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Revista Linhas 10

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Ano 5 Dezembro 2008

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  • 04globalizaodesafios e oportunidades para o ensino superiorMaria Helena Nazar

    06acordo ortogrficoJoo Paulo SilvestreNobre Roque dos SantosJacyntho Lins Brando

    12porqu divulgar cincia?Paulo Ribeiro Claro

    14percursos antigos alunosantigos alunos da ua falam das suas carreiras bem sucedidas

    26iFoodTechresduos alimentares transformam-se em produtos benficos para a sade

    28segurana rodoviriaIT parceiro no desenvolvimento de sistema inovador

    30obteno de hidrognio e oxignio a partir do gs naturalem estudo no CICECO

    32BioF Functional Biopolymersinvestigadores produzem biopolmeros a partir de biomassa excedente

  • 34prmiosdocentes, investigadores e alunos da ua continuam a dar que falar

    40entrevista com Eduardo Loureno

    44departamentos em revistadepartamento de engenharia cermica e do vidro

    52inqurito aos diplomados da ua.algumas notasManuel Assuno

    54empreendedores de sucessoconhea a Cluster Media Labs e a Self Energy Innovation

    61publicaesda comunidade acadmica

    65aconteceu na uamomentos que marcaram a vida acadmica da ua

  • 4 54dezembro 08Linhas

    comum dizer-se que vivemos num mundo cada vez mais globalizado, no s do ponto de vista econmico, com o aumento dos fl uxos internacionais de materiais e fi nanceiros, da interdependncia e da integrao dos mercados, mas tambm do ponto de vista social, atravs da maior mobilidade, real e virtual, suportada pelos sistemas de transporte e pelas tecnologias de informao e comunicao.

    Os prprios desafi os que as sociedades enfrentam adquirem dimenses globais e requerem uma multiplicidade de abordagens e de respostas, integradas, da escala global escala local. So os casos da evoluo demogrfi ca, das alteraes climticas, dos problemas de sade, da produo e utilizao de energia, da produo e consumo de alimentos. Desafi os ainda maiores pelas enormes assimetrias existentes entre pases, e dentro de cada pas.

    As dinmicas econmicas e sociais colocam novas presses sobre as instituies, designadamente em termos da adequao da sua misso, dos recursos humanos e fi nanceiros disponveis, e das prprias relaes interinstitucionais, procurando-se novos equilbrios entre cooperao e de competio.

    H, assim, uma expectativa acrescida quanto ao contributo do conhecimento para fazer face a este mundo globalizado e, consequententemente, sobre o papel a desempenhar pelas instituies de ensino superior e de investigao

    Linhas dezembro 08

    Maria Helena Nazar

    Reitora da UA

    em prol do desenvolvimento. Reciprocamente, tambm a crescente globalizao do prprio ensino superior tem implicaes sociais e econmicas, designadamente pela facilidade de disseminao do conhecimento que lhe est associada, pela constituio de massas crticas e pela mobilidade de alunos, investigadores e docentes.

    Decorre, de todos estes processos, uma importncia crescente das polticas de internacionalizao e de posicionamento, quer na gesto estratgica das instituies, quer na actuao de governos e de organizaes internacionais.

    O processo de Bolonha, desencadeado na Unio Europeia, e que vem despertando interesse signifi cativo noutras reas do globo, um exemplo paradigmtico. A integrao econmica no foi acompanhada, ao mesmo nvel, por diversas outras reas, entre as quais a do ensino superior. Tal desfasamento, num contexto de maior mobilidade de trabalhadores e alunos, introduz problemas de legibilidade, comparabilidade e fl exibilidade de percursos individuais, podendo mesmo constituir um obstculo ao desejado aprofundamento da integrao. A resposta em curso implica uma profunda mudana aos nveis nacional e institucional, atravs da organizao do ensino superior num sistema baseado em trs ciclos de estudos, em articulao com um sistema de crditos para acumulao e transferncia. Este modelo,

    desafi os e oportunidades para o ensino superior

    globalizao

  • dezembro 08Linhas 4 5404 05 globalizao: desafi os e oportunidades para o ensino superior

    conjuntamente com uma transformao do processo de ensino-aprendizagem, com maior nfase no estudante, e com uma descrio das competncias e conhecimento adquiridos, permitir facilitar a mobilidade de estudantes, docentes e graduados e acelerar a entrada de graduados no mercado de trabalho, contribuindo desta forma para o objectivo ltimo de conferir um novo e duradouro impulso ao dinamismo da economia Europeia.

    A massifi cao do ensino superior, as infl uncias do mercado e as necessidades da sociedade tm levado a uma redefi nio dos sistemas de fi nanciamento do ensino superior. Competio por fundos, diversifi cao das fontes de fi nanciamento, designadamente atravs de actividades de transferncia de tecnologia e prestao de servios, introduo de sistemas de propinas, concepo de novos sistemas de apoio aos estudantes, so caractersticas comuns maioria dos pases europeus.

    A proliferao de rankings e instrumentos similares , hoje, no s um refl exo da crescente competio, como tambm da vontade de um maior escrutnio sobre a actividade das universidades, exercida pela prpria sociedade, desde futuros estudantes e suas famlias, graduados, empresas e investidores.

    Estas novas facetas tm vindo a ser incorporadas nas estratgias institucionais. Como exemplos pode apontar-se a existncia de quase 3 milhes de estudantes em pases terceiros, provenientes maioritariamente de pases asiticos, a existncia de um movimento signifi cativo de docentes visitantes e de ps-doutorados, o desenvolvimento de projectos

    internacionais, a abertura de campus noutros pases, o desenvolvimento de programas de formao em parceria entre instituies nacionais e estrangeiras, a proliferao de modos de leccionao exclusivamente distncia ou em combinao com sesses presenciais.

    A emergncia deste novo contexto de actuao acarreta desafi os e oportunidades, quer para as instituies quer para os governos nacionais e instncias internacionais.

    A competio pela atraco de recursos humanos qualifi cados, base da economia do conhecimento, tende a agravar as desigualdades entre pases desenvolvidos e pases em desenvolvimento, pela migrao de estudantes, muitos dos quais, concludo o seu percurso formativo, no regressam aos pases de origem. Nos casos em que a formao inicial, e mesmo a formao em pas estrangeiro, foram suportadas pelo pas de origem, designadamente atravs de bolsas ou outros programas de apoio, fuga de crebros adiciona-se o efeito de externalizao de benefcios e internacionalizao de custos, de que so exemplo muitos pases africanos.

    A cincia global permite um acesso mais imediato e generalizado ao conhecimento produzido, mas no logrou criar uma comunidade global virtual de ensino e cincia. H mais informao disponvel mas, paradoxalmente, tal no signifi ca necessariamente mais dilogo.O facto das instituies serem impelidas a gerar receitas, a partir das suas actividades de ensino e de investigao, pode infl uenciar no s o que ensinado, mas tambm o que investigado, existindo o perigo real

    globalizaode uma deriva em direco a reas mais valorizadas pelo mercado. No que respeita ao ensino, tal refl ecte-se na procura e na oferta crescente de cursos com elevada empregabilidade a curto prazo. No domnio da investigao, notria uma concentrao de esforos em reas como as cincias da vida, medicina, engenharia e tecnologia, onde os recursos so mais abundantes, em detrimento das humanidades. Tambm no modo de governo e gesto das universidades se verifi ca uma infl uncia inegvel dos modelos utilizados nas empresas do sector privado.

    As universidades devem aproveitar esta oportunidade para se modernizar, de forma a aumentar a sua capacidade de resposta s necessidades da sociedade. No podem, contudo, esquecer as diferenas de propsito existentes entre universidades e empresas, pelo que devem evitar o simples decalque de receitas e solues empresariais. As universidades no so mais Torres de Marfi m, mas devem evitar transformar-se em poos de petrleo.

    fundamental que as universidades permaneam como uma fonte de refl exo independente e que desempenhem um papel como conscincia crtica da sociedade. S assim ser possvel garantir que o seu contributo no se confi na ao imediato, mas permite expandir continuamente a base de conhecimento, projectar futuros e estimular o debate na sociedade, bases necessrias para o desenvolvimento de uma verdadeira sociedade do conhecimento.

  • dezembro 08Linhas 6 76

    Joo Paulo SilvestreBolseiro de

    ps-doutoramento do Centro de Lnguas e

    Culturas da UA

    Nobre Roque dos Santos

    Doutorando em Lingustica no

    Departamento de Lnguas e Culturas da UA

    Jacyntho Lins Brando

    Professor catedrtico naUniversidade Federal de

    Minas Gerais

    Linhas dezembro 08

    acordoortogrficoO prximo acordo ortogrficoJoo Paulo Silvestre

    Dezoito anos depois, poucos se recordavam de um acordo ortogrfico que esperava numa gaveta. discusso pblica do incio dos anos 90, que no foi cientificamente mais informada que a actual, sucederam-se actos polticos e negociaes de ratificao, que prometiam adi-lo at inequvoca obsolescncia. Com surpresa geral foi sancionado, e o perodo de transio inicia-se em Janeiro de 2009.

    Os protestos reflectem um sculo de divergncia, desconfiana e brios ptrios. Em 1907, quando em Portugal se examinavam demoradamente as propostas de Gonalves Viana para uma uniformizao ortogrfica, a Academia Brasileira de Letras, cansada de no ser considerada para a discusso, adoptou unilateralmente uma ortografia simplificada para suas publicaes. Gonalves Viana repudia a ousadia, com argumentos que no so apenas lingusticos: a ortografia brasileira contradiz caractersticas especficas da lngua falada em Portugal, local onde o portugus teve origem e se desenvolveu; Portugal deve manter-se no lugar de defensor do idioma ptrio e aceitar essa reforma seria colocar o Reino na dependncia da Repblica Brasileira. Por ironia, a recm-implantada Repblica

    Portuguesa que decide confiar a um grupo de ilustrssimos fillogos (entre eles Leite de Vasconcelos e Carolina Michalis) a redaco do texto reformador, tomando por base os estudos de Gonalves Viana. A norma instituidora de 1911 s pde resultar to coerente e linguisticamente racionada porque ignorou soberanamente o Brasil.

    O Acordo de 1990 pretende ser um aperfeioamento da tradio ortogrfica do sculo XX, numa redaco que esbate as diferenas entre a norma portuguesa e a brasileira, atingindo uma uniformidade que passa obrigatoriamente pelo reconhecimento de graus de variedade, sem descaracterizar nenhum dos sistemas actualmente vigentes. E as trs palavras com consoantes mudas que empreguei na frase anterior so apenas uma parte do problema.

    O Acordo prescreve a supresso das consoantes mudas etimolgicas sem realizao na pronncia redao, atualmente mas admite a dupla grafia das que tm pronunciao numa das variedades da lngua portuguesa: descaraterizar, mas tambm descaracterizar, porque assim se pronuncia geralmente em Portugal, com todas as letras. A perda das consoantes etimolgicas tem sido enunciada como vamos passar a escrever acto sem c. Observando

  • dezembro 08Linhas 6 7606 07 acordo ortogrfico

    ortogrficoos critrios fonolgicos, em Portugal as formas recomendadas so aceo, abjeo e adoo, enquanto no Brasil so acepo, abjeco e adopo.

    Todavia, as duas possibilidades fazem parte da norma, indistintamente aceitveis, e a estes casos somam-se as numerosas palavras que tero dupla acentuao (fmur/fmur). A convivncia de tantas formas supletivas um bice muito notado, contrariando o princpio inerente a uma normalizao ortogrfica. A internet oferece-nos j uma anteviso dos resultados dessa supletividade, atravs da alternncia de contedos em portugus europeu e portugus do Brasil com que nos deparamos no decurso das pesquisas em portugus. A pouco e pouco habitumo-nos sintaxe, ao lxico e ortografia; no raras vezes, s ao fim de alguns pargrafos ou pginas percebemos que estamos a navegar fora da norma. Esta assdua interferncia normativa era absolutamente inimaginvel na poca em que o Acordo foi redigido e demonstra que na variedade nos entendemos. Os estrangeiros actualmente aprendem uma das normas e no expectvel que, futuramente, decorem todo o espectro de formas que o acordo contempla. Continuaro decerto a estudar uma das variedades, mas, dizem os redactores do Acordo, beneficiaro do menor nmero de diferenas ortogrficas entre elas.

    A maioria dos portugueses parece ver no Acordo uma rendio norma do portugus do Brasil. Se certo que parte das mudanas que afectam os escreventes da variedade europeia j haviam anteriormente sido introduzidas no Brasil, ambos os lados cedem em hbitos ortogrficos bem enraizados. Os brasileiros deixam de usar o trema que assinalava a pronunciao da vogal u, em palavras como lingia, lingstica, aguntar, cinqenta, argir, seqestro. Tratava-se de uma marcao intil, diramos ns, mas que, para os escreventes brasileiros, representa uma perturbao dos hbitos de escrita comparvel nossa supresso de consoantes etimolgicas.

    Notaro tambm a falta dos acentos que marcam os ditongos abertos i e i nas palavras acentuadas na penltima slaba. Em vez de alcatia, idia, apia, platia, epopia e gelia, devem escrever portuguesa alcateia, ideia, apoia, plateia, epopeia e geleia. Em contrapartida, em Portugal deixaremos de acentuar as formas asteride, estico ou jia. A abolio do acento circunflexo nas palavras actualmente terminadas em em e o altera as brasileiras mago, enjo, mago, vo aproximando-as da presente norma do portugus europeu. Todos passaremos a escrever deem, leem e creem.Apelando competncia dos falantes para distinguirem contextos, elimina-se a acentuao que evitava homografias

    (para e pra, pelo e plo). Parece confuso, mas a ortografia actual permite diversas formas equvocas, como em a planta est seca / os meteorologistas prevem seca.

    Na essncia, o Acordo pretende ser uma reviso de normas outrora parcialmente implementadas, e que agora vem a sua coerncia reforada. A escrita no reprodutora da pronncia, pois mantm e manter os traos essenciais de coerncia etimolgica e tradio de usos. Permanecem inalterados o emprego dos grafemas ou dfragos x/ch e z/s, mesmo quando traduzem sons absolutamente iguais. Nem se representa a discrepncia que resulta do progressivo fechamento de vogais em palavras como ameaa, campeo, nomear (o e pronuncia-se geralmente i), abolir, cobia, Pscoa (o o pronunciado como u).

    Mas os aspectos meritrios do Acordo no podem anular as deficincias que tm justificado a desconfiana e protestos de linguistas. Os representantes do Manifesto em defesa da Lngua Portuguesa contra o Acordo Ortogrfico divulgaram um conjunto de pareceres em que se enunciam ambiguidades da redaco, assinaladamente pertinentes no que respeita ao critrio arbitrrio com que se definem as regras de hifenizao; lembram que no foram avaliadas as

  • 8 98grfi cogrfi co Linhas dezembro 08difi culdades (ou vantagens) que as grafi as supletivas traro ao ensino da lngua portuguesa e criticam o facto de o Acordo desconsiderar as especifi cidades lingusticas dos PALOP e de Timor.No um bom documento normativo, porque depende da interveno de orculos que esclaream caso a caso o sentido de formulaes como certos compostos, em relao aos quais se perdeu, em certa medida, a noo de composio, grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva, mandachuva, pontap, paraquedas, paraquedista, etc. (Base XV, 1) A complexa e erudita misso de decifrar o em certa medida e aplic-lo ao caudal lexical que se esconde no etc. est a ser desempenhada pela Academia Brasileira de Letras. Com louvvel esforo, preparam um Vocabulrio Ortogrfi co da Lngua Portuguesa, que ser o primeiro documento extensivo de normalizao lexical, modelo ansiosamente aguardado pelas editoras de dicionrios, incapazes de decidir a correcta grafi a de terminologias e palavras compostas.

    O Acordo de 1990 sofrer o destino das leis imperfeitas, e por conseguinte ser modifi cado daqui a alguns anos. E, se as lies forem aprendidas, o novo documento resultar de uma refl exo lingustica mais documentada, que avaliar se a norma pode incluir a diversidade sem risco de ruptura e desagregao, ou se o espectro de variedades da lusofonia consegue ser traduzido em grafi as uniformes, em que as comunidades reconhecem a essncia da sua identidade lingustica. Nem ecumnico, nem ecumnico: um acordo ecumenico, em que se acentua o que une e no o que separa. Uma tarefa para linguistas, e no para polticos.

    Em defesa do acordo ortogrfi co de Lngua PortuguesaNobre Roque dos Santos

    Dezoito anos depois da assinatura do Acordo Ortogrfi co da Lngua Portuguesa (AOLP), muitos moambicanos ainda se interrogam sobre o teor do texto. Ofi cialmente, este assunto parece ser tabu. No entanto, tem havido algumas iniciativas isoladas, em forma de debate televisivo e artigos de jornais, mas sem grande impacto social, pois os meios usados, nomeadamente, a televiso e o jornal, no esto ao alcance de muitos moambicanos.

    A nossa opinio em relao ao AOLP, resume-se em dois pontos: primeiro, a divulgao do AOLP na sociedade moambicana por vias ofi ciais e, segundo, a defesa da sua aprovao pelo parlamento moambicano, de modo a conferir-lhe um estatuto normativo.

    A nossa posio quanto ao segundo ponto nova, pois vnhamos defendendo a ideia segundo a qual o AOLP no devia ser aprovado pelo facto de o texto no ter sido divulgado escala nacional. Refl ectindo sobre a nossa anterior atitude, chegmos concluso de que a aprovao do AOLP no impediria uma eventual divulgao do mesmo. Outro facto que ditou o nosso reposicionamento a constatao de que o nosso pas simultaneamente consumidor de livros brasileiros e portugueses, pases com normas diferentes, geradoras de problemas que hoje procuramos resolver.

    Na nossa opinio, o AOLP, apesar de ser um mea culpa assumido pelo Brasil e por Portugal sob a observao dos outros pases signatrios do acordo, cujo papel secundrio, porque nunca criaram as suas prprias normas ortogrfi cas, que pusessem em causa a unidade da lngua e o seu prestgio (alegaes que parecem pesar na declarao de 16 de Dezembro de 1990), constitui apenas um passo para

    a resoluo de vrios problemas do funcionamento do portugus.

    A divergncia ortogrfi ca entre o Brasil e Portugal, mais os restantes pases da CPLP, h muito que tem impacto negativo entre os falantes do portugus. A nossa experincia com alunos desde o nvel primrio ao superior, em Moambique, tem sido produtiva na constatao dos efeitos negativos e nocivos ao ensino que a inexistncia de uma ortografi a comum causa nos agentes de educao, porquanto aquilo que seriam erros passam a no s-lo, ou melhor, h erros ortogrfi cos que no so sancionados sob a alegao de serem portugus do Brasil. Os professores esquecem-se que se orientam por uma norma ortogrfi ca e gramatical europeia (Portugal) e resolvem os problemas lingusticos, recorrendo ao bom senso, para acomodarem, assim, os diferentes registos ortogrfi cos e protegerem os seus colegas de trabalho com tradio brasileira.

    Pases como o Brasil e Portugal com normas ortogrfi cas e gramaticais prprias e uma tradio lingustica j enraizada no se deparam com tantos problemas de transmisso dessas normas de gerao para gerao, porque os falantes esto em contacto com a norma desde pequenos. Em contrapartida outros pases, como Moambique, que esto sob fogo cruzado dos mercados de livro desses dois pases tm difi culdades em fazer passar a norma lingustica.Por exemplo, como explicar a um aluno do ensino primrio ou secundrio a divergncia entre ao e aco, entre Batista e Baptista? Ou as diferenas entre conceo e concepo, corruto e corrupto? Parecem perguntas banais e insensatas, mas no o so, pois com questes desta natureza que os professores (e no s) se confrontam diariamente na escola. So estas e outras perguntas para as quais as respostas recorrentes tm sido simples, do gnero portugus do Brasil ou portugus de Portugal.

  • dezembro 08Linhas 8grfi cogrfi co08 09 acordo ortogrfi coJ imaginamos como que um pai (em Portugal, no Brasil ou noutros pases de expresso portuguesa) explica ao seu fi lho a diferena ortogrfi ca? Em Portugal frequente ouvirmos este livro est em brasileiro, entenda-se, o livro no foi escrito em portugus. Dito doutro modo: as pessoas em Portugal tm difi culdades em aceitar que a lngua falada no Brasil seja a portuguesa (isto acompanhado por uma dose de depreciao ou nivelamento por baixo do portugus variante do Brasil). O problema da divergncia ortogrfi ca constitui um trauma para os alunos, professores, pais e outros utentes da Lngua Portuguesa. Provavelmente, por isso, constatamos com alguma compreenso o facto de em Moambique a norma ter sido substituda pelo bom senso lingustico, que como quem diz vamos deixar que o joio cresa com o trigo.

    Dizer que se trata de Portugus do Brasil ou de Portugal, como temos ouvido ao longo de duas dcadas de docncia e superviso pedaggica, adia a resoluo do problema para um futuro prximo. Pior que adiar que na cabea do aluno deve andar uma frase como ele no sabe, o que prejudica a imagem do professor e no abona em favor da sua competncia, porque no satisfaz os anseios do aluno. Na ptica pedaggica, a supresso, por exemplo, de uma consoante surda no se resume apenas queda consonntica, que a perspectiva lingustica. Ser preciso considerar outras vises do problema, nomeadamente, a da histria da lngua. Esta perspectiva, porm, demasiado complexa, quer para um aluno de tenra idade, quer ainda para o professor, que simplifi ca a questo com os compreensveis portugus do Brasil ou portugus de Portugal.

    Para quem cresceu a escrever aco e se v na contingncia de explicar que aco igual a ao, isto produz o mesmo efeito que a amputao de um dos seus membros. No se faz a sangue frio. O procedimento cirrgico portugus do Brasil ou portugus de Portugal, feito com anestesia, porque di. um problema que ultrapassa o mbito da ortografi a, ou se quisermos, lingustico. tambm cultural e sentimental. a vida.

    A complexidade das respostas s perguntas que colocmos exige uma formao acadmica e uma preparao profi ssional ou lingustica que a maioria dos professores do ensino primrio e secundrio de Moambique no possui. Exige um grau de conhecimento lingustico que a maior parte dos jornalistas moambicanos no tem. Requer uma experincia de vida que muitos dirigentes que tm de defender o AOLP no possuem. E isto traumatizante para quem tem de dar uma explicao sustentada, uma explicao que garanta a reproduo qualitativa da resposta na sociedade. Em defesa do AOLP, estamos a apresentar problemas (como se diz em Moambique) conjunturais: afectam toda a sociedade moambicana. Por isso, o ensino superior, onde h um elevado ndice de professores formados quer no Brasil, quer em Portugal, no foge regra. Neste subsistema de ensino tem havido muitos problemas de superviso lingustica dos textos acadmicos, nomeadamente, projectos, dissertaes e teses, devido ao facto de haver duas normas ortogrfi cas para o portugus. Esta situao tem levantado questes de identidade lingustica, com uns a defenderem que a norma em vigor em Moambique, sendo a portuguesa, a escrita tem de se reger por ela e outros a defenderem que o portugus de Moambique por ser diferente do europeu, e no tendo norma prpria,

    dever acomodar tambm a norma brasileira. Devido a esta instabilidade, estamos a gerir, no ensino superior, confl itos entre profi ssionais, cujo nico pecado o de terem herdado o AOLP de 1945 (Portugal e outros pases da CPLP, excepto Brasil que, sabe-se l porqu, continuou a aplicar o Formulrio Ortogrfi co de 1943 assinado entre Portugal e o Brasil).

    O AOLP, apesar do seu carcter minimalista (porque um projecto mais ousado contemplaria a nomenclatura gramatical), poder ser assim uma soluo de problemas ortogrfi cos a curto prazo nos pases da CPLP, caso o texto seja aprovado e implementado por todos os membros signatrios.

    Na semana em que escrevemos este artigo o ministro dos negcios estrangeiros e cooperao de Moambique disse, em Portugal, que Moambique ratifi car o AOLP em 2009. Apesar de aplaudirmos o facto de j haver previso de uma tomada de deciso a respeito da aprovao do Acordo Ortogrfi co, continuamos preocupados com o vazio de medidas concernentes aprovao do texto do AOLP. Ou seja, o que que Moambique est a fazer que nos permita acreditar que em 2009 estar preparado para ratifi car o AOLP? H discusses sobre o texto? Quem so os envolvidos e que matrias esto a tratar? H grupos de trabalho para estudarem as eventuais implicaes da aplicao do AOLP? Ou, como de costume, os moambicanos aprendero com a experincia, l no terreno?Porque sabemos que este assunto est a ser marginalizado ou, se quisermos, vai andando com os seus prprios ps, queramos advertir para os perigos que o esprito dilatrio poder causar na economia de Moambique. Por exemplo, o Ministrio da Educao e Cultura est, neste momento, a produzir os novos programas para o Ensino Secundrio Geral. Ser que no se podia tomar uma medida ad hoc que permitisse adequar o texto nova

  • 10 1110dezembro 08Linhas Linhas dezembro 08

    Da ortografi a a outros acordosJacyntho Lins Brando

    Luciano de Samsata, no que seria um exerccio retrico destinado explorao de temas inusitados, imagina um tribunal, em que juzes so as sete vogais gregas, diante das quais o Sigma apresenta contra o Tau a acusao de que este lhe vinha movendo uma luta fratricida, ao tomar-lhe palavras como thlassa (na alternncia dialetal comum com thlatta) e at mesmo toda a lngua, j que glossa tambm se podia apresentar (e escrever) como glotta! Por trs do divertido da cena e das piadas que Luciano evidentemente quer tirar de um confronto entre as letras, encontra-se o dilema de quanto a escrita pode estar afastada da fala, por ser convencional mais ainda: de como uma nica norma rgida no d conta da variedade da linguagem em constante variao. Portanto, convm lembrar, as convenes ortogrfi cas sempre se pem aqum das necessidades da lngua, indo alm de mera representao fontica da fala. Na Antigidade de Luciano, no existindo nenhuma academia grega (ou romana) de letras que baixasse normas, o que se constata um padro bastante estvel, que todavia mostra uma grande maleabilidade na documentao escrita, sobretudo na epigrfi ca.

    ortografi a? que, se o legislador, ou quem quer que seja, detentor de poder de deciso, no o fi zer agora, f-lo- mais tarde, o que implicar um reinvestimento na reproduo de materiais que podia ser evitado. Se h a certeza de que a deciso de ratifi car o AOLP irreversvel, julgamos que sectores como o da educao deviam tomar a dianteira, introduzindo j as necessrias alteraes constantes do AOLP. Deste modo, os moambicanos estariam a agir com responsabilidade e sentido de Estado, evitando prejuzos fi nanceiros e danos desnecessrios economia do pas.

    Servimo-nos do sector da educao, como exemplo, porque todos ns (salvaguardadas as excepes) passmos por uma escola. E a nossa escola tem gente frente que devia voltar a estudar para entender as transformaes que esto a acontecer ao nvel da Lngua Portuguesa. E porque os males de que a nossa escola padece so grandes (professores com uma formao baixssima), o remdio tem de ser de alto teor curativo. Sugerimos, por isso, a integrao do AOLP na formao contnua dos professores, que geralmente acontece em perodos de interrupo lectiva. O ano lectivo j est no fi m. Julgamos que um bom momento para a divulgao do AOLP.

  • dezembro 08Linhas 10 111010 11 acordo ortogrfi co

    Qual ento o interesse do acordo ortogrfi co dos pases de lngua portuguesa? Antes de tudo, preciso ter clareza de que no se trata de nenhuma reforma, que simplifi casse as convenes atuais, aproximando a escrita do que seria a situao ideal: para cada fonema, um smbolo. uma pena. Contudo, claro que, no extremo, essa regra terminaria por produzir tantas normas quantos fossem os falares, acabando com a prpria funo da escrita. Mesmo assim, evidente que um grafema como o hag inicial absolutamente suprfl uo, bem como haveria vantagens em terminar com as difi culdades que vm dos usos de letras que, em determinadas situaes, representam os mesmos sons (como x e ch, ss e , s e z etc.). No mnimo, fi cariam profundamente gratos os estudantes em vias de alfabetizao (e muita gente grande tambm!).Tratando-se ento no de reforma, mas de acordo, quais as vantagens? Consigo arrolar algumas: a primeira, de carter simblico, ao evidenciar que o portugus patrimnio comum de naes espalhadas por quatro continentes; em seguida, na ordem acadmica, acabar com uma pendncia que se arrasta desde as primeiras duas dcadas do sculo passado (!), envolvendo sobretudo duas academias, a brasileira e a portuguesa; mais ainda, na esfera poltica, mostrar que a tal comunidade dos pases de lngua portuguesa no constitui uma quimera, mas realmente tem algum futuro.

    Minha opinio que a razo poltica se mostra, sem dvida a mais importante, confi gurando um gesto de boa vontade da parte de todos ns que no s falamos, como pensamos e vivemos em portugus.

    O acordo tem sua sabedoria: traz de volta letras banidas (meu jacyntho agora deixa de ser extico, mesmo que falsamente etimolgico), no impe uma regra nica (que mantenhamos nossas idiossincrasias acadmicas/acadmicas), no nos condena a travestir indevidamente nossos sotaques (o que ptimo/timo) e elimina miualhas (no tenho conta das vezes que, como professor, tive de corrigir textos de meus alunos para pr o trema em lingstica e assemelhados). Noutros termos: sua sabedoria est justamente em acordar o que se pode, sem instituir uma camisa de fora (que ainda se escrever com hfens ou no?).

    Simblico, acadmico, poltico o que espero de fato que se dem os prximos passos, no sentido de que sejamos capazes de incrementar aquilo em nome do que a humanidade inventou seus sistemas de escrita: estreitar nossas relaes, ampliar as comunicaes, compreendermo-nos mutuamente porque vivemos em portugus. Um exemplo: sempre tive inveja dos pases hispnicos e anglfonos quando me caem nas mos livros cujo local de publicao se apresenta mltiplo: Buenos Aires-Madrid--Mxico ou London-New York. Que um

    dia j vimos algo, salvo excees de carter no-comercial, como Lisboa-Rio de Janeiro? Ento, se a escrita no servir para a comunicao, qual a razo dos acordos e at da prpria ortografi a? Na mesma esteira: to difcil encontrar livros brasileiros nas prateleiras das livrarias portuguesas, quanto portugueses no Brasil. Para no falar de Angola, Moambique, Cabo Verde etc.

    Concluso: em qualquer dos mundos, mas sobretudo no nosso, todos os acordos so bem-vindos (e benvindos), em nome no da pasteurizao, mas da prpria diversidade, que pode sim gerar concrdia em vez de guerras. Como sempre, prev-se um longo perodo de adaptao em que talvez o trema, agora acometido de doena terminal, qui vislumbre abrir algum processo no tribunal das letras, para garantir alguma sobrevida.

  • dezembro 08Linhas 12 1312

    Paulo Ribeiro Claro

    Docente do Departamento de Qumica da UA Secretrio Geral

    da Sociedade Portuguesa de

    Qumica

    Linhas dezembro 08

    melhor acender uma vela do que maldizer a escurido.Confcio | Carl Sagan

    A frase acima atribuda ao fi lsofo chins Confcio foi utilizada por Carl Sagan (1934-1996) num dos seus livros emblemticos de divulgao cientfi ca, O Mundo Assombrado pelos Demnios: a cincia vista como uma vela na escurido, para ilustrar a importncia da cincia e da cultura cientfi ca. Neste livro, Carl Sagan faz a apologia da cincia, assumida como a nica forma efi caz de combater a ignorncia e desfazer mitos, fraudes, supersties e crendices. Esta viso da cincia como uma vela na escurido tem unido cientistas por todo o Mundo, num esforo contra o que alguns j designam como uma nova era de obscurantismo1.

    De facto, atravs da cincia que a humanidade melhor se relaciona com o mundo: a cincia permite-nos compreender os fenmenos da natureza, a complexidade do corpo humano, o movimento de uma bssola, o funcionamento de uma mquina fotogrfi ca, ... sem necessidade de sacrifcios aos deuses, danas da chuva ou exorcismos, sem sereias ou monstros marinhos, e sem receio que uma fotografi a nos roube a alma!A cincia tambm indispensvel democracia. S um cidado consciente e

    informado pode, em rigor, tomar decises ou avaliar de modo fundamentado os actos dos decisores polticos. Na actual sociedade, de cariz marcadamente cintfi co-tecnolgico, a iliteracia cientfi ca no s limita o exerccio da cidadania como , naturalmente, um factor de excluso social.

    Neste contexto, no posso deixar de expressar a minha preocupao por algumas opes polticas ao nvel do ensino secundrio como a criao da rea cientfi co-humanista, onde as disciplinas difceis da cincia podem ser facilmente evitadas, mesmo por aqueles de quem se espera uma actividade profi ssional em reas fortemente dependentes do desenvolvimento cientfi co (como a medicina e as engenharias, por exemplo).

    Ainda assim, a promoo e divulgao da cincia junto do pblico no encarada como uma actividade sria por muitos daqueles que se dedicam investigao cientfi ca, nomeadamente, por muitos os docentes universitrios. Pelo contrrio, frequentemente considerada uma actividade menor, que deve ser deixada a actores menores... Felizmente, muitos dos grandes cientistas foram (ou so)

    porqu divulgar

    porqu divulgar

    porqu cincia?

  • dezembro 08Linhas 12 131212 13 porqu divulgar cincia?

    tambm grandes divulgadores de cincia. Em Inglaterra, a tradio da divulgao cientfi ca remonta ao sculo XVIII, quando as sesses populares de demonstraes cientfi cas da prestigiada Royal Institution para difundir o conhecimento,... eram realizadas pelos mais reputados cientistas da poca. E no consta que Carl Sagan unanimemente reconhecido como um dos maiores divulgadores de cincia que o mundo conheceu fosse um cientista menor...

    Actualmente, a existncia de actividades de divulgao cientfi ca junto do pblico um requisito dos grandes projectos cientfi cos europeus o que indicia um reconhecimento do seu mrito. No entanto, esta exigncia muitas vezes interpretada como necessria para benefcio dos cientistas (dar a conhecer ao pblico quo teis so a verbas atribudas investigao cientfi ca) e no para benefcio do cidado (fornecer-lhe ferramentas para melhor compreender o mundo em que vive). De modo anlogo, a diminuio do nmero de alunos que chegam s universidades e, em particular, aos cursos cientfi co-tecnolgicos

    provocou um aumento de actividades que promovem o contacto dos jovens com a cincia. Tambm aqui, a aposta na captao de alunos, embora positiva em si mesma, no deve ser encarada como objectivo nico, j que visa fundamentalmente o benefcio da universidade e no o da formao do estudante como futuro cidado.

    Em resumo, as actividades de divulgao cientfi ca junto do pblico devem ser encaradas pelos cientistas (e pelos docentes em particular) como uma componente nobre da sua actividade porque contribui efectivamente para o progresso da sociedade e para a melhoria das condies de vida dos cidados. E esta contribuio tanto mais importante quanto maior a importncia da cincia e da tecnologia no nosso quotidiano e maiores so as ameaas do novo obscurantismo.

    1 Um exemplo notvel deste esforo a

    associao TSN The Science Network, que

    rene reputados cientistas internacionais num

    esforo global em defesa da cincia contra o

    obscurantismo. Um obscurantismo que se revela,

    por exemplo, nas teorias que apresentam a

    cincia como uma mera construo social ou no

    crescimento insidioso do movimento criacionista,

    ambos os casos apostando na f, por oposio

    razo. http://thesciencenetwork.org/

  • dezembro 08Linhas 14

    Em funcionamento desde Outubro de 2001, a Escola Superior

    de Sade da Universidade de Aveiro (ESSUA) j lanou para

    o mercado de trabalho um conjunto de competentes tcnicos

    de sade. Fisioterapeutas, Radiologias, Terapeutas da Fala,

    Enfermeiros e Gerontlogos. Nesta edio, contamos-lhe o

    percurso da fisioterapeuta Andreia Sara Rocha, do radiologista

    Bruno Ferreira de Figueiredo, da terapeuta da fala, Diana

    Lisboa, do enfermeiro, Pedro Sardo, e da gerontloga, Cristina

    Barbosa; cinco antigos alunos que exemplificam bem a aposta

    da ESSUA na formao de profissionais para o sculo XXI.

    14

    antigos

  • 1514 percursos antigos alunos

    alunos

  • dezembro 08Linhas 16

    Andreia Sara Silva Rocha, 25 anos, foi uma das primeiras alunas

    da Escola Superior de Sade da Universidade de Aveiro. Chegou

    da Maia para se licenciar em Fisioterapia. Terminou o curso em

    2005 e, em Julho desse ano, comeou a trabalhar numa clnica do

    Porto. Seguiram-se duas outras experincias em clnicas, assim

    como em Lares de Terceira Idade e, ainda, no Ncleo do Porto da

    Associao Nacional de Espondilite Anquilosante (ANEA). Hoje, com

    uma ps-graduao em Higiene e Segurana no Trabalho (HST), alia

    a actividade de Fisioterapeuta e de Tcnica Superior de HST com a

    de formadora e membro da direco da Associao Portuguesa de

    Fisioterapeutas Regio Norte.

    fisioterapiaos fisioterapeutas so uma mais-valia no mundo empresarial e institucional

    andr

    eia ro

    cha

    Linhas dezembro 08

  • 171616 17 percursos antigos alunos

    De acordo com Andreia Rocha, em Abril de 2008, a Associao Portuguesa de Fisioterapeutas tinha 3945 cdulas profissionais. Segundo dados do Observatrio da Cincia e do Ensino Superior, licenciam-se anualmente 700 fisioterapeutas, prevendo-se que em 2010, o nmero destes profissionais ascenda a 7 mil e, em 2015, atinja os 10 mil. Esta realidade bastante diferente daquela que existia quando, em 2001, esta antiga aluna da UA escolheu a profisso que lhe iria permitir reabilitar/recuperar pessoas e promover a sua mxima autonomia para, deste modo, lhes devolver qualidade de vida.

    Sempre gostei da ideia de poder contribuir para a reabilitao de um indivduo, por isso segui Fisioterapia. J a escolha da Universidade de Aveiro no foi inocente. Na altura tinha uma prima a frequentar o 2 ano de Biologia, que me recomendou fervorosamente a UA. A Escola Superior de Sade no tinha tradio, ia funcionar pela primeira vez nesse ano (2001) mas tratando-se de uma aposta da UA, tudo fazia acreditar que iria dar certo.

    Conta Sara Rocha que a sua turma, tal como a de Enfermagem, Radiologia e Radioterapia, foram turmas-piloto. As aulas eram praticamente todas em comum, excepto as especficas de cada curso, o que favoreceu o trabalho em equipas multidisciplinares e se tornou numa enorme mais-valia para todos. Para alm disso, acrescenta, a existncia de um campus universitrio que integra diferentes departamentos e consequentemente diferentes reas do saber, permite cumprir a sua funo pedaggica e promover as relaes interpessoais. A UA uma paixo, que nos fica para a vida! Na Universidade de Aveiro, para alm de se fomentar o saber-saber h igualmente uma preocupao em promover o saber-fazer e o saber-ser.

    Ciente de que actualmente o crescente nmero de Fisioterapeutas torna consideravelmente mais difcil o ingresso no mercado de trabalho a precariedade no emprego faz parte do nosso dia-a-dia, provocando presso e desconforto profissionais aos jovens licenciados , Sara Rocha considera

    ter ainda feito parte do grupo de profissionais que em pouco tempo conseguiu trabalho. Passou por mais do que uma clnica no Porto, exerceu tambm em Lares de Terceira Idade e na Associao Nacional de Espondilite Anquilosante (ANEA - Ncleo do Porto). Tratando-se de experincias profissionais distintas, no deixa de explicar as diferenas: ao trabalhar numa clnica ou num hospital, um fisioterapeuta est naturalmente condicionado poltica interna da instituio. O nmero de doentes prvia e superiormente definido, bem como o tipo e o tempo de tratamentos. O profissional de fisioterapia como que amputado da responsabilidade de opinar, circunscrevendo-se misso de cumprir as ordens de trabalho estabelecidas superiormente e a executar os procedimentos hierarquicamente definidos. J, ao nvel dos denominados domiclios, como na ANEA e ainda nos Lares de 3 Idade, o trabalho substancialmente mais autnomo e, desde logo, mais motivante e exigente profissionalmente, permitindo-nos recriar o nosso conhecimento e exercitar as nossas competncias, com maior satisfao e auto-estima.

    Garantindo que o fascinante da sua profisso ter a capacidade de reabilitar/recuperar um paciente, proporcionando-lhe, assim, a mxima autonomia e qualidade de vida, Andreia Rocha aponta a paixo pelo que se faz, a predisposio para inovar e a capacidade de trabalho com qualidade e rigor como ingredientes indispensveis ao sucesso profissional. Depois, claro est, como acrrima defensora da constante actualizao de conhecimentos, no tem dvidas em aconselhar a classe a aumentar e alargar a qualidade dos servios que presta, atravs de cursos de reciclagem, ps-graduaes, mestrados e doutoramentos.

    De resto, foi por se aperceber das potencialidades que uma especializao na rea da Higiene, Segurana e Sade no Trabalho poderia trazer sua actividade de Fisioterapeuta - cada vez mais as

    empresas se preocupam com as questes da Sade Ocupacional e da Ergonomia -, que decidiu ela prpria tirar uma ps-graduao em Higiene e Segurana no Trabalho, exercendo agora tambm funes como tcnica superior de HST e de formadora dos mdulos de Sade no Trabalho e Ergonomia, na Associao para o Desenvolvimento e Inovao Tecnolgica (ADITEC Porto).

    Para salientar o contributo da formao contnua e da especializao em reas afins sade para o sucesso profissional, Andreia Rocha exemplifica: Hoje sabe-se que 40 horas sentadas so mais prejudiciais para as costas do que 40 horas em p. Os movimentos repetitivos conduzem a leses msculo-esquelticas, muitas das quais irreversveis. Ms posturas conduzem, a mdio e longo prazo, ao absentismo. O fisioterapeuta , pois, uma mais-valia no mundo empresarial e institucional.

    , alis, na procura de especializaes que esta fisioterapeuta formada pela UA diz estar o futuro destes profissionais. Se assumirmos que os hospitais e as clnicas no tm capacidade estrutural e financeira para absorver os licenciados que todos os anos saem para o mercado de trabalho, temos necessariamente de pensar em alternativas, diz, apontando as reais necessidades dos servios de sade prestados pelos fisioterapeutas em reas que vo alm das tradicionais, nos Servios de Medicina Fsica e Reabilitao em meio hospitalar ou clnicas privadas. fundamental explorar outras reas. A hidroterapia, os cuidados primrios, os cuidados continuados, a pediatria, o desporto, a reabilitao cardaca, a reabilitao respiratria, as termas, a ergonomia so reas em que o Fisioterapeuta pode e deve trabalhar. necessrio saber fundamentar o nosso contributo e acreditar que realmente somos uma mais-valia para as instituies nas quais nos propomos trabalhar.

  • dezembro 08Linhas 18

    radiologiasou o nico funcionrio portugus e um dos poucos da europa

    Trabalhou com o ltimo grito em termos de tcnicas de TAC, no Hospital

    Eduardo Santos Silva, em Gaia, e agora o nico portugus e um dos

    poucos europeus a trabalhar na TeraRecon, uma empresa com sede em

    Sylicon Valley, nos EUA, que desenvolve software de ps-processamento

    e reconstruo de imagem. Bruno Manuel Ferreira de Figueiredo, 25

    anos, licenciado em Radiologia pela Universidade de Aveiro e divide-se

    agora entre a formao que d aos tcnicos europeus e brasileiros para

    operarem este software e a visita a hospitais nacionais interessados em

    adquirir este sistema. brun

    o fig

    ueire

    do Linhas dezembro 08

    radiologiasou o nico funcionrio portugus e um dos poucos da europa

  • 191818 19 percursos antigos alunos

    Chegou de Cabril, uma aldeia do concelho de Castro Daire, para ser um dos primeiros alunos da licenciatura em Radiologia, no ano de abertura da Escola Superior de Sade da Universidade de Aveiro (ESSUA). A UA no era demasiado longe de casa e radiologia aliava uma importante componente tecnolgica rea que sempre me interessou: a sade. De facto, embora no tenha sido a minha primeira opo no boletim de candidatura ao ensino superior, o curso excedeu as minhas expectativas. Tanto a direco, como os professores e at ns, alunos, estvamos empenhados em construir uma escola de sucesso e lanar bons profissionais para o mercado de trabalho. A UA, o seu excelente corpo docente e as amizades que fiz, marcaram a minha vida para sempre!.

    Em 2005 terminou a licenciatura e no ano seguinte foi aluno e monitor na ESSUA, onde concluiu o Curso de Formao Especializada em Ps-processamento avanado em imagens de TAC; um complemento importante matria leccionada na formao inicial em Radiologia, que, no que diz respeito ao processamento de imagem mdica, ainda hoje aprofunda no Mestrado em Engenharia Biomdica que frequenta na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.

    Formao parte, a carreira profissional de Bruno Figueiredo comeou ainda antes de ter terminado a licenciatura. Na altura no havia muitos tcnicos de radiologia formados pelas escolas de sade, cenrio que se alterou em dois anos, lembra, acrescentando que foi no Hospital de Santa Maria da Feira que iniciou o seu percurso profissional.

    Trs meses depois, surgia a oportunidade de integrar, com dois outros colegas, um servio que estava a abrir no Hospital de Gaia e que tinha acabado de adquirir o estado da arte em termos de Tomografia Axial Computorizada (TAC), dedicando-se apenas a fazer TAC cardaco. Neste hospital aprendi muito em termos clnicos e fiz muito

    ps-processamento avanado de imagem, como reconstrues tridimensionais do corao, anlise volumtrica vascular, entre outras. Pela novidade deste estudo pioneiro, que representa a tcnica mais avanada em TAC, assinmos vrias publicaes em conjunto com os mdicos do servio, revela.

    Em ambiente hospitalar, um licenciado em radiologia est apto a operar qualquer equipamento da rea da Radiologia, como Tomografia Computorizada (TC), Imagem por Ressonncia Magntica (IRM), Raios-X convencional, etc.. tambm capaz de realizar ps-processamento de imagem em exames de TC e IRM para auxiliar no diagnstico.

    Bruno Figueiredo esteve dois anos a exercer radiologia. Preparava os doentes para o exame, fazia a aquisio da imagem e depois realizava o ps-processamento para auxiliar o diagnstico e documentar o estudo. Trabalhar com tecnologia de ponta num ambiente clnico e, assim, contribuir para o diagnstico dos pacientes, gratificante, afirma, lembrando tambm a mais-valia que representou a experincia adquirida no Hospital de Gaia no que diz respeito ao modo de operar uma estao de trabalho de ps-processamento e reconstruo avanada de imagens mdicas.

    Na norte-americana TeraRecon comeou, entretanto, a trabalhar em part-time, dando apenas algum apoio no Brasil. S mais tarde, a empresa lhe props um contrato a tempo inteiro. Agora, ao servio desta empresa de vanguarda no desenvolvimento de software para a rea da reconstruo de imagem, Bruno Figueiredo desloca-se aos vrios pases da Europa e ao Brasil para ensinar novos utilizadores a operar o sistema. Em Portugal, visita os hospitais interessados em o adquirir. Para alm de me agradar bastante estar envolvido no processo de desenvolvimento das ferramentas de vanguarda que se usam na Radiologia, gosto de contactar com Mdicos e Tcnicos de outros pases e entender a realidade deles afirma.

    Sem esconder que sempre se interessou pela rea da indstria, Bruno Figueiredo arrisca dizer que, para alm do mercado natural as instituies de sade , as empresas de equipamentos mdicos podem ser uma boa alternativa de sada para os radiologistas. Cada vez mais, as empresas de equipamentos mdicos, como a Siemens, a Philips e outras contratam tcnicos de radiologia para este tipo de funes. Temos uma formao de base mais adequada a este tipo de funes, pois para alm de conhecermos o funcionamento dos equipamentos, temos tambm uma formao clnica importante, que nos permite entender melhor a aplicabilidade dos equipamentos explica, acrescentando, ainda, que um licenciado em Radiologia pode dar formao a futuros utilizadores, bem como auxiliar no planeamento e implementao desses equipamentos.

    Convencido de que no h qualquer receita mgica para o sucesso, Bruno Figueiredo defende, contudo, ser fundamental investir muito na formao e agarrar as oportunidades. , alis, isto mesmo que ele prprio pretende fazer. Para alm de terminar o Mestrado, no esconde a vontade de se envolver num centro de desenvolvimento de ferramentas avanadas para a imagem mdica. A Universidade de Aveiro deu-me uma ptima formao tecnolgica, requisito fundamental para estar apto a aceitar as novidades introduzidas na Radiologia e a tomar parte nelas.

  • dezembro 08Linhas 20

    terapia da falano h nada mais gratificante do que poder habilitar o outro a agir sobre o meio

    Tem competncias para trabalhar a comunicao, a linguagem

    (na sua vertente oral e escrita), a fala, a fluncia, a voz e at a

    alimentao/deglutio. Diana da Silva Lisboa, 24 anos, uma

    das primeiras licenciadas em Terapia da Fala pela Universidade de

    Aveiro. Concluiu o curso em 2007 e pouco depois ficou colocada

    no Agrupamento Vertical de Escolas de Cinfes, no distrito de

    Viseu, onde d apoio a crianas integradas em Unidades de Apoio

    Multideficincia. A par destas funes presta ainda servios em

    clnicas privadas perto de casa, em Santa Maria da Feira.dian

    a lis

    boa

    Linhas dezembro 08

  • 212020 21 percursos antigos alunos

    Imprevisvel! assim que Diana Lisboa qualifica a forma como acabou por se interessar por Terapia da Fala. Trabalhar na rea da Sade era a sua nica certeza e, no momento de concorrer Universidade, escolheu Farmcia. Entrou na Escola Superior de Tecnologias da Sade de Coimbra, fez o 1 ano mas, apesar da sua boa performance acadmica, no conseguia identificar-se com o curso. A sensao de insatisfao, aliada dificuldade em imaginar-se naquela profisso o resto da vida, f-la mudar para Terapia da Fala na Universidade de Aveiro, instituio que conhecia pelo prestgio pedaggico e institucional.

    As expectativas quanto a este novo curso eram muitas, mais ainda pela responsabilidade que acarretava uma opo de mudana de curso. Recordo-me das primeiras aulas e de como fiquei fascinada com o que me foi transmitido, pelo corpo docente, do que seria previsto eu fazer como terapeuta da fala. Mas foi ao longo do tempo e dos diversos estgios que realizei durante o curso que fui estando certa de que era esta a profisso que queria exercer, recorda, salientando as boas condies de estudo oferecidas pela Universidade de Aveiro, a disponibilidade e a excelncia dos seus professores. Ainda hoje me sinto vontade para colocar as minhas dvidas e inseguranas, para pedir ajuda e colaborao ou, simplesmente, para contar os sucessos e insucessos teraputicos a alguns docentes da UA.

    Concludos os trs primeiros anos do curso, na altura licenciatura bi-etpica, Diana Lisboa estava apta para exercer a profisso. Comeou a trabalhar como terapeuta da fala em clnicas privadas. J licenciada chegou a entrar no Mestrado em Cincias da Fala e da Audio, mas a candidatura, bem sucedida, s ofertas de escola, disponibilizadas pelo Ministrio da Educao, obrigaram-na a abandonar o mestrado e a optar por conciliar a colaborao em clnicas privadas com o trabalho no Agrupamento Vertical de Escolas de Cinfes (AVEC). aqui que integra uma equipa tcnica que exerce funes em Unidades de Apoio Multideficincia (UAM). Explica Diana Lisboa que a equipa presta servios em diversas UAM, numa extensa rea de abrangncia, apoiando crianas com multideficincia e, sempre que

    possvel, crianas sem multideficincia com necessidade de apoio teraputico. As UAM integram crianas com patologias diversas (perturbaes do espectro do autismo, deficincia auditiva, deficincia mental, paralisia cerebral, sndromes diversificados, Trissomia 21, entre outras), sendo a interveno teraputica (em mdia cinco vezes por ms) especfica para as capacidades e necessidades das mesmas. A informao de cada criana , ento, sistematizada nos relatrios teraputicos, facultados s docentes responsveis e anexados nos processos das crianas. Sempre que necessrio so efectuadas reunies multidisciplinares (com os encarregados de educao, docentes do ensino especial, entre outros), de forma a assegurar a partilha de informaes. Para alm disso, o AVEC possui um Centro de Recursos que permite explorar as tecnologias existentes, entre as quais as de apoio comunicao, aumentando o leque de opes de interveno com a populao-alvo.

    O trabalho em clnica privada bastante diferente. De acordo com Diana Lisboa, os servios de um Terapeuta da Fala, neste contexto, so, maioritariamente procurados por crianas em idade pr-escolar e escolar com perturbaes da fala e/ou da linguagem, seguidas das perturbaes da comunicao e linguagem em adultos e, em ltima instncia, problemas de voz.

    pelo facto dos Terapeutas da Fala terem um campo de interveno to extenso, com competncias para trabalhar as reas da comunicao, linguagem (na sua vertente oral e escrita), fala, fluncia, voz, alimentao/deglutio, entre outras, que estes profissionais sentem poder efectivamente contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos utentes, reduzindo as deficincias das estruturas e funes corporais, as limitaes da actividade, as restries da participao e outro tipo de barreiras.

    Creio que numa profisso em que trabalhamos com seres humanos, no h nada mais gratificante do que poder habilitar o outro a agir sobre o meio. Neste sentido, o Terapeuta da Fala faculta estratgias facilitadoras comunicao, isto , ferramentas que auxiliam o utente a interagir nas diversas oportunidades do seu quotidiano, diz Diana Lisboa,

    admitindo acreditar que a chave para o sucesso nesta rea passa por nunca baixar os braos, por mais complexa que a problemtica e/ou patologia sejam. Acima de tudo, devemos experimentar uma multiplicidade de tcnicas e estratgias a fim de alcanarmos os objectivos a que nos propomos. que, por vezes, encontramos agradveis surpresas onde menos esperamos.

    Com competncias para exercer funes em hospitais, centros de sade, centros de reabilitao, clnicas ou gabinetes privados, escolas, centros ou servios de sade ocupacionais, lares, centros de dia para idosos, termas, centros de educao ou investigao, Diana Lisboa aconselha os futuros profissionais a ingressarem no mercado de trabalho com uma atitude proactiva, de perseverana e de autoconfiana e cita a coordenadora do curso de Terapia da Fala: A Licenciatura em Terapia da Fala fornece-nos um kit bsico de sobrevivncia para o mercado de trabalho, acrescentando: Passa pelo tcnico, a continuidade do estudo, no sentido de se tornar um profissional competente. de resto, este aprofundar de conhecimentos que leva Diana Lisboa a planear ingressar num mestrado e, a longo prazo, num doutoramento.

    Realizada com o trabalho que desenvolve, Diana Lisboa no esquece, contudo, o papel que a Universidade de Aveiro desempenhou nos quatro anos em que fez parte da sua vida. Para alm de excelentes profissionais, os docentes da UA comportam um lado humano que permite aos alunos sentirem-se pessoas e no simplesmente alunos. Embora todos os professores tenham contribudo para me tornar na profissional que hoje sou, no posso esquecer a coordenadora do curso, a Terapeuta Isabel Monteiro, e a Terapeuta Assuno Matos. Recordo-me de como ficava fascinada a ouvir os seus sucessos profissionais e a forma como lidavam com os utentes. So os meus exemplos profissionais, as minhas mestres. Depois, tenho que referir o bom ambiente acadmico. Foi na UA que conheci algumas das minhas actuais melhores amigas, com as quais partilhei momentos nicos. Juntas estudamos para as disciplinas, elaboramos trabalhos pela noite fora, rimos e choramos juntas tanta coisa!

  • dezembro 08Linhas 22

    enfermagemos enfermeiros tm competncias que vo muito alm da prestao de cuidados directos populaoPedro Miguel Garcez Sardo, 25 anos, licenciou-se em Enfermagem

    na Escola Superior de Sade da Universidade de Aveiro e concluiu

    o Mestrado tambm em Enfermagem na Universidade Federal de

    Santa Catarina (Brasil), ao abrigo de um convnio entre estas duas

    Universidades. Como a maioria dos seus colegas, exerceu prtica

    clnica em instituies de sade mas recentemente assumiu um

    novo desafio: integrar a equipa de contedos clnicos da ALERT Life

    Sciences Computing, S.A. e desenvolver os Sistemas de Informao

    em Enfermagem.pedr

    o sa

    rdo

    Linhas dezembro 08

  • 232222 23 percursos antigos alunos

    Ciente de que a rea da sade era a que mais se adequava aos seus gostos e perfil, candidatou-se Universidade de Aveiro por se tratar de uma das mais dinmicas e inovadoras universidades do pas e por acreditar que a Escola Superior de Sade iria formar profissionais com competncias para actuarem em diferentes cenrios. O curso de Enfermagem rapidamente superou todas as suas expectativas, pela nfase dada ao trabalho em equipa, a troca de experincias significativas com colegas de outros cursos, a forte componente prtica e os ensinos clnicos realizados em vrias instituies de sade () a utilizao de novas tecnologias () para alm da relao estabelecida com os rgos de gesto e docentes da ESSUA explica Pedro Sardo, lembrando a importncia destes aspectos para a sua formao.

    Na sua passagem pela UA, Pedro Sardo no se limitou apenas a estudar Enfermagem. Foi representante do seu curso com assento no Frum Pedaggico Discente, no Conselho Pedaggico da ESSUA e no Conselho Pedaggico da UA e, ainda, representante da Associao Acadmica pela ESSUA com assento na Assembleia da UA. De facto, a UA possibilita que cada aluno desenvolva um manancial de actividades extra-curriculares de ndole associativa, acadmica, desportiva, entre outros. A Universidade foi uma segunda casa, onde fiz muitas amizades e onde conheci a minha namorada, tambm enfermeira e com um percurso acadmico e profissional muito semelhante ao meu, embora actualmente trabalhe ao nvel dos cuidados de sade primrios.

    Mal terminou o curso, em 2005, Pedro Sardo recebeu algumas propostas de emprego de instituies hospitalares. Na altura, as instituies de sade estavam a recrutar enfermeiros e os ensinos clnicos realizados em diferentes instituies de sade acabaram por dar alguma visibilidade ESSUA e aos seus alunos. Para alm disso, acrescenta: penso que a nota final do curso e os cargos desempenhados acabaram por enriquecer o meu currculo.

    Trabalhou como Enfermeiro Nvel I, no Hospital Reynaldo dos Santos (Vila Franca de Xira) e no Hospital Infante D. Pedro (Aveiro), at ao momento em que, ao abrigo de um convnio inter-institucional entre a UA e a Universidade Federal de Santa Catarina, foi para o Brasil frequentar o Programa de Ps-Graduao em Enfermagem.

    Durante esse perodo integrou o Grupo de Pesquisa em Tecnologias, Informaes e Informtica em Sade e Enfermagem e desenvolveu diversos trabalhos no mbito da Informtica em Sade e Enfermagem aplicada ao ensino, pesquisa e prpria prtica clnica.

    De regresso a Portugal, aps a defesa da dissertao sobre Aprendizagem Baseada em Problemas em Reanimao Cardio-Pulmonar no Ambiente Virtual de Aprendizagem MOODLE, ainda chegou a trabalhar na Administrao Regional de Sade do Norte, Centro de Sade de Campanh, mas a oportunidade para fazer parte da equipa de contedos clnicos da ALERT Life Sciences Computing, S.A. no tardou. Estou convencido que o trabalho que desenvolvi no mbito do Mestrado me abriu portas para este novo desafio, onde essencialmente lido com a rea dos Sistemas de Informao em Enfermagem, afirma.

    Com mais de 500 colaboradores, entre os quais se contam enfermeiros, farmacuticos, microbilogos, tcnicos de sade, designers, engenheiros, e gestores, entre outros, a ALERT Life Sciences Computing, S.A., sedeada em Gaia, a empresa me do grupo de empresas ALERT, dedicando-se inteiramente ao desenvolvimento, distribuio e implementao do software clnico ALERT, cujo objectivo consiste em criar ambientes clnicos totalmente isentos de papel. De acordo com Pedro Sardo, o software ALERT permite a introduo, em tempo real, de toda a informao clnica e uma aplicao em constante evoluo que visa, num futuro prximo, oferecer ferramentas de inteligncia artificial a todos os profissionais da rea da sade.

    Acredito que o desenvolvimento e utilizao dos Sistemas de Informao em Enfermagem iro facilitar o acesso e o registo da informao no processo clnico do utente, padronizar os registos de enfermagem, descrever e avaliar o impacto dos cuidados de enfermagem nos ganhos em sade das populaes e fomentar a enfermagem baseada na evidncia, declara.

    Para a Ordem dos Enfermeiros, a visibilidade dos cuidados de enfermagem nas estatsticas, nos indicadores e nos relatrios oficiais de sade, tem sido algo incipiente, no permitindo descrever nem verificar o impacto dos cuidados de enfermagem nos ganhos em sade das populaes. No entanto, utilizando software de Data Warehouse, passa a ser possvel analisar dados clnicos e financeiros e comparar os resultados obtidos entre instituies, avana Pedro Sardo, defendendo a necessidade de se garantir que os Sistemas de Informao em Sade integrem dados relativos aos Cuidados de Enfermagem.

    Este foi o principal desafio que me foi lanado quando ingressei na equipa de Sistemas de Informao de Enfermagem da ALERT, e como tal, considero que o meu trabalho pode contribuir significativamente para o desenvolvimento da Enfermagem a nvel Nacional e Internacional, admite.

    Convicto de que os enfermeiros tm competncias que vo muito alm da prestao de cuidados directos populao, Pedro Sardo destaca que os enfermeiros podem evoluir profissionalmente e contribuir para o desenvolvimento da Enfermagem, actuando em diversas reas.

  • dezembro 08Linhas 24

    gerontologiaos gerontlogos devem encarar o futuro com optimismo

    Cristina Maria Oliveira Barbosa, 23 anos, foi uma das 17 alunas da

    primeira Licenciatura em Gerontologia do pas. Concluiu o curso

    na Universidade de Aveiro em 2007 e, para alm do trabalho como

    gerontloga que actualmente exerce na Diviso de Aco Social da

    Cmara Municipal de Santa Maria da Feira, tem vindo a envolver-se

    em inmeros projectos relacionados com a populao snior. Tudo

    em prol do bem-estar das pessoas nesta fase das suas vidas.crist

    ina

    barb

    osa

    Linhas dezembro 08

  • 252424 25 percursos antigos alunos

    Quando chegou de Santa Maria da Feira Universidade de Aveiro, em 2003, no sabia ao certo o que a esperava. A Licenciatura bi-etpica em Gerontologia ia funcionar pela primeira vez em Portugal e pouco se ouvia falar deste ramo da cincia. Certo era que, ao gosto que tinha pelas cincias da sade, Cristina Barbosa ia somar a vontade de seguir uma profisso onde o relacionamento humano era o principal instrumento de trabalho e aliar, ainda, dois outros factores: estar a estudar prximo de casa e estar a faz-lo numa universidade que, partida, lhe garantia um ensino superior de qualidade. As dvidas iniciais dissiparam-se logo no estgio que todos os alunos dos cursos da Escola Superior de Sade realizavam em conjunto no 1 ano. Comparando com os restantes cursos, percebi logo que a Gerontologia me permitiria agir directamente com o idoso, mas de uma forma muito menos invasiva.

    Para alm das competncias adquiridas e das boas recordaes que guarda da cidade e da Universidade a unio da Academia Aveirense, apesar das vrias formaes que oferece e dos departamentos que integra, marcou-me! Cristina Barbosa levou consigo o passaporte para o mercado de trabalho. Um dos meus professores da UA convidou-me a colaborar na Unidade de Investigao sobre Adultos e Idosos (UnIFai) do Instituto de Cincias Biomdicas Abel Salazar, na Universidade do Porto. Aceitei e, desde ento, fui sempre dando o meu melhor em todos os projectos em que me envolvi na UnIFai.

    A par deste trabalho, de algumas aulas que deu ao curso de Mestrado em Gerontologia Social da Universidade Catlica (plo de Braga) e da participao, como oradora, em vrios seminrios, Cristina Barbosa vai desenvolvendo trabalho de campo e de anlise estatstica nos vrios projectos em curso noutras instituies. o caso do promovido pela Fundao para a Cincia e Tecnologia e Instituto Superior de Servio Social do Porto, intitulado Centros de dia como alternativa sobrecarga dos cuidadores e ao internamento dos idosos, ou ainda o do DIA da incapacidade actividade: o desafio do envelhecimento.Enquanto colaboradora do UnIFai, coordenou tambm a delineao dos

    contedos programticos do projecto de formao Metodologias e Instrumentos de Gesto de Equipamentos Gerontolgicos, ao mesmo tempo que foi co-autora do dossier tcnico Registos de Actuao de Auxiliares de Aco Directa em Equipamentos Gerontolgicos. Cristina Barbosa conta ainda no seu currculo com a apresentao de uma comunicao e submisso de um paper para a acta do 7 Congresso Nacional de Psicologia da Sade, no mbito do tema Desenho arquitectnico de equipamentos sociais para utentes com demncia.

    Foi j em 2008 que comeou a trabalhar como gerontloga na Cmara Municipal de Santa Maria da Feira, onde, entre outras funes, est a executar um projecto com vista implementao de medidas adjacentes ao Plano Estratgico para a Terceira Idade daquele Municpio. Este plano constitudo por vrios programas de interveno e neste momento encontro-me a colocar em aco o programa relativo promoo educativa e acesso sociedade do conhecimento pelas pessoas idosas do concelho, explica, acrescentando estar ainda envolvida, em articulao com os parceiros da Rede Social de Santa Maria da Feira, na construo de polticas de proximidade ajustadas ao pblico snior. Para alm disto, tem participado na organizao de eventos relacionados com a populao snior, como o Dia Metropolitano dos Avs, que contou com a participao de cerca de 7 mil avs da rea Metropolitana do Porto e desenvolvido trabalho no mbito da realizao de candidaturas que visam o incremento da qualidade de vida e bem-estar da populao snior e dos seus familiares.

    Cristina Barbosa considera que a disponibilidade em colaborar e agarrar todos os desafios que lhe foram surgindo tero, em muito, contribudo para desbloquear os entraves prprios de uma recm-licenciada numa rea inovadora e ainda desconhecida do pblico. O gerontlogo um especialista na rea do envelhecimento. O mercado necessita de tcnicos com esta formao que valorizem os pensamentos e os quereres do idoso, afirma Cristina Barbosa, lamentando o facto de muitas vezes, por desconhecimento, os gerontlogos

    serem associados a outras profisses e por isso mesmo, nalguns casos, desaproveitados.

    Para quem o fascinante da profisso est no poder ver bem-estar e actividade na populao snior, o sentido de realizao profissional chega quando contacta directamente com esta populao e seus familiares e percebe que estes entendem que consegue respeitar a sua maneira de pensar e sentir. Muitas vezes, a sociedade pensa que o idoso apenas quer carinho e ateno (por analogia s crianas), mas a minha realizao profissional processa-se a partir do momento que consigo fazer os outros entender que o idoso no um ser diferente, mas sim exactamente igual a cada um de ns! Que, sim, necessita de carinho e ateno, mas que isso todos ns, mais ou menos jovens, tambm procuramos exaustivamente.

    Apontando todas as instituies pblicas e privadas de cuidados de sade, de apoio social, apoio psicolgico, gabinetes de atendimento, espaos seniores, ou universidades da terceira idade, como as principais potenciais organizaes empregadoras de um gerontlogo, Cristina Barbosa explica que um profissional formado em Gerontologia est apto a desenvolver avaliao, interveno e estudo cientfico do fenmeno do envelhecimento humano e a prevenir os problemas pessoais e sociais a ele associado. O gerontlogo um profissional capaz de conhecer os processos biolgicos e anatomo-fisiolgicos do envelhecimento, permitindo reconhecer e detectar patologias e/ou sintomatologia associada a alteraes motoras, cognitivas ou outras. Detm ainda competncias ao nvel da interveno na promoo de um envelhecimento bem sucedido, diminuindo a probabilidade de doena e de incapacidade, mantendo os sujeitos com elevada capacidade cognitiva e funcional e fomentando o envolvimento activo com a vida e o equilbrio psico-afectivo, afirma.

    Cristina Barbosa acredita que os gerontlogos devem encarar o futuro com optimismo. A sociedade precisa de ns e importante que cada Gerontlogo faa do profissionalismo a imagem de marca da nossa classe.

  • 26 2726dezembro 08Linhas

    projecto

    qumicos da ua transformam resduos alimentares em produtos benfi cos para a sade e bem-estarUma das mais recentes spin-off criadas na UA, a iFoodTech

    Technological Ingredients for Food, est a analisar as potencialidades

    de alguns resduos agro-alimentares, como o resduo do caf e da

    uva, para a produo de novos produtos com valor acrescentado.

    Produzidos com tecnologia no poluente, na Unidade de Investigao

    de Qumica Orgnica de Produtos Naturais e Agro-alimentares

    da UA, os novos ingredientes extrados destas matrias-primas

    que apresentam baixo valor, podero ter aplicaes em produtos

    benfi cos para a sade e bem-estar.

    Com os conhecimentos adquiridos no Curso de Empreendedorismo de Base Tecnolgica, promovido pela Unidade de Transferncia de Tecnologia da UA (UAtec), em 2007, um grupo de quatro pessoas, duas das quais investigadoras na UA, est em vias de transformar o plano de negcios apresentado durante a iniciativa em projecto empresarial. Em formato de spin-off, a iFoodTech Technological Ingredients for Food, como foi designada desde a fase inicial do curso, apresenta como mais-valia diferenciadora a proximidade de relacionamento com a universidade, permitindo aplicar o desenvolvimento cientfi co que uma universidade pode proporcionar na elaborao de novos produtos.

    Aproveitando os conhecimentos cientfi cos da equipa de investigadores da UA, ser possvel desenvolver metodologias que permitam extrair de modo selectivo compostos alimentares e dar-lhes novas aplicaes, como por exemplo, tornar os alimentos mais saudveis, como explica o investigador responsvel, Prof. Manuel Antnio Coimbra.

    O nosso objectivo passar por identifi car fontes ricas de compostos naturais que facilmente se podem incluir em diversos gneros de alimentos (os nutracuticos), extra-los e dar-lhes novas aplicaes. H diferentes propriedades que os qumicos e bioqumicos podem explorar para fazer

    IFoodTechIFoodTech

    Linhas dezembro 08

  • dezembro 08Linhas 26 2726

    Universidade de Aveiro entre as

    50 universidades Europeias com

    melhor desempenho cientfi co em

    Engenharia e Tecnologia

    Este o resultado do ranking de 2008,

    elaborado pelo Conselho para a Avaliao e

    Acreditao do Ensino Superior de Taiwan

    (HEEACT), e que se vem juntar a outros

    indicadores nacionais e internacionais que

    colocam a Universidade de Aveiro em

    posio de destaque em matria de

    investigao cientfi ca.

    O ranking do HEEACT engloba

    universidades de todo o mundo e

    baseado em indicadores de produo

    cientfi ca (nmero de artigos presentes

    em bases internacionais de referncia),

    de impacto da investigao (citaes dos

    artigos por outros investigadores) e de

    excelncia (artigos includos no 1% dos

    artigos mais citados e artigos publicados

    nas revistas de maior impacto). Para a

    edio de 2008 foram consideradas as

    publicaes efectuadas desde 1997.

    Considerando que existem diferenas

    signifi cativas entre as diversas reas do

    conhecimento, ao nvel da publicao

    cientfi ca, o HEEACT introduziu este ano

    rankings por rea, apresentando as 300

    universidades com melhor desempenho nas

    reas de Agricultura e Cincias do Ambiente,

    Medicina, Engenharia e Tecnologia, Cincias

    da Vida, Cincias Naturais e Cincias Sociais.

    A Universidade de Aveiro ocupa o 49

    lugar entre as universidades do continente

    europeu, e o 171 lugar no ranking mundial,

    no domnio da Engenharia e Tecnologia.

    Pgina ofi cial: http://ranking.heeact.edu.tw

    face a futuras aplicaes. esta a premissa para a criao desta empresa de base tecnolgica: aplicarmos o conhecimento cientfi co aos requisitos exigidos pelos potenciais clientes.

    Com o apoio da UAtec, a marca j foi registada, estando agora numa fase de prova do conceito. Neste momento, os investigadores esto a submeter a experincias o resduo de caf e, num futuro muito prximo, tambm o da uva. No caso do caf, esperam extrair polissacardeos com propriedades de fi bra diettica e de estimulao imunolgica. No caso da uva, as substncias a extrair tero actividade antioxidante e anti-bacteriana. No entanto, como refere o investigador, as possibilidades de outras aplicaes e de utilizao de outros compostos em outros tipos de resduos so imensas.

    Segundo o conceito desta empresa passa por ser o potencial cliente a defi nir em que que quer incorporar estes compostos. Perante o desafi o, seremos ns, os investigadores, a propor as estratgias que levem s transformaes necessrias para se desenvolver um produto com determinadas caractersticas que permita a incorporao de um dado ingrediente num alimento. Por exemplo, em relao s fi bras, se pretendermos integr-las em gua ou em bebidas aquosas lmpidas, todas elas tm que ser solveis em gua. No entanto, se for para as incorporar em bolachas, as fi bras j no necessitam de ser solveis. A nossa funo adaptar os compostos s fi nalidades pretendidas.

    Depois deste trabalho laboratorial que pretende, ao mesmo tempo, descobrir que quantidades que se consegue obter para que a sua comercializao seja exequvel enquanto ingrediente alimentar e de que forma que se pode optimizar o processo, simplifi cando os passos e aumentando o rendimento, segue-se a fase de criao da empresa uma unidade industrial para produo e comercializao dos novos ingredientes alimentares.

    O primeiro prmio que obtiveram no concurso Melhor Ideia de Negcio, promovido, em 2007, pelo Conselho Empresarial do Centro (CEC), uma prova inequvoca de que esto no bom caminho e que podem num futuro prximo contribuir para a afi rmao da Regio Centro gerando riqueza atravs da inovao. Porm, as mais-valias deste projecto no se fi cam por aqui. Como acrescentou o Professor, esta uma excelente via de incentivo ao empreendedorismo. O curso permitiu-nos conhecer diversas formas de ajudar os nossos alunos a integrarem-se melhor no mercado de trabalho; este projecto j um primeiro passo. O empreendedorismo cada vez mais o meio privilegiado de entrar no mercado de trabalho. Alm disso, exigido cada vez mais aos diplomados que sejam eles a introduzir novas ideias no meio empresarial. Procuramos transmitir com esta iniciativa esta aplicabilidade dos conhecimentos que se adquirem na universidade.

    Scios-fundadores

    Manuel Antnio Coimbra

    Elisabete Coelho

    Filipe Godinho

    Paulo Couto Ferreira

    projecto iFoodTech

  • dezembro 08Linhas 28 2928

    Como explicita Ricardo Abreu, da equipa do IT, este projecto tornar possvel que cada veculo se transforme num n de uma infra-estrutura de telecomunicaes, na qual participar tambm a prpria estrada, para os mais variados fins. Actualmente, est a funcionar uma infra-estrutura de telecomunicaes estrada-automvel, a via verde tradicional, utilizada essencialmente na identificao e na taxao. A partir desta pretendemos evoluir para um esquema de comunicao de carro para carro (V2V) e de carro para infra-estrutura (V2I) que permita emisso de avisos de segurana (acidentes, percursos perigosos, manobras perigosas), gesto de trfego (vias congestionadas, vias alternativas) e outros mais generalizados (obras na via, condies meteorolgicas...).

    Neste momento, o projecto est em fase de construo de prottipos, abrangendo um conjunto de possveis cenrios. Quando um veculo se depara com uma situao de risco, como uma travagem brusca numa curva por causa de engarrafamentos, uma mudana de faixa violenta ou outras situaes que no so acidentes consumados mas que apresentam perigo potencial, emite uma mensagem para todos os utilizadores da via num raio tipicamente de 1 km podendo os condutores desses veculos ser alertados atravs de um sinal 28

    Situaes de perigo potencial,

    como obstculos, zonas de

    fraca visibilidade, lenis

    de gua, entre outros, que

    originam, frequentemente,

    acidentes isolados ou em

    cadeia em vias rpidas

    podem ser evitados se os

    condutores forem avisados

    antecipadamente, podendo

    tomar as medidas de preveno

    adequadas. O Instituto de

    Telecomunicaes plo de

    Aveiro (IT) e o Instituto Superior

    de Engenharia de Lisboa (ISEL),

    sob coordenao da BRISA,

    esto a desenvolver um sistema

    de comunicaes que permite

    avisar os condutores em tempo

    til, atravs da transmisso

    automtica de mensagens

    de alerta e de socorro,

    independentemente da distncia

    e velocidade.

    Todos os dias nos chegam a casa notcias de acidentes rodovirios e todos os anos elevado o nmero de pessoas que morrem e que ficam feridas em acidentes automobilsticos em todo o mundo. verdade que o aumento do nvel de segurana dos carros ao longo do tempo e as vrias campanhas de preveno rodoviria tm sido capazes de reduzir uma percentagem de acidentes, mas o Instituto de Telecomunicaes de Aveiro, em parceria com a BRISA e o ISEL, prope um novo sistema de segurana automvel que promete ser uma mais-valia para o decrscimo de sinistros.

    Para alm do actual sistema de comunicaes entre o veculo e a infra-estrutura, que a Via Verde j incorpora, a equipa de investigadores est a estudar a integrao de uma vertente de comunicao entre veculos, oferecendo, ao mesmo tempo, um conjunto de servios que vai muito mais alm do que a simples identificao e taxao. Para tal e com recursos s potencialidades da telemtica rodoviria, o novo dispositivo ser apetrechado com uma maior capacidade de recepo e transmisso de informao que facilite a comunicao rodoviria de dados em tempo real, independentemente da sua distncia e velocidade.

    Linhas dezembro 08

    IT parceiro no

    desenvolvimento de um

    inovador sistema de

    segurana automvel

    IT parceiro no

    desenvolvimento de um

    inovador sistema de

    segurana automvel

  • dezembro 08Linhas 28 2928

    Artigo do Laboratrio CICECO distinguido com Hot PaperCientistas do Laboratrio Associado CICECO viram mais um dos seus artigos publicados o ano passado na revista Chemistry of Materials da American Chemical Society ser distinguido como Hot Paper pela Thomson Scientifi c (ISI) Essential Science Indicators. A investigao em causa, inteiramente realizada na Universidade de Aveiro, descreve uma nova famlia de materiais lamelares hbridos fotoluminescentes contendo lantandeos e cidos polifosfnicos e abre portas a uma nova metodologia de elucidao estrutural de polmeros de coordenao microcristalinos.Os polmeros de coordenao, conhecidos desde os incios dos anos 90, so normalmente sintetizados na forma de cristais com tamanho adequado (fraco de milmetro) determinao da sua estrutura por mtodos de difraco de raios-X de mono-cristal. Quando os cristais so mais pequenos (amostras policristalinas), tal como acontece no caso do presente material lamelar hbrido, a resoluo estrutural muito mais difcil. Como refere o investigador Filipe Almeida Paz, autor correspondente do trabalho publicado no Chemistry of Materials, s a combinao de dados provenientes de vrias tcnicas permitiu deslindar o mistrio estrutural deste sistema. De certa maneira, pode comparar-se este trabalho montagem de um puzzle: dados de raios-X de ps de sincrotro colectados em Grenoble deram-nos uma viso geral da distribuio atmica, mas s os estudos de ressonncia magntica nuclear do estado slido permitiram localizar inequivocamente os tomos de hidrognio; por outro lado, os estudos fotofsicos revelaram a presena de um material fotoluminescente. O trabalho de investigao, desenvolvido ao longo de cerca de um ano e meio, foi fi nanciado pela Fundao para a Cincia e Tecnologia tendo sido j apresentado em vrias reunies cientfi cas internacionais e semelhantes que, para alm das propriedades de fotoluminescncia, podem tambm ser utilizados como catalisadores, refere o investigador responsvel como uma perspectiva para o trabalho futuro.

    luminoso, informao sonora ou informao num ecr. A mensagem fi ca em emisso contnua para que mesmo no existindo veculos a essa distncia, estes a venham a receber assim que a alcanarem.

    O sistema permite ainda que, ao receberem uma mensagem de alerta, os veculos possam retransmitir automaticamente outra mensagem para os utilizadores a outros tantos km. O veculo no ser apenas receptor dessa mensagem mas poder ser tambm um retransmissor, dando assim maior alcance rede de comunicaes. Ao mesmo tempo que ocorre a comunicao entre veculos poder ocorrer tambm, caso esteja presente um receptor da infra-estrutura, uma comunicao para o operador da via ou para outras entidades relacionadas com a segurana ou servios de emergncia.

    O primeiro prottipo dever ser apresentado em 2009, estando j a decorrer alguns testes preliminares. Esta tecnologia dever ser compatvel com normas quer europeias quer dos EUA.

    primeiroprottipo em 2009

    Ficha Tcnica

    Parceiros

    Instituto de Telecomunicaes /

    Universidade de Aveiro

    Brisa

    Instituto Superior de Engenharia de Lisboa

    Equipa de investigao (UA/IT)

    Joo Nuno Matos

    Jos Alberto Fonseca

    Ricardo Abreu

    Pedro do Mar

    Nuno Ferreira

    Tiago Meireles

    28 29 inovador sistema de segurana automvel

  • 30 3130dezembro 08Linhas

    As pilhas de combustvel so

    apontadas como uma das mais

    promissoras tecnologias de

    energia limpa capaz de enfrentar

    a ameaa das alteraes

    climticas e do esgotamento dos

    combustveis fsseis. Tendo em

    vista a optimizao do processo

    de fabrico do hidrognio

    necessrio para as abastecer,

    atravs da rentabilizao dos

    combustveis fsseis, uma equipa

    de investigadores do Centro

    de Investigao em Materiais

    Cermicos e Compsitos

    (CICECO) est a estudar um novo

    mtodo de obter hidrognio a

    partir do gs natural.

    J h duas dcadas que a UA tem vindo a desenvolver investigao na rea das pilhas de combustvel a altas temperaturas. A vantagem da realizao dos processos a altas temperaturas que se tornam mais efi cientes e mais rpidos. O objectivo passa por integrar processos de produo de hidrognio para alimentar a pilha e optimiz-la para que se possa utilizar em aplicaes mveis ou sem ligao rede elctrica.

    Como refere o investigador responsvel pelo projecto, Jorge Frade, o mvel a vertente mais delicada e a que est a colocar mais desafi os. Embora a tecnologia das baterias de ltio esteja numa fase mais avanada de desenvolvimento, em termos de aplicaes mveis, ainda apresenta um problema por resolver: a logstica. O hidrognio surge como uma alternativa, no como combustvel propriamente dito, mas como fonte de energia para pilhas de combustvel, utilizveis no carro elctrico, apresentando como vantagem o facto de apenas dar origem a vapor de gua, uma substncia incua.

    A pilha produz electricidade a partir do hidrognio, fazendo-o reagir com o oxignio do ar, para dar origem gua. O ciclo pode fi car completo quando essa gua volta

    a ser decomposta em oxignio e hidrognio, num sistema circular, como explica o investigador. Existe uma ideia pr-concebida de que a produo do hidrognio a soluo para tudo. No entanto, o hidrognio apresenta duas grandes limitaes: a sua produo e o seu armazenamento. O processo no simples e apresenta grandes difi culdades, uma vez que contrariamente aos outros combustveis, o hidrognio no existe espontaneamente na natureza.

    Neste sentido, os investigadores tm vindo a desenvolver o conceito de produo de hidrognio a altas temperaturas com integrao de outros combustveis nesse processo, rentabilizando, desta forma, os combustveis fsseis existentes e o biogs enquanto energia renovvel. Alternativamente, necessrio proceder electrlise. Os estudos pretendem a produo efi ciente de hidrognio com maior incorporao de calor, atravs da electrlise de alta temperatura, aproveitando, desta forma, o calor desperdiado por outras tecnologias.

    A electrlise consome energia e uma fraco signifi cativa de calor, o que quer dizer que, se houver uma tecnologia que produza calor como sub-produto, esse calor pode ser utilizado na electrlise. Portanto,

    em estudo no ciceco

    obteno de hidrognioa partir de gs natural

    Linhas dezembro 08

  • dezembro 08Linhas 30 3130

    Investigao da UA em destaque no Physorg.comNo passado ms de Junho, o Physorg.com, jornal online que d conta das ltimas novidades em cincia e tecnologia, deu destaque a um artigo de uma equipa da Universidade de Aveiro para publicao no breaking news. Joana Miguns, doutoranda no Departamento de Economia Gesto e Engenharia Industrial, e Jos Mendes, Professor Catedrtico do Departamento de Fsica, apresentam os primeiros resultados de uma investigao realizada sobre a modelao da rede mundial de chegadas e partidas de turistas do ano de 2004.De acordo com a Organizao Mundial de Turismo (OMT), em 2004 foram registadas cerca de 763 milhes de chegadas de turistas em 208 pases e territrios, prevendo que em 2020 atinja os 1.6 bilies, sendo, por isso, o turismo um dos sectores econmicos com maior crescimento, responsvel por cerca de 10% do produto interno bruto a nvel mundial. Saber quais as ligaes preferenciais que tornam os destinos mais ou menos populares foi o objectivo a que se propuseram os investigadores da UA, que, a partir de um estudo realizado atravs de uma modelao da rede mundial de chegadas e partidas de turistas do ano de 2004, revelam informao sobre o comportamento humano que pode infl uenciar e ajudar a compreender o cruzamento de culturas e fl uxos de riqueza.A partir desta modelao de ligaes da rede entre pases e da chegada de turistas de um pas para outro, direccionada porque a ligao tem sentido e com pesos porque as ligaes so mais fortes com o aumento do nmero de turistas, os especialistas concluem que a rede fortemente direccionada. Se h turistas de um pas para outro, s h 25% de hiptese que o segundo pas tambm tenha turistas para o primeiro. Apesar de haver um grande nmero de turistas, a densidade global da rede mais baixa do que o esperado. Cerca de 60% dos pases no esto ligados, ou seja, no partilham turistas.Outra caracterstica interessante desta anlise, segundo Jos Mendes e Joana Miguns, que de certa forma, o comportamento caracterstico de redes econmicas, e no de redes sociais como esperado. Nesta rede, pases com nmero elevado de ligaes (mais populares) tm mais tendncia para se ligar com pases com um nmero reduzido de ligaes (menos populares). Este comportamento semelhante com o encontrado em redes econmicas e de transporte, nas quais os ns considerados hubs (centrais) tm muitas ligaes de ns perifricos.

    obteno de hidrognio a partir de gs natural30 31

    quanto mais calor eu puder utilizar melhor porque eventualmente posso utilizar uma fraco muito mais elevada de calor e uma muito menor de electricidade, salientou o Professor Jorge Frade.

    Pretende-se aumentar o rendimento, no excluindo as energias fsseis mas rentabilizando-as. Neste sentido, os invvestigadores da UA esto neste momento a aperfeioar materiais e sistemas de converso do metano do gs natural numa mistura de gases rica em hidrognio, para depois separ-lo.

    Dentro de dois anos, o grupo de investigao Materiais para sistemas de energia do Laboratrio Associado CICECO, pioneiro a desenvolver trabalho na rea das altas temperaturas, pretende que a converso imediata do metano do gs natural em hidrognio seja uma realidade.

    fonte de energia mais limpa

  • dezembro 08Linhas 32 3332

    Um grupo de cinco investigadores da UA pretende implementar

    uma linha de produo de quitosano e seus derivados utilizando

    excedentes da indstria de processamento de cefalpodes e

    crustceos marinhos como matria-prima. A ideia de negcio

    desenvolvida assenta na produo de biopolmeros e derivados

    funcionais a partir de biomassa excedente de outros processos

    industriais e actualmente desperdiada.

    investigadores produzem

    O projecto, denominado BioF Functional Biopolymers, resultou da investigao em curso realizada no Departamento de Qumi