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PUBLICAÇÃO OFICIAL Revista de Súmulas SUPERIOR T RIBUNAL DE JUSTIÇA

Revista de Súmulas S DE T UPERIOR RIBUNAL USTIÇA · Resolução n. 19/1995-STJ, art. 3º. RISTJ, arts. 21, III e VI; 22, § 1º, e 23. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Plenário Ministro

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de SúmulasSUPERIOR

TRIBUNAL

DE JUSTIÇA

VOLUME 8, ANO 4JUNHO 2010

Revista de Súmulas

SUPERIOR

TRIBUNAL

DE JUSTIÇA

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇAGabinete do Ministro Diretor da Revista

Diretor

Ministro Hamilton Carvalhido

Chefe de Gabinete

Marcos Perdigão Bernardes

Assistentes

Andrea Dias de Castro CostaGerson Prado da SilvaMaria Angélica Neves Sant’AnaMax Günther Feitosa Albuquerque Alvim

Técnico em Secretariado

Fagno Monteiro Amorim

Mensageiro

Cristiano Augusto Rodrigues Santos

Estagiários

Ricardo Rodrigues Fonseca JúniorSamuel da Mota Cardoso Oliveira

Superior Tribunal de Justiçawww.stj.jus.br, [email protected] do Ministro Diretor da RevistaSetor de Administração Federal Sul, Quadra 6, Lote 1, Bloco C, 2º Andar, Sala C-240, Brasília-DF, 70095-900Telefone (61) 3319-8003, Fax (61) 3319-8992

Revista de Súmulas do Superior Tribunal de Justiça – n. 8 - Brasília: STJ, 2010 Sem periodicidade ISBN 978-85-7248-101-4 1. Direito - Periódico - Brasil. 2. Jurisprudência - Periódico - Brasil. 3. Brasil. Superior Tribunal de Justiça

CDU 340.142(81)(05)

MINISTRO HAMILTON CARVALHIDO Diretor

Revista de Súmulas

SUPERIOR

TRIBUNAL

DE JUSTIÇA

Resolução n. 19/1995-STJ, art. 3º.

RISTJ, arts. 21, III e VI; 22, § 1º, e 23.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇAPlenário

Ministro Cesar Asfor Rocha (Presidente)

Ministro Ari Pargendler (Vice-Presidente)

Ministro Felix Fischer (Diretor da ENFAM)

Ministro Aldir Guimarães Passarinho Junior

Ministro Gilson Langaro Dipp (Corregedor-Nacional de Justiça)

Ministro Hamilton Carvalhido (Diretor da Revista)

Ministra Eliana Calmon Alves

Ministro Francisco Cândido de Melo Falcão Neto (Corregedor-Geral da Justiça Federal)

Ministra Fátima Nancy Andrighi

Ministra Laurita Hilário Vaz

Ministro Paulo Geraldo de Oliveira Medina

Ministro Luiz Fux

Ministro João Otávio de Noronha

Ministro Teori Albino Zavascki

Ministro José de Castro Meira

Ministro Arnaldo Esteves Lima

Ministro Massami Uyeda

Ministro Humberto Eustáquio Soares Martins

Ministra Maria Th ereza Rocha de Assis Moura

Ministro Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin

Ministro Napoleão Nunes Maia Filho

Ministro Sidnei Agostinho Beneti

Ministro Jorge Mussi

Ministro Geraldo Og Nicéas Marques Fernandes

Ministro Luis Felipe Salomão

Ministro Mauro Luiz Campbell Marques

Ministro Benedito Gonçalves

Ministro Raul Araújo Filho

SUMÁRIO

Súmulas

109 ...............................................................................................................................11

110 ...............................................................................................................................37

111 ...............................................................................................................................59

112 .............................................................................................................................103

113 .............................................................................................................................125

114 .............................................................................................................................163

115 .............................................................................................................................181

116 .............................................................................................................................219

117 .............................................................................................................................247

118 .............................................................................................................................271

119 .............................................................................................................................291

120 .............................................................................................................................327

121 .............................................................................................................................347

122 .............................................................................................................................379

123 .............................................................................................................................403

ÍNDICE ANALÍTICO ........................................................................................................................................... 427

ÍNDICE SISTEMÁTICO ...................................................................................................................................... 437

SIGLAS E ABREVIATURAS ............................................................................................................................. 443

REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA ............................................................................................................ 449

Súmula n. 109

SÚMULA N. 109

O reconhecimento do direito a indenização, por falta de mercadoria

transportada via marítima, independe de vistoria.

Referência:

Decreto n. 64.387/1969, art. 1º, § 3º, que regulamentou o Decreto-Lei n.

116/1967.

Precedentes:

REsp 5.586-RS (4ª T, 04.06.1991 — DJ 05.08.1991)

REsp 18.972-RJ (3ª T, 16.12.1992 — DJ 1º.03.1993)

REsp 35.474-RJ (3ª T, 13.12.1993 — DJ 07.03.1994)

REsp 35.598-RS (3ª T, 07.12.1993 — DJ 14.03.1994)

REsp 39.469-RS (4ª T, 15.03.1994 — DJ 18.04.1994)

REsp 46.785-RS (3ª T, 24.05.1994 — DJ 20.06.1994)

Segunda Seção, em 28.09.1994

DJ 05.10.1994, p. 26.557

RECURSO ESPECIAL N. 5.586-RS (1990/0010456-4)

Relator: Ministro Athos Carneiro

Recorrente: Cia. de Navegação Lloyd Brasileiro

Recorrida: Manah S/A

Advogados: Sílvio Darci da Silva e outros e Hugo Mosca e outros

EMENTA

Transporte marítimo internacional de granel sólido. Responsabilidade das empresas armadora e afretadora do navio transportador, por quebra de peso da carga, perante a empresa importadora, destinatária da mercadoria.

O dever de indenizar pela mercadoria faltante é contratual e objetivo, sendo prescindíveis protesto e vistoria, nas relações entre transportador e destinatário da carga. O Decreto-Lei n. 116/1967 tem aplicação na relação transportador - entidade portuária, e não na relação transportador - importador.

Dissídio pretoriano não comprovado, eis que não discutido o fato da falta de mercadoria. Inocorrência de contrariedade à lei federal.

Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas, decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas precedentes que integram o presente julgado. Participaram do julgamento, além dos signatários, os Srs. Ministros Fontes de Alencar, Sálvio de Figueiredo e Barros Monteiro.

Custas, como de lei.

Brasília (DF), 04 de junho de 1991 (data do julgamento).

Ministro Bueno de Souza, Presidente

Ministro Athos Carneiro, Relator

DJ 05.08.1991

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

16

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Athos Carneiro: Manah S/A ajuizou ação pelo

procedimento sumaríssimo contra Cydonia Shipping Corp, armadora do navio

mercante “Adelfotis”, representada no Brasil por Fertimport Transportadora

e Comércio de Despachos Ltda, e contra Companhia de Navegação Lloyd

Brasileiro, afretadora do mesmo navio, visando o recebimento de uma falta fi nal

da mercadoria — cloreto de potássio, da ordem de 50.974 kg, equivalente a Cr$

10.669.714,00 valor a ser corrigido monetariamente.

A ação foi julgada procedente pelo MM. Juiz de Direito da 3ª Vara

Cível da Comarca de Porto Alegre-RS para condenar a armadora do navio e a

afretadora a indenizar a autora “no valor já referido decorrente do percentual de

1,0194892%, menos a importância de 0,6%. O percentual fi nalmente apurado

será vinculado ao valor da falta fi nal de Cr$ 10.669.714 para o efeito de cálculo

de indenização, a ser apurado pelo contador, acrescido das despesas de tradução

no valor de Cr$ 70.720, respeitados os valores do dólar usados para conversão

em cruzeiros, constantes da inicial”. Custas e honorários advocatícios em 20%

sobre o valor da condenação, “corrigido monetariamente a partir do ajuizamento

da ação”. (fl s. 40-41 v.—Vol. 1)

Apelou a ré Cia Lloyd Brasileiro, pretendendo a integral reforma da

sentença sob o argumento de que “o transportador não é o responsável pela

alegada falta de mercadoria do produto transportado a granel”, pois, “se no

exterior, o embarcador colocou menor peso do que o manifestado, o importador,

no Brasil, ao fazer a descarga, somente poderia ter recebido quantidade menor,

mas não poderá imputar esta diferença de peso como de responsabilidade do

transportador, que somente fez o transporte entre os dois pontos”; não teria sido,

ademais, comprovada a diferença de peso através de vistoria. Ao fi nal requereu:

“em caso de provimento parcial, deverá a decisão determinar seja reformado o

cálculo da indenização, retirando-se o valor de despesas, e também condenar

a autora na sucumbência pelo que pediu a maior, tanto em vista do cálculo

mal elaborado como da diferença dos 0,6% estabelecidos pelo Tribunal, como

aceitável para este tipo de transporte”. (fl s. 51-56—Vol. 1)

Em contra-razões, pugnou a apelada pela manutenção da decisão

recorrida, notadamente no tocante ao valor da indenização, composto do preço

de custo, frete e despesas de seguro, já que “as duas primeiras rubricas foram

admitidas pela apelante e a última (despesas de seguro) é devida conforme a

jurisprudência fi rmada a respeito, integrando o valor da mercadoria (“Julgados”,

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 11-35, junho 2010 17

36/11, Apelação Cível n. 22.843, Terceira Câmara Cível, entre outras). (fl s. 58-

59 — Vol. 1)

A egrégia Quarta Câmara Cível do Tribunal de Alçada do Rio Grande do

Sul deu parcial provimento à apelação, sob a ementa seguinte:

Transporte marítimo internacional. Sólido a granel. O dever de o transportador indenizar pela mercadoria faltante é contratual e objetivo. Prescindíveis protesto e vistoria para que se dê pela responsabilidade do transportador. O Decreto-Lei n. 116/1967 tem aplicação na relação navio-porto e não na relação navio-importador. Teses já superadas por jurisprudência consubstanciada na Apelação Cível de n. 183058312, cujo acórdão passa a fazer parte do presente.

A falta constatada deve ser indenizada pelo valor do dólar à época do desembarque.

O decisum só pode deferir as verbas expressamente requeridas na inicial. Em sendo parcial a procedência do pedido, as custas deverão ser pagas em proporção e a honorária deverá atingir a condenação evitada, procedendo-se à compensação. (fl s. 78-81—Vol. 1)

Embargos de declaração rejeitados (fl s. 92-96—Vol. 1), manejou a Cia Lloyd

Brasileiro recurso extraordinário com argüição de relevância, fundamentado nas

alíneas a e d do permissivo constitucional então vigente, alegando contrariedade

aos arts. 153, § 2º da CF/1969; 3º, 4º, 5º, 6º e 9º do Dec.-Lei n. 116/1967;

756 do CPC/1939 (mantido em vigor pelo art. 1.218, XI do atual CPC);

7º, 8º, 102, 529, 582, 617 e 711 do C. Com., além de divergência do acórdão

recorrido com as Súmulas n. 261 e 535 do egrégio STF e com julgados do

próprio Pretório Excelso, do Tribunal Federal de Recursos e dos Tribunais

de Alçada de São Paulo e do Rio de Janeiro. Na alentada peça recursal (180

laudas) sustentou a recorrente, em síntese, a necessidade de vistoria ou protesto

junto ao transportador; não ser a responsabilidade do transportador objetiva

mas subjetiva, porque somente admissível se decorrente de culpa, cessando

tal responsabilidade com a entrega da mercadoria à entidade portuária; ser

natural a quebra havida nos granéis, não sendo o transportador responsável

por “vício próprio da mercadoria” e nem pela quebra de peso verifi cada no ato

da descarga, já que desconhecida a quantidade de mercadoria recebida, ou por

diminuição excedente a 10% do total manifestado e, fi nalmente, inexistência de

determinação legal que obrigue o transportador ao pagamento de indenização

por quebra de peso de mercadoria transportada a granel, “que é suscetível de

diminuição de massa (‘peso’), por motivos puramente naturais” (fl s. 105-285—

Vol. 2).

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Inadmitido o apelo extremo (fl s. 442-444 — Vol. 3) e processada a argüição

de relevância, posteriormente acolhida no egrégio STF, abriu-se vista dos autos

na origem para oferecimento de razões e contra-razões, quando a recorrida

impugnou o cabimento do recurso extraordinário, alegando óbice regimental,

por se tratar de causa processada pelo procedimento sumaríssimo e, ainda,

porque incidentes à espécie as vedações consubstanciadas nas Súmulas n. 279,

282, 400 e 454 do Pretório Excelso (fl s. 559-578—Vol. 4).

No egrégio STF, o eminente Ministro Aldir Passarinho negou provimento

ao recurso quanto à questão constitucional suscitada, declarando-o convertido,

ipso iure, em recurso especial, determinando a remessa dos autos a este STJ para

julgamento das questões infraconstitucionais (fl s. 617-618—Vol. 4).

Nesta Corte, a douta Subprocuradoria Geral da República opinou pelo

não-provimento do recurso. (fl s. 623-626—vol. 4)

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Athos Carneiro (Relator): Conforme atentamente

asseverou a ilustre Subprocuradora-Geral da República, Drª. Maria da Glória

Ferreira Tamer, verbis:

Entendeu, com acerto, o referido aresto que é solidária a responsabilidade do transportador e armador no transporte marítimo, in verbis:

Já se tornou assente nesta Câmara e no 2º Grupo de Câmaras Cíveis que a responsabilidade do afretador e armador é solidária e que a referida responsabilidade não se fundamenta em culpa, mas, ao contrário, é contratual e objetiva. Assim o transportador (entenda-se armador e afretador) deve entregar ao importador o que, efetivamente, receberam para transportar, a não ser no caso de fortuna do mar e vício intrínseco da mercadoria, devidamente comprovados. De outra banda, nem protesto, nem vistoria são necessários para a comprovação da falta. Os documentos oficiais, oriundos das entidades portuárias suprem tais procedimentos. De outra banda, a aplicação, ao caso, do disposto no Decreto-Lei n. 116/1967, data vênia, não tem pertinência. Com efeito, tal diploma de cunho eminente administrativo regula, isso sim, as relações navio-porto e não navio-importador, esta última regulamentada pelo Código Comercial, unicamente. Em tal sentido o venerando Acórdão de n. 183058312, cuja cópia deverá ser anexada aos autos, fi cando a fazer parte integrante deste e a cujas razões outras de decidir a Câmara se reporta. (fl s. 80-81)

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 11-35, junho 2010 19

Por isso, coerentemente, e data maxima venia sem infringir as súmulas e os dispositivos legais apontados como violados pela ora recorrente, o venerando acórdão recorrido assim concluiu:

a) a inicial não se referiu, em qualquer momento, estar pleiteando indenização pelo custo do seguro. Requer, isso sim, indenização pela mercadoria que deixou de receber extra-rateio. Destarte, a r. decisão apelada não poderia, como verba indenizável, incluir tal parcela. Esta, no entender da Câmara, deverá ser excluída do total a indenizar;

b) a taxa do dólar que deverá ser tomada como parâmetro, quando da fixação da indenização, passando a correr correção monetária após o ajuizamento da ação, é a da data do desembarque, conforme uniformemente se tem decidido e

c) decaindo a apelada, em parte, de sua pretensão, as custas deverão ser pagas, proporcionalmente, por ela apelante e a honorária será de 20% sobre a parcela a indenizar para o patrono da autora e de 20% sobre as parcelas evitadas, inclusive a de 0,6% que a título de perda natural foi admitida e a r. decisão apelada e tais quantias, como óbvio, após devidamente corrigidas, serão compensadas. (fl s. 81)

Tal entendimento está em consonância com a jurisprudência da Excelsa Corte como é exemplo o RE n. 112.314-RS, julgado unanimemente pela Colenda Primeira Turma, Relator o eminente Ministro Sydney Sanches, in verbis:

Ementa: Transporte marítimo internacional de granel sólido.

Responsabilidade das empresas armadora e afretadora do navio transportador, por quebra de peso da carga, perante a destinatária ( empresa importadora).

Acórdão recorrido que condenou as rés ao pagamento do valor do prejuízo da importadora, deduzido apenas o percentual correspondente à quebra natural (0,6%).

RE da afretadora, com alegação de negativa de vigência dos arts. 153, p. 2, da CF; 617 e 711 do C. Comercial, arts. 1º, 3º e 6º do Decreto-Lei n. 116/1967, e de dissídio jurisprudencial.

Tema constitucional não prequestionado (Súmulas n. 282 e 356) e, depois, até precluso, a falta de agravo de instrumento contra o indeferimento do RE, nesse ponto.

Dispositivos infra-constitucionais impertinentes à solução da causa, inocorrente, pois, a negativa de sua vigência. Dissídio jurisprudencial não caracterizado (art. 322 do RI e Súmula n. 291).

RE não conhecido.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

20

Ante o exposto, o parecer é no sentido de que o recurso não comporta provimento. (fl s. 624-626)

Vale outrossim reproduzir, por totalmente pertinente ao deslinde da

questão, o seguinte trecho da decisão proferida pelo eminente Juiz Ernani

Graeff , ilustre Presidente do Tribunal a quo:

Assentou a Câmara, seguindo orientação jurisprudencial do Egrégio Supremo Tribunal Federal, que a vistoria não tem forma sacramental e pode ser extrajudicial. Por isso, considerou válida e efi caz aquela instrumentada pela administração dos portos ou pela Receita Federal, que constatou falta de mercadoria de diversos consignatários, transportada a granel, em comum, e somente apurável no último porto, mormente porque o conteúdo material da certidão jamais foi impugnado. Ou seja, o fato da falta de mercadoria permaneceu incontroverso nos autos. Os motivos da falta, estes sim, foram objeto de discussão e tema de prova.

Divergência com a Súmula n. 535.

Também inocorre divergência com a Súmula n. 535 porque essa se refere a transporte de combustíveis líquidos, a granel, enquanto, na espécie, cuida-se de granéis sólidos ou líquidos com composição química inteiramente diversa.

A recorrente pretende, é verdade, se faça interpretação extensiva da súmula, de modo a incidir

Recurso extraordinário nos autos da Apelação Cível n. 185028032 sobre o transporte de granéis em geral; todavia, força é convir, a negativa de tal interpretação não pode ser qualifi cada como ofensiva à súmula, até porque não permite ela tal elastério.

Realmente, examinando-se os acórdãos referidos na súmula, verifi ca-se que eles sempre tratam de diferença de peso de óleo combustível (Ag n. 43.649-GB), óleo mineral combustível e gasolina (RE n. 58.997-GB), gasolina (ERE n. 59.136-GB), óleo combustível (ERE n. 59.309-SP), gasolina (ERE n. 60.063-GB) e óleo cru (RE n. 60.064-GB).

Não há, a pretendida identidade, ainda que genérica, com as questões debatidas neste processo. A súmula, portanto não incide. (fl s. 443-444)

Daí por que, no tocante à letra a do permissivo constitucional, não

vislumbro contrariedade à lei federal, senão plena razoabilidade da decisão

recorrida.

No tocante à alegação de divergência jurisprudencial, os arestos trazidos

a confronto poderiam, em tese, servir à sua comprovação, não fosse a peculiar

circunstância de que no caso concreto “o fato da falta de mercadoria permaneceu

incontroverso nos autos. Os motivos da falta, estes sim, foram objeto de

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 11-35, junho 2010 21

discussão e tema de prova”. Prevalece, assim, a orientação do aresto do STF em

caso análogo, também oriundo do RS, no RE n. 112.314, já aludido no parecer

do Ministério Público (RTJ 127/657).

Ante o exposto, adotando os fundamentos coligidos, não conheço do recurso

especial.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 18.972-RJ (1992/0004028-4)

Relator: Ministro Eduardo Ribeiro

Recorrente: Cia União Continental de Seguros

Recorrida: Empresa de Navegação Aliança S/A

Advogados: Fernando Fragoso e outros e Antônio Paulo Machado

Fagundes e outros

EMENTA

Transporte marítimo. Extravio de mercadoria. Vistoria.

Nos casos de extravio de mercadoria é sufi ciente a ressalva da

autoridade portuária, não sendo necessária a vistoria.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso especial e lhe dar provimento. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Dias Trindade, Waldemar Zveiter, Cláudio Santos e Nilson Naves.

Brasília (DF), 16 de dezembro de 1992 (data do julgamento).

Ministro Eduardo Ribeiro, Presidente e Relator

DJ 1º.03.1993

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

22

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Cia. União Continental de Seguros ajuizou indenizatória contra Empresa de Navegação Aliança. Pretende ressarcir-se do que pagou ao segurado por extravio de mercadoria transportada pela ré. Ação julgada procedente.

Apelaram as partes. O recurso da ré foi provido, entendendo-se indispensável vistoria para apurar falta da mercadoria, negando-se provimento ao apelo da autora.

No especial, em que se convertera o extraordinário, alegou-se que violados os arts. 1.056 do C. Cv., 1º do Decreto n. 19.473/1930, 99, 101, 103, 104 e 519 do Código Comercial. Contrariado, ainda, o Decreto-Lei n. 116/1967 combinado com os arts. 468 a 475 do Regulamento Aduaneiro (Decreto n. 91.030/1985). Salientou-se que o acórdão recorrido dissentira do entendimento jurisprudencial que atribui presunção de veracidade aos certifi cados emitidos pelas entidades portuárias, no caso de falta de mercadoria.

Inadmitido o recurso, a autora agravou de instrumento, sendo determinada a subida dos autos a esta Corte.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro (Relator): A ora recorrente, Companhia União Continental de Seguros, ajuizou ação de procedimento sumaríssimo contra a recorrida, Empresa de Navegação Aliança S/A, objetivando ressarcimento do que pagara ao segurado pelo extravio de 210 sacos de castanha, dentre os 1.100 que foram embarcados, tendo a falta sido apontada pela Cia. Docas do Rio de Janeiro, com expedição do respectivo certifi cado.

O acórdão recorrido, reformando a sentença, sustenta que inexiste a comprovação da falta da mercadoria, pois a certidão da entidade portuária não supriria a necessidade da vistoria “que se há de realizar no dia da descarga e em presença do transportador ou seu representante”.

A recorrente fundamenta seu recurso nas alíneas a e c do permissivo constitucional.

Estando o dissídio de jurisprudência devidamente comprovado, com

inúmeros acórdãos de diversos Tribunais do País, conheço do recurso pela alínea c.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 11-35, junho 2010 23

Sendo a hipótese em discussão de falta de mercadoria, ocorrida em transporte marítimo, é certo que a melhor interpretação da legislação sobre o assunto é a de que a verifi cação pode-se dar, mediante simples ressalva da autoridade portuária — no caso a Cia. Docas do Rio de Janeiro —, sendo dispensável a vistoria.

O § 3º do art. 1º do Decreto n. 64.387, 1969 — que regulamentou o DL n. 116, de 1967 — é claro, quando diz, verbis:

Os volumes em falta serão, desde logo, ressalvados pelo recebedor, e os avariados, ou em embalagem inadequada ao transporte por água serão vistoriados no ato da entrega, com a presença dos representantes das entidades entregadora e recebedora, no local mais apropriado.

Verifica-se que existe uma distinção entre os casos de extravio da mercadoria — quando é sufi ciente a ressalva pela autoridade portuária — e de avaria ou transporte em embalagem inadequada, hipótese em que está prevista a vistoria.

Ante o exposto, dou provimento ao recurso especial, para restabelecer a sentença.

RECURSO ESPECIAL N. 35.474-RJ (1993/0015019-7)

Relator: Ministro Cláudio Santos

Recorrente: Companhia Paulista de Seguros

Recorrida: Empresa de Navegação Aliança S/A

Advogados: Luiz Sérgio Conde Correa, Antônio Carlos Mendes Vianna e outros

EMENTA

Direito Comercial. Transporte marítimo. Vistoria.

Na hipótese de extravio de mercadoria transportada sufi ciente é a ressalva efetuada pela entidade portuária, nos termos da lei, sendo inexigível a realização de vistoria.

Recurso conhecido pelo dissídio, e provido.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

24

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso especial e lhe dar provimento. Votaram com o Relator os Ministros Costa Leite, Nilson Naves, Eduardo Ribeiro e Waldemar Zveiter.

Brasília (DF), 13 de dezembro de 1993 (data do julgamento).

Ministro Eduardo Ribeiro, Presidente

Ministro Cláudio Santos, Relator

DJ 07.03.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cláudio Santos: Cuida a espécie de ação de indenização proposta pela Companhia Paulista de Seguros contra Empresa de Navegação Aliança S/A, em procedimento comum sumaríssimo, onde se pleiteia o ressarcimento do montante pago a segurado em razão de extravio de mercadoria transportada pela ré. O processo foi declarado extinto, nos termos do art. 267, inciso VI, do CPC ao entendimento de que o original do conhecimento de transporte não foi apresentado, sendo, via de conseqüência, inobservada a regra do art. 589 do Código Comercial brasileiro.

A seguradora apresentou recurso de apelação que foi improvido, restando a decisão assim ementada:

Ação sumaríssima do segurador. Subrogação. Ressarcimento pela indenização ao segurado. Extravio parcial da carga em transporte marítimo. Necessidade da vistoria ou ressalva da falta no conhecimento no ato de entrega. Documento original. Prova do domínio. O certificado da falta fornecido pela autoridade portuária não supre as exigências legais da vistoria com a participação do representante do transportador marítimo porque a entidade do porto pode, em tese, ser a responsável pelo dano. A apresentação pelo segurador do original do conhecimento não é imprescindível como posto no art. 589 do C. Comercial, já que o documento envolve questão de domínio e deve ser entregue ao transportador para que este lhe libere a carga não afetada pelo extravio e na relação do dono da mercadoria com o segurador a essência é estabelecida com a apólice, a prova do evento e com uma das cópias desse conhecimento, tudo em uma fase posterior. (Fls. 234-235)

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 11-35, junho 2010 25

Irresignada, a apelante manifesta recurso especial, fulcrado no dissenso

jurisprudencial.

O recurso foi inadmitido na origem, contudo, face ao aparente confl ito

de teses sobre o tema objeto da divergência trazida à colação, provi agravo de

instrumento para melhor exame.

Relatei.

VOTO

O Sr. Ministro Cláudio Santos (Relator): De início, cabe salientar que o

caso enfocado nos autos trata de extravio de mercadoria transportada e, não de

avaria causada à mesma. Tal distinção se mostra relevante face à repercussão que

cada situação propicia.

Prescreve o art. 4º, § 3º, do Decreto n. 64.387/1969, que regulamentou o

Decreto-Lei n. 116/1967, que “os volumes em falta serão, desde logo, ressalvados

pelo recebedor, e os avariados, ou em embalagem inadequada ao transporte por

água serão vistoriados no ato da entrega, com a presença dos representantes das

entidades entregadora e recebedora, no local mais apropriado”.

Decorre daí, que no caso de extravio de mercadoria bastante é a ressalva

pela autoridade portuária, vez que a jurisprudência atribui presunção de

veracidade aos certifi cados emitidos por tais entidades. Assim, diferentemente

do que entendeu o r. decisório impugnado, não prospera a exigibilidade da

realização de vistoria no caso específi co de extravio.

Acolhendo esta interpretação invoco voto proferido pelo eminente

Ministro Eduardo Ribeiro no REsp n. 18.972-0, cuja ementa assim foi redigida:

Transporte marítimo. Extravio de mercadoria. Vistoria. Nos casos de extravio de mercadoria é sufi ciente a ressalva da autoridade portuária, não sendo necessária a vistoria.

Idêntico posicionamento adota o eminente Ministro Nilson Naves:

Transporte marítimo. Extravio de mercadoria. Indenização. Ação regressiva intentada pelo segurador. 1. Prescrição. Interrupção pelo protesto, embora tenha ocorrido demora na citação. Quando a demora na citação do réu não pode ser debitada ao autor, não se justifi ca seja pronunciada a prescrição. Precedentes do STJ. 2. Conhecimento de transporte. Hipótese em que a ação é admissível, mesmo

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

26

sem a apresentação do conhecimento de transporte no original. Inocorrência de afronta ao art. 589 do Código Comercial. 3. Recurso especial de que a Turma deixou de conhecer. (In REsp n. 31.638-1)

Estando a divergência jurisprudencial satisfatoriamente caracterizada,

conheço do recurso para dar-lhe provimento e determinar que a ação seja

apreciada e julgada.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 35.598-2-RS (1993/0015394-3)

Relator: Ministro Waldemar Zveiter

Recorrente: Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro

Recorrida: Bamerindus — Companhia de Seguros

Advogados: Luiz Fernando Fontes Athanasio e outros e Celso Ferreira

Munoz e outros

EMENTA

Civil. Ação de indenização. Transporte marítimo. Falta de

mercadoria. Vistoria. Decreto-Lei n. 116/1967.

I - Assentado na jurisprudência do STJ o entendimento no

sentido de que, no caso de extravio de mercadoria, ocorrida em

transporte marítimo, é sufi ciente a ressalva pela autoridade portuária,

dispensada a vistoria.

II - Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, retomando o julgamento, por maioria, não conhecer

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 11-35, junho 2010 27

do recurso especial, vencido o Sr. Ministro Nilson Naves. Participaram do

julgamento os Srs. Ministros Cláudio Santos, Costa Leite, Nilson Naves e

Eduardo Ribeiro.

Custas, como de Lei.

Brasília (DF), 07 de dezembro de 1993 (data do julgamento).

Ministro Eduardo Ribeiro, Presidente

Ministro Waldemar Zveiter, Relator

DJ 14.03.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: Trata-se de ação de indenização,

proposta por Bamerindus Companhia de Seguros, via procedimento comum

sumaríssimo, contra Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro, objetivando o

recebimento da importância de Cr$ 12.003.602,00 (fl . 3), na condição de sub-

rogada da segurada Andreas Stihl Moto Serras Ltda., ante a falta de uma caixa

contendo 7 (sete) motosserras no porto de Bremen, em 19.02.1985, conforme

declaração de Luder Bischoff (fl s. 79).

Julgada procedente a ação (fl s. 185-187), foram opostos embargos de

declaração (fl s. 188-189), que foram rejeitados (fl s. 190).

Irresignada, apelou a ré (fl s. 191-196), tendo a Quarta Câmara Cível do

colendo Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul, à unanimidade, negado

provimento ao apelo (fl s. 228-231).

Inconformada, ainda, interpôs a apelante recurso especial, fundado no art.

105, III, a e c, da Constituição, alegando negativa de vigência dos arts. 1º, § 1º,

do Decreto-Lei n. 116/1967; e 756 do CPC, de 1939. Sustenta, ainda, que o

acórdão teria divergido da jurisprudência desta egrégia Corte (REsp n. 4.361-

RS); bem como, do Supremo Tribunal Federal, consubstanciada em sua Súmula

n. 261 (fl s. 234-238).

Sem contra-razões, o nobre Presidente daquela Corte o admitiu, apenas,

pela letra c do permissivo constitucional (fl s. 241-242).

É o relatório.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

28

VOTO

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator): Trata-se de recurso especial

fundado nas alíneas a e c, do permissivo constitucional.

Na parte que interessa, é ler o que dispôs o acórdão (fl s. 230-231):

No que diz com a falta de prova da falta de mercadoria, data venia não há como desconsiderar o documento de fl . 80, traduzido à fl . 79 como autêntico meio de prova. Trata-se de declaração fi rmada pelo próprio agente da r. apelante, tornando certa a falta de mercadoria postulada na inicial. Contra tal prova, que equivale à confi ssão, esgrimir-se com a falta de vistoria é opor a forma à questão de fundo.

De forma ambígua, diz não saber a origem do documento de fl . 80, mas se o emitente de tal documento não é o agente da r., incumbia a ela dizer quem o era. A afi rmação equívoca não tem o condão de desfazer o valor probante daquele documento.

Daí a insurgência onde se sustenta violação aos artigos de lei referidos no

relatório, a Súmula n. 261 do STF e divergência com acórdão paradigma do

STJ.

Sem qualquer razão, contudo.

Pela letra c, tenho que o dissídio não restou comprovado, a teor do disposto

no art. 255 e seus parágrafos, do RISTJ. É que o paradigma não guarda qualquer

similitude ou identidade com o caso dos autos. Nele se decidiu a necessidade da

vistoria, no caso de avaria ou falta de conteúdo (Decreto-Lei n. 116/1967, arts.

4º, 5º e 6º), dispensável, apenas, que a vistoria se fi zesse judicialmente, conforme

preconizado na Súmula n. 261, do STF (REsp n. 4.361-RS, Relator Sr. Ministro

Nilson Naves, DJ 29.06.1992).

Matéria, portanto, diversa da discutida nos autos.

Neste o acórdão impugnado teve como sufi ciente à demonstrar a falta,

o extravio da mercadoria, documento firmado pelo próprio representante

do recorrente e Agente de Navegação, autoridade cuja credibilidade não foi

questionada.

Demais disso, mister acentuar que a Turma, em julgamento mais recente

do que o padrão referido, decidiu, como na ementa do REsp n. 18.972-0-RJ da

relatoria do Exmo. Sr. Ministro Eduardo Ribeiro, unanimemente, que:

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 11-35, junho 2010 29

Transporte marítimo. Extravio de mercadoria. Vistoria. No caso de extravio de mercadoria é sufi ciente a ressalva da autoridade portuária, não sendo necessária a vistoria.

Tenho, assim que o acórdão recorrido não negou vigência a dispositivo de lei nem divergiu da jurisprudência citada, ainda porque defeso seria, nesta via do especial, reexaminar o valor probante do documento em que se arrimou o acórdão.

O caso é de falta de mercadoria, medida em que se dispensa a vistoria reclamada pelo recorrente a teor do disposto no § 3º do art. 1º do Decreto n.

64.387, de 1969, que regulamentou o Decreto-Lei n. 116, de 1967.

Como acentuado no voto do Sr. Ministro Eduardo Ribeiro, no acórdão do recurso especial cuja ementa se transcreveu acima “verifi ca-se que existe uma distinção entre os casos de extravio da mercadoria — quando é sufi ciente a ressalva pela autoridade portuária — e de avaria ou transporte em embalagem inadequada, hipótese em que está prevista a vistoria”.

É inegável que o acórdão teve como tal ressalva o documento de fl . 80.

Tais os fundamentos pelos quais não conheço do recurso.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Nilson Naves: O Sr. Relator descreveu a espécie dessa forma, conforme o relatório (lê). Votando, S. Exa. não conheceu do recurso (lê).

Data venia, conheço do recurso pela divergência, que creio demonstrada, tal como assim pareceu ao Presidente José Ernesto Flesch Chaves, quando admitiu o recurso, litteris:

Quanto à divergência jurisprudencial, assiste razão ao recorrente, eis que as decisões trazidas como paradigmas sustentam que sem vistoria, administrativa ou judicial, feita com a participação dos interessados, logo após a entrega da mercadoria à entidade portuária, ao costado do navio, não será razoável condenar o transportador.

Isso posto, admito o recurso pela alínea c, do permissivo constitucional.

Daí, na petição do recurso especial, de fls. 234-238, tinha alegado a

recorrente:

A Súmula n. 261 do STF prescreve que não há necessidade da realização de vistoria judicial, sendo inconcebível, venia rogata o entendimento de que é desnecessário qualquer tipo de vistoria.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

30

Ora, não é esse o espírito da referida súmula quando afi rma que:

para a ação de indenização, em caso de avaria, é dispensável que a vistoria se faça judicialmente.

Do enunciado da súmula transparece cristalinamente a necessidade da vistoria, embora não seja exigido que esta seja judicial e, a vistoria pressupõe a participação de todas as partes interessadas e envolvidas.

A este respeito, o próprio Superior Tribunal Federal, em recente data de 25.05.1992, por sua Terceira Turma, com acórdão publicado no Diário Oficial de 29.06.1992, proferiu decisão no Recurso Especial n. 4.361, do Rio Grande do Sul, no qual foram partes o próprio Lloyd Brasileiro e a Manah S/A, declarando a necessidade da vistoria, mesmo no transporte de granéis.

A ementa do acórdão, que está em sua íntegra às fl s. 211-225, é a seguinte:

Transporte marítimo. Mercadoria a granel. Vistoria. É necessária a vistoria, no caso de avaria ou falta de conteúdo (Decreto-Lei n. 116/1967, arts. 4º, 5º e 6º) dispensável, apenas, que a vistoria se faça judicialmente (Súmula n. 261-STF). Recurso especial conhecido pelo dissídio com acórdão do extinto TFR e provido.

(...)

Ex-positis, aguarda a recorrente que seja acolhida a tese expendida no presente recurso especial, para o fim de ser reformada a sentença de 1ª instância e o acórdão da Quarta Câmara Cível do Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul, no sentido de que seja desacolhida a pretensão da autora.

Com a reforma, a autora, ora recorrida, deverá suportar o ônus da sucumbência, com o que então estar-se-á fazendo a tão esperada e costumeira ...

Pois peço também vênia ao Sr. Relator para dar provimento ao recurso.

Julgo improcedente a ação e inverto os ônus da sucumbência, arbitrados, porém,

os honorários em 10%.

RECURSO ESPECIAL N. 39.469-4-RS (1993/0027815-0)

Relator: Ministro Fontes de Alencar

Recorrente: Puertollano Companhia Naviera S/A

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 11-35, junho 2010 31

Recorrida: Manah S/A

Interessada: Fertimport Transportadora e Comissária de Despachos Ltda

Advogados: Roberto Porto Farinon e outro, Hugo Mosca e outros, e Célia

Erra dos Santos Braga e outros

EMENTA

Transporte marítimo internacional. Granel sólido. Vistoria.

A indenização pela falta da mercadoria transportada independe

de vistoria.

Recurso não conhecido.

Unânime.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos esses autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo, Barros Monteiro, Antônio Torreão Braz e Dias Trindade, convocado nos termos do art. 1º da Emenda Regimental.

Publique-se.

Brasília (DF), 15 de março de 1994 (data do julgamento).

Ministro Fontes de Alencar, Presidente e Relator

DJ 18.04.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Fontes de Alencar: Manah S/A ajuizou ação de

procedimento sumaríssimo contra Puertollano Companhia Naviera S/A dizendo

que importou 5.293.510 quilos de cloreto de potássio a granel, mercadoria

embarcada no navio mercante Suvretta, do qual a ré é armadora, pelo que

objetiva o ressarcimento da quantia faltante da carga a granel, falta constatada

quando da descarga do navio.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

32

O v. acórdão julgou parcialmente procedente a ação, considerando que

quanto ao protesto, vistoria e ausência de ressalva imediata, firme a jurisprudência a respeito, reportando-me ao chamado “acórdão padrão” para evitar inútil tautologia. O que importa é que houve a descarga com falta constatada pelas autoridades portuárias, sendo a vistoria desnecessária (Súmula n. 261).

Da mesma forma quanto ao valor jurídico do rateio, o qual nada cria, mas apenas constata a falta verifi cada. O que importa no caso concreto é que foi comprovada a falta por documento ofi cial da autoridade portuária, vindo aos autos os documentos dos importadores, bem como a prova do que precisou o autor devolver em razão da distribuição das faltas. Assim, sem razão a ré em suas alegações. (Fl. 152)

Inconformado o recorrente interpôs recurso especial com fulcro no art.

105, III, a e c, da Constituição Federal, alegando negativa de vigência aos arts.

5º e 6º do Decreto-Lei n. 116/1967 e art. 756 do CPC/1939, mantido em vigor

pelo art. 1.218, XI, do Código de Processo Civil, além de dissídio jurisprudencial

e Súmula n. 261 do Supremo Tribunal Federal, sustentando que a prova da falta

de mercadorias transportadas necessita de vistoria.

Pelo despacho de fl s. 193 e 194 foi o recurso admitido.

VOTO

O Sr. Ministro Fontes de Alencar (Relator): Nos casos de transporte

marítimo internacional de granel sólido o dever de indenizar pela mercadoria

faltante é contratual e objetivo como aliás já decidiu esta Turma ao julgar o

REsp n. 5.586-RS, de que foi Relator o Ministro Athos Carneiro.

Por outro lado, protesto e vistoria são prescindíveis em caso como o

dos autos de relação entre transportador e destinatário da carga, como têm

entendido ambas as Turmas da Segunda Seção (vejam-se o precedente já

mencionado e o REsp n. 18.972, de relato do Ministro Eduardo Ribeiro.

O primeiro dos precedentes referidos porta a seguinte ementa:

Transporte marítimo internacional de granel sólido. Responsabilidade das empresas armadora e afretadora do navio transportador, por quebra de peso da carga, perante a empresa importadora, destinatária da mercadoria.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 11-35, junho 2010 33

O dever de indenizar pela mercadoria faltante é contratual e objetivo, sendo prescindíveis protesto e vistoria, nas relações entre transportador e destinatário da carga. O Decreto-Lei n. 116/1967 tem aplicação na relação transportador - entidade portuária, e não na relação transportador - importador.

Dissídio pretoriano não comprovado, eis que não discutido o fato da falta de mercadoria. Inocorrência de contrariedade à lei federal.

Recurso especial não conhecido.

Por conseguinte, não vislumbro violação à lei federal.

Quanto ao dissídio jurisprudencial este se acha superado, em face das

decisões de ambas as Turmas que compõem a Segunda Seção desta Corte, na

mesma linha do aresto recorrido.

Ressalto, outrossim, que o julgado trazido à colação da Terceira Turma

deste Tribunal, proferido em 25.05.1992, não presta à confi guração do dissenso

pretoriano, porquanto decisão posterior da referida Turma modificou tal

posicionamento.

Destarte, não conheço do presente recurso.

RECURSO ESPECIAL N. 46.785-3-RS (1994/0010764-1)

Relator: Ministro Costa Leite

Recorrente: Frota Oceânica Brasileira S/A

Recorrida: Ipiranga Serrana Fertilizantes S/A

Advogados: Roberto Porto Farinon e outros e Hugo Mósca e outros

Sustentação oral: Hugo Mósca, pela recorrida

EMENTA

Transporte marítimo. Extravio de mercadoria.

Na hipótese de extravio de mercadoria, em transporte marítimo,

não se faz mister a realização de vistoria, sendo sufi ciente a ressalva da

autoridade portuária. Precedentes. Recurso conhecido e não provido.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

34

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos esses autos, acordam os Ministros da

Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos

e notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade conhecer do recurso especial

e, por maioria, negar-lhe provimento, vencido o Sr. Ministro Nilson Naves.

Participaram do julgamento os Srs. Ministros Nilson Naves, Eduardo Ribeiro,

Waldemar Zveiter e Cláudio Santos.

Brasília (DF), 24 de maio de 1994 (data do julgamento).

Ministro Eduardo Ribeiro, Presidente

Ministro Costa Leite, Relator

DJ 20.06.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Costa Leite: Negado provimento à apelação que interpôs

da sentença que julgou procedente a ação indenizatória que lhe ajuizou Ipiranga

Serrana S/A, para ressarcir-se de prejuízo decorrente de extravio de mercadoria

em transporte marítimo, Frota Oceânica Brasileira S/A manifesta recurso

especial, fundamentado no art. 105, III, alíneas a e c, da Constituição, sob a

alegação de que o acórdão da egrégia Quarta Câmara Cível do Tribunal de

Alçada do Rio Grande do Sul, ao confi rmar a condenação que lhe foi imposta

em 1º grau, negou vigência aos arts. 5º e 6º, do Decreto-Lei n. 116/1967 e ao

art. 1.218, do Código de Processo Civil, além de dissentir de julgados de outros

tribunais que arrola.

Processado e admitido o recurso, pela alínea c, subiram os autos.

É o relatório, Senhor Presidente.

VOTO

O Sr. Ministro Costa Leite (Relator): Sustenta a recorrente que,

ao contrário do que entenderam as instâncias ordinárias, não é prestadio

a comprovar a falta da mercadoria transportada documento expedido pela

autoridade portuária, fazendo-se mister a realização de vistoria.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 11-35, junho 2010 35

O tema em torno do qual se controverte já foi submetido ao crivo deste

Superior Tribunal de Justiça, cuja jurisprudência abona o entendimento contra

o qual investe o recurso, como se colhe, entre outros, dos acórdãos nos Recursos

Especiais n. 18.972-RJ, 37.613-0-RS e 42.363-5-RS.

Com efeito, na hipótese de extravio da mercadoria, é sufi ciente a ressalva

da autoridade portuária, não sendo necessária a vistoria, consoante o disposto no

§ 3º do art. 1º do Decreto n. 64.387, de 1969, que regulamentou o Decreto-Lei

n. 116, de 1967.

Como ressaltou o eminente Ministro Eduardo Ribeiro, no voto que

proferiu no REsp n. 18.972-RJ, “verifi ca-se que existe uma distinção entre

os casos de extravio da mercadoria — quando é suficiente a ressalva pela

autoridade portuária — e de avaria ou transporte em embalagem inadequada,

hipótese em que está prevista a vistoria”.

Do quanto exposto, Senhor Presidente, conheço do recurso, pela letra c,

eis que satisfatoriamente demonstrado o dissídio jurisprudencial, mas lhe nego

provimento. É o meu voto.

VOTO

O Sr. Ministro Nilson Naves: Sr. Presidente, mais uma vez quero entender

que, nesses casos, a indenização depende de vistoria. Conheço do especial, mas,

diversamente do Sr. Relator, e pedindo vênia a S. Exa., dou provimento ao

recurso.

VOTO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Srs. Ministros, peço vênia ao Sr. Ministro

Nilson Naves para acompanhar o voto do Sr. Ministro-Relator uma vez que

tenho sustentado o mesmo ponto de vista em outras oportunidades, a ele

permanecendo fi el.

Súmula n. 110

SÚMULA N. 110

A isenção do pagamento de honorários advocatícios, nas ações acidentárias,

é restrita ao segurado.

Referências:

CF, art. 5º, LXXIV.

CPC, art. 20.

Lei n. 8.213/1991, art. 129, parágrafo único.

Precedentes:

REsp 27.951-SP (5ª T, 16.11.1992 — DJ 07.12.1992)

REsp 36.047-MG (5ª T, 1º.09.1993 — DJ 04.10.1993)

REsp 38.233-MG (6ª T, 15.03.1994 — DJ 04.04.1994)

REsp 39.758-MG (5ª T, 07.02.1994 — DJ 28.02.1994)

REsp 41.738-MG (5ª T, 02.03.1994 — DJ 21.03.1994)

REsp 43.320-MG (6ª T, 15.03.1994 — DJ 11.04.1994)

Terceira Seção, em 06.10.1994

DJ 13.10.1994, p. 27.430

RECURSO ESPECIAL N. 27.951-7-SP (1992/0025120-0)

Relator: Ministro José Dantas

Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social — INSS

Advogado: Solon José Ramos

Recorrido: Simão Rodrigues de Moraes

Advogado: Luiz Gonzaga Curi Kachan

EMENTA

Processual. Ação acidentária. Procedência.

Honorários da sucumbência. Ao isentar do pagamento das verbas

relativas à sucumbência o procedimento judicial relativo a acidente do

trabalho, certamente que, no tocante a honorários advocatícios, o

art. 129, parágrafo único, da Lei n. 8.212/1991, aplica-se apenas em

favor do obreiro acidentado; pelo que, não há duvidar-se do pleno

vigor da Súmula n. 234-STF, construída em face de antiga regra legal

semelhante.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos esses autos, acordam os Ministros da Quinta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso, e determinar

a subida dos autos à Suprema Corte para julgamento do recurso extraordinário.

Votaram de acordo os Srs. Ministros Costa Lima, Assis Toledo, Edson Vidigal

e Flaquer Scartezzini.

Brasília (DF), 16 de novembro de 1992 (data do julgamento).

Ministro Flaquer Scartezzini, Presidente

Ministro José Dantas, Relator

DJ 07.12.1992

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

42

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José Dantas: Vencido na ação acidentária de que se cuida,

a par do recurso extraordinário interposto pela invocação de erronia do efeito

retroativo emprestado ao art. 58, parágrafo único, da Constituição, também

recorreu especialmente o INSS sob invocação de malferimento da vigência do

art. 129, parágrafo único, da Lei n. 8.213/1991, pois que, em suma, não cabem

honorários da sucumbência na ação de acidente do trabalho. Lê-se — fl s. 330.

Ambos os recursos foram admitidos — fl s. 363 e 365.

Relatei.

VOTO

O Sr. Ministro José Dantas (Relator): Sr. Presidente, repita-se que o

presente recurso se cinge ao reexame da condenação em honorários advocatícios,

pois que, no mais que a autarquia sucumbente reclama do acórdão, diz

respeito à justifi cação do prequestionamento provocado pelos declaratórios

afi nal rejeitados, ou diz respeito à combatida atualização do benefício expressa

em número de salários mínimos, matérias que, na verdade, não interferem

com o objeto do recurso especial, embora possam interferir com o recurso

extraordinário pendente.

Portanto, reexamine-se a irresignação do recorrente, fi xada no dizer-se

isento da verba honorária, a seu ver compreendida na expressão “verbas relativas

à sucumbência”, das quais são expressamente isentos os litígios relativos a acidentes

do trabalho (art. 129, parágrafo único, da Lei n. 8.213, de 24.07.1991).

Apesar das aparências traçadas pela data da nova Lei de Acidentes,

relembre-se que a questão vem de longe. É que, ainda na vigência da antiqüíssima

Lei da Infortunística — Decreto-Lei n. 7.036/1944 — já se discutia tal isenção,

a rigor do seu art. 56 que, sobre confi ar ao Ministério Público o patrocínio

das causas dos infortunados supunha escusar o réu ao dever dos honorários da

sucumbência.

A divergência pretoriana persistiu até seu assentamento pela Súmula n.

234 do Supremo Tribunal Federal, fi rmada em que a discutida isenção não

benefi cia o segurador, isso pela compreensão de que, integrando a indenização,

ditos honorários a desfalcariam se deixados como encargo do autor.

SÚMULAS - PRECEDENTES

43RSSTJ, a. 4, (8): 37-57, junho 2010

Vai daí que, embora genérica a disposição da lei nova, a mesma construção

jurisprudencial se recomenda manter-se, pela asseveração de que a consultada

Súmula n. 234-STF continua em vigor. Tanto mais que, no concernente ao

tema da infortunística, a contemplação constitucional da assistência judiciária

obrigatória somente alcança os necessitados, no caso o obreiro acidentado,

conforme anotado pelo Professor Theotonio Negrão, verbis:

Art. 129: 3. O texto está redigido como se também o INSS fosse dispensado de pagar honorários, quando vencido em ação de acidente do trabalho. Mas essa conclusão é absurda porque, ao passo que o acidentado goza de assistência judiciária (CF, art. 5º, LXXIV), o mesmo não ocorre, obviamente, com o INSS (Código de Processo Civil e Leg. Proc. em Vigor, 23ª ed., p. 622).

Igual entendimento defende o Professor José Salem Neto, em sua festejada

obra “Prática de Acidentes do Trabalho”, nestes termos:

Pelo art. 129, parágrafo único da Lei n. 8.213, há o privilégio pelo princípio de proteção à parte pobre da isenção de quaisquer custas e verbas da sucumbência. Assim, a sucumbência aplica-se em favor do trabalhador acidentado no trabalho porque o benefício legal o protege. Entendemos que o INSS não pode ficar exonerado da sucumbência porque haverá prejuízo patrimonial e quem obrigou a contratação de advogado foi o próprio segurador ao descumprir a lei, tanto na fi scalização quanto na execução. (1ª ed., 1992, p. 45, Edipro).

Finalmente, no tema, veja-se que calham bem as seguintes assertivas da

impugnação ao recurso, da parte do Ministério Público local, por seu Procurador

Lauro de Camargo, textuais:

É de se entender que o legislador, ao se referir, aqui, aos litígios relativos a acidentes do trabalho resolvidos pela via judicial, referiu-se à ação judicial intentada pelo infortunado, para fi ns de isentá-lo de custas e verbas relativas à sucumbência.

Se, todavia, não for este o raciocínio do intérprete, é de se ter que a parte fi nal da fraseologia do dispositivo afi gura-se aberrantemente inconstitucional, chegando mesmo a negar vigência ao art. 5º, inciso XIII, da Magna Carta de 1988, que estabelece ser livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profi ssão, atendidas as qualifi cações profi ssionais que a lei estabelecer.

Obviamente, não fora esta a intenção do legislador infraconstitucional.

A sucumbência, em que está ínsito o pagamento de honorários à parte vencedora, é princípio estratifi cado em lei de codifi cação, em lex specialis (art. 20, CPC), que não se impressiona com o que a norma ordinária determina em

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

44

contrário e que, por isso mesmo, não se pode derrogar com regramentos gerais tratados em outra lei especial (Lei n. 8.213/1991).

Veja-se, ainda, o art. 133 da Constituição Federal a sustentar que o advogado, vencedor de ação judicial que patrocinou, tem o direito inalienável de haver seus honorários, justa paga pelo serviço essencial que presta, e, em última análise, o objetivo fi nal do exercício de qualquer trabalho ou atividade profi ssional.

Daí, o princípio da sucumbência, bem assim os ônus que lhe são caudatários, quedar-se absterso, mesmo porque a atuação da lei não deve representar uma diminuição patrimonial para a parte a cujo valor se efetiva, por ser interesse do Estado que o emprego do processo não se resolva em prejuízo de quem tem razão. (Chiovenda, “Instituições”, pp. 285-286).

Ora, o fundamento da condenação em honorários advocatícios é o fato objetivo da derrota (RT 591/140), idéia esta com amparo sistemático pela jurisprudência dos Tribunais e pela doutrina.

De forma diferente não poderiam ser vistos os honorários periciais daqueloutros auxiliares da Justiça, pena de encanzinamento, também, ao princípio da isonomia (art. 5º caput CF), posto não ser crível tenha o legislador ordinário pretendido excluir a verba sucumbencial, com estabelecimento de odioso privilégio, também relativamente à autarquia. Nem mesmo em nome de um arrevesado interesse público o legislador, de sã consciência, o faria.

Por fim, não consta que o analisado parágrafo único do citado artigo tenha revogado a Lei n. 4.632, de 18 de maio de 1965, que criou o instituto da sucumbência, ou mesmo a Súmula n. 234 STF: São devidos honorários de advogado em ação de acidente do trabalho julgada procedente. — fl s. 359-361.

Na linha de todas essas considerações, tenho por improcedente a argüida

violação do analisado dispositivo legal, a meu ver muito bem aplicado pelo v.

acórdão recorrido.

Pelo exposto, não conheço do recurso.

Determino a remessa ao Pretório excelso do recurso extraordinário

pendente — Lei n. 8.038/1990, art. 27, § 4º.

RECURSO ESPECIAL N. 36.047-MG (1993/0016913-0)

Relator: Ministro Jesus Costa Lima

Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social — INSS

SÚMULAS - PRECEDENTES

45RSSTJ, a. 4, (8): 37-57, junho 2010

Advogados: João de Deus Machado e outros

Recorrido: Sebastião Pacheco Borges

Advogados: Neusa Maria Aleixo Cotta e outro

EMENTA

Previdenciário e acidente do trabalho. Sucumbência da autarquia

e custas. Isenção.

1. Os litígios referentes a acidentes do trabalho processados pela

Justiça dos Estados e do Distrito Federal, segundo disposição expressa

da Lei n. 8.213, de 1991, “estão isentos do pagamento de custas e de

verbas relativas à sucumbência”. A isenção de que se trata refere-se ao

segurado e não ao INSS, vencido.

2. Precedentes do mesmo tribunal não servem para comprovar o

dissenso.

3. Recurso especial conhecido e provido parcialmente para

mandar excluir apenas as custas, pois não foram adiantadas pela parte,

mas devida a condenação em honorários de advogado.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe

parcial provimento. Votaram com o Relator os Ministros José Dantas, Flaquer

Scartezzini, Assis Toledo e Edson Vidigal.

Brasília (DF), 1º de setembro de 1993 (data do julgamento).

Ministro Jesus Costa Lima, Presidente e Relator

DJ 04.10.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Jesus Costa Lima: O Instituto Nacional do Seguro Social

— INSS interpõe recurso especial pelas alíneas a e c, item III, art. 105 da

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

46

Constituição Federal, por não se conformar com a sua condenação em custas

processuais e honorários em ação acidentária. Afi rma violação ao parágrafo

único do art. 129 da Lei n. 8.213, de 24.07.1991, que a isenta de tais verbas.

Além disso, ao contrário do decidido pelo v. aresto de fl s. 63-66, o auxílio-

acidente no percentual de 30% sobre o salário-contribuição deve incidir a partir

de 5 de abril de 1991, conforme previsto no art. 145 do diploma legislativo

mencionado e, não, a partir do dia em que o trabalhador acidentado recebeu alta

médica.

Não houve contra-razões (fl . 86) e o especial foi admitido (fl . 93).

Relatei.

VOTO

O Sr. Ministro Jesus Costa Lima (Relator): Penso que o recurso especial

fundando-se na alínea a, não rende ensejo a dúvidas sobre qual o dispositivo

da lei federal violado. O excesso de formalismo acaba por eliminar o próprio

instituto, podendo transformar o Judiciário numa caixa de desagradáveis

surpresas, furtando-se à sua essência, que é de estabelecer a paz nas relações

públicas e privadas. Evidente que, se do recurso não se consegue perceber o que

busca o recorrente, não pode ser conhecido, pois o juiz não é um adivinho e a

parte tem direito de saber o que pretende o adverso.

No caso, a autarquia fez expressa referência ao parágrafo único do art. 129

da Lei n. 8.213, de 24.07.1991.

A Súmula n. 234 do egrégio Supremo Tribunal Federal, partindo do

pressuposto de que a Lei n. 6.367, de 1976, no art. 19, II, in fi ne, mandava

aplicar o procedimento sumaríssimo e, no art. 13, não dispensava a constituição

de advogado, entendia cabível a condenação em honorários de advogado por

força do disposto no art. 64 do Código de Processo Civil (RE n. 63.310 — RTJ

51/335) in “Direito Sumular”, 3ª ed., Roberto Rosas.

A Lei n. 8.213/1991 prevê, no entanto:

Art. 129. Os litígios e medidas cautelares relativos a acidentes do trabalho serão apreciados:

I - (...)

SÚMULAS - PRECEDENTES

47RSSTJ, a. 4, (8): 37-57, junho 2010

II - na via judicial, pela Justiça dos Estados e do Distrito Federal, segundo o rito sumaríssimo, inclusive durante as férias forenses, mediante petição instruída pela prova de efetiva notificação do evento à Previdência Social, através de Comunicação de Acidente do Trabalho — CAT.

Parágrafo único. O procedimento judicial de que trata o inciso II deste artigo é isento do pagamento de quaisquer custas e de verbas relativas à sucumbência.

Portanto, a evolução legislativa levaria a concluir-se que, hoje, é indevida a

condenação em honorários advocatícios, bem assim em custas.

Assinale-se que o autor teve a assistência judiciária gratuita. Portanto,

não pagou custas, do que poderia ter direito ao ressarcimento. Ora, se a

Constituição — art. 5º, LXXIV — dispõe que o Estado prestará assistência

jurídica integral e gratuita, esta não pode ser tida como realizada se o acidentado

é obrigado a constituir advogado porque a União não está aparelhada a assisti-lo

judicialmente de forma completa. Daí que, o benefício fi cará diminuído se ainda

sujeito a desconto decorrente do pagamento dos honorários advocatícios.

Desse modo, o dispositivo legal comentado há de ser compreendido

em seu contexto, isto é, se a União se omitiu em proporcionar ao pobre, um

advogado, vencida a autarquia previdenciária em ação acidentária, a condenação

em honorários de advogado atém-se às disposições dos arts. 19 e 20 do Código

de Processo Civil.

Na verdade, a norma impugnada dirige-se ao segurado. É ele que,

propondo a ação acidentária, fi ca isento do pagamento de custas e de honorários

advocatícios.

A alegação de que foi violado o art. 145 da Lei n. 8.213/1991 improcede,

pois trata dos efeitos fi nanceiros da lei, que não podem repercutir na própria

concessão e sua vigência, tal como defi nido nos §§ 1º e 2º do art. 86 da lei de

regência do benefício.

A divergência jurisprudencial não é considerada, porque do mesmo

Tribunal.

In casu, conheço do recurso especial pela alínea a e o provejo parcialmente

apenas para excluir a condenação em custas que não foram adiantadas pelo

autor.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

48

RECURSO ESPECIAL N. 38.233-MG (1993/0024016-1)

Relator: Ministro José Cândido de Carvalho Filho

Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social — INSS

Recorrido: Antônio Sérgio Barbosa

Advogados: Luiz Gonzaga Lopes e outro e Joaquim Lourenço Martins e

outro

EMENTA

Recurso especial. Previdenciário. Acidente de trabalho. Auxílio-

acidente. Procedência da ação.

Condenação da Autarquia nas custas e honorários de advogado.

A isenção da Lei n. 8.213/1991 só benefi cia o acidentado.

Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos esses autos, acordam os Ministros da Sexta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do

recurso, na conformidade dos votos e notas taquigráfi cas constantes dos autos.

Votaram com o Relator os Ministros Adhemar Maciel, Anselmo Santiago e

Luiz Vicente Cernicchiaro. Ausente, justifi cadamente, o Ministro Pedro Acioli.

Brasília (DF), 15 de março de 1994 (data do julgamento).

Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, Presidente

Ministro José Cândido de Carvalho Filho, Relator

DJ 04.04.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José Cândido: Em ação acidentária proposta pelo pedreiro

Antônio Sérgio Barbosa, julgada procedente, foi o INSS condenado a pagar

o auxílio-acidente na base de quarenta por cento sobre o seu salário-de-

SÚMULAS - PRECEDENTES

49RSSTJ, a. 4, (8): 37-57, junho 2010

contribuição, custas e honorários advocatícios, estes arbitrados em vinte por

cento sobre o total encontrado. (Fl. 62)

A egrégia Primeira Câmara Civil do Tribunal de Alçada do Estado de

Minas Gerais deu provimento parcial a ambas as apelações, inconformando-se,

no entanto, o INSS, com a condenação, mantida, na verba de sucumbência, da

qual estaria isento pelo art. 129, parágrafo único, da Lei n. 8.213, de 25.07.1991.

Daí o presente recurso especial, com fundamento na alínea a, admitido

pelo despacho de fl . 113.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro José Cândido (Relator): Entende o Instituto-recorrente

que, “com o advento da Lei n. 8.213/1991, criou-se o benefício de isenção de

quaisquer verbas sucumbenciais em ação acidentária, conforme disposto em seu

art. 129, parágrafo único, consonância com inciso II deste mesmo artigo”. (Fl.

104)

Não é essa, no entanto, a orientação deste Superior Tribunal de Justiça,

a qual expressei em meu voto de Relator no Recurso Especial n. 30.483,

publicado em 24.05.1993, decisão unânime. Transcrevo o parágrafo em que se

apóia o recorrente.

A toda evidência, trata-se de isenção para beneficiar os acidentados, sem atingir o Instituto.

Por seu turno, os acidentados têm o direito de receber as verbas indenizatórias em sua integralidade. Como os honorários da sucumbência são devidos à parte-vencedora, esta verá recomposto o seu patrimônio diminuído com os honorários a serem pagos a seu advogado.

No mesmo sentido, e igualmente por unanimidade, decidiu a Quinta

Turma, no Recurso Especial n. 37.513, publicado em 18.10.1993, relatado pelo

eminente Ministro Jesus Costa Lima:

Ao Estado foi imposto o dever de prestar a assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insufi ciência de recurso (CF, art. 5º, LXXIV). Desse modo, se o segurado, a quem foi concedida assistência judiciária, é obrigado a constituir advogado para propor ação acidentária, cabível a condenação em honorários de advogado por parte da autarquia, sob pena de aviltar-se o quantum

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

50

devido pelo segurado. Compreensão do disposto no parágrafo único do art. 129 da Lei n. 8.213/1991 e arts. 19 e 20 do Código de Processo Civil no sentido de que a isenção de custa e sucumbência é destinada ao acidentado.

O acórdão recorrido, do egrégio Tribunal de Alçada do Estado de Minas

Gerais, não afrontou a lei federal invocada.

Não conheço do recurso.

É o meu voto.

RECURSO ESPECIAL N. 39.758-MG (1993/0028820-2)

Relator: Ministro Assis Toledo

Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social — INSS

Recorrido: Luiz Moisés da Silva

Advogados: Luiz Gonzaga Lopes e outros e Joaquim Lourenço Martins e

outros

EMENTA

Processual Civil. Ação acidentária. Verbas da sucumbência.

A isenção de que trata a Lei n. 8.213/1991, em relação às verbas

da sucumbência, refere-se ao segurado e não ao INSS. Precedentes.

Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram com

o Relator os Ministros Edson Vidigal, Jesus Costa Lima, José Dantas e Flaquer

Scartezzini.

Brasília (DF), 07 de fevereiro de 1994 (data do julgamento).

SÚMULAS - PRECEDENTES

51RSSTJ, a. 4, (8): 37-57, junho 2010

Ministro Jesus Costa Lima, Presidente

Ministro Assis Toledo, Relator

DJ 28.02.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Assis Toledo: O INSS, com apoio no art. 105, III, a, da

Constituição Federal, interpôs recurso especial contra acórdão que o condenou

em custas processuais e honorários advocatícios em ação acidentária.

Alega violação ao art. 129, II, parágrafo único, da Lei n. 8.213/1991.

Admitido o recurso, subiram os autos a esta egrégia Corte.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Assis Toledo (Relator): Dispõe o art. 129, II, parágrafo

único, da Lei n. 8.213, de 24.07.1991:

Art. 129. Os litígios e medidas cautelares relativos a acidentes do trabalho serão apreciados:

I - (...)

II - na via judicial, pela Justiça dos Estados e Distrito Federal, segundo o rito sumaríssimo, inclusive durante as férias forenses, mediante petição instruída pela prova de efetiva notificação do evento à Previdência Social, através de Comunicação de Acidente do Trabalho — CAT.

Parágrafo único. O procedimento judicial de que trata o inciso II deste artigo é isento do pagamento de quaisquer custas e de verbas relativas à sucumbência.

Entende o INSS que, em razão dos dispositivos acima transcritos, está

isento das verbas da sucumbência, inclusive honorários advocatícios.

Não tem razão, contudo. A norma citada dirige-se ao segurado. Anotou

Th eotonio Negrão:

O texto está redigido como se também o INSS fosse dispensado de pagar honorários, quando vencido em ação de acidente do trabalho. Mas essa conclusão é absurda porque, ao passo que o acidentado goza de assistência judiciária (CF, 5º,

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

52

LXXIV), o mesmo não ocorre, obviamente, com o INSS. (“Código de Processo Civil e Legislação Processual em Vigor” — 24ª ed., p. 667)

Esse também tem sido o entendimento desta Turma (REsps n. 30.105-

5-SP e 36.047-1-MG, Rel. Min. Costa Lima, DJ 11.10.1993 e 04.10.1993,

respectivamente, e REsp n. 32.126-1-SP, Rel. Min. José Dantas, DJ 22.03.1993).

Além disso, como salientado no despacho de admissibilidade do recurso, a

Súmula n. 234 do STF continua em vigor, in verbis:

São devidos honorários de advogado em ação de acidente do trabalho julgada procedente.

Diante do exposto, não reconhecendo a alegada violação a dispositivo de

lei federal, não conheço do recurso.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 41.738-MG (1993/0034638-5)

Relator: Ministro Flaquer Scartezzini

Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social — INSS

Advogados: Luiz Gonzaga Lopes e outro

Recorrido: Enio da Costa Ramos

Advogados: Valéria Cristina Pantuzo Miranda e outros

EMENTA

Processual. Ação acidentária. Sucumbência. Custas. Isenção. Lei

n. 8.213/1991, art. 129. Clientela.

A isenção do pagamento de custas e verbas relativas à

sucumbência, prevista no art. 129 da Lei n. 8.213/1991, é dirigida ao

obreiro acidentado e não ao INSS.

Precedentes.

Recurso não conhecido.

SÚMULAS - PRECEDENTES

53RSSTJ, a. 4, (8): 37-57, junho 2010

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Assis Toledo, Jesus Costa Lima e José Dantas. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Edson Vidigal.

Brasília (DF), 02 de março de 1994 (data do julgamento).

Ministro Jesus Costa Lima, Presidente

Ministro Flaquer Scartezzini, Relator

DJ 21.03.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini: O Instituto Nacional do Seguro Social

— INSS interpõe recurso especial (art. 105, III, a, CF), ao v. acórdão de fl s. 92-

98 que, confi rmando sentença monocrática (fl s. 65-68), manteve a condenação

da Autarquia em verbas periciais e de advogado, de vez que vencida na ação

acidentária ajuizada.

Sustenta o recorrente afronta ao art. 129 da Lei n. 8.213, de 24.07.1991,

que expressamente determina que o procedimento acidentário está isento de

quaisquer despesas, inclusive verbas de sucumbência (fl s. 69-71).

Contra-razões às fl s. 107-125.

Admitido o recurso (fl s. 134-135), subiram os autos, vindo-me conclusos.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini (Relator): Sr. Presidente, cinge-se

a controvérsia à obrigatoriedade, ou não, de o INSS, caso vencido, em ação

acidentária, arcar com o pagamento da verba sucumbencial, ante disposição

expressa do art. 129, parágrafo único, da Lei n. 8.213/1991.

Art. 129. Os litígios e medidas cautelares relativas a acidente do trabalho serão apreciados:

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

54

I - (...)

II - Na via judicial, pela Justiça Estadual e do Distrito Federal, segundo o rito sumaríssimo...

Parágrafo único. O procedimento judicial de que trata o inciso II deste artigo é isento do pagamento de quaisquer custas e de verbas relativas à sucumbência.

É de se entender que citado dispositivo legal objetiva facilitar o ingresso

em juízo, dos acidentados, na maioria das vezes, sem condições de arcar com os

ônus processuais decorrentes.

Em comentários ao art. 129 da Lei n. 8.213/1991, anotou Th eotonio Negrão:

O texto está redigido como se também o INSS fosse dispensado de pagar honorários, quando vencido em ação de acidente do trabalho. Mas essa conclusão é absurda porque, ao passo que o acidentado goza de assistência judiciária (CF, 5º, LXXIV), o mesmo não ocorre, obviamente, com o INSS. (Código de Processo Civil e Legislação Processual em Vigor 24ª ed., p. 667)

Esta egrégia Turma, no concernente, vem decidindo:

Processual Civil. Ação acidentária. Verbas da sucumbência.

A isenção de que trata a Lei n. 8.213/1991, em relação às verbas da sucumbência, refere-se ao segurado e não ao INSS.

Precedentes.

Recurso não conhecido. (REsp n. 40.175-5-MG, Rel.: Min. Assis Toledo, DJ 28.02.1994).

Os litígios referentes a acidente do trabalho processados pela Justiça dos Estados e do Distrito Federal, segundo disposição expressa da Lei n. 8.213/1991, estão isentos do pagamento de custas e verbas relativas à sucumbência. A isenção de que se trata refere-se ao segurado e não ao INSS, vencido. (REsp n. 36.047-1-MG, Rel.: Min. Jesus Costa Lima, DJ 04.10.1993).

Da mesma forma, com relação à verba honorária, decidiu:

Processual. Ação acidentária. Procedência. Honorários da sucumbência.

Ao isentar do pagamento das verbas relativas à sucumbência o procedimento judicial relativo a acidente do trabalho, certamente que, no tocante a honorários advocatícios, o art. 129, parágrafo único, da Lei n. 8.213/1991, aplica-se apenas em favor do obreiro acidentado; pelo que, não há duvidar-se do pleno vigor da Súmula n. 234-STF, construída em face de antiga regra legal semelhante. (REsp n. 27.951-7-SP, Rel. Min. José Dantas, DJ 07.12.1992).

SÚMULAS - PRECEDENTES

55RSSTJ, a. 4, (8): 37-57, junho 2010

Por derradeiro, a Súmula n. 234-STF continua em plena vigência:

São devidos honorários de advogado em ação de acidente de trabalho julgada procedente.

Com estas considerações, inexistindo a alegada violação do analisado

dispositivo legal, não conheço do recurso.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 43.320-MG (1994/002370-7)

Relator: Ministro Adhemar Maciel

Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social — INSS

Advogados: Pedro Messias de Souza e outros

Recorrido: Antônio Paulo da Silva

Advogados: Neusa Maria Aleixo Cotta e outro

EMENTA

Processual Civil. Acidente de trabalho. Verba de patrocínio.

Inteligência do art. 129 da Lei n. 8.213/1991. Isenção para o segurado

e não para a autarquia previdenciária. Recurso especial conhecido e

provido só para excluir da base de cálculo dos honorários as prestações

vincendas.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,

decide a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar

provimento parcial ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator, na

forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo

parte integrante do presente julgado. Votaram de acordo os Srs. Ministros

Anselmo Santiago, Luiz Vicente Cernicchiaro e José Cândido de Carvalho

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

56

Filho. Ausente, por motivo justifi cado, o Sr. Ministro Pedro Acioli. Custas,

como de lei.

Brasília (DF), 15 de março de 1994 (data do julgamento).

Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, Presidente

Ministro Adhemar Maciel, Relator

DJ 11.04.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Adhemar Maciel: Trata-se de recurso especial interposto

pelo Instituto Nacional do Seguro Social contra acórdão do Tribunal de Alçada

do Estado de Minas Gerais, com fundamento no art. 105, III, a, da CF.

2. Antônio Paulo da Silva ajuizou ação de acidente de trabalho. Teve seu

pedido acolhido. Ambas as partes recorreram. A Terceira Câmara Civil do

TAMG deu provimento ao recurso do autor para condenar o réu a pagar as

custas do processo e honorários advocatícios de 15% sobre a soma do montante

a se apurar com doze parcelas vincendas.

3. Inconformado, o INSS se insurge contra a parte do acórdão que o

condenou ao pagamento de custas e honorários advocatícios, alegando violação

ao art. 129 da Lei n. 8.213/1991 e ao art. 5º da CF e dissídio jurisprudencial.

4. Contra-razões, às fl s. 85-87.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Adhemar Maciel (Relator): Sr. Presidente, o recorrente

pondera que em ação de acidente de trabalho as partes estão isentas do

pagamento de quaisquer ônus da sucumbência, de acordo com o art. 129 da Lei

n. 8.213/1991. Ainda, aduz dissídio jurisprudencial.

O recorrente não me parece com razão. Ao contrário do que afi rma, a

isenção de que trata o art. 129 da Lei n. 8.213/1991 se refere ao segurado e não

ao INSS.

Nesse sentido é pacífi ca a jurisprudência desta Corte:

SÚMULAS - PRECEDENTES

57RSSTJ, a. 4, (8): 37-57, junho 2010

Previdenciário e acidente do trabalho. Sucumbência da autarquia e custas. Isenção.

1. Os litígios referentes a acidentes do trabalho processados pela Justiça dos Estados e do Distrito Federal, segundo disposição expressa da Lei n. 8.213, de 1991, “estão isentos do pagamento de custas e de verbas relativas à sucumbência”. A isenção de que se trata refere-se ao segurado e não ao INSS.

2. Recurso especial conhecido e provido parcialmente para mandar excluir apenas as custas, pois não foram adiantadas pela parte, mas devida a condenação em honorários de advogado. (REsp n. 38.895-MG, Rel. Min. Jesus Costa Lima, DJ 08.11.1993, p. 23.579).

Processual. Ação acidentária. Procedência.

Honorários da sucumbência. Ao isentar do pagamento das verbas relativas à sucumbência o procedimento judicial relativo a acidente do trabalho, certamente que, no tocante a honorários advocatícios, o art. 129, parágrafo único, da Lei n. 8.213/1991, aplica-se apenas em favor do obreiro acidentado; pelo que, não há duvidar-se do pleno vigor da Súmula n. 234-STF, construída em face de antiga regra legal semelhante. (REsp n. 27.951, Rel. Min. José Dantas, DJ 07.12.1992, p. 23.329).

E, mesmo não tendo interposto o recurso pela alínea c, citou acórdão do

mesmo Tribunal. Tais arestos não servem para confronto (Súmula n. 13-STJ).

Por fi m, é de esclarecer-se que o acórdão recorrido, julgando ultra petita,

condenou o réu ao pagamento de custas e honorários sobre as prestações

vincendas. Ora, as prestações vincendas se prestam para a fi xação do valor da

causa, não como base de condenação honorária (CPC, art. 20, § 3º).

Por tais razões, conheço do especial, tão-somente para excluir da base de

cálculo as prestações vincendas.

É como voto.

Súmula n. 111

SÚMULA N. 111

Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias, não incidem sobre

as prestações vencidas após a sentença.

Referência:

CPC, art. 20, § 5º

Precedentes:

EREsp 187.766-SP (3ª S, 24.05.2000 — DJ 19.06.2000)

EREsp 195.520-SP (3ª S, 22.09.1999 — DJ 18.10.1999)

EREsp 198.260-SP (3ª S, 13.10.1999 — DJ 16.11.1999)

EREsp 202.291-SP (3ª S, 24.05.2000 — DJ 11.09.2000)

RFsp 329.536-SP (5ª T, 04.10.2001 — DJ 04.02.2002)

REsp 332.268-RS (5ª T, 18.09.2001 — DJ 15.10.2001)

REsp 392.348-RS (6ª T, 05.03.2002 — DJ 1º.04.2002)

REsp 401.127-SP (5ª T, 19.03.2002 — DJ 29.04.2002)

Terceira Seção, em 06.10.1994

DJ 13.10.1994, p. 27.430

DJ 04.10.2006, p. 281

(*) Apreciando o Projeto de Súmula n. 560, na sessão de 27.09.2006, a

Terceira Seção deliberou pela alteração da Súmula n. 111.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 187.766-SP (1999/0071012-6)

Relator: Ministro Fernando Gonçalves

Embte: Jaelson Serafi m Santiago

Advogada: Maria Izabel Jacomossi

Embdo: Instituto Nacional do Seguro Social — INSS

Advogadas: Angelina Maria de Jesus e outros

Sustentação oral: Bruno Mattos e Silva (pelo embargado)

EMENTA

Embargos de divergência. Previdenciário. Honorários

advocatícios. Conta de liquidação.

1. A verba de patrocínio deve ter como base de cálculo o

somatório das prestações vencidas, compreendidas aquelas devidas até

a data da sentença.

2. Embargos rejeitados.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira

Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taguigráfi cas a seguir, por unanimidade, rejeitar os embargos de divergência,

Votaram com o Relator os Ministros Felix Fischer, Gilson Dipp, Hanilton

Carvalhido, Jorge Scartezzini e Fontes de Alencar. Ausentes, justifi cadamente,

os Ministros Vicente Leal e Edson Vidigal. Ausente, por motivo de licença, o

Ministro Willian Patterson.

Brasilia (DF), 24 de maio de 2000 (data de julgamento).

Ministro José Arnaldo da Fonseca, Presidente

Ministro Fernando Gonçalves, Relator

DJ 19.06.2000

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

64

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Fernando Gonçalves: Cuida-se de embargos de divergência

opostos por Jaelson Serafi m Santiago, contra acórdão proferido pela egrégia

Quinta Turma desta Corte, que guarda a seguinte ementa:

Processual Civil. Honorários advocatícios. Ação previdenciária. Parcelas vencidas. Marco fi nal. Prolação da sentença.

Nas ações previdenciárias, os honorários advocatícios devem ser fixados com exclusão das prestações vincendas, considerando-se apenas as prestações vencidas até o momento da prolação da sentença.

Recurso a que se nega provimento. (Fl. 153)

Aduz o embargante divergência entre o acórdão recorrido e outros

proferidos pela Sexta Turma (paradigmas), assim sintetizados:

Processual Civil. Previdenciário. Ação de cobrança de benefício. Honorários advocatícios. Base de cálculo. Súmula n. 111-STJ.

Segundo o comando expresso na Súmula n. 111-STJ nas ações de cobrança de benefícios previdenciários, a verba de patrocínio deve ter como base de cálculo o somatório das prestações vencidas, como tal compreendidas aquelas devidas até a data da elaboração da conta de liquidação.

Recurso especial conhecido e provido. (Fl. 185)

Processual Civil. Honorários advocatícios. Valor da condenação. Art. 20, § 3º do CPC.

1. Havendo condenação, os honorários devem ser arbitrados sobre este valor.

2. Recurso conhecido e provido. (Fl. 192)

Processual e Previdenciário. Honorários advocatícios.

Termo fi nal. Conta-se até a data da elaboração da conta de liquidação. (Fl. 217)

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Fernando Gonçalves (Relator): Nas ações previdenciárias, os

honorários advocatícios devem ser calculados somente com base nas prestações

vencidas. excluindo-se as vincendas. Isso é o que determina o enunciado da

Súmula n. 111-STJ:

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 59-101, junho 2010 65

Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias, não incidem sobre as prestações vincendas.

Esse entendimento foi fi rmado por se entender que nesse tipo de demanda

não se aplica o disposto no art. 20, § 5º, do Código de Processo Civil, pois este

se refere, exclusivamente, aos casos de indenização por ato ilícito contra a pessoa.

A questão agora é outra, é saber o momento a partir do qual as prestações

deixam de ser vencidas e passam a ser vincendas para efeito de fi xação da verba

honorária.

As duas turmas que compõem a Terceira Seção têm divergido nas soluções

para o caso.

Na Quinta Turma, o eminente Ministro José Arnaldo da Fonseca, citando

precedente da relatoria do eminente Ministro Cid Flaquer Scartezzini, decidiu

que se deve considerar às prestações vencidas até o momento da prolação da

sentença (REsp n. 172.171-SP, DJ 14.09.1998, p. 111).

Já o eminente Ministro Edson Vidigal acolheu a tese (REsp n. 136.032-

SP, DJ 25.05.1998, p. 128) no sentido de que o marco fi nal para a apuração das

prestações vencidas deve ser o trânsito em julgado da decisão judicial.

Na Sexta Turma também houve controvérsias. O eminente Ministro

Vicente Leal adotou entendimento pelo qual às prestações vencidas são aquelas

devidas até a data da elaboração da conta de liquidação (REsp n. 112.027-

SP, DJ 07.04.1997, p. 11.216). Assim também decidiu o eminente Ministro

William Patterson no REsp n. 145.730-SP, DJ 20.10.1997, p. 53.163.

O eminente Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, dando como pacifi cada

a matéria na Terceira Seção, julgou ser o trânsito em julgado da sentença

condenatória o termo fi nal para o cômputo das prestações vencidas (REsp

n. 180.330-SP, DJ 09.11.1998, p. 197), citando precedentes relatados pelos

Ministros William Patterson e Edson Vidigal.

Com a devida vênia aos entendimentos contrários, deve prevalecer a tese

de que as prestações a serem consideradas na fi xação dos honorários são aquelas

vencidas até o momento da prolação da sentença. O argumento principal é

o de que, se assim não for, cria-se um confl ito de interesses inevitável entre o

advogado, para quem a protelação do fi m da causa, torna-se vantajosa, e a parte,

cujo interesse, normalmente, é pela mais rápida solução do litígio.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

66

Tornando-se o marco fi nal das prestações vencidas como o trânsito em

julgado da decisão, tem-se uma situação inusitada, na qual a morosidade no

término do processo reverte em maiores ganhos ao patrocinador do segurado.

Conclui-se, portanto, que os honorários devem ser fi xados considerando

apenas às parcelas vencidas até o momento da prolação da sentença.

Ante o exposto, rejeito os embargos.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 195.520-SP (99/0038384-2)

Relator: Ministro Felix Fischer

Embte: Instituto Nacional do Seguro Social — INSS

Advogados: Pedro Wanderlei Vizu e outros

Mbdo: Antonio Clementino da Silva

Advogada: Glaucia Sudatti

EMENTA

Processual Civil. Honorários advocatícios. Ação previdenciária.

Parcelas vencidas. Marco fi nal. Prolação da sentença.

Nas ações previdenciárias, os honorários advocatícios devem

ser fi xados com exclusão das prestações vincendas, considerando-se

apenas às prestações vencidas até o momento da prolação da sentença.

Embargos conhecidos e providos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira

Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer e acolher os embargos de

divergência, nos termos do voto do Ministro Relator. Votaram de acordo os

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 59-101, junho 2010 67

Ministros Gilson Dipp, Hamilton Carvalhido, Jorge Scartezzini, Edson Vidigal,

Fontes de Alencar e José Arnaldo. Ausentes, justifi cadamente, os Ministros

William Patterson e, ocasionalmente, o Ministro Fernando Gonçalves.

Brasília (DF), 22 de setembro de 1999 (data do julgamento).

Ministro Vicente Leal, Presidente

Ministro Felix Fischer, Relator

DJ 18.10.1999

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Felix Fischer: O Instituto Nacional do Seguro Social —

INSS interpõe embargos de divergência contra decisão da egrégia Sexta Turma,

assim ementada:

Processual Civil. Previdenciário. Ação de cobrança de benefício. Honorários advocatícios. Base de cálculo. Súmula n. 111-STJ.

Segundo o comando expresso na Súmula n. 111-STJ, nas ações de cobrança de benefícios previdenciários, a verba de patrocínio deve ter como base de cálculo o somatório das prestações vencidas, como tal compreendidas aquelas devidas até a data da elaboração da conta de liquidação.

Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta extensão, provido. (fl s. 149).

Alega o embargante divergência jurisprudencial com decisão da Quinta

Turma no REsp n. 195.522-SP do qual fui relator, no sentido de que se deve

considerar como marco fi nal das prestações vencidas, para fi ns de aplicação da

Súmula n. 111-STJ, o momento da prolação da sentença.

Admitidos os embargos não houve impugnação.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Felix Fischer (Relator): Nas ações previdenciárias, os

honorários advocatícios devem ser calculados somente com base nas prestações

vencidas, excluindo-se as vincendas. Isso é o que determina o enunciado da

Súmula n. 111-STJ:

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

68

Os honorários advocatícios nas ações previdenciárias, não incidem sobre prestações vincendas.

Esse entendimento foi firmado por se entender que nesse tipo de

demanda não se aplica o disposto no art. 20, § 5º, do CPC, pois este se refere,

exclusivamente, aos casos de indenizações por ato ilícito contra a pessoa.

A questão agora é outra, é saber o momento à partir do qual as prestações

deixam de ser vencidas e passam a ser vincendas para efeito de fi xação da verba

honorária.

As duas Turmas que compõem a Terceira Seção têm divergido nas soluções

para o caso.

Na Quinta Turma, o eminente Ministro José Arnaldo da Fonseca, citando

precedente da relatoria do eminente Ministro Cid Flaquer Scartezzini, decidiu

que se deve considerar as prestações vencidas até o momento da prolação da

sentença (REsp n. 172.171-SP, DJ l4.09.1998, p. 111).

Já o eminente Ministro Edson Vidigal acolheu a tese (REsp n. 136.032-

SP, DJ 25.05.1998. p. 128) no sentido de que o marco fi nal para a apuração das

prestações vencidas deve ser o trânsito em julgado da decisão judicial.

Na Sexta Turma, também houve controvérsias. O eminente Ministro

Vicente Leal adotou entendimento pelo qual as prestações vencidas são aquelas

devidas até a data da elaboração da conta de liquidação (REsp n. 112.027-

SP, DJ 07.04.1997, p. 11.216). Assim também decidiu o eminente Ministro

William Patterson no REsp n.145.730-SP, DJ 20.10.1997, p. 53.163.

O eminente Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, dando como pacifi cada

a matéria na Terceira Seção, julgou ser o trânsito em julgado da sentença

condenatória o termo fi nal para o cômputo das prestações vencidas (REsp

n. 180.330-SP, DJ 09.11.1998, p. 197), citando precedentes relatados pelos

Ministros William Patterson e Edson Vidigal.

Com a devida vênia aos entendimentos contrários, deve prevalecer a tese

de que às prestações a serem consideradas na fi xação dos honorários são aquelas

vencidas até o momento da prolação da sentença. O argumento principal é o de

que, se assim não for, cria-se um confl ito de interesses inevitável entre o advogado,

para quem a protelação do fi m da causa torna-se vantajosa, e a parte, cujo

interesse, normalmente, é pela mais rápida solução do litígio.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 59-101, junho 2010 69

Tomando-se o marco fi nal das prestações vencidas como o trânsito em

julgado da decisão, tem-se uma situação inusitada, na qual a morosidade no

término do processo reverte em maiores ganhos ao patrocinador do segurado.

Conclui-se, portanto, que os honorários devem ser fi xados considerando

apenas às parcelas vencidas até o momento da prolação da sentença.

Pelo exposto, dou provimento aos embargos.

É o voto.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 198.260-SP (9910044620-8)

Relator: Ministro Gilson Dipp

Embargante: Instituto Nacional do Seguro Social — INSS

Advogados: Pedro Wanderlei Vizu e outros

Embargado: Antonio Auricelio de Brito Caldas

Advogados: João Sudatti e outros

EMENTA

Processual e Previdenciário. Honorários advocatícios.

Condenação. Prestações vencidas. Súmula n. 111-STJ.

Nas ações previdenciárias, os honorários advocatícios devem

incidir sobre as prestações vencidas, entendidas estas como as ocorridas

até a prolação da decisão exeqüenda.

Embargos acolhidos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, em conformidade com os votos

e notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer e acolher os embargos

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

70

de divergência. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Jorge Scartezzini,

Edson Vidigal, Fontes de Alencar, José Arnaldo, Fernando Gonçalves e Felix

Fischer. Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros William Patterson e

Hamilton Carvalhido.

Brasília (DF), 13 de outubro de 1999 (data do julgamento).

Ministo Vicente Leal, Presidente

Ministro Gilson Dipp, Relator

DJ 16.11.1999

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Gilson Dipp: Cuida-se de embargos de divergência, no

tema do termo fi nal da expressão “prestações vencidas” em contraposição ao

termo inicial das “prestações vincendas” da Súmula n. 111-STJ, para o cálculo

dos honorários advocatícios, pondo em confronto os seguintes julgados:

Acórdão embargado Sexta Turma

REsp. Previdenciário. Verba honorária. Prestação vencidas. Termo final. O Superior Tribunal de Justiça, através de suas Quinta e Sexta Turmas, vem entendendo que em ação previdenciária, os honorários advocatícios tem como base de cálculo as prestações vencidas (Súmula n. 111-STJ) devendo estas serem compreendidas entre o início da inadimplência até o trânsito em julgado da sentença condenatória. (Fl. 184)

Acórdão paradigma

Processual Civil. Honorários advocatícios. Ação previdenciária. Parcelas vencidas. Marco fi nal. Prolação da sentença.

Nas ações previdenciárias, os honorários advocatícios devem ser fixados com exclusão das prestações vincendas, considerando-se apenas as prestações vencidas até o momento da prolação da sentença.

Recurso a que se nega provimento. (REsp n. 295.522, DJ 26.04.1999, Relator Ministro Felix Fischer)

Aponta a autarquia-embargante dissídio jurisprudencial entre os julgados

em confronto, eis que, enquanto o acórdão embargado dá como termo fi nal das

prestações vencidas a data do trânsito em julgado da sentença condenatória,

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 59-101, junho 2010 71

o acórdão em confronto tem como marco final das prestações vencidas o

momento da prolação da sentença. Entende a embargante que deve prevalecer

o entendimento do julgado paradigma, sob pena de privilegiar-se o patrono em

detrimento da parte autora.

Admitidos os embargos, não houve impugnação.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Gilson Dipp (Relator): A solução da controvérsia,

nas Turmas desta Terceira Seção de respeito ao termo fi nal das prestações

vencidas, nas ações previdenciárias, sobre as quais devem incidir os honorários

advocatícios, no entendimento da Súmula n. 111, desta egrégia Corte, apresenta-

se em três vertentes principais, a saber:

a. A que tem como correto que as prestações vencidas devem ser contadas

apenas até a prolação da sentença. Nesta linha, entre outros, além do paradigma,

são os julgados da Quinta Turma, a saber:

Processual Civil. Previdência social. Benefícios. Honorários advocatícios. Condenação. Prestações vincendas. Exclusão.

Nos termos da Súmula n. 111-STJ os honorários advocatícios devem incidir apenas sobre os benefícios previdenciários vencidos até a sentença, excluído do cálculo do percentual, as parcelas vincendas.

Recurso não conhecido. (REsp n. 110.451, DJ 07.04.1997, Relator Ministro Flaquer Scartezzini)

Previdenciário. Ação acidentária. Benefício. Termo inicial da concessão (art. 23 da Lei n. 8.213/1991). Honorários advocatícios. Condenação. Prestações vincendas. Súmula n. 111-STJ.

Considera-se o termo inicial para a concessão do benefício previdenciário a data do início da incapacidade, ou o dia da segregação compulsória, ou o dia em que for realizado o diagnóstico, valendo o que ocorrer primeiro. Inteligência do art. 23 da Lei n. 8.213/1991.

Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias, não incidem sobre prestações vincendas (Súmula n. 111-STJ). Mas apenas sobre as prestações vencidas até a prolação da sentença.

Recurso conhecido e parcialmente provido. (REsp n. 172.171, DJ 14.09.1998, Relator Ministro José Arnaldo)

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

72

b. A que, como o acórdão embargado, tem como acenado contar-se as

prestações vencidas até o trânsito em julgado da sentença. Nesta compreensão

estão os julgados:

Previdenciário. Acidente de trabalho. Prescrição. Aplicabilidade da Lei n. 8.213/1991. Honorários advocatícios.

Descabe a prescrição do fundo de direito na ação acidentária, atingindo, apenas, o qüinqüênio anterior à sua propositura.

Precedentes do STJ.

Aplica-se a Lei n. 8.213/1991, aos acidentes de trabalho ocorridos na vigência de lei pretérita, uma vez caracterizada a recusa da previdência social em conceder o benefício administrativamente.

A condenação em honorários advocatícios até o trânsito em julgado da sentença não caracteriza violação a Súmula n. 111-STJ.

Recurso não conhecido. (REsp n. 85.142, DJ 27.05.1996, Relator Ministro William Patterson)

Previdenciário. Verba honorária. Súmula n. 111-STJ. Prestações vencidas. Marco fi nal.

1. Nas ações previdenciárias, a verba honorária não incide sobre as prestações vincendas. Súmula n. 111-STJ.

2. O marco fi nal para a apuração das prestações vencidas faz-se com o trânsito em julgado da decisão judicial.

3. Recurso provido. (REsp n. 150.238, DJ 1º.12.1997, Relator Ministro Edson Vidigal)

c. Finalmente, a que inclui nas prestações vencidas aquelas ocorridas até a

data da elaboração da conta de liquidação. Desse entendimento são os julgados:

Processual Civil. Previdenciário. Ação de cobrança de benefício. Honorários advocatícios. Base de cálculo. Súmula n. 111-STJ.

Segundo o comando expresso na Súmula n. 111-STJ. Nas ações de cobrança de benefícios previdenciários, a verba de patrocínio deve ter como base de cálculo o somatório das prestações vencidas, como tal compreendidas aquelas devidas até a data da elaboração da conta de liquidação.

Recurso especial conhecido e provido (REsp n. 142.876, DJ 13.10.1997, Relator Ministro Vicente Leal)

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 59-101, junho 2010 73

Processual e Previdenciário. Verba honorária. Prestações vencidas. Termo fi nal.

1. Para efeito de cálculo da verba honorária as prestações vencidas são aquelas devidas até a data da elaboração da conta de liquidação.

2. Recurso conhecido e provido. (REsp n. 173.187, DJ 08.03.1999, Relator Ministro Anselmo Santiago)

Como se vê, a questão não é pacífi ca neste egrégio Superior Tribunal de Justiça, encontrando cada vertente seus defensores.

Contudo, tenho como mais justa e prática a interpretação majoritária na Quinta Turma, de conformidade com o paradigma, da lavra do Ministro Felix Fischer, segundo a qual, contam-se as prestações vencidas até a prolação da

sentença.

Esta interpretação, além de facilitar a execução da sentença, evita confl ito de interesses entre parte-autora e patrono, o que deve ser sempre buscado, porquanto a este interessaria a delonga da causa, com vistas a uma maior base de cálculo dos honorários, enquanto àquela o seu apressamento, para ter satisfeita a pretensão deduzida.

Não se argumente que no caso de procedência do pedido, havendo recurso da parte-ré, o patrono da parte-autora não será recompensado pelo maior esforço em sustentar o pedido, porquanto, quem busca a proteção judicial deve estar apoiado no bom direito, só raramente tendo de prosseguir na demanda, constituindo, então, um desestímulo ao pedido desfundamentado, à contenda pela contenda ou à ação temerária.

Esta orientação encontra apoio na literalidade do § 3º do art. 20 do CPC, para o qual (sic) “os honorários serão fi xados... sobre o valor da condenação...”, entendido este valor dentro dos limites do pedido que, por óbvio, não pode abranger parcelas além da data da sentença.

Ante o exposto, acolho os embargos.

É como voto.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 202.291-SP (1999/0077897-9)

Relator: Ministro Hamilton Carvalhido

Embargante: Elízia Alves da Silva

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

74

Advogados: Gláucia Sudatti e outros

Embargado: Instituto Nacional do Seguro Social — INSS

Advogados: Sandra Tsucuda e outros

EMENTA

Embargos de divergência. Previdenciário. Verba honorária. Prestações vencidas. Termo fi nal. Sentença.

1. O enunciado da Súmula n. 111 deste Superior Tribunal de Justiça exclui, do valor da condenação, as prestações vincendas, para fi ns de cálculo dos honorários advocatícios nas ações previdenciárias.

2. As prestações vincendas excluídas não devem ser outras que não as que venham a se vencer após o tempo da prolação da sentença.

3. Embargos de divergência rejeitados.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira

Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, rejeitar os embargos de divergência,

nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Votaram com o Relator os Srs.

Ministros Jorge Scartezzini, Fontes de Alencar, Fernando Gonçalves, Felix

Fischer e Gilson Dipp. Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Vicente

Leal e Edson Vidigal, e, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson.

Brasília (DF), 24 de maio de 2000 (data do julgamento).

Ministro José Arnaldo da Fonseca, Presidente em exercício

Ministro Hamilton Carvalhido, Relator

DJ 11.09.2000

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido: Embargos de divergência interpostos

contra acórdão proferido pela Quinta Turma deste Superior Tribunal de Justiça,

assim ementado:

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 59-101, junho 2010 75

Previdenciário. Ação acidentária. Benefício. Honorários advocatícios. Condenação. Prestações vincendas. Súmula n. 111-STJ.

Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias, não incidem sobre prestações vincendas (Súmula n. 111-STJ), mas apenas sobre as prestações vencidas até a prolação da sentença.

Recurso conhecido, mas desprovido (fl . 234).

O embargante aponta divergência jurisprudencial com arestos proferidos pela Sexta Turma deste Superior Tribunal de Justiça, nos REsps n. 174.730-SP, Relator Ministro Vicente Leal, e 145.730-SP, Relator Ministro William Patterson, em que se entendeu que a verba honorária deve ter como base de cálculo o somatório das prestações vencidas, como tal compreendidas aquelas devidas até a data da elaboração da conta de liquidação.

Embargos admitidos (fl . 263) e impugnados (fl s. 267-270).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hamilton Carvalhido (Relator): Sr. Presidente, este egrégio

Superior Tribunal de Justiça já, estabeleceu, na sua Súmula n. 111, que as

prestações vincendas não integram o valor da condenação que serve de base para

o cálculo dos honorários advocatícios a serem fi xados na sentença (Código de

Processo Civil, art. 20, § 3º.

Este, com efeito, o Enunciado n. 111 da Súmula desta Corte Federal

Superior:

Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias, não incidem sobre prestações vincendas.

As prestações vincendas excluídas não devem ser outras que não as que

venham a vencer após o tempo da prolação da sentença, até porque, entender

em contrário, é viabilizar a confl itante situação resultante da oposição entre a

morosidade do processo, que amplia o valor da verba honorária e a celeridade da

justiça, que a impele para o justo.

Outro não foi o entendimento da decisão embargada.

Pelo exposto, conheço dos embargos, mas os rejeito.

É o voto.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

76

RECURSO ESPECIAL N. 329.536-SP (2001/0075712-9)

Relator: Ministro José Arnaldo da Fonseca

Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social — INSS

Procuradores: Carlos Alberto Navarro Perez e outros

Recorrido: José Antônio Canavesso

Advogados: Maria Albertina Maia e outros

EMENTA

Recurso especial. Previdenciário. O auxílio-acidente pode ser

cumulado com a aposentadoria, mas não deve integrar o salário de

contribuição para fi ns de cálculo dessa mesma aposentadoria.

Segundo legislação vigente à época, “o auxílio-acidente pode ser

cumulado com o benefício da aposentadoria”, por essa razão não deve

o mesmo ser adicionado ao salário de contribuição, servindo de base

para aposentadoria posterior, pois tal inclusão e posterior pagamento

cumulativo acarretaria bis in idem.

O auxílio-acidente pode ser cumulado com a aposentadoria, mas

não deve ser somado ao salário de contribuição para o cálculo dessa

mesma aposentadoria.

Em tema de concessão de benefício previdenciário permanente,

decorrente de acidente de trabalho, deve-se considerar como seu

termo inicial o dia da juntada do laudo pericial em juízo. Precedentes.

Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias, não

incidem sobre prestações vincendas (Súmula n. 111-STJ), mas apenas

sobre as prestações vencidas até a prolação da sentença.

Recurso conhecido e parcialmente provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar parcial

SÚMULAS - PRECEDENTES

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provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Felix Fischer, Gilson Dipp e Jorge Scartezzini votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Edson Vidigal.

Brasília (DF), 04 de outubro de 2001 (data do julgamento).

Ministro Felix Fischer, Presidente

Ministro José Arnaldo da Fonseca, Relator

DJ 04.02.2002

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José Arnaldo da Fonseca: Trata-se de recurso especial interposto pelo Instituto Nacional do Seguro Social contra acórdão do Segundo Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo, fundamentado no art. 105, III, alínea a da Constituição Federal. A decisão foi assim resumida (fl . 156):

Acidente do Trabalho. Disacusia Neurossensorial Bilateral. Ouvido direito = 15,52%. Ouvido esquerdo = 6.96%. Perda auditiva bilateral de 8,02%, já descontadas as insuficiências auditivas decorrentes da idade cronológica. Comprovados o nexo etiológico e a incapacidade parcial para o trabalho o benefício de prestação continuada — auxílio acidente — deve ser concedido ao segurado.

Cumulação. Benefícios. Segurado aposentado por tempo de serviço. Auxílio acidente. Art. 86, § 2º, da Lei n. 8.213, de 24.07.1991, com a redação dada pela Lei n. 9.528, de 10.12.1997. Não incidência no caso concreto. A mudança na lei é nociva ao segurado, que, mesmo aposentado, permanece contribuindo para o sistema. Participando da fonte de custeio, possível que invoque a prestação jurisdicional para proteção de seu direito.

Termo inicial. A prestação reconhecida em juízo é devida desde a citação, quando o INSS, ciente, recusou-se ao atendimento, e não somente a partir do laudo pericial.

Prestações atrasadas. O benefício acidentário sujeita-se à atualização pelos índices da lei previdenciária.

Honorários de advogado. A verba honorária devida pelo INSS, em ação acidentária, deve ser calculada na base de 15% sobre as prestações vencidas até a data da sentença e mais um ano das vincendas. Entendimento dominante.

Alega-se contrariedade aos arts. 18, § 2º, 23 e 86, § 1º e 2º, da Lei n. 8.213/1991, com redação dada pela Lei n. 9.528/1997, como também ao art.

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20, § 5º, do Código de Processo Civil, além de dissídio jurisprudencial quanto à interpretação da Súmula n. 111 do Superior Tribunal de Justiça.

Sustenta, ainda, ser incabível a cumulação de aposentadoria com auxílio-acidente, para reparação infortunística concedida após a vigência da Medida Provisória n. 1.596/1997, convertida na Lei n. 9.528/1997. Aduz, ainda, que as condições essenciais para diagnosticar a extensão da incapacidade são o nexo e a efetiva perda ou redução do potencial laborativo, apurado no laudo médico-pericial, sendo esse o marco para o início do benefício. E que, por não se tratar de indenização por ato ilícito, incabível é a condenação de verba honorária sobre parcelas vincendas.

Contra-razões (fi s. 190-194).

O Tribunal admitiu o regular processamento do apelo (fl s. 200-202).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro José Arnaldo da Fonseca (Relator): O presente recurso foi interposto visando a cassação do auxílio-acidente cumulado aos proventos da aposentadoria previdenciária especial, embora o autor não tenha voltado a trabalhar.

Reporto-me, inicialmente, ao parecer do Ministério Público, nestes tópicos de sua fundamentação, ofertado no REsp n. 108.815, de natureza semelhante,

verbis:

Trata-se de recurso especial interposto contra acórdão do Segundo Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo que, ao fundamento de que o trabalhador já aposentado por tempo de serviço não tem direito a auxílio acidente decorrente de moléstia contraída antes da inativação julgou o autor carecedor da ação e extinto o processo sem apreciação do seu mérito (fl s. 97-104 e 119-121).

Alega o recorrente que, ao assim decidir, o acórdão recorrido negou vigência aos arts. 458 inciso III e 535 do Código de Processo Civil porque não indicou qual das condições da ação reputou inexistente para julgá-lo dela carecedor e extinto o processo sem julgamento do mérito, mesmo depois de instado via embargos de declaração, além de ter contrariado o art. 147 da Lei n. 8.213/1991 e divergido de outros Tribunais na interpretação dos arts. 122 e 123 da lei por último mencionada (fl s. 123-132).

Não procede a alegação de contrariedade às normas processuais antes indicadas. E evidente que o acórdão recorrido equivocou-se ao utilizar-se da

SÚMULAS - PRECEDENTES

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expressão carecedor da ação para qual (fi car situação típica de improcedência da ação, visto que toda a sua fundamentação é no sentido de justifi car a conclusão no sentido de que a parte não tem o direito ao que pretende, sem referir-se à ausência de qualquer das condições da ação que, evidentemente, estão presentes.

Percebe-se, com facilidade, que o acórdão impugnado utilizou-se da expressão carecedor da ação sem a indispensável precisão técnica, porque a conclusão correta era a de improcedência da pretensão do autor, mas tal equívoco técnico não tem o condão de gerar a contrariedade legal apontada pelo recorrente. Tivesse o acórdão concluído efetivamente pela carência da ação, a recorrente não poderia veicular em suas razões de recurso matéria pertinente ao mérito da pretensão, nem este Tribunal poderia apreciá-la.

Também não vislumbro ofensa ao art. 147 da Lei n. 8.213/1991. É que a referida norma, assim como a do art. 123 da mesma lei, não comporta a interpretação desejada pelo recorrente. Não há dúvida de que a referida norma legal está a referir-se a acidente do trabalho superveniente ao ato de aposentadoria. O art. 123 da lei em questão é que prevê a hipótese de considerar relevante sinistro ocorrido anteriormente à inativação.

No que se refere ao dissídio jurisprudencial cabe observar que as decisões anteriores dessa Corte, sobre o tema de cumulação de aposentadoria por tempo de serviço e auxílio-acidente, foram tomadas à luz do art. 6º e seus parágrafos da Lei n. 6.367, de 19.10.1976, cujas regras foram, em parte, acolhidas pelo art. 86 e seus parágrafos da Lei n. 8.213/1991, especialmente as que proclamam que o auxílio-acidente é um benefício mensal e vitalício e que o recebimento de salário ou concessão de outro benefício não prejudicará a continuidade do seu recebimento.

Desde que a questão da cumulação da aposentadoria especial por tempo de serviço com o auxílio-acidente foi submetida a essa Corte, tenho manifestado-me no sentido da possibilidade da referida acumulação (Pareceres ns. 317/1990-AF, de 10.12.1990 e 365/1991-AF, de 13.03.1991, apresentados respectivamente nos Recursos Especiais ns. 5.746-SP e 5.615-SP).

Os referidos benefícios tem fundamentos diferentes. O trabalhador tem direito à aposentadoria especial por tempo de serviço pelo simples fato de ter trabalhado, durante o prazo legalmente estabelecido, em atividade especialmente agressiva. Já o auxílio-acidente tem como fundamento o fato do acidentado permanecer incapacitado para o exercício da atividade que exercia habitualmente, na época do acidente, apesar da consolidação das lesões dele resultantes, segundo dispunha o art. 6º da Lei n. 6.367/1976 e dispõe o art. 86 da Lei n. 8.213/1991).

Essa Corte já se pronunciou, diversas vezes, no sentido da cumulabilidade dos benefi cios em referência. de modo que a conclusão do acórdão recorrido encontra-se em divergência com tal entendimento que, ao meu ver, dá a correta interpretação às normas legais pertinentes.

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Assim sendo, o parecer é no sentido do provimento do recurso para que se reconheça o direito do recorrente perceber, cumulativamente, a aposentadoria especial por tempo de serviço e o auxílio-acidente reclamado.

Entretanto, é oportuno ressaltar que tanto a Quinta como a Sexta Turmas deste Superior Tribunal de Justiça tem entendido que o auxílio-acidente não integra o salário de contribuição, para fi ns de cálculo do salário de benefício, pois se caracteriza como benefício autônomo e vitalício, na disciplina anterior à Lei n. 9.528/1997, que deu nova redação ao art. 31 da Lei n. 8.213/1991.

Portanto, segundo legislação vigente à época, “o auxílio-acidente poderia ser cumulado com o benefício da aposentadoria”, por essa razão não deve o mesmo ser adicionado ao salário de contribuição, servindo de base para aposentadoria posterior, pois tal inclusão e posterior pagamento cumulativo acarretaria bis in idem, ou seja, ele pode ser cumulado com a aposentadoria, mas não deve ser somado ao salário de contribuição para o cálculo dessa

aposentadoria.

Ademais, considero importante destacar trechos do brilhante voto condutor exarado pelo Sr. Ministro Felix Fischer que, ao apreciar o Recurso Especial n. 191.768-SP, assim verberou:

Trata o caso sobre a possibilidade de se integrar o valor do auxílio-acidente ao do salário de contribuição, para fi ns de cálculo de aposentadoria, nos termos da Lei n. 6.367/1976.

O auxílio-acidente foi criado pela Lei n. 5.316/1967, cujo art. 7º previa o seu pagamento no caso de redução permanente da capacidade de trabalho em percentual superior a 25%. O parágrafo único determinava expressamente que o auxílio seria adicionado ao salário de contribuição, para o cálculo de qualquer outro benefício não resultante da acidente. O mesmo previa o Decreto n. 77.077/1976, que expediu a Consolidação das Leis da Previdência Social (CLPS), em seu art. 170, caput e parágrafo único.

A Lei n. 6.367/1976 dispôs sobre o auxílio-acidente em seu art. 6º, tratando-o como benefício mensal, vitalício e independente de qualquer remuneração ou outro benefício não relacionado ao mesmo acidente. Permaneceu a dúvida, porém, sobre a possibilidade do auxílio integrar o salário de contribuição do segurado, como previa expressamente a legislação anterior (Lei n. 5.316/1967 e Decreto n. 77.077/1976), ou se essa prática fora revogada pela legislação posterior (Lei n. 6.367/1976).

Considerando-se a natureza jurídica do auxílio-acidente, uma verba mensal, vitalícia, autônoma e indenizatória, não há razão para que seja adicionada ao salário de contribuição, servindo de base para o cálculo de aposentadoria

SÚMULAS - PRECEDENTES

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posterior. Isso porque, segundo a legislação vigente à época, o auxílio-acidente poderia ser cumulado com o benefício de aposentadoria (segundo o § 1º do art. 6º da Lei n. 6.367/1976, é devido “independente de qualquer remuneração ou outro benefício não relacionado ao mesmo acidente...”) Ademais, o Decreto n. 89.312/1984 não repetiu a disposição contida no Decreto n. 77.077/1976 sobre a inclusão do auxílio no salário de contribuição.

Desta forma, a sua inclusão no cálculo da aposentadoria e posterior pagamento cumulativo acarretaria num bis in idem. Além de integrar a base de cálculo da aposentadoria, seria pago cumulativamente a ela, como retribuição pela redução na capacidade de trabalho do segurado.

Considerando possível a cumulação da aposentadoria com o auxílio-acidente, não se pode aceitar sua integração ao salário de contribuição, já que se trata de benefício vitalício, consistente numa retribuição ao segurado que sofre redução em sua capacidade laborativa em função de acidente no trabalho do qual foi vítima.

Nesse sentido pode-se citar jurisprudência do extinto Tribunal Federal de Recursos:

Embargos declaratórios. Efeito modifi cativo.

Embargos recebidos com efeito modificativo, para suprir omissão e contradição havidas em decorrência da apresentação de matéria estranha à lide, por erro material.

A Lei n. 6.367/1976 revogou, de modo expresso, o parágrafo único, do art. 7º, da Lei n. 5.316 de 1967 passando a não admitir a possibilidade do benefício do auxílio-acidente integrar o salário de contribuição, para fi ns de cálculo de aposentadoria.

Apelo provido, para julgar improcedente a ação. (EDAC n. 124.927-SP, Relator Ministro Otto Rocha, DJ 06.08.1987).

Previdência Social. Integração de auxílio-acidente na base de cálculo da aposentadoria especial — bis in idem. Impossível, nas circunstâncias atuais, em face do que dispõem as Leis n. 6.210/1975 e 6.367/1976. Evidente a hipótese do bis in idem.

Sentença Reformada. (AC n. 82.667-SP, Relator Ministro José Cândido, DJ 1º.09.1983).

Previdência Social. Aposentadoria. Auxílio-acidente. Inclusão no cálculo e percepção autônoma. Descabimento. Não é legítima a consideração do auxílio-acidente no salário-de-contribuição, para fi ns de cálculo dos proventos com a percepção simultânea daquele benefício na forma de

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parcela autônoma. Sentença confi rmada. (AC n. 77.903-SP, Relator Ministro William Patterson, DJ 29.10.1982).

Previdência Social. Auxílio-acidente. No sistema da Lei n. 6.367/1976, o auxílio-acidente é vitalício, não se incorporando, por isso mesmo, ao salário-de-contribuição para fins de aposentadoria, mas tão-só, e pela metade, ao valor da pensão (art. 6º, §§ 1º e 2º). Sentença reformada. (AC n. 65.310-SP, Relator Ministro Torreão Braz, DJ 09.12.1982).

Nesta Corte tal entendimento vem sendo seguido:

Previdenciário. Auxílio-acidente. Natureza. Exclusão do salário-de-benefício de aposentadoria. Art. 6º, § 1º da Lei n. 6.367/1976 e art. 86 da Lei n. 8.213/1991.

A natureza indenizatória e vitalícia do auxílio-acidente impede a inclusão de seu valor a composição do salário-de-benefício de aposentadoria.

Recurso conhecido e improvido. (REsp n. 175.914-SC, Relator Ministro Gilson Dipp, DJ 17.02.1999).

Previdenciário. Auxílio-acidente. Benefício mensal e vitalício. Inclusão. Salários-de-contribuição. Aposentadoria previdenciária. Impossibilidade.

Á lei de planos de Benefícios da Previdência Social, reeditando as disposições contidas na Lei n. 6.367/1976. elevou o auxílio-acidente à dignidade de benefício previdenciário autônomo e vitalício, concedido ao segurado incapacitado para o desempenho de suas atividades laborais em virtude de acidente de trabalho, ex vi do art. 86.

Tratando-se de benefício de natureza mensal e vitalícia, não se pode admitir que seus valores sejam incluídos nos salários-de-contribuição que compõe o cálculo de renda mensal inicial da aposentadoria previdenciária, sob pena de ocorrência de bis in idem.

Recurso especial conhecido. (REsp n. 193.305-SP, Relator Ministro Vicente Leal, DJ 08.03.1999)

Enfi m, neste particular o recurso não merece provimento, pois o auxílio-

acidente pode ser cumulado com a aposentadoria, mas não deve ser somado ao

salário-de-contribuição para o cálculo dessa mesma aposentadoria.

Analisando, agora, a questão do termo inicial, acentuo que esta

egrégia Corte, em inúmeros precedentes, já se pronunciou no sentido de

que o termo inicial do benefício, quando a incapacidade não é reconhecida

administrativamente, é o da apresentação do laudo pericial.

Confi ram-se, a propósito, as seguintes ementas:

SÚMULAS - PRECEDENTES

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Acidentária. Data inicial da concessão do benefício. Art. 23 da Lei n. 8.213/1991. Perícia judicial.

O dies a quo da concessão do benefício acidentário, é o da apresentação do laudo pericial em juízo, quando não reconhecida a incapacidade administrativamente.

Recurso parcialmente conhecido e provido. (REsp n. 71.363-SP, Relator Ministro Cid Flaquer Scartezzini, DJ 19.10.1998)

Previdenciário. Ação acidentária. Benefício. Termo inicial da concessão (art. 23 da Lei n. 8.213/1991). Honorários advocatícios. Condenação. Prestações vincendas. Súmula n. 111-STJ.

Termo inicial do benefício é o da apresentação do laudo pericial em juízo.

Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias, não incidem sobre prestações vincendas (Súmula n. 111-STJ), mas apenas sobre as prestações vencidas até a prolação da sentença Recurso conhecido e desprovido. (REsp n. 182.358-SP, Relator Ministro José Arnaldo, DJ 23.11.1998)

Previdenciário. Auxílio-acidente. Termo inicial. Honorários advocatícios. Súmula n. 111-STJ.

Em tema de concessão de benefício previdenciário permanente, decorrente de acidente de trabalho, deve-se considerar como seu termo inicial o dia da juntada do laudo pericial em juízo. Precedentes.

Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias, não incidem sobre prestações vincendas (Súmula n. 111-STJ).

Embargos de divergência recebidos. (EREsp n. 95.673-SP, Relator Ministro José Arnaldo, DJ 09.11.1998)

Entendo também merecer provimento a irresignação recursal no atinente

à incidência do percentual da verba honorária, porquanto não decidiu o v.

aresto combatido em conformidade com a jurisprudência desta colenda Corte,

procedendo à correta aplicação da Súmula n. 111 deste STJ, que assim dispõe:

Súmula n. 111 — Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias, não incidem sobre prestações vincendas.

Assim, a melhor interpretação da citada súmula é no sentido de que o

percentual dos honorários advocatícios incida tão-somente sobre o montante das

parcelas vencidas, não incluídas, pois, quaisquer espécies de débitos vincendos,

ressaltando-se, ainda, que o marco fi nal para a apuração daquelas parcelas é a

prolação da sentença. E assim entendeu o v. aresto hostilizado.

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Esse é o entendimento desta Quinta Turma que, ao apreciar o REsp n.

110.451-SP, Relator Ministro Flaquer Scartezzini, DJ 07.04.1997, manifestou-

se em sentido contrário á irresignação recursal, restando o acórdão assim

ementado:

Processual Civil. Previdência social. Benefícios. Honorários advocatícios. Condenação. Prestações vincendas. Exclusão.

Nos termos da Súmula n. 111-STJ, os honorários advocatícios devem incidir apenas sobre os benefícios previdenciários vencidos até a sentença, excluído do cálculo do percentual, as parcelas vincendas.

Recurso não conhecido.

Do voto condutor do v. decisum supracitado, da lavra do eminente Ministro

Cid Flaquer Scartezzini, colhe-se o seguinte argumento que, pela pertinência ao

caso em tela, merece ser transcrito:

O acolhimento das razões expendidas pelo recorrente implicaria no absurdo de admitir o conflito de interesses que se estabeleceria entre o autor e seu advogado, pois quanto mais demorasse o feito, melhor para o causídico.

Confi ra-se, ainda, o seguinte precedente, REsp n. 182.358-SP de minha

relatoria:

Previdenciário. Ação acidentária. Benefício. Termo inicial da concessão (art. 23 da Lei n. 8.213/1991). Honorários advocatícios. Condenação. Prestações vincendas. Súmula n. 111-STJ.

Termo inicial do benefício é o da apresentação do laudo pericial em juízo.

Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias, não incidem sobre prestações vincendas (Súmula n. 111-STJ), mas apenas sobre as prestações vencidas até a prolação da sentença.

Recurso conhecido e desprovido.

Por todo o exposto e observando a jurisprudência dominante desta Corte,

conheço do recurso da autarquia, dando-lhe parcial provimento, para determinar

que o termo inicial, no caso sub examine, é o da apresentação do Laudo pericial

em juízo e para excluir as prestações vincendas da verba honorária.

SÚMULAS - PRECEDENTES

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RECURSO ESPECIAL N. 332.268-RS (2001/0089092-4)

Relator: Ministro Edson Vidical

Recorrente: Montepio dos Funcionários do Município de Porto Alegre-

MFMPA

Advogados: Ángela Cristina Viero e outros

Recorrida: Yonne de Almeida Nunes

Advogados: Francesco Colombo Filho e outros

EMENTA

Recurso especial. Embargos de declaração. Omissão quanto

a pontos relevantes para o deslinde da causa. Inexistência.

Montepio. Personalidade jurídica própria. Inclusão do Município

na lide. Impossibilidade jurídica do pedido. Honorários advocatícios.

Incidência. Súmula n. 111-STJ. Recurso especial.

1. Restando claro que o Tribunal de origem se manifestou

explicitamente sobre a pretendida inclusão da municipalidade na lide

e a inexistência de recursos fi nanceiros para arcar com a condenação,

não há que se falar em prestação jurisdicional defi ciente.

2. Descabe falar na inclusão do Município de Porto Alegre na

lide, pois que a relação jurídica entre ele e o montepio recorrente é

indiferente ao aposentado ou pensionista. Organizado como sociedade

civil, com personalidade jurídica própria, deve o montepio responder

pela complementação de pensão pretendida.

3. A ausência de recursos fi nanceiros para custear a condenação

(CE, art. 195, § 5º), além de envolver matéria constitucional, não

infl ui na possibilidade jurídica do pedido.

4. Nas ações previdenciárias, os honorários advocatícios não

incidem sobre prestações vincendas, assim consideradas as posteriores

à prolação da sentença de 1º grau. Incidência da Súmula n. 111-STJ.

Ressalva do entendimento pessoal do Relator.

5. Recurso Especial conhecido e parcialmente provido.

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar parcial

provimento, nos termos do voto do Ministro Relator. Os Srs. Ministros José

Arnaldo da Fonseca, Felix Fischer, Gilson Dipp e Jorge Scartezzini votaram

com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 18 de setembro de 200l (data do julgamento).

Ministro Felix Fischer, Presidente

Ministro Edson Vidigal, Relator

DJ 15.10.2001

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Edson Vidigal: Buscando a complementação do valor da

pensão mensal que recebe pela morte de seu marido, segurado do Montepio dos

Funcionários do Município de Porto Alegre, Yonne de Almeida Nunes ajuizou

ação de Rito Ordinário, fi ndada no disposto na CF, art. 40, § 5º, tendo o MM.

Juiz de Direito da 1ª Vara Cível de Porto Alegre-RS julgado procedente o

pedido (fl s. 66-70).

Houve Recurso do Montepio, mas o Tribunal de Justiça do Rio Grande do

Sul negou provimento. O Acórdão fi cou assim ementado:

Previdência municipal. Pensão por morte. Montepio dos funcionários do Município de Porto Alegre. Precedentes do STF. Prefacial de ilegitimidade passiva.

A relação mantida entre o associado e o Montepio requerido conduz à certeza da legitimidade passiva deste para fi gurar na relação processual. Preliminar de ilegitimidade passiva afastada.

Com a nova redação dada ao art. 40, § 5º, da Constituição Federal, que se harmoniza com o disposto no art. 41, § 3º, da Carta Estadual de 1989, a pensão por morte será igual ao valor dos vencimentos ou proventos do servidor na data de seu falecimento. Emenda Constitucional n. 20, de 15.12.1998.

Rejeitada a preliminar, desproveram o apelo.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 59-101, junho 2010 87

Opostos Embargos Declaratórios. foram eles rejeitados. Vem agora com este Recurso Especial, reclamando de suposta afronta ao CPC, art. 535, na medida em que o Tribunal de origem teria deixado de se pronunciar expressamente sobre os pontos levantados nos embargos. Do mesmo diploma, afi rma ofendidos ainda os arts. 3º, 47, 267, VI, e § 3º, porque seria parte ilegítima para responder, sozinho, pela complementação pretendida, “pois as fontes de custeio da pensão provem do Município, o que acarreta a carência da ação” (fl . 265). Diz que a decisão diverge também da Súmula n. 111-STJ, porque fi xados honorários sobre parcelas vincendas, daí porque ofendido, também o CPC, art. 20, § 5º.

Pede seja o Município chamado à lide ou, “ausente a condição da legitimidade”, seja o processo extinto sem julgamento do mérito. Subsidiariamente, que sejam afastadas do cálculo da verba honorária as parcelas vincendas da condenação.

Admitido, por força de agravo, vieram os autos a esta Corte, com contra-razões.

Relatei.

VOTO

O Sr. Ministro Edson Vidigal (Relator): Sr. Presidente o primeiro ponto a ser analisado neste recurso especial é a alegada nulidade do acórdão recorrido, por falta de prestação jurisdicional. Sustenta o recorrente o desrespeito ao CPC, art. 535, porquanto pretendeu-se, com a oposição dos embargos de declaração, obrigar o colegiado a se pronunciar sobre pontos relevantes no julgamento da causa, dentre eles, a necessidade de participação do Município de Porto Alegre como litisconsorte necessário e a inexistência de fonte de custeio a cargo do mesmo ente municipal.

Na verdade, verifico, o ilustre Relator, no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Pronunciou-se expressamente sobre todas as questões prejudiciais levantadas, ainda que de modo sucinto. A motivação das decisões judiciais reclama do órgão julgador explicitação fundamentada quanto aos temas controvertidos da causa. Isso não quer dizer que tenha o mesmo de se pronunciar minunciosamente sobre todas as questões trazidas pelas partes. Tenho dito, a ofensa ao dispositivo invocado — CPC. art. 535 —, somente se confi gura quando o órgão julgador omite qualquer pronunciamento sobre ponto

relevante que se queira discutir, ou que deveria ser decidida e não foi.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Em segundo momento, alega afronta ao CPC, arts. 3º, 47 e 267, VI, e

§ 3º. Diz que a criação do Montepio foi autorizada pela Lei Municipal n.

2.521/1963, para promover a concessão dc benefícios previdenciários, fi nanceiros

e sociais aos servidores do Município de Porto Alegre. Nesse passo, tanto o

servidor, mediante desconto em folha, deve contribuir para a sociedade, como o

próprio Município, cuja contribuição é fundamental para o atendimento de sua

fi nalidade estatutária e legal. Só por esse motivo, conclui, fi ca clara a necessidade

da participação do Município de Porto Alegre na lide, pois que qualquer

alteração no esquema de pagamento das pensões implica no desembolso da

pessoa jurídica de direito público. A meu ver, sem a menor razão.

O Montepio dos Funcionários do Município de Porto Alegre, como bem

salientou o própria recorrente, foi organizado sob a forma de sociedade civil.

Sendo pessoa jurídica de direito privado, possui personalidade jurídica própria,

com autonomia administrativa e fi nanceira, daí que descabe falar em inclusão do

Município de Porto Alegre no pólo passivo da causa. Como bem argumentou

o Relator no TJRS: “o relacionamento entre o Montepio e o Município de Porto

Alegre é indiferente ao aposentado ou ao pensionista”. A partir do momento em que

o servidor passou a contribuir, mensalmente, para o Montepio, deu causa a uma

nova relação jurídica entre eles, distinta da que possui com o Município, seu

empregador. Ademais, se este deixa de repassar recursos fi nanceiros para aquele,

ao benefi ciário não interessa: contribuinte tem direito a gozar de todos os

benefícios que lhe foram postos à disposição quando de sua fi liação, facultativa

ou obrigatória. É, pois, o Montepio-recorrente parte legítima para responder

pela complementação de pensão, sem necessidade de intervenção do Município.

Por outro lado, reclama inexistente a correspondente fonte de custeio, que

impõe a seu ver o reconhecimento da impossibilidade jurídica do pedido. Por

possibilidade jurídica do pedido entende-se a admissibilidade da pretensão

perante o ordenamento jurídico, ou seja, a previsão ou ausência de vedação,

no direito vigente, do que postula na causa. Na hipótese dos autos, a recorrida

sempre recebeu pensão pela morte de seu marido, ex-segurado do Montepio,

no percentual de 60% do valor de seus vencimentos, daí porque ajuizou a

ação justamente para aumentá-la para 100%, nos termos da CF, art. 40, § 5º.

A ausência de recursos fi nanceiros para custear a condenação do Montepio,

além de envolver matéria constitucional, não infl ui na possibilidade jurídica do

pedido, que é patente.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 59-101, junho 2010 89

Quanto à incidência dos honorários advocatícios, a Súmula n. 111 desta

Corte tem o seguinte teor: “Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias,

não incidem sobre prestações vincendas.”

Tenho entendimento mais do que reiterado do que se deve entender pela

expressão “prestações vincendas”. Transcrevo trecho do voto condutor do REsp n.

221.148-SP, onde exponho minhas idéias:

(...) É largamente provável, em quase a totalidade das ações previdenciárias — aqui incluídas as acidentárias — que a esfera recursal seja acionada, fazendo com que o trabalho do advogado prossiga junto ao processo redigindo peças, acompanhando o andamento dos autos, realizando sustentação oral, etc. Em hipotética procedência de ação, determinando o pagamento de prestações continuadas, no momento da execução defi nitiva da decisão judicial, para o cálculo da condenação, devem ser contadas, a meu ver, como vencidas todas as prestações devidas até o trânsito em julgado, e não apenas até a sentença de 1º grau.

Qual sentido haveria se tal verba incidisse apenas sobre as prestações vencidas até a data da sentença? Tal entendimento consubstancia-se em verdadeiro estímulo à interposição de recursos sucessivos e protelatórios pela parte devedora, uma vez que o trâmite recursal do processo não acarretaria em qualquer acréscimo sucumbencial tecendo comentários ao CPC, art. 602, fazendo uma análise entre o marco fi nal das prestações vencidas e o inicial para o cálculo das prestações vincendas, Alcídes de Mendonça Lima, in ‘Comentários ao Código de Processo Civil’, vol. VI, ed. Forense, manifestou-se:

A dívida do passado (obrigação vencida) abrange um período certo desde o início da cessão da atividade da vítima pela prática do ato ilícito pelo réu até a data em que a sentença condenatória passou em julgado, incluindo acessórios de custas, juros da mora e honorários; a dívida do futuro (obrigação vincenda) abrange, porém, período incerto: da data do trânsito em julgado até a morte da vítima e, depois, até quando o credor devesse prestação alimentar a seus dependentes, sem, em regra, qualquer outro acessório, a não ser os juros que fl uírem.

Nesse sentido, julgados desta Corte: REsp n. 195.525-SP, Relator Ministro Gilson Digo, DJ 22.03.1999, e REsp n. 205.905-SP, por mim relatado, DJ 14.06.1999.

Ocorre que a Terceira Seção deste STJ pacifi cou o entendimento de que os

honorários advocatícios nas ações previdenciárias e acidentárias devem mesmo

incidir sobre todas as prestações devidas somente até a sentença de 1º grau. Tem

razão, pois, o recorrente.

A propósito:

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

90

Processual Civil. Honorários advocatícios. Ação previdenciária. Parcelas vencidas. Marco fi nal. Prolação da sentença.

Nas ações previdenciárias, os honorários advocatícios devem ser fixados com exclusão das prestações vincendas, considerando-se apenas as prestações vencidas até o momento da prolação da sentença.

Embargos conhecidos e providos. (EREsp n. 195.520-SP, Relator Ministro Felix Fischer, DJ 18.10.1999)

Assim, com a ressalva do meu ponto de vista, em respeito ao atual entendimento predominante nesta Corte, conheço do recurso, e dou-lhe provimento parcial, apenas para afastar do cálculo da verba honorária as parcelas vincendas da condenação.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 392.348-RS (2001/0180608-6)

Relator: Ministro Vicente Leal

Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social — INSS

Procuradores: Milton Drumond Carvalho e outros

Recorrido: Elmiro Krause

Advogado: Ricardo Alexandre Sauer

EMENTA

Processual Civil. Previdenciário. Conversão de tempo de serviço especial. Atividade penosa. Direito adquirido. Honorários advocatícios. Base de cálculo. Termo ad quem. Súmula n. 111-STJ.

A atividade desenvolvida em condições especiais confere ao segurado o direito de contabilizar o referido tempo de serviço para todos os fi ns de direito.

Quanto ao dissídio jurisprudencial, verifi ca-se que o acórdão colacionado não guarda identidade de circunstâncias que demonstrem a divergência entre julgados, posto que funda-se em pressupostos diversos aos do deslinde em questão (art. 255, do RISTJ).

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 59-101, junho 2010 91

Segundo o comando expresso na Súmula n. 111-STJ, nas ações

de cobrança de benefícios previdenciários, a verba de patrocínio deve

ter como base de cálculo o somatório das prestações vencidas, como

tal compreendidas aquelas devidas até a data da prolação da sentença.

Recurso especial parcialmente conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por

unanimidade, conhecer parcialmente do recurso, nos termos do voto do Sr.

Ministro-Relator. Os Srs. Ministros Fernando Gonçalves, Hamilton Carvalhido

e Fontes de Alencar votaram com o Sr. Ministro-Relator. Ausente, por motivo

de licença, o Sr. Ministro Paulo Gallotti.

Brasília (DF), 05 de março de 2002 (data do julgamento).

Ministro Fernando Gonçalves, Presidente

Ministro Vicente Leal, Relator

DJ 1º.04.2002

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Vicente Leal: Proposta ação de rito ordinário contra o

Instituto Nacional do Seguro Social — INSS objetivando a conversão de tempo

de serviço especial, para fi ns de concessão de aposentadoria, o pleito foi julgado

improcedente em 1º grau (fl s. 82-86).

Em sede de apelação, a egrégia Sexta Turma do Tribunal Regional Federal

da 4ª Região reformou o decisum, proclamando o entendimento de que o autor

faz jus à contagem diferenciada do tempo de serviço especial realizado até

28.04.1995, concedendo, de consequência, o benefício pleiteado.

Determinou o Tribunal a quo, de outra parte, que a verba de patrocínio

deve ser calculada sobre as prestações devidas até a execução do julgado (fl s.

108-115).

Irresignado, o Instituto Nacional do Seguro Social interpõe o presente

recurso especial com suporte nas alíneas a e c do permissivo constitucional,

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

92

sustentando ter o acórdão em destaque, além de ensejado dissídio entre julgados, violado as disposições insertas no art. 6º, caput e § 2º, da Lei de Introdução ao Código Civil, bem como nos arts. 57, §§ 3º, 4º, e 5º, e 58, § 1º, da Lei n. 8.213/1991, art. 28 da Lei n. 9.711/1998 e art. 20, § 3º e 4º do Código de Processo Civil.

Verbera a autarquia, inicialmente, a inexistência de direito adquirido à contagem de tempo de serviço em condições estabelecidas por normas revogadas ao tempo de concessão da aposentadoria.

Assevera, outrossim, que os segurados que reuniram condições para obtenção de aposentadoria a partir de 29 de abril de 1995, data de entrada em vigor da Lei n. 9.032, devem demonstrar a efetiva exposição a agentes nocivos para fi ns de contagem especial de tempo de serviço, ressaltando a imprescindibilidade de prova pericial para tanto.

Pugna, por fi m, pela fi xação do momento de prolação da sentença como marco fi nal para apuração das prestações vencidas, para fi ns de cálculo dos honorários advocatícios (fl s. 117-128).

Sem as contra-razões, o recurso foi admitido (fl . 140), ensejando a subida dos autos a este Tribunal.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Vicente Leal (Relator): O presente recurso especial, interposto pelo INSS, tem como cerne duas questões: a) a possibilidade de contagem diferenciada de tempo de serviço realizado sob condições penosas à época em que o segurado laborava qualidade de caminhoneiro; b) o cálculo da verba honorária sobre as prestações vencidas até a execução do julgado.

Tenho que a irresignação quanto ao primeiro ponto não merece prosperar.

Ressalte-se, inicialmente, que com a entrada em vigor da Lei n. 9.032, em

29 de abril de 1995, impediu-se a contagem especial de tempo de serviço pela

mera inserção do segurado em categoria profi ssional prevista nos Decretos n.

53.931/1964 e 83.080/1979, sendo necessário, desde então, atestar a exposição

do trabalhador a agentes prejudiciais à saúde por meio de prova técnica.

Todavia, no regime anterior à mencionada lei, bastava ao segurado

encontrar-se laborando em atividade tida como insalubre, perigosa ou penosa

para que fi zesse jus à contagem diferenciada do tempo de serviço.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 59-101, junho 2010 93

Oportuno ressaltar, neste ponto, que a atividade de motorista de caminhão

vem classifi cada no item 2.4.4 do Decreto n. 53.831/1964 como insalubre.

E o Tribunal de origem, em escorreita interpretação dos dispositivos

atinentes à espécie, reconheceu o direito do autor à contagem diferenciada do

tempo de serviço prestado em condições penosas, nos termos das normas em

vigor à época do exercício da atividade de motorista.

Transcreva-se, neste ponto, ementa do julgado proferido pelo Tribunal a

quo, verbis:

Previdenciário. Aposentadoria por tempo de serviço. Contagem recíproca. Reconhecimento de tempo de serviço rural e em atividade especial.

Se existe princípio de prova material hábil sobre a atividade rural coerente com a prova oral produzida nos autos, o segurado faz jus ao reconhecimento do respectivo tempo de serviço.

Demonstrado o trabalho em atividade nociva à saúde ou à integridade fi sica, é devida a conversão de tempo especial em comum para fi ns de concessão de aposentadoria por tempo de serviço.

Apelação provida em parte (fl . 115).

Outro não é o entendimento sufragado por esta colenda Corte, qual seja

o de que a atividade desenvolvida em condições especiais confere ao segurado o

direito de contabilizar o referido tempo de serviço para todos os fi ns de direito.

Citem-se como exemplos desta linha de pensamento os seguintes

precedentes:

Previdenciário. Aposentadoria por tempo de serviço. Conversão do tempo de serviço especial. Direito adquirido. Restrições impostas pelas ordens de serviço n. 600 e 612/1998. MP n. 1.663-13, art. 28.

A Lei n. 9.711/1998, bem como o Decreto n. 3.048/1999, resguardam o direito adquirido dos segurados à conversão do tempo de serviço especial prestado, sob a égide da legislação anterior, observados para fi ns de enquadramento os decretos em vigor à época da prestação dos serviços.

Com a alteração introduzida pela MP n. 1.663-13, as Ordens de Serviços n. 600 e 612/1998, perderam sua validade, revelando-se ilegais as exigências impostas pela autarquia seguradora, uma vez que o art. 57, § 5º, da Lei n. 8.213/1991, passou a ter a redação do art. 28 da medida provisória mencionada.

Precedentes desta Corte.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

94

Recurso conhecido, mas desprovido. (REsp n. 300.125-RS, Relator Ministro Jorge Scartezzini, DJ 1º.10.2001, p. 239).

Previdenciário. Aposentadoria por tempo de serviço. Conversão de tempo especial em comum. Possibilidade. Lei n. 8.213/1991, art. 57, §§ 3º e 5º.

É permitida a conversão de tempo de serviço prestado sob condições especiais em comum, para fi ns de concessão de aposentadoria.

Recurso não conhecido. (REsp n. 266.660-SP, Relator Ministro Felix Fischer, DJ 06.11.2000, p. 222).

Ademais, quanto ao dissídio jurisprudencial, verifi ca-se que o acórdão colacionado não guarda identidade de circunstâncias que demonstrem a divergência entre julgados, posto que funda-se em pressupostos fáticos diversos aos do deslinde em questão.

Com efeito, enquanto o aresto recorrido reconheceu a possibilidade da verifi cação do caráter especial da atividade desenvolvida pelo autor com base no formulário apresentado, o paradigma refere-se à hipótese de utilização deste documento como prova pré-constituída em sede de mandado de segurança, ação cujo rito especial exige apresentação de prova indene de controvérsia, diferentemente do pleito processado sob o rito ordinário.

Desatendidos, no caso, os requisitos essenciais previstos no art. 255 do RISTJ.

De outra parte, ataca-se no recurso especial a decisão do Tribunal a quo que determinou o cálculo da verba honorária sobre as prestações vencidas até a execução do julgado.

Tenho que melhor sorte assiste ao recorrente neste ponto.

Com efeito, o acórdão recorrido não refl ete o comando expresso na Súmula n. 111, deste Tribunal, que tem o seguinte teor:

Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias, não incidem sobre prestações vincendas.

É certo que em julgamentos anteriores proclamei o entendimento de que

no conceito de prestações vencidas dever-se-ia considerar aquelas não pagas até

a data da realização da conta.

No entanto, a jurisprudência desta Corte pacifi cou o entendimento no

sentido de que às prestações vincendas excluídas não devem ser outras que não

às que venham a se vencer após a prolação da sentença.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 59-101, junho 2010 95

O que o verbete em tela veda é a inclusão de prestações vincendas na base

de cálculo da verba de patrocínio. Todavia, há de se considerar como prestações

vencidas aquelas não pagas até a data da sentença.

Citem-se, a propósito os seguintes acórdãos do referido colegiado:

Previdenciário. Ação acidentária. Verba honorária. Prestações vencidas. Termo fi nal. Sentença.

1. O enunciado da Súmula n. 111 deste Superior Tribunal de Justiça exclui do valor da condenação as prestações vincendas, para fi ns de cálculo dos honorários advocatícios, nas ações previdenciárias.

2. As prestações vincendas excluídas não devem ser outras que não as que venham a se vencer após o tempo da prolação da sentença.

3. Recurso conhecido, mas improvido. (REsp n. 209.723-SP, Relator Ministro Hamilton Carvalhido, DJ 17.12.1999)

Rendo-me à orientação majoritária.

Em face dessas considerações, é de se concluir que o acórdão recorrido

não merece ser mantido no que tange à forma de cálculo dos honorários

advocatícios.

Isto posto, conheço parcialmente do recurso especial tão-somente para

determinar a fi xação das verbas honorárias com bases parcelas vencidas até o

momento da prolação da sentença.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 401.127-SP (2001/0191820-3)

Relator: Ministro Jorge Scartezzini

Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social — INSS

Procuradores: Steven Shunitizwicker e outros

Recorrido: Wanderley Serafi m da Silva

Advogado: Manoel Humberto Araújo Feitosa

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

96

EMENTA

Previdenciário. Acidentária. Termo inicial. Perícia judicial.

Honorários advocatícios. Súmula n. 111-STJ. Incidência. Revisão do

percentual. Súmula n. 7-STJ.

Não há infringência ao art. 535, II, do CPC, quando o Tribunal a

quo, embora rejeitando os embargos de declaração opostos ao acórdão,

pronunciou-se sobre as matérias a ele submetidas. Precedentes.

O termo inicial para a concessão do benefício de auxílio-acidente

é o da apresentação do laudo médico-pericial em juízo, quando não

reconhecida a incapacidade administrativamente.

Nas ações acidentárias, os honorários advocatícios não incidem

sobre as prestações vincendas, assim consideradas as posteriores à

prolação da sentença monocrática.

O recurso especial não é a via adequada para se proceder à revisão

do percentual fi xado a título de honorários advocatícios nas instâncias

ordinárias, em razão do óbice da Súmula n. 7-STJ.

Precedentes.

Recurso parcialmente conhecido e, nessa parte, provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça em, na conformidade dos votos

e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer parcialmente do

recurso e, nessa parte, lhe dar provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro

Relator com quem votaram os Srs. Ministros Edson Vidigal, José Arnaldo da

Fonseca, Felix Fischer e Gilson Djpp.

Brasília (DF), 19 de março de 2002 (data do julgamento).

Ministro Felix Fischer, Presidente

Ministro Jorge Scartezzini, Relator

DJ 29.04.2002

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 59-101, junho 2010 97

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Jorge Scartezzini: O Instituto Nacional do Seguro Social

— INSS, interpõe recurso especial, nos termos do art. 105, III, a e c, da

Constituição Federal, contra o v. acórdão de fl s. 156-159, cuja ementa expressa-

se nos seguintes termos, verbis:

Acidente do trabalho. Doença. Disacusia. Nível superior a 9% segundo a Tabela de Fowler. Nexo causal comprovado. Caracterização de incapacidade.

Estabelecido o nexo etiológico e já superando a deficiência auditiva profissional bilateral os 9% previstos como limite na normalidade, calculada segundo a Tabela de Fowler, caracteriza-se a doença; e sendo irreversível e progressiva importa em incapacidade e gera direito à indenização.

Opostos embargos de declaração, foram eles rejeitados (fl s. 163-172).

Alega, preliminarmente, a recorrente afronta aos arts. 535 e 458, II, do

CPC, ao argumento de que não foi sanada a omissão do julgado a respeito da

legislação federal que regulamenta a data de início dos benefícios acidentários.

Sustenta, outrossim, que o v. acórdão recorrido violou o art. 23, da Lei n.

8.213/1991, ao acolher o pedido recursal da recorrida, fi xando como data de

início do benefício a citação, em detrimento da data do diagnóstico apresentado

em juízo. Aponta, também, divergência jurisprudencial no tocante ao pagamento

de honorários advocatícios sobre as parcelas vincendas, requerendo, ademais,

redução do percentual de 15% para 10% das prestações vencidas.

Sem contra razões (fl . 211).

O Ministério Público Estadual (fl s. 212-214), propõe a admissibilidade do

recurso especial.

Admitido o recurso (fl s. 216-219), subiram os autos, vindo-me conclusos.

É o relatório

VOTO

O Sr. Ministro Jorge Scartezzini (Relator): Sr. Presidente, primeiramente

no que diz respeito à alegada infringência aos arts. 535 e 458, II, do CPC, esta

não ocorreu. De fato, a questão relativa a fi xação da data de início de benefício

foi devidamente analisada no v. acórdão recorrido. Inviável, pois, a insurgência

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

98

sob este prisma, por não restar confi gurada nenhuma lesão, na hipótese, aos

artigos processuais invocados.

No tocante ao mérito, insurge-se o instituto previdenciário contra o

decisum colegiado que, em sede de apelação, fi xou a data da citação como marco

inicial do benefício previdenciário de acidente do trabalho, e condenou ainda a

autarquia ao pagamento de honorários advocatícios arbitrados em 15% sobre as

prestações vencidas, e mais doze meses das parcelas vincendas.

Estando a matéria devidamente prequestionada no v. julgado atacado,

afasto a incidência do Verbete Sumular n. 356-STF para o exame do recurso com

fulcro nas alíneas a e c do permissivo constitucional.

No que se refere ao termo inicial da concessão do benefício acidentário,

deve-se observar o preceituado no art. 23, da Lei n. 8.213/1991, o qual

transcrevo, in verbis:

Art. 23. Considera-se como dia do acidente, no caso de doença profi ssional ou do trabalho, a data do início da incapacidade laborativa para o exercício da atividade habitual, ou o dia da segregação compulsória, ou o dia que for realizado o diagnóstico, valendo para este efeito o que ocorrer primeiro.

Da interpretação do artigo depreende-se que, quando da apresentação do

laudo pericial nos autos, é que se constata a incapacidade para o trabalho, sendo

esta data considerada como o dia do acidente.

Logo, a concessão do pleiteado auxílio-acidente, deve ter como termo

inicial a data da apresentação do laudo pericial em juízo.

Assim, frente ao mencionado comando legal, há que ser reformada a

decisão atacada, por incabível a determinação do termo inicial para a concessão

do auxílio-acidente na data da citação.

À propósito, transcrevo os seguintes precedentes:

Previdenciário. Ação acidentária. Benefício. Termo inicial da concessão (art. 23 da Lei n. 8.213/1991). Honorários advocatícios. Condenação prestações vincendas. Súmula n. 111-STJ.

Termo inicial do benefício é o da apresentação do laudo pericial em juízo. Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias, não incidem sobre prestações vincendas (Súmula n. 111-STJ), mas apenas sobre as prestações vencidas até a prolação da sentença. Recurso conhecido e desprovido. (REsp n. 182.358-SP, Relator Ministro Jose Arnaldo da Fonseca, DJ 23.11.1998)

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 59-101, junho 2010 99

Previdenciário. Auxílio-acidente. Termo inicial. Honorários advocatícios. Súmula n. 111-STJ.

Em tema de concessão de benefício previdenciário permanente, decorrente de acidente de trabalho, deve-se considerar como seu termo inicial o dia da juntada do laudo pericial em juízo. Precedentes.

Os honorários advocatícios, nas ações previdenciárias, não incidem sobre prestações vincendas (Súmula n. 111-STJ).

Os juros de mora, no quantum de 1%, incidem a contar da citação válida.

Embargos de divergência recebidos. (EREsp n. 149.937-SP, Relator Ministro José Arnaldo da Fonseca, DJ 27.09.1999)

1. Processual Civil. Ação acidentária. Honorários advocatícios. Súmula n. 111-STJ. Aplicação. 2. Previdenciário. Auxílio-acidente. Concessão. Termo Inicial. Data da juntada do laudo médico em juízo. Precedentes.

1. Nas ações acidentárias, os honorários advocatícios não incidem sobre prestações vincendas, assim consideradas as posteriores à prolação da sentença de 1º grau. Incidência da Súmula n. 111-STJ.

2. Na esteira dos precedentes desta Corte, o auxílio-acidente deve ser concedido a partir da data de juntada do laudo médico-pericial em juízo, que constatou a incapacidade parcial e permanente do segurado para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência.

3. Recurso conhecido e provido. (REsp n. 249.932-SP, Relator Ministro Edson Vidigal, DJ 1º.08.2000)

Previdenciário. Acidentária. Termo inicial do benefício.

Termo inicial do benefício é o da apresentação do laudo pericial em juízo.

Precedente.

Embargos acolhidos. (EDcl no REsp n. 120.612-SP, Relator Ministro Felix Fischer, DJ 1º.07.1999)

Quanto à irresignação do Instituto Previdenciário no tocante à incidência

da verba honorária sobre as parcelas vincendas, a interpretação conferida à

Súmula n. 111-STJ é no sentido de que a verba honorária incide apenas

sobre parcelas vencidas, não podendo estender-se a qualquer espécie de

débito vincendo, considerando-se como marco fi nal para o arbitramento dos

honorários, a prolação da sentença monocrática.

A propósito, a Terceira Seção deste Tribunal, pacificou a questão no

mesmo sentido, conforme se verifi ca das ementas abaixo transcritas:

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

100

Previdenciário e Processual Civil. Auxílio-acidente. Concessão. Honorários advocatícios. Incidência. Súmula n. 111-STJ.

1. Os honorários advocatícios, nas ações acidentárias, não incidem sobre prestações vincendas; o marco fi nal para a apuração das prestações vencidas faz-se na data da prolação da sentença de 1º grau.

2. Ressalva do ponto de vista do Relator.

3. Recurso não conhecido. (REsp n. 242.651-SP, Relator Ministro Edson Vidigal, DJ 20.03.2000)

Previdenciário. Ação acidentária. Honorários advocatícios. Condenação. Prestações vincendas. Súmula n. 111-STJ.

1. Nos termos da Súmula n. 111-STJ, os honorários advocatícios devem incidir apenas sobre os benefícios previdenciários vencidos até a sentença, excluído do cálculo do percentual, as parcelas vincendas.

2. Recurso especial não conhecido. (REsp n. 225.595-SP, Relator Ministro Fernando Gonçalves, DJ 20.03.2000).

No que se refere à pretensão do recorrente visando à redução do percentual

das parcelas vencidas de 15% para 10%, o recurso especial não é a via adequada

para pleitear-se tal revisão.

De fato, cabe ao magistrado, verifi cado o grau de zelo do profi ssional, o

lugar da prestação do serviço, sua natureza, seu trabalho, o tempo exigido e a

importância da causa, fi xar o quantum devido (alíneas a, b e c, do § 3º, do art.

20, CPC). Logo, a questão que envolve a determinação da verba honorária é de

ordem fática, dependendo, portanto, de provas. Registre-se que não há como se

cogitar, nesta via estreita do recurso especial, acerca destes valores, porquanto, nos

termos do Enunciado Sumular n. 7, desta Corte, é vedado o reexame probatório

dos autos. Assim, esta fi xação fi ca ao discernimento do órgão julgado a quo que,

na aplicação do dispositivo legal correto ao caso concreto, apurou tais parâmetros

contidos no art. 20 e seus parágrafos, todos do Código de Processo Civil.

Confi ra-se, a respeito, o seguinte precedente desta Turma:

Processual Civil. Recurso especial. Cabimento. Honorários advocatícios. Condenação. Aumento do quantum Súmula n. 7-STJ. Dissídio jurisprudencial. Hipóteses diversas.

I - O recurso especial não é a via adequada para se proceder à revisão do percentual de honorários advocatícios a que foi condenada a parte,pois demandaria reexame de matéria fática, vedado pela Súmula n. 7-STJ.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 59-101, junho 2010 101

II - Se os acórdãos trazidos a confronto pela parte recorrente retratam hipóteses diversas, não se pode conhecer do recurso pela alínea c do permissivo constitucional, por não estar confi gurado o dissídio jurisprudencial.

Recurso não conhecido. (REsp n. 139.919-DF, Relator Ministro Felix Fischer, DJ 16.11.1999)

Por estas razões, nesta parte, não conheço do recurso.

Por tais fundamentos, conheço parcialmente do recurso e, nesta parte,

dou provimento, para determinar que o termo inicial da concessão do benefício

acidentário é o da juntada do laudo médico-pericial em juízo; observando-se,

ainda, que a verba honorária incide sobre as prestações vencidas, até a prolação

da sentença monocrática.

É como o voto.

Súmula n. 112

SÚMULA N. 112

O depósito somente suspende a exigibilidade do crédito tributário se for

integral e em dinheiro.

Referências:

CTN, art. 151, II.

Lei n. 6.830/1980, arts. 9º, § 4º, 32 e 38.

Precedentes:

RMS 1.267-AM (2ª T, 16.06.1993 — DJ 16.08.1993)

RMS 1.269-AM (1ª T, 18.10.1993 — DJ 08.11.1993)

REsp 8.764-SP (1ª T, 07.02.1994 — DJ 21.03.1994)

REsp 10.215-SP (2ª T, 26.05.1993 — DJ 28.06.1993)

REsp 30.610-SP (1ª T, 10.02.1993 — DJ 15.03.1993)

Primeira Seção, em 25.10.1994

DJ 03.11.1994, p. 29.768

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N. 1.267-AM (1991/0018654-6)

Relator: Ministro José de Jesus Filho

Recorrente: Sony Componentes Ltda

Recorrida: União Federal

T. origem: Tribunal Regional Federal da 1ª Região

Impetrado: Juízo Federal da 1ª Vara - AM

Advogados: Rogério Borges de Castro e outros

EMENTA

A suspensão da exigibilidade do crédito tributário só é admissível mediante depósito integral em dinheiro na forma prevista nos arts. 151, II, do CTN, e 9º, § 4º, da Lei n. 6.830/1980.

Recurso ordinário conhecido, mas improvido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados este autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe negar provimento, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Hélio Mosimann, Peçanha Martins e Américo Luz. O Sr. Ministro Pádua Ribeiro não participou do julgamento, tendo em vista os termos do § 2º do art. 162 do RI/STJ. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 16 de junho de 1993 (data do julgamento).

Ministro José de Jesus Filho, Presidente e Relator

DJ 16.08.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José de Jesus Filho: No Tribunal Regional Federal da 1ª

Região, a questão foi assim relatada:

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

108

A impetrante Sony Componentes Ltda, fustiga ato jurisdicional do Juízo Federal da 1ª Vara da SJ-AM que revogou liminar anteriormente concedida em mandamus impetrado perante aquele juízo ao fi to de furtar-se ao recolhimento de contribuição ao PIS na forma prevista nos Decretos-Leis n. 2.445/1988 e 2.449/1988.

Sustenta a impetrante que a revogação da liminar aludida ocorreu porque solicitara a autorização para depositar as contribuições aludidas, em juízo, em TDAs ou carta de fi ança bancária, com o que não concordou o juiz impetrado.

Em suas informações a autoridade coatora informa que realmente revogara a liminar anteriormente concedida porque o depósito em TDAs ou carta de fi ança bancária não suspendem a exigibilidade do crédito tributário e não vira na espécie, reunidos, os requisitos necessários à concessão de liminar em mandado de segurança.

Ouvida que foi, a douta Procuradoria da República opinou, preliminarmente, pelo não-conhecimento do writ porque o ato judicial fustigado não fora objeto de ataque pelo recurso próprio, ou seja, agravo de instrumento. No mérito, bate-se pela denegação da segurança, ao entendimento de que somente o depósito em dinheiro suspende a exigibilidade do crédito tributário. (Fls. 67-68)

Foi a segurança denegada, por unanimidade de votos.

Daí o recurso ordinário do contribuinte, com espeque na previsão

constitucional, sob alegação de que é viável suspender a exigibilidade do crédito

tributário com o depósito em Títulos da Dívida Agrária ou carta de fi ança

bancária. Assim a decisão recorrida contrariou o disposto no art. 151, II, do

CTN e aos arts. 804 e 827 do CPC.

Subindo os autos a esta Corte, opinou a douta Subprocuradoria Geral da

República pelo improvimento do recurso.

É este o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro José de Jesus Filho (Relator): Não é viável suspender a

exigibilidade do crédito tributário com o depósito em Título da Dívida Agrária

ou carta de fi ança bancária. Isto porque o depósito integral do débito equivale

ao depósito em dinheiro como defl ui dos arts. 151, II, do CTN, e 9º, § 4º, da

Lei n. 6.830/1980. Assim não é admissível a substituição em espécie por carta

de fi ança bancária ou outro qualquer meio senão o depósito em dinheiro. Em

questão assemelhada esta Segunda Turma condicionou o efeito suspensivo a

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 103-123, junho 2010 109

recurso especial mediante depósito em dinheiro à disposição do juiz de origem,

das parcelas do PIS, vencidas e vincendas, até o trânsito em julgado da decisão

fi nal da causa. (Embargos de Declaração na Medida Cautelar n. 199, julgados

em 15.03.1993, DJ 05.04.1993, p. 5.822 relatado por mim). Aliás, a controvérsia

foi bem decidida meritoriamente pelo Juiz Nelson Gomes da Silva do egrégio

Tribunal Regional Federal da 1ª Região na forma a saber:

No mérito, temos entendido que só o depósito integral do débito em dinheiro e não em Títulos da Dívida Pública, fi ança bancária ou outras garantias, tem o condão de suspender a exigibilidade do crédito tributário e a propositura da execução fi scal. (cf. Ag n. 91.01.03750-1-DF e Ag n. 90.01.12903-0-DF, por mim relatados na Quarta Turma desta Corte).

É verdade que o CTN no art. 151 dispõe que suspendem a exigibilidade do crédito tributário, além do depósito de seu montante integral, a moratória, os recursos administrativos no Processo Tributário e as liminares concedidas em mandado de segurança.

Para a concessão de liminar em mandado de segurança, a lei especial que regula a ação mandamental, Lei n. 1.533/1951, art. 7º, item II, não exige depósito preparatório para discussão do crédito tributário nem em dinheiro nem em qualquer forma de caução. Condiciona a concessão liminar do writ a dois fatores:

a) relevância dos fundamentos da ordem colimada;

b) quando do ato impugnado puder resultar a inefi cácia da medida, caso deferida a fi nal.

Trata-se dos requisitos denominados fumus boni juris e periculum in mora.

O MM. Juiz que denegou a segurança em 1º grau entendeu ausentes esses requisitos e revogou a liminar que fora anteriormente concedida. Dessarte, no mérito, denego o mandamus. (Fls. 85-86)

Em harmonia com tal entendimento é o ponto de vista da douta

Subprocuradoria Geral da República, verbis:

No mérito bem decidiu o v. acórdão. Só o depósito integral do débito em dinheiro — e não em Títulos da Dívida Agrária ou fi ança bancária — pode evitar a exigibilidade do crédito tributário. Admitir a hipótese contrária seria desvirtuar a celeridade, e a liquidez e certeza, que a lei confere na cobrança dos créditos tributários. Realmente, se admitida a fi ança teria o Fisco, eventualmente, que encetar outra ação contra o fi ador caso não honrasse de pronto a fi ança do fi ador. E se aceitos os TDA, estaria a receber muito menos do que o valor do crédito, já que aquelas valem menos do que 10% do seu valor de face. (Fls. 128-129)

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

110

Pelo exposto, conheço do recurso, mas nego-lhe provimento.

É o meu voto.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Américo Luz: Pedi vista dos autos para melhor examinar

a possibilidade, ou não, do depósito em Título da Dívida Agrária ou carta

de fi ança bancária suspender a exigibilidade do crédito tributário. Cheguei à

conclusão de que o acórdão recorrido não merece reparos.

A egrégia Primeira Turma deste Tribunal, no REsp n. 30.610-7-SP, Relator

o Sr. Ministro Milton Pereira, DJ 15.03.1993, enfatizou que só o depósito em

dinheiro suspende a exigibilidade do crédito tributário. Esse entendimento é o

mesmo do eminente Ministro José de Jesus, Relator dos presentes autos, a quem

acompanho para também negar provimento ao recurso.

É como voto.

VOTO-VOGAL

O Sr. Ministro Hélio Mosimann: Acompanho o voto do Sr. Ministro-

Relator, porque, além do precedente relatado pelo Ministro Milton Pereira,

na Primeira Turma, tenho um outro recente desta Turma no mesmo sentido:

“Não ofende às disposições do CTN a decisão que exige, para suspender a

exigibilidade do crédito tributário, o depósito em dinheiro” (REsp n. 10.215-0-

SP, de que fui Relator, em 26.05.1993).

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N. 1.269-AM (1991/0018656-2)

Relator: Ministro Demócrito Reinaldo

Recorrente: Sony da Amazônia Ltda

T. origem: Tribunal Regional Federal da 1ª Região

Impetrado: Juízo Federal da 2ª Vara - AM

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 103-123, junho 2010 111

Recorrida: União Federal

Advogados: Rogério Borges de Castro e outros

EMENTA

Processual Civil e Tributário. Mandado de segurança. Suspensão

cautelar da exigibilidade do crédito tributário. Depósito em TDAs ou

fi ança bancária. Impossibilidade. Recurso desprovido.

Consoante precedentes jurisprudenciais desta Corte, a suspensão

da exigibilidade do crédito tributário só é admissível, mediante

depósito integral em dinheiro, nos termos do disposto nos arts. 151

do CTN, e 9º, § 4º, da Lei n. 6.830/1970.

Recurso desprovido, por unanimidade.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas, decide

a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar

provimento ao recurso, de acordo com o voto do Sr. Ministro-Relator, na forma

do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte

integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros

Gomes de Barros, Milton Pereira, Cesar Rocha e Garcia Vieira. Custas, como

de lei.

Brasília (DF), 18 de outubro de 1993 (data do julgamento).

Ministro Garcia Vieira, Presidente

Ministro Demócrito Reinaldo, Relator

DJ 08.10.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo: Cuida-se de recurso ordinário

constitucional interposto por Sony da Amazônia Ltda contra decisão unânime

da Segunda Seção do Tribunal Regional da 1ª Região, que denegou a segurança

impetrada pela ora recorrente, conforme resumido no acórdão assim ementado:

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

112

Mandado de segurança contra ato judicial. Agravo de instrumento. Liminar. Suspensão de exigibilidade do débito tributário. Depósito em dinheiro.

1. Cabimento do MS contra decisão judicial que denega liminar em outro mandamus, dispensa a interposição de agravo de instrumento contra o ato fustigado.

2. Para suspender a exigibilidade do crédito tributário o depósito a que se referem os arts. 151, II, do CTN, e 32 da LEF, há de ser feito em dinheiro e não em TDAs.

3. MS conhecido e denegado (fl . 95).

Sustenta a recorrente, basicamente, que, em virtude da faculdade legal que

lhe é concedida, mormente em decorrência do disposto nos arts. 804 e 827 do

Código de Processo Civil, combinados com o art. 151, inciso II, do Código

Tributário Nacional e outros dispositivos legais, dispõe de outras formas de

caução, para a suspensão da exigibilidade do crédito tributário e não somente a

do dinheiro. Valendo-se, ainda, de opiniões doutrinárias abalizadas e de julgados

de outros tribunais, alega que, não havendo nenhuma menção no art. 15 do

CTN, e art. 38 da Lei n. 8.830/1980, sobre a espécie de caução a ser prestada,

é de se impor a aplicação do art. 827 do CPC, que, no silêncio da lei, faculta ao

contribuinte a escolha da espécie de caução que mais lhe convier (fl s. 99-118).

Recebido e contra-arrazoado o recurso, na origem (fl s. 121-124), subiram

os autos a esta instância superior, aqui opinando a douta Subprocuradoria

Geral da República pela confi rmação da v. decisão recorrida, por seus próprios e

judiciosos fundamentos (fl s. 128-130).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo (Relator): Consoante se depreende

do relatório, a pretensão da recorrente consiste em suspender, cautelarmente, a

exigibilidade do crédito tributário, com o depósito em TDAs ou fi ança bancária.

Formula o seu pleito, com arrimo na interpretação dos arts. 804 e 827 do CPC,

combinados com o art. 151, II, do CTN.

O v. acórdão recorrido, de sua vez, fi rmou entendimento, com respaldo

na exegese dos arts. 151, inciso II, do CTN, e 32 da Lei das Execuções Fiscais,

no sentido de que somente o depósito em dinheiro, e não em TDAs, poderá

suspender a exigibilidade do crédito tributário.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 103-123, junho 2010 113

Com efeito, não me parece que assista razão à recorrente. Na verdade, a

melhor exegese, na apreciação da espécie, afi gura-se-me ser aquela adotada pelo

aresto recorrido, segundo a qual “só o depósito integral do débito em dinheiro,

e não em títulos da Dívida Pública, fi ança bancária ou outras garantias, tem o

condão de suspender a exigibilidade do crédito tributário e a propositura da

execução fi scal” (fl . 87).

A Procuradoria da Fazenda Nacional, nas contra-razões, bem sintetizou a

questão, à luz da legislação aplicável ao caso, asseverando com propriedade:

A hipótese em exame possui regulamentação própria prevista pelos arts. 252, II, do Código Tributário Nacional, 9º, § 4º, e 38 da Lei n. 6.830/1980.

Tais diplomas prevêem que o depósito integral em dinheiro, do montante do débito tributário, impede a propositura da execução fi scal.

Tanto o CTN quanto a Lei das Execuções Fiscais não prevêem a prestação de fi ança bancária ou garantia com títulos públicos, como meio de impedir a propositura da execução fi scal.

Ademais, cabe ressaltar o disposto no art. 111, I, do CTN:

Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre:

I - suspensão ou exclusão do crédito tributário;.

A caução fi dejussória é uma garantia e não um depósito (fl . 123).

No mesmo diapasão tem se fi rmado a jurisprudência, tanto do extinto

TFR, quanto desta egrégia Corte, conforme se infere do acórdão proferido

no ROMS n. 1.267-0-AM, trazido à colação pelo douto Representante do

Ministério Público e assim ementado:

A suspensão da exigibilidade do crédito tributário só é admissível mediante depósito integral em dinheiro na forma prevista nos arts. 151 do CTN, e 9º, § 4º, da Lei n. 6.830/1970.

Recurso ordinário conhecido, mas improvido (cf. DJ 16.08.1993, Rel. o eminente Ministro José de Jesus) (fl . 129).

Destarte, em sintonia com a jurisprudência predominante nesta Corte,

nego provimento ao recurso.

É como voto.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

114

RECURSO ESPECIAL N. 8.764-SP (1991/0003770-2)

Relator: Ministro Garcia Vieira

Recorrente: Coml. Rubaiyat Ltda

Recorrida: Fazenda do Estado de São Paulo

Advogados: Ricardo Carneiro Giraldes e outros e Guilherme Piveti e

outros

EMENTA

Tributário e Processual Civil. Mandado de segurança. Suspensão da exigibilidade do crédito tributário. Título da Dívida Agrária. Impossibilidade.

I - Nos termos do art. 151, inciso II, do CTN, apenas o depósito em dinheiro e não o depósito de títulos da dívida agrária suspende a exigibilidade do crédito tributário.

Recurso improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Demócrito Reinaldo, Humberto Gomes de Barros, Milton Luiz Pereira e Cesar Asfor Rocha.

Brasília (DF), 07 de fevereiro de 1994 (data do julgamento).

Ministro Demócrito Reinaldo, Presidente

Ministro Garcia Vieira, Relator

DJ 21.03.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Garcia Vieira: Trata-se de recurso especial interposto

por Comercial Rubaiyat Ltda, com apoio nas alíneas a e c do permissivo

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 103-123, junho 2010 115

constitucional contra acórdão que negou-lhe o direito de efetuar o depósito do

montante integral do débito em Títulos da Dívida Agrária, a fi m de suspender a

exigibilidade do crédito tributário.

Sustenta a recorrente que o venerando aresto hostilizado violou o art. 151,

inciso II, do CTN, art. 827 do CPC, e art. 105, § 1º, da Lei n. 4.504/1964, bem

como divergiu de arestos que traz à colação.

Entende que a lei não restringe que o depósito seja feito apenas em

dinheiro, aduzindo, ainda, que se nos termos do Decreto n. 95.714/1988 os

títulos da dívida agrária se prestam à fi ança em geral e a garantir, por depósito,

a execução em ações judiciais ou administrativas, também encontram suporte

legal aos fi ns pretendidos (fl s. 88-108).

Oferecidas contra-razões (fl s. 120-123) e admitido o recurso (fl . 131),

subiram os autos a este colendo Tribunal.

Nesta instância, os autos foram com vista ao Ministério Público em março

de 1991, retornando a esta colenda Corte em novembro do corrente ano, com

parecer pelo improvimento do recurso (fl s. 175-177).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Garcia Vieira (Relator): Nos termos do art. 151, inciso II,

do CTN, o depósito em dinheiro e não a fi ança bancária, ou depósito de títulos

da dívida agrária suspende a exigibilidade do crédito tributário e é evidente

que, sendo o Código Tributário Nacional uma lei complementar, não pode ser

alterado por lei ordinária, não podendo prevalecer, no caso, o disposto no art. 9º,

§ 3º, da Lei n. 6.830/1980, que admite a fi ança bancária com efeitos da penhora.

Neste sentido os precedentes citados por Th eotonio Negrão, na nota n. 14 do art.

38 da Lei n. 6.830/1980, p. 802, do seu CPC, 23ª edição atualizada até 12 de

julho de 1992:

Só o depósito integral do débito, em dinheiro, impede a propositura de execução fi scal; não a fi ança bancária (RT 596/95, RJTJESP 93/326, nem o depósito de imóvel, em garantia (TFR, Quarta Turma, Ag n. 51.697-GO, Relator Ministro Armando Rolemberg, j. 25.03.1987, deram provimento, v. DJ 27.08.1987...

Neste sentido os precedentes deste colendo Superior Tribunal de Justiça

nos Recursos Especiais n. 28.869-5-MG, julgado no dia 18.11.1992, do qual

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

116

fui Relator, DJ 14.12.1992, e 30.610-SP, DJ 15.03.1993, Relator eminente

Ministro Milton Pereira, e RMS n. 1.401-0-DF, julgado em 02.06.1993.

Consta da ementa deste último acórdão citado, de minha lavra que:

Tributário e Processual Civil. Mandado de segurança. Suspensão da exigibilidade do crédito tributário. Título da Dívida Agrária e fi ança bancária. Impossibilidade.

I - Contra decisão transitada em julgado não cabe o mandado de segurança.

II - Nos termos do art. 151, inciso II, do CTN apenas o depósito em dinheiro e não a fi ança bancária ou o depósito de título da dívida agrária suspende a exigibilidade do crédito tributário.

Recurso improvido.

Nego provimento ao recurso.

RECURSO ESPECIAL N. 10.215-SP

Relator: Ministro Hélio Mosimann

Recorrente: GTE Sylvania Ltda

Advogados: Ivani Laseri e outros

Recorrida: Fazenda do Estado de São Paulo

Advogados: Ana Maria Moliterno Pena e outros

EMENTA

Recurso especial. Suspensão da exigibilidade do crédito tributário.

Depósito. Arts. 151 e 162 do Código Tributário Nacional e art. 38 da

Lei das Execuções.

Não ofende as disposições do CTN a decisão que exige, para

suspender a exigibilidade do crédito tributário, o depósito em dinheiro.

Recurso não conhecido.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 103-123, junho 2010 117

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Peçanha Martins, Américo Luz e José de Jesus. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Pádua Ribeiro.

Brasília (DF), 26 de maio de 1993 (data do julgamento).

Ministro José de Jesus, Presidente

Ministro Hélio Mosimann, Relator

DJ 28.06.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hélio Mosimann: Trata-se de agravo de instrumento contra decisão que, em ação ordinária anulatória de débito fiscal, recusou garantia ofertada para discussão do débito, ou seja, uma fi ança bancária, que visava suspender a exigibilidade do crédito tributário.

O acórdão recorrido manteve a decisão agravada.

Recurso especial, com fundamento nas letras a e c do inciso III do art. 105 da Constituição Federal.

Aduz a recorrente, ao que se entende, violação do art. 151 do CTN, e do art. 38 da Lei das Execuções Fiscais.

O recurso foi admitido apenas por alegada relevância das questões ventiladas (fl s. 107-108).

Em seu parecer, a douta Subprocuradoria Geral da República opina pela devolução dos autos ao Tribunal de origem, para que ali se pronuncie, fazendo a apreciação crítica do seu cabimento.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hélio Mosimann (Relator): Sr. Presidente, estaria por acatar

a sugestão do parecer, a fi m de devolver o processo à origem para apreciação

fundamentada sobre a admissibilidade do recurso especial.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

118

Ocorre que o recurso, vejo de imediato, embora se apóie também na letra c

do permissivo constitucional, não cuidou de demonstrar a divergência. Limitou-

se, nesta parte, a transcrever o teor da Súmula n. 247 do STF, mas para dizer

que sabe que o depósito prévio não constitui pressuposto da ação anulatória

de débito fi scal. Nada diz sobre o acórdão haver contrariado tal entendimento,

que, aliás, não contrariou, até porque não seria essa a tese em discussão. Apenas

interpretou o CTN, quando exige o depósito em dinheiro para a suspensão

da exigibilidade do crédito tributário. Tal exegese, pois, parte de uma análise

integrada do Código Tributário à vista dos arts. 151 e 162 desse diploma.

À sua vez, o art. 38 da Lei das Execuções não resultou contrariado. “Só

o depósito integral do débito em dinheiro, impede a propositura da execução

fi scal; não a fi ança bancária” (RT 596/95; RJTJESP 93/326).

Ausente, pois, infração a dispositivo de lei federal e não caracterizado

dissenso jurisprudencial, não conheço do recurso.

Assinale-se, em arremate, que a ação anulatória foi julgada improcedente

por sentença de 18 de setembro de 1990 (fl . 105).

RECURSO ESPECIAL N. 30.610-SP (1992/0032836-9)

Relator: Ministro Milton Pereira

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Recorrida: Pirelli Cabos S/A

Advogados: Paulo Gonçalves da Costa Júnior e outros, e Silvana Bussab

Endress e outros

EMENTA

Tributário. Suspensão de exigibilidade de crédito. Fiança bancária

como garantia acolhida em liminar. Art. 151, CTN. Lei n. 6.830/1980

(arts. 9º e 38). Arts. 796, 798 e 804, CPC. Súmulas ns. 247-TFR e 1 e

2 do TRF/3ª Região.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 103-123, junho 2010 119

1. A provisoriedade, com específicos contornos, da cautelar

calcada em fi ança bancária (arts. 796, 798 e 804, CPC), não suspende

a exigibilidade do crédito fi scal (art. 151, CTN), monitorado por

especialíssima legislação de hierarquia superior, não submissa às

comuns disposições contidas na Lei n. 6.830/1980 (arts. 9º e 38).

2. Só o depósito judicial em dinheiro, autorizado nos próprios

autos da ação principal ou da cautelar, suspende a exigibilidade do

crédito tributário.

3. Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas,

decide a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar

provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes

dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram

do julgamento os Srs. Ministros Garcia Vieira, Demócrito Reinaldo e Gomes

de Barros. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Cesar Rocha. Presidiu o

julgamento o Sr. Ministro Garcia Vieira. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 10 de fevereiro de 1993 (data do julgamento).

Ministro Garcia Vieira, Presidente

Ministro Milton Pereira, Relator

DJ 15.03.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Milton Pereira: A Fazenda do Estado de São Paulo,

fundada no art. 105, inciso III, alínea a, da Constituição Federal, interpôs

recurso especial contra o v. acórdão do egrégio Tribunal de Justiça do Estado de

São Paulo que, em agravo de instrumento, admitiu a fi ança bancária e concedeu

liminar “para impedir a prática de qualquer ato tendente à cobrança da diferença

de ICMS, cuja legitimidade é objeto de ação declaratória”.

O egrégio Tribunal a quo assim decidiu:

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

120

As ações principal e cautelar terão julgamento conjunto, segundo disposição do Magistrado (fl. 40 v.); de outra feita, a pretensão consignada nos autos, pela agravada, envolve eventual contrariedade da Lei Estadual n. 6.374/1989 (art. 24, § 1º, n. 4) com o art. 155, § 2º, XI, da Constituição Federal, tocante a não integrar, o valor do tributo federal, a base de cálculo do ICMS, “no caso de operações realizadas entre contribuintes do ICMS, para fi ns de industrialização ou comercialização quando tais operações forem, ao mesmo tempo, fato gerador de ICMS e de IPI” (fl . 18).

É evidente que o poder cautelar do magistrado não pode ser medido, a priori, em função de especialidades decorrentes das normas legais que venham a ser aplicadas, isso do ponto de vista instrumental. A necessidade, data venia, de pedido cautelar tem de ser avaliada no momento que emerge.

O tema trazido com o recurso é relevante, não traz prejuízo algum à agravante, propicia noção inicial do fumus boni juris e do periculum in mora, não é satisfativo e comporta reexame, consoante alerta do magistrado, ao dispor sobre o julgamento conjunto.

A fi ança bancária não causa espécie (art. 827 do Código de Processo Civil, e art. 9º, II, da Lei n. 6.830, por exemplo), e gera, até para a afi ançada, ônus de protegê-la ou substituí-la, se necessário.

E avançar-se no exame proposto pela agravante, na longa petição de interposição, signifi caria esvaziar a limitação ordenada pelo Magistrado, para o julgamento conjunto da principal e da cautelar.

Do exposto, nega-se provimento ao agravo. (Fls. 71-72)

Dessa decisão a ora recorrente opôs embargos de declaração, por não haver

explicitação dos arts. 151, inciso II, 141 e 142 do Código Tributário Nacional

e também do art. 38 da Lei n. 6.830/1980. Os embargos foram recebidos pela

egrégia Décima Nona Câmara Civil do Tribunal de Justiça do Estado de São

Paulo (fl . 77).

Para a Fazenda o v. aresto ora impugnado violou o art. 151, inciso II, do

Código Tribunal Nacional, já que esse dispositivo não inclui a fi ança bancária

entre as hipóteses de suspensão da exigibilidade do crédito tributário (fl s. 80-

91).

Contra-razões foram apresentadas às fl s. 132-143, nas quais o recorrido

apresenta precedentes que refletem a “firme orientação dos Tribunais de

que sequer há determinação legal a exigir (grifo do autor) a contracautela

para garantia de medida liminar, fi cando a cargo do Magistrado requerer a

apresentação daquela que entender sufi ciente, o que prova estar o v. aresto na

mais perfeita harmonia com a legislação vigente”. (Fls. 132-143)

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 103-123, junho 2010 121

O Tribunal a quo admitiu o recurso porque sobre o tema ainda não há

manifestação predominante nesta Corte (fl s. 184-185).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Milton Pereira (Relator): Nos autos de medida cautelar,

promovida contra a Fazenda do Estado de São Paulo, requerida por pessoa

jurídica contribuinte, foi deferida liminar

para que a ré suste a prática de qualquer ato tendente à cobrança da diferença de ICMS objeto das operações noticiadas, bem como das que se verifi carem nos meses subseqüentes, enquanto subsistente a inconstitucionalidade apontada, até fi nal julgamento da ação principal, ou ulterior deliberação desse MM. Juízo.

A Fazenda agravou profl igando como

totalmente improcedente a tentativa da Agravada de lastrear seu pedido no inciso II do art. 9º da Lei n. 6.830/1980, eis que o caput do referido dispositivo delimita com absoluta clareza seu âmbito de aplicabilidade, circunscrito à ‘garantia de execução’ (coerentemente, aliás, com o assunto regulado no diploma em que se insere, a Lei das Execuções Fiscais), donde emerge fl agrante o despropósito de sua invocação no bojo de uma medida cautelar preparatória de uma ação ordinária declaratória.

Com efeito, o contribuinte olvida por completo e o magistrado a quo incorre em idêntico equívoco — a norma específi ca aplicável à suspensão da exigibilidade do crédito tributário, qual seja, o art. 151 e respectivos incisos do Código Tributário, nos quais não está contemplada a hipótese de fi ança bancária (grifos originais).

O venerando acórdão hostilizado, com acréscimos feitos nos embargos

declaratórios, negou provimento, em abreviado, aduzindo:

... É evidente que o poder cautelar do magistrado não pode ser medido, a priori em função de especialidades decorrentes das normas legais que venham a ser aplicadas, isso do ponto de vista instrumental

(...)

O tema trazido com o recurso é relevante, não traz prejuízo algum à agravante, propicia noção inicial do fumus boni juris e do periculum in mora, não é satisfativo e comporta reexame, consoante alerta do magistrado, ao dispor sobre o julgamento conjunto.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

122

(...)

Os presentes embargos declaratórios são opostos ao v. acórdão de fl s. 70-72, por não ter havido apreciação dos arts. 141, 142 e 151, II, do Código Tributário Nacional, e do art. 38 da Lei Federal n. 6.830/1980...

O v. acórdão levou em consideração as razões da agravada às fl s. 57-64, ainda que não explicitasse aqueles dispositivos sabidamente inviolados em face dos motivos consagrados no julgado em questão, e sem qualquer dano aos interesses fi scais (fl s. 70 a 72 e 77 e 78).

Esmiuçados os antecedentes do recurso, a bem ver, a questão reside

em averiguar, diante de tributação contestada, os efeitos da fi ança bancária

deferida liminarmente em medida cautelar inominada, para suspender ou não,

provisoriamente, a exigibilidade de obrigação fi scal.

Vejamos. O art. 151, CTN, suspende a exigibilidade de crédito tributário:

I - moratória;

II - o depósito do seu montante integral;

III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo;

IV - a concessão de medida liminar em mandado de segurança...

Registre-se, ainda, que a propositura de ação anulatória de débito fi scal

não inibe a Fazenda Pública de promover-lhe a cobrança (art. 585, § 1º, CPC),

enquanto que a Lei n. 6.830/1980, art. 38, excetuada a execução forçada, exige

o depósito em dinheiro, que pode ser efetivado na própria ação declaratória ou

na cautelar (EDcl n. 109.487-SP, Rel. Min. Pádua Ribeiro, in DJ 27.08.1987,

p. 17.443, Th eotonio Negrão). Se não efetivado, a falta não impede a propositura

da ação. Pois é cabível medida cautelar de depósito em dinheiro para suspender

a exigência fi scal, mas se a garantia for diversa, a Fazenda não fi ca inibida de

promover a cobrança (Súmula n. 247-TFR; Súmulas n. 1 e 2, TRF/3ª Região).

Desses apontamentos emerge solar conclusão: “só o depósito integral do

débito, em dinheiro impede a propositura da ação fi scal; não a fi ança bancária”

(Rev. Tribs. 596/95; RJTJESP 93/326; Ag n. 51.697, Rel. Min. Armando

Rollemberg, in DJ 27.08.1987, p. 17.443, in Th eotonio Negrão, 23ª ed., Malheiros

Editores, p. 802). Enfi m, como bem acudiu o eminente Ministro Garcia Vieira,

relatando o REsp n. 28.869-MG:

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 103-123, junho 2010 123

Nos termos do art. 151, II, do CTN, o depósito e não a fi ança bancária, suspende a exigibilidade do crédito tributário e é evidente que, sendo o Código Tributário Nacional uma lei complementar, não pode ser alterado por lei ordinária, não podendo prevalecer, no caso, o disposto no art. 9º, § 3º, da Lei n. 6.830/1980, que admite a fi ança bancária com efeitos da penhora (in DJ 14.12.1992).

Quanto ao tópico exclusivo do alcance cautelar (art. 804, CPC), converge

o entendimento de que a sua provisoriedade, com contornos específi cos, não

serve de instrumento hábil para se opor diante da presunção de certeza e

liquidez do crédito fi scal, cuja suspensão de exigibilidade está monitorada por

disposições especialíssimas e de hierarquia legal superior. Além disso, os efeitos

da temporaneidade dos provimentos nos processamentos administrativos fi scais

ou no processo judicial, têm a premissa de que nenhum fato novo, a fi nal,

afastará a defi nitividade da exigência tributária, enquanto que as providências

cautelares (art. 804, CPC), são órfãs de converterem-se, por si, em defi nitivas.

Por decorrência dessas razões, voto pelo provimento do recurso (art. 105,

III, a, CF), processado contra o v. acórdão recorrido e, via de conseqüência,

desconstituindo o liminar provimento cautelar.

É o meu voto.

Súmula n. 113

SÚMULA N. 113

O juros compensatórios, na desapropriação direta, incidem a partir

da imissão na posse, calculados sobre o valor da indenização, corrigido

monetariamente.

Referências:

CF/1988, arts. 5º, XXIV, e 182, § 3º.

Decreto-Lei n. 3.365/1941, art. 26, § 2º, com redação da Lei n. 4.686/1965.

Precedentes:

EREsp 36.130-SP (1ª S, 19.04.1994 — DJ 27.06.1994)

EREsp 40.042-SP (1ª S, 07.06.1994 — DJ 15.08.1994)

REsp 26.162-SP (2ª T, 03.08.1994 — DJ 22.08.1994)

REsp 36.877-SP (2ª T, 15.12.1993 — DJ 21.02.1994)

REsp 43.085-SP (2ª T, 04.04.1994 — DJ 09.05.1994)

REsp 44.134-SP (2ª T, 23.03.1994 — DJ 20.06.1994)

REsp 44.454-SP (1ª T, 08.06.1994 — DJ 27.06.1994)

Primeira Seção, em 25.10.1994

DJ 03.11.1994, p. 29.768

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 36.130-SP (1993/0035159-1)

Relator: Ministro Humberto Gomes de Barros

Embargantes: Fabio de Souza Almeida e cônjuge

Embargada: Companhia Energética de São Paulo — Cesp

Advogados: Argemiro de Castro Carvalho Júnior e José Eduardo Rangel de Alckmin e outros

Sustentação oral: José Eduardo Rangel de Alckim, pela Embargada

EMENTA

Desapropriação. Juros compensatórios. Cálculo. Correção monetária.

1. Em desapropriação, os juros compensatórios integram o quantum da indenização e têm por escopo ressarcir o proprietário pela perda antecipada do bem.

2. Em tempos de inflação crônica, o pagamento de juros compensatórios sobre a quantia histórica do ressarcimento não recompõe a diminuição patrimonial sofrida pelo expropriado, em face da imissão provisória na posse, deferida ao expropriante. Semelhante forma de calcular os juros, desviam-nos da função social para a qual foram concebidos.

3. Os juros serão contados à taxa de doze por cento ao ano, desde a data da imissão na posse, até o dia do efetivo pagamento e incidirão sobre o valor atualizado da indenização.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira

Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, preliminarmente, por maioria, conhecer dos embargos,

vencido o Ministro Garcia Vieira, que deles não conhecia. No mérito, por

unanimidade, os receber. Votaram com o Ministro-Relator os Ministros Milton

Luiz Pereira, Cesar Asfor Rocha, Américo Luz, Antônio de Pádua Ribeiro,

Garcia Vieira, Hélio Mosimann, Peçanha Martins e Demócrito Reinaldo.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

130

Brasília (DF), 19 de abril de 1994 (data do julgamento).

Ministro José de Jesus Filho, Presidente

Ministro Humberto Gomes de Barros, Relator

DJ 27.06.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros: Cuida-se de acórdão,

proveniente da Segunda Turma, resumido nestes termos:

Administrativo. Desapropriação. Juros compensatórios. Verba advocatícia.

I - É pacífi co o entendimento desta Corte no sentido de que, na desapropriação, contam-se os juros compensatórios a partir da imissão na posse e são calculados até a data do laudo sobre o valor simples da indenização e, após, sobre o valor corrigido monetariamente — Súmulas n. 74 do extinto TFR e 69-STJ.

II - “Nas ações de desapropriação, computam-se, no cálculo da verba advocatícia, as parcelas relativas aos juros compensatórios e moratórios, devidamente corrigidos” — Súmula n. 141-TFR. (fl . 430).

O Expropriado dirige embargos de divergência contra a primeira parte do

aresto.

Traz a confronto acórdão da Primeira Turma, que dispõe assim:

1. Em desapropriação, os juros compensatórios integram o quantum da indenização e têm por escopo ressarcir o proprietário pela perda antecipada do bem.

2. Em tempos de infl ação crônica, o pagamento de juros compensatórios sobre a quantia histórica do ressarcimento, não recompõe a diminuição patrimonial sofrida pelo expropriado, em face da imissão provisória na posse, deferida ao expropriante. Semelhante forma de calcular os juros, desviam-nos da função social para a qual foram concebidos.

3. Os juros serão contados à taxa de doze por cento ao ano, desde a data da imissão na posse, até o dia do efetivo pagamento e incidirão sobe o valor atualizado da indenização.

Este, o relatório.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 125-161, junho 2010 131

VOTO PRELIMINAR

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros (Relator): Sr. Presidente,

cuida-se de embargos de divergência em relação à matéria que transitou dentro

das duas Turmas do Superior Tribunal de Justiça. Por isso, deles conheço, apesar

da preliminar lançada, com muita propriedade, da tribuna, porque, na última

sessão, acompanhamos a orientação do eminente Ministro Antônio de Pádua

Ribeiro no sentido de que, no conhecimento de embargos de divergência, cujo

objetivo é unifi car a interpretação dentro da própria Seção, é razoável, e até

necessário, que haja uma certa elasticidade no conhecimento do recurso.

A matéria é exatamente esta. As duas ementas, postas em confronto, são

sufi cientemente eloqüentes para que se entenda a controvérsia e para que se

verifi que que há discrepância entre o acórdão embargado e aquele invocado

como padrão.

Por isso, preliminarmente, conheço dos embargos.

VOTO-MÉRITO

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros (Relator): Fui Relator do

acórdão invocado como paradigma.

Em meu voto, acatado pela Primeira Turma, disse:

Reporto-me ao voto-vista que emiti na discussão dos Projetos de Súmulas n. 156 e 157, nestes termos:

‘Pedi vista sobre os Projetos de Súmulas n. 156 e 157 porque as redações propostas reproduzem integralmente o texto da Súmula n. 74 do Tribunal Federal de Recursos.

Minha experiência — antiga na advocacia e recente na magistratura — me levou à constatação de que o enunciado da velha Súmula n. 74 presta-se a deformações.

Há pouco tempo — já como magistrado — examinei hipótese exemplar. Isto ocorreu no julgamento do REsp n. 27.204.

Tratava-se de acórdão proveniente do colendo Tribunal de Justiça de São Paulo que, ao tratar de juros em desapropriação, determinou que:

a) eles incidissem desde a imissão do expropriante na posse;

b) fossem calculados, desde então, sobre o valor estabelecido na avaliação.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

132

Este acórdão foi objeto de recurso, ao fundamento de que se chocava com o Verbete n. 74, a Súmula.

Emiti, na ocasião, voto-vista, nestes termos:

‘A controvérsia que anima este REsp origina-se em dispositivo do v. acórdão recorrido, in verbis:

‘A taxa de 12%, ao ano, incide desde a data da imissão provisória na posse e sobre o valor encontrado na avaliação pericial, que for acolhido pelo decisum e não como consta da então Súmula n. 74 do egrégio Tribunal Federal de Recursos; consoante tem decidido esta colenda Câmara, à unanimidade, por ser condizente com a justa indenização prevista na Carta Mãe.’ (Fl. 235)

A Súmula n. 74 do saudoso TFR, invocada como padrão de divergência exprimiu-se nestes termos:

‘Os juros compensatórios, na desapropriação, incidem a partir da imissão na posse e são calculados, até a data do laudo, sobre o valor simples da indenização e, desde então, sobre referido valor corrigido monetariamente.’

Peço vênia para desenvolver breve comparação analítica entre os dois textos.

O acórdão recorrido determina que os juros incidam ‘sobre o valor encontrado na avaliação pericial’.

De sua vez, a velha Súmula n. 74 preceitua a incidência dos juros ‘até a data do laudo, sobre o valor simples da indenização e, desde então, sobre o referido valor corrigido monetariamente’.

O debate gravita em torno da expressão ‘valor simples da indenização’, utilizada na Súmula n. 74. Para superá-lo, faz-se necessário relembrar o exato sentido do texto sumulado.

Tentemos, pois.

Indenizar é tornar indene. Em tema de responsabilidade civil, é reparar o patrimônio lesado, de tal modo que se apague qualquer vestígio do dano.

Indenização é, pois, uma prestação capaz de restaurar o patrimônio diminuído.

Na desapropriação, a indenização deve corresponder ao valor do bem expropriado, acrescido dos juros produzidos até a oportunidade do pagamento.

‘Valor simples da indenização’ é, pois, a quantia correspondente ao montante fi xado na avaliação (devidamente corrigido) com o acréscimo dos juros moratórios e compensatórios, devidos até o momento em que se consume o pagamento.

‘Valor simples de indenização’ é simplesmente (permita-se o trocadilho) o valor da indenização.

O adjetivo ‘simples’ funciona, na locução, como evidente redundância.

Deslindado o sentido correto da locução, se o tomarmos como ponto de vista, verifi caremos que o texto sumulado incide em tautologia.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 125-161, junho 2010 133

Com efeito, diz a Súmula n. 74:

‘a) Os juros compensatórios, na desapropriação, incidem a partir da imissão na posse e são calculados, até a data do laudo, sobre o valor simples da indenização;’

‘b) os juros compensatórios, na desapropriação, incidem a partir da imissão na posse e são calculados (a partir do laudo)... sobre o valor corrigido da indenização.’

Ora, os juros não podem ser calculados sobre o valor da indenização. Não o podem, por um motivo singelo: eles integram a indenização.

Assim, não há como falar em indenização, antes de se acrescentarem ao valor da avaliação, as quantias referentes aos juros e de se corrigir a expressão monetária da avaliação.

Tudo indica ter ocorrido um engano na elaboração da súmula: a expressão correta, ‘valor simples da avaliação’, foi trocada por ‘valor simples da indenização’.

Nesta circunstância, o texto sumulado deve ser lido, substituindo-se a palavra ‘indenização’, por avaliação.

Vale dizer, os juros compensatórios são calculados:

a) (até a data do laudo), sobre o valor simples da indenização;

b) (a partir do laudo), sobre o valor corrigido daquela avaliação.

Outra leitura colocaria o texto sumulado em evidente antinomia com o preceito constitucional da exata indenização.

Feita esta correção de leitura, verifi ca-se que o dispositivo do acórdão recorrido não diverge do preceito expresso à Súmula n. 74.

O dissídio é aparente.

Por isto, peço vênia ao eminente Relator, para negar provimento ao recurso.’

Para melhor ilustrar minha preocupação, valho-me de um caso concreto (REsp n. 29.412).

Em 22 de fevereiro de 1990, a Companhia Energética de São Paulo foi imitida na posse de imóvel, mediante o depósito de Cr$ 1.871,62.

Em 06 de abril de 1991, fi xou-se o valor da indenização em Cr$ 2.267.075,00.

A sentença determinou que os juros sejam computados sobre o valor atualizado da indenização, a partir da data em que a Cesp foi imitida na posse do imóvel.

Pois bem, a Expropriante, após ver a sentença confi rmada pelo Tribunal de Justiça, vem ao Superior Tribunal de Justiça, trazendo a pretensão de que os juros sejam calculados, desde a data do depósito, até abril de 1991, sobre o valor da indenização proposta pela expropriante: aqueles irrisórios Cr$ 1.871,62.

Parece-me que não é este o espírito que inspirou o saudoso TFR na edição da Súmula n. 74.’

Em verdade, o acórdão agora recorrido corresponde àquele espírito.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

134

Registro, por derradeiro, que a Segunda Turma já não prestigia a tese

proclamada na decisão embargada. Hoje, a jurisprudência daquele Colegiado

assentou-se no mesmo sentido do acórdão da Primeira Turma, trazido como

paradigma.

A título de exemplo, transcrevo parte da ementa relativa ao acórdão

unânime, no REsp n. 36.877-4-SP, de que foi Relator o eminente Ministro

Pádua Ribeiro:

A Súmula n. 74-TFR, no sentido de que os citados juros são devidos, até a data do laudo, sobre o valor simples da indenização, e, a partir de então, sobre o referido valor corrigido monetariamente, não pode prevalecer, porquanto implica congelar parte daqueles acréscimos, com ofensa à legislação de regência e ao princípio constitucional da justa indenização.

Como se percebe, a jurisprudência harmonizou-se em torno do acórdão

paradigma. A divergência não mais existe.

De qualquer sorte, é oportuno o pronunciamento da Seção, para que se

consolide, em súmula, o entendimento da Corte, sobre o tema.

Estas razões levam-me a receber os embargos, para reformar o acórdão

embargado, declarando que os juros compensatórios serão contados desde a data

da imissão na posse, até o dia do efetivo pagamento e incidirão sobre o valor

atualizado da avaliação.

É assim, o meu voto.

VOTO PRELIMINAR

O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira: Sr. Presidente, tenho superado essa

dificuldade, à vista da preponderância que dou à afirmação do Advogado,

porque, do contrário, seria supor — até com algum exagero — que ele próprio

teria elaborado uma ementa apócrifa.

Embora não indicado o repositório, mas transcrita a ementa, e que permita

o confronto analítico, também supero a difi culdade, até mesmo somando as

outras razões que o eminente Relator trouxe à consideração, e, nesse sentido,

conheço dos embargos.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 125-161, junho 2010 135

VOTO PRELIMINAR

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Sr. Presidente, em princípio, tenho difi culdade de conhecer da divergência, quando apenas ocorre a transcrição de ementas, porque, a par de ela não compor, a rigor, a estrutura do acórdão, pode não ser, algumas vezes, elucidativa para que se possa saber da matéria fática e da matéria jurídica tratadas no acórdão a que ela se reporta. Todavia, no caso, percebo que a matéria é muito conhecida de ambas as Turmas, porque se trata do que se convencionou chamar “questão envolvendo a Súmula n. 74”, do extinto Tribunal Federal de Recursos.

Pela leitura do que foi transcrito, percebo, com evidência, que há o dissídio pretoriano, bastantemente demonstrado, a ponto de que se possa perceber que questões idênticas tiveram trato diferente.

Acompanho o Sr. Ministro-Relator, conhecendo dos embargos.

VOTO PRELIMINAR

O Sr. Ministro Américo Luz: Sr. Presidente, conheço dos embargos com

base nos argumentos aduzidos pelos eminentes Ministros Milton Luiz Pereira e

Cesar Asfor Rocha, uma vez que as ementas estão transcritas e, por elas, pode-se

perceber a divergência.

VOTO PRELIMINAR

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Sr. Presidente, a minha

orientação coincide com a que vem sendo sustentada pelos eminentes colegas.

Quando não se trata de dissídio manifesto, a regra a ser observada é a da

necessidade de se demonstrá-lo com a observância das exigências dos §§ 1º e 2º

do art. 255 do Regimento Interno. Mas, quando se trata de dissídio manifesto

do conhecimento de todos os Ministros e também dos advogados que militam

perante este Tribunal, entendo que se devem abrandar as exigências para fi ns

de conhecimento dos embargos, a fi m de propriciar a esta Corte o exercício de

sua atividade fundamental, que é o de pacifi car a jurisprudência, a interpretação

da legislação federal. Por isso, com esse sentido maior que justifi ca a própria

existência do Tribunal, penso que, nesses casos excepcionais, devemos abrandar

as regras sobre o conhecimento dos embargos.

Por esses motivos, acompanho o Sr. Ministro-Relator.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

136

VOTO-VOGAL

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Sr. Presidente, também

acompanho o ilustre Relator, recebendo os embargos.

A título de fundamentação, farei anexar voto que proferi no Recurso

Especial n. 36.536-8-SP, atinente à inaplicação à espécie da Súmula n. 74 do

TFR.

ANEXO

RECURSO ESPECIAL N. 36.536-SP (1993/0018455-5)

Desapropriação. Juros Compensatórios. Correção Monetária.

Súmula n. 74 — TFR. Inaplicação

I - Na desapropriação, os juros compensatórios são contados

desde a imissão na posse do imóvel até a data do efetivo pagamento da

indenização, sobre o valor desta, corrigido monetariamente.

II - A Súmula n. 74 - TFR, no sentido de que os citados juros são

devidos, até a data do laudo, sobre o valor simples da indenização, e, a

partir de então, sobre o referido valor corrigido monetariamente, não

pode prevalecer, porquanto implica congelar parte daqueles acréscimos,

com ofensa à legislação de regência e ao princípio constitucional da

justa indenização.

III - Recurso especial conhecido, mas desprovido.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Nesta ação expropriatória, o

acórdão do egrégio Tribunal a quo assim fi xou o critério da contagem dos juros

compensatórios (fl s. 450-452):

No que respeita à forma de incidência dos mesmos juros compensatórios, anota o Relator deste que, alterando seu entendimento quanto ao ponto, concluiu que o critério preconizado pela Súmula n. 74 do antigo TFR redunda em injustifi cável prejuízo ao expropriado. Consoante se colhe de julgado deste Tribunal, relatado pelo Desembargador Érix Ferreira:

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 125-161, junho 2010 137

O critério preconizado pela Súmula n. 74, pertinente à forma de incidência dos juros compensatórios, em que pese a autoridade dos que o defendem, implica difi culdades práticas no cálculo do débito sem que, em contrapartida, resulte em alteração significativa no resulta do final da operação. Evidencia-se nos julgados que sustentam aquele critério a preocupação quanto a incidirem os juros, em período anterior à avaliação, sobre um valor (o da avaliação) apurado para uma época posterior.

Entretanto, é bem de ver que os juros compensatórios, mesmo calculados sobre um valor contemporâneo à data de sua incidência, não corrigido, portanto, terão eles mesmos de serem atualizados mediante correção monetária até a data da liquidação. Se tal correção não ocorrer, os juros passados perderão qualquer significado em face da acelerada depreciação monetária. É imperativo, pois, que, ou se corrijam os juros compensatórios mês a mês, ou se corrija apenas o capital sobre que incidem. Como os cálculos envolvem apenas operações de multiplicação por índices, sabendo-se que a medida de correção em um determinado período corresponde ao produto dos índices dos meses que integram esse período, a aplicação de um ou de outro critério redundará matematicamente num mesmo resultado. As pequenas diferenças que possam resultar na prática decorrem da eliminação de casas decimais e não são signifi cativas a ponto de determinar a escolha do critério adequado.

Em regra, os julgados neste Estado pela Justiça Comum têm preferido recomendar, simplesmente, que os juros compensatórios incidam sobre a diferença já corrigida entre a indenização e a oferta, sem receberem, contudo, qualquer outra correção. (Apelação Cível n. 193.362-2/3, 2ª Câmara de Férias, Segunda Seção Civil, julho de 1992).

Também fi ca, portanto, desacolhido o recurso quanto ao ponto.

No seu recurso especial, alega a expropriante que o acórdão recorrido

dissentiu, no tópico, de precedentes de outros Tribunais e, desta Corte sobre a

matéria, alguns dos quais fui Relator (AgRg no Ag Inst. n. 11.595-SP; REsp n.

11.675-SP).

O dissídio de julgados é manifesto: enquanto o acórdão recorrido afastou

expressamente a aplicação do critério estabelecido pela Súmula n. 74-TFR,

quanto à contagem, na desapropriação, dos juros compensatórios, os paradigmas

colacionados concluíram no sentido de que referidos juros devem ser

computados, desde a imissão na posse do imóvel, sobre o valor da indenização,

corrigido monetariamente.

Conheço, pois, do recurso.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

138

No mérito, porém, nego-lhe provimento.

Sempre, nos meus votos, vinha seguindo a jurisprudência desta Turma,

aplicando o questionado verbete do extinto e sempre lembrado Tribunal Federal

de Recursos. Aliás, no sentido da citada súmula sempre votei na qualidade

de integrante daquela Corte extinta, porquanto foi editada com apoio na sua

pacífi ca jurisprudência, em vigor quando nela ingressei, como um dos seus

componentes, nos idos de 1980 (ver Revista TFR n. 80/156).

Todavia, em razão dos julgados divergentes do egrégio Tribunal paulista,

alguns dos quais já encampados por precedentes da egrégia Primeira Turma,

passei a refletir sobre o tema e cheguei à conclusão de que a razão está

com aqueles que dissentem da aplicação do referido verbete, atentos à sua

interpretação literal.

Na verdade, segundo bem ressaltado no texto do voto do Desembargador

Aroldo Viotti, antes transcritos, o critério de contagem dos juros compensatórios,

adotado pela Súmula n. 74-TFR, implica congelar parte dos aludidos acréscimos,

com ofensa à legislação de regência e ao princípio constitucional de justa

indenização.

De ter-se em conta, outrossim, que referidos juros integram a indenização

e, por isso mesmo, devem ser atualizados na mesma proporção que a verba a ela

correspondente.

Isto posto, retifi co o meu anterior posicionamento para entender que, na

desapropriação, os juros compensatórios devem ser contados, desde a imissão

na posse do imóvel até o efetivo pagamento da indenização sobre o valor desta,

corrigido monetariamente (na desapropriação indireta: a partir da ocupação do

imóvel).

Em conclusão, pois, conheço do recurso, mas nego-lhe provimento,

acompanhando o voto do Ministro Peçanha Martins, data venia do ilustre

Relator e dos não menos ilustres Ministros Hélio Mosimann e Américo Luz.

VOTO PRELIMINAR VENCIDO

O Sr. Ministro Garcia Vieira: Sr. Presidente, com referência à caracterização

de divergência só pela publicação das ementas, estou inteiramente de acordo

com o Sr. Ministro-Relator e também com os demais Srs. Ministros que já

votaram. A minha dúvida é de outra espécie. Entendo que, no caso, não existe

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 125-161, junho 2010 139

a divergência caracterizada entre o que diz a Súmula n. 74 do TFR e o que

temos decidido na Primeira Turma e também na Segunda. A Súmula n. 74 diz

o seguinte:

Os juros compensatórios, na desapropriação, incidem a partir da imissão na posse e são calculados, até a data do laudo, sobre o valor simples da indenização e, desde então, sobre o referido valor corrigido monetariamente.

Ora, se a partir da data da imissão provisória ou da ocupação na

desapropriação indireta, fez-se a atualização do valor pelo laudo — porque,

quando este foi feito, o valor era contemporâneo ao da avaliação — então,

quando o perito fez a avaliação, a ela ele atribuiu o valor atualizado. Assim,

da data da imissão ou da data da ocupação até o laudo, já foi feita a correção

monetária. Agora, a partir da avaliação, não há dúvida entre as duas proposições,

entre os dois entendimentos.

Então, o que esta Seção e ambas as Turmas que a compõem têm entendido

é procurar dar um resultado mais prático, porque certos contadores calculam os

juros desde a data da imissão ou da ocupação até a avaliação e encontram um

valor determinado que fi ca separado, não se fazendo sua correção até a data do

pagamento. Tecnicamente, não há qualquer diferença entre o que diz a Súmula

n. 74 do Tribunal Federal de Recursos e o entendimento adotado por ambas as

Turmas e por esta egrégia Seção.

Não conheço dos embargos, por pensar que não existe a divergência.

VOTO PRELIMINAR

O Sr. Ministro Hélio Mosimann: Sr. Presidente, não sei se seria necessário

dizer mais alguma coisa, em relação à preliminar, para justifi car minha conclusão

pelo conhecimento dos embargos, porque caracterizada a divergência. É claro

que o princípio geral que decorre, inclusive, da norma regimental, é o de

que a simples ementa não é sufi ciente para demonstrar a divergência. Nesse

sentido, o eminente advogado trouxe da tribuna despacho meu, não admitindo

a simples transcrição das ementas. Não apenas eu, mas diversos colegas têm

despachos idênticos, mas quem se detiver na análise destes despachos, que

costumeiramente exaramos nos processos, encontrará outros tantos de minha

autoria e de V. Exa. no sentido de que, se a transcrição da ementa é sufi ciente à

demonstração ou à defi nição da divergência, não há por que ser excessivamente

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

140

rigoroso na interpretação da norma regimental. É assim que tenho procedido:

tenho despacho simplesmente não admitindo a transcrição da ementa, quando

se trata de uma tese nova e que ainda não está cristalizada no Tribunal, mas

tenho despacho em sentido contrário.

APARTE

O Sr. Ministro Garcia Vieira: Sr. Ministro Hélio Mosimann, estamos

inteiramente de acordo: apenas pela publicação das ementas pode se caracterizar

a divergência.

O Sr. Ministro Hélio Mosimann: Por isso que disse que não sei se seria

necessária a minha intervenção ainda para justifi car minha conclusão pelo

conhecimento dos embargos, porque caracterizada, no caso, a divergência.

Entretanto, como foi trazido à baila um despacho de que fui prolator, estou

fazendo esta justifi cativa.

Neste caso, acompanho o Sr. Ministro-Relator.

VOTO PRELIMINAR

O Sr. Ministro Peçanha Martins: Sr. Presidente, creio que a norma regimental, data venia deve se restringir à norma legal. O art. 26, parágrafo único, da Lei n. 8.038/1990 declara provada a divergência mediante a indicação do número da página do jornal ofi cial. Não é necessário que se faça a indicação do repositório. Quanto às ementas, há ementas e ementas; há algumas que esclarecem realmente ou que resumem muito bem o conteúdo do acórdão; outras há que não o fazem. No particular, acredito que a questão está bem posta, e acho, de certa forma, que o eminente Ministro Garcia Vieira tem razão quando diz que a súmula está sendo mal interpretada. Efetivamente, está, quando alguns contadores suprimem a correção daquela parte inicial dos juros compensatórios inicialmente calculados. Sendo esta uma prática usada por todas as empresas públicas que vêm efetivando desapropriações, se impõe fazer, no caso, a uniformização da jurisprudência, até para fi rmar uma interpretação mais condizente com a norma constitucional do justo preço.

Admito os embargos.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 125-161, junho 2010 141

VOTO PRELIMINAR

O Sr. Ministro Démocrito Reinaldo: Sr. Presidente, o meu voto é na mesma linha do proferido pelo eminente Ministro Hélio Mosimann. Em princípio, é inaceitável a divergência, mediante a comprovação, através de transcrição de simples ementas. Mas há ementas que inserem em seu contexto uma verdadeira lição jurídica, um verdadeiro escólio; traduzem um ponto de vista jurídico e são sufi cientes, em si, para a demonstração de que, ali, se decidiu sobre uma determinada tese de Direito. A essas ementas, quando transcritas no contexto da petição, não se pode negar a validade, para efeito de justifi car a divergência e, no caso, conhecer-se dos embargos.

Estou de acordo com o eminente Ministro-Relator, nesta hipótese, sem as aberturas que deram outros eminentes Ministros, em seus judiciosos votos.

É como voto.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 40.042-SP (1994/0009392-6)

Relator: Ministro Cesar Asfor Rocha

Embargante: Companhia Energética de São Paulo — Cesp

Embargado: Yoneichi Nakai

Advogados: José Eduardo Rangel de Alckmin e outro

EMENTA

Administrativo. Desapropriação. Juros compensatórios. Cálculo. Critério. Inaplicabilidade do Verbete n. 74 da Súmula do extinto TFR.

Os juros compensatórios, devidos em desapropriação, devem ser computados a partir da data da imissão na posse do bem expropriado até o dia do efetivo pagamento, incidindo sobre o valor do bem que restar judicialmente estabelecido, devidamente corrigido, até o dia da elaboração do cálculo.

Embargos de divergência rejeitados.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, rejeitar os embargos, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Américo Luz, Garcia Vieira, Hélio Mosimann, Peçanha Martins, Demócrito Reinaldo, Humberto Gomes de Barros e Milton Luiz Pereira. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro José de Jesus Filho.

Brasília (DF), 07 de junho de 1994 (data do julgamento).

Ministro José de Jesus Filho, Presidente

Ministro Cesar Asfor Rocha, Relator

DJ 15.08.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Companhia Energética de São Paulo — Cesp interpõe embargos de divergência ao v. acórdão da egrégia Segunda Turma da lavra do eminente Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, que, no julgamento do recurso especial, determinou que os juros compensatórios devidos em ação expropriatória fossem computados de uma só vez, desde a imissão na posse do imóvel até o efetivo pagamento da indenização, sobre o valor desta, corrigido monetariamente.

Afi rma a embargante que tal entendimento destoaria do que fora decidido pela egrégia Primeira Turma no REsp n. 36.858-8, relatado pelo eminente Ministro Demócrito Reinaldo, segundo o qual os juros compensatórios, de acordo com o V erbete n. 74 da Súmula do extinto Tribunal Federal de Recursos, deveriam ser calculados em duas fases distintas, vale dizer, até a data do laudo sobre o valor simples da indenização e, desde então, sobre o referido valor acrescido da atualização monetária.

Comprovada a divergência, admiti os embargos, abrindo vista aos embargados, que não se manifestaram oportunamente (certidão de fl . 374v.).

Os autos foram recebidos no meu gabinete em 9 de maio de 1994, tendo-os indicado para julgamento no mesmo dia.

É o relatório.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 125-161, junho 2010 143

VOTO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha (Relator): A matéria é por demais

conhecida de ambas as Turmas integrantes desta egrégia Primeira Seção.

Conquanto vacilante no início, está hoje absolutamente pacificado o

entendimento de que os juros compensatórios, em ação expropriatória, devem

ser computados de uma só vez, desde a imissão na posse do imóvel até o efetivo

pagamento da indenização, sobre o valor desta, corrigido monetariamente.

Assim, sem aplicação a literalidade da Súmula n. 74 do extinto TFR, que

diz serem devidos os mencionados juros “até a data do laudo, sobre o valor

simples da indenização, e, a partir de então, sobre o referido valor corrigido

monetariamente”.

Isto porque se os juros compensatórios — apurados desde a data da

imissão até o data do laudo — não fossem corrigidos, haveria fl agrante injustiça,

e o valor da indenização variaria para mais ou para menos de acordo com a

sorte que tivesse o desapropriado em ter por célere ou lento o curso do processo

desapropriatório.

Senão, vejamos.

Admitamos que dois imóveis, rigorosamente idênticos, com o mesmo

valor, tenham sido objetos de duas ações desapropriatórias propostas no mesmo

dia.

Admitamos que, na primeira ação, a imissão tenha se dado no dia 1º de

janeiro de 1980; admitamos, mais, que o laudo homologado judicialmente date

de 1º de junho de 1980 e tenha sido no valor de Cr$ 100.000,00; admitamos,

mais, que a conta tenha sido elaborada no dia 1º de dezembro de 1989.

Doutra sorte, admitamos que, na segunda ação de desapropriação, a

imissão ocorrera no mesmo dia 1º de janeiro de 1980. O laudo homologado

judicialmente date de 1º de outubro de 1985, tendo a conta sido elaborada no

mesmo dia 1º de dezembro de 1989.

Com efeito, com a restrição contida no Verbete n. 74 o valor encontrado na

primeira ação é em muito inferior ao valor encontrado na segunda.

Assim, entendo que os juros compensatórios devem ser computados, a

partir da data da imissão na posse até o dia do efetivo pagamento, incidindo

sobre o valor do bem que restar judicialmente estabelecido, devidamente

corrigido, até o dia da elaboração do cálculo.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

144

A propósito, confiram-se os seguintes recentes julgados, proferidos,

por unanimidade de votos, pelas egrégias Primeira e Segunda Turmas,

respectivamente, ambos publicados no DJ de 2 de maio do corrente ano:

Administrativo. Desapropriação. Juros compensatórios. Base de incidência. Súmula n. 74-TFR. Inaplicabilidade.

Em sede de desapropriação, os juros compensatórios são devidos desde a antecipada imissão da Administração na posse do imóvel, devendo incidir sobre o valor da indenização, corrigido monetariamente.

A literalidade da Súmula n. 74-TFR, determinando a incidência dos juros compensatórios, até a data do laudo, sobre o valor simples da indenização, e, desde então, sobre este montante corrigido monetariamente, não atende ao princípio da justa indenização e colide com a legislação que disciplina a espécie. Recurso provido, à unanimidade. (REsp n. 27.417-9-SP, Rel. eminente Min. Demócrito Reinaldo)

Desapropriação. Juros compensatórios. Correção monetária. Súmula n. 74-TFR. Inaplicação.

I - Na desapropriação, os juros compensatórios são contados, desde a imissão na posse do imóvel até a data do efetivo pagamento da indenização, sobre o valor desta, corrigido monetariamente.

II - A Súmula n. 74-TFR, no sentido de que os citados juros são devidos, até a data do laudo, sobre o valor simples da indenização, e, a partir de então, sobre o referido valor corrigido monetariamente, não pode prevalecer, porquanto implica congelar parte daqueles acréscimos, com ofensa à legislação de regência e ao princípio constitucional da justa indenização.

III - Recurso especial conhecido, mas desprovido. (REsp n. 38.468-0-SP, Rel. eminente Min. Antônio de Pádua Ribeiro).

Diante do exposto, rejeito os embargos.

RECURSO ESPECIAL N. 26.162-SP (1992/0020587-9)

Relator: Ministro Hélio Mosimann

Recorrente: Companhia Energética de São Paulo — Cesp

Advogados: Alfredo de Freitas Pimentel Neto e outros

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 125-161, junho 2010 145

Recorridos: Elioze Medeiros Pacheco e outros

Advogados: Luciano de Souza Godoy e outro

EMENTA

Ação desapropriatória. Juros compensatórios. Critério na

elaboração do cálculo. Princípio da justa indenização. Evolução da

jurisprudência.

Nas ações de desapropriação, os juros compensatórios integram a

indenização devida ao proprietário. Para evitar dúvidas na elaboração

do cálculo, devem incidir sempre sobre a quantia atualizada e desde a

ocupação do imóvel.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso, mas negar-lhe

provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do

julgamento os Srs. Ministros Peçanha Martins, Américo Luz e José de Jesus.

Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro.

Brasília (DF), 03 de agosto de 1994 (data do julgamento).

Ministro Hélio Mosimann, Presidente e Relator

DJ 22.08.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hélio Mosimann: Em ação desapropriatória julgada

procedente, recorre a Companhia Energética de São Paulo — Cesp —

restringindo-se a irresignação aos critérios de aplicação dos juros compensatórios.

Trazendo decisões de outros tribunais, como deste Tribunal, e baseando,

portanto, seu recurso na letra c do permissivo constitucional, assevera que,

segundo a Súmula n. 74 do extinto Tribunal Federal de Recursos, o cálculo dos

juros compensatórios se faz em duas etapas distintas; a primeira incide sobre

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

146

o valor da diferença simples entre a oferta e a indenização calculada desde a

imissão antecipada na posse do imóvel até a data do laudo adotado, enquanto a

segunda é contada a partir do referido laudo e incidirá sobre o valor da diferença

devidamente corrigida.

Contra-arrazoado e admitido o recurso, a douta Subprocuradoria Geral da

República opinou pelo provimento.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hélio Mosimann (Relator): No julgamento do Recurso

Especial n. 37.052, de São Paulo, proferi voto adotando a orientação mais

recente desta Corte sobre o tema. Ei-lo:

Vem este Tribunal, na verdade, adotando normalmente o critério da Súmula n. 74 do extinto Tribunal Federal de Recursos, com o seguinte enunciado:

Os juros compensatórios, na desapropriação, incidem a partir da imissão na posse e são calculados, até a data do laudo, sobre o valor simples da indenização e, desde então, sobre referido valor corrigido monetariamente.

O assunto tem merecido atenção por parte dos integrantes desta Corte e, em nome do princípio da justa indenização, evoluiu quanto à forma de cálculo desses juros.

Com efeito, chegou-se à conclusão de que não é desarrazoada, mas justa e legal, a posição adotada modernamente pelo Tribunal de São Paulo, como no caso vertente, ao afi rmar que não se justifi ca o cálculo do juros compensatórios em duas etapas. Isto porque, seja como for, o valor encontrado deve ser corrigido até a data da conta de liquidação...

Importa é que, consoante acórdão da Primeira Turma (REsp n. 23.498-SP, Min. Gomes de Barros), os juros compensatórios integram a indenização e objetivam ressarcir o proprietário pela perda antecipada do bem expropriado. Devem recompor a diminuição sofrida, em face da imissão provisória. Somente assim, a atualização será integral, de modo a abranger o principal e os acessórios. Daí porque devem incidir sempre sobre a quantia atualizada e desde a ocupação do imóvel.

Seguindo, pois, tal raciocínio, há necessidade de se emprestar novo enfoque para evitar dúvidas na elaboração do cálculo.

Assim sendo, ao reconhecer a existência de dissídio, conheço do recurso, mas lhe nego provimento.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 125-161, junho 2010 147

A posição se consolidou em ambas as Turmas de Direito Público, seguindo-

se diversas decisões, inclusive em nível de embargos de divergência (EREsp n.

35.593-SP, Min. Milton Luiz Pereira, DJ 06.06.1994; EREsp n. 41.869-SP,

Min. Pádua Ribeiro, DJ 30.05.1994, despacho inadmitindo; EREsp n. 37.605-

SP, Min. Milton Luiz Pereira, despacho inadmitindo).

Fiel, pois, ao entendimento, também aqui nego provimento ao recurso.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 36.877-SP (1993/0019673-1)

Relator: Ministro Antônio de Pádua Ribeiro

Recorrente: Companhia Energética de São Paulo — Cesp

Advogados: José Eduardo Rangel de Alckmin e outros

Recorridos: José Cantídio Junqueira de Almeida e outros

Advogados: Licínio dos Santos Silva Filho e outro

EMENTA

Desapropriação. Terrenos reservados. Juros compensatórios. Correção monetária. Súmula n. 74-TFR. Inaplicação.

I - Os terrenos reservados abrangem aqueles compreendidos na faixa de 15 metros, contados da margem histórica do rio.

II - Na desapropriação, os juros compensatórios são contados, desde a imissão na posse do imóvel até a data do efetivo pagamento da indenização, sobre o valor desta, corrigido monetariamente.

III - A Súmula n. 74-TFR, no sentido de que os citados juros são devidos, até a data do laudo, sobre o valor simples da indenização, e, a partir de então, sobre o referido valor corrigido monetariamente, não pode prevalecer, porquanto implica congelar parte daqueles acréscimos, com ofensa à legislação de regência e ao princípio constitucional da justa indenização.

IV - Recurso especial parcialmente conhecido e desprovido.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

148

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas anexas, por unanimidade, conhecer em parte do recurso, mas negar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros José de Jesus, Hélio Mosimann, Peçanha Martins e Américo Luz.

Brasília (DF), 15 de dezembro de 1993 (data do julgamento).

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente e Relator

DJ 21.02.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Trata-se de recurso especial interposto pela Companhia Energética de São Paulo — Cesp, nos autos da ação expropriatória que move a José Cantídio Junqueira de Almeida e outros, com fundamento no art. 105, III, letras a e c, da Constituição Federal, contra o v. acórdão da Décima Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo que, por votação unânime, negou provimento ao recurso da apelante, ora recorrente, determinando que os juros compensatórios sejam contados da imissão provisória na posse até o efetivo pagamento da indenização, como também a inclusão no total indenizatório dos terrenos reservados.

Alega a recorrente negativa de vigência ao art. 14 do Decreto n. 24.643/1934 (Código de Águas) e dissídio com Súmula n. 74 do extinto TFR e Súmula n. 479 do STF, fi nalizando suas razões recursais com o seguinte requerimento (fl . 510):

... seja excluído do total indenizatório os terrenos reservados, de acordo com o laudo elaborado pelo Sr. Perito Judicial, e que os juros compensatórios devam ser aplicados em duas fases distintas, ou seja, a partir da imissão na posse até a data do laudo sobre a indenização simples na primeira fase, e numa segunda fase, a partir do laudo sobre a indenização corrigida ...

Contra-arrazoado (fls. 530-533), o recurso, cujo processamento foi

admitido (fl s. 535-537), subiu a esta Corte, onde me veio distribuído.

É o relatório.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 125-161, junho 2010 149

VOTO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): Ao decidir as

questões suscitadas neste recurso, relativas aos terrenos reservados e aos juros

compensatórios, aduziu o acórdão recorrido (fl s. 490-492):

O douto magistrado decidiu a espécie com inteiro acerto ao fi xar a indenização total, englobando as terras e benfeitorias, em Cr$ 209.897.702,80 (duzentos e nove milhões, oitocentos e noventa e sete mil, setecentos e dois cruzeiros e oitenta centavos), para o mês de janeiro de 1991, com base no bem elaborado laudo do perito de sua confi ança, excluída a área de 13,0950 ha, correspondente aos terrenos reservados.

Com efeito, era de rigor a adoção integral da avaliação feita pelo nobre vistor judicial, com o reparo da área não indenizável, dada a sua natureza de terrenos reservados, tanto para as terras como para as benfeitorias. As terras foram corretamente classifi cadas, no tocante à qualidade do solo, e seu preço foi encontrado a partir do valor unitário resultante de pesquisa idônea de elementos comparativos de mercado, feita a necessária homogeneização. As terras situadas à margem do Ribeirão Lambari, numa extensão de quinze metros a partir do leito normal do rio, não pode ser ampliada tal como pretendido pela expropriante. Se prevalecesse a sua interpretação, como fi cariam os proprietários das terras situadas no Pantanal de Mato Grosso e das margens dos rios da Amazônia, onde “o ponto médio de enchentes ordinárias” se estende a quilômetros fora do leito natural, conforme pertinente observação feita pelo saudoso Professor Hely Lopes Meirelles (“Direito Administrativo Brasileiro”, Editora Revista dos Tribunais, 12ª ed., atualizada, 1986, p. 522). De outro lado, as construções e as culturas foram adequadamente avaliadas, não comportando qualquer reparo.

Portanto, fica mantida a indenização de Cr$ 209.897.702,80, para janeiro de 1991, com o que se estará recompondo de forma satisfatória o patrimônio desfalcado do expropriado.

Outrossim, conforme já havia assentado o colendo Supremo Tribunal Federal, e, agora, tem entendido o egrégio Superior Tribunal de Justiça, ‘enquanto os juros compensatórios de 12% ao ano são devidos pela utilização antecipada do imóvel e se contam da imissão provisória na posse até o efetivo pagamento da indenização, os juros de mora, à taxa de 6% ao ano, fl uem desde o trânsito em julgado da sentença fi nal, e são devidos pelo atraso no pagamento da indenização, nada havendo que impeça incidam cumulativamente (RT, 545/251 e Recurso Especial n. 2.897-SP, Primeira Turma, Relator Ministro Armando Rollemberg. Como afi rmou o eminente Ministro Vicente Cernicchiaro, “essa cumulação é admissível, visto que os juros têm causas diferentes e não signifi ca bis in idem (Recurso Especial n. 2.876-SP, Segunda Turma)”. A Súmula n. 12 do colendo Superior Tribunal de Justiça estabelece que “em desapropriação, são cumuláveis juros compensatórios e moratórios”.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

150

A respeitável sentença não determinou a inclusão dos juros compensatórios na base de incidência dos juros de mora e já atendeu à forma de cálculo retroativa dos juros compensatórios. Da mesma maneira, dispôs sobre a correção monetária do valor da oferta depositado, para todos os efeitos.

Com atinência aos terrenos reservados, o acórdão recorrido confi rmou a

sentença, que, no tópico, está assim fundamentada (fl s. 425-427):

Importa reconhecer o domínio público dos chamados “terrenos reservados” como previsto no Código de Águas (Decreto n. 24.643, de 1934) e consoante entendimento do colendo Supremo Tribunal Federal, assentado na Súmula n. 479, insuscetíveis de expropriação e excluídos de indenização.

Impende, no entanto, verifi car qual a área de domínio público. Aqui não vinga a tese da expropriante e nem do perito, para adoção do critério unilateral de fi xação da área, levando em conta o ponto médio das enchentes ordinárias, por ser adequada a fi xação em 15 metros junto à margem natural do rio.

A par da grande divergência que tem surgido sobre a matéria, em brilhante voto vencedor proferido na Apelação n. 22.941-2, j. de 1º.10.1981, o Desembargador Tomaz Rodrigues, com propriedade, após apontar que a legislação colonial e imperial não especifi cava com clareza as medidas dos terrenos reservados, esclareceu:

A distinção só fi cou razoavelmente feita com a Lei n. 1.507, de 1867, quando para os terrenos reservados se declarou que a contagem havia de ser feita a partir do “ponto médio das enchentes ordinárias” (art. 39), o que tem sido repetido (Decs. n. 4.105, de 1868, e 31.235, de 1932). E o Código de Águas (Dec. n. 24.634, de 1934) reitera que a distância a ser considerada é a de 15m ... Como legislador não define o que entende por “enchente ordinária” e por “ponto médio” delas, as determinações meramente administrativas se mostram inviáveis, justamente por ausentes de embasamento legal.

E concluiu, “A ser utilizado, então, o que normalmente acontece (quod plerunque accidit) como fórmula interpretativa. E o conhecimento popular, aquilo que é normalmente aceito por todos, aquilo que o homem campestre chama de ‘caixa do rio’, é o que M. I. Carvalho de Mendonça defi ne como ‘as duas elevações que contêm as águas, quer nas secas, quer nas cheias, ainda que com inundações’ (“Rios e Águas Correntes”, ed. 1909, p. 236). E só por exceção se encontrará rio navegável sem essa caixa, que surge com a razoável profundidade das águas, possibilitando a navegação do álveo. E surgindo a exceção a enchente não deverá ser considerada ordinária”. (RJTJESP, LEX, 80/60-61)

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 125-161, junho 2010 151

A ausência de definição legal do que seja enchente ordinária e ponto médio delas, como dito acima, e a insuficiência do critério pretendido pela expropriante, inteiramente unilateral e inaceitável, adotado pelo perito sem qualquer conferência técnica, importa que sejam adotadas as margens naturais, que formam o caixão do rio navegável, para a determinação da faixa de 15m, e, neste ponto, procede a divergência do assistente dos expropriados.

A área de domínio público por se tratar de terrenos reservados, nos autos, é de 13,0950 hectares, ou seja, 15 x 8.730 (extensão da margem do rio), e, nos termos da legislação já referida e da Súmula da Corte Suprema, não é indenizável, fi cando enquadrada no solo GPH, correspondente à classe VI da capacidade de uso do solo.

Sobre o tema, sempre votei, desde o extinto Tribunal Federal de Recurso,

a que tive a honra de integrar, no sentido preconizado pela decisão recorrida, ou

seja, de que os terrenos reservados abrangem aqueles compreendidos na faixa de

15 metros, contados da margem histórica do rio (Apelações Cíveis n. 51.300-

PR, 51.697-PR e 106.391-SP). Desacolho o recurso, no tópico.

Quanto aos juros compensatórios, alega a expropriante que o acórdão

recorrido dissentiu de precedentes de outros Tribunais e, desta Corte sobre a

matéria, alguns dos quais fui Relator (Ag. Reg. Ag. Inst. n. 11.595-SP; REsp n.

11.675-SP).

O dissídio de julgados é manifesto: enquanto o acórdão recorrido afastou

expressamente a aplicação do critério estabelecido pela Súmula n. 74-TFR,

quanto à contagem, na desapropriação, dos juros compensatórios, os paradigmas

colacionados concluíram no sentido de que referidos juros devem ser

computados, desde a imissão na posse do imóvel, sobre o valor da indenização,

corrigido monetariamente.

Conheço, pois, do recurso.

No mérito, porém, nego-lhe provimento.

Sempre, nos meus votos, vinha seguindo a jurisprudência desta Turma,

aplicando o questionado verbete do extinto e sempre lembrado Tribunal Federal

de Recursos. Aliás, no sentido da citada súmula sempre votei na qualidade

de integrante daquela Corte extinta, porquanto foi editada com apoio na sua

pacífica jurisprudência, em vigor quando nela ingressei, como um de seus

componentes, nos idos de 1980 (ver Revista TFR n. 80/156).

Todavia, em razão dos julgados divergentes do egrégio Tribunal paulista,

alguns dos quais já encampados por precedentes da egrégia Primeira Turma,

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

152

passei a refletir sobre o tema e cheguei à conclusão de que a razão está

com aqueles que dissentem da aplicação do referido verbete, atentos à sua

interpretação literal.

Na verdade, o critério de contagem dos juros compensatórios, adotado pela

Súmula n. 74-TFR, implica congelar parte dos aludidos acréscimos, com ofensa

à legislação de regência e ao princípio constitucional da justa indenização.

De ter-se em conta, outrossim, que referidos juros integram a indenização

e, por isso mesmo, devem ser atualizados na mesma proporção que a verba a ela

correspondente.

Isto posto, retifi co o meu anterior posicionamento para entender que, na

desapropriação, os juros compensatórios devem ser contados, desde a imissão

na posse do imóvel até o efetivo pagamento da indenização sobre o valor desta,

corrigido monetariamente (na desapropriação indireta: a partir da ocupação do

imóvel).

Em conclusão, conheço parcialmente do recurso (apenas quanto ao critério

de contagem dos juros compensatórios), mas nego-lhe provimento.

RECURSO ESPECIAL N. 43.085-SP (1994/0001928-9)

Relator: Ministro Américo Luz

Recorrente: Companhia Energética de São Paulo — Cesp

Recorridos: José Ferreira Maia e cônjuge

Advogados: Martim Outeiro Pinto e outros, e Cid José Pupo e outros

EMENTA

Desapropriação. Juros compensatórios. Correção monetária.

Critérios de cálculo. Súmula n. 74-TFR. Inaplicação. Juros moratórios.

Devidos a partir do trânsito em julgado da sentença e incidem sobre o

total da indenização, nesta abrangidos os compensatórios.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 125-161, junho 2010 153

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso, mas negar-lhe

provimento. Votaram com o Relator os Ministros Antônio de Pádua Ribeiro,

José de Jesus, Hélio Mosimann e Peçanha Martins.

Brasília (DF), 04 de abril de 1994 (data do julgamento).

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente

Ministro Américo Luz, Relator

09.05.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Américo Luz: Na expropriatória de que cuidam os autos,

irresignada com o v. acórdão de fl s., interpôs a expropriante o presente recurso

especial, letra c do permissivo constitucional, postulando a contagem dos juros

compensatórios na forma preconizada pela Súmula n. 74 do extinto Tribunal

Federal de Recursos, tendo em vista a determinação do julgado de que fossem

referidos juros contados sobre a indenização corrigida; fi nalmente, postula que

tais juros sejam excluídos da base de cálculo dos moratórios.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Américo Luz (Relator): Inúmeros recursos especiais foram

apreciados pela egrégia Turma no que concerne à matéria aqui agitada, qual seja

a concernente ao critério de cálculo dos juros compensatórios em desapropriação,

sempre objetivando o órgão expropriante a aplicação da forma preconizada

pelo enunciado da Súmula n. 74 do extinto Tribunal Federal de Recursos,

assim posto: “os juros compensatórios, na desapropriação, incidem a partir da

imissão de posse e são calculados, até a data do laudo, sobre o valor simples da

indenização e, desde então, sobre referido valor corrigido monetariamente”.

Tal critério, sem discrepância, foi aplicado em todos os casos aqui julgados,

não obstante entendimento contrário esposado pela egrégia Primeira Turma

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

154

no julgamento de hipóteses análogas, consoante demonstram, dentre outros, o

precedente seguinte, da lavra do eminente Ministro Gomes de Barros, relativo

ao REsp n. 23.498-SP, acórdão assim ementado, verbis:

Desapropriação. Juros compensatórios. Cálculo. Correção monetária. Súmula n. 74-TFR. Sua revisão face à realidade hodierna.

1. Em desapropriação, os juros compensatórios integram o quantum da indenização e têm por escopo ressarcir o proprietário pela perda antecipada do bem.

2. Em tempos de inflação crônica, o pagamento de juros compensatórios sobre a quantia histórica da indenização, até a data do laudo, não recompõe a diminuição patrimonial sofrida pelo expropriado, em face da imissão provisória na posse, deferida ao expropriante.

3. A atualização monetária da indenização deverá ser integral, de modo a abranger o principal e os acessórios, em observância ao impositivo constitucional da justa indenização.

4. A jurisprudência não é uma rocha cristalizada, imóvel e alheia aos acontecimentos. Ela é fi lha da vida. Sua função é manter o ordenamento jurídico, vivo e sintonizado com a realidade.

5. Revisão do dispositivo contido na Súmula n. 74 do TFR e sua adequação à realidade hodierna — Recurso improvido. (DJ 22.03.1993)

Entretanto, na assentada de 1º.12.1993, o eminente Ministro Pádua Ribeiro

proferindo voto-vista no REsp n. 36.536-8-SP, retifi cou seu posicionamento

sobre o tema, entendendo que tais juros devam ser contados desde a imissão

na posse do imóvel até o efetivo pagamento da indenização sobre o valor desta,

corrigido monetariamente.

No corpo do voto que proferiu, S. Exa. fez ver que “o critério de contagem

dos juros compensatórios, adotado pela Súmula n. 74-TFR, implica congelar

parte dos aludidos acréscimos, com ofensa à legislação de regência e ao princípio

constitucional da justa indenização.

De ter-se em conta, outrossim, que referidos juros integram a indenização

e, por isso mesmo, devem ser atualizados na mesma proporção que a verba a ela

correspondente “.

Naquela oportunidade, convencido de que tal forma de cálculo dos citados

juros é a que mais se ajusta ao princípio constitucional da justa indenização,

aderi à nova orientação jurisprudencial, agora uniformizada com a da egrégia

Primeira Turma.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 125-161, junho 2010 155

Os juros moratórios são devidos a partir do trânsito em julgado da

sentença e incidem sobre o total da indenização, nesta abrangidos os juros

compensatórios, conforme decidido pela egrégia Primeira Seção no julgamento

dos EREsp n. 28.259-1-SP, Ac. pub. no DJ 02.08.1993.

Do exposto, conheço do recurso, mas lhe nego provimento.

RECURSO ESPECIAL N. 44.134-SP (1994/0004439-9)

Relator: Ministro José de Jesus Filho

Recorrente: Companhia Energética de São Paulo — Cesp

Recorridos: Norio Madokoro e cônjuge

Advogados: Jurandir Piva e outros e Argemiro de Castro Carvalho Júnior

EMENTA

Desapropriação. Juros compensatórios. Critérios de cálculo.

Súmula n. 74-TFR. Inaplicação.

I - Os juros compensatórios, na desapropriação, são contados

desde a imissão na posse do imóvel até o efetivo pagamento da

indenização, sobre o valor desta corrigido monetariamente.

II - Recurso conhecido, mas desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a

Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do

recurso, mas negar-lhe provimento, na forma do relatório e notas taquigráfi cas

constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.

Participaram do julgamento os Srs. Ministros Peçanha Martins, Américo Luz

e Antônio de Pádua Ribeiro. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Hélio

Mosimann.

Brasília (DF), 23 de março de 1994 (data do julgamento).

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

156

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente

Ministro José de Jesus Filho, Relator

DJ 20.06.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José de Jesus Filho: Trata-se de recurso especial interposto

pela Companhia Energética de São Paulo — Cesp, com fundamento no art.

105, III, alínea c, do permissivo constitucional, contra o v. acórdão proferido

pela Décima Terceira Câmara Civil do Tribunal de Justiça do Estado de São

Paulo, que manteve a procedência da ação expropriatória, restringindo-se a

irresignação da expropriante quanto ao critério defi nido para o cálculo dos juros

compensatórios.

Sustenta a recorrente, em síntese, que os juros compensatórios devem

ser calculados na forma preconizada pela Súmula n. 74 do extinto TFR e

precedentes desta Corte.

Admitido o recurso, subiram os autos a esta egrégia Corte, onde dispensei

a manifestação da douta Subprocuradoria Geral da República.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro José de Jesus Filho (Relator): Sr. Presidente, até

recentemente vínhamos aplicando, em casos tais, a forma preconizada na

Súmula n. 74 do extinto Tribunal Federal de Recursos.

Ocorre que, a partir do julgamento do Recurso Especial n. 39.628-0-SP,

passei a aderir à nova orientação da Turma, acompanhando o ilustre Ministro

Pádua Ribeiro, qual seja, os juros compensatórios devem ser contados desde a

imissão na posse do imóvel até o efetivo pagamento da indenização, sobre o

valor desta, corrigido monetariamente.

Passei a acompanhar tal entendimento, por concordar com os argumentos

expendidos pelo eminente Ministro que, naquela assentada, ao proferir seu voto,

com muita propriedade destacou:

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 125-161, junho 2010 157

... o critério de contagem dos juros compensatórios, adotado pela Súmula n. 74-TFR, implica congelar parte dos aludidos acréscimos, com ofensa à legislação de regência e ao princípio constitucional da justa indenização.

De ter-se em conta, outrossim, que referidos juros integram a indenização e, por isso mesmo, devem ser atualizados na mesma proporção que a verba a ela correspondente.

No mesmo sentido confi ra-se, verbi gratia, o REsp n. 37.605-0-SP, Relator

Ministro Américo Luz, in DJ 21.02.1994.

Pelo exposto, conheço do recurso, mas nego-lhe provimento.

É o meu voto.

RECURSO ESPECIAL N. 44.454-SP (1994/0005261-8)

Relator: Ministro Demócrito Reinaldo

Recorrente: Companhia Energética de São Paulo — Cesp

Recorridos: José Ponce Vilela e cônjuge

Advogados: José Eduardo Rangel de Alckmin e outros e Argemiro de

Castro Carvalho Júnior e outros

EMENTA

Administrativo. Desapropriação. Juros compensatórios. Base de

incidência. Súmula n. 74-TFR. Inaplicabilidade.

Em sede de desapropriação, os juros compensatórios são

devidos desde a antecipada imissão da Administração na posse

do imóvel, devendo incidir sobre o valor da indenização, corrigido

monetariamente.

A literalidade da Súmula n. 74-TFR, determinando a incidência

dos juros compensatórios, até a data do laudo, sobre o valor simples

da indenização, e, desde então, sobre este montante corrigido

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

158

monetariamente, não atende ao princípio da justa indenização e colide

com a legislação que disciplina a espécie.

Recurso improvido, à unanimidade.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar

provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes

dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram

do julgamento os Srs. Ministros Humberto Gomes de Barros, Milton Luiz

Pereira, Cesar Asfor Rocha e Garcia Vieira.

Brasília (DF), 08 de junho de 1994 (data do julgamento).

Ministro Demócrito Reinaldo, Presidente e Relator

DJ 27.06.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo: Cuida-se de recurso especial

interposto pela Companhia Energética de São Paulo — Cesp, com arrimo na

letra c do admissivo constitucional, contra acórdão da Décima Segunda Câmara

Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, que manteve a procedência de ação

expropriatória, adstrita a irresignação da expropriante ao critério utilizado para

o cálculo dos juros compensatórios.

Além de julgados de outros tribunais, invoca a recorrente, como divergente

do v. aresto recorrido, o enunciado da Súmula n. 74 do extinto Tribunal Federal

de Recursos (fl s. 438-444).

Ofertadas contra-razões (fl s. 463-469), foi o recurso admitido na origem

(fl s. 475-477), subindo os autos a esta instância superior e vindo-me conclusos

para julgamento.

É o relatório.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 125-161, junho 2010 159

VOTO

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo (Relator): A quaestio juris versada nos

autos é por demais conhecida no âmbito desta Primeira Turma.

Com efeito, tem-se unissonamente decidido que, em sede de desapropriação,

os juros compensatórios devem incidir sobre o valor da indenização, após

empreendida a correção de sua expressão monetária.

Deste modo, procurou-se conferir nova interpretação aos termos da

vetusta Súmula n. 74 do saudoso Tribunal Federal de Recursos, em ingente

esforço exegético, visando adaptá-la à jurisprudência que aqui tem se fi rmado a

propósito da contagem dos juros compensatórios ou correspectivos.

Contudo, após alongada refl exão sobre o tema, concluí pela impossibilidade

de conciliar a literalidade da Súmula n. 74 com o entendimento perfi lhado por

ambas as Turmas de Direito Público desta egrégia Corte.

Com efeito, a norma sumular em questão determina que a contagem dos

juros compensatórios opere-se em dois instantes diversos, incidindo desde a

antecipada imissão na posse sobre o valor simples da indenização e, a partir

da confecção do laudo avaliatório, sobre o quantum nele obtido, corrigido

monetariamente.

Seu conteúdo é tese insofi smável, e tem por consectário a insustentabilidade

da tenaz tentativa de preservação hermenêutica do citado verbete.

A aplicação dos juros compensatórios em diferentes etapas, elegendo-se

como primeira base de cálculo o montante simples da verba indenizatória,

implica congelar fração daqueles adicionais, em flagrante agressão à sua

concepção teleológica e ao princípio da justa indenização.

Sobre o tema, relembro que os juros compensatórios destinam-se a

compensar o expropriado pelos frutos que do imóvel deixou de auferir face ao

antecipado desapossamento, e transcrevo as lúcidas ponderações do eminente e

sempre recordado Ministro Luiz Galloti, externadas nos distantes idos de 1969,

verbis:

Todas essas dificuldades se afastam e atende-se, a meu ver, ao princípio de justiça inscrito na Constituição, se pagos, com base no valor atual, tanto o imóvel como os frutos que dele poderia ter auferido o dono, e a partir da data da ocupação, porque foi a partir dela que o proprietário perdeu a posse e a possibilidade de tirar-lhe os frutos (RTJ 54/354).

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

160

Inquestionavelmente, apenas o cômputo com base no valor corrigido da

indenização coaduna-se com o princípio de justiça que veda o enriquecimento

de alguém à custa da jactura alheia, tal qual ocorre neste caso, em que a

Administração antecipadamente apossa-se do imóvel expropriado, colhendo-

lhe os frutos.

Desta conclusão não distoam recentes julgados da egrégia Segunda Turma,

dos quais trago à colação acórdão relatado pelo eminente Ministro Antônio de

Pádua Ribeiro, cuja ementa apresenta-se assim redigida:

Desapropriação. Terrenos reservados. Juros compensatórios. Correção monetária. Súmula n. 74-TFR. Inaplicação.

I - Os terrenos reservados abrangem aqueles compreendidos na faixa de 15 metros, contados da margem histórica do rio.

II - Na desapropriação, os juros compensatórios são contados, desde a imissão na posse do imóvel até a data do efetivo pagamento da indenização, sobre o valor desta, corrigido monetariamente.

III - A Súmula n. 74-TFR, no sentido de que os citados juros são devidos, até a data do laudo, sobre o valor simples da indenização, e, a partir de então, sobre o referido valor corrigido monetariamente, não pode prevalecer, porquanto implica congelar parte daqueles acréscimos, com ofensa à legislação de regência e ao princípio constitucional da justa indenização.

IV - Recurso especial parcialmente conhecido e desprovido (REsp n. 36.877-4-SP, DJ 21.02.1994).

Acresço, ademais, que tais juros integram o quantum indenizatório,

constituindo parte de seu todo, não se justifi cando, juridicamente, sua incidência

sobre valor diverso daquele a ser efetivamente pago ao particular.

Estas as conclusões a que fui conduzido, tendo por indutor o inarredável

dever de reapreciar a validade de determinadas teses jurídicas, de modo a

investigar a evolução dos contextos fáticos e jurídicos que as embasam e

alicerçam.

No caso concreto, inexistem razões relevantes a respaldar a manutenção

da Súmula n. 74, cujo teor colide frontalmente com o mandamento da justa

indenização, imerso no art. 182, § 3º, da Constituição Federal.

Por isso, a partir das considerações acima expendidas, retifico meu

entendimento anterior, julgando inaplicável a Súmula n. 74 do extinto TRF,

e para que os juros compensatórios incidam desde a antecipada imissão

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 125-161, junho 2010 161

da Administração na posse do imóvel, até a data do efetivo pagamento da

indenização, sobre o valor total desta verba, devidamente corrigida.

Pelo exposto, conheço do recurso e nego-lhe provimento.

É como voto.

Súmula n. 114

SÚMULA N. 114

Os juros compensatórios, na desapropriação indireta, incidem a partir da

ocupação, calculados sobre o valor da indenização, corrigido monetariamente.

Referências:

CF/1988, arts. 5º, XXIV e 182, § 3º.

Decreto-Lei n. 3.365/1941, art. 26, § 2º, com redação da Lei n. 4.686/1965.

Precedentes:

REsp 2.101-PR (2ª T, 17.03.1993 — DJ 05.04.1993)

REsp 25.201-PR (1ª T, 16.12.1992 — DJ 15.03.1993)

REsp 38.970-SP (2ª T, 20.06.1994 — DJ 15.08.1994)

REsp 43.796-SP (2ª T, 02.05.1994 — DJ 23.05.1994)

Primeira Seção, em 25.10.1994

DJ 03.11.1994, p. 29.768

RECURSO ESPECIAL N. 2.101-PR

Relator: Ministro Hélio Mosimann

Recorrente: Tsikanori Koyama e outros

Advogada: Luciani Regina Martins de Paula

Recorrido: Departamento de Estradas de Rodagem do Estado do Paraná

— DER-PR

Advogados: Antonio Carlos de Arruda Coelho e outros

EMENTA

Desapropriação indireta. Juros moratórios e compensatórios.

Termo inicial e forma de cálculo. Súmula n. 67 do STJ.

À falta de recurso, os juros moratórios fi xados na decisão de

conhecimento permanecem inalterados.

Os juros compensatórios, na desapropriação indireta, são devidos

a partir da efetiva ocupação do imóvel, calculando-se até a data do

laudo sobre o valor simples da indenização; desde então, sobre referido

valor corrigidos monetariamente.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso, nos termos

do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros

Américo Luz, Pádua Ribeiro e José de Jesus. Ausente, justifi cadamente, o Sr.

Ministro Peçanha Martins.

Brasília (DF), 17 de março de 1993 (data do julgamento).

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente

Ministro Hélio Mosimann, Relator

DJ 05.04.1993

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

168

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hélio Mosimann: Recurso especial interposto pelos

expropriados, em ação de desapropriação indireta, buscando supedâneo na letra

a do inciso III do art. 105 da Carta Federal.

A ação, julgada procedente, teve recurso do Departamento de Estradas

de Rodagem provido, para excluir da indenização as benfeitorias, excluir os

juros compensatórios em favor dos proprietários sucessores e reduzir a verba

honorária a oito por cento. No mais, foi mantida a sentença (fl . 376).

Na fase de liquidação, elaborada e homologada a conta, houve novo recurso

por parte do DER, igualmente provido (fl . 482).

Daí o presente recurso especial, este interposto pelos autores.

Alegam, basicamente, contrariedade aos arts. 467, 474 e 610 do Código

de Processo Civil, pois o acórdão alterou a sentença exeqüenda, modifi cando-a.

Com efeito, decidido no processo de conhecimento que sobre os valores

descritos serão acrescidos os juros compensatórios de 12% ao ano a contar das

ocupações, não poderia o acórdão, na liquidação, determinar o cálculo desses juros

a partir do valor encontrado na data do apossamento (fl s. 507 a 518).

Admitido o processamento do recurso (fl . 546), a douta Subprocuradoria

se manifestou pelo seu não-conhecimento, mas se conhecido, pelo provimento

(fl s. 611 a 615).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hélio Mosimann (Relator): Ao admitir os recursos

extraordinário e especial, expondo com clareza as questões ainda em debate,

disse o Presidente do Tribunal de origem:

1. Da parte do v. acórdão unânime de fls. 481-485 (declarado às fls. 498-502), que, em liquidação de ação desapropriatória indireta, ao dar provimento a recurso de apelação do DER-PR, determinou, em observância ao decidido pelo STF na Ação Cível Originária n. 297-4-MT, que “o cálculo relativo aos juros compensatórios e moratórios deve ser feito pelos percentuais concedidos, a partir do valor encontrado na data do apossamento administrativo para os primeiros e na data da citação para os moratórios, tomando-se como base o preço da avaliação admitida, e aplicando-se retroativamente os índices da

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 163-180, junho 2010 169

correção monetária” (fl . 485), interpõem Tsikanori Koyama, sua mulher e outros, tempestivos recursos especial (fl . 504-518) e extraordinário (fl s. 521-533).

2. Conquanto o aresto impugnado, ao estabelecer o critério do cálculo relativo aos juros moratórios e compensatórios, tenha seguido a mais recente orientação do Supremo Tribunal Federal, penso que o momento adequado para o estabelecimento de tal critério já havia sido ultrapassado, consoante argumentam os recorrentes.

A sentença do processo de conhecimento (fls. 332-335), nessa parte confi rmada pelo v. aresto de fl s. 376-379, estabeleceu de forma clara, à fl . 335, que sobre os valores que descrevera, e que se referiam à avaliação do perito ofi cial, incidiriam os juros compensatórios e moratórios, a partir das datas determinadas e nos percentuais fi xados.

Na apelação que interpôs dessa sentença às fls. 336-341, o DERPR não se insurgiu contra o critério de cálculo relativo aos juros, razão pela qual, obviamente, veio a ser confi rmado pelo v. acórdão de fl s. 376-379, que transitou em julgado (ver agravo de instrumento em apenso).

Sendo assim, acredito que as invocações de ofensa ao art. 5º (XXXVI), da Constituição Federal e de contrariedade ao art. 610 do Código de Processo Civil, credenciam-se, por serem razoáveis, pelo menos a ultrapassar este prévio juízo de admissibilidade, posto que devidamente prequestionados esses dispositivos à fl . 492. (Fls. 546 e 547)

Cinge-se, portanto, a controvérsia, a esta altura, à elaboração do cálculo dos

juros.

Inicialmente, em relação aos moratórios, a sentença fi xou-os em 6% ao

ano a contar da citação inicial (fl . 335), não sofrendo alteração por qualquer

dos julgamentos subseqüentes. É certo que, atualmente, consolidou-se a

jurisprudência no sentido de que os juros de mora contam-se desde o trânsito

em julgado da sentença, constituindo, inclusive, matéria recentemente sumulada

(Súmula n. 70). Contudo, à falta de recurso dessa parte, restou inalterável a

decisão.

O problema reside, então, como se pode ver na petição recursal, apenas nos

juros compensatórios.

A matéria, sem dúvida, foi prequestionada, inclusive através de embargos

de declaração, afastando o óbice ao não-conhecimento.

No mérito, em verdade, a decisão monocrática fez incidir juros

compensatórios de 12% ao ano a contar das ocupações, computando-se sobre o

valor principal corrigido monetariamente (fl . 335).

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

170

A questão não foi modifi cada ao ser apreciado o recurso da sentença de procedência do pedido inicial (processo de conhecimento — acórdão às fl s. 376 a 379).

Ao ser julgada, entretanto, a apelação da sentença homologatória do cálculo, a Câmara julgadora mandou observar o decidido na Apelação Cível Originária n. 297-4, do Mato Grosso (Rel. Min. Aldir Passarinho), calculando-se os juros sobre o valor à data do apossamento, tomando-se como base o preço da avaliação e aplicando-se retroativamente a correção.

Se assim ocorreu, houve, realmente, ofensa à coisa julgada, malferindo o art. 610 do Código de Processo — é defeso, na liquidação, discutir de novo a lide, ou modifi car a sentença que a julgou.

Além disso, tal princípio já não prevalece neste Tribunal, que aprovou, também recentemente, a Súmula n. 69: na desapropriação indireta (é o caso) os juros compensatórios são devidos a partir da efetiva ocupação. E assim determinou a decisão irrecorrida, devendo-se apenas tomar por base as datas encontradas pelo perito ofi cial, uma vez que diversas foram as áreas ocupadas e em datas diferentes.

Sobre a forma do cálculo, conforme vem decidindo este Tribunal, incidem até a data do laudo sobre o valor simples da indenização e, desde então, sobre referido valor corrigido monetariamente (Agr. Regimental no AI n. 11.595-SP; AI n. 11.591-SP, Min. Pádua Ribeiro; REsp n. 4.284-SP, Min. Américo Luz; REsp n. 28.318, de que fui Relator).

Nessas condições, conheço do recurso pela letra a e lhe dou provimento.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 25.201-PR

Relator: Ministro Humberto Gomes de Barros

Recorrentes: Eduardo Pozza e outros

Recorridos: Departamento de Estradas de Rodagem do Estado do Paraná

e outro

Advogados: Jacy Gabardo e outros e Francisco Carlos Duarte e outros

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 163-180, junho 2010 171

EMENTA

Desapropriação. Juros compensatórios. Cálculo. Correção monetária.

1. Em desapropriação, os juros compensatórios integram o quantum da indenização e têm por escopo ressarcir o proprietário pela perda antecipada do bem.

2. Em tempos de inflação crônica, o pagamento de juros compensatórios sobre a quantia histórica do ressarcimento, não recompõe a diminuição patrimonial sofrida pelo expropriado, em face da imissão provisória na posse, deferida ao expropriante. Semelhante forma de calcular os juros, desviam-nos da função social para a qual foram concebidos.

3. A atualização monetária da indenização deverá ser integral, de modo a abranger o principal e os acessórios, em observância ao impositivo constitucional da justa indenização.

4. Revisão da Súmula n. 74 do Tribunal Federal de Recursos.

5. Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao recurso. Votaram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros Milton Pereira, Cesar Rocha e Garcia Vieira. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Demócrito Reinaldo.

Brasília (DF), 16 de dezembro de 1992 (data do julgamento).

Ministro Garcia Vieira, Presidente

Ministro Humberto Gomes de Barros, Relator

DJ 15.03.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros: Cuida-se de recurso especial,

interposto por Eduardo Pozza e outros contra o Departamento de Estradas

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

172

de Rodagem do Estado do Paraná, com base nas alíneas a e c da permissão

constitucional.

O aresto recorrido, em ação de indenização por desapropriação indireta,

defi niu a forma de cálculo dos juros compensatórios, nestes termos:

Os juros compensatórios devem ter seu cômputo inicial na data da ocupação do imóvel, porém devidamente defl acionados a partir do valor encontrado no laudo pericial, pois não é possível que se transporte o valor atualizado apontado pela perícia e se recue no tempo para fazê-los incidir em quantia muito superior à realidade da época do indevido apossamento. (Fl. 174)

A essa decisão os expropriados ofereceram embargos de declaração, alegando que a sentença, para efeito de cálculo dos juros compensatórios, não determinou fosse deflacionado o valor da avaliação, nem tampouco houve impugnação da parte contrária quanto a esse ponto da decisão.

O acórdão de fl . 190 rejeitou os embargos ao fundamento de que:

Inexiste contradição a ser sanada pelo recurso de embargos declaratórios quando o acórdão mantém a decisão monocrática integralmente, apenas registrando a forma de cálculo a ser adotado na liquidação do julgado, para o efeito de se apurar o quantum correspondente aos juros compensatórios.

Inconformados, os recorrentes afi rmam que a decisão atacada contrariou

o disposto nos arts. 128, 512 e 515 do CPC, no art. 26 do Decreto-Lei n.

3.365/1941 e no art. 1º da Lei n. 6.899/1981. Apontam, também, divergência de

interpretação com julgados do STF.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros (Relator): Os recorrentes se insurgem com a exclusão da correção monetária, incidente sobre os juros compensatórios, no período compreendido entre a ocupação do imóvel e a data do laudo pericial. Sustentam, ainda, que o acórdão recorrido, no tocante ao cálculo dos juros compensatórios, reformou a sentença, sem que houvesse recurso.

Com efeito, ausente impugnação quanto a algum ponto da decisão ocorre a preclusão, pelo que é vedado ao Tribunal, de ofício, reexaminar a questão, em respeito ao princípio tantum devolutum quantum appelatum.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 163-180, junho 2010 173

Em relação à atualização monetária dos juros compensatórios, a

jurisprudência da Corte, na esteira da orientação sedimentada no extinto TFR,

assentou que:

Na chamada justa indenização, incluem-se os juros compensatórios que incidem a partir da imissão na posse e devem ser calculados, até a data do laudo, sobre o valor simples da indenização e, a partir de então, sobre referido valor corrigido monetariamente (REsp n. 14.783, Relator Ministro José de Jesus. No mesmo sentido: REsp n. 11.470, Relator Ministro Peçanha Martins; REsp n. 14.448, Relator Ministro José de Jesus, e REsp n. 17.224, Relator Ministro Garcia Vieira)

Não obstante o entendimento fi rmado, ouso dissentir.

A Súmula n. 74 do TFR foi editada em momento de infl ação tolerável.

Hoje, sua aplicação ofenderia à Constituição, à Justiça e à realidade econômica.

A jurisprudência não é uma rocha sedimentar, imóvel e indiferente aos acontecimentos. Ela é filha da vida. Sua função é manter o ordenamento jurídico, vivo e sintonizado com a realidade.

Na capacidade da Suprema Corte norte-americana, de adaptar-se à realidade emergente, está o segredo da eterna juventude que tem caracterizado a Constituição daquele país.

Todos sabemos que os juros compensatórios integram o quantum da indenização e têm por escopo ressarcir o expropriado pela perda antecipada do bem.

Em tempos de infl ação crônica, o pagamento de juros compensatórios sobre a quantia histórica da indenização, até a data do laudo, não pode recompor a diminuição patrimonial sofrida pelo expropriado. Semelhante forma de calcular os juros, desviam-nos da função social para a qual foram concebidos.

Desta forma, a atualização da indenização deverá ser integral, de modo a alcançar o principal e os acessórios. Somente assim, cumpre-se impositivo constitucional da justa indenização.

Com efeito, no regime infl acionário que assola o País, a correção monetária do valor da indenização expressa consectário inarredável do princípio da restitutio in integrum.

Ouso, assim, propor a revisão da jurisprudência para sua adequação à realidade hodierna.

Dou provimento ao recurso.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

174

RECURSO ESPECIAL N. 38.970-SP (1993/0026228-9)

Relator: Ministro Peçanha Martins

Recorrente: Cia. Energética de São Paulo — Cesp

Recorridos: Pecuária Damha Ltda e outros

Advogados: José Eduardo Rangel de Alckmin e outros e Celso Laet de Toledo César Filho e outro

EMENTA

Administrativo. Desapropriação indireta. Juros compensatórios. Incidência. Termo inicial. Súmulas ns. 69-STJ e 74-TFR.

Na desapropriação indireta, os juros compensatórios são calculados sobre o valor do imóvel e devidos a partir da efetiva ocupação, ressarcindo o expropriado pela perda da posse do bem.

Divergência jurisprudencial com a Súmula n. 74-TFR, comprovada.

Recurso conhecido, mas desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso, mas lhe negar provimento. Votaram com o Relator os Ministros Américo Luz, Antônio de Pádua Ribeiro, José de Jesus e Hélio Mosimann.

Brasília (DF), 20 de junho de 1994 (data do julgamento).

Ministro Hélio Mosimann, Presidente

Ministro Peçanha Martins, Relator

DJ 15.08.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Peçanha Martins: A Cia. Energética de São Paulo — Cesp,

manifestou recurso especial, fundamentado no art. 105, III, c, da Constituição

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 163-180, junho 2010 175

Federal, contra decisão do Tribunal de Justiça Estadual que determinou, em

grau de apelação, nos autos de ação ordinária de indenização por desapropriação

indireta, que os juros compensatórios incidam sobre a indenização corrigida

desde a data da imissão provisória na posse.

Sustentando a tese que tais juros sejam contados em duas etapas (antes

do laudo, sobre a indenização simples e, após, sobre a indenização corrigida),

alega a recorrente divergência jurisprudencial com a Súmula n. 74-TFR e com

julgados do STF.

Contra-razões oferecidas às fl s. 336-339.

O recurso foi admitido no Tribunal de origem.

Dispensei a manifestação da Subprocuradoria Geral da República, nos

termos regimentais.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Peçanha Martins (Relator): A questão posta nos autos

cinge-se à incidência dos juros compensatórios na desapropriação indireta.

Determinou a v. decisão recorrida que os juros compensatórios, destinados

a compensar, como renda, a perda do uso e o gozo do bem imóvel, desde esse

momento são devidos.

Esse o entendimento desta Corte, consubstanciado na Súmula n. 69-STJ,

in verbis.

Na desapropriação direta, os juros compensatórios são devidos desde a antecipada imissão na posse e, na desapropriação indireta, a partir da efetiva ocupação do imóvel.

Pugna a recorrente pela aplicação da Súmula n. 74, TFR, que diz:

os juros compensatórios, na desapropriação, incidem a partir da imissão na posse e são calculados, até a data do laudo, sobre o valor simples da indenização e, desde então, sobre referido valor corrigido monetariamente.

Quando do julgamento do REsp n. 28.275-9-SP proferi voto sobre a

matéria, do qual vale transcrever:

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

176

A interpretação literal do texto pode conduzir à diminuição do valor indenizatório. É que a parcela dos juros compensatórios calculada sobre o valor simples da indenização até a data do laudo, exprimirá uma expressão monetária até a data do evento, que, é de se supor, indica, sugere, o valor atual, no tempo, da indenização. Pergunta-se: E de então para a data do cálculo da indenização, permanecerá tal parcela fixa no tempo, mantida imutável a sua expressão monetária, como induz a literalidade do texto? Tenho afi rmado que não, e por isso mesmo sugerido que se altere o contexto da antiga súmula, que vem sendo erradamente aplicada a partir da sua edição por inúmeros contadores. Para que se mantenha atualizado o valor indenizatório arbitrado pela sentença, uma de três providências haverá de ser adotada: 1) a atualização monetária da parcela calculada sobre o ‘valor simples da indenização’, até a data do efetivo pagamento; 2) ou a incorporação dela à indenização simples, para atualização até o pagamento; 3) ou, a forma preconizada pelo acórdão recorrido, vale dizer, procedendo-se ao cálculo dos juros compensatórios relativos a todo o período em que são devidos, ou seja, desde a imissão de posse ao efetivo pagamento da indenização sobre a expressão monetária atualizada da indenização, que retrata o seu ‘valor integral’ ou real. As duas primeiras alternativas correspondem à interpretação possível da Súmula n. 74, nos aspectos jurídico, econômico-fi nanceiro e matemático. A terceira, sem dúvida a melhor, afastará de vez quaisquer dúvidas em torno da matéria. Inclino-me por ela, razão por que não conheço do recurso.

Conheço do recurso pela letra c, face à equivocada interpretação da Súmula n. 74 do TFR, mas lhe nego provimento.

RECURSO ESPECIAL N. 43.796-SP (1994/0003559-4)

Relator: Ministro Antônio de Pádua Ribeiro

Recorrente: Companhia Energética de São Paulo — Cesp

Advogados: José Eduardo Rangel de Alckmin e Martim Outeiro Pinto e outros

Recorridos: Valdo José Bellodi e outros

Advogados: Argemiro de Castro Carvalho Júnior e outros

EMENTA

Desapropriação. Juros compensatórios. Correção monetária.

Súmula n. 74-TFR. Inaplicação.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 163-180, junho 2010 177

I - Na desapropriação, os juros compensatórios são contados, desde a imissão na posse do imóvel até a data do efetivo pagamento da indenização, sobre o valor desta, corrigido monetariamente.

II - A Súmula n. 74-TFR, no sentido de que os citados juros são devidos, até a data do laudo, sobre o valor simples da indenização, e, a partir de então, sobre o referido valor corrigido monetariamente, não pode prevalecer, porquanto implica congelar parte daqueles acréscimos, com ofensa à legislação de regência e ao princípio constitucional da justa indenização.

III - A incidência dos juros moratórios sobre os compensatórios, nas ações de desapropriação, não constitui anatocismo vedado em lei.

IV - Recurso especial conhecido, mas desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas anexas, por unanimidade, conhecer do recurso, mas negar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros José de Jesus, Hélio Mosimann, Peçanha Martins e Américo Luz.

Brasília (DF), 02 de maio de 1994 (data do julgamento).

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente e Relator

DJ 23.05.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Trata-se de recurso especial

interposto pela Cesp — Companhia Energética de São Paulo, com fundamento

no art. 105, III, letra c, da Constituição Federal, contra v. acórdão da Décima

Câmara Civil do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, objetivando que

os juros compensatórios sejam computados nos moldes da Súmula n. 74 do

extinto TFR, sem que os juros moratórios incidam sobre os compensatórios.

Sustenta a recorrente que o aresto guerreado dissente de julgados do STF,

STJ e do próprio Tribunal a quo, colacionando vários arestos.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

178

Contra-arrazoado (fls. 772-778), o recurso, cujo processamento foi

admitido (fl s. 784-786), subiu a esta Corte onde me veio distribuído.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): No seu recurso

especial, alega a expropriante que o acórdão recorrido dissentiu, quanto ao

critério da contagem dos juros compensatórios, de precedentes de outros

Tribunais e desta Corte sobre a matéria.

O dissídio de julgados é manifesto: enquanto o acórdão recorrido afastou a

aplicação do critério estabelecido pela Súmula n. 74-TFR, quanto à contagem,

na desapropriação, dos juros compensatórios, os paradigmas colacionados

concluíram no sentido de que referidos juros devem ser computados,

desde a imissão na posse do imóvel, sobre o valor da indenização, corrigido

monetariamente.

Conheço, pois, do recurso.

No mérito, porém, nego-lhe provimento.

Sempre, nos meus votos, vinha seguindo a jurisprudência desta Turma,

aplicando o questionado verbete do extinto e sempre lembrado Tribunal Federal

de Recursos. Aliás, no sentido da citada súmula sempre votei na qualidade

de integrante daquela Corte extinta, porquanto foi editada com apoio na sua

pacífica jurisprudência, em vigor quando nela ingressei, como um de seus

componentes, nos idos de 1980 (ver Revista TFR n. 80/156).

Todavia, em razão dos julgados divergentes do egrégio Tribunal paulista,

alguns dos quais já encampados por precedentes da egrégia Primeira Turma,

passei a refletir sobre o tema e cheguei à conclusão de que a razão está

com aqueles que dissentem da aplicação do referido verbete, atentos à sua

interpretação literal.

Na verdade, o critério de contagem dos juros compensatórios, adotado pela

Súmula n. 74-TFR, implica congelar parte dos aludidos acréscimos, com ofensa

à legislação de regência e ao princípio constitucional da justa indenização.

De ter-se em conta, outrossim, que referidos juros integram a indenização

e, por isso mesmo, devem ser atualizados na mesma proporção que a verba a ela

correspondente.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 163-180, junho 2010 179

Por isso, ao proferir voto no REsp n. 37.977-6-SP, retifi quei o meu anterior

posicionamento para entender que, na desapropriação, os juros compensatórios

devem ser contados, desde a imissão na posse do imóvel até o efetivo pagamento

da indenização sobre o valor desta, corrigido monetariamente (na desapropriação

indireta: a partir da ocupação do imóvel).

Finalmente, cumpre assinalar que a incidência de juros moratórios sobre

os compensatórios não constitui anatocismo vedado em lei. Nesse sentido, os

seguintes precedentes:

Desapropriação. Incidência dos juros moratórios sobre os compensatórios. Cabimento.

I - Na desapropriação, os juros moratórios, à taxa de 6% ao ano, fluem, a partir do trânsito em julgado da sentença, sobre o total da indenização, nesta abrangidos os juros compensatórios.

II - Essa incidência de juros sobre juros não constitui, no caso, anatocismo, não se subsumindo a hipótese à Súmula n. 121 do STF, segundo precedente daquela colenda Corte.

III - Recurso especial conhecido e desprovido. (REsp n. 35.661-0-SP (93.0015643-8), julg. 22.09.1993, publ. DJ 11.10.1993).

Desapropriação. Incidência dos juros moratórios sobre os compensatórios. Cabimento.

I - Na desapropriação, os juros moratórios, à taxa de 6% ao ano, fluem, a partir do trânsito em julgado da sentença, sobre o total da indenização, nesta abrangidos os juros compensatórios.

II - Recurso especial conhecido e provido. (REsp n. 36.143-5-SP (93.0017159-6), julg. 20.09.1993, publ. DJ 04.10.1993).

Desapropriação. Incidência dos juros moratórios sobre os compensatórios. Cabimento. Cumulação dos compensatórios. Dissídio não confi gurado.

I - Na desapropriação, os juros moratórios, à taxa de 6% ao ano, fluem, a partir do trânsito em julgado da sentença, sobre o total da indenização, nesta abrangidos os juros compensatórios.

II - Essa incidência de juros sobre juros não constitui, no caso, anatocismo, não se subsumindo a hipótese à Súmula n. 121 do STF, segundo precedente daquela colenda Corte.

III - Quanto à cumulação dos juros compensatórios, improcede o alegado dissídio pretoriano.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

180

IV - Recurso especial parcialmente provido (REsp n. 19.008-SP (1992/0004071-3), julg. 14.04.1993, publ. DJ 03.05.1993).

Desapropriação. Incidência dos juros moratórios sobre os compensatórios. Cabimento.

I - Na desapropriação, os juros moratórios, à taxa de 6% ao ano, fluem, a partir do trânsito em julgado da sentença, sobre o total da indenização, nesta abrangidos os juros compensatórios.

II - Essa incidência de juros sobre juros não constitui, no caso, anatocismo, não se subsumindo a hipótese à Súmula n. 121 do STF, segundo precedente daquela colenda Corte.

III - Recurso especial desprovido. (REsp n. 20.652-SP (1992/0007298-4), julg. 24.06.1992, publ. DJ 03.08.1992).

Em conclusão, pois, conheço do recurso, mas nego-lhe provimento.

Súmula n. 115

SÚMULA N. 115

Na instância especial é inexistente recurso interposto por advogado sem

procuração nos autos.

Referência:

CPC, art. 37

Precedentes:

AgRg no Ag 29.236-SP (1ª T, 08.03.1993 — DJ 17.05.1993)

AgRg no Ag 30.567-SP (1ª T, 24.03.1993 — DJ 10.05.1993)

AgRg no Ag 37.804-RS (4ª T, 30.08.1993 — DJ 20.09.1993)

AgRg no Ag 39.290-SP (4ª T, 19.04.1994 — DJ 16.05.1994)

AgRg no Ag 45.488-MG (4ª T, 25.04.1994 — DJ 16.05.1994)

EREsp 35.778-SP (CE, 09.06.1993 — DJ 1º.08.1994)

REsp 7.240-RJ (3ª T, 22.03.1994 — DJ 11.04.1994)

REsp 11.146-PE (1ª S, 16.08.1993 — DJ 20.09.1993)

REsp 14.851-SP (2ª T, 02.12.1991 — DJ 23.03.1992)

REsp 34.327-SP (3ª T, 08.02.1994 — DJ 25.04.1994)

Corte Especial, em 27.10.1994

DJ 07.11.1994, p. 30.050

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 29.236-SP (1992/0028259-8)

Relator: Ministro Milton Pereira

Agravantes: Quimbrasil — Química Industrial Brasileira S/A e outros

Agravada: Fazenda Nacional

Advogados: Joarez de Freitas Heringer e outros

Procuradores: Luiz Alberto Americano e outros

EMENTA

Processual Civil. Agravo regimental. Procuração. Ausência.

Sem instrumento de mandato, o advogado não se encontra

habilitado para estar em juízo.

Precedentes desta Corte e do egrégio Supremo Tribunal Federal.

Agravo regimental não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a

Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer

do agravo regimental, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos

autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram

do julgamento os Srs. Ministros Cesar Rocha, Demócrito Reinaldo e Gomes

de Barros. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Garcia Vieira. Presidiu o

julgamento o Sr. Ministro Demócrito Reinaldo. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 08 de março de 1993 (data do julgamento).

Ministro Demócrito Reinaldo, Presidente

Ministro Milton Pereira, Relator

DJ 17.05.1993

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

186

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Milton Pereira: Neguei seguimento ao agravo regimental, à

fundamentação seguinte:

Trata-se de agravo regimental malferindo a decisão que negou provimento ao agravo de instrumento, em questão por demais conhecida nesta Corte — Taxa de Melhoramento dos Portos — TMP — e, não faz mal dizer, no sentido contrário à pretensão da Agravante.

Informa a Subsecretaria da Primeira Turma (fl . 127) que “as procurações de fl s. 37-41 tiveram o prazo de validade fi xado até 31 de dezembro de 1986”, bem como “os advogados signatários da petição de agravo regimental de fl s. 113-126 não representam qualquer uma das partes”.

Já se fi rmou a jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça no sentido de que, sem o instrumento de mandato, o advogado não se encontra habilitado para estar em juízo, sem vez, nesta instância, a aplicação do art. 13 do CPC (cf., entre outros, AGA 26.852-SP, in DJ 14.12.1992; AgRg no Ag n. 26.839-SP, in DJ 23.11.1993; AgReg no REsp n. 11.309, in DJ 16.11.1992).

Nesse mesmo sentido, o magistério da jurisprudência da Corte Maior:

Recurso extraordinário. Procuração. Recurso extraordinário interposto por advogado sem instrumento de mandato nos autos.

Inaplicabilidade do art. 13 do CPC. Precedentes: REs 82.288-AM, 84.832-AM.

Recurso extraordinário havido por inexistente, na forma do art. 27, parágrafo único, do CPC, e do art. 70, §§ 1º e 2º, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (Lei n. 4.215/1963). Precedentes: ERE 86.814-MG, Ag (AgRg n. 125.332-1-SP, REs n. 91.724-SP, 101.697 (EDcl) — DF, 110.761-8-RJ, 112.633-SP, 121.856-8-PR e 121.863-1-PR e 121.860-6-PR. Recurso não conhecido (RE n. 121.978-6-PR, Rel. Min. Paulo Brossard, in DJ 27.04.1990, p. 3.426).

Ante o manifesto equívoco na indicação da parte, reparo-o, de pronto, relativamente às Agravantes Quimbrasil — Química Industrial Brasileira S/A e outros, e não Lee Nordeste S/A, embora reconhecido ser nenhum o prejuízo, vez que os demais elementos são bastantes à real identifi cação da causa.

Destarte, ausente o instrumento de mandato, sem protesto para exibição posterior, no caso concreto, sem afastar a possibilidade de novamente enfrentar o tema processual examinado, tenho por inexistente o presente agravo regimental, razão pela qual lhe nego seguimento (art. 38 da Lei n. 8.038/1990, c.c. o art. 34, XVIII, do RI/STJ) (fl s. 125-126).

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 181-218, junho 2010 187

Inconformada, apresenta a Agravante novo agravo regimental, merecendo

destaque o trecho seguinte da petição recursal:

... tendo em vista o r. despacho de fls. que declarou por inexistente o agravo regimental interposto pelas Agravantes, por ausente o instrumento de mandato dos advogados signatários do referido recurso, sem, contudo, afastar a possibilidade de novamente enfrentar o tema processual examinado, para requerer se digne de autorizar a juntada do instrumento de mandato em anexo, que regulariza a representação em juízo das Agravantes no referido agravo regimental.

Nestes termos, e visando a sanar a irregularidade apontada, as Agravantes protestam pela juntada da referida documentação (doc. 1), ratifi cando as razões de mérito já expendidas no agravo regimental e incorporadas na presente.

As Agravantes esclarecem, ainda, que, em que pese ter a Subsecretaria de Primeira Turma (fl. 127), certificado que as procurações de fls. 37-41 tiveram o prazo de validade fixado em 31 de dezembro de 1986, em se tratando de instrumento de mandato, com cláusula ad judicia et extra, o prazo de validade quanto aos poderes ad judicia é indeterminado (fl s. 128-129 — grifos originais).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Milton Pereira (Relator): Inaugurando o exame, confesso que se revelam inteligentes as razões alinhadas pelo subscritor deste agravo, Dr. Joares de Freitas Heringer.

Entretanto, não é de ser atendido o reclamo, porquanto insuprível a ausência de instrumento de mandato, pelos fundamentos da jurisprudência embasadora da decisão malferida.

Outrossim, motivado pelas alegações da Agravante, imponho-me a obrigação de esclarecer que, ao reservar-me a possibilidade de novamente enfrentar

o tema processual examinado, não signifi ca, como crê a parte interessada, facultar exibição de procuração outorgada, posteriormente, aos advogados signatários do primitivo agravo regimental. Como ressaltei, naquela ocasião, nem sequer houve protesto para tanto.

Na verdade, a reserva que prenunciei se prende ao fascínio do tema processual, sob enfoque doutrinário, mas divorciado do caso concreto.

A propósito, espelhando a significação do problema processual, nos tribunais, mui recentemente, em 03.03.1993, o eminente Ministro Marco Aurélio, ao apreciar o Ag n. 131.430-SP, assim decidiu:

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

188

Omissis (...)

2. “Sem instrumento de mandato, o advogado não será admitido a procurar em juízo” (primeira parte do caput do art. 37 do Código de Processo Civil). A Agravante não se faz representada por causídico devidamente constituído. O subscritor do agravo, Dr. Geraldo Rezende, não possui, nos autos, os indispensáveis poderes, de vez que a procuração de fl s. 224 e 225 credencia causídico diverso.

Nem se diga pertinente o disposto na segunda parte do aludido preceito legal. Há de se ter em conta que a interposição do recurso não é passível de enquadramento entre os atos reputados urgentes. É que concorre, sempre, a possibilidade de o provimento judicial ser contrário aos interesses sustentados no processo, cabendo à parte precatar-se.

A irregularidade de representação processual resulta na inexistência do ato praticado, motivando, assim, o não-conhecimento do recurso. Declaro-o com base nos arts. 28, § 2º, e 38 da Lei n. 8.038/1990 e considerando ainda, o teor no art. 21, § 1º, do Regimento Interno desta Corte (in DJ 03.03.1993, p. 2.687).

De outra parte, a questão referente à extinção do mandato, pela terminação

do prazo, embora anotada pela Subsecretaria da Primeira Turma (fl . 127),

não foi examinada, por desnecessário, vez que a falta da procuração, por si só,

obstaculou o não-conhecimento do recurso.

Como aduzido, a argumentação precedentemente desenvolvida encontra

eloqüente adjutório na erudita decisão transcrita, por derradeiro.

Inequívoca a falta de representação judicial hábil, tendo-a por inexistente,

voto pelo não-conhecimento do agravo.

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 30.567-SP (1992/0031060-5)

Relator: Ministro Demócrito Reinaldo

Agravante: Manufatura de Artigos de Borracha Nogam S/A

Agravada: Fazenda Nacional

Advogados: Patrícia Guimarães Hernandez e outros, e Rubens Lazzarini

e outros

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 181-218, junho 2010 189

EMENTA

Processual Civil. Advogado. Ausência do instrumento de

mandato judicial nos autos.

Não se conhece de recurso interposto por advogado sem

instrumento de mandato nos autos.

Inteligência do art. 37 do CPC

Recurso não conhecido. Decisão unânime.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não

conhecer do agravo regimental, com ressalva do ponto de vista do Sr. Ministro

Milton Pereira, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos

autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do

julgamento os Srs. Ministros Gomes de Barros, Milton Pereira, Cesar Rocha e

Garcia Vieira. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 24 de março de 1993 (data do julgamento).

Ministro Garcia Vieira, Presidente

Ministro Demócrito Reinaldo, Relator

DJ 10.05.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo: Trata-se de agravo regimental que

ataca decisão denegatória de provimento a recurso de agravo, interposto contra

despacho indeferitório de processamento de recurso especial, fulcrado, este

último, nas letras a e c do permissivo constitucional.

Tempestivo o recurso, vieram-me conclusos os autos.

É o sucinto relatório.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

190

VOTO-PRELIMINAR

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo (Relator): O presente agravo,

interposto em sua forma regimental, não merece ser conhecido por este egrégio

Pretório.

É que não se constata, nestes autos, o necessário instrumento de mandato

outorgado à subscritora da petição recursal de fl s. 192 a 197.

Situação idêntica, nesta Corte, ocorreu no AgRg no Ag n. 25.382-4-RS,

Relator o eminente Ministro Sálvio de Figueiredo, assim ementado:

Processo Civil. Mandato judicial. Ausência do instrumento nos autos. Atos inexistentes. Art. 37, CPC. Precedentes. Agravo regimental não conhecido.

Sem a juntada do instrumento do mandato nos autos, em face da norma do art. 37, CPC, inexistente é o ato praticado pelo advogado que não atua em causa própria (DJ 23.11.1992).

Pelo exposto, não conheço do recurso interposto.

É como voto.

VOTO

O Sr. Ministro Milton Pereira: Sr. Presidente, acompanho o Sr. Ministro-

Relator, mas com as ressalvas que fiz em julgamentos anteriores de casos

semelhantes.

Entendo que está havendo uma distonia de interpretação referentemente

aos arts. 13 e 37. Parece-me que há uma confusão entre irregularidade suprível

e falta de representação. Continuo afi rmando que há de se reconhecer o

interesse ou o direito de ação, com possibilidade de suprimento. É drástico

dizer-se recurso inexistente. Eu mesmo, Presidente de Tribunal, decidi neste

sentido. Porém, estou fazendo novas refl exões para assentar entendimento

noutro sentido. Porém, como ainda não tenho os novos fundamentos

explicitados, com estas ressalvas, acompanho o Sr. Ministro-Relator nesta

assentada.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 181-218, junho 2010 191

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 37.804-RS (1993/0013530-9)

Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo

Agravante: Banco do Brasil S/A

Agravados: Adir Bonatto e R. Despacho de fl . 60

Advogados: Afonso de Araújo Campos e outros e Gidione Bombassaro

EMENTA

Processo Civil. Mandato judicial. Ausência do instrumento nos

autos. Atos inexistentes. Art. 37, CPC. Inaplicabilidade do art. 13,

CPC, na instância especial. Precedentes. Agravo desprovido.

I - Sem a juntada do instrumento do mandato aos autos, em face

da norma do art. 37, CPC, inexistente é o ato praticado pelo advogado

que não atua em causa própria.

II - Já é pacifi cado nesta Corte o entendimento de ser inaplicável

em instância especial o art. 13 da lei processual, descabendo a

determinação de diligência para suprir a falta da procuração nos autos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao agravo

regimental. Votaram com o Relator os Ministros Barros Monteiro, Dias

Trindade, convocado nos termos do art. 1º da Emenda Regimental n. 3/1993,

e Fontes de Alencar. Ausentes, justifi cadamente, os Ministros Torreão Braz e

Athos Carneiro.

Brasília (DF), 30 de agosto de 1993 (data do julgamento).

Ministro Fontes de Alencar, Presidente

Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Relator

DJ 20.09.1993

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

192

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo: Agrava-se de decisão que proferi, do

seguinte teor:

Ajuizada execução e opostos embargos pelo agravado, o juiz determinou o cancelamento da distribuição do feito, por falta de preparo, nos termos do art. 257, CPC.

A apelação do embargante foi provida em acórdão cujo voto condutor se arrimou em que “o dispositivo legal não esclarece sobre o marco inicial da contagem do prazo, motivo pelo qual se conclui que o prazo para o preparo prévio só terá início com a intimação da parte, por intermédio de seu procurador”

Interpôs o banco embargado recurso especial, argumentando com afronta ao art. 257 do Código de Processo Civil, bem como dissídio interpretativo.

O apelo não foi conhecido na origem, “tendo em vista a ausência de procuração do signatário da petição recursal”, o que motivou o agravo sob exame.

Não descortino no recurso razões que ensejem o seu provimento.

O argumento sustentado pelo recorrente de que “antes de apreciar a admissibilidade do recurso, deveria ter havido a necessária intimação da parte para suprimento do ato, conforme dispõe o art. 13 do Código de Processo Civil”, não encontra guarida neste Tribunal.

A propósito, ao julgar o REsp n. 6.853-RJ (DJ 1º.07.1991), relatado pelo Sr. Ministro Dias Trindade, ementou a Terceira Turma:

Civil/Processual. Advogado sem mandato.

É inexistente o recurso especial interposto através de advogado sem mandato.

No mesmo sentido, dentre outros, da minha relatoria, o REsp n. 15.000 (DJ 09.03.1992), assim ementado:

Processo Civil. Recurso especial. Procuração. Não-conhecimento. Precedentes.

Não constando dos autos mandato conferido às subscritoras do recurso especial, deste não se conhece.

Desprovejo o agravo.

Argumenta o agravante:

Assim decidindo cometeu, data venia, o v. decisum, uma ilegalidade, vulnerando não só o art. 13 do CPC, como também o art. 5º, XXXV, LIV e LV, da

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 181-218, junho 2010 193

Carta Política eis que, induvidosamente, conforme será demonstrado em seguida, negou jurisdição, cerceou a defesa do agravante e desobedeceu ao devido processo legal.

I - Da possibilidade de se juntar procuração na instância especial.

Como visto, o cerne da questão centra-se no fato de que a decisão recorrida entendeu defeso, nas instâncias especial e ordinária, a oferta do instrumento de procuração pelo patrono do recorrente.

Tal entendimento negou vigência ao art. 13 do CPC que dispõe, de forma cogente, que “verificando a incapacidade processual ou a irregularidade da representação das partes, o juiz, suspendendo o processo, marcará prazo razoável para ser sanado o defeito”.

Por outro lado, recusando a conceder a oportunidade para a correção do defeito, prevista na legislação adjetiva civil, na verdade negou, a v. decisão, a jurisdição devida, tendo cerceado a defesa do ora agravante e desobedecido ao devido processo legal.

Não bastassem as violações perpetradas, data venia, o v. decisum dissentiu do entendimento reiterado dessa egrégia Corte e do Supremo Tribunal Federal que entendem aplicável o art. 13 do CPC nas instâncias ordinárias e especial:

Ementa: Processual Civil. Mandato. Procuração. Firma reconhecida. CPC, art. 13.

I - Instrumento de mandato sem fi rma reconhecida. Aplicação da regra inscrita no art. 13, CPC, marcando-se prazo razoável para ser sanado o defeito.

II - No caso, o defeito foi sanado com a apresentação do agravo regimental.

III - Agravo regimental provido em parte. (Ag n. 139.913-9BA, Rel. Min. Marco Aurélio, Agte.: Caixa Econômica Federal, Agdos.: José Antonio de Oliveira Andrade e cônjuge. Decisão publicada no DJ 1º.07.1992, p. 10.559).

Oportuno se faz ressaltar, que constou da decisão acima referida o seguinte:

Decisão. Por maioria, contra o voto do Sr. Ministro-Relator, a Turma deu provimento, em parte, ao agravo regimental, a fi m de que o agravante regularize, em 10 dias, a sua representação nos autos. Lavrará o acórdão o Sr. Ministro Carlos Velloso ...

Processo Civil. Mandato. Suprimento. Oportunidade.

1. Em face da sistemática vigente (CPC, art. 13), o juiz não deve extinguir o processo por defeito de representação antes de ensejar à parte suprir a irregularidade.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

194

2. O atual Código de Processo Civil prestigia o sistema que se orienta no sentido de aproveitar ao máximo os atos processuais, regularizando sempre que possível as nulidades sanáveis (STJ, REsp n. 1.561, 4ª T, julgado em 11.12.1989, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo, pub. no DJ 05.02.1990, RT 659/183).

No local onde praticado o ato, não usando o advogado da faculdade prevista no art. 37 do CPC, caberá ao juiz marcar prazo para que a falta seja suprida, a teor do art. 13 (Superior Tribunal de Justiça, REsp n. 6.445-SP, Rel. Min. Nilson Naves, julgado em 05.03.1991, pub. no DJ 08.04.1991, p. 3.885).

Embargos à execução. Advogado. Mandato. Falta. Não apresentando procuração o subscritor dos embargos, e não usando da faculdade prevista no art. 37 do CPC, deverá o juiz marcar prazo razoável para que seja a falta suprida. Aplicação do disposto no art. 13 do CPC (Superior Tribunal de Justiça, REsp n. 5.392-SP, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, decisão publicada no DJ 17.12.1990).

Por outro lado, a comprovar que a questão da aplicação do art. 13 do CPC, em sede extraordinária, não é pacífi ca até hoje, oportuna se faz a transcrição de memorável despacho exarado pelo Ministro Flaquer Scartezzini, admitindo, em tal matéria, embargos de divergência:

Vistos etc.,

A ementa do acórdão embargado é a seguinte:

Processual Civil. Especial. Pressupostos. Ausência do instrumento procuratório. Efeito suspensivo do recurso. Liminar (cautelar). Revogação.

I - A jurisprudência do STJ cristalizou entendimento no sentido de que tem-se como inexistente o especial quando, na interposição deste, o exercício do jus postulandi se faz por advogado sem o instrumento procuratório outorgado pelo recorrente ou a juntada da prova de que constituído, anteriormente, para funcionamento da relação processual.

Com tal construção pretoriana também se reconhece ser direito da parte adversa à não-admissão do apelo por ausência dessa representação postulatória.

II - A revogação da liminar em cautelar para dar efeito suspensivo ao especial é medida que se impõe ante declaração de inexistência do recurso.

III - Recurso, por maioria, não conhecido.

Nos embargos afi rma-se a expectativa de tratamento diverso, posto haver a embargante protestado meses antes do julgamento pela juntada do instrumento, o qual, aliás, já se encontrava na medida cautelar deferida a favor do embargante

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 181-218, junho 2010 195

e acostada aos autos do recurso especial. Isto, alega-se por força do art. 13 do CPC, aplicável não só em 1º grau e no limiar do processo, “mas também em instância recursal e a qualquer tempo, consoante precedentes da Suprema Corte que cita”.

Como reforço do argumento, lembra acórdãos da mesma Turma julgadora postos em sentido diametralmente opostos.

REsp n. 1.537 — Relator Ministro Gueiros Leite — hipótese em que a Turma baixou o feito em diligência para regularização da representação do Advogado subscritor do recurso — independentemente de acórdão (doc. n. 1).

REsp n. 4.190, da mesma digna relatoria — também com diligência para suprimento de falha de representação (doc. n. 2).

REsp n. 2.809 — Relator Ministro Eduardo Ribeiro — a Turma, após placitar a determinação do Relator sobre a regularização da representação do subscritor do recurso, conheceu e deu provimento ao recurso (doc. n. 3).

De seguida assevera a embargante que o acórdão atacado fez distinção entre suprir-se a representação da parte e do patrono. Neste ponto, aponta-se como divergente o julgado no REsp n. 5.392, Relator Ministro Eduardo Ribeiro (doc. n. 6).

Ainda como força de argumento, lembra que o julgamento embargado tomou-se por estrita maioria, havendo resultado em 3 votos contra 2.

Agora, como divergentes, cita o REsp n. 1.561, Relator o eminente Ministro Sálvio de Figueiredo — RT 659/183/184 e o REsp n. 6.458, do mesmo nobre Relator (doc. n. 8).

Decido.

Os embargos são tempestivos. Isto porque os embargos declaratórios, realmente, apenas usaram 3 (três) dos 15 (quinze) de que dispõem para os de divergência (art. 266 do RISTJ).

Quanto à divergência, vejo-a demonstrada com clareza. É que, enquanto o acórdão embargado pôs-se pela inexistência do recurso especial quando faltar o instrumento procuratório ao seu subscritor, sem vez para aplicar-se o art. 13 do CPC, os acórdãos ditos divergentes põem-se em sentido oposto, denotando a real necessidade de criar-se entendimento uniforme sobre o tema.

Reforça tal posição o fato de que na mesma Turma julgadora existem entendimentos divergentes. Impõe-se, pois, uma uniformidade de entendimento, não só quanto ao tema em si, mas também, e principalmente, quanto ao aspecto formalístico da exigência, como se infere dos seguintes lanços lembrados nos embargos.

Estou de inteiro acordo, aliás, quando o eminente Ministro-Relator mencionava o tema alusivo à representação postulacional da parte, lembrei-me da advertência de Eduardo Couture, se não estou equivocado nos seus “Fundamentos de Direito Processual Civil”, profl igando aqueles

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

196

que são ortodoxos em matéria procedimental e advertindo, mais uma vez, que o processo não é uma ‘missa jurídica’, como se dizia que teria sido em épocas muito pretéritas. (Ministro Athos Carneiro, REsp n. 10.716 — doc. n. 9 — fl . 769).

Tais regras, que constituem ponto culminante da processualística brasileira, excluem a possibilidade de qualquer formalismo na interpretação das normas processuais. O processo destina-se a fazer incidir as regras de direito material, visando a compor os litígios. As formas que assumem os atos jurídicos, que o integram, destinam-se precipuamente a dar segurança às partes que dela participam. Por isso mesmo impugná-lo de formalismo, que é uma deturpação da forma, implica atingir a sua essência. (Ministro Pádua Ribeiro, REsp n. 15.180 — doc. n. 10, fl . 779)

Admito, pois, os embargos.

Prossiga-se, nos termos do art. 267 do RISTJ.

Publique-se.

Brasília, 09 de dezembro de 1992.

Ministro Flaquer Scartezzini

(Decisão proferida nos Embargos de Divergência em Recurso Especial n. 12.336-1-SP, publicado no DJ 16.12.1992, pp. 24.128-24.129). (Grifo nosso)

II - Inexiste disposição legal no sentido de que o art. 13 do CPC não seja aplicável em instância extraordinária.

Embora existam decisões nos dois sentidos, inadmitindo e também admitindo a regularização da capacidade postulatória em sede extraordinária, por aplicação do art. 13 do CPC, não se pode deixar deixar de levar em conta que a legislação adjetiva civil não restringiu, em nenhum momento, a aplicação deste dispositivo apenas às instâncias ordinárias.

Se não há disposição expressa proibindo a aplicação do art. 13 do CPC em sede de extraordinário, há que se entender que foi ela autorizada, admitindo-se a regularização da capacidade postulatória, isto para não impor obrigação não prevista em lei, o que macularia o art. 5º, II, da Lex Fundamentalis, como também por coerência ao princípio da economia processual.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo (Relator): O tema não é novo nesta

Corte. Invoco, dentre outros precedentes desta Turma, o AgRg/Ag n. 26.467-6

(DJ 23.11.1992), de minha relatoria, sumariado pela seguinte ementa:

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 181-218, junho 2010 197

Processo Civil. Mandato judicial. Ausência do instrumento nos autos. Atos inexistentes. Art. 37, CPC. Precedentes. Agravo regimental não conhecido.

O ato praticado por advogado sem a juntada do instrumento do mandato aos autos é inexistente, em face da norma do art. 37, CPC, que proclama a necessidade da procuração.

Do voto que então proferi, destaco:

Conforme entendimento assente neste Tribunal, o ato processual praticado em tais condições é de considerar-se inexistente, não produzindo qualquer efeito.

No ponto, ao julgar o AgRg no Ag n. 12.480-0 (DJ 08.06.1992), da relatoria do Sr. Ministro Waldemar Zveiter, a egrégia Terceira Turma ementou:

Processual Civil. Inexistência de instrumento de mandato de Advogado. Art. 37 do CPC.

I - Diz o art. 37 do CPC, que sem instrumento de mandato, o advogado não será admitido a postular em juízo e, conseqüentemente, serão tidos como inexistentes todos os atos praticados no processo.

II - Agravo regimental não conhecido.

No que tange à argumentação específi ca expendida neste recurso, aduzo

que o precedente do egrégio Supremo Tribunal Federal tratou de hipótese

distinta da vertente. Naquele julgado se cuidou de mera irregularidade

constatada no instrumento do mandato, pela ausência do reconhecimento de

fi rma. No precedente de que fui Relator, REsp n. 1.561 (DJ 05.02.1990), e nos

outros desta Corte, REsps ns. 6.445-SP e 5.392-SP, controverteu-se em torno

da aplicabilidade do preceito do art. 13, CPC, nas instâncias ordinárias, espécie

também diversa desta.

Quanto à admissão dos Embargos de Divergência no REsp n. 12.336-1-

SP, cuja decisão monocrática transcreveu o agravante (DJ 16.12.1992), a par de

não haver o Sr. Ministro-Relator abordado o mérito da questão, não vislumbro a

divergência alegada em relação ao presente.

A egrégia Terceira Turma, por unanimidade de votos, no acórdão do

AgRg/Ag n. 32.220-RS (DJ 17.05.1993), sob a relatoria do Sr. Ministro

Cláudio Santos, sufragou:

Recurso especial. Inexistência de procuração. Conseqüência. Inexiste cerceamento de defesa quando, na efetivação do juízo de admissibilidade, o presidente do tribunal de origem considera inexistente o recurso especial

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

198

interposto sem o instrumento de mandato outorgado ao advogado, independente de concessão de prazo para a regularização da representação processual do recorrente. Agravo regimental improvido.

Essa mesma Turma manteve posicionamento uniforme ao julgar, dentre outros, os REsps n. 3.190-RJ (DJ 1º.10.1990), relatado pelo Sr. Ministro Nilson Naves, e 31.552-SP (DJ 29.03.1993), de que foi Relator o Sr. Ministro Eduardo Ribeiro. Igual pronunciamento teve a Segunda Turma, na oportunidade do julgamento do AgRg/Ag n. 37.322-RS (DJ 02.08.1993), da relatoria do Sr. Ministro Pádua Ribeiro.

Adotando idêntica orientação desta Quarta Turma, destaco o AgRg/REsp n. 11.309-RJ (DJ 16.11.1992), relatado pelo Sr. Ministro Barros Monteiro e o AgRg/Ag n. 23.155-RS (DJ 15.03.1993), de que foi Relator o Sr. Ministro Fontes de Alencar.

Por estes fundamentos, desprovejo o agravo.

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 39.290-SP (1993/0016711-1)

Relator: Ministro Antônio Torreão Braz

Agravante: Nossa Caixa — Nosso Banco S/A

Agravado: R. Despacho de fl . 91

Advogados: Fernando Neves da Silva e outros

EMENTA

Agravo regimental. Advogado. Capacidade postulacional.

É tido por inexistente o recurso especial assinado por advogado cujo substabelecimento foi outorgado por causídico com instrumento de mandato vencido, pois o art. 13 do CPC, além de inaplicável à instância excepcional, diz respeito à capacidade de estar em juízo e à capacidade de ser parte, não à capacidade postulacional disciplinada pelo art. 37 do mesmo diploma legal.

Agravo improvido.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 181-218, junho 2010 199

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao agravo

regimental. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Fontes de Alencar, Sálvio

de Figueiredo e Barros Monteiro. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Dias

Trindade, convocado nos termos do art. 1º da Emenda Regimental n. 3/1993.

Brasília (DF), 19 de abril de 1994 (data do julgamento).

Ministro Fontes de Alencar, Presidente

Ministro Antônio Torreão Braz, Relator

DJ 16.05.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Antônio Torreão Braz: Nossa Caixa — Nosso Banco S/A

interpõe agravo regimental contra decisão que negou provimento a agravo

de instrumento, porquanto o recurso especial fora subscrito por advogada

cuja outorga de substabelecimento dera-se por causídico com instrumento de

mandato vencido.

Sustenta a agravante que o precedente citado no despacho agravado refere-

se à hipótese em que inexistente o instrumento de mandato nos autos. No

presente caso, continua, constava dos autos o mandato, só que já vencido. Assim,

deveria ser aplicada a regra do art. 13 do CPC.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Antônio Torreão Braz (Relator): Este egrégio Superior

Tribunal de Justiça tem decidido que é considerado inexistente o recurso

especial interposto por advogado sem o instrumento de mandato.

E assim se haverá de entender quando o recurso é subscrito por advogado

cujo substabelecimento foi outorgado por causídico com instrumento de

mandato vencido, eis que a providência do art. 13 do CPC, além de inaplicável à

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

200

instância excepcional, diz respeito à capacidade de estar em juízo e à capacidade

de ser parte, não à capacidade postulacional disciplinada pelo art. 37 do mesmo

diploma legal.

Nego provimento ao agravo.

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 45.488-MG (1993/0031624-9)

Relator: Ministro Fontes de Alencar

Recorrente: QGT Empreendimentos e Construções Ltda

Recorrido: Alvinio de Oliveira e Filhos Ltda

Agravante: QGT Empreendimentos e Construções Ltda

Agravada: Decisão de fl . 67

Advogados: Alexandre A. Nascentes Coelho e José Ângelo Perez

EMENTA

Agravo da Lei n. 8.038/1990.

A ausência de procuração ao signatário da petição do agravo

implica a inexistência do recurso.

Agravo não conhecido.

Unânime.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do agravo regimental.

Votaram com o Relator os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo, Barros

Monteiro e Antônio Torreão Braz. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 181-218, junho 2010 201

Dias Trindade, convocado nos termos do art. 1º da Emenda Regimental n.

3/1993.

Brasília (DF), 25 de abril de 1994 (data do julgamento).

Ministro Fontes de Alencar, Presidente e Relator

DJ 16.05.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Fontes de Alencar: Cuida-se de agravo à decisão por mim

exarada nos seguintes termos:

Trata-se de agravo de instrumento a despacho que indeferiu recurso especial contra decisão proferida pela egrégia Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais que confi rmou a sentença para manter a incidência da correção monetária na habilitação de crédito em concordata.

A alegada violação dos arts. 458 e 535 do Código de Processo Civil não no encontro na decisão recorrida, até porque não foram opostos embargos de declaração.

Desmerece prosperar a irresignação no tocante à vulneração ao art. 4º do Decreto n. 22.626, pois tal tema não foi prequestionado no aresto (Súmula n. 282 do Supremo Tribunal Federal).

Quanto ao dissídio jurisprudencial, invocando a impossibilidade da aplicação da TR como fator de correção, verifi co que os julgados trazidos à colação não atendem aos pressupostos formais inseridos no art. 255 do nosso Regimento.

Destarte, nego provimento ao presente agravo (art. 254, I, do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça). (Fl. 67)

Em sua irresignação, sustenta o agravante que o recurso também está

respaldado no dissídio jurisprudencial, pois de forma clara no ADIn n. 600 e em

outros julgados decidiu-se que a TR não é índice de correção monetária.

Diz, outrossim, que:

Em se fazendo demonstrado que o recurso intentado tem por fundamento violação de lei e interpretação divergente, imposto fi ca, seja pelo disposto no § 2º do art. 28 da Lei n. 8.038, de 28.05.1990, seja pelo disposto no inciso II do art. 535 do CPC, expressa decisão de S. Exa. sobre aqueles aspectos, desde já pedida e requerida, sob pena de violação do direito constitucional ao devido processo legal, autorizando, assim, mantida a omissão apontada, o recurso maior.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

202

A adoção da orientação decorrente da Súmula n. 8 desta Corte, no caso vertente, não tem a menor relevância, especialmente se se considera que sua incidência tem por pressuposto regime de economia indexada, inocorrente no momento presente, haja vista que, a contar de 1º.03.1991, a Lei n. 8.177 desindexou a economia com a extinção dos indexadores, em especial o indexador até então adotado pelo § 1º do art. 163 do Decreto-Lei n. 7.661/1945.

Extinto por disposição de lei o indexador até então adotado para correção monetária dos créditos quirografários, a incidência da orientação decorrente da Súmula n. 8 desta Corte, e, por essa, o disposto no art. 9º da Lei n. 8.177, revela-se incompatível para com o disposto no § 1º do art. 2º da Lei de Introdução ao Código Civil, sem embargo de que atenta, senão afronta ao disposto no § 3º do art. 192 da Constituição Federal, integrando objeto de recurso extraordinário intentado. Não obstante, S. Exa. haverá de convencer-se de que o Recurso intentado pugna pelo seu conhecimento em razão de divergências apontadas.

Ausente disposição específi ca de lei que determine correção monetária de créditos quirografários, sua incidência na forma como determinado pela decisão recorrida atenta contra o que se defi ne como princípio da legalidade, a que se refere o inciso II do art. 5º da Constituição Federal, ou, por outro lado, contra orientação repetitiva do Supremo Tribunal Federal, ... (Fl. 75)

VOTO

O Sr. Ministro Fontes de Alencar (Relator): Verifi co que não consta dos

presentes autos a procuração ao signatário da petição do agravo regimental.

Tal irregularidade implica a inexistência do recurso, descabendo, nesta

instância, determinação de diligência para suprir a referida falta.

Nesta diretriz, o acórdão do AgRg n. 37.804, relatado pelo Ministro Sálvio

de Figueiredo, que estampa a seguinte ementa:

Processo Civil. Mandato judicial. Ausência do instrumento nos autos. Atos inexistentes. Art. 37, CPC. Inaplicabilidade do art. 13, CPC na instância especial. Precedentes. Agravo desprovido.

I - Sem a juntada do instrumento do mandato aos autos, em face da norma do art. 37, CPC, inexistente é o ato praticado pelo advogado que não atua em causa própria.

II - Já é pacifi cado nesta Corte o entendimento de ser inaplicável em instância especial o art. 13 da lei processual, descabendo a determinação de diligência para suprir a falta da procuração nos autos.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 181-218, junho 2010 203

Em igual entendimento relatei o AgRg n. 40.777. Acrescento, ainda, o Ag

n. 47.162, relatado pelo Ministro Torreão Braz, e o AgRg n. 12.480, da lavra do

Ministro Waldemar Zveiter, perante a Terceira Turma.

Em face do exposto, não conheço do recurso.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 35.778-SP (1993/0030801-7)

Relator: Ministro Dias Trindade

Embargantes: Joseph Haikal El Alam e outros

Embargados: Nelson Eduardo Maluf e cônjuge

Advogados: Augusto Tavares Rosa Marcacini e outros e Raphael G. Ferraz

de Sampaio e outros

EMENTA

Processual Civil. Recurso inexistente. Falta de mandato ao

profi ssional que o subscreve.

É inexistente o recurso interposto por advogado sem mandato.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer dos embargos

de divergência, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Os Srs. Ministros

José de Jesus, Edson Vidigal, Garcia Vieira, Waldemar Zveiter, Fontes de

Alencar, Hélio Mosimann, Peçanha Martins, José Dantas, Antônio Torreão

Braz, Bueno de Souza, Pedro Acioli, Américo Luz, Jesus Costa Lima, Costa

Leite, Nilson Naves e Eduardo Ribeiro. Ausentes, justifi cadamente, os Srs.

Ministros Cid Flaquer Scartezzini e Assis Toledo. O Sr. Ministro Antônio de

Pádua Ribeiro não compareceu à sessão por motivo justifi cado.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

204

Brasília (DF), 09 de junho de 1993 (data do julgamento).

Ministro Willian Patterson, Presidente

Ministro Dias Trindade, Relator

DJ 1º.08.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Dias Trindade: Joseph Haikal El Alam e outros opõem

embargos de divergência a acórdão no recurso especial em referência, que

conhecendo, parcialmente do mesmo, lhe deu provimento, para definir

a atualização monetária de dívida decorrente de decisão judicial, em ação

indenizatória de perdas e danos, mediante a incidência de percentual

estabelecido na Lei n. 7.799 de 10 de julho de 1989, considerando que o IPC de

janeiro desse mesmo ano fora calculado em vista de período superior aos trinta

dias precedentes.

Põem como divergentes acórdãos das Primeira e Segunda Turmas deste

Tribunal, trazidos em reproduções autenticadas, os quais reconhecem como

aplicável o IPC integral de janeiro de 1989, de 70,28 (setenta vírgula vinte

e oito), revelador da infl ação que atingiu o débito, que é anterior ao período

considerado para a apuração do referido mês.

Admitido, para processar o recurso, houve impugnação.

É como relato.

VOTO

O Sr. Ministro Dias Trindade (Relator): Preliminarmente, não há como

conhecer dos embargos, por isso que opostos por advogado que não tem

mandato no processo, posto que advogados da parte-embargante são Nobil

Marcacini e Elpimar Ribeiro de Andrade, surgindo o nome do advogado que

assina a petição de embargos apenas nessa ocasião, sem exibir procuração ou

substabelecimento.

Isto posto, voto, preliminarmente, no sentido de não conhecer dos

embargos.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 181-218, junho 2010 205

VOTO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Sr. Presidente, inúmeras vezes votei no

sentido de que se deve ensejar o suprimento da falta, com aplicação analógica

do art. 12 do Código de Processo Civil, sempre fi cando vencido.Com estas

observações, curvo-me à jurisprudência e acompanho o Relator.

RECURSO ESPECIAL N. 7.240-RJ (1991/0000378-6)

Relator: Ministro Eduardo Ribeiro

Recorrente: R. Miranda Roupas S/A — em concordata preventiva

Recorridos: Parque Real Com/Ind/ Têxtil Ltda, Comissário da Concordata

Preventiva de R. Miranda Roupas S/A e Fernando Antônio

de Laet Rizzo

Advogados: Daltro de Campos Borges Filho e outros e Eusa Lopes da

Silva e outros

EMENTA

Recurso especial. Falta de procuração.

Jurisprudência da Segunda Seção no sentido de que a

determinação de que se supra a omissão, com base no art. 13 do CPC

só se aplica nas instâncias ordinárias.

Concordata. Restituição de mercadoria. Correção monetária.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos

e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso

especial. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Waldemar Zveiter,

Cláudio Santos, Costa Leite e Nilson Naves.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

206

Brasília (DF), 22 de março de 1994 (data do julgamento).

Ministro Eduardo Ribeiro, Presidente e Relator

DJ 11.04.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: A egrégia Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, julgando pedido de restituição formulado por Parque Real Comércio e Indústria Têxtil, na concordata preventiva de R. Miranda Roupas S/A, assim concluiu: “Se a prestação in natura não pode ser satisfeita, deve o dinheiro substituí-la no seu exato e atualizado valor. Débito, pois de valor”. (Fl. 97)

Rejeitado o pedido de declaração, a concordatária apresentou recurso extraordinário, convertido em especial. Sustentou que contrariado o art. 1º da Lei n. 5.670/1971, combinado com o art. 2º, § 2º, da LICC. Argumentou que inaplicável a correção monetária, pois inexiste previsão legal para sua incidência nos processos regulados pela Lei de Falências. Recurso não admitido.

Em agravo de instrumento, determinei subissem os autos para melhor exame.

Perante esta Corte, com base na Súmula n. 36, o Ministério Público opinou pelo não-conhecimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro (Relator): Suscita o Ministério Público preliminar fundada em que a petição de recurso foi entregue sem assinatura, não se podendo considerar suprida a falta por ter sido posteriormente fi rmada. Tenho que se possa superar o óbice. Não se colocando seriamente em dúvida que aquela peça foi elaborada por seu subscritor e havendo sido assinada por determinação judicial, contra a qual não se objetou, considero que seria homenagear-se excessivamente a forma não conhecer do recurso por tal motivo.

Outra questão é, entretanto, mais séria. Não se encontra nos autos procuração outorgada a quem se apresenta como advogado da recorrente. Nem se afi rmou estivesse acostada aos autos principais do processo de concordata, de

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 181-218, junho 2010 207

maneira a ensejar a incidência do disposto no art. 254, I, do Código de Processo Civil.

Pessoalmente entendo que se deva emprestar interpretação abrangente ao que se contém no art. 13 do CPC, de maneira a compreender também hipóteses como a em exame. Não é essa, entretanto, a jurisprudência do Tribunal. Em julgamento recente, a Segunda Seção reputou aplicável o dispositivo, de maneira a ensejar se supra a falta, mas apenas nas instâncias ordinárias.

De qualquer sorte, entretanto, o recurso não prosperaria. Determinei subisse o especial quando este Tribunal ainda não pacifi cara inteiramente seu entendimento a respeito da matéria. Hoje, entretanto, não se controverte quanto à aplicabilidade da correção monetária na concordata.

As normas invocadas no recurso dizem com os créditos sujeitos a seus efeitos, o que não ocorre com mercadorias que devam ser restituídas. Aliás, a propósito de contrato de adiantamento de câmbio, hipótese em que mais se discutiu sobre a incidência da correção, já se consubstanciou em súmula a jurisprudência no sentido de que integra o valor a ser restituído.

Não conheço do recurso.

RECURSO ESPECIAL N. 11.146-PE (1991/0009882-5)

Relator: Ministro Cesar Asfor Rocha

Recorrentes: Maria Antônia Amazonas Mac Dowel e outros

Recorrida: Universidade Federal de Pernambuco

Advogados: Rossini Lyra de Carvalho e outro e Marcílio Gonçalves Pereira e outros

EMENTA

Processual Civil. Ausência de procuração outorgada ao subscritor do recurso. Não-conhecimento. Precedentes.

Não comporta conhecimento recurso especial intentado por advogado que não possui nos autos procuração outorgando poderes de

representação judicial, conforme jurisprudência pacífi ca desta Corte.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

208

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Garcia Vieira, Demócrito Reinaldo, Gomes de Barros e Milton Pereira.

Brasília (DF), 16 de agosto de 1993 (data do julgamento).

Ministro Garcia Vieira, Presidente

Ministro Cesar Rocha, Relator

DJ 20.09.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cesar Rocha: Trata-se de recurso especial, fundado nas alíneas a e c do inciso III do art. 105 da Constituição Federal, contra aresto proferido pela egrégia Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, assim ementado:

Ementa: Administrativo. Opção do art. 3º do Dec.-Lei n. 1.971/1982. Concessão administrativa, com base em parecer da Consultoria Geral da República, após a propositura da ação. Correção monetária das diferenças. Autora não ocupante de DAS ou de DAI, e sim de função, não estruturada, de assessoramento, à qual fora negado o benefício. Extensão indevida. Apelo parcialmente provido. (Fl. 240)

Alegam os recorrentes que o v. aresto, assim decidindo, ofendeu o disposto

no art. 3º do Decreto-Lei n. 1.971/1982, que garantiu o pagamento da

remuneração nela prevista “a todo e qualquer ‘servidor ou empregado... nomeado

ou designado para cargo de direção na própria entidade’...”.

Aduz, ainda, que o aresto recorrido, ao determinar a correção monetária

apenas a partir do ajuizamento da ação, divergiu de arestos proferidos por

diversos tribunais federais, dado que as parcelas reclamadas devem ser

corrigidas desde a data de quando se tornaram devidas, por constituírem

dívida de valor.

A Universidade Federal de Pernambuco, nas suas contra-razões de fl s.

255-259, pugnou pela manutenção do decisum recorrido.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 181-218, junho 2010 209

O recurso foi admitido somente pela alínea c, ascendendo os autos a este

Tribunal.

A Subprocuradoria Geral da República, em parecer de fl s. 265-267, opinou pelo não-conhecimento do recurso especial, em razão da ausência de procuração do advogado que subscreveu o presente recurso especial.

É o relatório.

VOTO-PRELIMINAR

O Sr. Ministro Cesar Rocha (Relator): Apreciando os autos, verifi quei deles não constar mandato procuratório outorgado pelos recorrentes ao subscritor do presente recurso especial, fato esse certifi cado pela Divisão de Registros e Autuações deste Tribunal à fl . 263.

É firme a orientação desta Corte, no sentido de que não comporta conhecimento recurso especial intentado por advogado que não possui nos autos procuração outorgando poderes de representação judicial. Neste sentido, são expressivos exemplos os seguintes julgados:

Processual Civil. Inexistência de instrumento de mandato de advogado. Art. 37 do CPC.

I - Diz o art. 37 do CPC que, sem o instrumento de mandato, o advogado não será admitido a postular em juízo.

II - Defeso na instância especial e mesmo na instância ordinária a oferta do instrumento de procuração pelo patrono do recorrente, após a interposição do recurso, o que importa, conseqüentemente, no seu desconhecimento. (REsp n. 2.126-RJ, Relator o eminente Ministro Waldemar Zveiter, DJ 13.08.1990).

Recurso especial.

Não conhecido por não constar dos autos procuração outorgada ao subscritor do recurso. (REsp n. 3.205-RJ, Relator o eminente Ministro Eduardo Ribeiro, DJ 09.10.1990).

Processual Civil. Inexistência de instrumento de mandato de advogado. Art. 37 do CPC.

I - Diz o art. 37 do CPC que, sem o instrumento de mandato, o advogado não será admitido a postular em juízo.

II - A jurisprudência do STJ fi rmou entendimento no sentido de que sem a procuração com os poderes outorgados pelo recorrente, inviável se torna o conhecimento do especial.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

210

III - Recurso não conhecido. (REsp n. 5.063-MG, Relator eminente Ministro Waldemar Zveiter, DJ 26.11.1990).

Isto posto, não conheço do recurso.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 14.851-SP (1991/0019454-9)

Relator: Ministro Peçanha Martins

Recorrente: Odilon Onofre dos Santos

Recorrido: Instituto Nacional de Previdência Social — INPS

Advogados: Ivani Augusta Furlan e outros e Hilda Del Tedesco dos Reis

e outros

EMENTA

Processual Civil. Recurso especial. Ausência de procuração.

Omissão. Falta de prequestionamento. Inadmissibilidade.

1. Não se conhece de recurso subscrito por advogado sem

procuração nos autos.

2. Alegada negativa de vigência de lei federal, por omissão do

acórdão, incumbia ao recorrente prequestionar a matéria, mediante

embargos declaratórios, para viabilizar o recurso especial.

3. Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima

indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça,

por unanimidade, não conhecer do recurso, na forma do relatório e notas

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 181-218, junho 2010 211

taquigráfi cas anexas, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.

Custas, como de lei.

Brasília (DF), 02 de dezembro de 1991 (data do julgamento).

Ministro Américo Luz, Presidente

Ministro Peçanha Martins, Relator

DJ 23.03.1992

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Peçanha Martins: Tratam os autos de recurso extraordinário,

convertido em especial no que se refere à argüição de relevância, interposto por

Odilon Onofre dos Santos contra acórdão do 2º Tribunal de Alçada de São

Paulo, sendo recorrido o INPS, atual INSS.

Afi rma o recorrente que a decisão impugnada negou vigência, por omissão,

a dispositivo de lei federal e dissentiu da orientação jurisprudencial daquele

mesmo Pretório, transcrevendo trecho de acórdão proferido na Apelação n.

195.126-2 e juntando cópias de outros.

O recurso foi admitido no a quo, por entender o sr. prolator do despacho

que a argüida ofensa ao art. 5º, § 5º, da Lei n. 6.367/1979, concernente à

cumulabilidade do auxílio suplementar com a aposentadoria por tempo de

serviço, envolve interpretação de lei federal; alertando, porém, que a questão

da divergência pretoriana, além de esbarrar na Súmula n. 13-STJ, não foi

convenientemente tratada pelo recorrente (fl s. 265-266).

Não houve contra-razões da parte contrária. O Ministério Público

Estadual manifestou-se favorável ao provimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Peçanha Martins (Relator): O primeiro óbice ao

conhecimento do recurso de fl s. 205-213 é a falta da procuração de sua ilustre

subscritora. Com efeito, a inicial está acompanhada do mandato outorgado a

diversos integrantes do escritório de advocacia “Camargo Braga”, nos quais

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

212

se inclui o nome da Dra. Ivani Augusta Furlan. No curso do processo, houve

substabelecimentos dos poderes conferidos naquele instrumento, porém,

nenhum deles à referida profi ssional.

É assente o entendimento neste Tribunal de que não se conhece de recurso

especial fi rmado por advogado sem procuração nos autos, como se vê na seguinte

ementa:

I - Diz o art. 37 do CPC que, sem o instrumento de mandato, o advogado não será admitido a postular em juízo.

II - A jurisprudência do STJ fi rmou entendimento no sentido de que sem a procuração com os poderes outorgados pelo recorrente, inviável se torna o conhecimento do especial.

III - Recurso não conhecido. (REsp n. 5.063-MG, Rel. Min. Waldemar Zveiter, DJ 26.11.1990. Outros precedentes: REsps n. 2.126-RJ, 3.182-RJ, 4.593-RJ, 4.651-SP).

O segundo óbice ao conhecimento do apelo consiste em que a decisão do

egrégio STF de fl . 243, da lavra do eminente Ministro Sepúlveda Pertence, é

de clareza meridiana ao determinar “a devolução dos autos ao Tribunal de origem

para exame da admissibilidade do recurso como especial, nos limites das questões

deduzidas na argüição de relevância” (sic).

Pois bem, em sua argüição de relevância, o recorrente declara de modo

expresso que a decisão recorrida, por omissão, negou vigência a dispositivo de

lei federal. Ora, se o acórdão impugnado via REsp era omisso, ao recorrente

cumpria embargar de declaração para sanar a irregularidade e prequestionar a

matéria que seria objeto de recurso posterior, o que não fez.

Na verdade, na parte relativa à argüição de relevância, o recorrente não

especifi ca o dispositivo de lei cuja vigência foi negada. O acórdão de fl s. 198-200

não fez menção ao art. 5º, § 5º, da Lei n. 6.367/1976, como presumiu o despacho

de admissibilidade do a quo. Referiu-se ao art. 9º, parágrafo único, do mesmo

diploma, segundo o qual o auxílio suplementar cessa com a aposentadoria do

empregado.

Eis os motivos pelos quais não conheço do recurso que sequer deveria ter

sido processado.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 181-218, junho 2010 213

RECURSO ESPECIAL N. 34.327-SP (1993/0011056-0)

Relator: Ministro Waldemar Zveiter

Recorrente: Banco do Estado de Minas Gerais S/A — Bemge

Recorrida: Leite Barreiros S/A Comissária e Exportadora — massa falida

Advogados: Edson Cosac Bortolai, José de Magalhães Barroso, Romulo

Fedeli de Túlio e outros

EMENTA

Processual Civil. Inexistente o instrumento do mandato do

advogado.

I - Assentado na jurisprudência do STJ o entendimento no

sentido de que, a teor do disposto no art. 37 da lei adjetiva civil, sem

instrumento de mandato, o advogado da recorrente não poderia ser

admitido a postular em Juízo e, conseqüentemente, serão tidos como

inexistentes todos os atos praticados nos autos.

II - Recurso não conhecido, por inexistente.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

das notas taquigráfi cas a seguir, por maioria, vencidos os Srs. Ministros Cláudio

Santos e Eduardo Ribeiro, ter o recurso como inexistente. Participaram do

julgamento os Srs. Ministros Cláudio Santos, Costa Leite, Nilson Naves e

Eduardo Ribeiro. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 08 de fevereiro de 1994 (data do julgamento).

Ministro Eduardo Ribeiro, Presidente

Ministro Waldemar Zveiter, Relator

DJ 25.04.1994

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

214

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: Trata-se de agravo de instrumento

interposto pela Massa Falida de Leite Barreiros S/A — Comissária e Exportadora da

r. decisão homologatória da conta de liquidação de sentença, proferida nos autos

da ação revocatória, que promove contra o Banco do Estado de Minas Gerais S/A.

Julgando o feito, a Terceira Câmara Civil do colendo Tribunal de Justiça de São Paulo, à unanimidade, deu-lhe provimento (fl s. 85-86).

Opostos embargos declaratórios (fl s. 88-90), foram rejeitados (fl s. 103-104).

Inconformado, ainda, interpôs o Banco recurso extraordinário (art. 102, III, a, da CF) e recurso especial (art. 105, III, a e c, da Carta Magna), neste alegando negativa de vigência dos arts. 1º, 2º, 520, III; 605, 467, 620 e 571 do CPC; bem como dissídio jurisprudencial (fl s. 114-121).

Oferecidas contra-razões (fls. 123-127), o nobre 3º Vice-Presidente daquela Corte o admitiu, apenas, pela alínea a; indeferido o extraordinário (fl s. 137-138).

Nesta Superior Instância, opinou a douta Subprocuradoria Geral da República pelo não-conhecimento do recurso, acolhendo a preliminar suscitada pela recorrida da falta de instrumento do mandato do patrono do recorrente (fl s. 149-150).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator): Acolho a preliminar suscitada pela douta Subprocuradoria Geral da República (fl s. 149-150), por inexistir nos autos instrumento de mandato do advogado que subscreve o especial.

A teor do disposto no art. 37 da lei adjetiva civil, sem instrumento de mandato, o advogado da recorrente não poderia ser admitido a postular em juízo e, conseqüentemente, serão tidos como inexistentes todos os atos praticados nos autos.

Nesse mesmo sentido, já se decidiu, dentre inúmeros outros, quando dos julgamentos dos REsps n. 2.126-RJ e 4.651-SP, ambos de minha relatoria (DJ 13.08.1990 e 05.11.1990, respectivamente).

Com base nesses lineamentos, não conheço do recurso, tendo-o como inexistente.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 181-218, junho 2010 215

ADITAMENTO AO VOTO

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator): Sr. Presidente, só mesmo o brilho e o talento do nobre Advogado que assumiu a causa neste Superior Tribunal de Justiça — S. Exa. não é o advogado que vem sustentando essa matéria, tive o prazer de despachar a sua petição de juntada de procuração para atuar no Tribunal — pode dar cores e ênfase tão acentuadas à questão que a mim parece sedimentada na Corte. Devo, antes de proferir o meu voto, fazer alusão às expressões contidas na sustentação oral, que não estão nos autos, mas trazidas por S. Exa. excelentemente, da tribuna.

A primeira delas, em que S. Exa. se fi xa no voto do eminente Ministro Carlos Velloso ao repelir a falta de procuração. Afi rma o nobre Advogado que o Ministro Carlos Velloso o fez, dizendo que não houvera nenhuma impugnação. Aqui, então, o primeiro reparo: S. Exa. sustenta que a preliminar teria sido suscitada pelo eminente Dr. Procurador-Geral da República. Não o foi. Em verdade, foi suscitada pela parte ao responder ao recurso especial e foi acolhida pela douta Subprocuradoria Geral da República, na esteira de reiteradas decisões da Turma.

Em segundo lugar, no que se refere à citação feita a voto que proferi em caso anterior que, se estou bem lembrado, difere profundamente do que está em julgamento. Lá, cuidava-se de embargos a que entendíamos aplicável o disposto no art. 284 do Código de Processo Civil, que determina, assim como na petição inicial, deve o juiz conceder o suprimento de eventual irregularidade.

Parece-me que a tônica do voto — se estiver enganado peço ao nobre Advogado que me faça o favor de corrigir, mas, lembro-me perfeitamente que essa era a hipótese, tanto que S. Exa. faz alusão ao voto proferido pelo eminente Ministro Eduardo Ribeiro em que S. Exa. acentua a necessidade de que, nestes casos, a emenda deve ser feita no local em que verifi cada.

Neste processo S. Exa. também me trouxe a despacho petição a que fez referência e que determinei juntar por linha, na qual, assim como nobremente o douto Advogado fez questão de frisar da tribuna, fi ca destacada a inexistência da procuração nos autos. Destacada de forma peremptória, porque afi rma S. Exa., e consta dos autos, que, na interposição dos embargos de declaração ao acórdão recorrido, faz alusão o embargante à existência da procuração que oferecera como documento junto n. 01; documento este que não existe nos autos. Daí, extrai o nobre Advogado, em que tal procuração teria sido extraviada. Contudo, nada há nos autos que o comprove.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

216

Em fase de recurso especial é inadmissível a juntada da procuração. O nobre Advogado, conhecendo a jurisprudência da Turma, apressou-se em oferecer a petição aludida para demonstrar que o advogado subscritor do recurso foi constituído nos autos originários.

Cuida à espécie de ação revocatória, onde a massa está reivindicando ao

Banco a devolução de cerca de trinta e uma ou trinta e duas mil sacas da café,

que foram dadas em garantia, e que o banco não devolveu. Prende-se a quaestio

à fi xação da correção monetária. Convém esclarecer esse ponto para não parecer

que estamos a excluir, por um fato processual, que não me parece assim tão

simples, a apreciação de caso que seria tormentoso. Não! O que se discute é

que o nobre Relator do recurso teve como aceitável a interposição de agravo —

quando, sustenta-se, cabível seria apelação, deferindo-se a correção monetária, a

partir da citação e não do cálculo.

Neste caso não manifesto dúvida de que existe procuração nos autos,

originais. Porém, não é disso que se está cuidando. Não se trata de suprir a

representação da parte, mas da inexistência do recurso, por falta de instrumento

que habilitasse o advogado subscritor. E, neste sentido, é interativa a

jurisprudência da Seção. Não temos aceitado o suprimento nesta instância

especial.

Por tais razões, não vejo como deixar de acolher a preliminar suscitada pela

parte e albergada pela douta Subprocuradoria Geral da República, no parecer

exarado. E assim, acolhendo-a, Sr. Presidente, tenho o recurso como inexistente

e, por isso, dele não conheço, com a devida vênia do nobre Advogado, que tão

brilhantemente sustentou as suas razões da tribuna.

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Cláudio Santos: Sr. Presidente, peço vênia ao eminente

Relator, para superar a preliminar, afastando-a, pois creio que é possível

aplicar-se ao caso aquela disposição do Código de Processo Civil que dispensa

a parte de apresentar procuração quando esta encontra-se nos autos do

processo principal. Parece-me que, no caso, é possível aplicar-se essa disposição,

lembrando, aliás, da Tribuna, pelo ilustre advogado, a exemplo do que nós

em algumas oportunidades chegamos a fazer, nas hipóteses de recurso em

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 181-218, junho 2010 217

processo de habilitação de crédito, que guardam uma certa semelhança com as

ações revocatórias, visto que são ações decorrentes do processo falimentar, no

caso, o processo principal.

Diante dessas razões, pedindo vênia ao eminente Ministro-Relator, afasto

a preliminar, para apreciar o recurso.

VOTO

O Sr. Ministro Costa Leite: Sr. Presidente, conquanto dissinta do

entendimento manifestado pelo eminente Ministro-Relator, certo é que a

jurisprudência da Seção consolidou-se no sentido do voto de S. Exa. Salvo

engano, a Corte Especial já chancelou esse entendimento.

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Na Corte Especial, salvo engano, os

embargos não foram conhecidos por não haver divergência.

O Sr. Ministro Costa Leite: A Corte prestigiou o julgamento majoritário?

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: A Corte não conheceu à míngua de

divergência.

O Sr. Ministro Costa Leite: Na conformidade que se apresenta com a

jurisprudência da Seção, acompanho o voto do eminente Ministro-Relator, data

venia.

VOTO

O Sr. Ministro Nilson Naves: Sr. Presidente, acho difícil e complicado

estabelecer distinções, em face do que dispõe o art. 37 do Código de Processo

Civil. Sem instrumento de mandato, o advogado não será admitido a procurar

em juízo. Por isso tenho exigido que a procuração conste sempre dos autos,

sejam eles os principais ou os acessórios (decorrentes dos principais).

Coerente com esse ponto de vista, reputo aqui inexistente o recurso

especial, razão pela qual dele não conheço, data venia.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

218

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro (Presidente): Sustentei durante algum

tempo, neste Tribunal, que estaria a merecer aplicação analógica, em hipótese

de falta de apresentação de instrumento de mandato conferido a advogado, o

art. 13 do Código de Processo Civil, o que tem encontrado guarida em alguns

julgados do Supremo Tribunal Federal. Como a jurisprudência desta Corte

fi rmou-se em outro sentido, deixei de insistir no ponto. A hipótese, entretanto,

não demanda aplicação daquele dispositivo.

O Código quer impedir que alguém postule em nome alheio sem que a

parte o tenha constituído mandatário. No caso, o advogado que subscreveu o

recurso especial recebera poderes de representação no processo de conhecimento,

mediante substabelecimento, o que é suficiente. Nunca foi exigido que se

renovasse a procuração na execução ou na liquidação. Ao interpor recurso,

era procurador, naquele processo. Por alguma razão, no instrumento que se

formou, na carta de sentença que se extraiu, deixou-se de trazer essa peça

que, no entanto, constava dos autos, e a prova disso foi feita antes do início

do julgamento desse recurso especial. Claro que a situação é muito diferente

daquela em que o signatário da peça processual não seja procurador. Não se trata

de constituir advogado aqui, mas de demonstrar que já era mandatário quando

fez o recurso especial.

Peço vênia para acompanhar o Sr. Ministro Cláudio Santos.

Súmula n. 116

SÚMULA N. 116

A Fazenda Pública e o Ministério Público têm prazo em dobro para

interpor agravo regimental no Superior Tribunal de Justiça.

Referências:

CPC, art. 188.

Lei n. 8.038/1990, arts. 28, § 5º, e 39.

Regimento Interno do STJ, arts. 258 e 259.

Precedentes:

IUJ no AgRg no Ag 10.146-SP (CE, 09.12.1993 — DJ 05.09.1994)

Corte Especial, em 27.10.1994

DJ 07.11.1994, p. 30.050

INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA EM AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 10.146-SP (1991/0005541-7)

Relator: Ministro Cesar Asfor Rocha

Agravante: Fazenda do Estado de São Paulo

Agravada: Casa Mineração e Agro Industrial Ltda

Advogados: Miguel Francisco Urbano Nagib e outro e Maurício Antônio

Mônaco

EMENTA

Processual Civil. Agravo regimental. Fazenda Pública e

Ministério Público. Prazo em dobro.

É de dez dias o prazo para interposição de agravo regimental

pela Fazenda Pública e pelo Ministério Público.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, preliminarmente, por maioria, rejeitar o incidente proposto pelo Sr. Ministro Peçanha Martins, na conformidade do art. 199 do RISTJ. Votaram vencidos, nesta parte, os Srs. Ministros Peçanha Martins, José Cândido de Carvalho Filho, Pedro Acioli, Costa Leite, Eduardo Ribeiro, José de Jesus e Edson Vidigal. No mérito, acordam por maioria, uniformizar a jurisprudência nos termos da orientação preconizada pela egrégia Primeira Turma. Votaram vencidos os Srs. Ministros José Cândido de Carvalho Filho, Pedro Acioli, Américo Luz, José de Jesus e Hélio Mosimann. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Adhemar Maciel, Anselmo Santiago, José Dantas, Antônio Torreão Braz, Bueno de Souza, Antônio de Pádua Ribeiro, Cid Flaquer Scartezzini, Jesus Costa Lima, Costa Leite, Nilson Naves, Eduardo Ribeiro, Dias Trindade, Assis Toledo, Edson Vidigal, Peçanha Martins, Demócrito Reinaldo e Humberto Gomes de Barros. O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira não compareceu à sessão por motivo justifi cado. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro William Patterson.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

224

Brasília (DF), 09 de dezembro de 1993 (data do julgamento).

Ministro William Patterson, Presidente

Ministro Cesar Asfor Rocha, Relator

DJ 05.09.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Tem o presente feito o objetivo de

uniformizar a jurisprudência no ponto referente ao prazo de que deve dispor a

Fazenda Pública para interposição de agravo regimental a que se reportam os

arts. 28, § 5º, e 39 da Lei n. 8.038/1990 e o art. 258 do RISTJ.

O incidente foi suscitado pelo eminente Ministro Pedro Acioli perante

a egrégia Primeira Turma, que o acolheu em sessão realizada em 25.09.1991,

quando S. Exa. ainda a integrava. Foram-me os autos atribuídos, conforme

certidão de fl . 72.

A necessidade de pacifi car o entendimento decorre da divergência com

que as egrégias Primeira e Segunda Turmas estão tratando a matéria. Enquanto

a Primeira Turma, modifi cando posição anterior, tem interpretado que o prazo

para ingresso do agravo regimental é de 10 (dez) dias, a Segunda Turma, por

seu turno, tem decidido ser de apenas 5 (cinco) dias, conforme dão conta,

exemplifi cadamente, os julgados, cujas ementas são transcritas:

a) da Primeira Turma:

Agravo regimental. Caráter de recurso. Prazo em dobro. Fazenda Pública ou Ministério Público.

O agravo é um recurso inominado. Na contagem do prazo aplica-se a regra do art. 188 do Código de Processo Civil quando a parte for a Fazenda Pública ou o Ministério Público.

O Regimento prevê prazo em dobro para recorrer e o agravo é recurso regimental. (EDcl no AgRg no Ag n. 6.018-RS, de que foi Relator o eminente Ministro Garcia Vieira, vencido o eminente Ministro Pedro Acioli, DJ 17.06.1991).

b) da Segunda Turma:

Agravo regimental. Prazo. Lei n. 8.038/1990. Art. 28, § 5º, e art. 39, RISTJ. Art. 258.

I - O prazo para o agravo regimental no STJ é de cinco dias.

SÚMULAS - PRECEDENTES

225RSSTJ, a. 4, (8): 219-245, junho 2010

É prazo assinado por lei especial que o denomina de simplesmente ‘agravo’, não sendo aplicada a regra geral do CPC que confere prazo em dobro para a Fazenda Pública — Lei n. 8.038/1990, art. 28, § 5º, e art. 39, c.c. o art. 258 do RISTJ.

II - A própria Lei n. 8.038/1990, art. 42, renumera os recursos possíveis no CPC, dando nova redação ao art. 496, donde ela mesma exclui o regimental do rol dos recursos. Precedentes da Primeira Turma no AgRg n. 6.018-RS, Relator Ministro Pedro Acioli. (AgRg no Ag n. 8.000-RJ, DJ 19.08.1991, de que foi Relator o eminente Ministro José de Jesus).

Em razão do disposto no art. 11, inciso VI, do RISTJ, segundo o qual

“compete à Corte Especial processar e julgar... os incidentes de uniformização

de jurisprudência, em caso de divergência na interpretação do direito entre as

Seções, ou quando a matéria for comum a mais de uma Seção, aprovando a

respectiva súmula”, e tendo em conta que a defi nição do prazo para interposição

de agravo regimental, pelo Ministério Público ou pela Fazenda Pública, nesta

egrégia Corte, se deve ser de cinco ou de dez dias, é matéria que interessa às três

Seções deste colendo Tribunal, suscitei, perante a egrégia Primeira Seção, que

acolheu, fosse o feito remetido a esta egrégia Corte Especial.

A douta Subprocuradoria Geral da República opina pela adoção do ponto

de vista fi rmado pela egrégia Primeira Turma, acima exposto.

Dou por relatado. Encaminhe-se o processo ao eminente Ministro-

Presidente da egrégia Corte Especial (§ 2º do art. 118 do RISTJ).

VOTO

O Sr. Ministro Cesar Rocha (Relator): Observo, inicialmente, que os

limites do presente incidente de uniformização de jurisprudência adstringem-

se a que se defi na se a Fazenda Pública e o Ministério Público desfrutam, para

interposição do agravo regimental, do mesmo privilégio do prazo em dobro tal

como para agitarem os recursos contemplados nos incisos I a VII do art. 476 do

Código de Processo Civil, com a redação que lhe foi dada pelo art. 42 da Lei n.

8.038/1990.

Pontifi ca o art. 188 do Código de Processo Civil, no que interessa, que

“computar-se-á... o prazo... em dobro para recorrer quando a parte for a Fazenda

Pública ou Ministério Público”.

Esse dispositivo, que constitui uma regalia, decorre como observa Moniz

de Aragão (in, “Comentários ao CPC”, II vol., Forense, Rio, 1ª ed., p. 113),

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

226

do reconhecimento de que, “em verdade a Administração Pública depende

de um complicado e emperrado mecanismo burocrático, que não funciona

com a rapidez necessária” que venha a possibilitar, a seus defensores judiciais,

contestarem ou recorrerem nos prazos normais. É que “a coleta de documentos

e demais informações necessários à defesa do Estado, consome tempo e exige

paciência”.

O r. aresto da lavra do eminente Ministro José de Jesus, finca-se,

fundamentalmente, no entendimento de que a relação dos recursos indicados

pelo art. 496 do Código de Processo Civil é taxativa, daí porque o agravo

regimental estaria excluído do rol dos recursos. Por conseguinte, o prazo para

sua apresentação seria sempre de cinco dias, inclusive para aquelas instituições

acima mencionadas.

Não comungo, data venia, dessa mesma compreensão.

É que, como salienta Barbosa Moreira (in “Comentários ao Código

de Processo Civil”, V vol., Forense, Rio, 1ª ed., p. 223), “não é exaustiva a

enumeração feita pelo dispositivo sob exame. No art. 552, faculta-se um

‘recurso’, a que não se dá nome especial, contra o indeferimento liminar dos

embargos infringentes pelo Relator... Outro ‘recurso’ inominado aparece no

art. 557, parágrafo único, interponível contra o indeferimento do agravo de

instrumento pelo Relator”.

Nessa linha de entendimento pode-se afi rmar que a Lei n. 8.038/1990, por

seu turno, traz outros dois tipos de recursos, quais sejam o agravo regimental

(art. 28, § 5º) e os embargos (art. 29), que o RISTJ, no seu art. 266, denominou-

os de embargos de divergência.

Todos esses procedimentos, ainda que não estejam dispostos no indicado

art. 496 do Código de Processo Civil são, inquestionavelmente, recursos, por

serem meios de que as partes dispõem para, dentro do mesmo processo, postular

a reforma ou a invalidação da decisão judicial que se impugna.

Assim como “se a rosa não se chamasse rosa nem por isso deixaria de ser

perfumosa” esses procedimentos não deixam de ser recursos pelo só fato de não

serem rotulados como tais.

Por outro lado, poder-se-ia argumentar que essa regra contida no art. 188

do Código de Processo Civil é de exceção (na medida em que duplica o prazo

SÚMULAS - PRECEDENTES

227RSSTJ, a. 4, (8): 219-245, junho 2010

generalizado dos recursos), e, dessa sorte, deveria ser interpretada tal como nela

se contém.

É correta a colocação. Acontece, todavia, que quando o art. 188 outorga o

benefício do prazo dobrado para se recorrer, evidentemente que alcança a todos

os recursos processuais postos à disposição da Fazenda Pública ou do Ministério

Público, sem dirigir-se apenas aos editados pelo art. 496 do Código de Processo

Civil.

Diante de tais pressupostos, estou em que seja uniformizada a

jurisprudência na linha adotada pela egrégia Primeira Turma conferindo-se à

Fazenda Pública e ao Ministério Público o prazo de dez dias para interposição

de agravo regimental.

VOTO

O Sr. Ministro Adhemar Maciel: Sr. Presidente, data venia do

entendimento da Segunda Turma, acompanho as observações do Ministro

Cesar Asfor Rocha.

O art. 188 do Código de Processo Civil é regra geral e só deixa de ser

aplicado quando houver uma outra regra excepcional.

VOTO

O Sr. Ministro José Dantas: Sr. Presidente, a razão de ser desta questão vem

do tempo que realmente o agravo examinado se denominava, substancialmente,

agravo regimental. Daí que perdeu esta conotação regimental desde a edição da

Lei n. 8.038, que o prevê como agravo no sentido exato da fi nalidade do recurso

sem mais aquela qualifi cação derivada de seu assento meramente regimental.

Com essas considerações, acho inteiramente procedentes as razões do Sr.

Ministro-Relator, no sentido de consagrarmos a jurisprudência da Primeira

Turma, no exato sentido da dobra do prazo que beneficia a União e suas

entidades, em todos os recursos legais, como legal e não apenas regimental agora

é o antigo “agravinho”.

Voto, portanto, pela uniformização, com apoio na jurisprudência da

Primeira Turma.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

228

VOTO

O Sr. Ministro Antônio Torreão Braz: Sr. Presidente, o art. 188 do CPC

aplica-se a todos os recursos, salvo àqueles em que o prazo é estabelecido

especialmente para a Fazenda Pública ou quando haja exceção expressa à regra.

Acompanho o Ministro-Relator.

VOTO

ARGÜIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE

O Sr. Ministro Bueno de Souza: Sr. Presidente, vou acompanhar o

pronunciamento do eminente Ministro José Dantas. Veja-se que a questão

vinha sendo abordada de modo muito sintético, quando o eminente Ministro

José Cândido a encarou pelo prisma do princípio da igualdade, este sim, tema

constitucional.

Mas o Ministro Pádua Ribeiro convocou os precedentes da Casa, os quais,

como é o caso daquele excelente voto do eminente Ministro Barros Monteiro,

trabalham, precisamente, sobre o tema constitucional.

O Ministro José Dantas tem inteira razão quando diz que a questão da

compatibilidade da norma com a Constituição está embutida na outra. Não

fosse assim, todos teríamos recusado a tranqüila aplicação desta norma, porque a

Constituição é sempre nossa leitura inicial; sempre lemos as leis com os olhos na

Constituição (e isto é o que cumpre presumir).

Lendo o art. 199 do Regimento Interno, não creio que caiba instaurar

incidente, senão após indispensável prelibação. Aqui se diz: “Se, por ocasião do

julgamento perante a Corte for argüida a inconstitucionalidade...”

Pergunto: basta um voto, para que a inconstitucionalidade se repute

argüida?

Claro que todos os nossos votos são igualmente importantes. E o eminente

Ministro Peçanha Martins argumentou neste caminho.

Penso, no entanto, que a abertura do incidente depende dessa prelibação.

Por que não seria assim, na Corte Especial?

É assim, nas sessões das Seções e nas sessões das Turmas; deve ser assim,

aqui.

SÚMULAS - PRECEDENTES

229RSSTJ, a. 4, (8): 219-245, junho 2010

Caso contrário, a incoerência comprometeria o conjunto das disposições

aplicáveis, com graves inconvenientes para o nosso trabalho, porque mínima

suscetibilidade que pudesse ocorrer momentaneamente a um de nossos colegas

seria razão bastante para que o julgamento pela Corte se interrompesse e para

que o incidente sobre a inconstitucionalidade se instaurasse, mesmo quando

uma maioria prontamente verifi cável não se dispusesse a formalmente encarar o

tema pelo prisma da Lei Maior.

Diz o Ministro José Dantas que todos discutíamos, aqui, esta questão,

sempre que o Tribunal Federal de Recursos foi provocado sobre os privilégios

(assim chamados) da Fazenda. Esta questão foi encarada sob o prisma

constitucional.

Subscrevo o douto voto do Ministro José Dantas, creio que o incidente não

se aconselha porquanto a maioria (já ouvida) do Tribunal superou o obstáculo

da suposta inconstitucionalidade e entendeu que a lei tem suas razões; que ela

não ofende o princípio da igualdade, mas reconhece uma desigualdade em que

a União Federal e outros entes públicos se encontrariam, na generalidade dos

processos, por causa da insufi ciência de recursos da Fazenda para assegurar a

plenitude da defesa (que também é princípio constitucional), dos interesses que

são dos entes públicos e, sendo assim, são do próprio povo brasileiro.

Acompanho, portanto, o eminente Ministro-Relator, com os acréscimos

do Sr. Ministro José Dantas.

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro José Cândido de Carvalho Filho: Sr. Presidente, a rigor,

a Segunda Turma — ao estabelecer o prazo de cinco dias — está com alguma

razão, por uma questão muito simples. Quando foi elaborado o art. 188 do

Código de Processo Civil, a Procuradoria da República encarregava-se, inclusive,

da defesa da Fazenda Nacional. Havia uma soma considerável de trabalho,

porque sobre seus ombros recaíam todas as tarefas que hoje estão dela, em parte,

subtraídas, por causa da presença dos advogados da Fazenda Nacional.

Entendo que é um favor excepcional, conceder-se o prazo em dobro à

Fazenda, quando ela hoje tem seus advogados. Defendi sempre o prazo em

dobro, mas quando era a Procuradoria da República sozinha.

Sr. Presidente, vou pedir permissão a meu nobre amigo e colega, Ministro

Cesar Asfor Rocha, para votar pela orientação da outra Turma, e acabar com

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

230

esse privilégio. Se a União tem seus advogados, eles que cuidem das causas

dentro dos prazos.

O Sr. Ministro Cesar Rocha (Relator): Sr. Presidente, gostaria de fazer

uma observação.

Não se está discutindo se devem ser mantidos ou não os privilégios

processuais, no caso, o prazo em dobro para a Fazenda Pública, para o Ministério

Público.

O que se discute é menos do que isso. Parte-se do princípio de que esses

privilégios existem. Resta-nos saber, se quando tem a Fazenda o prazo em

dobro para interposição de recursos, ela teria também o prazo em dobro para

apresentação do agravo regimental, vale dizer, em última análise, se o agravo

regimental é ou não recurso.

Seria só essa observação, não é a questão do privilégio se deve ou não ser

mantido.

O Sr. Ministro José Cândido de Carvalho Filho: Muito obrigado. Mas, Sr.

Presidente, mantenho meu voto, pois sou contra os privilégios.

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Pedro Acioli: Sr. Presidente, quando integrava a Primeira

Turma defendia ponto de vista diferente, isto à época do sempre lembrado

Tribunal Federal de Recursos. Assim o fazia em conformidade com o que

estabelece o Código de Processo Civil no seu art. 496 que diz: (lê). “São cabíveis

os seguintes recursos: apelação, agravo de instrumento, embargos infringentes,

embargos de declaração e recurso extraordinário”.

E, com fundamento nesse dispositivo legal, foi que, no Agravo Regimental

no Agravo de Instrumento n. 6.018-RS, proferi a ementa que traduz a expressão

do meu voto:

Agravo regimental. Prazo. Lei n. 8.038/1990, art. 28, § 5º, e art. 39, RISTJ, art. 258.

I - O prazo para o agravo regimental no STJ é de cinco dias. É prazo assinado por lei especial que o denomina de simplesmente ‘agravo’, não sendo aplicada a regra geral do CPC que confere prazo em dobro para a Fazenda Pública — Lei n. 8.038/1990, art. 28, § 5º, e art. 39, c.c. o art. 258 do RISTJ.

SÚMULAS - PRECEDENTES

231RSSTJ, a. 4, (8): 219-245, junho 2010

II - A própria Lei n. 8.038/1990, art. 42, renumera os recursos possíveis no CPC, dando nova redação ao art. 496, donde ela mesma excluiu o regimental do rol dos recursos.

III - Agravo não conhecido.

Com esses fundamentos, valendo-me dos subsídios trazidos pelo eminente

Ministro José Cândido de acabar com esse privilégio da Fazenda, peço vênia ao

eminente Ministro-Relator, para fi rmar ponto de vista diferente de S. Exa.

É como voto.

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Américo Luz: Sr. Presidente, voto acompanhando o Sr.

Ministro José Cândido, pedindo vênia aos que votaram em sentido contrário. É

a orientação da Segunda Turma.

VOTO-VOGAL

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Sr. Presidente, entendo que

o Código de Processo Civil contém um feixe de normas que, na verdade,

consubstanciam princípios gerais aplicáveis não apenas a institutos codifi cados,

mas também àqueloutros previstos em leis extravagantes. Assim é que indago:

será de sustentar-se a inaplicabilidade dos princípios relativos a nulidades

a recursos não integrantes do sistema do Código? Creio que ninguém vá

responder afi rmativamente a essa questão.

O art. 188 consubstancia, na verdade, um princípio geral. E há de ser

aplicado a todos os recursos, não apenas àqueles previstos no Código, como

também àqueles que estão contemplados nas leis extravagantes. Há um

trabalho do ilustre processualista José Carlos Barbosa Moreira, em que ele diz

expressamente o seguinte, referindo-se ao art. 188 do Código de Processo Civil:

(lê)

Opinou-se que a franquia outorgada por esse dispositivo ‘abrange apenas os procedimentos regulados pelo Código, não se estendendo aos que por ele não estão disciplinados ou que venham a ser regidos por leis especiais’, a menos que estas se submetam, expressamente, ao texto do art. 188 ou indiquem o Código como fonte supletiva para a solução de casos omissos. A nosso ver, porém, a questão deve ser posta em termos diferentes. A aplicação supletiva das normas

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

232

do Código nos procedimentos regulados por leis extravagantes não depende de regra expressa que a preceitue. O Direito Processual Civil codifi cado é o Direito comum, a que obedece a todo e qualquer procedimento, salvo naquilo que o texto específi co diversamente porventura discipline, ou que com o seu sistema seja incompatível. É para afastar a incidência das disposições contidas no Código que, em princípio, se há de reclamar a existência de regra na lei extravagante.

Quero assinalar que a questão tem sido posta tendo em conta o vigente

Texto Constitucional, segundo o qual isso implicaria tratar desigualmente as

partes que devem ser iguais. No entanto, examinando a matéria no Agravo

Regimental na Ação Rescisória n. 250-MS, a egrégia Segunda Seção acolheu,

por unanimidade, voto do eminente Ministro Barros Monteiro. Naquela

assentada não se discutia a questão da aplicação do art. 188 aos casos de

recursos, mas às ações rescisórias, quando o problema, a meu ver, assume uma

dimensão mais complexa, porque nas ações rescisórias os prazos são fi xados

pelo juiz e não fi xados em lei. A lei dá apenas o prazo mínimo e o máximo, e o

juiz, dentro daqueles limites, fi xa o prazo para a contestação da ação rescisória.

Portanto, ainda naquela hipótese, entendeu a Segunda Seção, por unanimidade,

que o prazo deveria ser em quádruplo.

E o Ministro Barros Monteiro teve ensejo de produzir um brilhante voto,

tendo em conta exatamente a questão do princípio da isonomia, para sustentar

que, em suma, o princípio da isonomia implica tratar igualmente pessoas iguais

e tratar desigualmente pessoas desiguais.

Ora, não se pode afi rmar que um particular esteja num mesmo nível que

a União. Os interesses públicos, pela própria natureza, estão em posição de

proeminência, no tocante aos interesses particulares. Normalmente, toda causa

ajuizada pela União tem em seu bojo aspectos de relevância pública. Portanto,

isto é que tem sido considerado, há muito tempo, pelo legislador. O número de

causas é muito grande, e o número de procuradores nem sempre é sufi ciente

para atender às necessidades do serviço. Afi rma-se: a União deveria contratar

mais advogados, as autarquias, as entidades públicas de um modo geral, mas

a verdade é que isso não ocorre. Em assim sendo, cercear essa contagem de

prazo em dobro ou quádruplo, é exatamente facilitar a má defesa dos interesses

coletivos.

A propósito da matéria aduziu o eminente Ministro Barros Monteiro no

Agravo Regimental na Ação Rescisória n. 250-Mato Grosso: (lê)

SÚMULAS - PRECEDENTES

233RSSTJ, a. 4, (8): 219-245, junho 2010

Sustentam os autores que à autarquia federal não era dado contestar o pedido inicial no prazo contado em quádruplo, nos termos do disposto no art. 188 do CPC, diante da revogação do aludido preceito pelo art. 5º, caput, da nova Constituição da República.

Não é bem assim, porém. A propósito do princípio de isonomia, José Cretella Júnior evoca o escólio de Marnoco e Souza, segundo o qual “a igualdade perante a lei, quer dizer, em face dela, não há nobres nem plebeus, clérigos nem leigos, cristãos nem judeus. Todos os indivíduos, quaisquer que sejam os seus títulos, a sua riqueza e a sua classe social, estão sujeitos à mesma lei civil, penal, fi nanceira e militar. Em paridade de condições, ninguém pode ser tratado excepcionalmente, e, por isso, o direito de igualdade não se opõe a uma diversa proteção das desigualdades naturais por parte de cada um”. (“Comentários à Constituição de 1988”, vol. I, p. 179, 1ª ed.). De igual teor alinha-se o magistério do Professor Manoel Gonçalves Ferreira Filho, para quem “o princípio da isonomia oferece na sua aplicação à vida inúmeras e sérias difi culdades. De fato, conduziria a inomináveis injustiças se importasse em tratamento igual para os que se acham em desigualdade de situações. A justiça que reclama tratamento igual para os iguais pressupõe tratamento desigual dos desiguais. Ora, a necessidade de desigualar os homens em certos momentos para estabelecer, no plano do fundamental, a sua igualdade, cria problemas delicados que nem sempre a razão humana resolve adequadamente”. (“Comentários à Constituição Brasileira”, p. 587, 3ª ed.).

Em situação peculiar no processo encontra-se a Fazenda Pública, locução esta que abrange os órgãos da Administração indireta. O despacho recorrido já deixara ressaltada a natural complexidade do aparelhamento da defesa do Poder Público, que não funciona com a necessária agilidade para possibilitar a resposta dentro do prazo normal previsto em lei. Daí ter Hélio Tornaghi concluído que ‘o art. 188 não cria privilégio para a Fazenda nem para o Ministério Público. E também não viola o princípio da igualdade das partes. Não estabelece privilégio, nem em sentido técnico (lex in privos lata), nem em acepção vulgar (favor, preferência). Tampouco provoca desequilíbrio. Ao contrário: nivela os pratos da balança. A carga de serviço do Ministério Público e da Fazenda do Estado (União ou unidade federada) é incomparavelmente maior que a de um particular ainda que muito atarefado. O peso daquele prato da balança é mais considerável que o desse outro. Para nivelá-los é preciso atribuir contrapesos proporcionais: para quem tem menos serviço, menor prazo; maior tempo para quem é mais atarefado’. (“Comentários ao Código de Processo Civil”, vol. II, pp. 79-80, ed. 1975).

O interesse público é quem dá supedâneo à regra do ora questionado inciso legal, conforme lembrou o Ministro Néri da Silveira em voto proferido quando do julgamento do RE n. 94.960-7, do Rio de Janeiro, idêntico fundamento adotado, por sinal, pelo 2º Tribunal de Alçada Civil de São Paulo, que entendeu aplicável à autarquia o prazo em quádruplo para contestar na ação rescisória (cfr Ação Rescisória n. 145.074, Relator Juiz Eduardo Velho, in “Ação Rescisória — Repertório de Jurisprudência e Doutrina”, Arruda Alvim e Teresa Arruda Alvim Pinto, pp. 67 e 291, ed. 1988).

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

234

Mantém-se, pois, o benefício do prazo em quádruplo para a Fazenda Pública contestar, tal como consagrado pela regra do art. 188 da lei processual civil.

Assinalo que esse meu posicionamento já é antigo. Nos idos de 1986

votei nesse sentido no Pleno do extinto Tribunal Federal de Recursos, na

assentada de 12 de junho daquele ano, por ocasião do julgamento do Agravo

Regimental na Apelação Cível n. 107.577-ES. Naquela oportunidade falava-se

agravo regimental e, agora, a Lei n. 8.038 prevê expressamente o recurso, mas

os princípios e regras, adotados pelas leis, têm uma aplicação mais genérica e,

acredito, que permitem solucionar questões como a presente.

Desse modo, peço vênia para acompanhar o ilustre Relator.

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro José de Jesus Filho: Sr. Presidente, como um dos acórdãos

em confronto é de minha lavra, sinto-me no dever de proferir algumas palavras.

A posição do Ministro Pádua Ribeiro já a conheço — sempre votou

vencido na Turma.

Para examinar um texto de lei e ter a sua compreensão, a sua exegese

perfeita, tem-se dito, e eu acompanho, que é preciso conhecer a história da lei.

Essa história da lei o Ministro José Cândido trouxe para a nossa refl exão.

Evidente, que, quando se cuidou no Código de Processo de conceder privilégios

ao Ministério Público e à União, havia uma defasagem de profi ssionais do

Direito nas áreas públicas para sustentar o Direito Federal da União. Hoje não,

há lei complementar, que instituiu a Advocacia Geral da União já instalada, o

Ministério Público Federal que fazia esse papel já não o faz mais, as autarquias

têm o seu corpo de Procuradores. Hoje a Procuradoria da Fazenda tem a sua

parcela de combatividade nos processos. O privilégio continua e eu o considero

odioso, embora muitos dizem não existir, porque vamos tratar desigualmente

situações iguais: para o particular cinco dias; para o Ministério Público, dez dias.

Tenho para mim que na Constituição, a partir de 1988 essas questões tinham que

ser enfrentadas e resolvidas pelos Tribunais. É preciso ter coragem de dizer que

o art. 188 é inconstitucional, mas não está em discussão a constitucionalidade.

Numa decisão em agravo de instrumento em que a Fazenda Pública

perdeu prazo, traz aqui para uniformizar a jurisprudência, dizendo que o

privilégio continua.

SÚMULAS - PRECEDENTES

235RSSTJ, a. 4, (8): 219-245, junho 2010

A Constituição diz que não há privilégio, que todos são iguais e nós estamos tratando desigualmente essa situação.

Entendo que a Lei n. 8.038, quando cuidou do famoso agravo regimental — que deveria ser excluído para não criar problemas —, deu-lhe um prazo de cinco dias e não excepcionou a Fazenda e nem o Ministério Público, já na vigência da Constituição. Depois veio a própria Lei n. 8.038, que é uma lei ordinária, como é o Código de Processo Civil, dizendo que os arts. 496/97/98, II; 500/508 passam a ter nova redação, e nessa redação excluiu os agravos. Está, pois este Tribunal, data venia dos que pensam em contrário, defendendo uma tese de privilégios.

Sr. Presidente, com essas considerações, peço vênia para acompanhar o Sr. Ministro-Relator.

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Hélio Mosimann: Sr. Presidente, pelo que me recordo, essa decisão, de que foi Relator o Sr. Ministro José de Jesus na Segunda Turma, é única e isolada. Na oportunidade, acompanhei S. Exa. e sou fi el ao voto que ali proferi. Entretanto, devo dizer que tenho refl etido sobre a matéria e me proponho a reexaminá-la, principalmente, depois da decisão que já vai se desenhando no curso deste julgamento. Por enquanto, acompanho o voto do Sr. Ministro José Cândido de Carvalho Filho.

VOTO

O Sr. Ministro Peçanha Martins: Sr. Presidente, este privilégio do art.

188 é antigo, e já foi muitas vezes examinado sob a égide das Constituições

passadas. A nova Constituição não faz limitação ao princípio da igualdade. Diz

o art. 5º: “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”.

Estado e cidadãos litigam no processo e são iguais em direito. Devem ser, mas,

na verdade, por força do art. 188, não o são.

E quem assinalou até uma certa indignação contra o privilégio da Fazenda

foi Ruy Barbosa, que se batia sempre contra esses privilégios. A verdade é que

podemos identifi car nos privilégios uma das causas da morosidade da Justiça.

Por força dele alguns processos se delongam e temos hoje os Pretórios nesse

país cheios de processos, sobretudo de recursos inadequados, que vêm onerar

bastante o Estado, prejudicando a própria Nação.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

236

Tenho, portanto, Sr. Presidente, dúvida, não obstante o brilhantismo do

voto do Sr. Ministro Barros Monteiro, quanto à constitucionalidade do art. 188.

E porque a manifesto, requeiro, na forma do art. 199 do RI, seja suspenso o julgamento a fi m de ser tomado o parecer do Ministério Público, no prazo de 15 dias.

O Sr. Ministro Bueno de Souza (Aparte): Ministro Peçanha Martins, proponho a V. Exa. considerar que esse suposto privilégio da Fazenda, na verdade, tem em vista que, onde a Fazenda está em causa, em causa estamos todos nós, contribuintes, porquanto, onde houver condenação da Fazenda, ela própria nada deve: quem deve é o povo que contribui com os seus tributos. De modo que esse privilégio não é para o Procurador da Fazenda, advogado dela, mas refl ete, isto sim, interesses gerais de pessoas (ricas e pobres), afetadas pelo processo.

Temos, no entanto, convivido com exemplos de discriminação que me parecem até mais relevantes. Assim, por exemplo, os privilégios, quanto ao recolhimento dos presos, no processo penal, ainda subsistem (os bacharéis em Direito contam com sala especial do alto comando), enquanto o suposto delinqüente, sendo pessoa humilde, a televisão brasileira se acha no direito de exibi-lo como se já fosse condenado...

Há, de fato, exemplos na vida judiciária brasileira, de pouco apreço ao princípio da igualdade. Não penso, porém, Sr. Ministro Peçanha Martins, que o prazo especial de que goza a Fazenda seja benefício do Procurador ...

O Sr. Ministro Peçanha Martins (Questão de Ordem Vencida): Sr.

Presidente, quero responder. Tenho sempre pautado a minha vida na defesa dos

princípios da liberdade, igualdade e fraternidade. Nesta Corte, lutei por esta

igualdade defendendo a manutenção da designação de inquérito para os casos

em que os Governadores fi gurassem como indiciados. Defendendo a aplicação

da lei a todos de igual modo. Quanto a outros privilégios saiba, também, V. Exa.

que não estou a favor deles. Mas em relação a este caso, penso que a matéria

não pode ser uniformizada sem um exame detido, seja do seu recepcionamento,

seja da inconstitucionalidade do dispositivo, em face da Constituição cidadã,

que prescreve uma regra muito mais ampla que a regra da Constituição anterior

que limitava a igualdade a sexo, trabalho e outras condições. Esta não limita.

Quando manifesto esta minha posição — que é muito velha, pois vem desde as

minhas primeiras leituras de Rui e que me conduziram ao Direito — é porque

insisto na aplicação do Regimento.

SÚMULAS - PRECEDENTES

237RSSTJ, a. 4, (8): 219-245, junho 2010

O Sr. Ministro William Patterson (Presidente): O Ministro Peçanha

Martins pede que o julgamento seja suspenso, para que se ouça o Ministério

Público nos termos do art. 199, que é no incidente de uniformização. Sr.

Ministro-Relator, não foi colhido esse parecer?

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha (Relator): Sim. O douto Ministério

Público Federal manifestou-se no incidente de uniformização por três vezes: na

Turma, na Seção e agora na Corte, porque este incidente é originário da Turma.

O Sr. Ministro William Patterson (Presidente): Então, Ministro Peçanha

Martins, está atendido; o Ministro-Relator diz que o Ministério Público se

manifestou a respeito.

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha (Relator): Sr. Presidente, observo

que o tema objeto da presente discussão está em que se defi na se o privilégio

conferido à Fazenda Pública, do prazo em dobro, para interposição dos recursos

expressamente dispostos no art. 496 do Código de Processo Civil, estende-se

para a apresentação de agravo regimental. Não se discute se deve ou não ser

mantido o privilégio do Ministério Público para recorrer em prazo dobrado.

O Sr. Ministro Peçanha Martins (Questão de Ordem Vencida): Sr.

Presidente, também faço diferença e tenho proclamado em voto, entre o Estado,

o interesse coletivo, e o interesse privado. Mas, no caso, estaremos uniformizando

a jurisprudência, consagrando o privilégio e mantendo a dúvida; esse é que é o

fato.

Acho que não poderemos uniformizar a jurisprudência sem enfrentar

esta questão, porque me parece que é prejudicial. Nós estamos lidando com um

incidente de uniformização de jurisprudência e vamos consolidar o julgado em

súmula, a qual poderá, mais tarde, ter a inconstitucionalidade argüida.

Em relação à uniformização, a Corte deve tomar todos os cuidados para

que, na emissão de uma decisão, que se vai consagrar numa súmula, não esteja

sujeita a dúvidas quanto à constitucionalidade manifestadas na própria Corte.

O Sr. Ministro William Patterson (Presidente): Então, V. Exa. sugere uma

questão de ordem?

O Sr. Ministro Peçanha Martins: Acho que sim, porque essa é uma questão

que tem sido sempre debatida.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

238

O Sr. Ministro Costa Leite: Se V. Exa. argüir a inconstitucionalidade,

aplica-se a regra do art. 199.

O Sr. Ministro Dias Trindade: É preciso que o Órgão acolha.

O Sr. Ministro Costa Leite: Ministro Dias Trindade, de acordo com o art.

199, não. Argüida a inconstitucionalidade, suspende-se o julgamento, e os autos

são remetidos ao Ministério Público para proferir parecer no prazo de quinze

dias e, em seguida, decide-se a argüição. Primeiro, suspende-se. Parece-me que o

Sr. Ministro Peçanha Martins não está argüindo a inconstitucionalidade.

O Sr. Ministro Peçanha Martins: Sr. Presidente, é tão grande a

preocupação que tenho sobre a matéria que, ainda que tenha dúvidas em relação

à inconstitucionalidade, eu a argúo, agora, para que o assunto seja discutido.

VOTO

ARGÜIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE

O Sr. Ministro José Dantas: Sr. Presidente, tenho a impressão de que

o exame da divergência jurisprudencial sobre a matéria já está envolvendo a

constitucionalidade do art. 188 do CPC. Quando dizemos, uniformizando a

jurisprudência, que o artigo tal não estabelece privilégio inconcebível, ou que

está ferindo a isonomia, estamos decidindo a matéria constitucional nos termos

do processo formal, que é o incidente de uniformização, sem necessidade de

instaurar-se um outro processo incidental. O incidente então constante da

própria razão de ser da uniformização.

Para mim, Sr. Presidente, no caso, a matéria constitucional está sendo

apurada no próprio julgamento da uniformização. Não se deve instaurar

um incidente à parte do incidente que já objetiva, justamente, ser ou não,

constitucional o privilégio do dobro do prazo deferido pela lei à União e a seus

entes.

Dessa forma, voto no sentido de que se continue o julgamento, sem

necessidade da instauração de um novo procedimento no incidente de

uniformização.

SÚMULAS - PRECEDENTES

239RSSTJ, a. 4, (8): 219-245, junho 2010

VOTO-VOGAL VENCIDO

ARGÜIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE

O Sr. Ministro José Cândido de Carvalho Filho: Sr. Presidente, acolho a proposição do Ministro Peçanha Martins, que está rigorosamente de acordo com o princípio que defendo: o privilégio que se criou agora, em razão da Constituição de 1988, quanto à Advocacia Geral da União.

Acompanho o Sr. Ministro Peçanha Martins.

VOTO VENCIDO

ARGÜIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE

O Sr. Ministro Pedro Acioli: Sr. Presidente, entendo que o incidente

de uniformização fundamenta-se no art. 188, que é o privilégio da Fazenda

Pública na contagem em dobro do prazo. Se há dúvida da constitucionalidade

desse artigo, evidentemente que o incidente, solicitado pelo eminente Ministro

Peçanha Martins, haverá de prevalecer, data venia de quem entende de modo

contrário.

É como voto.

VOTO

ARGÜIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE

O Sr. Ministro Américo Luz: Sr. Presidente, data venia, rejeito a idéia de

que se instaure incidente de argüição de inconstitucionalidade, em face de que

a matéria constitucional está embutida nos pronunciamentos feitos até agora,

como asseverou o Sr. Ministro José Dantas.

VOTO-VOGAL

ARGÜIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Sr. Presidente, também entendo

que, no caso, é inoportuna a suscitação de incidente de uniformização de

jurisprudência.

Acompanho o Ministro-Relator.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

240

VOTO VENCIDO

ARGÜIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE

O Sr. Ministro Costa Leite: Sr. Presidente, peço vênia para acompanhar

o eminente Ministro Peçanha Martins, na compreensão de que o art. 199 do

Regimento Interno deste Tribunal, não comporta outra inteligência.

Cumpre observar que a inconstitucionalidade foi argüida perante a Corte

Especial. Em tal caso, é de rigor a suspensão do julgamento, para que se tome o

parecer do Ministério Público.

O Sr. Ministro Pádua Ribeiro: Se for acolhida a argüição, suspende-se o

julgamento e ouve-se o Ministério Público.

O Sr. Ministro Costa Leite: O raciocínio do Ministro Pádua aplica-se,

data venia, quando se trata de argüição de inconstitucionalidade perante o órgão

fracionário.

O Sr. Ministro Assis Toledo: Ministro Costa Leite, V. Exa. me permite um

aparte?

O Sr. Ministro Costa Leite: Com o maior prazer, mas, antes, concedo o

aparte ao Ministro Bueno de Souza, que o solicitou antes.

O Sr. Ministro Bueno de Souza: Desejo ponderar (porque o Ministro

Costa Leite, permita-se-me dizê-lo, se limitou a ler), que S. Exa. não acrescentou

ao texto sua esperada contribuição interpretativa. O teor da norma não está em

causa.

Do ponto de vista interpretativo, propugno que há outra razão, porque

as leis se presumem compatíveis com a Constituição. Por isso mesmo, ousei

expender opinião sobre a emenda constitucional que instituiu a ação direta de

constitucionalidade, a meu ver desnecessária, data máxima vênia, porquanto

as leis se presumem compatíveis com a Constituição. Isto se aplica também

às normas de regimento. Não posso partir do pressuposto de que uma norma

do nosso regimento esteja em franca hostilidade com princípio constitucional

de tamanha grandeza como o da igualdade. Interpretar, portanto, consiste em

ir além da letra da lei, para surpreender seu sentido, principalmente na busca

da integração do preceito com o conjunto a que pertence. Segundo esta ordem

de refl exão, cabe indagar: por que é que, na Turma, se exige a prelibação?

SÚMULAS - PRECEDENTES

241RSSTJ, a. 4, (8): 219-245, junho 2010

Porventura, aquele, dentre nossos colegas, que, integrando a Turma, apóia a vinda dos autos, em argüição de inconstitucionalidade, está comprometido com sua declaração? Temos vários exemplos, nos quais colegas nossos prestigiaram, na Turma, a suscitação do incidente; mas, quando chegaram os autos à Corte Especial, se pronunciaram pela improcedência da prejudicial. Vê-se, então, que aquele entendimento é apenas uma prelibação. Claro que, surgindo a questão de inconstitucionalidade na Corte Especial, não há outro órgão, no Tribunal, ao qual se possa remeter a proposta de sua instauração: a questão se encerra aqui, devido ao esgotamento das vias internas da Corte. Mesmo assim, haverá procedimento a observar. E daí a dizer que basta um voto que suscita uma dúvida, uma perplexidade ou uma objeção para que se tenha por declarar a inconstitucionalidade... Veja-se que essa interpretação, além de não se harmonizar com o que está escrito também em relação à Turma ou à Seção, pode, em tese, agravar a sobrecarga de trabalho do Tribunal, quando, suscitado o incidente, se verifi que (suponha-se, não me atenho ao caso), que somente aquele dos nossos colegas que suscitou terá permanecido na argüição que inicialmente propôs. O que estou a sugerir é que consideremos a necessidade de um mínimo de prelibação. Então, digamos: a maioria singela dos presentes admite (pelo menos isto) o incidente. Mas, instaurado este pelo voto da maioria dos presentes, o tema vai para a maioria constitucional, depois de percorridos os trâmites legais. Isto parece-me patente, sem reclamar maior esforço.

O Sr. Ministro Costa Leite (Aparte): Teríamos, então, que votar preliminarmente?

O Sr. Ministro Bueno de Souza (Aparte): Se entendermos que o incidente deva ser instaurado. E para isto, valerá a simples maioria, mínima que seja, relativa, do quorum que se fez presente. Vai-se efetuar esta prelibação, porque os temas de inconstitucionalidade não são de todos os dias. Devemos presumir que as normas vivem com a Constituição, em boa paz.

O Sr. Ministro Pádua Ribeiro (Aparte): Sr. Ministro Bueno de Souza, há outro aspecto: quando se suscita incidente, o Regimento manda que se ouça o Ministério Público. Teria sentido ouvir-se o Ministério Público depois de todo o Tribunal se manifestar sobre a questão de inconstitucionalidade? Creio que não.

O Sr. Ministro Bueno de Souza (Aparte): Um juízo prévio a indicar que, pelos menos, bom número de Ministros esteja disposto a discutir o assunto,

admite a procedência da argüição.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

242

VOTO-APARTE

O Sr. Ministro Peçanha Martins: Ministro Bueno de Souza, o Tribunal

está se pronunciando sobre a legalidade do art. 188, tanto que o Ministro-

Relator tem enfatizado que agravo regimental, por força da Lei n. 8.038, é

recurso processual. Essa foi a matéria posta no voto de S. Exa. No entanto, o

que o Sr. Ministro José Cândido expôs, em primeiro lugar, foi a questão da

inconstitucionalidade. Li o trabalho de V. Exa. sobre a ação declaratória de

constitucionalidade. Temos ponto de vista idêntico, como manifestei antes da aprovação da emenda; mas o que aqui se discute é a inconstitucionalidade desse dispositivo ou a sua não-recepção, como quer o Supremo Tribunal Federal.

O Sr. Ministro Bueno de Souza: Ministro Peçanha Martins, o meu pensamento é o de que se essa opinião respeitável de V. Exa. tiver, a seu favor, pelo menos a maioria desta Seção, por um que seja, instaurar-se-á o incidente.

O Sr. Ministro Peçanha Martins: Assim sendo, sugiro a V. Exa. que proponha, enquanto estivermos discutindo a emenda do Regimento, que assim se deva fazer em relação a qualquer outro incidente, porque quando a norma do art. 199 dispõe, com clareza, que, ao suscitar o incidente, suspende-se o processo para ouvir o Ministério Público, parece-me que a interpretação que V. Exa. está

fazendo destoa do texto legal, data venia.

VOTO PRELIMINAR VENCIDO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Debatia-se a questão, até o momento, em termos infraconstitucionais, embora a matéria constitucional fosse mencionada de passagem. Tratava-se de uniformizar o entendimento do Tribunal a propósito da incidência do art. 188 do Código de Processo Civil, procurando-se fi xar se aplicável ao chamado agravo regimental. E se assim era, não me parece possível afirmar que estava implícito o reconhecimento da constitucionalidade. As questões a isso pertinentes não se misturam com as da interpretação da norma. Inconstitucionalidade, aliás, só se declara pelo voto da maioria absoluta e, por isso mesmo, há que se fazer em separado.

Argüida a inconstitucionalidade, o que poderia ser feito por qualquer das

partes, instaura-se o incidente, e a forma de fazê-lo está indicada no art. 199

do Regimento Interno deste Tribunal. Suspende-se o julgamento, toma-se o

parecer do Ministério Público e decide-se em separado.

SÚMULAS - PRECEDENTES

243RSSTJ, a. 4, (8): 219-245, junho 2010

Nem há diversidade de tratamento, quanto ao ponto, do procedimento a

ser observado na Corte Especial e do que deva ser seguido nas Turmas. Basta ler

o que se acha no art. 480 do Código de Processo Civil. Apresentada a argüição,

o Relator ouvirá o Ministério Público e submeterá a questão ao órgão a que

caiba o julgamento do processo. Sucede apenas que, acolhida a alegação no

órgão fracionário, o tema haverá de ser submetido à Corte Especial, pois só essa

poderá declarar a inconstitucionalidade.

O Sr. Ministro Bueno de Souza (Aparte): Como fi ca o nosso art. 200? Ele

está ilegal?

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Não, Exa. O dispositivo guarda perfeita

consonância com a lei. Suscitando-se a inconstitucionalidade, instaura-se o

incidente, trate-se de julgamento na Corte ou no órgão fracionário, e o primeiro

passo será colher-se o parecer do Ministério Público. Isso feito, o incidente será

submetido à apreciação do Colegiado competente para o processo. Se esse for

Seção ou Turma e a argüição merecer acolhida, o incidente será levado à Corte

Especial; rejeitada, prosseguir-se-á no julgamento. Se a competência para o

processo for daquele órgão maior, claro está que se procederá de logo a sua

apreciação.

O Sr. Ministro Bueno de Souza (Aparte): Então, não basta argüir, argüir

envolve também acolher.

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Data venia de V. Exa., permito-me

insistir em que, quanto à instauração do incidente, não há o que decidir, salvo

adotar-se o procedimento claramente estabelecido. A decisão é que, tratando-se

de órgão fracionário, poderá dividir-se em duas fases, dada a impossibilidade de,

naquela sede, declarar-se a inconstitucionalidade.

Acompanho o voto do Sr. Ministro Peçanha Martins. S. Exa. argüiu a

inconstitucionalidade do dispositivo em questão. Há que se instaurar o incidente

na forma regimental.

VOTO PRELIMINAR

O Sr. Ministro Dias Trindade: Sr. Presidente, para abreviar, quero dizer que bastaria alguém argüir inconstitucionalidade e a Corte pararia. Devemos

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

244

dizer, neste primeiro momento, se acolhemos ou não, a argüição. Só depois de a acolher, é que se suspende o julgamento.

Acompanho o voto do Sr. Ministro-Relator, não acolhendo a instauração de incidente.

VOTO PRELIMINAR VENCIDO

O Sr. Ministro José de Jesus Filho: Sr. Presidente. Ouvi, atentamente, todos

os debates. Estou sentindo, com o devido respeito à competência e à cultura de

todos que se pronunciaram, que estamos revogando, neste momento, o art. 199

do nosso Regimento. Estamos negando vigência a um artigo do Regimento. A

maioria está acompanhando o voto do Sr. Ministro-Relator, que nega vigência

ao art. 199 do nosso Regimento. Esse artigo, para mim, deixa de existir, mas

verifico que os privilégios continuam sendo muito fortes, impressionando

profundamente os julgadores.

Peço vênia ao douto Ministro-Relator e a todos que o acompanharam,

para votar conforme o Sr. Ministro Peçanha Martins.

VOTO PRELIMINAR

O Sr. Ministro Assis Toledo: Sr. Presidente, penso que está havendo aqui

uma certa confusão com relação à matéria. Quando o Código de Processo

Civil, no art. 480, e no art. 199 do Regimento, dispõe sobre a argüição de

inconstitucionalidade, não creio que o legislador e o próprio Tribunal tenham

pretendido permitir o impasse nos julgamentos.

Acompanho integralmente o voto do Ministro-Relator. Penso que a

Comissão de Regimento deveria incluir no Regimento preceito no sentido de

que a argüição de inconstitucionalidade e a suscitação de questão preliminar

devam ser feitas antes da votação do mérito. Assim, daríamos mais continuidade

aos julgamentos, ao contrário do que tem acontecido nesta Corte, impedindo-a

de concluir a votação de causas, que já estão decididas na prática.

Acompanho o voto do Relator.

É o meu voto.

SÚMULAS - PRECEDENTES

245RSSTJ, a. 4, (8): 219-245, junho 2010

RETIFICAÇÃO DE VOTO PRELIMINAR VENCIDO

O Sr. Ministro Edson Vidigal: Sr. Presidente, votei acompanhando o

eminente Ministro-Relator. No entanto, peço a palavra, pela ordem, para

reformular o meu voto e acompanhar o Sr. Ministro Peçanha Martins.

É o voto.

VOTO-MÉRITO

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo: Sr. Presidente, mesmo quando o

agravo regimental era um recurso genuinamente previsto no Regimento Interno

da Casa, não havia dúvida de que o prazo para sua interposição, pela Fazenda,

era em dobro. Isso se resolve com a dicção do parágrafo único do art. 109 do

próprio Regimento do STJ: (lê)

Computar-se-á em quádruplo o prazo para contestar e em dobro para recorrer, quando a parte for a Fazenda Pública ou Ministério Público.

Não se há de entender que um recurso tenha sido criado pelo próprio

Regimento Interno, como o regimental, estabelecendo o prazo em dobro para a

Fazenda, e que tenha excluído desse privilégio, o próprio recurso por ele criado.

Esse prazo duplicado só se aplicaria aos recursos legais.

Como esclareceu o nobre Ministro José Dantas, esta discussão não tem

mais razão de ser, porque o recurso, agora, é estabelecido na Lei n. 8.038, que é

de natureza processual, tanto que alterou a redação de diversos dispositivos do

Código de Processo Civil.

Trata-se de um recurso legal, portanto a aplicação do art. 188 é

absolutamente tranqüila.

Acompanho o voto do eminente Ministro-Relator.

É como voto.

Súmula n. 117

SÚMULA N. 117

A inobservância do prazo de 48 horas, entre a publicação de pauta e o

julgamento sem a presença das partes, acarreta nulidade.

Referência:

CPC, arts. 184, § 2º, e 552, § 1º.

Precedentes:

REsp 6.481-SP (2ª T, 13.04.1994 — DJ 09.05.1994)

REsp 6.880-SP (4ª T, 21.08.1991 — DJ 30.09.1991)

REsp 8.415-SP (1ª T, 04.09.1991 — DJ 07.10.1991)

REsp 8.478-SP (4ª T, 17.12.1991 — DJ 06.04.1992)

REsp 14.818-BA (3ª T, 09.12.1991 — DJ 10.02.1992)

REsp 23.650-SP (4ª T, 20.10.1992 — DJ 30.11.1992)

Corte Especial, em 27.10.1994

DJ 07.11.1994, p. 30.050

RECURSO ESPECIAL N. 6.481-SP (1990/0012501-4)

Relator: Ministro José de Jesus Filho

Recorrentes: Indústria de Transformadores Romagnole Ltda e outro

Recorrida: Companhia Energética de São Paulo — Cesp

Advogados: Sérgio Antônio Meda e outro e José Eduardo Rangel de

Alckmin e outros

EMENTA

Processo Civil. Prazo. Pauta de julgamento. CPC, art. 552, § 1º.

Nulidade.

I - “É nulo o julgamento de processo no Tribunal, quando

não respeitado o prazo estabelecido no § 1º do art. 552 do CPC.”.

Precedentes.

II - In casu, efetivada a intimação na sexta-feira e realizado o

julgamento do feito na terça-feira subseqüente, restou desrespeitada a

norma inscrita no § 1º do art. 552 do CPC.

III - Recurso provido para decretar a nulidade do v. acórdão

hostilizado.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas: Decide

a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer

do recurso e dar-lhe provimento, na forma do relatório e notas taquigráfi cas

constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.

Participaram do julgamento os Srs. Ministros Hélio Mosimann, Peçanha

Martins, Américo Luz e Antônio de Pádua Ribeiro. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 13 de abril de 1994 (data do julgamento).

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente

Ministro José de Jesus Filho, Relator

DJ 09.05.1994

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

252

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José de Jesus Filho: Trata-se de recurso especial interposto por Indústria de Transformadores Romagnole Ltda e outra, com fundamento no art. 105, III, alíneas a e c, do permissivo constitucional, sustentando negativa de vigência aos arts. 184, § 2º, e 552, § 1º, do CPC e à Súmula n. 310 do STF, posto que não foi observado o prazo de 48 (quarenta e oito) horas entre a data de publicação da pauta e a da sessão de julgamento. Da mesma forma, ressaltam a imperatividade da correção monetária em ilícitos contratuais, bem como em caso de cumprimento imperfeito do contrato, seja ele administrativo ou não. Apontam, ainda, divergência jurisprudencial.

Admitido o recurso, subiram os autos a esta egrégia Corte, onde o douto Ministério Público manifestou-se pelo provimento do apelo extremo.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro José de Jesus Filho (Relator): No presente caso, há uma

preliminar de nulidade que a meu ver é intransponível.

Com efeito, sustenta a recorrente a nulidade do v. acórdão perseguido, uma

vez que:

a) a pauta teria sido publicada numa sexta-feira, tendo sido o julgamento proferido na primeira terça-feira seguinte, sem medear o prazo de 48 (quarenta e oito) horas, exigido legalmente.

Tenho que assiste-lhe razão, pois a jurisprudência é tranqüila no sentido

de que “é nulo o julgamento de processo no Tribunal, quando não respeitado o

prazo estabelecido no § 1º do art. 552 do CPC”. (Código de Processo Civil e

Legislação Processual em vigor, Th eotonio Negrão, 21ª ed., p. 324, n. 5).

In casu, efetivada a intimação na sexta-feira, a realização do julgamento

somente seria viável na quarta-feira, tendo sido realizado na terça-feira, nulo é o

v. acórdão, por desrespeito a norma legal (art. 552, § 1º, CPC).

Isto posto, conheço do recurso e dou-lhe provimento, a fi m de decretar a

nulidade do v. acórdão, baixando os autos ao tribunal de origem para que profi ra

novo julgamento.

É o meu voto.

SÚMULAS - PRECEDENTES

253RSSTJ, a. 4, (8): 247-270, junho 2010

RECURSO ESPECIAL N. 6.880-SP (1990/0013510-9)

Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo

Recorrentes: Houston James Lamers e outros

Recorridos: Francisco de Assis Pereira e cônjuge

Advogados: Pedro Elias Arcênio e outro e Elizeth Aparecida Zibordi e

outros

EMENTA

Processo Civil. Prazo. Pauta de julgamento. CPC, art. 552, §

1º. Precedentes do STF e do STJ. Nulidade. Recurso conhecido e

provido. Prejudicado o 2º recurso, versando o momento da purgação

da mora.

I - Anula-se o acórdão quando desrespeitado o prazo previsto no

§ 1º do art. 552, CPC.

II - Efetivada a intimação, via imprensa, na sexta-feira, inviável

se mostra a realização do julgamento colegiado na terça subseqüente.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer

do primeiro recurso e dar-lhe provimento, prejudicado o segundo recurso,

nos termos do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam

fazendo parte integrante do presente julgado. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 21 de agosto de 1991 (data do julgamento).

Ministro Athos Carneiro, Presidente

Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Relator

DJ 30.09.1991

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

254

EXPOSIÇÃO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo: Os recorrentes propuseram ação de resolução de contrato de permuta de imóveis, cumulada com reintegração de posse e perdas e danos, alegando que os réus, ora recorridos, não cumpriram a parte que lhes competia na avença, consistente no pagamento de importância em dinheiro (“torna”) e outorga de escritura de terras. Mesmo após a realização de aditamento no ajuste inicial, com majoração da parcela e aumento da dimensão das terras permutadas, ainda assim não teriam os réus adimplido o pactuado.

O pedido foi julgado procedente na r. sentença, declarando-se resolvidos a permuta e o termo aditivo, reintegrados os autores na posse dos imóveis, relegada a apuração das perdas e danos para a execução (rectius, liquidação).

Por maioria de votos, a egrégia Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo deu parcial provimento ao apelo para facultar aos réus “a emenda da mora, com recíproca outorga de escritura e com o pagamento da quantia em dinheiro, devidamente atualizada, na data a ser fi xada em execução” (sic).

Rejeitados os embargos declaratórios, foram interpostos, simultaneamente, recurso extraordinário, com argüição de relevância, e embargos infringentes.

Os embargos infrigentes foram, por igual modo, rejeitados, consagrando-se a tese majoritária no sentido de que a emenda da mora seria possível até a data da contestação.

Contra essa decisão também foi manifestado recurso extraordinário com argüição de relevância.

No juízo de admissibilidade, o primeiro recurso extraordinário (onde se alegou ofensa aos arts. 184, § 2º, e 552, § 1º, CPC, além de dissídio jurisprudencial) foi admitido (possível afronta ao Enunciado n. 310 da súmula do Supremo Tribunal Federal) e inadmitido o segundo, voltado contra o decidido nos embargos infringentes (no qual se alegava dissídio jurisprudencial e vulneração dos arts. 959, I, CC, e 300, CPC).

Os autos estiveram no Supremo Tribunal Federal onde, após convertidos ambos os recursos em especiais, se determinou o retorno deles à origem para os fi ns da admissibilidade do segundo apelo, nos limites da argüição de relevância.

Admitido, na origem, também esse segundo recurso, os autos subiram a esta Corte.

É o relatório.

SÚMULAS - PRECEDENTES

255RSSTJ, a. 4, (8): 247-270, junho 2010

VOTO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo (Relator): Dois são os recursos ora em exame, que devem ser julgados em separado, tendo em vista que há relação de prejudicialidade entre eles.

No primeiro, alega-se negativa de vigência aos arts. 184, § 2º, e 552, § 1º, além de divergência com o Enunciado n. 310 da súmula do Supremo Tribunal Federal, objetivando-se, em síntese, a anulação do julgamento (acórdão na apelação), tendo em vista que a publicação da pauta se deu em uma sexta-feira e a sessão de julgamento se deu na terça seguinte, quando deveria ser na quarta, em obediência ao prazo de 48 (quarenta e oito) horas de antecedência, determinado pelo § 1º do art. 552, CPC.

No segundo recurso, sustentaram os recorrentes haver o v. acórdão ofendido o art. 959-I, do Código Civil, e 300 do Código de Processo Civil, além de dissídio jurisprudencial, porquanto não seria possível purgar a mora ex

re depois de proposta a ação, e, ainda, não ser possível a emenda da mora com a contestação, posto que incompatíveis.

Em relação ao primeiro recurso, razão assiste aos recorrentes, tendo respaldo, inclusive, na jurisprudência que se formou no Supremo Tribunal Federal, como se vê do seguinte aresto:

Prazo. Intimação na 6ª feira. Termo inicial. Prazo hora a hora. Código de Processo Civil, art. 184, § 2º (aplicação). Quando a intimação tiver lugar na 6ª feira, o prazo judicial terá início na 2ª feira imediata, ou primeiro dia útil subseqüente, como diz a Súmula n. 310. A regra não sofre exceção, mesmo que se trate de prazo contado por hora, dado que a norma legal em causa não contém qualquer restrição. Publicada a pauta do julgamento na 6ª feira, o prazo de 48 horas somente se pode contar a partir do início do dia da 2ª feira, não sendo cabível realizar a sessão na 3ª feira, com o prazo ainda em curso. Recurso extraordinário conhecido e provido (RE n. 100.692-SP, Relator Ministro Rafael Mayer, RTJ 108/433).

No mesmo sentido, o RE n. 94.991 (AgRg Edl-RJ), Relator o Ministro

Soares Muñoz (RTJ 109/222), que estampa a seguinte ementa:

Prazo. Pauta de julgamento.

Na contagem do prazo previsto no art. 552, § 1º, do Código de Processo Civil, incide a regra geral estabelecida no § 2º do art. 184 do mesmo Código, de sorte que, publicado o anúncio do julgamento de recurso extraordinário no Diário da Justiça de sexta-feira, o julgamento não pode realizar-se na terça-feira subseqüente. Embargos declaratórios recebidos para anular-se o acórdão.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

256

Ao julgar o RE n. 104.070-DF (RTJ 115/894-900), o eminente Ministro

Francisco Rezek, examinando hipótese idêntica à dos autos, acolheu a tese,

tendo assim se manifestado, no ponto relevante:

Tenho, portanto, que, publicada a pauta do julgamento dos embargos infringentes na sexta-feira, o acórdão proferido em sessão de terça-feira, antes de decorrido o prazo de 48 horas, que somente se poderia contar a partir de 0 (zero) hora de segunda-feira, antecipou-se ao término do prazo, realizando-se prematuramente, em prejuízo da parte, o que implica nulidade (RTJ 115, p. 897).

Tendo em vista que às expressas se reconheceu haver sido publicada a

pauta na sexta-feira e o julgamento sido efetuado na terça, consoante declarado

no douto voto condutor do v. acórdão dos embargos declaratórios (fl s. 239-240),

que se baseou em lição de Pontes de Miranda, há de prover-se o apelo, uma vez

ser a melhor orientação a fi xada nos precedentes do excelso Pretório, no sentido

de que, publicada a pauta na sexta-feira, a sessão de julgamento somente poderá

ser realizada a partir de quarta-feira (se a segunda e a terça — como é óbvio —

recaírem em dias úteis).

Ante o exposto, malferido restou o art. 552, § 1º, do Código de Processo

Civil, impondo-se a anulação do julgamento, realizado às testilhas com a norma

processual, consoante jurisprudência assente nesta Corte (REsp n. 14-MS,

Relator Ministro Waldemar Zveiter, DJ 28.08.1989), merecendo transcrição a

seguinte ementa do acórdão proferido no REsp n. 2.722, relatado também por

aquele eminente Ministro:

Processual Civil. Intimação. Pauta de julgamento. Publicação. Prazo. Art. 552, § 1º, do CPC.

I - É nulo o julgamento de processo no Tribunal, quando não respeitado o prazo estabelecido no § 1º do art. 552 do Código de Processo Civil.

II - Incidência da Súmula n. 310 do STF, mesmo no caso de prazo contado em horas.

III - Recurso especial conhecido e provido.

Destarte, conheço do primeiro recurso por ambos os fundamentos (negativa

de vigência ao art. 552, § 1º, CPC e dissídio pretoriano) e o provejo para cassar

o v. acórdão proferido no julgamento da apelação, determinando o retorno dos

autos ao Tribunal de origem para que seja proferido novo julgamento, como se

entender de direito, restando, em conseqüência, prejudicado o segundo recurso,

interposto quanto ao decidido nos embargos infringentes.

SÚMULAS - PRECEDENTES

257RSSTJ, a. 4, (8): 247-270, junho 2010

RECURSO ESPECIAL N. 8.415-SP (1991/0002910-6)

Relator: Ministro Garcia Vieira

Recorrente: Transportes Della Volpe S/A — Com. Ind.

Recorrida: Municipalidade de São Paulo

Advogados: Peter de Camargo e Maria Fernanda R. M. T. Martins

EMENTA

Administrativo. Interdição de prédio. Julgamento com

inobservância do prazo entre a publicação da pauta e a sessão.

Pauta publicada no dia 07.03.1989 e a sessão realizada em

09.03.1989 não permitiu transcurso de 48 horas, viola o art. 552 do

Código de Processo Civil e conduz à nulidade do julgamento.

Recurso provido para anular o v. acórdão recorrido e que outro

seja proferido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas,

decide a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar

provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator, na forma

do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte

integrante do presente julgado. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 04 de setembro de 1991 (data do julgamento).

Ministro Garcia Vieira, Presidente e Relator

DJ 07.10.1991

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Garcia Vieira: Transporte Della Volpe S/A (fl s. 209-222)

interpõe recurso especial com argüição de relevância ancorado pela Constituição

Federal, art. 105, inciso III, letra a.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

258

Pedido de recurso impugnado às fl s. 224-229.

O recurso não foi admitido (fl s. 231-232), subindo os autos em razão de

provimento de AI, fl . 255.

O recorrente apresentou razões às fl s. 258-271, almejando substituição do

v. acórdão recorrido. A recorrida veio às fl s. 273-277.

A douta Subprocuradoria Geral da República lançou parecer de fls.

288-290, pelo provimento do recurso “para que seja decretada a nulidade do

julgamento e determinada a realização de outro”.

Agita-se em medida provisória de interdição de prédio pedido da

Municipalidade de São Paulo para que seja interditado o de n. 1.009 da Rua

Amazonas da Silva onde se encontra instalada a Transportadora-recorrente, que

não possui a necessária Licença de Localização e Funcionamento.

A sentença monocrática, fl. 152-158, julgou procedente o pedido,

confi rmado pelo v. acórdão de fl s. 200, adicionando-se majoração da verba

advocatícia para 10% do valor da causa.

O recorrente insta pela decretação de nulidade do julgamento por

inobservância do prazo legal de 48 horas que deve mediar entre a publicação da

pauta e a sessão de julgamento (art. 552 e § 1º, do Código de Processo Civil).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Garcia Vieira (Relator): Sr. Presidente, se a publicação da

pauta de julgamento ocorreu no dia 07.03.1989 e a sessão se realizou no dia

09.03.1989 (doc. de fl . 199), aplicando-se o disposto no § 2º do art. 184 do

CPC, foi violado o § 1º do art. 552 do CPC, porque, entre a data de publicação

da pauta e da sessão não decorreu o prazo de 48 horas. Neste sentido são os

precedentes desta colenda Corte (REsp n. 14-MT, DJ 28.08.1989) e de nossa

Corte Maior (RE n. 100.692-SP, RTJ 100/433 e a Súmula n. 310). Não resta a

menor dúvida, também aos prazos fi xados em horas, não se conta o dia do início

(art. 184 do CPC).

Com razão o Dr. Antônio Fernando Barros, digno Subprocurador-Geral

da República, em seu bem lançado parecer, ao acentuar que:

SÚMULAS - PRECEDENTES

259RSSTJ, a. 4, (8): 247-270, junho 2010

Ao que penso, é procedente a pretensão recursal pelo seu primeiro fundamento, ou seja, da nulidade do julgamento a quo por infringência do disposto no art. 552, § 1º, do Código de Processo Civil. É incontroverso que a publicação da pauta ocorreu em 07.03.1989 e a sessão de julgamento foi realizada em 09.03.1989, segundo ressai da certidão de fl . 199. Como a regra do art. 184, § 2º, do CPC, também se aplica aos prazos fi xados em horas, resulta que, no caso em exame, não se observou o prazo estabelecido no art. 552, § 1º, do Estatuto Processual Civil.

Questão semelhante já foi apreciada pela Terceira Turma desse egrégio Tribunal:

Intimação. Pauta de julgamento. Publicação. Prazo. Art. 552, § 1º, do CPC.

I - É nulo o julgamento do processo no Tribunal, quando não respeitado o prazo estabelecido no § 1º do art. 552 do Código de Processo Civil.

II - Aplicabilidade da Súmula n. 310-STF, mesmo no prazo contado em horas.

III - Recurso especial conhecido e provido (Recurso Especial n. 14-MS, Rel. Min. Waldemar Zveiter, in RSTJ 2/596).

O Supremo Tribunal Federal também já se manifestou nesse sentido:

Intimação. Pauta de julgamento. Publicação. Prazo. Código de Processo Civil, art. 552, § 1º.

A inobservância do prazo legal de 48 horas, entre a data de publicação da pauta e a sessão de julgamento, importa em nulidade deste. Precedentes. Recurso extraordinário conhecido e provido (RE n. 93.653-RS, Rel. Min. Rafael Mayer, DJ 04.09.1981).

Como entre a data da publicação da pauta e aquela em que foi realizada a sessão de julgamento não decorreu prazo igual ou superior a 48 (quarenta e oito) horas, nos termos do art. 552, § 1º, do Código de Processo Civil, computado o prazo com observância do art. 184, § 2º, do mesmo Código, o julgamento em que se proferiu o acórdão recorrido é nulo e, em decorrência, o próprio acórdão.

Dou provimento ao recurso para anular o venerando acórdão recorrido (fl s. 200-202) e outro seja proferido.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

260

RECURSO ESPECIAL N. 8.478-SP (1991/0003089-9)

Relator: Ministro Fontes de Alencar

Recorrente: Feldman e Varella Ltda — falida

Recorrida: Feldmann e Varella Ltda — massa falida, representada pelo síndico dativo Manoel Aff onso de André Júnior

Advogados: Walter Martins Pinheiro e outros, e Manoel Affonso de André Júnior

EMENTA

Pauta de julgamento. Prazo.

Nulo é o acórdão quando não observado a prazo medial entre a sessão de julgamento e a publicação da respectiva pauta.

Recurso especial atendido.

Unânime.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo, Barros Monteiro, Bueno de Souza e Athos Carneiro, votaram com o Relator.

Brasília (DF), 17 de dezembro de 1991 (data do julgamento).

Ministro Athos Carneiro, Presidente

Ministro Fontes de Alencar, Relator

DJ 06.04.1992

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Fontes de Alencar: O despacho que admitiu o recurso

especial bem delimitou a controvérsia, dele destacando as seguintes

considerações:

SÚMULAS - PRECEDENTES

261RSSTJ, a. 4, (8): 247-270, junho 2010

Cuida-se de recurso especial, fundado no art. 105, III, a, da Constituição Federal, contra acórdão da Terceira Câmara Civil, que negou provimento a agravo tirado de decisão que, nos autos de falência, indeferiu pedido da recorrente de prestação de caução idônea pelos credores que pretendessem levantamento de dinheiro depositado.

Alega a recorrente que o acórdão contrariou os seguintes dispositivos do Código de Processo Civil: art. 522, § 1º, vez que entre a publicação da pauta e a sessão de julgamento não medeou prazo de 48 horas; art. 588, II, pois pendendo recurso especial contra decisão que estabeleceu que a correção monetária sobre os créditos constantes do quadro geral de credores deve ir até a data do pagamento, o levantamento de dinheiro pelos credores deve ser precedido de caução.

O requisito do prequestionamento está satisfeito, uma vez que a questão pertinente à necessidade de prestação de caução foi abordada pela decisão recorrida, enquanto a falta da necessária anterioridade da publicação da pauta surgiu no próprio acórdão. (Fl. 120)

Processados, vieram os autos a esta Corte, tendo a Subprocuradoria Geral

da República opinado pelo provimento do recurso especial, para anular o

acórdão recorrido (fl s. 128-129).

VOTO

O Sr. Ministro Fontes de Alencar (Relator): Em primeiro lugar, aprecio a

preliminar de nulidade do aresto recorrido em face da alegação de que não fora

respeitado o prazo de 48 (quarenta e oito) horas entre a publicação da pauta e o

julgamento do recurso.

Neste particular assiste razão à recorrente.

Consoante se constata dos autos a publicação da pauta através do Diário

Ofi cial do Estado, se dera no dia 16.03.1990 (sexta-feira) — fl . 99 — e o

julgamento fora realizado na sessão do dia 20.03.1990 (terça-feira) — fl . 87v.

Isto posto, não mediaram as 48 (quarenta e oito) horas entre a publicação da

pauta e a sessão de julgamento, consoante estabelece o art. 552, § 1º, do Código

de Processo Civil.

Assim se pronunciou o egrégio Supremo Tribunal Federal, em aresto da

lavra do eminente Ministro Rafael Mayer, ao julgar o RE n. 100.692, portando

o respectivo acórdão a seguinte ementa:

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

262

Prazo. Intimação na sexta-feira. Termo inicial. Prazo hora a hora. CPC, art. 184, § 2º (aplicação). Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira o prazo judicial terá início na segunda-feira imediata, ou primeiro dia útil subseqüente, como diz a Súmula n. 310. A regra não sofre exceção, mesmo que se trate de prazo contado por hora, dado que a norma legal em causa não contém qualquer restrição. Publicada a pauta do julgamento na sexta-feira; o prazo de quarenta e oito horas somente se pode contar a partir do início do dia da segunda-feira, não sendo cabível realizar a sessão na terça-feira, com o prazo ainda em curso. Recurso extraordinário conhecido e provido.

No mesmo diapasão é o RE n. 94.991 (AgRg no EDcl) relatado pelo

saudoso Ministro Soares Muñoz, nos termos da sua ementa:

Na contagem do prazo previsto no art. 552, § 1º, do Código de Processo Civil, incide a regra geral estabelecida no § 2º do art. 184 do mesmo Código, de sorte que, publicado o anúncio do julgamento de recurso extraordinário no Diário da Justiça de sexta-feira, o julgamento não pode realizar-se na terça-feira subseqüente. Embargos declaratórios recebidos para anular-se o acórdão. (in RTJ 109/222).

E, em seu voto, assim expôs o Min. Soares Muñoz:

... o Diário da Justiça circulou no mesmo dia em que foi editado — sexta-feira.

Mesmo assim, tenho que a melhor orientação é a propugnada pelos agravantes. Não há dúvida de que o prazo por horas é contado de minuto a minuto, mas menos verdade não é que sobre ele incide, como em todos os prazos processuais, a regra do § 2º do art. 184:

Os prazos somente começam a correr a partir do primeiro dia útil após a intimação.

Comentando o art. 552, § 1º, do Código de Processo Civil, Sérgio Bermudes pondera que, na contagem do prazo de quarenta e oito horas, a regra do § 2º do art. 184 deve ser considerada (vol. VII, p. 374).

De seu turno Pontes de Miranda, interpretando o art. 874, § 4º, do Código de 1939, dispositivo que corresponde ao art. 552, § 2º, do atual, escreveu:

O art. 874, § 4º, exige que entre a data da publicação do edital e a sessão do julgamento medeiem, pelo menos quarenta e oito horas. Portanto, que, entre a meia-noite do dia em que foi publicado o edital e o minuto em que começou o dia para o qual se marcou a sessão e se realizou, hajam

SÚMULAS - PRECEDENTES

263RSSTJ, a. 4, (8): 247-270, junho 2010

decorridas, pelo menos, quarenta e oito horas (in “ Comentários ao Código de Processo Civil de 1939”, p. 321, 2ª ed.)

O art. 125, § 4º, do Código Civil, consoante o qual ‘os prazos fi xados por hora contar-se-ão de minuto a minuto’, não afasta, nos prazos processuais, a incidência do § 2º do art. 184 do Código de Processo Civil, já que este dispositivo não abre nenhuma exceção, aplicando-se a qualquer espécie de prazo processual (STF, RF 160/163 e 164). (op. cit., pp. 223-224).

Esta tese também recebeu o beneplácido desta Corte, ao decidir o REsp n.

14, relatado pelo eminente Ministro Waldemar Zveiter, verbis:

Processo Civil. Intimação. Pauta de julgamento. Publicação. Prazo. Art. 552, § 1º, do CPC.

I - É nulo o julgamento do processo no Tribunal quando não respeitado o prazo estabelecido no § 1º do art. 552 do Código de Processo Civil.

II - Aplicabilidade da Súmula n. 310-STF, mesmo no caso do prazo contado em horas.

III - Recurso especial conhecido e provido. (in Rev. STJ n. 2, p. 596).

Acrescento, ainda, como precedente desta Casa o REsp n. 8.415, relatado

pelo eminente Ministro Garcia Vieira.

Em face do exposto, conheço do recurso e lhe dou provimento para,

acolhendo a prefacial, anular o acórdão recorrido e determinar que outro se

profi ra com a observância das formalidades legais.

RECURSO ESPECIAL N. 14.818-BA (1991/0019196-5)

Relator: Ministro Waldemar Zveiter

Recorrentes: José Nunes do Nascimento e outros

Recorridos: José Carlos Mastique de Castro e outros

Advogados: João Carlos Telles e outro e Antônio Roberto de O. Carvalho

e outros

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

264

EMENTA

Processual Civil. Intimação. Pauta de julgamento. Publicação.

Prazo. Art. 552, § 1º, do CPC.

I - É nulo o julgamento do processo no Tribunal, quando não

respeitado o prazo estabelecido no § 1º do art. 552 do Código de

Processo Civil.

II - Aplicabilidade da Súmula n. 310 do STF, mesmo no caso do

prazo contado em horas. Precedentes do STJ.

III - Recurso conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do

recurso especial e lhe dar provimento, na forma do relatório e notas taquigráfi cas

constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.

Custas, como de lei.

Brasília (DF), 09 de dezembro de 1991 (data do julgamento).

Ministro Eduardo Ribeiro, Presidente

Ministro Waldemar Zveiter, Relator

DJ 10.02.1992

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: Trata-se de ação de reintegração de

posse proposta por José Nunes do Nascimento e sua mulher contra José Carlos

Mastique de Castro e outro.

A sentença julgou o autor carecedor da ação e extinto o processo, sem

exame do mérito, com base no art. 295, inciso V, do CPC (fl s. 147-149).

Inconformados, recorreram os autores, alegando, em suma, o cabimento da

reintegratória, no caso (fl s. 155-157).

SÚMULAS - PRECEDENTES

265RSSTJ, a. 4, (8): 247-270, junho 2010

Examinando o feito, a Primeira Câmara Cível do colendo Tribunal de

Justiça da Bahia, à unanimidade, negou provimento à apelação, ao fundamento

de que cuidando-se de arrendamento rural, prevê o Decreto n. 59.666/1966, que

a ação cabível contra o arrendatário é a de despejo e não a reintegração de posse

(fl s. 198-199).

Irresignados, opuseram os apelantes embargos de declaração, pretendendo

a nulidade do acórdão por não-observância do art. 552, § 1º, considerando a

publicação da pauta em uma sexta-feira e a realização do julgamento na terça-

feira subseqüente (fl s. 201-204).

Rejeitados os declaratórios (fl s. 208-209), interpuseram os embargantes

recurso especial, com base no art. 105, inciso III, alíneas a e b, da Constituição,

alegando negativa de vigência dos arts. 236, § 1º, 552, § 1º, e 184, § 2º, do CPC,

bem como dissídio jurisprudencial (fl s. 212-220).

Sem contra-razões, o nobre Presidente o admitiu, apenas, pelo fundamento

da letra a (fl s. 223-224).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter (Relator): Examino a irresignação dos

recorrentes.

O acórdão contra o qual se insurgem os recorrentes, assim, consignou (fl s.

208-209):

1º - A apelação em tela já se encontrava em pauta para julgamento, quando, na assentada de julgamento foi apresentada a petição do douto advogado dos apelantes, juntando um substabelecimento e requerendo vista dos autos para habilitar-se à defesa.

Certo que, àquela altura, impossível seria a retirada do apelo de pauta para atender ao requerido pelo nobre advogado, com inconteste atraso no julgamento do feito que foi ajuizado em 1988, portanto há mais de dois (2) anos passados.

Ora, se a petição mencionada foi despachada no momento do julgamento da apelação em foco, de certeza que da pauta dias antes publicada, não poderia ter constado o nome do advogado substabelecido, entretanto, da referida pauta rezava o nome do advogado dos recorrentes Remilton Lima Bandeira, inexistindo conseqüentemente, qualquer prejuízo para os apelantes, no particular. E,

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

266

2º - No que tange à publicação da pauta numa sexta-feira e a realização do julgamento na terça-feira nenhuma ofensa foi feita ao disposto no art. 552, § 1º, do CPC.

A Câmara tem entendido que em se tratando de contagem de prazo por horas e, sendo distribuída a edição do Diário Ofi cial antes das 8 (oito) horas da manhã de sexta-feira o prazo exigido em lei foi observado.

Por outro lado, aduzem os recorrentes que o sorteio do eminente

Desembargador-Relator se procedeu no dia 15.08.1990 (fl . 192); e o protocolo

da petição de juntada de subestabelecimento e vista dos autos data de um dia

após do r. despacho determinando a remessa dos autos ao eminente Revisor,

proferido em 19 de setembro de 1990 (fl . 192 e verso). O fato de haver aquela

petição chegado às mãos do nobre Relator, a tempo, mas, somente, na própria

sessão do julgamento não lhes pode ser imputado.

Continuando (fl . 216):

Na aferição do tempo entre a intimação e o julgamento não se distingue o prazo contado dia a dia daquele contado hora a hora. Assim a Súmula n. 310 do egrégio Supremo Tribunal Federal intepretava a Lei n. 4.674, de 15 de junho de 1965. Desde a Lei n. 8.079, de 13 de setembro de 1990, o § 2º do art. 184, CPC, passou a vigorar com a redação consagrada na jurisprudência:

§ 2º Os prazos somente começam a correr do primeiro dia útil após a intimação (art. 240 e parágrafo único).

Finaliza, então, sustentando que o acórdão teria dado ao art. 552, § 1º,

do CPC, interpretação divergente da que lhe atribuíra este egrégio Superior

Tribunal de Justiça.

Vale ressaltar, das teses sustentadas pelos recorrentes, apenas uma delas,

no meu entender, merece examinada, qual seja, a da negativa de vigência do art.

552, § 1º, do mesmo diploma legal, que dipõe sobre o interstício de 48 horas

entre a publicação da pauta e o julgamento dos processos que a compõem.

A propósito do tema, adverte Pontes:

Tem de ser publicada, para que os interessados conheçam a ordem dos julgamentos. Não se pode julgar sem se respeitar o pacto, a convenção, a promessa unilateral dirigida ao público, mas especialmente às partes. Não se fala no Código de qualquer cominação, mas o art. 552 não só fala de se ter de publicar a pauta como de ter de mediar entre a publicação e o julgamento pelo menos o espaço de quarenta e oito horas. Diante disso, não se poderia pensar em

SÚMULAS - PRECEDENTES

267RSSTJ, a. 4, (8): 247-270, junho 2010

nulidade não cominada (art. 244): trata-se de elemento necessário à existência do julgamento. Também o art. 154 não pode ser invocado.

A publicidade é externa (publicação no órgão ofi cial) e interna (afi xação na entrada da sala em que se realiza a sessão de julgamento); mas aquela é que é a afi xação a que alude o art. 552, § 1º (‘publicação da pauta’) para se contar o prazo mínimo para se iniciar a sessão de julgamento. (“Comentários ao Código de Processo Civil”, Tomo VIII, Forense, 1975, pp. 223-224).

Nessa mesma trilha de entendimento, Barbosa Moreira:

O conjunto dos feitos a cujo julgamento se há de proceder na mesma sessão vai compor a respectiva pauta, que deve ser publicada no órgão ofi cial, para conhecimento dos interessados, e afi xada à entrada da sala onde se realizar a sessão. A publicação da pauta será obrigatoriamente feita com a antecedência mínima de 48 horas.

Embora a lei não contenha cominação expressa, deve considerar-se nulo o julgamento realizado sem prévia publicação da pauta, ou antes de 48 horas a partir da publicação. Se a pauta foi publicada, com a devida antecedência, mas se omitiu algum feito, não pode ele ser validamente julgado na sessão, a menos que ocorra nova publicação, para suprir a falha, ainda antes das últimas 48 horas. A falta da publicação tempestiva é causa insanável de nulidade, porque não se concebe que o seu fi m — avisar aos interessados com a antecedência necessária — seja atingida por outra forma. Interessados não são, aliás, unicamente as partes e seus procuradores, mas os próprios juízes que hão de participar do julgamento e podem precisar consultar anotações, ou fazer estudos, para se pronunciarem na sessão. (“Comentários ao Código de Processo Civil, Forense, vol. V, 1974, pp. 478-479).

A matéria já foi objeto de debate nesta Terceira Turma, quando do

julgamento do REsp n. 14-MS, de minha relatoria, e naquela assentada, assim,

sustentei:

No caso, segundo revelam os autos, realmente, a publicação da pauta no Diário da Justiça ocorreu em 1º.11.1985, sexta-feira (fl . 164) e, contudo, na sessão ordinária da terça-feira seguinte, dia 05.11.1985, se realizou o julgamento (fl s. 167-177), que culminou com a reforma da r. sentença a quo, colhendo a recorrente de surpresa, impossibilitando-a, alegou, de apresentação de memoriais ou de sustentação oral.

Portanto, razão assiste à recorrente, isto porque, restou demonstrado que o acórdão recorrido, no particular, dissentiu da jurisprudência predominante na Suprema Corte, segundo a qual ‘é nulo o julgamento do processo no Tribunal,

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

268

quando inobservado o prazo do § 1º do art. 552 do Código de Processo Civil’, consubstanciada na Súmula n. 310, verbis:

Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com efeito de intimação for nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira imediata, salvo se não houver expediente, caso em que começará no primeiro dia útil que se seguir.

Incensurável, assim, a r. decisão que admitiu o recurso, porque, na hipótese, existe a alegada afronta àquela disposição processual.

Nesse sentido, dentre outros proferidos pelo Pretório excelso, merecem destaque os seguintes acórdãos:

I - Questão preliminar. Julgamento que antecede ao do mérito. Inocorrência de ofensa ao art. 560 do Código de Processo Civil;

II - Prazo. Intimação na sexta-feira. Termo inicial. Contagem hora a hora. Súmula n. 310.

Quando a intimação se dá na sexta-feira, o prazo judicial tem início na segunda-feira imediata, ou no primeiro dia útil subseqüente; sendo aplicável a Súmula n. 310, mesmo no caso de prazo contado em horas.

Recurso extraordinário conhecido e provido. (RE n. 104.070-DF, Relator, Ministro Francisco Rezek, RTJ 113/01, p. 435).

Intimação. Pauta de julgamento. Publicação. Prazo. Código de Processo Civil, art. 552, § 1º.

A inobservância do prazo legal de 48 horas, entre a data de publicação da pauta e a sessão de julgamento, importa em nulidade deste. Precedentes. Recurso extraordinário conhecido e provido. (RE n. 93.653-RS, Relator Ministro Rafael Mayer — DJ 04.09.1981).

Ante o exposto, conheço do recurso e dou-lhe provimento para anular o julgamento e determinar que outro se realize, com observância das formalidades legais. (RSTJ 2/596)

O acórdão, dessa forma, não só discrepou da melhor doutrina, como

também, da orientação consolidada na jurisprudência deste egrégio Superior

Tribunal de Justiça.

Conheço, pois, do recurso, por ambos os fundamentos, e lhe dou

provimento, para anular o julgamento e determinar que outro se realize, com

obediência das normas processuais pertinentes.

SÚMULAS - PRECEDENTES

269RSSTJ, a. 4, (8): 247-270, junho 2010

RECURSO ESPECIAL N. 23.650-SP (1992/0015045-4)

Relator: Ministro Barros Monteiro

Recorrente: United Arab Shipping Co.

Recorrida: Rachel Lúcia dos Santos

Advogados: Beraldo Fernandes e Hubert Vernon Lencioni Nowill e outros

EMENTA

Pauta de julgamento. Prazo.

É nulo o acórdão quando não observado o espaço de 48 horas entre a publicação da pauta e a sessão de julgamento. Precedentes do STF e do STJ.

Recurso especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Athos Carneiro, Fontes de Alencar e Sálvio de Figueiredo. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 20 de outubro de 1992 (data do julgamento).

Ministro Athos Carneiro, Presidente

Ministro Barros Monteiro, Relator

DJ 30.11.1992

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Barros Monteiro: Cuida-se de recurso especial, fulcrado no

art. 105, inciso III, alíneas a e c, da CF, interposto contra acórdão do Tribunal de

Justiça de São Paulo, que negou provimento a agravo de instrumento tirado em

ação ordinária.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

270

Dizendo que entre a publicação da pauta (06.09.1991 — sexta-feira) e

a data do julgamento (10.09.1991 — terça-feira) não mediou o espaço de 48

horas, apontou a recorrente contrariedade aos arts. 184, § 2º, e 552, § 1º, do

Código de Processo Civil, bem assim divergência interpretativa com a Súmula

n. 310 do STF, com julgados da Suprema Corte e deste Superior Tribunal de

Justiça.

Admitido o apelo extremo, subiram os autos.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Barros Monteiro (Relator): De fato, o julgamento

questionado não observou o prazo mínimo previsto no art. 552, § 1º, do CPC

(cfr. fl . 39).

Esta egrégia Turma já decidiu que “efetivada a intimação, via imprensa,

na sexta-feira, inviável se mostra a realização do julgamento colegiado na

terça subseqüente (REsp n. 6.880-SP, Relator Ministro Sálvio de Figueiredo

Teixeira).

Aos acórdãos colacionados a respeito pela recorrente (REsp n. 14-MS,

Relator Ministro Waldemar Zveiter, RTJ 108/433, 109/222 e 115/894),

acrescento mais o REsp n. 8.478-SP, de que foi Relator o Ministro Fontes de

Alencar.

Caracterizado, pois, à saciedade, o dissídio pretoriano, tenho, de outro lado,

como malferidos os arts. 184, § 2º, e 552, § 1º, do CPC.

Ante o exposto, conheço do recurso por ambas as alíneas do permissivo

constitucional e dou-lhe provimento, a fi m de que, anulado o julgamento, outro

se realize com a observância das formalidades legais.

É como voto.

Súmula n. 118

SÚMULA N. 118

O agravo de instrumento é o recurso cabível da decisão que homologa a

atualização do cálculo da liquidação.

Precedentes:

IUJ no REsp 31.345-SP (CE, 14.04.1994 — DJ 19.09.1994)

Corte Especial, em 27.10.1994

DJ 07.11.1994, p. 30.050

INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL N. 31.345-SP (1993/0000744-0)

Relator originário: Ministro Antônio de Pádua Ribeiro

Relator para o acórdão: Ministro Jesus Costa Lima

Recorrente: Municipalidade de São Paulo

Advogados: Silvano José Vieira e outros

Recorridos: Lídia de Oliveira — espólio e outros

Advogados: Júlio de Oliveira Filho e outro

EMENTA

Processual Civil. Liquidação. Cálculo. Atualização. Recurso

cabível.

A decisão que homologa a simples atualização dos cálculos da

liquidação é impugnável por meio de agravo de instrumento.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Corte

Especial do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por maioria, decidir uniformizar a jurisprudência

na linha de orientação da Terceira Turma e Corte Especial. Votaram vencidos

os Ministros Relator, Cid Flaquer Scartezzini e Américo Luz. Os Ministros

Costa Leite, Nilson Naves, Eduardo Ribeiro, Dias Trindade, José de Jesus, Assis

Toledo, Edson Vidigal, Garcia Vieira, Waldemar Zveiter, Fontes de Alencar,

Hélio Mosimann, Peçanha Martins, José Dantas, Antônio Torreão Braz, Bueno

de Souza e Pedro Acioli votaram com o Ministro Jesus Costa Lima.

Brasília (DF), 14 de abril de 1994 (data do julgamento).

Ministro William Patterson, Presidente

Ministro Jesus Costa Lima, Relator para o acórdão

DJ 19.09.1994

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

276

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Trata-se de incidente de

uniformização de jurisprudência, suscitado pela egrégia Primeira Turma, em

acórdão, de que fui Relator, assim ementado (fl . 259):

Processual Civil. Liquidação de sentença. Cálculos de atualização. Recurso cabível da decisão que os homologa.

Havendo divergência entre os órgãos sobre se o recurso cabível da decisão que homologa os cálculos de atualização da dívida, em liquidação de sentença, é apelação ou agravo, suscita-se incidente de uniformização de jurisprudência, a ser dirimido pela Corte Especial (RISTJ, art. 118 e seguintes).

O voto condutor do aresto está assim fundamentado (fl s. 256-258):

Discute-se, no caso, sobre qual o recurso cabível da decisão que, em liquidação de sentença, homologa os cálculos de atualização da dívida: apelação ou agravo de instrumento.

Sobre a matéria há dissídio entre julgados das Turmas, da Primeira Seção e da Corte Especial, que pude catalogar. Senão vejamos:

Processual Civil. Recurso. Sentença homologatória. Apelação.

Da sentença homologatória de liquidação ou de atualização de cálculos o recurso cabível é a apelação.

Precedentes.

Recurso conhecido e provido. (REsp n. 5.818-RJ (1990/0010916-7), Rel. Sr. Ministro Garcia Vieira, julg. 20.05.1991, publ. DJ 17.06.1991);

Processual Civil. Execução. Cálculo de liquidação. Homologação. Recurso cabível.

Da sentença homologatória de conta de liquidação, bem como da de atualização, o recurso cabível é apelação.

Recurso provido. (REsp n. 8.804-SP (1991/38113), Rel. Sr. Américo Luz, julg. 24.04.1991, publ. DJ 20.05.1992);

Recurso especial. Não-conhecimento. Inexistência de violação do art. 520, III, do CPC.

O recurso de decisão homologatória de cálculo efetuado para mera atualização das importâncias constantes de sentença de liquidação é o de agravo de instrumento.

SÚMULAS - PRECEDENTES

277RSSTJ, a. 4, (8): 271-290, junho 2010

Recurso não conhecido por não ocorrer a alegada ofensa ao art. 520, III, do CPC. (REsp n. 1.677-GO, (1989/12618-0), Rel. Sr. Min. Cláudio Santos, julg. 06.02.1990, publ. DJ 05.03.1990);

Agravo regimental.

Comporta agravo de instrumento, e não apelação, a decisão que homologa a mera atualização de valores constantes de cálculo, já julgado, de liquidação de sentença. (AgRg no Ag n. 3.209-SP ( 1990/0002921-0) Rel. Sr. Ministro Athos Carneiro, julg. 28.08.1990, publ. DJ 24.09.1990);

Processual Civil. Liquidação de sentença promovida contra a Fazenda Pública. Cálculos complementares. Recurso oponível à decisão que os julga.

Nas execuções da espécie, circunstâncias diversas, entre as quais o pagamento do precatório por valores desatualizados, podem dar lugar a liquidações sucessivas, de natureza complementar.

Em cada uma dessas, desde que haja irresignação quanto ao cálculo, faz-se mister pronunciamento do juiz, que não pode ser considerado despacho interlocutório, já que tem efeito terminativo da nova liquidação, mas sentença, a ser executada mediante a expedição de novo precatório — na forma prevista no art. 100 da CF/1988 —, impugnável por meio de apelação. (Emb. de Div. no REsp n. 4.450-RS (1990/00119910), Rel. Sr. Min. Ilmar Galvão, julg. 19.02.1991, publ. DJ 17.02.1992) e

Processo Civil. Cálculo de atualização. Recurso.

A decisão que homologa cálculos de atualização é interlocutória, sendo impugnável, pois, por meio de agravo de instrumento.

Embargos recebidos. (Emb. Div. REsp n. 16.541-0-SP (1992/0015933-8), Rel. Sr. Ministro Costa Leite, julg. 12.11.1992, publ. DJ 14.12.1992).

Esclareço que o julgado da Corte Especial foi tomada por um quorum muito reduzido.

À vista do exposto, suscito o presente incidente de uniformização de jurisprudência, a ser dirimido pela Corte Especial, nos termos do art. 118 e seguintes do Regimento Interno desta Corte. Creio que, dependendo a votação do incidente do quorum qualifi cado de dois terços, será possível que se uniformize a jurisprudência sobre o assunto, elaborando-se súmula que expresse a orientação do Tribunal a seu respeito.

A douta Subprocuradoria Geral da República, em parecer do Dr. Paulo A.

F. Sollberger, manifestou-se no sentido de que a decisão que homologa meros

cálculos de atualização deve ser atacada via agravo de instrumento (fl . 264).

É o relatório.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

278

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): Sr. Presidente, sempre votei no sentido de que a decisão que homologa a atualização de cálculos de liquidação consubstancia sentença, sendo, pois, apelável e não agravável. Votei, assim, tendo em vista uma série de argumentos: um, no sentido de que as decisões homologatórias consubstanciam sentenças, por isso todas elas devem ser objeto de apelação e não de agravo; o outro, tendo em conta que, se assim não se procedesse, as partes poderiam ser induzidas a utilizar recurso outro que não o da apelação, pelo próprio despacho. É o que acontece freqüentemente quando o juiz explicitamente afi rma “homologo por sentença o cálculo de liquidação”. Se o próprio juiz chama o seu ato de sentença, exigir que a parte entre com agravo e não apelação, a meu ver, não é razoável. O argumento principal, porém, está em que hoje em dia, tendo em vista aspectos circunstanciais da nossa sociedade, especialmente a questão da incidência da correção monetária, objeto de sucessivas leis, que são editadas no curso do processo, muitas questões afl oram, cuja solução nem sempre se reveste de simplicidade. Torna-se indispensável que se decida o mérito dessas questões, tendo em conta o objeto da liquidação, que é fi xar o an debeatur e o quantum debeatur. Obedecido esse limite, o que se profere na verdade é uma decisão fi nal, confi gurada como sentença.

Sobre o tema, pode-se fazer um raciocínio semelhante aos embargos declaratórios. Estes têm a mesma natureza do acórdão embargado, quer dizer, uma decisão integrativa. Os cálculos de atualização constituem, na verdade, uma decisão integrativa. Se os primeiros são impugnáveis através de apelação, por que não os segundos.

Cumpre ressaltar, ademais, que o cabimento do recurso apelatório propiciará a subida dos próprios autos principais ao Tribunal e, portanto, melhor exame das questões suscitadas, além de economia, por dispensar a expedição de traslados, com os prejuízos daí derivados. Tal proceder não irá trazer qualquer prejuízo para o feito principal, porquanto, em casos tais, fi ca paralisado, na 1ª instância, a espera da decisão a ser proferida no agravo. Com efeito, embora este não tenha efeito suspensivo, não haverá como dar andamento ao processo principal, com a expedição de precatório, por exemplo, sem que os cálculos se tornem defi nitivos. Eventual execução provisória há de ser feita em autos apartados, nos termos da lei.

À vista do exposto, voto no sentido de que a jurisprudência seja uniformizada no sentido dos precedentes das egrégias Primeira e Segunda Turmas, referidos no relatório.

SÚMULAS - PRECEDENTES

279RSSTJ, a. 4, (8): 271-290, junho 2010

VOTO

O Sr. Ministro Jesus Costa Lima: A hipótese em debate não se refere

à sentença que julga os cálculos da liquidação, quando o recurso cabível

é o de apelação, porém de decisão relativa a simples atualização da conta

anteriormente homologada. Ali, aparelhada se encontrava a execução, mas

a infl ação e/ou a demora no efetuar o pagamento da quantia fi xada, impôs

que aqueles cálculos fossem atualizados, e só. O juiz, no curso do processo

executivo, resolveu uma questão incidente, isto é, corrigiu o valor da conta a

ser paga.

Neste sentido proferi voto no REsp n. 36.746-8-SP:

Processual Civil. Liquidação por cálculo. Esboço apresentado pela parte. Atualização da conta. Recursos cabíveis.

1. A homologação dos cálculos, ainda que decorrentes de conta elaborada pela parte, torna certo o valor da condenação, cabendo recurso de apelação. Todavia, quando se trata de homologação de pura e simples atualização do quantum, o recurso cabível é o de agravo de instrumento.

2. Precedentes do STJ.

Desse modo, peço vênia aos eminentes Ministros que me antecederam

para uniformizar a jurisprudência na linha dos precedentes desta Corte nos

Embargos de Divergência no Recurso Especial n. 16.541-0-SP, de que foi

Relator o eminente Ministro Costa Leite, no REsp n. 1.677-GO, Relator

o eminente Ministro Cláudio Santos e no AgRgAg n. 3.209-SP, Relator o

eminente Ministro Athos Carneiro.

Assim, tratando-se de simples atualização dos valores já liquidados, o

recurso cabível é o de agravo de instrumento.

VOTO

O Sr. Ministro Costa Leite: Sr. Presidente, pedindo respeitosa vênia ao

eminente Ministro-Relator, persisto no entendimento manifestado no voto

que proferi nos Embargos de Divergência no REsp n. 16.541-SP, cuja cópia

farei oportunamente juntar, constituindo-se nas razões de decidir. Acompanho,

assim, o voto do eminente Ministro Costa Lima.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

280

ANEXO

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 16.541-SP

(1992/0015933-8)

VOTO

O Sr. Ministro Costa Leite (Relator): Apresenta-se perfeitamente

caracterizado o dissídio de interpretação entre Turmas do Tribunal, a propósito

do recurso cabível de decisão que homologa cálculos de atualização.

Superado o debate que se estabeleceu em torno do recurso prestadio a

impugnar decisão homologatória de cálculos de liquidação, com a jurisprudência

pacifi cando-se no sentido de que cabe apelação, e não agravo de instrumento,

a controvérsia projeta-se hoje nos domínios da atualização dos cálculos,

registrando-se vacilações na própria jurisprudência do Supremo Tribunal

Federal, conforme fi ltra das notas de Th eotonio Negrão ao art. 605 do CPC.

Tenho para mim, contudo, que os arestos trazidos a confronto estampam a

interpretação correta. Como enfatizou o eminente Ministro Athos Carneiro, no

percuciente voto que proferiu no AgRg no Ag n. 3.209-SP, não se confundem

com a sentença homologatória do cálculo de liquidação de sentença as

posteriores e eventuais decisões de atualização da conta.

De fato, tais decisões, à luz do art. 162 do CPC, que defi ne os atos de juiz,

são interlocutórias.

A liquidação é um procedimento preparatório, que serve de união entre a

sentença condenatória, que lhe será a fonte, e a execução que será seu objetivo,

no preciso magistério de Alcides Mendonça Lima (“Comentários ao Código de

Processo Civil”, Forense, 2ª ed., vol. VI, tomo II, p. 627).

Vai daí que a liquidação por cálculo se encerra com a sentença

homologatória, posta em aparelhar a execução. A posterior atualização da

conta, no curso do processo de execução, há necessariamente de ser vista como

incidente deste, de maneira que contra a decisão que a homologa cabe agravo de

instrumento.

Na espécie vertente, sinale-se, em linha de rigor técnico, sequer há falar em liquidação, porquanto se trata de execução fi scal. O cálculo homologado a fl s. é de mera atualização do valor do título executivo.

SÚMULAS - PRECEDENTES

281RSSTJ, a. 4, (8): 271-290, junho 2010

Tais as circunstâncias, Sr. Presidente, recebo os embargos opostos pela Fazenda do Estado de São Paulo, subsistindo íntegro, portanto, o v. acórdão da Décima Sétima Câmara Civil do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que não tomou conhecimento da apelação interposta pelo ora embargado.

É o meu voto.

VOTO

O Sr. Ministro Nilson Naves: Sr. Presidente, de acordo com o voto que proferi nos EREsp n. 16.541, bem como votos que tenho proferido na Terceira Turma, entendo cabível o agravo de instrumento.

Data venia do Sr. Relator, adiro ao voto do Sr. Ministro Costa Lima.

VOTO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: O pressuposto de qualquer execução é a existência de um título de dívida líquida e certa, judicial ou extrajudicial. Aqui se cogita de atualização de cálculo em execução já iniciada. Ocorre que, instaurada a execução, o correr do tempo faz com que sejam necessárias algumas atualizações. Dizer-se que cada atualização se faz por sentença, signifi ca que se instaurou um novo processo. Teríamos, segundo essa doutrina, um sem número de processos que se iniciariam com o despacho determinando fossem os autos ao contador para atualizar o cálculo. Homologado, estaria fi ndo e caberia apelação.

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): Indago a V. Exa. qual a natureza jurídica do processo de liquidação de sentença no entender de V. Exa.?

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Diga V. Exa., por obséquio. Acolherei a lição de V. Exa.

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): Estou perguntando a V. Exa., porque sustentei que o processo de liquidação de sentença é um processo de conhecimento embora limitado à fixação do an debeatur e do quantum debeatur.

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Importa que a atualização de cálculo não

é um processo de liquidação novo.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

282

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): Pois é. Mas é um processo de conhecimento. Como se encerra a relação jurídica de conhecimento? Com uma sentença.

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Cada vez que o juiz mandar o contador contar juros ou atualizar a correção monetária instaura-se um novo processo de conhecimento, a ser encerrado com a sentença?

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): Não há dúvida alguma. O problema decorre desse aspecto ontológico, da natureza jurídica do processo de liquidação, porque nem tudo acontece com essa grande simplicidade. Hoje os cálculos, muitas vezes, são complexos. Para examinar esses cálculos, freqüentemente, temos de requisitar os autos principais. O aperfeiçoamento das regras constitucionais sobre a expedição de precatórios talvez até esvaziasse essa questão. Mas, até que isso aconteça, a verdade é que têm surgido questões complexas, em razão dessas numerosas leis de correção monetária. Confesso que a matéria, de fato, é muito controvertida e o importante é que, de logo, a decidamos e elaboremos uma súmula sobre o assunto.

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Não sou infenso aos aspectos pragmáticos

salientados pelo eminente Ministro Antônio de Pádua Ribeiro. Ocorre que,

mesmo do ponto de vista pragmático, mais se recomenda seja agravo o recurso.

O que não se pode é suspender uma execução em curso a cada momento que se

atualize um cálculo.

O Sr. Ministro Assis Toledo: Nova atualização, nova apelação, volta, nova

atualização, nova apelação ... isso não tem fi m.

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): Se os autos fi carem na

Primeira Instância, haverá necessidade de novas contas, de novos agravos.

O Sr. Ministro Bueno de Souza: A difi culdade da questão, como já foi

dito, não é determinante da natureza do ato jurisdicional praticado, nem,

portanto, deve infl uir sobre o tipo de recurso cabível. Há questões, estritamente

processuais, da maior difi culdade doutrinária e legal, que são extremamente

confl itivas em jurisprudência.

Por outro lado, admitir que, em qualquer caso, a mera atualização confi gure — como dizia Pontes de Miranda — parênteses de cognição, resulta, a meu ver, imprópria pelo menos nas cenas do Direito Brasileiro de hoje.

SÚMULAS - PRECEDENTES

283RSSTJ, a. 4, (8): 271-290, junho 2010

Quando assim nos pronunciamos sobre este tema, sempre trabalham em nossa mente aqueles subsídios doutrinários que configuram o Direito Processual, no contexto da literatura universal. Para ela, não foi importante, o que hoje nos ocupa, porque não enfrentaram eles processo infl acionário como o brasileiro, que desconheciam.

É impróprio, portanto, trazer doutrinas de outro contexto e aplicá-las, por inteiro, a uma situação tão típica como a nossa.

Durante o andamento de um processo, entre nós, é comum surgirem novos critérios legais de correção monetária. Já não se trata, aí, de liquidar; mas, de adaptar uma liquidação já feita e homologada a uma situação que se apresenta no curso da execução.

Por isso, quando se optou, na Quarta Turma e na Terceira Turma, bem como em outras Turmas do Tribunal (e mesmo nesta Corte Especial) pelo agravo, optou-se por um critério mais condizente à realidade, porque o ato que atualiza o cálculo não impede que outro ato atualizador venha a ser praticado, no futuro, o que retira deste ato a natureza de sentença, como ato que põe termo ao processo (ou por encerrá-lo, pura e simplesmente, ou por decidir a causa, de modo cabal).

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Peço vênia ao eminente Ministro-Relator, cujos propósitos são evidentemente os mais louváveis, para acompanhar o Sr. Ministro Costa Lima.

VOTO

O Sr. Ministro José de Jesus Filho: Sr. Presidente. Quando se apreciou a

questão na Corte, da qual foi Relator o Sr. Ministro Costa Leite, eu não estava

presente — se estivesse, como foi unânime, por mais essa razão estaria vinculado

à decisão até então proferida —, mas conferindo com o Sr. Ministro Eduardo

Ribeiro — que é um processualista, também a exemplo do Sr. Ministro Antônio

de Pádua Ribeiro, por sinal dois grandes processualistas —, eu estava em dúvida:

parecia que o Supremo Tribunal Federal havia decidido que essa questão seria

agravo de instrumento, S. Exa. confi rmou que o Supremo Tribunal Federal

também entende que a matéria se resolve pelo agravo de instrumento.

Poderia até pedir vista para conferir, mas não vou fazê-lo para que a

questão chegue ao seu fi nal, porquanto estou com alguns processos pendentes

na Segunda Turma para julgar sobre esse tema.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

284

Diante dessas colocações, embora respeitável a colocação do Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, que respeito e admiro por sua competência em matéria processual, quero pedir vênia para acompanhar o Sr. Ministro Costa Lima.

Como ressaltei, Sr. Presidente, os argumentos do Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro são signifi cativos, sem dúvida nenhuma, S. Exa. é um profundo conhecedor da matéria, seus votos são extremamente seguros em matéria de processo dentre outras.

Nesse particular, entendo que na atualização o recurso deve ser o agravo de instrumento, porque toda vez que se atualizar o cálculo, o processo subirá, depois, ao descer, terá que ser reatualizado, e a parte poderá usar desse expediente repetidamente para retardar o pagamento.

Com estas breves considerações, peço muitas vênias ao Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, para acompanhar o Sr. Ministro Jesus Costa Lima.

VOTO

O Sr. Ministro Garcia Vieira: Sr. Presidente: O precedente citado pelo eminente Ministro-Relator, da Primeira Turma, do qual fui Relator, é de 1991. Agora, já não penso mais assim, e nem é o entendimento que foi consagrado na Primeira Turma.

Hoje, entendemos que só cabe apelação da sentença que julga liquidação. Das demais, cabe agravo.

Por isso, peço vênia ao eminente Ministro-Relator, a quem admiro muito, para acompanhar o eminente Ministro Jesus Costa Lima, data venia.

VOTO-VOGAL

O Sr. Ministro Waldemar Zveiter: Sr. Presidente, também louvo a iniciativa do eminente Ministro Antônio de Pádua Ribeiro ao tempo em que reconheço que a matéria é extremamente controvertida, e foi controvertida à época em que o egrégio Supremo Tribunal Federal era o competente para decidir essas questões, certo que, ultimamente, preponderou a sua jurisprudência no sentido de admitir-se o agravo, tendo-se a decisão como interlocutória.

Já tinha compromisso com essa tese como advogado, mantive-a como desembargador, e venho mantendo-a também aqui neste Tribunal. Matéria,

SÚMULAS - PRECEDENTES

285RSSTJ, a. 4, (8): 271-290, junho 2010

aliás, assente na egrégia Terceira Turma. Além do que, também participei do julgamento dos embargos, de que foi Relator o eminente Ministro Costa Leite, mantendo o mesmo entendimento.

Solicito vênia ao eminente Ministro Antônio de Pádua Ribeiro para dissentir, reiterando ser louvável sua iniciativa, porque vamos uniformizar, afi nal, entendimento, editando súmula.

Peço vênia, então, para acompanhar o Sr. Ministro Jesus Costa Lima.

VOTO-VOGAL

O Sr. Ministro Fontes de Alencar: Sr. Presidente, inúmeras vezes tenho votado, na Quarta Turma, pela possibilidade de interposição do agravo de instrumento da decisão que simplesmente atualiza cálculos.

Não encontro razões para alterar este meu pensar.

Assim, sem prejuízo das homenagens que presto ao eminente Ministro-Relator, manifesto o meu voto.

VOTO-VOGAL

O Sr. Ministro Hélio Mosimann: Sr. Presidente, tenho votado

solitariamente na Segunda Turma, sempre sustentando o cabimento do agravo

de instrumento.

Da mesma forma, acompanhei aqui na Corte o voto do eminente Ministro

Costa Leite nos Embargos de Divergência no Recurso Especial n. 16.541-SP,

em 12 de novembro de 1992.

De maneira que, também peço vênia ao ilustre Ministro Antônio de Pádua

Ribeiro, que, aliás, conhece bem a minha posição na Turma, para acompanhar o

voto do não menos preclaro Ministro Jesus Costa Lima.

Resumo assim os argumentos:

Filio-me à corrente daqueles que consideram cabível, em casos que tais, o

agravo e não a apelação.

Nesse sentido, além dos votos que tenho proferido na Turma isolada

(REsps n. 4.450, 10.237, 15.546, 18.574 e 21.392, todos de São Paulo), decidiu

a egrégia Quarta Turma, no julgamento do Agravo Regimental no Agravo n.

3.209-SP, DJ 24.09.1990, Rel. Min. Athos Carneiro:

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

286

Agravo regimental. Comporta agravo de instrumento, e não apelação, a decisão que homologa a mera atualização de valores constantes de cálculo, já julgado, de liquidação de sentença.

Da mesma forma, a egrégia Primeira Turma no REsp n. 23.274-4-SP, DJ

03.11.1992, Rel. Min. Gomes de Barros.

É que, em decorrência do disposto no art. 520, inciso III, e ainda no art.

605, ambos do Código de Processo Civil, da sentença homologatória do cálculo

cabe apelação. Sentença é o ato pelo qual o juiz põe termo ao processo decidindo

ou não o mérito da causa. Ora, se a sentença homologa o cálculo, encerrando a

liquidação que antecede a execução, é apelável. Já as decisões subseqüentes, que se

pronunciam sobre incidentes no curso da execução, inclusive sobre cálculos de

atualização de contas, tendo o caráter de interlocutórias, são agraváveis.

Eis o voto.

VOTO

O Sr. Ministro Peçanha Martins: Sr. Presidente, essa matéria foi levada a

discussão na Primeira Seção.

Logo que cheguei ao Tribunal, lembro que a enfrentamos na Primeira

Seção, e disse da minha experiência como advogado da Petrobrás, atuando na

defesa da Empresa, exatamente nas desapropriações. Trabalhei lá 28 (vinte

e oito) anos e deixei processos, pelo menos alguns deles, em aberto, no que

diz respeito à liquidação das desapropriações. Isso porque, me lembro bem,

conheci decisões de quase todos os Ministros do Tribunal Federal de Recursos

apreciando recursos, ora de apelação, ora de agravo de instrumento interpostos

em cálculos de liquidação de sentença e de mera atualização de cálculo de

liquidação.

Na verdade, a dúvida surgiu no Supremo Tribunal Federal e foi ele quem

definiu primeiro, como sentença, aquelas homologações efetuadas nesses

meros cálculos de atualização. É verdade, que, posteriormente, modifi cou a

jurisprudência para declarar cabível o agravo de instrumento.

O fato é que, enquanto as partes, sobretudo o Estado, não concorda no

pagamento do preço real, mantida a infl ação o processo se eternizará. Lembro-

me bem que surgiu até jurisprudência no próprio Supremo Tribunal, da lavra do

eminente Ministro Aldir Passarinho, que determinou se estabelecesse que seria

SÚMULAS - PRECEDENTES

287RSSTJ, a. 4, (8): 271-290, junho 2010

necessário o decurso de um ano para admitir-se a correção. Tal entendimento

não poderia prevalecer, pois a infl ação chegou a níveis de 80% ao mês e a

Constituição impõe o pagamento do justo preço. Esta realidade conduziu

a Primeira Seção a decidir que, ainda que se tratasse de mera atualização

de uma sentença de liquidação, ou seja, de uma sentença que estabeleceu a

liquidez e a certeza do julgado, tais eram as difi culdades a enfrentar, sobretudo

as mutações de índices e cálculos e a freqüência com que mudavam, que seria

mais conveniente uniformizar-se a jurisprudência com a adoção do recurso de

apelação.

E ainda há pouco dizia que tive oportunidade de fazer três cálculos num

mesmo processo, com valores inteiramente diferentes, só para demonstrar

que era possível, desde que fosse bem montado o cálculo, chegar a resultados

diferentes, utilizando-se desses índices todos que até aqui foram editados.

Diante dessa perplexidade e do menor custo para a própria parte, melhor seria

o processo subir em apelação. E foi por isso que assim decidimos na Primeira

Seção. Mas se estabeleceu a divergência entre as Turmas e já foi dirimida

pela egrégia Corte, no julgado anterior a que se referiu o próprio Relator e,

exatamente porque a decisão foi tomada ainda por um número insufi ciente, é

que o eminente Ministro Pádua Ribeiro resolveu, para pacifi car a matéria, de

uma vez por todas, suscitar esse incidente de uniformização.

Realmente, não há como dissentir da exposição feita pelo Min. Bueno de

Souza. Numa mera atualização de cálculo, ainda que homologada por sentença,

não há confundir com a sentença que põe termo ao processo de liquidação,

tornando líquido e certo o quantum debeatur.

Com essas considerações, acompanho a Corte no sentido de uniformizar a

jurisprudência, defi nindo o agravo como o recurso competente nessas hipóteses.

VOTO

O Sr. Ministro José Dantas: Sr. Presidente, também tenho compromisso

com a tese de que, no recálculo da atualização monetária das dívidas, cabível

é apenas o recurso de agravo. Farei oportuna juntada do meu pronunciamento

no antigo Tribunal Federal de Recursos, e já agora, na Quinta Turma, votando

sempre nesse sentido.

Acompanho o Sr. Ministro Jesus Costa Lima.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

288

ANEXO

APELAÇÃO CÍVEL N. 74.672

VOTO

O Sr. Ministro José Dantas (Relator): Srs. Ministros, tocante às decisões

homologatórias do cálculo do Contador, convém que, para efeito do recurso,

se faça distinção entre as execuções por título judicial e as intentadas por título

extrajudicial.

Na verdade, no primeiro caso, poderá acontecer que a sentença

condenatória imprescinda de liquidação, daí decorrendo o julgamento a que se

refere o art. 611 do CPC, e de cuja sentença a apelação será recebida no efeito

apenas devolutivo, como bem o diz o art. 520, III, do prefalado diploma.

Enquanto isso, nas execuções por título extrajudicial, mormente por títulos

fiscais, de induvidosa certeza e liquidez, não se confunde com o processo

de liquidação por cálculo a simples conta de atualização do débito, cuja

homologação não se alça ao status de sentença, senão que se contém nos limites

mais singelos das decisões interlocutórias.

Aliás, nesse sentido, a Turma tem os seus próprios precedentes, alinhados

à orientação do Tribunal, como se colhe dos acórdãos abaixo ementados, por

mim relatados, exatamente distintivos das analisadas conotações de um e outro

daqueles tipos de execução. Vejam-se, em ressunta, os traços discriminantes:

Ementa: Processual Civil. Liquidação de sentença. Apelação. Seu cabimento, no caso de liquidação da sentença, como está precisamente expresso no art. 520, III, do CPC. (AC n. 51.152, Sexta Turma, Sessão de 22.09.1980)

Ementa: Processual Civil. Execução fi scal não embargada.

Apelação. Da decisão que homologa os cálculos de atualização de dívida exeqüenda não cabe apelação, por lhe faltar a terminatividade sentencial a que alude o CPC, art. 162, § 1º, e por não lhe recomendar essa qualificação qualquer outra regra do mesmo diploma. Apesar de incabível a apelação, é possível convertê-la em agravo, conforme o prazo. (AC n. 64.103, Sexta Turma, Sessão de 22.09.1980)

Fiel à colacionada jurisprudência, tenho que o caso não comporta apelação.

SÚMULAS - PRECEDENTES

289RSSTJ, a. 4, (8): 271-290, junho 2010

Inobstante, custa-me admitir “erro grosseiro” na interposição de que se

trata, consoante mesmo as vacilações jurisprudenciais sobre a espécie. Daí que,

em homenagem ao consagrado princípio da fungibilidade dos recursos, converto

a apelação em agravo de instrumento, para dele conhecer, dado que o recurso foi

interposto no prazo de cinco dias, contados da intimação da decisão (fl s. 107 e

108).

Contudo, vislumbro, de logo, irremovível óbice à prosperidade do

agravo, pelo mérito das questões debatidas. É que, a se tratar de execução

não embargada, da via de impugnação dos cálculos de atualização da dívida,

logicamente, não poderá se socorrer o executado, para opor-se ao montante da

multa (que quer reduzida a 40%), e para reduzir a correção monetária e os juros,

reduções essas defendidas a título do depósito apenas parcial, confessadamente

feito em equivalência ao valor que ao executado parecia ser devido e não ao valor

do débito consignado nas execuções propostas. Na verdade, as mencionadas

matérias, tocantes ao estado da dívida por ocasião do ajuizamento, tinham por

conduto exclusivo de defesa os embargos à execução, via a que não poderá servir

de sucedâneo a simplória impugnação dos cálculos ou sua repetição através de

recurso contra a homologação da atualização do débito exeqüendo.

Em suma, converto a apelação em agravo, recurso ao qual nego provimento.

VOTO

O Sr. Ministro Antônio Torreão Braz: Sentença homologatória de

liquidação só existe uma. Na liquidação por cálculo do contador, aquela a que se

refere o art. 605 do CPC; na liquidação por arbitramento, a mencionada no art.

607; na liquidação por artigos, a que o juiz profere após o procedimento a que alude o art. 609.

A atualização monetária do cálculo é um incidente da execução. A decisão que a homologa é, portanto, interlocutória, impugnável através de agravo de instrumento, ex vi da lei instrumental (art. 522).

Acompanho o voto do Ministro Costa Lima.

VOTO

O Sr. Ministro Bueno de Souza: Sr. Presidente, não custa acrescentar que, em numerosos casos, as partes nem mesmo suscitam questões: os autos

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

290

simplesmente vão ao cálculo e voltam, quando feitos, para que o juiz os homologue, por não haver impugnações. Depois de feitos, é certo, as partes podem impugná-las. É bem verdade que o assunto oferece ensejo a polêmicas.

Com a devida vênia do Sr. Ministro Relator, voto com a maioria.

VOTO

O Sr. Ministro Pedro Acioli: Sr. Presidente, sempre votei de conformidade com o entendimento ora sufragado pelo eminente Ministro Torreão Braz, no sentido de que só há uma conta de liquidação, que é por artigos; as demais são apenas de atualização, são incidentes processuais, e que o recurso cabível, no caso, seria o agravo de instrumento. Mas, na conta de liquidação, na primeira liquidação, é que é apelação.

Com essas considerações, peço vênia ao eminente Ministro-Relator, a quem sempre acompanho, para aderir ao voto do eminente Ministro Jesus Costa Lima.

É como voto.

VOTO

O Sr. Ministro Américo Luz: Sr. Presidente, fi co solidário com o eminente Ministro-Relator, de modo que, embora eu confesse já haver flutuado na fronteira que separa o agravo de instrumento da apelação, convenci-me de que, realmente, nas sentenças homologatórias é cabível apelação e não agravo, com a devida vênia, embora a questão já esteja resolvida.

Súmula n. 119

SÚMULA N. 119

A ação de desapropriação indireta prescreve em vinte anos.

Referência:

CC/1916, arts. 177 e 550.

Precedentes:

REsp 4.009-SP (2ª T, 03.09.1990 — DJ 24.09.1990)

REsp 7.188-SP (1ª T, 16.06.1993 — DJ 30.08.1993)

REsp 7.553-SP (1ª T, 22.09.1993 — DJ 18.10.1993)

REsp 8.488-PR (2ª T, 29.11.1993 — DJ 14.03.1994)

REsp 17.041-GO (2ª T, 07.02.1994 — DJ 14.03.1994)

REsp 20.213-SP (1ª T, 05.10.1992 — DJ 16.11.1992)

REsp 30.674-SP (1ª T, 25.10.1993 — DJ 22.11.1993)

REsp 33.399-SP (2ª T, 04.04.1994 — DJ 18.04.1994)

REsp 36.954-RJ (2ª T, 15.09.1993 — DJ 25.10.1993)

Primeira Seção, em 08.11.1994

DJ 16.11.1994, p. 31.143

RECURSO ESPECIAL N. 4.009-SP (1990/0006629-8)

Relator: Ministro Ilmar Galvão

Recorrente: Prefeitura Municipal de Espírito Santo do Pinhal

Recorrido: Hermínio Martini — espólio

Advogados: Carolino Sucupira Mendes Silva e José Clastode Martelli

EMENTA

Ação expropriatória indireta. Imóvel irregularmente ocupado pela

Municipalidade. Indenização pleiteada por sucessor do proprietário.

Legitimidade.

Pelo nosso sistema jurídico, os bens transmitem-se

automaticamente aos sucessores, no caso de morte do proprietário.

A ação expropriatória indireta, por fundar-se no direito de

propriedade, não está sujeita ao prazo de prescrição qüinqüenal,

devendo-se-lhe aplicar o art. 177 c.c. os arts. 550/551 do Código Civil.

Caso em que a nomeação do perito, contrariamente ao alegado,

recaiu sobre profi ssional qualifi cado.

Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não

conhecer do recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos

autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Custas, como de

lei.

Brasília (DF), 03 de setembro de 1990 (data do julgamento).

Ministro Américo Luz, Presidente

Ministro Ilmar Galvão, Relator

DJ 24.09.1990

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

296

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ilmar Galvão: O Município de Espírito Santo do Pinhal

interpôs recurso extraordinário, fundado no art. 119, III, letra a, da CF/1967,

contra v. acórdão do egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que,

em ação expropriatória indireta, limitou-se a reduzir a indenização fi xada na

sentença.

Disse haver sido ofendido o art. 145 do CPC, por haver sido designado

perito sem curso universitário e sem registro no órgão competente; os arts. 283

e 401 do mesmo Código, já que o decreto expropriatório não foi trazido para

os autos; os arts. 531, II, c.c. 530, inciso IV, e 533 do Código Civil, por haver

sido dispensada a prova do direito de propriedade dos autores sobre o imóvel

questionado; o art. 590, § 2º, inciso II, combinado com o art. 178, II, também

do Código Civil, e o art. 1º do Decreto n. 20.910, por haver sido indevidamente

afastada a prescrição qüinqüenal.

Aduziu, ainda, haver a mencionada decisão entrado em divergência com

acórdãos de outros tribunais, que indicou.

O recurso, convertido em especial, foi recebido e processado.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Ilmar Galvão (Relator): A sem-razão do Recorrente é

manifesta.

Com efeito, no que tange à nomeação do perito, com acerto decidiu o v.

acórdão recorrido, in verbis:

A ... a nomeação do perito ajusta-se ao disposto no art. 145 do Código de Processo Civil, com a nova redação que foi dada pela Lei n. 7.270, de 12.12.1984, desde que recaiu em profi ssional habilitado (Resolução n. 218, de 29.06.1973, arts. 1º e 2º), obviamente capaz de proceder a uma avaliação das mais simples.

Tanto isso é verdade que da nomeação, houve agravo de parte da apelante, que dele desistiu (1º apenso, fl s. 65-66), operando-se, em conseqüência, preclusão da matéria.

Quanto à prova do direito de propriedade dos autores sobre o imóvel, é

igualmente incensurável a v. decisão, quando reconheceu legitimidade para a

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 291-326, junho 2010 297

ação indenizatória aos herdeiros do titular do domínio sobre o imóvel ocupado

pela Municipalidade.

Na verdade, não seria mister que a ação fosse precedida de partilha do

imóvel, efetuando-se essa sobre o produto da indenização.

Inegável, ainda, que, tratando-se de ação fundada em direito real, não se

extingue enquanto não extinto o direito de propriedade que lhe serve de objeto,

razão pela qual não há falar-se em prescrição qüinqüenal.

Por fi m, estando-se, como se viu, diante de expropriatória indireta, não

há exigir-se decreto expropriatório, tema esse que, aliás, não foi objeto de

prequestionamento.

Não se confi gura, portanto, qualquer violação aos textos legais invocados.

O mesmo se diga acerca da alegada divergência jurisprudencial, já que os

acórdãos trazidos a confronto, à exceção de um, que limita o exercício da ação

expropriatória indireta ao legítimo proprietário do imóvel — o que não foi

contrariado nos autos — são inaplicáveis à espécie em foco, já que versam, todos

eles, a prescrição geral qüinqüenal própria das ações pessoais contra a Fazenda

Pública.

Ante o exposto, meu voto é no sentido de não conhecer do recurso.

RECURSO ESPECIAL N. 7.188-SP (1991/0000298-4)

Relator: Ministro Garcia Vieira

Recorrente: Fepasa — Ferrovia Paulista S/A

Recorrido: Lindolfo Sabino

Advogados: José Martins Portella Neto e outros e Mauro Del Ciello

EMENTA

Desapropriação. Prescrição. Extintiva e aquisitiva.

A ação de desapropriação indireta é ação real, prescrevendo em

20 (vinte) anos.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

298

Qualquer ato inequívoco, mesmo extrajudicial, de reconhecimento

do direito pelo devedor, interrompe a prescrição.

No caso, não ocorreu a prescrição aquisitiva ou intuitiva porque

houve a interrupção pelo decreto declaratório de utilidade pública.

Recurso improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Votaram

com o Relator os Exmos. Srs. Ministros Demócrito Reinaldo, Gomes de Barros,

Milton Pereira e Cesar Rocha.

Brasília (DF), 16 de junho de 1993 (data do julgamento).

Ministro Garcia Vieira, Presidente e Relator

DJ 30.08.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Garcia Vieira: Trata-se de recurso extraordinário convolado

em recurso especial, com fundamento no art. 105, inciso III, alíneas a e c, da

Constituição Federal, interposto pela Ferrovia Paulista S.A — sob alegação

de violação aos arts. 177, 550 e 551 do Código Civil brasileiro, bem como

divergência jurisprudencial.

Insurge-se a recorrente contra acórdão que reafi rmou a procedência de

ação de indenização por apossamento administrativo, afastando a objeção de

prescrição argüida na demanda, nos seguintes termos:

Quanto à prescrição, note-se que o prazo é vintenário por entendimento jurisprudencial pacífi co, além do que, na espécie, foi interrompido pelo decreto da utilidade pública sobre a área apossada (de 1969), através do qual, sem dúvida, reconheceu-se o domínio do autor em detrimento do propalado da ré, por hipotética prescrição aquisitiva inferior a 20 anos. (Fl. 349)

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 291-326, junho 2010 299

Sustenta a recorrente tanto a prescrição extintiva da pretensão do autor

quanto o surgimento da prescrição aquisitiva a seu favor, aduzindo deter a posse

do imóvel a mais de vinte anos.

Entende que não exsurge do decreto expropriatório qualquer declaração

que conduza a um reconhecimento indubitável do direito questionado pelo

recorrido, muito menos como direito pleno (fl s. 447-462).

Oferecidas contra-razões (fl s. 464-475), subiram os autos a este colendo

Tribunal.

Nesta instância, a douta Subprocuradoria Geral da República opinou pelo

não conhecimento do recurso e, no mérito, pelo seu improvimento.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Garcia Vieira (Relator): Aponta a recorrente como

vulnerados pelo venerando aresto hostilizado os arts. 177, 550 e 551 do Código

Civil, versando sobre questões devidamente prequestionadas.

Conheço do recurso pela letra a.

O recurso é admissível, mas é infundado.

A ação de desapropriação indireta é ação real e o proprietário só perde

o direito de reivindicar o seu imóvel com a perda da propriedade que lhe é

garantida pela Constituição Federal. O prazo de prescrição é de 20 (vinte)

anos. No caso, este prazo foi interrompido pelo Decreto n. 51.399, de 21 de

fevereiro de 1969 (docs. de fl s. 8-10), que declarou o imóvel do recorrido

como de utilidade pública para fi ns de desapropriação. Com esta norma legal

houve o reconhecimento do domínio do autor. Está bem claro pelo art. 172,

inciso V, do Código Civil que qualquer ato inequívoco, mesmo extrajudicial, de

reconhecimento do direito pelo devedor, interrompe a prescrição. É indiscutível

que, um decreto declarando de utilidade pública para fi ns de desapropriação, a

propriedade e reconhecendo pertencer esta ao autor, interrompeu a prescrição.

Na espécie, a ocupação ocorreu no dia 11 de janeiro de 1958, quando teve início

o lapso prescricional que foi interrompido pelo Decreto n. 51.399/1969 que

foi publicado no dia 22.02.1969. O prazo só voltou a correr após ter caducado

referido decreto, cinco anos depois, ou seja em fevereiro de 1974 e só terminaria

em 1994 e esta ação foi distribuída no dia 16 de setembro de 1985 (fl . 2).

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

300

No presente caso, o domínio, além de reconhecido pela própria recorrente com o decreto declaratório de utilidade pública está soberanamente comprovado pelo documento de fl s. 11-12.

Na espécie, sendo de 20 (vinte) anos o prazo prescricional, devidamente interrompido, não ocorreu a prescrição aquisitiva ou intuitiva porque houve a interrupção pelo Decreto declaratório de utilidade pública. Neste sentido existem vários precedentes do colendo Supremo Tribunal Federal, inclusive o Recurso Extraordinário n. 62.349-RJ e os Embargos no Recurso Especial n. 63.833-RS e deste Superior Tribunal de Justiça nos Recursos Especiais n. 3.656-SP, DJ 20.08.1990, 4.164-RJ, DJ 04.03.1991, 7.051-PR, DJ 07.10.1991, dos quais fui Relator, 20.213-SP, DJ 16.11.1992, Relator o eminente Ministro Demócrito Reinaldo, 4.010-SP, DJ 31.08.1992, Relator o eminente Ministro Américo Luz, 10.206-SP, DJ 23.09.1991 Relator o eminente Ministro José de Jesus Filho, 5.051-MS, DJ 1º.04.1991, Relator o saudoso Ministro Geraldo Sobral, 5.687-SP, DJ 26.11.1990, Relator o eminente Ministro Vicente Cernicchiaro, 4.009-SP, DJ 24.09.1990, Relator o eminente Ministro Ilmar Galvão hoje membro da excelsa Corte, e 2.479-PR, DJ 04.06.1990, Relator o eminente Ministro Vicente Cernicchiaro.

Como se vê, nenhum dispositivo legal foi violado pelo venerando acórdão recorrido que não merece qualquer censura.

Nego provimento ao recurso.

RECURSO ESPECIAL N. 7.553-SP (1991/0001022-7)

Relator: Ministro Milton Pereira

Recorrente: Fepasa — Ferrovia Paulista S/A

Recorridos: Jorge Macruz e outro

Advogados: José Martins Portella Neto e outros, e Francisco Aurélio Deneno e outros

EMENTA

Desapropriação indireta. Prescrição. Alegada violação dos arts.

177, 550 e 551, Código Civil.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 291-326, junho 2010 301

1. Vivo o domínio, reconhecido o direito de propriedade,

viva a ação do proprietário para postular judicialmente o direito à

indenização, decorrente de ilícito apossamento administrativo.

2. A trato de ação real, a jurisprudência assentou a prescrição

vintenária para a extinção do direito.

3. Iterativos precedentes.

4. Recurso improvido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar

provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos

autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do

julgamento os Srs. Ministros Cesar Rocha, Garcia Vieira, Demócrito Reinaldo

e Gomes de Barros. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Garcia Vieira.

Brasília (DF), 22 de setembro de 1993 (data do julgamento).

Ministro Garcia Vieira, Presidente

Ministro Milton Pereira, Relator

DJ 18.10.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Milton Pereira: Trata-se de recurso especial, com fulcro

no art. 105, inciso III, alínea c, da Constituição Federal, interposto por Fepasa

— Ferrovia Paulista S/A, contra o v. acórdão do egrégio Tribunal a quo que, em

ação de indenização por apossamento administrativo, manteve a sentença que

rejeitou a preliminar de prescrição extintiva do direito de ação.

Para a Recorrente o v. decisum, vulnerou os arts. 177, 550 e 551 do Código

Civil brasileiro, eis que a prescrição em desapropriação indireta, por ser ação

real, ocorre em dez anos. Requereu a Fepasa seja reconhecida a prescrição

aquisitiva por usucapião.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

302

O douto Ministério Público Federal opinou pelo não-conhecimento do

apelo e, se conhecido, pelo seu improvimento, por faltar-lhe prequestionamento

e, no mérito observou:

A respeito da matéria, o colendo Supremo Tribunal Federal já se pronunciou no sentido de que ‘‘.. vivo o domínio, não pode deixar de ser considerada viva a ação que o protege. Enquanto o expropriado não perde o direito de propriedade, por efeito de usucapião do expropriante, vale o princípio constitucional sobre o direito à indenização, e tem ele ação de desapropriação indireta.” (RE n. 6.833-RS RTJ 61/384)

O extinto TFR, também, com o mesmo entendimento, pronunciou-se, na AC n. 158.762-GO, Quarta Turma, Rel. eminente Min. Pádua Ribeiro, lavrando a seguinte ementa:

Ementa: Desapropriação indireta. Prescrição. Inocorrência, no caso.

I - Enquanto o proprietário do imóvel não perder a propriedade por força do usucapião que favoreça o expropriante, sobrevive o direito a indenização, podendo a ação ser ajuizada no prazo da reivindicação.

II - No caso, o prazo extintivo foi interrompido em razão de requerimento com pedido de indenização na via administrativa e em decorrência de ter sido baixado posteriormente pelo chefe do Poder Executivo novo ato declaratório de utilidade pública do imóvel questionado.

III - Apelação desprovida. (DJ 20.02.1989)

Essa Alta Corte, também, no REsp n. 4.009-SP, Segunda Turma, Rel. eminente Min. Ilmar Galvão, julgou, igualmente, no mesmo sentido, conforme atesta a ementa a seguir transcrita:

Ementa: Ação expropriatória indireta. Imóvel irregularmente ocupado pela Municipalidade. Indenização pleiteada por sucessor do proprietário. Legitimidade.

Pelo nosso sistema jurídico, os bens transmitem-se automaticamente aos sucessores, no caso de morte do proprietário.

A ação expropriatória indireta, por fundar-se no direito de propriedade, não está sujeita ao prazo de prescrição qüinqüenal, devendo-se-lhe aplicar o art. 177 c.c. os arts. 550/551 do Código Civil. (Fls. 171-173)

É o relatório.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 291-326, junho 2010 303

VOTO

O Sr. Ministro Milton Pereira (Relator): Na ação provocada por

apossamento administrativo, no saneador foram rejeitadas as preliminares, entre

elas, destacando-se a da prescrição extintiva do direito, motivando o agravo de

instrumento, improvido a teor do v. acórdão desafi ado.

A manifestação de inconformismo, articulada pela Fepasa, na via do recurso

especial (art. 105, III, c, CF), cingiu-se à sustentação da ocorrência de prescrição

extintiva, com o conseqüente reconhecimento do direito da parte-recorrente

usucapiar. A afi rmação recursal aprisiona a conclusão de que o desconhecimento

desse direito negou vigência aos arts. 177, 550 e 551, Código Civil.

Satisfeitos os requisitos de admissibilidade, o recurso merece ser conhecido.

Porém, no conseqüente exame, a proposição irresignatória sustentando

que, em desapropriação indireta, a prescrição ocorre em dez (10) anos, não

tem procedência, tal como bem averbado no parecer oferecido pela douta

Subprocuradoria Geral da República; textual:

A respeito da matéria, o colendo Supremo Tribunal Federal já se pronunciou no sentido de que “... vivo o domínio, não pode deixar de ser considerada viva a ação que o protege. Enquanto o expropriado, não perde o direito de propriedade, por efeito de usucapião do expropriante, vale o princípio constitucional sobre o direito à indenização, e tem ele ação de desapropriação indireta.” (RE n. 6.833RS — RTJ 61/384)

O extinto TFR, também, com o mesmo entendimento pronunciou-se, na AC n. 158.762-GO, Quarta Turma, Rel. eminente Min. Pádua Ribeiro, lavrando a seguinte ementa:

Desapropriação indireta. Prescrição. Inocorrência, no caso.

I - Enquanto o proprietário do imóvel não perder a propriedade por força do usucapião que favoreça o expropriante, sobrevive o direito a indenização, podendo a ação ser ajuizada no prazo da reivindicação.

II - No caso, o prazo extintivo foi interrompido em razão de requerimento com pedido de indenização na via administrativa e em decorrência de ter sido baixado posteriormente pelo chefe do Poder Executivo novo ato declaratório de utilidade pública do imóvel questionado.

III - Apelação desprovida. (DJ 20.02.1989)

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

304

Essa Alta Corte, também, no REsp n. 4.009-SP, Segunda Turma, Rel. eminente Min. Ilmar Galvão, julgou, igualmente, no mesmo sentido, conforme atesta a ementa a seguir transcrita:

Ação expropriatória indireta. Imóvel irregularmente ocupado pela Municipalidade. Indenização pleiteada por sucessor do proprietário. Legitimidade.

Pelo nosso sistema jurídico, os bens transmitem-se automaticamente aos sucessores, no caso de morte do proprietário.

A ação expropriatória indireta, por fundar-se no direito de propriedade, não está sujeita ao prazo de prescrição qüinqüenal, devendo-se-lhe aplicar o art. 177 c.c. os arts. 550/551 do Código Civil. (fl s. 172-173)

Inelutavelmente a compreensão jurisprudencial harmonizou-se na afi rmação de que, na desapropriação indireta, o direito de ação não é atingido pela prescrição qüinqüenal, assentamento prestigiado nesta Corte; ad exemplum:

Desapropriação Indireta. Indenização. Prescrição Inexistente.

Direito de pleitear indenização. Inocorrência de prescrição extintiva. Ausência de negativa de lei (arts. 172, V, 173 e 550 do Código Civil).

Dissídio jurisprudencial não confi gurado.

Recurso não conhecido. (REsp n. 213, Rel. Min. Miguel Ferrante).

Também alinhando o cunho real da ação mencione-se o REsp n. 20.213,

Relator Ministro Demócrito Reinaldo, in DJ 16.11.1992.

Com os ouvidos, pois, de bem se ouvir, forte o eco dos julgados, a questão

já foi exaustivamente debatida judicialmente, fi cando fora de dúvidas que o

apossamento administrativo constitui ato ilícito contra o direito de propriedade,

preponderando o dever constitucional de indenizar, estabelecido em ação de

desapropriação indireta.

Nessa perspectiva, resguardado o exame das provas à exclusiva competência

das instâncias ordinárias, no limite objetivo do recurso formulado, inocorrente

a sugerida prescrição extintiva, não se confi gura a negativa de vigência dos

referenciados dispositivos do Código Civil.

Amarrados os fundamentos, convencido do acerto do julgado hostilizado,

voto improvendo o recurso.

É como voto.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 291-326, junho 2010 305

RECURSO ESPECIAL N. 8.488-PR (1991.0003099-6)

Relator: Ministro Peçanha Martins

Recorrente: Caetano Mendes Barleta

Recorrido: Departamento de Estradas de Rodagem do Estado do Paraná

— DER-PR

Advogados: Mauri José Roika e outros e Valmor Coelho e outros

EMENTA

Desapropriação indireta. Prescrição. Natureza da ação. Código

Civil, art. 177 c.c. os arts. 550 e 551. Precedentes.

A ação indenizatória por desapropriação indireta tem a natureza

de ação real e não está sujeita ao prazo de prescrição qüinqüenal, na

forma do art. 177 c.c. os arts. 550 e 551 do Código Civil, mas sim ao

de vinte anos, prazo do usucapião.

Recurso provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar provimento. Votaram com o Relator os Ministros Américo Luz, Pádua Ribeiro, José de Jesus e Hélio Mosimann.

Brasília (DF), 29 de novembro de 1993 (data do julgamento).

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente

Ministro Peçanha Martins, Relator

DJ 14.03.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Peçanha Martins: Caetano Mendes Barleta ajuizou ação

ordinária de indenização por desapropriação indireta contra o Departamento

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

306

de Estradas e Rodagem do Estado do Paraná — DER-PR, objetivando o

ressarcimento correspondente à ocupação arbitrária de parte de sua propriedade

pela expropriante.

Acolhendo a preliminar de prescrição do autor ao direito de ação invocado

pelo Réu (DER-PR), o MM. Juiz de Direito de 1º grau decretou a extinção do

processo, com julgamento do mérito, com base nos arts. 177 do Código Civil

brasileiro, combinado com o art. 269, IV, do CPC.

Embargos de declaração foram opostos, mas julgados improcedentes por

decisão de fl s. 246-248.

Inconformado, interpôs o autor recurso de apelação que restou improvido,

por unanimidade, confi rmando a sentença monocrática, ao fundamento de que

a ação indenizatória por desapropriação indireta tem caráter real, justifi cando,

assim, a aplicação do art. 177 do Código Civil brasileiro.

Embargos de declaração foram opostos contra a v. decisão do egrégio

Tribunal de Justiça do Paraná (fl s. 298-303).

Rejeitados os aclaradores ao fundamento de terem caráter infringente (fl s.

308-310).

Daí este recurso especial interposto com fundamento no art. 105, III,

letras a e c, da Constituição Federal em que o recorrente insurge-se contra a

prescrição extintiva decretada, ao argumento de que esta só ocorreria se o DER

tivesse o domínio do bem, o que poderia ensejar a prescrição aquisitiva em favor

do expropriante.

Sustentando a tese de que, em tais casos, o prazo prescricional é o

vintenário, diz violados os arts. 118, 170, I, 177, 550 e 530, incisos I e II, todos

do Código Civil brasileiro, além do art. 29 do Decreto-Lei n. 3.365/1941.

Colaciona arestos que diz divergirem do entendimento consubstanciado na

decisão recorrida, para ilustrar a divergência alegada.

Contra-razões foram apresentadas às fl s. 365-366.

Interposto, simultaneamente, recurso extraordinário para impugnar os

fundamentos constitucionais do acórdão recorrido.

Admitidos ambos os recursos pelo Tribunal de origem, em despacho

fundamentado de fl s. 381-383.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 291-326, junho 2010 307

Solicitei a manifestação da Subprocuradoria Geral da República, que

opinou pelo provimento do recurso em parecer do ilustre Subprocurador

Getúlio Rivera Velasco Cantanhede, de fl s. 391-393.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Peçanha Martins (Relator): Do parecer de fl s. 391-393,

proferido pela douta Subprocuradoria Geral da República vale transcrever:

Contrariamente à tese do acórdão recorrido de que a prescrição em desapropriação indireta ocorre em 10 anos entre presentes e 15 anos entre ausentes, na forma do art. 177 do Código Civil, sustenta o recorrente que essa prescrição se realiza em vinte anos, no prazo do usucapião aquisitivo.

Conforme demonstrado no recurso especial, o colendo Supremo Tribunal Federal, já se pronunciou no sentido de que “... vivo o domínio, não pode deixar de ser considerada viva a ação que o protege. Enquanto o expropriado não perde o direito de propriedade, por efeito de usucapião do expropriante, vale o princípio constitucional sobre o direito à indenização, e tem ele a ação de desapropriação indireta.” (RE n. 63.833-RS-RTJ 61/384).

O extinto TFR, também, com o mesmo entendimento, pronunciou-se, na AC-158762-GO, Quarta Turma, Rel. Min. Pádua Ribeiro, lavrando a seguinte ementa:

Ementa: Desapropriação indireta. Prescrição. Inocorrência, no caso.

I - Enquanto o proprietário do imóvel não perder a propriedade por força do usucapião que favoreça o expropriante, sobrevive o direito a indenização, podendo a ação ser ajuizada no prazo da reivindicação.

II - No caso, o prazo extintivo foi interrompido em razão de requerimento com pedido de indenização na via administrativa e em decorrência de ter sido baixado posteriormente pelo chefe do Poder Executivo novo ato declaratório de utilidade pública do imóvel questionado.

III - Apelação desprovida. (DJ 20.02.1989).

Essa Alta Corte, também, no REsp n. 4.009-SP, Segunda Turma, Rel. eminente Ministro Ilmar Galvão, julgou, igualmente, no mesmo sentido, conforme atesta a ementa a seguir transcrita:

Ementa: Ação expropriatória indireta. Imóvel irregularmente ocupado pela Municipalidade. Indenização pleiteada por sucessor do proprietário. Legitimidade.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

308

Pelo nosso sistema jurídico, os bens transmitem-se automaticamente aos sucessores, no caso de morte do proprietário.

A ação expropriatória indireta, por fundar-se no direito de propriedade, não está sujeita ao prazo de prescrição qüinqüenal, devendo-se-lhe aplicar o art. 177 c.c. os arts. 550/551 do Código Civil.

Caso em que a nomeação do perito, contrariamente ao alegado, recaiu sobre profi ssional qualifi cado.

Recurso não conhecido. (DJ 24.09.1990, p. 9.976).

O parecer, em conseqüência, é pelo provimento do recurso especial.

Aos precedentes arrolados acrescento, ainda, recente decisão deste STJ

sobre a matéria:

Constitucional. Restrição total ao uso da propriedade pelo Poder Público. Com apossamento administrativo pelo Poder Público. Indenização.

No apossamento administrativo de bens, o ressarcimento dos prejuízos decorrentes da impossibilidade do uso da propriedade, se faz na mesma forma que nas desapropriações indiretas, e, a ação indenizatória, no caso, tem a natureza de ação real, só alcançada pela prescrição, quando vintenária.

Impossibilitado de dispor de seus bens, com a restrição total de uso, o proprietário faz jus ao ressarcimento integral do valor do imóvel, incluídos os juros compensatórios, estes a incidirem a partir do ato que ensejou o ajuizamento da ação.

Recurso a que se nega provimento. (Min. Demócrito Reinaldo, REsp n. 20.213-SP, DJ 16.11.1992).

Do exposto, conheço do recurso e lhe dou provimento.

RECURSO ESPECIAL N. 17.041-GO (1992/0000609-4)

Relator: Ministro José de Jesus Filho

Recorrente: Departamento de Estradas de Rodagem de Góias — Dergo

Recorridos: José Patrocínio e outros

Advogados: Jurandy Palmeira de Oliveira e outros e Onivaldo Budny e

outros

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 291-326, junho 2010 309

EMENTA

Desapropriação indireta. Prescrição. Prazo.

I - Tratando-se de ação indenizatória por desapropriação indireta,

o prazo prescricional é de vinte anos. Precedentes.

II - Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não

conhecer do recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos

autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do

julgamento os Srs. Ministros Hélio Mosimann, Peçanha Martins, Américo Luz

e Antônio de Pádua Ribeiro. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 07 de fevereiro de 1994 (data do julgamento).

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente

Ministro José de Jesus Filho, Relator

DJ 14.03.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José de Jesus Filho: Trata-se de recurso especial interposto

pelo Departamento de Estradas de Rodagem de Góias — DER-GO, com

fundamento no art. 105, III, alíneas a e c, do permissivo constitucional, contra o

v. acórdão proferido pela Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça daquele

Estado que, nos autos da ação de indenização em virtude de desapropriação

indireta, afastou a prescrição, por entender que o prazo é vintenário.

Sustenta o recorrente, em síntese, que o v. aresto hostilizado vulnerou o art.

177 do Código Civil, posto que se tratando de direito real o prazo prescricional

é de 10 (dez) anos. Alega, ainda, divergência jurisprudencial com julgados de

outros Tribunais.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

310

Admitido o recurso, subiram os autos a esta egrégia Corte, tendo a ilustrada

Subprocuradoria Geral da República manifestado-se pelo não-conhecimento

do apelo.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro José de Jesus Filho (Relator): A douta Subprocuradoria

Geral da República, ao emitir parecer assim se pronunciou, verbis:

Trata a hipótese de estar a ação de desapropriação indireta sujeita à prescrição capitulada no art. 177 do Código Civil brasileiro.

Há muito resta firmado no âmbito dos Tribunais Superiores Pátrios que enquanto não se perde o direito de propriedade por efeito do usucapião do expropriante, é cabível o uso de ação de desapropriação indireta. O prazo para esta ação é o da ação reivindicatória, diante da impossibilidade de o imóvel voltar à posse do autor, em face do caráter irreversível da afetação que lhe deu a Administração Pública (REx n. 109.853-SP, STF, Primeira Turma, Rel. Min. Néri da Silveira, publ. DJ 19.12.1991, p. 18.711).

Nesse passo, também, de há muito resta pacifi cado o entendimento: em ação de expropriação indireta deve ser aplicado o art. 177 c.c. os arts. 550 e 551, todos do CC (ERE n. 63.833-RS, STF, Pleno, Rel. Min. Eloy da Rocha, publ. DJ 09.06.1972).

Esta Corte, reiteradamente, tem assentado em hipóteses símiles:

Desapropriação indireta. Interesse de agir. Prescrição. Mata de preservação permanente. Indenizabilidade. Juros moratórios e compensatórios.

I - A área florestada, incluída no perímetro do “Parque Estadual da Serra do Mar”, impedindo a sua exploração econômica, é indenizável. Precedentes.

II - Os proprietários do imóvel, em tal caso, têm interesse de agir em juízo, através de ação de desapropriação indireta.

III - O fato de os proprietários terem adquirido a área, após a criação do Parque, não exclui o referido interesse processual, nem o seu direito à indenização, porquanto, segundo reiterados precedentes os adquirentes, nessa hipótese, sub-rogam-se em todos os direitos e ações correspondentes.

IV - O prazo prescricional da ação de desapropriação indireta é o vintenário e, no caso, não transcorreu.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 291-326, junho 2010 311

V - Os juros moratórios, na desapropriação, fl uem a partir do trânsito em julgado da sentença e são cumuláveis com os compensatórios (Súmulas n. 12 e 70 do STJ), sendo devidos estes, na espécie, a partir de quando fi cou caracterizada a restrição ao uso do imóvel.

VI - Recurso especial não conhecido. (REsp n. 7.515-SP, Segunda Turma, Rel. Min. Pádua Ribeiro, publ. DJ, 02.08.1993, p. 14.227).

Desapropriação. Prescrição. Extintiva e aquisitiva.

A ação de desapropriação indireta é ação real, prescrevendo em 20 (vinte) anos.

Qualquer ato inequívoco, mesmo extrajudicial, de reconhecimento do direito pelo devedor, interrompe a prescrição.

No caso, não ocorreu a prescrição aquisitiva ou intuitiva porque houve a interrupção pelo decreto declaratório de utilidade pública.

Recurso improvido. (REsp n. 7.188-SP, Primeira Turma, Rel. Min. Garcia Vieira, publ. DJ 30.08.1993, p. 17.270).

Desapropriação indireta. Prescrição do direito de ação. Prazo. Interrupção. Decreto de utilidade pública. Divergência jurisprudencial incomprovada. Acórdão de um mesmo tribunal. RISTJ, art. 255.

Tratando-se de ação indenizatória por desapropriação indireta, o prazo prescricional de 20 (vinte) anos tem início a partir da ocupação indevida do imóvel. O decreto declaratório de utilidade pública, reconhecendo o domínio da área ilegitimamente ocupada, interrompe o prazo prescricional.

Divergência entre acórdãos do mesmo tribunal não enseja recurso especial pela letra c.

Acórdão do Supremo Tribunal Federal que não dissente da tese esposada na decisão recorrida, não se presta a demonstração da divergência jurisprudencial alegada.

Recurso não conhecido. (REsp n. 26.568-SP, Segunda Turma, Rel. Min. Peçanha Martins, publ. DJ 17.12.1992, p. 24.239).

Constitucional. Restrição total ao uso da propriedade pelo Poder Público, com apossamento administrativo pelo Poder Público. Indenização.

No apossamento administrativo de bens, o ressarcimento dos prejuízos decorrentes da impossibilidade do uso da propriedade, se faz na mesma forma que nas desapropriações indiretas, e, a ação indenizatória, o caso, tem a natureza de ação real, só alcançada pela prescrição, quanto vintenária.

Impossibilitado de dispor de seus bens, com a restrição total de uso, o proprietário faz jus ao ressarcimento integral do valor do imóvel, incluídos

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

312

os juros compensatórios, estes a incidirem a partir do ato que ensejou o ajuizamento da ação.

Recurso a que se nega provimento. Decisão unânime. (REsp n. 20.213-SP, Primeira Turma, Rel. Min. Demócrito Reinaldo, publ. DJ 16.11.1992, p. 21.097).

Não confi gurada, pois, a negativa de vigência de lei federal.

Ante o exposto, e por não merecer reforma a decisão impugnada, opino pelo não-conhecimento do recurso; se conhecido, deve ser improvido. (Fls. 338-342)

Tenho como escorreita a manifestação do Parquet Federal, pois está em

consonância com a jurisprudência desta Corte, a qual me fi lio, isto é, na ação

de desapropriação indireta, subsiste o direito do proprietário à indenização por

apossamento administrativo, enquanto ele permanecer no imóvel, podendo

acionar o expropriante no prazo de vinte anos.

Destarte, não havendo violação a nenhum dispositivo legal e tendo a

orientação deste Tribunal se fi rmado no mesmo sentido da decisão recorrida,

Súmula n. 83, não conheço do recurso.

É o meu voto.

RECURSO ESPECIAL N. 20.213-SP (1992/0006388-8)

Relator: Ministro Demócrito Reinaldo

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Recorridos: José Wainberg e cônjuge

Advogados: José Reynaldo Carneiro Lyra e outros e Pedro Stabile Neto e

outro

EMENTA

Constitucional. Restrição total ao uso da propriedade pelo

Poder Público. Com apossamento administrativo pelo Poder Público.

Indenização.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 291-326, junho 2010 313

No apossamento administrativo de bens, o ressarcimento dos

prejuízos decorrentes da impossibilidade do uso da propriedade

se faz na mesma forma que nas desapropriações indiretas, e a ação

indenizatória, no caso, tem a natureza de ação real, só alcançada pela

prescrição, quando vintenária.

Impossibilitado de dispor de seus bens, com a restrição total de

uso, o proprietário faz jus ao ressarcimento integral do valor do imóvel,

incluídos os juros compensatórios, estes a incidirem a partir do ato que

ensejou o ajuizamento da ação.

Recurso a que se nega provimento. Decisão unânime.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar

provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator, na forma

do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte

integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros

Gomes de Barros e Garcia Vieira. Ausente, justifi cadamente, os Srs. Ministros

Milton Pereira e Cesar Rocha. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 05 de outubro de 1992 (data do julgamento).

Ministro Garcia Vieira, Presidente

Ministro Demócrito Reinaldo, Relator

DJ 16.11.1992

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo: Cuida-se de ação indenizatória

promovida por proprietário de glebas rurais localizadas no Sítio dos Viannas,

em Santo André, o qual se afi rma impedido de dar-lhe a devida utilização,

tendo em vista a restrição total do direito de uso da respectiva propriedade e

imposta pelo Poder Público.

Julgada procedente em ambas as instâncias, a Fazenda do Estado

manifestou o presente recurso especial, sobre alegar ofensa a dispositivo de lei

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

314

federal e divergência pretoriana, já que, além de prescrita a ação, são indevidos

os juros compensatórios.

Admitido na origem, nesta instância, o Ministério Público Federal opinou

pelo deferimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo (Relator): Srs. Ministros, a hipótese

confi gura uma ação de indenização promovida por proprietários de áreas rurais

no Sítio dos Viannas, banhadas pelas águas da represa Billings, em Santo André,

os quais se dizem impedidos de dar-lhes a devida utilização, em razão da restrição

total do direito de uso da propriedade, que lhes foi imposta pelo Poder Público

Estadual.

A ação foi julgada procedente, em ambas as instâncias.

A Fazenda Estadual manifestou recurso especial, para esta Corte, sobre

alegar:

a) ofensa ao art. 1º do Decreto n. 20.910/1932 e incabimento dos juros

compensatórios (desde que inexistiu desapossamento das áreas), estando, o

acórdão objurgado, em testilha com julgados de outros Tribunais.

Não parece, com a razão, a recorrente.

Com efeito, consoante assentou, o acórdão recorrido, a hipótese é de

“apossamento administrativo, com o impedimento da utilização da

propriedade”, com a conseqüente ajuizamento da ação indenizatória. Nestes

casos, o ressarcimento dos prejuízos decorrentes da impossibilidade do uso

da propriedade, se postula, como, in casu, se faz da mesma forma que nas

desapropriações indiretas, que tem a natureza de ação real e só alcançada pela

prescrição vintenária (RT, vol. 473/168; 489/168; 498/164).

A jurisprudência desta e da Suprema Corte fi rmou-se no sentido de que,

“o pedido de indenização, no caso de desapropriação indireta, não é atingida

pela prescrição qüinqüenal” (STF, RDA, vol. 111/268; 112/255 e 133/197).

Não corre prescrição qüinqüenal, no caso de desapossamento administrativo,

também chamado de desapropriação indireta (TASP, 112/261). É evidente, que

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 291-326, junho 2010 315

o apossamento administrativo, verifi cado na hipótese, retirando, do proprietário,

todo o seu direito de uso do imóvel, ou mesmo restringindo-lhe a utilização,

tem implicações imediatas no direito de propriedade, que lhe é assegurado pela

Constituição Federal, equivalendo, em essência, a uma desapropriação indireta.

Nesses casos, o Poder Público assume o ônus decorrente, desde que, não seria

admissível a transmissão da propriedade imóvel, através de uma mera ocupação

ou obstaculação de utilização por um curtíssimo prazo de cinco (5) anos.

Quanto ao incabimento dos juros compensatórios, não tem razão, a

recorrente. Em primeiro lugar, é impossível, nesta fase, fi xar-se, como termo

inicial do apossamento (pela recorrente), das áreas de terra, outro que não seja

aquele estabelecido no decisório impugnado — a data da promulgação da Lei

n. 1.172/1976 — porquanto, a busca de outro marco temporal importaria em

profundo reexame da prova, a que é infenso o recurso especial (Súmula n. 7).

Ao depois, a decisão hostilizada não está em antinomia com a Súmula n. 164

da Suprema Corte, mas em perfeita sintonia, “desde que, nas desapropriações

(indiretas) são devidos os juros compensatórios, a partir da imissão, pelo Poder

Público, na posse do imóvel expropriado”.

Tendo sido a Lei n. 1.172/1976 que impôs a restrição ao uso da propriedade

e ensejou a presente ação indenizatória, afigura-se-me da maior presteza,

fi xar-se, para efeito de incidência dos juros compensatórios, a data de sua

promulgação.

Conheço do recurso, pela letra a, do permissivo constitucional, mas lhe

nego provimento.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 30.674-SP (1992/0032971-3)

Relator: Ministro Humberto Gomes de Barros

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Recorridos: Pedro Vergara e cônjuge

Advogados: Egídio Carlos da Silva e outros, e Marcelo Guimarães da

Rocha e Silva

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

316

EMENTA

Desapropriação indireta. Criação de reserva fl orestal. Restrição de uso de propriedade particular. Indenização. Prescrição vintenária.

A ação de desapropriação indireta é de natureza real. Ela não se expõe à prescrição qüinqüenal.

O titular do domínio agredido pela desapropriação indireta — enquanto não ocorrer usucapião — tem ação para pleitear ressarcimento.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Votaram com o Relator os Ministros Milton Pereira, Cesar Rocha, Garcia Vieira e Demócrito Reinaldo.

Brasília (DF), 25 de outubro de 1993 (data do julgamento).

Ministro Garcia Vieira, Presidente

Ministro Humberto Gomes de Barros, Relator

DJ 22.11.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros: Cuida-se de recurso especial, interposto pelo Estado de São Paulo, de acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça local, nos autos de ação de indenização por desapropriação indireta, decorrente da criação da reserva fl orestal Parque Estadual da Serra do Mar.

O aresto impugnado confi rmou decisão monocrática que, em despacho saneador, afastou preliminares argüidas e afi rmou a inocorrência de prescrição.

O recorrente, sob o fundamento da alínea a, sustenta contrariedade ao art. 331 do CPC, aos Decretos n. 23.793/1934 e 50.813/1961, à Lei n. 4.771/1969 e ao Decreto n. 20.910/1932. Em relação à alínea c, aduz divergência de interpretação com julgados do STJ e do STF.

É o relatório.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 291-326, junho 2010 317

VOTO

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros (Relator): O recurso especial

em apreço discute basicamente duas questões, a saber:

- o lapso prescricional do direito de pleitear em juízo ressarcimento pela interdição de imóvel, em virtude da criação de reserva fl orestal em terras de propriedade particular,

- se o tema da prescrição pode ser abordado em decisão saneadora do processo.

Sob o primeiro aspecto da controvérsia, o recorrente afi rma que o prazo prescricional passou a fluir desde a data de vigência do Código Florestal (Decretos n. 23.793/1934 e 50.813/1961 e Lei n. 4.771/1965), razão pela qual o direito de postular a indenização resta prescrito, posto que entre a data do primeiro diploma legal, que restringiu o uso da propriedade dos autores, e o ajuizamento da demanda decorreram mais de vinte anos.

Totalmente infundada a alegação, pois, o Código Florestal veda a exploração dos recursos naturais nos parques nacionais, estaduais e municipais, e somente com a edição do Decreto n. 10.251/1977, que criou o Parque Estadual da Serra do Mar, fi caram os proprietários impedidos de usarem o imóvel.

Acerca da prescrição, o recurso argumenta, ainda, com vulneração ao Decreto n. 20.910/1932, que estabelece a prescrição qüinqüenal das ações movidas contra a Fazenda Pública, bem como com dissídio jurisprudencial com o decidido pela Segunda Turma, no Recurso Especial n. 5.143, sob o voto condutor do Ministro Américo Luz.

A propósito da questão, no julgamento do Recurso Especial n. 5.440, de que fui Relator, tive ocasião de enfrentar a matéria, nestes termos:

Aparentemente, a lide tem caráter obrigacional, pois envolve apenas indenização.

Na verdade, isto não ocorre.

Não se deve perder de vista que o ressarcimento, em tema de desapropriação, antecede o retorno da propriedade ao patrimônio estatal.

Vale dizer; enquanto não houver pagamento, não haverá desapropriação.

Por isto, a vítima da desapropriação indireta, quando aciona o Estado, está defendendo seu direito real.

A indenização é pressuposto para que se verifi que o cancelamento do direito de propriedade.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

318

Enquanto não houver pagamento, o direito de propriedade continuará no patrimônio do esbulhado.

Não há, nesta circunstância, como pensar em prescrição do direito de cobrar o ressarcimento.

Na desapropriação indireta apenas é possível conceber a ocorrência de usucapião, desde que se adimplam os requisitos da prescrição aquisitiva.

Verifi cada a usucapião, o Estado adquire a propriedade. Adquire, porém, o outro título que não a desapropriação.

Assim, tenho como correto afirmar que no processo de desapropriação indireta, discute-se direito real.

É bem de ver que a ação de indenização por desapropriação indireta, fundada no direito de propriedade, assegura ao titular do domínio, enquanto não verifi cada a prescrição aquisitiva, o direito de pleitear ressarcimento pelo desfalque sofrido em seu patrimônio.

De assinalar-se que esta Corte em caso análogo assentou:

Desapropriação indireta. Interesse de agir. Prescrição. Mata de preservação permanente. Indenizabilidade. Juros moratórios e compensatórios.

I - A área fl orestada, incluída no perímetro do “Parque Estadual da Serra do Mar”, impedindo a sua exploração econômica, é indenizável. Precedentes.

II - Os proprietários do imóvel, em tal caso, tem interesse de agir em juízo, através de ação de desapropriação indireta.

III - O fato de os proprietários terem adquirido a área, após a criação do parque, não exclui o referido interesse processual, nem o seu direito à indenização, porquanto, segundo reiterados precedentes, os adquirentes, nessa hipótese, subrogam-se em todos os direitos e ações correspondentes.

IV - O prazo prescricional da ação de desapropriação indireta é o vintenário e, no caso, não transcorreu.

V - Os juros moratórios, na desapropriação, fluem a partir do trânsito em julgado da sentença e são cumuláveis com os compensatórios (Súmulas n. 12 e 70 do STJ), sendo devidos estes, na espécie, a partir de quando fi cou caracterizada a restrição ao uso do imóvel.

VI - Recurso especial não conhecido. (REsp n. 7.515, Relator Ministro Pádua Ribeiro).

Em relação à alegação de contrariedade ao art. 331 do CPC, a impugnação

não comporta conhecimento, porquanto não atendido o requisito do

prequestionamento.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 291-326, junho 2010 319

O recorrente em razões de agravo de instrumento não suscitou a questão,

pelo que o acórdão atacado não examinou o referido dispositivo legal.

Ademais, o despacho saneador, ao afastar a prescrição, fê-lo de forma

incidente, portanto, nada obsta que a sentença reexamine a matéria.

Nego provimento.

RECURSO ESPECIAL N. 33.399-SP (1993/0007994-8)

Relator: Ministro Antônio de Pádua Ribeiro

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Advogados: Egídio Carlos da Silva e outros

Recorridos: Luiz Gonzaga de Azevedo e outros

Advogado: Fernando Antônio Neves Baptista

EMENTA

Desapropriação indireta. Mata de preservação permanente. “Parque Estadual da Serra do Mar”. Prescrição.

I - O prazo prescricional da ação de desapropriação indireta é o vintenário e, no caso, não transcorreu.

II - Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas anexas, por unanimidade, não conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros José de Jesus, Hélio Mosimann, Peçanha Martins e Américo Luz.

Brasília (DF), 04 de abril de 1994 (data do julgamento).

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

320

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente e Relator

DJ 18.04.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Trata-se de recurso especial

interposto pela Fazenda do Estado de São Paulo, com fundamento no art.

105, III, letras a e c, da Constituição Federal, contra o v. acórdão da Décima

Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que, em

grau de embargos infringentes, decidindo ação ordinária de indenização por

desapropriação indireta, afastou a prescrição qüinqüenal, reconhecida no juízo

monocrático, ao fundamento de sujeitar-se aquela ação ao prazo prescricional

vintenário.

Opostos embargos de declaração (fl s. 176-180), foram eles recebidos em

parte, conforme se depreende da fundamentação abaixo transcrita (fl . 209):

A questão que se põe é a de saber se o decreto em causa importa em total esvaziamento do conteúdo do direito de propriedade, a configurar o que se denomina, a fl . 170, em declaração de voto vencedor, de desapropriação material.

Aqui chega-se num ponto em que a embargante tem razão.

Deve-se declarar a extensão do recebimento dos embargos infringentes.

Isto, porque a embargante nega ter havido total esvaziamento do direito de propriedade, ressalvada que ficou, segundo ela, pelo menos em parte, a exploração econômica da área.

Aliás, o v. acórdão embargado disse ser questão central a de “saber se houve, ou não, desapossamento”.

Meu voto, em conseqüência, recebe em parte os embargos, para declarar o v. acórdão, esclarecendo-o, no sentido de que, afastado o decreto de prescrição, fi ca em aberto a matéria de fato, relativa a saber se ocorre ou não o desapossamento.

Alega a recorrente em suas razões recursais, negativa de vigência ao art. 1º

do Decreto n. 20.910/1932 e dissídio pretoriano.

Contra-arrazoado (fls. 219-222), o recurso, cujo processamento foi

admitido (fl s. 224-225), subiu a esta Corte, onde me veio distribuído.

É o relatório.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 291-326, junho 2010 321

VOTO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): A controvérsia

adstringe-se à matéria de direito, consistente em saber qual o prazo prescricional

aplicável à espécie: o prescricional ou o vintenário. O douto voto-condutor do

aresto guerreado está assim fundamentado (fl s. 167-168):

E, como bem demonstrado no r. voto minoritário, houve apossamento, ou “tomada defi nitiva da posse do uso” da gleba dos autores, de modo a ensejar a propositura da ação de desapropriação indireta, adequada à pretensão formulada na inicial.

Se assim é, não ocorreu a alegada prescrição qüinqüenal, eis que a ação de indenização por apossamento administrativo se inclui na categoria das ações reais e, daí, enquanto o Estado não tiver conquistado a propriedade do imóvel por usucapião, o proprietário não perde o direito ao ressarcimento pelo desfalque sofrido em seu patrimônio (RTJ, 61/675).

Assim sendo, como o apossamento administrativo data de menos de 20 anos, não ocorreu a prescrição reconhecida pelo v. acórdão embargado.

Isto posto, adotados os fundamentos do respeitável voto vencido, recebe-se os embargos.

A fundamentação retrotranscrita afigura-me incensurável. O aresto

impugnado decidiu na consonância de precedentes desta Corte, segundo se

depreende das ementas abaixo transcritas, algumas relacionadas a julgados

relativos a áreas abrangidas pelo Decreto Estadual n. 10.251, que criou o

“Parque Estadual da Serra do Mar”, como no caso, no sentido da prescrição

vintenária:

Desapropriação indireta. Interesse de agir. Prescrição. Mata de preservação permanente. Indenizabilidade. Juros moratórios e compensatórios.

I - A área fl orestada, incluída no perímetro do “Parque Estadual da Serra do Mar”, impedindo a sua exploração econômica, é indenizável. Precedentes.

II - Os proprietários do imóvel, em tal caso, tem interesse de agir em juízo, através de ação de desapropriação indireta.

III - O fato de os proprietários terem adquirido a área, após a criação do parque, não exclui o referido interesse processual, nem o seu direito à indenização, porquanto, segundo reiterados precedentes, os adquirentes, nessa hipótese, sub-rogam-se em todos os direitos e ações correspondentes.

IV - O prazo prescricional da ação de desapropriação indireta é o vintenário e, no caso, não transcorreu.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

322

V - Os juros moratórios, na desapropriação, fluem a partir do trânsito em julgado da sentença e são cumuláveis com os compensatórios (Súmulas n. 12 e 70 do STJ), sendo devidos estes, na espécie, a partir de quando fi cou caracterizada a restrição ao uso do imóvel.

VI - Recurso especial não conhecido. (REsp n. 7.515-0-SP (1991/0000964-4), Rel. Sr. Min. Antônio de Pádua Ribeiro, julg. 16.06.1993 e publ. DJ 02.08.1993);

Desapropriação indireta.

A prescrição qüinqüenal estabelecida em favor da Fazenda Pública não se aplica à desapropriação indireta. Prescrição no caso não ocorrida. (AC. DJ 25.06.1987, p. 13.111) e

Tratando-se de ação indenizatória por desapropriação indireta. O prazo prescricional de 20 (vinte) anos tem início a partir da ocupação indevida do imóvel. O decreto declaratório de utilidade pública, reconhecendo o domínio da área ilegitimamente ocupada, interrompe o prazo prescricional. (REsp n. 26.578-6-SP (1992/0021402-9), Rel. Sr. Ministro Barros Monteiro).

Assinalo, por último, que o alegado dissídio pretoriano não foi demonstrado com observância do art. 255 e parágrafos, do Regimento Interno desta Corte, isto é, com a menção das circunstâncias que identifi quem ou assemelhem os casos confrontados.

Isto posto, em conclusão, não conheço do recurso.

RECURSO ESPECIAL N. 36.954-RJ (1993/0019986-2)

Relator: Ministro Américo Luz

Recorrente: Município do Rio de Janeiro

Recorrida: Carvalho Hosken S/A — Eng. e Construções

Advogados: Cláudia Alves de Oliveira Alcântara e outros, e Amadeu Gonçalves e outros

EMENTA

Processual Civil e Administrativo. Acórdão. Motivação.

Desapropriação indireta. Justo preço. Juros compensatórios. Contagem.

Termo inicial. Prescrição. Divergência jurisprudencial.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 291-326, junho 2010 323

- Acórdão que contém sufi ciente fundamentação, preenchendo

os requisitos mínimos exigidos por lei, não pode ser pechado de nulo.

- A inconformidade relativa ao justo preço, soberanamente

fi xado na instância ordinária com respaldo em laudo pericial, não

rende ensejo a que se faça o pretendido reexame da questão no âmbito

do especial.

- Juros compensatórios. Incidência a partir da data do

apossamento.

- Prescrição. Inocorrência, porquanto inaplicável à hipótese o

Decreto n. 20.910/1932. Sendo tal ação de natureza real, a prescrição

é vintenária.

- Divergência. Não comprovada, órfão que está o pretenso

dissídio do indispensável confronto analítico.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda

Turma do egrégio Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas anexas, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram

com o Relator os Ministros José de Jesus, Hélio Mosimann e Peçanha Martins.

Ausente, ocasionalmente, o Ministro Pádua Ribeiro.

Brasília (DF), 15 de setembro de 1993 (data do julgamento).

Ministro José de Jesus Filho, Presidente

Ministro Américo Luz, Relator

DJ 25.10.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Américo Luz: Ação ordinária ajuizada em 1986 por

“Carvalho Hosken S/A Engenharia e Construções” contra a Municipalidade do Rio de Janeiro, objetivando recebimento da indenização em face de desapossamento de imóvel de sua propriedade, descrito na inicial, operado pela Ré em 1976 para construção de logradouro público tido como indispensável ao Centro Internacional de Feiras e Exposições, conhecido como Rio-Centro, foi por

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

324

sentença de fl s. 189-195 julgada procedente, afastada a prejudicial de prescrição

com a condenação daquela Municipalidade no pagamento do importe indenitário

de Ncz$ 173.000,00, apurado pela perícia, devidamente corrigido a partir de maio

de 1989, data do laudo acolhido, mais juros compensatórios e moratórios também

a partir desse referido mês e ano, acrescido da honorária de 15%.

Ambas as partes com a decisão não se conformaram, pelo que via dos

recursos apresentados procuraram reformá-la. O Município, reiterando a tese

da prescrição da ação; a redução do valor indenizatório em consonância com o

estimado pelo seu assistente-técnico ou com o do louvado do Juízo ou, ainda,

a sua fi xação em Cr$ 80.000,00, quantia a que se chegaria com aplicação de

critérios outros e, por fi m, postulando a incidência dos juros moratórios a partir

do trânsito em julgado e a redução do percentual dos honorários advocatícios.

A autora adesivamente recorreu tão-somente para postular a retroação dos juros

compensatórios à data da ocupação do imóvel.

O acórdão assim decidiu a questão (fl . 248):

Conheço e dou parcial provimento ao 1º apelo e provimento integral ao adesivo.

Parcial ao 1º apelo para que a incidência dos juros moratórios fl ua a contar do trânsito em julgado do decisum apelado, e, não como consignado na sentença de 1º grau, na forma da melhor doutrina e iterativa jurisprudência, mantida a verba honorária e o valor estimado para a indenização, razoáveis, excluída, ainda a alegação de prescrição, porquanto, como, com razão, opina a douta Procuradoria Geral da Justiça, deve a ordinária ou extraordinária prevalecer sobre a excepcional, de 20 anos, pois. E integral ao recurso adesivo para o efeito da contagem e incidência dos juros compensatórios desde a data do apossamento da res, em 13.09.1976, conforme documento adunado às fl s. 14 e 15 dos autos, com o que se atende ao princípio constitucional da justa indenização, consagrado nos arts. 5º, XXIV, e 182, § 3º, da Carta Magna de 1988.

Daí o especial interposto pela Municipalidade com fundamento nas alíneas a e c do permissivo constitucional, alegando violação ao art. 458, II, do CPC, ao art. 3º do Decreto n. 20.910/1932, ou art. 177 do CCB, se considerada a ação como de natureza real; no que concerne ao dissídio, entende confi gurado no que tange ao termo inicial dos juros compensatórios, já que os paradigmas coligidos determinam, em casos que tais, a sua fl uição a partir da perícia.

Inadmitido pela decisão de fl s. 299-300, o recurso logrou, em juízo de

retratação, a seqüência almejada, tudo nos termos do despacho de fl . 302,

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 291-326, junho 2010 325

subindo os autos juntamente com os do agravo manifestado contra a primeira

decisão indeferitória do especial.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Américo Luz (Relator): 1. Preliminarmente julgo

prejudicado o agravo de instrumento apensado aos autos do recurso especial.

É que, inadmitido este no primeiro juízo de admissibilidade exercitado pela

3ª Vice-Presidência do Tribunal a quo, nos termos da decisão de fl s. 298-300,

o apelo nobre teve o processamento admitido pela retratação de fl . 302, tão-

somente pela letra c do permissivo autorizador, o que não constitui empeço ao

seu conhecimento pelo outro fundamento, satisfeitos os requisitos pertinentes.

É o que passo a analisar.

2. Alega o recorrente, em primeiro lugar, violação ao art. 458, inciso II, do

Código de Processo Civil, porque o acórdão, cuja íntegra transcrevi no relatório,

careceria de indispensável motivação.

De tal mácula penso não padecer o acórdão recorrido que, diante da

singeleza da questão analisada, bem decidiu a espécie com suficiente

fundamentação, preenchendo pois os requisitos mínimos exigidos por lei.

Afasto, em conseqüência, a pretensa violação argüida, até porque a defi ciente

fundamentação, tal como assente na jurisprudência, não oferece ensanchas à

anulação do acórdão.

3. A inconformidade relativa ao justo preço, soberanamente fi xado na

instância ordinária com respaldo no laudo pericial adotado, não pode ser

reexaminada no âmbito do apelo nobre, diante do óbice da Súmula n. 7 desta

Corte.

4. Inocorrente, por outro lado, a prescrição. A sentença e o acórdão

afastaram-na com inteira razão, por entenderam inaplicável à hipótese a regra

do art. 3º do Decreto n. 20.910/1932. De fato. Tranqüila a jurisprudência no

sentido de que a denominada ação desapropriatória indireta não é atingida pela

prescrição qüinqüenal. Sendo tal ação de natureza real, a prescrição é vintenária

(REsp n. 7.188-0, DJ 30.08.1993).

5. Finalmente, quanto ao termo inicial dos juros compensatórios, fi xado

pelo acórdão a partir da data do apossamento, no que não discrepa do enunciado

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

326

da Súmula n. 69 desta Corte, pretende o recorrente que estes incidam apenas

a partir da perícia, em conformidade com os paradigmas trazidos a confronto.

Entretanto, a divergência que, na hipótese, entende confi gurada o recorrente,

não se encontra devidamente comprovada. Carece o pretenso dissídio do

indispensável confronto analítico. Não fez o recorrente, como exigidos pelos

arts. 255 do Regimento Interno, e 26 da Lei n. 8.038/1990, a demonstração da

similitude dos casos confrontados, consabido que a mera reprodução de ementa

é insufi ciente à caracterização da dissidência interpretativa.

Do exposto, inexistentes as violações apontadas, não conheço do recurso e

julgo prejudicado o Agravo n. 40.742, autos apensados.

Súmula n. 120

SÚMULA N. 120

O ofi cial de farmácia, inscrito no Conselho Regional de Farmácia, pode ser

responsável técnico por drogaria.

Referências:

Lei n. 3.820/1960, art. 14, parágrafo único.

Lei n. 5.991/1973, art. 15, caput.

Decreto n. 20.377/1931, art. 2º, § 1º.

Precedentes:

REsp 32.533-SP (1ª T, 29.11.1993 — DJ 28.02.1994)

REsp 35.351-SP (1ª T, 18.08.1993 — DJ 08.11.1993)

REsp 36.806-SP (2ª T, 06.04.1994 — DJ 25.04.1994)

REsp 37.205-SP (2ª T, 16.11.1994 — DJ 05.12.1994)

REsp 39.921-SP (2ª T, 09.02.1994 — DJ 07.03.1994)

REsp 41.782-SP (2ª T, 23.03.1994 — DJ 25.04.1994)

Primeira Seção, em 29.11.1994

DJ 06.12.1994, p. 33.786

RECURSO ESPECIAL N. 32.533-SP (1993/0005174-1)

Relator: Ministro Humberto Gomes de Barros

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Recorrido: Alfredo Napoli

Advogados: Denize Piovani e outros e José Ferraz de Arruda Netto e outro

EMENTA

Administrativo. Drogaria. Responsabilidade técnica. Ofi cial de

farmácia. Lei n. 5.991/1973.

A responsabilidade técnica por drogaria pode ser confi ada ao

ofi cial de farmácia. A interpretação teleológica da Lei n. 5.991/1973

conduz ao entendimento de que somente é privativa de farmacêutico,

a responsabilidade por farmácia em que se elaborem medicamentos,

através do aviamento de fórmulas.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Votaram

com o Ministro Relator os Ministros Milton Luiz Pereira, Garcia Vieira e

Demócrito Reinaldo. Ausente, justifi cadamente, o Ministro Cesar Asfor Rocha.

Brasília (DF), 29 de novembro de 1993 (data do julgamento).

Ministro Garcia Vieira, Presidente

Ministro Humberto Gomes de Barros, Relator

DJ 28.02.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros: O recurso especial enfrenta

acórdão proveniente do egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

332

O aresto, confi rmando sentença de 1º grau, proclamou que ofi cial de farmácia pode funcionar como responsável por drogaria, em que não se aviam fórmulas de medicamentos.

O recurso fomenta-se na alínea a do permissivo constitucional. Afi rma que a Lei n. 5.991/1973 foi desrespeitada.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros (Relator): O tema já é conhecido.

Esta Turma, conduzida pelo eminente Ministro Demócrito Reinaldo, proclamou, em suma:

Inexistindo, nas drogarias, o manuseio de drogas para o fi m de manipulação de drogas medicamentosas, mas, apenas, a exposição e venda ao público de medicamentos prontos e embalados, a lei dispensa, para o exercício da atividade dessa espécie de mercadoria, a responsabilidade direta do próprio farmacêutico.

O mero oficial de farmácia, desde que devidamente inscrito no Conselho Regional respectivo, pode exercer as atividades típicas de drogarias (Lei n. 5.991/1973), para os quais a lei não exige o grau universitário. (REsp n. 35.351-3-SP).

O Estado recorrente destaca, entre os dispositivos supostamente maltratados pelo v. acórdão desafi ado, o art. 28 do Decreto n. 74.148/1974.

No entanto, o v. acórdão não fez qualquer referência àquele dispositivo. Seu dispositivo adotou como fundamento, a interpretação teleológica da Lei n. 5.991/1973.

Louvado nos próprios fundamentos do aresto recorrido (do qual junto reprodução) e fi el à jurisprudência da Turma, nego provimento ao recurso.

RECURSO ESPECIAL N. 35.351-SP (1993/0014661-0)

Relator: Ministro Demócrito Reinaldo

Recorrente: Nobuo Yonekura

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 327-346, junho 2010 333

Recorrida: Fazenda do Estado de São Paulo

Advogados: Olavo José Vanzelli e outro, e João Carlos Lopes de Souza e

outros

EMENTA

Direito Administrativo. Inteligência da Lei n. 3.820/1969 e

Decreto n. 20.377, de 1931, e da Lei n. 5.991/1973.

A restrição de direitos só tem efi cácia quando expressamente

defi nida em lei.

Inexistindo, nas drogarias, o manuseio de drogas para o fi m de

manipulação de fórmulas medicamentosas, mas, apenas, a exposição

e venda ao público de medicamentos prontos e embalados, a lei

dispensa, para o exercício da atividade dessa espécie de mercadoria, a

responsabilidade direta do próprio farmacêutico.

O mero ofi cial de farmácia, desde que devidamente inscrito no

Conselho Regional respectivo, pode exercer as atividades típicas de

drogarias (Lei n. 5.991/1973), para os quais a lei não exige o grau

universitário.

Recurso provido. Decisão unânime.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar

provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator, na forma do

relatório e notas taquigráfi cas constantes do presente julgado. Participaram do

julgamento os Srs. Ministros Gomes de Barros, Milton Pereira, Cesar Rocha e

Garcia Vieira. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 18 de agosto de 1993 (data do julgamento).

Ministro Garcia Vieira, Presidente

Ministro Demócrito Reinaldo, Relator

DJ 04.10.1993

Republicado DJ 08.11.1993

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

334

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo: Trata-se de recurso especial

interposto pelo ofi cial de farmácia, Nobuo Ynekura, com supedâneo nas letras a

e c do permissivo constitucional, contra acórdão da Sétima Câmara do Tribunal

de Justiça de São Paulo, que manteve decisão de 1ª instância, mediante a qual

restou indeferido pedido de segurança do ora recorrente no sentido de assumir a

responsabilidade técnica de drogaria de sua propriedade, ao fundamento de que

o cargo é privativo de farmacêutico.

Sustenta o recorrente que o v. aresto recorrido negou vigência ao art. 58,

que manteve em plena vigência o art. 2º do Decreto n. 20.377/1931, e ao art. 4º,

X e XI, ambos da Lei n. 5.991/1931, assim como dissentiu de outros julgados do

Tribunal a quo (fl s. 219-223).

Contra arrazoado (fls. 253-257), após manifestação do Órgão do

Ministério Público local (fl s. 259-265), o recurso foi admitido na origem (fl s.

267-268), subindo os autos a esta instância superior e vindo-me conclusos.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo (Relator): O meu voto é para dar

provimento ao recurso, nos termos do judicioso parecer do douto Órgão do

Ministério Público local, cujos bem lançados fundamentos adoto como razão de

decidir, na seguinte dicção:

2. A Lei n. 5.991/1973, ao manter em vigor o Decreto n. 20.377/1931, consagrou o art. 2º deste e seus incisos, e inclusive o parágrafo único mencionado nas razões recursais, que trazem as obrigações de farmacêutico, acrescidas da menção clara de que as funções constantes na alínea c não são privativas de farmacêutico.

E são estas mesmas atribuições que pretende o recorrente exercer em sua drogaria, como ofi cial técnico e responsável. Ora, se a lei não veda, não pode o intérprete vedar, eis que a restrição de direitos somente pode operar-se mediante previsão expressa da lei.

Ou por outros termos, é regra de direito que não havendo restrição do direito, pode ele ser exercido.

Assim, a pretensão do recorrente estriba-se na lei, não havendo qualquer óbice a que seja contemplada.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 327-346, junho 2010 335

Aliás, conforme já salientamos alhures nestes autos:

“a matéria vem sendo regulada pelo Decreto n. 20.377, de 08.03.1931, Lei n. 3.820, de 11.11.1969, Lei n. 5.991/1973 e Decreto n. 85.878, de 07.04.1981, e de cujos dispositivos extrai-se que existem distinções legais perfeitamente caracterizadas no que toca às atividades específi cas da ‘farmácia’ e da ‘drogaria’ e conseqüentemente, no referente ao grau de formação técnica do profi ssional responsável por ambas.

Assim é que somente em farmácias será permitido o manuseio de drogas in natura para fi ns de manipulação de fórmulas a serem vendidas posteriormente ao público, caso em que é necessário por ela responda o próprio farmacêuticoilo, único profi ssional habilitado à manipulação de fórmulas.

Já nas drogarias não há manipulação de fórmulas, mas apenas exposição e venda ao público de medicamentos prontos e perfeitamente embalados, produzidos por terceiros (indústria farmacêutica, nas quais já existe farmacêuticos responsáveis pelos produtos ali fabricados), não havendo necessidade de que seja o próprio farmacêutico o responsável direto, mas apenas mero ofi cial de farmácia, desde que devidamente inscrito no Conselho Regional competente.

Esta distinção, além de perfeitamente referida na legislação citada, vem sendo contemplada pela jurisprudência (RJTJESP 95/163, 98/181).

2. O caso dos autos está a demonstrar que no estabelecimento do apelante não serão manipulados medicamentos ou aviadas fórmulas magistrais, mas apenas e tão-somente serão vendidos remédios já produzidos e embalados pela indústria, e artigos outros, como perfumarias e afi ns.

Ademais, a aplicação de injeções não é atividade privativa de farmacêutico podendo ser feita por outros profi ssionais, desde que à vista das receitas emitidas por médico.

3. O impetrante, outrossim, demonstrou à saciedade que é licenciado e inscrito no órgão competente, isto é, no Conselho Regional de Farmácia como ofi cial, o que o habilita a merecer a licença pretendida. Aliás, a própria autoridade coatora, nas informações prestadas, informou que não se questiona a inscrição do apelante, de forma que a ele não vedando a lei a atividade pretendida (responsabilidade pela drogaria de sua propriedade), a negativa da autoridade feriu direito líquido e certo, amparável pelo writ of mandamus (fl s. 261-264).

De pleno acordo com esta exegese, dou provimento ao recurso, para

conceder a segurança, nos termos do pedido.

É como voto.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

336

RECURSO ESPECIAL N. 36.806-SP (1993/0019143-8)

Relator: Ministro Hélio Mosimann

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Advogados: Maria Luisa de Oliveira e outros

Recorrida: Maria Fátima de Barros Rodrigues

Advogados: Olavo José Vanzelli e outro

EMENTA

Mandado de Segurança. Administrativo. Drogaria.

Responsabilidade técnica. Ofi cial de farmácia.

Não há óbice de ordem legal para que a responsabilidade técnica

por drogaria seja confi ada a ofi cial de farmácia, inscrito no respectivo

Conselho. Privativa de farmacêutico é a responsabilidade por

farmácia, em que se elaborem medicamentos, através de aviamento ou

manipulação de fórmulas medicamentosas.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Peçanha Martins, Américo Luz, Antônio de Pádua Ribeiro e José de Jesus.

Brasília (DF), 06 de abril de 1994 (data do julgamento).

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente

Ministro Hélio Mosimann, Relator

DJ 25.04.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hélio Mosimann: Recurso especial da Fazenda do Estado

de São Paulo contra acórdão que, reformando sentença negativa de segurança,

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 327-346, junho 2010 337

reconheceu à impetrante o direito de, na qualidade de ofi cial de farmácia,

assumir a responsabilidade técnica de drogaria da qual é proprietária.

Sustenta a recorrente que o acórdão contrariou os arts. 4º, incisos X e XI,

15, 20 e 58 da Lei Federal n. 5.991/1973, e os arts. 1º e 2º, letra c, do Decreto n.

20.377/1931.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hélio Mosimann (Relator): A fundamentação do acórdão

recorrido é a seguinte (fl s. 224-225), verbis:

A distinção entre “farmácia” e “drogaria” é legal e real. Na primeira fabricam-se medicamentos (para falar-se assim, de modo geral); na segunda há apenas o comércio de remédios e outros produtos (de beleza, por exemplo), todos embalados. Na “drogaria” inexiste a atividade produtora, de transformação de algum tipo qualquer de matéria prima em medicamento; essa atividade é típica de farmácia. Por isso há razão de natureza técnica — como também está na ordem legal —, para um farmacêutico estar à frente da atividade técnica da “farmácia”, não porém da ”drogaria”.

Sim. Para o comércio direto, sem manipulação de substâncias, com embalagens originais do fabricante, é dispensável a atuação mediadora do farmacêutico (Dec. n. 20.377/1931, art. 2º e § 1º, c.c. Lei n. 5.991/1973, art. 15) — é quanto se passa numa “drogaria”. Basta-se a lei (e a realidade técnica) com que, à frente dessa, esteja ofi cial de farmácia, devidamente registrado. É bem o caso da impetrante. Diversa seria a situação se o seu negócio fosse a farmácia, de atividades técnicas específi cas.

Garante a Constituição Federal à impetrante-recorrente o exercício da atividade a que vem se dedicando, com drogaria. É, aliás, como já se julgou nesta Câmara (AC n. 146.962-1/9, Relator Araújo Cintra).

Posto isso, dá-se provimento: procedente a ação mandamental, concede-se a ordem. Sem encargos de sucumbência, mas com ressarcimento das despesas processuais despendidas pela impetrante, com correção monetária.

Neste sentido o decidido pela Corte no REsp n. 35.351-3-SP, Relator

o eminente Ministro Demócrito Reinaldo, com acórdão publicado no DJ

04.10.1993, assim ementado, verbis:

Direito Administrativo. Inteligência da Lei n. 3.820/1969 e Decreto n. 20.377, de 1931, e da Lei n. 5.991/1973.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

338

A restrição de direitos só tem efi cácia quando expressamente defi nida em lei.

Inexistindo, nas drogarias, o manuseio de drogas para o fi m de manipulação de fórmulas medicamentosas, mas, apenas, a exposição e venda ao público e medicamentos prontos e embalados, a lei dispensa, para o exercício da atividade dessa espécie de mercadoria, a responsabilidade direta do próprio farmacêutico.

O mero oficial de farmácia, desde que devidamente inscrito no Conselho Regional respectivo, pode exercer as atividades típicas de drogarias (Lei n. 5.991/1973), para os quais a lei não exige o grau universitário.

Recurso provido. Decisão unânime.

No REsp n. 32.533-3-SP, Relator o eminente Ministro Humberto Gomes de Barros, julgado em 29 de novembro de 1993, a ementa fi cou vazada nos seguintes termos:

Administrativo. Drogaria. Responsabilidade técnica. Ofi cial de farmácia. Lei n. 5.991/1973.

A responsabilidade técnica por drogaria pode ser confiada ao oficial de farmácia. A interpretação teleológica da Lei n. 5.991/1973 conduz ao entendimento de que somente é privativa de farmacêutico, a responsabilidade por farmácia, em que se elaborem medicamentos, através do aviamento de fórmulas.

Também a egrégia Segunda Turma deste Tribunal já teve ocasião de manifestar-se sobre o tema. Apreciando o REsp n. 39.921-1-SP, Relator o Sr. Ministro Américo Luz, proferiu acórdão assim ementado:

Administrativo. Ofi cial de farmácia. Responsabilidade técnica de drogaria.

Inexiste impedimento de ordem legal para que o recorrido, ofi cial de farmácia inscrito no respectivo Conselho, seja o técnico responsável de drogaria da qual é sócio.

Do exposto, não conheço do recurso.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 37.205-SP (1993/0020867-5)

Relator: Ministro Antônio de Pádua Ribeiro

Recorrente: Antônio Francisco Dobies

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 327-346, junho 2010 339

Advogados: Olavo José Vanzelli e outro

Recorrida: Fazenda do Estado de São Paulo

Advogados: Luiz Cláudio Manfi o e outros

EMENTA

Drogaria. Ofi cial de farmácia. Responsabilidade técnica. Decreto

n. 20.377/1931, art. 2º, § 1º. Lei n. 5.991/1973, arts. 4º, 15 e 58.

I - A jurisprudência desta Corte é no sentido de que está em

vigor o § 1º do art. 2º do Decreto n. 20.377/1931, segundo o qual o

comércio direto com o consumidor de medicamentos não é privativo de

farmacêutico. A responsabilidade técnica de drogaria, estabelecimento

que promove esse comércio, pode ser exercida por ofi cial de farmácia,

desde que regularmente inscrito no órgão profi ssional competente.

II - Recurso especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são parte as acima

indicadas, decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na

conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas anexas, por unanimidade,

conhecer do recurso e dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro

Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros José de Jesus, Hélio

Mosimann, Peçanha Martins e Américo Luz.

Brasília (DF), 16 de novembro de 1994 (data do julgamento).

Ministro Hélio Mosimann, Presidente

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Relator

DJ 05.12.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro: Antônio Francisco Dobies,

ofi cial de farmácia, impetrou mandado de segurança contra ato do Sr. Diretor

do Escritório Regional de Saúde, objetivando lhe seja assegurado o direito de

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

340

assumir a responsabilidade técnica de sua drogaria, por não ser cargo privativo

de farmacêutico.

Em 1ª instância, a segurança foi denegada, tendo sido a sentença

confi rmada pelo v. acórdão da Sétima Câmara Civil do Tribunal de Justiça do

Estado de São Paulo.

Inconformado, o impetrante interpôs recurso especial, com fundamento

no art. 105, III, letras a e c, da Constituição Federal, sustentando negativa de

vigência aos arts. 4º, X e XI, e 58 da Lei n. 5.991/1973, que manteve o art. 2º do

Decreto n. 20.377/1931, além de dissídio jurisprudencial.

Contra-arrazoado (fls. 321-325), o recurso, cujo processamento foi

admitido (fl s. 332-333), subiu a esta Corte, onde os autos me vieram distribuídos.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Antônio de Pádua Ribeiro (Relator): Preconiza o recorrente, ofi cial de farmácia, que lhe seja assegurado o direito de assumir a responsabilidade técnica da sua drogaria, por não ser cargo privativo de farmacêutico.

A jurisprudência desta Corte é no sentido de que está em vigor o § 1º do art. 2º do Decreto n. 20.377/1931, segundo o qual o comércio direto com o consumidor de medicamentos não é privativo de farmacêutico. A responsabilidade técnica de drogaria, estabelecimento que promove esse comércio, pode ser exercida por ofi cial de farmácia, desde que regularmente inscrito no órgão profi ssional competente.

Na verdade, a Lei n. 5.991/1973, ao revogar o Decreto n. 20.377/1931, ressalvou os seus arts. 2º e 3º, fornecendo, no seu art. 4º, o conceito de “farmácia” e de “drogaria”, para prescrever no seu art. 15 que “a farmácia e a drogaria terão, obrigatoriamente, a assistência de um técnico responsável inscrito no Conselho Regional de Farmácia, na forma da lei”.

No contexto dos preceitos mencionados, verifi ca-se que há signifi cativa diferença entre “farmácia” e “drogaria”: naquela, existe manipulação de fórmulas; nesta, apenas a comercialização de produtos, sem qualquer manipulação. Por isso, a farmácia exige a presença do farmacêutico, profi ssional com titulação acadêmica, enquanto a drogaria contenta-se com o prático ou ofi cial de farmácia, desde que inscrito no Conselho Regional.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 327-346, junho 2010 341

Eis alguns precedentes:

Mandado de Segurança. Ofi cial de farmácia. Responsabilidade técnica. Leis n. 3.820/1969 e 5.991/1973. Decreto n. 20.377/1931.

1. Não restringindo a lei de regência que o ofi cial de farmácia, devidamente inscrito no respectivo Conselho Regional assuma a responsabilidade técnica de estabelecimento farmacêutico, o ato impeditivo constitui ilegalidade ao exercício de atividade profi ssional licenciada.

2. Precedentes jurisprudenciais iterativos.

3. Recurso provido. (REsp n. 31.372-0-SP, (93.0000843-9), Rel. Sr. Ministro Milton Luiz Pereira, julg. em 1º.06.1994, publ. DJ 27.06.1994);

Direito Administrativo. Inteligência da Lei n. 3.820/1969 e Decreto n. 20.377, de 1931, e da Lei n. 5.991/1973.

A restrição de direitos só tem efi cácia quando expressamente defi nida em lei.

Inexistindo, nas drogarias, o manuseio de drogas para o fi m de manipulação de fórmulas medicamentosas, mas, apenas, a exposição e venda ao público de medicamentos prontos e embalados, a lei dispensa, para o exercício da atividade dessa espécie de mercadoria, a responsabilidade direta do próprio farmacêutico.

O mero oficial de farmácia, desde que devidamente inscrito no Conselho Regional respectivo, pode exercer as atividades típicas de drogarias (Lei n. 5.991/1973), para os quais a lei não exige o grau universitário.

Recurso provido. Decisão unânime. (REsp n. 35.351-3-SP, (1993/0014661-0), Rel. Sr. Ministro Demócrito Reinaldo, julg. 18.08.1993, publ. DJ 04.10.1993).

No mesmo sentido: REsps n. 32.609-0-SP; 33.369-0-SP; 35.351-3-SP; e

39.222-5-SP.

Isto posto, em conclusão, conheço do recurso e dou-lhe provimento, a fi m

de reformar o acórdão recorrido e conceder a segurança.

RECURSO ESPECIAL N. 39.921-SP (1993.0029374-5)

Relator: Ministro Américo Luz

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

342

Recorrido: Roberto Rossi Rodrigues

Advogados: José Carlos Lopes de Souza e outros, e Olavo José Vanzelli e

outro

EMENTA

Administrativo. Ofi cial de farmácia. Responsabilidade técnica de

drogaria.

Inexiste impedimento de ordem legal para que o recorrido,

Ofi cial de Farmácia inscrito no respectivo conselho, seja o técnico

responsável de drogaria da qual é sócio.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram com

o Relator os Srs. Ministros Antônio de Pádua Ribeiro, José de Jesus, Hélio

Mosimann e Peçanha Martins.

Brasília (DF), 09 de fevereiro de 1994 (data do julgamento).

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente

Ministro Américo Luz, Relator

DJ 07.03.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Américo Luz: Recurso especial da Fazenda do Estado de

São Paulo contra acórdão que, confi rmando sentença concessiva de segurança,

reconheceu ao impetrante o direito de, na qualidade de ofi cial de farmácia,

assumir a responsabilidade técnica de drogaria da qual é sócio.

Sustenta violação ao art. 21 da Lei n. 5.991/1973 e divergência

jurisprudencial com julgado da Suprema Corte.

É o relatório.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 327-346, junho 2010 343

VOTO

O Sr. Ministro Américo Luz (Relator): A fundamentação do acórdão

recorrido é a seguinte (fl s. 290-291):

... Dispõe o art. 2º, § 1º, do Decreto n. 20.377, de 08.09.1931 que “o comércio direto com o consumidor de todos os medicamentos ofi cinais, especialidades farmacêuticas, produtos químicos, galênicos, biológicos, etc., e plantas de aplicações terapêuticas” não é de atribuição privativa de farmacêutico.

Por outro lado, drogaria é defi nida pela norma do inciso XI da Lei n. 5.911/1973, como o “estabelecimento de dispensação e comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos em suas embalagens originais”.

Pela conjugação dos dois dispositivos verifi ca-se que o “técnico responsável, inscrito no Conselho Regional de Farmácia, na forma da lei”, como previsto no art. 15 da Lei n. 5.911/1973, não precisa ser farmacêutico, no caso de drogaria bastando esteja ele inscrito naquele Conselho, em qualquer dos quadros distintos indicados pelo parágrafo único do art. 14 da Lei n. 3.820/1960.

Ora, o impetrante está inscrito no referido Conselho, como ofi cial de farmácia (fl s. 27-30), não havendo qualquer impedimento para que ele seja o “técnico responsável” da drogaria da qual é um dos sócios (fl s. 31-32).

E esse direito, reconhecido pela lei, ao impetrante, não pode ser limitado por simples decreto regulamentador, que inova, restritivamente, em detrimento do impetrante, principalmente porque a matéria em questão está resguardada pelo princípio constitucional da reserva legal, e, assim, somente uma lei em sentido formal poderá restringi-la, estabelecendo parâmetros mais estreitos ao livre exercício profi ssional e atividade econômica (vide arts. 5º, XIII, e 170, parágrafo único, da Constituição Federal).

Neste sentido o decidido pela Corte no REsp n. 35.351-3-SP, Relator

o eminente Ministro Demócrito Reinaldo, com acórdão publicado no DJ

04.10.1993, assim ementado, verbis:

Direito Administrativo. Inteligência da Lei n. 3.820/1969, e Decreto n. 20.377, de 1931, e da Lei n. 5.991/1973.

A restrição de direitos só tem efi cácia quando expressamente defi nida em lei.

Inexistindo, nas drogarias, o manuseio de drogas para o fi m de manipulação de fórmulas medicamentosas, mas, apenas, a exposição e venda ao público de medicamentos prontos e embalados, a lei dispensa, para o exercício da atividade dessa espécie de mercadoria, a responsabilidade direta do próprio farmacêutico.O mero ofi cial de farmácia, desde que devidamente inscrito no Conselho Regional

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

344

respectivo, pode exercer as atividades típicas de Drogarias (Lei n. 5.991/1973), para os quais a lei não exige o grau universitário.

Recurso provido. Decisão unânime.

Do exposto, não conheço do recurso.

RECURSO ESPECIAL N. 41.782-SP (1993/0034778-0)

Relator: Ministro José de Jesus Filho

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Recorridos: Rafael Ferraz Franco e outros

Advogados: Paris Piedade Júnior e outros, e Olavo José Vanzelli e outro

EMENTA

Administrativo. Drogaria. Ofi cial de farmácia. Responsabilidade

técnica. Lei n. 5.991/1973.

I - Conforme já decidiram ambas as Turmas que compõem a

egrégia Primeira Seção desta Corte, a responsabilidade técnica por

drogaria pode ser confi ada ao ofi cial de farmácia. Precedentes.

II - Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas,

decide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,

não conhecer do recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes

dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram

do julgamento os Srs. Ministros Peçanha Martins, Américo Luz e Antônio

de Pádua Ribeiro. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Hélio Mosimann.

Custas, como de lei.

Brasília (DF), 23 de março de 1994 (data do julgamento).

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 327-346, junho 2010 345

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente

Ministro José de Jesus Filho, Relator

DJ 25.04.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José de Jesus Filho: Trata-se de recurso especial interposto

pela Fazenda do Estado de São Paulo, com fulcro no art. 105, III, alíneas a e c, do

permissivo constitucional, contra o v. acórdão proferido pela Primeira Câmara

Civil de Férias e do Tribunal de Justiça daquele Estado que, confi rmando

sentença concessiva de segurança, reconheceu ao impetrante o direito de, na

qualidade de ofi cial de farmácia, assumir a responsabilidade técnica de drogaria

de sua propriedade.

Sustenta a recorrente, em síntese, que o v. acórdão guerreado contrariou

os arts. 15, § 3º, e 17, ambos da Lei n. 5.991/1973, bem como divergência

jurisprudencial com aresto do Pretório excelso.

Admitido o recurso, subiram os autos a esta egrégia Corte, onde dispensei

a manifestação do douto Ministério Público.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro José de Jesus Filho (Relator): O tema já é conhecido

em ambas as Turmas que compõem a egrégia Primeira Seção desta Corte,

estando uniformizada a jurisprudência no mesmo sentido da decisão recorrida,

consoante se vê dos seguintes precedentes:

Administrativo. Ofi cial de farmácia. Responsabilidade técnica de drogaria.

Inexiste impedimento de ordem legal para que o recorrido, Ofi cial de Farmácia inscrito no respectivo Conselho, seja o técnico responsável de drogaria da qual é sócio. (REsp n. 39.921-1-SP, Relator Ministro Américo Luz, decisão unânime, in DJ 07.03.1994)

Administrativo. Drogaria. Responsabilidade técnica. Ofi cial de farmácia. Lei n. 5.991/1973.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

346

A responsabilidade técnica por drogaria pode ser confiada ao oficial de farmácia. A interpretação teleológica da Lei n. 5.991/1973 conduz ao entendimento de que somente é privativa de farmacêutico, a responsabilidade por farmácia, em que se elaborem medicamentos, através do aviamento de fórmulas. (REsp n. 32.533-3-SP, Relator Ministro Gomes de Barros, decisão unânime, in DJ 28.02.1994)

Assim, por compartilhar da mesma linha de entendimento, isto é, que

o oficial de farmácia, inscrito no respectivo Conselho, pode ser o técnico

responsável por drogaria da qual é proprietário, é que não conheço do recurso.

É o meu voto.

Súmula n. 121

SÚMULA N. 121

Na execução fi scal o devedor deverá ser intimado, pessoalmente, do dia e

hora da realização do leilão.

Referências:

CPC, arts. 125, I, e 687, § 3º.

Lei n. 6.830/1980, art. 1º.

Precedentes:

REsp 3.255-BA (1ª T, 16.03.1994 — DJ 18.04.1994)

REsp 13.084-SP (2ª T, 04.10.1993 — DJ 22.11.1993)

REsp 15.003-SP (2ª T, 27.10.1993 — DJ 22.11.1993)

REsp 17.105-SP (1ª T, 11.03.1992 — DJ 20.04.1992)

REsp 31.764-SP (1ª T, 19.04.1993 — DJ 17.05.1993)

REsp 35.934-SP (2ª T, 04.05.1994 — DJ 06.06.1994)

Primeira Seção, em 29.11.1994

DJ 06.12.1994, p. 33.786

RECURSO ESPECIAL N. 3.255-BA (1990/0004868-0)

Relator: Ministro Milton Luiz Pereira

Recorrentes: Raul Humberto de Feitosa Campos e Fazenda Pública do

Estado da Bahia

Recorridos: Jaime José de Castro e cônjuge

Advogados: Pedro G. Moura e outros, Anísio Amaral Vianna e Vilobaldo

Bastos de Magalhães e outro

EMENTA

Execução Fiscal e Processual Civil. Arrematação. Ação adequada

para anulação. Necessidade da intimação do devedor. Curador

Especial. Fraude à execução. Lei n. 6.830/1980. Art. 185, CTN.

1. A arrematação é anulável por ação ordinária (art. 486, CPC),

como os atos jurídicos em geral, sendo inadmissível a exigência de ser

movida ação rescisória.

2. A intimação do devedor quanto à designação do leilão deve

ser validamente realizada, embora a Lei n. 6.830/1980 não explicite

a exigência.

3. Na execução, o devedor é citado para adimplir, não para se

defender, razão-mor para ser dispensada a nomeação do Curador

Especial.

4. Enfrentada a “fraude à execução” com a análise de provas,

obstado fi ca o reexame na via do recurso especial (Súmula n. 7-STJ).

5. Intangido um dos fundamentos do acórdão objurgado, por si,

sufi ciente para a anulação da arrematação, o julgado prevalece na sua

conclusão.

6. Recurso improvido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a egrégia Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, prosseguindo no

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

352

julgamento, por unanimidade, negar provimento ao recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha, Garcia Vieira, Demócrito Reinaldo e Humberto Gomes de Barros. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Demócrito Reinaldo. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 16 de março de 1994 (data do julgamento).

Ministro Demócrito Reinaldo, Presidente

Ministro Milton Luiz Pereira, Relator

DJ 18.04.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Milton Pereira: O egrégio Tribunal de Justiça do Estado da

Bahia, julgando apelação cível em execução fi scal interposta por Jaime José de

Castro e sua esposa contra Raul Humberto Feitosa Campos, esposa e a Fazenda

Pública, exarou o v. acórdão representado pela ementa, in verbis:

Arrematação. Validade. Inexistência de falhas processuais. Presunção de fraude admitida legalmente juris et de jure. Inexistência de revelia em processo de execução. Desnecessidade da intimação pessoal a penhora. Improvimento do apelo, por maioria.

Tendo sido a arrematação efetivada num processo visivelmente válido, não prospera a tese de sua invalidade, a alienação de bens subseqüente ao ajuizamento de execução fi scal gera a presunção juris et de jure de fraude, de acordo com o art. 185 do CTN. Inexistindo, como inexiste, revelia no processo de execução, onde o executado deve cumprir obrigação contraída e não apresentar defesa, não teria cabimento a nomeação de curador, porque de revel não se trata. Desnecessidade de intimação pessoal da penhora no caso sub judice. Validade da arrematação e improvimento do apelo, por maioria (fl s. 165-166).

Contra o v. aresto foram interpostos embargos infringentes, por Jaime José

de Castro e sua esposa, nos quais aquele colendo Tribunal proferiu decisão assim

ementada:

Embargos infringentes.

Ação anulatória de arrematação. Execução fiscal. Vícios processuais. Improcedência no juízo do 1º grau. Apelo improvido por maioria. Acolhimento dos embargos.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 347-378, junho 2010 353

Comprovados os vícios do processo de execução fiscal, consubstanciados na falta de certidão de que fora afi xado edital de citação na sede do juízo dos executados revéis, na ausência de nomeação de curador especial para fazer-lhes a defesa, irregularidade que tem sido aceita em parte pela doutrina e pelos pretórios para argüir-se a nulidade, e, fi nalmente, na falta de intimação pessoal do dia e hora da realização do leilão para a venda do bem penhorado, declarada deve ser a inefi cácia dos atos assim praticados, inclusive a arrematação processada também de forma irregular (fl . 216).

Também foram interpostos, por Raul Humberto de Feitosa Campos e sua

esposa, embargos de declaração, para os quais o egrégio Tribunal a quo prolatou

acórdão, que restou assim ementado:

Embargos declaratórios.

Omissão. Inexistência. Rejeição.

Desde que inexistentes as lacunas que se diz padecer o acórdão, a ponto de justifi car o pedido de esclarecimento, rejeitam-se os embargos a ele opostos (fl . 241).

Inconformado, Raul Humberto de Feitosa Campos interpôs o presente recurso especial, fundado no art. 105, inciso III, alíneas a e c, da Constituição Federal, alegando negativa de vigência aos arts. 295, inciso V, 267, inciso IV, 458, inciso III, 515, § 1º, 245, parágrafo único, e 267, § 3º, do Código de Processo Civil, art. 185 do Código Tributário Nacional, e art. 22 da Lei n. 6.830/1980, bem como que divergiu de julgados do extinto Tribunal Federal de Recursos e do Tribunal de Alçada do Paraná (fl s. 248-272).

A Fazenda Pública Estadual, à fl . 281, aderiu e reiterou o recurso especial interposto.

O egrégio Tribunal a quo admitiu o recurso, com base no seguinte entendimento:

Com efeito, buscaram os recorrentes, exaustivamente, ver decidida a preliminar que suscitaram. Mas as egrégias Câmaras Cíveis Reunidas, julgando os embargos declaratórios opostos com o fi to de suprir a omissão, assim se pronunciaram:

Ocorre que a Dra. Juíza de 1º grau, despachando à fl . 85, manifestou-se pelo julgamento antecipado ao argumento de que a matéria a ser apreciada independia da produção de prova. Isso deixa claro que não acolhera a argüição de impropriedade da ação anulatória, pois se assim entendesse teria indeferido a inicial, decretando a extinção do processo sem julgamento do mérito. No entanto, deu continuidade ao processo e julgou a ação improcedente.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

354

Ora, contra o despacho que anunciou o julgamento antecipado não houve recurso, precluindo, desde então, a matéria argüida. Dela, também não se fez referência na sentença (acórdão, fl s. 243-244).

Essa interpretação não me parece revestida da razoabilidade que, a teor da Súmula n. 400, inviabilizaria o apelo.

É que, em sendo as normas ofendidas preceitos de ordem pública passíveis de apreciação, independentemente de provocação, em qualquer tempo e grau de jurisdição, não se pode dizer preclusa a matéria, tanto mais porque, ao anunciar o julgamento antecipado da lide, a MM. Juíza não decidiu preliminar, nem poderia fazê-lo implicitamente, proferindo, tão-só, despacho de mero expediente, de que não cabe recurso (art. 504 do CPC) (fl s. 297-298).

As contra-razões encontram-se às fl s. 326-339.

O douto Ministério Público Federal, fundado na predominante

jurisprudência do excelso Pretório e do extinto Tribunal Federal de Recursos,

afi rmou que a ação anulatória é a adequada para anular a arrematação de bem

imóvel. Com relação à alegada omissão no acórdão, disse que “se o Tribunal

acolheu os embargos infringentes e anulou a arrematação é porque considerou

apropriada e procedente a ação de anulação intentada”. Contudo, no respeitante

à contrariedade ao art. 22 da Lei das Execuções Fiscais, entende que ao

Recorrente assiste razão, porque o citado dispositivo regula por completo o

procedimento da arrematação da execução fi scal, sendo dispensável a intimação

pessoal do devedor. No caso, não se aplica a norma do art. 687, § 3º, do CPC,

pois que não se aplica lei geral em procedimento especial. Invocou, também, a

jurisprudência do extinto TFR para embasar o entendimento sobre a suposta

exigência de curador especial ao devedor citado por edital, porque, na execução

o devedor é citado não para se defender, mas para cumprir a decisão, inexistindo

revelia. Quanto “à suposta nulidade da citação porque o edital não teria sido

afi xado na sede do Juízo”, cabe razão ao Recorrente pois o “problema, aqui de

novo, a toda evidência, foi mal resolvido pelo acórdão impugnado, que decidiu

na base de suposições infundadas, negando, sem qualquer razão de direito, a

certidão regularmente passada por escrivão judicial (fl . 196), contrariando a

materialidade inequívoca da prova documental encartada no processo e, com

isso, atropelando o art. 8º, IV, da Lei n. 6.380/1980”. Por fi m, concluiu:

Deixa-se de examinar a alegada negativa de vigência do art. 185 do CTN porque, a rigor, a questão da fraude de execução é matéria estranha à lide, nos limites em que se estabeleceu a controvérsia. Ademais, porque dela não cuidou o

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 347-378, junho 2010 355

acórdão recorrido (fl s. 216-246). E, fi nalmente, porque, assegurada a validade da arrematação, resta prejudicada qualquer discussão sobre a ocorrência de fraude à execução.

Nessas condições, o parecer é no sentido do provimento do recurso (fl . 362).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira (Relator): O recurso objetiva

demonstrar que houve negativa de vigência de leis federais (arts. 245, parágrafo

único, 267, § 3º; 295, V; 267, IV; 458, III; 515, § 1º, CPC, art. 185, CTN,

e art. 22, Lei n. 6.830) e divergência pretoriana, encimadas as prédicas do

inconformismo pela invocação do art. 105, III, a e c, Constituição Federal.

Satisfeitos os requisitos formais, conheço do recurso.

Em abreviado, a parte-recorrente arrazoou:

omissis

... o v. acórdão recorrido ofende o direito do recorrente. Negou-lhe prestação jurisdicional, ao deixar de julgar questão de direito que lhe foi submetida: extinção do processo sem julgamento do mérito, por não ser a arrematação passível de ação anulatória.

Por outro lado, não procede a alegação de que a matéria estava preclusa, como se verá na fundamentação do presente recurso.

Igualmente improcedente o argumento de que não fora renovada, expressa e objetivamente, nos embargos infringentes, a mesma matéria.

Demonstrou-se, ao contrário, que todos os pontos tratados na contestação, incluindo a preliminar de extinção do processo, foi reiterada, repetida e reafi rmada nas contra-razões da apelação, na impugnação aos embargos infringentes, e requerido o seu exame nos embargos de declaração.

No que se refere às nulidades da citação e da intimação dos executados para o leilão, o acórdão está a exigir procedimento não previsto na Lei, especial, das Execuções Fiscais. Ora, o CPC estabelece o procedimento comum. Somente subsidia aquela lei, no que esta for omissa. No caso dos autos, dispositivos específi cos da Lei das Execuções Fiscais derrogam o direito processual comum.

Quanto à nomeação de curador especial aos executados, o v. acórdão recorrido confl ita com as lições da doutrina e com as decisões de outros tribunais, ensejando, nesta última hipótese, o dissídio jurisprudencial.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

356

Por último, a fraude à execução está perfeitamente caracterizada. Assim reconheceu a sentença de 1º grau, confi rmada no Tribunal a quo, ao julgar a apelação, ambos apoiados no art. 185 do Código Tributário Nacional, decisão esta intocada até aqui (fl s. 257-258).

Na senda dos embargos infringentes e dos declaratórios, estruturado o

prequestionamento, conheço do recurso (art. 105, III, a e c, CF).

Peregrinando pelas razões informadoras da frontal insurgência, lavradas

com competência e seriedade profissional, a foco do desafiado v. acórdão,

objetivamente delineou o douto agente do Ministério Público Federal,

textualmente:

omissis

... labora em equívoco o recorrente ao proclamar o descabimento da ação anulatória como remédio adequado para a descontinuação de carta de arrematação judicial. Como decidiu a Segunda Seção do extinto Tribunal Federal de Recursos, em memorável julgamento, “a ação adequada para anular a arrematação de bem imóvel, sua respectiva carta e sua matrícula no cartório competente é a ação anulatória, prevista no art. 486 do Código de Processo Civil, e não a ação rescisória” (Ação Rescisória n. 964-MG, Relator designado Ministro Pádua Ribeiro, in RTFR 130/7). No mesmo sentido, a jurisprudência dominante no Supremo Tribunal Federal: RTJ 113/1.085, 114/246 e STF-RT 590/258) (fl . 359).

Sem omitir que, tanto na doutrina, como na jurisprudência, há discrepância

sobre o tema da ação adequada para desconstituir a arrematação, urge registrar

que na vigência do atual Código de Processo Civil, tem prevalecido a ação

ordinária, comportando acudir com o julgado na Ação Rescisória n. 964-MG-

TFR, a respeito, aduzindo o voto condutor, lavrado pelo eminente Ministro

Pádua Ribeiro, verbis:

... sob a égide do vigente Código de Processo Civil, é no sentido de que não cabe ação rescisória objetivando a desconstituir arrematação, seja o auto de arrematação, seja a carta de arrematação. Só pode ser desconstituída via rescisória a sentença que julgar os embargos à arrematação. Ou seja: se há embargos de arrematação, tais embargos ensejam o proferimento de sentença e, assim, essa sentença pode ser desconstituída à vista do que estabelece especifi camente o art. 485, segundo o qual a sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida.

Ora, carta de arrematação, por maior que seja o nosso raciocínio extensivo, jamais chegará a compreender o conceito de sentença de mérito. Daí que, a meu

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 347-378, junho 2010 357

ver, no sistema do Código atual, carta de arrematação só pode ser anulada via da ação prevista no art. 486 da referida lei adjetiva (in Rev. TFR, 130/12).

Versando o mesmo tema, na Ação Rescisória n. 865-CE, como Relator,

votou o exímio Ministro Armando Rollemberg:

... Contestando, a União sustentou não ser a ação rescisória a via hábil para anulação de arrematação.

Essa conseqüentemente, a questão a ser examinada de logo.

Escreveu à propósito José Frederico Marques no Manual de Direito Processual Civil, 4º vol., p. 195-196:

A carta de arrematação não é sentença, como sustentava Morais, ao tempo das Ordenações, e tampouco ato constitutivo da arrematação. O ato constitutivo está no auto de arrematação, quando então se perfaz e se completa, adquirindo forma jurídica instrumental, a alienação coativa realizada na praça ou leilão. A carta de arrematação é o título que recebe o arrematante, da alienação que lhe foi feita em hasta pública.

Também se expede carta de arrematação relativa a bens móveis (art. 707).

Contra o despacho do juiz mandando expedir a carta de arrematação, não cabe recurso algum (art. 504), e tampouco contra a referida carta. Para anular-se a arrematação, quando não mais cabível petitio simplex (retro, n. 889), inadmissível será a propositura de ação rescisória: o remédio adequado será a ação a que se refere o art. 486 (retro n. 710).

No mesmo sentido manifestou-se Luiz Eulálio Bueno Vidigal, em Comentários ao Código de Processo Civil, ed. Rev. dos Tribunais, vol. VI, p. 161-162:

Feita a arrematação, será reduzida a auto, que o juiz, o escrivão, o arrematante e o porteiro assinarão. Assinando o auto, ela se considera perfeita e acabada e, salvo disposição em contrário, não mais se retratará. Não é necessária sentença do juiz. Não há, portanto, na arrematação, nem sequer sentença homologatória, muito embora o juiz nela tome parte, decidindo incidentes, verifi cando quem fez o maior lance, determinando o encerramento da praça e julgando, embora sem sentença regular certas questões, como por exemplo, a preferência estipulada pelo art. 691 do CPC em favor do licitante que se propuser arrematar englobadamente todos os bens levados à praça.

A arrematação, portanto, é anulável por ação ordinária, como os atos jurídicos em geral. Assim decidiu o então Tribunal de Apelação do Distrito Federal, como se vê de acórdão inserto na RT, vol. 153, p. 653.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

358

Se, porém, forem apresentados à arrematação embargos do executado ou de terceiros, será necessária ação rescisória para anular a decisão neles proferida. A rescisória não será, entretanto, necessária, para as pessoas que não tiverem sido partes nos embargos.

Assim, apresentados embargos de terceiros e afinal repelidos por sentença regular, o executado que quiser anular a arrematação não precisa recorrer à ação rescisória. Igualmente, mesmo que haja sentença decidindo os embargos do executado ou de terceiros, o credor hipotecário não notifi cado judicialmente para a praça poderá obter, por ação ordinária, a anulação da venda judicial, não precisará recorrer à ação rescisória, remédio do qual, aliás, não se poderia servir pela simples razão de não ter sido parte no processo.

A recíproca também é verdadeira. Embora haja sentença repelindo o pedido de anulação da venda judicial feito pelo credor hipotecário não notifi cado, o executado pode pedir, por ação ordinária, a anulação da praça.

De sua vez Liebman escreveu que “a arrematação não é sentença e, portanto, não pode ser recorrida nem atacada com ação rescisória” (“Processo de Execução”, 4ª edição, p. 157).

Em sentido contrário manifestou-se Pontes de Miranda ao escrever:

Quanto à arrematação, a carta de arrematação é sentença. Não se trata de ato processual de fi gurantes que não dependam de sentença: o ato é do juiz, e não do dono dos bens, e há sentença, que é a carta de arrematação. A arrematação, em si, é ato de alguém, que está de fora e arremata, ou, estando dentro da relação jurídica processual, atua como se fora estivesse. Contra a carta de arrematação sententia vero addictionis (vulgo carta de arrematação) — cabe ação rescisória.

Tenho que a razão está com os primeiros, pois se motivos outros não existissem para considerar-se que a carta de arrematação não é sentença, haveria o da impossibilidade do atendimento, no texto respectivo, dos requisitos previstos como essenciais à sentença no art. 458 do CPC.

A defi nição adequada de arrematação, é, ao que entendo, aquela formulada por Gabriel de Rezende Filho quando a conceituou como “ato do processo de execução, pelo qual os bens do executado são transferidos ao terceiro por força do poder jurisdicional do Estado, tendo por objetivo a satisfação do direito do exeqüente judicialmente reconhecido” (Curso de Direito Processual Civil, ed. de 1963, vol. 3, p. 242) — (in Rev. TFR, 130/p. 12-14).

Sob as luzes do sistema processual vigente, portanto, sinto-me algemado

pelos eruditos fundamentos transcritos, conseqüentemente, extremando da

procedência a pretensão do Recorrente.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 347-378, junho 2010 359

Davante, noutro ponto da formulação recursal, espancando a irresignação,

são acolhíveis as anotações oferecidas pelo Ministério Público Federal, assim

lançadas:

Não procede, igualmente, a súplica quando argúi a nulidade do acórdão recorrido — que consistiria, em suma, na omissão de julgamento sobre a preliminar suscitada de impropriedade da ação anulatória para desfazer a arrematação —, apontando infringência dos arts. 245, parágrafo único, 267, IV; 295, V; 458, III, e 515, § 1º, do Código de Processo Civil. Nesse particular, o aresto censurado resolveu bem a questão proposta, relativamente à suposta omissão da sentença, observando que “a Dra. Juíza de 1º grau, despachando à fl. 85, manifestou-se pelo julgamento antecipado ao argumento de que a matéria a ser apreciada independia da produção de prova. Isso deixa claro que não acolhera a argüição de impropriedade da ação anulatória, pois se assim entendesse teria indeferido a inicial, decretando a extinção do processo sem julgamento do mérito. No entanto, deu continuidade ao processo e julgou a ação improcedente” (fl s. 243-244). O mesmo argumento vale para a decisão de 2ª instância: embora inaceitável a tese da preclusão — os pressupostos processuais podem e devem ser conhecidos de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não proferida a sentença de mérito (art. 267, § 3º) —, se o Tribunal acolheu os embargos infringentes e anulou a arrematação é porque considerou apropriada e procedente a ação de anulação intentada (fl s. 216-231). Como anota Theotonio Negrão, “em alguns casos, tem-se entendido que a rejeição de preliminar pode ser feita de maneira implícita ou indireta, contando que necessária, não ocorrendo, assim, nulidade da sentença (RTJ 83/859, s/ decadência; RTFR 122/221, s/ prescrição; RJTJESP 41/174), e até mesmo que o silêncio desta, quanto à reconvenção, não acarreta nulidade, se a decretação da procedência da ação for manifestamente incompatível com o acolhimento da reconvenção (RTJ 76/177)” (in Código de Processo Civil e Legislação, 20ª ed., RT, p. 237). (Fls. 359 e 360)

Improsperável, pois, animar-se a pretensão examinada com o sucesso

pretendido.

Em relação à nomeação de curador especial e sugerida falta de fi xação do

edital na sede do Juízo, outra vez, são oportunas as razões alvoraçadas pelo

dedicado agente ministerial, a dizer:

... em realidade, “na execução, qualquer que seja o título em que se funda, o devedor é citado para adimplir não para se defender. Inexiste revelia, razão por que não se lhe nomeia curador especial na hipótese de citação por edital ou com hora certa” (TFR, AI n. 46.902-GO, Quinta Turma, Relator Ministro Torreão Braz, in RTFR 134/21). Nessa linha, como bem demonstra o recorrente, a jurisprudência do antigo Tribunal Federal de Recursos, perfi lhando a tese que deve prevalecer:

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

360

“Descabe nomeação de curador especial no processo de execução. Neste, o devedor é citado, por exemplo, não para se defender, mas para cumprir o julgado (arts. 621 e 632 do CPC) ou para pagar ou nomear bens à penhora (art. 652, CPC) e opor embargos (art. 736, CPC) 2. Os embargos do devedor têm natureza de ação e o curador contesta (CPC, art. 302, parágrafo único); não propõe ação” (AI n. 41.033-SP, Quinta Turma, Relator Ministro Pedro Acioli, in DJ 03.09.1980, p. 6.536); com idêntica ementa, o acórdão prolatado no AI n. 41.050-SP, Quinta Turma, Relator Ministro Pedro Acioli, in DJ 03.09.1980, p. 6.536.

Assim também, quanto à suposta nulidade da citação porque o edital não teria sido afi xado na sede do juízo. O problema, aqui de novo, a toda evidência, foi mal resolvido pelo acórdão impugnado, que decidiu na base de suposições infundadas, negando, sem qualquer razão de direito, fé a certidão regularmente passada por escrivão judicial (fl . 196), contrariando a materialidade inequívoca da prova documental encartada no processo e, com isso, atropelando o art. 8º, IV, da Lei n. 6.380/1980. “Sabe-se que a incidência da lei federal pode ser afastada pelo deixar-se de aplicá-la no fato em que é aplicável, como também pode ser afastada pelo defi nir-se erroneamente o fato em que, defi nido fosse com acerto, ela incidiria. Sem dúvida, o Tribunal que julga uma questão não é discricionário; ele não tem o direito de contrariar a natureza das coisas; não pode considerar que locação é compra-e-venda; nem pode julgar que uma casa de único pavimento é arranha-céu. Portanto, não se trata de reexaminar a prova do fato, e sim de conferir a esse fato a defi nição que lhe cabe” (RTJ 87/227). (Fls. 361-362)

Processo Civil. Processo de execução. Réu citado por edital. Curador especial.

Na execução, qualquer que seja o título em que se funda, o devedor é citado para adimplir, para se defender. Inexiste revelia, razão porque não se lhe nomeia curador especial na hipótese de citação por edital ou com hora certa.

Agravo provido (Ag. Inst. n. 46.902-GO, Rel. Min. Torreão Braz, in Rev. TFR, vol. 134/21).

Pelo fi o da exposição, clarea-se a impropriedade dos motivos aprumados

para servirem de alento ao provimento.

No cenáculo da intimação pessoal do devedor, esta Corte, iterativamente, tem

afi rmado ser necessário o inequívoco conhecimento do executado; confi ra-se:

Processual Civil. Execução Fiscal. Embargos à arrematação. Intimação do devedor para o leilão. Obrigatoriedade. Remição da execução. Honorários.

I - Se o devedor não foi pessoalmente intimado para os atos de alienação dos bens que lhe foram expropriados (CPC), art. 687, § 3º, c.c. os arts. 1º e 22, § 2º, da Lei n. 6.830/1980), é nula a arrematação.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 347-378, junho 2010 361

II - Apelação provida, assegurando-se ao embargante o direito de remir a execução, no prazo legal. Honorários advocatícios a cargo da autarquia embargada. (AC n. 082.764-RJ, Rel. Min. Geraldo Sobral, DJ 20.10.1983).

Processual Civil. Execução. Intimação do executado. Hasta.

I - É devida a intimação do executado para que se aperfeiçoe a hasta pública. Se tal não foi feita, nula é a arrematação. Precedentes.

II - Improvimento do recurso. (REsp n. 11.013-SP, Rel. Min. Pedro Acioli, DJ 23.09.1991).

Execução fi scal. Embargos à arrematação. Leilão. Intimação.

A intimação do devedor da designação do leilão deve ser validamente realizada. Tratando-se de devedora pessoa jurídica, a intimação deve ser cumprida na pessoa de quem a represente judicialmente (art. 12, VI, do CPC), não sendo válida aquela realizada na pessoa que não detém tal qualidade. (REsp n. 14.791-0-SP, Rel. Min. Américo Luz, in 12.04.1993).

Neste último julgado, assoalhou o voto condutor:

A Lei n. 6.830/1980, que regula o processo das execuções fiscais, não estabelece, expressamente, a necessidade da intimação pessoal do devedor para o leilão. Entretanto, como cabe ao magistrado “assegurar às partes igualdade de tratamento” (art. 125, I, CPC) no processo, isso implica que se dê ciência do leilão ao devedor, pois que tal ciência é também exigida em favor do credor (art. 22, § 2º, Lei n. 6.830/1980). Por outro lado, o princípio do contraditório, na verdade, impõe a ciência bilateral dos atos do processo, sem a qual as partes não poderão manifestar-se uma sobre as pretensões da outra. Ademais, a intimação do leilão ao devedor abre a este a oportunidade de remir a execução, e o recebimento do crédito pelo credor é o objetivo a ser efetivamente alcançado.

A intimação do devedor da designação do leilão deve ser validamente realizada, sob pena de considerar-se não efetuada. Tratando-se de devedora pessoa jurídica, a intimação deve ser cumprida na pessoa de quem a represente judicialmente (art. 12, VI, CPC), para que possa ser considerada válida. A afi rmação constante do acórdão no sentido de que a intimação efetivada na “pessoa de Aída Martins, no endereço da executada” e que “referida pessoa é ligada à fi rma executada, visto que assinou como testemunha instrumentária a alteração do contrato social de fl s. 13-34” (fl . 47), não tem o condão de validar a intimação feita a quem não é representante legal da devedora.

Além de desconsiderar o art. 12, inciso VI, do Código de Processo Civil, o acórdão questionado, desatendeu também ao art. 687, § 3º, do mesmo estatuto, pois que tal norma exige a intimação válida do devedor e não tem tal qualidade aquela realizada na pessoa que não detém a representação judicial da pessoa jurídica.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

362

Finalmente, cabe lembrar que essa egrégia Turma já se pronunciou no sentido da necessidade da intimação do executado da designação do leilão em execução fi scal, segundo revela o acórdão proferido no Recurso Especial n. 8.939-SP, assim ementado:

Execução fi scal. Intimação do executado. Leilão.

I - Embora a lei não especifique que se deve fazer a intimação do executado, através de mandado pessoal, esta tem lugar em face do princípio da eqüidade, tomando-se como “última oportunidade ao devedor para remir o bem executado, acrescido dos consectários legais”.

II - Precedentes.

III - Recurso provido. (Rel. Min. José de Jesus Filho, in DJ 09.09.1991, p. 12.182). (REsp n. 14.791-0-SP — ref.).

Finalmente, para não encismar que houve lacuna analítica referentemente

à acenada violação do art. 185, CTN, são candentes os predicamentos da

motivação, nitidamente, com base em contrato, nesse aspecto, explicitando o voto

condutor:

E quanto à presunção (jure et de jure) de fraude contra a Fazenda Pública Estadual, em face dos executados terem transmitido, via contrato de promessa de compra e venda, o imóvel a terceiros, anteriormente à inscrição do débito do ICM em dívida ativa... (Fl. 218 — Grifo).

Forra-se, assim, que o debate sobre a fraude à execução foi ao derredor de

contrato, evidenciando que as suas conseqüências fáticas e probatórias foram

objeto de soberana avaliação pelas instâncias ordinárias, razão bastante para

obstar o reexame na via especial (Súmula n. 7-STJ).

Em assim posto, apesar de fugidios da aceitação os demais fundamentos

compendiados pelo v. acórdão, porém, incontrastável que não houve a

multicitada intimação pessoal, à parla de ato imprescindível, ainda que somente

por essa falta, enraizou-se vício, por si, sufi ciente para nulifi car a arrematação,

seja por manifesta desatenção à expressa exigência legal, quer frente à assentada

compreensão jurisprudencial, impondo-a como prática formal indispensável.

Desse modo, vicejando essa mácula na arrematação, mesmo elididos os

outros fundamentos na sua conclusão o aresto não é ruptível.

Confl uente à exposição, voto improvendo o recurso.

É o meu voto.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 347-378, junho 2010 363

RETIFICAÇÃO DE VOTO

O Sr. Ministro Milton Luiz Pereira (Relator): Sr. Ministro Presidente,

se V. Exa. consentir, peço vez para fazer um pedido de retifi cação de voto.

Coincidentemente, está presente o ilustre advogado Dr. Pedro Gomes Moura

que, na sessão anterior, representando os interesses dos recorrentes, fez a

sustentação oral das razões do recurso.

Cuida-se, apenas para recordar, de ação que visou a anulação de arrematação

conseqüente à uma execução fi scal. Pois bem, em meu voto, examinando o

acórdão que foi o provocador do recurso, procurei demonstrar que todos os seus

fundamentos não tinham consistência jurídica para impedir a desconstituição do

julgado. Refutei todos os fundamentos do acórdão, menos um, que me pareceu

sufi ciente para manter o julgado. Todavia, ao fi nal, por manifesto engano, ao

invés de proclamar que votava improvendo o recurso, concluí provendo-o.

Fiz essa rápida rememoração como homenagem ao ilustre advogado

Dr. Pedro Gomes, que fez a sustentação oral, em razão de estar retifi cando

dito resultado, que contraria a fundamentação desenvolvida. Portanto, voto

improvendo o recurso.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Pedi vista dos autos porque tive

a impressão, em face da sustentação oral promovida pelo ilustre advogado

dos recorrentes, que estivesse em debate, além dos pontos primorosamente

decididos pelo eminente Ministro Milton Luiz Pereira, a questão referente à

legitimidade dos recorridos para proporem a ação anulatória de que é resultante

o recurso especial em exame.

Da leitura atenta dos autos observo, contudo, que essa matéria não foi

agitada, por leve que pudesse ter sido, pelos recorrentes, nem podendo agora ser

apreciada de ofício, em sede de apelo nobre.

A par disso, tenho que não cabe ação rescisória com o fi to de desconstituir

arrematação (seja o auto de arrematação, seja a carta de arrematação) pela

simples razão de que nem o auto nem a carta podem ser equiparados à sentença.

Tivesse havido embargos à arrematação, aí sim, o remédio processual adequado

para o seu desfazimento seria, sem nenhuma dúvida, a ação rescisória.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

364

No caso, contudo, não houve indicados embargos. Com efeito, não houve

sentença, não podendo, assim, exigir-se a rescisória para desconstituir uma

sentença que nunca existiu.

Destarte, como bem demonstrado pelo eminente Ministro Milton Luiz

Pereira, correto o meio da ação anulatória utilizado, como de resto tudo o mais

que foi por S. Exa. dirimido, a cujas colocações acosto-me e aproveito-as como

se minhas fossem, à míngua de clareza e erudição equivalentes.

Diante de tais pressupostos, nego provimento ao recurso.

RECURSO ESPECIAL N. 13.084-SP (1991/0015155-6)

Relator: Ministro Américo Luz

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Recorrida: Braskoki — Indústria e Comércio Ltda

Advogados: José Ramos Nogueira Neto e outros

EMENTA

Processual Civil. Execução fiscal. Leilão. Sustação. Falta de

intimação da executada.

Indispensável, nos termos do art. 687, § 3º, do CPC, a intimação

pessoal do devedor do dia e hora designados para realização do leilão,

omissa que é, no particular, a Lei n. 6.830/1980.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda

Turma do egrégio Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas anexas, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram

com o Relator os Ministros Pádua Ribeiro e Peçanha Martins. Ausentes,

ocasionalmente, o Ministro José de Jesus e, justifi cadamente, o Ministro Hélio

Mosimann.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 347-378, junho 2010 365

Brasília (DF), 04 de outubro de 1993 (data do julgamento).

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente

Ministro Américo Luz, Relator

DJ 22.11.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Américo Luz: Assim sumariou e decidiu a espécie o

acórdão de fl s. 34-35:

Trata-se de agravo de instrumento tirado pela Fazenda do Estado para impugnar a decisão que, nos autos da execução fi scal, determinou a sustação do leilão por não ter sido a executada intimada de sua designação.

Formado o instrumento, fi cou mantido o ato judicial combatido.

É o relatório.

Em que pesem respeitáveis opiniões em sentido contrário, a melhor doutrina e jurisprudência afi nam-se com a conclusão da respeitável decisão impugnada.

Como assentou venerando acórdão da Décima Segunda Câmara Civil desta Corte, relatado pelo Desembargador Carlos Ortiz, “mesmo tratando-se de execução fi scal, indispensável é a intimação do executado da data da realização do leilão, sendo aplicável à espécie, nos termos do art. 1º da Lei n. 6.830/1980, a regra do § 3º do art. 687 do Código de Processo Civil, ante a falta de previsão no art. 22 e parágrafos, da Lei de Execução Fiscal” (RT 610/97). Assim também decidiu esta egrégia Câmara no Agravo de Instrumento n. 147.180-2.

A tese esposada no aresto quanto à indispensabilidade da intimação do executado tem o apoio dos comentaristas da Lei n. 6.830, de 22.09.1980, dentre os quais Humberto Theodoro Júnior (A Nova Lei de Execução Fiscal, Leud, 1982, p. 58 e 59); Iran de Lima (A Dívida Ativa em Juízo, Ed. RT, 1984, p. 146) e José da Silva Pacheco (Comentários à Nova Lei de Execução Fiscal, Saraiva, 2ª edição, 1985, p. 113).

No caso sob exame, o executado não foi intimado da data do leilão por qualquer das formas permitidas, pelo que a alienação judicial não poderia ser realizada, como bem decidiu o douto Juiz a quo.

Pelo exposto, nega-se provimento ao agravo.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

366

Daí o especial, letras a e c, sustentando afronta aos arts. 1º e 22, § 2º,

da Lei n. 6.830/1980, por entender a recorrente ser dispensável, na hipótese,

a intimação pessoal do executado, tese também defendida pelo órgão do

Ministério Público Federal — fl s. 51-54.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Américo Luz (Relator): Apreciei questão símile no REsp

n. 10.498-0-SP. O acórdão, publicado no DJ 15.02.1993, contém a seguinte

ementa:

Processual Civil. Execução fi scal. Leilão.

— Intimação. Aplicabilidade à espécie do disposto no art. 687, § 3º, do CPC, que prevê a intimação pessoal do devedor do dia e hora designados para realização do leilão, omissa que é, no particular, a Lei n. 6.830/1980.

No voto que proferi, disse eu:

Invocando doutrina e jurisprudência assentou o acórdão recorrido que “por força do disposto no art. 1º da Lei n. 6.830/1980, são aplicáveis à execução fi scal as normas do Código de Processo Civil. E, entre estas, o art. 687, § 3º, prevê a intimação pessoal do devedor do dia e hora designados para a realização do leilão”.

Tal entendimento harmoniza-se com o desta egrégia Corte, consoante se vê do REsp n. 17.105, assim ementado:

Processual Civil. Execução fi scal. Leilão. Intimação pessoal.

Havendo omissão no art. 22 da Lei n. 6.830/1980, deve-se aplicar subsidiariamente o disposto do CPC, art. 687, § 3º, que manda intimar pessoalmente, o devedor, por mandado, do dia e hora da realização da praça ou leilão.

O devedor tem o mesmo direito que a Fazenda, sempre representada por vários procuradores.

Recurso improvido (REsp n. 17.105, Rel. Min. Garcia Vieira, in DJ 20.04.1992, p. 5.217).

Do exposto, não conheço do recurso.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 347-378, junho 2010 367

RECURSO ESPECIAL N. 15.003-SP (1991/0019763-7)

Relator: Ministro Hélio Mosimann

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Advogados: Maria Elisabeth Rolim e outro

Recorrido: Aerre do Brasil Comércio e Indústria Ltda

EMENTA

Execução fi scal. Leilão. Necessidade da intimação pessoal do

executado. Aplicação subsidiária do Código de Processo Civil (art.

687, § 3º).

Aplicando-se, subsidiariamente, o Código de Processo Civil na

cobrança judicial da dívida ativa da Fazenda Pública — disciplinada

pela Lei n. 6.830/1980 — impõe-se a intimação do devedor, do dia e

hora da realização do leilão (art. 687, § 3º, CPC).

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Participaram

do julgamento os Srs. Ministros Américo Luz, Peçanha Martins e José de Jesus.

Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Pádua Ribeiro.

Brasília (DF), 27 de outubro de 1993 (data do julgamento).

Ministro José de Jesus, Presidente

Ministro Hélio Mosimann, Relator

DJ 22.11.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Hélio Mosimann: Trata-se de recurso especial interposto

pela Fazenda do Estado de São Paulo, fundado no art. 105, inciso III, alínea

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

368

a, do permissivo constitucional, contra acórdão da Décima Sétima Câmara

Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo que, improvendo agravo, julgou, em

execução fi scal, necessária a intimação pessoal do executado para fi m de leilão,

sob pena de nulidade, na conformidade do que prevê o § 3º do art. 687, do

Código de Processo Civil, de aplicação subsidiária, por força do art. 1º da Lei n.

6.830/1980.

A recorrente, Fazenda do Estado de São Paulo, sustenta a desnecessidade

de intimação pessoal da devedora, a teor do que prescreve o art. 22, caput, e §§

1º e 2º, da Lei n. 6.830/1980, cuja vigência alega ter sido negada pelo acórdão

recorrido.

Em razão de provimento de agravo, vieram os autos a esta superior

instância, para exame do especial.

Parecer da douta Subprocuradoria-Geral da República, às fls. 56-57,

manifestando-se pelo improvimento do recurso especial.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Hélio Mosimann (Relator): Cuida-se, na origem, de agravo

de instrumento interposto pela Fazenda do Estado de São Paulo, inconformada

com a decisão que sustou o leilão por não ter havido intimação pessoal da

executada.

Alega, a recorrente, contrariu sensu, a desnecessidade da questionada

providência, nos exatos termos do art. 22 da Lei n. 6.830/1980, não se aplicando,

subsidiariamente, no caso, o Código de Processo Civil.

A decisão recorrida, entendendo necessária a intimação pessoal do

executado para fi m de leilão, sob pena de nulidade, na conformidade do que

prevê o § 3º do art. 687 do Código de Processo Civil, perfi lhou a tese adotada,

majoritariamente, pelo Tribunal, notadamente por suas Primeira e Segunda

Turmas, valendo transcrever a decisão proferida por ocasião do julgamento

do REsp n. 31.764-SP, relatoria do eminente Ministro Demócrito Reinaldo,

guardando o acórdão a seguinte ementa:

Processual Civil. Execução fiscal. Leilão. Intimação pessoal da executada. Aplicabilidade subsidiária do art. 687, § 3º, do CPC. Desprovimento do recurso especial.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 347-378, junho 2010 369

I - A Lei das Execuções Fiscais, no seu art. 1º, determina que, na execução judicial para cobrança da dívida ativa da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, aplica-se, subsidiariamente o Código de Processo Civil.

II - Não tendo a Lei Especial (Lei n. 6.830/1980), ao regular a espécie, mencionado expressamente, qual a forma de intimação do executado, como o fez em relação ao representante judicial da Fazenda Pública (art. 2º), correta a aplicação subsidiária, na hipótese, do disposto no art. 687, § 3º, do Código de Processo Civil, segundo o qual o devedor será intimado, por mandado, do dia e hora da praça do leilão. Precedentes.

III - Recurso improvido, por unanimidade.

Muito embora a lei não especifique que se deva fazer intimação do

executado, através de mandado pessoal, esta tem lugar em face do princípio da

eqüidade, transformando-se em última oportunidade do devedor para remir o

bem executado.

Pelo exposto, não conheço, pois, do recurso.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 17.105-SP (1992/0000673-6)

Relator: Ministro Garcia Vieira

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Recorrida: Jatic Eletro Mecânica Indústria e Comércio S/A

Advogados: Elizabeth Jane Alves de Lima e outros

EMENTA

Processual Civil. Execução fi scal. Leilão. Intimação pessoal.

Havendo omissão no art. 22 da Lei n. 6.830/1980 deve-se aplicar

subsidiariamente o disposto do CPC, art. 687, § 3º, que manda intimar

pessoalmente o devedor, por mandado, do dia e hora da realização da

praça ou leilão.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

370

O devedor tem o mesmo direito que a Fazenda, sempre

representada por vários procuradores.

Recurso improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Votaram

com o Relator os Ministros Demócrito Reinaldo e Gomes de Barros.

Brasília (DF), 11 de março de 1992 (data do julgamento).

Ministro Garcia Vieira, Presidente e Relator

DJ 20.04.1992

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Garcia Vieira: Trata-se de recurso especial interposto pela

Fazenda do Estado de São Paulo nos autos de execução fi scal, impugnando

acórdão que negou provimento a agravo de instrumento e manteve decisão

que determinou a suspensão do leilão designado, por falta de intimação

pessoal da executada da data de realização do mesmo, entendendo aplicável,

subsidiariamente à espécie, o disposto no art. 687, § 3º, do CPC.

Alega a recorrente que o v. acórdão hostilizado violou os arts. 1º e 22, §

2º, da Lei n. 6.830/1980 e divergiu de julgado do egrégio Primeiro Tribunal de

Alçada Civil do Estado de São Paulo.

Sustenta ser dispensável a intimação pessoal do executado, já que a regra

contida no art. 22 da Lei n. 6.830/1980 excetua apenas o representante da

Fazenda Pública, sendo perfeitamente legítima a intimação pela só publicação

do edital (fl s. 43-47).

Deferido o processamento do recurso (fl . 49), subiram os autos a esta

colenda Corte.

É o relatório.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 347-378, junho 2010 371

VOTO

O Sr. Ministro Garcia Vieira (Relator): Sr. Presidente, designado o leilão

(doc. de fl . 26), foi expedido o mandado de intimação da devedora (doc. de

fl . 27), mas esta não foi intimada (doc. de fl . 28). Como a executada não foi

intimada por mandado, o julgador monocrático determinou sustação do leilão

(doc. de fl . 29). A questão se resume em se saber, se nas execuções fi scais, é ou

não indispensável a intimação pessoal do devedor, da realização do leilão.

O art. 22 da Lei n. 6.830/1980 é omisso. Este dispositivo legal só determina

que a arrematação seja precedida de edital e seja intimado, pessoalmente,

o representante judicial da Fazenda Pública, da realização do leilão. Ora, a

própria Lei n. 6.830/1980, em seu art. 1º manda aplicar, subsidiariamente, o

Código de Processo Civil, na execução judicial de cobrança da dívida ativa

da União, dos Estados, e do Distrito Federal, dos Municípios e respectivas

autarquias. Como a lei especial, em seu art. 22, não esgota o assunto, não regula,

exaustivamente a realização da arrematação e não diz expressamente, qual a

forma de intimação do executado, do leilão, é correta a aplicação subsidiária do

disposto, no art. 687, § 3º, do CPC que manda intimar o devedor por mandado,

do dia e hora da realização da praça ou leilão. Entender o contrário e admitir

seja o devedor intimado apenas pelo edital de arrematação é desconhecer o seu

sagrado direito de pagar a sua dívida e olvidar o dever da exeqüente de usar o

meio menos gravoso para o executado (CPC, art. 620). O juiz deve assegurar

às partes igualdade de tratamento (CPC, art. 127, I) e fere o princípio de que

todos são iguais perante a lei (CF, art. 5º, caput, a intimação do devedor por

edital, com domicílio certo e conhecido e a intimação pessoal, por mandado do

representante da Fazenda Nacional. O executado, muitas vezes pessoa pobre,

analfabeta, sem advogado constituído jamais irá ler um Diário Ofi cial para ter

ciência do andamento de ação de execução contra ele movida. A intimação

por edital fere até o sagrado princípio da ampla defesa (CP, art. 5º, LV).

É indiscutível que o devedor tem direito ao mesmo tratamento dispensado

à poderosa Fazenda, sempre representada por vários procuradores. Milton

Flaques comentando a Lei de Execução Fiscal, ed. 1981, art. 22 da citada Lei n.

6.830/1980, ensina que:

Como a LEF é omissa a respeito, afigura-se indispensável a intimação do executado (p. 251).

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

372

Com inteira razão o Dr. Antônio Silveira, MM. Juiz de Direito prolator do

despacho agravado que, ao mantê-lo, acentuou,

Razão, porém, não assiste à recorrente, porque aplica-se o § 3º do art. 687 do CPC, conforme os termos do art. 12 da Lei n. 6.830/1980.

Aliás, tem-se entendido na doutrina que é indispensável a intimação do executado na data da realização do leilão, mesmo em se tratando de execução fiscal (Humberto Theodoro Júnior, A Nova Lei de Execução Fiscal, Ed. Un. de Direito, 1982, p. 58 e 59, Ed. Saraiva, 2ª ed., p. 113 e Milton Flaques, Comentários à Lei de Execução Fiscal, Ed. Forense, 1981, bem como conclusão XXXVII no Seminário sobre a Execução da Dívida Ativa do Centro de Estudos da Procuradoria Geral do Estado, Ed. Centro de Estudos, 1981, p. 113).

A questão já era bem conhecida do TFR, bastando citar o Agravo de

Instrumento n. 57.421-MS, DJ 15.05.1989 e AC n. 128.721-BA, indispensável

a intimação pessoal, por mandado, do devedor, nos leilões e nas execuções fi scais

movida pela Fazenda Pública.

Este colendo Superior Tribunal de Justiça, no Recurso Especial n. 7.501-

SP, DJ 09.09.1991, ao apreciar matéria idêntica, entendeu que é indispensável a

intimação do devedor, por mandado, da realização do leilão. Consta da ementa

deste julgamento que,

Embora a lei não especifi que que se deva fazer a intimação do executado, através de mandado pessoal, este tem lugar em face do princípio da eqüidade, tomando-se como “última oportunidade ao devedor para remir o bem executado, acrescido dos comentários legais”.

Nego provimento ao recurso.

RECURSO ESPECIAL N. 31.764-SP (1993/0002227-0)

Relator: Ministro Demócrito Reinaldo

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Recorrida: Móveis e Decorações Caltafazio Ltda

Advogados: José Ramos Nogueira Neto e outros

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 347-378, junho 2010 373

EMENTA

Processual Civil. Execução fiscal. Leilão. Intimação pessoal

da executada. Aplicabilidade subsidiária do art. 687, § 3º, do CPC.

Desprovimento do recurso especial.

I - A Lei das Execuções Fiscais, no seu art. 1º, determina que, na

execução judicial para cobrança da dívida ativa da União, dos Estados,

do Distrito Federal e dos Municípios, aplica-se subsidiariamente o

Código de Processo Civil.

II - Não tendo a lei especial (Lei n. 6.830/1980), ao regular a

espécie, mencionado, expressamente, qual a forma de intimação do

executado, como o fez em relação ao representante judicial da Fazenda

Pública (art. 2º), correta a aplicação subsidiária, na hipótese, do

disposto no art. 687, § 3º, Código de Processo Civil, segundo o qual

o devedor será intimado, por mandado, do dia e hora da realização da

praça do leilão. Precedentes.

III - Recurso improvido, por unanimidade.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos, em que são parte as acima indicadas, decide

a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar

provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator, na forma

do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte

integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros

Gomes de Barros, Milton Pereira, Cesar Rocha e Garcia Vieira. Custas, como

de lei.

Brasília (DF), 19 de abril de 1993 (data do julgamento).

Ministro Garcia Vieira, Presidente

Ministro Demócrito Reinaldo, Relator

DJ 17.05.1993

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

374

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo: Trata-se de recurso especial

interposto pela Fazenda do Estado de São Paulo contra acórdão da Décima

Primeira Câmara Civil do Tribunal de Justiça daquele Estado, que, nos autos de

execução fi scal, manteve decisão monocrática que sustou leilão, por não ter sido

o representante legal da executada intimado da data de sua realização.

A recorrente sustenta que o v. aresto, de fl s. 39-40, negou vigência aos arts.

1º e 22, § 2º, da Lei de Execuções Fiscais, além de apontar divergência pretoriana,

para fundamentar o recurso nas letras a e c do permissivo constitucional (fl s. 44-

51).

Admitido na origem, o recurso, regularmente processado, subiu para

apreciação da instância superior, vindo-me os autos conclusos para julgamento.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo (Relator): A questão suscitada no

presente recurso especial consiste em saber se, nas execuções fi scais, tem ou não

aplicação supletiva o § 3º do art. 687 do Código de Processo Civil, que impõe a

intimação pessoal do devedor do dia e hora de realização da praça ou leilão.

Entendeu o acórdão recorrido que, embora tenha o art. 22 da Lei de

Execuções Fiscais modificado, em parte, o sistema geral, determinando

a intimação pessoal do representante da exeqüente, não afastou, porém, a

aplicação subsidiária dos princípios gerais.

Está correta a interpretação do egrégio Tribunal a quo, que se coaduna

perfeitamente com a jurisprudência predominante nesta colenda Corte. De

fato, a Lei de Execuções Fiscais, no seu art. 1º, determina que, na espécie, seja

aplicado, subsidiariamente, o Código de Processo Civil. Ora, como a lei especial,

no caso a Lei n. 6.830/1980, ao regular a matéria no art. 22, não menciona, de

forma expressa, qual a forma de intimação do executado, como o fez em relação

ao representante judicial da Fazenda Pública (§ 2º), nada mais justo e correto

do que aplicar-se, na hipótese, subsidiariamente, o disposto no § 3º da Lei

Adjetiva, segundo o qual o devedor será intimado, por mandado, do dia e hora

da realização da praça e leilão.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 347-378, junho 2010 375

A questão já está pacifi cada neste egrégio Superior Tribunal de Justiça.

Ao apreciar matéria idêntica, ambas as Turmas do Direito Público já

tiveram a oportunidade de se manifestar, conforme demonstram os acórdãos

assim ementados:

Execução fi scal. Intimação do executado. Leilão.

I - Embora a lei não especifi que que se deva fazer a intimação do executado, através de mandado pessoal, esta tem lugar em face do princípio de eqüidade, tomando-se como “última oportunidade ao devedor para remir o bem executado, acrescido dos consectários legais”.

II - Precedentes.

III - Recurso desprovido. (REsp n. 13.701-SP, Relator Ministro José de Jesus, DJ 04.11.1991, p. 15.679).

Processual Civil. Execução fi scal. Leilão. Intimação pessoal.

Havendo omissão no art. 22 da Lei n. 6.830/1980 deve-se aplicar subsidiariamente o disposto do CPC, art. 687, § 3º, que manda intimar pessoalmente, o devedor, por mandado, do dia e hora da realização da praça ou leilão.

O devedor tem o mesmo direito que a Fazenda, sempre representada por vários procuradores.

Recurso improvido. (REsp n. 17.105-SP, Relator Ministro Garcia Vieira, DJ 20.04.1992, p. 5.217).

Ante o exposto, nego provimento ao recurso.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 35.934-SP (1993/0016525-9)

Relator: Ministro José de Jesus Filho

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Recorrida: Aerre do Brasil Comércio e Indústria Ltda

Advogados: Eugemir Berni e outros e Manoel Lopes Neto

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

376

EMENTA

Processual Civil. Execução fi scal. Leilão. Sustação. Intimação do

executado. Art. 687, § 3º, CPC. Lei n. 6.830/1980.

I - É indispensável a intimação pessoal do devedor do dia e hora

designados para realização do leilão, por aplicação subsidiária do CPC,

uma vez que a Lei n. 6.830/1980 é omissa, no particular. Precedentes.

II - Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não

conhecer do recurso, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos

autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do

julgamento os Srs. Ministros Hélio Mosimann, Peçanha Martins e Antônio de

Pádua Ribeiro. Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Américo Luz. Custas,

como de lei.

Brasília (DF), 04 de maio de 1994 (data do julgamento).

Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, Presidente

Ministro José de Jesus Filho, Relator

DJ 06.06.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José de Jesus Filho: Trata-se de recurso especial interposto

pela Fazenda do Estado de São Paulo, com fundamento no art. 105, III, alíneas

a e c, do permissivo constitucional, contra o v. acórdão proferido pela Décima

Sétima Câmara Civil do Tribunal de Justiça daquele Estado, que negou

provimento a agravo de instrumento tirado contra decisão que sustou leilão em

execução fi scal, por falta de intimação pessoal da executada.

Sustenta a recorrente, em síntese, violação aos arts. 1º e 22, § 2º, da Lei n.

6.830/1980, bem como divergência jurisprudencial.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 347-378, junho 2010 377

Inadmitido o recurso, subiram os autos a esta egrégia Corte em virtude do

provimento dado ao agravo de instrumento, então interposto.

Dispensei a manifestação da douta Subprocuradoria Geral da República.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro José de Jesus Filho (Relator): Como se viu do relatório,

controverte-se acerca da indispensabilidade da intimação pessoal da executada

como pressuposto de validade da arrematação.

Tenho que a pretensão da recorrente não merece guarida, posto que

a jurisprudência desta Corte é pacífi ca no sentido de que omissa a Lei de

Execuções Fiscais, correta a aplicação subsidiária do disposto no art. 687, § 3º,

do CPC, que prevê a intimação pessoal do devedor do dia e hora designados

para a realização do leilão.

Neste sentido, confi ra-se os seguintes precedentes:

Processual Civil. Execução fiscal. Leilão. Sustação. Falta de intimação da executada.

Indispensável, nos termos do art. 687, § 3º, do CPC, a intimação pessoal do devedor do dia e hora designados para realização do leilão, omissa que é, no particular, a Lei n. 6.830/1980. (REsp n. 13.084-0-SP, Relator Ministro Américo Luz, in DJ 22.11.1993).

Execução fiscal. Leilão. Necessidade da intimação pessoal do executado. Aplicação subsidiária do Código de Processo Civil (art. 687, § 3º).

Aplicando-se, subsidiariamente, o Código de Processo Civil na cobrança judicial da dívida ativa da Fazenda Pública — disciplinada pela Lei n. 6.830/1980 — impõe-se a intimação do devedor, do dia e hora da realização do leilão (art. 687, § 3º, CPC). (REsp n. 15.003-0-SP, Relator Ministro Hélio Mosimann, in DJ 22.11.1993).

Processual Civil. Execução fiscal. Leilão. Intimação pessoal da executada. Aplicabilidade subsidiária do art. 687, § 3º, do CPC. Desprovimento do recurso especial.

I - A Lei das Execuções, no seu art. 1º, determina que, na execução judicial para cobrança da dívida ativa da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, aplica-se, subsidiariamente, o Código de Processo Civil.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

378

II - Não tendo a lei especial (Lei n. 6.830/1980), ao regular a espécie, mencionado, expressamente, qual a forma de intimação do executado, como o fez em relação ao representante judicial da Fazenda Pública (art. 2º), correta a aplicação subsidiária, na hipótese, do disposto no art. 687, § 3º, do Código de Processo Civil, segundo o qual o devedor será intimado, por mandado, do dia e hora da realização da praça do leilão. Precedentes.

III - Recurso improvido, por unanimidade. (REsp n. 13.079-0-SP, Relator Ministro Demócrito Reinaldo, in DJ 20.09.1993).

Isto posto, não conheço do recurso.

É o meu voto.

Súmula n. 122

SÚMULA N. 122

Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unifi cado dos crimes

conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78,

II, a, do Código de Processo Penal.

Referência:

CPP, art. 78, II, a, e III.

Precedentes:

CC 258-SP (3ª S, 17.08.1989 — DJ 18.09.1989)

CC 2.196-PR (3ª S, 03.10.1991 — DJ 21.10.1991)

CC 2.691-SP (3ª S, 03.12.1992 — DJ 17.12.1992)

CC 3.210-DF (3ª S, 20.08.1992 — DJ 08.09.1992)

CC 7.354-PB (3ª S, 04.08.1994 — DJ 29.08.1994)

HC 1.944-SP (5ª T, 21.06.1993 — DJ 23.08.1993)

Terceira Seção, em 1º.12.1994

DJ 07.12.1994, p. 33.970

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 258-SP (1989/0007904-2)

Relator: Ministro José Cândido

Autora: Justiça Pública

Ré: Lúcia Helena Alves do Nascimento

Suscitante: Juízo Federal da 12ª Vara-SP

Suscitado: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

Advogado: Basileu Borges da Silva

EMENTA

Conflito de competência. Justiça Federal. Crime de uso de

documento falso envolvendo serviços e interesse da União. Carteira de

Trabalho e Previdência Social — CTPS. Cartão de Identifi cação do

Contribuinte — CIC. Inscrição no CPF. Crime conexo com tentativa

de estelionato.

A constituição vigente é expressa ao defi nir a competência dos

juízes federais para processar e julgar as infrações penais praticadas

em detrimento de bens, serviços ou interesse da União, suas entidades

autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e

ressalvada a competência da Justiça Militar ou da Justiça Eleitoral

(art. 109, IV).

Disto resulta que, na prática de crimes conexos envolvendo

bens, serviços ou interesse daquelas entidades, e outros da esfera da

competência do Juízo Estadual, como o estelionato, em razão de uso

de documento falso, de natureza federal, de identifi cação para compra

em casa comercial, a competência é do Juízo Federal, por causa de

sua condição especial perante a Justiça Comum dos Estados, no

julgamento de tais crimes. Transferir, em delitos conexos desta ordem,

a competência para o Juízo Estadual é permitir que os crimes contra as

entidades descritas na Constituição fi quem impunes, desde que sobre

eles não incide competência para julgamento por parte do Estado.

Hipótese em que crimes praticados com anotações e uso de

documento falso contra os Ministérios do Trabalho (CTPS) e da

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

384

Fazenda (CIC) deixariam de ser julgados, por prevalência de tentativa

de estelionato, com falsa identifi cação para compra a crédito em fi rma

comercial.

Declarada a competência da Justiça Federal.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por maioria, conhecer do

confl ito e declarar competente o suscitante, Juízo Federal da 12ª Vara-SP, na

forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo

parte integrante do presente julgado. Custas, como de lei.

Brasília (DF), l7 de agosto de l989 (data do julgamento).

Ministro José Dantas, Presidente

Ministro José Cândido, Relator

DJ 18.09.1989

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José Cândido: O MM. Juiz Federal da 12ª Vara-SP suscitou

o presente confl ito, determinando fossem os autos encaminhados ao egrégio

Supremo Tribunal Federal, na alegação de que Lúcia Alves do Nascimento foi

condenada por estelionato, por ter utilizado documentos falsos, na intenção de

adquirir crédito em estabelecimento comercial. No entanto, que, por acórdão

de fl s. 140-141, a Sexta Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo,

por unanimidade, anulou a sentença, para reconhecer a competência da Justiça

Federal de 1ª instância, eis que dois dos documentos falsos, usados pela acusada,

foram obtidos em detrimento de serviços privativos de órgãos da União.

Os autos, tendo em vista a competência desta Corte, foram para aqui

encaminhados, opinando a Subprocuradoria Geral da República às fl s. 156-157,

pela competência da Justiça Comum Estadual.

É o relatório.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 379-402, junho 2010 385

VOTO

O Sr. Ministro José Cândido (Relator): Certa a decisão unânime da Sexta

Câmara Criminal do TJSP, ao anular, por incompetência do Juízo, a decisão

de 1º grau que condenou Lúcia Helena Alves do Nascimento, por tentativa de

estelionato.

Na verdade, ela fora denunciada pela prática do crime de uso de documento

falso, defi nido no art. 304 do Código Penal, nas circunstâncias relatadas na peça

inaugural.

O doutor Juiz Federal transcreve decisões da Suprema Corte e do extinto

Tribunal Federal de Recursos, com as quais fundamenta a sua recusa e suscita o

presente confl ito negativo de jurisdição.

A hipótese dos autos apresenta peculiaridades irrefutáveis de ofensa a

serviços e interesse da União, ressalvados pelo art. 109, inciso IV, da atual

Carta Magna, como de processo e julgamento dos juízes federais. Observe-

se que a CTPS é uma carteira profi ssional que obedece a regras exclusivas

da Consolidação do Trabalho, e as suas anotações obedecem a expressa

recomendação defi nida no seu art. 29. Qualquer falsifi cação desses dados, e o seu

uso em proveito próprio ou alheio em prejuízos de terceiros, envolve, antes disso,

responsabilidade criminal contra serviços e interesse da União. É que o crime do

art. 304 do Código Penal não pode ser relegado, a menos que se pretenda deixar

impune o transgressor, desde que o juiz estadual, nos crimes conexos das duas

competências, não tem atribuições para julgar os que envolvem diretamente a

União. Observe-se, que na hipótese dos autos, com a errada desclassifi cação do

delito, reparada em tempo, o juiz incompetente que era para julgá-lo, quase o

deixa impune.

O mesmo argumento prevalece em relação ao CIC, documento

comprobatório de inscrição na Receita Federal. Ora, se é falsa a assinatura do

contribuinte, se é falsa, materialmente, a própria expedição desse documento,

não há qualquer dúvida que a ofensa se dirige a um serviço federal, de interesse

imediato da Receita Federal, conseqüentemente, crime da alçada da Justiça

Federal. Diga-se o mesmo sobre quem faz uso desse documento falso para obter

qualquer vantagem.

O Ministério Público Federal, no seu parecer, de fl s. 156-7, não tem razão.

Não se busca penalizar apenas a suposta tentativa de estelionato contra a Casa

Mappin. Esse é, na verdade, um crime associado, mas, fundamentalmente,

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

386

há de levar-se em conta o crime de uso de documento falso, de interesse da União, embora utilizado como delito-meio. Ora, se os dois crimes concorrem com relação meio-fi m, o crime contra a Fazenda Federal prepondera com sua força atrativa, motivando o juízo especial, ao contrário dos que pensam que a competência se desloca para o juízo estadual.

Por essas razões, julgo improcedente o confl ito, e declaro competente o juízo suscitante, da 12ª Vara-SP, para processar e julgar o feito.

É o meu voto.

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini: Sr. Presidente, gostaria de, preliminarmente, fazer uma indagação ao Exmo. Sr. Ministro-Relator.

Houve falsifi cação material? A ré falsifi cou a carteira e o cartão do CIC ou apenas houve falsifi cação ideológica com a inserção nos documentos de dados inverídicos?

O Sr. Ministro Costa Lima: Foi uma falsifi cação material, Sr. Ministro. Pelo seguinte, o CIC está assinado pelo Secretário da Receita Federal, esse documento ela falsifi cou, é uma falsifi cação material.

O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini: Houve falsifi cação da assinatura do funcionário? Houve pelo que constato apenas uma falsifi cação ideológica. A acusada colocou o nome num documento normal. A assinatura é da autoridade competente.

Sr. Presidente, com a devida vênia, mantenho meu entendimento, a competência é do i. julgador estadual. Não há qualquer lesão ao interesse da União.

Assim, declaro competente a i. Justiça Estadual para apreciar e decidir o presente feito.

O Sr. Ministro José Cândido (Relator): O confl ito estabelecido agora é do Tribunal de Justiça de São Paulo e Juiz Federal. Não é do Juiz Estadual. O Juiz Estadual já proferiu sentença. A competência é do Tribunal de Justiça.

O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini: Então, a competência é do Juiz Estadual.

É como voto.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 379-402, junho 2010 387

VOTO

O Sr. Ministro Jesus Costa Lima: Sr. Presidente, peço vênia para

acompanhar o voto do Ministro José Cândido, porque estou notando que,

aqui, há um interesse específi co na União. A carteira de trabalho é expedida

pelo Ministério do Trabalho e o CIC pela Secretaria da Receita Federal. Ela

falsifi cou esses documentos. Portanto, os serviços e interesses da União foram

atingidos. Assim decidiu o STF no CJ n. 6.658-SP, in DJ 25.03.1988, p. 6.372;

RHC n. 63.473-RJ, in DJ 19.12.1985, p. 23.624.

O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini: Falsifi cou o quê?

O Sr. Ministro José Cândido (Relator): Falsifi cou a carteira. Falsifi cou

tudo.

O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini: Ela inseriu dados falsos numa carteira

de trabalho, o que é diferente. Ela não falsifi cou o documento.

O Sr. Ministro José Cândido (Relator): V. Exa. queria que ela mandasse

imprimir a carteira.

O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini: Neste caso, seria concurso material.

Caso contrário, não há concurso. Não há condições.

O Sr. Ministro Jesus Costa Lima: Continuando o meu voto, no caso dos

autos, divirjo do eminente Ministro Flaquer Scartezzini para acompanhar o

eminente Ministro José Cândido, dando pela competência da Justiça Federal.

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Carlos Th ibau: Sr. Presidente, peço vênia para acompanhar

o eminente Ministro Flaquer Scartezzini, porque também tenho ponto de vista

já fi rmado a respeito, desde o extinto Tribunal Federal de Recursos, uma vez que

não foi falsifi cada a assinatura de funcionário ou de autoridade federal.

VOTO

O Sr. Ministro Costa Leite: Sr. Presidente, peço vênia aos que entendem

de modo diverso, mas, neste caso, parece-me clara a competência da Justiça

Federal. Acompanho o eminente Relator.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

388

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Dias Trindade: Acompanho o eminente Ministro Flaquer Scartezzini, data venia.

VOTO

O Sr. Ministro Assis Toledo: Neste caso específi co, dadas as peculiaridades, vou acompanhar o Ministro-Relator, porque entendo que foram falsifi cados registros internos da Secretaria da Receita Federal, onde consta um nome inexistente, passando a existir um contribuinte com nome falso.

Tal falsifi cação lesa interesse específi co da União. Também no Ministério do Trabalho há registrado um trabalhor inexistente.

Portanto, houve adulteração ideológica dos registros internos do Ministério do Trabalho. A expedição da carteira é mera conseqüência dessa adulteração. De maneira que não se pode negar a existência de um interesse específi co da União, a não ser que a União não se importasse com a fi delidade dos seus registros.

Por essa razão, acompanho, data maxima venia dos que pensam em contrário, o eminente Ministro-Relator.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 2.196-PR (1991/0013278-0)

Relator: Ministro Edson Vidigal

Suscitante: Juízo Federal em Londrina-PR

Suscitado: Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal de Londrina-PR

Autora: Justiça Pública

Réu: Salvador Santaella Rezina

Advogado: Nelson Batista Pereira

EMENTA

Penal. Estelionato. Falsidade. Cruzados novos. Liberação. Banco

Central. Competência.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 379-402, junho 2010 389

O estelionato praticado contra o Banco Central do Brasil,

guardião dos cruzados novos bloqueados, insere-se na competência

da Justiça Federal.

O outro crime, conexo, praticado na mesma ação e para o qual

seria competente a justiça comum estadual, é arrastado no mesmo

processo para a Justiça Federal.

Confl ito conhecido, declarando-se competente o Juízo suscitante.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do

confl ito e declarar competente o suscitante, Juízo Federal em Londrina-PR, na

forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo

parte integrante do presente julgado. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 03 de outubro de 1991 (data do julgamento).

Ministro Flaquer Scartezzini (RI, art. 101, § 2º), Presidente

Ministro Edson Vidigal, Relator

DJ 21.10.1991

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Edson Vidigal: Para não deixar os seus cruzados novos sob bloqueio no Banco Central, Salvador Santaella Rezina, 61 (sessenta e um) anos, médico, casado, propôs a Mônica Carvello Montans Zamarian, 38 (trinta e oito) anos, viúva, ambos de Londrina, Paraná, que ela fi ngisse que estava lhe vendendo uma das suas casas.

Proposta aceita, o contrato que ela imaginava só de araque foi assinado no dia 17 de agosto de 1990, data anterior, portanto, à decretação do bloqueio.

Só que depois de ele receber os cruzados novos, ela recebeu notifi cação para concretizar defi nitivamente a venda da casa. E por causa disso deu parte na Polícia, resultando um inquérito sobre estelionato (CP, art. 171) contra ele.

O Promotor de Justiça de Londrina pediu que os autos do inquérito fossem

mandados para a Justiça Federal, argumentando que o indiciado, a vítima,

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

390

o serventuário do cartório e um terceiro intermediador do negócio teriam

perpetrado crime de falsidade ideológica (CP, art. 299), quando inseriram em

documento particular falsa declaração com fi m de alterar a verdade sobre fato

juridicamente relevante, prejudicando interesse da União. (Fls. 42-44)

O Juiz Federal suscitou confl ito negativo de Competência (CPP, arts. 114,

I, e 115, II e III) alegando que os ilícitos de falsidade e estelionato atingem, no

caso, interesses entre particulares e serviços de ordem estadual. (Fls. 49, v.)

O Ministério Público Federal, nesta instância, entende que a competência

é da Justiça Federal, porquanto houve lesão a interesse da União Federal,

consistente no fato de que o Banco Central, enganado na estória, tinha, por

força de lei federal, a guarda do dinheiro bloqueado e que só poderia liberá-lo

nas hipóteses legalmente previstas. Nesta hipótese houve uma fraude, burlando-

se a lei. Quanto aos outros delitos, lembra a Súmula do TFR, n. 52. concluindo

pela competência da Justiça Federal.

Relatei.

VOTO

O Sr. Ministro Edson Vidigal: Sr. Presidente, indiscutível que, por força

da Lei n. 8.024/1990, art. 9º, o Banco Central do Brasil foi erigido a guardião

dos cruzados novos bloqueados, cabendo, portanto, trazer à colocação o disposto

na Constituição Federal, art. 109, IV “Aos Juízes Federais compete processar e

julgar: (...) os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento

de bens, serviços ou interesses da União e de suas entidades autárquicas ou

empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da

Justiça Militar e da Justiça Eleitoral”.

Estamos, iniludivelmente, diante de crime da competência da Justiça

Federal, que arrasta no mesmo processo o crime resultante da simulação para

o qual seria competente a Justiça Comum Estadual. Lembro, a propósito, a

Súmula n. 52 do extinto Tribunal Federal de Recursos — “Compete à Justiça

Federal o processo e julgamento unifi cado dos crimes conexos de competência

federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a do Código de

Processo Penal”.

Assim, conheço do confl ito e declaro competente a Justiça Federal.

É o voto.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 379-402, junho 2010 391

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 2.691-SP (1992/0001382-1)

Relator: Ministro Adhemar Maciel

Autora: Justiça Pública

Ré: Walquíria de Cássia Gonçalves Forte

Suscitante: Juízo de Direito da 20ª Vara Criminal de São Paulo

Suscitado: Juízo Federal da 1ª Vara Criminal-SP

EMENTA

Constitucional e Processual Civil. Conflito positivo de competências. Crimes conexos (estelionato, falsifi cação de documento particular e uso de documento falso) com prejuízo para empresa pública federal. Competência da Justica Federal (Constituição Federal, art. 109, IV. Súmula n. 52 do extinto TFR). Confl ito conhecido, com a declaração da competência do juízo suscitado.

I - O Juízo Estadual (suscitante) se teve por competente porque a usuária da CEF é pessoa física, particular. Há crime de falsifi cação de documento particular. O juízo suscitado (federal), por seu turno, também se teve como competente porque quem arcou com o prejuízo pelos saques da conta-poupança pela estelionatária foi a CEF, empresa pública federal. Logo, houve prejuízo para seu patrimônio e para seu serviço.

II - A razão está com o juízo suscitado (federal). Pouco interessa a falsifi cação de assinatura da usuária, que, em princípio, fi rmaria a competência da Justiça Comum do Estado. No caso, pela conexão de crimes, sendo um deles da alçada da Justiça Federal, a competência se fi rma em prol dessa última (inciso IV do art. 109 da Constituição Federal. Súmula n. 52 do extinto TFR).

III - Confl ito acolhido, declarando-se competente o juízo federal (suscitado).

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

392

confl ito e declarar competente o Suscitado, Juízo Federal da 1ª Vara Criminal - SP, nos termos do voto do Relator, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Votaram com o Relator os Srs. Mins. José Dantas, Pedro Acioli, Flaquer Scartezzini, Costa Lima, Assis Toledo, Edson Vidigal e Vicente Cernicchiaro. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 03 de dezembro de 1992 (data do julgamento).

Ministro José Cândido, Presidente

Ministro Adhemar Maciel, Relator

DJ 17.12.1992

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Adhemar Maciel: Trata-se de confl ito de competência suscitado pelo juízo de direito da 20ª Vara Criminal de São Paulo-SP diante do juízo federal da 1ª Vara Criminal de São Paulo-SP.

2. Walkíria de Cássia Gonçalves Fortes foi denunciada na Justiça Estadual (20ª Vara Criminal de São Paulo) e na Justiça Federal (1ª Vara Criminal de São Paulo) pela prática do crime dos arts. 171, caput, 298 e 304 c.c. o art. 71 do Código Penal. A denunciada, fraudulentamente, apresentou-se perante a Caixa Econômica Federal e, falsifi cando a assinatura de Maria da Glória Cruz Fagundes, retirou de sua conta-poupança, por diversas vezes, o total de Cr$ 1.614,00.

3. O juízo-suscitante aduz que a Justiça Estadual é competente para apreciar o feito, na medida em que a pessoa atingida diretamente com o ato da ré foi a poupadora e não a Caixa Econômica Federal. Ademais — conclui — o sujeito passivo do crime de estelionato é a pessoa enganada, aquela que sofre a lesão patrimonial.

4. O juízo-suscitado, a seu turno, argumenta que a competência é da Justiça Federal. A uma, porque os prejuízos materiais sofridos pela vítima foram integralmente suportados pela CEF, logo, o crime foi cometido em detrimento de bens da CEF (art. 109, IV, da CF-1988). A duas, porque a conduta criminosa do agente se consumou em detrimento de serviços da CEF.

5. O Ministério Público Federal opinou pelo conhecimento do confl ito, declarando-se competente o Juiz Federal da 1ª Vara Criminal da Seção

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 379-402, junho 2010 393

Judiciária de São Paulo. O interesse federal constata-se no fato de que o dano foi absorvido pela CEF, patrimônio público. Por outro lado, abalado quedou o serviço de poupança da CEF.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Adhemar Maciel (Relator): Razão tem o juiz-suscitado, ou seja, o Juiz Federal da 1ª Vara da Seção Judiciária de São Paulo.

Nos termos do art. 109, inciso IV, da Constituição Federal, a competência para julgar infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesses da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas é da Justiça Federal. Pouco importa a existência de crime, como a falsifi cação de documento particular, da competência da Justiça Comum do Estado. Aplica-se o disposto no Verbete n. 52 da Súmula do antigo TFR:

Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do Código de Processo Penal.

In casu, como se viu, foi a CEF, empresa pública federal, que arcou com o prejuízo. Em jogo fi cou, ademais, a segurança e efi ciência de seu serviço.

A jurisprudência da Casa é tranqüila. Assim, o CC n. 1515-RJ, publicado no DJ 19.08.1991, em que foi Relator o eminente Ministro Fontes de Alencar. A contrario sensu, o CC n. 2.428-SP, publicado no DJ 04.05.1992, p. 5.848, fi gurando como Relator o eminente Min. Edson Vidigal.

Por tudo isso, Sr. Presidente, acolho o confl ito, declarando competente o Juízo-suscitado, 1ª Vara da Seção Judiciária de São Paulo.

É como voto.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 3.210-DF (1992/0004497-2)

Relator: Ministro Costa Lima

Autora: Justiça Pública

Réus: Plínio Cézar Lage de Oliveira e outros

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

394

Advogados: Divaldo Th eophilo de O. Netto e outro, Manoel Firmino de Araújo e outros, Arnaldo Carlos da Silva Filho, Joana Renata Simi e Roberto Gomes Peres

Suscitante: Juízo Federal da 3ª Vara-DF

Suscitado: Juízo de Direito da 7ª Vara Criminal-DF

EMENTA

Competência. Crime de moeda falsa e de falsifi cação.

I - Compete à Justiça Federal Comum processar e julgar crime de moeda falsa estrangeira (CF, art. 109, V).

II - “Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unifi cado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do Código de Processo Penal” (Súmula n. 52-TFR).

III - Confl ito conhecido, declarando-se competente a Justiça Federal.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar competente o suscitante, Juízo Federal da 3ª Vara-DF. Votaram com o Relator os Ministros Assis Toledo, Edson Vidigal, Vicente Cernicchiaro, José Dantas, Pedro Acioli e Flaquer Scartezzini.

Brasília (DF), 20 de agosto de 1992 (data do julgamento).

Ministro José Cândido, Presidente

Ministro Costa Lima, Relator

DJ 08.09.1992

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Costa Lima: Adoto como relatório a parte expositiva do

parecer do Ministério Público:

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 379-402, junho 2010 395

Os acusados José Rodrigues, Plínio de Oliveira, Francisco Brito, John Fritis Kennedy Brito, Moacir de Freitas, Antônio Ribeiro, Rogério Ribeiro, Alberto B. Kaad e Wilton da Silva foram presos em fl agrante no dia 09 de abril de 1991, quando agentes da Polícia Civil do Distrito Federal cumpriam mandado de busca domiciliar, expedido pela 6ª Vara Criminal, para investigações em torno de estelionato por emissão de cheques sem fundos no Comércio de Brasília.

2. O fl agrante foi comunicado tanto ao MM. Juiz de Direito da Vara Criminal de Brasília, quanto ao MM. Juiz Federal, porque Plínio Oliveira e José Rodrigues foram também autuados nas penas do art. 289, § 1º, do CP, por ter sido encontrado em seu poder cerca de cinqüenta mil dólares falsifi cados.

3. Diante da prisão em fl agrante, os dois acusados que foram encontrados com os dólares falsifi cados, requereram perante o Juízo da 3ª Vara Federal no DF, liberdade provisória, sendo esse pedido indeferido, de início, e posteriormente concedido.

4. Encerrado o inquérito policial, foram os autos encaminhados à Justiça do Distrito Federal, tendo o ilustre Promotor de Justiça oferecido denúncia contra os indiciados, em relação aos arts. 288 e 299 c.c. o art. 69 do CP e art. 19 da LCP, visto que se associaram para cometer fraudes no comércio de Brasília.

5. Entretanto, o representante do Ministério Público Federal, verifi cando que os autos de inquérito não lhe foram remetidos para oferecimento do crime federal noticiado no fl agrante, apresentou-se nos autos, em petição solitária, e requereu ao MM. Juiz de Direito da 7ª Vara Criminal do DF que declinasse de sua competência em favor da 3ª Vara Federal.

6. Manifestando-se sobre esse pedido, e com ele concordando, requereu o ilustre Promotor Público pela remessa dos autos à Justiça Federal, especialmente porque, tratando-se de crime de formação de quadrilha, presente a conexão probatória (ou instrumental) que impunha a remessa dos autos à Justiça Federal. Esse parecer foi acolhido pelo Juízo suscitado.

Recebidos os autos, o MM. Juiz Federal suscita o presente conflito de competência, ao fundamento de que importa, em 1º lugar, distinguir o crime de competência federal, descrito no art. 289 do CP, não constante da denúncia (fl s. 6-10), daqueles outros objetos de expressa imputação aos réus, e que são da competência da Justiça do Distrito Federal. “E acrescenta que os fatos praticados pelos agentes são distintos uns dos outros, identificando diversas condutas delituosas, o que impõe o desmembramento do processo.” (Fls. 735-737)

A seguir, manifesta-se pela competência da Justiça Federal.

Recebi petição de Francisco das Chagas Brito solicitando cassação do decreto

de prisão preventiva.

Relatei.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

396

VOTO

O Sr. Ministro Costa Lima (Relator): Os motivos elencados pelo

Juiz Federal para suscitar a separação dos processos, embora dignos de

ponderação, cedem ante os seguros fundamentos postos no parecer da ilustrada

Subprocuradora-Geral da República, Dra. Delza Curvello Rocha:

O fl agrante foi realizado em uma única peça, e os delitos apurados em um mesmo inquérito. Decidir nestes autos, se há ou não conexão, ou se deve ou não ser realizado o desmembramento do feito, será adentrar no mérito da prova colhida, suprimindo, inclusive, a atuação do Ministério Público Federal, titular da ação penal relativa ao delito do art. 289 do CP. Na realidade, o que se constata, é que delitos da esfera estadual e federal vinham sendo praticados pelos envolvidos nos inquéritos e essa ação era realizada em conjunto, em quadrilha. Daí porque impõe-se a defi nição da competência federal que exerce vis atractiva sobre a estadual. (Fl. 737)

A denúncia oferecida pelo Promotor de Justiça, embora tenha imputado

aos acusados apenas os crimes de quadrilha ou bando e de falsidade ideológica

em concurso material, não conseguiu dissociá-los de fatos que envolvem a todos

na trama delituosa desenrolada em etapas, e de modo tal que a prova de uns se

acha intimamente ligada ao de moeda falsa, reclamando a unidade de processo

e julgamento.

Tanto é que a denúncia narra:

No dia 09.04.1991, em cumprimento à ordem judicial, agentes policiais dirigiram-se para residência do primeiro acusado, na QSC 22, Lote 24, Taguatinga-DF.

No local foram encontrados os dois primeiros acusados. As mercadorias não foram localizadas. Todavia, os agentes encontraram quarenta e dois mil e quatrocentos dólares falsos, de propriedade deles, parte de um todo de US$ 54.000,00 trazidos de Tabatinga-AM. A diferença já havia sido vendida a compradores incautos diversos. (Fl. 7)

E conclui dizendo que a “quadrilha agia com inequívoca convergência de

vontades de seus agentes todos eles agregando-se sempre à fi gura do líder José

Rodrigues” (fl . 9).

Ora, foi na residência deste onde foram encontrados os quarenta e dois mil

dólares falsos.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 379-402, junho 2010 397

Assim, sem querer e nem poder aprofundar o exame da conexão dos crimes

da competência da Justiça Comum com o de moeda falsa, em tese, tenho que a

prova mantém estreita ligação, com infl uência recíproca.

Desse modo, por força do disposto no item V do art. 109 da Constituição,

compete à Justiça Federal o julgamento da ação penal.

Penso que tanto a Justiça Comum do Distrito Federal quanto a Justiça

Federal Comum são da mesma graduação e a Justiça Federal não é especial.

Nessa linha de raciocínio, teria razão o Juiz Federal em sugerir a separação

dos processos, cada ramo da Justiça Comum julgando os crimes de sua

competência.

No entanto, junto ao extinto Tribunal Federal de Recursos a idéia não

vingou. Prevaleceu o entendimento de que:

Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do CPP (Súmula n. 52).

Assim, acolhendo o parecer do Ministério Público Federal, conheço do

confl ito e declaro competente o Juiz Federal suscitante a quem caberá apreciar o

pedido de revogação de prisão preventiva formulado por Francisco das Chagas

Brito.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 7.354-PB (1994/0001152-0)

Relator: Ministro José Dantas

Autora: Justiça Pública

Réu: Pedro Carlos Ferreira Chacon

Advogado: Francisco Pedro da Silva

Suscitante: Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal de Campina Grande-PB

Suscitado: Juízo Federal da 2ª Vara da Seção Judiciária do Estado da

Paraíba

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

398

EMENTA

Processual Penal. Crimes conexos. Funcionário público federal.

Competência. A correto teor da Súmula n. 52 do ex-TFR,

“Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unifi cado dos

crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a

regra do art. 78, II, a, do Cód. de Processo Penal.”

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira

Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar

competente o Suscitado, Juízo Federal da 2ª Vara da Seção Judiciária do Estado

da Paraíba, nos termos do voto do Sr. Min. Relator. Votaram com o Relator os

Srs. Mins. Assis Toledo, Edson Vidigal, Luiz Vicente Cernicchiaro, Adhemar

Maciel e Anselmo Santiago. Ausentes, por motivo justifi cado, os Srs. Mins.

Flaquer Scartezzini e Pedro Acioli.

Brasília (DF), 04 de agosto de 1994 (data do julgamento).

Ministro Jesus Costa Lima, Presidente em exercício

Ministro José Dantas, Relator

DJ 29.08.1994

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José Dantas: Para relatar o feito, socorro-me do parecer da

Subprocuradora-Geral Delza Curvello, concebido nos seguintes termos:

O Ministério Público Federal ofereceu denúncia contra Pedro Carlos Chacon, Agente da Polícia Federal, como incurso nas penas dos arts. 69, 71 e 325, todos do Código Penal, combinado com o art. 12, § 2º, incisos I, II e III, da Lei n. 6.368/1976, por violar o sigilo de sua função, ao fornecer aos usuários e trafi cantes de drogas, com os quais se relacionava, informações sobre as operações da Polícia Federal, que seriam desencadeadas na cidade de Campina Grande.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 379-402, junho 2010 399

O processo disciplinar encontra-se às fls. 288-315 cuja conclusão foi pela responsabilidade funcional do indiciado e ainda, cometimento, em tese, de crime previsto no Código Penal e na Lei n. 6.368/1976.

Despachando nos autos à fl. 326, o MM. Juiz Federal declinou de sua competência a favor da Justiça Estadual, após entender que “violação de sigilo funcional apontada na denúncia tem liame com o tráfi co de tóxico doméstico, sem repercussão internacional.”

Firmando a competência, o Magistrado Estadual abriu vista ao ilustre Promotor de Justiça que ratifi cou em todos os termos a denúncia de fl s. 2-5, oferecida pelo representante do MPF-PB (fl s. 333v. e fl s. 334).

Concluída a instrução do feito, o MM. Juiz de Direito suscitou o presente conflito negativo de competência a ser dirimido por essa egrégia Corte, por entender aplicável ao caso a Súmula n. 52 do ex-TFR, determinando, por isso, a remessa dos autos à Justiça Federal.

Razão assiste ao Magistrado Estadual.

Com efeito, compete à Justiça Federal o processo e julgamento dos crimes conexos de competência federal e estadual.

Cumpre observar que ação imputada ao réu, conforme se verifi ca na peça inaugural, atingiu interesse e serviço da União, uma vez que

... as ações policiais repressivas do tráfi co e drogas na cidade de Campina Grande não vinham obtendo resultado positivo. Apurou-se que tal ocorreu porque o acusado sempre fornecia aos usuários e trafi cantes de psicotrópicos, com os quais se relacionava, informações sobre operações da Polícia Federal, que seriam desencadeadas na referida cidade.

Diante do exposto, opina o Ministério Público Federal pelo conhecimento do confl ito declarando-se competente o Juízo suscitado. — Fls. 538/540

Relatei.

VOTO

O Sr. Ministro José Dantas (Relator): Sr. Presidente, destacada

a circunstância da identidade do denunciado como servidor público federal,

qualidade na qual praticara o delito de violação de sigilo funcional, pouco

importa ao deslinde competencial de que se trata o fato da conexação dessa

prática menor com a maior, de incentivo do uso de tóxico.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

400

Sobre a matéria, em muito boa hora, o hoje extinto Tribunal Federal

de Recursos construiu a Súmula n. 52, a fundamentos que ainda agora se

recomendam como melhor interpretação do art. 78, II, a, do Código de Processo

Penal, do modo como o enunciado se conjuga com o do Verbete n. 254-TFR,

igualmente adotado por esta egrégia Seção, quando nada em duas oportunidades

— CC n. 8.362, Rel. Min. Costa Leite, e CC n. 5.350, do qual fui Relator, com

esta ementa:

Processual Penal. Agente de polícia federal. Homícidio.

Competência. Cabe à Justiça Federal processar e julgar os delitos praticados por funcionário público federal, no exercício de suas funções e com estas relacionadas, inclusive a presidência do Júri nos crimes contra a vida.

Pelo exposto, conheço do confl ito para declarar competente o Juízo Federal

suscitado.

HABEAS CORPUS N. 1.944-SP (1993/0013783-2)

Relator: Ministro Flaquer Scartezzini

Impetrante: Carlos Orlando Mesina Vidal

Impetrada: Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região

Paciente: Carlos Orlando Mesina Vidal (réu preso)

EMENTA

Habeas corpus. Falsificação de travellers cheques e uso de

passaporte adulterado. Conexão. Competência.

Conexos os crimes de falsifi cação de travellers cheques e de

adulteração de passaporte, compete à Justiça Federal o processo e

julgamento unifi cado do feito.

Ordem denegada.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 379-402, junho 2010 401

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, denegar a ordem. Votaram com o Relator os Srs. Ministros José Dantas, Jesus Costa Lima e Assis Toledo. Ausente, justifi cadamente, o Sr. Min. Edson Vidigal.

Brasília (DF), 21 de junho de 1993 (data do julgamento).

Ministro Flaquer Scartezzini, Presidente e Relator

DJ 23.08.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini: Trata-se de habeas corpus substitutivo de recurso ordinário não interposto contra v. acórdão do egrégio Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que denegou ordem originária impetrada com o objetivo de anular a sentença que condenou o paciente, Carlos Orlando Mesina Vidal, ao cumprimento de cinco anos de reclusão, como incurso nos arts. 289 e 297 do Código Penal, pela alegação de incompetência da Justiça Federal para o julgamento dos crimes.

As informações prestadas pela Presidência da Corte impetrada esclarecem que, o paciente foi preso em fl agrante, processado e condenado como incurso nas penas dos arts. 289 e 297 do estatuto penal, em concurso material “por ter comparecido a agência do Banco do Brasil munido de passaporte italiano, expedido em nome de Cesar Fabian Gagliardi, no qual inserira fotografi a sua, apresentando ao caixa daquele estabelecimento dez travellers-cheques para desconto, verifi cando o funcionário que estes constavam da relação de travellers fraudados ou furtados, os quais haviam, ainda, sido adulterados em sua numeração original e na assinatura neles contida”. (Fl. 13)

Alega o impetrante que os crimes não atingiram interesses da União Federal, pois, segundo afi rma, os travellers cheques não constituem moeda corrente no País, mas título de crédito e o passaporte utilizado era de origem italiana.

Determinei vistas ao Ministério Público Federal que opinou pelo indeferimento do writ.

É o Relatório.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

402

VOTO

O Sr. Ministro Flaquer Scartezzini (Relator): Srs. Ministros, o parecer do

MP no anterior habeas corpus faz remissão à sentença monocrática condenatória

do réu, que em determinado momento assevera:

Repilo, desde logo, a preliminar levantada pela defesa de incompetência da Justiça Federal, uma vez que predominava entendimento no extinto Tribunal Federal de Recursos jurisprudência no sentido de que a falsifi cação de travellers cheque é crime sujeito à jurisdição federal, apesar da existência de alguns acórdãos em sentido diverso.

Contudo, mesmo que assim não fosse, como no caso, verifi cou-se ainda a adulteração de passaporte de Nação estrangeira (Itália), justifica-se, de todo modo, a competência da Justiça Federal para o processo e julgamento de ambas as infrações penais, à vista da inegável conexão existente entre elas, nos exatos termos da Súmula n. 52 do extinto Tribunal Federal de Recursos (fl . 25).

Com efeito, mesmo não se considerando o travellers cheque como papel-

moeda, como quer o impetrante, o crime de falsifi cação de passaporte é julgado

perante a Justiça Federal, e a teor da Súmula n. 52-TFR, em virtude da conexão,

ambos serão julgados por este foro privilegiado.

Desta forma, indefi ro o presente pedido de habeas corpus.

É como voto.

Súmula n. 123

SÚMULA N. 123

A decisão que admite, ou não, o recurso especial deve ser fundamentada,

com o exame dos seus pressupostos gerais e constitucionais.

Referências:

CF/1988, arts. 93, IX, e 105, III.

Lei n. 8.038/1990, art. 27, § 1º.

Precedentes:

Ag 3.651-SP (2ª T, 04.06.1990 — DJ 25.06.1990)

AgRgAg 12.235-MG (3ª T, 18.12.1991 — DJ 24.02.1992)

REsp 948-GO (3ª T, 26.09.1989 — DJ 30.10.1989)

REsp 2.036-RJ (2ª T, 07.03.1990 — DJ 26.03.1990)

REsp 8.341-SP (CE, 13.08.1992 — DJ 26.04.1993)

Corte Especial, em 02.12.1994

DJ 09.12.1994, p. 34.142

AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 3.651-SP (1990.0003858-8)

Relator: Ministro Américo Luz

Agravante: Alvi Verde Futebol Clube

Agravada: Municipalidade de São Paulo

Advogados: Carlos Henrique de Mattos Franco e outros e João Baptista

Campos

EMENTA

Recurso especial.

Juízo de admissibilidade. Tal como no extraordinário, também

no especial o exame dos pressupostos de admissibilidade deve

obrigatoriamente ser apreciado no Tribunal de origem, a teor do art.

543, § 1º, do CPC.

Agravo improvido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar

provimento ao agravo, na forma do relatório e notas taquigráfi cas anexas, que

fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 04 de junho de 1990 (data do julgamento).

Ministro Carlos Velloso, Presidente

Ministro Américo Luz, Relator

DJ 25.06.1990

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Américo Luz: Confirmada pelo acórdão a sentença

de improcedência dos embargos opostos à execução fi scal, promovida pela

Municipalidade de São Paulo para a cobrança de IPTU incidente sobre imóveis

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

408

de propriedade do devedor, Alvi Verde Futebol Clube, este, inconformado, interpôs

simultaneamente recurso extraordinário e especial.

Do despacho que assinou o prazo de cinco dias à recorrida para impugnar

o cabimento dos recursos, agravou o recorrente, fi rme no entendimento de que

o juízo de admissibilidade e conhecimento do recurso especial é da competência

desta Corte, a teor do disposto no art. 257 do Regimento Interno.

Daí o pedido para que, apresentadas as contra-razões, com o preparo,

fossem os autos remetidos a este Tribunal — fl s. 13-16.

O eminente Presidente do 1º Tribunal de Alçada Civil, Juiz Marcus

Vinicius dos Santos Andrade, assim decidiu a questão (fl . 11):

indefi ro o processamento do agravo, por manifestamente incabível (art. 557 do Código de Processo Civil).

A abertura de vista à recorrida, para impugnar o cabimento do reclamo especial, não é ato recorrível.

Ademais, já decidiu o colendo Superior Tribunal de Justiça, ser o recurso especial semelhante ao recurso extraordinário, competindo ao Presidente do Tribunal, perante o qual interposto, admiti-lo ou não, em despacho motivado (Recursos Especiais ns. 1.392-RJ, e 1.400-RJ, in DJ 09.11.1989, pp. 16.858 e 16.859). No caso de admissão, seguir-se-ão razões e contra-razões (Recurso Especial n. 1.399-RJ, in DJ 09.11.1989, p. 16.859).

Desta decisão sobreveio o presente agravo, reiterando o embargante-

recorrente o descabimento do juízo de admissibilidade do recurso especial

perante o Tribunal a quo.

Relatei.

VOTO

O Sr. Ministro Américo Luz (Relator): Sustenta o agravante, apoiado no

art. 257 do Regimento Interno desta egrégia Corte, bem como em trabalho

doutrinário da lavra do eminente Ministro Carlos Velloso, que é defeso ao

Presidente do Tribunal a quo exercer o juízo de admissibilidade concernente ao

recurso especial.

Sem razão, data venia. Tal como no extraordinário, também no especial o

exame dos pressupostos de admissibilidade deve obrigatoriamente ser apreciado

no Tribunal de origem, a teor do art. 543, § 1º, do CPC.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 403-425, junho 2010 409

Doutra parte, o citado art. 257 do Regimento Interno desta Casa, longe

de conferir exclusividade na apreciação da admissibilidade do recurso pela

Turma julgadora, conforme entende o agravante, apenas determina, que esta,

no julgamento do recurso especial, verifi que, em preliminar, se o mesmo é

cabível, oportunidade em que reexaminará aqueles pressupostos de cabimento

analisados pelo Tribunal a quo, conhecendo ou não da interposição.

Finalmente, apreciando questão idêntica no Ag n. 2.489-SP, publicado

no DJ 05.04.1990, assim se posicionou o eminente Ministro Carlos Velloso,

verbis:

O recurso especial é espécie de recurso extraordinário. Vale dizer, tem a mesma natureza jurídica do recurso extraordinário. Este, do Supremo Tribunal Federal, tem como pressuposto o contencioso constitucional; aquele, do Superior Tribunal de Justiça, o contencioso de direito federal comum. Sujeita-se o recurso especial, portanto, às regras de admissibilidade, processuais e regimentais, do recurso extraordinário, que não foram revogadas pela Constituição. Está de pé e é de observância obrigatória, por exemplo, a disposição inscrita no art. 543, § 1º, do CPC: O Presidente do Tribunal a quo deverá, em despacho motivado, admitir, ou não, o recurso.

Do exposto, nego provimento ao agravo.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos M. Velloso: Sustento a existência do juízo prévio

de admissibilidade, tendo em vista os dispositivos processuais pertinentes ao

recurso extraordinário. A questão, com a edição da Lei n. 8.038, de 28 de maio

de 1990, é pacífi ca, por isso que essa lei cuida, expressamente, do juízo prévio de

admissibilidade. Adiro ao voto do Sr. Ministro-Relator.

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 12.235-MG (1991/0010370-5)

Relator: Ministro Eduardo Ribeiro

Agravante: Diva Ferretti Costa

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

410

Agravado: O r. despacho de fl . 903

Partes: Diva Ferretti Costa e Eliziário de Deus e Costa — espólio

Advogados: Márcio Gontijo, Raimundo Cândido Júnior e outro e Wilma

Couto e outros

EMENTA

Recurso especial. Admissão no Tribunal de origem.

Para admissão do especial, devem seus pressupostos de

admissibilidade ser examinados no Tribunal de origem.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide

a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça por unanimidade, negar

provimento ao agravo regimental, na forma do relatório e notas taquigráfi cas

constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.

Brasília (DF), 18 de dezembro de 1991 (data do julgamento).

Ministro Nilson Naves, Presidente

Ministro Eduardo Ribeiro, Relator

DJ 24.02.1992

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Diva Ferretti Costa apresenta agravo

regimental, visando a reformar decisão que negou provimento ao agravo de

instrumento que apresentara, objetivando a admissão de recurso especial, no

processo em que litiga com o espólio de Eliziário de Deus e Costa.

Alega a recorrente que a decisão ora impugnada não apreciou a tese

segundo a qual, nos termos da vigente Constituição, não cabe ao Presidente do

Tribunal de origem dizer sobre a admissibilidade do recurso.

Sustenta, mais, que, tendo a decisão atacada reconhecido ser caso de

conhecimento do recurso, de que, entretanto, não conheceu o Tribunal a quo,

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 403-425, junho 2010 411

cumpria reformar a decisão, para que o mérito fosse examinado. Isso não se

altera pelo fato de aquela Corte ter-se referido a ele, em vista do que dispõe o

art. 469 do CPC. Teria havido violação do art. 5º, XXXV e LV, da Constituição.

Reporta-se, por fi m, às razões do especial e do agravo, relativamente à

ofensa à coisa julgada, aos arts. 468 e 471 do CPC e dissenso com a Súmula n.

377 do Supremo Tribunal Federal.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro (Relator): Constitui entendimento

pacífi co, no Superior Tribunal de Justiça, o de que o Presidente do Tribunal que

houver proferido a decisão recorrida deverá examinar se presentes os requisitos

de admissibilidade do especial. O art. 27, § 1º, da Lei n. 8.038/1990 cogita da

admissão do recurso na Corte de origem. Logicamente seus pressupostos de

cabimento haverão de ser examinados.

Quanto à circunstância de não se ter conhecido do recurso, salientou-

se que houve apenas equívoco na conclusão, não tendo sentido conhecer do

especial apenas para modifi cá-la, o que não teria qualquer efeito prático.

Quanto ao mais, permito-me reproduzir trecho da decisão que se intenta

reformar:

No especial, inadmitido, alegou-se que violados os arts. 499 e seu § 1º, do CPC, e 468, combinado com o 471, e ainda 522, combinado com 162, § 2º, todos do mesmo Código. Teria também dissentido do entendimento consubstanciado na Súmula n. 377 do Supremo Tribunal Federal.

Relativamente à alegada ofensa à coisa julgada (arts. 468 e 471), trata-se de matéria somente agitada no especial, dela não havendo cogitado o acórdão. Falta, pois, o indispensável prequestionamento.

O mesmo se diga do afi rmado dissídio com a súmula. O julgado recorrido apenas menciona casamento em separação de bens. Não se considerou fosse esse regime decorrente de imposição legal nem que houvesse aqüestos. Não se pode afi rmar, por conseguinte, haja a pretendida divergência.

Nego provimento ao agravo.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

412

RECURSO ESPECIAL N. 948-GO (1989/0010461-6)

Relator: Ministro Nilson Naves

Recorrente: Paulo Sérgio Roriz

Recorrido: Itaú Seguros S/A

Advogados: Viviane Zacharias do Amaral e Élcio Curado

EMENTA

Recurso especial (CF/1988, art. 105, III). Despacho de admissão, ou de inadmissão. É o recurso especial recurso excepcional, à semelhança do recurso extraordinário. Ao admiti-lo ou inadmiti-lo, na origem, compete ao presidente do tribunal examinar os seus pressupostos constitucionais, em despacho motivado. Questão de ordem proposta pelo Relator e acolhida pela Turma, com devolução dos autos.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, determinar a baixa dos autos ao juízo de origem, a fi m de que outro despacho seja proferido admitindo ou não o recurso, incluindo na fundamentação a disposição constitucional e o que mais couber para fi ns do juízo de admissibilidade, na forma do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 26 de setembro de 1989 (data do julgamento).

Ministro Gueiros Leite, Presidente

Ministro Nilson Naves, Relator

DJ 30.10.1989

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Nilson Naves: Foi o recurso admitido por despacho nestes

termos:

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 403-425, junho 2010 413

Itaú Seguros S/A, inconformado com o v. acórdão da egrégia Terceira Câmara Cível, proferido nestes autos da Apelação Cível n. 21.360, da Comarca de Goiânia, em que fi gura como segundo apelante, sendo primeiro apelante Paulo Sérgio Roriz e apelados os mesmos, recorre para o Supremo Tribunal Federal com fundamento no art. 119, III, a, da anterior Constituição e art. 105, III, a, da atual Constituição da República, argüindo relevância da questão federal.

Não houve impugnação.

O v. acórdão recorrido sintetiza-se na seguinte ementa:

Ementa: Apelação. Ação de cobrança de seguro de vida pelo procedimento sumaríssimo. Inexistência de nulidade. Correção monetária e juros de mora a partir da data em que deveria ter sido quitada a apólice. Seguro em grupo. Não se indaga das condições de saúde do seguro ao tempo do contrato.

Alega a recorrente que o acórdão censurado contrariou os arts. 1.444, 147, inciso II, e 1.432 do Código Civil.

Com a instalação do Superior Tribunal de Justiça a 7 de abril último, exauriu-se a efi cácia do § 1º do art. 27 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias/1988, não mais se aplicando em casos como este, o Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal.

Outrossim, inexiste ainda norma processual ou regimental relativa ao recurso especial. Todavia, o egrégio Supremo Tribunal Federal tem admitido a conversão do recurso extraordinário interposto antes da instalação do Superior Tribunal de Justiça, na vigência do § 1º do art. 27 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias/1988, em recurso especial. Assim, implícito está, em tais decisões, que o prazo para a interposição de ambos os recursos é tido como igual (15 dias). E bem assim os prazos para razões, etc.

Feitas essas considerações, cabe-me verifi car se ocorrentes os pressupostos de admissibilidade do presente recurso, limitando-me, porém, ao exame da sua comportabilidade e tempestividade.

E chego à conclusão de que próprio é o referido recurso, por previsto na vigente Constituição (art. 105, III, a), e manifestado opportuno tempore.

Ex positis, admito-o, determinando se abra vista dos autos, sucessivamente, ao recorrente e ao recorrido, para que apresentem suas razões.

Por me parecer que o despacho não tem sufi ciente fundamentação, submeto

o processo à Turma, em questão de ordem (Reg. STJ, art. 34-IV).

É o relatório.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

414

VOTO

O Sr. Ministro Nilson Naves (Relator): É de conhecimento geral que

o juízo de admissibilidade do recurso extraordinário tem dois momentos: no

juízo a quo, quando o presidente do tribunal, em despacho motivado, admite,

ou não, o recurso, conforme o disposto no art. 543, § 1º, do Cód. de Proc. Civil;

no juízo ad quem, quando, no seu julgamento, verifi ca-se, preliminarmente, se o

recurso é cabível (“Decidida a preliminar pela negativa, a Turma ou o Plenário

não conhecerá do mesmo; se pela afi rmativa, julgará a causa, aplicando o direito

à espécie”, conforme art. 324 do Regimento do Supremo Tribunal Federal).

Discute a doutrina pátria sobre o alcance daquele primeiro juízo, e João Del

Nero, em artigo publicado na RT-501/11, põe, de um lado, no sentido de

que cabe, na origem, somente o exame dos aspectos formais, o pensamento

de Barbosa Moreira, Sérgio Bermudes e Matos Peixoto (e José de Moura Rocha, in

RF-267/385, acrescenta Alfredo Buzaid), e de outro lado, indo além, não só o

exame dos aspectos formais, mas, também, o próprio cabimento do recurso, o

pensamento de Pontes de Miranda, Pedro Barbosa Martins, Odilon de Andrade,

José Frederico Marques, e o pensamento dele próprio, autor, denominando esse

juízo de “julgamento prévio”, com o objetivo de facilitar a cognição plena por

parte do Supremo.

No tocante ao alcance desse juízo, fi co com o segundo pensamento, pela

compreensão que tenho do aludido § 1º. Cabendo ao presidente do tribunal,

em despacho motivado (ou decisão motivada, pois dele ou dela cabe agravo),

admitir, ou não, o recurso, tal ato não há de fi car adstrito aos aspectos puramente

formais, como se estivesse recebendo um recurso ordinário. Ao que informa José

de Moura Rocha, in RF-267/385, do mesmo modo pensa o Supremo Tribunal

Federal: “É o que se constata da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal

quando interpreta o ‘julgar’ do Código de Processo Civil de 1939 (art. 865) ou o

‘admitirá’ do vigente Código de Processo Civil (art. 543) no sentido de atribuir

ao juízo a quo competência para não somente examinar as condições formais do

recurso extraordinário, mas, também, para decidir se a matéria a ser apreciada

enquadra-se nos casos apontados pela Constituição Federal e que constitui

mérito. Em outras palavras, além dos requisitos extrínsecos do recurso cabe ao

presidente do Tribunal de Justiça apreciar os requisitos intrínsecos”.

O mesmo há de se dizer do recurso especial, que surgiu com a criação

do Superior Tribunal de Justiça, na nova ordem constitucional. Certo que,

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 403-425, junho 2010 415

no momento do despacho que admitiu o presente recurso, não existia, a

propósito, norma regimental, e, até o momento, ainda não existe a lei

processual. Tal não impediria, como não impede, que se desse, ou se dê, a

um, o especial, o tratamento do outro recurso, o extraordinário. Ambos são

espécies da excepcionalidade, a saber, do recurso excepcional. Com o recurso

extraordinário, o Supremo Tribunal Federal exerce a guarda da Constituição,

precipuamente (art. 102, caput, e inciso III). Com o recurso especial, o Superior

Tribunal de Justiça exerce a guarda da lei federal, principalmente (art. 105, III).

O que antes competia a um só tribunal — tribunal nacional —, isto é, tanto

o contencioso constitucional, como o contencioso da Lei Federal, compete

agora a dois tribunais, respectivamente, ambos com a mesma feição de tribunal

nacional.

Depois, ainda que a opinião local toque no merecimento da questão, e há

de tocá-la, ao decidir pela admissibilidade, ou inadmissibilidade, do recurso, tal

não estaria subtraindo competência própria do Supremo, ou, agora, do Superior,

pois, no caso de admissão, o Tribunal verifi ca, inicialmente, se o recurso é

cabível, e, no caso de inadmissão, exerce o controle pelo agravo de instrumento.

Ante o exposto, ao propor a questão de ordem, voto pela devolução

dos autos ao egrégio Tribunal de Justiça de Goiás, para que o seu ilustre

Presidente profi ra outro despacho, admitindo, ou não, o recurso, com exame dos

pressupostos constitucionais, em despacho fundamentado. No caso de admissão,

seguir-se-ão razões e contra-razões.

É o que proponho, Sr. Presidente.

RECURSO ESPECIAL N. 2.036-RJ (1990/0000741-0)

Relator: Ministro Carlos M. Velloso

Recorrente: Astolpho do Nascimento

Recorridos: Instituto Nacional de Previdência Social — INPS e Curadoria

de Acidentes do Trabalho

Advogados: Dalvenio Torres Motta e Fernando Jorge de Mello e Silva

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

416

EMENTA

Processual Civil. Recurso especial. Juízo de admissibilidade. CF,

art. 105, III. CPC, art. 543, § 1º.

I - A decisão do Presidente do Tribunal que admite, ou não, o

recurso especial, deve ser motivada. CPC, art. 543, § 1º.

II - Recurso convertido em diligência, para que o Presidente do

Tribunal a quo dê cumprimento ao disposto no art. 543, § 1º, CPC.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos, em que são partes as acima indicadas, decide a

Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, determinar o

retorno dos autos ao Tribunal a quo, nos termos do relatório e notas taquigráfi cas

anexas, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado. Custas, como de

lei.

Brasília (DF), 07 de março de 1990 (data do julgamento).

Ministro Carlos M. Velloso, Presidente e Relator

DJ 26.03.1990

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Carlos M. Velloso: Trata-se de ação sumaríssima proposta

por Astolpho do Nascimento contra o INPS, requerendo benefício em virtude

de ter adquirido doença defi nitiva causada por sua atividade profi ssional.

A sentença de fl . 37 julgou procedente o pedido, condenando o INPS a

pagar ao autor auxílio acidente, a partir da cessação do auxílio-doença, no valor

mensal de 40% do seu salário-de-contribuição.

A egrégia Quarta Câmara do colendo Tribunal de Alçada do Estado do Rio

de Janeiro, apreciando as apelações do INPS e do Ministério Público, decidiu,

por unanimidade, tendo em vista a necessidade de maiores esclarecimentos

técnicos, converter o julgamento em diligência, para que fosse efetuada nova

perícia.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 403-425, junho 2010 417

Após o reexame do autor por novo perito, a Câmara julgadora deu

provimento aos recursos. Tendo em vista que o “exame psiquiátrico resultou

negativo” e que o interessado não compareceu ao segundo exame, “para completar

a diligência”, entendeu ser improcedente o pedido, por falta de elementos que

comprovem o direito do autor.

Inconformado, este interpõe recurso especial, com fundamento no art. 105,

III, a, da Constituição de 1988, argüindo a relevância da questão federal.

Alega que o aresto violou o § 1º do art. 267 do CPC, pois o recorrente não

foi pessoalmente intimado da nova perícia e, como não compareceu, a egrégia

Câmara julgou improcedente o pedido, sem lhe dar nova oportunidade de suprir

a falta. A intimação pessoal é direito garantido pelo CPC, não podendo ser

suprida pela publicação no Diário Ofi cial.

Afi rma, ainda, que o acórdão contrariou os arts. 458, II, e 131 do CPC,

pois limitou-se “a afi rmar a existência de dúvida, entretanto, não apontou onde

reside, nem mesmo que tipo de dúvida foi detectada”. Os julgadores deveriam

ter fundamentado sua decisão, esclarecendo os seus motivos.

Por fi m, sustenta que “mesmo que fosse admitida a existência de dúvida

nos laudos, só para argumentar, ainda assim teria que ser decidido a favor do

acidentado, parte menos favorecida, aplicando-se o princípio in dubio pro misero”.

Admitido o recurso pelo eminente Presidente do egrégio Tribunal de

Alçada Cível do Rio de Janeiro, Juiz Humberto Paschoal Perri (fl . 96), subiram

os autos a esta Corte.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos M. Velloso (Relator): A r. decisão que admitiu o

recurso, pela letra a, inciso III, do art. 105 da Constituição, o fez simplesmente

porque, “na hipótese poderia ter ocorrido contrariedade a dispositivo de Lei

Federal.” (Fl. 96)

Não se realizou, portanto, o juízo de admissibilidade, por isso que o

Presidente do Tribunal deverá motivar a decisão que admite, ou não, o recurso,

conforme estabelece o art. 543, § 1º, CPC, aplicável ao recurso especial, que

nada mais é senão o recurso extraordinário para a matéria infraconstitucional,

no que toca à letra a (CF, art. 105, III, a).

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

418

Destarte, preliminarmente, meu voto é no sentido do retorno dos autos

ao egrégio Tribunal a quo, para que o seu eminente Presidente dê cumprimento

ao disposto no art. 543, § 1º, CPC, admitindo, ou não, o recurso, em decisão

motivada.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 8.341-SP

Relator: Ministro Peçanha Martins

Recorrentes: Carmella Perella di Mauro — espólio e outros

Recorrido: Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo

Advogados: Dorival Scarpin e outros e Mário Flávio Machado e outros

EMENTA

Processual Civil. Recurso especial. Despacho de admissão ou

inadmissão. Pressupostos constitucionais. Questão de ordem.

Compete ao Presidente do Tribunal a quo ao admitir, ou não, o

recurso especial, apreciar os pressupostos constitucionais, em decisão

fundamentada.

Questão de ordem proposta pelo Relator e aprovada pela Corte

Especial.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Corte

Especial do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, aprovar questão de ordem, suscitada

pelo Sr. Ministro-Relator, no sentido de que a decisão do Presidente do Tribunal

a quo admitindo ou não recurso especial, deve ser fundamentada, inclusive com

exame dos pressupostos constitucionais. Votaram com o Relator os Ministros

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 403-425, junho 2010 419

Demócrito Reinaldo, José Dantas, William Patterson, Bueno de Souza, José

Cândido, Pedro Acioli, Américo Luz, Costa Leite, Nilson Naves, Eduardo

Ribeiro, Dias Trindade, José de Jesus, Edson Vidigal, Athos Carneiro, Barros

Monteiro e Hélio Mosimann. Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros

Pádua Ribeiro, Flaquer Scartezzini, Costa Lima, Geraldo Sobral, Assis Toledo,

Waldemar Zveiter, Fontes de Alencar, Cláudio Santos e Sálvio de Figueiredo.

Os Mins. Edson Vidigal e Athos Carneiro participaram da sessão para compor

quorum regimental.

Brasília (DF), 13 de agosto de 1992 (data do julgamento).

Ministro Torreão Braz, Presidente

Ministro Peçanha Martins, Relator

DJ 26.04.1993

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Peçanha Martins: Ante as ponderações dos ilustres

Ministros Américo Luz e Pádua Ribeiro, após ter, como Relator, proferido voto

sugerindo a devolução dos autos ao Tribunal de Justiça de São Paulo, para que

fosse emitido “fundamentado despacho de admissibilidade”, a Segunda Turma,

em face das ponderações dos meus eminentes pares, decidiu, unanimemente,

submeter a questão ao exame desta Corte Especial.

Há precedentes, neste Tribunal, em que a mesma posição foi adotada

pelo Relator do recurso especial (Precedentes: REsps ns. 948-GO e 1.259-RJ,

Relator Min. Nilson Naves; REsp n. 411-RJ, Relator Min. Cláudio Santos).

Face ao crescente número de despachos sem fundamentação hábil em recursos

especiais remetidos a este STJ, julgamos necessária a decisão deste órgão

especial sobre o assunto.

Como disse o eminente Ministro Athos Carneiro, em decisão no REsp

n. 10.448-RJ, DJ 12.09.1991, “a admissão, ou não, do recurso especial far-se-á

por decisão (e não mero despacho) devidamente fundamentada da Presidência do

Tribunal a quo, exercendo-se então uma primeira apreciação crítica das condições de

admissibilidade do recurso”.

Isto posto, submeto a questão à apreciação desta Corte Especial.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

420

VOTO - QUESTÃO DE ORDEM

O Sr. Ministro Peçanha Martins (Relator): Ante as ponderações dos

ilustres Ministros Américo Luz e Pádua Ribeiro, após ter, como Relator,

proferido voto sugerindo a devolução dos autos ao Tribunal de Justiça de São

Paulo, para que fosse emitido “fundamentado despacho de admissibilidade”, a

Segunda Turma, em face das ponderações dos meus eminentes pares, decidiu,

unanimemente, submeter a questão ao exame desta Corte Especial.

Há precedentes, neste Tribunal, em que a mesma posição foi adotada pelo

Relator do recurso especial. Face o crescente número de despachos sem qualquer

fundamentação em recursos especiais remetidos a este STJ, julgamos necessária

a decisão deste órgão especial sobre o assunto.

Como disse o eminente Ministro Athos Carneiro, em decisão no REsp

n. 10.448-RJ, DJ 12.09.1991, “a admissão, ou não, do recurso especial far-se-á

por decisão (e não mero despacho) devidamente fundamentada da Presidência do

Tribunal a quo exercendo-se então uma primeira apreciação crítica das condições de

admissibilidade do recurso.”

Isto posto, submeto a questão à apreciação desta Corte Especial.

VOTO - QUESTÃO DE ORDEM

O Sr. Ministro Demócrito Reinaldo: Sr. Presidente, estou de acordo com o

Sr. Ministro-Relator, excluindo a segunda parte relativa às instruções que, como

disse V. Exa., trata de matéria jurisdicional, de forma que o Tribunal não pode

oferecer subsídios nem esclarecimentos antecipados a juiz, de qualquer grau de

jurisdição, sobre a sua função.

É como voto.

QUESTÃO DE ORDEM

O Sr. Ministro Peçanha Martins (Relator): Sr. Presidente, meu voto

é no sentido de que os autos retornem ao Tribunal de origem a fi m de que

seu Presidente aprecie os pressupostos constitucionais e a admissibilidade do

recurso especial em despacho fundamentado, ofi ciando-os aos Presidentes dos

demais Tribunais para dar notícia da decisão desta Corte Especial.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 403-425, junho 2010 421

VOTO - QUESTÃO DE ORDEM

O Sr. Ministro José Dantas: Sr. Presidente, parece que o alcance da questão

de ordem é tornar efetivo o entendimento do Tribunal de que a admissão do

recurso especial ou sua inadmissão, necessariamente, seja fundamentada.

A medida, ao que penso, terá o alcance de o Relator do recurso valer-se da

remissão à questão de ordem e com base nela determinar a volta do processo

para que se cumpra o procedimento.

Acolho, pois, a questão de ordem.

VOTO - QUESTÃO DE ORDEM

O Sr. Ministro Dias Trindade (Aparte): Sr. Presidente, ainda ontem, na

sessão da nossa Segunda Seção, discutimos essa matéria, com vistas a um projeto

de súmula. Chegamos à conclusão de que não seria conveniente, pois poderia

causar susceptibilidade aos tribunais. Então, que cada um, jurisdicionalmente,

decida se o despacho está ou não fundamentado.

O Sr. Ministro Athos Carneiro (Aparte): Sr. Presidente, tenho a impressão

de que a hipótese não seria propriamente de edição de súmula, que teria um

outro alcance, mas de fi xação, através da questão de ordem, de uma orientação

do tribunal, para que depois, em outros casos, os relatores possam, de acordo

com a questão de ordem do processo tal, determinar o que entenderem de

direito.

ADITAMENTO AO VOTO - QUESTÃO DE ORDEM

O Sr. Ministro Peçanha Martins (Relator): Sr. Presidente, sugeriria que se

adote a fórmula recomendada pelo Sr. Ministro Athos Carneiro, que afi rma:

A admissão ou não do recurso especial far-se-á por decisão (e não por mero despacho) devidamente fundamentada da Presidência do Tribunal a quo, exercendo-se, então, uma primeira apreciação crítica das condições de admissibilidade do recurso.

Essa proclamação vai nos facilitar o julgamento, ou seja, vai evitar que

tenhamos que justifi car, em cada processo que nos chegue em mãos, todo um

procedimento. Bastaria fundamentar a decisão na questão de ordem.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

422

VOTO - QUESTÃO DE ORDEM

O Sr. Ministro Bueno de Souza: Sr. Presidente, a Lei n. 8.039 desperdiçou

a excelente oportunidade que tinha de explicitar que a decisão do Tribunal a

quo deveria ser fundamentada, fosse para admitir ou não o recurso. Tendo sido

omissa a lei, penso que se justifi ca que a Corte Especial considere o assunto,

tal como agora o faz, de tal maneira que cada um de nós, como Relator, se

sinta respaldado pelo entendimento que é de toda a Casa, sempre que se lhe

apresentar um caso em que se convença de que deva recusar o recurso especial

até que haja decisão compatível com o sentido da lei, muito embora a lei tenha

dito menos do que aquilo que pensou e quis.

Assim é que interposto o sentido da questão de ordem e que penso,

também, que transparecerá a nossa decisão no douto voto que o eminente

Ministro-Relator certamente complementará com todos os subsídios que S.

Exa., considere aconselháveis para maior respaldo e convencimento da nossa

decisão, certo que a Constituição exige que as decisões sejam fundamentadas.

VOTO - QUESTÃO DE ORDEM

O Sr. Ministro Nilson Naves: Sr. Presidente, na sessão do dia 26.09.1989,

levei à Terceira Turma o REsp n. 948, em questão de ordem, votando dessa

forma:

É de conhecimento geral que o juízo de admissibilidade do recurso extraordinário tem dois momentos: no juízo a quo, quando o presidente do tribunal, em despacho motivado, admite, ou não, o recurso, conforme o disposto no art. 543, § 1º, do Cód. de Pr. Civil, no juízo ad quem, quando, no seu julgamento, verifi ca-se, preliminarmente, se o recurso é cabível (‘Decidida a preliminar pela negativa, a Turma ou o Plenário não conhecerá do mesmo; se pela afi rmativa, julgará a causa, aplicando o direito à espécie’, conforme art. 324 do Regimento do Supremo Tribunal Federal). Discute a doutrina pátria sobre o alcance daquele primeiro juízo, e João Del Nero, em artigo publicado na RT-501/11, põe, de um lado, no sentido de que cabe, na origem, somente o exame dos aspectos formais, o pensamento de Barbosa Moreira, Sérgio Bermudes e Matos Peixoto (e José de Moura Rocha, in RF 267/385, acrescenta Alfredo Buzaid), e de outro lado, indo além, não só o exame dos aspectos formais, mas, também, o próprio cabimento do recurso, o pensamento de Pontes de Miranda, Pedro Barbosa Martins, Odilon de Andrade, José Frederico Marques, e o pensamento dele próprio, autor, denominando esse juízo de ‘julgamento prévio’, com o objetivo de facilitar a cognição plena por parte do Supremo.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 403-425, junho 2010 423

No tocante ao alcance desse juízo, fi co com o segundo pensamento, pela compreensão que tenho do aludido § 1º. Cabendo ao presidente do tribunal, em despacho motivado (ou decisão motivada, pois dele ou dela cabe agravo), admitir, ou não, o recurso, tal ato não há de fi car adstrito aos aspectos puramente formais, como se estivesse recebendo um recurso ordinário. Ao que informa José de Moura Rocha, in RF-267/385, do mesmo modo pensa o Supremo Tribunal Federal: ‘É o que se constata da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal quando interpreta o ‘julgar’ do Código de Processo Civil de 1939 (art. 865) ou o ‘admitirá’ do vigente Código de Processo Civil (art. 543) no sentido de atribuir ao juízo a quo competência para não somente examinar as condições formais do recurso extraordinário, mas, também, para decidir se a matéria a ser apreciada enquadra-se nos casos apontados pela Constituição Federal e que constitui mérito. Em outras palavras, além dos requisitos extrínsecos do recurso cabe ao presidente do Tribunal de Justiça apreciar os requisitos intrínsecos’.

O mesmo há de se dizer do recurso especial, que surgiu com a criação do Superior Tribunal de Justiça, na nova ordem constitucional. Certo que, no momento do despacho que admitiu o presente recurso, não existia, a propósito, norma regimental, e, até o momento, ainda não existe a lei processual. Tal não impediria, como não impede, que se desse, ou se dê, a um, o especial, o tratamento do outro recurso, o extraordinário. Ambos são espécies de excepcionalidade, a saber, do recurso excepcional. Com o recurso extraordinário, o Supremo Tribunal Federal exerce a guarda da Constituição, precipuamente (art. 102, caput, e inciso III). Com o recurso especial, o Superior Tribunal de Justiça exerce a guarda da Lei Federal, principalmente (art. 105, III). O que antes competia a um só tribunal — tribunal nacional —, isto é, tanto o contencioso constitucional, como o contencioso da Lei Federal, compete agora a dois tribunais, respectivamente, ambos com a mesma feição de tribunal nacional.

Depois, ainda que a opinião local toque no merecimento da questão, e há de tocá-la, ao decidir pela admissibilidade, ou inadmissibilidade, do recurso, tal não estaria subtraindo competência própria do Supremo, ou, agora, do Superior, pois, no caso de admissão, o Tribunal verifi ca, inicialmente, se o recurso é cabível, e, no caso de inadmissão, exerce o controle pelo agravo de instrumento.

Ante o exposto, ao propor a questão de ordem, voto pela devolução dos autos ao egrégio Tribunal de Justiça de Goiás, para que o seu ilustre Presidente profi ra outro despacho, admitindo, ou não, o recurso, com exame dos pressupostos constitucionais, em despacho fundamentado. No caso de admissão, seguir-se-ão razões e contra-razões.

É o que proponho, Sr. Presidente.

De conseguinte, acolho a presente questão de ordem, tal como a acolhe o

Sr. Relator, como orientação do Superior Tribunal de Justiça.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

424

VOTO - QUESTÃO DE ORDEM

O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Sr. Presidente, acho que não há como

colocar em dúvida que o ato jurisdicional que admite ou inadmite o recurso é

uma decisão. Sendo assim, exigir-se fundamentação é regra constitucional. Não

posso deixar de aderir ao voto do eminente Ministro-Relator, embora com as

mesmas considerações feitas pelo Ministro Costa Leite.

VOTO - QUESTÃO DE ORDEM

O Sr. Ministro Dias Trindade: Sr. Presidente, também nunca devolvi

processo para esse fim, embora eu entenda que a decisão tem que ser

fundamentada.

Acompanho o voto do Sr. Ministro-Relator, apenas não adotando a

questão de o Tribunal mandar recomendação.

VOTO - QUESTÃO DE ORDEM

O Sr. Ministro José de Jesus Filho: Sr. Presidente. Jamais devolvi

qualquer processo para que fosse refeita a fundamentação. Todos têm alguma

fundamentação. Sempre me reservei o direito de conhecer ou não do recurso,

admitindo-o ou não. Entendendo que essa questão de ordem encerra um

preceito, acompanho o voto do Sr. Ministro-Relator.

VOTO - QUESTÃO DE ORDEM

O Sr. Ministro Athos Carneiro: Sr. Presidente, ao tempo do recurso

extraordinário também quanto às questões de legalidade, o Supremo Tribunal

Federal sempre entendeu necessário que os Presidentes dos Tribunais

apreciassem os pressupostos recursais, quer os pressupostos genéricos de

qualquer recurso, como os pressupostos constitucionais. Entretanto, agora,

com o recurso especial, alguns Presidentes de Tribunais inicialmente passaram

a entender que bastaria fosse o recurso adequado e tempestivo para que fosse

admitido, o que, até do ponto de vista pragmático, acarretaria avalanche de

recursos, com ou sem maior fundamento, inviabilizando os trabalhos desta

Corte.

SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 4, (8): 403-425, junho 2010 425

Tenho a impressão, portanto, de que será útil, inclusive para fi xação de

adequadas diretrizes, que se afi rme que o pensamento deste Tribunal é o de

que o exame, pela Presidência dos Tribunais de origem, dos pressupostos de

admissibilidade dos recursos especiais, abrange tanto os pressupostos genéricos

como os requisitos constitucionais do recurso. Também não creio convenha

expedir ofícios a esse respeito; mas, fi xada a tese em questão de ordem, torna-se

explícita uma orientação, se assim posso dizer, aos eminentes Presidentes dos

tribunais; em segundo lugar, teremos um ponto de referência para os Ministros

relatores naqueles casos em que for necessária a devolução do processo, como,

por exemplo, se o Presidente do tribunal a quo simplesmente considera os

pressupostos genéricos, omitindo fundamentação no pertinente aos pressupostos

constitucionais do apelo extremo.

Acompanho, pois, o voto do eminente Ministro-Relator.

Índice Analítico

A

Ação acidentária - CF/1988, art. 5º, LXXIV - CPC, art. 20 - Honorários advocatícios - Isenção - Lei n. 8.213/1991, art. 129, parágrafo único - Segurado. Súmula n. 110-STJ. RSSTJ 8/37.

Ação previdenciária - Prestações vincendas - CPC, art. 20, § 5° - Honorários advocatícios - Não-incidência. Súmula n. 111-STJ. RSSTJ 8/59.

Agravo de instrumento - Recurso cabível - Cálculo de liquidação - Atualização - Sentença homologatória. Súmula n. 118-STJ. RSSTJ 8/271.

Agravo regimental - Interposição - CPC, art. 188 - Fazenda Pública - Lei n. 8.038/1990, arts. 28, § 5°, e 39 - Ministério Público - Prazo em dobro. Súmula n. 116-STJ. RSSTJ 8/219.

C

Cálculo de liquidação - Atualização - Agravo de instrumento - Recurso cabível - Sentença homologatória. Súmula n. 118-STJ. RSSTJ 8/271.

CC, arts. 177 e 550 - Desapropriação indireta - Prescrição vintenária. Súmula n. 119-STJ. RSSTJ 8/291.

CF/1988, art. 5º, LXXIV - Ação acidentária - CPC, art. 20 - Honorários advocatícios - Isenção - Lei n. 8.213/1991, art. 129, parágrafo único - Segurado. Súmula n. 110-STJ. RSSTJ 8/37.

CF/1988, arts. 5°, XXIV, e 182, § 3° - Correção monetária - Decreto-Lei n. 3.365/1941, art. 26, § 2°, na redação da Lei n. 4.686/1965 - Desapropriação direta - Imissão na posse - Indenização - Juros compensatórios - Termo inicial - Lei n. 4.686/1965. Súmula n. 113-STJ. RSSTJ 8/125.

CF/1988, art. 5°, XXIV, e 182, § 3° - Correção monetária - Decreto-Lei n. 3.365/1941, art. 26, § 2°, na redação da Lei n. 4.686/1965 - Desapropriação indireta - Indenização - Juros compensatórios - Lei n. 4.686/1965 - Termo inicial - Ocupação. Súmula n. 114-STJ. RSSTJ 8/163.

CF/1988, arts. 93, IX, e 105, III - Decisão - Fundamentação - Exigibilidade - Lei n. 8.038/1990, art. 27, § 1° - Pressupostos - Exame - Obrigatoriedade - Recurso especial. Súmula n. 123-STJ. RSSTJ 8/403.

Competência - CPP, art. 78, II, a - Inaplicabilidade - Crimes conexos - Justiça Federal. Súmula n. 122-STJ. RSSTJ 8/379.

Conselho Regional de Farmácia - Inscrição - Exigibilidade - Decreto n. 20.377/1931, art. 2°, § 1° - Lei n. 3.820/1960, art. 14, parágrafo único - Lei n. 5.991/1973, art. 15, caput - Ofi cial de farmácia - Responsabilidade técnica. Súmula n. 120-STJ. RSSTJ 8/327.

ÍNDICE ANALÍTICO

430

Correção monetária - CF/1988, arts. 5°, XXIV, e 182, § 3° - Decreto-Lei n. 3.365/1941, art. 26, § 2°, na redação da Lei n. 4.686/1965 - Desapropriação direta - Imissão na posse - Indenização - Juros compensatórios - Termo inicial - Lei n. 4.686/1965. Súmula n. 113-STJ. RSSTJ 8/125.

Correção monetária - CF/1988, art. 5°, XXIV, e 182, § 3° - Decreto-Lei n. 3.365/1941, art. 26, § 2°, na redação da Lei n. 4.686/1965 - Desapropriação indireta - Indenização - Juros compensatórios - Lei n. 4.686/1965 - Termo inicial - Ocupação. Súmula n. 114-STJ. RSSTJ 8/163.

CPC, art. 20 - Ação acidentária - CF/1988, art. 5º, LXXIV - Honorários advocatícios - Isenção - Lei n. 8.213/1991, art. 129, parágrafo único - Segurado. Súmula n. 110-STJ. RSSTJ 8/37.

CPC, art. 20, § 5° - Ação previdenciária - Prestações vincendas - Honorários advocatícios - Não-incidência. Súmula n. 111-STJ. RSSTJ 8/59.

CPC, art. 37 - Procuração - Ausência - Recurso - Inexistência - Representação processual - Nulidade. Súmula n. 115-STJ. RSSTJ 8/181.

CPC, arts. 125, I, e 687, § 3° - Execução fi scal - Intimação pessoal - Devedor - Obrigatoriedade - Lei n. 6.830/1980, art. 1° - Leilão. Súmula n. 121-STJ. RSSTJ 8/347.

CPC, art. 188 - Agravo regimental - Interposição - Fazenda Pública - Lei n. 8.038/1990, arts. 28, § 5°, e 39 - Ministério Público - Prazo em dobro. Súmula n. 116-STJ. RSSTJ 8/219.

CPC, arts. 552, § 1°, e 184, § 2° - Julgamento - Sessão - Partes - Ausência - Nulidade - Pauta - Publicação - Prazo mínimo - Não-observância. Súmula n. 117-STJ. RSSTJ 8/247.

CPP, art. 78, II, a - Inaplicabilidade - Competência - Crimes conexos - Justiça Federal. Súmula n. 122-STJ. RSSTJ 8/379.

Crédito tributário - Suspensão da exigibilidade - Requisitos - CTN, art. 151, II - Depósito integral em dinheiro - Lei n. 6.830/1980, arts. 9°, § 4°; 32 e 38. Súmula n. 112-STJ. RSSTJ 8/103.

Crimes conexos - Competência - CPP, art. 78, II, a - Inaplicabilidade - Justiça Federal. Súmula n. 122-STJ. RSSTJ 8/379.

CTN, art. 151, II - Crédito tributário - Suspensão da exigibilidade - Requisitos - Depósito integral em dinheiro - Lei n. 6.830/1980, arts. 9°, § 4°; 32 e 38. Súmula n. 112-STJ. RSSTJ 8/103.

D

Decisão - Fundamentação - Exigibilidade - CF/1988, arts. 93, IX, e 105, III - Lei n. 8.038/1990, art. 27, § 1° - Pressupostos - Exame - Obrigatoriedade - Recurso especial. Súmula n. 123-STJ. RSSTJ 8/403.

ÍNDICE ANALÍTICO

431RSSTJ, a. 4, (8): 427-436, junho 2010

Decreto n. 20.377/1931, art. 2°, § 1° - Conselho Regional de Farmácia - Inscrição - Exigibilidade - Lei n. 3.820/1960, art. 14, parágrafo único - Lei n. 5.991/1973, art. 15, caput - Ofi cial de farmácia - Responsabilidade técnica. Súmula n. 120-STJ. RSSTJ 8/327.

Decreto n. 64.387/1969, art. 1°, § 3° - Indenização - Vistoria - Inexigibilidade - Mercadoria - Ausência - Responsabilidade civil - Transporte marítimo. Súmula n. 109-STJ. RSSTJ 8/11.

Decreto-Lei n. 3.365/1941, art. 26, § 2°, na redação da Lei n. 4.686/1965 - CF/1988, arts. 5°, XXIV, e 182, § 3° - Correção monetária - Desapropriação direta - Imissão na posse - Indenização - Juros compensatórios - Termo inicial - Lei n. 4.686/1965. Súmula n. 113-STJ. RSSTJ 8/125.

Decreto-Lei n. 3.365/1941, art. 26, § 2°, na redação da Lei n. 4.686/1965 - CF/1988, art. 5°, XXIV, e 182, § 3° - Correção monetária - Desapropriação indireta - Indenização - Juros compensatórios - Lei n. 4.686/1965 - Termo inicial - Ocupação. Súmula n. 114-STJ. RSSTJ 8/163.

Depósito integral em dinheiro - Crédito tributário - Suspensão da exigibilidade - Requisitos - CTN, art. 151, II - Lei n. 6.830/1980, arts. 9°, § 4°; 32 e 38. Súmula n. 112-STJ. RSSTJ 8/103.

Desapropriação direta - CF/1988, arts. 5°, XXIV, e 182, § 3° - Correção monetária - Decreto-Lei n. 3.365/1941, art. 26, § 2°, na redação da Lei n. 4.686/1965 - Imissão na posse - Indenização - Juros compensatórios - Termo inicial - Lei n. 4.686/1965. Súmula n. 113-STJ. RSSTJ 8/125.

Desapropriação indireta - CC, arts. 177 e 550 - Prescrição vintenária. Súmula n. 119-STJ. RSSTJ 8/291.

Desapropriação indireta - CF/1988, art. 5°, XXIV, e 182, § 3° - Correção monetária - Decreto-Lei n. 3.365/1941, art. 26, § 2°, na redação da Lei n. 4.686/1965 - Indenização - Juros compensatórios - Lei n. 4.686/1965 - Termo inicial - Ocupação. Súmula n. 114-STJ. RSSTJ 8/163.

E

Execução fi scal - CPC, arts. 125, I, e 687, § 3° - Intimação pessoal - Devedor - Obrigatoriedade - Lei n. 6.830/1980, art. 1° - Leilão. Súmula n. 121-STJ. RSSTJ 8/347.

F

Fazenda Pública - Agravo regimental - Interposição - CPC, art. 188 - Lei n. 8.038/1990, arts. 28, § 5°, e 39 - Ministério Público - Prazo em dobro. Súmula n. 116-STJ. RSSTJ 8/219.

ÍNDICE ANALÍTICO

432

H

Honorários advocatícios - Isenção - Ação acidentária - CF/1988, art. 5º, LXXIV - CPC, art. 20 - Lei n. 8.213/1991, art. 129, parágrafo único - Segurado. Súmula n. 110-STJ. RSSTJ 8/37.

Honorários advocatícios - Não-incidência - Ação previdenciária - Prestações vincendas - CPC, art. 20, § 5°. Súmula n. 111-STJ. RSSTJ 8/59.

I

Imissão na posse - CF/1988, arts. 5°, XXIV, e 182, § 3° - Correção monetária - Decreto-Lei n. 3.365/1941, art. 26, § 2°, na redação da Lei n. 4.686/1965 - Desapropriação direta - Indenização - Juros compensatórios - Termo inicial - Lei n. 4.686/1965. Súmula n. 113-STJ. RSSTJ 8/125.

Indenização - CF/1988, arts. 5°, XXIV, e 182, § 3° - Correção monetária - Decreto-Lei n. 3.365/1941, art. 26, § 2°, na redação da Lei n. 4.686/1965 - Desapropriação direta - Imissão na posse - Juros compensatórios - Termo inicial - Lei n. 4.686/1965. Súmula n. 113-STJ. RSSTJ 8/125.

Indenização - CF/1988, art. 5°, XXIV, e 182, § 3° - Correção monetária - Decreto-Lei n. 3.365/1941, art. 26, § 2°, na redação da Lei n. 4.686/1965 - Desapropriação indireta - Juros compensatórios - Lei n. 4.686/1965 - Termo inicial - Ocupação. Súmula n. 114-STJ. RSSTJ 8/163.

Indenização - Vistoria - Inexigibilidade - Decreto n. 64.387/1969, art. 1°, § 3° - Mercadoria - Ausência - Responsabilidade civil - Transporte marítimo. Súmula n. 109-STJ. RSSTJ 8/11.

Intimação pessoal - Devedor - Obrigatoriedade - CPC, arts. 125, I, e 687, § 3° - Execução fi scal - Lei n. 6.830/1980, art. 1° - Leilão. Súmula n. 121-STJ. RSSTJ 8/347.

J

Julgamento - Sessão - Partes - Ausência - CPC, arts. 552, § 1°, e 184, § 2° - Nulidade - Pauta - Publicação - Prazo mínimo - Não-observância. Súmula n. 117-STJ. RSSTJ 8/247.

Juros compensatórios - CF/1988, art. 5°, XXIV, e 182, § 3° - Correção monetária - Decreto-Lei n. 3.365/1941, art. 26, § 2°, na redação da Lei n. 4.686/1965 - Desapropriação indireta - Indenização - Lei n. 4.686/1965 - Termo inicial - Ocupação. Súmula n. 114-STJ. RSSTJ 8/163.

Juros compensatórios - Termo inicial - CF/1988, arts. 5°, XXIV, e 182, § 3° - Correção monetária - Decreto-Lei n. 3.365/1941, art. 26, § 2°, na redação da Lei n. 4.686/1965 -

ÍNDICE ANALÍTICO

433RSSTJ, a. 4, (8): 427-436, junho 2010

Desapropriação direta - Imissão na posse - Indenização - Lei n. 4.686/1965. Súmula n. 113-STJ. RSSTJ 8/125.

Justiça Federal - Competência - CPP, art. 78, II, a - Inaplicabilidade - Crimes conexos. Súmula n. 122-STJ. RSSTJ 8/379.

L

Lei n. 3.820/1960, art. 14, parágrafo único - Conselho Regional de Farmácia - Inscrição - Exigibilidade - Decreto n. 20.377/1931, art. 2°, § 1° - Lei n. 5.991/1973, art. 15, caput - Ofi cial de farmácia - Responsabilidade técnica. Súmula n. 120-STJ. RSSTJ 8/327.

Lei n. 4.686/1965 - CF/1988, arts. 5°, XXIV, e 182, § 3° - Correção monetária - Decreto-Lei n. 3.365/1941, art. 26, § 2°, na redação da Lei n. 4.686/1965 - Desapropriação direta - Imissão na posse - Indenização - Juros compensatórios - Termo inicial. Súmula n. 113-STJ. RSSTJ 8/125.

Lei n. 4.686/1965 - CF/1988, art. 5°, XXIV, e 182, § 3° - Correção monetária - Decreto-Lei n. 3.365/1941, art. 26, § 2°, na redação da Lei n. 4.686/1965 - Desapropriação indireta - Indenização - Juros compensatórios - Termo inicial - Ocupação. Súmula n. 114-STJ. RSSTJ 8/163.

Lei n. 5.991/1973, art. 15, caput - Conselho Regional de Farmácia - Inscrição - Exigibilidade - Decreto n. 20.377/1931, art. 2°, § 1° - Lei n. 3.820/1960, art. 14, parágrafo único - Ofi cial de farmácia - Responsabilidade técnica. Súmula n. 120-STJ. RSSTJ 8/327.

Lei n. 6.830/1980, art. 1° - CPC, arts. 125, I, e 687, § 3° - Execução fi scal - Intimação pessoal - Devedor - Obrigatoriedade - Leilão. Súmula n. 121-STJ. RSSTJ 8/347.

Lei n. 6.830/1980, arts. 9°, § 4°; 32 e 38 - Crédito tributário - Suspensão da exigibilidade - Requisitos - CTN, art. 151, II - Depósito integral em dinheiro. Súmula n. 112-STJ. RSSTJ 8/103.

Lei n. 8.038/1990, art. 27, § 1° - CF/1988, arts. 93, IX, e 105, III - Decisão - Fundamentação - Exigibilidade - Pressupostos - Exame - Obrigatoriedade - Recurso especial. Súmula n. 123-STJ. RSSTJ 8/403.

Lei n. 8.038/1990, arts. 28, § 5°, e 39 - Agravo regimental - Interposição - CPC, art. 188 - Fazenda Pública - Ministério Público - Prazo em dobro. Súmula n. 116-STJ. RSSTJ 8/219.

Lei n. 8.213/1991, art. 129, parágrafo único - Ação acidentária - CF/1988, art. 5º, LXXIV - CPC, art. 20 - Honorários advocatícios - Isenção - Segurado. Súmula n. 110-STJ. RSSTJ 8/37.

Leilão - CPC, arts. 125, I, e 687, § 3° - Execução fi scal - Intimação pessoal - Devedor - Obrigatoriedade - Lei n. 6.830/1980, art. 1°. Súmula n. 121-STJ. RSSTJ 8/347.

ÍNDICE ANALÍTICO

434

M

Mercadoria - Ausência - Decreto n. 64.387/1969, art. 1°, § 3° - Indenização - Vistoria - Inexigibilidade - Responsabilidade civil - Transporte marítimo. Súmula n. 109-STJ. RSSTJ 8/11.

Ministério Público - Agravo regimental - Interposição - CPC, art. 188 - Fazenda Pública - Lei n. 8.038/1990, arts. 28, § 5°, e 39 - Prazo em dobro. Súmula n. 116-STJ. RSSTJ 8/219.

N

Nulidade - CPC, arts. 552, § 1°, e 184, § 2° - Julgamento - Sessão - Partes - Ausência - Pauta - Publicação - Prazo mínimo - Não-observância. Súmula n. 117-STJ. RSSTJ 8/247.

O

Ofi cial de farmácia - Conselho Regional de Farmácia - Inscrição - Exigibilidade - Decreto n. 20.377/1931, art. 2°, § 1° - Lei n. 3.820/1960, art. 14, parágrafo único - Lei n. 5.991/1973, art. 15, caput - Responsabilidade técnica. Súmula n. 120-STJ. RSSTJ 8/327.

P

Pauta - Publicação - Prazo mínimo - Não-observância - CPC, arts. 552, § 1°, e 184, § 2° - Julgamento - Sessão - Partes - Ausência - Nulidade. Súmula n. 117-STJ. RSSTJ 8/247.

Prazo em dobro - Agravo regimental - Interposição - CPC, art. 188 - Fazenda Pública - Lei n. 8.038/1990, arts. 28, § 5°, e 39 - Ministério Público. Súmula n. 116-STJ. RSSTJ 8/219.

Prescrição vintenária - CC, arts. 177 e 550 - Desapropriação indireta. Súmula n. 119-STJ. RSSTJ 8/291.

Pressupostos - Exame - Obrigatoriedade - CF/1988, arts. 93, IX, e 105, III - Decisão - Fundamentação - Exigibilidade - Lei n. 8.038/1990, art. 27, § 1° - Recurso especial. Súmula n. 123-STJ. RSSTJ 8/403.

Procuração - Ausência - CPC, art. 37 - Recurso - Inexistência - Representação processual - Nulidade. Súmula n. 115-STJ. RSSTJ 8/181.

ÍNDICE ANALÍTICO

435RSSTJ, a. 4, (8): 427-436, junho 2010

R

Recurso - Inexistência - CPC, art. 37 - Procuração - Ausência - Representação processual - Nulidade. Súmula n. 115-STJ. RSSTJ 8/181.

Recurso especial - CF/1988, arts. 93, IX, e 105, III - Decisão - Fundamentação - Exigibilidade - Lei n. 8.038/1990, art. 27, § 1° - Pressupostos - Exame - Obrigatoriedade. Súmula n. 123-STJ. RSSTJ 8/403.

Representação processual - Nulidade - CPC, art. 37 - Procuração - Ausência - Recurso - Inexistência. Súmula n. 115-STJ. RSSTJ 8/181.

Responsabilidade civil - Decreto n. 64.387/1969, art. 1°, § 3° - Indenização - Vistoria - Inexigibilidade - Mercadoria - Ausência - Transporte marítimo. Súmula n. 109-STJ. RSSTJ 8/11.

Responsabilidade técnica - Conselho Regional de Farmácia - Inscrição - Exigibilidade - Decreto n. 20.377/1931, art. 2°, § 1° - Lei n. 3.820/1960, art. 14, parágrafo único - Lei n. 5.991/1973, art. 15, caput - Ofi cial de farmácia. Súmula n. 120-STJ. RSSTJ 8/327.

S

Segurado - Ação acidentária - CF/1988, art. 5º, LXXIV - CPC, art. 20 - Honorários advocatícios - Isenção - Lei n. 8.213/1991, art. 129, parágrafo único. Súmula n. 110-STJ. RSSTJ 8/37.

Sentença homologatória - Agravo de instrumento - Recurso cabível - Cálculo de liquidação - Atualização. Súmula n. 118-STJ. RSSTJ 8/271.

Súmula n. 109-STJ - Decreto n. 64.387/1969, art. 1°, § 3° - Indenização - Vistoria - Inexigibilidade - Mercadoria - Ausência - Responsabilidade civil - Transporte marítimo. RSSTJ 8/11.

Súmula n. 110-STJ - Ação acidentária - CF/1988, art. 5º, LXXIV - CPC, art. 20 - Honorários advocatícios - Isenção - Lei n. 8.213/1991, art. 129, parágrafo único - Segurado. RSSTJ 8/37.

Súmula n. 111-STJ - Ação previdenciária - Prestações vincendas - CPC, art. 20, § 5° - Honorários advocatícios - Não-incidência. RSSTJ 8/59.

Súmula n. 112-STJ - Crédito tributário - Suspensão da exigibilidade - Requisitos - CTN, art. 151, II - Depósito integral em dinheiro - Lei n. 6.830/1980, arts. 9°, § 4°; 32 e 38. RSSTJ 8/103.

Súmula n. 113-STJ - CF/1988, arts. 5°, XXIV, e 182, § 3° - Correção monetária - Decreto-Lei n. 3.365/1941, art. 26, § 2°, na redação da Lei n. 4.686/1965 - Desapropriação direta - Imissão na posse - Indenização - Juros compensatórios - Termo inicial - Lei n. 4.686/1965. RSSTJ 8/125.

ÍNDICE ANALÍTICO

436

Súmula n. 114-STJ - CF/1988, art. 5°, XXIV, e 182, § 3° - Correção monetária - Decreto-Lei n. 3.365/1941, art. 26, § 2°, na redação da Lei n. 4.686/1965 - Desapropriação indireta - Indenização - Juros compensatórios - Lei n. 4.686/1965 - Termo inicial - Ocupação. RSSTJ 8/163.

Súmula n. 115-STJ - CPC, art. 37 - Procuração - Ausência - Recurso - Inexistência - Representação processual - Nulidade. RSSTJ 8/181.

Súmula n. 116-STJ - Agravo regimental - Interposição - CPC, art. 188 - Fazenda Pública - Lei n. 8.038/1990, arts. 28, § 5°, e 39 - Ministério Público - Prazo em dobro. RSSTJ 8/219.

Súmula n. 117-STJ - CPC, arts. 552, § 1°, e 184, § 2° - Julgamento - Sessão - Partes - Ausência - Nulidade - Pauta - Publicação - Prazo mínimo - Não-observância. RSSTJ 8/247.

Súmula n. 118-STJ - Agravo de instrumento - Recurso cabível - Cálculo de liquidação - Atualização - Sentença homologatória. RSSTJ 8/271.

Súmula n. 119-STJ - CC, arts. 177 e 550 - Desapropriação indireta - Prescrição vintenária. RSSTJ 8/291.

Súmula n. 120-STJ - Conselho Regional de Farmácia - Inscrição - Exigibilidade - Decreto n. 20.377/1931, art. 2°, § 1° - Lei n. 3.820/1960, art. 14, parágrafo único - Lei n. 5.991/1973, art. 15, caput - Ofi cial de farmácia - Responsabilidade técnica. RSSTJ 8/327.

Súmula n. 121-STJ - CPC, arts. 125, I, e 687, § 3° - Execução fi scal - Intimação pessoal - Devedor - Obrigatoriedade - Lei n. 6.830/1980, art. 1° - Leilão. RSSTJ 8/347.

Súmula n. 122-STJ - Competência - CPP, art. 78, II, a - Inaplicabilidade - Crimes conexos - Justiça Federal. RSSTJ 8/379.

Súmula n. 123-STJ - CF/1988, arts. 93, IX, e 105, III - Decisão - Fundamentação - Exigibilidade - Lei n. 8.038/1990, art. 27, § 1° - Pressupostos - Exame - Obrigatoriedade - Recurso especial. RSSTJ 8/403.

T

Termo inicial - Ocupação - CF/1988, art. 5°, XXIV, e 182, § 3° - Correção monetária - Decreto-Lei n. 3.365/1941, art. 26, § 2°, na redação da Lei n. 4.686/1965 - Desapropriação indireta - Indenização - Juros compensatórios - Lei n. 4.686/1965. Súmula n. 114-STJ. RSSTJ 8/163.

Transporte marítimo - Decreto n. 64.387/1969, art. 1°, § 3° - Indenização - Vistoria - Inexigibilidade - Mercadoria - Ausência - Responsabilidade civil. Súmula n. 109-STJ. RSSTJ 8/11.

Índice Sistemático

SÚMULA 109

REsp 5.586-RS .............Rel. Min. Athos Carneiro .............................. RSSTJ 8/15REsp 18.972-RJ ............Rel. Min. Eduardo Ribeiro ............................ RSSTJ 8/21REsp 35.474-RJ ............Rel. Min. Cláudio Santos .............................. RSSTJ 8/23REsp 35.598-RS ...........Rel. Min. Waldemar Zveiter .......................... RSSTJ 8/26REsp 39.469-RS ...........Rel. Min. Fontes de Alencar .......................... RSSTJ 8/30REsp 46.785-RS ...........Rel. Min. Costa Leite .................................... RSSTJ 8/33

SÚMULA 110

REsp 27.951-SP ............Rel. Min. José Dantas .................................... RSSTJ 8/41REsp 36.047-MG .........Rel. Min. Jesus Costa Lima ........................... RSSTJ 8/44REsp 38.233-MG .........Rel. Min. José Cândido de Carvalho Filho .... RSSTJ 8/48REsp 39.758-MG .........Rel. Min. Assis Toledo ................................... RSSTJ 8/50REsp 41.738-MG .........Rel. Min. Flaquer Scartezzini ........................ RSSTJ 8/52REsp 43.320-MG .........Rel. Min. Adhemar Maciel ............................ RSSTJ 8/55

SÚMULA 111

EREsp 187.766-SP .......Rel. Min. Fernando Gonçalves ...................... RSSTJ 8/63EREsp 195.520-SP .......Rel. Min. Felix Fischer .................................. RSSTJ 8/66EREsp 198.260-SP .......Rel. Min. Gilson Dipp ................................... RSSTJ 8/69EREsp 202.291-SP .......Rel. Min. Hamilton Carvalhido .................... RSSTJ 8/73REsp 329.536-SP ..........Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca ................ RSSTJ 8/76REsp 332.268-RS .........Rel. Min. Edson Vidigal ................................ RSSTJ 8/85REsp 392.348-RS .........Rel. Min. Vicente Leal .................................. RSSTJ 8/90REsp 401.127-SP ..........Rel. Min. Jorge Scartezzini ............................ RSSTJ 8/95

ÍNDICE SISTEMÁTICO

440

SÚMULA 112

RMS 1.267-AM............Rel. Min. José de Jesus Filho ....................... RSSTJ 8/107RMS 1.269-AM............Rel. Min. Demócrito Reinaldo .................... RSSTJ 8/110REsp 8.764-SP ..............Rel. Min. Garcia Vieira ............................... RSSTJ 8/114REsp 10.215-SP ............Rel. Min. Hélio Mosimann ......................... RSSTJ 8/116REsp 30.610-SP ............Rel. Min. Milton Pereira.............................. RSSTJ 8/118

SÚMULA 113

EREsp 36.130-SP .........Rel. Min. Humberto Gomes de Barros ....... RSSTJ 8/129EREsp 40.042-SP .........Rel. Min. Cesar Asfor Rocha ....................... RSSTJ 8/141REsp 26.162-SP ............Rel. Min. Hélio Mosimann ......................... RSSTJ 8/144REsp 36.877-SP ............Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro ........... RSSTJ 8/147REsp 43.085-SP ............Rel. Min. Américo Luz ................................ RSSTJ 8/152REsp 44.134-SP ............Rel. Min. José de Jesus Filho ....................... RSSTJ 8/155REsp 44.454-SP ............Rel. Min. Demócrito Reinaldo .................... RSSTJ 8/157

SÚMULA 114

REsp 2.101-PR .............Rel. Min. Hélio Mosimann ......................... RSSTJ 8/167REsp 25.201-PR ...........Rel. Min. Humberto Gomes de Barros ....... RSSTJ 8/170REsp 38.970-SP ............Rel. Min. Peçanha Martins .......................... RSSTJ 8/174REsp 43.796-SP ............Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro ........... RSSTJ 8/176

SÚMULA 115

AgRg no Ag 29.236-SP .........................Rel. Min. Milton Pereira.............................. RSSTJ 8/185AgRg no Ag 30.567-SP ......................Rel. Min. Demócrito Reinaldo .................... RSSTJ 8/188AgRg no Ag 37.804-RS ......................Rel. Min. Sálvio de Figueiredo .................... RSSTJ 8/191AgRg no Ag 39.290-SP ......................Rel. Min. Antônio Torreão Braz .................. RSSTJ 8/198AgRg no Ag 45.488-MG ...................Rel. Min. Fontes de Alencar ........................ RSSTJ 8/200EREsp 35.778-SP .........Rel. Min. Dias Trindade .............................. RSSTJ 8/203REsp 7.240-RJ ..............Rel. Min. Eduardo Ribeiro .......................... RSSTJ 8/205REsp 11.146-PE ...........Rel. Min. Cesar Asfor Rocha ....................... RSSTJ 8/207REsp 14.851-SP ............Rel. Min. Peçanha Martins .......................... RSSTJ 8/210REsp 34.327-SP ............Rel. Min. Waldemar Zveiter ........................ RSSTJ 8/213

ÍNDICE SISTEMÁTICO

441RSSTJ, a. 4, (8): 437-442, junho 2010

SÚMULA 116

IUJ no AgRg no Ag10.146 ............................Rel. Min. Cesar Asfor Rocha ....................... RSSTJ 8/223

SÚMULA 117

REsp 6.481-SP ..............Rel. Min. José de Jesus Filho ....................... RSSTJ 8/251REsp 6.880-SP ..............Rel. Min. Sálvio de Figueiredo .................... RSSTJ 8/253REsp 8.415-SP ..............Rel. Min. Garcia Vieira ............................... RSSTJ 8/257REsp 8.478-SP ..............Rel. Min. Fontes de Alencar ........................ RSSTJ 8/260REsp 14.818-BA ...........Rel. Min. Waldemar Zveiter ........................ RSSTJ 8/263REsp 23.650-SP ............Rel. Min. Barros Monteiro .......................... RSSTJ 8/269

SÚMULA 118

IUJ no REsp 10.146 ............................Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro ........... RSSTJ 8/275

SÚMULA 119

REsp 4.009-SP ..............Rel. Min. Ilmar Galvão ................................ RSSTJ 8/295REsp 7.188-SP ..............Rel. Min. Garcia Vieira ............................... RSSTJ 8/297REsp 7.553-SP ..............Rel. Min. Milton Luiz Pereira ..................... RSSTJ 8/300REsp 8.488-PR .............Rel. Min. Peçanha Martins .......................... RSSTJ 8/305REsp 17.041-GO ..........Rel. Min. José de Jesus Filho ....................... RSSTJ 8/308REsp 20.213-SP ............Rel. Min. Demócrito Reinaldo .................... RSSTJ 8/312REsp 30.674-SP ............Rel. Min. Humberto Gomes de Barros ....... RSSTJ 8/315REsp 33.399-SP ............Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro ........... RSSTJ 8/319REsp 36.954-RJ ............Rel. Min. Américo Luz ................................ RSSTJ 8/322

SÚMULA 120

REsp 32.533-SP ............Rel. Min. Humberto Gomes de Barros ....... RSSTJ 8/331REsp 35.351-SP ............Rel. Min. Demócrito Reinaldo .................... RSSTJ 8/332REsp 36.806-SP ............Rel. Min. Hélio Mosimann ......................... RSSTJ 8/336REsp 37.205-SP ............Rel. Min. Antônio de Pádua Ribeiro ........... RSSTJ 8/338REsp 39.921-SP ............Rel. Min. Américo Luz ................................ RSSTJ 8/341REsp 41.782-SP ............Rel. Min. José de Jesus Filho ....................... RSSTJ 8/344

SÚMULA 121

REsp 3.255-BA .............Rel. Min. Milton Luiz Pereira ..................... RSSTJ 8/351REsp 13.084-SP ............Rel. Min. Américo Luz ................................ RSSTJ 8/364REsp 15.003-SP ............Rel. Min. Hélio Mosimann ......................... RSSTJ 8/367REsp 17.105-SP ............Rel. Min. Garcia Vieira ............................... RSSTJ 8/369REsp 31.764-SP ............Rel. Min. Demócrito Reinaldo .................... RSSTJ 8/372REsp 35.934-SP ............Rel. Min. José de Jesus Filho ....................... RSSTJ 8/375

ÍNDICE SISTEMÁTICO

442

SÚMULA 122

CC 258-SP ....................Rel. Min. José Cândido................................ RSSTJ 8/383CC 2.196-PR ................Rel. Min. Edson Vidigal .............................. RSSTJ 8/388CC 2.691-SP .................Rel. Min. Adhemar Maciel .......................... RSSTJ 8/391CC 3.210-DF ................Rel. Min. Jesus Costa Lima ......................... RSSTJ 8/393CC 7.354-PB ................Rel. Min. José Dantas .................................. RSSTJ 8/397HC 1.944-SP ................Rel. Min. Flaquer Scartezzini ...................... RSSTJ 8/400

SÚMULA 123

Ag 3.651-SP ..................Rel. Min. Américo Luz ................................ RSSTJ 8/407AgRg no Ag12.235-MG ...................Rel. Min. Eduardo Ribeiro .......................... RSSTJ 8/409REsp 948-GO ...............Rel. Min. Nilson Naves ................................ RSSTJ 8/412REsp 2.036-RJ ..............Rel. Min. Carlos Mário Velloso ................... RSSTJ 8/415REsp 8.341-SP ..............Rel. Min. Peçanha Martins .......................... RSSTJ 8/418

Siglas e Abreviaturas

AC Apelação Cível

Adm Administrativo

Ag Agravo de Instrumento

AgRg Agravo Regimental

AI Argüição de Inconstitucionalidade

Ana Agência Nacional de Águas

Anatel Agência Nacional de Telecomunicações

Aneel Agência Nacional de Energia Elétrica

APn Ação Penal

AR Ação Rescisória

CAt Confl ito de Atribuições

CC Código Civil

CC Confl ito de Competência

CCm Código Comercial

Cm Comercial

CNE Conselho Nacional de Educação

Com Comunicação

CP Código Penal

CPC Código de Processo Civil

CDC Código de Proteção e Defesa do

Consumidor

CPP Código de Processo Penal

CR Carta Rogatória

CRI Carta Rogatória Impugnada

Ct Constitucional

CTB Código de Trânsito Brasileiro

CTN Código Tributário Nacional

Cv Civil

D Decreto

DL Decreto-Lei

SIGLAS E ABREVIATURAS

446

DNAEE Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica

E Ementário da Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça

EAC Embargos Infringentes em Apelação Cível

EAR Embargos Infringentes em Ação Rescisória

EAg Embargos de Divergência no Agravo

EC Emenda Constitucional

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

EDcl Embargos de Declaração

EJSTJ Ementário da Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça

El Eleitoral

EREsp Embargos de Divergência em Recurso Especial

ERMS Embargos Infringentes no Recurso em Mandado de

Segurança

ExImp Exceção de Impedimento

ExSusp Exceção de Suspeição

ExVerd Exceção da Verdade

ExecAR Execução em Ação Rescisória

ExecMC Execução em Medida Cautelar

ExecMS Execução em Mandado de Segurança

HC Habeas Corpus

HD Habeas Data

HSE Homologação de Sentença Estrangeira

IDC Incidente de Deslocamento de Competência

IExec Incidente de Execução

IF Intervenção Federal

IJ Interpelação Judicial

Inq Inquérito

IPVA Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores

IUJ Incidente de Uniformização de Jurisprudência

LC Lei Complementar

SIGLAS E ABREVIATURAS

447RSSTJ, a. 4, (8): 443-448, junho 2010

LCP Lei das Contravenções Penais

Loman Lei Orgânica da Magistratura

LONMP Lei Orgânica Nacional do Ministério Público

MC Medida Cautelar

MC Ministério das Comunicações

MI Mandado de Injunção

MS Mandado de Segurança

NC Notícia-Crime

PA Processo Administrativo

Pet Petição

PExt Pedido de Extensão

Pn Penal

Prc Precatório

PrCv Processual Civil

PrPn Processual Penal

Pv Previdenciário

QO Questão de Ordem

R Revista do Superior Tribunal de Justiça

Rcl Reclamação

RE Recurso Extraordinário

REsp Recurso Especial

RHC Recurso em Habeas Corpus

RHD Recurso em Habeas Data

RMI Recurso em Mandado de Injunção

RMS Recurso em Mandado de Segurança

RO Recurso Ordinário

Rp Representação

RSTJ Revista do Superior Tribunal de Justiça

RvCr Revisão Criminal

S Súmula

SIGLAS E ABREVIATURAS

448

SAF Secretaria de Administração Federal

Sd Sindicância

SEC Sentença Estrangeira Contestada

SF Senado Federal

SL Suspensão de Liminar

SLS Suspensão de Liminar e de Sentença

SS Suspensão de Segurança

STA Suspensão de Tutela Antecipada

Tr Trabalho

Trbt Tributário

Repositórios Autorizados e Credenciados pelo

Superior Tribunal de Justiça

REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

01. Lex – Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça – editada pela Lex Editora S.A. – Portaria n. 1, de 19.08.1985 – DJ 21.08.1985 – Registro revalidado – Edital de 20.10.1989 – DJ 24.10.1989.

02. Revista de Direito Administrativo – editada pela Editora Renovar Ltda. – Portaria n. 2, de 19.08.1985 – DJ 21.08.1985 – Registro cancelado – Portaria n. 1, de 05.09.2007 – DJ 19.09.2007.

03. Revista LTr – Legislação do Trabalho e Previdência Social – editada pela LTr Editora Ltda. – Portaria n. 5, de 26.08.1985 – DJ 28.08.1985 – Registro revalidado – Edital de 20.10.1989 – DJ 24.10.1989.

04. Jurisprudência Brasileira Cível e Comércio – editada pela Juruá Editora Ltda. – Portaria n. 6, de 09.09.1985 – DJ 12.09.1985 – Registro cancelado – Portaria n. 1, de 09.02.2006 – DJ 15.02.2006.

05. Julgados dos Tribunais Superiores – editada pela Editora Jurid Vellenich Ltda. – Portaria n. 7, de 06.11.1987 – DJ 10.11.1987 – Registro cancelado – Portaria n. 2, de 06.03.2001 – DJ 09.03.2001.

06. Revista de Doutrina e Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios – Portaria n. 1, de 29.11.1989 – DJ 1º.12.1989 - Registro alterado/retifi cado – Portaria n. 3, de 19.06.2002 – DJ de 25.06.2002.

07. Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul – Portaria n. 1, de 08.02.1990 – DJ 12.02.1990 - Registro alterado - Portaria n. 3, de 19.03.2010 - DJe 22.03.2010.

08. Revista Jurídica Mineira – Portaria n. 3, de 02.04.1990 – DJ 04.04.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 4, de 13.05.1999 – DJ 04.06.1999.

09. Revista Jurídica – editada por Notadez Informação Ltda. – Portaria n. 4, de 02.04.1990 – DJ 04.04.1990.

10. Julgados do Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul – Portaria n. 5, de 02.05.1990 – DJ 09.05.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 8, de 16.11.2000 – DJ 24.11.2000.

11. Revista de Processo – editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. – Portaria n. 6, de 31.05.1990 – DJ 06.06.1990.

12. Revista de Direito Civil – editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. – Portaria n. 7, de 31.05.1990 – DJ 06.06.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 4, de 06.06.2000 – DJ 09.06.2000.

13. Revista dos Tribunais – editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. – Portaria n. 8, de 31.05.1990 – DJ 06.06.1990.

REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ

452

14. Revista de Direito Público – editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. – Portaria n. 9, de 31.05.1990 – DJ 06.06.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 5, de 11.06.2001 – DJ 19.06.2001.

15. Revista Ciência Jurídica – editada pela Editora Nova Alvorada Edições Ltda. – Portaria n. 10, de 21.08.1990 – DJ 24.08.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 2, de 04.07.2003 – DJ 14.07.2003.

16. Revista Jurisprudência Mineira – editada pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais – Portaria n. 12, de 10.09.1990 – DJ 12.09.1990.

17. Revista de Julgados do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais – Portaria n. 13, de 17.12.1990 – DJ 19.12.1990 – Registro cancelado – Portaria n. 10, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

18. Jurisprudência Catarinense – editada pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina – Portaria n. 1, de 22.05.1991 – DJ 27.05.1991.

19. Revista IOB Trabalhista e Previdenciária – editada pela IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 3, de 16.09.1991 – DJ 20.09.1991 – Registro retifi cado – Portaria n. 9, de 22.11.2006 – DJ 11.12.2006.

20. Lex – Jurisprudência dos Tribunais de Alçada Civil de São Paulo – editada pela Lex Editora S.A. – Portaria n. 1, de 10.03.1992 – DJ 13.03.1992 – Registro cancelado – Portaria n. 6, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

21. Jurisprudência do Tribunal de Justiça – editada pela Lex Editora S.A. – Portaria n. 2, de 10.03.1992 – DJ 13.03.1992 – Registro retifi cado – Portaria n. 9, de 16.11.2000 – DJ 24.11.2000.

22. Lex – Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal – editada pela Lex Editora S.A. – Portaria n. 2, de 10.03.1992 – DJ 13.03.1992.

23. Revista de Previdência Social – editada pela LTr Editora Ltda. – Portaria n. 4, de 20.04.1992 – DJ 24.04.1992.

24. Revista Forense – editada pela Editora Forense – Portaria n. 5, de 22.06.1992 – DJ 06.07.1992.

25. Revista Trimestral de Jurisprudência dos Estados – editada pela Editora Jurid Vellenich Ltda. – Portaria n. 6, de 06.11.1992 – DJ 10.11.1992 – Registro cancelado – Portaria n. 3, de 04.07.2003 – DJ 14.07.2003.

26. Série – Jurisprudência ADCOAS – editada pela Editora Esplanada Ltda. – Portaria n. 1, de 18.02.1993 – DJ 25.02.1993 – Registro cancelado – Portaria n. 2, de 23.08.2004 – DJ 26.08.2004.

27. Revista Ata – Arquivos dos Tribunais de Alçada do Estado do Rio de Janeiro – Portaria n. 2, de 11.02.1994 – DJ 18.02.1994 – Registro cancelado – Portaria n. 3, de 04.05.1999 – DJ 18.05.1999.

REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ

453RSSTJ, a. 4, (8): 449-455, junho 2010

28. Revista do Tribunal Regional Federal da 4ª Região – editada pela Livraria do Advogado Ltda. – Portaria n. 3, de 02.03.1994 – DJ 07.03.1994.

29. Revista de Direito do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro – Portaria n. 4, de 15.06.1994 – DJ 17.06.1994.

30. Genesis – Revista de Direito do Trabalho – editada pela Genesis Editora – Portaria n. 5, de 14.09.1994 – DJ 16.09.1994 – Registro cancelado – Portaria n. 4, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

31. Decisório Trabalhista – editada pela Editora Decisório Trabalhista Ltda. – Portaria n. 6, de 02.12.1994 – DJ 06.12.1994.

32. Revista de Julgados e Doutrina do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo – Portaria n. 1, de 18.12.1995 – DJ 20.12.1995 – Registro cancelado – Portaria n. 5, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

33. Revista do Tribunal Regional Federal da 3ª Região – editada pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região – Portaria n. 1, de 11.04.1996 – DJ 22.04.1996.

34. Lex – Jurisprudência do Tribunal Federal de Recursos – editada pela Lex Editora S.A. – Portaria n. 2, de 29.04.1996 – DJ 02.05.1996 – Registro cancelado – Portaria n. 11, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

35. Revista de Direito Renovar – editada pela Editora Renovar Ltda. – Portaria n. 3, de 12.08.1996 – DJ 15.08.1996.

36. Revista Dialética de Direito Tributário – editada pela Editora Oliveira Rocha Comércio e Serviços Ltda. – Portaria n. 1, de 16.06.1997 – DJ 23.06.1997.

37. Revista do Ministério Público – Portaria n. 1, de 26.10.1998 – DJ 05.11.1998 – Registro retifi cado – Portaria n. 9, de 14.06.1999 – DJ 22.06.1999.

38. Revista Jurídica Consulex – editada pela Editora Consulex Ltda. – Portaria n. 1, de 04.02.1999 – DJ 23.02.1999 – Republicada em 25.02.1999 – Registro cancelado – Portaria n. 1, de 06.03.2001 – DJ 09.03.2001.

39. Genesis – Revista de Direito Processual Civil – editada pela Genesis Editora – Portaria n. 2, de 12.04.1999 – DJ 15.04.1999 – Registro cancelado – Portaria n. 3, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

40. Jurisprudência Brasileira Criminal – editada pela Juruá Editora Ltda. – Portaria n. 6, de 14.06.1999 – DJ 22.06.1999 – Registro cancelado – Portaria n. 2, de 09.02.2006 – DJ 15.02.2006.

41. Jurisprudência Brasileira Trabalhista – editada pela Juruá Editora Ltda. – Portaria n. 7, de 14.06.1999 – DJ 22.06.1999 – Registro cancelado – Portaria n. 3, de 09.02.2006 – DJ 15.02.2006.

42. Revista de Estudos Tributários – editada pela IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 8, de 14.06.1999 – DJ 22.06.1999.

REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ

454

43. Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça – editada pela Editora Brasília Jurídica Ltda. – Portaria n. 10, de 29.06.1999 – DJ 05.07.1999 – Registro cancelado – Portaria n. 1, de 23.08.2004 – DJ 26.08.2004.

44. Revista Interesse Público – editada pela Editora Fórum Ltda. – Portaria n. 1, de 14.03.2000 – DJ 21.03.2000.

45. Revista IOB de Direito Civil e Processual Civil – editada pela IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 2, de 14.03.2000 – DJ 21.03.2000 – Registro retifi cado – Portaria n. 9, de 22.11.2006 – DJ 11.12.2006.

46. Revista IOB de Direito de Família – editada pela IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 3, de 29.03.2000 – DJ 03.04.2000 – Registro retifi cado – Portaria n. 2, de 14.09.2009 – DJe 15.09.2009

47. Revista ADCOAS Previdenciária – editada pela Editora Esplanada Ltda. – ADCOAS – Portaria n. 5, de 21.06.2000 – DJ 27.06.2000 – Registro cancelado – Portaria n. 8, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

48. Revista ADCOAS Trabalhista – editada pela Editora Esplanada Ltda. – ADCOAS – Portaria n. 6, de 21.06.2000 – DJ 27.06.2000 – Registro cancelado – Portaria n. 7, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

49. Revista de Jurisprudência ADCOAS – editada pela Editora Esplanada Ltda. – ADCOAS – Portaria n. 7, de 21.06.2000 – DJ 27.06.2000 – Registro cancelado – Portaria n. 9, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

50. Revista IOB de Direito Penal e Processual Penal – editada pela IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. – Portaria n. 4, de 06.03.2001 – DJ 09.03.2001 – Registro retifi cado – Portaria n. 9, de 22.11.2006 – DJ 11.12.2006.

51. Revista Tributária e de Finanças Públicas – editada pela Editora Revista dos Tribunais – Portaria n. 6, de 11.06.2001 – DJ 19.06.2001.

52. Revista Nacional de Direito e Jurisprudência – editada pela Nacional de Direito Livraria Editora Ltda. – Portaria n. 1, de 08.04.2002 – DJ 02.05.2002 – Republicada em 19.04.2002 – Registro cancelado – Portaria n. 1, de 31.07.2009 - DJe 05.08.2009.

53. Revista do Tribunal Regional Federal da 5ª Região – editada pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região – Portaria n. 2, de 23.04.2002 – DJ 02.05.2002 - Registro cancelado - Portaria n. 5, de 09.04.2010 - DJe 18.04.2010.

54. Revista Dialética de Direito Processual – editada pela Editora Oliveira Rocha Comércio e Serviços Ltda. – Portaria n. 1, de 30.06.2003 – DJ 07.07.2003.

55. Revista Juris Plenum – editada pela Editora Plenum Ltda. – Portaria n. 1, de 23.05.2005 – DJ 30.05.2005.

56. Revista Bonijuris – co-editada pelo Instituto de Pesquisas Jurídicas Bonijuris, Associação dos Magistrados do Paraná (Amapar), Associação dos Magistrados Catarinense (AMC) e Associação dos Magistrados do Trabalho IX e XII (Amatra) – Portaria n. 2, de 18.10.2005 – DJ 27.10.2005.

REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ

455RSSTJ, a. 4, (8): 449-455, junho 2010

57. Revista Juris Plenum Trabalhista e Previdenciária – editada pela Editora Plenum Ltda. – Portaria n. 3, de 16.12.2005 – DJ 08.02.2006.

58. Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal – editada pela Editora Magister Ltda. – Portaria n. 4, de 02.08.2006 – DJ 09.08.2006.

59. CD-ROM – Jur Magister – editado pela Editora Magister Ltda. – Portaria n. 5, de 09.08.2006 – DJ 15.08.2006.

60. DVD – Magister – editado pela Editora Magister Ltda. – Portaria n. 6, de 09.08.2006 – DJ 15.08.2006.

61. Revista Previdenciária e Trabalhista Gazetajuris – editada pela Editora Portal Jurídico Ltda. – Portaria n. 7, de 09.08.2006 – DJ 15.08.2006 – Registro cancelado – Portaria n. 2, de 08.10.2007 – DJ 18.10.2007.

62. CD-ROM – Gazetajuris – editado pela Editora Portal Jurídico Ltda. – Portaria n. 8, de 02.10.2006 – DJ 04.10.2006 – Registro cancelado – Portaria n. 6, de 12.11.2008 – DJe 17.11.2008.

63. Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil – editada pela Editora Magister Ltda. – Portaria n. 1, de 1º.02.2008 – DJ 11.02.2008.

64. Revista Brasileira de Direito Tributário e Finanças Públicas – editada pela Editora Magister Ltda. – Portaria n. 2, de 1º.02.2008 – DJ 11.02.2008.

65. Revista Brasileira de Direito das Famílias e Sucessões – editada pela Editora Magister Ltda. – Portaria n. 4, de 10.10.2008 – DJe 15.10.2008.

66. Revista de Direito Tributário da Associação Paulista de Estudos Tributários – editada pela MP Editora Ltda. – Portaria n. 5, de 30.10.2008 – DJe 07.11.2008.

67. Portal da Rede Mundial de Computadores “editoramagister.com” – editado pela Editora Magister Ltda. – Portaria n. 7, de 15.12.2008 – DJe 17.12.2008.

68. “Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul” (versão eletrônica) - Portal da Rede Mundial de Computadores - endereço eletrônico: htpps://www.tjrs.jus.br/site/publicacoes/revista_da_jurisprudencia/ - editada pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Grande do Sul - Portaria n. 1, de 18.02.2010 - DJe 24.02.2010 - Registro retifi cado e ratifi cado - Portaria n. 4, de 19.03.2010 - DJe 22.03.2010.

69. Portal da Rede Mundial de Computadores - “jusisprudência-online” - editada pela Associação dos Advogados de São Paulo - Portaria n. 2, de 18.02.2010 - DJe 24.02.2010.

70. Revista do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (versão eletrônica) - Portal da Rede Mundial de Computadores - endereço eletrônico: https://www.trf5.jus.br/revista_jurisprudencia/- editado pelo Tribunal Federal Regional da 5ª Região - Portaria n. 5, de 09.04.2010 - DJe 13.04.2010.

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ImpressãoCapa: Gráfi ca do Conselho da Justiça Federal - CJFMiolo: Seção de Reprografi a e Encadernação - STJ