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Revista Memória e Linguagens Culturais Revista Memória e Linguagens Culturais Revista Memória e Linguagens Culturais Ano 1 - Nº 3 - 2013 M O B I L I D A D E S C U L T U R A I S

Revista Memória e Linguagens Culturais - Ano 1 - Nº 3 - 2013

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As sociedades contemporâneas são profundamente marcadas por toda sorte de mobilidades, que ocorrem no espaço e no tempo, através de deslocamentos, de movimentos migratórios, de diásporas e exílios muitas vezes traumáticos causados por guerras, conquistas, disputas territoriais ou necessidades de buscar novos mercados ou novas paisagens culturais...

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Revista Memóriae

Linguagens Culturais

Revista Memóriae

Linguagens Culturais

Revista Memóriae

Linguagens Culturais

Ano 1 - Nº 3 - 2013

M

OBILIDADES

CULTURAIS

Page 2: Revista Memória e Linguagens Culturais - Ano 1 - Nº 3 - 2013

Programa de Pós-Graduação em

Memória Social e Bens Culturais

Equipe de Produção deste número:

Coordenadores Profa. Dra. Zilá Bernd

Profa. Dra. Luciana Éboli

Redatores Alunos da Disciplina de Mobilidades

Culturais - 2012/2

Revisão, Arte, Diagramação Anajara Carbonell Closs

Foto da Capa Luciano Lunkes

Page 3: Revista Memória e Linguagens Culturais - Ano 1 - Nº 3 - 2013

s sociedades contemporâneas são profundamente marcadas por toda sorte de Amobilidades, que ocorrem no espaço e no tempo, através de deslocamentos, de movimentos migratórios, de diásporas e exílios muitas vezes traumáticos causados por guerras, conquistas, disputas territoriais ou necessidades de buscar novos mercados ou novas paisagens culturais.

sses trânsitos e passagens migratórias trazem importantes consequências Eeconômicas, linguísticas e culturais, fazendo surgir novas culturas e literaturas que vêm sendo por alguns denominadas de “migrantes” e, por outros, de trans-nacionais, por atravessarem fronteiras e espaços geopoéticos. Característica marcante dessas literaturas, que apresentam dois horizontes culturais distintos (o do país de origem dos escritores e o do país de eleição para viverem): seu caráter necessariamente híbrido e heterogêneo.

mesma dicotomia amplia-se aos demais campos culturais das sociedades Acontemporâneas, nas quais novos arranjos e possibilidades sociais traduzem as conseqüências das mobilidades e hibridações, confrontam identidades e propõem novos espaços de cultura. Dessa forma, os textos que aqui se apresentam são resultados da análise dessas consequências, nos mais variados aspectos da sociedade: nas questões de Exílio, Nomadismo e Sincretismo Religioso; nos exemplos de Mobilidades; nas Multi, Inter-culturalidades e na Transculturação.

djacentes a esse universo das Mobilidades Culturais, as questões de identidade Aapontam para a multiplicidade de significações e representações culturais, nas quais o processo de identificação dos sujeitos participantes torna-se provisório e variável. A identidade, nas palavras de Stuart Hall, torna-se uma 'celebração móvel' que transforma continuamente suas representações, através dos sistemas culturais e dos deslocamentos.

presente número da Revista Memória e Linguagens Culturais traz importante reflexão Osobre diversas formas de mobilidade transcultural, pontuadas por processos contemporâneos de diásporas, migrâncias e nomadismos – temas fundamentais para entender as aceleradas transformações sociais tão características deste século XXI.

Professoras da disciplina: Mobilidades Culturais

Zilá Bernd

Professora e orientadora do PPG-Letras/UFRGS, do Mestrado em Memória Social e Bens Culturais do Unilasalle. Bolsista PQ/Cnpq. Autora de vários livros nas áreas de literatura e cultura afro-brasileiras, literaturas da francofonia, relações literárias inter-e trans-americanas.

Luciana Éboli

Graduada em Artes Cênicas - UFRGS, Mestre e Doutora em Letras - PUCRS. Professora Permanente do Mestrado em Memória Social e Bens Culturais do Unilasalle/Canoas.

Editorial

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1 – Nomadismo: uma reflexão sobre a figura do malandro........05Hirã Soares Justo

2 – O exílio no exílio de Emeric....................................................09Anajara Carbonell Closs, Helenice Christaldo e Miguel Ângelo Ribeiro

3 – Fronteiras dos espíritos na África Central.............................13Rosângela Gomes da Silva

4 – Mobilidade acadêmica: vivência mexicana em Canoas.......17Jacira Gil Bernardes e Elianara Corcini Lima

5 – Transculturação: o movimento Hip-Hop em questão...........21João Bosco Torres Santos, Luciano Lunkes e Raquel Gabriela Willms

6 – Multi e inter – culturalidade: Canadá e Quebec.....................26Fabiana Pereira Rosa e José Carlos Walter

Sumário

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m seu texto "Entre o passado e o Efuturo", a filósofa alemã, Arendt

(1972, p.41) afirmava "Meu pressuposto é

que o pensamento emerge de incidentes

da experiência viva e a eles deve

permanecer ligado, já que são os únicos

marcos por onde pode obter orientação."

É um desses pequenos fragmentos da

vida que este texto pretende colocar em

discussão: a figura do Malandro e o papel

que ele representa no imaginário

brasileiro, em especial nas grandes

metrópoles ligando-o ao conceito de

nomadismo definido por Maffesoli (2001)

que atr ibui a esses personagens

nômades, a função social de construção

de vanguardas culturais que impulsionam

a vida de todos os povos.

esses elementos extraídos de Dnossas experiências, temos que

destacar também o papel dos símbolos

que possuem o sentido que os homens

vão redescobrindo, sendo desvelados

pe la cr í t ica e pe la mani fes tação

intelectual humana. Ricoeur (1978)

argumenta que toda estrutura de

significação tem um sentido direto,

primeiro, literal que designa, e por

acréscimo, outro sentido indireto,

secundário, figurado, que só pode ser

aprendido através do primeiro.

imag iná r i o b ras i l e i r o es tá Opermeado de do is s ímbolos

tradicionais: o trabalhador, conhecido

como “Mané” ou “Caxias” e o seu contra-

ponto o Malandro, o “esperto”, tantas

vezes retratado, nas peças culturais

populares, na música, na poesia, no

teatro, na literatura, no cinema e em

diversas outras manifestações sociais da

memória coletiva, inclusive nas religiões

de matriz afrodescendentes.

percorrendo os muitos caminhos Ptraçados pelo malandro na memória

do povo brasileiro, principalmente no

imaginário daqueles trabalhadores de

or igem humi lde e desfavorecidos

socialmente, vamos encontrá-lo como

descrito, poeticamente, por Zé Keti na sua

música “Diz que fui por ai”: “em qualquer

esquina eu paro, em qualquer botequim

eu entro, e seu houver motivo é mais um

samba que faço...”.

Nomadismo: uma reflexão sobre a figura do malandro

Zé Pelintra

Page 6: Revista Memória e Linguagens Culturais - Ano 1 - Nº 3 - 2013

o indivíduo tende se mais conservador,

estático, comedido. Na rua, por outro

lado, aceita que todos devem ser tratados

de forma igual, de modo a manter a ordem

que teme não existir na rua.

contraste entre os dois conceitos é Oclaro: a casa é o espaço da família,

do diálogo, da afetividade. A rua é o

e s p a ç o d a i m p e s s o a l i d a d e , d o

isolamento. A casa é o espaço da ordem

enquanto a rua o reino da liberdade. A

casa, sobretudo, fala de relações

harmoniosas e quando “somos postos

para fora de casa”, acabamos por

relacionar a rua como expulsos para o

mundo - regidos por regras e leis

impessoais que estamos submetidos a

cumprir. A rua e seus espaços são lugares

do anonimato, da “consequência dos

seus atos” e por isso, tendemos a

relacioná-la a um espaço de risco.

laro, temos casos onde a casa Cinvade a rua e vice-versa. Onde a

ordem é substituída por outras lógicas

como é o caso do Carnaval, do Bumba

Meu Boi, dos Festejos Juninos e de tantas

outras festas populares, onde o coletivo e

o privado fazem trocas e formam novos

comportamentos e atitudes.

affessoli (2001) vai contribuir para Ma discussão da articulação da

figura do malandro, do vagabundo, do

errante ao contrapô-los à referência

do homem fixo, preso a um

determinado espaço. No contraditório

nomadismo—sedentarismo se expressa

um paroxismo, ganhando a forma de

u m a e s p é c i e d e " e n r a i z a m e n t o

dinâmico". É um sinal do sentimento

trágico da existência: nada finda numa

superação sintética, tudo transcorre em

tensão, na incompletude permanente. E,

segundo esse autor, "ainda será preciso

que os dois polos dessa ambivalência

possam se articular harmoniosamente".

Tendo se tornado preponderante na

modern idade, o sedentar ismo, a

territorialização individual (identidade) ou

social (instituição) estariam dando lugar

ao nomadismo e à errância. A pós-

modernidade se caracterizaria assim,

entre outras coisas, pela mobilidade e

pelo nomadismo. Maffesoli acredita que a

errância e o nomadismo, sob diversas

variações, tornam-se um fato cada vez

mais evidente e semeiam os elementos

da contradição que farão nascer o novo, o

inesperado e o coletivo.

“quando ‘somos postos

para fora de casa’,

acabamos por relacionar a

rua como expulsos para o

mundo”

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o nosso malandro? Errante, avesso Eà ordem, libertário, representação

de muitos anseios humanos, não é esse

profeta que anuncia uma nova era, de

novos valores? Não é na rua onde pulsa

a vida, que se manifesta a contradição e

tenciona a construção de uma nova

síntese?

os ritos africanos vamos encontrá-Nlo na figura do seu “Zé”, de muitos

nomes: Zé Pelintra, Zé Malandrinho, Seu

Malandro, Malandro das Almas, Zé da

Brilhantina, Malandro da Madrugada, Zé

Malandro, Zé Pretinho, Zé da Navalha, Zé

do Morro, Malandro Miguel, Malandro da

Noite, e tantos outros. Apresenta-se

também nas representações femininas

da malandragem - Maria Navalha é uma

delas. Manifesta-se com características

semelhantes aos malandros, dança,

samba, bebe e fuma da mesma maneira.

Apesar do aspecto forte e decidido,

demonstram sempre muita feminilidade,

são vaidosas, gostam de presentes

boni tos, de flores pr inc ipalmente

vermelhas. Segundo a crença popular,

Maria Navalha recebeu a missão de voltar

à terra para defender as mulheres traídas

e mal amadas.

xaminando as cantigas, de tradição Eoral, entoadas para essas entidades

para a sua manifestação vemos como

recorrentes as expressões de aversão ao

trabalho “Trabalhar, trabalhar para quê?

Se eu trabalhar eu vou morrer” - como

neste “ponto” de Zé Pelintra. O uso de

armas brancas: punhal, navalha, faca e o

uso de golpes de capoeira, a bebida em

excesso e a noite como substituta do dia,

a rua em contraposição ao lar, todos

elementos de profundo significado

sociológicos.

m tipo boêmio, errante, avesso às Uregras estabelecidas, amigo dos

amigos, implacável com os desafetos,

sempre disposto a cometer pequenos

delitos para ganhar a vida em mais um dia

que passa. Para o malandro não existe

futuro, vive o seu cotidiano como se fosse

tudo que possuísse. Não que não se

vanglorie de um que outro feito do

passado, de um otário vencido ou de uma

mulher conquistada. Al iás, a vida

romântica para ele é tão sem regras como

seu código de conduta: bebe, chora,

perdoa, mata e morre por seus amores.

Apresenta uma vestimenta particular,

terno branco, camisa listrada, sapato de

duas cores, chapéu e às vezes um

canivete no cinto e uma navalha no bolso.

“Trabalhar, trabalhar

para quê? Se eu

trabalhar eu vou

morrer”

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antropólogo DaMatta (1981) Ocoloca os tipos do malandro e do

caxias (em alusão ao patrono do exército

brasileiro) em um continuum que vai da

ordem à desordem ainda que com

diversos matizes coloridos que vão se

estabelecendo em uma complexidade

que vai do mundo do carnaval a

malandros e heróis.

m outra obra, Da Matta (1997) Eassinala as diferenças entre a casa

e a rua como espaços muito além dos

físicos, conceitos muito mais amplos e

repletos de significados. Afirma que o

conjunto de valores de um indivíduo varia

radicalmente conforme o contexto em que

ele se encontra: no ambiente de sua casa,

REFERÊNCIAS

ARENDT, HANNAH. Entre o passado e o

futuro. São Paulo: Editora Perspectiva,

1972.

DAMATTA, Robe r to . Carnava i s ,

malandros e heróis: para uma sociologia

de dilema brasileiro. Rio de Janeiro:

Zahar, 1981.

_______. A casa e a rua: Espaço,

cidadania, mulher e morte no Brasil. Rio

de Janeiro: Rocco, 1997.

M A F F E S O L I , M i c h e l . S o b r e o

Nomadismo: vagabundagens pós-

modernas, Rio de Janeiro: Record, 2001.

RICOEUR, Paul . O confl i to das

interpretações. Rio de Janeiro: Imago,

1978.

XANGO, C. Malandros. Acesso em 30 de

10 de 2012, disponível no blog da Casa de

Caridade Pai Joaquim de Angola:

http://casadecaridadepaiserafim.blogspo

t.com.br/2008/10/malandros-nesta-

apostila-vamos-falar-de.html

Autor:

Hirã Soares Justo

MBA em Marketing - UCS Especialista em Gestão PUC/RS Especialista em Ges tão de Pessoas - FTC/BA . Mestrando em Memória Social e Bens Culturais - UNILASALLE

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rocura-se refletir sobre um tipo de Pmobilidade cultural, em especial o

exílio, como um importante fator na

construção das artes em nosso país: o

exílio de artistas e, em especial, o de

Emeric Marcier (1916 –1990), pintor

romeno que escolheu o Brasil como

refúgio e território para a criação de suas

obras.

o século XX, entre as duas Grandes NGuerras, houve uma série de

movimentos migratórios de artistas por

todo o mundo. O Brasil revelou-se uma

boa destinação para quem procurava

uma certa tranquilidade para viver em

segurança e para desenvolver sua arte,

em meio aos conflitos armados.

m função da situação estabelecida, Eo exílio se configurou como uma das

mobilidades culturais presentes naquele

contexto, pois se na Primeira Grande

Guerra o principal motivo era econômico,

na Segunda, a tentativa da eliminação de

p o v o s e m i n o r i a s f o r ç o u e s t a

m o v i m e n t a ç ã o e m b u s c a d a

autopreservação. Essas migrações ou

mobilidades tiveram por consequência

uma maior interação entre as culturas,

p r o p o r c i o n a n d o u m c a r á t e r d e

hibridização às artes.

exílio tem origem na antiga prática Odo banimento, que conferia ao

banido o estigma de forasteiro, de

indivíduo apartado de sua terra, da sua

gente, do seu passado. Uma perda de

territorialidade e de pertença, assume o

lugar de uma identidade até então

estabelecida. Conforme Said (2003), “é

uma fratura incurável entre um ser

humano e um lugar natal, entre o eu e seu

verdadeiro lar: [...] sua tristeza essencial

jamais pode ser superada.” Porém, o

autor apresenta uma diferença entre a

prática exilar do passado e dos dias

atuais:

[...] a diferença entre exilados de outrora e os de nosso tempo é de escala [...] nossa época, com a guerra moderna, o imperialismo e as ambições quase teológicas dos governantes totalitários, é, com efeito, a era do refugiado, da pessoa deslocada, da imigração em massa. (SAID, 2003, p.46)

A trajetória

pintor e muralista nasceu em Cluj, ORomênia, em 1916 e faleceu em

1 9 9 0 , e m P a r i s . N o p e r í o d o

compreendido entre 1935 a 1937 Marcier

estudou na Realle Accademia delle Belli

Arti de Brera, em Milão e em 1939 cursou

escultura na École Nationale Superieure

des Beaux-Arts, em Paris. Até os 24 anos

já havia percorrido importantes circuitos

artísticos europeus. A ascendência

judaica o levou também a Lisboa na

esperança de obter um passaporte que

lhe permitisse fugir do nazismo. Na capital

portuguesa recebeu três cartas de

O Exílio no Exílio de Emeric

Page 10: Revista Memória e Linguagens Culturais - Ano 1 - Nº 3 - 2013

o escritor José Osório de Oliveira. Com

estas cartas, viajou para o Brasil e já na

sua chegada, em 1940, ficou encantado

com as belezas naturais do Rio de

Janeiro, com suas cores e composição

entre a serra e o mar, paisagens que o

marcaram e forneceram material para as

suas primeiras exposições na Capital do

Brasil.

o Rio de Janeiro, influenciado pelo Ncírculo de artistas que frequentava,

passou a ter uma aproximação com o

ambiente católico tradicional. Começou a

frequentar a missa nas igrejas do Rio,

levado por Jorge de Lima e Murilo

Mendes, escritores católicos. Esses

rituais o emocionavam e vieram a se

refletir em sua obra; essa influência levou

Marcier ao batismo na Igreja católica e

marcou uma profunda mudança em sua

arte – tornou-se, então, um expressivo

pintor sacro, trabalhando em igrejas do

Rio e de São Paulo, utilizando técnica de

afresco.

m contrapartida, a guerra seguia na EEuropa e a invasão de Paris pelos

alemães trouxe para o Rio um grande

contingente de artistas, entre os quais

velhos conhecidos de Marcier, todos

fugindo de uma situação caótica e

violenta, caracterizando um exílio forçado

ou espontâneo.

m 1945, com a Alemanha derrotada, Eabriu-se a perspectiva da volta à

Europa; Marcier, porém, decidiu ficar no

Bras i l e em 1950 natura l izou-se

brasileiro.

O exilado sabe que, num mundo secular e contingente, as pátrias são sempre provisórias. Fronteiras e barreiras, que nos fecham na segurança de um território familiar, também podem se tornar prisões e são, com frequência, defendidas para além da razão ou da necessidade. O exilado atravessa fronteiras, rompe barreiras do pensamento e da experiência. (SAID, 2003, p.59)

artista que se converteu ao Ocatolicismo, exilando-se das suas

raízes judaicas, também fez isso na sua

arte, ao não integrar nenhuma corrente

artística brasileira. Na condição de

católico, criou uma importante obra sacra

em igrejas, capelas, hospitais, conventos

e seminários. Segundo Batista (2002),

Marcier construiu um exílio dentro da terra

do exílio, afastando-se totalmente da

sociedade artística e cultural.

Foto: Acervo de Mathias Marcier (filho)

Page 11: Revista Memória e Linguagens Culturais - Ano 1 - Nº 3 - 2013

os anos seguintes, Emeric sente a Nnecessidade de romper seu

isolamento e monta um atelier em

Montparnasse, estabelecendo sua volta

ao circuitos europeus e artísticos. Nesse

momento o artista rompe com sua

identificação sacra e, mais uma vez muda

seu foco, mostrando na arte toda essa

transculturação geográfica e espacial que

viveu.

e retorno ao Brasil e com um novo Datelier no Leblon, começam a surgir

convites para exposições na mesma

m e d i d a e m q u e d i m i n u í a m a s

encomendas por afrescos - suas obras

começam a fazer parte de coleções

importantes e os valores dos seus

quadros atingem vultosos valores.

om o início do regime militar e seu Cposterior endurecimento, Marcier

vai para outro exílio, desta vez em Paris.

Nesta época mais uma vez suas criações

trocam de objeto, passando para o nu,

numa clara fase erótica. Para Emeric

Marcier as fronteiras geográficas e

p i c t ó r i c a s e s t ã o e m c o n s t a n t e

mobilidade, os percursos espaciais

traduzem-se em novos rumos à sua arte.

No fim das contas, o exílio não é uma questão de escolha: nascemos nele, ou ele nos acontece. Mas, desde que o exilado se recuse a ficar sentado à margem, afagando uma ferida, há coisas a aprender: ele deve cultivar uma subjetividade escrupulosa (não complacente ou intratável) (SAID, 2003, p.57)

o início dos anos 80, Marcier ainda Npode vivenciar seu sucesso com

uma série de exposições no Brasil e no

e x t e r i o r , m a s a p e s a r d e s s e

reconhecimento, o artista sentia-se um

deportado, um colecionador de exílios

(Baptista,2002), seja pela guerra, seja

pelo isolamento artístico - sua obra não se

relacionava com a arte local, mas sim com

as impressões que o país lhe causava. O

exilado não pertence ao país que o acolhe

e já não pertence ao país de origem, o

isolamento de Marcier na própria arte foi o

elemento que tornou possível o exílio e a

ruptura com sua origem e uma nova

identidade a ser construída.

Lava pésobra que marca sua fase religiosa

“O exilado não

pertence ao país que

o acolhe e já não

pertence ao país de

origem”

Page 12: Revista Memória e Linguagens Culturais - Ano 1 - Nº 3 - 2013

Segundo Said (2003), é impossível o

exilado retornar ao seu país de origem,

pois não se volta verdadeiramente para

casa, já que essa nunca será a mesma da

partida.

O exílio, a diáspora, os percursos que acabam por se configurar em mobilidades culturais também atuam como “places de passage, de construção e reconstrução de significados que são posicionais e relacionais, sempre em deslize ao longo de um espectro sem começo ou fim (HALL,2003, p.33)

condição de exilado, vivida por AEme r i c Ma rc i e r, n ã o t r o u xe

prejuízos ao seu talento artístico. Ao

contrário, suas percepções criativas

captaram desde logo a sua jornada no

exílio. Apesar de estrangeiro, mas

naturalizado brasileiro, transformou-se

num artista respeitado e reconhecido por

sua técnica, nas diferentes fases de seus

trabalhos. Marcier seguiu reinventando

sua identidade, adaptando e moldando-

se ao fluxo da vida na sociedade que

escolheu. Ele foi o produto desta vida

errante, cheia de idas e vindas, de terras

desconhecidas e conhecidas de um

artista que fez do exílio o fruto de sua

inspiração.

Referências

BAPTISTA, Anna Paola Pacheco. Arte no

Exí l io . Revis ta de H is tór ia , em

2 3 . 0 4 . 2 0 0 8 . D i s p o n í v e l e m :

http://www.revistadehistoria.com.br/seca

o/retrato/arte-no-exilio Acesso em: 11 de

Nov. 2012

HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e

mediações culturais. Belo Horizonte:

Editora UFMG, 2003.

SAID, Edward W. Reflexões sobre o

exílio. In: Reflexões sobre o exílio: e

outros ensaios. Trad. Pedro Maia Soares.

São Paulo: Companhia das Letras, 2003,

p.46-60.

Autores:

Anajara Carbonell Closs

Helenice Christaldo

Miguel Angelo Ribeiro

P r o d u t o r a C u l t u r a l d a F A B I C O - U F R G S . Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Bens Culturais - UNILASALLE.

G r a d u a d a e m A d m i n i s t r a ç ã o d e Empresas pela PUCRS. Mestranda em Memória Social e Bens Culturais - UNILASALLE.

Graduado em Comunicação S o c i a l p e l a U F R G S . Mestrando em Memória Social e B e n s C u l t u r a i s - UNILASALLE.

Page 13: Revista Memória e Linguagens Culturais - Ano 1 - Nº 3 - 2013

historiadora portuguesa Isabel ACastro Henriques (2012)¹, ao

pesquisar os povos da África Central,

observou que os caminhos criados na

busca de melhores espaços de vivências

e trocas ou, como resultado das cisões

políticas, levaram a um processo cultural

que denominou de “ve io in te rno

imaginário”, responsável por manter a

“unidade da espécie” e dar legitimidade à

estrutura social, servindo de suporte à

autonomia e independência nacional.

nquanto no plano geográfico e Epolítico as fronteiras mundiais estão

demarcadas, resguardando soberanias e

poderes, no campo cultural há a fluidez

que u l t rapassa essas ba r re i ras ,

transformando o espaço geofísico em

lugares de invenção cultural e fusão de

práticas autóctones.

e rnando Or t i z , em sua obra F“Contrapunteo cubano del tabaco y

el azúcar”, publicada em 1928², utiliza o

termo transculturalismo para designar um

processo de metamorfose dos produtos

culturais sensíveis, a partir das trocas que

se estabelecem entre povos. Envolvido

num macro processo de circulação de

ideias, a transculturação promove uma

dialética entre costumes, valores e

práticas culturais, que transcende as

fronteiras f ís icas possibi l i tando o

surgimento de elementos híbrido.

habitat africano não é apenas um Oespaço de surgimento espontâneo,

mas o resultado de uma construção dos

nativos que nele intervieram através do

plantio e criação de animais. Onde o

desenvolvimento dos grupos nativos se

deu conforme a maior ou menor relação

de troca que estabeleceram entre si.

á o espaço social afr icano se Jcaracteriza por uma estrutura de

parentesco, por relações com a natureza

e com os espíritos, que são os elementos

constituintes da sua formação cultural. Ao

mesmo tempo em que as características

s o c i a i s i n fl u e n c i a m o s e s p a ç o s

territoriais, ligados não somente aos

limites físicos, mas também aos aspectos

sensíveis da cultura, redesenham outros

tipos de fronteiras.

sta configuração cultural/territorial Epermitiu que os grupos migrantes

mantivessem a sua coesão própria,

mesmo sob a influência das trocas

oriundas das atividades da importação,

exportações e da inventividade.

Fronteiras dos Espíritosna África Central

¹ O Pássaro de Mel, Estudos de História Africana; autora Isabel Castro Henriques; Edição/reimpressão: 2012; 298 páginas Edições Colibri; ISBN: 9789727724215.² BERND, Zila, Projeto de Transculturalismo/Transferências Culturais, ICCS-CIEC (International Council of Canadian Studies), abril de 2002. Impresso.

“o espaço social africano se

caracteriza por uma estrutura

de parentesco, por relações

com a natureza e com os

espíritos”

Page 14: Revista Memória e Linguagens Culturais - Ano 1 - Nº 3 - 2013

rito das oferendas aos orixás, Otrazida pelos escravos africanos

para o Brasil, era ao mesmo tempo uma

homenagem aos espíritos e a busca da

boa vontade deles em relação às

demandas dos vivos. Na região da África

central oriental, observou-se um ritual

onde tabaco e comida crua eram

lançados no rio como oferendas aos

mortos enterrados no seu leito.

s mudanças de território não Aocorriam somente por razões

econômicas, mas também pelo resultado

do esgotamento da terra, da diminuição

da produtividade e da fome, além da

ocorrência de acontecimentos negativos,

assoc iados a s ina is de espí r i tos

nefastos,dos quais precisavam se

afastar.

crença na presença dos espíritos, Ahabitando as entranhas da terra,

fornecia um controle dos territórios

africanos, ao qual até os chefes das

d i ve rsas nações se subme t i am,

marcando a organização das relações

entre vivos e antepassados.

s registros do Major português O 5Henrique de Carvalho, no séc. XIX,

que partiu de Luanda em direção a

Luanda central, apontaram a existência

de abrigos na mata, chamados de

“fundo”, que podiam ser utilizados por

viajantes tanto nativos como estrangeiro

o que seria um exemplo de que as rotas

comerc ia is também são cr iações

culturais. Estes “fundos” caracterizavam

a organização das relações comerciais,

demonstrando que o “mato” era um

espaço socializado e humanizado pela

ação dos nativos.

e m o n s t r a n d o a c r i a ç ã o d e Dfronteiras culturais/espirituais,

Isabel Henriques, cita o uso de plantas

consideradas sagradas como a mulemba,

que é uma árvore considerada do poder,

do casamento, das alianças e da vida,

assegurando a estabilidade da família

dos Ndongo. Os chefes Ndongo

costumavam carregar uma estaca da

árvore do seu local de origem para

replantá-la no centro do novo território. O

mesmo era feito com a raiz da musenda,

outra árvore cultuada pelos africanos,

que lhes garantiria poderes espirituais de

proteção.

5 O Pássaro de Mel, Estudos de História Africana; autora Isabel Castro Henriques; Edição/reimpressão: 2012; Edições Colibri; ISBN: 9789727724215. P. 151.

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s deslocamentos humanos, que Onem sempre resultaram da busca

de melhores instalações, mas de arranjos

ou desarranjos políticos dentro de um

n ú c l e o o r i g i n a l l e v a r a m a o

estabelecimento de novas relações, não

só com outros grupos, mas com a

próprianatureza, o que lhes possibilitou

outro olhar sobre seus valores culturais.

Como afirma Isabel Castro Henriques:

“circulação de coisas está sempre

intimamente associada à circulação das

ideias”.³

s fronteiras africanas tanto secas Acomo molhadas (rios), são tratadas

sob o ângulo político e geográfico,

omitindo a existência das fronteiras

construídas pelas rotas comerciais,

migratórias, religiosas e culturais, as

quais Isabel Castro Henriques chama de

“fronteiras dos espíritos”.

prática religiosa africana sempre Aesteve in t imamente l igada à

na tu reza , ao mundo dos mor tos

(antepassados) e as múltiplas entidades

sagradas que orientavam todos os

aspectos da vida africana, tanto no campo

individual, social, político e econômico.

Formando um complexo panteão que

considera todos os entes naturais e seus

fenômenos (animista), crê na existência

de parentesco entre o clã e um elemento

animal ou vegetal (totemista), atribui uma

origem sobrenatural ao universo, que

ter ia um propósito espir i tual pré-

estabelecido (sobrenaturalista) e cultua a

a lma dos mortos com sacr i f íc ios

(manista).

ponta a pesquisadora que enquanto Ana religião judaica e cristã e dos

povos pagãos do Mediterrâneo, o poder

espiritual era associado aos céus, os

africanos o associavam a espíritos que

com eles conviveriam em um mesmo

espaço físico/espiritual, situado abaixo da

terra “(...) próximo as raízes das plantas 4

ou das nascentes da água (...)”. Por esta

razão, por muitos anos, o uso de calçado

fo i pro ib ido ent re as soc iedades

africanas, pois impediria o contato entre

os homens e os espíritos (kazumbi). Da

mesma forma que seus ídolos eram feitos

de madeira retiradas de árvores que

possuíam suas raízes mergulhadas na

água, assegurando às imagens a força

dos espíritos.

³ O Pássaro de Mel, Estudos de História Africana; autora Isabel Castro Henriques; Edição/reimpressão: 2012; Edições Colibri; ISBN: 9789727724215. P. 147.4 Idem, p. 160.

Page 16: Revista Memória e Linguagens Culturais - Ano 1 - Nº 3 - 2013

anto os Luanda quanto os Tshokwe Tcultuavam a árvore de nome hamba

(mahamba no plural), sempre presente no

seu espaço de forma a ser vista por todos,

lhes assegurando uma relação com o

além.

stas práticas promoviam uma Ealteração na paisagem e na flora do

l o c a l d e d e s t i n o d o s g r u p o s ,

transformando-se em marcos de uma

fronteira espiritual particular.

uando um chefe africano morria Qdurante uma viagem, este era

enterrado no próprio local, portanto, fora

de seu território político/religioso. Seu

túmulo era guarnec ido por paus

esculpidos, representando espíritos

responsáveis pela proteção do morto e

todos que passavam pelo local prestavam

homenagens ao morto colocando ramos

de plantas no túmulo.

s Imbangalas, que se transferiram Opara Kasanje, passaram a controlar

as margens do rio Kwango e sua

travessia, impedindo uma relação direta

entre estrangeiros e nativos da outra

margem. A travessia do rio só poderia ser

feita por escravos barqueiros, que eram

protegidos pelos nganga (curandeiro).

ssim como os seres humanos, os Aespíritos da crença africana são

regidos por suas paixões, transitando

entre o bem e o mal conforme suas

simpatias ou antipatias, razão pela qual

estes espaços (fronteiras) eram temidos e

respe i tados . Pa ra c ruzá - los e ra

necessário homenagear e apaziguar os

e s p í r i t o s a t r a v é s d e o f e r e n d a s

estipuladas pela nação ocupante do

território. Os portugueses denominaram

6de “portos” estas fronteiras espirituais

nas quais tinham de pagar pedágio.

artindo do olhar sobre as fronteiras Pespirituais dos povos africanos,

Isabel Henriques demonstra que para

além dos limites físicos existe um mundo

simbólico manifestado nas crenças,

idiomas, costumes, artes, música e que

ao transcender espaços se subjetivam

diante de outras formas de pensar e

representar. Entre o elemento conhecido

de uma cultura e o novo que se apresenta,

há estranheza, curiosidade, embate,

rejeição ou assimilação. O que é aceito e

assimilado já não é a representação do

que era e nem do novo, mas uma sim

transculturação de representações.

Autor:

Rosângela Gomes da Silva

6 O Pássaro de Mel, Estudos de História Africana; autora Isabel Castro Henriques; Edição/reimpressão: 2012; Edições Colibri; ISBN: 9789727724215. P. 167.

Socióloga da UFRGS, Mestranda em Memória Social e Bens Culturais - UNILASALLE

Page 17: Revista Memória e Linguagens Culturais - Ano 1 - Nº 3 - 2013

obilidade nos remete à facilidade Mde nos movermos, no espaço ou no

mundo das ideias, dos símbolos, de

mudarmos de opinião, de ir ao encontro do

outro, do desconhecido, do novo. É nos

sentirmos instáveis, é conhecer o outro e

ser conhecido por ele. Com este conceito

apresentamos a experiência de três

a lunos de graduação do Méx ico

realizando parte de seus estudos na

cidade de Canoas, Brasil. Eles estão

inseridos no processo Mobil idade

Acadêmica cujo objetivo, além de

propiciar aos estudantes a possibilidade

de entrar em contato com outras culturas,

de vivenciar o processo de aprendizado a

partir da posição de outras formas de

aprender, oportuniza o estar em outro

país, em outra nação.

s parcerias entre universidades Afacilitam a mobilidade de estudantes

promovendo o conhecimento mútuo. Esta

educação internacionalizada proporciona

aos estudantes uma experiência rica,

desenvolvendo respeito às diferenças

culturais.

o Brasil a mobilidade acadêmica é Nestimulada pelo governo federal

através de Programas de Mobilidade e

Convênios de Cooperação Acadêmica

entre universidades brasileiras e de

outros países, visando dar acesso a

estudantes de graduação de instituições

d e e n s i n o d e o u t r o s p a í s e s à s

universidades brasileiras.

mobilidade acadêmica internacional Atraz desafios para o aluno que vem

de fora, pois estar num novo país, com

outros hábitos, crenças, padrões e

cultura. Terá de adaptar-se a nova

realidade e a aceitação pelos novos

colegas.

Assim, ao conviver cotidianamente próximo e envolvido nas relações, o estrangeiro tem ao mesmo tempo uma relação de proximidade e envolvimento com o grupo, entretanto, como frequentemente é tratado tal qual um "de fora", e se sente à parte muitas vezes pode desenvolver um sentimento de distância e indiferença. O estrangeiro é, portanto, o estranho portador de sinais de diferenças, como a língua, costumes, alimentações, modos e maneiras de se vestir. Ele não partilha certos preconceitos do grupo e não se sente forçado a agir como um dos membros. (PEIXOTO, 2011, p.3)

lém disso, traz vantagens para a Auniversidade que os recebe pois “...a

mobilidade internacional desempenha um

papel central na internacionalização do

ensino superior, por facultar maior

interação e melhor compreensão das

diferenças entre culturas e atores sociais

de países distintos.” (PEIXOTO, 2011,

p.3)

este contexto o Centro Universitário NLa Salle - Unilasalle, Instituição da

Rede La Salle de Educação, disponibiliza

a seus estudantes um programa de

mobilidade nacional e internacional:

Mobilidade acadêmica: vivência mexicana em Canoas

Page 18: Revista Memória e Linguagens Culturais - Ano 1 - Nº 3 - 2013

Quanto aos estudos, acha muito bom e

tem professores muito profissionais em

suas áreas e também considera-os como

boas pessoas.

la tem muitos trabalhos para fazer Epara este mês e final de semestre,

com seus colegas. Agradece a Deus por

ter conhecido muitas pessoas legais e

mui to pacientes com ela dando

e x p l i c a ç õ e s e a j u d a n d o - a n a s

dificuldades. A recepção é muito boa de

todo o pessoal de Unilasalle. Ela

estámuito feliz por esta experiência.

Mover-me?

aluno Carlos Andres Gomar OMedrano cursa Comércio Exterior

na Universidad La Salle Campus Saltilo

Mexico e está no La Salle Canoas desde

26 de julho de 2012. Ele escolheu o Brasil

porque vê aqui um país com uma

economia muito boa.

Quer aproveitar esta oportunidade para

poder fazer algo melhor para o seu país e

também poder trabalhar aqui no Brasil. A

imagem do Brasil no México é a de um

país com muito crescimento, investimento

em muitas áreas e de muitas pessoas

trabalhadoras como no México. Está

achando maravilhoso, os estudos são

muito legais, os professores têm uma

preparação excelente, os colegas são

muito legais, se preocupam com ele e o

ajudam a fazer melhores trabalhos. Acha

que o Brasil é um dos melhores países em

que morou na vida.

Mover-me?

aluna Maria Laura de Las Fuentes AMartinez cursa Pedagogia no

México e está no La Salle, Canoas, desde

agosto de 2012.

Ela veio para o Brasi l por sent i r

curiosidade pelo país e sua cultura e está

gostando da vivência e das pessoas são

1 O Setor de Mobilidade do La Salle bem como os alunos aqui citados autorizaram a publicação das entrevistas e cederam gentilmente as fotos.

Foto de acervo pessoal de Carlos Andres Gomar Medrano

Foto do acervo pessoal de Maria Laura de Las Fuentes Martinez

Page 19: Revista Memória e Linguagens Culturais - Ano 1 - Nº 3 - 2013

Quando um aluno realiza parte de seu curso no exterior ele agrega informações sobre a área de conhecimento que estuda a partir de uma visão que é necessariamente diferenciada de seu país de origem. Isso permite ao acadêmico ampliar seu campo de visão a partir de uma outra realidade que não a local. O aluno no exterior convive com outros alunos de nacionalidades diferentes proporcionando ainda mais a troca de experiência, cultura e vivência. (UNILASALLE, 2012, p.1)

o ano de 2012, o La Salle, da cidade Nde Canoas, recebeu cinco alunos

estrangeiros sendo três deles do México

os quais colaboraram e enriqueceram o

presente com seus relatos.

Interagindo com estudantes de graduação estrangeiros no La Salle, Canoas

ara entrarmos em contato com os Pe s t u d a n t e s e m m o b i l i d a d e

acadêmica no La Sa l le Canoas ,

procuramos o setor de Estágios e

Mobilidade Acadêmica, que nos colocou

em contato com os estudantes. Para a

comunicação, utilizamos o e-mail. Toda

nossa comunicação passou pelo setor

m e n c i o n a d o a n t e r i o r m e n t e .

Conseguimos resposta de três alunos, do

México, e a partir da vivência deles no La

Salle Canoas, escrevemos sobre a

mobilidade acadêmica.¹

Mover-me?

aluna Yanirha Yolanda Reyes AAguilar, que cursa no México

Comércio Internacional, aqui no Brasil,

está no curso de Administração. Está no

La Salle desde 26 de julho. Ela escolheu o

Brasil pela sua localização, por estar na

América Latina, sua preferência, estar

crescendo muito e por ter instituição

lassalista. A sua orientadora no México

falou que o Brasil é um país muito grande,

a região sul é muito tranquila e muito legal.

Vivendo na cidade a aluna concorda com

a orientadora.

la ainda relata o Sul do Brasil como Eum bom lugar para ficar, um lugar

onde muitas pessoas de todo o Brasil

vêm em busca de trabalho, e que Porto

Alegre é uma cidade muito conservada e

linda. Uma amiga também recomendou o

Brasil. Considerou essa como uma

oportunidade muito importante e decidiu

aproveitá-la.

aluna Yanirha está gostando da Aexperiência, aprendendo muitas

coisas novas e reforçando conhecimento.

O Estado é muito grande e ainda não o

conhece todo porém espera conhecê-lo.

1 O Setor de Mobilidade do La Salle bem como os alunos aqui citados autorizaram a publicação das entrevistas e cederam gentilmente as fotos.

Foto do acervo pessoal de Yanirha Yolanda Reyes Aguilar

Page 20: Revista Memória e Linguagens Culturais - Ano 1 - Nº 3 - 2013

muito amistosas. Considera que a

experiência tem sido interessante apesar

de sentir saudades. Ela ama a comida

(churrasco e strognoff) e gosta do fato de

as pessoas serem muito livres no Brasil

com relação à expressão individual.

Conhecendo o outro e sendo conhecido por ele

os relatos identificamos o estar no DBrasil, em Canoas, La Salle, como

uma experiência de mobilidade positiva,

acolhedora no sentido de ao sentirem

dificuldades, aqui referenciadas à área de

ensino, os estudantes têm se sentido

apoiados tantos pelos seus colegas como

pelos professores.

para nós que recebemos o outro, Equal a nossa percepção a partir de

seus re l a tos? Obse rvamos uma

impressão bastante positiva tanto do país

quanto do povo brasileiro. Impressão esta

que pa rece se r ressa l t ada pe lo

desenvolvimento econômico, cultural e

pela boa receptividade ao estrangeiro.

Referências

PEIXOTO, Mar ia Denize Santos.

Mobilidade acadêmica internacional: um

estudo sociológico a partir da experiência

da Universidade Federal de Uberlândia.

I n : C O N G R E S S O L U S O A F R O

BRASILEIRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

(11: Salvador : 2011) Diversidades e

(Des)Igualdades. Salvador : UFBa, 2011.

UNILASALLE. Mobilidade Acadêmica

N a c i o n a l e I n t e r n a c i o n a l . I n :

______________. [Site oficial]. Canoas;

La Sal le , 2012. D isponíve l em:

http://www.unilasalle.edu.br/canoas/pagi

na.php?id=219. Acesso em 09 nov 2012.

Autores:

Elianara Corcini Lima

Jacira Gil Bernardes

Bibliotecária da UFRGS, Mestranda em Memória Social e Bens Culturais - UNILASALLE

Analista de Tecnologia da Informação da UFRGS, Mestranda em Memória Social e Bens Culturais - UNILASALLE

Page 21: Revista Memória e Linguagens Culturais - Ano 1 - Nº 3 - 2013

om o objetivo de refletir sobre o Cfenômeno da transculturação no

movimento hip hop, o presente texto é

desenvolv ido em três momentos:

primeiro, propõe estabelecer o conceito

de transculturação sob a óptica do

sociólogo cubano Fernando Ortiz (1983);

em seguida, apresenta a questão social

como cenário de surgimento da cultura

hip hop nos espaços urbanos a partir do

final da década de 60 e, por fim,

contextualiza o movimento hip hop dentro

do universo das juventudes híbridas e

c o n t e m p o r â n e a s , d e o n d e a s

imaginações, desprovidas de fronteiras,

p r o j e t a m a r e c o n s t r u ç ã o e a

ressignificação da vida cotidiana nos

espaços urbanos.

Transculturação: atravessamentos culturais

sociólogo cubano Fernando Ortiz O( 1 9 8 3 ) e m s e u e s t u d o

Contrapunteo Cubano del Tabaco y el

Azúcar, propõe a substituição do termo

aculturação, vigente entre seus pares,

por transculturação. Argumenta que o

complexo processo de colonização nos

países da América Latina resultou no que

ele denominou de atravessamentos

culturais, e a expressão aculturação,

portanto, não dava conta de definir, com

precisão, o fenômeno das identidades

culturais no contexto latino-americano.

Parte do princípio de que a aculturação

pressupõe uma perda, um apagamento

d a c u l t u r a a n t e c e d e n t e o n d e a

“desculturação” seria seguida por um

processo de “neoculturação” e novos

paradigmas seriam impostos pela cultura

dominadora. Para ele, o que surge a partir

do processo colonizador seria não o

apagamento, mas uma cultura hibrida

original e inacabada, resultado da

participação das várias culturas em seus

âmbitos e esferas distintos.

ssim sendo, dentro da óptica da Atransculturação, a memória dos

povos pré-colombianos e africanos não

fora apagada, mas processada e

sintetizada no encontro entre todas as

diferentes culturas envolvidas nos

processos de colonização.

A questão social urbana

expressão questão social, segundo ARaichelis (2006), surgiu na França

Transculturação: o movimento Hip-Hop em questão

“a ‘desculturação’ seria

seguida por um processo

de ‘neoculturação’ e novos

paradigmas seriam

impostos pela cultura

dominadora”

Page 22: Revista Memória e Linguagens Culturais - Ano 1 - Nº 3 - 2013

representados pela organização urbana

vigente. Ou seja, ao invés de se apropriar

da violência grupal e das organizações

em gangues, marcando território e

exercendo domín io para le lo nas

comunidades, os jovens expressavam-

se , c r ia t i vamente , por me io das

linguagens do movimento que, segundo

Macedo (2008) englobam: o DJ (disc-

jockey), um operador de discos que faz as

colagens rítmicas de base para a

articulação dos outros elementos; o Rap

(sigla para rythm-and-poetry), um estilo

musical geralmente executado com DJ

mixer, ou sem acompanhamento de

nenhum instrumento; MC, os Mestres de

Cerimônia, que tem como principal

missão animar uma festa e contribuir com

a diversão; Breack Dance, termo genérico

que engloba diferentes estilos de dança

como B-boying, Popping e Locking; e, por

fim, Grafite, expressão artística manifesta

nas paredes dos prédios e construções

urbanos com spray ou pincéis.

esse modo, a partir das questões Dsociais urbanas, associadas à

crescente mundialização da informação,

ou seja, à comunicação transnacional, o

movimento difundiu-se entre os jovens

urbanos de di ferentes países. As

juventudes urbanas, identificando-se

com a caracter ís t ica híbr ida das

linguagens, fizeram do hip hop um

símbolo e seu alcance se tornou global,

congregando adeptos em todo o mundo.

or fim, o hip hop surge como um Pm e i o d e r e c o n s t r u ç ã o d o

“desconstruído”, ou seja, dos jovens

urbanos, esquecidos nas periferias,

lançados à margem do sistema e alheios

aos bens culturais das cidades. Em outras

palavras, a cultura hip hop recria uma

atmosfera de liberdade, criatividade e de

ação consciente, trazendo a violência

urbana para o campo da simbologia e

rompendo com as fronteiras dos ideais

nacionalistas.

grafite - foto de Carlos Wagner

Foto: Acervo Pessoal

Page 23: Revista Memória e Linguagens Culturais - Ano 1 - Nº 3 - 2013

no século XIX para representar as

condições de pobreza em que viviam os

trabalhadores nos espaços urbanos, bem

como a tensão estabelecida pela

organização de reinvindicações em prol

da superação das desigualdades

evidenciadas.

otivadas pelo direito à propriedade Me ao t raba lho , essas lu tas

operárias e suas violentas repressões se

reeditaram em outros países onde o

p r o c e s s o d e i n d u s t r i a l i z a ç ã o e

urbanização, pautado na desigualdade,

contribuiu para a formação de periferias

urbanas, núcleos de densa população em

regime de pobreza e carentes em

infraestrutura e de acesso aos bens

culturais e de lazer. Inseridos nesse

cenário figuram os jovens urbanos.

sses jovens, sujei tos sociais Eintegrantes desse cenário em que a

pobreza, a delinquência, a formação

escolar deficitária e as drogas, são

problemas comuns, muitas vezes reagem

d e m o d o v i o l e n t o , i n d i v i d u a l e

colet ivamente, manifestando seus

descontentamentos e/ou fazendo

reivindicações por melhores condições

de vida nos espaços urbanos.

or outro lado, fazem-se igualmente Ppresentes outras formas criativas de

manifestação da indignação vivida

nesses espaços. É nesse viés que surge

o movimento hip hop, foco desse estudo:

uma manifestação artística e cultural que

ultrapassa fronteiras pré-estabelecidas e

se prolifera nos espaços de convivências

das juventudes urbanas em diferentes

países na atualidade.

O Hip Hop: um movimento

transcultural

m inglês, hip significa quadril, Ecadeiras; e hop pular, saltitar.

Juntos, de acordo com Dutra (2006) a

expressão representa um movimento

cultural que surgiu no final dos anos 60,

no bairro do Bronx em Nova York, criado

por jovens negros e imigrantes como

forma de resistência ao modelo de

organização urbano vigente.

esse sentido, Fochi (2007), afirma Nque o hip hop originou-se com o

propósito de aplacar a fúria e a falta de

expectativas dos jovens que não se viamFoto: Acervo Pessoal

Page 24: Revista Memória e Linguagens Culturais - Ano 1 - Nº 3 - 2013

Últimos passos

cultura hip hop constitui-se numa Aexpressão transcultural, cuja ação

de seus “atravessamentos sociais e

raciais” cria variações locais em todo o

mundo, sem perder, entretanto, o caráter

original e desafiante dos status quo

estabelecido em cada uma dessas

regiões. Ao fazer essa passagem

transcultural, o movimento adquire novas

configurações, produzindo algo novo,

a m p l i a n d o s u a s f r o n t e i r a s d e

pertencimento.

ssim, os jovens das periferias dos Acentros urbanos vêm transformando

a s p a i s a g e n s c o m o c o l o r i d o

extravagante de seus grafites, com os

sons insubmissos de seus poliritmados

r a p s d e p o e s i a s p r o v o c a n t e s e

contestadoras e, ainda, redesenhando os

espaços urbanos por meio de suas

improvisadas danças de movimentos

quebrados e desafiadores.

o B r a s i l , e s s e m o v i m e n t o Ntranscultural sintetizou-se com a

ginga corporal local, com o jeitinho

brasileiro, com a genuína alegria de uma

nação em busca da superação de suas

dificuldades sociais, expressa nos

movimentos coloridos e espontâneos de

sua juventude ainda esperançosa.

or fim, a cultura hip hop projeta, em Pseus deslocamentos atravessados -

ou “trans” - a imaginação coletiva das

juventudes híbridas e contemporâneas,

contribuindo para a reconstrução e a

ressignificação da vida cotidiana nos

espaços urbanos.

Referências

DUTRA, Ju l iana Noronha. Rap e

identidade cultural. In: CONGRESSO DA

A S S O C I A Ç Ã O N A C I O N A L D E

PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM

MÚSICA (16.: Brasília: 2006) [Anais] p.

1 7 9 - 1 8 3 . D i s p o n í v e l e m :

http://www.unirio.br/mpb/textos/AnaisAN

PPOM/Anppom2006/0608301122(D)/CD

ROM/COM/02_Com_Etno/sessao02/02

COM_Etno_0202-092.pdf>.Acesso em:

08.06.2012.

FOCHI, Marcos Alexandre Bazeia. Hip

hop brasileiro: tribo urbana ou movimento

social? FACOM, n. 17, 2007, p. 61 –

6 9 . D i s p o n í v e l e m :

<http://www.faapmba.net/revista_faap/re

v is ta_facom/facom_17/ fochi .pdf>.

Acesso em: 10.06.2012.

Page 25: Revista Memória e Linguagens Culturais - Ano 1 - Nº 3 - 2013

MACEDO, Iolanda. Movimento hip hop e

educação: possibilidades de construção

do conhec imento . In : S IMPÓSIO

N A C I O N A L D E E D U C A Ç Ã O ( 1 . :

Cascavel:2008). [Anais] Disponível em:

http://www.unioeste.br/cursos/cascavel/p

edagogia/eventos/2008/4/Artigo%2018.p

df

ORTIZ, Fernando. Contrapunteo cubano

del tabaco y el azúcar. La Habana:

Editorial de Ciencias Sociales, 1983.

RAICHELIS, Raquel. Gestão pública e a

questão social na grande cidade. Lua

Nova, São Paulo, n. 69,p. 13-48, 2006.

Autores:

João Bosco Torres Santos

Luciano Lunkes

Raquel Willms

Professor, dançarino e coreógrafo. especialista em Arte-Educação pela Faculdade São Luiz de França (2006). Mestrando em Memória Social e Bens Culturais - UNILASALLE.

Bacharel em Regência Coral (UFRGS). Pós-graduado em R e g ê n c i a C o r a l (Conservatório Franz Lizst – Budapeste). Mestrando em Memória Social e Bens Culturais - UNILASALLE.

Bacharel em Arquivologia (UFRGS). Mestranda em Memória Social e Bens Culturais - UNILASALLE.

Page 26: Revista Memória e Linguagens Culturais - Ano 1 - Nº 3 - 2013

uando se t ra ta Mobi l idades QC u l t u r a i s , p e n s a m o s

imediatamente no Canadá e mais

especificamente no Quebec. O Canadá

p o r s e r u m p a í s q u e a d o t a o

Multiculturalismo, como política de

Estado, e o Quebec por ser uma província

canadense que adota o interculturalismo.

M u l t i c u l t u r a l i s m o e o OInterculturalismo, correspondem a

políticas integracionistas que se pauta no

princípio da não-hierarquização das

culturas, e sim, pelo reconhecimento das

mais variadas orientações culturais que

transitam em solo canadense com a

chegada massiva de imigrantes desde o

início do século XX. Nesse contexto,

nosso artigo enfoca essas duas vertentes

– inter e multi-culturalismo – à luz dos

conceitos e das críticas publicadas em

diferentes meios.

O Multiculturalismo do Canadá

Canadá está localizado na América Od o N o r t e e s e u s p r i m e i r o s

habitantes foram os aborígenes, sendo

esses considerados como a única cultura

nativa do país. No século XVII começaram

a chegar os primeiros imigrantes:

primeiramente os franceses em 1534, e

posteriormente os ingleses, trazendo

hábitos alimentares, comportamentos,

vestimentas e costumes diversos.

sociedade canadense se defrontou Ae a i n d a s e d e f r o n t a , c o m

man i fes tações po r con ta de um

movimento migratório intenso que

ocorreram nos séculos XVI e XVII e

posteriormente no final do século XIX e

início do século XX, de origem geográfica

extremamente variada. Em função disso,

e x i s t e m v á r i o s m e c a n i s m o s d e

intervenção estatal, em particular na área

da cultura, com objetivo de instaurar

políticas públicas que promovam a

convivência cultural harmoniosa.

m 1971 o Canadá inscreveu como Ep o l í t i c a d e e s t a d o o

Mul t icul tural ismo, que s ignifica o

reconhecimento oficial de que o Canadá é

um país constituído por pessoas de

diversas origens geográficas, culturais,

linguísticas e étnicas.

Canadá é um país multicultural, Orecebendo imigrantes de todos os

Multi e Inter-Culturalidade: Canadá e Quebec

Mapa do Canadá

Page 27: Revista Memória e Linguagens Culturais - Ano 1 - Nº 3 - 2013

continentes. País acolhedor, que tem uma

população relativamente pequena,

desenvolve há anos uma polí t ica

multiculturalista que visa a integrar os

imigrantes na sociedade, e por isso

obteve resultados mais satisfatórios

(FIGUEIREDO, 2012).

m 1982, surge a Declaração dos EDireitos e Liberdades, que incluía os

diretos de igualdades, mobilidades,

liberdade de expressão, direitos legais e

raças a todos aqueles que viviam no

Canadá. Esta carta Canadense “editada

no governo de P.E. Trudeau, proclamava a

liberdade de religião e previa mecanismos

de proteção das minorias” (FIGUEIREDO,

2012, p. 174).

sta Declaração traz a importância e a Evalorização do imigrante para a

construção de uma cultura multicultural. A

idéia é respeitar a diversidade, mas levar

os imigrantes a se pensarem como

pertencentes à nova nação para onde

emigraram: o Canadá, prevendo-se a

construção de uma identidade nacional

canadense.

abe -se que mesmo com ta l Sdocumento, o racismo e a falta de

empregos aos imigrantes continuava

sendo praticada, contudo, com programas

educacionais nas escolas, os professores

começaram a trabalhar sobre a cultura de

d ive rsos pa íses e ressa l ta r sua

importância e apreciação. O índice de

desemprego e racismo começou a

diminuir, não chegando a extinguir-se,

mas reduzindo-se drasticamente.

ara Mendonça (2011) não há um Psentido único de multiculturalismo, e

sim experiências particulares que no

cotidiano dos grupos minoritários o

multiculturalismo significa, quase sempre,

uma forma de segmentação social em que

cada grupo ocupa o seu espaço sem

colidir com os outros, mas mantendo-se

as hierarquias de diversas ordens.

O Interculturalismo em Quebec

uebec é a maior província do QCanadá, e a segunda ma is

populosa do país, com 24% da sua

população que é de cerca de 8 milhões de

habitantes. Com sua língua, sua cultura e

suas instituições próprias, Quebec

constitui-se expressamente como “nação”

dentro do território canadense.

“A idéia é respeitar a

diversidade, mas levar os

imigrantes a se pensarem

como pertencentes à

nova nação para onde

emigraram”

Page 28: Revista Memória e Linguagens Culturais - Ano 1 - Nº 3 - 2013

os últimos vinte ou trinta anos, Nmodificou-se o perfil dos imigrantes

que lá se instalaram: primeiramente, eles

eram provenientes de países europeus e,

a partir dos anos 70, se originam das

Antilhas, Ásia e África, países onde a

língua francesa é a língua oficial,

acarretando mudanças no panorama dos

quebenses (PORTO; TORRES, 2005).

s autoras supra-citadas afirmam que Aaté os anos 1960, falava-se de

homogeneidade em se tratando do

Quebec, visão difundida pelas elites no

século XIX, fato que não correspondia,

necessariamente, à experiência vivida no

cotidiano, mas que persiste ainda, de

certa forma, nos dias de hoje. Tal

homogeneidade se baseava na crença da

mono-identidade minoritária do Quebec,

a l i c e r c e s q u e p e r m i t i a m o

reconhecimento da cultura nacional e a

ocultação das divisões e conflitos de uma

sociedade em vias de industrialização.

om a chegada de novas levas de Cimigrantes oriundos de países não

europeus, o caráter heterogêneo da

cultura quebense se tornou cada vez mais

visível. O Quebec assume oficialmente

ser intercultural, adotando uma política

denominada “acomodamento razoável”

formado por regras e leis para respeitar o

direito de todos a um tratamento equitativo

e para combater a discriminação indireta,

criando um sentimento de solidariedade

entre os habitantes do Quebec, de

maneira a facilitar a mobilização e a

convivência de todos (PORTO; TORRES,

2005).

ssas med idas assoc iadas a Epreservação da língua francesa, que

constitui o marco principal da identidade

quebequense, como língua oficial do

Q u e b e c , l e i 1 0 1 . S e n d o q u e

aproximadamente 80% da população é

franco-canadense, isso representa um

importante signo de identificação. A ideia

de nacionalismo também foi revista,

evoluindo de um discurso agrário e

conservador a um discurso nacionalista e

moderno, que visou entre outras coisas, a

in tegrar os imigrantes à maior ia

francófona (MENDONÇA, 2011).

iferentemente do multiculturalismo Dque prevê a construção de uma

identidade cultural, o interculturalismo

Íris Versicolor – Símbolo de Quebec

Page 29: Revista Memória e Linguagens Culturais - Ano 1 - Nº 3 - 2013

corresponde à harmonização entre o

desejo dos imigrantes de preservação de

suas identidades culturais, e o sonho

quebequense de construção de uma

nação, alicerçada na convergência

cultural e em uma identidade nacional

sem ambiguidades (BERND, 2006).

Apreciação crítica do Multiculturalismo no Canadá e do Interculturalismo em Quebec

e acordo com Giménez (2012), no Dcontexto canadense se consolidou

o mu l t i cu l t u ra l i smo , a pa r t i r da

justaposição de grupos etnoculturais ou

comunidades culturais, formando-se um

mosaico de culturas que em alguns casos,

tende à segmentação e ao isolamento.

Em contrapartida, a província em Quebec

procurou ser um entre-lugar entre a

política estadunidense do melting pot,

propondo o interculturalismo, como

resposta à pasteurização das diferenças

culturais.

ernd (2006) afirma que tanto o Bm u l t i c u l t u r a l i s m o q u a n t o o

interculturalismo se pautaram no princípio

da não hierarquização das culturas e,

portanto, no reconhecimento das mais

variadas práticas culturais em solo

canadense, o que foi extremamente

positivo.

multiculturalismo enfatiza cada Ocultura, o que propicia a uma ênfase

na diversidade. Destaca também a cultura

e a história própria, os direitos de cada um,

o sistema jurídico único de cada povo,

supondo, além disso, conformar-se com a

coexistência, e espera que a convivência

social resulte do respeito e aceitação do

outro (GIMÉNEZ, 2012).

e acordo com Giménez (2012), o Dinterculturalismo pretende lidar com

a diversidade cultural de maneira proativa.

Preocupa-se com a inter-relação das

d i f e r e n t e s c u l t u r a s e b u s c a a

convergência e o estabelecimento de

vínculo, deseja estimular o aprendizado

mútuo a cooperação e o intercâmbio e

pontos em comum. O multiculturalismo

aborda a diversidade enquanto o

interculturalismo pretende construir a

unidade na diversidade.

“tanto o multiculturalismo

quanto o interculturalismo

se pautaram no princípio

da não hierarquização

das culturas ”

Page 30: Revista Memória e Linguagens Culturais - Ano 1 - Nº 3 - 2013

Referências

BERND, Zilá . Perspectivas Comparadas

trans-americanas. In: Abralic. Congresso

Internacional ( 10. : 2006. : Rio de Janeiro,

RJ) Lugares dos Discursos. Rio de

Janeiro: Editora da UERJ - Abralic, 2006.

FIGUEIREDO, E. Travessias culturais: o

cosmopolitismo de Montreal. In: Habitar e

representar a distância em textos literários

canadenses e brasileiros. Niterói: EDUFF,

2012. p.173-186.

GIMÉNEZ, Romero Carlos. Pluralismo,

Multiculturalismo e Interculturalidad:

Propuesta de clarificación Y apuntes

e d u c a t i v o s . D i s p o n í v e l e m :

http://dialnet.unirioja.es/servlet/fichero_ar

ticulo?articulo=2044239&irden=69348.

Acesso em 03 de Nov. de 2012.

PORTO, Maria Bernadette; TORRES,

Sônia. Literaturas Migrantes. Conceitos

de Literatura e Cultura. Juiz de Fora

Editora UFJF/EdUFF, 2005.

Autores:

José Carlos Walter

Fabiana Pereira Rosa

Pedagogo, Especialista em Educação a Distância. Mestrando em Memória Social e Bens Culturais - UNILASALLE.

A d m i n i s t r a d o r a , Especialista em Gestão de P e q u e n a s e M é d i a s Empresas. Mestranda em Memória Social e Bens Culturais - UNILASALLE.

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Reitor

Dr. Paulo Fossatt

Vice-Reitor

Dr. Cledes Antonio Casagrande

Pró-Reitora Acadêmica

Dra. Vera Lúcia Ramirez

Pró-Reitor de Desenvolvimento

Ms. Luiz Carlos Danesi

Diretorias

Extensão, Pós-graduação e Pesquisa Dr. Cledes Antonio Casagrande

Extensão, Pós-graduação e Pesquisa Dra. Patrícia Kayser Vargas Mangan

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