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ATIVIDADE ANTIFÚNGICA E MECANISMO DE AÇÃO DA DEFENSINA PvD1 ISOLADA DE SEMENTES DE Phaseolus vulgaris L. ÉRICA DE OLIVEIRA MELLO UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO – UENF CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ FEVEREIRO – 2010

ÉRICA DE OLIVEIRA MELLO - Livros Grátislivros01.livrosgratis.com.br/cp129200.pdf · atividade antifÚngica e mecanismo de aÇÃo da defensina pv d1 isolada de sementes de phaseolus

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  • ATIVIDADE ANTIFÚNGICA E MECANISMO DE AÇÃO DA DEFENSINA

    PvD1 ISOLADA DE SEMENTES DE Phaseolus vulgaris L.

    ÉRICA DE OLIVEIRA MELLO

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY

    RIBEIRO – UENF

    CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ

    FEVEREIRO – 2010

  • Livros Grátis

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  • ATIVIDADE ANTIFÚNGICA E MECANISMO DE AÇÃO DA DEFENSINA

    PvD1 ISOLADA DE SEMENTES DE Phaseolus vulgaris L.

    ÉRICA DE OLIVEIRA MELLO

    ORIENTADORA: PROF ª VALDIRENE MOREIRA GOMES

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO – UENF

    CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ

    FEVEREIRO – 2010

    Dissertação apresentada ao Centro de

    Biociências e Biotecnologia, da

    Universidade Estadual do Norte

    Fluminense Darcy Ribeiro, como parte

    das exigências para a obtenção do título

    de Mestre em Biociências e

    Biotecnologia

  • ATIVIDADE ANTIFÚNGICA E MECANISMO DE AÇÃO DA DEFENSINA

    PvD1 ISOLADA DE SEMENTES DE Phaseolus vulgaris L.

    Aprovada em 22 de fevereiro de 2010.

    Comissão examinadora:

    Profª Michelle Frazão Muzitano (Drª em Química – UFRJ)

    Profª Claudete Santa Catarina (Drª em Biotecnologia – UENF)

    Profª Maura da Cunha (Drª em Ciências – UENF)

    Profª Valdirene Moreira Gomes (Drª em Ciências – UENF)

    Orientadora

    Dissertação apresentada ao Centro de

    Biociências e Biotecnologia, da

    Universidade Estadual do Norte

    Fluminense Darcy Ribeiro, como parte

    das exigências para a obtenção do título

    de Mestre em Biociências e

    Biotecnologia

  • DEDICO...

    A minha mãe Nádia, ao meu pai José Aurélio e aos

    meus irmãos Rômulo, Milla e Thaís por todo o

    incentivo e apoio, por acreditarem em mim,

    investirem nos meus sonhos e por compreenderem,

    há tanto tempo, a minha ausência. Essa vitória é

    nossa!!!! Muito obrigada por tudo!!!!

  • AGRADECIMENTOS

    À prof ª Valdirene Moreira Gomes não só pela orientação e pelo aprendizado, mas

    também pela experiência de vida passada a mim durante todo esse tempo. Obrigada

    por toda força, paciência e pela confiança depositada em mim para que hoje eu

    pudesse enfim alcançar mais essa vitória!!

    Ao prof ° André de Oliveira Carvalho por ter aceitado revisar essa dissertação, por

    todos os ensinamentos desde a minha graduação, por todas as dicas, pela paciência

    e sabedoria, pelo companheirismo. Grande parte do que sou hoje devo a você!!

    À prof ª Rosana Rodrigues por ter me cedido as sementes de feijão comum para que

    eu pudesse dar continuidade ao desenvolvimento deste trabalho.

    Ao prof ° Wilmar Dias da Silva e à técnica Claudia Letícia que com toda a

    experiência e sabedoria colaboraram na produção do anticorpo.

    À prof ª Maura Da Cunha e a Germana pela colaboração e pela ajuda durante os

    experimentos de microscopia.

    Aos meus companheiros de bancada: Izabella (agora Drª, né?) pela colaboração nos

    ensaios antifúngicos, Gabriela, Umberto, Nádia, Júlia, Marcielle e Layrana por toda a

    ajuda prestada durante todo esse tempo e em especial aos meus amigos

    Mariângela, Suzanna, Luana e Gabriel que além de toda a ajuda prestada, sempre

    me proporcionaram momentos de descontração, fazendo meu dia-a-dia muito

    melhor!!!

    À Suzanna por toda ajuda, ensinamentos passados e colaboração com os ensaios

    de inibição do crescimento e inibição da acidificação. Valeu Su!!

    Ao Luis pela dedicação e manutenção do nosso laboratório.

    A todos os alunos, professores e funcionários do LFBM.

  • A amiga de república Géssika pela amizade, pelas risadas até altas horas da noite e

    também por aguentar meu mau humor no dia-a-dia (rsrsrs). Não posso deixar de

    agradecer também as ex integrantes da eterna República Blush: Xxxxúúú, Priscilla,

    Paty (tenso), Lidy (dinda) e também as meninas do Caju, valeu pela força e amizade

    de sempre!!!!!

    Aos meus cunhados Fábio, Carla e Reginaldo por todo o incentivo! E a minha

    sobrinha Anita, por ser a minha alegria de viver e principal fonte para recarregar

    minhas energias! Titia te ama muito!!!!

    À minha família campista e em especial ao meu namorado e anjo da guarda

    Raphael Santiago. Obrigada por toda a paciência, dedicação, cuidado, amizade,

    pelas palavras de conforto nos momentos mais difíceis e por toda atenção e carinho

    a mim dedicados! Te amo!!

  • ÍNDICE

    AGRADECIMENTOS................................................................................................ I

    ÍNDICE ..................................................................................................................... III

    LISTA DE FIGURAS................................................................................................. VII

    ABREVIATURAS...................................................................................................... IX

    RESUMO.................................................................................................................. XI

    ABSTRACT.............................................................................................................. XII

    1. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 1

    1.1. PEPTÍDEOS ANTIMICROBIANOS................................................................. 1

    1.2. PEPTÍDEOS ANTIMICROBIANOS DE PLANTAS.......................................... 2

    1.3. DEFENSINAS................................................................................................. 3

    1.3.1. ASPECTOS ESTRUTURAIS................................................................... 4

    1.3.2. ATIVIDADES DESCRITAS IN VITRO PARA AS DEFENSINAS DE

    PLANTAS .................................................................................................................

    5

    1.3.3. ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DAS DEFENSINAS DE

    PLANTAS..................................................................................................................

    6

    1.3.4. MECANISMO DE AÇÃO DAS DEFENSINAS DE PLANTAS................. 9

    1.4. LEVEDURAS.................................................................................................. 11

    1.5. FUNGOS FILAMENTOSOS........................................................................... 15

    1.6. FEIJÃO COMUM Phaseolus vulgaris ............................................................. 12

    2. OBJETIVOS..........................................................................................................

    14

    2.1. OBJETIVO GERAL.......................................................................................... 14

    2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................................ 14

    3. MATERIAIS ........................................................................................................

    15

    3.1. MATERIAL BIOLÓGICO................................................................................. 15

    3.1.1. SEMENTES............................................................................................. 15

    3.1. 2. MICRORGANISMOS.............................................................................. 15

    3.1.3. COELHOS............................................................................................... 15

    3.2. REAGENTES E OUTROS MATERIAIS.......................................................... 15

    3.3. INSTRUMENTAL............................................................................................. 17

  • 4. MÉTODOS............................................................................................................ 18

    4.1. EXTRAÇÃO E PURIFICAÇÃO DA DEFENSINA PvD1 DE Phaseolus

    vulgaris......................................................................................................................

    18

    4.1.1. EXTRAÇÃO PROTÉICA DAS SEMENTES.............................................. 18

    4.1.2. CROMATOGRAFIA DE TROCA IÔNICA DEAE-SEPHAROSE............... 20

    4.1.3. CROMATOGRAFIA DE FASE REVERSA EM COLUNA C2C18 EM

    HPLC.........................................................................................................................

    20

    4.2. QUANTIFICAÇÃO DE PROTEÍNAS .......................................................... 21

    4.3.ELETROFORESE EM GEL DE TRICINA NA PRESENÇA DE

    SDS...........................................................................................................................

    21

    4.3.1. CORAMENTO E DESCORAMENTO DO GEL ........................................ 21

    4.4. PRODUÇÃO DE ANTICORPO E WESTERN BLOTTING............................... 21

    4.4.1. OBTENÇÃO DO SORO PRÉ-IMUNE E IMUNIZAÇÃO............................ 21

    4.4. 2. PURIFICAÇÃO DE IgG DO SORO.......................................................... 22

    4.4.3.ELETROTRANSFERÊNCIA DE PROTEÍNAS PARA WESTERN

    BLOTTING................................................................................................................

    23

    4.4.4. IMUNODETECÇÃO DE PROTEÍNAS .................................................... 23

    4.5. ENSAIO DE INIBIÇÃO DA GERMINAÇÃO DOS ESPOROS FÚNGICOS EM

    MEIO LÍQUIDO..........................................................................................................

    24

    4.5.1. OBTENÇÃO DE ESPOROS DE FUNGOS FILAMENTOSOS.................. 24

    4.5.2. ANÁLISE DA INIBIÇÃO DO CRESCIMENTO DOS ESPOROS

    FÚNGICOS...............................................................................................................

    24

    4.6. AVALIAÇÃO DO MECANISMO DE AÇÃO DA PvD1 SOBRE FUNGOS.......... 24

    4.6.1. EFEITOS DA DEFENSINA PvD1 SOBRE A PERMEABILIZAÇÃO DE

    MEMBRANA DE FUNGOS FILAMENTOSOS E LEVEDURAS................................

    24

    4.6.2. ANÁLISE DO EFEITO DA DEFENSINA PvD1 SOBRE A INIBIÇÃO DA

    ACIDIFICAÇÃO DO MEIO INDUZIDO POR GLICOSE POR CÉLULAS DE

    LEVEDURAS............................................................................................................

    25

    4.6.2.1. MANUTENÇÃO E PREPARO DAS CÉLULAS................................... 25

    4.6.2.2. ENSAIO DE ACIDIFICAÇÃO............................................................. 25

    4.6.3. EFEITOS DA DEFENSINA ISOLADA PvD1 SOBRE A INDUÇÃO DA A

    PRODUÇÃO ENDÓGENA DE ESPÉCIES REATIVAS DE OXIGÊNIO (ROS) EM))

    CÉLULAS DE C. albicans..........................................................................................

    26

  • 5. RESULTADOS..................................................................................................... 27

    5.1. PURIFICAÇÃO DA DEFENSINA.................................................................... 27

    5.2. ELETROFORESE EM GEL DE TRICINA NA PRESENÇA DE SDS.............. 29

    5.3. WESTERN BLOTTING.................................................................................... 30

    5.4. ANÁLISE DA INIBIÇÃO DO CRESCIMENTO DE ESPOROS FÚNGICOS

    EM MEIO LÍQUIDO...................................................................................................

    31

    5.5. EFEITOS DA DEFENSINA PvD1 SOBRE A PERMEABILIZAÇÃO DE

    MEMBRANA DE FUNGOS FILAMENTOSOS E LEVEDURAS................................

    32

    5.6. ENSAIO DE ACIDIFICAÇÃO DO MEIO INDUZIDO POR GLICOSE EM

    CÉLULAS DE LEVEDURAS.....................................................................................

    41

    5.7. EFEITOS DA DEFENSINA ISOLADA PvD1 SOBRE A INDUÇÃO DA

    PRODUÇÃO ENDÓGENA DE ESPÉCIES REATIVAS DE OXIGÊNIO (ROS) EM

    CÉLULAS DE C. albicans.........................................................................................

    45

    6. DISCUSSÃO......................................................................................................... 47

    7. CONCLUSÕES..................................................................................................... 53

    8. BIBLIOGRAFIA.................................................................................................... 54

    LISTA DE ESQUEMAS, FIGURAS E TABELAS

    FIGURA 1. Comparação entre estruturas elucidadas de diferentes defensinas de

    plantas.......................................................................................................................

    5

    TABELA 1. Atividade antifúngica de defensinas contra fungos, leveduras,

    oomicetos e bactérias................................................................................................

    9

    ESQUEMA 1. Fracionamento com sulfato de amônio do homogeneizado obtido a

    partir da extração da farinha das sementes de feijão comum..................................

    19

    FIGURA 2. Cromatograma da F/0-70 de sementes de feijão comum obtido após

    cromatografia em coluna DEAE–Sepharose............................................................

    27

    FIGURA 3. Cromatograma obtido após cromatografia de fase reversa em coluna

    C2/C18 em HPLC do pico D1 obtido após cromatografia em DEAE-Sepharose.....

    28

    FIGURA 4. Visualização eletroforética em gel de tricina na presença de SDS da

    F/0-70 e dos picos obtidos após cromatografia de troca iônica DEAE-Sepharose e

  • cromatografia em coluna de fase reversa C2C18.................................................. 29

    FIGURA 5. Western Blotting do anticorpo produzido em coelhos contra a

    defensina PvD1 isolada de sementes de P. vulgaris................................................

    30

    FIGURA 6. Curva de crescimento mostrando a alteração do crescimento dos

    fungos filamentosos (A) F. oxysporum, (B) F. solani e (C) F. laterithium na

    ausência (controle) e na presença da defensina isolada PvD1, obtida após

    cromatografia em coluna de DEAE-Sepharose........................................................

    31

    TABELA 2. Atividade antifúngica da defensina PvD1 para fungos filamentosos.... 32

    TABELA 3. Atividade antifúngica da defensina PvD1 para leveduras..................... 32

    FIGURA 7. Microscopia dos fungos filamentosos Fusarium oxysporum (A-D),

    Fusarium solani (E-H), Fusarium laterithium (I-L) tratados com Sytox Green..........

    35

    FIGURA 8. Microscopia das células das leveduras C. parapsilosis (A-D), P.

    membranifaciens (E-H), C. tropicalis (I-L) tratadas com Sytox Green......................

    38

    FIGURA 9. Microscopia das células das leveduras C. albicans (A-D), K.

    marxiannus (E-H) e S. cerevisiae (I-L) tratadas com Sytox Green...........................

    41

    FIGURA 10. Porcentagem de acidificação do meio por células da levedura S.

    cerevisiae, na presença da defensina PvD1 de sementes de feijão comum obtida

    após cromatografia em coluna DEAE-Sepharose, nas várias concentrações

    testadas. (A) 1 h de pré-incubação; (B) 2 h de pré-incubação; (C) 4 h de pré-

    incubação..................................................................................................................

    43

    FIGURA 11. Porcentagem de acidificação do meio por células da levedura C.

    albicans, na presença da defensina PvD1 isolada de sementes de feijão comum

    obtida após cromatografia em coluna DEAE-Sepharose, nas várias

    concentrações testadas. (A) 1 h de pré-incubação; (B) 2 h de pré-incubação e (C)

    4 h de pré-incubação................................................................................................

    45

    FIGURA 12. Microscopia das células da levedura C. albicans tratadas com o

    corante 2’,7’ diclorofluoresceína diacetato.............................................................

    46

  • ABREVIATURAS

    ACN – Acetonitrila

    AMP – Peptídeo antimicrobiano

    BSA – Albumina bovina sérica

    D1 – Pico não retido na cromatografia em coluna DEAE- Sepharose

    D2 – Pico retido na cromatografia em coluna DEAE- Sepharose

    Da – Dalton

    DAD – Detector de arranjo de diodo

    DAB – Diaminobenzidina

    DAPI – 4,6 diamidino 2 fenilindol

    DEAE – Dietilaminoetil

    EDTA – Ácido etilenodiaminotetracético

    ELISA – Ensaio imunosorvente ligado à enzima

    FITC – Isotiocianato fluoresceína

    F/0-70 – Fração 0-70 obtida após fracionamento com sulfato de amônio 0-70%

    H1 – Pico obtido em coluna de fase reversa

    HPLC – Cromatografia líquida de alto desempenho

    IC50 – Concentração de proteína necessária para de obter 50% de inibição do

    crescimento da levedura

    IgG – Imunoglobulina G

    kDa – Quilodaltons

    M – Marcador de massa molecular

    nm – Nanômetro

    PvD1 – Defensina 1 de Phaseolus vulgaris

    TEMED – N, N, N’ ,N’ -tetrametiletilenodiamina

    TFA – Ácido trifluoroacético

    Tris – Tris-hidroximetil-aminometano

    SDS – Dodecil sulfato de sódio

    VrD1 – Defensina 1 de Vigna radiata

    PhD1 e PhD2 – Defensinas 1 e 2 de Petunia hybrida,

    PsD1 – Defensina de Pisum sativum

    Rs-AFP2 – Defensina 2 de Raphanus sativus

    NaD1 – Defensina 1 de Nicotiana alata

  • alfAFP – Defensina de Medicago sativa

    Hs-AFP1 – Defensina 1 de Heuchera sanguinea

    ROS – Espécies reativas de oxigênio

    Bisacrilamida – N,N’-metileno bisacrilamida

    PBS – Tampão fosfato salino

  • RESUMO

    Nos últimos anos muitos trabalhos vêm demonstrando a função de algumas

    proteínas e peptídeos com atividade antimicrobiana isolados de diferentes espécies

    de plantas contra um vasto número de microrganismos, os quais vêm sendo

    utilizados como modelo no estudo dos diferentes processos celulares relacionados à

    ação destes peptídeos antimicrobianos. Em 2008, nosso grupo isolou e caracterizou

    uma defensina de sementes de Phaseolus vulgaris (L.), denominada PvD1. O

    objetivo deste trabalho estudar o mecanismo de ação e atividade antifúngica desta

    defensina contra diferentes espécies de fungos filamentosos e leveduras.

    Inicialmente, proteínas foram extraídas da farinha da semente em tampão fosfato pH

    5,4 na proporção de 1:5 por duas horas sob constante agitação a 4 °C. O

    sobrenadante obtido foi submetido a precipitação com sulfato de amônio (0-70%).

    Este precipitado foi ressuspenso em água destilada e aquecido a 80 °C por 15 min.

    A solução resultante foi centrifugada e o sobrenadante dialisado contra água

    destilada e liofilizado. Uma cromatografia de troca iônica em coluna DEAE-

    Sepharose foi empregada inicialmente para a purificação da PvD1 a qual resultou

    em dois diferentes picos denominados D1 e D2. O pico D1 contendo a PvD1, foi

    submetido a uma cromatografia de fase reversa em coluna C2C18 em HPLC

    confirmando sua pureza. Então, a fração D1 foi utilizada para a produção do

    anticorpo contra PvD1 e também foram feitos testes antifúngicos com os fungos

    filamentosos Fusarium oxysporum, F. solani e F. laterithium e foi possível observar

    que a inibição foi mais acentuada na presença de 100 µg.mL-1 da PvD1. Foi

    mostrado também que PvD1 é capaz de causar permeabilização de membrana tanto

    nos fungos filamentosos testados quanto nas células das leveduras Candida

    parapsilosis, Pichia membranifaciens, C. tropicalis, C. albicans, Kluyveromyces

    marxiannus e Saccharomyces cerevisiae. PvD1 também foi capaz de inibir a

    acidificação do meio, estimulada por glicose por células das leveduras S. cerevisiae

    e C. albicans bem como induzir também a produção de espécies reativas de

    oxigênio em células de C. albicans.

  • ABSTRACT

    In the last years studies have demonstrated the function of some proteins and

    peptides with antimicrobial activity isolated from different plant species against an

    extensive number of microorganisms, which have been used as a model in the study

    of different cellular processes connected with the action of these antimicrobial

    peptides. In 2008, our group isolated and characterized an defensin from Phaseolus

    vulgaris seeds (L.), named PvD1. The aim of this study was to study the mechanism

    of the action and the antifungal activity of the defensins against different species of

    filamentous fungi and yeasts. Initially, the proteins from seed flour were extracted in

    phosphate buffer pH 5.4 in the ratio 1:5, for two hours under constant agitation at 4

    °C. The supernatant obtained was submitted to precipitation with ammonium sulfate

    (0-70%). This precipitate was resuspended in distilled water and heated at 80 °C for

    15 min. The resulting solution was centrifuged and the supernatant dialyzed against

    distilled water and freeze dried. An ion exchange chromatography on a column of

    DEAE-Sepharose was initially employed for the purification of the PvD1 which

    resulting in two different peaks named D1 and D2. The peak D1 containing the PvD1,

    was submitted to a C2C18 HPLC reverse phase column to assure its purity. Then,

    D1 fraction used for production of the antibody against the defensin PvD1 and also

    for antifungal tests were made with the filamentous fungi Fusarium oxysporum, F.

    solani e F. laterithium and was possible to observe that the inhibition was more

    accentuated in the presence of 100 µg.mL-1 of the PvD1. It was also shown that the

    defensin PvD1 is capable of causing membrane permeabilization in filamentous fungi

    and in yeast cells Candida parapsilosis, Pichia membranifaciens, C. tropicalis, C.

    albicans, Kluyveromyces marxiannus e Saccharomyces cerevisiae. PvD1 was also

    able to inhibit the acidification of the medium, stimulated with glucose by yeast cells

    of S. cerevisiae e C. albicans, as well as to induce too production the reactive oxygen

    species in the cells of C. albicans.

  • 1. INTRODUÇÃO

    1.1. Peptídeos antimicrobianos

    Peptídeos antimicrobianos (AMPs) são moléculas de baixa massa molecular

    com uma vasta atividade inibitória contra vírus, bactérias e fungos (Izadpanah e

    Gallo, 2005). Estes peptídeos pertencem a um grupo diverso e abundante de

    moléculas que são produzidas por diversas células tanto em plantas quanto em

    animais e, que são agrupados de acordo com a sua atividade antimicrobiana

    intrínseca (Gallo et al., 2002; Brodgen, 2005).

    Grande parte desses AMPs consistem em aproximadamente 50 resíduos de

    aminoácidos, são anfipáticos e carregam uma carga líquida positiva em pH

    fisiológico (Van’t Hof et al., 2001). Os AMPs foram agrupados em cinco classes

    baseando-se em suas estruturas tridimensionais e sequências. O primeiro grupo é

    constituído por AMPs que adotam conformação de α-hélice em ambientes

    hidrofóbicos tais como a cecropina e a magainina. O segundo grupo encerra

    peptídeos que tem estrutura secundária formada por folhas β como exemplificado

    pela taquiplesina, tanatina e polifemusina. O terceiro grupo é rico no aminoácido

    cisteína o qual está ligado entre si formando pontes dissulfeto e são representados

    por vários peptídeos de plantas como as defensinas, tioninas, proteínas

    transportadoras de lipídeos e quinotinas. O quarto grupo engloba peptídeos ricos em

    aminoácidos regulares como a histidina (histatinas) e triptofano (indolicidinas). A

    última classe é representada pelos peptídeos ricos em aminoácidos raros tais como

    gramicidinas (Broekaert et al., 1997; Reddy et al., 2004).

    Os AMPs são componentes importantes do sistema de defesa das plantas,

    animais e humanos (Hancock e Scott, 2000; Thevissen et al., 2003a). Evidências

    indicam que eles atuam na permeabilização da membrana celular dos

    microrganismos (Huang et al., 2000). Devido à capacidade que os AMPs possuem

    de interagir com determinadas membranas celulares e, dessa forma, conferir uma

    eficiente atividade antimicrobiana contra determinados agentes patogênicos, tem-se

    observado nos últimos anos um grande interesse biológico em estudar esse grupo

    de proteínas (Gallo et al., 2002).

    A seleção de um número cada vez maior de microrganismos resistentes a

    antibióticos e a outros agentes antimicrobianos tem despertado a atenção de muitos

    pesquisadores na tentativa de se desenvolver novos agentes terapêuticos (Gallo et

  • al., 2002). O potencial terapêutico dos AMPs é valorizado graças à capacidade

    destes compostos de matar rapidamente um grande número de microrganismos

    incluindo bactérias, vírus e fungos que são multiresistentes a drogas.

    1.2. Peptídeos antimicrobianos de plantas

    As plantas, por serem organismos sésseis, estão constantemente expostas a

    uma grande variedade de organismos potencialmente patogênicos, como vírus,

    bactérias, micoplasmas, fungos, protozoários e nematódeos, e podem ainda ser

    afetadas por diversos animais herbívoros e por condições ambientais adversas.

    Sendo assim, sua sobrevivência nessas condições exige uma rápida resposta de

    defesa (Castro e Fontes, 2005). Evolutivamente, todas as plantas desenvolveram

    eficientes sistemas de defesa com a capacidade de reconhecer patógenos invasores

    e agressores herbívoros e acionar o sistema de defesa (Castro e Fontes, 2005).

    As defesas empregadas pela planta para sua proteção contra herbívoros e

    patógenos são de múltipla ordem e de diversos tipos e, embora as plantas possam

    sofrer danos de maior ou menor extensão, a enorme maioria sobrevive (Nürnberger

    e Lipka, 2005).

    Diversos mecanismos estão envolvidos na defesa de plantas contra seus

    agressores seja pelo acúmulo de componentes fenólicos, de alcalóides, de

    aminoácidos não protéicos, de glicosídeos ou de proteínas e peptídeos com

    atividade antimicrobianas e inseticidas (Wittstock e Gershenzon, 2002; Castro e

    Fontes, 2005).

    Várias classes de proteínas de plantas têm sido implicadas nos mecanismos

    de defesa de plantas contra patógenos e insetos, sejam estas induzidas ou

    constitutivas. Dependendo de sua função durante a resposta de defesa, proteínas

    envolvidas nesses processos podem atuar fortalecendo ou reparando a parede

    celular ou modificando as propriedades da matriz extracelular. A grande maioria,

    porém, atua diretamente sobre o patógeno ou herbívoro agressor (Shewry e Lucas,

    1997; Carline e Grossi-de-Sá, 2002).

    Muitos AMPs têm sido isolados de plantas, especialmente de sementes, local

    em que podemos encontrá-los em nível elevado se comparado a outros órgãos da

    planta (Broekaert et al., 1997; Wang et al., 2001; Sels et al., 2008). Nos últimos anos

    nosso grupo, por exemplo, vem isolando e caracterizando diferentes proteínas e

  • AMPs presentes em sementes, os quais estão envolvidos nos mecanismos de

    defesa de plantas. Até o momento Foram purificadas e caracterizadas uma

    defensina e uma proteína transportadora de lipídeos (LTP) de sementes de feijão-

    de-corda (Vigna. unguiculata) (Carvalho et al., 2001; Carvalho et al., 2004), uma

    albumina 2S de sementes de maracujá amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa)

    (Agizzio et al., 2003), uma LTP exsudada de sementes de feijão-de-corda (Diz et al.,

    2003), um peptídeo com alta homologia à LTP isolado de sementes de pimenta

    (Capsicumm annuum) (Diz et al., 2006) e um inibidor de proteinase isolado também

    de sementes de pimenta (Ribeiro et al., 2007).

    A expressão dos AMPs em plantas transgênicas pode ter aplicações na

    proteção das plantas contra doenças (Kanzaki et al., 2002) e alguns AMPs estão

    sendo desenvolvidos como novos antibióticos potenciais com aplicações médicas

    (Hancock e Scott, 2000). No momento existe um forte interesse em se identificar os

    processos celulares que determinam a susceptibilidade dos microrganismos aos

    AMPs, devido à sua função no sistema de defesa natural e sua potencial aplicação

    (Stephens et al., 2005).

    Nos últimos anos, os pesquisadores vêm aumentando o interesse no estudo

    das proteínas e dos peptídeos presentes em sementes de plantas, devido ao seu

    forte papel antimicrobiano, dentre eles podemos citar: as tioninas, as heveínas, as

    knotinas, as LTPs e as defensinas (Broekaert et al., 1997; Carvalho e Gomes, 2007,

    Carvalho e Gomes, 2009).

    1.3. Defensinas

    As defensinas de plantas são peptídeos pequenos (45-54 resíduos de

    aminoácidos), que apresentam peso molecular entre 5 e 8 kDa, altamente básicos,

    ricos em cisteínas (oito resíduos) e que possuem atividade antifúngica e/ou

    antimicrobiana em concentrações micromolares (Thevissen et al., 2003a; Carvalho e

    Gomes, 2009). Estes peptídeos foram primeiramente isolados a partir de sementes

    de trigo e cevada em 1990 (Colilla et al., 1990). Estes são ativos contra várias

    classes de fungos fitopatogênicos e patógenos humanos, como por exemplo,

    Candida albicans (Thevissen et al., 2003a).

    Inicialmente, estas defensinas foram consideradas como um novo subgrupo

    das tioninas, sendo então chamadas γ-tioninas (Terras et al., 1995) por

    apresentarem a mesma massa molecular, mas sua conformação estrutural disposta

  • em três folhas β antiparalelas e uma α-hélice estabilizada por quatro pontes

    dissulfeto, as diferenciavam das tioninas estruturalmente (Broekaert et al., 1997;

    Fant et al., 1998; Almeida et al., 2002); Thevissen et al., 2003a; Thevissen et al.,

    2004.

    Alguns anos depois, devido a sua similaridade estrutural com defensinas de

    insetos e mamíferos, γ-tinionas foram renomeadas como defensinas de plantas

    (Terras et al., 1995).

    1.3.1. Aspectos estruturais

    Estudos da estrutura tridimensional de defensinas encontradas em diferentes

    espécies de plantas revelaram que estas moléculas são bastante semelhantes entre

    si (Almeida et al., 2002). De um modo geral, a estrutura das defensinas de plantas é

    composta por três folhas β e uma α-hélice, sendo estes elementos da estrutura

    secundária, conectados através de três alças. A estrutura das defensinas de plantas

    é estabilizada por quatro pontes dissulfeto (Fant et al., 1998; Almeida et al., 2002;

    Carvalho e Gomes, 2009) (Figura 1A). Duas dessas pontes são formadas entre as

    Cys21 da α-hélice e Cys45 da última folha β e entre a Cys25 da α-hélice e Cys47 da

    última folha β formando um arranjo estrutural denominado de domínio αβ

    estabilizado por cisteínas, característico de peptídeos com atividade antimicrobiana

    (Cornet et al., 1995; Fant et al., 1998; Thomma et al., 2002).

    Embora exista uma grande similaridade entre as estruturas das defensinas de

    plantas, recentemente foram descritas algumas defensinas que possuem estruturas

    diferenciadas. A defensina 1 de feijão (Vigna radiata),VrD1 (Liu et al., 2006),

    apresenta em sua estrutura uma hélice extra denominada hélice 310 (Figura 1B).

    Além desta, as defensinas isoladas de flores de Petunia hybrida, PhD1 e PhD2,

    apresentam em sua estrutura 5 pontes dissulfeto (Janssen et al., 2003; Lay et al.,

    2003a; Lay et al., 2003b) (Figura 1C). Mesmo com estas diferenças estruturais,

    estas defensinas continuam apresentando o domínio αβ estabilizado por Cys. A

    Figura 1 mostra os três tipos de estrutura descritos para as defensinas de plantas.

  • Figura 1. Comparação entre estruturas elucidadas de diferentes defensinas de plantas. A -

    Estrutura da defensina PsD1 de ervilha (Pisum sativum) (Almeida et al., 2002); B - Estrutura

    da defensina VrD1 de feijão (Vigna radiata) (Liu et al., 2006); C - Estrutura da defensina

    PhD1 de Petunia hybrida (Janssen et al., 2003). (N) Região N-terminal; (C) região C-

    terminal; (α1) α-hélice; (β1) folha β 1; (β2) folha β 2; (β3) folha β 3; (310) α-hélice 310.

    1.3.2. Atividades descritas in vitro para as defensinas de planta

    As defensinas de planta apresentam diversas funções biológicas que incluem

    atividade antifúngica (Broekaert et al., 1997; García-Olmedo et al., 1998; Carvalho et

    al., 2001; Thomma et al., 2002; Thevissen et al., 2003b; Games et al., 2008), inibição

    de amilases do intestino de insetos (Bloch e Richardson, 1991; Liu et al., 2006;

    Pelegrini et al., 2008;) e tripsina bovina (Wijaya et al., 2000), inibição de síntese de

    proteínas (Colilla et al., 1990; Chen et al., 2002; Wong et al., 2006), atividade

    antibacteriana (Moreno et al., 1994; Osborn et al., 1995;) e bloqueio de canais de

    sódio (Kushmerick et al., 1998; Spelbrink et al., 2004).

    C

    A

    β1

    β2

    β3

    α1

    B

  • Na literatura, foi visto que defensinas encontradas em plantas desempenham

    um papel importante na proteção dos tecidos de plantas jovens durante os primeiros

    estágios de emergência (Terras et al., 1995). A expressão das defensinas nos vários

    tecidos das diferentes espécies de plantas, como nabo (Brassica campestris) (Park

    et al., 2002), ervilha (P. sativum) (Almeida et al., 2002), fumo de jardim (Nicotiana

    alata) (Lay et al., 2003a), rabanete (Raphanus sativus) (Terras et al., 1995), tomate

    (Lycopersicon esculentum) (Brandstadter et al., 1996) e Arabidopsis thaliana

    (Penninckx et al., 1996; Thomma et al., 2002) tem sido estudada e, observa-se que

    não estão presentes somente nas sementes mas também nas camadas celulares

    periféricas das frutas e dos órgãos florais. Esta localização periférica está

    relacionada com a função de proteção dos órgãos contra os ataques microbianos

    (Thevissen et al., 2003a).

    Estudos de imunomarcação revelaram que defensinas estavam localizadas

    na parede celular, nos espaços extracelulares do cotilédone e no tegumento deste

    órgão. Essa localização seria adequada a um componente do sistema de defesa que

    estaria presente nas regiões onde ocorrem os primeiros contatos entre fungos e a

    semente e com a velocidade necessária para que esta proteína fosse exsudada. Isto

    sugere que estes peptídeos possam contribuir para o controle de doenças fúngicas

    do solo (Terras et al., 1995). Algumas defensinas são sistemicamente induzidas sob

    infecção fúngica ou ferimentos de tecidos vegetativos em diferentes espécies de

    plantas, como por exemplo, ervilha (P. sativum), batata (Solanum tuberosum),

    rabanete (R. sativum), Arabidopsis thaliana entre outras (Thevissen et al., 2003a).

    Confirmando definitivamente a participação das defensinas na defesa de

    plantas, Terras et al. (1995) introduziram o gene que codifica a defensina de R.

    sativum, Rs-AFP2, em plantas de tabaco (Nicotiana tabacum). Por comparação do

    número e da área das lesões causadas pelo fungo Alternaria longipes, verificou-se

    que nas plantas transformadas, as áreas de lesão foram de sete a oito vezes

    menores que nas plantas controles. Este estudo, além de confirmar a participação

    das defensinas na defesa de plantas, forneceu indícios do possível potencial

    biotecnológico destas moléculas.

  • 1.3.3. Atividade antimicrobiana das defensinas de planta

    A atividade antimicrobiana das defensinas de planta é principalmente

    observada contra fungos. Diversas espécies de fungos têm o crescimento inibido e

    entre eles estão vários patógenos de plantas (Tabela 1) (Terras et al., 1992; Terras

    et al., 1993; Osborn et al., 1995). A concentração inibitória varia muito e é

    dependente do fungo testado; por exemplo, Fusarium culmorum é inibido pela

    defensina de castanheiro-da-Índia (Aesculus hippocastanum), Ah-AMP1, com 12

    µg.mL-1 (IC50) e por RS AFP2 com 1,5 µg.mL-1 (IC50) (Tabela 1). A atividade inibitória

    contra bactérias é bem menos pronunciada e é observada de um modo geral apenas

    contra bactérias Gram-positivas (Carvalho e Gomes, 2009). No entanto, alguns

    autores têm demonstrado a atividade das defensinas de plantas sobre bactérias

    Gram- negativas, sendo descrito por Terras et al. (1993). Mais recentemente, Franco

    et al. (2006) isolaram a partir de sementes de feijão (V. unguiculata) a Cp-tionina II,

    uma defensina (γ-tionina) que possui atividade contra bactérias Gram-positivas e

    negativas.

    Estudos também foram realizados mostrando a atividade antimicrobiana de

    uma defensina isolada de fumo de jardim (N. alata), denominada NaD1, sobre o

    crescimento de fungos filamentosos como Fusarium oxysporum, Thielaviopsis

    basicola, Verticillium dahliae, Leptosphaeria maculans e Aspergillus nidulans. Na

    concentração de 1 µM de NaD1, foi observada a inibição de 50% do crescimento

    dos fungos F. oxysporum e L. maculans e 65% dos fungos V. dahliae, T. basicola e

    A. nidulans. Já na concentração de 5 µM de NaD1, o crescimento de todos os

    fungos filamentosos testados, apresentou mais do que 90% de inibição (Van der

    Weerden et al., 2008). Foi demonstrado também que defensina isolada de sementes

    de alfafa (Medicago sativa), denominada alfAFP, possui uma forte atividade contra o

    patógeno fúngico de grande importância agronômica V. dahliae. Esta defensina,

    alfAFP, foi capaz de inibir o crescimento de esporos pré-germinados em 50% numa

    concentração de 5 µg.mL-1 e 100% para 15 µg.mL-1. Além deste fungo, esta também

    foi capaz de inibir outros patógenos fúngicos como Alternaria solani e F. culmorum

    (Gao et al., 2000).

    Em 2001, Carvalho et al. relataram a presença de uma defensina em

    sementes de feijão-de-corda que, atuando em sinergismo com uma LTP, inibia o

    crescimento de fitopatógenos fúngicos de importância econômica.

  • Mais recentemente, nosso grupo de pesquisa mostrou que uma defensina

    isolada de sementes de Phaseolus vulgaris, inibiu fortemente o crescimento das

    leveduras C. albicans, C. parapsilosis, C. tropicalis, Pichia membranifaciens,

    Kluyveromyces marxiannus e Saccharomyces cerevisiae. PvD1 também apresentou

    uma atividade inibitória contra o crescimento de fungos fitopatogênicos como

    Fusarium solani, F. laterithium e F. oxysporum.

    Tabela 1. Atividade antifúngica de defensinas contra fungos, leveduras, oomicetos e

    bactérias. Os valores são mostrados em concentrações expressas em µg.mL-1 necessárias

    para se obter 50% da inibição do crescimento do fungo (IC50). (-), atividade não determinada;

    sa, atividade inibitória acima de 500 µg.mL-1; >*1, atividade acima de 100 µg.mL-1; >*2,

    atividade acima de 200 µg.mL-1; Ah, Aesculus hippocastanum; At, Arabidopsis thaliana; Bn,

    Brassica napus; Br, Brassica rapa; Ct, Clitorea ternatea; Dm, Dahlia merckii; Hs, Heuchera

    sanguinea; Rs, Raphanus sativus; +, dados obtidos de Terras et al. (1992); #, de Terras et al.

    (1993); *, de Osborn et al. (1995). Fonte: Adaptado de Carvalho, 2005.

    DEFENSINAS µg.mL-1 (IC50)

    Fungos Ah1 Ct1 Dm1 Dm2 Hs1 Rs1 Rs2 Br1 Br2 At1 Bn1 Bn2 Botrytis cinerea 25* 20* 12* 10* 6* 8# 10* 1,5# >*1# 3,9# 2# 2# Cladosporium sphaerospermum 0,5* 6* 3* 3* 1* - 3* - - - - - Fusarium culmorum 12* 10* 5* 3* 1* 5# 1,5* 1,2# 38# 3# 2,8# 2,1# Leptosphaeria maculans 0,5* 6* 1,5* 1* 25* - 12* - - - - - Penicillium digitatum 6

    * 20* 2* 2* 1* - 1,5* - - - - - Trichoderma viride >*1 >*1* >*1* >*1* 15* - 30* - - - - - Septoria tritici 0,5

    * 2

    * 1

    * 1

    * 0,5

    * - 1,5

    * - - - - -

    Verticilium albo-atrum 6* 2* 4* 2* 12* - 12* - - - - -

    Alternaria brassicola - - - - - 15# 2# 3# 75# 10# 0,6# 1,2#

    Fusarium oxysporum lycorpesici - - - - - 30# 2# 1,8# 42# 3# 1,3# 1,5#

    Pericularia oryzae - - - - - 0,3# 0,4# 0,25# 3# 0,25# 0,35# 0,25#

    Verticilium dahlae - - - - - 5# 1,5# 0,8# 15# 1,5# 1,2# 1# Phythophtora infestans - - - - - 3+ 25+ - - - - - Saccharomyces cerevisiae - - - - - sa# sa# sa# sa# sa# sa# sa#

    Bactérias Gram + Bacilus megaterium - - - - - sa# - sa # 52# sa# Sarcina lutea - - - - - sa# - sa# sa# sa# Bacillus subtilis 100* 15* 150* - >*2# - >*2# - - - - Staphylococcus aureus sa# sa# sa# - >*2# - >*2# - - - - Microcous luteus sa# sa# sa# - >*2# - >*2# - - - - Streptococcus faaecalis sa

    # sa# sa# - >*2# - >*2# - - - Bactérias Gram -

    Agrobacterium tumefaciens - - - - - sa# - sa # sa# sa# Alcalignes eutrophus - - - - - sa

    # - sa# sa

    # sa

    #

    Azospirillum brasilenses - - - - - sa # - sa# sa# sa# Escherichia coli sa# sa# sa# - >*2# sa# - sa

    # sa

    # sa

    #

    Erwinia carotovora - - - - - sa# - sa# sa# sa# Pseudomonas solanacearum - - - - - - sa

    # sa# sa# Proteus vulgaris sa# sa# sa# - sa# - sa# - - -

    MICRORGANISMOS

  • 1.3.4. Mecanismos de ação das defensinas de plantas

    Diferentes estudos têm sido feitos no sentido de se desvendar o mecanismo de

    ação das defensinas de plantas, porém este ainda não foi totalmente elucidado. Em

    relação ao seu modo de ação, foi mostrado que a defensina 1 de D. merckii, Dm-

    AMP1, e Rs-AFP2 induzem uma variedade de rápidas respostas na membrana fúngica

    como alterações na permeabilização da membrana plasmática resultando na entrada

    de Ca+2 e no efluxo de K+ e mudanças no potencial de membrana. Estes resultados

    sugerem a interação das defensinas de plantas com a membrana fúngica (Thevissen

    et al., 1996; Thevissen et al., 1999; Thevissen et al., 2003b). A membrana plasmática

    dos fungos apresenta fosfoglicerolipídeos principalmente no seu lado interno e esteróis

    e esfingolipídeos no lado externo. Tem sido mostrado que os esfingolipídeos e os

    esteróis são enriquecidos em domínios específicos, os chamados “rafts lipídicos”. A

    interação de Dm-AMP1 com estes “rafts” resultam na ação dessa defensina, ligada a

    estes componentes de membrana (Schneiter et al., 1999).

    Thevissen et al. (2004) estudando mais especificamente os sítios de ligação

    das defensinas de plantas Dm-AMP1 e Rs-AFP2 na membrana de fungos,

    identificaram e caracterizaram certos grupos de esfingolipídeos. Eles descobriram

    que a sensibilidade antifúngica a Dm-AMP1 está relacionada ao nível de

    manosildiinositolfosforilceramida na membrana da levedura, mostrando o papel do

    complexo de esfingolipídeos/defensina na atividade antifúngica de Dm-AMP1

    (Thevissen et al., 2004). Assim, sugere-se que as defensinas de plantas têm, além

    de um receptor, um sítio específico de interação com a membrana.

    Estudos semelhantes também foram realizados utilizando a defensina Rs-

    AFP2. Em 2003a, Thevissen et al. mostraram que Rs-AFP2 interage com

    glicosilceramidas presentes na membrana fúngica e que esta defensina não é capaz

    de se ligar às glicosilceramidas presentes nas células de humanos e soja. Segundo

    estes autores, isto acontece devido ao fato da ceramida encontrada nestas células

    serem estruturalmente diferentes. Os dados acima relatados nos dão indícios de que

    as defensinas de plantas podem atuar sobre microrganismos também de uma

    maneira específica. Além da estrutura dos lipídeos que constituem a membrana, a

    composição lipídica da mesma parece determinar a susceptibilidade e/ou resistência

    às defensinas de plantas. Ferket et al. (2003) demonstraram que mutantes do fungo

    Neurospora crassa com maiores quantidades de esteril-glicosil (ergosterol-β-D-

    glicopiranosideo) em sua membrana eram resistente às defensinas Rs-AFP2, Dm-

  • AMP1 e Hs-AFP1 (defensina de H. sanguinea). Adicionalmente, Thevissen et al.

    (2007) mostraram que as defensinas Hs-AFP1 e Rs-AFP2 eram capazes de inibir o

    crescimento de Candida albicans e C. krusei, mas não de C. glabrata e atribuem

    estes dados ao fato de que C. glabrata não sintetiza glicosilceramidas (possível

    receptor para Rs-AFP2). Da mesma forma, Medeiros et al. (2009) mostraram que

    cepas de C. albicans mutantes (∆GCS1), que também eram incapazes de sintetizar

    glicosilceramidas, eram mais resistentes à Psd1.

    Recentemente, Aerts et al. (2007) demonstraram que Rs-AFP2 induz a

    produção endógena de espécies reativas de oxigênio (ROS) em células de C.

    albicans e que tanto esta produção de ROS quanto a atividade antifúngica

    desaparece na presença do antioxidante ácido ascórbico, o que sugere uma ligação

    causal entre a atividade antifúngica de Rs-AFP2 e a produção de ROS por ela

    mediada. Estes autores sugerem ainda que, a permeabilização da membrana é

    consequência de uma sinalização intracelular gerada pela ligação de Rs-AFP2 com

    as glicosilceramidas da membrana e não simplesmente a ação direta deste peptídeo

    na membrana através de sua interação com este esfingolipídeo.

    Até agora, não está claro se as defensinas de plantas acima citadas são

    internalizadas pelas células fúngicas através de sua interação com os

    esfingolipídeos de membrana, ou se elas se mantêm do lado de fora da célula e

    modulam processos que levam a morte celular, como por exemplo, produção de

    ROS e apoptose, via interação com os esfingolipídeos de membrana. Porém

    recentes estudos têm investigado um novo mecanismo de ação intracelular das

    defensinas, usando Psd1. Um sistema duplo híbrido foi usado para identificar

    interações proteína-proteína entre Psd1 e as proteínas fúngicas. Proteínas alvo

    foram analisadas dentro do cDNA do fungo N. crassa. Um clone apresentou

    sequência similar à da ciclina F, que é uma proteína que está envolvida no ciclo

    celular. Análises por microscopia de fluorescência de Psd1 conjugado com

    Isotiocianato fluoresceína (FITC) e do coramento do fungo com 4,6 diamidino 2

    fenilindol (DAPI) mostraram a colocalização, in vivo, do peptídeo de planta Psd1 no

    núcleo. Estes resultados sugerem que o mecanismo de ação da defensina de planta

    Psd1, pode envolver também alvos nucleares (Lobo et al., 2007).

  • 1.4. Leveduras

    As leveduras são fungos que se diferenciam por apresentarem

    predominantemente sob a forma unicelular, se reproduzem comumente por

    brotamento e não possuem hifas ascogênicas e ascocarpos. Algumas podem ser

    encontradas no solo, água, esgoto e até no trato digestivo de mamíferos

    (Alexopoulos et al., 1996). Sua parede é composta predominantemente por

    polissacarídeos, mas especificamente mananos, β-1,3 e β-1,6-glucanos e

    quantidades menores de quitina, sendo esta encontrada principalmente nas

    cicatrizes do broto (Baladrón et al., 2002). Dentre os eucariotos, as leveduras foram

    os primeiros organismos a terem seu mapa genético completamente seqüenciado

    (Goffeau et al., 1996).

    Diversas espécies de leveduras, como por exemplo, as pertencentes ao

    gênero Candida, podem causar severas infecções sistêmicas em pacientes

    imunocomprometidos, incluindo aqueles que são submetidos à quimioterapia no

    tratamento de câncer, em pessoas diabéticas e em crianças prematuras (Isola et al.,

    2009). Além disso, podem também provocar infecções localizadas ou disseminadas

    como candidíase, meningite, infecções no sangue, entre outras (Alexopoulos et al.,

    1996). Algumas leveduras são consideradas patógenos facultativos como, por

    exemplo, C. tropicalis, C. parapsilosis e C. glabrata (Kwon-Chung e Bennett, 1992).

    Quanto à forma destas leveduras podemos destacar as várias espécies

    patogênicas dimórficas existentes. Estas possuem uma capacidade reversível de

    transição entre as formas leveduriforme e filamentosa, uma importante característica

    que está diretamente relacionada à virulência destas leveduras durante o processo

    de invasão do hospedeiro (Gow et al., 2002).

    1.5. Fungos filamentosos

    Os fungos filamentosos são organismos eucarióticos, heterotróficos

    possuindo uma parede celular predominantemente constituída de quitina e glucanos,

    os quais encontram-se embebidos numa matriz de polissacarídeos e glicoproteínas.

    São organismos multinucleares possuindo como elemento constituinte básico a hifa,

    que pode ser septada ou não septada e é a partir da hifa que serão formados os

    esporos, para que haja a propagação das espécies (Alexopoulos et al., 1996).

    Alguns fungos filamentosos podem ser saprofíticos obtendo sua nutrição por

    absorção de nutrientes de organismos mortos, atuando como importantes

  • decompositores, além do grupo dos fitopatogênicos que são redutores de enzimas

    que atacam polímeros das paredes de plantas (Agrios, 2005).

    Os fungos filamentosos são importantes agentes fitopatogênicos, podendo ser

    os principais causadores de doenças de plantas, agindo como parasitas obrigatórios

    ou facultativos (Gurgel et al., 2005)

    Na tentativa de colonizar as plantas, os fungos desenvolveram diferentes

    mecanismos para invadir o tecido, aperfeiçoar o crescimento e se propagar. Alguns

    microrganismos oportunistas precisam de alguma abertura natural ou ferimento para

    que ocorra o processo de infecção e colonização de plantas, no entanto os fungos

    patogênicos possuem mecanismos e estruturas capazes de romper as células da

    planta e assim penetram as suas estruturas externas como, por exemplo, a cutícula

    (Agrios, 2005).

    1.6. Feijão Comum (Phaseolus vulgaris)

    O feijão comum (Phaseolus vulgaris L.) foi originalmente cultivado no Novo

    Mundo, mas é agora cultivado extensivamente em todas as maiores áreas

    continentais (Graham et al., 1997). É um componente principal na dieta, e

    consequentemente, a fonte de proteína de mais de 300 milhões de pessoas na

    América Latina e África Ocidental e do Sul (Kaschuk et al., 2005).

    O feijão comum é membro da família Leguminosae, tribo Phaseoleae,

    subfamília Papilionoideae (Debouck et al., 1991; Graham et al., 1997). Existem cerca

    de 55 espécies conhecidas do gênero Phaseolus, porém as quatro espécies mais

    cultivadas são: P. vulgaris L., P. coccineus L., P. lunatus L. e P. polyanthus. O feijão

    comum (P. vulgaris L.) é o mais importante, por ser a espécie cultivada mais antiga e

    mais utilizada nos cinco continentes (Aidar et al., 2003).

    Este é um dos principais componentes da dieta alimentar brasileira,

    constituindo uma das mais importantes fontes de proteína. Além do seu conteúdo

    protéico, o elevado teor de ferro e fibra alimentar, com seus reconhecidos efeitos

    hipocolesterolêmico e hipoglicêmico, aliado às vitaminas, especialmente do

    complexo B, e aos carboidratos, tornam o seu consumo altamente vantajoso como

    alimento funcional (Aidar et al., 2003). É também rico em vitaminas, carboidratos e

    minerais. O consumo das sementes secas tem reduzido o risco de diabetes,

    obesidade (Geil et al., 1994), doenças do coração e câncer de cólon (Anderson et

    al., 1984).

  • O feijoeiro comum é hospedeiro de inúmeras doenças causadas por vírus,

    bactérias, fungos e nematóides. Entre as principais doenças fúngicas, encontram-se

    a antracnose, a mancha-angular, a ferrugem, o oídio e a mancha-de-alternária, além

    de outra recentemente identificada nessa cultura e denominada de sarna. Todas são

    determinadas como doenças da parte aérea do feijoeiro comum (Sartorato et al.,

    2006). Já entre as doenças do solo, encontram-se o mofo-branco, a mela, a

    podridão-radicular-de-rizoctonia, podridão-radicular-seca, a murcha-de-fusário e a

    podridão-cinzenta-do-caule (Graham, 1997; Sartorato et al., 2006). De um modo

    geral, essas doenças podem ser disseminadas à longa distância pelas sementes

    infectadas e por correntes aéreas. À curta distância, essas doenças são

    disseminadas pelas sementes infectadas, vento, chuvas, insetos, animais, partículas

    de solo aderidas aos implementos agrícolas, água de irrigação e pelo movimento do

    homem (Sartorato et al., 2006).

    Ainda não se conhecem os mecanismos de resistência de plantas a várias

    doenças fúngicas. O esclarecimento desses mecanismos é uma etapa fundamental

    para o desenvolvimento de métodos de controle adequados, bem como para a

    compreensão da interação entre patógeno e hospedeiro

  • 2. OBJETIVOS

    2.1 – Objetivo geral

    Este trabalho teve como objetivo geral estudar o mecanismo de ação e a

    atividade antifúngica da defensina PvD1 isolada a partir de sementes de feijão

    comum (Phaseolus vulgaris – cultivar Pérola).

    2.2 – Objetivos específicos

    1- Isolar em grande quantidade a defensina PvD1 de sementes de feijão

    comum;

    2- Estabelecer uma metodologia para a produção de anticorpos policlonais

    contra a defensina isolada;

    3- Estudar o efeito da defensina isolada PvD1 sobre a inibição do crescimento de

    fungos filamentosos em meio líquido;

    4- Analisar o efeito da defensina PvD1 isolada de sementes de feijão comum sobre

    a permeabilização de membranas de fungos filamentosos e leveduras;

    5- Analisar o efeito da defensina PvD1 sobre a inibição da acidificação do meio

    estimulado por glicose, em células de leveduras;

    6- Analisar o efeito da defensina isolada PvD1 sobre a indução da produção

    endógena de espécies reativas de oxigênio (ROS) em células de C.

    albicans.

  • 3. MATERIAIS

    3.1 - Material biológico

    3.1.1 - Sementes

    Sementes de feijão comum (Phaseolus vulgaris L.) cultivar Pérola foram cedidas

    pela Profa. Rosana Rodrigues do Laboratório de Melhoramento Genético Vegetal,

    do Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias, da Universidade Estadual do

    Norte Fluminense – Darcy Ribeiro, Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, Brasil.

    3.1.2 - Microrganismos

    As espécies de leveduras Candida parapsilosis (CE002), Pichia

    membranifaciens (CE015), Candida tropicalis (CE017), Candida albicans (CE022),

    Kluyveromyces marxiannus (CE025) e Saccharomyces cerevisiae (1038) foram

    cedidas pela Profª. Vânia Maria Maciel de Melo do Laboratório de Microbiologia da

    Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará, Brasil e os fungos filamentosos

    Fusarium oxysporum, Fusarium solani, Fusarium laterithium foram cultivados e

    conservados juntamente com as cepas de leveduras no Laboratório de Fisiologia e

    Bioquímica de Microrganismos, do Centro de Biociências e Biotecnologia da

    Universidade Estadual do Norte Fluminense – Darcy Ribeiro, Campos dos

    Goytacazes, Rio de Janeiro, Brasil.

    3.1.3 – Coelho

    Coelhos da linhagem Nova Zelândia foram adquiridos comercialmente e

    mantidos em biotério na UENF.

    3.2 – Reagentes e outros materiais

    - Reagentes para extração de proteínas de sementes

    NaH2PO4, Na2HPO4, KCl, ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) e (NH4)2SO4

    foram obtidos da Merck S/A e Sigma Co, St Louis, U.S.A.

    - Proteínas

    Albumina sérica bovina (BSA) foi obtida da Sigma Co, St Louis, U.S.A.

    - Materiais e reagentes para cromatografias

  • A resina de DEAE-Sepharose e a coluna C2C18 foram adquiridas da GE

    Healthcare e Shimadzu Co., respectivamente.

    O Tris-hidroximetil-aminometano (Tris) e o NaCl utilizados foram obtidos da

    Sigma Co, St Louis, U.S.A. e para C2/18 foram utilizados ácido trifluoroacético

    (TFA) obtidos da Sigma Co, St Louis, U. S. A. e acetonitrila (ACN) obtida da Merck

    S/A.

    - Material para diálise

    Membranas de celulose que retém moléculas de massa molecular acima de

    1.000 Da foram adquiridas da Sigma Co, St Louis, U.S.A.

    - Materiais para eletroforese

    Acrilamida, N,N’ metileno bisacrilamida (bisacrilamida), dodecil sulfato de sódio

    (SDS), β-mercaptoetanol, azul de bromofenol, persulfato de amônio, Tris-base, N,

    N, N’ ,N’ -tetrametiletilenodiamina (TEMED), tricina, glicerol e marcadores de peso

    molecular foram adquiridos da Sigma Co, St Louis, U.S.A. Foram utilizados os

    seguintes marcadores de massa molecular: mioglobina (16.950 Da), mioglobina I +

    II (14.400 Da), mioglobina I + III (10.600 Da), mioglobina I (8.160 Da), mioglobina II

    (6.200 Da), glucagon (3.400 Da) e mioglobina III (2.500 Da).

    - Materiais para eletrotransferência e Western Blotting

    Anticorpos anti-IgG de coelho conjugado com peroxidade, diaminobenzidina

    (DAB) foram adquiridos da Sigma Co, St Louis, U.S.A e membranas de

    nitrocelulose foram adquiridas da MFS (Micro Filtration System).

    - Reagentes para a purificação de IgG

    Acetato de sódio, ácido caprílico e (NH4)2SO4 foram obtidos da Merck S/A e

    Sigma Co, St Louis, U.S.A.

    - Reagentes para quantificação de proteínas

    O “Comassie brilliant blue G” foi obtido da Sigma Co, St Louis, U.S.A. O ácido

    orto-fosfórico e o etanol foram obtidos da Merck S/A indústrias químicas. O ácido

    bicinconínico foi adquirido da Sigma Co, St Louis, U.S.A.

  • - Meios de cultura

    Caldo Sabouraud e Agar Sabouraud foram adquiridos da Merck S/A Indústrias

    Químicas.

    - Reagentes usados para ensaios antifúngicos e acidificação

    Glicose, NaH2PO4 e NaCl foram adquiridos da Sigma Co, St. Louis, U. S. A. e da

    Merck S/A indústrias químicas.

    - Corante usado para ensaios de permeabilização de membranas de fungos

    filamentosos e leveduras

    SYTOX Green foi adquirido da Molecular Probes Invitrogen

    - Corante usado para ensaio de produção de ROS em células de levedura

    2’ 7’- Diclorofluoresceína Diacetato foi adquirido da Calbiochem

    - Outros reagentes

    Todos os demais reagentes utilizados foram de grau analítico e adquiridos

    comercialmente.

  • 3.3 - INSTRUMENTAL

    EQUIPAMENTOS MARCA MODELO

    Autoclave

    Balança

    Balança

    Banho Maria

    Bomba Peristáltica

    Coletor de Frações

    Capela de Fluxo laminar vertical com

    lâmpada germicida

    Célula de transferência

    Centrífuga

    Environ Shaker

    Estufa

    Espectrofotômetro

    HPLC

    Leitor de ELISA

    Liofilizador

    Microcentrífuga não refrigerada

    Microscópio óptico

    Microscópio óptico

    pHmetro

    Placa agitadora/aquecedora

    Sistema para eletroforese

    Fabre Primar

    Sartorius

    Sartorius

    FANEM

    Pharmacia

    Pharmacia

    VECO

    Bio-Rad

    Hitachi

    Lab-line

    QUIMIS

    SHIMADZU

    SHIMADSU

    DYNATECH

    Labconco

    Eppendorf

    ausJENA

    Zeiss

    QUIMIS

    CORNING

    Biorad

    103.02

    2100

    110S

    102

    P1

    RediFrac

    VLFS 12

    Trans-blot SD, Semi-dry

    Blotting System

    Himac CR 21

    3527

    Q316.14

    UV VIS 1230

    Prominence

    MR 500

    Freeze dry system/freezon 4.5

    5415C

    JENAMED2

    Axioplan

    400-A

    PC 220

    150A - gel Eletrophoresis cell

  • 4. MÉTODOS

    4.1 - Extração e purificação da defensina PvD1 de Phaseolus vulgaris

    4.1.1 - Extração protéica das sementes

    As sementes de feijão comum foram descascadas e trituradas com um

    processador de alimentos até a formação de uma farinha bem fina. A farinha obtida

    foi extraída em tampão fosfato (Na2HPO4 10 mM, NaH2PO4 15 mM, KCl 100 mM,

    EDTA 1,5%) pH 5,4 na proporção de 1:5 (farinha:tampão de extração) sob agitação

    constante por 2 h a 4 ºC, segundo a metodologia desenvolvida por Games et al.

    (2008) (Esquema 1). Após homogeneização, o extrato bruto foi submetido à

    centrifugação a 15.000 x g por 20 min a 4 ºC e o sobrenadante resultante foi

    submetido à precipitação com sulfato de amônio a 70% de saturação e deixado a 4

    ºC por 16 h. O precipitado resultante, obtido após nova centrifugação a 15.000 x g

    por 20 min a 4 ºC, foi ressuspenso em 10 mL de água destilada e aquecido a 80 ºC

    por 15 min e em seguida centrifugado a 10.000 x g por 8 min a 4 ºC. O precipitado

    resultante desta última centrifugação foi descartado e o sobrenadante dialisado

    durante três dias, contra água destilada e em seguida liofilizado para posterior

    purificação dos peptídeos. Esta amostra, chamada ao final do processo de fração 0-

    70 (F/0-70), foi armazenada a -20 ºC e usada posteriormente para a purificação dos

    peptídeos.

  • Homogeneizado

    - 2 h a 4 °C sob agitação em tampão fosfato pH 5,4

    - centrifugação 15.000 x g – 20 min

    resíduo sobrenadante

    - adicionado sulfato de amônio

    a 70% de saturação

    - 16 h a 4 ºC

    - centrifugação (15.000 x g – 20 min)

    precipitado sobrenadante

    (ressuspendido em água destilada)

    aquecimento a 80 ºC por 15 min

    - centrifugação (10.000 x g – 8 min)

    precipitado sobrenadante

    diálise e liofilização

    (F/0-70)

    Esquema 1 – Fracionamento com sulfato de amônio do homogeneizado obtido a partir da

    extração da farinha das sementes de feijão comum (Games et al., 2008).

  • 4.1.2- Cromatografia de troca iônica (DEAE–Sepharose)

    Para a purificação da PvD1 foi inicialmente usada uma coluna de troca iônica,

    DEAE-Sepharose, com 100 mL de resina. Esta foi montada sob a ação da gravidade

    e depois da resina estar devidamente empacotada e foi lavada com 350 mL de

    água. Em seguida passado aproximadamente 250 mL de hidróxido de sódio 0,1 M,

    novamente foi passado 350 mL água e depois 250 mL de ácido clorídrico 0,1 M.

    Posteriormente com a resina devidamente ativada foi passado o tampão de

    equilíbrio, Tris-HCl 20 mM, pH 8,0, deixando a coluna preparada para o uso. A

    amostra aplicada na coluna foi preparada da seguinte forma: 50 mg da F/0-70 foram

    pesados e dissolvidos em 5 mL de tampão de equilíbrio e depois centrifugado a

    16.000 x g por 3 min à temperatura ambiente e o sobrenadante aplicado sobre a

    resina. A amostra foi eluída primeiramente no tampão de equilíbrio e em seguida em

    um tampão Tris-HCl adicionado de NaCl na concentração de 1 M. Foram coletados

    frações de 3 mL em 50 tubos em um fluxo de 60 mL.h-1. As absorbâncias das

    frações foram lidas em um espectrofotômetro a 280 nm. O pico D1 obtido nesta

    cromatografia foi submetido à cromatografia de fase reversa em coluna C2/C18 em

    HPLC (Games et al., 2008).

    4.1.3 - Cromatografia de fase reversa em coluna C2C18 em HLPC

    Uma coluna de fase reversa C2C18 equilibrada com 0,1% de ácido

    trifluoroacético (TFA) foi empregada sequencialmente no processo de isolamento da

    defensina de sementes de feijão comum. O pico D1 não retido, oriundo da

    cromatografia de troca iônica em coluna de DEAE-Sepharose, foi solubilizado em

    TFA 0,1% e 500 µL desta mistura foram injetados na coluna de fase reversa. A

    cromatografia foi desenvolvida utilizando-se um fluxo de 0,5 mL.min-1, a temperatura

    de 32 oC em sistema de HPLC. Para a eluição das proteínas da coluna foi utilizado

    um gradiente de acetonitrila (ACN) de 0 a 80%. Inicialmente (10 primeiros minutos) a

    coluna foi lavada com TFA 0,1% em água ultrapura (solvente A), e em seguida um

    gradiente foi sendo formado através da mistura do solvente A e 80% de acetonitrila

    em TFA 0,1 % (solvente B) por cerca de 48 min. Após esse período a coluna foi

    lavada com 100% do solvente B totalizando 60 min. A eluição da coluna foi

    acompanhada por um detector de arranjo de diodo (DAD), sendo as absorbâncias

    lidas a 220 nm (Games et al., 2008).

  • 4.2 - Quantificação de proteínas

    As determinações quantitativas de proteínas foram feitas pelo método de

    Bradford (1976) sendo a BSA utilizada como padrão.

    4.3 - Eletroforese em gel de Tricina na presença de SDS

    A eletroforese em gel de tricina foi feita segundo metodologia de Schägger e

    Von Jagow (1987). Foram usadas placas de vidro de 7 x 10 cm e 8 x 10 cm e

    espaçadores de 0,5 mm. O gel de separação foi preparado numa concentração de

    16,4% de acrilamida/bis-acrilamida e o gel de concentração numa concentração de

    3,9%.

    A F/0-70 e as frações protéicas obtidas na cromatografia de troca iônica,

    DEAE-Sepharose, foram concentradas por liofilização e, em seguida, pesadas e

    ressuspensas em tampão de amostra (Tris 0,125 M, SDS 2,5%, azul de bromofenol

    0,25%, β-mercaptoetanol 5% e sacarose 15%). Estas foram aquecidas por 5 min a

    100 ºC e centrifugadas a 16.000 x g por 2 min. Após este tratamento 20 µL das

    amostras foram aplicadas no gel de concentração. A corrida foi feita a uma voltagem

    constante de 20 V por um período de aproximadamente 16 h.

    4.3.1 - Coramento e descoramento do gel

    Após o término da corrida, o gel foi cuidadosamente retirado das placas e

    colocado na solução corante (Comassie Blue R 0,05%, ácido acético 70% e metanol

    40%) por duas horas e após esse período, o gel foi transferido para uma solução

    descorante (metanol 40% e ácido acético 7%) e mantido até a visualização das

    bandas de proteína.

    4.4 - Produção de anticorpo e Western blotting

    4.4.1 – Obtenção do soro pré-imune e imunização

    Primeiramente, foi obtido soro pré-imune a partir da sangria do coelho antes

    da inoculação do peptídeo de interesse. Esta sangria consiste de um corte na

    extremidade da orelha do animal com o auxílio de uma lâmina. Foram, então

    coletados 4 mL de sangue em um béquer, deixados por 30 min em temperatura

    ambiente, e posteriormente, por aproximadamente 16 h a 4 ºC para coagular. Após

    formação do coágulo, o soro foi recolhido e submetido à centrifugação a 255 x g por

  • 15 min a 4 ºC. Este procedimento permitiu a clarificação do soro deixando-o livre de

    hemácias e este foi, então, armazenado a -20 ºC até o uso.

    À defensina isolada PvD1 foi adicionado o adjuvante de Freud para

    emulsificação na proporção de 2:1 e, posteriormente, aplicado no coelho. A primeira

    imunização foi intramuscular e subcutânea (1 mL em cada local de inoculação) e

    após um período de 30 dias foi feita a segunda imunização apenas subcutânea (500

    µL em diferentes locais no dorso do coelho). Após sete dias foi feita uma nova

    inoculação repetida no dorso. Quatro dias depois, foi feita a primeira sangria e, em

    seguida, foi feita mais uma imunização subcutânea. E assim, o processo foi feito por

    mais duas semanas com mais duas sangrias e duas aplicações subcutâneas.

    A obtenção e estocagem do soro contendo o anticorpo de interesse foram

    feitas nas mesmas condições que para o soro pré-imune (Steinbuch e Audran et al.,

    1969).

    4.4.2 - Purificação de IgG do soro

    O soro obtido como descrito no item acima foi centrifugado a 790 x g por 10

    min. O sobrenadante do soro foi então diluído 1:3 em tampão acetato de sódio 60

    mM, pH 4,0, sob baixa agitação, em temperatura ambiente. Após esta diluição, foi

    adicionado ácido caprílico 100% numa proporção de 0,4 mL para cada 10 mL de

    volume original de soro. O ácido caprílico foi adicionado gota a gota à mistura, sob

    agitação e permanecendo assim por mais 30 min. Em seguida, essa mistura foi

    centrifugada a 5.000 x g por 10 min, em temperatura ambiente. O sobrenadante

    obtido foi colhido e o pH ajustado para pH 7,2, com adição de Tris 3 M. Neste

    momento, a etapa de centrifugação foi repetida, o sobrenadante resultante foi

    concentrado com adição de sal de sulfato de amônio até 45% de saturação

    (peso/volume), sob agitação, a temperatura ambiente, permanecendo em agitação

    por mais 2 h. O material foi centrifugado a 5.000 x g, durante 15 min, em

    temperatura entre 4 e 8 ºC. O precipitado foi ressuspendido em salina (NaCl 0,9%) e

    dialisado contra salina, com duas trocas por dia, durante 3 dias. A concentração da

    IgG purificada foi determinada, através de uma curva utilizando ácido bicinconínico,

    de acordo com as instruções fornecidas pelo fabricante do reagente (Steinbuch e

    Audran et al., 1969).

  • 4.4.3 - Eletrotransferência de proteínas para Western Blotting

    Após o término da eletroforese, o gel foi retirado das placas e imerso em

    tampão de transferência (glicina 182 mM, Tris 25 mM e metanol 20%) por 20 min.

    Uma membrana de nitrocelulose (Hybond ECL, Amersham Biosciences), cortada

    nas mesmas dimensões do gel, foi também imersa no tampão de transferência por

    20 min. Após esse período foi montado, sobre uma célula de transferência, um

    “sanduíche” com quatro folhas de papel de filtro Whatman 3 MM, previamente

    embebidas em tampão de transferência. Sobre essa camada de papel foi colocada a

    membrana e acima da membrana o gel, sendo então o “sanduíche” finalizado com

    mais uma camada de quatro folhas de papel de filtro Whatman 3 MM, já embebidas

    no tampão de transferência. Durante a montagem desse “sanduíche” as bolhas de ar

    foram evitadas e/ou removidas entre as camadas, para não interferirem com a

    transferência das proteínas. Após esse procedimento, a célula de transferência foi

    fechada e foi aplicada uma corrente constante de 1mA/cm2 por 2 h no sentido gel-

    membrana. Após a transferência o “sanduíche” foi cuidadosamente desfeito e a

    membrana submetida à coloração com Ponceau S (0,1%) (Amersham Biosciences)

    para determinação do sucesso da transferência (Towbin et al., 1979).

    4.4.4 - Imunodetecção de Proteínas

    Após coloração com Ponceau S 0,1%, para a marcação com os anticorpos,

    inicialmente a membrana foi bloqueada com tampão bloqueador (tampão fosfato

    salino (PBS) contendo 5% de leite em pó) e foi deixada por 16 h a 4 ºC. Em seguida,

    a membrana foi incubada com o anticorpo primário contra a defensina isolada de

    sementes de P. vulgaris (1:500), diluído em tampão (PBS contendo 5% de leite em

    pó e 0,1% de Tween 20) por 1 h, sob agitação e em temperatura ambiente. Após

    esta incubação com o anticorpo primário, foram feitas 5 lavagens de 5 min cada,

    com tampão de lavagem (PBS contendo 0,1% de Tween 20). Ao término desta

    lavagem a membrana foi incubada com o anticorpo secundário (1:2.000), conjugado

    com peroxidase, diluído em PBS contendo 5% de leite em pó e 0,1% de Tween 20

    por 1 h, sob agitação e em temperatura ambiente. Após esta incubação foram feitas

    mais 5 lavagens de 5 min cada em tampão de lavagem. Ao término destas lavagens,

    foi feita a revelação com diaminobenzidina (DAB) imergindo a membrana na solução

    reveladora (Tris-HCl 40 mM, pH 7,5, DAB 1 mg.mL -1, imidazol 100 mM e peróxido

    de hidrogênio 0,03%) até a visualização das bandas marcadas.

  • 4.5 - Ensaio de inibição da germinação de esporos fúngicos em meio líquido

    4.5.1 - Obtenção de esporos de fungos filamentosos

    Os fungos F. oxysporum, F. solani, F. laterithium foram transferidos do

    estoque e colocados para crescer em uma placa de Petri contendo ágar Sabouraud

    por aproximadamente 15 dias a 30 ºC. Após esse período, 10 mL de caldo

    Sabouraud foram vertidos sobre a placa contendo os fungos e os esporos foram

    liberados com o auxílio de uma alça de Drigalsky. Essa suspensão foi devidamente

    filtrada em gase para evitar a passagem de restos miceliais que pudessem estar em

    solução juntamente com os esporos. Esses esporos foram então quantificados em

    câmara de Newbauer, na presença de um microscópio óptico (Gomes et al., 1998).

    4.5.2 - Análise da inibição do crescimento dos esporos fúngicos

    Em placas de cultura de células (96 poços), contendo 200 µL de meio de

    cultura caldo Sabouraud, foi adicionada PvD1 em concentrações de 25, 50 e 100

    µg.mL-1 (D1 da DEAE) e 1 x 104 esporos.mL-1 dos fungos filamentosos F.

    oxysporum, F. solani e F. laterithium. Para a observação da inibição do crescimento

    dos fungos, foi determinada a densidade ótica calculada a partir de leituras em “um

    leitor de ELISA” a 670 nm a cada 6 h, por um período de 60 h. Todo o ensaio foi feito

    em triplicata e sob condições de assepsia em capela de fluxo laminar, segundo

    metodologia adaptada de Broekaert et al. (1990).

    4.6 - Avaliação do mecanismo de ação da PvD1 sobre fungos

    4.6.1 - Efeitos da defensina isolada PvD1 sobre a permeabilização de membranas

    de fungos filamentosos e leveduras

    A permeabilização da membrana das células tratadas com PvD1 foi avaliada

    através da utilização do corante fluorescente SYTOX Green, segundo metodologia

    descrita por Thevissen et al. (1999) com algumas modificações. SYTOX Green é um

    corante que possui alta afinidade para ácidos nucléicos e penetra em células apenas

    quando sua membrana está comprometida. Imediatamente após 24 h de crescimento,

    na ausência e presença de PvD1, uma alíquota das diferentes células de leveduras foi

    incubada sob constante agitação por duas horas com o corante fluorescente SYTOX

    Green a uma concentração final de 0,2 µM, de acordo com instruções fornecidas pelo

    fabricante. Após este período, estas células foram transferidas para lâminas, cobertas

  • com lamínulas e analisadas por fluorescência em microscópio óptico (Zeiss; Axioplan).

    As imagens foram obtidas através do microscópio Axioplan acoplado à câmera

    “Cannon Power Shot A640”.

    4.6.2 - Análise do efeito da defensina isolada PvD1 sobre a inibição da

    acidificação do meio induzido por glicose por células de levedura

    4.6.2.1 - Manutenção e preparo das células

    Células das leveduras C. albicans e S. cerevisiae foram transferidas do ágar

    inclinado (estoque) para placas de Petri contendo ágar Sabouraud, onde cresceram

    por três dias a 30 °C. Após este período, 4 mL de meio de cultura líquido foram

    vertidos sobre as colônias e as células ressuspensas e homogeneizadas com o

    auxílio de uma pipeta. Posteriormente, 5 µL dessa suspensão celular foram

    adicionados em 200 mL de meio de cultura (caldo Sabouraud) e mantidas sob

    intensa agitação a 30 °C por aproximadamente 16 h. Após este período de

    crescimento, o material foi centrifugado a 3.000 x g por 5 min a 4 °C. As células

    precipitadas foram lavadas com água ultra pura e centrifugadas a 3.000 x g por 5

    min a 4 °C, sendo este procedimento repetido três vezes, para que todo o meio de

    cultura fosse retirado. Ao final das lavagens, as células precipitadas foram

    ressuspensas em 3 mL de água ultra pura e utilizadas no ensaio de inibição da

    acidificação do meio por células de leveduras (Gomes et al., 1998).

    4.6.2.2 - Ensaio de acidificação

    Células de C. albicans e S. cerevisiae (107 células.mL-1) foram pré-incubadas

    em diferentes tempos (1, 2 e 4 h) em meio contendo tampão Tris-HCl 10 mM pH 6,0

    na presença e na ausência da PvD1 em duas diferentes concentrações (100 e 200

    µg.mL-1). Após os períodos de pré-incubação, foram adicionados 200 µL de glicose

    0,5 M e em seguida foram feitas leituras do pH a cada minuto por um tempo de 30

    min.

    Este ensaio foi feito em triplicata e os cálculos de ∆pH foram feitos para

    determinar a porcentagem de inibição obtida com o experimento. O volume final do

    ensaio foi de 1 mL.

    Todo o ensaio foi feito segundo metodologia adaptada de Gomes et al.

    (1998).

  • 4.6.3 - Efeitos da defensina isolada PvD1 sobre a indução da produção endógena

    de espécies reativas de oxigênio (ROS) em células de C. albicans

    A indução da produção endógena de ROS em células da levedura C. albicans,

    tratadas com a defensina PvD1 após ensaio de inibição do crescimento, foi avaliada

    através da utilização do corante fluorescente 2’,7’ diclorofluoresceína diacetato,

    segundo metodologia descrita por Aerts et al. (2007) com algumas modificações.

    Imediatamente após 24 h de crescimento, na ausência e presença da PvD1, uma

    alíquota foi incubada sob constante agitação por 2 h com o corante fluorescente a uma

    concentração final de 20 µM, de acordo com instruções fornecidas pelo fabricante.

    Após este período, estas células foram transferidas para lâminas, cobertas com

    lamínulas e analisadas por fluorescência em microscópio óptico (Zeiss; Axioplan). As

    imagens foram obtidas através do microscópio Axioplan acoplado à câmera “Cannon

    Power Shot A640”.

  • 5. RESULTADOS

    5.1 - Purificação da defensina

    A cromatografia em coluna de troca iônica DEAE-Sepharose da F/0-70 obtida

    por extração protéica das sementes de P. vulgaris, apresentou dois diferentes picos

    denominados D1, que foi eluído com o tampão de equilíbrio da coluna, e D2, que foi

    eluído com o tampão de equilíbrio da coluna acrescido com 1 M de NaCl (Figura 2).

    No pico D1, encontra-se presente a defensina PvD1 previamente isolada de

    sementes de feijão comum como descrita por Games et al. (2008). Este pico foi

    então dialisado, liofilizado e utilizado para eletroforese, ensaios de inibição de

    crescimento de fungos filamentosos e ensaios de acidificação induzido por glicose

    por células de leveduras.

    Figura 2 – Cromatograma da F/0-70 de sementes de feijão comum obtido após

    cromatografia em coluna DEAE–Sepharose. A coluna foi previamente equilibrada com

    tampão Tris-HCl 20 mM pH 8,0. D1 foi eluído da coluna com tampão de equilíbrio, D2 foi

    eluído com tampão Tris-HCl 20 mM contendo 1 M de NaCl. O fluxo foi de 60 mL.h-1 e foram

    coletadas frações de 3 mL em cada tubo, em um total de 50 tubos.

    0

    0,2

    0,4

    0,6

    0,8

    1

    1,2

    1,4

    1,6

    0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

    Tubos

    Absorbância, 280nm

    D1

    NaCl 1 M

    D2

  • Para confirmar se realmente o pico D1 continha apenas a defensina PvD1, o

    pico D1 obtido na cromatografia de DEAE-Sepharose, foi submetido a uma

    cromatografia de fase reversa em coluna C2C18. Esta mostrou a presença de

    apenas um único pico majoritário denominado H1 (Figura 3). Este pico foi então

    dialisado, liofilizado e utilizado para a produção de anticorpos policlonais contra a

    defensina isolada.

    Figura 3 – Cromatograma obtido após cromatografia de fase reversa em coluna C2C18 em

    HPLC do pico D1 obtido após cromatografia em DEAE-Sepharose. A coluna foi equilibrada

    com uma solução de TFA 0,1% e a amostra foi eluída utilizando-se um gradiente de

    acetonitrila 80%-TFA 0,1% de 0 a 100%, a um fluxo de 0,5 mL.min-1. O padrão de eluição

    dos peptídeos foi monitorado a 220 nm.

    Gradiente de acetonitrila

    100%

    0%

    H1

    Tempo, min

  • 5.2 - Eletroforese em gel de tricina na presença de SDS

    As proteínas presentes na F/0-70 e também nos picos obtidos após

    cromatografia de troca iônica DEAE-Sepharose e cromatografia em coluna de fase

    reversa C2/C18 foram inicialmente analisados em gel de tricina, como pode ser

    observado na figura 4. A F/0-70, representada na raia 2 apresenta diversas bandas

    de peptídeos com diferentes massas moleculares, na raia 3 foi observada a

    presença de apenas um único peptídeo (defensina PvD1 previamente isolada por

    Games et al., 2008), na raia 4 foi observada a predominância de proteínas de alto

    peso molecular e na raia 5 está o perfil eletroforético da defensina isolada após

    cromatografia em coluna C2/C18. Foi observada a presença única da defensina de

    aproximadamente 6 kDa. As amostras foram tratadas com β-mercaptoetanol.

    Figura 4 – Visualização eletroforética em gel de tricina na presença de SDS da F/0-70 e dos

    picos obtidos após cromatografia de troca iônica DEAE-Sepharose e cromatografia em

    coluna de fase reversa C2C18. Todas as amostras foram tratadas com β-mercaptoetanol. M

    - marcador de massa molecular (kDa); F – fração 0-70 obtida de sementes de feijão comum;

    D1 – pico não retido obtido em DEAE-Sepharose; D2 – pico retido em DEAE-Sepharose,;

    H1 – pico obtido após cromatografia em coluna C2C18 em HPLC.

    kDa M F D1 D2 PvD1

    16.9 14.4

    10.6 8.1

    6.2

    M F D1 D2 H1 B

  • 5.3 - Western Blotting

    Várias estratégias e metodologias com uso de diferentes animais

    (camundongo, porco-da-índia e galinha) foram utilizadas para se obter um anticorpo

    que reconhecesse a PvD1. Através da metodologia descrita por Steinbuch e Audran,

    1969, utilizando coelhos, foi possível obter um anticorpo que reconhecesse a PvD1.

    O pico H1 obtido na cromatografia de fase reversa em coluna de HPLC foi utilizado

    na imunização de coelho para a produção de anticorpos contra a defensina PvD1

    isolada de sementes de P. vulgaris. Através da técnica de Western Blotting, foi

    observado na figura 5, o reconhecimento da defensina isolada PvD1 pelo anticorpo

    produzido, tanto no soro imune quanto na IgG purificada, enquanto que no soro pré-

    imune e no soro controle não houve qualquer reação imunológica.

    Figura 5 – Western Blotting do anticorpo produzido em coelhos contra a defensina PvD1

    isolada de sementes de P. vulgaris. 1 – Soro imune; 2 – Soro pré-imune; 3 – IgG purificada

    e 4 – Soro controle. Foi utilizada uma concentração de 1:500 com todos os soros testados.

    2 1 4 3

  • 5.4 - Análise da inibição do crescimento de esporos fúngicos em meio líquido

    Na figura 6 (A-C), foi observada o efeito da defensina PvD1 isolada de

    sementes de P. vulgaris sobre o crescimento dos fungos F. oxysporum, F. solani e F.

    laterithium. Notou-se que a PvD1 apresentou um efeito inibitório sobre o crescimento

    de todos os fungos filamentosos testados F. oxysporum, F. solani e F. laterithium

    especialmente nas duas concentrações maiores utilizadas (50 e 100 µg.mL-1), sendo

    que a inibição foi mais acentuada na presença de 100 µg.mL-1 da defensina PvD1

    para os fungos F. oxysporum e F. solani quando comparada com as outras

    concentrações utilizadas. Pode-se notar também que, utilizando concentrações

    maiores que 100 µg.mL-1 da defensina PvD1 é que iremos atingir seu IC50 (tabela 2).

    Figura 6 – Curva de crescimento mostrando a alteração do crescimento dos fungos

    filamentosos (A) F. oxysporum, (B) F. solani e (C) F. laterithium na ausência (controle) e na

    presença da defensina isolada PvD1, obtida após cromatografia em coluna de DEAE-

    Sepharose. O crescimento foi observado até 60 h. (-♦-) Controle; (-■-) 25 µg.mL-1, (-▲-) 50

    µg.mL-1 e (-x-) 100 µg.mL-1. Os experimentos foram realizados em triplicata.

    0

    200

    400

    600

    800

    1000

    0 6 12 18 24 30 36 42 48 54 60

    T empo (h)

    B

    0

    200

    400

    600

    800

    1000

    0 6 12 18 24 30 36 42 48 54 60

    Tempo (h)

    A

    C

    0

    200

    400

    600

    800

    1000

    0 6 12 18 24 30 36 42 48 54 60

    T empo (h)

  • Tabela 2. Atividade antifúngica da defensina PvD1

    Fungos filamentosos Valores de IC50 (µµµµg.mL-1)*

    Fusarium oxysporum > 100

    F. solani > 100

    F. laterithium > 100

    * Concentração de proteína mínima necessária para se obter 50 % de inibição do crescimento

    após 60 h a 30 ºC.

    Em recente trabalho publicado por Games et al. (2008), foi visto que a

    defensina PvD1 inibiu significativamente o crescimento das leveduras C.

    parapsilosis, P. membranifaciens, C. tropicalis, C. albicans e K. marxiannus nas

    concentrações de 25, 50 e 100 µg.mL-1, enquanto que para as células da levedura S.

    cerevisiae, observou-se uma acentuada redução no cres