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Revista Facientifica Digital, Ano 8, Nº 1 / 2014

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A Revista Facientífica, com periodicidade semestral, dedica-se a publicar resultados de pesquisas, reflexões sobre experiências de professores, pesquisadores e alunos como missão de ser um meio de difusão do “estado da arte” nas mais diversas áreas de ensino e educação. Além de um veículo de divulgação de práticas pedagógicas inovadoras adequadas à nossa cultura.

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E X P E D I E N T E

Diretor Geral: Prof° João Messias dos Santos Filho

Diretor Geral da Mantenedora: Prof° Manoel Leite Carneiro

Vice Diretor: Prof° Antônio Carlos Trindade de Moraes

Diretora Acadêmica: Profª Patrícia Martins de Lima Ferreira

Coordenador de Pesquisa Profº Dr. João Luiz Cardoso Sampaio Jr

Coordenador de Editoração: Prof° Wanderson Alexandre da Silva Quinto

Conselho Editorial: Prof° Wanderson Alexandre da Silva Quinto

Profº Msc Dayan Rios Pereira

Profº Dr. João Luiz Cardoso Sampaio Jr

Revisor: Prof° Antônio Carlos Trindade de Moraes

Ano 8, n.1 Janeiro/Junho de 2014. ISSN: 1981-5948 Sociedade Educacional Ideal - SEI (Mantenedora) Faculdade Ideal – FACI Rua dos Mundurucus, 1412 CEP: 66035-360 www.faculdadeideal.com.br/site e-mail: [email protected]

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 3

S U M Á R I O

PREFÁCIO

Prof. Pablo Queiroz Bahia................................................................................................ 4

MODERNIDADE E ORDEM SOCIAL NO BRASIL.

Jorge Alberto Ramos Sarmento....................................................................................... 6

ACESSO DIGITAL PARA PESSOAS IDOSAS: UM MODELO DE ESTUDO NO

WEBSITE DO INSTITUTO DE GESTÃO PREVIDENCIÁRIA DO ESTADO DO

PARÁ – IGEPREV.

Raffael de Oliveira Grande

Rossiclea Ferreira do Nascimento

Átila Siqueira Soares...................................................................................................... 20

A EVASÃO NO ENSINO SUPERIOR: UM ESTUDO NO CURSO DE

PEDAGOGIA DA FACULDADE IDEAL – FACI.

Gleaecy Leal Pacheco

Maria do Socorro Castro Hage....................................................................................... 35

ANÁLISE GEOESPACIAL APLICADO A TOMADA DE DECISÃO PARA A

LOCALIZAÇÃO E REGULAMENTAÇÃO DE POSTOS REVENDEDORES DE

COMBUSTIVEIS NO MUNICIPIO DE BELÉM/PA.

Maiara Nascimento dos Santos....................................................................................... 51

ANÁLISE DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS CONSUMIDORES E

GERÊNCIA DOS SUPERMERCADOS SOBRE O USO DAS SACOLAS

PLÁSTICAS NA CIDADE DE BELÉM DO PARÁ.

Breno Maurício Pantoja da Silva

Maria Elisa de Castro Almeida....................................................................................... 56

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR OMISSÃO.

Laira Vasconcelos dos Santos

Luly Rodrigues da Cunha Fischer.................................................................................. 66

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 4

P R E F Á C I O

A Revista Facientífica, com periodicidade semestral, dedica-se a publicar

resultados de pesquisas, reflexões sobre experiências de professores,

pesquisadores e alunos como missão de ser um meio de difusão do “estado da

arte” nas mais diversas áreas de ensino e educação. Além de um veículo de

divulgação de práticas pedagógicas inovadoras adequadas à nossa cultura.

A atual edição da Revista Facientífica (Ano 8 de Janeiro/Julho de 2014)

apresenta uma grande novidade. A partir desta edição a revista passa a ser

apresentada em versão integralmente digital. Esta modificação se dá visando uma

divulgação mais adequada ambientalmente e também mais eficiente, uma vez

que estando disponível no site da Faculdade Ideal permitirá o acesso de um

número muito maior de leitores, não só de nossa faculdade, mas de qualquer

lugar do mundo que possa acessar a internet.

Circulando desde o ano de 2007, quando foi publicado o número 1, a

revista Facientífica, encontra-se catalogada no sistema de avaliação de

publicações da Capes, valorizando o trabalho dos autores cujos trabalhos foram

publicados até este número Ano 8 e que certamente continuarão contribuindo nas

próximas edições.

Neste novo formato, a publicação digital permitirá a regularização de duas

publicações anuais, o que sempre foi o plano editorial da revista, mas que na

maioria das vezes não se tornou possível em função dos custos editoriais sempre

suportados por colaboradores e/ou empresas parceiras como o Banco da

Amazônia – BASA a empresa de Consultoria e Assessoria Takashima & Bahia

Assessoria e Consultoria Empresaria e Lobato e Quinto Consultor e Assessorial

Educacional responsáveis pela Revista Facientífica Ano 7, Nº2

Agosto/Dezembro de 2013, a quem aproveitamos para agradecer e homenagear

por terem tornado possível este importante trabalho.

Os Artigos desta edição mostra a aplicabilidade de determinados métodos,

às vezes considerados de difícil apreensão, em experimentos que elucidam sua

eficácia na aplicação no ambiente organizacional. Aspectos práticos do ensino de

administração são enfatizados nos artigos, nos levando a valorizar o aprendizado

como instrumento gerencial fundamental no sucesso das organizações e nas mais

diversas áreas do saber. São ricas também as contribuições dadas pelos autores

dos artigos que compõem este exemplar. Continuamos a insistir e a apelar para

que os demais professores, pesquisadores e estudantes de todos os cursos da

Faculdade Ideal utilizem a Revista Facientífica como veículo de debate do atual

estado da arte nas salas de aula.

Desta forma, aproveitamos para também agradecer novamente a todos os

colaboradores que enviam seus artigos, a todo o conselho editorial, aos

avaliadores “ad hoc” e a todos que de alguma forma permitem que esta

publicação se torne realidade.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 5

Finalmente desejo externar meu agradecimento pela consideração com a

qual fui brindado de escrever o prefácio de uma revista, após 11 anos fazendo

parte deste grupo de Educadores em cargos de Gestão e na Docência, posso dizer

que sem dúvida alguma, esta Revista já se tornou o orgulho de todos os

colaboradores da Faculdade Ideal.

Vale Ressaltar que a Facientífica está sendo o resultado dos esforços de

todos indistintamente que fazem parte deste grupo e, dessa forma, podemos

ajudar a fazer um país mais justo através da educação que é uma das ferramentas

que conduz todos ao caminho do sucesso através de um processo de

ENSINAGEM – Ensino e aprendizagem recíprocos entre os envolvidos no meio

acadêmico-científico.

PROF. M.Sc. PABLO QUEIROZ BAHIA

Prof. M.Sc. Pablo Queiroz Bahia: Bacharel em Administração com Habilitação

em Comércio Exterior, Especialização em Docência do Ensino Superior e Mestre

em Economia. Além de Coordenador Geral da Pós-Graduação e Extensão da

FACI e dos Cursos de Pós-Graduação em Logística Empresarial, Gestão

Financeira, Gestão da Produção e Operações e Perícia Judicial e Extrajudicial,

atua como avaliador do Ministério de Educação.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 6

MODERNIDADE E ORDEM SOCIAL NO BASIL

Jorge Alberto Ramos Sarmento¹

¹Professor de filosofia do direito da FACI e da Universidade Federal do

Pará

[email protected]

Abstract: This paper discusses some key aspects of the modernization process as

occurred in Brazil, with reference to the shape of Iberian colonization, which features a

number of specifics in relation to other forms of colonization, particularly the Anglo-

Saxon. From a dialogue with authors such as Richard Morse and Octavio Paz, we try to

show how inheritance and Eurocentric thinking crystallized in the training of Latin

American culture and in particular the Brazilian, bringing a number of consequences in

shaping the social order.

Key-Word: modernity, Latin American social order, modernity in Brazil

Resumo: O presente trabalho pretende discutir alguns aspectos fundamentais do

processo de modernização tal como ocorreu no Brasil, tomando como referência a

forma de colonização ibérica, a qual apresenta uma série de especificidades em relação

a outras formas de colonização, sobretudo a anglo-saxônica. A partir de um diálogo com

autores como Richard Morse e Octavio Paz, procuramos mostrar como a herança e a

forma de pensar eurocentrista se cristalizaram na formação da cultura latino-americana

e em particular da brasileira, trazendo consigo uma série de consequências na formação

da ordem social.

Palavras-chave: modernidade, ordem social latino-americana, modernidade no Brasil.

1. Introdução

O processo de modernização ocorrido nos países latino-americanos tem

apresentado uma série de especificidades e dificuldades no que tange a instauração de

uma ordem social, dificuldade essa que pode melhor ser compreendida se levarmos em

consideração a forma pela qual se implementou nesses países – incluindo-se aí o Brasil

-, uma forma de colonização cujas estruturas parecem se refletir até os dias atuais. Nesse

ponto de vista geralmente se recorre a uma concepção que procura diferenciar uma

forma de colonização ibérica em contraposição e uma colonização anglo-saxônica

enquanto modelos e paradigmas de instauração de uma cultura que em última análise

passariam a fornecer os elementos chaves para a compreensão e o modus operandi dos

problemas que caracterizam as sociedades latino-americanas e por conseguinte a própria

sociedade brasileira.

2. A visão de Otávio Paz : a ausência de crítica

De acordo com o pensamento de Otávio Paz (1998), a história dos países latino-

americanos desde a independência tem sido a história de distintas tentativas de

modernização. Nesse sentido, as sociedades latino-americanas são descendentes, tanto

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 7

pela cultura como pela sua história, de uma forma de civilização que se originou a partir

de um complexo de atitudes, técnicas e instituições que chamamos de modernidade.

Tais sociedades descendem, portanto, da cultura espanhola e portuguesa que se apartou

da corrente geral européia precisamente quando a modernidade se iniciava.

Durante os séculos XIX e XX o continente latino-americano adotou sucessivos projetos

de modernização, todos eles inspirados no exemplo norte-americano e europeu, sem que

até o momento nenhum de nossos países possa chamar-se com todo a propriedade de

moderno.

De acordo com a argumentação desenvolvida por Paz (1998, p. 119), nos países latino-

americanos predominam um conjunto amplo de contradições, as quais culminam em um

ponto em comum: as constituições desses países são democráticas, porém, a realidade

existente reflete a ditadura, num cenário onde o contexto político resume o caráter

paradoxal da modernidade latino-americana.

A escola da democracia por parte dos povos da América Latina segundo esse autor se

deu em função da mesma ter apresentado o caminho mais seguro para a modernidade.

No entanto, a verdade dos fatos mostra o contrário, na medida em que a democracia é o

resultado da modernidade e não o caminho até ela. Nesse sentido, as dificuldades que

os países latino-americanos têm experimentado para implantar o regime democrático é

um dos efeitos, o mais grave de uma incompleta e defeituosa modernização. No entanto,

não se pode falar de um equívoco na escola por parte desses países de um sistema de

governo o qual, com todos os seus defeitos, é o melhor entre todos. O equívoco,

segundo Paz (1998, p. 120) reside justamente no método que os países latino-

americanos têm empregado para chegar até a democracia, na medida em que os mesmos

têm se limitado a imitar os modelos estrangeiros. Nesse sentido, a grande tarefa dos

povos desses países, para a qual se requer uma grande imaginação e ao mesmo tempo

uma grande ousadia, é justamente encontrar em suas tradições aqueles germes e raízes

que sejam capazes de estabelecer e nutrir uma democracia genuína.

De acordo com o argumento desenvolvido por Paz (1998), a América Latina é um

exemplo da intricada complexidade das relações entre história e literatura, tendo em

vista que ao nos últimos séculos tem aparecido muitas obras notáveis, tanto no Brasil

quanto na América Espanhola, algumas das quais de caráter excepcional no contexto da

poesia, da prosa e da ficção. O referido autor levanta a partir de então um

questionamento a respeito de se saber se essa característica tem ocorrido no campo

social e político.

O referido autor acrescenta que desde o final do século XVIII os melhores e mais ativos

entre os latino-americanos empreenderam um vasto movimento de reforma social,

política e intelectual e pode-se dizer que tal movimento ainda não terminou, passando a

se desenvolver em várias direções, nem sempre compatíveis. De maneira geral essas

tentativas dispersas poderiam ser chamadas de modernização. E nesse sentido, ao

mesmo tempo em que as sociedades latino-americanas se esforçam para transformar

suas instituições, costumes e maneiras de ser e de pensar, a literatura de tais sociedades

experimenta mudanças não menos profundas. A evolução da sociedade e da literatura

latino-americana apesar de terem sido correspondentes, no entanto não são paralelas e

têm produzido resultados distintos.

A crítica se tornou um dos princípios fundamentais do pensamento moderno, sobretudo

a partir da concepção de Kant (2001), que a vê como algo necessário ao próprio

exercício da razão em sua capacidade de julgar e avaliar os fatos. Nesse sentido, a

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 8

ausência da crítica na literatura latino-americana passa a se constitui um fato de

consequências negativas para a instauração de um espírito moderno na América Latina.

Uma questão surge como relevante na análise desse quadro: qual elemento ou quais

elementos teriam originado essa ausência de crítica na produção intelectual dos autores

latino-americanos? De acordo com Paz (1998) essa resposta se encontra relacionada

com uma série de fatores os quais, por sua vez, se encontram articulados com o

processo de colonização que se processou no continente latino-americano por Portugal e

Espanha, nações que encarnaram uma versão de civilização ocidental muito peculiar em

particular devido ao fato de terem convivido durante séculos com a cultura islâmica,

passando, a partir do século XVI a conviverem com muçulmanos, judeus e cristãos, fato

que segundo Paz (1998, p. 163) “és imposible comprender la historia de Espãna y de

Portugal, asi como el caráter em verdad única de su cultura, si se olvida estas

circunstancias”.

O fato de Portugal e Espanha terem se fechado para a modernidade, uma vez que não

aderiram aos grandes fatos que marcam a inauguração do espírito moderno como o

Renascimento e a Reforma refletem a tendência da cultura ibérica ter se desenvolvido a

partir do entrelaçamento entre o religioso e o político, diferentemente da cultura

moderna cultivada nas concepções liberais dos demais países da Europa, onde a

secularização e a laicização passam a se constituir a base de uma nova visão de mundo.

Na medida em que a Idade Moderna inaugura um novo período, caracterizado,

sobretudo pelo uso da crítica aos primeiros princípios, o neotomismo encontra-se

voltado à defesa desses princípios no sentido de demonstrar seu caráter necessário,

eterno e intocável. Observa-se que é justamente nesse ponto de vista que se pode

compreender a presença de um discurso dominador e de certa forma autoritário, que em

nome de uma razão ou de uma fé passa a ser o fundamento para a própria realidade

política. De acordo com o argumento proposto por Paz (1998) mesmo levando-se em

conta que essa filosofia se desvaneceu no horizonte intelectual da América Latina a

partir do século XVIII, as atitudes e os hábitos que eram comuns a mesma persistem até

os nossos dias no ideário dos intelectuais latino-americanos. Como exemplo desse fato,

o autor destaca a forma pela qual os intelectuais latino-americanos têm abraçado

sucessivamente as mais variadas correntes de pensamento da Europa como o

liberalismo, o positivismo e mais recentemente o marxismo-leninismo. No trabalho

desenvolvido por esses intelectuais, sem distinções de filosofias, não é difícil encontrar

determinadas atitudes psicológicas e morais dos antigos pensadores da escolástica. Em

tal fato pode-se perceber um dos aspectos paradoxais da modernidade latino-americana:

as idéias são de hoje, mas as atitudes são de ontem. A esse respeito o autor acrescenta

“se antigamente se jurava em nome de Santo Tomás, hoje se faz em nome de Karl

Marx” (Paz, 1998. p. 166) numa forma de criticar o processo como nas sociedades

latino-americas existe uma tendência para o estabelecimento de doutrinas sem levar em

conta a mudança de atitudes que as mesmas possam produzir. No entanto, tanto para os

antigos como para os novos intelectuais a razão é uma arma a serviço de uma verdade

suprema, o que os transforma em cruzados, na medida em que passam a ser combatentes

da cultura e do pensamento. Nessa perspectiva, se perpetua na América Latina uma

tradição intelectual pouco respeitosa em relação a ideia de crítica e da opinião alheia,

tendo em vista que a mesma passou a privilegiar as ideias em detrimento à realidade,

assim como os sistemas intelectuais em detrimento à crítica dos sistemas.

Ao apontar a problemática do trabalho desenvolvido pelos intelectuais latino-

americanos, Paz (1998, p. 166) procura mostrar o processo pelo qual a partir da segunda

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metade do século XVIII as ideias modernas passaram a penetrar lentamente e com

timidez na Espanha e suas possessões ultramarinas, num movimento que foi

denominado de forma muito pertinente de “europeizar”, palavra esse que

posteriormente foi substituída por “americanizar”. Durante todo o século XIX minorias

de intelectuais tentaram por diversos meios transformar os países latino-americanos,

propondo um salto para a modernidade. Nesse contexto, a palavra “revolução” passou a

ser sinônimo de modernização. Nesse sentido, as guerras de independência

protagonizadas pelos vários países em questão devem ser vistas numa perspectiva

segundo a qual o objetivo não era a separação da Espanha, mas sim um salto

revolucionário que pudesse transformar os novos países em nações realmente modernas.

Esse raciocínio pode ser analogamente aplicado ao caso do Brasil, levando-se em conta

as peculiaridades com que ocorreu a transição para a modernidade em nosso país, num

trabalho que envolveu a elite política e intelectual da época, fato que pretendemos

abordar a seguir.

Segundo o argumento de Paz (1998), o modelo que serviu de inspiração para os

revolucionários foi baseado tanto na Revolução de Independência dos Estados Unidos

quanto na Revolução Francesa, fato que caracteriza o início do século XIX como

marcado pelas revoluções norte-americanas, pela francesa e também pelas revoluções

latino-americanas. No que diz respeito ao campo de batalha, ao embate de forças,

podemos dizer que essas três revoluções atingiram o objetivo esperado, no entanto, seus

resultados políticos e sociais foram bem distintos em cada uma delas. Apesar de todos

os percalços, nos Estados Unidos surgiu a primeira sociedade moderna, ainda que

manchada pela escravatura e pelo extermínio das sociedades indígenas. Na França

houve transformações substanciais e radicais e a nova sociedade que surgiu com a

Revolução continuou em vários aspectos com o caráter centralista de Richelieu e Luis

XIV. Nesse cenário, os povos latino-americanos conquistaram a independência e

passaram a governar a si próprios. No entanto, os revolucionários não obtiveram êxito

em estabelecer de fato regimes e instituições verdadeiramente livres e democráticas,

fato a partir do qual se pode deduzir que se a Revolução Francesa transformou e

renovou a sociedade e a norte-americana fundou uma nação, as revoluções da América

Latina fracassaram em um dos seus principais objetivos, que foi justamente aquele

relacionado à modernização política, social e econômica.

A partir dessas considerações, podemos inferir que as contradições em relação à

implantação de um projeto de modernidade para a América Latina se situam dentre

outros aspectos à importação de formulas, interpretações e diagnósticos que se

estabeleceram para essas sociedades, não desconsiderando nesse contexto as concepções

desenvolvidas pelos grandes teóricos do pensamento político e social, que apesar de sua

relevância para o pensamento europeu, se transformaram num discurso opressor e

autoritário para os povos da América Latina.

Aspecto importante a ser considerado em relação ao fato acima diz respeito a

inexistência, na América Latina de uma tradição intelectual que a exemplo da Reforma

e da Ilustração, se tornou capaz de formar as consciências das elites francesas e norte-

americanas. Por outro lado, notamos a ausência das classes sociais que correspondiam,

historicamente, a nova ideologia liberal e democrática. Se entre os grupos

revolucionários da França e suas ideias havia uma relação orgânica, o mesmo se pode

dizer da Revolução norte-americana. No entanto, no caso da América Latina as ideias

não corresponderam às classes.

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A persistência de todos os males que afligem as sociedades latino-americanas, como a

desordem, a tirania, a violência anárquica, o despotismo, assim como o autoritarismo

têm sido explicados em linhas gerais pela ausência, nessas sociedades, das classes

sociais e das estruturas econômicas que tornaram possível a democracia na Europa e nos

Estados Unidos. Assim sendo, a falta de unidade nacional e de uma experiência

verdadeiramente moderna têm levado tais sociedades a ininterruptos fracassos, os quais

se refletem nos modelos políticos e econômicos das mesmas.

Não somos suficientemente críticos como nossos colonizadores. É esse em última

análise o tom do argumento proposto por Zea (1998). E é por essa insuficiência de

crítica, a qual se tornou um dos princípios basilares do pensamento moderno que somos

insuficientemente cidadãos. Dessa forma, o problema da cidadania dos povos latino-

americanos encontra-se associado com o passado, levando-se em conta processo de

colonização que foi responsável pelo estabelecimento de estruturas que ainda se

mantém presentes, impossibilitando dessa forma a existência de uma cidadania

completa.

Atribuir o fracasso pela má formação de uma cidadania entre outros fatores à falta de

uma corrente intelectual crítica e moderna, assim como uma leitura de caráter histórico-

sociológica que vincula os problemas do presente a um passado colonial nos parece um

argumento bastante pertinente e de certa forma coerente com a linha de raciocínio que

pretendemos dar seguimento, tomando o caso brasileiro como exemplo, na medida em

que o mesmo parece refletir em muitos aspectos as contradições de um projeto moderno

onde de forma clara se pode perceber o trabalho desenvolvido pelos intelectuais e pelas

ciências sociais na formação de um discurso autoritário.

3. Modernidade e pensamento autoritário no Brasil

A respeito desse tema, ao tratar da questão concernente a essa tradição do

pensamento autoritário, Lamounier (1978, p. 345) acrescenta que a mesma “encontra-se

corporificada, sobretudo em ensaios histórico-sociológicos, compondo-se de um

conjunto de obras que criticam o modelo institucional de 1891”, deduzindo o referido

autor que essa tradição de pensamento se formou tendo como objetivo uma ação

política, cuja intenção seria a de influir sobre os acontecimentos, tornando-se visível o

caráter de persuasão que a mesma passa a exercer sobre as elites políticas e culturais da

época, levando-se em conta o modelo de narrativa utilizada, a qual priorizava amplas

reflexões de caráter histórico-sociológico, procurando enfatizar o processo de formação

colonial que se desenvolveu no país, como via de se chegar até o presente, no caso a

República Velha, para a apresentação de um diagnóstico, culminando com a propositura

de um determinado modelo alternativo para uma nova ordem política-institucional, a

qual passará a definir o contexto em que se poderá deslumbrar o novo modelo de direito

e de cidadania.

A caracterização desse pensamento como ideologia de Estado pode ser melhor

percebida segundo aquele autor, como um modelo que reflete de forma bem clara uma

ideologia de Estado, a qual procura condensar uma reação filosófica ao iluminismo e ao

utilitarismo, que irá refletir em última análise

(...) uma visão do mundo político na qual são afugentadas todas

as representações conducentes à noção de um ‘mercado político’

exorcizado em proveito das representações fundadas em

princípios da autoridade e em supostos consensos valorativos

(LAMOUNIER, 1978, p. 357).

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 11

Foi em função dessa visão de mundo que se iniciou a construção da modernidade no

Brasil, levando-se em conta um projeto nacional no qual a presença e participação de

uma elite intelectual, cultural e política da época passa a buscar a natureza do moderno,

com vistas a estabelecer uma identidade, conforme assinala Luiz Werneck Viana:

Vargas, Francisco Campos, Gustavo Capanema, Azevedo

Amaral, Oliveira Viana, Villa-Lobos, Portinari, a literatura

regional, Gilberto Freyre, Mário de Andrade, estabelecem a

natureza do moderno quer por sua identificação com os seres

sociais emergentes com a urbanização e industrialização, quer

pela tentativa de construir uma identidade para eles (VIANNA,

1986, P. 15).

O processo através do qual o moderno se institui no Brasil se desenrola dentro de uma

multiplicidade de acontecimentos destacando-se dentre outros o descobrimento de um

povo destituído de direitos e na mais completa miséria no campo brasileiro pelos

integrantes militares da Coluna Prestes; a nova configuração adotada pela Igreja a partir

de “moldes modernos” visando se adequar ao momento histórico e, sobretudo exercer

influencia sobre a ação estatal somando-se a isso o esforço dos intelectuais com vistas a

elaboração de receitas capazes de construir e enfrentar a modernidade.

Ao estabelecer o caráter de ideologia de Estado a esse pensamento autoritário que se

desenvolveu no Brasil, Lamounier (1978) apresenta algumas características dessa

estrutura ideológica tais como: o predomínio do “estatal” sobre o principio de

“mercado”; uma visão orgânico corporativa da sociedade; objetivismo tecnocrático;

visão paternalista-autoritário do conflito social; não organização da sociedade civil; não

mobilização política; elitismo e voluntarismo como visão dos processos de mudança

política; o leviatã benevolente. A visão orgânico-corporativa da sociedade tem como

representação preferencial da estrutura econômica uma sociedade de pequenos

produtores, onde se assegura a existência e o apoio para a pequena empresa,

estimulando-se a competição entre os produtores. Em tal perspectiva, o homem passa a

ser definido como um produtor que através da acumulação do seu trabalho, passa a

dispor da propriedade. A exaltação dessa visão, que de certa forma revela um espírito

nacionalista brasileiro, aparece em oposição à grande propriedade, tanto a agrária

quanto a industrial, e cujo histórico no Brasil foi marcado por processo de exclusão

social, o que teria sido um dos elementos que ainda hoje são reveladores das

desigualdades.

A formação dessa peculiar ideologia de Estado não pode ser compreendida fora das

influencias de correntes sociológicas, e nesse aspecto, Lamounier (1978) aponta para as

de caráter protofascistas, as quais embora tenham exercido influencias na formação da

doutrina e do movimento político fascista, são muito anteriores a ele e especificamente

no Brasil é notório a forma como tais correntes passaram a exercer uma forte influencia

sobre a elite intelectual das últimas décadas do século XIX e cuja produção encontra-se

mesclada por elementos do pensamento organicista-histórico e do positivismo comtiano

da sociologia protofascista européia. No entanto, aquele autor salienta que

diferentemente daquilo que muitos teóricos sustentam, não teria ocorrido uma utilização

indiferenciada ou uma assimilação meramente imitativa dessas linhas de pensamento. O

que realmente ocorreu foi “uma leitura seletiva e uma hierarquização das diversas

influencias, mesmo daquelas igualmente pertencentes ao amplo leito protofascista”

(LAMOUNIER, 1978, p. 361).

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 12

No pensamento de Oliveira Viana, podemos observar a necessidade do estabelecimento

de um poder estatal forte e intervencionista, através do qual se torne possível a

erradicação de todos os males do passado, responsáveis pela inércia predominante na

sociedade brasileira, a qual somente poderá ser superada por uma ação enérgica. Nota-

se que o pensamento de Oliveira Viana se direciona em particular para uma ideologia

nacionalista-autoritária, a qual é defendida em detrimento à incapacidade histórica do

povo brasileiro possuir uma consciência política.

Não temos nenhuma mística incorporada ao povo; portanto não

tem o nosso povo – considerado na sua expressão de povo-

massa, a consciência clara de nenhum objetivo nacional a

realizar ou a defender, de nenhuma grande tradição a manter, de

nenhum ideal coletivo, de que o Estado seja o órgão necessário à

sua realização (...) Esse auto sentimento e essa clara e perfeita

consciência só serão realizados pela ação lenta e contínua do

Estado – em Estado – um Estado soberano, incontrastável,

centralizado, unitário, capaz de impor-se a todo país pelo

prestígio fascinante de uma grande missão nacional (VIANNA,

1952, p. 395).

Oliveira Viana, tido como o grande ideólogo do pensamento autoritário brasileiro faz

jus a essa afirmação ao expressar certa radicalidade em relação aos demais intelectuais

daquele período, afirmando que no Brasil o “povo-massa”, vivendo sob a doença dos

trópicos uma vida puramente negativa bastaria “apenas ensinar a ler, escrever e contar já

que as nações dependem exclusivamente de suas elites” (VIANNA, 1952, p. 382).

Eis ai reproduzido o velho discurso ocidental em suas origens mais remotas, como o de

Platão, para quem o Estado (numa visão organicista) deveria ser governado por uma

elite, dos mais sábios, porque a razão é quem deve dominar, ou Aristóteles, que defende

um governo dos melhores em cuja ordem natural, existem os que nasceram para

comandar e aqueles que devem ser comandados, sem direito a cidadania, conforme

enfatizamos anteriormente. Discurso análogo a do colonizador sobre o colonizado que

se tornou dominado, do civilizado sobre o bárbaro, do senhor sobre o escravo. Discurso

esse que estabelece a dicotomia entre cidadãos e não-cidadãos.

Ressaltamos que no ideário desse pensamento autoritário, a relação ou essa dualidade

massa/elite tornou-se um elemento de recorrência não só em Oliveira Viana, como

também em outros teóricos, como Azevedo Amaral, para quem o despertar das massas

somente se tornaria possível na medida em que sobre elas se exercesse determinada

ação deflagradora da inteligência e da vontade de domínio.

Para a maioria desses autores do pensamento autoritário brasileiro a modernização no

Brasil deveria ocorrer de forma passiva, sem a necessidade de se atacar ou destruir as

instituições tradicionais, como a propriedade individual, a empresa privada a autoridade

patronal ou as tradições cristãs, conforme assinala Vianna (1952, p. 382). E nesse ponto

de vista o referido autor parece colaborar com a construção de uma modernidade a partir

dos pressupostos que se afirmam com os interesses das elites da época, que conforme

assinalamos anteriormente foi responsável pela canalização e adequação do ideário

liberal e moderno no Brasil, que deveria ocorrer de forma pacífica, excluindo-se desse

processo qualquer tipo de revolta ou revolução que pudesse despertar o temor por parte

da sociedade em relação ao seu advento.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 13

A utilização do ideário de representações do organicismo, que se desenvolveu a partir

do século XIX e cujo emprego foi conveniente aos ideólogos do período autoritário,

teve entre seus propósitos principais, conforme salienta Lamounier (1978, p. 363) a

necessidade de preservar uma sociedade de pequenos produtores, de amortecer os

efeitos provocados pela acumulação capitalista, de justificar o enorme poder exercido

sobre as entidades políticas de caráter “pré-moderno” pelo poder estatal, assim como

combater as formas mais radicais de questionamento do poder estatal, sobretudo a

anarquista.

A apropriação e a consequente utilização de uma visão organicista e positivista da

história por parte dos pensadores autoritários irá fundamentar um importante

componente na ideologia do Estado, da forma como a mesma se processou no Brasil, a

saber, o chamado objetivismo tecnocrático, que dentre outras ideias estabelece que é

necessário adaptar as instituições à realidade brasileira, e que tem em Wanderley

Guilherme dos Santos um de seus elementos mais representativos. Segundo esse autor,

o paradigma contido na expressão de “adaptar” as instituições á “realidade nacional” é o

indicio da emancipação de quem o utiliza em função dos vícios da reificação

institucional, e a ideia de reificação institucional aparece na concepção do referido autor

como “uma tendência de se acreditar que as mesmas instituições produzem sempre os

mesmos efeitos políticos, independentemente da ordem social em que se inserem”

(SANTOS, 1975, p. 42). Seguindo essa linha de raciocínio, os pensadores do período

autoritário passam a desenvolver uma contraposição em relação dedutivismo jurídico-

formal em função do qual passam a se utilizar do contraste entre o “país legal” e o “país

real”, no sentido de tornar evidente que as instituições de 1989 se encontravam

completamente inadequadas ao processo de evolução que se encontrava em curso no

país.

Outro traço importante no repertório ideológico desse período, diz respeito a visão

paternalista-autoritaria do conflito social, a qual pode ser percebida pela forma através

da qual essa ideologia ressalta a necessidade de uma coerção organizada, assim como

seu fortalecimento, levando-se em conta uma teoria bastante peculiar a respeito do

conflito social, o qual possa a ser visto conforme Lamounier, (1978, p. 366) “como

irracionalidade, manifestação dos impulsos infantis e malévolos da natureza humana”.

Tal percepção teria suas raízes na matriz protofascista européia, destacando-se de forma

particular a influência do organicismo sociológico de Gumplowicz, cuja concepção

estabelece que assim como na relação entre as sociedades verifica-se uma permanente e

inelutável beligerância e tentativa de extermínio, o mesmo quadro pode ser observado

nas relações que compõem os grupos que compõem uma sociedade, sendo que neste

último caso, a possibilidade de se apaziguar os conflitos se torna possível através da

figura do Estado. Em tal concepção, o problema central gira em torno da permanência

do conflito entre os grupos sociais, e não em sua natureza, daí que a vinculação ao

campo político desse axioma passa a fundamentar a idéia de um Estado que deve ser

universal e necessariamente violento, na medida em que pelo uso da força (coação) se

busca o fim dos conflitos sociais.

Dentre os teóricos brasileiros do pensamento autoritário, Francisco Campos é ao que

tudo indica o ensaísta que mais claramente expressa uma influencia da concepção

gumplowicziana, o que pode ser observado em suas críticas tanto ao liberalismo quanto

ao socialismo. Em suas reflexões, esse autor desenvolve uma visão de Estado moderno

enquanto Estado autoritário e antiliberal que entre seus princípios mais fundamentais

encontrava-se a tarefa de reconstruir, pelo ponto mais elevado, as instituições políticas e

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 14

burocráticas, modernizando-as, onde a compreensão de sociedade moderna remete a

ideia de uma sociedade de massas.

Em relação a esse assunto, convém ressaltar o trabalho desenvolvido por Francisco

Campos na elaboração da Constituição de 1937, a qual trouxe como uma de suas

principais inovações a eliminação de impostos interestaduais.

Aspecto não menos importante desse pensamento autoritário diz respeito a uma

inclinação para a visão solidarista, a qual surge em função da necessidade de se fazer

uma contraposição ao caráter negativo do onipresente e irremovível conflito social, do

qual nos reportamos anteriormente. Os conflitos se destacam pela sua irracionalidade e

pelos seus incontroláveis determinismos sociais. No sentido de propor uma solução a

esse problema, o pensamento autoritário brasileiro passará a desenvolver uma

concepção que se dirige à ideia de uma bondade intrínseca do caráter nacional, a partir

da qual a ideia de conflito adquire o significado de uma perversidade dos desejos

sociais. Na análise desenvolvida por Lamounier (1978), a formulação dessa concepção

tem como pressuposto uma visão de sociedade a qual passa a ser vista

Mais ou menos como uma panela de pressão, inofensiva ou

facilmente controlável, desde que manipulada com prudência.

Assim, como o conhecimento sociológico positivo identifica na

luta de facções..... (LAMOUNIER, 1978, p. 368).

Nesse contexto, adquire especial significado as interpretações de caráter histórico-

culturalistas que procuram ressaltar entre outras coisas, a ideia de uma intrínseca

bondade e cordialidade do caráter nacional. Apesar das origens dessa ideia no

pensamento autoritário brasileiro remontar a Cassiano Ricardo em sua conferencia

intitulada Contribuição para a defesa do pensamento original do Brasil assim como O

homem cordial, tal ideia passou a ser associada a Sérgio Buarque de Holanda em função

da obra Raízes do Brasil, na qual essa questão parece ter adquirido um contorno bem

especial.

Em Cassiano Ricardo essa bondade e cordialidade do brasileiro passam a ser inferida

através de uma análise histórica sobre as próprias origens do processo de colonização

que se efetivou no Brasil, que entre outras consequências contribuiu para uma forma de

mestiçamento conciliador das arestas psicológicas e raciais; pela formação de uma

índole que foi herdada do português, pela soma de tendências coincidentes na direção de

certos objetivos, por uma determinada euforia espacial; por um sentimento de

hospitalidade que é comum do aborígene e pela ausência de um pensamento que leve à

reflexão sobre o destino. Tal discurso apresenta as diretrizes de uma visão que

fundamenta uma cidadania tutelada, de uma cidadania incompleta e tipicamente

moldada pelas estruturas coloniais, refletindo o discurso existente entre o colonizador e

o colonizado, tão característico das visões predominantes nas sociedades periféricas. A

esse respeito destaca-se a abordagem de Carvalho (2003) que apresenta uma série de

contradições na formação da cidadania no Brasil e que pode ser melhor compreendida

pelo processo de transição dos movimentos sociais que ocorreram no Brasil e que foram

responsáveis pelos problemas que retardam a vivência plena da cidadania em nosso País

e que se refletem na própria estrutura jurídica nacional.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 15

4. Richard Morse: uma abordagem retrospectiva dos projetos civilizatórios

No sentido de propor uma nova abordagem a essa problemática, a qual se

encontra vinculada à ideia de civilização, destaca-se o pensamento de Morse (1988) que

procura elaborar umas análises retrospectivas a respeito das variadas perspectivas

intelectuais do ocidente, cujo objetivo principal é a demonstração de uma tese que trata

das formas particulares pelas quais os povos anglo-americanos e ibero-americanos

assimilaram a experiência moderna, relacionando e vinculando essas realidades aos

diferentes e originais projetos civilizatórios anglo e ibérico.

Ao apresentar a ideia relativa à singularidade das tradições europeias que deram forma

às representações Ibero-americanas, Morse (1988, p. 37) afirma que as mesmas foram

especificamente ibéricas e não vagamente “católicas” ou mediterrâneas. E nesse ponto

descarta as afirmações que apontam para uma suposta insensibilidade ibérica em relação

às tendências provenientes de outras partes da Europa, razão pela qual os países ibéricos

haviam passado por um processo de desenvolvimento estancado.

Seguindo uma linha de pensamento de historiadores alemães, como Maurenberger e

Goltrein, Morse (1988) afirma que a reforma católica na Espanha antecedeu a revolta

luterana, tendo a mesma um caráter da subsequente “Contrarreforma”, desencadeando

um movimento autóctone e não simplesmente uma reação defensiva contra as heresias

estrangeiras.

Outro aspecto importante dessa concepção relacionada a singularidade do caso ibérico

diz respeito ao que Morse denominou de consenso espanhol.

(...) no século XVI o consenso espanhol refletia certos pontos de

acordo gerais – pelo menos em comparação com o resto da

Europa – sobre a natureza do governo: suas fontes de

legitimidade, o alcance exato de seu poder, sua responsabilidade

de assegurar justiça e equidade, sua missão “civilizadora” em

face dos povos não cristãos de seu território e de ultramar.

Longe de arregimentar a opinião pública, esse consenso

estabelecia um domínio público para a expressão de uma ampla

gama de opiniões (MORSE, 1988, p. 39).

Vista na perspectiva de Morse, a Espanha da primeira metade do século XVI apresenta

um cenário humanista, de pluralidade e de circulação de ideias, que nada deixa a desejar

em relação ao resto da Europa. Tal cenário apesar de contrastar com a ascensão e reação

neotomista que transformou os ibéricos em guardiões e disseminadores da fé cristã no

mundo, é compreendido na medida em que naquela época a Espanha encarava um

programa nacional estabelecido com muita clareza, diferente do que fizeram outros

povos europeus da época, levando-se em conta o fato de que além dos iberos possuírem

instituições religiosas e políticas legitimadas para tornar possível o cumprimento desse

programa, as condições em que tais programas se desenvolviam ajustavam-se de forma

perfeita à concepção tomista.

Uma questão que muito nos interessa diz respeito ao caso de Portugal, seu espaço e suas

políticas no contexto desse programa civilizatório, tendo em vista que tal análise é

relevante no processo de formação e consolidação de nossa cultura. Para o autor,

O caso de Portugal era similar ao da Espanha. Tinha contatos

eruditos com a Europa desde meados do século XV e, no XVI,

gozou de uma limitada primavera humanista. Mas o campo que

oferecia para a especulação moral e filosófica era mais restrito.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 16

A maior homogeneidade do país, sua consolidação mais antiga,

a monarquia mais centralizada e as aventuras “civilizadoras”

menos ambiciosas no ultramar combinavam-se para limitar os

horizontes efetivos da atividade intelectual (MORSE, 1988, p.

43).

A respeito da limitação do horizonte das ideias humanistas em Portugal, destaca-se que,

por exemplo, o erasmismo ficou restrito a grupos de elite e baseado na imitação de

exemplos estrangeiros, em particular a corte do Imperador Carlos V e suas preferências

culturais. No que tange ao clima intelectual e acadêmico cita-se o fato de que embora

mais de vinte universidades tenham sido fundadas em cidades portuguesas entre 1530 e

1550, a Universidade de Lisboa, embora famosa por suas imunidades, foi finalmente

dominada na década de 1530, passando a Universidade de Coimbra a exercer um papel

de maior relevância, embora sob o controle do rei e de um reitor designado e não eleito,

fato que revela a pouca autonomia e um clima pouco propício ao desenvolvimento do

conhecimento, das ciências e das artes.

Embora considerando que as iniciativas marítimas de Portugal proporcionaram

contribuições notáveis à ciência aplicada, como os textos de Garcia de Orta sobre as

propriedades terapêuticas da flora oriental, ou a tentativa de Pedro Nunes de estabelecer

uma relação entre o pôr-do-sol e a latitude e a estação, assim como também os tratados

sobre economia aplicada, destacando-se que esses pioneiros em sua maioria publicavam

suas obras no estrangeiro e careciam da curiosidade enciclopédica e do impulso de

traduzir suas descobertas em especulações cientificas mais vastas. A esse respeito

destaca-se o fato de que em fins do século XVI as contribuições portuguesas à literatura

científica eram praticamente inexistentes.

Ressalta-se que a Espanha também não conheceu efetivamente as revoluções científica,

religiosa, comercial e política e que nenhuma dessas revoluções havia desempenhado

qualquer papel formativo em sua cultura política, devido, segundo Morse a diversos

fatores, dentre os quais se destaca a questão de cronologia, disposição institucional,

opção por direção coletiva ou, talvez, por mera geografia. Além do que a Espanha no

século da Ilustração deixou de exercer a sua condição de formuladora de pensamento,

passando à condição de receptora de ideias de difícil reengenharia na sua ordem

imaginária.

No que diz respeito à expansão ultramarina, Morse procurou explicitar de que maneira

predominou o problema das escolhas políticas nesse período, momento em que as

nações progenitoras deixaram-se levar ou foram arrastadas por dois conjuntos distintos

de premissas políticas que passaram a orientar a lógica da ação e do pensamento até os

dias atuais, tanto na ibero-América quanto na Anglo-América.

No caso da Espanha, o diálogo político norteador ocorreu devido à propagação das

ideias tomistas e maquiavelistas, as quais passaram a se externar como uma tensão entre

o “bem comum” e o cálculo do poder, entre o Estado como um todo orgânico e o Estado

como artifício, entre a política como missão e a política como arte ou Ciência, ou

mesmo na terminologia clinica atual que permite disfarçar a sabedoria recebida, entre

estratégia inclusivista e exclusivista.

No sentido de proporcionar uma melhor compreensão acerca da singularidade dos casos

anglo e ibero no contexto do debate das ideias formadoras, Morse (1988) procura

estabelecer um diálogo entre Hobbes e o pensador ibero, Francisco de Vitória. Tal

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 17

diálogo é marcado pelos contrastes das soluções encontradas pelos dois pensadores,

para questões de extrema relevância com que cada um deles se deparou nas suas épocas.

No entendimento de Morse,

Vitória escreveu no momento em que a Espanha se envolvia

com os novos Estados nacionais e com os povos não cristãos do

ultramar. (...) A tarefa era extrair compreensão desse mundo e

preceitos para o seu ordenamento a partir da sabedoria dos

antigos, da Igreja, do erasmismo modernizante. Vitória

enfrentou um problema de casuística – ajustar a experiência a

cânones respeitáveis – mais do que de reconstituição. Hobbes,

ao contrário, nascido numa nação insular e modernizante no

portentoso ano da invencível armada e chegando à maturidade

numa época de violência civil e cisma ideológico, teve de

enfrentar uma ordem nacional que, uma vez legitimada,

proporcionasse um novo ponto de apoio de poder internacional.

Vitória dirigia-se a um vasto mundo multiforme, Hobbes a um

mundo circunscrito e homogêneo. Nos dois casos, universalismo

e particularismo ocupavam posições contrárias. O desafio de

Vitória era acomodar um amontoado idiossincrático de nações e

povos numa ordem moral universal; o de Hobbes era descobrir

um conjunto de axiomas “científicos” através dos quais uma

unidade política singular pudesse ser organizada como um

protótipo (MORSE, 1988, p. 60-61).

Assim sendo, o universalismo deveria encontrar sua expressão num conjunto de

circunstancias único, enquanto que o particularismo deveria proporcionar uma solução

repetível, a saber, uma determinada forma de lei natural, a partir da qual as situações

devem conciliar-se com princípios e uma tradição de direitos naturais onde elementos

nucleares sociais são liberados para a sua adequada recombinação. Enquanto a

sociedade organicamente composta por Vitória é parte da natureza, assim como os

homens passam a ser vistos como animais sociais e políticos, “os homens de Hobbes

são um conjunto heterogêneo de indivíduos que por natureza não são harmoniosos nem

políticos nem têm inclinações sociais” (Morse, 1988, p. 61), sendo o pacto a única

forma de refrear suas intermináveis disputas.

O pensamento de Morse (1998) aponta para o fato de que o aspecto mais relevante a ser

considerado na confrontação das matrizes intelectuais formadoras anglo e ibérica não

diz respeito aos resultados, mas em particular aos princípios organizadores do corpo

político, a saber, uma sociedade baseada no pacto em contraste com uma sociedade

orgânica; um principio nivelador ou individualista de natureza fáustica, em contraste

com um principio arquitetônico. Dentro dessa perspectiva, “na Ibero-América

democracia e liberalismo não interagiram diretamente, sendo assimilados de forma

independente, e em verdade intermitente, a uma cultura política que ambos podiam

afetar, mas nenhum podia suplantar” (Morse, 1988, p. 89). Na visão desse autor,

democracia e liberalismo foram integrados pela antiga dialética herdada do pensamento

ibérico, ou seja, entre o cálculo do poder e bem comum entre política como arte ou

ciência e o Estado como incorporativo ou tutelar. Dessa forma, o liberalismo seria uma

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 18

importação problemática desde o principio e dificilmente floresceria num clima não

liberal.

No caso da democracia, a mesma seria igualmente uma tarefa muito difícil, devido à

diversidade de sua expressão amiúde desconsertada e popular, com um desfecho

geralmente infeliz, e também, devido à escassez de formulações ideológicas coerentes

do seu projeto. A versão ibero-americana de democracia, segundo Morse (1988) retira

elementos da teoria regicida dos escolásticos jesuítas, do Governo dos governantes de

Tomás de Aquino e da antiquíssima tradição católica de respostas à torpeza

governamental ou eclesiástica, sob a forma de movimentos sectários pelo igualitarismo

ou de tumultos populares menos disciplinados. Dessa forma, a existência até os dias

atuais na cultura ibero-americana de movimentos de tipo sectário, com seus

antecedentes medievais, tem sua forma mais visível nas comunidades eclesiais de base e

nos grupos de cultos não católicos, com seus milhões de adeptos, assim como também

encontrando expressões sociologicamente análogas, ainda que mais efêmeras e táticas,

como os movimentos guerrilheiros e hodiernas invasões de terras.

Conforme podemos observar, a concepção acima desenvolvida por Morse traz

consigo uma série de ideias bem articuladas, dando sentido a uma argumentação

coerente e consistente capazes de nos levar a repensar os paradigmas estabelecidos pela

modernidade em particular o próprio paradigma da cidadania.

5. Conclusão

Conforme se pode deduzir a partir dos elementos presentes no discurso dos

vários teóricos, a busca de uma unidade nacional de um modelo político e de uma

ordem social perfeita tem sido uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos países

latino-americanos, dos quais o Brasil não é exceção e por ter tido uma forma de

colonização Ibérica, protagonizada por Portugal, a partir de uma análise histórico-

sociológica é possível encontrar determinados elementos presentes nesse processo de

colonização que se cristalizaram e passaram a se constituir como estruturas modeladoras

de nossa ordem social, onde o patrimonialismo, o patriarcalismo, o nepotismo entre

outros vícios oriundos desse processo de colonização não podem ser desconsiderados.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 19

6. Bibliografia

1. CARVALHO, José Murillo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de

Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

2. KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. São Paulo: Martin Claret, 2001.

3. LAMOUNIER, Bolivar Formação de um pensamento político autoritário na

Primeira República: uma interpretação. In. FAUSTO, Bóris (Org.) O Brasil

Republicano VI. Rio de Janeiro: Difel, 1978.

4. MORSE, Richard M. O espelho de próspero: cultura e ideias nas Américas. São

Paulo: Companhia das Letras, 1998.

5. PAZ, Octávio. Tiempo Nublado. Barcelona: Editorial Seix Barral, 1998.

6. SANTOS, Wanderlei Guilherme dos. Paradigma e história. Rio de Janeiro:

Mimeo, 1975.

7. VIANNA, Oliveira. Problemas de organização e problemas de direção: o povo e

o governo. Rio de janeiro: José Olímpio, 1952.

8. ZEA, Leopoldo. Discurso desde a marginalização e a barbárie. Rio de Janeiro:

Garamond, 2008.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 20

Acesso Digital para Pessoas Idosas: Um Modelo de Estudo

no Website do Instituto de Gestão Previdenciária do Estado do

Pará - Igeprev

Raffael de Oliveira Grande1, Rossiclea Ferreira do Nascimento

1, Átila Siqueira

Soares1,

1Curso de Análise e Desenvolvimento. Faculdade Ideal –(FACI)

[email protected],[email protected],

[email protected],[email protected]

Abstract: Accessibility is a key factor for internet usage. In this sense the study

aims, identify and describe difficulties of access, discerning the main

limitations of older people in the context of website of the Instituto de Gestão

Previdenciária do Estado do Pará - IGREPREV, through technical-manual

tests and the use of specific software - ASES; conducted by the W3C guidelines

and recommendations, e-MAG e WCAG. The methodology is descriptive and

exploratory with study approach case where data were collected through

forms and users' evaluation regarded as unsatisfactory. This result was

confirmed by the software used.

Key Words: Accessibility, difficulties of access, e-MAG e WCAG.

Resumo: Acessibilidade é fator fundamental para uso da internet. Nesse

sentido o estudo tem como objetivo, identificar e descrever as dificuldades de

acesso, discernindo as principais limitações de pessoas idosas no contexto do

site do Instituto de Gestão Previdenciária do Estado do Pará – Igeprev,

através de testes técnico-manuais e do uso de um software específico - ASES;

conduzido por diretrizes e recomendações do W3C, e-MAG e WCAG. A

metodologia é descritiva e exploratória com abordagem de estudo de caso,

onde os dados foram coletados através de formulários e a avaliação os

usuários tida como insatisfatória, resultado este confirmado pelo software

utilizado.

Palavras Chaves: Acessibilidade, dificuldade de acesso, e-Mag e Wcag.

1. Introdução

A evolução tecnológica é uma realidade inquestionável. As possibilidades em melhorias

proporcionadas são inúmeras, entretanto, os idosos são esquecidos nesse universo e,

crescem consideravelmente: são independentes financeiramente, visto que, cerca de

71% dessa população representa uma renda anual de R$ 243 bilhões de reais.

Registros de Santellano (2013), afirmam que entre 1940 e 2006 o número de

idosos cresceu no Brasil cerca de 11 (onze) vezes, de 1,7 para 18,5 milhões. Estima-se

que em 2025 esse número chegue aos 64 milhões e em 2050 a proporção será de 1 (um)

idoso/3 (três) brasileiros.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 21

Nessa vertente, o tema visa reconhecer e identificar dificuldades de acesso da

terceira idade a um website específico, o do Instituto de Gestão Previdenciária do

Estado do Pará - Igeprev, e sugerir possíveis resoluções para amenizar estes problemas.

Assim, a temática fora definida a partir das circunstâncias críticas deste acesso.

Visto que a tecnologia exige dinâmica na assimilação das informações e, considerando

que os idosos não possuem completa destreza e agilidade de percepção, utiliza-se de

duas características tecnológicas para modelar e adaptar páginas web às necessidades de

grandes grupos de usuários: versatilidade e adaptabilidade. Nesse contexto questiona-se:

quais os maiores obstáculos que os usuários idosos se deparam nas tentativas, muitas

vezes frustradas, de acesso ao sítio do Igeprev?

Para responder à questão proposta, o estudo tem como objetivo geral, identificar

e descrever as dificuldades de acesso das pessoas idosas ao website do Igeprev. Como

objetivos específicos, analisar a usabilidade do site pelos usuários, avaliar a viabilidade

de implementações técnicas e uso de ferramentas de desenvolvimento acessível e

apresentar ao Núcleo de Tecnologia da Informação do Igeprev, relatórios e sugestões,

objetivando a redução dos erros e avisos relatoriais do software ASES – Avaliador e

Simulador de Acessibilidade de Sítios, utilizado no teste automatizado; além da

avaliação manual, consoante às 10 Heurísticas de Nielsen.

2. Referencial Teórico

2.1. Ergonomia

Wisner (1972) registra que é o conjunto de conhecimentos do homem, necessários à

concepção de instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o

máximo de conforto, segurança e eficiência. Chapanis (1962) declara que é o ramo da

tecnologia que estuda a projeção de máquinas, operações e ambientes, permitindo a

adaptação das capacidades do ser humano com o trabalho que deve ser executado.

Entende-se que ergonomia é parte da construção de sistemas de computador.

Scapin e Bastien (1993), pesquisadores do INRIA - Instituto Nacional de

Pesquisa em Automação e Informática da França, propuseram um conjunto de 8 (oito)

critérios ergonômicos para identificar se um sistema possui características ergonômicas,

como também pode ser utilizado como guia na construção de sistemas interativos:

condução, carga de trabalho, controle específico, adaptabilidade, gestão de erros,

homogeneidade/coerência, significado dos códigos/denominações e compatibilidade.

2.2. Interface Homem-Máquina (IHM)

Santaella (2003) estabelece que, interface indica os periféricos de um computador e

telas de monitores; e interação, a atividade humana conectada aos dados através da tela

e Preece (1994) explica que IHM está relacionada aos designers de sistemas

computacionais que apoiem pessoas à medida que conduzem suas atividades de forma

produtiva e segura. O nível da interface verifica quão fácil é o uso de um sistema.

Considerando os fatores expostos, Norman (1988) apud Rocha (2003), fornecem

4 (quatro) princípios básicos para se obter uma interface homem-máquina “amigável”:

visibilidade e affordances; bom modelo conceitual; bons mapeamentos e Feedback.

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2.3. Tecnologia Assistiva

A natureza humana constantemente se transforma o que importa registrar que o

indivíduo, nasce, cresce e envelhece. Com a melhor idade tem-se as limitações naturais:

raciocínio lento, visão e audição deficientes e etc. Assim, os idosos merecem cuidados e

investimentos especiais e seus direitos são garantidos em Leis e Decretos, como a Lei

n.º10.741 de 01/10/2003, mais conhecida como o Estatuto do Idoso, além de Leis que

estabelecem critérios e determinam conceitos técnicos como os das Tecnologias de

Apoio, Ajudas Técnicas ou TAs, que no Brasil, são sinônimas.

2.4. Usabilidade e Acessibilidade na Web

Hix (1993) observa que usabilidade é a qualidade da interação de uma interface com o

usuário. Rubin (1994) destaca quatro fatores reunidos em um dispositivo acessível:

capacidade de ser usada com sucesso, facilidade de ser usada, capacidade de o usuário

aprender a usar o dispositivo de forma simples e rápida e provocar satisfação visual ao

usuário. Nielsen (1993) acrescenta mais dois: capacidade de memorização e baixo

índice de erros. Já os problemas de usabilidade são quaisquer características observadas

em situações específicas que dificultem a realização de uma determinada tarefa. A

satisfação desses requisitos exige a adoção de regras definidas pelo Departamento de

Governo Eletrônico (2010): a) facilidade de manuseio e capacitação de aprendizado

rápido; b) dificuldade de esquecimento; c) ausência de erros operacionais; d) satisfação;

e) eficiência na execução da tarefa. Fatores estes que tangenciam o conceito de

encontrabilidade, referente à qualidade de ser localizável ou navegável e Morville

(2005) acrescenta, ao nível de item e do sistema.

2.4.1. Métodos de Avaliação de Usabilidade

Determinam o grau de usabilidade de um website; o que reduz custos com mão de obra

e retrabalho. Existem dois métodos: empírico e analítico.

Rocha & Baranauskas (2003) citam os 3 (três) tipos de testes empíricos mais

relevantes: observação direta, observação indireta e Thinking-aloud ou Protocolo

Verbal; sendo estes mais onerosos e demandam maior tempo para a avaliação completa.

Métodos analíticos caracterizam-se pela não-participação do usuário. Avaliam o

design das interfaces, baseando-se no julgamento dos avaliadores, resultando em um

relatório formal dos problemas identificados e sugestões de melhorias. São exemplos de

avaliações analíticas: Avaliação Heurística, Revisão de Guidelines e Percurso

Cognitivo.

No presente estudo foi utilizada a avaliação heurística, por apresentar melhores

resultado, ser pouco dispendiosa e de fácil condução. Assim, são apresentadas as 10

(dez) heurísticas de Nielsen (1994): status do sistema; compatibilidade do sistema com

o mundo real; controle do usuário e liberdade; consistência e padrões; prevenção de

erros; reconhecimento ao invés de relembrança; flexibilidade e eficiência de uso;

estética e design minimalista; ajuda aos usuários no reconhecimento, diagnóstico e

correção de erros; ajuda e documentação.

A Lei nº 10.098, de 19/12/ 2000, define acessibilidade como a possibilidade e

condição de alcance de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, com segurança

e autonomia, dos espaços públicos, das edificações, dos meios de transportes e dos

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 23

sistemas e meios de comunicação. Além das barreiras metodológicas, instrumentais,

programáticas e atitudinais.

Referindo-se à comunicabilidade, ou seja, a capacidade de quaisquer usuários

entenderem o design projetado; onde são capazes de perceber para que servem, como

funcionam, quais interações com o sistema permitem que o usuário forme mentalmente

um modelo compatível com o do projetista. Um exemplo alto nível de comunicabilidade

é a tela inicial do programa CD Player, do sistema operacional Windows 95.

Fonte: http://www.actden.com/pp/unit6/6_4.htm

Figura 1: CD Player do Sistema Operacional Windows 95.

O player utiliza-se da familiaridade do usuário com os aparelhos de CD, como os botões

de comando para acionar funções e o visor de trilhas e duração.

2.5. Pessoas com Deficiências Diversas X Censo Demográfico 2010

O censo demográfico/2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

– IBGE no país, mostra uma parcela de pessoas com deficiências diversas (visual,

auditiva, motora e/ou intelectual) – 45,6 milhões de brasileiros (24%). O censo aferiu as

deficiências por faixa etária e constatou que atingem com mais frequência à população

de 65 anos de idade ou mais – 67,7%, como mostra a Figura 2.

Figura 2: Brasileiros com, pelo menos, Uma das Deficiências Investigadas.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 24

Sobre a deficiência visual contatou-se que há 506 mil cegos, 6 (seis) milhões de

pessoas com dificuldade visual e outras 29 (vinte e nove) milhões que possuem alguma

dificuldade para enxergar. Observa-se a deficiência visual como a mais comum entre

todas, atingindo 18,8% dos brasileiros, conforme a Figura 3.

Figura 3: Brasileiros com Deficiência

Desse total de deficientes brasileiros, 9,5 milhões são idosos e possuem, pelo

menos, um tipo das deficiências citadas e, desses, a grande maioria apresenta algum

grau de dificuldade visual; consequência das limitações oriundas do fenômeno do

envelhecimento natural, no qual há perda gradual da acuidade visual do indivíduo.

De acordo com o Censo de 2010 os indivíduos paraenses com 65 anos ou mais,

têm pelo menos, um tipo de deficiência dentre as elencadas. Um número expressivo de

488.364 (quatrocentos e oitenta e oito mil trezentos e sessenta e quatro) atinge os idosos

deficientes visuais, auditivos, motores ou intelectuais. Ou seja, entre 7,5 milhões de

paraenses, 6% são idosos portadores de alguma incapacidade, de acordo com a Figura 4.

Figura 4: Idosos Paraenses com Alguma Deficiência

0

50000

100000

150000

200000

250000

Visual Auditiva Motora Intelectual

Idosos Paraenses com Alguma Deficiência - 488.363

Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2010.

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2.5.1. Auxílio Tecnológico para Pessoas com Deficiência Visual

Para auxiliar 229.629 idosos paraenses portadores de deficiências visuais no uso das

tecnologias e, relacioná-las às dificuldades de implementação compatíveis com as

recomendações hoje conhecidas, tem-se: a percepção de imagens que não são descritas

na página; imagens, como gráficos ou mapas de imagem, que não são descritas; vídeos

sem descrições quaisquer que sejam; tabelas sem sentido quando lidas célula a célula ou

mesmo em modo linearizado; frames sem a alternativa no frame ou nomes com

significados; formulários que não apresentam leitura sequencial lógica ou sem descrição

(rotulados); disfunção entre navegadores e ferramentas de desenvolvimento sem suporte

ao teclado compatíveis com todos os comandos ou que não utilizam interfaces

padronizadas correspondentes ao Sistema Operacional de base; falta de padronização na

formatação de documentos no desenhar de páginas, dificultando a interpretação de

leitores de tela; páginas com tamanhos únicos de fontes; layout inconsistente em

páginas, tornando-as desprovidas de navegabilidade, considerando a perda de conteúdos

laterais, caso necessária ampliação; ausência de contraste; mudança na apresentação de

conteúdo (texto/imagem), pois na necessidade de ampliação, não executam

corretamente a quebra de linha; para os daltônicos ou amblíopes, especificamente, deve-

se atentar para as cores utilizadas como único recurso para ressaltar o texto;

inadequação de contrastes entre cores de fonte e fundo; falta de suporte para a opção

onde o próprio usuário utilizar sua folha de estilo em navegadores.

2.5.2. Auxílio Tecnológico para Pessoas com Deficiência Auditiva

Ao se tratar dos portadores de deficiências auditivas no Pará encontram-se 98.985

idosos, ou seja, 20% dos idosos paraenses apresentam distúrbios auditivos. Diretrizes

específicas para soluções dos casos ora descritos seriam a implementação em páginas,

portais e sites, tais como: legenda ou transcrição de áudio; imagens suplementares

relacionadas com o conteúdo do texto; uso de linguagem simples e clara; e requisitos

para a entrada de voz.

2.5.3. Auxílio Tecnológico para Pessoas com Deficiência Físico-Motora

Glat (2007) enfatiza que o percentual de pessoas portadoras de Deficiências Físico-

Motoras - DFM é maior, em conformidade ao aumento das faixas etárias estudadas.

Fato comprovado, visto que 151.127 ou 31% dos idosos paraenses possuem algum tipo

de dificuldade física; número representativo, preocupante e digno de atenção no que se

refere à participação e utilização das facilidades oferecidas pelas tecnologias.

Sob o olhar objetivo da acessibilidade, também, aos portadores de algum tipo de

DFM listam-se possibilidades de execuções facilitadas relativas às: tarefas de utilização

com limitação de tempo; sites, nos quais, janelas são acessadas simultaneamente ou

com sobreposição; inexistência de suporte ou adaptação para utilização de teclado

alternativo ou, até mesmo, botões relativos aos comandos realizados com o mouse;

impossibilidade de percorrer um determinado setor de uma página utilizando-se da tecla

TAB.

2.5.4. Auxílio Tecnológico para Pessoas com Deficiência Intelectual

Ampudia (2013) afirma que “Pessoas com deficiência intelectual ou cognitiva

costumam apresentar dificuldades para resolver problemas, compreender ideias

abstratas (como as metáforas, a noção de tempo e os valores monetários), estabelecer

relações sociais, compreender e obedecer às regras e realizar atividades cotidianas -

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 26

como, por exemplo, as ações de autocuidado.”, o que afeta, também, sua capacidade de

argumentação.

O que se pode executar para auxiliar 2%, concretos 8.622 idosos paraenses, com

dificuldades de concentração, memorização, leitura ou percepção faz-se: utilizando

meios que auxiliem nas atividades virtuais em que o tempo de utilização é limitado;

onde há ausência de linguagem simples e clara; em páginas com objetos gráficos sem

legenda; e na falta de clareza e consistência na organização das páginas.

2.6. Padrões de Desenvolvimento Web

Existem leis, organizações de padronização e recomendações para que sites se adaptem

à acessibilidade, como o W3C (World Wide Web Consortium), que é um consórcio

internacional de empresas de tecnologia, órgãos governamentais e organizações,

fundado em 1994. Seu objetivo é desenvolver padrões para criação e interpretação de

conteúdos Web. Sua missão, no Brasil, é propagar a cultura de padrões para o

desenvolvimento da Web, traduzir os textos para o português e organizar atividades

para promover e demonstrar as ferramentas e padrões desenvolvidos pelo W3C.

As recomendações de acessibilidade para conteúdo Web (WCAG - Web Content

Accessibility Guidelines) são um guia elaborado pela WAI (Iniciativa para

Acessibilidade na Web - Grupo da W3C), para tornar o acesso irrestrito para todas as

pessoas. Possui 14 (quatorze) diretrizes, que são princípios gerais de elaboração de um

projeto acessível, aplicadas em uma área específica (ponto de verificação - PV).

Cada PV tem um nível de prioridade associado, embora existam exceções

indicadas nas orientações onde o nível de prioridade de um PV pode mudar sob certas

condições. No total são 65 (sessenta e cinco) pontos organizados por 3 (três) níveis de

prioridade, classificados em “precisam”, “deveriam” e “podem”.

O Modelo de Acessibilidade de Governo Eletrônico (e-MAG), elaborado em

parceria entre o Departamento de Governo Eletrônico e a Sociedade Acessibilidade

Brasil é composto por um conjunto de recomendações para que profissionais tenham

orientação de como alterar e/ou adequar páginas, sites e portais do governo brasileiro. O

modelo é conexo com as necessidades brasileiras e padrões internacionais. As

recomendações deste documento não estão dividas por prioridade, já que todas são

importantes. Dessa forma, optou-se por classificá-las em: marcação, comportamento,

conteúdo/ informação, apresentação/design, multimídia e formulários.

2.7. Avaliador e Simulador de Acessibilidade – ASES

Ferramenta que avalia, simula e corrige a acessibilidade de páginas (CSS, HTMAL),

sites e portais. Visa fornecer instrumentos que viabilizem a adesão da acessibilidade

pelos órgãos do governo.

No Brasil, o programa é disponibilizado de forma gratuita sob licença LGPL -

GNU Lesser General Public License, no site do Governo Eletrônico do Brasil.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 27

Fonte: Software ASES Figura 5: Tela inicial Ases

3. Metodologia

Quanto aos objetivos, com base em Gil (2002) é exploratória e descritiva. Exploratória

considerando a inexistência de conhecimento acerca do assunto na instituição-objeto.

Descritiva, haja vista, descrever a realidade do fenômeno pesquisado sem nele interferir.

Quanto aos procedimentos técnicos é bibliográfica, levantamento, estudo de

campo e estudo de caso. Bibliográfica, pois a construção do estudo com base em

material já elaborado, constituído principalmente de livros, artigos, dissertações,

revistas é o que observa Vergara (2009). O delineamento do estudo é tipificado por Gil

(2002) como de levantamento, já que possui como característica precípua a interrogação

direta das pessoas, cujo comportamento se deseja conhecer, solicitando informações a

um grupo significativo, acerca do problema específico estudado para obter conclusões,

mediante análise quantitativa, correspondente aos dados coletados.

O estudo de campo caracteriza-se pela observação in lócus do fenômeno

estudado (GIL, 2002). Vergara (2009) afirma que estudo de caso, tem caráter de

profundidade e detalhamento, na pesquisa realizou-se estudo minucioso no Igeprev.

Quanto à natureza o estudo é qualitativo/quantitativo fundamentado em Teixeira (2001),

uma vez que a pesquisa se valeu das opiniões dos sujeitos pesquisados.

O instrumento de pesquisa foi um formulário, com 23 (vinte e três) perguntas

estruturadas, o qual foi aplicado aos sujeitos entre 09 e 21 de maio do corrente ano.

Amostra é definida pelo critério de acessibilidade. Utilizaram-se os valores de 10% para

o erro amostral admitido; 95 % para o nível de confiança, considerando uma população

de 28.206 aposentados e/ou pensionistas, acima de 60 (sessenta) anos; resultando em

um quantitativo de 101 (cento e um) usuários como objeto da análise.

Os dados foram tabulados utilizando-se software de planilhas eletrônicas, onde

foram gerados gráficos para visualização e entendimento das relações causa-respostas.

Utilizando-se de técnicas argumentativas, os dados provenientes da etapa inicial foram

analisados de forma lógica, comparativa e associativa considerando a relevância de 10%

da população estudada.

Circunstâncias críticas: delimitação do público, instituição-alvo e especificação

do tema; trâmites burocráticos de autorização para o estudo; indisposição de parte dos

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Aspectos Gerais Usuários Igeprev

segurados ao responderem o formulário e exoneração, a pedido, do Web Designer

responsável pelo desenvolvimento do site.

3.1 Caracterização do Objeto de Estudo

O Igeprev é uma Autarquia dotada de personalidade jurídica de direito público. Criada

pela Lei Complementar nº 044, de 23 de janeiro de 2003. Vinculado à Secretaria

Especial de Estado de Gestão, com patrimônio e receitas próprias, gestão administrativa,

técnica, patrimonial e financeira descentralizadas. Sua finalidade é a gestão dos

benefícios previdenciários do Regime de Previdência Estadual e dos Fundos

Previdenciário e Financeiro de Previdência do estado do Pará (FINANPREV e

FUNPREV).

Possui como meios de comunicação e disseminação de informações, um

periódico eletrônico (Igeprev Comunica) e um website (www.igeprev.pa.gov.br).

4. Resultados e Discussões

Figura 6: Aspectos Gerais dos Usuários do Igeprev

Em relação ao site-objeto, sob aspectos gerais e em específicos, observou-se a

predominância de indivíduos do sexo feminino, com idade entre 60-65 anos, casados,

aposentados, com nível médio, com limitação visual e renda de 1 a 5 salários mínimos.

Constatou-se a utilização da internet com o auxílio de outrem ou, até mesmo,

sua não utilização. Porém, verificou-se um grupo de 11 (onze) indivíduos que utilizam

esporadicamente os recursos da internet, como meio de informação e comunicação.

Fonte: Elaborado pelos Pesquisadores

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 29

Figura 7: Aspectos Específicos dos Usuários do Igeprev

A dificuldade desses usuários não está na utilização do mouse, e sim na

encontrabilidade das informações com, no mínimo, 5 (cinco) cliques. Um percentual de

55% destes usuários raramente apresenta dificuldades quanto ao acesso de links, porém

nem sempre ficam satisfeitos com as informações e raramente segue o mesmo fluxo de

atividades na busca da informação. Em relação aos ícones, consideraram intuitivos e tão

raros, sentiram dificuldades na visualização ou leitura destes.

Grande parcela dos sujeitos respondentes não sentiu incômodo relativo às cores,

nem percebeu desconfortos quanto ao uso de banners e considera interessante o uso de

recursos sonoros. A maioria sentiu qualquer dificuldade na compreensão dos textos,

porém conseguiu manter o foco no serviço de interesse e resolver problemas

apresentados no momento da navegação sem auxílio de terceiros.

Sobre o acesso ao site do Igeprev, 46% afirmou nunca tê-lo feito. Sendo que dos

54% que o utilizam, 46% o são para consulta e impressão de contracheques, 36% para

consulta e impressão de cédula C, 9% para o Fale conosco e 9% nunca utilizaram o site.

Há de se considerar, para uma visão e apontamentos técnicos ao nível de

sugestões a serem implementadas no website em estudo, os principais pré-requisitos,

fundamentados nos conceitos do Governo Eletrônico (e-MAG) e WCAG em estudos

anteriores, que culminaram nas recomendações descritas ao longo deste estudo.

Destacam-se as quantidades de tipos de avisos (51 – cinquenta e um) e erros (14 –

quatorze), gerado pelo ASES. Onde, de forma objetiva descrevem-se e relacionam-se os

avisos e os erros ocorridos na página em análise:

Avisos: apresentar os elementos em uma ordem compreensível; não permitir a

ocorrência de mudanças substanciais em uma página; não permitir atualização

automática periódica; permitir a opção de desligar, ajustar ou prolongar tempo para

realizar uma tarefa; não utilizar efeitos visuais “piscantes”, intermitentes ou cintilantes;

agrupar os controles de formulário relacionados de maneira lógica; não permitir que

conteúdos “se movam” automaticamente; disponibilizar documentos, preferencialmente

11

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3

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2

4

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Aspectos Específicos Usuários Igeprev

Fonte: Elaborado pelos Pesquisadores

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em formato HTML. Porém, também podem ser utilizados arquivos para download no

formato ODF; identificar claramente quaisquer mudanças de idioma no texto de um

documento; não utilizar quaisquer características sensoriais (forma, tamanho,

localização visual, orientação ou som) como único meio de transmissão de informações;

oferecer contraste mínimo entre plano de fundo e primeiro plano; dividir grandes blocos

de informação em grupos mais fáceis de gerenciar (“topo”, “conteúdo”, “menu” e

“rodapé”), além da barra de acessibilidade contendo os atalhos; evitar a utilização de

imagens de texto, por se tratarem de meras decorações, considerando a possibilidade de

serem personalizáveis ou essenciais; especificações para apresentação visual da página;

garantir que a página, quando redimensionada para até 200%, deve continuar legível e

funcional; identificar a finalidade dos links a partir apenas do texto do link.

Erros: as etiquetas de texto (label) devem estar associadas aos seus campos

(input) correspondentes no formulário, através dos atributos for do label e id do input,

os quais deverão ter o mesmo valor; todas as funções da página desenvolvidas

utilizando-se linguagens de script (javascript) deverão estar disponíveis quando for

utilizado apenas o teclado; inserir entre links adjacentes, caracteres que não funcionem

como link e sejam passíveis de impressão (como um espaço), até que os leitores de tela

ou navegadores (incluindo as tecnologias de apoio) reproduzam clara e distintamente os

links adjacentes; garantir que os objetos como scripts, Flash, conteúdos dinâmicos e

outros elementos programáveis sejam acessíveis; descrever e identificar clara e

sucintamente o destino de cada link, informando, inclusive, se o link remete a outro

sítio; ignorar blocos de conteúdo repetidos; todo conteúdo não textual que é apresentado

ao usuário tem uma alternativa em texto que serve um propósito equivalente; fornece

alternativa em texto para as imagens do sítio; toda funcionalidade do conteúdo é

operável através de uma interface de teclado sem a necessidade de qualquer espaço de

tempo entre cada digitação individual; informações, a estrutura e as relações

transmitidas através de apresentação podem ser determinadas de forma programática ou

estão disponíveis no texto; para todos os componentes de interface de usuário, o nome e

a função podem ser determinados de forma programática; assim como os estados, as

propriedades e os valores; etiquetas ou instruções são fornecidas quando o conteúdo

exigir a entrada de dados por parte do usuário; alterar a definição de um componente de

interface de usuário não provoca, automaticamente, uma alteração de contexto;

identificação consistente dos componentes que têm a mesma funcionalidade num

conjunto de páginas Web.

5. Avaliação da Usabilidade do Site do Igeprev - 10 Heurísticas de Nielsen

1. Status do Sistema: informa os acontecimentos, atua como feedback. No site, o

usuário necessita saber onde se encontra;

2. Compatibilidade do sistema com o mundo real: o sítio é construído sob uma

política de linguagem simples, onde os botões correspondem as suas ações,

expressões utilizadas designam exatamente aquilo que se propõem a fazer. Porém

existem dúvidas, como o botão “voltar”, no website, está com uma formatação

diferente, a seta está apontando para baixo, o que poderia ser identificado como

botão de download;

3. Controle e Liberdade: o usuário deve estar no controle do sistema, a página

deve fornecer ao usuário forma de utilizar os serviços principais seja em qual

sessão estiver permitindo uma liberdade de navegação. No website, os principais

serviços são: retirada de cédula C, acesso ao contracheque e ao extrato

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 31

previdenciário. Em qualquer página, é oferecido o acesso a essas três opções. Por

exemplo, o usuário está no menu “Investimento” e no submenu “Políticas de

Investimento 2013” e na parte superior da página há, em forma de banner, o

surgimento dos três serviços principais podendo ser acessado a qualquer instante,

em qualquer página esses banners se fazem presentes;

4. Consistência e padrões: as páginas são todas em um mesmo padrão, onde

informações fixas são posicionadas nos cantos superiores e laterais, e as

informações que se necessitam estão posicionadas no centro do website, é nesse

centro que depositam quase todas as informações exigidas da página como:

história da instituição, missão e etc.;

5. Prevenção de Erros: ao se tratar de formulários de cadastros, devem-se

informar os campos de preenchimento obrigatórios. Como exemplo de acesso no

campo “CPF”, o sistema não permite que ultrapasse os 11 dígitos, bem como a

matrícula não excede os 10 dígitos. Esses campos possuem indicadores de

obrigatoriedade, o símbolo de asterisco (*), mas compreendido apenas por pessoas

que possuem certa experiência na navegação, pois não há uma legenda. E para o

público em questão não seria interpretado da mesma forma;

6. Reconhecimento ao invés de lembrança: devem-se tornar objetos, ações e

opções visíveis. O usuário não deve ter que relembrar informações de uma parte

do diálogo em outra parte. As únicas informações exigidas pelo sistema são

próprias do usuário, tais como: “CPF”, “Matrícula”, “Data de Nascimento” e

“Senha”. Portanto, sempre será fácil recuperá-las quando necessário, visto que os

principais serviços exigem apenas esses dados. Logo, não foi registrado esse

critério;

7. Flexibilidade e eficiência de uso: nesse quesito é comum ter um passo-a-passo

explicando como realizar operações específicas, bem como também propor atalhos

que facilitem a navegação. São fornecidas no website maneiras diretas de acessar

os três principais serviços oferecidos. Logo que se acessa o sítio encontram-se em

banners essas opções, sendo que em qualquer página dos mesmo esses banners

estão presentes fornecendo um acesso eficaz e rápido;

8. Estética e design minimalista: as informações devem ser sucintas e dispostas

em menus e links, que levam a uma página com todo o conteúdo na íntegra. Os

diálogos não devem conter dados desnecessários. Para que se possa obter, por

exemplo, o extrato previdenciário, são necessárias apenas 3 (três) informações:

CPF, matrícula e senha;

9. Ajudar os usuários a reconhecer, diagnosticar e corrigir erros: as mensagens

de erro devem ser expressas em linguagem clara, indicar precisamente o problema

e sugerir solução. Ao preencher o formulário de acesso ao contracheque, inserindo

o CPF incompleto, por exemplo, e acionar a tecla “tab” alternando para o

próximo campo, o sistema não acusa de imediato que faltam algarismos, sendo que

o erro será acusado apenas quando acionado o botão “verificar”, e neste momento

é indicado o problema no preenchimento do campo “CPF”. Constata-se uma

falha, pois a correção deveria ser realizada em tempo real, embora o alerta venha

com uma linguagem bastante objetiva, curta e direta propiciando um entendimento

sem interpretações duvidosas;

10. Ajuda e documentação: na página inicial, não foi constatado menu com

o título de “Ajuda”, ou um mapa do website explicando os serviços que este

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 32

oferece. A única opção oferecida está no menu “Informação” e no submenu

“Dúvidas Frequentes”, que não é um auxílio de navegação e sim uma

demonstração sobre as dúvidas.

Em uma avaliação superficial, percebeu-se que apenas 4 heurísticas foram

satisfatoriamente contempladas, 4 parcialmente satisfeitas e 1 não foi atendida e 1 não

se aplica. Logo, apenas 40% das heurísticas listadas foram contempladas,

permanecendo uma lacuna de 60% a serem atendidas com satisfação.

6. Considerações Finais

Expondo-se o contato e a consciência acerca da necessidade de acesso das pessoas

idosas, bem como todo e qualquer usuário de forma indiscriminada acerca de condição

financeira, cultural ou faixa etária, às tecnologias diversas, inclusive as de informação e

comunicação, o que veio a causar inquietação diante do vivenciar de inúmeras situações

cotidianas, vividas por usuários do Instituto de Gestão Previdenciária do Estado do Pará

– Igeprev, onde ao mesmo tempo em que, em sua maioria, possuem acesso aos

equipamentos e programas de computação, estão distantes no que se refere a

conhecimento e prática no “navegar” e usufruir dos benefícios que a era tecnológica

oferece. Para o qual se utilizou de métodos, quantitativo e qualitativo, de análise de

resultados, buscando resposta à problemática da investigação.

Os dados quantitativos apontaram as deficiências presumidas, porém, é

necessário que, em paralelo, mantenha-se a criticidade com estes dados, haja vista, que

a amostra obtida na pesquisa é reduzida, o que aumenta a possibilidade de que os

resultados não reflitam de forma fidedigna às inferências a eles atribuídas, pois é fato

que o quantitativo de idosos beneficiários do Igeprev é considerável em relação à

população residente no estado.

Este estudo realizou inquirições a respeito do referencial teórico disponível

sobre estas tecnologias e assuntos afins, relacionando-os diretamente às intenções de

respostas aos questionamentos oriundos da tendência de identificação e descrição das

principais dificuldades de acesso das pessoas idosas ao site do Igeprev, respondendo ao

objetivo geral a que a investigação se propôs quando se reconhece e visualiza de forma

clara, nas declarações dos respondentes que estas permeiam, em grande parcela, os

acometimentos naturais, tornando-os portadores de necessidades especiais adquiridas;

sejam estas quais forem como limitações visuais, dificuldades no aparelho auditivo,

moderadas ou severas. Dados estes confrontados e pareados às estatísticas brasileiras,

onde se constata, no estado do Pará, inclusive, a mesma linha de efeitos naturais

decorrentes.

Mediante a disposição, necessidade e anseio por melhorias no acesso ao referido

site, tido como objeto do estudo, logrou-se êxito na coleta dos dados intencionados

concernentes à satisfação dos usuários com o mesmo, o que responde a um dos

objetivos específicos. Momento este em que se teve a impressão da insatisfação dos

usuários, os quais a página deveria atender de forma, minimamente, regular. Impressão

está confirmada quando da avaliação realizada com o software ASES, onde em seu

relatório final apontou grande quantidade de erros e avisos a serem tecnicamente

corrigidos a fim de os sanarem.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 33

Imprescindível à verificação de pontos falhos acerca da codificação do site no

momento oportuno da averiguação sobre a problematização instanciada como matéria a

ser examinada de forma minuciosa, a qual concebeu exposição real e escrita (relatório),

indicando-os conforme regulamentação e recomendação de órgãos e entidades com

funções descritas no decorrer da explanação teórica. Onde se satisfez o propósito de

apresentar ao setor, até então, responsável pelo site inscrito, proposta, na forma de

sugestão, de implementação das adaptações necessárias ao web site, objetivando a

redução das indicações geradas pelo relatório do software ASES – Avaliador e

Simulador de Acessibilidade de Sítios.

E finalmente, todos os objetivos da proposta inicial de pesquisa foram

alcançados após as perspectivas de coleta, análise e agregação de dados, bem como as

respostas de dados gerais, considerando quantitativamente os usuários atendidos e

possivelmente beneficiados. Igualmente, o parque tecnológico o qual detém atualmente

o Igeprev, da mesma forma, no proceder do estudo, avalia-se o embasamento teórico

apresentado, e pode-se inferir que as possibilidades de melhoria incitadas são positivas

e viável, tecnicamente, o intuito de aperfeiçoamento do conhecimento e o implementar

das técnicas e uso das ferramentas citadas, a fim de tornar o web site acessível às

pessoas idosas, bem como a todos os usuários tidos como não-deficientes ou

necessitados especiais; intenção está satisfeita, culminando na inserção mínima-

tecnológica destes usuários específicos.

7. Referências

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Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 35

TÍTULO: A EVASÃO NO ENSINO SUPERIOR: UM

ESTUDO NO CURSO DE PEDAGOGIA DA FACULDADE

IDEAL – FACI

Gleaecy Leal Pacheco¹, Maria do Socorro Castro Hage¹

1Faculdade Ideal –(FACI)

[email protected], [email protected]

Abstract: This research intend to investigate the main causes of dropout in the Course

of Pedagogy Faci, and propose measures to mitigate this problem. The social relevance

of our study is based on the fact that we conclude the search and the condition to

understand the causes of the course the students to escape, and accordingly take the

institution to create mechanisms in the pursuit of overcoming this problem. The

investigation was initially developed from the theoretical framework on the subject,

followed by a field research among the students circumvented the course, the main

instrument for data collection questionnaires, with open and closed questions. At the

end of the field research was a critical-reflexive and context, based on the authors

discuss about the topic.

Words - Key: school - education - work.

Resumo: Esta pesquisa intencionou investigar as principais causas da evasão escolar

no Curso de Pedagogia da FACI, bem como propor medidas que possam minimizar

esta problemática. A relevância social de nosso estudo baseia-se no fato de que,

concluímos a pesquisa tendo a condição de perceber as causas que levam os alunos do

referido Curso a se evadir, e nesse sentido levar a Instituição a criar mecanismos na

busca da superação deste problema. A investigação foi desenvolvida inicialmente a

partir do referencial teórico acerca do tema, seguida de uma pesquisa de campo junto

aos alunos evadidos do Curso, tendo como principal instrumento de coleta de dados

questionários, com perguntas abertas e fechadas. Ao final da pesquisa de campo foi

realizada uma análise crítica-reflexiva e contextualizada, pautada no que autores

discutem a respeito do tema.

Palavras – Chave: Evasão escolar - Ensino superior – Trabalho.

1. Introdução

A evasão escolar no ensino superior apresenta-se como uma das maiores preocupações

na graduação das últimas décadas, pois representa um fator de desequilíbrio,

desarmonia e desajuste nos objetivos educacionais pretendidos pelas Instituições de

Ensino Superior. Ao considerar a evasão escolar uma problemática no âmbito

educacional é de grande relevância a investigação deste objeto de estudo que pretende

fornecer informações significativas no sentido de investigar as principais causas e

fatores que tem contribuído para a evasão escolar nos espaços das Instituições de Ensino

Superior - IES.

Nesta perspectiva é que surge o interesse em desenvolver este estudo que parte

da necessidade de se investigar os fatores que levam a um elevado índice de desistência

dos alunos de Graduação do Curso de Pedagogia da Faculdade Ideal - FACI.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 36

Neste sentido, entendemos que o resultado da presente pesquisa possibilitará à

Faculdade Ideal, e mais especificamente ao Curso de Pedagogia a condição de perceber

as causas que levam os alunos do referido curso a se evadir, e nesse sentido criar

mecanismos para que esta problemática seja superada.

Assim apresentamos como problemas de nossa pesquisa algumas questões que

pretendemos elucidar ao desenvolver o estudo:

- Quais as principais causas que levam os alunos do Curso de Pedagogia a evadir-se?

- Que desafios a Instituição poderá enfrentar para superar esta problemática?

2. Desenvolvimento 2.1 Contexto histórico das universidades no Brasil

Para compreendermos melhor as discussões acerca da temática da evasão no ensino

superior, é necessário se fazer um breve histórico da evolução do ensino superior no

Brasil, apresentando seus objetivos e características.

A história do ensino superior no Brasil teve início com o início da filosofia e da

teologia nas escolas jesuíticas no período colonial. Porém algumas mudanças

ocorreriam após a promulgação do fim da ordem religiosa do reino português, em 1759,

o ensino superior passou a ser ministrado nos conventos franciscanos. Segundo Cunha

(2000), a igreja católica apresenta-se como “uma instituição privada que se mesclava ao

Estado pelo regime do padroado”.

Em 1808, as instituições estatais de ensino superior foram criadas, um

favorecimento da transferência da sede do reino português para o Brasil.

Cunha (2000, pg.39), afirma que após a independência, o Império reforçou e

multiplicou esse modelo de modo que, em 1889, quando da proclamação da república,

todo o ensino superior no país era estatal, centralmente mantido e controlado.

Entendamos que, antes de 1920, não existiu nenhuma universidade propriamente

dita e que tivesse uma duração significativa, o que existiu antes da década de 20 foram

algumas experiências de instituições denominadas de universidades.

Nos primeiros governos republicanos houve ausência do interesse mesmo com o

predomínio da ideologia liberalista e do positivismo, quanto em privatizar as

instituições existentes de nível superior. Isso decorre da união do professorado das

faculdades estaduais com os que estavam no poder. No período republicano houve um

aumento do ensino superior e juntamente com este a complexibilidade que se dava no

processo por conta da “criação e manutenção das faculdades federais nos estados, pela

criação e manutenção das faculdades estaduais nas cidades do interior reconhecidas

politicamente e a criação de faculdades privadas que atendiam os que não eram

atendidos pelas instituições públicas”. (CUNHA, 2000).

Para entendermos melhor como se deu o processo de expansão das instituições

de nível superior e sua configuração e a relação das instituições públicas e privadas

faremos uma breve incursão na história da universidade.

Desde o período colonial tentou-se introduzir no Brasil um modelo de

universidade que foi negado pela Coroa aos jesuítas e permaneceu negada durante todo

o Império e a República Velha. Depois de muitas resistências surgiu a primeira

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 37

universidade no Brasil (Universidade do Rio de Janeiro), em Sete de setembro de 1920.

Esta nasceu como uma associação de escolas de caráter totalmente profissionalizante.

Logo após em 1927, surge a Universidade de Minas Gerais trilhando os mesmos

caminhos da Universidade do Rio de Janeiro voltada para o objetivo de formar

exclusivamente para exercício de uma profissão. Esta concepção foi norteadora durante

muito tempo.

A partir da Revolução de 30, muitos debates foram levantados acerca da

natureza das universidades. Anísio Teixeira foi um dos precursores que idealizava uma

universidade de caráter autônomo, neste período predominava o modelo

neonapoleônico, induzindo a formação de sujeitos teórica e politicamente críticos.

Porem este pensamento inovador era visto pelo Estado como ameaçador.

Quando surgiu a Universidade de São Paulo, Fernando de Azevedo e outros

adviram com a Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras caracterizada pela busca crítica

de saber, desviando-se do regime tradicional de ensino fundamentada na

profissionalização. Por conta de seu caráter inovador sofreu repressões das Escolas

profissionais e a Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras, incorporada à USP, deu lugar

ao modelo neonapoleônico, pois para que a universidade permanecesse ativa era

necessário adequar-se ao caráter profissional predominante da época.

A partir da década de 60 várias correntes defendiam uma Reforma Universitária

que, sobretudo, considerasse o ensino e a pesquisa e que considerasse a autonomia

universitária e administrativa e de gestão financeira da universidade, como uma

bandeira a ser defendida. Teixeira (1988 apud Sguissard, 2004) comenta acerca do que

uma determinada corrente visava:

[...] “a integração das múltiplas escolas com objetivos similares e isolados entre

si [...]. Em essência, um problema de racionalização dos serviços de ensino oferecidos

pela universidade ampliada e em crescimento espontâneo e desordenado”. (TEIXEIRA

apud SGUISSARD, 1988, p. 38)

Em dezembro de 1963, a União Nacional de Estudantes -UNE- apresentou

algumas propostas em um documento com o intuito de serem atendidas com a Reforma

Universitária. Algumas propostas destacaram-se como: “a democratização do acesso ao

ensino superior e a democratização interna da Universidade brasileira”.

A reforma universitária aconteceu em 1968, com a LEI 5540/68, abriu caminhos

para a realização do que há tempos foram objetos de reivindicações e que para muitos se

apresentava como a abertura para a modernização da educação superior. O que na

verdade se garantiu com a reforma universitária foi a obrigatoriedade da associação

entre ensino e pesquisa, complementado com a definição do fim da cátedra vitalícia,

constituía oficialmente a fixação do regime departamental e proporcionava a criação da

carreira docente. (SGUISSARD, 2004, p. 39)

A reforma também proporcionou a criação da pós-graduação no país e

profissionalizou o sistema universitário, com a implantação dos regimes de tempo

integral.

Duas décadas depois da implantação da LEI 5540/68, podia-se observar que em

parte a reforma no que diz respeito a pós-graduação e a carreira docente atingiu um

resultado positivo, porém, por outro lado, deixou a desejar com a falta de estímulo à

expansão das vagas públicas, “pois mais de 61% das matrículas estavam centradas no

setor privado de ensino”, a respeito do regime de tempo integral os números não deixam

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 38

dúvidas de que houve um desvio considerável do que consistia na lei, sendo que 60%

dos professores trabalham em regime de tempo parcial.

Segundo Trindade (2000), se gerou um processo de privatização, isto se deu por conta

da estimulação dos governos militares.

2.2 Universidade Pública X Universidade Privada

Na década de 50 as instituições estatais e privadas foram constituídas universidades,

devido a federalização destas, que por lei passaram a ser controladas e mantidas pela

União. Segundo Cunha (2000), as instituições privadas foram beneficiadas por

dispositivos da Constituição de 1934 e das que se lhe seguiram, inclusive na de 1988,

em vigor, isentando-as de todos os impostos sobre o patrimônio a renda e os serviços

prestados.

Por consequência das intervenções que provocaram o amento do ensino superior

(militares do golpe de estado e os grupos privatistas com a aprovação da Lei de

Diretrizes e Bases da Educação nacional - LDBEN - 1961), o conselho federal de

educação formado em sua maioria por dirigentes das instituições privadas, determinou o

“fim do processo de federalização de estabelecimentos de ensino superior.” Além disso,

alargou as possibilidades de se ter um resultado positivo com o afrouxamento do que

antes lhes restringiam que eram as normas de criação de cursos, a ampliação de vagas e

a concessão de status universitários.

Diante das possibilidades que favoreciam as Instituições de Ensino Superior

privadas, as instituições públicas tiveram, com efeito, um progressivo atendimento que

Cunha (2000) relata: As universidades públicas desenvolveram-se bastante durante o

regime militar, quando foram constituídos campos suburbanos, por vezes monumental,

instituído o trabalho docente em tempo integral, como regra criada a pós-graduação

articulada à carreira dos professores e providas linhas de financiamento à pesquisa

científica e tecnológica. A constituição de 1988 efetivou todos os docentes e corpo

técnico-administrativo como funcionários públicos pelo Regime Jurídico Único e aboliu

as restrições legais e à sindicalização. Mesmo com as reiteradas declarações em defesa

de sua transparência aos estados ou ao setor privado, relativa autonomia das

universidades federais permitiu o crescimento do corpo de professores e funcionários.

(CUNHA, 2000, p. 42).

Segundo Sgrissard (2004), as IES privadas, sobretudo as com fins lucrativos,

estão expandindo mais do que as públicas. No ano de 1994 a 2000 houve um aumento

de 38% do número de IES no país, o das IES privadas cresceu 58% e o das públicas

diminuíram 23%. Considerando o número de IES municipais houve uma diminuição de

86 para 54; o das federais manteve-se com 39 e o das IES isoladas federais aumentou de

18 para 22; o número das estaduais aumentou de 25 para 30 e o das IES isoladas

diminuiu de 48 para 31.

No que diz respeito às matrículas no mesmo período de 1994 a 2000, houve um

acréscimo de 62% para 86% e no setor público apenas 28%. Considera-se que o

aumento de matrículas no setor privado foi de 121% no período, contra apenas 36% no

setor público.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 39

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – as

vagas do setor privado distribuídas nas regiões do Brasil revelam uma competição entre

as IES do setor com o intuito de atrair uma maior clientela.

No primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a fim de reformar a educação

superior, tem contribuído parar fortalecer e aprofundar o conjunto de medidas e ações

privatizantes executadas em que a fase de Fernando Henrique Cardoso exerceu a

presidência do Brasil (1995 – 2002).

2.3 A educação superior no estado do Pará

No estado do Pará a esfera pública concentrou a maioria dos cursos ofertados no ano de

1995 a 2002, bem como a expressiva parcela de matrículas realizadas; em contra ponto

a isto, as IES privadas, no que diz respeito às dependências administrativas,

apresentavam-se em preponderância.

De acordo com Corrêa (2006), as universidades localizadas no estado do Pará

também estão seguindo uma tendência nacional e procuram conceber as suas propostas

de formação segundo a lógica da concorrência de mercado e, na disputa pelo cidadão-

cliente-consumidor, elas passaram a oferecer produtos educacionais com perfis

diferenciados e para uma demanda igualmente diferenciada, que são os professores em

pleno exercício do magistério, mas sem a devida qualificação para tal.

Em geral as IES formulavam e implementavam cursos de contrato com uma

característica que é relevante quando a diversificação de suas propostas, que se revela

quanto as múltiplas formas de oferta, o custo cobrado pelo curso, o tempo de duração, o

perfil profissional e a organização curricular.

A oferta da educação superior no Pará concentrou-se, no ano de 1945 a 1996,

mais especificamente no setor público com a Ufra, UFPA e UEPA, que correspondiam

a 75% do total de IES no Pará, enquanto os 25% eram de caráter privado (Unama).

Nessa época, suprimiram-se as faculdades isoladas privadas e as públicas em virtude da

sua congregação em torno das universidades que surgiram. (CORRÊA, 2006)

Houve um refluxo, nos anos de 1996 a 2004, quanto ao crescimento de IES de

caráter privado, representados por faculdades, centros de ensino, escolas superiores e

institutos que disputavam ofertas de educação superior. De acordo com a pesquisa

realizada por Corrêa (2006), neste período foram criados dois centros (Cefet-Pa e

Cesupa), duas escolas superiores (Esamaz e Esmac), catorze faculdades (Fama, Fabel,

Fesar, Feapa, FAI, FAZ, CET-PA, Fatefig, FAP, Faci, Fibra, Fapan, Fatebe, e Ises),

cinco institutos (Iesam, Iespes, Iles, Isei e Instituto de Ensino superior do Pará).

Verifica-se, portanto, que houve um elevado aumento de IES privadas, onde a

representatividade institucional é de 8,33% para o setor público (24 instituições

surgidas) e 91,66% para o setor privado.

A partir do ano de 1999, inúmeras IES privadas surgiram e obtiveram

credenciamento para funcionar no âmbito da oferta de educação superior, junto a este

fenômeno de expansão surge à faculdade Ideal – Faci – criada em 1999, de caráter

restritamente privado.

Segundo Corrêa (2006), o histórico das instituições participantes do sistema de

ensino superior no Pará, evidencia que a maior parte das dependências administrativas

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 40

ficou sob a responsabilidade da iniciativa privada, enquanto uma pequena parte

concentrou-se no setor público.

O aumento da oferta do nível de ensino superior no estado do Pará resultou da

diversificação institucional, que representa o predomínio de novos espaços acadêmicos.

Em 2004, a oferta dos cursos de graduação chegou ao total de 568, e eram

ofertados por diversas instituições de ensino superior que apesar da expansão das

dependências acadêmicas não conseguem atender a demanda estudantil.

Percebe-se neste período que há uma preocupação em relação à expansão do

domínio dos centros, faculdades, Institutos e Universidades em diversas localizações do

espaço paraense. Contudo, Belém ainda é o Município que concentra parte considerável

das dependências administrativas, consequentemente, capta também a maioria dos

cursos.

Segundo Corrêa (2006), o processo de diversificação nas instituições de ensino

superior no Pará, tem favorecido sobremaneira a política de massificação e de

privatização. Tal situação ficou evidenciada quando se verificou o acentuado

crescimento das faculdades, e dos institutos privados na prestação dos serviços

educacionais. Vale ressaltar que as instituições acadêmicas passaram a ampliar a

abrangência de sua territorialidade saindo da capital para os interiores do estado (zona

rural) e bairros em arredores desta, com a intenção de conquistarem espaço em meio aos

conflitos que surgem por conta de oferta de vagas. A disputa em torno da demanda

estudantil tem conduzido algumas instituições de ensino superior a tornarem-se mais

flexíveis quanto ao processo seletivo, o que pode ocasionar no surgimento de problemas

que permeiam o ensino não somente no Brasil, mas no mundo todo.

Com base nesses pressupostos, compreendemos que o surgimento das

Universidades no Brasil teve sua grande importância ao possibilitar aos alunos o acesso

ao ensino superior, como forma de se buscar uma educação de qualidade.

3. A evasão no ensino superior

Não podemos negar, no entanto, que no bojo do processo dos trabalhos desenvolvidos

no ensino superior, surgiram vários problemas que precisam ser superados com

urgência, e um deles diz respeito à evasão escolar que tem se intensificado nos últimos

anos neste nível de ensino.

Assim, nos últimos anos a evasão escolar, um fenômeno complexo comum às

Instituições de Nível Superior no mundo contemporâneo, tem sido objeto de alguns

estudos e análises, especialmente nos países do primeiro mundo. Neste caso revela-se

como um problema de nível internacional que tem afetado o resultado dos sistemas

educacionais.

De acordo com Lobo & Filho (2007), os alunos que iniciam, porém não

terminam os cursos contribuem diretamente para a intensificação dos desperdícios

sociais, acadêmicos e econômicos. No setor público é um dinheiro investido sem o

devido retorno. No privado representa perdas de receitas. Desta forma configura-se

numa “fonte de ociosidade de professores, funcionários, equipamento e espaço físico.”

Vale ressaltar que as instituições privadas investem de 2% a 6% em marketing com o

intuito de atrair novos estudantes, porém não é o mesmo investimento que se faz para

manter os que se encontram matriculados.

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No Brasil, as pesquisas se tornam mais frequentes a partir de 1995, quando foi

constituída a Comissão Especial de Estudos sobre Evasão, através de Portaria

SESU/MEC, com o objetivo de desenvolver um estudo, sobre o desempenho das

Instituições Federais de Ensino Superior. O estudo, concluído em outubro de 1996,

reúne um conjunto significativo de dados sobre desempenho das IES, relativos aos

índices de evasão de seus cursos de graduação identificados com objetividade, pois que

essencialmente quantitativo, tornando-se referência nacional.

Para Tigrinho (2008), a evasão no Brasil é entendida como uma interrupção no

ciclo de estudo, causando prejuízos significativos sob o aspecto econômico, social e

humano, em qualquer que o nível de educação.

Para Moreira e Silva (2007), a evasão escolar não pode ser naturalizada,

principalmente quando se trata de elevada evasão em oferta pública e gratuita de

educação superior, em um país no qual apenas a minoria da população chega a esse

nível educacional. Nesse sentido, convêm explicitar que atualmente de acordo com o

que apresenta Brasil (2007), a taxa bruta de escolarização na educação superior no país

é de 20% e a taxa líquida é de 12%. Além disso, a grande maioria dessa matrícula está

nas Instituições Privadas de Educação Superior (74,1%; segundo o Censo da Educação

Superior 2006/INEP), de maneira que a absoluta maioria do universo de estudantes da

educação superior está pagando pelo que deveria ser um direito social.

Em 2005, o Brasil tinha 2.165 IES, sendo que 231 eram públicas, o que equivale

a 10,7% do total, e 1.934 privadas, ou seja, 89,3% do total de IES no Brasil. (LOBO

&FILHO, 2007)

Dados do Inep mostram que há no ensino superior uma predominância

quantitativa das instituições privadas, o que nos permite inferir que os dados referentes

aos alunos das IES privadas afetam de forma decisiva os indicadores globais do ensino

superior, inclusive a evasão.

A evasão anual nas IES públicas e privadas oscila em torno de 12%, variando

entre 9% a 15% no período, de 2000 a 2005, enquanto as IES privadas mostram uma

oscilação em torno de 26%, contra uma taxa nacional típica de 22%. Obviamente, como

as IES privadas detêm a maioria dos alunos no ensino superior, seu peso é maior e a

média nacional está mais próxima de seus índices.

Tigrinho (2008), afirma que o ingresso na educação superior não garante êxito

educacional do estudante, pois as características deste nível de ensino diferem da

educacional fundamental e média. O que pode induzir os alunos a desistência por conta

do impacto causado pelas transformações exigidas na academia. Segundo o autor a

descontinuidade em relação ao que o aluno vivenciará até então causa insegurança

quanto a carreira e exige mudanças significativas de hábitos, utilização de novas

estratégias de aprendizagem, capacidade de conviver com colegas que têm condições,

habilidades e aspirações que não combinam com as suas.

Outro motivo que pode levar a evasão está relacionada à vida universitária, a

estrutura e a metodologia do trabalho acadêmico, quando o aluno, mesmo com pouco

conhecimento específico decepciona-se quanto as expectativas levantadas e a vivência

no curso, na intenção de exercer futuramente a profissão.

Alguns candidatos a educação superior tendem a desistir desde o inicio, da

tentativa de ingressar em um curso bem concorrido, optando por outros menos

procurados, mesmo com pouca ou sem nenhuma identificação na área da profissão

correspondente. Acreditam que ao optarem por um curso menos concorrido terão

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 42

maiores chances de ingressarem na educação superior, acreditando que ascensão do

nível educacional (educação superior) poderá facilitar a ascensão social em decorrência

do título (diploma).

De acordo com Tigrinho (2008), sobre o ponto de vista socioeconômico,

geográfico e pela escola de origem, os mais privilegiados tendem a conquistar as vagas

mais concorridas, o que também não garante que esses alunos não irão evadir-se, haja

vista o número significativo de matriculados que não se titulam no prazo mínimo

proposto pela instituição, seja m por qualquer razão.

De acordo com dados do INEP, a velocidade de expansão do ensino superior no

Brasil e a preponderância das IES privadas no setor elevaram-se de 76,5%, em 1995

para 89,8% em 2005.

Considera-se que a comparação da evasão entre as IES públicas e privadas nos

anos de 2000 a 2005, nos permite perceber que as privadas detêm a maioria dos alunos

no ensino superior, sendo assim seu peso é maior e a média nacional está mais próxima

de seus índices. Nas IES públicas os índices de evasão oscilaram em torno dos 12%

com uma variação que vai de 9% a 15% entre os anos de 2000 a 2005, e nas privadas

essa oscilação chega a 26% e a taxa nacional é de 22%.

Segundo dados do Inep a região Norte no período de 2000 a 2005 como um todo

tem uma evasão média anual menor que a do país, esses dados comprovam que cada

estado teve sua evasão anual de forma distinta da que ocorreu no país no mesmo

período.

Cerca de 60% dos alunos matriculados na região Norte, em 2005, estavam em

instituições públicas, sendo assim é natural que a taxa de evasão destas sejam

consideradas maiores em relação ás privadas. Vala ressaltar que a taxa de evasão nas

instituições públicas foi bem menor que a nacional.

Segundo Lobo & Filho (2007), os estados da região Norte passaram, no período

de 2000 a 2005, por grande mudança quantitativa no ensino superior. Com a criação de

IES e de que cursos que oferecem um número razoável de vagas, no primeiro momento

houve um aumento no número de matrículas e de ingressantes afetados pela demanda

interna que apresentava-se reprimida, sem contar com o expressivo contingente de

estudantes oriundos de outros estados. Toda essa movimentação gerou uma evolução

que difere, com exceção do verificado no estado do Pará, do que se observou do país

como um todo.

3.1 Causas da evasão ás margens da literatura

A evasão no ensino superior pode ser relacionada à imensa diversidade do sistema e à

especificidade de cada unidade universitária. De acordo com Castro (1994), o

importante é estudar as razões e propor hipóteses que possam ser operacionalizadas em

busca de resolver as questões.

A evasão insere-se no processo educacional, que pode apresentar-se no intervalo

entre o início do processo, com a entrada do educando na Instituição, e o momento de

sua saída, traduzida em sua formatura, uma série de fatos ocorrem; muitos obstáculos

surgem dificultando variavelmente a trajetória do aluno, e acabam interferindo na

continuidade do processo, ocasionando o desligamento da instituição ou do curso - a

evasão do aluno do processo educacional.

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Segundo Viana (2007), o esclarecimento deste problema no âmbito educacional

pode estar no caráter social que ocorre no interior da instituição e/ou anterior a vida

acadêmica superior, assim como um afastamento involuntário, deste modo, o motivo

pode estar no indivíduo ou na instituição.

De acordo com Lobo & Filho (2007), de modo geral, as instituições públicas e

privadas, afirmam como principal razão da evasão, a falta de recursos financeiros para

que o estudante tenha condições de prosseguir nos estudos. Entretanto, essa afirmativa,

como considera o autor, é resultado de uma simplificação, observada nos estudos a

respeito da evasão, pois uma vez que as questões de ordem acadêmica, as expectativas

do aluno em relação a sua formação e sua integração com a instituição de ensino

constituem, na maioria das vezes, os principais fatores que acabam por desestimular o

estudante e priorizar o investimento de tempo ou financeiro para a conclusão do curso.

De acordo com a UNESCO (2004), a repetência e a evasão são fenômenos que

em muitos casos, estão interligados e ocasionam o abandono nos cursos.

Tigrinho (2008) apresenta alguns fatores que influenciam direta e indiretamente

nas causas da evasão:

1. Repetência: Muitos estudantes após a reprovação em uma ou mais disciplinas

estão mais vulneráveis a desestimularem-se e desistirem do curso.

Segundo Fregoneis (2002), citado por Tigrinho, por meio de uma pesquisa

quantitativa realizada com alunos ingressantes em um determinado curso, busca

conhecer os problemas inerentes à repetência e à evasão.

Em sua pesquisa concluiu que a reprovação nas disciplinas consideradas difíceis

influencia na questão do aluno permanecer ou não no curso, vale ressaltar que os

critérios de avaliação também contribuem para a desistência.

2. Orientação vocacional: Para o autor os estudantes precisam conhecer as

próprias habilidades, precisam considerar e avaliar as sugestões familiares e

reconhecer as implicações decorrentes da profissão escolhida, além do conhecer

o mercado de trabalho e, para isso, precisa de orientação vocacional.

Muitos estudantes por estarem desprovidos de significativas informações acerca

da profissão que pretende exercer e sobre o curso acabam por evadir, pois se

desapontam quando perceberem que o curso ou a profissão não alcançou ás suas

expectativas.

Segundo Gomes (1998), citado por Tigrinho, a falta de informação sobre o curso

leva muitos estudantes a evadirem, e em muitas IES a taxa de desistência ultrapassa os

50% dos matriculados nos cursos no processo seletivo.

A preocupação em informar o candidato, como retrata Andriola (2003), deve ser

considerada relevante no que diz respeito a previsão de problemas futuros que afeta não

somente o estudante, mas também a própria instituição na qual ingressou e a sociedade.

Os candidatos devem ser informados quanto ao tempo mínimo de duração do curso;

número de créditos a cursar e o programa do curso; áreas de atuação; possibilidades

profissionais e de mercado de trabalho; a possibilidade de prosseguir os estudos, a nível

de pós- graduação.

3. Mudança de curso: Segundo Andriola (2003), citado por Tigrinho, afirma que

as mudanças de curso nas IES são alarmantes, e aponta para os equívocos na

orientação profissional, como também representa o ônus para a sociedade, pela

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ocupação indevida das vagas tão escassas, sobretudo nas IES públicas e pelo

desperdício que elas acarretam.

A evasão em relação ao rendimento dos cursos nas IES é subestimada, já em

relação a visão que se tem do abandono total é superestimado.

De acordo com Paredes (1994), 64% dos estudantes que abandonaram algum

curso obtiveram uma titulação em outra instituição, sendo que o sistema permite a

mobilidade dos alunos entre as IES e aceita matrículas de baixo comprometimento,

sabendo que desta forma induzirão à permanência deste comportamento nos alunos.

Existe um significativo número de alunos que mudam de curso na mesma IES

ou cancelam a matrícula por terem sido aprovados em outra instituição, os prejuízos

decorrentes desta decisão são inúmeros, inclusive a perda de receitas, nas IES privadas.

4. Desprestígio da profissão: O autor afirma que alguns estudantes no momento

da inscrição para o vestibular, mesmo que não prestigiem um determinado curso

inscrevem-se, porém por conta disto muitos desistem com tempo. Segundo

Pimenta e Anatasiou (2002), citado por Tigrinho, discutem a situação de que a

universidade necessita de estar integrada, e inserida no universo do mercado de

trabalho, sem deixar de ministrar ao aluno um conhecimento técnico, científico e

contextualizado buscando a qualificação do estudante.

Algumas profissões valorizadas como direito, engenharia e medicina, geram

expectativas de altos salários e emprego garantido. Outros como licenciatura e

bacharelado, considerados no Brasil ainda desprestigiados socialmente em decorrência

dos baixos salários em comparação a outros como apresentado acima. Os estudantes que

se preparam para tais carreiras têm maiores probabilidades de optarem pela evasão.

5. Horário de Trabalho: Segundo Tigrinho (2008), alguns estudantes não

conseguem conciliar o horário escolar com o horário de trabalho, este tem

influenciado significativamente ao abandono do curso nas IES. Há um conflito

entre os compromissos de estudo com os compromissos exigidos no trabalho.

Este é dos fatores que mais contribuem para a evasão de estudantes, vale

ressaltar que têm uma forte ligação com as condições financeiras, bem como a

desestimulação com o curso e a influência dos problemas familiares, pois este

aluno é ciente de que os benefícios adquiridos pela academia serão concretizados

somente ao final do curso.

6. Desmotivação: De acordo com Maia (1984), o aluno evadido é aquele que não

efetivou a matrícula em dois semestres consecutivos. Entende que os principais

motivadores do ingresso na graduação são o desejo de estar inserido no ensino

superior, visando a ascensão profissional, com o intuito de melhorar de vida em

virtude de uma boa remuneração.

De acordo com o autor a desistência é resultado, em geral, da intenção do aluno

ingressar, a qualquer custo, no ensino superior mesmo que o curso escolhido não seja a

opção desejada, desta forma este candidato procura cursos menos concorridos. Em

consequência a isto os estudantes justificam que sua desistência se deu por conta da

falta de motivação e de problemas familiares. Afirma também que a evasão ocorre ao

longo do curso, mas no primeiro período apresenta-se com mais frequência.

Tigrinho (2008), afirma ao ingressar na educação superior o aluno é motivado á

pela expectativa de melhores condições de vida e realização profissional, apesar de

existirem outros fatores motivantes, este é o mais comum dentre os estudantes.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 45

Outro fator influenciador da evasão, apresentado por Tigrinho (2008), em uma

pesquisa realizada com alguns representantes de IES, está na deficiência da educação

básica, enfatizam que os baixos resultados obtidos pelos estudantes brasileiros nas

avaliações realizadas de nível nacional e internacional, como o SAEB, ENEM e o PISA,

repercutem no rendimento acadêmico, conduzindo muitos estudantes a desistirem dos

cursos me consequência das dificuldades encontradas.

Os problemas de natureza socioeconômica também têm grande influência na

desistência de estudantes, em geral as Instituições de ensino fazem reajustes nas

mensalidades elevando-as e em consequência a isto os acadêmicos são obrigados a

pagarem pelo valor estipulado por esta, mesmo com a ausência de condições

financeiras, por conta disto muito estudante afirmam que não podem permanecer nos

cursos em consequência da falta de financiamento.

É importante que as instituições de ensino superior – IES percebam que os

prejuízos representam um grande desperdício de recursos, já que esses passam a ser

empregados em uma estrutura ociosa. Assim, sem mecanismos capazes de assegurar

que os ingressantes no sistema somente se despeçam dele após concluir todas as etapas

previstas, os tão propagados esforços para aumentar o número de matrículas terão sido

em vão. E o sonho de melhorar a formação dos jovens brasileiros ficará ainda mais

distante.

Lobo & Filho (2007), afirmam que algumas IES brasileiras possuem um

programa institucional profissionalizado de combate à evasão, elaboram planos de

ações, acompanham os resultados e a coleta de experiências bem-sucedidas e que

existem dois conceito que necessitam ser compreendidos com relação a evasão: a

evasão anual e a evasão total.

A primeira mede a percentagem de alunos matriculados em sistema de ensino –

IES – ou em um curso, que não tendo se formado, também não se matriculou no

semestre seguinte ou no ano seguinte.

O segundo mede o número de alunos que ingressaram num determinado curso

ou IES e que não obtiveram o diploma ao final de certo número de anos. A evasão total

também é conhecida como complemento do índice de titulação. Entende-se que os dois

conceitos estão ligados, porém não diretamente, porque depende dos níveis de

reprovação e das taxas de evasão por ano que diferem ao longo do curso. Em geral a

taxa de evasão no primeiro ano do curso é duas a três vezes maiores que a dos anos

seguintes. (LOBO & FILHO, 2007)

Segundo a pesquisa realizada por Tigrinho (2008), algumas IES buscam a

solução na interdisciplinaridade com o intuito de tornar o curso mais atraente para que a

individualidade do aluno seja respeitada. Há preocupação de envolver os estudantes,

para que este se sinta parte integrante do processo ficando mais comprometido com a

instituição de ensino superior. As IES que agem desta forma partem do princípio de que

o estudante precocemente faz a escolha da profissão e as instituições devem lhe auxiliar

quanto a organização de seus estudos para que não desista futuramente do curso.

Há também IES que oferecem descontos para os acadêmicos que apresentam um

bom desempenho em determinado curso e ás vezes até bolsas de estudos para os que

evadem por conta da falta de condições financeiras. Outras procuram utilizar-se de

programas que visam a integração pró-ativa nas IES, na intenção de integrar o estudante

socialmente e academicamente em determinadas ações promovidas pela instituição.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 46

Porém muitos dirigentes de IES afirmaram como apresenta Tigrinho (2008) em

sua pesquisa, que nada fazem de forma sistematizada para intervir minimizando o

problema da evasão, pois justificam que não sentem necessidade de ações por causa dos

baixos índices de desistência. Afirmam que para manter os estudantes ofertam cursos

noturnos, grade aberta afim de que as matrículas se efetivem segundo as condições

destes, fazem alterações periódicas da grade curricular com a intenção de deixar que as

disciplinas mais difíceis fiquem para serem trabalhadas nos últimos semestres, pois

entendem que neste período os estudantes já estarão bem integrados na instituição de

ensino superior.

4. Materiais e Métodos

O desenvolvimento desta pesquisa se deu inicialmente a partir de um referencial teórico,

subsidiado por estudiosos e pesquisadores que hoje têm trabalhado com a temática

referente à evasão escolar.

É importante ressaltar que o acúmulo de um referencial teórico acerca da

temática estudada é de fundamental importância para subsidiar nosso entendimento

sobre as questões referentes à evasão escolar e seus desdobramentos no ensino superior,

assim como nos possibilitar condições de fazer uma análise contextualizada e crítica ao

confrontar os dados coletados na pesquisa de campo com as referências bibliográficas

adquiridas, estudadas e pesquisadas sobre o tema.

No segundo momento de nosso estudo, foi desenvolvida uma pesquisa de campo

juntos aos alunos evadidos do Curso de Pedagogia.

Como este estudo já se encontra finalizado, é importante ressaltar que foi

realizado um contato inicial com os sujeitos da pesquisa, objetivando fazer um

levantamento prévio das demandas da pesquisa.

Como instrumento de coleta de dados foi utilizado questionários com perguntas

abertas e fechadas, previamente formuladas e tendo como base o diagnóstico prévio no

intuito de responder as questões problemas apresentadas nesta pesquisa.

Ao final da pesquisa de campo e de posse dos resultados, foi apresentada uma

análise critico - reflexiva dos dados coletados, objetivando apresentar à comunidade

acadêmica da Instituição, objetivando subsidiá-lo nos resultados, dando condições para

que a referida instituição possa repensar seus mecanismos e repensar novas formas de

impedir que os alunos evadam-se e assim possam concluir seu ensino superior.

5. Resultados

De acordo com a pesquisa realizada com os sujeitos evadidos da Faculdade Ideal,

percebemos em nossa análise que a maioria dos entrevistados ao prestar vestibular, na

intenção de estar inserido na academia, efetuou a inscrição no curso de pedagogia como

segunda opção.

Dos sujeitos entrevistados, 75% destes afirmaram que não tinham como

prioridade a área da educação pela falta de aptidão, pois tinham a intenção de ingressar

em outro curso. Vale ressaltar que a alta concorrência do curso desejado por estes foi

um dos fatores que induziu os alunos a optarem por um menos concorrido.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 47

O restante dos entrevistados, 25%, afirmaram que tinham o curso como primeira

opção, devido a curso de pedagogia oferecer inúmeras possibilidades de atuação no

mercado, ou seja, permite atuar tanto na sala de aula, quanto na gestão escolar, em

empresas e até em hospitais. No que diz respeito á prioridade em optar pela área da

educação no processo seletivo, entendemos que a maior parte destes considera o curso

de pedagogia inferior á outros cujo há mais prestígio social, em consequência da

valorização econômica.

Dos alunos entrevistados um percentual de 50%, afirmou não ter uma

identificação com o curso, justificando que identificavam-se com outros no qual não

estavam cursando por causa da grande concorrência no processo seletivo. Sendo que

65% do total de entrevistados argumentavam que a metodologia trabalhada em sala de

aula era desmotivante.

Como citado acima, alguns estudantes que pretendem ingressar na educação

superior tendem a desistir da tentativa de prestar vestibular para um curso bem

concorrido. Estes preferem tentar por outros de menor concorrência, mesmo com pouca

ou sem nenhuma identificação na área da profissão a que pretende sem a devida

identificação, tão necessária para motivar o estudante a concluir o curso no qual

ingressou. Alguns alunos acreditam que ao optarem por um curso menos concorrido

terão maiores chances de ingressarem no ensino superior.

Alguns estudantes que pretendem ingressar no nível a educação superior tendem

a desistir da tentativa de ingressar em um curso bem concorrido. Estes preferem tentar

por outros de menor concorrência, mesmo com pouca ou sem nenhuma identificação na

área da profissão a que pretende sem a devida identificação, tão necessária para motivar

o estudante a concluir o curso no qual ingressou. Alguns alunos acreditam que ao

optarem por um curso menos concorrido terão maiores chances de ingressarem no

ensino superior.

O percentual de estudantes que evadiram e se identificaram no curso de

pedagogia é de 50%, segundo a análise realizada, isto se dá através da satisfação com a

metodologia utilizada pelos professores em sala. Onde 20% destes acrescentaram que

estavam satisfeitos com a grade curricular, pois está só reforçou a identificação que

tiveram com o curso no que se refere ao que trabalhariam durante os períodos letivos.

A razão pela qual os sujeitos da pesquisa evadiram nos aponta que um número

significativo de desistência por conta da falte identificação com o curso. Isto nos remete

a questão de que mais da metade do percentual total dos estudantes optaram por fazer

outro curso, de acordo com o que desejavam antes de realizarem as avaliações do

processo seletivo na faculdade.

Podemos considerar que a falta de identificação com o curso de pedagogia foi o

fator predominante na desistência dos estudantes. Em nossa análise percebemos o

quanto se faz necessário este aluno definir qual área realmente pretende atuar, para que

em consequência a isto, possa estudar um curso na faculdade sem ter que correr os

riscos de sair prejudicado na relação que se dá na vida acadêmica, sabendo que a

desistência do curso mesmo que ao início do curso causa grandes prejuízos tanto de

ordem econômica, quanto de ordem social e educacional.

Há também outros fatores apontados como grandes influenciadores na evasão no

ensino superior, que são: a falta de condições financeiras, problemas familiares e a

conciliação entre horário de trabalho e de estudo.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 48

Como a instituição onde realizamos esta pesquisa é de caráter privado logo se

tinha a concepção de que as desistências se davam por conta da falta de condições

financeiras dos sujeitos em poder pagar um curso na faculdade. Porém os resultados

desta pesquisa desmistificam a ideologia que trata a falta de verbas como fator causador

principal das evasões. Vale ressaltar que o fator principal entendido em nossa pesquisa é

a não identificação com o curso de pedagogia.

Com relação a situação econômica entendemos que a ação do governo em

promover uma ajuda de custo (desconto nas mensalidades que serão devolvidas ao caixa

do governo após o término do curso) aos alunos que ingressaram em IES privadas, e

que não fazem parte do ENEM, para alguns estudantes não é suficiente, pois a maioria

destes além de trabalhar ainda necessita cuidar da família e estudar.

De acordo com a pesquisa de campo realizada, percebemos o quanto a família

também influencia nesta decisão. Alguns problemas familiares ou por situações que

envolvem a família afetam consideravelmente no rendimento acadêmico dos educandos.

Ao se tratar de problemas familiares (familiares doentes, falta de apoio nos estudos,

desemprego etc) o educando sente-se pressionado a desistir na tentativa de minimizá-

los. Outras situações como casamentos não planejados e/ou nascimento de filhos,

dificultam a vida na academia, podendo até conduzir a evasão.

As dificuldades apresentadas pelos estudantes eram as seguintes: dificuldade de

realização de trabalhos em sala de aula ligados ao conteúdo das disciplinas; dificuldade

de adaptação no curso e falta de motivação nas disciplinas; dificuldade em conciliar

horário de trabalho, com horário de estudo e cuidados com a família.

A maior parte das dificuldades remete-se ao que e como é trabalhado o ensino na

sala de aula e na relação dos sujeitos inseridos neste espaço. Muitos professores não se

dão conta de que a maneira como trabalham o ensino influencia na falta de motivação

do educando, e se este não tiver o curso como primeira opção, não é regra, mas a

maioria acaba optando por desistir em função do desinteresse criado pelo curso a partir

do não atendimento das expectativas criadas em geral no início deste.

A dificuldade relacionada á conciliação do horário de trabalho, de estudo e em

alguns casos que exige tempo para cuidar da família conduz á evasão por conta de não

haver uma adequação no horário que atenda a seguinte rotina.

Concluímos que a não identificação do aluno com o curso foi o fator principal

que induziu muitos estudantes do curso de pedagogia a evadirem. Há de se considerar

que outros fatores contribuíram significativamente para esta problemática educacional,

que são: a dificuldade financeira, a dificuldade de conciliar o horário de estudo com o

horário trabalho, problemas familiares, mudança de curso, a dificuldade de trabalhar

segundo a metodologia apresentada na IES. Segundo os resultados desta pesquisa

entendemos o quanto se faz necessário perceber que a evasão tem causado grandes

prejuízos tanto para as IES, quanto para os próprios alunos que evadiram, afetando a

sociedade por conta da influência que abrange o social, o econômico e o educacional.

6. Conclusão

Com base em nosso estudo acerca da evasão escolar no ensino superior, podemos

concluir que foi de grande importância esta pesquisa, porque nos possibilitou investigar

e conhecer as principais causas que levam o aluno a evadir-se das faculdades.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 49

A evasão escolar tem sido hoje muito lida, estudada e discutida por vários

estudiosos, pois tem se configurado em uma grande experiência para que alguns

estudantes possam concluir seus estudos e inserir-se no mercado de trabalho.

A partir das leituras, da pesquisa de campo e das análises dos dados coletados

podemos ressaltar que vários motivos levam os alunos à evadirem-se do ensino

superior, o que configura-se em um grande complicador para a formação profissional

destes alunos e para a própria instituição de ensino superior no qual estavam inseridos

antes de evadirem.

A realidade social do nosso país pode ser um definidor deste quadro de evasão;

pois muito alunos acabam por desistir dos seus cursos para desenvolverem outras

atividades urgentes em detrimento de sua formação profissional.

Em nossa pesquisa percebemos o quanto a falta de identificação com o curso

tem influenciado estudantes a desistirem, e que os problemas financeiros, bem com os

familiares contribuem significativamente para a intensificação da evasão no ensino

superior.

Consideramos assim, preocupante a situação de alunos que se esforçam bastante

para conseguir o acesso ao ensino superior e no decorrer deste processo acabam por

desistir.

Muitas ações precisam ser desenvolvidas no sentido de tentar superar esta

situação, que vai desde as questões sociais e econômicas da sociedade até uma

significativa mudança no interior das Instituições de Ensino Superior para tentar manter

este aluno em seus cursos de graduação e assim, qualificar um profissional para atuar no

mercado de trabalho de forma competente e comprometida.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 50

7. Referências

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E. M.T et AL. 500 anos de Educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica,

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Mestrado. Defendida em 1996. UFPBA.

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7. TIGRINHO, Luiz Maurício de. V. Evasão Escolar nas Instituições de Ensino

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2008. Site: htp://www.gestaouniversitaria.com.br, acessado no dia 22 de Junho

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8. PAREDES, Alberto Sanches. A evasão do terceiro grau em Curitiba. 23p.

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10. TRINDADE, Hélgio (org.). Universidade em ruínas na república dos

professores. Petrópolis: Vozes, 2000.

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12. MOURA, Dante Henrique & SILVA, Meyrelândia dos Santos. A evasão no

curso de licenciatura em geografia oferecido pelo

13. Cefet-rn. Artigo Científico, Revista Holos, Ano 23, Vol. 03. 2007.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 51

ANÁLISE GEOESPACIAL APLICADO A TOMADA DE DECISÃO PARA A

LOCALIZAÇÃO E REGULAMENTAÇÃO DE POSTOS REVENDEDORES DE

COMBUSTIVEIS NO MUNICIPIO DE BELÉM/PA.

Maiara Nascimento dos Santos¹

1Faculdade Ideal –(FACI)

[email protected]

Resumo: As expansões desordenadas de centros urbanos no Brasil são responsáveis

por inúmeros problemas que envolvem questões ambientais e influenciam na qualidade

de vida dos habitantes destes espaços. Na intenção de auxiliar a tomada de decisão no

que tange a implantação, fiscalização e obediência à legislação de postos revendedores

de combustíveis, o estudo visa investigar através das ferramentas do geoprocessamento

os possíveis conflitos gerados a partir da localização de postos revendedores em

relação às escolas, os hospitais e aos demais equipamentos urbanos no município de

Belém/PA. No intuito de contribuir para a construção da ausente legislação municipal

que determine a distância mínima deste tipo de operação sem que haja prejuízo físico e

ambiental para o universo coletivo da capital paraense.

Palavras-Chave: Posto Revendedor de Combustível, Geoprocessamento, Análise

Espacial.

Abstract: Disordered growth of urban centers in Brazil are responsible for many

problems that involve environmental issues and influence the quality of life of the

inhabitants of these spaces. Intended to aid in decision making regarding the

implementation, supervision and compliance with legislation resellers gas stations, the

study aims to investigate through geoprocessing tools possible conflicts generated from

the location of gas stations in relation to schools, hospitals and other urban facilities in

the city of Belém / PA. In order to contribute to building the missing municipal

legislation determining the minimum distance of this type of operation without any

physical and environmental damage to the collective universe of the state capital.

Keywords: Gas Fuel Dealer, GIS, Spatial Analysis.

1. Introdução

Mozart Schimitt de Queiroz comenta que ao iniciar um novo milênio, sobre o modelo

de desenvolvimento que impulsionou o crescimento industrial das sociedades

capitalistas no século XX, criou-se uma indústria poluidora e de alto risco. Tem razão

os que caracterizam o petróleo de “ouro negro”; Conseqüentemente viabilizaram as

duas das indústrias mundiais mais rentáveis do século XX: a indústria do petróleo e a

indústria automobilística. Com o avanço da indústria do petróleo, consequentemente o

número dos postos de combustíveis cresceu desordenadamente, sem nenhum tipo de

controle, com isso os impactos gerados por esses empreendimentos cresceu

assustadoramente.

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O período pelo qual o intendente Antônio Lemos promoveu uma transformação

em Belém, conforme o urbanismo francês de Haussmann sendo importante destacar, as

vastas redes de grandes vias, o qual contribuiu para o desenvolvimento da cidade.

Segundo Pinto (2004), Lemos rompeu o limite das intervenções que somente

alteravam o centro da cidade, ao colocar em prática um ambicioso plano de

modernização de Belém, nos primórdios da República, projetando-a integralmente

dentro do amplo espaço da 1ª Légua Patrimonial, criando novas áreas e definindo um

desenho para a cidade que permanece atual os dias de hoje.

O ambicioso plano de modernização de Belém era financiado com os recursos

propiciados das exportações da borracha amazônica, e assim iniciou-se paralelamente

uma política ativa, em matéria de serviços públicos como o sistema viário, rede de

esgoto, distribuição de água e gás, mercados cobertos, feiras, estações, hospitais,

espaços verdes, entre outros equipamentos urbanos.

Levando em consideração que inúmeros postos revendedores de combustíveis

encontram-se próximos a centros de serviços de inúmeras variedades. Visando

contribuir com a mitigação dos problemas ambientais resultantes do incremento da área

urbana nesse município, esta pesquisa visa adquirir e analisar dados relacionados à

localização de PRC’s, escolas, hospitais e outros equipamentos urbanos, gerando um

modelo automatizado, mapeando as áreas onde abrigam postos de combustíveis e os

possíveis conflitos gerados pelos mesmos quando defrontados com a legislação

ambiental vigente, associado às técnicas de geoprocessamento, o que possibilitará a

verificação da correlação espacial entre esses fatores, gerando mais uma ferramenta para

auxiliar a tomada de decisão no gerenciamento territorial urbano.

A implantação desordenada de PRC’s são causadores de muitos danos ao meio

ambiente e devem ter um maior controle e um monitoramento no sentido de minimizá-

los. Para tal, com o avanço das tecnologias, e em particular das técnicas de

geoprocessamento, é possível se obter respostas satisfatórias do comportamento

espacial dos postos, zoneando áreas de risco, áreas ilegais e áreas propicias a

implantação de postos de combustíveis.

A relevância da pesquisa se acirra na medida em que com os resultados em mãos

será possível direcionar as ações que visem evitar e/ou diminuir, fatores de risco como:

armazenamento em tanques de combustíveis e depósitos; emissão de gases,

provenientes dos veículos, dos suspiros dos tanques e manuseio das bombas com

liberação de odor; emissão de ruídos, efluentes líquidos da troca de óleo, e

abastecimento que originam resíduos de óleos, aditivos, filtros, pneus, borrachas e

demais derivados. Pois estes fatores são possivelmente potencializados a medida que se

configuram agrupados.

Então, um instrumento norteador de ações como o mapa de distância dos postos

de combustíveis no município de Belém é instrumento de suma importância a contribuir

com o esfumaçamento desta problemática.

2. Fundamentação Teórica

Segundo Rodrigues (1993) “Geoprocessamento é um conjunto de tecnologias de coleta,

tratamento, manipulação e apresentação de informações espaciais voltados para um

objetivo específico”, é utilizando estas técnicas que se obtêm os indicadores que

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 53

norteiam todas as inferências estatísticas e espaciais presente nos resultados de

pesquisas que envolvam esta tecnologia.

Para Oliveira et al (2008), Vivemos no período do descartável, tudo vem sendo

relativizado, a cultura do descartável faz parte ou se acentuará com maior

prejudicabilidade em nossas épocas. A revolução industrial possibilitou uma rapidez na

construção e fabricação de grandes máquinas, e um carro ou qualquer outro veículo de

condução é feito com uma rapidez absurda, com isso podemos falar de um “problema

demográfico de veículos”, ou seja, uma super quantidade de veículos motorizados

circulando a todo tempo em nossas cidades e nossos campos, em todo lugar. Com isso,

aumenta-se a necessidade de combustível, portanto de postos de combustíveis e assim

aumenta-se o problema da poluição.

Para Sato (2003), a educação ambiental é um processo de reconhecimento e

valores e classificação de conceitos, objetivando o desenvolvimento da habilidade e

modificando as atitudes em relação ao meio, para entender e apreciar as inter-relações

entre os seres humanos, suas culturas e seus meios, biofísicos, e também está

relacionada com a prática das tomadas de decisões.

As instalações dos postos de combustíveis, conjuntamente com seus sistemas de

armazenagem de derivados de petróleo e álcool hidratado configuram-se como

empreendimentos potencialmente ou parcialmente poluidores e geradores de acidentes

ambientais (MARQUES, et al, 2006).

Pasqualeto e Maia (2006) executaram estudos realizados em postos de

abastecimento de combustíveis do Centro de Goiânia (GO) identificando a

potencialidade na geração de passivo ambiental, da aplicação do método multicriterial

de análise hierárquica de processo (AHP) e com a utilização, para obtenção dos pesos, a

lei de Weber-Fechner de estímulos e respostas. E como produto final, a confecção do

mapa de risco do setor Central da cidade.

Macedo (2010) executou um estudo na intenção de auxiliar a tomada de decisão

e investigar através das ferramentas do geoprocessamento, os possíveis conflitos

gerados a partir da localização de postos revendedores de combustível em relação às

escolas, os hospitais, e aos demais equipamentos urbanos no bairro do Marco, cidade de

Belém/PA. Foi verificada determinada irregularidades da localização dos postos

revendedores de combustíveis em relação aos equipamentos urbanos. Ressalta-se que a

determinada metodologia pode ser utilizada desde que adaptada para outras atividades

que possuem potencial poluidor.

Na mesma linha de pesquisa dos trabalhos explicitados aqui, este estudo avança

quando se propõe a executar o estudo na porção continental da cidade de Belém,

incentivado pelo atual processo de expansão urbana que ocorre na capital paraense

explicitamente observada na porção do território cortado pelo eixo das rodovias

Augusto Montenegro e Mário Covas.

3. Material e Métodos

Coletaram-se dados de campo na parte continental do Município de Belém. Utilizou-se

como ferramentas para a pesquisa imagens do sensor Thematic Mapper a bordo do

Satélite Landsat. Aplicou-se como Base a Malha cartográfica urbana em escala 1:10.000

disponibilizada pelo Núcleo de Cartografia e Georreferenciamento do Instituto de

Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará. Foi utilizado aparelho de

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 54

localização por satélite para verificar a localização exata dos postos, além da utilização

do software ArcGis 9.3, licenciado pelo Curso de Gestão ambiental da Faculdade Ideal.

A partir da coleta dos dados primários e secundários e geração de buffer’s,

foram realizadas a construção de um modelo automatizado a partir do ModelBuilder,

para geração das informações relacionadas a tomada de decisão. Segundo a ESRI

(2006), modelos são como você vai automatizar seu trabalho, preservando um conjunto

de tarefas, ou um fluxo de trabalho, que você pode executar várias vezes, havendo um

número infinito de workflows (fluxos de trabalhos) para que possa ser automatizado

utilizando modelos.

Assim será utilizada a função de criação de buffer (área de influência) do

ArcGIS 9.3 sendo adotado um de raio que variam de 100m em 100m até chegar a 500m

para cada PRC em relação aos equipamentos urbanos.

O modelo construído foi embasado na Legislação pertinente ao assunto,

objetivando posteriores análises e consequentemente a tomada de decisão. O modelo

gerado em síntese agrupa dados de localização de PRC, drenagem, logradouros,

equipamentos urbanos e edificações; gera buffer’s para os planos de informações dos

PRC e drenagem; uso da ferramenta clip para selecionar os logradouros, equipamentos

urbanos e edificações na área de interesse e por fim uma interseção das localizações dos

PRC com as APP, gerando ao final os arquivos ESRI shape file das possíveis

irregularidades de localização. Posterior à geração das informações, foi realizada a

análise espacial da distribuição dos postos revendedores de combustíveis pautada na

Resolução CONAMA 237/00.

4. Resultados e Discussão

A pesquisa realizada na cidade de Belém apresentou a média de 102 postos

revendedores de combustíveis. Com a especialização pôde-se verificar a distribuição

entre os bairros. Com a geração do mapa de irregularidades na localização de PRC a

partir do ModelBuilder, ficou evidenciado que 40% dos Postos existentes possuem

algum tipo de irregularidade perante a Resolução CONAMA, 237/00.

Almejando afunilar a pesquisa, foi construído buffer’s de 25, 50 e 75 metros,

além do buffer de 100 metros referente à Resolução CONAMA, 273/00. Não foi

encontrado nenhum equipamento urbano dentro do buffer de 25 metros. Dentro do raio

de 50 metros, foi detectada a presença de uma escola. No buffer construído de 75

metros, equipamentos urbanos como estabelecimentos de saúde e praça destinadas ao

lazer foram identificados inseridos na área de influência dos Postos Revendedores de

Combustíveis. Na área compreendida pelo buffer de 100 metros, foi identificado um

total de quatro escolas, além da presença de um Órgão Público, o Instituto de Terras do

Pará. Uma análise temporal em relação à instalação dos PRC e a verificação da atual

condição de licenciamento ambiental podem surgir como análise complementar ao

estudo.

5. Conclusão

Através da pesquisa, pode-se verificar que há conflitos de localização entre

determinados equipamentos urbanos e PRC, de acordo com a legislação examinada. Os

conflitos foram possíveis localizar, devido a utilização de ferramentas de

geoprocessamento através do software ArcGIS 9.3, onde além da espacialização dos

dados primários e secundários e as análises espaciais, foi possível construir um modelo

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 55

automatizado com o intuito de auxiliar a tomada de decisão. A partir das análises,

verificou-se que determinadas áreas, possuem restrição quanto à instalação de novas

atividades revendedoras de combustíveis. Constata-se que os métodos de

geoprocessamento utilizados neste trabalho, podem ser aplicados a outras atividades

potencialmente ou parcialmente poluidoras geradoras de acidentes ambientais, desde

que seja ajustado de acordo com os objetivos desejados.

6 - Referências Bibliográficas

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CONAMA n° 237, de 19 de Dezembro de 1997. Regulamenta os aspectos de

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10. Disponível em: www.ufpa.br/beiradorio/arquivo/beira18/noticias/noticia4.html.

Acesso em 25 mar. 2009.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 56

ANÁLISE DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS CONSUMIDORES

E GERÊNCIA DOS SUPERMERCADOS SOBRE O USO DAS

SACOLAS PLÁSTICAS NA CIDADE DE BELÉM DO PARÁ

Breno Maurício Pantoja da Silva¹; Maria Elisa de Castro Almeida¹

1Curso de Direito – Faculdade Ideal (FACI)

[email protected]; [email protected]

Abstract: The plastic grocery bags have caused several negative environmental impacts

when disposed improperly. Most of these turns garbage bags or wrap are used for

garbage, not to often end up in sewers and water courses causing death by suffocation

of animals. Aiming to analyze the perceptions of customers of supermarkets and

responsible about the problems caused by the use of plastic bags in the city of

Bethlehem and to propose a discussion of these alternatives. There was a field research

with consumers and responsible view / managers of supermarkets by 4 (four) major

networks of Bethlehem It was observed that most respondents are aware of the

problems caused by plastic bags and are ready to replace the plastic bags in spite of

being accustomed to the practical use of them.

Key-Words: plastic bags. supermarkets. environmental pollution. environmental

awareness.

Resumo: As sacolas plásticas de supermercado têm causado vários impactos

ambientais negativos ao serem descartadas inadequadamente. A maioria destas sacolas

vira lixo ou são utilizadas para acondicionar lixo, sem contar que muitas vezes vão

parar nos esgotos e cursos d´água causando a morte de animais por asfixia.

Objetivando analisar a percepção dos clientes e responsáveis de supermercados a

respeito dos problemas causados pelo uso das sacolas plásticas na cidade de Belém e

propor uma discussão acerca das alternativas destas. Fez-se uma pesquisa de campo

opinião com consumidores e responsáveis/gerentes pelos supermercados das 4 (quatro)

principais redes de Belém. Constatou-se que maior parte dos entrevistados tem

consciência dos problemas causados pelas sacolas plásticas e estão dispostos a

substituírem as sacolas plásticas, apesar de estarem acostumadas com a praticidade de

uso destas.

Palavras-Chave: sacolas plásticas. Supermercados, poluição ambiental, consciência

ambiental.

1- Introdução

A produção de plásticos tem crescido no mundo, devido às suas propriedades,

versatilidades de uso e preço. São produzidas e consumidas, em escala global,

anualmente, mais de 100 milhões de toneladas e cerca 19 kg per capita, em média. Os

plásticos sintéticos são polímeros (macromoléculas) muito resistentes à degradação

natural, gerando graves problemas ambientais quando descartados no meio ambiente,

como a acumulação de resíduos sólidos em aterros e lixões municipais. Além disso, são

produzidos a partir de matéria prima obtida de fontes fósseis não renováveis, como o

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 57

petróleo, o que ocasiona durante o processo de manufatura, a emissão de gases tóxicos.

(Franchetti et al., 2006)

No Brasil, são produzidas 210 mil toneladas anuais de sacolas plásticas, o que já

representa 9,7% de todo o lixo do país. Abandonados em aterros, esses sacos plásticos

impedem a passagem da água retardando a decomposição dos materiais biodegradáveis

e dificultando a compactação dos detritos (AGENDA AMBIENTAL, 2006 apud

FABRO et al 2007).

As sacolas plásticas de supermercados, que foram introduzidas no cenário

mundial na década de 70 e que são muito utilizadas no cotidiano para transportar

pequenas quantidades de mercadorias, fazem parte da categoria PET (polietileno

tereftalado), um plástico resistente a baixas temperaturas, leve, impermeável, rígido e

com resistência química; produzido a partir de matérias-primas como petróleo, gás

natural, carvão mineral e vegetal (SARDELLA, 2000).

Especialistas em marketing e varejo têm utilizado as sacolas plásticas como

ingrediente para oferecer conveniência ao cliente, por permitir conduzir o produto

comprado, além de servir como veículo de comunicação ao estampar o nome da

instituição que a utiliza, ou seja, elas constituem uma forma barata de publicidade

através da sua decoração com os símbolos das marcas. Pesquisadores afirmam que

aproximadamente de 500 bilhões a 1 trilhão de unidades circula mundialmente. Isso

equivale a 1 milhão de sacolas descartadas por minuto, ou quase 1,5 bilhão por dia

(BARROS, 2008).

Diante de dados tão alarmantes, em todo o mundo está em curso um movimento

para diminuir ou mesmo erradicar o uso de sacolas plásticas. Na Alemanha e na Irlanda

é preciso pagar para usar sacolas plásticas disponibilizadas nos estabelecimentos,

iniciativa que deu resultado, atualmente, a maior parte dos habitantes usa cestas,

mochilas ou sacolas não descartáveis para carregar suas compras. A cidade de São

Francisco, na Califórnia, aprovou uma lei que proíbe grandes supermercados de

distribuir sacos plásticos derivados de petróleo (MELONI et al.,2007).

Um desenvolvimento sustentável em nível local e mundial pode se dar, quando

há viabilidade política e idéias que estimulem o processo de crescimento econômico,

visando oferecer à população uma vida de melhor qualidade, buscando conciliação com

a natureza. A fim de evitar que os recursos naturais se tornem escassos para a

humanidade no futuro ou entraves para o desenvolvimento econômico, Bezerra &

Santos (2007).

A utilização de embalagens biodegradáveis será então estimulada pelo nível de

conscientização da população sobre a importância ambiental do produto. É a partir da

percepção deste público externo as organizações empresariais que ocorrem a indignação

ereação para que as empresas assumam um papel de responsabilidade social ( FREITAS

et al.,2007).

De acordo com Goodall, autor do livro How to live a low carbon life (editora

Earthscan), é necessária uma campanha que valorize o senso de obrigação moral das

pessoas para que sua preocupação implique em ações, já que estas tendem a ser adiadas

por pessimismos frente ao futuro, ignorância, apego excessivo ao conforto e negação da

responsabilidade. (Fioravanti, 2007).

O presente trabalho teve por objetivo avaliar se os consumidores e os

proprietários ou gerentes de supermercados da cidade de Belém têm consciência do

problema ambiental que consistem as sacolas plásticas e se optariam por meios

alternativos como uso de embalagem biodegradável e sua possível aceitação como

alternativa aos plásticos convencionais em prol às questões ambientais.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 58

[NOME DA

CATEGORIA];

[VALOR]; [PORCE…

[NOME DA

CATEGORIA];

[VALOR]; [PORCE…

2 - Material e métodos

O levantamento do perfil do problema da utilização de sacolas plásticas foi feito

utilizando-se de uma pesquisa de campo opinião com 1180 (mil cento e oitenta)

consumidores e 10 (dez) responsáveis/gerentes pelos supermercados de 4 (quatro) redes

referências na região metropolitana de Belém.

Em cada bairro foram escolhidos dois maiores supermercados de referência

local. Os bairros escolhidos foram: Batista Campos; Marco; Castanheira; Pedreira e

Marambaia. A pesquisa foi realizada no período de 10 meses (agosto de 2008 a junho

de 2009), tendo como base a escolha aleatória dos consumidores. Pretendeu-se com esta

pesquisa entender melhor como a população encara a utilização sacolas plásticas em

supermercados, e também da sua disposição para possíveis alternativas a esse costume.

Para a realização da pesquisa de campo, foi elaborado um questionário,

abordando os temas: importância da sacola plástica, disposição para um método

alternativo de embalagem, as ações dos supermercados frete a esse problema e a

aceitação de uma intervenção estatal neste assunto, entre outros. O questionário foi

elaborado e aplicado no sentido de não viciar os resultados da pesquisa e de não levar o

entrevistado a uma resposta tendenciosa.

Juntamente com a abordagem dos temas citados fez-se a identificação do perfil

do entrevistado, facilitando assim a tabulação dos dados e as correlações entre os

resultados. A abordagem inicial foi feita sem o apelo ambiental, para que o entrevistado

responda de acordo com o seu cotidiano e não através da resposta “politicamente

correta”. A questão ambiental foi introduzida em seguida para analisar a consciência

ambiental dos entrevistados e o engajamento da mesma no assunto abordado. Para

finalizar, foi observada a visão quanto à participação do estado em políticas públicas

ambientais. Tomou-se o cuidado para que este procedimento fosse adotado em cada

entrevista garantindo resultados reprodutíveis e não viciados.

3 - Resultados e discussão

3.1 - Posicionamentos dos clientes de supermercados

Fonte: Dados da pesquisa GRÁFICO 1. Porcentagem de consumidores que já viram ou não anúncios nos supermercados

sobre os problemas causados pelas sacolas plásticas.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 59

A maioria dos entrevistados 72%, afirmaram, durante a entrevista, que nunca viram

nenhuma informação anexada em paredes ou afins, dos problemas causados pelas

sacolas no meio ambiente. Acredita-se que informações relativas aos produtos – pistas –

disponíveis devem, a princípio, gerar respostas (atitudes e comportamento) dos

consumidores.

Fonte: Dados da pesquisa

GRÁFICO 2. Porcentagem de consumidores que dariam preferência aos supermercados que

demonstram preocupação com questões ambientais, por escolaridade.

Dos entrevistados se destacam as respostas das pessoas que possuem ou estão

cursando o ensino fundamental. 85% dariam prioridade a supermercados que

demonstrassem preocupação com as questões ambientais. Este é um fator importante

para a mudança de comportamento de uma sociedade, já que a base da educação é o

ensino básico. Além disso, o gráfico mostra que uma grande parte dos consumidores de

escolaridade de ensino médio e superior não considera a questão ambiental como um

fator decisivo na escolha de supermercados.

Fonte: Dados da pesquisa

GRÁFICO 3. Porcentagem de consumidores que acreditam fazer diferença na escolha ou não,

de supermercados que utilizarem as sacolas ecologicamente corretas, por escolaridade.

O gráfico 3 justifica as respostas “não” obtidas no gráfico 2. Dos entrevistados,

o que se percebe é a descrença da maioria dos entrevistados de nível superior e médio

em relação ao uso de sacolas ecológicas pelos supermercados. Acredita-se que estes por

possuírem uma educação avançada levaram em conta, em suas percepções, o sistema de

relação entre empresa e consumidor, desconsiderando parcialmente as questões

econômicas. Somam 85% os que acreditam que são apenas negócios das empresas e por

isso, não se sentem induzidos escolherem o supermercado para suas compras.

20%

45%

5%

30%

23%

29%

6%

42%

24%

20%

13%

43%

0% 1000% 2000% 3000% 4000% 5000%

Faz diferença ao escolher osupermercado

Não, pois o preço dos produtos é oque vale

Não, pois tenho supermercado depreferência

Não, pois são apenas negócios parachamar mais clientes

SuperiorMédioFundamental

85%

15%

42% 44%

14% 39%

42%

19%

Sim Não Talvez

FundamentalMedio

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 60

6000%

3100%

900%

4200%

2700%

1300% 1100%

3900%

5000%

0%

1000%

2000%

3000%

4000%

5000%

6000%

7000%

Máx. 2 Reais Máx. 5 Reais Máx. 10 Reais

Fundametal

Médio

Superior

Em contrapartida, 45% dos entrevistados com ensino fundamental levam em

conta os preços tabelados pelos supermercados, por isso as questões com o uso de

sacolas ecológicas não faz nenhuma diferença.

No contexto geral, percebe-se que apesar do crescente reconhecimento da

importância dos problemas relativos ao padrão de consumo por alguns autores

específicos da sociedade, ainda não houve, por parte do consumidor, uma compreensão

plena das implicações de seus atos de consumo e poder de mudança de atitudes.

Fonte: Dados da pesquisa

GRÁFICO 4. Porcentagem de consumidores que comprariam ou não sacolas ecológicas

vendidas nos supermercados, por escolaridade.

Neste gráfico fica perceptível a ação dos entrevistados de acordo com a

escolaridade. A ascendência dos que comprariam as sacolas ecológicas de acordo com a

evolução escolar. E, por conseguinte o decréscimo do poder de compra do ensino

superior ao fundamental.

Fonte: Dados da pesquisa

GRÁFICO 5. Porcentagem de valores que o consumidor está disposto a pagar pelas sacolas

ecológicas, por escolaridade.

De acordo com a pesquisa dos 60% dos entrevistados estariam dispostas a

pagar no máximo 2 reais pelas sacolas ecológicas, este resultado esta condicionado á

pessoas que possuem/ cursam o ensino fundamental. O perfil muda ao decorrer da

escolaridade do entrevistado, como no caso dos entrevistados com ensino superior 50%

800%

1100%

2100%

1000% 900% 700%

1700%

1000%

700%

0%

500%

1000%

1500%

2000%

2500%

Fundamental Médio Superior

Compraria

Não compraria

Dependeria do valor

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 61

Série1; Sim; 30;

24%

Série1; Não; 64;

52%

Série1; Talvez; 29; 24%

dariam no máximo 10 reais. Essa mudança ocorre pelo aumento do poder aquisitivo dos

mesmos. Vale ressaltar que os valores não foram estipulados no questionário. Os

valores expostos no gráfico foram as médias dos valores estipulados pelos próprios

entrevistados.

Fonte: Dados da pesquisa GRÁFICO 6. Porcentagem de consumidores com disposição para adotar alternativas para o

transporte das compras, por sexo.

Apesar de ser a minoria dos entrevistados que buscam alternativas simples e

eficazes à utilização das sacolas plásticas. Este fato é satisfatório pela mudança de

atitude de algumas minorias em especial as do sexo feminino que somam 45% de

mudanças efetivas de comportamento. Rabelo (2008) afirma que as mulheres

representam 50% da população economicamente ativa e são reconhecidas como

consumidoras importantes. Pois 70% das compras em supermercados e de

eletrodomésticos são feitas por elas. Isso implica em uma mudança mais rápida do perfil

dos consumidores.

Fonte: Dados da pesquisa

GRÁFICO 7. Porcentagem de entrevistados favoráveis ou não a intervenção do estado.

Quanto à participação estatal no processo de substituição das sacolas plásticas, através

de criação de leis proibindo o fornecimento de sacolas plásticas pelos supermercados.

Observa-se que existe uma tendência à aceitação dessa lei, por parte dos consumidores.

2%

12%

7%

79%

10%

6%

25%

2%

55%

2%

0 50 100

Levo uma sacola própria de casa…

Utilizo sacolas de pano/outros

Pequenas compras, coloco em…

Uso sacolas plásticas para fazer…

Não faço nada para diminuir o uso…

Feminino

Masculino

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 62

Sim, esta em

execução; 1%

Não, sem previsão;

98%

Sim, em breve

estará em execução;

1%

Sim; 77%

Não há interesse

; 13%

Não, já possui;

10%

52% afirmam não ficarem contra o estado caso este proíba a distribuição das sacolas. Os

demais consumidores que são contra (24%) ou indecisos (24%) pode-se dizer que é um

reflexo da não-conscientização dos problemas acarretados pelo uso do plástico

3.2 - Posicionamentos das gerências dos supermercados

Fonte: Dados da pesquisa

GRÁFICO 8. Porcentagem de supermercados que possuem projetos de conscientização aos

consumidores sobre as sacolas plásticas implantados nos supermercados.

Este é o perfil das 4 (quatro) maiores redes de supermercados de grande

influência em Belém do Pará. Apesar de saberem que práticas como, uso de sacolas

ecológicas proporcionarem um diferencial estratégico, que proporcionara vantagem

competitiva. 98% dos supermercados belenenses ainda implantaram esta ação. Além

disso, a não ação, passa ao consumidor a dúvida se o estabelecimento demonstra alguma

preocupação com o meio ambiente e não apenas ao lucro.

Fonte: dados da pesquisa GRÁFICO 9. Porcentagem de supermercados que têm interesse em criar projeto de

conscientização aos consumidores sobre as sacolas plásticas.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 63

Ficaria contra;

0%

Prefiro não

opinar; 10%

Ficaria neutro;

10%

Sim e faria

campanha a favor;

80%

Série1; Sim; 10;

10%

Série1; Não;

90; 90%

Dos entrevistados 77% afirmaram ter interesse em criar tal projeto. Este

resultado está condicionado a repercussão que um supermercado pioneiro na

implantação das sacolas ecológicas, causou na opinião pública. Vale ressaltar que os

novos tempos se caracterizam por rígida postura dos clientes voltada à expectativa de

interagir com as organizações que sejam éticas, com boa imagem institucional no

mercado e que atuem de forma ecologicamente responsável. (CORDEIRO, 2005).

Fonte: Dados da pesquisa GRÁFICO 10. Porcentagem de supermercados que realizam qualificação/ instrução de seus

funcionários quanto à proteção ambiental.

Os dados mostram que não há comprometimento em 90% dos supermercados

com a qualificação dos funcionários quando a proteção ambiental. Lopes (2008), afirma

que as empresas têm responsabilidades tanto na criação de riqueza, como na proteção do

meio ambiente, pelo que devem adotar práticas de gestão ambiental que lhes permitam

um conhecimento claro dos impactos provocados, assim como a disponibilização de

meios técnicos, humanos e financeiros, que garantam a sua minimização e controle. Por

isso, os supermercados em Belém, encontram-se numa situação preocupante na ótica da

gestão ambiental.

Fonte: Dados da pesquisa GRÁFICO 11. Porcentagem de supermercados que concordam com uma intervenção

governamental no uso do plástico.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 64

Dos entrevistados 80% dos responsáveis pelos supermercados não serão contra a

uma eventual política pública de proibição da distribuição das sacolas plásticas nos

empreendimentos. Isto facilita o envolvimento de diversos setores empresariais na

definição das estratégias de negócios da empresa gerando compromisso mútuo com as

metas estabelecidas pelas políticas públicas, viabilizadas pro um diálogo entre empresa-

governo.

4 – Conclusão

Através dos resultados obtidos, pode-se concluir que maior parte dos consumidores e

das gerencias dos supermercados, têm consciência dos problemas causados pelas

sacolas plásticas e, desses, a maioria estaria disposta a adotar medidas alternativas,

apesar de estarem acostumadas com a praticidade de uso e descarte das sacolas plásticas

e de não conhecerem muitas alternativas, esperando que lhes sejam apresentadas, ou

mesmo impostas pelo governo, como seria o caso da lei.

A pesquisa revelou também que o perfil socioeconômico é um fator

determinante no nível de consciência ambiental e disposição para adoção de medidas

alternativas ao uso e descarte das sacolas plásticas, por parte dos consumidores. A

escolaridade apresentou-se como o fator que mais influenciou nos resultados.

As empresas são responsáveis diretas pelos danos causados ao meio ambiente

através do consumo das sacolas plásticas, já que disponibilizam uma grande quantidade

desse material ao consumidor. Portanto deve assumir sua responsabilidade e preocupar-

se com os prejuízos causados por esse consumo desenfreado. Além disso, elas devem

buscar desenvolver projetos e investimentos visando a compensação ambiental pelo uso

de recursos naturais e pelo impacto causado por suas atividades, aprimorando os

processos utilizados e desenvolvendo novos negócios voltados para a sustentabilidade

ambiental de sua inserção no mercado.

Segundo a Funverde (2007) a utilização de uma sacola de tecido evita

anualmente o consumo de 500 sacolas plásticas. Além disso, vale lembrar que a

propaganda feita numa sacola de tecido tem tempo de vida maior e continuaria

funcionando como o mesmo mecanismo de marketing da sacola plástica, mas com um

diferencial: não prejudica a natureza e ainda promove a imagem da organização

Por fim, a conscientização ambiental é base para uma atuação pró-ativa na defesa do

meio ambiente, que deve ser acompanhada pela disseminação dos conhecimentos e

intenções de proteção e prevenção ambiental para toda a sociedade.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 65

5- Referências

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<http://ich.ufpel.edu.br/economia/professoroes/xavier/tecnologia_limpa_e_desenv_s

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l.pdf >. Acesso em: 22 de jul. de 2007.

3. CORDEIRO, M. P; OLIVEIRA, J. S. Economia para administradores. São Paulo:

Saraiva, 2005.

4. FABRO, Adriano Todorovic. et. al. 2007. Utilização de Sacolas Plásticas em

Supermercados. Revista Ciências do Ambiente On-Line Fevereiro, Volume 3,

Número 1 .Disponível em: < www.sistemas.ib.unicamp.br>. Acesso em 02 dez. 2008.

5. FRANCHETTI et al. 2006. Polímeros Biodegradáveis – Uma Solução Parcial para

Diminuir a Quantidade dos Resíduos Plásticos In Quím. Nova, v.29, nº4, pp. 811-

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6. FREITAS, C. S.; RODRIGUES, M. F.; ASCHERI. D. P. R.; Estudo de consciência

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7. FUNDAÇÃO VERDE. Sacola retornável. 14 jan 2007. Disponível em:

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2009; 20:37:54.

8. FIORAVANTI, C.; 2007. Revista Pesquisa FAPESP, agosto.

9. LOPES, J. J. Ações de responsabilidade social: a redução do consumo de sacolas

plásticas de polietileno – Rev. e-F@Nzine, Monte Alto, ano 1, n. 2, out./dez. 2008.

10. MELONI, C. C.; MEYER, G. C. LOPEZ, V. M.R.; CANO, V.; Relatório Final:

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Universidade de São Paulo –USP.

11. RABELO, A. O Poder Das Mulheres <http://www.artigonal.com/marketing-artigos/o-

poder-das-mulheres-672472.html>. Acesso em 10 de jan 2009

12. SARDELLA, Antônio. Química. 4 ed. São Paulo: Ática, 2000, 406 p.

13. BARROS, A.; Poluição branca! O maldito saquinho plástico!. Disponível em: <

http://altamontanha.com/colunas.asp?NewsID=767> Acesso em: 01 de jan de 2009.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 66

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR OMISSÃO

CIVIL RESPONSIBILITY OF THE STATE FOR OMISSION

Laira Vasconcelos dos Santos¹; Luly Rodrigues da Cunha Fischer¹

1Curso de Direito – Faculdade Ideal (FACI)

[email protected]; [email protected]

Resumo: Objetiva identificar as correntes doutrinárias sobre responsabilidade civil do

Estado nos casos de condutas omissivas. Por meio da revisão bibliográfica e utilizando

o método dialético identificaram-se duas correntes doutrinárias: a administrativista

preconiza que a responsabilidade do Estado decorrente de ato ilícito, na modalidade da

teoria da culpa do serviço público é subjetiva. E a civilista segundo a qual a

responsabilidade objetiva incidirá nos casos de omissão específica e a

responsabilidade subjetiva nos casos de omissão genérica.

Palavras-chave: Responsabilidade civil. Estado. Omissão.

Abstract: It aims to identify the doctrinal trends about civil responsibility of the State in

cases of omissive conducts. By means of bibliographic review, using the dialectical

method, two doctrinal trends were identified: the administrative professes that the State

responsibility arisen from unlawful act is subjective in the modality of the theory of fault

in public service. And the civil, according to it the objective responsibility will focus on

specific omission cases and the subjective responsibility in generic omission cases.

Keywords: Civil responsibility. State. Omission.

1- Introdução

A discussão sobre a responsabilidade civil do Estado por condutas omissivas ainda é um

ponto controvertido na doutrina brasileira. Essa falta de consenso entre os doutrinadores

decorre dentre outros motivos pela ausência de solução normativa específica para essas

situações, além da posição peculiar do Estado, quando se trata de responsabilidade civil.

Neste sentido, Mello (2012) afirma que a responsabilidade do Estado é regida por

princípios próprios, compatíveis com a sua posição jurídica e, portanto mais extensa em

relação às pessoas privadas. Posição esta que Braga Netto (2012) chama de uma zona

cinza em que as influências recíprocas são muito fortes entre o direito público e o

direito privado.

E entender de forma contrária nos levaria a uma análise limitada ante a

complexidade deste objeto, considerado extremamente dinâmico e plural no que

concerne as suas questões teóricas. É justamente esta complexidade e peculiaridade do

objeto que nos instigou a realização desta revisão bibliográfica, através do método

dialético e que tem por objetivo a identificação e discussão sobre as correntes

doutrinárias referentes às teorias que delimitam a responsabilidade civil do Estado nos

casos de condutas omissivas.

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 67

Este estudo encontra-se subdividido em cinco itens, primeiramente define-se Estado, em

seguida apresenta-se a discussão sobre responsabilidade civil do Estado, na sequência a

evolução histórica da responsabilidade civil do Estado e a responsabilidade civil do

Estado no direito brasileiro e posteriormente são apresentadas as teorias sobre a

responsabilidade civil do Estado por omissão, para a corrente civilista e para a corrente

administrativista e por fim a conclusão.

2- Definição de estado

Inicialmente devemos entender a natureza jurídica do principal sujeito desta análise, a

saber, o Estado. Bonavides (2012) apresenta-nos que o Estado vale como algo que

exprime uma vontade geral (volanté générale), a qual é representativa dos interesses da

sociedade. Desta forma, o Estado pode ser entendido como “corporação de um povo,

assentada num determinado território e dotada de um poder originário de mando.”

(BONAVIDES, 2012, p. 71)

Neste mesmo sentido, Dallari (2013) também conceitua o Estado, porém

acrescenta o elemento finalístico da existência deste, que seria a busca do bem comum

do povo. Este bem comum que, segundo o mesmo autor, corresponde ao conjunto de

todas as condições de vida social que consistam e favoreçam o desenvolvimento integral

da personalidade humana.

Desta forma, entendemos que ao Estado foram atribuídos deveres, no que

concerne ao tratamento de interesses coletivos. Com efeito, em nosso ordenamento

jurídico apenas pessoas, podem ser titulares de direitos e obrigações. Diniz (2010)

esclarece que à pessoa vincula-se a ideia de personalidade jurídica. Uma vez que a

pessoa, é o ente físico ou coletivo sujeito de direitos e obrigações, desta forma a

personalidade jurídica exprime uma aptidão genérica para adquirir direitos e contrair

obrigações, podendo ser referente a pessoa natural (ser humano) ou pessoa jurídica

(agrupamentos humanos).

Assim, podemos inferir que a norma jurídica confere a esses agrupamentos

humanos, formados para que os homens possam atingir seus fins e objetivos, a

personalidade e capacidade jurídica, tornando-os sujeitos de direitos e obrigações. Ou

seja, personalizando-os para que participem da vida jurídica com individualidade e em

nome próprio, assim segundo Diniz (2010) entende-se a pessoa jurídica como unidade

de pessoas naturais ou de patrimônio que visa a consecução de certos fins, e que é

reconhecida pela ordem jurídica como sujeito de direitos e obrigações. Segundo Cahali

(2012) este é o entendimento dos defensores da teoria da realidade das instituições

jurídicas, considerada a que melhor atende à essência da pessoa jurídica.

Dallari (2013) afirma que a origem da concepção do Estado como pessoa

jurídica pode ser atribuída aos contratualistas através da ideia de coletividade ou povo

como unidade, dotada de interesses diversos dos de cada um de seus componentes, bem

como de uma vontade própria, também diversa da vontade de seus membros

isoladamente considerados.

Importante ressaltarmos este imbricamento entre a vontade do Estado, enquanto

pessoa jurídica e das pessoas físicas que o compõem, uma vez que a existência da

vontade do Estado decorre, segundo Dallari (2013) e Cahali (2012), do entendimento de

que este é formado por órgãos os quais são constituídos por pessoas físicas, que quando

agem como órgãos do Estado, externam uma vontade que só pode ser imputada a este e

que não se confunde com as vontades individuais.

Necessário esclarecer que segundo Mello (2012) o aparelho estatal exercendo as

suas atividades administrativas é composto pela própria pessoa do Estado, que atua por

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 68

meio de suas unidades interiores (órgãos) que compõem a administração direta e por

outras pessoas jurídicas criadas para auxiliá-lo (autarquias, as empresas públicas, as

sociedades de economia mista e as fundações governamentais) que se referem à

administração indireta, existem ainda os particulares que podem exercer atividade

pública devidamente habilitados pelo Estado (concessionários, permissionários) ou

colaborando com o Estado no desempenho de atividades administrativas não

privativamente públicas.

Infere-se que o Estado é composto por diferentes sujeitos tanto de direito

público, quanto de direito privado, se considerarmos o regime jurídico que os regem.

Desta maneira, a Constituição Federal de 1988 no artigo 37 §6º estabeleceu que tanto as

pessoas jurídicas de direito público quanto às de direito privado respondem pelos danos

causados a terceiros por seus agentes. Desta forma, ao longo da exposição desta

pesquisa, iremos nos referir ao Estado e este deve ser entendido de maneira ampliada,

ou seja, abrangendo tanto as pessoas jurídicas de direito público quanto as de direito

privado componentes tanto da administração pública direta quanto indireta.

E este posicionamento decorre da construção doutrinária a respeito da vontade

estatal, que é pressuposto da capacidade jurídica do Estado e necessária para o

tratamento jurídico dos interesses coletivos, tornando-o sujeito de direitos e obrigações.

Desta forma, existe a possibilidade de que os cidadãos, que venham a ser prejudicadas

por condutas do Estado, possam fazer valer contra ele as suas pretensões jurídicas.

3- Responsabilidades civil do estado

Conforme discorremos acima, a doutrina entende, e nós estamos em consonância com

este posicionamento de que, o Estado é pessoa jurídica, portanto dotado de direitos e

deveres, logo, passível de demandar e ser demandado judicialmente, ou seja, havendo a

ocorrência de danos lesivos à esfera juridicamente garantida de outrem e que lhe sejam

imputáveis em decorrência de comportamentos unilaterais, lícitos ou ilícitos, comissivos

ou omissivos, materiais ou jurídicos surge à obrigação de repará-los economicamente

(MELLO, 2012).

Desta forma, infere-se que para a ocorrência da responsabilidade civil são

necessários os pressupostos: conduta (comportamento voluntário que se exterioriza

através de uma ação ou omissão e que gera consequências jurídicas), o nexo causal

(vínculo de causa e efeito entre a conduta e o resultado) e o dano efetivo (lesão ao bem

jurídico patrimonial ou moral).

Havendo, portanto, a concorrência destes elementos, consequentemente haverá o

dever de ressarcir por parte de quem causou o dano a outrem. Mello (2012); Di Pietro

(2013) e Gasparini (2012) também esclarecem que são fundamentos para a

responsabilidade do Estado os comportamentos ilícitos ou lícitos, comissivos ou

omissivos, jurídicos ou materiais, o dever de reparar o dano é contra partida do

princípio da legalidade. Porém, no caso de comportamentos ilícitos comissivos o dever

de reparar já é imposto, também pelo princípio da igualdade.

Segundo Di Pietro (2013), no caso de comportamento lícito a responsabilidade

fundamenta-se na garantia da equânime repartição dos ônus provenientes de atos ou

efeitos lesivos, evitando que alguns suportem prejuízos ocorridos por ocasião ou por

causa de atividades desempenhadas no interesse de todos. Seu fundamento é o princípio

da igualdade, noção básica do Estado de Direito.

Os danos causados pelo Estado resultam de comportamentos produzidos a título

de desempenhar funções no interesse de toda a sociedade, não sendo equânime,

Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 69

portanto, que apenas alguns arquem com os prejuízos suscitados por ocasião de

atividades exercidas em proveito de todos.

Braga Netto (2012) apresenta alguns princípios aplicáveis a responsabilidade

civil do Estado, a saber: Princípio da vulnerabilidade do cidadão em relação ao Estado,

Princípio da informação, segundo o qual o Estado tem o dever de bem informar o

cidadão com lealdade e transparência, a informação deve ser completa e gratuita, com

exceção dos casos que necessitam de sigilo, Princípio da segurança do qual se

depreende que o Estado tem o dever constitucional de prestar segurança aos cidadãos e

o princípio do veniere contra factum que preceitua que o Estado não pode adotar uma

postura contraditória frente ao cidadão.

Di Pietro (2013) esclarece que a responsabilidade é civil do Estado, portanto de

ordem pecuniária e extracontratual, ficando excluída a responsabilidade contratual que é

regida por princípios próprios e não se enquadra no previsto no artigo 37 §6º da

Constituição Federal de 1988. Neste mesmo sentido, Gasparini (2012) afirma que o

termo civil, não é referente à regulamentação por meio das normas de direito privado,

estabelecidas no código civil, como já mencionamos acima, estas podem vir a incidir

quando se trata de responsabilidade do Estado, no entanto, o termo civil refere-se a

satisfação da reparação patrimonial em decorrência dos danos causados a terceiros.

4- Evolução histórica da responsabilidade civil do estado

Braga Netto (2012 p. 64) entende que “a referência histórica, na verdade, não tem tanta

importância assim, não para a interpretação e aplicação da responsabilidade estatal de

hoje”. Porém, discordamos desse entendimento, uma vez que consideramos a forte

influência da história na construção jurídica. Desta forma, entender o estágio atual da

teoria sobre a responsabilidade do Estado perpassa pela necessidade de compreender de

que forma o assunto foi tratado ao longo dos anos em nosso ordenamento jurídico.

Motivo pelo qual nos detemos a este resgate histórico.

É consenso entre os doutrinadores de que o desenvolvimento da

responsabilidade do Estado proveio do direito francês e através da construção pretoriana

do Conselho de Estado. Constatou-se a existência das seguintes fases:

irresponsabilidade do Estado: vigorou durante o absolutismo, em regra a ação era

cabível contra o funcionário, mas não contra o Estado; concepção civilista ou da

responsabilidade do Estado: responsabilidade era fundada na culpa do funcionário e

teve por marco relevante o aresto Blanco (1873). Admitia-se a responsabilidade civil,

quando da prática de atos de gestão; responsabilidade subjetiva do Estado que segundo

Mello (2012) a obrigação de indenizar que incumbe a alguém em razão de um

procedimento contrário ao direito – culposo ou doloso – consiste em causar dano a

outrem ou deixar de impedi-lo quando obrigado a isto.

Na sequência evoluiu-se da culpa individual para a culpa impessoal,

representativa nas seguintes fases: segundo a teoria do órgão o Estado age através de

seus órgãos ou agentes, que são considerados uma unidade, a atividade do funcionário é

atividade da própria pessoa jurídica e o dano causado imputável a esta; a culpa anônima

ou princípio publicista ou culpa administrativa ou teoria do acidente administrativo em

que a responsabilidade é fundada na faute de service, fala-se em culpa do serviço ou da

falta do serviço, que ocorre quando o serviço não funciona ou funciona mal ou funciona

atrasado; a responsabilidade objetiva quando o Estado responde por que causou dano ao

seu administrado, simplesmente por que há relação de causalidade entre a atividade

administrativa e o dano sofrido pelo particular; teoria do risco administrativo em que o

Estado é responsável pelo risco criado pela sua atividade administrativa, o que tem que

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se verificar é a relação de causalidade entre a ação administrativa e o dano sofrido pelo

administrado, independente de culpa, dispensa a prova da culpa da administração,

permite ao Estado afastar a sua responsabilidade nos casos de exclusão do nexo causal

podendo alegar fato exclusivo da vítima, caso fortuito, força maior e fato exclusivo de

terceiro.

Infere-se, portanto, que teorias podem ter obedecido a essa cronologia, segundo

doutrinadores como Mello (2012); Braga Netto (2012); Cavalieri Filho (2012), Di

Pietro (2013). No entanto, apenas a da irresponsabilidade não mais subsiste em nosso

ordenamento jurídico em nenhuma possibilidade. Ressalta-se também que com a

evolução das teorias houve uma redução na preocupação com relação à culpa, a vítima

assumiu um papel de destaque e o propagado fundamento da solidariedade social

também passa a fazer sentido.

A análise da evolução da responsabilidade civil do Estado no direito brasileiro

apresenta algumas controvérsias entres os doutrinadores. Segundo Mello (2012), Braga

Netto (2012), Cavalieri Filho (2012), Di Pietro (2013) no Brasil nunca prevaleceu a tese

da irresponsabilidade, mesmo não havendo dispositivo específico. No entanto,

Gasparini (2012) apresenta-nos a evolução da responsabilidade civil no Brasil que pode

ser dividida em três períodos históricos (colonial, imperial e republicano), sendo que no

período colonial vigoravam em nosso território as leis portuguesas, e estas aceitavam os

postulados da teoria da irresponsabilidade patrimonial do Estado, a única que era

compatível com o governo monárquico português da época. Sendo assim, para o

referido doutrinador, nesse período em nosso país vigorou a tese da irresponsabilidade.

Segundo Mello (2012) antes da promulgação do Código Civil de 1916 já havia a

previsão de responsabilidade do Estado, Gasparini (2012) denomina esse período de

imperial, em que não havia qualquer disposição geral nesta fase, mas apenas leis e

decretos específicos, como a Lei federal 221 de 20.11.1894 que se referia à competência

do Judiciário para julgamento das questões oriundas de compensações, reivindicações,

indenizações proposta pela União contra particulares e vice-versa. Além de outros

dispositivos como o Decreto 1.930 de 1857, relativo aos danos causados por estradas de

ferro, o decreto 4.053 de 1891, relativo à indenização por prejuízos decorrentes da

colocação de linhas telegráficas e outras.

No segundo momento prevaleceu a tese da culpa civil, em que o Estado

respondia quando o funcionário seu, atuando no exercício da função, procedia de modo

culposo (negligência, imprudência ou imperícia). O terceiro momento é o da falta do

serviço, com base na responsabilidade subjetiva (MELLO, 2012).

No entendimento destes doutrinadores o quarto momento é o da

responsabilidade objetiva, o qual estamos vivenciando, e que possui regulamentação

expressa no artigo 37§6º da Constituição Federal de 1988 e no artigo 43 do Código

Civil de 2002. Segundo a legislação vigente, tanto as pessoas jurídicas de direito

público quanto as de direito privado prestadoras de serviço público responderão pelos

danos que seus agentes causarem a terceiros, sendo assegurado o direito de regresso nos

casos de culpa ou dolo. Conforme Mello (2012) e Meirelles (2013), para que haja a

caracterização da responsabilidade, a conduta tem que derivar de um agente público, ou

que esteja nessa qualidade. Desta forma, entendem que foi mantida a teoria da

responsabilidade civil objetiva, sob a modalidade de risco administrativo.

A responsabilidade objetiva vigente em nosso ordenamento jurídico,

preconizada no artigo 37 §6º da Constituição Federal de 1988, não estabelece distinção

entre o regime jurídico a que se submetem os sujeitos que fazem parte da organização

estatal, sejam pessoas jurídicas de direito público ou privado, prestadoras de serviço

público haverá a responsabilidade pelos danos que seus agentes causarem. O Código

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Civil de 2002, em seu artigo 43, reproduz a mesma orientação do texto constitucional,

apesar de omitir as pessoas jurídicas de direito privado.

Ressalta-se também que para que haja a responsabilidade do Estado é necessário

que o comportamento derive de um agente público, ou seja, alguém apto para

comportamentos imputáveis ao Estado. Mello (2012) ainda esclarece que a condição de

agente não se descaracteriza pelo fato de este haver agido impulsionado por sentimentos

pessoais ou, por qualquer modo, estranhos à finalidade do serviço, bastando que tenha

podido produzir o dano por desfrutar de posição jurídica que lhe resulte da qualidade de

agente atuando em relação com o serviço público, bem ou mal desempenhado.

No artigo em análise também há referência ao retorno do Estado contra o agente

causador do dano, desde que presentes os seguintes requisitos: a condenação de

indenização a terceiro por ato lesivo do agente e que o agente responsável tenha agido

com dolo ou culpa. Ou seja, a fim de que os administrados possam desfrutar de proteção

mais completa, ante comportamentos danosos ocorridos no transcurso da atividade

pública, pois se instaurou o princípio da responsabilidade do Estado e não mais do

funcionário como era antigamente, mas destaca-se a possibilidade do funcionário vir a

ter que arcar com o ônus decorrente dos danos causados.

Segundo Mello (2012) e Gasparini (2012) o quinto momento é para o qual

estamos caminhando da chamada teoria do risco social, que seria o extremo da

responsabilidade do Estado, segundo a qual o Estado responde ainda que os danos não

lhe sejam imputáveis, que aparentemente é muito próxima da teoria do risco integral.

5- Responsabilidade civil do estado por omissão

Antes de apresentar as correntes doutrinárias que identificamos em nosso ordenamento

jurídico sobre a responsabilidade civil do Estado por conduta omissiva, considera-se

relevante distinguir em linhas gerais, as espécies de responsabilidade objetiva e

subjetiva.

Segundo a lição de Cavalieri Filho (2012) a responsabilidade civil subjetiva

possui como pressuposto a culpa, destaca-se que se trata de culpa em sentido amplo e

abrange, portanto, a culpa em sentido estrito (negligência, imprudência ou imperícia)

assim como o dolo. Por esta concepção a vítima tem que provar a culpa do agente para

que ela possa ter o dano reparado.

Em sentido oposto temos a responsabilidade objetiva que é baseada na teoria do

risco administrativo, que não depende do elemento subjetivo culpa, bastando para a sua

configuração o nexo causal entre a conduta e o dano efetivo.

Feito este breve esclarecimento passemos a análise dos resultados, por meio da

revisão bibliográfica identificou-se duas correntes doutrinárias com entendimentos

diversos sobre qual a responsabilidade imputável ao Estado nos casos de omissão, as

quais serão denominadas respectivamente de corrente civilista e corrente

administrativista. Deve-se destacar que a opção por esta nomenclatura está relacionada à

prevalência de doutrinadores que se dedicam ao estudo do direito civil ou do direito

administrativo.

Como se pode notar foram identificadas duas correntes doutrinárias que

divergem sobre qual espécie de responsabilidade incidiria nos casos de condutas

omissiva do Estado, seria a responsabilidade objetiva, a subjetiva ou ambas. Passaremos

a analisar cada uma delas.

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5.1- Corrente civilista: responsabilidade civil do estado objetiva e subjetiva

conforme o tipo de omissão

Segundo os defensores desta corrente dentre eles, Cavalieri Filho (2012), Cahali (2012),

Braga Netto (2012), o artigo 37, §6º da Constituição Federal engloba a conduta

comissiva e omissiva. Esta corrente considera que ato ilícito não mais se apresenta

como elemento subjetivo, vinculado a ideia de culpa, prevista no artigo 186 do Código

Civil de 2002. Há o ato ilícito em sentido lato, que é a contrariedade entre a conduta e o

dever jurídico imposto pela norma, que fundamenta a responsabilidade objetiva e não

tem referência ao elemento subjetivo. O Estado pratica ato ilícito não só por omissão

(quando deixa de fazer o que tinha que fazer), mas por comissão (faz o que não devia

fazer).

Dessa forma, Cavalieri (2012) e Gonçalves (2013) apresentam que nem toda

omissão será considerada subjetiva e será passível de responsabilização. Segundo Braga

Netto (2012) deve ser uma omissão qualificada, ou mais de uma omissão juridicamente

relevante. Por isso se distingue omissão genérica de omissão específica. A omissão

específica será configurada nas situações em que o Estado está na condição de garante

ou guardião e por sua omissão cria uma situação para a ocorrência do dano. A omissão

específica pressupõe um dever especial de agir do Estado, que se não faz o que deveria,

a omissão é causa direta e imediata de não impedir o resultado. Assim, a omissão

específica que faz emergir a responsabilidade objetiva do Estado.

Já a omissão genérica ocorre quando não se pode exigir do Estado uma atuação

específica. Quando a administração tem apenas o dever legal de agir em razão do seu

poder de polícia ou fiscalização e por sua omissão concorre para o resultado, deve

prevalecer a responsabilidade subjetiva, com base na teoria da culpa anônima pela falta

do serviço, pois a inação do Estado, embora não se apresente como causa direta e

imediata do dano, entretanto concorre para ele, razão pela qual deve o lesado provar que

a falta do serviço concorreu para o dano e que a ação positiva do Estado poderia tê-lo

evitado. Segundo Braga Netto (2012) o Estado não é o segurador universal, não pode

responder por todos os danos.

Portanto, infere-se que para esta corrente, a responsabilidade subjetiva ainda está

presente em nosso ordenamento jurídico, apesar de haver uma prevalência da

responsabilidade objetiva. No caso do Estado estar obrigado a agir, haverá omissão

específica e a responsabilidade será objetiva, será suficiente para a responsabilização do

Estado a demonstração de que o dano decorreu da sua omissão. Já a responsabilidade

subjetiva, nos casos de omissão genérica, será configurada quando decorrer de fato de

terceiro e fenômenos da natureza, determinando-se a responsabilidade da administração

pública com base na culpa anônima ou falta do serviço.

Braga Netto (2012) apresenta-nos um posicionamento diverso dos demais

doutrinadores. Ele chama-nos a atenção de que se deve discutir o nexo causal e não a

culpa, e exemplifica que nos casos de enchente, na omissão estatal a responsabilidade

independe do elemento culpa, basta o nexo causal, pois há situações em que o Estado

pode provar que não houve culpa, mas o nexo causal persistirá. Dessa forma, entende-se

que o nexo causal é a questão mais relevante em qualquer análise da responsabilidade

civil, talvez se possa dizer que nos casos de danos ligados a omissões, ele é ainda mais

importante. O problema da omissão é que além dela, concorrem outros fatores para a

ocorrência do dano, que paralelo a omissão é causa direta e imediata para a ocorrência

do dano. Na omissão fica claro que o nexo causal é um vínculo lógico-normativo.

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5.2- Corrente administrativista: responsabilidade civil subjetiva do estado por

conduta omissiva

Os representantes desta corrente, dentre eles Mello (2012), Di Pietro (2013), Meirelles

(2013) entendem que é subjetiva a responsabilidade da administração pública sempre

que o dano decorre de omissão do Estado, pois ele não agiu, não sendo, portanto

causador do dano, pelo que só estaria obrigado a indenizar os prejuízos resultantes dos

eventos que teria o dever de impedir. Responsabilidade do Estado por ato omissivo é

sempre responsabilidade por ato ilícito e, portanto, subjetiva, decorrente de negligência,

imprudência ou imperícia ou deliberado propósito de violar a norma que o constituía em

dada obrigação (dolo).

Mello (2012) esclarece que culpa e dolo são justamente as modalidades de

responsabilidade subjetiva, assim é necessário que o Estado haja incorrido em ilicitude,

por não ter impedido o dano ou por haver sido insuficiente neste mister, em razão de

comportamento inferior ao padrão legal exigível.

Esta corrente não estabelece diferença entre a omissão genérica e a específica,

mas esclarece que o Estado não será responsabilizado se agiu de forma compatível com

as possibilidades do serviço normalmente organizado e eficiente, não lhe foi possível

impedir o evento danoso gerado por força alheia. Esta corrente, assim como a que se

refere à omissão genérica, entende que o Estado não é um segurador universal, assim

não configura a responsabilidade do Estado um assalto ou agressão em via pública.

A responsabilidade por comportamento omissivo não se transmuta em

responsabilidade objetiva nos casos de culpa presumida, pois se o poder público provar

que não houve omissão culposa ou dolosa descaberá responsabilizá-lo, diferente do que

ocorre na responsabilidade objetiva em que não importa se teve ou não culpa,

responderá do mesmo modo.

Mello (2012) afirma que nos casos de falta do serviço deve ser admitida a

presunção juris tantum de culpa do poder público, senão o administrado ficaria

desprotegido e teria dificuldade em demostrar que o serviço não funcionou como

deveria, razoável que, nestas hipóteses, ocorra a inversão do ônus da prova.

Di Pietro (2013) exemplifica acontecimentos que acarretam responsabilidade

estatal por omissão ou atuação ineficiente: fato da natureza, comportamento material de

terceiro, cuja atuação lesiva não foi impedida pelo poder público, embora pudesse e

devesse fazê-lo. Ressalta que os casos de força maior (acontecimento natural e

irresistível) exime o Estado de responder, diferentemente o caso fortuito não exime a

responsabilidade.

Segundo a referida autora para a caracterização da responsabilidade decorrente

de omissão tem que haver o dever de agir e a possibilidade de agir por parte do Estado

para evitar o dano, ou seja, aplica-se o princípio da reserva do possível com base no que

seria razoável exigir do Estado para evitar o dano. Assim, a culpa está embutida na ideia

de omissão, não há como falar em responsabilidade objetiva em caso de inércia do

agente público que tinha o dever de agir e não agiu sem que para isso houvesse uma

razão aceitável.

Para configurar a responsabilidade do Estado por omissão deve estar

configurada a omissão antijurídica: quando é razoável esperar que o Estado atue em

determinado sentido para evitar o dano às pessoas ou bens particulares, o Estado tem

que descumprir uma obrigação legal expressa ou implícita, assim a omissão tem que ser

ilícita para acarretar a responsabilidade do Estado.

Nestes casos, haverá a presunção de culpa do poder público, o lesado não tem

que provar que existiu culpa ou dolo, mas o Estado tem que demonstrar que agiu acima

do razoável, para que não configure o dever de indenizar.

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6- Conclusão

Em síntese foram identificadas as correntes civilistas e administrativista, a primeira

mais ampla, pois diferencia os tipos de omissão, sendo a omissão genérica a

responsabilidade será subjetiva em decorrência da falta do serviço, sendo a omissão

específica a responsabilidade será objetiva, mas a omissão tem que ser causa direta e

imediata do dano.

Diversamente, a corrente administrativista considera que a responsabilidade do

Estado será sempre subjetiva nos casos de omissão, decorrente de ato ilícito

(negligência, imprudência ou imperícia), incidindo sempre a teoria da culpa anônima ou

falta do serviço.

Entende-se que a corrente mais adequada às especificidades da realidade é a

corrente civilista, a qual nos filiamos, considera-se que conforme o caso concreto é

necessário averiguar a obrigação devida, a ser exigível do ente público. Pois, a omissão

será um pressuposto causal do dano sofrido pelo particular, de modo que da omissão da

obrigação devida se possa deduzir nexo de causalidade entre aquela omissão e o evento

danoso.

Deve-se ponderar também que ao estabelecer a responsabilidade subjetiva,

existe a necessidade de comprovação do elemento culpa, o que pode vir a ser oneroso

para o particular que sofreu o dano, entende-se também que o Estado em algumas

situações deve sim responder de forma objetiva ainda que por omissão, pois como

afirmamos acima é pessoa jurídica, que possui uma peculiaridade relacionada ao seu

elemento finalístico, que é a busca do bem comum, por esse motivo não é admissível

que ao se imputar a responsabilidade ao Estado esta fique condicionada a comprovação

de culpa.

Considera-se relevante também que com a diferenciação dos tipos de omissão,

tem-se a possibilidade de tornar a análise de cada caso concreto mais específico, de

modo que se adotássemos a corrente administrativista sempre haveria a incidência da

teoria da falta do serviço, o que provavelmente nem sempre nos levaria a alcançar uma

decisão justa.

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7- Referências

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