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Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006 14 C. Maio, M. Antunes, L. Cabral, C. Pestana, F. Lima A avaliação perioperatória de doentes com factores de risco e/ou com doença cardíaca propostos para cirurgia não cardíaca exige comunicação e trabalho de equipa envolvendo o médico assistente, o cirurgião e o anestesiologista. Os autores propõem-se analisar retrospectivamente a população de um bloco operatório, de forma a identificar os factores de risco e determinar o risco cardíaco perioperatório, segundo as guidelines da ACC/AHA. Método: Procedeu-se à consulta dos processos clínicos referentes ao movimento cirúrgico de um bloco operatório,no período de 3 meses. Resultados: Entre Outubro e Dezembro de 2005, 174 doentes foram submetidos a cirurgia não cardíaca. Destes doentes, 40% (70) apresentavam factores clínicos preditivos de risco cardiovascular perioperatório aumentado. Os factores de risco incluem doença coronária, insuficiência cardíaca congestiva, doença valvular cardíaca, hipertensão arterial, diabetes mellitus, arritmias e insuficiência renal. Dos que tinham factores de risco, segundo a classificação da ACC/AHA, verificou-se que 4% (3) apresentavam risco major, 29% (20) risco intermédio e 67% (47) risco minor. Conclusões: a grande prevalência de factores de risco cardiovasculares exige cada vez mais a optimização pré- operatória de doentes que muitas vezes desconhecem a sua patologia. O conhecimento do risco cardíaco perioperatório é da responsabilidade da equipa médico assistente/cirurgião/anestesiologista, para que o acompanhamento perioperatório seja realizado de uma forma segura, minimizando ao máximo o risco para o doente. Hospital de Santa Maria - Lisboa Risco cardíaco perioperatório em cirurgia não cardíaca: análise demográfica de um bloco operatório. Resumo D. Leitão, D. Andrade, E. Carneiro, J. C. Tavares A Doença de Madelung é uma doença rara, caracterizada por acumulação de tecido adiposo não encapsulado, localizado simetricamente em torno do pescoço e ombros. A cirurgia está indicada nos doentes com limitação da mobilidade do pescoço e com sintomatologia respiratória ou digestiva. Caso Clínico Doente do sexo masculino, 70 anos, caucasiano, com quadro de aumento progressivo, ao longo de 30 anos, de várias tumefacções na região cervical, desfigurantes e de aparecimento de dispneia associada.As tumefacções adiposas apresentavam localização predominante na região do pescoço até ao nível da articulação esternoclavicular. A avaliação laboratorial e o ECG efectuados revelaram-se normais. A tomografia computorizada confirmou a presença de lipodistrofia das regiões cervical e torácica, com compressão laríngea e traqueal. Foi proposta cirurgia para excisão das tumefacções do pescoço, sob anestesia geral. A avaliação pré-anestésica revelou compromisso severo da mobilidade do pescoço, limitação da abertura da boca e classificação de Mallampati IV (considerada provável via aérea difícil). Procedeu-se a intubação nasotraqueal, com tubo traqueal 7-gauge, utilizando fibroscópio como guia. A intervenção cirúrgica decorreu sem complicações e o doente foi transferido para UCI, tendo sido extubado no 2º dia de pós-operatório. O doente não sofreu quaisquer sequelas funcionais e as queixas de dispneia desapareceram. Discussão e Conclusões A Doença de Madelung foi descrita pela primeira vez em 1846. É caracterizada por múltiplas tumefacções de tecido adiposo, de forma simétrica, envolvendo cabeça, pescoço e tronco. Estes depósitos de gordura são desfigurantes e estão frequentemente associados a sintomatologia digestiva ou Hospital de S. João - Porto Doença de Madelung - Caso Clínico Resumo P001 P002

Risco cardíaco perioperatório Doença de Madelung em ...spanestesiologia.pt/wp-content/uploads/2008/11/15-1-artigo1.pdf · A utilização da fibroscopia é obrigatória nestes doentes,

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Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

14C. Maio, M. Antunes, L. Cabral, C. Pestana, F. Lima

A avaliação perioperatória de doentes com factores derisco e/ou com doença cardíaca propostos para cirurgianão cardíaca exige comunicação e trabalho de equipaenvolvendo o médico assistente, o cirurgião e oanestesiologista. Os autores propõem-se analisarretrospectivamente a população de um bloco operatório,de forma a identificar os factores de risco e determinar orisco cardíaco perioperatório, segundo as guidelines daACC/AHA. Método: Procedeu-se à consulta dos processosclínicos referentes ao movimento cirúrgico de um blocooperatório,no período de 3 meses. Resultados: EntreOutubro e Dezembro de 2005, 174 doentes foramsubmetidos a cirurgia não cardíaca. Destes doentes, 40%(70) apresentavam factores clínicos preditivos de riscocardiovascular perioperatório aumentado. Os factores derisco incluem doença coronária, insuficiência cardíacacongestiva, doença valvular cardíaca, hipertensão arterial,diabetes mellitus, arritmias e insuficiência renal. Dos quetinham factores de risco, segundo a classificação daACC/AHA, verificou-se que 4% (3) apresentavam riscomajor, 29% (20) risco intermédio e 67% (47) risco minor.Conclusões: a grande prevalência de factores de riscocardiovasculares exige cada vez mais a optimização pré-operatória de doentes que muitas vezes desconhecem asua patologia. O conhecimento do risco cardíacoperioperatório é da responsabilidade da equipa médicoassistente/cirurgião/anestesiologista, para que oacompanhamento perioperatório seja realizado de umaforma segura, minimizando ao máximo o risco para odoente.

Hospital de Santa Maria - Lisboa

Risco cardíaco perioperatórioem cirurgia não cardíaca:análise demográfica de um blocooperatório.

Resumo

D. Leitão, D. Andrade, E. Carneiro, J. C. Tavares

A Doença de Madelung é uma doença rara, caracterizadapor acumulação de tecido adiposo não encapsulado, localizadosimetricamente em torno do pescoço e ombros. A cirurgiaestá indicada nos doentes com limitação da mobilidade dopescoço e com sintomatologia respiratória ou digestiva.

Caso Clínico

Doente do sexo masculino, 70 anos, caucasiano, com quadrode aumento progressivo, ao longo de 30 anos, de váriastumefacções na região cervical, desfigurantes e deaparecimento de dispneia associada. As tumefacções adiposasapresentavam localização predominante na região do pescoçoaté ao nível da articulação esternoclavicular. A avaliaçãolaboratorial e o ECG efectuados revelaram-se normais. Atomografia computorizada confirmou a presença delipodistrofia das regiões cervical e torácica, com compressãolaríngea e traqueal. Foi proposta cirurgia para excisão dastumefacções do pescoço, sob anestesia geral. A avaliaçãopré-anestésica revelou compromisso severo da mobilidadedo pescoço, limitação da abertura da boca e classificaçãode Mallampati IV (considerada provável via aérea difícil).Procedeu-se a intubação nasotraqueal, com tubo traqueal7-gauge, utilizando fibroscópio como guia. A intervençãocirúrgica decorreu sem complicações e o doente foitransferido para UCI, tendo sido extubado no 2º dia depós-operatório. O doente não sofreu quaisquer sequelasfuncionais e as queixas de dispneia desapareceram.

Discussão e Conclusões

A Doença de Madelung foi descrita pela primeira vez em1846. É caracterizada por múltiplas tumefacções de tecidoadiposo, de forma simétrica, envolvendo cabeça, pescoço etronco. Estes depósitos de gordura são desfigurantes e estãofrequentemente associados a sintomatologia digestiva ou

Hospital de S. João - Porto

Doença de Madelung- Caso Clínico

Resumo

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respiratória. O tratamento cirúrgico conservador estágeralmente indicado, mas a excisão completa destes tumoresé improvável.Os doentes com lipomatose simétrica múltipla geralmenteapresentam-se com limitação da mobilidade do pescoço,abertura reduzida da boca e compressão de estruturasvitais, tornando-os susceptíveis a problemas sérios com aventilação e intubação. A utilização da fibroscopia é obrigatórianestes doentes, para assegurar eficazmente o controlo davia aérea. A extubação deve ser realizada em ambiente deUCI, com todos os meios disponíveis (incluindo fibroscópio)para re-intubação, caso seja necessário.

Filipa Félix, Lara Ribeiro, Carlos Ramos, Clara Lobo, CarlosCorreia

Objectivo: Avaliar a qualidade da analgesia fornecida porum elastómero (Baxter ref.2C1954KJ) com kit PCA (Baxterref.2C1079K) na analgesia do pós-operatório deHisterectomia Total por via abdominal(HT).Métodos: Aleatoriamente foram seleccionadas 20 doentes,ASA I/II, para HT. Na visita pré-anestésica foi ensinado ofuncionamento da PCA e a avaliação da dor pela EVA.Foram submetidas a anestesia geral balanceada, usando omesmo protocolo anestésico e analgésico no pós-operatório(paracetamol 1g ev de 8/8h, parecoxibe 40mg ev de 12/12he o sistema infusor com PCA com 300mg de tramadol +30mg de metoclopramida, volume total- 96ml a 0,5ml/h,com bólus de 0,5ml e lock-out de 15minutos). Protocolode resgate: petidina 20mg 4/4h ev (se EVA ³4) e ondansetron4mg 12/12h ev (se vómitos). (Avaliação seriada no pós-operatório imediato, ás 24h e ás 48h da dor e efeitos laterais. O sistema infusor foi colocado imediatamente após achegada ao recobro.Resultados: A analgesia para o pós-operatório resultounum EVA médio de 2,05 (mínimo 0 e máximo 9). Os efeitoslaterais mais frequentes foram náuseas (20%) e vómitos(6,67%). Durante o internamento, nenhuma doente necessitoude analgesia suplementar. Em dois casos houve necessidade

Hospital Senhora de Oliveira - Guimarães

Analgesia endovenosa porelastómero com PCA no pós-operatório de HisterectomiaTotal por via abdominal

Resumo S. H. Gomes, C. Santos, F. Barros, J. Tavares

A abordagem toracoscópica de Nuss tem-se tornado atécnica de eleição na correcção de pectus escavatum emcrianças. 1,2 Neste grupo etário, analgesia peri-operatóriaeficaz é obtida através de epidural torácica contínua.3  Doente do sexo feminino, 15 anos de idade, foi propostapara a realização do procedimento. Apresentava compressãodo ventrículo direito e prolapso da válvula mitral.Foi realizada uma técnica anestésica combinada com anestesiageral balanceada e analgesia epidural torácica. A intervençãocirúrgica e a anestesia decorreram sem intercorrências.Estável e com adequada analgesia foi extubada previamenteao transporte para a unidade de cuidados intensivospediátricos (UCIP). Nesta unidade iniciou perfusão epiduralde ropivacaína 0.2% a 5 ml/kg/h (0.15 mg/kg/hour). Vintee duas horas depois desenvolveu síndrome de Hornerunilateral direito. Foi interrompida a perfusão e iniciadaanalgesia endovenosa. No 2º dia pós-operatório referia dorcom a inspiração profunda, tendo tido necessidade derealizar fibroscopia por atelectasia pulmonar esquerda. No

Serviço de Anestesiologia do Hospital de S. João - Porto

Síndrome de Horner emdoente pediátrico apósanalgesia epidural torácicacontínua para correcção depectus escavatum

Resumo

de suspender temporariamente o sistema infusor devidoa efeitos laterais, num dos quais foi necessário terapêuticade resgate anti-emética.

Conclusões:O protocolo implementado demonstrou ser um métodoanalgésico eficaz e com poucos efeitos laterais para estetipo de cirurgia.Serão necessários, contudo, outros ensaios com maiornúmero de doentes e submetidos a outros procedimentoscirúrgicos, para uma melhor avaliação deste método deadministração de analgésicos.

Palavras Chave: elastómero, tramadol, analgesia.

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3º dia pós-operatório realizou fluoroscopia com injecção,pelo cateter epidural, de 1.5 ml de contraste. Esteprocedimento confirmou a inserção em T7-T8 e identificoua extremidade do cateter em T4. Foram retirados 2 cm decatéter e reiniciada perfusão epidural de ropivacaína 0.2%com bom controlo da dor e sem efeitos laterais.O catéter epidural foi completamente removido no 5º diapós-operatório, sem intercorrências. A doente teve alta,ao 7º dia pós-operatório, sem sequelas.  Sindrome de Horner transitório após epidural torácicacontínua em crianças, é frequentemente não diagnosticado,mas tem uma incidência de 2.6%.4

O recurso a meios imagiológicos no contexto da anestesiaregional em crianças, particulamente na determinação daextremidade do catéter epidural, tem ganho importância.5

Referências1. Nuss D, Kelly RE Jr, Croitoru DP et al. A 10-year reviewof a minimally invasive technique for correction of pectusexcavatum. J Pediatr Surg 1998;33:545-552

2. Hendrickson RJ, Bensard DD, Janik JS, Partrick DA. JPediatr Surg. 2005 Aug;40(8):1312-1314

3. Barros, F. Continuous thoracic epidural analgesia with0.2% ropivacaine for pectus excavatum repair in children.Paediatric Anaesthesia 2004;14:192-194

4. Zadra N, Guisti F. Horner syndrome due to thoracicepidural analgesia in children. Paediatric Anaesthesia2000;10:573

5. Chawathe MS, Jones RM, Gildersleve CD, Harrison SK,Morris SJ, Eickmann C. Detection of epidural catheters withultrasound in children. Paediatric Anaesthesia 2003;13:681-684

S. S. B Franklin, A. B Angelica, P Glória, L Yolanda, S. Silmara,F Samanta

Introdução e Objetivos: Muitos estudos estão sendorealizados para investigar o mecanismo de ação dosanestésicos locais na junção neuromucular. Em baixas doses,seu emprego isolado, não interfere na transmissãoneuromuscular, no entanto em altas doses podemcomprometer a transmissão neuromuscular. Em estudosanteriores, foi observado que baixas doses de bloqueadoresneuromusculares, incapazes de causar bloqueioneuromuscular, tem seu efeito potencializado pelosanestésicos locais. Objetivamos estudar em preparaçãonervo frênico diafragma de rato, a influência da lidocaínano bloqueio neuromuscular produzido pelo rocurônio.Metodologia: Utilizou-se a preparação nervo frênico-diafragma de rato (NFD), para verificar o efeito da lidocaína(20mg/ml) na transmissão neuromuscular e a sua influênciano bloqueio neuromuscular produzido pelo rocurônio(4mg/ml). Foram avaliados: efeitos nas respostas muscularesa estimulação indireta; potenciais bioelétricos (potencial demembrana e potenciais de placa terminal em miniatura);eficácia da neostigmine e 4 aminopiridina na reversão dobloqueio neuromuscular. Resultados: Nas preparações NFD,a lidocaína isoladamente não alterou a amplitude dasrespostas musculares. Quando na mesma preparaçãoassociou-se a lidocaina, o bloqueio neuromuscular produzidopelo rocurônio foi de 82,8%, significativamente maior doque quando o rocurônio foi empregado isoladamente(57,8%). A lidocaína não alterou o potencial de membrana;verificou-se inicialmente um aumento na freqüência masnão na amplitude dos PPTM, seguido de bloqueio. O bloqueiofoi parcialmente e totalmente revertido pela neostigminae 4 aminopiridinas, respectivamente. Discussão e Conclusões:A interação entre os anestésicos locais e os bloqueadoresneuromusculares não está completamente elucidada, evários mecanismos podem ser responsáveis pelapotencialização observada. Teoricamente estes agentes

Faculdade de Ciências Médicas

- Universidade Estadual de Campinas - SP - Brasil

Influência da Lidocaína nobloqueio neuromuscularproduzido pelo rocurônio.Estudo experimental em diafragmade rato.

Resumo

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podem interferir em alguma etapa envolvida na transmissãoneuromuscular. Por ação pré-sináptica, os anestésicos locaisdeprimem seletivamente a condução nas fibras motoras ediminuem a liberação de acetilcolina durante a estimulaçãonervosa.   Por ação  pós-sináptica  podem se ligar a diferenteslocais específicos de acetilcolina, resultando emdessensibilização desses receptores, além de poderemocluir temporariamente os canais dos receptores nicotínicos. O presente estudo, realizado em preparação nervo frênico-diafragma de rato, mostrou que na concentração estudadaa lidocaína empregada isoladamente não exerceu efeitosna junção neuromuscular, no entanto potencializou obloqueio produzido pelo rocurônio.Referências1. J Physiol, 1978; 277: 153-76;2. J Biol Chem, 1982; 257: 8106-14;3. J Pharmacol Exp Ther, 1968;159:353-61;4. Biophys J, 1982;37:625-31.  

A. B Angelica, S. Silmara, S. S. B Franklin, P Glória, L Yolanda,F Samanta

Introdução e Objetivos: Muitos estudos têm sido realizadospara investigar os efeitos dos bloqueadores de canais decálcio nas respostas musculares e no bloqueio neuromuscularproduzido por bloqueadores neuromusculares. No entantoos resultados ainda são controversos. Objetivamos estudarem preparação nervo frênico diafragma de rato, a influênciada nifedipina no bloqueio neuromuscular produzido peloatracúrio e cisatracúrio. Metodologia: Utilizou-se apreparação nervo frênico-diafragma de rato (NFD), paraverificar o efeito da nifedipina (4mg/ml) na transmissãoneuromuscular e a sua influência no bloqueio neuromuscularproduzido pelo atracúrio (20mg/ml) e cisatracúrio (3mg/ml).

Faculdade de Ciências Médicas

- Universidade Estadual de Campinas - SP - Brasil

Influência da Nifedipina nobloqueio neuromuscularproduzido pelo atracúrio epelo cisatracúrio.Estudo experimental em diafragmade rato.

Resumo

Foram avaliados: efeitos nas respostas musculares aestimulação indireta; potenciais bioelétricos (potencial demembrana e potenciais de placa terminal em miniatura).Para análise dos dados utilizaram-se os testes t de Studente t de Student para amostras pareadas, adotando-se o nívelde significância de 5% (p<0,05).  Resultados: Nas preparaçõesNFD, a nifedipina isoladamente não alterou a amplitudedas respostas musculares. O bloqueio neuromuscularproduzido pelo atracúrio e pelo cisatracúrio, isoladamentefoi de 45,02 ± 6,33% e 48,01 ± 10,33, respectivamente.Quando na mesma preparação associou-se a nifedipina aosbloqueadores neuromusculares , os bloqueiosneuromusculares foram maiores:  atracúrio (64,19 ± 9,37%)e cisatracúrio (74,04 ± 10,12%), com diferença significativaem relação ao bloqueio produzido pelo emprego isoladodos bloqueadores neuromusculares. A nifedipina não alterouo potencial de membrana; verificou-se inicialmente umaumento na freqüência, mas não na amplitude dos PPTM,seguido de bloqueio. Discussão e Conclusões: A semelhançade estudos anteriores, a nifedipina potencializou o bloqueioneuromuscular produzido pelo atracúrio e pelo cisatracúrio.Embora as razões para esta interação e potencialização dobloqueio neuromuscular, não estejam totalmenteesclarecidas, vários mecanismos têm sido propostos.  Algunstrabalhos realizados  in vivo e in vitro, sugerem que osbloqueadores de canais de cálcio, impedem o influxo decálcio através da membrana dos canais lentos de cálcio,alterando a concentração de cálcio e de adenosinamonofosfato cíclico (cAMP) pré-sináptico, prejudicando amobilização e a liberação do neurotransmissor econsequentemente  inibindo a transmissão neuromusculare a contração muscular. Estas drogas também apresentamatividade anestésica local, que pode contribuir para o efeitodepressor na contração muscular, provavelmente devidosua ação no canal rápido de sódio. A nifedipina naconcentração empregada potencializou o bloqueioneuromuscular produzido pelo atracúrio e pelo cisatracúrio.As alterações do potencial de placa terminal em miniaturaexteriorizam uma ação pré-sináptica e a ausência de efeitono potencial de membrana demonstra não possuir açãodespolarizante sobre a fibra muscular.  Referências1) Anaesthesia 1996; 51:140-44. 2) Anesth Analg 1988;67:1-8.3) Anesthesiology, 1982; 57:504-18.4) Pharmacol Res Commun 1986;18:529-541.

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A. B Angelica, S. S. B Franklin, F Aristeu, R Monique, G Juliana,B Ricardo, S LourençoFaculdade de Ciências Médicas

- Universidade Estadual de Campinas - SP - Brasil

Anestesia para tratamentointra-parto extra-útero (exit)em feto com diagnóstico pré-natal de higroma na regiãocervical.Relato de caso.

ResumoIntrodução: As malformações fetais, envolvendo obstruçãodas vias aéreas superiores, podem ser diagnosticadasprecocemente através dos modernos exames de imagem,possibilitando redução da morbimortalidade neonatal. Oobjetivo deste relato é apresentar um caso de anestesiapara cesariana com abordagem das vias aéreas fetais intra-parto extra-útero (EXIT), em feto com diagnóstico detumor cervical (higroma cístico).Relato do Caso: Paciente com 22 anos, 62kg, 156cm,primigesta, 38 semanas de gestação, sem antecedentesanestésicos, estado físico ASA I, submetida a operaçãocesariana eletiva para realização de EXIT. Na sala cirúrgica,sem medicação pré-anestésica, a paciente foi monitorizada:cardioscopia, pressão arterial não invasiva, oximetria depulso, capnógrafo e monitor de bloqueio neuromuscular. Bloqueio peridural em L2-L3, passagem de cateter parainjeção de morfina no pós-operatório. Com a paciente emdecúbito dorsal horizontal e deslocamento do útero paraa esquerda, iniciou-se a indução da anestesia geral deseqüência rápida: pré-oxigenação, injeção de fentanil (250µg),propofol (100mg) e rocurônio (50mg), manobra de Sellike intubaçao traqueal. A manutenção da anestesia foi obtidacom isoflurano em mistura de O2 e N2O (50%). A pressãoarterial sistólica materna foi mantida acima de 100 mmHg,com efedrina em “bolus” (5,0mg) e cristalóides. Apóshisterotomia, houve liberação parcial do feto, abordagemdas vias aéreas fetal seguido de laringoscopia e intubaçãotraqueal, mantendo-se a circulação placentária. Após viasaéreas fetal asseguradas, seguíu-se liberação total do feto,clampeamento do cordão umbilical e administração deocitocina.Discussão: A anestesia para EXIT é semelhante à anestesia

para cirurgia fetal aberta, no entanto não necessita deterapia tocolítica pós-operatória, visto que o procedimentoencerra com o nascimento, sendo premente a reversão dorelaxamento uterino. A anestesia geral está indicada paraassegurar relaxamento uterino, anestesia fetal e abordagemfetal.Referências1) Int J Obstet Anesth 2004;13:178-82.2) Best Pract Res Clin Anaesthesiol 2004;18:259-71.3) J Pediatr Surg 2002;37:418-26.4) Pediatric Anesthesia 2004;14:48-52.

M. Rocha*, F. Lima**, F. Pousa**, J. Reis***

IntroduçãoO edema pulmonar por pressão negativa (EPPN) foiinicialmente descrito em crianças1, e ocorre comoconsequência da ventilação esforçada contra uma obstrucção.Até à data, estão descritos na literatura 146 casos, sendomais frequente no sexo feminino. Os autores apresentamum caso de EPPN no pós-operatório, de jovem submetidoa cirurgia urgente.Caso clínicoDoente de 23 anos, sexo masculino, artista de circo, cujahistória clínica não revelou nenhum aspecto importante areferir, a não ser hábitos tabágicos de 2 UMA.Foi submetido a apêndicectomia sob anestesia geralbalanceada com despertar complicado por laringospasmosevero e dessaturação (periférica) até 60%. Procedeu-se aventilação com pressão positiva e administração e.v. de300mg de hidrocortisona. O doente recuperou dolaringospasmo, tendo iniciado ventilação espontânea;manteve-se consciente, colaborante, cumprindo ordenssimples, e com força muscular adequada, sendo transferidopara a área de recobro anestésico. Cinco minutos depois,reinicia quadro de dessaturaçao, taquipneia, tosse comexpectoração hemoptóica, sem sinais de estridor ou de

CHVN Gaia - Gaia

Edema Agudo de PressãoNegativa- Caso Clínico

Resumo

* IC Anestesiologia CHVNGaia

** AHG Anestesiologia CHVNGaia

*** Dir. de Serviço CHVNGaia

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obstrução da via aérea. A auscultação pulmonar, reveladiscreta diminuição global dos sons inspiratórios, semruídos adicionais. O RX torácico  evidencia infiltradoalgodonoso bilateral peri-hilar com índice cardiotoracciconormal sem sinais de redistribuição vascular. Foi transferidopara UCPA com PO2/FiO2 de 153, não mostravamarcadores de infecção nomeadamente febre, leucocitoseou neutrofilia, nem se isolou nenhum agente infeccioso.Após a admissão na UCPA observa-se rápida melhoria dainsuficiência respiratória, bem como das alteraçõesradiológicas, tendo alta para o internamento de cirurgiageral, sem sinais e/ou sintomas de insuficiência respiratória.

DiscussãoMediante a dessaturação do paciente várias hipóteses dediagnostico foram questionadas, nomeadamente a reacçãode hipersensibilidade a farmacos, a aspiração do conteúdogástrico, alterações cardiovasculares, aspiração pulmonar,fluidoterapia, e o edema de pressão negativa. A reacçãode hipersensibilidade a farmacos foi excluída, dado o doentenunca ter apresentado sinais de instabilidade cardiovascular,broncoconstrição ou alterações dermatológicas sugestivasde causa alérgica2. O diagnóstico de aspiração pulmonarfoi eliminado por o doente não ter apresentado conteúdogástrico visível na orofaringe e dado a rápida melhoriaclínica e radiologica2. Finalmente, e perante a ausência dealterações cardiovasculares, fomos a favor do edema agudode pressão negativa tendo em atenção a rápida evoluçãoe resolução clínica, os exames culturais negativos, a ausênciade alterações analíticas e presença de alterações radiológicasque rapidamente reverteram2.Referências1. Capitanio MA, Kirkpatrick JA. Obstruction of the upperairway in children as reflected on the chest radiograph.Radiology 1973; 107:159-161.  2. The Greek E-Journal of perioperative Medicine 2003;1:69-73.

N. Andrade, J. Mourão, G. Afonso, J. Tavares

Introdução:O Síndrome de Gilbert e a Esferócitose Hereditária sãoduas causas de icterícia pós-operatória.1

O Síndrome de Gilbert é um distúrbio benigno comum,caracterizado por uma hiperbilirrubinemia não conjugadaleve devido a um defeito na captação hepática e na conjugaçãoda bilirrubina por diminuição da bilirrubinaglicuronosiltransferase. Esta enzima participa na metabolizaçãode alguns fármacos, logo, há risco aumentado de toxicidade.As concentrações séricas de bilirrubina são com frequência<3 mg/dl, mas, valores mais elevados estão associados aostress pré-operatório, ansiedade, jejum e doençasintercorrentes.1,2,3

A Esferocitose Hereditária é uma anemia hemolíticacaracterizada por esferócitos devido a um defeito molecularnuma proteína do citoesqueleto da membrana. O processohemolítico é, geralmente, compensado por umareticulocitose, mas esta compensação da medula óssea podeser interrompida, temporariamente, por infecções etraumatismo cirúrgico.4

Caso Clínico:Doente do sexo masculino, 9 anos, com antecedentes deEsferocitose Hereditária e Síndrome de Gilbert. Propostopara apendicectomia, sob anestesia geral.Indução anestésica com oxigénio, tiopental (250mg), fentanil(0,075mg) e cisatracurio (5mg). Intubação oro-traqueal,sem alteração da FC e da TA. Manutenção da anestesiacom oxigénio a 40%, ar e sevoflurano (ET 1,5). Analgesiacom paracetamol (500mg) e tramadol (50mg).Emergência da anestesia e recuperação pós-operatória semintercorrências. Internamento sem complicações comdecréscimo dos valores de bilirrubina indirecta e manutençãodos valores de hemoglobina. Alta ao 4º dia apósinternamento, sem complicações.  Discussão:Para evitar um agravamento da diminuição da actividade dabilirrubina glicuronosiltransferase e da hiperbilirrubinemia,optamos por manter o doente em contacto permanentecom a mãe até ao início da indução para diminuir a ansiedade

Hospital de S. João - Porto

Caso Clínico de um Doentecom Síndrome de Gilbert eEsferócitose Hereditária

Resumo

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pré-operatória, iniciamos infusão de glicose logo desde doinício do jejum, mantida durante todo o procedimentoanestésico para evitar diminuição de aporte calórico,mantivemos hidratação adequada para evitar hemólise, eevitamos a hipoxia que é uma causa de icterícia pós-operatória1,2.  Para evitar toxicidade farmacológica intra-operatória,escolhemos o tiopental e o cisatracurio que não sofremmetabolização por reacções químicas de fase II, usamosuma dose baixa de fentanil, paracetamol e tramadol, aomesmo tempo que evitamos morfina e AINE´s, e utilizamoso sevoflurano que tem uma metabolização hepática deapenas 3%.1,2,3

Referências1. S. Taylor – Gilbert`s syndrome as a cause of postoperativejaundice – Anaesthesia, 1984, 39, 1222-12242. Fabiano Timbó Barbosa, et al – Anestesia em pacientecom síndrome de Gilbert. Relato de caso. – Rev BrasAnestesiol, 2004;54.3. Hargreaves J. – Anaesthesia and Gilbert`s syndrome –Anaesthesia. 1985 Jun;40(6): 595-64. Bajracharya BL, et al – Hereditary spherocytosis –Kathmandu Univ Med J. 2004 Apr-jun; 2(2):145-8

O. Gvindzhyliya, L. M. Silva

A propósito de um caso clínico de um homem de 42 anoscom antecedentes de Ureterosigmoidostomia (USS) porExtrofia Vesical Congénita, realizada há 40 anos; propostopara cirurgia programada por neoplasia de cólon esquerdo.Apresentamos uma breve revisão teórica sobre condiçãode status pós USS e consequentes implicações com anestesia.

PALAVRAS-CHAVE: Ureterosigmoidostomia; Anestesia.

Hospital Distrital de Santarém - Santarém

Considerações Anestésicasnum Doente com Status pósUreterosigmoidostomia porExtrofia Vesical Congénita.A propósito de um Caso Clínico

Resumo

CASO CLÍNICONo exame objectivo o doente apresentava bom estadogeral, orientado, colaborante. Analiticamente com valoresde Ht, VGM, HGM ligeiramnete baixos; com aumento deRDW; ligeiro aumento de Mg, ALT, LDH e CK. A técnicaanestésica foi uma Anestesia Combinada: Anestesia GeralBalanceada e Anestesia Loco-Regional Epidural. O cateterepidural foi utilizado para analgesia durante 48 horas nopós-operatório. O intra-operatório decorreu semintercorrências, tendo-se verificada uma estabilidadehemodinâmica. O tempo total de cirurgia foi de 120 minutose o tempo total de anestesia - 180 minutos. No fim dacirurgia e imediatamente antes de reconverção da anestesiafoi colocada uma sonda de Fuche, que drenou 250 ml deurina. O recobro imediato correu sem complicações, commonitorização standard e da PVC.DISCUSSÃO E CONCLUSÕESA colocação de USS na infância provoca várias complicaçõesde longo-termo que contribuem significativamente para amorbilidade do doente. O conhecimento destas complicaçõese a correcta preparação pré-operatória, cuidados nosperíodos intra- e pós-opertório podem providenciar menormorbilidade relacionada com a anestesia. O clorido deamónio contido na urina é absorvido no lúmen intestinalpara a corrente sanguínea e é trocado por acido carbónico(CO2 e agua), como consequência pode desenvolver-se aacidose metabólica hiperclorémica.1,3

A amónia absorvida no intestino é metabolizada no fígado,onde é convertida na ureia.1 A creatinina e a ureia séricassão parcialmente reabsorvidas no intestino que está emcontacto com urina, portanto torna-se pouco fiável aavaliação da função renal com estes valores.1 A hipokaliemiae a depleção de potássio total podem ocorrer nos pacientescom derivações intestinais, que provavelmente se deve àperda renal como consequência da danificação do rim, àdiurese osmótica e à perda com secreção intestinal.1,3

Devido à acidose persistente, resistência à vitamina D (típicanestes doentes) e à perda excessiva de cálcio por rim ospacientes com USS são propensos à osteomalácia.1,2 Existemtambém alterações de absorção medicamentosa. Esteproblema pode ocorrer com medicamentos excretadospelo rim em forma não alterada e reabsorvidos no tractointestinal.1

Referências1. Urol Cl in North Am 1991; 18:725-29,2. Urology 1989; 29:538-543,3. J Urol 1983; 129:719

P010

Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

21S. Fonseca*, A. Leão*, E. Fuentes*, J. Tavares**

A malformação de Arnold-Chiari é caracterizada pela descidade estruturas mesencefálicas através do buraco magno,alterações esqueléticas e disfunção neurológica de gravidadevariável. Na maioria dos doentes ocorre alteração do fluxode líquido céfalo-raquidiano (LCR), com dissociação dapressão crânio-espinhal (PCE). Estão descritas 4 classes: Natipo I ocorre alongamento e deslocação descendente, ³ 5mm, das amígdalas cerebelosas.1

Em 65 a 80% dos doentes com malformação de Arnold-Chiari tipo I (MAC I) ocorre secundariamente siringomieliaou degeneração quística da medula espinhal.2

As alterações fisiológicas resultantes da gravidez e do partoacarretam um risco adicional de herniação do tronco e decompressão da medula espinal.3

Caso ClínicoApresenta-se o caso clínico de uma grávida de 26 anos, IGesta 0 Para, com malformação de Arnold-Chiari tipo I,corrigida cirurgicamente, e siringomielia, proposta paracesariana electiva. O exame físico salienta-se hemihipostesiaesquerda, ao nível T4 e alguma limitação motora do membrosuperior esquerdo. Optou-se por uma anestesia geralbalanceada (com 500 mg tiopental, 75 mg succinilcolina,0.15 mg fentanil e 4 mg cisatracurio). Para além damonitorização standard também foi monitorizado o bloqueioneuro-muscular. A cesariana decorreu sem intercorrências,não sendo necessários cuidados específicos no pós-operatório. Recém-nascido do sexo feminino, com índiceAPGAR 9 e 10, aos 1º e 5º minutos. Alta ao final de 5 dias.A avaliação da doente realizada ao final do 1º mês nãorevelou agravamento do estado neurológico.Discussão e ConclusõesNos doentes com MAC I todos os tipos de anestesia podemser utilizados,4 embora se tenha observado evolução favorávele desfavorável com anestesia geral (AG)5 e bloqueio doneuro-eixo.6  

*Departamento de Anestesiologia e Cuidados Intensivos, Hospital

de S. João - Porto

Anestesia para cesariana emdoente com Malformação deArnold Chiari tipo I eSiringomielia

Resumo

**Faculdade de Medicina da Universidade Porto - Porto

Não está documentada contra-indicação para o bloqueiosubaracnoideu (BSA) principalmente nos doentes submetidosa correcção cirúrgica da malformação. No entanto asalterações da pressão do LCR podem desenvolver-se nestesdoentes, de forma imprevisível, e são agravadas com apunção de dura mater, pelo que o recurso ao BSA deveser ponderado seguindo critérios de risco/benefício.5

A AG obriga a cuidados especiais. Muitos destes doentesapresentam escoliose torácica, doença do neurónio motor,fraqueza muscular, hipercaliémia e siringobulbia comdiminuição ou ausência dos reflexos de protecção da viaaérea.Com o bloqueio epidural de início gradual, para evitar asalterações hemodinâmicas do bloqueio simpático e aexpansão rápida do espaço epidural evitam-se os riscosrelacionados com  a via aérea, a função respiratória é menoscomprometida e a relação de PCE é melhor preservada.Contudo existe o risco do punção acidental da dura mater,com todas as implicações associadas ao BSA.Referências1. www.ccm.ucsd.edu/AC.htm;2. Journal of Genetic Counselling,2003; 12: 297-311;3. Am J Perinatol 2002; 19: 445-450;4. J Clin Anesth 2002; 14: 201-05;5. Int J Obstet Anesth 2004; 13: 114-16;6. Anesth Analg 2003; 97: 253-5  

J. Almeida*, F. F. Santos*, J. S. Viana**

Introdução e objectivo: O midazolam e o diazepam sãoutilizados em anestesia, quer em pré-medicação, quer emco-indução1. O efeito de baixas doses destes fármacos noconsumo de agentes inalatórios e na duração da induçãoe recuperação anestésica não se encontra definido comprecisão. O objectivo deste estudo foi avaliar estes aspectos,em condições similares às da prática clínica diária.

*Hospital de Cândido Figueiredo - Tondela

Efeitos de baixas doses demidazolam e diazepam noconsumo de sevoflurano- um estudo controlado, randomizado,com dupla ocultação

Resumo

**Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra - Coimbra

P011 P012

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22

Tipo de estudo: Randomizado, com dupla ocultação e usode placebo como controlo.Metodologia: Após aprovação institucional e consentimentoescrito informado, 33 doentes ASA I ou II, com 44 ± 13anos de idade, programados para cirurgia electiva de hérniada parede abdominal ou hidrocelo foram randomizadospara receber, por via endovenosa, midazolam 0,05 mg/kg(grupo M, n=11), diazepam 0,1 mg/kg (grupo D, n=11) ousoro fisiológico (grupo C, n=11), administrados 2 minutosantes da anestesia. Sem outra medicação pré-anestésica, aindução foi realizada com fentanil 2,5 µg/kg e propofol 2,5mg/kg. Inseriu-se uma máscara laríngea e realizou-seventilação controlada através de um aparelho Taema Alys®,com um débito de gases frescos de 4 litros/minuto. Amanutenção foi efectuada com sevoflurano, vaporizado emO2/ar, sendo a concentração ajustada por um anestesistaque desconhecia o grupo do doente, de acordo comobjectivos clínicos pré-estabelecidos2 e incluídos noprotocolo do estudo.O consumo exacto de sevoflurano foi estabelecido pesandoo vaporizador imediatamente antes e depois de cadaanestesia, com uma balança de precisão (décima de grama).Estatística: Comparações realizadas com ANOVA de umavia, seguida do teste da LSD.Resultados: Os grupos não foram diferentes em relação àidade, sexo e peso dos doentes. Os resultados encontram-se em quadro anexo.

Resultados (dados expressos em média ± desvio-padrão)Comparações pós-ANOVA (teste da LSD):* M/D p=0,053; M/C p=0,015; D/C p=0,567;# M/D p=0,195; M/C p=0,008; D/C p=0,145;

Grupo M D C p(ANOVA)

Duração da cirurgia(min)

Duração da anestesia(min)

Sevoflurano(dg/min)

Perda reflexo palpebral(seg)

Abertura dos olhos(min)

Saída da salaoperatória (min)

Dor à 4ª hora(EVA)

Dor à 24ª hora(EVA)

Satisfação(EVA)

39±12 32±10 36±11 0,36

57±12 49±9 50±10 0,16

4,0±1,6 4,0±1,1 4,4±12 0,69

36±10 44±6 46±11 0,02*

12±5 9±4 7±3 0,01#

16±4 14±3 12±5 0,06

3,0±1,9 3,5±1,2 2,9±1,8 0,66

1,8±2,0 2,0±0,9 2,5±1,7 0,63

9,1±1,0 8,9±1,1 9,1±0,9 0,94

Discussão e conclusões: Os achados do nosso estudodemonstram que nem o midazolam nem o diazepam reduzem(nas doses avaliadas) o consumo de sevoflurano. Omidazolam diminui nalguns segundos a duração da induçãoanestésica, mas aumenta em vários minutos a duração darecuperação após o término da anestesia. Procurámos fazeresta avaliação em condições que mimetizassem a práticaclínica diária. Administradas as duas benzodiazepinasimediatamente antes da indução, não detectamos vantagensno seu uso, que deve ser desaconselhado desta forma, poisa adição de mais um fármaco aumenta a probabilidade dereacções adversas, de troca de fármacos e ainda o custoda anestesia3.  É sabido que as benzodiazepinas reduzem as necessidadesde propofol, pelo que se pode colocar como hipótese queoutras doses, diferentes das estudadas, também reduzamo consumo de sevoflurano. Para avaliar esta hipótese, serãonecessários outros estudos.Referências1. Eur J Anaesthesiol 2002; 19: 580-4.2. Anesth Analg 1998; 86: 504-9.3. Anesth Analg 1997; 85: 553-9.

D. Pereira, A. Marcos, C. J. Carvalho

A avaliação da satisfação do utente é uma forma de pesquisa,de gestão e planeamento, que pode permitir aos serviçosadequar-se ao meio exterior, respondendo de forma maisadequada às necessidades dos utilizadores1. Na avaliaçãoda qualidade devemos ter em conta a estrutura, o processoe os resultados. O resultado é o produto final da assistênciaprestada, considerando a satisfação de padrões de saúdee expectativas2.Objectivo – Avaliação da satisfação dos doentes seguidosna Unidade de Tratamento de Dor (UTD) do CentroHospitalar de Vila Nova de Gaia.Metodologia – Realização de um inquérito anónimo, aprovadopela Comissão de Ética do Hospital, aos doentes com maisde cinco consultas seguidos na UTD no período de Outubrode 2005 a Janeiro de 2006. Foram avaliados a idade, sexo,referenciação à consulta e alguns aspectos psicossociais da

Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia - Vila Nova de Gaia

Avaliação da Satisfação dosdoentes seguidos na unidadede tratamento de dor

Resumo

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dor. Quantificada a satisfação (pontuação de 0 a 5) emrelação ao secretariado, equipa de enfermagem e médica,assistente social e psicólogo. Questionada a sua opinião emrelação ao espaço físico, à qualidade da informação prestadae respectiva percepção. O tratamento de dados foi realizadocom o programa Excell da Microsoft Windows.Resultados – Os 87 inquéritos respondidos correspondema doentes com idade média de 54 anos (+/- 35), dos quais58,6% são do sexo feminino. Em 69 % dos casos a primeiraconsulta foi marcada directamente pelo seu médicoassistente. A maioria dos doentes considerou a sala deespera da UTD e gabinete de consulta como razoável oumau quanto ao espaço e conforto. Necessitaram de consultasem marcação prévia 56,3% dos inquiridos e 64,4%recorreram ao apoio via telefónica, tendo tido respostapara o seu problema em 94,6 % dos casos. Em relação àinformação clínica 78% consideraram-na suficiente e 73,5%compreenderam tudo. Consideraram o atendimento globalna UTD como Bom ou Muito Bom 85% dos doentes. Napontuação de 0 a 5, todos os doentes pontuaram acima de3, a qualidade do atendimento médico e de enfermagem.Mantiveram consultas regulares no seu médico 73,5% dosdoentes. Apresentavam uma ou mais dificuldades sócio-familiares relacionadas com a dor 67% dos doentes, compredomínio dos problemas económicos. A maioria dosdoentes consideraram a existência da Assistente Socialcomo muito importante e 39% necessitaram de apoio social.Da mesma forma consideraram a existência do Psicólogona UTD como muito importante 56% dos doentes. Dos 41doentes que tiveram consulta com Psicólogo, 70%classificaram-na com a pontuação máxima quanto à qualidadee satisfação.Discussão e Conclusões – A avaliação do espaço físico daUTD foi negativa por parte dos doentes. O atendimentoclínico foi considerado bom ou muito bom pela maioriados inquiridos, de salientar a valorização do atendimentopsicológico e social. De salientar a facilidade do recurso aocontacto telefónico e a devida orientação dos doentes emsituações de intercorrência.Referências1. Jama 1990, 260 (12) 1743-1748;2. Revista CAR, 2003, Nº 34, 68-72;

D. Pereira, A. Marcos, C. J. Carvalho

A coluna vertebral tem função de suporte, movimento eprotecção. A incidência de dor relacionada com problemasda coluna é significativa e com importantes repercussõeseconómicas e sociais.1,2 É considerada a principal causa deabsentismo e incapacidade na população activa. As causasde dor após cirurgia da coluna podem incluir situaçõesrelacionadas com a indicação ou técnica cirúrgica incorrectasou recidiva posterior em relação à cirurgia primária.3,4 Naavaliação do doente deve ser considerada a litania da dor,a incapacidade, tratamentos efectuados, factores psicológicos,história familiar e aspectos laborais.5

Objectivo: Caracterização e avaliação dos casos clínicosapós cirurgia da coluna seguidos na Unidade de Dor (UTD)do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia.Metodologia: Neste estudo descritivo, os autoresprocederam à revisão dos processos clínicos de todos osdoentes com dor crónica após cirurgia da coluna, seguidosna UTD. Foram avaliados a idade, sexo, localização daintervenção cirúrgica, timing do início da dor, característicasda dor, a medicação do doente na primeira consulta e oseguimento na Unidade. O tratamento dos dados foirealizado com o programa Excell do Microsoft Windows.Resultados: Dos 57 casos clínicos avaliados, 68% eram dosexo feminino. Cerca de 86% dos doentes tinham idadesentre os 30 e 60 anos. A localização da cirurgia foi a nívellombar em 48 casos (84%). O início das queixas verificou-se em 52% dos casos, no primeiro mês após a cirurgia. Osdoentes foram referenciados à UTD em 35 % dos casospor especialidades não cirúrgicas. Cerca de 80 % dosdoentes apresentavam dor com evolução superior a seismeses na 1ª consulta da Unidade e classificavam-na comosevera (EVA>6) 31,5% dos doentes. A dor comcaracterísticas neuropáticas era descrita em 51 casos.Apresentavam incapacidade laboral 26% dos doentes.Comparando a abordagem terapêutica na admissão e noseguimento na UTD verificamos um aumento significativono recurso a fármacos coadjuvantes, opióides minor etécnicas invasivas assim como a intervenção multidisciplinar,salientando as áreas da Psicologia e Fisiatria. Em 75 % doscasos verificou-se melhoria significativa das queixas álgicas

Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia - Vila Nova de Gaia

Dor crónica após cirurgia dacoluna na unidade detratamento de dor

Resumo

P014

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24

(EVA<3) e da qualidade de vida do doente durante o seuseguimento na UTD.Discussão e Conclusões: Neste trabalho verificamos, quea maioria dos doentes foi submetida a cirurgia da colunalombar, salientando o número de casos referenciados porespecialidades não cirúrgicas. Na primeira consulta daUnidade de Dor, a maioria dos doentes apresentava dormoderada ou severa há mais de seis meses.O acompanhamento do doente na Unidade de Dor,melhorou a sua qualidade de vida de forma considerável.A correcta avaliação e selecção pré-operatória em cirurgiada coluna, assim como a abordagem integrada emultidisciplinar da dor parecem-nos fundamentais para arecuperação global do doente.Referências1. Apontamentos do 1º Curso de pós-graduação em Medicinada Dor;2. Back pain in the Workplace, IASP Press (1995);3. Dolor crónica no maligna;5. DOR, Vol 9, nº 1 (2001)

A. Leão*, J. Ferreira*, S. Fonseca*, M. Gouveia*, M. C. Matos*,J. Tavares**

O idoso apresenta riscos especiais para a cirurgia pela altaprevalência de doenças coexistentes;como tal a anestesialoco-regional oferece vantagens em relação à anestesiageral .Os autores descrevem a realização de uma anestesia espinhalcontínua numa doente ASA III proposta para colostomiade urgência por quadro de oclusão intestinal.Caso clínico: doente do sexo feminino, 92 anos, ASA III,com diagnóstico de carcinoma do recto com metastizaçãohepática, proposta para colostomia de urgência por quadrode oclusão intestinal.Patologia associada: HTA; EAM há 6 meses; InsuficiênciaCardíaca grau III NYHA;  Procedimento anestésico: bloqueio espinhal contínuo; L3-L4, via mediana, utilizando cateter espinal contendo  agulha

*Departamento de Anestesiologia e Cuidados Intensivos,

Hospital de S. João - Porto

Anestesia espinhal contínuapara realização de colostomia

Resumo

**Faculdade de Medicina da Universidade do Porto - Porto

epidural 18G que serviu de introdutor ao conjunto : cateter20G e agulha 27G espinalAdministração de: 7 mg de Bupivacaína isobárica 0,5%  + 20 µg Fentanil ( num volume total de 3ml administradoem doses fraccionadas até alcançar um nível T5-T6)Após a cirurgia iniciou analgesia intra-tecal com morfina0,1 mg ev 12/12h .Pós-operatório em unidade de cuidados intermédios(2 dias), sem intercorrências. Alta hospitalar ao 8º dia.Discussão: a idade, os antecedentes de insuficiência cardíacae EAM orientaram a preferência por uma anestesia espinhal.Optou-se pela técnica contínua, pois permite prolongar notempo a intervenção cirúrgica, utilizar menores doses deanestésico local, acarretando menores efeitos secundárioshemodinâmicos e respiratórios, e permitindo uma analgesiapós-operatória eficaz.  Durante a cirurgia não se verificaram variaçõeshemodinâmicas significativas nem alterações de consciência.Conclusão: o bloqueio espinhal contínuo é particularmenteútil no idoso, pois é fácil de executar, apresenta uma baixaincidência de complicações, possibilitando o prolongar daanalgesia relativamente ao tempo cirúrgicoReferências  1. British Journal of Aneaesthesia 1998;81: 590-5972. Rev Bras Anestesiol, 1999; 49:5:315-3193. regional Anesthesia 1993; 18:52-54

J. Peralta*, A. Miranda*, M. Pereira*, S. Cabrita*, P. Azevedo*,P. Sousa**

Introdução e objectivos: O bloqueio femoral contìnuo (BFC)é utilizado, desde há alguns anos, como uma técnica analgésicade eleição para o pós-operatório da artroplastia total dojoelho (ATJ)1,2. No entanto alguns estudos recentes3,4

apontaram a necessidade de associar um bloqueio do nervociático para se obter uma analgesia eficaz. Face a estaaparente contradição decidimos efectuar um estudoretrospectivo com o objectivo de avaliar a qualidade doprotocolo analgésico que utilizamos por rotina na ATJ e

*Hospital Fernando Fonseca - Amadora

Avaliação da eficácia analgésicado bloqueio femoral contínuona artroplastia total do joelho

Resumo

**Hospital do Litoral Alentejano - Santiago do Cacém

P015 P016

Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

que consiste num BFC inserido numa abordagem analgésicamultimodal.Metodologia: Foram analisadas as folhas de analgesia pós-operatória de 50 doentes submetidos a ATJ de onde foramextraídos os scores de dor registados desde a chegada àUCPA até à 24ª hora (9 registos por doente), o númerode administrações do analgésico de recurso e a incidênciade complicações. A escala de dor utilizada contém 4 graus:D0 - sem dor, D1 - sem dor em repouso/dor ligeira aomovimento, D2 - dor intermitente em repouso/dormoderada ao movimento e D3 - dor contínua emrepouso/dor intensa ao movimento.Considerámos como analgesia eficaz scores de dor de 0 e1. Scores de dor de 2 e 3 implicaram a administração deanalgesia endovenosa de recurso. O protocoloanestésico/analgésico utilizado foi o seguinte: o nervofemoral foi localizado por neuroestimulação através daabordagem clássica na prega inguinal (1cm lateral à artériafemoral), foram injectados 20 ml de Ropivacaína a 0.75%e introduzido um catéter (2 cm); utilizou-se o kit parabloqueios contínuos Contiplex® D, (18G/80mm e20G/55mm, BBraun); a técnica anestésica utilizada foi obloqueio subaracnóideu tendo-se utilizado uma mistura deBupivacaína hiperbárica a 0.5% (10 a 12.5 mg) e Sufentanil(2.5 mcg); a analgesia pós-operatória consistiu em1 perfusãocontínua de Ropivacaína (0.2%) a 8 ml/h pelo catéterperineural,2 analgesia endovenosa de manutenção (ketorolac,60 a 90 mg/dia e paracetamol, 3 a 4 g/dia),3 analgesiaendovenosa de recurso (tramadol, 100 mg se score dor ³2) e 4 aplicação local de gelo.Resultados: Cinco doentes foram excluídos por insuficiênciade dados. O gráfico de barras apresenta os scores de dor

encontrados ao longo das 24 horas. O gráfico linearrepresenta, em valor percentual, os doentes com analgesiaeficaz (D0+D1) e com analgesia insuficiente (D2+D3).Foram feitas 25 administrações de Tramadol (55mg/doente/24horas). Não se registaram complicaçõesinerentes à técnica ou à toxicidade dos anestésicos locais.Discussão e conclusões: uma grande maioria de doentessem dor ou com dor ligeira [86,7% (H12)<>100% (H24)],associada ao baixo consumo de opióides e à ausência decomplicações, tornam esta abordagem multimodal altamenteeficaz, segura e suficiente. O bloqueio do nervo ciáticodeverá ser reservado apenas para doentes com um scorede dor elevado nos quadrantes posteriores do joelho eque se mantenham resistentes à terapêutica de recurso.Referências1. Anesth Analg 1998; 87:88-92,2. Anesthesiology 1999;91:8-15,3. J Arthroplasty 2003;18:583-586,4. Anesth Analg 2004;98:747-749

1009080706050403020100

H0 H1 H2 H4 H8 H12 H16 H20 H24

93,3 95,6 88,9 91,1 88,9 86,7 93,3 93,3 100

6,7 4,4 11,1 8,9 11,1 13,3 6,7 6,7 0

D0+D1

D2+D3

40

35

30

25

20

15

10

5

0H0 H1 H2 H4 H8 H12 H16 H20 H24

40 39 36 31 29 28 31 32 37

2 4 4 10 11 11 11 10 8

3 2 4 4 5 6 3 2 0

0 0 1 0 0 0 0 1 0

D0

D1

D2

D3

25

Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

I. Pereira, A. Paulino, V. Rolo, C. Castanheira, L. Sá, C. Pestana,J. F. Lima

A isquemia arterial é uma causa rara e sub-reconhecida demorbi-mortalidade na população pediátrica1. Uma dasetiologias a ser considerada é o tumor cardíaco primário,cuja incidência estimada é 0,0017% a 0,19%. Sendoextremamente invulgar na criança o mixoma é o tipohistológico mais frequente2.Caso Clínico: Os autores apresentam o caso de uma criançade 12 anos de idade, sem antecedentes pessoais relevantes,admitida no serviço de urgência por suspeita clínica deacidente vascular cerebral. A angio-ressonância magnéticarevelou isquemia do território sílvico por possível dissecçãoda carótida interna esquerda. A progressão do quadroisquémico verificada nas 12 horas seguintes, com atingimentoprogressivo de outros territórios arteriais (oclusão aorto-renal e aorto-ilíaco evidenciada por ecodoppler abdominal)motivou cirurgia de revascularização aórtica emergente. Atécnica anestésica foi a anestesia geral balanceada, commonitorização standard, invasiva e laboratorial. O exameextemporâneo dos êmbolos removidos da aorta abdominalsugeriu etiologia embólica de mixoma cardíaco (nãoevidenciado em exames imagiológicos prévios). Verificou-se a inacessibilidade cirúrgica do território intracraniano.A deterioração progressiva do estado neurológicodeterminou a morte cerebral ao 30º dia do pós-operatório.Discussão e Conclusões: A raridade desta entidade,especialmente nesta faixa etária, condiciona múltiplasdificuldades na abordagem destes doentes. O diagnósticoprecoce é essencial para que o tratamento cirúrgico possaser rapidamente instituído com reversão do quadro clínico.No caso apresentado, a doente, à chegada ao blocooperatório, já tinha mais de 12 horas de evolução após aisquemia inicial e um alargamento desta a outros territóriosvasculares. As alterações decorrentes dessa isquémia gravecontribuíram para o mau prognóstico e para as dificuldadesanestésicas encontradas. No intra-operatório foram tomadasmedidas para a viabilização dos órgãos isquémicos e paradiminuir os efeitos das clampagens aórticas, que incluíramredução da pré e pós carga cardíaca (com vasodilatadores),a utilização de medidas de proteção renal (fluidoterapia e

Hospital de Santa Maria - Lisboa

Isquemia MultifocalCatastrófica em IdadePediátrica

Resumo

26

diuréticos) e correcção hidroelectrolítica e da manutençãodo equilíbrio ácido base. No entanto, a inacessibilidade doterritório isquémico do SNC condicionou o desfecho doquadro clínico, apesar da aparente melhoria dos outrosterritórios vasculares.O mixoma auricular deve ser sempre equacionado comoetiologia possível de isquemia arterial em crianças.A remoção cirúrgica precoce é crítica e pode ser curativa3.Referências1. Brobeck BR, Grant PE. Pediatric stroke: the child is notmerely a small adult. Neuroimaging CLIN N Am 2005;15(3): 589-607.2. Ruiz Perez L, Sempere Perez A, Garcia Alonso A, AlendaGonzalez C, Flores Serrano J. Cerebrovascular stroke asa sign of atrial myxoma in childhood. An Pediatr (Barc).2003;58(3): 273-6.3. Al-Mateen M, Hood M, Trippel D, Insalaco SJ, Otto RK,Vittikainen KJ. Cerebral embolism from atrial myxoma inpediatric patients. Pediatrics 2003; 112(2): e162-7.

L. Olim Marote, L. Miguel Mendes, P. Torres Gago

Hospital de Santa Maria - Lisboa

Síndrome AbdominalCompartimental em DoenteQueimado

ResumoOs autores apresentam um caso de síndrome abdominalcompartimental num doente internado na unidade dequeimados.A síndrome abdominal compartimental é caracterizada pormedição de pressão intra-abdominal superior ou igual a 20mm Hg, pelo menos três vezes, num período de 1 a 6 horase falência uni ou multi-orgânica.  A sua prevenção e tratamento passam pelo reconhecimentodos doentes em risco. O seu diagnóstico baseia-se nahistória clínica, semiologia, exames complementares dediagnóstico e medição da pressão intra-abdominal. tratamento tem duas vertentes: médica, de suporte e peri-operatória e cirúrgica, que é o tratamento definitivo.Caso ClínicoTratou-se de um doente do sexo masculino, com 76 anos,hábitos etílicos e tabágicos marcados, admitido na Unidadede Queimados por queimadura da face, pescoço, membrossuperiores, totalizando 18% de superfície corporal queimada.

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Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

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Foi submetido a intubação orotraqueal e fluidoterapiasegundo a fórmula de Parkland.Até ao 4º dia de internamento, instalou-se um quadro dehipotensão progressiva, diminuição dos débitos urináriose balanços hídricos positivos acumulados, com edemasprogressivos e ausência de trânsito intestinal.Ao 6º dia de internamento encontrava-se em anasarca, comhipotensão, oligoanúria, balanço hídrico acumulado de cercade 23 L, pressões de pico aumentadas e agravamento doquadro abdominal, iniciando suporte de aminas.  A pressão intra-abdominal foi estimada em 22 mm Hg.Após avaliação imagiológica e cirúrgica, foi submetido alaparotomia descompressiva com colocação de saco deBogota e drenagem de ascite.Registou-se uma melhoria franca e imediata da ventilação,parâmetros hemodinâmicos e débito urinário.Ao 8º dia suspendeu suporte aminérgico.Ao 13º dia foi submetido a encerramento da laparostomia,com colocação de prótese. Restabelecimento do trânsitointestinal ao 16º dia de internamento.Teve alta para o hospital de origem no 40º dia deinternamento.Discussão e ConclusõesA Síndrome Abdominal Compartimental é um quadro dediagnóstico fácil e eminentemente clínico. É fundamental aidentificação das populações de risco, entre as quais seconta o doente grande queimado, em virtude da ressuscitaçãohídrica agressiva mas obrigatória.Referênciashttp://www.wsacs.org/- Malbrain ML, Chiumello D, Pelosi P et al, Incidence andprognosis of intraabdominal hypertension in a study. Crit.Care Med. 2005; 33(2): 315-322.- Bailey J, Shapiro M, Abdominal Compartment Syndrome.Crit. Care 2000; 4 (1): 23-29mixed population of criticallyill patients: A multiple-center epidemiology.- Walker J, Criddle L,  Pathophysiology and managementof abdominal compartment syndromeAmerican Journal ofCritical Care.  July 2003.- Schein M, Wittmann D, Aprahamian C, Condon R. Theabdominal compartment syndrome: the physiological andclinical consequences of elevated intra-abdominal pressure.J Am Coll Surg. 1995;180:745-753.

P. Fonseca, D. Mota, M. Pereira, M. Guimarães

Hospitais da Universidade de Coimbra

Queimadura das Vias Aéreas:Um Caso Clínico

ResumoA lesão das vias aéreas por inalação do fumo tem umapatofisiologia multifactorial: edema das vias aéreas superiores,broncoespasmo, microatelectasias e edema alveolar eintersticial.  Com a apresentação deste caso pretende-se confirmar aimportância da monitorização clínica na identificaçãoatempada das complicações inerentes a estas lesões e seutratamento, nomeadamente a entubação orotraqueal.Caso Clínico: feminino, 71 anos, vítima de incêndiodoméstico com inalação de fumo, que deu entrada na SalaEmergência acompanhada pela equipa da VMER. Sem sinaisde dificuldade respiratória, SpO2 100%, estávelhemodinamicamente, consciente, orientada e colaborante.Sem sinais de queimaduras cutâneas, com queimadura dascôrneas e dos pelos nasais e disfonia. Auscultação pulmonar- murmúrio vesicular presente bilateralmente, sem ruídosadventícios. Gasometria à entrada sem alterações. Efectuadotratamento com corticóide por via EV e Inalatória ebroncodilatador por via inalatória. Manteve-se em vigilânciaclínica. Realizou Broncofibroscopia 12h após que revelou"marcado edema, congestão e presença de placas escurasdas VAS e cobertura total da árvore brônquica com placasde fuligem". Por agravamento clínico e constação das lesõesna árvore traqueo-brônquica decidiu-se proceder à EOTe ventilação invasiva. A doente foi internada na UCIP,evoluindo favoravelmente com melhoria clínica egasométrica, tendo sido extubada ao 6º dia. A revisão porbroncofibroscopia revelou "melhoria do processoinflamatório das VAS, observando-se ao nível das cordasvocais, junto da comissura anterior, sinéquia parcial entreas duas cordas". Transferida para Serviço de Pneumologiaao 10º dia de internamento. Actualmente é seguida emConsulta Externa de Pneumologia.Discussão e ConclusãoA identificação de sinais de comprometimento da via aéreae a adopção de atitudes terapêuticas adequadas, impedemo agravamento das complicações  das lesões da via aéreapor inalação de fumo.

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Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

28 P. Maia*, A. Morais*, C. Amaral*, J. Tavares*, A. Azevedo**, J. Tavares***

*Serviço de Anestesiologia, Hospital de S. João - Porto

Stress e Burnout entreAnestesiologistas Portugueses:Resultados de um inquérito nacional

ResumoIntrodução e Objectivo: Anestesiologia é considerada umaocupação stressante devido a longas horas de trabalho,cansaço ,  necessidade de atenção sustentada , entre outrosfactores. A exposição crónica a estes agressores podemlevar ao stress e ao burnout. O nosso objectivo foideterminar o stress e o burnout entre anestesiologistaPortugueses.Metodologia: Um questionário anónimo  foi enviado a todosos anestesiologistas Portugueses inscritos na Ordem dosMédicos. Foram colhidos dados relativos ás característicaspessoais e profissionais dos médicos, stress percepcionado-Perceived Stress Scale (PSS) ou Escala de StressPercepcionado (versão original: S. Cohen, T. Kamarck, eR. Mermelstein, 1983; versão portuguesa: Mota-Cardoso,Araújo, Ramos, Gonçalves, & Ramos, 2002), sub escala desatisfação com o trabalho da escala  Pressure ManagementIndicator (PMI),  burnout (versão em português do MaslachBurnout Inventory, MBI) e principais factores de stress. Aproporção de participação foi de 31,8%. Os dados foramcolhidos e analisados usando o SPSS ( SPSS Inc, Chicago,Illinois)  Resultados: O valor médio do stress percepcionado foi de24,0 ( intervalo: 0-56). Entre os 263 anestesiologistas 57,9%apresentaram exaustão emocional, 44,8% falta de realizaçãopessoal e 90,9% despersonalização . A falta de realizaçãopessoal  aumentou em mulheres com maior numero defilhos mas não entre homens; a despersonalização foi maisfrequente em anestesiologistas  de hospitais distritais  e foiencontrado menos stress profissional em  anestesiologistascom cargos de chefia .Discussão e Conclusão: Existem condições de stress eburnout entre os anestesiologistas Portugueses. A prevalênciade despersonalização foi muito grande na amostra estudada.

**Departamento de Higiene e Epidemiologia,

Universidade Porto - Porto

***Faculdade de Medicina, Universidade Porto - Porto

A exaustão emocional  é parcialmente explicada pelo altostress percepcionado e pela insatisfação com a organizaçãono trabalho de acordo com a escala PMI.  Bibliografia- Cohen S, Kamarck T, Mermelstein R. A global measureof perceived stress. J Health Soc Behav1983; 24:385-396.- Mota-Cardoso R, Araújo A, Ramos R, Gonçalves G, RamosM. O stress nos Professores Portugueses – Estudo IPPSO2000.- Maslach C, Jackson SE, Leiter MP. Maslach BurnoutInventory Manual. 3end edn. Palo Alto CA: ConsultingPsychologists Press, 1996.- Williams S, Cooper CL. Measuring occupational stress:development of the pressure management indicator.J Occupat Health Psychol 1998;3:306-321

M. Guinot, L. Bettencourt, J. G. Teixeira, M. L. Gomes

Serviço de Anestesiologia,

Hospital de Santo Espírito - Hospital Angra do Heroísmo

Comparação da eficácia doParecoxibe, administrado prée intraoperatoriamente, notratamento da dor associadaà colecistectomialaparoscópica

ResumoObjectivos: Na colecistectomia laparoscópica, a dor ésimultaneamente a queixa mais frequente e a causa maiscomum de internamento prolongado. O conceito deanalgesia por antecipação implica a introdução de um regimeanalgésico antes do início do estimulo nóxico de modo aevitar a sensibilização do sistema nervoso a estímulossubsequentes que possam amplificar a dor. Os anti-inflamatórios podem desempenhar um papel importanteno âmbito da analgesia por antecipação ao reduzirem asíntese de prostaglandinas em resposta à agressão cirúrgica.Neste trabalho foi colocada a hipótese que, no tratamentoda dor pós-operatória da colecistectomia laparoscópica, oParecoxibe quando administrado 30 minutos antes daindução anestésica teria uma eficácia analgésica superiorrelativamente à sua administração intraoperatória.Métodos: Neste estudo prospectivo e randomizado foram

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Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

Daniela Coelho, Tiago Fernandes

Hospital Pedro Hispano

Analgesia Epidural-Técnica fácil, analgesia falhada

ResumoUma mulher de 29 anos, 1.54m, 79kg, apresenta-se emtrabalho de parto (TP) activo. Foi realizada técnica Epidural,ao nível de L3-L4, com introdução de catéter (4 cm) eadministrados 10 ml de ropivacaina 0.16% e 10 mcg desufentanil. Nenhum alívio da dor foi observado. Colocadonovo catéter 4 cm em L2-L3 e administrado bólus de 8 mlde ropivacaína 0.2% sem efeito analgésico. O catéter foi

incluídos doentes (ASA I-III) com idades entre18-75 anos,programados para colecistectomia laparoscópica. Ao grupoA (n=20) foram administrados 40mg of parecoxibe 30minutos antes da indução anestésica e ao grupo B (n=20) a mesma dose mas após a indução anestésica. Os doisgrupos receberam 40mg de parecoxibe12h após a primeiradose. Foi ainda administrado 1g de paracetamol a todos osdoentes após a indução, repetida a dose após 4h eposteriormente como medicação de resgate se dor>2. Ador pós-operatória foi avaliada segundo a escala visualanalógica (0-10) e registada no recobro e na enfermariapelo menos uma vez em cada turno de 8h da enfermagem. Resultados: No recobro 95% dos doentes do grupo Ae 85% dos doentes do grupo B referiram dor<2.Naenfermaria as diferenças mais acentuadas registaram-se noturno da noite com níveis de dor inferiores a 2 em 90%dos doentes do grupo A e em apenas 65% dos doentes dogrupo B. No entanto não houve diferença estatisticamentesignificativa (p>0,05) nos níveis de dor avaliados nos doisgrupos, segundo o teste de Krusskal-Wallis.Conclusões: Apesar de os nossos resultados nãodemonstrarem uma diferença estatísticamente significativaentre a eficácia analgésica pré e intraoperatória doParecoxibe, não confirmando a nossa hipótese da analgesiapor antecipação, concluímos que este profármaco é umbom analgésico para o tratamento da dor associada àcolecistectomia laparoscópica.

recuado 1 cm e administrado novo bólus de ropivacaína.A parturiente queixou-se então de parestesia seguida deanestesia da face lateral e anterior da coxa direita, semalívio da dor. Na segunda etapa do TP, devido a sofrimentofetal, foi realizada cesariana emergente. Posteriormente foirealizada uma Tomografia Computorizada. A imagem 1mostra o espaço epidural definido por ar no qual um catétercom contraste (seta pequena) migra pelo foramenintervertebral. Acumulação de contraste paravertebraltambém pode ser observada (seta grande). O aspecto dorsaldo espaço epidural mostra uma estrutura que podecorresponder a uma faixa de tecido conjuntivo.  Discussão: A analgesia/anestesia epidural incompleta ounão-conseguida é registada com incidências variáveis,reflectindo variabilidade em definições, juízo clínicos,parâmetros praticos ou instituições1-3. As causas e factorescontributivos são: anatómicos; técnica, equipamento; factoresrelacionados com o doente; e a habilidade. Neste caso, asaída transforaminal do catéter é a causa do insucesso.Vários autores mostraram a presença de estruturas na linhamédia epidural que podem interferir no desempenho datécnica4-7. Pode também contribuir uma inserçãodesproporcional do catéter nesta paciente de baixa estatura.Referências1. Anesthesiol Cl N Americ 2003 Mar;21(1):39-572. Int J Obstet Anesth 1998;7:220-53. Reg Anesth 1993;18:34-84. Anesthesiology 1988;68:217-205. Anesth Analg 1990;71:698-7016. Int J Obstet Anesth 1996;5:19-317. Anesth Anal

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P022

Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

30 Tiago Fernandes*, Diana Mota**, Nadia Guimarães***, PauloLemos***, Daniela Figueiredo***, António Carlos Costa***

Bloqueio neuromuscularprolongado apósadministração de mivacúrio- a propósito de um caso clínico

ResumoA utilização de relaxantes musculares na prática clínica nãoé isenta de complicações. O défice ou alteração dascolinesterases plasmáticas (CP) resulta na diminuição dometabolismo de dois relaxantes musculares usados deforma corrente: o mivacúrio e a succinilcolina.Caso ClínicoDoente de sexo feminino; 40 anos; 56 Kg; antecedentesde insuficiência tricúspide ligeira e raras extra-sístolesventriculares isoladas, medicada com anti-concepcionaloral (ACO), sotalol, trimetazidina e benzodiazepina.Submetida a laqueação tubar laparoscópica em regime deambulatório sob anestesia geral. O protocolo anestésicoincluiu bólus único de mivacúrio 0,2 mg/kg.Foi constatada, clinicamente, inadequada reversão dobloqueio neuromuscular (BNM) no final da cirurgia; otempo total de BNM foi de 90 minutos. Foi mantida ahipnose e ventilação até à reversão do BNM. Não ocorreuqualquer outra intercorrência e a doente teve alta para odomicílio no final do dia.Em observação posterior foram doseados: CP 869 U/L a37º (N: 3091- 9101) e Número Dibucaína 75 U/L (N:>75U/L).iscussãoEstão descritos diversos casos de prolongamento do BNMpor alteração qualitativa e/ou quantitativa das CP1-3. Déficesde CP podem ser causados por alterações fisiológicas,patológicas e iatrogénicas4.No caso que apresentamos constata-se um défice de CP– eventualmente relacionado com o uso de ACO (não sepode excluir interação com outro fármaco) – e um númerode dibucaína no limite inferior do normal – correspondendoou não a uma alteração genética.  Este caso realça a importância da utilização da monitorizaçãodo BNM sempre que se utiliza um relaxante neuromuscular,mesmo que de curta semi-vida.

*Hospital Pedro Hispano

**Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia

***Hospitalal Geral de Santo António

Referências1. Min Anestesiol. 1999 Oct;65(10):737-9.2. Acta Anaesthesiol Scand. 1993 Apr;37(3):314-8.3. Acta Anaesthesiol Scand. 2003 Nov;47(10):1219-25.4. Morgan GE. Clinical Anesthesiology 4th

Patricia Coimbra, Lísia Barros, Roberto Matos, CristovãoMatias, Araceli Vazquez, Carmo Orfão, Albertino Marques

Hospital Infante D. Pedro, SA - Aveiro

Anastesia de Baixos Fluxos:Custos em Euros

ResumoIntrodução/ Objectivos: Anestesia de baixos fluxos e suaadequação à farmacocinética dos novos agentes anestésicos.Comparação entre os custos da anestesia de baixos e altosfluxos.Metodologia: Os autores efectuaram um estudo da técnicaanestésica de baixos fluxos. Calcularam e compararam oscustos da anestesia de baixos e altos fluxos. Para isso,estabeleceram o volume de 1,0L para baixo fluxo e de 4,0Lpara alto fluxo, considerando a duração da anestesia igualou superior a uma hora e a utilização de altos fluxos naindução e recuperação em ambos os grupos.Resultados e discussão: Os resultados obtidos demonstraramque os custos podem ser significativamente reduzidos coma utilização de baixos fluxos. Para uma cirurgia com aduração de uma hora, o uso de um fluxo de 4,0L aumentao custo total em mais de três vezes quando comparadocom um fluxo de 1,0L. A farmacocinética dos novos gasesvoláteis, como o sevoflurano e o desflurano (que têm umbaixo coeficiente de partilha sangue-gás), e os aparelhos deanestesia recentemente introduzidos,com vaporizadoresde alta tecnologia e monitorização dos gases anestésicos,permitem o uso de baixos fluxos com mínimos riscos. Amonitorização rigorosa do doente permite uma fácil erápida detecção de hipoxia e hipercapnia1.  Conclusões: O uso de baixos fluxos reduz significativamenteo custo total da anestesia. É um procedimento segurodevido à farmacocinética dos novos anestésicos inalatóriosaliada à tecnologia dos aparelhos de anestesia e monitorizaçãoactualmente disponível.  Referências1. Eger EI. Uptake and distribution. In: Miller RD, eds.Miller’s Anaesthesia. Churchill Livingstone, 2005: 131-151.

P023 P024

Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

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Daniela Chalo, Sara Fontes, Humberto Machado

Hospital Geral Santo António, Porto

Utilização de bloqueadorbrônquico para exclusãopulmonar numa toracotomiaem doente com via aérea difícildocumentada

ResumoA exclusão pulmonar pode ser conseguida através daventilação do pulmão contralateral pela utilização de umtubo de duplo lumen, ou através do bloqueio do brônquioprincipal homolateral. Nas situações de via aérea dificildocumentada em que simultaneamente há necessidade deexclusão pulmonar, a abordagem da via aérea pode ser

considerada prioritária,ficando a execução datécnica de exclusãocomo 2ª prioridade.  Caso clínico - RG, 34anos, sexo masculino,empregado deescritório, propostopara toracotomiadireita para exerese denódulos pulmonares eduas costelas.Antecedentes: váriascirurgias cervicais portumor pleiomórfico daglândula submaxilaresquerda, com

radioterapia subsequente (2 ciclos espaçados de 3 anos).Em cirurgias anteriores está documentada uma reactividadeda via aérea superior que dificultou a realização da intubaçãopor fibroscopia. Exame objectivo: Fibrose acentuada daregião cervical, com abertura máxima da boca de menos3 cm, com grau de visualização mallampati IV, restanteexame normal, com provas funcionais respiratóriascompativeis com a cirurgia. Técnica anestésica: realizadaanestesia geral balanceada combinada com bloqueio epiduraltorácico (D8-D9). Abordagem da via aérea: intubação nasalpor fibroscopia, sob anestesia inalatória com oxigénio, are sevoflurano, com manutenção da ventilação espontâneae realização da exclusão pulmonar com introdução de

P025

"bloqueador brônquico" tipo Fogarthy nº 4 com controldo posicionamento por fibroscópico.Discussão - Optou-se por utilizar uma anestesia inalatóriapara permitir a realização de fibroscopia pelos antecedentesdescritos. A manutenção da ventilação espontânea foiconsiderado o factor mais importante no que respeita àsegurança.

Cristina Poiarez, Carla Oliveira, Graça Dores

Serviço de Anestesiologia, HGSA, EPE, Porto

Aspiração de prótese dentária

Resumo

P026

Em doentes incapazes de colaborar na anamnese é necessárioum elevado índice de suspeição para o diagnóstico deaspiração de corpo estranho, que constitui um desafio paraprofissionais de saúde menos experientes na abordagemda via aérea.Caso Clínico:Doente do sexo feminino, 76 anos, residenteem lar de idosos, transportada ao SU por dispneia súbita.Antecedentes patológicos: DM tipo II, HTA e doençacerebrovascular (afasia sequelar). Foi efectuado diagnósticode pneumonia e instituída antibioterapia empírica, em regimede internamento. Iniciou alimentação entérica por SNGpor dificuldade na deglutição. Apesar do tratamento, aevolução clínica foi desfavorável, com instalação de IR tipoI.Dez dias após admissão foi observada por ORL, comdetecção de prótese dentária na região supraglótica atravésde nasofibroscopia. A análise cuidadosa do processo clínicorevelou a suspeita de extravio de prótese dentária e datada admissão hospitalar. Proposta para exérese de corpoestranho. Á chegada ao BO apresentava-se agitada e comsinais de dificuldade  respiratória; SpO2=88% com máscarade Hudson. Foi excluída por radioscopia a ancoragem docorpo estranho por peças metálicas. Realizou-se sedaçãocom propofol em bólus ev, mantendo sempre a ventilaçãoespontânea. A laringospia directa mostrou prótese dentáriaencostada ? face posterior da epiglote e edema dos tecidoscircundantes. Exérese de prótese dentária e canino compinça de Magill. Franca melhoria clínica.  Conclusão: A aspiração de corpo estranho é necessariamenteum diagnóstico diferencial considerar num quadro dedificuldade respiratória aguda.  ReferênciasASA practice guidelines for management of difficult airway2002

Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

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P027

Manuel Vico Ávalos, Rui Guimarães, Sofia Valente, ElenaSegura Grau, Florentino Borrego Murciego, Rui Vieira,Alexandre Guedes, Emídio Dionísio

Hospital de São Teotónio, Viseu

O Papel da Anestesia loco-regional na rentabilização dostempos do bloco operatório

ResumoA gestão em saúde deve ser uma preocupação de todos osprofissionais de saúde. Pretende-se demonstrar o papel daanestesia loco-regional na rentabilização da utilização dostempos de bloco.  MATERIAL E MÉTODOS  Foram constituídos dois grupos de pacientes sujeitos acirurgia ortopédica programada em dois hospitais. Os gruposforam analisados em função da idade, do estado físico, tipode cirurgia, tipo de técnica anestésica utilizada e  tempomédios de utilização do bloco operatório. Foi calculado onúmero de intervenções por hora.  RESULTADOS  No grupo 1 foram realizadas 34 intervenções durante 15tempos de 5 horas. A idade média foi de 53,88. A distribuiçãoASA foi de 23,5% ASAI, 35,3% ASAII e 41,2% ASAIII.Anestesia geral em 88,2% e 11,8% anestesia loco-regional.A média de tempo por intervenção foi de 2,20 horas comum índice de intervenções por hora de 0,45. No grupo 2foram realizadas 86 intervenções durante 15 tempos de 8,5horas. A idade média foi de 54,56. A distribuição ASA foide 19,8% ASAI, 68,6% ASAII e 11,6% ASAIII. Anestesia loco-regional: bloqueios de plexos ou tronculares em 43% dospacientes, bloqueio sub-aracnoideu em 34,4%. A técnica deanestesia sequencial foi utilizada em 16,3%  e em 2,3% dospacientes a anestesia geral. A média de tempo porintervenção foi de 1,48 horas com um índice de intervençõespor hora de 0,67.  CONCLUSÕES  A escolha da técnica anestésica depende de diversos factores.O factor custo assume cada vez mais importância numcontexto de racionalização de meios. Apesar das limitaçõesinerentes, os autores concluem que a anestesia loco-regionalpermitiu uma maior rentabilização dos tempos do blocooperatório.

P028

Carla Oliveira, Marlene Monteiro

Hospital Geral de Santo António, Porto

Síndrome Strumpell Lorrain- a propósito de um caso clínico

ResumoParaplegia espástica hereditária (PEH) ou síndrome deStrumpell Lorrain designa um grupo de doenças genéticasdegenerativas, caracterizadas por paraplegia espásticahiperreflexa com distribuição piramidal.  CASO CLÍNICOJAB, 82 anos, masculino, ASA IV, proposto paracolecistectomia laparoscópica. História familiar de PEHcomplexa com: paraplegia espástica grau III, manifestaçõescerebelosas, disfagia e refluxo gastro-esofágico. Outrosantecedentes: cardiopatia hipertensiva/isquémica (EAM semondas Q há 6 meses) e AVC isquémico. Estudo pré-operatório: ECG- RS com BAV grau I, isquemia infero-lateral; Ecocardiograma- depressão ligeira da função sistólicaVE; PFR- diminuição dos débitos expiratórios, FEV1 ecapacidade de difusão alvéolo-capilar normais, SpO2 (arambiente) de 97%. Vaga de cuidados intensivos. Técnicaanestésica: AGEV. Monitorização: standard, PIA, temperaturacentral, BNM, BIS. Indução sequencial rápida com fentanil,propofol e rocurónio. Constatou-se aumento da sensibilidadeaos RNMD pelo prolongamento do intervalo entrerepicagens. Conversão em colecistectomia clássica.Estabilidade hemodinâmica intra-operatória. Analgesiaperioperatória com morfina sistémica. Desmame ventilatórioem cuidados intensivos apesar da ausência clínica de fraquezaneuromuscular respiratória. Extubado no primeiro dia pós-operatório e tranferido para enfermaria no segundo.  DISCUSSÃO  Os anestesistas são por vezes surpreendidos  por patologiascom escassez de referências bibliográficas relativas àsimplicações anestésicas. O recurso à Internet tornou-se aúnica fonte de informação disponível para consulta imediata.REFERÊNCIAS  1. Can J Anaesth 1999; 46: 679-82.  2. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2000;69:150-60.

Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

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33Carla Cavaleiro*, Isabel Tourais*, Teresa Almeida*,Margarida Marques*, Rosário Orfão*, José Martins Nunes*,Daniela Fontes**, Cláudia Valente**** HUC

Avaliação da qualidade naprestação de cuidados aodoente Follow upnos H. U. C queimado

ResumoPara além da recuperação da integridade física, a satisfaçãodo paciente deverá ser um dos objectivos primordiais daequipa multidisciplinar, prestadora de cuidados a doentesqueimados.Material e Métodos: A um total de 173 doentes internadosna Unidade de Queimados dos H.U.C., entre 1-10-2004 e31-11-2005, foram efectuadas entrevistas telefónicas, como fim de avaliar o seu grau de satisfação no internamento,as suas recordações do mesmo e a qualidade de vida actual.Foi elaborado um inquérito onde se englobaram questõesacerca do estado geral na actualidade, retorno à vida activa,alteração do estado mnésico e/ou do sono, dor residual,recordações anestésicas e grau de satisfação sobre ointernamento em geral.Resultados: Dos 173 doentes, apenas foi possível inquirir63. Estes caracterizaram-se por uma idade média de 56anos; a maioria foi classificada como ASA II, tendo 54% dospacientes, queimaduras que envolviam mais de 10% dasuperfície corporal.As entrevistas revelaram que 45% tinham um estado geralgrau 4 (numa escala de 1-4); 47% já tinham retomado a suaactividade profissional habitual; 12% referiram dor residualligeira; 23% queixaram-se de alterações da memória e/oudo sono; 34% lembravam-se do anestesista que osacompanhou e 23% sabiam quantificar os actos anestésicosa que tinham sido submetidos. O grau de satisfação sobreo internamento em geral e numa escala de 1-4, foi gratificante,ao surgirem 89% dos inquiridos com respostas entre osgraus 3 e 4.Conclusão:Embora seja do conhecimento geral que, umaqueimadura ao provocar destruição da auto-imagem temconsequências a nível bio-psico-social, na sua generalidadeos doentes mostraram-se positivamente marcados pelointernamento nesta Unidade.

**HSS***HST

Maria Santos, Cristina Gomes, Isabel Rocha, ManuelOliveira

Hospital São Marcos, Braga

Accidental puncture ofdura delayed recovery:a case report

AbstractAccidental puncture of dura mater (APD) is a complicationof epidural catheter placement. Consequences range fromasymptomatic to postdural puncture headache (PDPH),diplopia and tinnitus. Dural puncture increases subarachnoidpassage of epidurally injected drug.1

Case report: We report the case of a 74 year-old man,ASA II, proposed for biliary surgery. Epidural catheter wasplaced at L1-L2, after an APD at L3-L4 level and beforeanesthetic induction.A total intravenous anesthesia wasinduced and maintained with propofol, remifentanil andvecuronium. The perioperative period was uneventful. Onehour before surgical conclusion, 4mg of morphine was givenby epidural.Soon it became obvious that the patient was difficult towake. He had no spontaneous ventilation and slowed returnto consciousness. We administered a total of 2,5 mgneostigmine, 1 mg atropine and 0,8 mg naloxone in fractioneddoses. He stayed in recovery room, mechanically ventilated,for a period of 6 hours until he recovered spontaneousventilation and responsiveness, which happened only aftera perfusion of naloxone.Discussion and conclusion: The administration of morphineby epidural catheter was the main reason for the delayedawakening. Hypothesis should be raised about catheterplacement or migration, although cerebrospinal fluid hasn’tbeen aspirated.We questioned about the presence of adural hole that allowed enhanced intrathecal passage ofmorphine injected into the epidural space. Intrathecalpassage and absorption of drugs by the dura hole can notbe disregarded, as it may originate severe complications,by absorption of great doses or volumes.References1. Anesth Analg 1996; 83:523.

Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

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P031 P032

Maria Santos, Cristina Gomes, Isabel Rocha, ManuelOliveira

Hospital de São Marcos, Braga

Perioperative deep veinthrombosis:a case report

AbstractPelvic surgery for malignant disease has been largelyassociated with numerous acute postoperative complications.Lithotomy position is one of the factors associated withthe occurrence of these complications, either by decreasingvenous flow and arterial pressure drop in lower limbs1,either by compression of the popliteal neurovascularstructures if protective devices aren’t used.2

Case report:We report a case of a 53-year-old man,ASA I, who developed popliteal vein thrombosis afterprolonged pelvic surgery in lithotomy position (duration>8hours). Enoxaparine 40mg subcutaneous was administered12h before surgery. We used a combined epidural andgeneral balanced anesthesia. At 1st postoperative hour, thepatient complained of bilateral leg pain and paresthesias;legs examination was normal. Five hours later, samecomplaints referred exclusively to the right leg, which wasswollen, tender and red. Dupplex venous ultrasounddocumented total occlusion of the right popliteal vein andunfractioned heparin perfusion was instituted.Discussion/conclusion:In our initial approach, complicationsof epidural technique versus complications of prolongedpositioning were considered.Clinical evolution led to thediagnosis of deep venous thrombosis (DVT), despitepharmacological prophylaxis. Attentive observation of limbspositioning before induction, time reduction in lithotomyposition and addition of DVT mechanical prophylaxis shouldhave been instituted.Perioperative monitoring andvalorization of patients’ complaints are masterpieces forprompt diagnosis and institution of adequate treatment anda way to prevent further complications.References1. Anesthesiology 1998;89(6):1373-6,2. Anesthesiology 2000;92:1168-82

Cristovão Martins, Nuno Fernandes, Patrícia Coimbra,Lísia Barros, Fernanda Rocha, Isabel Pascoal

Hospital Infante D. Pedro, Aveiro

Uma Intubação Falhada!...

ResumoOs tumores benignos da orofaringe são patologias poucofrequentes*, que alteram a anatomia normal da via aérea,dificultando a sua abordagem**. CASO CLÍNICO: M.M., 69anos, 65 Kg, antecedentes de A.V.C. há 2 anos, hemiparésiadireita, medicado com antiagregante plaquetário ( quesuspendeu previamente) e anti-hipertensor. Efectuoucolecistectomia, tendo-se observado na altura da intubaçãouma lesão tumoral na base da língua, sendo posteriormenteencaminhado para a consulta de ORL. Foi-lhe diagnosticadoum tumor benigno da epiglote medindo 2x1 cm, e propostopara exérese cirúrgica passado 3 semanas. Na avaliação davia aérea apresentava Malampatti II. Na técnica anestésicausou-se Fentanil 0,1mg e Propofol 2mg/kg e, após verificar-se fácil ventilação manual, rocurónio 0,6mg/kg. Nalaringoscopia para intubação constatou-se um grandeaumento do tumor, agora com 5x5 cm, envolvendo asestruturas envolventes impossibilitando a I.O.T. após váriastentativas. Reverteu-se o bloqueio muscular e acordou-seo doente. Posteriormente realizou-se citologia aspirativa,com redução marcada do tumor, que revelou " líquidopobre em células, negativo para células malignas".CONCLUSÃO: Os tumores benignos da orofaringe podemapresentar um rápido crescimento, dificultando a abordagemda via aérea.REFERÊNCIAS* Anesthesia  1989; 44: 522-23.** Anaesthesia and analgesia 98; 87: 489-90

Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

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P033

Fábio Vaz, Bernardo Ralha, Nuno Freitas, Carlos BentoHospitais da Universidade de Coimbra, Coimbra

Isoprenalina - uso em cirurgianão cardíaca apóstransplantação cardíaca- Caso Clínico

ResumoO coração transplantado apresenta desinervação autónomaextrínseca1. Este trabalho consiste num caso clínico queretrata uma das hipóteses terapêuticas (isoprenalina) paraa diminuição da tensão arterial (TA) e da frequência cardíaca(FC) em doente transplantado cardíaco sujeito a cirurgianão cardíaca (RTU-P), durante a anestesia. Pretende-sedemonstrar a eficácia da isoprenalina e compreender osmotivos da não utilização da atropina no doentetransplantado cardíaco.Caso Clínico: masculino,66 anos, ASA III. Transplantadocardíaco há 1 ano por insuficiência cardíaca congestivaterminal. Iniciou polaquiúria, tendo sido proposto paraRTU-P+fibroscopia para estudo de pneumopatia, sobanestesia geral balanceada. TA e FC pré-operatória=160/80mmHg e 95bpm, respectivamente.

180

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TA sitólica

TA diastólica

FC

Tempo (h:min)

mm

Hg/

bpm

Início da anastesia

Início da RTU-P

Fim da RTU-P

Início da fibroscopia

Fim da fibroscopia

Administração de 0,01mg de isoprenalina

Fim da anastesia

Intubação OT, TET nº 8 após indução anestésica comfentanil, tiopental e atracúrio; manutenção anestésica:Sevoflurano+O2/ar; Monitorização: standard, ECG 3derivações modificado. Fluidoterapia: Dextrose a 5%=400ml+Lactato de Ringer=1000ml+Hidroxietilamido 130/0,4a 6%=500ml. Nadir da TA (90/58mmHg) e FC (71bpm)±1h após o início da anestesia, tendo sido administrado 2bólus de isoprenalina EV (resultados em gráfico anexo).Conclusões: A isoprenalina é um β−adrenérgico não-selectivo com acções cardio-excitatórias capaz de causartaquicardia por despolarização das células do nódulo sinusal.O cronotropismo de corações transplantados depende daperfusão do nódulo sinusal por agentes cronotrópicos, dacapacidade intrínseca de iniciar o impulso de excitaçãocardíaca e do mecanismo de Frank-Starling2 que poderátambém ter influenciado a recuperação da TA e FC.Referências1.Miller´s Anesth 2005; 2: 2262-3;2. Can J Anesth 2004; 51:8; 829-33.

Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

P034

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Helena Garcia, Pedro Nascimento, Valentina Pinho

HUC, Coimbra

Conduta peri-operatória nosdoentes com obesidademórbida

ResumoA obesidade mórbida (IMC>40Kg/m2) é uma doença comelevada prevalência nos países desenvolvidos (2-5%), estáassociada a doenças crónicas e a alterações dos sistemasrespiratório, cardiovascular. O risco anestésico é maiornestes doentes.Caso clínicoDoente de 57 anos, sexo masculino, peso 210 Kg (IMC74,4), ASA II proposto para bypass gástrico por laparoscopia.Sem medicação pré-anestésica.Indução de sequência rápida com propofol e succinilcolina,precedida por laringoscopia directa.A anestesia foi mantida com remifentanil em perfusão esevoflurano com MAC de 1, O2/ar a 50%. O relaxamentomuscular foi assegurado com cisatracúrio, dose calculadapara o peso ideal.A extubação foi efectuada na sala do BO com o doenteconsciente e com todos reflexos da via aérea presentes.o período pós-anestésico não foram registradasintercorrências, a dor foi controlada com perfusão detramadol e DHBP (PCA) e a dose de carga administradano período intra-operatório.Após 8 horas na UCPA o doente foi transferido para aenfermaria mantendo oxigenoterapia e PCA.Teve alta sem intercorrências.DiscussãoA anestesia da obesidade mórbida apresenta diversasparticularidades relacionadas com diferentes aspectos:técnicos, monitorização, abordagem da via aérea, anestésicos,coadjuvantes da anestesia a utilizar e doses a administrar,terapêutica da dor no pós–operatório.ConclusãoAs alterações fisiopatológicas e anatómicas associadas àobesidade mórbida implicam uma abordagem anestésicaespecífica para reduzir a morbilidade e mortalidade peri-operatória desta patologia.  ReferênciasGaszynski T, Strzelczyk J. General anesthesia with remifentaniland cisatracurium for a superobese patient. Eur J Anaesthesiol2002.

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Fontes D*, Fonte MP**, Magalhães L***, Figueiredo P *****Interna Complementar de Anestesiologia

Mascara Laríngea Aramada emAnestesia para ORL- Experiência de 5 anos

ResumoIntrodução e Objectivo: Com o surgimento da máscaralaríngea aramada na década dos anos 90 o seu uso temaumentado exponencialmente. Dada a experiência no nossoHospital no seu uso em Cirurgia programada de ORL foifeita a revisão da sua utilização nos últimos 5 anos.Métodos: Foram revistos os registos anestésicos de 549cirurgias realizadas de 2002 a 2005 inclusivé. O procedimentocirúrgico e a sua duração, as complicações intra e pós-operatórias foram registadas e comparadas com as referidasna Literatura Internacional.Resultados: No total de 473 procedimentos cirúrgicos ORL,adenoamigdalectomia e septoplastia foram os procedimentosmais frequentes (Tabela 1). A complicação mais ferquentefoi obstrução da via aérea pelo “abre bocas” Boyle-Davis(Tabela 2).

**Assistente Hospitalar***Assistente Hospitalar Graduado****Chefe de Serviço - Serviço de Anestesiologia do Hospital de

São Sebastião

Procedimentos cirurgicos NºDuração

cirúrgica médica

51 minutos± 12 minutos

128 minutos± 19 minutos

159 minutos± 24 minutos

36 minutos± 11 minutos

261

212

73

3

445313742317148764282417323

AdenoidectomiaAmigdalectomiaAdenoamigdalectomiaBiósia LaringiteUvuloplastiaDCRRinoplastiaSeptoplastiaMicroendonasalRedução #ossos narizEstampadectomiaMastoidectomiaTimpanoplastiaTraqueostomia

Orofaringite

Nasal

Ouvido

Pescoço

Tabela 1

Tabela 2Complicações

LaringospasmoBroncospasmoPresença de sangue via aériaTosseObstrução di tubo pelo abrebocas substituido por lâminamaiorOdinofagia“Ruído durante ventilação”Substituição de ML por TOT

3551232

1274

Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

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Daniela Fontes, Marcos Pacheco Fonte, Luis Magalhães,Paulo Figueiredo

Hospital São Sebastião, Santa Maria da Feira

Mascara Laríngea Proseal -Visão fibroscópica

ResumoIntrodução e Objectivos:  A ML-ProSealÔ é um novodispositivo desenvolvido para o manuseio supraglótico dasvias aéreas. Este novo modelo de Máscara Laringea foiconcebido para melhor se adaptar aos contornos anatômicosda hipofaringe, com seu lúmen situado de frente à aberturalaríngea. Existe um tubo de drenagem aberto na altura doesfíncter esofagico superior para permitir a drenagemgástrica e acesso ao trato alimentar, para previnir a insuflaçãogástrica inadvertida e permitir a passagem de uma sondagástrica às cegas. Metodologia: Foram revistos 45 doentesabordados por ML-ProSealÔ como manutenção da viaaérea intraoperatoriamente. Os achados clínicos e dafibroscopia foram registados. Foram sujeitos a AnestesiaGeral Balanceda com necessidade de  relaxamento muscularventilação mecânica. A inserção foi com técnica às cegas,sem introdutor, como está preconizado por Dr.Brain. Foicolocada sonda nasogastrica tamanho 16F pelo tubo distalno inicio da cirurgia e feita fibroscopia no final da cirurgia,da via aérea para verificar presença de liquido gastro-eofagico, secreções ou sangue.Resultados: A ventilaçãomecânica foi mantida com sucesso em todos os doentes,sem obstrução da via aérea. O modo de ventilação foisempre de pressão controlada não tendo sido necessáriorealizar mais de 30mbar. Sucesso na progressão da sondanaso-gástrica (92%) e saida de ar pelo tubo distal. Achadosfibroscópicos epiglote livre a oscilar (n=3), compressão dasestruturas gloticas (n=5), prega lateral no cuff (n=4), epiglotedobrada (n=1) e ventilação esofágica (n=1). Discussão eConclusões: A ML-ProSealÔ permite ventilação adequadae drenagem gástrica apesar da existência de achadosfibroscopicos revelarem incorrecto posicionamento.

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Conclusões: Os usos e a adequação da ML como manutençãoda via aérea verificou-se nos mesmos procedimentoscirurgicos que os preconizados nos grandes Centros deCirurgia ORL.Referências1- Anaesthesia 1995 Oct Review of uses of the laryngealmask in the ENT anaesthesia. Nair I, Bailey RM

Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

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Daniela Fontes, Marcos Pacheco Fonte, Luis Magalhães,Paulo Figueiredo

Hospital São Sebastião, Santa Maria da Feira

Mascara Laríngea Proseal -Visão fibroscópica

ResumoA Intubação traqueal é um método associado infelizmentea alterações cardiovasculares e aumento da pressão intra-ocular. Devido à escassez na literatura nacional o nossoobjectivo foi, como reflexo da nossa prática do uso de MLacomparar as complicações do uso de MLa versus tubo oro-traqueal (TOT) em vitrectomias. Metodologia: Foramestudados 63 doentes propostos para vitrectomia sobanestesia geral. Destes 88% foram distribuidos por 2 grupos(grupo T que após a indução anestésica teve a via aéreaassegurada por TOT e grupo M por Mla).  12% foramincluídos no grupo T por apresentarem contra-indicaçãopara máscara laríngea. A Indução Anestésica foi realizadacom perfusão de remifentanil e propofol. Após 2 minutosda indução anestésica a frequência cardiaca, pressão arterialnão invasiva foram registadas . Foi feita abordagem da viaaérea com Mla ou TOT e durante 5 minutos foram registadosos sinais vitais 1/1’. As complicações e qualidade do acordare recobro imediato foram observadas. Resultados: De todasas Mla’s introduzidas, quatro foram substituídas por TOT,uma por não se conseguir a sua introdução e as outras 2por má adaptação. No grupo T ao contrário do grupo Mverificou-se hipertensão e taquicardia reflectindo-se emmaior consumo de opióides. (p«0,05). Acordar e  pós-operatório imediato:  tosse/bucking em 89% dos doentesdo grupo T e em 0% no grupo M (P«0,01). Conclusões:Verificou-se, a já referenciada na literatura, estabilidadehemodinâmica após a introdução da Mla, a baixa pressãode ventilação e o acordar e pós-operatório imediato commenores complicações.Referências1. Akhtar TM, Kerr WJ, Kenny GNC. Comparison oflaryngeal mask airway with tracheal intubation for intraocularsurgery. Br J Anaesth 1991; 67: 215.

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38 Daniela Fontes, Marcos Pacheco Fonte, Luis Magalhães,Paulo Figueiredo

Hospital São Sebastião, Santa Maria da Feira

Segurança da Mascara Laríngeaaramada naadenoamigdalectomia nacriança

ResumoIntrodução e Objectivo: Anestesia para Adenoamigdalectomiaconstitui frequentemente um desafio. O conceito de máscaralaringea aramada como alternativa ao tubo oro-traqueal(TOT) para manutenção da via aérea foi visto inicialmentecom cepticismo1. Metodologia:  No total 271 procedimentoscirúrgicos de Adenoamigdalectomias foram  realizadas sobmáscara laríngea aramada nos últimos 4 anos. Todos osregistos anestésicos foram revistos. Ventilação assistidapressão positiva foi assegurada para CO2et alvo entre 35-45 mmHg. Resultados: Verificou-se dificuldade na introduçãoda Mla em 7% dos doentes e 3% proporcionaram máadaptação com necessidade posterior de substituição porTOT. Após abertura com Abre bocas Boyle- Davis ocorreuobstrução da via aérea em 18,2% (80% foi corrigivel apóstroca da lâmina do abre bocas). Em 9% dos casos a ML teveque ser substituída pot TOT. Duração média da cirurgiaforam 20-30 minutos. A MLa nao foi considerada peloscirurgiões como limitadores do acesso cirúrgico. Afibroscopia da via aérea foi feita em 30 doentes que reveloularinge sem vestígio de sangue. Em 10% (n=3) visualizou-se a parte posterior do cuff da MLa na orofaringe, nãointerferindo na condução anestésica-cirúrgica.Verifou-se 1 caso broncospasmo e 3 laringospasmo.Conclusões: A MLa  representa alternativa segura à intubaçãotraqueal em Adenoamigdalectomia, desde que asseguradaa boa colaboração do cirurgião e boa curva de aprendizagem2.Referências1. Webster AC et al. Anaesthesia for adenotonsillectomy:a comparison between tracheal intubation and the armouredlaryngeal mask airway. Anesth Analg 1999; 89: 1812. Anesthesia for ENT Surgery. Miller’s Anesthesia. 6Edition.2006.

Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

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Gisela Costa, CArla CAvaleiro, Sónia Teixeira, PiedadeGomes

Hospitais da Universidade de Coimbra

Neuropatia cervical apósposicionamento de Vidabaek

Resumo

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Sónia Teixeira, Manuel Angel Teijeiro, Manuel CArreira, InêsSimões, Gisela Costa, Manuel J. Antunes, J. Martins Nunes

Hospitais da Universidade de Coimbra, Coimbra

Mixomas Auriculares:experiência anestésica dosHospitais da Universidade deCoimbra (2000-2005)

ResumoIntrodução e Objectivos: Os mixomas são os tumorescardíacos primários mais frequentes, representando nanossa casuística 0,51% do total de actos anestésicos emcirurgia cardíaca, durante o período em análise. No presenteestudo faz-se uma revisão da casuística do serviço - 34casos - analisando a metodologia  anestésica  e os resultadosobtidos,  correlacionando-os com a técnica cirúrgica.  etodologia: Análise retrospectiva dos processos individuaise das fichas de anestesia.  

Introdução e objectivos: O posicionamento do doente éum procedimento que pode condicionar morbilidade. Osautores descrevem um caso clínico de neuropatia pós-operatória envolvendo as raízes esquerdas de C5-C6.etodologia e resultados: Doente do sexo masculino, 45anos, ASA I, submetido a gastrectomia sob anestesia geralbalanceada.O doente foi posicionado em supino, braços em abdução<90º. Foi colocado rolo de silicone sob a base das escápulas(posição de Vidabaek) com ombros apoiados em almofadas.Intra-operatório sem incidentes.O paciente mostrou ausência de força muscular em ambosos membros superiores 24h após cirurgia.Três dias depois tinha recuperado alguma força muscular,essencialmente à direita. Nesta altura refere parestesiasbilaterais.Após identificada a lesão, um questionário revelou históriade parestesias transitórias e disfunção motora dos membrossuperiores, durante prática de natação.  O doente iniciou fisioterapia.Uma semana depois, mantinha apenas défice neurológicono membro superior esquerdo.Após 1 mês, o electromiograma deste membro revelou“radiculopatia aguda ao nível da C5-C6; sem sinais de lesãodo plexo braquial esquerdo”. Recuperação completa aofim de 2 meses.Discussão: Uma história clínica pré-operatória exaustivapoderá revelar patologia neurológica condicionando cuidadosespeciais durante o posicionamento. A alteraçãoelectromiográfica encontrada poderá estar relacionada comhiperextensão da coluna cervical devido ao rolo de silicone,causando compressão das raízes C5-C6 no ponto deemergência.Conclusões: Este caso demonstra a importância da históriaclínicacompleta pré-operatória e do posicionamento correctode modo a evitar morbilidade.

Resultados: Durante este período foram operados 23mulheres (67,65%) e 11 homens (32,35%) com massassuspeitas de mixoma, sendo confirmadasanatomopatologicamente 31 (localização: 90,32% na aurículaesquerda e 9,68% na aurícula direita). A média de idadesfoi de 56,9+19,9 anos. A sintomatologia clínica mais frequentefoi a dispneia (47%) e astenia (26,5%). Dois destes doentes(1,38%) apresentavam antecedentes de AVC.Não houve intercorrências a destacar durante o actoanestesico-cirúrgico. Todos os doentes tiveram alta ao 7ºdia de pós-operatório.  

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Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

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Discussão: Os estudos pré-operatórios são fundamentaisna avaliação destes doentes. Os autores evidenciam aproblemática das embolias perioperatórias e o risco deobstrução do fluxo sanguíneo, descrevendo as técnicas paraminimizar estas complicações.Conclusões: A técnica anestésica correcta e uma boa relaçãocom os cirurgiões diminuem as complicações numa cirurgiaper si simples, na maioria dos casos, mas que não estáisenta de importante morbilidade em mãos poucoexperientes.    ReferênciasHoward A. – Right atrial myxoma: case report andanaesthetic considerations. Can J Anaesth 1989;36:2:212-214.Aftar S. – Cardiac myxoma. Ann Thorac Surg. 1980; 29:397-405.

Teixeira, S.; Costa, G.; Costa, F.; Viana, J.; Mota, A.

Departments of Anesthesiology (director - Dr. Nunes, J. Martins)

and Urology/Renal Transplantation (director - Professor Mota, A.)

of Coimbra University Hospital, Portugal

Isoflurano versus Desfluranoem Transplantação Renal

ResumoIntrodução e Objectivo: Comparar o efeito de 2anestésicos halogenados (Sevoflurano vs Isoflurano) nooutcome do enxerto.

Metodologia: Realizámos um estudo retrospectivo com200 doentes submetidos a transplante renal entre 2000 a2004 no nosso hospital.

Patologia associada mais frequente: HTA e diabetes mellitus.Na maioria dos casos a duração da diálise foi de 1 a 5 anos.

Todos os doentes foram submetidos a anestesia geralbalanceada.

Os doentes foram divididos em 2 grupos de acordo como halogenado usado: Isoflurano (n=103) e Sevoflurano(n=97). A média de idades no grupo I foi de 42,8±13,9 eno grupo S foi de 42,4±13,0. A média do peso dos doentesno grupo I foi de 65,13±14,12Kg e no grupo S foi de65,07±15,56Kg.

O outcome dos doentes foi estudado com base nos valoresde creatinina (1º, 3º e 6º meses), a necessidade de diálisee o início de diurese: imediata (até às 4h do pós-operatório)ou tardia.

Resultados: Os resultados foram expressos em média±DP.

Verificaram-se melhores resultados nas creatininas no 1ºe 6º meses no grupo I (S 1º mês =1,89±1,20; S 6º mês=1,59±0,93; I 1º mês =1,76±1,13; I 6º mês =1,54±0,64),no 3º mês foram obtidos melhores resultados no grupo S(S=1,66±1,13, I=1,72±1,19).

O início da diurese foi imediato em 80 doentes do grupoI (80%) e em 68 do grupo S (70%) (p=0,138).

Nove doentes do grupo I (8%) e 13 do grupo S (13%)necessitaram de diálise após o transplante (p=0,367).

O número de rejeições no grupo I foi de 5 (4,85%) e 9 nogrupo S (9,2%) (p=0,22).

Não foram encontradas diferenças estatisticamentesignificativas entre os 2 grupos.

Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

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Conclusões: Verificou-se, de acordo com o nosso estudo,que a escolha do anestésico halogenado não influencia ooutcome do transplante renal.

Elisabete Marques, Sónia Coelho, Manuel Seabra.

ULS MAtosinhos - Hospital Pedro Hispano, Matosinhos

Edema Agudo do Pulmão Pós-Extubação em Jovem Atleta

ResumoO Edema Agudo do Pulmão (EAP), por pressão intratorácicanegativa, é uma complicação pouco frequente, com umaincidência estimada de 0,094%1. Os doentes jovens, atletas,apresentam risco aumentado para o desenvolvimento destacomplicação, que se identificada e tratada precocementeevolui sem sequelas2,3.CASO CLÍNICO- Doente do sexo masculino, 17 anos,ASA 1E, desportista, com antecedentes de Anestesia Geralpara Cirurgia Ortopédica sem intercorrências. Admitidopara apendicectomia. Foi realizada Anestesia GeralBalanceada, com técnica de indução sequencial rápida, semintercorrências. Na Unidade de Cuidados Pós-Anestésicos(UCPA), 15 minutos após a transferência, desenvolveudificuldade respiratória, com hipóxia e acidose respiratória.O Rx pulmonar revelou infiltrado bilateral e aumento doíndice cardio-torácico. No electrocardiograma apresentavaritmo auricular ectópico, com critérios de voltagem deHipertrofia Ventricular Esquerda; o ecocardiograma estimouFEVE de 60%, sem alterações estruturais.pós a instituição de terapêutica, com diurético e corticóide,evoluiu favoravelmente, tendo tido alta da UCPA 3 horasapós a admissão.DISCUSSÃO E CONCLUSÕES- Apresentamos um casode doente jovem, atleta, sem factores de risco para odesensenvolvimento de obstrução da via aérea superior,e sem evidência de laringospasmo após a extubação. Apóso estudo do doente, a etiologia provável de EAP pareceter sido o esforço inspiratório, com o desencadear depressão intra-torácica negativa, secundário a breve períodode obstrução da via aérea.REFERÊNCIAS1. J Clin Anesth. 1997 Aug; 9 (5): 403-8.2. Intensive Care Med. 1995; 21: 1048-50.3. Can J Anaesth. 2000 Feb; 47 (2): 176-8.

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P043

Purificación Sanchez, Sofia Zaragoza, Ricardo Varga, J. A.Bismarck, J.J. Figueiredo Lima

Hospital Santa Maria, Lisboa

Síndrome de Marfan emObstetrícia

ResumoO Síndrome de Marfan é uma doença genética do tecidoconjuntivo, autossómica dominante, com sobrevivênciamédia de 32 anos, determinada pelas complicaçõescardiovasculares. As alterações fisiológicas da gravidezaumentam o risco de ruptura ou dissecção da aorta, acomplicação mais temida.Método: Apresenta-se uma doente de 33 anos, 85 Kg e178 cm, nulípara, 29 semanas de gestação, programada paracesariana, que apresentava ectasia da raíz aórtica einsuficiência aórtica ligeira. Encontrava-se assintomática,medicada com b-bloqueante. Foi efectuada profilaxia deendocardite e contactou-se a Unidade de CuidadosIntermédios de Cardiología e Intensivos Neonatais. NoBloco Operatório para além da monitorização standard, foimonitorizada a pressão arterial invasiva, pressão venosacentral e diurese horária. Fez preenchimento vascular com1500 ml de LR e com a doente sentada efectuou-se anestesiaepidural lombar com Levo-bupivacaina (0,5%) e sufentanil.Resultados: O nível sensitivo atingido foi D4. Durante todoo procedimento  manteve-se a estabilidade hemodinâmica.Conclusões: A cesariana evita a resposta hiperdinâmica aotrabalho de parto, e o bloqueio do neuroeixo, a respostahipertensiva à intubação durante a anestesia geral,minimizando o risco de dissecção aórtica em doentes comS. de Marfan. A técnica epidural e a monitorização invasivapermitem controlar a pressão arterial, evitando a terapêuticavasopressora que poderia induzir uma resposta hipertensivaexcessiva, favorecendo assim a estabilidade cardiovascularque determina o sucesso da abordagem anestésica. A Levo-Bupivacaina, apresenta-se como o anestésico de primeiraescolha, pelo seu menor potencial cardiotóxico.    

P044

Carmélia Ferreira, Marta Gonçalves, Silvia Candal, MariaRui Crisóstomo, Manuel Oliveira

Departamento de Anestesiologia e Cuidados Críticos,

Hospital de S. Marcos, Braga

Analgesia epidural versusanalgesia sistémica:estudo comparativo da incidência delombalgias no pós-parto

ResumoAs lombalgias são uma das queixas mais frequentes após oparto.Têm-lhe sido atribuídas várias causas, sendo a analgesiaepidural uma das mais frequentes.Esta relação permanececontroversa dados os diferentes resultados publicados naliteratura1,2,3.O objectivo deste trabalho foi avaliar se aanalgesia epidural se encontra associada a um aumento daslombalgias nos 3 primeiros meses após o parto, sendo aavaliação efectuada através de um questionário sobre a suarepercussão na vida quotidiana.Das 2134 parturientes do HSM (Jan-Set 2005), foramseleccionadas as que cumpriam os critérios de inclusão:ASAI/II, parto eutócico e analgesia epidural/sistémica.Foramexcluídas as mulheres com história prévia de lombalgias oupatologia da coluna.A análise estatística foi efectuada comSPSS.Os dados foram comparados pelo método T-test com99% de intervalo de confiança (p<0.01).Foi aferida a aderênciada amostra à normalidade com teste K-S.Das 200 mulheres contactadas,21% referiram lombalgiasdurante os 3 primeiros meses após o parto. A estas,foienviado o questionário Oswestry low back pain disabilityquestionnaire, com uma taxa de resposta de 95%.Foramexcluídos 2 questionários, por não estarem completamentepreenchidos, ficando a amostra, objecto de análisecomparativa entre analgesia epidural/sistémica limitada a 40mulheres.Neste estudo, foi comparado o tipo de analgesia com oscore de incapacidade avaliada pelo questionário, entre ogrupo de analgesia epidural (n=21) e o de analgesia sistémica(n=19) e foi encontrado um valor de T-test de 18,45 comsignificância 0,00, o que permitiu inferir não haver diferençasignificativa entre os dois grupos.Referências1. Anesth Analg 1997; 85:1066-702. BMJ 1990; 301(6742):9-123. BMJ 2002; 325:1-4

Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

P045

Carmélia Ferreira, Marta Gonçalves, Manuel Oliveira

Departamento de Anestesiologia e Cuidados Críticos,

Hospital de S. Marcos, Braga

Analgesia de parto por viaepidural em parturiente comesclerose múltipla:a propósito de um caso clínico

ResumoA esclerose múltipla é a doença neurológica crónicaincapacitante mais frequente em mulheres em idade fértil,permanecendo controversa a realização de analgesia epiduralpara trabalho de parto.  Grávida de 31 anos, Gesta 1/Para 0, admitida em trabalhode parto. Diagnóstico de Esclerose Múltipla aos 29 anos.Gravidez sem complicações.Durante o trabalho de parto,pedida colaboração de anestesiologia. Após discussãomultidisciplinar (anestesiologista, obstetra e neurologista)e consentimento informado, procedeu-se à analgesia epiduralpara o trabalho de parto. g de sufentanil, com Administraçãode 6ml levobupivacaína a 0.25% e 10 administração posterior,hora/hora,  da mesma dose de anestésico local. A analgesiafoi adequada e não se verificaram alteraçõeshemodinâmicas/neurológicas.O parto ocorreu 2h30 apóso início da analgesia. RN com Apgar 8/10. Pós-parto semintercorrências, com alta da parturiente e RN ao 3º dia deinternamento.Este caso clínico pode considerar-se pouco frequente, jáque a realização de analgesia epidural para trabalho de partonestas parturientes aparece descrita poucas vezes naliteratura. As preocupações do uso de técnicas loco-regionaisprendem-se com a possibilidade de ocorrerem exacerbaçõesdos sintomas após o bloqueio.Por outro lado, os própriosanestésicos locais utilizados podem ser tóxicos para osnervos desmielinizados que caracterizam esta doença.Neste caso, a analgesia foi eficaz com menores doses deanestésico local, tendo sido associado o opióide pelo seuefeito sinérgico.Após consentimento informado, é legítimopôr à disposição da parturiente com esclerose múltipla apossibilidade de analgesia epidural para o trabalho de parto.Referências1. EJA 2000; 17: 542-5582. J. Neurol 2004; 251: 1133-7

P046

Rosa Delgado, Carla Cavaleiro, Valentina Almeida, RosárioOrfão, José Martins NunesHUC

Doente com porfiriasubmetida a colecistectomiade urgência

ResumoAs porfirias representam deficiências enzimáticas congénitasna síntese da heme. Classificadas como neuropsiquiátricas(agudas), dermatológicas ou mistas. Agudização de sintomasdeve-se ao metabolismo de muitos anestésicos ser mediadopor citocromas hepáticos. Acumulação súbita de percursoresdo heme pode precipitar uma agudização (dor abdominalintensa, alterações neuropsiquiátricas), podendo ser fatal.Apresentamos um caso de porfiria com colecistite agudalitiásica, submetida a colecistectomia de urgência.CASO CLÌNICO: Doente de 29 anos, sexo feminino,admitida na Urgência com dor no hipocôndrio direito.Refere porfiria, e seguida pela Dermatologia. Foi feitodiagnóstico de colecistite aguda, e proposta paracolecistectomia. Processo antigo revelou provávelprotoporfiria eritropoética (PPE). Submetida a anestesiageral com: Propofol, Fentanyl, Atrácurio, Sevoflurano,Paracetamol e Meperidina. Anestesia sem incidentes e tevealta ao 5º dia, confirmando-se o diagnóstico de PPE.DISCUSSÃO: Doente, com porfiria de tipo desconhecido,sem sintomas neuropsiquiátricos, e quadro de colecistiteaguda. Muitos doentes com porfiria aguda (PA) mantêm-se assintomáticos perante factores precipitantes. Outrostêm agudizações com risco de vida sem factoresdesencadeantes. Sem confirmação laboratorial e perantediagnóstico duvidoso do tipo de porfiria optou-se porexclusão de fármacos precipitantes de PA.CONCLUSÃO. A regra de ouro na anestesia destes doentesé detectar indivíduos susceptíveis e evitar fármacospotencialmente desencadeantes de PA. Em situações deurgência quando não é possível efectuar exames extensoslaboratoriais o doente em causa deve ser tratado comotendo uma PA.

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Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

P047

Daniela Fontes, Marcos Pacheco Fonte, Paulo Amorim, LuisMagalhães, Paulo Figueiredo

Hospital São Sebastião, Santa Maria da Feira

Anestesia em CirurgiaBariátrica- Experiência de 3 anos do Hospital

São Sebastião

ResumoNos últimos anos o tratamento cirúrgico da ObesidadeMórbida tem ganho cada vez mais adesão junto dacomunidade científica sendo um desafio para oAnestesiologista. Metodologia: Realizou-se um estudoretrospectivo das cirurgias bariátricas no Hospital SãoSebastião, no período de 2003-2005, através da consultade 91 processos clínicos. O objectivo foi avaliar todos osprocedimentos anestésicos em variáveis como patologiaassociada, complicações intra-operatórias ou suporteventilatório no pos-operatório. Resultados: Idade média de43 anos, índice de Massa Corporal médio de 45,3. De todos35% tinham critérios de intubação traqueal dificil tendo-severificado dificuldade em 4 doentes. A realização de epiduraltorácica para analgesia foi realizada em 8 doentes. OProtocolo Anestésico usado foi indução anestésica comremifentanil e propofol e manutenção com  remifentanil,desflurano. No Pos-operatório 77 doentes foram paraenfermaria, 9 para Unidade Cuidados Intermédios e 5 paraUCIP. Verifica-se diferença estatisticamente significativaentre o destino dos doentes para Unidades entre 2003-2004 e 2005, principalmente por advento da laparoscopiae a abordagem anestésica nomeadamente o uso de agentesacção curta, como remifentanil e desflurano, e analgesiabalanceada com paracetamol, AINE’s e uso de opióidesminor. Conclusão:Este estudo permitiu mostrar que aabordagem ainda não é a ideal porém com morbimortalidadebaixa comparativamente à observada na Literatura CientificaMundial.ReferênciaHenry Buchwald; Yoav Avidor; Eugene Braunwald; MichaelD. Jensen; Walter Pories; Kyle Fahrbach; Karen SchoellesBariatric Surgery: A Systematic Review and Meta-analysisJAMA 2004 292: 1724-1737  

P048

Margarida Anastácio, Carla Retroz, Victor Coelho

Hospitais da Universidade de Coimbra

Complex Regional PainSyndrome tipo II- sucessos e insucessos de um caso

clínico

ResumoApresenta-se um caso clínico de Complex Regional PainSyndrome tipo II (CRPS II), acompanhado de revisãobibliográfica e terapêutica. Os autores pretendem sensibilizaros profissionais de saúde para esta entidade.CASO CLÍNICO (Material e Métodos; Resultados)onsulta de processo, entrevista (com recurso à escala visualanalógica - EVA), seguimento na consulta e revisãobibliográfica.Mulher 40 anos, que após 4 cirurgias ao antebraço direitodesencadeia CRPS II. Seguida na consulta da dor desdeJunho de 2004 aonde foram já instituídas diversas terapêuticasfarmacológicas, técnicas invasivas, cirúrgicas e de fisioterapiade reabilitação. De entre as várias técnicas realizadassalientamos, pelo seu resultado, a colocação de cateterepidural cervical, o bloqueio axilar contínuo, colocação decateter epidural toráxico, TENS e simpaticectomia cervical.Embora a resposta tenha sido muito variável, com algunsinsucessos a determinadas opções terapêuticas, a doenteneste momento não refere as queixas iniciais dolorosas noantebraço; referia EVA 7 no início e agora uma EVA de 1para a dor no antebraço. Refere no entanto, após aabordagem cirúrgica, em Fevereiro de 2005, queixas álgicasno hemitórax direito que correspondem segundo a doentea um EVA de 5. Actualmente mantém seguimento na consultada dor.DISCUSSÃO E CONCLUSÕESO CRPS II é potencialmente incapacitante e requer umaabordagem multidisciplinar. O prognóstico é altamentedependente da precocidade do diagnóstico e instituição daterapêutica. É por isso fundamental alertar os diversosprofissionais de saúde para a sua existência e forma deabordagem terapêutica.REFERÊNCIASActa orthop Belg 1992; 58:259-261Management of Pain. 2Ed 1990:220-243

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Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

P049

Rui Guimarães*, Margarida Anastácio**, Sandrine Martins**,Carla Retroz**, Victor Coelho**

*Hospital de São Teotónio, Viseu

Síndrome Doloroso RegionalComplexo tipo II (CRPS II)num doente com DoençaCelíaca

ResumoComplex Regional Pain Syndrome (CRPS II) resulta de umaperturbação do sistema nervoso simpático associado a lesãonervosa1 e o seu tratamento envolve uma analgesiamultimodal e terapêutica multidisciplinar2. A Doença Celíacaé uma doença auto-imune que condiciona uma intolerânciaao glúten e a outras substâncias por reacções cruzadas4.Apresenta-se um caso clínico de CRPS II num doente comdoença celíaca, acompanhado de revisão teórica e terapêuticaactualmente disponível.Caso Clínico:  Doente do sexo feminino, com 30 anos, antecedentes dedoença celíaca e várias cirurgias ao ombro esquerdo pelasquais desencadeia CRPS II. Na primeira consulta de dorcrónica apresentava atrofia marcada do ombro, impotênciafuncional diaforese do membro esquerdo e dor 7-8 naescala analógica visual (EVA). Seguida em Consultas de Dordesde Agosto de 2005, tendo percorrido um vasto lequede opções terapêuticas farmacológicas, que não toleroupela sua doença celíaca. Recentemente iniciou terapêuticacom Gabapentina na fórmula de comprimidos, emcolaboração com os serviços farmacêuticos, isenta desubstâncias reactivas, que permitiu melhoria clínica, traduzidapor uma diminuição do valor de EVA.  Discussão e Conclusão:  O CRPS II é potencialmente incapacitante, requer abordagemmultidisciplinar, relacionando-se o prognóstico com odiagnóstico e abordagem terapêutica precoce, sendo estaúltima, um constante desafio num doente com DoençaCelíaca.  Referências  1. Hand Surgery. 4th Ed 1998:636-622. Acta orthop Belg 1992; 58:259-613. The Management of Pain. 2nd Ed 1990:220-2434. Harrison’s. Principles of Internal Medicine. 15th Ed285:1617-32

**Hospitais da Universidade de Coimbra

P050

Nuno Freitas, Teresa Lapa, Acílio Marques, Rosário Órfão,José NunesHospitais da Universidade de Coimbra, Coimbra

O consentimento informado- oral ou escrito?

ResumoA actual exigência de participação e decisão do doente nosrespectivos actos de saúde detém consideráveis implicaçõesmédico-legais1. A fundamentação ética e legal que salvaguardaa autonomia do doente e protege o direito àautodeterminação nos cuidados de saúde2,3 assenta noreconhecimento de um “paciente razoável” a quem sãodevidas informações fidedignas sobre as intervenções médicasprevistas, as opções terapêuticas e os riscos e benefíciosassociados, sem prejuízo do seu bem-estar4,5. Oconsentimento oral ou escrito, eventualmente testemunhado,tem sido assumido como um standard intra-hospitalar noprocesso de consentimento informado. Como noutrospaíses7, não tem sido prática corrente em Portugal autilização de um formulário específico para o consentimentode anestesia.Material/Métodos:Análise retrospectiva das visitas pré-anestésicas de 176 doentes sujeitos a anestesia geral electivano BOC dos HUC, durante Dezembro de 2005. Avaliou-se a opção de consentimento escrito ou consentimentooral.Resultados:A maioria dos doentes da amostra seleccionadaprocedeu a consentimento oral para a intervençãoprogramada.  Conclusão:Conclui-se pela associação, sempre que possível,de consentimento oral e escrito como boa prática médica.Recomenda-se a elaboração de normas de orientação maisestritas quanto ao consentimento informado do doenterelativo aos actos anestésicos.Refs:1. Temas de Direito da Medicina, 1999, Coimbra Ed;2. Principles of Biomedical Ethics, 5ª ed, 2001, Oxford UnivPress;3. Convenção sobre os Direitos do Homem e a Biomedicina,1996;4. Guidelines for the Ethical Practice of Anesthesiology,2003, ASA;5. Anesth Analg, editorial, 2003; 96:319-207. Br. J. Anaesth. 2001; 87:176P-177P

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Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

P051

Ana Paulino, Inês Pereira, Vasco Rolo, Cláudia Castanheira,Lúcia Sá, Cristina Pestana, Figueiredo Lima

Hospital de Santa Maria, Lisboa

Infecções Profundas da Facee do Pescoço- Estudo Retrospectivo

ResumoAs infecções profundas da face e pescoço podem ser letaispor perda súbita da via aérea, em particular na tentativa dea controlar1. O aparente aumento destas situações, motivoua análise retrospectiva da população presente a cirurgiaurgente num hospital central, concluindo quanto à suaincidência, etiologia e distribuição. Analisam-se as estratégiasadoptadas para permeabilizar a via aérea.Metodologia: Foram analisados os registos de 293 actosanestésicos realizados por uma equipa de urgência em 2004.8 foram para drenagens de colecções infecciosas da face edo pescoço. Os dados considerados foram: sexo, idade,ASA, etiologia, técnica de permeabilização da via aérea eseu sucesso.Resultados: Os casos representam 2,73% (n =8) das cirurgiasurgentes. Verificou-se uma distribuição equitativa por sexo,50 % entre os 31- 60 anos, 75 % ASA 1 e 2. 50% foram de

Doente com abcessoDoentes ORL sem abcesso

30,0%

70,0%

Doentes cirúrgicos não ORLDoentes cirúrgicos ORL

91,2%

8,8%

Doentes cirúrgicosDoentes não cirúrgicos

48,0%52,0%

REVISÃO RETROSPECTIVA DA CASUÍSTICA DE INFECÇÕES

DA FACE/PESCOÇO EM 2004

Total de doentes - 608Total de doentes Cirúrgicos - 293Total de doentes de Cirurgia ORL - 26Total de doentes com abcesso da Face/Pescoço - 8

FemininoMaculino

50,0% 50,0%

0 - 12 anos13 - 30 anos

50,0%

25,0%25,0%

31 - 60 anos

INFECÇÕES DA FACE E PESCOÇO EPIDEMIOLOGIA

IDADE SEXO

37,5%

12,5% 12,5%

37,5%

I

II

III

IV

INFECÇÕES DA FACE E PESCOÇO ASA

Abcesso periamigdalino

A. de Ludwig50,0%

12,5%

37,5%Abcesso de epiglote

INFECÇÕES DA FACE E PESCOÇODIAGNÓSTICO E PROCEDIMENTO

PROCEDIMENTODrenagem de abcessoem 100% dos casos

Pré-oxigenação LaringoscopiaFibroscopia

Relaxante M Sucessoentubação Traqueostomia

anestesiado

endovenosa

endovenosa

endovenosa

endovenosa

inalatória

inalatória

sedação

sedação

acordadonãosim nãosim nãosim nãosim

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x

INFECÇÕES DA FACE E PESCOÇO - Técnica Anestésica

INFECÇÕES DA FACE E PESCOÇO

PRÉ-OXIGENAÇÃO

50,0%

25,0%25,0%

EndovenosaA. Inalatória

Acordado

LARINGOSCOPIA

EM 100% DOS CASOS

INFECÇÕES DA FACE E PESCOÇO

FIBROSCOPIA RELAXANTE MUSCULAR

NÃO USADO EM 100%DOS CASOS

FibroscópioSem fibroscopia

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12,5%

INFECÇÕES DA FACE E PESCOÇO

SUCESSO DA INTUBAÇÃO REALIZAÇÃO DE TRAQUEOSTOMIA

SimNão

75,0%

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TraqueostomiaSem Traqueostomia

75,0%

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Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

F. Santos*, A. Castro**, C. Nunes**, I. Santos**, F. Lobo**,P. Amorim**, C. Pinho***

Caso de awareness duranteneurocirurgia com BIS acimade 60 apenas por períodosbreves

ResumoAceita-se que awareness pode ocorrer se o BIS estiveracima de 60, mas a sensibilidade do BIS para detectarawareness é desconhecida. Relatamos um caso de awarenessem que o BIS esteve acima de 60 apenas por breves instantes.Caso Clínico: Um homem de 40 anos foi submetido aanestesia geral para colocação de derivação ventrículo-peritoneal. Apresentava GCS de 15. Usou-se propofol eremifentanil por TCI com software Rugloop, tambémutilizado para recolher dados a cada 5 segundos das variáveisfisiológicas e do BIS.  Na incisão aumentou-se o remifentanilpara 3 ng/ml (cerebral); ocorreu uma subida de TA e FC,aumentando-se a dose de remifentanil. Notaram-se algumasbreves subidas de BIS acima de 60, que passaram semnecessidade de qualquer intervenção. A duração da cirurgiafoi 62 min. Após a extubação o doente referiuespontaneamente que tinha sentido os cirurgiões a operaremna cabeça e no abdómen, sem sentir dor, relato consistenteem várias entrevistas.Resultado e discussão: Após a incisão ocorreram 8 períodosde BIS acima de 60, num total de 125 segundos, nos quaiso BIS médio foi 63.8. Os dois períodos mais longos tiverama duração de 25 segundos cada. O BIS máximo foi de 72(fig 1). Duas cirurgias anteriores, pela mesma técnica, no

**Departamento de Matemática Aplicada da Faculdade de Ciênciasda Universidade do Porto

Angina de Ludwig, 37.5% -abcesso peri-amigdalino e 12,5%- abcesso da epiglote. Em 25% procedeu-se à intubaçãoorotraqueal com o doente acordado, 1 com fibroscópio.Nos restantes foi induzida anestesia geral seguida delaringoscopia. 75% foram intubados com sucesso. 25%submetidos a traqueostomia emergente.  Discussão e Conclusões: O número crescente demanipulações dentárias, a resistência à antibioterapia e aimunossupressão obrigam a uma séria reflexão. A anatomiaparticular da face e pescoço permite uma rápida e ocultaprogressão da infecção. A abordagem atempada e a escolhada técnica de intubação são cruciais Na nossa casuísticaregistou-se sucesso de intubação em 100% dos casos apósintubação com o doente “acordado” e 66% após induçãocom anestesia geral.  Referências1. Anesthesia & Analgesia 2005; 100: 585-589.

*Serviço de Anestesiologia do HGSA

***Neuropsicologia - HGSA

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Minutos desde o início do caso

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BIS durante a cirurgia

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Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

P053

Nunes CS, Ferreira DA, Lobo F., Amorim P, Antunes L

Serviço de Anestesiologia do Hospital Geral de Santo António,

Departamento de Matemática Aplicada da FAculdade de Ciências

da Universidade do Porto, CECAV-UTAD

A concentração de propofolprevista no local de efeito(cérebro) está fortementecorrelacionada com afrequência cardíaca basal

ResumoO valor das concentrações de propofol previstas no localefeito (cérebro) no momento de perda de consciência,apresenta uma grande variação individual1,2. Nós postulamosque a concentração de propofol no local efeito no momentoda perda de consciência poderia estar relacionada com afrequência cardíaca basal.Metodologia: Foram estudados doentes submetidos aneurocirurgias sob anestesia intravenosa com propofol eremifentanil por TCI (modelos Pk de Schnider3 e Minto4).Foi usado o software RugLoopII® para obter dados cada5 segundos a partir dos monitores Datex AS3 (TA, FC) eAspect A2000XP (BIS). A indução iniciou-se com umainfusão constante de propofol a 200 ml/h até perda deconsciência (LOC); a partir daí passou-se a TCI com alvoefeito igual ao valor de LOC. Depois da intubação traquealo propofol foi ajustado de acordo com o valor de BIS. Oremifentanil teve início no momento de LOC. Os dadosobtidos foram analisados para comparar a concentraçãoefeito prevista de propofol no momento LOC com afrequência cardíaca basal. A análise estatística utilizouregressão linear e análise de correlação. Os resultados sãoapresentados com médiaDP.Resultados: Foram seleccionados 27 doentes quepreenchiam os critérios de selecção. Eram ASA 1 e 2, comidade 4815 anos, peso 6814 kg, altura 1649 cm, 17 mulheres.A frequência cardíaca (FC) antes da indução (basal) era HR71.6212.18 bpm. A tensão arterial sistólica antes da indução170.3216.79 mmHg. A concentração efeito prevista depropofol em LOC era 4.921.03 g/ml. O intervalo entre oinício da infusão de propofol e LOC foi de 3.480.82 min.Foi encontrada uma correlação positiva (R=0.73)estatisticamente significativa (P<0.001), entre a concentraçãoefeito prevista de propofol em LOC e a FC basal (Fig. 1).

mesmo doente, registaram subidas de BIS acima de 60 maisfrequentes, sem awareness.  Dois meses após a cirurgia odoente teve consulta de neuropsiclogia, não se detectandosíndrome de distress pós-traumático.  Conclusão: Este caso demonstra que awareness podeocorrer quando o BIS está pouco acima de 60, e apenaspor períodos inferiores a meio minuto. A tentativa demanter o BIS acima de 45, pode aumentar o risco deepisódios breves com BIS superior a 60 e awareness.

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Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

2

Profol Effect-site concentration at LOC (ug/ml)

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Fig. 1. Linear regression on between the propofol effect-site concentration atloss of consciousness (LOC) and the patient baseline heart rate.Statistical significant correlation (P<0.001) and positive slope (P<0.01).

Não se encontrou uma correlação significativa entre apressão arterial, idade, peso ou altura e a concentração depropofol ou a FC basal.Conclusão: Os resultados mostram uma forte correlaçãoentre a concentração prevista de propofol no local-efeitoefeito (cerebral) e a frequência cardíaca basal em doentesneurocirúrgicos. O facto de pacientes com frequênciacardíaca inicial mais elevada necessitarem de maiorquantidade de propofol para que se produza perda deconsciência, sugere que o equilíbrio entre a concentraçãono plasma e no cérebro seja mais lenta nestes doentes.Este achado pode permitir melhorar os modelosfarmacocinéticos.Referencias:1. Anesthesiology 2001, 94:585-92;2. Br J Anaesth 2003, 90:127-31;3. Anesthesiology 1998, 88:1170-82;4. Anesthesiology 1997, 86:24-33.Agradecimento: FCT

P054

Fonseca S; Leão A; Gouveia M; Mesquita A; Barros F.

Serviço de Anestesiologia - HSJ, Porto

Análise retrospectiva daqualidade de analgesia paracorrecção cirúrgica de pectusexcavatum, em Pediatria

ResumoIntrodução e objectivos: Avaliação da eficácia analgésicae complicações da perfusão epidural contínua de Ropivacaína0,2%, em crianças submetidas a correcção cirúrgica dePectus excavatum pela técnica de Nuss.Metodologia: Análise retrospectiva da analgesia per-operatória de 29 crianças às quais após indução da anestesiageral foi colocado um cateter epidural T10-T11, inseridocerca de 5 cm. Administrou-se uma dose inicial de 0,03-0,05 ml/kg/dermátomo de Ropivacaína a 0,2% ou 0,375%+ 2 µg/ml de Fentanil. Após 1h, iniciou-se perfusão deRopivacaína 0,2% na dose de 0,2-0,4 mg/kg/h durante 72h.No fim da cirurgia foi administrada 40µg/kg de morfinaepidural, mantendo-se de 8/8h durante 5 dias. Todas ascrianças foram extubadas no bloco operatório.Resultados: 1 caso foi excluído por técnica analgésicadiferente. A idade média foi de 12,5 anos (±3,5); peso médio46,3 kg (±15,3); tempo cirúrgico médio 161 min (±21,8).Boa estabilidade hemodinâmica intra e pós-operatória; emnenhum caso a analgesia intra-operatória foi insuficiente;24 crianças mantiveram morfina epidural durante 5 dias.11 (39,2%) necessitaram de analgesia suplementar comParacetamol ev. Síndrome de Claude-Bernard-Horner eanalgesia pós-operatória insuficiente numa criança; alta emmédia ao fim de 8,3 dias (±2,1).Discussão e conclusões: A analgesia epidural torácicacom Ropivacaína forneceu uma analgesia satisfatória nas 28crianças avaliadas. Não há diferenças significativas entre osdois grupos (com/sem analgesia suplementar) relativamenteà idade (p=0,07), tempo cirúrgico (p=0,45), dias deinternamento (p=0,80). Esta técnica analgésica nas crianças,é uma alternativa segura e eficaz à administração endovenosade opióides1, eliminando as suas potenciais desvantagens,forte sedação e comprometimento respiratório.Bibliografia1. Robiseck SA, Lobato EB. Repair of pectus excavatum.Anesthetic considerations. Chest Surg Clin N Am 2000; 10:253-9.

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Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

50

P055

Francisco A. Lobo*, Catarina Nunes**, Aldara Beiras*,Isabel A Santos*, Pedro Amorim*

*Serviço de Anestesiologia, Hospital Geral de Santo António, Porto

**Departamento de Matemática Aplicada, Faculdade de Ciências,

Universidade do Porto, Porto

Indução de Burst Suppressionno EEG durante clipagensarteriais temporárias emcirurgia vascular cerebral:influência no despertar e nas

concentrações cerebrais teóricas de

propofol

ResumoA oclusão arterial temporária durante a cirurgia vascularcerebral é frequente, mas está associada a fenómenosisquémicos e ao desenvolvimento de zonas de enfarte.1, 2

A indução de burst suppression (BS) é uma forma de prevenirtais efeitos3, 4 . Analisamos qual o BIS e a suppression ratio(SR) médios durante os períodos de clipagens temporáriasem 7 doentes submetidos a clipagem de aneurisma sobTIVA com TCI de propofol (P) e remifentanil (R), e a suainfluência no despertar (ROC).Material e Métodos: Dados de 7 doentes, 4 mulheres,Glasgow Coma Score (GCS) 14-15, 4614 anos, 6716 Kgs,16211 cm de altura, submetidos a cirurgia para clipagemde aneurisma cerebral foram analisados retrospectivamente,a partir de uma base de dados gerada pelo software Rugloop2.Incluíram-se doentes com GCS14 e que acordaram noBloco Operatório. Todos os doentes foram anestesiadoscom TCI de P e R, usando o software Rugloop2. Analisaram-se as concentrações calculadas cerebrais de P (CesP) e deR (CesR) e os valores de BIS e SR durante os períodos declipagem temporária, a dose total de tiopental para induzirBS, o tempo total de clipagem temporária, o tempo entreo fim da última clipagem temporária e o despertar (ROC),o BIS em ROC e a CesP na perda de consciência na indução(LOC) e em ROC.Resultados: Os resultados são apresentados nas tabelasseguintes (dados em médiaDP).

BIS durante clipagenstransitórias

SR durante clipagenstransitórias

Pce duranteclipagenstransitórias

Rce duranteclipagenstransitórias

3,8±1,9(ng/ml)4,2±2,9(mcg/ml)54±6(%)25±9

Tempo total de clipagenstransitórias

Tempo fim último clip- ROC (min) BIS em ROC Pce em LOC

Pce emROC1,3±0,8(mcg/ml)

3,8±1,4(mcg/ml)83±1180,5±22,3(min)854±588(segundos)

10,6±6,1(mcg/ml) 1,6±1,1(mcg/ml) 325±256(mg)Tiopental administrado por doenteTce em ROCTce Máxima atingida

Simulação farmacocinética (software Tivatrainer7.5) permitiucalcular a CesTiopental média máxima atingida e em ROC.

O BIS durante o tempo de clipagem transitória tem umacorrelação com a concentração calculada cerebral depropofol no despertar (r=-0,79,p <0.05).DiscussãoEm doentes anestesiados com TCI de propofol e remifentanile que tiveram clipagens temporárias durante cirurgia vascularcerebral, a CesP no despertar parece estar associada aonível de anestesia atingido durante aqueles períodos. Apesarda indução de BS, parece ser possível um despertar rápido,essencial após este tipo de cirurgia.Referências1. J Neurosurg 1997; 87(6): 817-24.2. J Neurosurg 2002; 96(6): 1013-9.3. Neurosurgery 1990; 27(6): 914-20.4. Neurosurgery 1998; 43(5): 1050-3.

Revista SPA ‘ vol. 15 ‘ nº 1 ‘ Março 2006

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P. Sá Rodrigues

Assistente Hospitalar de Anestesia,

Maternidade do Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa

Conexão arterial-epiduralpara tratamento de cefaleiapós-punção da dura mater emtestemunha de JeováCaso Clínico

ResumoAs Testemunhas de Jeová (TJ) apresentam importantescondicionantes à administração de sangue e derivados. Emalgumas situações, autorizam a administração de sangueautólogo desde que o mesmo nunca perca continuidadecom o corpo, utilizando um circuito fechado1. Para muitasTJ, exige-se que não haja nenhuma interrupção do fluxo dosangue no referido circuito fechado. Na cefaleia severa pós-punção da dura-mater em TJ, com necessidade de execuçãode tampão sanguíneo epidural (TSE), foi descrito um circuitofechado entre uma veia do antebraço e a agulha epidural,com uma torneira de 3 vias e uma seringa para aspirar einjectar o sangue2. No entanto, a breve interrupção dofluxo de sangue nesta técnica pode levantar obstáculoséticos para as TJ. Descrevemos neste caso uma nova variantetécnica que obvia, pensamos, qualquer limitação religiosa.

Caso Clínico: G.B, 27 anos, TJ; grávida de 39 semanasproposta para cesariana electiva por apresentação pélvica,com anestesia sequencial. História clínica irrelevante. Naexecução da técnica epidural, houve punção da dura-matercom agulha de Tuohy G18. Colocou-se então cateter G20subaracnoideu, e procedeu-se a anestesia subaracnoideiasem outras in tercorrênc i as anes tés i cas oucirúrgicas/neonatais. No 1º e 2º dia do pós-operatório (D1e D2) procedeu-se a analgesia por via subaracnoideia, tendo-se então retirado o cateter. No D3, a puérpera desenvolveucefaleia incapacitante, que a obrigou a decúbito estrito esem melhoria com as medidas terapêuticas convencionais(hidratação, analgésicos, cafeína). Em D4 foi-lhe propostaa realização de um TSE segundo a técnica acima descrita2,que a doente rejeitou, devido à interrupção do fluxo desangue nela existente. Foi-lhe então proposta a colocaçãode um cateter na artéria radial, com ligação de um tubo“macho-macho” com 2 ml de volume interno entre ocateter radial e a agulha epidural. Como a pressão no espaçoepidural é semelhante à do líquido cefalo-raquidiano,

esperava-se que a elevada pressão arterial constituísse aforça mecânica suficiente para empurrar o sangue para oespaço epidural. De forma a controlar o volume de sangueinjectado, através de uma torneira de 3 vias colocar-se-iauma pequena bolha de ar no início do circuito, a cada 2 ml,de forma que quando a mesma desaparecesse na agulha deTuohy, saberíamos que 2 ml de sangue teriam sido colocadosno espaço epidural. Assim, no D5 do pós-operatórioexecutou-se a técnica proposta, sem dificuldades. Ao fimde 10 ml de sangue administrado, a doente começou areferir dor e pressão na região epidural, e um súbitoaumento da cefaleia, pelo que foi suspensa a administraçãode sangue. Ao fim de 1 hora, as queixas de cefaleias tinhamdiminuído drasticamente, e na manhã seguinte (D6) a doenteteve alta quase assintomática. A avaliação da doente, portelefone, nos primeiros seis meses, revelou a ausênciamantida de queixas.

Conclusões: Descrevemos neste caso uma nova técnica,simples, para realização de tampão sanguíneo epidural emTestemunhas de Jeová. A técnica consiste na administraçãode sangue autólogo, através de um circuito fechado e seminterrupção do fluxo sanguíneo, ligando por um circuitomacho-macho uma artéria à agulha de Tuohy. Esta técnicaé aplicável a Testemunhas de Jeová, sem que se levantemaparentemente quaisquer problemas de índole religiosa.1. Watch Tower Bible and Tract Society: Questions fromreaders; The WatchTower 1989; March 1; pp 30-12. N Jagannatham, J Tetslaff, Epidural Blood Patch in aJehova’s Witness with post-dural puncture cephalalgia(Letter); Can J Anesth 2005; 52:1 pp 113