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Revista das crianças . Edição Especial . MST 25 Anos . № 2

Revista Sem Terrinha #2

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Revista Sem Terrinha #2

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Revista das crianças

. Edição Especial . MST 25 Anos .

№ 2

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Brinque com o Por

que somos O Pesadelo

do

Obaaa!!! Chegou a segunda edição da Revista Sem Terrinha!!!

Todo dia é dia de criança brincar, mas também de manter o compromisso em aprender! Na escola, na ciranda, com os coleguinhas, com as educadoras e educadores e é claro, nos afazeres de casa.

Você sabia que no mês de outubro, no mesmo dia em que se comemora o Dia da Criança, o Movimento realiza a Jornada Nacional dos Sem Terrinha?? A gente sabe que é uma data importante para comemorar, mas ainda tem muita criança no mundo que não tem onde morar, às vezes não tem o que

comer, não tem o carinho dos pais e passam por situações muito difíceis todo dia!! É por isso que a gente realiza em todo o Brasil muitas atividades! Faz mais de dez anos que as crianças Sem Terrinha se mobilizam neste mês… Algumas das primeiras crianças que participaram já estão bem grandinhas hoje né? Você já participou de alguma atividade da Jornada no seu estado? Quer contar pra gente como foi? Manda uma cartinha!

Na Revista, a gente vai saber um pouco mais por que algumas crianças (e gente grande e idosa também!) vivem na rua, sem comida e proteção. Então, preparem-se para saber como a história

do nosso país foi construída. Como os indígenas foram tratados no Brasil pela colonização e como chegaram os negros africanos, que aqui foram escravizados. É muita história! E nós também fazemos parte desta história, que, aliás, lutamos muito para transformar. Por isso, vamos entender a nossa origem de Sem Terrinha, como o Movimento Sem Terra vem se organizando como um movimento de camponeses e camponesas e conquistando muitas coisas para o povo trabalhador.

Assim, conhecendo nosso passado, vamos traçando um novo caminho para um futuro diferente, onde ninguém passe fome. Que tal a gente observar e ajudar a construir a luta pela soberania alimentar? Vocês já ouviram a palavra soberania? Quem vai ajudar

a gente a ler e estudar este assunto são dois coleguinhas nossos: a Mônica e o Marcos. Eles vão mostrar a importância de se produzir alimentos saudáveis com uma historinha super legal!!

Antes de começarmos a devorar a Revista, lendo tudo do começo até o fim, é importante lembrar que mesmo com as muitas conquistas que o MST conseguiu ao longo destes 25 anos, ainda temos muita luta pela frente! É por isso que nesta edição vamos compreender um pouquinho sobre por que o mundo está assim, por que tem tanta desigualdade, e o que a gente

deve fazer pra mudar isso!

“Brilha no céu a estrela do Che

somos Sem Terrinha do MST”

Temos Direitos!!

Jogo da

Memória dos Sem Terrinha

Xis Burguer

Sem Terra?Ín

dice

EditorialMST 25 Anos

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Com certeza você já deve ter ouvido falar em DIREITOS DA CRIANÇA E DO

ADOLESCENTE. Mas sabia que existe um acordo mundial que garante esses direitos?

P ois é! Esse acordo se

chama Convenção Internacional sobre

os Direitos da Criança.

Em 1990, o Brasil assinou esse documento junto com outros países, se comprometendo a melhorar a situação das crianças no país. E, para provar que está fazendo isso direito, tem a obrigação de enviar um relatório, a cada 5 anos, para um grupo de pessoas responsáveis por avaliar. Esse grupo se chama Comitê Internacional sobre os Direitos da Criança e faz parte da Organização das Nações Unidas, a ONU.

Além desse relatório oficial do governo, outras organizações no país também podem fazer um relatório parecido para identificar se o Estado brasileiro está falando a verdade ou não. Foi isso que aconteceu no ano passado… E adivinhe só!

Os Sem Terrinha ajudaram a fazer esse relatório!!

Foram 36 Sem Terrinha que moram no Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pernambuco, além de outras crianças brasileiras que puderam dar sua opinião para construir este documento. Eles falaram sobre muitas coisas: como é o nosso país, violência, saúde, educação, e também sobre o que gostam, seus sonhos e o que acham que deveria mudar no mundo.

Tudo isso é muito importante! Ver se o Estado está cumprindo o que prometeu e denunciar o que está errado é uma forma de lutarmos pelos nossos direitos. A participação dos Sem Terrinha é fundamental pra isso.

Para saber mais deste acordo chamado Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, em todas as páginas desta

revista terá alguma informação sobre o assunto. Vamos aprender?

Temos DIREITOS!!

MST 25 Anos

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dos SEM TERRINHABrinque com o

Você já viu o que tem no meio da Revista? Um JOGO DA MEMÓRIA!!

É muito fácil de jogar. Você pode brincar sozinho ou chamar vários amigos para brincarem juntos. Que legal!

Vamos ver se você é bom de memória!Para começar a brincadeira, você vai precisar de uma tesoura

(se você tiver alguma dificuldade, peça a ajuda de um adulto).

Primeiro separe o encarte de papelão

da Revista Sem Terrinha.

Recorte as cartinhas

seguindo as linhas pontilhadas.

Pronto. Agora

você tem 12 pares

de cartinhas.

Coloque as cartinhas no chão, com os desenhos virados baixo

O jogo começa quando um jogador vira duas cartinhas, se elas formarem um par (duas cartas iguais), ele ganha estas cartas e joga novamente; se as cartas não formarem um par, é a vez de outro jogador tentar formar um par.

Arrume-as em fileiras

Embaralhe bem

PARA JOGAR:

O jogo acaba quando todos os pares forem formados, aí cada criança conta quantos pares de cartas conseguiu fazer. Vence aquela que tiver o maior número de pares.

JOGO DA MEMÓRIA

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Crianças e adolescentes devem ser tratados com respeito e dignidade!

Por isso, existem leis e tratados internacionais que buscam garantir estes direitos.

Um importante tratado internacional é a Convenção dos Direitos da Criança (CDC), que foi adotado

em 20 de novembro de 1989 por todos os países do mundo, menos Estados Unidos e Somália.

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S e olharmos ao redor, nós vamos perceber que, enquanto tem gente na rua passando frio e fome, crianças pedindo comida ou sendo

obrigadas a trabalhar para não morrer de fome, tem algumas pessoas vivendo muito bem. Esbanjando riquezas…

Podemos perceber que tem gente que não trabalha, mas que ao mesmo tempo tem muito dinheiro para fazer qualquer coisa que quiser. E as crianças dessa gente muito rica estudam tranquilas, brincam, viajam, aprendem outras línguas, e não precisam trabalhar nem viver de esmolas. Para elas não falta nada.

Por que o mundo está assim? Por que uns têm de tudo e vivem tranqüilos, e outros não têm nada?

Já aconteceu de você de estar andando na rua e ver muitas pessoas dormindo na calçada? Ou quando você anda pela cidade e alguma criança vem pedir comida? Dá uma sensação

ruim, né?! Mas por que tem tanta gente morando na rua, vivendo de pedir esmolas?

Por que somos Sem Terra?

A CDC começou a ser elaborada em 1979 — Ano Internacional da Criança — por um grupo de trabalho

formado pela Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, a ONU.

Os países que assinaram a Convenção devem se esforçar muito em suas leis e em suas ações para respeitá-la, e fazer de

tudo para garantir os direitos das crianças e dos adolescentes.

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Essa história começou há muito tempo…

Há mais de quinhentos anos, no Brasil, viviam apenas os indígenas. Povos que tinham seu jeito de viver e de se organizar. A terra era de todos e todas, e tudo que era produzido, pescado e caçado, era dividido entre os que viviam nas aldeias, suas comunidades.

No ano de 1500, chegaram ao Brasil os portugueses. Eram pessoas que vinham de Portugal, um país que fica na Europa, do outro lado do Oceano Atlântico. Ao chegarem aqui, colocaram os indígenas

para trabalhar para eles, derrubando a floresta, plantando cana-de-açúcar, extraindo ouro da terra, e mandando todas estas riquezas para a Europa. Aos indígenas, só trabalho e chicote. E tudo que se produzia aqui com o trabalho dos indígenas ia para

os europeus ricos.

Mas os indígenas não queriam viver assim como se

fossem escravos dos brancos da Europa. Eles queriam

continuar sendo livres! Por isso, eles

lutaram e preferiram morrer a viver como

escravos. Muitos e muitos indígenas foram assassinados; e muitos outros morreram doentes. Os indígenas que ainda vemos são os resistentes, aqueles que sobreviveram à exploração dos europeus e que ainda hoje têm que lutar bastante pelos seus direitos.

Sem os indígenas para trabalhar, o homem branco — que queria continuar tirando as riquezas do Brasil e levando para a Europa —, tratou de ganhar dinheiro trazendo escravos e escravas da África. Mais de cinco milhões de africanos e africanas foram aprisionados e enviados para o Brasil para trabalhar como escravos nas lavouras de cana-de-açúcar, fazendo açúcar, tirando ouro da

E o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90), conhecido como ECA, é uma forma

de o Brasil buscar garantir que os direitos escritos na Convenção sejam respeitados.

A Convenção diz que todas as crianças devem ser tratadas

com respeito e não podem ser discriminadas por causa de raça ou religião.

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terra e trabalhando nas charqueadas de gado.

Nessas fazendas, eles apanhavam muito, eram castigados quando queriam se rebelar, e muitos acabavam morrendo.

Assim, os homens brancos que tinham vindo da Europa exploravam o trabalho dos africanos escravizados e roubavam tudo que se produzia aqui. As pessoas que trabalhavam produzindo a riqueza — o açúcar, o ouro e a prata, o charque etc — não recebiam nada, apenas chicote no lombo.

Então, muitos homens e mulheres negros, indígenas e também alguns brancos, foram ficando cada vez mais pobres, trabalhando para enriquecer uns poucos homens brancos.

Você pode estar se perguntando: mas por que os pobres, que eram a maioria,

não tomavam as riquezas que os poucos homens brancos estavam

acumulando e tirando deles?

Pois é. Eles se organizaram! Já ouviu falar no Quilombo dos Palmares? Este foi um dos jeitos que os escravos acharam para tentar mudar as coisas. Eles fugiam e se juntavam no meio

da floresta, e alí construíram uma sociedade diferente, onde ninguém explorava o trabalho

do outro.

De fato, houve muitas tentativas de mudar as coisas,

de pegar de volta as riquezas que lhes estavam sendo roubadas. Mas

os ricos também estavam organizados: tinham ao seu lado o exército, muitas armas, os meios de comunicação e o

governo.

E, com estes meios nas mãos, eles convenciam

as pessoas a deixar de lutar,

Além do Quilombo dos Palmares, muitos outros

quilombos foram surgindo por todo o Brasil!

Toda criança tem direito a um nome e uma nacionalidade. As crianças que nascem no Brasil têm o direito

de ser registradas e seus pais têm o dever de registrá-las.

A Convenção diz que toda criança tem direito ao amor e compreensão por parte dos pais e da sociedade, por isso não deve

ser agredida de nenhuma forma. Nada justifica agredir uma criança ou adolescente.

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ou então, se elas lutavam, eram reprimidas — presas, maltratadas e até mortas. E foi assim, — utilizando a violência, meios de comunicação e apoio dos governos, — que os poucos homens ricos conseguiram ficar donos de quase todas as terras do Brasil. Porque quem é dono da terra manda em quem trabalha nela, e fica com tudo que se produz na terra, não é mesmo?! Mas isto está MUITO errado!

A lei do lado dos ricos.

Para garantir que fossem donos de quase todas as terras, em 1850 os homens ricos fizeram uma lei: a Lei de Terras, onde

dizia que as terras era suas e que os pobres não poderiam ter terra. Então, os indígenas, os negros e os brancos pobres tinham que trabalhar para os ricos, e ainda continuar sem terra.

Sem terra? Sim. Sem Terra são todos os trabalhadores e trabalhadoras que querem trabalhar e viver na terra, mas não podem porque não têm dinheiro para comprar. O que é que essas pessoas poderiam fazer para tentar mudar as coisas?

Reforma Agrária já!

Claro! Você pensou certo! Eles teriam que se juntar, se organizar, e tomar de volta as terras que os ricos tinham lhe roubado. Muitas vezes, na história do Brasil, os sem terra se organizaram. Lembra de Canudos e de Contestado? Pois é, foram dois movimentos, um no nordeste e um no sul, em que os sem terra tentaram mudar as coisas, tentaram ter de volta as terras para trabalhar.

Infelizmente, tanto em Canudos como em Contestado, o governo — que defendia os ricos — mandou o exército para acabar com a organização dos sem terra. Mas mesmo que essas tentativas não tenham tido todo o sucesso, elas foram servindo de exemplo para outros sem terra que, mais tarde, se

Todas as crianças devem ser protegidas do abandono e da exploração no trabalho.

Crianças e adolescentes não devem trabalhar em semáforos para levar dinheiro para casa.

Elas têm direito a estudar em uma boa escola gratuita.

E também a brincar e se divertir.

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organizaram. Já ouviu falar das Ligas Camponesas? E do Movimento dos Agricultores Sem Terra, o MASTER? Tem muita história né?! Durante todo o século XX, que vai desde 1901 até 2000, foram muitos os movimentos organizados pelos sem terra para mudar a história. Esses movimentos queriam que as terras fossem distribuídas para as pessoas que quisessem trabalhar no campo, plantar, colher e ter sua casa, com escola e saúde para todas e todos. Sem serem explorados ou maltratados por falsos donos da terra.

Eles sabiam que se fosse feita a Reforma Agrária, que é um jeito de distribuir as terras para muita gente, as coisas no Brasil poderiam melhorar. Podemos ver o que acontece quando as terras de um país ficam nas mãos de poucas pessoas:

• Muita gente fica sem terra, e não ter terra é não ter trabalho, é não ter comida, é não ter casa…

• As fazendas, que também chamamos de latifúndios, tem muita terra, e quando produzem, é só um tipo de plantação ou de criação, como eucaliptos ou soja. E, isso faz com que faltem alimentos para quem mora na cidade.

• Se as pessoas que querem morar no campo não podem, porque não tem terra, elas acabam tendo que morar na cidade. E na cidade não tem trabalho pra todo mundo, nem casa pra todo mundo. Assim, as pessoas ficam desempregadas, são obrigadas a morar em favelas, nas ruas, não tem o que comer… às vezes, acabam até sendo obrigadas a roubar pra não morrer de fome!

Toda criança tem direito à alimentação, moradia, saúde. Para garantir estes direitos, o governo deve ter boas escolas,

hospitais adequados e garantir condições para que as famílias ofereçam refeições saudáveis para as crianças e adolescentes.

Nenhuma criança deve ser deixada por seus pais na rua

para trabalhar arrecadando dinheiro ou pedindo esmolas.

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É por isso que tem tantas crianças nas ruas, pedindo comida, pedindo dinheiro… Porque suas famílias não têm trabalho, não têm comida. Imagina se em lugar de plantar tanto eucalipto, que não serve pra nos alimentar, a terra fosse usada para plantar verduras, frutas, arroz, feijão… Se nestas terras tivesse muita gente morando, com escolas, bibliotecas, campo de futebol, piscina, praças, ciranda infantil, cinema, posto de saúde, telecentros com internet… Que diferença né!?

Mudando o mundo!Pois é! Isso pode acontecer se fizermos a Reforma Agrária:

• Com mais gente morando no campo, a produção de comida será maior.

• Com mais comida sendo produzida, o preço dela vai ficar mais baixo, e as pessoas poderão se alimentar melhor.

• Quando a gente se alimenta melhor,

com variedade de frutas, verduras, legumes, carne, cereais; a gente tem mais saúde e gasta menos com remédios.

• Quando temos mais saúde, trabalhamos

melhor, temos vontade de fazer as coisas, de

criar coisas, isso aumenta ainda mais a produção. (Observe em você mesmo: quando não

estamos bem, nem queremos sair da cama, mas, quando estamos bem, saltamos cedo da cama e já saímos fazendo coisas, brincando, ajudando a família ou os amigos, estudando.)

Você percebe que fazer a Reforma Agrária pode melhorar a vida de todo mundo, no campo e na cidade?

Nenhuma criança ou adolescente deve receber punição física para ser educado.

Isso significa que nenhum adulto pode bater numa criança para ensiná-la alguma coisa.

Toda criança e adolescente deve ser escutado

e ter sua opinião respeitada.

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E você sabia que algumas grandes empresas, como a Monsanto, Cargil, Bunge, Nestlé e Votorantin, não querem a Reforma Agrária? Porque com a Reforma Agrária eles não vão ganhar tanto dinheiro como ganham hoje. O que eles não querem é que as riquezas — que são produzidas pelos trabalhadores e trabalhadoras (nós!) — sejam distribuídas entre todas e todos. Eles querem continuar com as riquezas — a terra, a água, a comida — só para uso deles.

E é para que essas riquezas sejam distribuídas para todo mundo que trabalha, para que todas as pessoas tenham comida, água, casa, escola, cinema, livros, esportes, brinquedos, trabalho, é que os sem terra se organizam.

E, nos dias de hoje, nós, os Sem Terra, nos organizamos

no Movimento Sem Terra, o MST, e na Via Campesina. Para melhorar a vida de todo mundo, nós lutamos por terra, por Reforma Agrária, e por transformações no Brasil e no mundo, porque assim não teremos mais crianças nas ruas, pedindo comida, pedindo esmolas, ou sentindo fome.

Queremos transformar o mundo para que todas as pessoas tenham uma vida decente, sem desperdiçar os recursos que a natureza nos oferece, e que as coisas boas sejam divididas entre todas e todos. Ser Sem Terra é isso!: Lutar por um mundo melhor! E nós, os Sem Terrinha, fazemos parte desta luta!

TRABALHO INFANTIL: O DIFÍCIL SONHO DE SER CRIANÇAAutoras: Cristina Porto, Iolanda Huzak e Jo Azevedo Editora: Ática

Madalena é uma garota interessada em todo o tipo de assunto. Um dia, ao ver uma exposição sobre trabalho infantil, fica emocionada e resolve agir. Visita um lixão na Grande São Paulo e conhece crianças que vivem da exploração do lixo. Vamos saber mais sobre a vida dessas crianças?

ERA UMA VEZ UM TIRANOAutora: Ana Maria MachadoEditora: Moderna

Era uma vez um país muito divertido que se deixou dominar pelo Tirano. Lá havia três crianças que só queriam rir, brincar, se divertir – tudo o que era proibido. Suas armas para desafiar o Tirano: um arco-íris no bolso, uma canção no corpo e uma chuvarada de estrelas. Nesse livro a gente vai aprender um pouco sobre uma época de muita história do nosso país: o período da ditadura militar.

A HISTÓRIA DOS ESCRAVOSAutoras: Isabel Lustosa e Maria EugeniaEditora: Companhia das Letras

Essa narrativa conta como era o Brasil dos escravos. E é a curiosidade do Chico, um menino da cidade que

vai passar uns dias na fazenda do avô, que nos mostra o que representa a escravidão na formação do Brasil e suas

consequências na vida atual do país.

Para transformar o mundo, nós temos que estudar bastante. É importante entender a história do Brasil, de outros países no mundo e todas as lutas dos

trabalhadores e trabalhadoras. Aqui vão três dicas de livros bem legais!!!

A Convenção diz que todas as crianças e adolescentes têm direitos e que esses direitos

devem ser respeitados e garantidos até que completem 18 anos.

Todas as crianças e adolescentes devem ter possibilidade de se desenvolverem de forma saudável, seja fisicamente (corpo),

intelectualmente (estudando e aprendendo) ou emocionalmente (ambiente de carinho e respeito).

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N o Assentamento Margarida Alves, na casa do seu João e da D. Lourdes, moram Marcos e Mônica. Os dois são irmãos. Dona Maria e seu João

colocaram o nome de seus filhos de Marcos e Mônica pois gostariam que os dois tivessem o nome começando com a mesma letra. A letra “M”.

O Marcos é o mais velho. Tem 12 anos; e a Mônica 10. Os dois são muito companheiros. Às vezes brigam um pouquinho, mas é somente coisa de irmão. Passa logo. O mais legal é que a Mônica é super curiosa, então sempre enche o Marcos de perguntas. Ele não pode dar um suspiro que ela pergunta que barulho é esse? O que é isso? O que é aquilo? Quando, onde, como???

Um dia Marcos acordou e disse:

— Ufa! Acordei!

Mônica não deixaria de perguntar:

— Porque o Ufa? Você estava tendo um pesadelo?

Marcos e

Mônica em O Pesadelo do Xis Burguer

Como você se alimenta? Tudo que a

gente come influencia na

nossa saúde!

A CDC diz que se houver um acidente grave ou catástrofe,

crianças e adolescentes devem ser socorridos primeiro.

Nenhuma criança ou adolescente deve ter acesso às drogas

e às substâncias que podem fazer mal para sua saúde, como bebidas alcoólicas ou cigarros.

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— Acho que sim — Marcos continua — Eu sonhei que não podíamos comer mais mandioca (macaxeira), que só poderíamos comer as frutas que podemos comprar no mercado, que papai tinha arrancado todos os pés de fruta aqui de casa, que na mesa só tinha Xis Burguer.

— Mas isso é maravilhoso!! Eu adoro hambúrgueres, cachorro-quente, essas coisas. — diz Mônica sorrindo…

— Eu também gosto muito, mas depois que sonhei com a possibilidade de somente ter comida enlatada,de nossa casa não estar cercada de frutas, nossa horta não ter nada, fiquei até com saudade do espinafre. Rá rá rá.

— Pensando bem, não é mesmo um bom sonho… Não gostei de imaginar isso também.

— Eu acho que tive este pesadelo depois de ter visto um filme…

— Um filme? Você assistiu um filme de terror?

— Não, eu fui ontem no Centro de Formação aqui do assentamento na reunião com o mamãe e o papai. Lá vimos um filme sobre a soberania alimentar. Depois do filme, ficamos conversando bastante sobre a

importância de se alimentar com alimentos produzidos sem venenos.

— Mas o que é soberania alimentar?

— Não se assuste Mônica. Não é um xingamento.É algo que ouvimos falar pouco mas tem muito significado para todos nós.

— Sim! Mas o que é mesmo?

— Pelo o que entendi do filme e da conversa, a soberania tem a ver aos nossos direitos. O filme comenta que produzir e comer é um direito de todos as pessoas do mundo em todas os tempos da nossa história.

— Mas claro, né Marcos, nós plantamos e comemos e todos fazem isso. Onde você viu isso não acontecer?

— É. Isso eu também pensava, parece que é tão simples, mas não é bem assim. Dizem que na nossa sociedade tem alimentos que fazem parte de nossa história, mas que estão em extinção, assim como acontece com alguns animais.

— Alimento em extinção? Rá rá rá rá. Isso é uma piada Marcos!

— Não, não é não! Hoje temos muitas ameaças que estão colocando nossos alimentos em perigo. Por exemplo: o fato de existirem muitos alimentos enlatados está criando um costume de todos comerem as mesmas coisas em qualquer parte do mundo. Na cidade, em determinados lugares que vamos, somente encontramos alimentos

industrializados como hambúrgueres e outras coisas desse tipo. E o pior é que se formos em qualquer país o

sabor é o mesmo!

Nenhuma criança e adolescente deve ser deixado sozinho em casa

para fazer serviços domésticos que a coloque em risco ou cuidando de crianças menores.

Todas as crianças e adolescentes devem crescer

num ambiente repleto de solidariedade, compreensão, amizade e justiça.

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— Mas o que isso tem a ver com a extinção?

— É que a terra se torna uma espécie de indústria que produz somente determinados tipos de alimentos, porque a necessidade aumenta, e assim, deixamos de produzir a diversidade que ainda bem, aqui no assentamento temos e lutamos para preservar.

— Mas e a tal da soberania?

— A soberania é o nome que damos para este direito de cada povo ter a liberdade de produzir alimentos de sua cultura específica. O filme colocou que a alimentação faz parte de nossa identidade e isso deve ser respeitado.

— Identidade? Aquela que o papai tem na carteira, o documento?

— Não, Mônica! Identidade significa dizer o que somos, quem somos, de onde viemos… Por isso que a comida, os alimentos, fazem parte da nossa história. Se cada povo preservar a sua cultura, poderá plantar a quantidade necessária para garantir a qualidade dos produtos sem precisar entrar esse mercado que quer acabar com nossas sementes, usando transgênicos, venenos e coisas do tipo.

— Ah! Os transgênicos… A mãe explicou que é a semente que não nasce mais depois de plantarmos uma vez. E a comida da nossa terra é aquela que chamamos de típica, né? Eu ouvi isso na escola.

— Rá rá rá rá!! A semente é essa mesma. E nem temos a certeza do que o consumo desta semente vai causar para nós seres humanos. E ainda temos que pagar para uma grande empresa o direito de plantá-la. E comida típica… Nem eu lembrei que era assim que chamava. Você está ficando esperta, irmãzinha.

Mônica sorri enquanto o irmão passa a mão na cabeça, tentando lembrar de alguma coisa…

— Mana, espera que eu lembrei que no filme apareceu que isso tudo vai fazendo com que as pessoas que trabalham no campo não sejam reconhecidas, pois o consumidor não tem mais contato com o alimento. Aliás, deve existir pessoas que nem sabem de onde vêem as verduras, legumes, frutas…. Para elas tudo isso sai de uma máquina de refrigerante… Hehehehe. E o alimento fica sendo algo que não precisa ter um sabor especial, pois tudo tem o mesmo sabor, a mesma forma, tamanho.

— Eu não quero ter este pesadelo não. Já pensou a minha mãe não fazer mais aquela comida gostosa? Hummm… E meu pai não fazer mais aquele pão maravilhoso?Teríamos que comprar sempre tudo feito ou alimentos que não fazem bem para nossa saúde… Ui, credo! Não quero nem pensar!

— Por isso que temos que entender direitinho o que significa a soberania,

pois nós Sem Terrinha precisamos lutar também para que nosso país tenha uma

verdadeira soberania alimentar.

No capitalismo tudo está

voltado para destruir na nossa

cultura local, o paladar,

o cheiro, o ritmo…

Tudo isso vira uma mercadoria, inclusive os alimentos.

A Revista Sem Terrinha foi elaborada coletivamente pelos Setores de Educação, Comunicação e Cultura.

Os desenhos foram feitos por crianças Sem Terrinha de todo o Brasil.

Agradecemos a todas as pessoas que de alguma forma contribuíram para este trabalho.

Endereço: Alameda Barão de Limeira, 1232 • Campos Elíseos • São Paulo • SP •

CEP 012020 - 002 • Tel/Fax: 11 3361 3866 •

Correio eletrônico: [email protected]• Outubro 2009 •

Agora que você sabe de duas importantes leis que garantem os direitos às crianças e adolescentes do

todo o mundo e no Brasil, vamos pensar se estes direitos são mesmo garantidos. O que você acha??

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