28

Revista FormAção Política

Embed Size (px)

DESCRIPTION

A Revista FormAção Política é uma publicação do mandato do Deputado Estadual Hamilton Pereira, que traz o resultado de Seminário FormAção Política, realizado em 13 de setembro de 2009.

Citation preview

Page 1: Revista FormAção Política
Page 2: Revista FormAção Política

A realização deste Seminário foi uma grande ideia doscompanheiros que compõem o nosso mandato. Ultrapassamosnossas próprias expectativas e reunimos perto de 600 pessoas, de50 cidades. Conseguimos trazer, para conversar com os petistas esimpatizantes de Sorocaba e região, figuras do primeiro escalãonacional, como os ex-presidentes da Câmara dos Deputados JoãoPaulo Cunha e Arlindo Chinaglia, além do também DeputadoFederal e ex-presidente do PT, José Genoíno. Da nossa região,tivemos a ex-deputada e atual representante do MEC em SãoPaulo, Iara Bernardi, além dos prefeitos Carlos Pivetta, deVotorantim; Cláudio Maffei, de Porto Feliz; Geremias Ribeiro,de Piedade; e os vice-prefeitos Antônio Justo, de Alumínio eJuvenil Cirelli, de Salto. De um pouco mais longe, veio a prefeita

Sandra Kennedy, de Registro. Contamos ainda com inúmerosvereadores e dirigentes do Partido dos Trabalhadores.

Tão seleto grupo, bem como a presença de tantos com-panheiros, de tantas cidades, nos enche de orgulho. Para nós, maisdo que qualquer veleidade pessoal, fica a certeza que viemoscumprindo os compromissos que assumimos lá no início do primeiromandato: representar as demandas da nossa região e ajudar naconstrução partidária.

O clima de responsabilidade, fraternidade e camaradagem –sem contar o aprofundamento das questões — nas diversas mesastemáticas, também traz outra certeza: quaisquer que sejam asdificuldades em 2010, nos âmbitos estadual e nacional, elas vãoencontrar o PT e seus aliados unidos, dispostos a dar continuidadea um projeto que vem mudando o Brasil para melhor. Como bemdisseram João Paulo, Genoíno e Arlindo, no ano que vem, doisprojetos de país estarão em disputa. Estaremos prontos e nãovamos permitir nenhum retrocesso nos avanços sociais eeconômicos do Governo Lula.

Ficou claro também que São Paulo precisa trocar a hegemoniade um mesmo grupo, que está no poder desde o governo FrancoMontoro, em 83. Essa turma transformou a educação paulista numadas piores do país, projeta privatizar a saúde pública, paga ospiores salários aos policiais civis e militares e investe mais empropaganda que na Segurança Pública. É hora de dar um basta:são 26 anos de mesmice. São Paulo merece coisa melhor. É outraluta que vai nos encontrar mais dispostos do que nunca.

Estamos orgulhosos2

[POR HAMILTON PEREIRA]

FormAção Política é uma publicação do mandatodo Deputado Estadual Hamilton Pereira (PT-SP).Editor: João José de Oliveira Negrão (MTb13.175)Projeto gráfico e diagramação: Jônatas RosaFotos: Photo Art estúdio fotográficoTelefone: (15)3231-1359Escritório Político: Rua Itapetininga, 122,Trujillo - Sorocaba - SP. CEP: 18060-565.Telefone: (15)3234-2008Gabinete ALESP - Palácio 9 de JulhoAv. Pedro Álvares Cabral, 201 - sala 4014 - 4ºandar - Ibirapuera - São Paulo - SP.Telefone: (11)3886-6952www.hamiltonpereira.org.br

EXPEDIENTE

Page 3: Revista FormAção Política

Parabéns Hamilton, parabéns ao povo de Sorocaba e da região.Parabéns ao povo de São Paulo. Uma grande plenária para um grandedeputado, em que se discute duas coisas básicas: a construção doPartido dos Trabalhadores como instrumento de mudança em SãoPaulo e no Brasil e as políticas públicas a serem aplicadas nasprefeituras, no Governo do Estado e no Governo Federal. Esse é odeputado ideal, um deputado que se preocupa com a vida do povo,que se preocupa com as ações coletivas e que se preocupa,fundamentalmente, em fazer o nossa país cada dia melhor. Umgrande abraço ao Hamilton e sua equipe”. João Paulo Cunha.

Esta plenária do Hamilton está simplesmente fantástica pelaquantidade e qualidade da militância que está aqui presente.Intervenções de altíssimo nível, todas elas centradas nosinteresses nacionais, naquilo que interessa ao povo brasileiro. Etem também uma característica fundamental, que é aparticipação coletiva para planejar o trabalho para darcontinuidade ao muito que já foi feito pelo Hamilton, pela suaequipe e pela militância do PT. Eu quero deixar aqui um abraçoa todos os participantes e principalmente ao Hamilton, quemerece essa plenária, que trabalhou a vida toda com coerência epor isso que ele merece e tem o nosso carinho, a nossa amizadee o nosso respeito”. Arlindo Chinaglia.

O que eles disseram

Um grande evento, bem preparado, bem organizado,politizado. O mandato do Hamilton está de parabéns porqueaglutinar esse conjunto de companheiros e companheirasem uma manhã de domingo, para discutir política, mostra aforça de seu mandato, a visão coletiva do seu mandato e ofortalecimento do PT na região. Parabéns ao mandato doHamilton Pereira”. José Genoino.

Page 4: Revista FormAção Política

4

Cerca de 600 pessoas, vindas de 50 cidades,passaram pelas dependências do CentroArquidiocesano de Sorocaba, durante o Semináriorealizado pelo Deputado Estadual Hamilton Pereira(PT). Na parte da manhã, houve uma aprofundadaanálise da conjuntura política nacional, com aparticipação dos deputados federais petistas ArlindoChinaglia, João Paulo Cunha e José Genoíno. Àtarde, os presentes reuniram-se em onze salas temá-ticas, para debater e trocar experiências a respeito

de políticas públicaspara as áreas de Agricul-tura, Assistência Social,Cultura, Educação, Gê-nero, Habitação, Igual-dade Racial, Juventude,Meio Ambiente, Saúde eSegurança Pública.

Seminário do mandato de Hamilton foi um sucessoEncontro superou as expectativas e reuniu 600 pessoas para os debates e troca

de experiência em onze oficinas temáticas

Além dos deputados federais, também compareceramo Deputado Estadual Vanderlei Siraque; os prefeitos deVotorantim, Carlos Pivetta; de Porto Feliz, Cláudio Maffei;de Piedade, Geremias Ribeiro; e de Registro, SandraKennedy. Estiveram presentes ainda os vice-prefeitos deSalto, Juvenil Cirelli, e de Alumínio, Antônio Justo, arepresentante do MEC no estado de São Paulo, IaraBernardi, e vereadores de várias cidades da região.

Hamilton fez questão de passar por todas as salas, noperíodo da tarde, para agradecer a participação, tanto dospalestrantes quanto dos integrantes dos grupos temáticos.

Governo Lula - João Paulo Cunha, o primeiro a falarna parte da manhã, destacou as análises que segmentosda imprensa têm feito das pesquisas eleitorais, tentandodemonstrar estagnação da intenção de votos em DilmaRousseff, mais provável candidata do PT à sucessão deLula. “Fiz uma comparação das pesquisas realizadas peloinstituto Sensus para a Confederação Nacional dos

Transportes. Se quisermos falarem tendências, temos de usar umperíodo mais longo, não umintervalo entre um mês e outro.Comparei setembro de 2008 comsetembro de 2009. Pois bem:Serra tinha, há um ano, 38% dasintenções de voto; agora, tem39%, ou seja, a mesma coisa.Dilma, ao contrário, em 2008 tinha8% e agora mais que dobrou,chegando aos 19% de intenção devotos. Então, estagnada está acandidatura das forças conserva-doras, enquanto Dilma sobe”,disse João Paulo.

O Deputado Federal, que já foipresidente da Câmara, também fa-lou do pré-sal. Para ele, o estadoprecisa induzir o desenvolvimento

Evento reuniupolíticos, militantes eespecialistas nasmais diversas áreaspara discussõescruciais parasociedade

)))

[POR JOÃO JOSÉ DE OLIVEIRA NEGRÃO]

Page 5: Revista FormAção Política

e agir na distribuição de renda. “O governoLula, além dos programas sociais, promoveuum aumento real – acima da inflação – demais de 50% no salário mínimo, acabou coma dívida externa, ampliou as vagas nasuniversidades e outras coisas mais. Por isso,podemos fazer o debate com os tucanos edemos em qualquer área, comparar nossogoverno com o deles, que teremos vanta-gens. É por isso que vamos eleger Dilma e amaior bancada na Câmara”, finalizou.

Transformação sem armasJosé Genoíno abriu sua intervenção destacando que não

tinha como recusar um convite de Hamilton Pereira.“Hamilton é um companheiro especial, marcado pelasolidariedade. Na hora das dificuldades, quanto tantos seafastam, lá está ele”, disse Genoíno. Ele afirmou que ogoverno Lula, o PT e seus aliados construíram um projetoque está mudando o Brasil. “O país agora é protagonistano cenário internacional, aumentou o mercado interno eincluiu milhões de pessoas à cidadania, reconstruindo opapel do estado na indução do desenvolvimento”, disse.

Para o ex-presidente nacional, o PT está fazendo umatransformação social sem armas e sem rupturas. “Temosem andamento um projeto que vem resolvendo problemashistóricos. Por isso, tanto ódio na oposição e em certoscomentaristas da imprensa. No ano que vem, teremos umadisputa radical, enfrentamento de dois projetos: o nosso,democrático e popular, continua e aprofunda estasmudanças. O dos tucanos e demos quer regredir à situaçãodo governo FHC”, concluiu.

Também ex-presidente da Câmara, o Deputado Fe-deral Arlindo Chinaglia falou sobre pré-sal e ação do estado.“A Petrobrás descobre petróleo na camada do pré-salporque houve uma deliberação de um Estado que investe,que escolhe dirigir o País soberanamente. Não tem sorte,tem planejamento. Pela ação do governo, a Petrobrás quevalia menos de R$50 bi no início do Governo Lula, hoje

vale mais de R$350 bi”, afirmou.Segundo Chinaglia, que vai presidir a Comissão que

tratará da regulamentação da matéria, será travada “umadisputa duríssima” no Congresso em torno dos quatro pro-jetos de lei referentes ao pré-sal, que começam a tramitarna Câmara. O deputado afirmou que há uma disputa pelocontrole do Estado. “A direita não abre mão e quandoperde as eleições dá golpe: Honduras está aí”.

Chinaglia explicou que a necessidade de se criar umaoutra estatal, a Petrosal, ao invés de se entregar para aPetrobrás — apesar dela ter ganhado prêmios internacionaise ter desenvolvido a tecnologia de exploração em águasprofundas —, se deve ao fato de a empresa estarparcialmente nas mãos da iniciativa privada. “Numa tacada(a Petrobrás) teve 30% de suas ações vendidas na Bolsade Nova Iorque durante o Governo FHC”, disse.

Para o Deputado, é fundamental a mobilização emdefesa do Brasil, “pois quem vendeu parte do país a preçode banana não concorda com essa posição soberana”. Elequer muita gente da região “para lotarmos a Câmara dosDeputados em defesa do Brasil. Porque não podemos nosiludir, há muitos ‘efeitos especiais’ quando a disputa se dáno Parlamento ou no Judiciário. Nós, quando atuamos muitobem, conseguimos representar o povo, mas jamaisconseguimos substituir o povo. Por isso, precisaremos damobilização popular”, finalizou.

Conjuntura nacionale importantes açõesdo governo Lulaforam destaque nafala dos presentes

)))

Page 6: Revista FormAção Política

As dificuldades de se implantar políticasde assistência social com unidade, afinar aconversa entre as várias correntes de pensa-mentos e atribuir ao governo a responsabi-lidade da atuação social foram as questõesque permearam o debate em “Ação Social”.

Ministrado por Aldaíza Sposati, o módulocontou com participação de gestorespúblicos, integrantes de organizações nãogovernamentais, vereadores e militantes detoda região de Sorocaba.

O debate teve início com a consideraçãode Aldaíza de que o termo ação social é muitoabrangente. “Pela natureza e pela perspectivadesse debate na construção de um caminhopara disputarmos o governo do estado em2010, propõe-se que nos centremos não emações, mas na discussão de política públicade assistência social”, distinguiu.

Aldaíza ressaltou a dificuldade de discutiro assunto pelo fato de haver mais o exemplode ajuda ao próximo do que a consolidaçãode direitos. “A dignidade humana só é digni-dade quando há o reconhecimento de outrocomo igual. Se deixar de ser igual, efetiva-mente, tem-se uma relação de subalterno”.Ela acrescenta que, mesmo quando há ajuda- e dependendo de como ela se dá -, o outrovai ser sempre inferior. “Se estamos discutin-do numa Assembléia Legislativa para fazeruma política para o estado de São Paulo e,inclusive analisar o que está sendo feito, nãopodemos nos sentir como reis fazendo bon-dade para o outro, o deixando subalterno”.

Nesse contexto, Aldaíza colocou que aprimeira questão é como conseguir uma redis-

[POR JÔNATAS ROSA]

Aldaíza Sposati, doutora em Serviço Social, abordou as dificuldadesque permeiam o setor, principalmente no estado de São Paulo

tribuição de riqueza e como enfrentar todadesigualdade no campo social, buscandotrabalhar a construção de direito. “Embora apolítica social do Brasil tenha crescido, exis-tem os chamados de pobres-coitados; essesque não têm ninguém por eles, que vão de-pender de ajuda. Nessa hora, temos a dificul-dade de arrancar essa raspa de tacho parafazer dele igual”. Ela salienta que isso não sig-nifica deixar de trabalhar por quem tem carên-cias sociais, mas que é preciso não só fazeralgo pela necessidade e sim trabalhar um pro-cesso para mudar a situação em que está. “Épreciso que essas necessidades sejam enten-didas como de responsabilidade do governo”.

Ela lembrou ainda que a atuação dasONGs, que pode ser um trabalho de quali-dade, tem a função de atender um pequenonúmero de pessoas em determinada situaçãode risco social e que o governo deve assumira responsabilidade por todas as pessoasnessas condições. “A política pública, para

A dignidadehumana só é

dignidade quandohá o reconhe-

cimento de outrocomo igual”,

Aldaíza Sposati(ao centro)

6

Políticas de assistência social são direitos

Page 7: Revista FormAção Política

ser direito, tem que criar respostas para todaaquela situação (de risco social atendidas pelasONGs)”, disse, destacando o contexto históricoda má distribuição de riqueza, principal causa damiséria atual, para afirmar que distribuição não éapenas transferência de renda, mas sim umconjunto de políticas sociais, como acesso àescola e saúde pública, entre outros.

Ela falou ainda da necessidade de se criar umaunidade na área, pelo fato de haver variaçõesnas ações sociais, difíceis de mensurar e explicar.“A partir da política nacional de 2004, começoua ser definido o que é o campo da política deassistência social: um é proteção básica, que tratade ação preventiva, sendo criado o CRAAS(Centro de Referência de Assistência Social), eoutro da proteção especial, que cuida de criançasem conflitos, mulheres sob violência, sendo criadoo CREAS (Centro de Referência Especializadode Assistência Social)”.

Outras problemáticas apontadas pela doutorasão o fato de a discussão de política pública deassistência social ser nova, além de haver duascorrentes de pensamento: a que defende que ogoverno deve repassar verbas e a sociedade,através das ONGs principalmente, é que tem odever trabalhar as questões sociais, e a quedefende a não existência de assistência social,afirmando que dinheiro no bolso dará possibi-lidade das pessoas alcançarem dignidade. Elatambém apontou a atuação do atual governo doestado - considerando que é um dos mais atra-sados do país, seja em relação à organização sejano percentual do orçamento destinado a áreasocial -, e da prefeitura tucana de Sorocaba, que“sequestrou” verbas do estado e transferiu partedela para o fundo social daprimeira-dama. “O fundo social éuma criação tucana e a primeira-dama gasta dinheiro do orçamentonaquilo que ela acha interessante.Do ponto de vista do governo esta-dual, na assistência social, nãotemos alinhamento com a políticanacional, democratização, orça-mentação, transparência”.

Os participantes do debateaproveitaram o espaço para exporsuas experiência e dúvidas. Comoa intervenção do secretário deCidadania e Geração de Renda de

Votorantim, João Soares Queiroz, quecolocou a dificuldade da gestão da pastafrente às demandas do município. “O setordeveria trabalhar como planejador,auxiliando a aplicação de recursos em todasas áreas, visando o social. A dificuldade écomo fazer esse embate com a administraçãoda cidade”. Já Miriam Walti, presidente daAssociação dos Portadores de Deficiênciade Tatuí, falou da falta de entendimento entregestores públicos e ONGs, afirmando quemuitos beneficiam alguns e “fecham as portaspara atuação social”.

Ao final, ficou decidido que novos encon-tros deverão acontecer em breve para que adiscussão sobre políticas públicas de assis-tência social possa ser ampliada e, de fato,contribua para uma atuação eficaz do estado.

Aldaíza Sposati é graduada, mestre e doutora pela PontifíciaUniversidade Católica em Serviço Social, área em que atua há maisde trinta anos. Atualmente é professora da PUC/SP e desenvolvepesquisas sobre o tema, além de atuar no Setorial de AssistênciaSocial do Diretório Estadual do PT.

Aldaíza também foi vereadora e secretária de assistência na cidadede São Paulo. Na área de pesquisa, é organizadora e autora dediversos livros sobre o assunto, inclusive da primeira pesquisa e doprimeiro livro na área, publicado em 1985, trabalho realizado emparceira com outros pesquisadores.

A pesquisadora destacou que a possibilidade do debate na área éfundamental porque, segundo ela, há muita dificuldade de entendera assistência social como política pública, o que faz com o camposeja visto mais como de ação benemérita e de voluntariado.

Palestrante tem trabalho pioneiro no setor

A deficienteatuação dogoverno no

estado de SãoPaulo foi

abordada noencontro

)))

Page 8: Revista FormAção Política

8

O Brasil conta hoje com uma série de políticas para ofortalecimento da agricultura familiar. São programas que,elaborados pelo Governo Federal, abrem um lequeinédito de oportunidades para os médios e pequenosprodutores. Dentre os mecanismos criados pelo governoLula, dois têm se destacado por sua abrangência epotencial de transformação. São eles o Programa deAquisição de Alimentos (PAA) e a Lei nº 11. 947, conhe-cida como lei da merenda escolar.

O primeiro dá apoio aos agricultores familiares atravésda aquisição de alimentos de sua produção com dispensade licitação. Além de garantir mercado à produção familiare renda para o agricultor, o PAA elimina o intermediário,

assegurando renda justapara o produtor. Desde acriação, em 2003, o PAAjá adquiriu mais de 900 miltoneladas de alimentos,comprados de 350 mil pro-dutores familiares.

Outro marco é a Lei11.947, que determina que,no mínimo, 30% da meren-

da escolar seja comprada de agricultores familiares,sem licitação.

Para aproveitá-los, no entanto, os produtoresprecisam vencer uma série de desafios que têm naorganização o seu ponto central. Melhorias nainfraestrutura e no sistema de gestão da produção, acriação de um mecanismo de formação de preços eassistência técnica são alguns dos obstáculos que têmde ser vencidos para garantir participação plena dosprodutores nos programas do Governo.

“A capacidade de organização dos produtores éhoje o principal desafio da agricultura familiar”, afirmaCarlos Fernando da Rocha Medeiros, assessor deAgricultura da liderança do Partido dos Trabalha-dores (PT) na Assembleia de São Paulo. Medeiroscita o exemplo da Declaração de Aptidão ao Pronaf(DAP). Para participar dos programas, o produtordeve estar identificado como agricultor familiar ouacampado, qualificação comprovada pela DAP.

Na região de Sorocaba, por exemplo, existem seismil agricultores familiares. Destes, apenas 760possuem a Declaração. Na região de Itapetininga,de 3.800 agricultores, apenas 750 têm a DAP. “Issosignifica que a maioria não está apta a participar dosprogramas”, adverte Medeiros.

Mapeamento - Outro entrave que se coloca dizrespeito ao mapeamento da produção e do consumo.Saber o que e quanto se produz na região é o primeiropasso para a criação de uma rede de produtores paraatender as demandas dos programas. “Saber quaissão as demandas regionais e locais, para ver se temospernas para atender aos programas, principalmentea lei da merenda escolar”, afirma José Pechtoll, gerentede Armazenagem da Companhia de Entrepostos eArmazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp).

Segundo ele, o fato da lei exigir que os cardápiosescolares sejam elaborados com gêneros alimentícios

Os desafios do setor rural são centro do debateProdutores familiares dispõem de poderosos programas do Governo Federal para o desenvolvimentode sua atividade. É preciso, no entanto, vencer vários obstáculos para aproveitá-los integralmente.

[POR RODOLFO ANTUNES]

Palestrantes falam dosprogramas elaboradospelo Governo Federal,que abrem um lequeinédito de oportunidadespara os médios epequenos produtores

)))

Page 9: Revista FormAção Política

Carlos Fernando da Rocha Medeiros - Engenheiroagrônomo formado pela Esalq/USP, Carlos Fernando daRocha Medeiros trabalhou na Fundação Instituto de Terrasdo Estado de São Paulo (Itesp), entidade responsável porplanejar e executar as políticas agrária e fundiária do Estado.Hoje é assessor de Agricultura da liderança do PT naAssembleia Legislativa de São Paulo.

José Lourenço Pechtoll - Formado em jornalismo eem agricultura ecológica, José Lourenço Pechtoll possuimestrado em Comunicação e Agronegócio. Desde 1982trabalha com agricultura familiar. Foi diretor de merendaescolar da prefeitura de Santo André, trabalhou emempresas de abastecimento e ocupou vários cargos naCeagesp. É gerente de Armazenagem da Companhia.

Nivaldo Siqueira - Agricultor familiar, Nivaldo Siqueirainiciou sua atuação política na década de 1980, ao ingressarno movimento estudantil e nas Comunidades Eclesiais deBase. Foi coordenador da CUT de Itapeva. Presidiu oSindicato dos Trabalhadores Rurais de Ribeirão Branco.Faz parte da Federação Nacional dos Trabalhadores eTrabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil (Fetraf) e épresidente da FAF.

que respeitem a culturaalimentar local e a di-versidade da produçãoda região reforçam anecessidade do mapea-mento. “Somos um Es-tado essencialmente

urbano, se não há produção no município o prefeitopode alegar que não encontra o produto”, observa. “Te-mos que estar organizados em rede para dizer às pre-feituras onde eles vão encontrar o que precisam”.

Articulação - A articulação com as diferentes institui-ções que gerenciam dos programas nos âmbitos estaduale municipais é outro obstáculo.

O Governo Federal disponibiliza o dinheiro, mas osresponsáveis pela execução dos programas são os Esta-dos, os municípios e a Conab. Ter participação efetivae bom diálogo com os conselhos de Segurança Alimentar,de Desenvolvimento Rural e de Alimentação Escolar éessencial para plena participação nos programas.

“Os Conseas estaduais e municipais funcionam muitopouco em São Paulo. E ambos são instrumentospolíticos que temos para fazer valer esses programas”,observa Pechtoll. “Prestamos pouca atenção em quemnos representa nos conselhos de alimentação escolarnos municípios. São eles que fiscalizam se a prefeituracumpre as leis e as normas de alimentação escolar. Senão colocarmos companheiros nossos lá, eles podemreferendar aquilo que o prefeito quer”.

Nutricionistas - Estabelecer uma relação estreitacom nutricionistas, responsáveis pelo cardápio escolar,e com as merendeiras, que respondem pelo preparodas refeições, também se faz necessário. “Temos odesafio de estabelecer um diálogo com as nutricionistas.São elas que definem o cardápio, mapeiam a produçãoda região e especificam os produtos e as quantidadespara as entidades executoras dos programas”, enfatiza.

Segundo ele já existem modelos que podem auxiliar osprodutores. “O Hortiescolha é um programa gratuito deorientação de compra de hortifrutis, criado pela Ceagesp”.

Os produtores precisam ainda se organizar para fiscalizare cobrar a execução dos programas junto aos conselhosgestores. Para Nivaldo Siqueira, presidente da Federaçãoda Agricultura Familiar do Estado de São Paulo (FAF), oacompanhamento atento da implementação dos programasé crucial. “As leis e as políticas públicas chegam com maisfacilidade aonde o povo está organizado”, argumenta. “Te-mos que cumprir a nossa parte e fiscalizar o outro lado”.

Encaminhamentos – Da reunião saíram algumasdiretrizes. O grupo que discute o tema no mandato de HamiltonPereira já trabalha no mapeamento da produção dosprodutores da região.

No dia 23/9 um pré-levantamento foi apresentado a umgrupo de nutricionistas das prefeituras da região administradaspelo PT e partidos aliados. “O objetivo é elaborar um cardá-pio mínimo para que possamos formular uma proposta defornecimento de alimentos para as prefeituras da região”,explica Mara Melo, assessora de Hamilton.

O grupo articulou uma reunião com a Conab, em outubro,para discutir a ampliação do convênio dos produtores daregião no PAA e a inclusão no programa da merenda escolar.

Nomes de peso falam no módulo

Nivaldo Siqueira(à esq) defendeua necessidade deorganização dosegmento

)))

Page 10: Revista FormAção Política

10

Militantes debatem políticas públicas para o setorOs temas mais abordados na oficina comanda por Neide Aparecida da Silva

foram os referentes às leis e recursos direcionados à cultura

[POR NATÁLIA DE OLIVEIRA]

Os participantesapontaram quehá poucaspolíticas públicaspara o setor,dificultando oseu fomento

)))

Necessidade de criar novas políticas públicas paraincentivar projetos culturais ou ampliar a divulgaçãosobre as leis e recursos existentes, que apoiamtrabalhos desenvolvidos na área? Essa foi a principaldiscussão da temática sobre Cultura comandada porNeide Aparecida da Silva, integrante do Setorial deEducação do Partido dos Trabalhadores (PT-SP) eConsultora de Gestão Cultural.

Entre os participantes, o vice-prefeito de Salto,Juvenil Cirelli (PT), o Secretário de Cultura e Turis-mo do município de Itapetininga, Fábio ReginoSacco (PT) e o presidente da Escola de SambaUnidos do Morro, de Salto, Aparecido DonizeteDias. Além deles, estudantes de teatro e cinema e

interessados na área cultural.Os temas mais debatidos foram os

referentes às leis e recursos direcionadosà cultura. E não poderia ser diferente, jáque entre os participantes estavam pessoasenvolvidas ativamente em projetos culturaisem suas cidades e que necessitam deapoio, principalmente financeiro, paraproduzir o trabalho cultural. Mas, para a

maioria dos participantes, há poucas polí-ticas públicas para o segmento, dificultandoo seu fomento.

Por outro lado, Neide lembrou aospresentes iniciativas como a do deputadoZezéu Ribeiro (PT-BA), com a Propostade Emenda à Constituição (PEC) 150. Talproposta tramita no Congresso Nacionaldesde 2001 e visa destinar à cultura 2% doorçamento federal, 1,5% dos Estados e 1%de cada município.

Segundo a gestora cultural, a aprovaçãoda PEC é importante para definir o PlanoNacional de Cultura, já que garantirá osrecursos necessários aos projetos desen-volvidos na área. Além de expandir, desen-volver e preservar a identidade cultural na-cional com toda a sua diversidade, bemcomo possibilitar um maior acesso dapopulação aos bens culturais e simbólicos.

E para reforçar os apoios à cultura, Neidelembrou os militantes sobre o Projeto deLei que tramita na Câmara dos Deputados,o Vale Cultura. A iniciativa visa estimular avisitação a estabelecimentos de serviçosculturais e artísticos com benefíciosevidentes na promoção da inclusãosociocultural e na agregação de capitalsimbólico ao trabalhador.

O vale será similar ao tíquete-alimentação,um cartão magnético, com saldo de até R$50,00 por mês por trabalhador, a serutilizado no consumo de bens culturais. Asempresas que declaram Imposto de Rendacom base no lucro real poderão aderir aoVale-Cultura e posteriormente deduzir até1% do imposto devido. O valor do vale

Page 11: Revista FormAção Política

Neide Aparecida da Silva nasceu em SãoBernardo do Campo, São Paulo. Aos 16 anos, sefiliou ao Partido dos Trabalhadores (PT-SP) eparticipou ativamente da militância do partido. Dehistoriadora, formada pela Universidade EstadualPaulista (UNESP), se tornou Coordenadora deParticipação Popular do município de Franca, SãoPaulo, onde foi morar aos 22 anos de idade. Em 1998,iniciou o seu trabalho voltado para a área cultural.Além de se especializar em Gestão Cultural, atuoucomo Presidente da Fundação Municipal Mário deAndrade. Após um tempo, assumiu a Secretária daCultura da cidade de Franca, no mandato GilmarDominici (PT), entre 2001 a 2004. Neste mesmoperíodo atuou na diretoria da Associação Cria Brasil,uma organização não governamental que visa a pres-

tação de serviços para profissionais da cultura.A luta por políticas públicas no segmento fez com

que Neide se deslocasse da cidade de Franca paraRibeirão Corrente, São Paulo, onde prestou serviçode consultoria ao gabinete. Durante sua jornada cultu-ral no município, foi convidada para assumir a Secreta-ria da Educação e aceitou o convite, já que as áreaseram muito próximas e a oportunidade enriqueceria oseu conhecimento. Porém, como sua opção semprefoi atuar com a cultura, ficou até julho deste ano evoltou para diretoria da Associação Cria Brasil.

Atualmente, voltou a morar em sua cidade natal,São Bernardo do Campo, e é membro do Setorial deCultura do PT, que reune diversos militantes petistasde cultura visando troca de informações e formulaçõesde políticas para essa área.

Palestrante tem vasta experiência na área

A gestoracultural NeideAparecida (àdir.) destacouas iniciativasdo governofederal, comoo Vale Cultura

)))

leva em consideração o orçamento familiar dotrabalhador e possibilitará o consumo de bens cultu-rais sem onerar o beneficiado.

Para a gestora a iniciativa é importante para ocenário cultural do país, já que há uma grandecarência nesta área, levando em consideração quesão poucas as oportunidades que os brasileiros têmpara ir ao cinema, espetáculos musicais e exposiçõesde arte.

Lei Rouanet – Os incentivos fiscais (1% doImposto de Renda devido) concedidos às empresasde lucro real que optarem pelo Vale-Cultura nãoconcorrem com os benefícios concedidos via LeiFederal de Incentivo à Cultura. Uma empresa quedesconta, por exemplo, 4% para a Lei Rouanetpoderá apoiar a Cultura também por intermédio doVale-Cultura. São políticas que se complementamno esforço de diminuir a exclusão cultural no Brasil.A partir da implementação do vale as empresaspoderão apoiar paralelamente a produção e oconsumo de bens culturais.

Mesmo com estes destaques, os participantes daOficina consideram as medidas ineficientes e poucodemocráticas, favorecendo mais artistas concei-tuados e de determinadas regiões do Brasil.

Após muita troca de informações, a idéia inicialda temática sobre Cultura, proposta pelo DeputadoEstadual Hamilton Pereira, foi cumprida: asdiscussões na área foram aprofundadas, contri-

buindo assim com as prefeituras damacrorregião de Sorocaba. Osparticipantes ficaram mais infor-mados sobre as leis e a GestoraCultural, Neide Aparecida, refor-çou a necessidade de se acom-panhar os editais publicados daárea. Pouco antes do término daOficina, o Deputado Hamilton Pe-reira compareceu à sala temáticapara agradecer a participação detodos e destacou que, sem cultura, a sociedadenão é cidadã. Por isso, “debates como esse sãonecessários para ajudar na formação não só damilitância do PT, mas de todo cidadão brasileiro”,completou o Deputado.

Page 12: Revista FormAção Política

12

O debate sobre educação contou coma participação de 40 profissionais da áreae da administração pública. A intermediaçãofoi feita pela representante do Ministérioda Educação (MEC) no estado de SãoPaulo), Iara Bernardi e pelo Secretário deEducação de Salto, Wilson RobertoCaveden.

Iara Bernardi falou do relacionamentoentre MEC e governos estaduais e muni-cipais. A principal dificuldade em São Paulo

é a resistência em implantar as políticas públicas federais;nenhum projeto foi aceito pelo governo estadual sem quefosse obrigatório.

A representante salienta que esse é um problema antigo.Segundo dados do Ministério da Educação, 14 milhõesde brasileiros nunca frequentaram a escola e há outros 60milhões que não concluíram a 8ª série do ensinofundamental. “Na década de 50, países como Canadá eEstados Unidos já haviam definido o plano da educaçãobásica e começavam a trabalhar para sanar o analfabetismo.O Brasil só definiu isso em 1988”.

A falta de parcerias com o estado é uma questão política,

afirma Iara. Não existe um Sistema Nacionalde Educação nem um regime de cooperação,no qual as esferas públicas se comprometema continuar os projetos. Isso reforça, ressal-tou Iara, “as discussões que estão sendo feitasna Conae (Conferência Nacional de Educa-ção) para a elaboração de um Plano Nacio-nal de Educação para o próximo decênio”.

O objetivo é tornar obrigatória a edu-cação básica para todos e definir a quemcabem os recursos para o desenvolvimentodos projetos trabalhando a cooperação

Wilson Roberto Caveden reforça a opi-nião da representante do MEC, e diz que arelação município/estado se restringe aopagamento de impostos e repasse de verbas.Ele explica que os professores da redeestadual recorrem ao município, para fecharacordos que facilitem o trabalho de ambos.

Iara ressalta que o Brasil é desigual e queo MEC deve olhar a educação como umtodo. “Para distribuir melhor a verba de a-cordo com a necessidade de cada município,20% dos recursos estaduais e municipais,somados a 10% da união voltam para oMEC. Assim, ocorre a distribuição da rendaconforme a situação encontrada em cadaregião. Isso é o FUNDEB – Fundo Nacionalde Desenvolvimento da Educação Básica”.

O repasse é definido através de examescomo o IDEB – Índice de Desenvolvimentoda Educação Básica – que avaliam o nívelde aprendizado dos alunos e o rendimentodas escolas. O Brasil tem nota quatro eprecisa chegar a seis.

Mas o debate não ficou restrito asexplicações dos palestrantes. Leonel Aguiar,

O Brasil precisa de um plano nacional de EducaçãoIara Bernardi e Roberto Caveden afirmam que o ensino é reflexo dacomunidade, por isso não pode estar restrito ao muro das escolas

[POR JULIANA CARES]

A dificuldadede estabelecerrelacionamento

com o estado deSão Paulo foi um

dos assuntosabordados

)))

Page 13: Revista FormAção Política

professor há 20 anos, questionou a oferta de vagaspara cursos do ensino superior na região. “Por queSorocaba não tem a própria Universidade Federal?Hoje, os estudantes precisam sair da região paraestudar nas capitais”.

Iara explicou que o câmpus da Ufscar foi trazidopelo Partido dos Trabalhadores para Sorocaba em2005. No início eram apenas quatro cursos, hoje jásão 11. “Quando a grade comportar cursos de todasas áreas passará a ser Universidade Federal deSorocaba. Mas para que isso ocorra, ela precisacaminhar sozinha, o que ainda não acontece”.

Hamilton Pereira reforçou que é preciso estudoe um trabalho detalhado para a implantação dequalquer projeto. “As universidades devem serrequeridas pelos municípios, mas os deputadospodem autorizar esse pedido. Porém é preciso queessa prioridade seja da comunidade também”.

Entre os problemas elencados pelos profissionaispresentes estava a necessidade de incentivo aosprofissionais da educação infantil e das séries iniciais.Iara conta que os melhores índices do IDEB estãonessas classes. “O cérebro das crianças está empleno desenvolvimento nos primeiros oito anos devida. Elas assimilam tudo e o interesse pelo estudodeve ser incentivado nessa fase”.

Outras questões também foram discutidas, comoa fragilidade da progressão continuada, a formaçãoprecária do professor e melhores salários para queo profissional invista na própria capacitação.

Wilson Caveden avalia que os municípios têmmudado o olhar sobre a progressão continuada.

“Hoje as escolas são cobradas aavaliar a forma e o conteúdopassado em sala de aula. Novasformas de avaliação demonstramas mudanças efetivas, o aluno nãoé culpado de tudo”.

Para Fernanda Fontes, pro-fessora há 25 anos e diretora daescola Cândido dos Santos, deVotorantim, esse debate é po-sitivo porque há como canalizar as ansie-dades e entregá-las aos representantes polí-ticos para que busquem mudanças e melho-rias. “A escola precisa ter uma visão queultrapasse os muros da unidade. O alunoprecisa sentir que ele pode crescer porquetem ao menos infraestrutura onde mora. Aescola reflete a comunidade”.

Iara Bernardi tem 31 anos de militância política.Participou da fundação do Comitê Brasileiro pela Anistiaem pleno regime militar, da Associação dos Professoresdo Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP) eda criação do Partido dos Trabalhadores.

Em 1983 foi eleita vereadora em Sorocaba e perma-neceu no cargo por três mandatos. Em 1998 foi eleitaDeputada Federal, função exercida durante oito anos.

Hoje, Iara atua como representante do Ministério daEducação para apresentar os programas do governo federalaos estados e municípios. Mas o seu trabalho não estárestrito a isso. Iara participa de vários comitês, como o deeducação e cultura e do estatuto da mulher. Ela foi relatorada Proposta de Emenda à Constituição do Fundo Nacionalde Desenvolvimento da Educação Básica que garante

vagas para todos em escolas públicas. Além disso, articuloua vinda do campus da Ufscar para Sorocaba.

Wilson Roberto Caveden atua no movimento sindicalhá 15 anos. Desde o início esteve filiado ao Partido dosTrabalhadores a partir do qual pode trabalhar diretamentecom relações humanas e atendimento a jovens e adultos.

Embora formado em administração, Wilson sempreesteve ligado à política. Já foi candidato a prefeito e a viceem Salto e hoje responde pela Secretaria da Educação nomunicípio. Há cinco anos no cargo, implantou mudanças nosistema municipal de ensino, como a progressão dos pro-fessores e a eleição dos diretores e coordenadores das uni-dades através de assembléias com a comunidade. O resul-tado disso: Salto tem hoje a melhor nota no Índice de Desen-volvimento da Educação Básica (IDEB) da região.

Representante do MEC e secretário de educação medeiam debate

Iara Bernardi(MEC) e WilsonCaveden (Salto)

apontaramproblemas e

planos para osegmento

)))

Page 14: Revista FormAção Política

14

“Em 1932, as mulheres conquistaram o direito devotar graças às lutas das sufragistas, que começouna década de 1920, e não à benevolência de GetulioVargas”, diz Maria Cristina Pache Pechtoll, mestreem administração com foco em políticas públicas degênero e funcionária da Câmara de Santo André,enfatizando o histórico de mobilização e conquistasdas mulheres. Atualmente, as feministas lutam poruma representação política efetiva para as mulheres.Apesar de serem 51% da população brasileira,segundo o IBGE, nas casas parlamentares somente9% das cadeiras são ocupadas por mulheres. Equi-parar esses dados por meio de formação política dasmulheres, para que exerçam cargos políticos, é umadas reivindicações no movimento de gênero do PT.

Desde 1996, com a Lei Federal 9504/97, criadapela então deputada Marta Suplicy (PT-SP), asmulheres têm direito a reserva de 30% dascandidaturas legislativas nos partidos. O PT seantecipou à lei e, durante seu primeiro Congresso,em 1991, foi determinada a reserva de cotas paracandidaturas femininas. Indagada pela plateia,durante o Seminário FormAção Política, se esse tipode ação era discriminatória, Cristina responde comuma metáfora maternal: “Imagine que você tem doisfilhos, um nasceu doentinho e o outro cheio de saúde.Você ama os dois igualmente, mas um precisa demais atenção que o outro”, diz. Porém, ressalta queas cotas são políticas afirmativas que precisam terseu tempo determinado, até que se atinja a igualdadede condições nas disputas.

Para a militante, as cotas são insuficientes, pois alei não alcança o seu objetivo final. “Muitos partidosusam mulheres como laranjas ou simplesmente deixamas vagas vazias”, diz. Contra isso, a SecretariaNacional de Mulheres do PT tem atuado junto àCâmara dos Deputados durante a negociação da

Em pauta a educação política para mulheresNum espaço predominantemente ocupado por homens, mulheres

lutam para ter representatividade política efetiva

[POR HELOÍSA NEGRÃO]

Reforma Eleitoral. Entre aspropostas, que devem serpraticadas já nas eleiçõesde 2010, as mulheres pe-dem para que o parágrafo3° do artigo 10 da legis-lação eleitoral seja modi-ficado e que o termo “re-serva de vagas”seja subs-tituído por “preenchimentode vagas”. Atualmente oparágrafo contido na Lei nº 9.504, de 30 desetembro de 1997, diz que: “3º Do número de vagasresultante das regras previstas neste artigo, cadapartido ou coligação deverá reservar o mínimo detrinta por cento e o máximo de setenta por centopara candidaturas de cada sexo”.

Cristina defende que para haver o preenchimentodesses 30%, a lei deve prever subsídios para aformação política das mulheres. Entre as propostasda Secretaria de Mulheres do PT está a destinaçãode 5% do fundo partidário para formação políticade mulheres e a utilização de 10% do tempo desti-nado à propaganda partidária gratuita no rádio e na

Apesar de serem51% da populaçãobrasileira, somente9% das cadeirasparlamentares sãoocupadas pormulheres

)))

Page 15: Revista FormAção Política

televisão pelas mulhe-res dos partidos.

Mulher invisívelA formação políticadas mulheres é umanecessidade históricapara Cristina. “É umaquestão cultural ehistórica que vem aolongo dos séculos. A

sociedade tem toda uma trama onde as mulheres sãopreparadas para o espaço privado e não para oespaço público, ao contrário do homem. Desdecriança a mulher recebe panelinhas, fogãozinho ebonecas para brincar, ou seja, está sendo educadapara ficar no espaço privado. Enquanto que o homemganha a bola para brincar na rua, o espaço público”,analisa. Para ela, essa construção da identidadefeminina faz com que as mulheres se retraiam para avida pública e não a vejam como seu lugar. Mulheresatuando na política também possuem valoressimbólicos. “Quando se tem mulheres querepresentam essa categoria nos espaços de poder,no parlamento e no executivo, as outras mulherespodem se ver. Porque senão a gente passa comouma categoria invisível. Se nós não nos vemos nosespaços, inconscientemente acabamos achando queaquele não é o nosso espaço”, diz. Neste sentido,ela vê a candidatura de Dilma Roussef como algomuito positivo para a luta feminina.

Durante sua pesquisa de mestrado, Cristinaentrevistou parlamentares da região do ABC sobrea importância de políticas públicas de gênero e sesurpreendeu com as respostas: apenas 30% achavamque políticas desse cunho eram importantes. Destes,grande parte citava a importância da Lei Maria daPenha e das ações que visam diminuir a violênciacontra a mulher. “É o que mais sensibiliza”, explica.

Também constatou que “muitos [parlamentares] achamque a cota de 30% na lei eleitoral é discriminação”,relembra. Ela também conta que se surpreendeu comalgumas falas machistas, como a do vereador que atuavaem uma Câmara onde não havia mulheres. “Quando euperguntei se era importante ter uma mulher vereadora,ele falou: ‘ah! acho que sim, pelo menos para enfeitar aCâmara’”, relembra, indignada. Para ela, a formaçãopolítica de mulheres ajudaria a mudar esse contexto, tantode desconhecimento das questões femininas, como omachismo de alguns parlamentares.

Descriminalização do aborto - Outro pontopolêmico nas discussões feministas é a descriminalizaçãodo aborto. O PT defende a causa, posição que foi deter-minada durante o 3° Congresso. Cristina diferencia apoiara descriminalização e ser a favor do aborto. “Ninguémem sã consciência é a favor do aborto”, e ressalta que éuma questão de saúde pública. “Não é questão de ser afavor ou contra, mas, sim, de legalizar a prática para queparem de morrer tantas mulheres”, afirma.

A sociedade tem todauma trama onde asmulheres sãopreparadas para oespaço privado e nãopara o espaço público”,Cristina Pechtoll

“Maria Cristina Pache Pechtoll começou sua

militância aos 15 anos, nas CEBS (Comunidades Eclesiaisde Base) durante a ditadura militar. “Por conta dessamilitância, avaliávamos que, naquele momento não adiantavaficar só na igreja e precisávamos ter uma atuação políticapara poder mudar a sociedade”, relembra.

Nascida em Santo André, construiu sua trajetóriaprofissional e política na cidade. Viu e apoiou a fundaçãodo Partido dos Trabalhadores. Desde então, milita pelaigualdade entre os gêneros junto às Mulheres do PT. Nopartido, participou de grupos de base e atuou nassecretarias de mulheres e foi vice-presidente do partidoem Santo André por dois mandatos.

No início de 2002, assumiu a presidência do partido.Atualmente, não está mais na direção. “Participo apenasdas reuniões da secretaria de mulheres do PT”, afirma.Está focada na ONG Fé-Minina da qual participa há 15anos e hoje ocupa o cargo de coordenadora.

Cristina fez carreira como funcionária pública daCâmara de Santo André. E já atuou como gestora públicana prefeitura da cidade, na área de gênero. A proximidadedos parlamentares e a militância feminista redundaram noseu mestrado, na área de administração com foco em polí-ticas públicas. Em sua pesquisa, entrevistou os 116 verea-dores das sete cidades que compõem o ABC os questio-nando sobre a importância das políticas públicas de gênero.

Muito prazer. Mulheres do PT

Page 16: Revista FormAção Política

16

A Oficina de Habitação teve como temáticaprincipal a questão da regularização fundiária nascidades brasileiras. A discussão informou eesclareceu dúvidas da comunidade presente naatividade sobre o tema, abrindo também espaço paraconsiderações sobre a questão habitacional brasileirae o Programa Minha Casa Minha Vida. O resultadose resumiu em novas propostas a serem estudadas eapuradas por Hamilton para sua atuação.

Coordenada pelo Assessor Jurídico da Prefeiturade Piedade, César Tavares, advogado da Comissãode Direitos Humanos da OAB (Ordem dosAdvogados do Brasil) de Sorocaba, a Oficina foiiniciada com a apresentação do tema regularizaçãofundiária, ainda desconhecido por grande parte doBrasil. Diferentemente da habitação, que consiste naconstrução de casas e habitações coletivas paraconter o déficit habitacional, a regularização fundiáriaenvolve a posse da moradia das pessoas, evitandoque, em ações de reintegração de posse errôneas, apopulação seja prejudicada.

A desorganização urbana e os problemas deparcelamento de solo urbano do Brasilpodem se explicar pela ausência de umalegislação sobre a área. Até o ano de 1979,quando foi aprovada a Lei 6766, os centrosurbanos não tinham regras e condições pré-estabelecidas para a criação de lotes.Somente após a lei é que os lotes passarama atender requisitos mínimos para seremcomercializados, como tamanho e existênciade infraestrutura. Prevendo umaracionalização do espaço, a legislaçãotambém passou a exigir uma porcentagemdos lotes dos empreendimentos privados paraos equipamentos públicos.

Além do prejuízo estrutural causado pelos

Regularização fundiária e direito à moradiaMinha Casa Minha Vida também foi tema da atividade realizada no

Seminário do mandato do Deputado Hamilton Pereira

[POR LEANDRO FERREIRA]

loteamentos antigos, a falta de legislação foidiretamente responsável pela incidência decasas irregulares nos centros urbanos. Caros,os loteamentos antes criados atendiam apenasàs classes média e alta, que tinham condiçõesde comprar estes produtos.

A população começou a ocupar áreasmelhor abastecidas a partir da observação doslotes inutilizados dos centros urbanos. Semcondição de comprar um terreno, muitos aca-bam se estabelecendo em espaços ociosos,abrindo uma série de construções semregularização fundiária.

Em Sorocaba, inúme-ros casos do gênero acon-teceram nos últimos anos.Uma das ações de maiorrepercussão, envolvendoum terreno de mais de 10mil m², aconteceu no Par-que das Laranjeiras, ondeapenas a área ocupada por

Situação em quese encontraSorocaba no setorfoi amplamentediscutida pelopalestrante durantea apresentação

)))

Page 17: Revista FormAção Política

uma única família,dentro do terreno,teve pedido de rein-tegração de posserealizado. A famíliasó não foi despejadagraças a abordagem

dos membros da Comissão de Direitos Humanosda OAB Sorocaba.

O trabalho de garantir às famílias a posse dasmoradias é a tônica da regularização fundiária,explicada por César Tavares. Para agilizar oestudo da concessão de zonas habitacionais deinteresse social, a Constituição permite que osmunicípios façam seus próprios códigos e regras.Questionado pelos participantes da oficina sobreo código sorocabano, Tavares explica que oestatuto sorocabano é genérico, havendoambiguidade nas decisões. Ao longo da palestra,ele reforçou sua ideia de que as administraçõespúblicas devem, ao administrar as áreas

César Tavares é advogado membro daComissão de Direitos Humanos da Ordem dosAdvogados do Brasil (OAB) em Sorocaba eProfessor da Faculdade de Direito de Sorocaba.Graduado em Direito pela UNESP e Mestre emCiências Jurídico Políticas pela Universidade deCoimbra, atua em áreas como direito do urbanismoe planejamento urbano. Participante da Comissãode Direitos Humanos da OAB desde 2005, agemajoritariamente em casos envolvendo reinte-gração de posse comprometida com a não violaçãodo direito de moradia dos cidadãos. Em Sorocaba,

o resultado mais marcante de sua atuação junto àComissão pôde ser observado na ação envolvendoo Parque das Laranjeiras. Sua motivação paratrabalhar neste campo vem da ideologia e da pers-pectiva de se ter cidades mais equilibradas ambien-tal e socialmente. Seus pareceres sempre norteiama conscientização das administrações públicas,que, em sua visão, passaram a estudar de maneiramais consciente o direito dos moradores nos últi-mos anos, mas ainda de maneira insuficiente paracombater o déficit habitacional e tornar na práticaa moradia um direito garantido a toda população.

Luta por habitação marca trajetória de advogado

reservadas a elas, analisar se os moradores têmdireito de ocupação da área, garantindo aregularização fundiária a partir de mecanismosadequados.

O advogado acredita que os governosdeveriam criar setores para ajudar à população aregularizar a situação de suas áreas, o que tornariao cenário melhor. No entanto, por se tratar de umconfronto de interesses que envolve posses, opalestrante aponta que muitas vezes falta vontadepolítica aos administradores envolvidos.

Minha Casa, Minha Vida - Esclarecidosquanto a questão fundiária, os participantes daOficina tiraram suas dúvidas em relação ao MinhaCasa, Minha Vida, programa habitacional dogoverno federal. Os presentes afirmaram que oprograma peca pelo excesso de burocracia, o queTavares explicou ser um dos instrumentos da CaixaEconômica Federal para o uso correto da verbadestinada pelo Governo.

Envolvidos na discussão, moradores dascidades da região pediram a inclusão do programaMinha Casa, Minha Vida às cidades com menosde 50 mil habitantes – o que o Programa faz hojeé analisar os casos das cidades menores separa-damente. O assunto, prontamente incluso na pautade ações do Deputado Hamilton Pereira, foi umdos que mais obteve participação dos militantespresentes, que observam neste prorama umaoportunidade de conseguirem sua moradia.

Como saldo da Oficina ficou a conscientizaçãode mais cidadãos em relação à habitação e maisidéias para a administração pública procurar meiosde melhorar a qualidade de vida das pessoas.

O trabalho de garantiràs famílias a posse dasmoradiras é a tônica daregularização fundiária”,César Tavares“

Page 18: Revista FormAção Política

A oficina de igualdade racial contou com apresença do rapper Gog e do Secretário deCombate ao Racismo do diretório estadual do PT,Cláudio Aparecido da Silva, para discutir políticaspúblicas de redução da desigualdade racial.

O secretário abriu o debate fazendo umpanorama da Secretaria de Combate ao Racismo,criada no PT em 1993, e das ações do governocom relação à questão racial. Para ele, a criaçãoda Secretaria Especial de Políticas de Promoçãoda Igualdade Racial (SEPPIR), em 2003, foifundamental para estabelecer, dentro do governo,políticas importantes para a ascensão e assistênciado negro na sociedade brasileira, e também paraquebrar paradigmas. “Porque quando o governocria um organismo para gestar a política pública deigualdade racial é, de fato, o reconhecimento deque há racismo na nossa sociedade”, afirma. Eledestaca que outra conquista do movimento negrofoi a criação do Estatuto da Igualdade Racial edefende a necessidade de se criar leis que garantama permanência de políticas em diversas áreas quevisem a inclusão do negro na sociedade.

Na visão do secretário, é necessário que o Brasilcorrija as distorções raciais que existem nasociedade. Ele diz que embora o movimento negroseja o responsável pelas propostas de políticaspúblicas para a igualdade racial, é importantedestacar a atuação do movimento Hip-Hop. “Omovimento social negro cruza com o Hip-Hopporque é um movimento que se organiza a partirdo centro, das leis do interior ou das periferias.Enquanto o movimento Hip-Hop vem no caminhocontrário: se organiza a partir da periferia para ocentro da cidade”, explica.

O rapper Gog, que atualmente é um ícone dentrodo Hip-Hop, também ressaltou a importância do

movimento como uma vozna sociedade, pois é atravésdele que as pessoas daperiferia conseguem expres-sar seus pensamentos e lutarpor causas sociais. “A peri-feria é tão machucada emsua auto-estima que ela en-contra no Hip-Hop umamaneira de chegar e falar: ‘olha eu também tenho algumacoisa, eu também sei falar, eu também tenho espaço’. Eisto gera uma relação político social”, afirma. Para ele,que colocou a questão do racismo em seu repertóriomusical, o Hip-Hop é muito mais que um movimentocultural, é um movimento de transformação, pois nele aspessoas questionam a sua realidade e fazem uma reflexãosobre o seu papel na sociedade.

Neste aspecto, o secretário afirma que o Hip-Hoppermite o resgate da cultura e valorização dos negros, oque é extremamente importante, pois o maior problemado racismo está na auto-estima dos próprios negros.Ele explica que, muitas vezes, os negros não se

Debate trouxe o rapper e poeta Gog, o Secretário de Combate ao Racismo do diretórioestadual do PT, Cláudio Aparecido da Silva, e militantes de toda região

[POR CARLA CÉSAR]

18

A necessidadede garantir políticasde inclusão donegro foi odestaque dodebate

)))

Oficina discute políticas públicas contra racismo

Page 19: Revista FormAção Política

Gog, o Poeta - Nascido no Distrito Federal, o cantorde rap Genival Oliveira Gonçalves assumiu o pseudônimode Gog no final dos anos 80, quando iniciou sua carreira.Desde jovem sempre esteve muito próximo do movimentonegro, do MST e do PT (partido no qual é militante).

Como rapper, sua primeira gravação oficial foi em 1990com a música “A Vida”. De lá para cá, o cantor acumuloudiversas parcerias musicais e lançou a “Só Balanço”, umaloja de discos que mais tarde se tornou uma gravadora.Foi como compositor, com letras que abordavam questõessociais, que Gog disseminou suas ideias e conquistou aalcunha de “Poeta do rap”. Filho de professora, Gog dizque a maior contribuição em formação foi a educação.

Depois de nove CDs, seu trabalho mais recente é o

DVD “Cartão Postal Bomba!”, lançado em fevereiro desteano, com a participação de Paulo Diniz, Maria Rita eGerson King Combo, além banda MPB Black.

Cláudio Aparecido da Silva - Filiado ao PT desde1998, Cláudio sempre participou do movimento negro.Militante também do Hip-Hop em Campo Limpo, elecomeçou sua atuação política no PT em 2003, na assessoriade um deputado estadual. Está no segundo mandato daSecretaria de Combate ao Racismo do PT.

Membro do Conselho Nacional de Promoção daIgualdade Racial (CNPIR), ele defende a criação de polí-ticas públicas para a inclusão do negro e diz que faz parteda militância dialogar com o governo e cobrar medidaspúblicas, para que haja um avanço na área.

Rapper e militante representam comunidade negra

reconhecem como negros porque não conseguem seenxergar na sociedade. “A pessoa não consegue se ver natelevisão, nos jornais, nas grandes revistas. Entra em umbanco e não tem um gerente negro. E isso acaba detonandoa auto-estima, pois a maior agressão que o racismo faz é apsicológica”, diz.

A participante Mariana Souza Cesário concorda com osecretário. “Eu estava quase entrando em depressão, porcausa disso mesmo, porque eu não vejo ninguém negroem tal lugar. Por isto eu me identifiquei com o que ele falou.E uma pessoa branca às vezes não entende o que a gente

sente”, desabafa. Alémdela, cerca de 50 pessoasestiveram no debate, mui-tas eram militantes do PTe integrantes dos movi-mentos negro e Hip-Hop.Todos tiveram a opor-tunidade de participar epuderam, além de elaborar

perguntas ao se-cretário e ao rap-per Gog, tecerconsiderações edar sua opinião arespeito do tema.Um dos aspectosdo racismo maisdiscutido durantea oficina foi aquestão das cotaspara negros. Parao secretario, é im-

portante a existência delas, pois as cotas sociais (queavaliam apenas a condição econômica) não são sufi-cientes para promover a reinserção dos negros. “As cotassociais não dão conta e vão atingir a população branca,prioritariamente. Porque o pobre branco não tem a auto-estima detonada. Ele não vai para a escola e a professorafala que o povo dele só foi escravo. É por isto que ascotas sociais não dão conta da demanda histórica que oBrasil tem com a população negra”.

Para Gog, a sociedade relaciona o negro à escravaturaporque foi a escravidão mais recente que tivemos, eexplica que os povos eslavos também foram escravos naEuropa. “Eles eram brancos. Por isto que escravo e negronão tem nada a ver com cor, mas com situação”.

Durante o encontro, também foram levantadasquestões com relação à origem do racismo, à história daescravidão, à necessidade de se construir a valorizaçãoétnica por meio da educação; e também com relação àorigem e importância do movimento Hip-Hop. ParaMárcio Brown, militante do PT, a oficina proporcionouàs pessoas uma visão geral a respeito da questão doracismo, e fortaleceu a luta social. “Quando a gente trazesse debate, também traz a responsabilidade de continuaristo na sociedade, porque todos vão sair daqui commilhões de ideias. As pessoas vão refletindo as posiçõesque elas tinham no dia-a-dia. Então isto é importante.Quanto mais a gente tiver espaço como este para dia-logar, mais a gente fortalece o dia-a-dia da comunidade”.

O deputado Hamilton Pereira destacou a importânciada oficina, que tem dado subsidio às prefeituras e aoEstado. “Muito do que foi discutido e proposto poderáser introduzido no programa de governo do candidatodo PT nas eleições de 2010 para o estado de São Paulo”.

))) Para Gog, asociedaderelaciona o negro aescravatura por sera escravidão maisrecente quetivemos

Page 20: Revista FormAção Política

20

O painel temático de juven-tude ocorreu junto ao painel deIgualdade Racial, considerandoque os temas estão interligados.Estiveram presentes cerca de40 pessoas de Sorocaba, Itape-tininga, Assis, Votorantim, Ju-quiá, Tietê, entre outras cidadesdo estado de São Paulo.

Lúcio Costa, coordenadordo painel de Juventude, iniciou a tarde resgatandouma frase da deputada federal Marina Maggessi(PPS-RJ), ex-coordenadora de inteligência daPolícia Civil do Rio de Janeiro, citada por MVBill : “O nosso objetivo não é mais querer matar obandido, mas impedir que ele nasça”. Ele destacoua importância da garantia de políticas públicasmínimas como educação, alimentação e saúde,que formam uma proteção social à população eimpedem o nascimento da criminalidade.

A ausência do tema “Juventude”, dentro daConferência Nacional de Segurança Pública, foicitada por Costa. A discussão somente se manteveem torno da possibilidade de extinção da políciamilitar. “Mas a juventude hoje se torna, infelizmente,

protagonista do que é a criminalidade no nossopaís”, afirmou o psicólogo.

Costa destacou o papel importante desem-penhado pelo Governo Lula ao abrir novosespaços para que a sociedade tenha condiçãode se manifestar. E destaca também a impor-tância dos jovens se organizarem. “O espaçonão é dado, é conquistado. E para conquis-tarmos qualquer tipo de transformação, o pontoprincipal é a organização”, afirmou.

A criação da primeira Secretaria daJuventude no Brasil e do Conselho Nacionalde Juventude, pelo Governo Lula, foramconsiderados um avanço nas discussões sobreo tema, além da realização do 1° CongressoNacional de Juventude, em 2008.

O participante Wellington colocou em debatea importância de formular o Estatuto do Jovem,que seria comparável ao Estatuto da Criança edo Adolescente (ECA). De acordo com Costa,o ECA, em seu contexto geral, conseguecontemplar ações voltadas para a infância e aadolescência, mas tem um déficit com o jovem.

Wellington levou à discussão o estabele-cimento do toque de recolher em alguns municí-pios paulistas, que impede que os jovens estejamna rua a partir de certo horário da noite. “Otoque de recolher vai contra o artigo dois doECA, que garante a liberdade de ir e vir”,comentou Wellington.

Lúcio Costa afirmou que a garantia depolíticas mínimas já resolveria essa questão. “Sevocê oferta, para a juventude, educação eprincipalmente cultura, espaços de lazer eesporte, com certeza, tira essa ociosidade eimpede que esses jovens se envolvam nacriminalidade”, disse.

Ligação dos jovens com a criminalidade é tema da oficinaA importância de políticas públicas, o toque de recolher e a redução da maioridade

penal foram alguns assuntos que permearam a conversa no seminário[POR TATIANA PLENS]

A necessidadede se criar oestatuto do jovem,um equivalente aoECA, também foilevantada noencontro

)))

Page 21: Revista FormAção Política

Presente na discussão, o Deputado EstadualHamilton Pereira discordou da proibição dos pre-feitos que, segundo ele, “acreditam que acriminalidade se dá por causa da juventude nas ruasà noite”. Pereira também respondeu ao ques-tionamento do estudante Paulo, da cidade de Assis,sobre a legalidade de a Polícia Militar agir em favorda prefeitura na expulsão de jovens da rua após otoque de recolher. O parlamentar criticou a açãoda PM em questões municipais e destacou aimportância de se criar uma legislação estadual queregulamente essa questão.

Wellington comentou sobre o extermínio dajuventude, que cada vez mais é alvo da violênciasocial, principalmente os negros. Destacou que ojovem não é visto como ser de direito, que faz partede uma sociedade democrática. “Não se vê o jo-vem como um ser integral no seu presente, massempre como uma gente de futuro”, complementouo participante.

Maioridade penal - A proposta da reduçãoda maioridade penal de 18 para 16 anos, quetramita no Congresso Nacional, foi debatida pelosconvidados e público. Costa afirmou que essa faseé muito peculiar, onde o adolescente ainda nãoconstruiu sua personalidade por completo. “Aadolescência é o que vai unir toda uma história euma formação para a fase adulta, para conseguirdirecionar seu caminho”, comentou. Para opsicólogo, o objetivo da proposta é encher a socie-dade de novos presídios. “Se formos perceber, tudoque não serve para o capitalismo como meioprodutivo é excluído”, complementou.

Lúcio Costa, 27 anos, é formado em Psicologiapela Universidade Paulista (UNIP) e trabalha atu-almente na assessoria do Deputado EstadualHamilton Pereira (PT). Iniciou sua participaçãopolítica através do movimento Hip Hop, quando,nos anos 90, algumas pessoas, principalmentejovens da periferia, começavam a se reunir paradesenvolver a dança na Praça Coronel FernandoPrestes, em Sorocaba. Em 1997, Costa começoua frequentar o espaço.

A partir disto, o grupo começou a se organizar

Ex-conselheiro tutelar comanda conversacom o apoio do Partido dos Trabalhadores (PT), que,segundo o psicólogo, foi o único na época que abriuas portas para divulgar o que era o Hip Hop.

Lúcio Costa está há 11 anos no PT, acompanhandoas reuniões nos diretórios e na Secretaria de Juven-tude. Aliado ao trabalho de assessoria . Costa participade vários movimentos que visam acabar com osmanicômios no Brasil. Defende a idéia da extinçãodos manicômios, com a garantia de um atendimentodigno ao paciente mental, sem que ele precise serexcluído da sociedade para ser atendido.

O estudante Danilocomentou sobre a preo-cupação com os estudan-tes que estão hoje na es-cola e mais tarde serãoformadores de opiniãodentro da sociedade. Cri-ticou a falta de conteúdossobre política e como ahistória da ditadura é pouco vista nas salasde aula.

Outro participante, com o apelido de Pau-linho, criticou como a sociedade não conse-gue tratar bem temas como discriminação ejuventude. Ele comentou que, muitas vezes,o jovem não consegue um emprego por nãoter experiência, mas também não encontracursos de capacitação.

Juliana, de Tietê, apresentou o Fórum daJuventude Negra que aconteceria no muni-cípio na próxima semana.

))) Para Lúcio Costa,educação e culturatiram o jovem daociosidade e impedeseu envolvimento coma criminalidade

Page 22: Revista FormAção Política

22

[POR HUMBERTO LUIS MARQUES]

Os catadores de materiais recicláveis passam hojepor uma grande dificuldade. Desde o início da crisefinanceira mundial em setembro de 2008, o preçopago pelos recicláveis no mercado desabou. De umahora para outra, eles passaram a receber até 80%menos pela matéria-prima que comercializavam. Oquilo do papelão caiu de R$ 0,20 para R$ 0,05, maschegou a estar em ínfimos R$ 0,02. A drástica reduçãode renda fez com que muitos abandonassem otrabalho. De acordo com dados do Centro de Estu-dos e Apoio ao Desenvolvimento, Emprego e Cida-dania (Ceadec), se chegou a ter 146 agentes am-bientais, como também são chamados os catadores,cadastrados e atuantes nas cooperativas de Sorocaba(SP). Hoje eles quase não chegam a 40.

Os catadores passaram a exercer um papelfundamental na sociedade. Eles são responsáveis pordestinar para reciclagem toneladas diárias de materiaisque, de outra forma, acabariam nos aterros sanitários,lixões ou até rios. A maioria levando décadas ouséculos para se decompor de maneira natural,gerando um forte impacto negativo ao meio ambiente.“Apesar deste importante trabalho, a única renda docatador provém da venda do material que elerecolhe”, diz Rita de Cássia Gonçalves Vianna,presidente do Ceadec.

A alternativa inicial encontrada pelos catadorespara melhorar as próprias condições de trabalho foia organização em cooperativas. No início desta déca-da o Ceadec ajudou na criação da Cooperativa deReciclagem de Sorocaba (Coreso), a primeira domunicípio. Em 2001 foi formada a rede Cata-Vida,responsável por agregar hoje cooperativas decatadores de 12 cidades da região. A rede éresponsável pela capacitação dos agentes ambientais.Orienta sobre a importância da vacinação e cuidadospessoais durante o trabalho de coleta e separação.

Rede Cata-Vida transformou a realidade dos catadores de material reciclável. Adoção de políticaspúblicas para coleta seletiva com inclusão e remuneração dos catadores é o grande desafio

Catadores de recicláveis são fundamentais

Busca ajudar na estrutura das cooperativas, com cata-dores uniformizados e caminhões adequados para acoleta, e incentiva a interação entre os agentes e osmoradores com o programa de coleta porta-a-porta.

Oportunidade – “O cooperativismo abriu as portaspra mim e hoje eu me orgulho de ser catador”, afirmaJosé Augusto Rodrigues de Moraes, presidente daCoreso. “Cheguei a disputar lixo com urubus e nãodesejo isto pra ninguém”, conta Maria Cristina Viana,que separava materiais no lixão e agora é presidenteda Cooperativa Amiga dos Catadores de MateriaisRecicláveis de Capão Bonito (Acamar). Os dois sãoexemplos de como os oito anos de atuação da redeCata-Vida transformou a realidade dos catadores.

Recentemente, a rede deuinício a um processo deverticalização da coletaseletiva. Foram implantadasduas unidades. Uma para be-neficiamento do óleo resi-dencial e outra para proces-samento do plástico para

Crise financeiramundial tambémprejudicou oscatadores dereciclados

)))

Page 23: Revista FormAção Política

fabricação de tubos de es-goto. As unidades vão agre-gar valor aos produtos cole-tados, gerando um potencialde renda maior às coo-perativas. No entanto, naopinião da presidente doCeadec, só isto não basta.É preciso que os governos

municipais adotem políticas públicas que reconheçam aimportância ambiental e social dos catadores. “Nossa lutaé para que os municípios encampem programas de coletaseletiva com inclusão e remuneração dos catadores”.

Em Sorocaba, o vereador Izídio de Brito Correiaapresentou na Câmara de Vereadores o Projeto de Lei196/2009, que institui o Programa Municipal de ColetaSeletiva Solidária. O objetivo é estender para todo omunicípio o sistema de coleta realizado pelas cooperativas,remunerando os cooperados por tonelada de materialreciclável recolhido. Hoje o lixo domiciliar é coletado poruma empresa terceirizada, que o despeja diretamente noaterro sanitário, sem nenhum tipo de separação. Segundodados levantados por Brito Correia, Sorocaba gera pordia 480 toneladas de lixo domiciliar. A Prefeitura paga R$103,38 por tonelada à empresa terceirizada, enquanto ocatador não recebe nada do município pelo serviço quepresta. Por mês, o vereador calcula serem pagos algo emtorno de R$ 11,5 milhões à empresa.

Valorização - O projeto não passou pela consultoriajurídica da Câmara. Segundo o vereador, a alegação noparecer foi de que o projeto teria de partir do executivo,pois geraria despesas adicionais ao município. “Não temdespesa a mais. O que estamos propondo é que oreciclável não seja pago à prestadora e sim aos catadores.No final das contas vai se gastar o mesmo, só que gerandoeconomia no uso do aterro, beneficiando o meio ambientee conscientizando as pessoas”, enfatiza Brito, que preparauma mobilização para derrubar o veto ao projeto.

A iniciativa em Sorocaba acabou dando frutos emLaranjal Paulista (SP). O projeto serviu de base para que

Projeto dovereador Izídio deBrito Correia paraauxiliar catadoresfoi explicado naconversa

)))

o vereador Marcelo Contó apresentasse a mesmaproposta de coleta seletiva solidária na cidade. O des-fecho é que foi diferente. A Câmara de Vereadoresaprovou o projeto, que também já foi sancionado peloprefeito Heitor Camarin (PT) e agora está em fase deestruturação para entrar em funcionamento. LaranjalPaulista também integra a rede Cata-Vida com a Coo-perativa de Reciclagem de Laranjal Paulista (Corelpa).“Esta é uma importante vitória. Quando começamos asiniciativas em torno da cooperativa, descobrimos que oscatadores tinham uma péssima imagem de si próprios;eles tinham vergonha do seu trabalho. Com a cooperativaeles passaram a se sentir valorizados e, agora, mais aindacom a aprovação do projeto”, disse Contó.

Rita de Cássia Gonçalves Vianna - Começandono movimento sindical, Rita chegou à presidência doSindicato dos Trabalhadores das Indústrias do Vestuáriode Sorocaba e Região. Em 1999, participou da fundaçãodo Ceadec, Ong sediada em Sorocaba. Teve forteatuação na formação da rede Cata-Vida em 2001, aprimeira rede solidária de cooperativas de catadores doEstado de São Paulo. Em 2004 é eleita presidente doCeadec, cargo que ocupa até hoje. Formada em Letraspela Uniso, Rita possui especialização em EducaçãoAmbiental pela USP/São Carlos.

Izídio de Brito Correia - Natural de ÁlvaresMachado (SP), Izídio trabalhava na lavoura antes de semudar para São Paulo. Na capital paulista se tornoumetalúrgico. Depois de dois anos e meio vem paraSorocaba, nos anos 80. Participou da luta dos metalúrgicospela redução da jornada de trabalho e da campanha pelademocratização do Brasil. Em 1992 se tornaria diretorde base do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba eRegião, organização que assumiria a presidência em 1998,depois de também ter ocupado o cargo de secretário-geral. Em 2008 é eleito vereador em Sorocaba, na primeiraeleição em que disputa.

Marcelo Alessandro Contó - Advogado formadopela Faditu, Contó está em seu segundo mandatoconsecutivo como vereador do PT em Laranjal Paulista(SP). Filiado desde 1996, o PT é seu único partido durantetoda sua carreira política e de militância. Neste período,ajudou na organização e fortalecimento da legenda nomunicípio. Participou ativamente da vitoriosa campanhaque levou, pela primeira vez na história de Laranjal Paulista,o Partido dos Trabalhadores à prefeitura do município,elegendo Heitor Camarin Junior em 2008.

Trio conduz conversa

Page 24: Revista FormAção Política

[POR RODRIGO GASPARINI]

Qualificação, orçamento, políticas públicas, papelda sociedade civil, humanização, descaso do Gover-no do Estado, indústria da doença e SUS. Estesforam alguns dos temas abordados na Oficina deSaúde.

Durante 2h30, cerca de 30 pessoas de diferentesregiões do Estado debateram os mais diversos as-suntos relacionados ao tema. A Oficina foi orien-tada por Luiz Eduardo Collaço, secretário da Saúdena cidade de Salto e José Marcos de Oliveira,membro do Conselho Nacional de Saúde.

Collaço iniciou explicando o papel do gestor dasaúde, que deve atuar com três focos distintos: aten-dimento à rede básica, soberania do interesse do u-suário e implementação de políticas duradouras. “Épreciso priorizar o interesse do usuário e apresentarprogramas que tenham continuidade por sua ex-celência, não importando quem vá suceder o gestor”.

José Marcos, por sua vez, fez um contexto his-tórico da política de saúde no país, lembrando espe-cialmente da 4° Conferência Nacional, realizada emBrasília em 1986. Com base no relatório desta Con-ferência, foram escritos todos os artigos relacionadosà Seguridade Social da Constituição de 1988.

Social x asfalto - O secretário saltense destacou,em sua explanação, o que chama de “briga do socialcom o asfalto”. Trata-se da batalha que os gestoresda saúde têm de travar constantemente peloorçamento do setor, pois, segundo ele, muitosadministradores ainda enxergam a pasta como o“grande ralo” de um governo. “É preciso brigar parater receita, para colocar nossos projetos nasquestões prioritárias”. E os gestores devem trabalharpara convencer os administradores a “construirorçamento público juntos e enxergar que as soluçõespassam por investimento”.

Mas além de lutar por mais verbas para o setor,

Programa Saúde da Família e combate à indústria da doençaO gestor da área tem que trabalhar com três focos: rede básica,

soberania do usuário e polítcas douradouras

os profissionais da saúdedevem também buscar umaqualificação cada vez maior,que propiciará o debate emalto nível. Esta é a opinião deJosé Marcos. “Não há comodebater a política de saúde se as pessoas nãoestiverem qualificadas para isso”.

Ele acredita que somente com a qualificaçãoserá possível reverter a lógica atual e obteravanços. Um deles seria “fazer São Paulo assumira responsabilidade de sua fatia no custeio dasaúde”. Crítico da política implantada por Serranesta área, José Marcos acredita que a saúdepaulista está sofrendo com “barbaridades” doGoverno Estadual. “Ou a gente se une e derrota ahegemonia de direita que existe em São Paulo ouvai ficar cada um cuidando do seu quintal”, afirmou.

Outra crítica severa foi feita aos parlamentaresque assumem “cotas de consultas” na rede públicae furam a fila dos pacientes. Conselheiro nacional,José Marcos falou com propriedade sobre o tema:“É uma das piores coisas que existem. Enquantovocê briga por algumas consultas, o vereadorconsegue todas de uma só vez”. É também por

Palestrantesdefendem lutapor mais verba emaior qualificação

)))

24

Page 25: Revista FormAção Política

Luiz Eduardo Collaço, 49 anos de idade, é o atualsecretário da Saúde da Prefeitura de Salto. Farmacêuticoformado pela Universidade Federal Fluminense, atuoupor três anos no Conselho Municipal da Saúde de Salto.Estudando no Rio de Janeiro, viu de perto a fundaçãodo Partido dos Trabalhadores, e tornou-se militante.Após um período afastado da vida partidária, está devolta ao PT e à vida pública. Collaço se emocionou aoparticipar da Oficina de Saúde do Seminário deFormação Política. “Estou realmente emocionado, issosignifica muito para mim. Antigamente, era inimaginávelfazer um encontro desse porte até mesmo na cidade deSão Paulo”, disse, antes de iniciar sua explanação sobrea gestão da saúde.

José Marcos de Oliveira, 42, enfermeiro, é diretordo Conselho Nacional de Saúde. Também coordena aComissão de Saúde Suplementar e a Comissão de DST/Aids, ambas do Ministério da Saúde. Com amplaexperiência na área, já prestou consultoria em sete paísesdo continente africano e no México. É filiado ao PTdesde 1999, sempre militando na área da Saúde.

Secretário e diretor ministram módulo

isso que, segundo ele, os Conselhos de Saúde devemestar cada vez mais qualificados. “Quem define a políticade saúde é o Conselho. Se o vereador quer ajudar,deve procurá-lo”.

Indústria da doença, SUS e humanização - “Àsvezes, somos inocentes e não percebemos que estamossendo bombardeados 24 horas por dia para ficarmosdoentes”. O alerta partiu do conselheiro, falando sobrea chamada indústria da doença, que fatura milhões como consumo de produtos voltados à área da saúde. “Oolhar da indústria é fazer a pessoa ficar doente”, disseJosé Marcos, lembrando que o mercado coloca na vidacotidiana das pessoas maus hábitos (como alimentaçãoinadequada, sedentarismo e tabagismo) que causamobesidade, hipertensão, diabetes e outras enfermidades.

É nesse ponto que o PSF (Programa Saúde daFamília) do Governo Federal pode colaborar parareverter o processo atual, pois trabalha na saúdepreventiva. “O custo do PSF é muito menor que o daunidade básica, que ainda tem o agravante de não serresolutiva dos problemas, mas sim uma geradora dedemanda”, afirmou Collaço. “Somente construirunidades de saúde é favorecer a indústria da doença”,complementou José Marcos, citando até casos derepresentantes de laboratórios farmacêuticos que

oferecem amostras grátis de remédios dentro deUnidades Básicas de Saúde.

O Sistema Único de Saúde também fez parteda discussão na Oficina e foi tema de elogios doconselheiro José Marcos. “O SUS não é feito parapobres, é feito para todos”, afirmou, lembrandoque o Sistema é bancado pelos impostos pagospor todos os brasileiros. “A população precisaconhecer o SUS, os avanços que foram frutos deefetiva participação da sociedade civil”, completouo conselheiro nacional.

O secretário Collaço abordou a questão da hu-manização no atendimento que, segundo ele, devecomeçar “na porta de entrada”. “A pessoa temde atender como se fosse o pai ou a mãe dopaciente”, afirmou. Até por isso, é importantequalificar os funcionários da rede para ogerenciamento da saúde: “Os secretários estão depassagem e há muita gente na rede com capacidadepara colaborar”.

Situação de Sorocaba - A situação doConjunto Hospitalar de Sorocaba foi outro pontoabordado durante a Oficina e suscitou críticas deJosé Marcos. “A saúde na região de Sorocaba épensada de cima para baixo, com cartas mar-cadas”, denunciou. Ele acredita que as coisaspoderiam melhorar se os movimentos sociais daregião se levantassem contra a política implantadapelo governo esta-dual. “Precisamosde um governadorque tenha vontadede mudar essa lógicana região de Soro-caba”, afirmou.

Não há como debaterpolítica de saúde se aspessoas não estiveremqualificadas para isso”,José Marcos“

Page 26: Revista FormAção Política

26

[POR MATHEUS CASAGRANDE]

Deputadoestadual defendedesmilitarização dapolícia militar

)))

O deputado estadual – e pré-candidato do PT adeputado federal em 2010 – Vanderlei Siraque foi opalestrante da oficina de “Segurança Pública”. No en-contro, 20 participantes discutiram amplamente o tema.

Siraque observa que a questão da segurançapública é bem mais delicada do que parece – énecessária uma reflexão sobre seu conceito. Mais doque construir presídios e colocar militares nas ruas, asegurança de uma sociedade é resultado deinvestimento em todas as esferas políticas.

— Assim como tem gente que acha que saúde écoisa de médico, tem gente que acha que segurança écoisa de polícia. Eu discordo. Eu acredito que a políciaage quando a sociedade falha. A gestão de segurançadeve ser transversal. Segurança é construída comeducação, com políticas de gênero, com igualdaderacial, com políticas de geração, com políticas sobre aorientação sexual das pessoas, com a questão dosvalores. Hoje, os pertences valem mais do que a vida.Existe a cultura da violência. Será que o necessário é

construir mais escolas? NoEstado tem muita escola,mais de cinco mil. Mas,hoje, a própria escola éum foco de violência. 84%das escolas no Estado têmalguma forma de violência.

Um dos aspectos mais debatidos por Siraque foi o daPolícia Militar no Estado de São Paulo. Ele defende ummodelo totalmente diferente, a começar peladesmilitarização da polícia.

— O que é ser militar? É ser treinado para matar. Sertreinado para a guerra. A Polícia Militar foi criada paraproteger o estado, e não o cidadão. O policial é treinadopor um estado acostumado a ser ditadura. Mas o papelde proteger o estado é do exército, é outra situação.

Citando o exemplo da Polícia Federal, que realizagrandes prisões, sem registro de homicídios, semdesconsiderar o tipo de casos que lhes são atribuídos,Siraque dá grande ênfase ao investimento na inteligênciada polícia.

— A viatura na rua dá apenas a sensação de segurança,assim como as bases comunitárias.

Outras sugestões comentadas pelo deputado foram aunificação das polícias civil e militar (ao menos naacademia, durante a formação dos policiais) e a criaçãode uma corregedoria única e independente.

Críticas ao governo - E qual é a atual situação doEstado no referente à segurança pública? Na visão dodeputado, o governo não tem sido muito responsável:

— O governo gastou R$ 242 milhões a mais compropaganda, enquanto deixou de gastar R$ 622 milhõesna segurança, especialmente na inteligência das polícias,o que é importantíssimo. Para um governo, é bom quandose diz que foi reduzido o número de criminosos. Ogoverno atual, não. Gosta de dizer que está prendendocada vez mais, como se isso fosse sinal de segurança efi-ciente. Um preso custa em torno de R$ 20 mil por ano.Uma cela, em torno de R$ 30 mil nesse mesmo período.

Em sua palestra, Siraque não deixou de falar daConferência Nacional de Segurança Pública, realizadaem Brasília, da qual participou e foi, em sua avaliação,“um dos maiores eventos da história do Brasil”. SegundoSiraque, a conferência reuniu, contando com os encontros

Investimento não é apenas construir presídiosDeputado Estadual Vanderlei Siraque, na palestra, defende gestão

transversal para o setor, aliada a polítcas públicas

Page 27: Revista FormAção Política

Advogado formado pela USP, mestre em DireitoConstitucional e doutorando pela PUC-SP, VanderleiSiraque, natural de Santa Cruz do Rio Pardo, 49, é pré-candidato a deputado federal pelo Partido dosTrabalhadores em 2010. Em 2006, foi eleito para oterceiro mandato como deputado estadual com votaçãoexpressiva: 55.715 votos, o mais votado em Santo André.

Na Assembleia Legislativa, Siraque se destaca pelaatuação na área da Segurança Pública. Participou daelaboração do Plano de Segurança Pública para o Brasildo governo Lula e coordenou o programa de segurançados candidatos do PT ao governo do Estado de SãoPaulo nas eleições de 2002 e 2006. É autor do pedidode CPI para investigar a maquiagem dos boletins deocorrência policial e da Lei dos Desmanches.

Atualmente, é membro das comissões de Constituiçãoe Justiça (vice-presidente), Segurança Pública (efetivo -

preparatórios, nos municípios, cerca de 500 mil pessoas.O resultado do evento foi a definição de dez princípios e40 diretrizes, eleitos em variados blocos de discussão,que agora deverão tramitar pelas casas legislativas.

Participantes debatem - Depois da palestra deSiraque, os presentes fizeram comentários acerca dotema. A escrivã de polícia Rita de Cássia Modesto relatouos graves problemas de estrutura por que passa a Polícia

Civil do Estado.— Hoje, investigação

é feita com inteligência.Se não for feita assim,não vai esclarecer nada.Precisamos também de

também foi vice-presidente), Assuntos Internacionais(suplente) e Redação (suplente). Foi membro efetivo daComissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Indústriada Indenização Ambiental do Estado de São Paulo e daCPI do Narcotráfico e membro suplente da CPI dasInstituições Financeiras e dos Pedágios.

Advogado licenciado do Sindicato dos Metalúrgicosdo ABC, Siraque iniciou suas atividades políticas nosmovimentos estudantis da Comunidade de Jovens deSanto André, das Comunidades Eclesiais de Base (CEBS)e dos movimentos sindicais do ABC, especialmente dacategoria bancária.

Foi eleito vereador no município de Santo André naseleições de 1988, 1992 e 1996. Em 1998, foi eleito de-putado estadual pela primeira vez. Foi reeleito em 2002e em 2006. Em 2008, Vanderlei Siraque foi o candidatodo PT à Prefeitura de Santo André.

Deputado estadual lidera conversa

jovens na polícia. Hoje, ninguém se aposenta. Porque nossosalário é baseado em gratificações. Se a gente se aposentar,a renda cai 40%.

Mário Lúcio Ribeiro, agente penitenciário, além decomentar que a sociedade passa por uma crise de valores,endossa a visão de Siraque de que a segurança é resultadode soma de esforços em todas as áreas da política:

— Jamais teremos segurança sem passar pela educação.A segurança é uma extensão que deve ser trabalhada.

Palavra de Hamilton - Assim em como nas outras dezoficinas temáticas, o deputado Hamilton Pereira passou pelade “Segurança Pública”.

— O deputado Siraque é um companheiro que na ban-cada sempre se destacou na defesa da segurança pública,com um trabalho voltado menos para a punição e mais paraa educação e recuperação do ser humano. Nós estamosem uma época em que se fala tanto em preservação, coletaseletiva e reciclagem. Não podemos jogar o ser humano nalata do lixo.

Hamilton também não deixa de legislar na área. Opresidente do PT de Sorocaba, Paulo Henrique Soranz,distribuiu cópias de projetos de lei feitos pelo deputado,como o Projeto Horizonte (Lei nº 10.846 de 2001), deprodução de materiais de construção para habitações paraa população de baixa renda, com mão-de-obra carcerária.Embora existam leis até mais complexas voltadas à resso-cialização dos detentos, o projeto foi pioneiro, elaboradopor Hamilton a partir de sugestão de um ex-detento.

Para Siraque (à esq.), o estadonão tem sidoresponsável com asegurança pública

)))

Page 28: Revista FormAção Política