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Exploração predatória ameaça caatinga, lar do AMBIENTE revista do meio Rebia Rede Brasileira de Informação Ambiental Acesse: www.revistadomeioambiente.org.br ano VIII • maio 2013 59 9772236101004 ISSN 2236-1014 Diálogo abre caminho para reduzir danos em Barcarena Demanda por madeira deve triplicar até 2050 A geração 400 ppm Afinal, empresa sustentável dá lucro? mascote da Copa

Revista do Meio Ambiente 59

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Edição 59 da Revista do Meio Ambiente

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Exploração predatória ameaça caatinga, lar do

ambienterevista do meioRebia Rede Brasileira de Informação Ambiental

Acesse: www.revistadomeioambiente.org.br

ano

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9772236101004

ISSN 2236-1014

Diálogo abre caminho para reduzir danos em BarcarenaDemanda por madeira deve triplicar até 2050

A geração 400 ppm

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capa12 Em defesa da caatinga por Serviço Florestal Brasileiro

13 Exploração predatória ameaça caatinga, lar do tatu-bola, mascote da Copa

sustentabilidade14 Afi nal, empresa sustentável dá lucro? por Jorge Abrahão

especial24 Diálogo abre caminho para reduzir danos em Barcarena por Savio de Tarso / Envolverde

árvores28 Demanda por madeira deve triplicar até 2050 por WWF Brasil

mudanças climáticas30 A geração 400 ppm por Leonardo Boff / André Trigueiro 28

• Saiba mais sobre a Rebia: www.portaldomeioambiente.org.br/pma/rebia-OSC/o-que-e-a-rebia.html

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Rebia – Rede Brasileira de Informação Ambiental: organização da sociedade civil, sem fi ns lucrativos, com a missão de contribuir para a formação e mobilização da Cidadania Ambiental planetária através da democratização da informação ambiental e da educação ambiental com atuação em todo o território nacional, editando e distribuindo gratuitamente a Revista do Meio Ambiente e o Portal do Meio Ambiente. CNPJ: 05.291.019/0001-58. Sede: Trav. Gonçalo Ferreira, 777 - casarão da Ponta da Ilha, Jurujuba - Niterói, RJ - 24370-290 – Site: www.rebia.org.br

Pessoa JurídicaA Rebia mantém parceria com uma rede solidária de OSCIPs (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) que respondem juridicamente pela fi nanças dos veículos de comunicação e projetos da Rebia:• Prima – Mata Atlântica e Sustentabilidade(Ministério da Justiça - registro nº 08015.011781/2003-61) – CNPJ: 06.034.803/0001-43 • Sede: R. Fagundes Varela, nº 305/1032, Ingá, Niterói, RJ - CEP: 24210-520 • Inscrição estadual: Isenta e inscrição Municipal: 131974-0www.prima.org.br

Conselho Consultivo e Editorial

Adalberto Marcondes, Aristides Arthur Soffi ati, Bernardo Niskier, Carlos A. Muniz, David Man Wai Zee, Flávio L. de Souza, Keylah Tavares, Luiz A. Prado, Paulo Braga, Ricardo Harduim, Rogério Álvaro S. de Castro, Rogério Ruschel

Redação: Tv. Gonçalo Ferreira, 777 - casarão da Ponta da Ilha, Jurujuba - Niterói, RJ - 24370-290 • Tel.: (21) 2610-2272

Editor e Redator-chefe (voluntário): Vilmar Sidnei Demamam Berna, escritor e jornalista. Em 1999 recebeu o Prêmio Global 500 da Onu para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américaswww.escritorvilmarberna.com.br www.escritorvilmarberna.blogspot.com [email protected] • Cel (21) 9994-7634

Produção gráfi ca: Projeto gráfi co e diagramação: Estúdio Mutum • (11) 3852-5489 Skype: estudio.mutum www.estudiomutum.com.br

Impressão: Flama Ramos Acab. e Man. Gráfi co Ltda. (21) 3977-2666

Revista ‘Neutra em Carbono’

www.prima.org.br

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O6 artigos, ensaios, análises e reportagens assinadas expressam a opinião de seus autores, não representando, necessariamente, o ponto de vista das organizações parceiras e da Rebia.

• Educação ambiental: limites e possibilidades• Boas notícias ambientais• “O maior programa de saneamento e de recuperação ambiental já realizado no Estado”• Notícias ambientais • Escola de vida• O que torna as pessoas tão sensíveis ou indiferentes à natureza?• Viúvas do veneno• Água de torneira pode conter menos bactérias que a água mineral• De olho no ar• A importância da comunicação para a sustentabilidade• 5º CBJA acontecerá em Brasília• O indiano que plantou uma fl oresta sozinho• Ongs escrevem carta contra a inclusão do REDD no mercado de carbono californiano• Contra queimadas• Mais chuva pra quem já tem; menos chuva pra quem não tem• Um ano do Código: tudo dito, nada feito• Guia do Meio Ambiente

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numa sOciedade que valOriza O cOn-sumO crescente e ilimitadO, pOr exemplO, Ou que aceita cOmO natu-ral a explOraçãO de um pelO OutrO, ou a ideia de que o planeta nos pertence e que por isso podemos fazer com ele o que bem entendermos, tenderá a achar esquisito, a rejeitar ideias de uma educação ambiental que alerte sobre os perigos de estarmos to-mando um rumo insustentável, e talvez sui-cida para nossa espécie.

Através da comunicação e da educação, em especial, temos aceitado algumas ve-lhas e falsas ideias como verdadeiras e pre-cisamos desconstruí-las se quisermos dar espaço para o novo. E as ferramentas são as mesmas, comunicação e educação. Por isso, não existem nem comunicação nem educa-ção neutras.

O atual modelo de sociedade é insustentá-vel quando não só ignora os limites do Pla-neta, mas ignora também a justiça na distri-buição dos recursos naturais. A questão não é apenas como crescer sem agredir o meio ambiente, mas como distribuir de maneira mais justa o resultado deste crescimento.

Por outro lado, não basta apenas obter me-lhor distribuição de renda e recursos às cus-tas de produzir esgotamento de ecossiste-mas, arrasar e poluir o planeta.

O novo modelo de civilização precisará en-frentar o desafio de buscar um melhor equi-líbrio entre crescimento, distribuição de ri-quezas e sustentabilidade socioambiental, com menos poluição e impacto ambiental. E isso não será fácil, não apenas por que nem todas as tecnologias já estão disponíveis, mas principalmente por que os corações e as mentes ainda estão bloqueados por fal-sas ideias de crescimento e de felicidade ba-seada em consumismo.

educação ambiental: limites ePOssibiLidades

Não é a economia, o dinheiro, o lucro, o crescimento, as mercadorias que são impor-tantes, mas a vida, a qualidade de vida, tan-to de nós seres humanos quanto das demais espécies com as quais compartilhamos este Planeta. O atual modelo parece ignorar que a sociedade é maior que o mercado.

Eric Assadourian, do WorldWatch Institute, elencou quatro princípios que sugerem uma nova economia, pelo menos nos apontam novas ideias e possibilidades. A educação ambiental deveria ser capaz de ao menos propor e promover este debate e reflexão.

Precisamos transformar a indústria do consumo, tornando a ideia da vida sustentá-vel tão natural quanto à ideia de consumir.

Precisamos redistribuir os impostos, co-brando mais de indústrias que poluem, da publicidade (que fortalece o consumismo) e de quem ganha além do necessário para a sobrevivência básica.

Precisamos reduzir as jornadas de traba-lho, dando às pessoas mais tempo, redistri-buindo riquezas e gerando mais empregos.

Precisamos fortalecer a chamada “economia da plenitude”, em que as pessoas plantam mais para prover sua própria alimentação, cuidar de sua família e aprender novas habilidades.

Se a educação ambiental não tem sozinha as ferramentas para promover as mudanças que a sociedade precisa, sem educação am-biental é que será ainda mais difícil à socie-dade tomar consciência dos problemas que precisam de mudanças. * Vilmar é escritor e jornalista, fundou a Rebia - Rede Brasileira de Informação Ambiental (rebia.org.br), e edita deste janeiro de 1996 a Revista do Meio Ambiente (que substituiu o Jornal do Meio Ambiente), e o Portal do Meio Ambiente (portaldomeioambiente.org.br). Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da ONU para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas

quantas vezes temos ouvido que a solução para nossos problemas é educação, educação, educação. pode até ser, mas a educação não pode ser solução sozinha. a educação é muito mais influenciada pela sociedade que influencia

O atual modelo de sociedade é insustentável quando não só ignora os limites do planeta, mas ignora também a justiça na distribuição dos recursos naturais. A questão não é apenas como crescer sem agredir o meio ambiente, mas como distribuir de maneira mais justa o resultado deste crescimento

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Cultura e comunicação para a sustentabilidade

ESCRITOR VILMAR BERNAO escritor e jornalista Vilmar Berna está à disposição para contratação para palestras e consultorias, organização de eventos e projetos de comunicação e educação ambiental. Conheça e adote os livros do autor, na Paulus e Paulinas, e seus cursos à distância na UFF.

Vilmar foi reconhecido, em 1999, pelas Organizações das Nações Unidas com o Prêmio Global 500 da ONU para o Meio Ambiente e, em 2003, recebeu o Prêmio Verde das Américas. É fundador da Rebia (Rede Brasileira de Informação Ambiental) e editor (voluntário) da Revista do Meio Ambiente.

COMO CONTRATAR PARA PALESTRAS (PRÓ-LABORE E LOGÍSTICA):www.escritorvilmarberna.com.br | [email protected] | (21) 2610-2272

“Vilmar tem o espírito do construtor de catedrais da idade média: começar, mesmo sabendo que a obra fi nal outro é que vai ver”. [ Roberto Messias ]

LEIA, PRESENTEIE, ADOTE OS LIVROS NA ESCOLAEscritos em linguagem acessível e ilustrados, os livros abordam diversos temas de interesse da sociedade contemporânea. Saiba mais e veja como comprar ou adotar na escola: www.escritorvilmarberna.com.br/livros.html

MAIS INFORMAÇÕESAutobiografi a:http://escritorvilmarberna.blogspot.com.br/

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Artigos disponíveis para download: http://escritorvilmarberna.com.br/artigos.html

Construção da Pessoa, Ética e Felicidade

Educação e Cidadania Socioambiental

Meio Ambiente e Sustentabilidade

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Reunião da prefeitura de São Gonçalo (RJ)com a presidente do INEA, Marilene Ramos, para discutir as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) na cidade

meio ambiente urbano

“O maior programa de saneamento e de recuperação ambiental

Boas notícias

O secretáriO estadual dO amBiente, carlOs minc, parti-cipOu da sOlenidade que marcOu O iníciO das OBras em cOmpanhia da presidente dO institutO estadual dO am-Biente (inea), marilene ramOs.

Segundo Minc, as intervenções na segunda maior cidade do Estado em densidade populacional – quinta na escala de desenvolvimen-to econômico, mas apenas a 22ª em Índice de Desenvolvimento Hu-mano (IDH) devido aos baixos níveis de saneamento – são compara-das às do Projeto Iguaçu, na Baixada Fluminense. “Estamos trazendo para São Gonçalo os mesmos resultados que conseguimos na Baixa-da Fluminense onde, há quatro anos, o Inea realiza o Projeto Iguaçu, o maior programa de saneamento e de recuperação ambiental já re-alizado no estado. Esse projeto é um dos maiores em destinação de recursos do PAC, e que encerrou um ciclo de décadas de sucessivas tragédias causadas pelas enchentes a cada verão”, afirmou Minc, que ressaltou, ainda, a importância da iniciativa: “Planos semelhantes de controle de inundações e de recuperação ambiental já minimizaram as consequências causadas pelas chuvas em municípios como Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Belford Roxo, São João do Meriti, Nilópolis, Mesquita, Rio de Janeiro, Campos dos Goytacazes, São João da Barra, Quissamã, Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo. Nessas cidades, intervenções hidráulicas, de desassoreamento e urbanização reduzi-ram os transbordamentos de rios e canais”.

A presidente do Inea (Instituto Estadual do Ambiente), Profª Mari-lene Ramos, explicou que as intervenções do PAC de São Gonçalo no Rio Imboaçu irão minimizar as enchentes urbanas na bacia deste rio, através da elaboração de estudos e projetos e execução de obras de macro e mesodrenagem, obras de canalização, substituição de tra-vessias, proteção de margens, recomposição de diques de proteção hidráulica e desassoreamento.

que O meiO amBiente e O planeta estãO passandO pOr uma crise amBiental sem precedentes, tOdO mundO saBe. Que o principal responsável por esta crise é nossa própria espécie, também.

Não é preciso muito esforço para identificar problemas ambientais aqui e ali. Isso, a mídia de uma maneira geral faz com certa competência e honestidade. Assim como a divulgação dos pro-blemas cumpre um importante papel – ao fazer avançar a consciência ambiental da sociedade, que, por sua vez passa a exigir mais e mais de empresas e autoridades – a divulgação das boas práticas transmite esperança e motivação para as mudanças que a sociedade quer e precisa fa-zer no rumo da sustentabilidade.

Queremos divulgar o que está dando certo, o que está sendo feito efetivamente por go-vernantes, empresários, comunidades, para solucionar problemas socioambientais e para isso precisamos e pedimos a ajuda de quem acredita que também é importante dar divul-gação às boas práticas como estratégia para motivar a sociedade no rumo das mudanças para a sustentabilidade.

Queremos mostrar as evidências dessas mu-danças, o antes e o depois. Os sonhos são impor-tantes, pois boas práticas costumam ser antece-didas por boas ideias, entretanto, sonhar apenas não é suficiente para mudar a realidade. E entre o ideal e o possível, quase sempre, é preciso abrir mão de sonhos, ajustar percepções, dialogar com os diferentes, nunca uma tarefa fácil, mas absolutamente necessária numa democracia.

Dificuldades todos têm, mas onde alguns se contentam com desculpas para não fazer, ou-tros arranjam um jeito de fazer. Graças a eles, a crise ambiental não está pior e talvez tenha-mos evitado o colapso, até aqui.

já realizado no estado”

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do rio Imboaçu, em São Gonçalo (RJ)

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“O maior programa de saneamento e de recuperação ambiental

já realizado no estado”

investimentos da sea/inea em são Gonçalo priorizam a recuperação das bacias dos rios alcântara e imboaçu, que fazem parte da Bacia hidrográfica da Baía de Guanabara, incluindo saneamento e a realocação de populações em área de risco de inundações

Informações sobre o projeto e execução de macrodrenagem da bacia do Rio Imboaçu para controle de enchentes: • Intervenção no canal (extensão): 7,7 Km• Desapropriações: - 600 lotes (estimado), sendo 400 lotes de obra hidráulica e 200 lotes de sistema viário• Travessias: 4 • Urbanização: Parques Fluviais• Viário (sinalização vertical e horizontal): - Ciclovias: 3,6 Km - Pavimentação Asfáltica: 5,7 Km• Esgoto (Coletor Tronco): 5,5 Km• Estrutura de controle de inundação: - Vertedouro para Reservatório de Amortização das Chuvas - Beneficiamento de mais famílias (Bairro Lindo Parque)• Galerias para desvio de contribuição: - Margem Direita: 1,2 Km - Margem Esquerda:1,3 Km

Entre os serviços contratados estão o desassoreamento de 7,7 Km do Rio Imboaçu; a desobstrução e alargamento da calha do rio Imboaçu com a dragagem de 250 mil metros cúbicos de resíduos; a substituição de pontes e travessias que represam o rio; a urbanização das margens com construção de ciclovias, calçadas, vias de acesso; ações de educação e conscientização ambiental na comunidade do entorno da obra; a me-lhoria no paisagismo das comunidades por onde passa o Rio Imboaçu.

“O foco das intervenções são as pessoas”“O reassentamento das famílias cadas-

tradas será feito com total respeito e ca-rinho, e para moradias melhores que as atuais. O foco das intervenções são as pessoas. Estamos chegando para melho-rar a qualidade de vida da população, proporcionando locais de convivência e, inclusive, gerando empregos e renda, já que será contratada mão de obra local para as intervenções”, tranquilizou Minc.

LixômetroNo 1º mês de obra, o setor de produção

da Odebrecht, empresa vencedora da licitação, criou o lixômetro, ferramen-ta inserida no informativo interno que mede a quantidade de lixo retirado do leito do rio Imboaçu e que poderá ser utilizado pelo Inea nas campanhas de conscientização ambiental nas comuni-dades do entorno.

O engenheiro João Carlos Grilo Carlet-ti, supervisor do Contrato pelo Inea, in-formou que o plano de trabalho apre-sentado a Caixa Econômica Federal cor-responde a um valor de R$ 87.832.257,32 e que a contrapartida do Estado é de R$ 7.497.405,27. O tempo estimado para con-clusão das obras é 18 meses.

Avenida Édson, antes e depois do desassoreamento e limpeza

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notícias ambientais

Plano Guanabara Limpa reúne 12 ações do Governo do Estado para o saneamento de 80% da Baía de Guanabara até os Jogos Olímpicos do Rio, em 2016

Parte fundamental do Pacto pelo Sanea-mento, o Plano Guanabara Limpa reúne 12 iniciativas do Governo do Estado para a re-cuperação ambiental da Baía de Guanaba-ra – tendo como carro-chefe o Programa de Saneamento dos Municípios do Entorno da Baía de Guanabara (Psam).

Faz parte dos compromissos olímpicos as-sumidos pelo Governo do Estado com o Co-mitê Olímpico Internacional (COI) para a re-alização das Olimpíadas do Rio a meta de se alcançar o saneamento de 80% da Baía de Guanabara até 2016.

Com a conclusão dessas 12 ações ambien-tais planejadas pelo atual Governo do Es-tado, cerca de 80% do esgoto despejado na Baía de Guanabara estará recebendo trata-mento adequado até a realização das Olim-píadas do Rio, em 2016:• Programa de Saneamento dos Municípios do Entorno da Baía de Guanabara• Ampliação dos Sistemas de Tratamento de Esgoto• Programa Lixão Zero• Programa de Revitalização do Canal do Fundão• TAC da Reduc• Programa de Implantação de Unidades de Tratamento de Rio (UTRs)• Projeto Iguaçu• Programa Sena Limpa• Reflorestamento do Entorno da Baía de Guanabara• Programa de Despoluição da Baía de Guana-bara (PDBG)• Ecobarreiras• Recuperação do Canal de São Lourenço.

Secretarias do Ambiente e de Educação fortalecem educação ambiental em escolas

Acordo de cooperação fi rmado em 3 de maio entre as secretarias de Estado do Ambiente e de Educação ampliou a execução de dois pro-gramas bem-sucedidos na área de educação ambiental: o Elos da Ci-dadania e o Nas Ondas do Ambiente, que em seis anos já formaram mais de 6 mil cursistas, entre alunos e professores da rede estadual de ensino. Com o termo de cooperação técnica entre as duas secre-tarias, assinado pelos secretários do Ambiente, Carlos Minc, e o de Educação, Wilson Risolia, os dois projetos terão seus conteúdos apro-fundados e sua carga horária aumentada.

O programa Elos da Cidadania, por exemplo, que inicialmente leva-va às escolas debates gerais sobre as questões socioambientais, bus-cando soluções coletivas para os problemas identifi cados, nessa nova fase vai tratar especifi camente sobre água e fl oresta. Em áreas com risco de acidentes e desastres naturais, como na Região Serrana, o con-teúdo vai abranger também o enfrentamento dessas catástrofes e a preservação das encostas e de áreas de preservação permanente.

Já o Nas Ondas do Ambiente, que incentiva ações de educação am-biental na rede pública de ensino, com o apoio de rede de rádios co-munitárias, vai dobrar a sua carga horária. O curso presencial de técni-cas radiofônicas e temas socioambientais passará de 40 horas para 80 horas. Nos dois programas desenvolvidos pela Secretaria do Ambiente (SEA), com o apoio da Secretaria de Educação (Seeduc) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), já foram investidos R$ 8 milhões do Fundo Estadual de Conservação Ambiental (Fecam). A previsão é de que até 2014 mais R$ 6 milhões sejam alocados nesses programas.

A partir do termo de cooperação técnica, a cada dois meses uma escola – que se destacar pela sua originalidade ou capacidade de in-tervir na sua comunidade – deverá ser visitada pelos secretários do Ambiente e de Educação e por um diretor da Uerj.

O secretário Carlos Minc lembrou que a aprovação da Lei da Educação Ambiental (nº 3.325/99), de sua autoria, que criou a Política Estadual de Educação Ambiental, estimulou o desenvolvimento de projetos nas esco-las e comunidades, como o Elos da Cidadania e o Nas Ondas do Ambiente.

“Todo mundo diz que é a favor da educação ambiental. Mas para colocá-la em prática, era preciso ter um instrumento legal, parcerias e dinheiro. Fiz a lei em 1999, e quando assumi no Governo do Estado, fi zemos a legislação valer, reservando recursos do Fecam e criando uma superintendência específi ca para a pasta, que hoje é coordena-da pela Lara Moutinho”, disse Minc.

Para o secretário de Educação, Wilson Risolia, o sucesso dos programas está no fato da gestão ser compartilhada com a SEA e com a Uerj:

“Nós temos o público alvo – professores, alunos e pais –, a SEA, o conhe-cimento sobre meio ambiente e a Uerj, a capacidade de organizar. Aci-ma de gestores, somos cidadãos e temos responsabilidade de formar os jovens”, afi rmou Risolia, lembrando que foi o seu fi lho de 18 anos quem o ensinou que pilhas usadas devem ser descartadas em lixo especial.

Conheça os detalhes de cada plano em: www.rj.gov.br/web/sea/exibeconteudo?article-id=1499294

Programa Sena Limpa

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Dia Mundial do Meio Ambiente ganha site em portuguêsO site do Dia Mundial do Meio Ambiente (WED, na sigla em in-glês) está disponível em português no portal do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Na página, é pos-sível se informar sobre o tema deste ano, intitulado “Pensar.Co-mer.Conservar – Diga Não ao Desperdício” – além de saber mais sobre a Mongólia, país-sede da celebração em 2013. O WED é co-memorado no dia 5 de junho.

A página também oferece materiais de informação e dicas de como organizar uma celebração do WED. É possível registrar as atividades locais na página do Pnuma, garantindo uma visibili-dade global junto a ações em todo o mundo.

O site está integrado com as redes sociais e trará também arti-gos e outros textos sobre questões relacionadas ao desperdício de alimentos. Lançada pelo Pnuma em parceira com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a cam-panha Pensar.Comer.Conservar alerta para a enorme quantidade de comida própria para o consumo que é desperdiçada no mundo.

O português é o único idioma não-ofi cial da ONU para qual o site foi traduzido. FoNtE: IBAhIA.CoM

Para saber mais sobre o WED: www.unep.org/portuguese/wed/

Mega operação apreende 15 balões e detém baloeiros no Rio

Quinze balões de pequeno e médio portes e quatro embarca-ções foram apreendidos e 16 pessoas detidas numa megaopera-ção realizada hoje (12/05), na região Metropolitana do Rio e na Baía de Guanabara, pela Coordenadoria Integrada de Combate aos Crimes Ambientais da Secretaria de Estado do Ambiente (Cicca/SEA). O objetivo era combater a soltura de balões e pren-der os responsáveis pela prática deste crime ambiental, muito comum nesta época do ano, especialmente no Dia das Mães, e enquadrado na Lei de Crimes Ambientais 9605/98.

A megaoperação mobilizou 60 pessoas, entre policiais militares, do Comando de Polícia Ambiental da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (CPAm/DPMA) e fi scais do Instituto Estadual do Ambiente (Inea). Foram utilizados dois botes do Grupo Marítimo da Polícia Militar, um helicóptero da Polícia Militar, uma lancha e um bote do Inea. Os detidos foram encaminhados para a DPMA, localizada em São Cristovão, na Zona Norte do Rio, onde foram au-tuados e podem ser condenados a penas que variam entre um a três anos de prisão. A multa é entre R$ 1 mil e R$ 10 mil por pessoa.

A secretária de Estado do Ambiente interina e presidente do Inea, Marilene Ramos, elogiou a ação da Cicca contra os baloei-ros e solicitou ajuda à população para que denuncie esta prática criminosa pelo telefone 2253-1157. O chefe da operação e coorde-nador da Cicca, José Maurício Padrone, considerou um sucesso a ação defl agrada às 5 horas da manhã e constatou que “este ano não ocorreram grandes festivais de balões, como acontece todos os anos no Dia das Mães, em função do trabalho de educação ambiental realizado pelo governo do Estado”. Segundo ele, as sol-turas de balões tem sido pontuais.

Consulte a Cesta Ambiental e faça bons negócios cuidando bem dos lucros, das pessoas e do planeta. Meio Ambiente não precisa ser problema para o progresso. Pode até ser a solução.

www.cestaambiental.com.br

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caatingaO FundO naciOnal de desenvOlvimentO FlOrestal (FndF), dO serviçO FlOrestal BrasileirO (sFB), e O FundO clima, dO mi-nistériO dO meiO amBiente (mma), lan-çaram dia 17 de maiO duas chamadas de prOjetOs que visam FOrtalecer O usO sustentável da caatinGa. Com isso, pre-tende-se contribuir para a manutenção do bio-ma, o único exclusivamente brasileiro e que con-ta com cerca de 53% de sua cobertura original.

A primeira chamada é voltada a associações e cooperativas de assentamentos da reforma agrária e do Programa Nacional do Crédito Fundiário e vai apoiar a realização do manejo florestal sustentável, instrumento que permi-te obter lenha, carvão, frutos, estacas e forra-gem mantendo a vegetação e a biodiversidade.

Os projetos selecionados receberão assistên-cia para a elaboração e implementação do pla-no de manejo – documento que planeja e or-ganiza a extração sustentável e deve ser apro-vado no órgão ambiental – e também para a formulação do plano de negócios e acesso a crédito. Podem participar pequenos produto-res rurais do Ceará e do Piauí.

“A Caatinga é a melhor aliada do produtor rural do semiárido. O fomento ao seu uso eco-

mma financiará projetos para preservar o único bioma exclusivamente brasileiro

Chapada Diamantina: área ocupada pelo único bioma nacional

em defesa da

nômico sustentável é chave para melhorar a renda desse produtor, garan-tir sua permanência na terra, abastecer o mercado com produtos legais e inibir o avanço da desertificação”, afirma a diretora de Fomento e Inclusão do SFB, Claudia Azevedo-Ramos.

ExtensionistasNa segunda chamada, o foco são as instituições públicas ou privadas sem

fins lucrativos que realizam assistência técnica e extensão rural (Ater). Será oferecida capacitação em manejo florestal comunitário, abrangen-do temas como organização social, técnicas de manejo e licenciamento. Os candidatos devem atuar na Caatinga da região Nordeste.

“O aumento da demanda pelo manejo florestal na Caatinga requer agentes de Ater qualificados para atuar no tema, o que nos levou a lançar esta chamada”, diz o coordenador do Centro Nacional de Apoio ao Manejo Florestal (Cenaflor/SFB), Mauricio Marcon.

Os interessados têm até o dia 16 de junho para encaminharem seus projetos por meio de um formulário eletrônico disponível no site do SFB. Essas propos-tas serão avaliadas e classificadas pelo SFB, que após concluir essa etapa, fará licitação pública para contratar instituições especializadas em cada tema, que executarão os serviços àqueles que tiveram seus projetos selecionados.

Atualmente, o apoio do FNDF na Caatinga envolve mais de 1.000 famílias em assentamentos para o manejo florestal comunitário em cerca de 10 mil hectares. Estudos realizados com comunidades beneficiadas mostraram que o manejo chega a gerar R$ 8.400 de renda no ano por família, com a manutenção da vegetação, proporcionando aumento de renda e conserva-ção de mais de 50% da cobertura florestal dos assentamentos. FoNtE: MMA

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caatingaÚnicO BiOma exclusivamente Brasi-leirO, a caatinGa vê sua riqueza am-Biental dilapidada pelO usO predató-riO dOs recursOs naturais, que amea-ça espécies cOmO O tatu-BOla, mascOte da cOpa dO mundO de 2014.

O alerta foi feito por um especialista que há 15 anos estuda este ecossistema, às vés-peras do Dia Nacional da Caatinga, come-morado em 28 de abril.

“A caatinga é o patinho feio dos biomas brasileiros. É o menos conhecido e recebe menor investimento público. Isto se deve à visão de que é um ecossistema pobre, quan-do, na verdade, é diverso e tem muitas espé-cies endêmicas” que só existem lá, explicou à AFP o engenheiro-agrônomo e doutor em Ecologia Marcelo Tabarelli, professor da Uni-versidade Federal de Pernambuco.

Segundo dados oficiais, a caatinga se es-tende por 9 estados do nordeste brasileiro (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernam-buco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e Sergipe) até o norte de Minas Gerais, no Su-deste do país. Ocupa 844.453 quilômetros quadrados, área superior aos territórios de França, Reino Unido e Suíça somados; e o bioma abriga 932 espécies de plantas, 178 de mamíferos, 591 de aves, 177 de répteis, 79 de anfíbios e 241 de peixes.

Segundo Tabarelli, algumas espécies foram extintas, como a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), e outras estão ameaçadas, como o ta-tu-bola (Tolypeutes tricinctos).

Na região vivem 27 milhões de pessoas e a grande maioria sobrevive de agropecuária de subsistência. Feijão e milho são os princi-pais cultivos e na criação de animais predo-mina o rebanho caprino.

Uso inadequado do solo, consumo de lenha nativa em residências e indústrias e desma-tamento para dar lugar à agropecuária são as principais agressões à caatinga. Consequen-temente, 46% do bioma foram desmatados, segundo o Ministério do Meio Ambiente.

“Falta planejamento no uso dos recursos naturais da caatinga. A população depende deles, mas sem uso planejado, observa-se a repetição do círculo degradação do solo/po-breza”, relatou Tabarelli, consultor do Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

Tabarelli criticou a falta de investimentos em pesquisas e de unidades de conservação integral na caatinga, que apesar de impor-tantes para preservá-la, protegem apenas 1% do bioma. “As ações (oficiais) têm sido pontuais, falta uma política de desenvolvi-mento sustentável”, lamentou.

Para ele, são prioridades da região criar novas unidades de conservação, promover o ecoturismo e melhorar as atividades pro-dutivas, com agropecuária sustentável subs-tituindo o extrativismo (exploração do solo sem reposição dos nutrientes).

No Dia Nacional da Caatinga, celebrado este domingo, Tabarelli acredita ser possível salvar o bioma. “Já se sabe como produzir de forma sustentável na caatinga, mas esta in-formação precisa chegar ao produtor. É pre-ciso investir em educação, em transferência tecnológica. O problema não é o gargalo tec-nológico, mas a vontade política”, concluiu. FoNtE: uoL CIêNCIA

mascote da copaexploração predatória ameaça caatinga, lar do tatu-bola,

uso inadequado do solo, consumo de lenha nativa em residências e indústrias e desmatamento para dar lugar à agropecuária são as principais agressões à caatinga

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afinal, empresa sustentável

dá lucro?uma perGunta que sempre aparece nOs deBates sOBre empresas e sus-tentaBilidade é: empresa sustentá-vel dá lucrO? e, aFinal, O que é uma empresa sustentável?

Muitos especialistas, consultorias e até ór-gãos da ONU já tentaram provar que susten-tabilidade dá lucro. Mas, as respostas foram muito amplas, ou seja, mostraram o valor da biodiversidade ou das consequências das mu-danças climáticas. Não chegaram ao cerne da questão, que é provar ao empresário que uma empresa sustentável não só garante licença para operar como dá lucro.

Pois um departamento da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, resolveu pesquisar as empresas para verificar se sustentabilidade dá lucro ou não. Harvard partiu da premissa de que empresa sustentável é aquela que tem uma “cultura de sustentabilidade” internalizada na estratégia e nas operações do negócio.

A conclusão: num período de 18 anos, uma empresa sustentável deu muito mais lucro do que uma empresa não sustentável.

Vamos ver como se chegou a essa conclusão.

Quantas empresas possuem cultura de sustentabilidade?

Para responder a essa pergunta, a universi-dade pesquisou as listas de vários índices de bolsas de valores e verificou quantas políticas sustentáveis as empresas listadas declaram.

Enumerou 27 políticas, entre ambientais, sociais e de governança, tais como: conduta ética perante os funcionários, a comunidade, fornecedores e clientes; adesão a pactos na-cionais e internacionais de integridade; ado-ção de práticas promotoras da diversidade e da igualdade de oportunidades na empre-sa; respeito aos direitos humanos, tanto com empregados quanto com a comunidade e ou-tros públicos de interesse; redução das emis-sões de carbono; programas de eficiência hí-drica e energética; programa de reciclagem de resíduos; programa de inovação para di-minuir consumo de recursos naturais; políti-cas para garantir liberdade de associação aos funcionários; e salários dignos.

Em seguida, Harvard selecionou empresas que tivessem instituídas pelo menos três

dessas políticas entre 2003 e 2005, eliminando, de antemão, as institui-ções financeiras. Encontrou 675 empresas.

Para verificar quais delas realmente possuem uma “cultura corporativa de sustentabilidade”, Harvard estabeleceu um ranking dessas empresas, pela média ponderada das políticas de sustentabilidade adotadas. A ponderação foi feita pela quantidade de políticas existentes em relação ao tempo em que elas foram instituídas na empresa. Quanto mais políticas e mais tempo de instituição, melhor a posição no ranking. Para validar essa avaliação pon-derada, a análise das empresas foi completada por dados retirados de rela-tórios, sites e outras publicações, bem como por entrevistas com executivos.

Estabelecido o resultado, Harvard dividiu as empresas em dois grupos de 90 empresas cada: o primeiro, com as 90 mais bem colocadas no ranking, foi denominado “Alta Sustentabilidade” e constituído por aquelas compa-nhias que adotaram mais de dez das 27 políticas enumeradas, ainda nos anos 1990. O outro grupo, chamado “Baixa Sustentabilidade”, identificou aquelas corporações que adotaram menos de quatro políticas nos anos 2000 e nenhuma nos anos 1990.

Empresa de alta sustentabilidade tem desempenho melhor do que a de baixa sustentabilidade

Para verificar o desempenho das empresas, Harvard estudou o setor, o porte e a estrutura de capital de cada uma delas. Completou essa análise com os resultados de uma pesquisa feita em bolsas de valores, averiguando o desempenho obtido nos últimos 18 anos (entre 1992 e 2010).

O resultado foi o seguinte:• As 90 empresas de alta sustentabilidade apresentaram melhores taxas de retorno, num período de 18 anos;• O patrimônio de uma empresa de alta sustentabilidade valorizou 33 ve-zes em 18 anos; o de uma empresa de baixa sustentabilidade, 26 vezes.• O retorno de uma empresa de alta sustentabilidade em 2010 foi de sete vezes o valor investido em 1992; o de uma empresa de baixa sustentabili-dade foi de 3,5 vezes.

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pesquisa da universidade de harvard concluiu que, no período estudado, as empresas sustentáveis deram muito mais lucro do que as não sustentáveis

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afinal, empresa sustentável

O manejO FlOrestal praticadO pela ceniBra vem demOns-trandO que é cOmpatível cOm a cOnservaçãO da BiOdiversi-dade da reGiãO. Além da proteção às matas nativas, diversos mamífe-ros e aves são comumente observados nas plantações de eucalipto, ates-tando que estas áreas de produção são também importantes territórios utilizados pela fauna. No final de 2012, funcionários da DAP Engenharia Florestal encontraram um tamanduá abraçado a uma árvore de euca-lipto, em uma floresta plantada da Cenibra. A espécie, que tem o nome científico Tamandua tetradactyla e é da mesma família do tamanduá-bandeira que habita o cerrado, é importante para o equilíbrio ecológico, pois se alimenta de formigas, uma das principais pragas das plantações de eucalipto. A Cenibra monitora a biodiversidade de fauna e flora em suas propriedades e este monitoramento vem atestando cada vez mais a eficácia das boas práticas adotadas no campo. Em julho de 2012, duas antas foram avistadas e fotografadas pela equipe. Assim como o taman-duá, a anta é também ameaçada de extinção e a presença de tais espé-cies é um indicativo da importância dos corredores ecológicos mantidos nas áreas da empresa para a conservação da biodiversidade regional.

A Cenibra inicia edição 2013 do Projeto de Educação Ambiental – Escola de Vida. Neste ano, a iniciativa contemplará 100 professores dos municípios de Belo Oriente e Periquito. O objetivo do Escola de Vida é disseminar a consciência ambiental e a valorização da nature-za. Desenvolvido desde 1996, juntamente com a Fundação Relictos, o Projeto consiste na capacitação de professores do 1º ao 6º ano das sé-ries iniciais do ensino fundamental das escolas localizadas nos muni-cípios de atuação da Cenibra, ao longo de um ano, por meio da discus-são e desenvolvimento de conceitos sobre o meio ambiente e métodos de sensibilização e divulgação junto aos estudantes.

O Projeto é desenvolvido em módulos com temas distintos, que são realizados, durante o ano sob a forma de seminários. Dentre os temas abordados estão: Os seres vivos em seu próprio direito; Ecologia e Saú-de Integrais; Ecologia do Cotidiano: A escola e a comunidade; Ética e direitos humanos; Água, mudanças climáticas e biodiversidade; Aspectos Ambientais, Econômicos e Sociais do Cultivo do Eucalipto.

Desde a implantação, foram capacitados 1.863 professores de 330 escolas sediadas nos municípios onde a Cenibra atua. Os educadores tornam-se multiplicadores. FoNtE: CENIBRA

Analisando a evolução do valor das em-presas ano a ano, também é possível veri-ficar que, mesmo em momentos de queda nas bolsas, a desvalorização das empresas de alta sustentabilidade foi significativa-mente menor do que a das empresas de bai-xa sustentabilidade.

Por que as empresas de alta sustentabilida-de tiveram esse desempenho?

De acordo com Harvard, esse desempenho tem a ver com o perfil dessas empresas. Elas possuem uma governança distinta, baseada nos seguintes pressupostos:• Têm foco no engajamento de públicos de in-teresse (stakeholders).• Estabelecem processo de diálogo formal com esses públicos e, com isso:• Identificam os critérios de engajamento para cada público, bem como suas necessida-des e demandas;• Conseguem levantar riscos e oportunidades para o negócio;• Reconhecem os públicos-chave para a empresa;• Treinam executivos para engajar esses públicos;• Criam valor compartilhado, por atender tais demandas;• Atuam com proatividade e transparência;• Orientam investimentos para o longo prazo, isto é, para processos, produtos e serviços de supram as demandas por qualidade e segu-rança socioambiental, além da financeira;• A sustentabilidade é responsabilidade ex-pressa da diretoria;• Mantêm um comitê de sustentabilidade que tem por tarefa orientar os executivos quanto às políticas de sustentabilidade e resultados esperados, bem como estabelecer comunica-ção com os públicos de interesse;• O sistema de compensação da liderança está atrelado tanto ao desempenho financeiro quanto à consecução de metas não financei-ras ligadas aos indicadores-chave das políticas de sustentabilidade;• Boa parte dos investidores ou acionistas é orientada pelos resultados de longo prazo;• A tomada de decisões é baseada em dados da concorrência e do mercado, bem como nas informações relativas a stakeholders, devida-mente auditadas por firmas independentes.

Estudos como esse de Harvard mostram que a sustentabilidade dá lucro, ao contrário do senso comum atual. Quanto antes governos e empresas acordarem para essa realidade, mais rápido poderemos construir o desenvol-vimento sustentável que desejamos. *Jorge Abrahão é presidente do Instituto EthosFoNtE: INStItuto EthoS

projeto de educação ambiental da cenibra dá exemplo de boas práticas ambientais

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educação ambiental

diferentemente do que aconteceu com a boate Kiss e suas 241 vítimas, em santa maria, espera-se que não seja necessário chegar a piores consequências para que se adquira consciência sobre o cuidado com o planeta

O casO em questãO traz a reFlexãO sOBre O que tOrna as pes-sOas tãO sensíveis Ou indiFerentes aO cuidadO cOm a nature-za. FanatismO? paixãO? ideOlOGia? OpOrtunidade de mercadO? cientiFicismO? Não é de hoje que a pauta ambiental divide ardorosos e polêmicos embates mesmo entre os menos politizados. É como Gre-Nal: todo mundo tem uma posição. Mas por que a maioria, mesmo simpatizan-tes da causa, precisa de um estopim para se mobilizar pela defesa do verde?

“É impossível ser ecologicamente sustentável se a pessoa visa apenas ao en-riquecimento próprio. O Estado é cheio de pessoas assim, que pensam apenas em si. Há muita retórica e pouco comprometimento prático. Só vai haver sus-tentabilidade ecológica se as pessoas se dispuserem a evoluir como seres hu-manos, e isso passa por uma reforma individual. Em geral, as pessoas não são educadas para estes valores humanos, e sim para valores competitivos”, diz o filósofo e ecologista Vicente Medaglia, da ONG Ingá Estudos Ambientais.

Essa crise de valores por parte dos cidadãos e dos gestores causa impac-tos de várias matizes. Do problema do trânsito congestionado à falta de estacionamentos. Do alagamento das ruas em dia de temporal às doenças respiratórias causadas pela poluição atmosférica. Passa também pela dimi-nuição do verde e pelo aquecimento das metrópoles, pela verticalização das construções, pela falta de balneabilidade do rio, pelo gosto ruim da água, pelo lixo jogado no arroio, pela insegurança dos parques. E por aí segue uma longa lista de consequências que nascem do “não tenho nada a ver com isso” e acabam virando um angustiante “quem irá resolver?”.

O imediatismo e a falta de mobilização – a não ser diante de catástrofes – fazem o brasileiro negligenciar medidas preventivas. Na visão do biólo-go e doutor em ecologia Paulo Brack, a sensibilidade das pessoas pode ter sido absorvida pelo consumo. Para ele, há um deslumbramento em relação ao crescimento econômico. Com a ascensão da classe C e a blindagem do Brasil à crise econômica, o país teve um aumento do consumo e o conse-quente agravamento dos problemas ambientais”.

O símbolo máximo desse quadro seria o automóvel, cuja aquisição foi faci-litada pelo governo com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializa-dos (IPI). “Ficamos com as ruas abarrotadas de carros e mais poluição. O go-verno faz vista grossa para o que deveria estar em primeira mão”, diz Brack.

Na contramão dessa tendência, muitos gaúchos vêm tentando aplicar medidas efetivas. Os ciclistas, por exemplo, deixaram de esperar uma so-lução pronta, e estão pedalando por um mundo melhor, dando exemplo sobre mudanças de hábito. É dessa forma, com atitudes singelas, que Brack acredita na contribuição para um mundo mais sustentável. Embora não se fale muito, a questão ecológica toca também o aspecto humano. E o resgate de valores, segundo ele, faz parte de uma revolução interna, que a própria esquerda parece ter deixado de por em prática.

Inúmeras são as questões na atualidade que demonstram a falta de lugar da sustentabilidade na sociedade contemporânea. Ela é uma questão de to-dos e de ninguém. Falar a sério sobre água, biodiversidade, clima, energia, ali-

mentos orgânicos, agricultura, qualidade do ar, poluição, preservação das espécies, é algo que as pessoas preferem não fazer no seu dia a dia.

“A questão ambiental é bonita nos comerciais de TV, no cinema ou nos livros. Quando sai do discurso e entra na prática, torna-se muito mais complexa. As pessoas gostam da natureza, mas quando vão para ela, não querem aquilo que ela proporciona”, observa Luis Felipe Nasci-mento, do programa de pós-graduação em ad-ministração da UFRGS.

Um dos fatores pelos quais muitos evitam se preocupar com o tema é a gratuidade dos recursos naturais. Na maior parte das vezes, o bem natural é público, e pode ser usado por todos. Por isso, explica Nascimento, muitos de-legam para o Estado o cuidado com o verde. O problema é que dentro das estruturas do pró-prio Estado, o tema também é posto de lado.

“Invariavelmente, a área socioambiental é ignorada pelos governos – explica, acrescen-tando que é comum não se escalar as pessoas mais qualificadas ou aportar os recursos ne-cessários para a pasta. Nascimento espera que se tire uma lição das denúncias da Operação Concutare. Diferentemente do que aconteceu com a boate Kiss e suas 241 vítimas, em Santa Maria, ele deseja que não seja necessário che-gar a piores consequências para que se adquira consciência sobre o cuidado com o planeta. FoNtE: INStItuto huMANItAS uNISINoS

Nota Rebiaos secretários de Meio Ambiente do Rio Grande do Sul, Carlos Niedersberg, e de Porto Alegre, Luiz Fernando Záchia, foram presos na madrugada de 29/4 durante operação deflagrada pela Polícia Fedceral (PF). Até as 10h, 16 pessoas também haviam sido detidas, em caráter temporário, pela mesma operação. Entre os presos está o ex-secretário estadual de Meio Ambiente e ex-deputado estadual, Berfran Rosado. Segundo a PF, o grupo criminoso identificado durante as investigações iniciadas em junho de 2012 é formado por servidores públicos, consultores ambientais e empresários. Eles são acusados de atuar em órgãos de controle ambiental estaduais e municipais para obter ou conceder, ilegalmente, licenças ambientais e autorizações para exploração mineral. A operação contra os crimes ambientais e contra a administração pública, além de lavagem de dinheiro, foi chamada de Concutare – termo latim que significa concussão: prática de exigir dinheiro indevido ou vantagens, valendo-se da função ocupada.

O que torna as pessoas tão sensíveis ouindiferentes à natureza?

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ecologia humana

para Garantir a cOlheita e aumentar a prOdutividade, pas-sOu-se a usar O aGrOtóxicO, que alGuns chamam de deFensi-vO químicO Ou aGrOquímicO. O venenO usadO para matar pra-Gas nas lavOuras cheGa cOm FOrça aO ser humanO e aO meiO amBiente quantO maiOr e mais indiscriminadO é O seu usO. Mortes silenciosas passam a ocorrer nos campos agrícolas brasileiros e fora deles. Assim foi com Valderi, Wanderlei, Rosália, Liberato e Antônio. Estes são alguns entre milhares de nomes registrados pelo Sistema Nacional de Informações Toxicológicas (Sinitox) com óbitos por agrotóxico agrícola.

São trabalhadores rurais do Ceará, Pernambuco, Paraíba e Bahia, que conhe-cemos após percorrer quase 6 mil quilômetros. Os seus últimos anos de vida são narrados pelas esposas, as “viúvas do veneno”. Entre as vítimas incluímos Rosália, que lavava diariamente as roupas do marido sujas de veneno. Mor-reu de leucemia. Deixou três fi lhos e Marizaldo, o viúvo desta série.

Maria da Conceição cuidou dos últimos dez anos de vida de Valderi. Mas os cinco últimos valeram por outros dez. O agricultor foi perdendo partes do corpo. A reportagem conheceu Valderi logo após ele perder os primeiros de-dos do pé, em 2005. Fizemos também a sua última foto em vida, em 2008.

Esta série especial não começa agora, mas há sete anos, em Limoeiro do Norte, cidade de José Maria Filho, uma das fontes exclusivas entre os mo-radores e lideranças na Chapada do Apodi. Sabíamos, dois anos antes, das ameaças de morte que sofria por denunciar a pulverização aérea onde hoje está um dos maiores polos fruticultores do Nordeste. Mesmo assim, ele in-sistia em não se calar. Quando foi assassinado, a comunidade de Zé Maria não se calou e os cientistas constataram as doenças causadas pelo vene-no denunciado. A partir de amanhã, e até domingo, acontece a Semana Zé Maria do Tomé. Serão dias de protestos pela causa ambiental.

O Brasil é, há mais de quatro anos, o maior consumidor mundial de agrotó-xicos. Somente em 2011 circularam cerca de US$ 8,9 bilhões no comércio de veneno, dominado por nove empresas fabricantes que não concorrem entre si, pois, para cada cultura, uma delas produz um ou vários venenos específi cos.

Em todo o País, foram confi rmadas 171 mortes por agrotóxico agrícola so-mente em 2010, ano mais recente levantado pelo Sistema Nacional de In-formações Toxicológicas. Mas a subnotifi cação é um dos grandes imbró-glios neste setor. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada caso notifi cado, existem outros 40 que não são.

E de quem é a culpa? Do modelo agrícola, da desinformação do trabalha-dor, do lobby dos fabricantes de venenos, da venda a qualquer custo? Desde a “revolução verde”, há 50 anos, não se falou tanto em agrotóxicos no Bra-sil quanto nestas primeiras décadas do século XXI. “Delicado”, “espinhoso”, “polêmico”, “necessário” são alguns adjetivos dados ao assunto, não impor-ta qual opinião se tenha. No meio disso tudo, um fato: mais pessoas estão morrendo, o solo e a água estão com maiores teores de produtos químicos. Tudo de uma forma silenciosa, só defi nida com o tempo.

Estivemos também em Campinas (SP) reunidos com autoridades do agronegócio e representantes do segmento fabricante de agrotóxicos. Enquanto tudo isso, o mundo corre para garantir a segurança alimen-tar para 9 bilhões de pessoas até 2050. Há respostas de cunho político, econômico, social ou científico. Todas elas são consideradas nesta série especial produzida pelo Diário do Nordeste. FoNtE: DIÁRIo Do NoRDEStE

Confi ra mais matérias em: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1255561

viúvas donnO Brasil é, há mais de quatro anos, o maior consumidor mundial de agrotóxicos: foram confi rmadas 171 mortes por agrotóxico agrícola somente em 2010 no país. para a Oms, a cada caso notifi cado, existem outros 40 que não são

Cenas das reportagens feitas pelo Diário do Nordeste

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meio ambiente e saúde

pesquisa avaliou a qualidade de três marcas de água mineral e detectou níveis preocupantes de contaminação antes do vencimento

estudO revela que áGua de tOrneira pOde cOnter menOs Bactérias que O índice encOntradO em emBalaGens de áGua mineral. A pesquisa avaliou a qualidade de três marcas de água mi-neral e detectou níveis preocupantes de bactérias em galões de 20 litros antes do vencimento do prazo de validade. Em alguns casos, isso ocor-reu já nos primeiros dias após o envase.

Os números são resultado do trabalho da pesquisadora Maria Fernan-da Falcone Dias, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp em Araraquara. Ela analisou o conteúdo de garrafas de meio litro e de 1,5 litro em 11 ocasiões ao longo de um ano, prazo recomendado para o con-sumo. Já os garrafões de 20 litros passaram por cinco testes, realizados ao longo dos 60 dias de validade do produto. Ao todo, foram 324 amos-tras de seis marcas (não relevadas pelos autores). Além da contagem de micro-organismos Heteretróficos em Placa (CHP), foram analisados os índices de coliformes fecais e totais e de bactérias como a Escherichia coli e a Pseudomonas aeruginosa, que podem causar diarreia e infecções, principalmente em crianças, gestantes e idosos.

Os resultados mostraram que, dos três tipos de garrafa d’água, o de 20 litros foi o que apresentou mais problemas de contaminação. Em dois terços dos 60 garrafões analisados foi encontrada contagem superior a 500 UFC/ml – às vezes chegando a 560 mil unidades formadoras de co-lônia por mililitro de água (UFC/ml), mais de mil vezes acima do padrão aceitável para a água de abastecimento.

Em dois desses galões foram detectadas ain-da a bactéria P. aeruginosa e outras do chama-do grupo dos enterococos. A primeira é um ser oportunista que pode agravar o estado de saú-de de quem tem o sistema imunológico com-prometido. As últimas costumam ser usadas como indicadores de contaminação por esgoto.

A portaria de 2011 do DNPM determinou pra-zo de validade de três anos para os galões re-tornáveis de 10 e 20 litros. Segundo os inte-grantes da pesquisa, a contaminação geral-mente decorre de falhas de higienização na indústria. “Não adianta reutilizar (o garrafão) por um prazo limitado se ele não for lavado a cada vez que é usado.”

Esse tipo de contaminação pode ocorrer ain-da na fonte, mas é mais comum durante ou após o envase. O próprio ambiente, as emba-lagens e as tampas são potenciais moradas dessas bactérias. Os equipamentos usados no processo, bem como os reservatórios de ar-mazenamento podem também abrigar popu-lações de micro-organismos contaminantes.

pode conter menos bactérias que a água mineral

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a cetesB (cOmpanhia amBiental dO estadO de sãO paulO) alterOu as medições Feitas das cOncentrações de pOluen-tes na atmOsFera, atendendO às recOmendações da Oms (OrGanizaçãO mundial da saÚde).

A medida, que foi publicada no Diário Oficial do Estado de São Paulo, faz com que o governo passe a ter padrões mais rigorosos para a qua-lidade do ar. Segundo a Companhia, os níveis de poluição estavam 20 anos desatualizados e até três vezes menos rígidos do que os es-tabelecidos pela OMS. Isso significa que a qualidade do ar considera boa hoje tenha valor regular daqui para frente.

Até então, a qualidade aceitável de poeira que os paulistas podiam respirar por dia ia até 150 mg/m3 (microgramas por metro cúbico) de material particulado. Em uma primeira fase, a nova regra baixa para 120 mg/m3 o tolerável para a concentração diária de poeira. A intenção da medida é reduzir até 50 mg/m3.

É que o decreto estabeleceu metas progressivas em três etapas antes de chegar aos padrões finais. A primeira entrou em vigor com a publica-ção no Diário Oficial, já as outras dependem de análises de cada situação, ficando a critério da Cetesb o início da validade de níveis mais rígidos.

Fumaça e trânsitoPara o material particulado em suspensão na forma de fumaça, a pri-

meira meta coloca em vigor os 120 mg/m3; já a final, ainda sem data de início, exige redução para 50 mg/m3. Para o ozônio, principal vilão da po-luição na capital paulista, foi estabelecido como aceitável a concentração diária de até 140 mg/m3 na primeira fase e de até 100 mg/m3 na última etapa – antes, o nível do poluente era de 150 partículas inaláveis por dia.

Ainda foram estabelecidos novos critérios de medição para o dióxido de enxofre, o dióxido de nitrogênio, o material particulado 2,5 e o chum-bo, para tentar estabelecer uma melhor qualidade do ar.

Divulgado nesta semana, o relatório anual de qualidade do ar da Cetesb apontou que a região metropolitana de São Paulo atingiu em 2012 o maior índice de poluição por ozônio da última década.

Além disso, a Grande São Paulo somou quase 10% de medições conside-radas inadequada ou má do ar, passando todos os índices dos últimos dez anos. Segundo o informe, o ozônio tem principal origem veicular, por cau-sa dos compostos liberados com a queima incompleta de combustíveis. FoNtE: uoL

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Contaminação pelo solOutra possível fonte de contaminação (ain-

da que indireta) é a exposição ao sol. A radia-ção acelera a quebra de moléculas orgânicas presentes na água (em baixíssimas concen-trações), que passam a ter o tamanho ideal para virar comida de bactérias. Com alimen-to disponível, elas se reproduzem e a popula-ção cresce. E então, quando morrem, servem de alimento para outras bactérias.

Esse ciclo de vida e morte é uma hipótese de trabalho. Em várias amostras, os pesquisado-res observaram baixa concentração de micro-organismos nos primeiros dias após o enva-se, que por sua vez aumentou alguns dias de-pois, para em seguida voltar a ser baixa. “Por enquanto é apenas uma possibilidade, mas outros estudos feitos no exterior chegaram a resultados parecidos”, diz Maria Fernanda.

Ela alerta ainda para outro tipo muito co-mum de contaminação dos garrafões de água mineral (que ficou fora do escopo do estudo). Ocorre no local de consumo, mas pode ser facilmente evitado. “É preciso fazer a higienização correta não só do galão como do suporte”, diz. Tanto um como o outro de-vem ser lavados com água sanitária, ou, pelo menos, com água clorada e sabão, a cada tro-ca do recipiente.

Padrões legaisProveniente de fontes naturais, a água mi-

neral não passa por nenhum tipo de trata-mento. Deve ser livre de contaminação na origem e preservar suas características ori-ginais, o que inclui a presença de diversos sais e de uma fauna microbiana considera-da benéfica à saúde humana. Geralmente em posse da iniciativa privada, as fontes de água mineral devem ter sua qualidade certi-ficada pelo Departamento Nacional de Pes-quisa Mineral (DNPM).

Já a água de abastecimento público, além de passar por tratamento químico e físico, tem sua qualidade obrigatoriamente verifi-cada por análises microbiológicas antes de ser distribuída nas cidades. A principal é a CHP. Embora esse teste seja feito também na água antes do envase, a legislação só estabe-lece um valor máximo aceitável de 500 UFC/ml para o líquido que vai para as torneiras. “Esse é o padrão internacional, que é segui-do pela Anvisa (Agência Nacional de Vigi-lância Sanitária). Mas já existe uma tendên-cia mundial de adotar o mesmo limite má-ximo também para a água de garrafa,” com-pleta Maria Fernanda. FoNtE: ISAúDE.NEt

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comunicação ambientalte

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a comunicação, vista sob uma perspectiva ampla, tem um papel importante a desempenhar no processo de conscientização e de mobilização para a sustentabilidade

de imediatO, pOdemOs recOnhecer que ela pOde cumprir três Funções Bási-cas, tOdas elas articuladas e cOmple-mentares. Em primeiro lugar, a comunicação competente pode contribuir para a consolida-ção do conceito de sustentabilidade, buscando eliminar equívocos como os que a associam a ações meramente pontuais ou que a reduzem à simples dimensão ambiental.

A sustentabilidade deve ser percebida de maneira abrangente e incorporar aspectos ambientais, socioculturais, políticos e econô-micos porque, ao contrário do que entendem alguns gestores, inclusive de comunicação, ela deve permear todas as ações humanas, com o objetivo precípuo de preservar condi-ções ideais para que todos os cidadãos desfru-tem de qualidade de vida. A sustentabilidade é a teia que tece a relação das pessoas entre si e com o planeta em que vivemos.

Em segundo lugar, a comunicação para a sustentabilidade, comprometida com os valo-res da equidade, da justiça social e da liberda-de costuma promover a conscientização dos habitantes da Terra para os riscos inerentes ao consumo não consciente, ao desperdício das riquezas naturais e à desigualdade social. Neste sentido, deve atentar para os direitos das minorias, o respeito à diversidade e o re-conhecimento da importância das culturas e das comunidades tradicionais. A sustentabili-dade deve ser pensada como eixo norteador das condutas individuais e organizacionais, e estar respaldada por uma ética planetária que privilegia o interesse coletivo em lugar de olhares viesados pela ganância econômico-financeira ou pelo compromisso com interes-ses políticos mesquinhos.

Finalmente, a comunicação sustentável, que deve ser exercida com coragem e determina-ção, não teme denunciar os desvios e abusos cometidos por indivíduos e organizações e está empenhada em resgatar os princípios da transparência, da convivência harmônica, da solidariedade humana. Ela se funda, portanto, numa perspectiva que contempla a sustenta-bilidade em sua integridade, não fragmenta-

da pela busca de resultados imediatos, com o objetivo único de reduzir cus-tos ou de plasmar uma imagem positiva.

A comunicação para a sustentabilidade implica, necessariamente, com-promisso dos diversos protagonistas (jornalistas, educadores, comunicado-res empresariais, organizações do Terceiro Setor, etc.) com um mundo mais justo, que não tolera a injustiça e repudia a hipocrisia.

Os jornalistas, e a mídia de maneira geral, precisam abrir as suas pautas para focar a sustentabilidade sem adjetivos, não a confundindo com o marketing verde, esforço recorrente de organizações e governos para ludibriar os stakeholders e a opinião pública, com um discurso falso, des-colado da realidade concreta.

Neste sentido, é fundamental que estejam suficientemente esclarecidos sobre o conceito autêntico de sustentabilidade, que estejam comprometi-dos com a qualidade da informação e que percebam os vínculos de deter-minadas fontes com interesses políticos, comerciais ou mesmo pessoais. A mídia sustentável não falseia os dados, não promove, por quaisquer moti-vos, o linchamento moral de empresas e indivíduos, investiga as causas e consequências de atos e decisões e analisa, criticamente, o impacto deles junto à sociedade. Ela não abre mão, sob nenhuma hipótese, da sua capa-cidade de mobilização e de influência junto à opinião pública, em prol do meio ambiente, dos direitos humanos e da liberdade de expressão, ainda que, para cumprir este objetivo, tenha que contrariar interesses poderosos. A mídia sustentável é ao mesmo tempo tolerante com a imperfeição huma-na, mas enérgica e implacável na luta contra lobbies ilegítimos que sobre-põem interesses escusos às necessidades básicas das populações.

Os educadores, pela posição que ocupam na sociedade, protagonizando a for-mação das futuras gerações, devem orientar também os jovens para a impor-tância da democracia e da conduta cidadã, respaldada no respeito ao próximo, na solidariedade com os menos favorecidos, na defesa da ética e do compro-misso com o interesse coletivo. A sua contribuição para a sustentabilidade in-

a importância da comunicação para a

sustentabilidade

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entre 16 e 19 de OutuBrO, a capital Federal será palcO dO 5º cOnGressO BrasileirO de jOrnalismO amBiental (cBja) e ii encOntrO naciOnal de pesquisa em jOrnalismO amBiental (enpja). O evento acontecerá no Centro Universitário de Brasília (Uni-ceub) e reunirá cerca de mil profi ssionais e estudantes de Comunicação do Brasil e do Exterior, como jornalistas, assessores de imprensa, profes-sores e pesquisadores. O II ENPJA acontecerá nos dias 16 e 17 de outubro. No dia 17 haverá a abertura ofi cial do V CBJA, que se prolonga até dia 19.

O tema guarda-chuva do Congresso serão os Objetivos de Desenvolvi-mento Sustentável das Nações Unidas (ODS). Eles são um conjunto de me-tas defi nido durante a Rio+20 para reduzir a pobreza, promover a prospe-ridade global e o avanço social associados à proteção do meio ambiente.

Como o bom Jornalismo pode ajudar o Brasil a se inserir nesse processo será um dos temas em debate. A pauta jornalística também estará pre-sente em paineis dedicados a assuntos como Economia Verde, Uso e ma-nutenção dos recursos naturais e a segurança alimentar, Bem estar social e ocupação do território, e ainda Geração de conhecimento e fi nancia-mento dos ODS. Além disso, será possível participar de ofi cinas temáticas sobre Os investimentos de capital público e o modelo de desenvolvimen-to nacional, Jornalismo Ambiental, Jornalismo e Ambientalismo, Gestão da Água, Geojornalismo, entre outras. O 5º CBJA mantém a tradição de apostar na formação continuada de profi ssionais e estudantes e é uma re-alização da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental (www.jornalismoam-biental.org.br). Este ano a iniciativa conta com o apoio do Uniceub.

Sobre a Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental (RBJA)Fundada no segundo semestre de 1998, a RBJA é uma plataforma de in-

teração entre jornalistas, estudantes, assessores de imprensa e acadêmicos interessados em discutir temas que envolvam jornalismo e meio ambien-te. A Rede tem como objetivos principais discutir jornalismo ambiental, in-tegrar jornalistas que cubram os temas da sustentabilidade, ser uma fer-ramenta para troca de informações sobre fontes especializadas. Para a in-teração entre seus membros e debates sobre temas referentes ao jornalis-mo ambiental, a Rede possui uma lista no Yahoo Grupos (http://br.groups.yahoo.com/group/jorn-ambiente/) e um grupo de discussão no Facebook (www.facebook.com/groups/243251852417376/).

Os congressos Brasileiros de jornalismo ambiental são uma iniciativa da rBja (rede Brasileira de jornalismo ambiental)

clui não apenas a disseminação de informações e conhecimentos, mas a defesa de princípios e valores que resultem na formação de um cida-dão alinhado com os desafi os do nosso tempo.

Os comunicadores empresariais devem estar empenhados na construção de um ambiente propício ao debate, à participação, que privile-gie o desenvolvimento pessoal e profi ssional e leve em conta as demandas e expectativas dos públicos de interesse das organizações e da co-munidade de maneira geral. Como gestores, de-vem conscientizar patrões e clientes para a ne-cessidade de uma comunicação democrática, inserida numa cultura e numa gestão organi-zacional que favoreçam a diversidade, a diver-gência de ideias e opiniões e cultivem o diálogo.

Os jornalistas, os relações públicas, os publi-citários e os profi ssionais de marketing, numa comunicação voltada para a sustentabilidade, rejeitam processos de manipulação que in-duzam os indivíduos ao erro em favor de in-teresses comerciais, agem responsavelmente comprometidos com a ética e a transparência, aprofundam relacionamentos e parcerias que promovem uma interação saudável entre as organizações e os seus stakeholders.

A prática da autêntica comunicação para a sustentabilidade exige atitudes corajosas dos gestores da comunicação, estejam eles em em-presas privadas de pequeno, médio ou grande porte, nas redações ou na administração pú-blica porque não tolera a omissão diante das injustiças, expressa a indignação com os des-vios éticos, a corrupção, o aprofundamento das desigualdades e proclama a tolerância.

A comunicação para a sustentabilidade é vi-tal para a democracia. Ela se funda na defesa da bio e da sociodiversidade, que se manifes-ta na criação de uma cultura planetária que se identifi ca com a distribuição equitativa dos re-cursos naturais, com uma governança global que respeita a identidade e a autonomia de nações e de culturas.

A comunicação para a sustentabilidade não é apenas mais uma utopia, mas uma necessi-dade imperiosa para indivíduos, organizações ou governos. A sua práxis garante a nossa condição de seres humanos, providos de inte-ligência e cordialidade, e com certeza instaura idealmente a qualidade de vida para todos os que habitam o nosso planeta. * Wilson da Costa Bueno é jornalista, professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da universidade Metodista de São Paulo e diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa, empresa de consultoria na área de comunicação empresarial e da Mojoara Editorial.FoNtE: ENVoLVERDE (PuBLICADo oRIGINALMENtE No SITE RSE NA MÍDIA)

acontecerá em Brasília5º cbja

Coordenação do V CBJA (Brasília): Beth Fernandes • (61) 9976-0213 • [email protected] Neto • (61) 8301-85098 • [email protected]

Em novembro de 2011, na PuC-RJ, aconteceu o IV CBJA, sob a

curadoria de Vilmar Berna (Rebia) e Adalberto Marcondes (Envolverde)

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Barcarena (pa) – pense na amazônia: 53% dO territóriO BrasileirO e a maiOr FlOresta trOpical cOntínua dO plane-ta. aGOra imaGine nesse cenáriO de riOs e BiOdiversidade O municípiO Bra-sileirO que tem O maiOr pOlO indus-trial de BeneFiciamentO de Bauxita dO mundO, e que expOrta tOdOs Os anOs cerca de us$ 2,9 Bilhões. Imagine grandes navios que carregam minério, grãos e gado – entre outros produtos exportados para 30 paí-ses – no Porto de Vila do Conde, o maior do Pará, nessa mesma cidade. Tente calcular o quanto vai aumentar o impacto social e ambiental na região quando esse porto for ampliado para es-coar a produção dos Estados (Goiás, Tocantins, Mato Grosso e Pará) beneficiados pela exten-são de 2.255 quilômetros da Ferrovia Norte-Sul, além da prevista melhoria da malha rodoviária na região. Agora examine esses dados: a renda anual per capita, de R$ 36 mil, equivale a quase o dobro da brasileira (R$ 19 mil em 2010), mas sete em cada dez habitantes da cidade não têm saneamento básico nem acesso à água tratada para o consumo humano. Além disso, poluição e acidentes ambientais de origem industrial são frequentes na região. Esta é a realidade do município de Barcarena, terceira maior econo-mia do Estado do Pará.

É nesse cenário que se desenvolve uma inicia-tiva exemplar para toda a Amazônia: o Fortale-cimento da Sociedade Civil de Barcarena, que abriga dois projetos implementados pelo IEB – Instituto Internacional de Educação do Brasil. Um marco desse processo foi alcançado dia 18 de

abril, na solenidade de assinatura do Termo de Adesão que estabelece o com-promisso de construção de um Fórum de Diálogo Intersetorial com o objeti-vo de encaminhar soluções para os graves problemas socioambientais do mu-nicípio. O documento, que estabelece o início da fase pré-fórum, foi assinado por representantes de 33 organizações da sociedade civil local e das empresas Albras, Alunorte e CAP, todas ligadas à multinacional norueguesa Hydro, que também aderiu formalmente. Uma boa surpresa foi a adesão de vereadores da cidade. Compareceram também representantes de secretarias municipais.

“É a culminância de um processo de trabalho do IEB no município”, come-mora Maura Moraes, coordenadora dos projetos desenvolvidos pelo Instituto em Barcarena. Esse trabalho começou em 2008, com a preparação e posterior realização de cursos, estudos e oficinas de capacitação para preparar lideran-ças das organizações locais para atuar em rede, coletivamente, com o propó-sito de influenciar a implantação de políticas públicas de desenvolvimento sustentável. “A ideia era ter a capacitação, mas o outro passo era a constitui-ção de um espaço público de diálogo”, explica Maura. “O IEB trabalha cons-truindo espaços públicos de discussão, porque entende que é preciso agrupar os diferentes setores da sociedade para um diálogo”. Dessa forma a iniciativa pretende romper com a lógica em que o Estado faz acordos com as empresas, e as organizações da sociedade civil vão isoladamente negociar para obter ganhos pontuais. Maura acredita que a construção de soluções coletivas e negociadas mediante o diálogo é mais efetiva no longo prazo.

Foi esse perfil de atuação, com foco educativo, que levou o Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente, do Ministério Público do Estado do Pará, a convidar o IEB para executar o Projeto de Desenvolvimento da Capacidade Social de Barcarena, previsto no Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) celebrado com a empresa Imerys Rio Capim Caulim, protagonista de um acidente ambiental na região. O TAC é uma forma de compensação, com força jurídica, que as empresas devem cumprir quando responsabilizadas por acidentes socioambientais de graves consequências.

Responsável pelo processo de estabelecimento do TAC, o promotor Rai-mundo Moraes disse que não imaginava uma participação “tão diversifica-da, que fosse ter um amadurecimento tão rápido”. Na opinião dele, o diálo-go para instituir o fórum demonstra que “é possível estabelecer a autono-mia da sociedade para construir um espaço público, com um pressuposto

projetos de fortalecimento preparam sociedade civil para o Fórum de diálogo que busca soluções estruturantes dos problemas socioambientais de Barcarena, no pará

danos socioambientais em barcarena

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diálogo abre caminho para reduzir

gente não tem transporte coletivo urbano, só o alternativo, que é feito por vans em condições precárias; água encanada só têm as pessoas que fazem ligações clandestinas no entorno da Vila dos Cabanos, construída para os funcioná-rios da Albras/Alunorte; é péssimo o estado das escolas, que precisam de reforma; e na zona ru-ral as construções são de madeira, sobre palafi-tas, com todas as ameaças que isso representa para a saúde das crianças”.

Barcarena sofre os impactos socioambientais negativos acumulados ao longo de 30 anos, des-de a drástica intervenção do Estado no territó-rio do município, ainda na ditadura militar, para implantar o polo industrial Albras/Alunorte. Fo-ram desapropriados 40 mil hectares de terras, incluindo florestas, o que inviabilizou atividades extrativistas que eram a base de sustento de mi-lhares de famílias. Outra consequência foi o flu-xo migratório sem nenhum planejamento para prover infraestrutura básica para uma popula-ção que aumentou de 23 mil para cerca de cem mil pessoas desde então. “Hoje temos um cres-cimento do número de associações nas áreas urbanas, exatamente em razão desse processo de expansão desordenada da periferia, de mui-tas ocupações no entorno das empresas”, conta Maura, ao explicar por que “uma das lutas mais importantes é essa da regularização fundiária”.

Clareza para o diálogoA atuação do IEB procurou contribuir para

uma mudança da cultura política na relação dessas comunidades com o poder público e as empresas, que tem duas maneiras bem distintas. “Existem aqueles que têm uma vi-são assistencialista e clientelista. Pensam as-sim: as empresas estão aqui, têm dinheiro, eu vou lá levar minha conta pessoal, da minha associação, da minha comunidade: a gente

muito forte da democracia, da liberdade, do foco no interesse público, com a consolidação de uma democracia institucional diferente”.

Um acidente muda o percursoEm 2007, transbordou a bacia de rejeitos de caulim da Imerys. O vazamento

contaminou os igarapés Curuperê e Dendê, chegando ao Rio Pará. Cerca de 500 famílias foram retiradas das proximidades pela Defesa Civil local. Houve mortandade de peixes e camarão. “Naquele momento, também o impacto visual foi muito forte, porque a água ficou totalmente branca. O impacto quí-mico era o mesmo que já vinha ocorrendo”, lembra o biólogo Marcelo de Oli-veira Lima, pesquisador do Laboratório de Análises Toxicológicas do Instituto Evandro Chagas (IEC). Um ano antes, já havia sido detectada a contamina-ção desses cursos d’água por efluentes da Imerys. O relatório do IEC sobre os efeitos do transbordamento foi tomado como base para o Ministério Público estadual definir as compensações do TAC assinado em 2008.

Além das reparações usuais, como a adequação das instalações industriais, prover o Corpo de Bombeiros com equipamentos para enfrentar essas emer-gências, multas, etc., o TAC determinou que a empresa assumisse duas impor-tantes iniciativas de caráter mais abrangente. Uma delas obrigou a Imerys a custear as ações do Programa de Monitoramento e Controle em Saúde e Meio Ambiente, executado pelo IEC nos arredores das áreas portuárias e in-dustriais dos municípios de Barcarena e Abaetetuba (este último foi incluído porque é vizinho, e alguns dos incidentes registrados desde 2001 ocorreram na fronteira). A outra determinou que a empresa fornecesse os recursos para capacitação de pessoas das organizações da sociedade civil local – centros comunitários, associações de moradores, sindicatos, cooperativas –, a fim de mudar o padrão das relações com o Poder Público e as empresas, que oscila-va entre o conflito aberto e o clientelismo. A ideia de incluir essa compensa-ção inusitada partiu do então promotor de Justiça de Barcarena, Raimundo Moraes, que já percebia a fragilidade dos cidadãos nesse tipo de relação.

“No início foi feito um esforço muito grande, em função do TAC, para prio-rizar as organizações que estavam no entorno dessa área afetada pelo aci-dente”, conta a coordenadora dos projetos do IEB. “Mas rapidamente se evo-luiu para outra compreensão: o acidente provocou isso, mas o problema é de todo o município de Barcarena, está além do acidente. Um evento dessa proporção não afeta só quem está ali diretamente.”

O foco se voltou para a questão social, a partir do acidente, em decorrência da constatação de que não existe infraestrutura urbana no município. Ro-nielson Benjamin dos Santos, representante da Associação dos Moradores do Porto da Balsa, relata uma parte dos problemas que a população enfrenta: “A

Página anterior: Maria José Gontijo (Diretora executiva do IEB), Arne Dale (AIN), Cesar Vasconcelos (hydro), Lindalva Melo (Associação das Mulheres do Campo e da Cidade, AMCC – Barcarena); Reunião na sede da empresa Alunorte, em Barcarena, para discutir o documento de adesão ao Pré-Fórum, onde participaram diretores do grupo hydro e lideranças de organizações do Comitê de Acompanhamento dos projetos de Fortalecimento Institucional em Barcarena. Acima: Grupo da oficina que discutiu as diretrizes do Espaço do Público em Barcarena (fevereiro/2012); Lideranças da sociedade civil de Barcarena indicam temas prioritários para serem debatidos no Fórum de diálogo com empresas e estado (fevereiro/2013)

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precisa de uma escola, a gente precisa que construa uma caixa d’água. Outro segmento faz o enfrentamento no conflito: vai lá, faz ocupação, faz greve, mobiliza os trabalhadores, fecha a rua que dá acesso à empresa”, diz Maura. “No processo, não se nega o conflito, o enfrentamento, porque al-gumas vezes vai ser necessário. E tem esse passivo, a que as lideranças fa-zem referência, sobre o que aconteceu, da desapropriação, do desrespeito com as pessoas, com a cultura, com tudo o que tinha lá. Não temos a pre-tensão de dizer que isso não cabe. É o processo deles, uma luta legítima.”

O que o IEB procura apresentar é uma terceira perspectiva, de atribuir responsabilidades a partir de outras referências. “Qual é o papel do Estado numa cidade como Barcarena, que tem uma atividade econômica que pode trazer benefícios para o município mas não traz? Como é que isso pode ser aproveitado pelo poder público em benefício de todos?”, questiona Maura. “Os impostos que as empresas pagam, os recursos que o município já rece-be… Como é que a gente pode cobrar isso numa discussão com esses dife-rentes segmentos? Hoje tem um conjunto de organizações que começa a ver essa possibilidade, de maneira mais clara.”

Definir com clareza o papel de cada setor e cada entidade no debate des-sas questões é condição para a construção de um Fórum de Diálogo Inter-setorial como foi proposto no Termo de Adesão. “É fundamental identificar claramente o papel de cada um. Se houver o cumprimento apropriado das responsabilidades de cada parte, os avanços já vão acontecer nisso”, afirma Cesar Vasconcelos, representante da Hydro, companhia de origem noruegue-sa que há dois anos controla o complexo Albras/Alunorte. “Em espaços seme-lhantes, muitas vezes não existe um entendimento claro de qual é o papel da empresa, qual é o papel da sociedade e qual é o papel do poder público.”

A integração da Hydro ao processo de criação do Fórum ganhou força a par-tir de setembro, quando a ONG Ajuda da Igreja Norueguesa (AIN) apoiou a articulação da visita de uma comitiva de representantes das comunidades, do Ministério Público e do IEB para mostrar a real situação de Barcarena à alta direção da empresa em Oslo. “Geralmente esses diálogos sobre respon-sabilidade social ficam nos níveis de gerência local, dentro da estrutura cor-porativa; dificilmente chegam às instâncias de tomada de decisão das em-presas”, justifica Fernando Matias, um dos representantes da AIN que acom-panharam a comitiva. Estabelecida em 2011 pelo governo da Noruega para estreitar a relação entre os dois países, a Estratégia Brasil exige que as empre-sas de origem norueguesa sigam aqui os mesmos padrões de responsabili-dade socioambiental existentes lá. “Nossa presença aqui é importante para a Hydro”, complementa outro representante da AIN, Arne Dale, ao indicar que a situação de Barcarena extrapolou os limites do município.

Resistência e boa notíciaA preparação das organizações sociais para participar com eficiência desse

novo capítulo ganhou mais recursos a partir de 2010, quando a União Europeia aprovou o Projeto de Fortalecimento Institucional de Barcarena, que comple-menta o projeto de capacitação previsto no TAC firmado três anos antes entre o Ministério Público e a Imerys. Um exemplo da necessidade de se superar a fragilidade institucional surgiu na própria capacitação, que incluía um estudo detalhado do orçamento municipal. “A Prefeitura não queria dar acesso, então foi preciso que o MP entrasse e exigisse a informação”, lembra Maura. “Só aí o material veio, e a gente trabalhou em cima das peças reais. Para identificar como é, como se definem as prioridades, os consultores mostraram onde exis-tem problemas, o que é destinado para a saúde, educação, etc.”

Quebrar esse tipo de resistência é um dos desafios na estruturação do es-paço de diálogo. Maria Lindalva dos Santos, representante da Associação das Mulheres do Campo e da Cidade de Barcarena, comemorava a instala-ção do pré-fórum, com a ressalva de que será necessário “trabalhar mui-to, constantemente, para que nós possamos chegar a um município que

tenha políticas públicas voltadas ao atendi-mento das necessidades da população”.

Do ponto de vista da Hydro, maior companhia da cidade, existe a expectativa de uma atuação responsável e bem estruturada do poder pú-blico. Um fator que alimenta essa esperança é a recém-eleita administração municipal, que tem a possibilidade de mudar a trajetória do município aderindo ao Fórum nesta fase de ar-ticulação. Mencionando uma conclusão de re-cente pesquisa realizada pela entidade global das indústrias de mineração (ICMM – sigla em inglês do Conselho Internacional de Mineração e Metais), Vasconcelos afirma que “os investi-mentos sociais das empresas têm maior con-dição de sustentabilidade, de serem efetivos no que se propõem, quando o poder público cor-responde devidamente ao seu papel”.

A presença do poder público no diálogo é, de fato, indispensável. Maura explica que a aco-modação de interesses divergentes é natural na estruturação do fórum, mas tem limites que são essenciais: “Por exemplo, se não tiver o poder público, não vai acontecer. Não tem sentido discutir o município se o poder públi-co não vem para essa discussão, se não temos clareza sobre o papel fundamental que ele tem. Se não tiver o Estado, não temos o fórum. As empresas também estão cientes disso”.

É grande a expectativa quanto à participação institucional do Ministério Público (MP) esta-dual. “O MP tem papel fundamental nessa con-certação”, define Maura. O promotor Raimundo Moraes diz que recentes mudanças na coorde-nação do Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente confirmam “a expectativa de que o Ministério Público vai acompanhar de perto o processo, de forma bem mais próxima do que vinha ocorrendo nos tempos recentes”.

Essa boa notícia é um indicativo de que pro-duzem resultados consistentes os projetos de fortalecimento da sociedade civil implementa-dos pelo IEB, ao preparar as comunidades locais para protagonizar um novo enredo rumo ao de-senvolvimento sustentável de Barcarena. Con-vidada a compartilhar com a plateia sua expe-riência na construção do Fórum Amazônia Sus-tentável, Adriana Ramos, do Instituto Socioam-biental, propôs, na solenidade de assinatura do Termo de Adesão, uma reflexão definitiva sobre o momento de consolidação do Fórum de Diá-logo Intersetorial: “É fundamental que o fórum parta não só do respeito mútuo, mas também do reconhecimento de que a solução dos pro-blemas concretos de Barcarena passa pela in-teração entre todos os grupos sociais da região. Todos têm de fazer parte, todos devem ter voz, todos devem ter direitos iguais”. Assim seja.

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cidadania ambiental

há 30 anOs, cansadO de ver cOBras e OutrOs animais mOrrendO de calOr pOr Falta de veGetaçãO, O indianO jadav “mOlai” paYenG decidiu plan-tar uma FlOresta. hOje, a área já ul-trapassa Os 1.400 acres e é maiOr dO que O central parK, em nOva iOrque.

A fl oresta plantada por um homem só está localizada na ilha de Majuli, no leito do rio Bramaputra, no nordeste da Índia. Nos úl-timos 100 anos, o local vem sofrendo com erupção do solo, causado por enchentes re-lacionadas ao aquecimento global. Além de perder cerca de 70% de sua terra, centenas de casas e fazendas foram abandonadas pe-los moradores locais no decorrer dos anos.

Antes de começar a plantar, o indiano chegou a procurar órgãos públicos locais, que disseram que somente bambus conse-guiriam sobreviver ali. Hoje, além de vasta vegetação, a área já é o habitat de animais como rinocerontes, tigres e elefantes.

A fl oresta recebeu o apelido de Molai’s Wood (Floresta do Molai).

DocumentárioA história da Floresta Molai impressio-

nou o diretor Will McMaster, que resol-veu produzir um documentário contando a história de Payeng. Com o título Forest Man, o fi lme já está em fase de produção e foi fi nanciado por crowdfounding. Se-gundo os realizadores do projeto, a simpli-cidade do indiano impressionou. Ele vive em uma fazenda de subsistência e não se importa com o dinheiro ou fama: plantou a fl oresta por amor à natureza. E sua histó-ria é desconhecida, mesmo na Índia. FoNtE: CAtRACA LIVRE

O indiano que plantou uma fl oresta contra a inclusão do redd no

mercado de carbono californianosozinho

ongs escrevem carta

OrGanizações nãO GOvernamentais cOmO O Greenpeace, a amiGOs da terra, O sierra cluB caliFórnia e Outras 24 entida-des enviaram uma carta aO GOvernadOr dO estadO da cali-Fórnia, jerrY BrOWn, pedindO que ele nãO aceite créditOs de cOmpensaçãO de carBOnO de prOGramas de reduçãO de emis-sões dO desmatamentO e deGradaçãO amBiental (redd) nO nOvO esquema de cOmérciO de emissões dO estadO.

Segundo o documento das ONGs, a iniciativa do estado da Califórnia de considerar novas formas de reduzir suas emissões e proteger suas fl orestas remanescentes é louvável, mas o uso de fl orestas para compensar as emis-sões industriais “não atingiria nenhum desses objetivos”.

De acordo com as organizações, a proposta de utilizar créditos de REDD para compensar as emissões industriais não apenas não traria as reduções desejadas, mas permitiria que as empresas mantivessem suas emissões nos mesmos níveis, já que as companhias estariam comprando créditos para compensar suas emissões.

Isso poderia expor o povo californiano a grandes riscos de saúde a am-bientais, e não incentivaria o desenvolvimento novas tecnologias e inova-ções limpas. Os órgãos colocam que essa não é uma forma segura de com-pensar as emissões, já que, enquanto o carbono liberado pelas indústrias fi ca na atmosfera por séculos ou milênios, não há garantias de que as fl o-restas armazenem o carbono por tanto tempo.

O texto explica também que as fl orestas têm um signifi cado social, econô-mico e cultural muito importante para os povos que as habitam, e há muitos registros de violações de direitos humanos em locais onde há programas de REDD, tanto nos locais que estão em fase de negociação com o mercado da Ca-lifórnia, como Chiapas (México), e Acre (Brasil), quanto nos que estão em con-sideração para uma futura inclusão no programa, como Nigéria e Indonésia.

Por essas e outras razões, as ONGs afi rmam ainda que outros mecanismos de comércio de emissões, como o EU ETS, não aceitam os créditos de REDD, e pedem que o estado da Califórnia, da mesma forma, os rejeitem.

“Para realmente combater o desmatamento tropical em sua raiz, os legis-ladores da Califórnia devem considerar analisar como as políticas existen-tes no estado, incluindo as relacionadas à aquisição, investimento públi-co, combustíveis e outras questões, podem permitir a destruição da fl ores-ta tropical através da contribuição para a demanda por petróleo, madeira, soja, papel, óleo de palma e outras commodities”, conclui a carta.

“Agradecemos o interesse da Califórnia em ajudar a proteger as fl orestas tro-picais e fi caríamos felizes em discutir com você passos que o estado poderia dar para atingir esse fi m”, propuseram as ONGs. O documento é último de uma sé-rie de textos enviados por organizações do Brasil, África e México que se opõem à inclusão do REDD no mecanismo de comércio de emissões californiano. FoNtE: INStItuto CARBoNoBRASIL

Leia a carta na íntegra em: www.institutocarbonobrasil.org.br/redd_/noticia=733918

O documento é último de uma série de textos enviados por organizações do Brasil, áfrica e méxico que se opõem à inclusão do redd no mecanismo de comércio de emissões californiano

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O aumento da população, da demanda e do uso da madeira em bioenergia podem triplicar a quantidade de madeira que a sociedade retira anualmente das florestas e plantações florestais até 2050, afirma o novo capítulo do Relatório Florestas Vivas, da rede WWF

O estudO dO WWF FOi apresentadO em FranKFurt (alemanha) durante a pa-perWOrld, a cOnFerência internaciO-nal sOBre papel, e prevê que a prOduçãO e O cOnsumO de papel duplicarãO nas próximas três décadas e que O cOnsu-mO tOtal de madeira pOderá triplicar.

“Um cenário no qual a sociedade retira o tri-plo de madeira das florestas e das plantações florestais precisa motivar um maior cuidado para proteger as florestas. Do contrário, os lo-cais onde a madeira cresce serão destruídos”, disse Rod Taylor, diretor do Programa Mundial de Florestas da Rede WWF.

“A madeira, quando obtida de florestas ou plantações bem manejadas, é um material re-novável que apresenta muitas vantagens em relação a alternativas não renováveis. O desa-fio para as indústrias de base florestal é como fornecer mais produtos madeireiros com me-nos impacto na natureza. E esse desafio se es-tende por toda a cadeia de produção, desde o local e a forma como a madeira cresce e é colhida até quão inteligente e eficiente é seu processamento, uso e reuso”.

A meta de conservação das florestas da Rede WWF é alcançar zero desmatamento líquido e zero degradação florestal liquida até 2020, o que significa não ter nenhuma perda de área nem de qualidade florestal. Essa meta exige que a perda das florestas naturais seja reduzida e che-gue próximo a zero, em lugar dos 13 milhões de hectares anuais que são perdidos atualmente.

“A pesquisa da Rede WWF sugere que é pos-sível alcançar o desmatamento líquido e a degradação florestal líquida zero e, ao mes-mo tempo, manter o vigor da indústria de produtos madeireiros”, afirmou Emmanuelle Neyroumande, coordenadora em nível mun-dial do trabalho da Rede WWF sobre celulose e papel. “No entanto, quanto mais adiarmos as ações, mais difíceis e caras se tornam as solu-

ções. Precisamos consumir de forma mais sábia e eficiente, bem como ado-tar práticas florestais responsáveis, boa governança e mais transparência”.

Em relação ao papel, o Relatório Florestas Vivas propõe soluções, como:• Mais reciclagem nos países com baixos índices de recuperação – se os índices de reciclagem aumentassem, no futuro a sociedade precisaria de menos material virgem, mesmo no caso de se ter um maior consumo mundial de papel. O cenário para 2020 demonstra que um aumento de 25% na produção de papel poderia demandar uma quantidade ainda menor de insumo de fibra virgem, desde que o nível global de uso de fibra reciclada, que hoje é de 53%, aumente para 70%. Os índices de recuperação do papel variam enormemente entre os países. Portanto, é grande o potencial dos esforços para aumentar a reciclagem nos países que apresentam baixos ín-dices de recuperação e do crescimento elevado do consumo para provocar uma redução da pressão sobre as florestas naturais.• Eficiência no uso de recursos e padrões mais justos de consumo – efici-ência no processamento e na manufatura pode ajudar a produzir mais pro-dutos com a mesma quantidade de madeira. Além disso, os atuais padrões de consumo das nações ricas (10% da população mundial consome 50% do papel mundial) não podem ser adotados de forma sustentável pelos países em desenvolvimento. As nações mais ricas podem reduzir seu desperdício no uso do papel, enquanto as nações mais pobres precisam de mais papel para a educação, higiene e segurança alimentar.• Plantações para reduzir a pressão sobre as florestas naturais – a de-manda líquida pela madeira provavelmente aumentará mesmo se houver um uso mais contido, com mais reciclagem e maior eficiência. Se a perda de florestas naturais ficar próxima de zero após 2020, sem que haja uma redu-ção significativa no consumo, até 2050 precisaremos de até 250 milhões de hectares de novas plantações de árvores. Isso é quase o dobro das planta-ções hoje existentes. Portanto, plantações bem manejadas e que contribu-am para restaurar os ecossistemas,, principalmente se feitas em terras que já estão degradadas, desempenharão um papel cada vez mais relevante.• Florestas bem manejadas – a demanda crescente certamente também irá pressionar ainda mais as florestas naturais. O relatório indica que, até 2050, a colheita comercial (de madeira) atingirá 25% mais florestas do que hoje. A cer-tificação florestal continuará a ser um instrumento importante para melhorar as práticas de manejo florestal por meio de um mecanismo de mercado.

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• Desafio energético – até 2050, a demanda anual de madeira para uso ener-gético poderá chegar a entre 6 e 8 bilhões de metros cúbicos, o que deman-dará mais do que o dobro da madeira hoje retirada para todo tipo de uso. Isso representa um desafio para o planejamento do uso sustentável da terra. Segundo a Rede WWF, a bioenergia tem um importante papel entre as diver-sas alternativas para combustíveis fósseis, além de oferecer outras fontes de renda e maior segurança energética para as comunidades rurais.

No entanto, para que tais benefícios se tornem realidade, a utilização da bioenergia deve ser cuidadosamente planejada, executada e monitorada, para que haja sustentabilidade ambiental e social. A má gestão do manejo da produção bioenergética pode destruir ecossistemas valiosos, diminuir a segurança alimentar e hídrica, prejudicar comunidades rurais e prolongar o desperdício no consumo de energia.

Nas próximas décadas, a humanidade provavelmente utilizará mais ma-deira e de mais maneiras. Devido ao aumento maciço na demanda projeta-da de madeira e de papel, a indústria de base florestal é chave para a con-servação das florestas. Para que a madeira possa desempenhar um papel positivo numa economia “verde”, baseada em recursos renováveis, é preciso que as florestas de produção sejam bem manejadas e sigam os mais eleva-dos padrões ecológicos e sociais, e que o uso e a recuperação dos produtos madeireiros se tornem mais eficientes.

O que é Desmatamento Líquido Zero e Degradação Florestal Líquida Zero?A Rede WWF define Desmatamento Líquido Zero e Degradação Florestal

Líquida Zero (ZNDD, sigla em Inglês) como nenhuma perda líquida flores-tal por meio do desmatamento e nenhum declínio líquido da qualidade florestal por meio da degradação das florestas. Há alguma flexibilidade no ZNDD: não significa a mesma coisa que nenhuma remoção da cober-tura florestal sob quaisquer circunstâncias.

Por exemplo, o ZNDD reconhece o direito das pessoas de fazer um corte raso com finalidade agrícola, bem como o valor de ocasionalmente com-pensar as florestas degradadas para livrar outras áreas para restaurar cor-redores biológicos importantes, desde que os valores de biodiversidade, a quantidade e a qualidade líquidas das florestas sejam mantidas.

Ao defender o ZNDD até 2020, a Rede WWF enfatiza: (a) a maior parte das florestas naturais deve ser mantida – o índice anual de perda das florestas naturais ou seminaturais deve ser reduzido para um nível próximo de zero; e (b) qualquer perda bruta, ou degradação bruta, de florestas naturais vir-gens precisam ser compensadas por uma área equivalente de restauração florestal socialmente e ambientalmente saudáveis. Nessa contabilidade, as plantações são se equiparam às florestas naturais, pois muitos valores são reduzidos quando uma plantação substitui uma floresta natural.

Os três primeiros capítulos do Relatório Florestas Vivas, da Rede WWF, fo-ram publicados em 2011:• Capítulo 1 – Florestas para um Planeta Vivo analisa as causas do desma-tamento e a necessidade de se adotar um novo modelo sustentável para a atividade florestal, a atividade agrícola e o consumo, por meio do ZNDD.• Capítulo 2 – Florestas e Energia analisa as salvaguardas necessárias para garantir que o uso cada vez maior da bionergia ajude a prover seguran-ça energética, desenvolvimento rural e redução dos gases de efeito estufa (GHG), sem com isso destruir ecossistemas valiosos nem prejudicar a segu-rança alimentar e hídrica.• Capítulo 3 – Florestas e Clima – REDD+ numa Encruzilhada destaca a Re-dução das Emissões Oriundas do Desmatamento e da Degradação Florestal (REDD+) como uma oportunidade única de se reduzir as emissões de gases de efeito estufa oriundos da floresta, em tempo hábil para prevenir as ga-lopantes mudanças climáticas — embora isso só poderá ocorrer se forem feitos investimentos agora.

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O ministériO dO meiO amBiente (mma) decretOu em 17 de maiO estadO de emerGência amBiental em 19 esta-dOs e nO distritO Federal, já tendO em vista O períOdO de secas, quandO sãO mais cOmuns Os FOcOs de incên-diO nas FlOrestas Brasileiras. a me-dida FOi puBlicada nO diáriO OFicial da uniãO e já está em viGOr.

A declaração do estado de emergência ambiental agiliza a contratação temporária de brigadistas para o controle dos focos de incêndio. Cada brigadista pode ser contra-tado por até seis meses, e a lei permite que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) con-trate até 2.520 pessoas para a função.

A medida foi tomada considerando a ameaça que o período seco representa, de acordo com dados históricos, e consideran-do também o tempo necessário para sele-cionar e contratar esses brigadistas.

No texto publicado pelo Diário Oficial da União, o MMA destaca também que as quei-madas representam uma das principais fon-tes de emissão de carbono do Brasil. Desta forma, segundo a pasta, o combate aos focos de incêndio representa também o esforço brasileiro para honrar os compromissos in-ternacionais contra a mudança climática.

O período em que o estado de emergência ambiental fica vigente varia de acordo com as características climáticas de cada área, in-clusive com subdivisões dentro dos estados. Há regiões em que a medida vale até os pri-meiros meses de 2014 – a mais longa vai até maio, na Região Metropolitana de Salvador.

No total, a medida vale para 20 unida-des da federação: Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Ma-ranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima, Sergipe e Tocantins. FoNtE: INStItuto huMANItAS uNISINoS

mma declara estado de emergência ambiental, o que agiliza a contratação temporária de brigadistas para o controle dos focos de incêndio

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andré triGueirO é um dOs jOrnalistas mais cOmpetentes em questões ecOlóGicas e principalmente cOm seu prOGrama na Globonews Cidades e soluções prOcura dar relevância aOs experimentOs Bem sucedidOs, daqueles que vem de Bai-xO, que pOdem incentivar a OutrOs a seGui-lOs. Este artigo é um alerta face à situação do aquecimento global que não para de cres-cer. Acrescento um dado da U.S.National Academy of Sciences de 2002 e repetido em 2007 que afirma: pelo pouco que fazemos, podemos conhe-cer nos próximos tempos um Abrupt Climate Change. O clima poderá em pouco tempo subir a 4-6 graus Celsius. Com essa temperatura as formas de vida conhecidas dificilmente subsistirão e grande da humanidade po-derá até desaparecer. Basicamente estamos jogando roleta-russa com a arma apontada para a cabeça de nossos filhos e netos. Isso não é terroris-mo ecológico mas séria advertência. Desta vez não podemos errar ou che-gar tarde demais, porque aí sim teremos um destino dramático e trágico. O artigo foi publicado no Blog Mundo Sustentável de 13/05/2013.

Cada geração deixa para a seguinte um legado, uma herança, uma mar-ca de sua passagem pela Terra. Quando no dia 9 de maio, dois diferentes observatórios internacionais confirmaram a concentração recorde de 400 partes por milhão de C02 na atmosfera, materializamos um dos mais terrí-veis legados da nossa geração. Se for para ser assim, é bom que saibamos exatamente o que isso significa. Apesar de todos os alertas da comunidade científica – especialmente do grupo de aproximadamente 2.500 cientistas reunidos no Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU – chegamos ao patamar considerado de risco para que os fenômenos climá-ticos ocorram de forma minimamente previsível e não ameace a vida tal como a conhecemos. Ou seja, estaríamos maculando o software inteligente da natureza através do qual os ciclos climáticos se resolvem.

Sim, ao longo de sua história o planeta já sofreu várias glaciações e já co-nheceu períodos de concentrações ainda mais intensos de CO2 na atmosfe-ra. O fato é que jamais tamanha acumulação de gases na atmosfera acon-teceu tão rapidamente, determinando em um período tão curto de tempo variações tão importantes de temperatura. Em resumo: este novo ciclo de

aquecimento global guarda uma forte rela-ção com nossos hábitos, comportamentos, pa-drões de consumo e estilos de vida.

É como diz Nate Lewis, do Instituto de Tecno-logia da Califórnia: “A composição da atmos-fera terrestre tem permanecido relativamen-te imutável por 20 milhões de anos. Mas nos últimos 100 anos, começamos a transformar de forma drástica essa atmosfera, e a mudar o equilíbrio de calor entre a Terra e o Sol, de modo que essas mudanças poderão afetar enormemente o habitat de cada planta, ani-mal ou ser humano neste planeta”.

A capacidade de o planeta “metabolizar” os gases-estufa através de fenômenos naturais de absorção pelos oceanos, solos e florestas é de aproximadamente 5 bilhões de toneladas por ano. Apenas no ano de 2008 (no auge da crise internacional e com as economias do mundo desaceleradas) emitiu-se 7,9 bilhões de toneladas com a queima de combustíveis fós-seis e 1,5 bilhão de toneladas com os desmata-mentos. Esses 4,4 bilhões de toneladas a mais vão se acumulando lenta e perigosamente na atmosfera, agravando a retenção de calor.

Os 10 anos mais quentes já registrados des-de o início das medições, em 1880, ocorreram a partir de 1996. A concentração de 400 ppm de CO2 registrada dias atrás projeta um cenário de aquecimento – se nada for feito e continu-armos aumentando nesse ritmo as emissões de gases-estufa – que poderá chegar aos 6,4 ºC graus até o final do século.

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Ilha de Saunder, na Groenlândia. Diferentemente do gelo Ártico, que está flutuando no oceano, as placas brancas da Groenlândia são terra firme. Por isso, cada gota que escorre do meio da ilha contribui para o aumento do nível dos mares no mundo todo

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Professor de Política Ambiental em Harvard e ex-presidente da Asso-ciação Americana para o Progresso da Ciência, John Holdren explica de forma bastante simples os impactos da elevação da temperatura do pla-neta: “A temperatura normal de seu corpo é cerca de 37 ºC. Quando sobe um pouco, até 39 ºC, isso já é uma coisa grave, e mostra que há alguma coisa errada com você”.

O degelo das calotas polares (que vem acontecendo numa velocidade su-perior à prevista pelos estudiosos) e a expansão volumétrica dos oceanos já determinaram a elevação do nível do mar entre 10 cm e 20 cm no sé-culo passado. Parece pouco, mas não é. Em um planeta mais quente esses processos serão intensificados e deverão modificar a geografia costeira dos continentes com impactos diretos sobre aproximadamente 600 milhões de pessoas que vivem em áreas mais vulneráveis.

Haverá também mudanças importantes nos ciclos de degelo em cordilhei-ras nevadas como os Andes e os Himalaias. Isso significa a interrupção do abastecimento regular de água em períodos de estiagem em países como China, Índia e Peru, com graves impactos na produção de alimentos. Certas culturas agrícolas mais sensíveis já estão sendo realocadas pois não se adap-tam facilmente à mudança do clima. Isso tem provocados sucessivas quebras de safra e riscos reais para a segurança alimentar em várias partes do mundo.

A acidificação dos oceanos – causada pelo acúmulo de CO2 – e a elevação da temperatura da água já estão determinando perdas importantes nos ecossistemas marinhos. A principal delas é a morte dos corais, base da ca-deia alimentar de inúmeras espécies. Sem redes de corais resilientes e sau-dáveis, os impactos econômicos e sociais sobre quem pesca, quem processa o pescado e quem se alimenta de peixes e frutos do mar é incalculável.

São muitos os estudos revelando os impactos das mudanças climáticas sobre espécies animais e vegetais. Nos diferentes reinos da natureza, nem todos os seres vivos se adaptam a mudanças de temperatura. Consideran-do o nível de interdependência entre as espécies, cada perda significa um novo risco sistêmico, enfraquecendo a “teia da vida”.

A mudança do ciclo da chuva é particularmente dramática em países como o Brasil, que depende de “São Pedro” para manter uma agricultura forte e pujante e uma matriz energética fortemente baseada em hidroele-tricidade. Para sustentar o nível dos rios e das represas em padrões adequa-dos, é preciso chover no lugar certo, e de preferência, nos períodos certos.

O agravamento dos chamados eventos extremos – aumento do poder de destruição de furacões, ciclones, tornados, tufões, secas, inundações etc – tornou obrigatória a definição de novos protocolos de segurança, alertas meteorológicos, macrodrenagem urbana, contenção de encostas, remoção das áreas de risco e etc.

São muitas as mudanças necessárias e urgentes na direção da mitigação (redução das emissões de gases-estufa) e adaptação (ações que reduzam os impactos inevitáveis causados pelas mudanças climáticas). O incrível – ou melhor, o absurdo – é que a ampla maioria dos países endossa os aler-tas da comunidade científica, financia as pesquisas de ponta relacionadas às mudanças climáticas, assina acordos internacionais importantes como o do Clima (1992) e o Protocolo de Kyoto (1997), envia representantes para as Conferências das Partes organizadas pela ONU para debater o assunto, mas, apesar de tudo isso, não consegue praticar o que fala.

É enorme a distância que separa as “boas intenções” das medidas concre-tas e efetivas que reduzam os estragos das mudanças climáticas. São mui-tos os chefes de estado que posam com o cenho franzido na foto, declaram-se publicamente preocupados e comprometidos, mas que nada ou pouco fazem. A atual geração de líderes políticos entra para a história como os avalistas do indigesto legado de 400ppm de CO2 na atmosfera.

Esse descolamento entre o discurso engajado e as políticas públicas se materializou fortemente no ano passado durante a Rio+20 (o maior en-

contro internacional da História em número de países), quando a proposta de se reduzir ou eliminar os subsídios da ordem de 1 trilhão de dólares destinados anualmente à explora-ção de petróleo foi solenemente ignorada na Cúpula. O Brasil, por exemplo, que realiza es-forços e manobras contábeis sem preceden-tes para financiar a exploração do petróleo na camada pré-sal, foi contra.

Trata-se do mesmo governo que ignorou o prazo estipulado pela Política Nacional de Mu-dança do Clima (abril do ano passado) para que fossem anunciadas as metas para a redu-ção das emissões de gases estufa em setores específicos da nossa economia.

Fundador do World Watch Institute, atual presidente do Earth Policy Institute, o pesqui-sador Lester Brown, em um dos capítulos do li-vro “Plano B 4.0”, resumiu da seguinte manei-ra o tamanho do desafio que os atuais chefes de estado não parecem dispostos a enfrentar com a devida celeridade:

“Dada a necessidade de simultaneamente es-tabilizar o clima e a população, erradicar a po-breza e restaurar os sistemas naturais da Terra, a civilização enfrenta, neste início de século 21, de-safios sem precedentes. Responder bem a pelo menos um deles já seria algo importante. Mas o grave quadro exige responder efetivamente a cada um deles ao mesmo tempo, tendo em vista a interdependência entre os problemas”.

Tal como hoje se dá na Alemanha, quando as novas gerações estudam o nazismo nas escolas e depois, em casa, os netos perguntam para os avôs: “O que o (a) senhor (a) fez para impedir isso?”, é bastante provável que em um futuro próximo também os nossos netos nos pergun-tem: “Quando se confirmou o risco do pior ce-nário climático, o que o (a) senhor (a) fez para impedir isso?”. Qual será a sua resposta?

Dada a necessidade de simultaneamente estabilizar o clima e a população, erradicar a pobreza e restaurar os sistemas naturais da Terra, a civilização enfrenta, neste início de século 21, desafios sem precedentes. Responder bem a pelo menos um deles já seria algo importante. Mas o grave quadro exige responder efetivamente a cada um deles ao mesmo tempo, tendo em vista a interdependência entre os problemas (Lester Brown, autor de Plano B 4.0)

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mais de seis anOs se passaram desde a puBlicaçãO dO ÚltimO relatóriO dO painel interGOvernamental sOBre mudança dO clima (ipcc), em marçO de 2007. desde entãO, Os prOGramas de mOdelaGem climática se tOrnaram muitO mais elaBOra-dOs, mas as suas previsões, inFelizmente, parecem nãO estar mudandO muitO.

Um novo estudo, coordenado por um pesquisador da Nasa, William Lau, reforça o alerta de que as regiões mais úmidas do planeta vão rece-ber ainda mais chuva, principalmente na forma de tempestades, e que as regiões mais secas tenderão a ficar ainda mais áridas nas próximas décadas, por conta das mudanças climáticas. Uma das áreas mais afeta-das deverá ser o Centro-Oeste brasileiro, onde está concentrada a maior parte da produção agrícola nacional.

O trabalho, aceito para publicação na revista Geophysical Research Let-ters, utiliza um compilado de 14 modelos climáticos desenvolvidos nos últimos anos para tentar prever o que vai acontecer com as chuvas no planeta nos próximos 140 anos, tomando como referência os meses de junho, julho e agosto, e assumindo um aumento de 1% ao ano na concen-tração atmosférica de dióxido de carbono (CO2).

“Eles pegaram os 14 modelos que serão utilizados no próximo relató-rio do IPCC, que são muito mais realistas do que os de 2007, e as previ-sões permanecem essencialmente as mesmas”, analisa o meteorologista Gilvan Sampaio, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST) Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O resumo da história, segundo ele, é que os eventos climáticos extre-mos – como secas, tempestades e ondas de calor – deverão se tornar mais frequentes, como já vem ocorrendo nos últimos anos. Com relação aos níveis de precipitação, especificamente, algumas regiões já áridas deverão receber ainda menos chuva e permanecer secas por períodos mais longos – incluindo o Nordeste brasileiro, que este ano passa por uma das piores secas de sua história.

“Até gostaríamos de estar errados, mas, infelizmente, parece que esta-mos certos”, lamenta Sampaio.

Segundo o novo estudo, cada 0,56 °C de elevação da temperatura glo-bal em razão do aumento da concentração de CO2 na atmosfera resul-tará num aumento de 3,9% na ocorrência de chuvas fortes e de 1%, na ocorrência de chuvas fracas. Curiosamente, apesar disso, o volume anual global de precipitação não deverá mudar significativamente, por conta de uma redução de 1,4% na ocorrência de chuvas moderadas. Ou seja: ha-verá uma intensificação dos extremos, o que é péssimo para o ser huma-no, tanto no campo quanto nas cidades, pois agrava o risco de eventos extremos como secas e tempestades.

Um vídeo divulgado com o estudo mostra como os níveis de precipi-tação deverão variar anualmente no trimestre junho-julho-agosto (JJA) pelos próximos 140 anos. Nele, uma grande mancha marrom escura (re-presentando reduções significativas de chuva) se expande e se retrai so-bre o Centro-Oeste, sul da Amazônia e partes do Nordeste brasileiro nes-tes três meses de inverno, que já são naturalmente os mais secos do ano.

“O maior impacto desta figura não é tanto a queda nos volumes de chuva, mas que este volume de chuva diminui até agosto e, possivel-mente, até setembro. Ou seja, a estacão seca pode ficar mais longa e as

menos chuva pra quem não tem

chuvas nesta região começarem mais tarde que o normal”, o que teria forte impacto na agricultura e na geração de energia elétrica nessas regiões, diz o pesquisador José Ma-rengo, coordenador geral do CCST.

Detalhe: as concentrações de CO2 usadas na modelagem do estudo começam em 280 par-tes por milhão (ppm), bem abaixo da concen-tração atual, que já está batendo em 400 ppm. O que significa que o estudo é bastante con-servador e, consequentemente, ainda mais preocupante. O próximo relatório geral do IPCC (conhecido como AR5, ou 5th Assessment Report) é esperado para o fim de 2014. FoNtE: BLoGS.EStADAo.CoM.BR

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restal cOmpletOu um anO de aprOva-çãO. muita cOisa FOi dita, mas pOucO FOi FeitO. A Lei Federal nº 12.651 ainda não disse a que veio. Parece que bastou a anistia do passivo ambiental de aproximadamente 40 milhões de hectares de cerrados e florestas des-matados ilegalmente antes de julho de 2008.

O que temos até agora é o Decreto Federal nº 7.830/12, genérico, que não tem o condão de nortear os Programas de Regularização Am-biental (PRA) que os estados devem desenvol-ver para regularizar, na prática, as proprieda-des rurais. Os PRAs devem indicar, com fun-damentação técnica, onde serão consolidadas as ocupações ou onde deverão ser recupera-das as áreas ilegalmente desmatadas. Devem também indicar as bacias hidrográficas críti-cas nas quais a recomposição de áreas de pre-servação permanente deverá ocorrer segundo parâmetros técnicos mais rigorosos do que os previstos na lei. Devem, ainda, indicar a loca-lização das áreas críticas para recomposição e conservação florestal para fins de compensa-ção de reserva legal. Um ano se passou e ne-nhum PRA, até agora, foi aprovado no país.

Embora tenha sido um dos elementos mais comemorados pelos parlamentares da base do governo, não há ainda nenhum incentivo econômico concreto (previstos no artigo 41 do Código) ou movimento real iniciado para tan-to. A falta de movimento afeta também a im-plementação do mercado nacional de redução de emissões de CO2, previsto em lei desde de-zembro de 2009. Tal mercado poderia direcio-nar investimentos para conservação ou recu-peração de florestas, já que o desmatamento, apesar da redução expressiva de suas taxas na Amazônia, ainda é responsável pela maior parte das emissões de carbono brasileiras.

A falta de ação parece também ser seguida pela falta de vontade para com o diálogo pú-blico e transparente. Tanto é assim que o Mi-nistério de Meio Ambiente recusou a propos-ta feita em novembro de 2012 pelo Instituto O Direito por um Planeta Verde e pelo Instituto

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um ano do código Florestal: tudo dito,

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de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) para a criação de um grupo as-sessor, no âmbito do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), para acompanhamento e avaliação da implementação da nova lei.

Em contrapartida, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) propôs a cria-ção de um comitê, fora do Conama, para monitoramento da implementa-ção da nova lei florestal, supostamente com a participação da sociedade. Até o momento, tal comitê não foi criado, não se sabe qual a sua composi-ção, como serão indicados seus membros, enfim não há previsão para que isso aconteça. Não se trata mais de questionar o que foi aprovado, mas de buscar a melhor maneira de implementar, sem mais retrocessos, o que foi aprovado há um ano pelo Congresso.

Atentas a esse processo, algumas organizações da sociedade – entre elas, Ipam, Instituto Socioambiental (ISA), Instituto Centro de Vida (ICV), Conservação Internacional (CI), Fundo Mundial para a Natureza (WWF), The Nature Conservancy (TNC) e S.O.S. Mata Atlântica – lançarão este mês, no Congresso Nacional, o Observatório do Código Florestal. O pro-pósito da iniciativa é promover seminários, audiências públicas, reuni-ões técnicas, debates e avaliações independentes e multi-institucionais sobre os melhores caminhos e meios para uma boa e transparente im-plementação do Código.

Espera-se que esse esforço encontre abrigo nos espaços institucionais exis-tentes, em especial no Congresso Nacional, nas assembleias legislativas, nas câmaras de vereadores, nos conselhos de meio ambiente e conte com o apoio dos órgãos ambientais, inclusive do Ministério do Meio Ambiente.

Pretende-se, assim, contribuir com a implementação da nova lei, impulsio-nando o Cadastramento Ambiental Rural dentro de parâmetros de trans-parência e eficácia aceitáveis e tornando os anunciados incentivos econô-micos, para aqueles que vêm cumprindo a lei e continuam protegendo seus ativos florestais, uma realidade no menor espaço de tempo possível.

Sem colocar o Código em operação já, não será de estranhar que, mais à frente, uma “atualização” na consolidação de áreas rurais desmatadas ile-galmente (leia-se, mais anistia) após julho de 2008 seja requerida por aque-les que lutaram para obter tal benefício na atual lei. * Paulo Moutinho é biólogo, doutor em ecologia e diretor executivo do Ipam. André Lima é advogado, assessor especial de Políticas Públicas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), mestre em políticas públicas e gestão ambiental. FoNtE: ENVoLVERDE / IPAM

um ano depois, e a lei Federal nº 12.651 ainda não disse a que veio

A ministra do Meio Ambiente, Izabella teixeira

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PROGRAMA RECLAMAR ADIANTA

RÁDIO BANDEIRANTESAM 1360 (RJ) COM ÁTILA NUNES FILHO

Permitir que dezenas de ouvintes diaria-mente entrem no ar para reclamar, protes-tar, denunciar, sem censura. Essa é a fórmu-la do sucesso de audiência do Programa Reclamar Adianta que vai ao ar de segun-da à sexta feira pela Rádio Bandeirantes AM 1360 (RJ). Na verdade, esse sucesso é um re-sultado, e não o objetivo. O objetivo sempre foi - e é - de dar voz aos cidadãos que não tem acesso aos veículos de comunicação para externar seus pontos de vista.

Todas as reclamações dirigidas à empresas ou às autoridades, recebem nossa atenção – de forma personalizada – que não se encer-ra quando acaba o programa ao meio dia. A partir desse instante começa o atendi-mento fora do ar. O monitoramento dessas reclamações pela nossa equipe continua no restante do dia, às vezes, do resto da sema-na, até a se alcançar a solução.

O alcance dos assuntos foi ampliado, esten-do-se às reclamações dos ouvintes em rela-ção aos órgãos do governo federal, gover-nos estaduais e prefeituras.

Dezenas de profissionais trabalham hoje in-teiramente dedicados à milhares de ouvin-tes que acompanham o programa ao vivo pela Rádio Bandeirantes ou pela internet, com o fundamental apoio do serviço de in-teresse público Em Defesa do Consumidor (www.emdefesadoconsumidor.com.br).

A central telefônica, criada para atender durante as duas horas de programa, hoje funciona 24 horas por dia.

As três dezenas de profissionais que atuam no Programa Reclamar Adianta preparam-se para ampliar o atendimento nacionalmente.

Tudo isso se deve, contudo, aos milhares de ouvintes que sintonizam a Rádio Bandeiran-tes AM 1360 do Rio de Janeiro, de segunda à sexta-feira, das 10h ao meio dia.

Obrigado a todos.

E guarde o número de telefone de nossa Cen-tral de Atendimento: (021) 3282-5588. Se pre-ferir, nos mande um e-mail. O atendimento é 100% gratuito e personalizado.

A equipe doPrograma Reclamar Adianta

PROGRAMA RECLAMAR ADIANTARÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ)

De 2ª à 6ª feira, entre 10h e meio dia,Acesse pela internet: www.reclamaradianta.com.br

Central telefônica 24h: (021) 3282-5588twitter: @defesaconsumowww.emdefesadoconsumidor.com.br

PROGRAMA PAPO MADURORÁDIO BANDEIRANTES AM 1360 (RJ)

De 2ª à 6ª feira, ao meio dia,Acesse pela internet: www.papomaduro.com.br

Central telefônica 24h: (021) 3282-5144

Page 36: Revista do Meio Ambiente 59

Guia do meio ambiente aqui o seu anúncio é visto por quem se importa com o meio ambiente

A Revista do Meio Ambiente (revistadomeioambiente.org.br) é elaborada a partir das colaborações da Rede Rebia de Colaboradores e Jornalistas Ambientais Voluntários (RebiaJA – rebia.org.br/rebiaja) e é distribuída de forma dirigida e gratuita, em âmbito nacional, em duas versões: 1) versão impressa – distribuída em locais estratégicos e durante eventos ambientais importantes que reúnam formadores e multiplicadores de opinião em meio ambiente e demais públicos interessados na área socioambiental (stakeholders) diretamente em stands, durante palestras, ou através de nossas organizações parceiras, empresas patrocinadoras, etc.; 2) versão digital – disponível para download gratuito no site da Revista bastando ao interessado:

a) estar cadastrado na Rede Brasileira de Informação Ambiental (Rebia) – rebia.org.br (cadastro e associação gratuitas); b) estar logado no momento do download; c) preencher o campo do formulário com o comentário sobre o porque precisa da Revista do Meio Ambiente.

Quem patrocina a gratuidade? A gratuidade deste trabalho só é possível graças às empresas patrocinadoras e anunciantes, às organizações parceiras e à equipe de voluntários que doam seu esforço, talento, recursos materiais e financeiros para contribuir com a formação e o fortalecimento da cidadania ambiental planetária, no rumo de uma sociedade sustentável.

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Revista do Meio AmbienteRedação: Trav. Gonçalo

Ferreira, 777 Casarão da Ponta da Ilha,

Jurujuba, Niterói, RJCEP 24370-290

Telefax: (21) 2610-2272ano VIII • ed 59 • maio 2013 ISSN 2236-1014