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Rio Grande do Sul Trovadoresco

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Trovas de trovadores do Rio Grande do Sul

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COLEÇÃO MEMÓRIA VIVA

e-Livretos Publicados

Ceará TrovadorescoMinas Gerais TrovadorescoParaná Trovadoresco (Livreto 1)Paraná Trovadoresco (Livreto 2)Rio Grande do Norte TrovadorescoRio Grande do Sul TrovadorescoRio de Janeiro TrovadorescoSanta Catarina Trovadoresca São Paulo Trovadoresco

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Sumário

Alice Cristina Velho Brandão (Caxias do Sul).....................................................6Amália Marie Gerda Bornheim (Caxias do Sul)..................................................9Arnaldo Damasceno Vieira (Porto Alegre)........................................................11Carlos Cavaco (Santana do Livramento)............................................................13Carmem Luisa Pio Da Silva (Porto Alegre).......................................................15Cláudio Derli Silveira (Porto Alegre).................................................................17Clênio Borges (Porto Alegre).............................................................................24Conrado da Rosa (Porto Alegre)........................................................................26Delcy Rodrigues Canalles (Porto Alegre)...........................................................30Doralice Gomes da Rosa (Porto Alegre)...........................................................38Eloy Maria de Oliveira Fardo (Caxias do Sul)...................................................46Flávio Roberto Stefani (Porto Alegre)................................................................48Hector da Costa Freitas (Bagé)...........................................................................56Horacel Cordeiro Lopes (Porto Alegre)............................................................59Ialmar Pio Schneider (Porto Alegre)..................................................................61José Barros Vasconcelos (Porto Alegre)............................................................69

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José Westphalen Correa (Cruz Alta)..................................................................72Jussara Custódia Godinho (Caxias do Sul)........................................................74Lacy José Raymundi (Garibaldi).........................................................................79Lisete Johnson (Porto Alegre)............................................................................87Lydia Lauer (Caxias do Sul)...............................................................................93Lola de Oliveira (Porto Alegre)..........................................................................96Luiz Machado Stábile (Uruguaiana)...................................................................99Manoel Martim Batista (Guaíba)......................................................................107Maria Brasil De Leão (Porto Alegre)...............................................................109Marília Silveira (Porto Alegre)..........................................................................111Mário de Morais Paiva (Uruguaiana)...............................................................114Mário Quintana (Alegrete)...............................................................................117Marisa Vieira Olivaes (Porto Alegre)...............................................................120Marlê Beatriz Araujo (Viamão)........................................................................128Milton Sebastião Souza (Porto Alegre)............................................................136Múcio Scévola Lopes Teixeira (Porto Alegre).................................................144Neoly de Oliveira Vargas (Sapucaia do Sul)....................................................148Nilza Castro (Porto Alegre)..............................................................................154Olga Maria Dias Ferreira (Pelotas)...................................................................156

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Severino Silveira de Souza (Tapes)..................................................................158Sophia Irene Canalles (Porto Alegre)..............................................................163Wilma Mello Cavalheiro (Pelotas)...................................................................167Sobre o Livreto.................................................................................................175Direitos Autorais...............................................................................................176Biografia de José Feldman................................................................................177

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Bocadinhos de saudadecobertos de nostalgia

são pura felicidadecom que nos brinda a magia!

Enquanto a vida se enfeita com sorrisos e amizades, vou preparando a colheita

das lembranças e saudades

No coração há magiae o futuro é uma promessa...

No labor de cada diaa esperança recomeça!

No refúgio de teus braços encontro a felicidade,

mas, longe de teus abraços, viro refém da saudade!

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Numa colcha de retalhos costurei nossas lembranças

e alinhavei os atalhos com a linha da esperança.

O carinho revelado por teus olhos, com meiguice, ficou mais que comprovado, mesmo que a boca mentisse!

Pra conquistar sua amadaatacou de violeiro;

a seresta foi cortadapor um chute no traseiro...

Que saudade dos brinquedosdo meu tempo de criança,tendo os risos e folguedos

como arautos da esperança.

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A colheita da estação, junto aos vastos parreirais,

traz a marca e o coração dos mais nobres ancestrais...

Cada semente lançada, com amor e com cuidado,

traz a colheita sagrada do sonho mais esperado.

Cores englobam a terrana mais profunda harmonia!

Quando o sol se põe, na serra,o céu é pura magia...

Os postes, tão perfilados,parecem carregar cruzes...

Mas brilham, transfigurados,quando acendem suas luzes...

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Em voluptuosos adejos, num ardor jovial e moço,

deponho um colar de beijos na curva do teu pescoço!

Os filósofos, os sábios virão à nossa procura,

para ouvir de nossos lábios o segredo da ventura!

Quantos séculos de lutas não levou a natureza

a formar das coisas brutas tua divina beleza!

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A própria espuma negreja na boca do cão que late.

O covarde - é o que apedreja; o valente - é o que combate.

É preferível o insulto que a um nome puro retalha,

a ter que ouvir e dar vulto a elogios de um canalha!

Vivo feliz, satisfeito, sem vaidades e sem luxo, sentindo bater no peito meu coração de gaúcho.

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Lembro tanto a minha infância e a saudade me conduz,

aos cafés de nossa Estância, nas manhãs cheias de luz.

Na primavera florida, com as ruas cheias de graça, lembro da infância querida,

atrás daquela vidraça.

Olhando o mar na vidraça e a cadência das palmeiras,

embalo um sonho que passa, atravessando fronteiras!

Poema: gotas de amor, que saltam do coração, lavam alma, calam dor, com efeito de oração.

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Bebo uísque, vinho, rum, bebo até cachaça pura.

Não bebo por ser bebum, mas por gostar da tontura!

Calma, meu amigo, calma, nem tudo é assolação;

às vezes, faz bem à alma, um pouco de solidão...

Da Tribuna, manda o aviso: - Não roubo por ser ladrão, tampouco porque preciso, mas por coceira na mão!

Discursava um orador...e o gaiato da cidade...- A propósito, doutor,

dá chute o “pé de igualdade”!

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Do bom caminho, “seu” Padre,só me desvio um pouquinho...

pois as curvas da comadresão “trechos” de mau caminho!

Eis a vida, eis os caminhos...na missão de precursores:o sábio evita os espinhos,e o tolo... pisa nas flores!

Ela diz do namorado,ao conversar com alguém,

que o rapaz é “bem armado”mas não dá “tiro” em ninguém!

Eu deixo esse amor desfeitoe sigo novos caminhos,levando sonhos no peito

e a esperança dos sozinhos.

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É uma tremenda farrao escurinho da pracinha:

o “gato” mostrava a “garra”pra “cachorra” da vizinha...

Eu deixo este amor desfeito e busco novos caminhos, levando sonhos no peito

e a esperança dos sozinhos!...

Foi uma infeliz jogadado goleiro Zé Maria:a bola que foi chutada

foi a que ele não queria!

Imitando o meu lamentopor quem não me preza mais,

ouço a voz triste do ventona plataforma do cais!...

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Meu sonho de piá desperto,nas cinzas tardes de outono,

era laçar, campo aberto,os ventos xucros sem dono!

Na "madruga" o patrãozinho vai ao quarto da empregada, bate à porta e diz baixinho:

- "É o fantasma camarada..."

Na minha visão de crítico, sem fazer conceito novo,

nasce sempre o mau político da ignorância do povo!

Os romances me comovem...E, embora com pé na cova,

“gato” velho vira jovemnos braços de “gata” nova!...

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O Zé é número umem tomar “fogo” de pura.Não toma, por ser bebum,mas por gostar da tontura.

Porto Alegre me sorri, vestida de multicores... Não sou natural daqui,

mas tenho aqui meus amores...

Sopra, ó vento, as nuvens rasas,pelo verde pampa em flor,

transportando em tuas asasmeus sonhos de trovador!

Sou irmão dos vendavais,dos mares que naveguei,deixando de cais em caisamores... que conquistei!

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Tomo a cruz do meu destino que me cabe, por missão,

sem deixar o desatino sobrepujar-me a razão!...

Tua altivez te desbotae a própria alma esvazia:fazer, da minha derrota

tua maior euforia...

Viúva quando assanhada,apela pro desafogo.

É como lenha molhadaque chora... mas prende fogo!

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Aquele gato assanhadoque namorava a gatinha

sempre escalava o telhadopara espreitar a vizinha.

Deu um chute na namoradasó porque a gostosonafoi vista de madrugada

tentando pegar carona...

Deu chute no namoradomas durou pouco a alegria,

pois soube que o desprezadoacertou na loteria.

Penso que assim como os trilhos levam e trazem o trem,

o pai conduz os seus filhos pelo caminho do bem.

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Depois de tanto gemido,sem saber mais quem é quem,

a cama sem um rangidoconsegue dormir também.

Essa lourinha tem jogo,é lamparina sem fio

pois, quando ela prende fogo,acende qualquer pavio.

Minha mulher bate o pé,quer um fogão bem novinho.

E que tenha chaminéigualzinha a do vizinho.

Não sofri ao ser libertodo teu feitiço, querida,

porque Deus escreve certonas linhas tortas da vida.

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O meu chimarrão, componhoquando a lua, ainda na estrada,

reponta a tropa do sonhonas brumas da madrugada.

Ó meu Deus, como sou feio, tão na flor da mocidade!

Mas juro que não me apeio do matungo da vaidade...

O vovô muito assanhadonão dorme sem um xodó...gemendo, o velho safadonão dá sossego à vovó.

Quem pilota este navio, nas crespas ondas da crise?

Hoje se anda por um fio, por mais que se economize!…

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Se o fogo do amor tá mortoe o cupido andar por perto,

mesmo o arco estando torto,sempre atinge o alvo certo.

Sou pescador da lembrança.A saudade é uma jangada.

- Sem mastros, sem esperança,regressa à praia sem nada.

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A Via – Láctea sorria,deitando luzes no chão...

Era o parto da poesiana obra da criação!

Caminhando pelos trilhos em noites enluaradas,

as estrelas lançam brilhos, que salpicam as estradas!

Chimarrão! Hoje eu proponhodo meu querer, dar-te prova:

beber-te em "bomba" de sonhona "cuia" da minha trova!

De tão magra, dava mágoa,pois, quando a chuva caía,

passava entre os pingos d'águae a pintura nem saía…

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Do meu destino não fujo;o que eu quero é rosetar,

pois pra um valente marujonão faltam mulher e mar!

Ele ficou conhecidoem sua comunidade

pelo mau chute exibidona pelada da cidade!

Em meu mar, o sol se pondoem feitiço se agiganta,

de emoção choro e respondonuma lágrima que canta!

Empilhados na memória,um a um, mesmo à distância,

escreveram linda históriaos meus brinquedos de infância!

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Eu sou senhora das horasde encantamentos sem fim...

e o feitiço das auroraspinta aquarelas em mim!

Gemia o seu Fortunato,eu que o conheço, que o diga,

tentando atar o sapatono outro lado da barriga!

Jovem mal intencionadoquis ganhar algum dinheiro

e escreveu: Gato saradoquer deixar de ser solteiro!

Meus dias, antes tristonhos,mudaram, hoje confesso,

pois com pedaços de sonhos,arquitetei teu regresso.

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Não te demores, meu filho,- Feitiço da minha vida -

pois a noite sem teu brilhose torna bem mais comprida!

No imenso mar de ternura eu fiz pescarias novas:

cheguei a pescar ventura com meu caniço de trovas.

No mar bravo e enfeitiçadodo meu ego mais profundo,

tento afogar, assustado,os tubarões do meu mundo!

No mundo da fantasia,construo lindos castelos,e, nessa minha euforia,

eu sonho os sonhos mais belos!

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Nos mares da fantasiae em lagos, os mais diversos,

jogando a luz da poesia,pesquei cardumes de versos!

Num mar de grande euforiaeu quisera navegar:

em versos... rimas... poesia,com meu caniço pescar!

O coitado sucumbiasob um sol por demais quente.

Mais água, o bebum pedia,mas só queria água ardente!

Papai Noel, com carinho,eu te peço, por favor:

põe em cada sapatinhouma gotinha de amor!

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Pelos caminhos sem fimque a vida me fez trilhar,

fiquei perdida de mim,sem conseguir me encontrar!

Piro que o fogo do infernoera aquele pesadelo...

Ela... verão. Ele... inverno.Ela era fogo. Ele... gelo!

São atrizes as estrelasque encenam peças ao léu...

Ah! Como é bom poder vê-lasno imenso palco do céu!

Sou a seiva da esperançano seio branco ou de cor!

Eu alimento a criança,seja a mãe da cor que for!

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Uma "bomba" de luarese uma "cuia" de afeição...Eis as formas singularesde se tomar chimarrão!

Um gemido de dar medo,eu ouvi... que coisa estranha!

Cravou o espeto no dedo,em vez de ser na picanha!

Um golezinho somente,do teu licor de ternura,

para minha alma que sentetanta sede de ventura!

Um gostinho de licor- num tom da cor das amoras -

tinham seus beijos de amor,embriagados de auroras!

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A frágil rosa em seu galhodepois que o vento passou,

desfolhou-se sobre o orvalhoque a madrugada deixou.

A franga sente o perigo,vendo o frango já galeto,diz a ele: eu vou contigo

pra rodar no mesmo espeto.

A mulher grita, se zangaquando o marido, afobado,

invés de soltar a franga,solta um frango congelado.

Anda estranho meu gatinho,parece coisa mandada,

na cama nenhum beijinho,é só rom-rom e mais nada.

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Aquela coroa enxuta, mal anoitece, ela sai,

dizendo que vai à luta - só Deus sabe onde ela vai!

As lembranças e euforiados folguedos de criançagravei no peito em poesiaonde a saudade descansa.

Brigamos qual cão e gatosem razão, sem um motivo.Ele me arranha, eu lhe bato,mas sem meu gato não vivo.

Cai a chuva e com malícia, num jeito todo atrevido,

vai moldando com perícia teu corpo sob o vestido.

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Hoje, nós dois, no abandono; perdidos, sem mais escolhas:

– dois galhos secos no outono que o vento varreu as folhas.

Já fui frango revoltado,sono, rei do meu terreiro.Hoje, velho, aposentado,

nem subo mais no poleiro.

Mais um Natal se anunciae em minha mesa hoje tem:

uma cadeira vaziaa esperar por quem não vem.

Marujo ao pisar na areiatraz do mar lendas estranhas,

nunca viu uma sereiamas fisgou muitas piranhas.

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Marujo velho, o Raimundoquando em vez dá uma ensaiada,

levanta a vela e vai fundomas qual, só nada, mais nada!

Meninas, eis um conselho: vêde bem por onde andais!

A honra é como um espelho, se quebrar, não cola mais...

Minha gata por caprichoronda o gato do vizinho.

Mas o danado bichosai miando e bem fininho.

Na ilusão de ser amado,sonho a grandeza dos sábios,

bebo o licor do pecadono cálice dos teus lábios.

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Não quero saber de intriga pois cheguei à conclusão: é melhor viver sem briga, do que brigar com razão!

Nesta taça de licortransbordando de ternura,brindaremos nosso amor,nossos sonhos de ventura.

Nosso amor é um triste enredoque o destino emaranhou,

fez de nós dois um brinquedoque em tuas mãos se quebrou.

O bebum, num corrupio,cheio de pinga e de mágoa,não percebendo o desvio,

se foi com os burros n’água.

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O capeta à Terra veio, fugindo do fogo eterno

e ao ver o mundo tão feio, voltou correndo pro inferno.

O frango muito fuleiropula o muro, canta grosso,vai ciscar noutro terreiroe acaba virando almoço.

Para brindar a partidade alguém que já não me quer,

bebo o champanha da vidanos lábios de outra mulher.

Pra sorrir não tenho hora... nas mágoas não me concentro;

mostro um sorriso por fora, mesmo chorando por dentro.

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Quando a sogra vem chegando,com olhar de cobra mansa,

eu corro, me desviando,mas ela sempre me alcança!

Quando eu cruzar a porteira para o plano do infinito, levarei minha bandeira

com meu protesto e meu grito!

Sogra boa - não se iluda! Se existiu, morreu à míngua.

A não ser que seja muda e a boca não tenha língua.

Teu amor é uma jangada que aportou com muito jeito

e agora vive ancorada nas amarras do meu peito.

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Já livre da catarata,virando a casa do avesso:

“Abra o quarto, sua ingrata,esse gemido eu conheço!...”

Livro bom é como o trigo: hóstia branca, pão dourado

Na solidão, é o amigo que vem dormir ao teu lado...

Tudo parecia certo. De longe, o clone era igual. Porém, olhando de perto, faltava-lhe... "o principal”

Vem o dia! Escuto a orquestra da passarada canora! Sabiá fez hora extra

e foi encontrar a aurora!

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Abaixo a guerra entre irmãos! Plantemos a paz somente.

- Quem tem sementes nas mãos não tem granadas na mente.

Brancos, negros e amarelos,se a causa é justa e loquaz,juntam braços, que são elos

forjando as cores da Paz!

Brinquedos bons eu não tinha,mas sabia achar maneira,e com latas de sardinha

eu tinha uma frota inteira.

Brinquedos de guerra, não,pois quem brinca de matar,amanhã – de arma na mão -,

vai matar para brincar!

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Chuta o balde a Dona Mimaporque o marido, Vavá,

em vez de partir pra cima,vai pra baixo do sofá...

Com malícia, a lua cheiavestiu de luz nosso leitoao te ver desnuda, alheia,

aconchegada em meu peito.

Destino cruel se encerraneste turismo obsoleto:

quando o frango sobe a serra,não desce - vira galeto!...

De surpresa, muitas vezes, vinha o noivo da vizinha...

e depois de nove meses, nasceu uma surpresinha...

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È mais feliz a criançaque recebe amor profundo,pondo luzes de esperança

no quarto escuro do mundo.

Embora rudes e escassosos bons atos, em geral,

o Natal recria laçosnum simples “Feliz Natal!”

Em ternura plena e extrema, nossos sonhos se cruzaram.

E a noite se fez poema... E os versos também se amaram!

Entre os licores mais purosque a vida me fez provar,

estão os lábios escurosque me deixaste beijar.

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É tão nojenta a franguinha,tão cheia de blablablá,

que se um dia for galinha,nem raposa a comerá…

Eu, boêmio sem comando, nos dias mais enfadonhos,

passo os dias chimarreando na varanda dos meus sonhos!

Ganha contornos de festa,de festa vira euforia,

quando Deus se manifesta,abrindo os olhos do dia!

Garibaldi, esses vinhedosdão vinhos com tal sabor,

que o licor dos teus segredosestá no próprio licor.

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Gerador de paz e calma, que dispensa cerimônia,

o livro é o jantar da alma nas noites claras de insônia.

Já velhinho, o marinheiro,que foi das ‘gatas’ xodó,hoje só e sem dinheiro,

levanta a âncora... e só!...

Não tem cura, é de matar,bebe tanto o Zebedeu,

que outro dia foi trocarseu nome pra “Zebebeu”...

Na pescaria, de fato,notei teu jeito chinfrim,mas o olhar era de gato:

um no peixe e outro em mim...

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Nascedouro de certezas e ninho de inspiração,

a lua afasta as tristezas, pondo paz no coração.

No abandono das marquises,meninos dormem de mão,fingindo que são felizesnos braços da solidão.

Quando a euforia me invade,

nas luzes do amanhecer,puxo a corda da saudadepara esticar meu viver.

Queres falar de bem perto à mãe da sabedoria?

Procura o balcão aberto de uma boa livraria.

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Se a violência é demais,num mar que não se detém,pega o rumo de outro cais,onde o amor ancore o bem.

Sendo forte, sendo inquieta,com requintes de magia,a trova é o cais do poeta,onde se amarra a poesia!

Sendo mal utilizada, a liberdade, no fundo,

não dá tiros, não dá nada, mas fura os olhos do mundo!...

Vendo a franga em sério apuro,grita o guri, na janela:

- Mamãe, o galo, eu lhe juro,vem vindo a cavalo nela...

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Barulhentos, chapinhando passam autos, de onde em onde.

Esta vida, vou pensando, sacoleja como um bonde.

Brinca o luar, serpenteia na espuma branca do mar.

E no mar logo se ateia todo o incêndio do luar!

Do teu amor não sou dono, nem também do meu tormento.

Peço ao álcool me dê sono, peço ao sono esquecimento.

Há no teu porte galante de talhe grego, preciso,

qualquer coisa anunciante de um sonhado paraíso.

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Sabeis do amor o que penso? - É uma linda criatura, vive só de contra-senso e na terra pouco dura!...

Toda cantiga de amor, por mais triste não fatiga. O que nos traz dissabor

é o amor que se mendiga!

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A mulher é uma charada difícil de decifrar:

quando se vê muito amada, perde a vontade de amar...

Dizem que o ciúme envenena, é um mal de difícil cura;

mas, se o sensato o condena, ansioso, o louco o procura...

É bem difícil de ver um asno virar patrão

mas, na vida, pode crer que o ouro faz a inversão…

Peixinho que muito salta cai na rede, sem querer;

é como mulher que exalta predicados, sem os ter...

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A esperança, nesta vida,É tudo que nos conduz,Pela estrada florescida

De sonhos de amor e luz !…

Andei por árduo caminhono qual não quero andar mais;

e voltei para o meu ninhocomo voltam os pardais…

Ao tentar criar poemaspara contar minha história,

me deparei com dilemasna fase contraditória…

Aquela que um dia fezmeu coração palpitar,hoje não saiba, talvez,desta saudade sem par.

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Busco na trova a harmoniapara equilibrar a vida;é o resumo da poesia

em quatro linhas contida.

Contigo no pensamento,eu vou compondo esta trova,

porque neste sentimentominha paixão se renova.

Coração aventureiro,vive sonhando um amor,que pode ser verdadeiro,

infeliz ou enganador.

Eu já vou me convencendoque nada sei pra ensinar;

amei tanto e não compreendoo que significa amar.

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Eu te quis com tanto afã,não pude te conquistar;

pela tentativa vã,peço perdão por te amar…

Houve sempre um sentimentoque nunca teve igualdade,

pois surge a qualquer momento,e que se chama saudade.

Meu coração se enternecequando vejo os passarinhos,

no instante que a noite desce,retornarem aos seus ninhos.

Não me compreendes agoraporque no teu lindo rostonenhuma lágrima chora

ao saber do meu desgosto.

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No coração de quem amanão morre nunca a saudade,porquanto é qual uma chama

com fogo da eternidade…

Nosso amor em decadênciafoi findando pouco a pouco;

você com sua demênciae eu me tornando mais louco.

O amor que nasce de um beijoaté pode fracassar,

mas se nasce de um desejovai permanecer no olhar…

Pelos caminhos do amorquantos sonhos e ilusões;

e o que causa dissaborsão as nossas frustrações.

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Penso em ti de vez em quandoe se não posso te amar,

quero somente, sonhandoteus olhares recordar.

Queres me amar, eu aceitoteu bem-querer de bom grado,

porque vivo insatisfeitopor nunca ter sido amado.

Saudade!… palavra vivado que ficou no passado;és o bem que nos cativa

para sempre ser lembrado!

Se eu não sentisse saudadedaquela que tanto quis,

talvez a felicidadenão me fizesse infeliz.

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Segura o pouco que tense amanhã podes ter mais,porque de todos teus bens

preponderam ideais.

Se leres os versos soltosneste livro de lamentos,

que não te assaltem revoltos,infelizes sentimentos…

Sendo um simples aprendizde saber da trova o enredo,

sinto que não sou felize me condeno em segredo.

Se o amor não tem futuroe vive só da esperança,

é qual um tiro no escuroe sem querer você “dança”.

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Se tens amor não escondas,muito sofri por contê-los;ele surge como as ondas

e foge ao não ter desvelo…

Tenho saudade da areiasob o sol a cintilar

e as noites da lua cheiaclareando as águas do mar…

Tuas mãos nas minhas mãosnuma ternura incontida,sinto que não foram vãosesses momentos na vida.

Vens à noite de mansinhoe trazes junto contigoa saudade do carinho

que olvidar eu não consigo.

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A loira, cheia de graça, tem um quê de safadeza,

pois dizem, quando ela passa: - Isso é caixa de surpresa!

Dança o pobre, dança o rico,dança o mundo em confusão,e eu me pergunto: onde fico

nesse baile de ilusão?

Foi na curva do caminho, logo adiante da olaria,

que tu disseste baixinho: “Me agarra, que hoje é teu dia!...”

Mulher é como cachaça,que à simples prova vicia,é fogo e não faz fumaça,aquece e também esfria.

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Mulher é sempre um mistério,não se sabe o seu segredo;brincando ela fala sério,falando sério, dá medo.

Os farrapos pelejaramdeixando saudosa imageme a semente que plantaramfoi exemplo de coragem.

Quando alguém fala em tropeada,nunca falta um maturrango,que se assanha por nonadacomo chinoca em fandango.

- Solta a franga! disse o frangoe foi logo endurecendo:

quem não come desse rangonão sabe o que está perdendo.

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Mesmo no escuro, meu filho,mesmo que durmas também,

eu consigo ver o brilhoque a luz dos teus olhos tem.

Sorriso é o espelho d'alma,diz o dito popular,

mas é preciso ter calmapara, ao sorrir, não chorar!

Todos os anjos que cantamda natureza, a beleza,

são trovadores que plantamsementes de realeza.

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A nossa farta colheitaárduo trabalho revela:

uma estrada tão estreitatornou-se fértil e bela!

A vida é cheia de curvas difíceis de contornar.

As águas, às vezes, turvas tendem a nos enrolar.

Das almas das Trovadoras pingam gotas de paixão; suas veias sonhadoras

são repletas de emoção!

Desde o plantio à colheita quanto trabalho e beleza!

A família satisfeita alegra de uva a mesa!

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Na sociedade burguesa, a situação é precária

poucos têm o pão na mesa é desigual, mercenária.

O Poeta Trovador tem mais do que um coração.

Além de ter muito amor seu peito é pura emoção!

Pelo menos um segredo todas as pessoas têm.

Não fique com tanto medo e não revele a ninguém.

Pra espantar os passarinhos procurei até no mato,

fui por todos os cantinhos, deparei com seu retrato!

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Sou gaúcha de verdade Verdadeira rio-grandense

Eu prezo minha cidade Digo mais: sou caxiense

Só vendo pra acreditar gente boa de montão Vim aqui te convidar

Pra tomar um chimarrão!

Todos juntos de mãos dadas busquemos um mundo novo

cabeças iluminadas trabalhando pelo povo!

Um bom churrasco no espeto Para amigo saborear

Muita Trova e até Soneto Só vendo pra acreditar!

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Vem tomar um chimarrão Amigos e companheiros Um forte aperto de mão Sentimentos verdadeiros

Vinho e uva de montão morro abaixo, morro acima, não estranhe, amigo, não,

é a FESTA DA VINDIMA!

Vou te oferecer amigo Um bom churrasco no espeto

E com orgulho te digo: Faço Trova e até Soneto

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Ali moram quatro viúvasoutrora cheias de graças,

mas, daquelas quatro “uvas”hoje restam quatro “passas…”

A noite estende seu mantode silêncio nos caminhos,

e a aurora quebra esse encanto,pela algazarra dos ninhos...

Ao ver seu joelho bonito,não me contenho, assovio,e ao seu sorriso me excito,e ao ver a ponte... desvio...

Ao ver um homem baixinho, entendo porque não presto, pois penso do coitadinho: -- "Aonde ficou o resto"..."

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Cada níquel que se gasta em armas de fazer guerra

é mais um passo que afasta a Paz da face da Terra!

Cai a noite. O escuro lacra a luz dos olhos tranquilos, e eu ouço a música sacra da serenata dos grilos.

Da dura lida da roça, que bem cedo principia, os estultos fazem troça, os sábios fazem poesia!

Deixo claro nesta pauta:sigo tão só, no caminho,

como segue um astronautaposto no espaço, sozinho.

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Dos teus lábios purpurinoso beijo que me estás dando

lembra um licor dos mais finosque se degusta sonhando!...

É mentira ou é verdade? É verdade ou é mentira?

Se a mulher disser a idade não acredite: confira!...

Esta questão se renovasem solução, lhe asseguro:

por que razões, franga novase amarra em galo maduro?!…

Eu fico pasmo, por certo, vendo Deus, perfeito assim,

esquecer o cofre aberto do perfume do jasmim...

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Felicidade, entrevejona comunhão que componho

entre o vinho do teu beijoe o champanha do meu sonho.

Há, doutor, um repelente, que me livre, volta e meia,

deste perigo iminente do assédio de mulher feia???

Há muito tempo eu suspeito da devoção aparente:

nem sempre uma cruz no peito põe Cristo dentro da gente!

Num gesto brusco e banal, de verdadeira loucura, pinguei um ponto final

numa história de ternura...

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O cravo que foi cravado em cada chaga de Cristo, lamentou ser fabricado

e obrigado a fazer isto!...

O licor que me apetecee não me deixa ressábios,

não vem da vinha ou da messe,vem do rubor dos teus lábios...

Para aplacar meus cansaços, eu, que buscava repouso,

no aeroporto dos teus braços achei meu campo-de-pouso...

Problema, me diz um trouxa, pensando com parcimônia,

é ter a bexiga frouxa em festa de cerimônia...

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Quando os vejo, todo o dia, sempre me espanta, não nego,

perceber no olhar do guia a luz dos olhos do cego!

Se examino meu extratosinto arrepios na espinha,que o juro não é barato

e a conta está ‘vermelhinha”!

Se o teu portão dorme aberto me assanha um louco palpite de que chegando bem perto

vais sussurrar-me um convite...

Sobre o veludo da mesa deslizam sonhos fugazes

ante a total incerteza dos coringas e dos ases. . .

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Taças, champanhas, licores,pelo chão roupas revoltas,

por certo o deus dos amorespor aqui andou às soltas...

Teu amor tem tal formato,estás a mim tão ligada,

como um chicle no sapatoque não desgruda por nada...

Toda mulher que suspeita que tem um marido esperto,

adormece, quando deita, mas mantém um olho aberto...

Tu me pedes que eu aponte o que é distância, em verdade? - Distância é apenas a ponte entre o amor e a saudade!...

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Ao grito dos vigilantes:- Homem ao mar! Seus desviados!...

Dez marujos ofegantesquase morrem afogados!!!

Inconstância é estar contigo, tudo tem duplo valor:

busco o amor, encontro o amigo; busco o amigo, encontro o amor.

Marujos em alto mar,habituados às baleias...

Nas areias... nem pensar!!!Só querem fisgar sereias.

Meu desejo percorreu teu corpo, feito compasso, circulando o que é tão meu na geometria do abraço!...

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Meu gato, todo assanhado,pêlo em pé, todo se estufa,

totalmente apaixonado,e seduz minha pantufa...

Na feira, o “seu” Manuel: – Não vendo nada... Pois, pois! Mas se esgoela: - Olha o pastel,

pague três e leve dois!

No brinquedo “Esconde-esconde”,eu me escondia tão bem,

que, até hoje, não sei onde,eu me escondi...E de quem?

Num arco-íris de cores,fui descendo de mansinho

sem, sequer, pisar nas flores,que plantaste em meu caminho.

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O Jerry, rato travesso,atazanou tanto o gato,

que virou Tom, ao avesso,e fez do gato, sapato!

Os marujos de Cabral,num jejum de carne e afins...

saciaram-se, no geral,com coxas tupiniquins!!!

Ousada, a Lua assistiapelas frestas da janela,

nossos corpos, na euforia,rindo sob os raios dela!

Quando criança, eu ficava olhando o céu, a cismar:

- quem, tão alto, a luz ligava para acender o luar!

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Quando o percurso é distante e os trilhos correm sem fim, é bem nesse exato instante,

que Deus alia-se a mim!

Se a droga traz euforia...Como seria melhor

drogar-se só de alegria,sem lançar mão do pior!

Se a pressa fez-me escolheratalhos e não caminhos,por certo, só vou colher

em vez de rosas, espinhos...

Se, em vez de paredes, pontes eu tivesse construído,

talvez outros horizontes teria então percorrido!...

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Se o Lobo Mau fosse esperto,não tinha pego o desvio!

Em vez da Vovó, por certo,um Chapeuzinho macio!

Singrei mares de agonia, lutei contra vendavais, para achar a calmaria

que só encontro em teu cais.

Teu corpo, lânguida estrada, percorro com meu desejo, no asfalto da madrugada, na trilha de cada beijo!

Um larápio, bem “pé-frio”,ao fugir de um cachorrão,escolheu, logo, o desvioque acabava na prisão!...

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Campos distantes do pagoe cantos de liberdade,

são as lembranças que afagono chimarrão da saudade!

Estão no Livro Sagradoo bem e o mal que se faz.O bem só é conquistadona santa Usina da Paz!

No pago, noite serenae um chimarrão bem cevado.

Ao pé de mim, a morena.Lua cheia do outro lado...

Praia!… Sol! Manhã risonha!O ar vai ficando quente.

Ah! biquíni sem vergonha!Não hã cristão que te agüente!

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Se a cegueira não tem cura,seja luz e caridade!

Para o cego, a mão seguratem valor de claridade!

Só falava entusiasmadona mulher, uma “santinha”.

Hoje cedo, arrepiado,deu flagrante na “galinha”

Vem dos Andes esse vento,de outras pátrias... lá de trás.

“Minuano”, teu lamentosão quero-queros de paz!

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Amor com amor se paga! Dei-te amor e não foi pouco.

Mas tive sorte aziaga, pois fui lesada no troco…

Não digas tanta tolice repassada de maldade.

Coração não tem velhice... Talento não tem idade...

Não tiveste, a vida inteira, teu amor correspondido. É melhor ficar solteira

do que ter um mau marido.

Para ajustar meu vestido não quero fitas nem laços,

mas um cinto, meu querido, formado pelos teus braços.

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Queres, na trova serena, expansões sentimentais? A trova é muito pequena,

meu amor - grande demais!

Soltai para o céu profundo as aves, lá na amplidão...

Pois Deus, quando fez o mundo, não inventou a prisão.

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A causa não foi à toade tão grande quebradeira:

era o “gato” da patroae a “gata” da cozinheira....

A mãe, mulata de festa,o pai, português do Minho,e a grande surpresa é esta:o filho nasceu loirinho...

A surpresa em que ele fica"nessa noite"... nunca vi,pois a noivinha pudica

não disse "ai"... disse "aí"!

A surpresa foi danadapara o pai, pois disse o filho:-Tá curta, velho, a mesada,

vê se dispara o gatilho!.

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A tua volta, querida, é força que me renova;

põe amor em minha vida e euforia em minha trova!

Chora a viúva do Honório que morreu envenenado; e o "veneno", no velório,

"mata" qualquer convidado!

Ela tem barriga d'água?pergunta a mãe, preocupada,e o médico, sem ter frágua:- Mas o peixinho já nada…

Ele era muito "gozado"pela pinta que ele tinha,até que ficou provado:

ele era um frango de rinha

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Espero que permaneças,que não te vás, meu amor,e que de tudo te esqueçaspara um brinde com licor.

Eu duvidei, na verdade,de tudo quanto afirmaste,mas hoje, nesta saudade,

sinto que me enfeitiçaste.

Eu sinto que este chamegopor ti é mais do que isso;

é mais do que amor e chegoa crer que é puro feitiço.

Fazia gato e sapatocom o marido. Coitado!

Mas, uma noite, seu “gato”miou em outro telhado!...

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Iniciou-se muito cedonossa história bela e gratae o que pareceu brinquedo,

são hoje bodas de prata.

Marujo, velho marujo,na lábia dela não vais.Conheces o dito cujo”

e é por isso que não cais.

Nascido de um ovo branco,por preconceito que tinha,queria que o galo, franco,dissesse a cor da galinha...

Numa tarde fria e turva,foi dar uma fugidinha:

Aí... “derrapou na curva”na “condução” da vizinha…

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O fandango dos Menezesfoi tão bem organizado,

que no fim de nove mesescomeça a dar resultados...

O frango, metido a galo,criou tanta confusão,

que acabou sendo “regalo”da panela de pressão.

O frango, muito assustado,fugindo do galinheiro,

passou, no estádio lotado,entre as pernas do goleiro.

O marujo acostumadoàs ondas jamais tonteia,

mas na terra, se ‘molhado”,anda tonto, volta e meia.

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Os colegas do Zé Mário,que é magro, fraco e moreno,

chamam-no “microempresário”pois seu “negócio” é pequeno...

O vizinho, eletricista,ela, dada a calafrios,

bastou-lhe um golpe de vistapra ter choques e arrepios...

Prometeu tudo pra ela:das jóias à lua até.

Casados, deu-lhe panelae um fogão com chaminé!

Que importa a dança das horasque vão céleres passar?

Importa, quando demoras,a hora em que vais voltar.

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Querendo afogar as mágoasvai à pinga, vai ao bar,

mas, como vive nas águaselas já sabem nadar...

Se um dia calar meu cantoe eu não puder mais lutar,

que não me falte, no entanto,coragem para sonhar.

Veloz, corria na praia,despreocupado e ao léu...

Viu uma “curva” sem saia,e só acordou no céu…

“Volto em breve” – eis a promessade todo marujo esperto,e como promete à beça,

não volta nunca, por certo.

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Entre o frango e nós se alinhaesta grande diferença,

pois ser filho de galinhaa eles não é ofensa.

Sina triste o frango tem,de ser morto, pendurado,

e ouvir quando diz alguém:- ele é fresco ou congelado?!

Sofre o frango o desconfortoe humilhado se espezinha

porque, às vezes, após morto,é chamado de galinha...

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Em notas de amor componhonestas noites de recesso,um hino feito de sonho,

para brindar teu regresso.

Estes teus olhos castanhos- mil promessas de ternura,revelam mundos estranhosque têm sabor de ventura.

Numa estranha ambivalênciaa coragem de querer

me causa, na tua ausência,o medo de te perder!

Quantas vezes, nesta vida,sufocando o coração,

buscamos n’alma doridacoragem de dizer “não”.

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A boa literatura, dispensa qualquer tevê,

pois traz no seio a cultura, que a maioria não vê!

Meus sonhos não morrerão tal qual a rosa encarnada, que perfuma, ainda, a mão,

mesmo depois de arrancada.

Não demonstra sensatez, nem na razão se baseia, quem insiste, toda vez,

em brilhar com luz alheia.

Não procure na grandeza nem nas perdições terrenas; por muitas vezes - beleza, está nas coisas pequenas.

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O que a razão determina, eu já nem lembro direito, pois outra força domina

esta pantera em meu peito.

Outrora esta galeria, que armazenava emoção, tornou-se a caixa vazia,

que eu chamo de coração.

Seus manuscritos alastro no chão deste antigo lar a procurar algum rastro de que você vai voltar.

Toda vez que eu te abandono, tu voltas e eu me comovo; tal qual a folha no outono, que cai pra nascer de novo.

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Brigavas tanto comigo, que implorava: - Não prossigas!

Hoje o meu grande castigo é ter saudade das brigas.

Esperança! Eis a ventura que a vida nos concedeu... - O farol que se procura, do rumo que se perdeu!...

Eu sou o judeu errante nestes caminhos da vida,

vendo sempre mais distante a Canaan prometida!

Meu amor é diferente desse amor que tem você;

- você demonstra o que sente, o que eu sinto ninguém vê!

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No momento da partida, a tristeza foi tão forte,

que eu pensei que a despedida fosse o prenúncio da morte!

Partirei, sem mais cuidado, deste mundo, se preciso. - Se estiveres a meu lado,

qualquer ponto é o Paraíso!

Pensei que estava sozinho, fui rever o meu passado. A saudade, de mansinho, veio sentar-se a meu lado!

Resolvido agora estou em dizer-te quem sou eu: - um tolo, que te adorou,

- um sábio, que te esqueceu.

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A história de Pia e Piofoi assim que começou:tanto ele a perseguiu

que ela, um dia, o agarrou...

Em cima do meu telhado,pirulin, lulin, lulin,

um anjo, todo molhado,soluça no seu flautim.

Eu, agora – que desfecho! –já nem penso mais em ti...Mas será que nunca deixode lembrar que te esqueci?

Minha terra tem relógios,cada qual com a sua hora

nos mais diversos instantes...Mas onde o instante de agora?

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Não te abras com teu amigo,que ele um outro amigo tem,

e o amigo do teu amigopossui amigos também...

O relógio vai bater:as molas rangem sem fim.

O retrato na paredefica olhando para mim.

Se tudo aqui é impossível,ai do meu Reino Encantado!...

Pra que palácio invisível,se o mundo está do outro lado?

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A paixão, com seus enredos, quando em "êxtase" se inflama, queima tabus, rompe os medos

do coração de quem ama!

Assombração ou fantasma, nada disso me malogra...

Mas tenho até crise de asma quando avisto... a minha sogra!

À tardinha, mansamente, ofuscando a luz da rua

se encontram furtivamente dois amantes... Sol e Lua...!

A vida que a gente leva... que sempre amena ela fosse;

p'ra cada dia de treva, um bem claro e outro, bem doce!

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Bendigo a tecnologia se usada for para o bem... E que não "mate" a poesia

que todo "feito-à-mão" tem!

Certeiro, de mira boa, é o que nos fala a razão;

toda mentira ressoa com ecos de imprecisão...

Coração... não foste apenas um figurante qualquer...

- Roubaste todas as cenas da vida "desta" mulher!...

Depois que desce a cortina, quando o amor desata os laços, não é um show que termina...

é a vida feita em pedaços.

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Em cada verso que fiz, pedaços de mim deixei...

o sonho de ser feliz... o pranto que derramei...

Eu sempre estou na fronteira do que é certo e o que é errado...

- Limítrofe verdadeira entre a virtude... e o pecado...

Eu já me perdi no horário... nas palavras, no caminho... Mas, no meu imaginário, só não perdi teu carinho!

Felicidade... esqueci que jeito tem e onde mora...

Se tive um dia, a perdi no instante em que foste embora.

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Magia é o instante - perfeito - em que nós dois somos um,

quando, entre o seu e o meu peito, não sobra espaço... nenhum!

Não é questão de desejo, é coisa de coração:

a intensidade de um beijo se mede pela emoção...

Nas tantas voltas da vida aprendi, do sofrimento,

que para toda ferida, existe sempre um alento. ...

Nós somos dois mascarados... você ator, e eu atriz...

dois bobos, apaixonados, com medo de ser feliz!....

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Nosso retrato... nós dois... quanto amor havia então... Agora - tempos depois - só lembrança e solidão...

Os meus sonhos de criança, réstias de luz se apagando, são coriscos na lembrança,

que em silêncio vão passando...

Para mim, nem mais nem menos; o equilíbrio leva à paz.

Gestos grandes ou pequenos? - Importa é o Bem que se faz!

Pensando a vida me ponho, mas conclusões não alcanço... Então, dou asa ao meu sonho, pois de sonhar não me canso!

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Procurei em todo canto, um lugar para pousar...

-Ave, perdida de encanto, fiz meu pouso em teu olhar!

Se navegar é preciso... Se é necessário sonhar... eu sonho no teu sorriso,

navegando em teu olhar!...

Se pudesse, eu abriria as portas do coração,

mas a chave - que ironia - se perdeu numa ilusão...

Somente um beijo... quem dera pudesse eu de ti roubar...

mas teu beijo é uma quimera com que só posso sonhar...

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Tem mais graça de viver quem dá asa ao coração;

ter um simples bem-querer é melhor... que ter razão! ...

Toda vez que a nostalgia invade o meu pensamento,

é nos braços da poesia que eu sempre encontro um alento!

Um contraste indisfarçável, entre nós dois, tão estranho, é o nosso amor, indomável,

onde me enlevo e... me arranho...! ...

Um coração, sem amor, um amor, sem se entregar,

são como... um vaso sem flor e um barco... longe do mar...

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Ao desviar da espinheiraque, de espinhos transbordava,

caiu na isca certeirado ouriço que o espreitava!

Ao versejar pelas ruas,centenas de versos fiz,

sob a luz de muitas luas,pelo amor que não me quis!

Arroubos de juventude,sonhos,projetos sem fim,

vem da Usina da inquietudeque trago dentro de mim!...

A tranquila naturezasussurrante nesta mata

entrega toda belezapara aquele que desmata.

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Bendigo essa luz que um dia em minha estrada brilhou

e resgatou a alegria que o tempo quase apagou!...

Chutava o balde, a baciae o que estivesse ao seu lado!...

- Atualmente, que ironia:se dá chute, cai sentado!...

Com a água não se deu bem,o clone de peixe-boi:

- Sem saber quem é de quem,atrás da vaca ele foi!

Desviava a todo instante, da sogra o genro arredio...

E a coroa “itinerante” o apelidou de "Desvio"!!!

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Diferente e brincalhona,é a chaminé que inventei:

não polui, pois não funciona,para o que serve... não sei!...

Fez pose no trampolimmas, distraído, o Janjão,

só dentro d'água é, que, enfim,viu que estava sem calção!

Lembro a cidade natal e, eis que meu lado criança se aninha, inteiro, afinal,

na ternura da lembrança!...

Meio tristonho e sozinho,às vezes me sinto assim...

Quando as pedras do caminhoparecem zombar de mim!...

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Na estrada que coube a mim, os entraves não são raros: mas estradas... são assim... Cabem a nós, os reparos.

Ora é médico, ora é louco...Filósofo, quando a sós...

No ator, há bem mais que o poucoque existe em cada um de nós!

Para encontrar um desvio,oscilou, tanto, o bebum

que, depois de um rodopio,não quis mais desvio algum!

Parece querer voar,levitar... ou algo assim,

esta euforia sem parque pulsa dentro de mim.

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Parecia tão reala “bola” azul no jardim...

e o chute fenomenalna pedra, o deixou assim!...

Peço ao vento cirandeiro, das madrugadas de outono, que seja o meu seresteiro,

mas que não me roube o sono!

Quando a dúvida persiste, eu busco a Fé, simplesmente,

e espanto esse canto triste dos labirintos da mente!

Quando a neblina persiste e embaça toda a janela, ao invés de ficar triste,

eu faço trovas a ela!

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Quando o grilo atrapalhadonum desvio se embrenhou,mostrou-se tão desviadoque o cri-cri desafinou!...

Quando pular a fogueira,não use de indecisão,

que fogo passa a rasteirae queima até a distração!...

São gotas de poesia,ou de algum raro licor,

que o orvalho, com alegria,põe no cálice da flor.

Tanto arrepio sentiaum fantasma diferente,

que, assombrar, não mais queria,por medo de virar gente!

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Todo o brinquedo quebrado,jogado a um canto tristonho,

pode, uma vez restaurado,concretizar algum sonho.

Um arrepio gelado,diferente dos demais,

deixa, até mal-assombradoquem não arrepia mais!...

Ventura é tão simplesmenteessa luz, essa candeia

que ilumina a alma da gentee a transforma em lua cheia...

Vez em quando, a fantasia, nesta praia veraneia

e acende a luz da poesia em meus castelos de areia.

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A experiência determinaos rumos certos e errados;

nenhuma luz iluminaquem mantém olhos fechados.

A gorducha Dona Benta quando senta esparramada deixa a cadeira onde senta

quase um mês descadeirada.

Amor, barriga crescida, passa o tempo, espera tanta...

chega o milagre da vida que faz a mãe virar santa.

Ao vencedor, toda a glória!Mas festeje com cuidados:

que a euforia da vitórianunca humilhe os derrotados.

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A vida é feita de escolhas: os acertos, festejamos... O duro é virar as folhas

nas tantas vezes que erramos...

Com flores ou cicatrizes, horas duras e horas boas, a infância forma as raízes da educação das pessoas.

Craque que chuta bastante,seu lugar no time encontra

mas um “chute” de estudanteé, quase sempre, gol contra...

Dizer adeus foi tolice, mas este orgulho maldito

só deixou que eu descobrisse depois que eu já tinha dito!...

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Enseadas sem saída, abismos dentro das almas:

no revolto mar da vida não existem praias calmas.

Eu sou frango... e só me ralo:se escapo de ser canjinha,

quando estou virando galosou morto e viro galinha.

Grita o galo no terreiro,demonstrando muita zanga:"Não sobe no meu poleiro

o frango que solta a franga."

Leitor viciado e indefeso: - sempre um livro em frente a face...

eu seria um grande obeso, caso a leitura engordasse...

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Licor de Deus, sem mistura,sem cores artificiais,

segue a água a brotar purapara dar vida aos mortais.

Mais fortes... mais apagadas... ora sumindo ou voltando, as lembranças são pegadas que o destino vai deixando.

Meu caminho é o teu caminho! Se a morte nos separar,

quem chegar no céu sozinho, chora até o outro chegar.

Meus sonhos não são modelos; alguns me fazem chorar... Mas não tenho pesadelos:pesadelo é não sonhar!...

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O pai é sempre o primeiro se o filho está precisando.

Quem tem um pai verdadeiro, tem sempre exemplos sobrando.

Os netinhos são fregueses de amores ilimitados:

avós são pais duas vezes, porém, mais açucarados...

Passa o tempo, passa a vida, mas fica, em qualquer idade,

uma criança escondida dentro de cada saudade...

Por mais que a gente se zangue, mande embora sem escolta, mulher chata é bumerangue: faz a curva e sempre volta…

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Qual licor adocicadoque embriaga devagar,

teu beijo me tem deixadotonto e louco por te amar.

Quando o altar vira mercado que busca lucros ou votos,

sempre há um Deus falsificado para enganar os devotos.

Quando no embalo do amoralmas inventam desejos,

duas taças de licordão novo sabor aos beijos.

Quando nosso amor espelha o que o desejo revela,

a lua fica vermelha só de espiar na janela...

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Quando qualquer luz se acendefaz a vida ressurgir.

A própria sombra depende de uma luz para existir.

Quando um filho perde a trilha perseguindo falsos brilhos,

toda a vida da família, geralmente, sai dos trilhos.

Se não fosse a fantasia que o sonho pinta na mente,

muita gente morreria sem nem saber que foi gente...

Tem tanto fogo a menina que seu mergulho estupendo

deixa a água da piscina completamente fervendo.

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Ante o chão amplo e fecundo que nos guarda o teto e o pão,

qualquer queixa contra o mundo é simples ingratidão.

Assim como eu te desejo, pudesses tu me querer!

Vê bem que como eu te vejo, ninguém mais te sabe ver!

A ventura é semelhante às miragens do deserto.

Passa sempre tão distante, parecendo estar tão perto!

Eu nunca pedi socorro nem proteção a ninguém;

e se aos mais digo que morro, só a ti digo por quem...

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Mesmo em prosa que distrai, criticar não vale a pena;

às vezes, a gente cai naquilo que mais condena

Não beberei de hoje em diante, porque, entre o lábio e a taça,

há sempre lugar bastante para meter-se a desgraça.

Ninguém consegue medir a grandeza clara e imensa

da coragem de servir sem pensar em recompensa.

No coração de um amante, por muito frio que faça,

há sempre calor bastante para aquecer a desgraça!

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Os olhos dos namorados têm um certo não sei quê

que esconde com mil cuidados o que todo mundo vê.

Quando entra a desconfiança no fundo da alma ferida,

nunca mais a gente alcança tranquilidade na vida!

Se és para todos tão boa, por que és má só para mim? Olha que Deus não perdoa

a quem faz penar assim!

Só quem de tudo se prive é que pode conceber

como vive quem não vive com quem deseja viver...

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Ao marujo que anda absorto,cuida que o dito malogra,“um amor em cada porto”

e em cada porto uma sogra!

A velhinha tão carente,na maior “cara de pau”,

o que ela quer realmenteé encontrar o “lobo mau”.

Cansado, o velho marujotenta a manobra no cais,o caso é que o dito cujo

nem consegue atracar mais.

Definir não posso aqui,é a cor do céu... ou do mar?

Sei que a mais linda que eu vifoi a cor do teu olhar.

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Doces lembranças guardadas,no peito, quem não as tem?de caminhar de mãos dadaspó sobre os trilhos do trem.

Ele inventa mil diabruras,corre, pula, esse meu neto,

com as suas travessurasé o meu ator predileto.

É Natal, e a voz do sinofaz-se ouvir lá na matriz,mas na favela o menino

ouve é tiros de fuzis.

Esses “gatos” cinquentões,que gostam de “pular cerca”,

cuidado com arranhões,vai que “algo” ali se perca.

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Eu conheci um “gatão”,gato mesmo! É brincadeira,

só pegou na minha mão,já me filou a carteira.

Madrugada, num bagaço,pé ante pé, sem sapato,

entro em casa, dou um passo,piso no rabo do gato.

Magro e comprido, o Quinzinho,assim mesmo tem quem goste,

é o cachorro do vizinhoque sempre o toma por poste.

Meu avô... lembro seu jeito,seu olhar... quanta doçura!

e havia naquele peitouma usina de ternura.

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Numa ilusão, tal criança,volto sempre ao mesmo cais,

naquela doce esperançade te ver uma vez mais.

O problema é que essa gentecom tanta “oferta” hoje em dia,

vai logo pros finalmente”,pois nada mais arrepia!

Quando acalmou a peleiano fandango do seu Matos,

acharam 10 pés de meiae mais de 30 sapatos.

Quando a Olívia reclamoudos “deveres” do marido,

o marujo retrucou:- o espinafre tá vencido!

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Quando o magro, no capricho,saía todo arrumado,

ouvia logo um cochicho:- Olha o “palito engomado”!

Quarenta graus! Tava quente!Mas fiquei arrepiada,

não é que liga um parente,pra pedir... grana emprestada?

Só na janela espiandoé que a mocinha “namora”;no fandango fica olhando

pra ver a prenda ir... “lá fora”.

Surpresa a noiva ficou,numa ansiedade maluca,quando o noivinho tiroua dentadura, a peruca...

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A ciranda, em viravolta,fez destino cirandar,

ventura deu meia volta,volta e meia não quis dar!

No licor adocicadodos teus lábios de carmim,

vivo louco, embriagado,num amoroso festim!

O licor branco de um seio,alimentando a criança,

mais que um suporte, é um esteioa sustentar a esperança!

Quisera ser chuva mansanas sementeiras de agosto

para, em setembro, a esperançaflorir ventura em meu rosto...

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Belos gestos de inocência, bênçãos de amor despertaram,

e, nos trilhos da existência, só saudade carregaram...

Incríveis fachos de luzbrilhavam de forma intensa,

na silhueta da cruz,em sua forma mais densa...

Na defesa da floresta, com arroubo e galhardia, todo ser humano atesta

nobreza e cidadania.

Por este vale encantado,de uvas, luzes e cores,

descortina-se um passadode sonho e grandes amores.

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Abrem-se as portas do dia,logo após a madrugada,quando a luz solar espiapelas frestas da alvorada.

A caturrita tigueira,e o bem-te-vi do Ramalho,

no galho da laranjeiraprocuram quebrar o galho...

À distinta freguesiaum bom negócio proponho:- Saudade - artigo do dia,na vitrina do meu sonho...

Ajuda, amigo, a quem sofre,com teus sentimentos nobres.

Fortuna presa no cofrenão mata a fome dos pobres.

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Com meus olhos rasos d'água,distante do meu rincão,

tomo o champanha da mágoana taça da solidão...

Com minha alma ressabiada,espanto a ingrata paixão

com cerca eletrificadano muro do coração!...

Deus, a suprema bondade,fez do barro a vida humana;

e alguns homens, por vaidade,se julgam de porcelana!…

Dos sonhos da mocidade,que ornamentaram minha alma,

resta o sabor da saudadeque eu saboreio, com calma.

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Em toda a existência nossaeste lei se estabelece:

- a virtude nos remoçae o vício nos envelhece.

Escuto, de quando em quando,no meu mutismo bisonho,

o silêncio gotejandopelos beirais do meu sonho!

Meu vizinho embrabeceue a mulher sentiu perigo,porque seu filho nasceuparecidinho comigo...

Minha alma toda se agitaem penoso desconforto,

quando o vento da desditavem sarandear no meu horto!

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Pois já ficou comprovadoque sorte não se discute,não estuda e é aprovado,

mostra ser “fera” no chute...

Quando me paro cismando,eu sinto, meio bisonho,

o vento do amor soprandonas cordilheiras do sonho!

Teu sorriso, doce amada,que me adoça o coração,tem sabores de alvorada

despertando o meu rincão

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Ah, se eu pudesse voltar aos tempos de antigamente!

Não teria em meu olhar esta angústia tão presente.

A luz de estrela cadente,quando risca o firmamento,

parece o sonho da genteque se perdeu num momento.

Ama com amor profundo, reúne o sonho disperso

e verás que neste mundo, és grande como o universo!

Eu amava tanto…tanto, que meu coração cansou.

Hoje vivo do acalanto que aquele amor me deixou.

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Eu não me queixo da vida e nem da falta de afetos,

porque sei que sou querida por meus filhos e meus netos.

Fiz um castelo de areia naquela duna branquinha,

mas o vento e a maré cheia, levaram tudo que eu tinha!

Gosto tanto dos meus netos, sinto-me feliz assim;

eles me deram bisnetos que também gostam de mim!

Meu passado foi um sonho, e tudo que já passou,

reflete em meu ser tristonho a saudade que ficou!

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Nessa vida atribulada quem não sofreu por amor,

dizendo não sentir nada, como se fosse um ator?

No grande palco da vida os artistas, somos nós,

que depois de tanta lida sempre ficamos a sós!

O sorriso da criança,. como o perfume da flor,

nos enchendo de esperança, dá-nos paz, ternura e amor! ...

Se quiseres fazer trova, experimenta e verás

como a vida se renova com a trova que a gente faz!

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Ante a indecisa galinha,diz o galo, convincente:

- Não troca o velho, joinha,por um frango incompetente.

Brinquedos da minha infânciaque foram meu universo,hoje, rompendo distância,

são saudades do meu verso.

Chuta, menina, com jeito,teu jogo é alegre... peralta.

Depois, apara no peitoporque peito não te falta!

Cometo qualquer loucura,das convenções rompo os laços,

só para ter a venturade amanhecer nos teus braços.

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Depois do vento ferino,que me arrancou dos teus braços,

o barco do meu destinonavega roto... em pedaços...

Desvio os olhos com medo, pois receio, ao te encontrar, que descubram meu segredo

no meu jeito de te olhar.

Dulcifico meu sorriso,louca euforia me invade,

quando chegas, sem aviso,rompendo o nó da saudade.

Ela diz em tom brejeiro:- Cumpro bem o meu papel.Quero o amor do marinheiro

e o soldo do coronel.

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Enfrento o vento malvado,molhado de chuva e frio,

pois para estar ao teu ladovenço qualquer desafio.

Esquece esta vida andeja, vem tomar um chimarrão,

é cedo, a manhã boceja na longa esteira do chão.

Minha alma se fortalece,levo melhor minha cruz,

quando através de uma preceacho o caminho da luz.

“Minuano”, teus intentoscomprovam, em forte estampa,

que és o corsário dos ventosna imensidão do meu pampa.

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Na lareira um fogo brandoe, entre doses de licor,

nossos corpos desenhandotodas as formas de amor.

Na ternura desta horaqueria ter o direito

de colher a cor da aurorapara enfeitar nosso leito.

Quero o torpor, a leveza,que o licor me propicia,para acalmar a tristezada minha vida vazia.

Regressa... tudo te espera...os teus discos, teu licor,e uma doce primavera

desfeita em beijos de amor.

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Rever-te agora é pecado, quero que em tuas lembranças, em vez de um rosto marcado,

fique a menina de tranças.

Roda, criança querida, teu carrinho... teu pião... Enquanto a roda da vida

não levar tua ilusão...

São brinquedos fulgurantes,que brilham soltos...ao léu...

as estrelas cintilantesque a lua joga no céu.

Se sofro não perco a calma,a fé meus passos conduz;

a força que guardo na almase renova e acende a luz.

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Seu chute ninguém olvida,atleta bom e sarado,

por isso a “gata” o convidapra jogar no seu gramado...

Sonha poeta, o teu sonho, um belo mundo contém.

Quem lê teus versos, suponho, sonha os teus sonhos, também.

Somente ao homem competecolher da vida este ensino:

a ventura é marionetenas mãos ágeis do destino.

Tem tanta preguiça, tanta, e modos tão indolentes,

que quando almoça, não janta, pra não dar trabalho aos dentes.

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Tentei fugir de mansinho... devagar, romper os laços... Desisti: qualquer caminho

sempre me leva aos teus braços

Tua voz, doce acalanto, contando histórias aos netos, retrata, pai, todo o encanto!

desta cadeia de afetos!

Tu és, amor, a alegria,o meu vinho, o meu licor,ao raiar de um novo dia,

abrindo as portas do amor.

Voltei feliz para vê-la.Frustração. Não me quis mais.

Somente os olhos da estrelame viram chorar no cais.

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SOBRE O LIVRETO

O Livreto Rio Grande do Sul Trovadoresco tem por intuito a divulgação dos trovadores do Estado do Rio Grande do Sul. Este é mais um número, outros se sucederão, periodicamente, mantendo viva a memória destes literatos que são orgulho de seu Estado.

As trovas foram obtidas de boletins, jornais, revistas e sites. Grande parte se deve a colaboração do poeta Luciano M. Brandão.

Caso possuam trovas, poesias, contos de literatos de sua cidade que não estão em meu blog (http://singrandohorizontes.blogspot.com), enviem para meu e-mail [email protected] para que sejam divulgados.

José Feldman

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DIREITOS AUTORAIS

Qualquer texto deste livreto pode ser copiado, desde que mencionadas as devidas fontes

O conteúdo deste livreto não pode ser comercializado sem a autorização dos autores ou responsáveis, no caso dos falecidos.

Respeite os direitos do autor.

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José Feldman

Feldman é um vencedorum mestre da alegria,um Poeta Trovador,

um fazedor de Poesia.Não há em todo universomelhor fazedor de verso

pois é um dom que ele traz!Pra Feldman, em nada eu ganho,

ele é grande no tamanhoe nas Poesias que Faz.

(Ademar Macedo – Natal/RN)

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Nasce na cidade de São Paulo, no dia 27 de setembro de 1954.Com cerca de 13 anos de idade, escreve as suas primeiras poesias. Na época já lia muitos livros e revistas.

Primeiros livros foram a coleção de Monteiro Lobato dada por seu pai. Com cerca de 15 anos de idade participou de concursos de poesia sem sucesso.

Desde 1973, com uma fome enorme de conhecimento, realizou vários cursos, como Filosofia no Instituto Palas Athena, Italiano na Associação de Cultura Afro-Brasileira, Inglês no Instituto Roosevelt e Instituto Norte Americano, Leitura Dinâmica e Desinibição e Criatividade, no Instituto Dynamics Cymel, Arte Dramática no Instituto Macunaíma, Filosofia no Centro de Estudos Filosóficos Pró-Vida, além de diversas palestras e encontros de literatura.

No ICIB, pertence a diretoria cultural, promovendo diversos eventos musicais, além da Oficina de Trovas, ministrada pelo grande trovador Izo Goldman, e revelando talentos musicais dos jogadores do departamento de xadrez.

Neste período começa a dar maior ênfase também à literatura, ao fazer, na Casa Mário de Andrade (Oficina da Palavra) o curso de Poesia Viva, com a poetisa Eunice Arruda, curso de literatura com Mario Amato, Ficção Cientifica na literatura e no cinema com o escritor de renome internacional, André G. Carneiro, além da Oficina de Trovas com Izo Goldman.

Na literatura continuou tentando ainda concursos de poesia na Livraria Freitas Bastos e Scortecci, mas ainda sem sucesso. Com as trovas, obteve pela primeira vez uma menção honrosa no Concurso de Santa Cruz do Sul (RS).

Casou-se em 1995 com a poetisa, escritora e tradutora paranaense Alba Krishna Topan, a qual conhecera no curso de Ficção Científica, na Casa Mario de Andrade.

Em Ubiratã/PR, começou a se firmar ao ser eleito em 2001 como vice presidente da diretoria provisória, da Associação dos Literatos de Ubiratã (ALIUBI), tendo contato com poetas da região.

Registrou-se como representante da Delegacia de Ubiratã, pela União Brasileira de Trovadores do Paraná, auxiliando na elaboração do Boletim Paraná em Trovas com a presidente da UBT Paraná Vânia Ennes, o secretário Nei Garcez e o grande trovador A. A. de Assis.

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Percebendo o pouco acesso das pessoas à literatura, e mesmo o baixo nível de leitura, começou a ler muito e se dedicar a literatura, criando deste modo um boletim, de nome Singrando Horizontes, que era feito principalmente em dados obtidos na internet e revistas, que abrangia tudo de literatura (contos, cronicas, artigos, biografias, poesias, curiosidades da língua, noticias do mundo, estudos de livros, etc.), e começou a distribuir por e-mail para inicialmente amigos, trovadores e associações. Com o tempo foi descobrindo novos endereços e distribuiu em escolas, universidades, academias do Brasil Inteiro, além de Estados Unidos e Portugal.

O Boletim foi indicado para ser inserido nos anais da Casa Legislativa Maçônica, pelo falecido magistrado, Mestre Maçom e Deputado da Loja "Os Templários", de Curitiba, PR, Valter Martins de Toledo.

Criou o Blog Pavilhão Literário Cultural Singrando Horizontes (http://singrandohorizontes.blogspot.com/) seguindo os mesmos moldes do boletim, com muito mais conteúdo, postados diariamente, iniciado ao final de dezembro de 2007. Com isto, começou a ficar mais conhecido devido a sua divulgação dos escritores, sendo convidado no mês de junho de 2008 a efetuar uma palestra na Academia de Letras de Maringá, onde discursou sobre o Panorama da Literatura no Brasil. Muitos escritores começaram a enviar seus textos e livros para apreciação crítica.

Em novembro de 2008, a convite do escritor Sorocabano Douglas Lara, passou a ser membro da ONE (Ordem Nacional dos Escritores), recebendo o medalhão das mãos do presidente da ONE, José Verdasca, em 19 de dezembro de 2008, no Gabinete de Leitura, em Sorocaba.

Em março de 2009, foi convidado para a Cadeira Vitalícia da Academia de Letras do Brasil, pelo seu presidente, o Dr. Mario Carabajal, assumindo em 12 de agosto de 2009, em Piracicaba, representando o Estado do Paraná, na cadeira n.1, tendo por patrono Paulo Leminski, ocasião em que além de receber o diploma de imortal, recebeu o título de Doutor Honoris Causa das mãos do presidente da ALB. Foi nomeado presidente da ALB/Paraná e Vice-Presidente do Conselho de Ética, desde agosto de 2009.

Grande incentivador e divulgador da literatura paranaense, reside na cidade de Maringá/PR. Não possui nenhum livro publicado.

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PRODUÇÃO LITERÁRIA

Possui participação na apresentação dos livros em papel:Átila José Borges. Matando o Porco, Eu Contos. (Introdução do Livro)Isabel Furini. Passageiros do Espelho. (Apresentação do livro)Isabel Furini. Quero ser escritor: Livro 1 – Cronicas.(Cronica: Filas, filas e mais filas, ou Por que não fiquei dormindo em minha cama?)Isabel Furini. Os Corvos de Van Gogh. (Apresentação do pintor: Van Gogh, o gênio atormentado)Vânia Maria Souza Ennes. Paraná em Trovas. (com uma trova).

E-books:

COLEÇÃO MEMÓRIA VIVAParaná Trovadoresco (121 páginas) – Livreto 1Paraná Trovadoresco (112 páginas) – Livreto 2São Paulo Trovadoresco (105 páginas)Rio Grande do Norte Trovadoresco (105 páginas)Minas Gerais Trovadoresco (101 páginas)Rio de Janeiro Trovadoresco (180 páginas)Santa Catarina Trovadoresca (104 páginas)Ceará Trovadoresco (179 páginas)Rio Grande do Sul Trovadoresco (

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SANTUÁRIO DE TROVAS (Trovas em Imagens)vol. 1 - 58 paginasvol. 2 - 58 páginasvol. 3 – 92 páginas

ALMANAQUE PARANÁ (Trovadores do Paraná)n.1 - dezembro 2010 (16 paginas)n.2 - janeiro 2011 (18 paginas)n.3 - setembro 2012 - 1a. Quinzena (3 páginas)n.4 - setembro 2012 - 2a. quinzena (3 páginas) – Vânia Maria Souza Ennes (Curitiba)n.5 - outubro 2012 - 1a. quinzena (3 páginas) – Alberto Paco (Maringá)n.6 - outubro 2012 - 2a. quinzena (14 páginas) Edição Especial – A. A. de Assis (Maringá)n.7 - novembro 2012 - 1a. quinzena (3 páginas) – Maria Eliana Palma (Maringá)n.8 - novembro 2012 - 2a. quinzena (6 páginas)- Nei Garcez (Curitiba)n.9 - dezembro 2012 - 1a. quinzena (9 páginas)- Mário A. J. Zamataro (Curitiba)n.10 -dezembro 2012 - 2a. quinzena (8 páginas) – Lairton Trovão de Andrade (Pinhalão)n.11 – janeiro 2013 – 1ª. Quinzena (11 páginas) – Neide Rocha Portugaln.12 – janeiro 2013 - 2a. quinzena (14 páginas) – Olga Agulhon (Maringá)n.13 – fevereiro 2013 – 1ª. Quinzena (7 páginas) – Fernando Vasconcelos (Ponta Grossa)

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PARANÁ POÉTICOn.1 - nov/dez 2012 (9 páginas) – Euclides Bandeiran.2 – jan 2013 (17 páginas) – Emílio de Menesesn.3 – fev 2013 (44 páginas) – Emiliano Perneta

TROVA BRASIL (Trovas de todo o Brasil, exceto Paraná)n.1 - dez/2012 (9 páginas) – Arlindo Tadeu Hagen (MG)n. 2 – dez/2012 – Edição Especial (6 páginas) – Ercy Maria Marques de Faria (SP)n. 3 – jan/2013 (17 páginas) - Izo Goldman (SP)n.4 – jan/2013 – Edição Especial (21 páginas) - Luiz Carlos Abritta (MG)n.5 – fev/2013 – (18 páginas) - Héron Patrício (MG)

ALMANAQUE O VOO DA GRALHA AZULnumero 1 – janeiro 2010 (74 paginas)numero 2 – fevereiro 2010 (95 paginas)numero 3 – março abril 2010 (117 paginas)numero 4 – maio junho 2010 (177 paginas)numero 5 – julho agosto 2010 (131 paginas)numero 6 – janeiro – maio 2011 (265 paginas) edição especialnumero 7 – junho – agosto 2011 (163 paginas)numero 8 – setembro – novembro 2011 (184 páginas)numero 9 – janeiro – março 2012 (242 páginas)

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BOLETIM LITERÁRIO SINGRANDO HORIZONTESNumero 1 – março de 2007 (22 paginas)Numero 2 – maio de 2007 (25 paginas)Numero 3 – junho de 2007 (33 paginas)Numero 4 – julho de 2007 (40 paginas)Numero 5 – agosto de 2007 (59 paginas)Numero 6 – setembro de 2007 (60 paginas)Numero 7 – outubro de 2007 (64 paginas)Numero 8 – novembro de 2007 (84 paginas)Numero 9 – dezembro de 2007 (82 paginas)Numero 10 – janeiro de 2008 (93 paginas)Numero 11 – fevereiro de 2008 (88 paginas)Numero 12 – março de 2008 (96 paginas)Numero 13 – abril-maio de 2008 (108 paginas)

AVULSOSCavalgada de Trovas do Paraná (171 páginas)Hermoclydes S. Franco - Trovas e Poesias (52 Páginas)Francisco Neves Macedo – Trovas e Poesias (16 Páginas)Ademar Macedo – Um Universo de Versos diversos (126 páginas)FELDMAN, José e FELDMAN, Alba Krishna Topan Feldman. Cavalgada de Sonhos. (66 páginas) Poesias, trovas, haicais e cronicas. (filho único em papel sem cópia).

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Membro de :ð Academia de Letras do Brasil/ Paraná – Cadeira n.1 Patrono: Paulo Leminski Presidente Estadual Vice-Presidente do Conselho de Éticað Confraria Brasileira de Letras/ Paraná – Cadeira n.1 Patrono: Helena Kolody Presidente Estadualð UBT – União Brasileira dos Trovadores/ Seção Maringáð ALIUBI – Associação dos Literatos de Ubiratãð ONE – Ordem Nacional dos Escritoresð UHE – União Hispanoamericana de Escritoresð Casa do Poeta Lampião de Gazð (OCT) Ordem dos Cavaleiros Templáriosð (OSTG) Ordem Sagrada do Templo e do Graalð (AMORC) Antiga e Mistíca Ordem Rosae Crucisð Pró-Vida: Integração Cósmica