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REVISTA ODISSEIA DA MEDICINA ED.02

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REVISTA ODISSEIA DA MEDICINA, MENSAL

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O que move o mundo não é a razão, mas a paixão” defende a filosofia. “O coração tem razões que a própria razão desconhece”.

É o que afirmava o físico, matemático e escritor francês, Blaise Pascal, num misto de discurso parecido com o de Shakespeare que dizia: “Há mais mistérios entre os céus e a terra do que pressupõe a vossa vã filosofia”, confirmando a máxima: “A vida tem coisas que a própria razão desconhece”. Para ele, “todas as graças da mente e do coração se escapam quando o propósito não é firme”. A vida em sociedade traz matizes dos mais variados e a mente é que dita o ritmo da relação social.

Odisseia da Medicina traz, nesta edição, o des-compasso psíquico-emocional, por meio do artigo escrito pelo pós-doutor em Direito, Kléber Veloso, que faz uma análise sobre psicopatia e sociedade. O escritor traça importantes informações que delineiam o perfil psicopático no contexto social.

Saúde é uma dádiva. Uns a têm em abundância, enquanto outros correm para conquistá-la. Para uns, a vida está por um fio e se agarram a ela sempre à mercê das benesses, dos desafios e conquistas da ciência. Diante de uma enfermidade, todos preferem que o diagnóstico venha, pelo menos,

em 30 minutos ou, se não for possível remediar o que remediado está, que a dor seja amenizada.

Em meio a conquistas e desafios, investimentos tecnológicos são cada vez mais necessários. Tal conquista é abordada em artigo assinado por Joel de Sant´Anna Braga Filho, Secretário de Estado de Ciência e Tecnologia de Goiás. Chegado recentemente da Rússia, fala sobre a busca e conquista de parcerias para a condução de um processo de ponta para incremento da política de radioterapia no Estado.

Falar sobre saúde deve reportar, também, ao termo vitalidade. Odisseia da Medicina dá destaque à sexualidade, seja no trato psicológico das disfunções ou na divulgação de inovações, como é o caso da reposição hormonal também para o homem, assunto que, para muitos, ainda é tido como um tabu a ser quebrado ou driblado.

Seria a ciência hipocrática guerreira na busca incessante de respostas a desafios his-tóricos, como desatar o Nó Górdio, narrado tão brilhantemente pelo Dr. Evaldo D´Assumpção? Ele instiga à análise que perpassa o código de deontologia médica, ao tratar do impedimento

ético da utilização de técnicas inovadoras em doentes terminais, na promoção de melhoras momentâneas ou evitando sofrimentos ainda mais drásticos.

Nesse contraponto, entra ainda a pressão da indústria farmacêutica, que investe pesado, tal como o procedimento da indústria mecânica. No último caso, lançam máquinas capazes de manter vivo um corpo doente, além do previsível, à revelia do relógio biológico. Todavia, andam na contramão do que apregoam os defensores da vida, a todo custo. Até onde deveriam preva-lecer tais investidas contra a ética? Argumentos consistentes permeiam o artigo “Ética: a ponte entre a filosofia e a biologia”, assinado, com propriedade, por Divina Marques, jornalista, doutora em Ciências Ambientais, mestre em Filosofia/Ética e especialista em Políticas Públicas.

Mente e corpo são alvos diretos de atenção da Medicina e, portanto, são temas que merecem e ganham destaque especial na edição que você, leitor, tem em mãos.

Boa Leitura!

EDITORIAL

03

Philosophy advocates that “passion, rather than reason, moves the world”. Similarly, the writer, mathematician and physicist

Blaise Pascal wrote that “The heart has reasons that reason cannot know.” He echoes a famous quote by Shakespeare: “There are more things in heaven and earth, Horatio, than are dreamt of in your philosophy.” Along his line of thought, one could say that life has things that even reason cannot know. Life in society brings various nuances and mind dictates the rhythm of social relationships.

In this issue, Odisseia da Medicina brings an enlightening discussion about the mismatch between psyche and emotion. In this article, Kléber Veloso, post-doctoral Law fellow, analyzes the relationship between psychopathy and society. He points out important elements that define the typical psychopathic profile in a social context.

Good health is a gift. Some of us have it in plenty. Others strive to achieve it. Those with less fortune keep life like they are at the brink of losing it. They cling themselves on to every achievement of science that can extend their life. When facing a fatal disease, we always expect the diagnostic will

somehow give us hope or, at least, that it will bring us some relief to our pain.

In a world of endless challenges and achieve-ments, continued funding in science and technology is more and more necessary. The current status of funding is discussed by Joel de Sant’Anna Braga Filho, Secretary of Science and Technology of the State of Goiás. Returning from a recent trip to Russia, he tells us about the search and construc-tion of partnerships within the overall policy for radiotherapy in Goiás.

When we talk about health, we cannot omit the issue of vitality. Odisseia da Medicina therefore reserves space for sexual health. That includes the psychological treatment of dysfunctions and the dissemination of new treatments, such as hormone replacement therapy for men, which is unfortunately viewed as a taboo subject among many, to be surmounted.

Dr. Evaldo D’Assumpção brilliantly poses the question: is the Hippocratic science a tireless warrior seeking solutions to historical challenges, such as the Gordian Knot? In his article, he incites a discussion around the code of medical deontology

and exposes the ethical issues regarding the use of innovative techniques in terminal patients, which can bring brief improvements possibly at the cost of increased suffering.

Adding to this conflict between improvements and pain, the pharmaceutical and equipment industry invests massively in new machines that can keep a failing body alive, against its biological clock, even beyond the original expectation of survival. Nevertheless, these technological achievements are being questioned by groups that defend life above everything. Where should we draw the boundaries between science and ethics? Sound arguments are found in the article “Ethics: a bridge between philosophy and biology”, signed by Divina Mar-ques, journalist, doctor in Environmental Sciences, master in Philosophy and Ethics, and specialists in Political Sciences.

Mind and body attract the attention of Medicine. These subjects receive deserved special attention in the present issue that you, reader, have in hands.

Enjoy the reading!

Page 4: REVISTA ODISSEIA DA MEDICINA ED.02

ODISSEIA COMUNICAÇÃO

ANO I NúMErO 2JANEIrO-2010

www.odisseiacomunicacao.com.br

EDItOr KlébEr OlIvEIrA vElOSO JOrNAlIStA rESpONSávEl COOrDENAÇÃO EDItOrIAlSUElI rAUl - Drt-GO/ 011263Jp

rEDAÇÃO téCNICANAtérCIA FONSECA

trADUÇÃOMUrIlO lOUzEIrO tIAGO

DESIGNEr GráFICOElbEr FErNANDES

FOtóGrAFOEDMAr WEllINGtON - Mtb 1842

MArKEtING E ASSINAtUrASKEllY CHrIStINA SIlvA 00 55 (62) 9985-0808MICHEllY lOrEtO 00 55 (62) 8417-4741

rEDAÇÃO E COrrESpONDê[email protected]

O D I S S E I A D A M E D I C I N A é U M A p U b l I C AÇ ÃO M E N S A l DA AG ê N -C I A D E p U b l I C I D A D E E p r O pA -GANDA ODISSEIA COMUNICAÇÃO. A rEvIStA NÃO SE rESpONSAbIlIzA pElOS CONCEItOS EMItIDOS NOS A r t I G O S A S S I N A D O S. N E N H U MA pA r t E D E S tA r E v I S tA p O D E r á S E r r E p r O D U z I D A O U t r A N S -M I t I D A p O r q UA I S q U E r M E I O S EMprEGADOS, SEM A AUtOrIzA-Ç Ã O p r é v I A , p O r E S C r I t O, D A AGêNCIA, COM CréDItO DA FONtE.

04

17 EDUCAÇÃOCrítiCaaosCursos“Caça-níqueis”naáreadasaúde

18 ENDOCrINOlOGIAFaltadeproteínaexClusivadoCérebrodesenCadeiaepilepsia 19 HOSpItAIS DE GrIFEexCelênCiaematendimento

20 IMUNOtErApIAalémdaquimioterapiaedaradioterapia,háoutraopçãoparatratarolinFoma

21 SAúDEaumentodonúmerodeidososreFletemaiorexpeCtativadevida

22 OrtOtANáSIAasíndromedo“nógórdio”

24 UrOlOGIAreposiçãohormonalnohomem

26 CAFEíNAadrogapreFerida 31 MASSOtErApIAaimportânCiadamassagem 32 étICAaponteentreaFilosoFiaeabiologia

05 ESpECIAltranstornodapersonalidadepsiCopátiCa

08 SUSotrabalhomédiCoeosistemaúniCodesaúde

09 SINtOMAtOlOGIACientistasenContramnovamaneiradereduzirasdoresCausadaspeloCânCer

10 lEUCEMIAChilenosdesCobremtratamentoquepodeCuraraleuCemia

11 CIêNCIA E tECNOlOGIA Know-howaserviçodoCidadão

13 DIAGNóStICOdesCobertadaCausadedoençasem30minutos 14 pSICOlOGIAtratamentoparaasdisFunçõessexuais

16ODONtOlOGIAdenteimpaCtadoaFetaasaúdebuCal

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O transtorno da personalidade psicopática

é um desequilíbrio psíquico grave que

faz a pessoa se comportar contra os

padrões estabelecidos pela sociedade. É uma

variação mórbida da personalidade. Dito de

outro modo, é uma deformação das qualidades

morais do caráter. Esse distúrbio, em termos

acadêmicos, é sinônimo de personalidade

antissocial ou sociopática. Apesar de existir

desde muito, é recente o seu conceito. Esse

transtorno alcança, em maior ou menor escala,

a população mundial na ordem de 4%. Desse

percentual, 1% é do sexo feminino e 3% do

sexo oposto, diferença semiológica ainda não

decifrada. A Organização Mundial de Saúde o

considera uma patologia e encarta a Classifi-

cação Internacional de Doenças.

O córtex órbito-frontal, o córtex pré-frontal e

toda a complexa engenharia do sistema límbico

hospedam esse distúrbio psíquico. Ele se ancora

na hipofunção das amígdalas, interligadas aos

hemisférios cerebrais. Ao estabelecer a comu-

nicação entre as amígdalas e a região límbica,

ocorre um déficit na transmissão das conexões

cerebrais, desviando-se do seu curso normal, ao

conduzir os impulsos magnéticos. Isso provoca

um desencontro entre a decisão a ser tomada e

o comportamento reputado coerente. Não há,

por esse motivo, uma perfeita sintonia entre as

emoções, elaboradas no sistema límbico, e a

sua razoabilidade, formada nos lobos frontais.

Essa deficiência neurocognitiva não aciona os

marcadores somáticos, o que isenta a conduta

a ser adotada de constrangimento moral, de

escrúpulos e, por isso, destoa dos repertórios

TRANSTORNO DA PERSONALIDADE PSICOPÁTICAKLÉBER OLIVEIRA VELOSO

comportamentais adequados. O portador do

distúrbio não traz consigo, face a essa insu-

ficiência psíquica, sentimentos nobres, como

o amor e a compreensão.

A semiologia do transtorno se estabelece

pela ausência de um comportamento neuro-

cognitivo pró-social. O psicopata é desprovido

da capacidade de estabelecer e de assimilar

conexões emocionais com quaisquer pessoas,

de aprender com as máximas da experiência,

bem como de obstar os seus impulsos asso-

ciais. Isso resulta na impossibilidade de ele

se emaranhar num legado transpessoal, pois

o seu mecanismo psíquico diverge daquele

de uma pessoa normal. Ele não tem noção do

bem comum e os laços sentimentais inexistem

pela inativação do sistema nervoso simpático,

situando-o à margem da normalidade psicoe-

mocional. É, portanto, imperturbável, indiferente

e sem inquietação.

O psicopata é blindado por um ego-

centrismo extremo, buscando sempre a

satisfação, única e inconfessável, dos seus

interesses. Ele está inserido em todos os

tecidos sociais, constitui família e, não

raras vezes, é admirado por sua beleza,

inteligência, carisma e pelo seu dinheiro.

Frequentemente, utiliza-se desses atribu-

tos para ludibriar pessoas, dissimulando

sua atroz personalidade, conjugando, por

exemplo, dotes intelectuais ou artísticos,

com um desequilíbrio real de afetividade.

05

Kléber Oliveira Veloso. Pós-doutor em Direito Penal pela UFSC. Doutor e mestre em Direito Penal pela Universidade de Barcelona. Especialista em Direito Penal e Direito Processual Penal pela UFGO. Graduado em Direito pela UCGO. Membro das Comissões do MEC/SESu/INEP para avaliação, autorização, supervisão, credenciamento e reconhecimento dos cursos de graduação e de pós-graduação em Direito. Membro Fundador da Academia Goianiense de Letras. Avaliador Técnico do CEE. Professor.

ESPECIAL

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ESPECIAL

O distúrbio impede a pessoa de sentir

remorso pelo erro praticado, de aprender com

ele, apesar de essas conformações variarem

entre os seus portadores. Assim, é incapaz

de se colocar no lugar do outro, de sentir

afeto e emoção, de modo que a desgraça ou

sofrimento alheio não lhe diz respeito. Daí, a

emissão de julgamentos morais apressados,

superficiais e descaridosos, decorrente dessa

dinâmica antissocial. O amor ao próximo está

longe, muito longe, de se considerar uma das

suas virtudes.

A sintomatologia do transtorno se manifesta

durante toda a vida da pessoa. Ela se inicia na

infância, tonifica-se na adolescência e perpassa

a vida adulta. Esse distúrbio pode ser abúlico,

amoral, astênico, compulsivo, delinquente,

explosivo, fanático, hipocondríaco, histérico,

inadaptável, inseguro, ostensivo, sexual, dentre

outros. Os perfis leve e moderado de gravidade

do transtorno, se identificados precocemente,

podem ter o seu avanço impedido por meio

de regras educacionais e religiosas, chegando

ou não a modulá-los. O perfil severo é incor-

rigível e, se a pessoa tiver traços perversos e

indômitos, pode evoluir para o canibalismo e

para outras degenerescências.

Na infância, esse desequilíbrio psíquico se

manifesta como alterações comportamentais

perceptíveis: afeição às brigas, às intimidações,

às humilhações e à violência física contra amigos

e animais; caráter dissimulado; desrespeito à

autoridade dos pais e dos professores; desapego

aos sentimentos familiares; fácil colerização;

imediatismo; indisciplina; mentiras contumazes;

reduzida tolerância à frustração; trapaças para

obter vantagens em jogos pueris, dentre outras.

A adolescência é um estágio da vida em que

o transtorno mais se evidencia. Essa etapa se

potencializa pelos seguintes comportamentos:

abandono frequente do lar; ausência de remorso

e de empatia com os sentimentos alheios; baixo

controle da impulsividade; busca de excitação;

comportamento fantasioso, em que se tenta

adaptar a realidade à imaginação; exacerbado

zelo com as emoções e os interesses pessoais

e nenhum com os alheios; fascinação pelo

poder; incapacidade de elaborar sentimentos

nobres; iniciação ao uso de drogas; insensi-

bilidade emocional; megalomania; mitomania;

prática de atos de vandalismo; propensão a

falecer prematuramente por meios violentos;

rebeldia; sexualidade exaltada; trapaças pelo

prazer, para citar alguns.

O adulto portador do distúrbio mantém

uma cadência de comportamentos, sendo:

agressões diversas; ausência de ansiedade, de

baixa auto-estima, de depressão, de piedade,

de sentimentos éticos e altruístas; chantagens

emocionais; desembaraço comportamental e

loquacidade; dificuldades conjugais severas

face à multiplicidade de parceiros sexuais;

dificuldade para construir e manter amizades;

estilo de vida parasita; “frieza” comportamental;

incapacidade de se responsabilizar por suas

ações, em particular pelos compromissos

financeiros e morais; inconstância nos empre-

gos; manipulação de estados mentais alheios

para alcançar o que deseja; prática de crimes

bárbaros; quando pais, utilizam os filhos para

atingir os seus objetivos, não lhes respeitando

as escolhas; reduzida intuição; violência do-

méstica; vivência isolada e, quando realizada

em grupo, busca lhe exercer o domínio.

O Direito brasileiro não considera esse

transtorno uma doença e, se o psicopata co-

meter ilícito, será responsabilizado. Ele tem a

capacidade de entender - libertas intellectus – e

de se determinar – libertas propositi – sobre o

06

>> Psicopatia: a ausência de perfeita conexão entre as amígdalas e os hemisférios cerebrais impede a ativação do sistema nervoso simpático.

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ato que pratica, apesar de não se autodetermi-

nar com relação ao seu entendimento face aos

déficits neurológicos existentes no lobo frontal.

Tem, portanto, hígida a sua curvatura cognitiva

e a exata consciência do seu comportamento

sociopático, não apresentando deficiência

algorítmica. Em função dessa desorganização

afetivo-emocional, ele tem a sua própria lógica,

“definindo” o que é lei, o certo e o errado. Ele

maquia a sua índole infratora.

Cesare Lombroso (1835-1909), estudando

antropologia criminal, disciplinou a personalidade

psicopática como egressa de um determinismo

biológico. Nesta linha de raciocínio, indaga-se:

a pessoa nasce criminosa? Sim, o psicopata

infrator é o exemplo e, ao mesmo tempo, a

exceção. Seguramente, alguns crimes violentos,

no mundo, são praticados por ele, como: cor-

rupções várias, estupros, homicídios em escala

(serial killers), latrocínios, liderança de crimes

organizados, sequestros, terrorismo, torturas,

tráfico e vícios em drogas, dentre outros. Nem

todos os psicopatas são criminosos e a recíproca

é verdadeira. A maioria deles não é violenta e

controla os seus impulsos comportamentais

dentro de padrões toleráveis.

Na senda criminal não há alcance psicológico

se o psicopata for apenado. Ele não possui

circuitos cerebrais suficientes para associar

a reprimenda à supressão do comportamento

ilícito, não dimensionando subjetivamente o

dolo e nem a culpa. Por essa desconexão,

é incapaz de se intimidar, de aprender e de

modificar o seu comportamento, com a pena

que cumprir! Daí as reincidências criminais. Na

esfera cível, de igual modo, não há resultado

efetivo e, condenado a indenizar a vítima, ele

continuará agindo associalmente face à sua

deficiência neurocognitiva.

Graças aos estudos filogenéticos do distúrbio,

bem como aos recentes avanços de investigação

neurológica, por meio de neuroimagens, os

cérebros de alguns psicopatas foram mapeados

topograficamente. Constataram-se alterações

morfológicas e foram localizadas as regiões

onde residem as deficiências. Isso permite

elaborar medicamentos para atenuar, modular,

ou eliminar a anomalia. Possibilita, também,

estimular as regiões cerebrais específicas para

uma alteração comportamental, além da proba-

bilidade de microcirurgias neurofrontotalâmicas.

As tentativas de tratamento – e aqui se incluem

as terapias – nem sempre potencializam efeitos

concretos, pois os psicopatas não lhes são

responsivos. É impossível tratar a ausência de

emoção, de afeto, de piedade e, mesmo, de fé!

Um número significativo de atuais pesquisas

sugerem multideterminados fatores responsáveis

pelo transtorno. Dentre eles, destacam-se os

sociais (extrínsecos, acidentais), os biológicos

(endócrinos, fisiológicos, hipofisários) e os

genéticos (genótipos). Estes têm prevalecido

sobre os demais, pois se vinculam à manutenção

do código vital pela transmissão bioquímica

dos caracteres hereditários, de modo que

filhos de psicopatas têm cinco vezes mais

chances de desenvolver o mesmo distúrbio.

Apesar disso, a etiologia dessa insuficiência

afetivo-emocional ainda não foi devidamente

esclarecida, mesmo em se tratando de uma

categoria nosológica que sempre despertou

interesse nos estudiosos.

O Brasil, na contramão de países mais

bem sedimentados culturalmente, ainda não

elaborou procedimentos capazes de identificar

psicopatas e de ajudá-los por meio de um

planejamento institucional, inclusive de lhes

obstar o ingresso em determinadas categorias

profissionais. O distúrbio é complexo e muito

mais grave do que se imagina, pois é crescente

o seu aumento em todas as sociedades e,

principalmente, pelos efeitos produzidos pelo

comportamento dos seus portadores.

Eis, aí, um dos maiores desafios para a

Medicina!

>> Esse distúrbio neurocognitivo impede a elaboração de sentimentos nobres como o amor e a compreensão.

07

ESPECIAL

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JOSÉ GOMES TEMPORÃO

O recém-comemorado Dia do Médico impõe uma reflexão sobre as atividades dos profissionais no Sistema Único de

Saúde e desafios que temos a vencer. Temos empreendido esforços em qualificar a formação médica, melhorar suas condições de trabalho, buscar uma remuneração adequada e fixar os profissionais em áreas que não contam com a assistência desses profissionais.

Inegavelmente, o SUS avançou: reduzimos a mortalidade infantil, nossas coberturas vacinais são referência para o mundo, fomos o primeiro país em desenvolvimento a universalizar a terapia antiretroviral, temos o maior programa público de transplantes do mundo. São avanços sanitários incontestáveis, por trás dos quais está o trabalho anônimo de profissionais, entre os quais estão, de forma muito particular, os médicos.

Trata-se de uma qualificada massa de tra-balhadores, formada num aparato escolar que cresce a cada dia, mas que, ao mesmo tempo, preocupa pela expansão desordenada. Uma comissão nomeada pelo Ministério da Educa-ção, da qual participam o Ministério da Saúde e entidades médicas colocou sob supervisão as escolas menos consistentes. Mais de 50 escolas médicas recebem subsídios do Ministério para habilitar profissionais a trabalhar alinhados à importância de se pensar a promoção à saúde e à prevenção.

Outra medida importante é o reconhecimento dos estudos dos brasileiros que, seja por quais motivos forem, estudaram no exterior. A primeira iniciativa para garantir regras claras e objetivas para todos foi a publicação de uma matriz de equivalências de conhecimentos e habilidades, envolvendo especialistas reconhecidos e uni-versidades. Um projeto experimental funcionará ainda neste ano.

O TRABALHO MÉDICO E OS DESAFIOS DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

Ao lado da graduação, a especialização é tratada com igual importância. Temos que buscar uma ressonância entre a oferta de vagas na residência médica e as necessidades de saúde do país. Por isso, estamos lançando com o Ministério da Educação o Pró-Residência, por meio do qual poderemos chegar até a mil vagas adicionais de residência médica em curto período de tempo.

Sou médico e conheço a realidade de muitos colegas que trabalham em condições precárias para atender longas filas de pessoas com sofrimento agudo. Venho discutindo com as entidades médi-cas a repactuação do trabalho médico, de forma a atribuir maior equidade entre os profissionais e melhores condições de trabalho. Evidentemente, isto não se dará sem um substantivo incremento do financiamento do SUS.

Estou consciente de que não se formulam políticas de saúde corretas sem contar com aqueles que conhecem as necessidades de saúde de nosso povo. Por tal razão, tenho defendido vigorosamente a presença permanente de representação da categoria médica no Conselho Nacional de Saúde.

O SUS tem o desafio de garantir a prestação de serviços nas áreas pobres, periféricas e desassistidas. Um conjunto complexo de intervenções, como a proposta de uma carreira nacional para cobrir estas áreas, o reforço à Estratégia de Saúde da Família, os incentivos ao repagamento de empréstimos educacionais são exemplos de medidas que estamos conduzindo. Mesmo com as dificuldades que temos, já fixamos dezenas de milhares de profissionais na Saúde da Família.

Aproximamo-nos neste momento de mil pontos do Telessaúde, que permite o acesso a cursos de capacitação e ensino, além do rece-bimento de auxílio no diagnóstico de doenças, com troca de informações e exames, o que só era possível em grandes centros urbanos. Vamos aumentar as ofertas de especialização por Edu-cação à Distância, bem como de atualizações e

aperfeiçoamentos. Esperamos fazê-lo em estreita parceria com as entidades médicas.

Tenho defendido uma estrutura mais ágil de gestão das instituições públicas. A proposta de criação das fundações estatais de direito pri-vado que está no Congresso Nacional permitirá uma remuneração melhor e a valorização das especialidades, bem como a apreciação pelo bom desempenho do profissional.

O Ministério da Saúde reconhece a deterioração histórica das condições de trabalho dos profissionais de saúde e tem trabalhado para revertê-las. Não tenho dúvidas de que os avanços obtidos até agora são resultado do esforço cotidiano daqueles que, na ambulância, no posto de saúde, na residência do paciente, no consultório, no centro cirúrgico, na pesquisa ou na gestão nos ajudam a fazer do SUS uma das políticas sociais mais bem-sucedidas do mundo.

José Gomes Temporão. Ministro de Estado da Saúde. Doutor em Saúde Coletiva pela UERJ. Mestre em Saúde Pública pela FIOCRUZ. Especialista em Doenças Infecciosas e Parasitárias pela UFRJ. Especialista em Planejamento e Saúde e, em Saúde Pública, pela FIOCRUZ. Graduado em Medicina pela UFRJ. Membro do “Center Control Advisory Committee - World Health Organization”.

08

SUS

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CIENTISTAS ENCONTRAM NOVA MANEIRA DE REDUZIR AS DORES CAUSADAS PELO CÂNCER

Pesquisadores da Universidade de Heidelberg,

no sul da Alemanha, descobriram a possível

origem de fortes dores provocadas por

cânceres. Os tumores liberam duas moléculas que

deixam as células nervosas especialmente sensíveis

e potencializam o crescimento do tumor, segundo

um artigo publicado no site “Nature Medicine”.

Os resultados da pesquisa, dirigida pela dou-

tora Rohini Kuner, do Instituto Farmacológico da

Universidade de Heidelberg, dão início a um novo

enfoque no desenvolvimento de remédios para os

pacientes de câncer.

A dor muito forte causada pelo câncer, cujas

causas ainda são desconhecidas, é difícil de ser

atenuada com remédios tradicionais como os

opiáceos, que requerem altas doses, o que cria

tolerância e efeitos colaterais.

Os cientistas examinaram tecidos de ratos e

determinaram as substâncias dos tumores: duas

moléculas que, até agora, eram conhecidas como

fatores de crescimento para as células-tronco que

formam o sangue.

O contato com essas moléculas faz com que

as células nervosas próximas ao tecido cance-

roso sejam “consideravelmente mais sensíveis à

pressão”, o que coincide com as descrições dos

doentes que diziam que um simples toque na região

afetada doía muito.

Além disso, o crescimento do tumor também

provoca dor, pois o tecido se expande e produz

pressão.

Os pesquisadores injetaram anticorpos nos

tecidos dos ratos para bloquear as áreas de contato

entre essas moléculas e as células nervosas, o que

reduziu tanto o crescimento do tumor, quanto a

sensibilidade das células.

Agora será necessário fazer novas pesquisas

para ver se o uso também é possível em tecidos

humanos e, caso o resultado seja positivo, “seria

concebível injetar essas ‘proteínas bloqueadoras’

diretamente no tumor e reduzir a dor e os efeitos

colaterais”.

Fonte: Agência EFE

09

SINTOMATOLOGIA

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CHILENOS DESCOBREM TRATAMENTO QUE PODE CURAR A LEUCEMIA

Uma pesquisa realizada por cientistas

chilenos descobriu uma nova forma de

tratamento para a leucemia que lança

projeções otimistas para uma cura eficaz, já

que os tratamentos contra a doença ainda são

insuficientes. O hemato-oncologista chileno

Bruno Nervi e uma equipe de pesquisadores

descobriram que as células precursoras da

enfermidade - que se escondem na medula

óssea dos indivíduos - devem ser extraídas

da região e atacadas quando chegarem à

corrente sanguínea.

Segundo Nervi, “o câncer se origina porque

algumas células normais da medula óssea

ficam ‘loucas’. Utilizando ratos como cobaias,

descobrimos que, quando a leucemia está em

seu nicho, o lugar onde vive na medula óssea,

ganha proteção dada pelo ambiente onde se

encontra. Se somos capazes de desprender a

leucemia da medula óssea, já podemos deixá-la

mais vulnerável à quimioterapia”.

O cientista justifica ainda que a pesquisa

comprovou, por meio de uma droga, que

as células da doença, transitoriamente, por

algumas horas, se desprendem da medula

óssea. “Quando elas se soltam e entram

na circulação, ao injetar a quimioterapia -

medicamentos que entram pelo sangue -,

as células precursoras da leucemia morrem.

Nos próximos anos, estaremos aprendendo

mais com estes mecanismos para entender

se podemos usá-los em humanos, chegando

à cura de mais pacientes”, afirmou.

O avanço foi observado pela companhia

Genzyme, empresa líder em biotecnologia no

mundo, que se interessou pela investigação do

doutor Nervi e seus colaboradores da Pontifícia

Universidade Católica de Santiago. Há alguns

dias, foi firmado um convênio, e a empresa

investirá US$ 160 mil em dois anos para que os

cientistas continuem a pesquisa. Anteriormente,

Nervi havia iniciado os estudos em laboratórios

da Universidade de Washington, em Saint Louis,

nos Estados Unidos, onde permaneceu três anos

com outro grupo e retornou ao Chile em 2006.

Nervi e sua equipe tentam, agora, en-

contrar um tratamento que seja mais efetivo

e cause menos danos. “Estamos buscando

novas maneiras, além da quimioterapia, para

injetar as substâncias, como de forma oral”,

projetou, estimando que o estudo alcance

ainda um modelo possível de se aplicar em

outros tipos de tumor, como os intestinais,

hepáticos e de mama.

Fonte: Jornal do Brasil

10

LEUCEMIA

Page 11: REVISTA ODISSEIA DA MEDICINA ED.02

11

KNOW-HOW A SERVIÇO DO CIDADÃO

O Governo de Goiás tem se comprometido

com todas as políticas públicas que

beneficiam os segmentos sociais, em

especial com o SUS.

A Secretaria de Ciência e Tecnologia (Sectec)

sabe que Goiás, referência nacional em saúde,

face à significativa demanda social, tem muitas

conquistas a comemorar, dentre elas a sua

renovação tecnológica e a modernização dos

serviços radiodiagnósticos.

Os programas coordenados pela Secretaria

de Ciência e Tecnologia estão mudando o perfil

científico e tecnológico do Estado. A pasta tem

a incumbência de dotar e de acompanhar os

avanços radiodiagnósticos, como a densitometria

óssea, mamografia, radiologia digital, ressonân-

cia magnética, tomografia computadorizada,

ultrassonografia, dentre outros, utilizando-os

adequadamente e de forma otimizada. Equipa-

mentos de última geração serão utilizados na

área de produção de imagens para os serviços

de saúde no Estado.

Goiás terá um moderno centro tecnológico de

pesquisa, especializado em radioterapia, aliado à

tecnologia de ponta da CNEN, do INCA e do CNPq.

Possuirá, ainda, um acelerador linear, equipamento

de ponta, utilizado no tratamento de carcinomas.

Esse centro, um complexo científico avançado,

contará com equipamentos capazes de oferecer

melhor qualidade de vida às pessoas, ampliando a

Joel de Sant´Anna Braga Filho. Secretário de Estado de Ciência e Tecnologia de Goiás. Especialista em Políticas Públicas. Graduado em Odontologia. Membro da Academia Goianiense de Letras.

assistência aos seus pacientes, agregando pesquisa

aos respectivos protocolos de tratamento.

O centro tecnológico tem, dentre os seus

muitos objetivos, o de melhor dimensionar os

efeitos da radiação no corpo humano e as possíveis

sequelas, face ao emprego terapêutico dos raios

ionizantes, no tratamento de doenças cancerígenas.

Há, também, o propósito de mapear as ciências

nucleares, estabelecendo parcerias nacionais e

estrangeiras, bem como a permuta de tecnologias

transdisciplinares na área de radioterapia, de

radiobiologia e de medicina nuclear.

Com essas ações, os tratamentos oferecidos

pelo centro tecnológico estarão aferidos pelos pa-

drões internacionais de qualidade e de segurança,

circunstâncias que repercutem diretamente na sua

eficácia. Desse modo, serão criadas oportunidades

para que novas pesquisas e conhecimentos sejam

produzidos e colocados à disposição da sociedade,

qualificando a vida e o bem-estar do cidadão, que

dele irá se beneficiar.

JOEL DE SANT´ANNA BRAGA FILHO

CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Page 12: REVISTA ODISSEIA DA MEDICINA ED.02
Page 13: REVISTA ODISSEIA DA MEDICINA ED.02

Um novo sistema de diagnóstico molecular

capaz de avaliar simultaneamente até

cem indivíduos, diagnosticar até cem

doenças e gerar resultados em cerca de 30

minutos está sendo desenvolvido por uma rede

de instituições de pesquisa e desenvolvimento

tecnológico brasileiras.

A rede é formada pelo Instituto de Tecnolo-

gia em Imunobiológicos (Biomanguinhos) da

Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Instituto

Carlos Chagas (ICC), o Instituto de Tecnologia

do Paraná (Tecpar), a Empresa Brasileira de

DESCOBERTA DA CAUSA DE DOENÇAS EM 30 MINUTOS

Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás)

e o Instituto de Biologia Molecular do Paraná

(IBMP). Denominado microarranjo líquido, o

teste é fruto de uma iniciativa de nacionalização

de insumos e testes para diagnóstico. O estudo

teve a etapa de laboratório concluída e já foi

aprovado na prova de conceito. Atualmente,

os pesquisadores estão na fase de desenvol-

vimento de protótipo.

A expectativa é que o primeiro protótipo

seja finalizado até o final deste ano e, em 2010,

estão previstos os estudos piloto e multicêntrico

necessários à validação e ao registro do produto

na Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(Anvisa). Dentre os elementos que compõem

o novo sistema de diagnóstico molecular estão

uma placa com cem poços, sendo que cada

poço possui cem tipos diferentes de esferas

de cinco micrômetros de diâmetro, além de

um equipamento que separa as microesferas

individualmente, identifica o tipo de cada uma

e verifica se são positivas ou negativas.

No microarranjo, cada tipo de microesfera

tem uma cor específica e pode ser revestido com

material genético de um determinado patógeno,

o vírus ou microrganismo causador de doenças.

Como há cem tipos de microesferas, de cem cores

distintas, o sistema pode testar até cem patógenos

diferentes de uma só vez. Em cada poço da placa, as

microesferas se misturam com o soro dos indivíduos

e, como há cem poços por placa, até cem pessoas

podem ser testadas por vez.

Se um indivíduo foi infectado por um ou mais

patógenos, seu soro apresenta anticorpos que se

ligam às proteínas dos patógenos encontradas

na superfície das respectivas microesferas.

Uma terceira classe de molécula é adicionada

ao poço e sua função é reconhecer e se ligar

aos complexos formados pelo anticorpo e pela

microesfera: a ligação dessa terceira molécula

caracteriza uma microesfera como positiva. Todas

as microesferas de cada poço são analisadas por

um equipamento que emite dois tipos de raios

laser. O primeiro identifica o tipo (ou a cor) da

microesfera, enquanto o segundo verifica se ela

é positiva ou contém o anticorpo e, portanto,

houve infecção, ou negativa, quando não contém

o anticorpo.

Fonte: Envolverde/Agência Fapesp

13

DIAGNÓSTICO

Page 14: REVISTA ODISSEIA DA MEDICINA ED.02

TRATAMENTO PARA AS DISFUNÇÕES SEXUAIS

Muita gente deixa de procurar o trabalho psicoterápico ou não confia inteiramente em sua eficácia pelo simples motivo de não conhecê-lo.

Fantasias e preconceitos, então, se misturam às origens psicogênicas do problema, dificultando a busca de soluções.

O trabalho psicoterápico baseado na queixa sexual psicogênica não assume um caráter único e exclusivo de conduta terapêutica.

A avaliação deste tipo de trabalho como simplista ou incompleto pode ter origem tanto na falta de informação como no preconceito a respeito de tal prática.

É fato que ele se distancia de outras condutas terapêuticas, uma vez que concentra esforços na solução do problema sexual.

Isto porque o trabalho específico com a sexualidade (surgido no final do século passado com publicações de Havelock Ellis e desenvolvido neste século com a aplicação de abordagens comportamentais na década de 50, e por meio da realização de estudos sobre fisiologia sexual, de William Masters e Virginia Johnson, na década de 60), aprimorou recursos de intervenções práticas para a solução deste problema específico. Porém, não representa o limite do trabalho.

Desde a avaliação psicológica diagnóstica, que tem por finalidade detectar fatores emocionais potencialmente envolvidos na queixa, sejam eles primários ou secundários à disfunção, até a terapia sexual propriamente dita, o profissional acumula um material sobre a subjetividade do paciente, de fundamental relevância para o curso do tratamento.

A tônica na condução desse processo reside na organização prática que o psicoterapeuta faz daquilo que o paciente oferece sobre o seu sofrimento psíquico (e os meios que já utilizou para tentar resolvê-lo), propondo uma intervenção inicial focada no sintoma principal (disfunção sexual), ou nos aspectos emocionais impeditivos de um resultado

MARGARETH DE MELLO F. DOS REIS

14

PSICOLOGIA

Page 15: REVISTA ODISSEIA DA MEDICINA ED.02

mais positivo em suas experiências sexuais (sem perder, obviamente, de vista, o problema sexual que aflige o paciente).

A atenção do psicoterapeuta está voltada para uma variedade de aspectos individuais do paciente, tais como: assertividade, flexibilidade, relacionamento interpessoal, avaliação particu-lar que ele faz dos acontecimentos, expressão emocional, bem como para os meios de que o paciente se utiliza para estabelecer os seus envolvimentos afetivo-sexuais.

De forma metafórica, nesta perspectiva, as técnicas sexuais ocupam o palco quando o elenco já está preparado para o espetáculo; caso contrário, elas aparecem nos ensaios, corrigem e acertam detalhes que prejudicam o script ou, até mesmo, aguardam nos bastidores, se for o caso, até o momento oportuno para a sua apresentação.

O que certamente não retrata este processo é mostrar o psicólogo desvinculado de sua formação

mais ampla (ciência do comportamento), ocupando-se apenas de um aspecto das dificuldades do “ser” humano: neste caso, o sexo.

Tanto o ser humano não tem esse aspecto isolado de outros que, juntos, lhe dão um perfil característico.

Quanto ao psicólogo, ao fazer uma abordagem de tratamento voltada apenas para a sexualidade, estaria descartando o conhecimento adquirido durante seus anos de formação sobre a complexidade do desenvolvimento humano e sobre as mais variadas formas pelas quais o ser humano expressa suas insatisfações emocionais.

O trabalho em sexualidade conta com uma abordagem técnica específica, e sua aplicação varia de acordo com a demanda que o paciente apresenta.

Tendo em vista os pontos que desencadearam ou mantêm uma disfunção sexual, o psicotera-peuta poderá planejar a sua atuação e, ao longo de seu desenvolvimento, avaliar os recursos que

Margareth de Mello F. dos Reis. Psicóloga. Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie–SP. Terapeuta Sexual e de Casais no Instituto H. Ellis. [email protected]

está utilizando a partir dos resultados obtidos no decorrer das sessões.

Sob esta ótica, a proposta de tratamento visa também uma integração nas formas de pensar, sentir e agir do paciente, com ganho inevitável no plano da sexualidade.

Mesmo que o problema repouse apenas na dificuldade sexual, observando-se que todas as outras áreas (social, familiar, afetiva, profissional ou acadêmica) mantêm-se preservadas, o trabalho tem que oferecer, para cada paciente, aquilo de que ele especificamente necessita para alcançar o seu bem-estar emocional.

Se a meta para isso não incluísse um propósito mais amplo e consistente para o paciente, seria desnecessária a presença de um psicólogo.

Bastaria que um indivíduo com disfunção sexual seguisse as instruções que manuais de técnicas sexuais apresentam ou, ainda, que qualquer profis-sional de outras áreas o instruísse a esse respeito.

Ainda que muito bem intencionado, tal profissional estaria realizando um trabalho educativo, terapêutico, informativo, pois a psicoterapia, além destas inter-venções, visa trabalhar as questões subjacentes ao problema apresentado pelo paciente, para que ele possa alcançar liberdade e discernimento emocionais em todos os planos de sua vida. E isso somente ao psicoterapeuta compete realizar.

15

PSICOLOGIA

Page 16: REVISTA ODISSEIA DA MEDICINA ED.02

Preocupação dos dentistas, um dente

impactado (encravado), que não consegue

romper o tecido mole da gengiva para

surgir na cavidade bucal ou não possui espaço

suficiente para se acomodar na boca, pode

representar mais do que uma simples irregula-

ridade dental. A imperfeição pode comprometer

a saúde bucal se não for detectada a tempo.

A mordida pode ser modificada (desalinhada)

pelo dente impactado que, por falta de espaço

para nascer, pode empurrar os dentes vizinhos

-apinhar os dentes – e, muitas vezes, chegar

a reabsorver (corroer) a raiz do dente mais

próximo. E, quando semi-impactado (emergiu

parcialmente), pode armazenar comida, placa

e outros detritos no tecido mole ao seu redor,

causando mau hálito, inflamação, sensibilidade

da gengiva e cárie pelo acúmulo de alimento

e difícil higienização.

O Dr. Sidnei Goldmann, especialista em

implantondontia, ressalta que o distúrbio,

muitas vezes, é ocasionado por deficiência

do crescimento ósseo da arcada dentária,

que não alcança o tamanho necessário para

abrigar todos os dentes. “Essa anomalia tem

maior probabilidade de acontecer com os

últimos dentes a se desenvolverem na boca.

A erupção é dificultada por falta de espaço e o

dente encravado entorta, inclina ou se desloca

enquanto tenta emergir, resultando em modifi-

cações na arcada dentária, podendo até causar

dor. Outro fator que não podemos descartar é

o excesso de tecido mole que também pode

representar um obstáculo para o nascimento

do dente”, enfatiza o especialista.

Qualquer dente pode não erupcionar (nascer)

e ficar impactado. Os mais comuns são os dentes

do siso e os caninos superiores. Por isso, os

dentistas são unânimes ao recomendarem a

odontologia preventiva para impedir outras

causas mais sérias, pois, se a membrana que

circunda um dente impactado ficar inflamada,

pode formar um cisto na arcada dentária. “A

melhor maneira de se constatar o distúrbio e

evitar que ele vire problema sério é a prevenção

– radiografias e acompanhamento odontológico.

A formação de cisto é sinal de estado crítico,

caso de cirurgia”, revela Goldmann.

O implantondontista Goldmann ressalta os

cuidados. “O tratamento do dente impactado,

auxiliado por radiografias, pode ser, nos cani-

nos, um tracionamento ortodôntico (tração do

Sidnei Leonard Goldmann. Odontólogo. Especialista em Implantes Dentários. Membro da Sociedade Brasileira de Estética Dental. Membro da “American Academy of Osseointegration”. Professor de Implantologia e Cirurgia Avançada no IAP.www.goldmannodontologia.com.br

dente até sua posição normal no arco dentário)

para conservar o dente. Para terceiros molares

(dentes do siso) que estão presos (encravados)

por causa da densa camada de tecido mole, um

corte na gengiva já adianta. E, para os molares

que não conseguem a erupção, a extração é a

melhor medida”, conclui o doutor.

16

DENTE IMPACTADO AFETA A SAÚDE BUCAL

ODONTOLOGIA

Page 17: REVISTA ODISSEIA DA MEDICINA ED.02

Até há pouco, as boas universidades/faculdades

se ocupavam em qualificar seus processos

de ensino e aprendizagem e em desenvolver

a prática educativa formal com intencionalidade e

metas definidas. As não tão boas se estabeleciam

e diplomavam estudantes, mesmo sem atingir os

objetivos mínimos indicados pelo senso comum.

E assim se vivia, educando aos trancos, como se

não fosse função do Estado o auxílio, reforço ou

mesmo extinção daqueles que repetidamente não

alcançam o proposto.

Neste cenário, abriram-se as veias para a inoculação

e proliferação de cursos caça-níqueis, sem atenção para

a qualidade da educação superior e, tampouco, orien-

tação ou controle da expansão de sua oferta. É inegável

a importância assumida com a criação da avaliação do

ensino superior, inicialmente pelo Provão, que avaliava

o egresso e, após, pelo Sistema Nacional de Avaliação

do Ensino Superior (SINAES) com seus três principais

componentes: avaliação das instituições, dos cursos

e do desempenho dos estudantes. Criado pela lei nº

10.861, de 14 de abril de 2004, o SINAES passou a

ter a incumbência de avaliar todos os aspectos que se

referem aos cursos de graduação do país. Por aí, parecia

que estava se iniciando um processo que traria ordem,

qualidade e razão para a educação superior do país.

No entanto, mais rapidamente do que se

imaginava, o ensino superior e sua avaliação se

tornaram populares. Muito populares. Criou-se

o campeonato brasileiro da educação superior.

Nestes dias, passou a ser prioritária uma nova

ocupação, aliás, uma preocupação: organizar

alunos e professores para um campeonato. É um

campeonato que, aos moldes do Brasileirão de

futebol, tem times, ranking e, mais do que isso,

há os que correm o risco de cair para a segunda

divisão. Há, inclusive, escolas que, num arreme-

EVOLUIR É BEM DIFERENTE DE VENCER: PARECE MAIS COM TORNAR-SE MELHOR

do de pré-temporada, começam a preparar seus

alunos para a realização de um dos componentes

do SINAES, o Exame Nacional de Desempenho

de Estudantes (ENADE). Não mais para exercer a

profissão-fim do curso. Tudo acompanhado pelos

jornais, rádio e televisão. E os dirigentes, quando

interrogados sobre sua posição na tabela divulgada

pelo MEC, explicam - surpresos - que venceram

pela excelência de seus quadros e condições de

ensino. Ou – aturdidos - que perderam por razões

ainda não examinadas.

Se não há nenhum viés, o resultado destas

comparações, em geral, premia os cursos em que

ingressam, pelo vestibular, os alunos mais bem

preparados: escolas públicas onde a procura é maior

e não há pagamento individual pelo curso. Ranking

de ingressantes e de concluintes não difere no geral.

Mas esta é uma longa discussão para que me atreva

a abordá-la mais extensamente em poucas linhas. O

que se deve salientar é que educar não é participar de

um campeonato, de uma competição ou sucessão de

competições que resultam na seleção de um compe-

tidor ou equipe com desempenho comparativamente

superior, denominado “campeão”. Não estamos todos

em um concurso de miss, corrida de cavalos ou luta

de boxe, atividades importantes em uma sociedade

plural, mas cujos objetivos principais diferem daquele

esgrimido pela universidade.

Não têm sido discutidas universidades, cursos,

avaliação e os próprios instrumentos em si. O que

se discute é o ranking que, mesmo não assumido,

é estimulado pelo Estado. É este que mostra uma

classificação numérica e não de competências,

para gáudio de uns e tristeza de outros. Que gera

notícia, entrevistas e explicações. Vazias para quem

está no topo, mas geradoras de ressentimento

para quem esteve mal na foto. Precisamos refletir

sobre o que acontece num momento singular da

história da educação superior no Brasil. Momento

em que se busca maior qualidade dos cursos, para

que haja foco no profissional que desejamos ou

necessitamos formar para a sociedade. E não para o

ENADE. O exame deve adequar-se para bem medir

a qualidade da formação.

Avaliação é necessária e fundamental para

a educação em geral e para a educação superior, em

particular. Avaliar cursos e universidades é o caminho,

não há dúvidas. Estamos nele e isto é ótimo! O que

penso temerário é expor classificações públicas com

detalhes numéricos que chegam à discriminação da

unidade (417, 439...), baseadas em instrumentos ainda

em discussão. A pressa em dar mídia às avaliações por

vezes leva à análise inadequada de instituições sérias e

produtivas. Pior do que isso, fragiliza o poder de uma

necessária e, virtualmente, poderosa reestruturação da

educação superior no país.

IVAN CARLOS FERREIRA ANTONELLO

17

lvan Carlos Ferreira Antonello. Doutor em Medicina e Ciências da Saúde pela PUC-RS. Mestre em Nefrologia. Especialista nas seguintes áreas: Nefrologia, Cardiologia, Medicina Interna e Medicina do Trabalho. Aperfeiçoado em Qualidade Total em Saúde. Professor Titular do Departamento de Medicina Interna da PUC-RS. Membro da Câmara Técnica de Nefrologia do CRM-RS. Membro do Conselho Consultivo do Sindicato Médico do RS.

EDUCAÇÃO

Page 18: REVISTA ODISSEIA DA MEDICINA ED.02

FALTA DE PROTEÍNA EXCLUSIVA DO CÉREBRO DESENCADEIA EPILEPSIA

Os sinais neurais “enlouquecem” em ca-

mundongos sem uma proteína localizada

apenas no cérebro, causando ataques

epilépticos em animais ainda com pouco tempo

de vida. Pesquisa da Universidade de Medicina

de Berlim detalhou o que ocorre quando a prote-

ína codificada pelo gene PRG-1 se perde e revela

um importante mecanismo de sintonia fina para

as funções cerebrais. O artigo foi divulgado em

setembro pela revista especializada “Cell”.

Os cientistas mostraram que a “influência

calmante” do PRG-1 no cérebro depende da

interação adequada com uma classe particular

de lipídios, conhecidos como fosfolipídios, que

atuam como importantes sinalizadores celulares.

A equipe, liderada por Robert Nitsch, investigou

se mudanças na sinalização via fosfato lipídico e

alterações funcionais do PRG-1 podem ser causas

ainda não reconhecidas da epilepsia.

Nitsch e seus colegas foram os primeiros a

descobrir a nova classe de proteínas PRG e ficaram

particularmente intrigados pelo padrão particular de

atividade do PRG-1: ele não aparece em nenhum

outro lugar do corpo, nem mesmo em outros pontos

do cérebro. Ele só dá as caras nos terminais de um

só tipo de neurônio. “A maioria das moléculas são

mais ou menos localizadas na maioria das células”,

explicou Nitsch. “Algumas são mais confinadas,

mas apenas um grupo muito pequeno é confinado

em tipos particulares de células em organismos

particulares.”

No novo estudo, eles demonstraram que o

camundongo com deficiência de PRG-1 desenvolve

convulsões muito severas por causa de alterações

na atividade cerebral. Embora as conexões neurais

no cérebro dos animais tenham aparentado estar

completamente normais em sua estrutura, estavam

excitáveis ao extremo. Quando o PRG-1 foi restaurado

em neurônios específicos, as atividades neurais

voltaram ao normal. A habilidade moderadora do

cérebro foi perdida quando a porção do PRG-1,

que interage com o lipídio conhecido como ácido

lisofosfatídico (LPA), foi alterada. O LPA, em si,

não é um neurotransmissor, mas aparentemente

promove sintonia fina da liberação de glutamato,

que é o mais prevalente dos mensageiros químicos

cerebrais. Sem glutamato, as funções do cérebro

podem simplesmente parar. O LPA atua no lado

remetente das sinapses, enquanto o PRG-1 atua

como recipiente.

Fonte: www.g1.com.br (Ciência e Saúde)

Foto: Hugo Finoco

18

ENDOCRINOLOGIA

Page 19: REVISTA ODISSEIA DA MEDICINA ED.02

Logo que surgiram, os hospitais funcionavam como áreas de confinamento. Asilos onde indigentes e doentes graves eram depositados

em quartos superlotados, úmidos e escuros enquanto, pacientemente, esperavam a morte. Médicos e enfermeiras da época, sem grandes recursos para diagnóstico e tratamento, faziam o que estava ao seu alcance para aliviar o sofrimento dos internados.

A imagem do hospital foi passando de geração em geração como um lugar onde, em geral, as pessoas não desejavam estar. Até mesmo partos eram realizados em casa, tamanha a aversão à instituição hospitalar. Vários fatores contribuíram para esta repulsa:u Ao entrar em um hospital, automaticamente, o paciente perdia o controle da situação, sua voz não era mais soberana e a autoridade do médico e do corpo de enfermagem passava a ser inquestionável.u Pacientes eram despidos, manipulados, to-cados, examinados, puncionados sem maiores esclarecimentos.u Procedimentos eventualmente causavam dor, gerando tensão e medo.u Contato com amigos e familiares passava a ser restrito.u Clima de insegurança quanto ao tempo de internação e eficácia do tratamento. u Maioria dos óbitos acontece dentro de hospitais, e a associação passou a ser inevitável.

Embora estas características sejam inerentes a uma situação de doença e nem sempre possam ser minimizadas ou evitadas, o grande desafio na área da saúde é fazer com que pacientes e familiares mudem seu enfoque e procurem hospitais não somente por necessidade absoluta de enfermidade grave, mas sim por desejo de permanecerem saudáveis. Para que isto aconteça, é preciso escutar o que pensam e desejam pacientes e clientes.

Pesquisas demonstram que, na visão dos pacientes, hospitais deveriam possuir organização, higiene, reputação, bons médicos, conhecedores de tecnologias avançadas e dos melhores procedimentos e, sobretudo, calor humano para que pudessem se sentir seguros e confortáveis na situação nada agradável de estarem doentes.

Com os dados coletados, parece simples estabelecer uma estratégia de captação de pacientes pela contemplação dos desejos relatados. Parece, mas não é. É preciso que todos os setores do hospital compreendam e estejam comprometidos com a importância de uma reeducação interna e sejam conscientes da difícil tarefa de transformar uma situação não planejada, nem desejada, em algo digno, confortável e sem maiores traumas.

Em um meio onde doença, insegurança, medo e ansiedade predominam, alguns hospitais, depois de atingirem excelência em conhecimento e tecnologia, passaram a buscar uma referência em atendimento. Hotéis serviram de inspiração para

Ildo Meyer. Médico. Especialista em Anestesiologia. Pós-graduado em Filosofia Clínica pelo Instituto Packter. Ex-Presidende da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (RS). Escritor e palestrante motivacional.

que acomodações e cuidados diferenciados fossem implantados, visando um suporte mais adequado à restauração da saúde.

O desafio foi conseguir, por intermédio do respeito à dignidade e ao sofrimento do outro, transmitir com clareza a noção de amparo e aten-ção máxima às demandas individuais. Pouco a pouco, pacientes e familiares sentiram a mudança de atitude, reverteram a situação e transformaram tais hospitais em grifes. E como todos sabem, grifes são objetos de desejo.

EXCELÊNCIA EM TECNOLOGIA E ATENDIMENTO

ILDO MEYER

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HOSPITAIS DE GRIFE

Page 20: REVISTA ODISSEIA DA MEDICINA ED.02

Desafios além Da meDicina

Apesar de todos os avanços terapêuti-cos, existem outros desafios no combate à doença: o desconhecimento sobre o linfoma e a dificuldade para a realização do diag-nóstico precoce. Para se ter uma ideia, uma pesquisa realizada pelo DataFolha, em 2008, apontou que mais da metade dos brasileiros (66%) nunca ouviu falar do linfoma, que é o quinto tipo de câncer mais frequente no mundo. Um dado ainda mais preocupante é que 89% dos que mencionaram ter ouvido falar dos linfomas (34%), desconhecem os sintomas da doença.

O sintoma inicial mais comum do linfoma é um aumento indolor dos linfonodos no pescoço, axilas, abdômen, virilha ou do mediastino (região entre o coração e os pulmões). Outros sintomas incluem febre, suor, principalmente à noite, perda de peso e coceira. O baço e/ ou o fígado podem estar aumentados.

Fonte: Ketchum Estratégia

ALÉM DA QUIMIOTERAPIA E DA RADIOTERAPIA, HÁ OUTRA OPÇÃO PARA TRATAR O LINFOMA

A recente exposição do linfoma no cenário nacional traz um grande benefício para a população: a importância e disseminação

dos sinais e sintomas da doença, fundamentais para a detecção precoce, que aumenta, e muito, as chances de cura. Por outro lado, para que essa cura seja possível nos casos mais comuns de linfoma, que correspondem a 80% dos casos da doença no mundo ocidental– os chamados linfomas de células B -, habitualmente o tratamento não deve ser feito apenas com quimio e radioterapia. Denominado de imunoterapia, este tipo de tratamento inovador atinge seletivamente as células linfomatosas e detém a multiplicação das células malignas.

A imunoterapia no tratamento do linfoma alia o anticorpo monoclonal, chamado MabThera (rituxi-mabe), aos regimes de quimioterapia tradicionais. “É consenso mundial que a utilização do rituximabe, associado à quimioterapia, aumenta consideravelmente as chances de cura dos pacientes com linfoma de células B. A chegada deste tratamento, há 10 anos, foi um marco no tratamento da doença. Destaca-se o tratamento do linfoma difuso de grandes células B,

do folicular, da zona do manto e, mais recentemente, da leucemia linfocítica crônica. Diversos países da Europa, Estados Unidos e até África adotaram o medicamento como protocolo de tratamento, afirma o Dr. Cármino Antônio de Souza, médico hematologista e professor titular de Hematologia e Hemoterapia da Unicamp.

No Brasil, segundo os últimos dados do INCA (Instituto Nacional do Câncer), em 2004, foram computadas mais de 3 mil mortes no país devido somente aos cânceres do sistema linfático. Uma média de 8,5 mortes por dia devido à doença.

“Devido a esse número de mortes e com a incidência cada vez maior no Brasil, é importante que as autoridades federais deem a devida atenção ao tratamento do linfoma, já que sabemos que a cura é possível em grande parte dos casos”, completa o Dr. Cármino.

Lançado no Brasil há 10 anos, MabThera vem proporcionando a cada ano novos benefícios para os pacientes com linfoma de células B. Até o momento, mais de 1,5 milhão de pacientes foram

tratados com o medicamento em todo o mundo. Além disso, este foi o primeiro anticorpo mo-

noclonal aprovado pelo FDA em 1997 (Food and Drug Administration – agência norte-americana responsável pelo controle dos medicamentos) para o tratamento de câncer e representou um avanço na Medicina ao desenvolver o conceito de terapia dirigida a um alvo. Diferente da quimioterapia clássica que mata não somente as células doentes, mas ataca células sadias, esse medicamento age exclusivamente sobre as células doentes.

20

IMUNOTERAPIA

Page 21: REVISTA ODISSEIA DA MEDICINA ED.02

AUMENTO DO NÚMERO DE IDOSOS REFLETE MAIOR EXPECTATIVA DE VIDA

Entre os idosos, os 20% mais pobres apresentam

índices menos elevados para essas doenças. De

acordo com o IBGE, isso pode significar falta de

acesso ao atendimento médico qualificado e baixos

índices de educação.

“Em momento algum podemos afirmar que os

idosos mais pobres têm menos doenças crônicas”,

explicou a pesquisadora Isabel Parahyba. “O indi-

cador mostra que essas pessoas, às vezes, não têm

a percepção da doença. Por falta de escolaridade

ou dificuldade de um diagnóstico qualificado”,

completou.

De acordo com a pesquisa, o aumento do

número de idosos e a consequente mudança no

perfil da população requer melhorias nas políticas

públicas, com mais oferta de atendimento geriátrico

e gerontológico, assim como medidas no âmbito

da Previdência.

Doenças crônicas atingem 75,5% dos idosos.

Em menos de 40 anos, o Brasil passou de um

perfil de mortalidade típico de uma população jovem

O aumento da expectativa de vida do brasi-

leiro tem contribuído para alterar o perfil

das causas de morte da população, antes

caracterizado por doenças típicas de jovens. Nos

últimos 40 anos, entretanto, tem aumentado

o número de casos de enfermidades crônicas

que, atualmente, atingem 75,5% das pessoas

acima dos 60 anos. Entre os jovens, o percen-

tual é de 9,3%.

A informação consta de pesquisa divulgada

pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE). Segundo o documento, apesar da alta

prevalência deste tipo de doença, apenas 29%

dos idosos no país tem plano de saúde. Por outro

lado, o atendimento na rede pública para pessoas

com mais de 80 anos custa cerca de R$ 179,00.

“O custo da internação per capita tende a ser

maior à medida que a idade aumenta, passando

de R$ 93,00 por idosos na faixa etária de 60 a 69

anos, para R$ 179,00 entre aqueles com 80 anos

ou mais”, esclarece o texto da pesquisa.

para um desenho caracterizado por enfermidades

complexas e mais onerosas, próprias das faixas

etárias mais avançadas. O fato marcante em relação

às doenças crônicas é que crescem de forma muito

importante com o passar dos anos: entre os de

idade de 0 a 14 anos, foram reportados apenas

9,3% de doenças crônicas, mas, entre os idosos,

este valor atinge 75,5% (69,3% entre os homens

e 80,2% entre as mulheres).

Os 20% de idosos mais pobres apresentaram

prevalência estatisticamente significativa menos

elevada (69,9%) de doenças crônicas. Os demais

declararam proporções semelhantes (de, aproxi-

madamente, 75%).

O Brasil envelhece rapidamente, mas os

grandes centros urbanos, embora já apresentem

um perfil demográfico semelhante ao dos países

mais desenvolvidos, ainda precisam melhorar

a infraestrutura de serviços para dar conta das

demandas decorrentes das transformações

demográficas vigentes.

CeRCA de 29% dOS IdOSOS nO BRASIL TêM pLAnO de SAúde

A cobertura dos planos de saúde entre os idosos é de aproximadamente 5 milhões de pessoas de 60 anos ou mais de idade, repre-sentando 29,4% do total da população nessa faixa etária. A clientela dos planos de saúde é predominantemente composta de pessoas de renda mais alta, ocorrendo o inverso entre os idosos que possuem apenas cobertura pelo SUS. Entre os idosos usuários do SUS, apenas 5,8% apresentavam um rendimento domiciliar de mais de três salários mínimos per capita, enquanto que, entre os idosos que possuíam planos privados, esta proporção alcançava 42,8%.

Fonte: Isabela Vieira - Agência Brasil

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SAÚDE

Page 22: REVISTA ODISSEIA DA MEDICINA ED.02

A SÍNDROME DO

Conta a lenda que, no século VIII, um im-

perador da Frígia, chamado Górdio, em

louvor a Zeus que lhe teria proporcionado

ser rei quando era um camponês e conduzia carro

de bois, amarrou este mesmo carro numa coluna,

no templo do deus maior, dando um nó tão complexo

que ninguém seria capaz de desatá-lo. Quinhentos

anos depois, Alexandre Magno passa pela região e

lhe falam de uma profecia pela qual quem desatasse

o nó conquistaria toda a Ásia Menor. Foi ao templo

e, observando a complexidade do nó, não titubeou:

desembainhou a espada e o cortou ao meio, desfazendo-

o. Certo ou errado, o fato é que poucos anos depois

ele conquistava toda aquela região.

Muitos séculos são passados desde então e,

neste segundo milênio, um novo “nó górdio” é

colocado, agora diante dos médicos, como um

terrível desafio. Refiro-me aos enfermos porta-

dores de graves doenças ou lesões traumáticas,

pelas quais suas condições vitais estão séria

ou definitivamente comprometidas. São, então,

submetidos a tratamentos heróicos, em que a

tecnologia de ponta – sofisticada e caríssima – é

utilizada, porém, a resposta terapêutica permanece

praticamente inalterada.

Mercê desta mesma tecnologia, o quadro

mórbido não evolui, nem para uma melhora – por

ser praticamente impossível – nem para o desfecho

fatal. Por meses e até longos anos, esses enfermos

permanecem em unidades de terapia intensiva.

Outros, mais felizes, são levados para áreas de

internação onde seus familiares podem permanecer

ao seu lado em tempo integral. Outros, em número

bem menor, são liberados para retornar às suas

nó górdioEVALDO A. D´ ASSUMPÇÃO

“ ”

22

ORTOTANÁSIA

Page 23: REVISTA ODISSEIA DA MEDICINA ED.02

evaldo A. d´Assumpção. Médico. Tanatólogo e biotanatólogo. “Senior-Member of ADEC–Association for Death Education and Counseling” (EUA). Presidente do Conselho Superior da SOTAMIG – Sociedade de Tanatologia de MG. Membro do Instituto Mineiro de História da Medicina, da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores e da Academia Campo-belense de Letras. Professor.

Nesses casos, não se prolonga a vida, e sim a morte

casas onde uma verdadeira unidade de tratamento

intensivo é montada, mantendo-os estáveis em

sua agonia, por tempo indefinido.

Depois de longo período, a família, exaurida

física, emocional e financeiramente, começa a

pressionar os médicos por uma solução. Os mé-

dicos, quase sempre já acomodados com aquele

quadro inalterado e inalterável, se angustiam por

uma tomada de decisão, imaginando qual será a

mais adequada.

Aí está a síndrome do “nó górdio”. Familiares

e médicos contemplam o enfermo tal e qual se

contemplava o famoso nó da mitologia. Como

desatá-lo?

O código de deontologia médica, em seu

artigo 130, deixa claro o impedimento ético da

utilização de novos tratamentos em enfermos

incuráveis, especialmente se não trazem esperança

concreta de melhora e ainda impõem ao enfermo

sofrimentos adicionais.

Contudo, a pressão dos laboratórios farma-

cêuticos que lançam novas e caríssimas drogas,

a pressão das indústrias que fabricam aparelhos

capazes de manter um corpo aparentemente

vivo, enquanto a pessoa há muito já morreu, é

forte demais. E àquela pressão se juntam outras,

oriundas de grupos defensores da vida a qualquer

preço, mesmo que seja apenas um simulacro de

vida. Pergunto-me se, para eles, se aplicaria essa

mesma argumentação. Não em malabarismos

verbais, quando a realidade lhes está distante,

mas no momento azado de sua própria agonia.

Em muito boa hora, o Conselho Federal de

Medicina editou a resolução de nº1.805/06, que

abria as portas para a ortotanásia, ou autanásia

(auto = por si só, tanatos = morte), como creio ser

mais apropriado dizer, que recebeu a aprovação

moral da CNBB, sempre olhada com reservas

pelos médicos. Teve, porém, vida breve, com o

surpreendente embargo pelo Poder Judiciário, até

então amplo defensor de avanços terapêuticos e

tecnológicos, nem sempre moralmente válidos.

Curioso paradoxo.

Um dos pioneiros da Tanatologia no Brasil,

estudando-a há mais de trinta anos e dando

suporte a enfermos em fase terminal e familiares

enlutados, aprendi a respeitar a evolução natural

da vida que, existindo num meio permeado pela

impermanência de tudo e de todos, limitada pelo

espaço e pelo tempo, somente nas oníricas fantasias

dos prepotentes deve durar para sempre.

A vida é um dom precioso e, ao mesmo tempo,

extremamente frágil. Deve ser cuidada carinhosa-

mente com mãos hábeis, suaves e compassivas.

Contudo, se não vem acompanhada de predicados

essenciais ao seu sentido maior, que é a felicidade

genuína (não me refiro ao hedonismo nem às suas

variações, que rejeito), não há porque prolongá-la

artificialmente, pela intransigência da tecnologia,

cujo maior objetivo é o êxito de suas ações e não

necessariamente o bem-estar da pessoa por ela

manipulada.

O médico tem de perder a noção de que a morte

é sua inimiga. Ao contrário, ela é sua aliada e sua

mestra na medida em que lhe ensina a fragilidade

da vida, a imediatidade dos nossos atos, a tran-

sitoriedade de tudo e de todos, a impermanência

que rege nosso tempo enquanto neste mundo de

surpresas, de paradoxos, de interrogações.

Oxalá a resolução de nº 1.805/06 seja reavivada

e volte para libertar os que sofrem absurdamente,

proporcionando-lhes um suave caminhar da vida

em transformação.

Oxalá nós, os médicos, tenhamos a coragem de

defender sempre a dignidade da vida, tanto quanto a

dignidade da morte. Sendo sempre, porém, agentes da

vida digna, jamais soturnos agentes da morte.

23

ORTOTANÁSIA

Page 24: REVISTA ODISSEIA DA MEDICINA ED.02

É bastante conhecido que, à medida que o

homem envelhece, ocorrem várias alterações

em sua homeostase hormonal. A produção

de testosterona total e livre diminui, sendo que

20% dos homens saudáveis entre 60 e 80 anos

apresentam testosterona total abaixo do normal.

Além disto, em todos os homens ocorre aumento

REPOSIÇÃO HORMONAL NO HOMEM:NECESSÁRIA?

da globulina de transporte dos andrógenos (SHBG)

e, consequentemente, diminuição da testosterona

biodisponível, além da diminuição significativa da

dehidroepiandrosterona (DHEA) e de sua forma

sulfato (DHEAS). Ainda no homem mais velho,

existe perda do ritmo circadiano da produção de

testosterona, a resposta testicular ao estímulo da

gonadotrofina coriônica está diminuída, assim

como a amplitude dos pulsos de LH; a secreção

do hormônio do crescimento diminui 14% por

década após a puberdade e, finalmente, ocorre

redução da produção de melatonina.

Muitos autores chamam esta fase da vida do

homem de andropausa, androclise, deficiência

androgênica do envelhecimento masculino ou

deficiência endócrina do envelhecimento mas-

culino e comparam-na à menopausa. Nesta, as

repercussões clínicas são muito evidentes na

SIDNEY GLINA

24

UROLOGIA

Page 25: REVISTA ODISSEIA DA MEDICINA ED.02

mulher; ocorre a interrupção das menstruações,

diminuição significativa da produção de estrógeno;

existe infertilidade e pode surgir osteoporose,

atrofia genital.

Quando, por alguma razão, existe parada da

função testicular (por exemplo: orquiectomia

bilateral) aparecem algumas manifestações

clínicas evidentes (manifestações clínicas do

hipogonadismo pós-puberal): diminuição da

libido, disfunção erétil; infertilidade, irritabilidade,

dificuldade de concentração, depressão, perda da

massa e força muscular, osteoporose, perda dos

pelos axilares e pubianos, diminuição do volume

e consistência testicular (quando a causa não é a

remoção cirúrgica dos testículos), ginecomastia e

instabilidade vasomotora. Entretanto, a andropausa

não se caracteriza como uma entidade clínica

marcante. A grande maioria dos homens, embora

tenha níveis de testosterona menores do que na

juventude, continua com esta produção dentro

da faixa da normalidade.

A andropausa teria início lento e insidioso em

que ocorreria diminuição da libido e qualidade

das ereções, principalmente noturnas; alterações

de humor com diminuição concomitante da

atividade intelectual, orientação espacial, fadiga,

depressão e raiva, além de diminuição da massa

corpórea, com decréscimo associado da massa e

força muscular, diminuição da densidade mineral

óssea resultando em osteoporose, perda de pelos

e alterações de pele e aumento da gordura visceral.

Porém, alguns dados falam contra a existência de

um declínio hormonal significativo como o que

ocorre na mulher, e que esta situação hormonal

seria responsável exclusiva pelos sintomas

descritos. Outros possíveis fatores causais são

comuns no homem mais velho e poderiam ser

considerados como fatores etiológicos para estes

sinais e sintomas, entre eles o stress, depressão,

doenças, má nutrição, obesidade, medicamentos,

drogas, falta de parceria sexual. Além disto, a

grande maioria dos homens idosos continua fértil,

o que fala contra um desequilíbrio hormonal (cerca

de 90% dos homens com mais de 50 anos tem

espermatogênese preservada à biópsia testicular).

Não apenas o envelhecimento poderia explicar

um nível de testosterona mais baixo. Singer F.

e Zumoff B., em trabalho publicado na revista

Steroids, 1992,57:86-9 encontraram que o nível

de testosterona dos residentes, durante período

de plantões seguidos, era significativamente

mais baixo que o do resto dos funcionários do

hospital no mesmo período. Os autores con-

cluíram que o stress era o fator causal desta

alteração. Por outro lado, Steiger A. et al, em

trabalho publicado no J. Psychiatry Res.,

1991, 25:169-77 mostraram que o nível de

testosterona total de homens com depressão

endógena era baixo antes do tratamento para

depressão, normalizando-se após o mesmo.

Depressão e ansiedade são condições

bastante comuns na velhice e podem explicar

algumas das situações atribuídas à andropausa.

Por outro lado, não fica claro se a reposição de

testosterona ou outros hormônios corrige os

sintomas relacionados à possível deficiência

hormonal do envelhecimento. Existem poucos

estudos controlados a este respeito, a maioria

são estudos de curta duração, com populações

reduzidas e sem uniformidade.

Desta maneira, quando deve ser feita a reposição

hormonal? A doutora Lisa Tenover, no trabalho

“Male hormone replacement therapy including

andropause”, publicado no Endo Metabol Clin

N Am, 27:969-983, 1998, sugere os seguintes

padrões: quando a testosterona total estiver 1 a

2 desvios-padrão abaixo da faixa normal para o

adulto jovem, ou entre 7 a 12,2 mM/L (200 a 350

ng/dL) associado a quadro clínico. Testosterona

total abaixo de 7mM/L equivale a hipogonadismo,

e a reposição é obrigatória. O Consenso Brasileiro

sobre Disfunção Erétil, realizado pela Sociedade

Brasileira de Urologia, em 1998, considerou que

a reposição de testosterona é formal nos casos

Sidney Glina. Doutor e especialista em Urologia pela USP. Aperfeiçoado em Infertilidade Masculina e Urologia pela “Cleveland Clinic Foundation”. Chefe do Departamento de Urologia do Hospital Ipiranga. Diretor Administrativo do Projeto Alfa. Livre Docente da Faculdade de Medicina da Fundação do ABC. Professor da Faculdade de Ciências Médicas de Porto Alegre. Membro do Comitê de Padronização, Publicação e Nomeação da “International Society of Sexual Medicine” – ISSM. Membro do corpo editorial do “International Journal of Medical Robotics and Computer Assisted Surgery”. Médico do Instituto H. Ellis, do corpo clínico do Hospital Sírio-Libanês e coordenador do Hospital Israelita Albert Einstein.Fonte: www.arquivoshellis.com.br.

de hipogonadismo, micro-pênis na criança e

atraso puberal, após avaliação endocrinológica. É

recomendada quando há diminuição de libido com

testosterona total e/ou livre abaixo do normal (e

prolactina normal) e é controversa (aguardam-se

estudos controlados para confirmação) quando

existe disfunção erétil e testosterona total e/ou

livre nos limites inferiores da normalidade e

nos casos de osteoporose.

Não existem trabalhos, cientificamente bem

elaborados, que mostrem benefícios na reposi-

ção do DHEA, DHEAS e melatonina no homem

mais velho. A administração de hormônio de

crescimento está associada à incidência maior

de diabetes mellitus e neoplasias. Desta maneira,

a reposição hormonal deve ser avaliada caso a

caso e só está indicada quando os benefícios

forem evidentes e ultrapassem os riscos.

25

UROLOGIA

Page 26: REVISTA ODISSEIA DA MEDICINA ED.02

A DROGA PREFERIDA

A cafeína é a droga mais consumida em todo o mundo. Gostamos tanto, que uma de nossas refeições diárias foi nominada em sua

homenagem: café-da-manhã. Esta droga pode ser encontrada no café, chá, chimarrão, refrigerantes e no chocolate. A grande maioria dos brasileiros adultos consome doses diárias de cafeína superiores a 300 mg, e muitos são viciados. Você já se perguntou o que torna a cafeína tão popular? Por que milhões de pessoas usam esta droga?

A cafeína é a 1,3,7-trimetilxantina - um pó branco cristalino muito amargo. Na medicina, a cafeína é utilizada como um estimulante cardíaco e um diurético. Ela também produz um “boost” de energia, ou um aumento no estado de alerta - por isso motoristas e estudantes tomam litros de café para permanecerem acordados. A cafeína é uma droga que causa dependência - física e psicológica. Ela opera por mecanismos similares às anfetaminas e à cocaína. Seus efeitos, entretanto, são mais fracos do que estas drogas, mas age nos mesmos receptores do sistema nervoso central.

A ação da cafeína no organismo

A ligação da adenosina, um neurotransmissor natural, aos seus receptores diminui a atividade neural, dilata os vasos sanguíneos, entre outros efeitos. A cafeína se liga aos receptores da adenosina e impede a sua ação sobre o SNC. A cafeína estimula a atividade neural e causa a constrição dos vasos sanguíneos, pois bloqueia a ação da adenosina. Muitos medicamentos contra a dor de cabeça, tal como a Aspirina Forte, contêm cafeína - se você estiver sofrendo de uma dor de cabeça vascular, a cafeína irá contrair os vasos sanguíneos e aliviar a dor. Com o aumento da atividade neural, a glândula pituitária (localizada sobre os rins) “pensa” que algum tipo de emergência está ocorrendo e libera grandes quantidades de adrenalina, que causa uma série de efeitos no corpo humano, como a taquicardia, aumento da pressão arterial, abertura dos tubos respiratórios (por isso muitos medicamentos contra a asma contêm cafeína), aumento do metabolismo e contração dos músculos, entre outros.

Outro modo de ação da cafeína é o bloqueio da enzima fosfodiesterase, responsável pela quebra do mensageiro cAMP, então os sinais excitatórios da adrenalina persistem por muito mais tempo. Repare como as estruturas da cafeína, adenosina e cAMP são similares.

A cafeína também aumenta a concentração de dopamina no sangue (assim como fazem as anfeta-minas e a cocaína), por diminuir a recaptação desta no SNC. A dopamina também é um neurotransmissor (relacionado com o prazer) e suspeita-se que seja justamente este aumento dos níveis de dopamina que leve ao vício da cafeína.

Resumindo, a cafeína, em curto prazo, impede que você durma porque bloqueia a recepção de adenosina; lhe dá mais “energia”, pois causa a liberação de adrenalina, e o faz sentir melhor, pois manipula a produção de dopamina.

O problema do consumo de cafeína só aparece em longo prazo. O mais importante é o efeito que a cafeína tem sobre o sono. A recepção de adenosina é muito importante para o sono, principalmente para o sono profundo. O tempo de meia-vida da cafeína no organismo é de 6h. Portanto, se você beber um xícara de café (200 mg de cafeína) por volta das 15h, cerca de 100 mg de cafeína ainda estarão em seu corpo lá pelas 21h. Você ainda estará apto a dormir, mas, provavelmente, não irá usufruir os benefícios do sono profundo. No dia seguinte, você precisará de mais cafeína para se sentir melhor, e este círculo vicioso continua, dia após dia. Se você tentar parar de consumir cafeína, você irá se sentir deprimido e, algumas vezes, com uma terrível dor de cabeça - causada pela excessiva dilatação dos vasos sanguíneos no cérebro. Estes efeitos negativos o forçam a correr de volta para o consumo de cafeína. Esta é a principal razão que leva os fabricantes de refrigerantes a adicionar cafeína aos seus produtos - o consumidor se torna viciado e as vendas aumentam!

Letalidade

Estudos indicam que o consumo de cafeína durante a gravidez pode ser prejudicial para o feto,

26

CAFEÍNA

Page 27: REVISTA ODISSEIA DA MEDICINA ED.02

porém os cientistas garantem que os males só aparecem se o consumo for exagerado. A cafeína pode ser letal, se ingerida em grande quantidade. A dose necessária para matar 50% de um certo grupo de indivíduos (LD-50) é de 75mg/kg. Para um adulto de cerca de 80 Kg, seria necessário ao equivalente a algo como 150 xícaras de café. Felizmente, ainda podemos continuar tomando nosso cafezinho, com moderação.

Como é feito o café descafei-nado?

Até 1980, o café era descafeinado com diclo-rometano, que dissolvia a cafeina, seletivamente, sem “carregar” os açúcares, peptídeos e ingre-dientes de sabor. O diclorometano, então, extraía a cafeína sem mudar o sabor ou aroma do café. Entretanto, o diclorometano é tóxico, e surgiram evidências de que era carcinogênico. O acetato de etila, então, foi o substituto até o início dos anos 90. Mas este também era moderadamente tóxico. Foi somente a partir de 1990 que um solvente não tóxico e mais natural passou a ser usado: o fluido supercrítico de dióxido de carbono. Acima de 72.8 atm e 304.2 K, a densidade do gás CO2 e de seu líquido é idêntica, e este se torna um fluído supercrítico. O fluido dissolve substâncias como um líquido, principalmente substâncias orgânicas, como a cafeína. O processo de extração é simples: o CO2 supercrítico, sob alta pressão, “lava” os grãos de café e dissolve cerca de 99% da cafeína presente. A cafeína, então, é isolada e vendida para a indústria farmacêutica. E o café descafeinado vai para as prateleiras de supermercados, atendendo a pessoas que apreciam o sabor do café, mas que não querem passar a noite em claro.

A descoberta do café

Os historiadores dizem que o café foi descoberto na Etiópia, em torno de 700 a.C., onde a planta

crescia naturalmente. Alguns pastores perceberam que suas ovelhas não conseguiam dormir, à noite, após comerem os frutos dessa planta. Durante o século XIV, alguns pés de café foram plantados na Arábia. Chamaram esta planta de Kaweh, e era usada como alimento, na fabricação de vinho e como remédio. Por volta de 1500, o café já estava na Turquia e na Itália e, em 1720, já estava em Paris. Em 1736, o primeiro pé de café foi plantado em Porto Rico e, menos de 20 anos mais tarde, já era o principal produto de exportação do país (como continua sendo até hoje!). A economia brasileira, por um longo período, teve no café o seu principal produto (o que não é novidade para quem acompanhou a novela Terra Nostra). O país com o maior consumo per capita de café é os EUA, e, lá, as variedades preferidas são as provindas da Colômbia e de Porto Rico.

doses médiasCafé coado: 150 mg /xícaraExpresso: 350 mg /xícaraInstantâneo: 100 mg /xícaraDescafeinado: 4 mg /xícaraChá: 70 mg /xícara

Coca-Cola: 45.6 mg /lataPepsi-Cola: 37.2 mg /lataDiet-Pepsi: 35.4 mg /lataChocolate: (200g): 7 mg

Fonte: www.qmc.ufsc.br

A química da cafeína A cafeína é um alcalóide. Entre os vários

alcalóides existentes na natureza, encontram-se as metilxantinas. Existem 3 metilxantinas parti-cularmente importantes: a 1,3,7-trimetilxantina (cafeína), a 1,3-dimetilxantina (teofilina) e a 3,7-dimetilxantina (teobromina). Todos os alcalóides são derivados da purina (o grupo xantina é a 2,6-dioxopurina) e inibem a cAMP fosfodiesterase. Teobromina e teofilina são duas dimetilxantinas, com dois grupos metilas somente, em contraste com a cafeína, que possui três. Ambas têm efeitos similares à cafeína, porém bem menos acentuados. A teobromina é encontrada no chocolate, no chá, na noz moscada, mas não no café. No cacau, a concentração de teobromina é 7 vezes maior do que de cafeína! A teofilina possui mais efeitos no coração e na respi-ração, sendo, por isso, mais empregada em medicamento para asma, bronquite e efisemas do que a cafeína. É encontrada, também, no café. No organismo, estes compostos são facilmente oxidados para o ácido úrico e outros derivados.

27

CAFEÍNA

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Instituto Panamericano da Visão

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A IMPORTÂNCIA DA massagemA

massagem, uma das mais antigas formas

de manipulação do corpo humano, tem sido

empregada com êxito por muitas culturas

como meio de promoção e restauração da saúde.

Pode ser entendida como manipulação do corpo com

propósitos terapêuticos. Por volta de 3.000 a.C., foi

utilizada como medida terapêutica científica pelos

chineses; também Hipócrates, o pai da medicina

moderna, a empregou. O valor da massagem na

sociedade atual é tão importante como antigamente.

O emprego das mãos no tratamento é bastante

eficiente, pois permite o conhecimento mais pro-

fundo das partes anatômicas do corpo do indivíduo,

diferentemente dos aparelhos, possibilitando a

identificação de algum tipo de anormalidade nas

peças ósseas e tecidos moles do corpo.

A aplicação correta da massagem ajuda na

tonificação e recuperação dos músculos, auxilia no

equilíbrio dos órgãos internos e sistema nervoso,

aumenta a respiração celular e circulação sanguínea

e também provoca uma ótima sensação de repouso

e bem-estar. A massagem permite que o sangue e a

linfa velhos saiam dos tecidos e voltem ao coração

e aos pulmões com maior facilidade, conduzindo

sangue novo e oxigenado para as células. Vários

resíduos metabólicos são eliminados com a utilização

da massagem, permitindo uma recuperação mais

rápida e completa após exercícios físicos extenuantes.

A duração de uma sessão de massagem depende

do objetivo e disponibilidade do paciente. Geralmente,

o tempo mínimo utilizado é de 45 minutos, podendo

chegar até 2 horas. Durante esse período, são uti-

lizadas várias técnicas de manipulação incluindo

deslizamentos, amassaduras, fricção, rolamentos,

percussão, vibração e golpes nervosos. A ordem de

execução dos movimentos depende da linhagem e

abordagem que o massoterapeuta possui em seu

repertório de ação.

A aplicação da massagem pode ser realizada

tanto no chão como sobre uma maca apropriada.

O importante é que a pessoa se sinta confortável

durante a manipulação e utilize uma respiração

tranquila que lhe proporcione o total relaxamento

do corpo. É recomendável que se utilize óleos como

o de andiroba, capim limão, lavanda e amêndoas.

Músicas adequadas completam o ambiente perfeito

para a sessão.

Uma boa massagem é como uma sinfonia,

construída lentamente com elevações sutis até um

crescente de movimento, terminando com um estado

passivo e muito tranquilizante. Experimente um dia

e compreenda a energia e grandeza do seu corpo.

Professor Tiago Baldez

Fisiologista do Exercício e Massoterapeuta

CREF 5364-GO/DF

[email protected]

31

MASSOTERAPIA

Page 32: REVISTA ODISSEIA DA MEDICINA ED.02

a PonTe enTRe a filosofia e a BioloGia

Quando o homem descobriu o fogo, a vida

começou a mudar: menos frio, mais comi-

da, mais estratégias para se defender dos

inimigos, dos predadores. A expressão verbal foi

outra revolução. Será que era possível pensar sem

falar? Ora, o inverso é meio complicado, dificilmente

falamos sem que as palavras tomem forma por meio

do pensamento, da conexão de idéias. No mínimo,

a fala aprimorou o pensamento do homem, passou

a exigir vivência, conhecimento, palavras, articu-

ladas na mente antes de serem desveladas. Mas a

evolução é pródiga e começamos a escrever - um

terceiro momento a partir do pensamento, que

exige mais articulação ainda, para não falar de

inspiração divina quando o que se quer é tocar

os sentimentos das pessoas, transmitir mais do

que informação. Benditas sejam a literatura, a

música, as artes de maneira geral. Abençoados

sejam Michelangelo, Pablo Neruda, Shakespeare,

Mário Quintana, Chico Buarque de Holanda,

Cora Coralina. Guttemberg é outro marco,

pois pensar, falar e escrever tornaram-se

possibilidades mais reais de mudança graças

à prensa, à multiplicação dos escritos. É pre-

ciso reconhecer que Sócrates nunca escreveu

nada. Nem Jesus Cristo. Mas as verdades

de cada um deles só puderam ser documen-

tadas porque alguém copiou... e publicou.

Questões suscitadas pelas novas tecnologias

A humanidade começava a ficar deslumbrada

com as novas tecnologias. Alguns impropé-

rios, a exemplo de Hiroshima, Nagasaki ou

Chernobyl, suscitaram questionamentos.

Santos Dumont se matou quando viu que sua

invenção, além de encurtar caminhos, estava

sendo utilizada para a guerra. Mas a mesma

descoberta que possibilita o genocídio pode

salvar vidas, pode tornar o mundo melhor

- depende do rumo que damos ao seu uso.

Como ignorar as vacinas, os remédios, os

transplantes, o prolongamento da vida? E o

conforto, os eletrodomésticos? Podemos

abrir mão dos satélites? Queremos jogar fora

o celular? E a internet, essa última revolução

tecnológica, não é uma maravilha da natureza

científica do homem, uma revolução no

âmbito pessoal e empresarial?

Sim, as novas tecnologias são bem-vindas e

DIVINA MARQUES

32

ÉTICA

Page 33: REVISTA ODISSEIA DA MEDICINA ED.02

ninguém, em sã consciência, seria capaz de dizer

não ao progresso. No entanto, é preciso nortear,

com a ética, o caminho das ciências, permear

as novas descobertas com questionamentos a

respeito de suas consequências, de seu sentido

e, especialmente, do uso que será feito daquilo

que inicialmente parece inocente e benéfico. A

ética não é a escolha entre o certo e o errado,

pois o errado tem punições previstas em lei. A

ética depende da consciência de cada um. Ser

ético é escolher, entre duas coisas certas, qual

a mais conveniente. Ciência e ética devem,

portanto, caminhar juntas.

O problema é que o desenvolvimento

tecnológico, que reuniu as ciências exatas e

biológicas, caminhou muito mais rapidamente

do que o desenvolvimento das ciências huma-

nas. Esta caminhada suscitou novos termos,

como a bioética, criada pelo oncologista

norte-americano Van Rensselaer Potter, em

1970. No ano seguinte, ele publicou o primeiro

livro sobre o assunto: Bioética – ponte para o

futuro. Assim como Hans Jonas, em O princípio

responsabilidade, Potter enfocava, em seus

estudos, o problema ambiental e o modelo

de progresso da forma como ele vem sendo

concebido pelas novas tecnologias. Ambos

trabalharam por uma civilização sustentável,

defendendo, para isso, a ética da responsabilidade

no sentido de “cuidar de”. Ambos pregaram

a necessidade da interdisciplinaridade, como

método fundamental na abordagem de questões

relativas ao meio ambiente.

Tanto Potter como Jonas se dedicavam,

na mesma época, ao mesmo tema: uma

ética para o enfrentamento dos problemas

emergentes da pós-modernidade, tendo em

vista a vida, seja ela do homem, dos animais,

da natureza ou da relação entre eles. Estava

sendo construída uma ponte entre a biologia

e a filosofia. E isto não significa divagar so-

bre questões da medicina. O que é filosofar

senão buscar respostas para os antigos e

os novos questionamentos? A bioética está

eivada de questões relacionadas à vida ou

dilemas que a medicina passou a enfrentar a

partir de situações criadas pela biotecnologia.

Nada mais pertinente do que filosofar, por

exemplo, sobre o prolongamento da vida.

Questões como essa tocam nada menos

do que o inteiro sentido da nossa finitude,

a atitude diante da morte e o significado

biológico geral do equilíbrio entre a

morte e a procriação. Questões metafísicas

que suscitam outras bem práticas: quem

deve ter acesso a essa presumível bênção?

Estamos falando de viver mais, o que traz

a necessidade de se falar também em viver

melhor, pois ninguém gostaria de prolongar

uma vida ruim.

33

ÉTICA

Page 34: REVISTA ODISSEIA DA MEDICINA ED.02

divina Marques. Doutora em Ciências Ambientais pela UFGO. Mestre em Filosofia/Ética pela PUCCAMP. Especialista em Políticas Públicas pela UFGO. Graduada em Jornalismo pela UFGO. Professora de Ética e Redação na UFGO.

34

A esta altura, podemos enumerar outras

questões suscitadas pelas novas tecnologias:

remédios para o bom humor, experiências com

seres humanos, eugenia, aparelhos que mantêm

o paciente em estado vegetativo, doações de

órgãos, transplantes. Existem casos em que a

parafernália da técnica prorroga, indefinidamente,

não propriamente o tempo de vida, mas um tal

estado de penúria e sofrimento que o próprio

paciente e a família rejeitam. É a hora de se

pensar numa “boa morte”, na eutanásia. Os

médicos brasileiros, por intermédio do Con-

selho Federal de Medicina (CFM) assumiram,

no final de 2006, uma posição a respeito

do assunto. Trata-se de uma doutrina, uma

reflexão filosófica em que o CFM reconhece

que existe um despreparo para questões dessa

natureza: muito se ensina sobre tecnologia

de ponta e pouco sobre o significado ético

da vida e da morte.

Ética e responsabilidade

A medicina ainda não tem a cura para

o câncer, para a AIDS. Mas a evolução dos

estudos genéticos já permite visualizar uma luz

no final do túnel a esse respeito e de muitos

outros problemas de saúde. O desenvolvimento

da engenharia genética tomou forma nos anos

70. Na mesma década, inicia-se o mapeamento

genético do homem pelo Projeto Genoma Humano,

cujo sequenciamento foi concluído em 2006,

com 99,99% das peças dos quebra-cabeças

montadas. Foi aí que os cientistas descobriram

que não basta saber onde os genes estão. É

preciso saber como funcionam. Parodiando o

velho Sócrates, quanto mais o homem sabe,

mais consciência tem de que existe muito mais

para conhecer. Aqui, o horizonte de atuações que

se descortina para a ciência é imenso – eivado

de dilemas e incertezas, uma razão a mais para

se estabelecerem parâmetros, principalmente

éticos. Como dizia Hans Jonas, a ética é o

lenitivo da técnica.

Considerando-se que o mapeamento genético

refere-se aos genes e que eles representam 3% do

genoma; considerando-se que os genes seriam

as palavras soltas, ainda sem articulação umas

com as outras; considerando-se que ainda faltam

97% do genoma para serem desvendados,

podemos, sim, fazer coro com o pessimismo

de Evely Fox Keller: “Com as descobertas

recentes da biologia molecular, o que se

percebe é a grandeza do abismo que separa a

informação genética do significado biológico”.

Ainda falta muito para completar os capítulos

e concluir o “livro da vida”.

O que se percebe é que a humanidade,

dadas as proporções universais assumidas

pelas atuais tecnologias, precisa de uma nova

ética: a ética da responsabilidade no sentido de

“cuidar de”. A quem deve se dirigir esse apelo?

Considerando-se que o poder tecnológico é

coletivo, para lhe fazer face só o poder político,

que é concedido pelos cidadãos. Resta, portanto,

a via, institucional ou não, de uma educação

geral da consciência por parte daqueles que

estão qualificados e que a isso são impelidos

pela sua própria consciência. Aqueles que detêm

o conhecimento nos diversos campos – num

processo de interdisciplinaridade - devem se

reunir espontaneamente nesta missão.

ÉTICA

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