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REVISTA F - MAGAZINE CULTURAL DA ESCOLA SUPERIOR DE ARTES E DESIGN CALDAS DA RAINHA . JULHO 2010 . EDIÇÃO Nº1

Revista F

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Magazine Cultural ESAD.CR

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EXPRESSÃO.CRÓNICA PEDRO04ENTREVISTA CIDÁLIAMACEDO08AR TIGOCENTRAL12ARTES PLÁSTICAS16DESIGN AMBIENTES20DESIGN CER Â M I CAV IDRO24 DESIGNGRÁFICOMUL T I M É D I A 2 8 D E S I G N I N D US T R I A L 32S O M IMAGEM36TEATRO40 IDENTIDADES44CON VIDADO48EVENTO50

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EDITORIAL

QUEM SOMOS?

EspaçoForma é uma nova identidade presente na nossa escola que tem como objectivo apoiar os alunos e ex-alu-nos da Esad.Cr a dar forma ou projecção aos seus tra-balhos. Neste projecto, pretende-se também divulgar e informar através de um modelo mais integrado o público estudantil sobre eventos, formação, serviços, temas da actualidade, saídas profi ssionais, entre outros.

Este é um projecto gradual. Espera-se poder interagir, não só com a escola (ESAD.CR – IPL), como também, com a ci-dade (Caldas da Rainha). Com o decorrer do tempo, a nos-sa produção passará por uma progressiva acção junto da comunidade académica – alunos e serviços – e também junto da comunidade urbana e os seus serviços. Estes serviços são todos aqueles que, na cidade, estão direc-tamente ligados às necessidades da escola e dos seus alunos.

MISSÃO

Começando por criar mecanismos que possam divulgar e promover os alunos – futuros profi ssionais – e os ex-alunos – recém-licenciados, pretende-se através da inte-racção com a escola e com o exterior, criar uma nova e energética envolvência com a comunidade estudantil da ESAD.cr.

VISÃO

Contribuir para mais e melhores projectos a curto e mé-dio prazo, assim como, favorecer mais motivação no seio estudantil, fomentar a cultura no sentido de que ela seja, por si só, criadora de mais cultura, elevando assim a um novo patamar, a escola de ensino do design e das artes de Caldas da Rainha.

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A PERSEVERDO PROPOSAO EXPRIMIRMO-NOS, MAIS DO QUE TENTARMOS DEFINIR A NOSSA GEO-LOCALIZAÇÃO NO MAPA MEN-TAL DE DOIS LABIRINTOS INVISÍVEIS – O DO APARENTE REAL QUE NOS TOCA E O SIMPLESMENTE DOS OUTROS – ESTAREMOS A TENTAR CUMPRIR A IMPOSSÍVEL DEMANDA DE LIGAR ESSE MESMO MAPA AO TERRITÓRIO, QUE, RECORDEMO-LO, NÃO SE CONFUNDEM.

A PEA PE

crónica

Texto Pedro Miranda

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RANÇA SITO

Na actual tecnosfera, a expressão confi gura-se cada vez mais como uma necessidade imperiosa em prejuízo de uma veleidade estética de um ego auto-confi ante. Pas-sado o assombro inicial da evidência esmagadora de um mundo real que nos pode afectar de forma aleatória e muitas vezes perigosa, foi-se instalando uma ansiedade ontológica sobre se de facto não estaremos presos na nossa própria representação do mundo – ou seja, se algu-ma vez seremos capazes de conhecer o mundo, para além do fi ltro necessário que constitui a nossa mente ou túnel de realidade. Muitas vezes sentimos que herdámos uma cabeça maior do que o mundo que nos rodeia (aparente-mente), mas talvez o mundo seja mesmo mais vasto do que supomos.

Como estamos a receber feedback a cada momento, ten-demos a responder-lhe, através de uma recriação do uni-verso que faça sentido para nós, consubstanciada quer em narrativas (daí a necessidade das fi cções, outros tan-tos reais que se desdobram em miríades de labirintos que se bifurcam sem cessar), quer no que se pode denominar expressão artística, um diário dos sentidos. Ou seja, a ex-pressão poderia construir-se simultaneamente como uma resposta e uma pergunta ao mundo, uma afi rmação e um questionar permanente sobre a interacção que estabele-cemos com o que nos rodeia. Ela é fi lha de uma tríade de necessidades: a da construção de uma identidade; a do reconhecimento da ideia de outro, como recipiente ou eco;

e a da afi rmação engravidada por um conteúdo signifi cati-vo, ou seja, não basta dizer “estou aqui” ou “sou assim”, como o mero choro de uma criança, mas sim corporizar no mundo, no exterior, a assinatura única de uma emoção es-tética, de um acrescentar-se ao mundo com(o) um acto(r) feito de informação pura (o algo que não havia antes de si). Ao exprimirmo-nos, mais do que tentarmos defi nir a nossa geo-localização no mapa mental de dois labirintos invisíveis – o do aparente real que nos toca e o simples-mente dos outros – estaremos a tentar cumprir a impossí-vel demanda de ligar esse mesmo mapa ao território, que, recordemo-lo, não se confundem. Movemo-nos às cegas e vamos de encontro a algo, ou algo vem de encontro a nós. Ao nos apercebermos que existem outros, a urgência de uma identidade própria ganha a proporção de uma luta pela sobrevivência contra o redemoinho da uniformidade ou mesmo do anonimato avassalador. Temos medo de ser iguais, mas mais medo ainda de não contarmos, da in-sustentável leveza da nossa irrelevância, na voragem ou espuma dos dias. A procura da identidade, dos referen-tes que nos fazem dar um passo em frente na chamada do DNA, não constitui no entanto um fi m em si mesmo, mas tão somente uma forma de estabelecer um chão de onde possamos pular na execução de um acto que agre-gue informação ao mundo – dos outros – e nos consiga apaziguar – mesmo que momentaneamente apenas – na ansiedade de ser. Por outras palavras, a identidade é um ponto de partida para fazermos qualquer coisa, não um

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ponto de chegada de uma série de sessões de psicote-rapia patrocinadas pela insegurança. A questão é o que fazer connosco próprios, como nos tornarmos uma mais-valia – e sobretudo como e quem poderá servir de juiz ou crítico sobre tal propósito – a Arte pode continuar a existir sem críticos? É a avaliação da Arte o seu sustento ou o seu espartilho? Em última análise, exprimirmo-nos para quê? Que valor atribuir ao acto? Se todos se exprimem, então qual o sentido da expressão individual de cada um? Somos todos únicos, afi nal. Estas questões são tão váli-das como irrelevantes, dado que a expressão não nasce de uma escolha consciente, mas de uma pulsão visceral; nem advém necessariamente da linguagem, que constitui amiúde um entrave para a plena expressão artística, que bebe directamente do subconsciente.

A pureza do acto criativo implica o silêncio do mundo, do burburinho constante da Razão a discutir consigo própria, eternamente incrédula perante um real que não consegue conformar sozinha. Assistimos aliás ao lento mas inexo-rável destronar da linguagem (e dos livros stricto sensu) como forma suprema de lidar e interagir com a realidade. O que até agora operava em quase exclusivo através da Arte – o deixar o subconsciente absorver e lidar com o fl uxo do real sem a interferência de processos racionais, por exemplo – está a decantar-se para o grande meio de comunicação universal (a Internet, o meio natural de ex-pressão actual, onde por enquanto apenas se fala, mas progressivamente se começa a escrever, desenhar, pintar, esculpir, animar, mostrar, pensar também) e assim a per-

mear a consciência global – o mundo está a deixar de ser uma construção mental para ser acedido directamente através do som e da imagem, vectores de conhecimento tão válidos como as palavras. A Arte torna-se a grande interface com o conhecimento. E a expressão artística a sua gramática natural, a tradução dos sentimentos mais vitais que participam em vários graus na orgia da informa-ção. Raiva, euforia, tristeza, compaixão. Sempre uma luta contra o medo, de cuja sombra não conseguimos nunca escapar, e uma manifestação do desejo, ou cobiça do ser, as duas forças primevas que nos movem. Queremos ser nós próprios (seja lá o que isso for, sob que forma for) num primeiro momento, mas queremos ser algo para o outro também (queremos o outro). Ser para eventualmen-te ter. A musa que inspira o artista é objecto de desejo paralelamente a ser dínamo de expressão. Esta constitui a suposta ponte entre um interior e outro interior, através do exterior – obrigatoriamente, também uma exposição, pois não nos podemos exprimir nesse sentido no espaço estrito do nosso palco íntimo. Trata-se de um grito as mais das vezes sem destinatário, apenas vivendo como condi-ção necessária e sufi ciente da possibilidade de haver um. A expressão não deixa de ser uma marca de solidão. Não temos um corpo, somos um corpo. Limitados por essa fronteira, assombrados pela infi nidade do que não é hu-mano, procuramos propagar-nos como um fogo essencial alimentado pela febre do desejo, contrariando a nossa noção de fi m. Exprimir-se é enganar a morte, desejar é a base do humano. E o desejo reage à beleza, não à verda-de. Pois não é a vertigem da beleza que nos revela o abis-

AS RESPOSTAS MAIS SIMPLES EX-PLICAM-NOS COMO SE CONSTITUI E FORMA O UNIVERSO, AS MAIS COM-PLEXAS FAZEM-NOS CORRIGIR UM DESENHO OU LAMENTAR UM CO-MENTÁRIO OU SENTIR-NOS AQUECI-DOS POR DENTRO OU SORRIR APE-SAR DO NEVOEIRO INTERIOR

crónica

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A PUREZA DO ACTO CRIATIVO IMPLICA O SILÊNCIO DO MUNDO, DO BURBURI-NHO CONSTANTE DA RAZÃO A DISCUTIR CONSIGO PRÓPRIA, ETERNAMENTE INCRÉDULA PERANTE UM REAL QUE NÃO CONSEGUE CONFORMAR SOZINHA.

mo à beira do qual nos encontramos de olhos vendados pela verdade? E não é precisamente a beleza a musa da expressão? Se a nossa experiência constitui ou não uma soma ou uma subtracção de nós com o mundo, tal não é relevante, em última análise. Estamos todos sós, com os nossos órgãos internos e as nossas reacções quími-cas no cérebro, sujeitos à aleatoriedade das sinapses e aos efeitos das hormonas e ao nível de açúcar no sangue e com os sonhos de que não nos lembramos mas que importam e com uma carência absoluta de respostas e um desassossego indizível e impossível de satisfazer. As respostas mais simples explicam-nos como se constitui e forma o universo, as mais complexas fazem-nos corri-gir um desenho ou lamentar um comentário ou sentir-nos aquecidos por dentro ou sorrir apesar do nevoeiro interior.

A expressão é a dualidade incarnada da resposta e da pergunta, é a vida a falar com a vida, somos nós apesar de nós próprios. A história da nossa expressão é a histó-ria dos humanos, um de cada vez. Assinemos o mundo.

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ENTREVISTA

CIDÁLIAMACEDO

EX-DIRECTORA ESAD.CR

A ESAD.CR É DE TODOS NÓS. DEVEMOS PAR-TICIPAR NA SUA CONSTRUÇÃO FAZENDO PROPOSTAS DE MELHORIA, ORGANIZANDO E PARTICIPANDO NAS ACTIVIDADES CIENTÍFI-CAS, PEDAGÓGICAS E ARTÍSTICAS.

entrevista

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F. Na verdade, a maioria dos alunos da ESAD não sabem muito sobre quem é a nossa directora. Por isso começa-ríamos por lhe pedir para nos falar um pouco sobre si: De onde vem, Onde estudou, Como começou a trabalhar.

Nasci e vivi a minha infância e adolescência em Moçam-bique. Vim para Portugal com 18 anos e com o 1º ano do curso de Matemática fi nalizado. Concluí a licenciatura na Faculdade de Ciências de Lisboa e realizei um doutora-mento em Física-Matemática na Alemanha. Fui professora do ensino secundário enquanto estudava, iniciei o meu percurso no ensino superior na Universidade de Coimbra e, mais tarde, no Instituto Superior Técnico quando regres-sei da Alemanha. Em 1991, vim trabalhar para a Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Leiria.

F. Porque escolheu formar-se em matemática? Podemos assumir que a sua paixão envolve os números?

Os números são uma pequeníssima parte do universo ma-temática. Quanto mais nos mergulhamos na matemática avançada menos números se vêem! Gosto muito da ma-temática na sua vertente axiomática, dedutiva, na sua de-manda pela eliminação dos paradoxos, na beleza da sua linguagem e, já na fronteira com outras áreas do saber (Física, Ciências Sociais e Humanas, …), na possibilidade divertida de pensarmos que a natureza obedece às leis.

F. Como surgiu o convite para a Direcção, e quais as ra-zões que a levaram a aceitar a proposta?

O Sr. Presidente do IPL, então o Doutor Luciano Almeida, nomeou-me após a minha concordância. A ESAD.CR não tinha professores com disponibilidade para o exercício do cargo devido ao facto de estarem inscritos em programas de formação avançada.

F. Sabemos que já deu aulas... Qual a posição que prefe-re: ser professora, ou ter um cargo administrativo, como ser directora de uma escola?

Sem dúvida que prefi ro ser professora. É muito gratifi can-te contribuir para o percurso de aprendizagem do aluno. Um cargo administrativo, quer ele seja de natureza diri-gente ou outro, obriga a um contacto com os recursos humanos. A comunicação entre os humanos parece não ser a melhor, caso contrário não haveria tantos desenten-dimentos no mundo. Parece que temos de pedir muitas vezes desculpa pela forma como dizemos as coisas!

F. Acha que a sua formação em Matemática é uma vanta-gem para o seu actual cargo? Porquê?

A minha formação tem contribuído para a sistematização e estruturação das decisões. A matemática tem um carác-ter universal e, por isso se associa bem às outras áreas. À partida os matemáticos não têm espírito de quinta e são neutrais. Gostam de analisar as regras mas, uma vez estas aprovadas, gostam de as cumprir.

F.Fazendo uma introspecção pessoal, como revê estes 3 anos e meio em que esteve à frente da direcção da ESAD?

A minha participação é uma pequena parte do muito que foi feito. Não estive sozinha nestes anos. Os corpos téc-nicos e administrativos, os professores e os alunos for-maram uma equipa. A escola continua no seu caminho de melhoria contínua.

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F. O que pensa que na escola melhorou, ou piorou, e em que sentido?

Eu deixaria aos outros a realização da avaliação. Apenas relevo o facto que a mensagem que tentei passar, “que a escola somos todos nós”, está mais enraizada do que quando cá cheguei. Não considero, contudo, que tenha sido só obra minha, tive muitos apoiantes neste conceito.

F. Da nossa óptica, parece-nos que no processo anterior a Bolonha, os estudantes aparentemente estavam mais en-volvidos com a escola. O que pensa sobre este assunto?

Muito mudou no mundo. A globalização e a forma como a comunicação, devido às tecnologias da informação, evoluiu fi zeram os estudantes, e todos nós, actuar de for-ma diferente. Nos últimos anos, parece que tudo está a acontecer a uma velocidade vertiginosa. E a velocidade é inimiga da refl exão. Estar on-line é incompatível com o aprofundamento dos conhecimentos. A notícia hoje vem misturada com a opinião. Com a internet o conhecimento científi co comprovado convive com a especulação e divul-gação deturpada. Não consigo distinguir o “efeito Bolo-nha” no seio dos fenómenos sociais ocorridos.

F. Pensa que é possível falar de um novo paradigma pós-Bolonha no universo estudantil?

Acho que muito poucos entenderam e aplicaram o para-digma. Outros, também muito poucos, entenderam mas têm difi culdade em aplicá-lo. Creio que, culturalmente, não estamos preparados.

F. No resultado da redução dos cursos de 5 para 3 anos, os alunos parecem envolver-se menos com a escola e com a cidade. O incremento do ritmo de trabalho autóno-mo e escolar desencadeia uma menor envolvência pesso-al por escassez de tempo, entre outras sem dúvida, nas questões referidas. Desta forma eventos como o Caldas Late Night, First, ComunicarDesign, perdem cada vez mais força e qualidade. Concorda ou discorda que esta adapta-ção ao processo de Bolonha é uma das principais causas responsáveis por esta situação? Ou serão os jovens que estão a mudar?

Não creio que a culpa seja da adaptação ao processo de Bolonha. Os jovens estão a mudar tal como sempre mu-daram. O confronto de gerações não é de agora. Faz parte de ser jovem. Mas, lidando com jovens, noto que têm mais difi culdade em partilhar ideais e lutar por eles.

F. Pensa que fomos demasiado rápidos a adaptarmo-nos ao modelo de Bolonha?

Sim, no sentido de aceitarmos, com muito pouco debate, o modelo de Bolonha.

F. Aproximando-se o fi nal do seu mandato, sente que o seu dever aqui está cumprido? O que gostaria de ter feito mais ou melhor?

entrevista

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O dever nunca está cumprido. Dei um contributo, só isso. Ideias não me faltaram. Se (se!) tivesse tido meios fi nan-ceiros poderiam ter sido feitas muitas coisas que actual-mente estão em lista de espera.

F. Depois deste desafi o, diga-nos, sente-se feliz profi ssio-nalmente ou possui ainda objectivos por cumprir?

Estou na minha profi ssão de professora com muito gosto. Mesmo estando na ESAD.CR como directora, mantive con-tacto com a docência como um elixir para a minha saúde mental. Ainda tenho projectos que gostaria de concretizar.

F. Algum conselho ou palavra especial que deseje deixar ao futuro Director/a da ESAD? E aos estudantes?

Repetir a mesma mensagem até à exaustão: A ESAD.CR é de todos nós. Devemos participar na sua construção fa-zendo propostas de melhoria, organizando e participando nas actividades científi cas, pedagógicas e artísticas.

F. Falando de estudantes, como vê o futuro dos mesmos, tendo em conta as múltiplas crises que atravessamos: crise económica, social, ambiental entre outras?

As crises colocam desafi os. Os estudantes das artes e do design não podem desistir pois o futuro reserva-lhes grandes oportunidades.

F. Pensa que o mercado das Artes e Design está em cri-se? Ou o pior já passou?

O produto artístico tem valor económico. É necessário lu-tar pela sua visibilidade. Ainda há muito para fazer, princi-palmente na harmonia do todo.

F. Nesta óptica, pensa que os cursos da ESAD.CR conti-nuam a oferecer um futuro profi ssional e economicamente

satisfatório a quem os procura?

Continuamos a ser bem referenciados. Temos muito bons profi ssionais no mercado de trabalho que foram alunos da ESAD.CR.

F. Uma última questão. Uma palavra a deixar aos jovens artistas e designers da ESAD.CR?

O nosso local de trabalho é o planeta Terra. As ideias são universais.

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EXPRESSARTIGO CENTRAL

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SÃO A PALAVRA EXPRESSÃO, QUE LEVIANAMENTE UTILIZAMOS HOJE, COMO PRODUTO ADQUIRIDO DE UMA SOCIEDADE PÓS-MODERNA, CONTA UMA HIS-TÓRIA DIFERENTE UMA VEZ OBSERVADA À LUZ DO SEU DESENVOLVER HISTÓRICO, ENQUANTO ACÇÃO TANGÍVEL.

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Os gregos foram os primeiros a revelar a preocupação com a problemática da liberdade de expressão, construindo as ramifi cações da sociedade dita democrática, porém, convirá sempre relembrar que apenas os homens adultos, cidadãos gregos, dispunham de “voz” para expressar; tal premissa excluía naturalmente cerca de três quartos da população, entre mulheres, crianças menores e escravos.

Os romanos por sua vez dispunham de uma sociedade hie-rárquica, menos democrática neste sentido de hierarquia, que todavia durante o Império Romano, permitia aos po-vos conquistados a opção manter a sua cultura e práticas sociais, recebendo assim a designação de povo conquis-tado em província romana, ou de se tornarem romanos de pleno direito e com voto assegurado na assembleia, tendo forçosamente que abdicar dos seus cultos e viver sobre a égide total do sistema de cidadania romana. No entanto, a sua tolerância abriu espaço para o surgimento de uma nova fi losofi a, nascida na Galileia, no Oriente, dissemina-da por um homem conhecido como Jesus, e que alteraria muitos dos caminhos futuros do mundo, até aos dias de hoje inclusive. Naturalmente a questão do Cristianismo, ainda que deturpada à luz de uma doutrinante Religião que a suporta, frágil e discutível que seja, inaugura com os seus mandamentos, noções bastante relevantes para o desenvolvimento do Acto de Expressão Livre. Propondo o respeito e o amor ao próximo, revela uma visão de igual-dade entre os homens.

Com efeito, o devir póstumo sobre esta nova fi losofi a de paridade entre os homens, dilacerada pela implacável Ida-de Média, revelou ser constituída por avanços e recuos em torno de uma maior ou menor liberdade de expres-são mas de uma forma invertida, no caso, a repressão social, cultural e moral. A conivência entre Clero e No-breza, enquanto classes “privilegiadas”, assumindo-se cada vez mais como base insustentável de uma socieda-de sectária e hierárquica, culminando mesmo, enquanto ausência de “voz”, no Absolutismo Régio, dogmatismo do Antigo Regime.

De assinalar, a data de 5 de Maio de 1789, marca o dia em que a Revolução Francesa se inicia, no entanto, é a de data 26 de Agosto do mesmo ano, que mais alterará a sociedade Ocidental: é lançada a Carta Universal dos Direitos do Homem (Déclaration des Droits de l’Homme et du Citoyen), onde os delegados formularam os ideais da Revolução, sintetizados em três princípios: “Liberda-de, Igualdade, Fraternidade “ (Liberté, Egalité, Fraternité). Nascia assim a Era Moderna, que se estenderá até à ac-tualidade histórica. Longe de tangível, o sentido mais pro-fundo de expressar, no que se refere ao conceito actual, delimita-se a si mesmo no irredutível pressuposto de que se opera livremente tal expressão. A repetição desta no-ção serve o propósito de nos fazer refl ectir sobre as bases do que tomamos por certo. Na verdade, ainda hoje em dia, nem todos os povos possuem o poder de se expres-sarem livremente, mesmo que desde 1948 a ONU tenha ratifi cado os valores idealizados e expressos 150 anos

antes pela Revolução Francesa, e reinvocados então pela Carta da NATO, onde no primeiro ponto se pode ler: 1. Nenhum povo poderá ser subjugado contra a sua vontade; a verdade nua e crua porém, é que muitos países em de-terminadas regiões, fazem, ainda em 2010, exactamente o contrário, como mediaticamente assistimos à questão israelita e a sua progressiva conquista sobre a Palestina, concretamente nos dias de hoje centrado no bloqueio à Faixa de Gaza.

Delineado o contexto fi losófi co histórico por detrás do que envolve a noção de Expressão enquanto conceito social, carece a óptica centrar-se na essência do que nos diz res-peito a nós, jovens artistas e designers. Com efeito o acto de expressar é mais que tudo e em última análise, uma necessidade humana, dada a natureza social do homem e até, de um ponto de vista primário e animalesco, uma base de sobrevivência histórica. Ela (expressão) pode ser encontrada facilmente na área das Artes como sejam de tal exemplo o Teatro e as Artes Plásticas (quer sejam es-tas plasticidades tridimensionais, pictóricas, ou sonoras, como as composições de Som e Imagem), enquanto ins-trumento primário de manifestação de conceitos e ideias possíveis de imaginar e, logo, de realizar.

Porém no que concerne o Design em si, esta expressão livre de manifestação de um conceito, pode ser contur-bada por directivas projectuais ou de briefi ng. Não que não o sejam também imputadas às Artes, sejam estas Performativas, Visuais, Plásticas ou Sonoras, por que o são naturalmente: seja através da delimitação psicológica e física de um personagem numa determinada peça, no caso do Teatro; seja no pedido do cliente ao nível da enco-menda de uma qualquer determinada obra, nas restantes artes em si; porém é no caso do Design que essa exigên-cia que cerceia a livre expressão, mais se evidencia; natu-ralmente apenas e somente à luz do que de um designer à partida se espera.

Ao designer cabe interpretar o mundo interno de cada po-tencial cliente, de cada potencial produto, de cada poten-cial projecto, para a realização de todas as expectativas gerais de um determinado grupo sobre o mesmo. Ele (de-signer) é, por excelência, um mediador, quer seja entre

“PORÉM NO QUE CONCERNE O DESIGN EM SI, ESTA EXPRESSÃO LIVRE DE MANIFESTAÇÃO DE UM CONCEITO, PODE SER CONTURBA-DA POR DIRECTIVAS PROJECTUAIS OU DE BRIEFING.”

artigo central

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uma necessidade e a sua solução, quer seja entre um cliente e o seu produto, quer seja entre o presente e o fu-turo, quer seja em última análise e dentro de si mesmo, a mediação entre o que deseja expressar e o que se propôs a produzir. Quer isto dizer que em termos de Expressão, se nas Artes ela o é acima de tudo pessoal, e só depois posta à apreciação externa, ou seja tal expressão parte de dentro para fora, no campo interdisciplinar do Design, essa expressão, na maior parte das vezes, tem que ne-cessariamente vir de fora para dentro, sendo imputada pelo que alguém externo exige e/ou necessita de nós. Tro-cando por miúdos, o mesmo que explicando de uma outra forma, enquanto para o artista a expressão é (com maior frequência) a manifestação de uma ideia, de um conceito ou ponto de vista, para o designer é na maior parte das vezes a interpretação de uma ideia, de um conceito ou ponto de vista.

Tal situação generalista não deverá todavia comprome-ter a nossa capacidade de dar de nós o melhor em tudo

o que fazemos, colmatando aquele desejo que a maior parte de nós têm de deixar a sua marca, o seu cunho no mundo, mesmo que só pelos breves 15 segundos de fama do Andy Warhol. Isto não porque a fama nos mova, mas porque enterrado dentro de nós, perdido nos sonhos da infância, existe um ser que deseja contribuir para um mundo melhor. Expressa-te! Dá forma e cor(po) à tua ma-nifestação! Usa o poder que foi conquistado a Sangue, Suor e Sal, como diria Fernando Pessoa.

Expressando, perspectivamos a esperança. Projectando, construímos a mudança.

“AO DESIGNER CABE INTERPRETAR O MUNDO IN-TERNO DE CADA POTENCIAL CLIENTE, DE CADA PO-TENCIAL PRODUTO, DE CADA POTENCIAL PROJECTO, PARA A REALIZAÇÃO DE TODAS AS EXPECTATIVAS GERAIS DE UM DETERMINADO GRUPO”

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ARTES PLASTICAS

Como seres únicos temos também modos de interpretar o real, originando diferentes linguagens. Mesmo com a lín-gua, que é o modo mais directo de comunicação temos difi culdades em expressar sentimentos. Pois o que sen-timos é impossível transpor a outro. Aquilo que o pode defi nir melhor, ou pelo menos aliviar a tensão gerada pela inspiração do real é a libertação através do acto criador. A ânsia de liberdade origina que as palavras se tornem poesia.

A necessidade que o Homem tem em se expressar é algo que faz parte de si, há a necessidade de libertação. Esta libertação é um modo de expor uma realidade individual, logo um modo de comunicar.

Todos temos diferentes modos de interpretar o real, logo diferentes modos de linguagem.

A regularidade das coisas invade cada vez mais o nosso dia a dia. A forma como o Homem tem a obsessão pela ordem, faz com que haja um progresso uniforme. Estamos a tornar-nos num mundo onde não há lugar para o único.

A segurança que a ordem nos confere é em simultâneo um portão para que a liberdade interior não saia (porque não há nada mais libertador que a possibilidade de se exprimir e experimentar, aquilo que nos rodeia).

Esta opressão do Homem perante o Mundo, cria um dis-tanciamento que origina um desequilíbrio físico e espiritu-al. A criação das metrópoles não é mais que uma barreira/muralha para com a natureza. O consumismo cria uma neblina que intoxica a vontade, faz com que a sociedade deseje aquilo que não necessita. Não dá lugar á refl exão.

O MODO COMO O HOMEM CONSTANTEMENTE INSPIRA INFORMAÇÃO, FAZ COM QUE A INTERIORIZE, ARMAZENE E ORGANIZE, SURGINDO ASSIM A NECESSIDADE DE EXPI-RAR CONTEÚDO. MAIS QUE UMA NECESSIDADE FÍSICA É UMA NECESSIDADE ESPIRITUAL DE LIBERTAÇÃO, NÓS COMO SERES SOCIAIS, TEMOS A ÂNSIA EM COMUNICAR.

Texto Tiago Margaça

“INSPIRAR E EXPIRAR”

Cláudio Lima Acrílico sobre Cartão [email protected]

artes plásticas

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O erro na generalidade é uma forma de frustração à von-tade Humana. Sendo esta substituída pela imposição do real, entramos num estado de ânsia em ter o controlo, per-dido por instantes. Este tipo de insegurança não permite uma aproximação com o que nos circunscreve.

Desde a nossa formação que este afastamento faz parte de nós, é praticamente inconsciente ao Homem. Embora seja necessário criar um equilíbrio entre a ordenação das acções e a abertura para com o real. Hoje presencia-se um fascínio pela geometria das coisas, pelo standard; uma agonizante forma de ver um mundo com uma cultura só (o que acho altamente improvável de acontecer).

O erro aos olhos da sociedade é visto como uma coisa pe-jorativa. Há normalmente a tendência em confundi-lo com o acidente. O erro não é mais que um modo de ligação com o real, um real que não é possível controlar. Embora o acidente esteja relacionado com o erro, não se pode

Tiago Margaça Estrutura em Ferro

[email protected]

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apenas considerar o erro como uma entidade, que existe para causar transtorno. Este tem pelo contrário a carac-terística que permite evitar o dano. Pois tendo o erro em mente torna-se numa protecção. Dá-nos a capacidade da prevenção, interpretar a realidade aprendendo com ela, podemos evitar a hipótese de acidente.

Este medo, que por sua vez causa esta estranha distância entre Homem/Terra, originou a explicação do inexplicável. No início através da magia, que passou a religião e neste momento se torna numa saga e cega busca de controlo do real, através da tecnologia e ciência. Contudo a ciência e a tecnologia são um modo de aproximação e compreen-são daquilo que nos rodeia, um modo de avaliar o real e conhece-lo através da experimentação calculada.

Estes “defeitos” surgem ocasionalmente, e acompanham a humanidade desde a sua existência. Mesmo antes do aparecimento do homem, todas as relações que origina-ram a vida provem do erro, o surgimento da terra, não é mais que um erro, um erro criador. A nossa relação com o real sempre tendeu para a dominação, só assim podería-mos obter controlo. Esta afl ição em impor a nossa vonta-de sob o real, faz parte da própria essência humana. Foi graças a isso que foi possível o uso da ferramenta e pos-teriormente o início da fala (que nos tornou seres sociais).

Ao aumentar o nosso domínio técnico, a sociedade tam-bém sofreu mutações sociais que veio gradualmente a alterar o nosso modo de interacção com nós próprios e com o real. Abandonámos o nosso meio envolvente e sem nos apercebermos, somos embalados por nós mesmos, num envolto que nos torna insensíveis para com o habitat.

Aquilo que entendo por erro, não é mais que uma chama-da à realidade. Embora compreenda que seja necessária uma ordem, acho que uma permanente reorganização é mais cativante que uma imposição rígida.

Esta permanente reorganização é mais que um simples modo de aprendizagem, trata-se de uma forma de comu-nicação, troca, interacção entre Homem em permanente busca e terra em constante mudança. Daí o erro se rela-cionar com o meu modo de comunicação com o real, não se trata de algo planeado, é algo que se relaciona com a libertação através de uma acção, tornando-se num acto

“A SEGURANÇA QUE A ORDEM NOS CONFERE É EM SIMULTÂNEO UM PORTÃO PARA QUE A LIBERDADE INTERIOR NÃO SAIA”

comunicativo. Quando me refi ro a comunicação não estou a falar de ícones, frases, ou sequer conceitos, mas a um modo de nos ligarmos ao real.

Quando há uma interacção ou algo que tem uma presença muito forte (como uma obra de arte, ou o acontecimento de um fenómeno), somos absorvidos pela sua presença. Entramos num espaço e tempo nulo, em que nos encon-tramos em absoluta solidão, focando a nossa atenção a algo que nos sensibiliza, conectando Homem e o real.

“Se a esquizofrenia é o universal, o grande artista é então aquele que salta o muro esquizofrénico e atinge a prática desconhecida, onde já não pertence a nenhum tempo, a nenhum meio, a nenhuma escola.” - Gilles Deleuze/Félix Guattari

artes plásticas

Joana FontesPintura sobre Acrí[email protected]

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revista f 19

Tatiana Cuba

Cláudio LimaAcrílico sobre Cartão

[email protected]

Julien GomesGravura

Estrutura em Ferro

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Expressar, é primeiramente um acto de criação espacial. Com efeito trata-se de conceber cognitivamente e cons-truir verbal e gestualmente, todo um ambiente propício para desvelar ao outro, tudo o que até então vivia apenas dentro de si.

Citando John Lenon: “a arte é a expressão da mente, a nossa vida é a nossa arte”, já John Ruskin, famoso teórico de arte e arquitectura, afi rma: “de todas as coisas que possas usar, a tua expressão é, seguramente, a mais im-portante”. Albert Einstein, por sua vez pensa que “a arte é a expressão dos mais profundos pensamentos da ma-neira mais simples”, enquanto que o arquitecto holandês do século XX, Hendrik Berlage defende que “a verdadeira arte não é só a expressão de um sentimento, mas tam-bém o resultado de uma inteligência viva”.

Particularmente o que todas estas citações possuem de singular, é determinarem de forma cabal que partimos do pressuposto que seremos interpretados, e precisamente antes do acto de expressão em si mesmo, num micromi-lésimo de segundo, efectivamos uma escolha: de entre as possíveis formas verbais e mentais, escolhemos uma para apresentar à nossa audiência. Quer estejamos a pen-sar na forma mais simplista de expressão, como seja a Língua, através do seu mecanismo de Fala, quer se trate de uma obra que fale por nós, o que se mantêm com efei-to é esse pressuposto de receptação por outrem.

Todas estas dimensões do expressar: 1. a noção da transmissão, 2. a noção do outro, 3. o pressuposto de recepção da mensagem, 4. a mensagem em si (codifi ca-da), 5. a dimensão semântica e interpretativa, 6. o meio escolhido, de entre outras possíveis de enumerar, operam

infl uências e susceptibilizam as escolhas consoante as si-tuações, os desejos, as fragilidades, as intenções e os desígnios de quem expressa.

Tais noções, aparentemente emprestadas pelo campo da semiótica, são na verdade, mais que mera teoria de co-municação, aplicações práticas que o ser humano utiliza corriqueiramente no seu dia-a-dia e que, mais que tudo, se apresentam como ferramentas para os profi ssionais das áreas da Arte e do Design, quando, por exemplo, são confrontados com os seus projectos em contexto laboral.

Quer isto dizer que tentamos mediar os meios disponíveis com a informação a transmitir, o público a alcançar, o en-foque a ressalvar. De entre um conjunto de visões possí-veis para o produto do nosso labor, delimitamos uma que corporize a verdadeira expressão da essência do que se pretende incorporar no “projecto” em si e, a partir daí deli-neamos uma cenografi a que construímos como se de um novo e paralelo mundo se tratasse. Referenciando o fi lme Waking Life (Acordar Para a Vida, em português) de 2001, dirigido por Richard Linklater:

It’s like you come on to this planet with a crayon box; now you may get the 8 pack, you may get the 16 pack, but it́ s all in what you do with the crayons (the colours) that you are given.

Frequentemente ao nível do Design de Ambientes, con-textualizando especifi camente a área que nos concerne neste dossier, trata-se de idealizar uma solução que sin-tetizando a visão do cliente, possa expressar tudo o que a sua marca ou produto pretende afi rmar, através da indu-ção dos cinco sentidos, mas preferencialmente apelando

Bird Guide André Valério

Texto Ana Friezas

design ambientes

DESIGNAMBIENTES“EXPRESSAR”

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“DE ENTRE UM CONJUNTO DE VISÕES POSSÍVEIS PARA O PRODUTO DO NOSSO LABOR, DELIMITAMOS UMA QUE COR-PORIZE A VERDADEIRA EXPRESSÃO DA ESSÊNCIA DO QUE SE PRETENDE INCOR-PORAR NO “PROJECTO” EM SI”

ao sexto, pelas suas características subtis de participa-ção activa no acto de criação de sentido ou apropriação de contexto: a intuição.

Na verdade e como afi rmaria Epicteto, fi lósofo grego que pertencia à Escola Estóica, 55dC-135dC, as pessoas fi -cam perturbadas, não pelas coisas, mas pela imagem que formam delas.

Tal concepção favorece uma perspectiva de ética e res-ponsabilidade (própria e individual) se aliada ao conhe-cimento de que Epicteto, tendo vivido a maior parte de sua vida como escravo em Roma, acreditava que, como os estóicos, a virtude é o único bem da vida, bem como, viver de acordo com a virtude signifi ca viver conforme à natureza, que se identifi ca com a razão, no sentido cós-mico universal. O lado patológico da realidade humana é constituído pelos afectos e pelas inclinações, consis-tindo a virtude na liberdade diante deles, dominando-as. Na opinião dos estóicos, sendo a virtude o único bem, o vício é também o único mal, sem termos intermediários, que são indiferentes para esses fi lósofos. A noção de de-ver, de viver segundo a razão, que signifi ca o senso de

Playbox André Valério, Filipe Meira, Nicola Henriques

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something abstract, he is not talking about the kind of Self that theologians would argue about, it’s something very concrete, it’s you and me talking, making decisions, doing things and taking the consequences.

It might be true there are 6 billion people in the world, and counting, nevertheless what you do makes a difference. It makes a difference fi rst of all in material terms, it makes a difference to other people and it sets an example, and in short I think that the message here is that we should never simply ride ourselves off and see ourselves as the victims of various forces: it’s always our decision who we are!

responsabilidade, foi introduzida na ética pelos estóicos. O senso de responsabilidade aparece aqui referido pois se o campo criativo do expressar é a galáxia das possibili-dades como referido pelo texto até este ponto, e que tais possibilidades acarretam naturalmente escolhas, a estas devem ser imputadas, no contexto específi co do design de ambientes, uma forma cívica e deontológica.

Chegados a este ponto, recorro às palavras de Fernando Távora, arquitecto português do séc. XXI pois acontece que o espaço criado pelo homem é condicionado na sua organização mas, uma vez organizado, passa a ser condi-cionante de organizações futuras, e assim, como o próprio Távora afi rma, é então possível separar esses dois aspec-tos do espaço organizado: por um lado ele é condicionado na sua elaboração, por outro é condicionante na sua exis-tência. Porém devemos manter em mente que, ainda de acordo com o mesmo autor, esta noção pressupõe que a organização do espaço pertence a todos os homens e não apenas a alguns, o mesmo é que dizer que a organização do espaço é obra de participação de todos os homens, em graus diferentes de intensidade e até mesmo de respon-sabilidade, mas, de qualquer modo, obra de que nenhum homem pode eximir-se.

Afi rmando as minhas próprias visões teóricas sobre o tema Expressão, bem como muita da sua implicação prá-tica na vida diárias de cada um de nós, humanos, bem como na praxis dos/as Artistas e Designers em geral, na óptica da sustentabilidade me despeço, reforçando tal visão com a preciosa ajuda de uma corrente fi losófi ca frequentemente subvalorizada e sobre a óptica da qual a Revista FORMA deseja contribuir, em mais uma citação do fi lme já referenciado (Waking Life):

The reason why I refuse to take Existentialism as just an-other French fashion, or historical curiosity, is that I think it has something very important to offer us for the new cen-tury. I’m afraid we’re losing the real virtues of living life passionately, the sense of taking responsibility for who you are, the ability to make something of yourself and feeling good about life.

Existentialism is often discussed as if it’s a philosophy of despair, but I think the truth it’s just the opposite. Sartre once interviewed said he never really felt a day of despair in his life. But one thing that comes out from reading these guys is not a sense of anguish about life so much as a real kind of exuberance, a feeling on top of it, it’s like your life is yours to create!

I’ve read the post-modernists with some interest and even admiration; but when I read them I always have that awful, nagging feeling that something absolutely essential is get-ting left out.

The more you talk about a person as a social construction, or as a confl uence of forces, or as frighten, or marginalized, what you do is that you open up a new world of excuses and when Sartre talks about responsibility is not talking about

design ambientes

Montra CLN09 Rita Barbosa Gama

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Fitec2010 Vários

Extrusão de Paisagens UrbanasHugo Miguel Saiote, Inês São Pedro

ClabubbelAndré Valério, Filipe Meira, Mafalda Pereira,

Nicola Henriques, Sophie

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DESIGN CERÂMIE VIDROPONDO EM PRIORIDADE AS PARTICULARIDADES DO MATERIAL E JUNTAN-DO AS NECESSIDADES DIÁRIAS DA VIVÊNCIA DE UM CORPO HUMANO, PROPÕE-SE AQUI A MELHOR QUÍMICA DA VIDA DE UM CERAMISTA.

Texto Carla Barrocas

“DO GRÃO NASCE A EXPRESSÃO”

Expressão é a palavra base de qualquer atitude com o ma-terial, apesar de todo o projecto incluído, cada peça não deixa de ser uma incógnita ao substancial de cada um, sugerindo sem limites qualquer leitura do objecto.

Cada sentimento do artista/designer revela-se, expõe-se, transforma-se num processo de construção, refl ectindo-se no fi m o objecto ideal do criador.

Se expressão implica sentimento, qualquer pasta te dá o suporte. Se expressão é transformar, qualquer técnica se compõe. Se expressão for expressar, acreditem que a cerâmica é o êxito. Pois estes materiais permitem-vos abater qualquer raiva, e transformar directamente o que a Terra nos dá em algo que vive para a eternidade, e prome-ter a ti a presença daqueles momentos como constância. Dá-te textura, dureza ou leveza, atitude, grotescos ou line-ares, rugosidade ou planos. Faz-te pensar, e faz-te lutar por algo que começa em grão e se pode transformar numa parte de ti!

Não considerar um mero conjunto de louça como uma par-te de alguém é por si só absurdo, qualquer objecto tem uma função, uma vontade, e satisfaz uma necessidade, não só de quem obtém, mas mais ainda de quem produz.

A possibilidade de dar vida a um material, e de satisfazer as necessidades de quem o usa, é o elemento.

Expressa-se assim uma atitude, uma vontade, uma ne-cessidade, elabora-se um sentimento, transpõe-se uma vontade, cria-se um desejo.

É como escrever uma carta, ou elaborar um e-mail, mas em vez de palavras em papel, está um objecto, está algo que só quem cria sabe o que é, e pertence a ele decidir como deve ser lido.

Partindo do factor que cada coisa é uma coisa, cada ex-pressão é uma obra, por mais útil ou inútil que seja ao vosso olhar. Vários artistas recorrem a este material, pois faz perdurar no tempo a eternidade. Qualquer ceramista não escolheria outro meio de se exprimir.

Diz a artista ao despertar-se sobre o mundo da cerâmica “( ) evoluções da expressão vital que só a cerâmica pro-põe( )”Máyy Koffl er. Complemento esta frase com elemen-tos que vós leitores ouvistes falar, tais como, escultura, onde ao longo da história da arte foram datadas variadas obras, desde o Paleolítico ate ao dia de hoje.

design cerâmica e virdro

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ICA

A cerâmica esteve sempre presente, caros leitores, faz parte de vós diariamente, surge-vos como decorativa, como utilitária, como luxo que em adesão a outros mate-riais vos faz desejá-la, vos faz querê-la, vos faz necessitá-la!

Pode-se repetir, pode-se refazer, pode-se construir, trans-formar, está tudo nas palmas da mão, o poder controlado pela mente, que transforma, que consiste, que constrói, que eleva, que tem o poder, que dá expressão, e que faz uma nova vida.

Revestimento para parede Paulo Seco

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26 design cerâmica e virdro

Revestimento Eliana Pacheco

Cabide Cristina Pinhão [email protected]

Paulo Seco

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Vidro Nelson dos Santos

Vidro Carla Barrocas

Revestimento “Veill” Mafalda de Almeida [email protected]

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“BATAS BRANCAS OU LIBERDADE DE EXPRESSÃO?”

pessoal. Por sua vez, privilegiar a expressão do mercado signifi ca que o designer é colocado na posição de mero executor neutro, uma ferramenta de bata branca em la-boratório confi nada à criação da imagem do cliente. Este tipo de atitude que o designer adopta, associa-se muitas vezes ao “profi ssionalismo”: ser profi ssional signifi ca ge-ralmente pôr as convicções pessoais de lado, mantendo a objectividade.

“this ideal of the dispassionate professional distances us from ethical and political values (...) «impartial», «dispassion-ate», «desinterested». These become pejorative terms in a diffi cult world crying for compassion, interest, concern, com-mitment and involvement.” - Katherine McCoy.

Katherine McCoy, na primeira citação, faz referência ao designer como advogado da produção de conteúdo e da audiência. Nem 8 nem 80. Não considero que a expressão do designer se deva traduzir em produção de conteúdo, mas antes em condução criativa de conteúdo em direcção às soluções e aos objectivos do cliente e das necessida-des da audiência. É na maneira como o conteúdo é cana-lizado que o designer pode ter liberdade de expressão.O designer não é produtor de conteúdo, não é a sua voz que, à partida, se quer ouvida, mas ele pode escolher que voz ajuda a ser ouvida. É nesta medida que considero a liberdade de expressão do designer ser viável: o carácter

DESIGN E MULTITexto V.G.

Expressão do designer vs. expressão do mercado vs. ex-pressão da audiência

Esta conversa que irei começar com vocês prende-se com o posicionamento dum designer de comunicação em rela-ção ao mundo e ao seu trabalho; a forma como insere o seu produto no mundo. Que tipo de expressão lhe compe-te. É num criar de ligações, de paralelismos e consequên-cias que vos queria partilhar algumas conclusões e tentar não torná-las demasiado complexas.

Designer vs. mercado

“Design education most often trains students to think of themselves as passive arbitrators of the message between the client/sender and audience/receiver, rather then as advocates for the message content or the audience.

(...) Abstraction is predictable in application - polite, inof-fensive, and not too meaningful - thereby providing a safe vocabulary for corporate materials. Imagery, on the other hand, is richly loaded with symbolic, encoded meaning, of-ten ambiguous (...) often leading to unintended personal in-terpretations on the part of the audience - but also poetic, powerful and potentialy eloquent” -Katherine McCoy.

A expressão do designer vs. mercado confunde-se a maio-ria das vezes em que é debatida com a problemática da tão difícil defi nição do design: arte ou ciência? Para os teóricos mais radicais o designer para aplicar expressão no seu trabalho implica ser produtor de conteúdo, confe-rindo conotações artísticas ao seu trabalho, porque par-te do princípio que essa expressão é uma manifestação

6 Cores de Portugal Vera Gomes www.behance.net/veragomes

design gráfi co e multimédia

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GRÁFICO MEDIA

selectivo que deve ter aquando da escolha de clientes ou na seriação de trabalho.

“If a culture must change, and design is one of the most powerful tools for change, it is clear that design is in a sig-nifi cant position to infl uence the direction of that change.” -Peter Martin.Anexei esta expressão à responsabilidade social e esta, por sua vez, ao conceito de User-Centered Design. A expressão do designer só faz sentido fazer-se ouvir quando direccionada para ajudar pessoas. É de co-nhecimento generalizado que perceber como as pessoas pensam pode ajudar o designer a medir a efi cácia da sua comunicação, e que democratizar o processo do design protege as pessoas da manipulação dos media, sendo que o controlo do conteúdo e a sua visualização são parti-lhados pelo designer e a audiência.

Mercado vs. Audiência

“Universalism has brought us the homogenized proper cor-porate style based mainly on Helvetica and the grid, ignoring the power and potential of regional, idiosyncratic, personal, or culturally specifi c stylistic vocabularies.” - Katherine Mc-Coy.

Este tipo de responsabilidade social, o design criado para as pessoas, é muito mais difi cilmente criado num ambien-

6 Cores de Portugal Vera Gomes www.behance.net/veragomes

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anexo a responsabilidade social como a expressão ideal do designer: pensamento local, trabalho de campo e diá-logo extenso com a audiência. No seu trabalho, o designer deve procurar entender os objectivos do cliente e perceber como pode a audiência benefi ciar, através de comunica-ção efi caz baseada em expressão criativa e inovadora.Mas pode no mercado português, o designer, ainda visto como uma simples ferramenta, fazer trabalho de campo e investigação que vá benefi ciar a sociedade através da criação de serviços melhorados e impulsionadores de boa cidadania? Haverá trabalho deste no panorama portu-guês, para o designer?

te global do que num ambiente regional. Numa sociedade heterogénea é difícil partilhar valores comuns, logo é di-fícil comunicar valores e é num ambiente global que me parece que o designer perde capacidade de interpretação e expressão. Continuamos a aplicar design global descu-rando as necessidades do público e descaracterizando muitas vezes a personalidade de uma região, de um país, duma sociedade. As grandes empresas, aquelas que têm poder monetário para exercer infl uência a um nível glo-bal, são aquelas que podem investir em imagem gráfi ca/ multimédia para alcançar esse fi m. Ora estas empresas, necessitando de atrair um público generalizado, têm de incorporar uma imagem clínica estudada e minuciosa, dei-xando muitas vezes a expressão do designer de parte. Este carácter científi co/pré-concebido, regido por normas e tornando-se normalmente em cliché, desvaloriza as ver-dadeiras necessidades do público. O seu objectivo não será, à partida, melhorar a vida pessoal de cada cidadão mundial, mas antes atrair a si o público e o dinheiro.

A liberdade de expressão do designer não se prende com a sua expressão individual ou expressão artística mas deve traduzir-se na solução de problemas para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. As soluções devem ser procuradas para encontrar um mundo melhor. É a isto que

“A EXPRESSÃO DO DESIGNER SÓ FAZ SENTIDO FAZER-SE OUVIR QUANDO DI-RECCIONADA PARA AJUDAR PESSOAS.”

Sexta-Feira 13If you can’t keep up with it, run fasterMaria Inês

Cartaz ChaumontDinis Carrilho

design gráfi co e multimédia

GIl Guerracargocolective.com/ligdsgn

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Don’t let them own your speechRui Silva

Mau HálitoMariana Miserávelwww.marianaamiseravel.blogspot.com

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São vários os designers ao quais devemos um “obrigado” por terem alterado esta realidade industrial. Mas falan-do dos casos portugueses, penso que nomes como Filipe Alarcão, Pedro Silva Dias, Fernando Brízio, Jomojoto, entre outros, são os grandes responsáveis por terem consegui-do introduzir projectos alternativos, “expressivos”,de auto-produção, dentro do tecido industrial português.

Assistimos hoje ao emergir de muitos projectos de auto-produção(...)Estes constituem iniciativas de produção de objectos, com conceitos próprios, livres dos constran-gimentos do contexto industrial (...)A autoprodução, por parte de um designer industrial, constitui geralmente um produção paralela ao trabalho desenvolvido com a indús-tria e faz uso deste conhecimento de campo para a viabi-lização da produção quer por sistemas de parceria com fábricas quer pela encomenda directa de vários compo-nentes em sectores diferentes. É uma produção que pro-vém directamente de um forte conhecimento da realidade industrial e de uma auscultação consciente do mercado e produções existentes(...) O designer controla o processo

DESIGNINDUSTRIAL

Texto J.R.M.

“EXPRESSÃO INDUSTRIAL (OU OS 3 E’S)”

Antes de começar, quero falar do título que atribuí a este artigo:

Será que existe uma expressão Industrial? Olhando para o interior de uma fábrica de produção de objectos, é difícil ver uma expressão, uma manifestação, uma revelação de ídeias ou sentimentos, no meio de um milhão de objectos iguais.

Claro que depende do objecto que estamos a falar. Um aspirador, um frigorifi co...São exemplos de objectos aos quais não se associam uma “expressão”:Estes não acar-retam determinada mensagem/conceito. Existem excep-ções claro, mas regra geral servem para desempenhar determinada função e o que interessa é que a desempe-nhem bem. Mas olhando para trás no tempo, com o De-sign penso que alterámos esta realidade dentro do meio industrial. Retirámos esta “inexpressividade” de dentro das fábricas. Introduzindo a produção de objectos inova-dores e criativos. E estes sim carregam tal expressão, que serve de tema central para este número da revistaForma.

CeramToys Hugo Graça, João Marcão, Miguel Cochofel, Renato Simões, Diogo Paulo

design industrial

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“POR ISSO, EXPRESSA-TE. AO LONGO DA TUA VIDA ESTUDANTIL NÃO TE LI-MITES A DESENVOLVER UNICAMEN-TE PROJECTOS PARA AS DISCIPLINAS. COMO CERTAMENTE JÁ OUVISTE...” “THINK OUTSIDE THE BOX”

transmitem uma expressão pessoal que pode ser algo para além da qualidade dos projectos dos designers de produto. Por exemplo, os irmãos Campana, devido a todo o seu historial- Um estudou arquitectura, o outro direito. E claro, também devido ao facto de terem uma forte ligação com o país onde nasceram e residem, Brasil.

Criam peças que basta olhar para elas um segun-do que conseguimos logo perceber quem as criou.Penso que peças como a “favela” tornam-se um bom exemplo de como o design pode refl ectir a pessoa que nós somos. E penso que esta expressão pessoal é o que pode tornar o nosso trabalho único, original, nun-

Organização de Fios de Som Flávia Gonçalves

do principio ao fi m(...) São hoje os designers os melhores auscultadores do mercado, com cultura material e capaci-dade de conceptualização necessárias para propor novos produtos, contextualizados, sustentáveis e oportunos” ( in Artigo “Designers na Autoprodução” escrito pela desig-ner Rita Filipe na revista “Arquitectura e Vida” nº36 março 2003,propriedade da Loja da Imagem).

Mas voltando ao tema central- expressão - ao pesquisar sobre este começei a identifi car tipos diferentes de ex-pressão... Seja aquela expressão pessoal - que acarreta determinado estilo, que basta olharmos para a peça que temos logo uma suspeita de quem a produziu, devido ao estilo tão pessoal do seu autor. Aquela expressão que anda de mãos dadas com a personalidade, identidade, do seu autor.

Seja uma manifestação - Aquela peça que expressa, carre-ga consigo, uma mensagem que o autor pretende passar para o publico. Seja a expressão de uma nova ideia, de um sentimento, conceito.

Começemos então pela expressão pessoal, como eu gos-to de lhe chamar. Ao fazer a minha pesquisa por alguns livros, sites, revistas... E ao saltar de objecto para objec-to, comecei a lembrar-me daqueles produtos que basta olhar para estes e conseguimos logo dizer quem é o autor.Ás vezes é só um palpite...Mas muitas vezes até se reve-la acertado. Então começei a pensar... Certos objectos

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ca antes visto. E os projectos que refl ectem a nossa personalidade, o nosso espirito como pessoa, como designer, são os que podem marcar a diferença. Poden-do virem-se a revelar os nossos melhores trabalhos.Ao ler o artigo do Tiago Manuel Lopes (dossier som e ima-gem) fi quei com uma frase na minha cabeça: “A procura da expressão sempre caminhou de mãos dadas com a pro-cura identitária”. Nos cursos artísticos penso que é mais evidente esta relação entre a expressão do autor com a sua identidade. Num curso como Artes Plásticas, por exemplo, é a expressão pessoal de um artista que mar-ca a diferença. Claro que estes têm as suas infl uências, como todos nós, mas a busca de um estilo novo, original, é quase obrigatório, no mercado competitivo das Artes.É o que nos vai fazer destacar dos demais e fazer vender obras nas galerias.

No caso do Design Industrial, penso que esta relação entre a nossa expressão pessoal e o nosso trabalho não é tão evidente. Muito devido ao facto ,da vantagem ou desvantagem, de muitas vezes trabalharmos para outras entidades onde temos um briefi ng para seguir.E concordo que não façamos só o que nos apetece, mas é importante explorarmos a nossa expressão pessoal, ex-plorar a nossa personalidade, no intuito de criar novas soluções que só nós por sermos nós, é que conseguimos criar.

Mas esta expressão pessoal é algo que vem com o tempo, é preciso aprender, ganhar conhecimento nas mais variadas áreas, sabermos quais são os nossos verdadeiros gostos, o que nos dá realmente prazer.

E depois misturar tudo neste cocktail que é a nos-sa pessoa e tentarmos exprimir-nos em ideias que se possam revelar produtos atraentes para os demais.Dando um amigo meu como exemplo, que sempre teve um forte gosto pelo graffi ti e por tudo o que seja “street-art” ; Trabalha , também, como monitor em colónias de férias desde os seus 19 anos e desde en-tão nunca mais deixou de trabalhar com crianças. Ora foi então natural que alguns dos seus projectos en-quanto estudante tivessem refl ectido exactamente estes seus dois gostos pessoais - Fosse mobília urbana, onde inseria móveis reciclados em paredes brancas e através do uso do graffi ti pintava paredes e móveis; Fosse um kit criativo para crianças, onde desafi ava estas a reuti-lizarem caixas de cartão, criarem o seu espaço (com as caixas), chegando então a hora de utilizar os vários materiais do kit para personalizarem o seu espaço. Penso que começou-se assim a revelar de uma forma natural a expressão pessoal deste colega. Surgindo sempre traços comuns nos projectos desenvolvidos: O culto pelos 3 R’s: reduzir, reutilizar, reciclar .Pelo do-it-yourself. Pela ligação a uma estética sempre ligada ao graffi ti, ao lado urbano. E por uma relação forte com Portugal, tendo sempre em vista como pode ajudar este País e a sua industria a desenvolver novos produtos que permitam o desenvolvimento de sectores cada vez mais em crise como a cerâmica, a cortiça, entre outras.Acho que devemos aproveitar enquanto somos estu-dantes, para desenvolvermos projectos que falem um pouco de nós, porque são estes que muitas vezes nos dão maior prazer a resolver. E quando trabalhamos

design industrial

Craftchair Nuno Gomes [email protected]

Naturaleza Patricia Mafra www.behance.net/pmafra

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com gosto, isso irá refl ectir-se no nosso produto fi nal.Por isso, expressa-te. Ao longo da tua vida estudantil não te limites a desenvolver unicamente projectos para as disciplinas. Como certamente já ouviste...”Think out-side the box”. Desenvolve projectos pessoais que te defi nam como pessoa, como designer. Participa nas ini-ciativas que a tua escola ofereçe. CaldasLateNight é um bom exemplo de uma iniciativa que te permite desenvol-ver qualquer tipo de ideia, sem limitações. E claro, par-ticipa em workshops, concursos. Desenvolve projectos em grupo que melhorem a sociedade em que vives...Podes achar que é “chato” ocupares o teu tempo livre com este tipo de iniciativas, mas tens que ser pró-activo. Tens que te pôr a mexer e ocupar bem o teu tempo. Senão dás por ti, acabaste o teu curso,sem conheceres gente do meio, sem um portfolio que se destaque dos demais. Tornaste mais uma ovelha no meio de milhares. E serás menos re-conhecido nesse mundo cão que é o mercado de trabalho.Por isso reforço... Expressa-te!

Utiliza todos os meios disponíveis para o fazer. E a net é a tua principal ferramenta. Cria o teu site grátis: Carbonmade, CargoCollective, Core77... Inscreve-te em comunidades como o Behance, O próprio espaço Forma, entre outras. Põe o teu trabalho lá fora, deixa o mundo “take a look” no teu portfolio. Participa em concursos, em exposições, etc.

Expõe-te! Não a um nível pessoal mas a nível profi ssional. Pode ser que um dia tenhas a sorte de verem o teu traba-lho e convidarem-te para novos projectos, novos trabalhos.É esta a atitude certa. Não tenhas medo de mostrar o teu trabalho. Mesmo que te critiquem só vais aprender e evoluir com isso. E acredita, vais crescer com isto. Não só como pessoa, mas como designer. E quando de-res por ti tens trabalhos teus a aparecerem em blogs, sites,revistas, e quando tal acontecer vais-te sentir recom-pensado por todo o empenho e dedicação, pelos anos que andaste a divulgar e a expôr o teu trabalho em vez de só fazeres o que te mandavam na escola e já achavas que era demais. Não é. Temos muito tempo livre, é só uma questão de rentabilizar, organizar, e aproveitar o tempo.São os 3 E’s: Expressa-te...Expõe-te...Evolui.

Pixel Glasses Manuel Junqueira [email protected]

Sala de estar com kitchenette Fábio Afonse [email protected]

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SOME IMAGEMTexto Tiago Manuel Lopes

“Caminho por entre ruas embelezadas de graffi ti...”

O sol laranja afoga-se no horizonte por entre as árvores que começam a ganhar o tom verde-primavera enquanto caminho por entre ruas embelezadas de graffi ti e stencil, (corta), viro à direita, (corta), passo uma passadeira, (cor-ta), o condutor olha impaciente para mim e imagina como seria o mundo se ele tivesse liberdade para me atropelar, (corta), entro numa rua apertada, (corta), paro, encosto-me à parede para deixar uma senhora de cabelos brancos passar com a sua bengala de madeira envernizada, (cor-ta), uma criança (uma qualquer, poderia ser eu ou tu) brin-ca na charco de água suja da calçada, (corta), a música nos ouvidos faz desaparecer os sons citadinos, ao fundo um carro irrompe por entre a música que sai dos phones e torna-se parte dela, a tua mão toca-me no ombro (corta).

Dilacera, distorce, junta, tira, pinta o céu de vermelho, amarela as ruas, exagera nas proporções e volta a rasgar. Esta é a forma como expressamos a realidade que está perante nós, uma arma que utilizamos para que o mundo sinta a nossa presença. Estamos cá para fi car e para lutar por algo que procuramos incessantemente até ao fi m da nossa vida apesar de não sabermos ao certo o que é, se lhe podemos tocar, ou sentir. Abanamos o mundo pelas imagens e sons, tentamos mais e mais que tudo e todos à nossa volta não fi quem no coma das massas, se ergam e icem a bandeira da revolta pela expressão, pela forma, liberdade. Mas tudo isto são palavras que deviam existir pela sua força de comunicação, de ressuscitarem aquele bichinho que está no fundo de cada um, que se alimenta

do sonho de revolta por uma arte melhor onde críticos não possam ditar o futuro do artista decidindo com a sua mão direita estendida o que é a arte e como ela se deve orientar. Basta. ”Uma mentira dita cem vezes torna-se ver-dade” Joseph Goebbels (Ministro da propaganda de Adolf Hitler).

Quantos anos leva um sonho a concretizar-se? Um dia, um mês, uma vida, talvez até nunca se vá concretizar, mas to-dos já o conseguimos ver a cores na nossa cabeça, como se de um fi lme se tratasse, “em câmara lenta como na tv” ou então mais rápido tal qual Chaplin o fazia, só com uma diferença para ele, nós damos cor e luz com tanto brilho

“A PROCURA DA EXPRESSÃO SEMPRE CAMINHOU DE MÃOS DADAS COM A PRO-CURA IDENTITÁRIA, NÃO EXISTE FORMA DE DESASSOCIAR UMA COISA DA OUTRA. ASSIM QUE O ARTISTA ENCONTRA UMA FORMA DE EXPRESSÃO, ELE ENCONTRA PARTE DE SI MESMO.”

Sem título Francisca Veiga

som e imagem

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que até as câmaras de fi lmar sonham ser homem. Des-construímos o mundo à nossa maneira, retiramos prédios cinzentos que “escondem” a luz do sol, construímos natu-reza ao longo da rua e a luz de repente é esverdeada refl e-xo das árvores, levantamos a mão onírica e afastamos o sol um pouco para trás e para baixo e lá fi ca ele ao fundo já naquele tom alaranjado fi m de dia e sento-me na berma da estrada só para o ver e claro lá estás tu ao meu lado para o ver “morrer” mais uma vez. Criamos uma imagem para quase tudo, e com ela passamos uma vida sem a alterar. Outras vezes só aplicamos o preto e branco como a imagem da minha mãe a dar-me um sermão porque as paredes do quarto estavam todas rabiscadas enquanto eu em jeito de criança encolhia os ombros. Ou então aquela imagem que já só nos lembramos de algumas parte delas e o resto é um profundo desfocado. A lâmpada fl uorescen-te, daquelas que irritam com o seu “taaaaaaaa” faz me voltar ao mundo real que é uma cozinha onde me sento no banco, sinto o grito das minhas costas e da posição torta que me sento, tento endireitar e imagino-te na cama dei-tada aconchegada, a luz amarelada da rua desenha o teu corpo na parede branca do quarto, como é bonito, deito-me ao teu lado não acordas. Estás a sorrir.

A procura da expressão sempre caminhou de mãos dadas com a procura identitária, não existe forma de desasso-ciar uma coisa da outra. Assim que o artista encontra uma forma de expressão, ele encontra parte de si mesmo. Ago-ra se aquilo que ele mostra é directamente proporcional à identidade é difícil de perceber, porque cada artista tem a sua forma de “enganar” o espectador à sua maneira e no entanto, por mais que “minta”, ele dá algo de si mesmo. O homem na sua forma mais primitiva, quando vê o mundo

pela primeira vez tem o ímpeto de explorador, torna-se curioso e apaixonado, manipula objectos e faz arte, quer conhecer o mundo e construir o seu próprio caminho. Ex-pressa realidades internas singulares na forma de gesto, símbolo ou acção. Torna-se espírito enraizado em perma-nente recriação existencial. A arte como caminho para a expressão e recriação da identidade pessoal. Ela marca o momento da grande mudança, quando o homem, além de representar em sua mente o que via e experienciava, passou a traduzir isso externamente na forma de desenho nas cavernas.

Urbano Pedro Cavaco

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Fogo Pedro Cavaco

Aula de Corpo ESAD.CR Marylin Rocha

Práticas Tiago Lopes

som e imagem

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Sem título Francisca Veiga

Urbano Pedro Cavaco

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TEATROHouve alguém próximo que me disse recentemente que encontrou no Teatro o meio através do qual pode conceber em estrutura a inspiração da existência a partir da sua individualidade; encontrou no corpo teatral a forma mais próxima aos seus impulsos para cumprir a sua condição enquanto animal portador de razão. Isto quer dizer que, de entre as formas de arte, é o Teatro que serve o meio que conduz à interpretação e análise das coisas do universo.

Não faz sentido isolar o homem da arte, nem entender o seu conceito fora do retrato mutável da natureza. Porque é esse olhar questionador dirigido ao universo pelos ho-mens que os carencia de uma forma de expressão que, ao mesmo tempo que se aproxima da natureza e a disseca, a altera com pretensões individuais.

O homem olha o mundo e os homens, apercebe-se dos fenómenos, dos conjuntos e das comunhões. Adquire essa percepção através dos sentidos, mas essa aquisi-ção sensitiva não é isenta de valores culturais ou de ca-rácter preferencial. Acabamos por extrair a virgindade das coisas porque as queremos apreender; porém isso é uma condição humana e é o que alimenta a necessidade de ex-pressão que adquirimos ao devolver as coisas, entretanto alteradas por nós.

Existe uma correlação entre as artes que se emprestam umas às outras. O Teatro tem determinadas característi-cas que o faz ser Teatro e não Pintura ou Instalação. Mas pode e deve recorrer a meios plásticos para adicionar às outras componentes. A cenografi a está intimamente liga-da com as artes plásticas ou com o design numa vertente mais funcional. Este factor reforça a ideia de que, no âm-bito do Teatro, as diversas partes que o constituem são vozes individuais que expressam determinadas ideias, ou seja, que lhes dão forma. E é esse o conceito geral que atribuímos a Expressão, a capacidade de dar corpo a uma ideia, de canalizar uma expressão íntima em algo capaz de ser percepcionado.

Patrice Pavis, em Dicionário do Teatro, escreve “A expres-são dramática ou teatral, como toda a expressão artís-tica, é concebida, segundo a visão clássica, como uma exteriorização, uma evidenciação do sentido profundo ou de elementos ocultos, logo, como uma movimento do interior para o exterior”. Nesta linha podemos evidenciar uma panóplia de formas possíveis inerentes à arte tea-tral: a expressão corporal, facial e vocal (que transfi gu-ra uma emoção ou pensamento no movimento do corpo ou numa alteração do rosto e voz. Se uma personagem é nervosa, por exemplo, talvez tenha um andar precipitado,

Texto Diana Serrano

“EXPRESSÃO DRAMÁTICA: 1ªIMPRESSÃO”

Estados de Tempo3º ano de Teatro 2008/09Criação e interpretação: André Duarte,Tânia Duarte e Teresa de Athaydewww.estadosdetempo.blogspot.com

teatro

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punhos cerrados com alguma agitação das mãos em rela-ção ao cabelo, ao nariz, pequenos tiques que transmitem o sentimento, os lábios presos nos dentes, a voz gaga com oscilações de timbre etc., factores estes ao nível do performer ou actor. Em contrapartida existem outras for-mas que sustentam o trabalho do actor que passam pela expressão textual que, consoante a narrativa da peça, su-gere a história e o carácter das personagens através das acções das mesmas - o texto dramático adquire expres-são quando enfrenta a sua verbalização e todo o conjunto de tensões e movimentos corporais; deixa de ser texto e passa a ser Teatro. A expressão cénica que relaciona o es-paço com o actor e inclui uma diversidade de componen-tes como a constituição dos objectos que ditam o espaço, assim como a escolha dos materiais, assinala uma linha individual do encenador ou cenógrafo apoiada na vertente plástica, a luz que concede a ambiência e que pode ser uma expressão do íntimo das personagens, assim como função sonora que é imprescindível para a caracterização das mesmas, como pode sugerir aspectos de tempo e espaço. E outros recursos como o vídeo, a fotografi a, a instalação, ou fora da cenografi a, opções relativas ao mo-vimento como a dança, à música, etc.

No fundo, Teatro é representação, não só pela parte do actor como em todas as suas vertentes: representa a natureza em conformidade com a sombra de um índivi-duo ou a soma de um colectivo, através daquilo que é percepcionado fi sicamente. Neste ponto de abreviatura, a distinção não é nítida, porque afi nal de contas, não deixa de ser uma forma de suporte ao conteúdo, que pode ser o mesmo representado num outro formato como a pintura, a fotografi a, o cinema, a música. É porém, de salientar, a ca-racterística híbrida da expressão teatral que busca todo o tipo de linguagens, de maneira que o sentido e a intenção ganhem a expressão e sejam legíveis para quem assiste.

A pluralidade de linguagens no teatro converge num ponto durante a cena: o actor, o agente da acção. O texto dito pelo actor ultrapassa o carácter passivo de texto e passa a ser outra coisa que não só uma, a voz e o texto são uma combinação, e esse conjunto adquire uma expressão humana e verosímil na correlação entre agente e espec-tador. Desta maneira se compreende uma característica única do teatro: a coexistência física no espaço e no tem-

“NÃO FAZ SENTIDO ISOLAR O HOMEM DA ARTE, NEM ENTENDER O SEU CONCEITO FORA DO RETRATO MUTÁVEL DA NATUREZA. ”

po (presente) dos intervenientes. Teatro não existe sem agentes da acção ou sem assistentes, como tal obriga a uma partilha directa da representação. Obriga à presen-ça de indivíduos. É fascinante a dupla identidade desta arte, um embrião que nasce anónimo e que permanece ao mesmo tempo que é defendido pela união de uma co-lectividade. Teatro é público - pertence de facto a todos os homens, e essa pluralidade de co-autores justifi ca a tendência sensível dos homens em procurar na ilusão o encontro com a verdade.

Esta arte existe no intervalo entre os homens, e só se estabelece entre eles; explora o homem nos seus limites, fá-lo procurar fora de si e voltar para descobrir e reco-nhecer as suas características dentro do ser que é, sem destituir-lhe essa dimensão. Esta é sim, a fi nidade de toda a arte, o ponto em que a arte dobra o sentido e se dirige ao íntimo dos artistas.

A Promessa 1º ano de Teatro 2008/09Encenação de João Garcia Miguel

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Estados de Tempo

A Promessa

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Stabat Mater3º ano de Teatro 2009/10

Adaptação e Interpretação: Filipa AlmeidaParceria: Inês Carvalho, Marta Cação, Miguel Lopes

Projecto Final da Disciplina Projecto Teatral

Harold Pinter3º ano de Teatro 2009/10

Adaptação e Interpretação: Goreti Mourão, Vânia Jordão,Bruno Gonçalves, Nicole Marques, Sara Vigário e Dora Conde

Parceria: Sandra Boa Ventura, Carina Henriques e AndréProjecto Final da Disciplina Projecto Teatral

Ligações3º ano de Teatro 2009/10

Adaptação e Interpretação: André Duarte e Joana Estrela

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IDENTIDADES

ALEXANDRE CALMEIROE CASTRONomeAlexandre Calmeiro e castro

Ínicio de Actividade2004

LocalizaçãoEntre a zona do Adamastor, em Lisboa e as Caldas da Rainha

Quem és?

Tenho 1,70m mal medidos, olhos castanhos e fechei a conta do facebook... sou um marreta, sou um «tecno-avançado», «homem-árvore» e argonauta de piscinas en-lameadas. Acredito no poder do banco de jardim, e na sardinhada de sábado à hora de almoço.

Missão

Quero ser útil à sociedade, e decidi faze-lo através da cul-tura. O meu plano maléfi co consiste mais ou menos nesta ideia: A cultura une as pessoas e dá-lhes instrumentos para compreenderem o mundo e juntas a pessoas têm o poder de mudar o mundo à sua volta (espera-se que para melhor).

Visão

Imagino as Caldas da Rainha como um importante pólo de cultura... há cá de tudo, desde um contexto histórico de grande e variada actividade cultural (assim de repente ocorem-me coisas tão díspares como Bordalo Pinheiro e Luiz Pacheco ou a A062 e o Caldas Late Night) aos espa-ços e recursos que para ali estão (alguns quase ao aban-dono) à espera que alguém faça as coisas acontecerem. Espero que haja pessoas capazes de se juntarem e de «fazer acontecer» de uma forma estruturada, de qualidade e duradora e teria muito prazer se puder ser um elemento activo dessa construção.

Actividades que desenvoves, actualmente?

Actualmente (em Junho de 2010) faço design gráfi co e web, acabei mesmo agora o estágio profi ssional Barbara Says... (barbarasays.com) que é um estúdio que se dedi-ca exclusivamente a fazer design para agentes culturais. (sim, saiu-me a sorte grande). Ao mesmo tempo pertenço também ao Moscardo que é uma associação cultural (por ora informal) com sede nas Caldas da Rainha. Como te vês daqui a dez anos?

Com mais barba e provavelmente mais gordo (a minha es-posa vai ser uma grande cozinheira). Uma palavra aos alunos

Acaba-se a escola e tem-se a mesma sensação que tem um preso depois de ter estado 20 anos na prisão. Somos livres... que bom, mas a única coisa que pensamos é que estamos fora dos sistemas e que temos de lutar deses-peradamente para entrar em qualquer coisa. Nessa altura é preciso parar e pensar muito bem no que se acredita e no que se quer mesmo... porquê? Porque quando ar-ranjares um emprego que detestas ou acreditas que isso faz parte do caminho turtuoso que tens de percorrer até chegares aos teus objectivos ou desistes e passas o res-to da vida a só fazer o que não gostas para teres dinheiro para pagar o crédito «daquela cena» que nem sabes que não precisas. [email protected] www.moscardo.org www.eventoinha.org

identidades

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CREATIVELAND

Creativeland , Consultoria de Imagem, Lda.

Ínicio de Actividade2009

LocalizaçãoNão poderíamos estar noutra rua que não em plena Rua da Criatividade, no Lote 7 do Parque Tecnológico de Óbidos.

Composição da Empresa ou Atelier

A nossa equipa é composta por vários profi ssionais das áreas de Som e Imagem, Jornalismo e Comunicação, Ani-mação, Design Gráfi co, Web Design e Programação. Profi s-sionais sim, mas não somos apenas trabalhadores, somos um grupo de amigos, uma família. Desenvolvemos o nosso trabalho num edifício desenhado à medida das nossas necessidades. Para além da sala dos criativos, da redacção e dos gabinetes de administração, a nossa sede tem um estúdio completamente equipado com 100 metros quadrados e uma outra sala mais pequena, que poderá servir para o mesmo efeito quando necessário, não esquecendo, claro, as régies, salas de edição de vídeo e áudio e os camarins.A Creativeland é a “empresa mãe” de todos os projectos. Dentro dela surge a FBN – Future Broadcast Networks , a nossa produtora de televisão independente que trata dos conteúdos audiovisuais, de entre os quais se destaca o novo canal para Jovens, o Young Channel.

Missão

Queremos oferecer aos nossos clientes as melhores, mais originais e mais inovadoras soluções de som, imagem e marketing disponíveis no mercado mantendo preços com-petitivos. Damos atenção especial a todos os projectos e todos são encarados como desafi os distintos, que exigem aborda-gens distintas.Tecnologia, Design e Criatividade são as palavras de or-dem que nos fazem levantar da cama todos os dias e ar-regaçar as mangas para fazer mais e melhor.

Visão

É importante acreditar. Mais que isso: é importante acred-itar num projecto comum, que cresce diariamente graças à contribuição de um grupo de pessoas que se empen-ham para que isso seja possível.Somos audazes e ambiciosos sim, mas sabemos que isso não chega. O trabalho e o esforço são condições sine qua non para que possamos atingir novos patamares e exced-er as nossas próprias expectativas.

Como começaram?

O embrião do canal surgiu quando se constituiu uma eq-uipa própria para produzir conteúdos destinados à Campo Aventura TV, focada nas actividades das crianças dos campos de férias e programas escolares. Face à qualidade dos resultados, e depois de devidam-ente verifi cada a capacidade e experiência de um grupo de profi ssionais na área da consultoria, publicidade, con-teúdos, som e imagem que foi crescendo, o fundador do Campo Aventura e da Campo Aventura TV, Luís Reis, de-cidiu avançar com um projecto independente.É assim que surge a consultora Creativeland e a produtora FBN – Future Broadcasting Networks. Actividade que desenvolvem

Como já deves ter percebido, a Creativeland é uma empre-sa multidisciplinar. Operamos em vários ramos do sector da imagem, vídeo e comunicação em novos média desde a concepção da ideia até ao produto fi nal.Para além de continuarmos presentes na área de consul-toria de imagem, investimos em meios e técnicas inova-doras para a produção de conteúdos diversos para novos média, com especial relevo na Internet.Na área de produção de conteúdos importa referir que surgiu espaço para a criação de um projecto próprio de grande envergadura: o Young Channel, um novo canal de televisão destinado aos jovens. Irreverente, divertido, non-sense mas sempre consciente, a abordagem é inovadora e distingue-se das demais pela relação de proximidade e identifi cação que pretende criar. És tu, o telespectador, que vai escolher o que quer ver e quando quer ver. Como vêem o vosso negócio/profi ssão daqui a dez anos?

O mercado é cada vez mais instável é, por isso, difícil an-tever o futuro. Queremos espalhar a nossa visão além-fronteiras e estar presentes no panorama internacional. É para isso que vamos continuar a trabalhar.

Edgar Filipe, CEO – [email protected]

Nome

Uma palavra aos alunos

Acreditar num projecto de projecto de vida e ter a garra para o edifi car e torna-lo realidade são o ponto de partida para o sucesso. Quiçá ao nosso lado.

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ATELIER ARTE E EXPRESSÃONomeAssociação Arte e Expressão

Ínicio de ActividadeMaio de 1989

LocalizaçãoCentro de JuventudeRua Vitorino Frois,nº222500-256 Caldas da Rainha

Quem são

Associação Juvenil sem fi ns lucrativos.

Missão

Produção de Actividades Socio-culturais Simultaneamente, a associação sempre se orientou por uma fi losofi a de per-manente abertura à cidade e às pessoas, de modo a ser um espaço de apoio a iniciativas que qualquer cidadão de-sejasse concretizar. Isto, desde que enquadradas dentro dos seus objectivos.

Como começaram

A Associação foi criada em 1989 por iniciativa de um gru-po de jovens que sentiu necessidade de se associar para desenvolver diversas actividades culturais. Inicialmente, a associação desenvolveu essencialmente projectos de na-tureza cultural e artística (formações, exposições de artes plásticas), com o passar do tempo surgiu a oportunidade de implementar projectos que aliassem a dimensão cul-tural e artística à dimensão social. Foi então que começou a colaboração da associação com diversos organismos públicos e privados nacionais da área social.

Visão

A associação é uma entidade que comunga de uma visão bastante clara de qual é o papel de uma organização sem fi ns lucrativos dentro da sociedade. Enquanto espaço de apoio a projectos e iniciativas, a associação tenta dar o seu contributo para uma sociedade plural, em que as mais diversas formas de estar e de pensar e sentir o mun-do devem ser promovidas, desde que respeitadoras de determinados valores que estão implicitamente presentes nos seus objectivos. Por outro lado, uma organização de-sta natureza, além de possibilitar a aquisição de conhe-cimentos e de competências às pessoas que frequentam as suas formações, que de uma forma ou de outra com ela se envolvem profi ssionalmente, deve contribuir para a formação de pessoas, mais do que meramente contribuir para a formação técnica das mesmas.

Como se vêem daqui a dez anos?

Como uma Organização de referência a nível sócio-cultural. Como podem ajudar os alunos e ex-alunos da ESAD?

Desde sempre o Atelier colaborou com alunos e ex-alunos da Esad de diversas formas, disponibilizando a Ofi cina de Serigrafi a e Gravura para poderem desenvolver os seus projectos, com formação em áreas de interesse e dando apoio para o desenvolvimento dos mais diversos projec-tos.

Centro de Juventude - [email protected]

Uma palavra/conselho aos alunos da ESAD?

Dar conselhos nunca é uma tarefa simples e muito me-nos grata. Mas um conselho genérico que se pode dar a qualquer aluno é que devem aproveitar ao máximo todas as possibilidades e recursos de aprendizagem disponíveis, não só os fornecidos pela escola, como por outras en-tidades, outras pessoas. Parece um lugar-comum, mas mesmos as mais ínfi mas e insignifi cantes aprendizagens podem um dia ser bastante úteis, não só no mundo do trabalho como nas relações humanas. E obviamente que devem “aproveitar” uma estrutura como o Atelier para a realização das suas iniciativas.

identidades

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COLECTIVO SUPERGORRILANomeColectivo Supergorrila

Ínicio de Actividade2009

LocalizaçãoLatitude: 41° 9’35.40”NLongitude: 8°39’35.35”W

Latitude: 41.411659,N Longitude: 8.510317W

Latitude: 40°23’38.16”N Longitude: 8°12’11.35”W

Latitude: 39°36’24”N Longitude: 09°04’13”W

Composição

Sinfonia em Dó maior com edulcorantes de amido em baixa vibração.

Actividades que desenvolvem?

Dentro da panóplia de actividades possíveis tentamos manter um ritmo radioactivo e nuclear numa perspectiva de minimização de consumo energético e aumento da ac-tividade electro-cerebral-estético-funcional da coisa.

Missão

Impossível ou não?!!! Não sendo fácil é extremamente difícil mas, nós consegui-mos.

Como começaram

Começámos pelo fundo e só depois veio o verbo seguido do coelho da Páscoa e fi nalmente fez-se luz.

Visão

Inconstante mas nunca estratifi cante.

Como se vêm daqui a dez anos

Tipo cinco em um com cobertura de chocolate às dez para as seis para não ser cinco outra vez.

913669821http://supergorrila.blogspot.com

Uma palavra aos alunos da ESAD

“f***-se. Sei lá...” citando o Edgar e esta foi também a resposta dada por todos a quem fi zemos a mesma pergunta.

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SÉRGIOGONÇALVESOALVESALVESPara este primeiro número da revista “Forma”, fui desafi ado para escrever este pequeno texto sob o tema “expressão”. Não sei qual a ideia de me conceder tal honra, uma vez que a escrita não é, claramente, o meu maior dote. E tal se refl ecte no tempo que levei a decidir o momento de o começar a escrever. Se por um lado, e como já referi, a escrita não é o meu forte, por outro senti uma enorme difi culdade em falar de algo sobre o qual toda a gente fala com aparente conhecimento de causa. E foi, confesso, aterradora a constatação da minha ignorância relativamente a este assunto. E , confesso ainda, estou neste momento com suores frios, provocados pelo medo de criar no caro leitor aquela vontade de ir para o twitter dizer que acabou de ler algo tão mau que mais valia ter aproveitado o tempo para alimentar as ovelhas do Farmville (acho que o twitter serve para dizermos que lemos maus textos e que o farmville serve para alimentar ovelhas virtuais com comida virtual, não?). Estarei eu aqui a expressar-me? Mas a expressar o quê? Os meus medos? A minha ignorância acerca do que quer dizer expressar, ou exprimir? A minha ignorância acerca dos ciberinstrumentosdealienação que por aí proliferam e que nos levam a recorrer cada vez menos a muitos dos meios de expressão que utilizamos desde que se conhece a existência da raça humana, e das outras? Mas por que raio estou eu a falar de expressão quando ainda algumas linhas atrás estava a dizer que não percebia nada de expressão?

Vou ao dicionário ver o que é expressão. Diz o da Porto Editora que expressão é feminino, uma senhora, portanto.

Diz ainda que é o acto ou efeito de exprimir (quem diria!), manifestação de pensamentos por gestos ou palavras, entoação com que se pronuncia uma palavra ou uma frase, ênfase, modo como o rosto, a voz e/ou os gestos revelam um estado de espírito, semblante, animação, vivacidade, modo de comunicar, conjunto de palavras, frase, dito, manifestação de um sentimento ou de uma emoção, revelação, representação de uma ideia ou de um conceito, manifestação, pessoa que representa uma coisa abstracta ou inanimada, personifi cação, língua, dialecto; gramática: qualquer constituinte (palavra, sintagma, etc.) de uma frase; linguística: um dos dois planos que formam um signo linguístico (por oposição a conteúdo), signifi cante; matemática: sequência fi nita de símbolos matemáticos;

expressão corporal: postura do corpo e gestos como meio de transmissão de pensamentos e emoções; expressão escrita: modo de comunicar por escrito;

expressão idiomática: agrupamento de palavras que funcionam como uma unidade cujo signifi cado não é literal; expressão oral: modo de comunicar oralmente.

Como a utilização da expressão se constitui no acto de exprimir, fui também ver o que queria dizer exprimir: verbo transitivo: dar a entender por palavras ou gestos, expressar, revelar, traduzir, representar, signifi car, verbo pronominal colocar os pensamentos e os sentimentos em palavras, expressar os sentimentos através da arte ou de outra forma.

convidado

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“TODOS NÓS TEMOS UMA FORMA DE EXPRESSÃO COM A QUAL SO-MOS MAIS EFICAZES NA TRANS-MISSÃO DAS NOSSAS IDEIAS. ”

Concluo então que no início deste texto me estava de facto a exprimir, pois estava a tentar dar a entender a minha incapacidade para a escrita através de palavras apresentadas sob a forma de escrita. Mas a minha incapacidade fi caria ainda mais patente se o caro leitor estivesse a olhar para mim neste momento, para a minha expressão facial, típica de quem está a falar daquilo que não sabe. E também através da minha expressão corporal, facial, de desconforto. E também veria a expressão da Margarida (a minha cadela) de quem se está nas tintas para aquilo que estou para aqui a escrever. Mas esperem lá, os animais também têm expressão? Pelo que vi no dicionário da Porto Editora (a repetição constante da palavra Porto não se constitui como nenhuma tentativa escamoteada de exercer alguma infl uência sobre o caro leitor(a)) aquilo que a Margarida está a fazer pode perfeitamente enquadrar-se na defi nição de expressão corporal. Então a expressão, seja ela qual for, serve para transmitir uma ideia, um conceito, uma conclusão ou a falta dela, é portanto um veículo de transmissão, comum a tudo aquilo que se mexe sem recurso a motorização. E quantos mais veículos usarmos, mais efi caz é a transmissão da ideia, isto é, se estiverem a ler aquilo que estou a escrever e me virem ao mesmo tempo a escrever aquilo que estou a escrever, e as caras que estou a fazer, e a quantidade de vezes que mudo de posição e que coço a cabeça, melhor entenderão que não percebo nada daquilo que estou para aqui a escrever. Por isso, quanto mais expressão melhor. Minimiza o risco de sermos mal interpretados.

A expressão tem codifi cações próprias, segundo a sua tipologia. Todos nós temos uma forma de expressão com a qual somos mais efi cazes na transmissão das nossas ideias. A minha não é, evidentemente, a escrita. E tenho a ideia que quanto mais competentes formos no domínio da nossa forma de expressão de excelência (desculpem o uso da expressão “excelência”, mas como vejo tanto ignorante a usá-la, achei que fi caria aqui bem), melhor conseguiremos fazer-nos entender por aqueles que como nós a dominam, mas também por quem pura e simplesmente não a use.

Só me resta terminar com uma rima: expressão a bem da Nação! (li isto num texto qualquer dos anos 60,achei que fi caria aqui bem).

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CALDAS LATE NIGHTCLN 14

Procura-se novos lares, campos, territórios, realidades, onde a caridade seja feita sem pedir nada em troca, levando-nos a criar as necessidades básicas, ajudando-nos onde mais precisamos, para que com isto consigamos sentir o prazer e o pulsar da comunidade, incentivar o diálogo entre os eventos propos-tos , criando novas dinâmicas, promovendo a produção de uma força regenera-dora de novas ideias e novas perspectivas.

Não queremos desvalorizar nenhuma iniciativa, nem criar diálogos negativis-tas, mas sim fazer do Caldas Late Night, uma plataforma de ideias, onde os rasgos e acções, sejam procriadores de actividades multidisciplinares, suge-rindo ponto s de contacto entre todos. Queremos que a comunidade tenha os seus 15 minutos de fama. Acreditamos que tal pode acontecer, se todos, preservando a sua individualidade, se concentrem na junção das partes num todo.

Esperamos um resultado com a sensação de trabalho assente, onde a sua realização tem sabor a gorila, mas que não se deita fora. Demora.

A Organização do Caldas Late Night

evento

EVENTO

CALCAL

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