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A Revista Facientífica, com periodicidade semestral, dedica-se a publicar resultados de pesquisas, reflexões sobre experiências de professores, pesquisadores e alunos como missão de ser um meio de difusão do “estado da arte” nas mais diversas áreas de ensino e educação. Além de um veículo de divulgação de práticas pedagógicas inovadoras adequadas à nossa cultura.
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E X P E D I E N T E
Diretor Geral: Prof° João Messias dos Santos Filho
Diretor Geral da Mantenedora: Prof° Manoel Leite Carneiro
Vice Diretor: Prof° Antônio Carlos Trindade de Moraes
Diretora Acadêmica: Profª Patrícia Martins de Lima Ferreira
Coordenador de Pesquisa Profº Dr. João Luiz Cardoso Sampaio Jr
Coordenador de Editoração: Prof° Wanderson Alexandre da Silva Quinto
Conselho Editorial: Prof° Wanderson Alexandre da Silva Quinto
Profº Msc Dayan Rios Pereira
Profº Dr. João Luiz Cardoso Sampaio Jr
Revisor: Prof° Antônio Carlos Trindade de Moraes
Ano 8, n.1 Janeiro/Junho de 2014. ISSN: 1981-5948 Sociedade Educacional Ideal - SEI (Mantenedora) Faculdade Ideal – FACI Rua dos Mundurucus, 1412 CEP: 66035-360 www.faculdadeideal.com.br/site e-mail: [email protected]
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 3
S U M Á R I O
PREFÁCIO
Prof. Pablo Queiroz Bahia................................................................................................ 4
MODERNIDADE E ORDEM SOCIAL NO BRASIL.
Jorge Alberto Ramos Sarmento....................................................................................... 6
ACESSO DIGITAL PARA PESSOAS IDOSAS: UM MODELO DE ESTUDO NO
WEBSITE DO INSTITUTO DE GESTÃO PREVIDENCIÁRIA DO ESTADO DO
PARÁ – IGEPREV.
Raffael de Oliveira Grande
Rossiclea Ferreira do Nascimento
Átila Siqueira Soares...................................................................................................... 20
A EVASÃO NO ENSINO SUPERIOR: UM ESTUDO NO CURSO DE
PEDAGOGIA DA FACULDADE IDEAL – FACI.
Gleaecy Leal Pacheco
Maria do Socorro Castro Hage....................................................................................... 35
ANÁLISE GEOESPACIAL APLICADO A TOMADA DE DECISÃO PARA A
LOCALIZAÇÃO E REGULAMENTAÇÃO DE POSTOS REVENDEDORES DE
COMBUSTIVEIS NO MUNICIPIO DE BELÉM/PA.
Maiara Nascimento dos Santos....................................................................................... 51
ANÁLISE DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS CONSUMIDORES E
GERÊNCIA DOS SUPERMERCADOS SOBRE O USO DAS SACOLAS
PLÁSTICAS NA CIDADE DE BELÉM DO PARÁ.
Breno Maurício Pantoja da Silva
Maria Elisa de Castro Almeida....................................................................................... 56
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR OMISSÃO.
Laira Vasconcelos dos Santos
Luly Rodrigues da Cunha Fischer.................................................................................. 66
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 4
P R E F Á C I O
A Revista Facientífica, com periodicidade semestral, dedica-se a publicar
resultados de pesquisas, reflexões sobre experiências de professores,
pesquisadores e alunos como missão de ser um meio de difusão do “estado da
arte” nas mais diversas áreas de ensino e educação. Além de um veículo de
divulgação de práticas pedagógicas inovadoras adequadas à nossa cultura.
A atual edição da Revista Facientífica (Ano 8 de Janeiro/Julho de 2014)
apresenta uma grande novidade. A partir desta edição a revista passa a ser
apresentada em versão integralmente digital. Esta modificação se dá visando uma
divulgação mais adequada ambientalmente e também mais eficiente, uma vez
que estando disponível no site da Faculdade Ideal permitirá o acesso de um
número muito maior de leitores, não só de nossa faculdade, mas de qualquer
lugar do mundo que possa acessar a internet.
Circulando desde o ano de 2007, quando foi publicado o número 1, a
revista Facientífica, encontra-se catalogada no sistema de avaliação de
publicações da Capes, valorizando o trabalho dos autores cujos trabalhos foram
publicados até este número Ano 8 e que certamente continuarão contribuindo nas
próximas edições.
Neste novo formato, a publicação digital permitirá a regularização de duas
publicações anuais, o que sempre foi o plano editorial da revista, mas que na
maioria das vezes não se tornou possível em função dos custos editoriais sempre
suportados por colaboradores e/ou empresas parceiras como o Banco da
Amazônia – BASA a empresa de Consultoria e Assessoria Takashima & Bahia
Assessoria e Consultoria Empresaria e Lobato e Quinto Consultor e Assessorial
Educacional responsáveis pela Revista Facientífica Ano 7, Nº2
Agosto/Dezembro de 2013, a quem aproveitamos para agradecer e homenagear
por terem tornado possível este importante trabalho.
Os Artigos desta edição mostra a aplicabilidade de determinados métodos,
às vezes considerados de difícil apreensão, em experimentos que elucidam sua
eficácia na aplicação no ambiente organizacional. Aspectos práticos do ensino de
administração são enfatizados nos artigos, nos levando a valorizar o aprendizado
como instrumento gerencial fundamental no sucesso das organizações e nas mais
diversas áreas do saber. São ricas também as contribuições dadas pelos autores
dos artigos que compõem este exemplar. Continuamos a insistir e a apelar para
que os demais professores, pesquisadores e estudantes de todos os cursos da
Faculdade Ideal utilizem a Revista Facientífica como veículo de debate do atual
estado da arte nas salas de aula.
Desta forma, aproveitamos para também agradecer novamente a todos os
colaboradores que enviam seus artigos, a todo o conselho editorial, aos
avaliadores “ad hoc” e a todos que de alguma forma permitem que esta
publicação se torne realidade.
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 5
Finalmente desejo externar meu agradecimento pela consideração com a
qual fui brindado de escrever o prefácio de uma revista, após 11 anos fazendo
parte deste grupo de Educadores em cargos de Gestão e na Docência, posso dizer
que sem dúvida alguma, esta Revista já se tornou o orgulho de todos os
colaboradores da Faculdade Ideal.
Vale Ressaltar que a Facientífica está sendo o resultado dos esforços de
todos indistintamente que fazem parte deste grupo e, dessa forma, podemos
ajudar a fazer um país mais justo através da educação que é uma das ferramentas
que conduz todos ao caminho do sucesso através de um processo de
ENSINAGEM – Ensino e aprendizagem recíprocos entre os envolvidos no meio
acadêmico-científico.
PROF. M.Sc. PABLO QUEIROZ BAHIA
Prof. M.Sc. Pablo Queiroz Bahia: Bacharel em Administração com Habilitação
em Comércio Exterior, Especialização em Docência do Ensino Superior e Mestre
em Economia. Além de Coordenador Geral da Pós-Graduação e Extensão da
FACI e dos Cursos de Pós-Graduação em Logística Empresarial, Gestão
Financeira, Gestão da Produção e Operações e Perícia Judicial e Extrajudicial,
atua como avaliador do Ministério de Educação.
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 6
MODERNIDADE E ORDEM SOCIAL NO BASIL
Jorge Alberto Ramos Sarmento¹
¹Professor de filosofia do direito da FACI e da Universidade Federal do
Pará
Abstract: This paper discusses some key aspects of the modernization process as
occurred in Brazil, with reference to the shape of Iberian colonization, which features a
number of specifics in relation to other forms of colonization, particularly the Anglo-
Saxon. From a dialogue with authors such as Richard Morse and Octavio Paz, we try to
show how inheritance and Eurocentric thinking crystallized in the training of Latin
American culture and in particular the Brazilian, bringing a number of consequences in
shaping the social order.
Key-Word: modernity, Latin American social order, modernity in Brazil
Resumo: O presente trabalho pretende discutir alguns aspectos fundamentais do
processo de modernização tal como ocorreu no Brasil, tomando como referência a
forma de colonização ibérica, a qual apresenta uma série de especificidades em relação
a outras formas de colonização, sobretudo a anglo-saxônica. A partir de um diálogo com
autores como Richard Morse e Octavio Paz, procuramos mostrar como a herança e a
forma de pensar eurocentrista se cristalizaram na formação da cultura latino-americana
e em particular da brasileira, trazendo consigo uma série de consequências na formação
da ordem social.
Palavras-chave: modernidade, ordem social latino-americana, modernidade no Brasil.
1. Introdução
O processo de modernização ocorrido nos países latino-americanos tem
apresentado uma série de especificidades e dificuldades no que tange a instauração de
uma ordem social, dificuldade essa que pode melhor ser compreendida se levarmos em
consideração a forma pela qual se implementou nesses países – incluindo-se aí o Brasil
-, uma forma de colonização cujas estruturas parecem se refletir até os dias atuais. Nesse
ponto de vista geralmente se recorre a uma concepção que procura diferenciar uma
forma de colonização ibérica em contraposição e uma colonização anglo-saxônica
enquanto modelos e paradigmas de instauração de uma cultura que em última análise
passariam a fornecer os elementos chaves para a compreensão e o modus operandi dos
problemas que caracterizam as sociedades latino-americanas e por conseguinte a própria
sociedade brasileira.
2. A visão de Otávio Paz : a ausência de crítica
De acordo com o pensamento de Otávio Paz (1998), a história dos países latino-
americanos desde a independência tem sido a história de distintas tentativas de
modernização. Nesse sentido, as sociedades latino-americanas são descendentes, tanto
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 7
pela cultura como pela sua história, de uma forma de civilização que se originou a partir
de um complexo de atitudes, técnicas e instituições que chamamos de modernidade.
Tais sociedades descendem, portanto, da cultura espanhola e portuguesa que se apartou
da corrente geral européia precisamente quando a modernidade se iniciava.
Durante os séculos XIX e XX o continente latino-americano adotou sucessivos projetos
de modernização, todos eles inspirados no exemplo norte-americano e europeu, sem que
até o momento nenhum de nossos países possa chamar-se com todo a propriedade de
moderno.
De acordo com a argumentação desenvolvida por Paz (1998, p. 119), nos países latino-
americanos predominam um conjunto amplo de contradições, as quais culminam em um
ponto em comum: as constituições desses países são democráticas, porém, a realidade
existente reflete a ditadura, num cenário onde o contexto político resume o caráter
paradoxal da modernidade latino-americana.
A escola da democracia por parte dos povos da América Latina segundo esse autor se
deu em função da mesma ter apresentado o caminho mais seguro para a modernidade.
No entanto, a verdade dos fatos mostra o contrário, na medida em que a democracia é o
resultado da modernidade e não o caminho até ela. Nesse sentido, as dificuldades que
os países latino-americanos têm experimentado para implantar o regime democrático é
um dos efeitos, o mais grave de uma incompleta e defeituosa modernização. No entanto,
não se pode falar de um equívoco na escola por parte desses países de um sistema de
governo o qual, com todos os seus defeitos, é o melhor entre todos. O equívoco,
segundo Paz (1998, p. 120) reside justamente no método que os países latino-
americanos têm empregado para chegar até a democracia, na medida em que os mesmos
têm se limitado a imitar os modelos estrangeiros. Nesse sentido, a grande tarefa dos
povos desses países, para a qual se requer uma grande imaginação e ao mesmo tempo
uma grande ousadia, é justamente encontrar em suas tradições aqueles germes e raízes
que sejam capazes de estabelecer e nutrir uma democracia genuína.
De acordo com o argumento desenvolvido por Paz (1998), a América Latina é um
exemplo da intricada complexidade das relações entre história e literatura, tendo em
vista que ao nos últimos séculos tem aparecido muitas obras notáveis, tanto no Brasil
quanto na América Espanhola, algumas das quais de caráter excepcional no contexto da
poesia, da prosa e da ficção. O referido autor levanta a partir de então um
questionamento a respeito de se saber se essa característica tem ocorrido no campo
social e político.
O referido autor acrescenta que desde o final do século XVIII os melhores e mais ativos
entre os latino-americanos empreenderam um vasto movimento de reforma social,
política e intelectual e pode-se dizer que tal movimento ainda não terminou, passando a
se desenvolver em várias direções, nem sempre compatíveis. De maneira geral essas
tentativas dispersas poderiam ser chamadas de modernização. E nesse sentido, ao
mesmo tempo em que as sociedades latino-americanas se esforçam para transformar
suas instituições, costumes e maneiras de ser e de pensar, a literatura de tais sociedades
experimenta mudanças não menos profundas. A evolução da sociedade e da literatura
latino-americana apesar de terem sido correspondentes, no entanto não são paralelas e
têm produzido resultados distintos.
A crítica se tornou um dos princípios fundamentais do pensamento moderno, sobretudo
a partir da concepção de Kant (2001), que a vê como algo necessário ao próprio
exercício da razão em sua capacidade de julgar e avaliar os fatos. Nesse sentido, a
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 8
ausência da crítica na literatura latino-americana passa a se constitui um fato de
consequências negativas para a instauração de um espírito moderno na América Latina.
Uma questão surge como relevante na análise desse quadro: qual elemento ou quais
elementos teriam originado essa ausência de crítica na produção intelectual dos autores
latino-americanos? De acordo com Paz (1998) essa resposta se encontra relacionada
com uma série de fatores os quais, por sua vez, se encontram articulados com o
processo de colonização que se processou no continente latino-americano por Portugal e
Espanha, nações que encarnaram uma versão de civilização ocidental muito peculiar em
particular devido ao fato de terem convivido durante séculos com a cultura islâmica,
passando, a partir do século XVI a conviverem com muçulmanos, judeus e cristãos, fato
que segundo Paz (1998, p. 163) “és imposible comprender la historia de Espãna y de
Portugal, asi como el caráter em verdad única de su cultura, si se olvida estas
circunstancias”.
O fato de Portugal e Espanha terem se fechado para a modernidade, uma vez que não
aderiram aos grandes fatos que marcam a inauguração do espírito moderno como o
Renascimento e a Reforma refletem a tendência da cultura ibérica ter se desenvolvido a
partir do entrelaçamento entre o religioso e o político, diferentemente da cultura
moderna cultivada nas concepções liberais dos demais países da Europa, onde a
secularização e a laicização passam a se constituir a base de uma nova visão de mundo.
Na medida em que a Idade Moderna inaugura um novo período, caracterizado,
sobretudo pelo uso da crítica aos primeiros princípios, o neotomismo encontra-se
voltado à defesa desses princípios no sentido de demonstrar seu caráter necessário,
eterno e intocável. Observa-se que é justamente nesse ponto de vista que se pode
compreender a presença de um discurso dominador e de certa forma autoritário, que em
nome de uma razão ou de uma fé passa a ser o fundamento para a própria realidade
política. De acordo com o argumento proposto por Paz (1998) mesmo levando-se em
conta que essa filosofia se desvaneceu no horizonte intelectual da América Latina a
partir do século XVIII, as atitudes e os hábitos que eram comuns a mesma persistem até
os nossos dias no ideário dos intelectuais latino-americanos. Como exemplo desse fato,
o autor destaca a forma pela qual os intelectuais latino-americanos têm abraçado
sucessivamente as mais variadas correntes de pensamento da Europa como o
liberalismo, o positivismo e mais recentemente o marxismo-leninismo. No trabalho
desenvolvido por esses intelectuais, sem distinções de filosofias, não é difícil encontrar
determinadas atitudes psicológicas e morais dos antigos pensadores da escolástica. Em
tal fato pode-se perceber um dos aspectos paradoxais da modernidade latino-americana:
as idéias são de hoje, mas as atitudes são de ontem. A esse respeito o autor acrescenta
“se antigamente se jurava em nome de Santo Tomás, hoje se faz em nome de Karl
Marx” (Paz, 1998. p. 166) numa forma de criticar o processo como nas sociedades
latino-americas existe uma tendência para o estabelecimento de doutrinas sem levar em
conta a mudança de atitudes que as mesmas possam produzir. No entanto, tanto para os
antigos como para os novos intelectuais a razão é uma arma a serviço de uma verdade
suprema, o que os transforma em cruzados, na medida em que passam a ser combatentes
da cultura e do pensamento. Nessa perspectiva, se perpetua na América Latina uma
tradição intelectual pouco respeitosa em relação a ideia de crítica e da opinião alheia,
tendo em vista que a mesma passou a privilegiar as ideias em detrimento à realidade,
assim como os sistemas intelectuais em detrimento à crítica dos sistemas.
Ao apontar a problemática do trabalho desenvolvido pelos intelectuais latino-
americanos, Paz (1998, p. 166) procura mostrar o processo pelo qual a partir da segunda
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metade do século XVIII as ideias modernas passaram a penetrar lentamente e com
timidez na Espanha e suas possessões ultramarinas, num movimento que foi
denominado de forma muito pertinente de “europeizar”, palavra esse que
posteriormente foi substituída por “americanizar”. Durante todo o século XIX minorias
de intelectuais tentaram por diversos meios transformar os países latino-americanos,
propondo um salto para a modernidade. Nesse contexto, a palavra “revolução” passou a
ser sinônimo de modernização. Nesse sentido, as guerras de independência
protagonizadas pelos vários países em questão devem ser vistas numa perspectiva
segundo a qual o objetivo não era a separação da Espanha, mas sim um salto
revolucionário que pudesse transformar os novos países em nações realmente modernas.
Esse raciocínio pode ser analogamente aplicado ao caso do Brasil, levando-se em conta
as peculiaridades com que ocorreu a transição para a modernidade em nosso país, num
trabalho que envolveu a elite política e intelectual da época, fato que pretendemos
abordar a seguir.
Segundo o argumento de Paz (1998), o modelo que serviu de inspiração para os
revolucionários foi baseado tanto na Revolução de Independência dos Estados Unidos
quanto na Revolução Francesa, fato que caracteriza o início do século XIX como
marcado pelas revoluções norte-americanas, pela francesa e também pelas revoluções
latino-americanas. No que diz respeito ao campo de batalha, ao embate de forças,
podemos dizer que essas três revoluções atingiram o objetivo esperado, no entanto, seus
resultados políticos e sociais foram bem distintos em cada uma delas. Apesar de todos
os percalços, nos Estados Unidos surgiu a primeira sociedade moderna, ainda que
manchada pela escravatura e pelo extermínio das sociedades indígenas. Na França
houve transformações substanciais e radicais e a nova sociedade que surgiu com a
Revolução continuou em vários aspectos com o caráter centralista de Richelieu e Luis
XIV. Nesse cenário, os povos latino-americanos conquistaram a independência e
passaram a governar a si próprios. No entanto, os revolucionários não obtiveram êxito
em estabelecer de fato regimes e instituições verdadeiramente livres e democráticas,
fato a partir do qual se pode deduzir que se a Revolução Francesa transformou e
renovou a sociedade e a norte-americana fundou uma nação, as revoluções da América
Latina fracassaram em um dos seus principais objetivos, que foi justamente aquele
relacionado à modernização política, social e econômica.
A partir dessas considerações, podemos inferir que as contradições em relação à
implantação de um projeto de modernidade para a América Latina se situam dentre
outros aspectos à importação de formulas, interpretações e diagnósticos que se
estabeleceram para essas sociedades, não desconsiderando nesse contexto as concepções
desenvolvidas pelos grandes teóricos do pensamento político e social, que apesar de sua
relevância para o pensamento europeu, se transformaram num discurso opressor e
autoritário para os povos da América Latina.
Aspecto importante a ser considerado em relação ao fato acima diz respeito a
inexistência, na América Latina de uma tradição intelectual que a exemplo da Reforma
e da Ilustração, se tornou capaz de formar as consciências das elites francesas e norte-
americanas. Por outro lado, notamos a ausência das classes sociais que correspondiam,
historicamente, a nova ideologia liberal e democrática. Se entre os grupos
revolucionários da França e suas ideias havia uma relação orgânica, o mesmo se pode
dizer da Revolução norte-americana. No entanto, no caso da América Latina as ideias
não corresponderam às classes.
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 10
A persistência de todos os males que afligem as sociedades latino-americanas, como a
desordem, a tirania, a violência anárquica, o despotismo, assim como o autoritarismo
têm sido explicados em linhas gerais pela ausência, nessas sociedades, das classes
sociais e das estruturas econômicas que tornaram possível a democracia na Europa e nos
Estados Unidos. Assim sendo, a falta de unidade nacional e de uma experiência
verdadeiramente moderna têm levado tais sociedades a ininterruptos fracassos, os quais
se refletem nos modelos políticos e econômicos das mesmas.
Não somos suficientemente críticos como nossos colonizadores. É esse em última
análise o tom do argumento proposto por Zea (1998). E é por essa insuficiência de
crítica, a qual se tornou um dos princípios basilares do pensamento moderno que somos
insuficientemente cidadãos. Dessa forma, o problema da cidadania dos povos latino-
americanos encontra-se associado com o passado, levando-se em conta processo de
colonização que foi responsável pelo estabelecimento de estruturas que ainda se
mantém presentes, impossibilitando dessa forma a existência de uma cidadania
completa.
Atribuir o fracasso pela má formação de uma cidadania entre outros fatores à falta de
uma corrente intelectual crítica e moderna, assim como uma leitura de caráter histórico-
sociológica que vincula os problemas do presente a um passado colonial nos parece um
argumento bastante pertinente e de certa forma coerente com a linha de raciocínio que
pretendemos dar seguimento, tomando o caso brasileiro como exemplo, na medida em
que o mesmo parece refletir em muitos aspectos as contradições de um projeto moderno
onde de forma clara se pode perceber o trabalho desenvolvido pelos intelectuais e pelas
ciências sociais na formação de um discurso autoritário.
3. Modernidade e pensamento autoritário no Brasil
A respeito desse tema, ao tratar da questão concernente a essa tradição do
pensamento autoritário, Lamounier (1978, p. 345) acrescenta que a mesma “encontra-se
corporificada, sobretudo em ensaios histórico-sociológicos, compondo-se de um
conjunto de obras que criticam o modelo institucional de 1891”, deduzindo o referido
autor que essa tradição de pensamento se formou tendo como objetivo uma ação
política, cuja intenção seria a de influir sobre os acontecimentos, tornando-se visível o
caráter de persuasão que a mesma passa a exercer sobre as elites políticas e culturais da
época, levando-se em conta o modelo de narrativa utilizada, a qual priorizava amplas
reflexões de caráter histórico-sociológico, procurando enfatizar o processo de formação
colonial que se desenvolveu no país, como via de se chegar até o presente, no caso a
República Velha, para a apresentação de um diagnóstico, culminando com a propositura
de um determinado modelo alternativo para uma nova ordem política-institucional, a
qual passará a definir o contexto em que se poderá deslumbrar o novo modelo de direito
e de cidadania.
A caracterização desse pensamento como ideologia de Estado pode ser melhor
percebida segundo aquele autor, como um modelo que reflete de forma bem clara uma
ideologia de Estado, a qual procura condensar uma reação filosófica ao iluminismo e ao
utilitarismo, que irá refletir em última análise
(...) uma visão do mundo político na qual são afugentadas todas
as representações conducentes à noção de um ‘mercado político’
exorcizado em proveito das representações fundadas em
princípios da autoridade e em supostos consensos valorativos
(LAMOUNIER, 1978, p. 357).
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 11
Foi em função dessa visão de mundo que se iniciou a construção da modernidade no
Brasil, levando-se em conta um projeto nacional no qual a presença e participação de
uma elite intelectual, cultural e política da época passa a buscar a natureza do moderno,
com vistas a estabelecer uma identidade, conforme assinala Luiz Werneck Viana:
Vargas, Francisco Campos, Gustavo Capanema, Azevedo
Amaral, Oliveira Viana, Villa-Lobos, Portinari, a literatura
regional, Gilberto Freyre, Mário de Andrade, estabelecem a
natureza do moderno quer por sua identificação com os seres
sociais emergentes com a urbanização e industrialização, quer
pela tentativa de construir uma identidade para eles (VIANNA,
1986, P. 15).
O processo através do qual o moderno se institui no Brasil se desenrola dentro de uma
multiplicidade de acontecimentos destacando-se dentre outros o descobrimento de um
povo destituído de direitos e na mais completa miséria no campo brasileiro pelos
integrantes militares da Coluna Prestes; a nova configuração adotada pela Igreja a partir
de “moldes modernos” visando se adequar ao momento histórico e, sobretudo exercer
influencia sobre a ação estatal somando-se a isso o esforço dos intelectuais com vistas a
elaboração de receitas capazes de construir e enfrentar a modernidade.
Ao estabelecer o caráter de ideologia de Estado a esse pensamento autoritário que se
desenvolveu no Brasil, Lamounier (1978) apresenta algumas características dessa
estrutura ideológica tais como: o predomínio do “estatal” sobre o principio de
“mercado”; uma visão orgânico corporativa da sociedade; objetivismo tecnocrático;
visão paternalista-autoritário do conflito social; não organização da sociedade civil; não
mobilização política; elitismo e voluntarismo como visão dos processos de mudança
política; o leviatã benevolente. A visão orgânico-corporativa da sociedade tem como
representação preferencial da estrutura econômica uma sociedade de pequenos
produtores, onde se assegura a existência e o apoio para a pequena empresa,
estimulando-se a competição entre os produtores. Em tal perspectiva, o homem passa a
ser definido como um produtor que através da acumulação do seu trabalho, passa a
dispor da propriedade. A exaltação dessa visão, que de certa forma revela um espírito
nacionalista brasileiro, aparece em oposição à grande propriedade, tanto a agrária
quanto a industrial, e cujo histórico no Brasil foi marcado por processo de exclusão
social, o que teria sido um dos elementos que ainda hoje são reveladores das
desigualdades.
A formação dessa peculiar ideologia de Estado não pode ser compreendida fora das
influencias de correntes sociológicas, e nesse aspecto, Lamounier (1978) aponta para as
de caráter protofascistas, as quais embora tenham exercido influencias na formação da
doutrina e do movimento político fascista, são muito anteriores a ele e especificamente
no Brasil é notório a forma como tais correntes passaram a exercer uma forte influencia
sobre a elite intelectual das últimas décadas do século XIX e cuja produção encontra-se
mesclada por elementos do pensamento organicista-histórico e do positivismo comtiano
da sociologia protofascista européia. No entanto, aquele autor salienta que
diferentemente daquilo que muitos teóricos sustentam, não teria ocorrido uma utilização
indiferenciada ou uma assimilação meramente imitativa dessas linhas de pensamento. O
que realmente ocorreu foi “uma leitura seletiva e uma hierarquização das diversas
influencias, mesmo daquelas igualmente pertencentes ao amplo leito protofascista”
(LAMOUNIER, 1978, p. 361).
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 12
No pensamento de Oliveira Viana, podemos observar a necessidade do estabelecimento
de um poder estatal forte e intervencionista, através do qual se torne possível a
erradicação de todos os males do passado, responsáveis pela inércia predominante na
sociedade brasileira, a qual somente poderá ser superada por uma ação enérgica. Nota-
se que o pensamento de Oliveira Viana se direciona em particular para uma ideologia
nacionalista-autoritária, a qual é defendida em detrimento à incapacidade histórica do
povo brasileiro possuir uma consciência política.
Não temos nenhuma mística incorporada ao povo; portanto não
tem o nosso povo – considerado na sua expressão de povo-
massa, a consciência clara de nenhum objetivo nacional a
realizar ou a defender, de nenhuma grande tradição a manter, de
nenhum ideal coletivo, de que o Estado seja o órgão necessário à
sua realização (...) Esse auto sentimento e essa clara e perfeita
consciência só serão realizados pela ação lenta e contínua do
Estado – em Estado – um Estado soberano, incontrastável,
centralizado, unitário, capaz de impor-se a todo país pelo
prestígio fascinante de uma grande missão nacional (VIANNA,
1952, p. 395).
Oliveira Viana, tido como o grande ideólogo do pensamento autoritário brasileiro faz
jus a essa afirmação ao expressar certa radicalidade em relação aos demais intelectuais
daquele período, afirmando que no Brasil o “povo-massa”, vivendo sob a doença dos
trópicos uma vida puramente negativa bastaria “apenas ensinar a ler, escrever e contar já
que as nações dependem exclusivamente de suas elites” (VIANNA, 1952, p. 382).
Eis ai reproduzido o velho discurso ocidental em suas origens mais remotas, como o de
Platão, para quem o Estado (numa visão organicista) deveria ser governado por uma
elite, dos mais sábios, porque a razão é quem deve dominar, ou Aristóteles, que defende
um governo dos melhores em cuja ordem natural, existem os que nasceram para
comandar e aqueles que devem ser comandados, sem direito a cidadania, conforme
enfatizamos anteriormente. Discurso análogo a do colonizador sobre o colonizado que
se tornou dominado, do civilizado sobre o bárbaro, do senhor sobre o escravo. Discurso
esse que estabelece a dicotomia entre cidadãos e não-cidadãos.
Ressaltamos que no ideário desse pensamento autoritário, a relação ou essa dualidade
massa/elite tornou-se um elemento de recorrência não só em Oliveira Viana, como
também em outros teóricos, como Azevedo Amaral, para quem o despertar das massas
somente se tornaria possível na medida em que sobre elas se exercesse determinada
ação deflagradora da inteligência e da vontade de domínio.
Para a maioria desses autores do pensamento autoritário brasileiro a modernização no
Brasil deveria ocorrer de forma passiva, sem a necessidade de se atacar ou destruir as
instituições tradicionais, como a propriedade individual, a empresa privada a autoridade
patronal ou as tradições cristãs, conforme assinala Vianna (1952, p. 382). E nesse ponto
de vista o referido autor parece colaborar com a construção de uma modernidade a partir
dos pressupostos que se afirmam com os interesses das elites da época, que conforme
assinalamos anteriormente foi responsável pela canalização e adequação do ideário
liberal e moderno no Brasil, que deveria ocorrer de forma pacífica, excluindo-se desse
processo qualquer tipo de revolta ou revolução que pudesse despertar o temor por parte
da sociedade em relação ao seu advento.
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 13
A utilização do ideário de representações do organicismo, que se desenvolveu a partir
do século XIX e cujo emprego foi conveniente aos ideólogos do período autoritário,
teve entre seus propósitos principais, conforme salienta Lamounier (1978, p. 363) a
necessidade de preservar uma sociedade de pequenos produtores, de amortecer os
efeitos provocados pela acumulação capitalista, de justificar o enorme poder exercido
sobre as entidades políticas de caráter “pré-moderno” pelo poder estatal, assim como
combater as formas mais radicais de questionamento do poder estatal, sobretudo a
anarquista.
A apropriação e a consequente utilização de uma visão organicista e positivista da
história por parte dos pensadores autoritários irá fundamentar um importante
componente na ideologia do Estado, da forma como a mesma se processou no Brasil, a
saber, o chamado objetivismo tecnocrático, que dentre outras ideias estabelece que é
necessário adaptar as instituições à realidade brasileira, e que tem em Wanderley
Guilherme dos Santos um de seus elementos mais representativos. Segundo esse autor,
o paradigma contido na expressão de “adaptar” as instituições á “realidade nacional” é o
indicio da emancipação de quem o utiliza em função dos vícios da reificação
institucional, e a ideia de reificação institucional aparece na concepção do referido autor
como “uma tendência de se acreditar que as mesmas instituições produzem sempre os
mesmos efeitos políticos, independentemente da ordem social em que se inserem”
(SANTOS, 1975, p. 42). Seguindo essa linha de raciocínio, os pensadores do período
autoritário passam a desenvolver uma contraposição em relação dedutivismo jurídico-
formal em função do qual passam a se utilizar do contraste entre o “país legal” e o “país
real”, no sentido de tornar evidente que as instituições de 1989 se encontravam
completamente inadequadas ao processo de evolução que se encontrava em curso no
país.
Outro traço importante no repertório ideológico desse período, diz respeito a visão
paternalista-autoritaria do conflito social, a qual pode ser percebida pela forma através
da qual essa ideologia ressalta a necessidade de uma coerção organizada, assim como
seu fortalecimento, levando-se em conta uma teoria bastante peculiar a respeito do
conflito social, o qual possa a ser visto conforme Lamounier, (1978, p. 366) “como
irracionalidade, manifestação dos impulsos infantis e malévolos da natureza humana”.
Tal percepção teria suas raízes na matriz protofascista européia, destacando-se de forma
particular a influência do organicismo sociológico de Gumplowicz, cuja concepção
estabelece que assim como na relação entre as sociedades verifica-se uma permanente e
inelutável beligerância e tentativa de extermínio, o mesmo quadro pode ser observado
nas relações que compõem os grupos que compõem uma sociedade, sendo que neste
último caso, a possibilidade de se apaziguar os conflitos se torna possível através da
figura do Estado. Em tal concepção, o problema central gira em torno da permanência
do conflito entre os grupos sociais, e não em sua natureza, daí que a vinculação ao
campo político desse axioma passa a fundamentar a idéia de um Estado que deve ser
universal e necessariamente violento, na medida em que pelo uso da força (coação) se
busca o fim dos conflitos sociais.
Dentre os teóricos brasileiros do pensamento autoritário, Francisco Campos é ao que
tudo indica o ensaísta que mais claramente expressa uma influencia da concepção
gumplowicziana, o que pode ser observado em suas críticas tanto ao liberalismo quanto
ao socialismo. Em suas reflexões, esse autor desenvolve uma visão de Estado moderno
enquanto Estado autoritário e antiliberal que entre seus princípios mais fundamentais
encontrava-se a tarefa de reconstruir, pelo ponto mais elevado, as instituições políticas e
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burocráticas, modernizando-as, onde a compreensão de sociedade moderna remete a
ideia de uma sociedade de massas.
Em relação a esse assunto, convém ressaltar o trabalho desenvolvido por Francisco
Campos na elaboração da Constituição de 1937, a qual trouxe como uma de suas
principais inovações a eliminação de impostos interestaduais.
Aspecto não menos importante desse pensamento autoritário diz respeito a uma
inclinação para a visão solidarista, a qual surge em função da necessidade de se fazer
uma contraposição ao caráter negativo do onipresente e irremovível conflito social, do
qual nos reportamos anteriormente. Os conflitos se destacam pela sua irracionalidade e
pelos seus incontroláveis determinismos sociais. No sentido de propor uma solução a
esse problema, o pensamento autoritário brasileiro passará a desenvolver uma
concepção que se dirige à ideia de uma bondade intrínseca do caráter nacional, a partir
da qual a ideia de conflito adquire o significado de uma perversidade dos desejos
sociais. Na análise desenvolvida por Lamounier (1978), a formulação dessa concepção
tem como pressuposto uma visão de sociedade a qual passa a ser vista
Mais ou menos como uma panela de pressão, inofensiva ou
facilmente controlável, desde que manipulada com prudência.
Assim, como o conhecimento sociológico positivo identifica na
luta de facções..... (LAMOUNIER, 1978, p. 368).
Nesse contexto, adquire especial significado as interpretações de caráter histórico-
culturalistas que procuram ressaltar entre outras coisas, a ideia de uma intrínseca
bondade e cordialidade do caráter nacional. Apesar das origens dessa ideia no
pensamento autoritário brasileiro remontar a Cassiano Ricardo em sua conferencia
intitulada Contribuição para a defesa do pensamento original do Brasil assim como O
homem cordial, tal ideia passou a ser associada a Sérgio Buarque de Holanda em função
da obra Raízes do Brasil, na qual essa questão parece ter adquirido um contorno bem
especial.
Em Cassiano Ricardo essa bondade e cordialidade do brasileiro passam a ser inferida
através de uma análise histórica sobre as próprias origens do processo de colonização
que se efetivou no Brasil, que entre outras consequências contribuiu para uma forma de
mestiçamento conciliador das arestas psicológicas e raciais; pela formação de uma
índole que foi herdada do português, pela soma de tendências coincidentes na direção de
certos objetivos, por uma determinada euforia espacial; por um sentimento de
hospitalidade que é comum do aborígene e pela ausência de um pensamento que leve à
reflexão sobre o destino. Tal discurso apresenta as diretrizes de uma visão que
fundamenta uma cidadania tutelada, de uma cidadania incompleta e tipicamente
moldada pelas estruturas coloniais, refletindo o discurso existente entre o colonizador e
o colonizado, tão característico das visões predominantes nas sociedades periféricas. A
esse respeito destaca-se a abordagem de Carvalho (2003) que apresenta uma série de
contradições na formação da cidadania no Brasil e que pode ser melhor compreendida
pelo processo de transição dos movimentos sociais que ocorreram no Brasil e que foram
responsáveis pelos problemas que retardam a vivência plena da cidadania em nosso País
e que se refletem na própria estrutura jurídica nacional.
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 15
4. Richard Morse: uma abordagem retrospectiva dos projetos civilizatórios
No sentido de propor uma nova abordagem a essa problemática, a qual se
encontra vinculada à ideia de civilização, destaca-se o pensamento de Morse (1988) que
procura elaborar umas análises retrospectivas a respeito das variadas perspectivas
intelectuais do ocidente, cujo objetivo principal é a demonstração de uma tese que trata
das formas particulares pelas quais os povos anglo-americanos e ibero-americanos
assimilaram a experiência moderna, relacionando e vinculando essas realidades aos
diferentes e originais projetos civilizatórios anglo e ibérico.
Ao apresentar a ideia relativa à singularidade das tradições europeias que deram forma
às representações Ibero-americanas, Morse (1988, p. 37) afirma que as mesmas foram
especificamente ibéricas e não vagamente “católicas” ou mediterrâneas. E nesse ponto
descarta as afirmações que apontam para uma suposta insensibilidade ibérica em relação
às tendências provenientes de outras partes da Europa, razão pela qual os países ibéricos
haviam passado por um processo de desenvolvimento estancado.
Seguindo uma linha de pensamento de historiadores alemães, como Maurenberger e
Goltrein, Morse (1988) afirma que a reforma católica na Espanha antecedeu a revolta
luterana, tendo a mesma um caráter da subsequente “Contrarreforma”, desencadeando
um movimento autóctone e não simplesmente uma reação defensiva contra as heresias
estrangeiras.
Outro aspecto importante dessa concepção relacionada a singularidade do caso ibérico
diz respeito ao que Morse denominou de consenso espanhol.
(...) no século XVI o consenso espanhol refletia certos pontos de
acordo gerais – pelo menos em comparação com o resto da
Europa – sobre a natureza do governo: suas fontes de
legitimidade, o alcance exato de seu poder, sua responsabilidade
de assegurar justiça e equidade, sua missão “civilizadora” em
face dos povos não cristãos de seu território e de ultramar.
Longe de arregimentar a opinião pública, esse consenso
estabelecia um domínio público para a expressão de uma ampla
gama de opiniões (MORSE, 1988, p. 39).
Vista na perspectiva de Morse, a Espanha da primeira metade do século XVI apresenta
um cenário humanista, de pluralidade e de circulação de ideias, que nada deixa a desejar
em relação ao resto da Europa. Tal cenário apesar de contrastar com a ascensão e reação
neotomista que transformou os ibéricos em guardiões e disseminadores da fé cristã no
mundo, é compreendido na medida em que naquela época a Espanha encarava um
programa nacional estabelecido com muita clareza, diferente do que fizeram outros
povos europeus da época, levando-se em conta o fato de que além dos iberos possuírem
instituições religiosas e políticas legitimadas para tornar possível o cumprimento desse
programa, as condições em que tais programas se desenvolviam ajustavam-se de forma
perfeita à concepção tomista.
Uma questão que muito nos interessa diz respeito ao caso de Portugal, seu espaço e suas
políticas no contexto desse programa civilizatório, tendo em vista que tal análise é
relevante no processo de formação e consolidação de nossa cultura. Para o autor,
O caso de Portugal era similar ao da Espanha. Tinha contatos
eruditos com a Europa desde meados do século XV e, no XVI,
gozou de uma limitada primavera humanista. Mas o campo que
oferecia para a especulação moral e filosófica era mais restrito.
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 16
A maior homogeneidade do país, sua consolidação mais antiga,
a monarquia mais centralizada e as aventuras “civilizadoras”
menos ambiciosas no ultramar combinavam-se para limitar os
horizontes efetivos da atividade intelectual (MORSE, 1988, p.
43).
A respeito da limitação do horizonte das ideias humanistas em Portugal, destaca-se que,
por exemplo, o erasmismo ficou restrito a grupos de elite e baseado na imitação de
exemplos estrangeiros, em particular a corte do Imperador Carlos V e suas preferências
culturais. No que tange ao clima intelectual e acadêmico cita-se o fato de que embora
mais de vinte universidades tenham sido fundadas em cidades portuguesas entre 1530 e
1550, a Universidade de Lisboa, embora famosa por suas imunidades, foi finalmente
dominada na década de 1530, passando a Universidade de Coimbra a exercer um papel
de maior relevância, embora sob o controle do rei e de um reitor designado e não eleito,
fato que revela a pouca autonomia e um clima pouco propício ao desenvolvimento do
conhecimento, das ciências e das artes.
Embora considerando que as iniciativas marítimas de Portugal proporcionaram
contribuições notáveis à ciência aplicada, como os textos de Garcia de Orta sobre as
propriedades terapêuticas da flora oriental, ou a tentativa de Pedro Nunes de estabelecer
uma relação entre o pôr-do-sol e a latitude e a estação, assim como também os tratados
sobre economia aplicada, destacando-se que esses pioneiros em sua maioria publicavam
suas obras no estrangeiro e careciam da curiosidade enciclopédica e do impulso de
traduzir suas descobertas em especulações cientificas mais vastas. A esse respeito
destaca-se o fato de que em fins do século XVI as contribuições portuguesas à literatura
científica eram praticamente inexistentes.
Ressalta-se que a Espanha também não conheceu efetivamente as revoluções científica,
religiosa, comercial e política e que nenhuma dessas revoluções havia desempenhado
qualquer papel formativo em sua cultura política, devido, segundo Morse a diversos
fatores, dentre os quais se destaca a questão de cronologia, disposição institucional,
opção por direção coletiva ou, talvez, por mera geografia. Além do que a Espanha no
século da Ilustração deixou de exercer a sua condição de formuladora de pensamento,
passando à condição de receptora de ideias de difícil reengenharia na sua ordem
imaginária.
No que diz respeito à expansão ultramarina, Morse procurou explicitar de que maneira
predominou o problema das escolhas políticas nesse período, momento em que as
nações progenitoras deixaram-se levar ou foram arrastadas por dois conjuntos distintos
de premissas políticas que passaram a orientar a lógica da ação e do pensamento até os
dias atuais, tanto na ibero-América quanto na Anglo-América.
No caso da Espanha, o diálogo político norteador ocorreu devido à propagação das
ideias tomistas e maquiavelistas, as quais passaram a se externar como uma tensão entre
o “bem comum” e o cálculo do poder, entre o Estado como um todo orgânico e o Estado
como artifício, entre a política como missão e a política como arte ou Ciência, ou
mesmo na terminologia clinica atual que permite disfarçar a sabedoria recebida, entre
estratégia inclusivista e exclusivista.
No sentido de proporcionar uma melhor compreensão acerca da singularidade dos casos
anglo e ibero no contexto do debate das ideias formadoras, Morse (1988) procura
estabelecer um diálogo entre Hobbes e o pensador ibero, Francisco de Vitória. Tal
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diálogo é marcado pelos contrastes das soluções encontradas pelos dois pensadores,
para questões de extrema relevância com que cada um deles se deparou nas suas épocas.
No entendimento de Morse,
Vitória escreveu no momento em que a Espanha se envolvia
com os novos Estados nacionais e com os povos não cristãos do
ultramar. (...) A tarefa era extrair compreensão desse mundo e
preceitos para o seu ordenamento a partir da sabedoria dos
antigos, da Igreja, do erasmismo modernizante. Vitória
enfrentou um problema de casuística – ajustar a experiência a
cânones respeitáveis – mais do que de reconstituição. Hobbes,
ao contrário, nascido numa nação insular e modernizante no
portentoso ano da invencível armada e chegando à maturidade
numa época de violência civil e cisma ideológico, teve de
enfrentar uma ordem nacional que, uma vez legitimada,
proporcionasse um novo ponto de apoio de poder internacional.
Vitória dirigia-se a um vasto mundo multiforme, Hobbes a um
mundo circunscrito e homogêneo. Nos dois casos, universalismo
e particularismo ocupavam posições contrárias. O desafio de
Vitória era acomodar um amontoado idiossincrático de nações e
povos numa ordem moral universal; o de Hobbes era descobrir
um conjunto de axiomas “científicos” através dos quais uma
unidade política singular pudesse ser organizada como um
protótipo (MORSE, 1988, p. 60-61).
Assim sendo, o universalismo deveria encontrar sua expressão num conjunto de
circunstancias único, enquanto que o particularismo deveria proporcionar uma solução
repetível, a saber, uma determinada forma de lei natural, a partir da qual as situações
devem conciliar-se com princípios e uma tradição de direitos naturais onde elementos
nucleares sociais são liberados para a sua adequada recombinação. Enquanto a
sociedade organicamente composta por Vitória é parte da natureza, assim como os
homens passam a ser vistos como animais sociais e políticos, “os homens de Hobbes
são um conjunto heterogêneo de indivíduos que por natureza não são harmoniosos nem
políticos nem têm inclinações sociais” (Morse, 1988, p. 61), sendo o pacto a única
forma de refrear suas intermináveis disputas.
O pensamento de Morse (1998) aponta para o fato de que o aspecto mais relevante a ser
considerado na confrontação das matrizes intelectuais formadoras anglo e ibérica não
diz respeito aos resultados, mas em particular aos princípios organizadores do corpo
político, a saber, uma sociedade baseada no pacto em contraste com uma sociedade
orgânica; um principio nivelador ou individualista de natureza fáustica, em contraste
com um principio arquitetônico. Dentro dessa perspectiva, “na Ibero-América
democracia e liberalismo não interagiram diretamente, sendo assimilados de forma
independente, e em verdade intermitente, a uma cultura política que ambos podiam
afetar, mas nenhum podia suplantar” (Morse, 1988, p. 89). Na visão desse autor,
democracia e liberalismo foram integrados pela antiga dialética herdada do pensamento
ibérico, ou seja, entre o cálculo do poder e bem comum entre política como arte ou
ciência e o Estado como incorporativo ou tutelar. Dessa forma, o liberalismo seria uma
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importação problemática desde o principio e dificilmente floresceria num clima não
liberal.
No caso da democracia, a mesma seria igualmente uma tarefa muito difícil, devido à
diversidade de sua expressão amiúde desconsertada e popular, com um desfecho
geralmente infeliz, e também, devido à escassez de formulações ideológicas coerentes
do seu projeto. A versão ibero-americana de democracia, segundo Morse (1988) retira
elementos da teoria regicida dos escolásticos jesuítas, do Governo dos governantes de
Tomás de Aquino e da antiquíssima tradição católica de respostas à torpeza
governamental ou eclesiástica, sob a forma de movimentos sectários pelo igualitarismo
ou de tumultos populares menos disciplinados. Dessa forma, a existência até os dias
atuais na cultura ibero-americana de movimentos de tipo sectário, com seus
antecedentes medievais, tem sua forma mais visível nas comunidades eclesiais de base e
nos grupos de cultos não católicos, com seus milhões de adeptos, assim como também
encontrando expressões sociologicamente análogas, ainda que mais efêmeras e táticas,
como os movimentos guerrilheiros e hodiernas invasões de terras.
Conforme podemos observar, a concepção acima desenvolvida por Morse traz
consigo uma série de ideias bem articuladas, dando sentido a uma argumentação
coerente e consistente capazes de nos levar a repensar os paradigmas estabelecidos pela
modernidade em particular o próprio paradigma da cidadania.
5. Conclusão
Conforme se pode deduzir a partir dos elementos presentes no discurso dos
vários teóricos, a busca de uma unidade nacional de um modelo político e de uma
ordem social perfeita tem sido uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos países
latino-americanos, dos quais o Brasil não é exceção e por ter tido uma forma de
colonização Ibérica, protagonizada por Portugal, a partir de uma análise histórico-
sociológica é possível encontrar determinados elementos presentes nesse processo de
colonização que se cristalizaram e passaram a se constituir como estruturas modeladoras
de nossa ordem social, onde o patrimonialismo, o patriarcalismo, o nepotismo entre
outros vícios oriundos desse processo de colonização não podem ser desconsiderados.
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6. Bibliografia
1. CARVALHO, José Murillo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
2. KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. São Paulo: Martin Claret, 2001.
3. LAMOUNIER, Bolivar Formação de um pensamento político autoritário na
Primeira República: uma interpretação. In. FAUSTO, Bóris (Org.) O Brasil
Republicano VI. Rio de Janeiro: Difel, 1978.
4. MORSE, Richard M. O espelho de próspero: cultura e ideias nas Américas. São
Paulo: Companhia das Letras, 1998.
5. PAZ, Octávio. Tiempo Nublado. Barcelona: Editorial Seix Barral, 1998.
6. SANTOS, Wanderlei Guilherme dos. Paradigma e história. Rio de Janeiro:
Mimeo, 1975.
7. VIANNA, Oliveira. Problemas de organização e problemas de direção: o povo e
o governo. Rio de janeiro: José Olímpio, 1952.
8. ZEA, Leopoldo. Discurso desde a marginalização e a barbárie. Rio de Janeiro:
Garamond, 2008.
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 20
Acesso Digital para Pessoas Idosas: Um Modelo de Estudo
no Website do Instituto de Gestão Previdenciária do Estado do
Pará - Igeprev
Raffael de Oliveira Grande1, Rossiclea Ferreira do Nascimento
1, Átila Siqueira
Soares1,
1Curso de Análise e Desenvolvimento. Faculdade Ideal –(FACI)
[email protected],[email protected],
[email protected],[email protected]
Abstract: Accessibility is a key factor for internet usage. In this sense the study
aims, identify and describe difficulties of access, discerning the main
limitations of older people in the context of website of the Instituto de Gestão
Previdenciária do Estado do Pará - IGREPREV, through technical-manual
tests and the use of specific software - ASES; conducted by the W3C guidelines
and recommendations, e-MAG e WCAG. The methodology is descriptive and
exploratory with study approach case where data were collected through
forms and users' evaluation regarded as unsatisfactory. This result was
confirmed by the software used.
Key Words: Accessibility, difficulties of access, e-MAG e WCAG.
Resumo: Acessibilidade é fator fundamental para uso da internet. Nesse
sentido o estudo tem como objetivo, identificar e descrever as dificuldades de
acesso, discernindo as principais limitações de pessoas idosas no contexto do
site do Instituto de Gestão Previdenciária do Estado do Pará – Igeprev,
através de testes técnico-manuais e do uso de um software específico - ASES;
conduzido por diretrizes e recomendações do W3C, e-MAG e WCAG. A
metodologia é descritiva e exploratória com abordagem de estudo de caso,
onde os dados foram coletados através de formulários e a avaliação os
usuários tida como insatisfatória, resultado este confirmado pelo software
utilizado.
Palavras Chaves: Acessibilidade, dificuldade de acesso, e-Mag e Wcag.
1. Introdução
A evolução tecnológica é uma realidade inquestionável. As possibilidades em melhorias
proporcionadas são inúmeras, entretanto, os idosos são esquecidos nesse universo e,
crescem consideravelmente: são independentes financeiramente, visto que, cerca de
71% dessa população representa uma renda anual de R$ 243 bilhões de reais.
Registros de Santellano (2013), afirmam que entre 1940 e 2006 o número de
idosos cresceu no Brasil cerca de 11 (onze) vezes, de 1,7 para 18,5 milhões. Estima-se
que em 2025 esse número chegue aos 64 milhões e em 2050 a proporção será de 1 (um)
idoso/3 (três) brasileiros.
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Nessa vertente, o tema visa reconhecer e identificar dificuldades de acesso da
terceira idade a um website específico, o do Instituto de Gestão Previdenciária do
Estado do Pará - Igeprev, e sugerir possíveis resoluções para amenizar estes problemas.
Assim, a temática fora definida a partir das circunstâncias críticas deste acesso.
Visto que a tecnologia exige dinâmica na assimilação das informações e, considerando
que os idosos não possuem completa destreza e agilidade de percepção, utiliza-se de
duas características tecnológicas para modelar e adaptar páginas web às necessidades de
grandes grupos de usuários: versatilidade e adaptabilidade. Nesse contexto questiona-se:
quais os maiores obstáculos que os usuários idosos se deparam nas tentativas, muitas
vezes frustradas, de acesso ao sítio do Igeprev?
Para responder à questão proposta, o estudo tem como objetivo geral, identificar
e descrever as dificuldades de acesso das pessoas idosas ao website do Igeprev. Como
objetivos específicos, analisar a usabilidade do site pelos usuários, avaliar a viabilidade
de implementações técnicas e uso de ferramentas de desenvolvimento acessível e
apresentar ao Núcleo de Tecnologia da Informação do Igeprev, relatórios e sugestões,
objetivando a redução dos erros e avisos relatoriais do software ASES – Avaliador e
Simulador de Acessibilidade de Sítios, utilizado no teste automatizado; além da
avaliação manual, consoante às 10 Heurísticas de Nielsen.
2. Referencial Teórico
2.1. Ergonomia
Wisner (1972) registra que é o conjunto de conhecimentos do homem, necessários à
concepção de instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o
máximo de conforto, segurança e eficiência. Chapanis (1962) declara que é o ramo da
tecnologia que estuda a projeção de máquinas, operações e ambientes, permitindo a
adaptação das capacidades do ser humano com o trabalho que deve ser executado.
Entende-se que ergonomia é parte da construção de sistemas de computador.
Scapin e Bastien (1993), pesquisadores do INRIA - Instituto Nacional de
Pesquisa em Automação e Informática da França, propuseram um conjunto de 8 (oito)
critérios ergonômicos para identificar se um sistema possui características ergonômicas,
como também pode ser utilizado como guia na construção de sistemas interativos:
condução, carga de trabalho, controle específico, adaptabilidade, gestão de erros,
homogeneidade/coerência, significado dos códigos/denominações e compatibilidade.
2.2. Interface Homem-Máquina (IHM)
Santaella (2003) estabelece que, interface indica os periféricos de um computador e
telas de monitores; e interação, a atividade humana conectada aos dados através da tela
e Preece (1994) explica que IHM está relacionada aos designers de sistemas
computacionais que apoiem pessoas à medida que conduzem suas atividades de forma
produtiva e segura. O nível da interface verifica quão fácil é o uso de um sistema.
Considerando os fatores expostos, Norman (1988) apud Rocha (2003), fornecem
4 (quatro) princípios básicos para se obter uma interface homem-máquina “amigável”:
visibilidade e affordances; bom modelo conceitual; bons mapeamentos e Feedback.
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2.3. Tecnologia Assistiva
A natureza humana constantemente se transforma o que importa registrar que o
indivíduo, nasce, cresce e envelhece. Com a melhor idade tem-se as limitações naturais:
raciocínio lento, visão e audição deficientes e etc. Assim, os idosos merecem cuidados e
investimentos especiais e seus direitos são garantidos em Leis e Decretos, como a Lei
n.º10.741 de 01/10/2003, mais conhecida como o Estatuto do Idoso, além de Leis que
estabelecem critérios e determinam conceitos técnicos como os das Tecnologias de
Apoio, Ajudas Técnicas ou TAs, que no Brasil, são sinônimas.
2.4. Usabilidade e Acessibilidade na Web
Hix (1993) observa que usabilidade é a qualidade da interação de uma interface com o
usuário. Rubin (1994) destaca quatro fatores reunidos em um dispositivo acessível:
capacidade de ser usada com sucesso, facilidade de ser usada, capacidade de o usuário
aprender a usar o dispositivo de forma simples e rápida e provocar satisfação visual ao
usuário. Nielsen (1993) acrescenta mais dois: capacidade de memorização e baixo
índice de erros. Já os problemas de usabilidade são quaisquer características observadas
em situações específicas que dificultem a realização de uma determinada tarefa. A
satisfação desses requisitos exige a adoção de regras definidas pelo Departamento de
Governo Eletrônico (2010): a) facilidade de manuseio e capacitação de aprendizado
rápido; b) dificuldade de esquecimento; c) ausência de erros operacionais; d) satisfação;
e) eficiência na execução da tarefa. Fatores estes que tangenciam o conceito de
encontrabilidade, referente à qualidade de ser localizável ou navegável e Morville
(2005) acrescenta, ao nível de item e do sistema.
2.4.1. Métodos de Avaliação de Usabilidade
Determinam o grau de usabilidade de um website; o que reduz custos com mão de obra
e retrabalho. Existem dois métodos: empírico e analítico.
Rocha & Baranauskas (2003) citam os 3 (três) tipos de testes empíricos mais
relevantes: observação direta, observação indireta e Thinking-aloud ou Protocolo
Verbal; sendo estes mais onerosos e demandam maior tempo para a avaliação completa.
Métodos analíticos caracterizam-se pela não-participação do usuário. Avaliam o
design das interfaces, baseando-se no julgamento dos avaliadores, resultando em um
relatório formal dos problemas identificados e sugestões de melhorias. São exemplos de
avaliações analíticas: Avaliação Heurística, Revisão de Guidelines e Percurso
Cognitivo.
No presente estudo foi utilizada a avaliação heurística, por apresentar melhores
resultado, ser pouco dispendiosa e de fácil condução. Assim, são apresentadas as 10
(dez) heurísticas de Nielsen (1994): status do sistema; compatibilidade do sistema com
o mundo real; controle do usuário e liberdade; consistência e padrões; prevenção de
erros; reconhecimento ao invés de relembrança; flexibilidade e eficiência de uso;
estética e design minimalista; ajuda aos usuários no reconhecimento, diagnóstico e
correção de erros; ajuda e documentação.
A Lei nº 10.098, de 19/12/ 2000, define acessibilidade como a possibilidade e
condição de alcance de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, com segurança
e autonomia, dos espaços públicos, das edificações, dos meios de transportes e dos
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sistemas e meios de comunicação. Além das barreiras metodológicas, instrumentais,
programáticas e atitudinais.
Referindo-se à comunicabilidade, ou seja, a capacidade de quaisquer usuários
entenderem o design projetado; onde são capazes de perceber para que servem, como
funcionam, quais interações com o sistema permitem que o usuário forme mentalmente
um modelo compatível com o do projetista. Um exemplo alto nível de comunicabilidade
é a tela inicial do programa CD Player, do sistema operacional Windows 95.
Fonte: http://www.actden.com/pp/unit6/6_4.htm
Figura 1: CD Player do Sistema Operacional Windows 95.
O player utiliza-se da familiaridade do usuário com os aparelhos de CD, como os botões
de comando para acionar funções e o visor de trilhas e duração.
2.5. Pessoas com Deficiências Diversas X Censo Demográfico 2010
O censo demográfico/2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
– IBGE no país, mostra uma parcela de pessoas com deficiências diversas (visual,
auditiva, motora e/ou intelectual) – 45,6 milhões de brasileiros (24%). O censo aferiu as
deficiências por faixa etária e constatou que atingem com mais frequência à população
de 65 anos de idade ou mais – 67,7%, como mostra a Figura 2.
Figura 2: Brasileiros com, pelo menos, Uma das Deficiências Investigadas.
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Sobre a deficiência visual contatou-se que há 506 mil cegos, 6 (seis) milhões de
pessoas com dificuldade visual e outras 29 (vinte e nove) milhões que possuem alguma
dificuldade para enxergar. Observa-se a deficiência visual como a mais comum entre
todas, atingindo 18,8% dos brasileiros, conforme a Figura 3.
Figura 3: Brasileiros com Deficiência
Desse total de deficientes brasileiros, 9,5 milhões são idosos e possuem, pelo
menos, um tipo das deficiências citadas e, desses, a grande maioria apresenta algum
grau de dificuldade visual; consequência das limitações oriundas do fenômeno do
envelhecimento natural, no qual há perda gradual da acuidade visual do indivíduo.
De acordo com o Censo de 2010 os indivíduos paraenses com 65 anos ou mais,
têm pelo menos, um tipo de deficiência dentre as elencadas. Um número expressivo de
488.364 (quatrocentos e oitenta e oito mil trezentos e sessenta e quatro) atinge os idosos
deficientes visuais, auditivos, motores ou intelectuais. Ou seja, entre 7,5 milhões de
paraenses, 6% são idosos portadores de alguma incapacidade, de acordo com a Figura 4.
Figura 4: Idosos Paraenses com Alguma Deficiência
0
50000
100000
150000
200000
250000
Visual Auditiva Motora Intelectual
Idosos Paraenses com Alguma Deficiência - 488.363
Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2010.
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2.5.1. Auxílio Tecnológico para Pessoas com Deficiência Visual
Para auxiliar 229.629 idosos paraenses portadores de deficiências visuais no uso das
tecnologias e, relacioná-las às dificuldades de implementação compatíveis com as
recomendações hoje conhecidas, tem-se: a percepção de imagens que não são descritas
na página; imagens, como gráficos ou mapas de imagem, que não são descritas; vídeos
sem descrições quaisquer que sejam; tabelas sem sentido quando lidas célula a célula ou
mesmo em modo linearizado; frames sem a alternativa no frame ou nomes com
significados; formulários que não apresentam leitura sequencial lógica ou sem descrição
(rotulados); disfunção entre navegadores e ferramentas de desenvolvimento sem suporte
ao teclado compatíveis com todos os comandos ou que não utilizam interfaces
padronizadas correspondentes ao Sistema Operacional de base; falta de padronização na
formatação de documentos no desenhar de páginas, dificultando a interpretação de
leitores de tela; páginas com tamanhos únicos de fontes; layout inconsistente em
páginas, tornando-as desprovidas de navegabilidade, considerando a perda de conteúdos
laterais, caso necessária ampliação; ausência de contraste; mudança na apresentação de
conteúdo (texto/imagem), pois na necessidade de ampliação, não executam
corretamente a quebra de linha; para os daltônicos ou amblíopes, especificamente, deve-
se atentar para as cores utilizadas como único recurso para ressaltar o texto;
inadequação de contrastes entre cores de fonte e fundo; falta de suporte para a opção
onde o próprio usuário utilizar sua folha de estilo em navegadores.
2.5.2. Auxílio Tecnológico para Pessoas com Deficiência Auditiva
Ao se tratar dos portadores de deficiências auditivas no Pará encontram-se 98.985
idosos, ou seja, 20% dos idosos paraenses apresentam distúrbios auditivos. Diretrizes
específicas para soluções dos casos ora descritos seriam a implementação em páginas,
portais e sites, tais como: legenda ou transcrição de áudio; imagens suplementares
relacionadas com o conteúdo do texto; uso de linguagem simples e clara; e requisitos
para a entrada de voz.
2.5.3. Auxílio Tecnológico para Pessoas com Deficiência Físico-Motora
Glat (2007) enfatiza que o percentual de pessoas portadoras de Deficiências Físico-
Motoras - DFM é maior, em conformidade ao aumento das faixas etárias estudadas.
Fato comprovado, visto que 151.127 ou 31% dos idosos paraenses possuem algum tipo
de dificuldade física; número representativo, preocupante e digno de atenção no que se
refere à participação e utilização das facilidades oferecidas pelas tecnologias.
Sob o olhar objetivo da acessibilidade, também, aos portadores de algum tipo de
DFM listam-se possibilidades de execuções facilitadas relativas às: tarefas de utilização
com limitação de tempo; sites, nos quais, janelas são acessadas simultaneamente ou
com sobreposição; inexistência de suporte ou adaptação para utilização de teclado
alternativo ou, até mesmo, botões relativos aos comandos realizados com o mouse;
impossibilidade de percorrer um determinado setor de uma página utilizando-se da tecla
TAB.
2.5.4. Auxílio Tecnológico para Pessoas com Deficiência Intelectual
Ampudia (2013) afirma que “Pessoas com deficiência intelectual ou cognitiva
costumam apresentar dificuldades para resolver problemas, compreender ideias
abstratas (como as metáforas, a noção de tempo e os valores monetários), estabelecer
relações sociais, compreender e obedecer às regras e realizar atividades cotidianas -
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 26
como, por exemplo, as ações de autocuidado.”, o que afeta, também, sua capacidade de
argumentação.
O que se pode executar para auxiliar 2%, concretos 8.622 idosos paraenses, com
dificuldades de concentração, memorização, leitura ou percepção faz-se: utilizando
meios que auxiliem nas atividades virtuais em que o tempo de utilização é limitado;
onde há ausência de linguagem simples e clara; em páginas com objetos gráficos sem
legenda; e na falta de clareza e consistência na organização das páginas.
2.6. Padrões de Desenvolvimento Web
Existem leis, organizações de padronização e recomendações para que sites se adaptem
à acessibilidade, como o W3C (World Wide Web Consortium), que é um consórcio
internacional de empresas de tecnologia, órgãos governamentais e organizações,
fundado em 1994. Seu objetivo é desenvolver padrões para criação e interpretação de
conteúdos Web. Sua missão, no Brasil, é propagar a cultura de padrões para o
desenvolvimento da Web, traduzir os textos para o português e organizar atividades
para promover e demonstrar as ferramentas e padrões desenvolvidos pelo W3C.
As recomendações de acessibilidade para conteúdo Web (WCAG - Web Content
Accessibility Guidelines) são um guia elaborado pela WAI (Iniciativa para
Acessibilidade na Web - Grupo da W3C), para tornar o acesso irrestrito para todas as
pessoas. Possui 14 (quatorze) diretrizes, que são princípios gerais de elaboração de um
projeto acessível, aplicadas em uma área específica (ponto de verificação - PV).
Cada PV tem um nível de prioridade associado, embora existam exceções
indicadas nas orientações onde o nível de prioridade de um PV pode mudar sob certas
condições. No total são 65 (sessenta e cinco) pontos organizados por 3 (três) níveis de
prioridade, classificados em “precisam”, “deveriam” e “podem”.
O Modelo de Acessibilidade de Governo Eletrônico (e-MAG), elaborado em
parceria entre o Departamento de Governo Eletrônico e a Sociedade Acessibilidade
Brasil é composto por um conjunto de recomendações para que profissionais tenham
orientação de como alterar e/ou adequar páginas, sites e portais do governo brasileiro. O
modelo é conexo com as necessidades brasileiras e padrões internacionais. As
recomendações deste documento não estão dividas por prioridade, já que todas são
importantes. Dessa forma, optou-se por classificá-las em: marcação, comportamento,
conteúdo/ informação, apresentação/design, multimídia e formulários.
2.7. Avaliador e Simulador de Acessibilidade – ASES
Ferramenta que avalia, simula e corrige a acessibilidade de páginas (CSS, HTMAL),
sites e portais. Visa fornecer instrumentos que viabilizem a adesão da acessibilidade
pelos órgãos do governo.
No Brasil, o programa é disponibilizado de forma gratuita sob licença LGPL -
GNU Lesser General Public License, no site do Governo Eletrônico do Brasil.
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 27
Fonte: Software ASES Figura 5: Tela inicial Ases
3. Metodologia
Quanto aos objetivos, com base em Gil (2002) é exploratória e descritiva. Exploratória
considerando a inexistência de conhecimento acerca do assunto na instituição-objeto.
Descritiva, haja vista, descrever a realidade do fenômeno pesquisado sem nele interferir.
Quanto aos procedimentos técnicos é bibliográfica, levantamento, estudo de
campo e estudo de caso. Bibliográfica, pois a construção do estudo com base em
material já elaborado, constituído principalmente de livros, artigos, dissertações,
revistas é o que observa Vergara (2009). O delineamento do estudo é tipificado por Gil
(2002) como de levantamento, já que possui como característica precípua a interrogação
direta das pessoas, cujo comportamento se deseja conhecer, solicitando informações a
um grupo significativo, acerca do problema específico estudado para obter conclusões,
mediante análise quantitativa, correspondente aos dados coletados.
O estudo de campo caracteriza-se pela observação in lócus do fenômeno
estudado (GIL, 2002). Vergara (2009) afirma que estudo de caso, tem caráter de
profundidade e detalhamento, na pesquisa realizou-se estudo minucioso no Igeprev.
Quanto à natureza o estudo é qualitativo/quantitativo fundamentado em Teixeira (2001),
uma vez que a pesquisa se valeu das opiniões dos sujeitos pesquisados.
O instrumento de pesquisa foi um formulário, com 23 (vinte e três) perguntas
estruturadas, o qual foi aplicado aos sujeitos entre 09 e 21 de maio do corrente ano.
Amostra é definida pelo critério de acessibilidade. Utilizaram-se os valores de 10% para
o erro amostral admitido; 95 % para o nível de confiança, considerando uma população
de 28.206 aposentados e/ou pensionistas, acima de 60 (sessenta) anos; resultando em
um quantitativo de 101 (cento e um) usuários como objeto da análise.
Os dados foram tabulados utilizando-se software de planilhas eletrônicas, onde
foram gerados gráficos para visualização e entendimento das relações causa-respostas.
Utilizando-se de técnicas argumentativas, os dados provenientes da etapa inicial foram
analisados de forma lógica, comparativa e associativa considerando a relevância de 10%
da população estudada.
Circunstâncias críticas: delimitação do público, instituição-alvo e especificação
do tema; trâmites burocráticos de autorização para o estudo; indisposição de parte dos
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49
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40
60
80
100
Aspectos Gerais Usuários Igeprev
segurados ao responderem o formulário e exoneração, a pedido, do Web Designer
responsável pelo desenvolvimento do site.
3.1 Caracterização do Objeto de Estudo
O Igeprev é uma Autarquia dotada de personalidade jurídica de direito público. Criada
pela Lei Complementar nº 044, de 23 de janeiro de 2003. Vinculado à Secretaria
Especial de Estado de Gestão, com patrimônio e receitas próprias, gestão administrativa,
técnica, patrimonial e financeira descentralizadas. Sua finalidade é a gestão dos
benefícios previdenciários do Regime de Previdência Estadual e dos Fundos
Previdenciário e Financeiro de Previdência do estado do Pará (FINANPREV e
FUNPREV).
Possui como meios de comunicação e disseminação de informações, um
periódico eletrônico (Igeprev Comunica) e um website (www.igeprev.pa.gov.br).
4. Resultados e Discussões
Figura 6: Aspectos Gerais dos Usuários do Igeprev
Em relação ao site-objeto, sob aspectos gerais e em específicos, observou-se a
predominância de indivíduos do sexo feminino, com idade entre 60-65 anos, casados,
aposentados, com nível médio, com limitação visual e renda de 1 a 5 salários mínimos.
Constatou-se a utilização da internet com o auxílio de outrem ou, até mesmo,
sua não utilização. Porém, verificou-se um grupo de 11 (onze) indivíduos que utilizam
esporadicamente os recursos da internet, como meio de informação e comunicação.
Fonte: Elaborado pelos Pesquisadores
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 29
Figura 7: Aspectos Específicos dos Usuários do Igeprev
A dificuldade desses usuários não está na utilização do mouse, e sim na
encontrabilidade das informações com, no mínimo, 5 (cinco) cliques. Um percentual de
55% destes usuários raramente apresenta dificuldades quanto ao acesso de links, porém
nem sempre ficam satisfeitos com as informações e raramente segue o mesmo fluxo de
atividades na busca da informação. Em relação aos ícones, consideraram intuitivos e tão
raros, sentiram dificuldades na visualização ou leitura destes.
Grande parcela dos sujeitos respondentes não sentiu incômodo relativo às cores,
nem percebeu desconfortos quanto ao uso de banners e considera interessante o uso de
recursos sonoros. A maioria sentiu qualquer dificuldade na compreensão dos textos,
porém conseguiu manter o foco no serviço de interesse e resolver problemas
apresentados no momento da navegação sem auxílio de terceiros.
Sobre o acesso ao site do Igeprev, 46% afirmou nunca tê-lo feito. Sendo que dos
54% que o utilizam, 46% o são para consulta e impressão de contracheques, 36% para
consulta e impressão de cédula C, 9% para o Fale conosco e 9% nunca utilizaram o site.
Há de se considerar, para uma visão e apontamentos técnicos ao nível de
sugestões a serem implementadas no website em estudo, os principais pré-requisitos,
fundamentados nos conceitos do Governo Eletrônico (e-MAG) e WCAG em estudos
anteriores, que culminaram nas recomendações descritas ao longo deste estudo.
Destacam-se as quantidades de tipos de avisos (51 – cinquenta e um) e erros (14 –
quatorze), gerado pelo ASES. Onde, de forma objetiva descrevem-se e relacionam-se os
avisos e os erros ocorridos na página em análise:
Avisos: apresentar os elementos em uma ordem compreensível; não permitir a
ocorrência de mudanças substanciais em uma página; não permitir atualização
automática periódica; permitir a opção de desligar, ajustar ou prolongar tempo para
realizar uma tarefa; não utilizar efeitos visuais “piscantes”, intermitentes ou cintilantes;
agrupar os controles de formulário relacionados de maneira lógica; não permitir que
conteúdos “se movam” automaticamente; disponibilizar documentos, preferencialmente
11
4 5
6
4 5
3
6 5
0
2
4
6
8
10
12
Aspectos Específicos Usuários Igeprev
Fonte: Elaborado pelos Pesquisadores
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em formato HTML. Porém, também podem ser utilizados arquivos para download no
formato ODF; identificar claramente quaisquer mudanças de idioma no texto de um
documento; não utilizar quaisquer características sensoriais (forma, tamanho,
localização visual, orientação ou som) como único meio de transmissão de informações;
oferecer contraste mínimo entre plano de fundo e primeiro plano; dividir grandes blocos
de informação em grupos mais fáceis de gerenciar (“topo”, “conteúdo”, “menu” e
“rodapé”), além da barra de acessibilidade contendo os atalhos; evitar a utilização de
imagens de texto, por se tratarem de meras decorações, considerando a possibilidade de
serem personalizáveis ou essenciais; especificações para apresentação visual da página;
garantir que a página, quando redimensionada para até 200%, deve continuar legível e
funcional; identificar a finalidade dos links a partir apenas do texto do link.
Erros: as etiquetas de texto (label) devem estar associadas aos seus campos
(input) correspondentes no formulário, através dos atributos for do label e id do input,
os quais deverão ter o mesmo valor; todas as funções da página desenvolvidas
utilizando-se linguagens de script (javascript) deverão estar disponíveis quando for
utilizado apenas o teclado; inserir entre links adjacentes, caracteres que não funcionem
como link e sejam passíveis de impressão (como um espaço), até que os leitores de tela
ou navegadores (incluindo as tecnologias de apoio) reproduzam clara e distintamente os
links adjacentes; garantir que os objetos como scripts, Flash, conteúdos dinâmicos e
outros elementos programáveis sejam acessíveis; descrever e identificar clara e
sucintamente o destino de cada link, informando, inclusive, se o link remete a outro
sítio; ignorar blocos de conteúdo repetidos; todo conteúdo não textual que é apresentado
ao usuário tem uma alternativa em texto que serve um propósito equivalente; fornece
alternativa em texto para as imagens do sítio; toda funcionalidade do conteúdo é
operável através de uma interface de teclado sem a necessidade de qualquer espaço de
tempo entre cada digitação individual; informações, a estrutura e as relações
transmitidas através de apresentação podem ser determinadas de forma programática ou
estão disponíveis no texto; para todos os componentes de interface de usuário, o nome e
a função podem ser determinados de forma programática; assim como os estados, as
propriedades e os valores; etiquetas ou instruções são fornecidas quando o conteúdo
exigir a entrada de dados por parte do usuário; alterar a definição de um componente de
interface de usuário não provoca, automaticamente, uma alteração de contexto;
identificação consistente dos componentes que têm a mesma funcionalidade num
conjunto de páginas Web.
5. Avaliação da Usabilidade do Site do Igeprev - 10 Heurísticas de Nielsen
1. Status do Sistema: informa os acontecimentos, atua como feedback. No site, o
usuário necessita saber onde se encontra;
2. Compatibilidade do sistema com o mundo real: o sítio é construído sob uma
política de linguagem simples, onde os botões correspondem as suas ações,
expressões utilizadas designam exatamente aquilo que se propõem a fazer. Porém
existem dúvidas, como o botão “voltar”, no website, está com uma formatação
diferente, a seta está apontando para baixo, o que poderia ser identificado como
botão de download;
3. Controle e Liberdade: o usuário deve estar no controle do sistema, a página
deve fornecer ao usuário forma de utilizar os serviços principais seja em qual
sessão estiver permitindo uma liberdade de navegação. No website, os principais
serviços são: retirada de cédula C, acesso ao contracheque e ao extrato
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 31
previdenciário. Em qualquer página, é oferecido o acesso a essas três opções. Por
exemplo, o usuário está no menu “Investimento” e no submenu “Políticas de
Investimento 2013” e na parte superior da página há, em forma de banner, o
surgimento dos três serviços principais podendo ser acessado a qualquer instante,
em qualquer página esses banners se fazem presentes;
4. Consistência e padrões: as páginas são todas em um mesmo padrão, onde
informações fixas são posicionadas nos cantos superiores e laterais, e as
informações que se necessitam estão posicionadas no centro do website, é nesse
centro que depositam quase todas as informações exigidas da página como:
história da instituição, missão e etc.;
5. Prevenção de Erros: ao se tratar de formulários de cadastros, devem-se
informar os campos de preenchimento obrigatórios. Como exemplo de acesso no
campo “CPF”, o sistema não permite que ultrapasse os 11 dígitos, bem como a
matrícula não excede os 10 dígitos. Esses campos possuem indicadores de
obrigatoriedade, o símbolo de asterisco (*), mas compreendido apenas por pessoas
que possuem certa experiência na navegação, pois não há uma legenda. E para o
público em questão não seria interpretado da mesma forma;
6. Reconhecimento ao invés de lembrança: devem-se tornar objetos, ações e
opções visíveis. O usuário não deve ter que relembrar informações de uma parte
do diálogo em outra parte. As únicas informações exigidas pelo sistema são
próprias do usuário, tais como: “CPF”, “Matrícula”, “Data de Nascimento” e
“Senha”. Portanto, sempre será fácil recuperá-las quando necessário, visto que os
principais serviços exigem apenas esses dados. Logo, não foi registrado esse
critério;
7. Flexibilidade e eficiência de uso: nesse quesito é comum ter um passo-a-passo
explicando como realizar operações específicas, bem como também propor atalhos
que facilitem a navegação. São fornecidas no website maneiras diretas de acessar
os três principais serviços oferecidos. Logo que se acessa o sítio encontram-se em
banners essas opções, sendo que em qualquer página dos mesmo esses banners
estão presentes fornecendo um acesso eficaz e rápido;
8. Estética e design minimalista: as informações devem ser sucintas e dispostas
em menus e links, que levam a uma página com todo o conteúdo na íntegra. Os
diálogos não devem conter dados desnecessários. Para que se possa obter, por
exemplo, o extrato previdenciário, são necessárias apenas 3 (três) informações:
CPF, matrícula e senha;
9. Ajudar os usuários a reconhecer, diagnosticar e corrigir erros: as mensagens
de erro devem ser expressas em linguagem clara, indicar precisamente o problema
e sugerir solução. Ao preencher o formulário de acesso ao contracheque, inserindo
o CPF incompleto, por exemplo, e acionar a tecla “tab” alternando para o
próximo campo, o sistema não acusa de imediato que faltam algarismos, sendo que
o erro será acusado apenas quando acionado o botão “verificar”, e neste momento
é indicado o problema no preenchimento do campo “CPF”. Constata-se uma
falha, pois a correção deveria ser realizada em tempo real, embora o alerta venha
com uma linguagem bastante objetiva, curta e direta propiciando um entendimento
sem interpretações duvidosas;
10. Ajuda e documentação: na página inicial, não foi constatado menu com
o título de “Ajuda”, ou um mapa do website explicando os serviços que este
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oferece. A única opção oferecida está no menu “Informação” e no submenu
“Dúvidas Frequentes”, que não é um auxílio de navegação e sim uma
demonstração sobre as dúvidas.
Em uma avaliação superficial, percebeu-se que apenas 4 heurísticas foram
satisfatoriamente contempladas, 4 parcialmente satisfeitas e 1 não foi atendida e 1 não
se aplica. Logo, apenas 40% das heurísticas listadas foram contempladas,
permanecendo uma lacuna de 60% a serem atendidas com satisfação.
6. Considerações Finais
Expondo-se o contato e a consciência acerca da necessidade de acesso das pessoas
idosas, bem como todo e qualquer usuário de forma indiscriminada acerca de condição
financeira, cultural ou faixa etária, às tecnologias diversas, inclusive as de informação e
comunicação, o que veio a causar inquietação diante do vivenciar de inúmeras situações
cotidianas, vividas por usuários do Instituto de Gestão Previdenciária do Estado do Pará
– Igeprev, onde ao mesmo tempo em que, em sua maioria, possuem acesso aos
equipamentos e programas de computação, estão distantes no que se refere a
conhecimento e prática no “navegar” e usufruir dos benefícios que a era tecnológica
oferece. Para o qual se utilizou de métodos, quantitativo e qualitativo, de análise de
resultados, buscando resposta à problemática da investigação.
Os dados quantitativos apontaram as deficiências presumidas, porém, é
necessário que, em paralelo, mantenha-se a criticidade com estes dados, haja vista, que
a amostra obtida na pesquisa é reduzida, o que aumenta a possibilidade de que os
resultados não reflitam de forma fidedigna às inferências a eles atribuídas, pois é fato
que o quantitativo de idosos beneficiários do Igeprev é considerável em relação à
população residente no estado.
Este estudo realizou inquirições a respeito do referencial teórico disponível
sobre estas tecnologias e assuntos afins, relacionando-os diretamente às intenções de
respostas aos questionamentos oriundos da tendência de identificação e descrição das
principais dificuldades de acesso das pessoas idosas ao site do Igeprev, respondendo ao
objetivo geral a que a investigação se propôs quando se reconhece e visualiza de forma
clara, nas declarações dos respondentes que estas permeiam, em grande parcela, os
acometimentos naturais, tornando-os portadores de necessidades especiais adquiridas;
sejam estas quais forem como limitações visuais, dificuldades no aparelho auditivo,
moderadas ou severas. Dados estes confrontados e pareados às estatísticas brasileiras,
onde se constata, no estado do Pará, inclusive, a mesma linha de efeitos naturais
decorrentes.
Mediante a disposição, necessidade e anseio por melhorias no acesso ao referido
site, tido como objeto do estudo, logrou-se êxito na coleta dos dados intencionados
concernentes à satisfação dos usuários com o mesmo, o que responde a um dos
objetivos específicos. Momento este em que se teve a impressão da insatisfação dos
usuários, os quais a página deveria atender de forma, minimamente, regular. Impressão
está confirmada quando da avaliação realizada com o software ASES, onde em seu
relatório final apontou grande quantidade de erros e avisos a serem tecnicamente
corrigidos a fim de os sanarem.
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 33
Imprescindível à verificação de pontos falhos acerca da codificação do site no
momento oportuno da averiguação sobre a problematização instanciada como matéria a
ser examinada de forma minuciosa, a qual concebeu exposição real e escrita (relatório),
indicando-os conforme regulamentação e recomendação de órgãos e entidades com
funções descritas no decorrer da explanação teórica. Onde se satisfez o propósito de
apresentar ao setor, até então, responsável pelo site inscrito, proposta, na forma de
sugestão, de implementação das adaptações necessárias ao web site, objetivando a
redução das indicações geradas pelo relatório do software ASES – Avaliador e
Simulador de Acessibilidade de Sítios.
E finalmente, todos os objetivos da proposta inicial de pesquisa foram
alcançados após as perspectivas de coleta, análise e agregação de dados, bem como as
respostas de dados gerais, considerando quantitativamente os usuários atendidos e
possivelmente beneficiados. Igualmente, o parque tecnológico o qual detém atualmente
o Igeprev, da mesma forma, no proceder do estudo, avalia-se o embasamento teórico
apresentado, e pode-se inferir que as possibilidades de melhoria incitadas são positivas
e viável, tecnicamente, o intuito de aperfeiçoamento do conhecimento e o implementar
das técnicas e uso das ferramentas citadas, a fim de tornar o web site acessível às
pessoas idosas, bem como a todos os usuários tidos como não-deficientes ou
necessitados especiais; intenção está satisfeita, culminando na inserção mínima-
tecnológica destes usuários específicos.
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Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 35
TÍTULO: A EVASÃO NO ENSINO SUPERIOR: UM
ESTUDO NO CURSO DE PEDAGOGIA DA FACULDADE
IDEAL – FACI
Gleaecy Leal Pacheco¹, Maria do Socorro Castro Hage¹
1Faculdade Ideal –(FACI)
[email protected], [email protected]
Abstract: This research intend to investigate the main causes of dropout in the Course
of Pedagogy Faci, and propose measures to mitigate this problem. The social relevance
of our study is based on the fact that we conclude the search and the condition to
understand the causes of the course the students to escape, and accordingly take the
institution to create mechanisms in the pursuit of overcoming this problem. The
investigation was initially developed from the theoretical framework on the subject,
followed by a field research among the students circumvented the course, the main
instrument for data collection questionnaires, with open and closed questions. At the
end of the field research was a critical-reflexive and context, based on the authors
discuss about the topic.
Words - Key: school - education - work.
Resumo: Esta pesquisa intencionou investigar as principais causas da evasão escolar
no Curso de Pedagogia da FACI, bem como propor medidas que possam minimizar
esta problemática. A relevância social de nosso estudo baseia-se no fato de que,
concluímos a pesquisa tendo a condição de perceber as causas que levam os alunos do
referido Curso a se evadir, e nesse sentido levar a Instituição a criar mecanismos na
busca da superação deste problema. A investigação foi desenvolvida inicialmente a
partir do referencial teórico acerca do tema, seguida de uma pesquisa de campo junto
aos alunos evadidos do Curso, tendo como principal instrumento de coleta de dados
questionários, com perguntas abertas e fechadas. Ao final da pesquisa de campo foi
realizada uma análise crítica-reflexiva e contextualizada, pautada no que autores
discutem a respeito do tema.
Palavras – Chave: Evasão escolar - Ensino superior – Trabalho.
1. Introdução
A evasão escolar no ensino superior apresenta-se como uma das maiores preocupações
na graduação das últimas décadas, pois representa um fator de desequilíbrio,
desarmonia e desajuste nos objetivos educacionais pretendidos pelas Instituições de
Ensino Superior. Ao considerar a evasão escolar uma problemática no âmbito
educacional é de grande relevância a investigação deste objeto de estudo que pretende
fornecer informações significativas no sentido de investigar as principais causas e
fatores que tem contribuído para a evasão escolar nos espaços das Instituições de Ensino
Superior - IES.
Nesta perspectiva é que surge o interesse em desenvolver este estudo que parte
da necessidade de se investigar os fatores que levam a um elevado índice de desistência
dos alunos de Graduação do Curso de Pedagogia da Faculdade Ideal - FACI.
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Neste sentido, entendemos que o resultado da presente pesquisa possibilitará à
Faculdade Ideal, e mais especificamente ao Curso de Pedagogia a condição de perceber
as causas que levam os alunos do referido curso a se evadir, e nesse sentido criar
mecanismos para que esta problemática seja superada.
Assim apresentamos como problemas de nossa pesquisa algumas questões que
pretendemos elucidar ao desenvolver o estudo:
- Quais as principais causas que levam os alunos do Curso de Pedagogia a evadir-se?
- Que desafios a Instituição poderá enfrentar para superar esta problemática?
2. Desenvolvimento 2.1 Contexto histórico das universidades no Brasil
Para compreendermos melhor as discussões acerca da temática da evasão no ensino
superior, é necessário se fazer um breve histórico da evolução do ensino superior no
Brasil, apresentando seus objetivos e características.
A história do ensino superior no Brasil teve início com o início da filosofia e da
teologia nas escolas jesuíticas no período colonial. Porém algumas mudanças
ocorreriam após a promulgação do fim da ordem religiosa do reino português, em 1759,
o ensino superior passou a ser ministrado nos conventos franciscanos. Segundo Cunha
(2000), a igreja católica apresenta-se como “uma instituição privada que se mesclava ao
Estado pelo regime do padroado”.
Em 1808, as instituições estatais de ensino superior foram criadas, um
favorecimento da transferência da sede do reino português para o Brasil.
Cunha (2000, pg.39), afirma que após a independência, o Império reforçou e
multiplicou esse modelo de modo que, em 1889, quando da proclamação da república,
todo o ensino superior no país era estatal, centralmente mantido e controlado.
Entendamos que, antes de 1920, não existiu nenhuma universidade propriamente
dita e que tivesse uma duração significativa, o que existiu antes da década de 20 foram
algumas experiências de instituições denominadas de universidades.
Nos primeiros governos republicanos houve ausência do interesse mesmo com o
predomínio da ideologia liberalista e do positivismo, quanto em privatizar as
instituições existentes de nível superior. Isso decorre da união do professorado das
faculdades estaduais com os que estavam no poder. No período republicano houve um
aumento do ensino superior e juntamente com este a complexibilidade que se dava no
processo por conta da “criação e manutenção das faculdades federais nos estados, pela
criação e manutenção das faculdades estaduais nas cidades do interior reconhecidas
politicamente e a criação de faculdades privadas que atendiam os que não eram
atendidos pelas instituições públicas”. (CUNHA, 2000).
Para entendermos melhor como se deu o processo de expansão das instituições
de nível superior e sua configuração e a relação das instituições públicas e privadas
faremos uma breve incursão na história da universidade.
Desde o período colonial tentou-se introduzir no Brasil um modelo de
universidade que foi negado pela Coroa aos jesuítas e permaneceu negada durante todo
o Império e a República Velha. Depois de muitas resistências surgiu a primeira
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universidade no Brasil (Universidade do Rio de Janeiro), em Sete de setembro de 1920.
Esta nasceu como uma associação de escolas de caráter totalmente profissionalizante.
Logo após em 1927, surge a Universidade de Minas Gerais trilhando os mesmos
caminhos da Universidade do Rio de Janeiro voltada para o objetivo de formar
exclusivamente para exercício de uma profissão. Esta concepção foi norteadora durante
muito tempo.
A partir da Revolução de 30, muitos debates foram levantados acerca da
natureza das universidades. Anísio Teixeira foi um dos precursores que idealizava uma
universidade de caráter autônomo, neste período predominava o modelo
neonapoleônico, induzindo a formação de sujeitos teórica e politicamente críticos.
Porem este pensamento inovador era visto pelo Estado como ameaçador.
Quando surgiu a Universidade de São Paulo, Fernando de Azevedo e outros
adviram com a Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras caracterizada pela busca crítica
de saber, desviando-se do regime tradicional de ensino fundamentada na
profissionalização. Por conta de seu caráter inovador sofreu repressões das Escolas
profissionais e a Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras, incorporada à USP, deu lugar
ao modelo neonapoleônico, pois para que a universidade permanecesse ativa era
necessário adequar-se ao caráter profissional predominante da época.
A partir da década de 60 várias correntes defendiam uma Reforma Universitária
que, sobretudo, considerasse o ensino e a pesquisa e que considerasse a autonomia
universitária e administrativa e de gestão financeira da universidade, como uma
bandeira a ser defendida. Teixeira (1988 apud Sguissard, 2004) comenta acerca do que
uma determinada corrente visava:
[...] “a integração das múltiplas escolas com objetivos similares e isolados entre
si [...]. Em essência, um problema de racionalização dos serviços de ensino oferecidos
pela universidade ampliada e em crescimento espontâneo e desordenado”. (TEIXEIRA
apud SGUISSARD, 1988, p. 38)
Em dezembro de 1963, a União Nacional de Estudantes -UNE- apresentou
algumas propostas em um documento com o intuito de serem atendidas com a Reforma
Universitária. Algumas propostas destacaram-se como: “a democratização do acesso ao
ensino superior e a democratização interna da Universidade brasileira”.
A reforma universitária aconteceu em 1968, com a LEI 5540/68, abriu caminhos
para a realização do que há tempos foram objetos de reivindicações e que para muitos se
apresentava como a abertura para a modernização da educação superior. O que na
verdade se garantiu com a reforma universitária foi a obrigatoriedade da associação
entre ensino e pesquisa, complementado com a definição do fim da cátedra vitalícia,
constituía oficialmente a fixação do regime departamental e proporcionava a criação da
carreira docente. (SGUISSARD, 2004, p. 39)
A reforma também proporcionou a criação da pós-graduação no país e
profissionalizou o sistema universitário, com a implantação dos regimes de tempo
integral.
Duas décadas depois da implantação da LEI 5540/68, podia-se observar que em
parte a reforma no que diz respeito a pós-graduação e a carreira docente atingiu um
resultado positivo, porém, por outro lado, deixou a desejar com a falta de estímulo à
expansão das vagas públicas, “pois mais de 61% das matrículas estavam centradas no
setor privado de ensino”, a respeito do regime de tempo integral os números não deixam
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dúvidas de que houve um desvio considerável do que consistia na lei, sendo que 60%
dos professores trabalham em regime de tempo parcial.
Segundo Trindade (2000), se gerou um processo de privatização, isto se deu por conta
da estimulação dos governos militares.
2.2 Universidade Pública X Universidade Privada
Na década de 50 as instituições estatais e privadas foram constituídas universidades,
devido a federalização destas, que por lei passaram a ser controladas e mantidas pela
União. Segundo Cunha (2000), as instituições privadas foram beneficiadas por
dispositivos da Constituição de 1934 e das que se lhe seguiram, inclusive na de 1988,
em vigor, isentando-as de todos os impostos sobre o patrimônio a renda e os serviços
prestados.
Por consequência das intervenções que provocaram o amento do ensino superior
(militares do golpe de estado e os grupos privatistas com a aprovação da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação nacional - LDBEN - 1961), o conselho federal de
educação formado em sua maioria por dirigentes das instituições privadas, determinou o
“fim do processo de federalização de estabelecimentos de ensino superior.” Além disso,
alargou as possibilidades de se ter um resultado positivo com o afrouxamento do que
antes lhes restringiam que eram as normas de criação de cursos, a ampliação de vagas e
a concessão de status universitários.
Diante das possibilidades que favoreciam as Instituições de Ensino Superior
privadas, as instituições públicas tiveram, com efeito, um progressivo atendimento que
Cunha (2000) relata: As universidades públicas desenvolveram-se bastante durante o
regime militar, quando foram constituídos campos suburbanos, por vezes monumental,
instituído o trabalho docente em tempo integral, como regra criada a pós-graduação
articulada à carreira dos professores e providas linhas de financiamento à pesquisa
científica e tecnológica. A constituição de 1988 efetivou todos os docentes e corpo
técnico-administrativo como funcionários públicos pelo Regime Jurídico Único e aboliu
as restrições legais e à sindicalização. Mesmo com as reiteradas declarações em defesa
de sua transparência aos estados ou ao setor privado, relativa autonomia das
universidades federais permitiu o crescimento do corpo de professores e funcionários.
(CUNHA, 2000, p. 42).
Segundo Sgrissard (2004), as IES privadas, sobretudo as com fins lucrativos,
estão expandindo mais do que as públicas. No ano de 1994 a 2000 houve um aumento
de 38% do número de IES no país, o das IES privadas cresceu 58% e o das públicas
diminuíram 23%. Considerando o número de IES municipais houve uma diminuição de
86 para 54; o das federais manteve-se com 39 e o das IES isoladas federais aumentou de
18 para 22; o número das estaduais aumentou de 25 para 30 e o das IES isoladas
diminuiu de 48 para 31.
No que diz respeito às matrículas no mesmo período de 1994 a 2000, houve um
acréscimo de 62% para 86% e no setor público apenas 28%. Considera-se que o
aumento de matrículas no setor privado foi de 121% no período, contra apenas 36% no
setor público.
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De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – as
vagas do setor privado distribuídas nas regiões do Brasil revelam uma competição entre
as IES do setor com o intuito de atrair uma maior clientela.
No primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a fim de reformar a educação
superior, tem contribuído parar fortalecer e aprofundar o conjunto de medidas e ações
privatizantes executadas em que a fase de Fernando Henrique Cardoso exerceu a
presidência do Brasil (1995 – 2002).
2.3 A educação superior no estado do Pará
No estado do Pará a esfera pública concentrou a maioria dos cursos ofertados no ano de
1995 a 2002, bem como a expressiva parcela de matrículas realizadas; em contra ponto
a isto, as IES privadas, no que diz respeito às dependências administrativas,
apresentavam-se em preponderância.
De acordo com Corrêa (2006), as universidades localizadas no estado do Pará
também estão seguindo uma tendência nacional e procuram conceber as suas propostas
de formação segundo a lógica da concorrência de mercado e, na disputa pelo cidadão-
cliente-consumidor, elas passaram a oferecer produtos educacionais com perfis
diferenciados e para uma demanda igualmente diferenciada, que são os professores em
pleno exercício do magistério, mas sem a devida qualificação para tal.
Em geral as IES formulavam e implementavam cursos de contrato com uma
característica que é relevante quando a diversificação de suas propostas, que se revela
quanto as múltiplas formas de oferta, o custo cobrado pelo curso, o tempo de duração, o
perfil profissional e a organização curricular.
A oferta da educação superior no Pará concentrou-se, no ano de 1945 a 1996,
mais especificamente no setor público com a Ufra, UFPA e UEPA, que correspondiam
a 75% do total de IES no Pará, enquanto os 25% eram de caráter privado (Unama).
Nessa época, suprimiram-se as faculdades isoladas privadas e as públicas em virtude da
sua congregação em torno das universidades que surgiram. (CORRÊA, 2006)
Houve um refluxo, nos anos de 1996 a 2004, quanto ao crescimento de IES de
caráter privado, representados por faculdades, centros de ensino, escolas superiores e
institutos que disputavam ofertas de educação superior. De acordo com a pesquisa
realizada por Corrêa (2006), neste período foram criados dois centros (Cefet-Pa e
Cesupa), duas escolas superiores (Esamaz e Esmac), catorze faculdades (Fama, Fabel,
Fesar, Feapa, FAI, FAZ, CET-PA, Fatefig, FAP, Faci, Fibra, Fapan, Fatebe, e Ises),
cinco institutos (Iesam, Iespes, Iles, Isei e Instituto de Ensino superior do Pará).
Verifica-se, portanto, que houve um elevado aumento de IES privadas, onde a
representatividade institucional é de 8,33% para o setor público (24 instituições
surgidas) e 91,66% para o setor privado.
A partir do ano de 1999, inúmeras IES privadas surgiram e obtiveram
credenciamento para funcionar no âmbito da oferta de educação superior, junto a este
fenômeno de expansão surge à faculdade Ideal – Faci – criada em 1999, de caráter
restritamente privado.
Segundo Corrêa (2006), o histórico das instituições participantes do sistema de
ensino superior no Pará, evidencia que a maior parte das dependências administrativas
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ficou sob a responsabilidade da iniciativa privada, enquanto uma pequena parte
concentrou-se no setor público.
O aumento da oferta do nível de ensino superior no estado do Pará resultou da
diversificação institucional, que representa o predomínio de novos espaços acadêmicos.
Em 2004, a oferta dos cursos de graduação chegou ao total de 568, e eram
ofertados por diversas instituições de ensino superior que apesar da expansão das
dependências acadêmicas não conseguem atender a demanda estudantil.
Percebe-se neste período que há uma preocupação em relação à expansão do
domínio dos centros, faculdades, Institutos e Universidades em diversas localizações do
espaço paraense. Contudo, Belém ainda é o Município que concentra parte considerável
das dependências administrativas, consequentemente, capta também a maioria dos
cursos.
Segundo Corrêa (2006), o processo de diversificação nas instituições de ensino
superior no Pará, tem favorecido sobremaneira a política de massificação e de
privatização. Tal situação ficou evidenciada quando se verificou o acentuado
crescimento das faculdades, e dos institutos privados na prestação dos serviços
educacionais. Vale ressaltar que as instituições acadêmicas passaram a ampliar a
abrangência de sua territorialidade saindo da capital para os interiores do estado (zona
rural) e bairros em arredores desta, com a intenção de conquistarem espaço em meio aos
conflitos que surgem por conta de oferta de vagas. A disputa em torno da demanda
estudantil tem conduzido algumas instituições de ensino superior a tornarem-se mais
flexíveis quanto ao processo seletivo, o que pode ocasionar no surgimento de problemas
que permeiam o ensino não somente no Brasil, mas no mundo todo.
Com base nesses pressupostos, compreendemos que o surgimento das
Universidades no Brasil teve sua grande importância ao possibilitar aos alunos o acesso
ao ensino superior, como forma de se buscar uma educação de qualidade.
3. A evasão no ensino superior
Não podemos negar, no entanto, que no bojo do processo dos trabalhos desenvolvidos
no ensino superior, surgiram vários problemas que precisam ser superados com
urgência, e um deles diz respeito à evasão escolar que tem se intensificado nos últimos
anos neste nível de ensino.
Assim, nos últimos anos a evasão escolar, um fenômeno complexo comum às
Instituições de Nível Superior no mundo contemporâneo, tem sido objeto de alguns
estudos e análises, especialmente nos países do primeiro mundo. Neste caso revela-se
como um problema de nível internacional que tem afetado o resultado dos sistemas
educacionais.
De acordo com Lobo & Filho (2007), os alunos que iniciam, porém não
terminam os cursos contribuem diretamente para a intensificação dos desperdícios
sociais, acadêmicos e econômicos. No setor público é um dinheiro investido sem o
devido retorno. No privado representa perdas de receitas. Desta forma configura-se
numa “fonte de ociosidade de professores, funcionários, equipamento e espaço físico.”
Vale ressaltar que as instituições privadas investem de 2% a 6% em marketing com o
intuito de atrair novos estudantes, porém não é o mesmo investimento que se faz para
manter os que se encontram matriculados.
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No Brasil, as pesquisas se tornam mais frequentes a partir de 1995, quando foi
constituída a Comissão Especial de Estudos sobre Evasão, através de Portaria
SESU/MEC, com o objetivo de desenvolver um estudo, sobre o desempenho das
Instituições Federais de Ensino Superior. O estudo, concluído em outubro de 1996,
reúne um conjunto significativo de dados sobre desempenho das IES, relativos aos
índices de evasão de seus cursos de graduação identificados com objetividade, pois que
essencialmente quantitativo, tornando-se referência nacional.
Para Tigrinho (2008), a evasão no Brasil é entendida como uma interrupção no
ciclo de estudo, causando prejuízos significativos sob o aspecto econômico, social e
humano, em qualquer que o nível de educação.
Para Moreira e Silva (2007), a evasão escolar não pode ser naturalizada,
principalmente quando se trata de elevada evasão em oferta pública e gratuita de
educação superior, em um país no qual apenas a minoria da população chega a esse
nível educacional. Nesse sentido, convêm explicitar que atualmente de acordo com o
que apresenta Brasil (2007), a taxa bruta de escolarização na educação superior no país
é de 20% e a taxa líquida é de 12%. Além disso, a grande maioria dessa matrícula está
nas Instituições Privadas de Educação Superior (74,1%; segundo o Censo da Educação
Superior 2006/INEP), de maneira que a absoluta maioria do universo de estudantes da
educação superior está pagando pelo que deveria ser um direito social.
Em 2005, o Brasil tinha 2.165 IES, sendo que 231 eram públicas, o que equivale
a 10,7% do total, e 1.934 privadas, ou seja, 89,3% do total de IES no Brasil. (LOBO
&FILHO, 2007)
Dados do Inep mostram que há no ensino superior uma predominância
quantitativa das instituições privadas, o que nos permite inferir que os dados referentes
aos alunos das IES privadas afetam de forma decisiva os indicadores globais do ensino
superior, inclusive a evasão.
A evasão anual nas IES públicas e privadas oscila em torno de 12%, variando
entre 9% a 15% no período, de 2000 a 2005, enquanto as IES privadas mostram uma
oscilação em torno de 26%, contra uma taxa nacional típica de 22%. Obviamente, como
as IES privadas detêm a maioria dos alunos no ensino superior, seu peso é maior e a
média nacional está mais próxima de seus índices.
Tigrinho (2008), afirma que o ingresso na educação superior não garante êxito
educacional do estudante, pois as características deste nível de ensino diferem da
educacional fundamental e média. O que pode induzir os alunos a desistência por conta
do impacto causado pelas transformações exigidas na academia. Segundo o autor a
descontinuidade em relação ao que o aluno vivenciará até então causa insegurança
quanto a carreira e exige mudanças significativas de hábitos, utilização de novas
estratégias de aprendizagem, capacidade de conviver com colegas que têm condições,
habilidades e aspirações que não combinam com as suas.
Outro motivo que pode levar a evasão está relacionada à vida universitária, a
estrutura e a metodologia do trabalho acadêmico, quando o aluno, mesmo com pouco
conhecimento específico decepciona-se quanto as expectativas levantadas e a vivência
no curso, na intenção de exercer futuramente a profissão.
Alguns candidatos a educação superior tendem a desistir desde o inicio, da
tentativa de ingressar em um curso bem concorrido, optando por outros menos
procurados, mesmo com pouca ou sem nenhuma identificação na área da profissão
correspondente. Acreditam que ao optarem por um curso menos concorrido terão
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maiores chances de ingressarem na educação superior, acreditando que ascensão do
nível educacional (educação superior) poderá facilitar a ascensão social em decorrência
do título (diploma).
De acordo com Tigrinho (2008), sobre o ponto de vista socioeconômico,
geográfico e pela escola de origem, os mais privilegiados tendem a conquistar as vagas
mais concorridas, o que também não garante que esses alunos não irão evadir-se, haja
vista o número significativo de matriculados que não se titulam no prazo mínimo
proposto pela instituição, seja m por qualquer razão.
De acordo com dados do INEP, a velocidade de expansão do ensino superior no
Brasil e a preponderância das IES privadas no setor elevaram-se de 76,5%, em 1995
para 89,8% em 2005.
Considera-se que a comparação da evasão entre as IES públicas e privadas nos
anos de 2000 a 2005, nos permite perceber que as privadas detêm a maioria dos alunos
no ensino superior, sendo assim seu peso é maior e a média nacional está mais próxima
de seus índices. Nas IES públicas os índices de evasão oscilaram em torno dos 12%
com uma variação que vai de 9% a 15% entre os anos de 2000 a 2005, e nas privadas
essa oscilação chega a 26% e a taxa nacional é de 22%.
Segundo dados do Inep a região Norte no período de 2000 a 2005 como um todo
tem uma evasão média anual menor que a do país, esses dados comprovam que cada
estado teve sua evasão anual de forma distinta da que ocorreu no país no mesmo
período.
Cerca de 60% dos alunos matriculados na região Norte, em 2005, estavam em
instituições públicas, sendo assim é natural que a taxa de evasão destas sejam
consideradas maiores em relação ás privadas. Vala ressaltar que a taxa de evasão nas
instituições públicas foi bem menor que a nacional.
Segundo Lobo & Filho (2007), os estados da região Norte passaram, no período
de 2000 a 2005, por grande mudança quantitativa no ensino superior. Com a criação de
IES e de que cursos que oferecem um número razoável de vagas, no primeiro momento
houve um aumento no número de matrículas e de ingressantes afetados pela demanda
interna que apresentava-se reprimida, sem contar com o expressivo contingente de
estudantes oriundos de outros estados. Toda essa movimentação gerou uma evolução
que difere, com exceção do verificado no estado do Pará, do que se observou do país
como um todo.
3.1 Causas da evasão ás margens da literatura
A evasão no ensino superior pode ser relacionada à imensa diversidade do sistema e à
especificidade de cada unidade universitária. De acordo com Castro (1994), o
importante é estudar as razões e propor hipóteses que possam ser operacionalizadas em
busca de resolver as questões.
A evasão insere-se no processo educacional, que pode apresentar-se no intervalo
entre o início do processo, com a entrada do educando na Instituição, e o momento de
sua saída, traduzida em sua formatura, uma série de fatos ocorrem; muitos obstáculos
surgem dificultando variavelmente a trajetória do aluno, e acabam interferindo na
continuidade do processo, ocasionando o desligamento da instituição ou do curso - a
evasão do aluno do processo educacional.
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Segundo Viana (2007), o esclarecimento deste problema no âmbito educacional
pode estar no caráter social que ocorre no interior da instituição e/ou anterior a vida
acadêmica superior, assim como um afastamento involuntário, deste modo, o motivo
pode estar no indivíduo ou na instituição.
De acordo com Lobo & Filho (2007), de modo geral, as instituições públicas e
privadas, afirmam como principal razão da evasão, a falta de recursos financeiros para
que o estudante tenha condições de prosseguir nos estudos. Entretanto, essa afirmativa,
como considera o autor, é resultado de uma simplificação, observada nos estudos a
respeito da evasão, pois uma vez que as questões de ordem acadêmica, as expectativas
do aluno em relação a sua formação e sua integração com a instituição de ensino
constituem, na maioria das vezes, os principais fatores que acabam por desestimular o
estudante e priorizar o investimento de tempo ou financeiro para a conclusão do curso.
De acordo com a UNESCO (2004), a repetência e a evasão são fenômenos que
em muitos casos, estão interligados e ocasionam o abandono nos cursos.
Tigrinho (2008) apresenta alguns fatores que influenciam direta e indiretamente
nas causas da evasão:
1. Repetência: Muitos estudantes após a reprovação em uma ou mais disciplinas
estão mais vulneráveis a desestimularem-se e desistirem do curso.
Segundo Fregoneis (2002), citado por Tigrinho, por meio de uma pesquisa
quantitativa realizada com alunos ingressantes em um determinado curso, busca
conhecer os problemas inerentes à repetência e à evasão.
Em sua pesquisa concluiu que a reprovação nas disciplinas consideradas difíceis
influencia na questão do aluno permanecer ou não no curso, vale ressaltar que os
critérios de avaliação também contribuem para a desistência.
2. Orientação vocacional: Para o autor os estudantes precisam conhecer as
próprias habilidades, precisam considerar e avaliar as sugestões familiares e
reconhecer as implicações decorrentes da profissão escolhida, além do conhecer
o mercado de trabalho e, para isso, precisa de orientação vocacional.
Muitos estudantes por estarem desprovidos de significativas informações acerca
da profissão que pretende exercer e sobre o curso acabam por evadir, pois se
desapontam quando perceberem que o curso ou a profissão não alcançou ás suas
expectativas.
Segundo Gomes (1998), citado por Tigrinho, a falta de informação sobre o curso
leva muitos estudantes a evadirem, e em muitas IES a taxa de desistência ultrapassa os
50% dos matriculados nos cursos no processo seletivo.
A preocupação em informar o candidato, como retrata Andriola (2003), deve ser
considerada relevante no que diz respeito a previsão de problemas futuros que afeta não
somente o estudante, mas também a própria instituição na qual ingressou e a sociedade.
Os candidatos devem ser informados quanto ao tempo mínimo de duração do curso;
número de créditos a cursar e o programa do curso; áreas de atuação; possibilidades
profissionais e de mercado de trabalho; a possibilidade de prosseguir os estudos, a nível
de pós- graduação.
3. Mudança de curso: Segundo Andriola (2003), citado por Tigrinho, afirma que
as mudanças de curso nas IES são alarmantes, e aponta para os equívocos na
orientação profissional, como também representa o ônus para a sociedade, pela
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ocupação indevida das vagas tão escassas, sobretudo nas IES públicas e pelo
desperdício que elas acarretam.
A evasão em relação ao rendimento dos cursos nas IES é subestimada, já em
relação a visão que se tem do abandono total é superestimado.
De acordo com Paredes (1994), 64% dos estudantes que abandonaram algum
curso obtiveram uma titulação em outra instituição, sendo que o sistema permite a
mobilidade dos alunos entre as IES e aceita matrículas de baixo comprometimento,
sabendo que desta forma induzirão à permanência deste comportamento nos alunos.
Existe um significativo número de alunos que mudam de curso na mesma IES
ou cancelam a matrícula por terem sido aprovados em outra instituição, os prejuízos
decorrentes desta decisão são inúmeros, inclusive a perda de receitas, nas IES privadas.
4. Desprestígio da profissão: O autor afirma que alguns estudantes no momento
da inscrição para o vestibular, mesmo que não prestigiem um determinado curso
inscrevem-se, porém por conta disto muitos desistem com tempo. Segundo
Pimenta e Anatasiou (2002), citado por Tigrinho, discutem a situação de que a
universidade necessita de estar integrada, e inserida no universo do mercado de
trabalho, sem deixar de ministrar ao aluno um conhecimento técnico, científico e
contextualizado buscando a qualificação do estudante.
Algumas profissões valorizadas como direito, engenharia e medicina, geram
expectativas de altos salários e emprego garantido. Outros como licenciatura e
bacharelado, considerados no Brasil ainda desprestigiados socialmente em decorrência
dos baixos salários em comparação a outros como apresentado acima. Os estudantes que
se preparam para tais carreiras têm maiores probabilidades de optarem pela evasão.
5. Horário de Trabalho: Segundo Tigrinho (2008), alguns estudantes não
conseguem conciliar o horário escolar com o horário de trabalho, este tem
influenciado significativamente ao abandono do curso nas IES. Há um conflito
entre os compromissos de estudo com os compromissos exigidos no trabalho.
Este é dos fatores que mais contribuem para a evasão de estudantes, vale
ressaltar que têm uma forte ligação com as condições financeiras, bem como a
desestimulação com o curso e a influência dos problemas familiares, pois este
aluno é ciente de que os benefícios adquiridos pela academia serão concretizados
somente ao final do curso.
6. Desmotivação: De acordo com Maia (1984), o aluno evadido é aquele que não
efetivou a matrícula em dois semestres consecutivos. Entende que os principais
motivadores do ingresso na graduação são o desejo de estar inserido no ensino
superior, visando a ascensão profissional, com o intuito de melhorar de vida em
virtude de uma boa remuneração.
De acordo com o autor a desistência é resultado, em geral, da intenção do aluno
ingressar, a qualquer custo, no ensino superior mesmo que o curso escolhido não seja a
opção desejada, desta forma este candidato procura cursos menos concorridos. Em
consequência a isto os estudantes justificam que sua desistência se deu por conta da
falta de motivação e de problemas familiares. Afirma também que a evasão ocorre ao
longo do curso, mas no primeiro período apresenta-se com mais frequência.
Tigrinho (2008), afirma ao ingressar na educação superior o aluno é motivado á
pela expectativa de melhores condições de vida e realização profissional, apesar de
existirem outros fatores motivantes, este é o mais comum dentre os estudantes.
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Outro fator influenciador da evasão, apresentado por Tigrinho (2008), em uma
pesquisa realizada com alguns representantes de IES, está na deficiência da educação
básica, enfatizam que os baixos resultados obtidos pelos estudantes brasileiros nas
avaliações realizadas de nível nacional e internacional, como o SAEB, ENEM e o PISA,
repercutem no rendimento acadêmico, conduzindo muitos estudantes a desistirem dos
cursos me consequência das dificuldades encontradas.
Os problemas de natureza socioeconômica também têm grande influência na
desistência de estudantes, em geral as Instituições de ensino fazem reajustes nas
mensalidades elevando-as e em consequência a isto os acadêmicos são obrigados a
pagarem pelo valor estipulado por esta, mesmo com a ausência de condições
financeiras, por conta disto muito estudante afirmam que não podem permanecer nos
cursos em consequência da falta de financiamento.
É importante que as instituições de ensino superior – IES percebam que os
prejuízos representam um grande desperdício de recursos, já que esses passam a ser
empregados em uma estrutura ociosa. Assim, sem mecanismos capazes de assegurar
que os ingressantes no sistema somente se despeçam dele após concluir todas as etapas
previstas, os tão propagados esforços para aumentar o número de matrículas terão sido
em vão. E o sonho de melhorar a formação dos jovens brasileiros ficará ainda mais
distante.
Lobo & Filho (2007), afirmam que algumas IES brasileiras possuem um
programa institucional profissionalizado de combate à evasão, elaboram planos de
ações, acompanham os resultados e a coleta de experiências bem-sucedidas e que
existem dois conceito que necessitam ser compreendidos com relação a evasão: a
evasão anual e a evasão total.
A primeira mede a percentagem de alunos matriculados em sistema de ensino –
IES – ou em um curso, que não tendo se formado, também não se matriculou no
semestre seguinte ou no ano seguinte.
O segundo mede o número de alunos que ingressaram num determinado curso
ou IES e que não obtiveram o diploma ao final de certo número de anos. A evasão total
também é conhecida como complemento do índice de titulação. Entende-se que os dois
conceitos estão ligados, porém não diretamente, porque depende dos níveis de
reprovação e das taxas de evasão por ano que diferem ao longo do curso. Em geral a
taxa de evasão no primeiro ano do curso é duas a três vezes maiores que a dos anos
seguintes. (LOBO & FILHO, 2007)
Segundo a pesquisa realizada por Tigrinho (2008), algumas IES buscam a
solução na interdisciplinaridade com o intuito de tornar o curso mais atraente para que a
individualidade do aluno seja respeitada. Há preocupação de envolver os estudantes,
para que este se sinta parte integrante do processo ficando mais comprometido com a
instituição de ensino superior. As IES que agem desta forma partem do princípio de que
o estudante precocemente faz a escolha da profissão e as instituições devem lhe auxiliar
quanto a organização de seus estudos para que não desista futuramente do curso.
Há também IES que oferecem descontos para os acadêmicos que apresentam um
bom desempenho em determinado curso e ás vezes até bolsas de estudos para os que
evadem por conta da falta de condições financeiras. Outras procuram utilizar-se de
programas que visam a integração pró-ativa nas IES, na intenção de integrar o estudante
socialmente e academicamente em determinadas ações promovidas pela instituição.
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Porém muitos dirigentes de IES afirmaram como apresenta Tigrinho (2008) em
sua pesquisa, que nada fazem de forma sistematizada para intervir minimizando o
problema da evasão, pois justificam que não sentem necessidade de ações por causa dos
baixos índices de desistência. Afirmam que para manter os estudantes ofertam cursos
noturnos, grade aberta afim de que as matrículas se efetivem segundo as condições
destes, fazem alterações periódicas da grade curricular com a intenção de deixar que as
disciplinas mais difíceis fiquem para serem trabalhadas nos últimos semestres, pois
entendem que neste período os estudantes já estarão bem integrados na instituição de
ensino superior.
4. Materiais e Métodos
O desenvolvimento desta pesquisa se deu inicialmente a partir de um referencial teórico,
subsidiado por estudiosos e pesquisadores que hoje têm trabalhado com a temática
referente à evasão escolar.
É importante ressaltar que o acúmulo de um referencial teórico acerca da
temática estudada é de fundamental importância para subsidiar nosso entendimento
sobre as questões referentes à evasão escolar e seus desdobramentos no ensino superior,
assim como nos possibilitar condições de fazer uma análise contextualizada e crítica ao
confrontar os dados coletados na pesquisa de campo com as referências bibliográficas
adquiridas, estudadas e pesquisadas sobre o tema.
No segundo momento de nosso estudo, foi desenvolvida uma pesquisa de campo
juntos aos alunos evadidos do Curso de Pedagogia.
Como este estudo já se encontra finalizado, é importante ressaltar que foi
realizado um contato inicial com os sujeitos da pesquisa, objetivando fazer um
levantamento prévio das demandas da pesquisa.
Como instrumento de coleta de dados foi utilizado questionários com perguntas
abertas e fechadas, previamente formuladas e tendo como base o diagnóstico prévio no
intuito de responder as questões problemas apresentadas nesta pesquisa.
Ao final da pesquisa de campo e de posse dos resultados, foi apresentada uma
análise critico - reflexiva dos dados coletados, objetivando apresentar à comunidade
acadêmica da Instituição, objetivando subsidiá-lo nos resultados, dando condições para
que a referida instituição possa repensar seus mecanismos e repensar novas formas de
impedir que os alunos evadam-se e assim possam concluir seu ensino superior.
5. Resultados
De acordo com a pesquisa realizada com os sujeitos evadidos da Faculdade Ideal,
percebemos em nossa análise que a maioria dos entrevistados ao prestar vestibular, na
intenção de estar inserido na academia, efetuou a inscrição no curso de pedagogia como
segunda opção.
Dos sujeitos entrevistados, 75% destes afirmaram que não tinham como
prioridade a área da educação pela falta de aptidão, pois tinham a intenção de ingressar
em outro curso. Vale ressaltar que a alta concorrência do curso desejado por estes foi
um dos fatores que induziu os alunos a optarem por um menos concorrido.
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 47
O restante dos entrevistados, 25%, afirmaram que tinham o curso como primeira
opção, devido a curso de pedagogia oferecer inúmeras possibilidades de atuação no
mercado, ou seja, permite atuar tanto na sala de aula, quanto na gestão escolar, em
empresas e até em hospitais. No que diz respeito á prioridade em optar pela área da
educação no processo seletivo, entendemos que a maior parte destes considera o curso
de pedagogia inferior á outros cujo há mais prestígio social, em consequência da
valorização econômica.
Dos alunos entrevistados um percentual de 50%, afirmou não ter uma
identificação com o curso, justificando que identificavam-se com outros no qual não
estavam cursando por causa da grande concorrência no processo seletivo. Sendo que
65% do total de entrevistados argumentavam que a metodologia trabalhada em sala de
aula era desmotivante.
Como citado acima, alguns estudantes que pretendem ingressar na educação
superior tendem a desistir da tentativa de prestar vestibular para um curso bem
concorrido. Estes preferem tentar por outros de menor concorrência, mesmo com pouca
ou sem nenhuma identificação na área da profissão a que pretende sem a devida
identificação, tão necessária para motivar o estudante a concluir o curso no qual
ingressou. Alguns alunos acreditam que ao optarem por um curso menos concorrido
terão maiores chances de ingressarem no ensino superior.
Alguns estudantes que pretendem ingressar no nível a educação superior tendem
a desistir da tentativa de ingressar em um curso bem concorrido. Estes preferem tentar
por outros de menor concorrência, mesmo com pouca ou sem nenhuma identificação na
área da profissão a que pretende sem a devida identificação, tão necessária para motivar
o estudante a concluir o curso no qual ingressou. Alguns alunos acreditam que ao
optarem por um curso menos concorrido terão maiores chances de ingressarem no
ensino superior.
O percentual de estudantes que evadiram e se identificaram no curso de
pedagogia é de 50%, segundo a análise realizada, isto se dá através da satisfação com a
metodologia utilizada pelos professores em sala. Onde 20% destes acrescentaram que
estavam satisfeitos com a grade curricular, pois está só reforçou a identificação que
tiveram com o curso no que se refere ao que trabalhariam durante os períodos letivos.
A razão pela qual os sujeitos da pesquisa evadiram nos aponta que um número
significativo de desistência por conta da falte identificação com o curso. Isto nos remete
a questão de que mais da metade do percentual total dos estudantes optaram por fazer
outro curso, de acordo com o que desejavam antes de realizarem as avaliações do
processo seletivo na faculdade.
Podemos considerar que a falta de identificação com o curso de pedagogia foi o
fator predominante na desistência dos estudantes. Em nossa análise percebemos o
quanto se faz necessário este aluno definir qual área realmente pretende atuar, para que
em consequência a isto, possa estudar um curso na faculdade sem ter que correr os
riscos de sair prejudicado na relação que se dá na vida acadêmica, sabendo que a
desistência do curso mesmo que ao início do curso causa grandes prejuízos tanto de
ordem econômica, quanto de ordem social e educacional.
Há também outros fatores apontados como grandes influenciadores na evasão no
ensino superior, que são: a falta de condições financeiras, problemas familiares e a
conciliação entre horário de trabalho e de estudo.
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Como a instituição onde realizamos esta pesquisa é de caráter privado logo se
tinha a concepção de que as desistências se davam por conta da falta de condições
financeiras dos sujeitos em poder pagar um curso na faculdade. Porém os resultados
desta pesquisa desmistificam a ideologia que trata a falta de verbas como fator causador
principal das evasões. Vale ressaltar que o fator principal entendido em nossa pesquisa é
a não identificação com o curso de pedagogia.
Com relação a situação econômica entendemos que a ação do governo em
promover uma ajuda de custo (desconto nas mensalidades que serão devolvidas ao caixa
do governo após o término do curso) aos alunos que ingressaram em IES privadas, e
que não fazem parte do ENEM, para alguns estudantes não é suficiente, pois a maioria
destes além de trabalhar ainda necessita cuidar da família e estudar.
De acordo com a pesquisa de campo realizada, percebemos o quanto a família
também influencia nesta decisão. Alguns problemas familiares ou por situações que
envolvem a família afetam consideravelmente no rendimento acadêmico dos educandos.
Ao se tratar de problemas familiares (familiares doentes, falta de apoio nos estudos,
desemprego etc) o educando sente-se pressionado a desistir na tentativa de minimizá-
los. Outras situações como casamentos não planejados e/ou nascimento de filhos,
dificultam a vida na academia, podendo até conduzir a evasão.
As dificuldades apresentadas pelos estudantes eram as seguintes: dificuldade de
realização de trabalhos em sala de aula ligados ao conteúdo das disciplinas; dificuldade
de adaptação no curso e falta de motivação nas disciplinas; dificuldade em conciliar
horário de trabalho, com horário de estudo e cuidados com a família.
A maior parte das dificuldades remete-se ao que e como é trabalhado o ensino na
sala de aula e na relação dos sujeitos inseridos neste espaço. Muitos professores não se
dão conta de que a maneira como trabalham o ensino influencia na falta de motivação
do educando, e se este não tiver o curso como primeira opção, não é regra, mas a
maioria acaba optando por desistir em função do desinteresse criado pelo curso a partir
do não atendimento das expectativas criadas em geral no início deste.
A dificuldade relacionada á conciliação do horário de trabalho, de estudo e em
alguns casos que exige tempo para cuidar da família conduz á evasão por conta de não
haver uma adequação no horário que atenda a seguinte rotina.
Concluímos que a não identificação do aluno com o curso foi o fator principal
que induziu muitos estudantes do curso de pedagogia a evadirem. Há de se considerar
que outros fatores contribuíram significativamente para esta problemática educacional,
que são: a dificuldade financeira, a dificuldade de conciliar o horário de estudo com o
horário trabalho, problemas familiares, mudança de curso, a dificuldade de trabalhar
segundo a metodologia apresentada na IES. Segundo os resultados desta pesquisa
entendemos o quanto se faz necessário perceber que a evasão tem causado grandes
prejuízos tanto para as IES, quanto para os próprios alunos que evadiram, afetando a
sociedade por conta da influência que abrange o social, o econômico e o educacional.
6. Conclusão
Com base em nosso estudo acerca da evasão escolar no ensino superior, podemos
concluir que foi de grande importância esta pesquisa, porque nos possibilitou investigar
e conhecer as principais causas que levam o aluno a evadir-se das faculdades.
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A evasão escolar tem sido hoje muito lida, estudada e discutida por vários
estudiosos, pois tem se configurado em uma grande experiência para que alguns
estudantes possam concluir seus estudos e inserir-se no mercado de trabalho.
A partir das leituras, da pesquisa de campo e das análises dos dados coletados
podemos ressaltar que vários motivos levam os alunos à evadirem-se do ensino
superior, o que configura-se em um grande complicador para a formação profissional
destes alunos e para a própria instituição de ensino superior no qual estavam inseridos
antes de evadirem.
A realidade social do nosso país pode ser um definidor deste quadro de evasão;
pois muito alunos acabam por desistir dos seus cursos para desenvolverem outras
atividades urgentes em detrimento de sua formação profissional.
Em nossa pesquisa percebemos o quanto a falta de identificação com o curso
tem influenciado estudantes a desistirem, e que os problemas financeiros, bem com os
familiares contribuem significativamente para a intensificação da evasão no ensino
superior.
Consideramos assim, preocupante a situação de alunos que se esforçam bastante
para conseguir o acesso ao ensino superior e no decorrer deste processo acabam por
desistir.
Muitas ações precisam ser desenvolvidas no sentido de tentar superar esta
situação, que vai desde as questões sociais e econômicas da sociedade até uma
significativa mudança no interior das Instituições de Ensino Superior para tentar manter
este aluno em seus cursos de graduação e assim, qualificar um profissional para atuar no
mercado de trabalho de forma competente e comprometida.
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 50
7. Referências
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10. TRINDADE, Hélgio (org.). Universidade em ruínas na república dos
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11. UNESCO. Términos de Referencia para Estudios Nacionales sobre Deserción y
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12. MOURA, Dante Henrique & SILVA, Meyrelândia dos Santos. A evasão no
curso de licenciatura em geografia oferecido pelo
13. Cefet-rn. Artigo Científico, Revista Holos, Ano 23, Vol. 03. 2007.
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 51
ANÁLISE GEOESPACIAL APLICADO A TOMADA DE DECISÃO PARA A
LOCALIZAÇÃO E REGULAMENTAÇÃO DE POSTOS REVENDEDORES DE
COMBUSTIVEIS NO MUNICIPIO DE BELÉM/PA.
Maiara Nascimento dos Santos¹
1Faculdade Ideal –(FACI)
Resumo: As expansões desordenadas de centros urbanos no Brasil são responsáveis
por inúmeros problemas que envolvem questões ambientais e influenciam na qualidade
de vida dos habitantes destes espaços. Na intenção de auxiliar a tomada de decisão no
que tange a implantação, fiscalização e obediência à legislação de postos revendedores
de combustíveis, o estudo visa investigar através das ferramentas do geoprocessamento
os possíveis conflitos gerados a partir da localização de postos revendedores em
relação às escolas, os hospitais e aos demais equipamentos urbanos no município de
Belém/PA. No intuito de contribuir para a construção da ausente legislação municipal
que determine a distância mínima deste tipo de operação sem que haja prejuízo físico e
ambiental para o universo coletivo da capital paraense.
Palavras-Chave: Posto Revendedor de Combustível, Geoprocessamento, Análise
Espacial.
Abstract: Disordered growth of urban centers in Brazil are responsible for many
problems that involve environmental issues and influence the quality of life of the
inhabitants of these spaces. Intended to aid in decision making regarding the
implementation, supervision and compliance with legislation resellers gas stations, the
study aims to investigate through geoprocessing tools possible conflicts generated from
the location of gas stations in relation to schools, hospitals and other urban facilities in
the city of Belém / PA. In order to contribute to building the missing municipal
legislation determining the minimum distance of this type of operation without any
physical and environmental damage to the collective universe of the state capital.
Keywords: Gas Fuel Dealer, GIS, Spatial Analysis.
1. Introdução
Mozart Schimitt de Queiroz comenta que ao iniciar um novo milênio, sobre o modelo
de desenvolvimento que impulsionou o crescimento industrial das sociedades
capitalistas no século XX, criou-se uma indústria poluidora e de alto risco. Tem razão
os que caracterizam o petróleo de “ouro negro”; Conseqüentemente viabilizaram as
duas das indústrias mundiais mais rentáveis do século XX: a indústria do petróleo e a
indústria automobilística. Com o avanço da indústria do petróleo, consequentemente o
número dos postos de combustíveis cresceu desordenadamente, sem nenhum tipo de
controle, com isso os impactos gerados por esses empreendimentos cresceu
assustadoramente.
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O período pelo qual o intendente Antônio Lemos promoveu uma transformação
em Belém, conforme o urbanismo francês de Haussmann sendo importante destacar, as
vastas redes de grandes vias, o qual contribuiu para o desenvolvimento da cidade.
Segundo Pinto (2004), Lemos rompeu o limite das intervenções que somente
alteravam o centro da cidade, ao colocar em prática um ambicioso plano de
modernização de Belém, nos primórdios da República, projetando-a integralmente
dentro do amplo espaço da 1ª Légua Patrimonial, criando novas áreas e definindo um
desenho para a cidade que permanece atual os dias de hoje.
O ambicioso plano de modernização de Belém era financiado com os recursos
propiciados das exportações da borracha amazônica, e assim iniciou-se paralelamente
uma política ativa, em matéria de serviços públicos como o sistema viário, rede de
esgoto, distribuição de água e gás, mercados cobertos, feiras, estações, hospitais,
espaços verdes, entre outros equipamentos urbanos.
Levando em consideração que inúmeros postos revendedores de combustíveis
encontram-se próximos a centros de serviços de inúmeras variedades. Visando
contribuir com a mitigação dos problemas ambientais resultantes do incremento da área
urbana nesse município, esta pesquisa visa adquirir e analisar dados relacionados à
localização de PRC’s, escolas, hospitais e outros equipamentos urbanos, gerando um
modelo automatizado, mapeando as áreas onde abrigam postos de combustíveis e os
possíveis conflitos gerados pelos mesmos quando defrontados com a legislação
ambiental vigente, associado às técnicas de geoprocessamento, o que possibilitará a
verificação da correlação espacial entre esses fatores, gerando mais uma ferramenta para
auxiliar a tomada de decisão no gerenciamento territorial urbano.
A implantação desordenada de PRC’s são causadores de muitos danos ao meio
ambiente e devem ter um maior controle e um monitoramento no sentido de minimizá-
los. Para tal, com o avanço das tecnologias, e em particular das técnicas de
geoprocessamento, é possível se obter respostas satisfatórias do comportamento
espacial dos postos, zoneando áreas de risco, áreas ilegais e áreas propicias a
implantação de postos de combustíveis.
A relevância da pesquisa se acirra na medida em que com os resultados em mãos
será possível direcionar as ações que visem evitar e/ou diminuir, fatores de risco como:
armazenamento em tanques de combustíveis e depósitos; emissão de gases,
provenientes dos veículos, dos suspiros dos tanques e manuseio das bombas com
liberação de odor; emissão de ruídos, efluentes líquidos da troca de óleo, e
abastecimento que originam resíduos de óleos, aditivos, filtros, pneus, borrachas e
demais derivados. Pois estes fatores são possivelmente potencializados a medida que se
configuram agrupados.
Então, um instrumento norteador de ações como o mapa de distância dos postos
de combustíveis no município de Belém é instrumento de suma importância a contribuir
com o esfumaçamento desta problemática.
2. Fundamentação Teórica
Segundo Rodrigues (1993) “Geoprocessamento é um conjunto de tecnologias de coleta,
tratamento, manipulação e apresentação de informações espaciais voltados para um
objetivo específico”, é utilizando estas técnicas que se obtêm os indicadores que
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norteiam todas as inferências estatísticas e espaciais presente nos resultados de
pesquisas que envolvam esta tecnologia.
Para Oliveira et al (2008), Vivemos no período do descartável, tudo vem sendo
relativizado, a cultura do descartável faz parte ou se acentuará com maior
prejudicabilidade em nossas épocas. A revolução industrial possibilitou uma rapidez na
construção e fabricação de grandes máquinas, e um carro ou qualquer outro veículo de
condução é feito com uma rapidez absurda, com isso podemos falar de um “problema
demográfico de veículos”, ou seja, uma super quantidade de veículos motorizados
circulando a todo tempo em nossas cidades e nossos campos, em todo lugar. Com isso,
aumenta-se a necessidade de combustível, portanto de postos de combustíveis e assim
aumenta-se o problema da poluição.
Para Sato (2003), a educação ambiental é um processo de reconhecimento e
valores e classificação de conceitos, objetivando o desenvolvimento da habilidade e
modificando as atitudes em relação ao meio, para entender e apreciar as inter-relações
entre os seres humanos, suas culturas e seus meios, biofísicos, e também está
relacionada com a prática das tomadas de decisões.
As instalações dos postos de combustíveis, conjuntamente com seus sistemas de
armazenagem de derivados de petróleo e álcool hidratado configuram-se como
empreendimentos potencialmente ou parcialmente poluidores e geradores de acidentes
ambientais (MARQUES, et al, 2006).
Pasqualeto e Maia (2006) executaram estudos realizados em postos de
abastecimento de combustíveis do Centro de Goiânia (GO) identificando a
potencialidade na geração de passivo ambiental, da aplicação do método multicriterial
de análise hierárquica de processo (AHP) e com a utilização, para obtenção dos pesos, a
lei de Weber-Fechner de estímulos e respostas. E como produto final, a confecção do
mapa de risco do setor Central da cidade.
Macedo (2010) executou um estudo na intenção de auxiliar a tomada de decisão
e investigar através das ferramentas do geoprocessamento, os possíveis conflitos
gerados a partir da localização de postos revendedores de combustível em relação às
escolas, os hospitais, e aos demais equipamentos urbanos no bairro do Marco, cidade de
Belém/PA. Foi verificada determinada irregularidades da localização dos postos
revendedores de combustíveis em relação aos equipamentos urbanos. Ressalta-se que a
determinada metodologia pode ser utilizada desde que adaptada para outras atividades
que possuem potencial poluidor.
Na mesma linha de pesquisa dos trabalhos explicitados aqui, este estudo avança
quando se propõe a executar o estudo na porção continental da cidade de Belém,
incentivado pelo atual processo de expansão urbana que ocorre na capital paraense
explicitamente observada na porção do território cortado pelo eixo das rodovias
Augusto Montenegro e Mário Covas.
3. Material e Métodos
Coletaram-se dados de campo na parte continental do Município de Belém. Utilizou-se
como ferramentas para a pesquisa imagens do sensor Thematic Mapper a bordo do
Satélite Landsat. Aplicou-se como Base a Malha cartográfica urbana em escala 1:10.000
disponibilizada pelo Núcleo de Cartografia e Georreferenciamento do Instituto de
Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará. Foi utilizado aparelho de
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localização por satélite para verificar a localização exata dos postos, além da utilização
do software ArcGis 9.3, licenciado pelo Curso de Gestão ambiental da Faculdade Ideal.
A partir da coleta dos dados primários e secundários e geração de buffer’s,
foram realizadas a construção de um modelo automatizado a partir do ModelBuilder,
para geração das informações relacionadas a tomada de decisão. Segundo a ESRI
(2006), modelos são como você vai automatizar seu trabalho, preservando um conjunto
de tarefas, ou um fluxo de trabalho, que você pode executar várias vezes, havendo um
número infinito de workflows (fluxos de trabalhos) para que possa ser automatizado
utilizando modelos.
Assim será utilizada a função de criação de buffer (área de influência) do
ArcGIS 9.3 sendo adotado um de raio que variam de 100m em 100m até chegar a 500m
para cada PRC em relação aos equipamentos urbanos.
O modelo construído foi embasado na Legislação pertinente ao assunto,
objetivando posteriores análises e consequentemente a tomada de decisão. O modelo
gerado em síntese agrupa dados de localização de PRC, drenagem, logradouros,
equipamentos urbanos e edificações; gera buffer’s para os planos de informações dos
PRC e drenagem; uso da ferramenta clip para selecionar os logradouros, equipamentos
urbanos e edificações na área de interesse e por fim uma interseção das localizações dos
PRC com as APP, gerando ao final os arquivos ESRI shape file das possíveis
irregularidades de localização. Posterior à geração das informações, foi realizada a
análise espacial da distribuição dos postos revendedores de combustíveis pautada na
Resolução CONAMA 237/00.
4. Resultados e Discussão
A pesquisa realizada na cidade de Belém apresentou a média de 102 postos
revendedores de combustíveis. Com a especialização pôde-se verificar a distribuição
entre os bairros. Com a geração do mapa de irregularidades na localização de PRC a
partir do ModelBuilder, ficou evidenciado que 40% dos Postos existentes possuem
algum tipo de irregularidade perante a Resolução CONAMA, 237/00.
Almejando afunilar a pesquisa, foi construído buffer’s de 25, 50 e 75 metros,
além do buffer de 100 metros referente à Resolução CONAMA, 273/00. Não foi
encontrado nenhum equipamento urbano dentro do buffer de 25 metros. Dentro do raio
de 50 metros, foi detectada a presença de uma escola. No buffer construído de 75
metros, equipamentos urbanos como estabelecimentos de saúde e praça destinadas ao
lazer foram identificados inseridos na área de influência dos Postos Revendedores de
Combustíveis. Na área compreendida pelo buffer de 100 metros, foi identificado um
total de quatro escolas, além da presença de um Órgão Público, o Instituto de Terras do
Pará. Uma análise temporal em relação à instalação dos PRC e a verificação da atual
condição de licenciamento ambiental podem surgir como análise complementar ao
estudo.
5. Conclusão
Através da pesquisa, pode-se verificar que há conflitos de localização entre
determinados equipamentos urbanos e PRC, de acordo com a legislação examinada. Os
conflitos foram possíveis localizar, devido a utilização de ferramentas de
geoprocessamento através do software ArcGIS 9.3, onde além da espacialização dos
dados primários e secundários e as análises espaciais, foi possível construir um modelo
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automatizado com o intuito de auxiliar a tomada de decisão. A partir das análises,
verificou-se que determinadas áreas, possuem restrição quanto à instalação de novas
atividades revendedoras de combustíveis. Constata-se que os métodos de
geoprocessamento utilizados neste trabalho, podem ser aplicados a outras atividades
potencialmente ou parcialmente poluidoras geradoras de acidentes ambientais, desde
que seja ajustado de acordo com os objetivos desejados.
6 - Referências Bibliográficas
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Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 56
ANÁLISE DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS CONSUMIDORES
E GERÊNCIA DOS SUPERMERCADOS SOBRE O USO DAS
SACOLAS PLÁSTICAS NA CIDADE DE BELÉM DO PARÁ
Breno Maurício Pantoja da Silva¹; Maria Elisa de Castro Almeida¹
1Curso de Direito – Faculdade Ideal (FACI)
[email protected]; [email protected]
Abstract: The plastic grocery bags have caused several negative environmental impacts
when disposed improperly. Most of these turns garbage bags or wrap are used for
garbage, not to often end up in sewers and water courses causing death by suffocation
of animals. Aiming to analyze the perceptions of customers of supermarkets and
responsible about the problems caused by the use of plastic bags in the city of
Bethlehem and to propose a discussion of these alternatives. There was a field research
with consumers and responsible view / managers of supermarkets by 4 (four) major
networks of Bethlehem It was observed that most respondents are aware of the
problems caused by plastic bags and are ready to replace the plastic bags in spite of
being accustomed to the practical use of them.
Key-Words: plastic bags. supermarkets. environmental pollution. environmental
awareness.
Resumo: As sacolas plásticas de supermercado têm causado vários impactos
ambientais negativos ao serem descartadas inadequadamente. A maioria destas sacolas
vira lixo ou são utilizadas para acondicionar lixo, sem contar que muitas vezes vão
parar nos esgotos e cursos d´água causando a morte de animais por asfixia.
Objetivando analisar a percepção dos clientes e responsáveis de supermercados a
respeito dos problemas causados pelo uso das sacolas plásticas na cidade de Belém e
propor uma discussão acerca das alternativas destas. Fez-se uma pesquisa de campo
opinião com consumidores e responsáveis/gerentes pelos supermercados das 4 (quatro)
principais redes de Belém. Constatou-se que maior parte dos entrevistados tem
consciência dos problemas causados pelas sacolas plásticas e estão dispostos a
substituírem as sacolas plásticas, apesar de estarem acostumadas com a praticidade de
uso destas.
Palavras-Chave: sacolas plásticas. Supermercados, poluição ambiental, consciência
ambiental.
1- Introdução
A produção de plásticos tem crescido no mundo, devido às suas propriedades,
versatilidades de uso e preço. São produzidas e consumidas, em escala global,
anualmente, mais de 100 milhões de toneladas e cerca 19 kg per capita, em média. Os
plásticos sintéticos são polímeros (macromoléculas) muito resistentes à degradação
natural, gerando graves problemas ambientais quando descartados no meio ambiente,
como a acumulação de resíduos sólidos em aterros e lixões municipais. Além disso, são
produzidos a partir de matéria prima obtida de fontes fósseis não renováveis, como o
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 57
petróleo, o que ocasiona durante o processo de manufatura, a emissão de gases tóxicos.
(Franchetti et al., 2006)
No Brasil, são produzidas 210 mil toneladas anuais de sacolas plásticas, o que já
representa 9,7% de todo o lixo do país. Abandonados em aterros, esses sacos plásticos
impedem a passagem da água retardando a decomposição dos materiais biodegradáveis
e dificultando a compactação dos detritos (AGENDA AMBIENTAL, 2006 apud
FABRO et al 2007).
As sacolas plásticas de supermercados, que foram introduzidas no cenário
mundial na década de 70 e que são muito utilizadas no cotidiano para transportar
pequenas quantidades de mercadorias, fazem parte da categoria PET (polietileno
tereftalado), um plástico resistente a baixas temperaturas, leve, impermeável, rígido e
com resistência química; produzido a partir de matérias-primas como petróleo, gás
natural, carvão mineral e vegetal (SARDELLA, 2000).
Especialistas em marketing e varejo têm utilizado as sacolas plásticas como
ingrediente para oferecer conveniência ao cliente, por permitir conduzir o produto
comprado, além de servir como veículo de comunicação ao estampar o nome da
instituição que a utiliza, ou seja, elas constituem uma forma barata de publicidade
através da sua decoração com os símbolos das marcas. Pesquisadores afirmam que
aproximadamente de 500 bilhões a 1 trilhão de unidades circula mundialmente. Isso
equivale a 1 milhão de sacolas descartadas por minuto, ou quase 1,5 bilhão por dia
(BARROS, 2008).
Diante de dados tão alarmantes, em todo o mundo está em curso um movimento
para diminuir ou mesmo erradicar o uso de sacolas plásticas. Na Alemanha e na Irlanda
é preciso pagar para usar sacolas plásticas disponibilizadas nos estabelecimentos,
iniciativa que deu resultado, atualmente, a maior parte dos habitantes usa cestas,
mochilas ou sacolas não descartáveis para carregar suas compras. A cidade de São
Francisco, na Califórnia, aprovou uma lei que proíbe grandes supermercados de
distribuir sacos plásticos derivados de petróleo (MELONI et al.,2007).
Um desenvolvimento sustentável em nível local e mundial pode se dar, quando
há viabilidade política e idéias que estimulem o processo de crescimento econômico,
visando oferecer à população uma vida de melhor qualidade, buscando conciliação com
a natureza. A fim de evitar que os recursos naturais se tornem escassos para a
humanidade no futuro ou entraves para o desenvolvimento econômico, Bezerra &
Santos (2007).
A utilização de embalagens biodegradáveis será então estimulada pelo nível de
conscientização da população sobre a importância ambiental do produto. É a partir da
percepção deste público externo as organizações empresariais que ocorrem a indignação
ereação para que as empresas assumam um papel de responsabilidade social ( FREITAS
et al.,2007).
De acordo com Goodall, autor do livro How to live a low carbon life (editora
Earthscan), é necessária uma campanha que valorize o senso de obrigação moral das
pessoas para que sua preocupação implique em ações, já que estas tendem a ser adiadas
por pessimismos frente ao futuro, ignorância, apego excessivo ao conforto e negação da
responsabilidade. (Fioravanti, 2007).
O presente trabalho teve por objetivo avaliar se os consumidores e os
proprietários ou gerentes de supermercados da cidade de Belém têm consciência do
problema ambiental que consistem as sacolas plásticas e se optariam por meios
alternativos como uso de embalagem biodegradável e sua possível aceitação como
alternativa aos plásticos convencionais em prol às questões ambientais.
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 58
[NOME DA
CATEGORIA];
[VALOR]; [PORCE…
[NOME DA
CATEGORIA];
[VALOR]; [PORCE…
2 - Material e métodos
O levantamento do perfil do problema da utilização de sacolas plásticas foi feito
utilizando-se de uma pesquisa de campo opinião com 1180 (mil cento e oitenta)
consumidores e 10 (dez) responsáveis/gerentes pelos supermercados de 4 (quatro) redes
referências na região metropolitana de Belém.
Em cada bairro foram escolhidos dois maiores supermercados de referência
local. Os bairros escolhidos foram: Batista Campos; Marco; Castanheira; Pedreira e
Marambaia. A pesquisa foi realizada no período de 10 meses (agosto de 2008 a junho
de 2009), tendo como base a escolha aleatória dos consumidores. Pretendeu-se com esta
pesquisa entender melhor como a população encara a utilização sacolas plásticas em
supermercados, e também da sua disposição para possíveis alternativas a esse costume.
Para a realização da pesquisa de campo, foi elaborado um questionário,
abordando os temas: importância da sacola plástica, disposição para um método
alternativo de embalagem, as ações dos supermercados frete a esse problema e a
aceitação de uma intervenção estatal neste assunto, entre outros. O questionário foi
elaborado e aplicado no sentido de não viciar os resultados da pesquisa e de não levar o
entrevistado a uma resposta tendenciosa.
Juntamente com a abordagem dos temas citados fez-se a identificação do perfil
do entrevistado, facilitando assim a tabulação dos dados e as correlações entre os
resultados. A abordagem inicial foi feita sem o apelo ambiental, para que o entrevistado
responda de acordo com o seu cotidiano e não através da resposta “politicamente
correta”. A questão ambiental foi introduzida em seguida para analisar a consciência
ambiental dos entrevistados e o engajamento da mesma no assunto abordado. Para
finalizar, foi observada a visão quanto à participação do estado em políticas públicas
ambientais. Tomou-se o cuidado para que este procedimento fosse adotado em cada
entrevista garantindo resultados reprodutíveis e não viciados.
3 - Resultados e discussão
3.1 - Posicionamentos dos clientes de supermercados
Fonte: Dados da pesquisa GRÁFICO 1. Porcentagem de consumidores que já viram ou não anúncios nos supermercados
sobre os problemas causados pelas sacolas plásticas.
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 59
A maioria dos entrevistados 72%, afirmaram, durante a entrevista, que nunca viram
nenhuma informação anexada em paredes ou afins, dos problemas causados pelas
sacolas no meio ambiente. Acredita-se que informações relativas aos produtos – pistas –
disponíveis devem, a princípio, gerar respostas (atitudes e comportamento) dos
consumidores.
Fonte: Dados da pesquisa
GRÁFICO 2. Porcentagem de consumidores que dariam preferência aos supermercados que
demonstram preocupação com questões ambientais, por escolaridade.
Dos entrevistados se destacam as respostas das pessoas que possuem ou estão
cursando o ensino fundamental. 85% dariam prioridade a supermercados que
demonstrassem preocupação com as questões ambientais. Este é um fator importante
para a mudança de comportamento de uma sociedade, já que a base da educação é o
ensino básico. Além disso, o gráfico mostra que uma grande parte dos consumidores de
escolaridade de ensino médio e superior não considera a questão ambiental como um
fator decisivo na escolha de supermercados.
Fonte: Dados da pesquisa
GRÁFICO 3. Porcentagem de consumidores que acreditam fazer diferença na escolha ou não,
de supermercados que utilizarem as sacolas ecologicamente corretas, por escolaridade.
O gráfico 3 justifica as respostas “não” obtidas no gráfico 2. Dos entrevistados,
o que se percebe é a descrença da maioria dos entrevistados de nível superior e médio
em relação ao uso de sacolas ecológicas pelos supermercados. Acredita-se que estes por
possuírem uma educação avançada levaram em conta, em suas percepções, o sistema de
relação entre empresa e consumidor, desconsiderando parcialmente as questões
econômicas. Somam 85% os que acreditam que são apenas negócios das empresas e por
isso, não se sentem induzidos escolherem o supermercado para suas compras.
20%
45%
5%
30%
23%
29%
6%
42%
24%
20%
13%
43%
0% 1000% 2000% 3000% 4000% 5000%
Faz diferença ao escolher osupermercado
Não, pois o preço dos produtos é oque vale
Não, pois tenho supermercado depreferência
Não, pois são apenas negócios parachamar mais clientes
SuperiorMédioFundamental
85%
15%
42% 44%
14% 39%
42%
19%
Sim Não Talvez
FundamentalMedio
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 60
6000%
3100%
900%
4200%
2700%
1300% 1100%
3900%
5000%
0%
1000%
2000%
3000%
4000%
5000%
6000%
7000%
Máx. 2 Reais Máx. 5 Reais Máx. 10 Reais
Fundametal
Médio
Superior
Em contrapartida, 45% dos entrevistados com ensino fundamental levam em
conta os preços tabelados pelos supermercados, por isso as questões com o uso de
sacolas ecológicas não faz nenhuma diferença.
No contexto geral, percebe-se que apesar do crescente reconhecimento da
importância dos problemas relativos ao padrão de consumo por alguns autores
específicos da sociedade, ainda não houve, por parte do consumidor, uma compreensão
plena das implicações de seus atos de consumo e poder de mudança de atitudes.
Fonte: Dados da pesquisa
GRÁFICO 4. Porcentagem de consumidores que comprariam ou não sacolas ecológicas
vendidas nos supermercados, por escolaridade.
Neste gráfico fica perceptível a ação dos entrevistados de acordo com a
escolaridade. A ascendência dos que comprariam as sacolas ecológicas de acordo com a
evolução escolar. E, por conseguinte o decréscimo do poder de compra do ensino
superior ao fundamental.
Fonte: Dados da pesquisa
GRÁFICO 5. Porcentagem de valores que o consumidor está disposto a pagar pelas sacolas
ecológicas, por escolaridade.
De acordo com a pesquisa dos 60% dos entrevistados estariam dispostas a
pagar no máximo 2 reais pelas sacolas ecológicas, este resultado esta condicionado á
pessoas que possuem/ cursam o ensino fundamental. O perfil muda ao decorrer da
escolaridade do entrevistado, como no caso dos entrevistados com ensino superior 50%
800%
1100%
2100%
1000% 900% 700%
1700%
1000%
700%
0%
500%
1000%
1500%
2000%
2500%
Fundamental Médio Superior
Compraria
Não compraria
Dependeria do valor
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 61
Série1; Sim; 30;
24%
Série1; Não; 64;
52%
Série1; Talvez; 29; 24%
dariam no máximo 10 reais. Essa mudança ocorre pelo aumento do poder aquisitivo dos
mesmos. Vale ressaltar que os valores não foram estipulados no questionário. Os
valores expostos no gráfico foram as médias dos valores estipulados pelos próprios
entrevistados.
Fonte: Dados da pesquisa GRÁFICO 6. Porcentagem de consumidores com disposição para adotar alternativas para o
transporte das compras, por sexo.
Apesar de ser a minoria dos entrevistados que buscam alternativas simples e
eficazes à utilização das sacolas plásticas. Este fato é satisfatório pela mudança de
atitude de algumas minorias em especial as do sexo feminino que somam 45% de
mudanças efetivas de comportamento. Rabelo (2008) afirma que as mulheres
representam 50% da população economicamente ativa e são reconhecidas como
consumidoras importantes. Pois 70% das compras em supermercados e de
eletrodomésticos são feitas por elas. Isso implica em uma mudança mais rápida do perfil
dos consumidores.
Fonte: Dados da pesquisa
GRÁFICO 7. Porcentagem de entrevistados favoráveis ou não a intervenção do estado.
Quanto à participação estatal no processo de substituição das sacolas plásticas, através
de criação de leis proibindo o fornecimento de sacolas plásticas pelos supermercados.
Observa-se que existe uma tendência à aceitação dessa lei, por parte dos consumidores.
2%
12%
7%
79%
10%
6%
25%
2%
55%
2%
0 50 100
Levo uma sacola própria de casa…
Utilizo sacolas de pano/outros
Pequenas compras, coloco em…
Uso sacolas plásticas para fazer…
Não faço nada para diminuir o uso…
Feminino
Masculino
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Sim, esta em
execução; 1%
Não, sem previsão;
98%
Sim, em breve
estará em execução;
1%
Sim; 77%
Não há interesse
; 13%
Não, já possui;
10%
52% afirmam não ficarem contra o estado caso este proíba a distribuição das sacolas. Os
demais consumidores que são contra (24%) ou indecisos (24%) pode-se dizer que é um
reflexo da não-conscientização dos problemas acarretados pelo uso do plástico
3.2 - Posicionamentos das gerências dos supermercados
Fonte: Dados da pesquisa
GRÁFICO 8. Porcentagem de supermercados que possuem projetos de conscientização aos
consumidores sobre as sacolas plásticas implantados nos supermercados.
Este é o perfil das 4 (quatro) maiores redes de supermercados de grande
influência em Belém do Pará. Apesar de saberem que práticas como, uso de sacolas
ecológicas proporcionarem um diferencial estratégico, que proporcionara vantagem
competitiva. 98% dos supermercados belenenses ainda implantaram esta ação. Além
disso, a não ação, passa ao consumidor a dúvida se o estabelecimento demonstra alguma
preocupação com o meio ambiente e não apenas ao lucro.
Fonte: dados da pesquisa GRÁFICO 9. Porcentagem de supermercados que têm interesse em criar projeto de
conscientização aos consumidores sobre as sacolas plásticas.
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Ficaria contra;
0%
Prefiro não
opinar; 10%
Ficaria neutro;
10%
Sim e faria
campanha a favor;
80%
Série1; Sim; 10;
10%
Série1; Não;
90; 90%
Dos entrevistados 77% afirmaram ter interesse em criar tal projeto. Este
resultado está condicionado a repercussão que um supermercado pioneiro na
implantação das sacolas ecológicas, causou na opinião pública. Vale ressaltar que os
novos tempos se caracterizam por rígida postura dos clientes voltada à expectativa de
interagir com as organizações que sejam éticas, com boa imagem institucional no
mercado e que atuem de forma ecologicamente responsável. (CORDEIRO, 2005).
Fonte: Dados da pesquisa GRÁFICO 10. Porcentagem de supermercados que realizam qualificação/ instrução de seus
funcionários quanto à proteção ambiental.
Os dados mostram que não há comprometimento em 90% dos supermercados
com a qualificação dos funcionários quando a proteção ambiental. Lopes (2008), afirma
que as empresas têm responsabilidades tanto na criação de riqueza, como na proteção do
meio ambiente, pelo que devem adotar práticas de gestão ambiental que lhes permitam
um conhecimento claro dos impactos provocados, assim como a disponibilização de
meios técnicos, humanos e financeiros, que garantam a sua minimização e controle. Por
isso, os supermercados em Belém, encontram-se numa situação preocupante na ótica da
gestão ambiental.
Fonte: Dados da pesquisa GRÁFICO 11. Porcentagem de supermercados que concordam com uma intervenção
governamental no uso do plástico.
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Dos entrevistados 80% dos responsáveis pelos supermercados não serão contra a
uma eventual política pública de proibição da distribuição das sacolas plásticas nos
empreendimentos. Isto facilita o envolvimento de diversos setores empresariais na
definição das estratégias de negócios da empresa gerando compromisso mútuo com as
metas estabelecidas pelas políticas públicas, viabilizadas pro um diálogo entre empresa-
governo.
4 – Conclusão
Através dos resultados obtidos, pode-se concluir que maior parte dos consumidores e
das gerencias dos supermercados, têm consciência dos problemas causados pelas
sacolas plásticas e, desses, a maioria estaria disposta a adotar medidas alternativas,
apesar de estarem acostumadas com a praticidade de uso e descarte das sacolas plásticas
e de não conhecerem muitas alternativas, esperando que lhes sejam apresentadas, ou
mesmo impostas pelo governo, como seria o caso da lei.
A pesquisa revelou também que o perfil socioeconômico é um fator
determinante no nível de consciência ambiental e disposição para adoção de medidas
alternativas ao uso e descarte das sacolas plásticas, por parte dos consumidores. A
escolaridade apresentou-se como o fator que mais influenciou nos resultados.
As empresas são responsáveis diretas pelos danos causados ao meio ambiente
através do consumo das sacolas plásticas, já que disponibilizam uma grande quantidade
desse material ao consumidor. Portanto deve assumir sua responsabilidade e preocupar-
se com os prejuízos causados por esse consumo desenfreado. Além disso, elas devem
buscar desenvolver projetos e investimentos visando a compensação ambiental pelo uso
de recursos naturais e pelo impacto causado por suas atividades, aprimorando os
processos utilizados e desenvolvendo novos negócios voltados para a sustentabilidade
ambiental de sua inserção no mercado.
Segundo a Funverde (2007) a utilização de uma sacola de tecido evita
anualmente o consumo de 500 sacolas plásticas. Além disso, vale lembrar que a
propaganda feita numa sacola de tecido tem tempo de vida maior e continuaria
funcionando como o mesmo mecanismo de marketing da sacola plástica, mas com um
diferencial: não prejudica a natureza e ainda promove a imagem da organização
Por fim, a conscientização ambiental é base para uma atuação pró-ativa na defesa do
meio ambiente, que deve ser acompanhada pela disseminação dos conhecimentos e
intenções de proteção e prevenção ambiental para toda a sociedade.
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 65
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Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 66
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR OMISSÃO
CIVIL RESPONSIBILITY OF THE STATE FOR OMISSION
Laira Vasconcelos dos Santos¹; Luly Rodrigues da Cunha Fischer¹
1Curso de Direito – Faculdade Ideal (FACI)
[email protected]; [email protected]
Resumo: Objetiva identificar as correntes doutrinárias sobre responsabilidade civil do
Estado nos casos de condutas omissivas. Por meio da revisão bibliográfica e utilizando
o método dialético identificaram-se duas correntes doutrinárias: a administrativista
preconiza que a responsabilidade do Estado decorrente de ato ilícito, na modalidade da
teoria da culpa do serviço público é subjetiva. E a civilista segundo a qual a
responsabilidade objetiva incidirá nos casos de omissão específica e a
responsabilidade subjetiva nos casos de omissão genérica.
Palavras-chave: Responsabilidade civil. Estado. Omissão.
Abstract: It aims to identify the doctrinal trends about civil responsibility of the State in
cases of omissive conducts. By means of bibliographic review, using the dialectical
method, two doctrinal trends were identified: the administrative professes that the State
responsibility arisen from unlawful act is subjective in the modality of the theory of fault
in public service. And the civil, according to it the objective responsibility will focus on
specific omission cases and the subjective responsibility in generic omission cases.
Keywords: Civil responsibility. State. Omission.
1- Introdução
A discussão sobre a responsabilidade civil do Estado por condutas omissivas ainda é um
ponto controvertido na doutrina brasileira. Essa falta de consenso entre os doutrinadores
decorre dentre outros motivos pela ausência de solução normativa específica para essas
situações, além da posição peculiar do Estado, quando se trata de responsabilidade civil.
Neste sentido, Mello (2012) afirma que a responsabilidade do Estado é regida por
princípios próprios, compatíveis com a sua posição jurídica e, portanto mais extensa em
relação às pessoas privadas. Posição esta que Braga Netto (2012) chama de uma zona
cinza em que as influências recíprocas são muito fortes entre o direito público e o
direito privado.
E entender de forma contrária nos levaria a uma análise limitada ante a
complexidade deste objeto, considerado extremamente dinâmico e plural no que
concerne as suas questões teóricas. É justamente esta complexidade e peculiaridade do
objeto que nos instigou a realização desta revisão bibliográfica, através do método
dialético e que tem por objetivo a identificação e discussão sobre as correntes
doutrinárias referentes às teorias que delimitam a responsabilidade civil do Estado nos
casos de condutas omissivas.
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 67
Este estudo encontra-se subdividido em cinco itens, primeiramente define-se Estado, em
seguida apresenta-se a discussão sobre responsabilidade civil do Estado, na sequência a
evolução histórica da responsabilidade civil do Estado e a responsabilidade civil do
Estado no direito brasileiro e posteriormente são apresentadas as teorias sobre a
responsabilidade civil do Estado por omissão, para a corrente civilista e para a corrente
administrativista e por fim a conclusão.
2- Definição de estado
Inicialmente devemos entender a natureza jurídica do principal sujeito desta análise, a
saber, o Estado. Bonavides (2012) apresenta-nos que o Estado vale como algo que
exprime uma vontade geral (volanté générale), a qual é representativa dos interesses da
sociedade. Desta forma, o Estado pode ser entendido como “corporação de um povo,
assentada num determinado território e dotada de um poder originário de mando.”
(BONAVIDES, 2012, p. 71)
Neste mesmo sentido, Dallari (2013) também conceitua o Estado, porém
acrescenta o elemento finalístico da existência deste, que seria a busca do bem comum
do povo. Este bem comum que, segundo o mesmo autor, corresponde ao conjunto de
todas as condições de vida social que consistam e favoreçam o desenvolvimento integral
da personalidade humana.
Desta forma, entendemos que ao Estado foram atribuídos deveres, no que
concerne ao tratamento de interesses coletivos. Com efeito, em nosso ordenamento
jurídico apenas pessoas, podem ser titulares de direitos e obrigações. Diniz (2010)
esclarece que à pessoa vincula-se a ideia de personalidade jurídica. Uma vez que a
pessoa, é o ente físico ou coletivo sujeito de direitos e obrigações, desta forma a
personalidade jurídica exprime uma aptidão genérica para adquirir direitos e contrair
obrigações, podendo ser referente a pessoa natural (ser humano) ou pessoa jurídica
(agrupamentos humanos).
Assim, podemos inferir que a norma jurídica confere a esses agrupamentos
humanos, formados para que os homens possam atingir seus fins e objetivos, a
personalidade e capacidade jurídica, tornando-os sujeitos de direitos e obrigações. Ou
seja, personalizando-os para que participem da vida jurídica com individualidade e em
nome próprio, assim segundo Diniz (2010) entende-se a pessoa jurídica como unidade
de pessoas naturais ou de patrimônio que visa a consecução de certos fins, e que é
reconhecida pela ordem jurídica como sujeito de direitos e obrigações. Segundo Cahali
(2012) este é o entendimento dos defensores da teoria da realidade das instituições
jurídicas, considerada a que melhor atende à essência da pessoa jurídica.
Dallari (2013) afirma que a origem da concepção do Estado como pessoa
jurídica pode ser atribuída aos contratualistas através da ideia de coletividade ou povo
como unidade, dotada de interesses diversos dos de cada um de seus componentes, bem
como de uma vontade própria, também diversa da vontade de seus membros
isoladamente considerados.
Importante ressaltarmos este imbricamento entre a vontade do Estado, enquanto
pessoa jurídica e das pessoas físicas que o compõem, uma vez que a existência da
vontade do Estado decorre, segundo Dallari (2013) e Cahali (2012), do entendimento de
que este é formado por órgãos os quais são constituídos por pessoas físicas, que quando
agem como órgãos do Estado, externam uma vontade que só pode ser imputada a este e
que não se confunde com as vontades individuais.
Necessário esclarecer que segundo Mello (2012) o aparelho estatal exercendo as
suas atividades administrativas é composto pela própria pessoa do Estado, que atua por
Revista Facientífica Ano 8, Nº1 Janeiro/Junho de 2014 Página 68
meio de suas unidades interiores (órgãos) que compõem a administração direta e por
outras pessoas jurídicas criadas para auxiliá-lo (autarquias, as empresas públicas, as
sociedades de economia mista e as fundações governamentais) que se referem à
administração indireta, existem ainda os particulares que podem exercer atividade
pública devidamente habilitados pelo Estado (concessionários, permissionários) ou
colaborando com o Estado no desempenho de atividades administrativas não
privativamente públicas.
Infere-se que o Estado é composto por diferentes sujeitos tanto de direito
público, quanto de direito privado, se considerarmos o regime jurídico que os regem.
Desta maneira, a Constituição Federal de 1988 no artigo 37 §6º estabeleceu que tanto as
pessoas jurídicas de direito público quanto às de direito privado respondem pelos danos
causados a terceiros por seus agentes. Desta forma, ao longo da exposição desta
pesquisa, iremos nos referir ao Estado e este deve ser entendido de maneira ampliada,
ou seja, abrangendo tanto as pessoas jurídicas de direito público quanto as de direito
privado componentes tanto da administração pública direta quanto indireta.
E este posicionamento decorre da construção doutrinária a respeito da vontade
estatal, que é pressuposto da capacidade jurídica do Estado e necessária para o
tratamento jurídico dos interesses coletivos, tornando-o sujeito de direitos e obrigações.
Desta forma, existe a possibilidade de que os cidadãos, que venham a ser prejudicadas
por condutas do Estado, possam fazer valer contra ele as suas pretensões jurídicas.
3- Responsabilidades civil do estado
Conforme discorremos acima, a doutrina entende, e nós estamos em consonância com
este posicionamento de que, o Estado é pessoa jurídica, portanto dotado de direitos e
deveres, logo, passível de demandar e ser demandado judicialmente, ou seja, havendo a
ocorrência de danos lesivos à esfera juridicamente garantida de outrem e que lhe sejam
imputáveis em decorrência de comportamentos unilaterais, lícitos ou ilícitos, comissivos
ou omissivos, materiais ou jurídicos surge à obrigação de repará-los economicamente
(MELLO, 2012).
Desta forma, infere-se que para a ocorrência da responsabilidade civil são
necessários os pressupostos: conduta (comportamento voluntário que se exterioriza
através de uma ação ou omissão e que gera consequências jurídicas), o nexo causal
(vínculo de causa e efeito entre a conduta e o resultado) e o dano efetivo (lesão ao bem
jurídico patrimonial ou moral).
Havendo, portanto, a concorrência destes elementos, consequentemente haverá o
dever de ressarcir por parte de quem causou o dano a outrem. Mello (2012); Di Pietro
(2013) e Gasparini (2012) também esclarecem que são fundamentos para a
responsabilidade do Estado os comportamentos ilícitos ou lícitos, comissivos ou
omissivos, jurídicos ou materiais, o dever de reparar o dano é contra partida do
princípio da legalidade. Porém, no caso de comportamentos ilícitos comissivos o dever
de reparar já é imposto, também pelo princípio da igualdade.
Segundo Di Pietro (2013), no caso de comportamento lícito a responsabilidade
fundamenta-se na garantia da equânime repartição dos ônus provenientes de atos ou
efeitos lesivos, evitando que alguns suportem prejuízos ocorridos por ocasião ou por
causa de atividades desempenhadas no interesse de todos. Seu fundamento é o princípio
da igualdade, noção básica do Estado de Direito.
Os danos causados pelo Estado resultam de comportamentos produzidos a título
de desempenhar funções no interesse de toda a sociedade, não sendo equânime,
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portanto, que apenas alguns arquem com os prejuízos suscitados por ocasião de
atividades exercidas em proveito de todos.
Braga Netto (2012) apresenta alguns princípios aplicáveis a responsabilidade
civil do Estado, a saber: Princípio da vulnerabilidade do cidadão em relação ao Estado,
Princípio da informação, segundo o qual o Estado tem o dever de bem informar o
cidadão com lealdade e transparência, a informação deve ser completa e gratuita, com
exceção dos casos que necessitam de sigilo, Princípio da segurança do qual se
depreende que o Estado tem o dever constitucional de prestar segurança aos cidadãos e
o princípio do veniere contra factum que preceitua que o Estado não pode adotar uma
postura contraditória frente ao cidadão.
Di Pietro (2013) esclarece que a responsabilidade é civil do Estado, portanto de
ordem pecuniária e extracontratual, ficando excluída a responsabilidade contratual que é
regida por princípios próprios e não se enquadra no previsto no artigo 37 §6º da
Constituição Federal de 1988. Neste mesmo sentido, Gasparini (2012) afirma que o
termo civil, não é referente à regulamentação por meio das normas de direito privado,
estabelecidas no código civil, como já mencionamos acima, estas podem vir a incidir
quando se trata de responsabilidade do Estado, no entanto, o termo civil refere-se a
satisfação da reparação patrimonial em decorrência dos danos causados a terceiros.
4- Evolução histórica da responsabilidade civil do estado
Braga Netto (2012 p. 64) entende que “a referência histórica, na verdade, não tem tanta
importância assim, não para a interpretação e aplicação da responsabilidade estatal de
hoje”. Porém, discordamos desse entendimento, uma vez que consideramos a forte
influência da história na construção jurídica. Desta forma, entender o estágio atual da
teoria sobre a responsabilidade do Estado perpassa pela necessidade de compreender de
que forma o assunto foi tratado ao longo dos anos em nosso ordenamento jurídico.
Motivo pelo qual nos detemos a este resgate histórico.
É consenso entre os doutrinadores de que o desenvolvimento da
responsabilidade do Estado proveio do direito francês e através da construção pretoriana
do Conselho de Estado. Constatou-se a existência das seguintes fases:
irresponsabilidade do Estado: vigorou durante o absolutismo, em regra a ação era
cabível contra o funcionário, mas não contra o Estado; concepção civilista ou da
responsabilidade do Estado: responsabilidade era fundada na culpa do funcionário e
teve por marco relevante o aresto Blanco (1873). Admitia-se a responsabilidade civil,
quando da prática de atos de gestão; responsabilidade subjetiva do Estado que segundo
Mello (2012) a obrigação de indenizar que incumbe a alguém em razão de um
procedimento contrário ao direito – culposo ou doloso – consiste em causar dano a
outrem ou deixar de impedi-lo quando obrigado a isto.
Na sequência evoluiu-se da culpa individual para a culpa impessoal,
representativa nas seguintes fases: segundo a teoria do órgão o Estado age através de
seus órgãos ou agentes, que são considerados uma unidade, a atividade do funcionário é
atividade da própria pessoa jurídica e o dano causado imputável a esta; a culpa anônima
ou princípio publicista ou culpa administrativa ou teoria do acidente administrativo em
que a responsabilidade é fundada na faute de service, fala-se em culpa do serviço ou da
falta do serviço, que ocorre quando o serviço não funciona ou funciona mal ou funciona
atrasado; a responsabilidade objetiva quando o Estado responde por que causou dano ao
seu administrado, simplesmente por que há relação de causalidade entre a atividade
administrativa e o dano sofrido pelo particular; teoria do risco administrativo em que o
Estado é responsável pelo risco criado pela sua atividade administrativa, o que tem que
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se verificar é a relação de causalidade entre a ação administrativa e o dano sofrido pelo
administrado, independente de culpa, dispensa a prova da culpa da administração,
permite ao Estado afastar a sua responsabilidade nos casos de exclusão do nexo causal
podendo alegar fato exclusivo da vítima, caso fortuito, força maior e fato exclusivo de
terceiro.
Infere-se, portanto, que teorias podem ter obedecido a essa cronologia, segundo
doutrinadores como Mello (2012); Braga Netto (2012); Cavalieri Filho (2012), Di
Pietro (2013). No entanto, apenas a da irresponsabilidade não mais subsiste em nosso
ordenamento jurídico em nenhuma possibilidade. Ressalta-se também que com a
evolução das teorias houve uma redução na preocupação com relação à culpa, a vítima
assumiu um papel de destaque e o propagado fundamento da solidariedade social
também passa a fazer sentido.
A análise da evolução da responsabilidade civil do Estado no direito brasileiro
apresenta algumas controvérsias entres os doutrinadores. Segundo Mello (2012), Braga
Netto (2012), Cavalieri Filho (2012), Di Pietro (2013) no Brasil nunca prevaleceu a tese
da irresponsabilidade, mesmo não havendo dispositivo específico. No entanto,
Gasparini (2012) apresenta-nos a evolução da responsabilidade civil no Brasil que pode
ser dividida em três períodos históricos (colonial, imperial e republicano), sendo que no
período colonial vigoravam em nosso território as leis portuguesas, e estas aceitavam os
postulados da teoria da irresponsabilidade patrimonial do Estado, a única que era
compatível com o governo monárquico português da época. Sendo assim, para o
referido doutrinador, nesse período em nosso país vigorou a tese da irresponsabilidade.
Segundo Mello (2012) antes da promulgação do Código Civil de 1916 já havia a
previsão de responsabilidade do Estado, Gasparini (2012) denomina esse período de
imperial, em que não havia qualquer disposição geral nesta fase, mas apenas leis e
decretos específicos, como a Lei federal 221 de 20.11.1894 que se referia à competência
do Judiciário para julgamento das questões oriundas de compensações, reivindicações,
indenizações proposta pela União contra particulares e vice-versa. Além de outros
dispositivos como o Decreto 1.930 de 1857, relativo aos danos causados por estradas de
ferro, o decreto 4.053 de 1891, relativo à indenização por prejuízos decorrentes da
colocação de linhas telegráficas e outras.
No segundo momento prevaleceu a tese da culpa civil, em que o Estado
respondia quando o funcionário seu, atuando no exercício da função, procedia de modo
culposo (negligência, imprudência ou imperícia). O terceiro momento é o da falta do
serviço, com base na responsabilidade subjetiva (MELLO, 2012).
No entendimento destes doutrinadores o quarto momento é o da
responsabilidade objetiva, o qual estamos vivenciando, e que possui regulamentação
expressa no artigo 37§6º da Constituição Federal de 1988 e no artigo 43 do Código
Civil de 2002. Segundo a legislação vigente, tanto as pessoas jurídicas de direito
público quanto as de direito privado prestadoras de serviço público responderão pelos
danos que seus agentes causarem a terceiros, sendo assegurado o direito de regresso nos
casos de culpa ou dolo. Conforme Mello (2012) e Meirelles (2013), para que haja a
caracterização da responsabilidade, a conduta tem que derivar de um agente público, ou
que esteja nessa qualidade. Desta forma, entendem que foi mantida a teoria da
responsabilidade civil objetiva, sob a modalidade de risco administrativo.
A responsabilidade objetiva vigente em nosso ordenamento jurídico,
preconizada no artigo 37 §6º da Constituição Federal de 1988, não estabelece distinção
entre o regime jurídico a que se submetem os sujeitos que fazem parte da organização
estatal, sejam pessoas jurídicas de direito público ou privado, prestadoras de serviço
público haverá a responsabilidade pelos danos que seus agentes causarem. O Código
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Civil de 2002, em seu artigo 43, reproduz a mesma orientação do texto constitucional,
apesar de omitir as pessoas jurídicas de direito privado.
Ressalta-se também que para que haja a responsabilidade do Estado é necessário
que o comportamento derive de um agente público, ou seja, alguém apto para
comportamentos imputáveis ao Estado. Mello (2012) ainda esclarece que a condição de
agente não se descaracteriza pelo fato de este haver agido impulsionado por sentimentos
pessoais ou, por qualquer modo, estranhos à finalidade do serviço, bastando que tenha
podido produzir o dano por desfrutar de posição jurídica que lhe resulte da qualidade de
agente atuando em relação com o serviço público, bem ou mal desempenhado.
No artigo em análise também há referência ao retorno do Estado contra o agente
causador do dano, desde que presentes os seguintes requisitos: a condenação de
indenização a terceiro por ato lesivo do agente e que o agente responsável tenha agido
com dolo ou culpa. Ou seja, a fim de que os administrados possam desfrutar de proteção
mais completa, ante comportamentos danosos ocorridos no transcurso da atividade
pública, pois se instaurou o princípio da responsabilidade do Estado e não mais do
funcionário como era antigamente, mas destaca-se a possibilidade do funcionário vir a
ter que arcar com o ônus decorrente dos danos causados.
Segundo Mello (2012) e Gasparini (2012) o quinto momento é para o qual
estamos caminhando da chamada teoria do risco social, que seria o extremo da
responsabilidade do Estado, segundo a qual o Estado responde ainda que os danos não
lhe sejam imputáveis, que aparentemente é muito próxima da teoria do risco integral.
5- Responsabilidade civil do estado por omissão
Antes de apresentar as correntes doutrinárias que identificamos em nosso ordenamento
jurídico sobre a responsabilidade civil do Estado por conduta omissiva, considera-se
relevante distinguir em linhas gerais, as espécies de responsabilidade objetiva e
subjetiva.
Segundo a lição de Cavalieri Filho (2012) a responsabilidade civil subjetiva
possui como pressuposto a culpa, destaca-se que se trata de culpa em sentido amplo e
abrange, portanto, a culpa em sentido estrito (negligência, imprudência ou imperícia)
assim como o dolo. Por esta concepção a vítima tem que provar a culpa do agente para
que ela possa ter o dano reparado.
Em sentido oposto temos a responsabilidade objetiva que é baseada na teoria do
risco administrativo, que não depende do elemento subjetivo culpa, bastando para a sua
configuração o nexo causal entre a conduta e o dano efetivo.
Feito este breve esclarecimento passemos a análise dos resultados, por meio da
revisão bibliográfica identificou-se duas correntes doutrinárias com entendimentos
diversos sobre qual a responsabilidade imputável ao Estado nos casos de omissão, as
quais serão denominadas respectivamente de corrente civilista e corrente
administrativista. Deve-se destacar que a opção por esta nomenclatura está relacionada à
prevalência de doutrinadores que se dedicam ao estudo do direito civil ou do direito
administrativo.
Como se pode notar foram identificadas duas correntes doutrinárias que
divergem sobre qual espécie de responsabilidade incidiria nos casos de condutas
omissiva do Estado, seria a responsabilidade objetiva, a subjetiva ou ambas. Passaremos
a analisar cada uma delas.
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5.1- Corrente civilista: responsabilidade civil do estado objetiva e subjetiva
conforme o tipo de omissão
Segundo os defensores desta corrente dentre eles, Cavalieri Filho (2012), Cahali (2012),
Braga Netto (2012), o artigo 37, §6º da Constituição Federal engloba a conduta
comissiva e omissiva. Esta corrente considera que ato ilícito não mais se apresenta
como elemento subjetivo, vinculado a ideia de culpa, prevista no artigo 186 do Código
Civil de 2002. Há o ato ilícito em sentido lato, que é a contrariedade entre a conduta e o
dever jurídico imposto pela norma, que fundamenta a responsabilidade objetiva e não
tem referência ao elemento subjetivo. O Estado pratica ato ilícito não só por omissão
(quando deixa de fazer o que tinha que fazer), mas por comissão (faz o que não devia
fazer).
Dessa forma, Cavalieri (2012) e Gonçalves (2013) apresentam que nem toda
omissão será considerada subjetiva e será passível de responsabilização. Segundo Braga
Netto (2012) deve ser uma omissão qualificada, ou mais de uma omissão juridicamente
relevante. Por isso se distingue omissão genérica de omissão específica. A omissão
específica será configurada nas situações em que o Estado está na condição de garante
ou guardião e por sua omissão cria uma situação para a ocorrência do dano. A omissão
específica pressupõe um dever especial de agir do Estado, que se não faz o que deveria,
a omissão é causa direta e imediata de não impedir o resultado. Assim, a omissão
específica que faz emergir a responsabilidade objetiva do Estado.
Já a omissão genérica ocorre quando não se pode exigir do Estado uma atuação
específica. Quando a administração tem apenas o dever legal de agir em razão do seu
poder de polícia ou fiscalização e por sua omissão concorre para o resultado, deve
prevalecer a responsabilidade subjetiva, com base na teoria da culpa anônima pela falta
do serviço, pois a inação do Estado, embora não se apresente como causa direta e
imediata do dano, entretanto concorre para ele, razão pela qual deve o lesado provar que
a falta do serviço concorreu para o dano e que a ação positiva do Estado poderia tê-lo
evitado. Segundo Braga Netto (2012) o Estado não é o segurador universal, não pode
responder por todos os danos.
Portanto, infere-se que para esta corrente, a responsabilidade subjetiva ainda está
presente em nosso ordenamento jurídico, apesar de haver uma prevalência da
responsabilidade objetiva. No caso do Estado estar obrigado a agir, haverá omissão
específica e a responsabilidade será objetiva, será suficiente para a responsabilização do
Estado a demonstração de que o dano decorreu da sua omissão. Já a responsabilidade
subjetiva, nos casos de omissão genérica, será configurada quando decorrer de fato de
terceiro e fenômenos da natureza, determinando-se a responsabilidade da administração
pública com base na culpa anônima ou falta do serviço.
Braga Netto (2012) apresenta-nos um posicionamento diverso dos demais
doutrinadores. Ele chama-nos a atenção de que se deve discutir o nexo causal e não a
culpa, e exemplifica que nos casos de enchente, na omissão estatal a responsabilidade
independe do elemento culpa, basta o nexo causal, pois há situações em que o Estado
pode provar que não houve culpa, mas o nexo causal persistirá. Dessa forma, entende-se
que o nexo causal é a questão mais relevante em qualquer análise da responsabilidade
civil, talvez se possa dizer que nos casos de danos ligados a omissões, ele é ainda mais
importante. O problema da omissão é que além dela, concorrem outros fatores para a
ocorrência do dano, que paralelo a omissão é causa direta e imediata para a ocorrência
do dano. Na omissão fica claro que o nexo causal é um vínculo lógico-normativo.
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5.2- Corrente administrativista: responsabilidade civil subjetiva do estado por
conduta omissiva
Os representantes desta corrente, dentre eles Mello (2012), Di Pietro (2013), Meirelles
(2013) entendem que é subjetiva a responsabilidade da administração pública sempre
que o dano decorre de omissão do Estado, pois ele não agiu, não sendo, portanto
causador do dano, pelo que só estaria obrigado a indenizar os prejuízos resultantes dos
eventos que teria o dever de impedir. Responsabilidade do Estado por ato omissivo é
sempre responsabilidade por ato ilícito e, portanto, subjetiva, decorrente de negligência,
imprudência ou imperícia ou deliberado propósito de violar a norma que o constituía em
dada obrigação (dolo).
Mello (2012) esclarece que culpa e dolo são justamente as modalidades de
responsabilidade subjetiva, assim é necessário que o Estado haja incorrido em ilicitude,
por não ter impedido o dano ou por haver sido insuficiente neste mister, em razão de
comportamento inferior ao padrão legal exigível.
Esta corrente não estabelece diferença entre a omissão genérica e a específica,
mas esclarece que o Estado não será responsabilizado se agiu de forma compatível com
as possibilidades do serviço normalmente organizado e eficiente, não lhe foi possível
impedir o evento danoso gerado por força alheia. Esta corrente, assim como a que se
refere à omissão genérica, entende que o Estado não é um segurador universal, assim
não configura a responsabilidade do Estado um assalto ou agressão em via pública.
A responsabilidade por comportamento omissivo não se transmuta em
responsabilidade objetiva nos casos de culpa presumida, pois se o poder público provar
que não houve omissão culposa ou dolosa descaberá responsabilizá-lo, diferente do que
ocorre na responsabilidade objetiva em que não importa se teve ou não culpa,
responderá do mesmo modo.
Mello (2012) afirma que nos casos de falta do serviço deve ser admitida a
presunção juris tantum de culpa do poder público, senão o administrado ficaria
desprotegido e teria dificuldade em demostrar que o serviço não funcionou como
deveria, razoável que, nestas hipóteses, ocorra a inversão do ônus da prova.
Di Pietro (2013) exemplifica acontecimentos que acarretam responsabilidade
estatal por omissão ou atuação ineficiente: fato da natureza, comportamento material de
terceiro, cuja atuação lesiva não foi impedida pelo poder público, embora pudesse e
devesse fazê-lo. Ressalta que os casos de força maior (acontecimento natural e
irresistível) exime o Estado de responder, diferentemente o caso fortuito não exime a
responsabilidade.
Segundo a referida autora para a caracterização da responsabilidade decorrente
de omissão tem que haver o dever de agir e a possibilidade de agir por parte do Estado
para evitar o dano, ou seja, aplica-se o princípio da reserva do possível com base no que
seria razoável exigir do Estado para evitar o dano. Assim, a culpa está embutida na ideia
de omissão, não há como falar em responsabilidade objetiva em caso de inércia do
agente público que tinha o dever de agir e não agiu sem que para isso houvesse uma
razão aceitável.
Para configurar a responsabilidade do Estado por omissão deve estar
configurada a omissão antijurídica: quando é razoável esperar que o Estado atue em
determinado sentido para evitar o dano às pessoas ou bens particulares, o Estado tem
que descumprir uma obrigação legal expressa ou implícita, assim a omissão tem que ser
ilícita para acarretar a responsabilidade do Estado.
Nestes casos, haverá a presunção de culpa do poder público, o lesado não tem
que provar que existiu culpa ou dolo, mas o Estado tem que demonstrar que agiu acima
do razoável, para que não configure o dever de indenizar.
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6- Conclusão
Em síntese foram identificadas as correntes civilistas e administrativista, a primeira
mais ampla, pois diferencia os tipos de omissão, sendo a omissão genérica a
responsabilidade será subjetiva em decorrência da falta do serviço, sendo a omissão
específica a responsabilidade será objetiva, mas a omissão tem que ser causa direta e
imediata do dano.
Diversamente, a corrente administrativista considera que a responsabilidade do
Estado será sempre subjetiva nos casos de omissão, decorrente de ato ilícito
(negligência, imprudência ou imperícia), incidindo sempre a teoria da culpa anônima ou
falta do serviço.
Entende-se que a corrente mais adequada às especificidades da realidade é a
corrente civilista, a qual nos filiamos, considera-se que conforme o caso concreto é
necessário averiguar a obrigação devida, a ser exigível do ente público. Pois, a omissão
será um pressuposto causal do dano sofrido pelo particular, de modo que da omissão da
obrigação devida se possa deduzir nexo de causalidade entre aquela omissão e o evento
danoso.
Deve-se ponderar também que ao estabelecer a responsabilidade subjetiva,
existe a necessidade de comprovação do elemento culpa, o que pode vir a ser oneroso
para o particular que sofreu o dano, entende-se também que o Estado em algumas
situações deve sim responder de forma objetiva ainda que por omissão, pois como
afirmamos acima é pessoa jurídica, que possui uma peculiaridade relacionada ao seu
elemento finalístico, que é a busca do bem comum, por esse motivo não é admissível
que ao se imputar a responsabilidade ao Estado esta fique condicionada a comprovação
de culpa.
Considera-se relevante também que com a diferenciação dos tipos de omissão,
tem-se a possibilidade de tornar a análise de cada caso concreto mais específico, de
modo que se adotássemos a corrente administrativista sempre haveria a incidência da
teoria da falta do serviço, o que provavelmente nem sempre nos levaria a alcançar uma
decisão justa.
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7- Referências
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Bahia: Juspodivm, 2012.
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Paulo: Saraiva, 2013
6. DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 26 ed. São Paulo: Atlas,
2013
7. DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Teoria Geral do Direito
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8. GASPARINI, Diogenes. Direito administrativo. 17 ed. São Paulo: Saraiva, 2012
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Malheiros, 2013
10. MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 30. ed. São
Paulo: Atlas, 2013