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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA - CB PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOBIOLOGIA ROSANA GRISELDA GARRI COMPORTAMENTO DE MERGULHO DO BOTO-CINZA, Sotalia guianensis, NA ENSEADA DO CURRAL, PRAIA DE PIPA-RN, BRASIL. POSSIVEIS ADAPTAÇÕES CARDIACAS AO MERGULHO. Natal / RN 2006

ROSANA GRISELDA GARRI

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Page 1: ROSANA GRISELDA GARRI

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA - CB

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOBIOLOGIA

ROSANA GRISELDA GARRI

COMPORTAMENTO DE MERGULHO DO BOTO-CINZA, Sotaliaguianensis, NA ENSEADA DO CURRAL, PRAIA DE PIPA-RN, BRASIL.

POSSIVEIS ADAPTAÇÕES CARDIACAS AO MERGULHO.

Natal / RN 2006

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ROSANA GRISELDA GARRI

COMPORTAMENTO DE MERGULHO DO BOTO-CINZA, Sotaliaguianensis, NA ENSEADA DO CURRAL, PRAIA DE PIPA-RN, BRASIL.

POSSIVEIS ADAPTAÇÕES CARDIACAS AO MERGULHO.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Psicobiologia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para a obtenção do título de Mestre em Psicobiologia.

Orientadora: Dra. Maria Emília Yamamoto

Co-orientadora: Dra. Marcela Junin

Natal / RN 2006

Page 3: ROSANA GRISELDA GARRI

iii

Page 4: ROSANA GRISELDA GARRI

iv

A meus pais Oscar e Angélica,

meus irmãos Ariel, Leonardo e Sabrina,

minha avó Juanita e minha tia Miguelina,

que confiaram plenamente em mim,

durante todos estes anos.

Page 5: ROSANA GRISELDA GARRI

v

AGRADECIMENTOS

Antes de tudo AGRADEÇO enormemente a minha FAMILIA que sempre

estiveram e continuam a meu lado em todo momento da minha vida, desde que fui à

Patagônia, para estudar o que? BIOLOGIA MARINHA!

À professora MARCELA JUNIN do MACN, Buenos Aires-Argentina, quem

sempre me falou desta maravilhosa cidade de Natal e sobre tudo por completar meu

sonho: estudar os golfinhos em vida livre. Ao professor HUGO CASTELLO, quem com

tanto orgulho e entusiasmo me falava da fascinante beleza da sua natureza e de suas

pesquisas junto com outros cientistas do Brasil. GRACIAS!!!

Especial agradecimento à professora MARIA EMILIA YAMAMOTO, por me

receber nesta casa, no Brasil, por sua paciência, pela oportunidade de conhecer: o que é

estudar o comportamento animal? Área que desconhecia e por me brindar a amar o

comportamento dos golfinhos da Pipa.

Ao professor ARRILTON ARAÚJO quem sempre com um sorriso acompanhou

os meus passos na universidade e o meu crescimento profissional. Obrigada por toda

sua ajuda e compreensão! Aos professores do Departamento de Fisiologia-CB: Verônica

Valentuzzi, Fívia Lopes, Fátima Arruda, Teresa Mota, Márcio, Fátima Campos, Fabíola

Alburqueque. Obrigada por conhecer as áreas de trabalho e o desempenho nas suas

pesquisas. Em especial agradecimento ao professor Hélio Gurgel por suas conversas e o

espírito alegre durante os seminários de sua disciplina.

À Coordenação e autoridades do Programa de Psicobiologia. À secretária Graça

da Pós-graduação, por seu bom desempenho e ajuda.

A CAPES pela bolsa de estudo outorgada. MUITO AGRADECIDA!

Especial agradecimento pelo apoio financeiro e confiança na minha pesquisa no

Brasil, William Rossiter, Presidente da Cetacean Society International (CSI)-USA.

Aos amigos da turma de 2004 a Eric, Mariana Chiste, Viviane, Sebastião,

Marcelo, pelo afeto e conversas em portunhol e sua grande ajuda nestes anos, VALEU!.

A todos os colegas desta turma e da sua paciência com o idioma no primeiro ano

nas disciplinas e para lembrar a frase famosa “uma pergunta”. A Fernanda, Ricardo,

Marina, Derlangio, Rossandra, Wall, todas as pessoas maravilhosas!

Ao grupo PPC-Projeto Pequenos Cetáceos, por me ensinar a amar aos golfinhos

Page 6: ROSANA GRISELDA GARRI

vi

a: Carol, Priscila, Érico, Lídio, Márcia, Rose, Mariana, Adolfo, Kelly, Sandra, Luísa e

Fernando, OBRIGADA por sua confiança e pela companhia nas observações em Pipa.

Ao Coordenador do PPC, Flávio Lima, foi um prazer conhecê-lo e pela confiança no

grupo. Agradeço aos colegas do PPC/ REMANE pela aprendizagem e treinamento

através dos encalhes e as histórias que passamos para pegar os animais, lembram?

Ao pessoal da comunidade de Pipa, especialmente aos integrantes das lanchas e

barcos turísticos (Peu, Nino, Charolel, Baral, Ker) que ajudaram enormemente e com

entusiasmo na coleta de dados, VALEU! Aos policias de Pipa que nos acompanharam

nas observações dos botos no Santuário Ecológico, por insegurança do local, e por sua

PACIÊNCIA durante as observações, frase famosa: “quanto falta”.

Grande AGRADECIMENTO ao professor de Anatomia Comparada da UFRN,

CARLOS EDUARDO MOURA, quem esteve sempre a meu lado trabalhando com

meus corações, trocando informação e pelas gratas conversas, MUITO OBRIGADA!!!.

A todas as pessoas desde alunos de Zootecnia até os professores do Departamento de

Morfologia, por me ajudar no trabalho com os corações.

CAROLINA TOSI e o FAGNER MAGALHÃES, por sua grande amizade, dois

cariocas do Mestrado da UFRN que juntos sem saber de um futuro extraordinário,

formamos a equipe PROCEMA (Projeto Cetáceos do Maranhão). Minha amiga filha

Carol, quantas coisas passamos juntas e quanto por agradecer a você por todos os

momentos de ALEGRIA e FELICIDADE, apesar dos obstáculos no caminho, mas

sempre estivemos juntas. Fagner, obrigada por compartilhar todos os momentos nestes

anos, “mi hermanito menor”, que está sempre a meu lado. Vocês são a minha família no

Brasil!!!. Agradeço a Larissa Barreto (UFMA) professora pesquisadora do PROCEMA,

nossos Estagiários do PROCEMA, que fazem o melhor possível para o crescimento do

projeto (Nathali Ristau, Aline Texeira, Cristiano Cruz, Mariana Soares, Rafaela Diniz e

Mariana Bueno). O Mario Timiraos e a Ingrid Clark, diretores do Instituto Ilha do Caju

(ICEP)/MA que me receberam com tanto afeto e que trabalhamos também na luta pelos

cetáceos.

Finalmente, o mais maravilhoso de poder realizar o Mestrado foi a presença dos

BOTOS na enseada do Curral, sem eles eu não haveria chegado a meu SONHO.....A

espera da chegada de Lunara, Meu Dedo, Talhada principais personagens destes dois

anos que acompanharam os dias de sol, chuva, etc., na praia de Pipa.

Page 7: ROSANA GRISELDA GARRI

vii

SUMÁRIO

Resumo ixAbstract xRelação de Figuras xiRelação de Tabelas xiiiAnexo 01 xiii1.0 INTRODUÇÃO GERAL 011.1. Os Cetáceos 011.2. Taxonomia 021.3. Aspectos Gerais: Sotalia guianensis 04

CAPÍTULO I: Comportamento de mergulho do boto-cinza, Sotalia guianensis, na enseada do Curral, PRAIA DE Pipa, RN-Brasil

1.0 INTRODUÇÃO 07 1.2 Objetivos da pesquisa 12 1.2.1 Objetivo Geral 12 1.2.2 Objetivos específicos 12

2.0. MATERIAL E MÉTODOS 13 2.1. Caracterização da área de estudo: enseada do Curral 13 2.2. Período do estudo 14 2.3. Coleta de dados 14 2.3.1. Divisão da enseada do Curral 15 2.4. Metodologia de campo 16 2.4.1. Definições utilizadas para contextualizar o comportamento de mergulho

17

2.4.2. Determinação da faixa etária 18 2.5. Análises dos dados 19

3.0 RESULTADOS 20 3.1. Tempo médio de apnéia para cada faixa etária 20 3.1.1. Freqüência de mergulho em cada quadrante da enseada 22

3.1.2. Freqüência de mergulho em cada zona de profundidade da enseada

24

3.1.3. Freqüência de mergulho dos indivíduos com exposição da cauda direcionada a 45º e 90º

26

3.2. O comportamento de mergulho 28

4.0 DISCUSSÃO 32

5.0 CONCLUSÕES 42

6.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS 82

Page 8: ROSANA GRISELDA GARRI

viii

CAPÍTULO II: Estrutura anatômica do coração do boto-cinza, Sotalia guianensis,e possíveis adaptações cardíacas ao mergulho.

1.0 INTRODUÇÃO 43 1.1. Estudos sobre a anatomia do coração em mamíferos aquáticos 43 1.2. Importância de estudar os caracteres anatômicos e fisiológicos nos mamíferos aquáticos

44

1.3 Importância de estudar o ventrículo direito em mamíferos aquáticos 45 1.4. Estudos que relacionam a anatomia com a fisiologia e o comportamento de mergulho em mamíferos aquáticos

46

1.5. OBJETIVOS DA PESQUISA 49 1.5.1 Objetivo Geral 49 1.5.2 Objetivos Específicos 49

2.0 MATERIAIS E MÉTODOS 50 2.1 Coleta de material biológico 50 2.2 Medidas anatômicas dos corações do boto-cinza 51 2.2.1 Anatomia externa do coração 51 2.2.2 Anatomia interna do coração 54 2.3 Estudo da origem e distribuição das artérias coronárias no coração do boto-cinza

57

3.0 RESULTADOS 58 3.1 Descrição geral da estrutura anatômica do coração do boto-cinza 58 3.1.1. Átrio direito e esquerdo 59 3.1.2 Ventrículos direito e esquerdo 60 3.1.3. Artéria coronária 65 3.2 Morfometria externa do coração do boto-cinza, Sotalia guianensis 69

3.2.1. Forma do coração 70 3.3. Morfometria interna do coração do boto-cinza, Sotalia guianensis 71 3.3.1. Ventrículo direito (V.D.) 71 3.4. Artéria aorta ascendente 72

4.0 DISCUSSÃO 73

5.0 CONCLUSÕES 81

6.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 82

Page 9: ROSANA GRISELDA GARRI

ix

RESUMO

O boto-cinza, Sotalia guianensis, é um dos menores cetáceos conhecidos, tem hábitos

costeiros, e ocorre desde Honduras até Santa Catarina, sul do Brasil. Este trabalho teve

como objetivo descrever o comportamento de mergulho do boto-cinza em três faixas

etárias e analisar a capacidade cardíaca de mergulho através de análises dos corações.

As observações foram realizadas entre outubro de 2004 a novembro de 2005, a partir de

um ponto fixo, na enseada do Curral, na praia de Pipa-RN. Foi utilizado o método

amostral Ad-Libitum e registro de todas as ocorrências. O mergulho foi caracterizado

pela exposição total da nadadeira caudal em posição vertical por alguns segundos, fora

da superfície da água, no ângulo de 90° ou 45°. Foram registrados 131 mergulhos

divididos em três contextos comportamentais: forrageio, deslocamento e socialização. A

diferença do tempo de apnéia e a exposição da cauda a 45° ou 90° para procurar e/ou

capturar presas, entre os juvenis e adultos, pode estar influenciada pela estratégia e

habilidade para capturar as presas. A freqüência da cauda a 90° para forragear nos

adultos está relacionada com a maior eficiência fisiológica dos botos que gastam mais

tempo submersos que os juvenis. Entretanto, nos contextos de deslocamento e

socialização o tempo de apnéia e a exposição da cauda foram independentes nas duas

faixas etárias. Os mergulhos dos filhotes foram freqüentes durante a socialização

(relacionada a atividade de brincadeiras), e o deslocamento. A observação de mergulhos

sincrônicos filhote-adulto, aliado às características anteriores, sugerem que elas estão

relacionadas à experiência e aquisição de habilidades de forrageio. Característicos dos

cetáceos, o coração (n=12) do boto-cinza é largo e o ventrículo é comprido com um

ápice arredondado e formado pelos dois ventrículos. O ventrículo direito é longo e

estreito. O grau de dilatação do bulbo aórtico, sendo maior nos adultos, pode oferecer

ajuda para o coração durante a diástole. As características morfológicas do coração e o

tempo de apnéia < 2 minutos e a profundidade < 10m no boto-cinza, podem estar

relacionadas com as adaptações fisiológicas ao mergulho, típico de golfinhos de hábitos

costeiros. A limitação do tempo de mergulho nesta espécie é provavelmente

influenciada pelas restrições anatômicas e fisiológicas à imersão ao mergulho.

Page 10: ROSANA GRISELDA GARRI

x

ABSTRACT

The marine tucuxi, Sotalia guianensis, is one of the smallest known cetaceans, has

coastal habits, and occurs from Hondures to Santa Catarina, in southern Brazil. The

objective of this dissertation was to describe diving behavior of the marine tucuxi in

three age classes and to analyze the cardiac capacity to dive through the examination of

hearts of stranded specimens. Observations were made from October 2004 to November

2005 from a vantage point, in Curral Bay at Pipa beach-RN. We used Ad Libitum

sampling and All occurrences to record the behaviors. The diving was characterized by

the total exposition of the tail fluke for a few seconds, in 90° or 45° angles. Were

recorded 131 dives in three behavioral contexts: foraging, traveling and socialization.

The difference between juveniles and adults in dive time and fluke out at 45° or 90° to

search and/or capture prey is probably influenced by the strategy used and ability to

capture the prey. The frequency of fluke out at 90° for foraging in adults may be related

to increased physiological efficiency of adults in comparison to juveniles. However, in

the context of travel and socialization the dive time and fluke out were independent

between the age classes. Dive in calves were frequent during socialization (play

behavior) and traveling. This, associated with synchronic calve-adult diving suggests

that a relationship of these behaviors and the acquisition of experience and foraging

skills. As observed in other cetaceans, the heart (n=12) of the estuarine dolphin is broad

and presents long ventricles which form a round apex. The right ventricle is long and

narrow. The degree of dilatation of the aortic bulb may support the heart during diastole.

The characteristic morphology of the heart and short dive duration < 2 min and depth

ranged from 10m in the estuarine dolphin, can be likely at physiological adaptation for

diving, typical de dolphins with coastal habits. The limitation of diving time in this

specie may be influenced by anatomical and physiological restrictions.

Page 11: ROSANA GRISELDA GARRI

xi

RELAÇÃO DE FIGURAS

CAPÍTULO I Página

Figura 01: Mapa de distribuição geográfica do gênero Sotalia: Sotalia guianensis(marinho) e Sotalia fluviatilis (fluvial).

03

Figura 02: Local de estudo, praia de Pipa–RN. 13

Figura 03: Divisão da enseada do Curral em três quadrantes e três zonas de profundidade imaginárias.

16

Figura 04: Figura 04 (A, B). Comportamento de mergulho com exposição da cauda a 45º e 90º, respectivamente, do boto-cinza.

18

Figura 05: Determinação da faixa etária do boto-cinza, de acordo com o tamanho proporcional do corpo dos indivíduos.

19

Figura 06: Média e desvio padrão do tempo de apnéia do boto-cinza, para cada faixa etária.

20

Figura 07: Média e desvio padrão do tempo de apnéia do boto-cinza, entre as faixas etárias para cada estado comportamental.

22

Figura 08: Freqüência relativa de atividade de mergulho do boto-cinza, em cada quadrante para cada faixa etária e estado comportamental.

23

Figura 09: Freqüência relativa de atividade de mergulho do boto-cinza, para cada faixa etária e estado comportamental nas três zonas de profundidade: (Z1) zona de arrebentação; (Z2) zona intermédia e (Z3) zona profunda da enseada.

25

Figura 10: Freqüência relativa de atividade de mergulho do boto-cinza, com a cauda a 45° e 90°, para cada contexto comportamental nas diversas faixas etárias.

27

Figura 11: Ilustração do comportamento de mergulho do boto-cinza, durante o forrageio com exposição da cauda a 90° para perseguir o cardume.

28

Figura 12: Ilustração do comportamento de mergulho a 90° do boto-cinza,durante o forrageio.

28

Figura 13. Ilustração do comportamento de mergulho de um filhote do boto-cinza, durante a brincadeira com um objeto.

30

Figura 14. Ilustração do comportamento de mergulho do boto-cinza, durante a interação social.

30

Figura 15. Ilustração sobre o comportamento de mergulho sincrônico (adulto-filhote) do boto-cinza.

31

Page 12: ROSANA GRISELDA GARRI

xii

CAPÍTULO II

Figura 01: Encalhe do boto-cinza em Ponta Negra-RN. 51

Figura 02: Medidas anatômicas externas do coração do boto-cinza (face ventral), de um indivíduo adulto (macho) de 184cm de comprimento.

52

Figura 03: Anatomia externa do coração do boto-cinza (face ventral). Coração de um indivíduo adulto de 1,71cm de comprimento.

53

Figura 04: Medida dos diâmetros interno e externo para cada segmento do bulbo aórtico, desde a base da artéria aorta até o diâmetro maior do bulbo aórtico

53

Figura 05: Medidas internas do ventrículo direito do coração do boto-cinza (Face ventral).

55

Figura 06: Medidas da espessura do ventrículo direito, ventrículo esquerdo (miocárdio) e septo interventricular (face ventral) de um adulto (macho) de 184cm de comprimento.

56

Figura 07: Posição do coração nos Delphinidae. 58

Figura 08 (A e B): Coração do filhote (fêmea) do boto-cinza de 78cm de cumprimento.

62

Figura 09: Aspecto do interior dos ventrículos direito e esquerdo do boto-cinza (face ventral) de um adulto (macho) de 184cm de comprimento.

63

Figura 10 (A, B, C e D): Detalhe da anatomia interna do coração do boto-cinza. A-B e C-D, filhote (macho) e adulto de 102cm e 171cm de comprimento respectivamente.

64

Figuras 11: Vascularização arterial do coração do boto-cinza de um adulto (macho) de 184cm de comprimento.

65

Figura 12: Vascularização arterial face ventral do coração do boto-cinza. 67

Figura 13: Vascularização arterial na face dorsal do coração do boto-cinza. 67

Figura 14 (A e B): Vascularização arterial na face ventrolateral esquerda do coração do boto-cinza. Detalhe da distribuição da artéria coronária esquerda.

68

Figura 15: Detalhe da dilatação do bulbo aórtico do coração do boto-cinza, de uma fêmea juvenil de 158cm de comprimento.

72

Page 13: ROSANA GRISELDA GARRI

xiii

RELAÇÃO DE TABELAS

CAPÍTULO II Página

Tabela I: Identificação dos animais e medidas externas do coração do boto-cinza.

69

Tabela II. Medidas externas do coração do boto-cinza, para cada faixa etária. 69

Tabela III. Índice médio (altura coração/circunferência coração)x100, para determinar a forma do coração do boto-cinza, e sua comparação com cetáceos (delfinídeos) e pinípedes (focídeos) estudados.

70

Tabela IV: Índices médios de amplitude e largura do ventrículo direito do boto-cinza, em relação a algumas famílias de mamíferos aquáticos adultos.

71

ANEXOS

CAPÍTULO II

ANEXO 01 102

Page 14: ROSANA GRISELDA GARRI

1.0 INTRODUÇÃO ______________________________________________________________________

INTRODUÇÃO GERAL

1.1. Os cetáceos

A ordem Cetacea (do grego ketos e do latim cetus, ambos significando baleia), é

atualmente composta por 78 espécies. Está representada por mamíferos adaptados à vida

aquática, como botos, golfinhos e baleias, sendo formada por três subordens:

Archaeoceti (cetáceos já extintos e reconhecidos somente por restos fósseis), Mysticeti

(baleias verdadeiras) e Odontoceti (baleias com dentes, botos e golfinhos) (Hetzel &

Lodi, 1993; Perrin, Würsig & Thewissen, 2002; Pinedo, Rosas & Marmotel, 1992).

A subordem Mysticeti é representada pelas baleias verdadeiras ou baleias de

barbatanas. As espécies viventes estão classificadas em quatro famílias: Balaenidae

(com três espécies), Neobalaenidae (1 espécie), Balaenopteridae (com sete espécies),

Eschrichtiidae (1 espécie) (Jefferson, Leatherwood & Webber, 1993; Mann, Connor,

Tyack & Whitehead, 2000).

A subordem Odontoceti é constituída pelas baleias com dentes (cachalotes,

baleias-bicudas, etc.), botos e golfinhos. Apresenta a maior parte das espécies viventes

que formam a ordem, representada por dez famílias: Ziphiidae (com 20 espécies),

Platanistidae (2 espécies), Iniidae (1 espécie), Lipotidae (1 espécie), Pontoporiidae (1

espécie), Monodontidae (com 2 espécies) Physeteridae (com 1 espécie), Phocoenidae (6

espécies), Kogiidae (2 espécies), Delphinidae (36 espécies) (Mann et al., 2000).

Nos cetáceos existe uma considerável variação na forma e tamanho como, por

exemplo, a baleia-azul, Balaenoptera musculus, com 31 metros de comprimento, o

cachalote, Physeter macrocephalus, aproximadamente 18 metros (machos) e a

franciscana, Pontoporia blainvillei, com apenas 1,50 metro.

Em águas jurisdicionais brasileiras já foram oficialmente registradas a presença

de 44 espécies de cetáceos, entre eles 8 misticetos e 36 odontocetos, representando

51,7% das espécies em âmbito mundial (Lodi, 2003).

Page 15: ROSANA GRISELDA GARRI

1.2. Taxonomia

De acordo com a distribuição geográfica para o gênero Sotalia, foram

reconhecidas três espécies: S. fluviatilis (Bacia amazônica), S. guianensis (na Guiana

francesa) e S. brasiliensis (no Brasil) e duas subespécies S. fluviatilis fluviatilis (fluvial)

e S. fluviatilis guianensis (marinho) (Alves-Júnior & Monteiro Neto, 1999; Borobia,

1989; da Silva & Best, 1996; Rice, 1998).

A maioria dos taxonomistas considerava que populações de S. fluviatilis não são

subespecificamente diferentes, porém foram determinadas as existências de dois

ecotipos: um marinho; conhecido como “boto-cinza”; e um fluvial, conhecido como

“tucuxi” endêmico à bacia dos rios Orinoco e Amazonas (Alves-Júnior & Monteiro

Neto, 1999; Borobia, Siciliano, Lodi & Hoek, 1991; da Silva & Best, 1996; Monteiro-

Filho, Monteiro & Reis, 2002) (Figura 01). Atualmente, Cunha et al. (2005) realizaram

um estudo de DNA mitocondrial, para analisar o status especifico dos ecotipos de S.

fluviatilis e sua estrutura populacional ao longo da costa do Brasil. Os autores

constataram que os dois ecotipos, marinho e fluvial, do Sotalia são divergentes. Os

resultados genéticos indicaram que a distribuição geográfica e ecológica, e a

diferenciação morfométrica observada por Monteiro-Filho et al. (2002) claramente

constata que são duas espécies diferentes, sendo a forma fluvial menor. Esta última

atinge em média aproximadamente 1,5m. A forma marinha tem comprimento médio de

1,70m (da Silva & Best, 1996). Por essa razão, Cunha et al. (2005) recomendaram

utilizar o nome da espécie S. guianensis para animais marinhos e S. fluviatilis, para

animais de ambiente fluvial. De acordo com o estudo genético realizado no gênero

Sotalia, adotamos a denominação Sotalia guianensis, para a espécie em estudo.

Segundo o critério adotado por da Silva e Best (1996) o Sotalia guianensis (Van

Bénéden, 1864) ocupa a seguinte posição taxonômica:

REINO: Animalia

FILO: Chordata

CLASSE: Mammalia

ORDEM: Cetácea

SUBORDEM: Odontoceti

SUPERFAMILIA: Delphinoidea

FAMILIA: Delphinidae

GENERO: Sotalia

Page 16: ROSANA GRISELDA GARRI

ESPECIE: Sotalia guianensis (Van Bénéden, 1864)

Figura 01. Mapa de distribuição geográfica do gênero Sotalia: Sotalia guianensis

(marinho) e Sotalia fluviatilis (fluvial). (Foto: da Silva & Best (1996) modificado por Lídio

Nascimento, 2005).

Page 17: ROSANA GRISELDA GARRI

1.3. Aspectos Gerais: Sotalia guianensis

A espécie em estudo, Sotalia guianensis, é um dos menores odontocetos

pertencente à família Delphinidae (Mann et al., 2000), sendo registrado como um dos

delfinídeos mais comuns da América do Sul. Popularmente denominado “boto-cinza”,

na costa sudeste do Brasil, essa espécie é alvo de estudos há aproximadamente 15 anos

(da Silva & Best, 1994).

O boto-cinza é uma espécie costeira (Pinedo et al., 1992) sendo registrada desde

Honduras ao norte (15o58'N, 85o42'W) (Borobia et al., 1991; da Silva & Best, 1996) até

o Estado de Santa Catarina (27o35'S, 48o34'W) no sudeste do Brasil (Simões-Lopes,

1988), numa distribuição aparentemente contínua (Borobia et al., 1991; da Silva & Best,

1994; 1996). No litoral do Brasil, a espécie é comumente encontrada em regiões

próximas à costa, principalmente enseadas e desembocaduras de rios.

O boto-cinza se caracteriza por apresentar a nadadeira dorsal pequena, localizada

no centro do dorso e de forma triangular. Nesta espécie não há dimorfismo sexual

significativo. O comprimento médio tanto para machos e fêmeas é de 1,70m atingindo

como máximo 2m (Oliveira et al., 1995). Leatherwood & Reeves (1983) indicaram que

existe um padrão de variação da cor em relação ao habitat do animal. Da Silva e Best

(1994; 1996) e Hetzel e Lodi (1993) descreveram dois tipos de coloração do ventre no

boto-cinza. A coloração varia do tom de cinza escuro na região dorsal a tonalidades

mais claras na região lateral do corpo. Na parte ventral pode apresentar-se na cor branca

ou rosa, sendo esta última cor mais freqüente em animais imaturos (da Silva & Best,

1996; Hetzel & Lodi, 1993; Leatherwood & Reeves, 1983; Pinedo et al., 1992).

O boto-cinza por ser uma espécie costeira, vem sofrendo crescentes ameaças

decorrentes das atividades antrópicas na zona costeira e da degradação de seus habitats

(Lodi, 2003). A espécie é listada como “insuficientemente conhecida” apesar de

apresentar uma contínua distribuição ao longo da costa sudeste brasileira e na América

Central (da Silva & Best, 1996; Simões-Lopes, 1988). S. guianensis é qualificada como

altamente susceptível às atividades humanas pelo IBAMA (2001) (Instituto Brasileiro

do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) em sua publicação sobre

mamíferos aquáticos. A espécie é listada também nos Apêndices I & II de CITES

(Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna

Selvagens em Perigo de Extinção) e no Apêndice II de CMS (Convenção para a

Conservação de Espécies Migratórias de Animais Selvagens). Uma freqüência de 79,5%

Page 18: ROSANA GRISELDA GARRI

das espécies de cetáceos que ocorrem no Brasil possui o status "Dados Insuficientes"

segundo a Lista Vermelha de Animais Ameaçados da União Internacional para a

Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (UICN) (Lodi, 2003). Atualmente

existe uma grande preocupação quanto ao estado de conservação dos cetáceos na costa

brasileira do Brasil, especialmente para as espécies que habitam nas áreas costeiras, por

sofrerem um maior impacto humano.

O boto-cinza é uns dos cetáceos mais comumente capturados na costa do Brasil

por redes pesqueiras (Siciliano, 1994). Medeiros et al. (2002) registraram, através de

encalhes, que mais de 50% das carcaças do boto tinham evidências de interferência

humana, tais como cortes por facas, marcas de redes na pele ou pedaços de cordas e

redes. Seus órgãos genitais e olhos são usados (algumas vezes vendidos) como amuletos

e sua carne e gordura são consumidos ou usados como isca para tubarões,

principalmente no estado do Maranhão (Garri, Magalhães & Tosi, 2006; Garri, Tosi &

Magalhães, 2005c; Magalhães, Garri & Tosi, 2005a; Tosi, Magalhães & Garri, 2005). A

Comissão Internacional Baleeira (CIB), em 1994, ressaltou a necessidade de se

intensificar estudos voltados para a redução da mortalidade incidental dos cetáceos,

enquanto que ao mesmo tempo recomenda o estabelecimento de programas eficazes de

monitoramentos em diversos países (IWC, 1995). Uma das maiores preocupações é a

degradação das florestas de manguezais, que estão ameaçadas em muitas áreas pela

poluição e pelo desenvolvimento costeiro descontrolado (Lodi, 2003).

Nos últimos anos, diversos estudos sobre a ecologia, conservação e

comportamento do boto-cinza, estão sendo desenvolvidos no município de Pipa

(6°14’7”S-35°0.2’35.2”W), Rio Grande do Norte-Brasil, pelo Projeto Pequenos

Cetáceos (PPC-UFRN). Esta espécie é freqüentemente avistada em baías, enseadas e

estuários. As baías rasas e abrigadas podem ser habitats muito favoráveis para a

presença desta espécie, principalmente por grupos com filhotes. Os estudos realizados

em ambiente natural indicam que o boto é uma espécie fácil de observar e estudar nas

áreas costeiras do Rio Grande do Norte, especialmente nas praias de Pipa, Tabatinga e

Baía Formosa, principais zonas de concentração desta espécie no litoral sul do estado

(Gondim, 2004; Santos, 2000; 2003) e na praia de São Cristóvão, localizada ao norte de

Natal (Rodrigues et al., 2001). Nessas áreas, os animais são freqüentemente observados

em pequenos grupos de 4 a 6 indivíduos, incluindo filhotes e juvenis (Link, 2000;

Spinelli, 2004). A preferência por esses locais provavelmente está relacionada com a

presença e facilidade para capturar presas, bem como proteção para a realização de

Page 19: ROSANA GRISELDA GARRI

diferentes comportamentos como socialização, cuidado parental e descanso (Gondim,

2004; Jesus, 2004; Link, 2000; Nascimento, 2002; Spinelli, 2004). Segundo Link (2000)

a ocorrência dos botos na enseada do Curral, na praia de Pipa, está relacionada com a

disponibilidade de recursos e a topografia da área. Além disso, a autora menciona que

os golfinhos utilizam a enseada principalmente para forrageio.

O estudo realizado por Santos (2003) sugere que o boto-cinza muda seu

comportamento em resposta aos barcos turísticos (dolphin-watching) na Baía dos

Golfinhos em Pipa. Tais mudanças envolvem perseguição dos banhistas, diminuição da

alimentação, comportamento de mergulho e atividade aérea. As interações entre as

embarcações turísticas e os cetáceos estão aumentando sensivelmente nas ultimas

décadas (Lusseau, 2003). Hoyt (2001) menciona que estas atividades estão baseadas na

presença de embarcações causando efeitos indiretos nos padrões comportamentais dos

indivíduos, como acréscimo no intervalo de apnéia, variação na vocalização e mudança

durante o deslocamento do animal (William, Trites & Bain, 2002). Tais modificações

evidenciam a importância de se conhecer a interferência de banhistas e/ou embarcações

sobre o comportamento de mergulho do boto, na enseada do Curral.

Em anos recentes, o conhecimento e preocupação pela espécie Sotalia tem sido

incrementados entre a comunidade científica, bem como entre as autoridades

responsáveis pelo manejo costeiro, relativo aos recursos utilizados, tanto no âmbito

nacional como internacional. A conscientização da comunidade, para uma melhor

educação do uso sustentável e a importância da presença do boto-cinza na área continua

em processo.

Page 20: ROSANA GRISELDA GARRI

CAPITULO I. COMPORTAMENTO DE MERGULHO DO BOTO CINZA,

Sotalia guianensis, NA ENSEADA DO CURRAL, PRAIA DE PIPA, RN-BRASIL.

1.0 INTRODUÇÃO ______________________________________________________________________

A maioria dos autores refere-se ao comportamento de mergulho relacionado à

imersão vertical com a cauda posicionada a 90°. Bearzi, Politi e Sciara (1999) definem

este tipo de comportamento no golfinho-nariz-de-garrafa, Tursiops truncatus, como o

termo flukes out (cauda para fora) quando o animal mergulha na posição vertical. Mann

e Smuts (1999) estudando a mesma espécie, também descrevem este tipo de

comportamento usando o termo tail out dive (mergulho com a cauda para fora). Geise

(1989) define o mergulho no boto-cinza, como comportamento caudal, indicando que a

possível função para esse padrão comportamental seria para uma imersão profunda,

associada ao forrageio, comportamento agressivo ou de fuga e possíveis distúrbios.

Nascimento (2002) caracteriza o comportamento de mergulho na mesma espécie como

a exposição e sustentação por alguns segundos da nadadeira e do pedúnculo caudal

acima da superfície da água, em um ângulo de 45°. Nosso estudo define este

comportamento de forma semelhante ao descrito por Nascimento (2002), como

caracterizado pela exposição total da nadadeira caudal em posição vertical por alguns

segundos para fora da superfície da água tanto na posição de 90º como de 45° (Garri,

Pansard, Gurgel & Yamamoto, 2005b).

A discussão sobre o estudo de comportamento de mergulho foi focalizada em

alguns tópicos: 1) tipos de registros disponíveis para monitorar o comportamento no

mar, 2) informação fisiológica e comportamental que pode ser obtida a partir de novos

registros disponíveis, 3) limite fisiológico que apresenta o indivíduo para mergulhar

numa certa profundidade e por determinado período de tempo (Baird, Hanson & Dill,

2005; Butler, 2001; Kooyman, 1966; Würsig, 1989).

Dentre os mamíferos marinhos, as pesquisas sobre comportamento de mergulho

estão baseadas principalmente com pinípedes (focas e leões marinhos). Nos cetáceos os

estudos sobre a atividade de mergulho são escassos, principalmente porque esses

estudos estão associados com a utilização de registros e recuperação dos instrumentos

usados como TDRs (instrumento que registra período de tempo e profundidade de

apnéia) que são de difícil utilização em cetáceos (Baird et al., 2005; Hooker & Baird,

2001). O TDRs registra dados de profundidade, temperatura, nível de luz e velocidade

Page 21: ROSANA GRISELDA GARRI

de deslocamento dos animais. Vários autores indicaram que dados comportamentais e

fisiológicos são difíceis de analisar nos cetáceos que vivem em ambiente natural

(Akamatsu et al., 2002; Butler, 2001; Costa, Kuhn, Wiese, Shaffer & Arnould, 2004;

Mate et al., 1995; Shaffer, Costa, Williams & Ridgway, 1997). A maioria das

observações é limitada ao período de luz e dependem das condições do mar e da

temperatura do dia (Mate, Stafford, Nawojchik & Dunn, 1994).

Alguns métodos foram utilizados para estudar o deslocamento dos pequenos

cetáceos, tais como fotoidentificação (Würsig, 1978), atividade aérea (Leatherwood,

Gilbert & Chapman, 1978), captura e recaptura com marcação do animal (Irvine, Scott,

Wells & Kaufmann, 1981; Irvine & Wells, 1972), definição de rumo através de

teodolito (Würsig & Würsig, 1979), rádio telemetria convencional (Irvine et al., 1981) e

monitoramento por satélite (Mate, 1989; Mate et al., 1994; Tanaka, 1987).

O satélite de telemetria oferece a oportunidade de estudar alguns aspectos do

comportamento de deslocamento e de mergulho em mamíferos marinhos (Mate, 1989).

Mate et al. (1995) estudaram através do monitoramento por rádio satélite, o

comportamento de mergulho no golfinho-nariz-de-garrafa na Baía Tampa, Flórida.

Schreer e Testa (1996) constataram que recentes desenvolvimentos de

microprocessadores que controlam os registros de tempo e de profundidade (TDRs), e

de um tipo de satélite que registra o tempo e profundidade de apnéia (SLTDRs),

permitiram estudar melhor o padrão de mergulho. Estudos foram realizados

principalmente nos pinípedes, como por exemplo, a foca-de-weddell, Leptonychotes

weddelli, que apresenta mergulhos a 600m de profundidade com duração média de 73

minutos (Kooyman, Castellini & Davis, 1981), o elefante-marinho-do-sul, Mirounga

leonina, com mergulho máximo de 120 minutos a 1500m de profundidade (Campagna,

Blackwell, Crocker & Quintana, 1985; Jonker & Bester, 1994), o leão-marinho-do-sul,

Otaria flavensces, com mergulhos aproximadamente 200m de profundidade com

duração média de 7 minutos (Müller, 2004; Werner & Campagna, 1985). Dentre os

delfinídeos podemos citar o golfinho-nariz-de-garrafa com mergulhos de 21 segundos a

uma profundidade máxima de 50m (Mate et al., 1995; Tanaka, 1987) e o golfinho-

pintado-do-atlântico, Stenella frontalis que atinge a 33m de profundidade, com

mergulhos de até 2 minutos de duração (Butler, 2001).

Com relação aos estudos realizados sobre a atividade de mergulho em Sotalia,

podemos citar Edwards e Schenell (2001) que realizaram uma breve menção sobre o S.

Page 22: ROSANA GRISELDA GARRI

fluviatilis, primeiro registro do tempo de duração de mergulho associado à alimentação

em lagoas e baías da costa de Nicarágua.

Valle (2004) relata que o boto-cinza mostra uma relação diretamente

proporcional entre tempo de apnéia e a idade (associado à massa corporal). De acordo

com Baird et al. (2005) a capacidade de mergulho nos cetáceos deveria aumentar com a

idade, devido ao aumento na massa do corpo e/ou o acréscimo na concentração de

hemoglobina e mioglobina e a capacidade de armazenamento de oxigênio no sangue e

nos músculos. Estas características foram também discutidas para a foca-de-weddell

(Baird et al., 2005; Burns & Castellini, 1998), elefante-marinho-do-sul (Irvine, Hindell,

Hoff & Burton, 2000; Werner & Campagna, 1995) e o elefante-marinho-do-norte,

Mirounga angustirostris (Le Boeuf, Crocker, Blackwell, Webb & Houser, 2000).

Vários autores indicaram que as diferenças encontradas no tempo de apnéia nos

mamíferos aquáticos estão associadas a restrições anatômicas, fisiológicas,

comportamentais e ecológicas (Costa et al., 2004; Kooyman, 1985; Werner &

Campagna, 1995).

O comportamento de mergulho no contexto de forrageio

A sobrevivência, crescimento e sucesso reprodutivo estão relacionados com a

capacidade do indivíduo se alimentar para adquirir energia. Fatores extrínsecos, como

distribuição temporal e espacial das presas, qualidade das presas, risco de predação e

fatores ambientais influenciam a estratégia utilizada para obter alimento. Ao mesmo

tempo fatores intrínsecos, como o sexo, podem influenciar a atividade de forrageio de

um indivíduo (Beck, Bowen, Mcmillan & Iverson, 2003; Müller, 2004; Werner &

Campagna, 1995). Le Boeuf et al. (2000) observaram diferenças intra-específicas no

comportamento de forrageio entre machos e fêmeas em pinípedes, assim como em

algumas espécies de misticetos e odontoceto (cachalote) (Magalhães et al., 2002;

Whitehead, 2003). Estas diferenças representam um dimorfismo sexual (Müller, 2004),

e promovem redução da competição intersexual por alimento e refletem diferenças no

papel de cada sexo durante a reprodução e cuidado parental. Estas características

sexuais influenciam a profundidade na quais os indivíduos podem mergulhar e sua taxa

metabólica (Baird et al., 2005). Estes autores mencionam que nos mamíferos aquáticos

com grande dimorfismo sexual, as investigações baseadas na diferença entre os sexos

no comportamento de forrageio são escassas (Müller, 2004), exceto no que diz respeito

Page 23: ROSANA GRISELDA GARRI

ao elefante-marinho-do-norte e o elefante-marinho-do-sul (Campagna & Lewis, 1992;

Campagna, Lewis & Baldi, 1993).

As estratégias de forrageio, podem ser inferidas, por exemplo, a partir da

profundidade, duração, forma, freqüência, e distribuição diurna de mergulho

(Campagna et al., 1985; Werner & Campagna, 1995). A abundância ou distribuição da

presa dentro da coluna da água pode também variar com o tempo, e tais diferenças

deveriam influenciar como os delfinídeos usam a coluna da água quando mergulham

(Baird, Borsani, Hanson & Tyack, 2002; Baird et al., 2005). O padrão de mergulho

provavelmente reflete o tipo de presa consumida, por exemplo, animais pelágicos ou

bentônicos, e/ou o esforço gasto para obtê-los. A variação intra-específica na atividade

de mergulho pode refletir diferenças na estratégia de forrageio associada com diferentes

tipos de presas (Campagna, Fedak, McConnell, 1999; Werner & Campagna, 1995).

Os registros para os mamíferos marinhos de duração, profundidade e freqüência

de mergulho variam entre os táxons. Por exemplo, entre as espécies mais estudadas,

como o elefante-marinho-do-sul, mais de 80% do tempo é gasto mergulhando enquanto

estão no mar (Falabella, Campagna & Lewis, 1999). Esses animais ficam a 1200 e

1500m de profundidade com apnéia máxima de aproximadamente 120 minutos e os

mergulhos se alternam com períodos de ventilação na superfície de menos de três

minutos (Falabella et al., 1999). As pesquisas indicam que a imersão profunda

apresentada nesta espécie está relacionada com a estratégia de forrageio e procura de

alimento; a localização e padrão de mergulho refletem o tipo geral de presa consumida e

a profundidade em que é localizada, a periodicidade de forrageio e o esforço gasto

(Campagna et al., 1985). Jonker e Bester (1994) indicaram que a distribuição das presas

no espaço e tempo pode ter influência especialmente sobre o comportamento de

alimentação no elefante-marinho-do-sul, informação obtida através do uso de registros

em monitoramento (TDRs) da atividade comportamental que pode fornecer informações

sobre o padrão de mergulho.

Croll, Clark, Calambokidis, Ellison e Tershy (2001) estudaram o comportamento

de mergulho em relação ao comportamento de forrageio em duas espécies de misticetos,

a baleia-azul e a baleia-fin, Balaenoptera physalus. Os autores indicaram que a

profundidade em que mergulham ambas as espécies está relacionada à profundidade na

qual se concentram as presas. Apesar de sua massa corporal, ambas as espécies não

mergulham por longos períodos de tempo. Estas características poderiam estar

relacionadas à dispersão do krill, principal alimento. Durante o forrageio a máxima

Page 24: ROSANA GRISELDA GARRI

duração de mergulho registrado na baleia-azul e na baleia-fin foi de 14,7 minutos a

204m de profundidade e 16,9 minutos a 316m de profundidade, respectivamente.

O maior dos odontocetos, o cachalote, gasta 75% de seu tempo forrageando

(Magalhães et al., 2002), se alimenta primariamente de lulas gigantes, Architeuthis

princeps, mesopelágicas, assim como também de vários tipos de peixes e polvos

(Reeves & Whitehead, 1997; Whitehead, 2003). Dentro desta ordem, esta espécie

possui o dimorfismo sexual mais acentuado (Magalhães et al., 2002). No cachalote

macho foi registrado o mergulho médio de 1800m quando forrageia na procura e

captura de sua presa, com duração média de 60 minutos (Whitehead, 2003), enquanto as

fêmeas consomem presas a profundidades menores que 1000m (Reeves & Whitehead,

1997). A diferença no tempo de mergulho está relacionada com o habitat e a presença

das presas. O cachalote necessita realizar grandes mergulhos (Smith & Whitehead,

1993) a grandes profundidades e estes mergulhos são alternados com períodos de cerca

de 10 minutos na superfície (Clarke, Aguayo & Paliza, 1980).

No Brasil, as estratégias de forrageio do boto-cinza foram analisadas em

diferentes localidades da costa brasileira, como em Cananéia (São Paulo), Baia da

Guanabara (Rio de Janeiro) (Geise, 1989; 1991; Monteiro-Filho, 1995), Santa Catarina

(Rossi-Santos, 1997), Rio de Janeiro (Andrade, Siciliano & Capristano, 1987), Baia de

Paraty - Rio de Janeiro (Geise & Borobia, 1988; Lodi & Hetzel, 2000) e Rio Grande do

Norte (Monteiro, 2005; Nascimento, 2002; Pansard, Medeiros, Gondim, Gurgel &

Yamamoto, 2004; Spinelli, 2004).

Os animais forrageiam em zonas costeiras, próximas a estuários incluindo na

dieta tanto peixes pelágicos como demersais (Borobia & Barros, 1989; Di Beneditto,

Ramos & Lima, 2001). A principal presa encontrada no conteúdo estomacal nesta

espécie é a tainha, Mugel cephalus (Borobia & Barros, 1989), cefalópodes (Macedo et

al., 2002) e camarões (Carr & Bonde, 2000). Estudos no litoral do Rio Grande do Norte

sobre a atividade de forrageio e conteúdo estomacal no boto-cinza está em andamento.

Esta informação servirá de base para descrever a estratégia de forrageio do boto-

cinza, associado ao padrão de mergulho, determinando o período de tempo e a

profundidade de apnéia dentro da enseada do Curral.

Page 25: ROSANA GRISELDA GARRI

1.2 OBJETIVO DA PESQUISA

1.2.1. OBJETIVO GERAL

O objetivo do trabalho é estudar o comportamento de mergulho do boto-cinza, Sotalia

guianensis.

1.5.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Caracterizar o comportamento de mergulho de Sotalia guianensis para diferentes faixas

etárias através das medidas do período de tempo de apnéia e zonas de profundidade na

enseada.

- Caracterizar o comportamento de mergulho nos diferentes estados comportamentais

(deslocamento, forrageio e socialização) e investigar variações entre as diferentes faixas

etárias.

Page 26: ROSANA GRISELDA GARRI

2.0 MATERIAL E MÉTODOS ______________________________________________________________________

2.1. Caracterização da área de estudo: enseada do Curral

O estudo foi realizado na enseada do Curral também conhecida como Baía dos

Golfinhos, situada na praia de Pipa (6°12’S-35°04’W) no Município de Tibau do Sul. A

área se localiza no litoral sul do Estado de Rio Grande do Norte (RN),

aproximadamente 84 km de Natal (Figura 02).

Figura 02: Local de estudo, praia de Pipa–RN. Escala: 1:30.000. (Desenho: Lídio

Nascimento, 2002).

Page 27: ROSANA GRISELDA GARRI

A enseada do Curral é caracterizada pela presença de falésias com 30 metros de

altura, recoberta por uma vegetação remanescente de Mata Atlântica, que formam parte

do Santuário Ecológico de Pipa, Área de Proteção Ambiental (APA). As falésias

apresentam nas extremidades formações rochosas formando uma enseada semifechada.

A baía se caracteriza pela presença de águas turvas principalmente devido à composição

de pequenas partículas de sedimento provindas da ação erosiva das ondas nas falésias

durante a maré alta (Monteiro, 2005). A topografia apresenta uma inclinação gradual em

direção ao mar aberto, apresentando em uma das extremidades da enseada um Curral

pesqueiro, mas atualmente sem atividades de uso.

O clima no local de estudo é tropical com temperatura média anual que varia

entre 19ºC e 28ºC. A precipitação pluviométrica anual média geralmente varia entre

1800mm a 3000mm. Durante a estação chuvosa, ocorre acréscimo nessa média mensal

para 324mm (Carvalho, 2001; Monteiro, 2005). A umidade relativa anual média é de

76% e a salinidade variando entre 36 e 37ppm (Araújo, 2001; Monteiro, 2005). O ciclo

da maré (vazante-enchente) é semidiurno, com variação dos picos de 0.1 a 2.6m.

2.2 Período do estudo

O estudo foi realizado entre outubro de 2004 a novembro de 2005, com um total

de 81 dias de observação. O monitoramento ocorreu numa média de 4 a 6 dias por mês

(dependendo dos fatores climáticos), com esforço amostral diário de 6 horas entre 7:30

e 15:30h, totalizando um esforço amostral de 448h e efetivo de 320h (animais presentes

na enseada). Na estação chuvosa (janeiro a agosto) principalmente nos meses de abril

até junho, o número de dias e horas de observação foi reduzido devido às precárias

condições de visibilidade dos comportamentos realizados pelos golfinhos. Outros

fatores também corroboraram como limitantes na coleta de dados, como por exemplo, a

segurança do local, tendo o monitoramento sido realizado, junto com policiais de Pipa.

2.3 Coleta de dados

As observações foram realizadas de um ponto fixo, localizado em uma falésia de

aproximadamente 30m de altura no mirante do Santuário Ecológico (Figura 03). Os

animais foram monitorados por dois pesquisadores usando binóculos (Bushnell

12x50mm), gravadores portáteis e planilhas padronizadas.

Page 28: ROSANA GRISELDA GARRI

2.3.1. Divisão da enseada do Curral

Para facilitar a localização dos indivíduos na enseada, a área de estudo foi

dividida em quadrantes a partir de linhas imaginárias. Dentro da enseada foram

demarcados três quadrantes (1Q, 2Q, 3Q) e um quarto quadrante (4Q) que corresponde

à área externa da enseada, onde as atividades comportamentais não foram consideradas

no estudo. O 3Q não foi considerado neste estudo já que a distancia do local desde o

ponto fixo dificulta monitorar os comportamentos realizados pelos botos. A divisão dos

quadrantes foi realizada através de três linhas verticais paralelas que foram

estabelecidas a partir de pontos fixos (referências) facilmente reconhecidos ao longo da

enseada. Além da divisão vertical da enseada foi realizada uma divisão horizontal

imaginária contendo diferentes zonas de profundidades: zona de arrebentação (Z1),

zona intermediária (Z2) e zona profunda (Z3) (Figura 03).

A enseada do Curral possui uma extensão de aproximadamente 227,181m2. O

primeiro quadrante (1Q) possui uma extensão de aproximadamente 61,239m2 (26,96%

da área da enseada), o segundo quadrante (2Q) possui 72,366m2 (31,85%) e o terceiro

quadrante (3Q) correspondente a 93,576m2 (41,19%) (Jesus, 2004).

A medida da profundidade das três zonas foi realizada através de uma

embarcação (4m) usando-se uma corda com um peso na sua extremidade. Após a

marcação de cada zona, a corda foi retirada e feita a medição dessa profundidade

utilizando-se uma trena. A partir dessa mensuração foi possível determinar os três níveis

de profundidade. As medidas foram realizadas durante a maré enchente (nível máximo

da maré) e a maré vazante (nível mínimo da maré) da lua cheia (maré de sizígia) e da

minguante (maré de quadratura). As medidas nas duas luas foram realizadas nos

mesmos pontos, estabelecidos por GPS. Foi utilizada a tabua da maré através da

Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN), Centro de Hidrografia da Marinha

(CHM), Banco Nacional de dados Oceanográficos (BNDO).

A menor profundidade registrada foi de dois metros na maré vazante e sete

metros durante a maré enchente. A profundidade para cada zona foi estabelecida a partir

de linhas imaginárias horizontal, na zona de arrebentação (2m), na zona intermédia (2-

5m) e na zona profunda (5-7m). Na zona do Curral pesqueiro a profundidade variou

entre 1,70-2,5m.

Page 29: ROSANA GRISELDA GARRI

Figura 03. A) Divisão da enseada do Curral em três quadrantes e três zonas de

profundidade imaginárias. C-curral de pesca; M-mirante do ponto de observação dos

monitores; (1Q) primeiro, (2Q) segundo, (3Q) terceiro quadrante respectivamente, e (4Q)

quarto quadrante (local fora da enseada); (Z1) zona de arrebentação, (Z2) zona

intermédia, (Z3) zona profunda da enseada. (Foto: Renato Matos, 2004). B) Mirante de

observação (Foto: Priscila Medeiros, 2005). C) Baia dos golfinhos (Foto: Rosana Garri,

2005).

2.4 Metodologia de campo

Para a coleta de dados foi utilizado o método amostral Ad libitum (Altman,

1974) para registrar o contexto comportamental em que ocorreram os mergulhos e

Registros de todas as ocorrências, para quantificar os mergulhos. Foram coletados

ainda dados relativos à:

1. Coleta de dados geral na enseada:

Número de animais presentes na enseada;

Presença de animais em cada quadrante e a zona de profundidade;

C M

Z11Q

2Q

3Q

4Q Z3

Z2

200m

N

0 A

B

C

2,5m

5m

7m

Page 30: ROSANA GRISELDA GARRI

Faixa etária e, quando possível, a identificação de marcas naturais dos animais

(principalmente na nadadeira dorsal dos indivíduos catalogados);

2. Coleta específica de dados sobre comportamento de mergulho:

Data e hora que o animal mergulhou;

Faixa etária do animal que mergulhou;

Exposição da cauda a 45º ou 90º do animal que mergulhou;

Período de tempo (em segundos) de mergulho do animal;

Quadrante e zona de profundidade em que ocorreu o mergulho;

Contexto comportamental observado antes, durante e após do mergulho;

Os estados comportamentais (contextos ou categorias) adotados para o presente

estudo, são provenientes de estudos realizados com o gênero Sotalia e outros cetáceos,

de acordo com as definições estabelecidas por Mann e Smuts (1999); Nascimento

(2002); Slooten (1994) e Spinelli (2004):

a) Deslocamento: movimentação com sentido direcional determinado ocorrendo

intervalos regulares para respiração. Os padrões de movimentação podem ser distintos

ocorrendo de forma lenta, rápida, em velocidade e porpoising.

b) Socialização: comportamento caracterizado por contatos físicos (amamentação,

comportamento sexual e agressão, etc.) entre dois ou mais animais imaturos e adultos.

c) Forrageio: comportamento caracterizado por procura, perseguição, bote,

manipulação e consumo da presa.

2.4.1 Definições utilizadas para contextualizar o comportamento de mergulho

Mergulho: caracterizado pela exposição total da nadadeira caudal em posição

vertical por alguns segundos para fora da superfície da água no ângulo de 90° ou

na posição de 45º (Figura 04 A e B).

Tempo de apnéia: tempo transcorrido entre a submersão do indivíduo na água,

(uma inspiração) até a subida à superfície para respirar (expiração). A partir do

momento que o indivíduo submerge na água, inicia-se a cronometragem do

tempo de mergulho em segundos, até que venha a emergir.

Page 31: ROSANA GRISELDA GARRI

Figura 04 (A e B). Comportamento de mergulho com exposição da cauda a 45º e 90º,

respectivamente, do boto-cinza. (Fotos: Sandra Ananias, 2005).

2.4.2 Determinação da faixa etária

A identificação da faixa etária dos botos na enseada foi utilizada para analisar se

existem diferenças no comportamento de mergulho entre filhotes, juvenis e adultos.

Por estimativa visual, os animais foram classificados como filhote, juvenil e

adulto de acordo com o tamanho e coloração.

Tamanho: adultos entre 1,65 e 2,06m (Barros, 1991; Rosas & Monteiro-Filho, 2002).

Coloração: filhote possui coloração cinza rosada (Geise, Gomes & Cerqueira, 1999).

A classificação também foi seguida pelo critério adotado por Geise et al. (1999)

baseado no tamanho proporcional do corpo entre os animais.

A determinação da faixa etária foi feita da seguinte maneira (Figura 05):

Filhote: classificado como cerca de ¼ do tamanho do animal adulto.

Juvenil: classificado como cerca de ½ a ¾ do tamanho do animal adulto.

4A 4B

Page 32: ROSANA GRISELDA GARRI

Figura 05: Determinação da faixa etária do boto-cinza de acordo com o tamanho

proporcional do corpo dos indivíduos. Em (A) animal adulto, (B) animal juvenil, (C)

filhote (Desenho: Lídio Nascimento, 2002).

A estimativa da faixa etária dos botos foi possível com a ajuda de outro

observador no ponto fixo de observação, principalmente para determinar o tamanho de

indivíduos entre filhote-juvenil e juvenil-adulto.

2.5. Análises dos dados

Os dados registrados na enseada foram transcritos em planilhas padronizadas

com o auxílio do programa Microsoft Excel. Para a análise estatística foi utilizado o

programa Statistica. As análises foram realizadas através do teste não paramétrico de

Kruskall-Wallis, e a posteriori o teste de Mann-Whitney para comparar as diferenças

entre as médias. Além disso, foi utilizado o teste não paramétrico Qui-quadrado ( 2)

(Siegel, 1975). Os testes estatísticos foram utilizados com nível de significância de 5%.

A

B

C

Page 33: ROSANA GRISELDA GARRI

3.0 RESULTADOS ______________________________________________________________________

3.1. Tempo médio de apnéia para cada faixa etária

Dos 81 dias de monitoramento, foi registrada atividade de mergulho em 35 dias

o que representou 41,21%.

Um total de 131 mergulhos do boto-cinza foi registrado na enseada do Curral. A

média do tempo de apnéia para cada faixa etária registrada na enseada foi de 10,31s

(dp= ± 3,30s) para filhotes (n=13); 23,85s (dp= ± 8,34s) para juvenis (n=46) e 31,48s

(dp= ± 14,05s) para adultos (n=72) (Figura 06). Observou-se que houve diferença

significativa no tempo médio de apnéia entre as três faixas etárias (n=131; H=34,55;

p=0,00001). Para determinar entre quais grupos ocorria diferença, realizamos análises

pareadas utilizando o teste U de Mann-Whitney, verificando que houve diferença

significativa entre todas as combinações possíveis: filhote e juvenil (n1=13; n2=46;

U=27; p=0,000001); filhote e adulto (n1=13; n2=72; U=53,5; p=0,0000001) e juvenil e

adulto (n1=46; n2=72; U=1139; p=0,004).

Figura 06. Média e desvio padrão do tempo de apnéia do boto-cinza, para cada faixa

etária.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Filhote Juvenil Adulto

Tem

po (

segu

ndos

)

*

*

*

Page 34: ROSANA GRISELDA GARRI

Durante a atividade de forrageio, o tempo médio de apnéia registrado para cada

faixa etária foi de 24,58s (dp= ± 8,04; n=24) para juvenis e 35,34s (dp= ± 14,11; n=41)

para adultos. Verificou-se que houve diferença estatisticamente significativa entre o

tempo que o animal mergulha, provavelmente para procurar ou detectar a sua presa

durante a atividade de forrageio (n=65; H=9,31; p=0,002) entre as duas faixas etárias

(Figura 07). Não foi observada a participação dos filhotes na atividade de mergulho.

No contexto de deslocamento, a média registrada foi de 24,6s (dp= ± 9,05;

n=10) para juvenil e 29,07s (dp= ± 13,19; n=14) para adulto. A análise do teste de

Kruskal-Wallis não demonstrou haver diferença significativa no tempo de apnéia, entre

juvenis e adultos (n=24; H=0,63; p=0,43) (Figura 07).

Devido a baixo número amostral (n=2) para essa categoria, não foi possível

avaliar o tempo médio de apnéia para os filhotes. Os dois mergulhos registrados para

filhotes foram quando adulto-filhote estavam se deslocando na enseada e mergulharam

sincronicamente, sendo a média de 11s (dp= ± 2,83).

O tempo médio de apnéia registrado durante o contexto de socialização, foi de

10,18s (dp= ± 3,49; n=11) para filhotes, 21,75s (dp= ± 8,73; n=12) para juvenis e 24,18s

(dp= ± 11,71, n=17) para adultos, havendo, portanto uma diferença significativa entre

os tempos de apnéia (n=40; H=14,3; p=0,0008). A análise pelo teste de Mann-Whitney

demonstrou haver diferença significativa entre o tempo médio de apnéia de filhotes e

juvenis (n1=11; n2=12; U=15; p=0,002) e filhotes e adultos (n1=11; n2=17; U=15;

p=0,002). No entanto, não houve diferença significativa entre o tempo médio de apnéia

entre juvenis e adultos (n1=12; n2=17; U=95; p=0,76) (Figura 07).

Page 35: ROSANA GRISELDA GARRI

Figura 07. Média e desvio padrão do tempo de apnéia do boto-cinza, entre as faixas etárias

para cada estado comportamental.

3.1.1. Freqüência de mergulho em cada quadrante da enseada

Durante a atividade de forrageio, os mergulhos para os indivíduos juvenis foram

significativamente mais freqüentes no 1Q (66,66%) comparado com o 2Q (33,34%)

( 2=16, g.l.=2; p 0,05) e nos adultos também a freqüência foi maior no 1Q (78,08%)

quando comparado com o 2Q (21,95%) ( 2=39,87 g.l.=2; p 0,05). Verificou-se que a

atividade de mergulho dos botos ocorreu com maior freqüência no 1Q, sendo a área

principal de alimentação dos animais.

Em filhotes, para a categoria de deslocamento foram registrados apenas dois

mergulhos, sendo um no 1Q e outro no 2Q. Nos juvenis, observou-se que a maior

freqüência de mergulhos ocorreu no 1Q (70%) quando comparado com o 2Q (30%)

( 2=7,41; g.l.=2; p 0,05). Enquanto, nos indivíduos adultos, também as atividades de

mergulho foram significativamente mais freqüentes no 1Q (64,29%) em relação ao 2Q

(35,71%) ( 2=4,07; g.l.=1; p 0,05) (Figura 08).

Na categoria de socialização, a freqüência de mergulho em filhotes representou

45,45% no 1Q e 54,55% no 2Q. A análise estatística demonstrou não haver diferença

significativa no comportamento de mergulho para ambos os quadrantes ( 2=5,65; g.l.=2;

p>0,05). Nos juvenis, a maior freqüência de mergulho foi registrada no 1Q (91,66%)

0

10

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70

Forrageio Deslocamento Socialização

Tem

po (s

egun

dos)

Filhote

Juvenil

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*

*

*

Page 36: ROSANA GRISELDA GARRI

quando comparado com o 2Q (8,34%) ( 2=18,50; g.l.=2; p 0,05). Também, os

indivíduos adultos apresentaram maior atividade no 1Q (94,11%) que no 2Q (5,89%)

( 2=22,73; g.l.=1; p 0,05) (Figura 08).

Figura 08. Freqüência relativa de atividade de mergulho do boto-cinza, em cada

quadrante para cada faixa etária e estado comportamental. Primeiro quadrante (1Q) e

segundo quadrante (2Q) da enseada.

0

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Forrageio

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1Q 2Q

Fre

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cia

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(%)

Juvenil

Adulto

Deslocamento

0

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100

1Q 2Q

Fre

qüên

cia

rela

tiva

(%)

Filhote

Juvenil

Adulto

Socialização

Page 37: ROSANA GRISELDA GARRI

3.1.2. Freqüência de mergulho em cada zona de profundidade da enseada

Com relação à atividade de mergulho nas três zonas de profundidade da enseada,

os animais apresentaram mergulhos com mais freqüência na zona intermédia (Z2),

(72,52%) comparado com as zonas de arrebentação (Z1) (8,40%) e profunda (Z3)

(19,08%), sendo estas diferenças significativas ( 2=92,77; g.l.=2; p 0,05).

Durante a atividade de forrageio, em indivíduos juvenis a freqüência de

mergulho foi maior na zona intermédia da enseada (91,67%) do que na zona de

arrebentação (4,16%) e profunda (4,17%). Nos adultos também foi registrado mais

atividade de mergulho na Z2 (51,22%) sendo menor nas Z1 (17,08%) e Z3 (31,70%).

Os resultados constataram que a freqüência de mergulho entre os juvenis e os adultos

foi significativa, sendo maior atividade de forrageio na Z2 ( 2=9,60; g.l.=2; p 0,05).

Nos juvenis durante o deslocamento, foi registrado com maior freqüência de

atividade de mergulho na Z2 (70%) quando comparado com a Z1 (10%) e a Z3 (20%).

Também foi constatado significativamente que nos indivíduos adultos aconteceu maior

freqüência de atividade de mergulho na Z2 (78,58%) comparado com a Z3 (21,42%) e

sem registro de atividade na Z1. Observou-se que a freqüência de mergulho entre ambas

as faixas etárias foi maior na Z2 ( 2=118,40; g.l.=2; p 0,05).

Na categoria de socialização, a freqüência de mergulho para filhotes foi maior na

Z2 (90,90%) quando comparado com a Z3 (9,10%). Enquanto o comportamento de

mergulho nos filhotes não foi observado na Z1 da enseada. Além disso, nos indivíduos

juvenis também foi registrado mais atividade na Z2 (75%) e em menor freqüência as Z1

(16,66%) e Z3 (8,34%). O comportamento de mergulho nos adultos, como nas outras

duas faixas etárias ocorreram, maiormente na Z2 (82,35%) comparado com a Z3

(17,65%) e sem observação de mergulhos na Z1. Verificou-se haver diferença

significativa na freqüência de mergulho para cada zona de profundidade nas três faixas

etárias, sendo esta atividade preferencialmente na Z2 da enseada, como o observado nos

contextos de forrageio e deslocamento ( 2=8,23; g.l.=2; p 0,05).

Page 38: ROSANA GRISELDA GARRI

Figura 09. Freqüência relativa de atividade de mergulho do boto-cinza, para cada faixa

etária e estado comportamental nas três zonas de profundidade: (Z1) zona de

arrebentação; (Z2) zona intermédia e (Z3) zona profunda da enseada.

Forrageio

0

20

40

60

80

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Z1 Z2 Z3

Zonas de profundidade

Fre

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cia

rela

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(%

)

Juvenil

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Deslocamento

0

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Z1 Z2 Z3

Zonas de profundidade

Fre

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lati

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)

Juvenil

Adulto

Socialização

0

20

40

60

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100

Z1 Z2 Z3

Zonas de profundidade

Fre

qüên

cia

rela

tiva

(%

)

Filhote

Juvenil

Adulto

Page 39: ROSANA GRISELDA GARRI

3.1.3. Freqüência de mergulho dos indivíduos com exposição da cauda direcionada a

45º e 90º

Foi registrado um total de 45 e 86 mergulhos com exposição da cauda nos

ângulos de 45º e 90º, respectivamente.

Durante a atividade de forrageio, foi registrada maior freqüência de atividade de

mergulho com exposição da cauda a 45° (61,9%) para os juvenis se comparado com os

adultos (38,1%). Verificou-se que o mergulho a 90° ocorreu com menor freqüência nos

juvenis (25%) do que os adultos (75%) ( 2=29,41; g.l.=1; p 0,05) (Figura 10).

Em filhotes, no contexto de deslocamento a exposição da cauda a 45° foi de

16,66%, nos juvenis 33,34% e nos adultos 50%. Enquanto, observou-se que a

freqüência de mergulhos com exposição da cauda a 90° nos juvenis (42,86%) não foi

significativo comparado com os indivíduos adultos (57,14%) e sem observação de

mergulhos nos filhotes. Os resultados mostraram não haver diferença significativa na

exposição da cauda nos ângulos de 45° e 90° entre as faixas estarias ( 2=1,87; g.l.=2;

p>0,05) (Figura 10).

Na categoria de socialização, nos filhotes a freqüência de atividade de mergulho

com exposição da cauda a 45° representou 25%, nos juvenis 33,33% e nos adultos

41,67%. Enquanto, constatou-se que 28,57%, dos mergulhos a 90° apresentaram

aproximadamente, a mesma freqüência de atividade tanto nos filhotes como nos juvenis.

Nos indivíduos adultos representou 42,86%. A análise estatística verificou não haver

diferença significativa na exposição das caudas durante a atividade de mergulho dos

botos entre as faixas etárias ( 2=0,12; g.l.=2; p>0,05) (Figura 10).

Page 40: ROSANA GRISELDA GARRI

Figura 10. Freqüência relativa de atividade de mergulho do boto-cinza, com a cauda a 45°

e 90°, para cada contexto comportamental nas diversas faixas etárias.

Forrageio

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45° 90°

Fre

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cia

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Juvenil

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Deslocamento

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45° 90°

Cauda

Fre

qüên

cia

rela

tiva

(%

)

Filhote

Juvenil

Adulto

Socialização

0

20

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60

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45° 90°

Cauda

Fre

qüên

cia

rela

tiva

(%

)

Filhote

Juvenil

Adulto

Page 41: ROSANA GRISELDA GARRI

3.2 O comportamento de mergulho:

Foram registradas nos três estados comportamentais atividades de mergulho:

1. Mergulho durante o forrageio: comportamento caracterizado quando o juvenil ou

adulto expõe a cauda a 45° ou 90° por alguns segundos e mergulha, provavelmente para

procurar, detectar ou perseguir a presa.

Foram registrados durante a atividade de forrageio:

- Perseguição da presa: o animal mergulha com posição da cauda a 45° ou 90° e sobe

na superfície em persecução da presa (p.ex. cardume) até captura-a com ou sem sucesso

(bote) (Figura 11).

Figura 11. Ilustração do comportamento de mergulho do boto-cinza, durante o forrageio

com exposição da cauda a 90° para perseguir o cardume. (Desenho: Lídio Nascimento,

2005).

- Mergulho vertical com captura da presa: o animal mergulha com a cauda a 90° e sobe

na superfície com o peixe na boca até consumi-a (Figura 12).

Figura 12. Ilustração do comportamento de mergulho a 90 do boto-cinza, durante o

forrageio. (Desenho: Lídio Nascimento, 2006).

Exposição da cauda a 90°

Exposição da cauda a 90

Page 42: ROSANA GRISELDA GARRI

2. Mergulho durante o deslocamento: comportamento caracterizado quando o animal

está deslocando-se na enseada e mergulha expondo a cauda tanto a 45° como a 90°,

sobe na superfície e continua deslocando-se dentro ou fora da enseada, para socializar,

forragear ou por distúrbios antrópicos.

Foi registrado durante o deslocamento:

- Influência humana: comportamento caracterizado quando o animal mergulha ante a

presença de embarcações turísticas e/ou a perseguição ou presença de numerosos

banhistas no local e se deslocam para outra área ou saem da enseada.

Observou-se em sete ocasiões que os animais mergulharam e quando emergem se

deslocaram para outro local ou passaram a interagir com outro grupo de animais saindo

da enseada devido à perseguição de banhistas e a presença de barcos turísticos.

3. Mergulho durante a socialização: comportamento caracterizado quando um

indivíduo efetua mergulhos geralmente de curta duração (<10s) quando esta

socializando (atividade de brincadeira ou contato físico) com exposição da cauda a 45°

ou 90°. Comportamento observado com maior freqüência entre os filhotes (atividades

de brincadeira) e juvenis.

Dentro deste contexto foi registrado:

- Mergulho com periscópio: comportamento observado geralmente nos filhotes que

submergem expondo a cauda e sobem à superfície realizando atividade de periscópio.

Este tipo de comportamento de mergulho nos filhotes foi registrado em cinco ocasiões,

enquanto nos adultos foi observado em duas ocasiões.

- Mergulho durante a brincadeira com objeto: comportamento observado nos filhotes,

que se submergem expondo a cauda a 45° ou 90° e sobem à superfície brincando com

algum objeto (p.ex., alga ou plástico).

Foram observados dois episódios, o filhote acompanhado sempre de um juvenil ou um

adulto, mergulha por 6s e 9s respectivamente, e sobe à superfície brincando com algas.

Foi registrado um episódio quando o animal mergulha por 8s e emerge brincando com

um plástico (Figura 13).

Page 43: ROSANA GRISELDA GARRI

Figura 13. Ilustração do comportamento de mergulho de um filhote do boto-cinza,

durante a brincadeira com um objeto (Desenho: Lídio Nascimento, 2006).

- Mergulho com contato físico: comportamento caracterizado durante a socialização

com mergulhos expondo a cauda a 45° ou 90° e o animal sobe na superfície e entra em

contato físico com outro indivíduo passando o seu corpo acima de outro animal.

Comportamento observado nas três faixas etárias (Figura 14).

Figura 14. Ilustração do comportamento de mergulho do boto-cinza, durante a interação

social (Desenho: Lídio Nascimento, 2006).

4. Mergulho sincrônico: comportamento caracterizado quando dois indivíduos de

diferentes faixas etárias se deslocam e mergulham juntos, e sobem na superfície com a

com a mesma freqüência respiratória e na mesma posição da cauda.

Os mergulhos sincrônicos registrados foram:

- Filhote-Adulto: caracterizado como o comportamento em que ambos os indivíduos

quando estão deslocando-se juntos, mergulham sincronicamente (sincronismo de

movimento) e emergem à superfície obtendo a mesma freqüência respiratória.

Em duas ocasiões filhote-adulto foram vistos deslocando-se na zona intermédia da

enseada, frente ao ponto de observação com mergulhos sincrônicos no ângulo de 45°

com apnéias de 9s e 13s respectivamente. O adulto-filhote quando subiram à superfície

para respirar continuaram deslocando-se na enseada (Figura 15).

Exposição da cauda a 90

Exposição da cauda a 90

Page 44: ROSANA GRISELDA GARRI

Figura 15. Ilustração sobre o comportamento de mergulho sincrônico (adulto-filhote) do

boto-cinza (Desenho: Lídio Nascimento, 2006).

- Influencia humana: foi registrado um episodio no quais dois adultos ante a chegada de

três embarcações turísticas e a presença concentrada de banhistas (n=30) frente a ponto

de observação no meio da enseada. Ambos os indivíduos expuseram a cauda a 90° e

bateram a cauda sincronicamente por 6 segundos e mergulharam. Quando souberam à

superfície (tempo de apnéia 8 segundos) se deslocaram juntando-se com outros animais

que estavam espalhados no local e saíram da enseada.

5. Mergulho consecutivo: é caracterizado quando um animal mergulha em mais de

uma ocasião, de forma consecutiva, para um determinado contexto comportamental.

Foi registrado um episodio de um juvenil durante o forrageio próximo e paralelo

ao Curral pesqueiro no meio da enseada, o indivíduo mergulha com a cauda a 45° por 8s

e 5s segundos depois mergulha novamente por 18s e sobe à superfície perseguindo o

peixe em direção à zona de arrebentação até capturar a presa.

Também este comportamento foi observado no adulto, o animal mergulha no

meio da enseada, na área de alimentação, por 11s no ângulo de 45°, sobe na superfície e

mergulha novamente a 45° por 26s e emerge da água em persecução de um cardume até

capturar a presa.

Em uma ocasião foi registrado no meio da enseada durante a socialização de um

grupo constituído por três animais (filhote, juvenil e adulto), o juvenil mergulha por 6s

no ângulo de 45° e sobe à superfície e 4s depois mergulha novamente durante 8s e entra

em contato físico com o filhote. Outro episodio também foi registrado no meio da

enseada com um grupo de quatro animais (filhote, dois adultos e um juvenil). O juvenil

mergulha com a cauda a 45° por 8s quando sobe à superfície 3s depois mergulha no

mesmo ângulo durante 10s e entra em contato físico com os animais.

Exposição da cauda a 45°

Page 45: ROSANA GRISELDA GARRI

4.0 DISCUSSÃO ______________________________________________________________________

Não há registros direcionados a estudos sócio-comportamentais do mergulho em

delfinídeos costeiros de vida livre. Estudos com o boto-cinza focando comportamento

de mergulho nas diversas faixas etárias associado a estes contextos são inexistentes. Os

trabalhos nos cetáceos estão baseados no tempo de apnéia e profundidade que

mergulham os animais, principalmente durante o forrageio (Akamatsu et al., 2002;

Baird et al., 2005; Bastida et al., 2000).

O tempo médio de apnéia (duração do mergulho) registrado no presente estudo

com o boto cinza (31,48s) nos adultos é semelhante a outras espécies de golfinhos

estudados recopilados por Bastida et al. (2000), como o boto-do-porto, Phocaena

phocaena (35s), boto-cor-de-rosa, Inia geoffrensis (32s), boto-de-burmeister, Phocoena

spinipinnis (30s), vaquita, P. sinus (20s), golfinho-escuro, Lagenorhynchus obscurus

(23s), golfinho-de-laterais-brancas-do-atlântico (39s) e por Bordino e Thompson (1997)

na franciscana (18,6s).

Alguns autores compararam o tempo de apnéia em vida livre entre animais

juvenis e adultos evidenciando diferenças significativas entre ambas as faixas etárias.

Podemos citar a Baird e Hanson (1998) que registraram na toninha-de-Dall,

Phocoenoides dalli, mergulhos de 33s para juvenis e 71s em adultos, calculados a partir

de mergulhos a 2,7m de profundidade. Akamatsu et al. (2002) observaram que o tempo

médio de apnéia na toninha-finless, Neophocaena phocaenoides, no rio Yangtze na

China, é similar a outras espécies de toninhas com 11,9s em juvenis e 31,3s em adultos

com mergulhos > 2m de profundidade. Noren, Lavace, Wells e Williams (2002) no

estudo do golfinho-nariz-de-garrafa na Florida observaram a duração do mergulho nos

juvenis (55,3s) e nos adultos (112s), sendo registrado nesta espécie maior tempo de

apnéia se comparado com o boto-cinza. No presente estudo, registramos apnéias de

23,85s para juvenis e 31,48s para adultos em águas pouco profundas (3-5m) dentro da

enseada do Curral. Em geral, o padrão do tempo médio de apnéia na espécie em estudo

é semelhante aos outros delfinídeos já estudados, observando-se diferença significativa

entre juvenis e adultos.

Vários autores relataram que os filhotes geralmente não apresentam mergulhos e

que somente são registrados quando o filhote encontra-se acompanhado de um adulto

(sincronismo de mergulho) como descrito por Whitehead (1996) e Magalhães et al.

Page 46: ROSANA GRISELDA GARRI

(2002) em cachalotes, Noren et al. (2002) no golfinho-nariz-de-garrafa e Miles e

Herzing (2003) no golfinho-pintado-do-atlântico, Stenella frontalis, nas Bahamas.

Nossos resultados evidenciaram uma média de apnéia de 10,31s no filhote, sendo o

tempo de mergulho similar ao descrito para o golfinho-pintado-do-atlântico.

Os estudos realizados em delfinídeos indicam que os animais mergulham a

pouca profundidade e por períodos breves (Williams, Haun & Frield, 1999). Geralmente

os golfinhos realizam apnéias < 2 minutos em águas pouco profundas (<100m)

(Williams et al., 1999), exceto a beluga, com mergulhos de 12 minutos a profundidade

de 300m (Martin, Smith & Cox, 1998). Vários estudos realizados por Baird et al.

(2005), Butler (2001) e Costa et al. (2004) tanto em cativeiro como em vida livre nos

delfinídeos, indicaram que as limitações anatômicas e fisiológicas restringem a

permanência embaixo da água por longos períodos do tempo e profundidade quando

comparado com os misticetos e pinipedes.

Em relação ao comportamento de mergulho para cada contexto comportamental,

Nascimento (2002), analisando os diferentes padrões comportamentais dos botos na

enseada de Pipa, classificou na espécie em estudo, o comportamento de mergulho

somente no contexto de deslocamento. Nossos resultados sugerem que os mergulhos no

boto-cinza não só aconteceram durante os deslocamentos, assim como também no

contexto de forrageio e socialização. Neste último contexto, não há registros nos

cetáceos com enfoque no comportamento de mergulho nas diversas faixas etárias.

Por outro lado, Valle (2004) estudando a mesma espécie na praia de Pipa

indicou que os botos não realizam mergulhos verticais por ser uma zona rasa e pela

topografia da enseada. Neste trabalho, porém, registramos atividade de mergulho com

exposição da cauda tanto a 45° como a 90° e para cada contexto comportamental

(forrageio, deslocamento e socialização) nas diversas faixas etárias.

Comportamento de mergulho durante o forrageio

Durante a atividade de forrageio foi registrada diferença significativa no tempo

de apnéia com média de 24,58s para juvenis e 35,34s para adultos e sem participação do

filhote durante o comportamento alimentar. Com relação aos estudos realizados sobre a

atividade de mergulho no boto-cinza, podemos citar Edwards e Schenell (2001) que

realizaram uma breve menção sobre o primeiro registro de mergulho em indivíduos

Page 47: ROSANA GRISELDA GARRI

adultos associado à alimentação em lagoas e baías da costa de Nicarágua, indicando a

média de 40s. O tempo de apnéia registrado nos adultos pelos autores é similar ao

observado na enseada do Curral, como citado anteriormente.

Existem poucos trabalhos associados a comportamento de mergulho em

delfinídeos entre as faixas etárias durante o forrageio (Akamatsu et al., 2002). Podemos

citar, por exemplo, a toninha-do-porto com mergulhos de 12,5s em juvenis e 37,7s nos

adultos (Westgate et al., 1995). Nosso estudo coincide com o citado anteriormente pelos

autores, com mergulhos inferiores há dois minutos e em águas pouco profundas (3-5m),

sendo registrado no indivíduo adulto o máximo de 65s na zona profunda da enseada (5-

7m), possivelmente para procurar, detectar ou capturar a presa.

Entretanto, nos pinípedes a permanência destes animais por longos períodos de

tempo e profundidade está relacionada com a maior capacidade fisiológica de mergulho

para capturar várias presas (Boyd, 1997; Campagna et al., 1999; Noren et al., 2004)

como o observado no elefante-marinho-do-sul (Campagna et al., 1985; Campagna et al.,

1999).

Nos mamíferos marinhos a procura de alimento a diferentes profundidades pode

estar estreitamente relacionada ao tempo de apnéia e à concentração das presas. Dessa

forma, várias estratégias fisiológicas podem ser usadas para prolongar a duração do

mergulho (Boyd, 1997). A capacidade fisiológica é um fator limitante para a utilização

do habitat mostrando como o tempo de apnéia varia entre as espécies de cetáceos (Costa

et al., 2004). O forrageio e locomoção nos mamíferos marinhos freqüentemente requer

de longos períodos de apnéia, sendo adquiridos pelo armazenamento de O2 nos

pulmões, sangue e músculos (Butler, 2001; Kooyman, 1985; 1989; Richmond, Burns &

Rea, 2006).

Nos animais imaturos, a capacidade de forrageio pode ser fisiologicamente

limitada devida à diminuição de armazenamento de oxigênio no corpo e a uma alta

massa metabólica especifica. Estudos realizados em pinípedes demonstraram que a

duração do mergulho aumenta com a idade como resultado da mudança na capacidade

de armazenamento de O2 e aumento do tamanho do corpo (Horning & Trillmich, 1997;

Kooyman, 1989; Le Boeuf et al., 1996). Nos delfinídeos, ocorre uma mudança imediata

nas células sanguíneas, hemoglobina (Hb), hematocrito (Hc), durante o período quando

imaturos começam a mergulhar (Noren et al., 2002). Estes autores indicaram que a

mudança nos delfinídeos ocorre a partir de 1-6 meses e logo dos seis meses os animais

imaturos começam com a pratica de forrageio. Estes autores observaram que os filhotes

Page 48: ROSANA GRISELDA GARRI

desenvolvem mudanças na concentração de O2 resultando uma mudança na capacidade

de mergulho. Entre 1-2 anos os filhotes têm em media 89% e 97% de conteúdo de Hb

qual limita a capacidade de concentração de O2 no sangue. O total deste armazenamento

no corpo está limitado nos animais imaturos devido ao limite de concentração de O2 nos

músculos. Noren et al. (2002) observaram no golfinho-nariz-de-garrafa, que o

desenvolvimento da concentração de O2 no sangue e no músculo começa a partir dos

três anos de vida. A diminuição da capacidade deste armazenamento nos animais

imaturos provavelmente limite a imersão profunda ao mergulho.

Nos pinípedes e em algumas espécies de cetáceos, por exemplo, a baleia-fin e a

baleia-azul (misticetos) e o cachalote (odontoceto) as restrições anatômicas são

diferentes daquelas dos delfinídeos, e permitem mergulhos profundos por longos

períodos de tempo e adaptações anatômicas que incluem, por exemplo, colapso

pulmonar, maior reforço de cartilagem nas vias aéreas pulmonares, características que

permitem uma ótima procura e maior disponibilidade de presas a grandes profundidades

(Kooyman, 1989; Williams et al., 1999a).

Por outro lado, Cornick e Horning (2003) discutem que para os mamíferos

aquáticos que mergulham a grandes profundidades, a massa corporal tem uma maior

influência sobre o comportamento de mergulho e a eficiência de forrageio: animais

grandes geralmente apresentam mergulhos mais profundos do que os animais pequenos

(Kooyman, 1989). Esta relação entre a performance do mergulho e a massa corporal é

bem documentada para comparações interespecíficas, mas também é aplicada a juvenis

durante a ontogenia (Horning & Trillmich, 1997; Kooyman, 1989). Horning e Trillmich

(1997) indicaram que os animais juvenis devem apresentar uma performance menos

eficiente quando comparados com adultos coespecíficos. Costa et al. (2004) relataram

que espécies de leões marinhos são forrageadores bentônicos, durante a fase juvenil.

Como os adultos mergulham perto do seu limite fisiológico, juvenis, que apresentam

menor capacidade fisiológica que os adultos devido a seu pequeno tamanho corporal e

inexperiência, deveriam ter habilidades e aprendizagem para capturar presas bentônicas.

Forrageadores bentônicos como a foca-peluda-setentrional, Callorhinus ursinus, ou leão

marinho, gastam mais esforço forrageando >40% do seu tempo embaixo da água

comparado com espécies epipelágicas que gastam <30% do seu tempo submersos no

mar.

No boto-cinza, Monteiro (2005) em seu estudo sobre comportamento de

forrageio na enseada do Curral também constatou que os animais adultos apresentam

Page 49: ROSANA GRISELDA GARRI

maior atividade de forrageio e com mais sucesso em suas investidas na captura das

presas do que os juvenis. A autora sugere que os adultos teriam adquirido experiência

ao longo de sua vida, o que permite maior habilidade para obter o alimento e precisão

no momento da captura, enquanto os juvenis encontram-se ainda em fase de

aprendizado. Este comportamento também foi observado por Lodi (2003) na Baia de

Paraty-RJ no boto-cinza. Isto coincide com nossas observações na enseada, com maior

período de tempo de apnéia dos adultos do que os juvenis. Provavelmente, as diferenças

na taxa respiratória entre juvenis e adultos podem ser influenciadas pela eficiência dos

animais durante a procura e a oferta de alimento na coluna da água.

A análise de dados mostrou que os filhotes não participaram das perseguições às

presas. A falta de participação dos filhotes durante a atividade de forrageio

provavelmente se deve ao período de amamentação ou treinamento e aprendizagem na

estratégia de forrageio (Whitehead & Mann, 2000). Vários autores constataram o

mesmo, por exemplo, Spinelli (2004) no estudo sobre brincadeira em animais imaturos

do boto-cinza sugere que a brincadeira de forrageio poderia ajudar na aprendizagem,

nas habilidades de perseguição e captura das presas e que geralmente o alimento

(peixes) é adquirido a partir da partilha realizada pelos adultos. Spinelli, Nascimento e

Yamamoto (2002) citam que nesta espécie a brincadeira de forrageio nos filhotes seria

uma imitação do comportamento do adulto, sem completar sua função, a pesca.

Whitehead e Mann (2000) mencionaram que os odontocetos necessitam de um longo

período do tempo para adquirir suas habilidades durante a estratégia de forrageio. A

mesma sugestão é feita para o golfinho-de-dentes-rugosos, Steno bredanensis (Lodi &

Hetzel, 1999) e no golfinho-nariz-de-garrafa (Connor & Smolker, 1985; Connor, Wells,

Mann & Read, 2000).

Link (2000), Pansard et al. (2004) e Pansard et al. (2006) no estudo do boto-

cinza, na enseada do Curral, mostraram que esta espécie utiliza o local principalmente

para forragear. Nossos dados relataram que o comportamento de mergulho durante o

forrageio aconteceu com maior freqüência no primeiro quadrante (1Q). Este quadrante

se caracteriza por ser a principal área de alimentação dos botos, especialmente na região

próxima ao Curral pesqueiro. Estas observações também coincidem com o descrito por

Jesus (2004), Link (2000), Pansard et al. (2004) no mesmo local. O comportamento

alimentar dos juvenis e adultos também mostrou que os botos mergulharam com maior

freqüência na zona intermédia da enseada (3-5m). Provavelmente pela profundidade da

enseada a captura das presas se torne mais fácil, principalmente quando os animais

Page 50: ROSANA GRISELDA GARRI

mergulham e depois emergem perseguindo o cardume, já que os peixes são

direcionados dessa zona para águas mais rasas, na zona de alimentação. As observações

indicam que o mergulho, então, seria usado como um comportamento que antecede o

forrageio (pré-forrageio). Como constatado em nosso estudo, Monteiro (2005) também

registrou que esta espécie forrageia preferencialmente no 1Q e no meio da enseada, para

localizar as presas e conduzi-las para a zona de arrebentação. Jesus (2004) também cita

que a preferência dos botos na área do Curral estaria relacionada com a maior oferta de

alimento e maior beneficio para encurralar os peixes nas zonas de arrebentação dessas

áreas do que nas zonas centrais da enseada, características também observadas tanto por

Monteiro (2005) como discutido em nosso estudo. Este tipo de estratégia dos botos de

encurralar os peixes já foi citado por Monteiro-Filho (1995) no estuário de Cananéia-

SP. Este autor registrou o boto-cinza interagindo com cerco-fixo (currais) para capturar

peixes. Segundo Torres e Beasley (2003) o boto cinza utiliza mais as áreas com currais

do que áreas sem currais na Baía de Emboraí-PA, indicando que os animais ficam

agregados nessas regiões na procura das presas. Já no 2Q registramos menor freqüência

de atividade de mergulhos em ambas as faixas etárias, sendo observado principalmente

entre o limite do 1Q e 2Q entre a zona de arrebentação (Z1) e a zona intermédia (Z2) da

enseada. Na zona profunda (Z3) para cada quadrante o número de mergulhos foi menor,

provavelmente essa área seria um local de entrada dos botos na enseada para procura e

oferta de alimento. Monteiro (2005) e Pansard et al. (2004) também relataram uma

diminuição dos comportamentos nas regiões mais profundas sendo relacionadas à

entrada de botos na enseada principalmente para forragear.

A exposição da cauda a 90° nos animais adultos foi observada com maior

freqüência do que os juvenis que apresentaram principalmente mergulhos no ângulo de

45°. Connor et al. (2000) sugeriram que a estratégia de forrageio nos golfinhos adultos é

muito mais eficiente que os juvenis. Os animais adultos gastariam mais tempo

submersos para procurar ou detectar a presa (Boyd, 1997). Provavelmente no boto-

cinza, na praia de Pipa ocorra da mesma forma.

Em geral, os estudos sobre estratégia alimentar nas diversas faixas etárias no

gênero Sotalia são escassos (Geise, 1989; Geise et al., 1999; Nascimento, 2002;

Spinelli, 2004). Pansard et al. (2004) indicaram que o boto-cinza na enseada alimenta-se

de diferentes espécies de peixes, das famílias: Mugillidae, Serranidae, Pomacentridae,

Gerreidae, Ariidae, Clupeidae, Centropomidae, Sciaenidae e Carangidae. Estes peixes

podem representar presas em potencial para o boto, sendo necessária uma investigação

Page 51: ROSANA GRISELDA GARRI

mais precisa sobre a incidência destas e outras presas em sua dieta alimentar. Como os

peixes são os principais itens alimentares na dieta desta espécie (Pansard et al., 2004), é

esperado que características do comportamento e distribuição dessas presas também

tenham influência sobre a distribuição, uso de área e padrões de forrageio adotados pelo

boto-cinza, estratégias possivelmente utilizadas através da atividade de mergulho para

detectar, procurar ou capturar o seu alimento (Garri et al., 2005b). A partir de análises

de conteúdos estomacais poderíamos inferir o tipo de presa consumida entre as faixas

etárias e entre os sexos. Estas informações seriam relevantes para uma melhor

compreensão da atividade de mergulho relacionada provavelmente a diferencia de

tempo de mergulho para capturar a presa. Ainda não dispomos dessas informações para

o presente trabalho, o estudo sobre comportamento alimentar na espécie em estudo na

enseada do Curral está em andamento.

No entanto, uma vez que, o comportamento de forrageio do boto-cinza na

enseada do Curral apresentou diferença na freqüência de atividade de mergulho entre os

quadrantes e a zona de profundidade, podemos sugerir que estes resultados estariam

relacionados à concentração de cardumes e à oferta de alimento do local. Através das

observações nesta espécie, Nascimento (2002) classifica a atividade de mergulho

associada com o comportamento que antecede o forrageio, indicando que este padrão

comportamental provavelmente pode ser usado para procurar cardumes dentro da

enseada. Como o indicado pelo autor, nossas observações também evidenciam que o

comportamento de mergulho está associado ao comportamento de forrageio.

Por outro lado, como o estudo sobre o comportamento de forrageio foi realizado

dentro da enseada, estudos fora da mesma poderiam constatar possivelmente um maior

tempo de apnéia (em segundos) e profundidade para capturar as presas (pelágica e/ou

bentônica). Como ainda não podemos predizer exatamente o tipo de espécies consomem

os botos na enseada quando mergulham então, futuros estudos deveriam ser

desenvolvidos para conhecer se as presas que capturam são em maior parte pelágicas

e/ou bentônicas fornecendo informações sobre o tempo e profundidade de mergulho do

boto-cinza.

Comportamento de mergulho durante a socialização

Alguns autores indicaram que o boto-cinza é uma espécie social (da Silva &

Best, 1994; 1996) observando atividades de brincadeiras e outros tipos de interações

Page 52: ROSANA GRISELDA GARRI

sociais (Geise et al., 1999; Nascimento, 2002; Spinelli, 2004; Spinelli et al., 2002). As

mesmas atividades também foram observadas no golfinho-nariz-de-garrafa por Connor

et al. (2000) e Shane (1990).

Durante o contexto de socialização observamos que os filhotes permaneceram

submersos 10,18s, os juvenis 21,75s e os adultos 24,18s. O tempo de apnéia neste

contexto deferiu significativamente apenas entre filhotes-adultos e filhotes-juvenis. Em

uma comparação realizada por Connor et al. (2000) no contexto de forrageio, os filhotes

do golfinho-nariz-de-garrafa começam a socializar nas duas primeiras semanas de vida

com sua mãe mantendo contato físico, e nos três meses de idade realizam um amplo

repertório de atividades comportamentais (periscópio, brincadeira com objetos,

mergulhos, etc.). Segundo Jesus (2004) este tipo de comportamento de socialização é

semelhante ao de forrageio, observando-se uma mudança na freqüência de participação

dos indivíduos de acordo com o estágio de desenvolvimento, com maior participação de

animais imaturos que adultos. Spinelli (2004) sugere que para este comportamento

social ocorrer é necessário um ambiente seguro, com os adultos podendo prover

vigilância e proteção, sendo a enseada um lugar de abrigo para o cuidado dos animais

imaturos (Gondim, 2004).

Nossos resultados nesse contexto mostraram que os mergulhos foram de curta

duração quando comparados aos realizados durante a atividade de forrageio.

Assim como registrado no contexto de forrageio, durante o contexto de

socialização também constatamos atividade de mergulho com maior preferência no

primeiro quadrante (1Q) e na zona intermédia da enseada (Z2) para as três faixas

etárias. Jesus (2004) sugeriu que na zona de arrebentação a diminuição de registros de

grupos socializando poderia estar relacionado pela menor formação de ondas nessa

zona. Para o golfinho-nariz-de-garrafa, em um estudo realizado por Shane (1990) na

Flórida, também demonstrou que o animal utiliza áreas mais profundas para a realização

de atividades aéreas ou comportamentos relacionados à socialização e áreas mais rasas

para alimentar-se, esta informação também foi registrada na enseada do Curral. Isto

provavelmente ocorre por que em águas profundas e abertas, atividades

comportamentais como forrageio teriam um alto custo energético. Assim, essas áreas

seriam usadas para outras atividades como a socialização.

No presente estudo, observamos que os animais mergulhavam expondo a cauda

a 45° e 90° quando realizavam atividades de brincadeira ou contatos físicos entre

filhotes e entre filhotes com juvenis ou adultos. As observações mostraram não haver

Page 53: ROSANA GRISELDA GARRI

diferença significativa nos ângulos das caudas. Nossos dados constataram que os

mergulhos, quando os botos estão socializando, são independentes do tempo de apnéia e

a exposição da cauda, principalmente entre juvenis e adultos. Este tipo de

comportamento provavelmente ajudaria na obtenção de habilidades fisio-motoras e

conseqüentemente da aprendizagem nos filhotes. Nossas observações registraram

durante a socialização que os filhotes quando mergulhavam subiam à superfície

brincando com um objeto (algas), realizando atividades aéreas (periscópio) ou

interações sociais com contato físico. Enquanto os mergulhos em indivíduos juvenis e

adultos estiveram mais relacionados a interações sociais, como contato físico, do que a

brincadeira com objetos. Já a diferença na freqüência dos mergulhos entre os contextos

comportamentais seria uma conseqüência do gasto energético nessas atividades. Os

animais, no momento que estivessem engajados em atividades comportamentais não

relacionados ao forrageio, poderiam economizar energia que seria utilizada nas

atividades relacionadas com a procura, obtenção ou consumação do alimento.

Comportamento de mergulho durante o deslocamento

Alguns autores citam que o deslocamento é caracterizado como uma mudança de

determinada área para outra, em uma direção fixa ou não, com a reavistagem dos

animais em pequenos intervalos regulares de tempo para respirar (Johnson & Norris,

1994; Mann & Smuts, 1999, Nascimento, 2002). Segundo Nascimento (2002), um

padrão de deslocamento geralmente está associado a uma atividade específica. O autor

relatou que o boto-cinza, apesar de ser uma espécie costeira, possui, como a maioria dos

delfinídeos, padrões diferentes de deslocamentos (lento, rápido, em velocidade e

porpoising). Para a espécie em estudo, Geise (1989) descreve o deslocamento

associando-o à atividade de descanso e forrageio. Durante o deslocamento foi registrada

apnéia de 24,6s para juvenil e 29,07s para adulto. O tempo de apnéia não diferiu

significativamente entre juvenis e adultos, perfil registrado também durante a atividade

social do boto.

No presente estudo, os 26 mergulhos registrados nas diversas faixas etárias na

enseada dentro do contexto de deslocamento só ocorreram durante o deslocamento lento

que é caracterizada por uma movimentação calma direcionada a baixa velocidade.

Nascimento (2002) sugeriu que este tipo de deslocamento lento do boto-cinza dentro de

uma baía ou enseada pode estar relacionado ao descanso dos animais ou ao

Page 54: ROSANA GRISELDA GARRI

envolvimento em interações sociais. Como o descrito por este autor os possíveis

padrões comportamentais observados em nosso estudo evidenciaram mergulhos

associados à socialização e o forrageio como também discutido por Geise (1989). Por

outro lado, os dados mostraram que durante o deslocamento os botos também

mergulharam antes da perseguição de banhistas e na presença de embarcações, o que

sugere uma possível função de fuga devido aos distúrbios, observando-se que os

animais depois do mergulho subiam à superfície e deslocavam-se para outro quadrante

saindo da enseada, observações também registradas nesta espécie por Valle e Melo

(2006), assim como, por exemplo, no golfinho-nariz-de-garrafa (Mann et al., 1999) e no

cachalote (Magalhães et al., 2002).

Como o relatado nos outros contextos comportamentais, os resultados também

demonstraram mergulhos com maior freqüência no primeiro quadrante (1Q) e na zona

intermédia da enseada (Z2), observações já discutidas anteriormente. Como referido no

contexto de socialização, tanto juvenil como adultos não apresentaram diferença

significativa na exposição da cauda durante o deslocamento.

Miles e Herzing (2003) no estudo realizado no golfinho-pintado-do-atlântico,

sobre sincronismo entre mãe-filhote, realizaram um etograma caracterizando um dos

episódios como mergulhos verticais. Já nos dois registros observados nos filhotes que

mergulharam sincronicamente acompanhados nas duas ocasiões por um adulto (filhote-

adulto) quando se deslocavam na enseada apresentaram mergulhos expondo a cauda só

a 45°. Este comportamento de mergulho sincrônico no deslocamento do boto é

comumente observado nos filhotes de outras espécies de golfinhos (Mann, 1999; Mann

& Smuts, 1999). Mann (1999) indicou que as observações entre mãe-filhote no

golfinho-nariz-de-garrafa exibem respiração sincrônica e posição de deslocamento.

Miles e Herzing (2003) sugerem que a possibilidade de sincronismo é uma

aprendizagem ou um comportamento importante atribuído para o crescimento do

filhote, este comportamento também foi constatado no cachalote por Magalhães et al.

(2002). No golfinho-nariz-de-garrafa observou-se que as fêmeas e filhotes respiram ao

mesmo tempo e que a freqüência respiratória diminui com a idade do filhote. O período

de controle respiratório realizado nas fêmeas está dado por cuidado parental nos filhotes

(Mann et al., 2000). Nossas observações coincidem com o sugerido pelos autores, sendo

o tempo de apnéia do indivíduo adulto quando acompanhado com o filhote menor

comparado quando o animal se deslocar sozinho na enseada (Miles & Herzing, 2003).

Page 55: ROSANA GRISELDA GARRI

5.0 CONCLUSÕES

______________________________________________________________________

A diferença no tempo de apnéia entre as três faixas etárias pode estar relacionada

às restrições anatômicas e fisiológicas do mergulho.

A diferença no tempo de apnéia entre juvenil e adulto durante o comportamento de

forrageio, poderia estar relacionada com a maior capacidade fisiológica e

experiência do adulto, para capturar a presa comparado com o juvenil.

O comportamento de mergulho dentro da enseada do Curral pode representar uma

estratégia de forrageio.

Os mergulhos associados aos eventos de socialização podem estar relacionados ao

comportamento de brincadeira característico de filhotes e juvenis.

Os mergulhos encontrados durante o deslocamento, podem estar associados a

diferentes contextos, como socialização, alimentação, fuga ou sincronismo de

movimento (filhote-adulto).

Page 56: ROSANA GRISELDA GARRI

CAPITULO II. ESTRUTURA ANATÔMICA DO CORAÇÃO DO BOTO-

CINZA, Sotalia guianensis, E POSSÍVEIS ADAPTAÇÕES CARDIACAS AO

MERGULHO.

1.0 INTRODUÇÃO

1.1. Estudos sobre a anatomia do coração em mamíferos aquáticos

As investigações sobre a anatomia do sistema cardiovascular em pequenos

cetáceos são escassas. As pesquisas sobre a estrutura anatômica do coração foram

focalizadas principalmente em pinípedes (focas e leões marinhos) citando-se, por

exemplo, Drabek (1975) que analisa o sistema cardiovascular de algumas espécies de

focídeos da Antártida e sua relação funcional com o comportamento e capacidade de

mergulho. Já foram estudadas, por exemplo, a foca-de-weddell; a foca-caranguejeira,

Lobodon carcinophagus; foca-de-ross, Ommatophoca rossi e a foca-leopardo, Hydrurga

leptonyx (Drabek, 1975; Williams & Bryden, 1996). Nie (1988) realizou um estudo

sobre o sistema de condução na foca comum, Phoca vitulina. Junin e Belerenian (1990)

realizam o estudo electrocardiográfico nos filhotes do leão-marinho-do-sul, Otaria

flavescens, em relação à capacidade de mergulho. Drabek e Burns (2002) descreveram a

estrutura do coração e a dilatação da artéria aorta ascendente da foca–cistófora,

Cystophora cristata.

Alguns autores estudaram a estrutura anatômica do coração nos cetáceos e sua

relação com as adaptações cardíacas ao mergulho. Nos misticetos, a anatomia do

coração foi analisada no feto da baleia-fin (Walmsley, 1938); na baleia-minke-anã, B.

acutorostrata (Junin, Abuin & Reynolds, 1994; Ochrymowych & Lambertsen, 1983;

Rowlatt, 1981); na baleia-azul (Nie, 1988); na baleia-minke-antártica, B. bonaerensis

(Abuin, Junin & Martinez, 2000; Junin, Abuin & Arins, 2000); nos neonatos da baleia-

minke-anã; baleia-jubarte, Megaptera novaeangliae e baleia-franca-do-sul, Eubalaena

australis (Cuenca, Viegas, Siciliano & Souza, 2004).

Nos odontocetos, as descrições foram baseadas na baleia-bicuda-de-Sowerby,

Mesoplodon bidens (Turner, 1886); no cachalote (Nie, 1988; White & Kerr, 1917), no

feto do cachalote-pigmeu, Kogia breviceps (Kernan & Schulte, 1918); no boto-do-porto,

(Nie, 1988; Rowlatt & Gaskin, 1975); na baleia-bicuda-de-cabeça-plana-do-norte,

Page 57: ROSANA GRISELDA GARRI

Hyperoodon ampullatus (Rowlatt, 1981); na beluga (Bisaillon, Martineau & St-Pierre,

1987; Bisaillon, Martineau, St-Pierre & Beland, 1988); no golfinho-listrado, Stenella

coeruleoalba; no golfinho-de-bico-branco, Lagenorhynchus albirostris, no golfinho-de-

laterais-brancas-do-atlântico L. acutus; no golfinho-comum-de-bico-curto, Delphinus

delphis; no golfinho-nariz-de-garrafa (Nie, 1988; 1989). Garri et al. (2005b) realizaram

a primeira descrição sobre a anatomia do coração do boto-cinza.

1.2. Importância de estudar os caracteres anatômicos e fisiológicos nos mamíferos

aquáticos

Vários autores estudaram a anatomia do coração de algumas espécies de

mamíferos aquáticos e realizaram comparações com os mamíferos terrestres carnívoros.

Lechner (1942 apud Bisaillon et al., 1987) analisando o sistema cardiovascular em

pinípedes indicou a importância de estudar a forma do coração neste grupo. O autor

mencionou que a forma do coração está associada com a performance fisiológica e que

difere nas características anatômicas do coração com os mamíferos terrestres, tais como

os felinos que apresentam um coração estreito, enquanto nos pinípedes este é mais

largo. Por outro lado, Davis (1964) e Slijper (1979) sugerem que a forma do coração

está associada com a forma do tórax e não com as atividades dos animais. Mas

pesquisas realizadas por Drabek (1975; 1977) e Drabek e Burns (2002) sobre a forma do

coração nos focídeos sugerem que ela está relacionada às adaptações cardiovasculares e

à profundidade que mergulham os pinípedes, de acordo com o ambiente em que vivem e

com o seu modo de vida. Estas características indicam que estes animais apresentam um

coração extremamente largo e achatado, já que estariam menos sujeitos à deformação

por pressão hidrostática do que um coração mais comprido.

Ochrymowych e Lambersten (1983) através dos estudos realizados no coração

da baleia-minke-anã, mencionaram que geralmente nos cetáceos, a forma do coração e a

grande espessura do ventrículo direito são adaptações às mudanças hemodinâmicas

associadas com mergulhos profundos e com maior período de tempo.

De acordo com a capacidade de mergulho dos animais, podem existir variações

sobre a forma do coração dentre os cetáceos. Por exemplo, no boto-do-porto o coração é

estreito com ápice formado só pelo ventrículo esquerdo (Rowlatt & Gaskin, 1975). Esta

espécie mergulha em águas poucas profundas durante 1 ou 2 minutos. Por outro lado, a

beluga, espécie dentre os Delphinidae que possui uma grande capacidade de mergulho,

Page 58: ROSANA GRISELDA GARRI

apresenta um coração relativamente largo e chato com ápice formado por ambos os

ventrículos (Bisaillon et al., 1987). Estas características nos cetáceos parecem estar

relacionadas com a performance fisiológica do mergulho.

1.3 Importância de estudar o ventrículo direito em mamíferos aquáticos

Os estudos também foram focalizados no ventrículo direito onde Davis (1964)

mencionou que a câmara ventricular direita em mamíferos terrestres carnívoros dos

felinos é curta e estreita, enquanto os estudos realizados, por exemplo, na foca-de-

weddell revelaram que a câmara ventricular direita é longa e estreita. O autor indica que

estas diferenças estão relacionadas com as adaptações cardíacas e o ambiente em que

vive o animal. Entretanto, Drabek (1975; 1977) sugere que as diferenças na proporção

do tamanho do ventrículo direito em pinípedes representam uma adaptação funcional ao

mergulho profundo. Este autor constata que uma câmara ventricular direita delgada é

uma característica vantajosa para os mamíferos que mergulham a grandes profundidades

e por longos períodos de tempo. Exemplo disso seria o que mostram os trabalhos

realizados sobre o comportamento e capacidade de apnéia na beluga (delphinidae) e na

foca-de-weddell (focídeo), que mergulham a profundidades maiores do que 300m e com

apnéias de mais de 12 minutos (Martin, Hall & Richard, 2001) e 600m com apnéias de

73 minutos (Kooyman, Castellini & Davis, 1981), respectivamente. Drabek (1975)

indicou que ambas as espécies, apesar de pertencerem a diferentes ordens, apresentam

um ventrículo direito relativamente longo e muito estreito, característica anatômica

típica de animais que mergulham mais de 200m de profundidade.

Os cetáceos em geral apresentam um ventrículo direito estreito, enquanto nos

pinípedes, os estudos indicam que este é bastante largo. Entretanto, Drabek (1975;

1977) constata que as diferenças entre ambas as ordens está relacionada às adaptações

cardíacas ao mergulho. Bisaillon et al., (1987) mencionaram que a maioria dos cetáceos

apresenta uma espessura da parede ventricular direita proporcionalmente menos

espessa comparada com os pinípedes e sugere que esta característica do ventrículo

direito traz vantagens para a dilatação durante o mergulho. Esta característica pode

favorecer com maior ênfase a ejeção ventricular do sangue dentro do colapso pulmonar,

oferecendo uma alta resistência vascular.

Page 59: ROSANA GRISELDA GARRI

1.4. Estudos que relacionam a anatomia com a fisiologia e o comportamento de

mergulho em mamíferos aquáticos

Durante a atividade de mergulho, uma série de adaptações morfofisiológicas

ocorre no organismo dos mamíferos aquáticos e, dentre eles pode-se destacar como

principais o oxigênio (O2). O mesmo é desviado para suprir as principais regiões vitais,

como o cérebro e o coração. O aumento da capacidade de apnéia também pode se

relacionar com o elevado transporte de O2. Este pode ser armazenado em três regiões do

corpo nos mamíferos marinhos: no sistema respiratório, no músculo esquelético e

sistema circulatório, apresentando os ambos maiores concentração de mioglobina e

hemoglobina, respectivamente, que os mamíferos terrestres (Boyd, 1997; Butler, 2001).

Nos mamíferos aquáticos, mais 80% do O2 armazenado está no sangue e nos músculos

(Kooyman, 1989). Os golfinhos precisam subir à superfície para respirar

freqüentemente e quando se deslocam rapidamente devem emergir para fazê-lo

eficientemente, evitando desta maneira uma narcose. Quando um cetáceo permanece na

superfície respirando, a pressão atmosférica nos alvéolos de seus pulmões age de forma

similar aos mamíferos terrestres, mas quando mergulham a diferentes profundidades

têm início certas mudanças a nível cardiovascular, que incluem a bradicardia e a

diminuição da circulação periférica (Butler, 2001; William et al., 1999b). Essas ações

conservam a capacidade de oxigênio no sangue para o coração e o sistema nervoso

central, que necessitam de uma disponibilidade de oxigênio obrigatório, enquanto os

outros tecidos dependem do meio anaeróbico para a conservação de energia (Butler,

2001). A conservação de oxigênio é necessária porque nem todo oxigênio sanguíneo,

nem os músculos possuem oxigênio satisfatoriamente, de modo que adaptações são

necessárias para a atividade de mergulho a certa profundidade e período de tempo

(Butler, 2001; William et al., 1999a).

A bradicardia (redução na taxa de batimentos cardíacos) foi bem documentada

como resposta cardiovascular ao mergulho dos mamíferos aquáticos (Kooyman, 1985;

Kooyman et al., 1981; Noren et al., 2004; Williams et al., 1999a,b). Os mamíferos

marinhos são os únicos que evolutivamente adquiriram a capacidade de diminuir a

freqüência cardíaca durante a imersão de 45 a 60 batimentos por minuto quando nadam

na superfície, a quatro batimentos por minuto, ou até menos, quando estão em apnéia.

Dentre os cetáceos, a maioria dos delfinídeos mergulha a pouca profundidade (<100m)

com tempo de apnéia menor do que 15 minutos (Butler, 2001). Os estudos anatômicos

Page 60: ROSANA GRISELDA GARRI

sobre o coração indicam que estes animais apresentam uma capacidade cardiovascular

menor comparado com baleias e pinípedes que mergulham a grandes profundidades

(Falabella et al., 1999; Whitehead, 2003). Certas adaptações cardiovasculares e

fisiológicas para o mergulho sugerem que uma preparação pré-mergulho é requerida

para que o animal possa ter uma máxima capacidade de imersão. Nos cetáceos que

mergulham a mais de 300m de profundidade, como a beluga e o cachalote, a bradicardia

não é mais intensa, comparado com os pinípedes.

Os pinípedes manifestam as mais profundas bradicardia durante o mergulho

(Kooyman, 1985). Vários autores sugerem que principalmente nas focas, as mudanças

cardíacas durante o mergulho respondem por uma bradicardia com uma queda de 100 a

4 batimentos por minuto, com uma diminuição do rendimento cardíaco. Por exemplo, o

elefante-marinho-do-sul, que possui um comportamento de mergulho diferenciado entre

os pinípedes, chega a atingir entre 1200-1500m de profundidade, com apnéias de 120

minutos e apresentando uma bradicardia de um a quatro batimentos por minuto

(Falabella et al., 1999). Os estudos realizados em pinípedes demonstraram que, apesar

da extrema bradicardia, a pressão arterial permanece quase constante e não muda

durante o reflexo do mergulho (Kooyman et al., 1981). Drabek (1975) indicou que a

pressão arterial é mantida pelo aumento do tecido elástico presente no bulbo aórtico da

artéria aorta ascendente. É a adequada manutenção da pressão no sistema coronário

que assegura uma oxigenação do tecido cardíaco. Este autor realizou estudos sobre o

bulbo aórtico nas focas da Antártida, indicando a existência de uma grande dilatação da

artéria aorta ascendente, o que é surpreendente em comparação com os cetáceos e com

os mamíferos terrestres carnívoros. O autor sugere ainda que as características da forma

geral da estrutura anatômica do coração e especialmente da artéria aorta são adaptações

anatômicas e fisiológicas à profundidade, freqüência e período de tempo que mergulha

o mamífero aquático. Estas características permitem que a dilatação do bulbo aórtico

mantenha a pressão sanguínea arterial, perfusão do cérebro e tecido cardíaco durante a

bradicardia.

Portanto, os mamíferos aquáticos apresentam quatro adaptações que são de

grande importância para a imersão profunda: 1) estrutura torácica flexível que permite o

colapso do tórax com o aumento da pressão hidrostática; 2) grande dilatação das veias,

sinus venoso e retia mirabilia (“rede maravilhosa”) quando o ar é comprimido; 3)

pulmões que contém grande quantidade de tecido elástico; 4) elasticidade na traquéia

[p.ex. golfinho-nariz-de-garrafa; foca-de-weddell; leão-marinho-do-sul, Otaria

Page 61: ROSANA GRISELDA GARRI

flavescens (Kooyman et al., 1981); elefante-marinho-do-sul (Crespo, Garri, Lewis &

Lauria, 1996)] (Butler, 2001; Williams et al., 1999b; Würsig, 1989). O grau de

desenvolvimento destas características varia de espécie para espécie dependendo das

necessidades ecológicas e comportamentais para o mergulho profundo (Baird, Hanson

& Dill, 2005; Butler, 2001; Kooyman et al., 1981). Os mamíferos que mergulham

podem ser capazes de desviar sangue para determinados órgãos vitais durante a

submersão, e utilizam a vasoconstrição para reduzir, ou interromper completamente, o

refluxo do sangue para outros tecidos.

Até o presente momento não existem estudos sobre a estrutura anatômica do

coração do boto-cinza, Sotalia guianensis. O primeiro registro foi realizado por Garri et

al. (2005b) que descrevem algumas características morfológicas do coração do boto-

cinza. O estudo sobre a anatomia a um nível mais profundo permitirá interpretar melhor

a estrutura do coração em relação à profundidade e quanto ao período de tempo que esse

animal mergulha. Pesquisas futuras poderão esclarecer investigações sobre o estudo das

artérias coronárias, sistema de condução interventricular (I-V) e histologia do coração,

que serão de suma importância para compreender melhor o padrão comportamental de

mergulho desta espécie costeira.

Page 62: ROSANA GRISELDA GARRI

1.5. OBJETIVOS DA PESQUISA

1.5.1. OBJETIVO GERAL

Descrever a anatomia do coração do boto-cinza, Sotalia guianensis.

1.5.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Descrever a anatomia do coração do boto-cinza nas três faixas etárias descritas para

esta espécie;

- Comparar a estrutura anatômica do coração do boto-cinza com outras espécies de

mamíferos marinhos já descritos.

Page 63: ROSANA GRISELDA GARRI

2.0. MATERIAIS E MÉTODOS ______________________________________________________________________

2.1 Coleta de material biológico

Para investigar a capacidade de mergulho do boto-cinza, Sotalia guianensis, foi

realizado o estudo dos corações desta espécie costeira. As amostras procederam de

exemplares de diferentes faixas etárias encalhadas mortas entre maio de 2004 até

setembro de 2005, desde Sagi (litoral sul) até São Miguel do Gostoso (litoral norte), no

litoral do Rio Grande do Norte (RN) (Figura 01). As necropsias foram realizadas junto

com os integrantes da REMANE (Rede de Encalhes de Mamíferos Marinhos da Região

Nordeste) do grupo Projeto Pequenos Cetáceos do Rio Grande do Norte/ PPC-RN da

UFRN. Os exemplares encalhados na costa há mais de três dias não foram analisados,

devido ao processo rápido de putrefação dos órgãos, que impedem os estudos

anatômicos e histológicos.

Para determinar a faixa etária do animal foi seguida a metodologia de Hetzel e

Lodi (1993) como características morfológicas externas, como coloração, tamanho,

formato do melão, formato e localização da nadadeira dorsal e número de dentes. As

medidas morfométricas e a identificação do sexo foram seguidas através da proposta do

Plano de Ação de Mamíferos Aquáticos (IBAMA, 2001).

Foram coletados 12 corações do boto-cinza, de filhotes (n=3), juvenis (n=3) e

adultos (n=6), com comprimento total entre 78cm a 194cm. As amostras foram

analisadas no Laboratório de Anatomia Comparada no Departamento de Morfologia da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Para manter a forma do

coração, os mesmos foram fixados em formaldeído a 10% por 48h, pesados e

dissecados, para a obtenção das medidas biométricas: altura, largura e circunferência

(Figura 02). Os corações de oito indivíduos foram pesados com os grandes vasos

(artérias e veias). Os órgãos foram pesados numa balança tipo Filizola.

Page 64: ROSANA GRISELDA GARRI

Figura 01. Encalhe do boto-cinza em Ponta Negra-RN. (Foto: Priscila Medeiros, 2005).

2.2. Medidas anatômicas dos corações do boto-cinza

2.2.1 Anatomia externa do coração

- As medidas externas do coração do boto-cinza analisadas foram: altura, largura e

circunferência (Figura 02).

altura: medida a partir do orifício pulmonar até o ápice do órgão na posição

ventral.

largura: medindo-se a largura máxima entre os ventrículos, na posição ventral.

circunferência: tomando a circunferência máxima de ambos ventrículos.

máxima espessura das paredes de ambos ventrículos: foi analisado a partir da

parede lateral.

Nas aurículas foi medida a base e a altura (Figura 02). As medidas nos corações foram

realizadas com paquímetro e fita métrica.

Page 65: ROSANA GRISELDA GARRI

Figura 02. Medidas anatômicas externas do coração do boto-cinza (face ventral), de um

indivíduo adulto (macho) de 184cm de comprimento (Foto: Carlos Moura, 2005).

Escala=1cm.

- Para determinar como é a forma do coração de Sotalia, foi utilizada a metodologia de

Drabek (1975) através da expressão:

(altura do coração / circunferência do coração) x 100.

- índice baixo ( 50): coração curto e largo

- índice alto (>50): coração longo e estreito

- Para os parâmetros da artéria aorta ascendente foi seguida o critério adotado por

Drabek (1975). Para analisar a dilatação do bulbo aórtico da artéria aorta ascendente,

os mesmos foram seccionados em quatro segmentos, desde o nível da artéria coronária

até o diâmetro maior próximo à artéria braquiocefálica. Em cada segmento foram

Aurícula direitaAurícula esquerda

11Ápice

ALTURA

LARGURA

Aurícula direitaAurícula esquerda

11Ápice

ALTURA

LARGURA

Ventrículo direito

Ventrículo esquerdo

Artéria pulmonar

Base

Altura

2

Page 66: ROSANA GRISELDA GARRI

analisados os diâmetros interno e externo medindo altura e largura, a circunferência e a

espessura da parede do bulbo aórtico, em milímetros (Figuras 03, 04).

Figura 03. Anatomia externa do coração do boto-cinza (face ventral). Coração de um

indivíduo adulto de 1,71cm de comprimento (Foto: Carlos Moura, 2005). Escala=1cm.

Figura 04. Medida dos diâmetros interno e externo para cada segmento do bulbo aórtico,

desde a base da artéria aorta até o diâmetro maior do bulbo aórtico (Foto: Carlos Moura,

2005). Escala=1cm.

Artéria aortaascendente

Artériapulmonar

22

Tronco braquiocefálicoArtéria subclávia esquerda

Artéria aortaascendente

Artériapulmonar

22

Tronco braquiocefálicoArtéria subclávia esquerda

3

Altura artéria braquiocefálica

2° Segmento

1° Segmento

Altura artéria coronária

Page 67: ROSANA GRISELDA GARRI

2.2.2 Anatomia interna do coração

Para medir a altura e largura da câmara ventricular direita (C.V.D.) do coração,

foi utilizada a metodologia através do triângulo retilíneo de Cornelius (1958) seguida

por Davis (1964), Drabek (1975) e Bisaillon et al. (1987).

O triângulo retilíneo da C.V.D. é representado por três medidas lineares internas

(Figura 05):

Ponto TS: medida realizada desde o ponto T (união das paredes septal e atrial da

base da cavidade ventricular) até o ponto S (ponta do ápice ventricular interno).

(TS= altura da câmara ventricular direita).

Ponto SP: medida realizada a partir do ponto S até o ponto P (união da base da

cúspide direita e esquerda da válvula pulmonar).

Ponto TP: a partir do ponto T até o ponto P (TP = largura da câmara ventricular

direita).

Para determinar os índices de altura e largura da C.V.D., foi utilizada a

metodologia de Drabek (1975) expressa através de:

- índice de altura: (TS / altura do coração) x 100

índice 50: C.V.D. curta

índice > 50: C.V.D. longa

- índice de largura: (TP/ altura do coração) x 100

índice 50: C.V.D. estreita

índice > 50: C.V.D. larga

Page 68: ROSANA GRISELDA GARRI

Figura 05. Medidas internas do ventrículo direito do coração do boto-cinza (Face ventral)

(Foto: Carlos Moura, 2005). Escala=1cm.

A espessura da câmara ventricular direita, da câmara ventricular esquerda

(miocárdio) e a espessura do septo interventricular do coração, foram medidas em três

partes desde a face ventral: 1) proximal, 2) média e 3) ápice (Figura 06).

PP

SS

TT

Ventrículoesquerdo

Ventrículodireito

PP

SS

TT

Ventrículoesquerdo

Ventrículodireito

PP

SS

TT

Ventrículoesquerdo

Ventrículodireito

35

Page 69: ROSANA GRISELDA GARRI

Figura 06. Medidas da espessura do ventrículo direito, ventrículo esquerdo (miocárdio) e

septo interventricular (face ventral) de um adulto (macho) de 184cm de comprimento.

Referências: P (proximal), M (média) e A (ápice) (Foto: Carlos Moura, 2005).

Escala=1cm.

P

M

A

P

M

A

P

M

A

44Espessura septum interventricular

Espessura miocárdio

Espessura Ventrículo direito

6

Page 70: ROSANA GRISELDA GARRI

2.3 Estudo da origem e distribuição das artérias coronárias no coração do boto cinza

O coração de uma fêmea adulta de 1,91m de cumprimento do boto-cinza foi

utilizado para analisar a origem e distribuição da artéria coronária direita e esquerda. O

órgão foi mantido sob refrigeração (-20°C) durante três dias até o processamento.

Após o descongelamento, os orifícios das artérias coronária direita e esquerda

foram canulados para injeção da resina Acetato de vinil com um corante específico, na

cor branca para artéria coronária direita e vermelha para artéria coronária esquerda.

Em seguida, o coração foi submerso em solução de hidróxido de sódio (NaOH) a

30% para corrosão do excesso de tecido adiposo presente nos sulcos coronário e

interventiculares, portanto facilitando a dissecação e visualização das artérias

coronárias.

Posteriormente este coração foi fixado em formol a 10% por 24 horas e

dissecados. Os dados de origem e distribuição das artérias coronárias foram registrados

por meio de fotografias e desenhos esquemáticos.

Os dados obtidos dos corações através dos encalhes dos botos foram inserido em

uma planilha estabelecida (Anexo 01). Os termos anatômicos utilizados neste trabalho

estão de acordo com International Committee on Veterinary Gross Anatomical

Nomenclature. Nomina Anatômica Veterinária (1994), Nomina Embriológica

Veterinária (1992), Nomina Histológica (1992).

Page 71: ROSANA GRISELDA GARRI

3.0 RESULTADOS ______________________________________________________________________

3.1 Descrição geral da Anatomia do coração do boto-cinza

Os cetáceos se caracterizam por apresentar uma cavidade torácica bastante larga,

ocupando aproximadamente 2/3 do comprimento do corpo (Figura 08). O coração do

boto-cinza localiza-se no interior desta cavidade.

Figura 07. Posição do coração nos Delphinidae (www.ms-starship.com).

O ápice do coração nos pequenos cetáceos está localizado, no antímero esquerdo

do corpo e próximo a margem cranial-ventral do diafragma.

O coração está envolvido pelo pericárdio, um saco fibroseroso, que se adapta de

modo perfeito ao seu redor.

Externamente podemos observar quatro câmaras cardíacas, dois ventrículos e

dois átrios separados por um sulco coronário incompleto apenas na origem do tronco

pulmonar (cone arterioso). O átrio direito é relativamente maior que o esquerdo. A base

é essencialmente formada pelos átrios direito e esquerdo e pelos grandes vasos que

entram (veias cava cranial e caudal e quatro veias pulmonares) e saem do coração

(artéria pulmonar e artéria aorta).

O ventrículo direito ocupa ligeiramente mais que a metade da superfície ventral

ou auricular do órgão. A espessura do ventrículo direito é menor do que a do ventrículo

esquerdo. Os ventrículos constituem uma parte maior do coração sendo muito mais

EsôfagoDentes

Cérebro Crânio

Nadadeira Peitoral

CoraçãoFígado

PélvisAno

Estômago

Intestino

PulmãoRim

Nadadeira Dorsal

Gordura

Cauda

Coluna Vertebral

Escapula

Espiráculo

Page 72: ROSANA GRISELDA GARRI

firme devido à maior espessura das paredes, no ventrículo direito mede em média

25,5mm nos filhotes, 31,75mm nos juvenis e 39,6mm nos adultos e no esquerdo de

30,93mm nos filhotes, 40,50mm nos juvenis e 47mm nos adultos.

Na face auricular observa-se o sulco interventricular esquerdo ou paraconal que

delimita os ventrículos esquerdo e direito ocupado pelo ramo interventricular esquerdo

de uma calibrosa e sinuosa artéria coronária (Figuras 08A e B, 11). Tanto o sulco

coronário quanto o interventricular esquerdo e direito são infiltrados por tecido adiposo.

Macroscopicamente as fibras musculares superficiais descem no sentido do ápice. Na

superfície atrial ou dorsal o sulco interventricular subsinuoso não é bem demarcado. O

sulco subsinuoso começa no sulco coronário e segue para o ápice continuando-se com o

sulco interventricular paraconal. Este sulco contém espessos vasos sanguíneos

envolvidos por tecido adiposo especialmente na metade proximal do seu curso.

O tronco pulmonar segue para o cone arterioso do ventrículo direito entre a

margem da aurícula direita e esquerda e se curva separa o lado esquerdo da aorta

ascendente e posterior ao ligamento arterioso divide-se em artéria pulmonar direita e

esquerda.

A artéria aorta apresenta uma parede espessa, ascende do ventrículo esquerdo e

sofre uma dilatação próxima ao tronco pulmonar denominado bulbo aórtico (Figuras 03,

08A).

3.1.1. Átrio direito e esquerdo

Cada átrio é composto por uma cavidade principal ou átrio propriamente dito e

um apêndice com forma irregular denominado aurícula. O átrio e aurícula direita são

relativamente maiores comparados com o esquerdo.

As aurículas apresentam forma triangular, cujo vértice é ventral e suas margens

são relativamente irregulares (Figuras 02, 03, 08B). A aurícula direita nos filhotes

possui uma base de 59mm e uma altura de 28mm, nos juvenis a base é de 71mm e a

altura de 38,5mm e nos adultos a base de 102mm e a altura de 41mm. Nos filhotes, a

base da aurícula esquerda foi de 56,30mm e a altura de 26mm, nos juvenis a base de

69mm e a altura de 36,5mm e nos adultos a base de 97mm e a altura de 38,4mm. Esses

resultados mostram que as aurículas são aproximadamente similares sendo ligeiramente

Page 73: ROSANA GRISELDA GARRI

maior à direita. A parede medial da aurícula esquerda é relativamente mais espessa

próxima à passagem do tronco pulmonar (Figuras 02, 03, 08B).

A cavidade interna de cada aurícula é reforçada por uma rede de músculos

pectiniformes formados por largos feixes de fibras musculares (Figuras 09, 10 A, B e

C). Estes feixes musculares dividem a cavidade da aurícula em pequenos

compartimentos secundários. A rede de músculos pectiniformes é mais desenvolvida no

átrio direito do que no esquerdo.

No átrio direito potente músculos pectiniformes constituem uma forte e

proeminente crista terminal. Esta crista marca a abertura da veia cava cranial. A

cavidade atrial direita recebe as duas veias cavas e o seio coronário. Este último recebe

sangue das veias cardíacas enquanto o átrio esquerdo recebe as veias pulmonares.

A veia cava cranial se abre na região cranial esquerda do átrio direito. Caudal a

esta elevação encontra-se uma depressão arredondada formando um divertículo

localizado no septo interatrial denominada fossa oval. A veia cava caudal abre-se na

parte caudal do átrio direito. No seio coronário é visível o orifício das veias cardíaca

grande e média. As veias cardíacas mínimas se abrem na parede do átrio direito.

3.2.1 Ventrículos direito e esquerdo

O ventrículo direito (Figuras 02, 03, 08A e B) se caracteriza por apresentar uma

valva atrioventricular direita denominada tricúspide, é composta de três cúspides que se

unem a um anel fibroso que circunda a abertura. Cada cúspide é unida por estrias

fibrosas (cordas tendíneas) que descem pela cavidade ventricular e inserem-se em

projeções das paredes (músculos papilares) (Figuras 09, 10). A luz do ventrículo é

atravessada por uma faixa fina de músculo denominada trabécula septomarginal que vai

da parede septal à parede externa ou não septal (Figura 09). Esta trabécula proporciona

um caminho mais curto para um feixe do tecido condutor, assegurando assim uma

contração mais aproximadamente simultânea de todas as partes do ventrículo. Também

podemos apreciar muitas cristas irregulares denominadas trabéculas carnosas (Figura 09

e 10).

A parede não septal direita é menor em comparação com a parede não septal

esquerda (Figura 09). A maior espessura da parede não septal direita representa 73,91%

nos filhotes, 60,61% nos juvenis e 66,39% nos adultos da parede ventricular esquerda.

As paredes septal e não septal são marcadas por várias trabéculas carnosas. As mesmas

Page 74: ROSANA GRISELDA GARRI

formam uma complicada rede interna da qual surgem os músculos papilares e os feixes

septomarginais (Figuras 09, 10). A trabécula septomarginal representa um poderoso

feixe de fibra que corre obliquamente na cavidade do ventrículo direito da parede septal

para não septal. A rede de trabéculas carnosas na parede do ventrículo direito é bem

mais numerosa do que no ventrículo esquerdo (Figura 09). As trabéculas septomarginais

são fortemente desenvolvidas e ramificadas e seguem no sentido da cresta

supraventricular recebendo cordas tendíneas das válvulas átrio ventricular direita. As

cordas tendíneas são bastante desenvolvidas. Foram observados músculos papilares nas

paredes auriculares, atrial, septal e não septal do ventrículo direito.

O ventrículo esquerdo (Figuras 02, 03, 08A e B) apresenta uma valva

atrioventricular esquerda denominada bicúspide ou mitral, que fecha o óstio

atrioventricular, geralmente possui apenas duas cúspides principais (Figuras 09, 10). As

cordas tendíneas da valva atrioventricular esquerda são geralmente mais musculosas do

que a valva do ventrículo direito (Figura 09).

O septo interventricular é muscular, separa as duas cavidades ventriculares

(Figura 09). A superfície da parede septal é pequena comparada com a parede não

septal. Este septo apresenta uma espessura da parede máxima de 14mm para filhotes,

16,66mm para juvenis e 28,30mm nos adultos. A espessura máxima do septo

interventricular (parede septal) comparado com a espessura da parede do miocárdio

(não septal) foi de 82,14% nos filhotes, 80% nos juvenis e 58,86% nos adultos da

parede septal.

As trabéculas cavernosas são muito mais espessas do que o compartimento da câmara

ventricular direita (Figura 09).

Nas três faixas etárias observou-se a parede do ventrículo esquerdo muito mais espessa

que a do ventrículo direito (Figura 09).

Page 75: ROSANA GRISELDA GARRI

Figura 08 (A e B). Coração do filhote (fêmea) do boto-cinza de 78cm de comprimento.

Referências: A.C., Ápice Cardíaco; A.D., Aurícula Direita; A.E., Aurícula Esquerda; Ar.

Aor, Artéria Aorta ascendente; A.C.E., Artéria Coronária Esquerda; V.D., Ventrículo

Direito; V.E., Ventrículo Esquerdo; Per., Pericárdio; T.P., Tronco Pulmonar (Foto:

Carlos Moura, 2006). Escala=1cm.

A.E.

Ar. Aor.

T.P.

A.C.E V.E.V.D.

A.D.

08 B

Pulmão

Per.

A.C.E.V.D.

V.E.

Pulmão

08 A

A.C.A.C.E.

Page 76: ROSANA GRISELDA GARRI

Figura 09. Aspecto do interior dos ventrículos direito e esquerdo do boto-cinza (face

ventral) de um adulto (macho) de 184cm de comprimento. Referências: 1 e 2, valva

atrioventricular direita e esquerda respectivamente; 1’ e 2’, cúspide da valva

atrioventricular direita e esquerda respectivamente 3, ventrículo direito; 4, ventrículo

esquerdo (Foto: Carlos Moura, 2006). Escala=1cm.

Parede não septal

Parede não septal

Parede septal

Trabéculas carnosas

Trabécula carnosa

Átrio direito

Átrio esquerdo

1

2

4

31’

2’ Septo interventricular

Trabécula septomarginal 09

Músculo pectiniforme

Valva Tricúspide

ValvaBicúspide

Valva Aórtica

Page 77: ROSANA GRISELDA GARRI

Figura 10 (A, B, C e D). Detalhe da anatomia interna do coração do boto-cinza. A-B e C-D,

filhote (macho) e adulto de 102cm e 171cm de comprimento, respectivamente (Foto:

Carlos Moura, 2006). Barra=1cm.

V.D.

V.E.

Parede não septal

Parede não septal

Paredeseptal

Cordastendíneas

Papilamuscular

ValvaTricúspide

ValvaBicúspide

Músculopectiniforme

Trabéculascarnosas

ValvaTricúspide

Átrio direito Átrio esquerdo

A B

Átrio direito

Músculo pectiniforme

Valva Tricúspide

Trabéculas carnosas

Cordas tendíneas

Músculo papilar

Valva Bicúspide

Cordas tendíneas

Músculo papilar

Trabéculas carnosas C D

Page 78: ROSANA GRISELDA GARRI

3.1.3. Artéria coronária

O suprimento sanguíneo do coração do boto-cinza é realizado pela artéria

coronária esquerda e direita. A artéria coronária apresenta em direção dorsolateral ao

ápice uma sinuosa e numerosas circunvoluções.

A artéria coronária direita origina-se acima da cúspide cranial da valva áortica

(Figura 11) e atinge o sulco coronário ventral passando entre o sulco atrioventricular

direito e o tronco pulmonar. Segue um trajeto circunflexo em volta a da aurícula direita

e o ventrículo direito finalizando no sulco interventricular direito na face dorsal do

coração. O ramo interventricular direito é bastante sinuoso.

A artéria coronária esquerda origina-se do seio aórtico acima da válvula

semilunar esquerda (Figura 11). A artéria bifurca-se quase imediatamente em dois

ramos: ramo interventricular paraconal (artéria descendente ventral) e ramo circunflexo

(artéria circunflexa). Do ramo circunflexo originam-se vários ramos intermediários que

irrigam a região ventral proximal. Na margem esquerda do coração destaca-se a

presença de um ramo marginal oriundo também do ramo circunflexo, responsável pela

irrigação desta região. O ramo interventricular paraconal abastece a face ventral do

coração do boto-cinza, acompanha o sulco paraconal em direção ao ápice do coração,

irrigando-o (Figuras 12, 13, 14).

Figura 11. Vascularização arterial do coração do boto-cinza adulto (macho) de 184cm de

comprimento (Foto: Carlos Moura, 2006). Escala=1cm.

Orifício Artéria Coronária Direita

Orifício Artéria Coronária Esquerda

11

Page 79: ROSANA GRISELDA GARRI

A artéria coronária direita possui inicialmente, um trajeto circunflexo, de onde

surgem vários ramos intermediários que suprem à região proximal da face ventral

esquerda e dorsal direita do coração. Esta artéria se continua no sulco interventricular

subsinuoso, como ramo interventricular direito que se ramifica intensamente irrigando a

superfície dorsal até o terço médio distal.

A artéria coronária esquerda possui um maior território de irrigação quando

comparado com a artéria coronária direita.

Ambas as artérias coronárias apresentam-se sinuosas no seu trajeto em direção

ao ápice cardíaco.

Em geral, não foram observadas diferenças marcadas na anatomia do coração de

acordo com as faixas etárias, exceto uma menor cavidade ventricular direita nos filhotes

devido à espessura das paredes ventriculares quando comparado com os indivíduos

juvenis e adultos.

Page 80: ROSANA GRISELDA GARRI

Figura 12. Vascularização arterial na face ventral do coração do boto-cinza. Referências:

A.C.D., Artéria Coronária Direita (branco); A.C.E., Artéria Coronária Esquerda

(vermelho); V.D., Ventrículo Direito; V.E., Ventrículo Esquerdo (Foto: Carlos Moura,

2006). Escala=1cm.

Figura 13. Vascularização arterial na face dorsal do coração do boto-cinza. Referências:

A.C.D. Artéria Coronária Direita (branca) e A.C.E., Artéria Coronária Esquerda

(vermelha) (Foto: Carlos Moura, 2006). Escala=1cm.

A.C.E.

Ramos intermediários

Ramo circunflexo

Ramo interventricular direito

A.C.D.13

12

Ramos intermediários A.C.E.

Ramos intermediários

V.D.

Ramo interventricular esquerdo ou paraconal

Ramo Circunflexo

V.E.A.C.D.

Page 81: ROSANA GRISELDA GARRI

Figura 14 (A e B). Vascularização arterial na face ventrolateral esquerda do coração do

boto-cinza. Detalhe da distribuição da artéria coronária esquerda (Foto: Carlos Moura,

2006). Escala=1cm.

Ramo circunflexo

Ramo marginal

Ramosintermediários

Ramo interventricular esquerdo ou paraconal

A.C.E.

A

Ramo circunflexo

Ramo marginal

A.C.E.

Ramo interventricular esquerdo

ou paraconal

Ramos intermediários

B

Page 82: ROSANA GRISELDA GARRI

3.2 Morfometria externa do coração do boto-cinza, Sotalia guianensis

Para o estudo da estrutura morfométrica do coração, foram analisados 12

corações, sendo três filhotes, três juvenis e seis adultos. Destes animais, três foram

identificados como fêmeas e sete como machos, mas para um juvenil e um adulto não

foi possível a determinação do sexo devido ao estado avançado de deterioração do

animal, sendo classificado então como indefinido. O comprimento total de oito animais

variou entre 78cm até 194cm (Tabelas I e II).

Tabela I. Identificação dos animais e medidas externas do coração do boto-cinza.

DADOS DOS ANIMAIS DADOS DOS CORAÇÕES Espécime Faixa

EtáriaSexo Comprimento

(cm)Peso(g)

Altura(mm)

Largura(mm)

Circunferência(mm)

C9/05 F Fêmea 78 53,5 45 55 155 C8/05 F Macho 102 115 65 77 205 C6/05 F Macho I 230 71 89 220 C5/05 J Fêmea 158 240,5 73 96 260 C3/04 J Indefinido I 301,5 79 123 350 C1/04 J Fêmea I 323,5 88 96 290

C10/05 A Indefinido 171 288 88 118 296 C7/05 A Macho 180 296 85 85 300

C12/05 A Macho 189 328 95 180 300 C4/04 A Macho I 355,5 82 193 353 C2/04 A Macho 184 373 81 170 312

C11/05 A Macho 194 474,5 99 128 342

Referência: A. Código do material biológico: 1) C: coração; 2) Número de ordem do coração:

1 a 12; 3) Ano de coleta: 04 e 05. B. Faixa etária: F: filhote J: juvenil e A: adulto.

Comprimento indefinido (I): animais que não apresentaram a integridade do comprimento total

do corpo (p.ex. cabeça, cauda, etc.) para serem medidos. Sexo indefinido: ausência dos órgãos

genitais.

Tabela II. Medidas externas do coração do boto-cinza, para cada faixa etária.

Peso (g) Altura (mm) Largura (mm) Circunferência (mm)

F J A F J A F J A F J A

Média 123,8 288,5 352,5 60,33 80 88,33 73,66 105 153,1 193,3 300 317,1

dp 89,59 43 68,21 13,61 7,54 7,27 17,24 15,58 31,61 34,03 45,82 24,35

Page 83: ROSANA GRISELDA GARRI

3.2.1. Forma do coração

O coração do boto-cinza é largo, sendo achatado dorso-ventralmente. Possui

câmaras ventriculares compridas com margens esquerda e direita, pronunciadamente

convexas. O ápice do coração é arredondado e formado igualmente pelos ventrículos

direito e esquerdo. A forma do coração é arredondada apresentando uma espessura

média direita de 20,5mm nos filhotes, 30,5mm nos juvenis e 37,5mm nos adultos, e

esquerda de 29,86mm nos filhotes, 43,5mm nos juvenis e 47mm nos adultos (Figuras

02, 08A).

O índice médio de amplitude do coração (altura coração/circunferência

coração)x 100 foi de 31 para filhotes, 27 para juvenis e 27,98 para adultos (Tabela III).

Verificou-se através do índice que a forma do coração no boto-cinza é larga.

Tabela III. Índice médio (altura coração/circunferência coração)x100, para

determinar a forma do coração do boto-cinza e sua comparação com cetáceos

(delfinídeos) e pinípedes (focídeos) estudados.

*Os dados foram tomados de 1Drabek (1975), 2Bisaillon (1982) e 3Bisaillon et al., (1987). O índice médio

analisado pelos autores para a forma do coração pertence a exemplares adultos.

Espécies N Média Mamíferos Marinhos Delphinidae

Sotalia guianensis (boto-cinza)

12 27,98

3Delphinapterus leucas(beluga)

7 31,1

Phocidae2Pagophilus groenlandicus

(foca-da-gronelândia ) 6 33,4

1Leptonychotes weddelli(foca-de-weddell)

4 28,7

1Lobodon carcinophagus(foca-caranguejeira)

3 36,8

1Ommatophoca rossi(foca-de-ross)

2 36,1

1Hydrurga leptonyx (foca-leopardo)

1 36,9

Page 84: ROSANA GRISELDA GARRI

3.3. Morfometria interna do coração do boto-cinza, Sotalia guianensis

3.3.1. Ventrículo direito (V.D.)

Observou-se que o coração de Sotalia guianensis possui câmaras ventriculares

compridas com margens fortemente convexas e achatamento dorsoventral.

O ventrículo direito é comprido e relativamente estreito, com índice médio de

altura (TS/altura coração)x100 de 64,61 para filhotes, 73,18 para juvenis e 86,66 para

adultos (Tabela IV). A câmara ventricular direita é 74,55% maior no adulto que o

filhote.

O índice médio de largura da câmara ventricular direita (TP/altura coração)x100

foi de 38,56 para filhotes, 47,24 para juvenis e 57,23 para adultos (Tabela 04).

Verificou-se através deste índice, que a câmara ventricular direita é longa. A câmara

ventricular direita é 67,37% mais larga no adulto comparada com o filhote.

Tabela IV: Índices médios de amplitude e largura do ventrículo direito do boto-

cinza, em relação a algumas famílias de mamíferos aquáticos adultos.

Espécies N (TS /altura coração)x100 (TP/altura coração)x100

Mamíferos Aquáticos Delphinidae

Sotalia guianensis(boto-cinza)

6 86,66 57,23

3Delphinapterus leucas (beluga)

6 64.7 38.7

Phocidae

1Leptonychotes weddelli (foca-de-weddell)

4 77 40

1Lobodon carcinophagus (foca-caranguejeira)

3 70 50

2Pagophilus groenlandicus (foca-da-groenlândia )

6 68.8 54.8

1Ommatophoca rossi (foca-de-ross)

2 62 42

1Hydrurga leptonyx (foca-leopardo)

1 55 50

*As referências pertencem a trabalhos de 1Drabek (1975), 2Bisaillon (1982) e 3Bisaillon et al (1987) de

exemplares adultos.

Page 85: ROSANA GRISELDA GARRI

3.4. Artéria aorta ascendente

A artéria aorta ascendente do boto-cinza apresentou uma dilatação denominada

bulbo aórtico (Figura 15).

Observou-se que a média do diâmetro externo do bulbo aórtico na base e

próximo à artéria braquiocefálica foi de 13,83mm e 19,66mm nos filhotes, 20,66mm e

25,83mm nos juvenis e 27mm e 33mm nos adultos respectivamente. O grau de dilatação

da artéria aorta ascendente desde a base do diâmetro externo até a altura da artéria

braquiocefálica foi de 70,35% nos filhotes, 76,12% nos juvenis e 81,82% nos adultos,

portanto, o bulbo aórtico é mais dilatado nos adultos.

A espessura média da parede na base da aorta até o diâmetro maior, no nível do

tronco braquiocefálico, foi de 1,83mm e 2,1mm nos filhotes, 2,66mm e 3,33mm nos

juvenis e 3mm e 3,76mm nos adultos, respectivamente.

Figura 15. Detalhe da dilatação do bulbo aórtico do coração do boto-cinza, de uma fêmea

juvenil de 158cm de comprimento (Foto: Carlos Moura, 2006). Escala=1cm.

Bulboaórtico

15

Page 86: ROSANA GRISELDA GARRI

4.0 DISCUSSÃO ______________________________________________________________________

Existem vários trabalhos que relacionam a anatomia do coração com

comportamento de mergulho nos mamíferos marinhos. Entretanto, não há registros

sobre estudos anatômicos e morfológicos do coração do boto-cinza, Sotalia guianensis.

A adaptação para o mergulho parece estar relacionada com variações no ventrículo

direito, na artéria aorta ascendente e no sistema coronariano.

Ainda que algumas pesquisas tenham sido desenvolvidas nos últimos anos, o

número de estudos sobre o sistema cardiovascular em cetáceos nas faixas etárias

continua sendo escasso na literatura científica.

Em geral, as características internas e externas do coração do boto-cinza, apesar

de apresentar algumas diferenças estruturais, são similares com o descrito para outros

Delphinidae, como no boto-do-porto (Nie, 1989; Rowlatt & Gaskin, 1975) e na beluga

(Bisaillon et al. 1987; 1988).

A característica geral do átrio do coração do boto-cinza é similar com o

observado para outros cetáceos, por exemplo, na beluga (Bisaillon et al., 1987; 1988). O

átrio e aurícula direita são relativamente maiores que o átrio e aurícula esquerda. Estas

observações também foram constatadas na beluga por Bisaillon et al. (1987). O autor

sugere que esta diferença está relacionada ao maior volume sanguíneo que deve ser

conduzido para o átrio direito.

Uma rede de músculos pectiniformes está presente nos apêndices do átrio direito

e esquerdo. A presença destas redes, também foi evidenciada na beluga como o descrito

por Bisaillon et al. (1987) e por Nie (1989) no boto-do-porto, golfinho-nariz-de-garrafa,

golfinho-comum, golfinho-de-laterais-brancas-do-atlântico. Como o sugerido por

Rowlatt e Gaskin (1975) no estudo com o boto-do-porto, a contração destes músculos

pectiniformes de grande calibre são importantes na contração da parede atrial para

esvaziamento do átrio.

No boto-cinza, entre o átrio e o ventrículo direito observou-se a presença da

válvula tricúspide; o mesmo foi observado nas espécies de golfinhos por Bisaillon et al.

(1987) e Nie (1989).

A presença de dois grupos de músculos papilares é característica do ventrículo

direito dos cetáceos, como o descrito no boto-cinza e por Bisaillon et al. (1987) na

beluga. Rowlatt e Gaskin (1975) relataram no boto-do-porto, um terceiro grupo de

Page 87: ROSANA GRISELDA GARRI

músculos papilares que podem ocasionalmente estar presente em algumas espécies de

cetáceos.

No boto-cinza a trabécula septomarginal é uma espessa banda muscular

desenvolvida entre o septo e a parede ventricular, observações também citadas para

outros Delphinidae por Bisaillon et al. (1987) e Nie (1989). Entretanto, Rowlatt (1981)

percebeu no baleia-nariz-de-garrafa-do-norte, Hyperoodon ampullatus, a ausência da

trabécula septomarginal em três espécimes. A autora sugere que existem muitas

variações interespecíficas nesta trabécula nos cetáceos.

Na espécie em estudo, não foi evidenciada a presença dos músculos papilares

nas paredes subatrial e septal. A ausência destes músculos também foi relatada por

Bisaillon et al. (1987) na beluga.

Entre o átrio e o ventrículo esquerdo observou-se a válvula bicúspide, também

descritas nas espécies de golfinhos por Bisaillon et al. (1987) e Nie (1989). Os

resultados demonstraram a presença de dois grupos de músculos papilares no ventrículo

esquerdo como o descrito por Nie (1989). Estudos relativos na beluga por Bisaillon et

al. (1987) indicaram a presença constante de dois grupos de músculos papilares nos

corações analisados. O autor observou em alguns corações da beluga, a presença de um

terceiro grupo de músculo originado a partir da parede ventricular lateral, o qual não foi

encontrado no boto-cinza.

No ventrículo esquerdo espessas redes de trabéculas carnosas que se comunicam

entre sim, são características da câmara ventricular cardíaca nos cetáceos (Bisaillon et

al., 1987; Nie, 1989). Por exemplo, na beluga o padrão trabecular do ventrículo

esquerdo é mais grosso comparado com a câmara ventricular direita, característica

também observada em nosso estudo e no boto-do-porto, golfinho-nariz-de-garrafa,

golfinho-comum, golfinho-de-laterais-brancas-do-atlântico por Nie (1989). Rowlatt

(1981) discutiu a função deste complexo padrão trabecular e sugeriu que as numerosas

cavidades que se comunicam entre sim podem atuar como reserva, prolongando o fluxo

sanguíneo durante cada contração ventricular, devendo haver a participação direta desta

rede no processo de ejeção sanguínea.

A descrição anatômica da câmara ventricular direita e esquerda do boto-cinza,

com algumas diferenças estruturais, está em acordo com o analisado no coração por

Bisaillon et al. (1987) e Nie (1989).

O fechamento anatômico do ducto arterioso nos cetáceos pode ser explicado

pelo fato que os animais recém nascidos nadam e mergulham imediatamente ou quase

Page 88: ROSANA GRISELDA GARRI

imediatamente depois de nascer (Slijper, 1979). Estas características também foram

observadas por este autor no coração da foca-comum, Phoca vitulina. O armazenamento

de oxigênio pode causar uma re-abertura temporária do ducto durante o primeiro

período da vida postnatal, o qual retarda o fechamento anatômico. O descrito por Slijper

(1979) coincide com as observações realizadas nos corações do boto-cinza.

Morfometria externa do coração

Forma do coração No presente estudo, devido à falta de informação nos filhotes e/ou juvenis sobre

as características anatômicas do coração para os cetáceos, tais características foram

comparadas com os indivíduos adultos.

O resultado deste estudo mostra que a forma do coração das três faixas etárias do

boto-cinza é larga e com ápice arredondado. Em outras espécies estudadas como a

beluga constatou-se um índice médio de 31,1 (Bisaillon et al., 1987). Apesar de a

beluga apresentar um índice baixo, a forma do coração descrito por Bisaillon et al.

(1987) é larga e chata e com ápice arredondado formado por ambos os ventrículos.

Segundo os autores esta forma está mais relacionada, de forma semelhante, com o

coração da foca-de-weddell do que com o coração dos delfinídeos. Esta característica

estaria relacionada com a capacidade de mergulho da beluga. Entretanto, Rowlatt e

Gaskin (1975) desenvolvendo um estudo no boto-do-porto descreveram um coração

alongado. Apesar de que existe uma variação nos índices entre as faixas etárias no boto-

cinza, a forma do coração segue o mesmo padrão independente do resultado

quantitativo.

A literatura cita que estas características parecem estar relacionadas com a

capacidade de mergulho e o modo de vida dos animais, como a beluga, dentro dos

Delphinidae, que permanece submersa entre 10-15 minutos a profundidades de 400m

chegando à profundidade máxima de 647m (Martin et al., 2001; Ridgway et al., 1984).

O boto-do-porto mergulha entre 1 ou 2 minutos com máximo de 4,07 minutos (Watson,

1976 apud Bisaillon et al., 1987). No boto-cinza, espécie costeira mergulha também a

pouca profundidade com apnéias < 2 minutos, características típicas dentro dos

pequenos cetáceos.

Estudos realizados por Slijper (1979) indicam que nos porpoises o coração é

relativamente mais estreito que largo, na maioria dos outros odontocetos o comprimento

Page 89: ROSANA GRISELDA GARRI

e a largura é aproximadamente igual, enquanto nos misticetos e o cachalote a largura

excede o comprimento. O autor sugere que a forma do coração pode estar relacionada à

forma do tórax dos cetáceos. Ochrymowych e Lambertsen (1983) relataram no estudo

da baleia-minke-anã que a forma do coração é uma adaptação às mudanças

hemodinâmicas e ao colapso dos pulmões associado com o tempo de apnéia dos

animais.

Dentre dos pinípedes, existem modificações se comparados aos cetáceos. Nos

primeiros estudos, Haig (1914) observou que no feto da foca-leopardo o ápice é bífido.

Drabek (1975) no trabalho sobre o coração das focas da Antártida (ver tabela III) em

indivíduos adultos observou, por exemplo, que na foca-de-weddell a forma do coração é

longa enquanto o índice dos lobondontines é aproximadamente semelhante aos caninos.

O autor citou que a diferença de amplitude do coração da foca-de-weddell em

comparação com os outros focídeos pode ser devido à adaptação cardiovascular para a

imersão profunda. Devido à extrema pressão hidrostática à qual as focas são submetidas

quando mergulha a grandes profundidades, o colapso pulmonar na região torácica é

vantajoso. Características adaptativas na região torácica das focas tais como ângulo

oblíquo do diafragma e a flexibilidade das costelas é um beneficio para os animais. Tais

mudanças anatômicas na região torácica ocorrem durante o mergulho, um coração mais

largo que estreito é vantajoso já que estaria menos sujeito à deformação. Um coração

largo também permite um grande contato com os lóbulos dos pulmões para diminuir o

colapso do alvéolo durante o mergulho (Bisaillon et al., 1987; Drabek, 1975).

Contudo, é possível evidenciar que a forma do coração dos cetáceos geralmente

é estreita, nos focídeos é larga e curta em relação aos carnívoros, e isto pode apresentar

menor deformação durante a compressão e pode, por conseguinte, permitir uma ótima

manutenção da pressão sanguínea e perfusão dos órgãos vitais (Falabella et al., 1999). É

evidente que a forma do coração está principalmente determinada pela relação espacial

na cavidade torácica. Na espécie em estudo, pode considerar-se que um coração

relativamente estreito seja favorável, já que os indivíduos estão sujeitos a mergulhos de

curta duração e em águas pouco profundas.

Morfometria interna do coração

Ventrículo direito

Page 90: ROSANA GRISELDA GARRI

As medidas internas do ventrículo direito do coração do boto-cinza foram

comparadas com os dados obtidos nos golfinhos, por Bisaillon et al. (1987) na beluga e

nas focas por Bisaillon (1982) e Drabek (1975) (ver Tabela IV). Como não há registros

sobre medidas internas da câmara ventricular direita em filhotes e juvenis nos

Delphinidae, só foi possível realizar comparações com indivíduos adultos.

O índice médio de altura do coração dentro dos focídeos pode citar-se na foca-

de-groenlândia com média de 68,8 (Bisaillon, 1982), nas focas da Antártida como na

foca-de-weddell foi de 77, na foca-de-ross 62, na foca-leopardo 55 e na foca-

caranguejeira 50 (Drabek, 1975) os quais indicam uma câmara ventricular é muito

longa. Entretanto, nos golfinhos o índice médio na beluga foi de 64,7 (Bisaillon et al.,

1987) enquanto no boto-cinza foi de 86,66. Os dados mostraram que o índice médio

observado na espécie em estudo é maior comparado com a beluga e nos pinípedes.

Entretanto, o índice médio de largura do coração dentro dos focídeos, foi de 54,8 na

foca-de-groenlândia, nas focas da Antártida como a foca-de-weddell a média foi de 40,

na foca-de-ross 42, na foca-leopardo 50 e na foca-caranguejeira 50 indicando que a

largura da câmara ventricular é muito estreita entre os focídeos (Drabek, 1975). Drabek

e Burns (2002) observaram que o ventrículo direito da foca-cistófora é

proporcionalmente longo e mais musculoso comparado com o reportado para outros

focídeos.

Na beluga o índice médio registrado foi de 38,7 (Bisaillon et al., 1987)

comparado com o boto-cinza com índice médio de 57,23. Os resultados do presente

estudo indicam que a altura e largura do ventrículo direito no boto-cinza aponta para

uma câmara relativamente estreita e longa se comparado com a beluga. Apesar das

diferenças nos índices observados nos golfinhos, em geral, Bisaillon et al. (1987) e

Ochrymowych e Lambertsen (1983) indicaram que os cetáceos apresentam um

ventrículo direito estreito, características também descritas para a espécie em estudo.

O observado no presente estudo é característico de espécies de golfinhos que

apresentam mergulhos curtos e a pouca profundidade comparado com a beluga e os

pinípedes sendo grandes mergulhadores com características ventriculares e adaptações

diferentes na capacidade de mergulho que nos Delphinidae. Um ventrículo direito longo

e estreito é uma característica vantajosa para os mamíferos que mergulham a grandes

profundidades por longos períodos de tempo. O mais surpreendente comparação entre a

beluga (golfinho) e a foca-de-weddell (focídeo), é que, apesar de pertencer a diferentes

ordens, ambos são capazes de prolongar mergulhos profundos (Martin et al., 2001) e as

Page 91: ROSANA GRISELDA GARRI

ambas as espécies apresentam um ventrículo direito relativamente longo ou muito

estreito quando comparado com o boto que é relativamente largo, sendo características

adaptativas para indivíduos que provavelmente não apresentam capacidade anatômica e

fisiológica para mergulhar por longos períodos do tempo.

O sistema pulmonar provavelmente favoreça grande resistência para o coração

durante o reflexo do mergulho profundo e tal resistência pode ser ótima com um

ventrículo direito longo (Drabek, 1975). Bisaillon et al. (1987) observou que a

espessura da parede ventricular na beluga é similar a outras espécies de cetáceos.

Porém, uma delgada parede da câmara ventricular direita, é uma vantagem para a

dilatação ventricular durante a imersão profunda. No presente estudo, observamos que a

parede é delgada, sendo estas características similares ao analisado na beluga por

Bisaillon et al. (1987).

Nos cetáceos, a espessura do coração é menor nos delfinídeos como o observado

no boto-cinza, comparado com os misticetos (Ochrymowych & Lambertsen, 1983). No

presente estudo, observamos que a câmara ventricular direita é mais espessa nos filhotes

comparada com os indivíduos juvenis e adultos. Já nos adultos a câmara ventricular é

delgada como o observado em outras espécies de golfinhos estudados. Junin e

Belerenian (1990) no estudo sobre a análise electrocardiográfica no filhote do leão-

marinho-do-sul, mostraram que a maior espessura da parede do ventrículo direito

poderia constituir um mecanismo para impedir o colapso pulmonar do mesmo devido à

diferença de pressão durante o mergulho. Provavelmente estas características se ajustem

aos botos com uma parede ventricular direita bastante espessa comparada com os

juvenis e adultos. Provavelmente, à medida que o filhote adquire experiência para

mergulhar a capacidade ventricular vai aumentando até o desenvolvimento de uma

parede mais delgada no estado adulto.

Bulbo aórtico

Vários autores realizaram investigações nos pinípedes e mostraram que apesar

da extrema bradicardia a pressão arterial média não muda durante o reflexo do

mergulho (Drabek, 1975; Kooyman, 1985; 1989). Drabek (1975; 1977) sugeriu que

provavelmente a pressão arterial é mantida pela presença de fibras elásticas na artéria

aorta ascendente, o que ajudaria durante a diástole a segurar a perfusão do cérebro

(Kooyman, 1985; Kooyman et al., 1981). Outra possibilidade seria a manutenção da

pressão no sistema coronário assegurando uma propicia perfusão do tecido cardíaco.

Page 92: ROSANA GRISELDA GARRI

Observamos no boto-cinza a dilatação da artéria aorta ascendente, sendo maior

nos indivíduos adultos comparado com os filhotes. Assim como, Drabek e Burns (2002)

e Harrison e Kooyman (1968) mencionaram a surpreendente dilatação do bulbo aórtico

da artéria aorta ascendente das focas. Vários autores notaram a presença deste

desenvolvimento em algumas espécies de cetáceos e pinípedes (leões marinhos)

(Drabek, 1975; Drabek & Burns, 2002; Elsner, 1969; Elsner et al., 1966). Simpson e

Gardner (1972 apud Bisaillon et al., 1987) através de análises da artéria aorta na beluga

indicaram que a parede da artéria é espessa, e que se caracteriza por apresentar uma

grande quantidade de fibras elásticas. Drabek e Burns (2002) e Harrison e Kooyman

(1968) sugeriram que a dilatação da artéria pode ajudar para manter a diástole da

pressão arterial e o fluxo sanguíneo coronário. A parede dos vasos sanguíneos é

altamente elástica para bombear sangue novamente para a rede estreita da artéria.

Drabek (1975) indicou que a dilatação da base do bulbo aórtico no filhote da foca-de-

weddell foi menor que nos subadultos e adultos, possivelmente estas características

podem ser correlacionadas com o comportamento de mergulho. O autor relacionou o

aumento dos segmentos do bulbo aórtico com a duração e profundidade que mergulha o

animal, e que é superior nos focídeos comparado com os cetáceos, características

também observadas em nosso estudo.

A dilatação do bulbo aórtico tanto nos subadultos como nos adultos da foca-de-

weddell aumentou 72,5% desde a base da artéria aorta coronária até a altura da artéria

braquiocefálica. Nos golfinhos, as observações realizadas no boto-cinza indicaram que o

grau de dilatação média da base da artéria aorta foi de 27mm e ao nível da artéria

braquiocefálica de 33mm, nos indivíduos adultos. As médias dos diâmetros do bulbo

aórtico encontrados para ambas as espécies de golfinhos são relativamente semelhantes.

Provavelmente a mais enfática diferença do grau de desenvolvimento do bulbo aórtico

nos delfinídeos, como na espécie em estudo comparado com a beluga e os pinípedes, é o

comportamento de mergulho como o citado por Drabek (1975) e Drabek e Burns

(2002).

Segundo Drabek e Burns (2002) o estudo realizado na foca-cistófora, o bulbo

aórtico é maior que o reportado para outros focídeos. A artéria aorta ascendente

apresenta uma concentração maior de fibras elásticas que a aorta descendente. Em

combinação com o grande ventrículo direito, estas características provavelmente servem

para aumentar a perfusão do pulmão durante o mergulho nesta espécie, e para manter a

pressão sanguínea através do ciclo cardíaco durante a bradicardia do mergulho. Nesta

Page 93: ROSANA GRISELDA GARRI

espécie, os autores não encontraram diferenças na morfologia do coração entre as faixas

etárias sugerindo que estas características são importantes no desenvolvimento para o

comportamento de mergulho (Drabek & Burns, 2002). O grau de desenvolvimento da

artéria aorta ascendente na espécie em estudo entre as três faixas etárias foi mais

acentuado e bem dilatado nos indivíduos adultos.

A espessura da parede da artéria aorta ascendente no boto-cinza na altura da base

uma media de 2,5mm e ao nível da artéria braquiocefálica de 3mm. Comparado com os

pinípedes, os golfinhos, como no boto-cinza, a espessura é menor, características típicas

de animais que mergulham por um período curto.

Artérias coronárias

A artéria coronária esquerda possui um ramo interventricular esquerdo bastante

sinuoso, sendo responsável pela irrigação de um contingente do miocárdio no coração

do boto-cinza. Esta artéria no coração do boto-cinza divide-se em uma rama/o

circunflexa e uma rama interventricular ou paraconal, características descrita na beluga

(Bisaillon et al., 1988) e semelhante ao observado na baleia-minke-anã por Abuin et al.

(2000), Cuenca et al. (2000), Junin et al. (1994) e Ochrymowych e Lambertsen (1983).

Estas observações também foram citadas para os neonatos da baleia-minke-anã, baleia-

jubarte, e a baleia-franca-do-sul por Cuenca et al. (2004), estrutura também observada

para os três filhotes do boto-cinza analisados. Abuin et al. (2000) citaram que a

anatomia macroscópica das artérias coronárias da baleia-minke-antártica é similar ao

descrito para a baleia-minke-anã. Os autores sugerem que este padrão vascular

coronário desempenha um importante mecanismo de irrigação do músculo cardíaco

durante a atividade de mergulho.

O ramo circunflexo emite vários ramos intermediários responsáveis pela irrigada

parede ventricular esquerda e margem esquerda do coração. O ramo interventricular

esquerdo ou paraconal é bastante sinuoso e segue até o ápice do coração sendo único

responsável pela irrigação desta região. No presente estudo constatamos a presença de

proeminentes circunvoluções na artéria coronária esquerda nas três faixas etárias.

Junin et al. (1994) indicaram que os cetáceos o desenvolvimento da circulação

colateral responde a um mecanismo adaptativo ante a diminuição da pressão parcial de

oxigênio em condições fisiológicas durante a imersão profunda.

Page 94: ROSANA GRISELDA GARRI

5.0 CONCLUSÕES ______________________________________________________________________

A estrutura anatômica do coração do boto-cinza é similar ao descrito para outras

espécies de cetáceos.

A forma do coração observada nas três faixas etárias é larga e com ápice

arredondado. Esta característica pode estar correlacionada com a cavidade

torácica que apresentam os cetáceos, assim como, com a capacidade de

mergulho dos botos.

A câmara ventricular direita é relativamente estreita e longa típica de animais

que permanecem submersos por pouco período de tempo e profundidade. A

espessura da parede do ventrículo direito é delgada, e proporcionalmente menos

espessa comparada com a beluga, misticetos e pinípedes, estas modificações

estão relacionadas com as adaptações cardíacas ao mergulho profundo.

O grau de dilatação do bulbo aórtico sofreu uma variação desde a base da artéria

aorta até a altura da artéria braquiocefálica nas três faixas etárias sendo mais

representativo nos adultos. A dilatação nos filhotes pode dever-se ao fato que

estes animais quando nascem começam a adquirir habilidades e treinamento para

mergulhar e modificações estruturais e anatômicas para adaptar-se ao meio

ambiente.

As artérias coronária direita e esquerda são muito proeminentes nesta espécie

sendo a artéria coronária esquerda responsável pela irrigação de um maior

contingente do miocárdio no coração do boto-cinza.

As características morfológicas do coração do boto coincidem com o descrito

para outras espécies de delfinídeos que apresentam mergulhos < 2 minutos e a

pouca profundidade.

Page 95: ROSANA GRISELDA GARRI

6.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ______________________________________________________________________

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* As referências bibliográficas foram elaboradas a partir da 5ª edição do Publication Manual da American Psychological Association (APA), de 2001 (p.215-281).

Page 115: ROSANA GRISELDA GARRI

ANEXO 01ANATOMIA DO CORAÇÃO

Sotalia guianensis

DADOS DO ANIMAL:

Código da amostra: Comprimento total (cm): Data de mortalidade: Sexo: Local de encalhe: Faixa etária: Observações:

MORFOLOGIA EXTERNA

Altura (mm): Largura (mm): Circunferência total (mm): Peso (g):

Índice forma do coração: (altura coração/ circunferência coração) x 100

MEDIDAS NA AURÍCULA

MEDIDAS DA ESPESSURA DO VENTRÍCULO

MEDIDAS DA DILATAÇÃO DO BULBO AORTICO (B.A.)

AORTA (mm) Ø interno (mm)

Ø externo (mm)

circunferência (mm)

espessura da parede (mm)

Base da Aorta (Altura Artéria Coronária)

1° segmento 2° segmento

Ø Maior do B. A. (Altura Artéria braquiocefálica)

Aurícula Direita

Aurículaesquerda

Base (mm) Altura (mm)

Ventrículo Direito

Ventrículoesquerdo

Espessura (mm)

Page 116: ROSANA GRISELDA GARRI

MORFOLOGIA INTERNA DO CORAÇÃO

MEDIDAS DO VENTRICULO DIREITO

ESPESSURA DA PAREDE DOS VENTRICULOS

Medidas (mm) proximal média ápice

Ventrículo Direito

Ventrículo Esquerdo

Septo interventricular

Índice altura Índice Largura

Longitude TS

(mm)

(TS/Altura)x100

(mm)

Longitude TP

(mm)

(TP/Altura)x100

(mm)

Longitude PS

(mm)

Ventrículo direito

Ventrículo esquerdo

Artéria Aorta

Artéria pulmonar