

juros implicaria interpretação de cláusulas contratuais e revolvimento da matéria de

prova, procedimentos inadmissíveis no âmbito desta instância especial. Incidência

das Súmulas 05 e 07 desta Corte.

4. Decisão agravada mantida pelos seus próprios fundamentos (AgRg no Ag

1.354.547/RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 16/3/2012 - grifei)

3.4. Ademais, este Tribunal Superior entende que, nos contratos bancários,

o art. 5º da MP 2.170-36/01 prevalece em relação ao art. 591 do CC/2002,

haja vista o caráter especial daquela norma, que especifi camente se refere às

“operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema Financeiro

Nacional”, sendo esta de cunho geral.

A propósito:

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTRATO BANCÁRIO.

REVISÃO. JUROS REMUNERATÓRIOS. CAPITALIZAÇÃO MENSAL. MORA ‘DEBENDI’

1 - Face o disposto na Lei 4.595/64, inaplicável a limitação dos juros

remuneratórios nos contratos celebrados com instituições integrantes do

Sistema Financeiro Nacional, (Súmula 596/STF), salvo nas hipóteses previstas em

legislação específi ca.

2 - É cabível a capitalização dos juros em periodicidade mensal para

os contratos celebrados a partir de 31 de março de 2000, data da primitiva

publicação da MP 2.170-36/2001, desde que pactuada, o que ocorre in casu, não

se aplicando o artigo 591 do Código Civil (REsp 602.068/RS e REsp 890.460/RS).

3 - A confi rmação da validade das cláusulas contratuais impõe a caracterização

da mora do devedor.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 109

4 - AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO (AgRg no REsp

822.284/RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 1º/7/2011 - grifei)

CIVIL. AÇÃO REVISIONAL. CONTRATO DE FINANCIAMENTO COM GARANTIA DE

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. CAPITALIZAÇÃO DOS JUROS. ANUALIDADE. ART. 591 DO

CÓDIGO CIVIL DE 2002. INAPLICABILIDADE. ART. 5º DA MEDIDA PROVISÓRIA N.

1.963-17/2000 (2.170-36/2001). LEI ESPECIAL. PREPONDERÂNCIA.

I. Não é aplicável aos contratos de mútuo bancário a periodicidade da

capitalização prevista no art. 591 do novo Código Civil, prevalecente a regra especial

do art. 5º, caput, da Medida Provisória n. 1.963-17/2000 (2.170-36/2001), que admite

a incidência mensal.

II. Recurso especial conhecido e provido (REsp 890.460/RS, Rel. Min. Aldir

Passarinho Junior, DJ 18/02/2008 - grifei)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL - FINANCIAMENTO BANCÁRIO

- CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS - DISCUSSÃO SOBRE EVENTUAL

INCONSTITUCIONALIDADE - IMPOSSIBILIDADE - COMPETÊNCIA DO STF -

CONTRATO POSTERIOR À EDIÇÃO DA MP 2.170-36 - PREVISÃO CONTRATUAL

DEMONSTRADA - QUESTÃO PACIFICADA NO ÂMBITO DA SEGUNDA SEÇÃO DESTA

CORTE - ART. 591, CÓDIGO CIVIL/2002 - INAPLICABILIDADE - DECISÃO MANTIDA

EM TODOS OS SEUS TERMOS - INVERSÃO DOS ÔNUS SUCUMBENCIAIS MANTIDA

- DESPROVIMENTO.

1 - Inicialmente, cumpre asseverar que, em sede de recurso especial, a

competência desta Corte Superior de Justiça limita-se à interpretação e

uniformização do Direito Infraconstitucional Federal, a teor do disposto no art.

105, III, da Carta Magna. Assim sendo, resta prejudicado o exame de eventual

inconstitucionalidade da Medida Provisória 1.963-17 (atualmente MP 2.170-36),

sob pena de usurpação da competência atribuída ao Supremo Tribunal Federal.

2 - No âmbito infraconstitucional, a eg. Segunda Seção deste Tribunal Superior

já proclamou o entendimento de que, nos contratos fi rmados por instituições

integrantes do Sistema Financeiro Nacional, posteriormente à edição da MP

1.963-17/2000, de 31 de março de 2000 (atualmente reeditada sob o n. 2.170-

36/2001), admite-se a capitalização mensal dos juros, desde que expressamente

pactuada, hipótese ocorrente in casu, conforme contrato juntado aos autos.

Precedente (REsp 603.643/RS).

3 - Quanto à alegada aplicação do art. 591, do Código Civil atual, esclareço tratar-

se de dispositivo de lei geral, que não alterou a MP 1.963-17/2000 (reeditada sob o n.

2.170-36/2001), específi ca sobre a matéria e, portanto, ainda prevalece.

4 - Não há que se falar em redistribuição do ônus sucumbencial, tendo em vista

que a decisão restou mantida em todos os seus termos. Irretocável a inversão nos

termos fi xados na decisão ora agravada.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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5 - Agravo Regimental desprovido (AgRg no REsp 714.510/RS, Rel. Min. Jorge

Scartezzini, DJU de 22/8/2005 - grifei)

3.5. De outra parte, tratando-se de contrato regido pelo Código de Defesa

do Consumidor-CDC (Súmula 297/STJ), é certo que suas cláusulas devem ser

claras e transparentes, possibilitando ao consumidor o pleno conhecimento das

obrigações assumidas.

A respeito do tema, oportuna a reprodução do art. 4º, I, do CDC, cujo teor

é o seguinte:

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o

atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade,

saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua

qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo,

atendidos os seguintes princípios: (Redação dada pela Lei n. 9.008, de 21.3.1995)

I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;

A vulnerabilidade inerente ao consumidor deve ser sopesada de modo a

evitar desequilíbrio nas relações de consumo.

A professora Cláudia Lima Marques esclarece que há três tipos de

vulnerabilidade: técnica, fática e jurídica. Ao discorrer sobre as duas últimas,

assinala:

A vulnerabilidade fática é aquela desproporção fática de forças, intelectuais e

econômicas, que caracteriza a relação de consumo. Já a vulnerabilidade jurídica

ou científi ca foi identifi cada e protegida pela corte suprema alemã, nos contratos

de empréstimo bancário e fi nanciamento, afi rmando que o consumidor não teria

sufi ciente “experiência ou conhecimento econômico, nem a possibilidade de recorrer

a um especialista”. É a falta de conhecimentos jurídicos específi cos, de conhecimentos

de contabilidade ou de economia. Esta vulnerabilidade, no sistema do CDC, é

presumida para o consumidor não-profi ssional e para o consumidor pessoa física. (...)

Considere-se, pois, a importância desta presunção de vulnerabilidade jurídica

do agente consumidor (não-profissional) como fonte irradiadora de deveres de

informação do fornecedor sobre o conteúdo do contrato, em face hoje da

complexidade da relação contratual conexa e dos seus múltiplos vínculos cativos

(por exemplo, vários contratos bancários em um formulário, vínculos com várias

pessoas jurídicas em um contrato de planos de saúde) e da redação clara deste

contrato, especialmente o massifi cado e de adesão (in Comentários ao Código de

Defesa do Consumidor, Claudia Lima Marques, Antônio Herman V. Benjamin,

Bruno Miragem - 2ª ed., São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2006, p. 145 - grifei).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 111

Levando em consideração a vulnerabilidade do consumidor, o legislador

houve por bem estatuir a necessidade de informações adequadas e claras sobre

os produtos e serviços oferecidos. É o que se constata no inciso III do art. 6º do

CDC, ora transcrito:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

[...]

III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços,

com especifi cação correta de quantidade, características, composição, qualidade

e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;

Ainda sobre a necessidade de clareza das disposições contratuais,

importante salientar o art. 46 do mesmo Codex, que estabelece:

Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os

consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento

prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo

a difi cultar a compreensão de seu sentido e alcance.

Quanto ao trecho em relevo, Rizzato Nunes desenvolve o seguinte

pensamento, articulando com os arts. 30, 31 e 54 do CDC:

Quanto ao item b, diga-se que a avaliação da redação que dificulte a

compreensão do sentido e alcance da cláusula independe da verificação da

intenção do fornecedor. O pressuposto da clareza é absoluto, e não só decorre

do princípio da boa-fé objetiva com todos os seus refl exos como está atrelado ao

fenômeno da oferta, regulado nos arts. 30 e s., sendo que o art. 31 é taxativo ao

designar que qualquer informação (que compõe o contrato por força do art. 30) deve

ser correta, clara, precisa, ostensiva etc. E ainda que assim não fosse, para que não

reste qualquer dúvida, o § 3º do art. 54, que cuida do contrato de adesão, dispõe

no mesmo sentido, verbis:

“Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido

aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente

pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa

discutir ou modifi car substancialmente seu conteúdo (...).

§ 3º Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos

claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não

será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo

consumidor” (in Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, 6ª ed.,

São Paulo: Saraiva, 2011, p. 637 - grifei).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

112

As regras mencionadas servem de diretrizes para aferir a presença ou não

de pactuação expressa acerca da capitalização mensal, permitida, com já dito, nos

contratos bancários fi rmados após 31/3/2000.

Não se pode perder de vista a questão social advinda do fato de que, no

Brasil, o mercado de consumo é formado por elevado número de pessoas com

pouca instrução que, indubitavelmente, necessitam da estrita observância dos

preceptivos consumeristas por parte do fornecedor, na espécie, das instituições

fi nanceiras.

O eminente Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, em sua obra

Responsabilidade Civil no Código do Consumidor e a Defesa do Fornecedor,

ao dissertar sobre o dever de informação, asseverou, com propriedade:

Não bastam instruções em letras minúsculas ou em folhetos ilegíveis, devendo

as informações e advertências ser prestadas com clareza. No Brasil, como país

em vias de desenvolvimento, a necessidade de prestação de informações claras

pelos fornecedores assume um relevo especial, em face do grande número de

pessoas analfabetas ou com baixo nível de instrução que estão inseridas no

mercado de consumo. As informações devem ser prestadas em linguagem de

fácil compreensão, enfatizando-se, de forma especial, as advertências em torno

de situações de maior risco” (3ª ed, São Paulo: Saraiva, 2010, p. 152)

Assim, releva notar que muitos dos recursos que ascendem a esta Corte

insurgem-se contra acórdãos que consideram presente a expressa pactuação de

capitalização mensal, quando constam do contrato as taxas mensal e anual de

juros, e esta é superior ao duodécuplo daquela.

A meu ver, o voto proferido no REsp 895.424/RS bem soluciona a questão:

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE

JUROS. AUSÊNCIA DE PACTUAÇÃO EXPRESSA. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 05 E 07

DO STJ. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.

1. Nos termos da MP 2.170/01, é admissível a capitalização mensal de juros

quando expressamente pactuada, o que não ocorre nos autos.

2. Não é sufi ciente que a capitalização mensal de juros tenha sido pactuada,

sendo imprescindível que tenha sido de forma expressa, clara, de modo a garantir

que o contratante tenha a plena ciência dos encargos acordados; no caso, apenas

as taxas de juros mensal simples e anual estão, em tese, expressas no contrato,

mas não a capitalizada.

3. Revisão do conjunto probatório e de cláusulas contratuais inadmissíveis no

âmbito do recurso especial (Súmulas n. 5 e 7 do STJ).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 113

4. Agravo regimental improvido (Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa, DJ

20/8/2007).

Os fundamentos que serviram de espeque ao precedente destacado foram

os seguintes:

2. Compulsando-se estes autos, verifi ca-se que, de fato, não consta informação

na sentença, tampouco no acórdão, acerca da existência da pactuação expressa

da capitalização mensal.

Ressalte-se que para fins de incidência do que dispõe a MP n. 2.170/01,

conforme reiterado entendimento desta Corte Superior, não é sufi ciente que a

capitalização mensal de juros tenha sido pactuada, sendo imprescindível que

a pactuação tenha sido de forma expressa, clara, de modo a garantir que o

contratante tenha a plena ciência dos encargos contratados.

Nesse sentido:

“CIVIL E PROCESSUAL. AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO REVISIONAL DE

CONTRATOS DE ABERTURA DE CRÉDITO EM CONTA CORRENTE E MÚTUO.

CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS. AUSÊNCIA DE PACTUAÇÃO

EXPRESSA. SÚMULAS N. 5 E 7 STJ. INCIDÊNCIA. I. Admissível a capitalização

mensal de juros quando expressamente pactuada, o que não ocorre nos

autos, conforme cognição das instâncias ordinárias. II. Revisão do conjunto

probatório e de cláusulas contratuais inadmissíveis no âmbito do recurso

especial (Súmulas n. 5 e 7 do STJ). III. Agravo desprovido.” (AgRg no REsp

836.078/RS, Rel. Min. ALDIR PASSARINHO JUNIOR, DJ 21.08.2006)

Dessarte, na espécie dos autos, o ora agravado terá que dividir a taxa de

juros anual por 12 meses, do resultado subtrair a taxa de juros mensal, para que,

enfi m, saiba exatamente qual é o percentual de juros capitalizados mensalmente.

Portanto, resta patente que apenas as taxas de juros mensal simples e anual estão,

em tese, expressas no contrato, mas não a capitalizada, conforme demonstrado.

Sendo assim, não merece prosperar a irresignação do agravante, pois

a impossibilidade de acolhimento do pedido, quanto à capitalização mensal

de juros, pautou-se na ausência de especificação no v. acórdão recorrido da

expressa pactuação do referido encargo, de forma que não é admissível na esfera

recursal extraordinária a análise do instrumento contratual para constatar a citada

pactuação, sob pena de afrontar o disposto no enunciado n. 5, da Súmula do

Superior Tribunal de Justiça.

No mesmo sentido: EDcl no AgRg, no REsp 1.272.550/RS, DJe

16/4/2012; EDcl no AgRg 1.272.121/RS, DJe 16/4/2012; e EDcl no AgRg

1.271.613/RS, DJe 16/4/2012 (todos de minha relatoria).

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3.6. Ante o exposto, fi xo as seguintes teses para efeito do art. 543-C do CPC:

a) é permitida a capitalização mensal de juros nos contratos bancários

fi rmados após 31/3/2000, data da publicação da Medida Provisória n. 1.963-

17/00, desde que expressamente pactuada.

b) a pactuação mensal dos juros deve vir estabelecida de forma expressa,

portanto é necessário que o contrato seja transparente e claro o sufi ciente a

ponto de cumprir o dever de informação previsto no Código de Defesa do

Consumidor.

4. Análise das demais questões tratadas no recurso especial:

4.1. De início, quanto à alegada violação do art. 535 do CPC, verifi ca-se

que o Tribunal a quo dirimiu as questões pertinentes ao litígio de maneira clara

e fundamentada, afi gurando-se dispensável que venha examinar uma a uma as

alegações expendidas pelas partes.

Com efeito, ao órgão julgador basta declinar as razões jurídicas que

embasaram a decisão, não sendo exigível que se reporte de modo específi co a

determinados preceitos legais.

Além disso, não configura omissão a adoção de fundamento diverso

daquele perquirido pela parte.

4.2. Segundo a jurisprudência pacífi ca desta Corte, confi rmada, inclusive,

em apelo apreciado sob o enfoque do art. 543-C do CPC (REsp 1.061.530/RS,

Rel. Min. Nancy Andrighi), os juros remuneratórios cobrados pelas instituições

fi nanceiras não sofrem a limitação imposta pelo Decreto n. 22.626/33 (Lei de

Usura), a teor do disposto na Súmula 596/STF, de forma que a abusividade da

pactuação dos juros remuneratórios deve ser cabalmente demonstrada em cada

caso, com a comprovação do desequilíbrio contratual ou de lucros excessivos,

sendo insufi ciente o só fato de a estipulação ultrapassar 12% ao ano ou de haver

estabilidade infl acionária no período, o que não ocorreu no caso dos autos.

No mesmo sentido, vale destacar os seguintes julgados desta Corte:

AgRg no REsp 782.895/SC, Rel. Min. Sidnei Beneti, Terceira Turma, DJ de

1º/7/2008; AgRg no Ag 951.090/DF, Rel. Min. Fernando Gonçalves, Quarta

Turma, DJ de 25/2/2008; AgRg no REsp 878.911/RS, Rel. Min. Hélio Quaglia

Barbosa, Quarta Turma, DJ de 8/10/2007.

4.3. Consoante entendimento assente na Segunda Seção desta Corte

Superior, admite-se a comissão de permanência durante o período de

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 115

inadimplemento contratual, à taxa média dos juros de mercado, limitada ao

percentual fi xado no contrato (Súmula 294/STJ), desde que não cumulada com

a correção monetária (Súmula 30/STJ), com os juros remuneratórios (Súmula

296/STJ) e moratórios, nem com a multa contratual.

Dentre inúmeros, observem-se os seguintes julgados: AgRg no REsp

1.057.319/MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJ de 3/9/2008;

AgRg no REsp 929.544/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, Terceira Turma, DJ de

1º/7/2008; REsp 906.054/RS, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, Quarta Turma,

DJ de 10/3/2008; e AgRg no REsp 986.508/RS, Rel. Min. Ari Pargendler,

Terceira Turma, DJ de 5/8/2008.

Nessa esteira, há de mantida a incidência da comissão de permanência, e

afastada a cobrança de juros de mora e multa no período de inadimplência.

4.4. De acordo com a remansosa jurisprudência do Superior Tribunal de

Justiça, a compensação de valores e a repetição de indébito são cabíveis sempre

que verifi cado o pagamento indevido, em repúdio ao enriquecimento ilícito de

quem o receber, independentemente da comprovação do erro.

Precedentes: AgRg no REsp 1.026.215/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi,

Terceira Turma, DJ de 28/5/2008; AgRg no REsp 1.013.058/RS, Rel. Min.

Sidnei Beneti, Terceira Turma, DJ de 11/4/2008; AgRg no Ag 953.299/RS, Rel.

Min. Humberto Gomes de Barros, Terceira Turma, DJ de 3/3/2008.

4.5. Quanto à capitalização, no caso em apreciação, embora o acórdão não

registre a data em que o contrato foi estipulado, ambas as partes concordam que

tal fato ocorreu no ano de 2003, ou seja, quando já em vigor a MP 2.170-36/01

(vide petição inicial e recurso especial). Sendo incontroverso esse ponto, mostra-

se permitida a capitalização mensal dos juros, se pactuada.

No que se refere à existência de expressa estipulação, o acórdão recorrido

entendeu que houve capitalização mensal simplesmente por ter sido fi xada a

taxa mensal de 3,16% e a taxa anual de 45,25664%.

Além disso, reputou vedada a aludida capitalização, com fundamento na

Lei de Usura, no art. 591 do CC/2002 e na inconstitucionalidade da MP 2.170-

36/2001.

Conforme os fundamentos desenvolvidos neste voto, embora seja

permitida a capitalização mensal, o contrato, posterior a 31/3/2000 deve trazer

expressamente consignadas as informações necessárias à compreensão da

existência de tal forma de incidência de juros.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

116

Porém, em razão do óbice das Súmulas 5 e 7 do STJ, não é possível efetuar

a interpretação das cláusulas contratuais nem revolver matéria fática, o que seria

necessário para aferir a observância das determinações do Código de Defesa do

Consumidor na espécie em exame.

5. No caso concreto, dou provimento parcial ao recurso especial para expungir

a limitação dos juros remuneratórios, bem como para manter a comissão de

permanência como prevista no contrato, afastando, contudo, a cobrança de juros

de mora e de multa contratual no período de inadimplência.

É como voto.

VOTO-VISTA

A Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti: Trata-se, na origem, de ação ordinária

ajuizada por João Felipe Zanella Felizardo, em face do Banco Sudameris Brasil

S/A, por meio da qual pretende seja revisado contrato de fi nanciamento para

aquisição de veículo. Pelo empréstimo de R$ 7.076,02, comprometeu-se a

pagar 36 prestações mensais fi xas, no valor de R$ 331,83 cada, no período de

21.8.2003 a 21.7.2006.

Pagou apenas as duas primeiras prestações. Diante da inadimplência, o

Banco ajuizou, em abril de 2004, ação de busca e apreensão do veículo. Em

maio de 2004, o autor ingressou com a presente ação, na qual postula sejam

declaradas nulas cláusulas que entende abusivas, requerendo sejam limitados os

juros remuneratórios (contratados em 3,16% ao mês e 45,25% ao ano) a 12%

ao ano; seja vedada a capitalização mensal de juros e afi rmada a impossibilidade

de cumulação da correção monetária com a comissão de permanência. Como

consequência da revisão pretendida, pede seja determinada a “consignação das

(34) prestações restantes e que atualmente montam em R$ 199,72 (cento e

noventa e nove reais, setenta e dois centavos) cada uma, acrescidas ainda de

correção monetária e juros constitucionais de 1% ao mês (...)” (fl . 15).

A sentença julgou improcedente o pedido. Sobre a alegação de capitalização,

afi rmou o Juiz Oyama Assis Brasil de Moraes: “Destaco que não há que se falar

em capitalização de juros, pois o contrato em discussão prevê juros prefi xados

(...)” (fl . 86).

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, no julgamento da apelação,

quanto à capitalização, afi rmou que “o exame do contrato mostra que foram

pactuados juros de 3,16% ao mês e 45,25664% ao ano (fl . 16 dos autos da ação

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RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 117

de busca e apreensão convertida em depósito), o que demonstra a prática de

cobrança de juros sobre juros mensalmente.” De qualquer forma, considerou que

“mesmo que pactuada a capitalização mensal de juros, esta é inconcebível, eis

que o artigo 4º do Decreto n. 22.262/33 não foi revogado pela Lei 4.595/64”.

Quanto à MP 2.170/36, reputou-a inconstitucional (questão objeto de recurso

extraordinário). Considerou admissível a capitalização anual, com base no art.

591 do Código Civil de 2002 (fl s. 145-148).

O voto vencido, da lavra do Desembargador Carlos Alberto Etcheverry, na

mesma linha da sentença, assentou: “Contudo, trata-se, na espécie de contrato

com prestações de valor pré-fi xado, acrescidas de juros compostos, modalidade

de capitalização cujo afastamento não é viável, dado que empregada, no sistema

fi nanceiro tanto para a concessão de mútuos e fi nanciamentos, quanto para a

remuneração das diversas operações através das quais as instituições fi nanceiras

captam recursos no mercado. Precisamente por isso encontra permissivo em

nosso direito, conforme se depreende da leitura do art. 5º da Medida Provisória

n. 2.170-36. Nem haveria, de qualquer forma, sentido prático em proibir a

utilização de juros compostos exercido controle sobre sua eventual excessiva

onerosidade, como ocorre neste caso.” (fl . 151).

Em síntese, decidiu, por maioria, o acórdão: “inexistindo previsão legal,

é incabível a capitalização mensal de juros, em contrato de fi nanciamento

garantido por alienação fi duciária, devendo incidir a anual, nos termos do art.

591 do Código Civil”. Considerando a existência de encargos abusivos, foi

afastada a mora e decretada a improcedência da busca e apreensão.

O acórdão tomado do julgamento dos embargos infringentes, relator

o Desembargador Sejalmo Sebastião de Paula Nery, além de afirmar a

inconstitucionalidade da Medida Provisória n. 2.170-36, considerou que, no

caso, seria vedada a cobrança da capitalização de juros por ausência de expressa

disposição contratual, dado que “a falta de indicação adequada e clara sobre a

incidência de capitalização de juros e, tampouco, especifi cação da periodicidade

em que é cobrada (mensal, semestral ou anual) viola o princípio da boa-fé

objetiva e do direito básico do consumidor à informação (inciso III do art. 6º do

CDC).” (fl s. 196-203).

O recurso especial (fl s. 208-244) sustenta, entre outros pontos, a legalidade

da pactuação de capitalização mensal de juros. Argumenta que “a vedação à

capitalização de juros sobre juros ... apenas prejudica a necessária transparência

que deve haver nos contratos fi nanceiros por forçar os bancos a embutir nas

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118

taxas nominais de juros um adicional equivalente à capitalização”. Friza que,

no mercado fi nanceiro internacional, a não capitalização de juros mostra-se

como exceção que deve ser expressamente estipulada, por estranha à boa técnica

bancária e que, conforme a Exposição de Motivos da Medida Provisória n.

1963-17, ‘ao captar recursos as instituições nacionais remuneram os aplicadores

com juros capitalizados. Até mesmo os depósitos da população para pequenos

valores (v.g. caderneta de poupança) rendem juros capitalizados.” (...) Acrescenta

que, no caso, “mostra-se incabível o seu afastamento, haja vista que os juros

contratados foram em valores prefi xados, de pleno conhecimento do Recorrido,

pois calculados com base na taxa anual constante do contrato.”

Foi interposto, também, recurso extraordinário, sendo ambos admitidos.

Assim delimitada a controvérsia, passo a apreciar a questão referente à

capitalização de juros, a única a respeito da qual será estabelecida tese para os

efeitos do art. 543-C do CPC.

Acompanho o voto do relator, Ministro Luís Felipe Salomão, no que

toca à inexistência de impedimento ao exame do recurso especial, em que pese

a repercussão geral da matéria reconhecida pelo STF no julgamento do RE

592.377/RS, já que serão examinados no recurso especial apenas os aspectos

infraconstitucionais da causa.

Igualmente adiro ao seu entendimento no sentido da possibilidade de

“capitalização mensal nos contratos bancários fi rmados após 31.3.2000, data

da publicação da Medida Provisória 1.963-17/00, desde que expressamente.

pactuada”, primeira das teses assentadas para o efeito do art. 543-C do CPC

no item 3.6 do seu douto voto. Conforme exaustivamente demonstrado pelo

eminente relator, a jurisprudência de ambas as Turmas da 2ª Seção é unânime

quanto à prevalência do art. 5º da referida medida provisória em relação ao art.

591 do Código de 2002.

Neste ponto, assinalo que o art. 5º da Medida Provisória 1.963-17/00

tornou admissível nas operações realizadas pelas instituições integrantes do

Sistema Financeiro Nacional “a pactuação de capitalização de juros com

periodicidade inferior a um ano”; vale dizer, no contrato bancário poderá ser

pactuada a capitalização semestral, trimestral, mensal, diária, contínua etc. O

intervalo da capitalização deverá ser expressamente defi nido pelas partes do

contrato. Diversa é a disciplina legislativa dos contratos vinculados ao Sistema

Financeiro da Habitação, “a qual somente em recente alteração legislativa (Lei

11.977 de 7 de julho de 2009), previu o cômputo capitalizado de juros em

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RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 119

periodicidade mensal” (2ª Seção, Recurso Especial 1.070.297, submetido ao rito

do art. 543-C do CPC, relator Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 18/9/2009

e 2ª Seção, Recurso Especial 1.095.852-PR, DJe 19.3.2012, de minha relatoria,

no qual fi cou decidido, em esclarecimento ao acórdão do Recurso Especial

1.070.297, que a capitalização anual já era admitida, como regra geral que

independe de pactuação expressa, pelo Decreto 22.626/33, antes, portanto, da

Lei 11.977/2009).

Note-se que o art. 15-A da Lei 4.380/64, com a redação dada pela Lei

11.977/2009, dispõe ser “permitida a pactuação de capitalização de juros com

periodicidade mensal nas operações realizadas pelas instituições integrantes do

Sistema Financeiro da Habitação - SFH.”

Em síntese, desde 31.3.2000, data da publicação da Medida Provisória

1.963-17/00, admite-se, nos contratos bancários em geral, a pactuação de

capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano (a mensal, inclusive);

salvo nos contratos do Sistema Financeiro da Habitação, em relação aos quais

até a edição da Lei 11.977/2009 somente era permitida a capitalização anual,

passando, a partir de então, a ser admitida apenas pactuação de capitalização de

juros com periodicidade mensal, excluída, portanto, a legalidade de pactuação

em intervalo diário ou contínuo.

II

O motivo de meu pedido de vista foi a tese assim sintetizada no item 3.6,

alínea b, do voto do relator: “a pactuação mensal dos juros deve vir estabelecida

de forma expressa, portanto, é necessário que o contrato seja transparente e claro

o sufi ciente a ponto de cumprir o dever de informação previsto no Código de

Defesa do Consumidor.”

Não tenho dúvida alguma em aderir às premissas tão bem expostas pelo

relator, amparado na doutrina de Cláudia Lima Marques, Rizzato Nunes e Paulo

de Tarso Sanseverino, acerca da absoluta necessidade de que o contrato bancário

seja transparente, claro, redigido de forma que o consumidor, leigo, vulnerável

não apenas economicamente, mas sobretudo sem experiência e conhecimento

econômico, contábil, fi nanceiro, entenda, sem esforço ou difi culdade alguma,

o conteúdo, o valor e a extensão das obrigações assumidas. A pactuação de

capitalização de juros deve ser expressa. A taxa de juros deve estar claramente

defi nida no contrato. A periodicidade da capitalização também. Sobretudo, não

deve pairar dúvida alguma acerca do valor da dívida, dos prazos para pagamento

e dos encargos respectivos.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

120

O que se deve entender, todavia, por “capitalização de juros”, admitida pela

Lei de Usura (Decreto 22.626/33) apenas em intervalo anual; cuja pactuação

em periodicidade inferior a um ano passou a ser permitida pela MP 1.963-

17/00 (atual MP 2.170-36)?

Qual o conceito jurídico de capitalização de juros? Haveria identidade, no

sistema jurídico vigente, entre os termos “capitalização de juros”, “anatocismo”,

“juros compostos”?

A pactuação expressa de taxa efetiva em percentual superior ao da taxa

nominal signifi caria capitalização de juros vedada pela Lei de Usura, apenas

permitida mediante expressa pactuação a partir da entrada em vigor da MP

1.963-17/00 atual MP 2.170-36? Sendo este o conceito jurídico da capitalização,

seria sufi ciente, ao perfeito esclarecimento do devedor, e, portanto, à validade do

contrato, a menção expressa ao percentual da taxa mensal e anual, sendo esta

superior a doze vezes a mensal (4ª Turma, AgRg no REsp 1.231.210-RS, rel.

Ministro Raul Araújo, DJe 1º.8.2011, unânime; REsp 1.220.930, rel. Ministro

Massami Uyeda, decisão singular, DJe 9.2.2011; AgRg no REsp 809.882/RS, rel.

Ministro Aldir Passarinho, decisão singular, DJ 24.4.2006; 4ª Turma, AgRg no

REsp 735.711-RS, rel. Ministro Fernando Gonçalves, unânime, DJ 12.9.2005;

4ª Turma, AgRg no REsp 714.510-RS, rel. Ministro Jorge Scartezzini, unânime,

DJ 22.8.2005)? Ou, ao contrário, a pactuação expressa da taxa efetiva superior

ao duodécuplo da taxa mensal não seria sufi ciente para informar o devedor

a respeito da capitalização e, portanto, seria inválida a pactuação (4ª Turma,

AgRg no REsp 1.306.559-RS, rel. Ministro Luis Felipe Salomão, unânime,

DJe 27.4.2012 e 3ª Turma, REsp 1.302.738-SC, rel. Ministra Nancy Andrighi,

unânime, DJe 10.5.2012)?

Verifi ca-se, portanto, que a unanimidade tão bem demonstrada pelo relator

no sentido da legalidade da pactuação expressa da capitalização mensal de juros

nos contratos bancários posteriores a 31.3.2000 não existe a propósito do que se

deva entender como adequada forma de pactuar a capitalização.

Para expor meu entendimento sobre a questão, começo por extrair do

sistema jurídico pátrio - mediante a análise não apenas da literalidade das leis,

mas sobretudo da respectiva interpretação consolidada pela jurisprudência deste

Tribunal - o conceito jurídico do que seja a capitalização de juros vedada em

intervalo inferior ao anual pela Lei de Usura e, atualmente, admitida pela MP

2.170-36, desde que expressamente pactuada.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 121

A propósito da importância do estabelecimento dos conceitos presentes

nas normas jurídicas, invoco a preciosa lição de San Tiago Dantas:

“Em primeiro lugar, submete as normas a um tratamento indutivo, para

evidenciar os princípios que nelas se acham inclusos. As normas jurídicas que a

primeira vista são desligadas entre si, desde que nós nos ponhamos a raciocinar

sobre elas, começam a evidenciar parentesco”.

...

“O segundo trabalho do dogmatista é fixar os conceitos com que são

construídas as normas. Toda a norma jurídica emprega idéias que são constantes

dentro do mesmo sistema de normas. Quando abrem uma lei que se promulga

e que contém uma frase dizendo “o dano será composto assim”; e depois outra

lei, nas compilações, diz: “no dano observar-se-á tal regra”, deverão saber se a

palavra dano signifi ca a mesma coisa nesta e na outra lei, se existe este conceito

técnico de dano na legislação e, se porventura a lei empregar a palavra noutro

sentido, precisar que numa lei é isto e na outra é diferente. É preciso construir os

conceitos”.

...

“O jurista, além de fi xar os conceitos de dogmática, tem de fi xar a terminologia”.

...

O Direito não dispensa grande estudo dos termos, porque um erro de termos

conduz a um erro de direito. A linguagem está para o jurista como o desenho

para o arquiteto. A única maneira de exprimir as categorias lógicas com que ele

trabalha é fi xar a terminologia, outra preocupação da dogmática.” (“Programa de

Direito Civil”, Teoria Geral, Forense, 3ª edição, 2001, p. 7-8).

Cumpre, portanto, defi nir o conceito de capitalização de juros no sistema

jurídico brasileiro.

O texto legal a ser tomado como ponto de partida para a análise do

signifi cado de “capitalização”, em nosso sistema jurídico, é o Decreto 22.626/33,

o qual assim dispõe:

“Art. 1º. É vedado, e será punido nos termos desta lei, estipular em quaisquer

contratos taxas de juros superiores ao dobro da taxa legal (Código Civil, art.

1.062)”.

Art. 4º. É proibido contar juros dos juros; esta proibição não compreende a

acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos em conta corrente de ano a

ano.”

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

122

O Decreto 22.626/33, também conhecido como “Lei de Usura”,

estabeleceu, portanto, duas restrições à liberdade pactuar de taxa de juros: no art.

1º limitou o percentual ao máximo de 12% ao ano (dobro da taxa legal prevista

no Código de 1916) e, no art. 4º, proibiu a contagem de “juros dos juros”, salvo

a “acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos em conta corrente de ano a

ano”.

O limite previsto no art. 1º ainda está em vigor, não se aplicando, todavia,

às instituições fi nanceiras, conforme jurisprudência consolidada na Súmula

596 do STF, segundo a qual “as disposições do Decreto 22.626 de 1933 não se

aplicam às taxas de juros e outros encargos cobrados nas operações realizadas

por instituições públicas ou privadas, que integrem o Sistema Financeiro

Nacional.” Também o STJ consolidou o entendimento de que “A estipulação de

juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade”

(Súmula 382) e de que “são inaplicáveis aos juros remuneratórios dos contratos

de mútuo bancários as disposições do art. 591 c/c art. 406 do CC/02” (2ª Seção

do STJ no REsp 1.061.530, relatora Ministra Nancy Andrighi). Havendo abuso

na fi xação contratual das taxas de juros, deverá ser comprovado caso a caso, e

invalidado pelo Judiciário com base no Código de Defesa do Consumidor e no

princípio que veda o enriquecimento sem causa.

Vale dizer, para as instituições fi nanceiras, não há limite legal fi xo; a taxa

de juros passível de estipulação contratual legítima varia conforme a conjuntura

econômica, podendo ser invalidada pelo Judiciário em caso de comprovado

abuso.

A segunda ordem de restrição, contida no art. 4º (proibição da “contagem

de juros dos juros, salvo a acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos

em conta corrente de ano a ano”), é a base legal da Súmula 121 do STF,

segundo a qual “É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente

pactuada”. Esta restrição, até março do ano 2.000, aplicava-se, na linha da

pacífi ca jurisprudência, também às instituições fi nanceiras, salvo permissão legal

prevista em legislação especial, como ocorre com as cédulas de crédito rural,

industrial, comercial (Súmula 93/STJ). A partir da entrada em vigor da MP

1.963/00 (atual MP 2.170/01), passou a ser legalmente admitida a pactuação

expressa da capitalização de juros em intervalo inferior ao anual.

Vejamos o que se entende por capitalização de juros.

O Vocabulário Jurídico de Plácido e Silva assim defi ne:

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 123

“CAPITALIZAÇÃO. Segundo sua origem, tomado em acepção própria,

capitalização, seja no sentido jurídico, seja no sentido econômico, quer signifi car

a conversão dos rendimentos ou dos frutos de um capital, em capital, unindo-se

tais frutos ao principal, para se igualarem ou se acumularem a ele.

Desse modo, a capitalização mostra-se a gênese de novo capital, que se vem

anexar ou acumular ao primitivo, de onde se produziu, para aumentar a sua soma.

A capitalização ocorre segundo se ajustar, pois que, não havendo ajuste ou

convenção, em regra não se opera a capitalização, isto é, os juros ou as rendas não

se acumulam ao capital.

Capitalização. Em acepção especial também se chama de capitalização ao

cálculo do valor-capital de um bem produtivo, isto é, a estimação de sua valia ou

de seu preço (capital), tendo-se em conta as suas rendas já vencidas e que nele se

computam para efeito desta avaliação.”

(Forense, Rio de Janeiro, 8ª edição, 1984, Volume I, p. 373).

O mesmo Vocabulário defi ne anatocismo como sinônimo de capitalização:

“ANATOCISMO. É vocábulo que nos vêm do latim anatocismus, de origem

grega, signifi cando usura, prêmio composto ou capitalizado.

Desse modo vem signifi car a contagem ou cobrança de juros sobre juros.

A cobrança ou exigência de juros sobre juros acumulados não é admitida,

desde que, resultante de contrato, não exista estipulação que a permita.

Quer isso dizer que a capitalização de juros, isto é, a incorporação dos juros

vencidos ao capital, e a cobrança de juros sobre o capital assim capitalizado,

somente tem apoio legal quando há estipulação que a autorize.

Desde que não haja esta estipulação, os juros não se capitalizam e, em

consequência, não renderão para o credor juros contados sobre eles, mesmo

vencidos e escriturados na conta do devedor.

Quando se trata, porém, de juros contados em conta corrente, o próprio

Direito Comercial (art. 253) permite a acumulação dos juros vencidos aos saldos

liquidados de ano a ano, e, em tal caso, se permite a contagem posterior dos juros

sobre os saldos então apurados.

O próprio Cód. Civil brasileiro, em seu art. 1.262, permitiu a capitalização.

Havendo convenção, embora o Código fale em capitalização anual, a contagem

dos juros sobre os juros acumulados pode ser permitida semestralmente.”

(Forense, Rio de Janeiro, 8ª edição, 1984, Volume I, p. 151).

Nos verbetes “JUROS COMPOSTOS” e “JUROS ACUMULADOS”,

o Vocabulário de Plácido e Silva limita-se a fazer remissão ao verbete “JUROS

CAPITALIZADOS”, o qual tem o seguinte texto:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

124

“JUROS CAPITALIZADOS: Expressão usada na técnica do comércio para designar

os juros devidos e já vencidos que, periodicamente, se incorporam ao principal, isto

é, se unem ao capital representativo da dívida ou obrigação, para constituírem

um novo total.

São, assim, juros que se integraram no capital, perdendo sua primitiva

qualidade de frutos, para se apresentarem na soma do capital assim constituído.

E, neste caso, se capitalizáveis, em virtude de estipulação ou determinação

legal, passam como parcela do capital a produzir frutos, tal qual ele.

Dizem-se, também, juros compostos, em oposição aos que não se acumulam,

que se dizem juros simples.”

(Forense, Rio de Janeiro, 8ª edição, 1984, Volume III, p. 36).

O voto do Ministro Luís Felipe Salomão, valendo-se da doutrina de

Roberto Arruda de Souza Lima e Adolfo Mamoru Nishiyama, defi ne juros

capitalizados como “juros devidos e já vencidos que, periodicamente (v.g., mensal,

semestral ou anualmente), se incorporam ao valor principal (in Contratos

Bancários - Aspectos Jurídicos e Técnicos da Matemática Financeira para

Advogados, Editora Atlas S/A, São Paulo: 2007, p. 36).

De todas essas defi nições, extrai-se que a noção jurídica de “capitalização”,

de “anatocismo”, de “juros capitalizados”, de “juros compostos”, de juros

acumulados, tratados como sinônimos, está ligada à circunstância de serem os

juros vencidos e, portanto, devidos, que se incorporam periodicamente ao capital;

vale dizer, não é conceito matemático abstrato, divorciado do decurso do tempo

contratado para adimplemento da obrigação. O pressuposto da capitalização é

que, vencido o período ajustado (mensal, semestral, anual), os juros não pagos

sejam incorporados ao capital e sobre eles passem a incidir novos juros.

Por outro lado, há os conceitos abstratos, de matemática fi nanceira, de

“taxa de juros simples” e “taxa de juros compostos”. Dizem respeito ao processo

matemático de formação da taxa de juros cobrada. Com o uso desses métodos

calcula-se a equivalência das taxas de juros no tempo (taxas equivalentes). Quando a

taxa é apresentada em uma unidade de tempo diferente da unidade do período de

capitalização diz-se que a taxa é nominal; quando a unidade de tempo coincide

com a unidade do período de capitalização a taxa é a efetiva. Por exemplo, uma

taxa nominal 12% ao ano, sendo a capitalização dos juros feita mensalmente.

Neste caso, a taxa efetiva é de 1% ao mês, o que é equivalente a uma taxa efetiva

de 12,68% ao ano. Se a taxa for de 12% ao ano, com capitalização apenas anual,

a taxa de 12% será a taxa efetiva anual.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 125

Extraio de trabalho de autoria de Teotônio Costa Rezende publicado no

site da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (www.ufrrj.br/posgrad/

ppgem/03/64.pdf ) as seguintes noções: (1) em um prazo inferior ao período

de tempo da taxa (ex: período de 15 dias para uma taxa de juros mensal), o

montante dos juros calculados pela sistemática de juros simples é maior do

que o montante dos juros compostos. Este fato é resultante da transformação

da taxa para períodos menores por meio de taxas proporcionais; (2) no prazo

igual ao período da taxa (por exemplo taxa de juros mensal, com juros apurados

mensalmente) o montante dos juros calculados pela sistemática de juros simples

é igual ao dos juros compostos, não havendo distorções; (3) num prazo superior

ao período de tempo da taxa (por exemplo, período de 6 meses e taxa de juros

mensal), o montante dos juros calculados pela sistemática de juros simples é

menor do que o montante dos juros calculados no modelo de juros compostos.

A diferença é tanto maior, quanto for o período considerado. Essas assertivas

somente são válidas se os juros forem apurados a cada período, porém quitados

no fi nal do prazo.

Teotônio Costa Rezende também esclarece: “É comum recebermos

cálculos mirabolantes, onde se pretende demonstrar que uma taxa de juros

anual se multiplica várias vezes se a capitalização passar a ser mensal (por

exemplo: uma taxa de 12,0% a.a. passaria para 144% etc). Na verdade, o critério

de capitalização se apura através de exponenciação e não de multiplicação.

Se começarmos a simular taxas capitalizadas anualmente, semestralmente,

mensalmente, diariamente e continuamente, seremos surpreendidos pelos

resultados, uma vez que a diferença entre estas irá fi cando cada vez menor, até

atingir um limite”. E após descrever a fórmula matemática para a apuração

da taxa efetiva, esclarece que à medida que se aumenta o “n” (períodos de

capitalização) do divisor da taxa nominal, também se aumenta o “n” exponencial,

ou seja, o número a ser potencializado torna-se cada vez menor. E prossegue:

“A título de exemplo, veja o que acontece com a maior taxa nominal de juros

que praticamos no crédito imobiliário, ou seja, 12,0% a.a. Se capitalizada

semestralmente = 12,360% a.a; mensalmente, corresponde a 12,683% a.a.;

diariamente = 12,747% a.a e continuamente = 12,750% a.a. Nota-se que a

mudança de anual para semestral implicou em um acréscimo de 0,36 pontos

percentuais; de semestral para mensal de 0,32 pontos percentuais; de mensal

para diário de 0,06 pontos percentuais e de diário para contínuo praticamente

não existe diferença. Duas lições precisam ser extraídas destes comentários:

primeiro - o fato de as taxas serem capitalizadas não traz nenhuma mudança

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

126

astronômica entre taxa nominal e efetiva; segundo - à medida que se aumenta

os períodos de capitalização, reduz-se o impacto em termos de proporção do

crescimento da taxa efetiva.”

Em síntese, o processo composto de formação da taxa de juros é método abstrato

de matemática fi nanceira, utilizado para a própria formação da taxa de juros a

ser contratada, e, portanto, prévio ao início de cumprimento das obrigações

contratuais. A taxa nominal de juros, em período superior ao período de

capitalização (v.g., taxa anual, capitalizada mensalmente), equivale a uma taxa

efetiva mais alta. Pode o contrato informar a taxa anual nominal, esclarecendo

que ela (a taxa) será capitalizada mensalmente; ou optar por consignar a taxa

efetiva anual e a taxa mensal nominal a ela correspondente. Não haverá diferença

na onerosidade da taxa de juros e, portanto, no valor a ser pago pelo devedor.

Trata-se, portanto, apenas de diferentes formas de apresentação da mesma taxa

de juros, conforme o tempo de referência. Por ser método científi co, neutro,

abstrato, de matemática fi nanceira, não é afetado pela circunstância, inerente

à cada relação contratual, de haver ou não o pagamento tempestivo dos juros

vencidos.

Por outro lado, ao conceito de juros capitalizados (devidos e vencidos),

juros compostos (devidos e vencidos), capitalização ou anatocismo é inerente a

incorporação ao capital dos juros vencidos e não pagos, fazendo sobre eles

incidir novos juros. Não se trata, aqui, de método de matemática fi nanceira,

abstrato, prévio ao início da vigência da relação contratual, mas de vicissitude

intrínseca à concreta evolução da relação contratual. Conforme forem vencendo

os juros, haverá pagamento (aqui não ocorrerá capitalização); incorporação ao

capital ou ao saldo devedor (capitalização) ou cômputo dos juros vencidos e não

pagos em separado, a fi m de evitar a capitalização vedada em lei.

Postos estes conceitos, voltemos ao texto do Decreto 22.626/33. O referido

diploma legal veda a contagem de juros dos juros; mas estabelece que a proibição

não compreende a acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos em conta

corrente de ano a ano. A pacífi ca jurisprudência do STJ compreende que a

ressalva permite a capitalização anual como regra aplicável aos contratos de

mútuo em geral. Assim, não é proibido contar juros de juros em intervalo anual;

os juros vencidos e não pagos podem ser incorporados ao capital uma vez por

ano para sobre eles incidirem novos juros (Segunda Seção, EREsp 917.570/

PR, relatora Ministra Nancy Andrighi, DJe 4.8.2008 e REsp 1.095.852-PR, de

minha relatoria, DJe 19.3.2012).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 127

O objetivo do art. 4º do Decreto 22.626/33, ao restringir a capitalização,

é evitar que a dívida aumente em proporções não antevistas pelo devedor em

difi culdades ao longo da relação contratual. Nada dispõe o art. 4º acerca do

processo de formação da taxa de juros, como a interpretação meramente literal

e isolada de sua primeira parte (é proibido contar juros de juros) poderia fazer

supor.

Quanto à taxa de juros, a limitação de percentual máximo (e não restrição

quanto ao método matemático de formação da taxa) está estabelecida no art. 1º

do mesmo decreto (12% ao ano) e não se aplica, como já exposto, às instituições

fi nanceiras.

Como já visto que a taxa nominal tem uma correspondente efetiva (sendo

esta superior se calculada em período maior do que o da taxa), e se não há

limite legal prefi xado para esta taxa efetiva (a qual somente será invalidada pelo

Judiciário se comprovadamente abusiva), não me parece coerente com o sistema

jurídico vigente, tal como compreendido pela pacífi ca jurisprudência do STJ e

do STF, extirpar do contrato a taxa efetiva expressamente contratada em nome

da vedação legal à capitalização de juros.

O coerente com o sistema será, data maxima venia, respeitar o contratado,

inclusive a taxa efetiva de juros, glosando-a apenas se demonstrado o abuso, nos

termos da pacífi ca jurisprudência assentada sob o rito dos recursos repetitivos.

Neste caso, o abuso consistirá no excesso da taxa de juros.

A mera circunstância de estar pactuada taxa efetiva e taxa nominal de juros

não implica, portanto, capitalização de juros, mas apenas processo de formação

da taxa de juros pelo método composto.

Seria incongruente com o sistema admitir, por exemplo, a legalidade da

contratação de taxa de juros calculada pelo método simples de 12% ao ano e não

admitir a legalidade da contratação de juros compostos em taxa mensal (expressa

no contrato) correspondente a uma taxa efetiva anual inferior (também expressa

no contrato).

Esclarecedor o exemplo imaginado pelo Professor José Dutra Vieira

Sobrinho:

“O exemplo a seguir evidencia o absurdo que representa a proibição de se

capitalizar juros. De acordo com o entendimento jurídico predominante, um

empréstimo poderia ser contratado a juros de 1% ao mês, pelo prazo de um ano,

desde que não capitalizado, o que totalizaria 12% no vencimento; entretanto,

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

128

essa mesma operação não poderia ser contratada a juros compostos de 0,75%

ao mês pelo mesmo prazo, embora o total no vencimento, de 9,38%, seja menor

que o anterior” (extraído do trabalho “Confl itos Judiciais Envolvendo Conceitos

Básicos de Matemática Financeira”).

A coerência, parâmetro defi nidor de um sistema de normas como sistema

jurídico, é enfatizada por San Tiago Dantas:

“Finalmente, o trabalho de dogmática se conclui pela construção do sistema.

Evidenciar os princípios, induzir os conceitos, fi xar a terminologia e construir o

sistema de normas jurídicas, que formam a regulamentação da vida numa certa

sociedade, isto é um estudo de dogmática jurídica, que quer dizer que é sempre

possível construir, com qualquer das instituições e com as normas, um sistema

coerente, lógico, em que os institutos se acham evidentemente classifi cados, em

que o mais geral abrange o mais particular e em que, portanto, a inteligência

pode penetrar segundo um esquema lógico. Eis porque podemos fazer esta

afi rmação capital: nem todo corpo de normas é um sistema jurídico.

Se amanhã nos pusermos a legislar para pequena sociedade imaginária ou

construída por nós mesmos, e determinarmos normas como estas, “ninguém

pode matar”, todo mundo pode furtar”, “ninguém está obrigado a reparar o

prejuízo que causa”, “todo mundo está obrigado a compor o que tiver contratado”;

poderemos formar um corpo de leis e aplicá-las, mas ninguém pode construir

sobre este corpo de leis um sistema. Não se formará dogmática deste corpo de

normas, porque veremos que estas várias normas se contradizem, se repelem

entre si, e não podemos criar uma ciência jurídica sobre a base de fenômenos

desta maneira contraditórios (ob. citada, p. 8-9).

Assim, embora o método composto de formação da taxa de juros

seja comumente designado, em textos jurídicos e matemáticos, como

“juros compostos”, empregada esta expressão também como sinônimo de

“capitalização”, “juros capitalizados” e “anatocismo”, ao jurista, na construção

do direito civil, cabe defi nir a acepção em que o termo é usado na legislação, a

fi m de que os preceitos legais e respectivas interpretações jurisprudenciais não

entrem em contradição, tornando incoerente o sistema.

Tomando por base essas premissas, concluo que o Decreto 22.626/33 não

proíbe a técnica de formação de taxa de juros compostos (taxas capitalizadas),

a qual, repito, não se confunde com capitalização de juros em sentido estrito

(incorporação de juros devidos e vencidos ao capital, para efeito de incidência

de novos juros, prática vedada pelo art. 4º do citado Decreto, conhecida como

capitalização ou anatocismo).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 129

A restrição legal ao percentual da taxa de juros não é a vedação da técnica

de juros compostos (mediante a qual se calcula a equivalência das taxas de juros

no tempo, por meio da defi nição da taxa nominal contratada e da taxa efetiva

a ela correspondente), mas o estabelecimento do percentual máximo de juros

cuja cobrança é permitida pela legislação, vale dizer, como regra geral, o dobro

da taxa legal (Decreto 22.626/33, art. 1º) e, para as instituições fi nanceiras,

os parâmetros de mercado, segundo a regulamentação do Banco Central (Lei

4.595/64).

Dessa forma, se pactuados juros compostos, desde que a taxa efetiva

contratada não exceda o máximo permitido em lei (12%, sob a égide do Código

Civil de 1916, e, atualmente, a taxa legal prevista nos arts. 406 e 591 do Código

vigente, limites estes não aplicáveis às instituições fi nanceiras, cf. Súmulas

596 do STF e 382 do STJ e acórdão da 2ª Seção do STJ no REsp 1.061.530,

rel. Ministra Nancy Andrighi) não haverá ilegalidade na fórmula adotada no

contrato para o cálculo da taxa efetiva de juros embutidos nas prestações.

Este entendimento encontra apoio na doutrina de José Dutra Vieira

Sobrinho:

“1.4 – O que é anatocismo

De acordo com a ampla pesquisa que realizei, anatocismo nada tem a ver o

critério de formação dos juros a serem pagos (ou recebidos) numa determinada

data; ele consiste na cobrança de juros vencidos e não pagos, exatamente como

conceituado no Novo Dicionário Brasileiro. E como a legislação brasileira foi

inspirada nas leis dos países europeus como a França, Portugal, Alemanha, Itália,

Espanha e Holanda, entendo ser importante transcrever o conceito de anatocismo

contido nos códigos civis e comerciais de alguns desses países. Embora parte

dessas nações tenham promulgado seus códigos civis posteriormente ao ano

de 1850, a legislação vigente na época já contemplava aquele conceito. Assim,

no Código Civil português, a definição encontrada endossa plenamente o

nosso entendimento: “Art. 560 – Para que os juros vencidos produzam juros é

necessária convenção posterior ao vencimento; pode haver também juros de

juros, a partir da notifi cação judicial feita ao devedor para capitalizar os juros

vencidos ou proceder ao seu pagamento sob pena de capitalização. Só podem

ser capitalizados os juros correspondentes ao período mínimo de um ano.”

No Código Civil italiano encontramos entendimento semelhante: “Art. 1.283

– Na falta de uso contrário, os juros vencidos só podem produzir juros do dia

do pedido judicial, ou por efeito de convenção posterior ao seu vencimento, e

sempre que trate de juros devidos pelo menos por 6 meses.” E no Código Civil

francês, conhecido também por Código de Napoleão, considerado pela maioria

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dos grandes juristas como o pai de todos os códigos, o entendimento não é

diferente: “Art. 1.154 – Os juros vencidos dos capitais podem produzir juros, quer

por um pedido judicial, quer por uma convenção especial, contando que, seja

no pedido, seja na convenção, se trate de juros devidos, pelo menos por um ano

inteiro.

Com base nessas evidências podemos deduzir que o Art. 253 do nosso Código

Comercial editado em 1850, copiado literalmente no Art. 4º do Decreto 22.626 de

7 de abril de 1933, foi mal copiado ou mal traduzido. Esse artigo tem a seguinte

redação: “É proibido contar juros dos juros; esta proibição não compreende a

acumulação de juros vencidos aos saldos liquidados em conta corrente de ano

a ano.” Observa-se claramente que primeira frase deveria ser “É proibido contar

juros dos juros vencidos, ou ainda, “É proibido calcular juros sobre juros vencidos.

1.5 – Existência do anatocismo e a prática dos juros compostos

Entendido o anatocismo tal como foi caracterizado, ele somente existiria

se após o vencimento de uma operação o credor cobrasse juros sobre os juros

vencidos e não pagos. Vamos esclarecer melhor essa questão como exemplo

de um empréstimo de R$ 1.000,00 para ser quitado por R$ 1.225,00 no fi nal de

9 meses. O anatocismo somente ocorreria se após o vencimento, e num prazo

inferior a 12 meses, o credor cobrasse juros também sobre os juros de R$ 225,00.

É importante também observar a seguinte questão: o que muda para o

devedor ou credor saber, que no exemplo mencionado, a operação custa 2,5% ao

mês se calculada a juros simples ou 2,28% se calculada a juros compostos? Para

efeitos legais, os dados relevantes são o valor do empréstimo, o valor de resgate e

o vencimento; entendo que o critério utilizado para obtenção do valor dos juros é

absolutamente secundário!” (extraído do trabalho “Confl itos Judiciais Envolvendo

Conceitos Básicos de Matemática Financeira”).

No caso em exame, os juros contratados foram prefi xados no contrato,

no qual consta a taxa mensal nominal (3,16% ao mês) e a taxa anual efetiva

(45,25% ao ano). Não foi comprovada a abusividade, em termos de mercado,

da taxa efetiva de juros remuneratórios pactuada. O valor fi xo das 36 prestações

igualmente está expresso no contrato, não podendo o consumidor alegar surpresa

quanto aos valores fi xos, inalteráveis, das 36 prestações que se comprometeu

a pagar. Não está prevista a incidência de correção monetária. A expectativa

infl acionária já está embutida na taxa de juros. Após pagar duas prestações,

deixou de honrar suas obrigações e ajuizou ação postulando a redução da

prestação acordada em R$ 331,83 para R$ 199,80.

Na realidade, a intenção do autor/recorrido é reduzir drasticamente a taxa

efetiva de juros, usando como um de seus argumentos a confusão entre o conceito

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 131

legal de “capitalização de juros vencidos e devidos” e o “regime composto de

formação da taxa de juros”, ambos designados indistintamente na literatura

matemática e em diversos textos jurídicos, até mesmo nas informações prestadas

nestes autos pelo Banco Central, com o mesmo termo “juros compostos” ou

“juros capitalizados”.

Não poderia ser, com a devida vênia, mais clara e transparente a contratação

do que a forma como foi feita no caso concreto em exame: com a estipulação das

prestações em valores fi xos e iguais (36 prestações de R$ 331,83) e a menção à

taxa mensal e à correspondente taxa anual efetiva.

Nada acrescentaria à transparência do contrato, em benefício do

consumidor leigo, que constasse uma cláusula esclarecendo que as taxas mensal

e anual previstas no contrato foram obtidas mediante o método matemático de

juros compostos.

Sabedor da taxa mensal e da anual e do valor das 36 prestações fi xas, fácil

fi cou para o consumidor pesquisar, entre as instituições fi nanceiras, se alguma

concederia o mesmo fi nanciamento com uma taxa mensal ou anual inferior,

perfazendo as prestações fi xas um valor menor.

As informações prestadas pelo Banco Central enfatizam que se afastada

a legalidade/constitucionalidade da formação composta da taxa de juros

haverá “redução da transparência (...) dado que cada instituição fi nanceira

poderá apresentar diferentes taxas de juros simples para diferentes prazos, sem

que necessariamente seja possível padronizá-las e daí compará-las, caso as

instituições se especializem em operações com prazos diversos.” (e-STJ fl . 323).

Lê-se, ainda, nas informações do Banco Central (referindo-se, neste ponto,

à taxa estipulada sob o regime de juros compostos):

“Ademais, a capitalização de juros é capaz de gerar uma padronização na

forma de cômputo e, pela viabilidade do cotejo, fomentar a competição entre

as instituições fi nanceiras. Um ambiente mais competitivo é mais apto a gerar

reduções nas taxas de juros e nos spreads praticados. É o que concluiu a a

Consultoria da Diretoria de Política Econômica do Banco Central em estudo

elaborado a pedido desta Procuradoria-Geral para subsidiar esta manifestação da

Autarquia:

Um terceiro aspecto a ser considerado é a redução de transparência que a

decisão [pela inconstitucionalidade] proporcionará, dado que cada instituição

fi nanceira poderá apresentar diferentes taxas de juros simples para diferentes

prazos, sem que necessariamente seja possível padronizá-las, caso as instituições

se especializem em operações com prazos diversos.” (fl . e-STJ 323).

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(...)

“Caso seja declarada inconstitucional a medida provisória que permite a

capitalização, as instituições financeiras não se limitarão a conceder crédito

com as mesmas taxas atualmente praticadas. Certamente, irão praticar taxas

nominais equivalentes à taxa capitalizada. Assim, se notará um desestímulo

ao alongamento de prazos, pois, como mostra a referida nota técnica, sem a

capitalização, quanto maior o prazo, maior a taxa de juros nominais equivalentes,

a qual se apura de forma crescente. O tomador logo se sentirá desestimulado a

operar com prazos mais longos, na suposição, equivocada, de que os juros são

maiores e, assim, deixará de contratar em melhores condições”. (fl . e-STJ 325).

Por outro lado, se constasse do contrato em exame, além do valor das

prestações, da taxa mensal e da taxa anual efetiva, também cláusula estabelecendo

“os juros vencidos e devidos serão capitalizados mensalmente”, ou “fi ca pactuada

a capitalização mensal de juros”, por exemplo, como passou a ser admitido pela

MP 2.170-36, a consequência para o devedor não seria a mera validação da

taxa de juros efetiva expressa no contrato e embutida nas prestações fi xas. Tal

pactuação signifi caria que, não paga determinada prestação, sobre o valor total

dela (no qual estão incluídos os juros remuneratórios contratados) incidiriam

novos juros remuneratórios a cada mês, ou seja, haveria precisamente a incidência

de juros sobre juros vencidos e não pagos incorporados ao capital (capitalização

ou anatocismo), prática esta vedada pela Lei de Usura em intervalo inferior

a um ano e atualmente permitida apenas em face de prévia, expressa e clara

previsão contratual.

Esta prática - capitalização de juros vencidos e não pagos - acabou admitida

em nosso sistema jurídico, como regra nas operações bancárias, pela vigente MP

2.170-36, editada, como se verifi ca das informações do Banco Central, com o

intuito de resolver a incerteza jurídica sobre a legalidade do sistema de juros

compostos, comumente tratado como sinônimo de “capitalização de juros”,

da qual se valiam maus pagadores, gerando o aumento do risco e, portanto, o

aumento do spread e das taxas de juros, em prejuízo de todo o sistema fi nanceiro.

A consequência do texto da medida provisória foi permitir, como regra

geral para o sistema bancário, não apenas o regime matemático de juros

compostos, mas o anatocismo propriamente dito, o qual também tem sua

justifi cativa econômica, assim posta nas informações do Banco Central (fl . 325):

“Acrescente-se, ainda, que a capitalização de juros desestimula as instituições

fi nanceiras a renegociarem os contratos com periodicidade mensal, situação em

que, ao fi nal do mês, o valor emprestado, acrescidos dos juros correspondentes,

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 133

deve ser quitado. Tal situação enseja o chamado ‘anatocismo indireto’, bem mais

oneroso para o devedor, que seria obrigado a captar recursos em outra instituição

fi nanceira para adimplir a primeira operação. Desse modo, sob o ponto de vista

econômico, a capitalização de juros, tal como prevista pela medida provisória

impugnada, apresenta-se muito mais benéfi ca ao tomador, atendendo assim aos

interesses da coletividade (cf. itens 8 e 9 da Exposição de Motivos 210/MF, de 24

de março de 2000). Eis a razão pela qual a medida provisória deve ser mantida.”

Conclui-se, portanto, que a capitalização de juros vedada pela Lei de

Usura e permitida, desde que pactuada, pela MP 2.170-36, diz respeito às

vicissitudes concretamente ocorridas ao longo da evolução do contrato. Se os

juros pactuados vencerem e não forem pagos, haverá capitalização (anatocismo,

cobrança de juros capitalizados, de juros acumulados, de juros compostos) se

estes juros vencidos e não pagos forem incorporados ao capital para sobre eles

fazer incidir novos juros.

Não se cogita de capitalização, na acepção legal, diante da mera fórmula

matemática de cálculo dos juros. Igualmente, não haverá capitalização ilegal, se

todas as prestações forem pagas no vencimento. Neste caso, poderá haver taxa de

juros exorbitante, abusiva, calculada pelo método simples ou composto, passível

de revisão pelo Poder Judiciário, mas não capitalização de juros.

Pode haver capitalização na evolução da dívida de contrato em que

pactuado o regime de juros simples ou o regime de juros compostos. Isso poderá

ocorrer, entre outras situações, em caso de inadimplência do mutuário, quando

os juros vencidos e não pagos, calculados de forma simples ou composta, forem

incorporados ao capital (saldo devedor) sobre o qual incidirão novos juros.

Com base nas premissas expostas acima e na fundamentação anexa, passo a

sintetizar a conclusão do voto.

Acompanho o voto do relator quanto à primeira das teses postas em seu douto

voto. Penso, todavia, que a redação do enunciado para os efeitos do art. 543-C

do CPC deve espelhar-se no texto legal que a embasa, motivo pelo qual sugiro

a seguinte redação: “É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior

a um ano em contratos celebrados após 31.3.2000, data da publicação da Medida

Provisória n. 1.963-17/00 (em vigor como MP 2.170-01), desde que expressamente

pactuada.”

Em divergência parcial, penso, data vênia, que não confi gura a capitalização

vedada pela Lei de Usura e permitida, desde que pactuada, pela MP 2.170-01,

a previsão expressa no contrato de taxa de juros efetiva superior à nominal

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(sistema de juros compostos, utilizado para calcular a equivalência de taxas de

juro no tempo). Caso, todavia, prevaleça o entendimento de que a mera previsão

contratual de taxa de juros efetiva superior à nominal implica a capitalização

a que se refere a legislação, adiro ao entendimento no sentido da validade da

estipulação, perfeitamente compreensível ao consumidor, notadamente em casos

como o presente de juros prefi xados e prestações idênticas, invariáveis.

A segunda tese que proponho para os efeitos do art. 543-C é, portanto, “A

pactuação mensal dos juros deve vir estabelecida de forma expressa e clara. A previsão

no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é

sufi ciente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada.”

Anoto que, no presente caso, a pretensão deduzida na inicial foi a

de reduzir o próprio valor das 36 prestações acordadas, cuja evolução está

demonstrada no anexo a este voto, ou seja voltou-se o devedor contra a taxa

de juros compostos, especifi cada no contrato e embutida nas prestações fi xas.

Este foi também o fundamento exclusivo do acórdão para reputar presente a

capitalização ilegal de juros. Não demonstrada a abusividade em termos de

mercado, conforme acentuado no voto do Relator, deve ser mantida a taxa

efetiva de juros remuneratórios contratada.

No caso concreto, divergindo parcialmente do relator, voto pela legalidade

do regime de juros compostos adotado expressamente no contrato como

método de cálculo das prestações. Mantenho, portanto, as taxas mensal e

anual contratadas. Não havendo ilegalidade na fase de normalidade contratual,

restabeleço os efeitos da mora.

Acompanho o relator quando à comissão de permanência, cuja cobrança

na fase de inadimplemento não pode ser acumulada com juros remuneratórios,

juros moratórios e multa contratual.

No caso concreto, em síntese, dou provimento ao recurso especial em maior

extensão, restabelecendo os ônus da sucumbência fi xados na sentença, porque

mínima a sucumbência do banco recorrente.

É como voto.

FUNDAMENTAÇÃO ANEXA AO VOTO DO RESP 973.827 - TABELA

PRICE

As prestações sucessivas dos diferentes métodos de amortização abrangem

uma parcela de juros (calculados sobre o saldo devedor atualizado, a qual se

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 135

destina a quitar os juros do período) e outra de amortização, de forma que,

quitada a última delas, o saldo devedor seja igualado a zero.

No caso da Tabela Price, o valor da parcela de juros vai decrescendo, na

medida em que o da parcela de amortização vai crescendo, até fi ndar o prazo do

contrato e o saldo devedor, mantendo-se as prestações mensais durante todo o

contrato no mesmo valor (SOUZA LIMA, Roberto Arruda e NISHIYAMA,

Adolfo Mamoru, “Contratos Bancários - Aspectos Jurídicos e Técnicos da

Matemática Financeira para Advogados”, Editora Atlas S/A, São Paulo: 2007,

p. 140-141; SACAVONE, Luiz Antônio Junior, “Juros no Direito Brasileiro”,

RT, 2007, p. 195; DEL MAR, Carlos Pinto, Aspectos Jurídicos da Tabela Price,

Editora Jurídica Brasileira, 2001, p. 23; RIZZARDO, Arnaldo, “Contratos

de Crédito Bancário”, RT, 9ª edição, p. 143 e PENKUHN, Adolfo Mark,

“A legalidade da Tabela Price, Revista de Direito Bancário do Mercado de

Capitais e da Arbitragem, p. 284). Isso em um ambiente sem infl ação ou caso

a expectativa de infl ação já esteja embutida na taxa de juros, como ocorre no

caso em exame. De igual modo, ocorrerá a quitação da dívida no fi nal do prazo

contratual se o saldo devedor e as prestações forem reajustados pelo mesmo

índice.

O entendimento esposado pelo acórdão recorrido, no sentido de que

dívidas decorrentes contratos em que estabelecida taxa de juros pelo método

composto são ilegais, alcançaria, pelos mesmos fundamentos, os principais

sistemas de amortização adotados internacionalmente e também no Brasil, a

saber, Tabela Price, SACRE (Sistema de Amortização Real Crescente), SAC

(Sistema de Amortização Constante) e SAM (Sistema de Amortização Misto).

Assim, os incontáveis contratos de mútuo e fi nanciamentos contratados

diariamente (antes e depois da MP 2.170-01), por instituições fi nanceiras

e estabelecimentos comerciais diversos, de pequeno ou grande porte, para

as mais diversas fi nalidades do setor produtivo, de longo e de curto prazo,

estariam destinados à invalidade, alterando-se as bases em que celebrados

os contratos, com prejuízo para o contratante de boa-fé, pequeno ou grande

comerciante ou instituição fi nanceira, para planos de aplicação de recursos em

cadernetas de poupança, fundos de investimentos, fundos de previdência, títulos

de capitalização e FGTS, em que a remuneração dos investidores também é

calculada por meio de juros compostos.

No sistema fi nanceiro, em que cada mutuário ou investidor tem contrato

com data-base para o débito ou crédito de juros diversa, sendo o fl uxo de

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

136

recursos (empréstimos e pagamentos, créditos e débitos) diário, a técnica de juros

compostos permite a avaliação consistente de ativos e passivos das instituições e

a comparação entre as taxas de juros praticadas em cada segmento do mercado.

Exemplo elucidativo da amortização de dívida por meio da Tabela Price é

dado por Obed de Faria Junior:

“Assuma você, leitor, que existam economias suas amealhadas com seu

trabalho e das quais você não necessita utilizar-se neste momento e que, seu

vizinho, amigo de longa data, em face de necessidades inesperadas, lhe venha

solicitar um empréstimo de R$ 1.000,00 para ser pago daqui um ano.

Para efeito de simplifi cação é de todo aconselhável que desconsideremos

os efeitos infl acionários porque isto implicaria em utilizar critérios, fórmulas e

cálculos que fugiriam do ânimo de apresentar uma demonstração simplista. (...)

Pois bem, caro leitor, é bastante razoável crer que você não seja um usurário e,

menos ainda, que tente levar vantagens indevidas sobre alguém - que dirá de um

amigo seu de longa data. Contudo, suas economias compõem seu patrimônio e

decorrem do fruto de seu trabalho, razão porque é natural que se estipule alguma

remuneração sobre o empréstimo pretendido.

Portanto, seu senso de justiça indica que a cobrança de juros de 1% (um por

cento) ao mês são módicos, justos e, até onde dita o senso comum no Brasil,

absolutamente legais. Seu vizinho amigo, mutuário nessa relação, concorda

com tais encargos e sugere pagar tudo ao fi nal de um ano, isto é: R$ 1.120,00.

Assim, ele lhe estaria reembolsando o principal de R$ 1.000,00 mais juros de 12%

relativos ao ano em que o capital fi caria emprestado.

Nada impediria que tal ajuste fosse feito nessas bases, entretanto, tanto você

quanto seu amigo têm plena ciência que esse tipo de negócio não é usual.

Afi nal, todas as dividas e obrigações assumidas pelo brasileiro médio - como

você e seu vizinho - são contratadas para serem saldadas em prestações mensais.

Ainda, é lógico acreditar, inclusive, que tais economias estivessem devidamente

aplicadas num Fundo de Investimentos ou Caderneta de Poupança que geram

rendimentos, no mínimo, uma vez por mês. Assim, sua contraproposta é de que

seu vizinho faça amortizações mensais desse empréstimo, de forma que, ao fi nal,

daqui um ano, toda a dívida esteja paga.

O negócio está evoluindo bem e seu amigo concorda com a estipulação de

pagamentos mensais. Assim, ele lhe propõe que, a cada mês e durante doze

meses, pagaria R$ 10,00 (dez reais), que representam exatamente 1% do valor do

empréstimo e, no último vencimento, daqui um ano, saldaria também o principal.

Isso equivaleria aos mesmos R$ 1.120,00, porém, pagos de uma forma mais

razoável, como se a todo mês ele “renovasse” o empréstimo.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 137

Apesar de seu inegável senso de justiça, você entende que mais justo é que

sejam pagos, a cada mês, não só os juros, mas também parcelas do principal

emprestado, o que seu vizinho aceita meio a contragosto, pois afi nal ele precisa

do dinheiro.

Então, você sugere a seu amigo dividir o valor total em doze vezes, isto é R$

1.120,00: 12 meses, o que implicaria em pagamentos mensais de R$ 93,33. Ou

seja, 12 parcelas de 83,33 que representariam os R$ 1.000,00 do empréstimo, mais

12 parcelas de R$ 10,00, que equivaleriam a 1% ao mês sobre o valor emprestado.

Seu vizinho coça a cabeça e, constrangido, lhe informa que tal forma não seria

correta, porque se ele estaria pagando, a cada mês, parte do empréstimo, não

seria justo que pagasse o mesmo valor de juros todo mês sobre o montante total.

A partir disso, ele sugere as 12 parcelas do principal, no caso, R$ 83,33 a cada

mês e, no fi nal os juros sobre elas. Você, obviamente, diz que em princípio isso

seria bom, contudo, não saberia dizer qual o valor dos juros ao fi nal de um ano.

Seu amigo, mais que depressa, toma papel e caneta e faz a seguinte conta:

Hoje, você me empresta 1.000,00

Devolvo daqui 1 mês -83,33 1% -0,83

Devolvo daqui 2 meses -83,33 2% -1,67

Devolvo daqui 3 meses -83,33 3% -2,50

Devolvo daqui 4 meses -83,33 4% -3,33

Devolvo daqui 5 meses -83,33 5% -4,17

Devolvo daqui 6 meses -83,33 6% -5,00

Devolvo daqui 7 meses -83,33 7% -5,83

Devolvo daqui 8 meses -83,33 8% -6,67

Devolvo daqui 9 meses -83,33 9% -7,50

Devolvo daqui 10 meses -83,33 10% -8,33

Devolvo daqui 11 meses -83,33 11% -9,17

Devolvo daqui 12 meses -83,33 12% -10,00

Total da devolução daqui a 1 ano -1.000,00

Pago os juros daqui 12 meses? -65,00

Você olha bem para o cálculo de seu vizinho e, mesmo assim, acha que não

fi cou bom, porque vocês já haviam concordado que ele iria pagar, todo mês,

tanto os juros como parte do empréstimo. O único problema seria que sua conta

de R$ 93,33 todo mês estava errada.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

138

Então, você começa a refazer a conta, considerando que devam ser pagos,

todos os meses, juros e parcelas do valor do empréstimo:

Empréstimo hoje 1.000,00

Juros de 1% 10,00

Pagto. dos juros daqui 1 mês -10,00

Pagto. parte do empréstimo daqui 1 mês -83,33 -93,33 1º Pagto.

Saldo 916,67

Juros de 1% 9,17

Pagto. dos juros daqui 2 meses -9,17

Pagto. parte do empréstimo daqui 2 meses -83,33 -92,50 2º Pagto.

Saldo 833,34

Juros de 1% 8,33

Pagto. dos juros daqui a 3 meses -8,33

Pagto. parte do empréstimo daqui 3 meses -83,33 -91,66 3º Pagto.

Saldo 750,01

Juros de 1% ...

Seu vizinho interrompe seu cálculo e diz que os valores mensais de juros que

você está calculando são iguais aos que ele havia calculado, só que “de trás para

frente”. Portanto, seguindo tal raciocínio, os valores das parcelas que você estaria

calculando seriam:

Hoje, você me empresta 1.000,00

Devolvo daqui 1 mês -83,33 -10,00 -93,33

Devolvo daqui 2 meses -83,33 -9,17 -92,50

Devolvo daqui 3 meses -83,33 -8,33 -91,66

Devolvo daqui 4 meses -83,33 -7,50 -90,83

Devolvo daqui 5 meses -83,33 -6,67 -90,00

Devolvo daqui 6 meses -83,33 -5,83 -89,16

Devolvo daqui 7 meses -83,33 -5,00 -88,33

Devolvo daqui 8 meses -83,33 -4,17 -87,50

Devolvo daqui 9 meses -83,33 -3,33 -86,67

Devolvo daqui 10 meses -83,33 -2,50 -85,84

Devolvo daqui 11 meses -83,33 -1,67 -85,01

Devolvo daqui 12 meses -83,33 -0,83 -84,17

Total da devolução daqui a 1 ano -1.000,00 -65,00 -1.065,00

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 139

Então os amigos parecem ter chegado a um consenso, pois desta forma, você

receberia todos os meses os juros e parcelas proporcionais do empréstimo e seu

vizinho desembolsaria, ao fi nal, os mesmos R$ 65,00 de juros calculados por ele

próprio.

Contudo, apesar da concordância, ambos entendem que melhor seria se todas

as parcelas tivessem o mesmo valor todos os meses, para facilitar o controle dos

pagamentos e recebimentos.

Nesse ponto, você e seu amigo começam a confabular para encontrar uma

solução que seja adequada. No verso daquele papel relacionam as contas que

fi zeram até então:

Todo o empréstimo daqui um ano 1.000,00

+ Juros sobre tudo daqui um ano 120,00

Total 1.120,00

Todo o empréstimo daqui um ano 1.000,00

+ 12 parcelas de juros de R$ 10,00 120,00

Total 1.120,00

Tudo dividido em 12 x R$ 93,33 1.120,00

(esse está errado)

O empréstimo em 12 x R$ 83,33 1.000,00

+ Juros sobre tudo daqui um ano 65,00

Total 1.065,00

Tudo em 12 parcelas de valores diferentes

(93,33;92,50; ...) 1.065,00

Você e seu vizinho já estão quase fechando o negócio, porém, não chegam a

um valor que seja idêntico todos os meses e que satisfaça o interesse de ambos.

Seu vizinho, entretanto, vai buscar em casa um velho livro de matemática

fi nanceira que ele utilizou no “colegial” e que possui várias tabelas no apêndice.

Lá, você localiza uma tal de “Tabela Price” onde identifi ca:

(...)

Diante disso, seu amigo faz o novo cálculo:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

140

Valor do empréstimo = R$1.000,00

Taxa de juros = 12% a.a.

Número de prestações = 12

Fator da TP = 0,088849

Valor da prestação:

R$1.000,00 x 0,088849 = R$ 88,85

Tudo dividido em 12 x R$ 88,85 = 1.066,20

Você não fi ca muito convencido e questiona seu amigo porque o resultado,

afi nal, não seria muito mais do que o R$ 83,33 por mês que, inclusive com os juros,

haviam totalizado R$ 1.065,00 no outro cálculo anterior. Ele, entretanto, diz que

o cálculo com o qual vocês concordaram também alcançava a cifra total de R$

1.065,00 e dessa forma, também não chegaria aos R$ 1,120,00 daquela conta que

você mesmo havia reconhecido que estava errada.

Diante disso - e pondo um ponto fi nal nas tratativas - os valores das prestações

e do total de pagamentos foram aceitos como corretos por ambos, porque se

situaram num nível intermediário e aparentemente razoável. Assim, o negócio

foi fechado nessa forma: você entregou os R$ 1.000,00 a seu amigo e ele se

comprometeu a pagar 12 prestações mensais de R$ 88,85.

Entretanto, dias depois, após ter pego o dinheiro e utilizado para o que

necessitava, seu amigo retornou até sua casa e lhe disse que não iria mais pagar

os R$ 88,85 por mês, porque ele leu em algum lugar que a Tabela Price seria

ilegal e que você estaria abusando da situação de necessidade em que ele se

encontrava.

E você, que sempre agiu dentro da maior honestidade, fi cou espantado com a

reação de seu amigo, que lhe pediu um favor, concordou com todas as condições

no momento de tomar o empréstimo e, depois, veio alegando que não iria pagar

o combinado porque teria sido enganado.

Por certo, uma amizade de longo tempo vale mais que R$ 1.000,00. Entretanto,

o que é certo é certo! Perguntou você a seu amigo qual a alternativa que ele

encontrava para o pagamento da dívida. Ele, cheio de brios, invocou parâmetros

mais justos como são utilizados por povos mais adiantados do que o brasileiro.

Assim, sugeriu que fossem buscadas na “Internet” fórmulas de cálculo dentro de

parâmetros americanos ou europeus.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 141

Assim, foram ambos a frente do computador e lá, após pesquisarem alguns

dicionários virtuais, descobriram os seguintes termos em outros idiomas para

fazer uma busca:

“Loan payment calculator” - em inglês

“Calcul dámortissement fi nancier” - em francês

“Calcolo rata di mutuo” - em italiano

“Calculadora de prestamo” - em espanhol; e

“Anleihe kalkulation” - em alemão.

A tela multicolorida do computador começou a retornar páginas que

continham calculadoras virtuais de fi nanciamentos e empréstimos, tanto nos

Estados Unidos da América como na Europa. Obviamente, foram inseridas as

informações dos empréstimos combinado, para aferir-se o resultado. O que se

descobriu, ao fi nal de tal busca, foi que:

- em outros países, assim como no Brasil, é perfeitamente possível ajustar

amortizações parciais ou liquidação antecipada de mútuos o que, em si, reduz o

valor das parcelas e dos juros pagos;

- as taxas de juros praticadas em economias mais sólidas que a do Brasil são

inferiores do que as que aqui se praticam; e

- quando o interesse do mutuário é pagar prestações de valor igual durante

todo o período de empréstimo, sem nenhuma amortização parcial, o resultado

da conta é absolutamente igual ao do cálculo feito com base na Tabela Price.” (“Da

inocorrência do anatocismo na Tabela Price: uma análise técnico-jurídica”, texto

extraído do Jus Navegandi)

No caso concreto em exame no REsp 973.827-RS, o valor do fi nanciamento

foi de R$ 7.076,02 (R$ 6.980,00 mais R$ 96,02 do IOF), com taxa mensal de

3,16000% e taxa anual efetiva de 45,25664% expressamente consignadas no

contrato (conforme consta do acórdão recorrido). O pagamento foi acordado

em 36 prestações fi xas e iguais (fato incontroverso afi rmado na inicial e na

contestação), estabelecidas no contrato no valor de R$ 331,83, o que indica

que o método de amortização adotado foi a Tabela Price, cuja característica

é, precisamente, possibilitar o pagamento de prestações iguais de amortização

e juros, fi cando quitada a dívida com o pagamento da última prestação. O

esquema abaixo simula a evolução das prestações, mês a mês, em situação de

adimplemento contratual:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

142

DataNum.

PrestaçãoJuros Amortização Prestação Saldo Devedor

21-jul-03 - - - - 7.076,02

21-ago-03 1 223,60 108,29 331,89 6.967,73

21-set-03 2 220,18 111,71 331,89 6.856,02

21-out-03 3 216,65 115,24 331,89 6.740,78

21-nov-03 4 213,01 118,88 331,89 6.621,89

21-dez-03 5 209,25 122,64 331,89 6.499,25

21-jan-04 6 205,38 126,52 331,89 6.372,73

21-fev-04 7 201,38 130,51 331,89 6.242,22

21-mar-04 8 197,25 134,64 331,89 6.107,58

21-abr-04 9 193,00 138,89 331,89 5.968,69

21-mai-04 10 188,61 143,28 331,89 5.825,41

21-jun-04 11 184,08 147,81 331,89 5.677,60

21-jul-04 12 179,41 152,48 331,89 5.525,12

21-ago-04 13 174,59 157,30 331,89 5.367,82

21-set-04 14 169,62 162,27 331,89 5.205,55

21-out-04 15 164,50 167,40 331,89 5.038,15

21-nov-04 16 159,21 172,69 331,89 4.865,46

21-dez-04 17 153,75 178,14 331,89 4.687,32

21-jan-05 18 148,12 183,77 331,89 4.503,55

21-fev-05 19 142,31 189,58 331,89 4.313,97

21-mar-05 20 136,32 195,57 331,89 4.118,40

21-abr-05 21 130,14 201,75 331,89 3.916,64

21-mai-05 22 123,77 208,13 331,89 3.708,52

21-jun-05 23 117,19 214,70 331,89 3.493,81

21-jul-05 24 110,40 221,49 331,89 3.272,33

21-ago-05 25 103,41 228,49 331,89 3.043,84

21-set-05 26 96,19 235,71 331,89 2.808,13

21-out-05 27 88,74 243,16 331,89 2.564,98

21-nov-05 28 81,05 250,84 331,89 2.314,14

21-dez-05 29 73,13 258,77 331,89 2.055,37

21-jan-06 30 64,95 266,94 331,89 1.788,43

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 143

21-fev-06 31 56,51 275,38 331,89 1.513,05

21-mar-06 32 47,81 284,08 331,89 1.228,97

21-abr-06 33 38,84 293,06 331,89 935,91

21-mai-06 34 29,57 302,32 331,89 633,60

21-jun-06 35 20,02 311,87 331,89 321,73

21-jul-06 36 10,17 321,73 331,89 0,00

Verifica-se, do esquema acima, que os juros sempre incidem sobre o

saldo devedor do mês anterior, não havendo incorporação de juros ao capital.

Por exemplo: ao fi nal do primeiro mês, sobre o valor inicial de R$ 7.076,02 x

3,16% a.m, temos juros de R$ 223,60. Como a prestação foi de R$ 331,89, a

diferença, R$ 108,29 foi amortizada na dívida, resultando em saldo devedor de

R$ 6.967,73. Ao fi nal do 2º mês, sobre o capital (saldo devedor do mês anterior),

R$ 6.967,73, incidiram juros de 3,16% a.m no valor de R$ 220,18, sendo

amortizado o valor de R$ 111,71. Novamente os juros incidiram apenas sobre

o capital e, assim, sucessivamente, o valor da quota de juros foi decrescendo e o

da amortização aumentando, até que, na 36ª prestação (R$ 10,17 de juros e R$

321,73 de amortização, perfazendo a prestação fi xa de R$ 331,89), foi quitada

integralmente a dívida.

A capitalização de juros somente ocorrerá, no caso concreto em exame,

em face do inadimplemento do devedor, se o credor fi zer incidir novos juros

remuneratórios sobre o valor dos juros vencidos e não pagos (embutidos estes

nas prestações não pagas no vencimento).

Diversamente, em contratos de longa duração, em que as prestações são

contratualmente sujeitas a índice de correção diferente do índice adotado

para a correção monetária do saldo devedor, como é o caso dos contratos de

fi nanciamento habitacional celebrados no âmbito do sistema fi nanceiro da

habitação, é frequente a situação em que o valor da prestação mensal deixa, ao

longo do contrato, de ser sufi ciente para o pagamento dos juros do período.

Acontecerá, então, a capitalização vedada pela Lei de Usura, a qual somente

passou a ser admitida, no SFH, com a entrada em vigor da Lei 11.977/2009. O

anatocismo é, todavia, consequência não da fórmula matemática da Tabela Price,

utilizada para o cálculo da prestação inicial do contrato, mas do descompasso

entre os índices de correção das prestações (salário do mutuário) e do saldo

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devedor (TR), no curso da evolução do contrato. Neste caso, a solução que vem

sendo preconizada pela jurisprudência, inclusive do STJ, é a contagem dos juros

vencidos em conta separada, sobre a qual incide apenas a correção monetária (cf,

entre outros, AgRg no REsp 954113 / RS, Rel. Ministra DENISE ARRUDA,

1ª Turma, pub. DJe 22/09/2008).

Neste ponto, registro que trabalhos de autoria do já citado Teotonio Costa

Rezende dão conta da ampla utilização da Tabela Price nos sistemas jurídicos de

diversos países (Estados Unidos, Canadá, França, Espanha, Portugal, México,

Uruguai, Argentina, Chile, Colômbia), com destaque para o caso da Colômbia,

onde o Poder Judiciário proibiu a capitalização de juros em qualquer período,

quando se trata de crédito imobiliário, porém adotou a Tabela Price (com o

nome de Sistema de Amortización Gradual ou Sistema de Cuota Constante)

como sistema-padrão exatamente por considerar que tal sistema de amortização

não contempla capitalização de juros (“Sistemas de amortização e retorno do

capital” e “Lei de Usura, Tabela Price e capitalização de juros”, publicados na

Revista do Sistema Financeiro Imobiliário, n. 32 e 33, nov. 2010 e abr. 2011,

respectivamente).

Por fi m, lembro o esforço de Roberto Arruda de Souza Lima e Adolfo

Mamoru Nishiyama, após ressaltar o amplo emprego do Sistema Francês

de Amortização no Brasil, tanto por instituições fi nanceiras (empréstimos

e fi nanciamentos), quanto no comércio (vendas parceladas), ao justifi car a

procura por um sistema de amortização não concebido mediante o uso de juros

compostos, em substituição à Tabela Price, cuja legalidade no sistema jurídico

pátrio é questionada:

“Não se trata de buscar redução nas taxas de juros, pois os juros são

determinados pelo mercado. Uma metodologia com juros simples implicaria ou

na alteração das taxas pactuadas (para fi carem equivalentes às taxas compostas)

ou no processo de embutir juros ao preço. Em ambos, o resultado fi nanceiro é o

mesmo, mas com grande diferença de ser estritamente legal (SCAVONE-JÚNIOR,

1999).

(...)

Não é uma tarefa fácil obter uma fórmula que, dado o valor de principal (P),

juros (i) e o número de prestações (n), resulte em:

- Prestações (PMT) iguais (de valores constantes);

- a soma do valor presente, calculado pelo método dos juros simples, de todas as

prestações (PMT), seja igual ao principal (P).” (ob. citada, p. 141-152)

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 145

E, após elaborar cálculos complexos, propõe uma fórmula acoplada a uma

tabela, ressalvando:

“A utilização da tabela possui limitações, sendo a mais evidente a

impossibilidade de prever todas as possíveis combinações de taxas de juros e

número de prestações. E, nesse caso, a solução é realizar o cálculo para o caso

específi co, ou utilizar uma aproximação do valor correto da prestação.” (ob. citada,

p. 152)

Não me parece, data maxima vênia, favorável aos direitos do consumidor,

ao princípio da transparência e à segurança jurídica, proscrever a Tabela Price,

método amplamente adotado, há séculos, no mercado brasileiro e mundial,

substituindo-a por fórmula desconhecida, insatisfatória, conforme reconhecido

pelos esforçados autores que a conceberam, em nome de interpretação

meramente literal e assistemática da Lei de Usura.

VOTO-VOGAL

O Sr. Ministro Raul Araújo: Sr. Presidente, no caso, noto que o próprio

Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, examinando o contrato, considerou

sufi ciente a menção às taxas, porque diz: “O exame do contrato mostra que foram

pactuados juros de 3,16% a.m. e de 45,25664% a.a., o que demonstra a prática de

cobrança de juros sobre juros mensalmente.”

Quer dizer, o Tribunal também entendeu que não há difi culdade alguma

em, fazendo-se o comparativo entre taxa mensal e taxa anual, constatar-se a

existência de juros compostos.

Agora, o que esse voto denso, técnico, científi co da Sra. Ministra Isabel

Gallotti traz de fundamental é que nos convida a encerrarmos o erro defi nitivo

que cometemos, que é um erro conceitual, de denominar de capitalização o que

não é; o que é, na verdade, apenas juros compostos.

Os juros compostos estão previstos em todos os contratos bancários,

sabemos. E o que é capitalização, que sempre tratamos como se fosse o mesmo

que juros compostos? Capitalização é: “Em face da ausência de pagamento,

a incidência de novos juros, juros novos, sobre aqueles juros já computados

em razão da pactuação dos juros compostos.” Isso é que é capitalização,

cientifi camente, um conceito primoroso que nos traz, amparada em doutrina

fundamental, a eminente Ministra Isabel Gallotti.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Sr. Presidente, para mim, é sufi ciente.

Estou aderindo ao brilhante, judicioso e científico voto da eminente

Ministra Isabel Gallotti, com a devida vênia do eminente Relator, Ministro Luis

Felipe Salomão.

VOTO

O Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino: Sr. Presidente, com a vênia

da Sra. Ministra Isabel Gallotti, acompanho o voto do Sr. Ministro Luis Felipe

Salomão, Relator.

VOTO

O Sr. Ministro Antonio Carlos Ferreira: Sr. Presidente, com a devida vênia

do Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, estou aderindo à proposta da Sra.

Ministra ISABEL GALLOTTI.

VOTO

O Sr. Ministro Marco Buzzi: Acompanho a Sra. Ministra Isabel Gallotti.

Ministro Marco Buzzi

Ministro

Presidente o Sr. Ministro Sidnei Beneti

Relator o Sr. Ministro Luis Felipe Salomão

Segunda Seção - Sessão de Julgamento 27/06/2012

RATIFICAÇÃO DE VOTO

O Sr. Ministro Luis Felipe Salomão: 1. A eminente Ministra Isabel

Gallotti inaugurou a divergência acerca da matéria trazida ao exame da Segunda

Seção, sob o regime dos recursos repetitivos, ínsito no art. 543-C do Código de

Processo Civil, relativa à capitalização mensal de juros nos contratos bancários e

sua pactuação expressa.

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RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 147

2. No tocante à forma de convenção, a ilustre colega consignou:

Em divergência parcial, penso, data vênia, que não confi gura a capitalização

vedada pela Lei de Usura e permitida, desde que pactuada, pela MP 2.170-01,

a previsão expressa no contrato de taxa de juros efetiva superior à nominal

(sistema de juros compostos, utilizado para calcular a equivalência de taxas de

juro no tempo). Caso, todavia, prevaleça o entendimento de que a mera previsão

contratual de taxa de juros efetiva superior à nominal implica a capitalização

a que se refere a legislação, adiro ao entendimento do Ministro Raul Araújo no

sentido da validade da estipulação, perfeitamente compreensível ao consumidor,

notadamente em casos como o presente de juros prefi xados e prestações idênticas,

invariáveis (fl . 22).

Em contrapartida, alguns trechos do voto divergem do ponto em que

acompanha o entendimento do Ministro Raul (que considera presente a

expressa pactuação de capitalização mensal, quando constam do contrato as

taxas mensal e anual de juros, e esta é superior ao duodécuplo daquela). São eles:

Neste ponto, assinalo que o art. 5º da Medida Provisória 1.963-17/00 tornou

admissível nas operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema

Financeiro Nacional “a pactuação de capitalização de juros com periodicidade

inferior a um ano”; vale dizer, no contrato bancário poderá ser pactuada a

capitalização semestral, trimestral, mensal, diária, contínua, etc. O intervalo da

capitalização deverá ser expressamente defi nido pelas partes do contrato (fl . 4).

[...]

O meu pedido de vista foi a tese assim sintetizada no item 3.6, alínea b, do voto

do relator ‘a pactuação mensal dos juros deve vir estabelecida de forma expressa,

portanto, é necessário que o contrato seja transparente e claro o suficiente

a ponto de cumprir o dever de informação previsto no Código de Defesa do

Consumidor’

Não tenho dúvida alguma em aderir às premissas tão bem expostas pelo

relator, amparado na doutrina de Cláudia Lima Marques, Rizzato Nunes e Paulo

de Tarso Sanseverino, acerca da absoluta necessidade de que o contrato bancário

seja transparente, claro, redigido de forma que o consumidor, leigo, vulnerável

não apenas economicamente, mas sobretudo sem experiência e conhecimento

econômico, contábil, fi nanceiro, entenda, sem esforço ou difi culdade alguma,

o conteúdo, o valor e a extensão das obrigações assumidas. A pactuação de

capitalização de juros deve ser expressa. A taxa de juros deve estar claramente

defi nida no contrato. A periodicidade da capitalização também. Sobretudo, não deve

pairar dúvida alguma acerca do valor da dívida, dos prazos para pagamento e dos

encargos respectivos (fl s. 4/5).

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Contudo, em sentido oposto a essa última assertiva, salienta em outro

excerto:

Pode o contrato informar a taxa anual nominal, esclarecendo que ela (a taxa)

será capitalizada mensalmente; ou optar por consignar a taxa efetiva anual e a taxa

mensal nominal a ela correspondente (fl . 13).

Mais adiante, em contraste com o posicionamento acima (e na trilha

dos entendimentos destacados anteriormente a este último trecho transcrito),

pondera:

Por outro lado, se constasse do contrato em exame, além do valor das prestações,

da taxa mensal e da taxa anual efetiva, também cláusula estabelecendo “os

juros vencidos e devidos serão capitalizados mensalmente”, ou ‘fica pactuada a

capitalização mensal de juros’, por exemplo, como passou a ser admitido pela

MP 2.170-36, a consequência para o devedor não seria a mera validação da

taxa de juros efetiva expressa no contrato e embutida nas prestações fi xas. Tal

pactuação signifi caria que, não paga determinada prestação, sobre o valor total dela

(no qual estão incluídos os juros remuneratórios contratados) incidiriam novos juros

remuneratórios a cada mês, ou seja, haveria precisamente a incidência de juros sobre

juros vencidos e não pagos incorporados ao capital (capitalização ou anatocismo),

prática esta vedada pela Lei de Usura em intervalo inferior a um ano e atualmente

permitida apenas em face de prévia, expressa e clara previsão contratual (fl . 20).

Portanto, no que se refere à pactuação expressa da capitalização mensal,

o voto, com a mais respeitável vênia, não me parece coeso, pois em seu bojo

apresenta dissonâncias.

3. A respeito do assunto, reitero o entendimento de que as cláusulas do

contrato fi rmado entre as partes (regido pelo Código de Defesa do Consumidor-

CDC) devem ser claras e transparentes, de modo a possibilitar ao consumidor

pleno conhecimento das obrigações assumidas.

As regras do mencionado codex servem de diretrizes para se aferir a

presença ou não de pactuação expressa acerca da capitalização mensal, permitida

nos contratos bancários fi rmados após 31/3/2000.

A meu sentir, a mera existência de discriminação da taxa mensal e da

taxa anual de juros, sendo esta superior ao duodécuplo daquela, não confi gura

estipulação expressa de capitalização mensal, pois há ausência da clareza e

transparência indispensáveis à compreensão do consumidor hipossufi ciente,

parte vulnerável na relação jurídica.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 79-149, novembro 2017 149

4. Há de se ressaltar, ainda, que, em recente julgamento realizado

pela Terceira Turma desta Corte, no REsp 1.302.738/SC, sufragou-se, por

unanimidade, o entendimento de que a especifi cação, no contrato bancário, da

taxa mensal de juros e da taxa anual de juros, não confi gura informação capaz

de, por si só, representar pactuação expressa de capitalização mensal de juros. O

acórdão então elaborado recebeu a seguinte ementa:

CIVIL. BANCÁRIO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE REVISÃO CONTRATUAL.

CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. CONTRATAÇÃO EXPRESSA. NECESSIDADE DE

PREVISÃO. DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA.

1. A contratação expressa da capitalização de juros deve ser clara, precisa e

ostensiva, não podendo ser deduzida da mera divergência entre a taxa de juros anual

e o duodécuplo da taxa de juros mensal.

2. Reconhecida a abusividade dos encargos exigidos no período de

normalidade contratual, descaracteriza-se a mora.

3. Recurso especial não provido (Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em

3/5/2012, DJe de 10/5/2012 - grifos nossos).

5. Essas são as considerações que reputo importante relevar e que me

levam a manter o voto já apresentado.

6. Ante o exposto, ratifico o voto anteriormente proferido, em sua

integralidade.

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Súmula n. 542

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SÚMULA N. 542

A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência

doméstica contra a mulher é pública incondicionada.

Referência:

Lei n. 11.340/2006.

Precedentes:

HC 242.458-DF (5ª T, 11.09.2012 – DJe 19.09.2012)

AgRg no AREsp 40.934-DF (5ª T, 13.11.2012 – DJe 23.11.2012)

AgRg no REsp 1.339.695-GO (5ª T, 05.02.2013 – DJe 15.02.2013)

AgRg no HC 201.307-AL (5ª T, 05.09.2013 – DJe 10.09.2013)

RHC 45.444-MG (5ª T, 08.05.2014 – DJe 20.05.2014)

AgRg no REsp 1.333.935-MS (6ª T, 04.06.2013 – DJe 20.06.2013)

AgRg no REsp 1.406.625-RJ (6ª T, 10.12.2013 – DJe 17.12.2013)

AgRg no REsp 1.358.215-MG (6ª T, 04.09.2014 – DJe 19.09.2014)

RHC 42.228-SP (6ª T, 09.09.2014 – DJe 24.09.2014) –

acórdão publicado na íntegra

AgRg no REsp 1.442.015-MG (6ª T, 20.11.2014 – DJe 12.12.2014)

Terceira Seção, em 26.8.2015

DJe 31.8.2015

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RECURSO EM HABEAS CORPUS N. 42.228-SP (2013/0366065-9)

Relatora: Ministra Maria Th ereza de Assis Moura

Recorrente: Edilton Gabriel dos Santos

Advogados: Francisco de Paula Bernardes Júnior

Victoria Pereira da Silva de Almeida Braga

Recorrido: Ministério Público do Estado de São Paulo

EMENTA

PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO ORDINÁRIO

EM HABEAS CORPUS. POSSE IRREGULAR DE ARMA

DE FOGO DE USO PERMITIDO. LESÃO CORPORAL E

AMEAÇA. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. LEI MARIA DA

PENHA. AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA. ADI

N. 4424/DF. EFEITOS EX TUNC. NÃO PROVIMENTO.

1. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI 4.424/

DF, em 09/02/2012, conferiu interpretação conforme à Constituição

ao art. 41 da Lei 11.340/06, para assentar a natureza incondicionada

da ação penal em caso de crime de lesão corporal praticado mediante

violência doméstica e familiar contra a mulher.

2. Não tendo o Excelso Pretório realizado a modulação dos

efeitos daquele julgamento, nos termos do art. 27 da Lei n. 9.868/1999,

aplica-se ao caso a regra segundo a qual a decisão, além de ter efi cácia

erga omnes, tem efeitos retroativos (ex tunc), aplicando-se aos casos

ocorridos anteriormente ao à prolação do referido aresto.

3. Recurso ordinário a que se nega provimento.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça: A Sexta

Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso, nos termos do voto da

Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Sebastião Reis Júnior (Presidente),

Rogerio Schietti Cruz e Nefi Cordeiro votaram com a Sra. Ministra Relatora.

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Ausente, justificadamente, a Sra. Ministra Marilza Maynard

(Desembargadora Convocada do TJ/SE).

Brasília (DF), 09 de setembro de 2014 (data do julgamento).

Ministra Maria Th ereza de Assis Moura, Relatora

DJe 24.9.2014

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Maria Thereza de Assis Moura: Trata-se de recurso

ordinário em habeas corpus interposto por EDILTON GABRIEL DOS

SANTOS, contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (HC

n. 0016152-75.2013.8.26.0000).

Consta dos autos que o recorrente foi denunciado pela prática dos crimes

tipifi cados no art. 129, § 9º, e art. 147, c.c. art. 61, II, alínea f, do Código Penal,

contra sua companheira, em concurso material com o art. 12 da Lei 10.826/03.

Inconformada, a defesa impetrou prévio writ perante o Tribunal de origem,

que denegou a ordem, verbis:

EDILTON GABRIEL DOS SANTOS foi autuado em flagrante e denunciado

por infração aos delitos supra referidos, pois, em 15.10.2011, teria ofendido a

integridade corporal e a saúde de sua companheira, Soraia Maria dos Santos,

causando-lhe lesões corporais. Ainda, porque a teria ameaçado, por palavras e

gestos, de causar-lhe mal injusto e grave. Também, porque possuía e mantinha

sob sua guarda, dentro de sua residência, um revólver Taurus, calibre 38, de

uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou

regulamentar (fl s. 15/17).

Pretende a impetração o trancamento da ação penal quanto aos crimes de

lesão corporal e ameaça.

A ordem não pode ser concedida.

Inicialmente, cumpre esclarecer que esta relatoria tinha entendimento no

sentido de que, em casos de lesão corporal leve, praticada no âmbito das relações

domésticas, a ação penal seria pública condicionada, pois o artigo 16, da Lei n.

11.340/06, ao prever que a retratação à representação só pode ser feita em Juízo,

demonstrou que a necessidade de representação da ofendida para a ação penal

foi mantida, incluindo o disposto no artigo 88, da Lei n. 9.099/95, uma vez que

não estabeleceu qualquer exceção.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 151-163, novembro 2017 157

Além disso, considerava-se o aspecto social da exigência da representação

da ofendida, que permite à vítima exercer a faculdade de não dar continuidade

à persecução criminal que apenas viria a conturbar ainda mais o ambiente

doméstico e atrapalhar eventual reconciliação.

Contudo, o julgamento da ADI 4.424/DF, em 9.2.2012, assentou “a natureza

incondicionada da ação penal em caso de crime de lesão, pouco importando a

extensão desta, praticado contra a mulher no ambiente doméstico”, passando a

orientar decisões nesse sentido das Nossas Cortes Superiores.

Ao decidir a Reclamação n. 15.309/SP, a ilustre Ministra Rosa Weber consignou

que “a propositura da ação penal por crime de lesão corporal no ambiente

doméstico não está condicionada à representação da vitima, nem a posterior

retratação tem qualquer efeito processual”. E prosseguiu, afi rmando que “não

tem lugar o argumento de que a decisão do Supremo não poderia retroagir

para atingir a retratação ou os crimes praticados anteriormente. O Supremo é

interprete da lei, e não legislador. O julgado acima referido apenas revelou o

melhor Direito aplicável, sem inovar na esfera normativa’7.

Assim, o posicionamento desta Relatoria foi revisto para adequar-se à

orientação do Colendo Supremo Tribunal Federal.

Dessa forma, tratando-se de ação penal pública incondicionada, não há que se

falar em trancamento do processo em tela quanto aos crimes de lesão corporal e

ameaça descritos na denúncia.

E, no caso ora em análise, verifi ca-se que, na data dos fatos, a ofendida ofertou

representação perante a autoridade policial (fls. 22). Concluído e relatado o

inquérito policial em 21.10.2011 (fls. 47/48), a denúncia foi oferecida em

28.10.2011 (fl s. 51). Em 3.11.2011, a peça inicial foi recebida (fl s. 52), mesma data

em que a defesa despachou petição requerendo a reconsideração da decisão

que converteu a prisão em fl agrante em preventiva, com concessão da liberdade

provisória (fl s. 53), que foi instruída com a retratação da vítima, também datada

de 3.11.2011.

Diante de tal quadro, ainda que se entendesse tratar-se de ação penal

pública condicionada à representação, que poderia ser retratada até a data do

recebimento da denúncia, verifi ca-se que este não foi o caso, tendo em vista que

a retratação e a decisão que recebeu a peça inicial ocorreram na mesma data, não

tendo aquela precedido esta como afi rmado pela combativa defesa.

E, diante de tal quadro, não há vício decorrente da não designação da

audiência prevista no artigo 16 da Lei 11.340/06, eis que não teria qualquer efeito

a retratação eventualmente ofertada em tal ato.

Não há que se falar também em inaplicabilidade dos efeitos do julgamento

da ADI 4.424/DF ao caso em tela, pois, como já visto e afi rmado em decisões do

Colendo Supremo Tribunal Federal, tal julgamento não se tratou de inovação

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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legislativa, impossível de retroagir em prejuízo do acusado, mas somente de

interpretação das normas já existentes na data dos fatos ora em análise.

Neste contexto, não há que se falar em trancamento da ação penal.

Ante o exposto, denega-se a ordem pleiteada. (fl s. 245-256).

Daí o presente recurso, no qual a defesa sustenta a inaplicabilidade dos

efeitos da ADI 4.424/DF, cuja publicação ocorreu em data posterior aos fatos

em apreço.

Informa que “a retratação da ofendida, protocolizada no dia 03.11.11,

contendo a petição de juntada despacho proferido pelo magistrado de primeiro

grau, foi realizada anteriormente ao recebimento da denúncia, que ocorreu cinco

dias após, em 08.11.11 (fl . 263).

Assevera que “com arrimo em jurisprudência desse Colendo Superior

Tribunal de Justiça e sólida doutrina colacionada, a decisão do Pretório Excelso,

nos autos da ADI-4.424/DF, não deve estender seus efeitos ao caso em tela,

devendo a respectiva ação penal em curso contra o Paciente ser parcialmente

trancada, eis que ausente condição essencial de procedibilidade” (fl . 273).

Requer o trancamento parcial da Ação Penal n. 271.01.2011.010062-0 em

trâmite na Primeira Vara Criminal de Itapevi/SP.

O Ministério Público Federal apresentou parecer, fl s. 290-292, da lavra do

Subprocurador-Geral da República Carlos Eduardo de Oliveira Vasconcelos,

opinando pelo não provimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

A Sra. Ministra Maria Th ereza de Assis Moura (Relatora): O Supremo

Tribunal Federal, no julgamento da ADI 4.424/DF, em 09/02/2012, conferiu

interpretação conforme à Constituição ao art. 41 da Lei 11.340/06, para assentar

a natureza incondicionada da ação penal em caso de crime de lesão corporal

praticado mediante violência doméstica e familiar contra a mulher.

Confira-se, por oportuno, trecho do informativo n. 654 do STF, que

noticiou a referida decisão:

Em seguida, o Plenário, por maioria, julgou procedente ação direta, proposta

pelo Procurador Geral da República, para atribuir interpretação conforme a

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 151-163, novembro 2017 159

Constituição aos artigos 12, I; 16 e 41, todos da Lei 11.340/2006, e assentar a natureza

incondicionada da ação penal em caso de crime de lesão corporal, praticado

mediante violência doméstica e familiar contra a mulher. Preliminarmente, afastou-

se alegação do Senado da República segundo a qual a ação direta seria imprópria,

visto que a Constituição não versaria a natureza da ação penal – se pública

incondicionada ou pública subordinada à representação da vítima. Haveria,

conforme sustentado, violência refl exa, uma vez que a disciplina do tema estaria

em normas infraconstitucionais. O Colegiado explicitou que a Constituição seria

dotada de princípios implícitos e explícitos, e que caberia à Suprema Corte defi nir

se a previsão normativa a submeter crime de lesão corporal leve praticado contra

a mulher, em ambiente doméstico, ensejaria tratamento igualitário, consideradas

as lesões provocadas em geral, bem como a necessidade de representação.

Salientou-se a evocação do princípio explícito da dignidade humana, bem como

do art. 226, § 8º, da CF. Frisou-se a grande repercussão do questionamento, no

sentido de defi nir se haveria mecanismos capazes de inibir e coibir a violência

no âmbito das relações familiares, no que a atuação estatal submeter-se-ia à

vontade da vítima. No mérito, evidenciou-se que os dados estatísticos no tocante

à violência doméstica seriam alarmantes, visto que, na maioria dos casos em

que perpetrada lesão corporal de natureza leve, a mulher acabaria por não

representar ou por afastar a representação anteriormente formalizada. A respeito,

o Min. Ricardo Lewandowski advertiu que o fato ocorreria, estatisticamente, por

vício de vontade da parte dela. Apontou-se que o agente, por sua vez, passaria

a reiterar seu comportamento ou a agir de forma mais agressiva. Afi rmou-se

que, sob o ponto de vista feminino, a ameaça e as agressões físicas surgiriam,

na maioria dos casos, em ambiente doméstico. Seriam eventos decorrentes de

dinâmicas privadas, o que aprofundaria o problema, já que acirraria a situação de

invisibilidade social. Registrou-se a necessidade de intervenção estatal acerca do

problema, baseada na dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III), na igualdade

(CF, art. 5º, I) e na vedação a qualquer discriminação atentatória dos direitos e

liberdades fundamentais (CF, art. 5º, XLI). Reputou-se que a legislação ordinária

protetiva estaria em sintonia com a Convenção sobre a Eliminação de Todas

as Formas de Violência contra a Mulher e com a Convenção de Belém do Pará.

Sob o ângulo constitucional, ressaltou-se o dever do Estado de assegurar a

assistência à família e de criar mecanismos para coibir a violência no âmbito de

suas relações. Não seria razoável ou proporcional, assim, deixar a atuação estatal

a critério da vítima. A proteção à mulher esvaziar-se-ia, portanto, no que admitido

que, verifi cada a agressão com lesão corporal leve, pudesse ela, depois de acionada

a autoridade policial, recuar e retratar-se em audiência especifi camente designada

com essa fi nalidade, fazendo-o antes de recebida a denúncia. Dessumiu-se que

deixar a mulher – autora da representação – decidir sobre o início da persecução

penal signifi caria desconsiderar a assimetria de poder decorrente de relações

histórico-culturais, bem como outros fatores, tudo a contribuir para a diminuição

de sua proteção e a prorrogar o quadro de violência, discriminação e ofensa à

dignidade humana. Implicaria relevar os graves impactos emocionais impostos

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

160

à vítima, impedindo-a de romper com o estado de submissão. Entendeu-se não

ser aplicável aos crimes glosados pela lei discutida o que disposto na Lei 9.099/95,

de maneira que, em se tratando de lesões corporais, mesmo que de natureza leve

ou culposa, praticadas contra a mulher em âmbito doméstico, a ação penal cabível

seria pública incondicionada. Acentuou-se, entretanto, permanecer a necessidade

de representação para crimes dispostos em leis diversas da 9.099/95, como o de

ameaça e os cometidos contra a dignidade sexual. Consignou-se que o Tribunal,

ao julgar o HC 106.212/MS (DJe de 13.6.2011), declarara, em processo subjetivo,

a constitucionalidade do art. 41 da Lei 11.340/2006, no que afastaria a aplicação

da Lei dos Juizados Especiais relativamente aos crimes cometidos com violência

doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista. Vencido

o Min. Cezar Peluso, Presidente. Aduzia que o legislador não poderia ter sido

leviano ao estabelecer o caráter condicionado da ação penal. Afirmava que

eventual existência de vício de vontade da mulher ofendida, ao proceder à

retratação, não poderia ser tida como regra. Alertava para a possibilidade de

intimidação da mulher em levar a notícia-crime, por saber que não poderia infl uir

no andamento da ação penal, assim como para a excepcionalidade de os crimes

serem noticiados por terceiros. Assinalava que a mera incondicionalidade da ação

penal não constituiria impedimento à violência familiar, entretanto acirraria a

possibilidade dessa violência, por meio de atitudes de represália contra a mulher.

Asseverava, por fi m, que a decisão do Tribunal estaria concentrada na situação

da mulher – merecedora de proteção por parte do ordenamento jurídico –, mas

se deveria compatibilizar esse valor com a manutenção da situação familiar, a

envolver outros entes.

Diante do entendimento esposado pelo Pretório Excelso, este Superior

Tribunal de Justiça, com a ressalva do meu entendimento acerca do tema,

passou a decidir no mesmo sentido, reconhecendo a natureza incondicionada

da ação penal em caso de crime de lesão corporal, praticado mediante violência

doméstica e familiar contra a mulher. A título de ilustração:

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. DESCABIMENTO.

COMPETÊNCIA DAS CORTES SUPERIORES. MATÉRIA DE DIREITO ESTRITO.

MODIFICAÇÃO DE ENTENDIMENTO DO STJ, EM CONSONÂNCIA COM O STF.

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER. LESÕES CORPORAIS LEVES.

RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. RETRATAÇÃO DA VÍTIMA. IMPOSSIBILIDADE. AÇÃO

PÚBLICA INCONDICIONADA. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE FLAGRANTE QUE,

EVENTUALMENTE, PUDESSE ENSEJAR A CONCESSÃO DA ORDEM DE OFÍCIO.

HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO.

1. O Excelso Supremo Tribunal Federal, em recentes pronunciamentos, aponta

para uma retomada do curso regular do processo penal, ao inadmitir o habeas

corpus substitutivo do recurso ordinário.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 151-163, novembro 2017 161

Precedentes: HC 109.956/PR, Primeira Turma, Rel. Ministro Marco Aurélio,

julgado em 07/08/2012, acórdão pendente de publicação; HC 104.045/RJ,

Primeira Turma, Rel. Ministra Rosa Weber, julgado em 28/08/2012, acórdão

pendente de publicação. Decisões monocráticas dos ministros Luiz Fux e Dias

Toff oli, respectivamente, nos autos do HC 114.550/AC (DJe de 27/08/2012) e HC

114.924/RJ (DJe de 27/08/2012).

2. Sem embargo, mostra-se precisa a ponderação lançada pelo Ministro Marco

Aurélio, no sentido de que, “no tocante a habeas já formalizado sob a óptica da

substituição do recurso constitucional, não ocorrerá prejuízo para o paciente,

ante a possibilidade de vir-se a conceder, se for o caso, a ordem de ofício.”

3. O Supremo Tribunal Federal, nos autos da ADI 4.424/DF, reconheceu a

natureza incondicionada da ação penal na hipótese de crime de lesão corporal

praticada mediante violência doméstica e familiar contra a mulher, superando,

assim, entendimento do Superior Tribunal de Justiça. Assim, conclui-se pela

inaplicabilidade, na espécie, do art. 16, da Lei n. 11.340/06.

4. Ausência de ilegalidade fl agrante que, eventualmente, ensejasse a concessão

da ordem de ofício.

5. Habeas corpus não conhecido.

(HC 242.458/DF, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em

11/09/2012, DJe 19/09/2012)

HABEAS CORPUS. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. LEI MARIA DA PENHA. NATUREZA

DA AÇÃO PENAL. REPRESENTAÇÃO DA VÍTIMA. DESNECESSIDADE. AÇÃO PÚBLICA

INCONDICIONADA.

1. O Supremo Tribunal Federal, ao julgar a ADI 4.424/DF, de relatoria do Ministro

Marco Aurélio, modificou entendimento majoritário do STJ, reconhecendo a

natureza incondicionada da ação penal em caso de crime de lesão corporal,

praticado mediante violência doméstica e familiar contra a mulher.

2. Na hipótese, condenado o paciente nas sanções o art. 129, § 9º, do Código

Penal, defendia-se que a representação da ofendida é condição de procedibilidade

para a ação penal. Diante do acolhimento da orientação da Suprema Corte, o

pedido não prospera.

3. Ordem denegada. (STJ, HC 222.528/SE, Rel. Min. OG FERNANDES, SEXTA

TURMA, DJe de 11/04/2012).

No entender do recorrente, o acórdão proferido pelo Excelso Pretório no

julgamento da referida Ação Direta de Inconstitucionalidade, deve ter efeitos

ex nunc. Ocorre, porém, que, não tendo a Suprema Corte realizado a modulação

dos efeitos daquele julgamento, nos termos do art. 27 da Lei n. 9.868/1999,

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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aplica-se ao caso a regra segundo a qual a decisão, além de ter efi cácia erga omnes,

tem efeitos retroativos (ex tunc), aplicando-se aos casos ocorridos anteriormente

ao à prolação do referido aresto.

Nessa linha de raciocínio, segue julgado desta Corte Superior de Justiça:

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME DE LESÃO CORPORAL

COMETIDO NO ÂMBITO DOMÉSTICO. LEI MARIA DA PENHA. AÇÃO PENAL PÚBLICA

INCONDICIONADA. ENTENDIMENTO CONSOLIDADO PELO SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL. ADI n. 4.424/DF. RECURSO IMPROVIDO.

1. O Supremo Tribunal Federal, por ocasião do julgamento proferido na Ação

Direta de Inconstitucionalidade n. 4.424/DF, fi rmou o entendimento no sentido

da desnecessidade de representação da vítima nos crimes de lesão corporal

praticados contra a mulher no âmbito familiar, por se tratar de ação penal pública

incondicionada.

2. De regra, a declaração de inconstitucionalidade possui eficácia ex tunc.

Eventual restrição há de ser expressa, nos termos do art. 27 da Lei n. 9.868/1999,

que permite ao Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus

membros, restringir, por razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse

social, os efeitos da decisão. Todavia, no caso, não há notícia de modulação dos

efeitos da decisão proferida, motivo pelo qual inexiste ilegalidade a ser reparada

no acórdão impugnado.

3. Recurso ordinário em habeas corpus a que se nega provimento. (RHC

33.881/MG, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em

23/10/2012, DJe 30/10/2012)

De mais a mais, impende destacar trecho do acórdão impugnado, no

qual a Corte local salienta que a denúncia foi recebida na mesma data em que

apresentada a retratação da vítima, informação que se confi rma pela análise dos

documentos encartados às fl s. 53 (recebimento da denúncia) e 62 (retratação da

vítima):

E, no caso ora em análise, verifi ca-se que, na data dos fatos, a ofendida ofertou

representação perante a autoridade policial (fls. 22). Concluído e relatado o

inquérito policial em 21.10.2011 (fls. 47/48), a denúncia foi oferecida em

28.10.2011 (fl s. 51). Em 3.11.2011, a peça inicial foi recebida (fl s. 52), mesma data

em que a defesa despachou petição requerendo a reconsideração da decisão

que converteu a prisão em fl agrante em preventiva, com concessão da liberdade

provisória (fl s. 53), que foi instruída com a retratação da vítima, também datada

de 3.11.2011 (fl s. 61)

Diante de tal quadro, ainda que se entendesse tratar-se de ação penal

pública condicionada à representação, que poderia ser retratada até a data do

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 151-163, novembro 2017 163

recebimento da denúncia, verifi ca-se que este não foi o caso, tendo em vista que

a retratação e a decisão que recebeu a peça inicial ocorreram na mesma data, não

tendo aquela precedido esta como afi rmado pela combativa defesa. (fl . 253).

Dessarte, notabiliza-se que não há como trancar a ação penal, tendo em

vista o crime de ameaça e, tampouco, diante do crime de lesão corporal.

Ante o exposto, nego provimento ao recurso ordinário.

É como voto.

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Súmula n. 543

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SÚMULA N. 543

Na hipótese de resolução de contrato de promessa de compra e venda de

imóvel submetido ao Código de Defesa do Consumidor, deve ocorrer a imediata

restituição das parcelas pagas pelo promitente comprador – integralmente, em

caso de culpa exclusiva do promitente vendedor/construtor, ou parcialmente,

caso tenha sido o comprador quem deu causa ao desfazimento.

Referências:

CC/2002, art. 122.

CDC, art. 51, II e IV.

CPC, art. 543-C.

Precedentes:

(*)REsp 1.300.418-SC (2ª S, 13.11.2013 – DJe 10.12.2013) –

acórdão publicado na íntegra

AgRg no REsp 1.219.345-SC (3ª T, 15.02.2011 – DJe 28.02.2011)

AgRg no REsp 677.177-PR (3ª T, 1º.03.2011 – DJe 16.03.2011)

RCDESP no

AREsp 208.018-SP (3ª T, 16.10.2012 – DJe 05.11.2012)

AgRg no Ag 866.542-SC (3ª T, 04.12.2012 – DJe 11.12.2012)

AgRg no REsp 1.249.786-SC (3ª T, 02.05.2013 – DJe 09.05.2013)

AgRg no REsp 1.207.682-SC (3ª T, 11.06.2013 – DJe 21.06.2013)

EDcl no

AgRg no REsp 1.349.081-AL (3ª T, 03.06.2014 – DJe 09.06.2014)

AgRg no AREsp 525.955-SC (3ª T, 05.08.2014 – DJe 04.09.2014)

REsp 877.980-SC (4ª T, 03.08.2010 – DJe 12.08.2010)

AgRg no REsp 1.238.007-SC (4ª T, 15.12.2011 – DJe 1º.02.2012)

AgRg no REsp 997.956-SC (4ª T, 26.06.2012 – DJe 02.08.2012)

(*) Recurso repetitivo.

Segunda Seção, em 26.8.2015

DJe 31.8.2015

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RECURSO ESPECIAL N. 1.300.418-SC (2012/0000392-9)

Relator: Ministro Luis Felipe Salomão

Recorrente: APL Incorporações e Construções Ltda

Advogado: Hercílio Emerich Lentz e outro(s)

Recorrido: Clóvis Paulo Ceccato e outro

Advogado: Anésio Knoth e outro(s)

Interes.: Defensoria Pública da União - “Amicus Curiae”

Interes.: Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor IDEC - “Amicus

Curiae”

Interes.: Associação Nacional do Ministério Público do Consumidor -

MPCON - “Amicus Curiae”

Advogado: Leandro Silva e outro(s)

EMENTA

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE

CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. DIREITO DO

CONSUMIDOR. CONTRATO DE COMPRA DE IMÓVEL.

DESFAZIMENTO. DEVOLUÇÃO DE PARTE DO VALOR

PAGO. MOMENTO.

1. Para efeitos do art. 543-C do CPC: em contratos submetidos

ao Código de Defesa do Consumidor, é abusiva a cláusula contratual

que determina a restituição dos valores devidos somente ao término

da obra ou de forma parcelada, na hipótese de resolução de contrato

de promessa de compra e venda de imóvel, por culpa de quaisquer

contratantes. Em tais avenças, deve ocorrer a imediata restituição das

parcelas pagas pelo promitente comprador - integralmente, em caso de

culpa exclusiva do promitente vendedor/construtor, ou parcialmente,

caso tenha sido o comprador quem deu causa ao desfazimento.

2. Recurso especial não provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da Segunda Seção

do Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade dos votos e das

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso

especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Para os efeitos do artigo

543-C, do CPC, foi fi xada a seguinte tese: É abusiva a cláusula contratual

que determina a restituição dos valores devidos somente ao término da obra

ou de forma parcelada, na hipótese de resolução de contato de promessa de

compra e venda de imóvel, por culpa de qualquer dos contratantes. Assim, em

tais avenças submetidas às regras do Código de Defesa do Consumidor, deve

ocorrer a imediata restituição das parcelas pagas pelo promitente comprador -

integralmente, em caso de culpa exclusiva do promitente vendedor/construtor,

ou parcialmente, caso tenha sido o comprador quem dar causa ao desfazimento.

Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Maria Isabel Gallotti, Antonio

Carlos Ferreira, Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Buzzi, Nancy Andrighi, João

Otávio de Noronha e Sidnei Beneti votaram com o Sr. Ministro Relator.

Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Raul Araújo.

Brasília (DF), 13 de novembro de 2013 (data do julgamento).

Ministro Luis Felipe Salomão, Relator

DJe 10.12.2013

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luis Felipe Salomão: 1. Clóvis Paulo Ceccato e Andrea

Benevides Silva ajuizaram ação em face de APL - Incorporações e Construções

Ltda., objetivando rescisão de contrato de promessa de compra e venda de

unidade habitacional, cumulada com pedido de restituição das parcelas pagas

- deduzidos os valores aportados a título de arras -, bem como a declaração

de nulidade de cláusula que previa a devolução do que foi pago, em caso de

rescisão, somente após o efetivo término da obra. O preço estipulado foi de R$

41.160,00, e, após uma repactuação, afi rma que pagou o total de R$ 23.972,68.

O Juízo de Direito da 3ª Vara Cível da Comarca da Capital/SC julgou

parcialmente procedentes os pedidos, deduzindo do valor a ser restituído apenas

o que foi pago a título de arras (fl s. 98-105).

Em grau de apelação, pretendeu a construtora ré a manutenção da cláusula

contratual que determinava a restituição das parcelas pagas somente ao término

do empreendimento (fl s. 109-115).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 165-180, novembro 2017 171

O TJSC negou provimento ao recurso de apelação, mantendo a sentença

nos termos da seguinte ementa:

AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL CUMULADA COM NULIDADE DE CLÁUSULA

E DEVOLUÇÃO IMEDIATA DAS PARCELAS ADIMPLIDAS. PREVISÃO CONTRATUAL

DE RESTITUIÇÃO SOMENTE AO FINAL DA CONSTRUÇÃO. ABUSIVIDADE DA

CLÁUSULA. A RESCISÃO DE COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA IMPLICA NA

DEVOLUÇÃO DAS PARCELAS EFETIVAMENTE ADIMPLIDAS. INTERPRETAÇÃO

CONFORME O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. REEMBOLSO QUE SE IMPÕE

COMO FORMA DE REESTABELECER (SIC) O EQUILÍBRIO JURÍDICO-PATRIMONIAL

ENTRE AS PARTES. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO (fl . 136).

Sobreveio recurso especial apoiado nas alíneas “a” e “c” do permissivo

constitucional, no qual se sustenta, além de dissídio, ofensa ao art. 53 do Código

de Defesa do Consumidor.

Insurge-se a recorrente contra acórdão que determinou a restituição

imediata e em parcela única dos valores pagos pelo promitente comprador, em

razão de desistência/inadimplemento de contrato de promessa de compra e

venda de imóvel.

Entende inexistir ilegalidade na cláusula que prevê, para a hipótese de

rescisão contratual, que as parcelas pagas pelo promitente comprador lhes sejam

restituídas somente ao término da obra.

Contra-arrazoado (fl s. 189-193), o especial foi admitido (fl . 195).

Ascendendo os autos a esta Corte, verifi quei haver multiplicidade de

recursos a versar o tema tratado nos autos, alusivo à forma de devolução dos

valores devidos ao promitente comprador (se imediatamente, somente ao

término da obra ou, ainda, de forma parcelada) em razão da rescisão do contrato

de promessa de compra e venda de imóvel.

Por isso, afetei o julgamento do presente recurso especial à eg. Segunda

Seção, nos termos do art. 543-C do CPC, bem como da Resolução n. 8/2008.

O Ministério Público Federal, entendendo tratar-se de discussão acerca de

questões meramente patrimoniais e direitos disponíveis, deixou de apresentar

parecer (fl . 211).

A Defensoria Pública da União (DPU) pleiteou seu ingresso como amicus

curiae, pedido deferido à fl . 215. Opinou pelo “reconhecimento jurisprudencial

da efetiva possibilidade de imediata restituição ao devedor inadimplente das

parcelas quitadas à data da resolução contratual, monetariamente atualizadas,

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

172

descontados os custos gerados ao credor/incorporador, desde que devidamente

comprovados e estipulados de forma explícita, prévia e razoável no contrato” (fl .

230).

Na assentada do dia 8/5/2013, o zeloso membro do Ministério Público

Federal presente na sessão, Dr. Washington Bolivar de Brito Junior, em

questão de ordem, pleiteou o encaminhamento dos autos diretamente ao seu

gabinete para manifestação, nos termos do art. 543-C, § 5º, do CPC, tendo o

requerimento sido atendido pela Seção.

Em seguida, o Ministério Público Federal ofertou parecer assim ementado:

RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. ART. 543-C DO CPC. DIREITO DO

CONSUMIDOR. CLÁUSULA ABUSIVA. COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. NEGATIVA DE

RESTITUIÇÃO IMEDIATA DE VALORES PAGOS PELOS PROMITENTES COMPRADORES

À INCORPORADORA.

1. Preliminar de questão de ordem. Imprescindibilidade de manifestação

do Ministério Público Federal sobre o mérito do recurso especial repetitivo,

dada a abrangência de seus efeitos e a circunstância de versar sobre direito do

consumidor. Art. 543-C, § 5º, do CPC, arts. 3º, II, e 4º, parágrafo único da Res. 8/08-

STJ, a par do art. 82, III, in fi ne, do CPC, c. c. o art. 5º, § 1º da Lei n. 7.341/85 e art. 5º,

XXXII, da CRFB.

2. Mérito. Rescisão de contrato de promessa de compra e venda de

empreendimento Imobiliário pelos promitentes compradores. Cláusula prevendo

a restituição dos valores somente após a conclusão da obra. Condição abusiva,

declarada nula de pleno direito. Art. 51, II, IV e XV, do CDC. Desvantagem excessiva

em prejuízo dos consumidores e enriquecimento ilícito da construtora, que,

além de já haver retido o sinal (arras), poderá recolocar o imóvel à disposição do

mercado imobiliário, de modo a capitalizar-se durante a construção. Precedentes.

PARECER PELO CONHECIMENTO E DESPROVIMENTO DO RECURSO ESPECIAL

(fl . 234).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Luis Felipe Salomão (Relator): 2. A questão tratada

nos autos transcende o interesse individual das partes, revelando-se com

feição multitudinária, de acentuada relevância jurídica e econômica e com

potencialidade de repetição em diversos outros litígios a envolver consumidor e

construtora de imóveis.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 165-180, novembro 2017 173

Cuida-se de saber se, rescindido o contrato de promessa de compra e venda

de imóvel, celebrado diretamente com a construtora/incorporadora, as parcelas

pagas devem ser restituídas de imediato, proclamando-se a nulidade da cláusula

que determina a devolução somente ao término da obra.

Vale dizer, a celeuma cinge-se apenas ao momento em que os valores

devem ser restituídos, tendo ambas as partes, no caso em exame, concordado

com o quantum a ser retido pela construtora.

3. É de longa data a jurisprudência fi rme da Casa sobre o tema.

3.1. Com efeito, a despeito da inexistência literal de disposição que

imponha a devolução imediata do que é devido pelo promitente vendedor de

imóvel, inegável que o Código de Defesa do Consumidor optou por fórmulas

abertas para a nunciação das chamadas “práticas abusivas” e “cláusulas abusivas”,

lançando mão de um rol meramente exemplifi cativo para descrevê-las.

Daí a menção não exauriente contida nos arts. 39 e 51:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas

abusivas [...];

[...]

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais

relativas ao fornecimento de produtos e serviços que [...].

Nessa linha, a jurisprudência da Casa vem proclamando, reiteradamente,

ser abusiva, por ofensa ao art. 51, incisos II e IV, do Código de Defesa do

Consumidor, a cláusula contratual que determina, em caso de rescisão de

promessa de compra e venda de imóvel, a restituição das parcelas pagas somente

ao término da obra, haja vista que poderá o promitente vendedor, uma vez mais,

revender o imóvel a terceiros e, a um só tempo, auferir vantagem com os valores

retidos - além da própria valorização do imóvel, como normalmente acontece.

Se bem analisada, a cláusula que posterga para o término efetivo da obra a

devolução do que é devido pelo construtor parece abusiva mesmo no âmbito do

direito comum, porquanto desde o Código Civil de 1916 - e que foi reafi rmado

pelo Código Civil de 2002 - são ilícitas as cláusulas puramente potestativas,

assim entendidas aquelas que sujeitam a pactuação “ao puro arbítrio de uma das

partes” (art. 122 do CC/2002 e art. 115 do CC/1916).

De fato, se for mantida hígida a mencionada cláusula, o direito ao

recebimento do que é devido ao consumidor fi ca submetido ao puro arbítrio do

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

174

fornecedor, uma vez que a conclusão da obra é providência que cabe a este com

exclusividade, podendo, inclusive, nem acontecer ou acontecer a destempo.

Nesse caso, o comportamento do fornecedor revela, a meu juízo, evidente

potestatividade, considerado abusivo tanto pelo CDC (art. 51, IX) quanto

pelo Código Civil (art. 122) (por todos, NERY JÚNIOR, Nelson. In. Código

brasileiro de defesa do consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. 9 ed. Rio

de Janeiro: Forense Universitária, 2007, p. 598).

3.2. A jurisprudência de ambas as Turmas de Direito Privado não vacila

nesse sentido:

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTRATO DE COMPRA

E VENDA. RESCISÃO. MOMENTO DE DEVOLUÇÃO DAS PARCELAS PAGAS. DECISÃO

MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS.

1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é fi rme no sentido de que

há enriquecimento ilícito da incorporadora na aplicação de cláusula que obriga o

consumidor a esperar pelo término completo das obras para reaver seu dinheiro,

pois aquela poderá revender imediatamente o imóvel sem assegurar, ao mesmo

tempo, a fruição pelo consumidor do dinheiro ali investido.

[...]

(AgRg no Ag 866.542/SC, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA

TURMA, julgado em 04/12/2012, DJe 11/12/2012)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE RESCISÃO

CONTRATUAL - COMPRA E VENDA DE IMÓVEL - PRESTAÇÃO PAGAS - DEVOLUÇÃO

APÓS O TÉRMINO DA OBRA - ABUSIVIDADE - ACÓRDÃO RECORRIDO EM

HARMONIA COM O ENTENDIMENTO DESTA CORTE - LUCROS CESSANTES - NÃO

COMPROVAÇÃO DO PREJUÍZO - RECONHECIMENTO - IMPOSSIBILIDADE DE

REEXAME DE PROVAS - INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7 DESTA CORTE - RECURSO

IMPROVIDO.

(AgRg no REsp 1.238.099/SC, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA,

julgado em 26/04/2011, DJe 11/05/2011)

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE

NULIDADE DE CLÁUSULA CONTRATUAL - RESTITUIÇÃO DAS PARCELAS PAGAS

SOMENTE APÓS A CONCLUSÃO DAS OBRAS - ABUSIVIDADE CONFIGURADA -

INCIDÊNCIA DA SÚMULA 83.

I - Há enriquecimento ilícito da incorporadora na aplicação de cláusula que

obriga o consumidor a esperar pelo término completo das obras para reaver seu

dinheiro, pois aquela poderá revender imediatamente o imóvel sem assegurar, ao

mesmo tempo, a fruição pelo consumidor do dinheiro ali investido.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 165-180, novembro 2017 175

[...]

(AgRg no REsp 1.219.345/SC, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA,

julgado em 15/02/2011, DJe 28/02/2011)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTRATO DE COMPRA

E VENDA. RESCISÃO. FUNDAMENTOS INSUFICIENTES PARA REFORMAR A DECISÃO

AGRAVADA.

[...]

3. Há enriquecimento ilícito da incorporadora na aplicação de cláusula que

obriga o consumidor a esperar pelo término completo das obras para reaver seu

dinheiro, pois aquela poderá revender imediatamente o imóvel sem assegurar, ao

mesmo tempo, a fruição pelo consumidor do dinheiro ali investido

4. Agravo regimental a que se nega provimento.

(AgRg no Ag 856.283/SC, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA

(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), TERCEIRA TURMA, julgado em

02/02/2010, DJe 25/02/2010)

Consumidor. Recurso especial. Rescisão de contrato de compromisso de

compra e venda de imóvel. Incorporadora que se utiliza de sistema de ‘auto-

fi nanciamento’. Devolução das parcelas pagas pelo promitente-comprador, já

descontado o valor das arras, apenas após o término de toda a construção.

Aplicação dos princípios consumeristas à relação jurídica. Irrelevância do veto ao

§ 1º do art. 53 do CDC. Análise prévia do contrato-padrão pelo Ministério Público.

Irrelevância.

[...]

- Apesar do veto ao § 1º do art. 53 do CDC, o teor de tal dispositivo pode ser

depurado a partir dos princípios gerais do direito positivo brasileiro e do CDC.

Precedente: EREsp n. 59.870/SP, Rel. Min. Barros Monteiro.

- Há enriquecimento ilícito da incorporadora na aplicação de cláusula que

obriga o consumidor a esperar pelo término completo das obras para reaver seu

dinheiro, pois aquela poderá revender imediatamente o imóvel sem assegurar, ao

mesmo tempo, a fruição pelo consumidor do dinheiro ali investido.

[...]

(REsp 633.793/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado

em 07/06/2005, DJ 27/06/2005, p. 378)

Transcrevo parte dos judiciosos fundamentos expostos no precedente

acima citado, de relatoria da eminente Ministra Nancy Andrighi,:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

176

Sobre o tema, afirma Nelson Nery Júnior que “O CDC enumerou uma série

de cláusulas consideradas abusivas, dando-lhes o regime da nulidade de pleno

direito (art. 51). Esse rol não é exaustivo, podendo o juiz, diante das circunstâncias

do caso concreto, entender ser abusiva e, portanto, nula, determinada cláusula

contratual. Está para tanto autorizado pelo caput do art. 51 do CDC, que diz serem

nulas, ‘entre outras’, as cláusulas que menciona. Ademais, o inc. XV do referido artigo

contém norma de encerramento, que dá possibilidade ao juiz de considerar abusiva

a cláusula que ‘esteja em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor’.

Em resumo, os casos de cláusulas abusivas são enunciados pelo art. 51 do CDC em

numerus apertus e não em numerus clausus” (“Código Brasileiro de Defesa do

Consumidor comentado pelos autores do Anteprojeto”. Rio de Janeiro: Forense

Universitária, 7ª edição, 2001, pág. 463).

A manutenção da cláusula contratual em análise gerará enriquecimento

indevido à recorrente. Conquanto tenha este por linha de defesa a necessidade

de respeito ao auto-fi nanciamento dos imóveis populares construídos, o fato é

que tal disposição obriga o consumidor a esperar pelo término completo das

obras de todo o conjunto habitacional, mas nada diz a respeito da possibilidade

de revenda do mesmo imóvel a terceiro pela incorporadora, que passaria, assim,

a obter um duplo fi nanciamento para a construção com lastro na mesma unidade

residencial.

Com a rescisão contratual, necessário é o retorno ao ‘status quo ante’ para as

duas partes em iguais condições; não é possível autorizar-se que a incorporadora

possa imediatamente dispor do imóvel sem reconhecer, quanto à fruição dos

dinheiros empregados, o mesmo direito ao recorrido.

No âmbito da Quarta Turma, a questão também está pacifi cada:

CONSUMIDOR. PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. RESCISÃO

CONTRATUAL. CULPA DA CONSTRUTORA. CLÁUSULA A PREVER A RESTITUIÇÃO

DAS PARCELAS PAGAS SOMENTE AO TÉRMINO DA OBRA. ABUSIVIDADE. ARRAS.

OMISSÃO DO ACÓRDÃO ACERCA DA SUA NATUREZA. DEVOLUÇÃO EM DOBRO.

SÚMULA 356/STF.

1. É abusiva, por ofensa ao art. 51, incisos II e IV, do Código de Defesa do

Consumidor, a cláusula contratual que determina, em caso de rescisão de

promessa de compra e venda de imóvel, por culpa exclusiva da construtora/

incorporadora, a restituição das parcelas pagas somente ao término da obra,

haja vista que poderá o promitente vendedor, uma vez mais, revender o imóvel a

terceiros e, a um só tempo, auferir vantagem com os valores retidos, além do que

a conclusão da obra atrasada, por óbvio, pode não ocorrer.

2. O acórdão recorrido, muito embora faça alusão ao contrato, não deixa

explicitado se as arras têm natureza confi rmatória ou penitencial, tampouco o

recorrente opôs embargos de declaração para aclarar tal ponto. Com efeito, não

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 165-180, novembro 2017 177

sanada a omissão do acórdão acerca da natureza das arras, se confi rmatórias ou

penitenciais, o recurso especial esbarra na Súmula 356/STF.

3. Recurso especial improvido.

(REsp 877.980/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,

julgado em 03/08/2010, DJe 12/08/2010)

Após esse precedente, de minha relatoria, seguiram-se diversos outros

proferidos em sede de agravo regimental, todos com a composição atual deste

órgão julgador. Confi ram-se, entre outros, os seguintes: AgRg no REsp 997.956/

SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado

em 26/06/2012; AgRg no REsp 1.238.007/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE

SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 15/12/2011; AgRg no REsp

935.443/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,

julgado em 15/12/2011.

Em sede de decisão monocrática, colho o REsp n. 1.025.091, de relatoria

do em. Ministro Marco Buzzi, e o REsp 1.249.786, relator em. Ministro Paulo

de Tarso Sanseverino.

Há diversos outros precedentes que também consideram abusiva a

devolução do valor pago pelo comprador de forma apenas parcelada:

PROCESSO CIVIL. PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO EM AGRAVO. PRETENSÃO

RECEBIDA COMO AGRAVO REGIMENTAL. PROMESSA DE COMPRA E VENDA

DE IMÓVEL. RESCISÃO CONTRATUAL. DEVOLUÇÃO DAS PARCELAS PAGAS.

RAZOABILIDADE NA DETERMINAÇÃO DO TRIBUNAL DE ORIGEM DE RETENÇÃO

DE 20% A TÍTULO DE DESPESAS ADMINISTRATIVAS. DEVOLUÇÃO DAS PARCELAS

PAGAS DE FORMA PARCELADA. ABUSIVIDADE. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL.

FALTA DE COTEJO ANALÍTICO. SIMPLES TRANSCRIÇÃO DAS EMENTAS. DECISÃO

AGRAVADA MANTIDA.

[...]

3.- Esta Corte já decidiu que é abusiva a disposição contratual que estabelece,

em caso de resolução do contrato de compromisso de compra e venda de imóvel,

a restituição dos valores pagos de forma parcelada, devendo ocorrer a devolução

imediatamente e de uma única vez.

[...]

5.- Agravo Regimental a que se nega provimento.

(RCDESP no AREsp 208.018/SP, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA,

julgado em 16/10/2012, DJe 05/11/2012)

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

178

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PROMESSA DE COMPRA E VENDA.

IMÓVEL. RESOLUÇÃO DO CONTRATO. DEVOLUÇÃO DAS PRESTAÇÕES ADIMPLIDAS

DE FORMA IMEDIATA E EM PARCELA ÚNICA.

1 - Abusiva a disposição contratual estabelecendo, em caso de resolução do

contrato de promessa de compra e venda de imóvel, a restituição das prestações

pagas de forma parcelada.

2 - Com a resolução, retornam as partes contratantes à situação jurídica anterior

(“status quo ante”), impondo-se ao comprador o dever de devolver o imóvel e ao

vendedor o de ressarcir as prestações até então adimplidas, descontada a multa

pelo inadimplemento contratual.

3 - Precedentes específi cos desta Corte.

4 - AGRAVO REGIMENTAL PROVIDO PARA CONHECER DO RECURSO ESPECIAL E

LHE DAR PROVIMENTO.

(AgRg no REsp 677.177/PR, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,

TERCEIRA TURMA, julgado em 01/03/2011, DJe 16/03/2011)

Confiram-se, também, as seguintes decisões monocráticas: REsp n.

1.062.452/RS, rel. Ministro Marco Buzzi; AREsp n. 229.075/SP, rel. Ministro

Sidnei Beneti; EDcl no AREsp n. 21.710/GO, rel. Ministro Ricardo Villas

Bôas Cueva; REsp n. 1.179.049/DF, rel. Ministro Antônio Carlos Ferreira.

4. Importante ressaltar que esse entendimento - segundo o qual os valores

devidos pela construtora ao consumidor devem ser restituídos imediatamente

à resolução do contrato - aplica-se independentemente se quem deu causa à

resolução foi o comprador ou o vendedor.

É antiga a jurisprudência da Segunda Seção no sentido de que o promitente

comprador de imóvel pode pedir a resolução do contrato sob alegação de

insuportabilidade da prestação devida:

PROMESSA DE VENDA E COMPRA. RESILIÇÃO. DENÚNCIA PELO

COMPROMISSÁRIO COMPRADOR EM FACE DA INSUPORTABILIDADE NO

PAGAMENTO DAS PRESTAÇÕES. RESTITUIÇÃO.

- O compromissário comprador que deixa de cumprir o contrato em face da

insuportabilidade da obrigação assumida tem o direito de promover ação a fi m

de receber a restituição das importâncias pagas.

Embargos de divergência conhecidos e recebidos, em parte.

(EREsp. 59.870/SP, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado

em 10/04/2002, DJ 09/12/2002, p. 281)

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 165-180, novembro 2017 179

Na verdade, a questão relativa à culpa pelo desfazimento da pactuação

resolve-se na calibragem do valor a ser restituído ao comprador e não pela forma

ou prazo de devolução.

É assente o entendimento de que a resolução do contrato de promessa de

compra e venda de imóvel por culpa (ou por pedido imotivado) do consumidor

gera o direito de retenção, pelo fornecedor, de parte do valor pago, isso para

recompor eventuais perdas e custos inerentes ao empreendimento, sem prejuízo

de outros valores decorrentes, por exemplo, da prévia ocupação do imóvel pelo

consumidor.

No mencionado precedente da Segunda Seção (EREsp. 59.870/SP)

adotou-se como parâmetro razoável - mas não peremptório - para a retenção o

percentual de 25% sobre as parcelas pagas pelo consumidor, entendimento que

vem sendo replicado cotidianamente por esta Corte: EAg 1.138.183/PE, Rel.

Ministro SIDNEI BENETI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/06/2012;

AgRg no REsp 927.433/DF, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI,

QUARTA TURMA, julgado em 14/02/2012; REsp 838.516/RS, Rel. Ministro

LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 17/05/2011;

AgRg no Ag 1.010.279/MG, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES,

QUARTA TURMA, julgado em 12/05/2009.

Portanto, a consequência jurídica para a resolução do contrato por culpa

do promitente comprador é a perda parcial das parcelas pagas em benefício do

construtor/vendedor, devendo o saldo, todavia, ser restituído imediatamente à

resolução da avença.

Em sentido oposto, na hipótese de o construtor/vendedor der causa à

resolução do contrato, por óbvio a restituição das parcelas pagas deve ocorrer

em sua integralidade, nos termos da torrencial jurisprudência da Casa: AgRg

nos EAg 616.048/RJ, Rel. Ministro JORGE SCARTEZZINI, SEGUNDA

SEÇÃO, julgado em 24/05/2006; REsp 644.984/RJ, Rel. Ministra NANCY

ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/08/2005, DJ 05/09/2005;

EDcl no REsp 620.257/RJ, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA

TURMA, julgado em 18/09/2008; AgRg no Ag 830.546/RJ, Rel. Ministro

ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em

14/08/2007.

5. Assim, encaminho o seguinte entendimento para efeitos do art. 543-C

do CPC:

Em contratos submetidos ao Código de Defesa do Consumidor, é abusiva a

cláusula contratual que determina a restituição dos valores devidos somente ao término

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

180

da obra ou de forma parcelada, na hipótese de resolução de contrato de promessa de

compra e venda de imóvel, por culpa de quaisquer contratantes. Em tais avenças,

deve ocorrer a imediata restituição das parcelas pagas pelo promitente comprador

- integralmente, em caso de culpa exclusiva do promitente vendedor/construtor, ou

parcialmente, caso tenha sido o comprador quem deu causa ao desfazimento.

6. Diante do exposto, e analisando o caso concreto, que foi bem solucionado

pelo Tribunal a quo, nego provimento ao recurso especial.

É como voto.

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Súmula n. 544

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SÚMULA N. 544

É válida a utilização de tabela do Conselho Nacional de Seguros Privados

para estabelecer a proporcionalidade da indenização do seguro DPVAT ao grau

de invalidez também na hipótese de sinistro anterior a 16/12/2008, data da

entrada em vigor da Medida Provisória n. 451/2008.

Referências:

CPC, art. 543-C.

Lei n. 6.194/1974, arts. 3º, 5º, § 5º, e 12.

Lei n. 8.441/1992.

Lei n. 11.482/2007, art. 8º.

Lei n. 11.945/2009, arts. 31 e 32.

MP n. 340/2006, art. 8º.

MP n. 451/2008, arts. 20 e 21.

Súmula n. 474-STJ.

Precedentes:

Rcl 10.093-MA (2ª S, 12.12.2012 – DJe 1º.02.2013)

(*)REsp 1.246.432-RS (2ª S, 22.05.2013 – DJe 27.05.2013) –

acórdão publicado na íntegra

(*)REsp 1.303.038-RS (2ª S, 12.03.2014 – DJe 19.03.2014)

REsp 1.101.572-RS (3ª T, 16.11.2010 – DJe 25.11.2010)

AgRg no AREsp 154.113-GO (3ª T, 15.05.2012 – DJe 30.05.2012)

AgRg no AREsp 260.365-SP (3ª T, 05.02.2013 – DJe 26.02.2013)

AgRg no AREsp 20.628-MT (4ª T, 17.11.2011 – DJe 24.11.2011)

EDcl no AREsp 445.966-SC (4ª T, 27.03.2014 – DJe 09.04.2014)

AgRg no REsp 1.317.744-SP (4ª T, 22.05.2014 – DJe 30.05.2014)

AgRg no AREsp 473.711-MS (4ª T, 05.06.2014 – DJe 27.06.2014)

(*) Recursos repetitivos.

Segunda Seção, em 26.8.2015

DJe 31.8.2015

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RECURSO ESPECIAL N. 1.246.432-RS (2011/0067553-9)

Relator: Ministro Paulo de Tarso Sanseverino

Recorrente: Seguradora Líder dos Consórcios do Seguro DPVAT S/A

Advogados: Sergio Bermudes e outro(s)

Virgínia Matte Chaves e outro(s)

Recorrido: Jeny Eracy Seibel

Advogado: Greice Chisini Siqueira Fleck e outro(s)

Interes.: Banco Santander S/A

EMENTA

RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. JULGAMENTO

NOS MOLDES DO ART. 543-C DO CÓDIGO DE PROCESSO

CIVIL. DPVAT. SEGURO OBRIGATÓRIO. INVALIDEZ

PARCIAL. INDENIZAÇÃO A SER FIXADA DE ACORDO COM A

PROPORCIONALIDADE DA INVALIDEZ. SÚMULA N. 474/STJ.

1. Para efeitos do art. 543-C do Código de Processo Civil: A

indenização do seguro DPVAT, em caso de invalidez parcial permanente do

benefi ciário, será paga de forma proporcional ao grau da invalidez (Súmula

n. 474/STJ).

2. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, por

unanimidade, dar provimento ao recurso especial, determinando o envio dos

autos ao Tribunal de origem para que fi xe a indenização proporcionalmente ao

grau de invalidez verifi cado, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Para os efeitos do artigo 543-C, do CPC, foi fi xada a seguinte tese: A

indenização do seguro DPVAT, em caso de invalidez parcial permanente do

benefi ciário, será paga de forma proporcional ao grau da invalidez (Súmula n.

474/STJ). Os Srs. Ministros Maria Isabel Gallotti, Antonio Carlos Ferreira,

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

186

Ricardo Villas Bôas Cueva, João Otávio de Noronha, Luis Felipe Salomão e

Raul Araújo Filho votaram com o Sr. Ministro Relator.

Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Nancy Andrighi e Marco

Buzzi.

Consignada a presença do Dr. Sergio Bermudes, pela recorrente Seguradora

Líder dos Consórcios do Seguro DPVAT S/A, dispensada a sustentação oral.

Brasília (DF), 22 de maio de 2013 (data do julgamento).

Ministro Sidnei Beneti, Presidente

Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Relator

DJe 27.5.2013

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino: Trata-se de recurso especial

interposto pela SEGURADORA LÍDER DOS CONSÓRCIOS DPVAT

S.A., com fundamento no artigo 105, III, “a” e “c”, da Constituição Federal,

contra acórdão proferido pela Sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do

Estado do Rio Grande do Sul no curso da ação de cobrança de indenização

securitária que lhe moveu JENY ERACY SEIBEL.

O acórdão recorrido recebeu a seguinte ementa (fl s. 153/169):

Apelação cível. Seguros. DPVAT. Invalidez permanente oriunda de acidente de

trânsito. Pagamento parcial. Necessidade de complementação do valor devido.

Inteligência do art. 3º, inciso II, da Lei 6.194/74, que prevê o pagamento de até

R$13.500,00 em caso de invalidez permanente, não havendo diferença se a moléstia

foi parcial ou total. Correção monetária. Termo inicial. Data do pagamento parcial.

Verba honorária minorada. Incidência da multa prevista no art. 475-J do Código de

Processo Civil. Descabimento. Necessidade de limitação. Precedente do STJ e da Corte.

Apelo parcialmente provido, vencido o vogal que provia em maior extensão.

Nas suas razões, o recorrente sustentou violação ao artigo 3º, II, da Lei

n. 6.194/74, com a redação dada pela Lei n. 11.482/2007, pois não observado

pelo Tribunal a quo o caráter proporcional e progressivo para o pagamento

da indenização do seguro DPVAT nos casos em que constatada invalidez

permanente parcial, ocasionada por acidente automobilístico.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 181-199, novembro 2017 187

Aponta, ainda, divergência jurisprudencial, lastreada em acórdão proferido

pela Quarta Turma desta Corte quando do julgamento do REsp n. 1.119.614/

RS, da relatoria do eminente Ministro Aldir Passarinho Júnior, DJe 31/08/2009,

bem como em julgado oriundo do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

Contrarrazões não apresentadas, conforme certidão de fl . 210.

Admitido o recurso especial na origem (fl s. 212/214), subiram os autos à

esta Corte Superior, e, verifi cando a multiplicidade de recursos com fundamento

em mesma questão de direito, afetei o julgamento do presente recurso à

Egrégia Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, em conformidade

com o disposto nos artigos 534-C do Código de Processo Civil e 2º, caput, da

Resolução n. 08/STJ, de 07/08/2008.

O Ministério Público Federal, em parecer de fl s. 229/233, opinou pelo

provimento do recurso especial.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino (Relator): Eminentes Colegas.

A controvérsia posta em debate cinge-se à verifi cação da possibilidade

do pagamento proporcional da indenização do seguro obrigatório DPVAT, de

acordo com o grau de invalidez permanente parcial do benefi ciário.

À vista da multiplicidade de recursos especiais que tratam desta mesma

questão, afetei o julgamento do presente recurso especial a esta Segunda Seção

para ser julgado como representativo da controvérsia, na forma do artigo 543-C

do Código de Processo Civil.

Saliento que a matéria é deveras conhecida nesta Corte, tendo sido

amplamente analisada pelos membros da Terceira e Quarta Turmas ao longo

dos anos, bem como mais recentemente no âmbito desta Egrégia Segunda

Seção mediante reclamações que aqui aportam com base na Resolução n.

12/2009 do STJ, inclusive com a edição do enunciado sumular n. 474/STJ.

Passo à análise da tese.

(I) CABIMENTO DO PAGAMENTO PROPORCIONAL DA

INDENIZAÇÃO DO SEGURO DPVAT

A orientação jurisprudencial desta Corte, cristalizada no enunciado da

Súmula n. 474/STJ, editada em 19/06/2012 por esta Egrégia Segunda Seção,

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

188

consolidou-se no sentido de que “a indenização do seguro DPVAT, em caso

de invalidez parcial do benefi ciário, será paga de forma proporcional ao grau da

invalidez.

Nos precedentes que deram origem à referida Súmula, ponderou-se que

para a interpretação do art. 3º, “b”, da Lei 6.194/74, que dispõe sobre o seguro

obrigatório DPVAT, deve-se considerar a partícula “até” constante da sua

redação originária e que se manteve, inclusive, após as modifi cações introduzidas

pelas Leis n. 8.441/1992 e 11.482/2007.

Confi ra-se o teor do referido artigo:

Art. 3º. Os danos pessoais cobertos pelo seguro estabelecido no art. 2º desta

Lei compreendem as indenizações por morte, invalidez permanente e despesas de

assistência médica e suplementares, nos valores que seguem, por pessoa vitimada:

a) - 40 (quarenta) vezes o valor do maior salário-mínimo vigente no País - no caso

de morte;

b) - Até 40 (quarenta vezes o valor do maior salário-mínimo vigente no País -

no caso de invalidez permanente;

c) Até 8 (oito) vezes o valor do maior salário-mínimo vigente no País - como

reembolso à vítima - no caso de despesas com assistência médica e suplementares

devidamente comprovadas.

Como se observa, a expressão “até” está a fi xar, na estrutura semântica do

enunciado da alínea “b”, um teto máximo do valor da indenização a ser pago em

caso de invalidez permanente, dentro do qual poderá variar gradativamente, de

acordo com o grau de incapacidade da vítima.

Não se trata, pois, de um valor fi xo a ser pago indistintamente a todos os

graus de incapacidade parcial permanente.

Com efeito, conforme esclarecido pela eminente Ministra Nancy Andrighi

em voto condutor do acórdão proferido quando do julgamento do REsp

1.101572/RS, Terceira Turma, DJe 25/11/2010, “[...] se por um lado a norma

estabelece, de maneira fi xa, que a indenização será paga em determinado montante

para a hipótese de morte (art. 3º, alínea “a”) e, por outro, determina que o valor a ser

pago para a invalidez permanente será até esse montante (art. 3º, alínea “b”), não é

razoável pensar que qualquer incapacidade, ainda que parcial, dê lugar à indenização

no patamar máximo”.

No mencionado precedente, decidiu-se, ainda, ser válida a utilização da

tabela elaborada pelo Conselho Nacional de Seguros Privados - CNSP para

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 181-199, novembro 2017 189

redução proporcional da indenização a ser paga por força do seguro obrigatório

DPCAT em situações de invalidez parcial permanente.

Confi ra-se:

O recorrente argumenta que, ao estabelecer uma tabela contendo diferentes

limites de pagamento de indenizações nas hipóteses de invalidez permanente total

ou parcial, o Conselho Nacional de Seguros Privados teria descumprido os limites da

Lei, que não comportaria essa limitação. Contudo, não se pode falar de violação da

norma legal. O que o CNSP fez foi apenas regular, dentro dos limites da Lei, os valores

a serem pagos para diferentes espécies de sinistros.

Acresça-se, de outro lado, à tese da possibilidade de pagamento gradativo

da indenização do seguro DPVAT, que a interpretação a ser feita do art. 3º, “b”,

da Lei 6.194/74 também não pode olvidar os demais dispositivos daquele édito

legislativo, especialmente ao § 5º do art. 5º, que, desde a sua inclusão pela Lei

8.441/92, rezava:

§ 5º O instituto médico legal da jurisdição do acidente também quantificará

as lesões físicas ou psíquicas permanentes para fins de seguro previsto nesta lei,

em laudo complementar, no prazo médio de noventa dias do evento, de acordo

com os percentuais da tabela das condições gerais de seguro de acidente

suplementada, nas restrições e omissões desta, pela tabela de acidentes do trabalho

e da classifi cação internacional das doenças.”

Confi ra-se, quanto ao ponto, as conclusões do eminente Ministro Aldir

Passarinho Junior, exaradas por ocasião do julgamento do REsp 1.119.614/RS,

Quarta Turma, DJe 31/08/2009:

[...] sobre a tese da possibilidade de cobertura parcial do DPVAT, proporcionalmente

ao grau de invalidez, ela se me afi gura correta, considerando que § 5º do art. 5º da Lei

6.194/1974, com a nova redação dada pela Lei 8.441/1992, que disciplina tal espécie

de seguro, dispõe que:

(...)

Com efeito, não haveria sentido útil na letra da lei sobre a indicação da

quantifi cação das lesões e percentuais da tabela para fi ns do DPVAT, se este seguro

houvesse, sempre, de ser pago pelo valor integral, independentemente da extensão

da lesão e de grau de invalidez.

Também nesse sentido, as ponderações feitas pelo eminente Ministro Luis

Felipe Salomão, constantes do voto condutor do acórdão proferido quando do

julgamento do REsp 1.250.017/RS, Quarta Turma, DJe 7/6/2011:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

190

Com efeito, de acordo com a redação vigente à época dos fatos, art. 3º, II, da Lei

n.º 6.194/74 (determinada pela Lei 11.482/2007), em caso de invalidez permanente, o

valor da indenização, a título de seguro obrigatório - DPVAT, será de até R$13.500,00.

A utilização, pelo legislador, do termo ‘até’ no referido inciso corrobora o

entendimento sobre a necessidade de se aferir o grau de invalidez, ante o sentido de

gradação em direção ao valor máximo, que traz ínsito a referida expressão, e ante o

entendimento de que a lei não contém palavras inúteis.

Ademais, o art. 5º, § 5º, da Lei 6.194/74, com a redação dada pela Lei 8.441/1992,

que disciplina tal espécie de seguro, dispõe que:

‘O instituto médico legal da jurisdição do acidente também quantifi cará as

lesões físicas ou psíquicas permanentes para fi ns de seguro previsto nesta lei,

em laudo complementar, no prazo médio de noventa dias do evento, de acordo

com os percentuais da tabela das condições gerais de seguro de acidente

suplementada, nas restrições e omissões desta, pela tabela de acidentes do

trabalho e da classifi cação internacional das doenças’.

A necessidade de quantifi cação das lesões pelo Instituto Médico Legal da jurisdição

do acidente ou da residência da vítima foi mantida, inclusive, na nova redação dada

ao referido § 5º, pela redação dada pela Lei 11.945/2009, nos seguintes termos:

‘§ 5º O Instituto Médico Legal da jurisdição do acidente ou da residência da

vítima deverá fornecer, no prazo de até 90 (noventa) dias, laudo à vítima com

a verifi cação da existência e quantifi cação das lesões permanentes, totais ou

parciais.’

Nessa linha de intelecção, não haveria sentido útil a letra da lei indicar a

quantifi cação das lesões e percentuais da tabela para fi ns de DPVAT, se este seguro

houvesse, sempre, de ser pago pelo valor integral, independentemente da extensão

da lesão e do grau de invalidez causado pelo acidente.

A intenção do legislador ao utilizar a expressão invalidez permanente, para efeito

de indenização pelo valor máximo foi abranger aqueles casos em que a lesão sofrida

pelo acidentado seja expressiva a ponto de torná-lo incapaz para o trabalho, não

sendo sufi ciente para caracterizá-la a ocorrência de lesão que, embora permanente,

não o impossibilite de exercer atividade laboral.

Anoto, por fi m, que a Presidência da República, por intermédio da MP n.

451/08, e o próprio legislador federal pela LF n. 11.945/09, fi zeram alterar o

art. 3º do referido édito, mais bem explicitando a razão pela qual a LF n. 6.194/74

sempre referiu-se à indenização pela incapacidade permanente de até 40 salários

mínimos (quantum alterado nos idos de 2006 pela MP n. 340, convertida na LF

n. 11.482/07, para até R$ 13.500,00).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 181-199, novembro 2017 191

Assim restou redigido o § 1º do referido dispositivo, a disciplinar a

invalidez permanente parcial completa e incompleta:

§ 1º. No caso da cobertura de que trata o inciso II do caput deste artigo, deverão

ser enquadradas na tabela anexa a esta Lei as lesões diretamente decorrentes de

acidente e que não sejam suscetíveis de amenização proporcionada por qualquer

medida terapêutica, classifi cando-se a invalidez permanente como total ou parcial,

subdividindo-se a invalidez permanente parcial em completa e incompleta, conforme

a extensão das perdas anatômicas ou funcionais, observado o disposto abaixo:

(Incluído pela Lei n. 11.945, de 2009).

I - quando se tratar de invalidez permanente parcial completa, a perda anatômica

ou funcional será diretamente enquadrada em um dos segmentos orgânicos

ou corporais previstos na tabela anexa, correspondendo a indenização ao valor

resultante da aplicação do percentual ali estabelecido ao valor máximo da cobertura;

e (Incluído pela Lei n. 11.945, de 2009).

II - quando se tratar de invalidez permanente parcial incompleta, será efetuado

o enquadramento da perda anatômica ou funcional na forma prevista no inciso I

deste parágrafo, procedendo-se, em seguida, à redução proporcional da indenização

que corresponderá a 75% (setenta e cinco por cento) para as perdas de repercussão

intensa, 50% (cinquenta por cento) para as de média repercussão, 25% (vinte e cinco

por cento) para as de leve repercussão, adotando-se ainda o percentual de 10% (dez

por cento), nos casos de sequelas residuais. (Incluído pela Lei n. 11.945, de 2009).

Com essas considerações, confi ram-se diversos precedentes desta Corte,

que demonstram a solidez do entendimento acerca do tema:

DPVAT. INVALIDEZ PERMANENTE. PERÍCIA MÉDICA. APURAÇÃO DO GRAU DA

LESÃO SOFRIDA. PAGAMENTO PROPORCIONAL DO SEGURO. PRECEDENTES.

I.- Em caso de invalidez parcial, o pagamento do seguro DPVAT deve observar a

respectiva proporcionalidade. Precedentes.

II.- Agravo Regimental improvido.

(AgRg no Ag 1.341.965/MT, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, Terceira Turma, DJe

10/11/2010);

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DECISÃO MANTIDA.

SEGURO DPVAT. INVALIDEZ PARCIAL PERMANENTE. PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO

PROPORCIONAL. OBSERVÂNCIA DO ART. 3º, II DA LEI 6.194/74. INCIDÊNCIA DA

SÚMULA 83 DO STJ.

1- O art. 3º, II, da Lei 6.194/74 (redação determinada pela Lei 11.482/2007) não

estabelece, para hipóteses de invalidez permanente, um valor de indenização fi xo

mas determina um teto que limita o valor da indenização.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

192

2. Em caso de invalidez parcial, o pagamento do seguro DPVAT deve observar a

respectiva proporcionalidade. Precedentes.

3. “Não se conhece do recurso especial pela divergência, quando a orientação do

Tribunal se fi rmou no mesmo sentido da decisão recorrida” Súmula 83 do STJ.

3. Agravo regimental não provido.

(AgRg no AREsp 8.515/MS, Rel. MIN. LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,

DJe 01/07/2011)

CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. DPVAT. INVALIDEZ PERMANENTE PARCIAL.

PAGAMENTO PROPORCIONAL. POSSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA

PROVIMENTO.

1. Em situações de invalidez parcial, é correta a utilização de tabela para redução

proporcional da indenização a ser paga por seguro DPVAT. Precedente.

2. Agravo regimental a que se nega provimento.

(AgRg no Ag 1.368.795/MT, Rel. MIN. LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,

DJe 18/04/2011);

CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. SEGURO OBRIGATÓRIO

(DPVAT). INVALIDEZ PERMANENTE PARCIAL. PAGAMENTO PROPORCIONAL DO

SEGURO. POSSIBILIDADE. TABELA PARA CÁLCULO DE INVALIDEZ. INDENIZAÇÃO

LEGAL. VALOR QUANTIFICADO EM SALÁRIOS MÍNIMOS. LEI N. 6.194/1974, ART. 5º, §

1º. DATA DE APURAÇÃO. CORREÇÃO MONETÁRIA. TERMO A QUO. EVENTO DANOSO.

IMPROVIMENTO.

I. Em caso de invalidez parcial, o pagamento do seguro DPVAT deve, por igual,

observar a respectiva proporcionalidade. Precedentes do STJ.

II. A indenização decorrente do seguro obrigatório (DPVAT) deve ser apurada com

base no valor do salário mínimo vigente na data do evento danoso, monetariamente

atualizado até o efetivo pagamento.

III. Agravo regimental improvido.

(AgRg nos EDcl no REsp 1.215.796/SP, Rel. MIN. ALDIR PASSARINHO JUNIOR,

QUARTA TURMA, DJe 15/04/2011);

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. SEGURO OBRIGATÓRIO -

DPVAT. INVALIDEZ. CÁLCULO PROPORCIONAL.

1 - Consolidou-se a jurisprudência do STJ no sentido da validade da utilização de

tabela para o cálculo proporcional da indenização de seguro obrigatório segundo o

grau de invalidez. Precedentes.

2 - Agravo regimental a que se nega provimento.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 181-199, novembro 2017 193

(AgRg no Ag 1.360.777/PR, Rel MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, DJe

29/04/2011);

DIREITO PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AGRAVO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.

AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO OBRIGATÓRIO DPVAT. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.

OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. NÃO INDICAÇÃO. SÚMULA 284/STF.

VIOLAÇÃO DO ART. 458, II, DO CPC. INOCORRÊNCIA. MULTA POR LITIGÂNCIA DE MÁ-

FÉ. AFASTAMENTO. PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO PROPORCIONAL. POSSIBILIDADE.

(...)

- Em caso de invalidez parcial, o pagamento do seguro DPVAT deve observar a

respectiva proporcionalidade.

- Agravo não provido.

(AgRg no AREsp 14.312/SC, Relatora Ministra NANCY ANDRIGHI, Terceira

Turma, DJe 23/11/2011);

AGRAVO REGIMENTAL. SEGURO DPVAT. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. NÃO

OCORRÊNCIA. INVALIDEZ PERMANENTE. NÃO CONFIGURAÇÃO.

1. Considera-se improcedente a arguição de ofensa do art. 535, II, do CPC quando

o Tribunal a quo pronuncia-se, de forma motivada e suficiente, sobre os pontos

relevantes e necessários ao deslinde da controvérsia.

2. A indenização securitária do DPVAT decorrente de invalidez permanente deve

corresponder a até R$ 13.500,00.

3. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no Ag 1.365.610/MT, Relator Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,

Quarta Turma, DJe 11/04/2011);

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO. RECURSO ESPECIAL. DPVAT.

SEGURO OBRIGATÓRIO. INVALIDEZ PERMANENTE. PERÍCIA MÉDICA. APURAÇÃO DO

GRAU DA LESÃO SOFRIDA. PAGAMENTO PROPORCIONAL DO SEGURO. PRECEDENTES.

DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. IMPROVIMENTO.

1.- Inexiste omissão ou ausência de fundamentação, não constando do acórdão

embargado os defeitos previstos no artigo 535 do Código de Processo Civil, quando

a decisão embargada tão-só mantém tese diferente da pretendida pela parte

recorrente.

2.- Ao determinar que o pagamento do seguro DPVAT deve corresponder ao grau

da invalidez permanente apurada, o Tribunal a quo decidiu em conformidade com o

entendimento desta Corte sobre a matéria, incidindo, à espécie, o teor da Súmula 83

deste Superior Tribunal de Justiça.

3.- Agravo Regimental improvido.

(AgRg no AREsp 134.916/GO, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, DJe 11/05/2012);

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

194

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ARTIGO 544 DO CPC). DECISÃO

MONOCRÁTICA QUE CONHECEU DO AGRAVO PARA DAR PROVIMENTO AO RECURSO

ESPECIAL. INSURGÊNCIA DO AUTOR.

1. Aferição do grau de invalidez permanente para fi xação da indenização referente

ao seguro DPVAT. Da leitura conjugada dos artigos 3º e 5º da Lei 6.194/74, infere-se

que o legislador estabeleceu apenas o limite máximo do valor da indenização por

invalidez permanente, correspondente a 40 salários mínimos, na legislação anterior, e

até R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais), na redação dada pela Lei 11.482/2007,

o que justifica a necessidade de que as lesões sejam quantificadas pelo instituto

médico legal competente, para que se possa apurar o grau de incapacidade do

segurado, fi xando-se, em razão da extensão das lesões por ele sofridas, a respectiva

compensação indenizatória. Precedentes do STJ.

2. No julgamento do REsp 1.101.572/RS, Relatora Min. NANCY ANDRIGHI, DJe

25.11.10, declarou-se a validade da utilização da tabela elaborada pelo Conselho

Nacional de Seguros Privados - CNSP, para redução proporcional da indenização a ser

paga por força do seguro obrigatório DPVAT, em situações de invalidez proporcional,

tal como no presente caso.

3. Agravo regimental desprovido, com aplicação de multa.

(AgRg no AREsp 132.494/GO, Relator Ministro MARCO BUZZI, Quarta Turma,

DJe 26/06/2012);

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DPVAT. AÇÃO

DE COBRANÇA. DPVAT. INVALIDEZ PARCIAL. INDENIZAÇÃO PROPORCIONAL.

PRECEDENTES.

1. Esta Corte já consolidou o entendimento de que, em caso de invalidez

parcial, o pagamento do seguro DPVAT deve, por igual, observar a respectiva

proporcionalidade.

2. A extensão da lesão e o grau de invalidez devem ser determinados pelo Tribunal

local.

3. Agravo regimental não provido.

(AgRg no AREsp 148.287/GO, Relator Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,

DJe 25/05/2012);

CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. DPVAT. INVALIDEZ PERMANENTE PARCIAL.

PAGAMENTO PROPORCIONAL. POSSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA

PROVIMENTO.

1. Em situações de invalidez parcial, é correta a utilização de tabela para redução

proporcional da indenização a ser paga por seguro DPVAT. Interpretação do art. 3º,

“b”, da Lei 6.194/74. Precedentes.

2. Agravo regimental a que se nega provimento.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 181-199, novembro 2017 195

(AgRg no REsp 1.298.551/MS, Relator Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Quarta

Turma, DJe 06/03/2012);

CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. SEGURO DPVAT. INVALIDEZ

PERMANENTE. NECESSIDADE DE PERÍCIA PARA AVALIAR A EXTENSÃO DA LESÃO.

PAGAMENTO PROPORCIONAL AO GRAU DA LESÃO. SÚM. 474 DO STJ.

1. “A indenização do seguro DPVAT, em caso de invalidez parcial do benefi ciário,

será paga de forma proporcional ao grau da invalidez”. Súmula n. 474 do STJ.

2. Agravo regimental a que se nega provimento.

(AgRg no REsp 1.254.462, Relatora Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, DJe

03/10/2012);

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO - DPVAT - NEGATIVA DE

PRESTAÇÃO JURISDICIONAL - NÃO-OCORRÊNCIA - INVALIDEZ PARCIAL - PAGAMENTO

PROPORCIONAL DO SEGURO - POSSIBILIDADE - ACÓRDÃO RECORRIDO EM

HARMONIA COM O ENTENDIMENTO DESTA CORTE - RECURSO IMPROVIDO.

(AgRg no Ag 1.345.899/MT, Relator Ministro MASSAMI UIEDA, DJe 02/10/2012);

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL RECEBIDOS

COMO AGRAVO REGIMENTAL. SEGURO OBRIGATÓRIO DE VEÍCULO. DISSÍDIO

PRETORIANO. AUSÊNCIA DA DEMONSTRAÇÃO ANALÍTICA DA DIVERGÊNCIA. DPVAT.

INVALIDEZ PARCIAL. PAGAMENTO PROPORCIONAL. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES.

AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

1. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental em face do nítido

caráter infringente das razões recursais. Aplicação dos princípios da fungibilidade e

da economia processual.

2. O pretendido dissídio pretoriano não foi analiticamente demonstrado, deixando

descumprido o comando disposto nos arts. 541, parágrafo único, do Código de

Processo Civil e 255, § 2º, do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça. Com

efeito, para a caracterização da sugerida divergência jurisprudencial, não basta a

simples transcrição de ementas e trechos dos acórdãos paradigmas, sem o confronto

com excertos do acórdão recorrido, sob pena de não serem atendidos, como na

hipótese, os requisitos previstos nos mencionados dispositivos.

3. A fixação da indenização a partir do grau de invalidez encontra-seem

conformidade com o entendimento pacifi cado nesta eg. Corte de Justiça no sentido

de que “é válida a utilização de tabela para redução proporcional da indenização a

ser paga por seguro DPVAT, em situações de invalidez parcial” (REsp 1.101.572/RS,

Terceira Turma, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, DJe de 16.11.2010).

4. Agravo regimental desprovido.

(EDcl no AREsp 66309/SP, Relator Ministro RAUL ARAÚJO, Quarta Turma, DJe

01/08/2012).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

196

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. SEGURO OBRIGATÓRIO.

DPVAT. PAGAMENTO PROPORCIONAL. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. ENUNCIADO N.

83 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.

1. A c. Corte de origem dirimiu, fundamentadamente, as matérias que lhe

foram submetidas, motivo pelo qual o acórdão recorrido não padece de omissão,

contradição ou obscuridade. Não se vislumbra, portanto, a afronta ao art. 535 do

Código de Processo Civil.

2. A fixação da indenização a partir do grau de invalidez encontra-se em

conformidade com o entendimento pacifi cado nesta eg. Corte de Justiça no sentido

de que “é válida a utilização de tabela para redução proporcional da indenização a

ser paga por seguro DPVAT, em situações de invalidez parcial” (REsp 1.101.572/RS, 3ª

Turma, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, DJe de 16.11.2010).

3. Agravo regimental a que se nega provimento.

(AgRg no Ag 1.355.341/MT, Relator Ministro RAUL ARAÚJO, Quarta Turma, DJe

01/02/2012);

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. DPVAT. SEGURO OBRIGATÓRIO.

INVALIDEZ PARCIAL. INDENIZAÇÃO PROPORCIONAL. REFORMA DO ACÓRDÃO.

I. Em caso de invalidez parcial, o pagamento do seguro DPVAT deve observar a

respectiva proporcionalidade.

2. O acórdão recorrido que, mesmo comprovando a incapacidade parcial,

determina a plena indenização sem observância dos critérios de proporcionalidade

destoa da jurisprudência deste Superior Tribunal, merecendo, por isso, reforma.

3. A conseqüência jurídica que a invalidez parcial acarreta na indenização do

seguro obrigatório, DPVAT, é de extração precípua desta Corte, não importando

infração ao teor da Sumula n. 07/STJ.

4. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

(AgRg no Ag 1.383.417/MS, Relator Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,

DJe 19/03/2012);

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO (ARTIGO 544 DO CPC). DECISÃO MONOCRÁTICA

QUE MANTEVE A INADMISSÃO DO RECURSO ESPECIAL, ANTE A INCIDÊNCIA DA

SÚMULA 83/STJ.

1. Violação do artigo 535 do CPC não confi gurada. Acórdão local que enfrentou

todos os aspectos essenciais à lide.

2. Aferição do grau de invalidez permanente para fi xação da indenização referente

ao seguro DPVAT. Da leitura conjugada dos artigos 3º e 5º da Lei 6.194/74, infere-se

que o legislador estabeleceu apenas o limite máximo do valor da indenização por

invalidez permanente, correspondente a 40 salários mínimos, na legislação anterior, e

até R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais), na redação dada pela Lei 11.482/2007,

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 181-199, novembro 2017 197

o que justifica a necessidade de que as lesões sejam quantificadas pelo instituto

médico legal competente, para que se possa apurar o grau de incapacidade do

segurado, fi xando-se, em razão da extensão das lesões por ele sofridas, a respectiva

compensação indenizatória. Precedentes do STJ.

3. Agravo regimental desprovido, com aplicação de multa.

(AgRg no AREsp 119.835/MT, Relator Ministro MARCO BUZZI, DJe 18/06/2012);

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.

AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO OBRIGATÓRIO DPVAT. VALOR DA INDENIZAÇÃO

DEVE GUARDAR PROPORCIONALIDADE COM A EXTENSÃO DA LESÃO E O GRAU DE

INVALIDEZ. ACÓRDÃO RECORRIDO QUE MANIFESTOU ENTENDIMENTO DIVERGENTE

DA JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. REFORMA. NÃO INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 7/

STJ. DECISÃO MANTIDA.

1. O valor da indenização do seguro obrigatório DPVAT deve guardar

proporcionalidade com a extensão da lesão e o grau de invalidez.

2. A reforma do acórdão recorrido, que se fundamentou em premissa contrária

ao entendimento pacífi co da jurisprudência desta Corte, não confi gura violação da

Súmula n. 7/STJ.

3. Agravo regimental a que se nega provimento.

(AgRg no AREsp 59.619/MS, Relator Ministro ANTÔNIO CARLOS FERREIRA,

Quarta Turma, DJe 19/10/2012);

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DPVAT. SEGURO

OBRIGATÓRIO. INVALIDEZ PARCIAL. INDENIZAÇÃO PROPORCIONAL À LESÃO.

LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. NEGATIVA DE PAGAMENTO DA INDENIZAÇÃO INTEGRAL

PELA SEGURADORA. ENTENDIMENTO EM CONSONÂNCIA COM A SÚMULA 474/STJ.

AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

(AgRg no AREsp 39.864/SC, Relator Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,

Terceira Turma, DJe 26/02/2013).

Em reforço, veja-se a ementa do acórdão proferido recentemente pela

Segunda Seção, da relatoria do eminente Ministro Antônio Carlos Ferreira,

proferido na ocasião do julgamento da Reclamação 10.093/MA, ajuizada com

base na Resolução n. 12/2009 do STJ:

CIVIL. RECLAMAÇÃO. DECISÃO DE TURMA RECURSAL DE JUIZADOS ESPECIAIS

ESTADUAIS. RESOLUÇÃO N. 12 DO STJ. ACÓRDÃO RECLAMADO EM CONFRONTO

COM ENTENDIMENTO SUMULADO DESTA CORTE. SÚMULA N. 474/STJ. VALOR DA

INDENIZAÇÃO DO SEGURO OBRIGATÓRIO DPVAT. PROPORCIONALIDADE COM

EXTENSÃO E GRAU DE LESÃO.PROCEDÊNCIA DA RECLAMAÇÃO.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

198

1. A jurisprudência desta Corte pacifi cou o seguinte entendimento: “A indenização

do seguro DPVAT, em caso de invalidez parcial do benefi ciário, será paga de forma

proporcional ao grau da invalidez” (Súmula n. 474/STJ).

2. A extensão da lesão e o grau de invalidez devem ser determinados na origem, à

luz das provas produzidas nos correspondentes autos. Todavia, a fi xação no patamar

máximo previsto não pode ser fundamentado exclusivamente na circunstância

de existir prova do acidente e de ser permanente a invalidez parcial. É necessário

observar a respectiva proporcionalidade da indenização conforme preceitua o

verbete 474 da Súmula do STJ.

3. No caso concreto, o acórdão reclamado divergiu da jurisprudência sumulada

desta Corte, pois entendeu que a legislação vigente não permite o pagamento da

indenização proporcional à diminuição da capacidade do segurado, e determinou

o pagamento do seguro pelo valor máximo (quarenta salários mínimos), sob o

argumento de existir prova do acidente e do dano permanente.

4. Ademais, esta Corte entende ser “válida a utilização de tabela para redução

proporcional da indenização a ser paga por seguro DPVAT, em situações de invalidez

parcial” (REsp 1.101.572/RS, Terceira Turma, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, DJe de

16.11.2010).

4. Reclamação procedente.

(Rcl 10.093/MA, Relator Ministro ANTÔNIO CARLOS FERREIRA, Segunda Seção,

DJe 01/02/2013).

Colaciono, ainda, as decisões unipessoais a seguir: Rcl 12.296, Relator

Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, DJ 25/04/2013; Rcl 12.297,

Relator Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, DJ 24/04/2013; Rcl

5.363, Relatora Ministra NANCY ANDRIGHI, DJ 06/11/2012; Rcl 5.411,

Relator Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, DJ 19/02/2013.

Inconteste, destarte, o consenso nessa Corte Superior acerca da legalidade

da fixação proporcional da indenização pelo seguro DPVAT nos casos de

invalidez parcial permanente.

Assim, para efeitos do artigo 543-C, do Código de Processo Civil,

encaminha-se a seguinte tese: A indenização do seguro DPVAT, em caso de

invalidez parcial permanente do benefi ciário, será paga de forma proporcional ao

grau da invalidez (Súmula n. 474/STJ).

(II) APLICAÇÃO AO CASO CONCRETO

No caso dos autos, Tribunal a quo determinou a plena indenização do

seguro DPVAT, sem observância dos critérios de proporcionalidade.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 181-199, novembro 2017 199

Confi ra-se excerto da fundamentação do acórdão recorrido (fl s. 153/169),

verbis:

Cumpre destacar, para análise da presente questão, que o sinistro ocorreu em

29.04.2008, ou seja, sob a égide da Lei n. 11.482/07. Assim está previsto no art. 3º,

inciso II, da Lei 6.194/74

(...)

Referido dispositivo legal prevê o pagamento de até R$13.500,00 em caso de

invalidez permanente, não havendo diferença se a moléstia foi parcial ou total,

devendo a parte autora, por isso, receber o valor máximo requerido.

(destaquei)

Destoa, pois, o acórdão recorrido da orientação jurisprudencial consolidada

por esta Corte, devendo, consequentemente, ser provido o recurso especial.

Ante o exposto, dou provimento ao recurso especial, determinando o envio dos

autos ao Tribunal de origem para que fi xe a indenização proporcionalmente ao grau

de invalidez verifi cado.

Publicado o Acórdão, expeçam-se ofícios, transmitindo cópia do presente

julgamento a todos os E. Presidentes dos Tribunais de Justiça e Tribunais

Regionais Federais, para que se proceda nos termos do 543-C, §§ 7º, I e II, e

8º, do Código de Processo Civil, com a redação da Lei n. 11.672, de 8/05/2008.

É o voto.

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Súmula n. 545

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SÚMULA N. 545

Quando a confi ssão for utilizada para a formação do convencimento do

julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no art. 65, III, d, do Código Penal.

Referência:

CP, art. 65, III, d.

Precedentes:

AgRg no Ag 1.242.578-SP (5ª T, 06.11.2012 – DJe 14.11.2012)

AgRg no HC 201.797-SP (5ª T, 16.12.2014 – DJe 02.02.2015)

HC 318.184-RJ (5ª T, 26.05.2015 – DJe 02.06.2015)

HC 314.944-SP (5ª T, 02.06.2015 – DJe 09.06.2015) –

acórdão publicado na íntegra

AgRg no REsp 1.412.043-MG (6ª T, 10.03.2015 – DJe 19.03.2015)

HC 284.766-RJ (6ª T, 14.04.2015 – DJe 22.04.2015)

HC 310.569-SP (6ª T, 14.04.2015 – DJe 24.04.2015)

HC 316.798-SP (6ª T, 07.05.2015 – DJe 15.05.2015)

AgRg no REsp 1.269.574-SP (6ª T, 26.05.2015 – DJe 02.06.2015)

Terceira Seção, em 14.10.2015

DJe 19.10.2015

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HABEAS CORPUS N. 314.944-SP (2015/0015918-5)

Relator: Ministro Reynaldo Soares da Fonseca

Impetrante: Defensoria Pública do Estado de São Paulo

Advogado: Joao Ricardo Meira Amaral

Impetrado: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

Paciente: Ricardo Expedito Garcia da Silva

EMENTA

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO

ORDINÁRIO. ROUBO MAJORADO. CONDENAÇÃO.

CONFISSÃO PARCIAL. ATENUAÇÃO DA PENA.

POSSIBILIDADE. COMPENSAÇÃO COM A AGRAVANTE

DA REINCIDÊNCIA. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO.

ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.

1. O Supremo Tribunal Federal, por sua Primeira Turma, e a

Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça, diante da utilização

crescente e sucessiva do habeas corpus, passaram a restringir a sua

admissibilidade quando o ato ilegal for passível de impugnação pela via

recursal própria, sem olvidar a possibilidade de concessão da ordem, de

ofício, nos casos de fl agrante ilegalidade. Esse entendimento objetivou

preservar a utilidade e a efi cácia do mandamus, que é o instrumento

constitucional mais importante de proteção à liberdade individual

do cidadão ameaçada por ato ilegal ou abuso de poder, garantindo a

celeridade que o seu julgamento requer.

2. A confi ssão do acusado, mesmo que parcial, deve ser reconhecida

como atenuante da pena, quando utilizada pelo magistrado para

fi rmar o seu convencimento, em conjunto com outros meios de prova.

3. No presente caso, as transcrições não deixam dúvida que a

confi ssão do paciente, feita em juízo, mesmo que parcial, somada à prova

oral produzida nos autos, foi determinante para o reconhecimento da

autoria e consequente condenação.

4. A Terceira Seção desta Corte, no julgamento dos Embargos

de Divergência EREsp n. 1.154.752/RS, reconheceu ser possível a

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

206

compensação entre a atenuante da confi ssão espontânea e a agravante

da reincidência, por serem igualmente preponderantes.

5. Na espécie, o paciente ostenta apenas uma condenação

anterior, com trânsito em julgado, não havendo, assim, impedimentos

a compensação integral entre as duas circunstâncias.

6. Habeas Corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para

reconhecer a atenuante da confi ssão espontânea, realizar a compensação

com a agravante da reincidência e reduzir a pena a 5 (cinco) anos e 4

(quatro) meses de reclusão e pagamento de 13 (treze) dias-multa, nos

autos da ação penal originária n. 0070692-20.2013.8.26.0050, da 30ª

Vara Criminal do Foro Central da Comarca de São Paulo/SP.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça,

por unanimidade, não conhecer do pedido e conceder “Habeas Corpus” de

ofício, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Newton

Trisotto (Desembargador Convocado do TJ/SC), Leopoldo de Arruda Raposo

(Desembargador convocado do TJ/PE), Felix Fischer e Gurgel de Faria votaram

com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 02 de junho de 2015 (data do julgamento).

Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Relator

DJe 9.6.2015

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca: Trata-se de habeas corpus

impetrado em favor de RICARDO EXPEDIDO GARCIA DA SILVA em

face de acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.

Consta dos autos que o paciente foi condenado, em primeira instância,

pela prática da conduta descrita no art. 157, § 2º, I e II, do Código Penal, à pena

de 6 (seis) anos, 2 (dois) meses e 20 (vinte) dias de reclusão, no regime inicial

fechado, porque (e-STJ fl . 10):

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 201-211, novembro 2017 207

[...] em 09 de agosto de 2013, por volta de 12h45, na esquina das ruas “dos

Gusmões” com “Cruz Rio Branco”, nesta Capital, agindo previamente acordado com

indivíduos não identifi cados e mediante grave ameaça exercida com emprego de

arma branca, teria subtraído bens pertencentes a S.N.M.

Diz a inicial que a vítima saiu do banco e caminhava pelo local quando foi cercada

por cerca de seis indivíduos, sendo que um deles portava uma faca. Eles anunciaram

o assalto e subtraíram a carteira e um conjunto de lâmpadas do ofendido. Porém,

Policiais Militares apareceram e os roubadores empreenderam fuga, sendo o réu

detido, com ele sendo apreendida a faca utilizada no crime e um cartão bancário

subtraído do ofendido.

A defesa recorreu da sentença postulando a absolvição. Contudo, o

Tribunal revisor, em julgamento realizado no dia 6/11/2014, negou provimento

ao recurso, mantendo, na íntegra, a condenação.

A Defensoria Pública alega, na presente oportunidade, que a confi ssão

do réu, embora parcial, foi utilizada como meio para chegar à autoria delitiva,

devendo incidir, no caso, a atenuante prevista no art. 65, III, d, do Código Penal.

Afi rma, ainda, que o paciente ostenta apenas uma condenação anterior, razão

pela qual faz jus à compensação integral com a agravante da reincidência.

Diante disso, pede compensação entre as duas circunstâncias avaliadas na

segunda fase da dosimetria e a consequente readequação da pena.

Sem pedido liminar.

As informações foram dispensadas e o Ministério Público Federal

manifestou-se pelo não conhecimento do habeas corpus, mas pela concessão da

ordem, de ofício (e-STJ fl s. 48/50).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca (Relator): O Supremo Tribunal

Federal, por sua Primeira Turma, e a Terceira Seção deste Superior Tribunal de

Justiça, diante da utilização crescente e sucessiva do habeas corpus, passaram a

restringir a sua admissibilidade quando o ato ilegal for passível de impugnação

pela via recursal própria, sem olvidar a possibilidade de concessão da ordem, de

ofício, nos casos de fl agrante ilegalidade. Esse entendimento objetivou preservar

a utilidade e a efi cácia do mandamus, que é o instrumento constitucional mais

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

208

importante de proteção à liberdade individual do cidadão ameaçada por ato

ilegal ou abuso de poder, garantindo a celeridade que o seu julgamento requer.

Nesse sentido, confi ram-se os seguintes julgados, exemplifi cativos dessa

nova orientação das Cortes Superiores do País:

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO.

NÃO CABIMENTO. ROUBO EM CONCURSO DE PESSOAS E COM EMPREGO DE ARMA

DE FOGO. PRISÃO EM FLAGRANTE CONVERTIDA EM PREVENTIVA. ALEGADA AUSÊNCIA

DE FUNDAMENTAÇÃO DO DECRETO PRISIONAL. INOCORRÊNCIA. SEGREGAÇÃO

CAUTELAR DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA NA GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA.

PERICULOSIDADE CONCRETA DO PACIENTE. MODUS OPERANDI. HABEAS CORPUS

NÃO CONHECIDO.

I - A Primeira Turma do col. Pretório Excelso firmou orientação no sentido de

não admitir a impetração de habeas corpus substitutivo ante a previsão legal de

cabimento de recurso ordinário (v.g.: HC 109.956/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe de

11/9/2012; RHC 121.399/SP, Rel. Min. Dias Toff oli, DJe de 1º/8/2014 e RHC 117.268/

SP, Rel. Min. Rosa Weber, DJe de 13/5/2014). As Turmas que integram a Terceira Seção

desta Corte alinharam-se a esta dicção, e, desse modo, também passaram a repudiar

a utilização desmedida do writ substitutivo em detrimento do recurso adequado (v.g.:

HC 284.176/RJ, Quinta Turma, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe de 2/9/2014; HC 297.931/

MG, Quinta Turma, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, DJe de 28/8/2014; HC 293.528/SP,

Sexta Turma, Rel. Min. Nefi Cordeiro, DJe de 4/9/2014 e HC 253.802/MG, Sexta Turma,

Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJe de 4/6/2014).

II - Portanto, não se admite mais, perfi lhando esse entendimento, a utilização

de - substitutivo quando cabível o recurso próprio, situação que implica o não

conhecimento da impetração. Contudo, no caso de se verifi car confi gurada fl agrante

ilegalidade apta a gerar constrangimento ilegal, recomenda a jurisprudência a

concessão da ordem de ofício.

(...). Habeas corpus não conhecido. (HC 320.818/SP, Rel. Min. FELIX FISCHER,

Quinta Turma, julgado em 21/05/2015, DJe 27/05/2015)

EMENTA HABEAS CORPUS. SUBSTITUTIVO DO RECURSO CONSTITUCIONAL.

INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. TRÁFICO INTERNACIONAL DE DROGAS. DOSIMETRIA.

SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. REGIME INICIAL FECHADO. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA.

CIRCUNSTÂNCIAS DESFAVORÁVEIS. 1. O habeas corpus tem uma rica história,

constituindo garantia fundamental do cidadão. Ação constitucional que é, não pode

ser o writ amesquinhado, mas também não é passível de vulgarização, sob pena

de restar descaracterizado como remédio heroico. Contra a denegação de habeas

corpus por Tribunal Superior prevê a Constituição Federal remédio jurídico expresso,

o recurso ordinário. Diante da dicção do art. 102, II, a, da Constituição da República,

a impetração de novo habeas corpus em caráter substitutivo escamoteia o instituto

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 201-211, novembro 2017 209

recursal próprio, em manifesta burla do preceito constitucional. Igualmente, contra

o improvimento de recurso ordinário contra a denegação do habeas corpus pelo

Superior Tribunal de Justiça, não cabe novo writ ao Supremo Tribunal Federal, o

que implicaria retorno à fase anterior. Precedente da Primeira Turma desta Suprema

Corte. [...]. (STF, HC n. 113.890, Rel. Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, jul. em

03/12/2013, DJ 28/02/2014)

Assim, em princípio, incabível o presente habeas corpus substitutivo de

recurso. Todavia, em homenagem ao princípio da ampla defesa, passa-se ao

exame da insurgência, para verifi car a existência de eventual constrangimento

ilegal passível de ser sanado pela concessão da ordem, de ofício.

Busca-se, em síntese, neste habeas corpus, a redução da pena pela aplicação

da atenuante da confi ssão espontânea, bem ainda, a compensação integral com a

agravante da reincidência.

Com razão o parecer ministerial.

Segundo consta da sentença, “O acusado, ao ser ouvido em juízo, alegando

ter agido sozinho, admitiu a autoria do roubo, explicando que, com uma faca,

abordou a vítima e anunciou o ‘assalto’, mas viu-se impedido de prosseguir com a

subtração devido à interferência da polícia militar (fl s. 75)”. Na seqüência, conclui:

“Diante da confi ssão judicial de rigor a condenação do réu, pois, como bem é

sabido, a admissão de culpa é prova incontestável de autoria, somente devendo

ser afastada quando por ela se vislumbra algum interesse escuso do confi tente, o

que não se percebe no caso sub judice”. Mais adiante, reafi rma: “Portanto, somada

à confi ssão judicial, há nos autos a segura prova oral produzida que, com a segurança

indispensável, bem explicou como tudo aconteceu, tornando de rigor a condenação do

réu” (e-STJ fl . 12).

Contudo, no procedimento de individualização da pena, o juiz sentenciante

deixou de aplicar a atenuante da confi ssão pelos seguintes motivos (e-STJ fl . 13):

Não ficou caracterizada a atenuante da confissão, pois, embora o réu tenha

admitido a autoria do roubo, mentiu sobre a participação de outras pessoas no

momento do crime.

Consoante já decidido, “A confissão espontânea só tem força de atenuante

obrigatória quando se dá de forma completa quanto à imputação do delito. In

casu, isso não ocorreu, eis que os pacientes admitiram apenas em parte a acusação.

Ordem denegada” (STJ 5.ª T. HC 16.006 Rel. José Arnaldo da Fonseca j. 21.06.2001 DJU

03.09.2001, p. 233).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

210

O Tribunal revisor, por sua vez, rejeitou as alegações da defesa, consignando:

“Não há falar em incidência da atenuante da confi ssão espontânea, pois não

houve confi ssão plena, já que o acusado tentou arrefecer sua responsabilidade ao

negar a atuação em conluio com outros agentes” (e-STJ fl . 27).

Ocorre que a confi ssão, mesmo que parcial, deve ser reconhecida como

atenuante da pena, quando utilizada pelo magistrado para firmar o seu

convencimento, em conjunto com outros meios de prova.

A propósito, confi ram-se os seguinte precedentes:

[...]. - A confi ssão parcial do réu utilizada como elemento de convicção para a

condenação deve ser considerada atenuante (art. 65, III, “d”, do Código Penal -

CP) e compensada com a agravante da reincidência (art. 61, I, do CP). [...]. (HC n.

276.166/SP, Relator Ministro ERICSON MARANHO (Desembargador Convocado do

TJ/SP), Sexta Turma, julgado em 7/4/2015, DJe 17/4/2015).

[...] 2. A jurisprudência desta Corte de Justiça firmou o entendimento de

que servindo a confi ssão do réu, seja ela integral ou parcial, para embasar

o decreto condenatório, é de rigor a aplicação da atenuante prevista no art.

65, III, d, do CP. [...]. (HC n. 278.192/SP, Relator Ministro MOURA RIBEIRO, Quinta

Turma, julgado em 22/5/2014, DJe 27/5/2014).

No presente caso, as transcrições não deixam dúvida de que a confi ssão

do paciente feita em juízo, mesmo que parcial, somada à prova oral produzida

nos autos, foi determinante para o reconhecimento da autoria e consequente

condenação, estando caracterizado o constrangimento ilegal.

Quanto à compensação entre as duas circunstâncias judiciais, avaliadas

no segundo estágio da dosimetria, cumpre asseverar que a Terceira Seção desta

Corte, no julgamento dos Embargos de Divergência EREsp n. 1.154.752/

RS, reconheceu ser possível a compensação entre a atenuante da confi ssão

espontânea e a agravante da reincidência, por serem igualmente preponderantes.

Confi ra-se a ementa do julgado:

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. PENAL. NOTÓRIO

DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. MITIGAÇÃO DOS REQUISITOS FORMAIS DE

ADMISSIBILIDADE. ROUBO. CÁLCULO DA PENA. COMPENSAÇÃO DA REINCIDÊNCIA

COM A ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA.

1. Quando se trata de notório dissídio jurisprudencial, a jurisprudência do

Superior Tribunal de Justiça diz que devem ser mitigados os requisitos formais de

admissibilidade concernentes aos embargos de divergência. Precedentes.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 201-211, novembro 2017 211

2. É possível, na segunda fase do cálculo da pena, a compensação da

agravante da reincidência com a atenuante da confissão espontânea, por

serem igualmente preponderantes, de acordo com o art. 67 do Código Penal.

3. Embargos de divergência acolhidos para restabelecer, no ponto, o acórdão

proferido pelo Tribunal local.

(EREsp n. 1.154.752/RS, Relator Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Terceira

Seção, julgado em 23/5/2012, DJe 4/9/2012).

Na espécie, o paciente ostenta apenas uma condenação defi nitiva anterior,

não havendo, assim, impedimentos à compensação integral entre a atenuante da

confi ssão espontânea e a agravante da reincidência.

Passo à revisão da pena.

Na primeira fase, mantenho a pena-base no patamar mínimo legal, como

foi estabelecida pelas instâncias ordinárias, em 4 (quatro) anos de reclusão

e pagamento de 10 (dez) dias-multa. No segundo estágio, permanece a

exasperação de 8 (oito) meses sobre a pena inicial, em razão da agravante da

reincidência. Todavia, reconheço a atenuante inserta no art. 65, III, d, do Código

Penal (confi ssão espontânea), promovo a compensação integral e reduzo a pena

ao patamar inicial de 4 (quatro) anos e 10 (dez) dias-multa. Na última fase,

mantenho o aumento de 1/3 (um terço) em razão das duas majorantes do crime

de roubo (emprego de arma e concurso de agentes) e fi xo a pena em 5 (cinco)

anos e 4 (quatro) meses de reclusão e pagamento de 13 (treze) dias-multa.

Ante o exposto, não conheço do presente habeas corpus. Contudo, acolho o

parecer ministerial e concedo a ordem, de ofício, para reconhecer a atenuante da

confi ssão espontânea, realizar a compensação com a agravante da reincidência

e reduzir a pena a 5 (cinco) anos e 4 (quatro) meses de reclusão e pagamento

de 13 (treze) dias-multa, nos autos da ação penal originária n. 0070692-

20.2013.8.26.0050, da 30ª Vara Criminal do Foro Central da Comarca de São

Paulo/SP.

É o voto.

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Súmula n. 546

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SÚMULA N. 546

A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso

é fi rmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento

público, não importando a qualifi cação do órgão expedidor.

Referências:

CF/1988, art. 109, IV.

CP, art. 304.

Precedentes:

CC 61.273-RS (3ª S, 27.06.2007 – DJ 06.08.2007)

CC 78.382-BA (3ª S, 22.08.2007 – DJ 17.09.2007)

CC 99.105-RS (3ª S, 16.02.2009 – DJe 27.02.2009)

CC 111.349-RS (3ª S, 22.09.2010 – DJe 20.10.2010)

CC 112.984-SE (3ª S, 26.10.2011 – DJe 07.12.2011)

CC 123.745-PR (3ª S, 12.09.2012 – DJe 24.09.2012)

CC 131.113-MG (3ª S, 11.12.2013 – DJe 17.12.2013)

CC 115.285-ES (3ª S, 13.08.2014 – DJe 09.09.2014) – acórdão

publicado na íntegra

HC 195.037-AM (5ª T, 02.08.2011 – DJe 17.08.2011)

Terceira Seção, em 14.10.2015

DJe 19.10.2015

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CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 115.285-ES (2010/0227262-5)

Relator: Ministro Marco Aurélio Bellizze

Relator para o acórdão: Ministro Moura Ribeiro

Suscitante: Juízo Federal da 2ª Vara de Cachoeiro de Itapemirim - SJ/ES

Suscitado: Juízo de Direito de Atilio Vivacqua - ES

Interes.: Justiça Pública

EMENTA

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA - JUSTIÇA

FEDERAL E JUSTIÇA ESTADUAL - USO DE DOCUMENTO

FALSO - CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO -

APRESENTAÇÃO À AGENTE DA POLICIA RODOVIÁRIA

FEDERAL - LESÃO A BEM JURÍDICO TUTELADO PELA

UNIÃO - PRECEDENTES - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA

FEDERAL.

1.- O uso de Carteira Nacional de Habilitação falsa perante autoridade

da Polícia Rodoviária Federal lesa serviço da União. Precedentes.

2.- É irrelevante para determinar a competência do Juízo no crime

de uso de documento falso a qualifi cação do órgão expedidor do documento

público pois o critério a ser utilizado se defi ne em razão da entidade ou do

órgão ao qual ele foi apresentado, porquanto são estes que efetivamente

sofrem os prejuízos em seus bens e serviços.

3.- Competência da Justiça Federal, nos termos do art. 109, IV, da

Constituição Federal.

4.- Confl ito conhecido para declarar competente o Juízo Federal da 2ª

Vara Criminal de Cachoeiro de Itapemirim SJ/ES, o suscitante.

ACÓRDÃO

Retomado o julgamento, após o voto-vista divergente do Sr. Ministro

Moura Ribeiro, conhecendo do confl ito e declarando competente Suscitante,

o Juízo Federal da 2ª Vara de Cachoeiro de Itapemirim - SJ/ES, no que foi

acompanhado pela Sra. Ministra Regina Helena Costa e pelos Srs. Ministros

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Rogerio Schietti Cruz, Nefi Cordeiro, Marilza Maynard (Desembargadora

Convocada do TJ/SE), Maria Th ereza de Assis Moura e Sebastião Reis Júnior,

vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Senhores Ministros da Terceira Seção do Superior Tribunal

de Justiça, por maioria, em conhecer do confl ito e declarou competente o

Suscitante, o Juízo Federal da 2ª Vara de Cachoeiro de Itapemirim - SJ/ES, nos

termos do voto do Sr. Ministro Moura Ribeiro, que lavrará o acórdão.

Vencido o Sr. Ministro Marco Aurélio Bellizze (Relator), que conhecia

do confl ito e declarava competente o Suscitado, Juízo de Direito de Atílio

Vivacqua - ES.

Votaram com o Sr. Ministro Moura Ribeiro (Relator para acórdão) a Sra.

Ministra Regina Helena Costa e os Srs. Ministros Rogerio Schietti Cruz, Nefi

Cordeiro, Marilza Maynard (Desembargadora Convocada do TJ/SE), Maria

Th ereza de Assis Moura e Sebastião Reis Júnior.

A Sra. Ministra Regina Helena Costa declarou-se apta a votar.

Vencido o Sr. Ministro Marco Aurélio Bellizze (Relator).

Não participou do julgamento a Sra. Ministra Laurita Vaz.

Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Jorge Mussi.

Brasília (DF), 13 de agosto de 2014 (data do julgamento).

Ministro Moura Ribeiro, Relator

DJe 9.9.2014

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Marco Aurélio Bellizze: Trata-se de confl ito negativo

de competência entre o Juízo Federal da 2ª Vara Criminal de Cachoeiro de

Itapemirim SJ/ES – suscitante – e o Juízo de Direito de Atílio Vivácqua/ES –

suscitado.

Consta dos autos que foi instaurado inquérito policial para apurar a

suposta prática do crime de uso de documento público falso, em virtude de o

indiciado, ao ser abordado, ter apresentado Carteira Nacional de Habilitação

falsifi cada à Polícia Rodoviária Federal.

O Ministério Público do Espírito Santo, ao se manifestar, concluiu, à fl .

216, que a competência era da Justiça Federal, haja vista o documento falso ter

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 213-230, novembro 2017 219

sido apresentado a servidor público federal, no desempenho de suas funções.

Considerou, dessa forma, que o delito lesou serviço da União, em virtude das

atribuições conferidas à Polícia Rodoviária Federal.

O Juízo Estadual, acolhendo o parecer do Ministério Público, declinou da

competência para a Justiça Federal, à fl . 41. O Ministério Público Federal, por

seu turno, apresentou denúncia, às fl s. 5/6, contra Cícero Pereira de Oliveira,

pela suposta prática da conduta descrita no art. 304 c/c o art. 297, ambos do

Código Penal (fl s. 5/6), e a denúncia foi recebida à fl . 49.

Contudo, concluída a instrução processual, o Juízo Federal converteu o

feito em diligência, suscitando o presente confl ito de competência, nos seguintes

termos (fl s. 257/259):

Não obstante o MPF tenha também entendido que a Justiça Federal era

competente para processar e julgar a presente ação penal, analisando os autos,

entendo que não compete à Justiça Federal processar e julgar a presente ação

penal. De fato, muito embora na doutrina e jurisprudência existam 4 correntes

acerca do concurso entre os crimes de falsidade e o posterior uso, fi lio-me ao

entendimento de que o crime de falsidade absorve o crime de uso, sendo que

este constitui mero exaurimento do crime de falsificação, sendo post factum

impunível. Nesse sentido trago à baila, o entendimento recente do STF, proferido

no julgamento do RE 446.938/PR, onde se decidiu que, nos casos de crime de

falsifi cação de documento público e de uso de documento falso, “Pouco importa,

na espécie, o fato de o documento alterado ter sido utilizado junto à administração

pública municipal. O que interessa é tratar-se, no caso, como já consignado, de

serviço prestado por autarquia federal, de adulteração de documento por esta

expedido”, passando a transcrever o referido acórdão: (...). Dessa forma, in casu,

considerando que a Carteira de Habilitação foi expedida pelo DETRAN do Estado

do Rio de Janeiro, pouco importa se a mesma foi apresentada a um Policial

Rodoviário Federal, o que interessa é que os serviços de uma autarquia Estadual

é que foram lesados, afastando, assim, a competência da Justiça Federal para

processar e julgar o feito. Nesse sentido: (...). In casu, o denunciado falsifi cou uma

Carteira de Habilitação falsa, expedida, em tese, pelo DETRAN/RJ, e a apresentou a

um Policial Rodoviário Federal. Assim, conforme acima explicitado, a competência

para processar e julgar o feito será da Justiça Estadual, ainda que a exibição do

referido documento tenha ocorrido perante uma autoridade federal. ISSO POSTO,

declino da competência e suscito o confl ito negativo para processar e julgar o

feito, com fulcro nos artigos 113, 114, f. 115, III, e 116, § 1º, do CPP.

Por fi m, manifestou-se o Ministério Público Federal, às fl s. 275/279, pela

competência do Juízo Federal:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

220

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. USO DE DOCUMENTO FALSO.

CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO APRESENTADA PARA AGENTES DA

POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL DURANTE PROCEDIMENTO DE FISCALIZAÇÃO

EM RODOVIA FEDERAL. JUÍZO SUSCITANTE QUE DECLINOU DA COMPETÊNCIA

POR ENTENDER QUE O CRIME DE USO SERIA ABSORVIDO PELO DE FALSO.

IMPROCEDÊNCIA. RÉU QUE, TANTO NA FASE INQUISITORIAL QUANTO EM JUÍZO,

CONFESSOU QUE COMPROU O DOCUMENTO CONTRAFEITO. ADEMAIS, PARA A

DEFINIÇÃO DA COMPETÊNCIA, É IRRELEVANTE A QUALIDADE DO ÓRGÃO QUE

SERIA O HABILITADO PARA EXPEDIR O DOCUMENTO QUE FORA FALSIFICADO.

OFENSA A SERVIÇO E INTERESSES DA UNIÃO. PRECEDENTES. PARECER NO

SENTIDO DE QUE SE DECLARE COMPETENTE O JUÍZO SUSCITANTE.

É o relatório.

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Marco Aurélio Bellizze (Relator): De início, conheço do

confl ito, uma vez que os Juízos que suscitam a incompetência estão vinculados

a Tribunais diversos, sujeitando-se, portanto, à jurisdição desta Corte, a teor do

disposto no art. 105, inciso I, alínea d, da Constituição Federal.

No mérito, entendo que assiste razão ao Juízo suscitante.

Imperativo destacar, inicialmente, que a conduta atribuída ao denunciado

é de uso de documento público falso e não de falsifi cação de documento. Com

efeito, consta dos autos que a Carteira Nacional de Habilitação foi adquirida de

terceiro pelo valor de R$ 500,00 (quinhentos reais), portanto, não há indícios de

sua participação na contrafação (fl . 196). Dessa forma, mostra-se despicienda a

discussão sobre eventual existência de fato anterior ou posterior impunível.

Embora prevaleça o entendimento no sentido de que aquele que falsifi ca

e usa o documento responde apenas pelo crime de falsifi cação, imperioso que

ambas as condutas estejam devidamente delineadas. Contudo, no caso dos autos,

mesmo após a instrução processual, vislumbra-se apenas a prática do crime de

uso de documento falso, razão pela qual a competência deve ser analisada sob

esta perspectiva.

Não desconheço a jurisprudência da Corte, no sentido de que o uso de

Carteira Nacional de Habilitação falsa perante autoridade da Polícia Rodoviária

Federal é considerado crime de competência da Justiça Federal, porquanto

caracterizada a lesão a serviço da União. Contudo, a meu ver, mostra-se

necessária uma maior refl exão sobre o tema.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 213-230, novembro 2017 221

De fato, o crime de uso de documento falso é norma penal em branco, a

qual remete aos arts. 297 a 302 do Código Penal para completar sua tipicidade.

Assim, é possível concluir, num primeiro momento, que o crime de falso e de

uso guardam íntima relação, objetivando ambos os tipos penais a tutela da fé

pública atribuída ao documento falsifi cado e/ou utilizado. Destaco que a fé

pública é a “confi ança estabelecida pela sociedade em certos símbolos ou signos,

que, com o decurso do tempo, ganham determinada signifi cação, muitas das

vezes impostas pelo Estado”. (NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito

penal. 10. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 1.012).

A propósito, trago lição de Rogério Greco:

O delito de uso de documento falso encontra-se tipifi cado no art. 304 do

Código Penal. Cuida-se, in casu, de norma penal em branco (ou primariamente

remetida), haja vista que, para que o artigo em exame possa ser entendido e

aplicado, será necessário que o intérprete se dirija aos arts. 297 a 302 do Código

Penal. (...). A fé pública é o bem juridicamente protegido pelo tipo penal.

(GRECO, Rogério. Curso de direito Penal. Parte especial, volume IV. 10. ed. Niterói/

RJ: Impetus, 2014, p. 331/332).

Elucida, ainda, a doutrina que o sujeito passivo primário tanto no falso

quanto no uso é o Estado - lesado na sua fé pública. E, em ambos os casos, o

sujeito passivo secundário é a pessoa, física ou jurídica, que pode vir a sofrer

prejuízo em razão do falso ou do uso. Tutela-se a fé pública documental não mais

apenas pela falsidade propriamente dita, mas também pelo uso de documento

sabidamente falso - fé pública relacionada à circulação e à confi abilidade dos

documentos.

Portanto, não visualizo coerência em determinar-se a competência para

julgar a falsifi cação do documento em razão do órgão expedidor e, inversamente,

a competência para julgar o uso do mesmo documento em virtude da pessoa a

quem a contrafação é apresentada. A meu ver, a competência tanto para julgar

o falso quanto o uso deve ser a mesma, porquanto o bem jurídico tutelado em

ambos os crimes é a fé pública, a qual é vulnerada, em primeiro lugar, diante da

menor credibilidade gerada ao órgão expedidor do documento contrafeito.

Ademais, nos dois delitos, a pessoa eventualmente enganada com o falso é

apenas a vítima secundária, razão pela qual a competência não deve ser fi rmada

apenas sob esse aspecto. Reitero que o bem jurídico tutelado é a fé pública, que

emana do órgão expedidor do documento e não da pessoa a quem o documento

é apresentado. De fato, a apresentação de carteira de habilitação falsa à Polícia

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

222

Rodoviária Federal não ofende a fé pública daquele órgão, mas sim do Detran,

órgão estadual, que é a vítima primária da contrafação. Dessa forma, tenho

difi culdades em reconhecer a competência da Justiça Federal no caso dos autos.

Considerar que a competência para julgar o uso de documento falso se

fi rma em virtude da pessoa a quem é apresentada a contrafação - ora o particular,

ora o Detran, ora a Polícia Militar, ora a Polícia Rodoviária Federal, seria o

mesmo que afi rmar que o bem jurídico tutelado é difuso, o que não encontra

respaldo no tipo penal em apreço. Reitero que a tutela penal incide sobre a fé

pública, ou seja, sobre a confi ança que o órgão emissor do documento ostenta, a

qual é afetada pelo falso e pelo seu uso. Tem-se, portanto, lesão a bens, interesses

e serviços do órgão expedidor, razão pela qual a competência para julgar o falso

e o uso deve guardar relação com a instituição cuja fé pública foi vulnerada.

A propósito, confi ra-se julgado do Supremo Tribunal Federal noticiado no

informativo n. 541 daquela Corte:

Falsidade: Documento Federal e Competência

Compete à Justiça Federal processar e julgar ação penal relativa a crime de

falsifi cação de documento público e de uso de documento falso (CP, artigos 297

e 304, respectivamente), quando a falsifi cação incide sobre documentos federais.

Com base nessa orientação, a Turma proveu recurso extraordinário para assentar

a competência da Justiça Federal para julgar os delitos cometidos pelo recorrido,

consubstanciados na adulteração de Certidão Negativa de Débito emitida

pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, apresentada, perante órgão

da Administração Pública municipal, com o objetivo de viabilizar participação

em procedimento licitatório. Enfatizou-se que pouco importaria, na espécie, o

fato de o documento alterado ter sido utilizado junto à Administração Pública

municipal, haja vista tratar-se de serviço prestado por autarquia federal (CF,

art. 109, IV). Assim, aduziu-se que, se não fosse percebida a falsifi cação, haveria

prejuízo considerada a situação jurídica do contribuinte, revelando-o quite com o

fi sco federal, muito embora, se procedente a imputação, a realidade se mostrasse

diversa. Precedente citado: RE 411.690/PR (DJU de 3.9.2004). RE 446.938/PR, rel.

Min. Marco Aurélio, 7.4.2009.

No mesmo sentido, tem-se também o seguinte julgado desta Corte:

PENAL - CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO - FALSIFICAÇÃO -

COMPETÊNCIA. - APESAR DA CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO SER UM

DOCUMENTO DE VALIDADE EM TODO O TERRITÓRIO NACIONAL, E EXPEDIDA

POR REPARTIÇÃO ESTADUAL, LOGO, SUA FALSIFICAÇÃO E USO, NÃO SE

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 213-230, novembro 2017 223

CONSTITUI CRIME DE COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. - PRECEDENTES

JURISPRUDENCIAIS. (CC 1.274/SP, Relator o Ministro Cid Flaquer Scartezzini, DJ

20/08/1990).

Note-se que o precedente desta Corte é antigo, o que denota já ter

prevalecido o entendimento ora defendido. Outrossim, ao analisar os julgados

mais antigos, é possível verifi car que a alteração jurisprudencial ocorreu em

virtude das especifi dades de cada caso. De fato, os primeiros precedentes que

passaram a excepcionar a competência fi rmada em razão do órgão expedidor

do documento falso utilizado - cuja fé pública foi vulnerada -, avaliaram que o

documento falso foi utilizado com o fi m de obter vantagem ilícita que geraria

prejuízo à União. Portanto, o que alterou a competência para apurar o crime de

uso de documento falso não foi a pessoa, em si, a quem se apresentou o falso,

mas antes a efetiva possibilidade de violação a bens, serviços ou interesses da

União.

A propósito:

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PROCESSUAL PENAL. FALSIFICAÇÃO DE

ASSINATURA. USO EM PROCESSO TRABALHISTA. ANALOGIA COM A SÚMULA

165/STJ. INTERESSE DA UNIÃO. COMPETÊNCIA FEDERAL. Inquérito com vistas a

apurar possível delito do art. 297 do Código Penal, que teria sido praticado para

utilização do respectivo documento em processo trabalhista, deve ser processado

e apurado junto ao juízo federal. Aplicação, por analogia, da Súmula 165/STJ.

Precedentes. Confl ito conhecido, declarando-se a competência do Juízo Federal

da 10ª Vara do Estado de Pernambuco. (CC 28.683/PE, Relator o Ministro José

Arnaldo da Fonseca, DJ 18/06/2001)

PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME DE USO DE DOCUMENTO FALSO.

CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO – CNH. CERTIFICADO DE REGISTRO E

LICENCIAMENTO DE VEÍCULO – CRLV. USO PERANTE A JUSTIÇA FEDERAL.

PREJUÍZO A SERVIÇO DA UNIÃO CONFIGURADO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA

FEDERAL. 1. Os crimes de uso de documento falso foram praticados no intuito

de obter liberdade provisória e restituição de veículo automotor, tendo em vista

a prisão em fl agrante do acusado e a apreensão de seus bens, por imputada

prática de crime de moeda falsa, de competência da Justiça Federal. 2. No caso,

embora se trate de crime contra a fé pública, que revela, em princípio, interesse

genérico e indireto da União, tal foi cometido especifi camente em detrimento de

serviço público federal, na espécie, diretamente contra órgão da Justiça Federal.

3. Confl ito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal da 1ª Vara de

Santo Ângelo – SJ/RS, ora suscitante. (CC 61.273/RS, Relator o Ministro Arnaldo

Esteves Lima, DJ 06/08/2007).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

224

PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. USO DE DOCUMENTO FALSO.

DOCUMENTO ÚNICO DE TRÂNSITO – DUT. IPVA E SEGURO OBRIGATÓRIO. USO

PERANTE A POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL. PREJUÍZO A SERVIÇO DA UNIÃO

CONFIGURADO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. O crime de uso de

documento falso foi praticado no intuito de burlar a fi scalização realizada pelos

agentes da Polícia Rodoviária Federal, que constitui serviço da União. 2. Além

disso, parte dos prêmios do seguro obrigatório é destinada ao SUS e ao Denatran,

revelando o interesse da União na arrecadação. 3. Confl ito conhecido para declarar

a competência do Juízo Federal da Vara Criminal da Subseção Judiciária de Passo

Fundo/RS, suscitante. (CC 41.195/RS, Relator o Ministro Arnaldo Esteves Lima, DJ

22/06/2005).

Nos dois primeiros precedentes, observa-se que eventual decisão da Justiça

Federal e da Justiça Trabalhista, baseada em documento falso, repercutiria sobre

a União, que poderia vir a ser questionada sobre eventuais direitos indenizatórios

da pessoa prejudicada. Igualmente, no terceiro julgado, a apresentação de

documento falso para deixar de recolher o IPVA e o Seguro Obrigatório, refl ete

interesse da União, em razão de parte dos prêmios do seguro obrigatório ser

destinada ao SUS – Sistema Único de Saúde e ao Denatran.

Assim, é possível aferir que a competência, nesses casos, foi defi nida em

razão do fi m visado com a apresentação do documento falso, ou seja, o uso

não se exauriu nele mesmo. Dessarte, vislumbrando-se prejuízo direto, e não

meramente refl exo, aos bens, serviços e interesses da União, tem-se justifi cada a

competência da Justiça Federal, portanto, não em razão da qualidade da pessoa a

quem é apresentado o documento falso, mas sim em virtude de o uso desbordar

do seu fi m primeiro, atingindo, dessa forma, bem jurídico diverso.

Conforme elucida Aury Lopes Júnior, “somente o interesse federal

decorrente de lei ou diretamente revelado quando da prática do crime (a partir da

efetiva lesão ao bem jurídico tutelado), justifi ca a incidência da Justiça Federal”.

(LOPES JR., Aury. Direito processual penal e sua conformidade constitucional. V. I.

2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 412).

No mesmo sentido:

PROCESSO PENAL – CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA – JUSTIÇA

FEDERAL E JUSTIÇA ESTADUAL – INQUÉRITO POLICIAL – USO DE DOCUMENTO

FALSO (CIC) – CRIME COMETIDO CONTRA SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA

(BANCO DO BRASIL) – AUSÊNCIA DE OFENSA A BENS, SERVIÇOS OU INTERESSES

DA UNIÃO, SUAS AUTARQUIAS OU EMPRESAS PÚBLICAS – SÚMULA 42/STJ -

COMPETÊNCIA ESTADUAL. 1 – Por se tratar de Inquérito Policial instaurado em

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 213-230, novembro 2017 225

decorrência do uso de documento falso (CIC), com a fi nalidade de se obter cartão

magnético e efetuar saque em conta-corrente recém aberta no Banco do Brasil,

inocorre efetivo prejuízo a bens, serviços ou interesses da União. Há, no caso concreto,

suposto delito cometido em detrimento de Sociedade de Economia Mista,

sendo aplicável à espécie, portanto, a Súmula 42 desta Corte. 2 – Precedentes

(CC n. 21.891/PB e 39.868/BA). 3 – Confl ito conhecido e provido para declarar

competente o D. Juízo de Direito da 2ª Vara de Araruama/RJ, ora suscitado. (CC

27.515/RJ, Relator o Ministro Jorge Scartezzini, DJ 1º/7/2004).

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTOS DE

ARRECADAÇÃO ESTADUAL – GARE. PREJUÍZO À ORDEM DOS ADVOGADOS DO

BRASIL. INOCORRÊNCIA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL SUSCITADA. I.

Evidenciado que a fraude perpetrada não causou prejuízo à União, uma vez que a

hipótese trata de falsifi cação de documentos de arrecadação estadual, uma relativa

às custas judiciais, cujo valor recolhido vai para os cofres da Fazenda Estadual, e

outra relativa à taxa da OAB, cujo valor recolhido vai para a Carteira da Previdência

dos Advogados de São Paulo, administrada pelo IPESP - Instituto de Previdência do

Estado de São Paulo, fi rma-se a competência da justiça estadual para o processo e

julgamento do feito. II. Confl ito conhecido para declarar a competência do Juízo

de Direito da 1ª Vara de Ourinhos/SP, o Suscitado. (CC 45.786/SP, Relator o Ministro

Gilson Dipp, DJ de 10.11.2004).

CRIMINAL. RESP. USO DE DOCUMENTO FALSO. PROCEDIMENTO LICITATÓRIO.

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. PROVA

PERICIAL. INDEFERIMENTO DE PERÍCIA. FACULDADE DO JUIZ. CERCEAMENTO DE

DEFESA. INOCORRÊNCIA. FALSIFICAÇÃO GROSSEIRA. INOCORRÊNCIA. RECURSO

DESPROVIDO. I - Hipótese em que o réu apresentou, na fase de habilitação de

procedimento licitatório realizado pelo Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina,

certidão negativa de débitos estaduais falsa. II - Havendo potencial lesão a bens,

serviços ou interesses da União, neste caso, ao Tribunal Regional Eleitoral de Santa

Catarina, competente é a Justiça Federal para o julgamento do feito. III - Inexiste

cerceamento de defesa, pelo indeferimento de perícia postulada, pois o julgador

pode indeferir, de maneira fundamentada, aquelas que considere protelatórias

ou desnecessárias. IV - Se a inautenticidade da certidão foi comprovada somente

após oitiva de testemunhas, bem como pela averiguação da situação da empresa

perante o fi sco estadual, incabível a alegação de que se tratava de falsifi cação

grosseira e incapaz de ludibriar terceiros.

V - Recurso desprovido.” (REsp 508.476/SC, Relator o Ministro Gilson Dipp, DJ

de 16.11.2004).

Dessa forma, é possível concluir que a competência para processar e

julgar o crime de uso de documento falso se altera - para deixar de ser fi rmada

em função do órgão cuja fé pública foi vulnerada -, quando sua utilização

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

226

visa alcançar fi m diverso, não se exaurindo a falsidade nela mesma. Referido

entendimento, com as devidas adaptações, possui inclusive respaldo no verbete

sumular n. 17 desta Corte, que disciplina que “quando o falso se exaure no

estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido”.

Portanto, constatando-se que a Carteira Nacional de Habilitação falsifi cada

- documento expedido pelo Departamento de Trânsito de cada estado da

Federação -, foi utilizada com o fi m de burlar as leis de trânsito, ou seja, teve sua

utilidade exaurida no próprio uso, independentemente do órgão fi scalizador que

fez a abordagem e a constatação da falsidade, não verifi co interesse da União a

justifi car a competência da Justiça Federal.

Ante o exposto, conheço do confl ito para declarar competente o Juízo de

Direito de Atílio Vivácqua/ES, o suscitado.

É como voto.

VOTO-VENCEDOR

O Sr. Ministro Moura Ribeiro: Trata-se de confl ito negativo de competência

entre Juízo Federal da 2ª Vara Criminal de Cachoeiro de Itapemirim SJ/ES -

suscitante - e o Juízo de Direito de Atílio Vivácqua/ES - suscitado.

Em seu voto, o eminente relator Ministro MARCO AURÉLIO

BELLIZZE sob o fundamento de não ter verifi cado interesse da União a

justifi car a competência da Justiça Federal uma vez que o bem jurídico atingido

com a prática do delito foi a fé-pública do Estado emissor do documento

falso e não a qualifi cação do órgão ou entidade perante a qual foi apresentado

mencionado documento falso.

Após tal voto, pedi vista para melhor pensar sobre o caso.

Rendendo minhas homenagens ao Excelentíssimo Senhor Ministro

MARCO AURÉLIO BELLIZZE e reconhecendo a profundidade jurídica

do voto que lançou no presente caso assim como seu entendimento, com

ousadia, dele divirjo porque ao meu sentir, sendo esta Corte um Tribunal de

precedentes, devem eles ser respeitados. E, no particular, a jurisprudência daqui

segue no sentido de que o foro competente para o processamento e julgamento

da presente ação deve ser o da Justiça Federal da Comarca de Cachoeiro de

Itapemirim SJ/ES.

Da análise dos autos e do voto do eminente Ministro MARCO AURÉLIO

BELLIZZE se percebe que foi instaurado inquérito policial para apuração de

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 213-230, novembro 2017 227

suposta prática do crime de uso de documento público falso por ter o indiciado

apresentado Carteira Nacional de Habilitação falsifi cada a Policial Rodoviário

Federal.

Ao acolher o parecer do Ministério Público do Estado do Espírito Santo,

o Juízo Estadual declinou de sua competência por entender que o caso seria de

competência da Justiça Federal uma vez que o delito lesou serviço da União em

virtude das atribuições conferidas à Polícia Rodoviária Federal.

Encaminhado os autos à Justiça Federal, o Ministério Público Federal

ofereceu denúncia e após concluída a instrução processual, o feito foi convertido

em diligência ocasião em que foi suscitado o presente confl ito de competência.

Como dito, a jurisprudência desta Corte é clara no sentido de que o uso de

Carteira Nacional de Habilitação falsa perante autoridade da Polícia Rodoviária

Federal é considerado crime de competência da Justiça Federal porquanto

caracterizada a lesão a serviço da União.

A corroborar com o acima exposto, esta Corte também consolidou o

entendimento segundo o qual é irrelevante para determinar a competência do

Juízo no crime de uso de documento falso a qualifi cação do órgão expedidor do

documento público pois o critério a ser utilizado se defi ne em razão da entidade

ou do órgão ao qual ele foi apresentado, porquanto são estes que efetivamente

sofrem os prejuízos em seus bens e serviços.

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL. JUSTIÇA

ESTADUAL. CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO FALSA APRESENTADA À

POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL. LESÃO BEM JURÍDICO TUTELADO PELA UNIÃO.

PRECEDENTES. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.

1. Apresentar carteira nacional de habilitação falsa à autoridade da

Polícia Rodoviária Federal constitui lesão a bem jurídico tutelado pela União.

Precedentes.

2. Neste caso, a carteira nacional de habilitação falsa foi apresentada a policiais

rodoviários federais, em abordagem de rotina.

3. Reconhecimento de competência da Justiça federal, nos termos do art.

109, IV, da Constituição Federal.

4. Confl ito conhecido para declarar competente o Juízo Federal da 2ª Vara de Juiz

de Fora - SJ/MG, ora suscitado.

(CC 131.113/MG, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Terceira Seção, julgado

em 11/12/2013, DJe 17/12/2013)

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

228

PENAL E PROCESSUAL PENAL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. CRIMES

DE FALSIDADE IDEOLÓGICA E USO DE DOCUMENTO FALSO. AUSÊNCIA DE LESÃO A

BEM, SERVIÇO OU INTERESSE DA UNIÃO. CONCURSO ENTRE A JURISDIÇÃO COMUM E

A MILITAR. UNIDADE DE JULGAMENTO. RESSALVA. ART. 79, I, DO CPP. COMPETÊNCIA

DA JUSTIÇA ESTADUAL.

(...)

IV. Consoante a jurisprudência, “a qualificação do órgão expedidor do

documento público é irrelevante para determinar a competência do Juízo

no crime de uso de documento falso, pois o critério a ser utilizado para

tanto defi ne-se em razão da entidade ou do órgão ao qual foi apresentada,

porquanto são estes quem efetivamente sofrem os prejuízos em seus bens ou

serviços” (STJ, CC 99.105/RS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, TERCEIRA SEÇÃO, DJe

de 27/02/2009).

V. Confl ito conhecido, para declarar competente o Juízo de Direito da Comarca de

Navegantes/SC, o suscitado.

(CC 108.024/SC, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, Terceira Seção, julgado

em 13/11/2013, DJe 11/12/2013)

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. RECEPTAÇÃO DOLOSA E USO DE

DOCUMENTO FALSO PERANTE AGENTE DA POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL. ROUBO

DO VEÍCULO CONDUZIDO PELO RÉU E FURTO DA CRLV POR ELE APRESENTADA.

CRIMES QUE NÃO FORAM OBJETO DA DENÚNCIA. DECISÃO PROFERIDA PELO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO QUE DECLAROU INEXISTENTE O FALSO

DOCUMENTAL. SUBSISTÊNCIA DO CRIME DE RECEPTAÇÃO DOLOSA. INEXISTÊNCIA

DE CONEXÃO QUE PORVENTURA PUDESSE ENSEJAR A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA

FEDERAL. ART. 70 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL (LUGAR DA INFRAÇÃO).

CONFLITO CONHECIDO, PARA DECLARAR A COMPETÊNCIA DO JUÍZO DE DIREITO DA

VARA CRIMINAL DA COMARCA DE GUARAÍ/TO.

(...)

3. Em princípio, o uso de documento falso perante agente da Polícia

Rodoviária Federal, por afetar serviço da União (art. 109, inciso IV, da

Constituição Federal), tornaria competente o Juízo Federal de Palmas/TO.

Precedentes. Não obstante, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região, usurpando

a competência originária do Juízo processante, pôs fim precoce à discussão ao

deliberar, em decisão transitada em julgado, que não restou confi gurado na espécie o

crime de uso de documento falso.

(...)

5. Confl ito de competência conhecido para, na linha da argumentação do Juízo

Suscitante e do parecer ministerial, declarar competente o Juízo de Direito da Vara

Criminal de Guaraí/TO.

(CC 127.411/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, Terceira Seção, julgado em

11/09/2013, DJe 17/09/2013)

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 213-230, novembro 2017 229

RECURSO EM HABEAS CORPUS. USO DE DOCUMENTO FALSO. PASSAPORTE.

COMPETÊNCIA. CRIME PRATICADO EM DETRIMENTO DO CONTROLE DE FRONTEIRAS.

SERVIÇO DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. ART. 109, IV, DA CF.

CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO.

1. Compete à União executar os serviços de polícia de fronteiras, nos termos

do art. 21, XXII, da Constituição Federal.

2. Uma vez verificado que o suposto delito de uso de documento falso

(passaporte) foi praticado em detrimento de serviço prestado pela Polícia

Federal, relativo ao controle de fronteiras, resta inequívoco o interesse da

União em sua apuração.

3. Recurso em habeas corpus improvido.

(RHC 31.039/RJ, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Sexta Turma, julgado em

21/02/2013, DJe 01/03/2013)

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PROCESSO PENAL. CRIMES PREVISTOS

NOS ARTS. 33 E 34, AMBOS DA LEI N. 11.343/2006; 12 DA LEI N. 10.826/2003; E 307, C.C.

OS ARTS. 304 E 297, DO CÓDIGO PENAL. USO DE CARTEIRA DE HABILITAÇÃO FALSA

PERANTE AUTORIDADE DA POLÍCIA FEDERAL. PREJUÍZO A SERVIÇO OU INTERESSE DA

UNIÃO. DELITOS CONEXOS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 122 DO SUPERIOR TRIBUNAL

DE JUSTIÇA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.

1. A teor do entendimento fi rmado na Terceira Seção desta Corte, o uso de

Carteira Nacional de Habilitação falsa perante Autoridade da Polícia Federal

deve ser apurado perante a Justiça Federal. Precedentes.

2. Constatando-se a existência de conexão, tendo em vista as circunstâncias que

envolveram a prática, em tese, dos delitos, aplica-se o disposto no verbete sumular n.

122 desta Corte Superior. Precedentes.

3. Conflito conhecido para declarar competente o JUÍZO DA VARA FEDERAL E

JUIZADO ESPECIAL DE PARANAGUÁ - SJ/PR, ora Suscitante.

(CC 123.745/PR, Rel. Ministra LAURITA VAZ, Terceira Seção, julgado em

12/09/2012, DJe 24/09/2012)

Assim, porque a apresentação do documento falso perante Policial

Rodoviário Federal lesou serviço de fi scalização da União, incide ao caso o art.

109, IV, da CF.

Não podemos esquecer, ainda, que por constituir infração de trânsito

dirigir veículo sem possuir Carteira Nacional de Habilitação ou Permissão para

dirigir (art. 162, I, da Lei 9.503/97 - CTB) e tal ato ter sido constatado por

Agente da Polícia Rodoviária Federal, em rodovia de sua jurisdição, será do

interesse deste órgão a autuação do infrator, até porque o valor da multa será

revertido aos seus cofres.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

230

Nestas condições, pelo meu voto, pedindo vênia ao Ministro MARCO

AURÉLIO BELLIZZE, ouso dele divergir para conhecer do confl ito e declarar

competente o JUÍZO FEDERAL DA 2ª VARA DE CACHOEIRO DE

ITAPEMIRIM - SJ/ES, o suscitante.

É o meu voto.

VOTO

O Sr. Ministro Rogerio Schietti Cruz: Sr. Presidente, também peço vênia

para acompanhar a divergência. Achei bem plausíveis as razões trazidas pelo

eminente Ministro Marco Aurélio Bellizze, mas, em reforço ao que também

acrescentou a Sra. Ministra Regina Helena Costa, lembro-me do crime de

homicídio que, quando cometido contra servidor público federal, em razão

da função de servidor público federal, reclama a competência do júri federal.

Então, bem ou mal, o legislador entende que, a depender da pessoa afetada

imediatamente pela prática delitiva, a competência pode, sim, deslocar-se da

Justiça Estadual para a Federal, como é o caso versado nestes autos.

Peço vênia ao Sr. Ministro Relator para acompanhar a divergência.

Conheço do confl ito para declarar a competência do Juízo Federal da 2ª

Vara de Cachoeiro de Itapemirim - SJ/ES, o suscitante.

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Súmula n. 547

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SÚMULA N. 547

Nas ações em que se pleiteia o ressarcimento dos valores pagos a título de

participação fi nanceira do consumidor no custeio de construção de rede elétrica,

o prazo prescricional é de vinte anos na vigência do Código Civil de 1916. Na

vigência do Código Civil de 2002, o prazo é de cinco anos se houver previsão

contratual de ressarcimento e de três anos na ausência de cláusula nesse sentido,

observada a regra de transição disciplinada em seu art. 2.028.

Referências:

CC/1916, arts. 177, revogado.

CC/2002, arts. 206, § 3º, IV, § 5º, I e 2.028.

CPC, art. 543-C.

Precedentes:

(*)REsp 1.063.661-RS (2ª S, 24.02.2010 – DJe 08.03.2010) –

acórdão publicado na íntegra

(*)REsp 1.249.321-RS (2ª S, 10.04.2013 – DJe 16.04.2013) –

acórdão publicado na íntegra

EDcl no AREsp 84.300-RS (3ª T, 18.03.2014 – DJe 25.03.2014)

REsp 1.380.603-MS (3ª T, 06.05.2014 – DJe 02.06.2014)

AgRg nos

EDcl no AREsp 338.189-MS (3ª T, 12.08.2014 – DJe 19.08.2014)

AgRg no AREsp 312.226-MS (3ª T, 24.02.2015 – DJe 04.03.2015)

EDcl no AREsp 257.065-RS (4ª T, 11.03.2014 – DJe 18.03.2014)

AgRg no AREsp 249.544-RS (4ª T, 18.03.2014 – DJe 25.03.2014)

EDcl no AREsp 451.099-RS (4ª T, 18.03.2014 – DJe 31.03.2014)

AgRg no AREsp 268.357-MS (4ª T, 26.08.2014 – DJe 09.09.2014)

AgRg no REsp 1.285.996-RS (4ª T, 24.02.2015 – DJe 23.03.2015)

(*) Recursos repetitivos.

Segunda Seção, em 14.10.2015

DJe 19.10.2015

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RECURSO ESPECIAL N. 1.249.321-RS (2011/0086178-2)

Relator: Ministro Luis Felipe Salomão

Recorrente: Companhia Estadual de Distribuição de Energia Elétrica CEEED RS

Advogado: Simone Rodrigues Ferreira e outro(s)

Recorrido: Valdelirio Pereira da Silva

Advogado: Regis Roberto da Silva e outro(s)

Interes.: Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL - “Amicus Curiae”

Repr. por: Procuradoria-Geral Federal

EMENTA

FINANCIAMENTO DE REDE DE ELETRIFICAÇÃO

RURAL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO

DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. CUSTEIO

DE OBRA DE EXTENSÃO DE REDE ELÉTRICA PELO

CONSUMIDOR. AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DOS VALORES

APORTADOS. PRESCRIÇÃO.

Para efeitos do art. 543-C do CPC:

1. Nas ações em que se pleiteia o ressarcimento dos valores

pagos a título de participação fi nanceira do consumidor no custeio

de construção de rede elétrica, a prescrição deve ser analisada,

separadamente, a partir de duas situações: (i) pedido relativo a valores

cujo ressarcimento estava previsto em instrumento contratual e

que ocorreria após o transcurso de certo prazo a contar do término

da obra (pacto geralmente denominado de “CONVÊNIO DE

DEVOLUÇÃO”); (ii) pedido relativo a valores para cujo ressarcimento

não havia previsão contratual (pactuação prevista em instrumento, em

regra, nominado de “TERMO DE CONTRIBUIÇÃO”).

1.2.) No primeiro caso (i), “prescreve em 20 (vinte) anos, na

vigência do Código Civil de 1916, e em 5 (cinco) anos, na vigência do

Código Civil de 2002, a pretensão de cobrança dos valores aportados

para a construção de rede de eletrifi cação rural, [...] respeitada a regra

de transição prevista no art. 2.028 do Código Civil de 2002” (REsp

1.063.661/RS, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 24/02/2010);

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

236

1.3.) No segundo caso (ii), a pretensão prescreve em 20 (vinte)

anos, na vigência do Código Civil de 1916, e em 3 (três) anos, na

vigência do Código Civil de 2002, por se tratar de demanda fundada

em enriquecimento sem causa (art. 206, § 3º, inciso IV), observada,

igualmente, a regra de transição prevista no art. 2.028 do Código Civil

de 2002.

2. No caso concreto, para o pedido de ressarcimento dos valores

previstos no CONVÊNIO DE DEVOLUÇÃO, o prazo prescricional

fi ndaria em 11 de janeiro de 2008 (cinco anos, a contar da vigência

do novo Código). Por outro lado, para o pedido de ressarcimento

dos valores previstos no TERMO DE CONTRIBUIÇÃO, o prazo

prescricional fi ndaria em 11 de janeiro de 2006 (três anos, a contar

da vigência do novo Código). Tendo o autor ajuizado a ação em 15

de janeiro de 2009, a totalidade de sua pretensão está alcançada pela

prescrição.

3. Recurso especial a que se dá provimento.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da Segunda Seção

do Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso especial para

extinguir o feito com julgamento do mérito, reconhecendo a prescrição, nos

termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Para os efeitos do artigo 543-C, do CPC, foram fi xadas as seguintes teses:

1. Nas ações em que se pleiteia o ressarcimento dos valores pagos a

título de participação fi nanceira do consumidor no custeio de construção de

rede elétrica, a prescrição deve ser analisada, separadamente, a partir de duas

situações: (i) pedido relativo a valores cujo ressarcimento estava previsto em

instrumento contratual e que ocorreria após o transcurso de certo prazo a

contar do término da obra (pacto geralmente denominado de “CONVÊNIO

DE DEVOLUÇÃO”); (ii) pedido relativo a valores para cujo ressarcimento

não havia previsão contratual (pactuação prevista em instrumento, em regra,

nominado de “TERMO DE CONTRIBUIÇÃO”).

1.2.) No primeiro caso (i), “prescreve em 20 (vinte) anos, na vigência do

Código Civil de 1916, e em 5 (cinco) anos, na vigência do Código Civil de

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 231-259, novembro 2017 237

2002, a pretensão de cobrança dos valores aportados para a construção de rede

de eletrifi cação rural, [...] respeitada a regra de transição prevista no art. 2.028

do Código Civil de 2002” (REsp 1.063.661/RS, SEGUNDA SEÇÃO, julgado

em 24/02/2010);

1.3.) No segundo caso (ii), a pretensão prescreve em 20 (vinte) anos, na

vigência do Código Civil de 1916, e em 3 (três) anos, na vigência do Código

Civil de 2002, por se tratar de demanda fundada em enriquecimento sem causa

(art. 206, § 3º, inciso IV), observada, igualmente, a regra de transição prevista no

art. 2.028 do Código Civil de 2002. Os Srs. Ministros Raul Araújo Filho, Paulo

de Tarso Sanseverino, Maria Isabel Gallotti, Antonio Carlos Ferreira, Ricardo

Villas Bôas Cueva, Marco Buzzi, Nancy Andrighi e João Otávio de Noronha

votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 10 de abril de 2013 (data do julgamento).

Ministro Luis Felipe Salomão, Relator

DJe 16.4.2013

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luis Felipe Salomão: 1. Valdelirio Pereira da Silva ajuizou

ação de rito ordinário em face da Companhia Estadual de Distribuição de

Energia Elétrica - CEEE-D, objetivando o ressarcimento de valores pagos para

fi nanciamento de construção de rede de eletrifi cação rural.

Sustenta que, em junho de 1993, efetuou o pagamento de Cr$

100.000.000,00 (cem milhões de cruzeiros), e que em dezembro de 1.999

pagou mais R$ 1.058,00 (mil e cinquenta e oito reais), não tendo sido restituído

nenhum valor.

Noticia o autor ter celebrado instrumento contratual nominado de

“CONVÊNIO DE DEVOLUÇÃO”, no qual havia previsão de que o aporte

fi nanceiro seria restituído “não antes de 4 anos pelo valor histórico”, a contar

da conclusão da obra; e outro instrumento nominado de “TERMO DE

CONTRIBUIÇÃO”, no qual havia previsão expressa de que o aporte ocorreria

sob a forma de contribuição do consumidor, “não lhe cabendo qualquer espécie

de reembolso em momento algum, conforme disposição legal vigente”.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

238

Discorreu o autor acerca da incompatibilidade da pactuação com o

Código de Defesa do Consumidor, com o Decreto n. 41.019/57 e com a Lei n.

10.438/02.

Assim, pleiteou o autor que fossem declaradas “nulas e abusivas as cláusulas

contratuais que impunham a contribuição do consumidor no pagamento da

rede elétrica, sem a possibilidade de restituição dos valores investidos ou que

retire desta restituição o pagamento de correção monetária”, para condenar

a Companhia ré ao pagamento de R$ 11.658,00 (onze mil e seiscentos e

cinquenta e oito reais), corrigidos e acrescidos de juros legais (fl . 32).

O Juízo de Direito da 4ª Vara Cível do Foro Central da Comarca de Porto

Alegre/RS julgou parcialmente procedente o pedido deduzido pelo autor (fl s.

161-166).

Em grau de apelação, a sentença foi mantida, com correção de erro material

quanto à moeda vigente à época, nos termos da seguinte ementa:

DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO DE COBRANÇA DE VALORES

INVESTIDOS PARA A CONSTRUÇÃO DE REDE DE ELETRIFICAÇÃO RURAL.

1. Prescrição inocorrente. Ação de direito pessoal. Existência concomitante

de termo de contribuição e convênio de devolução. Incidência, no caso, do prazo

prescricional decenal, previsto no art. 205 do Código Civil vigente, considerando a

regra de transição do art. 2.028 do mesmo diploma legal.

2. Estando comprovado o aporte financeiro realizado pelo autor para a

construção das obras de eletrifi cação rural, é devida a restituição dos valores

investidos, na medida em que a obra foi incorporada ao patrimônio da prestadora

do serviço.

3. Correção, de ofício, de erro material da sentença atinente à moeda ao tempo

da contratação.

PREFACIAL REJEITADA. APELAÇÃO IMPROVIDA. ERRO MATERIAL DA SENTENÇA

CORRIGIDO DE OFÍCIO. (fl . 215)

Opostos embargos de declaração, foram eles rejeitados (fl s. 236-242).

Sobreveio recurso especial apoiado nas alíneas “a” e “c” do permissivo

constitucional, no qual se alega, além de dissídio, ofensa ao art. 177 do Código

Civil de 1916, arts. 2.028 e 206, § 5º, do Código Civil de 2002 - a despeito de

haver rápida menção a outros dispositivos de lei.

Sustenta a recorrente que a pretensão dos autores está fulminada pela

prescrição, em consonância com julgamento da Segunda Seção proferido em

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 231-259, novembro 2017 239

sede de recurso especial representativo de controvérsia (REsp 1.063.661/RS,

Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em

24/02/2010).

O recurso especial foi admitido na origem (fl s. 264-270).

Verifi cando ser repetitivo o tema central versado nos autos, alusivo à

prescrição da pretensão ao ressarcimento de valores investidos em expansão

de rede de eletrifi cação, afetei o julgamento do presente recurso especial à e.

Segunda Seção, nos termos do art. 543-C do CPC, bem como da Resolução n.

08/2008 (fl s. 280-281).

A Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL veio aos autos

informando não ter interesse em ingressar no feito como amicus curiae, mas, como

contribuição ao desate do litígio, abraçou a tese segundo a qual, nos termos do

art. 140, § 2º, do Decreto n. 41.019/57, “somente a parcela de responsabilidade

da distribuidora (encargo de responsabilidade da distribuidora), eventualmente

antecipada pelo consumidor para antecipação do prazo de atendimento, deveria

ser restituída pela distribuidora” (fl . 290).

A ANEEL noticia também que, atualmente, sob a égide da Lei n.

10.438/2002, ainda há previsão desse mecanismo de participação fi nanceira do

consumidor no custeio de rede elétrica, sendo regulamentado o procedimento

pela Resolução Normativa/ANEEL n. 414/2010, arts. 36 e seguintes, e n.

223/2003, art. 18-B.

Por isso, conclui a ANEEL, “seja à época discutida na demanda, amparada

pelo Decreto 41.019/1957 seja atualmente, a restituição deve ser realizada apenas

da parcela de responsabilidade da concessionária eventualmente antecipada pelo

consumidor, tudo de acordo com a regulamentação da ANEEL, no exercício de

sua competência” (fl . 290).

O Ministério Público Federal, em parecer subscrito pelo ilustre

Subprocurador-Geral da República Pedro Henrique Távora Niess, opina pelo

conhecimento parcial do recurso e, na extensão, pelo seu não provimento (fl s.

292-301).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Luis Felipe Salomão (Relator): 2. A matéria alusiva à

prescrição da pretensão ao ressarcimento de valores investidos em expansão

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

240

de rede de eletrifi cação já foi apreciada em sede de recurso especial repetitivo,

de minha relatoria, chegando a Segunda Seção ao seguinte entendimento:

“prescreve em 20 (vinte) anos, na vigência do Código Civil de 1916, e em 5

(cinco) anos, na vigência do Código Civil de 2002, a pretensão de cobrança dos

valores aportados para a construção de rede de eletrifi cação rural, posteriormente

incorporada ao patrimônio da CEEE/RGE, respeitada a regra de transição

prevista no art. 2.028 do Código Civil de 2002”.

O suporte fático do precedente acima mencionado dizia respeito a contrato

fi rmado entre os autores e a RGE, tendo a concessionária se obrigado a restituir

ao consumidor, após o decurso do prazo de quatro anos, as quantias investidas

pelo seu valor histórico. Daí por que se aplicou o art. 206, § 5º, inciso I, do

Código Civil de 2002, já que a pretensão deduzida era de “cobrança de dívidas

líquidas constantes de instrumento público ou particular”.

Porém, têm aportado a esta Corte controvérsias com outros contornos

fáticos e jurídicos, envolvendo contratos nos quais há vedação expressa à

restituição de valores (comumente designados “Termo de Contribuição”).

Por ocasião do despacho de afetação, vislumbrei que, em princípio, não se

trata de pretensão a cobrança de “dívidas líquidas constantes de instrumento

público ou particular”. Nesses casos, tem se questionado a legalidade da vedação

contratual à restituição dos valores aportados no custeio da rede elétrica - tema

discutido no julgamento anterior, do REsp n. 1.243.646/PR.

Por isso, afi gurou-se-me conveniente a rediscussão da matéria, com re

afi rmação e atualização do entendimento sufragado no REsp 1.063.661/RS,

julgado pelo rito do art. 543-C, CPC.

3. Nesse passo, absolutamente acertada a jurisprudência tranquila que

antecedeu o mencionado precedente, entendendo incidir o prazo prescricional

aplicável àquelas hipóteses de “dívidas líquidas constantes de instrumento

público ou particular” (art. 206, § 5º, inciso I, do Código Civil de 2002).

Na verdade, tal entendimento foi antecedido por precedente desta Segunda

Seção, de relatoria Ministro João Otávio de Noronha, em cujo voto condutor

fi cou assentado que:

Em caso como tais, que envolvem dívidas líquidas documentadas, em que a

obrigação é certa quanto à existência e determinada quanto ao objeto, o Novo

Código Civil estabeleceu especifi camente que a prescrição aplicável à pretensão

do respectivo titular ocorre no prazo de cinco anos, a partir do vencimento

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 231-259, novembro 2017 241

da obrigação, consoante prevê o artigo 206, § 5º, inciso I. (REsp 1.053.007/RS,

SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27.05.2009)

A ementa desse julgado é a seguinte:

AÇÃO DE COBRANÇA. CONTRATO DE FORNECIMENTO DE REDE DE ENERGIA

ELÉTRICA. FINANCIAMENTO E ADIANTAMENTO DE OBRAS DE ELETRIFICAÇÃO.

INAPLICABILIDADE DA PRESCRIÇÃO TRIENAL OU DECENAL DO ARTIGO 205 DO

NOVO CÓDIGO CIVIL CORRESPONDENTE AO ARTIGO 177 DO CÓDIGO CIVIL DE

1916. PRESCRIÇÃO QÜINQÜENAL. ARTIGO 206, § 5º, INCISO I.

1. O prazo prescricional das ações de cobrança de dívida líquida constante

em instrumento público ou particular de natureza pessoal é qüinqüenal,

enquadrando-se na regra específi ca do inciso I, parágrafo 5º, do artigo 206 do

Novo Código Civil.

2. Recurso especial não-conhecido.

(REsp 1.053.007/RS, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA

SEÇÃO, julgado em 12/08/2009, DJe 09/12/2009)

Outros casos, todavia, em que a moldura fática e a causa de pedir se

diferenciam, a solução, a meu juízo, não pode ser a mesma.

Nos presentes autos - assim como em outros oriundos de diversas Unidades

da Federação -, não há pura e simplesmente um instrumento contratual a prever

dívida líquida a ser paga pela concessionária em determinado prazo.

A exemplo dos processos oriundos do Paraná - o que ficou claro no

julgamento anterior, do REsp n. 1.243.646/PR -, a pactuação era total ou

parcialmente em sentido inverso, constando que a concessionária não restituiria

o valor pago pelo consumidor em nenhuma hipótese.

A situação fática de processos oriundos do Rio Grande do Sul, como

no caso em exame, revela a existência de dois instrumentos contratuais: um

“CONVÊNIO DE DEVOLUÇÃO”, no qual havia previsão de que o aporte

fi nanceiro seria restituído “não antes de 4 anos pelo valor histórico”, a contar

da conclusão da obra; e outro instrumento nominado de “TERMO DE

CONTRIBUIÇÃO”, no qual havia previsão expressa de que o aporte ocorreria

sob a forma de contribuição do consumidor, “não lhe cabendo qualquer espécie

de reembolso em momento algum, conforme disposição legal vigente”.

Com efeito, o prazo de prescrição aplicável a situações como a presente

deve ser aferido a partir dessas duas realidades distintas, não me parecendo

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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possível a aplicação homogênea a toda controvérsia do lapso prescricional

previsto no art. 206, § 5º, inciso I, do Código Civil de 2002, que diz respeito a

dívidas líquidas.

Entendo que à pretensão de ressarcimento do valor previsto no chamado

“CONVÊNIO DE DEVOLUÇÃO”, aplica-se o entendimento fi rmado no

REsp n. 1.063.661/RS, devendo manter-se inalterada a jurisprudência fi rmada

em recurso especial repetitivo.

4. Porém, a solução, a meu juízo, deve ser outra no particular relativo à

restituição dos valores previstos no “TERMO DE CONTRIBUIÇÃO”, como

a seguir descrito.

A moldura fática soberanamente traçada nos presentes autos - e que

normalmente se repete em diversos outros processos - é a de que o consumidor

se insurge contra a legalidade da cláusula contratual que prevê a não devolução

dos valores aportados por ele para o fi nanciamento de rede elétrica, seja vedando

expressamente, seja afi rmando que a participação fi nanceira do consumidor dar-

se-ia a título de “contribuição”.

Nesses casos, inexistindo dívida reconhecida contratualmente pela

concessionária, acoimam-se as mencionas pactuações com a pecha da

invalidade/abusividade, pretendendo-se, a partir do reconhecimento do vício, o

ressarcimento dos valores anteriormente pagos.

O sistema civil brasileiro de 1916, como é amplamente sabido, não tratou

com muito esmero os institutos da prescrição e da decadência, atribuindo prazos

ditos prescricionais a direitos potestativos, sujeitos evidentemente a decadência.

Colhem-se como exemplos dessa erronia o pedido de anulação de

casamento (art. 178, § 1º e § 4º, II, § 5º, I e II), a ação para se contestar a

paternidade de fi lho (art. 178, § 3º), a ação para revogar doação (art. 178, § 6º,

I), ação do adotado para se desligar da adoção (art. 178, § 6º, XIII), ação para

anulação de contratos em razão de vício de vontade (art. 178, § 9º, inciso V).

Quanto à prescrição, desde o diploma revogado, o legislador optou por

prever um prazo geral (art. 177) e situações discriminadas sujeitas a prazos

especiais (art. 178), sem exclusão de outros prazos conferidos por leis específi cas.

Grosso modo, esse método foi transferido para o Código Civil de 2002,

que também prevê um prazo geral (art. 205), e prazos específi cos (art. 206) de

prescrição.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 231-259, novembro 2017 243

Essa sistemática, por si só, possui a virtualidade de apanhar, ordinariamente,

todas as pretensões de direito subjetivo e lhes conferir um prazo de perecimento:

se a pretensão não se enquadra nos prazos prescricionais específi cos, sujeitar-

se-á, certamente, ao prazo geral.

No Código Civil de 1916 - embora baralhando conceitos - os prazos de

prescrição e decadência estavam previstos nos arts. 177 a 179.

A partir da leitura e conjugação dos artigos acima transcritos, percebe-se

que a situação tratada nos autos não se ajusta a nenhum prazo específi co de

prescrição, incidindo, assim, a regra geral para as ações pessoais, prevista no art.

177 do Código Civil.

Tal conclusão é a mesma adotada no precedente firmado no recurso

repetitivo já mencionado (REsp 1.063.661/RS).

Isso porque, na vigência do Diploma revogado, a separação entre ações

pessoais e reais era a regra geral de defi nição de prazos prescricionais, quando a

situação controvertida não se enquadrava nos prazos específi cos.

Assim, tanto o pedido de restituição dos valores previstos no chamado

“CONVÊNIO DE DEVOLUÇÃO”, quanto o de restituição do valor

subjacente ao “TERMO DE CONTRIBUIÇÃO”, enquadram-se ambos no

que o Código Civil anterior denominava ações pessoais, estando ambos sujeitos

ao prazo vintenário de prescrição.

Contudo, na vigência do Código Civil de 2002, a situação é outra, uma

vez que se abandonou o critério das ações “pessoais” ou “reais” como elemento

defi nidor de prazos gerais de prescrição. Agora, há um prazo geral de dez

anos, previsto no art. 205, aplicável sempre quando não incidir um dos prazos

específi cos listados pelo art. 206.

Confi ra-se:

Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fi xado

prazo menor.

Art. 206. Prescreve:

§ 1º Em um ano:

I - a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a

consumo no próprio estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou dos

alimentos;

II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele,

contado o prazo:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

244

a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data

em que é citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro

prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a anuência do segurador;

b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão;

III - a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais,

árbitros e peritos, pela percepção de emolumentos, custas e honorários;

IV - a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para

a formação do capital de sociedade anônima, contado da publicação da ata da

assembléia que aprovar o laudo;

V - a pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acionistas e os

liquidantes, contado o prazo da publicação da ata de encerramento da liquidação

da sociedade.

§ 2º Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da

data em que se vencerem.

§ 3º Em três anos:

I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos;

II - a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou

vitalícias;

III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações

acessórias, pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com capitalização ou

sem ela;

IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa;

V - a pretensão de reparação civil;

VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé,

correndo o prazo da data em que foi deliberada a distribuição;

VII - a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da lei ou

do estatuto, contado o prazo:

a) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos da sociedade

anônima;

b) para os administradores, ou fi scais, da apresentação, aos sócios, do balanço

referente ao exercício em que a violação tenha sido praticada, ou da reunião ou

assembléia geral que dela deva tomar conhecimento;

c) para os liquidantes, da primeira assembléia semestral posterior à violação;

VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do

vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial;

IX - a pretensão do benefi ciário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado,

no caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 231-259, novembro 2017 245

§ 4º Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a contar da data da

aprovação das contas.

§ 5º Em cinco anos:

I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento

público ou particular;

II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais,

curadores e professores pelos seus honorários, contado o prazo da conclusão dos

serviços, da cessação dos respectivos contratos ou mandato;

III - a pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo.

Destarte, no particular relativo ao “TERMO DE CONTRIBUIÇÃO”,

não incide o prazo de cinco anos previsto no art. 206, § 5º, inciso I, porque de

“dívidas líquidas” não se trata.

Importante ressaltar, nesse momento, que no julgamento anterior (REsp

n. 1.243.646/PR), no ponto alusivo a eventuais ilegalidades em contratos desse

jaez, fi cou excluída a possibilidade de infringência ao Código de Defesa do

Consumidor pela cláusula que afasta a restituição dos valores, não se havendo

falar por isso em nulidades absolutas, como as previstas no art. 51 daquele

mencionado diploma.

Em verdade, de tudo que se afi rmou no julgamento precedente (REsp

n. 1.243.646/PR), o único pleito remanescente e possível (após o resultado

de mérito daquele julgamento) é na hipótese de o consumidor alegar e provar

a inadequação do contrato à legislação regente à época, qual seja, Decreto n.

41.019/57, com as alterações trazidas pelo Decreto n. 83.269/79 e Decreto

n. 98.335/89, assim também a normatização baixada pelo Departamento

Nacional de Águas e Energia Elétrica - DNAEE, que defi nia os encargos de

responsabilidade da concessionária e do consumidor, relativos a pedidos de

extensão de redes de eletrifi cação, com base na natureza de cada obra.

Com efeito, haveria ilegalidade na retenção dos valores pagos pelo

consumidor se os mencionados aportes fossem, na verdade, de responsabilidade

da concessionária, tendo esta se apropriado de quantia de terceiro que, a rigor,

deveria ter sido desembolsada por ela própria.

Em suma, haveria ilegalidade se o consumidor tivesse arcado com parte

(ou totalidade) da obra que cabia à concessionária.

Assim, a meu juízo, incide o prazo de três anos previsto no art. 206, § 3º,

inciso IV, para a “pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa”, no

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

246

que concerne à restituição de valores contidos em instrumentos contratuais que

vedava a devolução (como os chamados TERMOS DE CONTRIBUIÇÃO).

Deveras, o novo regramento consignou prazo prescricional específi co para

a pretensão em análise, que envolve ressarcimento de valores cujo pagamento -

como se alega - tenha sido indevido.

Vale dizer, o novo Código limitou o lapso de tempo em que se permite ao

prejudicado o ajuizamento da actio de in rem verso.

A solução da controvérsia revelada nos autos perpassa o conceito e a

abrangência do instituto do enriquecimento sem causa, com base no qual deve-

se aferir o âmbito de aplicação dos dispositivos legais acima referidos.

Caio Mario de Silva Pereira assim conceitua o instituto:

Toda aquisição patrimonial deve decorrer de uma causa, ainda que seja ela

apenas um ato de apropriação por parte do agente, ou um ato de liberalidade de

uma parte em favor da outra. Ninguém enriquece do nada.

O sistema jurídico não admite, assim, que alguém obtenha um proveito econômico

às custas de outrem, sem que esse proveito decorra de uma causa juridicamente

reconhecida. A causa para todo e qualquer enriquecimento não só deve existir

originariamente, como também deve subsistir, já que o desaparecimento

superveniente da causa do enriquecimento de uma pessoa, às custas de

outra, também repugna ao sistema (Código Civil, art. 885). Esse é o espírito do

denominado princípio do enriquecimento sem causa, disciplinado pela primeira

vez de forma expressa no Código Civil de 2002. (Instituições de Direito Civil,

volume III,).

Prosseguindo, leciona que:

Para que o enriquecimento sem causa se confi gure, é preciso que o proveito

obtido por sua atividade ou por sua causa tenha sido ilegitimamente apropriado

pelo beneficiado, sem que o lesado possa por qualquer outro meio obter o

benefício dela decorrente.

Na mesma linha, obtempera Humberto Th eodoro Júnior:

O enriquecimento, sem justa causa, é fonte da obrigação de restituir tudo o

que o benefi ciário lucrou à custa do empobrecimento de outrem (art. 884).

A ação para recuperar a perda sofrida nasce para o prejudicado no

momento em que o benefi ciário absorve em seu patrimônio o bem a que não

tinha direito. Ao mesmo tempo que sofre o prejuízo, adquire o prejudicado o

direito ao ressarcimento, acompanhado da imediata pretensão. Tudo se passa

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 231-259, novembro 2017 247

simultaneamente. Por isso, do próprio fato do enriquecimento sem causa começa

a correr a prescrição da pretensão de recuperá-lo. A situação é a mesma do ato

ilícito: o responsável se coloca em mora desde o momento em que o praticou

(art. 398) (THEODORO JÚNIOR, Humerto. Comentários ao código civil, volume 3. t.2.

Sálvio de Figueiredo Teixeira (Coord.). Rio de Janeiro: Forense, 2003, p 327).

Anardo Rizzardo, por sua vez, traz alguns exemplos em que a prescrição

alusiva à ação de enriquecimento sem causa incidiria:

Inúmeras as situações que comportam o ressarcimento, sendo o elemento

confi gurativo o proveito resultante a uma das partes de uma relação contratual

ou extracontratual. Assim, a falta de pagamento da dívida no momento oportuno,

o investimento de capital recebido sem a retribuição pelo tempo em que fi cou a

parte usufruindo do mesmo capital, o acréscimo feito em uma obra a pedido do

contratante, o empréstimo de um instrumento que trouxe vantagens à pessoa,

a utilização de uma área de terras no cultivo econômico, a permanência em um

imóvel além do prazo combinado, o pagamento do preço inferior ao vigente no

mercado, são alguns exemplos (RIZZARDO, Arnaldo. Parte Geral do Código Civil. p.

617).

Há também precedentes nesta Corte a abraçar essa tese:

CONSUMIDOR E PROCESSUAL. AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO. COBRANÇA

INDEVIDA DE VALORES. INCIDÊNCIA DAS NORMAS RELATIVAS À PRESCRIÇÃO

INSCULPIDAS NO CÓDIGO CIVIL. PRAZO ESPECIAL. PRESCRIÇÃO TRIENAL.

PRETENSÃO DE RESSARCIMENTO DE ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA.

1. O diploma civil brasileiro divide os prazos prescricionais em duas espécies. O

prazo geral decenal, previsto no art. 205, destina-se às ações de caráter ordinário,

quando a lei não houver fi xado prazo menor. Os prazos especiais, por sua vez,

dirigem-se a direitos expressamente mencionados, podendo ser anuais, bienais,

trienais, quadrienais e quinquenais, conforme as disposições contidas nos

parágrafos do art. 206.

2. A discussão acerca da cobrança de valores indevidos por parte do fornecedor

se insere no âmbito de aplicação do art. 206, § 3º, IV, que prevê a prescrição trienal

para a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa. Havendo regra

específi ca, não há que se falar na aplicação do prazo geral decenal previsto do art.

205 do CDC. Precedente.

3. A incidência da regra de prescrição prevista no art. 27 do CDC tem como

requisito essencial a formulação de pedido de reparação de danos causados por

fato do produto ou do serviço, o que não ocorreu na espécie.

4. O pedido de repetição de cobrança excessiva que teve início ainda sob

a égide do CC/16 exige um exame de direito intertemporal, a fi m de aferir a

incidência ou não da regra de transição prevista no art. 2.028 do CC/02.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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5. De acordo com esse dispositivo, dois requisitos cumulativos devem estar

presentes para viabilizar a incidência do prazo prescricional do CC/16: i) o prazo

da lei anterior deve ter sido reduzido pelo CC/02; e ii) mais da metade do prazo

estabelecido na lei revogada já deveria ter transcorrido no momento em que o

CC/02 entrou em vigor, em 11 de janeiro de 2003.

6. Considerando que não houve impugnação do dies a quo do prazo

prescricional definido pelo Tribunal de Oirgem - data da colação de grau do

recorrente, momento no qual ocorreu o término da prestação de serviço

educacional -, e que, na espécie, quando o CC/02 entrou em vigor não havia

transcorrido mais da metade do prazo prescricional previsto na lei antiga, incide

o prazo prescricional trienal do CC/02, motivo pelo qual o acórdão recorrido não

merece reforma.

7. Recurso especial não provido.

(REsp 1.238.737/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado

em 08/11/2011, DJe 17/11/2011)

PROCESSO CIVIL. ADMINISTRATIVO. CONTRATO ADMINISTRATIVO.

RECOMPOSIÇÃO DE PREÇOS. REEQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO.

SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. PRESCRIÇÃO. PRAZO. ART. 206, § 3º,

IV, DO CÓDIGO CIVIL. PLEITO EFETUADO APÓS A CONCLUSÃO DA OBRA.

RESSARCIMENTO DE ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA. RECURSO NÃO PROVIDO.

1. Pessoa jurídica vencedora de licitação propôs ação de recomposição de

preços contra sociedade de economia mista. Alega que houve uma signifi cativa

elevação do dólar, que ocasionou exorbitante aumento nos preços dos

insumos básicos, materiais e equipamentos empregados na realização da obra,

comprometendo a equação econômica ajustada no momento da contratação.

Discute-se, no apelo especial, se a prescrição na hipótese é regida pelo prazo

geral de dez anos, previsto no art. 205, do Código Civil, ou se deve ser aplicado o

de três anos, contido no art. 206, § 3º, IV, daquele mesmo diploma.

2. O recurso não merece ser conhecido pela alegativa de dissídio

jurisprudencial, uma vez que o recorrente não realizou o necessário cotejo

analítico entre os arestos confrontados, deixando de demonstrar a existência de

similitude fática entre eles. Dessarte, descumpriu-se o disposto nos artigos 541,

parágrafo único, do CPC, e 255 do Regimento Interno do Superior Tribunal de

Justiça. Precedentes.

3. De acordo com o entendimento pacifi cado no STJ, as ações movidas contra

as sociedades de economia mista não se sujeitam ao prazo prescricional previsto

no Decreto-Lei 20.910/32, porquanto possuem personalidade jurídica de direito

privado, estando submetidas às normas do Código Civil.

4. O art. 206, § 3º, IV, do Código Civil de 2002 estipula o prazo prescricional de

três anos para as ações de ressarcimento por enriquecimento sem causa.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 231-259, novembro 2017 249

5. A situação narrada nos autos se amolda ao disposto no art. 206, § 3º, IV, do CC.

O pleito para recomposição de preços foi realizado após a entrega da obra, isto é,

quando já exaurido o objeto contratual. Dessa feita, não se trata de simples anulação

ou revisão de cláusulas contratuais, mas de verdadeiro pedido de ressarcimento

formulado perante a Administração Pública, a qual se benefi ciou do desequilíbrio

econômico-fi nanceiro do contrato.

6. Recurso especial não provido.

(REsp 1.145.416/RS, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado

em 01/03/2011, DJe 17/03/2011)

5. Assim, diante das questões jurídicas subjacentes ao caso concreto,

encaminho os seguintes entendimentos para efeitos do art. 543-C do CPC:

5.1. Nas ações em que se pleiteia o ressarcimento dos valores pagos a

título de participação fi nanceira do consumidor no custeio de construção de

rede elétrica, a prescrição deve ser analisada, separadamente, a partir de duas

situações: (i) pedido relativo a valores cujo ressarcimento estava previsto em

instrumento contratual e que ocorreria após o transcurso de certo prazo a contar

do término da obra (pactuação prevista em instrumento geralmente nominado

de “CONVÊNIO DE DEVOLUÇÃO”); (ii) pedido relativo a valores para cujo

ressarcimento não havia previsão contratual (pactuação prevista em instrumento

geralmente nominado de “TERMO DE CONTRIBUIÇÃO”.

5.2. No primeiro caso (i), “prescreve em 20 (vinte) anos, na vigência do

Código Civil de 1916, e em 5 (cinco) anos, na vigência do Código Civil de

2002, a pretensão de cobrança dos valores aportados para a construção de rede

de eletrifi cação rural, [...] respeitada a regra de transição prevista no art. 2.028

do Código Civil de 2002” (REsp 1.063.661/RS, SEGUNDA SEÇÃO, julgado

em 24/02/2010);

5.3. No segundo caso (ii), a pretensão prescreve em 20 (vinte) anos, na

vigência do Código Civil de 1916, e em 3 (três) anos, na vigência do Código

Civil de 2002, por se tratar de demanda fundada em enriquecimento sem causa

(art. 206, § 3º, inciso IV), observada, igualmente, a regra de transição prevista no

art. 2.028 do Código Civil de 2002.

6. No caso concreto, o acórdão recorrido firmou a premissa fática

de ter havido o desembolso de CR$ 50.427,14, a título de TERMO DE

CONTRIBUIÇÃO, e de CR$ 8.218,32, como CONVÊNIO DE

DEVOLUÇÃO.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

250

Por outro lado, a despeito de constar na inicial alegação de aporte fi nanceiro

no ano de 1999, o acórdão recorrido entendeu que o desembolso dos valores

ocorreu em 17 de agosto de 1993 (fl . 220).

Assim, aplicando-se o prazo vintenário para ambos os aportes, verifi ca-se

que, por ocasião da entrada em vigor do Código Civil de 2002 (11 de janeiro

de 2003), não havia transcorrido mais da metade do prazo prescricional antigo,

fazendo incidir os novos prazos, nos termos da regra de transição prevista no art.

2.028.

Destarte, para o pedido de ressarcimento dos valores previstos no

CONVÊNIO DE DEVOLUÇÃO, o prazo prescricional fi ndaria em 11 de

janeiro de 2008 (cinco anos, a contar da vigência do novo Código); para o pedido

de ressarcimento dos valores previstos no TERMO DE CONTRIBUIÇÃO, o

prazo prescricional fi ndaria em 11 de janeiro de 2006 (três anos, a contar da

vigência do novo Código).

O autor ajuizou a ação em 15 de janeiro de 2009, por isso a totalidade de

sua pretensão está mesmo alcançada pela prescrição.

7. Diante do exposto, dou provimento ao recurso especial para extinguir o

feito com julgamento de mérito (art. 269, inciso IV, do CPC), reconhecendo a

prescrição.

A cargo do autor, custas processuais e honorários advocatícios, estes ora

fi xados em R$ 1.000,00 (mil reais), observados os benefícios da Lei n. 1.060/50.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 1.063.661-RS (2008/0122820-1)

Relator: Ministro Luis Felipe Salomão

Recorrente: Lautemir Pereira da Rocha e outro

Advogado: Diogo Ortigara Girardi e outro(s)

Recorrido: Rio Grande Energia S/A e outro

Advogado: Giovanni Burtet e outro(s)

Recorrido: Companhia Estadual de Distribuição de Energia Elétrica CEEED

Advogado: Dario Jr da Motta Germano e outro(s)

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 231-259, novembro 2017 251

EMENTA

RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. REDE DE

ELETRIFICAÇÃO RURAL. COBRANÇA DOS VALORES

APORTADOS. PRESCRIÇÃO VINTENÁRIA, NA VIGÊNCIA

DO CC/16, E QUINQUENAL, NA VIGÊNCIA DO CC/02,

RESPEITADA A REGRA DE TRANSIÇÃO DO ART. 2.028/

CC02.

1. Para efeitos do art. 543-C do CPC: prescreve em 20 (vinte)

anos, na vigência do Código Civil de 1916, e em 5 (cinco) anos,

na vigência do Código Civil de 2002, a pretensão de cobrança

dos valores aportados para a construção de rede de eletrificação

rural, posteriormente incorporada ao patrimônio da CEEE/RGE,

respeitada a regra de transição prevista no art. 2.028 do Código Civil

de 2002.

2. Recurso especial provido para afastar a prescrição decretada e

determinar o retorno dos autos ao Tribunal a quo.

ACÓRDÃO

A Seção, por unanimidade, conheceu do recurso e lhe deu provimento,

para afastar a prescrição decretada e determinar o retorno dos autos ao

Tribunal “a quo”, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros

Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS), Paulo Furtado

(Desembargador convocado do TJ/BA), Honildo Amaral de Mello Castro

(Desembargador convocado do TJ/AP), Fernando Gonçalves, Aldir Passarinho

Junior, Nancy Andrighi, João Otávio de Noronha e Sidnei Beneti votaram com

o Sr. Ministro Relator.

Sustentou oralmente a Dra. Isabela Braga Pompilio, pela recorrida: Rio

Grande Energia S/A

Brasília (DF), 24 de fevereiro de 2010 (data do julgamento).

Ministro Luis Felipe Salomão, Relator

DJe 8.3.2010

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

252

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luis Felipe Salomão: 1. Lautemir Pereira da Rocha e

Hermes Menezes Fagundes ajuizaram ação de cobrança em face de RGE -

Rio Grande Energia - e CEEE - Companhia Estadual de Energia Elétrica

-, visando restituição de valores despendidos para construção de rede de

eletrifi cação rural. Informaram que, após concluída a obra, esta foi incorporada

ao patrimônio da RGE, ocasião em que foi fi rmado contrato entre os autores e a

RGE, em que esta se obrigou a restituir, após o decurso do prazo de quatro anos,

as quantias investidas pelo seu valor histórico. Diante da inércia dos réus em

cumprir o contrato, requereram os autores a restituição dos valores, corrigidos

monetariamente pelo IGPM.

O Juízo de Direito da 2ª Vara Cível da comarca de “Frederico Westphalen”,

reconhecendo a prescrição trienal, julgou extinto o processo, com resolução de

mérito, nos termos do artigo 269, IV, do Código de Processo Civil.

Em grau de apelação, a sentença foi mantida, por maioria de votos, pela

Nona Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul,

por acórdão assim ementado:

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. REDE DE ELETRIFICAÇÃO RURAL.

PRESCRIÇÃO.

1. Investimento, pelo usuário, em rede de eletrifi cação rural. O termo inicial da

prescrição, no caso concreto, é a partir de quatro anos da data da conclusão da

obra, momento em que a dívida se tornou exigível. No caso, iniciou-se o prazo de

prescrição em 16.10.2001, que, segundo a regra do artigo 177 do CC/1916, que

tratava das ações pessoais, era de vinte anos.

2. Regra de transição do art. 2.028 CC/2002. Diante disso, considerando que

não havia transcorrido mais de metade do prazo vintenário quando da entrada

em vigor do CC/2002, aplica-se, o prazo estabelecido pela lei nova, cujo termo

inicial, por óbvio, é a data de sua entrada em vigor (11.01.2003).

3. Trata-se da hipótese do artigo 206, § 3º, IV, do CC/2002, qual seja, pretensão

de ressarcimento de enriquecimento sem causa, com prazo de três anos.

Com efeito, busca a parte demandante o ressarcimento do valor investido na

implementação de rede de eletrificação em área rural, acrescidos de juros e

correção monetária, sob pena de enriquecimento sem causa da concessionária de

serviço público, que, além de não ter despendido valores na construção da rede,

acrescentou-a a seu patrimônio.

4. Destarte, sendo o prazo de três anos e tendo iniciado em 11.01.2003 – data

da entrada em vigor do Código Civil de 2002 -, encontrou seu termo fi nal em

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 231-259, novembro 2017 253

11.01.2006. Daí que a presente demanda, aforada em 18.01.2007, estava prescrita

desde 11.01.2006.

APELO IMPROVIDO. POR MAIORIA. (fl s. 228).”

Sobreveio, assim, recurso especial, fundado na alínea “a” do permissivo

constitucional, no qual se alega ofensa aos artigos 205 e 206, § 3º, IV, do Código

Civil, ao argumento de que incide na hipótese a prescrição decenal, ao invés da

trienal, como entendeu o acórdão recorrido.

Diante da notória multiplicidade de recursos a versar matéria idêntica,

afetei o julgamento do presente a esta E. Segunda Seção, nos termos do art.

543-C do CPC (fl . 272).

Agacir Antônio Zotti e outras dezesseis pessoas, que são partes nas Rcl.

n. 3.683 e outras, que tramitam no âmbito desta Segunda Seção, apresentaram

manifestação, arguindo interesse no feito, nos termos do art. 543-C do CPC e

art. 3º, inciso I, da Resolução n. 08/2008 do STJ. (fl s. 313/337)

O Ministério Público Federal, mediante parecer subscrito pelo ilustre

Subprocurador-Geral da República Antônio Carlos Pessoa Lins, opina pela

incidência do prazo prescricional de cinco anos, previsto no art. 206, § 5º, inciso

I, do Código Civil, e, no caso concreto, pelo não-conhecimento do recurso, por

incidência da Súmula n. 207/STJ, diante da não-manifestação de embargos

infringentes na origem. (fl s. 376/384)

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Luis Felipe Salomão (Relator): 2. Primeiramente, a

preliminar arguida pelo Ministério Público Federal, segundo a qual o recurso

especial encontraria óbice na Súmula n. 207/STJ, data venia, não procede.

Nos termos do art. 530 do CPC, com redação conferida pela Lei n.

10.352, de 2001, “cabem embargos infringentes quando o acórdão não unânime

houver reformado, em grau de apelação, a sentença de mérito, ou houver julgado

procedente ação rescisória” (grifo nosso).

Ocorre que no caso ora examinado, muito embora o julgamento em grau

de apelação tenha se dado por maioria de votos, a sentença foi mantida, razão

pela qual se mostravam mesmo incabíveis os embargos infringentes. Nesse

sentido: REsp 696.343/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA

TURMA, julgado em 05/12/2006, DJ 12/02/2007 p. 258.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

254

Preliminar rejeitada.

3. A hipótese dos autos diz respeito ao prazo prescricional aplicável à

pretensão de restituição dos valores antecipados pelos autores às sociedades

recorridas para construção de redes elétricas em área rural.

O Juízo de primeiro grau acolheu a incidência do prazo prescricional

previsto no artigo 206, § 3º, IV, do Código Civil, em entendimento ratifi cado

pelo Tribunal de origem, ao argumento de que “a pretensão está fundamentada

essencialmente no enriquecimento sem causa das rés, pois, ao não restituir

os valores pagos pelos autores, cumprindo com sua obrigação contratual,

locupletaram-se ilicitamente à expensas daqueles.”

3.1. Esta Corte já apreciou controvérsia surgida quando ainda vigente o

Código Civil de 1.916, assentando a incidência da prescrição vintenária.

Confi ram-se precedentes:

AGRAVO REGIMENTAL. CEEE. EXTENSÃO DE REDE ELÉTRICA. FINANCIAMENTO

PELO CONSUMIDOR. PRESCRIÇÃO. CORREÇÃO MONETÁRIA.

1. A prescrição qüinqüenal não atinge as sociedades de economia mista

concessionárias de serviço público. A prescrição, in casu, é vintenária.

2. Constitui disposição leonina a cláusula de contrato de adesão que dispõe

sobre a restituição, sem correção monetária, do valor fi nanciado para construção

de rede de eletrifi cação rural. Ademais, a correção monetária não é um plus, mas

mero fator de atualização do valor da moeda.

Agravo regimental improvido.

(AgRg no Ag 548.036/RS, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO, QUARTA TURMA,

julgado em 12.12.2005, DJ 27.03.2006 p. 277).

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTRATO.

CONSTRUÇÃO DE REDE ELÉTRICA. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. PRESCRIÇÃO

VINTENÁRIA. LEGITIMIDADE PASSIVA. SIGNATÁRIA DO PACTO. REVISÃO. REEXAME

DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 07/STJ. VIOLAÇÃO

AO ATO JURÍDICO PERFEITO. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO.

I. É vintenário o prazo prescricional para as ações movidas contra a sociedade

de economia mista, concessionária de serviço público.

Precedentes.

II. A decisão agravada, ao reconhecer a legitimidade da CEEE, o fez com base

nos elementos de convicção dos autos. A análise da irresignação demandaria

reexame do conjunto fático-probatório constante dos autos, o que é vedado em

recurso especial, nos termos da Súmula 07/STJ.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 231-259, novembro 2017 255

III. O prequestionamento, entendido como a necessidade de o tema objeto

do recurso haver sido examinado pela decisão atacada, constitui exigência

inafastável da própria previsão constitucional, ao tratar do recurso especial,

impondo-se como um dos principais requisitos ao seu conhecimento. Não

examinada a matéria objeto do especial pela instância a quo, mesmo com a

oposição dos embargos de declaração, incide o enunciado 211 da Súmula do

Superior Tribunal de Justiça.

Agravo regimental improvido.

(AgRg no Ag 1.013.437/RS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA,

julgado em 07.08.2008, DJe 28.08.2008)

3.2. Na vigência do atual Código, o caso subsume-se ao art. 206, § 5º,

inciso I, que prevê prazo quinquenal e está assim redigido:

Art. 206. Prescreve:

(...)

§ 5º Em cinco anos:

I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento

público ou particular;

Esse tem sido o entendimento desta E. Segunda Seção - com a ressalva do

meu ponto de vista fi rmado em voto-vista proferido no REsp 1.053.007/RS -

conforme se dessume do excerto do voto proferido pelo e. Ministro João Otávio

de Noronha, no acórdão paradigma sobre o tema:

“Em caso como tais, que envolvem dívidas líquidas documentadas, em que a

obrigação é certa quanto à existência e determinada quanto ao objeto, o Novo

Código Civil estabeleceu especifi camente que a prescrição aplicável à pretensão

do respectivo titular ocorre no prazo de cinco anos, a partir do vencimento

da obrigação, consoante prevê o artigo 206, § 5º, inciso I.” (REsp 1.053.007/RS,

SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27.05.2009)

A ementa desse julgado é a seguinte:

AÇÃO DE COBRANÇA. CONTRATO DE FORNECIMENTO DE REDE DE ENERGIA

ELÉTRICA. FINANCIAMENTO E ADIANTAMENTO DE OBRAS DE ELETRIFICAÇÃO.

INAPLICABILIDADE DA PRESCRIÇÃO TRIENAL OU DECENAL DO ARTIGO 205 DO

NOVO CÓDIGO CIVIL CORRESPONDENTE AO ARTIGO 177 DO CÓDIGO CIVIL DE

1916. PRESCRIÇÃO QÜINQÜENAL. ARTIGO 206, § 5º, INCISO I.

1. O prazo prescricional das ações de cobrança de dívida líquida constante

em instrumento público ou particular de natureza pessoal é qüinqüenal,

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

256

enquadrando-se na regra específi ca do inciso I, parágrafo 5º, do artigo 206 do

Novo Código Civil.

2. Recurso especial não-conhecido.

(REsp 1.053.007/RS, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA

SEÇÃO, julgado em 12/08/2009, DJe 09/12/2009)

E nessa toada vem seguindo o entendimento das turmas integrantes da

Segunda Seção, conforme se comprova dos inúmeros precedentes:

CIVIL E PROCESSUAL. AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. REDE

DE ENERGIA ELÉTRICA. FINANCIAMENTO. AÇÃO DE COBRANÇA. LEGITIMIDADE

PASSIVA. CISÃO. CLÁUSULAS. REVOLVIMENTO. SÚMULA N. 5/STJ. PRESCRIÇÃO.

VINTENÁRIA. ARTIGO 177, DO CC/1916. QUINQUENAL NA VIGÊNCIA DO ART. 206,

§ 5º, I, DO CC/2002.

(...)

II. Acerca da prescrição durante a incidência do Código Civil de 1916, pacifi cou-

se no STJ a orientação no sentido de ser aplicável o prazo prescricional vintenário

nas hipóteses de ações pessoais movidas contra sociedades de economia mista

concessionárias de serviço público (AgRg no Ag 500.695/RS, 3ª Turma, Rel. Min.

Carlos Alberto Menezes Direito, DJU de 3.5.2004; AgRg no Ag 545.205/RS, 4ª

Turma, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, DJU de 29.3.2004 e AgRg no Ag 476.643/

RS, 3ª Turma, Rel. Min. Ari Pargendler, DJU de 15.12.2003). Já na vigência do

Código Civil de 2002, esta Corte considerou quinquenal o prazo para a ação

de cobrança em debate, com fundamento no art. 206, § 5º, I (2ª Seção, REsp n.

1.053.007-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 12.08.2009).

III. Agravo desprovido.

(AgRg no Ag 1.120.842/RS, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA

TURMA, julgado em 15/10/2009, DJe 23/11/2009)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTRATO.

CONSTRUÇÃO DE REDE ELÉTRICA. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA.

PRESCRIÇÃO. LEGITIMIDADE PASSIVA. REVISÃO. REEXAME DE PROVAS E

CLÁUSULAS CONTRATUAIS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULAS 5 E 7/STJ. DECISÃO

AGRAVADA MANTIDA. IMPROVIMENTO.

I. É vintenário o prazo prescricional para as ações movidas contra a sociedade

de economia mista, concessionária de serviço público, na vigência do CC/1916.

Precedentes. Com o advento do CC/2002, o prazo prescricional aplicável ao caso

é de cinco anos.

(...)

(AgRg no Ag 1.158.381/RS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA,

julgado em 25/08/2009, DJe 11/09/2009)

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 231-259, novembro 2017 257

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. INSTALAÇÃO DE REDE DE ELETRIFICAÇÃO

RURAL. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. PRESCRIÇÃO. TRANSIÇÃO DO ART.

2.028 do CC. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULAS NS. 5 E 7/STJ. REVISÃO DE PROVAS

E INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULA CONTRATUAL. RECURSO MANIFESTAMENTE

IMPROCEDENTE. APLICAÇÃO DE MULTA. ART. 557 § 2º, CPC.

(...)

2. Nas dívidas líquidas documentadas, em que a obrigação é certa quanto

à existência e determinada quanto ao objeto, o Novo Código Civil estabeleceu

especificamente que a prescrição aplicável à pretensão do respectivo titular

ocorre no prazo de cinco anos, a partir do vencimento da obrigação, consoante

prevê o artigo 206, § 5º, inciso I, atendida a regra de transição do art. 2.028 do

atual Codex.

(...)

(AgRg no Ag 1.102.335/RS, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA

TURMA, julgado em 06/08/2009, DJe 17/08/2009)

AGRAVO REGIMENTAL. (...)

O PRAZO PRESCRICIONAL PARA A RESTITUIÇÃO DE VALORES DESEMBOLSADO

PARA FINANCIAMENTO DE REDE DE ENERGIA ELÉTRICA, NA INCIDÊNCIA DO

CÓDIGO CIVIL DE 1916, É O VINTENÁRIO, E, NA DO CÓDIGO CIVIL DE 2002, É O

QÜINQÜENAL. AGRAVO IMPROVIDO.

(AgRg no Ag 949.811/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,

julgado em 17/11/2009, DJe 30/11/2009)

CIVIL. OBRIGAÇÕES. ESPÉCIES DE CONTRATOS. TURMA RECURSAL DE JUIZADO

ESPECIAL CÍVEL. RECLAMAÇÃO. CABIMENTO.

(...)

2. O entendimento adotado no Juizado Especial diverge da pacífi ca orientação

desta Eg. Corte de Justiça ao reconhecer que o prazo prescricional é de cinco

anos, como reconhecido em julgamento proferido pela Segunda Seção em

12.08.09, no REsp 1.053.007/RS, pacifi cando o entendimento de que nas ações

de cobrança objetivando a devolução de valores empregados na realização de

obras de expansão de rede de energia elétrica em área rural, por sua natureza

de obrigação contratual de empréstimo, ajustado em instrumento fi rmado pelas

partes, em que o prazo prescricional é de 05 (cinco) anos.

(...)

(Rcl 3.692/RS, Rel. Ministro HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO

(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/AP), SEGUNDA SEÇÃO, julgado em

14/10/2009, DJe 03/11/2009)

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

258

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. COMPANHIA ESTADUAL

DE ENERGIA ELÉTRICA - CEEE. IMPLEMENTAÇÃO DE REDE DE ELETRIFICAÇÃO

RURAL. LEGITIMIDADE PASSIVA. REEXAME DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS.

IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 05/STJ. PRESCRIÇÃO. PRAZO VINTENÁRIO.

INCIDÊNCIA DO CC/1916. OBSERVÂNCIA DA REGRA DE TRANSIÇÃO DO ART. 2.028

DO CC/2002.

(...)

2. Quanto à prescrição, esta Corte Superior de Justiça assentou o entendimento

de que, nas ações de natureza pessoal propostas contra sociedade de economia

mista concessionária de serviço público, o prazo prescricional, na vigência do

Código Civil de 1916, era vintenário (art. 177 do CC/1916).

3. Com a entrada em vigor do Novo Codex, este Sodalício passou a entender

que o pactuado entre os litigantes (fi nanciamento da construção de rede elétrica)

seria uma obrigação contratual de empréstimo e, portanto, aplicável o lapso

quinquenal previsto no art. 206, § 5º, I, do CC/2002.

(...)

(AgRg no Ag 1.130.775/RS, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA

(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), TERCEIRA TURMA, julgado em

03/12/2009, DJe 02/02/2010)

4. Nesse passo, diante da jurisprudência tranquila fi rmada no âmbito

desta Seção de Direito Privado, a tese a ser fi rmada, para efeitos do art. 543-C

do CPC é a seguinte: prescreve em 20 (vinte) anos, na vigência do Código Civil

de 1916, e em 5 (cinco) anos, na vigência do Código Civil de 2002, a pretensão

de cobrança dos valores aportados para a construção de rede de eletrifi cação rural,

posteriormente incorporada ao patrimônio da CEEE/RGE, respeitada a regra de

transição prevista no art. 2.028 do Código Civil de 2002.

5. No caso concreto, o Tribunal a quo reconheceu a prescrição por entender

aplicável à espécie o prazo trienal previsto no art. 206, § 3º, inciso IV, do CC/02,

contado este a partir da entrada em vigor do atual Diploma Civil (11.01.2003),

porquanto não escoado mais da metade do prazo antigo, nos termos do art.

2.028/CC.

Não obstante, tendo sido a ação ajuizada em 18.01.2007, é de ser afastada a

prescrição, porquanto aplicável o prazo quinquenal previsto art. 206, § 5º, inciso

I, contado a partir de 11.01.2003.

6. Diante do exposto, para efeitos do art. 543-C do CPC: prescreve em 20

(vinte) anos, na vigência do Código Civil de 1916, e em 5 (cinco) anos, na vigência do

Código Civil de 2002, a pretensão de cobrança dos valores aportados para a construção

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 231-259, novembro 2017 259

de rede de eletrifi cação rural, posteriormente incorporada ao patrimônio da CEEE/

RGE, respeitada a regra de transição prevista no art. 2.028 do Código Civil de 2002.

No caso concreto, dou provimento ao recurso especial para, afastando a

prescrição decretada, determinar o retorno dos autos ao Tribunal a quo para que

prossiga no julgamento das demais questões.

É como voto.

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Súmula n. 548

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SÚMULA N. 548

Incumbe ao credor a exclusão do registro da dívida em nome do devedor

no cadastro de inadimplentes no prazo de cinco dias úteis, a partir do integral e

efetivo pagamento do débito.

Referências:

CDC, arts. 43, § 3º, e 73.

CPC, art. 543-C.

Precedentes:

(*)REsp 1.424.792-BA (2ª S, 10.09.2014 – DJe 24.09.2014) –

acórdão publicado na íntegra

REsp 292.045-RJ (3ª T, 27.08.2001 – DJ 08.10.2001)

AgRg no Ag 1.094.459-SP (3ª T, 19.05.2009 – DJe 1º.06.2009)

REsp 1.149.998-RS (3ª T, 07.08.2012 – DJe 15.08.2012)

AgRg no AREsp 230.431-RS (3ª T, 27.08.2013 – DJe 02.09.2013)

AgRg no REsp 1.047.121-RJ (3ª T, 25.06.2013 – DJe 03.02.2014)

REsp 994.638-AM (4ª T, 21.02.2008 – DJe 17.03.2008)

AgRg no Ag 1.285.971-SP (4ª T, 13.09.2011 – DJe 16.09.2011)

AgRg no Ag 1.373.920-SP (4ª T, 22.05.2012 – DJe 28.05.2012)

AgRg no AREsp 307.336-RS (4ª T, 22.10.2013 – DJe 25.11.2013)

AgRg no AREsp 415.022-SC (4ª T, 08.04.2014 – DJe 25.04.2014)

(*) Recurso repetitivo.

Segunda Seção, em 14.10.2015

DJe 19.10.2015

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RECURSO ESPECIAL N. 1.424.792-BA (2013/0407532-6)

Relator: Ministro Luis Felipe Salomão

Recorrente: TIM Nordeste S/A

Advogado: Humberto Graziano Valverde e outro(s)

Recorrido: Claudionor Mota Santos

Advogado: Maria Fátima Almeida de Queiroz e outro(s)

Interes.: Defensoria Pública da União - “Amicus Curiae”

Advogado: Defensoria Pública da União

Interes.: Federação Brasileira de Bancos FEBRABAN - “Amicus Curiae”

Advogados: Heloísa Scarpelli

Antonio Carlos de Toledo Negrao

Interes.: Confederacao Nacional do Comercio de Bens, Servicos e Turismo

- CNC - “Amicus Curiae”

Advogados: Dolimar Toledo Pimentel

Cácito Augusto Freitas Esteves

EMENTA

INSCRIÇÃO DO NOME DO DEVEDOR EM

CADASTRO DE INADIMPLENTES. RECURSO ESPECIAL

REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. QUITAÇÃO DA

DÍVIDA. SOLICITAÇÃO DE RETIFICAÇÃO DO REGISTRO

ARQUIVADO EM BANCO DE DADOS DE ÓRGÃO

DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. INCUMBÊNCIA DO

CREDOR. PRAZO. À MÍNGUA DE DISCIPLINA LEGAL,

SERÁ SEMPRE RAZOÁVEL SE EFETUADO NO PRAZO

DE 5 (CINCO) DIAS ÚTEIS, A CONTAR DO DIA ÚTIL

SUBSEQUENTE À QUITAÇÃO DO DÉBITO.

1. Para fi ns do art. 543-C do Código de Processo Civil: “Diante

das regras previstas no Código de Defesa do Consumidor, mesmo

havendo regular inscrição do nome do devedor em cadastro de órgão

de proteção ao crédito, após o integral pagamento da dívida, incumbe

ao credor requerer a exclusão do registro desabonador, no prazo

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

266

de 5 (cinco) dias úteis, a contar do primeiro dia útil subsequente à

completa disponibilização do numerário necessário à quitação do

débito vencido”.

2. Recurso especial não provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, por

unanimidade, negar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr.

Ministro Relator.

Para os efeitos do artigo 543-C, do Código de Processo Civil, foi

aprovada a seguinte tese: “Diante das regras previstas no Código de Defesa

do Consumidor, mesmo havendo regular inscrição do nome do devedor em

cadastro de órgão de proteção ao crédito, após o integral pagamento da dívida,

incumbe ao credor requerer a exclusão do registro desabonador, no prazo de 5

dias úteis, a contar do primeiro dia útil subsequente à completa disponibilização

do numerário necessário à quitação do débito vencido”. Os Srs. Ministros Paulo

de Tarso Sanseverino, Maria Isabel Gallotti, Antonio Carlos Ferreira, Ricardo

Villas Bôas Cueva, Marco Buzzi, Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro e João

Otávio de Noronha votaram com o Sr. Ministro Relator.

Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Raul Araújo.

Brasília (DF), 10 de setembro de 2014 (data do julgamento).

Ministro Luis Felipe Salomão, Relator

DJe 24.9.2014

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luis Felipe Salomão: 1. Claudionor Mota Santos ajuizou

“ação por dano moral” em face de Maxitel S.A., atualmente TIM Nordeste S.A.

Narra que rescindiu o contrato referente à linha de telefone celular de que era

titular. Expõe que, todavia, no mês seguinte - ocasião em que tentou efetuar

compra em uma loja de departamentos -, “foi surpreendido com a recusa de

seu cheque, sob a alegação de que seu nome constava do rol de devedores,

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 261-290, novembro 2017 267

lançado no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) pela empresa demandada”.

Afi rma que imediatamente se dirigiu ao estabelecimento da ré, ocasião em que

foi informado que seu nome havia sido inscrito nos registro da instituição de

proteção ao crédito, por haver um saldo residual, que não havia sido quitado.

Informa que, na mesma ocasião, pagou todo o débito remanescente, “em

contrapartida, a funcionária que o atendeu comprometeu-se a providenciar

a baixa de seu nome no cadastro restritivo”, no prazo de 5 (cinco) dias úteis.

Assegura que, não obstante o informado, seu nome permanecia constando nos

registros desabonadores. Aduz que se sentiu humilhado e que a negligência da

ré lhe ocasionou danos morais.

O Juízo da Primeira Vara de Defesa do Consumidor da Comarca de

Salvador julgou parcialmente procedente o pedido formulado na inicial para

condenar a ré ao pagamento da quantia equivalente a 40 salários mínimos, a

título de reparação por danos morais.

Interpôs a ré apelação para o Tribunal de Justiça da Bahia, que negou

provimento ao recurso.

A decisão tem a seguinte ementa:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. MANUTENÇÃO INDEVIDA EM

INSTITUIÇÕES RESTRITIVAS DE CRÉDITO APÓS A QUITAÇÃO DO DÉBITO.

OCORRÊNCIA DE DANOS MORAIS. ABALO À HONRA E A REPUTAÇÃO.

PRECEDENTES DO STJ. INDENIZAÇÃO DEVIDA. QUANTUM INDENIZATÓRIO

RAZOÁVEL. APELO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.

Verifi ca-se dos autos que efetivamente o Apelado teve i seu nome negativado

no SPC em decorrência de um saldo residual com a empresa Ré, tendo sido

quitado em 11/12/1999. Embora efetuado o pagamento, não fora dado baixa na

negativação até 06/07/2000, o que embasa o alegado dano moral causado ao

Apelado.

Não se olvida na hipótese dos autos a regularidade da inscrição do nome

do Apelado no órgão de proteção ao crédito, todavia, injustificável a sua

permanência após a liquidação do débito, gerando o dever de indenizar como

tem decidido o Superior Tribunal de Justiça.

O direito à indenização por danos morais em caso de manutenção indevida da

inscrição em instituições restritivas de crédito, é presumido, independe da prova

objetiva no que concerne ao abalo á honra e a reputação do lesado, fazendo-se

desnecessária, pois a prova do prejuízo, que, repita-se, é presumido, uma vez que

o dano moral decorre da própria manutenção indevida do nome do autor no

cadastro da inadimplentes.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

268

Havendo nexo de causalidade entre o ato ilícito (manutenção indevida) e o

prejuízo moral sofrido pelo autor, inafastável a condenação do seu causador.

Quanto aos critérios para estabelecer o quantum, em processo indenizatório

por danos morais, o julgador deve pautar-se num juízo de razoabilidade entre o

fato e o dano, bem como, na situação social das partes, de forma que uma parte

seja compensada pela dor moral que sofreu, e a outra seja educada para evitar a

reincidência do ato indevido.

Diante disso, considero razoável o quantum determinado na sentença pelo

a quo no valor de R$ 18.600,00 (Dezoito mil e seiscentos reais) equivalente a 40

salários mínimos, valor sufi ciente para que não fi que impune o causador do dano

alicerçando-se no caráter punitivo para que este sofra uma reprimenda pelo ato

ilícito praticado, e para compensar o Apelado na recomposição do mal sofrido e

da dor moral suportada.

Opostos embargos de declaração, foram rejeitados.

Interpôs a ré recurso especial com fundamento no artigo 105, inciso III,

alíneas “a” e “c”, da Constituição Federal, sustentando divergência jurisprudencial

e violação aos arts. 188, 884, 927 e 944 do CC, 333 do CPC e 1º da Lei n.

6.205/1975.

Alega a recorrente que não houve culpa, pois agiu em exercício regular de

direito. Afi rma que a inclusão dos dados do consumidor inadimplente é o único

meio de que dispõe para reaver a contraprestação pelo serviço prestado.

Argumenta que o valor arbitrado pela Corte local - correspondente a 40

salários mínimos -, a título de compensação por danos morais, é exorbitante.

Sustenta que o recorrido não demonstrou ter sofrido dano e a

responsabilidade pela sua ocorrência, não sendo sufi ciente simplesmente alegar

os fatos, devendo o juiz certifi car a veracidade das afi rmações.

Pondera que é vedada a vinculação do salário mínimo a qualquer fi nalidade,

por isso não poderia ser condenada tomando-se por base a quantifi cação em

salários mínimos.

Em contrarrazões ao recurso especial, afi rma o recorrido que a prestação

jurisdicional contemplou “todas as nuances do caso”, inclusive no tocante ao

valor da condenação arbitrado, que é inferior ao teto dos juizados especiais,

ostentando o recurso caráter procrastinatório.

O recurso especial foi admitido. Verifi cando a multiplicidade de recursos

a versarem sobre a mesma controvérsia, submeti o feito à apreciação da egrégia

Segunda Seção, na forma do que preceitua o artigo 543-C do CPC. Com isso,

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 261-290, novembro 2017 269

determinei a ciência e facultei a manifestação no prazo de 15 (quinze) dias (art.

3º, I, da Resolução n. 8/2008) ao Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor

- Idec, à Federação Brasileira de Bancos - Febraban, à Confederação Nacional

do Comércio de Bens, Serviços e Turismo - CNC e à Defensoria Pública da

União.

A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo -

CNC, como amicus curiae, opina no seguinte sentido, in verbis:

[...] diante da inexistência de lei específi ca sobre a hipótese, em nosso modesto

entender, há de ser solucionada com a aplicação, por integração analógica, das

disposições do artigo 26 da Lei n. 9.492/97, que regulamenta a baixa do registro

de impontualidade nos cartórios de protestos de títulos de crédito, uma vez que

ambos, o protesto ou a negativação, possuem a mesma natureza e fi nalidade, ou

seja, evidenciam a mora e servem como instrumento para induzir o adimplemento

do crédito. Sobre a aplicação da analogia, a cátedra de Carlos Maximiliano:

[...]

Fixada a norma a ser aplicada à controvérsia, verifica-se que o referido

dispositivo normativo é claro em atribuir a qualquer “interessado” o cancelamento

do registro de protesto, de forma que possuir “interesse”, que no conceito de

Carnellutti é a “posição favorável à satisfação de uma necessidade” é requisito

básico ex vi lege para ter legitimidade de agir. Diz o caput do artigo 26 da Lei n.

9.492/97, verbis:

[...]

Ocorre que os credores, após o recebimento de seus créditos, não possuem

qualquer interesse, seja jurídico ou econômico no cancelamento do registro de

protesto realizado, ato cuja efi cácia para os credores se exauriu com o pagamento do

crédito, e como tal, não lhes traz qualquer efeito jurídico.

Assim, nos parece restar claro que para os credores há interesse jurídico

e econômico na efetivação do registro de protesto, instrumento hábil para a

cobrança de seus créditos, mas não há qualquer interesse no respectivo

cancelamento, ato cujos efeitos jurídicos só interessam aos devedores ou a

terceiros eventualmente interessados, tais como seus herdeiros, cônjuges, sócios

e etc., que são os legitimados a que se refere o caput do artigo 26 da Lei n.

9.492/97.

A Defensoria Pública da União, como amicus curiae, opina no seguinte

sentido, in verbis:

Em debate, neste processo afetado como paradigma na sistemática dos

Recursos Repetitivos, encontra-se a necessidade em se defi nir a responsabilidade

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

270

pela retifi cação das informações, relativas ao consumidor, constantes dos bancos

de dados de proteção ao crédito, após o devido pagamento pelo devedor.

Cabe destacar, inicialmente, que o mercado impõe verdadeira restrição ao

consumo, mediante prévia consulta à situação do devedor, limitando o crédito

somente aos consumidores que não possuem restrições no banco de dados de

proteção ao consumo.

Tal mecanismo se converteria, de fato, em célebre instituto para agilizar as

transações de mercado, não fosse a possibilidade de inscrição ou manutenção

indevida do devedor em tais sistemas, em sério detrimento à sua imagem e sua

honra.

Mostra-se, assim, imprescindível que tais registros expressem a real situação

creditícia do consumidor, não se admitindo quaisquer incorreções na base de

dados e informações de forma a promover injustiças quando da avaliação do

perfi l do consumidor cadastrado.

[...]

Resta clara a importância do estabelecimento de critérios e parâmetros para a

gestão dos registros de dados dos consumidores relativos à proteção ao crédito.

O próprio legislador, reconhecendo a relevância no que diz respeito à

fi dedignidade das informações dos bancos de dados, estabeleceu que fossem

atendidos determinados aspectos, de forma a não prejudicar os consumidores,

nos termos do art. 43, § 10’ do Código de Defesa do Consumidor:

[...]

Além de exercer o papel de informar os emprestadores acerca de quem já se

encontraria inadimplente com outras instituições ou fornecedores, os registros

negativos têm a função e forçar os devedores a manterem-se adimplentes.

[...]

Apesar de ainda não contar com lei específica, o tema encontra devido

respaldo em nosso Código de Defesa do Consumidor, gozando, ainda, do amparo

em dispositivos da Constituição Federal. No Código Civil, constam dispositivos

que subsidiam a defi nição da responsabilidade dos entes envolvidos na inclusão/

retifi cação das informações e na manutenção do banco de dados.

Trata-se, assim, da utilização do importante conceito chamado “diálogo das

fontes”, defendido por Eric Jayme, da Universidade de Heidelberg, quando ocorre

o desejável entrelaçamento e complementariedade entre as normas de regência,

sobrevindas em tempos diversos.

O texto da nossa Carta Magna protege os conceitos relacionados aos direitos

à imagem e à honra, assegurando, inclusive, o direito à indenização pelo dano

material ou moral.

Assim, no que se refere à inclusão ou manutenção indevida em bancos

de dados de proteção ao crédito, não há como negar a ameaça ao direito à

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 261-290, novembro 2017 271

privacidade e à honra, visto que a disponibilização de dados e informações,

incorretas, dos devedores

[...]

Resta, assim, necessário que se imponha rigor quanto à decisões proferidas

pelo Poder Judiciário acerca da correção das informações dos devedores nos

bancos de dados de proteção ao crédito, a ser efetuada pelo credor ou pelo órgão

gestor da base de dados.

A Federação Brasileira de Bancos - Febraban, como amicus curiae, opina no

seguinte sentido, in verbis:

O tema já está pacifi cado nesse C. STJ quanto à responsabilidade do credor

pela baixa da restrição, na hipótese do devedor quitar seu débito após a inclusão

regular de seu nome nos cadastros restritivos de crédito. Ainda de acordo com

a tese consolidada, o termo a quo do prazo de 5 (cinco) dias, previsto no art. 43,

§ 3º, do CDC, para que o credor providencie esta baixa, é a data do ingresso do

numerário à esfera de disponibilidade do credor.

[...]

Desta forma, intimada a se manifestar, na qualidade de amicus curiae, a

FEBRABAN posiciona-se pela fi xação da tese repetitiva no sentido da jurisprudência

pacifi cada deste C. STJ, assentando ser do credor a responsabilidade pela baixa

da restrição quanto ao débito que deu origem à regular inscrição já tiver sido

regularmente quitado pelo devedor. Baixa esta que deverá ocorrer no prazo de 5

(cinco) dias (art. 43, § 3º, do CDC) a contar da data em que o numerário ingressou

na esfera de disponibilidade do credor.

Opina o Ministério Público Federal no seguinte sentido, in verbis:

Não merece prosperar a irresignação no tocante à alegação de violação ao art.

333, I do CPC e art. 188, I do CC, uma vez que competia à recorrente a retirada do

nome do recorrido do cadastro de proteção ao crédito após a regularização do

débito por parte do consumidor, consoante precedente do próprio STJ:

[...]

Demais disso, também não há que se falar em violação aos arts. 884, 927 e

944, § único do CC, e divergência jurisprudencial, não constituindo a condenação

em enriquecimento sem causa do recorrido, na medida em que os parâmetros

utilizados para a fixação do montante indenizatório foram adequados, não

confi gurando valor ínfi mo ou exorbitante (de sorte a atrair a necessidade de

eventual revisão).

[...]

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

272

Quanto à alegada violação ao art. 1° da Lei n. 6.205 de 1975, razão não assiste

à recorrente. De fato pela letra da lei e jurisprudência do STJ a utilização do salário

mínimo como parâmetro para a fi xação de valores indenizatórios não é possível.

No entanto, verifi ca-se do teor do acórdão impugnado (fl s. 183/188) que o

valor da indenização foi fi xado em moeda corrente (R$ 18.600,00).

Incensuráveis, portanto, os acórdãos recorridos.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Luis Felipe Salomão (Relator): 2. A principal questão

controvertida consiste em saber se, em havendo regular inscrição do nome do

devedor em cadastro de órgão de proteção ao crédito, a quem incumbe excluir o

apontamento efetuado após a quitação do débito.

No caso, consta da moldura fática apurada pelas instâncias ordinárias que,

muito embora a recorrente tenha procedido à regular inscrição do nome do

autor da ação em órgão do sistema de proteção, após mais de 6 meses da efetiva

quitação do débito, ainda constava os dados do ora recorrido nos registros

desabonadores.

2.1. Não se pode menosprezar, à luz da realidade econômica e social,

a relevância dos cadastros de inadimplentes, que, a par de servir como um

legítimo instrumento de que se vale o credor para compelir o devedor a adimplir

a obrigação, propicia, de modo refl exo, dinamização das relações econômicas

e que um número maior de consumidores - que não estão em situação de

inadimplência - tenha acesso ao crédito, pois torna prescindível “o conhecimento

pessoal entre quem dá e quem recebe o crédito” (TOMAZETTE, Marlon.

Tílulos de crédito. São Paulo: Atlas, 2009. v. 2, p. 161).

Igualmente, propicia que terceiros de boa-fé se previnam de devedores

contumazes que constam nos registros dos sistemas de proteção ao crédito,

assim como não assumam riscos negociais que não estavam dispostos a incorrer.

Dessarte, o artigo 4º, inciso III, do Código de Defesa do Consumidor

esclarece os objetivos e princípios da Política Nacional das Relações de Consumo,

que busca compatibilizar a proteção do consumidor com a necessidade de

desenvolvimento econômico, viabilizando os princípios nos quais se funda a

ordem econômica, resguardando o equilíbrio e a boa-fé.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 261-290, novembro 2017 273

Nesse passo, leciona Sergio Cavalieri Filho que o contrato só cumpre a

sua função social com o adimplemento das obrigações convencionais, meio

pelo qual é obtida a circulação de riquezas e mantém-se a economia girando

(CAVALIEIRI FILHO, Sergio. Programa de direito do consumidor. 3 ed. São

Paulo: Atlas, 2011, p. 115).

A doutrina anota:

Não existe concessão de crédito (pagamento parcelado do preço, pagamento

por cheque, fi nanciamento) sem que se tenham informações do consumidor de

modo a avaliar os riscos de futura inadimplência. Sob esta idéia, os bancos de

dados de proteção ao crédito surgiram no Brasil na década de 50 como resposta a

um sensível aumento das vendas a crédito.

[...]

Embora existam algumas variações entre as fontes - origem dos dados

coletados - e espécie de informações tratadas, pode-se afi rmar que a principal

fonte das informações que circulam nas entidades de proteção ao crédito são os

próprios fornecedores (comerciantes), que alimentam, diariamente, com milhares

de registros as bases de dados das entidades de proteção ao crédito.

[...]

O primeiro e mais evidente sinal de importância, tanto para o consumidor como

para o mercado, das atividades desenvolvidas pelos bancos de dados de proteção

ao crédito vem do próprio Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90), o qual,

em lugar de proibir, aceita e disciplina os arquivos de consumo. Se relevantes não

fossem as atividades, em vez de reguladas pelo CDC, estariam simplesmente vedadas,

incluídas no rol das práticas abusivas indicados pelo art. 39 do CDC.

Essa importância está diretamente associada ao crédito como instrumento de

circulação de riquezas (bens e serviços). Afi nal, não se concede crédito a ninguém se

não houver um mínimo de conhecimento a respeito do tomador de empréstimo,

de modo a avaliar os riscos de inadimplência. Em razão do anonimato da atual

sociedade de massa, as entidades de proteção ao crédito exercem o papel de

mitigar a ausência de conhecimento entre fornecedor e consumidor, permitindo,

de modo ágil, a concessão de crédito ao adquirente fi nal de produtos e serviços.

Além de diminuir o desconhecimento em relação ao consumidor e permitir

maior agilidade na concessão de empréstimos, a importância dos bancos de

dados de proteção ao crédito está, inexoravelmente, vinculada ao valor que o

crédito possui para todo o sistema econômico, especialmente para aqueles fundados

na livre iniciativa, como é o caso brasileiro (art. 170, caput, da CF).

A relevância do crédito, para todos os agentes da atividade econômica

(indústria, agricultura, comércio etc.) e para o consumidor fi nal, é fácil de ser

percebida. Em regra, o início de qualquer atividade econômica depende da

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

274

obtenção de crédito. O investimento, a ampliação da empresa, a modernização de

seus recursos dependem também da obtenção de crédito.

[...]

De outro lado, muitos consumidores só podem adquirir uma grande variedade de

bens e serviços essenciais a uma existência digna em razão do parcelamento do preço

ou de seu pagamento futuro.

Justamente pelas razões apontadas é que tanto a jurisprudência como a

doutrina reconhecem e afirmam a relevância do papel desempenhado no

mercado pelos bancos de dados de proteção ao crédito. (BENJAMIN, Antônio

Herman V.; MARQUES, Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito

do consumidor. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 243-247)

2.2. Dessarte, os sistemas de proteção ao crédito são uma inexorável

realidade em nível mundial. No Brasil, o Código de Defesa Consumidor, em

normas de caráter cogente, disciplina essas atividades, estabelecendo o art. 43,

§ 4º, do mencionado Diploma que os bancos de dados e cadastros relativos a

consumidores, os serviços de proteção ao crédito e congêneres são considerados

entidades de caráter público.

Por isso mesmo, data venia, inadequada a tese suscitada, como amicus

curiae, pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo

- CNC, acerca da possibilidade de aplicação, por analogia, das disposições do

artigo 26 da Lei n. 9.492/1997, que disciplina o cancelamento do protesto.

O próprio artigo 2º da Lei de Protestos estabelece que os serviços

concernentes ao protesto fi cam sujeitos ao regime próprio, estabelecido na

referida Lei.

Com efeito, na consagrada doutrina de Carlos Maximiliano, as disposições

excepcionais são estabelecidas por motivos ou considerações particulares, mas

reduz-se à hipótese expressa, por isso, ainda que se paire dúvida - o que não é o

caso -, deve-se seguir a regra geral:

272 - As disposições excepcionais são estabelecidas por motivos ou

considerações particulares, contra outras normas jurídicas, ou contra o Direito

comum; por isso não se estendem além dos casos e tempos que designam

expressamente.

[...]

286 - Parece oportuna a generalização da regra exposta acerca de determinadas

espécies de preceitos, esclarecer como se entende e aplica uma norma excepcional.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 261-290, novembro 2017 275

É de Direito estrito; reduz-se à hipótese expressa: na dúvida, segue-se a regra geral. Eis

porque se diz que a exceção confi rma a regra nos casos não excetuados.

287 - O processo de exegese das leis de tal natureza é sintetizado na parêmia

célebre, que seria imprudência eliminar sem maior exame - ‘interpretam-se

restritamente as disposições derrogatórias do Direito comum’. Não há efeito sem

causa: a predileção tradicional pelos brocardos provém da manifesta utilidade dos

mesmos. Constituem sínteses esclarecedoras, admiráveis súmulas de doutrinas

consolidadas. Os males que lhes atribuem são os de todas as regras concisas:

decorrem não do uso, e sim do abuso dos dizeres lacônicos. O exagero encontra-

se antes na defi ciência de cultura ou no temperamento do aplicador do que

no âmago do apotegma. Bem compreendido este, conciliados os seus termos

e a evolução do Direito, a letra antiga e as idéias modernas, ressaltará ainda a

vantagem atual desses comprimidos de idéias jurídicas, auxiliares da memória,

amparos do hermeneuta, fanais do julgador vacilante em um labirinto de regras

positivas.

Quanta dúvida resolve, num relâmpago, aquela síntese expressiva - interpretam-

se restritivamente as disposições derrogatórias do Direito comum!

Responde, em sentido negativo, à primeira interrogação: o Direito Excepcional

comporta o recurso à analogia? Ainda enfrenta, e com vantagem, a segunda: é

ele compatível com a exegese extensiva? Neste último caso, persiste o adágio

em amparar a recusa; acompanham-no reputados mestres; outros divergem,

porém mais na aparência do que na realidade: esboçam um sim acompanhado

de reservas que o aproximam do não. Quando se pronunciam pelo efeito

extensivo, fazem-no com o intuito de excluir o restritivo, tomado este na acepção

tradicional. Timbram em evitar que se aplique menos do que a norma admite; porém

não pretendem o oposto - ir além do que o texto prescreve. O seu intento é tirar da

regra tudo o que na mesma se contém, nem mais, nem menos. Essa interpretação

bastante se aproxima da que os clássicos apelidavam declarativa; denomina-se

estrita: busca o sentido exato; não dilata, nem restringe.

Com as reservas expostas, a parêmia terá sempre cabimento e utilidade. Se fora

lícito retocar a forma tradicional, substituir-se-ia apenas o advérbio: ao invés de

restritiva, estritamente. Se prevalecer o escrúpulo em emendar adágios, de leve

sequer, bastará que se entenda a letra de outrora de acordo com as idéias de

hoje: o brocardo sintetiza o dever de aplicar o conceito excepcional só à espécie

que ele exprime, nada acrescido, nem suprimido ao que a norma encerra, observada

a mesma, portanto, em toda a sua plenitude. (MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica

e aplicação do direito. 20 ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2011, p. 69, 184, 191

e 192)

Essa dualidade de tratamento entre o protesto e o cadastro restritivo de

crédito é bem explicitada no seguinte precedente de relatoria do Ministro Aldir

Passarinho Junior:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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I. O protesto do título constitui medida necessária à cobrança judicial da dívida

representada pela cártula, de sorte que exercitado regularmente tal direito pelo

credor, cabe ao devedor, e não àquele, após o pagamento, providenciar a baixa

respectiva.

Precedentes do STJ.

II. De outro lado, a responsabilidade pela baixa do nome do devedor no banco

de dados após a quitação pertence ao credor, porém somente quando tenha sido

dele a iniciativa da inscrição.

[...]

(REsp 880.199/SP, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA,

julgado em 25/09/2007, DJ 12/11/2007, p. 228 RDDP vol. 58, p. 98 RT vol. 870, p.

194)

Como consignado pelo Ministro Aldir Passarinho Junior no REsp

994.638/AM, é bem de ver que “a negativação funciona, essencialmente, como

meio de coação”.

Nessa linha de intelecção, não se ignora que os sistemas de proteção ao

crédito - como o SPC, em que fora incluído o nome do recorrido na respectiva

base de dados - também se valem da coleta espontânea de informação em banco

de dado público, pertencente ao cartório de protesto para “negativar” o nome dos

devedores, mas é uma consequência refl exa, pois o protesto contempla espectro

mais amplo de efeitos bastante relevantes para o credor, pois, v.g., faz prova

da falta de pagamento, devolução ou aceite do título, é necessário ao pedido

de falência por impontualidade injustifi cada, comprova a mora em contrato

de alienação fi duciária em garantia e, na vigência do CC/2002 (art. 202, III),

interrompe a prescrição para a execução cambial, tanto no que diz respeito ao

devedor principal quanto a coobrigados.

Outrossim, é bem de ver que o protesto é instrumento que tem o condão

legal de, ordinariamente, propiciar a solução de litígios, pois, a teor do art. 19 da

Lei n. 9.492/1997, cabe também ao tabelião o recebimento do crédito devido,

acrescido dos emolumentos e demais despesas, sendo igualmente dever do

delegatário do serviço público dar a respectiva quitação.

Ademais, o art. 2º do mesmo Diploma esclarece que os serviços

concernentes ao protesto são garantidores da autenticidade, segurança e efi cácia

dos atos jurídicos.

Como não se trata de situação em que exista lacuna na legislação, nos

termos dos artigos 126 do Código de Processo Civil e 4º da Lei de Introdução

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 261-290, novembro 2017 277

às Normas do Direito Brasileiro, não está o magistrado autorizado a solucionar

o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.

3. A jurisprudência consolidada do STJ perfi lha o entendimento de que,

quando se trata de inscrição em bancos de dados restritivos de crédito (Serasa,

SPC, dentre outros), tem-se entendido ser do credor, e não do devedor, o ônus

da baixa da indicação do nome do consumidor, em virtude do que dispõe o art.

43, § 3º, combinado com o art. 73, ambos do CDC.

A propósito, este último, pertencente às diposições penais, tipifi ca como

crime a não correção imediata de informações inexatas acerca de consumidores

constantes em bancos de dados.

Os mencionados artigos estão assim redigidos:

Art. 43. O consumidor, sem prejuízo do disposto no art. 86, terá acesso às

informações existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de

consumo arquivados sobre ele, bem como sobre as suas respectivas fontes.

[...]

§ 3º O consumidor, sempre que encontrar inexatidão nos seus dados e

cadastros, poderá exigir sua imediata correção, devendo o arquivista, no prazo

de cinco dias úteis, comunicar a alteração aos eventuais destinatários das

informações incorretas.

Art. 73. Deixar de corrigir imediatamente informação sobre consumidor

constante de cadastro, banco de dados, fi chas ou registros que sabe ou deveria

saber ser inexata:

Pena Detenção de um a seis meses ou multa.

As normas previstas no CDC, as quais, por expressa disposição legal,

são “de ordem pública e interesse social”, conferem densidade normativa e

efi cácia ao desígnio constitucional de erigir a defesa do consumidor a direito

fundamental da pessoa (art. 5º, inciso XXXII, CF/1988).

No caso, o consumidor pode “exigir” a “imediata correção” de informações

inexatas - não cabendo a ele, portanto, proceder a tal correção (art. 43, § 3º)

-, constituindo crime “deixar de corrigir imediatamente informação sobre

consumidor constante de cadastro, banco de dados, fi chas ou registros que sabe

ou deveria saber ser inexata” (art. 73).

A ratio da norma prevista no § 3º do art. 43 funda-se no direito do

consumidor a informações precisas a seu respeito constantes em “cadastros,

fi chas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados” (art. 43).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

278

A propósito, confi ra-se o magistério de Antônio Herman V. Benjamin

acerca da amplitude da norma em exame:

Em estrito rigor terminológico, a expressão arquivo de consumo é gênero

do qual fazem parte duas grandes famílias de registro: o bancos de dados e os

cadastros de consumidores, denominação dobrada utilizada pela Seção VI, do

Capítulo V (“Das Práticas Comerciais”), do CDC, que alguns preferem chamar,

simplesmente, de “cadastros de inadimplentes”.

Conforme já referiu o min. Dias Trindade, o art. 43 protege o consumidor

em relação a “informações que existam sobre ele em ‘cadastros, fi chas, registros

e dados pessoais e de consumo arquivados’, o que encerra uma abrangência

da maior amplitude, sendo de dizer que tais informações poderão encontrar-se

registradas de outras quaisquer maneiras, além das indicadas, que não constitui

enumeração fechada, como é óbvio”.

No mesmo sentido, confi rma Fábio Ulhoa Coelho que a disciplina do CDC

“se aplica a qualquer armazenamento de informações, informatizado ou não,

precário ou altamente organizado. O pequeno fornecedor que mantém uma

agenda com dados de sua clientela deve, tanto quanto o grande empresário,

observar o conjunto de regras defi nidas em defesa do consumidor (BENJAMIN,

Atonio Herman V. Código brasileiro de defesa do consumidor: comentado pelos

autores do anteprojeto. Ada Pellegrini Grinover [et al.]. 9 ed. Rio de Janeiro: Forense

Universitária, 2007, p. 431).

Também colho, como reforço de argumentação, a doutrina consumerista

acerca do art. 73 do CDC:

A infração penal capitulada pelo art. 73 do CDC reflete a importância do

atributo da veracidade das informações (art. 43, § 1º) que circulam tanto

em bancos de dados como nos cadastros de consumo. Cuida-se de atributo

fundamental. A informação falsa ou inexata simplesmente enseja tratamento

discriminatório do consumidor e não serve, nos casos dos serviços de proteção ao

crédito, para avaliar corretamente a solvência da pessoa interessada na obtenção

do crédito.

Atendidos os pressupostos indicados pelo art. 43 do CDC, admite-

se o tratamento (coleta, armazenamento e, em alguns casos, veiculação) de

informações pessoais de consumidores. Um desses pressupostos é justamente

a veracidade da informação. É bastante corriqueira a mudança da qualidade da

informação de verdadeira para falsa. O principal exemplo nesta área decorre, sem

dúvida, do pagamento de dívidas inscritas em bancos de dados de proteção ao

crédito e a posterior manutenção do registro negativo do consumidor. (BESSA,

Leonardo Roscoe. Manual de direito do consumidor. Antônio Herman V. Benjamin

[et al.]. 2 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009, p. 373).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 261-290, novembro 2017 279

O entendimento, pacífi co na jurisprudência do STJ, de caber ao credor

a baixa da anotação em cadastros de restrição ao crédito é encontrado, dentre

muitos outros, nos seguintes precedentes:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE

CIVIL. DANO MORAL. INSCRIÇÃO NO SERASA. CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO.

MANUTENÇÃO DO NOME NO CADASTRO DE INADIMPLENTES. ÔNUS DO BANCO

(CREDOR) EM CANCELAR O REGISTRO. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.

A inércia do credor em promover a atualização dos dados cadastrais,

apontando o pagamento, e consequentemente, o cancelamento do registro

indevido, gera o dever de indenizar, independentemente da prova do abalo

sofrido pelo autor, sob forma de dano presumido.

Agravo Regimental improvido

(AgRg no Ag 1.094.459/SP, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA,

julgado em 19/05/2009, DJe 01/06/2009)

CIVIL. PROCESSUAL. ACÓRDÃO. NULIDADE NÃO CONFIGURADA. AÇÃO DE

INDENIZAÇÃO. INSCRIÇÃO NO SPC. MANUTENÇÃO DO NOME DA DEVEDORA POR

LONGO PERÍODO APÓS A QUITAÇÃO DA DÍVIDA. DANO MORAL CARACTERIZADO.

PARÂMETRO. CDC, ART. 73.

[...]

II. Cabe às entidades credoras que fazem uso dos serviços de cadastro de

proteção ao crédito mantê-los atualizados, de sorte que uma vez recebido

o pagamento da dívida, devem providenciar, em breve espaço de tempo, o

cancelamento do registro negativo do devedor, sob pena de gerarem, por

omissão, lesão moral passível de indenização.

III. Ressarcimento, contudo, reduzido em valor proporcional ao dano, evitando

enriquecimento sem causa.

IV. Recurso especial conhecido em parte e parcialmente provido.

(REsp 511.921/MT, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA,

julgado em 09/03/2004, DJ 12/04/2004, p. 213)

RESPONSABILIDADE CIVIL. INSCRIÇÃO NO SERASA. MANUTENÇÃO INDEVIDA.

A inscrição em cadastro de inadimplentes, caso mantida por período razoável

após a quitação do débito, gera direito à reparação por dano moral. Precedentes

do STJ.

Recurso especial conhecido e provido.

(REsp 899.883/SP, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA, julgado

em 27/03/2007, DJ 28/05/2007, p. 367)

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE

INSTRUMENTO. DECISÃO QUE OBSTA RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE

RESSARCIMENTO DE DANO MORAL. CONTRATO DE FINANCIAMENTO.

CONSIGNAÇÃO EM FOLHA DE PAGAMENTO. ATRASO DE PAGAMENTO DE

SALÁRIOS. REGISTRO INDEVIDO DO NOME DA DEVEDORA EM CADASTRO DE

INADIMPLENTES. AUSÊNCIA DE COMUNICAÇÃO PRÉVIA. MANUTENÇÃO

DO NOME APÓS O PAGAMENTO DAS PRESTAÇÕES. ABUSO CONFIGURADO.

INDENIZAÇÃO DEVIDA. CULPA E NEXO CAUSAL. VERIFICAÇÃO. SÚMULA 7 DO

STJ. VALOR. FIXAÇÃO EM NÍVEL ABUSIVO PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS PARA

CASOS SEMELHANTES. RAZOABILIDADE. REDUÇÃO. POSSIBILIDADE.

I. “A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial”

(Súmula 7 do STJ).

II. Constitui obrigação do credor providenciar, perante o órgão cadastral de

dados, a baixa do nome do devedor, após a quitação da dívida que motivou a

inscrição, sob pena de, assim não procedendo em tempo razoável, responder pelo

ato moralmente lesivo, indenizando o prejudicado pelos danos morais causados.

III. Entendido pelo tribunal a quo que o banco agravado teve responsabilidade

na confi guração do dano indenizável, tal circunstância fática não tem como ser

reavaliada em sede de recurso especial, ao teor da Súmula 7 do STJ.

IV. Ressarcimento que deve ser proporcional à lesão, evitando enriquecimento

sem causa.

V. Recurso especial parcialmente provido para redução do valor indenizatório.

VI. Agravo regimental a que se nega provimento.

(AgRg no Ag 1.278.506/PE, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA

TURMA, julgado em 19/10/2010, DJe 28/10/2010)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE

CIVIL. DANO MORAL. INSCRIÇÃO NO SERASA. CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO.

MANUTENÇÃO DO NOME NO CADASTRO DE INADIMPLENTES. ÔNUS DO BANCO

(CREDOR) EM CANCELAR O REGISTRO. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.

A inércia do credor em promover a atualização dos dados cadastrais,

apontando o pagamento, e consequentemente, o cancelamento do registro

indevido, gera o dever de indenizar, independentemente da prova do abalo

sofrido pelo autor, sob forma de dano presumido.

Agravo Regimental improvido

(AgRg no Ag 1.094.459/SP, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA,

julgado em 19/05/2009, DJe 01/06/2009)

RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. PROTESTO

INDEVIDO DE TÍTULO QUITADO. DEVER DE INDENIZAR VERIFICADO NAS

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 261-290, novembro 2017 281

INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. INCIDÊNCIA DO ENUNCIADO N. 7 DA SÚMULA

DESTA CORTE. REDUÇÃO DO VALOR. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE E DA

PROPORCIONALIDADE. RECURSO CONHECIDO EM PARTE E, NA EXTENSÃO,

PROVIDO.

1. O Tribunal a quo, ao reconhecer o dever de indenizar, confi rmou a conduta

ilícita do ora agravante e fi xou o respectivo valor a título de indenização por

danos morais, procedendo com amparo nos elementos de convicção trazidos aos

autos. Incidência do enunciado n. 7 da Súmula do STJ.

2. É fi rme o entendimento deste Sodalício no sentido de que “cabe às entidades

credoras que fazem uso dos serviços de cadastro de proteção ao crédito mantê-

los atualizados, de sorte que uma vez recebido o pagamento da dívida, devem

providenciar, em breve espaço de tempo, o cancelamento do registro negativo do

devedor, sob pena de gerarem por omissão, lesão moral, passível de indenização”

(REsp 473.970/MG, Rel. Min. Jorge Scartezzini, DJ de 09.10.2006; REsp 299.456/SE,

Rel. Min. ALDIR PASSARINHO JUNIOR, DJ. 02.06.2003; REsp 437.234/PB, Rel. Min.

NANCY ANDRIGHI, DJ 29.09.2003; REsp 292.045/RJ, Rel. Min. CARLOS ALBERTO

MENEZES DIREITO, DJ 08.10.2001).

3. O entendimento deste Superior Tribunal de Justiça é fi rme no sentido de

que evidente exagero ou manifesta irrisão na fi xação, pelas instâncias ordinárias,

viola os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, sendo possível, assim,

a revisão da aludida quantifi cação.

4. Recurso conhecido em parte e, na extensão, provido.

(REsp 879.475/TO, Rel. Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSA, QUARTA TURMA,

julgado em 15/05/2007, DJ 04/06/2007, p. 371)

RESPONSABILIDADE CIVIL. INSCRIÇÃO NO SERASA. MANUTENÇÃO INDEVIDA.

A inscrição em cadastro de inadimplentes, caso mantida por período razoável

após a quitação do débito, gera direito à reparação por dano moral. Precedentes

do STJ.

Recurso especial conhecido e provido.

(REsp 899.883/SP, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA, julgado

em 27/03/2007, DJ 28/05/2007, p. 367)

Dano moral. Cadastro negativo. Art. 73 do Código de Defesa do Consumidor.

1. Não tem força a argumentação que pretende impor ao devedor que

quita a sua dívida o dever de solicitar seja cancelado o cadastro negativo. O

dispositivo do Código de Defesa do Consumidor confi gura como prática infrativa

“Deixar de corrigir imediatamente informação sobre o consumidor constante

de cadastro, banco de dados, fi chas ou registros que sabe ou deveria saber ser

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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inexata”. Quitada a dívida, sabe o credor que não mais é exata a anotação que

providenciou, cabendo-lhe, imediatamente, cancelá-la.

2. A intervenção da Corte só tem cabimento para controlar o valor do dano

quando abusivo, exagerado, em desacordo com a realidade dos autos, o que não

ocorre no presente feito.

3. Não é protelatório o recurso de embargos quando tem o claro fito do

prequestionamento (Súmula n. 98 da Corte).

4. Recurso especial conhecido e provido, em parte.

(REsp 292.045/RJ, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA

TURMA, julgado em 27/08/2001, DJ 08/10/2001, p. 213)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.

RESPONSABILIDADE CIVIL. MANUTENÇÃO DO NOME EM CADASTROS DE

INADIMPLENTES. OBRIGAÇÃO QUITADA. CANCELAMENTO DO REGISTRO

APÓS MAIS DE 30 DIAS DA QUITAÇÃO. APLICAÇÃO DO ART. 43, § 3º, DO CPC.

PRECEDENTES. DANOS MORAIS DEVIDOS. QUANTUM INDENIZATÓRIO. REVISÃO.

NÃO CABIMENTO. PRECEDENTES.

AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

(AgRg no AREsp 230.431/RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,

TERCEIRA TURMA, julgado em 27/08/2013, DJe 02/09/2013)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO (ARTIGO 544 DO CPC) - DEMANDA

POSTULANDO INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS DECORRENTES DA

INDEVIDA INSCRIÇÃO/MANUTENÇÃO DO NOME DO DEVEDOR NO CADASTRO

DE INADIMPLENTES APÓS A QUITAÇÃO DA FATURA DE ENERGIA ELÉTRICA.

INSURGÊNCIA DA CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO.

1. A inscrição/manutenção indevida do nome do consumidor em cadastro de

inadimplentes constitui ato ilícito passível de indenização a título de dano moral.

Caracterização de dano in re ipsa. Precedentes. Aplicação da Súmula 83/STJ.

2. Pretensão voltada à redução da quantia fixada na Corte Estadual para

reparação do dano moral sofrido pelo consumidor (RS 10.000,00).

Inviabilidade de revisão pelo STJ, por não confi gurar condenação exorbitante.

Revela-se razoável o valor do dano moral fi xado em até 50 (cinquenta) salários

mínimos para os casos de inscrição inadvertida em cadastros de inadimplentes,

devolução indevida de cheques, protesto incabível e outras situações

assemelhadas.

3. O óbice insculpido na Súmula 83 do STJ não se restringe aos recursos

especiais interpostos com amparo na alínea “c” do permissivo constitucional,

sendo também aplicável aos reclamos fundados na alínea “a”, uma vez que a

expressão “divergência”, referida no citado verbete sumular, relaciona-se com a

interpretação de norma infraconstitucional.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 261-290, novembro 2017 283

4. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no AREsp 322.079/PE, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA,

julgado em 15/08/2013, DJe 28/08/2013)

4. Como fi ca claro da leitura das ementas dos precedentes citados, é nítido

que a jurisprudência do STJ tem sufragado três linhas de entendimento que,

a bem da verdade, não são antagônicas, e podem ser harmonizadas, sobretudo

porque diretamente relacionadas ao momento adequado no qual o credor deve

providenciar a baixa da negativação.

Nessa linha, foi realizado por esta Corte o estudo comparativo de

jurisprudência n. 105, publicado em 26 de setembro de 2012, que bem aborda as

diversas nuances, que, segundo entendo, podem ser harmonizadas.

Consoante esse estudo, que espelha os precedentes acima citados, os três

entendimentos são os seguintes, in verbis:

Entendimento 1: quitada a dívida, o credor providenciará a exclusão do nome

do devedor do cadastro de proteção ao crédito no prazo de cinco dias, contados

da data em que houver o pagamento efetivo.

Entendimento 2: quitada a dívida, o credor providenciará a exclusão do nome

do devedor do cadastro de proteção ao crédito de imediato.

Entendimento 3: quitada a dívida, o credor providenciará a exclusão do nome

do devedor do cadastro de proteção ao crédito em breve ou razoável espaço de

tempo.

Os entendimentos sufragados impõem ao credor, após a quitação da

dívida, providenciar a exclusão do nome do outrora devedor do cadastro de

órgão de proteção ao crédito.

À míngua de expressa disposição legal regulamentando o prazo para que

seja providenciada a supressão do nome do devedor do cadastro de inadimplentes

de entidade do sistema do proteção ao crédito, em decisão unânime e pioneira no

âmbito desta Corte perfi lhando o entendimento de número 1, a Terceira Turma,

em precedente da relatoria da Ministra Nancy Andrighi, REsp 1.149.998/

RS, valendo-se da analogia - “conferindo maior certeza e segurança às relações

jurídicas derivadas da inclusão do nome de consumidores em cadastros de

proteção ao crédito” -, decidiu que, quitada a dívida pelo devedor, a exclusão do

seu nome deverá ser requerida pelo credor no prazo de 5 dias, contados da data

em que houver o pagamento efetivo, sendo certo que as quitações realizadas

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

284

mediante cheque, boleto bancário, transferência interbancária ou outro meio

sujeito a confi rmação dependerão do efetivo ingresso do numerário na esfera de

disponibilidade do credor.

A decisão tem a seguinte ementa:

CONSUMIDOR. INSCRIÇÃO EM CADASTRO DE INADIMPLENTES. QUITAÇÃO

DA DÍVIDA. CANCELAMENTO DO REGISTRO. OBRIGAÇÃO DO CREDOR. PRAZO.

NEGLIGÊNCIA. DANO MORAL. PRESUNÇÃO.

1. Cabe às entidades credoras que fazem uso dos serviços de cadastro de

proteção ao crédito mantê-los atualizados, de sorte que uma vez recebido o

pagamento da dívida, devem providenciar o cancelamento do registro negativo

do devedor. Precedentes.

2. Quitada a dívida pelo devedor, a exclusão do seu nome deverá ser requerida

pelo credor no prazo de 05 dias, contados da data em que houver o pagamento

efetivo, sendo certo que as quitações realizadas mediante cheque, boleto bancário,

transferência interbancária ou outro meio sujeito a confi rmação, dependerão do

efetivo ingresso do numerário na esfera de disponibilidade do credor.

3. Nada impede que as partes, atentas às peculiaridades de cada caso, estipulem

prazo diverso do ora estabelecido, desde que não se configure uma prorrogação

abusiva desse termo pelo fornecedor em detrimento do consumidor, sobretudo em se

tratando de contratos de adesão.

4. A inércia do credor em promover a atualização dos dados cadastrais,

apontando o pagamento, e consequentemente, o cancelamento do registro

indevido, gera o dever de indenizar, independentemente da prova do abalo

sofrido pelo autor, sob forma de dano presumido. Precedentes.

5. Recurso especial provido.

(REsp 1.149.998/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado

em 07/08/2012, DJe 15/08/2012)

Nesse mencionado precedente, Sua Excelência dispôs:

(i) Do responsável pela baixa.

Conforme já decidiu esta Turma, “a melhor interpretação do preceito contido

no § 3º do art. 43 do CDC constituí a de que, uma vez regularizada a situação de

inadimplência do consumidor, deverão ser imediatamente corrigidos os dados

constantes nos órgãos de proteção ao crédito, sob pena de ofensa à própria

finalidade destas instituições, já que não se prestam a fornecer informações

inverídicas a quem delas necessite” (REsp 255.269/PR, 3ª Turma, Rel. Min.

Waldemar Zveiter, DJ de 16.04.2001).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 261-290, novembro 2017 285

No julgamento do REsp 292.045/RJ, 3ª Turma, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes

Direito, DJ de 08.10.2001, esta Corte enfrentou expressamente o fundamento do

acórdão recorrido, assentando que “não tem força a argumentação que pretende

impor ao devedor que quita a sua dívida o dever de solicitar seja cancelado o

cadastro negativo (...). Quitada a dívida, sabe o credor que não mais é exata a

anotação que providenciou, cabendo-lhe, imediatamente, cancelá-la”.

Eu mesma já tive a oportunidade de relatar processo sobre o tema, tendo me

alinhado ao entendimento supra, afi rmando que “cumpre ao credor providenciar

o cancelamento da anotação negativa do nome do devedor em cadastro de

proteção ao crédito, quando quitada a dívida” (REsp 437.234/PB, 3ª Turma, DJ de

29.09.2003).

Também a 4ª Turma já se manifestou sobre essa questão, tendo decidido que

“cabe às entidades credoras que fazem uso dos serviços de cadastro de proteção

ao crédito mantê-los atualizados, de sorte que uma vez recebido o pagamento

da dívida, devem providenciar, em breve espaço de tempo, o cancelamento do

registro negativo do devedor, sob pena de gerarem, por omissão, lesão moral

passível de indenização” (REsp 299.456/SE, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, DJe

de 02.06.2003. No mesmo sentido: REsp 473.970/MG, 4ª Turma, Rel. Min. Jorge

Scartezzini, DJ de 09.10.2006).

Como se vê, constitui entendimento pacífi co nas Turmas que compõem a 2ª

Seção que incumbe à credora, após a quitação da dívida, o dever de providenciar

a retirada do nome do devedor dos cadastros de inadimplentes.

Induvidoso, portanto, que cabia à GVT ter procedido à baixa do nome do

recorrente nos registros do SPC.

(ii) Do prazo para se proceder à baixa.

Nesse aspecto, assume relevo a questão atinente ao prazo de que dispõe o

credor para adotar essa medida.

Embora seja possível identifi car precedentes desta Corte que abordam o tema

– alguns inclusive mencionados acima – nenhum deles estipula de forma concreta

qual seria esse termo, limitando-se a consignar vagamente que a providência há

de ser tomada “imediatamente” ou “em breve espaço de tempo”.

Imperioso, pois, que se defi na esse termo de maneira clara e objetiva, conferindo

maior certeza e segurança às relações jurídicas derivadas da inclusão do nome de

consumidores em cadastros de proteção ao crédito.

A estipulação vem em benefício não apenas do consumidor, que terá base

concreta para cobrar de forma legítima e efetiva a exclusão do seu nome dos referidos

cadastros, mas também do fornecedor, que poderá adequar seus procedimentos

internos de modo a viabilizar o cumprimento desse prazo.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

286

A solução, a meu ver, extrai-se, por analogia, do próprio art. 43, § 3º, do CDC, o

qual estabelece que “o consumidor, sempre que encontrar inexatidão nos seus dados

e cadastros, poderá exigir sua imediata correção, devendo o arquivista, no prazo de

cinco dias úteis, comunicar a alteração aos eventuais destinatários das informações

incorretas”.

Na hipótese de quitação da dívida pelo consumidor, vejo implícita a sua

expectativa de ver cancelado o registro negativo, bem como a ciência do credor,

após a confirmação do pagamento, de que deverá providenciar a respectiva

baixa, pois a anotação não mais refl ete a realidade.

Dessa forma, é razoável que o prazo de 05 dias do art. 43, § 3º, do CDC,

norteie também a retirada do nome do consumidor, pelo credor, dos cadastros

de proteção ao crédito, na hipótese de quitação da dívida. Evidentemente, o dies

a quo desse prazo será a data em que houver o pagamento efetivo, sendo certo

que as quitações realizadas mediante cheque, boleto bancário, transferência

interbancária ou outro meio sujeito a confirmação, dependerão do efetivo

ingresso do numerário na esfera de disponibilidade do credor.

Por outro lado, nada impede que as partes, atentas às peculiaridades de cada

caso, estipulem prazo diverso do ora estabelecido, desde que não se confi gure

uma prorrogação abusiva desse termo pelo fornecedor em detrimento do

consumidor, sobretudo em se tratando de contratos de adesão.

Na espécie, depreende-se dos autos que, transcorridos 12 dias da efetiva

quitação do débito, o nome do recorrente permanecia negativado, tanto que

este teve rejeitado pedido de obtenção de cartão de crédito junto a instituição

fi nanceira, justamente por seu nome constar dos registros do SPC.

Assim, verifica-se que, não obstante devidamente quitada a dívida pelo

recorrente, a GVT descumpriu o prazo considerado razoável – de 05 dias – para

exclusão do nome do devedor dos cadastros de proteção ao crédito.

De fato, é bem de ver que esse mencionado precedente admite exceções,

mas observa ser necessário, por razões de segurança jurídica, e também para

melhor resguardo aos interesses dos credores e devedores, a defi nição de um

parâmetro objetivo.

No caso, como não existe regramento legal específico, e os prazos

abrangendo situações específicas não estão devidamente amadurecidos/

discutidos na jurisprudência do STJ, entendo também, tal qual a Ministra

Nancy Andrighi, ser necessário o estabelecimento de um norte objetivo, que

também extraio do mesmo dispositivo (art. 43, § 3º, do CDC).

A respeito do art. 43, § 3º, do CDC, anota a doutrina especializada:

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 261-290, novembro 2017 287

Em relação ao prazo para a retifi cação, o § 3º do art. 43 do CDC determina

que o consumidor pode exigir a imediata correção da informação. O tipo penal,

descrito no art. 73, utiliza-se do advérbio imediatamente: a infração se caracteriza

ao de “deixar de corrigir imediatamente” informações incorretas. Tudo está a

demonstrar a especial importância do atributo da veracidade dos dados.

A correção imediata não quer signifi car que o arquivo de consumo não possa

dispor de período de tempo para investigar os fatos referentes à impugnação

apresentada pelo consumidor. O objetivo legal foi que, ao final das diligências

realizadas pela entidade arquivista, haja a imediata correção das informações ou

indeferimento da pretensão do consumidor.

O prazo máximo para que a entidade de proteção ao crédito conclua as

investigações oriundas do exercício do direito de retifi cação é de 10 dias, por

aplicação do § 1º do art. 4º da Lei 9.507/97 (Lei do Habeas Data).

Se a entidade de proteção ao crédito, ao fi nal das diligências de investigação,

acatar a impugnação do consumidor, corrigindo a informação, deverá, no prazo de

5 dias úteis, comunicar a alteração a terceiros que tenham recebido as informações

incorretas. (BENJAMIN, Antônio Herman V.; MARQUES, Claudia Lima; BESSA,

Leonardo Roscoe. Manual de direito do consumidor. 2 ed. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2009, p. 267)

Ora, se até para os órgãos de sistema de proteção ao crédito, que exercem

a atividade de arquivamento de dados profi ssionalmente, o CDC considera

razoável o prazo de 5 dias úteis para, após a investigação dos fatos referentes à

impugnação apresentada pelo consumidor, comunicar a retifi cação a terceiros

que deles recebeu informações incorretas, evidentemente, esse mesmo prazo

sempre vai ser considerado razoável também para aquele que promove, em

exercício regular de direito, a verídica inclusão de dado de devedor em cadastro

de órgão de proteção ao crédito, para requerer a exclusão do nome do outrora

inadimplente do cadastro desabonador.

Igualmente, poderá haver situações em que, v.g., o pagamento do débito

foi efetuado sem que tenha sido dada a adequada e oportuna ciência ao credor

ou que, em vista das características peculiares da relação obrigacional, em

virtude do próprio inadimplemento, seja extremamente complexo aferir se

realmente houve a efetiva quitação da dívida - tudo a demonstrar a necessidade

do prudente exame do magistrado, que, na lacuna da lei, e em vista da ampla

possibilidade de variações fáticas e de nuances que se divisa, no meu entender,

não deve fi car vinculado a uma solução específi ca a abranger indistintamente

todos os casos.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

288

Por isso, à míngua de disciplina legal, acredito que essa solução tenha o

mérito de harmonizar as correntes jurisprudenciais constatadas no âmbito do

STJ e servir como parâmetro objetivo, notadamente para caracterizar a breve

supressão do nome do outrora devedor dos cadastros desabonadores.

5. De outra parte, consoante observado pelo Ministério Público Federal, o

valor arbitrado a título de compensação por danos morais foi fi xado em moeda

corrente, na quantia de R$ 18.600,00 (dezoito mil e seiscentos reais).

Com efeito, o que lei veda é a vinculação da compensação por danos

morais ou indenização ao salário mínimo como critério de correção monetária.

Confi ra-se:

RECURSO ESPECIAL. CURSO SUPERIOR DE FARMÁCIA. FALTA DE

RECONHECIMENTO PELO MEC. INDEFERIMENTO DA INSCRIÇÃO PELO CONSELHO

PROFISSIONAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DA INSTITUIÇÃO DE ENSINO.

EXCLUDENTE DA CULPA EXCLUSIVA DE TERCEIRO. DESCABIMENTO NA ESPÉCIE.

LUCROS CESSANTES. EFETIVA DEMONSTRAÇÃO DE PREJUÍZO. AUSÊNCIA.

AFASTAMENTO. DANO MORAL. FIXAÇÃO EM SALÁRIOS MÍNIMOS. POSSIBILIDADE.

MONTANTE. REDUÇÃO.

[...]

6. Inexiste veto à fi xação de indenização com base no salário mínimo. O que se

proibe é sua vinculação como critério de correção monetária. Precedentes.

[...]

8. Recurso especial conhecido e parcialmente provido.

(REsp 1.232.773/SP, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA

TURMA, julgado em 18/03/2014, DJe 03/04/2014)

Ademais, o montante não se mostra passível de revisão na via excepcional,

pois, consoante a fi rme jurisprudência do STJ, em sede de recurso especial, só

cabe revisão se for ínfi mo ou exorbitante:

AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO

REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO ESPECIAL

- AÇÃO CONDENATÓRIA (INDENIZATÓRIA) - INSCRIÇÃO INDEVIDA - DECISÃO

MONOCRÁTICA QUE DEU PROVIMENTO AO RECURSO ESPECIAL TÃO-SOMENTE

PARA AFASTAR A UTILIZAÇÃO DO SALÁRIO MÍNIMO COMO FATOR DE INDEXAÇÃO

DA VERBA COMPENSATÓRIA/INDENIZATÓRIA. INSURGÊNCIA DA RÉ.

1. Nos termos da jurisprudência consolidada no Superior Tribunal de Justiça,

a revisão de indenização por danos morais só é possível, em sede de recurso

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 261-290, novembro 2017 289

especial, quando o valor fixado nas instâncias ordinárias for exorbitante ou

ínfi mo, de modo a afrontar os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.

2. Esta Corte já assentou o entendimento de ser razoável a condenação em

valor equivalente a até 50 (cinquenta) salários mínimos por indenização por

dano moral decorrente de inscrição indevida em órgãos de proteção ao crédito.

Precedentes.

3. Agravo regimental desprovido.

(AgRg nos EDcl no AgRg nos EDcl no REsp 1.320.810/SP, Rel. Ministro MARCO

BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 05/08/2014, DJe 15/08/2014)

6. Quanto à demonstração do dano, como bem observado pelo Tribunal de

origem, a inscrição/manutenção indevida do nome do devedor no cadastro de

inadimplente enseja o dano moral in re ipsa, ou seja, dano vinculado à própria

existência do fato ilícito, cujos resultados são presumidos.

Note-se:

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL.

INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. DANOS CAUSADOS POR FRAUDES E

DELITOS PRATICADOS POR TERCEIROS. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. FORTUITO

INTERNO. RISCO DO EMPREENDIMENTO. MATÉRIA DECIDIDA SOB O RITO DO ART.

543-C DO CPC (RESP 1.199.782/PR, DJe DE 12/09/2011). INSCRIÇÃO INDEVIDA

EM CADASTRO DE DEVEDORES INADIMPLENTES. DANO IN RE IPSA. QUANTUM

INDENIZATÓRIO. REVISÃO. ALEGAÇÃO DE VALOR EXCESSIVO. QUANTIA FIXADA

QUE NÃO SE REVELA EXORBITANTE. REVISÃO QUE DEMANDARIA REEXAME

FÁTICO-PROBATÓRIO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7 DO STJ.

[...]

2. A inscrição/manutenção indevida do nome do devedor no cadastro de

inadimplente enseja o dano moral in re ipsa, ou seja, dano vinculado a própria

existência do fato ilícito, cujos resultados são presumidos.

[...]

5. Agravo regimental não provido.

(AgRg no AREsp 456.673/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA

TURMA, julgado em 13/05/2014, DJe 21/05/2014)

7. Assim, a tese a ser fi rmada para efeitos do art. 543-C do Código de

Processo Civil, que ora encaminho, é a seguinte:

“Diante das regras previstas no Código de Defesa do Consumidor, mesmo

havendo regular inscrição do nome do devedor em cadastro de órgão de proteção

ao crédito, após o integral pagamento da dívida, incumbe ao credor requerer a

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exclusão do registro desabonador, no prazo de 5 (cinco) dias úteis, a contar

do primeiro dia útil subsequente à completa disponibilização do numerário

necessário à quitação do débito vencido”.

8. No caso concreto, nego provimento ao recurso especial.

É como voto.

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Súmula n. 549

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SÚMULA N. 549

É válida a penhora de bem de família pertencente a fi ador de contrato de

locação.

Referências:

CPC, art. 543-C.

Lei n. 8.009/1990, art. 3º, VII.

Precedentes:

(*)REsp 1.363.368-MS (2ª S, 12.11.2014 – DJe 21.11.2014) –

acórdão publicado na íntegra

AgRg no REsp 1.088.962-DF (3ª T, 15.06.2010 – DJe 30.06.2010)

AgRg no AREsp 160.852-SP (3ª T, 21.08.2012 – DJe 28.08.2012)

AgRg no AREsp 624.111-SP (3ª T, 10.03.2015 – DJe 18.03.2015)

AgRg no Ag 1.181.586-PR (4ª T, 05.04.2011 – DJe 12.04.2011)

AgRg no AREsp 31.070-SP (4ª T, 18.10.2011 – DJe 25.10.2011)

(*) Recurso repetitivo.

Segunda Seção, em 14.10.2015

DJe 19.10.2015

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RECURSO ESPECIAL N. 1.363.368-MS (2013/0011463-3)

Relator: Ministro Luis Felipe Salomão

Recorrente: Afonso Ramão Rodrigues - Espólio

Repr. por: Katia Carneiro Rodrigues Fujii - Inventariante

Advogado: Maurício Rodrigues Camuci e outro(s)

Recorrido: Marco Antônio da Silveira Agostini

Advogados: Alessandre Vieira

Silvia Cristina Vieira

Interes.: Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis - ABADI

Advogados: Rafael de Assis Horn

Hélio de Melo Mosimann

Fábio Kunz da Silveira e outro(s)

EMENTA

PROCESSO CIVIL. DIREITO CIVIL. RECURSO

ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART.

543-C DO CPC. EXECUÇÃO. LEI N. 8.009/1990. ALEGAÇÃO

DE BEM DE FAMÍLIA. FIADOR EM CONTRATO DE

LOCAÇÃO. PENHORABILIDADE DO IMÓVEL.

1. Para fi ns do art. 543-C do CPC: “É legítima a penhora de

apontado bem de família pertencente a fi ador de contrato de locação,

ante o que dispõe o art. 3º, inciso VII, da Lei n. 8.009/1990”.

2. No caso concreto, recurso especial provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, por

unanimidade, conhecer do recurso especial e dar-lhe provimento para fi rmar

a legitimidade da penhora realizada sobre o bem de família da recorrida, nos

termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Para os fi ns do artigo 543-C, do Código de Processo Civil, foi defi nida a

seguinte tese: “É legítima a penhora de apontado bem de família pertencente a

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

296

fi ador de contrato de locação, ante o que dispõe o artigo 3º, inciso VII, da Lei

n. 8.009/1990”. Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Maria Isabel

Gallotti, Antonio Carlos Ferreira, Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Buzzi,

Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro e João Otávio de Noronha votaram com

o Sr. Ministro Relator.

Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Raul Araújo.

Brasília (DF), 12 de novembro de 2014 (data do julgamento).

Ministro Luis Felipe Salomão, Relator

DJe 21.11.2014

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luis Felipe Salomão: 1. Espólio de Afonso Ramão

Rodrigues ajuizou ação de cobrança de aluguéis e encargos locatícios referente

ao imóvel situado na Rua Melvin Jones, n. 693, Centro, em Dourados/MS.

O Juízo da 5ª Vara Cível da Comarca de Dourados/MS julgou procedente

o pedido para declarar rescindido o contrato de locação, decretar o despejo e

condenar todos os réus, solidariamente, ao pagamento dos aluguéis e encargos

da locação vencidos e os vincendos até a data da desocupação do imóvel (fl s.

152/157).

A mencionada sentença transitou em julgado e a autora, então, iniciou

o cumprimento de sentença (fl s. 24/63), tendo sido penhorados imóveis dos

executados/fi adores Cassiano Maciel, Jaci Batista Moreira Maciel e Marco

Antônio da Silveira Agostini.

Irresignados, os executados/fiadores apresentaram exceção de pré-

executividade, ocasião em que o Juízo (fl s. 159/163): a) não conheceu das

exceções de pré-executividade quanto à validade de cláusulas do contrato

que deu origem à execução da sentença; b) não conheceu da exceção de pré-

executividade quanto à matéria que demanda dilação probatória (arguição de

pagamento de aluguéis sem recibo); c) conheceu da exceção de pré-executividade

quanto à apontada inconstitucionalidade do art. 3º da Lei n. 8.009/1990, mas

rejeitou a alegação de impenhorabilidade do bem de família ante precedentes

judiciais e d) conheceu da exceção de pré-executividade quanto ao alegado

excesso de execução, mas rejeitou a arguição de excesso de execução.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 291-318, novembro 2017 297

Em face da mencionada decisão, o ora recorrido interpôs agravo de

instrumento, provido parcialmente pelo Tribunal de Justiça do Estado de Mato

Grosso do Sul “para o fi m de tornar insubsistente a penhora que recai sobre

o imóvel objeto da matrícula n. 65.824, Livro 02, do Cartório de Registro de

Imóveis da Comarca de Dourados/MS”.

O acórdão recorrido está assim ementado (fl s. 170/177):

AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE -

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - COBRANÇA DE ALUGUERES E ENCARGOS

LOCATÍCIOS - BEM DE FAMÍLIA DO FIADOR - IMPENHORABILIDADE - EXCEÇÃO

PREVISTA NO ART. 3º, VII, DA LEI N. 8.009/90 - CONFLITO COM O DIREITO À

MORADIA - AFRONTA AO PRINCÍPIO DA IGUALDADE - EXCESSO DE EXECUÇÃO -

MATÉRIA QUE DEMANDA DILAÇÃO PROBATÓRIA - QUESTÃO A SER DISCUTIDA EM

SEDE DE IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA - RECURSO CONHECIDO

E PARCIALMENTE PROVIDO.

I. O Estado-Juiz, mediante a presidência do processo executivo, não pode ser

conivente com a tentativa de despojar o fi ador e sua família do refúgio de sua

residência para, mediante expropriação forçada, converter o bem de família em

pecúnia, a fi m de satisfazer o crédito do locador frente ao afi ançado.

II. Tal proceder, antes de demonstrar o completo esvaziamento do princípio

da solidariedade e a absoluta indiferença com a dignidadedo garantidor e sua

família, refl ete a sobreposição de um direito disponível - crédito - sobre um direito

fundamental - moradia.

III. A pretensão de expropriação do imóvel residencial do fi ador ganha maiores

contornos de inadmissibilidade quando, em comparação com o direito posto ao

devedor principal, percebe-se que a garantia negada ao garantidor é amplamente

assegurada ao afi ançado.

IV. A exceção de pré-executividade é cabível apenas para discutir questões

de ordem pública, que podem ser conhecidas de ofício pelo Juízo, tais como

os pressupostos processuais e condições da ação, além dos casos de evidente

ausência de responsabilidade obrigacional do devedor ou de iliquidez do título.

V. Inadmissível o acolhimento da exceção de pré-executividade no que diz

com questões próprias de impugnação ao cumprimento de sentença, como o

excesso de execução.

Sobreveio recurso especial (fls. 260/277) amparado na alínea “c” do

permissivo constitucional, no qual se alega dissídio jurisprudencial com acórdãos

do Superior Tribunal de Justiça e também do Supremo Tribunal Federal.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

298

O recorrente vale-se da tese de interpretação divergente acerca do artigo

3º, inciso VII, da Lei n. 8.009/1990, sustentando, em breve síntese, que o

mencionado dispositivo não afronta a Constituição Federal, estando por esta

recepcionado.

Enfatiza que “se no acórdão recorrido o entendimento é de que o inciso

VII do artigo 3º da Lei n. 8.009/90, introduzido pela Lei n. 8.245/91, afronta

o direito social à moradia e aos princípios da dignidade da pessoa humana

e da igualdade material estampados na Constituição Federal pelo artigo 6º

da Emenda Constitucional n. 26/2000, as decisões paradigmas comprovam

justamente o oposto, ou seja, de que a exceção do aludido normativo não desafi a

preceito constitucional algum, mesmo após a edição da emenda citada, donde há

legalidade da exceção da impenhorabilidade quando se tratar de fi ança prestada

em contrato de locação”.

Ressalta que o precedente do STJ utilizado pelo Tribunal de origem no

acórdão recorrido já está superado pelo entendimento atual desta Corte de

Justiça.

O recorrido apresentou contrarrazões ao recurso especial (fl s. 354/368),

sublinhando que o acórdão estadual está de acordo com os princípios do “Novo

Código Civil”, em que a dignidade da pessoa humana alterou a sistemática da

teoria contratual. Destaca que admitir a penhora de imóvel residencial dado em

garantia em contrato de locação fere os princípios da eticidade, socialidade e

operabilidade.

Invoca o Enunciado 23 do CJF e assevera que o direito à moradia limita a

autonomia privada.

Argumenta que nem todos têm pleno conhecimento da lei e aduz não ser

razoável que uma pessoa tenha seu único imóvel penhorado para incentivar o

mercado locatício.

Aduz que, atualmente, o mercado imobiliário utiliza outro mecanismo

para assegurar o cumprimento dos contratos, tais como o seguro fi ança. Adverte

que a sociedade e o direito devem proteger o direito à moradia e valores

extrapatrimoniais, como a dignidade da pessoa humana.

Em sede de juízo de admissibilidade, o Tribunal de origem admitiu o

recurso especial interposto (fl s. 398/400).

Posteriormente, verificando a multiplicidade de recursos a versarem

sobre a mesma controvérsia, submeti o feito ao rito do artigo 543-C do CPC,

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 291-318, novembro 2017 299

determinando a ciência e facultando manifestação, no prazo de 15 (quinze) dias

(art. 3º, I, da Resolução n. 8/2008), à Associação Brasileira das Administradoras

de Imóveis - Abadi e ao Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil

(fl s. 408/409).

Às fls. 417/469, a Abadi apresentou manifestação pugnando pelo

provimento do apelo especial. Justifi cou seu pedido argumentando que “há

muito tempo esse Colendo STJ adotou o entendimento fi rmado pelo E. STF,

que reputou constitucional a exceção prevista no inciso VII do art. 3º da Lei

8.009/90, permitindo a penhora do único imóvel do fi ador para pagamento

de dívida oriunda de contrato de locação”. Observa que o entendimento do

acórdão recorrido traz evidentes riscos ao mercado de locações, malferindo o

próprio direito à moradia. Conclui dizendo que o referido entendimento, caso

prevaleça, “benefi ciará número muitíssimo menor de pessoas, em comparação

com o contingente que, direta ou indiretamente, será afetado negativamente”.

Por sua vez, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil

apresentou ofício (fl . 508) no qual informa que não se manifestará por não ser

notório o interesse da Instituição, devendo o tema fi car reservado ao campo da

disputa civilista.

Às fl s. 475/507, 513/545 e 546/574 foram juntadas manifestações do

Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de

Imóveis e dos Condomínios Residenciais e Comerciais em todo o Estado

do Rio de Janeiro -Secovi/RJ, Associação Gaúcha de Advogados do Direito

Imobiliário Empresarial - Agadie e Associação das Administradoras de Bens

Imóveis e Condomínios de São Paulo - AABIC, em que solicitaram o ingresso

no feito na qualidade de amicus curiae.

No despacho proferido à fl . 580, admiti as manifestações; todavia, indeferi

o ingresso de novos amicus curiae.

O Ministério Público Federal, em parecer da lavra do ilustre

Subprocurador-Geral da República Dr. Antônio Carlos Pessoa Lins, opinou

pelo provimento do recurso nos termos da seguinte ementa (fl s. 575/578):

DIREITO CIVIL. LOCAÇÃO. POSSIBILIDADE DE PENHORABILIDADE DO BEM

DE FAMÍLIA DO FIADOR CONFORME PRESCREVE O ART. 3º, VII DA LEI 8.009/90.

PRECEDENTES DO STJ. PARECER PELO PROVIMENTO DO RECURSO.

É o relatório.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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VOTO

O Sr. Ministro Luis Felipe Salomão (Relator): 2. De início, consigne-

se que o recurso foi interposto unicamente com fundamento na alínea “c”

do permissivo constitucional, ou seja, alega-se divergência jurisprudencial na

interpretação do art. 3º, inciso VII, da Lei n. 8.009/1990.

No caso, a posição adotada pelo Tribunal recorrido - não admitindo

a penhora de imóvel do fi ador, sob o fundamento de se tratar de bem de

família - apresenta dissídio notório com o posicionamento fi rmado por este

Tribunal Superior, no julgamento dos seguintes precedentes indicados pelo ora

recorrente: a) AgRg no REsp n. 959.759/SC, de relatoria do Ministro Napoleão

Nunes Maia Filho; b) AgRg no REsp n. 1.049.425/RJ, de relatoria do Ministro

Hamilton Carvalhido; c) AgRg no REsp n. 1.002.833/MG, de relatoria do

Ministro Paulo Gallotti e d) REsp n. 965.257/SP, de relatoria do Ministro

Arnaldo Esteves Lima, nos quais foi reconhecida a possibilidade de penhora do

bem de família do fi ador em contrato de locação.

Em assim sendo, há precedentes da Corte admitindo o dissídio para efeito

de conhecimento do especial:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. EFEITOS MODIFICATIVOS. AGRAVO REGIMENTAL.

PREVIDÊNCIA PRIVADA. ABONO ÚNICO. CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO.

PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR - PAT. COMPLEMENTAÇÃO DE

APOSENTADORIA INDEVIDA.DISSÍDIO REQUISITOS. MITIGAÇÃO.

1. Tratando-se de dissídio notório com a jurisprudência fi rmada no âmbito do

próprio Superior Tribunal de Justiça, mitigam-se os requisitos de admissibilidade para

o conhecimento do recurso especial pela divergência.

2. O abono único, parcela concedida a título indenizatório aos empregados

em atividade mediante convenção coletiva de trabalho, não se incorpora aos

proventos de complementação de aposentadoria pagos por entidade fechada de

previdência privada. Precedentes da 2ª Seção REsp 1.281.690/RS submetido ao

rito dos recursos repetitivos (CPC, art. 543-C).

3. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, ao qual se nega

provimento.

(EDcl no AREsp 375.443/ES, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA

TURMA, julgado em 05/08/2014, DJe 14/08/2014)

DIREITO BANCÁRIO. AGRAVO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL DE

CONTRATO BANCÁRIO. DISSÍDIO NOTÓRIO. CARACTERIZAÇÃO. MITIGAÇÃO DOS

REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE DO RECURSO ESPECIAL. FUNDAMENTAÇÃO.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 291-318, novembro 2017 301

SUFICIENTE. PREQUESTIONAMENTO. SATISFAÇÃO. SÚMULAS 5 E 7/STJ.

INAPLICABILIDADE.

1. É possível a mitigação dos requisitos formais de admissibilidade do recurso

especial diante da constatação de divergência jurisprudencial notória.

2. Recurso especial que foi sufi cientemente fundamentado e que não encontra

óbice nas Súmulas 282, 283 e 284 do STF, 5 e 7 do STJ.

3. Agravo não provido.

(AgRg no REsp 1.433.342/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,

julgado em 27/05/2014, DJe 05/06/2014)

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL.

DIREITO CIVIL E DIREITO AMBIENTAL. CONSTRUÇÃO DE USINA HIDRELÉTRICA.

REDUÇÃO DA PRODUÇÃO PESQUEIRA. SÚMULA N. 7/STJ. NÃO CABIMENTO.

DISSÍDIO NOTÓRIO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DANO INCONTESTE. NEXO

CAUSAL. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. CABIMENTO.

PRECEDENTES.

1. Não há falar, na espécie, no óbice contido na Súmula n. 7/STJ, haja vista que

os fatos já restaram delimitados nas instâncias ordinárias, devendo ser revista

nesta instância somente a interpretação dada ao direito para a resolução da

controvérsia. Precedentes.

2. Tratando-se de dissídio notório, admite-se, excepcionalmente, a mitigação

dos requisitos exigidos para a interposição do recurso pela alínea “c” “quando os

elementos contidos no recurso são suficientes para se concluir que os julgados

confrontados conferiram tratamento jurídico distinto à similar situação fática” (AgRg

nos EAg 1.328.641/RJ, Rel. Min. Castro Meira, DJe 14/10/11).

[...]

(AgRg no AREsp 206.748/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,

TERCEIRA TURMA, julgado em 21/02/2013, DJe 27/02/2013)

3. No mais, cinge-se a controvérsia a discutir a possibilidade de penhora do

apontado bem de família de fi ador em contrato de locação.

Cumpre, de início, transcrever o inciso VII do artigo 3º da Lei n.

8.009/1990, inserido pelo artigo 82 da Lei n. 8.245/1991:

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução

civil, fi scal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:

(...)

VII - por obrigação decorrente de fi ança concedida em contrato de locação.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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A decisão do magistrado de piso, na parte que interessa, assim dispôs (fl .

161):

Quanto a alegação de impenhorabilidade do bem do fi ador dado em garantia

do contrato de locação, o STF já declarou a constitucionalidade do art. 3º da

Lei 8009, como se observa da ementa do voto da ministra Ellen Gracie, na

Repercussão Geral em Recurso Extraordinário (RE) n. 612.360/SP, advindo da

discussão do RE n. 407.688, in verbis:

[...].

Esse, também, é o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça:

[...].

Ante o exposto:

[...].

c) conheço da exceção de pre-executividade quanto a alegada

inconstitucionalidade do art. 3º da Lei 8.009/90, mas rejeito a alegação dos

excipientes de impenhorabilidade do bem de família dos fiadores, ante os

precedentes do E. TJMS e do STJ e STF; e,

[...].

O acórdão recorrido, por seu turno, consignou:

Da impenhorabilidade do bem de família do fi ador

De início, cumpre relatar que a questão acerca da impenhorabilidade do bem

de família é de ordem pública, podendo ser apreciada a qualquer tempo e em

qualquer grau de jurisdição.

No caso, como relatado, pretende o agravante, a despeito das razões

estampadas na decisão hostilizada, o reconhecimento da inconstitucionalidade

do art. 3º, VII, da Lei n. 8.009/90, tudo para anular a penhora realizada sobre o

imóvel de residência do fi ador.

Tenho que a pretensão merece acolhida, pelos motivos que passo a expor.

Em função da dignidade da pessoa humana e atento às condições mínimas

que devem cercar a vida em sociedade, o legislador ordinário estabeleceu

algumas hipóteses em que o bem destinado à moradia do devedor e sua família,

embora inicialmente disponível, traspassa à categoria de direito indisponível.

Nesta toada, a Lei n. 8.009/90 esculpiu o direito de impenhorabilidade do bem

de família, ao gizar, in verbis:

“Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é

impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial,

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 291-318, novembro 2017 303

fi scal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou

pelos pais ou fi lhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas

hipóteses previstas nesta lei.

Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o

qual se assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer

natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profi ssional, ou

móveis que guarnecem a casa, desde que quitados.”

Assim, não se há de autorizar a penhora e, consequentemente, a expropriação

daquele imóvel que se destina a acolher a entidade familiar do devedor.

Não obstante a elogiável previsão legal supramencionada, o mesmo diploma

tratou de excepcionar algumas hipóteses em que não se poderia alegar a

impenhorabilidade do imóvel residencial, ao prescrever em seu art. 3º:

“Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de

execução civil, fi scal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo

se movido:

I - em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e das

respectivas contribuições previdenciárias;

II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à

construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos

constituídos em função do respectivo contrato;

III -- pelo credor de pensão alimentícia;

IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e

contribuições devidas em função do imóvel familiar;

V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia

real pelo casal ou pela entidade familiar;

VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de

sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento

de bens.

VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de

locação.”

No caso vertente, a pretensão resistida está a tratar da hipótese prevista

no inciso VII, a qual não seria possível reconhecer a impenhorabilidade do

imóvel residencial dos devedores que, na condição de fi adores, se obrigaram ao

pagamento de eventual dívida advinda de contrato de locação.

Em observância desta exceção legal, tem prevalecido nos tribunais que, em se

tratando de obrigação decorrente de fi ança concedida em contrato de locação,

deve-se afastar a impenhorabilidade dos bens de família prevista pelo art. 1º da

Lei n. 8.009/90.

Evidentemente que este entendimento mostra-se equivocado

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

304

É que a Emenda Constitucional n. 26, de 14 de fevereiro de 2000, incluiu a

moradia entre os direitos sociais previstos no art. 6º da CF/88, que constituem

normas de ordem públicas.

Ao assim proceder, o constituinte derivado reformador reforçou na

Constituição um direito manifestamente fundamental para manter a dignidade

do homem: a moradia.

Sobre a condição de efi cácia deste direito social, célebres são as lições de José

Afonso da Silva, para quem:

“Esse é daqueles direitos que têm duas faces: uma negativa e uma positiva.

A primeira significa que o cidadão não pode ser privado de uma moradia

nem impedido de conseguir uma, no que importa a abstenção do Estado e

de terceiros. A segunda, que é a nota principal do direito à moradia, como

dos demais direitos sociais, consiste no direito de obter uma moradia digna

e adequada, revelando-se como um direito positivo de caráter prestacional,

porque legitima a pretensão do seu titular à realização do direito por via de

ação positiva do Estado. É nessa ação positiva que se encontra a condição de

efi cácia do direito à moradia. E ela está prevista em vários dispositivos de nossa

Constituição, entre os quais se destaca o art. 3º, que defi ne como objetivos

fundamentais da República Federativa do Brasil construir uma sociedade justa

e solidária, erradicar a marginalização – e não há marginalização maior do

que não se ter um teto para si e para a família – e promover o bem de todos,

o que pressupõe, no mínimo, ter onde morar dignamente.” [1] Grifei

Se o cidadão não pode ser privado de uma moradia, o que reclama a abstenção

do Estado e de terceiros, afi gura-me evidente que o Estado-Juiz, mediante a

presidência de um procedimento executivo (cumprimento de sentença) não

pode ser conivente com a tentativa de despojar o fi ador e sua família do refúgio

de sua residência para, mediante expropriação forçada, converter o bem de

família em pecúnia, a fi m de satisfazer o crédito do locador frente ao afi ançado.

Tal proceder, antes de demonstrar o completo esvaziamento do princípio

da solidariedade e a absoluta indiferença com a dignidade do garantidor e sua

família, refl ete a sobreposição de um direito disponível – crédito – sobre um

direito fundamental – moradia.

Com a devida vênia de eventual entendimento contrário, resta claro que

as exceções previstas no art. 3º da Lei n. 8.009/90 não podem ser tidas como

inabaláveis, sob pena de subjugar, em alguns casos, o caráter social que detém o

bem de família.

A propósito do tema, o STJ já ementou:

“RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL E CONSTITUCIONAL. LOCAÇÃO.

FIADOR. BEM DE FAMÍLIA. IMPENHORABILIDADE. ART. 3º, VII, DA LEI N.

8.009/90. NÃO RECEPÇÃO.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 291-318, novembro 2017 305

Com respaldo em recente julgado proferido pelo Pretório Excelso, é

impenhorável bem de família pertencente a fi ador em contrato de locação,

porquanto o art. 3º, VII, da Lei n. 8.009/90 não foi recepcionado pelo art. 6º da

Constituição Federal (redação dada pela Emenda Constitucional n. 26/2000).

Recurso desprovido.” (STJ, 5ª Turma, REsp n. 699.837/RS, Relator: Ministro

Félix Fischer, data do julgamento: 2/8/2005).

A pretensão de expropriação do imóvel residencial do fi ador ganha maiores

contornos de inadmissibilidade quando, em comparação com o direito posto ao

devedor principal, percebe-se que a garantia negada ao garantidor é amplamente

assegurada ao afi ançado.

Ora, evidentemente que o consentimento desta circunstância acabaria por

afrontar o princípio constitucional da igualdade, porquanto estar-se-ia ofertando

ao credor o bem residencial daquele que prestou obrigação acessória e, por

outro lado, deixando incólume de qualquer constrição o imóvel de residência

do contratante, que se obrigou diretamente pelo adimplemento do obrigação

principal.

Assim, tenho que não andou bem o Juízo singular ao não afastar, no caso, a

exceção prevista no art. 3º, VII, da Lei n. 8.009/90, a fi m de assegurar ao fi ador seu

direito indisponível de habitação na residência familiar.

Corroborando tal entendimento, cumpre-me colacionar precedente desta 3ª

Turma Cível que, em caso análogo, referendou a impenhorabilidade do imóvel

residencial do fi ador. Confi ra-se:

[...].

Por isso, visando dar efetividade ao direito social à moradia e aos princípios

da dignidade da pessoa humana e da igualdade material, entendo que deve ser

declarada a impenhorabilidade do bem de família no caso em tela.

4. É bem verdade que o direito à moradia foi citado inicialmente na

Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 1948 pela

Assembleia Geral da ONU, tendo o Brasil como um dos seus signatários.

A Declaração estabelece que “toda pessoa tem direito a um padrão de vida

capaz de assegurar a si e à sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação,

vestuário, moradia, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis” (artigo

25, § 1º).

O principal instrumento legal internacional que trata do direito à moradia,

ratifi cado pelo Brasil e por mais 138 países, é o Pacto Internacional de Direitos

Econômicos e Sociais e Culturais - Pidesc, adotado pela ONU em 1966.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

306

O artigo 11, § 1º, do Pidesc dispõe que os Estados partes reconhecem o

direito de toda pessoa à moradia adequada e comprometem-se a adotar medidas

apropriadas para assegurar a consecução desse direito.

Faz-se mister ressaltar, segundo o entendimento do Supremo Tribunal

Federal (entre outros, o RE 349.703/RS, julgado pelo Tribunal Pleno em

3/12/2008), que tratado internacional que versa sobre direitos humanos assume

status de norma supralegal, situando-se abaixo da Constituição, porém acima

da legislação ordinária, de modo que o ordenamento jurídico interno deve

contemplar formas para implementação dos seus mandamentos.

Nessa senda, a Constituição da República, em seu artigo 6º, encartou

a moradia no bojo dos direitos sociais, alçando-a à qualidade de direito

fundamental, já que se trata de capítulo inserido no título II da Carta Magna,

intitulado “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a

moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à

infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. - grifou-se.

O constituinte originário exteriorizou a preocupação com a proteção

desse direito fundamental à dignidade da pessoa humana em diversos outros

dispositivos, tais como o artigo 23, IX, no qual estabelece como dever do Estado,

nas suas três esferas, a promoção de programas de construção de moradias e

melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico, bem assim o artigo

7º, IV, em que o direito à moradia é visto como necessidade básica dos direitos

dos trabalhadores urbanos e rurais, que deve ser atendida pelo salário mínimo.

Não se olvida que, anteriormente à Constituição de 1988, o Código

Civil de 1916 tenha disciplinado o bem de família. No entanto, seu extremo

formalismo relegou o instituto à vala da aplicação raríssima, não atendendo

satisfatoriamente, portanto, aos princípios da dignidade da pessoa humana e da

proteção à moradia e à família, preconizados na nova Carta.

Nesse contexto, para atender a diretriz do Tratado e da Constituição,

exsurge a Lei n. 8.009/1990, cujo art. 1º estabelece:

Art. 1º. O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é

impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fi scal,

previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou

fi lhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas

nesta lei.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 291-318, novembro 2017 307

O mencionado diploma institui a proteção legal do bem de família como

instrumento de tutela do direito fundamental à moradia da entidade familiar e,

portanto, indispensável à composição de um mínimo existencial para uma vida

digna.

É o que se verifi ca, no tocante ao bem de família, em diversos precedentes

jurisprudenciais desta Corte Superior que entenderam pela extensão dessa

proteção à morada do devedor solteiro, das separadas e viúvas (Súm. 364 do

STJ); que mantiveram o resguardo do imóvel locado a terceiro quando os

aluguéis eram destinados à residência da entidade familiar (REsp 1.005.546/

SP, Terceira Turma, Rel. para acórdão Min. Nancy Andrighi, DJe 03/02/2011;

REsp 315.979/RJ, Quarta Turma, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ

15/03/2004); que não admitiram a renúncia da proteção legal por parte de seu

titular (REsp 507.686/SP, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, Quarta Turma,

DJ 22/03/2004; REsp 223.419/SP, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, Quarta

Turma, DJ 17/12/1999; REsp 875.687/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,

Quarta Turma, DJe 22/8/2011); ou, ainda, que limitaram a excepcionalidade da

regra que autoriza a penhora de bem de família dado em garantia tão somente

nas hipóteses em que a dívida seja constituída em favor da entidade familiar (e

não em favor de terceiros) (AgRg no AREsp 98.992/SC, Rel. Min. Maria Isabel

Gallotti, Quarta Turma, DJe 06/03/2014; AgRg no AREsp 48975/MG, Rel.

Min. Marco Buzzi, Quarta Turma, DJe 25/10/2013; REsp 988.915/SP, Rel.

Min. Raul Araújo, Quarta Turma, DJe 08/06/2012; AgRg no Ag 1.067.040/

PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJe 28/11/2008 AgRg no Ag

921.299/SE, Rel. Min. Sidnei Beneti, Terceira Turma, DJe 28/11/2008).

Assim, a teor do artigo 1º da Lei n. 8.009/1990, o bem imóvel destinado

à moradia da entidade familiar é impenhorável e não responderá pela dívida

contraída pelos cônjuges, pais ou fi lhos que sejam seus proprietários e nele

residam, salvo nas hipóteses previstas no artigo 3º da aludida norma.

Nessa linha, o acima mencionado dispositivo excetua, em seu inciso VII,

tido por ofendido, a obrigação decorrente de fi ança concedida em contrato

de locação, isto é, autoriza a constrição de imóvel de propriedade do fi ador de

contrato locatício, considerado bem de família.

Infere-se, pois, que a legislação pátria, a par de estabelecer como regra a

impossibilidade de impor a penhora sobre bem imóvel destinado à moradia do

indivíduo e de sua família, excetuou a hipótese do fi ador em contrato de locação,

permitindo que tal gravame seja lançado sobre o referido imóvel.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

308

Convém ressaltar, para logo, que a norma em testilha estabelece,

expressamente, as hipóteses de exceção à regra da impenhorabilidade do bem de

família, o que impede sua aplicação mediante interpretação extensiva. Confi ra:

AgRg no AREsp 537.034/MS, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA

TURMA, julgado em 26/08/2014, DJe 01/10/2014; REsp 1.115.265/RS, Rel.

Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 24/04/2012,

DJe 10/05/2012).

5. Não se pode deixar de destacar a divergência existente em sede

doutrinária acerca do tema em discussão.

De um lado, autores como José Rogério Cruz e Tucci, Carlyle Popp, dentre

outros, entendem que o bem de família do fi ador não pode ser penhorado para

satisfação de débito em contrato de locação. Por outro lado e em conformidade

com a pacífi ca jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça e também

do Supremo Tribunal Federal, doutrinadores como Álvaro Villaça Azevedo,

Alessandro Segalla e Araken de Assis defendem ser legítima a penhora sobre

bem de família de fi ador em contrato de locação, a teor do inciso VII do artigo

3º da Lei n. 8.009/1990, acrescentado pelo artigo 82 da Lei n. 8.245/1991,

inclusive para os pactos anteriores à vigência deste diploma legal.

Contudo, como antes afirmado, a jurisprudência da Suprema Corte

fi rmou-se no sentido da constitucionalidade do dispositivo impugnado. De

fato, ao julgar o Recurso Extraordinário n. 407.688, em 8/2/2006, assentou a

constitucionalidade do artigo 3º, inciso VII, da Lei n. 8.009/1990, com a redação

dada pela Lei n. 8.245/1991, em face do artigo 6º da Constituição Federal, que

consagra o direito à moradia a partir da edição da Emenda Constitucional n.

26/2000.

O aludido julgado possui a seguinte ementa:

“FIADOR. Locação. Ação de despejo. Sentença de procedência. Execução.

Responsabilidade solidária pelos débitos do afi ançado. Penhora de seu imóvel

residencial. Bem de família. Admissibilidade. Inexistência de afronta ao direito de

moradia, previsto no art. 6º da CF. Constitucionalidade do art. 3º, inc. VII, da Lei n.

8.009/90, com a redação da Lei n. 8.245/91. Recurso extraordinário desprovido.

Votos vencidos. A penhorabilidade do bem de família do fiador do contrato

de locação, objeto do art. 3º, inc. VII, da Lei n. 8.009, de 23 de março de 1990,

com a redação da Lei n. 8.245, de 15 de outubro de 1991, não ofende o art. 6º

da Constituição da República.” (RE 407.688, Rel. Min. CEZAR PELUSO, TRIBUNAL

PLENO, DJ 06.10.2006).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 291-318, novembro 2017 309

Posteriormente, em 13/8/2010, o Supremo Tribunal Federal declarou a

constitucionalidade do art. 3º da Lei 8.009/1990, na Repercussão Geral em

Recurso Extraordinário (RE) n. 612.360/SP, advindo da discussão do RE n.

407.688. Confi ra-se a ementa do julgado, que teve como relatora a eminente

Ministra Ellen Gracie:

CONSTITUCIONALIDADE DA PENHORA DO BEM DE FAMÍLIA DO FIADOR.

RATIFICAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA FIRMADA POR ESTA SUPREMA CORTE. EXISTÊNCIA

DE REPERCUSSÃO GERAL. (RE 612.360 RG, Relatora Min. ELLEN GRACIE, TRIBUNAL

PLENO, julgado em 13.08.2010, DJe 03.09.2010).

Nas razões de decidir do Recurso Extraordinário n. 407.688, asseverou o

eminente Ministro Cezar Peluso:

[...].

Não me parece sólida a alegação de que a penhora do bem de família do

recorrente violaria o disposto no art. 6º da Constituição da República, que,

por força da redação introduzida pela EC n. 26, de 15 de fevereiro de 2000,

não teria recebido a norma do art. 3º, inc. VII, da Lei n. 8.009, de 29.03.1990, a

qual, com a redação da Lei n. 8.245, de 18 de outubro de 1991, abriu exceção à

impenhorabilidade do bem de família.

A regra constitucional enuncia direito social, que, não obstante suscetível de

qualifi car-se como direito subjetivo, enquanto compõe o espaço existencial da

pessoa humana, “independentemente da sua justiciabilidade e exeqüibilidade

imediatas”, sua dimensão objetiva supõe provisão legal de prestações aos cidadãos,

donde entrar na classe dos chamados “direitos a prestações, dependentes da

actividade mediadora dos poderes públicos”.

Isto signifi ca que, em teoria, são várias, se não ilimitadas, as modalidades ou

formas pelas quais o Estado pode, defi nindo-lhe o objeto ou o conteúdo das

prestações possíveis, concretizar condições materiais de exercício do direito social

à moradia. Ao propósito dos direitos sociais dessa estirpe, nota a doutrina:

[...].

Daí se vê logo que não repugna à ordem constitucional que o direito social de

moradia - o qual, é bom observar, se não confunde, necessariamente, com o direito

à propriedade imobiliária ou direito de ser proprietário de imóvel - pode,

sem prejuízo de doutras alternativas conformadoras, reputar-se, em certo sentido,

implementado por norma jurídica que estimule ou favoreça o incremento da oferta

de imóveis para fins de locação habitacional, mediante previsão de reforço das

garantias contratuais dos locadores.

A vigente Constituição portuguesa é, aliás, ilustrativa ao propósito, ao dispor,

no n. 2 do art. 65º:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

310

“2. Para assegurar o direito à habitação, incumbe ao Estado:

(...).

c) Estimular a construção privada, com subordinação ao interesse geral,

e o acesso à habitação própria ou arrendada” (Grifei).

A respeito, não precisaria advertir que um dos fatores mais agudos de retração

e de difi culdades de acesso do mercado de locação predial está, por parte dos

candidatos a locatários, na falta absoluta, na insufi ciência ou na onerosidade de

garantias contratuais licitamente exigíveis pelos proprietários ou possuidores

de imóveis de aluguel. Nem, tampouco, que acudir a essa distorção, facilitando

celebração dos contratos e com isso realizando, num dos seus múltiplos modos

de positivação e de realização histórica, o direito social de moradia, é a própria

ratio legis da exceção prevista no art. 3º, inc. VII, da Lei n. 8.009, de 1990. São coisas

óbvias e intuitivas.

Daí, só poder conceber-se acertada, em certo limite, a postura de quem vê,

na penhorabilidade de imóvel do fi ador, regra hostil ao art. 6º da Constituição

da República, em “havendo outros meios de assegurar o pagamento do débito”,

porque essa constitui a única hipótese em que, perdendo, diante de particular

circunstância do caso, a função prática de servir à prestação de garantia exclusiva

das obrigações do locatário e, como tal, de condição necessária da locação, a

aplicação da regra contradiria o propósito e o alcance normativo. Aí, não incidiria,

não porque, na sua generalidade e efi cácia, seja desconforme com a Constituição,

senão porque o fato (fattispecie concreta) é que se lhe não aperfeiçoaria ao

modelo normativo (fattispecie abstrata).

[...].

Nem parece, por fi m, curial invocar-se de ofício o princípio isonômico, assim

porque se patenteia diversidade de situações factuais e de vocações normativas -

a expropriabilidade do bem do fi ador tende, posto que por via oblíqua, também

a proteger o direito social de moradia, protegendo direito inerente à condição de

locador, não um qualquer direito de crédito -, como porque, como bem observou

José Eduardo Faria, “os direitos sociais não confi guram um direito de igualdade,

baseado em regras de julgamento que implicam um tratamento uniforme; são,

isto sim, um direito das preferências e das desigualdades, ou seja, um direito

discriminatório com propósitos compensatórios”.

Não admira, portanto, que, no registro e na modelação concreta do mesmo

direito social, se preordene a norma subalterna a tutelar, mediante estímulo do

acesso à habitação arrendada - para usar os termos da Constituição lusitada -, o

direito de moradia de uma classe ampla de pessoas (interessadas na locação), em

dano de outra de menor espectro (a dos fi adores proprietários de um só imóvel,

enquanto bem de família, os quais não são obrigados a prestar fi ança). Castrar

essa técnica legislativa, que não pré-exclui ações estatais concorrentes doutra

ordem, romperia equilíbrio do mercado, despertando exigência sistemática de

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 291-318, novembro 2017 311

garantias mais custosas para as locações residenciais, com consequente desfalque

no campo de abrangência do próprio direito constitucional à moradia.

O Ministro Joaquim Barbosa, por sua vez, acompanhando o relator, fez

importantes considerações em seu voto acerca do “confronto” entre o direito à

moradia e o direito à liberdade:

[...] aparentemente, a questão posta nos presentes autos centra-se no embate

entre dois direitos fundamentais: de um lado, o direito à moradia (art. 6º da

Constituição Federal), que é direito social constitucionalmente assegurado e, em

princípio, exige uma prestação do Estado; de outro, o direito à liberdade, em sua

mais pura expressão, ou seja, a da autonomia da vontade, exteriorizada, no caso

concreto, na faculdade que tem cada um de obrigar-se contratualmente e, por

consequência, de suportar os ônus dessa livre manifestação de vontade.

Ambos os direitos merecem igual tutela em nossa Constituição, de modo que é

tarefa complexa estabelecer os parâmetros e limites de sua aplicação, em especial

neste tema da penhorabilidade do bem de família do fi ador nos contratos de locação.

[...].

A norma é muito clara: o fi ador que oferece o único imóvel de sua propriedade

para garantir contrato de locação de terceiro pode ter o bem penhorado em caso de

descumprimento da obrigação principal pelo locatário. Sustenta-se que essa penhora

seria contrária ao disposto na Constituição federal, sobretudo após a Emenda

Constitucional 26, que incluiu o direito à moradia no rol dos direitos sociais descritos

no art. 6º da Constituição.

Entendo, porém, que esse não deve ser o desenlace da questão. Como todos

sabemos, os direitos fundamentais não têm caráter absoluto. Em determinadas

situações, nada impede que um direito fundamental ceda o passo em prol da

afi rmação de outro, também em jogo numa relação jurídica concreta.

É precisamente o que está em jogo no presente caso. A decisão de prestar fi ança,

como já disse, é expressão da liberdade, do direito à livre contratação. Ao fazer uso

dessa franquia constitucional, o cidadão, por livre e espontânea vontade, põe em

risco a incolumidade de um direito fundamental social que lhe é assegurado na

Constituição. E o faz, repito, por vontade própria.

Por via de consequência, entendo que não há incompatibilidade entre o art.

3º, VII, da Lei 8.009/1990, inserido pela Lei 8.245/1991, que prevê a possibilidade

de penhora do bem de família em caso de fi ança em contrato de locação, e a

Constituição federal.

6. No mesmo diapasão, a jurisprudência desta Corte Superior é tranquila,

estando há muito superado o precedente do STJ invocado no acórdão recorrido.

Confi ram-se:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

312

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE LOCAÇÃO.

EXECUÇÃO. IMÓVEL DO FIADOR. PENHORA. POSSIBILIDADE. FIANÇA. VALIDADE.

REGIME DE SEPARAÇÃO DE BENS.

1. O Superior Tribunal de Justiça, na linha do decidido pelo Supremo Tribunal

Federal, tem entendimento fi rmado no sentido da legitimidade da penhora sobre

bem de família pertencente a fi ador de contrato de locação.

2. O contrato de fiança deve sempre ser interpretado restritivamente e

nenhum dos cônjuges pode prestar fi ança sem a anuência do outro, exceto no

regime matrimonial de separação patrimonial absoluta (arts. 819 e 1.647 do CC).

3. Agravo regimental não provido.

(AgRg no REsp 1.347.068/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,

TERCEIRA TURMA, julgado em 09/09/2014, DJe 15/09/2014)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. LOCAÇÃO

DE IMÓVEL. FIADOR. BEM DE FAMÍLIA. PENHORA. POSSIBILIDADE. ART. 3º, VII, DA

LEI N. 8.009/1990. PRECEDENTES. STJ E STF.

1. É fi rme a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que,

em virtude da obrigação decorrente de contrato de locação, é possível a penhora

do bem destinado à moradia do fi ador, conforme prevê o inciso VII do art. 3º da

Lei n. 8.009/90, acrescentado pela Lei n. 8.245/1991.

2. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE n. 407.688, entendeu que

a penhorabilidade do bem de família do fi ador do contrato de locação, objeto

do art. 3º, inc. VII, da Lei n. 8.009, de 23 de março de 1990, com a redação da

Lei n. 8.245, de 15 de outubro de 1991, não ofende o art. 6º da Constituição da

República.

3. Agravo Regimental improvido.

(AgRg no RMS 24.658/RJ, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado

em 03/06/2014, DJe 20/06/2014)

AGRAVO REGIMENTAL - AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - EXECUÇÃO -

RECONHECIMENTO DO TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL - INCIDÊNCIA

DA SÚMULA 7/STJ - PENHORA DO BEM IMÓVEL DO FIADOR - POSSIBILIDADE

- ACÓRDÃO RECORRIDO EM CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA

CORTE - RECURSO IMPROVIDO.

(AgRg no AREsp 151.216/SP, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA,

julgado em 26/06/2012, DJe 02/08/2012)

AGRAVO REGIMENTAL. LOCAÇÃO. ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA

ALTERAR A DECISÃO AGRAVADA. LOCAÇÃO. BEM DE FAMÍLIA. FIADOR.

PENHORABILIDADE. POSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.

INCIDÊNCIA DA SÚMULA 211/STJ.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 291-318, novembro 2017 313

1. O agravante não trouxe argumentos novos capazes de infirmar os

fundamentos que alicerçaram a decisão agravada, razão que enseja a negativa do

provimento ao agravo regimental.

2. A jurisprudência desta Corte é clara, no sentido de que, é possível a penhora do

bem de família de fi ador de contrato de locação, mesmo quando pactuado antes da

vigência da Lei 8.245/91, que alterou o art. 3º, inc. VII, da Lei n. 8.009/90. Precedentes.

3. À luz do enunciado sumular 211/STJ, é inadmissível o recurso especial que

demande a apreciação de matéria sobre a qual não tenha se pronunciado a Corte

de origem, apesar de opostos embargos de declaração.

4. Agravo regimental a que se nega provimento.

(AgRg nos EDcl nos EDcl no AgRg nos EDcl no REsp 771.700/RJ, Rel. Ministro

VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), SEXTA

TURMA, julgado em 28/02/2012, DJe 26/03/2012)

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. FIANÇA. CONTRATO DE LOCAÇÃO. AUSÊNCIA

DE OUTORGA UXÓRIA. IRRELEVÂNCIA NO CASO, EM FACE DE A GARANTIA TER

BENEFICIADO O CASAL. DISSIDÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO CONHECIDA.

SÚMULA 83/STJ. NULIDADE DO ACÓRDÃO NÃO CONFIGURADA.

1. Não ocorre contrariedade ao art. 535 do Código de Processo Civil quando o

Tribunal de origem decide, fundamentadamente, todas as questões postas ao seu

exame, assim como não há que se confundir entre decisão contrária ao interesse

da parte e inexistência de prestação jurisdicional.

2. Peculiaridades do caso concreto que afastam o entendimento da Súmula

332/STJ. Além de o recorrente ter conhecimento da garantia, obteve proveito

da locação, utilizando-se do imóvel para administrar a sua própria empresa.

Incidência da Súmula 7/STJ.

3. A orientação predominante nesta Corte é no sentido de que a impenhorabilidade

prevista na Lei n. 8.009/90 não se estende ao imóvel do fi ador, em razão da obrigação

decorrente de pacto locatício.

4. Nos termos dos arts. 541, parágrafo único, do CPC, e 255, §§ 1º e 2º, do

RISTJ, é atribuição do recorrente demonstrar a dissidência, mencionando as

circunstâncias que identifi quem ou assemelhem os casos confrontados. Dissídio

de que não se conhece por aplicação da Súmula 83/STJ.

5. Agravo regimental a que se nega provimento.

(AgRg no REsp 1.061.373/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEXTA TURMA,

julgado em 07/02/2012, DJe 27/02/2012)

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PENHORABILIDADE

DE BEM DE FAMÍLIA DO FIADOR. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO

AGRAVADA. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO, COM APLICAÇÃO DE MULTA.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

314

1. O agravante não rebate especificamente os fundamentos da decisão

agravada, quais sejam: incidência da Súmula 83/STJ, circunstância que obsta, por

si só, a pretensão recursal, pois à falta de contrariedade, permanecem incólumes

os motivos expendidos pela decisão recorrida. Incidência do entendimento

expendido na Súmula 182/STJ.

2. Conforme entendimento pacifi cado nesta Corte e no Supremo Tribunal Federal,

é válida a penhora sobre bem de família do fi ador de contrato de locação. Aplicação

do art. 3º, VII da Lei 8.009/90.

2. Agravo regimental a que se nega provimento, com aplicação de multa.

(AgRg no AREsp 31.070/SP, de minha relatoria, QUARTA TURMA, julgado em

18/10/2011, DJe 25/10/2011)

P R O C E S S UA L C I V I L . R E C U R S O E S P E C I A L . N E C E S S I DA D E D E

PREQUESTIONAMENTO (SÚMULA 282/STF). CONTRATO DE LOCAÇÃO. FIANÇA

ANTERIOR À LEI N. 8.245/1991. BEM DE FAMÍLIA. PENHORA. POSSIBILIDADE

(PRECEDENTES).

1. Os temas a serem debatidos no especial dependem do necessário

prequestionamento na origem (Súmula 282/STF).

2. A possibilidade de penhora do bem de família, nos casos de fi ança em contrato

de locação, com cláusula de responsabilidade até a entrega das chaves, aplica-se

também aos casos de fi ança anterior à Lei n. 8.245/1991.

3. Agravo interno ao qual se nega provimento.

(AgRg no REsp 853.038/SP, Rel. Ministro CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR

CONVOCADO DO TJ/SP), SEXTA TURMA, julgado em 26/04/2011, DJe 18/05/2011)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE TÍTULO

EXTRAJUDICIAL. BEM DE FAMÍLIA. PENHORA DE BEM PERTENCENTE A FIADOR DE

CONTRATO DE LOCAÇÃO. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES.

1. É legítima a penhora sobre bem de família pertencente a fi ador de contrato de

locação. Precedentes.

2. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no Ag 1.181.586/PR, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA

TURMA, julgado em 05/04/2011, DJe 12/04/2011)

LOCAÇÃO. PROCESSUAL CIVIL. DÍVIDA DE FIADOR EM CONTRATO LOCATÍCIO.

PENHORA. ALEGADA AFRONTA AO ART. 535 DO DIPLOMA PROCESSUAL. NÃO

OCORRÊNCIA. SUPOSTA AFRONTA AO ART. 463 DO CODEX PROCESSUAL.

AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. INDIVISIBILIDADE DO BEM IMÓVEL

DADO EM GARANTIA. POSSIBILIDADE DE PENHORA DE 50% DA FRAÇÃO IDEAL.

ALEGAÇÃO DE BEM DE FAMÍLIA. ASSINATURA DO CONTRATO APÓS A VIGÊNCIA

DA LEI N. 8.245/91. ADMISSIBILIDADE DE PENHORA.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 291-318, novembro 2017 315

1. O acórdão hostilizado solucionou todas as questões de maneira clara e

coerente, apresentando as razões que fi rmaram o seu convencimento.

2. A matéria tratada no art. 463, incisos I e II, Código de Processo Civil não

restou debatida pelo Tribunal de origem, a despeito da oposição dos embargos

declaratórios, razão pela qual incide, na espécie, o óbice da Súmula n. 211 deste

Tribunal.

3. Com o advento da Lei n. 8.245/91 – que introduziu uma nova hipótese de

exclusão da impenhorabilidade do bem de família – restou autorizada a penhora

do bem destinado à moradia do fi ador, em razão da obrigação decorrente de pacto

locatício, aplicando-se também aos contratos firmados antes da sua vigência.

Precedentes.

4. O entendimento pacifico desta Corte é no sentido de que é possível a

penhora de fração ideal de imóvel. Precedentes.

5. Agravo regimental desprovido.

(AgRg nos EDcl no REsp 911.321/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA

TURMA, julgado em 05/10/2010, DJe 25/10/2010)

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE LOCAÇÃO.

EXECUÇÃO. PENHORA SOBRE IMÓVEL DO FIADOR. POSSIBILIDADE. APLICAÇÃO

DO 3º, VII, DA LEI 8.009/90. RECURSO IMPROVIDO.

I - Este Superior Tribunal de Justiça, na linha do entendimento do Supremo

Tribunal Federal, fi rmou jurisprudência no sentido da possibilidade de se penhorar,

em contrato de locação, o bem de família do fi ador, ante o que dispõe o art. 3º, VII da

Lei 8.009/90.

II - Agravo Regimental improvido.

(AgRg no REsp 1.088.962/DF, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA,

julgado em 15/06/2010, DJe 30/06/2010)

DIREITO CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. LOCAÇÃO. RECURSO ESPECIAL.

PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULAS 282 E 356/STF. FUNDAMENTO

INATACADO. SÚMULA 283/STF. FIANÇA. BEM DE FAMÍLIA. PENHORABILIDADE.

PRECEDENTES DO STF E DO STJ. RETORNO DOS AUTOS À INSTÂNCIA DE ORIGEM

PARA EXAME DAS DEMAIS QUESTÕES PENDENTES DE JULGAMENTO. RECURSO

CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.

1. Para a abertura da via especial, requer-se o prequestionamento, ainda que

implícito, da matéria infraconstitucional. Súmulas 282 e 356/STF.

2. É inadmissível Recurso Especial quando a decisão recorrida assenta em mais

de um fundamento sufi ciente e o recurso não abrange todos eles. Incidência, por

analogia, da Súmula 283/STF.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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3. “É válida a penhora do bem destinado à família do fiador em razão da

obrigação decorrente de pacto locatício, aplicando-se, também, aos contratos

fi rmados antes da sua vigência” (AgRg no REsp 876.938/SP, Rel. Min. LAURITA VAZ,

Quinta Turma, DJe 3/11/08).

4. Superada a questão prejudicial acolhida no acórdão recorrido, devem

os autos retornar ao Tribunal de origem para que sejam resolvidas as demais

questões suscitadas no recurso de apelação e pendentes de julgamento.

Precedente do STJ.

5. Recurso especial conhecido e parcialmente provido, para determinar o

retorno dos autos ao Tribunal de origem.

(REsp 1.110.453/RN, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA,

julgado em 18/02/2010, DJe 15/03/2010)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. CIVIL E PROCESSO

CIVIL. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. ART.

247 DO CPC E ART. 5º DA LEI N. 9.278/96 AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.

INCIDÊNCIA DA SÚMULA 211/STJ. LOCAÇÃO. FIANÇA. BEM DE FAMÍLIA DO

FIADOR. PENHORABILIDADE. PRECEDENTES. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO-

COMPROVADO. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.

1. O juiz não está obrigado a rebater, pormenorizadamente, todas as questões

trazidas pela parte, citando os dispositivos legais que esta entende pertinentes

para a resolução da controvérsia. Desse modo, inviável a pretensão de ofensa ao

art. 535, II, do CPC se o Tribunal valeu-se de razões sufi cientes para o deslinde do

litígio.

2. Os embargos de declaração interpostos após a formação do acórdão, com

o escopo de prequestionar tema não veiculado anteriormente no processo,

não caracterizam prequestionamento, mas pós-questionamento. Incidência da

Súmula n. 211 do STJ.

3. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 407.688, assentou que “a

penhorabilidade do bem de família do fi ador do contrato de locação, objeto do art.

3º, inc. VII, da Lei n. 8.009, de 23 de março de 1990, com a redação da Lei n. 8.245, de

15 de outubro de 1991, não ofende o art. 6º da Constituição da República”.

4. Não prospera o recurso quanto à alínea “c” do permissivo constitucional, pois

é discrepante a moldura fática do acórdão recorrido e dos acórdãos paradigmas.

5. Agravo regimental improvido.

(AgRg no Ag 705.169/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,

SEXTA TURMA, julgado em 01/09/2009, DJe 21/09/2009)

PROCESSUAL CIVIL. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL ALEGADO. AUSÊNCIA DE

FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA 284/STF.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 291-318, novembro 2017 317

Não se conhece do recurso pela alínea c do permissivo constitucional em

virtude da ausência de fundamentação. Incidência, na espécie, do óbice constante

da Súmula n. 284/STF.

LOCAÇÃO. EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL. PENHORA SOBRE BEM DE FAMÍLIA DE

FIADOR. POSSIBILIDADE. LEI N. 8.009/90, ARTIGO 1º, INCISO VII. LOCAÇÃO DE

ESPAÇO EM SHOPPING CENTER. LEI DO INQUILINATO. APLICAÇÃO.

1. A teor do artigo 1º da Lei n. 8.009/1990, o bem imóvel destinado à moradia

da entidade familiar é impenhorável e não responderá pela dívida contraída pelos

cônjuges, pais ou fi lhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas

hipóteses previstas no artigo 3º da aludida norma.

2. Ainda que a relação entre lojista e empreendedor de shopping center

seja atípica, a Lei do Inquilinato preceitua que devem prevalecer as condições

livremente pactuadas no respectivo contrato e as disposições procedimentais

nela previstas. Precedente da Terceira Seção.

3. Recurso especial não provido.

(REsp 1.107.241/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em

19/08/2009, DJe 14/09/2009)

PROCESSUAL CIVIL. FIANÇA EM CONTRATO DE LOCAÇÃO. NECESSIDADE DE

COMPROVAÇÃO DE SER O FILHO DOS FIADORES POSSUIDOR DO BEM DE FAMÍLIA,

PARA SE DEFINIR A APLICAÇÃO DO ART. 3º, VII DA LEI 8.009/90, ACRESCIDO

PELA LEI 8.245/91, QUE EXCEPCIONA A IMPENHORABILIDADE DE TAL BEM.

CERCEAMENTO DE DEFESA DECORRENTE DA NÃO PRODUÇÃO DE PROVAS.

AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

1. A jurisprudência desta Corte é assente que resta confi gurado o cerceamento

de defesa quando o Juiz, indeferindo a produção de provas requeridas, julga

antecipadamente a lide, considerando improcedente a pretensão veiculada

justamente porque a parte não comprovou as suas alegações.

2. Caracteriza-se infringente do direito à defesa a não produção de provas

quanto ao fato da posse, pelos fiadores, de bem que reputam excluído da

possibilidade de penhora, quando essa situação se mostra relevante para se

afastar a constrictibilidade, em face de se tratar de contrato locatício assinado e

renovado antes da alteração legislativa imposta na Lei 8.009/90 pela Lei 8.245/91.

3. Agravo Regimental desprovido.

(AgRg no Ag 956.535/RJ, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA

TURMA, julgado em 09/12/2008, DJe 16/02/2009)

Trago, também, inúmeras decisões monocráticas dos ministros da

Segunda Seção, envolvendo a questão ora em exame, sempre entendendo ser

possível a penhora do bem de família do fi ador em contrato de locação, senão

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

318

vejamos: AREsp 91.208/SP, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,

TERCEIRA TURMA, DJe 20/10/2014; AREsp 121.176/SP, Rel. Ministro

ANTÔNIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, DJe 06/10/2014;

REsp 1.364.512/SP, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA,

DJe 03/10/2014; REsp 1.336.791/RS, Rel. Ministro RICARDO VILLAS

BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, DJe 02/09/2014; Ag 1.383.594/

RS, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, DJe 01/08/2014;

AREsp 493.103/SP, Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA

TURMA, DJe 11/04/2014; AREsp 245.165/SP, Ministro RAUL ARAÚJO,

QUARTA TURMA, DJe 30/04/2014; AREsp 169.803/SP, Ministro PAULO

DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, Dje 15/10/2013.

7. Assim, o entendimento a ser fi rmado para efeitos do art. 543-C do

CPC, que ora encaminho, é o seguinte:

É legítima a penhora de apontado bem de família pertencente a f iador de

contrato de locação, ante o que dispõe o art. 3º, inciso VII, da Lei n. 8.009/1990.

8. No caso concreto, o aresto atacado, ao ter por inválida a penhora sobre

bem de família de fi ador de pacto locatício, contrariou o aludido inciso VII do

art. 3º da Lei n. 8.099/1990, introduzido pelo art. 82 da Lei n. 8.245/1991,

bem como divergiu do entendimento ora proposto e já pacifi cado nesta Corte

Superior de Justiça e também do Supremo Tribunal Federal, razão pela qual

deve ser reformado.

9. Ante o exposto, conheço do presente recurso especial e dou-lhe

provimento para fi rmar a legitimidade da penhora realizada sobre o bem de

família do recorrido.

É como voto.

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Súmula n. 550

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SÚMULA N. 550

A utilização de escore de crédito, método estatístico de avaliação de risco

que não constitui banco de dados, dispensa o consentimento do consumidor,

que terá o direito de solicitar esclarecimentos sobre as informações pessoais

valoradas e as fontes dos dados considerados no respectivo cálculo.

Referências:

CC/2002, art. 187.

CDC, art. 43.

CPC, art. 543-C.

Lei n. 12.414/2011, arts. 3º, § 3º, I e II, 5º, IV, 7º, I e 16.

Precedentes:

(*)REsp 1.419.697-RS (2ª S, 12.11.2014 – DJe 17.11.2014) –

acórdão publicado na íntegra

(*)REsp 1.457.199-RS (2ª S, 12.11.2014 – DJe 17.12.2014)

AgRg no AREsp 318.684-RS (3ª T, 02.12.2014 – DJe 11.12.2014)

REsp 1.268.478-RS (4ª T, 18.12.2014 – DJe 03.02.2015)

EDcl no REsp 1.419.691-RS (4ª T, 18.12.2014 – DJe 03.02.2015)

EDcl no REsp 1.395.509-RS (4ª T, 18.12.2014 – DJe 06.02.2015)

(*) Recursos repetitivos.

Segunda Seção, em 14.10.2015

DJe 19.10.2015

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RECURSO ESPECIAL N. 1.419.697-RS (2013/0386285-0)

Relator: Ministro Paulo de Tarso Sanseverino

Recorrente: Boa Vista Serviços S/A

Advogados: Flávio Pereira Lima e outro(s)

Gianmarco Costabeber e outro(s)

Recorrido: Anderson Guilherme Prado Soares

Advogados: Lisandro Gularte Moraes e outro(s)

Deivti Dimitrios Porto dos Santos

Fabiano Garcia Severgnini

Ivi Andréia Porto dos Santos

Interes.: Banco Central do Brasil - BACEN - “Amicus Curiae”

Advogado: Procuradoria-Geral do Banco Central

Interes.: Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas - “Amicus Curiae”

Advogados: Leandro Alvarenga Miranda e outro(s)

Nival Martins da Silva Júnior

Interes.: Serasa S/A - “Amicus Curiae”

Advogados: André Luiz Souza da Silveira

Sérgio Bermudes e outro(s)

Fabiano de Castro Robalinho Cavalcanti

Interes.: Federação Brasileira de Bancos FEBRABAN - “Amicus Curiae”

Advogado: Antonio Carlos de Toledo Negrao e outro(s)

Interes.: IDV - Instituto para Desenvolvimento do Varejo - “Amicus Curiae”

Advogado: Ariel Rocha Zvoziak

EMENTA

RE C U R S O ES PE C I A L REPRES EN TA T I VO D E

CONTROVÉRSIA (ART. 543-C DO CPC). TEMA 710/STJ.

DIREITO DO CONSUMIDOR. ARQUIVOS DE CRÉDITO.

SISTEMA “CREDIT SCORING”. COMPATIBILIDADE COM O

DIREITO BRASILEIRO. LIMITES. DANO MORAL.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

324

I – TESES:

1) O sistema “credit scoring” é um método desenvolvido para avaliação

do risco de concessão de crédito, a partir de modelos estatísticos, considerando

diversas variáveis, com atribuição de uma pontuação ao consumidor

avaliado (nota do risco de crédito).

2) Essa prática comercial é lícita, estando autorizada pelo art. 5º, IV, e

pelo art. 7º, I, da Lei n. 12.414/2011 (lei do cadastro positivo).

3) Na avaliação do risco de crédito, devem ser respeitados os limites

estabelecidos pelo sistema de proteção do consumidor no sentido da tutela da

privacidade e da máxima transparência nas relações negociais, conforme

previsão do CDC e da Lei n. 12.414/2011.

4) Apesar de desnecessário o consentimento do consumidor consultado,

devem ser a ele fornecidos esclarecimentos, caso solicitados, acerca das fontes

dos dados considerados (histórico de crédito), bem como as informações

pessoais valoradas.

5) O desrespeito aos limites legais na utilização do sistema “credit

scoring”, confi gurando abuso no exercício desse direito (art. 187 do CC),

pode ensejar a responsabilidade objetiva e solidária do fornecedor do serviço,

do responsável pelo banco de dados, da fonte e do consulente (art. 16 da

Lei n. 12.414/2011) pela ocorrência de danos morais nas hipóteses de

utilização de informações excessivas ou sensíveis (art. 3º, § 3º, I e II, da Lei

n. 12.414/2011), bem como nos casos de comprovada recusa indevida de

crédito pelo uso de dados incorretos ou desatualizados.

II – CASO CONCRETO:

1) Não conhecimento do agravo regimental e dos embargos declaratórios

interpostos no curso do processamento do presente recurso representativo de

controvérsia;

2) Inocorrência de violação ao art. 535, II, do CPC.

3) Não reconhecimento de ofensa ao art. 267, VI, e ao art. 333, II, do

CPC.

4) Acolhimento da alegação de inocorrência de dano moral “in re ipsa”.

5) Não reconhecimento pelas instâncias ordinárias da comprovação

de recusa efetiva do crédito ao consumidor recorrido, não sendo possível

afi rmar a ocorrência de dano moral na espécie.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 319-355, novembro 2017 325

6) Demanda indenizatória improcedente.

III – NÃO CONHECIMENTO DO AGRAVO REGIMENTAL

E DOS EMBARGOS DECLARATÓRIOS, E RECURSO

ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide

a Egrégia Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,

dar parcial provimento ao recurso especial para julgar improcedente a demanda

indenizatória, e não conhecer do agravo regimental e dos embargos declaratórios

interpostos no curso do processamento do presente recurso representativo de

controvérsia, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Para os efeitos do artigo 543-C do Código de Processo Civil foram

definidas as seguintes teses: “1) O sistema “credit scoring” é um método

desenvolvido para avaliação do risco de concessão de crédito, a partir de

modelos estatísticos, considerando diversas variáveis, com atribuição de uma

pontuação ao consumidor avaliado (nota do risco de crédito). 2) Essa prática

comercial é lícita, estando autorizada pelo art. 5º, IV, e pelo art. 7º, I, da Lei

n. 12.414/2011 (lei do cadastro positivo). 3) Na avaliação do risco de crédito,

devem ser respeitados os limites estabelecidos pelo sistema de proteção do

consumidor no sentido da tutela da privacidade e da máxima transparência

nas relações negociais, conforme previsão do CDC e da Lei n. 12.414/2011. 4)

Apesar de desnecessário o consentimento do consumidor consultado, devem

ser a ele fornecidos esclarecimentos, caso solicitados, acerca das fontes dos

dados considerados (histórico de crédito), bem como as informações pessoais

valoradas. 5) O desrespeito aos limites legais na utilização do sistema “credit

scoring”, confi gurando abuso no exercício desse direito (art. 187 do CC), pode

ensejar a responsabilidade objetiva e solidária do fornecedor do serviço, do

responsável pelo banco de dados, da fonte e do consulente (art. 16 da Lei n.

12.414/2011) pela ocorrência de danos morais nas hipóteses de utilização de

informações excessivas ou sensíveis (art. 3º, § 3º, I e II, da Lei n. 12.414/2011),

bem como nos casos de comprovada recusa indevida de crédito pelo uso de

dados incorretos ou desatualizados”.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

326

Os Srs. Ministros Maria Isabel Gallotti, Antonio Carlos Ferreira, Ricardo

Villas Bôas Cueva, Marco Buzzi, Marco Aurélio Bellizze, Moura Ribeiro, João

Otávio de Noronha e Raul Araújo votaram com o Sr. Ministro Relator.

Consignadas as presenças dos Drs. Flávio Pereira Lima, pela recorrente

Boa Vista Serviços S/A; Leonardo Borchardt, pelo recorrido Anderson

Guilherme Prado Soares; Erasto Villa Verde de Carvalho Filho, pelo amicus

curiae Banco Central do Brasil S/A; Leandro Alvarenga Miranda, pelo amicus

curiae Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e Sergio Bermudes, pelo

amicus curiae SERASA S/A.

Brasília (DF), 12 de novembro de 2014 (data de julgamento).

Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Relator

DJe 17.11.2014

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino: Trata-se de recurso especial

afetado ao rito do art. 543-C do Código de Processo Civil para a consolidação

do entendimento desta Corte sobre a “a natureza dos sistemas de scoring (SCPC

SCORE CRÉDITO) e a possibilidade de violação a princípios e regras do

Código de Defesa do Consumidor capaz de gerar indenização por dano moral”.

No caso dos autos, BOA VISTA SERVIÇOS S/A insurge-se contra

acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de Rio Grande do Sul, assim

ementado:

AGRAVO EM APELAÇÃO CÍVEL. APELAÇÕES CÍVEIS. RESPONSABILIDADE CIVIL.

AÇÃO COMINATÓRIA DE OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADA COM INDENIZATÓRIA

POR DANO MORAL. SCPC SCORE CRÉDITO. ILEGALIDADE DO SERVIÇO. DIREITO À

INFORMAÇÃO. VIOLAÇÃO. VALOR DA INDENIZAÇÃO. MAJORAÇÃO. HONORÁRIOS

ADVOCATÍCIOS. REDUÇÃO DO PERCENTUAL FIXADO NA SENTENÇA. É abusiva a

prática comercial de utilizar dados negativos dos consumidores, para lhe alcançar

uma pontuação, de forma a verificar a probabilidade de inadimplemento. Sem

dúvidas, este sistema não é um mero serviço ou ferramenta de apoio e proteção

aos fornecedores, como quer fazer crer a demandada, mas uma forma de burlar

direitos fundamentais, afrontando toda a sistemática protetiva do consumidor,

que inegavelmente se sobrepõe à proteção do crédito. Reconhecer a ilicitude deste

serviço não signifi ca uma forma de proteção aos mal pagadores. Estes já contam

com seu nome inscrito nos órgãos de proteção ao crédito, cujos dados podem ser

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 319-355, novembro 2017 327

utilizados livremente pelas empresas. O que não é possível é a utilização de registros

pessoais dos consumidores, para formar um novo sistema de probabilidade de

inadimplemento, sem informar claramente aos interessados e a toda sociedade

quais são exatamente as variáveis utilizadas e as razões pelas quais uma pessoa é

classifi cada como com “alta probabilidade de inadimplência” e outra com “baixa

probabilidade de inadimplência”. A falta de transparência e de clareza desta

“ferramenta” é incompatível com os mais comezinhos direitos do consumidor. Na

forma com que é utilizado o sistema, certamente gera os danos morais alegados na

inicial, pois o consumidor que necessita do crédito, negado em face de sua pontuação,

fi ca sem saber as razões pelas quais é considerado propenso ao inadimplemento,

restando frustrada legítima expectativa de ter acesso aos seus dados e a explicações

sobre a negativa do crédito. AGRAVO DESPROVIDO. (fl . 202)

No recurso especial, interposto com fundamento na alínea a do permissivo

constitucional, a recorrente apontou violação aos seguintes dispositivos:

(I) art. 535, II, do CPC, porquanto o acórdão recorrido teria deixado de

enfrentar pontos omissos relevantes para o deslinde da causa;

(II) art. 267, VI, do CPC, pois a recorrente seria parte ilegítima para

fi gurar no polo passivo da demanda, visto que (i) não possui qualquer ingerência

sobre a tomada de decisões nos estabelecimentos comerciais para os quais presta

serviços consultivos, não tendo infl uência sobre a concessão ou não de crédito

por determinadas empresas; (ii) o seu serviço consiste em compilar dados

cadastrais disponibilizados publicamente com cadastros de inadimplência para

que o comerciante decida se concede ou não crédito ao consumidor;

(III) art. 333, II, do CPC, pois (i) restou comprovado que não é

responsável pela negativação do crédito do consumidor, mas sim, o concedente

do crédito, destinatário dos seus serviços; (ii) o SCPC SCORE CRÉDITO

não possui qualquer relação com o cadastro positivo (consagrado pela Lei

12.414/2001), visto que não utiliza informações positivas dos consumidores;

(iii) adota parâmetros similares aos de seguradoras de veículos, fornecendo

dados estatísticos, baseados em critérios objetivos e de ciência de todos os

envolvidos; (iv) não é possível falar na ocorrência de dano “in re ipsa”.

Foram apresentadas contrarrazões às fl s. 261/271.

FERNANDO KLEBER DO CARMO interpôs agravo regimental a

fl s. 612/636 contra a decisão que ampliou a suspensão para todas as ações em

trâmite e que ainda não tenham recebido solução defi nitiva sobre tema objeto

do presente recurso.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

328

Na decisão de fls. 1.027/1.028, determinei a realização de audiência

pública, na data de 25/08/2014, com vistas a municiar a Corte com informações

indispensáveis ao deslinde da controvérsia.

A fl s. 1.132/1.134, proferi decisão tornando pública a lista de habilitados a

participar da audiência pública.

Indeferi o pedido de ingresso, na qualidade de amici curiae, do IBDConb

(fl s. 1.140/1.141) e da União (fl s. 1.187/1.188), em razão do momento processual

em que se encontrava o presente feito.

Não conheci, ainda, do agravo regimental interposto pelo IBDConb (fl s.

1.187/1.188)

A União apresentou embargos de declaração (fl s. 1.246/1.250), aduzindo

razões para o deferimento do seu ingresso na qualidade de amicus curiae, bem

como omissão da decisão com relação ao não cabimento de agravo regimental

contra a decisão que indefere o pedido de habilitação.

Foi realizada audiência pública, conforme notas taquigráficas de fls.

246/388, do expediente avulso.

Os habilitados juntaram documentos às fl s. 73/244 do expediente avulso.

O Ministério Público Federal opinou pelo desprovimento do recurso

especial da CDL e pelo provimento dos demais recursos especiais.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino (Relator): Eminentes colegas.

Consigno, inicialmente, que este é um daqueles processos em cujo julgamento

parte-se praticamente do “zero”, pois não tinha uma noção clara acerca do que

seria o chamado “credit scoring”, ou simplesmente “credscore”.

Após a afetação do primeiro recurso especial, em face da provocação

feita pelo NURER (Núcleo de Recursos Repetitivos e Repercussão Geral) do

Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, informando a existência de cerca de

oitenta mil recursos a respeito desse tema, passei a receber advogados das partes

interessadas em meu gabinete.

Nessas audiências, constatei que havia uma grande celeuma acerca da

própria natureza do sistema “score” e do regime jurídico aplicável por se tratar

de um tema novo no cenário jurídico.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 319-355, novembro 2017 329

Por isso, após determinar a subida de um segundo recurso especial (ação

coletiva de consumo movida pelo Ministério Público) sobre o mesmo tema,

decidi realizar a audiência pública no mês de agosto, cujas notas taquigráfi cas

foram anexadas aos autos eletrônicos.

Ressalto que a audiência pública foi extremamente importante na formação

do meu convencimento acerca das principais questões controvertidas a serem

dirimidas para solução da controvérsia posta no presente processo.

Nesse ponto, os meus agradecimentos a todos os participantes da audiência

pública e a todas as pessoas que colaboraram para a sua realização, especialmente

aos colegas e aos servidores desta Casa.

Passo ao exame, preliminarmente, das questões incidentais suscitadas no

curso da tramitação do presente recurso representantivo de controvérsia, tendo

optado por fazê-lo na data de hoje juntamente com o próprio recurso para

agilizar o seu julgamento.

Após, analisarei a questão central controvertida devolvida ao conhecimento

deste colegiado pelo recurso especial representantivo de controvérsia e,

posteriormente, será examinado individualmente o recurso especial interposto.

a) Agravo regimental interposto por Fernando Kleber do Carmo:

Inicio pelo agravo regimental interposto por Fernando Kleber do Carmo

(fl s. 612/636), o qual não é parte no presente processo e se irresigna contra a

decisão que ampliou a suspensão para todas as ações em trâmite e que ainda não

tenham recebido solução defi nitiva sobre tema objeto do presente recurso.

Não conheço do agravo regimental por se tratar de recurso interposto por

terceiro que não é parte no presente processo.

Ademais, ainda que fosse admitido, com o julgamento do presente caso

como recurso representativo de controvérsia, seguindo o rito do art. 543-C, o

agravo perde o seu objeto.

b) Embargos de declaração interpostos pela União (fl s. 1.246/1.250):

Quanto aos embargos declaratórios opostos pela União, tenho que não

devem ser conhecidos.

Com efeito, a União tomou conhecimento da afetação do presente recurso

em março de 2014, conforme determinado no despacho de fl . 806.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

330

Posteriormente, houve ampla divulgação da realização da audiência

pública, nos termos da decisão de fl s. 1.027/1.028, com prazo para habilitação

até o dia 05/08/2014.

Somente em 20/08/2014, a União apresentou pedido de ingresso no feito,

na qualidade de amicus curiae.

Portanto, entendi que, neste momento processual, não era hipótese de

deferir o pedido, e nem admitir eventual recurso da decisão que o indeferiu.

c) Pedido de desentranhamento de documentos:

Com relação ao pedido da recorrente (fls. 1.251/1.252) de

desentranhamento das petições da União e do Instituto Brasileiro de Defesa do

Consumidor Bancário - IBDConB, em razão do indeferimento do pedido de

ingresso como amici curiae, indefi ro o pedido.

As manifestações escritas fi cam anexadas aos autos como contribuição para

o exame pelo colegiado da temática controvertida.

d) Exame da controvérsia

O objeto central dos dois recursos especiais representativos de controvérsia

situa-se na avaliação da licitude do chamado “credit scoring” como sistema de

avaliação do risco de concessão de crédito.

Essa análise será desenvolvida nos seguintes tópicos:

a) conceito de “credit scoring”;

b) avaliação do risco de crédito nos contratos em geral;

c) regulamentação dos arquivos de consumo pelo CDC;

d) a Lei do Cadastro Positivo (Lei n. 12.414/2011);

e) licitude do sistema “credit scoring”;

f ) limites: privacidade e transparência;

g) dano moral.

1) Conceito de “credit scoring”

O chamado “credit scoring”, ou simplesmente “credscore”, é um sistema de

pontuação do risco de concessão de crédito a determinado consumidor.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 319-355, novembro 2017 331

Trata-se de um método desenvolvido para avaliação do risco de concessão

de crédito, a partir de modelos estatísticos, considerando diversas variáveis

de decisão, com atribuição de uma nota ao consumidor avaliado conforme a

natureza da operação a ser realizada.

Aproveitando-se da facilidade contemporânea de acesso aos bancos de

dados disponíveis no mercado via “internet”, algumas empresas desenvolveram

fórmulas matemáticas para avaliação do risco de crédito, a partir de modelos

estatísticos, considerando diversas variáveis de decisão, atribuindo uma nota ao

consumidor.

As “variáveis de decisão” são fatores que a experiência empresarial denotou

como relevantes para avaliação do risco de retorno do crédito concedido. Cada

uma dessas variáveis recebe uma determinada pontuação, atribuída a partir de

cálculos estatísticos, formando a nota fi nal.

Consideram-se informações acerca do adimplemento das obrigações

(histórico de crédito), assim como dados pessoais do consumidor avaliado

(idade, sexo, estado civil, profi ssão, renda, número de dependentes, endereço).

Por exemplo, no presente processo (Recurso Especial n. 1.419.697/RS), foi

realizada a análise do risco de crédito da parte autora, ora recorrida (fl . 21).

Esclareceu-se, inicialmente, a metodologia de cálculo do “SCPC Score

Crédito”, dizendo-se o seguinte:

O SCPC Score Crédito agrupa os consumidores em faixas de risco, tendo como

parâmetro o comportamento médio esperado em termos de inadimplência baseado

no histórico de informações de mercado compartilhadas em nossas bases. A

pontuação do Score varia de 0 a 1.000 e indica menor risco para a concessão de

crédito a medida que se aproxima de 1.000.

Em seguida, atribuiu-se ao consumidor uma pontuação de 553, prestando-

se, ainda, informações de que não constaria nenhum registro de débito, protesto,

cheque ou ação civil para o documento avaliado.

A polêmica central do presente processo, devolvida ao conhecimento desta

Corte, situa-se exatamente na verifi cação da licitude desse método de avaliação

do risco de crédito.

2) Avaliação do risco de crédito nos contratos em geral

Relembre-se que, até hoje, antes da celebração dos contratos tradicionais

(v.g. compra e venda de um imóvel), em um período pré-contratual, é realizada

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

332

pelos interessados uma avaliação recíproca da idoneidade da outra parte e de sua

capacidade fi nanceira de honrar o negócio jurídico a ser celebrado.

Essa avaliação do risco de celebração do contrato envolve um conhecimento

da pessoa do outro contratante, do objeto do contrato e do próprio conteúdo do

contrato a ser celebrado, fazendo-se, assim, uma análise recíproca do risco do

negócio a ser celebrado (risco do crédito).

Nos contratos de consumo, realizados em uma sociedade marcada pela

massifi cação e pelo anonimato, os métodos tradicionais de avaliação do crédito

passaram a se mostrar inadequados.

Recorde-se que, antes da disseminação da internet como sistema de

comunicação, previamente à celebração de um contrato de compra e venda

de um eletrodoméstico em uma loja, era preenchida uma fi cha cadastral com

pedido de concessão de crédito, com a indicação das informações comerciais do

interessado para avaliação de seu risco de crédito diretamente pelo lojista.

Essa fi cha cadastral era arquivada pela própria empresa, formando o seu

cadastro de clientes.

No comércio, passou a ser sentida a necessidade de um maior dinamismo

na troca dessas informações arquivadas nos cadastros de cada lojista.

Em 1955, surge, em Porto Alegre, organizado pela Câmara de Dirigentes

Lojistas (CDL), o primeiro banco de dados para integração dessas informações,

sendo denominado de Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) do Brasil.

Posteriormente, foram criados em outros Municípios brasileiros, atingindo-se o

expressivo número de 1.600 CDLs instaladas em todo o Brasil.

Com a facilidade de conexão pela internet, formou-se o SPC-Brasil, em

2002, administrando um imenso banco de dados com alguns milhões de registros,

transformando-se em Rede Nacional de Informações Comerciais (RENIC).

No setor privado, algumas empresas passaram a explorar economicamente

o serviço de proteção ao crédito, com destaque para a Serasa Experian, com

cerca de 50 anos de atuação no mercado brasileiro.

No setor público, o Banco Central do Brasil possui bancos de dados de

proteção ao crédito, incluindo o CCF (Cadastro de Emitentes de Cheques), o

CADIN (Cadastro Informativo dos Créditos de Órgãos e Entidade Federais

não Quitados) e o CRC (Cadastro de Risco de Crédito). Enquanto os dois

primeiros cadastros trabalham com informações negativas, o último atua

também como um cadastro positivo de crédito.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 319-355, novembro 2017 333

Em função disso, em 1990, quando elaborado o Código de Defesa e

Proteção do Consumidor (CDC), uma das preocupações foi com o controle dos

arquivos de consumo.

3) Regulamentação dos arquivos de consumo pelo CDC

Os cadastros de devedores e os bancos de dados de proteção ao crédito,

como modalidades de arquivos de consumo, receberam uma atenção especial do

legislador do CDC, tendo sido devidamente regulamentados pelo art. 43 da Lei

8.078/90 (CDC), nos seguintes termos:

Art. 43. O consumidor, sem prejuízo do disposto no art. 86, terá acesso às

informações existentes em cadastros, fi chas, registros e dados pessoais e de consumo

arquivados sobre ele, bem como sobre as suas respectivas fontes.

§ 1º Os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos, claros,

verdadeiros e em linguagem de fácil compreensão, não podendo conter informações

negativas referentes a período superior a cinco anos.

§ 2º A abertura de cadastro, fi cha, registro e dados pessoais e de consumo deverá

ser comunicada por escrito ao consumidor, quando não solicitada por ele.

§ 3º O consumidor, sempre que encontrar inexatidão nos seus dados e cadastros,

poderá exigir sua imediata correção, devendo o arquivista, no prazo de cinco dias

úteis, comunicar a alteração aos eventuais destinatários das informações incorretas.

§ 4º Os bancos de dados e cadastros relativos a consumidores, os serviços de

proteção ao crédito e congêneres são considerados entidades de caráter público.

§ 5º Consumada a prescrição relativa à cobrança de débitos do consumidor,

não serão fornecidas, pelos respectivos Sistemas de Proteção ao Crédito, quaisquer

informações que possam impedir ou dificultar novo acesso ao crédito junto aos

fornecedores.

Ressalte-se que o CDC não restringiu sua regulamentação aos cadastros

ou bancos de dados de informações negativas (arquivos negativos), embora

tenham-se tornado os mais comuns no mercado até poucos anos atrás (SPC,

Serasa etc.).

A regulamentação legal englobou, como modalidades de arquivos de

consumo, os cadastros de devedores e os bancos de dados de proteção ao crédito,

apesar de prestarem serviços diferentes, conforme lembra Herman Benjamin, ao

fazer a seguinte distinção:

Partilhando afi nidades com os bancos de dados, os cadastros de consumidores

deles se apartam em pelo menos três pontos.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

334

Primeiro, a permanência das informações é acessória, já que o registro não é um

fi m em si mesmo, estando a manutenção dos dados vinculada ao interesse comercial

atual ou futuro, mas sempre direto e particularizado, do arquivista em relação ao

cliente cadastrado.

Segundo, tampouco funcionam os cadastros pigmentados pela aleatoriedade

na coleta das informações. Exatamente porque o universo subjetivo que move o

arquivista coincide com aquele da sua própria atuação empresarial (arquivista

e fornecedor não são agentes econômicos diversos, confundindo-se na mesma

pessoa), os ‘cadastráveis’ tendem a ser delimitados, isto é, normalmente associados

a um grupo pequeno de consumidores, efetivos ou potenciais. Em oposição à prática

dos bancos de dados, é comum, uma vez que o consumidor deixe de transacionar

com a empresa, a exclusão de seu nome do cadastro mantido.

Por derradeiro, os cadastros orientam-se pela transmissibilidade intrínseca ou

interna, circulando e benefi ciando somente ou preponderantemente o arquivista,

que, como há pouco notamos, não é um terceiro, mas o fornecedor mesmo, sujeito de

direito de relação jurídica de consumo. (BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos

et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor Comentado pelos Autores do

Anteprojeto. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007, p. 432).

O microssistema brasileiro de proteção do consumidor inseriu-se na

preocupação mundial com a proteção da privacidade do consumidor ensejada

pelo desenvolvimento da informática, embora, no início da década de noventa, a

internet ainda fosse incipiente no Brasil.

Herman Benjamin, um dos autores do Anteprojeto do CDC na Comissão

presidida pela Professora Ada Pellegrini Grinover, lembra que uma das fontes

de inspiração foi a Fair Credit Reporting Act (1970), dos Estados Unidos,

cuja exposição de motivos consignava que “os serviços de proteção ao crédito

vem assumindo papel vital no reunir e avaliar o crédito de consumidores e

outras informações sobre eles”, mas concluindo no sentido de que “há uma

necessidade de assegurar que esses serviços de proteção ao crédito exercitem

suas graves responsabilidades com equidade, imparcialidade e respeito pelo

direito à privacidade do consumidor” (BENJAMIN, Antônio Herman de

Vasconcellos et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor Comentado pelos

Autores do Anteprojeto. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998, p. 328).

Com efeito, a Fair Credit Reporting Act (1970) passou a regular a atuação

dos chamados credit bureaus, que estavam no mercado norte-americano desde

o fi nal do Século XIX, atendendo a inúmeras reclamações acerca dos excessos

cometidos na coleta dos dados: informações excessivamente subjetivas (v.g.

estilo de vida), incompletas, inexatas e, até mesmo, obtidas de forma ilícita.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 319-355, novembro 2017 335

Essa lei sofreu modifi cações em 1996 pela Consumer Reporting Reform Act

e, em 2003, pela Fair and Accurate Credit Transactions Act.

Na Europa, após anos de debates, foi editada pela União Européia a

Diretiva 46/95, de 24/10/1995, estatuindo o modelo europeu de proteção dos

dados pessoais e consagrando a proteção de dados pessoais como integrante dos

direitos fundamentais do cidadão.

A característica do sistema europeu, a partir da edição da Diretiva 46/95,

é uma regulamentação sistematizada e coordenada, disciplinando os mais

variados bancos de dados públicos e privados, inclusive os referentes à proteção

ao crédito. Além de uma autoridade autônoma, vinculada a União Européia,

com poderes de fiscalização e sanção, cada Estado-membro deve também

possuir autoridades responsáveis pela fi scalização dos bancos de dados em geral.

Embora os sistemas europeu e norte-americano sejam diferentes,

apresentam pontos em comum, lembrados por Leonardo Roscoe Bessa

(“Cadastro Positivo: comentários à Lei 12.414/2011. São Paulo: Editora Revista

dos Tribunais, 2011, p. 59):

Apesar dessas diferenças estruturais, é possível identifi car parâmetros de consenso

na defi nição de alguns direitos e limites no tratamento de dados pessoais. Ambos os

modelos estabelecem o direito de acesso às informações pessoais, a possibilidade de

se exigir retifi cação dos dados inexatos, a ideia de que os dados devem ser colhidos e

utilizados para fi nalidades legítimas e previamente identifi cadas, a exigência de que

os dados devem ser verdadeiros, atualizados, objetivos, relevantes, não excessivos.

Acrescentem-se, ainda, o princípio de que o tratamento de dados devem observar

limites temporais, bem como o princípio da segurança, vale dizer, devem ser adotadas

medidas de segurança para impedir o acesso não autorizado aos dados.

...

Sem opção explícita por qualquer modelo, os parâmetros indicados foram

absorvidos pelo legislador brasileiro, ao menos no que concerne ao tratamento de

informações pelos bancos de dados de proteção ao crédito, cuja regulamentação se

dá a partir de diálogo entre o Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90) e a Lei

12.414/2011.

Esse é o contexto em que deve ser situada a regulamentação procedida, em

1990, pelo CDC e, em 2011, pela Lei n. 12.414/2011, denominada de lei do

cadastro positivo.

Ressalte-se que o CDC, em seu art. 43, bem como a lei do cadastro

positivo não proíbem os arquivos de consumo (cadastros e bancos de dados),

estabelecendo apenas normas para o seu controle.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

336

Aliás, os bancos de dados e os cadastros negativos receberam pleno

reconhecimento pela jurisprudência do STJ, desde o seu início, merecendo

lembrança a referência feita pelo Ministro Ruy Rosado de Aguiar Júnior no

julgamento do Recurso Especial n. 22.337/RS, “É evidente o benefício que dele

decorre em favor da agilidade e da segurança das operações comerciais, assim

como não se pode negar ao vendedor o direito de informar-se sobre o crédito do

seu cliente na praça, e de repartir com os demais os dados de que dele dispõe”.

(p. 25)

Naturalmente, conferindo-se efetividade ao CDC, consolidou-se a

jurisprudência do STJ no sentido da necessidade do controle, inclusive com a

edição de várias súmulas acerca do tema, relembrando-se exemplifi cativamente

alguns enunciados sumulares:

Súmula 323/STJ: A inscrição do nome do devedor pode ser mantida nos serviços

de proteção ao crédito até o prazo máximo de cinco anos, independentemente da

prescrição da execução.

Súmula 359/STJ: Cabe ao órgão mantenedor do Cadastro de Proteção ao Crédito

a notifi cação do devedor antes de proceder à inscrição.

Súmula 385/STJ: Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não

cabe indenização por dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado

o direito ao cancelamento.

Nos últimos anos, esses cadastros de registros de informações negativas

passaram a ser questionados pelo mercado de consumo, pois, sinalizando apenas

o mau pagador, não valorizam o bom consumidor, que cumpre corretamente as

suas obrigações.

Assim, após vários anos de discussão, foi editada a Lei n. 12.414/2011,

conhecida por lei do cadastro positivo.

4) A Lei do Cadastro Positivo (Lei n. 12.414/2011)

A Lei n. 12.414/2011 foi antecedida da Medida Provisória n. 518,

de 30/12/2010, sendo denominada de lei do cadastro positivo por estatuir

normas voltadas à “disciplina e consulta a bancos de dados com informações de

adimplemento, de pessoas naturais ou de pessoas jurídicas, para a formação de

histórico de crédito”.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 319-355, novembro 2017 337

Na exposição de motivos da Medida Provisória, explicitou-se as seguintes

razões para a sua edição:

2. Inicialmente, deve-se destacar que a formação do histórico de crédito de pessoas

naturais e jurídicas permite o recebimento e o manuseio pelos bancos de dados não

somente de informações de inadimplemento, hoje já permitido e disciplinado pelo

Código de Defesa do Consumidor, mas também de adimplemento (informações

“positivas”), que não apresentava um marco legal claro para sua utilização. Com a

coleta e disseminação de informações sobre adimplemento, as pessoas poderão se

benefi ciar do registro de pagamentos em dia de suas obrigações, de modo a permitir

a construção de seu histórico de crédito. Dessa forma, o mercado de crédito e de

varejo poderá diferenciar de forma mais efi ciente os bons e os maus pagadores, com

a consequente redução do risco de crédito por operação, que permitirá a redução dos

custos vinculados à expansão do crédito de uma forma geral.

3. Importa destacar, que a criação do histórico de crédito será particularmente

benéfi ca para os bons pagadores de baixa renda, que em geral são percebidos pelo

mercado como de alto risco, e, por isso, pagam as mais altas taxas de juros.

4. Ao disciplinar a formação do histórico de crédito, esta medida provisória

estabeleceu regras claras sobre as garantias e os direitos dos cidadãos em relação às

suas informações pessoais, de modo a permitir a adequada proteção da privacidade

do cidadão e possibilitar o tratamento de dados pessoais sob um patamar de licitude

e boa-fé. Os dados pessoais merecem uma tutela importante pelo ordenamento

jurídico, pois eles representam a própria pessoa e o seu tratamento influencia

diretamente a sua vida, modelando e vinculando a sua privacidade e também as

suas oportunidades, escolhas e possibilidades. A sua utilização, portanto, deve ter

como fundamento a autodeterminação de cada pessoa em relação à utilização de

suas próprias informações, permitindo que o cidadão possa escolher livremente a sua

entrada no cadastro, bem como o seu cancelamento.

5. Quanto aos dispositivos desta medida provisória, deve-se destacar que o art.

1º define o escopo da medida e esclarece que os bancos de dados instituídos ou

mantidos por pessoas jurídicas de direito público interno, como é o caso do Sistema

de Informações de Crédito - SCR, do Banco Central do Brasil - BCB, serão regidos por

legislação específi ca.

6. O art. 2º conceitua os diversos elos que proporcionarão a construção dos bancos

de dados com informações de adimplemento, delineia o entendimento sobre o que

seria anotação e estabelece a amplitude das informações que poderiam vir a compor

o histórico de crédito.

7. Com vistas a eliminar dúvidas quanto à legalidade do fornecimento

de informação para composição dos bancos de dados com informações de

adimplemento, o caput do art. 3º e o § 2º do art. 4º autorizam, respectivamente,

os bancos de dados a armazenarem tais informações e as fontes a fornecê-las,

desde que respeitadas as condições estabelecidas nesta medida provisória e na sua

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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regulamentação. Já o caput do art. 4º condiciona a abertura do cadastro à prévia

autorização do potencial cadastrado.

8. Buscando resguardar a privacidade do cadastrado e o uso indevido das

informações, o § 1º do art. 3º estipula que as informações armazenadas devem

ser objetivas, claras, verdadeiras e de fácil compreensão, e devem se restringir

àquelas que sejam entendidas como necessárias para avaliar a situação econômica

do cadastrado. Neste mesmo entendimento, o § 3º do art. 3º disciplina que as

informações tidas como excessivas ou sensíveis estão proibidas de serem anotadas.

9. O § 1º do art. 4º disciplina que, após a abertura do cadastro, a anotação de

informação de adimplemento em bancos de dados independe de autorização e de

comunicação ao cadastrado. Destaca-se que este é um ponto de grande importância

para a viabilidade da construção dos bancos de dados com histórico de crédito, pois

a exigência de autorização ou de comunicação para todas as anotações implicaria

assunção de custos operacionais e de logística elevados por parte das empresas

formadoras dos bancos de dados.

10. O art. 5º explicita ao cadastrado os seus direitos, como o de:

(i) obter o cancelamento do cadastro quando solicitado;

(ii) acessar gratuitamente, a qualquer tempo, às informações sobre ele existentes

nos bancos de dados, inclusive o seu histórico, cabendo ao gestor destes manter

sistemas seguros, por meio eletrônico ou telefone, de consulta para informar a

existência ou não de cadastro de informação de adimplemento de um respectivo

cadastrado aos consulentes;

(iii) solicitar impugnação de qualquer informação sobre ele erroneamente anotada

em banco de dados e ter sua imediata correção ou cancelamento e comunicação aos

bancos de dados para os quais houve compartilhamento da informação;

(iv) conhecer os principais elementos e critérios considerados para a análise de

risco, resguardado o segredo empresarial;

(v) ser informado previamente sobre o armazenamento, a identidade do gestor do

banco de dados, o objetivo do tratamento dos dados pessoais e os destinatários dos

dados em caso de compartilhamento;

(vi) solicitar a revisão de decisão realizada exclusivamente por meios

automatizados; e

(vii) ter os seus dados pessoais utilizados somente de acordo com a fi nalidade para

a qual eles foram coletados.

11. Reforçando as garantias dadas ao cadastrado, o art. 6º estabelece obrigações

aos gestores dos bancos de dados no fornecimento de informações àquele, com

destaque para a cópia de texto contendo sumário dos seus direitos, defi nidos em lei

ou em normas infralegais pertinentes à sua relação com bancos de dados, bem como

a lista dos órgãos governamentais aos quais poderá ele recorrer, caso considere que

esses direitos foram infringidos.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 319-355, novembro 2017 339

12. O art. 7º disciplina que as informações constantes do banco de dados somente

poderão ser utilizadas para realização de análise de risco de crédito do cadastrado e

para subsidiar a concessão de crédito, a realização de venda a prazo ou outras

transações comerciais e empresariais que impliquem risco fi nanceiro ao consulente.

Tais restrições asseguram a não utilização das informações para realização de

outros fi ns que não os disciplinados na norma, como, por exemplo, telemarketing.

13. Para estimular a disseminação e a maior disponibilização de informações no

conjunto de banco de dados, o art. 8º permite, desde que expressamente autorizado

pelo cadastrado, o compartilhamento e a troca de informações entre os mesmos,

bem como atribui a devida responsabilidade aos gestores dos bancos de dados,

sejam eles quem anotou originalmente a informação ou não.

14. Para evitar danos à competição no sistema de bancos de dados, o art. 9º veda

a exigência de exclusividade no fornecimento de informações ao banco de dados

por uma determinada fonte.

15. O art. 10 permite a inclusão de informação sobre o cumprimento das

obrigações financeiras relativas aos serviços de prestação continuada de água,

esgoto, eletricidade, gás e telecomunicações, vedando-se, entretanto, a anotação de

informação de serviço de telefonia móvel. Importa destacar que a possibilidade de

registro de tais informações é de suma importância para as pessoas de menor poder

aquisitivo, que têm enorme difi culdade de acesso a linhas de crédito, seja pela falta

de comprovação de renda regular, seja pela inexistência de bens para oferecimento

como garantia. A exclusão das informações sobre telefonia móvel se deve a dois

fatores: em primeiro lugar, a relação entre os consumidores e as operadoras é

muito instável, havendo comumente a troca de operadora, o que será reforçado

com o advento da portabilidade do número; em segundo lugar, a grande maioria

dos consumidores se utiliza da modalidade pré-paga, que para fi ns de formação

do histórico de crédito não tem nenhuma utilidade, pois trata-se de uma compra a

vista.

16. Dado o volume de informações já detidas pelas instituições financeiras e

a importância destas para a construção dos bancos de dados, estipula-se no art.

11 que as mesmas devem fornecer aos bancos de dados indicados as informações

relativas ao seu cliente, quando por ele solicitado. Desta forma, respeita-se o sigilo

bancário das informações, que só podem ser repassada com autorização do titular

das mesmas, e assegura-se a possibilidade de acesso dos bancos de dados a um

amplo conjunto de dados já constituído e de grande qualidade.

17. Face a necessidade de maior detalhamento dos temas disciplinados

nesta medida provisória, o art. 12 atribui ao Poder Executivo competência para

regulamentá-la, em especial quanto ao uso, guarda, escopo e compartilhamento

das informações recebidas por bancos de dados, e quanto ao disposto no art. 5º.

18. O art. 13 estipula o prazo de quinze anos para manutenção de informações

de adimplemento em banco de dados, o art. 14 disciplina o conjunto de bancos de

dados que pode ser acessado pelos consulentes e o art. 15 dispõe que o banco de

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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dados, a fonte e o consulente são responsáveis objetiva e solidariamente pelos danos

materiais e morais que causarem ao cadastrado.

19. Por fim, o art. 16 esclarece que nas situações em que o cadastrado for

consumidor, caracterizado conforme o Código de Defesa do Consumidor, aplicam-

se as sanções e penas previstas no Código e abre-se a possibilidade de os órgãos de

proteção e defesa do consumidor criados pela União, pelos Estados, pelo Distrito

Federal e pelos Municípios, aplicarem medidas corretivas para determinar a

obrigação de fazer aos bancos de dados.

20. Em suma, com este conjunto de medidas, espera-se dotar o País de um

arcabouço legal que incentive a troca lícita de informações pertinentes ao crédito

e as transações comerciais, reduzindo o problema da assimetria de informações e

proporcionando novos meios para redução das taxas de juros e para ampliação das

relações comerciais, com a adequada proteção da privacidade das pessoas.

Esses são os motivos, Excelentíssimo Senhor Presidente da República, pelos quais

submetemos à elevada consideração de Vossa Excelência o anexo projeto de medida

provisória.

Fica claro, assim, que uma das principais preocupações da Lei n.

12.414/2011 é a tutela do consumidor em vários aspectos relevantes, inclusive a

proteção da sua honra e privacidade.

O mercado adaptou-se ao novo estatuto legal, servindo de exemplo a

“Central de Risco do Banco Central”, que passou a se denominar “Sistema de

Informações de Crédito do Banco Central” (SCR).

Nesse contexto normativo, deve ser avaliada a licitude do sistema “credit

scoring”.

5) Licitude do sistema “credit scoring” e seus limites

A avaliação da licitude do sistema “credit scoring” deve partir da premissa

de que não se trata de um cadastro ou banco de dados de consumidores, mas

de uma metodologia de cálculo do risco de crédito, utilizando-se de modelos

estatísticos e dos dados existentes no mercado acessíveis via “internet”.

Constitui, em síntese, uma fórmula matemática ou uma ferramenta

estatística para avaliação do risco de concessão do crédito.

Sua origem é um trabalho elaborado por David Durand, em 1941,

denominado “Risk Elements in Consumer Installment Financing”, em que

foi desenvolvida a técnica estatística de análise discriminante para distinguir os

bons e os maus empréstimos, atribuindo-se pesos diferentes para cada uma das

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variáveis escolhidas para execução do seu método, que foi denominado “credit

scoring” (AMORIM NETO, Antônio Alves, e CARMONA, Charles Ulisses

de Montreuil. Modelagem do risco de crédito: um estudo do segmento de pessoas físicas

em um banco de varejo. Programa de Pós-Graduação da UFPE. REAd, ed. 40,

vol. 10, n. 4, jul-ago 2004, p. 4).

A partir da década de sessenta, esse sistema de pontuação de crédito passou

a ser amplamente utilizado nos EUA nas operações de crédito ao consumidor,

especialmente nas concessões de cartão de crédito.

No Brasil, a preocupação com a administração do risco de crédito

incrementa-se após 1994, em face do controle da infl ação ensejado pelo Plano

Real e da ampliação do crédito concedido para pessoas físicas.

A Lei n. 12.414/2011 faz menção expressa aos sistemas de análise do risco

de crédito em pelo menos dois momentos:

Art. 5º - São direitos do consumidor cadastrado:

...

IV - conhecer os principais elementos e critérios considerados para a análise do

risco de crédito, resguardado o segredo empresarial”).

Art. 7º - As informações disponibilizadas nos bancos de dados somente poderão

ser utilizadas para:

I - realização de análise de risco de crédito do cadastrado;

Assim, essa nova prática comercial é lícita, mas deve respeito aos princípios

basilares do sistema jurídico brasileiro de proteção do consumidor, desenvolvido

no sentido da tutela da privacidade e da exigência da máxima transparência nas

relações negociais, partindo do Código Civil, passando pelo CDC e chegando-

se a Lei n. 12.414/2011.

6) Privacidade:

No aspecto relativo à privacidade, devem ser respeitados os direitos

fundamentais previstos no art. 5º, X, da Constituição Federal (“X – são invioláveis

a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito

de indenização pelo dano material e moral decorrente de sua violação”), com

especial destaque para os direitos de personalidade regulamentados pelo Código

Civil de 2002 (artigos 11 a 21), estatuindo-se o seguinte:

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342

Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade

são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação

voluntária.

Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade,

e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.

Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do

interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato

contrário a esta norma.

Adriano de Cupis, em sua obra clássica denominada “Os Direitos

da Personalidade”, anota que “a personalidade, se não se identifi ca com os

direitos e com as obrigações jurídicas, constitui precondição deles, ou seja, o

seu fundamento e pressuposto”, acrescendo que os direitos da personalidade

são aqueles destinados a dar conteúdo à personalidade humana, como a vida, a

integridade física, a liberdade, a honra, a vida privada (DE CUPIS, Adriano. Os

Direitos da Personalidade. Campinas: Romana, 200, pp. 21 e 23).

Por serem direitos inerentes à própria personalidade, apresentam como

características a instransmissibilidade, a indisponibilidade e a irrenunciabilidade,

consoante expresso no art. 11 do CC/2002. Constituem “direitos essenciais”,

sem os quais a personalidade restaria uma suscetibilidade completamente

irrealizada e sem os quais os demais direitos subjetivos perderiam interesse

para o indivíduo, tendo sido qualifi cados como direitos inatos ou naturais pela

Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789.

Modernamente, os direitos da personalidade passaram a ser regulados,

de forma crescente, pelas principais codifi cações civis europeias, com destaque

para os Códigos Civis da Alemanha (§ 12), Itália (arts. 5º a 10) e Portugal,

sendo que o CC português de 1966, em seus artigos 70 a 81, conferiu-lhes uma

ampla proteção, iniciando-se por uma cláusula geral de tutela dos direitos da

personalidade, verbis:

Art. 70º (tutela geral da personalidade): “1. A lei protege os indíviduos contra

qualquer ofensa ilícita ou ameaça de ofensa à sua personalidade física ou moral. 2.

Independentemente da responsabilidade civil a que haja lugar, a pessoa ameaçada

ou ofendida pode requerer as providências adequadas às circunstâncias do caso,

com o fi m de evitar a consumação da ameaça ou atenuar os efeitos da ofensa já

cometida.”

Não tendo sido sufi ciente essa regulamentação no seio das codifi cações

civis para a sua efetiva proteção, como evidenciaram as atrocidades cometidas

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 319-355, novembro 2017 343

ao longo da Segunda Guerra Mundial, foram elevados para o patamar

constitucional, passando a ser arrolados entre os direitos fundamentais nas

principais constituições contemporâneas, com especial destaque para Itália

(1947) e Alemanha (1949), que abrem suas cartas constitucionais com a

exigência de respeito à dignidade da pessoa.

Paulo Luiz Netto Lôbo (“Danos morais e direito da personalidade”.

Revista Trimestral de Direito Civil, Rio de Janeiro: Padma, v. 2, n. 6, abr./jun.

2001) anota que não devem ser confundidos direitos fundamentais e direitos

da personalidade, pois nem todos os direitos fundamentais são direitos da

personalidade, como ocorre com as garantias constitucionais, que não são inatas

à pessoa, mas conquistas externas (p. 85).

Capelo de Sousa (CAPELO DE SOUSA, Rabindrath V. A. O Direito

Geral de Personalidade. Coimbra: Coimbra Editora, 2011, p. 581), analisando

os direitos de personalidade e os direitos fundamentais, observa que:

“A afinidade emerge da parcial sobreposição ao nível da pessoa humana de

dois planos jurídico-gnoseológicos: o do direito civil, onde se fundam os direitos da

personalidade, e o do direito constitucional, donde irradiam os direitos fundamentais”.

E, após distingui-los, conclui:

“Logo se concluirá que, embora muitos e diversos direitos de personalidade sejam

também direitos fundamentais, nem todos os direitos de personalidade constituem

direitos fundamentais e, ao invés, nem todos os direitos fundamentais são direitos de

personalidade.”

No Brasil, a proteção da honra e da privacidade constituem tanto direitos

fundamentais contemplados no art. 5º, X, da Constituição Federal, como

direitos da personalidade, regulados pelos artigos 11 a 21 do Código Civil.

A preocupação com a proteção da privacidade começa nos EUA o fi nal do

Século XIX, obtendo uma sistematização na Alemanha ao longo do Século XX.

Em 1890, em Boston, Warren e Brandeis passam a discutir the right to

be let alone (o direito de ser deixado só ou em paz), em seu artigo Th e Right to

Privacy (WEINGARTNER NETO, Jaime. Honra, privacidade e Liberdade de

Imprensa: uma pauta de justifi cação penal. Porto Alegre: Livraria do Advogado,

2002, p. 69.)

A motivação foram os mexericos da imprensa acerca do salão de festas da

esposa de Samuel Warren, elegante dama da sociedade, fi lha de senador e esposa

de advogado renomado. Em 1902, a Corte local rejeitou, por maioria de quatro

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votos a três, a alegação de violação à intimidade. Os fundamentos essenciais para

o reconhecimento da privacy são a I Amendment (liberdade de expressão e de

imprensa), IV Amendment (proteção das pessoas, domicilio e correspondência

contra não razoáveis buscas e intervenções) e VI Amendment (devido processo

legal).

Apesar da derrota judicial, a tese teve boa recepção pela opinião pública

americana e a privacy foi acolhida, posteriormente, pelo Restatment (First) of

Torts, em 1939, elaborado pelo American Law Institute (Seção 867 – direito à

vida privada).

Na Alemanha, a jurisprudência, especialmente do Tribunal Constitucional

Federal, ao longo do Século XX, a partir da Lei Fundamental de Bonn (art. 2.1),

desenvolveu a noção de privacidade e intimidade como uma faceta do direito

geral de personalidade, tendo como seu fundamento último a própria dignidade

da pessoa humana.

Protege-se a liberdade “que assiste a cada pessoa de decidir quem e em que

termos pode tomar conhecimento e ter acesso a espaços, eventos ou vivências

pertinentes à respectiva área de reserva” (ANDRADE, Manoel da Costa.

Liberdade de Imprensa e Inviolabilidade Pessoal: uma perspectiva jurídico-criminal.

Coimbra: Coimbra Editora, 1996).

Tradicionalmente, na jurisprudência alemã, a proteção da vida privada

era analisada na perspectiva de três graus ou esferas distintas: intimidade,

privacidade e publicidade.

A publicidade é a área de atuação pública de cada pessoa, exposta ao

interesse público em geral, e que, consequentemente, apresenta livre atuação

pelos meios de comunicação em geral.

A privacidade é uma esfera intermediária, cuja proteção é inversamente

proporcional ao estatuto social da pessoa; assim, quanto mais pública a pessoa,

menor o grau de proteção.

A intimidade é o último e inviolável reduto da liberdade pessoal, que não

pode ser devassada por mais pública que seja a pessoa.

Esses graus de proteção da vida privada serviram de referência para a

doutrina e para a jurisprudência alemã estabelecerem os limites da liberdade de

imprensa, embora recentemente esses conceitos tenham sido revisitados.

Note-se que honra e privacidade, abrangendo esta a vida privada e a

intimidade, são bens jurídicos distintos (ANDRADE, Manoel da Costa.

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RSSTJ, a. 9, (45): 319-355, novembro 2017 345

Liberdade de Imprensa e Inviolabilidade Pessoal: uma perspectiva jurídico-criminal.

Coimbra: Coimbra Editora, 1996, p. 105).

Nas ofensas contra a honra, há a imputação de fatos inverídicos ou não

verdadeiros contra a pessoa ofendida (calunia, difamação, injuria).

Nas ofensas contra a privacidade ou a intimidade, os fatos revelados ou

devassados são verdadeiros, mas invadem indevidamente uma esfera protegida

do indivíduo.

7) Transparência e boa-fé na prestação de informações:

O Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 4º, ao traçar os princípios

reitores da política nacional das relações de consumo, faz expressa referência à

transparência (“caput”) e à boa-fé (inciso III), que são complementares entre si.

O princípio da transparência busca estabelecer, na lição de Cláudia Lima

Marques, “uma relação contratual mais sincera e menos danosa entre consumidor

e fornecedor”. E complementa: “Transparência signifi ca informação clara e

correta sobre o produto a ser vendido, sobre o contrato a ser fi rmado, signifi ca

lealdade a respeito das relações entre fornecedor e consumidor, mesmo na fase

pré-contratual, isto é, na fase negocial dos contratos de consumo” (MARQUES,

Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor. São Paulo: Editora

Revista dos Tribunais, 1999, p. 286).

Lembra Cláudia Lima Marques que transparência “não deixa de ser um

refl exo da boa-fé exigida aos agentes contratuais (op. cit., p. 343).

O princípio da boa-fé objetiva, devidamente positivado tanto no CDC (art.

4º, III, e art. 51, IV), como no Código Civil de 2002 (artigos 113, 187 e 422),

constitui um modelo de conduta social ou um padrão ético de comportamento,

que impõe, concretamente, a todo o cidadão que, na sua vida de relação, atue

com honestidade, lealdade e probidade.

Não deve ser confundido com a boa-fé subjetiva (guten Glauben), que é o

estado de consciência ou a crença do sujeito de estar agindo em conformidade

com as normas do ordenamento jurídico (v.g. posse de boa-fé, adquirente de

boa-fé, cônjuge de boa-fé no casamento nulo).

O princípio da boa-fé objetiva (Treu und Glauben) foi consagrado pelo §

242 do BGB, estabelecendo simplesmente o seguinte:

§ 242. O devedor deve cumprir a prestação tal como exige a boa-fé e os costumes

do tráfego social.

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346

A partir dessa cláusula geral de boa-fé, a doutrina alemã desvendou esse

novo princípio do sistema de direito privado.

A boa-fé objetiva (Treu und Glauben) apresenta-se, em particular, como

um modelo ideal de conduta, que se exige de todos os integrantes da relação

obrigacional (devedor e credor) na busca do correto adimplemento da obrigação,

que é a sua fi nalidade.

Almeida Costa, após afi rmar que a boa-fé objetiva constitui um standard

de conduta ou um padrão ético-jurídico, esclarece que ela estabelece que “os

membros de uma comunidade jurídica devem agir de acordo com a boa-

fé, consubstanciando uma exigência de adotarem uma linha de correção e

probidade, tanto na constituição das relações entre eles como no desempenho

das relações constituídas. E com o duplo sentido dos direitos e dos deveres em

que as relações jurídicas se analisam: importa que sejam aqueles exercidos e

estes cumpridos de boa-fé. Mais ainda: tanto sob o ângulo positivo de se agir

com lealdade, como sob o ângulo negativo de não se agir com deslealdade”

(ALMEIDA COSTA, Mário Júlio. Direito das Obrigações. Coimbra: Almedina,

2009, p. 113 e segs.).

A inexistência, no Código Civil brasileiro de 1916, de cláusula geral

semelhante ao § 242 do BGB ou a do art. 227, n. 1, do Código Civil português

não impediu que a boa-fé passasse a ser reconhecida em nosso sistema jurídico

por constituir um dos princípios fundamentais do sistema de direito privado.

A jurisprudência já vinha utilizando o princípio da boa-fé objetiva para

solução de casos concretos.

A partir do CDC, esse obstáculo foi superado, pois a boa-fé foi consagrada

como um dos princípios fundamentais das relações de consumo (art. 4º, III) e

como cláusula geral para controle das cláusulas abusivas (art. 51, IV).

Assim, a partir de 1990, o princípio da boa-fé foi expressamente positivado

no sistema de direito privado brasileiro, podendo ser aplicado, com fundamento

no art. 4º da LICC, a todos os demais setores.

No Código Civil de 2002, o princípio da boa-fé objetiva foi expressamente

contemplado, inserindo-se como expressão, conforme Miguel Reale, de sua

diretriz ética. Exatamente a exigência ética fez com que, por meio de um

modelo aberto, fosse entregue à hermenêutica declarar o signifi cado concreto da

boa-fé, cujos ditames devem ser seguidos desde a estipulação de um contrato até

o término de sua execução.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 319-355, novembro 2017 347

Na relação obrigacional, a boa-fé exerce múltiplas funções, desde a fase

anterior à formação do vínculo, passando pela sua execução, até a fase posterior

ao adimplemento da obrigação: interpretação das regras pactuadas (função

interpretativa), criação de novas normas de conduta (função integrativa) e

limitação dos direitos subjetivos (função de controle contra o abuso de direito).

Em sua função interpretativa, prevista no art. 113 do Código Civil

brasileiro de 2002, a boa-fé auxilia no processo de interpretação das cláusulas

contratuais. Colabora, dessa forma, para uma análise objetiva das normas

estipuladas no pacto.

Na sua função de controle, limita o exercício dos direitos subjetivos,

estabelecendo para o credor, ao exercer o seu direito, o dever de ater-se aos

limites traçados pela boa-fé, sob pena de uma atuação antijurídica, consoante

previsto pelo art. 187 do Código Civil brasileiro de 2002.

Evita-se, assim, o abuso de direito em todas as fases da relação jurídica

obrigacional, orientando a sua exigibilidade (pretensão) ou o seu exercício

coativo (ação).

Desenvolveram-se fórmulas, sintetizadas em brocardos latinos, que

indicam tratamentos típicos de exercícios inadmissíveis de direitos subjetivos,

como a supressio (o não-exercício de um direito durante longo tempo poderá

ensejar a sua extinção), a tuo quoque (aquele que infringiu uma regra de conduta

não pode postular que se recrimine em outrem o mesmo comportamento) e a

venire contra factum proprium (exercício de uma posição jurídica em contradição

com o comportamento anterior do exercente).

A função integrativa da boa-fé, tendo por fonte o art. 422 do Código Civil

brasileiro de 2002, permite a identifi cação concreta, em face das peculiaridades

próprias de cada relação obrigacional, de novos deveres, além daqueles que

nascem diretamente da vontade das partes.

Ao lado dos deveres primários da prestação, surgem os deveres secundários

ou acidentais da prestação e, até mesmo, deveres laterais ou acessórios de

conduta. Enquanto os deveres secundários vinculam-se ao correto cumprimento

dos deveres principais (v.g. dever de conservação da coisa até a tradição), os

deveres acessórios ligam-se diretamente ao correto processamento da relação

obrigacional (v. g. deveres de cooperação, de informação, de sigilo, de cuidado).

O dever de informação constitui consectário da função integrativa da boa-

fé objetiva, tendo assumido cada vez maior importância em nossa sociedade de

consumo massifi cada.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

348

A impessoalização das relações de consumo, envolvendo, de um lado, um

fornecedor profi ssional e, de outro lado, um consumidor anônimo, exigem o

máximo de transparência, sinceridade e lealdade entre as partes.

Assim, a informação constitui um direito básico do consumidor, que tem

sua matriz no princípio da boa-fé objetiva.

O marketing agressivo e impessoal é utilizado apenas como elemento

de persuasão do consumidor à aquisição de determinado produto ou serviço.

Ressaltam-se os seus aspectos positivos, relacionados à sua utilidade e conforto,

esquecendo-se o fornecedor de efetivamente informar os consumidores acerca

da sua correta utilização e dos riscos por eles ensejados pelos produtos e serviços

ofertados. Freqüentemente, o consumidor deixa de ser alertado para os perigos

oferecidos pelo produto adquirido.

Por isso, a Carta de Proteção do Consumidor, elaborada pelo Conselho da

Comunidade Européia, em 17/05/1973, elencou a informação como um dos

direitos básicos do consumidor.

Em 16/04/1985, a Assembléia Geral das Nações Unidas expediu a

Resolução n. 30/248, que, entre as diretivas para proteção ao consumidor,

estabelece a necessidade de amplo acesso a informação

Em 1990, o CDC, seguindo a mesma linha, elencou, entre os direitos

básicos do consumidor, “a informação adequada e clara sobre os diferentes

produtos e serviços, com especifi cação correta de quantidade, características,

composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem” (art.

6º, III).

No Brasil, como país em vias de desenvolvimento, a necessidade de

prestação de informações claras pelos fornecedores assume um relevo especial,

em face do grande número de pessoas analfabetas ou com baixo nível de

instrução inseridas no mercado de consumo.

As informações devem ser prestadas em linguagem de fácil compreensão,

enfatizando-se, de forma especial, as advertências em torno de situações de

maior risco.

A legislação do consumidor, acompanhando a tendência moderna do

direito privado, acolheu amplamente o dever de informação do fornecedor em

vários momentos (art. 4º, IV, art. 6º, III, art. 8º, art. 12, art. 14, art. 18, art. 20, art.

31, art. 43, art. 46).

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RSSTJ, a. 9, (45): 319-355, novembro 2017 349

Enfi m, o consumidor deve ser informado clara e objetivamente acerca de

todos os aspectos atinentes à relação contratual desde o período pré-negocial,

incluindo dever de máxima transparência dos arquivos de consumo.

8) Privacidade e transparência nos arquivos de consumo

O CDC e a Lei n. 12.414/2011 tiveram clara preocupação em proteger a

privacidade do consumidor e assegurar o máximo de transparência nos arquivos

de consumo em geral.

O CDC, em seu art. 43, ao regular os arquivos de consumo, deixou

expresso:

a) direito de acesso do consumidor às informações existentes sobre ele

nesses cadastros e bancos de dados, além das respectivas fontes;

b) dever de clareza dos arquivos;

c) direito de retifi cação de informações incorretas;

d) fi xação de uma vida útil para essas informações (cinco anos).

Na mesma linha, a lei do cadastro positivo regulamentou a matéria,

merecendo lembrança os principais deveres textualmente estabelecidos na Lei n.

12.414/2011, em seu art. 3º, verbis:

Art. 3º Os bancos de dados poderão conter informações de adimplemento do

cadastrado, para a formação do histórico de crédito, nas condições estabelecidas

nesta Lei.

§ 1º Para a formação do banco de dados, somente poderão ser armazenadas

informações objetivas, claras, verdadeiras e de fácil compreensão, que sejam

necessárias para avaliar a situação econômica do cadastrado.

§ 2º Para os fi ns do disposto no § 1º, consideram-se informações:

I - objetivas: aquelas descritivas dos fatos e que não envolvam juízo de valor;

II - claras: aquelas que possibilitem o imediato entendimento do cadastrado

independentemente de remissão a anexos, fórmulas, siglas, símbolos, termos técnicos

ou nomenclatura específi ca;

III - verdadeiras: aquelas exatas, completas e sujeitas à comprovação nos termos

desta Lei; e

IV - de fácil compreensão: aquelas em sentido comum que assegurem ao

cadastrado o pleno conhecimento do conteúdo, do sentido e do alcance dos dados

sobre ele anotados.

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§ 3º Ficam proibidas as anotações de:

I - informações excessivas, assim consideradas aquelas que não estiverem

vinculadas à análise de risco de crédito ao consumidor; e

II - informações sensíveis, assim consideradas aquelas pertinentes à origem

social e étnica, à saúde, à informação genética, à orientação sexual e às convicções

políticas, religiosas e fi losófi cas.

Essas limitações previstas na lei do cadastro positivo podem ser sintetizadas

em cinco deveres a serem cumpridos pelo fornecedor do serviço:

a) dever de veracidade;

b) dever de clareza;

c) dever de objetividade;

d) vedação de informações excessivas;

e) vedação de informações sensíveis.

Merecem especial destaque as informações proibidas, que são as

qualifi cadas como excessivas e sensíveis.

Leonardo Roscoe Bessa explica a vedação às informações excessivas nos

seguintes termos (op. cit. P. 93/94):

A Lei 12.414/2011 veda o tratamento de informações excessivas. Se pode ser

verdadeiro que, sob a ótica econômica, quanto mais informações melhor

pe a avaliação de crédito (more is better), para o direito, para proteção jurídica

da privacidade, é fundamental restringir, tanto no tempo, como na qualidade e

quantidade, as informações que circulam pelos bancos de dados de proteção ao

crédito.

A primeira forma de limitar a qualidade da informação que circula em arquivos de

consumo é exigir que ela esteja vinculada ao propósito específi co do banco de dados.

Os dados coletados devem ser visivelmente úteis para os objetivos específi cos do

arquivo. Se não atenderem a esse pressuposto, a coleta e o tratamento da informação

devem ser considerados ilegais, ilegítimos e ofensivos à privacidade (art. 5º, X, da CF).

A redação do inc. I do § 3º atende justamente a essa preocupação, pois consideram-

se informações excessivas “aquelas que não estiverem vinculadas à análise de risco de

crédito ao consumidor”.

Antes mesmo da edição da Lei 12.414/2011, era possível sustentar, em razão

do núcleo essencial do direito à privacidade (art. 5º, X, da CF), que o tratamento de

informações excessivas ou desvinculadas das fi nalidades específi cas dos arquivos de

consumo seria inconstitucional. O dispositivo comentado positiva tal entendimento.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 319-355, novembro 2017 351

De fato, para conferir signifi cado mínimo à inviolabilidade da privacidade, prevista

tanto na Constituição Federal (art. 5º, X) como no Código Civil (art. 21), há que ser

estabelecidas restrições positivas. Não se cuida de desconsiderar a possibilidade de

restrição ou conformação de direito fundamental, mas do cuidado em preservar o

núcleo essencial do direito. É imprescindível, no âmbito da moderna concepção de

proteção de dados, limitar tanto o conteúdo como a quantidade de informação que é

tratada pelas entidades de proteção ao crédito.

A vedação de utilização de dados sensíveis busca evitar a utilização

discriminatória da informação, conforme claramente defi nido pelo legislador

como aqueles “pertinentes à origem social e étnica, à saúde, à informação

genética, à orientação sexual e às convicções políticas, religiosas e fi losófi cas.”

Desse modo, no sistema jurídico brasileiro, encontram-se devidamente

regulados tanto o dever de respeito à privacidade do consumidor (v.g.

informações excessivas e sensíveis), como o dever de transparência nessas

relações com o mercado de consumo (v.g. deveres de clareza, objetividade e

veracidade).

Além disso, devem ser respeitadas as limitações temporais para as

informações a serem consideradas, estabelecidas pelo CDC e pela Lei n.

12.414/2011, que são de cinco anos para os registros negativos (CDC) e de

quinze anos para o histórico de crédito (Lei n. 12.414/2011, art. 14).

No caso específi co do “credit scoring”, devem ser fornecidas ao consumidor

informações claras, precisas e pormenorizadas acerca dos dados considerados

e as respectivas fontes para atribuição da nota (histórico de crédito), como

expressamente previsto no CDC e na Lei n. 12.414/2011.

O fato de se tratar de uma metodologia de cálculo do risco de concessão

de crédito, a partir de modelos estatísticos, que busca informações em cadastros

e bancos de dados disponíveis no mercado digital, não afasta o dever de

cumprimento desses deveres básicos, devendo-se apenas ressalvar dois aspectos:

De um lado, a metodologia em si de cálculo da nota de risco de crédito

(“credit scoring”) constitui segredo da atividade empresarial, cujas fórmulas

matemáticas e modelos estatísticos naturalmente não precisam ser divulgadas

(art. 5º, IV, da Lei 12.414/2011: ...”resguardado o segredo empresarial”).

De outro lado, não se pode exigir o prévio e expresso consentimento do

consumidor avaliado, pois não constitui um cadastro ou banco de dados, mas

um modelo estatístico.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

352

Com isso, não se aplica a exigência de obtenção de consentimento prévio e

expresso do consumidor consultado (art. 4º).

Isso não libera, porém, o cumprimento dos demais deveres estabelecidos

pelo CDC e pela lei do cadastro positivo, inclusive a indicação das fontes dos

dados considerados na avaliação estatística, como, aliás, está expresso no art. 5º,

IV, da própria Lei n. 12.414/2011 (“São direitos do consumidor cadastrado ...

conhecer os principais elementos e critérios considerados para a análise do risco

de crédito, resguardado o segredo empresarial”).

Assim, essas informações, quando solicitadas, devem ser prestadas ao

consumidor avaliado, com a indicação clara e precisa dos bancos de dados

utilizados (histórico de crédito), para que ele possa exercer um controle acerca

da veracidade dos dados existentes sobre a sua pessoa, inclusive para poder

retifi cá-los ou melhorar a sua performance no mercado.

Devem ser prestadas também as informações pessoais do consumidor

avaliado que foram consideradas para que ele possa exercer o seu direito

de controle acercas das informações excessivas ou sensíveis, que foram

expressamente vedadas pelo art. 3º, § 3º, I e II, da própria Lei n. 12.414/2011.

Não podem ser valoradas pelo fornecedor do serviço de “credit scoring”

informações sensíveis, como as relativas à cor, à opção sexual ou à orientação

religiosa do consumidor avaliado, ou excessivas, como as referentes a gostos

pessoais, clube de futebol de que é torcedor etc.

Caracterizado abuso de direito pela utilização de informações sensíveis,

excessivas, incorretas ou desatualizadas, a responsabilidade civil pelos danos

materiais e morais causados ao consumidor consultado será objetiva e solidária

do fornecedor do serviço de “credit scoring”, do responsável pelo banco de

dados, da fonte e do consulente (art. 2º da Lei do Cadastro Positivo), nos termos

do art. 16 da Lei n. 12.414/2011, verbis:

Art. 16. O banco de dados, a fonte e o consulente são responsáveis objetiva e

solidariamente pelos danos materiais e morais que causarem ao cadastrado.

Enfi m, devem ser respeitados os limites traçados pela legislação brasileira,

especialmente pelo CDC e pela Lei n. 12.414/2011, no sentido da proteção da

privacidade do consumidor consultado e da máxima transparência na avaliação

do risco de crédito, sob pena de caracterização de abuso de direito com eventual

ocorrência de danos morais.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 319-355, novembro 2017 353

9) Dano moral

A última questão a ser enfrentada diz com o reconhecimento da ocorrência

de dano moral nos casos de excesso na utilização do sistema.

Não há dúvida que o desrespeito à regulamentação legal do sistema “credit

scoring”, por constituir abuso no exercício desse direito (art. 187 do CC), pode

ensejar a ocorrência de danos morais.

A simples circunstância, porém, de se atribuir uma nota insatisfatória

a uma pessoa não acarreta, por si só, um dano moral, devendo-se apenas

oportunizar ao consumidor informações claras acerca dos dados utilizados nesse

cálculo estatístico.

Entretanto, se a nota atribuída ao risco de crédito decorrer da consideração

de informações excessivas ou sensíveis, violando sua honra e privacidade, haverá

dano moral “in re ipsa”.

No mais, para a caracterização de um dano extrapatrimonial, há necessidade

de comprovação de uma efetiva recusa de crédito, com base em uma nota de

crédito baixa por ter sido fundada em dados incorretos ou desatualizados.

10) Teses sugeridas:

1) O sistema “credit scoring” é um método desenvolvido para avaliação do risco

de concessão de crédito, a partir de modelos estatísticos, considerando diversas

variáveis, com atribuição de uma pontuação ao consumidor avaliado (nota do risco

de crédito).

2) Essa prática comercial é lícita, estando autorizada pelo art. 5º, IV, e pelo art. 7º, I,

da Lei n. 12.414/2011 (Lei do Cadastro Positivo).

3) Na avaliação do risco de crédito, devem ser respeitados os limites estabelecidos

pelo sistema de proteção do consumidor no sentido da tutela da privacidade e da

máxima transparência nas relações negociais, conforme previsão do CDC e da Lei n.

12.414/2011.

4) Apesar de desnecessário o consentimento do consumidor consultado, devem

ser a ele fornecidos esclarecimentos, caso solicitados, acerca das fontes dos dados

considerados (histórico de crédito), bem como as informações pessoais valoradas.

5) O desrespeito aos limites legais na utilização do sistema “credit scoring”,

configurando abuso no exercício desse direito (art. 187 do CC), pode ensejar

a responsabilidade objetiva e solidária do fornecedor do serviço, do responsável

pelo banco de dados, da fonte e do consulente (art. 16 da Lei n. 12.414/2011) pela

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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ocorrência de danos morais nas hipóteses de utilização de informações excessivas ou

sensíveis (art. 3º, § 3º, I e II, da Lei n. 12.414/2011), bem como nos casos de comprovada

recusa indevida de crédito pelo uso de dados incorretos ou desatualizados.

11) Análise do Recurso Especial n. 1.419.697-RS:

No recurso especial interposto pelo Banco Boa Vista, com fundamento

na alínea a do permissivo constitucional, a recorrente apontou violação aos

seguintes dispositivos legais:

(I) art. 535, II, do CPC, porquanto o acórdão recorrido teria deixado de

enfrentar pontos omissos relevantes para o deslinde da causa;

(II) art. 267, VI, do CPC, pois a recorrente seria parte ilegítima para

fi gurar no polo passivo da demanda, visto que (i) não possui qualquer ingerência

sobre a tomada de decisões nos estabelecimentos comerciais para os quais presta

serviços consultivos, não tendo infl uência sobre a concessão ou não de crédito

por determinadas empresas; (ii) o seu serviço consiste em compilar dados

cadastrais disponibilizados publicamente com cadastros de inadimplência para

que o comerciante decida se concede ou não crédito ao consumidor;

(III) art. 333, II, do CPC, pois (i) restou comprovado que não é

responsável pela negativação do crédito do consumidor, mas sim, o concedente

do crédito, destinatário dos seus serviços; (ii) o SCPC SCORE CRÉDITO

não possui qualquer relação com o cadastro positivo (consagrado pela Lei

12.414/2001), visto que não utiliza informações positivas dos consumidores;

(iii) adota parâmetros similares aos de seguradoras de veículos, fornecendo

dados estatísticos, baseados em critérios objetivos e de ciência de todos os

envolvidos; (iv) não é possível falar na ocorrência de dano “in re ipsa”.

Passo ao exame do próprio recurso especial, iniciando pela análise da

preliminar de ofensa ao art. 535 do CPC, que, adianto, não merece acolhida.

Com efeito, apresenta-se defi ciente a fundamentação do recurso especial

na parte em que alega ofensa ao art. 535 do CPC se faz de forma genérica,

não havendo a demonstração clara dos pontos do acórdão que se apresentam

omissos, contraditórios ou obscuros.

Aplica-se, assim, o óbice da Súmula 284/STF.

Nesse sentido, merecem lembrança os seguintes precedentes do STJ: AgRg

no Ag 1.130.264/SP, 6ª Turma, Rel. Min. Vasco Della Giustina (Desembargador

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 319-355, novembro 2017 355

Convocado do TJ/RS), DJe de 01/07/2011; REsp 1.253.231/SC, 2ª Turma, Rel.

Min. Castro Meira, DJe de 03/11/2011; REsp 1.268.469/SP, 2ª Turma, Rel.

Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 27/02/2012; e REsp 1.190.865/MG,

3ª Turma, Rel. Min. Massami Uyeda, DJe de 01/03/2012.

Rejeita-se, assim, a preliminar de violação ao art. 535 do CPC.

Passo ao exame do mérito.

Não merecem acolhida as alegações de ofensa ao art. 267, VI, e 333, II, do

CPC, em face das conclusões estabelecidas na primeira parte do voto acerca da

natureza do sistema “scoring”.

Merece acolhida a alegação de inocorrência de dano “in re ipsa” se não

houver prova da negativação do crédito do consumidor consultado, conforme já

aludido na primeira parte do voto, no sentido de que “o desrespeito aos limites

legais na utilização do sistema “credit scoring”, confi gurando abuso no exercício

desse direito (art. 187 do CC), ... pode ensejar a ocorrência de danos morais nas

hipóteses de utilização de informações excessivas ou sensíveis (art. 3º, § 3º, I e

II, da Lei n. 12.414/2011), bem como nos casos de recusa indevida de crédito

pelo uso de dados incorretos ou desatualizados.”

No caso, não tendo sido afi rmada pelas instâncias ordinárias a comprovação

de recusa efetiva do crédito ao consumidor recorrido, não é possível o

reconhecimento da ocorrência de dano moral.

Assim, deve-se reconhecer a violação pelo acórdão recorrido, nesse tópico,

do disposto no art. 333, II, do CPC, provendo-se o recurso especial para

julgar improcedente a demanda indenizatória, com inversão dos encargos

sucumbenciais, ressalvada a concessão na origem do benefício da assistência

judiciária gratuita.

12) Conclusão

Ante o exposto, após não conhecer do agravo regimental e dos embargos

declaratórios interpostos no curso do processamento do presente recurso

representativo de controvérsia, voto no sentido do parcial provimento do recurso

especial para julgar improcedente a demanda indenizatória, com inversão dos

encargos sucumbenciais, ressalvada a concessão na origem do benefício da

assistência judiciária gratuita.

É o voto.

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Súmula n. 551

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SÚMULA N. 551

Nas demandas por complementação de ações de empresas de telefonia,

admite-se a condenação ao pagamento de dividendos e juros sobre capital

próprio independentemente de pedido expresso. No entanto, somente quando

previstos no título executivo, poderão ser objeto de cumprimento de sentença.

Referências:

CPC, art. 543-C.

Lei n. 9.249/1995, art. 9º.

Deliberação CVM n. 207/1996, revogada.

Deliberação CVM n. 683/2012.

Precedentes:

(*)REsp 1.373.438-RS (2ª S, 11.06.2014 – DJe 17.06.2014) –

acórdão publicado na íntegra

AgRg no REsp 1.302.238-RS (3ª T, 11.11.2014 – DJe 18.11.2014)

AgRg no AREsp 312.475-RS (3ª T, 20.11.2014 – DJe 26.11.2014)

AgRg no AREsp 585.114-RS (3ª T, 24.02.2015 – DJe 10.03.2015)

AgRg no AREsp 391.208-RS (3ª T, 12.05.2015 – DJe 21.05.2015)

AgRg no REsp 1.340.053-RS (4ª T, 26.08.2014 – DJe 08.09.2014)

AgRg no AREsp 581.165-RS (4ª T, 18.11.2014 – DJe 25.11.2014)

(*) Recurso repetitivo.

Segunda Seção, em 14.10.2015

DJe 19.10.2015

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RECURSO ESPECIAL N. 1.373.438-RS (2013/0067213-8)

Relator: Ministro Paulo de Tarso Sanseverino

Recorrente: Brasil Telecom S/A

Advogados: João Paulo Ibanez Leal

Angela Ibanez Leal

Martha Ibanez Leal

Lauro Saraiva Teixeira Junior e outro(s)

Recorrido: Germano Sonaglio

Advogados: Mauricio Dal Agnol

Rodrigo Tonial e outro(s)

Interes.: Comissão de Valores Mobiliários - CVM - “Amicus Curiae”

Repr. por : Procuradoria-Geral Federal

EMENTA

RECURSO ESPECIAL REPRESEN TAT IVO DA

CONTROVÉRSIA. EMPRESARIAL E PROCESSUAL CIVIL.

TELEFONIA. COMPLEMENTAÇÃO DE AÇÕES. JUROS SOBRE

CAPITAL PRÓPRIO. CUMULAÇÃO COM DIVIDENDOS.

CABIMENTO. PEDIDO IMPLÍCITO. DECORRÊNCIA LÓGICA

DO PEDIDO DE COMPLEMENTAÇÃO DE AÇÕES. INCLUSÃO

NO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA SEM PREVISÃO NO

TÍTULO EXECUTIVO. OFENSA À COISA JULGADA.

1. Para fi ns do art. 543-C do CPC:

1.1. Cabimento da cumulação de dividendos e juros sobre capital

próprio.

1.2. Nas demandas por complementação de ações de empresas de

telefonia, admite-se a condenação ao pagamento de dividendos e juros sobre

capital próprio independentemente de pedido expresso.

1.3. Descabimento da inclusão dos dividendos ou dos juros sobre capital

próprio no cumprimento da sentença condenatória à complementação de

ações sem expressa previsão no título executivo.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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2. Caso concreto:

2.1. Inviabilidade de se alterar, na fase de cumprimento de sentença,

o valor patrimonial da ação defi nido expressamente no título executivo, sob

pena de ofensa à coisa julgada.

2.2. Descabimento da inclusão dos juros sobre capital próprio no

cumprimento de sentença sem previsão expressa no título executivo.

2.3. Incidência do óbice da Súmula 211/STJ no que tange à alegação

relativa ao termo ‘ad quem’ dos dividendos.

2.4. “Não são cabíveis honorários advocatícios pela rejeição da

impugnação ao cumprimento de sentença”.

2.5. “Apenas no caso de acolhimento da impugnação, ainda que

parcial, serão arbitrados honorários em benefício do executado, com base no

art. 20, § 4º, do CPC” (REsp 1.134.186/RS, rito do art. 543-C).

3. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide

a Egrégia Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar

parcial provimento ao recurso para decotar do cumprimento de sentença os juros

sobre capital próprio, bem como para excluir a condenação da ora recorrente ao

pagamento de honorários advocatícios na impugnação ao cumprimento de

sentença, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Para os efeitos dos artigo 543, C, do Código de Processo Civil, foram

defi nidas as seguintes teses: i.1. Cabimento da cumulação de dividendos e

juros sobre capital próprio. i.2. Nas demandas por complementação de ações

de empresas de telefonia, admite-se a condenação ao pagamento de dividendos

e juros sobre capital próprio independentemente de pedido expresso. i.3.

Descabimento da inclusão dos dividendos ou dos juros sobre capital próprio

no cumprimento da sentença condenatória à complementação de ações sem

expressa previsão no título executivo. Os Srs. Ministros Maria Isabel Gallotti,

Antonio Carlos Ferreira, Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Buzzi, Nancy

Andrighi, João Otávio de Noronha, Sidnei Beneti e Raul Araújo votaram com o

Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 11 de junho de 2014 (data de julgamento).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 357-382, novembro 2017 363

Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Relator

DJe 17.6.2014

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino: Trata-se de recurso especial

afetado ao rito do art. 543-C do Código de Processo Civil para a consolidação

do entendimento desta Corte sobre as seguintes questões jurídicas:

(i) possibilidade de cumulação de dividendos e juros sobre capital próprio;

(ii) possibilidade de inclusão de juros sobre capital próprio nos cálculos

exequendos sem previsão no título executivo judicial.

No caso dos autos, BRASIL TELECOM S/A insurge-se contra acórdão

do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, assim sintetizado em sua ementa:

AGRAVO. NEGATIVA DE SEGUIMENTO A AGRAVO DE INSTRUMENTO

MEDIANTE DECISÃO MONOCRÁTICA. AÇÃO DE COMPLEMENTAÇÃO ACIONÁRIA.

CONDENAÇÃO A SUBSCREVER NÚMERO COMPLEMENTAR DE AÇÕES. FIXAÇÃO

EXPRESSA, NA DECISÃO TRANSITADA EM JULGADO, DO VALOR PATRIMONIAL A SER

ADOTADO. MODIFICAÇÃO QUE ATENTARIA CONTRA A COISA JULGADA. ARTS. 467,

CPC, E 5º, XXXVI, CF. PAGAMENTO DE DIVIDENDOS E juros SOBRE CAPITAL PRÓPRIO.

CASO CONCRETO. MATÉRIA DE FATO. Reconhecido o direito à complementação de

ações, responde a ré pelo pagamento dos rendimentos correspondentes às ações

subscritas a menor. Precedentes. Juros sobre capital próprio são rubrica que integra os

dividendos. COBRANÇA DE juros SOBRE juros NÃO VERIFICADA. NÃO SE VISLUMBRA

QUALQUER IRREGULARIDADE QUE DIGA RESPEITO À PRÁTICA DE ANATOCISMO.

Honorários advocatícios. Consoante a nova sistemática do CPC, prevista no art. 475-J,

e seus parágrafos, o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa, deverá ser

intimado na pessoa de seu advogado para efetuar o pagamento no prazo de 15 dias.

DESNECESSIDADE DE INTIMAÇÃO PESSOAL DO DEVEDOR. NEGADO PROVIMENTO. (fl .

434)

Em suas razões, a parte recorrente alegou violação, dentre outros, aos arts.

467, 468 e 471 Código de Processo Civil e ao art. 9º, § 7º, da Lei 9.249/95, sob

os argumentos de excesso de execução e de impossibilidade de cumulação de

dividendos e juros sobre capital próprio.

Contrarrazões às fl s. 274/280.

O Ministério Público Federal opinou pelo parcial provimento do

recurso especial, para que: “(i) o VPA seja apurado com base no balancete do mês

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

364

da integralização; (ii) seja fi xado como termo fi nal para cálculo de dividendos a

data da sua conversão em pecúnia e (iii) seja excluída a condenação em honorários

advocatícios em sede de impugnação de sentença” (fl . 574). Quanto aos juros sobre

capital próprio, opinou pela possibilidade de cumulação com os dividendos e

pela possibilidade de inclusão nos cálculos exequendos, tendo em vista que “a

fundamentação [do título executivo] deixou evidente a intenção de incluir tais juros”

(fl . 572).

Por iniciativa deste relator, facultou-se à Comissão de Valores Mobiliários

- CVM e ao Departamento de Registro Empresarial e Integração - DREI a

oportunidade de se manifestarem nos presentes autos, no prazo de 15 dias.

A Comissão de Valores Mobiliários - CVM requereu o ingresso no feito

como amicus curiae e apresentou manifestação escrita (fl s. 594/619), opinando

pela possibilidade de cumulação de dividendos com juros sobre capital próprio,

mediante a imputação do valor dos juros ao valor dos dividendos.

O Departamento de Registro Empresarial e Integração - DREI, por sua

vez, manifestou não ter interesse no feito.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino (Relator): Eminentes colegas,

inicio analisando a natureza dos juros sobre capital próprio - JCP.

Os JCP encontram-se atualmente previstos na Lei 9.249/95, que “altera a

legislação do imposto de renda das pessoas jurídicas, bem como da contribuição social

sobre o lucro líquido, e dá outras providências”, nos seguintes termos, litteris:

Art. 9º - A pessoa jurídica poderá deduzir, para efeitos da apuração do lucro real,

os juros pagos ou creditados individualizadamente a titular, sócios ou acionistas, a

título de remuneração do capital próprio, calculados sobre as contas do patrimônio

líquido e limitados à variação, pro rata dia, da Taxa de juros de Longo Prazo - TJLP.

§ 1º. O efetivo pagamento ou crédito dos juros fi ca condicionado à existência de

lucros, computados antes da dedução dos juros, ou de lucros acumulados e reservas

de lucros, em montante igual ou superior ao valor de duas vezes os juros a serem

pagos ou creditados. (Redação dada pela Lei n. 9.430, de 1996)

§ 2º. Os juros fi carão sujeitos à incidência do imposto de renda na fonte à alíquota

de quinze por cento, na data do pagamento ou crédito ao benefi ciário.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 357-382, novembro 2017 365

§ 3º. O imposto retido na fonte será considerado:

I - antecipação do devido na declaração de rendimentos, no caso de benefi ciário

pessoa jurídica tributada com base no lucro real;

II - tributação defi nitiva, no caso de benefi ciário pessoa física ou pessoa jurídica

não tributada com base no lucro real, inclusive isenta, ressalvado o disposto no § 4º;

§ 4º. (Revogado pela Lei n. 9.430, de 1996)

§ 5º. No caso de benefi ciário sociedade civil de prestação de serviços, submetida ao

regime de tributação de que trata o art. 1º do Decreto-Lei n. 2.397, de 21 de dezembro

de 1987, o imposto poderá ser compensado com o retido por ocasião do pagamento

dos rendimentos aos sócios benefi ciários.

§ 6º. No caso de benefi ciário pessoa jurídica tributada com base no lucro real, o

imposto de que trata o § 2º poderá ainda ser compensado com o retido por ocasião

do pagamento ou crédito de juros, a título de remuneração de capital próprio, a seu

titular, sócios ou acionistas.

§ 7º. O valor dos juros pagos ou creditados pela pessoa jurídica, a título de

remuneração do capital próprio, poderá ser imputado ao valor dos dividendos de que

trata o art. 202 da Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976, sem prejuízo do disposto

no § 2º.

§ 8º. Para os fins de cálculo da remuneração prevista neste artigo, não será

considerado o valor de reserva de reavaliação de bens ou direitos da pessoa jurídica,

exceto se esta for adicionada na determinação da base de cálculo do imposto de

renda e da contribuição social sobre o lucro líquido. (Vide Medida Provisória n. 627,

de 2013) (Vigência)

§ 9º. (Revogado pela Lei n. 9.430, de 1996).

§ 10. (Revogado pela Lei n. 9.430, de 1996).

§ 11. (Vide Medida Provisória n. 627, de 2013).

A primeira questão que emerge desse dispositivo legal diz com a natureza

jurídica dos juros sobre capital próprio - JCP.

O nome de “juros” e a referência à Taxa de Juros de Longo Prazo - TJLP

sugere que estaríamos diante de uma modalidade de juros compensatórios,

devidos como remuneração pela indisponibilidade do capital investido pelos

acionistas na companhia.

Porém, a condicionante da existência de lucro (§ 1º, supra) é incompatível

com a noção de juros, fazendo-se supor que o JCP constituem, na verdade,

parcela do lucro distribuído aos acionistas (a par dos dividendos), tendo como

fundamento o êxito econômico companhia, não a indisponibilidade do capital

investido.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

366

A natureza dos JCP tem consequências relevantes do ponto de vista

tributário e societário.

Do ponto de vista tributário, se os JCP são considerados juros, a

contabilidade registrará a saída como despesa da companhia, reduzindo o lucro

real, que é a base de cálculo do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica - IRPJ e

da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL (no caso de companhias

de grande porte, para as quais não se admite a tributação pelo lucro presumido).

Ao contrário, se os JCP forem considerados parcela do lucro a ser

distribuída aos acionistas, entrarão na base de cálculo do IRPJ e da CSLL.

Do ponto de vista societário, as diferenças também são evidentes.

Se os JCP têm natureza de juros e, consequentemente, de despesa da

companhia, eles não entram na base de cálculo dos dividendos obrigatórios, pois

estes, em regra, são calculados sobre o lucro líquido (cf. art. 202, inciso I, da Lei

6.404/76).

O resultado é uma diminuição da parcela obrigatória dos dividendos.

Diversamente, tendo natureza de lucro, os JCP são computados na base de

cálculo dos dividendos obrigatórios.

Daí a importância de se defi nir, como premissa desse voto, a natureza

jurídica dos JCP.

No âmbito do direito societário, encontram-se duas linhas de entendimento

acerca da natureza jurídica dos JCP.

De um lado, alguns autores sustentam serem os JCP remuneração pela

indisponibilidade do capital (como os juros compensatórios).

A propósito, transcreve-se a doutrina de Fábio Ulhôa Coelho, litteris:

Os juros sobre o capital, com certeza, são um tipo de remuneração dos acionistas,

feita em razão do investimento que eles realizam na atividade empresarial explorada

pela companhia pagadora; mas uma remuneração de natureza diferente da dos

dividendos. Em outros termos, o acionista, ao subscrever ou adquirir a ação, realiza

na empresa explorada pela sociedade um investimento, e o faz, por evidente,

visando a adequada remuneração aos recursos empregados. Tradicionalmente, essa

remuneração foi defi nida como a participação nos lucros gerados pela exploração

da atividade, mediante o recebimento dos dividendos correspondentes. Após a

disseminação do pagamento dos juros sobre o capital, contudo, a remuneração dos

sócios da sociedade anônima, em razão do investimento, deve ser classifi cada em

duas espécies. Uma delas continua sendo a participação nos lucros da companhia, e

a outra é o pagamento dos juros.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 357-382, novembro 2017 367

No plano conceitual, cada espécie remunera o investimento por motivos próprios.

Enquanto os juros remuneram o investidor pela indisponibilidade dos recursos,

os dividendos remuneram-nos pelo particular sucesso do empreendimento social.

O acionista, ao subscrever ações, emprega dinheiro diretamente na companhia,

pagando-lhe o preço de emissão, nas condições do boletim de subscrição. Ao adquirir

ações, por outro lado, emprega também dinheiro na companhia, mas de forma - por

assim dizer - indireta, na medida em que, desembolsando o valor de negociação

ao alienante da participação societária, assume a titularidade dos recursos sociais

correspondentes. De um modo ou de outro, o dinheiro empregado no investimento

fi ca temporariamente indisponível, no sentido de que o acionista não pode, enquanto

for o titular da ação subscrita ou adquirida, fazer outro uso dele. A limitação dos juros

sobre o capital à TJLP, estabelecida pelo legislador tributário (Lei n. 9.249/95, art. 92,

caput), estabelece uma equivalência genérica entre essa espécie de remuneração

do acionista e a que ele, normalmente, encontraria no mercado, caso destinasse os

mesmos recursos a investimento diverso. Os dividendos representam, por sua vez, a

remuneração proporcionada ao investimento, pelo sucesso da empresa explorada

pela companhia. Se a sociedade anônima, em determinado exercício, paga juros

no limite legal da TJLP, e ainda delibera a distribuição de dividendos, os acionistas

podem distinguir, com clareza, a parcela da remuneração de seu capital, que seria

também obtida, em média, noutros investimentos oferecidos no mercado (juros), da

parcela gerada de modo particular pela concreta alternativa de investimento por eles

adotada (dividendos).

(Curso de direito comercial, vol. 2: direito de empresa. 15ª. ed. São Paulo:

Saraiva, 2011, p. 355)

Nessa linha de entendimento, confi ram-se os seguintes julgados desta

Corte Superior:

MANDADO DE SEGURANÇA. JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO DISTRIBUÍDOS AOS

SÓCIOS/ACIONISTAS. INCIDÊNCIA DE PIS E COFINS. NATUREZA DE DIVIDENDOS.

IMPOSSIBILIDADE. ISENÇÃO. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA. ART. 111 DO CTN. OMISSÃO

QUANTO A DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE DE APRECIAÇÃO.

...........................................................................

II - Discute-se, nos presentes autos, a incidência na base de cálculo do PIS e da

COFINS dos juros sobre capital próprio (JCP), com base no Decreto n. 5.164/2004,

o qual reduziu a zero a alíquota das referidas contribuições, excluindo as receitas

decorrentes dos JCP e de operações de ‘hedge’.

III - Os juros sobre capital próprio não possuem natureza de lucro ou

dividendo, mas de receita fi nanceira.

IV - De acordo com a Lei n. 9.249/95, apresentam-se os juros sobre capital próprio

como uma faculdade à pessoa jurídica, que pode fazer valer de seu creditamento

sem que ocorra o efetivo pagamento de maneira imediata, aproveitando-se da

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

368

capitalização durante esse tempo. Além do mais, ao contrário dos dividendos, os

JCP dizem respeito ao patrimônio líqüido da empresa, o que permite que sejam

creditados de acordo com os lucros e reservas acumulados.

V - As normas instituidoras de isenção (art. 111 do CTN), por preverem exceções

ao exercício de competência tributária, estão sujeitas à regra de hermenêutica

que determina a interpretação restritiva, dada à sua natureza. Não prevista,

expressamente, a hipótese de exclusão dos juros de capital próprio da base de cálculo

do PIS e da COFINS, pelas Leis n. 10.637/2002 e 10.833/2003, incabível fazê-lo por

analogia.

VI - Recurso especial improvido.

(REsp 921.269/RS, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, DJ

14/06/2007, sem grifos no original)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. INSURGÊNCIA

QUANTO AOS FUNDAMENTOS DA DECISÃO EMBARGADA. RECEBIMENTO COMO

AGRAVO REGIMENTAL. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE RECURSAL.

CONTRATO DE PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA. DIFERENCIAL ACIONÁRIO. BRASIL

TELECOM. DIVIDENDOS E JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO. NATUREZA JURÍDICA

DISTINTA. OFENSA AOS ARTS. 128 E 460 DO CPC. JUROS SOBRE O CAPITAL PRÓPRIO.

JULGAMENTO EXTRA PETITA. OCORRÊNCIA. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA.

RECURSO MANIFESTAMENTE INFUNDADO E PROCRASTINATÓRIO. APLICAÇÃO DE

MULTA. ART. 557, § 2º, CPC.

...........................................................................

2. Os dividendos decorrem do desempenho fi nanceiro da empresa, ou seja, do lucro

apurado pela empresa no período de um ano, remunerando o investidor pelo sucesso

do empreendimento social. Os juros sobre capital próprio, por sua vez, têm

origem nos lucros apresentados nos anos anteriores e que fi caram retidos na

sociedade e tem por fi nalidade remunerar o investidor pela indisponibilidade

do capital aplicado na companhia. Possuem ditas verbas natureza jurídica

distinta. Precedentes.

3. Os pedidos, no direito processual, devem ser interpretados estritamente, não

podendo ser alargados para incluir, na condenação, aquilo que não foi seu objeto

e não discutido no processo, sob pena de infringência ao princípio processual da

congruência.

4. Sob esse ângulo, a condenação ao pagamento dos juros sobre capital próprio

demanda pedido expresso na petição inicial da ação de complementação acionária,

sem o qual a decisão que os concede incorre em julgamento extra petita. Precedente

da 2ª Seção.

5. O recurso mostra-se manifestamente infundado, a ensejar a aplicação da multa

prevista no artigo 557, § 2º, do CPC.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 357-382, novembro 2017 369

6. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, a que se nega

provimento, com aplicação de multa.

(EDcl no AREsp 207.825/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA

TURMA, DJe 12/11/2012, sem grifos no original)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. JUROS SOBRE CAPITAL

PRÓPRIO E DIVIDENDOS. CUMULAÇÃO. POSSIBILIDADE. NATUREZAS DISTINTAS.

ENUNCIADO N. 83/STJ. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

1. Possibilidade de cumulação de dividendos com juros sobre capital próprio, por

possuírem naturezas jurídicas distintas. Enunciado n. 83/STJ.

2. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

(AgRg no Ag 1.362.396/RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,

TERCEIRA TURMA, DJe 16/03/2012)

Em sentido contrário, considerando que os JCP possuem natureza de lucro

a ser distribuído aos acionistas (tal qual os dividendos), merece referência a

doutrina de Rubens Requião, verbis:

A instituição de tais juros incidentes sobre capital próprio soa estranho, se

considerarmos as peculiaridades do direito societário e os conceitos, já clássicos,

sobre a natureza jurídica do sócio e de seus aportes para a formação do capital social,

e dos direitos derivados da participação na sociedade.

Ora, sabemos que o acionista, ou mesmo o sócio da sociedade, tem situação

peculiar, que não se confunde com a do titular de obrigações comuns, líquidas

e certas ou não, como a do mutuante ou credor por indenização por ato ilícito,

por exemplo. Seu estado de sócio, de acionista, lhe dá uma série de direitos e de

obrigações, tais como o de participar dos lucros sociais, do acervo da companhia, em

caso de liquidação, e de fi scalizar os negócios sociais, de preferência na subscrição de

ações e outros títulos emitidos pela sociedade anônima, e retirar-se da sociedade nos

casos previstos. Dentre as obrigações sobrelevam as de contribuir para a formação do

capital da sociedade, na forma ajustada, e de ser leal com a sociedade. No item 226

‘supra’, foi estudada a natureza jurídica da contribuição do sócio para a sociedade,

com exame de várias opiniões, para, no fi nal, ser transcrita a síntese de J. X. Carvalho

de Mendonça, para quem o ‘status’ de sócio se desdobra em duas partes, uma de

cunho patrimonial e outra de aspecto pessoal. O direito patrimonial do sócio consiste

em perceber o de lucros durante a existência social, e em participar da partilha da

massa residual, depois de liquidada a sociedade. Disse J. X. Carvalho de Mendonça:

“esse direito de crédito é, como se vê, ‘condicionado’, podendo ser exercido somente

sobre os lucros líquidos ... Os sócios, sob qualquer pretexto, não concorrem com os

credores da sociedade; têm um direito de subordinado inteiramente à liquidação

social, de modo que poderá ser igual a zero, ou ainda descer abaixo de zero ... “.

Acrescente-se ainda, que os lucros verifi cados são da sociedade, e poderão ser ou não

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

370

distribuídos conforme decidir, na normalidade dos casos, a maioria do capital social,

ressalvada a obrigação de distribuir dividendos mínimos, na sociedade anônima.

O juros, por outro lado, em seu conceito clássico, é havido como fruto civil e é um

pagamento que se faz pela utilização de capital alheio, com ou sem concordância

do titular deste. Os juros compensatórios são devidos como compensação pelo uso

do capital de outrem; os juros moratórios são devidos pela mora, pelo atraso em

devolver o capital ao titular.

Já foi visto, no n. 226 ‘supra’, que, em virtude da plena autonomia patrimonial

da pessoa jurídica, quando o sócio confere ao capital os seus cabedais, seja em

dinheiro ou em bens (móveis ou imóveis e até incorpóreos), procede à transferência

da respectiva propriedade. Iniludivelmente, a propriedade, mobiliária ou imobiliária,

sai do patrimônio do sócio e se transfere para o da sociedade, na quase totalidade

dos casos.

Assim, como explicar, juridicamente, o pagamento de juros pela sociedade, com

base em bens ou valores dos quais ela é proprietária, sendo certo que a conferência de

tais bens pelo acionista decorre de ato lícito, voluntário, translativo de propriedade,

e que não está tisnado de qualquer ilicitude praticada pela companhia? juros,

propriamente ditos, não são, como é perceptível. Será um encargo, autorizado pelo

legislador, mas duplamente eventual, pois depende da existência de lucros e da

disposição da empresa em pagá-los? E como podem ser imputados no valor do

dividendo obrigatório, um espírito mais objetivo poderá equipará-los, simplesmente,

aos próprios dividendos...

Apesar da perplexidade causada pelos juros para remuneração de capital próprio,

sem dúvida que representam um estímulo, um incentivo à remuneração (em sentido

leigo) do acionista ou sócio, com a possibilidade de seu montante ser abatido como

despesa, o que não acontece com o dividendo. Com a vantagem complementar, para

o Fisco, que tributa na fonte o seu pagamento. Resta aguardar o amadurecimento

do instituto, e, especialmente, sua resistência ao próximo aperto do caixa da União...

(Curso de Direito Comercial, 2º volume, 30ª ed., atualizado por Rubens

Edmundo Requião. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 325/326)

Acrescente-se que a legislação já prevê um valor mobiliário específi co que

pode ser emitido pela companhia para captar investimentos a juros, que é a

debênture, prevista nos arts. 52/74 da Lei 6.404/76.

Na linha desse entendimento doutrinário, a Comissão de Valores

Mobiliários - CVM emitiu as as Deliberações n. 207/96 e 683/12.

Consta nessa última deliberação que “o tratamento contábil dado aos JCP

deve, por analogia, seguir o tratamento dado ao dividendo obrigatório”, evidenciando

a natureza de lucro, não de juros.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 357-382, novembro 2017 371

Além dessas duas linhas opostas de entendimento, existe uma terceira

corrente, propondo uma cisão no conceito de JCP, de modo que ele possa

apresentar, do ponto de vista tributário, caráter de juros, e, do ponto de vista

societário, caráter de lucro a ser distribuído.

No parecer acostado aos presentes autos, a CVM, por meio de sua

Procuradoria Federal Especializada, parece ter esposado esse entendimento,

conforme se depreende do trecho abaixo transcrito:

“[...] os juros sobre capital próprio assemelham-se aos dividendos, para alguns fi ns

de aplicação do direito societário, embora revistam-se de algumas peculiaridades

decorrentes de seu tratamento tributário e de sua natureza de remuneração de

capital” (fl . 599).

No mesmo sentido, merece referência judicioso voto do Min. MASSAMI

UYEDA, proferido na Terceira Turma desta Corte Superior, sintetizado nos

termos da seguinte ementa:

RECURSO ESPECIAL - CONTRATO DE PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA EM PLANO

DE EXPANSÃO DE REDE DE TELEFONIA - AÇÃO DE COMPLEMENTAÇÃO DE AÇÕES

- BRASIL TELECOM S/A - LEGITIMIDADE PASSIVA - PRECEDENTES - PRESCRIÇÃO

- APLICAÇÃO DA REGRA PREVISTA NO CÓDIGO CIVIL - DIVIDENDOS - PRESCRIÇÃO -

NÃO-OCORRÊNCIA - DIVIDENDOS E JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO - COEXISTÊNCIA

- POSSIBILIDADE - RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO.

.........................................................................

III - Os dividendos possuem natureza acessória à obrigação principal, qual seja,

a indenização/subscrição das ações decorrentes de contrato de telefonia. Portanto,

não há falar em prescrição dos dividendos sem o prévio reconhecimento do direito à

subscrição das ações;

IV - O art. 202 da Lei n. Lei n. 6.404/76, ao delimitar os dividendos obrigatórios,

tanto na primeira parte de seu caput do artigo, como em seu § 1º, conferiu,

inequivocamente, ampla liberdade ao Estatuto da Companhia para estabelecer,

como dividendos dos acionistas, seja a parcela dos lucros, em cada exercício, seja

o percentual do capital social, sejam outros critérios para determiná-los, desde que

sejam regulados com precisão e minúcia e não sujeitem os acionistas minoritários ao

arbítrio dos órgãos de administração ou da maioria;

V - O Estatuto da Companhia é soberano quanto à definição dos dividendos

obrigatórios, podendo, por hipótese, assentar que os juros sobre capital próprio

sejam abatidos dos dividendos - em valores líquidos (desde que este abatimento

não represente uma percepção a menor dos dividendos reputados obrigatórios).

Tal situação, é certo, sequer é discutida nos presentes autos. Contudo, é de se deixar

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

372

assente inexistir óbice que estas remunerações coexistam, se assim previsto no

Estatuto, caso dos autos, nos termos assentados pelas Instâncias ordinárias;

VI - Ainda que se entenda que os juros sobre capital próprio não possuam

a natureza de dividendos, nos termos decididos por esta a. Corte, já que estes

incidem, em regra, sobre o lucro apresentado no exercício pela companhia, é

certo que aqueles, sob a ótica do acionista, também são, incontroversamente,

espécies do gênero remuneração dos acionistas;

VII - Delimitada a natureza jurídica dos juros sobre capital próprio, sob o enfoque

do acionista (espécie de remuneração dos acionistas), no que importa à presente

controvérsia, caso seja a ele conferido a distribuição de juros sobre capital próprio

pela Companhia, por expressa disposição estatutária, tal fato em nada deve intervir

na correta distribuição dos dividendos obrigatórios;

VIII - Nessa linha de raciocínio, os contornos gizados pela referida lei tributária

n. 9.249/95 (no caso dos autos, ressalte-se, sequer prequestionada) aos juros sobre

capital próprio (reputando-os como sendo despesas a serem abatidas, para, ao fi nal,

chegar-se ao resultado fi nal do exercício), de forma alguma interferem, para fi ns

societários, nos direitos dos acionistas reconhecidos no Estatuto;

IX - Em arremate, havendo expressa previsão estatutária dos juros sobre capital

próprio, nos termos consignados pelo Tribunal de origem, possível a coexistência

destes e dos dividendos obrigatórios.

X - Recurso Especial improvido.

(REsp 1.112.717/RS, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado

em 03/11/2009, DJe 11/12/2009)

Do inteiro teor do voto, cumpre transcrever o seguinte excerto:

Assim, delimitada a natureza jurídica dos juros sobre capital próprio, sob o

enfoque do acionista (espécie de remuneração dos acionistas), no que importa à

presente controvérsia, caso seja a ele conferida a distribuição de juros sobre capital

próprio pela Companhia, por expressa disposição estatutária, tal fato em nada deve

intervir na correta distribuição dos dividendos obrigatórios.

Nessa linha de raciocínio, os contornos gizados pela referida lei tributária n.

9.249/95 (no caso dos autos, ressalte-se, sequer prequestionada) aos juros sobre

capital próprio (reputando-os como sendo despesas a serem abatidas, para, ao fi nal,

chegar-se ao resultado fi nal do exercício), de forma alguma interferem, para fi ns

societários, nos direitos dos acionistas reconhecidos no Estatuto.

Vale dizer, não é porque determinada lei tributária elege determinado fato

gerador como tributável que a remuneração do acionista, por meio dos juros sobre

capital próprio (previsto no estatuto), pode, por via refl exa, prejudicar o recebimento

dos dividendos obrigatórios, outra forma de remuneração do acionista (de

destinação legal).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 357-382, novembro 2017 373

Aliás, em interpretação consentânea com sua fi nalidade de fi scalizar o mercado

mobiliário, a CVM editou a Deliberação n. 207/96, que disciplinou que os juros sobre

capital próprio, sob o enfoque do acionista, consubstanciam forma de participação

do acionista no resultado, de forma a preservar os direitos destes e evitar distorções

na distribuição dos lucros do exercício (que, como é de sabença, possui destinações

forçadas, como por ex, dividendos e reserva de capital).

Tem-se que tal interpretação, voltada para os fins societários, não padece de

qualquer ilegalidade, na medida em que a referida lei n. 9.249/95, com abrangência

exclusivamente tributária, não tem o condão de alterar a participação societária

dos acionistas nos termos preconizados no Estatuto da Companhia. (com grifos no

original)

A cisão do conceito de JCP, como proposta pelo Min. MASSAMI

UYEDA, é, a meu juízo, a melhor solução para o problema da natureza dos JCP,

pois não é possível conciliar numa mesma natureza características incompatíveis

entre si.

Efetivamente, como bem destacou Requião (supra), a obrigação de pagar

juros é uma obrigação certa, que independe do sucesso econômico do devedor,

ao passo que a obrigação de distribuir lucro é uma obrigação aleatória, sujeita ao

risco do empreendimento, que é da essência do direito societário, não havendo

como conciliar essas duas características.

Por exemplo, se a companhia passar por um longo período defi citário, isso

não a dispensará de pagar juros, quer os de mora, quer os compensatórios, mas

estará dispensada de pagar JCP (cf. art. 9º, § 1º, da Lei 9.249/95).

Desse modo, optando-se por um conceito único de JCP, sacrifi cam-se,

necessariamente, ou os propósitos tributários da Lei 9.249/95, ou os princípios

societários, protegidos pelas Deliberações CVM n. 207/96 e 683/12.

A melhor solução, portanto, é a cisão dos efeitos produzidos pelo instituto

jurídico para efeitos tributários e para efeitos societários.

Mas, como pode um ente ter, ao mesmo tempo, duas naturezas opostas?

Na verdade, ontologicamente, os JCP são parcela do lucro a ser distribuído

aos acionistas.

Apenas por fi cção jurídica, a lei tributária passou a considerar que os JCP

tem natureza de juros.

Ressalte-se que o Direito Tributário não é avesso a fi cções jurídicas, que

alteram a natureza de institutos jurídicos.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Defi nida essa natureza ambivalente dos JCP, passa-se à análise das questões

afetadas ao rito do art. 543-C do Código de Processo Civil.

A controvérsia referente à possibilidade de inclusão dos JCP nos cálculos

exequendos, suscita uma questão anterior, referente à possibilidade de inclusão

dos JCP na condenação, sem que haja pedido expresso na inicial.

Relativamente aos dividendos, esta Corte Superior defi niu, pelo rito do art.

543-C do Código de Processo Civil, que os dividendos podem ser incluídos na

condenação, independentemente de pedido expresso.

Eis a ementa do acórdão, paradigma da tese:

RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. BRASIL TELECOM. CONTRATO DE PARTICIPAÇÃO

FINANCEIRA. LEGITIMIDADE PASSIVA. DIVIDENDOS.

1. Para efeitos do art. 543-C do CPC:

...........................................................................

1.3. É devida indenização a título de dividendos ao adquirente de linha telefônica

como decorrência lógica da procedência do pedido de complementação das ações da

CRT/Celular CRT, a contar do ano da integralização do capital.

2. No caso concreto, recurso especial que se nega provimento.

(REsp 1.034.255/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO,

julgado em 28/04/2010, DJe 11/05/2010)

Porém, quanto aos JCP, esta Corte Superior decidiu pela necessidade de

pedido expresso, conforme se verifi ca no seguinte precedente:

RECURSO ESPECIAL. BRASIL TELECOM. JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO. PEDIDO

INEXISTENTE NO PROCESSO. IMPOSSIBILIDADE DE CONDENAÇÃO. PAGAMENTO

ESPONTÂNEO PELA EMPRESA, QUE NÃO GERA AUTOMATICIDADE DE MAIOR DIRETO.

JULGAMENTO EXTRA-PETITA. PARCELA EXCLUÍDA. INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO ART.

535 DO CPC.

1. Os pedidos se interpretam estritamente, de modo que, tendo a parte, por sua

vontade, pago extra-judicialmente o que entendeu acessório, não há como, sem

pedido processual expresso na petição inicial, condená-la, em processo judicial, a

realizar esse pagamento em Juízo, sob pena de haver julgamento extra-petita.

2. Confi gura julgamento extra-petita a inclusão de parcela referente a juros sobre

capital próprio na condenação, sem que houvesse pedido nesse sentido, devendo,

portanto, dessa condenação, ser excluída essa verba.

3. A jurisprudência deste Tribunal é pacífi ca ao proclamar que, se os fundamento

adotados pelo Acórdão recorrido bastam para motivar a conclusão, o julgador não

está obrigado a rebater, um a um, os argumento da parte.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 357-382, novembro 2017 375

4. Recurso Especial provido.

(REsp 1.171.095/RS, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, Rel. p/ Acórdão Ministro

SIDNEI BENETI, SEGUNDA SEÇÃO, DJe 03/12/2010)

É certo que o Direito Processual Civil tem aversão aos pedidos implícitos,

pois eles geram surpresa para a contraparte, sacrifi cando dois pilares do processo

civil, que são os princípios do contraditório e da ampla defesa.

No Código de Processo Civil vigente, encontram-se poucas hipóteses de

pedidos implícitos, como a correção monetária (Lei 6.899/81), os juros (art.

293), os honorários advocatícios (art. 20, caput) e as prestações que se vencerem

no curso da demanda (art. 290), não havendo nenhuma previsão que possa

abarcar a inclusão dos dividendos ou dos JCP como pedido implícito.

Essa preocupação foi externada pelo Ministro SIDNEI BENETI, no

julgamento do precedente supracitado, nos seguintes termos, verbis:

2.- A verba, etiologicamente fundada no Direito Societário, denomina-se juros,

nome idêntico aos juros, frutos do capital.

Mas, embora com o mesmo nome de juros, diferenciam-se, os juros sobre capital

próprio, dos juros legais, decorrentes da mora, que são acessórios da condenação ao

pagamento.

Para os juros de mora, verba acessória à condenação, há dispositivo processual

específi co, determinando-lhes a inclusão no pedido, ainda que deste não constantes,

por omissão da petição inicial, vindo, a necessidade de inclusão, exatamente em

decorrência da natureza jurídica de juros legais (CPC, art. 293, parte fi nal).

Para os juros sobre capital próprio, verba fundada, repita-se, no Direito Societário

e decorrente da própria voluntariedade das deliberações societárias, não há norma

idêntica, que lhes determine a inclusão no pedido que os omite.

3.- Por outro lado, os pedidos no direito processual se interpretam estritamente,

não sendo possível alargá-los, (CPC, art. 293, citado, primeira parte) para que se

inclua na condenação aquilo que não foi objeto do pedido, não se tendo permitido à

parte contrária a discussão de matéria não pedida.

Haveria inobservância do contraditório, e do princípio da adstrição, que não vejo

como superar.

4.- A parte, quando ajuíza, formula pedidos certos.

Ainda que possa ela eventualmente, entender que, pela relação de direito material,

teria algum outro direito pleiteável cumulativamente, pode ela deixar de pleitear

esse outro direito e, ao omiti-lo, pondera ela os riscos do ajuizamento, avaliando

até onde pode ela ir com aquela outra pretensão ou não, bem como sopesa todas

as vicissitudes de ganhar ou de não ganhar todas as pretensões possíveis, de modo

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

376

que, voluntariamente, por opção própria, arca com as conseqüências da decisão de

ajuizar ação relativamente a alguns pedidos, que teriam sido possíveis, mas que não

podem, por inexistentes no pedido, ser incluídos “de ofício”, pelo Juízo.

Assim, ainda que porventura se entendesse que algo fosse acessório na obrigação

de direito material, é possível que a parte não o peça em juízo, exatamente porque

não quer colocar a matéria no pedido.

Se ela não a inseriu no pedido, a parte contrária não pôde se defender de pretensão

a essa possível verba.

Dessa maneira não vejo como, realmente, inserir, em um pedido, aquilo que

não foi solicitado, reafi rmando que a parte contrária seria tomada de surpresa na

concessão de algo que realmente não foi pedido pelo autor na petição inicial.

5.- Volto à regra de que os pedidos se interpretam estritamente.

Se a empresa, na sua voluntariedade particular, porventura paga aquilo que

entende que é acessório, por espontaneidade dela pode fazê-lo, mas se não paga e a

parte contrária vem a juízo e não o pede, penso que, em juízo, não se pode substituir

a vontade da empresa, que não o pagou espontaneamente, mediante a oblíqua

interpretação como se fosse um possível acessório - que, segundo penso, não o é na

acepção societária.

Não se pode substituir, repito, essa vontade, digamos, de liberalidade, na

interpretação do que fosse acessório para a empresa. Mesmo que ela estivesse

pagando para os acionistas que não entraram em juízo, não vejo como, em juízo, vir a

compeli-la a pagar a quem em Juízo não pediu.

Se alguém realmente sustenta ter direito os juros sobre capital próprio, que os

peça, especifi camente, para que haja a discussão em contraditório a respeito dessa

matéria, observados, é claro, os prazos prescricionais.

Porém, uma vez aberta exceção à regra processual para se admitir os

dividendos como pedido implícito, não há justificativa para se adotar

entendimento diverso quanto JCP, pois essas verbas têm a mesma natureza para

o direito societário, como fundamentado no início deste voto.

É certo que, embora tenham a mesma natureza, os JCP não são idênticos

aos dividendos.

As diferenças, porém, entre os dois institutos não justifi cam um tratamento

diverso no que tange aos pedidos no processo.

A preocupação com o contraditório, embora extremamente relevante, fi ca

atenuada no caso das demandas de massa, pois tanto os dividendos quanto os

JCP são devidos de maneira uniforme para todos os acionistas, de modo que as

possibilidades de defesa são as mesmas para os milhares de processos em que se

discute a complementação de ações de empresas de telefonia.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 357-382, novembro 2017 377

Propõe-se, portanto, para manter coerência com a tese fi rmada no REsp

1.034.255/RS (supracitado), a consolidação do seguinte entendimento, para fi ns

do art. 543-C do CPC:

Nas demandas por complementação de ações de empresas de telefonia,

admite-se a condenação ao pagamento de dividendos e juros sobre capital

próprio independentemente de pedido expresso.

Resolvida a questão do pedido implícito, a outra controvérsia diz respeito

à possibilidade de condenação implícita ao pagamento dos JCP, ou seja

condenação não prevista no título executivo.

Essa questão é mais delicada do que a anterior por envolver o princípio da

imutabilidade da coisa julgada, que tem sede constitucional.

Por essa razão, a jurisprudência desta Corte Superior tem sido unânime

em vedar a possibilidade de execução, quer dos dividendos, quer dos JCP, sem

previsão expressa no título executivo.

Ilustrativamente, confi ram-se os seguintes julgados:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. BRASIL TELECOM.

INSURGÊNCIA DA PARTE AUTORA. COMPLEMENTAÇÃO ACIONÁRIA. IMPUGNAÇÃO

AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. DIVIDENDOS REFERENTES ÀS AÇÕES DA CRT

PARTICIPAÇÕES S/A. DETERMINAÇÃO DE PAGAMENTO PELO ACÓRDÃO RECORRIDO.

EXCESSO DE EXECUÇÃO. EXISTÊNCIA. RECURSO MANIFESTAMENTE INFUNDADO E

PROCRASTINATÓRIO. APLICAÇÃO DE MULTA. ART. 557, § 2º, CPC.

1. Os valores referentes aos dividendos sobre as ações da CRT Participações S/A

não podem ser concedidos em sede de cumprimento de sentença sem que conste, no

título executivo judicial, conteúdo condenatório alusivo à referida verba. Na hipótese,

impõe-se sua exclusão em obediência ao instituto da coisa julgada material.

2. O recurso revela-se manifestamente infundado e procrastinatório, devendo ser

aplicada a multa prevista no art. 557, § 2º, do CPC.

3. Agravo regimental não provido, com aplicação de multa.

(AgRg nos EDcl no AREsp 106.937/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,

QUARTA TURMA, julgado em 04/09/2012, DJe 10/09/2012)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. BRASIL TELECOM. CONTRATO

DE PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. JUROS SOBRE

CAPITAL PRÓPRIO. ALTERAÇÃO DOS CÁLCULOS DEFINIDOS NO TÍTULO EXECUTIVO

TRANSITADO EM JULGADO. DESCABIMENTO. COISA JULGADA. INAPLICABILIDADE DA

SÚMULA 371/STJ.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

378

1. A alteração dos parâmetros para apuração do montante devido defi nidos no

título judicial executivo transitado em julgado confi gura ofensa ao instituto da coisa

julgada, não importando se houve ulterior modificação no entendimento do STJ

quanto a questões já decididas na fase de conhecimento.

2. Depende de condenação expressa no título executivo judicial a execução do

valor referente aos juros sobre capital próprio decorrentes de ações oriundas de

contrato de participação fi nanceira para aquisição de linha telefônica.

3. Não sendo demonstrada com clareza e precisão a necessidade de reforma

da decisão, aplica-se, por analogia, a Súmula n. 284/STF: “É inadmissível o recurso

extraordinário, quando a defi ciência na sua fundamentação não permitir a exata

compreensão da controvérsia”.

4. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no REsp 1.261.874/RS, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,

TERCEIRA TURMA, julgado em 18/02/2014, DJe 05/03/2014)

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO

REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. IMPUGNAÇÃO DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.

OFENSA AO ART. 535 DO CPC. INEXISTÊNCIA. JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO.

AUSÊNCIA DE PREVISÃO NO TÍTULO EXEQUENDO. EXCLUSÃO DESSA RUBRICA, SOB

PENA DE VIOLAÇÃO DA COISA JULGADA. ART. 469, I, DO CPC. AGRAVO NÃO PROVIDO.

1. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental em face do nítido

caráter infringente das razões recursais. Aplicação dos princípios da fungibilidade

recursal e da economia processual.

...............................................................................

3. Não sendo os juros sobre capital próprio contemplados no título executivo,

em que pese tratar-se de rubrica acessória, não cabe sua inserção em sede de

cumprimento de sentença, em obediência à coisa julgada.

4. Agravo regimental a que se nega provimento.

(EDcl no REsp 1.357.474/RS, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA,

julgado em 20/02/2014, DJe 25/03/2014)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL.

BRASIL TELECOM. CARÁTER INFRINGENTE DOS ACLARATÓRIOS. PRINCÍPIO

DA FUNGIBILIDADE. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. INCLUSÃO DE DIVIDENDOS.

DESCABIMENTO. PRINCÍPIO DA FIDELIDADE AO TÍTULO.

...........................................................................

2. Limitação do cumprimento ou liquidação de sentença ao exato comando

expresso no título executivo (princípio da fi delidade ao título).

3. Descabimento da inclusão de dividendos na fase de cumprimento de sentença

sem amparo no título executivo.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 357-382, novembro 2017 379

4. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO CONHECIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL E

DESPROVIDO.

(EDcl no REsp 1.157.728/RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,

TERCEIRA TURMA, julgado em 07/08/2012, DJe 13/08/2012)

Na esteira desses julgados, propõe-se a consolidação da tese nos seguintes

termos:

Descabimento da inclusão dos dividendos ou dos juros sobre capital próprio

no cumprimento da sentença condenatória à complementação de ações sem

expressa previsão no título executivo.

Por fi m, a tese referente à possibilidade de cumulação de dividendos e JCP

possui jurisprudência unânime nesta Corte Superior, no sentido de se admitir a

cumulação, conforme exemplifi cam os seguintes julgados:

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. COMPLEMENTAÇÃO ACIONÁRIA.

JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO. ALEGAÇÃO DE JULGAMENTO EXTRA PETITA

E VIOLAÇÃO À COISA JULGADA. INOVAÇÃO RECURSAL. CUMULAÇÃO COM

DIVIDENDOS. PRECEDENTES.

1. Configura inovação recursal a tentativa de discutir, em sede de agravo

regimental, questões que não foram objeto do recurso especial.

2. Havendo expressa previsão estatutária dos juros sobre capital próprio,

nos termos consignados pelo Tribunal de origem, possível a coexistência destes

e dos dividendos obrigatórios. X - Recurso Especial improvido. (REsp 1.112.717/

RS, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/11/2009, DJe

11/12/2009) 3. Agravo regimental a que se nega provimento.

(AgRg no REsp 1.166.142/RS, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA,

julgado em 18/12/2012, DJe 07/02/2013)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTRATO DE

PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA. BRASIL TELECOM. VALOR PATRIMONIAL DA AÇÃO.

LEGITIMIDADE PASSIVA. PRESCRIÇÃO. DIVIDENDOS. JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO.

COISA JULGADA.

1. O STJ, interpretando o artigo 202 da Lei n. 6.404/76, entende que, havendo

previsão estatutária, é possível o pagamento cumulado dos juros sobre capital

próprio com dividendos, pois ambos decorrem do direito à subscrição de ações,

devendo ser pagos nas mesmas condições e exercícios a que têm direito os acionistas.

2. Agravo regimental não provido.

(AgRg no Ag 1.168.343/RS, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,

TERCEIRA TURMA, julgado em 06/06/2013, DJe 18/06/2013)

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

380

Efetivamente, a cumulação de dividendos e JCP não confi gura bis in idem,

pois os dois institutos embora tenham a natureza jurídica semelhante do ponto

de vista societário, não são idênticos, incidindo cada uma sobre parcelas distintas

dos lucros a serem distribuídos aos acionistas.

Também não se vislumbra, na cumulação, possibilidade de ofensa ao

princípio da intangibilidade do capital social, pois a própria Lei 9.249/95 (art.

9º, § 1º) condicionou o pagamento à existência de lucros equivalentes ao dobro

dos JCP a serem pagos.

Desse modo, propõe-se a consolidação da última tese nos seguintes termos:

Cabimento da cumulação de dividendos e juros sobre capital próprio.

Defi nidas as teses a serem consolidadas pelo rito do art. 543-C do CPC,

passa-se ao exame do caso concreto.

No que tange ao valor patrimonial da ação, descabida a sua alteração

na fase de cumprimento de sentença, pois o dispositivo do título executivo

(transcrito nas razões do apelo nobre) não só defi niu o VPA a ser utilizado

como também já calculou o número de ações devidas com base nesse VPA, no

caso, 25.203 da CRT/Cel (cf. fl . 479).

Relativamente aos dividendos e aos juros sobre capital próprio, assiste

razão à recorrente, pois o título executivo somente contém condenação ao

pagamento dos dividendos, nada dispondo sobre os juros sobre capital próprio,

sendo de rigor o decote dessa parcela, em respeito à coisa julgada.

Excluídos os JCP, resta prejudicada a alegação referente à impossibilidade

de cumulação desta parcela com os dividendos.

Quanto ao limite fi nal para recebimento dos dividendos, a matéria não

foi debatida no acórdão recorrido e, a despeito da oposição de embargos de

declaração na origem, não houve alegação de negativa de prestação jurisdicional

quanto a esse ponto específi co, fazendo incidir o óbice da Súmula 211/STJ,

abaixo transcrita:

Súmula 211/STJ - Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito

da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo tribunal “a quo”.

Por fi m, quanto aos honorários advocatícios, esta Corte Superior pacifi cou,

sob o rito do art. 543-C do CPC, o entendimento de que não é cabível

novo arbitramento de honorários em favor do exequente na impugnação ao

cumprimento de sentença.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 357-382, novembro 2017 381

A propósito, transcreve-se o acórdão paradigma da tese:

RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. CUMPRIMENTO DE

SENTENÇA. IMPUGNAÇÃO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.

1. Para efeitos do art. 543-C do CPC:

1.1. São cabíveis honorários advocatícios em fase de cumprimento de sentença,

haja ou não impugnação, depois de escoado o prazo para pagamento voluntário a

que alude o art. 475-J do CPC, que somente se inicia após a intimação do advogado,

com a baixa dos autos e a aposição do “cumpra-se” (REsp n. 940.274/MS).

1.2. Não são cabíveis honorários advocatícios pela rejeição da impugnação ao

cumprimento de sentença.

1.3. Apenas no caso de acolhimento da impugnação, ainda que parcial, serão

arbitrados honorários em benefício do executado, com base no art. 20, § 4º, do CPC.

2. Recurso especial provido.

(REsp 1.134.186/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, CORTE ESPECIAL,

julgado em 01/08/2011, DJe 21/10/2011)

No caso dos autos, o Tribunal a quo manteve a condenação da ora recorrente

ao pagamento de honorários também pela impugnação ao cumprimento de

sentença, sendo necessário reformar o acórdão para excluir esses honorários

e condenar a parte exequente (ora recorrida) ao pagamento de honorários

em razão da procedência da impugnação no que tange aos juros sobre capital

próprio.

Destarte, o recurso especial merece ser provido, em parte.

Ante o exposto, voto nos seguintes termos:

(i) Para os fi ns do art. 543-C do Código de Processo Civil:

i.1. Cabimento da cumulação de dividendos e juros sobre capital próprio.

i.2. Nas demandas por complementação de ações de empresas de telefonia,

admite-se a condenação ao pagamento de dividendos e juros sobre capital próprio

independentemente de pedido expresso.

i.3. Descabimento da inclusão dos dividendos ou dos juros sobre capital próprio no cumprimento da sentença condenatória à complementação de ações sem

expressa previsão no título executivo.

(ii) Caso concreto: dou parcial provimento ao recurso especial para decotar

do cumprimento de sentença os juros sobre capital próprio, bem como para

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

382

excluir a condenação da ora recorrente ao pagamento de honorários advocatícios

na impugnação ao cumprimento de sentença.

Condeno a ora recorrida (impugnada) ao pagamento de honorários

advocatícios em favor da parte ora recorrente (impugnante) no percentual de

30% dos honorários arbitrados na execução, admitida a compensação.

Custas e demais despesas da impugnação distribuídas em 70% pela ora

recorrente e 30% pela ora recorrida.

É o voto.

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Súmula n. 552

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SÚMULA N. 552

O portador de surdez unilateral não se qualifica como pessoa com

defi ciência para o fi m de disputar as vagas reservadas em concursos públicos.

Referências:

CF/1988, art. 37, VIII.

Lei n. 7.853/1989.

Decreto n. 3.298/1999, arts. 3º, I, e 4º, II.

Decreto n. 5.296/2004, art. 70.

Precedentes:

MS 18.966-DF (CE, 02.10.2013 – DJe 20.03.2014) –

acórdão publicado na íntegra

REsp 1.307.814-AL (1ª S, 11.02.2014 – DJe 31.03.2014)

RMS 36.081-PE (1ª S, 28.05.2014 – DJe 23.09.2014)

AgRg no REsp 1.374.669-RJ (1ª T, 08.05.2014 – DJe 19.05.2014)

AgRg no REsp 1.379.284-SE (1ª T, 18.11.2014 – DJe 26.11.2014)

AgRg no

AgRg no REsp 1.390.124-RS (2ª T, 25.03.2014 – DJe 31.03.2014)

AgRg no

AgRg no AREsp 364.588-PE (2ª T, 03.04.2014 – DJe 14.04.2014)

AgRg no AREsp 510.378-PE (2ª T, 05.08.2014 – DJe 13.08.2014)

AgRg no RMS 43.230-SP (2ª T, 23.10.2014 – DJe 27.11.2014)

Corte Especial, em 4.11.2015

DJe 9.11.2015

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MANDADO DE SEGURANÇA N. 18.966-DF (2012/0162583-4)

Relator: Ministro Castro Meira

Relator para o acórdão: Ministro Humberto Martins

Impetrante: Marcella Maria Cintra Leal de Souza

Advogada: Marcella Maria Cintra Leal de Souza (em causa própria)

Impetrado: Ministro Presidente do Superior Tribunal de Justiça

Impetrado: Diretor Geral do Centro de Seleção e de Promoção de Eventos

da Universidade de Brasília - CESPE - UNB

Interes.: União

EMENTA

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. CONCURSO

PÚBLICO. CONCEITO DE DEFICIENTE AUDITIVO.

DECRETO 3.298/99 ALTERADO PELO DECRETO

5.296/2004. APLICAÇÃO AO EDITAL COM AMPARO

NORMATIVO. JURIDICIDADE. PRECEDENTE DO STF.

DIVERGÊNCIA FÁTICA QUE DEMANDARIA DILAÇÃO

PROBATÓRIA. PRECEDENTES. AUSÊNCIA DE DIREITO

LÍQUIDO E CERTO.

1. Cuida-se de writ of mandamus impetrado contra o Ministro

Presidente do Superior Tribunal de Justiça e o Diretor Geral do

Centro de Promoção de Eventos da Universidade de Brasília (CESPE

- UnB), no qual candidata em concurso público, portadora de surdez

unilateral, alega que deveria ser enquadrada na qualidade de defi ciente

físico, por interpretação sistemática dos arts. 3º e 4º do Decreto

n. 3.298/99 em cotejo com a Constituição Federal e convenções

internacionais.

2. O Decreto n. 5.296/2004 alterou a redação do art. 4º, II, do

Decreto n. 3.298/99 e excluiu da qualifi cação “defi ciência auditiva” os

portadores de surdez unilateral; a jurisprudência do Supremo Tribunal

Federal frisou a validade da referida alteração normativa. Precedente:

AgRg no MS 29.910, Relator Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma,

Processo Eletrônico, divulgado no DJe 146 em 29.7.2011 e publicado

em 1º.8.2011.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

388

3. A junta médica tão somente emitiu laudo técnico em sintonia

com as previsões do Edital 1 – STJ, de 8.2.2012, cujo teor meramente

remete ao Decreto n. 3.298/99 e suas alterações, que foi o parâmetro do

ato reputado coator, em verdade praticado sob o pálio da juridicidade

estrita.

4. Para apreciar qualquer argumento no sentido de que

haveria alguma incapacidade diversa da impetrante em prol de a

alocar na qualidade de defi ciente auditiva seria imperioso realizar

contraditório e dilação probatória, providências vedadas em sede de

rito mandamental. Precedente específi co: AgRg na AO 1.622/BA,

Relator Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgado em 21.6.2011,

publicado no DJe – 125 em 1º.7.2011 e no Ement. vol. 2555-01,

p. 1. No mesmo sentido: AgRg no RMS 33.928/SC, Rel. Ministro

Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 27.10.2011.

Segurança denegada.

ACÓRDÃO

Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro João Otávio

de Noronha acompanhando a divergência e o voto do Sr. Ministro Raul Araújo,

no mesmo sentido, a Corte Especial, por maioria, denegou a ordem. Lavrará o

acórdão o Sr. Ministro Humberto Martins.

Votaram com o Sr. Ministro Humberto Martins os Srs. Ministros Herman

Benjamin, Sidnei Beneti, Mauro Campbell Marques, João Otávio de Noronha

e Raul Araújo. Vencidos os Srs. Ministros Relator, Arnaldo Esteves Lima, Luis

Felipe Salomão e Laurita Vaz.

Não participaram do julgamento os Srs. Ministros Gilson Dipp, Nancy

Andrighi, Napoleão Nunes Maia Filho, Jorge Mussi e Sebastião Reis Júnior.

Impedidos os Srs. Ministros Ari Pargendler e Felix Fischer.

Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Francisco Falcão, Arnaldo

Esteves Lima, Maria Thereza de Assis Moura, Sidnei Beneti, Luis Felipe

Salomão, Mauro Campbell Marques e Benedito Gonçalves.

Convocados os Srs. Ministros Raul Araújo e Sebastião Reis Júnior.

Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Eliana Calmon.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 383-433, novembro 2017 389

Brasília (DF), 02 de outubro de 2013 (data do julgamento).

Ministra Eliana Calmon, Presidente

Ministro Humberto Martins, Relator

DJe 20.3.2014

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Castro Meira: O mandado de segurança foi impetrado por

Marcella Maria Cintra Leal de Souza, em favor próprio, contra ato do Ministro

Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Diretor-Geral do Centro de

Seleção e de Promoção de Eventos da Universidade de Brasília-Cespe/UnB por

ter-lhe sido negada a qualifi cação como defi ciente física no concurso público,

deste ano, para provimento de vagas e formação de cadastro de reserva no cargo

de analista judiciário do quadro de pessoal desta Corte.

Afi rma ser defi ciente física descrita por “perda auditiva neurosensorial

de grau profundo no ouvido esquerdo - anacusia”, ou seja, surdez unilateral

(CID H90.5), de etiologia indeterminada, comprovada por três laudos médicos

particulares.

Alega que se candidatou no último concurso público para a vaga de

analista judiciário do Superior Tribunal de Justiça e foi classifi cada em todas as

etapas do certame, mas o laudo da Junta Médica responsável pela realização da

perícia, malgrado tenha reconhecido a anacusia no ouvido esquerdo, concluiu

que ela não era defi ciente física, nos termos do art. 4º, II, do Decreto 3.298/99.

O recurso interposto contra a perícia médica foi indeferido, sob o fundamento

de que o decreto que rege o concurso restringe o conceito de defi ciência à perda

auditiva bilateral.

Sustenta a possibilidade de portadores de surdez unilateral e irreversível

concorrerem às vagas reservadas a defi cientes físicos em concurso públicos, nos

termos da defi nição de defi ciência extraída do art. 3º, I e II, do mesmo Decreto

3.298/99.

Argumenta que “o objetivo da Lei é permitir que pessoas com defi ciência

sua participação em igualdade de condições com aquele que não possui qualquer

limitação, sendo certo que o fato de o indivíduo ser pessoa com surdez unilateral

não o torna pleno e total gozo de seus sentidos, sendo forçosa a prestação

jurisdicional positiva” (e-STJ fl . 6 - sic).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

390

Cita acórdãos das Cortes Regionais e deste Tribunal e faz menção a

julgado do Superior Tribunal Militar no qual foi determinada a sua nomeação

e posse em concurso público lá realizado, nas vagas reservadas aos defi cientes

físicos.

Pleiteia, ao final, seja concedida a segurança para declarará-la como

candidata apta a concorrer às vagas destinadas aos portadores de defi ciência,

bem como seja nomeada e empossada no cargo respectivo, observado o número

de vagas e a ordem de aprovação.

O pedido de gratuidade da justiça foi deferido (e-STJ fl . 118).

Liminar indeferida (e-STJ fl . 123).

A União requereu seu ingresso no feito, nos termos do art. 7º, inciso II, da

Lei 12.016/09, pleito deferido à e-STJ fl . 230.

As autoridades apontadas como coatoras apresentaram as informações

(e-STJ fl s. 142-189 e 191-210), oportunidade em que o Diretor-Geral do

Centro de Seleção e de Promoção de Eventos da Universidade de Brasília

sustentou a impossibilidade jurídica do pedido, por ser vedado o ingresso no

mérito do ato administrativo, e a necessidade de citação dos litisconsortes

passivos necessários para que esses candidatos defendam seus interesses. No

mérito, defendeu a legalidade do ato, asseverando que a impetrante não foi

considerada portadora de defi ciência, porque possui apenas perda auditiva

unilateral, não se enquadrando no Decreto 3.298/99, alterado pelo Decreto

5.296/04, que regem o edital. Discorre sobre a possível ofensa ao princípio da

isonomia em caso de provimento jurisdicional.

O Ministério Público Federal, em parecer da lavra da Subprocuradora-

Geral da República Dra. Maria Caetana Cintra Santos, opinou pela concessão

da segurança (e-STJ fl s. 225-228).

É o relatório.

VOTO

EMENTA: ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO.

INCURSÃO NO MÉRITO ADMINISTRATIVO. NÃO

OCORRÊNCIA. FORMAÇÃO DE LITISCONSÓRCIO

PASSIVO. DESNECESSIDADE. VAGAS DESTINADAS

AOS DEFICIENTES FÍSICOS. CANDIDATA PORTADORA

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 383-433, novembro 2017 391

DE GRAVE PERDA AUDITIVA UNILATERAL.

INTERPRETAÇÃO DOS ARTS. 3º E 4º DO DECRETO N.

3.298/99. DECRETO 6.949/09. DIREITO LÍQUIDO E CERTO.

PARECER PELA CONCESSÃO DA ORDEM. SEGURANÇA

CONCEDIDA.

1. Em se tratando de concurso público, cabe ao Poder Judiciário

o exame da legalidade das normas instituídas no edital e dos atos

praticados na realização do certame. Outrossim, não há a formação de

litisconsórcio passivo necessário, visto que os candidatos detêm apenas

expectativa de direito à nomeação. Preliminares rejeitadas.

2. A jurisprudência majoritária desta Corte Superior de Justiça

assegura a reserva de vagas destinadas aos portadores de defi ciência a

candidatos acometidos de perda auditiva, bilateral ou unilateral, tendo

em vista que o art. 4º, II, do Decreto 3.298/99, que defi ne as hipóteses

de defi ciência auditiva, deve ser interpretado em consonância com o

art. 3º do mesmo diploma legal.

3. Afi gura-se irrazoável entender que uma grave perda auditiva

unitaleral não qualifique seu portador como deficiente, sendo

a defi ciência defi nida como toda perda ou anormalidade de uma

estrutura ou função psicológica, fi siológica ou anatômica que gere

incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão

considerado normal para o ser humano (art. 3º, I), somado ao fato de

que a própria norma refere-se à perda auditiva parcial (art. 4º, II).

4. O Governo brasileiro ratifi cou e, por meio do Decreto 6.949/09,

promulgou a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas

com Defi ciência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York,

em 30 de março de 2007, aprovada pelo Congresso Nacional com a

autoridade de emenda constitucional (art. 5º, § 3º, da CF/88), cujo

propósito e defi nição de pessoa com defi ciência estão estabelecidos

no Artigo 1 da Convenção: “O propósito da presente Convenção é

promover, proteger e assegurar o exercício pleno e eqüitativo de todos

os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas

com defi ciência e promover o respeito pela sua dignidade inerente.

Pessoas com defi ciência são aquelas que têm impedimentos de longo

prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em

interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

392

plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as

demais pessoas”.

5. Parecer do Ministério Público Federal pela concessão da

ordem.

6. Segurança concedida.

O Sr. Ministro Castro Meira (Relator): Inicialmente, reconheço a

competência da Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça para conhecer e

julgar o presente writ, por desafi ar ato da Presidência deste Tribunal, autoridade

responsável pela publicação do edital do concurso público respectivo e que

defendeu a legalidade da exclusão havida.

Determina a Constituição Federal:

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:

I - processar e julgar, originariamente:

........................................................................................................

b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de

Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio

Tribunal;

Passo seguinte, de impossibilidade jurídica do pedido não há que se falar,

porquanto, em se tratando de concurso público, cabe ao Poder Judiciário o

exame da legalidade das normas instituídas no edital e dos atos praticados na

realização do certame, sendo vedada tão só a incursão no mérito administrativo,

a exemplo dos critérios de formulação de questões, de correção de provas, e

atribuição de notas aos candidatos, salvo nos casos fl agrantes de violação à

razoabilidade.

Nesse sentido:

ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.

CONCURSO PÚBLICO. SERVIÇOS NOTARIAIS E DE REGISTRO. VALORAÇÃO DA

PROVA DE TÍTULOS. DIMINUIÇÃO DA NOTA PELA COMISSÃO ORGANIZADORA.

CRITÉRIO DE CORREÇÃO. MÉRITO ADMINISTRATIVO. REFORMATIO IN PEJUS.

AUSÊNCIA. AUTOTUTELA DA ADMINISTRAÇÃO. ADI N. 3.522-3, STF. LEI 11.183/98.

EXCLUSÃO TOTAL DOS PONTOS CORRESPONDENTES À ATUAÇÃO, COMO

PREPOSTO, EM SERVENTIAS EXTRAJUDICIAIS. ATRIBUIÇÃO DE PONTOS AOS QUE

EXERCERAM ADVOCACIA, MAGISTRATURA E PROMOTORIA. FINALIDADE DOS

TÍTULOS. VIOLAÇÃO.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 383-433, novembro 2017 393

1. No mandamus, o impetrante insurge-se contra decisão da Comissão

Permanente dos Concursos de Ingresso e Remoção para os Serviços Notariais e de

Registro, que procedeu à reavaliação dos títulos apresentados pelo impetrante na

3ª fase do certame, reduzindo a pontuação obtida anteriormente.

2. Os critérios de correção de provas, atribuição de notas e avaliação de

títulos adotados pela Comissão de Concursos, em regra, não podem ser revistos

pelo Judiciário, cuja competência se restringe ao exame da legalidade, ou seja,

à observância dos elementos objetivos contemplados no edital e na lei que

regem o certame. A justiça ou injustiça da decisão da Comissão Permanente de

Concursos é matéria de mérito do ato administrativo, sujeita à discricionariedade

técnica da autoridade administrativa. Precedentes.

3. Neste caso, os critérios adotados pela comissão examinadora para

interpretar o que está consignado nos itens 5 (magistério em disciplina jurídica

vinculada ao exercício da fundação notarial) e 6 (publicação de livros e artigos em

revista jurídica sobre temas diretamente relacionados com a função) da tabela de

títulos do Edital n. 02/2004, aplicados objetivamente a todos os candidatos do

concurso público, em obediência à razoabilidade e à proporcionalidade, não são

passíveis de reapreciação judicial.

4. Não houve violação da norma contemplada no art. 31 do regulamento do

concurso, Ato n. 002/99, do Conselho da Magistratura e, consequentemente,

ao princípio da reformatio in pejus, pois o novo enquadramento dos pontos

não fora realizado na fase recursal. Com a retificação do procedimento

utilizado anteriormente, passou-se a apreciar, originariamente, todos os títulos

apresentados, atribuindo-se, segundo critérios objetivamente definidos, a

correspondente pontuação aos mesmos. Assim, a diminuição dos pontos

inicialmente conferidos ao impetrante decorreu do regular exercício da autotutela

pela Administração Pública. Incidência da Súmula 473/STF. (RMS 22141/RS, Rel.

Min. Humberto Martins, DJe 18.09.2008).

5. Outrossim, no que concerne à exclusão total dos pontos concedidos pela

atuação como preposto em serventia notarial, para que se observe a fi nalidade da

prova de títulos e o edital do certame – sem se afastar do que foi consignado pelo

STF no julgamento da ADI 3.522-3 –, deve-se atribuir ao impetrante a pontuação

por haver comprovado o exercício da aludida atividade, nos termos regrados no

item 2 da tabela de títulos, limitando-a, contudo, ao valor máximo conferido ao

exercício da advocacia, da magistratura e da promotoria.

6. Com efeito, a exclusão total dos pontos daqueles que possuem experiência

na atividade notarial, ao mesmo tempo em que é atribuído valor à atuação

do candidato em funções totalmente distintas (promotor, procurador, juiz, por

exemplo), contraria inequivocamente a fi nalidade da exigência de títulos, qual

seja: demonstrar que o candidato reúne atributos e conhecimentos técnicos que

o coloca, ainda que em tese, numa posição de maior capacidade para o exercício

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

394

das atividades em relação a seus concorrentes. Apreciando situação similar, a

contrario sensu, confi ram-se os precedentes desta Corte e do STF: RMS 24.509/RS,

Rel. Min. Castro Meira e Rcl 4.426/RS, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJU 08.06.09).

7. Recurso ordinário em mandado de segurança provido em parte (RMS 23.878/

RS, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 23/02/2010, DJe

08/03/2010).

Ademais, é dispensável a citação dos outros candidatos aprovados

no concurso público, a título de litisconsórcio passivo necessário, visto que

eles detêm apenas expectativa de direito à nomeação, a teor dos seguintes

precedentes:

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM

RECURSO ESPECIAL. CONCURSO PÚBLICO. LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO.

INEXISTÊNCIA. ARTS. 3º E 41 DA LEI 8.666/93. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA.

SÚMULAS 282/STF E 211/STJ. FUNDAMENTO INATACADO. SÚMULA 182/STJ.

AGRAVO NÃO PROVIDO.

1. “É Dispensável a formação do litisconsórcio passivo necessário entre os

candidatos aprovados em concurso público, uma vez que possuem apenas

expectativa de direito a nomeação” (AgRg no AREsp 20.530/PI, Rel. Min. TEORI

ALBINO ZAVASCKI, Primeira Turma, DJe 13/10/11).

........................................................................................................

4. Agravo regimental não provido (AgRg no AREsp 89.428/BA, Rel. Ministro

ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/05/2012, DJe

23/05/2012);

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CONCURSO PÚBLICO. PETROBRÁS.

EXCLUSÃO DE CANDIDATO DO CERTAME. MANDADO DE SEGURANÇA.

CABIMENTO. ATO DE AUTORIDADE. FORMAÇÃO DE LITISCONSÓRCIO PASSIVO

NECESSÁRIO. DESNECESSIDADE. JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA DESTA CORTE

SUPERIOR NESSES SENTIDOS. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ CARACTERIZADA.

1. Esta Corte Superior possui jurisprudência no sentido de que atos praticados

por sociedade de economia mista no âmbito de concurso público de seleção

de pessoal são atos de autoridade para fins de impetração de mandado de

segurança. Precedentes.

2. Também pacificou-se no Superior Tribunal de Justiça a orientação pela

desnecessidade de citação dos candidatos aprovados e dos demais inscritos

no concurso público, a título de litisconsórcio necessário, em demanda cuja

pretensão se limita a discutir ato de exclusão de certo candidato do certame, por

gozarem tais candidatos de mera expectativa de direito. Precedentes.

........................................................................................................

6. Recurso especial não provido, com aplicação de multa por litigância de

má-fé na razão de 1% sobre o valor atualizado da causa (REsp 1.298.074/SP,

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 383-433, novembro 2017 395

Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em

12/04/2012, DJe 17/04/2012).

Rejeitadas as preliminares, passo ao exame do mérito.

É incontroverso que a impetrante sofre de perda auditiva unilateral, como

faz prova os laudos particulares trazidos aos autos, verbis:

Declaro para os devidos fi ns que a paciente acima não apresenta alterações

ao exame otorrinolaringológico. Apresenta à audiometria tonal perda auditiva

neurossensorial de grau profundo (anacusia) no ouvido esquerdo, de etiologia

indeterminada (congênita?). Ausência de emissões otoacústicas nas frequências

de 2, 3, 4, 6 e 8 Khz à E, presentes em todas as frequências à D. CID: H90.5 (e-STJ

fl . 18);

Examinei nesta data a Srta. Marcella Maria Cintra Leal de Souza, RG n. 2.161.860

SSPDF. É portadora de surdez profunda no ouvido esquerdo, de natureza neuro-

sensorial - CID H 90.4. Não é possível identifi car a causa (e-STJ fl . 20);

A Srta. Marcella Maria Cintra Leal de Souza, RG 2161860 SSP-DF foi submetida a

exame otorrinolaringológico sob meus cuidados profi ssionais nesta data de hoje,

de onde foi possível concluir que o caso se trata de defi ciência auditiva unilateral

à esquerda de grau profundo e irreversível de causa desconhecida, conforme

audiograma anexo; portanto já que a orelha contra-lateral não apresentar

qualquer alteração, confi gura-se portanto um caso de ouvido único normal à

direita. CID: H90.5 (e-STJ fl . 23).

A própria Junta Médica examinadora reconheceu a perda auditiva, pelo

que se depreende da negativa ao recurso da candidata:

De acordo com o Decreto n. 3.298/99, atualizado pelo Decreto n. 5.296/2004,

que rege o Edital n. 01 do STJ, de 08/02/2012, sobre defi ciência auditiva: “perda

bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por

audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz e 3.000Hz”. Portanto, se a candidata

apresenta perda auditiva unilateral não pode ser clinicamente enquadrada como

pessoa com defi ciência nos termos do Edital.

Isso estabelecido, a redação original do Decreto n. 3.298/99, que

regulamenta a lei sobre Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora

de Defi ciência (Lei 7.853/89), assim dispunha:

Art. 3º Para os efeitos deste Decreto, considera-se:

I - deficiência – toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função

psicológica, fi siológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho

de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano;

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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II - defi ciência permanente – aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um

período de tempo sufi ciente para não permitir recuperação ou ter probabilidade

de que se altere, apesar de novos tratamentos; e

III - incapacidade – uma redução efetiva e acentuada da capacidade de

integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou

recursos especiais para que a pessoa portadora de defi ciência possa receber ou

transmitir informações necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho

de função ou atividade a ser exercida.

Art. 4º É considerada pessoa portadora de defi ciência a que se enquadra nas

seguintes categorias:

I - defi ciência física – alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do

corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-

se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia,

tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputação ou

ausência de membro, paralisia cerebral, membros com deformidade congênita ou

adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam difi culdades

para o desempenho de funções;

II - deficiência auditiva – perda parcial ou total das possibilidades auditivas

sonoras, variando de graus e níveis na forma seguinte:

a) de 25 a 40 decibéis (db) – surdez leve;

b) de 41 a 55 db – surdez moderada;

c) de 56 a 70 db – surdez acentuada;

d) de 71 a 90 db – surdez severa;

e) acima de 91 db – surdez profunda; e

f) anacusia;

III - defi ciência visual – acuidade visual igual ou menor que 20/200 no melhor

olho, após a melhor correção, ou campo visual inferior a 20º (tabela de Snellen),

ou ocorrência simultânea de ambas as situações;

........................................................................................................

Com a alteração dada pelo Decreto 5.296/04, o art. 4º passou a vigorar

com os seguintes esclarecimentos:

I - defi ciência física - alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do

corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-

se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia,

tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação

ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade

congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam

difi culdades para o desempenho de funções;

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 383-433, novembro 2017 397

II - defi ciência auditiva - perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis

(dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e

3.000Hz;

III - defi ciência visual - cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que

0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que signifi ca

acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os

casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for

igual ou menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições

anteriores;

........................................................................................................

Em face da alteração que se imprimiu no inciso II do art. 4º do Decreto

3.298/99, a impetrante não foi considerada portadora de defi ciência, fi cando

privada do direito de concorrer às vagas destinadas a esses candidatos.

Ocorre que a jurisprudência das Turmas da Primiera e da Terceira Seção

assegura a reserva de vagas destinadas aos portadores de defi ciência a candidatos

acometidos de perda auditiva, bilateral ou unilateral, tendo em vista que o art.

4º, II, do Decreto 3.298/99, que defi ne as hipóteses de defi ciência auditiva, deve

ser interpretado em consonância com o art. 3º do mesmo diploma legal.

Nesse sentido, vale conferir:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA.

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. CONCURSO PÚBLICO. DECRETO N.

3.298/1999. REDAÇÃO DO DECRETO N. 5.296/2004. DEFICIENTE AUDITIVO

UNILATERAL. POSSE. POSSIBILIDADE. OFENSA À CLÁUSULA DE RESERVA DE

PLENÁRIO. INEXISTÊNCIA. APRECIAÇÃO DE DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS.

INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO (AgRg no RMS

35.111/RJ, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, SEGUNDA TURMA, julgado em

02/08/2012, DJe 15/08/2012);

ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.

DECRETO N. 3.298/99. REDAÇÃO DO DECRETO N. 5.296/04. DEFICIÊNCIA AUDITIVA

UNILATERAL. RESERVA DE VAGA AOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS

CONCEDIDA. POSSIBILIDADE. RECURSO NÃO PROVIDO.

1. A reserva de vagas aos portadores de necessidades especiais, em concursos

públicos, é prescrita pelo art. 37, VIII, da CF/88, regulamentado pela Lei n. 7.853/89

e, esta, pelos Decretos 3.298/99 e 5.296/04.

2. Os exames periciais demonstraram que o recorrente possui total ausência

de resposta auditiva no ouvido esquerdo, com audição normal no outro.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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3. Com efeito, a surdez unilateral não obsta o reconhecimento do caráter

de portador de necessidades especiais, uma vez que o art. 4º, II, do Decreto

3.298/99, que defi ne as hipóteses de defi ciência auditiva, deve ser interpretado

em consonância com o art. 3º do mesmo diploma legal, de modo a não excluir os

portadores de surdez unilateral da disputa às vagas destinadas aos portadores de

defi ciência física. Precedentes.

4. Recurso não provido (AgRg no AREsp 22.688/PE, Rel. Ministro ARNALDO

ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 24/04/2012, DJe 02/05/2012);

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. CONCURSO PÚBLICO. POSSE DE

DEFICIENTE AUDITIVO UNILATERAL. POSSIBILIDADE.

1. Hipótese em que o Tribunal de origem, embora reconheça a surdez

unilateral, julgou improcedente o mandamus, considerando que a impetrante

não se enquadra no conceito de defi ciente físico preconizado pelo art. 4º do

Decreto 3.298/1999, com redação dada pelo Decreto 5.296/2004 (vigente ao

tempo do edital).

2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça fi rmou-se no sentido de que,

no concurso público, é assegurada a reserva de vagas destinadas aos portadores

de necessidades especiais acometidos de perda auditiva, seja ela unilateral ou

bilateral.

3. Reexaminando os documentos anexos à exordial, depreende-se que,

segundo o laudo médico emitido, a candidata tem malformação congênita

(defi ciência física) na orelha e perda auditiva no ouvido direito, o que caracteriza a

certeza e a liquidez do direito ora vindicado, na espécie.

4. Agravo Regimental não provido (AgRg no RMS 34.436/PE, Rel. Ministro

HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/05/2012, DJe 22/05/2012);

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. CONCURSO PÚBLICO. POSSE DE

DEFICIENTE AUDITIVO UNILATERAL. POSSIBILIDADE. SUPOSTA OFENSA AO

DECRETO N. 3.298/99, À LEI N. 7.893/89 E AO ART. 5º DA LEI N. 8.112/90. NÃO

OCORRÊNCIA.

1. Nos termos dos arts. 3º, inciso I, e 4º do Decreto n. 3.298/99, que

regulamentou a Lei n. 7.893/89, e do art. 5º da Lei n. 8.112/90, é assegurada, no

certame público, a reserva de vagas destinadas aos portadores de defi ciência

auditiva unilateral. Precedentes.

2. Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1.150.154/DF, Rel. Ministra

LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 21/06/2011, DJe 28/06/2011);

RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA - CANDIDATO PORTADOR

DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA - RESERVA DE VAGA NEGADA PELA ADMINISTRAÇÃO

DEVIDO À COMPROVAÇÃO DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA UNILATERAL - MATÉRIA DE

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 383-433, novembro 2017 399

DIREITO - POSSIBILIDADE DE IMPETRAÇÃO DO WRIT - APLICAÇÃO ERRÔNEA DA

RESOLUÇÃO N. 17/2003 DO CONADE - LEI N. 7.853/89 - DECRETOS N. 3.298/99 e

5.296/2004 - DIREITO LÍQUIDO E CERTO - RECURSO PROVIDO.

1. A matéria de que trata os autos, qual seja, saber se a surdez unilateral vem

a caracterizar defi ciência física ou não, é matéria de direito, que não exige dilação

probatória, podendo, por conseguinte, ser objeto de mandado de segurança.

2. A reserva de vagas aos portadores de necessidades especiais, em concursos

públicos, é prescrita pelo art. 37, VIII, CR/88, regulamentado pela Lei n. 7.853/89 e,

esta, pelos Decretos n. 3.298/99 e 5.296/2004.

3. Os exames periciais realizados pela Administração demonstraram que o

Recorrente possui, no ouvido esquerdo, defi ciência auditiva superior à média

fi xada pelo art. 4º, I, do Decreto n. 3.298/99, com a redação dada pelo Decreto n.

5.296/2004. Desnecessidade de a defi ciência auditiva ser bilateral, podendo ser,

segundo as disposições normativas, apenas, parcial.

4. Inaplicabilidade da Resolução n. 17/2003 do CONADE, por ser norma de

natureza infra-legal e de hierarquia inferior à Lei n. 7.853/89, bem como aos

Decretos n. 3.298/99 e 5.296/2004.

5. Recurso ordinário provido (RMS 20.865/ES, Rel. Ministro PAULO MEDINA,

SEXTA TURMA, julgado em 03/08/2006, DJ 30/10/2006, p. 418).

Nessa esteira ainda as recentes decisões monocráticas: RMS 24.445/RS,

Rel. Min. Og Fernandes, DJ 29.6.12; AREsp 182.895/RJ, Rel. Min. Mauro

Campbell Marques, DJ 19.6.12; RMS 36.081/PE, Rel. Min. Herman Benjamin,

DJ 19.3.12; RMS 34.436/PE, Rel. Min. Herman Benjamim, DJ 6.3.12; AREsp

23.614/DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJ 15.12.11.

Lembro, ainda, que tal orientação vem sendo sufragada pelo colendo

Tribunal Superior do Trabalho, como se pode verifi car no teor da seguinte

ementa:

MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. CANDIDATA INSCRITA COMO

PORTADORA DE NECESSIDADES ESPECIAIS. ENQUADRAMENTO COMO PNE NEGADO

PELA COMISSÃO CENTRAL DO CONCURSO. DEFICIÊNCIA AUDITIVA UNILATERAL.

ARTIGOS 3º E 4º DO DECRETO 3.298/1999. A interpretação dos arts. 3º e 4º do

Decreto 3.298/1999 (com a redação dada pelo Decreto 5.296/2004) em harmonia

com os dispositivos da Constituição da República, mormente com os seus arts.

1º, incs. II e III, e 3º, inc. IV, os quais evidenciam que, mediante as denominadas

ações afi rmativas, sejam efetivadas as políticas públicas de apoio, promoção e

integração dos portadores de necessidades especiais, leva à conclusão de que a

defi ciência auditiva unilateral é sufi ciente para assegurar o direito do candidato

concorrer a uma das vagas destinadas aos portadores de necessidades especiais

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

400

a que aludem os arts. 37, inc. VIII, da Constituição da República e 5º, § 2º, da Lei

8.112/1990, não se exigindo que a defi ciência auditiva seja bilateral. INDENIZAÇÃO

POR DANOS MATERIAIS CORRESPONDENTE AO MONTANTE DOS VENCIMENTOS

RELATIVOS AO PERÍODO DA DATA DE EVENTUAL POSSE DE OUTRO CANDITADO NA

VAGA RESERVADA AOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS ATÉ A DATA DA

POSSE DA IMPETRANTE. “Concessão de mandado de segurança não produz efeitos

patrimoniais em relação ao período pretérito, os quais devem ser reclamados

administrativamente ou pela via judicial própria” (Súmula 271 do Supremo

Tribunal Federal). Outrossim, o deferimento do pedido resultaria em sentença

condicional, o que é vedado pelo parágrafo único do art. 460 do CPC.

Recurso Ordinário a que se dá parcial provimento. (RR 11800-35.2011.5.21.000,

Rel. Ministro João Batista Brito Pereira, DJe de 15.10.12)

Outra não foi a cota exarada pela Subprocuradora-Geral da República

Dra. Maria Caetana Cintra Santos, assim sumariada:

MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. CANDIDATA PORTADORA

DE GRAVE PERDA AUDITIVA UNILATERAL. DIREITO DE CONCORRER ÀS VAGAS

DESTINADAS AOS DEFICIENTES FÍSICOS. INTERPRETAÇÃO CONCOMITANTE DOS

ARTIGOS 3º E 4º, II, DO DECRETO N. 3.298/99. PRECEDENTES.

Parecer pela concessão da segurança.

Não desconheço que esta Corte Superior de Justiça também registra

entendimento em sentido contrário, considerando que a perda auditiva

unilateral, por si só, não é condição apta a qualifi car o candidato a concorrer às

vagas destinadas aos portadores de defi ciência (REsp 1.307.814/AL, Rel. Min.

Francisco Falcão, DJ 23.4.12, com referência a julgado do Pretório Excelso: MS

29.910-AgR, do qual relator o Ministro Gilmar Mendes).

No entanto, na linha da jurisprudência majoritária e nos termos do parecer

ministerial, não me afi gura razoável entender que o indivíduo portador de grave

perda auditiva unitaleral não seja qualifi cado como portador de defi ciência,

defi nida esta como toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função

psicológica, fi siológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho

de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano (art. 3º,

I), somado ao fato de que a própria norma refere-se à perda auditiva parcial (art.

4º, II).

Aliás, a Exposição de Motivos do Decreto 5.296/2004, que veio

regulamentar as Leis 10.048/00 – que concede prioridade de atendimento

às pessoas que especifica – e 10.098/00 – que estabelece normas gerais e

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 383-433, novembro 2017 401

critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de

defi ciência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências – não justifi ca

a modifi cação estampada. Ao revés, é nítido o intuito do normativo, como

não poderia deixar de ser, de ampliação e resguardo dos direitos desse grupo

específi co de pessoas, permitindo-lhes benefi ciar de bens e serviços disponíveis

aos que não apresentam defi ciência qualquer. Para melhor ilustração, extraio os

fragmentos abaixo:

5. A proposta de Decreto de regulamentação trazida à consideração de Vossa

Excelência procurou, exaustivamente, atender à demanda e aos direitos das

pessoas portadoras de defi ciência ou com mobilidade reduzida, as quais, em

2000, segundo o IBGE, representavam vinte e quatro e meio milhões de cidadãos

e cidadãs, acrescidos das gestantes e das pessoas com crianças de colo e também

as pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos.

6. Portanto, este decreto regulamenta a legislação federal que garante

autonomia, segurança e qualidade de vida para quase quarenta milhões de

brasileiros. De fato, a eliminação das barreiras para a inclusão social ira benefi ciar

um número cada vez mais crescente na população, em razão do novo perfil

demográfi co e das projeções de incremento dos grupos de pessoas idosas, com

grande possibilidade de apresentarem mobilidade reduzida ou limitação de

atividades em decorrência de perdas sensoriais e motoras.

7. A regulamentação das leis federais de acessibilidade representa o passo

decisivo para a cidadania das crianças, jovens e adultos com defi ciência. Havendo

transporte acessível, ambiente livre de barreiras, tecnologia empregada para

incluir as pessoas com defi ciência auditiva, visual e mental e o aperfeiçoamento e

a oferta de ajuda técnicas, será realmente possível fazer com que a escola, a saúde,

o trabalho, o lazer, o turismo e o acesso à cultura sejam elementos presentes na

vida das pessoas portadoras de defi ciência ou com mobilidade reduzida.

........................................................................................................

10. Se as pesquisas especializadas internacionais já classifi cam o Brasil entre

os cinco países mais inclusivos das Américas em razão de nosso arcabouço legal,

este Decreto, convém frisar, corresponde à oportunidade de concretizarmos a

inclusão de um segmento ainda marginalizado, sem possibilidade de benefi ciar-

se dos bens e serviços disponíveis para aqueles que não apresentam defi ciência.

Acesso para as pessoas portadoras de defi ciência física, mental, sensorial ou para

quem tem mobilidade reduzida signifi ca a garantia de seus direitos e o exercício

da cidadania.

Por essas e outras signifi cativas razões, o Governo brasileiro ratifi cou e,

por meio do Decreto 6.949/09, promulgou a Convenção Internacional sobre

os Direitos das Pessoas com Defi ciência e seu Protocolo Facultativo, assinados

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

402

em Nova York, em 30 de março de 2007, aprovada pelo Congresso Nacional

com a autoridade de emenda constitucional (art. 5º, § 3º, da CF/88), cujo

propósito e defi nição de pessoa com defi ciência estão estabelecidos no Artigo 1

da Convenção, verbis:

O propósito da presente Convenção é promover, proteger e assegurar o

exercício pleno e eqüitativo de todos os direitos humanos e liberdades

fundamentais por todas as pessoas com defi ciência e promover o respeito pela

sua dignidade inerente.

Pessoas com defi ciência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo

de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com

diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade

em igualdades de condições com as demais pessoas.

Ante o exposto, concedo a segurança, de forma a autorizar que a impetrante

concorra nas vagas destinadas aos defi cientes físicos no concurso pleiteado, devendo ser

observada, para a nomeação e posse, a ordem de classifi cação.

É como voto.

VOTO

O Sr. Ministro Arnaldo Esteves Lima: Sra. Presidente, realmente a matéria

não é tão tranquila, visto que a defi ciência auditiva referida no decreto aduz

perda bilateral, parcial ou total. A matriz de tudo isso está na Constituição,

na qual procurou, em muitas hipóteses, trazer a possibilidade de inclusão dos

defi cientes no mercado de trabalho, sobretudo no serviço público.

Uma pessoa que tenha perda auditiva total, mesmo sendo de um ouvido,

não tem a mesma condição que aqueles com a audição normal. Por isso mesmo,

penso que está em consonância com o objetivo da própria Constituição lhe

assegurar o direito de concorrer nas vagas destinadas a defi cientes, conforme

vários precedentes a respeito. Inclusive, como lembrou a ilustre Procuradora,

essa questão não é tão diferente da visão monocular, que o Tribunal editou uma

súmula a respeito, assegurando o direito àqueles que têm visão monocular de

concorrerem como defi cientes nos concursos, dentro das vagas reservadas para

tal fi nalidade.

Penso que essa interpretação, com a devida vênia, pois sei que a questão é

polêmica, é a que está mais de acordo com o propósito da própria Constituição

Federal a respeito, no seu art. 37, VIII.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 383-433, novembro 2017 403

Peço vênia e acompanho o eminente Relator, no sentido de conceder a

segurança.

É o voto.

VOTO-VENCEDOR

O Sr. Ministro Humberto Martins: Cuida-se de mandado de segurança

impetrado por MARCELLA MARIA CINTRA LEAL DE SOUZA contra

ato do Presidente do STJ e do Diretor-Geral do CESPE – UnB referente

ao concurso para o provimento de cargo de analista judiciário no Tribunal. A

impetrante alega que deve ser alocada na lista de defi ciente, porquanto possui

surdez auditiva unilateral. O laudo da junta médica do referido concurso

descaracterizou a situação da candidata como de defi ciência, conforme se infere

do laudo de perícia médica (fl . 72, e-STJ):

“(...) CONCLUSÃO

CANDIDATO É DEFICIENTE? NÃO

Observações: Audição normal à direita. Nas e enquadra no Decreto 3.298/99.”

Contra o resultado da perícia interpôs recurso administrativo (fl s. 75-80,

e-STJ). O recurso foi indeferido (fl . 93, e-STJ):

“No recurso em questão foi constatado que:

De acordo com o Decreto n. 3.298/99, atualizado pelo Decreto n. 5.296/2004, que

rege o Edital n. 01 do STJ, de 08/12/2012, sobre defi ciência auditiva: ‘perda bilateral,

parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma

nas freqüências de 500 Hz, 1.000 Hz, 2.000 Hz e 3.000 Hz’. Portanto, se a candidata

apresenta perda auditiva unilateral não pode ser clinicamente enquadrada como

pessoa com defi ciências nos termos do Edital.

Ante o exposto, o recurso de Vossa Senhoria foi indeferido.

JUNTA MÉDICA”

Com a publicação do Edital n. 08-STJ, de 19.7.2012, obteve, em defi nitivo,

a negativa de provimento do recurso e a desclassifi cação no concurso (fl s. 82-91,

e-STJ).

Na sua petição inicial (fl s. 1-11, e-STJ), sustenta que, nos termos de

definição que postula amparada no art. 3º, incisos I e II, do Decreto n.

3.298/1999, a surdez lateral de grau profundo – anacusia (CID H90.5) – deve

ser considerada como defi ciência, apta a permitir sua participação em lista

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

404

específi ca no certame em questão, para o cargo público. Junta precedentes

de TRFs e do STJ, bem como julgado do STM no qual sua tese teria sido

contemplada, com nomeação e posse naquele órgão. Pediu liminar.

Foi deferida gratuidade de justiça (fl . 118, e-STJ).

O Ministro Castro Meira, relator, indeferiu o pedido de liminar (fl . 123,

e-STJ).

A União pediu seu ingresso no feito (fl . 136, e-STJ).

O Diretor-Geral do CESPE/UnB ofertou informações (fl s. 142-189,

e-STJ). Argumenta que o pedido jurídico seria impossível, uma vez que seria

vedado ao Poder Judiciário adentrar no cerne do mérito administrativo. Alega

que todos os demais candidatos na lista de defi cientes deveriam ser chamados à

lide na condição de litisconsortes passivos necessários. No mérito, postula que o

Edital deve ser cumprido à risca e que o art. 4º, II, do Decreto n. 3.298/99, na

redação dada pelo Decreto n. 5.296/2004, é claro ao afi rmar que a defi ciência

auditiva somente seria caracterizada como perda bilateral da audição. Por fi m,

indica que a concessão da ordem violaria o princípio da isonomia ao privilegiar

a impetrante em detrimento dos demais candidatos. Juntou documentação (fl s.

150-189, e-STJ).

O Presidente do Superior Tribunal de Justiça juntou informações (fl s.

191-210, e-STJ). Foi juntada documentação na qual consta que o edital está

amparado no art. 4º, II, do Decreto n. 3.298/99, na redação dada pelo Decreto

n. 5.296/2004 e que a junta médica meramente constatou tecnicamente a

inexistência de surdez bilateral, ensejando a desclassifi cação da impetrante (fl s.

194-196, e-STJ).

O Parquet federal solicitou o envio dos autos (fl s. 214-223, e-STJ).

Foi ofertado opinativo pelo Ministério Público Federal em prol da

concessão da ordem, cuja ementa abaixo transcrevo (fl . 225, e-STJ):

“MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. CANDIDATA PORTADORA DE

GRAVE PERDA AUDITIVA UNILATERAL. DIREITO DE CONCORRER ÀS VAGAS DESTINADAS

AOS DEFICIENTES FÍSICOS. INTERPRETAÇÃO CONCOMITANTE DOS ARTIGOS 3º E 4º, II

DO DECRETO N. 3.298/99. PRECEDENTES. Parecer pela concessão da ordem.”

O Ministro Castro Meira deferiu o ingresso da União na lide (fl . 230,

e-STJ).

Em brilhante voto, o eminente Ministro Castro Meira cita precedentes

do STJ no sentido postulado pela impetrante, bem como descreve que o

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 383-433, novembro 2017 405

Decreto n. 3.298/99, com a redação dada pelo Decreto n. 5.296/2004 ampara

a interpretação de que a candidata deveria ser alocada na lista classifi catória de

defi cientes. No entender do relator, os arts. 3º e 4º, II, do decreto precisariam

ser lidos em interpretação sistemática, com a legislação pátria, a Constituição

Federal e regramentos internacionais, o que, portanto, se sobreporia ao

entendimento da junta médica e à disposição do edital, que, meramente,

transcreve a nova redação do art. 4º, II, do Decreto n. 3.298/99.

Todavia, ousei divergir, com base em precedente do Supremo Tribunal

Federal, por três argumentos: nova redação do Decreto n. 3.298/99; estrito

cumprimento do edital, que reproduz o decreto; e em razão de entender que

haveria necessidade de dilação probatória.

O Ministro Luis Felipe Salomão pediu vista dos autos e proferiu o seu

voto no sentido de acompanhar o relator. Assinalou correção na indicação

das autoridades coatoras. Rejeitou as preliminares de impossibilidade jurídica

do pedido, bem como de necessidade nos litisconsortes passivos. No mérito,

sustentou a necessidade de uma leitura ampla do conceito de defi ciência, com

destaque para uma leitura que ultrapassasse a literalidade em prol do reconhecer

de política inclusiva do defi ciente.

O Ministro João Otávio de Noronha pediu vista dos autos. Proferiu voto

para acompanhar a divergência, uma vez que considerou que o advento da

nova redação do art. 4º, II, do Decreto n. 3.298/99 fi xou conceito jurídico mais

restrito de defi ciente auditivo e, assim, não seria possível enquadrar pessoa com

surdez unilateral em tal qualidade jurídica. Frisa o MS 29.910/DF, julgado pelo

Supremo Tribunal Federal.

É, no essencial, o relatório.

Deve ser denegada a ordem.

Inicialmente, cabe frisar a ausência de divergência em relação ao rejeitar

das preliminares. Desse modo, acolho a fundamentação para tanto, trazida pelo

relator, Ministro Castro Meira. Transcrevo:

“Inicialmente, reconheço a competência da Corte Especial do Superior Tribunal

de Justiça para conhecer e julgar o presente writ, por desafi ar ato da Presidência

deste Tribunal, autoridade responsável pela publicação do edital do concurso público

respectivo e que defendeu a legalidade da exclusão havida.

Determina a Constituição Federal:

‘Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar,

originariamente:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

406

(...)

b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de

Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do

próprio Tribunal;’

Passo seguinte, de impossibilidade jurídica do pedido não há que se falar,

porquanto, em se tratando de concurso público, cabe ao Poder Judiciário o exame

da legalidade das normas instituídas no edital e dos atos praticados na realização

do certame, sendo vedada tão só a incursão no mérito administrativo, a exemplo dos

critérios de formulação de questões, de correção de provas, e atribuição de notas aos

candidatos, salvo nos casos fl agrantes de violação à razoabilidade.

Nesse sentido: ‘(...)’ (RMS 23.878/RS, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma,

julgado em 23/02/2010, DJe 08/03/2010).

Ademais, é dispensável a citação dos outros candidatos aprovados no concurso

público, a título de litisconsórcio passivo necessário, visto que eles detêm apenas

expectativa de direito à nomeação, a teor dos seguintes precedentes:

‘ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CONCURSO PÚBLICO. LITISCONSÓRCIO

PASSIVO NECESSÁRIO. INEXISTÊNCIA. ARTS. 3º E 41 DA LEI 8.666/93.

PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULAS 282/STF E 211/STJ.

FUNDAMENTO INATACADO. SÚMULA 182/STJ. AGRAVO NÃO PROVIDO.

1. “É Dispensável a formação do litisconsórcio passivo necessário entre os

candidatos aprovados em concurso público, uma vez que possuem apenas

expectativa de direito a nomeação” (AgRg no AREsp 20.530/PI, Rel. Min. Teori

Albino Zavascki, Primeira Turma, DJe 13/10/11).

(...)

4. Agravo regimental não provido’

(AgRg no AREsp 89.428/BA, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Primeira

Turma, julgado em 17/05/2012, DJe 23/05/2012);

(...)

Rejeitadas as preliminares, passo ao exame do mérito.”

Também rejeito as preliminares, nos mesmos termos do relator.

Passo ao mérito.

Está muito clara a questão sob exame no âmbito da Corte Especial do STJ.

Como se infere do relatório, a impetrante foi desclassifi cada, uma vez

que a junta médica não a considerou como enquadrada nos termos do art. 4º,

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 383-433, novembro 2017 407

II, do Decreto n. 3.298/99, com a redação dada pelo Decreto n. 5.296/2004.

Transcrevo:

“Art. 4º É considerada pessoa portadora de defi ciência a que se enquadra nas

seguintes categorias:

(...)

II - defi ciência auditiva - perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis

(dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e

3.000Hz;”

O Edital n. 1 – STJ, de 8.2.2012, assim dispunha sobre o tema (fl s. 28-30,

e-STJ):

“5 DAS VAGAS DESTINADAS AOS CANDIDATOS COM DEFICIÊNCIA

5.1 Das vagas destinadas a cada cargo / área / especialidade / ramo e das que

vierem a ser criadas durante o prazo de validade do concurso, 5% serão providas na

forma do § 2º do artigo 5º da Lei n. 8.112, de 11 de dezembro de 1990, e do Decreto no

3.298, de 20 de dezembro de 1999, e suas alterações.

(...)

5.6 DA PERÍCIA MÉDICA

5.6.1 Os candidatos que se declararem com deficiência, se não eliminados no

concurso, serão convocados para se submeter à perícia médica ofi cial promovida

por equipe multiprofi ssional de responsabilidade do CESPE/UnB, formada por seis

profi ssionais, que verifi cará sobre a sua qualifi cação como defi ciente, nos termos do

artigo 43 do Decreto n. 3.298/99 e suas alterações e da Súmula 377 do STJ.

(...)

5.6.5 Perderá o direito de concorrer às vagas reservadas as pessoas com defi ciência

o candidato que, por ocasião da perícia médica, não apresentar laudo médico

(original ou copia autenticada em cartório) ou que apresentar laudo que não tenha

sido emitido nos últimos doze meses, bem como que não for qualifi cado na perícia

médica como pessoa com defi ciência ou, ainda, que não comparecer à perícia.

5.6.6 O candidato que não for considerado pessoa com deficiência na perícia

médica, caso seja aprovado no concurso, fi gurará na lista de classifi cação geral por

cargo / área / especialidade / ramo.

5.6.7 O candidato que, no ato da inscrição, se declarar pessoa com defi ciência,

se for qualifi cado na perícia médica e não for eliminado do concurso, terá seu nome

publicado em lista a parte e fi gurará também na lista de classifi cação geral por cargo/

área/especialidade/ramo.”

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

408

A polêmica se instalou, uma vez que o redação do Decreto n. 3.298/99 foi

alterada pelo Decreto n. 5.296/2004. A redação anterior abarcava a pretensão da

impetrante de ser qualifi cada como defi ciente:

“Art. 4º É considerada pessoa portadora de defi ciência a que se enquadra nas

seguintes categorias:

(...)

II - deficiência auditiva – perda parcial ou total das possibilidades auditivas

sonoras, variando de graus e níveis na forma seguinte:

a) de 25 a 40 decibéis (db) – surdez leve;

b) de 41 a 55 db – surdez moderada;

c) de 56 a 70 db – surdez acentuada;

d) de 71 a 90 db – surdez severa;

e) acima de 91 db – surdez profunda; e

f) anacusia;”

Bem aclarada a questão, trago três argumentos, relacionados com

precedente do Supremo Tribunal Federal: nova redação do Decreto n. 3.298/99;

estrito cumprimento do edital, que reproduz o Decreto; e necessidade de dilação

probatória.

Cito o acórdão de relatoria do Min. Gilmar Mendes:

“Agravo regimental em mandado de segurança. 2. Concurso público. Decreto

3.298/99 prevê apenas a surdez bilateral como deficiência auditiva. Candidato

pretende que surdez unilateral seja reconhecida como condição apta a qualifi cá-lo

de portador de deficiência. 3. Necessidade de dilação probatória. 4. Ausência de

argumentos sufi cientes para infi rmar a decisão agravada. 5. Agravo regimental a que

se nega provimento.”

(AgRg no MS 29.910, Relator Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgado em

21.6.2011, Processo Eletrônico, divulgado no DJe 146 em 29.7.2011 e publicado

em 1º.8.2011.)

O primeiro argumento seria reconhecer que o Decreto n. 3.298/99 foi

alterado pelo Decreto n. 5.296/2004 para restringir o conceito de defi ciente

auditivo. Desta forma, não é possível menosprezar o fato normativo para realizar

interpretação sistemática que objetive negar a alteração do art. 3º, II. No cerne, a

nova redação excluiu do enquadramento de defi ciente as pessoas portadoras de

surdez unilateral. Cito trecho do acórdão do Pretório Excelso:

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 383-433, novembro 2017 409

“O Decreto 3.298/99, que regulamenta a Lei 7.853/1989, ao dispor sobre a Política

Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Defi ciência, qualifi cou como

defi ciência auditiva a ‘perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis

(dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e

3.000Hz’.

Logo, por si só, a perda auditiva unilateral não é condição apta a qualifi car o

candidato a concorrer às vagas destinadas aos portadores de defi ciência.”

O segundo argumento é que o edital estritamente incorporou a nova

redação do decreto, restringindo o conceito de defi ciência auditiva. A junta

médica tão somente emitiu laudo técnico em sintonia com as previsões do Edital

1 – STJ, de 8.2.2012, cujo teor meramente remete ao Decreto n. 3.298/99 e suas

alterações, que foi o parâmetro do ato reputado coator, em verdade praticado sob

o pálio da juridicidade estrita.

E, por fim, o terceiro argumento é que a divergência exige a dilação

probatória, pois se está atacando o entendimento fundado em laudos, lastreados

em exames médicos, como bem indicou o precedente do STF acima transcrito,

além de outro que trago:

“Agravo regimental em ação originária. Mandado de segurança. 2. Concurso

público. 3. Equipe multiprofissional do CESPE entendeu que a candidata não é

portadora de defi ciência. 4. Agravante sustenta ser portadora de defi ciência auditiva,

conforme laudos médicos juntados aos autos. 5. Necessidade de dilação probatória.

6. Ausência de argumentos sufi cientes para infi rmar a decisão agravada. 7. Agravo

regimental a que se nega provimento.”

(AgRg na AO 1.622/BA, Relator Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgado

em 21.6.2011, publicado no DJe-125 em 1º.7.2011 e no Ement. vol. 2555-01, p. 1.)

No mesmo sentido:

“PROCESSUAL CIVIL. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. CONCURSO PÚBLICO.

DIVERGÊNCIA ENTRE LAUDOS MÉDICOS DA JUNTA OFICIAL E OS TRAZIDOS PELO

PARTICULAR. INSTRUÇÃO PROBATÓRIA. EXTINÇÃO NA ORIGEM SEM APRECIAÇÃO DO

MÉRITO. PRECEDENTES DO STJ. POSSIBILIDADE DA VIA ORDINÁRIA, ART. 19, DA LEI N.

12.016/2009.

1. Na origem, cuida-se de impetração contra ato administrativo que tornou sem

efeito a nomeação de candidata aprovada com base no entendimento fi rmado por

junta médica. A impetrante argumenta que, apesar de ter sido considerada inapta,

sua doença tem características que tornam incerto o prognóstico.

2. O acórdão recorrido considerou a via mandamental inadequada, já que seria

impossível visualizar de plano que o laudo da junta médica seria nulo, em cotejo com

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

410

as informações médicas de fonte particular. Assim, com base nos dados carreados

aos autos, acordou que qualquer deliberação exigiria a realização de perícias e de

contraditório.

3. “A legitimidade do mérito do ato administrativo só pode ser afastada

judicialmente mediante a realização de perícia médica, a fi m de que se apure, com

a certeza técnica recomendável, se é o laudo médico da Administração ou o laudo

médico do particular que está em dissonância com a realidade. Ocorre que é vedada

a dilação probatória em mandado de segurança” (RMS 32.164/BA, Rel. Min. Mauro

Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 12.11.2010).

4. Precedentes no mesmo sentido: MS 15.141/DF, Rel. Min. Hamilton Carvalhido,

Corte Especial, DJe 24.5.2011; RMS 31.996/MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques,

Segunda Turma, DJe 31.3.2011; AgRg no RMS 31.552/GO, Rel. Celso Limongi

(Desembargador convocado do TJ/SP), Sexta Turma, DJe 13.9.2010; e AgRg no RMS

28.071/PE, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Quinta Turma, DJe 28.9.2009.

5. “A sentença ou o acórdão que denegar mandado de segurança, sem decidir o

mérito, não impedirá que o requerente, por ação própria, pleiteie os seus direitos e os

respectivos efeitos patrimoniais” (art. 19, da Lei n. 12.016/2009).

Agravo regimental improvido.”

(AgRg no RMS 33.928/SC, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma,

julgado em 20.10.2011, DJe 27.10.2011.)

Ante o exposto, peço todas as vênias ao eminente Ministro Relator – e aos

pares que o acompanharam – para divergir do voto, denegando a segurança.

É como penso. É como voto.

VOTO-VOGAL

O Sr. Ministro Herman Benjamin: Eminente Presidenta, eminente

Relator, inicialmente, queria felicitar o voto brilhante do Relator. E trago, aqui,

duas observações, na linha dos argumentos já apresentados pelo eminente

Ministro Humberto Martins.

O texto original do decreto afi rmava o seguinte: defi ciência auditiva. Perda

parcial ou total das possibilidades auditivas sonoras. Repito, perda parcial ou

total das possibilidades auditivas sonoras.

Em 2004 – e imagino que exatamente para evitar este debate que estamos

tendo hoje aqui -, o decreto foi alterado, e a defi nição de defi ciência auditiva

passou a ser perda bilateral, parcial ou total.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 383-433, novembro 2017 411

O primeiro argumento, com as homenagens de praxe ao eminente Relator,

para se chegar a um entendimento diverso daquele de S. Exa., é indagar: para

que mudou o legislador o texto, ao acrescentar a palavra, o vocábulo “bilateral”,

que inexistia no decreto anterior? Então, o primeiro argumento é de natureza

hermenêutica, linguística, de interpretação literal.

Mas creio que há um argumento mais poderoso, que é o exame da ratio

da legislação. A legislação está posta, a começar pelo texto constitucional,

para proteger os hipervulneráveis. Quem tem disacusia unilateral – e veja que

pode ser parcial –, a se interpretar os fatos à luz da redação anterior, não está

concorrendo com os sãos, estará tirando a vaga de quem é absolutamente

hipervulnerável, que tem disacusia (seja parcial ou total, seja dupla ou bilateral).

Então, não pensemos que estará concorrendo com os que não contam com essa

defi ciência física, mas que estará subtraindo a vaga dos que mais precisam. Esse

foi o espírito, a ratio mesma do legislador constitucional e infraconstitucional.

Por isso, pedindo mil vênias ao eminente Relator e também ao queridíssimo

Colega, e não menos brilhante, Sr. Ministro Arnaldo Esteves, acompanho a

divergência.

É como voto.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Luis Felipe Salomão: 1. Cuida-se de mandado de segurança

impetrado por Marcella Maria Cintra Leal de Souza contra ato do Ministro

Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Diretor-Geral do Centro de

Seleção e de Promoção de Eventos da Universidade de Brasília (Cespe/UNB)

por lhe ter sido negada a qualifi cação como defi ciente física no concurso público

para provimento de vagas e formação de cadastro de reserva no cargo de analista

judiciário do quadro de pessoal do Superior Tribunal de Justiça.

A impetrante alega ser portadora de defi ciência física descrita por “perda

auditiva neurosensorial de grau profundo no ouvido esquerdo - anacusia”, isto

é, surdez unilateral (CID H90.S), de etiologia indeterminada, razão por que se

inscreveu no certame dentro do número de vagas previstas para os defi cientes

físicos.

Relata que foi classifi cada para o cargo pretendido, tendo sido convocada

para comparecer à perícia médica no Hospital Universitário de Brasília (HUB),

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

412

apresentando, naquela oportunidade, 3 (três) laudos médicos particulares

(enviados ao Cespe no momento da inscrição), bem como um exame

denominado “audiometria”.

A Junta Médica responsável pela perícia, mesmo reconhecendo a anacusia

no ouvido esquerdo da candidata, chegou à conclusão de que a candidata não

se enquadra nas hipóteses tipifi cadas pelo Decreto n. 3.298/99, tendo mantido

o referido posicionamento após a interposição de recurso administrativo, por

entender que o decreto que regulamenta a matéria restringe o conceito de

defi ciência à perda auditiva bilateral.

Defende a possibilidade de os portadores de surdez unilateral concorrerem

às vagas reservadas a defi cientes físicos em concurso públicos, porquanto “a

imprestabilidade desse órgão insere-se na conceituação exposta nos incisos I e II do art.

3º do Decreto”.

Segundo a impetrante, o decreto é ilegal na parte em que restringe a surdez

unilateral, pois contraria a própria lei que lhe serve de fundamento de validade,

não podendo restringir, onde a lei ampliou.

Pondera que a pessoa sem audição, ainda que de um ouvido, é defi ciente

e não pode disputar a mesma vaga com aquele que possui plena capacidade

auditiva, sob pena de afronta à Constituição e à lei.

Argumenta que a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é pacífi ca

em assegurar a reserva de vagas destinadas aos portadores de necessidades

especiais acometidos de perda auditiva, seja ela unilateral ou bilateral, tendo

a impetrante, inclusive, obtido pleito favorável em Mandado de Segurança

perante o Superior Tribunal Militar, no cargo de analista judiciário para aquele

mesmo órgão.

O Diretor-Geral do Centro de Seleções e de Promoção de Eventos da

Universidade de Brasília (Cespe/UNB) prestou informações às fl s. 142/189.

Na oportunidade, arguiu a impossibilidade jurídica do pedido, sob a

alegação de que a pretensão seria de reexaminar os critérios do edital do concurso

no ponto referente à perícia médica, o que não seria possível, porquanto descabe

ao Poder Judiciário adentrar no mérito exclusivamente administrativo.

Sustentou, ainda, a necessidade de citação de “todos os candidatos que se

inscreveram para concorrer às vagas para o cargo de Analista Judiciário - Área:

Judiciária, destinada aos portadores de defi ciência, sob pena de nulidade” (fl . 145).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 383-433, novembro 2017 413

No mérito, observou que a Administração Pública agiu em conformidade

com os princípios da moralidade e da legalidade, respeitando a Constituição

Federal e toda a legislação aplicável ao caso, máxime o inciso II do art. 4º do

Decreto n. 3.298/99. Ao fi nal, salientou que o acolhimento da irresignação

acarretará ofensa ao art. 37, I e II, da Carta Maior, pois desrespeitará o princípio

da isonomia.

Por seu turno, o Ministro Presidente do Superior Tribunal de Justiça

pronunciou-se às fl s. 191/210, juntando documentos, dentre os quais ofício

do Diretor-Geral do Cespe/UNB dirigido à Coordenadoria de Provimento e

Informações Funcionais do Superior Tribunal de Justiça, no qual são reiterado

os argumentos desenvolvidos na manifestação de fl s. 142/189.

O Ministério Público Federal, em parecer da lavra da eminente

Subprocuradora-Geral da República Dra. Maria Caetana Cintra Santos, opinou

pela concessão da segurança, em parecer assim resumido:

MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. CANDIDATA PORTADORA

DE GRAVE PERDA AUDITIVA UNILATERAL. DIREITO DE CONCORRER ÀS VAGAS

DESTINADAS AOS DEFICIENTES FÍSICOS. INTERPRETAÇÃO CONCOMITANTE DOS

ARTIGOS 3º E 4º, II, DO DECRETO N. 3.298/99. PRECEDENTES.

Parecer pela concessão da segurança (fl s. 225-228).

O Ministro Castro Meira, relator, votou pela concessão da ordem, com

base nos seguintes fundamentos:

i) Por se tratar de concurso público, cabe ao Poder Judiciário o exame da

legalidade das normas instituídas no edital e dos atos praticados na realização do

certame;

ii) não há falar em formação de litisconsórcio passivo necessário, uma vez que

os candidatos detêm apenas expectativa de direito à nomeação;

iii) Em sua maioria, a jurisprudência do STJ assegura a reserva de vagas

destinadas aos portadores de deficiência a candidatos acometidos de perda

auditiva, bilateral ou unilateral, haja vista que o art. 4º, LI, do Decreto 3.298/99

(que define as hipóteses de deficiência auditiva) deve ser interpretado em

consonância com o art. 3º do mesmo diploma legal;

iv) Mostra-se irrazoável o entendimento de que uma grave perda auditiva

unitaleral não qualifique seu portador como deficiente, tendo em vista que

a defi ciência é defi nida como toda perda ou anormalidade de uma estrutura

ou função psicológica, fi siológica ou anatômica que gere incapacidade para o

desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

414

humano (art. 3º, I), somado ao fato de que a própria norma refere-se à perda

auditiva parcial (art. 4º, LI);

v) o Governo brasileiro ratifi cou, por meio do Decreto 6.949/09, a Convenção

Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo

Facultativo, aprovada pelo Congresso Nacional com a autoridade de emenda

constitucional (art. 5º, § 3º, da CF/88), que promove, protege e assegura o exercício

pleno e eqüitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por

todas as pessoas com defi ciência.

O Ministro Arnaldo Esteves acompanhou o relator, por entender que a

pessoa com perda unilateral da audição não tem as mesmas condições daqueles

com audição normal, sendo, inclusive, semelhante à questão da visão monocular

sumulada por esta Corte de Justiça.

Inaugurando a divergência, o Ministro Humberto Martins, com base

na jurisprudência do STF, divergiu do referido entendimento, uma vez que o

Decreto n. 3.298/99 foi alterado para restringir o conceito de defi ciente auditivo,

tendo o edital do concurso apenas incorporado a nova redação do decreto. Além

disso, também considerou inviável o mandamus porque seria necessário dilação

probatória.

Os Ministros Sidnei Beneti e Herman Benjamin acompanharam a

divergência, tendo este último fundamentado seu voto com argumento de

natureza hemenêutica-linguística, de interpretação literal, qual seja, o de que o

vocábulo “bilateral” teria sido colocado pelo legislador justamente para defi nir

o que realmente é considerado defi ciência auditiva para a Administração. Além

disso, o voto divergente fundou-se na ratio da legislação, asseverando que ela

está posta para proteger os hipervulneráveis, sendo que os defi cientes auditivos

unilaterais não estão concorrendo com os sãos, mas sim com aqueles que mais

precisam, com aqueles que realmente são absolutamente defi cientes de acordo

com a norma.

Diante disso, pedi vista dos autos para melhor exame da matéria.

É o relatório.

2. De início, verifi ca-se que o mandamus desafi a ato do Presidente do

Superior Tribunal de Justiça, autoridade responsável pela publicação do Edital

n. 1/STJ, de 8 de Fevereiro de 2012 (concurso público para provimento de

vagas e formação de cadastro de reserva nos cargos de analista judiciário e

de técnico judiciário do quadro de pessoal do Superior Tribunal de Justiça) e

pelo Edital n. 7/STJ, de 22 de Junho de 2012 (o qual homologou o resultado

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 383-433, novembro 2017 415

provisório na perícia médica dos candidatos que se declararam com defi ciência,

excluindo a impetrante).

Nos dizeres de Cassio Scarpinella Bueno, “para a identificação da

autoridade coatora em mandado de segurança, a despeito da aparente alternativa

que se extrai da redação do § 3º do art. 6º da Lei n. 12.016/2009, mister que ela

tenha poder decisório ou deliberativo sobre a prática do ato ou a abstenção de

praticá-lo. O mero executor material do ato, que apenas cumpre as ordens que

lhe são dadas, não lhe cabendo questioná-las, não pode ser entendido como

autoridade coatora”. (BUENO, Cassio Scarpinella. A nova lei do mandado de

segurança. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 48).

Nesse sentido, confi ram-se os precedentes a seguir:

ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO

FAZENDÁRIA - ESAF. DIRETOR-GERAL. ILEGITIMIDADE PASSIVA RECONHECIDA.

MINISTRO DE ESTADO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA. SUPOSTA ILEGITIMIDADE

PASSIVA AD CAUSAM. DEFICIÊNCIA SANÁVEL. TEORIA DA ENCAMPAÇÃO.

CONCURSO PÚBLICO. APROVAÇÃO. CONVOCAÇÃO NÃO EFETUADA

DEVIDO A FALHA NO ENDEREÇAMENTO DO TELEGRAMA. ERRO ATRIBUÍDO

EXCLUSIVAMENTE À ADMINISTRAÇÃO. DIREITO LÍQUIDO E CERTO RECONHECIDO.

SEGURANÇA CONCEDIDA.

1. Autoridade coatora, para fins de mandado de segurança, é aquela que

pratica, ordena ou omite a prática do ato impugnado e tem poderes para refazê-

lo. No caso, o Diretor-Geral da Escola de Administração Fazendária - ESAF deve

ser excluído da lide, por ilegitimidade passiva ad causam, uma vez que o ato tido

por ilegal não foi por ele praticado nem pode ser por ele reparado, uma vez que a

convocação dos candidatos classifi cados é, nos termos do edital, de competência

do Ministério da Ciência e Tecnologia.

2. Aplica-se a teoria da encampação quando a autoridade apontada como

coatora, ao prestar suas informações, não se limita a alegar sua ilegitimidade, mas

defende o mérito do ato impugnado, requerendo a denegação da segurança,

assumindo a legitimatio ad causam passiva.

In casu, tenho como legitimado para fi gurar no pólo passivo do mandamus o

Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia.

3. Na hipótese, o candidato foi aprovado e classifi cado dentro das vagas, não

sendo nomeado por falha no endereçamento do telegrama, erro cometido única

e exclusivamente pela Administração. Direito líquido e certo reconhecido.

4. Segurança concedida (MS 9.933/DF, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Terceira

Seção, DJ 6/3/2006 - grifo nosso)

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. CONCURSO PÚBLICO. APROVAÇÃO

FORA DAS VAGAS PREVISTAS NO EDITAL DO CERTAME. ALEGAÇÃO DE

DECADÊNCIA NÃO PREQUESTIONADA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 211/STJ,

POR ANALOGIA. LITISCONSÓRCIO. INOCORRÊNCIA. AUTORIDADE COATORA.

LEGITIMIDADE. APROVAÇÃO FORA DAS VAGAS. NOMEAÇÕES PRECÁRIAS.

EXPECTATIVA DE DIREITO CONVOLADA EM DIREITO SUBJETIVO NA ESPÉCIE.

1. Trata-se, na origem, de mandado de segurança impetrado pelos recorridos

contra ato do Secretário de Cultura do Distrito Federal para provimento nos

cargos de Músicos da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional. Os recorridos foram

aprovados nas 4º e 5º colocações em um concurso realizado para preenchimento

de duas vagas. No entanto, alegam que participam de todos os concertos

realizados pela referida orquestra desde 2008, por meio de contratação precária,

efetuada durante o prazo de validade do concurso. Dessa forma, entendem

como líquido e certo o direito à nomeação e posse para o cargo (especialidade

violoncelo). O Tribunal de origem acolheu, em liminar e também depois,

defi nitivamente, o pedido feito pelos ora recorridos.

2. Em primeiro lugar, em relação à alegada ocorrência do prazo decadencial

para a impetração do mandamus, ausente o requisito indispensável do

prequestionamento. Incidência da Súmula n. 211/STJ, por analogia.

3. Em segundo lugar, é firme no STJ o entendimento de que não há

litisconsórcio passivo necessário entre todos os candidatos aprovados em

concurso público. Precedentes.

4. Em terceiro lugar, a autoridade coatora, para fins de impetração de

mandado de segurança, é aquela que pratica ou ordena, de forma concreta e

específi ca, o ato ilegal, ou, ainda, aquela que detém competência para corrigir a

suposta ilegalidade. Inteligência do art. 6º, § 3º, da Lei n. 12.016/2009. Segundo

explanação do acórdão a quo, o Secretário de Cultura do Distrito Federal no uso

de suas atribuições tornou pública a realização do concurso aqui tratado.

5. Em quarto lugar, esta Corte Superior, inclusive em precedentes da minha

relatoria (RMS 34.095/BA), já entendeu pela inexistência de direito adquirido

dos candidatos aprovados em relação a eventuais novas vagas que surgirem no

prazo de validade do certame, caracterizando a investidura ato discricionário

da Administração Pública. Todavia, em recente julgamento (Inf. STF 622/2011

- RE 581.113/SC, Rel. Min. Dias Toff oli), o Supremo Tribunal Federal proclamou

entendimento diametralmente oposto. O Superior Tribunal de Justiça o

acompanhou na nova orientação (Inf. STJ 488/2011 - RMS 31.847/RS, de minha

relatoria).

6. No caso dos autos, é incontroverso nos autos que, durante o prazo de

validade do concurso público, foram realizadas contratações temporárias pela

Administração.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 383-433, novembro 2017 417

7. Assim, a discricionariedade da Administração Pública deve ser afastada

para reconhecer direito líquido e certo da impetrante para integrar os cargos de

Músicos da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional.

8. Recurso especial não provido (REsp 1.199.702/DF, Rel. Min. Mauro Campbell

Marques, Segunda Turma, DJe 14/2/2012)

Portanto, dúvidas não restam quanto à adequação da indicação das

autoridades coatoras no caso concreto e, por consequência, quanto à competência

da Corte Especial para processar e julgar o writ, haja vista o disposto no art.

105, I, alínea b, da Constituição da República e no art. 11 do RISTJ.

3. A alegada impossibilidade jurídica do pedido não prospera, pois a

pretensão passa ao largo da análise do mérito administrativo, apenas requerendo

a verifi cação da legalidade das normas e dos atos praticados no certame, em

especial das regras estabelecidas pelo Decreto n. 3.298/99 e suas alterações.

Raquel Melo Urbano de Carvalho, ao discorrer a respeito do controle

judicial dos atos vinculados, assim se pronunciou:

Incumbe ao Judiciário manter o administrador dentro dos limites da

juridicidade delineada no sistema normativo. Assim sendo, pode controlar todos

os aspectos do ato vinculado, cujos elementos e pressupostos encontram-se

fi xados na lei, sendo identifi cáveis mediante atividade interpretativa levada a

efeito diante da realidade em questão.

Quando, ao realizar o controle de legalidade em sentido amplo, o Judiciário

deparar-se com ato vinculado viciado, deve fazer incidir a conseqüência que o

ordenamento impõe, mesmo que isto implique sua extinção: “O Poder Judiciário,

no exercício de sua competência constitucional (Carta Magna, art. 5º, XXXV), ao

invalidar o ato administrativo inconstitucional ou ilegal, não invade a esfera de

competência do Poder Executivo, inexistindo violação ao disposto no artigo 2º da

Constituição.”

Com efeito, se o Judiciário, a o analisar os elementos (conteúdo e forma) e

pressupostos (motivo, sujeito e fi nalidade) de um ato administrativo vinculado

submetido ao seu controle, verifi ca a presença de um defeito insanável como, p.

ex., desvio de poder ou ilicitude do conteúdo por desconformidade com regra

constitucional, cabe-lhe invalidar o ato nulo, restaurando a juridicidade violada

no sistema.

A vinculação em alguns desses aspectos pode decorrer da força coercitiva

de princípios implícitos do ordenamento e não necessariamente de uma

específi ca regra legal. É irrelevante a origem da vinculação. Se o elemento ou o

pressuposto é identifi cável diretamente do ordenamento mediante atividade

hermenêutica ao fi nal da qual há uma só alternativa possível, tem-se o aspecto

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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vinculado e o Judiciário pode livremente controlá-lo. Quando todos os

elementos e pressupostos são vinculados, porquanto determinados de modo

específi co pela ordem jurídica (seja por seus princípios, seja por regras legais,

seja após detalhamento por atos regulatórios e regulamentares), tem-se o ato

administrativo vinculado e o Judiciario pode aferir sem restrições a legalidade de

todos os seus aspectos.

Certo é que, se todos os elementos e pressupostos do ato resultam diretamente

do sistema, mediante atividade interpretativa, é irrestrito o controle judicial,

pois não há espaço algum reservado apenas à conveniência administrativa.

Como se trata de questão de juridicidade, não há impedimentos ao controle,

pelo Judiciário, da observância dos critérios necessários à regularidade do ato

administrativo: sujeito capaz e competente; conteúdo lícito, determinado e

possível; forma escrita e formalidades exigidas por lei, motivo verdadeiro e

proporcional com o comando administrativo; finalidade pública e específica

decorrente do próprio ato (DE CARVALHO, Raquel Melo Urbano. Curso de direito

administrativo - parte geral, intervenção do estado e estrutura da administração, 2ª

ed., Editora Podivm, Bahia: 2009, págs. 601/602).

Acerca do tema, colhe-se, dentre inúmeros, o seguinte julgado:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. ADMINISTRATIVO E

PROCESSO CIVIL. DISPOSITIVO INDICADO COMO VIOLADO NÃO SUSTENTA A TESE

RECURSAL. CANDIDATO APROVADO FORA DO NÚMERO DE VAGAS PREVISTO

NO EDITAL. PARTICIPAÇÃO NA FASE SUBSEQUENTE. IMPOSSIBILIDADE. MERA

EXPECTATIVA DE DIREITO. BANCA EXAMINADORA. QUESTÕES. REVISÃO JUDICIAL

INCABÍVEL.

1. Se o dispositivo legal tido por violado não é capaz de sustentar a tese

recursal, revela-se inviável o recurso especial pela alínea “a” do permissivo

constitucional.

2. Os candidatos aprovados em determinada fase do concurso e que não se

classifi caram dentro do número de vagas previsto no edital têm mera expectativa

de direito de participarem da etapa subsequente.

3. De acordo com a jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, ao Poder

Judiciário é permitido tão somente o exame da legalidade do concurso público,

sendo vedado apreciar os critérios utilizados pela banca examinadora, sob pena

de substitui-la no exame do mérito do ato administrativo praticado.

4. Agravo regimental improvido (AgRg no Ag 1.278.000/RJ, Rel. Min. Maria

Thereza de Assis Moura, DJe 5/10/2011)

A par disso, a jurisprudência desta Corte considera dispensável a sugerida

necessidade de formação de litisconsórcio passivo, com a conseqüente citação

dos demais candidatos aprovados.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 383-433, novembro 2017 419

Nessa senda, convém destacar os precedentes que se seguem:

PROCESSUAL CIVIL. JUÍZO DE RETRATAÇÃO. MANDADO DE SEGURANÇA.

CONCURSO PÚBLICO. INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DA JUSTIÇA ESTADUAL.

AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS 282 E 356/STF. SOCIEDADE

DE ECONOMIA MISTA. (PETROBRAS) ATO DE AUTORIDADE E NÃO ATO DE

MERA GESTÃO. CABIMENTO DO WRIT. LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO.

DESNECESSIDADE. CANDIDATO APROVADO QUE POSSUI FORMAÇÃO SUPERIOR À

EXIGIDA NO EDITAL. ELIMINAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. DIREITO LÍQUIDO E CERTO A

PERMANECER NO CERTAME RECONHECIDO.

1. As questões de ordem pública, passíveis de conhecimento de ofício em

qualquer tempo e grau de jurisdição ordinária, não podem ser analisadas em

recurso especial, se ausente o requisito do prequestionamento. Precedentes.

2. A jurisprudência desta Corte orienta-se no sentido de que os atos praticados

por dirigentes de sociedades de economia mista para fi ns de contratação de

pessoal não podem ser considerados como atos de mera gestão, razão pela qual

os dirigentes de tais sociedades estão legitimados a fi gurar como autoridade

coatora na ação mandamental (AgRg no Ag 1.113.000/RJ, Rel. Min. Jorge Mussi,

Quinta Turma, julgado em 18.8.2011, DJe 2.9.2011; AgRg no Ag 1.402.890/RN, Rel.

Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 9.8.2011, DJe 16.8.2011).

3. Dispensável a formação do litisconsórcio passivo necessário entre os

candidatos aprovados em concurso público, uma vez que possuem apenas

expectativa de direito a nomeação. (AgRg no AREsp 20.530/PI, Rel. Min. Teori

Albino Zavascki, Primeira Turma, julgado em 6.10.2011, DJe 13.10.2011).

4. Há direito líquido e certo de permanência no certame se o candidato detém

qualifi cação superior à exigida no edital do concurso público. (Precedente: AgRg

no Ag 1.402.890/RN, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em

9.8.2011, DJe 16.8.2011; REsp 1.071.424/RN, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda

Turma, julgado em 20.8.2009, DJe 8.9.2009.)

Agravo regimental improvido (AgRg no AgRg no REsp 1.270.179/AM, Rel. Min.

Humberto Martins, DJe 03/02/2012)

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS COM MANIFESTO

DESEJO DE OBTER A ALTERAÇÃO DO JULGADO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONCURSO

PÚBLICO. LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. FORMAÇÃO. CITAÇÃO DOS

DEMAIS CANDIDATOS APROVADOS. DESNECESSIDADE.

1. Admitem-se como agravo regimental os embargos de declaração opostos

em face de decisão monocrática, ante o caráter infringente que se pretende, em

nome dos princípios da economia processual e da fungibilidade. Precedentes.

2. O litisconsórcio passivo necessário dos aprovados em concurso público

cuja nulidade pode ser decretada em sede de ação civil pública não se impõe,

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

420

porquanto eventual procedência da demanda não é sufi ciente, por si só, para

demonstrar a comunhão de interesses entre todos os inscritos no certame, pois os

eventuais aprovados possuem mera expectativa de direito. Precedentes.

3. Agravo regimental improvido (AgRg no REsp 1.164.151/SC, Rel. Min. Jorge

Mussi, DJe 11/11/2011)

Por conseguinte, rejeito as preliminares e passo a examinar o mérito.

4. Durante um longo período na história da humanidade, a pessoa com

defi ciência (física, mental ou sensorial) foi alvo de preconceito e comiseração,

sendo por muitos tratada como ser socialmente inútil e dispensável para o

cotidiano produtivo.

Com o passar do tempo, o pensamento em relação às pessoas portadoras

de defi ciência foi se modifi cando; em grande parte, graças aos movimentos

sociais em favor da dignidade humana.

Impende reproduzir excerto de interessante artigo extraído da Revista

de Direito Social, o qual faz um escorço histórico bastante abrangente sobre o

assunto:

No âmbito das pessoas com defi ciência, tais pessoas receberam tratamento

que foi da exclusão social total ao atual patamar da proposta de inclusão,

passando por períodos de institucionalização (quase sempre por toda a vida) e

de integração (a defi ciência é tida como um problema da própria pessoa que a

possua e por isso cabe unicamente a ela capacitar-se para viver em sociedade).

O pós-II Guerra aqui também foi um marco, especialmente pela legião de

mutilados que ela produziu. Com a era da produção industrial e do consumo,

as pessoas com defi ciência conviveram com as concepções de pessoas “úteis”

e “inúteis” e com as idéias de habilitação/reabilitação, de paciente/doente, de

incapaz e dependente de cuidados de terceiros (como é comum a uma pessoa

“doente”).

A partir dos anos 80 há um avanço qualitativo no trato internacional deste

tema, especialmente pelas Nações Unidas e suas agências, a Organização

Internacional do Trabalho e a Organização Mundial de Saúde, despertando as

pessoas com defi ciência para uma reivindicação mais vigorosa de seu papel de

cidadão, em igualdade de condições com seus pares.

Lembra MARIA DE LOURDES CANZIANI que dentre os principais documentos

internacionais produzidos a partir de encontros, eventos de pessoas com

defi ciência e de organismos nacionais e internacionais de defesa desse segmento

e que têm orientado as políticas públicas brasileiras nesta área, podem ser citados

a Declaração dos Direitos do Impedido - 1975; a Carta dos anos 80; o Programa

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 383-433, novembro 2017 421

de Ação das Nações Unidas de 1982; as Normas Internacionais do Trabalho

sobre a Readaptação Profi ssional - 1984; a Declaração de Cartagena das Índias

sobre as Políticas Integrais para as pessoas portadoras de defi ciência, na região

Ibero-Americana - 1992; a Declaração de Manágua - 1993; a Primeira Conferência

Internacional de Ministros responsáveis pela atenção de pessoas portadoras de

defi ciência - 1992; Normas Uniformes sobre a Igualdade de Oportunidades para

as pessoas portadoras de defi ciência (ONU - 1993); a Declaração de Salamanca

e Marco das Ações sobre Necessidades Educativas Especiais. Mais recentemente,

citamos a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas

de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Defi ciência (Convenção da

Guatemala - 1999).

No Brasil, o marco está fi ncado na Constituição Federal de 1988, seguindo-

se a Lei Federal n. 7.853/89, que dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras

de defi ciência, sua integração social, defi ne crimes e dá outras providências, e

também pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.

DINAURA GODINHO PIMENTEL GOMES, em recente obra sobre o tema da

dignidade humana no contexto do direito do trabalho, traz boa abordagem

do sentido de dignidade, sob as luzes kantianas, verbis: “É nesse contexto que,

em seu verbete sobre dignidade, ABBAGNANO faz direta referência ao aludido

fi lósofo [KANT], para com ele compartilhar o conceito do princípio da dignidade

humana, destacando que ‘a exigência enunciada por KANT como segunda

fórmula do imperativo categórico: ‘Age de forma que trates a humanidade, tanto

na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre também como um

fi m e nunca unicamente como meio’. Esse imperativo estabelece na verdade que

todo homem, aliás, todo ser racional, como fi m em si mesmo, possui um valor

não relativo, como, p. ex., um preço, entretanto intrínseco, isto é, a dignidade’. O

que tem um preço pode ser substituído por alguma coisa equivalente; o que é

superior a todo preço, e, portanto, não permite nenhuma equivalência, tem uma

dignidade. Substancialmente, a dignidade de um ser racional consiste no fato

de que ela ‘não obedece a nenhuma lei que não seja instituída por ele mesmo’. A

moralidade, como condição dessa autonomia legislativa, é, portanto, a condição

da dignidade do homem; moralidade e humanidade são as únicas coisas que não

têm preço...” (RIBEIRO, Lauro Luiz Gomes in Revista de Direito Social - “Direitos

Humanos e a Dignidade da Pessoa com Defi ciência” - Ano VI - Jan./Mar 2006 - n.

21 - págs. 89-92)

No censo realizado em 2010, o IBGE registrou um total de 45.606.048 de

pessoas portadoras de defi ciência, o que representava, à época, cerca de 23,9%

da população brasileira (190.755.799). O questionário envolvia as pessoas

com defi ciência mental/intelectual e, ainda, visual, auditiva e motora, essas

três últimas divididas nas seguintes classifi cações: “Não consegue de modo

algum”, “Grande dificuldade”, “Alguma dificuldade” (elementos extraídos

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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da tabela n. 1.3.1 do Censo 2010 - in ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_

Demografi co_2010/Caracteristicas_Gerais_Religiao_Defi ciencia/tab1_3.pdf )

Com base nesses dados, constata-se que há um signifi cativo número de

pessoas com defi ciência no Brasil, o que requer maior empenho do Estado e da

sociedade para o implemento das normas inclusivas.

5. Atento à tendência internacional e à pungente necessidade de positivar

a dignidade da pessoa com defi ciência criando regras de inserção social, o

constituinte brasileiro reservou, o inciso VIII do art. 37 da Carta Magna para

tratar da questão ora em análise, consoante se infere a seguir:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da

União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios

de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e efi ciência e, também,

ao seguinte:

(...)

VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas

portadoras de defi ciência e defi nirá os critérios de sua admissão;

No tocante ao preceito em relevo, calha expor o seguinte fragmento da

obra de Paulo Napoleão Nogueira da Silva:

Em outros dispositivos (artigos 7º, XXXI, 24, XIV, 203, IV e V, 227, § 1º, II, e 244)

o constituinte já manifestara sua salutar preocupação em relação aos defi cientes

físicos; aqui, remete à lei ordinária a fi xação da participação destes nos cargos

e empregos públicos. No entanto, em face da exata aplicação do princípio da

igualdade (art. 5º, caput, e I) tal disposição pode suscitar indagações quanto à

aplicabilidade da desigualação ínsita à igualdade.

Com efeito, o princípio da igualdade não contempla tal exceção; mas, não há

dúvida acerca de que, como pessoas humanas, e capacitados os defi cientes físicos

devem ter - em face dos direitos humanos, artigos 1º, III, 3º, IV, 4º, II - igualdade

de oportunidades. Não se trata, aqui, de cogitar que a deficiência crie uma

desigualdade ‘positiva’, que benefi cie os seus portadores; mas, de uma proteção

constitucional e legal a compensar os insondáveis desígnios da própria natureza

(DA SILVA, Paulo Napoleão Nogueira. Breves comentários à Constituição Federal,

Vol. I, Ed. Forense, Rio de Janeiro: 2002, pág. 437).

No âmbito infraconstitucional, em 1989, entrou em vigor a Lei n. 7.853/89,

que dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de defi ciência, sua integração

social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora

de Defi ciência-Corde, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 383-433, novembro 2017 423

difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, defi ne crimes,

e dá outras providências.

Dessa norma, mostra-se oportuno transcrever os dispositivos a seguir:

Art. 1º Ficam estabelecidas normas gerais que asseguram o pleno exercício dos

direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de defi ciências, e sua efetiva

integração social, nos termos desta Lei.

§ 1º Na aplicação e interpretação desta Lei, serão considerados os valores

básicos da igualdade de tratamento e oportunidade, da justiça social, do respeito

à dignidade da pessoa humana, do bem-estar, e outros, indicados na Constituição

ou justifi cados pelos princípios gerais de direito.

§ 2º As normas desta Lei visam garantir às pessoas portadoras de defi ciência as

ações governamentais necessárias ao seu cumprimento e das demais disposições

constitucionais e legais que lhes concernem, afastadas as discriminações e

os preconceitos de qualquer espécie, e entendida a matéria como obrigação

nacional a cargo do Poder Público e da sociedade.

Art. 2º Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras

de defi ciência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos

à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à

infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis,

propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico.

Parágrafo único. Para o fi m estabelecido no caput deste artigo, os órgãos e

entidades da administração direta e indireta devem dispensar, no âmbito de sua

competência e fi nalidade, aos assuntos objetos esta Lei, tratamento prioritário e

adequado, tendente a viabilizar, sem prejuízo de outras, as seguintes medidas:

I - na área da educação:

(...)

II - na área da saúde:

(...)

III - na área da formação profi ssional e do trabalho:

a) o apoio governamental à formação profissional, e a garantia de acesso

aos serviços concernentes, inclusive aos cursos regulares voltados à formação

profi ssional;

b) o empenho do Poder Público quanto ao surgimento e à manutenção de

empregos, inclusive de tempo parcial, destinados às pessoas portadoras de

defi ciência que não tenham acesso aos empregos comuns;

c) a promoção de ações efi cazes que propiciem a inserção, nos setores públicos

e privado, de pessoas portadoras de defi ciência;

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

424

d) a adoção de legislação específica que discipline a reserva de mercado

de trabalho, em favor das pessoas portadoras de defi ciência, nas entidades da

Administração Pública e do setor privado, e que regulamente a organização de

ofi cinas e congêneres integradas ao mercado de trabalho, e a situação, nelas, das

pessoas portadoras de defi ciência;

IV - na área de recursos humanos:

(...)

V - na área das edifi cações:

(...)

Para regulamentar essa lei, sobreveio o Decreto n. 3.298/1999, que em seu

art. 3º, preconiza:

3º Para os efeitos deste Decreto, considera-se:

I - deficiência – toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função

psicológica, fi siológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de

atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano; (grifou-se).

II - defi ciência permanente – aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um

período de tempo sufi ciente para não permitir recuperação ou ter probabilidade

de que se altere, apesar de novos tratamentos; e

III - incapacidade – uma redução efetiva e acentuada da capacidade de

integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou

recursos especiais para que a pessoa portadora de defi ciência possa receber ou

transmitir informações necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho

de função ou atividade a ser exercida.

Já o art. 4º dessa mesma norma, em sua redação original, dispunha:

Art. 4º É considerada pessoa portadora de defi ciência a que se enquadra nas

seguintes categorias:

I - defi ciência física – (...)

II - deficiência auditiva – perda parcial ou total das possibilidades auditivas

sonoras, variando de graus e níveis na forma seguinte:

a) de 25 a 40 decibéis (db) – surdez leve:

b) de 41 a 55 db – surdez moderada;

c) de 56 a 70 db – surdez acentuada;

d) de 71 a 90 db – surdez severa;

e) acima de 91 db – surdez profunda; e

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 383-433, novembro 2017 425

f ) anacusia; (grifou-se).

III - defi ciência visual – (...)

I - defi ciência física – (...)

Nada obstante, o Decreto n. 5.296/2004 (que regulamenta a Lei n.

10.048/2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifi ca, e

a Lei n. 10.098/2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para

a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de defi ciência ou com

mobilidade reduzida, e dá outras providências), em seu art. 70, alterou o teor do

art. 4º em realce, o qual passou a apresentar a seguinte redação:

Art. 4º [...]

I - defi ciência física - alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do

corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-

se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia,

tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação

ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade

congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam

difi culdades para o desempenho de funções;

II - defi ciência auditiva - perda bilateral, pa rcial ou total, de quarenta e um decibéis

(dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e

3.000Hz;

III - defi ciência visual - cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que

0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que signifi ca

acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os

casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for

igual ou menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições

anteriores;

IV - [...].

No caso concreto, as provas pré-con stituídas juntadas aos autos atestam

que a impetrante sofre de anacusia, consistente na perda unilateral profunda da

audição.

Esse fato é incontroverso, como pontuou com propriedade o eminente

Relator, que, inclusive, reproduziu excertos dos laudos periciais, bem como

da resposta negativa efetuada pela Junta Médica examinadora ao recurso

administrativo manejado pela candidata, cujo teor, no ponto em que interessa,

vale aqui rememorar:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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No recurso em questão foi constatado que:

De acordo com o Decreto n. 3.298/99, atualizado pelo Decreto n. 5.296/2004,

que rege o Edital n. 01 do STJ, de 08/02/2012, sobre defi ciência auditiva: “perda

bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por

audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz”. Portanto,

se a candidata apresenta perda auditiva unilateral não pode ser clinicamente

enquadrada como pessoa com defi ciência nos termos do Edital.

Ante o exposto, o recurso de Vossa Senhoria foi indeferido

Conforme se constata, a justificativa para negar a pretensão foi o

entendimento de que, de acordo com o Decreto em referência, as pessoas com

perda unilateral de audição não devem ser consideradas defi cientes auditivas.

A controvérsia travada na espécie, portanto, diz respeito à exegese a ser

conferida ao art. 4º, II, do Decreto n. 3.298/99, com a redação que lhe foi dada

pelo Decreto n. 5.296/04.

Insta interpretá-lo de modo a respeitar as normas atinentes ao assunto,

bem como aos princípios constitucionais da isonomia, razoabilidade e

proporcionalidade.

Como consignou o eminente Ministro Relator, a Exposição de Motivos

do Decreto n. 5.296/04, demonstra, na realidade, a intenção de abranger os

portadores de defi ciência, de modo a eliminar as barreiras existentes e inseri-los

no contexto social, não havendo justifi cativa que motive o discrimen ocorrido.

É o que se depreende de todo o seu conteúdo, que culmina com o seguinte

desfecho, bastante elucidativo quanto à fi nalidade da norma:

10. Se as pesquisas especializadas internacionais já classifi cam o Brasil entre

os cinco países mais inclusivos das Américas em razão de nosso arcabouço legal,

este Decreto, convém frisar, corresponde à oportunidade de concretizarmos a

inclusão de um segmento ainda marginalizado, sem possibilidade de benefi ciar-se

dos bens e serviços disponíveis para aqueles que não apresentam defi ciência. Acesso

para as pessoas portadoras de defi ciência física, mental, sensorial ou para quem tem

mobilidade reduzida signifi ca a garantia de seus direitos e o exercício da cidadania.

11. Estou convicto, Senhor Presidente, que o Decreto ora submetido ao

julgamento de Vossa Excelência, se aprovado, nos termos do art. 84, IV, da

Constituição da República Federal do Brasil, será um instrumento com capacidade

de dar resposta contundente à inclusão social e à construção de um país de todos

(grifou-se)

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 383-433, novembro 2017 427

Assim, não reputo razoável compreender que, ao propor a modifi cação da

redação do inciso II do art. 4º do Decreto n. 3.298/99, o Secretário Especial dos

Direitos Humanos pretendeu restringir o conceito de defi ciente auditivo.

Contribuindo para o alcance da exegese da norma em análise, considero

de suma importância destacar o fato de que o Congresso Nacional editou o

Decreto n. 6.949/2009, o qual promulgou a Convenção Internacional sobre os

Direitos das Pessoas com Defi ciência e seu Protocolo Facultativo, assinados em

Nova York em 30 de março de 2007 (aprovada por meio do Decreto Legislativo

n. 186/2008), que passou a ostentar status de Emenda Constitucional, nos moldes

do art. 5º, § 3º, da Constituição Federal.

Essa norma, na letra “e” de seu Preâmbulo, assinala:

Reconhecendo que a defi ciência é um conceito em evolução e que a defi ciência

resulta da interação entre pessoas com deficiência e as barreiras devidas às

atitudes e ao ambiente que impedem a plena e efetiva participação dessas

pessoas na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoas

(grifo nosso).

Além disso, urge ressaltar que o propósito da citada norma de cunho

constitucional vem estipulado na primeira parte do Artigo 1, nos seguintes

termos: “promover, proteger e assegurar o exercício pleno e eqüitativo de todos

os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com

defi ciência e promover o respeito pela sua dignidade inerente”.

Por sua vez, a segunda parte do mencionado preceito normativo defi ne as

pessoas com defi ciência, como se verifi ca a seguir:

“são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental,

intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem

obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições

com as demais pessoas”.

Por tudo quanto exposto, com a devida vênia ao entendimento da

divergência, para mim não há como interpretar isoladamente, de maneira literal,

o art. 4º, II, do Decreto n. 3.298/99, com a redação conferida pelo Decreto n.

5.296/04.

A meu ver, a fi m de se alcançar o objetivo da norma, faz-se necessária a

interpretação sistemática do preceptivo legal em alusão, haja vista o teor do

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

428

art. 3º do mesmo Decreto, bem como os princípios norteadores da isonomia e

razoabilidade.

5. A jurisprudência desta Corte evidencia essa orientação.

Com efeito, além dos vários arestos referidos no voto do eminente Relator,

adicione-se o recente julgado:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO

EM MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. CANDIDATO PORTADOR

DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA UNILATERAL. RESERVA DE VAGA. POSSIBILIDADE.

DILAÇÃO PROBATÓRIA. DESNECESSIDADE. SURDEZ AFERIDA POR JUNTA

MÉDICA.

1. A solução da controvérsia não exige dilação probatória, pois não se discute

o grau de defi ciência do recorrente, que já foi aferido por junta médica, mas,

sim, determinar se a surdez unilateral confi gura defi ciência física, para fi ns de

aplicação da legislação protetiva.

2. Nos termos da Lei n. 7.853/1989, regulamentada pelos Decretos nos

3.298/1999 e 5.296/2004, toda perda de audição, ainda que unilateral ou parcial,

de 41 decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500HZ,

1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz, caracteriza defi ciência auditiva.

3. O laudo médico oficial confirmou que o candidato possui “deficiência

acústica unipolar” no ouvido esquerdo, o que se revela suficiente para a

caracterização da defi ciência, porquanto a bilateralidade da perda auditiva não é

legalmente exigida nessa seara.

4. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça fi rmou entendimento de que a

pessoa que apresenta surdez unilateral tem direito a vaga reservada a portadores de

defi ciência. A propósito: AgRg no AREsp 22.688/PE, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES

LIMA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 24/4/2012, DJe 2/5/2012; AgRg no RMS 34.436/

PE, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 3/5/2012, DJe

22/5/2012; AgRg no REsp 1.150.154/DF, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA,

julgado em 21/6/2011, DJe 28/6/2011; RMS 20.865/ES, Rel. Ministro PAULO MEDINA,

SEXTA TURMA, julgado em 3/8/2006, DJ 30/10/2006.

5. Agravo regimental a que se nega provimento (AgRg no RMS 24.445/RS, Rel.

Min. Og Fernandes, DJe 17/10/2012)

Ademais, inúmeras são as decisões unipessoais nesse mesmo sentido, o

que denota a pacifi cidade sobre o tema até hoje. Vejam-se à guisa de exemplo:

REsp 1.172.010/PR, Rel. Min. Alderita Ramos de Oliveira (Desembargadora

convocada do TJ/PE), DJe 06/11/2012; AREsp 27.458/DF, Ministro Napoleão

Nunes Maia Filho, DJe 26/10/2011; AREsp 5.159/PE, Ministro Herman

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 383-433, novembro 2017 429

Benjamin, DJe de 9/8/2011; AG 1.192.480/DF, Ministro Jorge Mussi, DJe de

8/10/2009.

Sempre fui defensor da manutenção da jurisprudência consolidada,

mormente quando fulcrada em fundamentos contundentes e em conformidade

com os princípios constitucionais e com as normas infraconstitucionais. O

Superior, tal como estabelecido pela Carta Constitucional, é o farol que emana

a luz da segurança jurídica. A alteração brusca da orientação consolidada não

contribui, com o devido respeito, para que o Tribunal cumpra com sua missão

constitucional.

Cabe, ainda, salientar os precedentes oriundos de outros Tribunais

Superiores quanto à matéria:

Tribunal Superior do Trabalho:

CONCURSO PÚBLICO PARA SERVIDOR. PERDA AUDITIVA SUPERIOR A 41 dB EM

UM DOS OUVIDOS. ENQUADRAMENTO COMO DEFICIENTE PARA CONCORRER A

VAGA DESTINADA AOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS.

O art. 4º do Decreto n. 3.298/99, que enumera as deficiências hábeis a

autorizar que o candidato em concurso público concorra às vagas reservadas aos

portadores de necessidades especiais, exige perda auditiva bilateral superior a 41

dB, não permitindo em sua literalidade enquadrar como defi ciente o impetrante,

portador de perda auditiva bilateral de 46,5 dB na orelha direita e 30 dB na orelha

esquerda. Contudo, o rol de defi ciências previsto no dispositivo regulamentar

em foco não é exaustivo, demandando leitura à luz do conceito de defi ciência

oferecido pelo art. 1º da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas

com Deficiência, norma trazida para a ordem jurídica interna com status de

Emenda Constitucional, nos termos do art. 5º, § 3º, da CF. Nesse contexto,

considerando que a perda auditiva de que é portador o impetrante foge do

padrão de normalidade física, trazendo-lhe limitações sensoriais que impedem a

sua convivência em pé de igualdade com as demais pessoas, impõe-se reconhecer

a sua condição de defi ciente físico, tendo direito líquido e certo à reserva de vagas

prevista nos arts. 37, VIII, da CF e 5º, § 2º, da Lei n. 8.112/90. Precedentes deste

Órgão Especial e do Superior Tribunal de Justiça. Remessa necessária e recurso

ordinário conhecidos e não providos. (ReeNec e RO - 29400-69.2011.5.21.0000, Rel.

Min. Dora Maria da Costa, Órgão Especial, DEJT 15/10/2012)

Superior Tribunal Militar:

EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. PORTADORA

DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA UNILATERAL. LAUDO COMPROBATÓRIO. NÃO

RECONHECIMENTO. DIREITO LÍQUIDO E CERTO. CONCESSÃO DA SEGURANÇA.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

430

NOMEAÇÃO E POSSE. A legitimidade do Presidente do Superior Tribunal Militar,

apontada como autoridade coatora, ficou sobejamente demonstrada pelos

atos que lhe foram atribuídos, encontrando respaldo nas disposições ínsitas no

art. 124, parágrafo único, da Constituição Federal, c/c o art. 21, inciso VI, da Lei

Complementar n. 35/1979, art. 1º da Lei n. 12.016/2009, art. 6º, inciso I, alínea “d”,

da Lei n. 8.457/1992 e art. 4º, inciso I, alínea “c”, do Regimento Interno do STM.

A Impetrante é portadora de deficiência auditiva unilateral, situação jurídica

reconhecida em laudo médico e por Junta Médica constituída pela Comissão do

Concurso. O enquadramento de pessoa portadora de defi ciência com suporte

no Decreto n. 3.298/1999 é adequado e há jurisprudência do colendo Superior

Tribunal de Justiça acerca da desnecessidade de a defi ciência auditiva ser bilateral,

podendo ser, segundo as disposições normativas, apenas parcial (AgRg no REsp

1.150.154/DF, QUINTA TURMA; e RMS 20.865/ES, SEXTA TURMA). PRELIMINAR DE

INCOMPETÊNCIA REJEITADA. DECISÃO MAJORITÁRIA. SEGURANÇA CONCEDIDA.

DECISÃO MAJORITÁRIA (MS n. 0000079-06.2011.7.00.0000, Rel. Min. Cleonilson

Nicácio Silva, DJe 23/2/2012)

EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. CANDIDATO NÃO

RECONHECIDO COMO PORTADOR DE DEFICIÊNCIA EMBORA COMPROVADA A

SUA DEFICIÊNCIA AUDITIVA UNILATERAL. PRELIMINARES DE INCOMPETÊNCIA E

DE NÃO CONHECIMENTO REJEITADAS, AMBAS FUNDADAS NA ILEGITIMIDADE

PASSIVA AD CAUSAM DA AUTORIDADE APONTADA COMO COATORA. MATÉRIA

DE DIREITO QUE NÃO COMPORTA DILAÇÃO PROBATÓRIA, CONFIGURANDO

VIOLAÇÃO DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO DO IMPETRANTE, TENDO EM VISTA

QUE A DEFICIÊNCIA AUDITIVA UNILATERAL ENQUADRA-SE NAS DISPOSIÇÕES DO

DECRETO N. 3.298/1999. I - Rejeitam-se as preliminares de incompetência e de

não conhecimento arguidas, respectivamente, pela autoridade apontada como

coatora e pela União, na qualidade de Litisconsorte, bem assim pela Procuradoria-

Geral da Justiça Militar, ambas fundadas na mesma tese, ou seja, na ilegitimidade

da autoridade coatora para figurar no presente mandamus. A legitimidade

do Presidente do Superior Tribunal Militar, como autoridade apontada como

coatora, fi cou sobejamente demonstrada pelos atos que lhe foram atribuídos,

encontrando respaldo nas disposições ínsitas no art. 124, parágrafo único, da

Constituição Federal, c/c o art. 21, inciso VI, da Lei Complementar n. 35/1979,

art. 1º da Lei n. 12.016/2009, art. 6º, inciso I, alínea “d”, da Lei n. 8.457/1992 e

art. 4º, inciso I, alínea “c”, do Regimento Interno do STM. II - O Impetrante é

portador de defi ciência auditiva unilateral, situação jurídica também reconhecida

inclusive pela Junta Médica constituída pela Comissão do Concurso. III - No que

diz respeito ao enquadramento de pessoa portadora de defi ciência com suporte

no Decreto n. 3.298/1999, é fi rme a jurisprudência do colendo Superior Tribunal

de Justiça acerca da desnecessidade de a deficiência auditiva ser bilateral,

podendo ser, segundo as disposições normativas, apenas parcial (AgRg no REsp

1.150.154/DF, QUINTA TURMA; e RMS 20.865/ES, SEXTA TURMA). Preliminar de

não conhecimento rejeitada. Decisão unânime. Preliminar de incompetência

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 383-433, novembro 2017 431

rejeitada. Decisão majoritária. Segurança concedida. Decisão majoritária (MS n.

0000071-29.2011.7.00.0000, Rel. Min. José Coêlho Ferreira, DJe 27/10/2011)

7. Nessa ordem de idéias, peço vênia à divergência para acompanhar o voto

do eminente Ministro Relator, concedendo a segurança.

É como voto.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro João Otávio de Noronha: Trata-se, em brevíssima síntese,

de saber se a pessoa com surdez unilateral ostenta condição de deficiente

físico em concurso público para provimento de vagas e formação de cadastro

de reserva no cargo de analista judiciário do quadro de pessoal do Superior

Tribunal de Justiça.

A polêmica decorre do fato de a nova redação do art. 4º, inciso II, do

Decreto n. 3.298/1999, dada pelo Decreto n. 5.296/2004, defi nir a defi ciência

auditiva como “perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB)

ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e

3.000Hz” (não há grifos no original).

A favor da tese da requerente, concedendo a ordem, votaram os Ministros

Castro Meira, relator, Arnaldo Esteves, Luis Felipe Salomão e Laurita Vaz;

contra, votaram os Ministros Humberto Martins, Sidnei Benetti, Herman

Benjamin e Mauro Campbell Marques.

Da mesma forma como ressaltado pelo Ministro Luis Felipe Salomão,

também sou ferrenho defensor da jurisprudência consolidada deste Superior

Tribunal de Justiça. Considero essa a melhor maneira de atribuir segurança às

relações jurídicas e de nortear as decisões das instâncias ordinárias.

No entanto, se ocorrem alterações legislativas a respeito das matérias cuja

jurisprudência se fi rmou em determinado sentido, é indispensável que volvamos

os olhos para o novo texto legal e, sempre que necessário, façamos também a

adaptação das nossas decisões.

Acredito ser essa a hipótese que ora se examina.

Com efeito, entendo que a nova redação dada ao art. 4º, inciso II, do

Decreto n. 3.289/1999 pelo Decreto n. 5.296/2004 teve, sim, o propósito

de imprimir nova defi nição ao conceito de defi ciência auditiva para os fi ns

previstos na legislação protetiva das pessoas com defi ciência.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

432

Basta verifi car que o novo texto legal só considera defi ciente auditivo

aquele que tenha perda de quarenta e um decibéis ou mais, deixando fora da

classifi cação as pessoas com surdez leve (de 25 a 40 decibéis) arroladas no texto

anterior.

É evidente que a lei não alterou o fato de essas pessoas continuarem a ter a

defi ciência, mas alterou o direito que antes elas tinham em razão da defi ciência.

O mesmo ocorre quando o dispositivo atual, de forma expressa, passa

a exigir para a obtenção da proteção legal que a perda auditiva seja bilateral,

tornando claro, portanto, aquilo que no texto anterior só se alcançou por meio

da interpretação dos tribunais. Não consigo admitir outro entendimento, a

menos que se declare a inconstitucionalidade da norma.

O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do AgReg em Mandado de

Segurança n. 29.910-DF, sendo relator o Ministro Gilmar Mendes, cujo acórdão

foi publicado em 1.8.2011, foi taxativo em afi rmar que “o Decreto 3.298/99,

que regulamenta a Lei 7.853/1989, ao dispor sobre a Política Nacional para

a Integração da Pessoa Portadora de Defi ciência, qualifi cou como defi ciência

auditiva a ‘perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais,

aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz’.

Logo, por si só, a perda auditiva unilateral não é condição apta a qualifi car o

candidato a concorrer às vagas destinadas aos portadores de defi ciência”.

Considero legítimo que as autoridades incumbidas de estabelecer as

políticas públicas de inclusão possam, eventualmente, tendo em vista as novas

tecnologias e avanços da medicina ou outros fatores sócio-econômicos, alterar

determinados critérios definidores do conceito de deficiência para fins de

proteção legal, até mesmo para tornar viável e efi caz a implementação dessas

políticas.

Bem por isso, estou de pleno acordo com o Ministro Herman Benjamin

quando Sua Excelência sugere que a lei brasileira pretende, de fato, proteger

os mais vulneráveis entre os vulneráveis, sob pena de fi carem os primeiros em

desvantagem cada vez maior.

Com essas considerações, peço vênia ao eminente relator e aos demais

ministros que o acompanharam para seguir a divergência e denegar a ordem.

É como voto.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 383-433, novembro 2017 433

VOTO-VOGAL

O Sr. Ministro Raul Araújo: Sra. Ministra Presidente, também entendo

que a ampliação do conceito de defi ciência prejudica os mais vulneráveis, como

disse o nobre Sr. Ministro Herman Benjamim.

Por isso, denego a ordem no mandado de segurança, acompanhando a

divergência, com a vênia do eminente Relator e dos ilustres Ministros que o

acompanharam.

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Súmula n. 553

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SÚMULA N. 553

Nos casos de empréstimo compulsório sobre o consumo de energia

elétrica, é competente a Justiça estadual para o julgamento de demanda proposta

exclusivamente contra a Eletrobrás. Requerida a intervenção da União no feito

após a prolação de sentença pelo juízo estadual, os autos devem ser remetidos

ao Tribunal Regional Federal competente para o julgamento da apelação se

deferida a intervenção.

Referências:

CPC, arts. 50 e 543-C.

Lei n. 9.469/1997, art. 5º, caput e parágrafo único.

Precedentes:

(*)REsp 1.111.159-RJ (1ª S, 11.11.2009 – DJe 19.11.2009) –

acórdão publicado na íntegra

(*)EDcl no REsp 1.111.159-RJ (1ª S, 24.03.2010 – DJe 09.04.2010) –

acórdão publicado na íntegra

EDcl no

AgRg no CC 89.783-RS (1ª S, 09.06.2010 – DJe 18.06.2010)

AgRg no REsp 1.090.784-DF (1ª T, 11.04.2013 – DJe 19.04.2013)

AgRg no Ag 1.291.829-MG (2ª T, 05.08.2010 – DJe 17.08.2010)

REsp 1.207.261-RS (2ª T, 21.10.2010 – DJe 05.11.2010)

AgRg no Ag 1.357.673-RS (2ª T, 22.02.2011 – DJe 04.03.2011)

REsp 1.205.884-RS (2ª T, 26.04.2011 – DJe 10.05.2011)

REsp 1.232.990-RS (2ª T, 26.04.2011 – DJe 10.05.2011)

AgRg nos

EDcl no REsp 1.195.727-RJ (2ª T, 23.04.2013 – DJe 02.05.2013)

(*) Recursos repetitivos.

Primeira Seção, em 9.12.2015

DJe 15.12.2015

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RECURSO ESPECIAL N. 1.111.159-RJ (2009/0014741-3)

Relator: Ministro Benedito Gonçalves

Recorrente: Açoforja Indústria de Forjados S/A

Advogado: Vladimir Mucury Cardoso e outro(s)

Recorrido: Centrais Elétricas Brasileiras S/A ELETROBRÁS

Advogado: Carlos Eduardo de Oliveira da Silva

EMENTA

DIREITO PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO.

RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO AO ARTIGO 535

DO CPC. VÍCIOS NÃO CONFIGURADOS. DISCUSSÃO

RELATIVA AO EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO SOBRE O

CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA. AÇÃO PROPOSTA

APENAS CONTRA A ELETROBRÁS. COMPETÊNCIA DA

JUSTIÇA ESTADUAL. PEDIDO DE INTERVENÇÃO NO

FEITO FORMULADO PELA UNIÃO APÓS A PROLAÇÃO

DA SENTENÇA. ART. 5º, DA LEI 9.469/97 E 50, DO CPC.

DESLOCAMENTO DA COMPETÊNCIA PARA O

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL PARA APRECIAÇÃO

DO PEDIDO DE INTERVENÇÃO E JULGAMENTO DOS

RECURSOS. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. RECURSO

SUBMETIDO AO REGIME PREVISTO NO ARTIGO 543-C

DO CPC.

1. Demanda envolvendo questões referentes ao empréstimo

compulsório sobre energia elétrica proposta unicamente contra a

Eletrobrás, perante a justiça estadual. Na hipótese, a União requereu o

ingresso no feito, com fundamento nos artigos 5º, da Lei 9.469/97 e

50, do CPC, após a prolação da sentença pela justiça estadual.

2. No que se refere à competência para dirimir questões referentes

ao empréstimo compulsório sobre energia elétrica, a jurisprudência

desta Corte se fi rmou no sentido que a competência da justiça federal

é defi nida em razão das partes litigantes e não da matéria em discussão,

de sorte que, sendo a demanda proposta unicamente em desfavor da

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

440

Eletrobrás, a competência para sua apreciação é da justiça estadual, ao

passo que, ingressando a União no feito, a competência passa a ser da

justiça federal, por força do que determina o artigo 109, inciso I, da

Constituição Federal.

3. O pedido de intervenção da União realizado após a prolação

da sentença enseja tão somente o deslocamento do processo para

o Tribunal Regional Federal, para que examine o requerimento de

ingresso na lide e prossiga (se for o caso) seu julgamento, sem a

automática anulação da sentença proferida pelo juízo estadual.

4. Recurso afetado à Seção, por ser representativo de controvérsia,

submetido ao regime do artigo 543-C do CPC e da Resolução 8/STJ.

5. Recurso especial parcialmente provido, para determinar a

manutenção da sentença de primeiro grau e a remessa dos autos para

o competente TRF, a fi m de que se proceda à apreciação do pedido

de intervenção da União e, se aceito, se realize o julgamento das

apelações.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por

unanimidade, dar parcial provimento ao recurso especial, nos termos do voto

do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Hamilton Carvalhido, Luiz Fux,

Castro Meira, Denise Arruda, Humberto Martins e Mauro Campbell Marques

votaram com o Sr. Ministro Relator.

Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Eliana Calmon e Herman

Benjamin.

Brasília (DF), 11 de novembro de 2009 (data do julgamento).

Ministro Benedito Gonçalves, Relator

DJe 19.11.2009

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Benedito Gonçalves: Cuida-se de recurso especial

interposto por Açoforja Indústria de Forjados S/A, com fundamento nas alíneas

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 435-457, novembro 2017 441

“a” e “c” do permissivo constitucional, contra acórdãos proferidos pelo Tribunal

de Justiça do Rio de Janeiro. O acórdão julgador da apelação foi assim ementado

(fl . 1.050):

Ação Ordinária, ajuizada por Açoforja Indústria de Forjados S/A. em face de

Centrais Elétricas Brasileiras SIA. visando recebimento de diferenças relativas ao

cômputo da correção monetária no pagamento do empréstimo compulsório

instituído pela União Federal, através da Lei 4.152/62, em favor da Eletrobrás.

Intervenção da União Federal no feito, como assistente, alegando que tem

interesse jurídico em que o deslinde da causa seja favorável a Eletrobrás,

alegando que esta quando recebeu empréstimo compulsório da empresa autora,

agiu em nome da União Federal, por delegação. Indiscutível a competência da

Justiça Federal, à luz do disposto no art. 50 do CPC, art. 5º, caput e parágrafo

único da Lei 9.469/97 e art. 109, I da Constituição Federal. Precedentes do STJ

no sentido de que quando a Eletrobrás recebeu empréstimo compulsório, o fez

na qualidade de delegada da União Federal, sendo competente para apreciar e

julgar as causas em que a União tiver interesse, que é o caso dos autos, a Justiça

Federal. Por isso, ANULA-SE A SENTENÇA E DECLINA-SE DA COMPETÊNCIA DA

JUSTIÇA ESTADUAL EM FAVOR DA JUSTIÇA FEDERAL.

Por seu turno, o acórdão que, por determinação do STJ, apreciou os

embargos declaratórios foi sintetizado pela ementa a seguir transcrita (fl . 1.207):

Embargos de Declaração. Ação de procedimento comum e rito ordinário

versando sobre o recebimento de diferenças relativas ao cômputo da correção

monetária no empréstimo compulsório instituído em favor da Eletrobrás, através

da Lei 4.152/62. Acórdão atacado por Recurso Especial. Parcial provimento ao

Agravo Interno, sendo determinado o retorno dos autos ao Tribunal de origem

para que haja manifestação a respeito dos pontos ventilados nos Embargos

de Declaração ofertados por Açoforja Industria de Forjados S/A. Alegação de

omissão a respeito da tese de que o assistente assume o processo no estado

em que se encontra e de que não houve intimação para manifestação sobre o

pedido de intervenção da União Federal. Manifestação expressa da União Federal

quanto ao seu interesse no feito, culminando pela declaração de nulidade da

sentença com a remessa dos autos a Justiça Federal, competente para apreciar

e decidir a causa. Assistência que será decidida pela Justiça Federal. Intimação

da parte contraria que se mostra desnecessária, haja vista que a declaração

de incompetência da Justiça Estadual teve por base preceito constitucional

(art. 109, I da CF). Ademais, a autora acompanhou todos os atos processuais,

manifestando-se inclusive sobre o pedido da União Federal (fl s. 1.013/1.018).

Diante de tudo o que foi exposto, NEGA-SE PROVIMENTO AOS EMBARGOS DE

DECLARAÇÃO.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

442

Em suas razões, a recorrente alega, inicialmente, ofensa ao artigo 535 do

Código de Processo Civil, ao argumento de que o acórdão recorrido foi omisso

e contraditório.

Aponta ainda violação ao artigo 50, parágrafo único, do CPC, bem como

ao artigo 5º, da Lei 9.469/97.

Sustenta que, tendo a União manifestado seu interesse na lide apenas após

a prolação da sentença e a interposição dos recursos de apelação, não podia o

acórdão recorrido anular a sentença proferida pela justiça estadual, já que o juízo

prolator, à época, era competente para apreciar o feito.

Destaca que o artigo 5º da Lei 9.469/97 não colide com a regra do

CPC, tanto que “prevê, em caso de intervenção da União, o deslocamento de

competência, não a incompetência retroativa da justiça comum” (fl . 1.225).

Alega ainda que a União se limitou a manifestar seu interesse, sem

demonstrá-lo efetivamente, o que, inclusive, impediria o deslocamento da

competência para a justiça federal, tendo em vista a necessidade de justifi cativa

da intervenção da União no feito, ainda que baseada na Lei 9.769/97.

Por fi m, aponta divergência entre o entendimento do Tribunal de origem

e a jurisprudência desta Corte, apontando como paradigma o Recurso Especial

n. 547.781-RJ, de relatoria do Sr. Ministro Teori Albino Zavascki, publicado no

DJ do dia 30.08.2004, no qual se decidiu que a justiça estadual é competente

para apreciação de demandas em que se discute o empréstimo compulsório

sobre energia elétrica, mas a União não é demandada.

Requer o provimento do recurso especial para que não se desloque a

competência para julgamento do feito para a justiça federal, uma vez que o

interesse da União, ainda que fundamentado no artigo 5º da Lei 9.469/97, não

houve comprovação de tal interesse.

Alternativamente, requer, caso se entenda pelo deslocamento da

competência, requer seja restabelecida a sentença, revogando-se sua anulação

pelo Tribunal de origem, em razão da intervenção da União ter sido realizada

em momento posterior à sua prolação.

Contrarrazões às fl s. 1.305-1.313.

Às fl . 1.316-1.319, o recurso especial foi admitido como representativo de

controvérsia pelo Tribunal de origem.

Em face da distribuição dos autos à minha relatoria, confi rmei a submissão

do tema ao regime dos denominados “recursos repetitivos”, bem como a

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 435-457, novembro 2017 443

afetação da demanda à Primeira Seção do STJ, nos termos da Resolução/STJ

n. 8/2008 (fl . 1.323).

Às fl s. 1.327-1.332, o Ministério Público, por meio de parecer da lavra do

ilustre Subprocurador-geral da República Flávio Giron, opinou pelo provimento

do recurso especial, no sentido de manter-se a sentença de primeiro grau e

determinar-se a remessa dos autos ao TRF para que se proceda à apreciação do

pedido de intervenção da União e, se aceito, ao julgamento das apelações.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Benedito Gonçalves (Relator): Preenchidos os requisitos de

admissibilidade, conheço do recurso especial.

Inicialmente, não assiste razão à recorrente quanto à alegação de

contrariedade ao artigo 535 do CPC, porquanto o Tribunal a quo decidiu a

controvérsia de acordo com a matéria posta nos autos, ainda que de forma

contrária à pretensão da ora recorrente, não incorrendo, pois, em omissão.

É pacífi co o entendimento desta Corte segundo o qual o órgão julgador

não está obrigado a se manifestar exaustivamente sobre todos os artigos de lei

apontados pela parte, desde que, como ocorreu na espécie, tenha decidido a

questão de forma clara e fundamentada.

Nesse sentido, à guisa de exemplo, confi ra-se:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE

SEGURANÇA. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. AJUDA DE CUSTO PARA

DESLOCAMENTO NOTURNO. INCIDÊNCIA. NATUREZA SALARIAL. VIOLAÇÃO AO

ART. 535 DO CPC. INOCORRÊNCIA. [...] 8. Inexiste ofensa ao art. 535 do CPC,

quando o tribunal de origem pronuncia-se de forma clara e sufi ciente sobre a

questão posta nos autos. Ademais, o magistrado não está obrigado a rebater, um

a um, os argumentos trazidos pela parte, desde que os fundamentos utilizados

tenham sido sufi cientes para embasar a decisão. 9. Recurso especial desprovido

(REsp 753.552/MG, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em 18/9/2007,

DJ 22/10/2007 p. 19).

Quanto ao mais, nos termos relatados, a controvérsia dos autos reside na

discussão a respeito da necessidade ou não de anulação da sentença proferida

pela justiça estadual, nas demandas em que se discute o empréstimo compulsório

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

444

sobre energia elétrica, propostas apenas em face da Eletrobrás, nas quais a União

requer sua intervenção apenas após a prolação da sentença.

Na hipótese vertente, o feito no qual se debatem questões referentes ao

empréstimo compulsório sobre energia elétrica foi ajuizado apenas contra as

Centrais Elétricas Brasileiras - Eletrobrás, perante a justiça do estado do Rio de

Janeiro, que, em 21 de julho de 2005, proferiu sentença julgando parcialmente

procedente o pedido (fl s. 836-840).

Apenas após a prolação da mencionada sentença, a União, com fundamento

no artigo 50 do CPC e no artigo 5º da Lei 9.469/97, requereu seu ingresso no

feito, bem como a remessa dos autos à justiça federal, nos termos da Súmula

150/STJ (fl s. 860-862).

Ao apreciar o mencionado pedido, o Tribunal a quo reconheceu

a competência da justiça federal para apreciar o feito, anulando a sentença

proferida pelo juízo singular, por força do pedido de ingresso da União na

demanda.

Feito o necessário retrospecto, para melhor delimitar a controvérsia,

examina-se o mérito recursal.

No que se refere à competência para dirimir questões referentes ao

empréstimo compulsório sobre energia elétrica, a jurisprudência desta Corte se

fi rmou no sentido que a competência da justiça federal é defi nida em razão das

partes litigantes e não da matéria em discussão.

Dessa forma, em se tratando de feitos nos quais se discutem questões

acerca do empréstimo compulsório sobre energia elétrica:

(i) sendo a demanda proposta unicamente em desfavor da Eletrobrás, a

competência para sua apreciação é da justiça estadual; e

(ii) ingressando a União no feito, mediante demonstração de legítimo

interesse, a competência passa a ser da justiça federal, por força do que determina

o artigo 109, inciso I, da Constituição Federal.

A esse respeito, colaciono os seguintes precedentes:

PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE

DEBÊNTURES CONTRA A ELETROBRÁS. INTERESSE JURÍDICO DA UNIÃO AFASTADO

PELO JUÍZO FEDERAL. SÚMULA 150/STJ. APLICAÇÃO DAS SÚMULAS 517 E 556 DO

STF. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. AGRAVO REGIMENTAL NÃO-PROVIDO.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 435-457, novembro 2017 445

1. Agravo regimental contra decisão que declarou a competência da Justiça

estadual para processar ação ordinária ajuizada em desfavor da Eletrobrás,

pela qual se objetiva a restituição de debêntures mediante conversão em ação

preferenciais.

2. A competência da Justiça Federal é fixada em razão da pessoa, sendo

que “compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico

que justifi que a presença, no processo, da União suas autarquias ou empresas

públicas” (Súmula 150/STJ).

3. Hipótese em que, embora a União tenha manifestado interesse de participar

no processo na condição de assistente da Eletrobrás, motivando, inclusive, a

remessa dos autos da Justiça estadual para a Justiça Federal, esta declarou a

inexistência de interesse do ente público a justifi car a sua presença na demanda,

indispensável à incidência do art. 109, I, da Constituição Federal.

4. Não compete ao STJ decidir sobre a legitimidade das partes em sede de

confl ito de competência. Precedentes.

5. Agravo regimental não-provido (AgRg no AgRg no CC 92.409/RJ, Rel.

Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 11/02/2009, DJe

05/03/2009).

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. CONFLITO NEGATIVO DE

COMPETÊNCIA ENTRE A JUSTIÇA ESTADUAL E FEDERAL. CORREÇÃO MONETÁRIA

PARA RESGATE DE EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO SOBRE ENERGIA ELÉTRICA.

COMPETÊNCIA. JUSTIÇA ESTADUAL.

1. A demanda movida em face da Eletrobrás visando recebimento de

consectários do empréstimo compulsório instituído sobre energia elétrica

encerra, em princípio, demanda de natureza cível, endereçada contra Pessoa

Jurídica de Direito Privado corporifi cada em Sociedade de Economia Mista sem a

prerrogativa do juízo privilegiado extensiva à União concedente.

2. A Primeira Seção, assentou que a competência da Justiça Federal, é defi nida

ratione personae, sendo irrelevante a natureza da controvérsia posta à apreciação.

3. Deveras, o fato de a União ser considerada solidariamente responsável pela

devolução na forma da Lei n. 4.156/62, enseja a que a demanda também seja

proposta contra ela, ab origine, ou que a mesma seja chamada ao processo na

forma do art. 77 do CPC, o que, deslocaria a competência para a Justiça Federal.

4. Entretanto, elegendo o autor apenas um dos devedores solidários para

a demanda o qual não goza de prerrogativa de juízo, torna-se imutável a

competência ratione personae.

5. Outrossim, a possibilidade de escolha de um dos devedores solidários

afasta a fi gura do litisconsórcio compulsório ou necessário por notória antinomia

ontológica, porquanto, o que é facultativo não pode ser obrigatório.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

446

6. Nada obstante, a parte para exigir na execução a responsabilidade

patrimonial da União deve fazê-la integrar o processo antecedente de

conhecimento, o que inocorreu, in casu.

7. Consectariamente, não há deslocamento de competência por interesse

em potência da União, senão quando a mesma integra a relação processual

como autora, ré, assistente, ou terceiro interveniente, consoante, aliás, restou

sumulado pelo STF, nos verbetes n. 517 e 556 (Súmula 517 do STF: “As sociedades

de economia mista só têm foro na Justiça Federal quando a União intervém como

assistente ou opoente.”; Súmula 556 do STF: “É competente a Justiça comum para

julgar as causas em que é parte sociedade de economia mista.”)

8. Ademais, na forma do verbete sumular n. 60, do extinto TRF “Compete à

Justiça Federal decidir da admissibilidade de mandado de segurança impetrado

contra atos de dirigentes de pessoas privadas, ao argumento de estarem agindo

por delegação do poder público federal.”. A Sociedade de Economia Mista que

age por delegação só goza de foro privilegiado quando atua com ius imperii

coibido por mandado de segurança, na forma do art. 109, da Constituição Federal.

9. Precedentes: REsp 763.605/MG; Rel. Min. LUIZ FUX; DJ 07.08.2006; CC

83.401/SP; DJ 29.08.2007; AgRg no CC 52.525/RS; DJ 04.06.2007; CC 45.856/RS; DJ

27.03.2006.

10. Agravo regimental desprovido (AgRg no CC 83.169/RJ, Rel. Ministro LUIZ

FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 12/03/2008, DJe 31/03/2008).

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. CONFLITO NEGATIVO DE

COMPETÊNCIA. DEBÊNTURES. EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO SOBRE ENERGIA

ELÉTRICA. AÇÃO AJUIZADA CONTRA A ELETROBRÁS. AUSÊNCIA DOS ENTES

ELENCADOS NO ART. 109, I, DA CF. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.

1. O Superior Tribunal de Justiça orienta-se no sentido de que a competência

da Justiça Federal, prevista no art. 109, I, da Constituição Federal, é fi xada, em

regra, em razão da pessoa (competência ratione personae), levando-se em conta

não a natureza da lide, mas, sim, a identidade das partes na relação processual.

2. Hipótese em que a ação foi ajuizada por consumidor tão-somente contra

a Eletrobrás. Muito embora se discuta a cobrança de valores relativos ao

Empréstimo Compulsório sobre energia elétrica, não se verifi ca a presença de

ente federal na lide, razão pela qual não há como afastar a competência da Justiça

Estadual para processar e julgar a demanda.

3. Consoante a Súmula 150 do STJ, “compete à Justiça Federal decidir sobre a

existência de interesse jurídico que justifi que a presença, no processo, da União,

suas autarquias ou empresas públicas.”

4. Conheceu-se do confl ito para declarar competente o Juízo de Direito da 2ª

Vara Cível do Foro Regional de Sarandi – Porto Alegre/RS, suscitado.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 435-457, novembro 2017 447

5. Agravo Regimental não provido (AgRg no CC 92.312/RS, Rel. Ministro

HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 12/11/2008, DJe 05/03/2009).

No caso concreto, verifi ca-se que houve manifestação da União no sentido

de ingressar no feito na qualidade de assistente da Eletrobrás, motivo pelo

qual não restam dúvidas acerca da necessidade de deslocamento do feito para

a justiça federal, para que seja analisado o próprio pedido de intervenção da

União.

É o que se extrai da Súmula 150/STJ, cujo teor transcrevo, verbis: “Compete

à justiça federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifi que a

presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas”.

Destaco que a hipótese vertente traz a peculiaridade de o pedido de

intervenção da União foi ter sido efetuado apenas após a prolação da sentença,

motivo pelo qual o juízo de origem entendeu pela necessidade de anulação de

tal ato decisório, ao determinar a remessa dos autos à justiça federal.

Entretanto, quanto ao tema, na esteira do que já foi exposto, a jurisprudência

dessa Corte se pacifi cou no sentido de que o pedido de intervenção da União do

feito realizado após a prolação da sentença enseja tão somente o deslocamento

do processo para o Tribunal Regional Federal, para que examine o requerimento

de ingresso na lide e prossiga (se for o caso) seu julgamento, sem a automática

anulação da sentença proferida pelo juízo estadual.

Isso porque, à época da da prolação da sentença, a justiça estadual,

efetivamente, era competente para a apreciação da demanda, em razão da não

participação da União no feito.

Dessa forma, ingressando a União no feito, na qualidade de assistente,

após a prolação da sentença, o que ocorre não é a declaração da incompetência

absoluta da justiça estadual, mas o deslocamento da competência para a justiça

federal, não sendo necessária a anulação dos atos decisórios praticados pelo

juízo anteriormente competente.

A esse respeito, confi ram-se os seguintes precedentes:

PROCESSUAL CIVIL. PEDIDO DE INTERVENÇÃO DA UNIÃO APÓS O JULGAMENTO

EM 1º GRAU DA JUSTIÇA COMUM ESTADUAL. APELAÇÃO. COMPETÊNCIA DO TRF.

1. Tendo a União requerido a intervenção na demanda somente após o

julgamento de primeiro grau da Justiça Estadual, compete ao Tribunal Regional

Federal a apreciação do respectivo pedido, bem assim, se aceito, o julgamento

das apelações interpostas.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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2. Recurso especial provido (REsp 1041279/RJ, Rel. Ministro TEORI ALBINO

ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 12/08/2008, DJe 27/08/2008).

PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. COMPENSAÇÃO DE VALORES RELATIVOS

AO EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO SOBRE O CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA.

AÇÃO PROPOSTA CONTRA A CELPE E A ELETROBRÁS. PEDIDO DE INTERVENÇÃO

NO FEITO FORMULADO PELA UNIÃO, COM FUNDAMENTO NO ART. 5º, CAPUT

E PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 9.469/97. ART. 109, I, DA CF. COMPETÊNCIA DA

JUSTIÇA FEDERAL.

1. Demanda na qual se discute a possibilidade de compensação de valores

relativos ao empréstimo compulsório sobre o consumo de energia elétrica,

proposta somente contra a COMPANHIA ENERGÉTICA DE PERNAMBUCO - CELPE

- e as CENTRAIS ELÉTRICAS BRASILEIRAS S/A - ELETROBRÁS -, não havendo,

inicialmente, a presença de nenhum dos entes elencados no art. 109, I, da

Constituição Federal, que atrairiam a competência da Justiça Federal.

2. A União responde solidariamente pelo valor nominal dos títulos relativos

ao empréstimo compulsório, nos termos do art. 4º, § 3º, da Lei 4.156/62. A parte

autora, no entanto, pode eleger apenas um dos devedores solidários para fi gurar

no pólo passivo da demanda. No caso, elegeu a CELPE e a ELETROBRÁS, situação

em que a Justiça Estadual seria competente para a apreciação da causa.

3. Hipótese, no entanto, em que a União, com fundamento no art. 5º, caput e

parágrafo único, da Lei 9.469/97, manifestou expressamente o seu interesse na

demanda, requerendo a sua intervenção no feito e o conseqüente deslocamento

da competência para a Justiça Federal.

4. Diante desse contexto, não restava nenhuma outra alternativa ao magistrado

de primeiro grau de jurisdição senão deferir o pedido de intervenção formulado

pela União, integrando-a à lide, com a conseqüente remessa dos autos à Justiça

Federal.

5. Recurso especial provido, para determinar a inclusão da União na lide, na

condição de assistente da ELETROBRÁS, conforme requerido, declarando-se

competente, em conseqüência, a Justiça Federal para apreciar a demanda.

(REsp 1.052.625/PE, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado

em 21/08/2008, DJe 10/09/2008

CONFLITO DE COMPETÊNCIA – PROCESSO CIVIL – EXECUÇÃO DE SENTENÇA

PROFERIDA PELA JUSTIÇA ESTADUAL – ART. 575, II, DO CPC – INTERVENÇÃO DA

UNIÃO NO FEITO – DESLOCAMENTO DA COMPETÊNCIA PARA A JUSTIÇA FEDERAL.

1. Estatui o art. 575, II, do CPC que a competência para conhecer de execução

fundada em título judicial é do Juízo que decidiu a causa no primeiro grau de

jurisdição.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 435-457, novembro 2017 449

2. Todavia, depreende-se que a intervenção da União no feito executivo, como

sucessora processual da extinta RFFSA (Rede Ferroviária Federal S/A), enseja o

deslocamento da competência para a Justiça Federal (art. 109, I, da Constituição

da República).

3. Confl ito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal da 3ª Vara e

Juizado Especial Previdenciário de Santo Ângelo - SJ/RS, o suscitante (CC 54.762/

RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 14/03/2007, DJ

09/04/2007 p. 219)

Processo Civil. Competência. Agravo em confl ito negativo. Ação proposta e

sentença proferida no âmbito da Justiça Comum Estadual. Cessão de direitos.

Caixa Econômica Federal. Recurso de apelação. Justiça Federal.

- A cessão de direitos à Caixa Econômica Federal, com a sua conseqüente

intervenção após a prolação da sentença e antes do julgamento do recurso

de apelação, desloca a competência para a Justiça Federal, que, se admitir a

intervenção, poderá julgar o mérito do recurso, conforme o entendimento

fi rmado na 2ª Seção do STJ.

Agravo no conflito de competência não provido (AgRg no CC 38.531/RS,

Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 10/12/2003, DJ

15/03/2004 p. 148).

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. INTERVENÇÃO DA CAIXA ECONÔMICA

FEDERAL APÓS O JULGAMENTO EM 1º GRAU DA JUSTIÇA COMUM ESTADUAL.

APELAÇÃO. COMPETÊNCIA DO TRF.

1. Intervindo no feito a Caixa Econômica Federal, empresa pública federal, após

o julgamento de primeiro grau da justiça comum estadual, compete ao Tribunal

Regional Federal o respectivo julgamento da apelação interposta.

2. Confl ito conhecido, declarado competente o Tribunal Regional Federal da 4ª

Região, o suscitante (CC 38.790/RS, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS,

Rel. p/ Acórdão Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em

27/08/2003, DJ 10/11/2003 p. 149).

Ante o exposto, dou parcial provimento ao recurso especial, para determinar

a manutenção da sentença de primeiro grau e a remessa dos autos para o

competente TRF, a fi m de que se proceda à apreciação do pedido de intervenção

da União e, se aceito, se realize o julgamento das apelações.

É como voto.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL N. 1.111.159-

RJ (2009/0014741-3)

Relator: Ministro Benedito Gonçalves

Embargante: Açoforja Indústria de Forjados S/A

Advogado: Vladimir Mucury Cardoso e outro(s)

Embargado: Centrais Elétricas Brasileiras S/A ELETROBRÁS

Advogado: Carlos Eduardo de Oliveira da Silva

EMENTA

DIREITO PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO

ESPECIAL. DISCUSSÃO RELATIVA AO EMPRÉSTIMO

COMPULSÓRIO SOBRE O CONSUMO DE ENERGIA

ELÉTRICA. AÇÃO PROPOSTA APENAS CONTRA A

ELETROBRÁS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.

PEDIDO DE INTERVENÇÃO NO FEITO FORMULADO

PELA UNIÃO APÓS A PROLAÇÃO DA SENTENÇA. ART.

5º, DA LEI 9.469/97 E 50, DO CPC. DESLOCAMENTO DA

COMPETÊNCIA PARA O TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL

PARA APRECIAÇÃO DO PEDIDO DE INTERVENÇÃO

E JULGAMENTO DOS RECURSOS. OMISSÃO E

CONTRADIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. COMPETÊNCIA

INTERNA DO STJ. OMISSÃO RECONHECIDA.

1. Os embargos de declaração são cabíveis quando o provimento

jurisdicional padecer de omissão, contradição ou obscuridade nos

ditames do art. 535, I e II, do CPC, bem como para sanar a ocorrência

de erro material.

2. A parte embargante aduz que não houve manifestação acerca

da competência interna para julgamento do apelo especial, que deveria

ter sido apreciado pela Corte Especial, na medida em que trata de

matéria de cunho eminentemente processual e, portanto, de interesse

de todos os órgãos fracionários do STJ. Aponta ainda omissão quanto

aos efeitos da intervenção especial do art. 5º da Lei n. 9.469/97, no

que se refere à competência, bem como contradição por força da

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 435-457, novembro 2017 451

aplicação da Súmula n.º 150 do STJ, apesar de se tratar de pedido de

intervenção baseado apenas em interesse econômico.

3. No caso dos autos, a controvérsia apreciada não é afeta a todos

os órgãos fracionários do STJ, uma vez que discute a necessidade de

deslocamento da competência da justiça estadual para a justiça federal

tão somente nas hipóteses de demandas que tratam de questões referentes ao

empréstimo compulsório sobre energia elétrica, nas quais a União manifeste

interesse. Dessa forma, verifi ca-se que a discussão aparentemente de

índole processual está estritamente ligada à questão de fundo tratada

nos autos (empréstimo compulsório sobre energia elétrica), motivo

pelo qual cabe à Primeira Seção do STJ sua apreciação, consoante

dispõe o inciso IX, do § 1º do artigo 9º do Regimento Interno da

Corte.

4. No que tange aos demais vícios apontados, o acórdão embargado

externou entendimento de que, nos termos da jurisprudência dessa

Corte, a realização de pedido de intervenção feito pela União nas

demandas referentes ao empréstimo compulsório sobre energia

elétrica, após a prolação da sentença enseja apenas o deslocamento

do processo para o Tribunal Regional Federal, de sorte que é esta

a esfera competente para o exame a respeito da existência, ou não,

de interesse que justifi que tal intervenção. Daí porque se manteve

a sentença proferida pelo juízo estadual em momento anterior ao

pedido de ingresso da União no feito. Da mesma forma, não há

como se reconhecer a alegada contradição uma vez que não se discute

nesses autos se há ou não interesse jurídico da União no feito, mas tão

somente se se a apreciação de tal questão é de competência da justiça

federal.

5. Verifi ca-se que, nesses pontos, a pretensão da embargante é

meramente infringente, sendo incabível nesta sede, ante à fi nalidade

estritamente integrativa dos embargos declaratórios.

6. Embargos de declaração rejeitados.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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unanimidade, rejeitar os embargos de declaração, nos termos do voto do Sr.

Ministro Relator. Os Srs. Ministros Hamilton Carvalhido, Eliana Calmon, Luiz

Fux, Castro Meira, Humberto Martins, Herman Benjamin e Mauro Campbell

Marques votaram com o Sr. Ministro Relator.

Ausente, justifi cadamente, a Sra. Ministra Denise Arruda.

Brasília (DF), 24 de março de 2010 (data do julgamento).

Ministro Benedito Gonçalves, Relator

DJe 9.4.2010

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Benedito Gonçalves: Trata-se de embargos declaratórios

opostos por Açoforja indústria de forjados S/A contra acórdão da lavra da

Primeira Seção que, sob o regime previsto no artigo 543-C do CPC, deu parcial

provimento ao recurso especial. Eis a ementa do acórdão embargado (fl . 1.347):

DIREITO PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO

AO ARTIGO 535 DO CPC. VÍCIOS NÃO CONFIGURADOS. DISCUSSÃO RELATIVA

AO EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO SOBRE O CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA.

AÇÃO PROPOSTA APENAS CONTRA A ELETROBRÁS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA

ESTADUAL. PEDIDO DE INTERVENÇÃO NO FEITO FORMULADO PELA UNIÃO

APÓS A PROLAÇÃO DA SENTENÇA. ART. 5º, DA LEI 9.469/97 E 50, DO CPC.

DESLOCAMENTO DA COMPETÊNCIA PARA O TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL PARA

APRECIAÇÃO DO PEDIDO DE INTERVENÇÃO E JULGAMENTO DOS RECURSOS.

MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. RECURSO SUBMETIDO AO REGIME PREVISTO NO

ARTIGO 543-C DO CPC.

1. Demanda envolvendo questões referentes ao empréstimo compulsório

sobre energia elétrica proposta unicamente contra a Eletrobrás, perante a justiça

estadual. Na hipótese, a União requereu o ingresso no feito, com fundamento nos

artigos 5º, da Lei 9.469/97 e 50, do CPC, após a prolação da sentença pela justiça

estadual.

2. No que se refere à competência para dirimir questões referentes ao

empréstimo compulsório sobre energia elétrica, a jurisprudência desta Corte

se fi rmou no sentido que a competência da justiça federal é defi nida em razão

das partes litigantes e não da matéria em discussão, de sorte que, sendo a

demanda proposta unicamente em desfavor da Eletrobrás, a competência para

sua apreciação é da justiça estadual, ao passo que, ingressando a União no feito,

a competência passa a ser da justiça federal, por força do que determina o artigo

109, inciso I, da Constituição Federal.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 435-457, novembro 2017 453

3. O pedido de intervenção da União realizado após a prolação da sentença

enseja tão somente o deslocamento do processo para o Tribunal Regional Federal,

para que examine o requerimento de ingresso na lide e prossiga (se for o caso) seu

julgamento, sem a automática anulação da sentença proferida pelo juízo estadual.

4. Recurso afetado à Seção, por ser representativo de controvérsia, submetido

ao regime do artigo 543-C do CPC e da Resolução 8/STJ.

5. Recurso especial parcialmente provido, para determinar a manutenção da

sentença de primeiro grau e a remessa dos autos para o competente TRF, a fi m de

que se proceda à apreciação do pedido de intervenção da União e, se aceito, se

realize o julgamento das apelações.

Em suas razões, a embargante sustenta, primeiramente, que o acórdão

embargado foi omisso quanto à competência para julgamento do apelo especial.

Argumenta que, por se tratar de matéria de cunho eminentemente processual e,

portanto, interessar a todos os órgão julgadores desta Corte, a competência para

o julgamento do recurso especial seria da Corte Especial.

Afi rma que tal questão, no entanto, deixou de ser abordada pelo acórdão

embargado, motivo pelo qual se justifi ca a oposição dos declaratórios. Requer o

acolhimento dos declaratórios, para que seja anulado o julgamento e remetidos

os autos para apreciação da Corte Especial.

A embargante aponta ainda omissão quanto “aos efeitos da intervenção

especial do art. 5º da Lei n. 9.469/97, no que se refere à competência” (fl . 1.368),

argumentando que, segundo a jurisprudência do STJ, a intervenção especial não

desloca a competência para o julgamento da causa, motivo pelo qual requer o

acolhimento dos declaratórios com efeitos modifi cativos para que não seja o feito

deslocado para a justiça federal e continue tramitando perante a justiça estadual.

Afi rma também ser o acórdão embargado contraditório, na medida em que

“aplica à hipótese dos autos a Súmula n. 150 do STJ, que, por sua vez refere-se

a ‘interesse jurídico’, ao passo que o interesse da União no feito não é jurídico

- mas meramente econômico, já que se fundamenta no referido art. 5º da Lei

9.469/97 [...]” (fl . 1.360).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Benedito Gonçalves (Relator): Como cediço, os embargos

de declaração são cabíveis quando o provimento jurisdicional padece de omissão,

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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contradição ou obscuridade nos ditames do art. 535, I e II, do CPC, bem como

para sanar a ocorrência de erro material, vícios esses inexistentes na espécie.

Não obstante, a fim de dirimir quaisquer dúvidas sobre o que foi

efetivamente decidido pelo colegiado e prevenir o manejo de novos aclaratórios,

passo a tecer as seguintes considerações.

Conforme relatado, o embargante sustenta que o acórdão impugnado está

eivado de omissões e contradições.

Nesse sentido, aduz que não houve manifestação acerca da competência

interna para julgamento do apelo especial, que deveria ter sido apreciado pela

Corte Especial, na medida em que trata de matéria de cunho eminentemente

processual e, portanto, de interesse de todos os órgãos fracionários do STJ.

Efetivamente, de acordo com o artigo 2º da Resolução n. 8/STJ, de 7 de

agosto de 2008, tratando o recurso especial de matéria cuja competência seja

de mais de uma Seção desta Corte, seu julgamento deve ser submetido à Corte

Especial. Tal deslocamento da competência ocorre, mormente, por uma questão

de política judiciária, no intuito de facilitar a uniformização dos entendimentos

diversos eventualmente existentes sobre questões que interessam a todas as

esferas de julgamento desta Corte.

Ocorre que, no caso dos autos, a controvérsia apreciada não é afeta a

todos os órgãos fracionários do STJ, uma vez que discute a necessidade de

deslocamento da competência da justiça estadual para a justiça federal tão

somente nas hipóteses de demandas que tratam de questões referentes ao empréstimo

compulsório sobre energia elétrica, nas quais a União manifeste interesse.

Nesse sentido, verifica-se que a discussão aparentemente de índole

processual está estritamente ligada à questão de fundo tratada nos autos

(empréstimo compulsório sobre energia elétrica), motivo pelo qual cabe à

Primeira Seção do STJ sua apreciação, consoante dispõe o inciso IX, do § 1º do

artigo 9º do Regimento Interno da Corte.

Ademais, justifica-se a manutenção da competência para julgamento

da demanda no âmbito da Primeira Seção, também por uma questão de

política judiciária, mormente por ser este órgão fracionário grande conhecedor

do mérito da demanda, já tendo julgado milhares de processos envolvendo

discussões acerca do empréstimo compulsório sobre energia elétrica, e inclusive

uniformizado inúmeras questões controvertidas, também sob o pálio das

determinações do artigo 543-C do CPC.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 435-457, novembro 2017 455

Dessa forma, nada mais lógico que a manutenção do julgamento da

presente demanda, cuja discussão processual está intrinsecamente ligada às

questões meritórias acerca do empréstimo compulsório sobre energia elétrica, na

esfera de competência da Primeira Seção.

No mais, afi rma a embargante que o acórdão impugnado é também omisso

quanto “aos efeitos da intervenção especial do art. 5º da Lei n. 9.469/97, no que

se refere à competência” (fl . 1.368), argumentando que, segundo a jurisprudência

do STJ, a intervenção especial não desloca a competência para o julgamento da

causa, motivo pelo qual entende que o feito não deve ser deslocado para a justiça

federal, mas sim continuar tramitando perante a justiça estadual.

Afi rma também ser o acórdão embargado contraditório, na medida em que

“aplica à hipótese dos autos a Súmula n. 150 do STJ, que, por sua vez refere-se

a ‘interesse jurídico’, ao passo que o interesse da União no feito não é jurídico

- mas meramente econômico, já que se fundamenta no referido art. 5º da Lei

9.469/97 [...]” (fl . 1.360).

Entretanto, quanto a estes aspectos, o acórdão embargado foi claro ao

decidir que (fl s. 1.340-1.344):

Quanto ao mais, nos termos relatados, a controvérsia dos autos reside na

discussão a respeito da necessidade ou não de anulação da sentença proferida

pela justiça estadual, nas demandas em que se discute o empréstimo compulsório

sobre energia elétrica, propostas apenas em face da Eletrobrás, nas quais a União

requer sua intervenção apenas após a prolação da sentença.

Na hipótese vertente, o feito no qual se debatem questões referentes ao

empréstimo compulsório sobre energia elétrica foi ajuizado apenas contra as

Centrais Elétricas Brasileiras - Eletrobrás, perante a justiça do estado do Rio de

Janeiro, que, em 21 de julho de 2005, proferiu sentença julgando parcialmente

procedente o pedido (fl s. 836-840).

Apenas após a prolação da mencionada sentença, a União, com fundamento

no artigo 50 do CPC e no artigo 5º da Lei 9.469/97, requereu seu ingresso no feito,

bem como a remessa dos autos à justiça federal, nos termos da Súmula 150/STJ

(fl s. 860-862).

Ao apreciar o mencionado pedido, o Tribunal a quo reconheceu a competência

da justiça federal para apreciar o feito, anulando a sentença proferida pelo juízo

singular, por força do pedido de ingresso da União na demanda.

Feito o necessário retrospecto, para melhor delimitar a controvérsia, examina-

se o mérito recursal.

No que se refere à competência para dirimir questões referentes ao

empréstimo compulsório sobre energia elétrica, a jurisprudência desta Corte se

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

456

fi rmou no sentido que a competência da justiça federal é defi nida em razão das

partes litigantes e não da matéria em discussão.

Dessa forma, em se tratando de feitos nos quais se discutem questões acerca

do empréstimo compulsório sobre energia elétrica:

(i) sendo a demanda proposta unicamente em desfavor da Eletrobrás, a

competência para sua apreciação é da justiça estadual; e

(ii) ingressando a União no feito, mediante demonstração de legítimo interesse,

a competência passa a ser da justiça federal, por força do que determina o artigo

109, inciso I, da Constituição Federal.

[...]

No caso concreto, verifi ca-se que houve manifestação da União no sentido de

ingressar no feito na qualidade de assistente da Eletrobrás, motivo pelo qual não

restam dúvidas acerca da necessidade de deslocamento do feito para a justiça

federal, para que seja analisado o próprio pedido de intervenção da União.

É o que se extrai da Súmula 150/STJ, cujo teor transcrevo, verbis: “Compete

à justiça federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifi que a

presença, no processo, da União, suas autarquias ou empresas públicas”.

Destaco que a hipótese vertente traz a peculiaridade de o pedido de

intervenção da União foi ter sido efetuado apenas após a prolação da sentença,

motivo pelo qual o juízo de origem entendeu pela necessidade de anulação de tal

ato decisório, ao determinar a remessa dos autos à justiça federal.

Entretanto, quanto ao tema, na esteira do que já foi exposto, a jurisprudência

dessa Corte se pacifi cou no sentido de que o pedido de intervenção da União do

feito realizado após a prolação da sentença enseja tão somente o deslocamento

do processo para o Tribunal Regional Federal, para que examine o requerimento

de ingresso na lide e prossiga (se for o caso) seu julgamento, sem a automática

anulação da sentença proferida pelo juízo estadual.

Isso porque, à época da da prolação da sentença, a justiça estadual,

efetivamente, era competente para a apreciação da demanda, em razão da não

participação da União no feito.

Dessa forma, ingressando a União no feito, na qualidade de assistente, após

a prolação da sentença, o que ocorre não é a declaração da incompetência

absoluta da justiça estadual, mas o deslocamento da competência para a justiça

federal, não sendo necessária a anulação dos atos decisórios praticados pelo juízo

anteriormente competente.

[...]

Dessa forma, não se confi guram os vícios apontados pela embargante,

porquanto o acórdão embargado externou entendimento de que, nos termos

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 435-457, novembro 2017 457

da jurisprudência dessa Corte, a realização de pedido de intervenção feito pela

União após a prolação da sentença enseja apenas o deslocamento do processo

para o Tribunal Regional Federal, de sorte que é esta a esfera competente para o

exame a respeito da existência ou não de interesse que justifi que tal intervenção.

Daí porque se manteve a sentença proferida pelo juízo estadual em momento

anterior ao pedido de ingresso da União no feito.

Da mesma forma, não há como se reconhecer a alegada contradição uma

vez que não se discute nesses autos se há ou não interesse jurídico da União

no feito, mas tão somente se decidiu que a apreciação de tal questão é de

competência da justiça federal.

Constata-se, portanto, que a insurgência do embargante, quanto a estes

pontos, não diz respeito a eventual vício de integração do acórdão impugnado,

mas à interpretação que lhe foi desfavorável, motivação essa que não se enquadra

nas hipóteses de cabimento dos aclaratórios.

Ante o exposto, rejeito os embargos de declaração.

É como voto.

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Súmula n. 554

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SÚMULA N. 554

Na hipótese de sucessão empresarial, a responsabilidade da sucessora

abrange não apenas os tributos devidos pela sucedida, mas também as multas

moratórias ou punitivas referentes a fatos geradores ocorridos até a data da

sucessão.

Referências:

CPC, art. 543-C.

CTN, arts. 113, § 1º, 129, 132, 133 e 139.

Precedentes:

(*)REsp 923.012-MG (1ª S, 09.06.2010 – DJe 24.06.2010) –

acórdão publicado na íntegra

(*)EDcl no REsp 923.012-MG (1ª S, 10.04.2013 – DJe 24.04.2013)

REsp 544.265-CE (1ª T, 16.11.2004 – DJ 21.02.2005)

REsp 745.007-SP (1ª T, 19.05.2005 – DJ 27.06.2005)

REsp 554.377-SC (1ª T, 04.10.2005 – DJ 19.12.2005)

REsp 1.085.071-SP (1ª T, 21.05.2009 – DJe 08.06.2009)

REsp 959.389-RS (2ª T, 07.05.2009 – DJe 21.05.2009)

AgRg no REsp 1.056.302-SC (2ª T, 23.04.2009 – DJe 13.05.2009)

REsp 1.220.651-GO (2ª T, 05.04.2011 – DJe 29.04.2011)

AgRg no REsp 1.321.958-RS (2ª T, 04.10.2012 – DJe 16.10.2012)

(*) Recursos repetitivos.

Primeira Seção, em 9.12.2015

DJe 15.12.2015

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RECURSO ESPECIAL N. 923.012-MG (2007/0031498-0)

Relator: Ministro Luiz Fux

Recorrente: Companhia Muller de Bebidas

Advogado: Fernando Loeser e outro(s)

Recorrido: Estado de Minas Gerais

Procurador: Maurício Bhering Andrade e outro(s)

EMENTA

TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. RECURSO

ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART.

543-C, DO CPC. RESPONSABILIDADE POR INFRAÇÃO.

SUCESSÃO DE EMPRESAS. ICMS. BASE DE CÁLCULO.

VALOR DA OPERAÇÃO MERCANTIL. INCLUSÃO DE

MERCADORIAS DADAS EM BONIFICAÇÃO. DESCONTOS

INCONDICIONAIS. IMPOSSIBILIDADE. LC N. 87/96.

MATÉRIA DECIDIDA PELA 1ª SEÇÃO, NO RESP 1.111.156/

SP, SOB O REGIME DO ART. 543-C DO CPC.

1. A responsabilidade tributária do sucessor abrange, além dos

tributos devidos pelo sucedido, as multas moratórias ou punitivas,

que, por representarem dívida de valor, acompanham o passivo do

patrimônio adquirido pelo sucessor, desde que seu fato gerador tenha

ocorrido até a data da sucessão. (Precedentes: REsp 1.085.071/SP,

Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA,

julgado em 21/05/2009, DJe 08/06/2009; REsp 959.389/RS, Rel.

Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado

em 07/05/2009, DJe 21/05/2009; AgRg no REsp 1.056.302/SC,

Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA

TURMA, julgado em 23/04/2009, DJe 13/05/2009; REsp 3.097/RS,

Rel. Ministro GARCIA VIEIRA, PRIMEIRA TURMA, julgado

em 24/10/1990, DJ 19/11/1990)

2. “(...) A hipótese de sucessão empresarial (fusão, cisão, incorporação),

assim como nos casos de aquisição de fundo de comércio ou estabelecimento

comercial e, principalmente, nas confi gurações de sucessão por transformação

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

464

do tipo societário (sociedade anônima transformando-se em sociedade por

cotas de responsabilidade limitada, v.g.), em verdade, não encarta sucessão

real, mas apenas legal. O sujeito passivo é a pessoa jurídica que continua total

ou parcialmente a existir juridicamente sob outra “roupagem institucional”.

Portanto, a multa fi scal não se transfere, simplesmente continua a integrar

o passivo da empresa que é: a) fusionada; b) incorporada; c) dividida pela

cisão; d) adquirida; e) transformada. (Sacha Calmon Navarro Coêlho,

in Curso de Direito Tributário Brasileiro, Ed. Forense, 9ª ed., p. 701)

3. A base de cálculo possível do ICMS nas operações mercantis, à luz do texto constitucional, é o valor da operação mercantil efetivamente realizada ou, consoante o artigo 13, inciso I, da Lei Complementar n. 87/96, “o valor de que decorrer a saída da mercadoria”.

4. Desta sorte, afi gura-se inconteste que o ICMS descaracteriza-se acaso integrarem sua base de cálculo elementos estranhos à operação mercantil realizada, como, por exemplo, o valor intrínseco dos bens entregues por fabricante à empresa atacadista, a título de bonifi cação, ou seja, sem a efetiva cobrança de um preço sobre os mesmos.

5. A Primeira Seção deste Tribunal Superior pacificou o

entendimento acerca da matéria, por ocasião do julgamento do REsp

1.111.156/SP, sob o regime do art. 543-C, do CPC, cujo acórdão

restou assim ementado:

TRIBUTÁRIO – ICMS – MERCADORIAS DADAS EM BONIFICAÇÃO – ESPÉCIE

DE DESCONTO INCONDICIONAL – INEXISTÊNCIA DE OPERAÇÃO MERCANTIL –

ART. 13 DA LC 87/96 – NÃO-INCLUSÃO NA BASE DE CÁLCULO DO TRIBUTO.

1. A matéria controvertida, examinada sob o rito do art. 543-C do Código

de Processo Civil, restringe-se tão-somente à incidência do ICMS nas operações

que envolvem mercadorias dadas em bonificação ou com descontos

incondicionais; não envolve incidência de IPI ou operação realizada pela

sistemática da substituição tributária.

2. A bonifi cação é uma modalidade de desconto que consiste na entrega de

uma maior quantidade de produto vendido em vez de conceder uma redução

do valor da venda. Dessa forma, o provador das mercadorias é benefi ciado

com a redução do preço médio de cada produto, mas sem que isso implique

redução do preço do negócio.

3. A literalidade do art. 13 da Lei Complementar n. 87/96 é suficiente

para concluir que a base de cálculo do ICMS nas operações mercantis é

aquela efetivamente realizada, não se incluindo os “descontos concedidos

incondicionais”.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 459-474, novembro 2017 465

4. A jurisprudência desta Corte Superior é pacífi ca no sentido de que o valor

das mercadorias dadas a título de bonifi cação não integra a base de cálculo do

ICMS.

5. Precedentes: AgRg no REsp 1.073.076/RS, Rel. Min. Humberto Martins,

Segunda Turma, julgado em 25.11.2008, DJe 17.12.2008; AgRg no AgRg nos

EDcl no REsp 935.462/MG, Primeira Turma, Rel. Min. Francisco Falcão, DJe

8.5.2008; REsp 975.373/MG, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em

15.5.2008, DJe 16.6.2008; EDcl no REsp 1.085.542/SP, Rel. Min. Denise Arruda,

Primeira Turma, julgado em 24.3.2009, DJe 29.4.2009.

Recurso especial provido para reconhecer a não-incidência do ICMS sobre

as vendas realizadas em bonifi cação. Acórdão sujeito ao regime do art. 543-

C do Código de Processo Civil e da Resolução 8/2008 do Superior Tribunal

de Justiça. (REsp 1.111.156/SP, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, PRIMEIRA

SEÇÃO, julgado em 14/10/2009, DJe 22/10/2009)

6. Não obstante, restou consignada, na instância ordinária, a

ausência de comprovação acerca da incondicionalidade dos descontos,

consoante dessume-se do seguinte excerto do voto condutor do aresto

recorrido.

7. Destarte, infi rmar a decisão recorrida implica o revolvimento

fático-probatório dos autos, inviável em sede de recurso especial, em

face do Enunciado Sumular 07 do STJ.

8. A ausência de provas acerca da incondicionalidade dos

descontos concedidos pela empresa recorrente prejudica a análise da

controvérsia sob o enfoque da alínea “b” do permissivo constitucional.

9. Recurso especial desprovido. Acórdão submetido ao regime do

art. 543-C do CPC e da Resolução STJ 08/2008.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da Primeira Seção

do Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso especial,

nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Castro Meira,

Humberto Martins, Herman Benjamin, Mauro Campbell Marques, Benedito

Gonçalves, Hamilton Carvalhido e Eliana Calmon votaram com o Sr. Ministro

Relator.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

466

Brasília (DF), 09 de junho de 2010 (data do julgamento).

Ministro Luiz Fux, Relator

DJe 24.6.2010

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luiz Fux: Trata-se de recurso especial interposto por

COMPANHIA MULLER DE BEBIDAS, sucessora por incorporação

de Indústrias Müller de Bebidas Ltda., com fulcro nas alíneas “a”, “b” e “c”,

do permissivo constitucional, contra acórdão prolatado pelo TJ/MG, assim

ementado:

Apelação. Ação ordinária. Pretensão de não incluir na base de cálculo do ICMS

os valores dados em bonificação. Não comprovado que as bonificações foram

incondicionais, devem ser incluídos os respectivos valores na base de cálculo.

Impõe-se à sucessora a obrigação de pagar as multas impostas à antecessora. Ação

improcedente. Sentença mantida.

Noticiam os autos que Companhia Müller de Bebidas Ltda ajuizou ação,

com pedido de antecipação de tutela, objetivando o reconhecimento do direito

de não ter que incluir, na base de cálculo do ICMS, as bonifi cações concedidas

a seus clientes, visto que não compõem o real valor da operação mercantil.

Alternativamente, pleiteou a declaração de inexistência de relação jurídica que a

obrigue a pagar a multa relativa ao não recolhimento do ICMS sobre operações

relativas à circulação econômica de mercadorias. Por fi m, quanto à suposta

impropriedade da multa, sustentou que a interpretação dada ao art. 132, do

CNT, pela Autora, fere a sistemática do Código, que, em seu art. 129, prevê que

os sucessores são responsáveis, também, pelos créditos tributários oriundos de

obrigações surgidas em data anterior aos atos da incorporação.

O Juízo monocrático julgou improcedente o pedido formulado na

inicial, ao fundamento de que a legislação estadual, no tocante à inclusão de

descontos concedidos sob condição na base de cálculo do imposto, nada teria

de inconstitucional, bem assim que ao Autor incumbia a prova quanto ao fato

constitutivo do seu direito, qual seja, prova de que as bonifi cações concedidas

seriam incondicionais, o que não foi feito. No que tange à impossibilidade de

cobrança da multa sucessora, entendeu que a interpretação dada pela Autora

não estaria correta, sendo que a melhor doutrina tem entendido que a sucessora

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 459-474, novembro 2017 467

tem responsabilidade por todas as obrigações referentes ao período anterior à

sucessão por incorporação.

O Tribunal estadual, nos termos da ementa retrotranscrita, negou

provimento às apelações.

Foram opostos embargos declaratórios, que restaram rejeitados.

Nas razões recursais, alegou-se violação dos arts. 12 e 13 da LC 87/96,

porquanto os valores não recebidos efetivamente pela recorrente, como são

os descontos incondicionais, não podem integrar a base de cálculo do tributo,

porquanto não correspondem ao preço praticado na operação mercantil. Nesse

ponto, mostra-se ilegal a legislação estadual que prevê contrariamente ao

disposto na LC 87/96, havendo confl ito entre as referidas leis. Outrossim,

alegou que o Tribunal não atentou para as provas produzidas nos autos quanto

ao fato de que as bonifi cações concedidas não se subordinam a qualquer evento

futuro ou incerto. Aventou dissídio jurisprudencial com arestos deste Tribunal

Superior. Alternativamente, postulou pela exclusão das multas punitivas

aplicadas à empresa incorporada, porquanto a empresa sucessora apenas deve

responder pelos tributos da sucedida, consoante precedentes jurisprudenciais

trazidos à colação para fundamentar o dissídio alegado.

Não foram apresentadas contra-razões ao apelo, que recebeu crivo negativo

de admissibilidade na instância de origem, subindo a esta Corte por força do

provimento do agravo de instrumento.

Parecer do Ministério Público às fl s. 1.029/1.036, opinando pelo parcial

conhecimento e desprovimento do recurso, nos seguintes termos:

RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. ART. 543-C, DO CPC. RESOLUÇÃO Nº 08/2008-STJ.

TRIBUTÁRIO. EMPRESA SUCESSORA. RESPONSABILIDADE PELOS TRIBUTOS DEVIDOS

PELA SUCEDIDA. EXTENSÃO ÀS MULTAS. OBRIGAÇÕES QUE INTEGRAM O PASSIVO

ARTS. 132 E 133 DO CTN. PELO PARCIAL CONHECIMENTO E DESPROVIMENTO DO

RECURSO.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Luiz Fux (Relator): O presente recurso versa dois pontos

basilares, quais sejam: a) a impossibilidade de os valores dados a título de

bonifi cação integrarem a base de cálculo do ICMS devido pela empresa e; b) a

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

468

questão da sucessão da empresa extinta e a transmissão de obrigações e haveres

tributários à empresa que a incorporou.

Preliminarmente, a primeira questão não pode ser conhecida, em face do

Enunciado Sumular 07 do STJ, senão vejamos.

A Primeira Seção deste Tribunal Superior pacifi cou o entendimento acerca

da matéria, por ocasião do julgamento do REsp 1.111.156/SP, sob o regime do

art. 543-C, do CPC, cujo acórdão restou assim ementado:

TRIBUTÁRIO – ICMS – MERCADORIAS DADAS EM BONIFICAÇÃO – ESPÉCIE DE

DESCONTO INCONDICIONAL – INEXISTÊNCIA DE OPERAÇÃO MERCANTIL – ART. 13 DA

LC 87/96 – NÃO-INCLUSÃO NA BASE DE CÁLCULO DO TRIBUTO.

1. A matéria controvertida, examinada sob o rito do art. 543-C do Código de

Processo Civil, restringe-se tão-somente à incidência do ICMS nas operações que

envolvem mercadorias dadas em bonifi cação ou com descontos incondicionais; não

envolve incidência de IPI ou operação realizada pela sistemática da substituição

tributária.

2. A bonifi cação é uma modalidade de desconto que consiste na entrega de uma

maior quantidade de produto vendido em vez de conceder uma redução do valor

da venda. Dessa forma, o provador das mercadorias é benefi ciado com a redução

do preço médio de cada produto, mas sem que isso implique redução do preço do

negócio.

3. A literalidade do art. 13 da Lei Complementar n. 87/96 é sufi ciente para concluir

que a base de cálculo do ICMS nas operações mercantis é aquela efetivamente

realizada, não se incluindo os “descontos concedidos incondicionais”.

4. A jurisprudência desta Corte Superior é pacífi ca no sentido de que o valor das

mercadorias dadas a título de bonifi cação não integra a base de cálculo do ICMS.

5. Precedentes: AgRg no REsp 1.073.076/RS, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda

Turma, julgado em 25.11.2008, DJe 17.12.2008; AgRg no AgRg nos EDcl no REsp

935.462/MG, Primeira Turma, Rel. Min. Francisco Falcão, DJe 8.5.2008; REsp 975.373/

MG, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em 15.5.2008, DJe 16.6.2008; EDcl no

REsp 1.085.542/SP, Rel. Min. Denise Arruda, Primeira Turma, julgado em 24.3.2009,

DJe 29.4.2009.

Recurso especial provido para reconhecer a não-incidência do ICMS sobre as

vendas realizadas em bonifi cação. Acórdão sujeito ao regime do art. 543-C do Código

de Processo Civil e da Resolução 8/2008 do Superior Tribunal de Justiça.

(REsp 1.111.156/SP, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado

em 14/10/2009, DJe 22/10/2009)

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 459-474, novembro 2017 469

Não obstante, restou consignada, na instância ordinária, a ausência de

comprovação acerca da incondicionalidade dos descontos, consoante dessume-

se do seguinte excerto do voto condutor do aresto recorrido, in verbis:

“A Lei Complementar 87/96, apesar de não contemplar expressamente a

bonifi cação concedida, engloba a mesma na expressão “descontos concedidos sob

condição”, como se observa no art. 13, § 1º, II, “a”.

De acordo com a lei, portanto, somente as bonifi cações incondicionais estão

livres de integrar a base de cálculo do imposto. Ocorre, entretanto, que não se pode

afi rmar com certeza que as bonifi cações concedidas pela empresa Apelante

foram dadas de forma incondicional, ou seja, sem vinculação a qualquer tipo

de condição. Nada na documentação trazida pela Apelante, efetivamente,

demonstra o suposto caráter de incondicionalidade destes benefícios.

O ônus de comprovar o alegado - ou seja, de demonstrar que as bonifi cações de

que se trata foram concedidas de forma incondicional - era da empresa Apelante, a

teor do artigo 333 do CPC, que obriga à comprovação, pelo Autor, do fato constitutivo

de seu direito. Além disso, é seguro dizer que a praxe comercial no Brasil é a concessão

de benefícios condicionados, e não incondicionais. Quase sempre, as bonifi cações

fi cam atreladas ao alcance de metas de compras e/ou vendas predeterminadas, não

se podendo afi rmar, destarte, que, à falta de demonstração satisfatória do alegado

caráter de incondicionalidade, este poderia ser presumido, para que a pretensão da

Apelante lograsse sucesso.”

Destarte, infirmar a decisão recorrida implica o revolvimento fático-

probatório dos autos, inviável em sede de recurso especial, em face do Enunciado

Sumular 07 do STJ.

Com efeito, a ausência de provas acerca da incondicionalidade dos

descontos concedidos pela empresa recorrente prejudica a análise da controvérsia

sob o enfoque da alínea “b” do permissivo constitucional.

No tocante ao segundo ponto suscitado, qual seja, a responsabilidade da

sucessora- empresa incorporadora - pela multa aplicada à empresa incorporada,

impõe-se o conhecimento do recurso, ante o preenchimento dos requisitos de

admissibilidade recursal.

Deveras, a questão não é nova nesta Corte Superior, consoante dessume-se

dos seguintes precedentes:

TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL EM EMBARGOS À EXECUÇÃO. RESPONSABILIDADE

TRIBUTÁRIA DO SUCESSOR EMPRESARIAL POR INFRAÇÕES DO SUCEDIDO. ARTIGO

133 DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL. PRECEDENTES.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

470

1. Em interpretação ao disposto no art. 133 do CTN, o STJ tem entendido que

a responsabilidade tributária dos sucessores estende-se às multas impostas ao

sucedido, sejam de natureza moratória ou punitiva, pois integram o patrimônio

jurídico-material da sociedade empresarial sucedida.

2. “Os arts. 132 e 133, do CTN, impõem ao sucessor a responsabilidade integral,

tanto pelos eventuais tributos devidos quanto pela multa decorrente, seja ela de

caráter moratório ou punitivo. A multa aplicada antes da sucessão se incorpora ao

patrimônio do contribuinte, podendo ser exigida do sucessor, sendo que, em qualquer

hipótese, o sucedido permanece como responsável. É devida, pois, a multa, sem se

fazer distinção se é de caráter moratório ou punitivo; é ela imposição decorrente do

não-pagamento do tributo na época do vencimento” (REsp n. 592.007/RS, Rel. Min.

José Delgado, DJ de 22/3/2004).

2. Recurso especial provido.

(REsp 1.085.071/SP, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA,

julgado em 21/05/2009, DJe 08/06/2009)

TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. ARTIGO 159 DO CC DE 1916. AUSÊNCIA DE

PREQUESTIONAMENTO. MULTA TRIBUTÁRIA. DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO

ACESSÓRIA. SUCESSÃO EMPRESARIAL. OBRIGAÇÃO ANTERIOR E LANÇAMENTO

POSTERIOR. RESPONSABILIDADE DA SOCIEDADE SUCESSORA.

1. Não se conhece do recurso especial se a matéria suscitada não foi

objeto de análise pelo Tribunal de origem, em virtude da falta do requisito do

prequestionamento. Súmulas 282 e 356/STF.

2. A responsabilidade tributária não está limitada aos tributos devidos pelos

sucedidos, mas abrange as multas, moratórias ou de outra espécie, que, por

representarem penalidade pecuniária, acompanham o passivo do patrimônio

adquirido pelo sucessor.

3. Segundo dispõe o artigo 113, § 3º, do CTN, o descumprimento de obrigação

acessória faz surgir, imediatamente, nova obrigação consistente no pagamento

da multa tributária. A responsabilidade do sucessor abrange, nos termos do artigo

129 do CTN, os créditos defi nitivamente constituídos, em curso de constituição ou

“constituídos posteriormente aos mesmos atos, desde que relativos a obrigações

tributárias surgidas até a referida data”, que é o caso dos autos.

4. Recurso especial conhecido em parte e não provido.

(REsp 959.389/RS, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em

07/05/2009, DJe 21/05/2009)

EXECUÇÃO FISCAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA

DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 282 DO STF. SUCESSÃO DE EMPRESAS

RECONHECIDA PELA CORTE A QUO. REEXAME. SÚMULA 7 DO STJ. MULTA.

RESPONSABILIDADE DA EMPRESA SUCESSORA.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 459-474, novembro 2017 471

(...)

3. Quanto à multa, tem-se que os encargos incidentes sobre o tributo (multa, juros,

etc.) integram o passivo patrimonial da empresa sucedida, razão pela qual por eles

responde a sucessora. Precedente: (REsp 1.017.186/SC, Rel. Ministro CASTRO MEIRA,

SEGUNDA TURMA, julgado em 11/03/2008, DJe 27/03/2008)

4. Agravo regimental não provido.

(AgRg no REsp 1056302/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA

TURMA, julgado em 23/04/2009, DJe 13/05/2009)

TRIBUTÁRIO. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. SUCESSÃO. AQUISIÇÃO DE FUNDO

DE COMÉRCIO OU DE ESTABELECIMENTO COMERCIAL. ART. 133 CTN. TRANSFERÊNCIA

DE MULTA.

1. A responsabilidade tributária dos sucessores de pessoa natural ou jurídica (CTN,

art. 133) estende-se às multas devidas pelo sucedido, sejam elas de caráter moratório

ou punitivo. Precedentes.

2. Recurso especial provido.

(REsp 544.265/CE, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA,

julgado em 16/11/2004, DJ 21/02/2005 p. 110)

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE OMISSÃO,

OBSCURIDADE, CONTRADIÇÃO OU FALTA DE MOTIVAÇÃO NO ACÓRDÃO A QUO.

EXECUÇÃO FISCAL. EMPRESA INCORPORADORA. SUCESSÃO. RESPONSABILIDADE

SOLIDÁRIA DO SUCESSOR. MULTA. ARTS. 132 E 133 DO CTN. PRECEDENTES.

(...)

3. Os arts. 132 e 133 do CTN impõem ao sucessor a responsabilidade integral,

tanto pelos eventuais tributos devidos quanto pela multa decorrente, seja ela de

caráter moratório ou punitivo. A multa aplicada antes da sucessão se incorpora ao

patrimônio do contribuinte, podendo ser exigida do sucessor, sendo que, em qualquer

hipótese, o sucedido permanece como responsável. É devida, pois, a multa, sem se

fazer distinção se é de caráter moratório ou punitivo; é ela imposição decorrente do

não-pagamento do tributo na época do vencimento.

4. Na expressão “créditos tributários” estão incluídas as multas moratórias. A

empresa, quando chamada na qualidade de sucessora tributária, é responsável pelo

tributo declarado pela sucedida e não pago no vencimento, incluindo-se o valor da

multa moratória.

5. Precedentes das 1ª e 2ª Turmas desta Corte Superior e do colendo STF.

6. Recurso especial provido.

(REsp 745.007/SP, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em

19/05/2005, DJ 27/06/2005 p. 299)

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

472

EXECUÇÃO FISCAL - MULTA MORATORIA - RESPONSABILIDADE DO SUCESSOR. O

SUCESSOR TRIBUTARIO E RESPONSAVEL PELA MULTA MORATORIA, APLICADA ANTES

DA SUCESSÃO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.

(REsp 3.097/RS, Rel. Ministro GARCIA VIEIRA, PRIMEIRA TURMA, julgado em

24/10/1990, DJ 19/11/1990 p. 13.245)

Com efeito, não é outra a conclusão que desponta de uma interpretação

conjunta dos dispositivos legais pertinentes, sitos na Seção II, do Código

Tributário Nacional, que versa a Responsabilidade dos Sucessores, in verbis:

“Art. 129. O disposto nesta Seção aplica-se por igual aos créditos tributários

definitivamente constituídos ou em curso de constituição à data dos atos nela

referidos, e aos constituídos posteriormente aos mesmos atos, desde que relativos a

obrigações tributárias surgidas até a referida data.”

“Art. 132. A pessoa jurídica de direito privado que resultar de fusão, transformação

ou incorporação de outra ou em outra é responsável pelos tributos devidos até à

data do ato pelas pessoas jurídicas de direito privado fusionadas, transformadas ou

incorporadas.”

“Art. 133. A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de outra,

por qualquer título, fundo de comércio ou estabelecimento comercial, industrial ou

profi ssional, e continuar a respectiva exploração, sob a mesma ou outra razão social

ou sob firma ou nome individual, responde pelos tributos, relativos ao fundo ou

estabelecimento adquirido, devidos até à data do ato:

I - integralmente, se o alienante cessar a exploração do comércio, indústria ou

atividade;

II - subsidiariamente com o alienante, se este prosseguir na exploração ou iniciar

dentro de seis meses a contar da data da alienação, nova atividade no mesmo ou em

outro ramo de comércio, indústria ou profi ssão.”

Deveras, conquanto os arts. 132 e 133 do CTN refi ram-se tão-somente aos

tributos devidos pelos sucedidos, se interpretados tais dispositivos conjuntamente

com o art. 129, chega-se à conclusão de que a regra naqueles insculpida aplica-

se também aos créditos tributários defi nitivamente constituídos ou em curso de

constituição.

Nesse segmento, tem-se que os “créditos tributários” mencionados no

aludido art. 129, na ótica do legislador, compreendem não apenas aqueles

decorrentes de tributos, mas também os oriundos de penalidades pecuniárias,

consoante dessume-se do art. 113, § 1º, do Codex Tributário, litteris:

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 459-474, novembro 2017 473

“Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória.

§ 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto

o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o

crédito dela decorrente.

§ 2º A obrigação acessória decorrente da legislação tributária e tem por objeto as

prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da

fi scalização dos tributos.

§ 3º A obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância, converte-se em

obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária.”

Nesse sentido, Sacha Calmon Navarro leciona que, in verbis:

“(...) Na hipótese de sucessão empresarial (fusão, cisão, incorporação), assim

como nos casos de aquisição de fundo de comércio ou estabelecimento comercial e,

principalmente, nas confi gurações de sucessão por transformação do tipo societário

(sociedade anônima transformando-se em sociedade por cotas de responsabilidade

limitada, v.g.), entendemos que não há cogitar do assunto. Nas hipóteses ora

versadas, em verdade, inexiste sucessão real, mas apenas legal. O sujeito passivo é a

pessoa jurídica que continua total ou parcialmente a existir juridicamente sob outra

“roupagem institucional”. Portanto, a multa fi scal não se transfere, simplesmente

continua a integrar o passivo da empresa que é: a) fusionada; b) incorporada;

c) dividida pela cisão; d) adquirida; e) transformada. Assim, se o crédito

correspondente à multa fi scal já está constituído, formalizado, à data da sucessão,

o “sucessor” - um sub-rogado nos débitos e créditos (ativo e passivo) das sociedades

adquiridas, divididas, incorporadas, fusionadas ou transformadas - naturalmente

absorve o passivo fi scal existente, inclusive as multas. Aqui comparece ainda uma

razão de política fi scal. Se as multas não fossem transferíveis em casos que tais, seria

muito fácil apagar multas pelo simples subterfúgio da alteração do tipo societário.

Num passe de mágica, pela utilização das “formas” de Direito societário, seriam

elididas as sanções fi scais garantidoras do cumprimento dos deveres tributários, o

principal e os instrumentais. Ora, o Direito Tributário, na espécie, encontra escora no

axioma societas distat a singulis, preferindo-o ao “formalismo jurídico”. Importa-lhe

mais conferir o ativo e o passivo da pessoa sucedida para verifi car se entre as contas

de débito existem multas fi scais passíveis de serem assumidas pelos “sucessores”.

Torna-se imprescindível, todavia, fi xar um ponto: a multa tranferível é só aquela

que integra o passivo da pessoa jurídica no momento da sucessão empresarial

ou está em discussão (suspensa). Insistimos em que nossas razões são axiológicas.

É dizer, fundam-se em valores que julgamos superiores aos do Fisco em tema de

penalidades. Nada têm a ver com as teorias objetivistas ou subjetivistas do ilícito

fi scal.

Não faz sentido apurar-se uma infração ocorrida no pretérito e imputá-la a uma

nova pessoa jurídica formal e institucionalmente diversa da que praticou a infração

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

474

sob a direção de outras pessoas naturais. Essa regra só não deve prevalecer nas

hipóteses de sucessão por alteração do tipo societário (aqui muda apenas a “roupa”

societal). Afi nal, para ocorrer a sucessão empresarial, os Fiscos são consultados, e saõ

exigidas dezenas de certidões negativas.” (in Curso de Direito Tributário Brasileiro,

Ed. Forense, 9ª ed., p. 701)

Ex positis, NEGO PROVIMENTO ao recurso especial.

Porquanto tratar-se de recurso representativo da controvérsia, sujeito ao

procedimento do art. 543-C do Código de Processo Civil, determino, após

a publicação do acórdão, a comunicação à Presidência do STJ, aos Ministros

dessa Colenda Primeira Seção, aos Tribunais Regionais Federais, bem como

aos Tribunais de Justiça dos Estados, com fi ns de cumprimento do disposto no

parágrafo 7º do artigo 543-C do Código de Processo Civil (arts. 5º, II, e 6º, da

Resolução 08/2008).

É o voto.

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Súmula n. 555

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SÚMULA N. 555

Quando não houver declaração do débito, o prazo decadencial quinquenal

para o Fisco constituir o crédito tributário conta-se exclusivamente na forma do

art. 173, I, do CTN, nos casos em que a legislação atribui ao sujeito passivo o

dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa.

Referências:

CPC, art. 543-C.

CTN, art. 173, I.

Precedentes:

(*)REsp 973.733-SC (1ª S, 12.08.2009 – DJe 18.09.2009) –

acórdão publicado na íntegra

AgRg nos EREsp 1.199.262-MG (1ª S, 26.10.2011 – DJe 07.11.2011)

AgRg no REsp 1.074.191-MG (1ª T, 02.03.2010 – DJe 16.03.2010)

AgRg no Ag 1.241.890-RS (1ª T, 1º.09.2011 – DJe 09.09.2011)

AgRg no Ag 1.407.622-PR (1ª T, 20.09.2011 – DJe 26.09.2011)

AgRg no REsp 1.235.573-RS (1ª T, 22.11.2011 – DJe 06.12.2011)

AgRg no AREsp 102.378-PR (1ª T, 18.09.2012 – DJe 24.09.2012)

AgRg no REsp 1.218.460-SC (1ª T, 20.08.2013 – DJe 06.09.2013)

REsp 1.090.021-PE (2ª T, 20.04.2010 – DJe 05.05.2010)

REsp 1.154.592-PR (2ª T, 20.05.2010 – DJe 02.06.2010)

REsp 1.015.907-RS (2ª T, 10.08.2010 – DJe 10.09.2010)

REsp 985.301-SC (2ª T, 19.08.2010 – DJe 1º.09.2010)

AgRg no Ag 1.394.456-SC (2ª T, 22.05.2012 – DJe 02.08.2012)

AgRg no REsp 1.277.854-PR (2ª T, 12.06.2012 – DJe 18.06.2012)

AgRg no AREsp 20.880-PE (2ª T, 02.10.2012 – DJe 10.10.2012)

REsp 1.344.130-AL (2ª T, 18.10.2012 – DJe 05.11.2012)

AgRg no AREsp 246.013-SE (2ª T, 07.03.2013 – DJe 14.03.2013)

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AgRg no AREsp 260.213-PE (2ª T, 16.04.2013 – DJe 25.04.2013)

AgRg no AREsp 252.942-PE (2ª T, 06.06.2013 – DJe 12.06.2013)

AgRg no AREsp 296.623-SP (2ª T, 18.02.2014 – DJe 12.03.2014)

AgRg no REsp 1.486.511-PR (2ª T, 16.12.2014 – DJe 03.02.2015)

AgRg no AREsp 616.398-RS (2ª T, 03.02.2015 – DJe 09.02.2015)

(*) Recurso repetitivo.

Primeira Seção, em 9.12.2015

DJe 15.12.2015

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RECURSO ESPECIAL N. 973.733-SC (2007/0176994-0)

Relator: Ministro Luiz Fux

Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social - INSS

Repr. por: Procuradoria-Geral Federal

Procurador: Marina Câmara Albuquerque e outro(s)

Recorrido: Estado de Santa Catarina

Procurador: Carlos Alberto Prestes e outro(s)

EMENTA

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL

REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ARTIGO

543-C, DO CPC. TRIBUTÁRIO. TRIBUTO SUJEITO A

LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. CONTRIBUIÇÃO

PREVIDENCIÁRIA. INEXISTÊNCIA DE PAGAMENTO

ANTECIPADO. DECADÊNCIA DO DIREITO DE O FISCO

CONSTITUIR O CRÉDITO TRIBUTÁRIO. TERMO INICIAL.

ARTIGO 173, I, DO CTN. APLICAÇÃO CUMULATIVA DOS

PRAZOS PREVISTOS NOS ARTIGOS 150, § 4º, e 173, do CTN.

IMPOSSIBILIDADE.

1. O prazo decadencial qüinqüenal para o Fisco constituir o

crédito tributário (lançamento de ofício) conta-se do primeiro dia

do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido

efetuado, nos casos em que a lei não prevê o pagamento antecipado da

exação ou quando, a despeito da previsão legal, o mesmo inocorre, sem

a constatação de dolo, fraude ou simulação do contribuinte, inexistindo

declaração prévia do débito (Precedentes da Primeira Seção: REsp

766.050/PR, Rel. Ministro Luiz Fux, julgado em 28.11.2007, DJ

25.02.2008; AgRg nos EREsp 216.758/SP, Rel. Ministro Teori Albino

Zavascki, julgado em 22.03.2006, DJ 10.04.2006; e EREsp 276.142/

SP, Rel. Ministro Luiz Fux, julgado em 13.12.2004, DJ 28.02.2005).

2. É que a decadência ou caducidade, no âmbito do Direito

Tributário, importa no perecimento do direito potestativo de o Fisco

constituir o crédito tributário pelo lançamento, e, consoante doutrina

abalizada, encontra-se regulada por cinco regras jurídicas gerais e

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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abstratas, entre as quais fi gura a regra da decadência do direito de

lançar nos casos de tributos sujeitos ao lançamento de ofício, ou nos

casos dos tributos sujeitos ao lançamento por homologação em que

o contribuinte não efetua o pagamento antecipado (Eurico Marcos

Diniz de Santi, “Decadência e Prescrição no Direito Tributário”, 3ª

ed., Max Limonad, São Paulo, 2004, págs. 163/210).

3. O dies a quo do prazo qüinqüenal da aludida regra decadencial

rege-se pelo disposto no artigo 173, I, do CTN, sendo certo que o

“primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia

ter sido efetuado” corresponde, iniludivelmente, ao primeiro dia do

exercício seguinte à ocorrência do fato imponível, ainda que se trate

de tributos sujeitos a lançamento por homologação, revelando-se

inadmissível a aplicação cumulativa/concorrente dos prazos previstos

nos artigos 150, § 4º, e 173, do Codex Tributário, ante a confi guração

de desarrazoado prazo decadencial decenal (Alberto Xavier, “Do

Lançamento no Direito Tributário Brasileiro”, 3ª ed., Ed. Forense, Rio

de Janeiro, 2005, págs. 91/104; Luciano Amaro, “Direito Tributário

Brasileiro”, 10ª ed., Ed. Saraiva, 2004, págs. 396/400; e Eurico Marcos

Diniz de Santi, “Decadência e Prescrição no Direito Tributário”, 3ª

ed., Max Limonad, São Paulo, 2004, págs. 183/199).

5. In casu, consoante assente na origem: (i) cuida-se de tributo

sujeito a lançamento por homologação; (ii) a obrigação ex lege de

pagamento antecipado das contribuições previdenciárias não restou

adimplida pelo contribuinte, no que concerne aos fatos imponíveis

ocorridos no período de janeiro de 1991 a dezembro de 1994; e (iii) a

constituição dos créditos tributários respectivos deu-se em 26.03.2001.

6. Destarte, revelam-se caducos os créditos tributários executados,

tendo em vista o decurso do prazo decadencial qüinqüenal para que o

Fisco efetuasse o lançamento de ofício substitutivo.

7. Recurso especial desprovido. Acórdão submetido ao regime do

artigo 543-C, do CPC, e da Resolução STJ 08/2008.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da Primeira Seção

do Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade dos votos e das notas

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 475-490, novembro 2017 481

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso especial,

nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Castro Meira,

Denise Arruda, Humberto Martins, Herman Benjamin, Mauro Campbell

Marques, Benedito Gonçalves, Eliana Calmon e Francisco Falcão votaram com

o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 12 de agosto de 2009 (data do julgamento).

Ministro Luiz Fux, Relator

DJe 18.9.2009

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luiz Fux: Trata-se de recurso especial interposto pelo

INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL, com fulcro nas alíneas

“a” e “c”, do permissivo constitucional, no intuito de ver reformado acórdão

proferido pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, cuja ementa restou

assim transcrita:

“EXECUÇÃO FISCAL. EMBARGOS. LEGITIMIDADE RECURSAL. CONTRIBUIÇÕES

PREVIDENCIÁRIAS. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. DECADÊNCIA. HONORÁRIOS

ADVOCATÍCIOS.

1. Consoante já decidiu esta Corte e o STJ, o advogado não tem legitimidade para

recorrer no processo de conhecimento quanto aos honorários advocatícios. Assim,

correta a interposição do recurso pela empresa embargante.

2. Corte já reconheceu a inconstitucionalidade dos arts. 45 e 46 da Lei 8.212/91.

3. As normas dos artigos 150, § 4º e 173 do CTN não são de aplicação cumulativa

ou concorrente.

4. Decorridos mais de cinco anos entre a data do fato gerador mais recente e a

notifi cação fi scal, impõe-se o reconhecimento da decadência.

5. Honorários advocatícios majorados para 10% do valor atribuído à causa, em

consonância com o disposto no art. 20, § 4º, do CPC e com os precedentes desta

Turma.”

Noticiam os autos que o ESTADO DE SANTA CATARINA ofereceu

embargos à execução fiscal intentada pelo INSTITUTO NACIONAL

DO SEGURO SOCIAL - INSS, que objetiva a cobrança de contribuições

previdenciárias. Na inicial, o embargante, ora recorrido, aduziu a nulidade

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

482

da CDA (por ausência dos requisitos legais), o cerceamento de defesa

(considerando que a notifi cação fi scal não apresentou os nomes dos servidores

sobre cujas remunerações estão sendo exigidas as contribuições previdenciárias),

bem como a decadência dos créditos executados.

Sobreveio sentença que julgou extinto o processo, por força do artigo

269, IV, do CPC, reconhecendo a decadência dos créditos executados. O Juízo

Singular, afastando o prazo decadencial decenal previsto no artigo 45, da Lei

8.212/91, considerou cabível a aplicação do prazo qüinqüenal previsto no artigo

173, do CTN. Na oportunidade, restou assente que:

“Na hipótese dos autos, o fato gerador mais remoto ocorreu em janeiro de 1991 e

o mais recente em dezembro de 1994, iniciando-se o prazo decadencial no primeiro

dia do exercício seguinte, ou seja, em 01/01/1992 e 01/01/1995, respectivamente.

Considerando que o lançamento se deu em 26/03/2001 e a inscrição foi efetuada

em 03/09/2003, constato que se passaram mais de cinco anos dos fatos geradores

compreendidos entre os anos de 1991 a 1994, confi gurando a decadência alegada.”

Em sede de apelação, o Tribunal de origem negou provimento ao recurso

do INSS e à remessa ofi cial e deu provimento ao recurso do Estado de Santa

Catarina, nos termos da ementa anteriormente reproduzida.

Opostos embargos de declaração pelo INSS, acolhidos para

determinar a juntada de cópia da argüição de inconstitucionalidade no AI n.

2000.04.01.092228-3, cuja ementa transcreve-se:

“ARGÜIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE - CAPUT DO ART. 45, DA LEI 8.212/91.

É inconstitucional o caput do artigo 45, da Lei n. 8.212/91 que prevê o prazo de

10 anos para que a Seguridade Social apure e constitua seus créditos, por invadir

área reservada à lei complementar, vulnerando, dessa forma, o art. 146, III, b, da

Constituição Federal.”

Nas razões do especial, sustenta a autarquia previdenciária que o acórdão

hostilizado incorreu em violação dos artigos 150, § 4º, e 173, I, do CTN, uma

vez que:

“Nos termos do art. 150, § 4º, do CTN, o prazo para a homologação do

lançamento é de 5 (cinco) anos. Assim, como o prazo para a constituição do crédito

tributário se inicia no primeiro dia seguinte àquele em que o lançamento poderia

ter sido efetuado, o prazo de decadência, nos tributos sujeitos a lançamento por

homologação, inexistente o pagamento, é de 10 (dez) anos, e não de 5 (cinco), como

equivocadamente concluiu o Tribunal a quo.”

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 475-490, novembro 2017 483

Traz ainda aresto do STJ para confronto, no sentido de que:

“TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO

POR HOMOLOGAÇÃO. DECADÊNCIA. TERMO INICIAL. ART. 150, § 4º E 173, I, AMBOS

DO CTN.

1. No lançamento por homologação, o contribuinte, ou o responsável tributário,

deve realizar o pagamento antecipado do tributo, antes de qualquer procedimento

administrativo, fi cando a extinção do crédito condicionada à futura homologação

expressa ou tácita pela autoridade fiscal competente. Havendo pagamento

antecipado, o fisco dispõe do prazo decadencial de cinco anos, a contar do fato

gerador, para homologar o que foi pago ou lançar a diferença acaso existente (art.

150, § 4º do CTN).

2. Se não houve pagamento antecipado pelo contribuinte, não há o que

homologar nem se pode falar em lançamento por homologação. Surge a fi gura do

lançamento direto substitutivo, previsto no art. 149, V do CTN, cujo prazo decadencial

rege-se pela regra geral do art. 173, I do CTN.

3. Com o encerramento do prazo para homologação (art. 150, § 4º do CTN),

inicia-se a contagem do prazo previsto no art. 173, I do CTN. Inexistindo pagamento

antecipado, conclui-se ter o Fisco o prazo de 10 anos, após a ocorrência do fato

gerador, para constituir o crédito tributário.

4. Em síntese, o prazo decadencial para a Fazenda Pública constituir o crédito

tributário será: a) de cinco anos a contar do primeiro dia do exercício seguinte àquele

em que o lançamento poderia ser efetuado, se o tributo sujeitar-se a lançamento

direto ou por declaração (regra geral do art. 173, I do CTN); b) de cinco anos a contar

da ocorrência do fato gerador no caso de lançamento por homologação em que há

pagamento antecipado pelo contribuinte (aplicação do art. 150, § 4º do CTN) e c) de

dez anos a contar do fato gerador nos casos de lançamento por homologação sem

que nenhum pagamento tenha sido realizado pelo sujeito passivo, oportunidade

em que surgirá a figura do lançamento direto substitutivo do lançamento por

homologação (aplicação cumulativa do art. 150, § 4º com o art. 173, I, ambos do CTN).

5. Precedentes da Primeira Seção e das duas Turmas de Direito Público.

6. Embargos de divergência providos.” (EREsp 466.779/PR, Rel. Ministro Castro

Meira, Primeira Seção, julgado em 08.06.2005, DJ 01.08.2005)

Às fls. 174/190, consta recurso extraordinário interposto pelo INSS,

admitido na origem.

O prazo para oferecimento de contra-razões ao recurso especial decorreu

in albis.

O recurso especial recebeu crivo positivo de admissibilidade na instância

ordinária.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

484

Em 18.05.2009, o recurso especial foi submetido ao regime previsto no

artigo 543-C, do CPC (recurso representativo de controvérsia), tendo sido

afetado à Primeira Seção.

O Ministério Público Federal opina pelo não conhecimento do recurso

especial ou, no mérito, pelo seu desprovimento, nos termos da seguinte ementa:

“Processual Civil e Tributário. Embargos à Execução Fiscal. Contribuição

previdenciária. Recurso especial. Tributo sujeito a lançamento por homologação.

Ausência de pagamento antecipado. Direito à constituição do crédito. Prazo

decadencial. Qüinqüenal. Termo inicial. Primeiro dia do exercício fi nanceiro seguinte

àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado. Artigo 173, inciso I, do CTN.

Precedentes do STJ. Parecer pelo não conhecimento do recurso ou, no mérito, pelo seu

desprovimento.”

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Luiz Fux (Relator): Preliminarmente, impõe-se o

conhecimento do apelo, porquanto prequestionada a matéria federal ventilada.

A insurgência especial cinge-se à decadência do direito de o Fisco

constituir o crédito tributário atinente à contribuições previdenciárias cujos

fatos imponíveis ocorreram no período de janeiro de 1991 a dezembro de 1994.

Deveras, a decadência ou caducidade, no âmbito do Direito Tributário,

importa no perecimento do direito potestativo de o Fisco constituir o crédito

tributário pelo lançamento, e, consoante doutrina abalizada, encontra-se

regulada por cinco regras jurídicas gerais e abstratas, entre as quais fi gura a regra

da decadência do direito de lançar nos casos de tributos sujeitos ao lançamento

de ofício, ou nos casos dos tributos sujeitos ao lançamento por homologação em

que o contribuinte não efetua o pagamento antecipado (Eurico Marcos Diniz

de Santi, “Decadência e Prescrição no Direito Tributário”, 3ª ed., Max Limonad,

São Paulo, 2004, págs. 163/210).

O dies a quo do prazo qüinqüenal da aludida regra decadencial rege-se pelo

disposto no artigo 173, I, do CTN, verbis:

“Art. 173. O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extingue-se

após 5 (cinco) anos, contados:

I - do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter

sido efetuado;

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 475-490, novembro 2017 485

II - da data em que se tornar defi nitiva a decisão que houver anulado, por vício

formal, o lançamento anteriormente efetuado.

Parágrafo único. O direito a que se refere este artigo extingue-se defi nitivamente

com o decurso do prazo nele previsto, contado da data em que tenha sido iniciada

a constituição do crédito tributário pela notifi cação, ao sujeito passivo, de qualquer

medida preparatória indispensável ao lançamento.”

Assim é que o prazo decadencial qüinqüenal para o Fisco constituir o

crédito tributário (lançamento de ofício) conta-se do primeiro dia do exercício

seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, nos casos em

que a lei não prevê o pagamento antecipado da exação ou quando, a despeito

da previsão legal, o mesmo inocorre, sem a constatação de dolo, fraude ou

simulação do contribuinte, inexistindo declaração prévia do débito.

No mesmo diapasão, destacam-se as ementas dos seguintes julgados

oriundos da Primeira Seção:

“PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. ISS. ALEGADA NULIDADE DO AUTO DE

INFRAÇÃO. VALIDADE DA CDA. IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA

- ISS. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. ENQUADRAMENTO DE ATIVIDADE NA LISTA DE

SERVIÇOS ANEXA AO DECRETO-LEI N. 406/68. ANALOGIA. IMPOSSIBILIDADE.

INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA. POSSIBILIDADE. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.

FAZENDA PÚBLICA VENCIDA. FIXAÇÃO. OBSERVAÇÃO AOS LIMITES DO § 3º DO

ART. 20 DO CPC. IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO EM SEDE DE RECURSO ESPECIAL.

REDISCUSSÃO DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚMULA 07 DO STJ. DECADÊNCIA

DO DIREITO DE O FISCO CONSTITUIR O CRÉDITO TRIBUTÁRIO. INOCORRÊNCIA.

ARTIGO 173, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CTN.

(...)

8. O Código Tributário Nacional, ao dispor sobre a decadência, causa extintiva do

crédito tributário, assim estabelece em seu artigo 173:

“Art. 173. O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário

extingue-se após 5 (cinco) anos, contados:

I - do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento

poderia ter sido efetuado;

II - da data em que se tornar defi nitiva a decisão que houver anulado, por

vício formal, o lançamento anteriormente efetuado.

Parágrafo único. O direito a que se refere este artigo extingue-se

defi nitivamente com o decurso do prazo nele previsto, contado da data em

que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário pela notifi cação, ao

sujeito passivo, de qualquer medida preparatória indispensável ao lançamento.”

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

486

9. A decadência ou caducidade, no âmbito do Direito Tributário, importa no

perecimento do direito potestativo de o Fisco constituir o crédito tributário pelo

lançamento, e, consoante doutrina abalizada, encontra-se regulada por cinco

regras jurídicas gerais e abstratas, quais sejam: (i) regra da decadência do direito

de lançar nos casos de tributos sujeitos ao lançamento de ofício, ou nos casos dos

tributos sujeitos ao lançamento por homologação em que o contribuinte não efetua

o pagamento antecipado; (ii) regra da decadência do direito de lançar nos casos em

que notifi cado o contribuinte de medida preparatória do lançamento, em se tratando

de tributos sujeitos a lançamento de ofício ou de tributos sujeitos a lançamento por

homologação em que inocorre o pagamento antecipado; (iii) regra da decadência

do direito de lançar nos casos dos tributos sujeitos a lançamento por homologação

em que há parcial pagamento da exação devida; (iv) regra da decadência do direito

de lançar em que o pagamento antecipado se dá com fraude, dolo ou simulação,

ocorrendo notifi cação do contribuinte acerca de medida preparatória; e (v) regra

da decadência do direito de lançar perante anulação do lançamento anterior (In:

Decadência e Prescrição no Direito Tributário, Eurico Marcos Diniz de Santi, 3ª Ed.,

Max Limonad, págs. 163/210).

10. Nada obstante, as aludidas regras decadenciais apresentam prazo qüinqüenal

com dies a quo diversos.

11. Assim, conta-se do “do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o

lançamento poderia ter sido efetuado” (artigo 173, I, do CTN), o prazo qüinqüenal

para o Fisco constituir o crédito tributário (lançamento de ofício), quando não prevê

a lei o pagamento antecipado da exação ou quando, a despeito da previsão legal, o

mesmo inocorre, sem a constatação de dolo, fraude ou simulação do contribuinte,

bem como inexistindo notifi cação de qualquer medida preparatória por parte do

Fisco. No particular, cumpre enfatizar que “o primeiro dia do exercício seguinte àquele

em que o lançamento poderia ter sido efetuado” corresponde, iniludivelmente, ao

primeiro dia do exercício seguinte à ocorrência do fato imponível, sendo inadmissível

a aplicação cumulativa dos prazos previstos nos artigos 150, § 4º, e 173, do CTN, em

se tratando de tributos sujeitos a lançamento por homologação, a fi m de confi gurar

desarrazoado prazo decadencial decenal.

12. Por seu turno, nos casos em que inexiste dever de pagamento antecipado

(tributos sujeitos a lançamento de ofício) ou quando, existindo a aludida obrigação

(tributos sujeitos a lançamento por homologação), há omissão do contribuinte na

antecipação do pagamento, desde que inocorrentes quaisquer ilícitos (fraude, dolo

ou simulação), tendo sido, contudo, notifi cado de medida preparatória indispensável

ao lançamento, fl uindo o termo inicial do prazo decadencial da aludida notifi cação

(artigo 173, parágrafo único, do CTN), independentemente de ter sido a mesma

realizada antes ou depois de iniciado o prazo do inciso I, do artigo 173, do CTN.

13. Por outro lado, a decadência do direito de lançar do Fisco, em se tratando

de tributo sujeito a lançamento por homologação, quando ocorre pagamento

antecipado inferior ao efetivamente devido, sem que o contribuinte tenha incorrido

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 475-490, novembro 2017 487

em fraude, dolo ou simulação, nem sido notifi cado pelo Fisco de quaisquer medidas

preparatórias, obedece a regra prevista na primeira parte do § 4º, do artigo 150, do

Codex Tributário, segundo o qual, se a lei não fi xar prazo a homologação, será ele de

cinco anos, a contar da ocorrência do fato gerador: “Neste caso, concorre a contagem

do prazo para o Fisco homologar expressamente o pagamento antecipado,

concomitantemente, com o prazo para o Fisco, no caso de não homologação,

empreender o correspondente lançamento tributário. Sendo assim, no termo fi nal

desse período, consolidam-se simultaneamente a homologação tácita, a perda do

direito de homologar expressamente e, conseqüentemente, a impossibilidade jurídica

de lançar de ofício” (In Decadência e Prescrição no Direito Tributário, Eurico Marcos

Diniz de Santi, 3ª Ed., Max Limonad, pág. 170).

14. A notificação do ilícito tributário, medida indispensável para justificar a

realização do ulterior lançamento, afi gura-se como dies a quo do prazo decadencial

qüinqüenal, em havendo pagamento antecipado efetuado com fraude, dolo ou

simulação, regra que confi gura ampliação do lapso decadencial, in casu, reiniciado.

Entrementes, “transcorridos cinco anos sem que a autoridade administrativa se

pronuncie, produzindo a indigitada notifi cação formalizadora do ilícito, operar-se-á

ao mesmo tempo a decadência do direito de lançar de ofício, a decadência do direito

de constituir juridicamente o dolo, fraude ou simulação para os efeitos do art. 173,

parágrafo único, do CTN e a extinção do crédito tributário em razão da homologação

tácita do pagamento antecipado” (Eurico Marcos Diniz de Santi, in obra citada, pág.

171).

15. Por fi m, o artigo 173, II, do CTN, cuida da regra de decadência do direito de a

Fazenda Pública constituir o crédito tributário quando sobrevém decisão defi nitiva,

judicial ou administrativa, que anula o lançamento anteriormente efetuado, em

virtude da verifi cação de vício formal. Neste caso, o marco decadencial inicia-se da

data em que se tornar defi nitiva a aludida decisão anulatória.

16. In casu: (a) cuida-se de tributo sujeito a lançamento por homologação; (b) a

obrigação ex lege de pagamento antecipado do ISSQN pelo contribuinte não restou

adimplida, no que concerne aos fatos geradores ocorridos no período de dezembro

de 1993 a outubro de 1998, consoante apurado pela Fazenda Pública Municipal em

sede de procedimento administrativo fi scal; (c) a notifi cação do sujeito passivo da

lavratura do Termo de Início da Ação Fiscal, medida preparatória indispensável ao

lançamento direto substitutivo, deu-se em 27.11.1998; (d) a instituição fi nanceira

não efetuou o recolhimento por considerar intributáveis, pelo ISSQN, as atividades

apontadas pelo Fisco; e (e) a constituição do crédito tributário pertinente ocorreu em

01.09.1999.

17. Desta sorte, a regra decadencial aplicável ao caso concreto é a prevista no artigo

173, parágrafo único, do Codex Tributário, contando-se o prazo da data da notifi cação

de medida preparatória indispensável ao lançamento, o que sucedeu em 27.11.1998

(antes do transcurso de cinco anos da ocorrência dos fatos imponíveis apurados),

donde se dessume a higidez dos créditos tributários constituídos em 01.09.1999.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

488

18. Recurso especial parcialmente conhecido e desprovido.” (REsp 766.050/PR, Rel.

Ministro Luiz Fux, julgado em 28.11.2007, DJ 25.02.2008)

“TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR

HOMOLOGAÇÃO. PRAZO DECADENCIAL DE CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO. TERMO

INICIAL. INTELIGÊNCIA DOS ARTS. 173, I, E 150, § 4º, DO CTN.

1. O prazo decadencial para efetuar o lançamento do tributo é, em regra, o do

art. 173, I, do CTN, segundo o qual “o direito de a Fazenda Pública constituir o crédito

tributário extingue-se após 5 (cinco) anos, contados: I - do primeiro dia do exercício

seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado”.

2. Todavia, para os tributos sujeitos a lançamento por homologação — que,

segundo o art. 150 do CTN, “ocorre quanto aos tributos cuja legislação atribua

ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da

autoridade administrativa” e “opera-se pelo ato em que a referida autoridade,

tomando conhecimento da atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente

a homologa” -, há regra específi ca. Relativamente a eles, ocorrendo o pagamento

antecipado por parte do contribuinte, o prazo decadencial para o lançamento de

eventuais diferenças é de cinco anos a contar do fato gerador, conforme estabelece o

§ 4º do art. 150 do CTN. Precedentes jurisprudenciais.

3. No caso concreto, o débito é referente à contribuição previdenciária, tributo

sujeito a lançamento por homologação, e não houve qualquer antecipação de

pagamento. É aplicável, portanto, conforme a orientação acima indicada, a regra do

art. 173, I, do CTN.

4. Agravo regimental a que se dá parcial provimento.” (AgRg nos EREsp 216.758/

SP, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, julgado em 22.03.2006, DJ 10.04.2006)

“TRIBUTÁRIO. DECADÊNCIA. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR

HOMOLOGAÇÃO. TERMO INICIAL.

1. O crédito tributário constitui-se, defi nitivamente, em cinco anos, porquanto

mesmo que o contribuinte exerça o pagamento antecipado ou a declaração de

débito, a Fazenda dispõe de um quinquênio para o lançamento, que pode se iniciar,

sponte sua, na forma do art. 173, I, mas que de toda sorte deve estar ultimado no

quinquênio do art. 150, § 4º.

2. A partir do referido momento, inicia-se o prazo prescricional de cinco anos para

a exigibilidade em juízo da exação, implicando na tese uniforme dos cinco anos,

acrescidos de mais cinco anos, a regular a decadência na constituição do crédito

tributário e a prescrição quanto à sua exigibilidade judicial.

3. Inexiste, assim, antinomia entre as normas do art. 173 e 150, § 4º do Código

Tributário Nacional.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 475-490, novembro 2017 489

4. Deveras, é assente na doutrina:

“a aplicação concorrente dos artigos 150, § 4º e 173, o que conduz a

adicionar o prazo do artigo 173 - cinco anos a contar do exercício seguinte

àquele em que o lançamento poderia ter sido praticado - com o prazo do artigo

150, § 4º - que defi ne o prazo em que o lançamento poderia ter sido praticado

como de cinco anos contados da data da ocorrência do fato gerador. Desta

adição resulta que o dies a quo do prazo do artigo 173 é, nesta interpretação, o

primeiro dia do exercício seguinte ao do dies ad quem do prazo do artigo 150,

§ 4º.

A solução é deplorável do ponto de vista dos direitos do cidadão porque

mais que duplica o prazo decadencial de cinco anos, arraigado na tradição

jurídica brasileira como o limite tolerável da insegurança jurídica.

Ela é também juridicamente insustentável, pois as normas dos artigos

150, § 4º e 173 não são de aplicação cumulativa ou concorrente, antes são

reciprocamente excludentes, tendo em vista a diversidade dos pressupostos da

respectiva aplicação: o art. 150, § 4º aplica-se exclusivamente aos tributos ‘cuja

legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem

prévio exame da autoridade administrativa’; o art. 173, ao revés, aplica-se aos

tributos em que o lançamento, em princípio, antecede o pagamento.

(...)

A ilogicidade da tese jurisprudencial no sentido da aplicação concorrente

dos artigos 150, § 4º e 173 resulta ainda evidente da circunstância de o § 4º

do art. 150 determinar que considera-se ‘defi nitivamente extinto o crédito’ no

término do prazo de cinco anos contados da ocorrência do fato gerador. Qual

seria pois o sentido de acrescer a este prazo um novo prazo de decadência do

direito de lançar quando o lançamento já não poderá ser efetuado em razão

de já se encontrar ‘defi nitivamente extinto o crédito’? Verifi cada a morte do

crédito no fi nal do primeiro quinquênio, só por milagre poderia ocorrer sua

ressurreição no segundo.” (Alberto Xavier, Do Lançamento. Teoria Geral do Ato,

do Procedimento e do Processo Tributário, Ed. Forense, Rio de Janeiro, 1998, 2ª

Edição, p. 92 a 94).

5. Na hipótese, considerando-se a fluência do prazo decadencial a partir de

01.01.1991, não há como afastar-se a decadência decretada, já que a inscrição da

dívida se deu em 15.02.1996.

6. Embargos de Divergência rejeitados.” (EREsp 276.142/SP, Rel. Ministro Luiz Fux,

julgado em 13.12.2004, DJ 28.02.2005)

Outrossim, impende assinalar que o “primeiro dia do exercício seguinte àquele

em que o lançamento poderia ter sido efetuado” corresponde, iniludivelmente,

ao primeiro dia do exercício seguinte à ocorrência do fato imponível, ainda

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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que se trate de tributos sujeitos a lançamento por homologação, revelando-se

inadmissível a aplicação cumulativa/concorrente dos prazos previstos nos artigos

150, § 4º, e 173, do Codex Tributário, ante a confi guração de desarrazoado

prazo decadencial decenal (Alberto Xavier, “Do Lançamento no Direito

Tributário Brasileiro”, 3ª ed., Ed. Forense, Rio de Janeiro, 2005, págs. 91/104;

Luciano Amaro, “Direito Tributário Brasileiro”, 10ª ed., Ed. Saraiva, 2004, págs.

396/400; e Eurico Marcos Diniz de Santi, “Decadência e Prescrição no Direito

Tributário”, 3ª ed., Max Limonad, São Paulo, 2004, págs. 183/199).

In casu, consoante assente na origem: (i) cuida-se de tributo sujeito a

lançamento por homologação; (ii) a obrigação ex lege de pagamento antecipado

das contribuições previdenciárias não restou adimplida pelo contribuinte, no

que concerne aos fatos imponíveis ocorridos no período de janeiro de 1991 a

dezembro de 1994; e (iii) a constituição dos créditos tributários respectivos deu-

se em 26.03.2001.

Destarte, revelam-se caducos os créditos tributários executados, tendo em

vista o decurso do prazo decadencial qüinqüenal para que o Fisco efetuasse o

lançamento de ofício substitutivo.

Com essas considerações, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO

ESPECIAL.

Porquanto tratar-se de recurso representativo da controvérsia, sujeito ao

procedimento do art. 543-C do Código de Processo Civil, determino, após

a publicação do acórdão, a comunicação à Presidência do STJ, aos Ministros

dessa Colenda Primeira Seção, aos Tribunais Regionais Federais, bem como

aos Tribunais de Justiça dos Estados, com fi ns de cumprimento do disposto no

parágrafo 7º do artigo 543-C do Código de Processo Civil (arts. 5º, II, e 6º, da

Resolução 08/2008).

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Súmula n. 556

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SÚMULA N. 556

É indevida a incidência de imposto de renda sobre o valor da

complementação de aposentadoria pago por entidade de previdência privada

e em relação ao resgate de contribuições recolhidas para referidas entidades

patrocinadoras no período de 1º/1/1989 a 31/12/1995, em razão da isenção

concedida pelo art. 6º, VII, b, da Lei n. 7.713/1988, na redação anterior à que

lhe foi dada pela Lei n. 9.250/1995.

Referências:

CPC, art. 543-C.

CTN, art. 43.

Lei n. 7.713/1988, art. 6º, VII, b, na redação anterior à

Lei n. 9.250/1995, arts. 32 e 33.

Precedentes:

(*)REsp 1.012.903-RJ (1ª S, 08.10.2008 – DJe 13.10.2008)

(*)REsp 760.246-PR (1ª S, 10.12.2008 – DJe 19.12.2008) –

acórdão publicado na íntegra

AgRg nos EREsp 983.617-DF (1ª S, 16.02.2009 – DJe 23.03.2009)

AgRg nos EREsp 984.518-DF (1ª S, 25.03.2009 – DJe 20.04.2009)

EAg 941.186-DF (1ª S, 13.05.2009 – DJe 25.05.2009)

Pet 3.363-RS (1ª S, 26.08.2009 – DJe 04.09.2009)

EREsp 1.022.315-DF (1ª S, 25.11.2009 – DJe 14.12.2009)

REsp 1.086.492-PR (1ª S, 13.10.2010 – DJe 26.10.2010)

AgRg no Ag 1.082.829-SP (1ª T, 24.03.2009 – DJe 1º.04.2009)

AgRg no AREsp 475.818-DF (1ª T, 07.04.2015 – DJe 13.04.2015)

AgRg no AREsp 202.075-CE (2ª T, 11.09.2012 – DJe 18.09.2012)

REsp 1.346.457-RS (2ª T, 18.12.2012 – DJe 08.02.2013)

REsp 1.278.598-SC (2ª T, 05.02.2013 – DJe 14.02.2013)

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AgRg no REsp 1.337.770-CE (2ª T, 04.06.2013 – DJe 10.06.2013)

AgRg no REsp 1.247.388-DF (2ª T, 22.10.2013 – DJe 29.10.2013)

REsp 1.306.333-CE (2ª T, 07.08.2014 – DJe 19.08.2014)

AgRg nos

EDcl no AREsp 203.640-CE (2ª T, 21.10.2014 – DJe 27.11.2014)

(*) Recursos repetitivos.

Primeira Seção, em 9.12.2015

DJe 15.12.2015

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RECURSO ESPECIAL N. 760.246-PR (2005/0100784-8)

Relator: Ministro Teori Albino Zavascki

Recorrente: Cláudio Massaru Shigueoka

Advogado: Luiz Murilo Klein

Recorrido: Fazenda Nacional

Procuradores: Luís Alberto Saavedra e outro(s)

Claudio Xavier Seefelder Filho

EMENTA

TRIBUTÁRIO. LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL DE

ENTIDADE FECHADA DE PREVIDÊNCIA PRIVADA.

RATEIO DO PATRIMÔNIO. INCIDÊNCIA DE IMPOSTO

DE RENDA.

1. Pacifi cou-se a jurisprudência da 1ª Seção do STJ no sentido de

que, por força da isenção concedida pelo art. 6º, VII, b, da Lei 7.713/88,

na redação anterior à que lhe foi dada pela Lei 9.250/95, é indevida

a cobrança de imposto de renda sobre o valor da complementação

de aposentadoria e o do resgate de contribuições correspondentes

a recolhimentos para entidade de previdência privada ocorridos

no período de 1º.01.1989 a 31.12.1995 (EREsp 643.691/DF, DJ

20.03.2006; EREsp 662.414/SC, DJ 13.08.2007; EREsp 500.148/

SE, DJ 01.10.2007; EREsp 501.163/SC, DJe 07.04.2008).

2. A quantia que couber por rateio a cada participante, superior

ao valor das respectivas contribuições, constitui acréscimo patrimonial

(CTN, art. 43) e, como tal, atrai a incidência de imposto de renda.

Precedentes (AgRg nos EREsp 433.937/AL, Min. José Delgado,

Primeira Seção, DJe 19/05/2008; AgRg nos EREsp 530.883/MG,

Min. Humberto Martins, Primeira Seção, DJ 16/10/2006).

3. Recurso especial improvido. Acórdão sujeito ao regime do art.

543-C do CPC e da Resolução STJ 08/08.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

496

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide

a Egrégia Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,

negar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro

Relator. Os Srs. Ministros Castro Meira, Denise Arruda, Humberto Martins,

Herman Benjamin, Mauro Campbell Marques, Eliana Calmon e Francisco

Falcão votaram com o Sr. Ministro Relator.

Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Benedito Gonçalves.

Brasília (DF), 10 de dezembro de 2008 (data do julgamento).

Ministro Teori Albino Zavascki, Relator

DJe 19.12.2008

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Teori Albino Zavascki: Trata-se de recurso especial

interposto com fundamento nas alíneas a e c do permissivo constitucional em

face de acórdão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região que, em mandado de

segurança objetivando o reconhecimento da inexigibilidade do imposto de renda

sobre os valores recebidos pelo impetrante em razão de rateio do patrimônio de

entidade fechada de previdência privada em liquidação extrajudicial, deu parcial

provimento à apelação do ora recorrente — reformando, portanto, a sentença de

improcedência —, restando assim ementado:

“TRIBUTÁRIO. RESGATE DO PATRIMÔNIO DO FUNDO DE PREVIDÊNCIA PRIVADA.

LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL. IRRF SOBRE CONTRIBUIÇÕES DOS PARTICIPANTES. LEI

N. 7.713/88. NÃO INCIDÊNCIA DE IMPOSTO DE RENDA NO RESGATE. LEI N. 9.250/95.

MP N. 1.459/96.

1. A extinção da entidade de previdência obriga o participante a optar entre a

restituição do quinhão que lhe cabe no rateio do patrimônio ou a transferência para

outro plano de previdência complementar.

2. No resgate do valor total do fundo de pensão, decorrente da liquidação da

entidade, somente não incide imposto de renda sobre a parcela representativa e

proporcional ao montante das contribuições vertidas pelo contribuinte pessoa física

até a cessação do repasse das prestações ao fundo se na vigência da Lei n. 7.713/88.

3. Apelação parcialmente provida.” (fl s. 104).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 491-502, novembro 2017 497

No recurso especial, o recorrente aponta, além de divergência

jurisprudencial, negativa de vigência aos seguintes dispositivos: (a) art. 43

do CTN, pois (I) há que se afastar a tributação das quantias liberadas em

decorrência do rateio do patrimônio líquido do PARSE, em liquidação

extrajudicial e (II) “as importâncias disponibilizadas através do rateio do

patrimônio do (...) PARSE, ‘em liquidação extrajudicial’, somente poderão ser

tributadas se, efetivamente, constituírem o fato gerador do Imposto de Renda”

(fl s. 143) e (b) art. 6º, caput e VIII, da Lei 7.713/88, já que “na hipótese de rateio

do patrimônio líquido, por dissolução do fundo mútuo, apura-se o valor de cada

cotista e, simplesmente, entrega-se aos respectivos donos aquilo que já lhes

pertencia, sem que isso importe em qualquer acréscimo patrimonial” (fl s. 146).

Registra que (a) os valores disponibilizados pelo PARSE, “em liquidação, não

se referem ao resgate de suas contribuições - já resgatadas anteriormente - nem,

tampouco, constituem benefícios pagos por entidade de previdência privada,

mas simplesmente, ao rateio parcial do patrimônio daquele Instituto” (fl s. 137)

e (b) todas as contribuições vertidas são anteriores à Lei 9.250/95. Aduz que há

dissenso pretoriano a ser dirimido, trazendo como paradigmas julgados do STJ.

Requer, ao fi nal, que o impetrado se abstenha de exigir o imposto de renda e que

sejam liberados os valores depositados à ordem do Juízo, nos termos e para os

fi ns do art. 151, II, do CTN.

Em contra-razões, a recorrida anota que não restou realizado o cotejo

analítico necessário à demonstração do dissídio aludido e pugna pela inadmissão

do apelo especial em apreço ou pelo improvimento.

Submetido o recurso à sistemática do art. 543-C do CPC (fl. 178),

manifestou-se o Ministério Público Federal por seu não conhecimento (fl s.

194/201).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Teori Albino Zavascki (Relator): 1. Em caso análogo,

proferi voto nos autos do EREsp 380.011/RS, acolhido por unanimidade pela

Primeira Seção desta Corte (DJ de 02/05/2005), cujos fundamentos, por serem

adequados à hipótese dos autos, transcrevo:

“2. Importa determinar o regime de tributação do Imposto de Renda sobre os

valores percebidos pelos participantes dos planos de benefícios, em virtude da

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

498

liquidação extrajudicial de entidade de previdência privada fechada, atualmente

regulada pelos artigos 47 a 53 da Lei Complementar n. 109, de 29 de maio de 2001,

e antes submetida à disciplina dos arts. 63 a 74 da Lei 6.435/77. Para esse efeito, é

indispensável distinguir (a) o crédito correspondente ao valor da contribuição que

cada participante aportou à entidade em liquidação e (b) o crédito que exceder

ao referido valor. No que se refere ao primeiro, a quantia rateada ao participante

constitui forma de resgate de contribuições e como tal deve ser tratada juridicamente.

É diferente o tratamento jurídico no que se refere a eventuais rateios para pagamento

de outros créditos.

3. Relativamente à incidência do Imposto de Renda nos casos de resgate das

contribuições à entidade de previdência privada, ou de fruição do benefício, proferi

voto nos autos do REsp 585.093/BA (1ª Turma, D.J. de 30/08/2004), cujos termos

reproduzo por serem aplicáveis ao caso:

‘3. No mais, a complementação de aposentadoria e o resgate das

contribuições recolhidas para entidade de previdência privada no período de

1º.01.1989 a 31.12.1995 não constituíam renda tributável pelo IRPF, por força

da isenção concedida pelo art. 6º, VII, b, da Lei 7.713/88, na redação anterior à

que lhe foi dada pela Lei 9.250/95:

Art. 6º Ficam isentos do imposto de renda os seguintes rendimentos

percebidos por pessoas físicas:

(omissis)

VII - os benefícios recebidos de entidades de previdência privada:

(omissis)

b) relativamente ao valor correspondente às contribuições cujo ônus

tenha sido do participante, desde que os rendimentos e ganhos de

capital produzidos pelo patrimônio da entidade tenham sido tributados

na fonte;

(omissis)

Com a edição da Lei 9.250/95, alterou-se a sistemática de incidência do IRPF,

passando as contribuições recolhidas a partir de 1º.01.1996 a ser tributadas no

momento do recebimento do benefício ou do resgate das contribuições, por

força do disposto no art. 33 da citada Lei, abaixo reproduzido:

Art. 33. Sujeitam-se à incidência do imposto de renda na fonte e

na declaração de ajuste anual os benefícios recebidos de entidade de

previdência privada, bem como as importâncias correspondentes ao

resgate de contribuições.

Visando a evitar o bis in idem, a Medida Provisória 1.943-52, de 21.05.1996

(reeditada sob o n. 2.159-70), determinou a exclusão da base de cálculo

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 491-502, novembro 2017 499

do imposto de renda do ‘valor do resgate de contribuições de previdência

privada, cujo ônus tenha sido da pessoa física, recebido por ocasião de seu

desligamento do plano de benefícios da entidade, que corresponder às

parcelas de contribuições efetuadas no período de 1º de janeiro de 1989 a 31 de

dezembro de 1995’ (art. 8º).

Da mesma forma, a jurisprudência do STJ (REsp n. 591.240/BA, Segunda

Turma, Min. Eliana Calmon, DJ de 21.06.2004; AgREsp n. 612.042/DF, Primeira

Turma, Min. Luiz Fux, DJ de 14.06.2004) vem reconhecendo que também

os benefícios pagos pelas entidades de previdência privada estariam

sendo duplamente tributados pelo IRPF. Os valores recebidos a título de

complementação de aposentadoria são formados por recursos vertidos pelos

beneficiários – as contribuições – e por verbas empregadas pela entidade

patrocinadora. Sendo indefinido no tempo o valor futuro do benefício que

será pago, é, conseqüentemente, insuscetível de defi nição a proporção que

em relação a ele representam as contribuições recolhidas no passado, antes

referidas. É inviável, assim, identifi car, em cada parcela do benefício recebido,

os valores correspondentes à contribuição do segurado e aos aportes da

entidade patrocinadora.

No entanto, não se pode negar o fato de que as contribuições vertidas pelos

benefi ciários no período de vigência da Lei 7.713/88 – as quais, em alguma

proporção, integram o benefício devido – já foram tributadas pelo IRPF. Assim,

sob pena de incorrer-se em bis in idem, merece ser atendido o pedido de

declaração de inexigibilidade do referido imposto – mas apenas na proporção

do que foi pago a esse título por força da norma em questão. Em outros termos:

o imposto de renda incidente sobre os benefícios recebidos a partir de janeiro

de 1996 é indevido e deve ser repetido somente até o limite do que foi recolhido

pelo benefi ciário sob a égide da Lei 7.713/88’.

4. Por outro lado, o patrimônio das entidades fechadas de previdência privada

não é formado somente por contribuições de seus participantes, mas também por

quantias recolhidas pelo patrocinador/instituidor e por resultados superavitários

de suas operações. Assim, em caso de liquidação da entidade é possível que

o valor do rateio para os participantes seja superior às reservas constituídas por

suas contribuições. Ora, a parte que exceder ao total das contribuições constitui

acréscimo patrimonial, tal como conceituado pelo art. 43, II, do CTN, estando sujeito,

conseqüentemente, à incidência do imposto de renda. Sobre o tema, reporto-me ao

precedente julgado pela 2ª Turma (REsp 531.308/PR, DJ de 01.02.2005), relatora a

Ministra Eliana Calmon, em cujo voto fi cou assentado:

‘O art. 6º da Lei 7.713/88 permite que sejam excluídos da incidência do

Imposto de Renda os benefícios recebidos de entidades de previdência privada,

seja em decorrência de morte ou invalidez, seja em razão de ganhos de capital

produzidos pelo patrimônio da entidade – quando tributados esses ganhos na

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

500

fonte. Entretanto, nestes autos, temos para exame a questão da incidência do

imposto sobre os valores recebidos pelos participantes assistidos pelo PARSE

– INSTITUTO DE SEGURIDADE SOCIAL DO BANCO DE DESENVOLVIMENTO

DO PARANÁ em razão de sua liquidação extrajudicial. Com a extinção da

entidade, levou-se a rateio seu patrimônio, sem se questionar se tal patrimônio

era formado tão-somente de recursos próprios dos associados. Pleiteou-

se, no mandamus, não só a não-incidência do Imposto de Renda sobre as

parcelas devolvidas em restituição, como também a não-incidência sobre o

quinhão apurado na liquidação extrajudicial. Entendo que a incidência do

art. 43 do CTN ao caso concreto é clara, porque tudo o que for rateado e que

exceda as contribuições dos associados pode ser classifi cado como aquisição

da disponibilidade econômica. Em entendimento pretérito, manifestado no

julgamento do EREsp 76.499/CE, da Primeira Seção, relatado pelo Ministro

Humberto Gomes de Barros, o STJ decidiu a questão à luz da Lei 9.250/95,

concluindo pela não-incidência do imposto de renda sobre o total do rateio,

verbis:

‘TRIBUTÁRIO - IMPOSTO DE RENDA - DISSOLUÇÃO DE ENTIDADE DE

PREVIDÊNCIA PRIVADA - RATEIO DO PATRIMÔNIO ENTRE QUOTISTAS -

NÃO INCIDÊNCIA.

- A entrega aos quotistas do valor de cada quinhão, apurado na

liquidação de fundo mútuo de previdência privada, não acarreta

acréscimo patrimonial. Por isto, não constitui fato gerador de imposto

de renda’.

(EREsp 76.499/CE, rel. Min. Humberto Gomes de Barros, 1ª Seção, por

maioria, julgado em 14/5/1997, DJ 23/6/1997)

Além dessa, foram julgadas na Turma questões idênticas sem que se fi zesse

distinção quanto à parte correspondente às contribuições dos associados

já tributadas na fonte durante a vigência da Lei 7.713/8. Nessa condução

anterior, estão os julgados no REsp 412.304/RS (Relator Ministro José Delgado,

1ª Turma, unânime, julgado em 15/8/2002, DJ 23/9/2002) e REsp 413.291/RS

(Relatora Ministra Eliana Calmon, 2ª Turma, unânime, julgado em 13/8/2002,

DJ 9/9/2002), que examinaram a querela apenas à luz do art. 43 do CTN, sem,

contudo, fazer o cotejo com o art. 6º da referida norma. Esse entendimento

que isentava da cobrança do imposto todo o quinhão recebido pelo associado

mereceu reforma por esta Turma, tendo em vista que é preciso enfocar a

situação de um patrimônio em liquidação de forma maleável, sem critérios

rígidos que pudessem levar, até mesmo, à circunstância absurda de virem a ser

rateadas verbas públicas, pois não se ignora que são constantemente injetados

nas entidades de previdência privada generosos subsídios das entidades

estatais que as mantêm. Já nessa nova linha de raciocínio, decidiu esta

Turma ao julgar o REsp 603.636/AL, em que também fi gurava como Relatora.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 491-502, novembro 2017 501

Com essas considerações, dou parcial provimento ao recurso especial para

excluir da incidência do imposto de renda somente a parte correspondente às

contribuições dos associados que já tenham sido tributadas na fonte durante a

vigência da Lei 7.713/88’.

5. Assim, sobre o montante restituído aos autores a título de rateio da entidade

de previdência privada, deve incidir o imposto de renda: (a) na parte que,

porventura, exceder ao valor total das contribuições realizadas pelo participante,

atualizadas monetariamente; e (b) na parcela relativa às contribuições (atualizadas

monetariamente) do participante no período anterior a 1º/01/1989 e posterior

1º/01/1996. Desse modo, incidirá o referido imposto sobre todos os valores que não

corresponderem às contribuições do participante realizadas no período de vigência

da Lei 7.713/88.”

2. Esse entendimento foi reiterado por diversas vezes na Primeira Seção:

“TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL EM EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA.

IMPOSTO DE RENDA. LIQUIDAÇÃO DE ENTIDADE DE PREVIDÊNCIA PRIVADA.

RATEIO. NÃO-INCIDÊNCIA APENAS SOBRE A DEVOLUÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES

RECOLHIDAS NA VIGÊNCIA DA LEI N. 7.713/88.

1. O posicionamento hodierno desta Corte Superior sobre a matéria

controvertida é no sentido de que na liquidação e no rateio de entidade de

previdência privada não incide o imposto de renda tão-somente sobre a

devolução das contribuições recolhidas durante a vigência da Lei 7.713/88,

estando sujeitas à incidência da exação aquelas efetuadas sob a égide da Lei

9.250/95. Aresto embargado em consonância com esse entendimento.

2. Deve ser mantida a decisão agravada que negou seguimento aos embargos

de divergência que apontavam como dissidentes paradigmas com similar

conclusão jurídica que a do aresto embargado.

3. Agravo regimental não-provido. (AgRg nos EREsp 433.937/AL, Min. José

Delgado, Primeira Seção, DJe 19/05/2008)”

“TRIBUTÁRIO - LIQUIDAÇÃO DE ENTIDADE DE PREVIDÊNCIA PRIVADA - RATEIO

DE PATRIMÔNIO - INCIDÊNCIA DE IMPOSTO DE RENDA.

1. É pacífico o entendimento nesta Corte no sentido de que o fato de os

associados receberem as verbas representativas das cotas a que tinham direito

por motivo de liqüidação da entidade de previdência privada não dá ensejo

à incidência do imposto de renda sobre as parcelas relativas às contribuições,

efetuadas pelos próprios participantes e que já tiverem sido objeto de incidência

da exação no período de vigência da Lei n. 7.713/88 (de 1º.1.1989 a 31.12.1995).

2. A Lei n. 7.713/88 concedia isenção em relação aos resgates e recebimentos

da complementação de aposentadoria pelas entidades de previdência privada,

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

502

contudo, com a edição da Lei n. 9.250/95 modifi cou-se essa sistemática, para fazer

incidir imposto de renda nas contribuições recolhidas a partir de janeiro de 1996,

a ser tributado no momento do recebimento do benefício.

Agravo regimental improvido. (AgRg nos EREsp 530.883/MG, Min. Humberto

Martins, Primeira Seção, DJ 16/10/2006)”

3. Pelas razões expostas, nego provimento ao recurso.

4. Considerando tratar-se de recurso submetido ao regime do art. 543-

C, determina-se a expedição de ofício, com cópia do acórdão, devidamente

publicado:

(a) aos Tribunais Regionais Federais (art. 6º da Resolução STJ 08/08), para

cumprimento do § 7º do art. 543-C do CPC;

(b) à Presidência do STJ, para os fi ns previstos no art. 5º, II da Resolução

STJ 08/08. É o voto.

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Súmula n. 557

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SÚMULA N. 557

A renda mensal inicial (RMI) alusiva ao benefício de aposentadoria por

invalidez precedido de auxílio-doença será apurada na forma do art. 36, § 7º, do

Decreto n. 3.048/1999, observando-se, porém, os critérios previstos no art. 29,

§ 5º, da Lei n. 8.213/1991, quando intercalados períodos de afastamento e de

atividade laboral.

Referências:

CPC, art. 543-C.

Lei n. 8.213/1991, art. 29, § 5º.

Dec. n. 3.048/1999, art. 36, § 7º.

Precedentes:

(*)REsp 1.410.433-MG (1ª S, 11.12.2013 – DJe 18.12.2013) –

acórdão publicado na íntegra

AgRg no AREsp 202.776-MG (1ª T, 11.12.2012 – DJe 04.02.2013)

REsp 1.338.239-MS (2ª T, 11.12.2012 – DJe 19.12.2012)

AgRg nos EDcl no

AgRg no REsp 1.372.501-MG (2ª T, 06.06.2013 – DJe 14.06.2013)

AgRg no AREsp 420.804-PR (2ª T, 10.12.2013 – DJe 16.12.2013)

(*) Recurso repetitivo.

Primeira Seção, em 9.12.2015

DJe 15.12.2015

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RECURSO ESPECIAL N. 1.410.433-MG (2013/0345225-1)

Relator: Ministro Arnaldo Esteves Lima

Recorrente: João Pedro Garcia

Advogado: Sérgio Botrel Vilela

Recorrido: Instituto Nacional do Seguro Social - INSS

Advogado: Procuradoria-Geral Federal - PGF

EMENTA

P R EV I D EN C I Á R I O. R E C U R S O E S P E C I A L

R E P R E S E N TAT I V O D A C O N T R O V É R S I A .

APOSENTADORIA POR INVALIDEZ DECORRENTE DE

TRANSFORMAÇÃO DE AUXÍLIO-DOENÇA. REVISÃO DA

RMI. ART. 29, II E § 5º, DA LEI 8.213/91 ALTERADO PELA LEI

9.876/99. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE NA APURAÇÃO

DO VALOR INICIAL DOS BENEFÍCIOS. EXIGÊNCIA DE

SALÁRIOS-DE-CONTRIBUIÇÃO INTERCALADOS COM

PERÍODOS DE AFASTAMENTO POR INCAPACIDADE.

RECURSO DESPROVIDO.

1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo

Tribunal Federal são unânimes em reconhecer a legalidade da apuração

da renda mensal inicial – RMI dos benefícios de aposentadoria por

invalidez oriundos de auxílio-doença.

2. Nos termos do disposto nos arts. 29, II e § 5º, e 55, II, da Lei

8.213/91, o cômputo dos salários-de-benefício como salários-de-

contribuição somente será admissível se, no período básico de cálculo

– PBC, houver afastamento intercalado com atividade laborativa, em

que há recolhimento da contribuição previdenciária.

3. A aposentadoria por invalidez decorrente da conversão de

auxílio-doença, sem retorno do segurado ao trabalho, será apurada

na forma estabelecida no art. 36, § 7º, do Decreto 3.048/99, segundo

o qual a renda mensal inicial - RMI da aposentadoria por invalidez

oriunda de transformação de auxílio-doença será de cem por cento do

salário-de-benefício que serviu de base para o cálculo da renda mensal

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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inicial do auxílio-doença, reajustado pelos mesmos índices de correção

dos benefícios em geral.

4. Recurso especial desprovido. Acórdão sujeito ao regime do art.

543-C do CPC.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça,

por unanimidade, negar provimento ao recurso especial, nos termos do voto

do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Napoleão Nunes Maia Filho, Og

Fernandes, Mauro Campbell Marques, Sérgio Kukina, Ari Pargendler e Eliana

Calmon votaram com o Sr. Ministro Relator.

Ausentes, justificadamente, o Sr. Ministro Herman Benjamin e,

ocasionalmente, o Sr. Ministro Benedito Gonçalves.

Compareceu à sessão, a Dra. Thirzzia Guimarães de Carvalho, pelo

recorrido.

Brasília (DF), 11 de dezembro de 2013 (data do julgamento).

Ministro Arnaldo Esteves Lima, Relator

DJe 18.12.2013

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Arnaldo Esteves Lima: Trata-se de recurso especial

manifestado por JOÃO PEDRO GARCIA com base no art. 105, III, “a” e “c”,

da Constituição Federal, contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 1ª

Região assim ementado (fl . 151e):

PREVIDENCIÁRIO. CONSTITUCIONAL. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ

RESULTANTE DE BENEFÍCIO ANTERIOR DE AUXÍLIO-DOENÇA. CÁLCULO DA RMI.

ARTIGOS 61 E 44 DA LEI 8.213/91. INEXISTÊNCIA DE ILEGALIDADE NA APURAÇÃO

DO VALOR INICIAL DOS BENEFÍCIOS.

1. Não há que se falar em nulidade da sentença, por cerceamento de defesa,

em face da prolação da sentença sem que fosse dada oportunidade ao réu de

apresentar suas razões fi nais, quando a questão em debate é unicamente de

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 503-515, novembro 2017 509

direito e viabiliza o julgamento antecipado da lide, na forma do art. 333, I, do CPC.

Preliminar rejeitada.

2. O autor é titular do benefício de aposentadoria por invalidez, concedido em

01/12/99, o qual é resultante da transformação do benefício anterior de auxílio-

doença que ele vinha percebendo, concedido em 27/09/99, em cujo cálculo

da renda mensal inicial foram consideradas as disposições da Lei 8.213/91, na

redação em vigor nas datas de concessão dos respectivos benefícios.

3. A Carta de Concessão/Memória de Cálculo revela que a renda mensal inicial

do benefício de auxílio-doença do autor foi calculada tomando por base a média

aritmética dos últimos 36 (trinta e seis) salários-de-contribuição anteriores ao

afastamento da atividade, em conformidade com o art. 29 da Lei 8.213/91, em sua

redação original, resultando no salário-de-benefício de R$ 512,92 (quinhentos e

doze reais e noventa e dois centavos), sobre o qual incidiu o coefi ciente de cálculo

de 91% (noventa e um por cento) previsto no art. 61 da Lei 8.213/91.

4. A Carta de Concessão/Memória de cálculo da aposentadoria por invalidez

do autor demonstra que a sua RMI foi fi xada com base no salário-de-benefício

do anterior de auxílio-doença, devidamente atualizado, com a elevação do

coefi ciente de cálculo para o percentual de 100% (cem por cento), conforme

previsto na legislação de regência.

5. A regra de cálculo estabelecida no art. 29, § 5º, da Lei 8.213/91, somente

se aplica se o segurado tiver períodos intercalados de gozo de auxílio-doença

com períodos posteriores de atividade laborativa, com o recolhimento das

contribuições correspondentes, antes da concessão da aposentadoria por

invalidez, consoante jurisprudência do e. STJ.

6. A prova dos autos revela que não houve ilegalidade na apuração da RMI dos

benefícios de auxílio-doença e de aposentadoria por invalidez do autor, uma vez

que foram observadas as disposições da legislação então em vigor.

7. Apelação e remessa ofi cial, tida por interposta, providas.

Em suas razões de mérito, o recorrente aponta negativa de vigência ao art.

29, II e § 5º, da Lei 8.213/91, com a redação dada pela Lei 9.876/99, na medida

em que o Tribunal Regional reformou a sentença para julgar improcedente

a pretensão de revisar sua aposentadoria por invalidez com base nas média

aritmética dos maiores salários-de-contribuição.

Aponta, ainda, dissídio jurisprudencial, no qual afi rma ser equivocada

a interpretação adotada pela Corte de origem, pois a lei não faz exceção na

apuração da renda mensal inicial da aposentadoria por invalidez que advém da

conversão de auxílio-doença.

Dessa forma, aduz, quando a aposentadoria por invalidez é precedida de

auxílio-doença, a lei de regência determina um novo cálculo, segundo o qual

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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devem ser computados, como salário-de-contribuição, os salários-de-benefício

que serviram de base para o auxílio-doença.

Contrarrazões às fl s. 177/184e.

Em juízo de admissibilidade, o Vice-Presidente do Tribunal de origem,

após determinar o sobrestamento do presente feito para aguardar o julgamento

do REsp 1.114.562/MG (fl. 186e), reviu sua decisão, tendo em vista o

cancelamento da afetação do referido recurso em 19/3/12 pelo eminente Min.

JORGE MUSSI.

Dessa forma, em substituição, encaminhou a esta Corte o presente recurso

especial, tendo em vista a multiplicidade de feitos com fundamento na mesma

questão de direito, na forma do § 1º do art. 543-C, com a redação determinada

pela Lei 11.672/08, e no art. 1º da Resolução 8/08 do Superior Tribunal de

Justiça (fl s. 190/192e). Em decisão de fl s. 201/202e, admiti o presente recurso

pelo rito dos recursos repetitivos a fi m de analisar a controvérsia.

O Ministério Público, por meio de parecer exarado pela Subprocuradora-

Geral da República DARCY SANTANA VITOBELLO, opinou pelo

conhecimento parcial do recurso e, nessa extensão, pelo não provimento, em

parecer assim ementado (fl . 208e):

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. PREVIDENCIÁRIO.

APOSENTADORIA POR INVALIDEZ PRECEDIDA DE AUXÍLIO-DOENÇA. CÁLCULO

DA RENDA MENSAL INICIAL - RMI. DISSÍDIO PRETORIANO. FALTA DE COTEJO

ANALÍTICO. AUSÊNCIA DE PERÍODO INTERCALADO DE CONTRIBUIÇÃO. ART.

29, § 5º, DA LEI 8.213/91. NÃO INCLUSÃO DO SALÁRIO-DE-BENEFÍCIO. PELO

CONHECIMENTO PARCIAL DO RECURSO E, NESSA EXTENSÃO, PELO NÃO

PROVIMENTO.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Arnaldo Esteves Lima (Relator): A irresignação não

merece acolhimento.

Trata-se de ação previdenciária, na qual o segurado, aposentado por

invalidez, postula a revisão de seu benefício a fi m de que seja recalculado

com base nos maiores salários-de-contribuição, correspondentes a oitenta por

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 503-515, novembro 2017 511

cento de todo o período contributivo, de acordo com o art. 29, II e § 5º, da

Lei 8.213/91, com a redação dada pela Lei 9.876/99, do seguinte teor (grifos

nossos):

Art. 29. O salário-de-benefício consiste:

[...]

II - para os benefícios de que tratam as alíneas a, d, e e h do inciso I do art. 18,

na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição correspondentes

a oitenta por cento de todo o período contributivo. (Incluído pela Lei n. 9.876, de

26.11.99)

[...]

§ 5º Se, no período básico de cálculo, o segurado tiver recebido benefícios

por incapacidade, sua duração será contada, considerando-se como salário-de-

contribuição, no período, o salário-de-benefício que serviu de base para o cálculo da

renda mensal, reajustado nas mesmas épocas e bases dos benefícios em geral,

não podendo ser inferior ao valor de 1 (um) salário mínimo.

Em primeiro grau, o pedido inicial foi julgado parcialmente procedente a

fi m de determinar a revisão do salário-de-benefício de acordo com as alterações

introduzidas pela Lei 9.876/99.

Em sede de apelação, contudo, o TRF da 1ª Região reformou a sentença,

por consignar que não houve ilegalidade na apuração do primitivo benefício

de auxílio-doença do autor. E, como a aposentadoria foi resultante da

transformação do benefício anterior, sem retorno do segurado às atividades, não

houve salário-de-contribuição no período. Por conseguinte, não seria aplicável,

na espécie, a regra de cálculo prevista no § 5º do art. 29 da Lei de Benefícios.

Diante desse contexto fático, observo que a jurisprudência desta Corte tem

se fi rmado no mesmo sentido adotado pelo Tribunal de origem.

Ora, a lei previdenciária dispõe que, na apuração do valor correspondente

ao auxílio-doença, o benefício consistirá numa renda mensal correspondente

a 91% (noventa e um por cento) do salário-de-benefício (art. 61). Outrossim,

a aposentadoria por invalidez, inclusive a decorrente de acidente do trabalho,

consistirá numa renda mensal correspondente a 100% (cem por cento) do

salário-de-benefício (art. 44).

A teor do disposto no art. 55, caput e II, da Lei 8.213/91, o tempo de

serviço será comprovado na forma estabelecida no Regulamento, o qual admite,

inclusive, aquele tempo intercalado em gozo de auxílio-doença ou aposentadoria

por invalidez.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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No entanto, o Decreto 3.048/99, que regulamenta a Lei de Benefícios, ao

disciplinar a Renda Mensal do Benefício, estabelece no art. 36, § 7º, que a renda

mensal inicial - RMI da aposentadoria por invalidez oriunda de transformação

de auxílio-doença será acrescido de 9% (nove por cento), chegando a 100% (cem

por cento) do salário-de-benefício apurado no cálculo do benefício original

(auxílio-doença), verbis:

§ 7º A renda mensal inicial da aposentadoria por invalidez concedida por

transformação de auxílio-doença será de cem por cento do salário-de-benefício que

serviu de base para o cálculo da renda mensal inicial do auxílio-doença, reajustado

pelos mesmos índices de correção dos benefícios em geral (grifo nosso)

No caso concreto, narram os autos que o recorrente obteve auxílio-doença

em 29/7/99, sem retorno ao trabalho, o que lhe gerou a transformação do

benefício em aposentadoria por invalidez em 1º/12/99 (fl s. 17/19e). Ou seja, não

houve afastamento intercalado com períodos de contribuição, motivo pelo qual

descabe aplicar o § 5º do art. 29 da Lei 8.213/91 no cálculo de seu benefício.

De outra parte, conforme aduziu o Tribunal Regional, a apuração da RMI

do auxílio-doença observou a legislação de regência, segundo a qual o salário-

de-benefício consistia na média aritmética simples de todos os últimos salários-

de-contribuição dos meses imediatamente anteriores ao do afastamento da

atividade ou da data da entrada do requerimento, até o máximo de 36 (trinta e

seis), apurados em período não superior a 48 (quarenta e oito) meses.

Em resumo, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, quanto

à forma de cálculo da aposentadoria por invalidez oriunda da conversão do

auxílio-doença, somente admite o cômputo dos salários-de-benefício como

salários-de-contribuição, nos termos do art. 29, II e § 5º, da Lei 8.213/91,

com a redação dada pela Lei 9.876/99, se, no período básico de cálculo, houver

contribuições intercaladas com os afastamentos ocorridos por motivo de

incapacidade, o que, in casu, não ocorreu.

Cito, ilustrativamente:

PREVIDENCIÁRIO. BENEFICIÁRIO DE APOSENTADORIA POR INVALIDEZ,

ORIGINADA DE AUXÍLIO-DOENÇA. INAPLICABILIDADE DO ARTIGO 29, § 5º, DA LEI

N. 8.213/91. REVISÃO DE BENEFÍCIO. SALÁRIOS DE CONTRIBUIÇÃO. INCLUSÃO DO

IRSM DE FEVEREIRO DE 1994. PERCENTUAL DE 39,67%. APLICÁVEL.

1. Verifi ca-se que o acórdão embargado deixou claro que na atualização dos

salários-de-contribuição de benefi cio concedido após março de 1994, ou seja,

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 503-515, novembro 2017 513

no mesmo período alegado em recurso especial, deve ser incluído o IRSM de

fevereiro do mesmo ano, no percentual de 39,67%, antes da conversão em URV,

sob pena de violação do art. 21, § 1º, da Lei 8.880/94. Assim, neste aspecto, não

merece reparos o acórdão embargado.

2. Com relação ao artigo 29, § 5º da Lei 8.213/91, o acórdão embargado foi claro

ao afi rmar sua inaplicabilidade para o caso dos autos, em que não houve períodos

intercalados entre afastamento da atividade e retorno ao trabalho durante o período

básico de cálculo, nos exatos termos da pretensão recursal. Logo, o recurso especial

merece parcial provimento, a fi m de reconhecer a não aplicação do artigo 29, § 5º da

Lei 8.213/91 à hipótese dos autos.

Embargos de declaração acolhidos em parte, com efeitos infringentes, para

conhecer do recurso especial e dar-lhe parcial provimento. (EDcl no AgRg no

REsp 1.372.501/MG, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, Segunda Turma, DJe 9/10/13,

grifos nossos)

PREVIDENCIÁRIO. REVISÃO DO VALOR DO BENEFÍCIO DE APOSENTADORIA.

RENDA MENSAL INICIAL. CORREÇÃO DO SALÁRIO-DE-CONTRIBUIÇÃO. IRSM

DE FEVEREIRO DE 1994. ÍNDICE DE 39,67%. SEGURADO BENEFICIÁRIO DE

APOSENTADORIA POR INVALIDEZ, ORIGINADA DE AUXÍLIO-DOENÇA E A ELE

IMEDIATAMENTE SUBSEQÜENTE.

1. De acordo com a redação original do art. 29 da Lei 8.213/91, vigente na

data da concessão do benefício, o salário-de-benefício do auxílio-doença será

calculado utilizando-se a média aritmética simples dos últimos salários-de-

contribuição anteriores ao afastamento da atividade ou da data da entrada do

requerimento.

2. Na hipótese dos autos, o afastamento da atividade pelo segurado ocorreu

quando da concessão do auxílio-doença, motivo pelo qual a Renda Mensal Inicial

da aposentadoria por invalidez será calculada com base no salário-de-benefício

do auxílio-doença, que, por sua vez, é calculado utilizando-se os salários-de-

contribuição anteriores ao seu recebimento.

3. Incide, nesse caso, o art. 36, § 7º do Decreto 3.048/99, que determina que o

salário-de-benefício da aposentadoria por invalidez será de 100% do valor do salário-

de-benefício do auxílio-doença anteriormente recebido, reajustado pelos índices de

correção dos benefícios previdenciários.

4. Cumpre esclarecer que, nos termos do art. 55, II da Lei 8.213/91, somente

se admite a contagem do tempo de gozo de benefício por incapacidade quando

intercalado com período de atividade e, portanto, contributivo. Assim, nessa

situação, haveria possibilidade de se efetuar novo cálculo para o benefício de

aposentadoria por invalidez, incidindo o disposto no art. 29, § 5º da Lei 8.213/91,

que determina que os salários-de-benefícios pagos a título de auxílio-doença

sejam considerados como salário-de-contribuição, para defi nir o valor da Renda

Mensal Inicial da aposentadoria.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

514

5. A jurisprudência do STJ já pacifi cou o entendimento de que na atualização

dos salários-de-contribuição dos benefícios em manutenção é aplicável a variação

integral do IRSM nos meses de janeiro e fevereiro de 1994, no percentual de

39,67% (art. 21, § 1º da Lei 8.880/94) (EREsp. 226.777/SC, 3S, Rel. Min. HAMILTON

CARVALHIDO, DJU 26.03.2001).

6. No caso, tendo o auxílio-doença sido concedido em 10.04.1992, foram

utilizados para o cálculo do salário-de-benefício os salários-de-contribuição

anteriores a essa data, o que, por óbvio, não abrangeu a competência de fevereiro

de 1994 no período básico do cálculo, motivo pelo qual o segurado não faz jus à

pleiteada revisão prevista na MP 201/2004.

7. Dessa forma, merece reforma o acórdão recorrido que, considerando que a

aposentadoria por invalidez acidentária foi concedida em 17.05.1994, determinou

a correção monetária do salário-de-contribuição do mês de fevereiro de 1994

pelo IRSM integral, no percentual de 39,67%.

8. Recurso Especial do INSS provido. (REsp 1.016.678/RS, Rel. Min. NAPOLEÃO

NUNES MAIA FILHO, Quinta Turma, DJe 26/5/08, grifos nossos)

PREVIDENCIÁRIO. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. SIMILITUDE FÁTICA.

INEXISTÊNCIA. ACÓRDÃO RECORRIDO QUE TRATA DA HIPÓTESE DE APLICAÇÃO

DO IRSM DE FEVEREIRO DE 1994. ACÓRDÃO PARADIGMA QUE TRATA

DA APLICABILIDADE DO ART. 58 DO ADCT. CÁLCULO DA RENDA INICIAL DE

BENEFÍCIO APOSENTADORIA POR INVALIDEZ PRECEDIDO DE AUXÍLIO-DOENÇA.

AUSÊNCIA DE ATIVIDADE LABORATIVA DURANTE O PERÍODO DE AFASTAMENTO.

IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO ART. 29, § 5º DA LEI 8.213/91. RENDA

MENSAL DA APOSENTADORIA POR INVALIDEZ CALCULADA DE ACORDO COM

O DISPOSTO NO ART. 37, § 7º DO DECRETO 3.048/99. AGRAVO REGIMENTAL AO

QUAL SE NEGA PROVIMENTO.

1. Tratando o acórdão recorrido da hipótese de aplicação do art. 58 do ADCT e

o acórdão paradigma, da aplicação do IRSM de fevereiro de 1994, não há falar em

similitude fática entre os julgados.

2. Inexistindo similitude fática entre os julgados apontados como divergentes,

inviável o conhecimento dos embargos de divergência.

3. No caso de benefício de aposentadoria por invalidez precedido de auxílio-

doença, a renda mensal inicial será calculada de acordo com o disposto no art. 36, §

7º do Decreto 3.048/99. Somente quando o período de afastamento for intercalado

com períodos de atividade laborativa, será possível a aplicação do art. 29, § 5º da Lei

8.213/91. Precedentes.

4. Agravo regimental ao qual se nega provimento. (AgRg nos EREsp 909.274/

MG, Rel. Min. ALDERITA RAMOS DE OLIVEIRA (Des. Conv. TJ/PE), Terceira Seção,

DJe 19/6/13, grifos nossos)

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 503-515, novembro 2017 515

O mesmo entendimento já foi assentado pelo Plenário do Supremo

Tribunal Federal como se vê do seguinte aresto, proferido com repercussão geral:

Ementa: CONSTITUCIONAL. PREVIDENCIÁRIO. REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA

SOCIAL. CARÁTER CONTRIBUTIVO. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. AUXÍLIO-

DOENÇA. COMPETÊNCIA REGULAMENTAR. LIMITES.

1. O caráter contributivo do regime geral da previdência social (caput do art.

201 da CF) a princípio impede a contagem de tempo fi cto de contribuição.

2. O § 5º do art. 29 da Lei n. 8.213/1991 (Lei de Benefícios da Previdência Social

– LBPS) é exceção razoável à regra proibitiva de tempo de contribuição fi cto com

apoio no inciso II do art. 55 da mesma Lei. E é aplicável somente às situações em

que a aposentadoria por invalidez seja precedida do recebimento de auxílio-doença

durante período de afastamento intercalado com atividade laborativa, em que

há recolhimento da contribuição previdenciária. Entendimento, esse, que não foi

modifi cado pela Lei n. 9.876/99.

3. O § 7º do art. 36 do Decreto n. 3.048/1999 não ultrapassou os limites da

competência regulamentar porque apenas explicitou a adequada interpretação do

inciso II e do § 5º do art. 29 em combinação com o inciso II do art. 55 e com os arts. 44

e 61, todos da Lei n. 8.213/1991.

4. A extensão de efeitos fi nanceiros de lei nova a benefício previdenciário

anterior à respectiva vigência ofende tanto o inciso XXXVI do art. 5º quanto o § 5º

do art. 195 da Constituição Federal. Precedentes: REs 416.827 e 415.454, ambos da

relatoria do Ministro Gilmar Mendes.

5. Recurso extraordinário com repercussão geral a que se dá provimento.

(RE 583.834, Rel. Min. AYRES BRITTO, Tribunal Pleno, DJe de 13/2/12, publicado

14/2/12, grifos nossos)

Assim, a aposentadoria por invalidez decorrente da conversão de auxílio-

doença, sem retorno do segurado ao trabalho, será apurada na forma estabelecida

no art. 36, § 7º, do Decreto 3.048/99, segundo o qual a renda mensal inicial

- RMI da aposentadoria por invalidez oriunda de transformação de auxílio-

doença será de cem por cento do salário-de-benefício que serviu de base para

o cálculo da renda mensal inicial do auxílio-doença, reajustado pelos mesmos

índices de correção dos benefícios em geral.

Ante o exposto, nego provimento ao recurso especial.

É como voto. Acórdão sujeito ao regime do art. 543-C do Código de

Processo Civil.

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Súmula n. 558

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SÚMULA N. 558

Em ações de execução fi scal, a petição inicial não pode ser indeferida sob o

argumento da falta de indicação do CPF e/ou RG ou CNPJ da parte executada.

Referências:

CPC, art. 282, II, e 543-C.

Lei n. 6.830/1980, art. 6º.

Lei n. 11.419/2006, art. 15.

Precedentes:

(*)REsp 1.450.819-AM (1ª S, 12.11.2014 – DJe 12.12.2014) – acórdão

publicado na íntegra

(*)REsp 1.455.091-AM (1ª S, 12.11.2014 – DJe 02.02.2015)

(*) Recursos repetitivos.

Primeira Seção, em 9.12.2015

DJe 15.12.2015

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RECURSO ESPECIAL N. 1.450.819-AM (2014/0093756-1)

Relator: Ministro Sérgio Kukina

Recorrente: Município de Manaus

Procurador: Deniel Rodrigo Benevides de Queiroz e outro(s)

Recorrido: José Ribeiro de Souza

Advogado: Sem representação nos autos

EMENTA

PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. RECURSO

ESPECIAL SUBMETIDO AO RITO DOS REPETITIVOS

(ART. 543-C DO CPC). DISSÍDIO PRETORIANO NÃO

CARACTERIZADO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO

JURISDICIONAL DECLARATÓRIA NÃO EVIDENCIADA.

INCOMPETÊNCIA DO STJ PARA REVISÃO DE MATÉRIA

CONSTITUCIONAL NA VIA RECURSAL ESPECIAL.

EXECUÇÃO FISCAL. EXIGÊNCIA DE INDICAÇÃO

DO CPF/RG DO EXECUTADO NA PETIÇÃO INICIAL.

DESNECESSIDADE. REQUISITOS NÃO PREVISTOS NA

LEI N. 6.830/80 (LEI DE EXECUÇÃO FISCAL). PREVISÃO

EXISTENTE NA LEI N. 11.419/06 (LEI DE INFORMATIZAÇÃO

DO PROCESSO JUDICIAL). PREVALÊNCIA DA LEI

ESPECIAL (LEI N. 6.830/80). NOME E ENDEREÇO DO

EXECUTADO SUFICIENTES À REALIZAÇÃO DO ATO

CITATÓRIO. FIXAÇÃO DA TESE, EM REPETITIVO, DA

DISPENSABILIDADE DA INDICAÇÃO DO CPF E/OU RG DO

DEVEDOR (PESSOA FÍSICA) NAS AÇÕES DE EXECUÇÃO

FISCAL. RECURSO DO FISCO PROVIDO.

1. Conhece-se do especial apenas pelo autorizativo da letra “a”,

vez que a invocada divergência jurisprudencial não restou evidenciada.

Não se presta o especial, ademais, para revisar alegado maltrato a

regramento constitucional.

2. O tribunal de origem prestou a jurisdição de forma completa,

não se descortinando, por isso, a aventada ofensa ao art. 535 do CPC.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

522

3. Nas instâncias ordinárias, decidiu-se pelo indeferimento da

petição inicial de ação de execução fi scal movida pelo município de

Manaus-AM, sob o argumento da falta de indicação, pelo exequente,

do número do CPF da pessoa física executada.

4. Tal exigência, contudo, não se acha prevista na legislação

especial que rege o procedimento executivo fi scal, a saber, a Lei n.

6.830/80, cujo art. 6º, ao elencar os requisitos da petição inicial, não

prevê o fornecimento do CPF da parte executada, providência, diga-

se, também não contemplada no art. 282, II, do CPC.

5. A previsão de que a petição inicial de qualquer ação judicial

contenha o CPF ou o CNPJ do réu encontra suporte, unicamente,

no art. 15 da Lei n. 11.419/06, que disciplina a informatização dos

processos judiciais, cuidando-se, nessa perspectiva, de norma de

caráter geral.

6. Portanto, e sem que se esteja a questionar a utilidade da

indicação do CPF da pessoa física executada já na peça inaugural, certo

é que não se pode cogitar de seu indeferimento com base em exigência

não consignada na legislação específi ca (Lei n. 6.830/80-LEF), tanto

mais quando o nome e endereço da parte executada, trazidos com a

inicial, possibilitem, em tese, a efetivação do ato citatório.

7. Em caso assemelhado, também decidido em sede de repetitivo,

a 1ª Seção do STJ concluiu por afastar a exigência de que a exordial da

execução se fi zesse acompanhar, também, da planilha discriminativa

de cálculos, isto porque “A petição inicial da execução fi scal apresenta seus

requisitos essenciais próprios e especiais que não podem ser exacerbados a

pretexto da aplicação do Código de Processo Civil, o qual, por conviver com

a lex specialis, somente se aplica subsidiariamente” (REsp 1.138.202/ES,

Rel. Min. Luiz Fux, DJe 01/02/2010).

8. Outrossim, a existência de atos normativos do Conselho

Nacional de Justiça (Resoluções 46/07 e 121/10) e de verbete do

Tribunal local (Súmula 02/TJAM), prevendo a indicação do CPF/

CNPJ dos litigantes já no pórtico das ações em geral, não se prestam,

só por si, a legitimar o indeferimento da petição inicial em ações de

execução fi scal, sem prejuízo da vinda desses dados cadastrais em

momento posterior.

9. Tese fi xada para os fi ns do art. 543-C do CPC: “Em ações de

execução fi scal, descabe indeferir a petição inicial sob o argumento da falta

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 517-536, novembro 2017 523

de indicação do CPF e/ou RG da parte executada (pessoa física), visto

tratar-se de requisito não previsto no art. 6º da Lei n. 6.830/80 (LEF),

cujo diploma, por sua especialidade, ostenta primazia sobre a legislação de

cunho geral, como ocorre frente à exigência contida no art. 15 da Lei n.

11.419/06”.

10. Recurso especial do fi sco municipal parcialmente conhecido

e, nessa extensão, provido para, no caso concreto, determinar-se o

regular prosseguimento da execução fi scal.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da

Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por maioria, vencido o Sr.

Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, conhecer parcialmente do recurso

especial e, nessa extensão, dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr.

Ministro Relator. As Sras. Ministras Regina Helena Costa, Marga Tessler

( Juíza Federal convocada do TRF 4ª Região) e os Srs. Ministros Og Fernandes,

Mauro Campbell Marques, Benedito Gonçalves e Assusete Magalhães votaram

com o Sr. Ministro Relator.

Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Herman Benjamin.

Sustentou, oralmente, o Dr. Ivson Coelho e Silva, pelo recorrente.

Brasília (DF), 12 de novembro de 2014 (data do julgamento).

Ministro Sérgio Kukina, Relator

DJe 12.12.2014

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Sérgio Kukina: Trata-se de recurso especial manejado pelo

Município de Manaus com fundamento no art. 105, III, a e c, da CF, contra

acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de Amazonas, assim

ementado (fl . 29):

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. EXECUÇÃO FISCAL. PETIÇÃO INICIAL INDEFERIDA.

AUSÊNCIA DE QUALIFICAÇÃO DO EXECUTADO NA CERTIDÃO DE DÍVIDA ATIVA.

POSSIBILIDADE DE EMENDA. EXTINÇÃO MANTIDA.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

524

Embora a petição inicial das ações de execução fi scal não precise observar todos

os requisitos elencados no art. 282 do Código de Processo Civil, é imprescindível que

haja a correta qualifi cação do executado, a fi m de que se possa atribuir os efeitos da

sentença à pessoa certa e determinada.

Precedentes do Superior Tribunal de Justiça.

Recurso conhecido, mas não provido.

Opostos embargos declaratórios, foram rejeitados, nos termos do acórdão

de fl s. 57/62. Nessa ocasião, consignou-se que, “de acordo com o entendimento

sedimentado no Pleno deste Egrégio Tribunal de Justiça no Incidente de Uniformização

de Jurisprudência 0001166-31.2013, a indicação do CNPJ da empresa ou do CPF e

RG do demandado, constituem informações primordiais que devem constar do texto

da petição inicial, sob pena de indeferimento, consoante inteligência do art. 15 da Lei

11.419/2006, do art. 6º, § 1º, da Resolução n. 46/2007 - CNJ e do art. 4º, inciso III,

da Resolução 121/2010-CNJ” (fl . 60).

Em suas razões recursais, a parte recorrente aponta violação dos arts. 282,

II, 284 e 535 do CPC; 2º, § 5º, 6º, § 1º, e 40 da Lei 6.830/80. Sustenta que: (I)

o acórdão recorrido foi omisso, pois, mesmo após a oposição dos embargos de

declaração, não houve manifestação sobre as alegações postas; (II) a exigência de

fornecimento do RG ou CPF do executado não encontra amparo legal, uma vez

que “na legislação aplicável às execuções fi scais, não se vislumbra qualquer exigência

quanto à indicação do número do RG, CPF ou CNPJ do devedor como requisito da

petição inicial” e “nem mesmo no Código de Processo Civil, aplicável subsidiariamente

à espécie, encontra-se qualquer exigência quanto à indicação do número do RG,

CPF e CNPJ do réu como requisito da petição inicial” (fl . 76). Afi rma, ainda, a

inaplicabilidade do art. 15 da Lei 11.419/2006 ao presente caso, porque referido

diploma legal não criou um requisito processual para a formulação da petição

inicial, mas apenas estabeleceu uma orientação procedimental voltada para

facilitar a identifi cação das partes. Assevera a existência de lei específi ca regendo

a matéria e que somente a Lei 6.830/80 pode trazer os requisitos formais para

a composição da petição do feito fi scal (fl . 88). Alega que, nos termos do art. 40

da Lei 6.830/80 e da Súmula 314/STJ, a não localização do devedor ou de bens

penhoráveis impõe a suspensão do processo e não o indeferimento da petição

inicial.

Não houve contrarrazões.

Conforme decisão de admissibilidade de fl s. 105/108, o recurso especial foi

remetido a este STJ como representativo de controvérsia repetitiva.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 517-536, novembro 2017 525

Considerando a multiplicidade de recursos a respeito da questão discutida

no presente apelo - defi nir se o magistrado a quo, com base no art. 15 da Lei

11.419/2006, pode exigir, para o recebimento da petição inicial da execução fi scal,

a indicação do RG (Registro Geral) ou do CPF (Cadastro de Pessoas Físicas),

tratando-se o executado de pessoa física -, tendo sido informado pelo Tribunal

Estadual a existência de pelo menos dois mil processos, o recurso especial foi

por mim submetido à sistemática do art. 543-C do CPC, consoante decisão

monocrática de fl s. 150/152.

O Ministério Público Federal ofertou o parecer de lavra do Subprocurador-

Geral da República José Bonifácio Borges de Andrada de fl s. 156/160, que

recebeu a seguinte ementa:

DIREITO TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. PETIÇÃO INICIAL

INDEFERIDA. AUSÊNCIA DA INDICAÇÃO DO CPF E DO RG DO EXECUTADO. EXIGÊNCIA

NÃO PREVISTA EM LEI. INTELIGÊNCIA DO ART. 6º DA LEI N. 6.830/80 E ART. 282 DO CPC.

- “Petição inicial da execução fi scal apresenta seus requisitos essenciais próprios

e especiais que não podem ser exacerbados a pretexto da aplicação do Código

de Processo Civil, o qual, por conviver com a lex specialis, somente se aplica

subsidiariamente” (REsp 1.138.202/ES, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO,

julgado em 9/12/2009, DJe 1º/2/2010).

- Parecer pelo conhecimento e provimento do recurso especial, fi xando-se a tese

da não obrigatoriedade da indicação do RG ou CPF para o recebimento da petição

inicial de execução fi scal endereçada contra pessoa física.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Sérgio Kukina (Relator): O especial comporta trânsito

unicamente pela franquia da letra “a”, eis que devidamente prequestionados

os regramentos federais relativos à controvérsia veiculada na súplica. Pelo

permissivo da letra “c”, verifi ca-se que, embora realizado o cotejo, os trechos do

acórdão recorrido não correspondem ao teor das decisões proferidas pela Corte

amazonense. Por fi m, descabe ao STJ pronunciar-se acerca da alegada violação

ao art. 5º, XXXV, da CF, sob pena de usurpar, no ponto, a competência recursal

extraordinária do STF.

Passa-se, pois, ao exame da questão passível de enfrentamento na via

recursal especial.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

526

De início, constata-se que o tribunal de origem prestou a jurisdição de

forma completa, não se descortinando, por isso, a proalada ofensa ao art. 535 do

CPC.

Quanto à questão de fundo, tira-se dos autos que, nos termos da petição

inicial de fl . 1, o município de Manaus (recorrente) propôs ação de execução

fi scal de IPTU em face de José Ribeiro de Souza (recorrido), instruindo a

exordial com a certidão de dívida ativa de fl . 2.

Tendo por insufi ciente a qualifi cação da parte executada, a juíza da causa

determinou a intimação do exequente para que emendasse a inicial, “indicando

o CPF, CNPJ, RG ou o endereço do (a) Executado (a), sob pena de indeferimento,

nos termos do parágrafo único do art. 284 do CPC” (cf. despacho de fl . 3), em

que pese, vale registrar, contivesse a inicial o endereço do devedor, qual seja,

exatamente aquele em que situado o imóvel gerador do tributo reclamado pelo

fi sco manauara.

Atendendo, então, ao aludido despacho, a Municipalidade compareceu ao

feito (fl . 6), sustentando a desnecessidade da “indicação de qualquer outro elemento

identifi cador do Executado que já não conste na inicial e na própria CDA, conforme

pode ser constatado da análise do artigo 282 e incisos, do CPC, c/c artigo 2º, § 5º,

inciso I, da Lei Federal 6.830/80, e ainda o artigo 202, do CTN, em confronto com

as peças dos autos”, tendo, na ocasião, postulado a citação do executado por via

postal.

Passo seguinte, pela sentença de fl s. 7/8, a mesma magistrada indeferiu a

petição inicial, com fulcro no art. 284, parágrafo único do CPC, forte em que

os dados não apresentados pelo exequente “tratam-se, em verdade, de informações

imprescindíveis ao regular andamento dos executivos f iscais de sorte a facilitar

a localização do devedor e de bens passíveis de penhora”, tendo, em acréscimo,

destacado que “a falta destes dados inviabiliza as penhoras Bacen-Jud, e inserção

em qualquer cadastro de devedores, onde tais informações são essenciais. Também

são fundamentais para prevenir quanto à homônimos, já que muitas pessoas acabam

sendo prejudicadas, sendo alvo de execução de forma desnecessária, em virtude de

equívoco perpetrado pelo Ente Municipal, o que lhes exige providências muitas das

vezes prolongadas para solucionar tal impasse”, tendo, inclusive, mencionado

que a exigência por ela feita encontraria respaldo na jurisprudência e em

previsão normativa existente no art. 1º da Resolução n. 42/2006, da egrégia

Corregedoria-Geral de Justiça do Tribunal de Justiça do Amazonas.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 517-536, novembro 2017 527

Inconformado, apelou o município de Manaus (fl s. 17/22), insistindo na

desnecessidade das informações adicionais requisitadas pelo juízo de primeiro

grau.

Pelo acórdão de fl s. 29/32, o Tribunal estadual, partindo da premissa de

ser “indispensável que haja informações que permitam a individualização correta

do executado, a fi m de que se possa atribuir os efeitos do provimento jurisdicional à

pessoa certa e determinada”, acabou por concluir que “no caso em análise, a Certidão

de Dívida Ativa descreve apenas o nome e o endereço do contribuinte, não fazendo

qualquer menção ao cadastro de pessoa física CPF e registro geral - RG, informações

aptas a individualizar a pessoa executada”, daí porque chancelou o acerto do

indeferimento da petição inicial.

Em complemento, respondendo aos embargos de declaração opostos

às fl s. 45/54 pelo exequente, o Colegiado local, por meio do acórdão de fl s.

57/61, embora rejeitando o recurso integrativo, fez assinalar que “a indicação

do CNPJ da empresa ou do CPF e RG do demandado, constituem informações

primordiais que devem constar do texto da petição inicial, sob pena de indeferimento,

consoante inteligência do art. 15 da Lei 11.419/2006, do art. 6º, § 1º, da Resolução

n. 46/2007 - CNJ e do art. 4º, inciso III, da Resolução 121/2010-CNJ”, afora que

tal providência também constaria da Súmula nº 02/TJAM.

Cinge-se, pois, a quaestio juris em defi nir sobre a obrigatoriedade ou não

de que, já no nascedouro da ação de execução fi scal, o credor indique também o

RG e o CPF da parte executada, em se tratando de pessoa física.

Data venia do contrário entendimento externado no aresto recorrido, não

se vislumbra possa o executivo fi scal ter seu curso obstado pela ausência de

indicação do mencionados dados cadastrais do devedor (RG/CPF).

Ao comentar o requisito do art. 282, II, do CPC, atinente à qualifi cação

das partes, pondera Cassio Scarpinella que: “o que a lei busca, no particular, é a

identifi cação, a mais próxima possível, de quem pede a prestação jurisdicional e em

face de quem esta tutela é pedida” (in Curso sistematizado de direito processual civil.

vol. 2, tomo I. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 70).

É louvável que assim seja e, certamente, terá sido esse o salutar propósito

do legislador que, no corpo do diploma em que disciplinou a informatização do

processo judicial (Lei n. 11.419/2006), fez inserir no capítulo das disposições

gerais e finais o art. 15, cuja cabeça contém a seguinte redação: “Salvo

impossibilidade que comprometa o acesso à justiça, a parte deverá informar, ao

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

528

distribuir a petição inicial de qualquer ação judicial, o número no cadastro de pessoas

físicas ou jurídicas, conforme o caso, perante a Secretaria da Receita Federal”.

Embora tal dispositivo seja lacunoso, é intuitivo crer que a indicação de

CPF e/ou CNPJ diga respeito tanto ao autor quanto ao réu, constituindo-se tais

dados em informações que, certamente, terão por escopo prioritário alimentar e

refi nar o sistema eletrônico de dados processuais, de cujo tema vem se ocupando,

já há algum tempo, o Conselho Nacional da Justiça (nesse sentido, por exemplo,

suas Resoluções 46/2007 e 121/2010).

Acerca dessa inovação legislativa, explicam Luiz Rodrigues Wambier e

Eduardo Talamini que “é ônus do autor, ainda, sempre que possível, indicar na

petição inicial o número das partes, conforme o caso, no cadastro de pessoas físicas ou

jurídicas da receita federal (CPF e CNPJ). A providência, imposta pelo art. 15 da

Lei 11.419/2006, presta-se a facilitar a identifi cação de ações anteriores idênticas ou

semelhantes entre as mesmas partes. Não se trata de um ônus inafastável, conforme

se extrai da parte inicial da disposição ora referida. Se o autor não estiver inscrito no

cadastro da receita federal ou ignorar, em um caso justifi cável, o número de inscrição

do adversário, fi cará dispensado de proceder a tal indicação” (in Curso avançado de

processo civil. 13. ed. São Paulo: RT, 2013, vol. 1, p. 353).

No caso presente, a parte recorrente realça que “o juízo da Vara da Dívida

Ativa Municipal intimou o Município de Manaus para emendar a inicial e fornecer

esse dado em cerca de mais de 50.000 (cinqüenta mil) execuções fi scais eletrônicas (...),

providência impossível de ser cumprida no exíguo prazo fi xado, em milhares de feitos

judiciais eletrônicos, cuja intimação é feita em bloco, máxime quando não se dispõe

dessa informação no cadastro de contribuintes” (fl . 90).

Não há negar, pois, a relevância e a pertinência do argumento assim

exposto pelo Fisco, a justifi car o afastamento da determinação judicial posta no

despacho ordenatório da emenda da inicial.

A qualifi cação das partes, é certo, deve ser a mais completa possível, mas a

pronta falta de maiores dados, desde que não impeça a mínima identifi cação do

polo demandado, não deve se prestar a inibir a admissibilidade da ação. Como

obtemperam Arruda Alvim, Araken de Assis e Eduardo Arruda Alvim, “caso

seja inviável a atribuição da qualifi cação completa das partes, desde que seja possível

a individuação das mesmas, deve ser admitida a petição inicial” (in Comentários ao

Código de Processo Civil. 3. ed. rev. e atual. São Paulo: RT, nota 3 ao art. 282, p.

572). Nessa mesma linha de compreensão, Luiz Guilherme Marinoni e Daniel

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 517-536, novembro 2017 529

Mitidiero assentam que “eventual ignorância do demandante quanto a um ou

alguns dos elementos exigidos para identifi cação do demandado não constituem, por si

só, motivo para emenda da petição inicial. O que releva para individualização do réu

é a sua citabilidade” (in Código de Processo Civil comentado artigo por artigo. 4. ed.

rev., atual. e ampl. São Paulo: RT, nota 3 ao art. 282, p. 290-1).

Na espécie em exame, está-se frente a ação de execução fi scal para cobrança

de IPTU, em que o nome do devedor e seu domicílio fi scal, apontados na

respectiva CDA, revelam-se sufi cientes, num primeiro instante, para que se

defl agre a postulada citação postal.

Oportuno destacar, ainda com relação aos requisitos da petição inicial,

que a lei de regência da execução fi scal foi ainda mais restritiva, erigindo como

requisitos da exordial apenas a indicação do juízo ao qual é dirigida, o pedido e o

requerimento para citação, verbis:

Art. 6º - A petição inicial indicará apenas:

I - o Juiz a quem é dirigida;

II - o pedido; e

III - o requerimento para a citação.

§ 1º - A petição inicial será instruída com a Certidão da Dívida Ativa, que dela fará

parte integrante, como se estivesse transcrita.

§ 2º - A petição inicial e a Certidão de Dívida Ativa poderão constituir um único

documento, preparado inclusive por processo eletrônico.

§ 3º - A produção de provas pela Fazenda Pública independe de requerimento na

petição inicial.

§ 4º - O valor da causa será o da dívida constante da certidão, com os encargos

legais.

A respeito do tema, Claudio Carneiro B. P. Coelho esclarece que “O artigo

6º deve prevalecer sobre a regra contida no artigo 282, do CPC. Isto porque a LEF

é uma lei especial que deve prevalecer sobre a lei geral (lex specialis derrogat lex

generalis)” (A Lei de Execução Fiscal (6.830/80) comentada por artigos. in:

Informativo Advocacia Dinâmica, Boletim Semanal n. 01, jan/2007, p. 446).

Nessa mesma linha de entendimento, José da Silva Pacheco, ao comentar

o citado dispositivo da Lei 6.830/80, afi rma que “O art. 6º constitui exceção à

regra geral do art. 282 do CPC. A petição inicial é simplifi cada, tendo como elementos

indispensáveis apenas o pedido, a menção ao juízo e o requerimento para a citação.”

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

530

(Comentários à Lei de Execução Fiscal: (Lei 6.830, de 22-9-1980). 11. ed. São

Paulo: Saraiva, 2008, p. 126).

Cumpre lembrar, outrossim, que, em situação assemelhada a dos presentes

autos, em que se estava a exigir do fi sco que aparelhasse a exordial da execução

com o respectivo demonstrativo de débito (planilha discriminativa de cálculos),

a 1ª Seção do Superior Tribunal de Justiça, pela técnica do recurso repetitivo -

art. 543-C do CPC, deixou delineado que os requisitos exigíveis em relação à

petição inicial da execução fi scal só podem ser aqueles previstos em sua lei de

regência, a saber, a Lei n. 6.830/80. Confi ra-se a ementa do julgado, verbis:

TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-

C, DO CPC. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. CERTIDÃO DE DÍVIDA ATIVA - CDA.

REQUISITOS DE CERTEZA E LIQUIDEZ. APRESENTAÇÃO DE DEMONSTRATIVOS DO

DÉBITO. DESNECESSIDADE. VIOLAÇÃO DO ART. 535, II, DO CPC. INOCORRÊNCIA.

1. A petição inicial da execução fiscal apresenta seus requisitos essenciais

próprios e especiais que não podem ser exacerbados a pretexto da aplicação do

Código de Processo Civil, o qual, por conviver com a lex specialis, somente se aplica

subsidiariamente.

2. Os referidos requisitos encontram-se enumerados no art. 6º, da Lei 6.830/80,

in verbis: “Art. 6º A petição inicial indicará apenas: I – o juiz a quem é dirigida; II – o

pedido; e III – o requerimento para a citação.

§ 1º A petição inicial será instruída com a Certidão da Dívida Ativa, que dela fará

parte integrante, como se estivesse transcrita.

§ 2º A petição inicial e a Certidão da Dívida Ativa poderão constituir um único

documento, preparado inclusive por processo eletrônico.”

3. Consequentemente, é desnecessária a apresentação do demonstrativo de

cálculo, em execução fi scal, uma vez que a Lei n. 6.830/80 dispõe, expressamente,

sobre os requisitos essenciais para a instrução da petição inicial e não elenca o

demonstrativo de débito entre eles. Inaplicável à espécie o art. 614, II, do CPC.

(Precedentes: AgRg no REsp 1.049.622/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS,

SEGUNDA TURMA, julgado em 18/08/2009, DJe 31/08/2009; REsp 1.065.622/SC,

Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 24/03/2009, DJe

23/04/2009; REsp 781.487/SC, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA

TURMA, julgado em 04/09/2008, DJe 11/09/2008; REsp 762.748/SC, PRIMEIRA TURMA,

Relator Min. LUIZ FUX, DJ 12.04.2007; REsp n. 384.324/RS, SEGUNDA TURMA, Rel.

Min JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, DJU de 29/03/2006; REsp n. 693.649/PR, Segunda

Turma, Rel. Min. Castro Meira, DJU de 21/11/2005)

4. A própria Certidão da Dívida Ativa, que embasa a execução, já discrimina

a composição do débito, porquanto todos os elementos que compõem a dívida

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 517-536, novembro 2017 531

estão arrolados no título executivo - que goza de presunção de liquidez e certeza

-, consoante dessume-se das normas emanadas dos §§ 5º e 6º, do art. 2º, da Lei n.

6.830/80, litteris: “Art. 2º (...) (...) § 5º - O Termo da Inscrição de Dívida Ativa deverá

conter: I – o nome do devedor, dos co-responsáveis e, sempre que conhecido, o

domicílio ou residência de um e de outros;

II – o valor originário da dívida, bem como o termo inicial e a forma de calcular os

juros de mora e demais encargos previstos em lei ou contrato;

III – a origem, a natureza e o fundamento legal ou contratual da dívida;

IV – a indicação, se for o caso, de estar a dívida sujeita à atualização monetária,

bem como o respectivo momento legal e o termo inicial para o cálculo;

V – a data e o número da inscrição, no Registro de Dívida Ativa; e

VI – o número do processo administrativo ou do auto de infração, se neles estiver

apurado o valor da dívida.

§ 6º - A Certidão da Dívida Ativa conterá os mesmos elementos do Termo de

Inscrição e será autenticada pela autoridade competente.”

5. In casu, conquanto o voto da Relatora tenha consagrado a tese perfi lhada por

esta Corte Superior, o voto vencedor, ora recorrido, exigiu a juntada aos autos de

planilha discriminativa de cálculos, razão pela qual merece ser reformado.

6. O art. 535 do CPC resta incólume se o Tribunal de origem, embora sucintamente,

pronuncia-se de forma clara e sufi ciente sobre a questão posta nos autos. Ademais,

o magistrado não está obrigado a rebater, um a um, os argumentos trazidos pela

parte, desde que os fundamentos utilizados tenham sido sufi cientes para embasar a

decisão.

7. Recurso especial provido. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e

da Resolução STJ 08/2008.

(REsp 1.138.202/ES, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em

09/12/2009, DJe 01/02/2010)

Em tal perspectiva, força é reconhecer que, por seu caráter geral, o art. 15

da Lei n. 11.419/2006, no que impõe à parte o dever de informar, ao distribuir

a petição inicial de qualquer ação judicial, o CPF ou CNPJ de pessoas físicas e

jurídicas, encerra comando que cede frente aos enxutos requisitos contidos na

legislação de regência da execução fi scal (Lei n. 6.830/80), notadamente em seu

artigo 6º. Conquanto o questionado fornecimento do CPF ou CNPJ não chegue

a revelar incompatibilidade maior com o procedimento fi scal em juízo, a falta de

apresentação desses dados pelo fi sco, por não se erigir em requisito expressamente

reclamado na lei especial de regência, não poderá obstruir o curso da execução,

sem prejuízo de que tais dados possam aportar ao feito em momento ulterior.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

532

Nesse sentido, aliás, a Resolução n. 46/2007 do CNJ (que cria as tabelas

processuais unifi cadas do Pode Judiciário), em seu art. 6º, § 1º, prevê que o

cadastramento das partes nos processos possa ser feito mesmo quando ausente o

CPF ou CNPJ. Leia-se dito regramento:

Art. 6º O cadastramento de partes no processo deverá ser realizado,

prioritariamente, pelo nome ou razão social constante do cadastro de pessoas físicas

ou jurídicas perante a Secretaria da Receita Federal do Brasil, mediante alimentação

automática, observados os convênios e condições tecnológicas disponíveis.

§ 1º Na impossibilidade de cumprimento da previsão do caput, deverão ser

cadastrados o nome ou razão social informada na petição inicial, vedado o uso de

abreviaturas, e outros dados necessários à precisa identifi cação das partes (RG, título

de eleitor, nome da mãe etc.), sem prejuízo de posterior adequação à denominação

à denominação constante do cadastro de pessoas físicas ou jurídicas perante a

Secretaria da Receita Federal do Brasil (CPF/CNJ).

Por outro viés, e mais em caráter ilustrativo, o município recorrente aponta

interessante detalhe, ao observar que o órgão legiferante responsável pela

confecção da Lei n. 11.419/2006, embora conclamando ao fornecimento do

CPF/CNPJ dos litigantes quando da propositura de ações judiciais em geral

(art. 15), optou por não guindar tal providência ao nível de requisito da petição

inicial (fl . 88), tanto que o art. 20 do diploma legal em apreço promoveu diversas

alterações/adaptações no corpo do Código de Processo Civil, em ordem a

compatibilizá-lo com as inovações advindas da tecnologia digital (assim se

constata em relação à nova redação dada aos arts. 38, 154, 164, 169, 202, 221,

365, 399, 417, 457 e 556, todos do CPC), sem, no entanto, efetuar qualquer

retoque no art. 282, que trata, exatamente, dos requisitos da petição inicial,

autorizando, com isso, a ilação de que, nesse âmbito, continuam a prevalecer os

tradicionais elementos informadores da peça inaugural da lide.

Já finalizando, sabe-se que o projeto do novo Código de Processo

Civil, inicialmente materializado no PLS 166/2010, foi alvo de substanciais

modifi cações quando submetido à Câmara dos Deputados, cuja última versão,

condensada no PL 8.046/2010 (que novamente tornará ao Senado), ao dispor

sobre os requisitos da petição inicial, fez incorporar a exigência de que a

qualificação das partes venha acompanhada da indicação do CPF/CNPJ.

Confi ra-se, a tanto, o teor de seu art. 320:

Art. 320. A petição inicial indicará:

I - o juízo a que é dirigida;

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 517-536, novembro 2017 533

II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profi ssão,

o número no cadastro de pessoas físicas ou no cadastro nacional de pessoas jurídicas,

o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu;

III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;

IV - o pedido com as suas especifi cações;

V - o valor da causa;

VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;

VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de

mediação;

§ 1º Caso não disponha das informações previstas no inciso II, poderá o autor, na

petição inicial, requerer ao órgão jurisdicional diligências necessárias a sua obtenção.

§ 2º A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta de informações a

que se refere o inciso II, for possível a citação do réu.

§ 3º A petição inicial não será indeferida, pelo não atendimento ao disposto

no inciso II deste artigo, se a obtenção de tais informações tornar impossível ou

excessivamente oneroso o acesso à justiça.

Percebe-se, no entanto, que o dispositivo assim projetado, embora

contemple adicionais exigências concernentes à qualifi cação das partes, ressalva

a possibilidade de a inicial vir a ser recebida mesmo à falta de alguma das

informações mas desde que, ainda assim, resulte possível a citação do réu. Atento

a essa peculiaridade, Cassio Scarpinella Bueno assinala que “os parágrafos do

Projeto da Câmara regulamentam as exigências feitas pelo inciso II criando condições

para que elas sejam obtidas por intermédio da atuação jurisdicional e, de forma mais

ampla, recusando que a falta delas possa ser compreendida como obstáculo para o acesso

à Justiça” (in Projetos de novo Código de Processo Civil comparados e anotados -

Senado Federal PLS n. 166/2000 e Câmara dos Deputados PL n. 8.046/2010. São

Paulo: Saraiva, 2014, p. 170).

Logo, bem se evidencia que até mesmo a legislação projetada trata

do tema com a devida e necessária fl exibilidade, por isso que, salvo melhor

juízo, transparece excessivamente rigorosa, e mesmo contra legem, a prescrição

encartada na Súmula 02/TJAM (citada no acórdão estadual dos declaratórios

- fl . 61), no passo em que impõe ao autor da execução fi scal o dever de indicar,

já na petição inicial, o CPF e/ou CNPJ do devedor, sob pena de extinção do

processo.

Assim, e em harmonia com o alentado parecer do Ministério Público

Federal, proponho a seguinte tese, para os fi ns do art. 543-C do CPC: “Em

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

534

ações de execução fi scal, descabe indeferir a petição inicial sob o argumento da falta

de indicação do CPF e/ou RG da parte executada, visto tratar-se de requisito não

previsto no art. 6º da Lei n. 6.830/80 (LEF), cujo diploma, por sua especialidade,

ostenta primazia sobre a legislação de cunho geral, como ocorre em relação à exigência

contida no art. 15 da Lei n. 11.419/06”.

Ante o exposto, conhecendo do especial apenas pelo permissivo da letra

“a”, tenho que o preclaro Tribunal de origem, ao confirmar a sentença de

indeferimento da execução fi scal, não emprestou adequada exegese aos arts.

282 e 284 do CPC, 6º da Lei n. 6.830/80 (LEF) e 15 da Lei n. 11.419/2006,

merecendo, por isso, reforma os acórdãos impugnados, em ordem a que,

no caso concreto, a execução fi scal proposta pelo município recorrente tenha

regular seguimento, com a citação da parte executada, independentemente da

apresentação do número do CPF do devedor.

É como voto.

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho: 1. Senhor Presidente, este

julgamento poderia passar in albis, como se diz, se não fosse a advertência das

Ministras MARGA BARTH TESSLER e REGINA HELENA COSTA nos

lembrando que, na Justiça Federal, os processos que não contêm o CPF da parte

promovida não são sequer distribuídos. Há, inclusive, uma antiga Resolução do

Conselho da Justiça Federal que ainda cheguei a aplicá-la quando era Juiz da

8ª Vara do Ceará. Devemos distinguir a imposição dessa exigência na inicial

da imposição da mesma exigência na CDA. Nas CDAs, tal exigência não está

prevista no art. 212 do CTN, que é realmente a norma suprema de regência da

espécie.

2. Senhor Presidente, se V. Exa. considerar que a inscrição em dívida ativa

e a expedição de CDAs já acarretam, por si sós, restrições cadastrais, restrições

à livre disposição dos bens, até se pressupõe que se trata de fraude quando

alguém, que tenha dívida inscrita, aliena parte do seu patrimônio, penso que

essa exigência é de todo razoável e salutar, inclusive para evitar os casos de

homonímia e também para possibilitar a constrição fi nanceira via BACEN

JUD. O BACEN JUD opera pelo CPF, e não pelo nome da pessoa.

3. Além do mais, há a Súmula 2 do Tribunal do Estado do Amazonas,

informada aqui pelo eminente Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 517-536, novembro 2017 535

que é a demonstração da realidade que não há a Súmula 1. Já começa pela

Súmula 2, não baixaram a Súmula 1 - talvez só queiram baixar números pares;

suponho que seja isso.

4. Não vejo que tal exigência seja irrazoável, seja desassisada, seja sem

fundamento ou sem razão. Acho muito prudente até que se faça essa exigência

não só para celerizar o processo, mas para proteger quem tem o mesmo nome

do executado, e não é o obrigado. V. Exa. não incorreria nessa situação, pois seu

nome é singular, é único. No meu caso, por exemplo, nunca ocorreu de alguém

ter o meu mesmo nome.

5. Ministro SÉRGIO KUKINA, tenho a impressão de que essa exigência

é rigorosamente razoável e prudente. V. Exa. anotou aqui no item 2. Então,

por que vamos revogar a Súmula 2, do TJ do Amazonas, em uma situação que

reconhecemos que, além de ser prudente, é efi ciente e protege quem não é o

devedor, mas que tem o mesmo nome de quem está fi gurando na execução?

Imagine o rol de contrariedades, difi culdades e percalços que terá, por exemplo,

uma pessoa com o nome de José Pereira de Oliveira. Quantas pessoas há com

esse nome? No Ceará, há centenas. Imaginem que só um é o devedor, e o que o

distinguirá, às vezes, é o nome da mãe, mas praticamente é o CPF para efeito do

BACEN JUD. O que interessa é o BACEN JUD na execução fi scal.

6. Penso, Senhor Presidente, com a devida vênia, que devia ser mantida essa

exigência, pela sua carga de efeitos salutares. Eu poderia desfi lar muitas outras

consequências positivas, mas não o farei. Apenas peço vênia ao Ministro Relator

para desprover o Recurso do Fisco do Município de Manaus por me parecer

uma medida rigorosamente compatível com o sistema de execução fi scal - e

digo isso inspirado pelas palavras das Ministras MARGA BARTH TESSLER

e REGINA HELENA COSTA, que são duas excelentes Magistradas, com

longa experiência, principalmente da Justiça Federal, assim também como

eu, o Ministro BENEDITO GONÇALVES e a Ministra ASSUSETE

MAGALHÃES.

7. Sabemos ser essa uma exigência antiga da Justiça Federal; por essa razão,

ou seja, para evitar que um indivíduo que é homônimo termine sofrendo algum

tipo de constrangimento ou de restrição cadastral, ou creditícia, e também para

viabilizar o tal BACEN JUD.

8. Pelos motivos expostos, penso ser prudente manter a Súmula 2 ou, pelo

menos, não vejo a ilegalidade a ponto de ser desfeita, ainda mais sendo uma

Súmula do Tribunal. Vamos cassar uma Súmula do Tribunal que é prudente?

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

536

Peço vênia para discordar respeitosamente do ilustre Ministro Relator e negar

provimento ao Recurso Especial.

VOTO

A Sra. Ministra Assusete Magalhães: Sr. Presidente, sem dúvida, a

exigência é salutar, mas não se pode deixar de reconhecer que ela não encontra

suporte na lei.

Diante disso, peço vênia à divergência e acompanho o Relator, sem prejuízo,

como se esclareceu, de a Fazenda, que é a maior interessada na recuperação do

crédito, trazer esses elementos, que permitirão afastar, não só a homonímia,

como também tornar efetiva a execução, com a constrição de bens do devedor.

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Súmula n. 559

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SÚMULA N. 559

Em ações de execução fi scal, é desnecessária a instrução da petição inicial

com o demonstrativo de cálculo do débito, por tratar-se de requisito não

previsto no art. 6º da Lei n. 6.830/1980.

Referências:

CPC, arts. 614, II, e 543-C.

Lei n. 6.830/1980, art. 6º.

Precedentes:

(*)REsp 1.138.202-ES (1ª S, 09.12.2009 – DJe 1º.02.2010) –

acórdão publicado na íntegra

(*)REsp 1.450.819-AM (1ª S, 12.11.2014 – DJe 12.12.2014) –

acórdão publicado na íntegra na

Súmula 558

(*)REsp 1.455.091-AM (1ª S, 12.11.2014 – DJe 02.02.2015)

AgRg no REsp 909.963-RS (1ª T, 08.06.2010 – DJe 24.06.2010)

AgRg nos

EDcl no REsp 1.167.745-SC (1ª T, 17.05.2011 – DJe 24.05.2011)

AgRg no AREsp 23.739-SC (1ª T, 1º.12.2011 – DJe 10.02.2012)

AgRg no REsp 1.213.672-PE (1ª T, 09.10.2012 – DJe 16.10.2012)

AgRg no Ag 1.392.508-SC (2ª T, 13.09.2011 – DJe 27.09.2011)

AgRg no AREsp 10.906-SC (2ª T, 19.06.2012 – DJe 03.08.2012)

AgRg no

AgRg no AREsp 235.651-MG (2ª T, 26.08.2014 – DJe 25.09.2014)

(*) Recursos repetitivos.

Primeira Seção, em 9.12.2015

DJe 15.12.2015

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RECURSO ESPECIAL N. 1.138.202-ES (2009/0084713-9)

Relator: Ministro Luiz Fux

Recorrente: Fazenda Nacional

Procurador: Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional

Recorrido: VOL Vitória Off shore Logistics S/A

Advogado: Sem representação nos autos

EMENTA

T R I B U TÁ R I O . R E C U R S O E S P E C I A L

REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C, DO

CPC. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. CERTIDÃO

DE DÍVIDA ATIVA - CDA. REQUISITOS DE CERTEZA E

LIQUIDEZ. APRESENTAÇÃO DE DEMONSTRATIVOS DO

DÉBITO. DESNECESSIDADE. VIOLAÇÃO DO ART. 535, II,

DO CPC. INOCORRÊNCIA.

1. A petição inicial da execução fi scal apresenta seus requisitos

essenciais próprios e especiais que não podem ser exacerbados a

pretexto da aplicação do Código de Processo Civil, o qual, por conviver

com a lex specialis, somente se aplica subsidiariamente.

2. Os referidos requisitos encontram-se enumerados no art. 6º,

da Lei 6.830/80, in verbis:

“Art. 6º A petição inicial indicará apenas:

I – o juiz a quem é dirigida;

II – o pedido; e

III – o requerimento para a citação.

§ 1º A petição inicial será instruída com a Certidão da Dívida Ativa, que dela

fará parte integrante, como se estivesse transcrita.

§ 2º A petição inicial e a Certidão da Dívida Ativa poderão constituir um

único documento, preparado inclusive por processo eletrônico.”

3. Conseqüentemente, é desnecessária a apresentação do

demonstrativo de cálculo, em execução fi scal, uma vez que a Lei n.

6.830/80 dispõe, expressamente, sobre os requisitos essenciais para a

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

542

instrução da petição inicial e não elenca o demonstrativo de débito entre

eles. Inaplicável à espécie o art. 614, II, do CPC. (Precedentes: AgRg

no REsp 1.049.622/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS,

SEGUNDA TURMA, julgado em 18/08/2009, DJe 31/08/2009;

REsp 1.065.622/SC, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA

TURMA, julgado em 24/03/2009, DJe 23/04/2009; REsp 781.487/

SC, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA

TURMA, julgado em 04/09/2008, DJe 11/09/2008; REsp 762.748/

SC, PRIMEIRA TURMA, Relator Min. LUIZ FUX, DJ 12.04.2007;

REsp 384.324/RS, SEGUNDA TURMA, Rel. Min JOÃO OTÁVIO

DE NORONHA, DJU de 29/03/2006; REsp 693.649/PR, Segunda

Turma, Rel. Min. Castro Meira, DJU de 21/11/2005)

4. A própria Certidão da Dívida Ativa, que embasa a execução, já

discrimina a composição do débito, porquanto todos os elementos que

compõem a dívida estão arrolados no título executivo - que goza de

presunção de liquidez e certeza -, consoante dessume-se das normas

emanadas dos §§ 5º e 6º, do art. 2º, da Lei n. 6.830/80, litteris:

“Art. 2º (...)

(...)

§ 5º - O Termo da Inscrição de Dívida Ativa deverá conter:

I – o nome do devedor, dos co-responsáveis e, sempre que conhecido, o

domicílio ou residência de um e de outros;

II – o valor originário da dívida, bem como o termo inicial e a forma de

calcular os juros de mora e demais encargos previstos em lei ou contrato;

III – a origem, a natureza e o fundamento legal ou contratual da dívida;

IV – a indicação, se for o caso, de estar a dívida sujeita à atualização

monetária, bem como o respectivo momento legal e o termo inicial para o

cálculo;

V – a data e o número da inscrição, no Registro de Dívida Ativa; e

VI – o número do processo administrativo ou do auto de infração, se neles

estiver apurado o valor da dívida.

§ 6º - A Certidão da Dívida Ativa conterá os mesmos elementos do Termo de

Inscrição e será autenticada pela autoridade competente.”

5. In casu, conquanto o voto da Relatora tenha consagrado a tese

perfi lhada por esta Corte Superior, o voto vencedor, ora recorrido,

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 537-549, novembro 2017 543

exigiu a juntada aos autos de planilha discriminativa de cálculos, razão

pela qual merece ser reformado.

6. O art. 535 do CPC resta incólume se o Tribunal de origem,

embora sucintamente, pronuncia-se de forma clara e sufi ciente sobre

a questão posta nos autos. Ademais, o magistrado não está obrigado

a rebater, um a um, os argumentos trazidos pela parte, desde que

os fundamentos utilizados tenham sido sufi cientes para embasar a

decisão.

7. Recurso especial provido. Acórdão submetido ao regime do

art. 543-C do CPC e da Resolução STJ 08/2008.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da Primeira Seção

do Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso especial, nos

termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Castro Meira, Denise

Arruda, Humberto Martins, Herman Benjamin, Mauro Campbell Marques,

Benedito Gonçalves, Hamilton Carvalhido e Eliana Calmon votaram com o Sr.

Ministro Relator.

Brasília (DF), 09 de dezembro de 2009 (data do julgamento).

Ministro Luiz Fux, Relator

DJe 1º.2.2010

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luiz Fux: Trata-se de recurso especial interposto pela

FAZENDA NACIONAL, contra acórdão prolatado pelo TRF da 2ª Região,

assim ementado:

PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. APURAÇÃO DE

DIFERENÇA DO VALOR DA INICIAL E DA CDA. AGRAVO NÃO PROVIDO.

Assiste razão ao Juízo a quo ao determinar ao exeqüente que aponte os acréscimos

e atualização monetária decorrente da fl uência de lapso temporal entre a data da

expedição da CDA e a propositura da execução fi scal, com o fi to de possibilitar de

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

544

plano a correta identifi cação do valor da causa, bem como para assegurar a plena

garantia do exercício do direito de defesa pelo executado.

Agravo não provido.

Noticiam os autos que a União Federal interpôs agravo de instrumento em

face de decisão que, em sede de execução fi scal, determinou a emenda da inicial,

para que fosse compatibilizado o valor constante na exordial com os valores

constantes da CDA e do discriminativo de débitos que a acompanhava, em

consonância com o art. 614, I e II do CPC e art. 6º, § 4º, da LEF, sob pena de

indeferimento, no prazo de 10 (dez) dias.

O Agravo restou desprovido, por maioria, nos termos da ementa

retrotranscrita.

Foram opostos embargos declaratórios, com vistas a suprir a omissão

relativa à não aplicação dos arts. 2º, § 5º e 6º, § 4º, da Lei 6.830/80, destacando a

ausência de necessidade de emenda da petição inicial, haja vista sua completude,

nos termos dos dispositivos mencionados, sendo indevida qualquer outra

exigência.

Os embargos restaram rejeitados.

Nas razões recursais, a Fazenda Nacional alegou violação dos arts. 535

do CPC; 2º, § 5º e 6º, ambos da Lei 6.830/80, ao argumento de que a petição

inicial do executivo fi scal estaria perfeita, à luz dos mandamentos insculpidos na

LEF, razão pela qual seria ilegítima a exigência judicial.

Não foi aberto prazo para oferecimento das contra-razões, em virtude da

inexistência de relação processual regularmente estabelecida.

Parecer do Ministério Público às fl s. 123/126, opinando pelo provimento

do recurso especial, ao argumento de que a jurisprudência pacífi ca do STJ acolhe

a tese defendida pela recorrente, no sentido de ser desnecessária a apresentação

do demonstrativo de débito fi scal.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Luiz Fux (Relator): Preliminarmente, impõe-se o

conhecimento do presente apelo, porquanto devidamente prequestionada a

matéria federal suscitada.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 537-549, novembro 2017 545

Com efeito, não assiste razão à recorrente no que tange à violação ao artigo

535 do CPC, vez que o Tribunal, embora sucintamente, pronunciou-se de

forma clara e sufi ciente sobre a questão posta nos autos. Ademais, o magistrado

não está obrigado a rebater, um a um, os argumentos trazidos pela parte, desde

que os fundamentos utilizados tenham sido sufi cientes para embasar a decisão.

A controvérsia cinge-se aos pressupostos dos títulos de dívida ativa, cujo

perfi l é detalhado na Lei n. 6.830/80.

Como de sabença, a Lei n. 6.830/80, que rege o procedimento executório

fiscal, prevê, em seu art. 6º, os requisitos necessários à instrução do feito,

aplicando-se, apenas subsidiariamente as disposições insertas no Código de

Processo Civil. O referido dispositivo legal assim dispõe, in verbis:

“Art. 6º A petição inicial indicará apenas:

I – o juiz a quem é dirigida;

II – o pedido; e

III – o requerimento para a citação.

§ 1º A petição inicial será instruída com a Certidão da Dívida Ativa, que dela fará

parte integrante, como se estivesse transcrita.

§ 2º A petição inicial e a Certidão da Dívida Ativa poderão constituir um único

documento, preparado inclusive por processo eletrônico.

§ 3º. A produção de provas pela Fazenda Pública independe de requerimento na

petição inicial.

§ 4º. O valor da causa será o da dívida constante da certidão, com os encargos

legais.”

Destarte, dispondo a lei específica expressamente quais os requisitos

necessários para a instrução da petição inicial do procedimento executório

fi scal, revela-se inaplicável o art. 614, II, do CPC, eis que inexistente qualquer

lacuna na LEF que demande a aplicação subsidiária do regramento processual

ordinário.

Outrossim, a própria Certidão da Dívida Ativa, que embasa a execução,

já discrimina a composição do débito, porquanto todos os elementos que

compõem a dívida estão arrolados no título executivo - que goza de presunção

de liquidez e certeza -, consoante dessume-se das normas emanadas dos §§ 5º e

6º, do art. 2º, da Lei n. 6.830/80, litteris:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

546

“Art. 2º (...)

(...)

§ 5º - O Termo da Inscrição de Dívida Ativa deverá conter:

I – o nome do devedor, dos co-responsáveis e, sempre que conhecido, o domicílio

ou residência de um e de outros;

II – o valor originário da dívida, bem como o termo inicial e a forma de calcular os

juros de mora e demais encargos previstos em lei ou contrato;

III – a origem, a natureza e o fundamento legal ou contratual da dívida;

IV – a indicação, se for o caso, de estar a dívida sujeita à atualização monetária,

bem como o respectivo momento legal e o termo inicial para o cálculo;

V – a data e o número da inscrição, no Registro de Dívida Ativa; e

VI – o número do processo administrativo ou do auto de infração, se neles estiver

apurado o valor da dívida.

§ 6º - A Certidão da Dívida Ativa conterá os mesmos elementos do Termo de

Inscrição e será autenticada pela autoridade competente.”

“Na execução fi scal, é desnecessária a apresentação de memória discriminada dos

créditos executados, pois todos os elementos que compõem a dívida estão arrolados

no título executivo.

Neste mesmo sentido encontra-se sedimentada a jurisprudência desta

Corte, consoante se depreende dos recentes julgados:

TRIBUTÁRIO – EXECUÇÃO FISCAL – DESNECESSIDADE DE APRESENTAÇÃO DE

DEMONSTRATIVO DO DÉBITO – LEI N. 6.830/80 – CONTRIBUIÇÃO SOCIAL –

INCIDÊNCIA – NOTA FISCAL OU FATURA – EMPRESAS PRESTADORAS DE SERVIÇO –

RETENÇÃO DE 11% SOBRE FATURAS – TAXA SELIC – POSSIBILIDADE – PRECEDENTES.

1. “Na execução fi scal, é desnecessária a apresentação de memória discriminada

dos créditos executados, pois todos os elementos que compõem a dívida estão

arrolados no título executivo. Precedentes.” (REsp 1.077.874/SC, Rel. Min. Eliana

Calmon, DJe 18.2.2009).

2. A Primeira Seção, em 11.3.2009, ao apreciar o REsp 1.036.375-SP, Rel. Min.

Luiz Fux, recurso submetido ao regime do art. 543-C do CPC e art. 6º da Resolução

n. 8/2008-STJ, assentou que a Lei n. 9.711/1998, que alterou o art. 31 da Lei n.

8.212/1991, não criou nova contribuição sobre o faturamento, nem alterou a alíquota

ou a base de cálculo da contribuição previdenciária sobre a folha de pagamento, mas

somente fi xou um novo sistema de arrecadação, a fi m de responsabilizar as empresas

tomadoras de serviço pela forma de substituição tributária.

Agravo regimental improvido.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 537-549, novembro 2017 547

(AgRg no REsp 1.049.622/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA

TURMA, julgado em 18/08/2009, DJe 31/08/2009)

PROCESSUAL CIVIL – RECURSO ESPECIAL – EXECUÇÃO FISCAL – APLICABILIDADE

DOS ENUNCIADOS 5 E 7 DA SÚMULA DESTA CORTE – DEMONSTRATIVO DO DÉBITO –

ART. 614, II, DO CPC: INAPLICABILIDADE.

1. Descabe a esta Corte analisar ofensa a lei federal quando depender do reexame

do contexto fático-probatório e de revisão de cláusulas contratuais. Aplicação dos

enunciados 5 e 7 da Súmula do STJ.

2. A execução fiscal rege-se por lei específica (Lei 6.830/80), aplicando-se

subsidiariamente o regramento processual ordinário apenas em caso de lacuna

legislativa.

3. Em execução fi scal é desnecessária a apresentação de demonstrativo de débito,

nos termos do art. 614 do CPC, sendo sufi ciente para instrução do processo executivo

a juntada da Certidão de Dívida Ativa - CDA, que goza de presunção de certeza e

liquidez.

4. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.

(REsp 1.065.622/SC, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em

24/03/2009, DJe 23/04/2009)

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE

PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 282/STF. EXECUÇÃO DE PENALIDADE FISCAL.

REGULARIDADE DA CDA ANTE A INDICAÇÃO DO NÚMERO DO PROCESSO

ADMINISTRATIVO QUE RESULTOU NO AUTO DE INFRAÇÃO. DESNECESSIDADE DE

JUNTADA DE DEMONSTRATIVO DO CÁLCULO. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE

CONHECIDO E, NESSA PARTE, DESPROVIDO.

(REsp 781.487/SC, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA,

julgado em 04/09/2008, DJe 11/09/2008)

(...)EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. CERTIDÃO DE DÍVIDA ATIVA - CDA.

REQUISITOS DE CERTEZA E LIQUIDEZ. AFERIÇÃO. SÚMULA 07/STJ. APRESENTAÇÃO

DE DEMONSTRATIVOS DO DÉBITO. DESNECESSIDADE. CRÉDITO TRIBUTÁRIO. JUROS

MORATÓRIOS. APLICAÇÃO DA TAXA SELIC. LEGALIDADE.

(omissis)

4. É legítima a utilização da taxa SELIC como índice de correção monetária e de

juros de mora, na atualização dos débitos tributários pagos em atraso, diante da

existência de lei estadual que determina a adoção dos mesmos critérios adotados na

correção dos débitos fi scais federais (Precedentes: EREsp n. 623.822/PR, Rel. Min. Teori

Albino Zavascki, DJ de 12/09/2005; REsp n. 616.141/PR, Rel. Min. Castro Meira, DJ de

05/09/2005; REsp n. 688.044/MG, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ de 28/02/2005; e REsp n.

577.637/MG, Rel. Min. José Delgado, DJ de 14/06/2004)

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

548

5. (...)

7. A jurisprudência da Primeira Seção, não obstante majoritária, é no sentido

de que são devidos juros da taxa SELIC em compensação de tributos e mutatis

mutandis, nos cálculos dos débitos dos contribuintes para com a Fazenda Pública

Estadual (Lei Estadual-SC n. 10.297/96). 8. Isto porque, raciocínio diverso importaria

tratamento anti-isonômico, porquanto a Fazenda restaria obrigada a reembolsar os

contribuintes por esta taxa Selic, ao passo que, no desembolso os cidadãos exonerar-

se-iam desse critério, gerando desequilíbrio nas receitas fazendárias.

(...)

10. A petição inicial da execução fi scal apresenta seus requisitos essenciais

próprios e especiais que não podem ser exacerbados a pretexto da aplicação

do Código de Processo Civil, o qual, por conviver com a lex specialis, somente se

aplica subsidiariamente. Conseqüentemente, é desnecessária a apresentação

do demonstrativo de cálculo, em execução fi scal, uma vez que a Lei n. 6.830/80

dispõe, expressamente, sobre os requisitos essenciais para a instrução da

petição inicial e não elenca o demonstrativo de débito entre eles. Inaplicável o à

espécie o art. 614, II, do CPC. (...)

12. A aferição da eventual necessidade de prova pericial nessa instância

excepcional encontra óbice no enunciado sumular n. 07 desta Corte Superior

(Precedentes: (REsp n. 431.058/MA, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJU de

23/10/2006; e REsp n. 870.895/RS, Rel. Min. Castro Meira, DJU de 19/10/2006).

13. A verificação da validade da execução fiscal, aferindo-se a presença dos

requisitos de certeza e liquidez da Certidão de Dívida Ativa que a instrui, demanda

indispensável reexame das circunstâncias fáticas da causa, o que é vedado em sede

de recurso especial, ante o disposto na Súmula n. 07, do STJ (Precedentes: REsp n.

639.433/SE, deste Relator, DJU de 06/03/2006; e REsp n. 341.620/MG, Rel. Min. João

Otávio de Noronha, DJU de 25/04/2006).

14. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, desprovido.

(REsp 762.748/SC, Primeira Turma, Relator Min. Luiz Fux, DJ 12.04.2007).

“PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. CERCEAMENTO DE DEFESA. REEXAME

DE PROVA. CDA. DEMONSTRATIVO DE CÁLCULO. DESNECESSIDADE. CERTEZA E

LIQUIDEZ. SÚMULA N. 7/STJ. FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. SÚMULA N. 284/STF.

DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO-COMPROVADO.

1. Inviabiliza-se o conhecimento de recurso especial quando, para a verifi cação de

cerceamento de defesa, haja necessidade de se reexaminar provas apresentadas pelo

recorrente. Súmula n. 7/STJ.

2. É desnecessária a apresentação do demonstrativo de cálculo, em execução

fiscal, uma vez que a Lei n. 6.830/80 dispõe, expressamente, sobre os requisitos

essenciais para a instrução da petição inicial e não elenca o demonstrativo de débito

entre eles. Inaplicável à espécie o art. 614, II, do CPC.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 537-549, novembro 2017 549

(omissis)

6. Recurso especial não-provido.” (REsp n. 384.324/RS, Segunda Turma, Rel. Min

João Otávio de Noronha, DJU de 29/03/2006)

“TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO FISCAL. REQUISITOS DA CDA.

DEMONSTRATIVO DE CÁLCULO. DESNECESSIDADE. TAXA SELIC,

1. Em execução fi scal é desnecessária a apresentação de demonstrativo de débito,

nos termos do art. 614 do CPC, sendo sufi ciente a juntada da Certidão de Dívida Ativa

- CDA, que observe o disposto no art. 2º da Lei n. 6.830/80.

2. É devida a Taxa Selic nos cálculos dos débitos dos contribuintes para com a

Fazenda Pública Federal.

3. Em se tratando de tributo lançado por homologação, ocorrendo a declaração

do contribuinte e na falta de pagamento da exação no vencimento, fica elidida

a necessidade da constituição formal do débito pelo Fisco quanto aos valores

declarados.

4. A declaração do contribuinte ‘constitui’ o crédito tributário relativo ao montante

informado e torna dispensável o lançamento.

5. Recurso especial improvido.” (REsp n. 693.649/PR, Segunda Turma, Rel. Min.

Castro Meira, DJU de 21/11/2005)

Ex positis, DOU PROVIMENTO ao recurso especial.

Porquanto tratar-se de recurso representativo da controvérsia, sujeito ao

procedimento do art. 543-C do Código de Processo Civil, determino, após

a publicação do acórdão, a comunicação à Presidência do STJ, aos Ministros

dessa Colenda Primeira Seção, aos Tribunais Regionais Federais, bem como

aos Tribunais de Justiça dos Estados, com fi ns de cumprimento do disposto no

parágrafo 7º do artigo 543-C do Código de Processo Civil (arts. 5º, II, e 6º, da

Resolução 08/2008).

É o voto.

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Súmula n. 560

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SÚMULA N. 560

A decretação da indisponibilidade de bens e direitos, na forma do art.

185-A do CTN, pressupõe o exaurimento das diligências na busca por bens

penhoráveis, o qual fi ca caracterizado quando infrutíferos o pedido de constrição

sobre ativos financeiros e a expedição de ofícios aos registros públicos do

domicílio do executado, ao Denatran ou Detran.

Referências:

CPC, art. 543-C.

CTN, art. 185-A.

Precedentes:

AgRg no Ag 1.429.330-BA (1ª S, 22.08.2012 – DJe 03.09.2012)

(*)REsp 1.377.507-SP (1ª S, 26.11.2014 – DJe 02.12.2014) –

acórdão publicado na íntegra

AgRg no REsp 1.202.428-BA (1ª T, 04.04.2013 – DJe 10.04.2013)

AgRg no REsp 1.341.860-SC (1ª T, 04.06.2013 – DJe 24.06.2013)

AgRg no REsp 1.409.433-PE (1ª T, 03.12.2013 – DJe 18.12.2013)

AgRg no AREsp 485.378-BA (1ª T, 12.05.2015 – DJe 19.05.2015)

AgRg no AREsp 413.209-BA (2ª T, 19.11.2013 – DJe 29.11.2013)

AgRg no AREsp 343.969-RS (2ª T, 26.11.2013 – DJe 03.12.2013)

REsp 1.479.979-RS (2ª T, 03.02.2015 – DJe 11.02.2015)

AgRg no AREsp 631.815-MG (2ª T, 07.05.2015 – DJe 13.05.2015)

(*) Recurso repetitivo.

Primeira Seção, em 9.12.2015

DJe 15.12.2015

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RECURSO ESPECIAL N. 1.377.507-SP (2013/0118318-6)

Relator: Ministro Og Fernandes

Recorrente: Fazenda Nacional

Advogado: Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional

Recorrido: Acemil Eletricidade Ltda e outro

Advogados: José Pereira do Nascimento

Paulo Sergio do Nascimento e outro(s)

EMENTA

T R I B U TÁ R I O . R E C U R S O E S P E C I A L

REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO

CPC E RESOLUÇÃO STJ N. 8/2008. EXECUÇÃO FISCAL.

ART. 185-A DO CTN. INDISPONIBILIDADE DE BENS

E DIREITOS DO DEVEDOR. ANÁLISE RAZOÁVEL DO

ESGOTAMENTO DE DILIGÊNCIAS PARA LOCALIZAÇÃO

DE BENS DO DEVEDOR. NECESSIDADE.

1. Para efeitos de aplicação do disposto no art. 543-C do CPC,

e levando em consideração o entendimento consolidado por esta

Corte Superior de Justiça, fi rma-se compreensão no sentido de que

a indisponibilidade de bens e direitos autorizada pelo art. 185-A do

CTN depende da observância dos seguintes requisitos: (i) citação do

devedor tributário; (ii) inexistência de pagamento ou apresentação

de bens à penhora no prazo legal; e (iii) a não localização de bens

penhoráveis após esgotamento das diligências realizadas pela Fazenda,

caracterizado quando houver nos autos (a) pedido de acionamento

do Bacen Jud e consequente determinação pelo magistrado e (b) a

expedição de ofícios aos registros públicos do domicílio do executado

e ao Departamento Nacional ou Estadual de Trânsito - DENATRAN

ou DETRAN.

2. O bloqueio universal de bens e de direitos previsto no art. 185-

A do CTN não se confunde com a penhora de dinheiro aplicado em

instituições fi nanceiras, por meio do Sistema BacenJud, disciplinada

no art. 655-A do CPC.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

556

3. As disposições do art. 185-A do CTN abrangerão todo e

qualquer bem ou direito do devedor, observado como limite o valor

do crédito tributário, e dependerão do preenchimento dos seguintes

requisitos: (i) citação do executado; (ii) inexistência de pagamento ou

de oferecimento de bens à penhora no prazo legal; e, por fi m, (iii) não

forem encontrados bens penhoráveis.

4. A aplicação da referida prerrogativa da Fazenda Pública

pressupõe a comprovação de que, em relação ao último requisito,

houve o esgotamento das diligências para localização de bens do

devedor.

5. Resta saber, apenas, se as diligências realizadas pela exequente

e infrutíferas para o que se destinavam podem ser consideradas

sufi cientes a permitir que se afi rme, com segurança, que não foram

encontrados bens penhoráveis, e, por consequência, determinar a

indisponibilidade de bens.

6. O deslinde de controvérsias idênticas à dos autos exige do

magistrado ponderação a respeito das diligências levadas a efeito pelo

exequente, para saber se elas correspondem, razoavelmente, a todas

aquelas que poderiam ser realizadas antes da constrição consistente na

indisponibilidade de bens.

7. A análise razoável dos instrumentos que se encontram à

disposição da Fazenda permite concluir que houve o esgotamento

das diligências quando demonstradas as seguintes medidas: (i)

acionamento do Bacen Jud; e (ii) expedição de ofícios aos registros

públicos do domicílio do executado e ao Departamento Nacional ou

Estadual de Trânsito - DENATRAN ou DETRAN.

8. No caso concreto, o Tribunal de origem não apreciou a

demanda à luz da tese repetitiva, exigindo-se, portanto, o retorno dos

autos à origem para, diante dos fatos que lhe forem demonstrados,

aplicar a orientação jurisprudencial que este Tribunal Superior adota

neste recurso.

9. Recurso especial a que se dá provimento para anular o acórdão

impugnado, no sentido de que outro seja proferido em seu lugar,

observando as orientações delineadas na presente decisão.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 551-565, novembro 2017 557

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por

unanimidade, dar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro

Relator. Os Srs. Ministros Mauro Campbell Marques, Benedito Gonçalves,

Assusete Magalhães, Sérgio Kukina, Regina Helena Costa, Herman Benjamin e

Napoleão Nunes Maia Filho votaram com o Sr. Ministro Relator.

Ausente, justifi cadamente, a Sra. Ministra Marga Tessler ( Juíza Federal

convocada do TRF 4ª Região).

Compareceu à sessão, a Dra. Flavia Palmeira de Moura Coelho, pela

Fazenda Nacional.

Brasília (DF), 26 de novembro de 2014 (data do julgamento).

Ministro Humberto Martins, Presidente

Ministro Og Fernandes, Relator

DJe 2.12.2014

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Og Fernandes: Trata-se de recurso especial interposto pela

Fazenda Nacional, com fundamento na alínea “a” do permissivo constitucional,

contra acórdão proferido pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região assim

ementado (e-STJ, fl s. 268/269):

PROCESSO CIVIL. AGRAVO LEGAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. ARTIGO

557 DO CPC. EXECUÇÃO FISCAL. DECRETAÇÃO DE INDISPONIBILIDADE DE BENS

DO EXECUTADO. ARTIGO 185-A DO CTN. AUSÊNCIA DE ESGOTAMENTO DE

DILIGÊNCIAS PARA LOCALIZAÇÃO DE BENS PASSÍVEIS DE PENHORA. MEDIDA QUE

DEVE SER APLICADA SOMENTE EM CASOS EXCEPCIONAIS.

1. Para que se adote a medida excepcional e extrema de decretação da

indisponibilidade dos bens e direitos dos executados, devem ser observados

requisitos exigidos pela jurisprudência.

2. Da análise dos documentos acostados aos autos, extrai-se que não houve,

nos autos subjacentes, esgotamento das diligências para localização de bens

passíveis de penhora, especialmente com relação aos co-executados (sócios).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

558

3. Portanto, ao menos por ora, a situação que se apresenta não se enquadra na

hipótese excepcional justifi cadora da decretação de indisponibilidade de bens.

4. Agravo legal a que se nega provimento.

Os embargos de declaração opostos na sequência (e-STJ, fl s. 273/280)

foram rejeitados, nos termos da decisão de e-STJ, fl s. 282/288, cuja ementa

segue abaixo:

PROCESSUAL CIVIL. IRREGULARIDADE FORMAL NÃO APONTADA. INEXISTÊNCIA

DE OMISSÃO, DÚVIDA OU CONTRADIÇÃO NO ACÓRDÃO. EMBARGOS DE

DECLARAÇÃO REJEITADOS.

1. Os embargos declaratórios não se destinam a veicular mero inconformismo

com o julgado, revolvendo questões já adequadamente apreciadas.

2. O órgão julgador não precisa pronunciar-se sobre cada alegação lançada

no recurso, sobretudo quando os fundamentos do decisum são de tal modo

abrangentes que se tornam desnecessárias outras considerações.

3. No tocante ao pretendido prequestionamento, o entendimento do STJ é no

sentido de seu cabimento na hipótese de haver necessidade de o tema objeto do

recurso ser examinado pela decisão atacada, o que foi observado por ocasião do

julgamento, razão pela qual tal pretensão também não é acolhida.

4. Embargos de declaração conhecidos e rejeitados.

Alega a recorrente, nas razões do especial, violação do art. 185-A do

CTN, ao fundamento de que, mesmo diante diante dos requisitos previstos

nesse dispositivo (quais sejam, citação do devedor, ausência de pagamento, não

apresentação de bens à penhora e infrutífera localização de bens penhoráveis),

as instâncias ordinárias negaram pedido formulado pela Fazenda para bloquear

bens e direitos do devedor para fi ns indisponibilidade.

Sem contrarrazões, conforme certidão de e-STJ, fl . 304.

O recurso especial foi admitido na origem como representativo da

controvérsia (e-STJ, fl s. 306/309).

Em decisão de e-STJ, fl . 321, admitiu-se o processamento do feito como

representativo de controvérsia, nos termos do art. 543-C do CPC e Resolução

STJ n. 08/2008.

Instado a se manifestar, o Ministério Público Federal apresentou parecer

da lavra do Subprocurador-Geral da República Moacir Guimarães Morais

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 551-565, novembro 2017 559

Filho, opinando pelo “conhecimento e provimento do recurso especial” (e-STJ,

fl s. 327/336).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Og Fernandes (Relator): Na origem, o Instituto Nacional

do Seguro Social - INSS ajuizou a Ação de Execução Fiscal n. 4.849/08

contra a ACEMIL Eletricidade Ltda., com vistas à satisfação dos créditos

tributários constantes das CDAs n. 35.479.586-4; 35.479.587-2; 35.479.592-

9; 35.534.148-4, no valor de R$ 346.982,12 (trezentos e quarenta e seis mil

novecentos e oitenta e dois reais e doze centavos).

Tendo em vista a informação de que foi decretada a falência da empresa

executada, o Juízo de primeiro grau deferiu pedido formulado pela parte

exequente para incluir os sócios Celso Luiz Piva e Milton Amaro Marcelino no

polo passivo da execução (e-STJ, fl . 120).

O executado Celso Luiz Piva opôs exceção de pré-executividade, que fi cou

indeferida nos termos das decisões de e-STJ, fl s. 173, 189/196 e 199/206.

Em seguida, a parte exequente requereu a indisponibilidade dos bens dos

executados, até o limite do débito, acrescido de custas processuais e demais

encargos legais, atualizados monetariamente, com fundamento no art. 185-A

(e-STJ, fl s. 214/216), o que foi indeferido tanto pelo Juízo de primeira instância

(e-STJ, fl . 214) como pelo TRF da 3ª Região (e-STJ, fl s. 247/250 e 264/269),

este último sob os seguintes fundamentos:

(i) para que se adote a medida excepcional e extrema de decretação da

indisponibilidade dos bens e direitos dos executados, devem ser observados os

requisitos exigidos pela jurisprudência; e

(ii) da análise dos documentos acostados aos autos, extrai-se que não

houve, nos autos subjacentes, esgotamento das diligências para localização de

bens passíveis de penhora, especialmente com relação aos coexecutados (sócios).

Sustenta a recorrente ter realizado as diligências que estavam ao seu

alcance, sendo elas, contudo, infrutíferas. E que, por essa razão, entende ser

caso do bloqueio cautelar de bens previsto no art. 185-A do CTN, ante a não

localização de bens passíveis de penhora.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

560

Dito isso, passa-se à análise da tese repetitiva e, na sequência, à aplicação

do resultado ao caso concreto.

Busca-se, nos presentes autos, interpretar a legislação federal nos termos

em que foi prequestionada nas instâncias ordinárias com as seguintes fi nalidades:

(i) saber se, para que o juiz determine a indisponibilidade dos bens e direitos do

devedor, na forma do art. 185-A do CTN, faz-se necessária a comprovação do

exaurimento dos meios disponíveis para localização de bens penhoráveis por

parte do credor; e (ii) defi nir quais diligências devem ser razoavelmente exigidas

da Fazenda para que se considerem esgotados os meios de busca de bens.

Registre-se, de logo, que não se trata, simplesmente, da penhora on-line,

mas de pretensão voltada ao bloqueio de bens a fi m de lhes tornar indisponíveis,

nos termos do art. 185-A do CTN.

Naqueles casos (penhora on-line), esta Corte Superior já fi rmou orientação,

sob o rito do art. 543-C do CPC, no sentido de que, “após o advento da Lei n.

11.382/2006, o Juiz, ao decidir acerca da realização da penhora on-line, não pode

mais exigir a prova, por parte do credor, de exaurimento de vias extrajudiciais na

busca de bens a serem penhorados” (REsp 1.112.943/MA, Rel. Ministra Nancy

Andrighi, Corte Especial, DJe 23/11/2010).

Feita essa consideração, tem-se que a solução da controvérsia perpassa,

primeiramente, pela análise do caput do art. 185-A do CTN, nos termos

seguintes:

Art. 185-A. Na hipótese de o devedor tributário, devidamente citado, não

pagar nem apresentar bens à penhora no prazo legal e não forem encontrados

bens penhoráveis, o juiz determinará a indisponibilidade de seus bens e direitos,

comunicando a decisão, preferencialmente por meio eletrônico, aos órgãos e

entidades que promovem registros de transferência de bens, especialmente ao

registro público de imóveis e às autoridades supervisoras do mercado bancário

e do mercado de capitais, a fi m de que, no âmbito de suas atribuições, façam

cumprir a ordem judicial. (Incluído pela Lcp n. 118, de 2005)

Antes de adentrar nos requisitos desse artigo, importante deixar claro que

ele foi inserido no CTN em capítulo que estabelece garantias e privilégios do

crédito tributário, ou seja, medidas que, por razões de interesse público, buscam

aumentar a probabilidade de pagamento pelo devedor (CARVALHO, Paulo de

Barros. Curso de direito tributário. - 23. ed. - São Paulo: Saraiva, 2011, p. 645;

CARNEIRO, Cláudio. Curso de direito tributário e fi nanceiro. - 4. ed. - São

Paulo: Saraiva, 212, p. 757).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 551-565, novembro 2017 561

A leitura do dispositivo, portanto, deve ser realizada sob essa perspectiva,

sob pena de impossibilitar a real intenção do legislador complementar, qual seja,

aumentar as chances de satisfação do crédito tributário.

Quanto aos requisitos, infere-se do art. 185-A do CTN que a ordem

judicial para a decretação da indisponibilidade de bens e direitos do devedor

fi cou condicionada aos seguintes: (i) citação do executado; (ii) inexistência de

pagamento ou de oferecimento de bens à penhora no prazo legal; e, por fi m, (iii)

não forem encontrados bens penhoráveis.

Nesse sentido, o seguinte precedente desta Corte:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL.

INDISPONIBILIDADE PATRIMONIAL. ART. 185-A DO CTN. IMPOSSIBILIDADE,

DIANTE DA AUSÊNCIA DE CITAÇÃO DO CONTRIBUINTE/DEVEDOR. AGRAVO

REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.

1. Para se decretar a indisponibilidade de bens prevista no art. 185-A do CTN,

esta Corte já orientou que é indispensável que (a) o devedor tributário seja

devidamente citado; (b) não pague o tributo, nem apresente bens a penhora;

e (c) o esgotamento das diligências promovidas com a fi nalidade de encontrar

patrimônio que possa ser judicialmente constrito, o que não se verifi ca no caso

concreto, já que o contribuinte não foi sequer citado. Precedente: AgRg no AG

1.164.948/SP, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, DJe de 2/2/2011.

2. Não há, nas razões recursais da recorrente, qualquer argumento relevante a

justifi car a medida extrema requerida com fundamento no art. 798 do CPC, visto

que a exequente não aponta em qualquer atitude do contribuinte o intuito de

causar ao direito da Fazenda Pública lesão grave e de difícil reparação.

3. Agravo Regimental a que se nega provimento.

(AgRg no REsp 1.409.433/PE, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO,

PRIMEIRA TURMA, julgado em 3/12/2013, DJe 18/12/2013)

Ainda sobre o tema, especifi camente em relação ao último requisito - não

localização bens penhoráveis - a orientação das Turmas que integram a Primeira

Seção deste Tribunal Superior fi rmou-se no sentido de que o credor deve

comprovar o esgotamento das diligências aptas à localização dos bens do devedor,

quando pretender a indisponibilidade de bens e direitos. Confi ra-se:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO - EXECUÇÃO FISCAL - ART. 535 DO CPC -

INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO - BLOQUEIO DE BENS - ART. 185-A DO CTN - NÃO

ESGOTAMENTO DAS DILIGÊNCIAS - DIVERGÊNCIA FÁTICA ENTRE O ACÓRDÃO

RECORRIDO E A INSURGÊNCIA RECURSAL - SÚMULA 7/STJ.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

562

1. Não viola o art. 535, do CPC, o acórdão que decide de forma sufi cientemente

fundamentada, não estando a Corte de origem obrigada a emitir juízo de valor

expresso a respeito de todas as teses e dispositivos legais invocados pelas partes.

2. Esta Corte firmou o entendimento de que a determinação de

indisponibilidade de bens e direitos prevista no art. 185-A do CTN pressupõe que

o exequente comprove o esgotamento de diligências para a localização de bens

do devedor.

3. O Tribunal de origem, com base no arcabouço probatório, concluiu que a

exequente não esgotou todas as diligências aptas a possibilitar o bloqueio de

bens do devedor. Rever essa afi rmação implica adentrar em matéria fática, vedada

pela Súmula 7 do STJ.

4. Agravo regimental não provido.

(AgRg no AREsp 343.969/RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA,

julgado em 26/11/2013, DJe 3/12/2013)

TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. INDISPONIBILIDADE DE

BENS. ART. 185-A DO CTN. ESGOTAMENTO DOS MEIOS NECESSÁRIOS PARA BUSCA

DE BENS PENHORÁVEIS. NECESSIDADE.

1. “O bloqueio universal de bens e de direitos, previsto no art. 185-A do CTN,

não se confunde com a penhora de dinheiro aplicado em instituições fi nanceiras,

por meio do Sistema BacenJud, disciplinada no art. 655-A do CPC (redação

conferida pela Lei n. 11.382/2006). Aquele bloqueio incide na hipótese em que

‘o devedor tributário, devidamente citado, não pagar nem apresentar bens à

penhora no prazo legal e não forem encontrados bens penhoráveis’, e abrangerá

todo e qualquer bem ou direito do devedor, observado como limite o valor do

crédito tributário, se verifi cado o concurso dos requisitos previstos no art. 185-A

do CTN. Consoante a jurisprudência do STJ, a aplicação da referida prerrogativa da

Fazenda Pública pressupõe a comprovação do esgotamento das diligências para

localização de bens do devedor” (AgRg no REsp 1.356.796/RS, Rel. Ministro Mauro

Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 7.3.2013, DJe de 13/3/2013).

2. Na via especial, não cabe a análise de tese recursal que demande a revisão

dos elementos fático-probatórios insertos nos autos.

Inteligência da Súmula 7/STJ.

3. Agravo regimental a que se nega provimento.

(AgRg no AREsp 421.994/RS, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA,

julgado em 26/11/2013, DJe 6/12/2013)

TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. ART. 185-A DO CTN. NECESSIDADE

DE COMPROVAÇÃO DE ESGOTAMENTO DAS DILIGÊNCIAS DESTINADAS À

LOCALIZAÇÃO DE BENS.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 551-565, novembro 2017 563

1. A jurisprudência desta Corte é fi rme quanto à necessidade de comprovação

do esgotamento de diligências para localização de bens do devedor, a fi m de que

se possa determinar a indisponibilidade de bens e direitos prevista no art. 185-A

do CTN, o que impede o conhecimento da insurgência também pelo dissídio

pretoriano invocado. Precedentes: AgRg no REsp 1.341.860/SC, Rel. Ministro

ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA, DJe 24/06/2013 e AgRg no REsp

1.328.132/PR, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, DJe

21/02/2013.

2. Agravo regimental a que se nega provimento.

(AgRg no AREsp 428.902/BA, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA,

julgado em 21/11/2013, DJe 28/11/2013)

TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO FISCAL.

ART. 185-A DO CTN. INDISPONIBILIDADE DE BENS E DIREITOS DO DEVEDOR.

ESGOTAMENTO DE DILIGÊNCIAS PARA LOCALIZAÇÃO DE BENS DO DEVEDOR.

NECESSIDADE. AGRAVO NÃO PROVIDO.

1. “A jurisprudência desta Corte é fi rme quanto à necessidade de comprovação

do esgotamento de diligências para localização de bens do devedor, a fi m de que

se possa determinar a indisponibilidade de bens e direitos prevista no art. 185-A

do CTN” (AgRg no REsp 1.202.428/BA, Rel. Min. SÉRGIO KUKINA, Primeira Turma,

DJe 10/4/13).

2. Agravo regimental não provido.

(AgRg no REsp 1.341.860/SC, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA

TURMA, julgado em 4/6/2013, DJe 24/6/2013)

Falta saber, apenas, se as diligências realizadas pela exequente, e infrutíferas

para o que se destinavam, podem ser consideradas sufi cientes a permitir que

se afi rme, com segurança, que não foram encontrados bens penhoráveis, e, por

consequência, determinar a indisponibilidade de bens.

Para tanto, exige-se do magistrado ponderação a respeito das diligências

levadas a efeito pela exequente, para saber se elas correspondem, razoavelmente,

a todas aquelas que poderiam ser realizadas extrajudicialmente antes da

constrição consistente na indisponibilidade de bens requerida no âmbito do

Poder Judiciário.

Assim, cabe a este Tribunal Superior, no exercício da interpretação da

legislação federal que lhe compete, delimitar o que seria razoável exigir do credor,

a título de diligências, para fi ns de atendimento ao pedido de indisponibilidade

de bens fundado no art. 185-A do CTN.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

564

Importante considerar, contudo, o que se disse acima a respeito desse

dispositivo, no sentido de que o legislador complementar o inseriu no CTN

com a seguinte fi nalidade: aumentar a probabilidade de satisfação do crédito

tributário.

Sob essa ótica, tem-se que a análise dos meios que possibilitam a

identifi cação de bens em nome do devedor e que se encontram à disposição da

Fazenda permite concluir que o acionamento do Bacen Jud e a expedição de

ofícios aos registros públicos de bens no cartório do domicílio do executado são

medidas extrajudiciais razoáveis a se exigir do Fisco, quando este pretender a

indisponibilidade de bens do devedor.

Essa, inclusive, é a orientação constante de preciso voto sobre o tema,

da lavra do Ministro Herman Benjamim, nos termos seguintes (AgRg no Ag

1.429.330/BA, Rel. Ministro Herman Benjamim, Primeira Seção, julgado em

22/8/2012, DJe 3/9/2012):

Entende-se como “esgotamento de diligências” o uso dos meios ordinários que

possibilitam a localização de bens e direitos de titularidade da parte executada.

Por exemplo, o acionamento do sistema Bacen Jud e a expedição de ofícios aos

registros públicos de bens para que informem se há patrimônio em nome do

devedor.

Por outro lado, não se pode exigir que a Fazenda Pública expeça ofícios a

todos os registros de imóveis do País. A razoabilidade impõe que tal medida seja

adotada no cartório do domicílio do executado.

Além dessas medidas, tem-se ainda por razoável, ao meu sentir, a

exigência de prévia expedição de ofício ao Departamento de Trânsito Nacional

ou Estadual (DENATRAN ou DETRAN), pois se houver um veículo na

titularidade do executado - na época em que se vive, inimaginável que alguém

não tenha um veículo automotor -, facilmente se identifi cará por intermédio do

RENAVAN (Registro Nacional de Veículos Automotores).

Assim, com base na jurisprudência deste Tribunal Superior e na

fundamentação supramencionada, fi rma-se orientação, para fi ns do art. 543-C

do CPC e da Resolução 8/STJ, no sentido de que a indisponibilidade de bens

e direitos autorizada pelo art. 185-A do CTN depende da observância dos

seguintes requisitos: (i) citação do devedor; (ii) inexistência de pagamento ou

apresentação de bens à penhora; e (iii) a não localização de bens penhoráveis

após esgotamento das diligências realizadas pela Fazenda, caracterizado quando

houver nos autos (a) pedido de acionamento do Bacen Jud e consequente

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 551-565, novembro 2017 565

determinação pelo magistrado e (b) a expedição de ofícios aos registros públicos

do domicílio do executado e ao Departamento Nacional ou Estadual de Trânsito

- DENATRAN ou DETRAN.

Passa-se, portanto, à análise do caso concreto, à luz da orientação

supramencionada.

Verifi ca-se dos autos que o executado foi devidamente citado e que não

houve pagamento ou apresentação de bens à penhora.

No que se refere ao terceiro requisito - não localização de bens penhoráveis

-, o Tribunal de origem resumiu-se a dizer que, “da análise dos documentos

acostados aos autos, extrai-se que não houve, nos autos subjacentes, esgotamento

das diligências para localização de bens passíveis de penhora, especialmente

com relação aos coexecutados (sócios)” (e-STJ, fl. 266). Constata-se desse

fundamento, contudo, a inexistência de qualquer indicação a respeito das

medidas já realizadas pela Fazenda Nacional, nem daquelas que a Corte a quo

entenderia como sufi cientes para caracterizar o esgotamento das diligências e,

por consequência, determinar a indisponibilidade de bens.

Desse modo, considerando que o Tribunal de origem apreciou a demanda

sem explicitar quais diligências teriam sido realizadas e quais entenderia serem

necessárias, este Tribunal Superior encontra-se impossibilitado de aplicar a tese

que ora se fi rma, razão pela qual o retorno dos autos à origem é medida que se

impõe, para que a instância ordinária reaprecie a controvérsia, mas agora com

suporte na orientação estabelecida neste recurso especial.

Registre-se, por oportuno, não ser o caso de aplicação da Súmula 7 deste

Tribunal, uma vez que os fatos submetidos à apreciação nas instâncias ordinárias

foram julgados com base em premissas diversas daquelas que ora se estabelecem

neste julgado.

Adotem-se as providências relativas à Resolução 8/2008 do STJ, inclusive

a comunicação aos Presidentes de todos os TRFs.

Diante do exposto, dou provimento ao recurso especial para anular o acórdão

impugnado, para que outro seja proferido em seu lugar, observando as orientações

delineadas no presente voto.

É como voto.

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Súmula n. 561

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SÚMULA N. 561

Os Conselhos Regionais de Farmácia possuem atribuição para fi scalizar e

autuar as farmácias e drogarias quanto ao cumprimento da exigência de manter

profi ssional legalmente habilitado (farmacêutico) durante todo o período de

funcionamento dos respectivos estabelecimentos.

Referências:

CPC, art. 543-C.

Lei n. 3.820/1960, arts. 10, c, e 24, parágrafo único.

Lei n. 5.991/1973, art. 15.

Precedentes:

EREsp 414.961-PR (1ª S, 12.11.2003 – DJ 15.12.2003)

EREsp 380.254-PR (1ª S, 08.06.2005 – DJ 08.08.2005)

(*)REsp 1.382.751-MG (1ª S, 12.11.2014 – DJe 02.02.2015)

– acórdão publicado na íntegra

REsp 316.718-PR (1ª T, 12.06.2001 – DJ 03.09.2001)

REsp 379.628-PR (1ª T, 28.05.2002 – DJ 12.08.2002)

AgRg no REsp 952.006-SP (1ª T, 25.09.2007 – DJ 22.10.2007)

REsp 962.861-SC (1ª T, 07.08.2008 – DJe 20.08.2008)

AgRg no REsp 975.172-SP (1ª T, 25.11.2008 – DJe 17.12.2008)

REsp 491.137-RS (2ª T, 22.04.2003 – DJ 26.05.2003)

REsp 672.095-PR (2ª T, 04.11.2004 – DJ 18.04.2005)

REsp 571.713-PR (2ª T, 17.10.2006 – DJ 06.12.2006)

AgRg no Ag 821.490-SP (2ª T, 12.06.2007 – DJe 30.09.2008)

REsp 929.565-SP (2ª T, 1º.04.2008 – DJe 11.04.2008)

AgRg no REsp 1.008.547-MG (2ª T, 02.04.2009 – DJe 27.04.2009)

(*) Recurso repetitivo.

Primeira Seção, em 9.12.2015

DJe 15.12.2015

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RECURSO ESPECIAL N. 1.382.751-MG (2013/0144457-6)

Relator: Ministro Og Fernandes

Recorrente: Conselho Regional de Farmacia do Estado de Minas Gerais - CRF/MG

Advogados: Dilson Araújo de Souza e outro(s)

Helida Marques Abreu

Barbara Vieira da Silveira

Recorrido: Drogaria Ferreira e Lima Ltda

Advogados: Rosemeire Pereira da Silva e outro(s)

Sonia Maria Fernandes Damásio

EMENTA

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO

ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART.

543-C DO CPC E RESOLUÇÃO STJ N. 8/2008. DROGARIAS

E FARMÁCIAS. EXIGÊNCIA DA PRESENÇA DE

PROFISSIONAL LEGALMENTE HABILITADO DURANTE

O PERÍODO INTEGRAL DE FUNCIONAMENTO DO

RESPECTIVO ESTABELECIMENTO. FISCALIZAÇÃO E

AUTUAÇÃO. CONSELHOS REGIONAIS DE FARMÁCIA.

COMPETÊNCIA.

1. Para efeitos de aplicação do disposto no art. 543-C do CPC,

e levando em consideração o entendimento há muito consolidado

por esta Corte Superior de Justiça, fi rma-se compreensão no sentido

de que os Conselhos Regionais de Farmácia possuem competência

para fi scalização e autuação das farmácias e drogarias, quanto ao

cumprimento da exigência de manterem profissional legalmente

habilitado (farmacêutico) durante todo o período de funcionamento

dos respectivos estabelecimentos, sob pena de incorrerem em infração

passível de multa. Inteligência do art. 24 da Lei n. 3.820/60, c/c o art.

15 da Lei n. 5.991/73.

2. No caso dos autos, o Tribunal de origem deixou de apreciar as

razões levadas à sua consideração pelo apelante, atinentes à validade

das CDAs acostadas aos autos, cabendo àquele Tribunal enfrentar

tais questões.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

572

3. Recurso especial a que se dá provimento, para reformar o

acórdão e, nessa extensão, reconhecer e declarar a competência dos

Conselhos Regionais de Farmácia para fi scalizar e autuar farmácias

e drogarias, no que tange à presença de farmacêutico responsável,

durante todo o período de funcionamento do estabelecimento

comercial, determinando, na hipótese, o retorno dos autos à Corte de

origem para que prossiga no julgamento da causa, sobretudo no que

diz respeito à regularidade das CDAs acostadas aos autos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por

unanimidade, dar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr.

Ministro Relator. Os Srs. Ministros Mauro Campbell Marques, Benedito

Gonçalves, Assusete Magalhães, Sérgio Kukina, Regina Helena Costa, Marga

Tessler ( Juíza Federal convocada do TRF 4ª Região) e Napoleão Nunes Maia

Filho votaram com o Sr. Ministro Relator.

Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Herman Benjamin.

Brasília (DF), 12 de novembro de 2014 (data do julgamento).

Ministro Humberto Martins, Presidente

Ministro Og Fernandes, Relator

DJe 2.2.2015

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Og Fernandes: Trata-se de recurso especial interposto pelo

Conselho Regional de Farmácia do Estado de Minas Gerais - CRF/MG, com

base na alínea “a” do permissivo constitucional, contra acórdão proferido pelo

Tribunal Regional Federal - 1ª Região, assim ementado (e-STJ, fl . 563):

ADMINISTRATIVO. CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA. PODER DE POLÍCIA.

AUSÊNCIA DE RESPONSÁVEL TÉCNICO. INCOMPETÊNCIA.

I. Aos Conselhos Regionais de Farmácia compete apenas a fiscalização do

exercício da profi ssão de farmacêutico, o que envolve tanto a verifi cação dos

requisitos de inscrição como o controle da efetiva atividade profi ssional.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 567-584, novembro 2017 573

II. Compete aos órgãos sanitários, em caráter exclusivo, estabelecer os critérios

para licenciamento dos estabelecimentos destinados ao comércio de drogas e

medicamentos, conforme o disposto nos arts. 15, § 3º, 21 e 30 da Lei n. 5.991/1973.

III. À míngua de recurso contra a sentença, na parte em que manteve algumas

das multas aplicadas, deve ela ser mantida, em razão do non reformatio in pejus.

IV. Apelação do Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais a que se nega

provimento.

Nas razões recursais, sustenta o recorrente contrariedade ao disposto nos

arts. 15 da Lei 5.991/73; 10 e 24 da Lei 3.820/60; e 27, caput, e § 3º, do Decreto

Federal n. 74.170/1974, salientando, em suma, que os Conselhos Regionais de

Farmácia possuem competência para fi scalizar o cumprimento da obrigação

de manter profi ssional técnico em período integral imposta às farmácias e

drogarias, bem como para sancionar os estabelecimentos, caso não observem a

aludida exigência.

Alega, inicialmente, que a fi scalização da atividade farmacêutica compete

aos referidos Conselhos, e que esta não se limita ao profi ssional, estendendo-

se, também, ao exercício da atividade farmacêutica pelos estabelecimentos, nos

termos do art. 10 da Lei n. 3.820/60.

Aduz ser claro o teor do art. 15 da Lei n. 5.991/73 quanto à necessidade de

prestação da assistência farmacêutica em farmácias e drogarias durante todo o

horário de funcionamento desses estabelecimentos.

Acrescenta que, segundo a dicção do art. 24 da Lei n. 3.820/60,

a comprovação da efetiva assistência farmacêutica deve ser feita perante o

respectivo Conselho, ao qual compete, em caso de descumprimento de tal

obrigação, a imposição da multa prevista no parágrafo único do mencionado

dispositivo legal.

Requer, ao fi nal, o provimento do presente recurso, a fi m de que o acórdão

regional seja reformado.

Sem contrarrazões nos autos (e-STJ, fl . 590).

O recurso especial foi admitido na origem e encaminhado a este Superior

Tribunal como representativo de controvérsia, nos termos do art. 543-C do

CPC.

Verifi cada a multiplicidade de recursos sobre o tema, o recurso foi admitido,

nesta Corte de Justiça, nos termos do já citado art. 543-C do CPC, assim

também da Resolução n. 8/STJ.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

574

Instado a se manifestar, o Ministério Público Federal emitiu parecer, de

acordo com a seguinte ementa (e-STJ, fl s. 618/623):

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO REPETITIVO. CONSELHOS REGIONAIS DE

FISCALIZAÇÃO PROFISSIONAL. FARMÁCIAS E DROGARIAS.

1 - Controvérsia jurídica de recurso representativo (CPC, art. 543-C): Legalidade

ou não da fi scalização do exercício da profi ssão de farmacêutico pelos Conselhos

Regionais de Farmácia, no que se refere à obrigatoriedade da presença do

farmacêutico, durante todo o horário de funcionamento do estabelecimento

comercial.

2 - A competência dos órgãos de vigilância sanitária recai sobre tudo que se

referir à localização e ao funcionamento do estabelecimento, já a competência

dos Conselhos de Farmácia, segundo a Lei n. 3.820/1960, consiste na fi scalização

da atividade do profi ssional farmacêutico e o exercício da profi ssão. Assim, é legal

a fi scalização da presença do farmacêutico responsável, durante todo o período

de funcionamento do estabelecimento comercial, pelos Conselhos de Farmácia.

3 - Parecer (a) é pela aplicação aos casos repetitivos do seguinte preceito: é

legal a fi scalização e autuação dos Conselhos Profi ssionais de Farmácia, no que

se refere à presença do farmacêutico responsável, durante todo o período de

funcionamento do estabelecimento comercial; (b) é pelo conhecimento parcial

do recurso especial, para, nessa extensão, dar provimento.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Og Fernandes (Relator): Sr. Presidente, conforme relatado,

o tema que se pretende pacificar, por meio do julgamento deste recurso

representativo de controvérsia, diz respeito à competência dos Conselhos

Regionais de Farmácia para a aplicação de multas às empresas do ramo

farmacêutico que descumprirem a obrigação legal de manterem profi ssionais

habilitados durante todo o horário de funcionamento dos estabelecimentos.

Importa ressaltar, inicialmente, que, malgrado não haja no acórdão

recorrido menção expressa aos dispositivos apontados como violados no presente

recurso especial, é certo que a tese trazida a debate foi enfrentada diretamente

pela Corte de origem, não havendo que se cogitar, portanto, de ausência de

prequestionamento.

A propósito, trago os seguintes precedentes:

TRIBUTÁRIO - RECURSO ESPECIAL - ART. 535 DO CPC - AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO

- COISA JULGADA - INEXISTÊNCIA - PREQUESTIONAMENTO IMPLÍCITO - ICMS -

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 567-584, novembro 2017 575

DIREITO CUJA NATUREZA É DE CRÉDITO FISCAL - TRANSFERÊNCIA A TERCEIROS

- POSSIBILIDADE - IMPEDIMENTO LEGAL INEXISTENTE.

1. Não viola o art. 535, do CPC, o acórdão que decide de forma sufi cientemente

fundamentada, não estando a Corte de origem obrigada a emitir juízo de valor

expresso a respeito de todas as teses e dispositivos legais invocados pelas partes.

2. Nos termos da jurisprudência reiterada desta Corte Superior, o

prequestionamento não exige a expressa menção dos dispositivos tidos por violados,

bastando que a matéria por eles versada tenha sido discutida pelo Tribunal de

origem, hipótese ocorrente nos autos consoante se verifi ca do acórdão recorrido.

3. Inexistência de afronta à coisa julgada, uma vez que a pretensão veiculada

no pedido da recorrida não possui identidade com aquela constante da ação cujo

trânsito em julgado já se materializou.

4. A pretexto de afastar suposta interpretação extensiva, o Tribunal de origem

aplicou o art. 111, II, do CTN a situação em que esse comando normativo não

incide, uma vez que não se está diante de isenção, mas de mero crédito fi scal.

5. No caso concreto, o direito ao benefício fi scal previsto em lei - que por

oposição do Fisco estadual foi reconhecido e quantifi cado somente em juízo, e

após o prazo legal de fruição - deixou de possuir natureza isentiva ou de incentivo

tributário, transmudando-se em simples crédito escritural de natureza fi scal, cuja

transferência não encontra impedimento legal.

6. A LC 87/96 estabeleceu no art. 25 duas hipóteses de transferência de crédito

acumulado do ICMS. No § 1º, os créditos oriundos de operações de exploração de

matéria-prima ou produtos industrializados, como previsto no art. 3º inciso II. No

§ 2º, delegou ao legislador estadual a escolha das hipóteses, quando pretendesse

o contribuinte transferir o seu crédito a terceiro. No caso dos autos, está-se diante

da segunda hipótese.

7. Conforme constatado pelo Tribunal de origem, “em momento algum prevê a

citada lei a possibilidade de transferência da bonifi cação em espécie por via dela

concedida, a terceiros”. Não se verifi ca, também, a indicação de hipóteses para sua

ocorrência.

8. No entanto, não se pode concluir que, pelas simples ausência de hipóteses

e requisitos para a transferência de crédito tributário ou inexistência de proibição

expressa neste neste sentido, referida transferência torna-se impossibilitada.

Isto porque a regra é que os créditos, sejam eles tributários ou não, podem ser

transferidos a terceiros. Precedente (REsp 1.119.558/SC, Rel. Ministro LUIZ FUX,

Rel. p/ Acórdão Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em

9/5/2012, DJe 1º/8/2012).

9. Recurso especial provido.

(REsp 1.215.574/ES, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado

em 10/12/2013, DJe 18/12/2013) - grifos acrescidos

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

576

TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. OMISSÃO INEXISTENTE. REDISCUSSÃO DA

MATÉRIA. IMPOSSIBILIDADE. PREQUESTIONAMENTO IMPLÍCITO. IMPOSTO DE

RENDA PESSOA JURÍDICA. DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS. ANO-BASE 1989.

CORREÇÃO MONETÁRIA. OTN/BTNF. ÍNDICE OFICIAL.

1. Os embargos declaratórios somente são cabíveis para modifi car o julgado

que se apresentar omisso, contraditório ou obscuro, bem como para sanar

possível erro material existente na decisão, o que não ocorreu no presente caso.

2. Nos termos da jurisprudência do STJ, o prequestionamento não exige a expressa

menção dos dispositivos violados; basta que a matéria por eles versada tenha sido

discutida pelo Tribunal de origem.

3. Não se aplica no presente caso a Súmula 126 do STJ, porquanto o acórdão

regional fundamentou-se somente em matéria infraconstitucional, baseando sua

decisão em diversos precedentes do STJ.

4. A Primeira Seção do STJ, no julgamento do AgRg nos EREsp 962.670/SP,

rel. Min. Herman Benjamin, DJe 6.9.2011, pacifi cou o entendimento no sentido

de que as demonstrações fi nanceiras ano-base de 1989 devem ser corrigidas

pelos critérios das Leis n. 7.730/89 e 7.799/89, ou seja, pelo BTNF, para fi ns de

defi nição da base de cálculo do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica. Embargos

de declaração rejeitados.

(EDcl no REsp 1.131.762/DF, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA

TURMA, julgado em 4/9/2012, DJe 14/9/2012) - grifos acrescidos

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. ICMS.

COMPENSAÇÃO ENTRE PRECATÓRIO E DÉBITO TRIBUTÁRIO ESTADUAL.

INADMISSIBILIDADE. NECESSIDADE DE LEGISLAÇÃO ESTADUAL AUTORIZATIVA.

PREQUESTIONAMENTO IMPLÍCITO. AGRAVO REGIMENTAL DO CONTRIBUINTE

DESPROVIDO.

1. Inicialmente, esta Corte admite o prequestionamento implícito, desde que a

matéria federal invocada tenha sido debatida nas instâncias ordinárias, mesmo que

não haja indicação expressa dos dispositivos legais tidos por violados.

2. No mérito, as Turmas que compõem a Primeira Seção desta Corte têm o

entendimento pacífi co de que a compensação de débitos fi scais com precatórios

vencidos e não pagos está sujeita à existência de legislação estadual autorizativa,

inexistente no caso concreto.

3. Precedentes: AgRg no Ag 1.352.105/RS, Rel. Min. MAURO CAMPBELL

MARQUES, DJe 08.02.2011; RMS 27.982/MS, Rel. Min. DENISE ARRUDA, DJe

04.02.2010; AgRg no AREsp. 58.476/RS, Rel. Min. BENEDITO GONÇALVES, DJe

15.12.2011.

4. Não há que se falar que a matéria ora em discussão possui índole

constitucional, pois a controvérsia foi solucionada a partir da interpretação da

legislação infraconstitucional, qual seja, o art. 170 do CTN, que disciplina a matéria.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 567-584, novembro 2017 577

5. Agravo Regimental do contribuinte desprovido.

(AgRg no AgRg no AgRg no REsp 1.270.792/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO

NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 4/9/2012, DJe 2/10/2012) -

grifos acrescidos

Sobre a questão de mérito, assim dispõem os arts. 10, alínea “c”, e 24 da Lei

n. 3.820, de 11 de novembro de 1960:

Art. 10. - As atribuições dos Conselhos Regionais são as seguintes:

(...)

c) fi scalizar o exercício da profi ssão, impedindo e punindo as infrações à lei,

bem como enviando às autoridades competentes relatórios documentados sobre

os fatos que apurarem e cuja solução não seja de sua alçada; (...).

Art. 24. - As empresas e estabelecimentos que exploram serviços para os quais

são necessárias atividades de profi ssional farmacêutico deverão provar perante os

Conselhos Federal e Regionais que essas atividades são exercidas por profi ssional

habilitado e registrado.

Parágrafo único - Aos infratores deste artigo será aplicada pelo respectivo

Conselho Regional a multa de Cr$500,00 (quinhentos cruzeiros) a Cr$5.000,00

(cinco mil cruzeiros).

Por sua vez, o art. 15 da Lei n. 5.991, de 17 de dezembro de 1973, o

qual regulamenta o controle sanitário do comércio de drogas, medicamentos,

insumos farmacêuticos e correlatos e dá outras providências, tem o seguinte

teor:

Art. 15. A farmácia e a drogaria terão, obrigatoriamente, a assistência de técnico

responsável, inscrito no Conselho Regional de Farmácia, na forma da lei.

§ 1º A presença do técnico responsável será obrigatória durante todo o horário de

funcionamento do estabelecimento.

§ 2º Os estabelecimentos de que trata este artigo poderão manter técnico

responsável substituto, para os casos de impedimento ou ausência do titular.

§ 3º Em razão do interesse público, caracterizada a necessidade da existência

de farmácia ou drogaria, e na falta do farmacêutico, o órgão sanitário de

fi scalização local licenciará os estabelecimentos sob a responsabilidade técnica

de prático de farmácia, oficial de farmácia ou outro, igualmente inscrito no

Conselho Regional de Farmácia, na forma da lei. - grifos acrescidos

Como é possível verifi car, a interpretação dos dispositivos legais atinentes

à matéria em apreço conduz ao entendimento de que os Conselhos Regionais

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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de Farmácia são competentes para promover a fi scalização das farmácias e

drogarias em relação à permanência de profi ssionais legalmente habilitados

durante o período integral de funcionamento das empresas farmacêuticas.

Já a atuação da Vigilância Sanitária, observa-se que ela está circunscrita

ao licenciamento do estabelecimento e à sua fi scalização, no que tange ao

cumprimento de padrões sanitários relativos ao comércio exercido, convivendo,

portanto, com as atribuições a cargo dos Conselhos.

É o que se depreende, claramente, do disposto no art. 21 da Lei n. 5.991/73,

in verbis:

Art. 21 - O comércio, a dispensação, a representação ou distribuição e a

importação ou exportação de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e

correlatos será exercido somente por empresas e estabelecimentos licenciados

pelo órgão sanitário competente dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios,

em conformidade com a legislação supletiva a ser baixada pelos mesmos,

respeitadas as disposições desta Lei.

Mister destacar, ainda, que a Colenda Primeira Seção desta Corte de Justiça,

no julgamento dos Embargos de Divergência no Recurso Especial 380.254/

PR, já se manifestou sobre o tema em debate, decidindo, na oportunidade, em

idêntica direção, senão vejamos:

ADMINISTRATIVO - EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA - CONSELHO REGIONAL

DE FARMÁCIA - COMPETÊNCIA PARA FISCALIZAÇÃO E APLICAÇÃO DE MULTA

AOS ESTABELECIMENTOS FARMACÊUTICOS - DESCUMPRIMENTO DO ART. 15

DA LEI 5.991/73 - NECESSÁRIA A PERMANÊNCIA DE PROFISSIONAL HABILITADO

DURANTE TODO O HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO DOS ESTABELECIMENTOS -

PROVIMENTO DOS EMBARGOS.

1. Uma das atribuições legalmente estabelecidas aos Conselhos Regionais

de Farmácia é a fi scalização do exercício da profi ssão, impedindo e punindo as

infrações da lei.

2. A exegese dos dispositivos das Leis 3.820/60 e 5.991/73 conduz ao entendimento

de que os Conselhos profi ssionais em questão são competentes para promover a

fi scalização das farmácias e drogarias em relação ao descumprimento do art. 15 da

Lei 5.991/73, que determina a obrigatória permanência de profi ssional legalmente

habilitado durante o período integral de funcionamento das empresas farmacêuticas.

3. Na linha de orientação desta Corte Superior, as atribuições dos órgãos de

fi scalização sanitária, previstas pela Lei 5.991/73, não excluem a competência dos

Conselhos Regionais de Farmácia de zelar pelo cumprimento do art. 15 do referido

diploma legal, fi scalizando e autuando os estabelecimentos infratores.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 567-584, novembro 2017 579

4. Precedentes desta Primeira Seção e de ambas as Turmas que a compõem.

5. Embargos de divergência acolhido.

(EREsp 380.254/PR, Rel. Min. Denise Arruda, Primeira Seção, DJ 8/8/2005) -

grifos acrescidos

No mesmo caminho, diversos são os precedentes encontrados no âmbito

desse Tribunal, confi ram-se:

ADMINISTRATIVO. REGISTRO PROFISSIONAL. ARTIGO 535, II, CPC. ALEGADA

VIOLAÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. DROGARIAS E FARMÁCIAS. TÉCNICO EM HORÁRIO

DE FUNCIONAMENTO. OBRIGATORIEDADE. COMPETÊNCIA DE FISCALIZAÇÃO E

PUNIÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA.

1. No tocante à alegada violação do disposto no artigo 535, II, do CPC, o

recurso não merece provimento. Os órgãos julgadores não estão obrigados a

examinar todas as teses levantadas pelo jurisdicionado durante um processo

judicial, bastando que as decisões proferidas estejam devida e coerentemente

fundamentadas, em obediência ao que determina o art. 93, inc. IX, da Constituição

da República vigente.

Isto não caracteriza ofensa ao art. 535 do CPC.

2. A Lei n. 5.991/73 impõe obrigação administrativa às drogarias e farmácias

no sentido de que o técnico responsável pelo estabelecimento deve estar,

obrigatoriamente, presente durante todo o horário de funcionamento do

estabelecimento. Portanto, é disposição legal expressa a obrigatoriedade de presença

do técnico responsável durante todo o horário de funcionamento da farmácia ou

drogaria. Precedentes.

3. A Lei n. 5.991/73 impõe obrigação administrativa às drogarias e farmácias no

sentido de que “terão, obrigatoriamente, a assistência de técnico responsável, inscrito

no Conselho Regional de Farmácia, na forma da lei” (art. 15), e que “a presença do

técnico responsável será obrigatória durante todo o horário de funcionamento

do estabelecimento”. (§ 1º). Cabe ao Conselho Regional de Farmácia promover a

fi scalização e punição devidas.

4. Recurso especial não provido.

(REsp 1.085.436/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA

TURMA, julgado em 7/12/2010, DJe 3/2/2011) - grifos acrescidos

ADMINISTRATIVO - RESPONSABILIDADE TÉCNICA POR DUAS DROGARIAS -

INEXISTÊNCIA DE VEDAÇÃO LEGAL - RESPONSÁVEL SUBSTITUTO - OMISSÃO

- APLICAÇÃO PRÁTICA - COMPETÊNCIA DE FISCALIZAÇÃO E PUNIÇÃO DO

CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA.

1. Requereu o ora embargante, nas razões do agravo regimental, que, caso

fosse deferida a acumulação da responsabilidade técnica, o que, de fato, ocorreu,

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

580

caberia à agravada, ora embargada, a indicação de um responsável técnico

substituto, nos moldes dos §§ 1º e 2º do art. 15 da Lei n. 5.991/73.

2. A matéria articulada no recurso especial restringe-se à possibilidade

de acumulação de responsabilidade técnica de duas drogarias pelo mesmo

profi ssional, questão totalmente resolvida por esta Corte.

3. A jurisprudência é clara no sentido de que “o farmacêutico pode acumular

a responsabilidade técnica por unidade farmacêutica e por unidade de

drogaria, bem como a responsabilidade por duas drogarias, espécies do gênero

“farmácia”. Precedentes: REsp 1.008.577/MG, DJ 16/04/2008; REsp 968.778/MG,

DJ 07.02.2008.” (AgRg no REsp 1.031.008/MG, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma,

julgado em 18.11.2008, DJe 17.12.2008).

4. Reconhecida a possibilidade de acumulação da responsabilidade técnica,

tal como foi apresentada no recurso especial, não cabe a esta Corte defi nir a

aplicação prática disso, acerca da necessidade de responsável técnico substituto.

5. A Lei n. 5.991/73 impõe obrigação administrativa às drogarias e farmácias no

sentido de que “terão, obrigatoriamente, a assistência de técnico responsável, inscrito

no Conselho Regional de Farmácia, na forma da lei” (art. 15), e que “a presença do

técnico responsável será obrigatória durante todo o horário de funcionamento

do estabelecimento”. (§ 1º). Cabe ao Conselho Regional de Farmácia promover a

fi scalização e punição devidas.

Embargos de declaração acolhidos, sem efeitos infringentes, para suprir a

omissão apontada quanto à questão trazida no agravo regimental referente à

necessidade de responsável técnico substituto.

(EDcl no AgRg no REsp 1.008.960/MG, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS,

SEGUNDA TURMA, julgado em 24/3/2009, DJe 23/4/2009) - grifos acrescidos

ADMINISTRATIVO. CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA. FISCALIZAÇÃO.

EXIGÊNCIA DE PROFISSIONAL LEGALMENTE HABILITADO, NO ESTABELECIMENTO,

DURANTE TODO O PERÍODO DE FUNCIONAMENTO. MULTA. VALOR. INDEXAÇÃO.

PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS.

1. O Conselho Regional de Farmácia é o órgão competente para fi scalização das

farmácias e drogarias quanto à verifi cação da manutenção, durante todo o período

de funcionamento dos estabelecimentos, de profi ssional legalmente habilitado, sob

pena de incorrerem em infração passível de multa, consoante dispõe o art. 24, da Lei

n. 3.820/60 c/c art. 15, da Lei n. 5.991/73.

2. O órgão de vigilância sanitária tem como atribuição licenciar e fi scalizar

as condições de funcionamento das drogarias e farmácias, no que se refere a

observância dos padrões sanitários relativos ao comércio exercido, notadamente,

o controle sanitário do comércio de drogas, medicamentos, insumos

farmacêuticos e correlatos.

Precedentes: REsp 929.565/SP, DJe 11/04/2008; REsp n. 776.682/SC, DJ de

14.11.2005; REsp n. 776.669/PR, DJ de 07.11.2005; REsp n. 610.514/PR, DJ de

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 567-584, novembro 2017 581

02/08/2004; AgRg no REsp 952.006/SP, Rel. DJ 22/10/2007; AgRg no Ag 812.286/

SP, DJ 19/12/2007; AgRg no Ag 813.122/SP, DJ 07/03/2007; REsp 860.724/SP, DJ

01/03/2007; AgRg no Ag 805.918/SP, DJ 01/12/2006.

3. É cediço nesta Corte que: “Sendo as multas sanções pecuniárias, a vedação

contida na Lei n. 6.205/75, de considerar ‘valores monetários em salários mínimos’,

não as atingiu. Somente o Decreto-Lei n. 2.351/78 submeteu as penalidades

estabelecidas em lei à vinculação ao salário mínimo de referência, situação que

permaneceu até a edição da Lei n. 7.789/89, que extinguiu o salário mínimo de

referência, voltando à antiga denominação, ou seja, pelo art. 1º, da Lei n. 5.724/71,

que anteriormente tinha dado nova redação ao parágrafo único, do art. 24, da

Lei n. 3.820/60 (...) Inocorrência de ilegalidade nas multas aplicadas, visto que

não ultrapassam o limite legal estabelecido pelo art. 1º, da Lei n. 5.724/71 (...)

O Colendo Supremo Tribunal Federal, mesmo apreciando demandas penais,

pronunciou-se sobre a matéria jurídica de fundo aqui discutida (aplicação de

multa com sanção pecuniária e não como valor monetário) (REsp 316.718/PR, Rel.

Min. José Delgado, DJ de 03.09.2001)

4. Agravo Regimental desprovido.

(AgRg no REsp 975.172/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado

em 25/11/2008, DJe 17/12/2008)

ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. DROGARIAS E FARMÁCIAS.

FISCALIZAÇÃO. EXIGÊNCIA DE PROFISSIONAL LEGALMENTE HABILITADO.

COMPETÊNCIA. CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA.

I - Esta Corte firmou entendimento no sentido de que “o Conselho Regional

de Farmácia é o órgão competente para fiscalização das farmácias e drogarias,

quanto à verifi cação de possuírem, durante todo o período de funcionamento dos

estabelecimentos, profi ssional legalmente habilitado, sob pena de incorrerem em

infração passível de multa, de acordo com o art. 24, da Lei n. 3.820/60 c/c art. 15, da

Lei n. 5.991/73.”

II - Precedentes: REsp n. 776.682/SC, Rel. Min. JOSÉ DELGADO, DJ de 14.11.2005;

REsp n. 776.669/PR, Rel. Min. TEORI ALBINO ZAVASCKI, DJ de 07.11.2005; EREsp n.

380.254/PR, Rel. Min. DENISE ARRUDA, DJ de 08.08.2005; REsp n. 610.514/PR, Rel.

Min. LUIZ FUX, DJ de 02/08/2004.

III - Agravo regimental improvido.

(AgRg no REsp 952.006/SP, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA,

julgado em 25/9/2007, DJ 22/10/2007) - grifos acrescidos

ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO.

CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA. COMPETÊNCIA PARA FISCALIZAÇÃO E

APLICAÇÃO DE MULTA AOS ESTABELECIMENTOS FARMACÊUTICOS. FALTA

DE RESPONSÁVEL TÉCNICO DURANTE O HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO.

DESCUMPRIMENTO DO ART. 15, DA LEI 5.991/73. PRECEDENTES.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

582

1. “A exegese dos dispositivos das Leis 3.820/60 e 5.991/73 conduz ao

entendimento de que os Conselhos profi ssionais em questão são competentes para

promover a fi scalização das farmácias e drogarias em relação ao descumprimento

do art. 15 da Lei 5.991/73, que determina a obrigatória permanência de profi ssional

legalmente habilitado durante o período integral de funcionamento das empresas

farmacêuticas.” (EREsp 380.254/PR, Rel. Min. Denise Arruda, Primeira Seção, DJ

08/08/2005).

2. Agravo Regimental não provido.

(AgRg no Ag 821.490/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA,

julgado em 12/6/2007, DJe 30/9/2008) - grifos acrescidos

PROCESSUAL CIVIL. CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA. COMPETÊNCIA PARA

FISCALIZAÇÃO. PROFISSIONAL LEGALMENTE HABILITADO. PRECEDENTES DO STJ.

1. Consoante jurisprudência pacífica desta corte, o Conselho Regional de

Farmácia é o órgão competente para fiscalização das farmácias e drogarias,

quanto à verificação de manterem, durante todo o período de funcionamento

dos estabelecimentos, profi ssional legalmente habilitado. O órgão de vigilância

sanitária, por sua vez, tem como atribuição licenciar e fi scalizar as condições de

funcionamento das drogarias e farmácias, no que se refere à observância dos

padrões sanitários relativos ao comércio exercido, notadamente, o controle

sanitário da venda de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos.

Precedentes: REsp 726.378/PR, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, 1ª Turma, DJ de

02.05.2005; EREsp 414.961/PR, Rel. Min. Luiz Fux, 1ª Seção, DJ de 15/12/2003; REsp

491.137/RS, Rel. Min. Franciulli Neto, 2ª Turma, DJ de 26/05/2003.

2. Agravo regimental a que se nega provimento.

(AgRg no Ag 808.966/SP, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA

TURMA, julgado em 15/3/2007, DJ 29/3/2007) - grifos acrescidos

ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. DROGARIAS E FARMÁCIAS.

FISCALIZAÇÃO. COMPETÊNCIA DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA.

RESPONSÁVEL TÉCNICO EM HORÁRIO INTEGRAL. APLICAÇÃO DE MULTA.

1. O acórdão a quo reconheceu a incompetência do recorrente para fi scalizar

e aplicar penalidades a estabelecimento farmacêutico, quanto à presença de

profi ssional habilitado.

2. O Conselho Regional de Farmácia tem competência para promover a

fi scalização e punição devidas, uma vez que o art. 24 da Lei n. 3.820/60, que cria

os Conselhos Federal e Regionais de Farmácia, é claro ao estatuir que farmácias

e drogarias devem provar, perante os Conselhos, ter profissionais habilitados e

registrados para o exercício de atividades para as quais são necessários, cabendo a

aplicação de multa aos infratores pelo Conselho respectivo.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 567-584, novembro 2017 583

3. As penalidades aplicadas têm amparo no art. 10, “c”, da Lei n. 3.820/60, que dá

poderes aos Conselhos Regionais para fi scalizar o exercício da profi ssão e punir as

infrações.

4. A Lei n. 5.991/73 impõe obrigação administrativa às drogarias e farmácias

no sentido de que “terão, obrigatoriamente, a assistência de técnico responsável,

inscrito no Conselho Regional de Farmácia, na forma da lei” (art. 15), e que “a

presença do técnico responsável será obrigatória durante todo o horário de

funcionamento do estabelecimento” (§ 1º).

5. Ausência de ilegalidade nas multas aplicadas.

6. Recurso provido.

(REsp 860.724/SP, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em

13/2/2007, DJ 1º/3/2007)

Logo, para efeitos do art. 543-C do CPC, fi rma-se a tese no sentido de

ser legal a fi scalização e atuação dos Conselhos Profi ssionais de Farmácia, no

que se refere à presença do farmacêutico responsável durante todo o período de

funcionamento do estabelecimento comercial, nos termos dos arts. 24 da Lei n.

3.820/60 e 15 da Lei n. 5.991/73.

Passo à análise do caso concreto.

No caso, cuida-se, na origem, de embargos à execução fi scal movido pela

Drogaria Ferreira e Lima Ltda. contra o Conselho Regional de Farmácia.

A teor da sentença, o juiz acolheu em parte o pedido, declarando nulas

algumas das CDAs juntadas aos autos, por supostamente não preencherem

os requisitos de validade, e determinando o prosseguimento da execução em

relação a outra.

Em sede de apelação, o Conselho de Farmácia arguiu a validade das

demais CDAs acostadas aos autos.

O Tribunal de origem, contudo, ao julgar o recurso de apelação, limitou-

se a afi rmar que o Conselho Regional de Farmácia não tinha competência

para fi scalizar os estabelecimentos comerciais, motivo pelo qual não deveriam

subsistir nenhuma das autuações objeto de questionamento, mantida a sentença

apenas por vedação de reformatio in pejus.

Assim, a Corte local deixou de apreciar as razões levadas à sua consideração

pelo apelante, atinentes à validade das CDAs acostadas aos autos, cabendo

àquele Tribunal enfrentar tais questões, uma vez fi rmada, por meio da presente

via, a competência do referido Conselho para fi scalizar e autuar, em caso de

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

584

irregularidade na manutenção de profi ssional farmacêutico durante período

integral, drogarias e farmácias.

Ante o exposto, dou provimento ao recurso especial, a fi m de reformar o

acórdão e, nessa extensão, reconhecer e declarar a competência dos Conselhos

Regionais de Farmácia para fi scalizar e autuar farmácias e drogarias, no que

tange à presença do farmacêutico responsável, durante todo o período de

funcionamento do estabelecimento comercial, determinando, em consequência,

o retorno dos presentes autos à instância de origem para que prossiga no

julgamento da causa, sobretudo no que diz respeito à regularidade das CDAs

acostadas aos autos.

Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ

n. 8/2008.

É como voto.

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Súmula n. 562

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SÚMULA N. 562

É possível a remição de parte do tempo de execução da pena quando o

condenado, em regime fechado ou semiaberto, desempenha atividade laborativa,

ainda que extramuros.

Referências:

CPC, art. 543-C.

LEP, art. 126.

Precedentes:

(*)REsp 1.381.315-RJ (3ª S, 13.05.2015 – DJe 19.05.2015) – acórdão

publicado na íntegra

HC 184.501-RJ (5ª T, 27.03.2012 – DJe 25.05.2012)

HC 239.498-RJ (5ª T, 22.10.2013 – DJe 05.11.2013)

HC 206.313-RJ (5ª T, 05.12.2013 – DJe 11.12.2013)

HC 205.592-RJ (6ª T, 19.02.2013 – DJe 27.02.2013)

HC 219.772-RJ (6ª T, 15.08.2013 – DJe 26.08.2013)

(*) Recurso repetitivo.

Terceira Seção, em 24.2.2016

DJe 29.2.2016

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RECURSO ESPECIAL N. 1.381.315-RJ (2013/0148762-1)

Relator: Ministro Rogerio Schietti Cruz

Recorrente: Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro

Recorrido: José Jerônimo Alves Ferreira

Advogado: Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro

Interes.: Defensoria Pública da União - “Amicus Curiae”

Advogado: Defensoria Pública da União

EMENTA

RECURSO ESPECIAL. PROCESSAMENTO SOB O

RITO DO ART. 543-C DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.

RECURSO REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA.

EXECUÇÃO PENAL. APENADO EM REGIME

SEMIABERTO. REALIZAÇÃO DE TRABALHO FORA DO

ESTABELECIMENTO PRISIONAL. REMIÇÃO DE PARTE

DA PENA. POSSIBILIDADE. RECURSO NÃO PROVIDO.

1. Recurso Especial processado sob o regime previsto no art.

543-C, § 2º, do CPC, c/c o art. 3º do CPP, e na Resolução n. 8/2008

do STJ. TESE: É possível a remição de parte do tempo de execução da

pena quando o condenado, em regime fechado ou semiaberto, desempenha

atividade laborativa extramuros.

2. O art. 126 da Lei de Execução Penal não fez nenhuma

distinção ou referência, para fi ns de remição de parte do tempo de

execução da pena, quanto ao local em que deve ser desempenhada

a atividade laborativa, de modo que se mostra indiferente o fato de

o trabalho ser exercido dentro ou fora do ambiente carcerário. Na

verdade, a lei exige apenas que o condenado esteja cumprindo a pena

em regime fechado ou semiaberto.

3. Se o condenado que cumpre pena em regime aberto ou

semiaberto pode remir parte da reprimenda pela frequência a curso

de ensino regular ou de educação profi ssional, não há razões para não

considerar o trabalho extramuros de quem cumpre pena em regime

semiaberto, como fator de contagem do tempo para fi ns de remição.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

590

4. Em homenagem, sobretudo, ao princípio da legalidade, não

cabe restringir a futura concessão de remição da pena somente àqueles

que prestam serviço nas dependências do estabelecimento prisional,

tampouco deixar de recompensar o apenado que, cumprindo a pena no

regime semiaberto, exerça atividade laborativa, ainda que extramuros.

5. A inteligência da Lei de Execução Penal direciona-se a

premiar o apenado que demonstra esforço em se ressocializar e que

busca, na atividade laboral, um incentivo maior à reintegração social

(“a execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença

ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica

integração social do condenado e do internado” - art. 1º).

6. A ausência de distinção pela lei, para fi ns de remição, quanto

à espécie ou ao local em que o trabalho é realizado, espelha a própria

função ressocializadora da pena, inserindo o condenado no mercado

de trabalho e no próprio meio social, minimizando suas chances de

recidiva delitiva.

7. Ausentes, por defi ciência estrutural ou funcional do Sistema

Penitenciário, as condições que permitam a oferta de trabalho digno

para todos os apenados aptos à atividade laborativa, não se há de impor

ao condenado que exerce trabalho extramuros os ônus decorrentes

dessa inefi ciência.

8. A supervisão direta do próprio trabalho deve fi car a cargo do

patrão do apenado, cumprindo à administração carcerária a supervisão

sobre a regularidade do trabalho.

9. Uma vez que o Juízo das Execuções Criminais concedeu ao

recorrido a possibilidade de realização de trabalho extramuros, mostra-

se, no mínimo, contraditório o Estado-Juiz permitir a realização dessa

atividade fora do estabelecimento prisional, com vistas à ressocialização

do apenado, e, ao mesmo tempo, ilidir o benefício da remição.

10. Recurso especial representativo da controvérsia não provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam

os Ministros da Terceira Seção, por unanimidade, negar provimento ao recurso

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 585-600, novembro 2017 591

especial representativo da controvérsia, nos termos do voto do Sr. Ministro

Relator. Os Srs. Ministros Nefi Cordeiro, Gurgel de Faria, Newton Trisotto

(Desembargador convocado do TJ/SC), Ericson Maranho (Desembargador

convocado do TJ/SP), Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador convocado

do TJ/PE), Felix Fischer, Maria Th ereza de Assis Moura e Sebastião Reis Júnior

votaram com o Sr. Ministro Relator. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Jorge

Mussi. A Dra. Th aís dos Santos Lima, Defensora Pública do Estado do Rio de

Janeiro, sustentou oralmente pela parte Recorrida. O Dr. Felipe Dezorzi Borges

sustentou oralmente pela Defensoria Pública da União - “Amicus Curiae”.

Brasília (DF), 13 de maio de 2015 (data do julgamento).

Ministro Rogerio Schietti Cruz, Relator

DJe 19.5.2015

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Rogerio Schietti Cruz: O MINISTÉRIO PÚBLICO DO

ESTADO DO RIO DE JANEIRO interpõe recurso especial, com fundamento no

art. 105, III, “a”, da Constituição Federal, contra acórdão proferido pelo Tribunal

de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (HC n. 0009562-14.2012.8.19.0000).

Depreende-se dos autos que, em 21/8/2007, o Juiz da Vara das Execuções

Criminais deferiu a progressão do ora recorrido para o regime semiaberto e,

posteriormente, em 26/12/2007, concedeu a possibilidade de realização de

trabalho extramuros (fl . 42). Em 13/5/2010, o Magistrado indeferiu o pedido de

remição de parte da pena formulado em favor do recorrido, pelo desempenho de

trabalho externo.

A defesa, então, ingressou com o remédio constitucional no Tribunal de

origem, cuja ordem foi concedida, “desconstituindo-se a decisão impugnada para

que outra seja proferida, superado o óbice da impossibilidade de deferimento

da remição pelo trabalho externo” (fl . 60). Contra esse acórdão, foram opostos

embargos de declaração, os quais foram rejeitados.

O recorrente alega negativa de vigência aos arts. 126 e 129 da Lei de

Execução Penal, sob o fundamento de que “apenas o trabalho acompanhado

e fi scalizado pela autoridade administrativa da Unidade Prisional, ou seja, o

trabalho interno, pode ensejar a remição da pena” (fl . 105).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

592

Argumenta que, “se é certo que o art. 126 da Lei de Execução Penal

estabelece a remição da pena para os condenados em regime fechado ou

semiaberto, não se pode ignorar que os apenados em regime semiaberto podem

usufruir de trabalho extramuros, na forma do art. 122, III da Lei n. 7.210/84.

Daí decorre que, nos estabelecimentos prisionais de regime semiaberto, alguns

apenados exercem trabalho interno, dentro do estabelecimento prisional, e

outros, trabalho externo, no meio livre” (fl s. 109-110).

Nesse sentido, considera que, “se houvesse a possibilidade de se remir a

pena, no regime semiaberto, do apenado benefi ciado com trabalho extramuros,

a situação de vantagem deste para aquele que trabalha internamente seria

desproporcional” (fl . 110).

Ainda, defende que, caso fosse possível aceitar a remição da pena no

regime mais rigoroso (semiaberto, com trabalho externo), o benefício também

deveria ser admitido no regime menos gravoso (o aberto), o que não é permitido

pelo nosso ordenamento jurídico. E salienta: “O fundamento desta restrição

reside na circunstância de que os apenados em regime aberto devem se submeter

ao cumprimento de papéis sociais e às expectativas do regime que lhes concede

a liberdade de trabalho contratual” (fl . 110).

Pondera que “Quem encaminhou a planilha de dias trabalhados pelo

Recorrido não foi a administração carcerária, como claramente exige o artigo

129, da Lei n. 7.210/84” (fl . 112). Nesse ponto, alega que o desempenho de

trabalho, para fi ns de remição, está atrelado à modalidade interna, porque essa,

sim, é passível de fi scalização pela administração carcerária.

Requer o provimento do recurso, para que “seja restabelecido o

cumprimento da lei de execução penal, cassando-se o douto acórdão proferido

pela Egrégia Quinta Câmara Criminal do Rio de Janeiro, restabelecendo-se a

decisão do juízo da Vara de Execuções Penais do Rio de Janeiro que indeferiu a

remição da pena para os trabalhos realizados externamente” (fl . 122).

Contrarrazões às fl s. 130-136.

O Tribunal de origem, durante o juízo prévio de admissibilidade, admitiu

o recurso como representativo da controvérsia, nos moldes do art. 543-C, § 1º,

do Código de Processo Civil, e determinou a suspensão dos demais recursos

especiais, nos quais a controvérsia esteja estabelecida, até o pronunciamento

defi nitivo deste Superior Tribunal acerca da matéria.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 585-600, novembro 2017 593

Por meio da decisão de fl s. 180-181, determinei que este recurso fosse

processado como representativo da controvérsia, nos termos do art. 543-C do

Código de Processo Civil e da Resolução n. 8/2008 deste Superior Tribunal.

Feitas as comunicações de praxe, o Ministério Público Federal, em

parecer de lavra do Subprocurador-Geral da República Moacir Mendes Sousa,

manifestou-se pelo não provimento do recurso (fl . 267):

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC.

EXECUÇÃO PENAL. REMIÇÃO DA PENA EM RAZÃO DO EXERCÍCIO DE TRABALHO

EXTRAMUROS DESVINCULADA DA ADMINISTRAÇÃO CARCERÁRIA. NEGATIVA DE

VIGÊNCIA DOS ARTIGOS 126 E 129, DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL. INEXISTÊNCIA.

A lei não exigiu para concessão do benefício da remição a vigilância direta da

atividade exercida pelo apenado. Não tendo o legislador restringido a concessão

do benefício da remição apenas aos condenados que realizam trabalho nas

dependências do estabelecimento prisional, não pode o Julgador fazê-lo.

Isso porque estaria o Magistrado invadindo a esfera de atuação do legislador,

impondo requisitos onde a lei não o fez.

A comprovação do efetivo trabalho e sua mensuração temporal, para fi ns de

remição, pode ser feita através de documentação idônea, a exemplo do controle

do horário de saída e chegada do apenado ao estabelecimento prisional, bem

como de diligências determinadas pelo Juízo da Execução, que certamente

podem comprovar a quantifi cação temporal.

Parecer pelo conhecimento e desprovimento do recurso especial.

VOTO

O Sr. Ministro Rogerio Schietti Cruz (Relator):

I. Contextualização

A controvérsia a ser dirimida neste recurso especial admitido como

representativo diz respeito à possibilidade de remição de parte do tempo de

execução da pena pelo desempenho de trabalho externo prestado por apenado

em regime semiaberto.

Consta dos autos que o recorrido possui duas cartas de execução em

trâmite no Juízo da Vara das Execuções Criminais, cujas penas, unifi cadas,

totalizam pouco mais de 35 anos de reclusão. Em 21/8/2007, o Juiz da Vara

das Execuções Criminais deferiu a progressão do ora recorrido para o regime

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

594

semiaberto e, posteriormente, em 26/12/2007, concedeu a possibilidade de

realização de trabalho extramuros (fl . 42).

Em 13/5/2010, o Magistrado de primeiro grau indeferiu o pedido de

remição de parte da pena formulado em favor do recorrido, pelo desempenho de

trabalho externo. A decisão fi cou assim fundamentada (fl . 11):

A remição é uma recompensa àqueles que procedem corretamente e uma

forma de abreviar o tempo de condenação, e só se aplica ao trabalho interno

supervisionado pela autoridade administrativa, a quem compete a distribuição

das tarefas, segundo a aptidão do condenado.

Assim. o entendimento esposado por este juízo é no sentido de ser incabível a

remição de pena por atividade laboral extramuros, desvinculada da administração

carcerária, assim, em benefício exclusivo do apenado. o único senhor da atividade

empreendida.

Por tais razões, INDEFIRO a remição das planilhas de fl s. 437/459.

A defesa, então, ingressou com remédio constitucional no Tribunal de

origem, cuja ordem foi concedida, pelos fundamentos abaixo aduzidos (fl s. 57-

60):

O instituto da remição tem amparo nos artigos 126 a 130 da LEP.

O artigo 126 consagra que o apenado que cumpre pena em regime fechado

ou semiaberto poderá remir, pelo trabalho, parte do tempo de execução da pena;

tal norma não condicionou a natureza do trabalho, ou seja, trabalho interno ou

externo, para efeito de concessão do benefício da remição.

A prestação de trabalho externo, segundo o artigo 37 da LEP, tem como

requisitos: a aptidão, disciplina e responsabilidade, além do cumprimento mínimo

de 1/6 (um sexto) da pena.

São poucos os programas da iniciativa privada e até mesmo estatais destinados

à reabilitação profi ssional de apenados e ex-apenados.

Aqueles que com muito esforço conseguem uma oportunidade de trabalho

dentro ou fora do sistema carcerário são exceções; sem dúvida os apenados

dependem da ajuda de amigos, parentes e das poucas pessoas que acreditam na

ressocialização dos egressos do sistema penal.

O sistema carcerário brasileiro, que se encontra num estado caótico, não

teria condições de oferecer trabalho digno a todos os apenados que tivessem

condições de trabalhar internamente ou estudar, para remir parte do seu tempo

de pena.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 585-600, novembro 2017 595

Também nos parece ser contraditório o Estado Juiz deferir o trabalho

extramuros, visando a ressocialização do apenado, e não aceitar tal trabalho para

fi ns de remição.

No caso ora em análise, o trabalho exercido pelo paciente em uma

oficina mecânica, legalmente estabelecida, deveria ser supervisionado pela

Administração Pública. Se esta não verifi ca o trabalho do apenado, não pode ele

sofrer as consequências da omissão da Administração.

Verifica-se também que o parágrafo 6º do artigo 126 da LEP, introduzido

pela Lei 12.433/11, dispõe que aquele que cumpre pena em regime aberto ou

semiaberto pode remir a sua pena pela frequência em curso de ensino regular

ou de educação profi ssional. Mais um motivo para ser considerado o trabalho

extramuros como fator de contagem do tempo para o fi m de remição, pois, se o

estudo fora do estabelecimento prisional pode ser considerado, por quê não o

trabalho?

‘Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou

semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de

execução da pena.

§ 6º O condenado que cumpre pena em regime aberto ou semiaberto e

o que usufrui liberdade condicional poderão remir, pela frequência a curso

de ensino regular ou de educação profi ssional, parte do tempo de execução

da pena ou do período de prova, observado o disposto no inciso I do § 1º

deste artigo.’

A jurisprudência deste Tribunal não hesita em reconhecer o trabalho externo

para efeito de remição:

[...]

Por tais fundamentos, entendo que a ordem deva ser concedida,

desconstituindo-se a decisão impugnada para que outra seja proferida, superado

o óbice da impossibilidade de deferimento da remição pelo trabalho externo.

É como voto.

II. A Lei de Execução Penal

Segundo o art. 126, caput, da Lei de Execução Penal, “O condenado que

cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou

por estudo, parte do tempo de execução da pena.”

Ainda, dispõe o § 6º do referido dispositivo legal que:

§ 6º O condenado que cumpre pena em regime aberto ou semiaberto e o que

usufrui liberdade condicional poderão remir, pela frequência a curso de ensino

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

596

regular ou de educação profi ssional, parte do tempo de execução da pena ou do

período de prova, observado o disposto no inciso I do § 1º deste artigo.

Dos dispositivos anteriormente transcritos, constato que o art. 126 da

Lei de Execução Penal não fez nenhuma distinção ou referência, para fi ns de

remição de parte do tempo de execução da pena, quanto ao local em que deve

ser desempenhada a atividade laborativa, de modo que entendo indiferente o fato

de o trabalho ser exercido dentro ou fora do ambiente carcerário. Na verdade, a lei

exige apenas que o condenado esteja cumprindo a pena em regime fechado ou

semiaberto.

Nesse sentido, menciono o seguinte julgado da Quinta Turma desta Corte

Superior de Justiça:

HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO DA PENA. REMIÇÃO. REGIME SEMIABERTO.

TRABALHO EXTRAMUROS. POSSIBILIDADE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL

EVIDENCIADO.

1. A Lei de Execução Penal autoriza a remição do remanescente da pena

aos reeducandos em regime fechado ou semiaberto, não sendo facultada a

concessão do benefício apenas se ela estiver sendo cumprida em regime aberto.

2. O art. 126 da Lei n. 7.210/84 não faz nenhuma distinção quanto à natureza

do trabalho ou quanto ao local de seu exercício, sendo, portanto, indiferente para o

alcance do benefício da remição se o trabalho é prestado em ambiente externo ou

dentro do estabelecimento prisional.

3. Ordem parcialmente concedida, de ofício, para determinar ao Juízo das

Execuções Criminais que reaprecie o pedido de remição da pena, afastando

o entendimento de que não é possível, no regime semiaberto, o resgate pelo

trabalho realizado fora do estabelecimento prisional.

(HC n. 206.313/RJ, Rel. Ministro Moura Ribeiro, 5ª T., DJ 11/12/2013)

Esse também é o entendimento da Sexta Turma deste Superior Tribunal:

EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS. (1) IMPETRAÇÃO SUBSTITUTIVA DE

RECURSO ORDINÁRIO. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA. (2) REMISSÃO. REGIME

SEMI-ABERTO. TRABALHO EXTERNO. POSSIBILIDADE. ILEGALIDADE MANIFESTA.

(3) WRIT NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.

[...]

3. Hipótese em que há fl agrante ilegalidade a ser reconhecida. O artigo 126

da Lei de Execuções apenas exige que o condenado esteja cumprindo a pena em

regime fechado ou semiaberto, mas não determina o local em que o apenado

deverá exercer a atividade laborativa.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 585-600, novembro 2017 597

4. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para, afastado

o entendimento de que não se aplica a remição ao trabalho realizado fora do

estabelecimento prisional, determinar que o juízo da execução reaprecie o pedido

do paciente de remição da pena, ajuizado enquanto ele se encontrava no regime

semiaberto (execução 2205/11785-8).

(HC n. 219.772/RS, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, 6ª T., DJe

26/8/2013)

HABEAS CORPUS. CABIMENTO. EXECUÇÃO PENAL. TRABALHO EXTERNO.

REMIÇÃO DA PENA. POSSIBILIDADE.

[...]

3. A única imposição contida no art. 126 da Lei de Execuções, para a concessão

da remição, é a de que o condenado cumpra pena em regime fechado ou

semiaberto, nada explicitando acerca do local desse trabalho. Logo, possível a

remição da pena naqueles casos em que o preso trabalha fora do estabelecimento

prisional. Precedentes.

4. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para possibilitar a

remição da pena.

(HC n. 205.592/RJ, Rel. Ministro Og Fernandes, 6ª T., DJe 27/2/2013)

Ademais, se o condenado que cumpre pena em regime aberto ou

semiaberto pode remir parte da reprimenda pela frequência a curso de ensino

regular ou de educação profi ssional, não vejo razões para não considerar o

trabalho extramuros de quem cumpre pena em regime semiaberto como fator

de contagem do tempo para fi ns de remição.

Ainda, destaco que o art. 36 da Lei de Execução Penal somente prescreve

a exigência de que o trabalho externo seja exercido por meio de “serviço ou

obras públicas realizadas por órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou

entidades privadas, desde que tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da

disciplina”.

Dessa forma, considero que, em homenagem, sobretudo, ao princípio

da legalidade, não se pode restringir a futura concessão de remição da pena

somente àqueles que prestam serviço nas dependências do estabelecimento

prisional, tampouco deixar de recompensar o apenado que esteja cumprindo a

pena no regime semiaberto e exerça atividade laborativa, ainda que extramuros.

Aliás, ressalto que a realização de trabalho externo, uma vez comprovada,

poderá servir, também, como pressuposto para a própria concessão futura da

remição da pena.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

598

Na verdade, a inteligência da Lei de Execução Penal direciona-se a premiar

o apenado que demonstra esforço em se ressocializar e que busca, na atividade

laboral, um incentivo maior à reintegração social (“a execução penal tem por

objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar

condições para a harmônica integração social do condenado e do internado” -

art. 1º).

A ausência de distinção pela lei, para fi ns de remição, quanto à espécie ou

ao local em que o trabalho é realizado, espelha a própria função ressocializadora

da pena, inserindo o condenado no mercado de trabalho e no próprio meio social

e reduzindo suas chances de retorno às atividades ilícitas. Ainda, consoante já

decidiu este Superior Tribunal, permite “a verifi cação da disciplina e do senso de

responsabilidade do apenado no cumprimento da pena” (HC n. 184.501/RJ, Rel.

Ministro Marco Aurélio Bellizze, 5ª T., DJe 25/5/2012).

Aliás, em sua Exposição de Motivos, a Lei de Execução Penal trouxe

a fundamentação para a incorporação do instituto da remição da pena ao

ordenamento jurídico, nos seguintes termos:

132. A remição é uma nova proposta ao sistema e tem, entre outros méritos, o

de abreviar, pelo trabalho, parte do tempo da condenação. Três dias de trabalho

correspondem a um dia de resgate. O tempo remido será computado para a

concessão do livramento condicional e do indulto, que a exemplo da remição

constituem hipóteses práticas de sentença indeterminada como fenômeno que

abranda os rigores da prefi xação invariável, contrária aos objetivos da Política

Criminal e da reversão pessoal do delinquente.

III. O instituto da remição

Faço lembrar que a remição é um instituto da execução penal que estimula

o próprio apenado a buscar atividades laborativas lícitas e educacionais durante

o seu período de encarceramento, não apenas para reduzir parte de sua expiação,

mas também para minimizar os efeitos da ociosidade na vida carcerária e, por

conseguinte, trazer maior disciplina ao ambiente prisional. Portanto, o art. 126

da Lei de Execução Penal deve ser interpretado de acordo com a concepção

teleológica do instituto da remição.

Ainda, destaco que, por vezes, o apenado não dispõe de estruturas laborais

dentro do estabelecimento prisional, somente conseguindo trabalhar em lugar

fora da unidade carcerária. Essa situação também foi constatada pela Corte

estadual, ao salientar que (fl . 58):

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 9, (45): 585-600, novembro 2017 599

O sistema carcerário brasileiro, que se encontra num estado caótico, não

teria condições de oferecer trabalho digno a todos os apenados que tivessem

condições de trabalhar internamente ou estudar, para remir parte do seu tempo

de pena.

Ausentes, por defi ciência estrutural ou funcional do Sistema Penitenciário,

as condições que permitam a oferta de trabalho digno para todos os apenados

aptos à atividade laborativa, não se há de impor ao condenado que exerce

trabalho extramuros os ônus decorrentes dessa inefi ciência.

Pondero que a supervisão direta do próprio trabalho, como tanto enfatizou

o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, em suas razões recursais,

deve fi car a cargo do patrão do apenado, cumprindo à administração carcerária a

supervisão sobre a regularidade do trabalho. Acrescento que a frequência a curso

de ensino regular ou de educação profi ssional, que também não se submete a

essa supervisão direta trazida pelo recorrente, é aceito para fi ns de remição de

parte do tempo de execução da pena.

Por fi m, saliento mais uma vez que, autorizado ao trabalho extramuros

pelo Juízo das Execuções Criminais (fl . 42), o recorrido desempenhou suas

atividades em uma ofi cina mecânica, legalmente estabelecida. Portanto, mostra-

se, no mínimo, contraditório o Estado-Juiz permitir a realização dessa atividade

fora do estabelecimento prisional, com vistas à ressocialização do apenado, e, ao

mesmo tempo, ilidir o benefício da remição

IV. Conclusão

Ante tais considerações, entendo que não há motivos para negar ao

recorrido a possibilidade de remição de parte da pena pela realização, durante o

regime semiaberto, de trabalho externo.

Por conseguinte, a tese jurídica fi xada, para os fi ns previstos no art. 543-C

do Código de Processo Civil, é a seguinte:

É possível a remição de parte do tempo de execução da pena quando o condenado,

em regime fechado ou semiaberto, desempenha atividade laborativa, ainda que

extramuros.

V. Dispositivo

À vista do exposto, nego provimento ao recurso especial.

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Por se tratar de recurso representativo da controvérsia, determino o envio

de cópia do inteiro teor deste acórdão, após a devida publicação, à Presidência

deste Superior Tribunal, aos Presidentes dos Tribunais de Justiça dos Estados e

do Distrito Federal e dos Territórios, bem como aos Presidentes dos Tribunais

Regionais Federais, para o cumprimento do disposto no art. 543-C, § 7º, do

Código de Processo Civil e no art. 5º da Resolução n. 8/2008 deste Superior

Tribunal.

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Índice Analítico

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A

Ação de cobrança do seguro DPVAT - Escolha de foro. Súmula n. 540-STJ. RSSTJ

45/59.

Ação de reparação de danos - Seguradora denunciada. Súmula n. 537-STJ. RSSTJ

45/11.

Ação penal pública incondicionada - Crime de lesão corporal resultante de violência

doméstica contra a mulher. Súmula n. 542-STJ. RSSTJ 45/151.

Administradora de consórcio - Taxa de administração. Súmula n. 538-STJ. RSSTJ

45/29.

Aposentadoria por invalidez precedido de auxílio-doença - Renda Mensal Inicial

(RMI). Súmula n. 557-STJ. RSSTJ 45/503.

C

Cadastro de inadimplentes - Exclusão do registro da dívida em nome do devedor .

Súmula n. 548-STJ. RSSTJ 45/261.

Capitalização de juros - Contratos celebrados com instituições integrantes do Sistema

Financeiro Nacional. Súmula n. 539-STJ. RSSTJ 45/43.

CDC, art. 43 - Lei n. 12.414/2011, arts. 3º, § 3º, I e II; 5º, IV; 7º, I, e 16 - Utilização de

escore de crédito. Súmula n. 550-STJ. RSSTJ 45/319.

Competência - Crime de uso de documento falso. Súmula n. 546-STJ. RSSTJ 45/213.

Competência - Empréstimo compulsório sobre o consumo de energia elétrica.

Súmula n. 553-STJ. RSSTJ 45/435.

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ÍNDICE ANALÍTICO

604

Complementação de ações de empresas de telefonia - Lei n. 9.249/1995, art. 9º. Súmula n. 551-STJ. RSSTJ 45/357.

Concurso público - Vagas reservadas. Súmula n. 552-STJ. RSSTJ 45/383.

Confi ssão - CP, art. 65, III, d - Formação do convencimento do julgador. Súmula n. 545-STJ. RSSTJ 45/201.

Conselhos Regionais de Farmácia - Lei n. 3.820/1960, arts. 10, c, e 24, parágrafo único. Súmula n. 561-STJ. RSSTJ 45/567.

Contrato bancário - Taxa de juros. Súmula n. 541-STJ. RSSTJ 45/79.

Contrato de locação - Penhora de bem de família pertencente a fi ador. Súmula n. 549-STJ. RSSTJ 45/291.

Contratos celebrados com instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional - Capitalização de juros. Súmula n. 539-STJ. RSSTJ 45/43.

CP, art. 65, III, d - Confi ssão - Formação do convencimento do julgador. Súmula n. 545-STJ. RSSTJ 45/201.

Crédito tributário - Constituição - Prazo decadencial quinquenal. Súmula n. 555-STJ. RSSTJ 45/475.

Crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher - Ação penal pública incondicionada. Súmula n. 542-STJ. RSSTJ 45/151.

Crime de uso de documento falso - Competência. Súmula n. 546-STJ. RSSTJ 45/213.

CTN, art. 185-A - Decretação da indisponibilidade de bens e direitos. Súmula n. 560-STJ. RSSTJ 45/551.

Custeio de construção de rede elétrica - Participação fi nanceira do consumidor - Prazo prescricional. Súmula n. 547-STJ. RSSTJ 45/231.

D

Decretação da indisponibilidade de bens e direitos - CTN, art. 185-A. Súmula n.

560-STJ. RSSTJ 45/551.

E

Empréstimo compulsório sobre o consumo de energia elétrica - Competência.

Súmula n. 553-STJ. RSSTJ 45/435.

Escolha de foro - Ação de cobrança do seguro DPVAT. Súmula n. 540-STJ. RSSTJ

45/59.

Exclusão do registro da dívida em nome do devedor - Cadastro de inadimplentes.

Súmula n. 548-STJ. RSSTJ 45/261.

Page 605: Revista de Súmulas T S DE UPERIOR RIBUNAL USTIÇA · Para os efeitos do artigo 543-C do CPC, defi niu-se que, em ação de reparação de danos movida em face do segurado, a Seguradora

ÍNDICE ANALÍTICO

RSSTJ, a. 9, (45): 601-608, novembro 2017 605

Execução fi scal - Petição inicial. Súmula n. 558-STJ. RSSTJ 45/517.

Execução fi scal - Petição inicial - Instrução. Súmula n. 559-STJ. RSSTJ 45/537.

F

Formação do convencimento do julgador - Confi ssão - CP, art. 65, III, d. Súmula n.

545-STJ. RSSTJ 45/201.

I

Imposto de Renda (IR) - Não incidência - Valor da complementação de aposentadoria pago por entidade de previdência privada. Súmula n. 556-STJ. RSSTJ 45/491.

Indenização do seguro DPVAT - Proporcionalidade ao grau de invalidez - Tabela do Conselho Nacional de Seguros Privados. Súmula n. 544-STJ. RSSTJ 45/181.

L

Lei n. 3.820/1960, arts. 10, c, e 24, parágrafo único - Conselhos Regionais de Farmácia. Súmula n. 561-STJ. RSSTJ 45/567.

Lei n. 9.249/1995, art. 9º - Complementação de ações de empresas de telefonia. Súmula n. 551-STJ. RSSTJ 45/357.

Lei n. 12.414/2011, arts. 3º, § 3º, I e II; 5º, IV; 7º, I, e 16 - CDC, art. 43 - Utilização de escore de crédito. Súmula n. 550-STJ. RSSTJ 45/319.

LEP, art. 126 - Remição de parte do tempo de execução da pena. Súmula n. 562-STJ. RSSTJ 45/585.

P

Participação fi nanceira do consumidor - Custeio de construção de rede elétrica - Prazo prescricional. Súmula n. 547-STJ. RSSTJ 45/231.

Penhora de bem de família pertencente a fi ador - Contrato de locação. Súmula n. 549-STJ. RSSTJ 45/291.

Petição inicial - Execução fi scal. Súmula n. 558-STJ. RSSTJ 45/517.

Petição inicial - Instrução - Execução fi scal. Súmula n. 559-STJ. RSSTJ 45/537.

Prazo decadencial quinquenal - Crédito tributário - Constituição. Súmula n. 555-STJ. RSSTJ 45/475.

Prazo prescricional - Custeio de construção de rede elétrica - Participação fi nanceira

do consumidor. Súmula n. 547-STJ. RSSTJ 45/231.

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ÍNDICE ANALÍTICO

606

R

Remição de parte do tempo de execução da pena - LEP, art. 126. Súmula n. 562-STJ.

RSSTJ 45/585.

Renda Mensal Inicial (RMI) - Aposentadoria por invalidez precedido de auxílio-

doença. Súmula n. 557-STJ. RSSTJ 45/503.

Resolução de contrato de promessa de compra e venda de imóvel - Restituição das

parcelas pagas. Súmula n. 543-STJ. RSSTJ 45/165.

Responsabilidade tributária da sucessora - Sucessão empresarial. Súmula n. 554-STJ.

RSSTJ 45/459.

Restituição das parcelas pagas - Resolução de contrato de promessa de compra e

venda de imóvel. Súmula n. 543-STJ. RSSTJ 45/165.

S

Seguradora denunciada - Ação de reparação de danos. Súmula n. 537-STJ. RSSTJ

45/11.

Sucessão empresarial - Responsabilidade tributária da sucessora. Súmula n. 554-STJ.

RSSTJ 45/459.

Súmula n. 537-STJ - Ação de reparação de danos - Seguradora denunciada. RSSTJ

45/11.

Súmula n. 538-STJ - Administradora de consórcio - Taxa de administração. RSSTJ

45/29.

Súmula n. 539-STJ - Capitalização de juros - Contratos celebrados com instituições

integrantes do Sistema Financeiro Nacional. RSSTJ 45/43.

Súmula n. 540-STJ - Ação de cobrança do seguro DPVAT - Escolha de foro. RSSTJ

45/59.

Súmula n. 541-STJ - Contrato bancário - Taxa de juros. RSSTJ 45/79.

Súmula n. 542-STJ - Ação penal pública incondicionada - Crime de lesão corporal

resultante de violência doméstica contra a mulher. RSSTJ 45/151.

Súmula n. 543-STJ - Resolução de contrato de promessa de compra e venda de

imóvel - Restituição das parcelas pagas. RSSTJ 45/165.

Súmula n. 544-STJ - Indenização do seguro DPVAT - Proporcionalidade ao grau de

invalidez - Tabela do Conselho Nacional de Seguros Privados. RSSTJ 45/181.

Súmula n. 545-STJ - Confi ssão - CP, art. 65, III, d - Formação do convencimento do

julgador. RSSTJ 45/201.

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ÍNDICE ANALÍTICO

RSSTJ, a. 9, (45): 601-608, novembro 2017 607

Súmula n. 546-STJ - Competência - Crime de uso de documento falso. RSSTJ 45/213.

Súmula n. 547-STJ - Custeio de construção de rede elétrica - Participação fi nanceira do consumidor - Prazo prescricional. RSSTJ 45/231.

Súmula n. 548-STJ - Cadastro de inadimplentes - Exclusão do registro da dívida em nome do devedor . RSSTJ 45/261.

Súmula n. 549-STJ - Contrato de locação - Penhora de bem de família pertencente a fi ador. RSSTJ 45/291.

Súmula n. 550-STJ - CDC, art. 43 - Lei n. 12.414/2011, arts. 3º, § 3º, I e II; 5º, IV; 7º, I, e 16 - Utilização de escore de crédito. RSSTJ 45/319.

Súmula n. 551-STJ - Complementação de ações de empresas de telefonia - Lei n. 9.249/1995, art. 9º. RSSTJ 45/357.

Súmula n. 552-STJ - Concurso público - Vagas reservadas. RSSTJ 45/383.

Súmula n. 553-STJ - Competência - Empréstimo compulsório sobre o consumo de energia elétrica. RSSTJ 45/435.

Súmula n. 554-STJ - Responsabilidade tributária da sucessora - Sucessão empresarial. RSSTJ 45/459.

Súmula n. 555-STJ - Crédito tributário - Constituição - Prazo decadencial quinquenal. RSSTJ 45/475.

Súmula n. 556-STJ - Imposto de Renda (IR) - Não incidência - Valor da complementação de aposentadoria pago por entidade de previdência privada. RSSTJ 45/491.

Súmula n. 557-STJ - Aposentadoria por invalidez precedido de auxílio-doença - Renda Mensal Inicial (RMI). RSSTJ 45/503.

Súmula n. 558-STJ - Execução fi scal - Petição inicial. RSSTJ 45/517.

Súmula n. 559-STJ - Execução fi scal - Petição inicial - Instrução. RSSTJ 45/537.

Súmula n. 560-STJ - CTN, art. 185-A - Decretação da indisponibilidade de bens e direitos. RSSTJ 45/551.

Súmula n. 561-STJ - Conselhos Regionais de Farmácia - Lei n. 3.820/1960, arts. 10, c, e 24, parágrafo único. RSSTJ 45/567.

Súmula n. 562-STJ - LEP, art. 126 - Remição de parte do tempo de execução da pena. RSSTJ 45/585.

T

Tabela do Conselho Nacional de Seguros Privados - Indenização do seguro DPVAT -

Proporcionalidade ao grau de invalidez. Súmula n. 544-STJ. RSSTJ 45/181.

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ÍNDICE ANALÍTICO

608

Taxa de administração - Administradora de consórcio. Súmula n. 538-STJ. RSSTJ

45/29.

Taxa de juros - Contrato bancário. Súmula n. 541-STJ. RSSTJ 45/79.

U

Utilização de escore de crédito - CDC, art. 43 - Lei n. 12.414/2011, arts. 3º, § 3º, I e

II; 5º, IV; 7º, I, e 16. Súmula n. 550-STJ. RSSTJ 45/319.

V

Vagas reservadas - Concurso público. Súmula n. 552-STJ. RSSTJ 45/383.

Valor da complementação de aposentadoria pago por entidade de previdência privada -

Imposto de Renda (IR) - Não incidência. Súmula n. 556-STJ. RSSTJ 45/491.

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Índice Sistemático

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SÚMULA N. 537

REsp 925.130-SP .................. Rel. Min. Luis Felipe Salomão ................ RSSTJ 45/15

SÚMULA N. 538

REsp 1.114.606-PR ............... Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva ....... RSSTJ 45/33

SÚMULA N. 539

REsp 1.112.879-PR ............... Rel. Min. Nancy Andrighi ....................... RSSTJ 45/47

SÚMULA N. 540

REsp 1.357.813-RJ ................ Rel. Min. Luis Felipe Salomão ................ RSSTJ 45/63

SÚMULA N. 541

REsp 973.827-RS .................. Rel. Min. Maria Isabel Gallotti ................ RSSTJ 45/83

SÚMULA N. 542

RHC 42.228-SP ..................... Rel. Min. Maria Th ereza de Assis Moura RSSTJ 45/155

SÚMULA N. 543

REsp 1.300.418-SC ............... Rel. Min. Luis Felipe Salomão ............... RSSTJ 45/169

SÚMULA N. 544

REsp 1.246.432-RS ............... Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino .... RSSTJ 45/185

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ÍNDICE SISTEMÁTICO

612

SÚMULA N. 545

HC 314.944-SP ..................... Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca ... RSSTJ 45/205

SÚMULA N. 546

CC 115.285-ES...................... Rel. Min. Moura Ribeiro ........................ RSSTJ 45/217

SÚMULA N. 547

REsp 1.249.321-RS ............... Rel. Min. Luis Felipe Salomão ............... RSSTJ 45/235

REsp 1.063.661-RS ............... Rel. Min. Luis Felipe Salomão ............... RSSTJ 45/250

SÚMULA N. 548

REsp 1.424.792-BA ............... Rel. Min. Luis Felipe Salomão ............... RSSTJ 45/265

SÚMULA N. 549

REsp 1.363.368-MS .............. Rel. Min. Luis Felipe Salomão ............... RSSTJ 45/295

SÚMULA N. 550

REsp 1.419.697-RS ............... Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino .... RSSTJ 45/323

SÚMULA N. 551

REsp 1.373.438-RS ............... Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino .... RSSTJ 45/361

SÚMULA N. 552

MS 18.966-DF....................... Rel. Min. Humberto Martins ................. RSSTJ 45/387

SÚMULA N. 553

REsp 1.111.159-RJ ................ Rel. Min. Benedito Gonçalves ................ RSSTJ 45/439

EDcl noREsp 1.111.159-RJ ................ Rel. Min. Benedito Gonçalves ................ RSSTJ 45/450

SÚMULA N. 554

REsp 923.012-MG ................ Rel. Min. Luiz Fux ................................. RSSTJ 45/463

SÚMULA N. 555

REsp 973.733-SC .................. Rel. Min. Luiz Fux ................................. RSSTJ 45/479

SÚMULA N. 556

REsp 760.246-PR .................. Rel. Min. Teori Albino Zavascki ............ RSSTJ 45/495

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ÍNDICE SISTEMÁTICO

RSSTJ, a. 11, (45): 609-613, novembro 2017 613

SÚMULA N. 557

REsp 1.410.433-MG ............. Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima ............ RSSTJ 45/507

SÚMULA N. 558

REsp 1.450.819-AM.............. Rel. Min. Sérgio Kukina ......................... RSSTJ 45/521

SÚMULA N. 559

REsp 1.138.202-ES................ Rel. Min. Luiz Fux ................................. RSSTJ 45/541

SÚMULA N. 560

REsp 1.377.507-SP ................ Rel. Min. Og Fernandes ......................... RSSTJ 45/555

SÚMULA N. 561

REsp 1.382.751-MG ............. Rel. Min. Og Fernandes ......................... RSSTJ 45/571

SÚMULA N. 562

REsp 1.381.315-RJ ................ Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz ............. RSSTJ 45/589

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Siglas e Abreviaturas

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AC Apelação Cível

Adm Administrativo

Ag Agravo de Instrumento

AgRg Agravo Regimental

AI Argüição de Inconstitucionalidade

ANA Agência Nacional de Águas

Anatel Agência Nacional de Telecomunicações

Aneel Agência Nacional de Energia Elétrica

APn Ação Penal

AR Ação Rescisória

CAt Confl ito de Atribuições

CC Código Civil

CC Confl ito de Competência

CCm Código Comercial

Cm Comercial

CNE Conselho Nacional de Educação

Com Comunicação

CP Código Penal

CPC Código de Processo Civil

CDC Código de Proteção e Defesa do Consumidor

CPP Código de Processo Penal

CR Carta Rogatória

CRI Carta Rogatória Impugnada

Ct Constitucional

CTB Código de Trânsito Brasileiro

CTN Código Tributário Nacional

Cv Civil

D Decreto

DL Decreto-Lei

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SIGLAS E ABREVIATURAS

618

DNAEE Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica

E Ementário da Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça

EAC Embargos Infringentes em Apelação Cível

EAR Embargos Infringentes em Ação Rescisória

EAg Embargos de Divergência no Agravo

EC Emenda Constitucional

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

EDcl Embargos de Declaração

EJSTJ Ementário da Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça

El Eleitoral

EREsp Embargos de Divergência em Recurso Especial

ERMS Embargos Infringentes no Recurso em Mandado de

Segurança

ExImp Exceção de Impedimento

ExSusp Exceção de Suspeição

ExVerd Exceção da Verdade

ExecAR Execução em Ação Rescisória

ExecMC Execução em Medida Cautelar

ExecMS Execução em Mandado de Segurança

HC Habeas Corpus

HD Habeas Data

HSE Homologação de Sentença Estrangeira

IDC Incidente de Deslocamento de Competência

IExec Incidente de Execução

IF Intervenção Federal

IJ Interpelação Judicial

Inq Inquérito

IPVA Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores

IUJ Incidente de Uniformização de Jurisprudência

LC Lei Complementar

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SIGLAS E ABREVIATURAS

RSSTJ, a. 9, (45): 615-620, novembro 2017 619

LCP Lei das Contravenções Penais

Loman Lei Orgânica da Magistratura

LONMP Lei Orgânica Nacional do Ministério Público

MC Medida Cautelar

MC Ministério das Comunicações

MI Mandado de Injunção

MS Mandado de Segurança

NC Notícia-Crime

PA Processo Administrativo

Pet Petição

PExt Pedido de Extensão

Pn Penal

Prc Precatório

PrCv Processual Civil

PrPn Processual Penal

Pv Previdenciário

QO Questão de Ordem

R Revista do Superior Tribunal de Justiça

Rcl Reclamação

RD Reconsideração de Despacho

RE Recurso Extraordinário

REsp Recurso Especial

RHC Recurso em Habeas Corpus

RHD Recurso em Habeas Data

RMI Recurso em Mandado de Injunção

RMS Recurso em Mandado de Segurança

RO Recurso Ordinário

Rp Representação

RSTJ Revista do Superior Tribunal de Justiça

RvCr Revisão Criminal

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SIGLAS E ABREVIATURAS

620

S Súmula

SAF Secretaria de Administração Federal

Sd Sindicância

SEC Sentença Estrangeira Contestada

SF Senado Federal

SL Suspensão de Liminar

SLS Suspensão de Liminar e de Sentença

SS Suspensão de Segurança

STA Suspensão de Tutela Antecipada

Tr Trabalho

Trbt Tributário

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Repositórios Autorizados e Credenciados pelo

Superior Tribunal de Justiça

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REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO SUPERIOR

TRIBUNAL DE JUSTIÇA

01. Lex - Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça - editada pela Lex Editora

S.A. - Portaria n. 1 de 19.08.1985 - DJ 21.08.1985 - Registro revalidado - Edital de

20.10.1989 - DJ 24.10.1989 - Registro cancelado - Portaria n. 2 de 11.12.2012 - DJe

13.12.2012.

02. Revista de Direito Administrativo - editada pela Editora Renovar Ltda. - Portaria

n. 2 de 19.08.1985 - DJ 21.08.1985 - Registro cancelado - Portaria n. 1 de 05.09.2007

- DJ 19.09.2007.

03. Revista LTr - Legislação do Trabalho - editada pela LTr Editora Ltda. - Portaria n.

5 de 26.08.1985 - DJ 28.08.1985 - Registro revalidado - Edital de 20.10.1989 - DJ

24.10.1989 - Registro alterado - Portaria n. 5 de 22.11.2011 - DJe de 23.11.2011.

04. Jurisprudência Brasileira Cível e Comércio - editada pela Juruá Editora Ltda. -

Portaria n. 6 de 09.09.1985 - DJ 12.09.1985 - Registro cancelado - Portaria n. 1 de

09.02.2006 - DJ 15.02.2006.

05. Julgados dos Tribunais Superiores - editada pela Editora Jurid Vellenich Ltda. -

Portaria n. 7 de 06.11.1987 - DJ 10.11.1987 - Registro cancelado - Portaria n. 2 de

06.03.2001 - DJ 09.03.2001.

06. Revista de Doutrina e Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos

Territórios - Portaria n. 1 de 29.11.1989 - DJ 1º.12.1989 - Registro alterado/retifi cado

- Portaria n. 3 de 19.06.2002 - DJ de 25.06.2002.

07. Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul - Portaria n.

1 de 08.02.1990 - DJ 12.02.1990 - Registro alterado - Portaria n. 3 de 19.03.2010 - DJe

22.03.2010.

08. Revista Jurídica Mineira - Portaria n. 3 de 02.04.1990 - DJ 04.04.1990 - Registro

cancelado - Portaria n. 4 de 13.05.1999 - DJ 04.06.1999.

09. Revista Jurídica - de responsabilidade da IOB Informações Objetivas Publicações

Jurídicas Ltda. (anteriormente editada pela Notadez Informações Ltda.) - Portaria n. 4

de 02.04.1990 - DJ 04.04.1990.

10. Julgados do Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul - Portaria n. 5 de 02.05.1990

- DJ 09.05.1990 - Registro cancelado - Portaria n. 8 de 16.11.2000 - DJ 24.11.2000.

11. Revista de Processo - editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. - Portaria n.

6 de 31.05.1990 - DJ 06.06.1990.

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REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ

624

12. Revista de Direito Civil - editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. - Portaria

n. 7 de 31.05.1990 - DJ 06.06.1990 - Registro cancelado - Portaria n. 4 de 06.06.2000

- DJ 09.06.2000.

13. Revista dos Tribunais - editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. - Portaria n.

8 de 31.05.1990 - DJ 06.06.1990.

14. Revista de Direito Público - editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. -

Portaria n. 9 de 31.05.1990 - DJ 06.06.1990 - Registro cancelado - Portaria n. 5 de

11.06.2001 - DJ 19.06.2001.

15. Revista Ciência Jurídica - editada pela Editora Ciência Jurídica Ltda. - Portaria n. 10

de 21.08.1990 - DJ 24.08.1990 - Registro cancelado - Portaria n. 2 de 04.07.2003 - DJ

14.07.2003.

16. Revista Jurisprudência Mineira - editada pelo Tribunal de Justiça do Estado de

Minas Gerais - Portaria n. 12 de 10.09.1990 - DJ 12.09.1990.

17. Revista de Julgados do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais - Portaria n.

13 de 17.12.1990 - DJ 19.12.1990 - Registro cancelado - Portaria n. 10 de 08.10.2007

- DJ 18.10.2007.

18. Jurisprudência Catarinense - editada pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina -

Portaria n. 1 de 22.05.1991 - DJ 27.05.1991.

19. Revista SÍNTESE Trabalhista e Previdenciária - editada pela IOB Informações

Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. - Portaria n. 3 de 16.09.1991 - DJ 20.09.1991 -

Registro retifi cado - Portaria n. 9 de 22.11.2006 - DJ 11.12.2006 - Registro retifi cado

e ratifi cado - Portaria n. 8 de 25.10.2010 - DJe 28.10.2010.

20. Lex - Jurisprudência dos Tribunais de Alçada Civil de São Paulo - editada pela Lex

Editora S.A. - Portaria n. 1 de 10.03.1992 - DJ 13.03.1992 - Registro cancelado -

Portaria n. 6 de 08.10.2007 - DJ 18.10.2007.

21. Jurisprudência do Tribunal de Justiça - editada pela Lex Editora S.A. - Portaria n. 2

de 10.03.1992 - DJ 13.03.1992 - Registro retifi cado - Portaria n. 9 de 16.11.2000 - DJ

24.11.2000 - Registro cancelado - Portaria n. 4 de 29.10.2013 - DJe de 05.11.2013.

22. Lex - Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal - editada pela Lex Editora S.A.

- Portaria n. 3 de 10.03.1992 - DJ 13.03.1992 - Registro cancelado - Portaria n. 3 de

11.12.2012 - DJe 13.12.2012.

23. Revista de Previdência Social - editada pela LTr Editora Ltda. - Portaria n. 4 de

20.04.1992 - DJ 24.04.1992.

24. Revista Forense - editada pela Editora Forense - Portaria n. 5 de 22.06.1992 - DJ

06.07.1992 - Registro cancelado - Portaria n. 8 de 22.11.2011 - DJe de 23.11.2011.

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REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ

RSSTJ, a. 9, (45): 621-629, novembro 2017 625

25. Revista Trimestral de Jurisprudência dos Estados - editada pela Editora Jurid

Vellenich Ltda. - Portaria n. 6 de 06.11.1992 - DJ 10.11.1992 - Registro cancelado -

Portaria n. 3 de 04.07.2003 - DJ 14.07.2003.

26. Série - Jurisprudência ADCOAS - editada pela Editora Esplanada Ltda. - Portaria

n. 1 de 18.02.1993 - DJ 25.02.1993 - Registro cancelado - Portaria n. 2 de 23.08.2004

- DJ 26.08.2004.

27. Revista Ata - Arquivos dos Tribunais de Alçada do Estado do Rio de Janeiro -

Portaria n. 2 de 11.02.1994 - DJ 18.02.1994 - Registro cancelado - Portaria n. 3 de

04.05.1999 - DJ 18.05.1999.

28. Revista do Tribunal Regional Federal da 4ª Região - editada pela Livraria do

Advogado Ltda. - Portaria n. 3 de 02.03.1994 - DJ 07.03.1994.

29. Revista de Direito do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Portaria n. 4

de 15.06.1994 - DJ 17.06.1994.

30. Genesis - Revista de Direito do Trabalho - editada pela Genesis Editora - Portaria

n. 5 de 14.09.1994 - DJ 16.09.1994 - Registro cancelado - Portaria n. 4 de 08.10.2007

- DJ 18.10.2007.

31. Decisório Trabalhista - editada pela Editora Decisório Trabalhista Ltda. - Portaria

n. 6 de 02.12.1994 - DJ 06.12.1994 - Registro cancelado - Portaria n. 2 de 28.06.2013

- DJe 1º.07.2013.

32. Revista de Julgados e Doutrina do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São

Paulo - Portaria n. 1 de 18.12.1995 - DJ 20.12.1995 - Registro cancelado - Portaria n.

5 de 08.10.2007 - DJ 18.10.2007.

33. Revista do Tribunal Regional Federal da 3ª Região - editada pelo Tribunal Regional

Federal da 3ª Região - Portaria n. 1 de 11.04.1996 - DJ 22.04.1996 - Registro

cancelado - Portaria n. 6 de 18.06.2010 - DJe 22.06.2010.

34. Lex - Jurisprudência do Tribunal Federal de Recursos - editada pela Lex Editora

S.A. - Portaria n. 2 de 29.04.1996 - DJ 02.05.1996 - Registro cancelado - Portaria n. 11

de 08.10.2007 - DJ 18.10.2007.

35. Revista de Direito Renovar - editada pela Editora Renovar Ltda. - Portaria n. 3 de

12.08.1996 - DJ 15.08.1996. - Registro cancelado - Portaria n. 1 de 1º.06.2017 - DJe

07.06.2017.

36. Revista Dialética de Direito Tributário - editada pela Editora Oliveira Rocha

Comércio e Serviços Ltda. - Portaria n. 1 de 16.06.1997 - DJ 23.06.1997 - Registro

cancelado - Portaria n. 1 de 20.04.2016 - DJe 03.05.2016.

37. Revista do Ministério Público - Portaria n. 1 de 26.10.1998 - DJ 05.11.1998 -

Registro retifi cado - Portaria n. 9 de 14.06.1999 - DJ 22.06.1999.

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REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ

626

38. Revista Jurídica Consulex - editada pela Editora Consulex Ltda. - Portaria n. 1

de 04.02.1999 - DJ 23.02.1999 - Republicada em 25.02.1999 - Registro cancelado -

Portaria n. 1 de 06.03.2001 - DJ 09.03.2001.

39. Genesis - Revista de Direito Processual Civil - editada pela Genesis Editora -

Portaria n. 2 de 12.04.1999 - DJ 15.04.1999 - Registro cancelado - Portaria n. 3 de

08.10.2007 - DJ 18.10.2007.

40. Jurisprudência Brasileira Criminal - editada pela Juruá Editora Ltda. - Portaria n. 6

de 14.06.1999 - DJ 22.06.1999 - Registro cancelado - Portaria n. 2 de 09.02.2006 - DJ

15.02.2006.

41. Jurisprudência Brasileira Trabalhista - editada pela Juruá Editora Ltda. - Portaria n. 7

de 14.06.1999 - DJ 22.06.1999 - Registro cancelado - Portaria n. 3 de 09.02.2006 - DJ

15.02.2006.

42. Revista de Estudos Tributários - editada pela marca SÍNTESE, de responsabilidade

da IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. - Portaria n. 8 de 14.06.1999

- DJ 22.06.1999.

43. Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça - editada pela Editora Brasília

Jurídica Ltda. - Portaria n. 10 de 29.06.1999 - DJ 05.07.1999 - Registro cancelado -

Portaria n. 1 de 23.08.2004 - DJ 26.08.2004.

44. Revista Interesse Público - editada pela Editora Fórum Ltda. - Portaria n. 1 de

14.03.2000 - DJ 21.03.2000.

45. Revista SÍNTESE Direito Civil e Processual Civil - editada pela IOB Informações

Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. - Portaria n. 2 de 14.03.2000 - DJ 21.03.2000 -

Registro retifi cado - Portaria n. 9 de 22.11.2006 - DJ 11.12.2006 - Registro retifi cado

e ratifi cado - Portaria n. 8 de 25.10.2010 - DJe 28.10.2010.

46. Revista SÍNTESE Direito de Família - editada pela IOB Informações Objetivas

Publicações Jurídicas Ltda. - Portaria n. 3 de 29.03.2000 - DJ 03.04.2000 - Registro

retifi cado - Portaria n. 2 de 14.09.2009 - DJe 15.09.2009 - Registro retifi cado e

ratifi cado - Portaria n. 8 de 25.10.2010 - DJe 28.10.2010.

47. Revista ADCOAS Previdenciária - editada pela Editora Esplanada Ltda. -

ADCOAS - Portaria n. 5 de 21.06.2000 - DJ 27.06.2000 - Registro cancelado -

Portaria n. 8 de 08.10.2007 - DJ 18.10.2007.

48. Revista ADCOAS Trabalhista - editada pela Editora Esplanada Ltda. - ADCOAS

- Portaria n. 6 de 21.06.2000 - DJ 27.06.2000 - Registro cancelado - Portaria n. 7 de

08.10.2007 - DJ 18.10.2007.

49. Revista de Jurisprudência ADCOAS - editada pela Editora Esplanada Ltda.

- ADCOAS - Portaria n. 7 de 21.06.2000 - DJ 27.06.2000 - Registro cancelado -

Portaria n. 9 de 08.10.2007 - DJ 18.10.2007.

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REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ

RSSTJ, a. 9, (45): 621-629, novembro 2017 627

50. Revista SÍNTESE Direito Penal e Processual Penal - editada pela IOB Informações

Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. - Portaria n. 4 de 06.03.2001 - DJ 09.03.2001 -

Registro retifi cado - Portaria n. 9 de 22.11.2006 - DJ 11.12.2006 - Registro retifi cado

e ratifi cado - Portaria n. 8 de 25.10.2010 - DJe 28.10.2010.

51. Revista Tributária e de Finanças Públicas - editada pela Editora Revista dos

Tribunais - Portaria n. 6 de 11.06.2001 - DJ 19.06.2001.

52. Revista Nacional de Direito e Jurisprudência - editada pela Nacional de Direito

Livraria Editora Ltda. - Portaria n. 1 de 08.04.2002 - DJ 02.05.2002 - Republicada em

19.04.2002 - Registro cancelado - Portaria n. 1 de 31.07.2009 - DJe 05.08.2009.

53. Revista do Tribunal Regional Federal da 5ª Região - editada pelo Tribunal Regional

Federal da 5ª Região - Portaria n. 2 de 23.04.2002 - DJ 02.05.2002 - Registro

cancelado - Portaria n. 5 de 09.04.2010 - DJe 18.04.2010.

54. Revista Dialética de Direito Processual - editada pela Editora Oliveira Rocha

Comércio e Serviços Ltda. - Portaria n. 1 de 30.06.2003 - DJ 07.07.2003 - Registro

cancelado - Portaria n. 2 de 20.04.2016 - DJe 03.05.2016.

55. Revista Juris Plenum - editada pela Editora Plenum Ltda. - Portaria n. 1 de

23.05.2005 - DJ 30.05.2005 - Registro alterado - Portaria n. 5 de 28.11.2013 - DJe

29.11.2013.

56. Revista Bonijuris - versão impressa - co-editada pelo Instituto de Pesquisas

Jurídicas Bonijuris, Associação dos Magistrados do Paraná (Amapar), Associação dos

Magistrados Catarinense (AMC) e Associação dos Magistrados do Trabalho IX e XII

(Amatra) - Portaria n. 2 de 18.10.2005 - DJ 27.10.2005.

57. Revista Juris Plenum Trabalhista e Previdenciária - editada pela Editora Plenum

Ltda. - Portaria n. 3 de 16.12.2005 - DJ 08.02.2006 - Registro cancelado - Portaria n.

9 de 12.12.2011 - DJe 14.12.2011.

58. Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal - editada pela Editora Magister

Ltda. - Portaria n. 4 de 02.08.2006 - DJ 09.08.2006.

59. CD-ROM - Jur Magister - editado pela Editora Magister Ltda. - Portaria n. 5 de

09.08.2006 - DJ 15.08.2006 - Registro cancelado - Portaria n. 6 de 11.12.2013 - DJe

12.12.2013.

60. DVD - Magister - editado pela Editora Magister Ltda. - Portaria n. 6 de 09.08.2006

- DJ 15.08.2006.

61. Revista Previdenciária e Trabalhista Gazetajuris - editada pela Editora Portal

Jurídico Ltda. - Portaria n. 7 de 09.08.2006 - DJ 15.08.2006 - Registro cancelado -

Portaria n. 2 de 08.10.2007 - DJ 18.10.2007.

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REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ

628

62. CD-ROM - Gazetajuris - editado pela Editora Portal Jurídico Ltda. - Portaria n.

8 de 02.10.2006 - DJ 04.10.2006 - Registro cancelado - Portaria n. 6 de 12.11.2008 -

DJe 17.11.2008.

63. Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil - editada pela Editora Magister

Ltda. - Portaria n. 1 de 1º.02.2008 - DJ 11.02.2008.

64. Revista Brasileira de Direito Tributário e Finanças Públicas - editada pela Editora

Magister Ltda. - Portaria n. 2 de 1º.02.2008 - DJ 11.02.2008.

65. Revista Brasileira de Direito das Famílias e Sucessões - editada pela Editora

Magister Ltda. - Portaria n. 4 de 10.10.2008 - DJe 15.10.2008 - Registro cancelado -

Portaria n. 2 de 27.11.2014 - DJe 03.12.2014.

66. Revista de Direito Tributário da Associação Paulista de Estudos Tributários -

editada pela MP Editora Ltda. - Portaria n. 5 de 30.10.2008 - DJe 07.11.2008. Registro

cancelado - Portaria n. 2 de 1º.09.2017 - DJe 04.09.2017.

67. Portal da Rede Mundial de Computadores “editoramagister.com” - editado pela

Editora Magister Ltda. - Portaria n. 7 de 15.12.2008 - DJe 17.12.2008.

68. “Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul”

(versão eletrônica) - Portal da Rede Mundial de Computadores - endereço eletrônico:

https://www.tjrs.jus.br/site/publicacoes/revista_da_jurisprudencia/ - editada pelo

Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Grande do Sul - Portaria n. 1 de 19.02.2010 -

DJe 24.02.2010 - Registro retifi cado e ratifi cado - Portaria n. 4 de 19.03.2010 - DJe

22.03.2010.

69. Portal da Rede Mundial de Computadores - “jurisprudência-online” - editada pela

Associação dos Advogados de São Paulo - Portaria n. 2 de 19.02.2010 - DJe 24.02.2010.

70. Revista do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (versão eletrônica) - Portal da

Rede Mundial de Computadores - endereço eletrônico: https://www.trf5.jus.br/revista_

jurisprudencia/ - editado pelo Tribunal Federal Regional da 5ª Região - Portaria n. 5 de

09.04.2010 - DJe 13.04.2010.

71. DVD ROM Datadez - de responsabilidade da IOB Informações Objetivas

Publicações Jurídicas Ltda. (anteriormente editado pela Notadez Informações Ltda.) -

Portaria n. 7 de 10.09.2010 - DJe 14.09.2010 - Registro cancelado - Portaria n. 6 de

22.11.2011 - DJe 23.11.2011.

72. Portal da Rede Mundial de Computadores - “Plenum On-line” - endereço “www.

plenum.com.br” - editado pela Plenum Editora Ltda. - Portaria n. 1 de 31.01.2011 - DJe

02.02.2011.

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REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ

RSSTJ, a. 9, (45): 621-629, novembro 2017 629

73. DVD-ROM - Juris Síntese DVD - editado pela marca “Síntese”, de propriedade da

IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. - Portaria n. 2 de 31.01.2011 -

DJe 02.02.2011.

74. Portal da Rede Mundial de Computadores - “JURIS SÍNTESE ONLINE” -

endereço eletrônico: https://online.sintese.com/ - produto digital da marca Síntese, de

propriedade da IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. - Portaria n. 3

de 29.04.2011 - DJe 03.05.2011.

75. Portal da Rede Mundial de Computadores - “SINTESENET” - endereço eletrônico:

https://online.sintese.com/ - produto digital da marca Síntese, de propriedade da IOB

Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. - Portaria n. 4 de 29.04.2011 - DJe

03.05.2011.

76. DVD-ROM Juris Plenum Ouro - de responsabilidade da Editora Plenum Ltda. -

Portaria n. 7 de 22.11.2011 - DJe 23.11.2011.

77. CD-ROM “JURID - Biblioteca Jurídica Digital”, versão “Jurid Premium” - de

propriedade da JURID Publicações Eletrônicas Ltda. - Portaria n. 1 de 07.05.2012 - DJe

09.05.2012 - Registro cancelado - Portaria n. 1 de 19.11.2014 - DJe 19.11.2014.

78. Portal da Rede Mundial de Computadores - endereço eletrônico: https://coad.

com.br/juridico - produto “COAD/ADV/CT - Advocacia Dinâmica e Consultoria

Trabalhista”, de propriedade da Atualização Profi ssional COAD Ltda. - Portaria n. 1 de

28.02.2013 - DJe 04.03.2013 - Registro cancelado - Portaria n. 3 de 03.10.2013 - DJe

de 07.10.2013.

79. Revista “Jurisprudência Catarinense” (versão eletrônica) - Portal da Rede Mundial

de Computadores - endereço eletrônico: https://busca.tjsc.jus.br/revistajc/ - editada pelo

Tribunal de Justiça de Santa Catarina - Portaria n. 1 de 06.04.2015 - DJe 08.04.2015.

80. Página em Portal da Rede Mundial de Computadores - de propriedade do Instituto

Brasileiro de Direito de Família - endereço eletrônico: https://www.ibdfam.org.br.

Portaria n. 3 de 27.09.2016 - DJe 04.10.2016.

81. Revista Bahia Forense - Editada pelo Tribunal de Justiça do Estado da Bahia -

Portaria n. 3 de 13.09.2017 - DJe 14.09.2017.

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EditoraçãoGabinete do Ministro Diretor da Revista - STJ

ImpressãoCapa: Gráfi ca do Conselho da Justiça Federal - CJFMiolo: Seção de Reprografi a e Encadernação - STJ