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Revista Fé para Hoje Número 29, Ano 2006

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SANSÃO E A SEDUÇÃO DA CULTURA 1

Fépara

Hojeé para Hoje é um ministério da Editora FIEL. Como

outros projetos da FIEL — as conferências e os livros— este novo passo de fé tem como propósito semearo glorioso Evangelho de Cristo, que é o poder de Deuspara a salvação de almas perdidas.O conteúdo desta revista representa uma cuidadosaseleção de artigos, escritos por homens que têmmantido a fé que foi entregue aos santos.Nestas páginas, o leitor receberá encorajamento a fimde pregar fielmente a Palavra da cruz. Ainda que estamensagem continue sendo loucura para este mundo,as páginas da história comprovam que ela é o poderde Deus para a salvação das ovelhas perdidas —“Minhas ovelhas ouvem a minha voz e me seguem”.Aquele que tem entrado na onda pragmática queprocura fazer do evangelho algo desejável aos olhosdo mundo, precisa ser lembrado que nem Paulo, nemo próprio Cristo, tentou popularizar a mensagemsalvadora.Fé para Hoje é oferecida gratuitamente aos pastores eseminaristas.

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A PERSEVERANÇA DO CRENTE

NA FÉ E NA JUSTIÇA

COMO VEMOS A APOSTASIA

E O ABANDONO DA FÉ

Fred Pugh

De tempos em tempos, encon-tramos uma pessoa pela primeira veze descobrimos que ela declara sercrente. Se conversarmos por algumtempo com ela a respeito das coisasespirituais, surgirão alguns assuntosdoutrinários. Embora muitos evangé-licos afirmem que doutrina não éimportante, sempre me admiro de quecertos assuntos doutrinários surgeminevitavelmente. Uma das perguntasque os crentes me fazem com fre-qüência é esta: “Você crê na segu-rança eterna?” Quando tenho certezade que a pessoa envolvida no diálogoé um arminiano, gosto de brincar umpouco com ela. “Oh! não!”, eu res-pondo, “eu não creio na segurançaeterna”. Um semblante de alívio seestampa na face de meu amigo, quan-do respondo isso. Então, eu digologo: “Mas eu creio na perseverançados santos”. Aquela face se transfor-

ma rapidamente em um semblante deespanto que causa a próxima pergun-ta: “Qual é a diferença?” Isso me dácondições de falar não somente so-bre a doutrina da perseverança, mastambém sobre tudo o que se relacio-na com as Doutrinas da Graça.

O tema da perseverança dossantos não é apenas um assunto deinteresse acadêmico. Discutir essetema não se limita àqueles quemanifestam apenas interesse teóricoem doutrinas. Todo aquele queprofessa o nome de Jesus Cristo sedeparará, em alguma ocasião, com oassunto da apostasia ou do abandonoda fé. Todo crente enfrentará, emdeterminado momento, perguntas arespeito de o crente perder ou não asalvação. Essas perguntas podemresultar não somente de debatesteológicos; podem surgir por causade alguma coisa que deixa o crente

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preocupado com o estado de suaalma. Por isso, consideraremos esteassunto de suprema importância.

Para entendermos corretamen-te a doutrina da perseverança dossantos, precisamos entender que estadoutrina não subsiste independente deoutras. É uma parte dos Cânones deDort, chamados “Os Cincos Pontosdo Calvinismo”. Todas as cinco dou-trinas subsistemjuntas; estão in-separavelmenteunidas uma àoutra. Argumen-tar sobre a dou-trina da perseve-rança dos san-tos, não levandoem conta asdoutrinas rela-cionadas da De-pravação Total,Eleição Incondi-cional, Expiação Limitada e GraçaIrresistível, significa perder tempoprocurando convencer qualquer pes-soa de algo que não fará sentido àparte desta conexão.

É especialmente importante vera doutrina da perseverança dos san-tos em sua conexão com a doutrinada eleição incondicional. O apóstolomostrou, com clareza, essa conexãoem 2 Tessalonicenses 2.13-14: “En-tretanto, devemos sempre dar graçasa Deus por vós, irmãos amados peloSenhor, porque Deus vos escolheudesde o princípio para a salvação,pela santificação do Espírito e fé naverdade, para o que também vos cha-mou mediante o nosso evangelho,para alcançardes a glória de nossoSenhor Jesus Cristo”. Nesta passa-

gem, Paulo revela a conexão entre oser escolhido (eleição incondicional)e a salvação final (perseverança dossantos).

Quando Paulo afirmou que Deusescolhera os tessalonicenses “desdeo princípio”, estava expressando omesmo sentimento que transmitiraaos crentes de Éfeso, ao dizer: “As-sim como nos escolheu, nele, antes

da fundação domundo” (Ef 1.4). Paulo fezuma afirmaçãosemelhante em 2Timóteo 1.9,declarando queDeus nos esten-deu sua graça“antes dos tem-pos eternos”.Estas declara-ções se referemà eterna escolha

de Deus, para salvar um povo paraSi mesmo. Deus havia resolvido de-signar à eterna graça e glória certaspessoas de uma raça humana caída epecaminosa. Esta resolução de Deusse fundamenta em sua vontade so-berana e em seu beneplácito, glorifi-cando a glória de sua graça.

Esta resolução eterna — a elei-ção incondicional de certas pessoaspor parte de Deus — tem como seualvo final a salvação daqueles que Eleescolheu. Assim, Paulo declarou em2 Tessalonicense 2.13: “Deus vosescolheu desde o princípio para asalvação”. No versículo 14, ele dis-se: “Para o que também vos chamoumediante o nosso evangelho, paraalcançardes a glória de nosso SenhorJesus Cristo”. A escolha de Deus não

Embora muitos evangélicosafirmem que doutrina não é

importante, sempre meadmiro de que certos assun-

tos doutrinários surgeminevitavelmente.

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foi temporária. Não foi uma escolhaque Deus revoga quando um dos elei-tos comete pecado. Deus planejouque a salvação do homem ocorra deacordo com a sua vontade soberana,e não de acordo com o bem ou o malpraticado pelo homem. Ele agiu es-pecificamente assim para que a sal-vação chegue à sua consumação.

Então, como esta idéia difere doconceito moderno de “segurançaeterna”, ocasionalmente chamada“uma vez salvo, sempre salvo”? Nes-se paradigma de pensamento, a per-severança dos santos é a única dasDoutrinas da Graça com a qual al-guém concordaria. No entanto, quan-do corretamente entendida, até essadoutrina produziria discordância. Oconceito moderno de “segurançaeterna” afirma que uma pessoa podeconfessar a fé em Cristo e, não im-portando como ela vive depois daconfissão, ainda que vire as costaspara Deus, ela será salva no final.Uma pessoa pode ser um crente e,apesar disso, não ter desejo de ler aBíblia, orar, crescer na fé, ter comu-nhão na igreja, etc. Alguns se refe-rem a tal pessoa chamando-a de“crente carnal”.

Mas o ensino de Paulo em 2Tessalonicenses 2.13-14 é muito di-ferente. Ele não somente declara agraça eletiva de Deus e seu alvo final— a perseverança dos santos — mastambém revela os meios pelos quaisDeus realiza essa perseverança. Deacordo com Paulo, Deus realiza essasalvação final por meio da “santifi-cação do Espírito e fé na verdade”. Asantificação do Espírito é a obra doEspírito Santo pela qual Ele nos se-para como propriedade de Deus. O

Espírito de Deus transmite a vida deDeus à alma na obra de regeneração.De acordo com a promessa da NovaAliança, o Espírito Santo inscreve asleis de Deus em nosso coração. Eleopera em nós a santidade interior, fi-xando as afeições de nosso coraçãonas coisas de Deus. Conseqüente-mente, isto prova a falsidade da afir-mação de que a doutrina da perseve-rança dos santos leva à libertinagem.A conexão desta doutrina com a daeleição fornece uma santidade autên-tica e prática na vida daquele que énascido de Deus.

Aquilo que Paulo chama de “féna verdade” é transmitido àquele queé nascido de Deus. Isto não é ummero assentimento intelectual dosfatos do evangelho. Esta fé na ver-dade é uma aceitação fervorosa daverdade do evangelho, um recebi-mento do amor da verdade. Em es-perança, a alma vem a Cristo, por terpercebido a sua miséria sem a rege-neração. Isto é, conforme gostamosde dizer, “um dom que continua a serdado”. À medida que o Espírito con-tinua a obra da santificação iniciadana regeneração, a fé, sem a qual asantificação é impossível, continua acrescer. A idéia de que uma pessoapode crer de modo salvífico e pararde crer é estranha à maneira de pen-sar de Paulo nesta passagem.

Tanto a fé como a santidade sãonecessárias à nossa salvação final.“Sem fé é impossível agradar a Deus”(Hb 11.6). “Segui a paz com todos ea santificação, sem a qual ninguémverá o Senhor” (Hb 12.14). Contudo,a fé e a santificação não são a causa,e sim o efeito, de nossa eleição; eDeus as designou como meios de

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nossa perseverança. Nossa eleiçãopara a salvação, por parte de Deus,assegura a nossa permanência nasantidade e na fé.

Como avaliamos aqueles queparecem ser verdadeiros crentes,mas abandonam a fé ou mostram porsua conduta que não são verdadei-ros crentes? Isto não é incomum,mesmo na experiência dos apósto-los. Aqueles que pregaram o evange-lho em Samaria ficaram tão conven-cidos da conversão de Simão, omago, que o batizaram. Todavia,quando Simão pediu a Pedro e a Joãoque lhe vendessem o poder do Espí-rito Santo, Pedro lhe respondeu: “Oteu dinheiro seja contigo para perdi-ção... Não tens parte nem sorte nes-te ministério, porque o teu coraçãonão é reto diante de Deus” (At 8.20-21). Três vezes Paulo menciona umhomem chamado Demas. Paulo ochama de cooperador em Filemom24 e envia saudações de Demas àigreja de Colossos (Cl 4.14). Entre-tanto, numa afirmação pungente, em2 Timóteo 4.10, Paulo escreve: “De-mas, tendo amado o presente sécu-lo, me abandonou e se foi para Tes-salônica”. Como explicamos essesafastamentos da fé? Todos já ouvi-mos histórias semelhantes de pesso-as que pareciam ser crentes fortes eque, por uma razão ou outra, nãoandam mais na fé. Eram crentes,porém agora não são mais? Possuí-am a vida eterna e não a possuemmais?

Duas passagens das Escriturasfalam primariamente sobre este dile-ma. Jesus mesmo abordou esteassunto em Mateus 7.21-23. Ele dei-xou bem claro que muitos parecem

ser crentes. Conhecem a linguagemcorreta, ou seja: “Senhor, Senhor”.Aprenderam como se comportar demodo que os outros os aceitem comoverdadeiros crentes. Aprenderam aprofetizar (pelo menos, da maneiraque muitos homens aceitam). Apren-deram a realizar sinais e maravilhas,de modo que muitos jamais ousari-am duvidar da realidade de sua fé.Apesar disso, algo está gravementeerrado. Para essas pessoas, em con-traste com a aprovação que podemreceber dos homens, Jesus disse:“Nunca vos conheci. Apartai-vos demim, os que praticais a iniqüidade”.O que estava errado, para que Jesuspronunciasse esse veredicto?

A última palavra de Jesus noversículo 23, “iniqüidade”, nos dá achave para o dilema, especialmentequando unida com a sua afirmativade que no reino dos céus entrarãoaqueles que fazem “a vontade de meuPai, que está nos céus”. Fazer a von-tade do Pai não é nada menos do queum amor e uma obediência fiel paracom a lei de Deus como regra devida. Há muitos que professam onome de Cristo e não têm qualqueramor para com a lei de Deus. Elesconsideram-na uma restrição à suasuposta “liberdade”. Especialmenteno evangelicalismo moderno, existemmuitos que colocam os sinais e ma-ravilhas como evidência da fé salvíficano lugar do amor e da obediência àlei de Deus, os quais as Escriturasapresentam como evidência da fésalvífica. Eles corrompem ou igno-ram a lei de Deus em sua maneira depensar e em seu viver. Conseqüente-mente, não devemos ficar surpresosquando alguns são descobertos como

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pessoas que têm vidas caracteriza-das por imoralidade e licenciosidade.Como Jesus afirmou, eles praticama iniqüidade. Com todo o seu profe-tizar e realizar sinais e maravilhas,eles não fazem a vontade do Pai, queestá nos céus. Não podem dizer comoDavi: “Quanto amo a tua lei! É a mi-nha meditação, todo o dia!”(Sl119.97.) Também não compartilhamdo sentimentodo apóstolo Jo-ão, que diz: “Osseus mandamen-tos não são pe-nosos” (1 Jo5.3). Não com-partilham destesentimento por-que o coraçãodeles ainda não éregenerado. Je-sus não disse:“Eu vos conhe-cia; agora não vos conheço mais”.Em vez disso, Ele afirmou: “Nuncavos conheci”.

John Gill, escrevendo em seucomentário sobre esta passagem,observou: “Há muitos que desejamser chamados e considerados cren-tes. Estes fazem menção do nome deCristo em seus sermões, somentepara se livrarem de seu opróbrio,cobrirem-se, obterem a honra daspessoas, conquistarem a afeição e aaceitação delas; mas não têm amorsincero por Cristo, nem a fé verda-deira nEle. O interesse deles não épregar o evangelho de Cristo, pro-mover a glória dEle, expandir seureino e seus interesses. O principalalvo deles é agradar os homens, en-grandecer a si mesmos e estabelecer

o poder da natureza humana, em opo-sição à graça de Deus e à justiça deCristo”. Embora a fé salvadora re-sulte em boas obras, essas boas obrasnão são verdadeiramente boas, se nãosão motivadas pela fé em Cristo e nodesejo pela glória dEle. Uma pessoapode simular boas obras, assimcomo alguém pode falsificar dinhei-ro. Gill prossegue afirmando que fazer

a vontade do Pai“denota nãoapenas a obedi-ência externapara com avontade deDeus, declaradaem sua lei, nemsimplesmente asujeição às orde-nanças do evan-gelho. Denota,em especial, afé em Cristo pa-

ra a vida e a salvação, que é a fontede toda obediência verdadeiramenteevangélica e sem a qual nada é acei-tável a Deus”.

O apóstolo João também abor-da esta questão em 1 João 2.18-19:“Filhinhos, já é a última hora; e, comoouvistes que vem o anticristo, tam-bém, agora, muitos anticristos têmsurgido; pelo que conhecemos que éa última hora. Eles saíram de nossomeio; entretanto, não eram dos nos-sos; porque, se tivessem sido dosnossos, teriam permanecido conos-co; todavia, eles se foram para queficasse manifesto que nenhum delesé dos nossos”. João fala com muitaseveridade sobre aqueles que pareci-am ser crentes mas haviam abando-nado a igreja e a fé. Ele os chama de

Embora a fé salvadoraresulte em boas obras, essas

boas obras não sãoverdadeiramente boas, senão são motivadas pela féem Cristo e no desejo pela

glória dEle.

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“anticristos”. Exteriormente, a vidadessas pessoas eram tais que a igrejaas aceitou como verdadeiros cren-tes. No mínimo, parecia não haverqualquer pecado notório que os iden-tificasse como incrédulos. Mas Joãoobserva: “Eles saíram de nossomeio”. Apostataram da igreja e da fé.

João deixa claro que esta apos-tasia não é uma questão de alguémter a fé salvadora e, depois, perdê-lae abandoná-la. A apostasia é umaquestão de alguém professar a fé enão ter a realidade da fé salvadora.Ele afirma que tais pessoas saíramdo meio da igreja porque não eram“dos nossos”. A. T. Robertson ob-serva que João usa o termo “dosnossos” no sentido de origem. A vidae o espírito dessas pessoas não erada mesma origem da vida daquelesque tinham a fé salvadora. Robert-

son acrescenta que não havia qual-quer comunhão interior e, por fim,eles romperam a comunhão exterior.Assim como no caso daqueles a res-peito dos quais Jesus falou, não ha-via nestes uma realidade interior quecoincidia com a confissão exterior.João prossegue e declara a situaçãodeles com mais veemência: “Se ti-vessem sido dos nossos [no sentidode origem de sua vida espiritual], te-riam permanecido conosco; todavia,eles se foram para que ficasse mani-festo que nenhum deles é dos nos-sos”. Por fim, Deus trouxe, em suaprovidência, circunstâncias que for-çaram esses falsos crentes a se ma-nifestarem. Deus os forçou a agir demodo que uma distinção clara apare-ceria entre os que tinham a verdadei-ra fé salvadora e os que eram apenascrentes falsos.

E lhe porás o nome de Jesus.Mateus 1.21

Jesus! Este é o nome que impulsiona as harpas do céu aressoarem melodias! Jesus — a essência de todas as nossasalegrias. Se existe um nome mais encantador, ou mais preciosodo que qualquer outro, este nome é Jesus; ele está entrelaçado nabase de nossa salmodia. Muitos de nossos hinos começam comeste nome, e poucos dos hinos que são dignos de ser entoadosnão terminam com este nome. O nome Jesus é a suma de todosos deleites. É a música que move os sinos do céu — uma músicaem uma palavra; um oceano a ser compreendido, embora sejauma gota de brevidade; uma oratória inigualável em duas sílabas;um coro de aleluias em cinco letras.

C. H. Spurgeon

(Extraído do livro Leituras Diárias, vol. 2, Editora Fiel, 2006)

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DAVID BRAINERD(1718 - 1747)

Gilson Santos

David Brainerd nasceu a 20 deabril de 1718, no Estado de Connec-ticut, nos Estados Unidos da América.Seu pai se chamava Ezequias Brai-nerd, um advogado; e sua mãe,Dorothy Hobart, era filha do Pr. Je-remias Hobart. David foi o terceirofilho de um total de cinco filhos equatro filhas. Foi um menino de saú-de muito frágil, que acabou sendoprivado de uma vida social mais di-nâmica com outros garotos de suaidade. Sempre teve uma naturezasóbria, e um espírito reservado. Emsua infância, embora preocupadocom o destino de sua alma, não sa-bia o que era conversão. Seu paimorreu quando ele estava com ape-nas nove anos, e aos catorze anosele perdeu também sua mãe. Tornou-se ainda mais tristonho e melancólico,e os valores religiosos que recebeuna infância começaram a declinar emsua juventude.

Entretanto, como fruto da obrapreveniente da graça divina, Brainerd

afastou-se de algumas companhiasindesejáveis e começou a dedicartempo à oração individual. Começoua ler mais a Bíblia e formou, com ou-tros jovens, um grupo para encon-tros dominicais. Começou a dedicarbastante atenção às pregações e pro-curava aplicá-las à sua vida. Aindaassim, ele não conhecia a Cristo pes-soalmente. Tornou-se ainda mais ze-loso no terreno da religiosidade esentiu a convicção e o peso do peca-do, adquirindo o mais agudo sensodo perigo e da ira de Deus. Contudo,suas esperanças ainda não estavamdepositadas na justiça de Cristo, masem si mesmo. Finalmente, o Espíritode Deus o conduziu à fé em Cristo, eele passou a experimentar o descan-so de uma vida justificada e a açãodo poder de Deus em uma Novidadede Vida. Tinha vinte e um anos.

Dois meses depois de sua con-versão, Brainerd ingressou na Uni-versidade de Yale. Mesmo num

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contexto de algumas pressões, elededicou bom tempo à comunhão asós com Deus. As enfermidades,muitas vezes, atrapalhavam seus es-tudos. Num momento particularmen-te difícil, ele contraiu tuberculose eexpelia sangue pela boca. Ainda as-sim, ele trabalhou intensamente eobteve distinção como estudante.Porém, quando estava em seu ter-ceiro ano de universidade, teve dedeixar a escola devido a uma circuns-tância bastante delicada. Isso signi-ficou um grande desapontamentopara ele, pois, mais tarde, no dia emque os outros colavam grau, Brainerdescreveu em seu diário: “Neste diaeu deveria receber meu diploma, masDeus achou conveniente negar-meisso”.

Foi justamente nesse períodoque se acentuaram suas preocupa-ções com as almas perdidas. Elecomeçou a pensar profundamentesobre as pessoas que nunca tinhamouvido falar de Cristo. Chamou-lheparticular atenção a triste condiçãodos índios norte-americanos. Nãohavia muitos missionários trabalhan-do entre eles. Brainerd começou acolocar em prática o seu amor pelosíndios, obtendo maiores informaçõessobre sua realidade e orando freqüen-temente por eles. O desejo de levar oEvangelho aos índios foi crescendoem seu coração.

Surgiu a ocasião em que Brai-nerd pôde apresentar-se como mis-sionário aos índios. Sua saúde pre-cária era um fator de preocupação,tendo em vista as condições inóspi-tas e difíceis que enfrentaria. Seusamigos lhe diziam: “Se Deus quer quevocê vá, Ele lhe dará forças”. Quan-

do tinha vinte e quatro anos, ele es-creveu em seu diário: “Quero esgo-tar minha vida neste serviço, para aglória de Deus”. No ano seguinte,começou a dedicar sua vida pregan-do aos índios nas florestas solitáriase frias. Vendeu seus livros e roupasque não usaria e começou a vida bas-tante isolada, marcada por uma tra-jetória de auto-sacrifício e sofrimen-to. Mas Deus o abençoou ricamente.Como um “grão de trigo que morreao cair na terra”, Brainerd não ficousó; a morte deste “grão de trigo” pro-duziu muito fruto.

Desfrutando do privilégio de vi-sitar alguns lugares relacionados àvida de Brainerd, inclusive o local emque ele primeiramente pregou aosíndios, fiquei pessoalmente impres-sionado com o seu caráter e renún-cia, fruto da poderosa graça de Deusem sua vida. Freqüentemente, Brai-nerd ficou exposto ao frio e à fome.Não podia ter o conforto da vida nor-mal. Viajava a pé ou cavalgando porlongas distâncias, dia e noite. As via-gens eram sempre perigosas. Paraatingir algumas tribos distantes, de-via passar por montanhas íngremesna escuridão da noite. Atravessoupântanos perigosos, rios de fortecorrenteza e florestas infestadas deanimais selvagens. Tinha de viajarquinze a vinte e cinco quilômetrospara comprar pão, e, às vezes, antesde comê-lo, o pão estava azedo oumofado. Dormia sobre um monte depalha que estendia sobre tábuas er-guidas um pouco acima do chão. Emmuitos momentos estava só e ficavafeliz quando podia contar com seuintérprete para conversar. Não tinhacompanheiros cristãos com quem

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pudesse dividir o fardo em momen-tos de comunhão e oração. “Não te-nho nenhum conforto, a não ser oque me vem de Deus”, escreveu ele.

Seu ministério tornou-se bemamplo, alcançando índios nos Esta-dos norte-americanos de Nova Ior-que, Nova Jersey e ao leste daPensilvânia. Havendo encontrado osíndios em meio a muitas superstiçõese recebendo muitas vezes os efeitosda fúria de seus sacerdotes, Brainerdpôde declarar o poder de Deus aci-ma de todos os deuses. Apesar detodas as dificuldades, era movido porum intenso desejo de contemplar asalvação dos índios. Com isto emvista, aliou, por muitas vezes, o je-jum à oração. “Não importa onde oucomo vivi ou por que dificuldadespassei, contanto que tenha, destamaneira, conquistado almas paraCristo”, escreveu ele. Boa parte deseu trabalho era feito em lutas físi-cas, especialmente tendo em vista suasaúde sempre precária e , como es-creveu Edwards, “sua própria cons-tituição e temperamento natural,muito inclinado à melancolia” – esobre isto, acrescenta Edwards, “eleexcedeu a todas as pessoas melan-cólicas que conheci”.

O fato é que Deus honrou so-bremaneira o ministério de Brainerd.O Espírito de Deus desceu podero-samente sobre os índios, num gran-de avivamento que afetou tribos in-teiras. Por volta de 1745, mesmo osíndios que viviam de forma impiedo-sa, opondo-se à pregação do Evan-gelho, se convenceram do pecado.Vários se converteram. Muitos bran-cos, que apareciam por curiosidadepara ouvir o que Brainerd dizia aos

índios, também foram convertidos.Índios de toda floresta ouviram falarde Brainerd e vinham em grande nú-mero ouvi-lo. Era muito comum ou-vir os altos brados dos índios cla-mando pela misericórdia de Deus,toda vez que Brainerd pregava. Seuministério influenciou também as cri-anças índias. Ele criou escolas em queelas eram ensinadas a lavrar a terra ea semear, além de receberem os en-sinos do Evangelho de Cristo.

Ao escolher o trabalho nas flo-restas úmidas, Brainerd sabia que nãopoderia esperar viver muito. Ele viuseu corpo definhar, pouco a pouco.Aos vinte e nove anos, foi colocadoem seu leito de morte, sofrendo ter-rível agonia e dor física. Testemu-nhou de Cristo em seus momentosfinais e anelava por encontrar-se como Senhor. Ele faleceu em 9 de outu-bro de 1747, tendo sido sepultado emNorthampton, Massachusetts. Jona-than Edwards conduziu o funeral. Foiuma vida curta, mas que glorificou aDeus grandemente.

Edwards, que o conheceu mui-to bem, disse sobre Brainerd:

(...) dotado de um gênio pene-trante, de pensamento claro, de ra-ciocínio lógico e de julgamento muitoexato, como era patente para todosque o conheciam. Possuidor de gran-de discernimento da natureza huma-na, perscrutador e judicioso em geral,ele também sobressaía em juízo, co-nhecimento teológico e, sobretudo, nareligião experimental.

Num artigo em 2001, eu escrevi:David Brainerd é um exemplo

de alguém que resolveu colocar sua

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vida no altar (...) As privações, otrabalho incansável, as intempériesconsumiram o seu vigor. Uma pro-longada enfermidade ceifou suavida. Devido à sua fragilidade físi-ca e aos rigores do campo missioná-rio, ele contraiu tuberculose. Brai-nerd calculou o preço do seguir aCristo e deliberadamente fez umaescolha que significava separar-se domundo civilizado, com suas vanta-gens e associar-se à dureza, ao tra-balho e, possivelmente, a uma morteprematura e solitária. Entretanto,homens como William Carey, HenryMartyn, Robert Mürray McCheyne,John Wesley, Jonathan Edwards,Charles Spurgeon, Oswald Smith,Jim Elliot, citando apenas alguns,testemunharam a grande influênciada biografia de Brainerd em suasvidas. Um biógrafo de Brainerd dizque ele “foi como uma vela que, namedida em que se consumia, trans-mitia luz àqueles que estavam em tre-vas”.1

Algo muito importante que Brai-

nerd fez foi escrever um diário, noqual registrou as experiências que lhesurgiram. Neste diário, editado porJonathan Edwards, Brainerd faz umabreve explanação de sua infância ejuventude e começa a narrar-nos osfatos, escrevendo periodicamente apartir de 18 de outubro de 1840. Ain-da que Brainerd tenha lutado quaseque “invencivelmente” contra a pu-blicação de qualquer porção de seudiário, este, publicado depois de suamorte, tem sido um instrumento deDeus para influenciar a vida de mui-tas pessoas. O Diário de DavidBrainerd foi publicado em portuguêspela Editora FIEL, em 1993.2

——————1 SANTOS, Gilson. “O Tom

Sofrido da Voz Profética”. Em: Fépara Hoje, Número 9, Ano 2001,São José dos Campos: Editora Fiel,pp. 13-22.

2 Cf. EDWARDS, Jonathan. Avida de David Brainerd. São Josédos Campos: Editora Fiel, 1993.

Os grandes princípios morais que iluminam aconsciência e o caráter adulto devem penetrar eagir na entenebrecida mente desde a infância.

Tedd Tripp

(Extraído do livro "Dicas para Pais", Editora Fiel, p. 35)

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O QUE PENSAMOS SOBRE

CALVINISMO E EVANGELISMO

Ernest Reisinger

George Whitefield foi um dosmaiores evangelistas da história daigreja. Leia as seguintes palavras eobserve seu apelo aos pecadores:

“Hoje, eu lhes ofereço a salva-ção. A porta da misericórdia ainda estáaberta. Ainda existe um sacrifício queredime todo pecado, para aquele quereceber a Jesus. Ele o envolverá nosbraços do seu amor. Converta-se aJesus, converta-se de sua indignida-de; diga-Lhe que você é impuro, vil;não seja incrédulo, mas crente. Porque ter receio de que o Senhor Jesusnão o receberá? Seus pecados nãoconstituem um obstáculo; sua indig-nidade não é um impedimento. Se oseu coração corrompido não o im-pede de vir a Ele, nada impedirá aCristo de recebê-lo. O Senhor Jesusse deleita em contemplar pecadoresindignos vindo até Ele e se agrada emvê-los prostrarem-se aos seus pés,clamando pelo cumprimento de suaspromessas. Se você vier a Cristodeste modo, Ele não o mandará em-

bora, sem outogar-lhe o seu Espíri-to. Pelo contrário, o Senhor Jesus oreceberá e o abençoará. Não menos-preze este amor infinito. Jesus dese-ja somente que você creia nEle, paraque seja salvo. Isto é tudo o que oSalvador amado deseja, para torná-lo feliz: que você abandone seus pe-cados, a fim de assentar-se eterna-mente ao lado dEle, na ceia das bodasdo Cordeiro.

Permita-me rogar-lhe que venhaa Jesus e o receba como seu Senhore Salvador. Ele está disposto a rece-bê-lo. Convido-o a vir a Ele, a fim deencontrar descanso para sua alma.O Senhor Jesus se regozijará e exul-tará. Ele o chama por intermédio dosministros do evangelho. Ó, venha aJesus, que está agindo para libertá-lodo pecado e de Satanás e trazê-lo paraSi mesmo. Abra a porta do seu cora-ção, e o Rei da glória entrará. Meucoração está ardendo; tenho de falar,pois, do contrário, explodirei. Vocêacha que sua alma não tem valor al-

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gum? Considera-a indigna de ser sal-va? Seus prazeres são mais impor-tantes do que sua alma? Você prefereos deleites da vida à salvação da suaalma? Se isto é verdade, você nuncaparticipará da glória eterna, com Je-sus. Mas, se vier a Jesus, Ele lheconcederá sua graça nesta vida e olevará à glória, no porvir. E você en-toará louvores e aleluias para sem-pre. Desejo que este seja o destinofeliz de todos os que me ouvem!”

George Whitefield era um cal-vinista firme. E uma coisa é certa: ocalvinismo de Whitefield não dimi-nuiu, de maneira alguma, o seu zelopelas almas dos homens.

O QUE É O CALVINISMO?

O grande teólogo de Princeton,Dr. B. B. Warfield, descreveu assimo calvinismo:

“O calvinismo é o evangelismoem sua autêntica e única expressão;e, quando dizemos evangelismo, es-tamos incluindo pecado e salvação.Significa total dependência de Deuspara a salvação; envolve a necessi-dade de salvação e um profundo sen-so desta necessidade, acompanhadapor um senso igualmente profundode nossa incapacidade de satisfazeresta necessidade e de nossa comple-ta dependência de Deus para satisfa-zê-la. Encontramos uma ilustraçãodesta verdade no publicano que ba-teu no peito e exclamou: ‘Ó Deus, sêpropício a mim, pecador!’ Não hámenção à capacidade de salvar a simesmo, ou de ajudar a Deus a salvá-lo, ou de abrir o caminho para queDeus o salvasse. Isto é calvinismo,

não apenas algo parecido com o cal-vinismo, nem algo que se aproximado calvinismo, e sim o calvinismo emsua manifestação vital. Onde se en-contra esta atitude de coração e ondeela se manifesta em palavras diretase indubitáveis, ali está o calvinismo.Onde se rejeita esta atitude de cora-ção e mente, ali o calvinismo se tor-na impossível.

Em uma frase, o calvinista é ohomem que vê a Deus. Ele obteveuma visão do Inefável e não permiti-rá que tal visão desapareça de seusolhos — Deus na natureza, Deus naHistória, Deus na graça. Em todosos lugares, o calvinista vê a Deus emseus fortes passos, sente a obra dopoderoso braço de Deus e o pulsardo seu vigoroso coração. O calvinis-mo é apenas cristianismo. O sobre-naturalismo em favor do qual ocalvinista permanece firme é a pró-pria respiração do cristianismo. Semele, o cristianismo não existiria....Portanto, em nossa opinião, o calvi-nismo surge como a única esperan-ça do mundo.”

John A. Broadus, um dos impor-tantes e respeitados pais dos batistasdo Sul, descreveu o calvinismo deseu co-fundador do Seminário Batistado Sul, Dr. James P. Boyce, comonada menos do que um nome técni-co para o “sublime sistema de ver-dades do apóstolo Paulo”.

Charles Spurgeon, o grandeconquistador de almas, disse:

“Utilizamos o termo calvinistaapenas por simplificação. A doutrinachamada calvinismo não surgiu deJoão Calvino; cremos que ela proce-de do grande fundador de toda averdade. Talvez o próprio Calvino a

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derivou principalmente dos escritosde Agostinho, que, sem dúvida, ob-teve das Escrituras as suas idéias, porintermédio do Espírito Santo de Deus,a partir de um estudo diligente dosescritos do apóstolo Paulo. E Pauloos recebeu do Espírito Santo e dopróprio Senhor Jesus, o grande fun-dador da Igreja.Empregamos otermo calvinis-mo não porqueatribuímos ex-traordinária im-portância aofato de que Cal-vino ensinou es-tas doutrinas.Estaríamos sen-do justos se lhesdéssemos qual-quer outro no-me, se pudés-semos achar um nome que seriamelhor compreendido e que seriaconsistente com os fatos”.

Spurgeon prossegue, dizendo:“As antigas verdades que João

Calvino pregou, que Agostinho pre-gou, é a verdade que eu prego hoje.Em caso contrário, seria falso paracom a minha consciência e meuDeus. Não posso moldar a verdade;não conheço nada a respeito de lapi-dar as asperezas de uma doutrina. Oevangelho de John Knox é o meuevangelho. E o evangelho que trove-jou por toda a Escócia tem de trovejarnovamente na Inglaterra”.

VÁRIAS ATITUDES PARA COM OCALVINISMO

O assunto deste artigo suscita

opiniões diferentes na mente daspessoas. A História já testemunhoumuitas controvérsias sobre o calvi-nismo. Este assunto permanece emsua vital importância, no tempo pre-sente. Isto é particularmente verda-deiro à luz do atual afastamento daortodoxia histórica e bíblica. In-

felizmente, mui-tas opiniões pre-judiciais masagradáveis aoshomens têm in-vadido cada as-pecto da vidareligiosa. Emquase todos oslugares, pode-mos encontrarpessoas fazendoa velha pergun-ta de Pilatos: “Oque é a verda-

de?” Existem milhares de opiniõesreligiosas diferentes que servemcomo resposta a esta pergunta. Àsvezes, esta pergunta é levantada pe-los céticos, que duvidam até daexistência de uma resposta objetiva.No entanto, esta pergunta é feita,com freqüência, por pessoas sériasque desejam encontrar a saída daconfusão religiosa de nossos dias.Esperamos que você a encontre nes-te estudo.

Embora o cristianismo de nos-sos dias seja tão diversificado, pode-mos verificar que entre aqueles quepodem ser razoavelmente chamadosde cristãos existem apenas duas di-visões. As práticas talvez sejam dife-rentes, e pontos de vistas diversospodem ser mantidos, mas as posi-

O Senhor Jesus se deleita emcontemplar pecadores

indignos vindo até Ele e seagrada em vê-los

prostrarem-se aos seus pés,clamando pelo cumprimento

de suas promessas.

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ções fundamentais serão reconheci-das como derivadas de dois sistemasde teologia — calvinismo ou armini-anismo. Estes são os termos moder-nos empregados para distinguir edescrever dois sistemas de pensa-mento e ensino teológicos amplamen-te diversos.

O verdadeiro cristianismo devenos levar aos pés dos apóstolos e, narealidade, aos pés do próprio SenhorJesus. O ponto de vista que afirma-mos e defendemos em seguida,quando admitido corretamente, nosleva ao resultado que acabamos demencionar.

Nós o chamamos de calvinismo,mas poderia com justiça ser chama-do de agostinianismo. Também po-deríamos retroceder as páginas dahistória eclesiástica e designá-lo pau-linismo. Não importa o nome que lheatribuamos, tal nome tem de ser con-siderado apenas uma conveniênciaque se tornou necessária por causade sua aceitação generalizada. Con-sideramos a utilização deste nomecomo um erro que tem sido um meiode fomentar muitos sofismas, quesurgem não somente em nossos dias,mas também no passado.

Existe em nossos dias um gran-de ressurgimento deste sublime eglorioso sistema paulino de verdadebíblica — especialmente entre osBatistas do Sul. Estar neste grupoequivale a retornar às nossas raízesdoutrinárias. Os fundadores da Con-venção Batista do Sul estavamimersos na torrente da verdade bíbli-ca que levou a apóstolo a clamar: “Óprofundidade da riqueza, tanto dasabedoria como do conhecimento deDeus! Quão insondáveis são os seus

juízos, e quão inescrutáveis, os seuscaminhos! Quem, pois, conheceu amente do Senhor? Ou quem foi o seuconselheiro? Ou quem primeiro deua ele para que lhe venha a ser resti-tuído? Porque dele, e por meio dele,e para ele são todas as coisas. A ele,pois, a glória eternamente. Amém!”(Rm 11.33-36)

NÃO VÁ ALÉM DAS ESCRITURAS

A seguinte advertência deveservir de orientação para aqueles quedesejam estudar o calvinismo:

“A importância deste assuntodeve nos levar a prosseguir com pro-funda reverência e cautela. É verda-de que os mistérios devem ser abor-dados com cuidado e que devemosevitar especulações infundadas e pre-sunçosas a respeito das coisas deDeus; mas, se queremos proclamaro evangelho em sua pureza e plenitu-de, temos de ser cuidadosos em nãoreter dos crentes aquilo que está de-clarado nas Escrituras sobre a ver-dade exposta pelo calvinismo. Algu-mas destas verdades serão perverti-das e injuriadas. Embora o calvinismoseja ensinado com clareza nas Escri-turas, a mente entenebrecida consi-dera um absurdo o fato de que Deusexiste em três pessoas ou que Ele pre-ordenou todo o curso dos aconteci-mentos do mundo, de modo que in-cluísse o destino de cada pessoa. E,ainda que possamos saber do calvi-nismo apenas aquilo que Deus achouconveniente revelar, é importante co-nhecermos muito bem o que está re-velado; pois, do contrário, Ele não oteria revelado. Devemos ir com se-

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gurança aonde as Escrituras nos con-duzem” (L. Boettner, The ReformedDoctrine of Predestination, pp. 54-55).

Existem várias distorções porparte daqueles que não sabem real-mente o que é o calvinismo bíblico.Muitos deles o chamam de hipercal-vinismo. Alguns acham que, se vocêcrê no ponto de vista antinomiano da“segurança eterna’”, você é um cal-vinista, e os demais ou são arminianosou são hipercalvinistas.

Sem dúvida, muitos calvinistasnão evangelizam como deveriam. Noentanto, isto não ocorre por causado calvinismo, e sim por causa deum coração frio e indiferente. Mui-tos arminianos não evangelizam, masisto também não ocorre por causada doutrina na qual crêem, e sim porcausa da frieza e indiferença de co-ração.

É verdade que o calvinismo ani-quilará alguns tipos de evangelismo,tal como o evangelismo superficial eantibíblico, que é repulsivo aos cal-vinistas, mas nunca aniquilará oevangelismo bíblico. Isto significaque os calvinistas amam e aceitam oevangelismo verdadeiro, bíblico ecentralizado em Deus.

O calvinismo aniquilará o evan-gelismo centralizado no homem. Overdadeiro calvinismo proporciona aoevangelismo o seu único e corretofundamento doutrinário. Além disso,o calvinismo garante sucesso aoevangelismo. Deus salva pecadores— isto é calvinismo. Deus não so-mente torna a salvação possível, Elerealmente salva de acordo com seuplano e por meio de seu poder.

ADOUTRINA DA ELEIÇÃO É VITAL AOEVANGELISMO

A doutrina da eleição incondici-onal é uma das doutrinas fundamen-tais do calvinismo. Devemos obser-var a distinção entre os meios e acausa.

Deus escolheu tanto os meioscomo os recipientes da salvação. Asua Palavra nos diz que Ele decidiusalvar seu próprio povo por intermé-dio da pregação e do testemunho.“Ide por todo o mundo e pregai oevangelho a toda criatura.”

Temos de lembrar que a prega-ção e a oração constituem os meiose não a causa por que alguém é sal-vo. A causa é o amor eletivo e incon-dicional de Deus. Porque Deus amouao mundo de tal maneira, que “todoaquele” crerá e não perecerá.

A quem se refere “todo aquele”?“Todo aquele que o Pai me dá,esse virá a mim.”

João 6.37

“As minhas ovelhas ouvem aminha voz; eu as conheço, e elasme seguem.”

João 10.27

Por que alguns não crêem?“Mas vós não credes, porquenão sois das minhas ovelhas.”

João 10.26O Pai deu ao Filho algumas ove-

lhas e nos enviou a pregar, porqueeste é o meio que Ele utiliza para cha-má-las. “Assim como lhe conferisteautoridade sobre toda a carne, a fimde que ele conceda a vida eterna atodos os que lhe deste” (Jo 17.2).

As ovelhas virão porque Cristomorreu por elas e orou em favor de-las. “É por eles que eu rogo; não rogo

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pelo mundo, mas por aqueles que medeste, porque são teus” (Jo 17.9).Jesus orou até pelas ovelhas que vi-riam, no futuro. “Não rogo somentepor estes, mas também por aquelesque vierem a crer em mim, por in-termédio da sua palavra;” (Jo 17.20);“Pai, a minha vontade é que onde euestou, estejamtambém comigoos que me des-te, para que ve-jam a minha gló-ria que me con-feriste, porqueme amaste antesda fundação domundo” (Jo 17.24).

Por que oamor eletivo deDeus é tão im-portante paramissionários e pregadores do evan-gelho? Porque esta é a doutrina queassegura o sucesso de nossos esfor-ços missionários. Os grandes evan-gelistas da história da igreja criam nadoutrina bíblica da eleição. Esta dou-trina é um dos elementos essenciaisdo calvinismo.

Seria uma atitude sábia da partedos batistas contemporâneos atentarà exortação do profeta: “Ouvi-mevós, os que procurais a justiça, osque buscais o SENHOR; olhai para arocha de que fostes cortados e paraa caverna do poço de que fostes ca-vados” (Is 51.1).

Os israelitas foram ordenados arelembrar seu passado. A lembrançada misericórdia de Deus, demonstra-da no passado, será proveitosa demuitas maneiras. Uma recordação do

passado estimulará nossa gratidão; eo povo de Deus está sempre feliz,quando se mostra agradecido. Toda-via, nesta época particular da Históriaserá proveitoso avaliarmos nosso ali-cerce doutrinário — “a rocha de quefostes cortados”. Uma honesta con-sideração do passado nos ensinará a

importância dasã doutrina, es-p e c i a l m e n t ecomo funda-mento para apregação doevangelho. Osbatistas sempretiveram zelo pormissões e evan-gelismo.

Olhando aopassado e con-siderando osguerreiros da

obra de evangelismo e missões, de-vemos perguntar: “O que aqueles ho-mens criam a respeito de Deus, dohomem, do pecado e da salvação?”É fácil descobrir que, em sua maio-ria, eles eram calvinistas, e seus es-forços evangelísticos estavam fun-damentados no calvinismo. A sã dou-trina norteia toda a verdadeira adora-ção e o evangelismo; e isto é a es-sência do cristianismo. A doutrina nãosomente expressa a verdadeira expe-riência de conversão, mas tambémdetermina a mensagem e os méto-dos de evangelismo.

O fundamento doutrinário doevangelismo bíblico é tão importanteà obra de evangelização quanto osossos o são para o corpo humano. Adoutrina outorga unidade e estabili-dade.

Em todos os lugares, o cal-vinista vê a Deus em seus

fortes passos, sente a obrado poderoso braço de Deuse o pulsar do seu vigoroso

coração. O calvinismo éapenas cristianismo.

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O fundamento doutrinário pro-duz o vigor espiritual que capacita oevangelismo a suportar as tempesta-des de oposição, crueldade e perse-guição que freqüentemente o acom-panham. Portanto, a igreja que negli-gencia o verdadeiro fundamento dou-trinário do evangelismo bíblico logoenfraquecerá seus esforços evange-lísticos.

A falta de um fundamento dou-trinário militará contra a unidade,introduzindo o erro e a instabilidadeem todos os esforços evangelísticos.É imprescindível que tenhamos umfundamento bíblico correto para overdadeiro evangelismo centralizadoem Deus.

A doutrina molda o nosso desti-no. Atualmente, estamos colhendo osfrutos de um evangelismo não fun-damentado nas Escrituras. O grandeapóstolo, ao instruir um jovem pas-tor a respeito da obra de um evange-lista, disse-lhe que a doutrina (oensino) é o primeiro propósito dasEscrituras: “Toda a Escritura é ins-pirada por Deus e útil para o ENSINO”(2 Tm 3.16).

Quando falamos a respeito dedoutrina, não nos referimos a qual-quer doutrina, e sim à doutrina queos fundadores de nosso primeiro se-minário ensinavam e acreditavam. Adoutrina que Boyce ensinou e na qualacreditava era o alicerce de sua de-voção, que ele inspirou em outros.

A respeito de quais doutrinasestou falando? Estou falando a res-peito daquelas doutrinas que foramdefinidas, expressas, defendidas eestruturadas pelo Sínodo de Dort, em1618; as mesmas doutrinas apresen-tadas na Confissão de Fé de West-

minster e no Catecismo de Heidel-berg; aquelas doutrinas expressadasna antiga Confissão de Fé Batista de1689, adotada posteriormente pelaAssociação da Filadélfia, da qual sur-giu a Convenção Batista do Sul.

Estamos falando sobre as dou-trinas preciosas que nos apresentamum Deus que salva e não um Deusque apenas torna a salvação possívelpara os pecadores, de alguma ma-neira, salvarem a si mesmos, pormeio de uma decisão ou por coope-ração em sua própria salvação. Falode doutrinas que apontam para umDeus que realmente salva, de con-formidade com seu plano e propósito,bem como por intermédio de seupoder.

Estou falando sobre as doutrinasque revelam os três grandes atos doDeus triúno em resgatar pecadoresperdidos, ou seja:

1. O amor eletivo do Pai;2. A poderosa redenção con-

sumada pelo Filho;3. A chamada eficaz pelo Es-

pírito Santo.

Cada pessoa da Trindade age emfavor da salvação do mesmo povo,assegurando infalivelmente a salvaçãodesse povo.

Estas doutrinas fazem a salva-ção depender de Deus e não da ca-pacidade do homem. Atribuem a Deustoda a glória pela salvação dos peca-dores, não dividindo a glória entreDeus e os pecadores. Revelam que aHistória é apenas a realização do pla-no predeterminado de Deus. Reve-lam um Deus que é soberano nacriação e na redenção — a Trindadetrabalhando em harmonia para a sal-

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vação das ovelhas: Deus, o Pai, pla-nejou a salvação; Deus, o Filho, arealizou; e Deus, o Espírito, trans-mite e aplica eficazmente a salvação.Não existe qualquer conflito na Trin-dade. As pessoas da Divindade tra-balham juntas em favor do mesmopovo: “As minhas ovelhas ouvem aminha voz”.

Não concordamos com a idéiaerrônea de que Deus fez tudo que po-dia e agora espera passivamente, en-quanto vê o que os soberanospecadores fazem com um Jesus im-potente e patético. Não, Deus real-mente salva pecadores — a salvaçãovem do Senhor.

Os calvinistas crêem que a cruznão foi um lugar que apenas tornoupossível a salvação; pelo contrário, acruz assegura a salvação do povo deDeus (Is 53.11). Estas doutrinasmostram que a cruz revela o poderde Deus para salvar, e não a sua in-capacidade de salvar. Deus não foifrustrado na cruz. Ali, Ele era o Mes-tre-de-Cerimônias. Conforme decla-rou o apóstolo Pedro: “Sendo esteentregue pelo determinado desígnioe presciência de Deus, vós o matas-tes, crucificando-o por mãos de iní-quos” (At 2.23).

Os calvinistas não crêem que odecreto de Deus para salvar o ho-mem o deixa passivo ou inerte. Não!Não! O que acontece é o contrário!A aliança da graça não aniquila o ho-mem, não o reputa um robô ou umser inanimado. Ela toma posse dohomem, conquista todo o seu ser,com todas as suas faculdades, e seapossa dos poderes de sua alma e deseu corpo — no presente e para sem-pre.

A graça soberana de Deus nãoaniquila os poderes do homem; pelocontrário, vence a incapacidade dohomem. Não destrói a vontade dohomem, mas liberta-a do pecado. Nãosufoca nem oblitera a consciência dohomem; em vez disso, livra-a das tre-vas. A graça soberana regenera e criade novo o homem em sua totalidade;e, ao regenerá-lo, leva-o a amar aDeus e a consagrar-se espontanea-mente a Ele.

CONSIDERANDO O PASSADO

Tenho uma antiga convicção deque, além da Bíblia, da qual extraímostudo o que se refere a Deus e à alma,não existem outros livros que eurecomendaria, para uso devocional eexperimental, mais do que os livrosescritos por nossos pais calvinistas,tais como John Bunyan, AndrewFuller, Charles Haddon Spurgeon,Basil Manly, James P. Boyce e JohnL. Dagg.

Considerando nosso passado eolhando para a rocha da qual fomoscortados, não podemos esquecer al-guns homens da Convenção Batistado Sul, pais e líderes que eram calvi-nistas firmes e comprometidos:

Basil Manly — um historiadordisse que Manly desempenhou o pa-pel de regente em orquestrar os acon-tecimentos que resultaram no surgi-mento de uma convenção batistaconservadora. Manly produziu um re-solução bem elaborada em seis pon-tos que causou a separação entre osbatistas do Norte e os do Sul. Estaresolução foi aprovada por unanimi-dade. Basil Manly era um calvinista

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de primeira ordem.James P. Boyce — este foi um

dos principais fundadores de nossoprimeiro seminário. Depois de suamorte, um de seus ex-alunos, Dr.David Ramsey, fez uma preleção nacomemoração do Dia dos Fundado-res, em 11 janeiro de 1924. Suamensagem se intitulava “James Peti-gru Boyce: God’s Gentleman” (JamesP. Boyce, o Homem Nobre de Deus).Poucas citações da preleção do Dr.Ramsey contarão a história de queBoyce era um calvinista que amava aalma dos homens.

Dr. Ramsey disse: “Minha con-tenção é que nenhuma outra teolo-gia, além daquela que envolve umamor avassalador e consumidor pelaalma dos homens, pode explicar avida e o ministério de James P. Boyce.Este amor apaixonado era o motivoque direcionava sua maneira de pen-sar naquelas primeiras conferênciase na preparação daqueles artigos quelevaram ao estabelecimento do semi-nário.

O propósito de ajudar seus co-legas permeava todos os seus planos,sua conversa, seus escritos, sua pre-gação e seu ensino.

O zelo pelas almas exigiu o me-lhor de seu ser, assim como o sol fazas plantas e flores sobrecarregadasde orvalho se curvarem ao deus dodia”.

O Dr. Boyce não somente ama-va os homens, mas também a Deus.O Dr. Ransey disse, a respeito desteassunto: “Isto se refere tanto ao amorsubjetivo como ao amor objetivo —o amor dos homens para com Deuse o amor de Deus para com os ho-mens”.

Os amigos íntimos de Boyce ecooperadores no estabelecimento doseminário expressaram seus senti-mentos a respeito da teologia deBoyce: “Tivemos o grande privilégiode ser dirigidos e instruídos por talprofessor no estudo do sublime con-junto de doutrinas do apóstolo Paulo,que, tecnicamente, se chama calvi-nismo. Este conjunto de doutrinascompele o estudante zeloso a um ra-ciocínio profundo. E, quando oestudo é ministrado por alguém quecombina o pensamento sistemáticocom a experiência fervorosa, tal es-tudo faz o aluno sentir-se bem, emmeio aos mais inspiradores e eleva-dos pontos de vista a respeito de Deuse do universo que Ele criou”.

O legado de Boyce à nossa pos-teridade é a teologia bíblica expressaem Abstract of Systematic Theology(Síntese de Teologia Sistemática), quenão afirma outra coisa além do queele ensinava em classe. É o puro cal-vinismo.

William A. Muller, autor de AHistory of Southern Baptist Theolo-gical Seminary (História do SeminárioTeológico Batista do Sul), disse:“Como teólogo, o Dr. Boyce não tevemedo de permanecer nas ‘veredasantigas’. Ele era conservador e emi-nentemente bíblico. Abordava commuita eqüidade pontos de vista que,discutidos os seus diversos aspec-tos, ele se recusava a aceitar. Apesardisso, seu ensino era decisivamentecalvinista, de acordo com o modelodos ‘antigos teólogos’. Ele abordavaas dificuldades relacionadas a certasdoutrinas (tais como: Adão – o cabe-ça de toda a raça humana, a eleição ea expiação) não com o objetivo de

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silenciar o controversista, mas como propósito de auxiliar o inquiridorsincero.

O Rev. E. E. Folk, escrevendono Baptist Reflector (Refletor Batis-ta), comentou a respeito das habili-dades e dos resultados de Boycecomo professor de teologia: “Vocêtinha de conhecer bem sua própriateologia sistemática, pois, do contrá-rio, não poderia apresentá-la ao Dr.Boyce. E, embora muitos dos jovensseminaristas fossem arminianos,quando chegavam ao seminário, pou-cos terminavam o curso sem con-verterem-se às fortes posições do Dr.Boyce, no transcorrer do curso mi-nistrado por ele”. James P. Boyce eraum calvinista convicto.

W. B. Johnson, primeiro presi-dente da Convenção Batista do Sul,era calvinista.

R. B. C. Howell, segundo pre-sidente da Convenção Batista do Sul,era calvinista.

Richard Fuller, terceiro presi-dente da Convenção, era calvinista.

Patrick Hues Mell, conhecidocomo “o Príncipe dos Parlamenta-res”, era professor de grego e latimna Universidade Mercer (Geórgia).Uma das coisas admiráveis a respei-to de Mell é que ele foi o presidenteda Convenção por dezessete vezes(duas vezes mais do que qualqueroutro homem). Mell era um defen-sor polêmico do calvinismo. A Sra.D. B. Fitzgerald, que morou váriosanos na casa de Mell e era membroda Igreja Antioquia, recordou os es-forços iniciais dele na igreja:

“Quando chamado a assumir opastorado da igreja, o Dr. Mell a en-controu em um estado de confusão.Ele disse que certo número de mem-bros estava se desviando para oarminianismo. Ele amava muito averdade e não poderia respirar doisares ao mesmo tempo. A igreja erabatista e tinha de afirmar as doutri-nas peculiares que a denominação lhehavia ensinado. Com aquela ousadia,clareza e vigor de linguagem que ocaracterizava, ele pregava aos mem-bros as doutrinas da predestinação,da eleição, da graça gratuita, etc. Dr.Mell disse que sempre tinha de pre-gar a verdade como a encontrava naPalavra de Deus e deixar o restantecom Deus, sentindo que Ele cuidariados resultados” (A Southern BaptistLooks at the Doctrine of Predestina-tion - Um Batista do Sul Considera aDoutrina da Predestinação, páginas58, 59).

Poderíamos multiplicar os no-mes de líderes batistas do Sul queeram calvinistas comprometidos efirmes no evangelismo. Porém, ape-nas mais um nome será suficiente.

John A. Broadus, um grandepregador e um dos fundadores denosso seminário, disse: “Aqueles quezombam do que chamamos calvinis-mo deveriam também zombar doMonte Blanc. Não pretendemos de-fender todos os atos e opiniões deCalvino. Entretanto, não compreen-do como alguém que realmenteentende o grego do apóstolo Pauloou o latim de Calvino e de Turrenti-no pode deixar de perceber que estesapenas interpretaram e estruturaramo que o apóstolo ensinou”.

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Desde os dias dos apóstolos,nenhum evangelista ou pregador ja-mais enfatizou tanto a absolutasoberania de Deus como o fez Jona-than Edwards, o grande ganhador dealmas. E os atuais promotores doevangelismo centralizado no homemtalvez fiquem surpresos, ao desco-brirem que a pregação da soberaniade Deus produziu muitos frutos.Durante o ministério de Edwards, oavivamento varreu a sua igreja. Eledisse: “Descobri que nenhuma outramensagem foi mais poderosamenteabençoada do que as mensagens emque enfatizamos a doutrina da abso-luta soberania de Deus na salvaçãodos pecadores”.

O Dr. Martin Lloyd-Jones foi umhomem que, com alcance internaci-onal, fez mais do que muitos outrosem favor do evangelismo bíblico. Elese via primeiramente como um evan-gelista. Aqueles que o conheciam deperto também o viam desta maneira.A Sra. Lloyd-Jones foi apresentada,em certa ocasião, a um grupo dehomens que, na ausência de seu es-poso, elogiavam as habilidades dele.Enquanto os ouvia, a Sra. Lloyd-Jo-nes observou que eles estavam es-quecendo a principal característica doministério de seu esposo e os sur-preendeu, afirmando com tranqüili-dade: “Ninguém entenderá meuesposo, se não reconhecer que, emprimeiro lugar, ele foi um homem deoração e, depois, um evangelista”.

Por ser um calvinista convicto,o Dr. Lloyd-Jones se opunha a algu-mas das características mais popu-lares do evangelismo moderno. Istolevou alguns que se sentiam descon-

fortáveis com a firmeza do Dr. Lloyd-Jones a dizerem que ele era um “pro-fessor e não um evangelista”. Emcerta ocasião, um crítico desafiou ocomprometimento de Lloyd-Jonescom o evangelismo, fazendo a seguin-te pergunta: “Quando vocês realiza-ram a última campanha de evangeli-zação na Capela de Westminster?” Aresposta de Lloyd-Jones não tinhapropósitos humorísticos: “Realiza-mos campanha todos os domingos”.Quando preparava alunos para o mi-nistério pastoral, ele disse: “Contes-to com firmeza e insisto que toda igre-ja deveria realizar um culto evange-lístico todas as semanas”. No minis-tério de Lloyd-Jones, era o culto dedomingo à noite que satisfazia estepropósito. Ele manteve essa práticadesde o início do seu ministério, em1927, até que o concluiu em 1968.

ONDE ESTÁ A ESPERANÇA DESUCESSO NO EVANGELISMO?

O calvinismo é a certeza de queseremos bem-sucedidos na obra deevangelismo. É o fundamento e aesperança dos esforços missionári-os. Se a esperança de pregadores emissionários estivesse no poder ehabilidade de converterem pecadores,ou se nossa esperança estivesse nopoder e habilidade de os pecadoresmortos vivificarem a si mesmos, de-veríamos nos desesperar. Mas, quan-do a esperança dos resultados dotrabalho de um obreiro de Deus estána obra do Espírito Santo, o únicoque pode outorgar vida espiritual, tra-balhamos com a expectativa de queDeus fará aquilo que nenhum prega-dor é capaz de fazer. Podemos estar

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certos de que Ele chamará eficaz-mente as suas ovelhas, pelo seu po-der, de acordo com a sua vontade,por intermédio da oração e da prega-ção da Palavra.

Grande parte da confusão mo-derna a respeito do calvinismo resultade distorções de seus ensinos. Poresta razão, é vital compreendermoso que o calvinismo não ensina.

O QUE O CALVINISMO NÃO É

O calvinismo não é antimissio-nário. Pelo contrário, o calvinismofornece o alicerce bíblico para mis-sões (Jo 6.37; 17.20,21; 2 Tm 2.10;Is 55.11; 2 Pe 3.9,15).

O calvinismo não destrói a res-ponsabilidade do homem. Os homenstêm de prestar contas de toda luz quepossuem, quer seja a consciência(Rm 2.15), quer seja a natureza (Rm1.19,20), quer seja a Lei escrita (Rm2.17-27), quer seja o evangelho (Mc16.15,16). A incapacidade do homempara fazer o que é reto não o isentade responsabilidade, assim como estamesma incapacidade em Satanás nãoo isenta de responsabilidade.

O calvinismo não torna Deusinjusto. A salvação que Ele outorga aincontáveis hostes de pecadores in-dignos não é uma injustiça para comos demais pecadores indignos (1 Ts5.9).

O calvinismo não desestimulaaqueles que se sentem culpados e simos incentiva a virem a Cristo. “Aqueleque tem sede venha” (Ap 22.17). ODeus que convence é o Deus quesalva. O Deus que salva é o mesmoque elegeu homens para a salvação.É o mesmo Deus que os convida.

O calvinismo não desestimula aoração. Pelo contrário, o calvinismonos impulsiona a buscarmos a Deus,pois Ele é o único que pode salvar. Averdadeira oração é motivada peloEspírito Santo e, por esta razão, estáem harmonia com a vontade de Deus(Rm 8.26).

PALAVRA DE CAUTELA

1. Não é prudente fazer comen-tários depreciativos a respeito do quea Bíblia ensina, quer você o entenda,quer não.

2. Não é prudente rejeitar o quea Bíblia ensina a respeito de qualquerassunto, especialmente se você nãotem estudado o que as Escriturasdizem a respeito daquele assunto.

3. Não é prudente transformarqualquer doutrina em assunto predi-leto. Embora a doutrina tenha vitalimportância, não pode ser separadade toda a verdade do cristianismo.

4. Não é prudente rejeitar qual-quer doutrina somente porque ela temsofrido abusos, tem sido mal utiliza-da ou confundida. Todas as princi-pais doutrinas da Bíblia têm sidopervertidas e utilizadas com abuso.

5. Não é prudente tentar apren-der o que é um calvinista daquelesque não são calvinistas.

UMA PALAVRA DE ADVERTÊNCIA

A advertência de Calvino contraa especulação indevida em referênciaà sublime doutrina da predestinaçãopode ser aplicada a todas as doutrinasdo calvinismo:

“A curiosidade humana tornaainda mais confusa e perigosa a dis-

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O QO QO QO QO QUEUEUEUEUE P P P P PENSAMOSENSAMOSENSAMOSENSAMOSENSAMOS S S S S SOBREOBREOBREOBREOBRE C C C C CALVINISMOALVINISMOALVINISMOALVINISMOALVINISMO EEEEE E E E E EVANGELISMOVANGELISMOVANGELISMOVANGELISMOVANGELISMO 23

cussão sobre a predestinação, que,por si mesma, já é um assunto difí-cil. Nada pode impedir a curiosidadede vaguear pelos caminhos proibidos,privando-a de elevar-se às alturas. Selhe permitirmos, ela tentará investi-gar e esquadrinhar todos os segre-dos de Deus. Se prevalecer entre nóseste pensamento: a Palavra de Deusé o único instrumento que nos podeguiar em nossa investigação de tudoque é lícito apreendermos a respeitodEle e a única luz que pode iluminarnosso entendimento a respeito detudo o que devemos compreendersobre Ele; esse pensamento nos guar-dará prontamente e nos restringirá detoda imprudência. Pois sabemos que,no momento em que ultrapassamosos limites da Palavra, estamos forado caminho e nas trevas e que ali te-mos de vaguear, tropeçar e cair. Aci-ma de tudo, sempre devemos ter istoem mente: procurar outro conheci-mento acerca da predestinação, e nãoaquele que a Palavra de Deus revela,é tão insensato como se alguém de-cidisse vaguear pelos desertos semcaminho (Jó 12.24) ou tentasse verna escuridão. Não nos envergonhe-mos de não saber certas coisas so-bre esta doutrina, na qual existemcertos aspectos desconhecidos” (Ins-titutes, v. III, p. 1-2).

CONCLUSÃO

O relacionamento harmoniosoentre calvinismo e evangelismo temsido expresso freqüentemente emnossos hinos evangélicos.

Dois hinos nos fornecem umaconclusão adequada para este assunto:

Procurei o Senhor, mas descobri:Para achar-me,Ele me fez procurá-Lo.Não fui eu que Te achei,Ó Salvador.Não, eu fui achado por Ti.Estendeste Tua mão e me agarraste.Vagueava, mas não sucumbiNo mar enfurecido.Não fui eu que me apropriei de Ti,Tu, querido Senhor,De mim Te apossaste.

Eu procuro, eu ando, eu amo,Mas todo o amorÉ apenas a minha resposta a Ti,Senhor.Pois antes já estavas perto de mim.Tu sempre amaste a mim.

(Anônimo)

Não fui eu que Te escolhi,Isto jamais teria acontecido.Este coração Te rejeitaria,Se não me tivesses escolhido.Tu me lavasteE livraste do pecadoQue me corrompia.Desde a antiguidade,Determinaste que eu viveriaPara Ti.Tua soberana misericórdiaMe chamou e ensinou-me.O mundo me encantava,Cegando-me às glórias eternas.Meu coração nada possuiDiante de Ti;Anelo por tua rica graça,Reconhecendo isto:Se eu Te amo,Tu me amaste primeiro.

Josiah Conder

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TENTANDO SER UM CRISTÃOJim Elliff

Preletor da 22ª Conferência Fiel - Outubro, 2006.

Fiquei admirado. Acabara deexplicar a um grupo de cientistasnucleares a diferença entre tentarobter a salvação, por meio de nossaspróprias obras, e confiar em Cristopara a salvação. Pensei que havia sidoexcepcionalmente claro. Mas, en-quanto eu saía, um homem agrade-ceu-me, dizendo: “Acho que precisoapenas me esforçar ainda mais paraser um cristão”. Ele se enganou com-pletamente. Por que ele não enten-dia a minha opinião?

Ele tinha tanta esperança de che-gar ao céu por meio de seus esforços,quanto alguém que tenta alcançar aDeus por meio de uma espaçonave.Sem a ajuda do Espírito Santo e doentendimento proporcionado somen-te pela Bíblia, todo homem raciocinaque tem algo a fazer para merecer ofavor divino. A Bíblia não diz isso.Ela ensina que a salvação é um domrecebido tão-somente pela fé, “nãode obras, para que ninguém se glo-rie” (Ef 2.9).

Foi esta verdade sobre a salva-

ção que mudou o curso da históriada humanidade em 1516, quandocomeçou a Reforma Protestante.Sola Fide (Fé Somente) se tornou ogrito de guerra dos reformadoresdurante aqueles dias revolucionári-os. Os reformadores haviam desco-berto uma verdade que, por muitosséculos, ficara escondida, atrás dosrituais e dogmas, para a maior parteda sociedade. Mas, com toda certe-za, esta verdade não era nova. O pa-triarca Abraão havia aprendido estaverdade transformadora, 3.000 anosantes que fossem acesas as primeirasfaíscas da Reforma.

Abraão descobriu que ser aceitocomo justo diante de Deus (a justifi-cação) não acontece por meio denossas boas obras, e sim por meiodaquilo que é exatamente o oposto— a fé somente. Esta fé não se ma-nifesta em confiarmos naquilo quefazemos por Deus, e sim em confi-armos naquilo que Cristo fez por nós.

O apóstolo Paulo disse: “Por-que, se Abraão foi justificado por

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obras, tem de que se gloriar, porémnão diante de Deus. Pois que diz aEscritura? Abraão creu em Deus, eisso lhe foi imputado para justiça”(Rm 4.2-3).

Se você pudesse ser aceito porDeus com base em suas obras, haveriarazão para se gloriar. Significaria quevocê nunca peca. No entanto, vistoque jamais existiu uma pessoaperfeita, exceto Cristo, o caminhodas obras para o céu é impossível.Mas existe um caminho possível parasermos justificados — por meio decrermos (ou seja, pela fé), assimcomo Abraão foi justificado.

Cristo pagou completamente adívida daqueles que são dEle. Quan-do sofreu e morreu no Calvário, Elefez tudo o que poderia ser feito emfavor do homem pecador. Este foium dos mais elevados atos da graçade Deus. Pensar que você pode seraceito diante de Deus por meio dosseus próprios esforços para ser umapessoa boa menospreza a cruz deCristo. Paulo disse: “Não anulo agraça de Deus; pois, se a justiça émediante a lei, segue-se que morreuCristo em vão” (Gl 2.21).

Se você quer ser justificado ouaceito como justo diante de Deus,terá de vir por meio do caminho deDeus, por meio da fé em Cristo enaquilo que Ele fez por você. “Ten-tar ser um cristão” é um insulto paraDeus e uma maneira de desprezar-mos o que Cristo fez na cruz.

Alguns amigos meus assistiramum acidente catastrófico, quando es-tavam em uma colina acima do rioGuadalupe, no Estado do Texas. Umônibus cheio de estudantes havia des-cido a colina para atravessar a ponte

que havia embaixo. Por causa daexcessiva quantidade de chuvas, aponte estava coberta com água. Omotorista do ônibus achava que po-deria atravessá-la com facilidade. Noentanto, quando ele estava no meiodo caminho, uma parede de água lan-çou-se sobre o lado do ônibus e oarremessou no rio.

Imediatamente os estudantesprocuraram sair do ônibus submer-so. Alguns conseguiram; outros, não.Aqueles que conseguiram sair doônibus foram arrastados velozmentepela correnteza, e tentavam se agar-rar às rochas, onde quer que pudes-sem se agarrar. Eles não sobrevive-riam por muito tempo.

Helicópteros da base militar deSanto Antonio vieram rapidamentepara o local do acidente. Uma cor-da, lançada dos helicópteros, erafixada no corpo dos estudantes, tor-nando-lhes possível serem içados elevados para um lugar seco e distan-te.

Uma das estudantes já estava àbeira da loucura por causa do medo.Quando o soldado aproximou-sedela, foi somente com muita dificul-dade que ele pôde fixar o cinto deresgate ao redor dela. Quando elaestava sendo içada, bem acima daágua, os seus braços começaram aagitar-se violentamente — tão vio-lentamente, que ela escorregou docinto de resgate. Meus amigos viramquando aquela moça submergiu namorte, lá embaixo.

Se ela apenas tivesse confiado,poderia ter sido salva da morte.

Deus nunca recompensa o esfor-ço pessoal que você exerce parasalvar a si mesmo. Ele não permitirá

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que você transforme a cruz em umacontecimento insignificante. Deusnão se obrigará a salvá-lo, porquevocê faz aquilo que acredita seremboas obras. Mas existe um caminhopossível, por causa de Cristo — o ca-minho da fé.

“Ora, ao que trabalha, o salárionão é considerado como favor, e simcomo dívida. Mas, ao que não tra-

balha, porém crê naquele que justi-fica o ímpio, a sua fé lhe é atribuídacomo justiça” (Rm 4.4-5).

___________________Este artigo está baseado no ca-pítulo 10 do livro Ao Encontrode Deus (Editora Fiel), escritopelo mesmo autor.

Se as trevas que envolvem um homem são do tipo que, ape-

sar da escuridão, ainda se vêem raios de luz, estas são as trevasde uma nuvem e não as trevas da noite... Ora, isto sempre acon-tece com o povo de Deus. Eles passam por aflição, tentação oudesertos, mas, antes que venha o grande livramento, eles são al-vos de algumas providências divinas especiais, alguns avivamentosem meio às suas aflições, alguns ínterins de luz, algumas aberturasda nuvem. Portanto, no meio de tudo isso, eles podem afirmar:“Com certeza, estas minhas trevas não são as trevas da noite, esim as trevas de uma nuvem”. Eu digo que não existem quaisquerdesencorajamentos sobrevindo aos crentes; é apenas questão deuma nuvem, e eles podem dizer: “É apenas uma nuvem; logo pas-sará”.

William Bridge

Não perdem nada aqueles que ganham a Cristo.

Samuel Rutherford

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TRAJETÓRIA NA REFORMA

Phil A. Newton

Preletor da Conferência Fiel em Portugal - 2006

No início de meu ministério, eunão tinha idéia do que era um traba-lho reformado. Embora estivessefamiliarizado com alguns aconteci-mentos e personalidades da Reformado século XVI, a necessidade contí-nua de uma reforma bíblica não faziasentido para mim. Contudo, isso logomudou.

Estava em meio aos estudos de“Crescimento da Igreja”, sob aorientação de Peter Wagner, noSeminário Teológico Fuller, quandoa minha compreensão teológicacomeçou a mudar vagarosamente. Àmedida que mantinha interação comministros e alunos oriundos de váriasdenominações, comecei a ler commais intensidade do que em qualqueroutra época de meu ministério. Amaioria daquelas leituras careciam deraízes teológicas, embora focassemo ministério da igreja. Achei intriganteque a sociologia, e não a teologia, erao que norteava o Movimento deCrescimento de Igrejas. Lembro-mede, certa vez, ter conversado comum aluno que era um batista do Sul a

respeito de TULIP, que em inglêsforma o acróstico do calvinismo. Eleme perguntou sobre quantos pontosdo calvinismo eu concordava.Respondi que não tinha certeza e pedique me explicasse o significado decada um dos pontos. Conforme elefalava sobre a depravação total, aeleição incondicional, a expiaçãolimitada, a graça irresistível e aperseverança dos santos, concluí queconcordava com quatro pontos e quenão estava certo sobre a expiaçãolimitada. Nossa conversa migrou paraoutros assuntos, mas o acrósticoTULIP permaneceu em minha mente.

Pouco depois disto, comecei aimplantação da igreja à qual sirvoagora, emprestando princípios doMovimento de Crescimento de Igre-jas, enquanto procurava manter aexposição bíblica como prioridade.Um bom número de pessoas se jun-tou entusiasticamente à nova igreja,que não possuía declaração doutri-nária nem sistema de governo. Apósalguns anos na nova igreja, fiz umaviagem missionária e fiquei hospeda-

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do no mesmo quarto com outro pas-tor. Ele afirmou ser um calvinista dos5 pontos. Continuei a ponderar so-bre como tudo isto funcionava emminha própria teologia.

“ENTÃO, VOCÊ É UM CALVINISTA!”

Minha prática de pregar comregularidade através dos livros daBíblia me desafiava. A epístola dePaulo aos Efésios parecia ser o livroque, pessoalmente, eu precisava in-vestigar, a fim de acertar algumasquestões que ardiam em meu pensa-mento. A essa altura, comecei a lutarteologicamente com vários textos,reconhecendo que passar superfici-almente por eles não estava emharmonia com a fidelidade à Palavrade Deus. Compreendi que a adequa-ção dessas questões teológicasafetaria minha metodologia no minis-tério. Ao entender claramente que aliteratura do Movimento de Cresci-mento de Igrejas, em sua maior parte,era direcionada pela sociologia, opragmatismo e a cultura, mas nãopela teologia, reconheci que tornar-me um homem norteado pela teologiamudaria radicalmente a minha abor-dagem ministerial. Devido ao elevadorespeito à Palavra de Deus, eu sabiaque precisava ter um fundamentobíblico para minha fé e prática. As-sim, em 1990, apenas três anos apósiniciar a igreja, comecei a estudar epregar em Efésios. Simultaneamen-te, fiquei abalado e entusiasmado!Profunda alegria e perplexidade in-vadiram minha mente ao fazer aexegese dos textos e meditar neles,bem como ao ler Lloyd-Jones, Stott,Boice, MacArthur, Morris, Packer,

Sproul e outros. Meu mundo teoló-gico virou de cabeça para baixo, ou,melhor dizendo, ficou com o ladocerto para cima!

Ainda não fora longe em meusestudos em Efésios, quando me sen-tei só e refleti em voz alta: “Então,você é um Calvinista de 5 pontos!” Aessa altura, eu conhecia somente trêsbatistas que eram reformados. Doisdeles, alunos do seminário local, ha-viam se mudado para outros minis-térios. O outro era Tom Nettles, queconcluiu seus ensinos no SeminárioTeológico Batista Centro-Americano,em Memphis, logo após mudarmospara a cidade. Na ocasião, o Dr. Net-tles acabara de mudar-se para Chi-cago, os dois alunos haviam partidohá mais tempo, e eu estava só – aomenos foi o que pensei. Quanto maisestudava, mais cresciam minhas con-vicções e mais o Senhor trazia pes-soa após pessoa a cruzar o meucaminho, para fortalecer minha re-forma teológica. Mais do que qual-quer outro, Martin Lloyd-Jones, pormeio de seus oito volumes sobre Efé-sios, foi o meu mentor nas doutrinasda graça. Seus argumentos contun-dentes descongelaram a frieza quehavia em minha teologia bíblica.

Isto deu início ao processo dereforma em nossa igreja. Estudei epreguei em Efésios, sabendo que osversículos iniciais trariam choque àcongregação. Alguns dos membrosda igreja estavam um passo adiantede mim em sua própria reforma teo-lógica e ofereceram-me encoraja-mento significativo. Uma estimadairmã deu-me outros excelentes livrosque completaram meus estudos.Nossas discussões aprimoravam mi-

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nha habilidade de expor os pontosdifíceis da doutrina. Minha esposa eeu gastávamos horas, falando sobreo que eu estava estudando e pregan-do, e as perguntas que ela fazia agu-çavam meu entendimento.

Outros aceitaram imediatamen-te o ensino bíblico, achando-o liber-tador, embora nem todos concordas-sem com o que eu estava pregando.Com freqüência, aos domingos ouquartas à noite, eu abria a oportuni-dade para discutirmos a exposiçãofeita em Efésios. Reconhecia que al-gumas das doutrinas pareciam estra-nhas ao entendimento. Portanto, de-monstrar a consistência dos decretosdivinos (eleição, predestinação e re-denção particular), revelando a co-nexão dessas doutrinas em todas asEscrituras, foi algo precioso. Tele-fonemas e discussões após os cul-tos ofereceram mais oportunidadesde conversar sobre doutrina, darmais esclarecimentos sobre interpre-tações incorretas e aprimorar minhacompreensão sobre o assunto. Mi-nhas citações de Spurgeon, Lloyd-Jones, Packer, MacArthur e outrosevangelistas conhecidos colaborarampara que a igreja visse que seu pas-tor não havia se desviado por umatangente estranha!

Logo descobri que precisava serpaciente no ensino das doutrinas dagraça. Estava explorando um territó-rio novo, mesmo para mim; então,dialogar com a minha congregação,sem tomar uma postura defensiva,foi algo importante. Também nãopoderia martelar essas doutrinas emsuas mentes sem causar oposição.Por isso, não me apressei em traba-lhá-las. Por saber que me seriam

feitas perguntas sérias, intensifiqueimeus estudos pessoais; conseqüen-temente, isso produziu total mudançana forma de preparar os sermões. Euestava mudando, e a minha congre-gação também, embora nem todos.

OUTRO ÁLAMO

Durante a fase inicial de refor-ma, enquanto negociávamos umapropriedade e aguardávamos a cons-trução de nosso edifício permanente,estávamos nos reunindo em um an-tigo templo, que pertencia a umaempresa que fabricava tendas. Suafachada de pedras fazia recordar oÁlamo*, e, em muitos aspectos, pa-recia uma repetição daquele episódio!Em grande parte sem o meu conhe-cimento, iniciou-se uma batalha naigreja, que veio a eclodir publicamen-te dois anos mais tarde. Certamentehouve conflitos que envolveram pes-soas e trouxeram sofrimento entreaqueles que aceitavam as doutrinasda graça e os que as rejeitavam silen-ciosamente. Apesar disso, pensei queas diferenças estavam em níveis in-dividuais e de preferências deministério. No momento, eu tinhapouca idéia de que já estavam traça-das as linhas das batalhas doutrináriase que as armas de guerra estavamprontas para entrar em ação.

Permanecemos dois anos no“Álamo”, tempo suficiente para tra-balhar em Efésios e completar umnovo estatuto para a igreja. Por vári-os anos, tive preocupações sobre aforma de governo que regia as igre-jas batistas às quais servi. Então, umimportante grupo de líderes trabalhoucomigo, através das Escrituras, na

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conclusão da posição bíblica sobre àpluralidade de presbíteros. Após essetrabalho, apresentei isso de modo sis-temático à igreja, a qual votou emfavor da adoção da pluralidade depresbíteros em nossa estrutura con-gregacional. Três famílias nos dei-xaram por causa deste aspecto dareforma. O restante da igreja pare-ceu favorável, enquanto nos mudá-vamos para o novo edifício com umnovo estatuto e expectativas de cres-cimento.

E realmente crescemos! Pelomenos, aumentamos o número demembros, enquanto uma parte daigreja continuava a crescer em en-tendimento bíblico. O que nos faltava,ao entrar no novo edifício, era umprocesso claro de membresia. Oitentapor cento dos visitantes chegavam àigreja por terem observado a cons-trução do edifício e decidido quedesejavam sondar esta jovem congre-gação. Muitos deles ficaram.

Naquela altura, eu ainda fazia oapelo formal no final dos sermões,embora fosse cauteloso em não fazê-lo de forma manipuladora. Visto quemuitos dos visitantes eram de origembatista, o “apelo” os favoreceu a jun-tarem-se à igreja. Mais tarde, isso setornou um problema para mim! Mui-tos deles não se uniram a nós porconvicção bíblica; alguns, obviamen-te, não eram regenerados. Por outrolado, alguns permaneceram firmes naverdade que ouviam do púlpito edesejaram fazer parte daquela igrejaem processo de reforma.

REALIDADE ESTABELECIDA

No período de dois anos, no

verão de 1994, a euforia pelo novoedifício passou. Continuei a pregarexpositivamente, aplicando as diver-sas doutrinas de cada texto e desfru-tando, eu mesmo, do processo deaprender a verdade. Os meus dias desuperficialidade teológica haviam ter-minado. Embora no seminário rara-mente tivesse discussões teológicassubstanciais, agora me encontravaem discussões teológicas regularescom os membros da igreja e amigos.Portanto, não era surpreendente quea tensão crescesse na igreja. Quan-do a energia do povo não estava maisfocalizada no novo edifício e nosmembros novos, alguns começarama atentar à mensagem. Nesse tempo,eu estava numa série de estudos noevangelho de João. Mensagens como“Quando a Crença é Pequena” (2.23-25), “O Novo Nascimento” (3.1-15),“O que é Realmente o Evangelho”(3.31-36) e “A Verdadeira e a FalsaAdoração” (4.20-24) sondaram pro-fundamente a consciência e expuse-ram a fé superficial. Alguns nãoqueriam admitir que houvessem in-terpretado erroneamente as doutrinasde Deus e do homem. Para outros, ocerne da questão não eram os decre-tos divinos ou a depravação total, esim as suas dúvidas quanto o pró-prio evangelho. O que é realmente oevangelho? Que papel o homem de-sempenha em sua salvação? O quesignifica ser regenerado? O que acon-tece quando Deus salva um pecador?

Em meio a tudo isso, váriasfamílias trouxeram-me suas crianças,pedindo-me que as batizasse. Aoconversar com aquelas crianças,convenci-me de que não tinhamqualquer noção do evangelho, apesar

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de confessarem ser crente nasEscolas Bíblicas de Férias ou nasescolas cristãs onde estudavam.

A ira aumentou porque ouseiquestionar a validade da profissão defé verbalizada por seus filhos e recu-sei batizá-los, embora houvesse dado,em cada situação, orientação aos pa-is no tocanteao ensino doevangelho a es-ses filhos. Con-tinuei expondoo Evangelho deJoão, até o ca-pítulo 6, resul-tando em que odique não con-seguiu mais re-ter as águas dadissensão. Pro-curei compro-var a naturezada graça salva-dora, corrigin-do as antigas eequivocadasnoções quantoà segurança eterna, comuns entre osbatistas, ou seja: a pessoa que fezuma decisão estava segura, indepen-dentemente de como vivesse após adecisão. Citando Spurgeon, afirmei:“A verdadeira conversão concedeperdão ao homem, mas não o tornaacomodado. A verdadeira conversãodá ao homem descanso perfeito, masnão faz cessar seu progresso. A ver-dadeira conversão outorga seguran-ça ao homem, mas não lhe permitedeixar de ser vigilante”.

Naquela noite, recebi um tele-fonema de um homem que havia es-tado na igreja desde o início, dizen-

do-me que ele e sua esposa estavam“inclinados” a visitar outras igrejas.Perguntei por quê, e ele me respon-deu: “Não achamos que estamos sen-do alimentados”. Isto contradizia oque outras pessoas atestavam. En-tão, lhe disse: “Talvez haja algo erra-do com o seu apetite”.

Outras fa-mílias tiveramessa mesmainclinação. Nãoocorreu umasaída em mas-sa; apenas ume s c o a m e n t ocontínuo portrês anos, sain-do uma famíliaaqui, duas outrês ali, até quedesapareceusessenta e cin-co por centode nossa fre-qüência. Semmeu conheci-mento, dois

professores das nossas maiores clas-ses de Escola Dominical procuraramse assegurar de votos suficientes parame remover. Eu considerava amboscomo bons amigos. O esforço quefizeram para me remover fracassou.Deus interferiu no processo, por meiodo corpo, mas o envenenamento dopoço causou o esvaziamento daque-las classes. Contudo, a igreja come-çou a mudar. Uma renovada fome porCristo e um novo desejo pela Palavrase espalhou pela igreja; o louvor seintensificou; cresceu a seriedade como evangelho; um profundo regozijocom a graça de Deus nos maravilhou!

“A verdadeira conversãoconcede perdão ao homem,mas não o torna acomoda-do. A verdadeira conversão

dá ao homem descansoperfeito, mas não faz cessarseu progresso. A verdadeira

conversão outorgasegurança ao homem, mas

não lhe permite deixarde ser vigilante”.

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Nem todos que nos deixaramlevaram rancor; apenas alguns. Amaioria simplesmente acompanhouas “carruagens” na corrida do ouroimaginário, sem reconhecer que osmais preciosos veios de ouro da graçasó aparecem após sofrimento epaciência. Ao longo do tempo, váriosdos que nos deixaram nos revelaramque haviam crescido e aprendido maisda Palavra de Deus em nossa igreja,em South Wood, do que em qualqueroutra da qual depois fizeram parte.Esta declaração me intrigou mais doque o fato de terem nos deixado.

Alguns deles até chegaram a nosligar, pedindo desculpas pela parteque tiveram no conflito. Quanto aosque permaneceram, a unidade e amaturidade desenvolvidas superaramnossas expectativas. Deus se agradouem agregar outros à igreja, dando-nos almas preciosas da comunidade,permitindo-nos testemunhar do poderdo evangelho e expandir a pregaçãoe o ministério de nossa igreja alémde Memphis. O surgimento de umgrupo de líderes espirituais, provadose refinados pelo conflito, continuasendo a comprovação dos dividendosda reforma bíblica.

LIÇÕES APRENDIDAS

A reforma é um processo lento.Quanto a mim, demorou vários anospara que me agarrasse às doutrinasda graça. Portanto, não deveria es-perar que minha congregação asaceitasse em algumas semanas. Elesnão precisavam de que eu fosse con-tundente, e sim de que tivessepaciência e ensino sincero; precisa-vam de ternura nas discussões e queeu evitasse uma postura defensiva,

enquanto realizava o processo. É fá-cil termos expectativas irreais acercade nossas igrejas, ao pensar que algotão profundo como os mistérios deDeus sejam compreendidos por meiode um simples sermão. Nossos me-lhores ensinos se firmam quandoassentamos, cuidadosa e deliberada-mente, cada uma dessas verdades.Lloyd-Jones foi um exemplo da im-portância de sumariar e repetir osensinos em sua igreja, em Londres.Ele reconheceu que o assentar cui-dadoso e enfático das verdades queum pastor já compreendeu se tornama pedra angular para estabelecer umaigreja na Palavra de Deus.

Algumas lições são mais bemaprendidas em meio à provação. Eununca compreendera a importânciavital de cada um dos aspectos da igre-ja local moverem-se na mesma dire-ção. Durante os dias de conflito, osprofessores das três maiores classesda Escola Dominical voltaram a aten-ção de seus alunos para um cristia-nismo de doutrina light. O problemanão era o que eles ensinavam; o maisagravante era o que eles não ensina-vam. Ao mesmo tempo que eram afa-gados com lições bíblicas leves esuperficiais na Escola Dominical, osalunos tinham a mente desviada dasverdades sólidas da pregação doutri-nária. Assim como crianças que as-saltaram o jarro de bolachas antes dojantar, seus apetites espirituais esta-vam saciados, de modo a não sentirsatisfação na pregação bíblica. Pre-feriam o aconchego e os jargões deum cristianismo vazio, em vez da féque, de uma vez por todas, foi entre-gue aos santos. Apesar de tudo isso,à medida que a reforma acontecia em

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nosso ministério com os estudantes,nos cultos de adoração, nos ministé-rios de música e de crianças, noevangelismo e em toda a vida eclesi-ástica, a igreja desenvolvia uma uni-dade que não pode ser produzidaartificialmente. A graça de Deus nosligou em amor uns pelos outros e noapoio mútuo entre os ministérios —tudo para a glória de Deus e o pro-gresso do evangelho.

Lembro-me de haver conversa-do com Ernie Reisinger, alguns anosdepois de iniciarmos nossa reforma.Ele me aconselhou: “Faça o seu povoler”. Eu já havia desenvolvido a prá-tica de imprimir os manuscritos demeu sermão e deixá-los disponíveis,antes do culto, a fim de que os desa-costumados à pregação expositivapudessem acompanhar melhor. Co-mecei a acrescentar livretes sobreassuntos variados, livros curtos, re-produções de sermões de Spurgeon,dos Puritanos e de John Piper, alémde outras fontes para minha congre-gação. Isto serviu para aumentar afome por bons livros nos membrosda igreja. Eu os desafiei a ler a Bíbliatoda durante o ano. Muitos aceita-ram e continuam a fazê-lo.

O corpo de Cristo se tornou ain-da mais precioso para mim, natrajetória da reforma. Deus levantouirmãos e irmãs, na igreja, para fica-rem firmes comigo. Uma palavra deencorajamento, um bilhete de agra-decimento por pregar a Palavra, umbraço ao redor de meu ombro, umaceno aprovador com a cabeça du-rante o sermão, uma oração sincerae uma refeição em conjunto — essascoisas provaram ser um bálsamopara a cura do desencorajamento,

quando a tensão se agravava. Com aexperiência de pastoreá-los, minhavisão da igreja ficou mais nítida, porcompreender o quanto eu precisavado corpo de Cristo.

Depois de alguns anos na refor-ma, fui informado sobre o FoundersMinistries, por meio de uma conver-sa providencial com Jim Carnes, queagora é nosso ministro de música epresbítero na igreja. Ele também mefalou sobre a conferência anual dejovens (agora chamada Saved ByFaith Youth Challenge). Meu pastorauxiliar naquela época, Todd Wilson,e eu levamos os jovens para a nossaprimeira conferência. Eles amaram,e nós também. Encontrei um grupode homens e mulheres de outras igre-jas que também haviam passado pelomesmo processo de reforma. As con-versas até tarde da noite curarammuitas feridas e me incentivaram aprosseguir na reforma. Mais tarde,no verão, freqüentei pela primeira veza Conferência Founders. Meu cora-ção percebeu imediatamente oespírito acolhedor daqueles irmãosque compartilhavam de um mesmopensamento comigo. Eu precisavadaquela comunhão e encorajamento,para que não me tornasse negligen-te, em minha trajetória na reforma.Ainda estou na jornada e sou muitograto por ter recebido o apoio dospresbíteros, dos diáconos, dos fun-cionários, da igreja e das famílias queestão peregrinando comigo.______________

(*) NT – Referência à batalha do Ála-mo, na ocasião em que o Texas se tor-nou independente do México. OÁlamo ficou conhecido como um sím-bolo heróico de resistência à opressão.

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INTRODUÇÃO AO LIVRO

“OURO DE TOLO?”John MacArthur

Certa vez, uma mulher me es-creveu para dizer que pensava que ocristianismo era bom, mas ela, emparticular, era ligada ao zenbudismo.Gostava de ouvir a rádio evangélica,enquanto dirigia, porque a música“aliviava o seu carma”. Mas, ocasio-nalmente, ela sintonizava um dosministérios de ensino bíblico. Em suaopinião, todos os pregadores queouvira tinham a mente muito fecha-da no que diz respeito a outras reli-giões; por isso, ela decidira escreverpara vários pastores que ministravamno rádio e encorajá-los a terem amente mais aberta.

“Deus não se importa com o quevocê acredita, contanto que seja sin-cero”, ela escreveu, ecoando umaopinião que tenho ouvido muitas ve-zes. “Todas as religiões nos levam,finalmente, à mesma realidade. Nãoimporta que estrada você tome parachegar lá, contanto que siga com fi-delidade o caminho escolhido porvocê mesmo. Não critique os cami-

nhos alternativos que as outras pes-soas escolhem.”

Para aqueles que aceitam a Bíbliacomo a Palavra de Deus, a loucuradesse raciocínio deve ser logoevidente. Se as conseqüências do queacreditamos significam a diferençaentre certo e errado, o agradar a Deuse o receber sua punição, a vida e amorte, então, precisamos ter certezade que aquilo em que cremos estábaseado num pensamento claro. Emoutras palavras, precisamos exercitaro discernimento.

De fato, o discernimento está tãona moda, em nossa cultura, quanto averdade absoluta e a humildade. Fa-zer distinções e julgamentos claroscontradiz os valores relativistas dacultura moderna. O pluralismo e adiversidade têm sido exaltados comovirtudes mais elevadas do que a ver-dade. Não devemos estabelecerlimites definitivos ou afirmar qual-quer absoluto. Isto é consideradoretrógrado, antiquado, deselegante.

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INTRODUÇÃO AO LIVRO “OURO DE TOLO?” 35

E, embora esta atitude para com odiscernimento bíblico seja esperadado mundo secular, ela tem sido la-mentavelmente abraçada por umnúmero cada vez maior de cristãosevangélicos.

Como resultado, o evangelica-lismo tem começado a perder ascaracterísticas que o distinguia domundo – preferindo freqüentementea tolerância à verdade. A maioria dosevangélicos não está aceitando o is-lamismo, hinduísmo ou outrasreligiões anticristãs. Entretanto, mui-tos parecem imaginar que não importarealmente o que você crê, contantoque tenha o nome de cristão. Comexceção de algumas seitas que rejei-tam ostensivamente a Trindade, quasetudo o mais que for ensinado emnome de Cristo é aceito pelos evan-gélicos – desde o catolicismo romano(o qual nega que os pecadores sãojustificados somente pela fé) ao mo-vimento Palavra da Fé (que corrompea doutrina de Cristo, ao fazer da saú-de e da riqueza temporal o foco dasalvação).

Em nome da unidade, esses as-suntos de doutrina jamais devem sercontestados. Somos encorajados ainsistir em nada mais do que uma sim-ples afirmação de fé em Jesus. Alémdisso, o conteúdo específico da fédeve ser um assunto de preferênciaspessoais.

É claro que esta atitude geral deaceitação não é nova; a igreja tem tra-vado uma luta contínua sobre o as-sunto de discernimento doutrinário,pelo menos desde o início do séculoXX. Este mesmo apelo para que te-nhamos uma mente mais aberta noque concerne a padrões e crenças

religiosas sempre esteve no topo daagenda do liberalismo teológico. Naverdade, isto é exatamente o que otermo liberal significava original-mente. A novidade nos apelos à tole-rância, em nossos dias, é que elesvêm de dentro do evangelicalismo.

Nada é mais desesperadamentenecessário à igreja contemporânea doque um novo movimento para enfa-tizar, outra vez, a necessidade dediscernimento bíblico. Sem um mo-vimento assim, a verdadeira igrejaestá em sérios apuros. Se a ânsia atu-al por um compromisso ecumênico,santificação pragmática e sucesso nu-mérico continuar ganhando espaçono evangelicalismo, o resultado seráum desastre espiritual absoluto.

Este livro, portanto, é um apeloao discernimento. É um lembrete deque a verdade de Deus é um bemprecioso que deve ser tratado comcuidado – e não diluído em crençasextravagantes ou amarrado às tradi-ções humanas. Quando igrejas oucrentes individuais perdem sua reso-lução de discernir entre a sã doutrinae o erro, entre o bem e o mal, entre averdade e a mentira, eles se abrem atodo tipo de engano. Mas aqueles queaplicam consistentemente o discer-nimento bíblico, em todas as áreasda vida, podem ter a certeza de ca-minhar na sabedoria do Senhor (Pv2.1-6).

Em contraste, os crentes con-temporâneos se conformam com aopinião de que poucas coisas preci-sam ser definidas com exatidão.Assuntos doutrinários, questões mo-rais e princípios cristãos são todosclassificados como ambíguos. Todapessoa é encorajada a fazer aquilo que

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é certo aos seus próprios olhos –exatamente o que Deus proíbe (Dt12.8; Jz 17.6; 21.25).

A igreja jamais manifestará seupoder na sociedade, se não recupe-rar um amor ardente pela verdade eaversão à mentira. O verdadeiro cren-te não pode fechar os olhos ou negli-genciar as influências anticristãs emseu meio, esperando desfrutar dasbênçãos de Deus. “E digo isto a vósoutros que conheceis o tempo: já éhora de vos despertardes do sono;porque a nossa salvação está, agora,mais perto do que quando no princí-pio cremos. Vai alta a noite, e vem

chegando o dia. Deixemos, pois, asobras das trevas e revistamo-nos dasarmas da luz” (Rm 13.11-12). Por-tanto, “também faço esta oração: queo vosso amor aumente mais e maisem pleno conhecimento e toda a per-cepção, para aprovardes as coisas ex-celentes e serdes sinceros e inculpá-veis para o Dia de Cristo, cheios dofruto de justiça, o qual é mediante Je-sus Cristo, para a glória e louvor deDeus” (Fp 1.9-11).

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(Extraído do livro Ouro de Tolo?,Editora Fiel, São José dos Campos, SP)

DE MIM PROCEDE O TEU FRUTO. Oséias 14.8

C. H. Spurgeon

Nosso fruto procede de nossa união com Deus. O frutodo galho tem sua origem diretamente vinculada à raiz. Quan-do cortamos a ligação do galho, este morre e não produznenhum fruto. Pela virtude de nossa união com Cristo, produ-zimos fruto. Todo cacho de uvas esteve primeiramente na raiz.Passou pelo tronco, seguiu pelos vasos de seiva, moldando-seexteriormente em um fruto. De modo semelhante, toda boaobra do crente estava primeiramente em Cristo e, posterior-mente, foi produzida em nós.

Crente, valorize esta preciosa união com Cristo, visto queela tem de ser a fonte de toda fertilidade que você espera co-nhecer. Nosso fruto vem das providências espirituais de Deus.Quando as gotas de orvalho caem do céu; quando lá de cima asnuvens olham para baixo e estão quase destilando seu tesourolíquido, quando o sol brilhante faz crescer os frutos do cacho,cada bênção celeste pode sussurrar para a árvore: “De mimprocede o teu fruto”... Oh! quanto devemos à providência e àgraça de Deus! Constantemente, Ele nos dá ânimo, ensino, con-solação, fortalecimento e tudo o que necessitamos. Disso resultatoda a nossa utilidade e eficácia.

(Extraído do livro Leituras Diárias, Vol. 2, Editora Fiel.)