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ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ Nº 178 – MAIO DE 2004 JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL DOS DOS DOS DOS DOS Economistas vêem Lula nos passos de FHC Lindber Lindber Lindber Lindber Lindberg: a quem inter g: a quem inter g: a quem inter g: a quem inter g: a quem interessa essa essa essa essa uma guerra na flor uma guerra na flor uma guerra na flor uma guerra na flor uma guerra na floresta? esta? esta? esta? esta? Em resposta ao artigo publicado na última edição pelo professor José Ribamar Bessa Freire, da UERJ, o deputado federal do PT- RJ, Lindberg Farias, escreve para o JE, respondendo às críticas. Página 3 Dois economistas que participaram, recen- temente, do Ciclo de Debates que vem sendo promovido pe- lo Corecon-RJ e pelo Sin- dicato dos Economistas coincidiram no diagnóstico sobre a política econômica que vem sendo adotada pelo Gover- no Lula: ela é uma continui- Polêmica: quanto a pr olêmica: quanto a pr olêmica: quanto a pr olêmica: quanto a pr olêmica: quanto a prefeitura efeitura efeitura efeitura efeitura do Rio investe em educação? do Rio investe em educação? do Rio investe em educação? do Rio investe em educação? do Rio investe em educação? Publicamos neste número os artigos da equipe do Fórum Popu- lar de Orçamento e do economista Paulo Bastos Cezar, com vi- sões opostas sobre os gastos da prefeitura carioca em educação. Páginas 12 e 13 dade da política imple- mentada pelo governo anterior. Tanto Ricardo Carneiro, da Unicamp, quanto Luiz Antonio Mattos Filgueiras, da Universidade Federal da Bahia, alertaram para os riscos contidos nessas políticas, que poderá levar à derrota o primeiro governo de esquerda eleito no Brasil. Páginas 7 a 10

ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E … Antonio Mattos Filgueiras, ... Francisco Bernardo de Arantes Karam ... o relatório por mim produzido a respeito da delicadíssima

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ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ

Nº 178 – MAIO DE 2004JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL DOSDOSDOSDOSDOS

Economistas vêem Lulanos passos de FHC

LindberLindberLindberLindberLindberg: a quem interg: a quem interg: a quem interg: a quem interg: a quem interessaessaessaessaessauma guerra na floruma guerra na floruma guerra na floruma guerra na floruma guerra na floresta?esta?esta?esta?esta?

Em resposta ao artigo publicado na última edição pelo professor

José Ribamar Bessa Freire, da UERJ, o deputado federal do PT-

RJ, Lindberg Farias, escreve para o JE, respondendo às críticas.

Página 3

Dois economistas que

participaram, recen-

temente, do Ciclo de

Debates que vem

sendo promovido pe-

lo Corecon-RJ e pelo Sin-

dicato dos Economistas

coincidiram no diagnóstico

sobre a política econômica que

vem sendo adotada pelo Gover-

no Lula: ela é uma continui-

PPPPPolêmica: quanto a prolêmica: quanto a prolêmica: quanto a prolêmica: quanto a prolêmica: quanto a prefeituraefeituraefeituraefeituraefeiturado Rio investe em educação?do Rio investe em educação?do Rio investe em educação?do Rio investe em educação?do Rio investe em educação?

Publicamos neste número os artigos da equipe do Fórum Popu-

lar de Orçamento e do economista Paulo Bastos Cezar, com vi-

sões opostas sobre os gastos da prefeitura carioca em educação.

Páginas 12 e 13

dade da política imple-

mentada pelo governo

anterior. Tanto Ricardo

Carneiro, da Unicamp, quanto

Luiz Antonio Mattos Filgueiras,

da Universidade Federal da Bahia,

alertaram para os riscos contidos

nessas políticas, que poderá levar

à derrota o primeiro governo de

esquerda eleito no Brasil.

Páginas 7 a 10

EDITORIAL

ÓrÓrÓrÓrÓrgão Oficial dogão Oficial dogão Oficial dogão Oficial dogão Oficial doCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJ

ISSN 1519-7387

Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial: Ceci Juruá, Gilberto Alcântara,Gilberto Caputo Santos, José Antônio Lutterbach Soa-res, Julio Miragaya, Nelson Le Cocq, Paulo Mibielli,Rafael Vieira da Silva, Renata Nascimento, RogérioRocha da Silva, Ronaldo Rangel e Sidney Pascotto.

Editor: Editor: Editor: Editor: Editor: Nilo Sérgio GomesCorreio eletrônico: [email protected]ção:Ilustração:Ilustração:Ilustração:Ilustração: AliedoCaricaturista:Caricaturista:Caricaturista:Caricaturista:Caricaturista: Cássio LoredanoDiagramação e FDiagramação e FDiagramação e FDiagramação e FDiagramação e Finalização:inalização:inalização:inalização:inalização:Rossana Henriques (21) 2462-4885FFFFFotolito e Improtolito e Improtolito e Improtolito e Improtolito e Impressão:essão:essão:essão:essão: TipológicaTTTTTiragem: iragem: iragem: iragem: iragem: 13.000 exemplaresPPPPPeriodicidade:eriodicidade:eriodicidade:eriodicidade:eriodicidade: Mensal

Correio eletrônico: [email protected]

As matérias assinadas por colaboradores não refle-tem, necessariamente, a posição das entidades.É permitida a reprodução total ou parcial dos artigosdesta edição, desde que citada a fonte.

CORECON - CONSELHO REGIONALCORECON - CONSELHO REGIONALCORECON - CONSELHO REGIONALCORECON - CONSELHO REGIONALCORECON - CONSELHO REGIONALDE ECONOMIA/RJDE ECONOMIA/RJDE ECONOMIA/RJDE ECONOMIA/RJDE ECONOMIA/RJ

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SINDECON - SINDICASINDECON - SINDICASINDECON - SINDICASINDECON - SINDICASINDECON - SINDICATO DOSTO DOSTO DOSTO DOSTO DOSECONOMISTECONOMISTECONOMISTECONOMISTECONOMISTAS DO ESTAS DO ESTAS DO ESTAS DO ESTAS DO ESTADO DO RJADO DO RJADO DO RJADO DO RJADO DO RJ

Av. Treze de Maio, 23 · Grupos 1607/1608/1609 Rio de Janeiro · RJ · CEP 20031-000

Tel.: (21)2262-2535 · Telefax: (21)2533-7891 e 2533-2192Correio eletrônico: [email protected]

Coodenador Geral: Coodenador Geral: Coodenador Geral: Coodenador Geral: Coodenador Geral: Paulo Passarinho · CoorCoorCoorCoorCoordenadordenadordenadordenadordenadorde Assuntos Institucionais: de Assuntos Institucionais: de Assuntos Institucionais: de Assuntos Institucionais: de Assuntos Institucionais: Sidney Pascotto ·DirDirDirDirDiretoretoretoretoretores de Assuntos Institucionais:es de Assuntos Institucionais:es de Assuntos Institucionais:es de Assuntos Institucionais:es de Assuntos Institucionais: RonaldoRangel, Ceci Juruá, Rogério da Silva Rocha, RafaelVieira da Silva, Nelson Le Cocq, Antônio Melki Jr eEduardo Carnos Scaletsky · CoorCoorCoorCoorCoordenador dedenador dedenador dedenador dedenador deRelações Sindicais: Relações Sindicais: Relações Sindicais: Relações Sindicais: Relações Sindicais: João Manoel GonçalvesBarbosa· DirDirDirDirDiretoretoretoretoretores de Relações Sindicais:es de Relações Sindicais:es de Relações Sindicais:es de Relações Sindicais:es de Relações Sindicais: JúlioMiragaya, Gilberto Caputo Santos, Sandra Maria deSouza, Carlos Tibiriçá Miranda, José Fausto Ferreira,César Homero Lopes, Neuza Salles Carneiro e reginaLúcia Gadioli dos Santos · CoorCoorCoorCoorCoordenador dedenador dedenador dedenador dedenador deDivulgação e FDivulgação e FDivulgação e FDivulgação e FDivulgação e Finanças: inanças: inanças: inanças: inanças: Gilberto Alcantara da Cruz ·DirDirDirDirDiretoretoretoretoretores de Divulgação e Fes de Divulgação e Fes de Divulgação e Fes de Divulgação e Fes de Divulgação e Finanças:inanças:inanças:inanças:inanças: WellingtonLeonardo da Silva e José Jannotti Viegas · ConselhoConselhoConselhoConselhoConselhoFFFFFiscal: iscal: iscal: iscal: iscal: Ademir Figueiredo, Luciano Amaral Pereira eJorge de Oliveira Camargo.

Jornal dos

2 jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004

No compasso de FHC

N esta edição, o JE traz as análises, opi-niões e os comentários de dois eco-nomistas que, em maio, proferiram

palestras de avaliação sobre os rumos da po-lítica econômica em curso no Governo Lula.São eles o professor da Unicamp, RicardoCarneiro, e o diretor da Faculdade de Econo-mia da Universidade Federal da Bahia, LuizAntonio Mattos Filgueiras.

Ambos coincidem em alguns pontos: aspolíticas que estão sendo postas em práticamantêm e radicalizam o modelo adotado pelogoverno anterior de FHC e reduzem aindamais os espaços para uma transição de mo-delo, até mesmo pela piora nos cenários ex-ternos, com a alta dos juros nos EstadosUnidos e a manutenção dos ciclos devolatilidade da economia mundial.

Outros pontos de contato e convergênciadizem respeito à necessidade de implementar

formas de controle dos capitais que ingres-sam no país e de mudanças na política cam-bial. Para Carneiro, é necessário adotar umcâmbio múltiplo. Já Filgueiras assinala que nãohaverá transição sem uma ruptura com omodelo anterior.

Até que ponto as avaliações e prognósti-cos estão corretos ou não o desenrolar dopróprio tempo o dirá. Os debates, contudo,vão prosseguir e ainda neste mês de junho oconvidado das entidades de economia do Riode Janeiro é o professor Nildo Ouriques, daUniversidade de Santa Catarina, que vai falarno próximo dia 29. No dia 14 de julho será avez de Plinio de Arruda Sampaio, uma dasvozes mais autorizadas em questões do cam-po e da reforma agrária.

Ambos os debates vão ocorrer no audi-tório do Conselho. Os leitores, desde já, es-tão convidados.

SumárioPágina 03 Guerra na Floresta: a quem interessa? – Lindberg Farias

Página 05 Um erro de estratégia do Governo Lula – Fernando Siqueira

Página 07 É preciso fazer o controle de Capitais

Página 08 Página Central – Nos passos de FHC

Luiz Antonio Mattos Filgueiras

Página 11 Artigo do Leitor – A ditadura macroeconômica

Página 12 Afinal, quanto o Rio investe em educação

Os gastos do Rio – Paulo Bastos Cezar

Onde está a prioridade? – Equipe do FPO

Página 15 Fórum Popular de Orçamento – De olho no esporte e lazer do Rio

Página 16 Corecon responde a Elio Gáspari

Cursos do Corecon para 2004

O Corecon-RJ apóia e divulga o programa Faixa Livre, apresentado por Paulo Passarinho, de segundaà sexta-feira, das 7h30 às 9h, na Rádio Bandeirantes, do Rio, 1360 khz.

3jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004

Lindberg FariasQUESTÃO INDÍGENA

Guerra na Floresta:

a quem interessa?

omo membro da

Comissão Es-

pecial designa-

da pelo presidente da

Câmara, deputado

João Paulo Cunha, para

analisar in loco os conflitos

decorrentes do anúncio da ho-

mologação da Reserva Raposa/

Serra do Sol, em Roraima, pude

verificar que esta questão é mais

delicada do que a maioria das

pessoas imagina – principal-

mente quando essas pessoas

costumam estudar a teoria das

coisas e não a sua práxis, o que

é muito comum na academia

freqüentada por Bessa Freire.

Além da questão da fragili-

dade territorial a que o país fica

submetido ao permitir a demar-

cação de reservas indígenas em

área de fronteira – que o pro-

fessor reduz em seu artigo a

mera paranóia militar-naciona-

lista –, há ainda muitas outras

variáveis envolvidas em Rapo-

sa Serra do Sol. Se Bessa Freire

se der ao trabalho de ao menos

Fui surpreendido, na edição 177, do Jornal dos Economistas, por um artigo doprofessor José Ribamar Bessa Freire, coordenador do Programa de Estudos dosPovos Indígenas da UERJ.De forma passional e equivocada, Bessa Freire, claramente impregnado do mito dobom selvagem, atacou minha honra e criticou – embora não tenha lido – o relatóriopor mim produzido a respeito da delicadíssimaquestão que envolve a demarcação dareserva indígena Raposa Serra do Sol, emRoraima, que ele demonstra desconhecer.

ler o meu relatório, dispo-

nível no site da Câmara dos

Deputados, terá uma noção

melhor do que ocorre, na

prática, naquela região que

possivelmente ele jamais

pisou.

Os interesses emquestão

Se o fizer, ele verá que nem

mesmo entre os índios existe

consenso a respeito da melhor

forma de demarcar aquela área.

De um lado, estão 12 mil índi-

os macuxis, que legitimamente

reivindicam o direito à terra que

pertenceu aos seus antepassa-

dos e que defendem a homolo-

gação da reserva em área con-

tínua – um território de cerca

de 1,7 milhão de hectares, numa

região de fronteira com a

Guiana e a Venezuela.

De outro, estão cerca de 7

mil índios de seis diferentes

etnias, fazendeiros e não-índi-

os moradores do município de

Uiratumã, que também vivem

e produzem naquelas terras e

são contrários à demarcação em

área contínua. Em comum, ape-

nas uma certeza: a de que a ho-

mologação será decisiva para o

destino de todos eles.

Demarcada há oito anos,

mas até hoje não homologada

C

4 jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004

devido aos conflitos que envol-

ve, a reserva corresponde a cer-

ca de 8% do território de

Roraima, estado paupérrimo,

criado há apenas 15 anos e que

tem 46,17% de sua área em ter-

ras indígenas. Do que resta, ape-

nas 7,2% são cultiváveis, se-

gundo a Embrapa. A área

compreendida pela Reserva In-

dígena Raposa/Serra do Sol é

particularmente problemática

porque estão ali concentradas as

terras mais produtivas do esta-

do, com lavouras de arroz que

respondem por 60% da produ-

ção agrícola local e por 10,25%

do PIB de Roraima.

Além disso, a região é rica

em minérios e pedras preciosas,

sem contar a biodiversidade,

cujos benefícios econômicos

ainda são desconhecidos. O fato

é que a homologação da reser-

va em área contínua, como de-

fendem a Funai, o Ministério da

A homologação da reserva em área descontínua, preser-vando faixa de 15 quilômetros de fronteira para a atuaçãodas Forças Armadas e também preservando o municípiode Uiramutã e as fazendas produtivas da região, é, no meuentender, a melhor forma de evitar uma guerra civil emplena Floresta Amazônica

Justiça, Igreja e ONGs, boa par-

te das quais estrangeira, não

apenas é vista por setores im-

portantes da sociedade organi-

zada como um entrave ao de-

senvolvimento do Estado e de

seus 324 mil habitantes, mas

também como um perigo para

a soberania nacional.

Relatório com Lula

Não sem razão, as Forças

Armadas temem que os mais de

mil quilômetros da faixa de

fronteira, que compreende a di-

visa da reserva com Venezuela

e Guiana, tornem o país vulne-

rável a atividades como garim-

po ilegal, contrabando, nar-

cotráfico e biopirataria. Uma

questão de segurança nacional

que muitos consideram para-

nóia nacionalista, mas que não

deve ser desprezada, principal-

mente quando levamos em con-

Nem mesmo entre os índios existe consenso (...). De um lado,estão 12 mil macuxis, que reivindicam o direito à terra que per-tenceu aos seus antepassados e que defendem a reserva emárea contínua – um território de cerca de 1,7 milhão de hectares,numa região de fronteira com a Guiana e a Venezuela. De outro,estão cerca de 7 mil índios de seis diferentes etnias, fazendei-ros e não-índios moradores do município de Uiratumã, que tam-bém vivem e produzem naquelas terras e são contrários à de-marcação em área contínua

ta o recente exemplo dos índi-

os cinta-larga, em Rondônia, e

os interesses que despertam as

incalculáveis riquezas naturais

daquela reserva.

Prova disso foi a reação ge-

rada, em janeiro passado, pelo

simples anúncio, feito pelo mi-

nistro da Justiça, de que final-

mente a reserva seria homolo-

gada. Estradas foram fechadas,

ocas queimadas, padres seqües-

trados, gente assassinada. A

quem isso interessa?

O relatório por mim apre-

sentado, após exaustivas audi-

ências públicas com todos os

atores envolvidos no conflito da

reserva indígena Raposa/Serra

do Sol, em Roraima, está sob

análise do presidente Lula para

que ele decida qual o melhor

caminho para a questão. Nele,

não busco fomentar o conflito,

mas apontar soluções que con-

templem a todos, que preser-

vem a segurança nacional e ga-

rantam sustentabilidade para o

estado de Roraima e para aque-

les que vivem da terra, sejam

eles índios ou não.

A homologação da reserva

em área descontínua, preservan-

do faixa de 15 quilômetros de

fronteira para a atuação das

Forças Armadas e também pre-

servando o município de Uira-

mutã e as fazendas produtivas

da região, é, no meu entender, a

melhor forma de evitar uma

guerra civil em plena Floresta

Amazônica. Isso, nenhum bra-

sileiro em sã consciência deve

desejar. Nem mesmo o profes-

sor Bessa Freire, embora estan-

do ele protegido pelos milhares

de quilômetros que separam a

floresta da cátedra refrigerada

da sua universidade.

* Deputado federal pelo PT-RJ.

5jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004

LICITAÇÃO DE ÁREAS Fernando Siqueira*

ste leilão estará oferecendo áreas azuis(potencialmente produtoras), que aPetrobrás foi obrigada a devolver à A-

gência Nacional de Petróleo (ANP) por deter-minação do Ministério de Minas e Energia.Quando houve a flexibilização do monopólioestatal do petróleo, o governo Fernando Henri-que Cardoso mandou que a Petrobras mapeas-se as suas melhores áreas que, mais tarde, fo-ram denominadas azuis, dentro da rodada zero.

Elas só não foram postas em produção pelaPetrobras devido ao bloqueio de recursos daempresa, feito pelo governo por determinaçãodo FMI – para quem investimento em infra-estrutura é considerado despesa. Se as multi-nacionais estrangeiras arrematarem esses novoscampos, pesquisados e mapeados pela Petrobras,e os colocarem em produção, elas passam a serproprietárias do petróleo e podem exportá-lo.

Os riscos da exportação

A administração anterior da Petrobrasguardava áreas para serem entregues à ANPe leiloadas. A nova administração mandouperfurá-las, em 2003, e encontrou 6,6 bilhõesde barris (cerca de 50% das reservas nacio-nais provadas). Isto significa que a políticadeveria ser a de incentivo para a Petrobrasexplorar as suas áreas, o que não vem ocor-rendo por pressão do cartel internacional.

Parte das descobertas foi incorporada ofi-cialmente, elevando as reservas provadas de10,5 bilhões para 12,6 bilhões de barris, fal-tando incorporar cerca de 4 bilhões de bar-ris, o que elevará as reservas provadas para16,6 bilhões. Como a auto-suficiência acon-tecerá em 2006, qualquer nova licitação serátotalmente para a exportação de petróleo. Aomesmo tempo, as reservas prováveis e possí-

Um erro de estratégiado Governo Lula

Enquanto o mundo discute a alta do preço do barril de petróleo, que já chegou amais de US$ 40, o Governo Federal, sem qualquer visão estratégica do país, continuaa política de licitação de áreas petrolíferas brasileiras. A próxima rodada, a 6ª, iráocorrer em agosto por determinação do Governo Federal.

veis caíram para cerca de 4 bilhões. Por estarazão, o Brasil não tem perspectivas de gran-des descobertas. Assim sendo, não podemosabrir mão das poucas que ainda nos restam.

O nosso consumo está hoje em cerca de 2milhões de barris por dia ou 730 milhões bar-ris por ano. A Petrobras, atendendo solicita-ção do governo, com vistas a sustentar osuperávit primário, está exportando petróleode forma crescente e programa exportar ummilhão de barris por dia, em 2006, perfazendoum total de esgotamento das reservas em 1,1bilhão de barris por ano. Em 10 anos, teríamosconsumido dois terços das nossas reservas, vol-tando à condição de dependência externa.

Como o Brasil nunca será um grande pro-dutor de petróleo porque sua geologia é ad-versa, na qual a maior parte da área sedimentaré ocupada por bacias de idade Paleozóica, apolítica de exportação é suicida para o país.Segundo classificação do geólogo H.D.Klemme, o potencial petrolífero dessas áreas émenor que 1% da reserva mundial. Isto signi-fica que não temos petróleo para exportação.

Visão estratégica

No governo FHC, o Ministério de Minase Energia mandou a Petrobras selecionar 133blocos, os quais, de acordo com os relatórios,constavam como áreas a serem cedidas àPetrobras. Depois de exaustivo trabalho deescolha, a empresa enviou para a ANP e foisurpreendida pela perda de 30%das áreas cujos documentosforam recarimbados como“prospectos explorató-rios” e liberados para li-citação, o que significao impedimento daPetrobras ao direi-to de recorrer àJustiça.

E

6 jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004

Ao ter controle sobre assuas reservas, o governo pode-ria controlar a inflação, uma vezque a Petrobras tem condiçõesde ditar os seus próprios pre-ços ao mercado, sem atrelarmais o aumento à cotação in-ternacional. Seria a volta à mis-são da empresa, que foi criadacom o objetivo de abastecer oconsumo interno ao menor cus-to para a sociedade. O trabalha-

dor brasileiro, cujo salário mínimo é de US$80, paga pelo gás de cozinha o mesmo preçoque um trabalhador de primeiro mundo, cujosalário mínimo é superior a US$ 1.200.

Por esta razão, a política neoliberal quevem sendo aplicada na administração brasi-leira, desde o início da década de 90, é equi-vocada e lesiva ao país, porque só beneficiaos grandes conglomerados. O povo brasilei-ro só tem a perder porque o preço do petró-leo alto significará que pagaremos mais caropelo produto, já que voltaremos à condiçãode país importador, por causa de um insumoobrigatório na cadeia produtiva.

Ferindo a Constituição

O petróleo é o principal componente damatriz energética do planeta. É dele quesaem importantes derivados, como a gasoli-na, o diesel, o gás de cozinha, querosene deaviação e para a petroquímica, gerando pro-dutos das mais variadas utilizações, comobrinquedos, insumos para produtos indus-triais, remédios, vasilhames e roupas. Porisso, o petróleo é tão disputado e motivo parase fazer guerra.

Enquanto isso, a Agência Internacional deEnergia (AIE) e a ASPO (Association for the

Study of Peak of Oil and Gas) alertam que opetróleo enfrentará um novo choque em 2010,quando chegará a US$ 50 e – o mais grave –em 2015, ao chegar no pico de produçãomundial e o barril ser vendido a US$ 100.

Além disso, as multinacionais estão reven-do para baixo as suas reservas por ordem daSEC (a CVM norte-americana). A Shell re-duziu em 24%, a El Paso (33%), a Enron(30%) e até o México (36%), trazendo de voltao receio do esgotamento das reservas mun-diais. Esta situação pode ser atenuada se ogoverno assumir, efetivamente, o controlesobre as nossas reservas.

A demanda crescente da China (e da Ásiacomo um todo), juntamente com as crises noOriente Médio fazem com que a preocupa-ção com a oferta seja cada dia maior. Os aten-tados na região mostram que o mundo cami-nha para conflitos mais profundos por causado petróleo. E o governo precisa ter visãoestratégica.

Apesar de a Constituição Federal, no seuartigo 177, garantir que o petróleo é mono-pólio da União, a Lei 9478/97, aprovada nogoverno FHC, contrariando a Constituição,permitiu a propriedade e a exportação do pro-duto por parte da empresa que os produzir.

Com isso, gerou uma grande distorção:uma lei ordinária ter mais força do que aConstituição Federal. A ANP também punea Petrobras ao estabelecer três anos compossibilidade de mais dois (cinco anos) parapôr as reservas em produção, enquanto asmultinacionais têm a vantagem de ter oitoanos de prazo.

A 6ª Rodada de Licitação é um crime delesa-pátria, pois está se colocando em licita-ção áreas com grande potencial de petróleo.O próprio secretário-geral do Ministério deMinas e Energia, Maurício Tomalsquim, dis-se recentemente ao jornal eletrônico Globo On

Line que o governo estava oferecendo às em-presas estrangeiras o “filé mignon”.

Vazão de recursos estratégicos

Esta política, imposta pelo cartel interna-cional, além de depauperar as reservas,retroage o país à condição de importador dederivados de consumo obrigatório. O gover-no brasileiro também não controlará o preçodo produto, tendo de comprá-lo ao preço in-ternacional, quando o Brasil já estará próxi-mo da auto-suficiência.

Assim sendo, abrimos, de um lado, umcanal de vazão de recursos estratégicos, oque, além do mais, compromete a nossa so-brevivência como nação soberana, impedin-do a acumulação interna de capital, indis-pensável ao nosso desenvolvimento. Poroutro lado, ao contrário do que aconteceuna vigência do monopólio, nenhum empre-go qualificado foi criado e nenhumatecnologia repassada. Nem mesmo houveformação de empresas nacionais.

Durante a vigência do monopólio, a Pe-trobras favoreceu a criação de mais de cin-co mil empresas e de cerca de três milhões

de empregos, contribuindo para o desen-volvimento nacional. Sua eficiência foi re-conhecida por dois prêmios máximos con-cedidos por organizações internacionais. APetrobras foi importante também porqueela significou a economia de cerca de US$300 bilhões em divisas, pela não importa-ção de derivados e o recolhimento ao Te-souro Nacional de mais impostos do quetodo o sistema financeiro.

Este resultado altamente favorável para opaís não irá acontecer se houver transferên-cia de propriedade dos campos petrolíferos.Nos seus 50 anos, a Petrobras nunca deixouo país desabastecido, investindo cerca de US$100 bilhões no setor petróleo, mais do que as7 mil empresas transnacionais investiram noBrasil nos últimos 200 anos.

Após a flexibilização do petróleo, ocorri-da no governo FHC, esta realidade mudou.Das 5 mil empresas brasileiras que sobrevivi-am das encomendas da Petrobras, gerandoemprego no país, sobraram menos de 500.As empresas estrangeiras que vieram para opaís não geraram qualquer posto de trabalhoexpressivo. Pelo contrário. O Conselho Regi-onal de Engenharia e Arquitetura do Rio cons-tatou o volume crescente de estrangeiros queestão entrando no país com visto de turistapara trabalhar em plataformas, tirando em-prego de brasileiros.

Além disso, a Petrobras alcançou omais alto nível tecnológico, tendo recebido,por duas vezes, nos Estados Unidos, o prê-mio OTC, da Offshore Technology Conference, pelodesenvolvimento de tecnologia em águas pro-fundas. Este prêmio é o mais importante daindústria mundial do petróleo.

Isto demonstra que o Brasil tem todas ascondições de explorar o seu próprio petró-leo. Por isso, desde a sua criação, a Petrobrasvem sofrendo pressão política para que nãoseja eficiente. Ela só conseguiu se manter empé devido ao seu excelente corpo técnico queconseguiu se sobrepor aos interessespolíticos mesquinhos, como na épo-ca do presidente Fernando Collor,na qual estiveram à frente da em-presa seis presidentes e 23 di-retores. Isto tudo faz daPetrobras uma companhiade sucesso.

* Presidente da Associação dos

Engenheiros da Petrobras.

CICLO DE DEBATES

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mplementar o controle sobreo fluxo de capitais e estabele-cer taxas de câmbio múltiplas,

uma voltada para o comércio eoutra, mais dura, destinada aomercado financeiro. Esta é umadas medidas que deveria comporum conjunto de políticas anticí-

É preciso fazero controle de capitais

Retração

Para o professor da Unicamp, “já estamosassistindo a uma retração” e os cenários queele traçou em sua palestra não são nada oti-mistas. Ele acredita que os interesses eleito-rais irão prevalecer sobre o ponto de vista doBanco Central, o que tenderá a desarrumar

Ciclo teráPlinio de Arruda e Ouriques

O próximo debate a ser promovidopelo Conselho Regional de Economia epelo Sindicato dos Economistas será re-alizado no próximo dia 29 de junho, às18h30, e trará ao auditório da entidadeo professor e economista Nildo Ou-riques. Com doutorado pela Universida-de Nacional Autônoma do México(Unam), ele é professor do curso de pós-graduação em economia da Universida-de Federal de Santa Catarina.

Organizador dos livros “No fio da na-valha” (Editora Xamã), com críticas àsreformas neoliberais do governo deFHC, e também de “Os 500 anos – aconquista interminável” (Editora Vozes),Ouriques vai abordar em sua palestraquestões como o pensamento cativo, apolítica econômica do atual governo ea coincidência teórico-metodológica en-tre dois pensamentos que, aparente-mente, se opõem: os desenvolvimentis-tas e os neoliberais.

Verdadeira alternativa

Em julho, a série de debates terácontinuidade com uma palestra do pro-fessor Plínio de Arruda Sampaio, umadas maiores autoridades do país sobrequestões relativas ao campo e à refor-ma agrária. A palestra será no dia 14 dejulho, no mesmo horário das 18h30, noauditório do Conselho, e o professor iráabordar a temática “Em que consisteuma verdadeira alternativa de desenvol-vimento para o Brasil?”.

A série desses debates compõe o Ci-clo de Debates organizado pelo Conse-lho, em parceira com o Sindicato dosEconomistas. Tem por objetivo analisaras alternativas de que dispõe a socieda-de brasileira para a superação das con-seqüências decorrentes dos cenários po-líticos e econômicos vividos nos últimos10 anos, no país, em decorrência das op-ções de política econômica que foramadotadas pelos governos.

clicas, capazes de tornar o Brasil menos ex-posto às crises e convulsões econômicas quevêm de fora.

A proposta foi apresentada pelo economistae professor Ricardo Carneiro, da Universidadede Campinas, em palestra realizada no último dia28 de maio no auditório do Corecon-RJ. Ele éex-membro da equipe econômica que elaborouo programa do então candidato Luiz Inácio Lulada Silva à Presidência da República, e que, logoapós a posse do novo governo, se afastou pordivergências políticas em relação às orientaçõesda equipe econômica do Governo Lula.

Carneiro é de opinião que o país perdeuexcelente oportunidade de mudar os rumos daeconomia, logo após a posse de Lula, quando,na opinião do economista, as condições eramexcepcionais para a concretização das mudan-ças que ele considera como necessárias nosrumos da economia brasileira. “Fazia tempoque o cenário internacional não era tão favorá-vel”, comentou Ricardo Carneiro, acrescentan-do que “agora, tudo vai piorar com a contínuadeterioração do cenário externo”.

as contas e criar dificuldades à execução dapolítica monetária que vem sendo seguida pelogoverno.

“Além disso, vamos ter um desfinancia-mento significativo da conta de capitais”, disseCarneiro, lembrando que a discussão atual-mente em curso na economia norte-ameri-cana é com respeito à velocidade em que sedará a alta na taxa básica dos juros, nos Es-tados Unidos. A sua previsão é de que a taxade juros norte-americana vá bater em 4%ao ano, enquanto a Selic brasileira deverá,segundo suas projeções, recuar a, no máxi-mo, 13% ao ano. “Isso deixará o país insol-vente”, assinalou.

O professor da Unicamp alertou para aqueda no consumo das famílias, que, confor-me os dados do IBGE, caiu de 1,5% para0,3% do PIB, o que revela a incapacidade dapolítica atual em dinamizar a economia do-méstica. Ricardo Carneiro chamou tambéma atenção para o problema dos estoques dasdívidas interna e externa e da necessidade desua renegociação.

“O choque externo está vindo. Se for-mos respeitar todos os contratos nos termosem que estão colocados vai-se fazer o mes-mo que vinha sendo feito pelo governo an-terior”, disse.

Ricardo Carneiro respondeu às perguntas do público

I

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GOVERNO LULA Luiz Antonio Mattos Filgueiras*

que vou fazer é tentar mostrar emque profundidade e em que direçãovai o Governo Lula, do ponto devista da política econômica, com re-

lação ao governo Fernando Henrique. Equais são os impasses e as contradições queesse tipo de política pode levar para o futu-ro e as possibilidades de crescimento doBrasil.

Na realidade, sabemos que o GovernoLula, no início, colocou a manutenção da po-lítica econômica do governo FHC como su-postamente uma fase de transição, para de-pois trocar essa política por uma outra, queseria a política econômica do PT e do Lula.No entanto, particularmente, não acreditei,desde logo, que aquilo poderia ser uma polí-tica de transição, pois a transição é uma coisamuito simples.

O conceito de transição significa sair deum ponto ao outro, mudança no espaço e notempo. Caminhar de um ponto em direçãoao outro. A política econômica (do GovernoLula) não caminhou para lado nenhum, elase manteve. Era a mesma política econômi-ca, não teve nenhum avanço que indicassealgum tipo de mudança para sair daquele pon-to, que era a política do FHC, para atingiroutro ponto, que seria, teoricamente, a políti-ca do PT e do Governo Lula.

O que se viu foi uma repetição da políticaeconômica, com agravante: ela foi ra-dicalizada, aprofundada, de uma forma mui-to mais dura do que FHC vinha fazendo, jáno seu segundo mandato. E o argumento so-bre isso era exatamente a herança do gover-no FHC, uma herança maldita. É sintomáti-

co o título do editorial da Veja de semanasatrás – A herança bendita, elogiando muito ogoverno Lula e dizendo o que era a herançaque este governo pegou e a que vai deixarpara os próximos governantes.

Ajuste fiscal, vulnerabilidade e déficit

De fato, tem uma herança muito ruim,uma herança maldita, mas que não se poderáavançar se mantiver os mesmos pressupos-tos, a mesma política econômica que levou aessa herança. Ou seja, não se tem condiçãode romper com essa herança se ela se repro-duz através da adoção das mesmas políticas.Quais são as verdades fundamentais dessaherança, do ponto de vista estrutural? É avulnerabilidade externa da economia brasileirae a fragilidade financeira do setor público.

Na realidade, esse debate é antigo e co-meçou a ser feito logo no início do Plano Real.É a história dos déficits gêmeos, o déficit dosetor público e o externo, no balanço de pa-gamento, e a relação do déficit público com oda balança comercial. Dependendo de comose observa essa relação, é possível tirar con-clusões diferentes.

Os economistas da ortodoxia econômi-ca enxergam, ou enxergaram desde o início,que o déficit da balança comercial ou dobalanço de pagamento e a vulnerabilidadeda economia brasileira são decorrentes dodéficit público. Ou seja, o governo gastoumuito e não arrecadou o suficiente para co-brir os seus gastos. Portanto, fez um déficitenorme que se refletiu na balança comerciale no balanço de pagamento.

O raciocínio sempre parte da relação decausa e efeito do déficit público para avulnerabilidade externa. Ou seja, porque osgovernos foram, por alguns anos, irrespon-sáveis, isto gerou um problema de fragilidadefinanceira no setor público e, como decor-rência, a vulnerabilidade externa.

A nossa compreensão é exatamenteoposta: a fragilidade do setor pú-blico foi produto do Plano Real,dos primeiros quatro anos doGoverno FHC, quando a vul-nerabilidade externa seaprofundou e transmitiuuma fragilidade tam-bém para dentro dasfinanças públicas. Narealidade, o raciocíniodeve ser o oposto, davulnerabilidade externapara a fragilidade financei-ra do setor público. Ou seja,a relação de causa e efeito éexatamente a oposta.

Ao optar por uma ou poroutra explicação, se teráuma política econômi-ca diferente. Por isso,esta política eco-nômica que oGoverno Lulaestá fazendo –igual à do FHC– é centrada noajuste fiscal, por-que o argumento éexatamente este: a

Nos passos de FHCApresentamos, a seguir, um resumo editado da palestra proferida pelo professor ediretor da Faculdade de Economia da Universidade Federal da Bahia Luiz AntonioMattos Filgueiras, em maio último, na série de debates que o Corecon-RJ e o Sin-dicato dos Economistas estão promovendo, em busca de subsídios e abordagenssobre os rumos da política econômica em curso no Governo Lula.

O

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falta do ajuste fiscal, que não foi feito suficien-temente pelo governo FHC, é o elemento cen-tral da vulnerabilidade externa.

A solução é fazer esse ajuste o mais duropossível, reduzir a relação da dívida públicacom o PIB, de tal maneira, que dê cre-dibilidade aos investidores internacionais, eisso levará à queda da vulnerabilidade, à

melhoria das condiçõesinternacionais do

país. Portanto,

tudo é centrado na fragilidade financeira dosetor público, no ajuste fiscal.

Perda de autonomia

O pior de tudo isto é que na política eco-nômica que brota dessa vulnerabilidade ex-terna e da fragilidade financeira do setor pú-blico não se tem capacidade de utilizar osinstrumentos de política econômica. Isso por-que a política monetária fica dependendo dataxa de juros internacional, e a taxa aqui, doBrasil, vai depender da entrada e saída de ca-pitais, do movimento livre de capitais. É essemovimento livre de capitais que vai definira taxa de juros interna.

Portanto, a nossa taxa de juros de-pende da taxa internacional mais o

chamado risco Brasil, que de-pende dessa mobilidade de ca-pitais para dentro e para forado país. Ou seja, se perdeucompletamente a possibilidadede se fazer política monetária

com autonomia, a partir das neces-sidades da economia brasileira e do país.

A rigor, a taxa de juros não é con-trolada pelo Banco Central porque ela

tem uma dependência dessa movi-mentação de capitais, na medida

em que FHC, desde o início deseu governo, engatou o mer-

cado financeiro brasilei-ro com o internacional.E, ao engatar, fez esse

fluxo de livre mobi-lidade de capi-

tais, que acabadefinindo atéonde vai a taxade juros, o pi-so, o teto e amovimentação

que ela vai ter ao longo

dos diversos períodos. Em momentos emque desaparece uma crise internacional, essataxa de juros vai caindo, mas sempre temum piso que é definido por essa livre mobi-lidade de capitais. Não se tem capacidade defazer política monetária em função da ne-cessidade do país.

Por outro lado, a partir do segundo go-verno de FHC perdeu-se a capacidade de fa-zer política fiscal. A assinatura do acordo como Fundo Monetário Internacional (FMI), apartir de 1999, implicou em colocar comocentral da política econômica o superávit fis-cal primário. Isso inviabilizou qualquer polí-tica fiscal. O último exemplo é o salário míni-mo: só 20 reais (de reajuste) porque senão vaiestourar as finanças da Previdência.

Perdeu-se a política monetária, a fiscal e apolítica cambial, que também nunca teve au-tonomia. A gravidade do problema é que comvulnerabilidade externa, com a fragilidade fi-nanceira do setor público e com esse modeloeconômico - e sua continuação – perdeu-se aautonomia e soberania na implementação dapolítica econômica.

Balança comercial

No período pré-Plano Real, a balança co-mercial resultou positiva em US$ 60 bilhões.No primeiro Governo FHC, a balança ficounegativa em US$ 22 bilhões. No segundo, deuuma recuperada, ficando em US$ 13 bilhõespositivos. Essa situação começou a mudar umpouco a partir do segundo Governo FHC.

De 1995 a 2001, a balança foi tendo défi-cit e, só em 2001, é que começou a recuperar.Essa melhora se deu em função da crise cam-bial de 1999, tempo em que a taxa de câmbiose desvalorizou e a balança comercial come-çou a melhorar de novo.

Lula, quando assumiu em 2003, já pegouesse movimento e que, no ano, resultou em US$24 bilhões de saldo positivo na balança. Esteano (2004) também vai chegar por aí. A melhora,contudo, não tem nada a ver com a política eco-nômica. O desempenho da balança comercialbrasileira é fruto de elementos internacionais.

A política econômica de FHC, a partir de1999, optou por uma política de elevado su-perávit fiscal. Depois de então, o superávitanual sempre esteve acima de 3% para tentarreduzir a relação Dívida/PIB.

Qual foi o impacto desse tipo de políti-ca econômica no desempenho da atividade

Não se tem condição de romper com essa herança se elase reproduz através da adoção das mesmas políticas. Quaissão as verdades fundamentais dessa herança, do pontode vista estrutural? É a vulnerabilidade externa da econo-mia brasileira e a fragilidade financeira do setor público

10 jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004

produtiva do país? Antes do Real, em 94,(a economia) teve um crescimento de 5,85%e depois começa, em dezembro, a crise cam-bial no México, tempo em que o governoteve que aumentar a taxa de juros e come-çar a trancar a economia. O PIB vai cain-do, em 1997 melhora um pouco, mas entraa crise cambial (em 98), que estoura na cri-se de janeiro de 99, para depois ter um levemelhora, de 4,36%, em 2000.

Com esses valores, percebe-se que a he-rança do governo FHC para Lula foi realmen-te terrível. A vulnerabilidade externa e a fragi-lidade financeira são duas questões estruturaisfundamentais, deixadas como herança para oGoverno Lula.

A rigor, a taxa de juros não écontrolada pelo Banco Centralporque ela tem uma dependên-cia dessa movimentação decapitais, na medida em queFHC, desde o início de seu go-verno, engatou o mercado fi-nanceiro brasileiro com o inter-nacional

A nossa compreensão é exa-tamente oposta: a fragilidadedo setor público foi produto doPlano Real, dos primeiros qua-tro anos do Governo FHC,quando a vulnerabilidade exter-na se aprofundou e transmitiuuma fragilidade também paradentro das finanças públicas

De fato, o Governo Lula assumiu emuma situação bastante complicada, emboranão seja consenso total de que essa situaçãofosse realmente complicada. Mas ela fez comque o governo realmente realizasse, logo decara, uma política de transição. E essa polí-tica de transição foi exatamente no sentidode tentar buscar a redução da vulnerabilidadeexterna e a redução da fragilidade financeirado setor público, de tal maneira que (o go-verno) recobrasse os instrumentos de polí-tica econômica, que pudesse atuar com apolítica monetária, fiscal e cambial, a partirdo enfrentamento dessas duas questões es-truturais. Isso era o que a gente esperava,mas não foi isso que foi feito.

Qual a herança deixada por FHC do pon-to de vista conjuntural? 0 câmbio começou,a partir de abril de 2002, a disparar e, emcima dos problemas estruturais e objetivos,mais o processo eleitoral, houve uma gran-de especulação financeira. Em junho, Lulaescreveu a Carta ao Povo Brasileiro, paratentar dar uma acalmada e dizer que, se elei-to, manteria os contratos. Essa disparada nocâmbio levou à sua desvalorização, à fugade capitais e o risco Brasil aumentou, che-gando a 2.400 pontos.

Evidentemente, essa situação conjuntu-ral se refletiu na inflação. Em 2002, em re-lação a 2001, a inflação deu um salto. Ocontrole inflacionário, a única conquista dogoverno FHC, foi entregue ao sucessortambém em perigo. Além dos problemasestruturais, FHC deixou uma conjuntura ex-tremamente volátil e com a pressão infla-cionária extremamente grande.

Ajuste com desemprego

Quando a gente diz que Lula radicalizou apolítica econômica não é um chavão, é um fato.Todos os indicadores apontam para essa radicali-zação. Na questão fiscal, por exemplo, isso é claro.

Têm dois documentos básicos do Ministérioda Fazenda, um deles é intitulado “Política eco-nômica e reformas estruturais”. Argumenta queo governo FHC foi irresponsável, não fez supe-rávit fiscal necessário durante o seu mandato, masque eles agora iam fazer e resolver definitivamente,do ponto de vista estrutural, as contas públicas,fazendo sucessíveis superávits fiscais de 4.25%.

Mas quem faz previsões com esses valo-res não quer mudar política econômica ne-nhuma. Em junho saiu outro documento,“Gastos sociais do Governo Federal”, que étoda a discussão sobre a política social focali-zada. Por essa razão, esses dois documentossão complementares.

As políticas sociais focalizadas – tipo Ban-co Mundial, em que se escolhe o mais mise-rável dos pobres para ficar acima da linha dapobreza – são funcionais na medida em que,com superávit fiscal elevadíssimo, não se temcomo gastar, não se pode ter políticas univer-sais, mas, sim, a social focalizada. E o dramadessa política social na saúde, por exemplo, émortal; escolhe-se quem morre e quem nãomorre. O mesmo ocorre com a educação,onde se escolhe que aprende ou não.

Essa política social focalizada é um sub pro-duto desse superávit fiscal, do crescimento dadívida pública. Há um artigo de um professorda UFRJ que fala que o Governo Lula não templano B, mas o sim o A+, a mesma política

radicalizada, intensificada. A maior políticasocial que tem nesse país há muitos anos cha-ma-se a Previdência Social Rural. Mas o go-verno, na época da Reforma da Previdência,disse que a Previdência do setor privado tinhaum déficit de R$ 17 bilhões (R$ 14,7 bilhõescom aposentaria de trabalhador rural).

É um programa social do mais alto valor.Por exemplo, a maior parte de municípios doNordeste senão tivesse esse programa de pre-vidência social tinha desaparecido. Essa polí-tica social focalizada é impressionante, é umaimitação da política FHC, mas está sendo fei-ta de forma mais incompetente do que vinhasendo feita antes.

Como resultado da política econômi-ca de Lula, em 2003 o PIB caiu 0,2% e o PIBper capita 1,5%. Se fizer uma média, tendo1990, com o Collor, quando começaram aspolíticas liberais, até 2004, são 14 anos comessas políticas liberais.

s ditaduras, como quasetodas as formas de Es-tado, possuem muitas fa-

ces: ditadura de direita, ditadurade esquerda, ditadura do prole-tariado, ditadura militar, e por aívamos numa quase interminávelcitação.

A ditadura macroeconômica,porém, parece novidade, quer nomundo político, quer no da eco-nomia. Ela se origina do famo-so “Consenso de Washington”,que estabeleceu uma série de con-dições, a maioria condiçõesmacroeconômicas, para os paísesemergentes tentarem sair destasarmadilhas da economia e alcan-çar o estrelato do “G-7” – grupode países desenvolvidos.

Pois bem, definido o cenário,vamos sucintamente analisar onosso desempenho dentro destaarmadura, a qual pacificamenteaceitamos e a envergamos há maisde uma década, com obstinação.

As recomendações macro-econômicas básicas foram nosentido de eliminação da inflaçãoe do déficit fiscal, com o capitalestrangeiro sendo a principal fon-te de investimento na economia,de forma geral.

A ditaduramacroeconômica

ARTIGO DO LEITOR Washington Barbeito*

Esta armadura não conside-rou variáveis importantes no ce-nário microeconômico, como:produção, renda, consumo, inves-timento interno, empregos, salá-rios e, finalmente, a tão esperadadistribuição de renda. Essas va-riáveis sempre foram considera-das pela economia clássica, a par-tir da década de 1960.

Baseando-nos nas compara-ções feitas pela Comissão Eco-nômica para América Latina eCaribe, nos períodos de 1945/1980 e 1980/2000, sem, porém,nos cingirmos a elas, temos o se-guinte cenário:• Inflação de 20% no primeiroperíodo e de mais de 100% noperíodo seguinte, até 1990;• As exportações cresceram emmédia três vezes e as importaçõesmais que dobraram e criaram umgrande déficit comercial;• Alguns países, inicialmente, pa-receram ir bem, destacando-se aArgentina, até 1990, com expres-sivo crescimento;• O aumento da renda per capita,que no primeiro período era de3% a 4%, caiu para 1% a 2%,considerado o conjunto da Amé-rica Latina;

• A distribuição de renda pioroue a pobreza aumentou, o que foidesalentador.

Apesar deste quadro sombrio,a ditadura macroeconômica con-tinuou, contudo, a prevalecer atéos dias de hoje. Alguns países jáforam ao fundo do poço, e agoraretornam com outras idéias, nemsempre perfeitas.

É impressionante a manuten-ção da disciplina fiscal e do con-trole da inflação na esperança deatrair investidores internacionais.Enquanto houver investimentos jámaturados e “garantias” de renta-bilidade eles virão; depois não mais.

No México, exemplo da ado-ção desta ditadura, seu produtointerno bruto caiu continuamen-te, nos últimos anos. Fábricas fo-ram desativadas, aumentando oexército de desempregados. Amoeda – o peso – mantém até hojeuma sobrevalorização avaliada emmais de 30%. Os financiamentosinternos quase desapareceram.Em resumo, o setor produtivo estásendo sacrificado em prol do con-trole da inflação e do déficit dascontas. As vozes do México jácomeçam a soar, pedindo ou exi-gindo mudanças nas regras.

A Argentina é o mais recenteexemplo do fracasso desta políti-ca. A ditadura macroeconômicacontinuou soberana até o desgastefinal e, agora, a Argentina tenta sairdo caos criado pela adoção dessaspolíticas, oferecendo o pagamentode sua dívida externa com um cor-te de 75% aos credores privados.

No Brasil, a exportação vemcrescendo expressivamente, aju-dando a conseguir grandes saldoscomerciais que perversamentecontribuem para a desvalorizaçãodo dólar, que apesar de ajudarpara o pagamento da dívida ex-terna, nos colocará numa situa-ção adversa, que certamente virá.

Há uma necessidade crescen-te nesses países de reformar oconsenso, aliviando a ditaduramacroeconômica.

É claro para o observadorconstatar que não é viável a susten-tação dessa política em detrimen-to do emprego, da renda e da con-seqüente distribuição de renda.

Uma política só é boa quan-do ela beneficia a maioria dopovo, aumentando suas rendas eseus empregos.

* Economista.Correio: [email protected]

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A

POLÊMICA

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Artigos a respeito dos gastos da pre-feitura do Rio em educação, publi-cados nas edições do JE de janeiro,fevereiro e março, causaram polê-micas entre economistas, leitores ecolaboradores do jornal. Sem que-rer interromper ou cercear o deba-te, muito pelo contrário; mas tam-

Os gastos do RioPaulo Bastos Cezar*

Recentemente, nas páginas do JE, instalou-se o debate: na cidade do Rio de Janeiro os governos priorizam

de fato a educação básica pública e gratuita?

ara avaliar o desempenho do Estado, doMunicípio e do Governo Federal em e-ducação, resumimos no Quadro I o nú-

mero de matrículas nas redes de escolas públi-cas em cada um dos segmentos pedagógicos.

Enquanto a oferta de matrículas nas redesestadual e municipal cresceu no últimoquadriênio, as escolas federais cancelaram umaem cada três vagas que ofereciam. Ainda queseu peso seja reduzido (1,9% em 2003), é me-lancólico constatar a progressiva desativaçãodessa rede tradicional e de qualidade.

A rede estadual, que havia se expandido en-tre 2000 e 2002, também se retraiu em 2003:cancelou 6.650 vagas, especialmente em creches,pré-escola e ensino fundamental. Além disso,desde 2000 desapareceram 23 mil vagas na edu-cação de jovens e adultos nas escolas estaduais.

Expansão da rede

Apenas a rede municipal de ensino conti-nuou se expandindo em todo o período. Naeducação de jovens e adultos, o município vemprogressivamente assumindo um papel queera do estado. Na educação infantil, cresceuem 27,8% o número de crianças de quatro ecinco anos atendidas na pré-escola.

Nos últimos três anos, a rede municipalofereceu em média 10 mil novas matrículaspor ano, mas com a retração das redes esta-dual e federal, a oferta total do ensino públi-co ficou estagnada em 2003. Se podemos nosconsolar com a multiplicação de tele-salas ede cursos chamados de “semi-presenciais”,verificada nos últimos anos, é uma perguntaque cabe aos educadores responder.

As despesas do município nos últimosanos com a manutenção e desenvolvimentodo ensino (pessoal, custeio e investimentos)revelam uma expansão em termos reais aolongo de todo o período. Para cada R$ 100despendidos em 2000, em educação, foramaplicados R$ 126 em 2003.

A Constituição brasileira fixa em 25% osgastos mínimos em educação por parte dosentes da Federação. Os dados revelam que aPrefeitura do Rio aplica em educação maisde um terço das receitas de impostos e trans-ferências, e que essa participação cresceu aolongo de todo o período.

Desde que Pedro Ernesto implantou, nadécada de 1930, as bases de uma granderede pública de ensino, os governantes doRio – uns mais, outros menos – têm acre-ditado nessa prioridade. Hoje a Prefeiturado Rio é a única, em todo o Brasil, a assu-mir integralmente os encargos do ensino

fundamental. Não consigo vislumbrar ca-minho mais adequado para que um muni-cípio possa contribuir, a médio e longo pra-zo, para um processo de desenvolvimentocom equilíbrio social.

* Economista

QUADRO I - EDUCAÇÃO BÁSICA NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO

Alunos matriculados em escolas públicas segundo a dependência administrativa

Dependência Ano Creche (1)

Pré-Escola Ensino Educação Educação Total 2000 e Ensino Médio Especial de Jovens =

Fundam. (2)

e Adultos 100

Estadual 2000 nd 44.261 195.609 416 72.899 313.185 100

2001 274 41.575 218.585 418 53.058 313.910 100

2002 270 36.825 233.225 456 55.089 325.865 104

2003 231 36.148 232.390 460 49.986 319.215 102

Federal 2000 nd 11.420 11.222 795 7.251 30.688 100

2001 133 11.240 9.769 778 3.252 25.172 82

2002 113 11.101 9.186 507 1.806 22.713 74

2003 123 10.367 8.679 708 362 20.239 66

Municipal 2000 nd 679.699 0 3.575 11.661 694.935 100

2001 19.536 678.395 0 4.034 15.568 717.533 103

2002 19.686 679.407 0 4.489 23.062 726.644 105

2003 19.775 683.989 0 5.159 26.349 735.272 106

Total 2000 nd 735.380 206.831 4.786 91.811 1.038.808 100

2001 19.943 731.210 228.354 5.230 71.878 1.056.615 102

2002 20.069 727.333 242.411 5.452 79.957 1.075.222 104

2003 20.129 730.504 241.069 6.327 76.697 1.074.726 103

Fonte: INEP/MEC(1)

Não inclui creches comunitárias mantidas por transferências do Município(2)

Inclui matrículas em classes de alfabetização

P

Afinal, quanto o Rio

13jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004

ais uma vez o economista e funcioná-

rio da prefeitura, autor do artigo da

página ao lado, tenta levar o debate

sobre a insuficiência dos meios orçamentários

para a educação no Rio de Janeiro a uma insóli-

ta disputa entre as esferas governamentais.

A quem interessa o debate?No primeiro caso, a qualquer cidadão pre-

ocupado com os destinos do povo carioca eque vislumbre a educação como um caminhode superação da desigualdade social. Já o se-gundo caso, da disputa, interessa somente aospartidos políticos que ora nos governam, parauso eleitoral.

Será que alguém – com um mínimo de

distanciamento crítico e independência política

– pode afirmar que a educação tem um trata-

mento adequado e suficiente em nossa cidade,

como se existisse uma “ilha de tranqüilidade”

em meio ao caos e cenário dantesco?

O contraditor tenta responder nosso ques-

tionamento, se as dotações orçamentárias mu-

nicipais são uma prioridade da prefeitura. Antes de

analisarmos os números, o Aurélio nos ensina que

prioridade é a “preferência conferida a alguém

com preterição de outros”. Assim sendo, a priori-

zação de uma ação governamental não se res-

tringe apenas à análise horizontal (evolução), mas

também deve ser confrontada com a vertical (en-

tre gastos diferentes). Analisemos os dados forne-

cidos pelo artigo ao lado e pela própria prefeitura.

Educação X publicidade

Os gastos com manutenção e desenvolvi-

mento do ensino, de 2001 a 2003, cresceram

em 19%, traduzidos, segundo o missivista, pela

Onde está a prioridade ?

Se seus projetos são para um ano, semeia um grão. Se são para 10 anos, planta uma árvore. Se são para

100 anos, instrui um povo. (Kwaw Tzú)

expansão da educação infantil, oferta de vagas

gratuitas no ensino médio e admissão de no-

vos professores. Pois bem.

Qual é a preferência da atual gestão entre

ensino versus publicidade? O gráfico abaixo, com

a respectiva evolução

percentual, responde.

Claro está que as

dimensões dos valo-

res gastos entre as

ações são grandes, e a

disparidade também!

Outra questão é

sobre a insuficiência

da oferta de vagas na

rede pública, tanto

das creches quanto do

ensino médio. No

caso das creches, a si-

tuação é tão crítica que o Ministério Público

move ação, no sentido de obrigar a prefeitura a

elevar o quantitativo de vagas ofertadas.

Assim como o desprezo pelo ensino médio

público é revoltante, nos dois casos o governante

do Rio indica a receita neoliberal da terceirização

financiada pela redução do ISS, implantada no

ensino médio e proposta para as creches. Medi-

da ineficaz já aplicada e que estimula o favoreci-

mento eleitoral e/ou financeiro.

Por outro lado, a supressão de recursos tribu-

tários acarreta em diminuição no volume de re-

ceitas passíveis de destino à ampliação da rede

pública. Desta forma, a rede municipal não se am-

plia – só troca a natureza de propriedade da vaga.

Perversão de prioridade

Já a admissão de quase 11 mil professores é

medida digna de aplauso. Mas, cabe questionar:

quantos foram exonerados no mesmo período?

Ou melhor, é possível afirmar que não faltam

professores nas escolas municipais? Aliás, sobre

os vencimentos dessa categoria pedimos licença

investe em educação?

0

200

400

600

800

1000

1200

2001 2002 2003Ensino Publicidade

bém buscando garantir os espaçoslimitados do jornal para a abordagemde outros temas, que não somentea educação e as questões munici-pais, publicamos nestas páginasdois artigos com campos de visãoopostos. O leitor, certamente, irá re-tirar suas próprias conclusões.

ao escritor Luis Fernando Veríssimo para adap-

tar o artigo publicado em março de 2000, refe-

rente ao salário mínimo – tragicamente atual.

Um vencimento maior para o professora-

do desarruma as contas públicas, comprome-

te as finanças municipais, inviabiliza o Rio de

Janeiro e provavelmente aumentaria a calvície

do prefeito. Quem prega um vencimento mai-

or, o faz por demagogia, oportunismo políti-

co ou desinformação. Sérios, sensatos, adul-

tos e responsáveis são os que defendem o atual

patamar possível de cerca de três salários mí-

nimos, nas circunstâncias, mesmo reconhecen-

do que é pouco.

A responsabilidade fiscal se deve à tenacida-

de com que homens honrados e capazes, resis-

tindo a apelos emocionais, mantêm uma política

educacional solidamente fundeada na desvalo-

rização do professor e numa admirável coerên-

cia baseada na desinformação dos outros.

É comum perguntar aos “inocentes” que

querem ver a remuneração dos professores ele-

vada de onde viria o dinheiro. Mas o problema

é justamente a perversão de prioridades que

impede o aumento real, essa monstruosidade

crônica que embasa o nosso cotidiano e a nos-

sa antilógica.

Ensino público de qualidade para todos é

o caminho. Só que não é trilhado.

Equipe Fórum Popular de Orçamento

M

15jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004

FÓRUM POPULAR DE ORÇAMENTO

As matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de responsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Corecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Popular de opular de opular de opular de opular de OrçamentoOrçamentoOrçamentoOrçamentoOrçamento do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeiro.o.o.o.o.CoorCoorCoorCoorCoordenação Exdenação Exdenação Exdenação Exdenação Executiva do Fórum: Recutiva do Fórum: Recutiva do Fórum: Recutiva do Fórum: Recutiva do Fórum: Ruth Espínola, Luiz Mario Behnkuth Espínola, Luiz Mario Behnkuth Espínola, Luiz Mario Behnkuth Espínola, Luiz Mario Behnkuth Espínola, Luiz Mario Behnken e Camilla Sampaio. Estagiários: Bruno Lopes e Thiago Maren e Camilla Sampaio. Estagiários: Bruno Lopes e Thiago Maren e Camilla Sampaio. Estagiários: Bruno Lopes e Thiago Maren e Camilla Sampaio. Estagiários: Bruno Lopes e Thiago Maren e Camilla Sampaio. Estagiários: Bruno Lopes e Thiago Marques.ques.ques.ques.ques.

Correio eletrônico: [email protected] - Portal: www.corecon-rj.org.br - www.fporj.blogger.com.br - Reuniões do Fórum: quintas-feiras, às 18h, na sede do CORECON-RJ

acompanhamento da e-xecução orçamentária de2004 para alguns progra-

mas da Secretaria de Esporte eLazer demonstra que a prepara-ção para os jogos Pan-ameri-canos tem sido prioridade, pre-terindo-se, inclusive, atividadesdo desporto comunitário na ci-dade do Rio de Janeiro.

O programa de trabalho “Jo-gos Pan-americanos de 2007”,que visa ações preparatórias paraa realização dos jogos em 2007,tem apresentado uma execuçãoorçamentária compatível com oque fora estabelecido pela LeiOrçamentária Anual – LOA,aprovada em 26/12/2003.

A partir do quadro abaixo,analisamos a evolução orçamen-tária deste programa, em 2004,comparando-a com o realizadoem 2003. Para este ano, este pro-grama detém dotação inicial deR$ 30.562.851,00. Até 20 demaio último, já haviam sido em-penhados R$ 17.325.089,47, oequivalente a 56% da dotaçãoautorizada.

A injustificávelpropaganda

No dia 25 de maio últimoo Jornal do Brasil veiculou ma-téria sobre a verba de publici-dade da prefeitura, com dadosfornecidos pelo FPO. Nela, oprefeito acusa que o “FórumPopular do Orçamento é umposto avançado do PT e nãomerece credibilidade nenhu-ma”. Infelizmente o JB não pu-blicou a nossa resposta, cuja ver-são, resumida, é a seguinte:

O Fórum Popular do Orça-mento do Rio (FPO-RJ) existedesde 1995, foi fundado porBetinho e sua coordenação écomposta por quatro organi-zações: Corecon-RJ, Pacs,Ibase e Idesp. Além dessas,existem mais de 40 entidadesda sociedade civil interessadasna transparência das contaspúblicas e na democratizaçãodo processo orçamentário. En-fim, o exercício da cidadania.

A distribuição de cartilhasformativas, honrosamente pre-faciadas pelo saudoso BarbosaLima Sobrinho e solicitadas porcidadãos, entidades e órgãospúblicos, inclusive da própriaprefeitura do Rio, é um exem-plo da nossa atuação.

Dizer que o FPO-RJ é umposto avançado do PT, simples-mente pelo fato deste tornartransparente e público a exe-cução orçamentária, além dodespautério, significa não reco-nhecer os fatos. A reportagemserviu-se de dados públicos,fornecidos pela Prefeitura.

2004* Jogos Fornecimento Infra-Estrutura

Pan-Americanos de Bolsa Esporte esportiva

2007 em praças

Dotação Inicial R$ 30.562.851,00 R$ 318.000,00 R$ 993.750,00

Cancelamentos R$ 7.448.168,00 R$ 153.000,00 R$ 899.000,00

Acréscimos R$ 6.204.630,00 0,00 0,00

Contingenciado R$ 11.814.771,00 0,00 R$ 94.750,00

Dotação Atual R$ 17.504.542,00 R$ 183.000,00 0,00

Empenhado R$ 17.325.089,47 0,00 0,00

Liquidado R$ 15.542.639,20 0,00 0,00

*Os valores são referentes ao que foi gasto até o dia 20 de maio

De olho no esportee lazer do Rio

Outros programas da secreta-ria, contudo, não possuem o mes-mo ritmo de execução. É o casodo “Fornecimento de Bolsa-Es-porte”, que tem como objetivo darapoio financeiro ao aluno de bai-xa renda da rede pública munici-pal para a prática do esporte e cujameta de atendimento é de 1.100alunos. Ou do programa “Infra-es-trutura Esportiva em Praças”, cujoobjetivo é promover atividades es-portivas e culturais através da re-modelação de 30 praças, que seriamdotadas de quadras polivalentes eequipamentos comunitários. Am-bos os programas não apresenta-vam qualquer execução orçamen-tária até 20 de maio último.

Corte nas verbas

O quadro abaixo faz umacomparação evolutiva entre ostrês programas analisados. A par-tir dele, podemos observar que,através do decreto n° 24.191, de14/05/2004, o “Bolsa-Esporte”apresentou cancelamento de R$135.000,00 de sua dotação inici-

al, que era de R$ 318.000,00. Ouseja, o programa perdeu 42,45%dos recursos planejados, sendoque nada do saldo foi ainda utili-zado. Este mesmo decreto be-neficiou a rubrica “Eventos Es-portivos e Olímpicos”, cuja metaé a formação de 100 atletas emmodalidades olímpicas.

No programa “Infra-estrutu-ra Esportiva em Praças” a dota-ção inicial foi de R$ 993.750,00,sendo R$ 90.000,00 provenientesde contra-partida de recursos doGoverno Federal. Daquela dota-ção, o poder executivo cancelouR$ 899.000,00 e contingenciou R$94.750,00, não executando nadaaté o presente momento.

Os exemplos citados acimacomprovam um maior esforçopor parte da prefeitura para a re-alização dos projetos e atividadesvoltados ao Pan, em detrimentodo desporto comunitário. Talprocedimento é confirmado nasalterações orçamentárias recentes.A despeito dessa relativa priori-dade para os “Jogos do Pan” asnotícias veiculadas na grandemídia são de paralisações e atra-sos nas obras pertinentes.

0

10.000.000

20.000.000

30.000.000

40.000.000

50.000.000

2003 2004*

Evolução Anual do ProgramaJogos Pan-Americanos 2007, em Reais.

Dotação Inicial Dotação Atual Empenhado Liquidado

O

jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004jornal dos economistas - maio de 2004

CURSOS DO CORECON/RJ

m nota intitulada “Falta de educação”e enviada aos jornais O Globo e Folha

de São Paulo, o Conselho Regional deEconomia do Rio de Janeiro respondeu aoartigo publicado nestes diários, na edição do-minical do último dia 6 de junho, pelo jor-nalista Elio Gáspari.

Na página dominical que o jornalista pu-blica naqueles jornais, é relatada uma denúnciado economista Fernando Alberto Lopes Meza,recheada de informações distorcidas e que es-condem a verdade dos fatos transcorridos.

Na nota, o Corecon-RJ não só rebate asinformações, como assinala o fato de o jor-nalista ter assumido a versão do denunciante,sem, em nenhum momento, procurar a dire-ção do Conselho para o esclarecimento dosfatos ou, pelo menos, como recomenda a prá-

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Corecon respondea Elio Gáspari

tica e a ética jornalística, dar espaço ao de-nunciado para que este também tenha o di-reito de apresentar a sua versão.

É a seguinte a íntegra da nota do Corecon-RJ enviada ao jornalista Elio Gáspari.

Falta de Educação

O Conselho Regional de Economia da 1ª Região/RJ, Autarquia Federal dotada de personalidade jurídi-ca de direito público, criada pela Lei nº 1.411, de 13de agosto de 1951, tendo tomado conhecimento daesdrúxula nota referenciada vem lamentar não tersido previamente contatado pelo autor da matéria afim de prestar os esclarecimentos que ora inicia.

O Corecon-RJ tem como finalidade a fiscaliza-ção do exercício da atividade profissional do econo-mista e o faz em defesa da sociedade, de modo agarantir-lhe que as atividades privativas dos econo-mistas estejam sendo desenvolvidas por profissio-nais devidamente habilitados e registrados.

As anuidades devidas aos conselhos de fiscaliza-ção profissional têm natureza tributária e seu fato ge-rador é o ato do registro profissional, não cabendo isen-ção ou anistia, sob pena de responsabilização dosgestores do órgão por renúncia fiscal indevida. Como éde seu conhecimento, apenas o Congresso Nacional ouo Executivo Federal, dado nosso caráter de autarquiafederal, podem conceder anistia ou isenção tributárias.

No caso específico do Sr. Fernando AlbertoLopes Meza, a cronologia dos fatos foi a seguinte:1 – O profissional não quitava suas anuidades des-de 1988. Em 10/03/93 foi-lhe encaminhado ofícioamigável de cobrança referente ao período de 1988a 1992. Essa correspondência foi devolvida pelocorreio com informação de que o destinatário ha-via mudado de endereço.2 - Em maio de 1997, nova carta, cobrando os dé-bitos existentes foi encaminhada para o mesmo en-

dereço e seu “AR” foi devolvido pela Empresa deCorreios e Telégrafos com o respectivo registro derecebimento ainda naquele endereço.3 – Na medida em que o devedor não se pronun-ciou, novamente em setembro de 1999 foi-lhe en-caminhada, pela terceira vez, cobrança amigável,por ofício, ocasião na qual recebemos correspon-dência apócrifa informando que o destinatário ha-via falecido em Porto Alegre no ano de 1979.4 – Não consta no processo do economista nenhu-ma correspondência datada do ano de seu supostofalecimento solicitando, como afirma sua nota, ocancelamento de seu registro.5 – Na ausência de comprovante do falecimento, jáem agosto de 2001 mais uma cobrança amigável foiencaminhada sem sucesso. Em janeiro de 2002 foiajuizada a competente execução fiscal junto a 4ªVara Federal de Execução Fiscal do Rio de Janeiro.6 – Finalmente, esta medida fez com que o Sr.Fernando entrasse em contato com esta Autarquia,em março de 2004, ocasião na qual, ao invés de apre-sentar protocolo de seu pedido de cancelamento, da-tado de 1979, ingressou com pedido de cancelamen-to de seu registro. Na medida em que a prova de quedispunha de não estar exercendo a profissão era umabaixa em sua carteira profissional datada de setembrode 1982, foi-lhe solicitado apresentar comprovantemais atualizado, neste caso, cópias de suas declara-ções de Imposto de Renda, após a apresentação dasquais foi-lhe concedido o cancelamento de registromediante pagamento dos débitos existentes.

Acreditando ter prestado os suficientes escla-recimentos e contando com sua publicação no mes-mo espaço.

Atenciosamente,

José Antonio Lutterbach SoaresPresidente

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