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[email protected] www.forumavarzim.org.pt JANEIRO2013 08 ON-LINE TR SFORMAR Revista dos Associados e Amigos do Forum Abel Varzim Desenvolvimento e Solidariedade siga-nos DIA MUNDIAL DA PAZ Como são felizes os que constroem a paz! GAZA ESCREVE FUNDAÇÃO JOÃO XXIII ANO EUROPEU DOS CIDADÃOS JUNIOR ACHIVEMENT PORTUGAL QUEM FOI ABEL VARZIM

Revista dos Associados e Amigos do Forum Abel Varzim ... · (Caritas in veritate, n.13). Para se realizar este ambicioso objetivo, é condição preliminar ... (Caritas in veritate,

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JANEIRO2013

08on-line

TR SFORMARRevista dos Associados e Amigos do Forum Abel Varzim Desenvolvimento e Solidariedade

siga-nos

dia mundial da Paz Como são felizes os que constroem a paz!

Gaza escreveFundação João XXIIIano europeu dos cIdadãosJunIor acHIveMenT porTuGaLQueM FoI abeL varzIM

Colaboradores :António SoaresAntónio Leite GarciaCristina MonteiroArtur LemosJosé Carmo Francisco

design: nelsongarcez ©

editorial

Como é tradicional, iniciamos o ano de 2013 com a euforia

habitual que caracteriza as noites da passagem do ano. Porém,

os portugueses sabem que este ano não vai ser um ano fácil, a

todos os títulos. O Presidente da República, na sua Mensagem de Ano

Novo, sublinhou este facto.

Como escrevemos no site do Forum, não devemos encarar o próximo

ano com medo e desconfiança. Temos que lutar por aquilo que parece

ser justo e digno para a vida de cada um e alargar os horizontes na

procura e concretização do bem comum, a partir do qual nos podemos

descobrir co-responsáveis uns pelos outros. Se o fizermos, 2013 será

um ano feliz.

Este número do Transformar on line aborda vários temas interessantes

que nos podem ajudar a reflectir sobre o nosso posicionamento futuro.

O tema da Paz é incontornável. Dia 1 de Janeiro é o Dia Mundial da Paz

e há vários anos que o Papa vem publicando publica uma Mensagem

alusiva ao tema. Solicitámos ao Padre José Manuel Pereira de Almeida

um comentário à mensagem de 2013. Noutro artigo, José Carmo

Francisco, aborda a situação de ausência de Paz na Faixa de Gaza e

ajuda-nos a reflectir sobre aspectos que se vivem no «terreno». Ainda

sobre a temática da Paz publicamos um texto do Padre Abel Varzim

escrito em 1944 sobre a primeira condição de Paz.

Noutro plano, chama-se a atenção para o texto de Artur Lemos sobre

a actividade da Fundação João XXIII em matéria de Cooperação com

Guiné-Bissau.

António Flor faz-nos uma proposta que é a de conhecer uma

Associação: Júnior Achievement Portugal (JAP), instituição sem

fins lucrativos, empenhada em levar as às escolas programas que

desenvolvem nas crianças e jovens o gosto pelo empreendedorismo.

A Redação

Contactos:

Forum Abel Varzim

Desenvolvimento e Solidariedade

Apartado 2016 - 1101-001 LISBOA

Rua Damasceno Monteiro nº1, r/c

1170 – 108 LISBOA

Telef. 218 861 901

www.forumavarzim.org.pt

[email protected]

Quando Jesus se dirige aos seus discípulos (se nos dirige) dizendo: “Felizes vós...!”

(cf. Lc 6,20-23) saibamos escutá-lo. Felizes não porque grandes, ou poderosos, ou prósperos, ou ricos. Mas porque o Senhor é o Senhor. Mesmo quando somos fracos, incapazes, medrosos, pecadores, frágeis, vulneráveis. Sabemo-lo. E se o sabemos, que o saibamos, então, recordá-lo sempre. A bem-aventurança da paz é apresentada pelo Papa «simultaneamente» como «dom messiânico e obra humana» (cf. nn.2-3), citando a encíclica do Papa Beato João XXIII, Pacem in terris («cujo cinquentenário terá lugar dentro de poucos meses») e o tema do Dia Mundial da Paz de 1973: «a paz é possível!» (n.3). Alguns de nós não podem esquecer os acontecimentos que, há quarenta anos, tiveram lugar na Capela do Rato, no decurso de uma Vigília pela Paz.

Muita coisa mudou, entre nós, desde esse tempo... e, no entanto, se prestarmos atenção, no contexto em que vivemos, esta Mensagem pode despertar-nos ainda para uma intervenção social, quer no âmbito familiar, nas relações de vizinhança, no bairro, quer na esfera política, com particular atenção aos campos do desenvolvimento e da economia. Se nos deixarmos interrogar, reconheceremos a distância a que nos encontramos das propostas do Papa.

Bento XVI afirma, logo no início: «Cada ano novo traz consigo a expectativa de um mundo melhor» (n.1). E entre nós? Como entramos em 2013? Como será este ano para os portugueses? Para os que se encontram em situação mais frágil? «À distância de 50 anos do início do Concílio Vaticano II, que permitiu dar mais força à missão da Igreja no mundo, anima constatar como os cristãos, Povo de Deus em comunhão com Ele e caminhando entre os homens, se comprometem na história compartilhando alegrias e esperanças, tristezas e angústias (Gaudium et spes,1.4) anunciando a salvação de Cristo e promovendo a paz para todos. Na realidade o nosso tempo, caracterizado pela globalização, com seus aspetos positivos e negativos, e também por sangrentos conflitos ainda em curso e por ameaças de guerra, requer um renovado e concorde empenho na busca do bem comum, do desenvolvimento de todo o homem e do homem todo» (n.1). E a Igreja que somos? Temos mesmo sido fiéis ao Evangelho? O que há a mudar urgentemente as nossas comunidades?

Dada a situação particularmente penosa em que vivem muitos dos nossos concidadãos – penosa para eles, decerto, mas penosa também para nós como sociedade que admite e pactua com injustiças e assimetrias

gritantes – realço o ponto sobre o trabalho. Diz o Santo Padre (e, a partir de agora, o meu escrito é ainda menos ‘meu’, dada a dimensão das citações): «E, entre os direitos e deveres sociais atualmente mais ameaçados, conta-se o direito ao trabalho. Isto é devido ao facto, que se verifica cada vez mais, de o trabalho e o justo reconhecimento do estatuto jurídico dos trabalhadores não serem adequadamente valorizados, porque o crescimento económico dependeria sobretudo da liberdade total dos mercados. Assim o trabalho é considerado uma variável dependente dos mecanismos económicos e financeiros. A propósito disto, volto a afirmar que não só a dignidade do homem mas também razões económicas, sociais e políticas exigem que se continue “a perseguir como prioritário o objetivo do acesso ao trabalho para todos, ou da sua manutenção” (Caritas in veritate, n.13). Para se realizar este ambicioso objetivo, é condição preliminar uma renovada apreciação do trabalho, fundada em princípios éticos e valores espirituais, que revigore a sua conceção como bem fundamental para a pessoa, a família, a sociedade. A um tal bem corresponde um dever e um direito, que exigem novas e ousadas políticas de trabalho para todos» (n.4).

Como são felizes os queconstroem a paz!

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dia 1 de Janeiro foi o Dia Mundial da Paz e há vários anos que o Papa vem publicando publica uma Mensagem alusiva ao tema.

A MENSAGEM PARA O 46º DIA MuNDIAL DA PAz (1 DE JANEIRO DE 2013) é INTITuLADA BEM-AVENTuRADOS OS CONSTRuTORES DA PAz.

O Papa Bento XVI, tomando do Evangelho de Mateus este tema (Mt 5,9), sintoniza a sua reflexão com o ritmo das bem-aventuranças (e cita, no n.2, Mt 5,3-12 e Lc 6,20-23) proclamadas, quer no Sermão da Montanha (de Mateus), quer no da Planície (de Lucas), recordando que «não são meras recomendações», «mas [...] cumprimento de uma promessa» (n.2). De facto, a novidade que as bem-aventuranças nos propõem acerca da nossa mentalidade e da nossa cultura exige que nos interroguemos sobre o sentido da vida humana e sobre o que valorizamos como realização da nossa vida (realização pessoal, social, eclesial) em contextos em que, muitas vezes, o sucesso é visto como medida do bem.

Continua...

Acrescentando, imediatamente: «De vários lados se reconhece que, hoje, é necessário um novo modelo de desenvolvimento e também uma nova visão da economia. Quer um desenvolvimento integral, solidário e sustentável, quer o bem comum exigem uma justa escala de bens-valores, que é possível estruturar tendo Deus como referência suprema. Não basta ter à nossa disposição muitos meios e muitas oportunidades de escolha, mesmo apreciáveis; é que tanto os inúmeros bens em função do desenvolvimento como as oportunidades de escolha devem ser empregues de acordo com a perspetiva duma vida boa, duma conduta reta, que reconheça o primado da dimensão espiritual e o apelo à realização do bem comum. Caso contrário, perdem a sua justa valência, acabando por erguer novos ídolos. Para sair da crise financeira e económica atual, que provoca um aumento das desigualdades, são necessárias pessoas, grupos, instituições que promovam a vida, favorecendo a criatividade humana para fazer da própria crise uma ocasião de discernimento e de um novo modelo económico. O modelo que prevaleceu nas últimas décadas apostava na busca da maximização do lucro e do consumo, numa ótica individualista e egoísta que pretendia avaliar as pessoas apenas pela sua capacidade de dar resposta às exigências da competitividade. Olhando de outra perspetiva, porém, o sucesso verdadeiro e duradouro pode ser obtido com a dádiva de si mesmo, dos seus dotes intelectuais, da própria capacidade de iniciativa, já que o desenvolvimento económico suportável, isto é, autenticamente humano tem necessidade do

princípio da gratuidade como expressão de fraternidade e da lógica do dom (Caritas in veritate, n.15). Concretamente na atividade económica, o construtor da paz aparece como aquele que cria relações de lealdade e reciprocidade com os colaboradores e os colegas, com os clientes e os usuários. Ele exerce a atividade económica para o bem comum, vive o seu compromisso como algo que ultrapassa

o interesse próprio, beneficiando as gerações presentes e futuras. Deste modo sente-se a trabalhar não só para si mesmo, mas também para dar aos outros um futuro e um trabalho dignos» (n.5).

Não deixemos de ler na íntegra esta Mensagem para o Dia Mundial da Paz!

E não deixemos de «ser autênticos construtores da paz, para que a cidade humana possa crescer em concórdia fraterna, na prosperidade e na paz» (n.7). Com os riscos que esta bem-aventurança comporta. Sabemos, porventura por experiência, como são felizes os que constroem a paz! é que

podemos sempre confiar-nos totalmente ao Senhor. Sendo nós vulneráveis, frágeis, escutamos a Sua Palavra que nos é dirigida: “Bem-aventurados vós que...”

P. JOSé MANuEL PEREIRA DE ALMEIDA –

Médico, pároco da Igreja de S. Isabel em Lisboa, professor de teologia na UCP e Assistente Espiritual da Comissão Nacional Justiça e Paz.

Gaza escreve-se como Na-gaza-ki ou a maldição de Ariel Sharon

No passado dia 22-11-2012 foi proclamado um cessar-fogo em Gaza pela senhora Clinton, pelo presidente do Egipto mas antes já um conjunto de mortos (185) e feridos (162 mulheres

e 274 crianças) tinha surgido em alguma imprensa. O primeiro-ministro de Israel encolheu os ombros. Ele tem eleições à porta e não quer saber do que, horas depois do cessar-fogo, o Exército de Israel matou Anwar Qudaih de apenas 20 anos e prendeu 60 pessoas na margem ocidental do Rio Jordão. Para Benjamin Natanyahu o mais importante são as ideias do major Gilad Sharon cujo pai (Ariel Sharon) está incapacitado num hospital, vítima de doença grave. Como tal ele comunica com o filho por olhares e gestos, explicando e incitando que o primeiro-ministro deve «acabar o trabalho que deixou a meio». Para ele, e para o filho que fala por ele, só há uma saída: ou esmagar Gaza ou ocupar de novo o território. Protagonista de algumas das mais repugnantes crimes contra a Humanidade, o velho Sahron, o mesmo que desactivou o processo de paz de Isaac Rabin, não se cansa de avisar o jovem Sharon: em Gaza não deve haver electricidade, nem combustíveis nem veículos em movimento. E o seu argumento é muito forte: se os americanos não se detiveram em Hiroshima porque os japoneses não foram rápidos a aceitar a rendição e atacaram logo Nagasaki, Israel também deve atacar Gaza. Será a solução final para os palestinianos tal como o gueto de Varsóvia o foi para muitos judeus nos anos de 1939/1945. Afinal em Israel os livros escolares exibem nos seus mapas não o estado

mas a terra de Israel considerando a Palestina um espaço em branco e os seus habitantes gente do século XIX que só trazem problemas e ameaças. Diz a professora de História Nurit Peled-Elhanan que o futuro é assustador porque a realidade do Estado de Israel é sombria. Na atmosfera pública, no discurso dominante e na tensão sempre presente numa educação pública controlada por cartilhas e direcionada para levar os estudantes directamente da Escola para o Exército. Sempre que um livro escolar foge das normas oficiais, é

retirado do mercado, destruído e queimado para não deixar rasto. E mesmo os vinte por cento de cidadãos israelitas que são palestinianos são sempre referidos nos livros escolares como «não judeus».

Lisboa não está assim tão longe de Gaza como aos mais distraídos pode parecer. Basta ver o «check point» (posto de controlo) que funciona na rua onde está instalada a embaixada de Israel e onde não passa ninguém como se eles estivessem em Haifa, Tel Aviv ou Ashdod.

Mesmo incapacitado na cama de um hospital porque vítima de uma doença grave, Ariel Sharon continua a

mandar recados pelo seu filho e a dar cartas neste jogo repugnante. Ao mesmo tempo as árvores de Natal já desapareceram todas das escolas e dos colégios privados de Israel.

Entretanto a chamada «comunidade internacional» continua de consciência tranquila porque o assunto está bem entregue e segundo o megafone mediático mundial está tudo bem assim porque os Palestinianos são os culpados de tudo o que lhes acontece. Esta é, pelo menos, a chamada verdade oficial.

NãO é FáCIL ESCREVER SOBRE uM TEMA QuE TODOS OS DIAS SE ALTERA – A FAIXA DE GAzA A QuEM ATé O CONSERVADOR PRIMEIRO-MINISTRO BRITâNICO (CAMERON) CLASSIFICA DE «PRISãO A Céu ABERTO».

“Para sair da crise financeira e económica atual, que

provoca um aumento das desigualdades, são necessárias

pessoas, grupos, instituições que promovam a vida”

“Sempre que um livro escolar foge das normas oficiais, é

retirado do mercado, destruído e queimado para não deixar

rasto.”

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“E não deixemos de «ser autênticos construtores da paz, para que a cidade humana possa crescer em concórdia fraterna, na prosperidade e na paz”

texto: José Carmo Francisco

Continuação...

A Fundação João XXIII/ Casa do Oeste é uma instituição da Diocese de Lisboa que se dedica ao fomento de iniciativas de acção católica rural e que, em 1990, lançou uma corrente de cooperação com as gentes da Guiné, corrente essa que tem vindo a crescer paulatinamente ao longo das duas últimas décadas.

Tudo começou com um grupo de nove pessoas que, durante 15 dias, repararam casas de habitação de gente muito humilde, propriedade da Sé de Bissau. Chamaram-lhe elas, então, “Férias solidárias.

No 3º ano de “Férias solidárias” um grupo de 19 escuteiros construiu, em Bissau, o 1º pavilhão da Cooperativa Escolar de S. José de Mindará, recentemente criada pelo Professor Raúl Daniel. A cooperação intensificou-se e diversificou-se nos anos seguintes: formação de professores e fornecimento de equipamento e material pedagógico. Actualmente a Cooperativa acolhe mais de três mil alunos, a maior parte no ensino geral e, de há três anos para cá , também no ensino profissional. é seguramente o centro escolar mais importante do país.

Circunstâncias peculiares levaram a Fundação e envolver-se na Clínica do Bom Samaritano de Ondame. Esta clínica foi fundada no princípio dos anos 60 por duas missionárias evangélicas inglesas. Depois de mais de trinta anos de intenso e valioso trabalho, as duas enfermeiras reformaram-se e entregaram a gestão da clínica à Igreja Evangélica de Bissau. Apesar de continuarem a apoiar a clínica à distância, a actividade foi diminuíndo e as instalações e equipamentos foram-se degradando. A Fundação, com notável sensibilidade ecuménica e social, assumiu a responsabilidade de continuar a obra das duas missionárias e lançou novas iniciativas: cuidados básicos de saúde, combate à

tuberculose, consultório de dentista e um projecto muito amplo, denominado VISãO GuINé, destinado a tratar doenças oftalmológicas.

A Gestão da Clínica procura seguir o princípio da auto-sustentabilidade. “ No primeiro ano financiámos a 100% quer os salários, quer os medicamentos, a manutenção do gerador e a ambulância. No segundo ano, para surpresa nossa, já houve autonomia para os custos de

um mês, no terceiro para os custos de dois meses, no quarto para os custos de três meses, no quinto para quatro meses e, em 2011, a autonomia atingiu os 5 meses. Esta autonomia é adquirida através de uma taxa moderadora de 80 cêntimos para consulta e venda de medicamentos tabelada pelo Estado”.

Os voluntários afectos à Fundação envolveram-se noutros pojectos, queridos e geridos pelas populações locais: apoio à Cooperativa Agrícola de jovens quadros de Canchungo, Infantário de Bissá, Associação de Wluty (mudar), Rádio regional do Biombo, Biblioteca de Ondame e Cooperativa Educarte.

As coisas passam-se do seguinte modo. Os voluntários são enquadrados pelo Grupo dinamizador da solidariedade da Fundação

e destinam períodos curtos do tempo de férias para , em conjunto, fazerem avançar os projectos in loco. Pagam do seu bolso as viagens e contam, para residirem , com o Centro Social de Ondame, que, de, resto, eles próprios construíram e que só foi concluído em 2004. Cada missão anual de “Férias solidárias” compreende uma preparação intensa de constituição e formação de equipas, de planeamento das intervenções e de mobilização e transporte para a Guiné dos

recursos materiais necessários.

Apesar da crise, a Fundação e todos aqueles que a ela quiserem associar-se, propõe-se continuar o caminho de solidariedade com a Guiné aprofundando projectos em curso e lançando novos projectos: aprofundamento do projecto Visão Guiné, construção das novas instalações da Maternidade da Cínica Bom Samaritano, compra de um barco para romper com o isolamento da Ilha de Picixe e exploração das potencialidades da “Moringa”.

A Moringa é uma planta originária da Guiné- Bissau e dos países limítrofes dotada de propriedades nutricionais elevadíssimas. Tudo nela é comestível, das folhas às vagens, em crú ou cozida. E como exige pouca água aguenta-se bem na estação seca. Aí está um recurso local que, devidamente tratado, pode contribuir significativamente para combater a desnutrição que por lá campeia.

A Fundação acaba de editar um livro, “Solidariedade cm a Guiné. Duas décadas” ( preço : 10 euros) onde encontra uma síntese das actividades realizadas e em curso de realização e muitos testemunhos sobre como a solidariedade é engenhosa e torna mais valiosa a nossa vida.

“INSANIDADE é CONTINuAR A FAzER SEMPRE A MESMA COISA E ESPERAR RESuLTADOS DIFERENTES”. EINSTEIN TEM RAzãO, EM 2012 FIz ALGO QuE NuNCA TINHA FEITO.FuI VOLuNTáRIO NuMA ESCOLA PúBLICA E FOI uMA EXPERIêNCIA DESAFIANTE, ENRIQuECEDORA E MuITO DIVERTIDA.

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A Fundação João XXIII Aposta na cooperação com as gentes da Guiné- Bissau

O sonho comanda a vida, mas são as nossas acções que tornam possível o Sonho…

Estamos a ouvir constantemente os enormes problemas que a escola pública tem e por vezes até nos ouvimos dizer: “se fosse eu resolvia tudo num instante…era uma limpeza”…pois...mas

não fazemos nada, e se fizermos , muda? Claro que sim.

Estava eu num almoço com uma colega a debater os problemas na escola pública, quando a minha colega me disse “sabes, os alunos estão cheios de vontade de aprender, eu sei, eu sou voluntária da JAP e dou um programa sobre as coisas práticas da vida onde junto o conhecimento com a minha experiência…e é fabuloso!”. Fiquei zonzo, dar aulas a jovens do 9º ano?? Mas são uns indisciplinados. Fabuloso?? Não conseguia ligar o que a minha colega me estava a dizer com as ideias préconcebidas que tinha e fiz a PERGuNTA: “Como é fizeste para te tornares voluntária?”

A paixão com que descrevia, o brilho nos olhos, a confiança que transmitia levo-me a pesquisar na internet e fiquei seguro com o que li. A Junior Achievement Portugal (JAP) é uma associação sem fins lucrativos, empenhada em levar às escolas programas que desenvolvem nas crianças e jovens o gosto pelo empreendedorismo. E tem um lema com que me identifico Não se nasce empreendedor. Aprende-se. A JAP é uma organização com experiência no terreno e tem o alto patrocinio da presidencia da republica, mas coloquei-me a pergunta:Poderei ser voluntário, mesmo sem experiência com alunos?Eis a resposta, que consta no site e que me levou a inscrever-me como voluntário: Sim. Quando a pessoa interessada em ser voluntária da JAP se inscreve, terá de preencher um questionário inicial e passará por um entrevista presencial. A JAP depois conduz uma sessão de formação para os voluntários, na qual distribui um kit com todos os materiais necessários para a implementação do programa, incluíndo um guia do voluntário, muito simples e orientador. Na sala de aula está sempre presente o professor da disciplina. Ao longo do ano lectivo, o voluntário tem também o apoio de um gestor de programa da JAP.Mas o que farei como voluntário?Os voluntários são convidados a disponibilizar o seu tempo e experiência, para ensinar os jovens de norte a sul do país. Este trabalho é desenvolvido em parceria com os professores das escolas e turmas envolvidas, com o intuito de implementar programas didácticos de acordo com o nível escolar dos alunos.Consigo disponiblizar tempo, na minha hora de almoço, tenho 44 anos de experiência, e vontade de tornar o amanhã melhor que o dia de hoje. Inscrevi-me.

Os objectivos do programa são que os alunos possam:

1. IDENTIFICAR OBJECTIVOS DE EDuCAçãO E CARREIRA BASEADOS EM INTERESSES, VALORES E APTIDõES;

2. EXPLORAR O AuTO-CONHECIMENTO E O MuNDO DO TRABALHO PARA QuE A TOMADA DE DECISõES SEJA CONSCIENTE NA EDuCAçãO, NA CARREIRA E NA VIDA;

3. APRENDER SOBRE FINANçAS PESSOAIS E COMPREENDER QuE A SATISFAçãO DE NECESSIDADES E DESEJOS RESuLTA DA GESTãO FINANCEIRA, INDEPENDENETEMENTE DOS RENDIMENTOS DE CADA uM.

Existem vários programas para o ensino básico: 1º ano - a Família; 2º ano - a Comunidade e para o 9º ano - Economia para o sucesso, foi este que escolhi.

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DE TEMPOS A TEMPOS E, PELAS PIORES RAzõES, FALA-SE, EM PORTuGAL, DA GuINé BISSAu. DEPOIS ESQuECE-SE E A GuINé – BISSAu é uM DOS PAíSES MAIS POBRES DO MuNDO E SãO ANTIGOS E PROFuNDOS OS LAçOS QuE NOS LIGAM A NóS, PORTuGuESES, A ELA.

texto: Artur Lemos

texto: António Flor

Continua...

SERãO VáRIOS OS EVENTOS ORGANIzADOS AO LONGO DO ANO PARA APELAR AO ENVOLVIMENTO DOS CIDADãOS E PARA OuVIR AS SuAS OPINIõES.

2013: Um ano dedicado aos direitos dos cidadãos

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Este é o Ano Europeu dos Cidadãos, um ano dedicado a si e aos seus direitos. Pelo menos é o que pretende a Comissão Europeia para 2013, que marca o 20.° aniversário da

cidadania da união Europeia (uE) e que é também o ano que precede as eleições para o Parlamento Europeu. uma iniciativa que será lançada a 10 de Janeiro pelo Presidente da Comissão, José Manuel Barroso e pela Vice Presidente Viviane Reding, em Dublin.

«Para construir uma união mais forte e politicamente mais sólida é necessário o envolvimento directo dos cidadãos. Por esta razão, 2013 é o Ano Europeu dos Cidadãos: um ano dedicado a si e aos seus direitos enquanto europeu», declarou a Vice-Presidente Viviane Reding, Comissária da uE responsável pela Justiça. «A Comissão Europeia pretende ajudar as pessoas a compreenderem melhor como podem beneficiar directamente dos seus direitos e ouvir as suas opiniões sobre o rumo da Europa.»

Para assinalar o Ano Europeu dos Cidadãos de 2013, será organizada em toda a uE uma série de eventos, conferências e seminários, a nível nacional, regional e local (ver calendário dos eventos). A Comissão reforçará igualmente a visibilidade dos portais Web multilingues «Europe Direct» e «A Vossa Europa» como elementos centrais de um «balcão único» de informação sobre os direitos dos cidadãos da união, bem como o papel e a visibilidade dos instrumentos de resolução de problemas, como o SOLVIT, para que os cidadãos da união possam exercer e defender melhor os seus direitos.

Ao longo de todo o ano de 2013, a Vice-Presidente Reding e outros comissários da uE associar se ão aos políticos nacionais e locais na organização de debates com os cidadãos em toda a Europa a fim de os ouvir e responder às suas perguntas.

Comissão Europeia

Sessão 1: Espelho meu, Espelho meuOs alunos fazem escolhas para compreenderem o conceito de auto-conhecimento, através da análise das suas aptidões, os seus interesses e os seus valores. Simultaneamente, reflectem sobre a educação, carreira e outras escolhas da vida.

Nesta actividade conheci os alunos, disse-lhes o que fazia, dei-lhes vários exemplos de profissões, contei-lhes que existem muitas dificuldades pelo caminho e que cada um de nós é que comanda a nossa vida, para o bem ou para o mal. O segredo está na escolha que fazemos a cada instante.

Sessão 2: Tu decidesOs alunos aprendem os passos para o processo reflexivo na tomada de decisões. Este processo é aplicado no Jogo Escolhe o teu Sucesso, onde os alunos vão tomar decisões relativas à educação e opções de carreira.

Aqui os alunos jogaram e perceram que as suas escolhas influciavam os pontos que obtinham no final, perceberam que quanto mais soubessem mais pontos obtinham.

Sessão 3: Escolhe o teu SucessoOs alunos aplicam os seus conhecimentos sobre tomada de decisões, auto-conhecimento, mundo do trabalho e oportunidade de sucesso para jogarem novamente o Jogo Escolhe o teu Sucesso. Jogamos novamente, agora todos já conheciam as regras e todos quiseram obter mais pontos. Perceberam o nosso ditado popular “O saber não ocupa lugar”

Sessão 4: mantém o EquilíbrioOs alunos recebem os Cartões de Profissões e verificam que a diferentes empregos

correspondem salários mensais diferentes.

Esta atividade foi uma verdadeira descoberta. Os alunos tinham um valor para gastar que dependia da sua profissão. Enquanto que havia alunos que tinham dinheiro para tudo, outros tinham que fazer opções quanto, à roupa, à comida, por exemplo, alguns optaram por levar a comida da véspera para o almoço de forma a poupar e, mesmo assim era muito complicado equilibrar o orçamento. Afinal, o conhecimento pode fazer a diferença…

Sessão 5: Organiza as ComprasOs alunos analisam o modo como os consumidores pagam pelos bens e serviços e discutem as vantagens e desvantagens de usar pagamento a pronto e a crédito.

Algo de interessante aconteceu, os alunos compreenderam os conceitos através de uma jogo, preferiram pagar a pronto todos os artigos, mesmo que tivessem que esperar uma jogada. Foi uma verdadeira surpresa para mim.

Sessão 6: define o teu RiscoOs alunos aprendem que a vida envolve riscos e que os seguros ajudam a reduzir as consequências financeiras do risco.

Em várias situações do dia a dia, desde um acidente de automável até uma janela partida os alunos viram e sentiram a importância de ter um seguro.

“Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena”. No meu caso foi uma experiência que me enriqueceu e que me deu uma visão positiva da nova geração.

Se quer resultados diferentes daqueles que tem obtido, então faça algo de diferente. Desafie-se…seja voluntário.

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Continuação...

desafie-se seja voluntário.

Considera-se empreendedor, comunicativo e disponível para ser Voluntário da Júnior achievement Portugal numa sala de aula? Vá e pesquise em http://www.japortugal.org/.

O Devolver é sinónimo de restituir. E só se pode falar em restituição, quando se produziu um roubo. Foi roubada, ao homem pela sociedade a dignidade humana?

As modernas concepções de Nação e de Estado, cometeram, em verdade, o crime. Tudo se socializou: a vida, a alma, o coração, a inteligência, a vontade, os sentimentos do homem. O Estado, erguido à culminância de origem e fim do homem, agrupou as massas em rebanhos sem alma, tirando-lhes a consistência económica, social, política, intelectual e moral. A vontade, individual, desprovida de responsabilidade pessoal, foi identificada com a vontade do Estado, de tal forma que chegou por vezes, a perder a própria razão de existência quando não se adaptava perfeitamente a ela.

O cristianismo, mandando obedecer embora ao Soberano, libertou o homem da escravidão do Estado, muito antes de conseguir libertá-lo completamente da escravatura. O renascimento do conceito pagão do César, roubou-lhe, porém, de novo a sua dignidade pessoal e voltou a submetê-lo à nova escravidão do espírito, até mesmo nas sociedades políticas que, por irrisão, se têm chamado de democráticas. é que na realidade a sujeição do espírito é sempre a mesma, seja ela proveniente de um Estado totalitário, de um partido político, ou duma ditadura da finança e do dinheiro.

Há que retomar a rota perdida e restituir ao homem o seu lugar de proeminência no convívio social.

Ora esse lugar conquista-se, praticamente, pelo reconhecimento de um certo número de direitos considerados inerentes à personalidade humana. Pio XII enumera-os pela seguinte ordem:

1.º direito a manter e desenvolver a vida corporal, intelectual e moral;

2.º direito ao matrimónio e à consecução do seu objectivo;

3.º direito à sociedade conjugal e doméstica;

4.º direito ao trabalho;

5.º direito à livre escolha de estado;

6.º direito ao uso dos bens materiais.

Reconhecer ao homem o direito a manter e desenvolver a vida corporal, intelectual e moral, é o mesmo que reconhecer o dever que tem o Estado e as «elites» responsáveis de proporcionar a todos os homens as condições materiais, sanitárias, educativas e religiosas que permitam esse desenvolvimento a cada um. Para não citar senão um exemplo do que exigem tais condições, bastará lembrar que o desenvolvimento dum homem leva convencionalmente vinte e um anos - idade em que as leis lhe reconhecem plena responsabilidade e consistência - e que, portanto, será necessário organizar a sociedade de forma a que, durante este tempo, a criança ou o jovem não sejam obrigados a um trabalho precoce ou brutalizador que os empeçam praticamente de crescer e se fortalecer corporalmente, e de se instruir e educar. Mas isto reclama, evidentemente, em primeiro lugar condições económicas e educativas que só um esforço construtivo, colectivo e prolongado, poderá realizar.

O direito ao matrimónio e à consecução do seu objectivo não fica suficientemente reconhecido pelo facto das leis o permitirem a todos os homens que satisfaçam às devidas condições. Que valor pode ter um direito para quem, na prática, o não pode efectivar por motivos estranhos à sua vontade? A situação é por vezes tal, que muitos são postos neste dilema angustiante: ou renunciar ao matrimónio, ou casar-se sem possibilidades de vida. E ambas as coisas são más, tanto para, o indivíduo, como para a sociedade, como o demonstra a dolorosa experiência de cada dia.

Anexo ao direito ao matrimónio está o direito à sociedade conjugal e doméstica. Sendo a família, anterior e superior ao próprio Estado, é dever deste proporcionar aos cônjuges possibilidades de viverem juntos e em sua casa. Reconhecer este direito é, portanto, evitar tudo o que obrigue o marido ou a mulher a procurar o sustento do lar com prejuízo da vida conjugal ou da vida doméstica.

O «direito ao trabalho, como meio indispensável à sustentação da vida familiar», uma vez reconhecido, obrigará a colectividade a organizar-se de tal forma quo não haja ninguém ocioso contra sua vontade. Mas, se as circunstancias anormais temporariamente o impedirem de ganhar o sustento do seu lar pelo trabalho, deve prever-se a forma de o garantir por outro modo. O direito ao trabalho supõe o dever social de fornecer trabalho devidamente remunerado, a todos os homens adultos ou chefes de família, ou então garantir-lhe, por outra forma, o sustento do lar.

Este direito completa-se logicamente pelo outro de ascender ao uso dos bens materiais, na plena consciência dos «seus deveres e limitações sociais.» Este direito é, de facto, teoricamente reconhecido. Mas a máquina económica internacional está de tal maneira endurecida e emperrada, que apenas uma minoria consegue usufruir os benefícios do progresso económico das Nações. Reconhecer o direito do homem ao uso dos bens materiais é, portanto, desemperrar a economia e a vida social de tal forma que não continue a ser dado por esmola, comiseração ou assistência, aquilo que o homem deve possuir de pleno direito.

O exame deste primeiro ponto essencial da paz, de entre os cinco que o Santo Padre enunciou na sua mensagem do Natal de 1942, leva-nos à certeza de que ou os povos entram francamente na resolução dos problemas sociais que afligem o mundo, ou a estrela da paz não nascerá ainda desta vez para os indivíduos nem para as Nações.

ABEL VARzIM

(in jornal «NOVIDADES» 1944.04.23)

A tragédia sangrenta quo envolveu os homens numa luta sem piedade começa já de fatigá-los. O espírito humano, cansado da sua própria ferocidade, anseia, como nunca pela paz. Por uma paz de simples repouso para novas guerras, ou por uma vida nova sem guerras?

A resposta, o futuro no-la vai dar. Mas se é de verdadeira paz que se trata, muito há que modificar nas leis, nos sentimentos e nos costumes actuais dos povos!

A primeira condição da paz é, como vimos na, mensagem de Pio XII, o reconhecimento da dignidade e o respeito dos direitos da pessoa humana.

Com efeito a sociedade, qualquer que ela seja, é composta de homens e, se existe, é precisamente para os auxiliar a melhor desenvolver a sua personalidade. Falha à sua própria razão de ser, se os diminuir ou esmagar, e torna-se, por isso mesmo fonte de desordem e causa da guerra. Enquanto a sociedade não se organizar de forma a que o homem, encontre nela, e por via dela, o pleno desenvolvimento da sua personalidade, difícil será aspirar à tranquilidade e à paz. Por isso escreveu o Pontífice, «quem deseja que a estrela da paz nasça e se detenha sobre a sociedade, concorra por sua parte a devolver à pessoa humana a dignidade que Deus lhe concedeu desde o princípio.»

Em 1944, em plena 2ª guerra Mundial, o jornal «Novidades» publicava o texto que a seguir se reproduz da autoria do Padre Abel Varzim. Tendo em conta o ano de publicação e o contexto sociocultural vigente este pode ser um texto que nos ajuda a reflectir sobre o nosso presente.

Quem foi Abel Varzim

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A prImeIrA CONdIçãO dA pAz

“Há que retomar a rota perdida e restituir ao homem o seu lugar de proeminência no convívio social.”

Pág 10

Forum Abel Varzim desenvolvimento e Solidariedade

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