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Universidade Federal do Rio de Janeiro Faculdade de Letras Comissão de Pós-Graduação e Pesquisa ROTACIZAÇÃO DAS LÍQUIDAS NOS GRUPOS CONSONANTAIS: REPRESENTAÇÃO FONOLÓGICA E VARIAÇÃO Luiza Fernandes Tem Tem 2010

Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

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Page 1: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

Universidade Federal do Rio de Janeiro Faculdade de Letras Comissão de Pós-Graduação e Pesquisa

ROTACIZAÇÃO DAS LÍQUIDAS NOS GRUPOS CONSONANTAIS:

REPRESENTAÇÃO FONOLÓGICA E VARIAÇÃO

Luiza Fernandes Tem Tem

2010

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Universidade Federal do Rio de Janeiro Faculdade de Letras Comissão de Pós-Graduação e Pesquisa

ROTACIZAÇÃO DAS LÍQUIDAS NOS GRUPOS CONSONANTAIS:

REPRESENTAÇÃO FONOLÓGICA E VARIAÇÃO

Luiza Fernandes Tem Tem

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção do Título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). Orientador: Prof. Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves

Rio de Janeiro

Agosto de 2010

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Universidade Federal do Rio de Janeiro Faculdade de Letras Comissão de Pós-Graduação e Pesquisa

Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação fonológica e

variação

Luiza Fernandes Tem Tem

Orientador: Professor Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas.

Aprovada por:

Presidente, Prof. Carlos Alexandre Victorio Gonçalves (UFRJ) _________________________________________________ Prof. Mônica de Toledo Piza Costa Machado (UFRRJ) _________________________________________________ Prof. Roberto Botelho Rondinini (UFJF) _________________________________________________ Prof. Mônica Maria Rio Nobre (UFRJ) _________________________________________________ Prof. Carmen Teresa Dorigo (UFRJ/Museu Nacional)

Rio de Janeiro

Agosto de 2010

Page 4: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

SINOPSE

Estudo da alternância entre as consoantes líquidas, classe fonológica que agrupa laterais e vibrantes, nos grupos consonantais (Rotacismo), tal como ocorre na

realização de F[l]amengo por F[Ȏ]amengo. Verificação da ocorrência do fenômeno em uma comunidade situada na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. Análise variacionista do rotacismo.

Page 5: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

AGRADECIMENTOS

A Deus, por estar comigo em todos os momentos e por tornar possível a realização

deste trabalho.

À minha querida mãe, pela luta diária em favor dos meus estudos.

Ao prof. Carlos Alexandre Gonçalves, meu orientador, pelo direcionamento tomado

por esta pesquisa, pelo apoio, pela leitura minuciosa, pelas correções.

Às professoras Cláudia de Souza Cunha, Márcia dos Santos Machado Vieira e Sílvia

Rodrigues Vieira, pelos ensinamentos fundamentais à concretização desta

dissertação.

Aos meus irmãos, pelo incentivo em todo o tempo.

Aos meus alunos, integrantes fundamentais deste trabalho, pelo interesse e pela

participação.

Às amigas de trabalho, pela força e pela paciência em ouvir-me falar repetidas vezes

sobre este trabalho.

Ao companheiro Luiz Carlos, meu esposo amado, pelo incentivo, pela ajuda com os

gráficos, pelas discussões acerca do trabalho, pela cobrança para que a pesquisa

fosse prioridade em minha vida.

Page 6: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

“O saber a gente aprende com os mestres e com os livros. A sabedoria se aprende é com a vida e com os humildes."

(Cora Coralina)

Page 7: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

RESUMO

ROTACIZAÇÃO DAS LÍQUIDAS NOS GRUPOS CONSONANTAIS: UMA ANÁLISE

VARIACIONISTA

Luiza Fernandes Tem Tem

Orientador: Professor Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves

Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas, Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas.

Nesta Dissertação, são analisadas manifestações de fala real que evidenciam

a ocorrência da alternância das líquidas [l] e [Ȏ] nos grupos consonantais no

português não-padrão. Os mesmos informantes de uma comunidade escolar da

Zona Oeste do Rio de Janeiro foram recontactados após quatro anos, possibilitando

o estudo de uma possível mudança em sua fala. Ressalta-se a grande semelhança

entre os segmentos [l] e [Ȏ] do ponto de vista fonético, fonológico e fonotático, fato

que favorece o fenômeno, porém detém-se este estudo, principalmente, na

perspectiva social. Dentre os condicionantes sociais, econômicos e culturais,

destaca-se o nível de escolaridade. Fundamenta-se esta pesquisa na compreensão

de que existe uma estreita relação entre língua e sociedade, assumindo-se, por isso

mesmo, os pressupostos da sociolinguística variacionista (LABOV, 1994, 1972 a).

Palavras-chave: Rotacismo; Fonologia autossegmental; Sociolingüística

Quantitativa.

Rio de Janeiro

Agosto de 2010

Page 8: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

ABSTRACT

RHOTACIZATION OF LIQUIDS IN CONSONANT CLUSTERS: A

VARIATIONIST ANALYSIS

Luiza Fernandes Tem Tem

Advisor: Professor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves

Summary of Dissertation submitted to the Graduate Program in Vernacular Literature, Faculty of Letters, Federal University of Rio de Janeiro - UFRJ, as part of the requirements to obtain the title of Master of in Vernacular Literature.

In this dissertation, we analyzed actual speech events that indicate the

occurrence of alternate liquids [l] and [Ȏ] in consonant clusters in the Portuguese

non-standard. The same informants of a community school in the Western Zone of

Rio de Janeiro were recontacted after four years, allowing the study of a possible

change in his speech. Admittedly, a very great similarity between the phones [l] and

[Ȏ] in terms of phonetic, phonological and phonotactic, a fact which favors the

occurrence of the phenomenon, but this study holds up, especially from a social

perspective. Among the social conditions, economic and cultural highlight is the level

of schooling. This research is based on the understanding that there is a close

relationship between language and society, assuming, therefore, the assumptions of

variationist sociolinguistics (Labov, 1994, 1972 a).

Keywords: Rhotacism; Autosegmental phonology; Quantitative Sociolinguistics.

Rio de Janeiro

August, 2010

Page 9: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...................................................................................................15

2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS..........................................................................17

2.1. Português padrão e português não-padrão ................................................17 2.2. Teoria da Variação (paradoxos superados) ................................................19

2.2.1. Cisão entre sincronia e diacronia.........................................................20 2.2.2. Impossibilidade da heterogeneidade estrutural ...................................20 2.2.3. Disfuncionalidade da mudança............................................................21 2.2.4. Não-motivação no processo da mudança linguística...........................22 2.2.5. Exclusividade das relações internas ao sistema..................................22 2.2.6. Exclusão da estratificação social e da avaliação social das variantes linguísticas .........................................................................................................22 2.2.7. Comunidade de fala homogênea.........................................................23 2.2.8. Alcance uniforme da mudança.............................................................23 2.2.9. Homogeneidade na competência linguística do falante.......................23 2.2.10. Passividade do falante em relação ao sistema ................................24 2.2.11. Alternância entre códigos.................................................................24

2.3. Contribuições da Sociolinguística para o desenvolvimento da teoria linguística...............................................................................................................25 2.4. Comunidade de fala ....................................................................................26 2.5. Tempo aparente X tempo real ....................................................................27

3. OS SEGMENTOS LÍQUIDOS: ASPECTOS FONÉTICOS E FONOLÓGICOS.28

3.1. A Lateral......................................................................................................29 3.2. A Vibrante ...................................................................................................29

4. ROTACISMO .....................................................................................................32

4.1. Ponto de vista histórico ...............................................................................34 4.2. Características fonotáticas..........................................................................36 4.3. Fonética e fonologia....................................................................................39

5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E ANÁLISE VARIACIONISTA .........50

5.1. Tratamento estatístico dos dados ...............................................................50 5.2. descrição da comunidade de fala ...............................................................57 5.3. O grupo amostral controlado.......................................................................60 5.4. Variáveis controladas..................................................................................63

5.4.1. Variável dependente ............................................................................63 5.4.2. Variáveis independentes......................................................................64

6. ANÁLISE DAS VARIÁVEIS (RESULTADOS)...................................................68

6.1. Rodada geral (variantes realizadas) ...........................................................68 6.2. Modo de articulação do segmento precedente à líquida do grupo consonantal (fricativo ou oclusivo).........................................................................71 6.3. Vozeamento do segmento precedente à líquida.........................................73 6.4. Tonicidade da sílaba do grupo consonantal................................................76 6.5. Posição do grupo consonantal....................................................................79 6.6. Presença de outra líquida na palavra..........................................................80 6.7. Faixa etária .................................................................................................82

Page 10: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

6.8. Gênero/Sexo...............................................................................................87 6.9. Escolaridade dos informantes.....................................................................89 6.10. Escolaridade dos genitores .....................................................................92 6.11. Perfil econômico e cultural dos pais ........................................................94

6.11.1. Mercado de trabalho e renda ...........................................................94 6.11.2. Rede social.......................................................................................95 6.11.3. Acesso aos bens culturais (práticas de leitura) ................................97

CONCLUSÃO ...........................................................................................................98

REFERÊNCIAS.......................................................................................................100

ANEXO A: FORMULÁRIO DE ENTREVISTA........................................................107

ANEXO B: RODADAS DO GOLDVARB PARA A FAIXA 5-7 ...............................109

ANEXO C: RODADAS DO GOLDVARB PARA A FAIXA 9-11 .............................132

ANEXO D: REGISTROS DE ROTACISMO EM ATLAS LINGUÍSTICOS ..............147

Page 11: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: aplicação das variantes amostra 2006 ......................................................68 Tabela 2: aplicação das variantes amostras 2006 e 2010 ........................................70 Tabela 3: rotacismo 2006 (modo de articulação do segmento precedente à líquida)71 Tabela 4: rotacismo 2010 (modo de articulação do segmento precedente à líquida)73 Tabela 5: rotacismo 2006 (vozeamento do segmento precedente à líquida) ............74 Tabela 6: rotacismo 2010 (vozeamento do segmento precedente à líquida) ............75 Tabela 7: amostra 2006 rotacismo (fator tonicidade) ................................................76 Tabela 8: amostra 2010 rotacismo (fator tonicidade) ................................................78 Tabela 9: rotacismo 2006 (posição silábica do grupo consonantal) ..........................79 Tabela 10: rotacismo 2010 (posição silábica do grupo consonantal) ........................79 Tabela 11: rotacismo 2006 (ausência ou presença de outra líquida na palavra) ......80 Tabela 12: rotacismo 2010 (ausência ou presença de outra líquida na palavra) ......81 Tabela 13: rotacismo (faixa etária) ............................................................................86 Tabela 14: resultados de apagamento pela variável sexo (Mollica, Paiva & Pinto,

1989)..................................................................................................................87 Tabela 15: rotacismo 2006 (fator sexo).....................................................................88 Tabela 16: rotacismo 2010 (fator sexo).....................................................................89 Tabela 17: rotacismo total de anos de escolaridade .................................................90 Tabela 18: escolaridade e rotacismo (aspecto qualitativo)........................................91 Tabela 19: escolaridade pai ......................................................................................92 Tabela 20: escolaridade mãe ....................................................................................92

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: árvore de organização dos traços (Clements & Hume, 1995)....................41 Figura 2: organização das consoantes pela geometria de traços .............................42 Figura 3: representação da lateral pela geometria de traços ....................................44 Figura 4: representação da vibrante pela geometria de traços .................................45 Figura 5: representação do rotacismo pela geometria de traços...............................46 Figura 6: representação da líquidas (Dickey, 1997) ..................................................47 Figura 7: representação da lateral e do tepe (Dickey, 1997).....................................48 Figura 8: representação de rotacismo (Dickey, 1997)...............................................48 Figura 9: cruzamento das variáveis modo de articulação e vozeamento ..................74

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: diferenças entre o português padrão e o português não-padrão (Bagno,

2005)..................................................................................................................18 Quadro 2: distribuição dos róticos (Camara Jr, 2004) ...............................................31 Quadro 3: escala de sonância de Bonet e Mascaró (1996) ......................................34 Quadro 4: origem do português padrão (Bagno, 2005).............................................34 Quadro 5: distribuição das duas consoantes prevocálicas (Silva, 2003)...................37 Quadro 6: líquidas na posição posvocálica ...............................................................38 Quadro 7: articulação das líquidas ............................................................................39 Quadro 8: matriz fonética (Chomsky e Halle, 1968)..................................................40 Quadro 9: modelo de codificação Goldvarb ..............................................................50 Quadro 10: formulário de coleta de dados ................................................................61 Quadro 11: combinações da amostra 2006 ..............................................................62 Quadro 12: combinação das amostras 2006 e 2010.................................................63 Quadro 13: codificação das variantes .......................................................................63 Quadro 14: percentual de palavras reconhecidas 2006 e 2010 ................................70 Quadro 15: exemplo de realização de rotacismo por informante ..............................72 Quadro 16: células amostra recontato (totais de aplicação de rotacismo) ................76 Quadro 17: cruzamento de modo de articulação e tonicidade ..................................77 Quadro 18: escala de força de Hooper (1976) ..........................................................80 Quadro 19: cruzamento das variáveis modo de articulação e presença de outra

líquida ................................................................................................................81 Quadro 20: transformações nos grupos iniciais, do latim ao português (1)...............84 Quadro 21: transformações nos grupos iniciais, do latim ao português (2)...............84 Quadro 22: transformações nos grupos iniciais, do latim ao português (3)...............85 Quadro 23: mercado de trabalho (diferenças entre pais e mães) .............................94 Quadro 24: profissões exercidas pelos genitores......................................................95 Quadro 25: redes sociais (grupos de referência) ......................................................97

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: rotacismo (fator idade) na amostra 2006 ..................................................82 Gráfico 2: aumento no vocabulário dos alunos 5-7 anos ..........................................85 Gráfico 3: percentual escolaridade pais X rotacismo na fala dos filhos.....................93

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho objetiva investigar, à luz da sociolinguística variacionista

(LABOV, 1994, 1972 a), os contextos favorecedores da alternância entre as

consoantes líquidas, classe fonológica que agrupa laterais e vibrantes, nos grupos

consonantais, tal como ocorre na realização de f[l]amengo como f[Ȏ]amengo1. Esse

tema foi escolhido devido à ocorrência dessa alternância (chamada de rotacismo) no

português, desde sua formação, constituindo-se uma variação estável na língua

(BAGNO, 2005).

O fenômeno do rotacismo será examinado, além da teoria da variação e

mudança (LABOV, op. cit.), pela visão da Fonologia Autossegmental e, mais

especificamente, da Geometria de Traços (CLEMENTS & HUME, 1995). A Fonologia

Autossegmental propõe a não linearidade entre um segmento e seus traços,

demonstrando que um traço pode ser manipulado independentemente, como

verificaremos na representação fonológica das líquidas. O rotacismo pode ser

explicado, do ponto de vista estrutural, pelo compartilhamento de propriedades entre

a lateral e a vibrante. Em decorrência, alguns autores defendem que diferenças

entre os traços que compõem esses segmentos podem justificar a ocorrência da

vibrante em lugar da lateral.

Nossos objetivos gerais são:

� Contribuir para a descrição do português;

� Utilizar como base para a descrição a análise de dados de fala;

� Demonstrar a ocorrência do fenômeno desde a formação da língua

portuguesa até a atualidade;

� Descrever o fenômeno do rotacismo do ponto de vista fonético, fonológico

e fonotático;

� Apresentar abordagens a respeito das consoantes líquidas;

� Representar o fenômeno por meio da Geometria de Traços;

1 Esse símbolo representa um som classificado como tepe ou vibrante simples. O tepe ocorre, em português, em posição intervocálica ou seguindo consoante, como em cara e brava. Na produção desse som, “o articulador ativo toca rapidamente o articulador passivo, ocorrendo uma rápida obstrução da corrente de ar através da boca” (CRISTÓFARO SILVA, 2003: 34).

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� Analisar os fatores linguísticos e extralinguísticos condicionadores do

fenômeno por meio da análise variacionista.

Os corpora utilizados são os seguintes: (a) dados da fala de alunos de uma

escola municipal situada na comunidade Jardim Moriçaba, na zona oeste da cidade

do Rio de Janeiro, coletados em 2006 e analisados em Tem Tem (2006), e (b) dados

resultantes do recontato dos mesmos informantes, quatro anos após a primeira

entrevista.

As hipóteses norteadoras do trabalho são as seguintes:

� O rotacismo constitui um fenômeno de variação estável no português, de

uma forma geral, e na comunidade estudada, mais particularmente;

� A substituição entre [l] e [Ȏ] é socialmente motivada;

� Fatores estruturais e sociais são relevantes na ocorrência do fenômeno,

porém considera-se escolaridade como a principal variável;

� Por ser um fenômeno altamente estigmatizado, com a pressão

normatizadora da escola e da sociedade, a mudança, no sentido da

extinção dessa variante desprestigiada, se processa de forma mais rápida

que em outros fenômenos.

A frequência e o peso relativo de cada variável foram obtidos pelo uso do

pacote Goldvarb 2001. Em seguida, os resultados são analisados em conformidade

com a orientação laboviana.

O presente estudo se estrutura da seguinte maneira: no capítulo 2, são

apresentados os conceitos teóricos que o fundamentam. No capítulo 3, são descritas

as consoantes líquidas, na visão de alguns teóricos. No capítulo 4, o fenômeno é

analisado sob as perspectivas histórica, fonética/ fonológica, fonotática e social. No

capítulo 5, de natureza metodológica, são expostas detalhadamente as

características do grupo amostral e das variáveis controladas. Além disso,

apresenta-se toda a estrutura do questionário-guia da entrevista, bem como a

divisão dos informantes. Na introdução ao capítulo, detalha-se o tratamento

estatístico oferecido aos dados. No capítulo seguinte (6), prossegue-se com a

análise dos resultados para cada variável. Por fim, procede-se às considerações

finais da investigação.

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2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

Nesse capítulo, apresentamos as diferenças entre a língua padrão e não-

padrão, consoante Bagno (2005). Essa diferenciação se faz necessária por

analisarmos neste trabalho uma variante altamente estigmatizada que, por sua vez,

alterna com a forma padrão, recomendada pela escola.

Em seguida, reconhecendo a variação, empreendemos um breve histórico da

teoria variacionista (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968), passando por teorias

que contemplam a língua como sistema homogêneo, desconsiderando a avaliação

social das variantes linguísticas. Essas teorias, entretanto, não esclarecem os

paradoxos para o estudo da mudança linguística advindos dessa visão homogênea

de língua. Desse modo, apresentamos esses paradoxos e as contribuições da

sociolinguística no desenvolvimento da teoria linguística, a partir do reconhecimento

da heterogeneidade da língua.

Após assumir a heterogeneidade ordenada da língua, ou seja, a existência de

regras (fatores estruturais e sociais) que a governam, com base em Scherre (2006) e

Gregory Guy (2000), procedemos à definição de comunidade de fala, por ser o grupo

no qual essa heterogeneidade se concretiza.

Por fim, de modo a esclarecer a escolha do grupo amostral controlado nesta

pesquisa, necessitamos diferenciar as estratégias para o estudo da mudança em

progresso: análise em tempo aparente e análise em tempo real (LABOV, 1994).

2.1. PORTUGUÊS PADRÃO E PORTUGUÊS NÃO-PADRÃO

A língua padrão é, para muitos, a única representante dos falantes da língua.

Nesse sentido, enquanto esse modo de falar, entendido como “correto”, possui

prestígio social, as outras variedades são ainda consideradas inadequadas, pobres,

ineficientes.

O português-padrão é a norma oficial “usada na literatura, nos meios de

comunicação, nas leis e decretos do governo, e ensinada nas escolas”, conforme

afirma Bagno (2005, p. 28). Já o português não-padrão compreende um conjunto de

Page 18: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

18

variedades da língua, algumas das quais deram origem à própria norma-padrão, por

motivações históricas, econômicas, sociais e culturais. Segundo o autor, na

realidade, escolheu-se uma variedade para controlar as demais. Acredita que a

língua se transformou em arma a favor do preconceito, da estratificação social, e

com a qual uns poucos exercem seu poder sobre a maioria do povo que, por sua

vez, não se enquadra nos moldes impostos pela rigidez desse falar. Enfim, o

português não-padrão, embora falado no cotidiano por muitas pessoas

escolarizadas, apresenta traços, como o rotacismo, altamente estigmatizados. Essas

marcas são, em geral, utilizadas por pessoas carentes, de pouca escolarização,

pertencentes a classes por vezes marginalizadas, desprestigiadas. Essa variedade

de língua pode ser comparada ao latim vulgar, não só pelo preconceito que sofre,

como também pela liberdade de transformação no contato social.

No quadro abaixo, extraído de Bagno (2005, p. 36), são registradas as

principais diferenças entre o português padrão (PP) e o português não-padrão

(doravante PNP):

QUADRO 1: DIFERENÇAS ENTRE O PORTUGUÊS PADRÃO E O PORTUGUÊS NÃO-PADRÃO (BAGNO, 2005)

PORTUGUÊS NÃO-PADRÃO PORTUGUÊS PADRÃO

Natural Artificial

Transmitido Adquirido

Apreendido Aprendido

Funcional Redundante

Inovador Conservador

Tradição oral Tradição escrita

Estigmatizado Prestigiado

Marginal Oficial

Tendências livres Tendências refreadas

Falado pelas classes dominadas Falado pelas classes dominantes

Esclarecendo o quadro acima, o PNP é natural, por seguir as tendências

espontâneas da língua. Além disso, é transmitido no convívio social e não adquirido,

como o é a língua-padrão. Acrescente-se a isso ser funcional, eliminando marcas

supérfluas, como as marcas morfológicas de concordância, características do

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19

português dito “correto”, bem como ser inovador, aceitando mudanças da língua

enquanto sistema vivo. Ademais, é marcado pela oralidade e não pela escrita, como

a língua ensinada nas escolas. Por todas as características expostas acima, oferece

liberdade às forças transformadoras da língua, enquanto o português padrão tende a

refrear as mudanças.

É importante reconhecer que, embora ocorram tentativas de conter a ação

das mudanças na língua e mesmo de não reconhecê-las, principalmente por parte

de gramáticos que acreditam em uma unidade linguística, já se concebe a tendência

à variação. Nesse sentido, uma língua não é um sistema unitário, mas um conjunto

de sistemas linguísticos, isto é, um diassistema. Assim sendo, a partir dessa nova

concepção de língua, “tornou-se possível o esclarecimento de numerosos casos de

polimorfismo, de pluralidade de normas e de toda a inter-relação dos fatores

geográficos, históricos, sociais e psicológicos que atuam no complexo operar de

uma língua e orientam a sua deriva” (CUNHA & CINTRA, 2001, p. 3).

2.2. TEORIA DA VARIAÇÃO (PARADOXOS SUPERADOS)

A Sociolinguística compreende que a investigação linguística deve levar em

consideração as implicações existentes entre língua e relações sociais e a

consequente heterogeneidade existente no interior das línguas e das sociedades

humanas.

Na introdução do ensaio Empirical Foundations for a Theory of Language

Change (EFTLC), Weinreich, Labov & Herzog (1968, p. 98) chamam atenção para

os paradoxos introduzidos pelos estudos linguísticos estruturalistas, afirmando que,

embora essas abordagens sejam frutíferas na investigação sincrônica,

sobrecarregam a linguística histórica com um fardo de paradoxos que não foram

totalmente superados: “The present paper is based on the observation that structural

theories of language, so fruitful in synchronic investigation, have saddled historical

linguistics with a cluster of paradoxes which have not been fully overcome.”

As pesquisas que seguem os pressupostos formalistas encontram dificuldade

em lidar com a variação linguística, uma vez que essas teorias, ao aceitarem

dicotomias como langue e parole (no Estruturalismo saussuriano) e competência e

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20

desempenho (no Gerativismo chomskyano) e ao estabelecerem langue ou

competência como objeto de estudo legítimo da Linguística, não levam em conta a

variação inerente aos sistemas linguísticos, já que procuram a invariância, ou seja,

aderem ao axioma da homogeneidade e recusam a possibilidade de haver

heterogeneidade estrutural.

A partir da leitura dos textos de Lucchesi (2004) e de Weinreich, Labov &

Herzog (1968), focalizaremos os paradoxos decorrentes dessa visão. Cumpre

ressaltar que os paradoxos não são independentes; na verdade, encontram-se inter-

relacionados e os tratamos separadamente aqui apenas por uma questão

metodológica, a fim de alcançar um maior entendimento da questão.

2.2.1. Cisão entre sincronia e diacronia

O estabelecimento da dicotomia sincronia versus diacronia, nos termos

saussurianos, trouxe para a Linguística a possibilidade de estudar a língua num

determinado ponto da linha do tempo ou ao longo da história, respectivamente. Vale

ressaltar que o estruturalismo diacrônico mantinha uma análise sincrônica a-

histórica. Entretanto, estudar a história de uma língua é observar o desenvolvimento

dessa estrutura; portanto, isso inviabiliza perceber a estrutura e a funcionalidade de

uma língua no presente desprezando o percurso histórico dessa estrutura, o que se

dá sob o ponto de vista do estruturalismo.

Lucchesi (2004, p. 181-182) reconhece essa dificuldade do abandono da

história na análise sincrônica: “se o estudo da história de uma língua é o estudo do

desenvolvimento da estrutura dessa língua, como sustentar que a história dessa

estrutura nada tem a dizer na explicação da organização estrutural e funcional da

língua no presente?”

O paradoxo reside exatamente em não se perceber o processo contínuo da

variação e mudança das línguas, que formam um sistema heterogêneo inserido num

contexto sócio-histórico e cultural.

2.2.2. Impossibilidade da heterogeneidade estrutural

Os estudos sociolinguísticos destacaram outro paradoxo das análises

estruturais. Do ponto de vista estruturalista, entender a língua como estrutura implica

necessariamente entender a língua como algo homogêneo. Assim, não haveria

possibilidade de conceber a heterogeneidade estruturada.

Page 21: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

21

“Os princípios empíricos do EFTLC permitem-nos resolver a oposição paradoxal entre estrutura e mudança. A mudança linguística não é mais vista como exterior ao sistema, mas parte integrante do seu caráter normalmente heterogêneo.”

(LUCCHESI, 2004, p. 199)

A saída desse impasse seria romper com a antinomia entre estruturalidade e

heterogeneidade. Segundo Weinreich, Labov & Herzog (1968, p. 101), a solução se

encontra em desfazer a identificação de estruturalidade com homogeneidade. O

segredo para se conceber racionalmente a mudança linguística reside na

possibilidade de descrever a heterogeneidade ordenada numa língua que serve a

uma comunidade. Segundo os autores, disfuncional seria a ausência de

heterogeneidade estruturada em uma língua que serve a uma comunidade

complexa: “One of the corollaries of our appoach is that in a language serving a

complex community, it is absense of structured heterogeneity that would be

dysfunctional.” (grifo dos autores)

2.2.3. Disfuncionalidade da mudança

Aceitar que a língua é autônoma e homogênea leva necessariamente a

acreditar que a variação e a mudança são disfuncionais. Assim, temos um novo

paradoxo: todas as línguas funcionam na prática e, ao mesmo tempo, exibem vários

exemplos de variação e mudança.

Lucchesi (2004, p. 199) questiona a concepção de que a variabilidade e a

mudança eram associadas aos processos que ameaçavam a funcionalidade da

língua. Não compreende esse paradoxo: “como a língua funciona se ela está

permanentemente em processo de mudança?”

Quanto mais os estruturalistas se esforçam por apontar vantagens funcionais

da estrutura, mais difícil se torna o entendimento das mudanças de uma língua. Essa

dificuldade se justifica, pois, se reconhecermos a língua estruturada como eficiente,

o que dizer dos períodos pelos quais pressões esmagadoras forçam a língua à

mudança? Será a comunicação menos eficiente nesses períodos? Por que, na

prática, não são verificadas tais ineficiências? (WEINREICH, LABOV & HERZOG,

1968, p. 101).

Page 22: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

22

2.2.4. Não-motivação no processo da mudança linguística

Partir do pressuposto de que a língua é uma entidade homogênea e

autônoma leva a outro paradoxo que não se sustenta na observação dos dados

empíricos: crer que toda variação é livre, não condicionada. De fato, se o

estruturalismo pressupõe que a língua exista num vácuo, então não há motivações

externas que condicionem a mudança.

Consoante Lucchesi (2004, p. 166), para superar esse paradoxo seria

necessário considerar a variação como inerente ao sistema linguístico, para analisá-

la de forma sistemática:

A tarefa de determinar a sistematicidade da variação levantava a necessidade de se considerar os chamados fatores externos na análise linguística, pois o que era, no plano estritamente linguístico, aleatório tornava-se sistemático quando correlacionado com os fatores sociais e estilísticos. (Grifo do autor)

2.2.5. Exclusividade das relações internas ao sistema

Ao se considerarem as motivações externas ao sistema – tais como fatores

sociais ou estilísticos – para explicar a mudança linguística, expõe-se outro paradoxo

da abordagem homogeneizante da língua: a de que a análise linguística se restringe

apenas ao exame das relações internas ao sistema linguístico. Portanto, considerar

a interferência de fatores externos revelaria a necessidade de conceber a

perspectiva social.

2.2.6. Exclusão da estratificação social e da avaliação social das variantes linguísticas

Por não abordarem a variação linguística e por não considerarem a relação

existente entre língua e sociedade, os estudos estruturalistas não puderam explicar

as correlações observadas entre estratificação social e variação, de um lado, e

variação e avaliação social, de outro, tal como prestígio e estigmatização de

variantes.

Weinreich, Labov & Herzog (1968, p. 132) citam Hymes (1962) e Labov

(1966), ao afirmar que em muitos estudos sociolinguísticos controlados fica

comprovado que a percepção de fato é controlada pela estrutura linguística, porém

essa estrutura não inclui somente unidades definidas por função contrastiva, mas

também unidades definidas por seu papel estilístico e por seu poder de identificar o

falante como membro de um subgrupo específico da comunidade.

Page 23: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

23

2.2.7. Comunidade de fala homogênea

A crença de que o sistema linguístico é homogêneo tem como corolário a

ideia de que a comunidade de fala é homogênea, já que teoricamente todos teriam

acesso ao mesmo código.

Dois importantes princípios teóricos a que Weinreich, Labov & Herzog (1968)

se opuseram são os seguintes: (i) a crença de que a comunidade de fala é

normalmente homogênea, e (ii) o estabelecimento do idioleto como objeto próprio da

descrição linguística.

A substituição da língua como objeto de estudo pela gramática da

comunidade de fala contraria esses dois princípios teóricos estruturalistas:

“Contrariamente à língua homogênea e unitária do estruturalismo, a gramática da

comunidade de fala apresenta como característica essencial a heterogeneidade”

(LUCCHESI, 2004, p. 169).

2.2.8. Alcance uniforme da mudança

Como a visão estrutural-funcionalista entende que a mudança é uma função

da organização estrutural e da lógica funcional do sistema linguístico, o pressuposto

é de que a mudança atinja a comunidade de fala como um todo, ao mesmo tempo.

Eis o questionamento de Lucchesi:

Se a mudança é exclusivamente uma função do sistema linguístico, como ela pode atingir de maneira diferenciada os membros da comunidade linguística, se todos usam o mesmo sistema? (2004, p. 184)

O esquema estrutural-funcionalista certamente não esclarece esse paradoxo,

visto que se baseia apenas na lógica interna do sistema linguístico. Ao contrário do

que postulam funcionalistas e estruturalistas, a mudança se processa

“gradualmente, percorrendo uma complexa e sinuosa trajetória dentro da estrutura

social” (LUCCHESI, op. cit.).

2.2.9. Homogeneidade na competência linguística do falante

Ao pressupor que a heterogeneidade é funcional e constitutiva da estrutura

linguística, a Sociolinguística destaca a capacidade de o falante monolíngue lidar

com a heterogeneidade.

Weinreich, Labov e Herzog (1968, p. 100) enfatizam que a capacidade do

falante em lidar com a heterogeneidade do sistema não tem relação com

Page 24: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

24

multidialetalismo, nem com o “mero” desempenho, mas é parte da competência

linguística monolíngue.

De acordo com Lucchesi (2004, p. 171), “esse ajuste da competência

linguística do falante à heterogeneidade da língua é apontado então como um fato

empírico importante na sustentação da concepção de língua da sociolinguística”.

2.2.10. Passividade do falante em relação ao sistema

A capacidade do falante de lidar com a heterogeneidade discutida no item

anterior aponta para outro paradoxo do Estruturalismo. Nesse modelo, o falante é

visto com passivo, sendo um receptáculo da língua, incapaz de agir sobre ela:

Para Saussure, e para todo o estruturalismo, o falante tem um papel passivo diante da língua, a organização estrutural do sistema linguístico é concebida independentemente da ação do falante, da prática linguística ou das disposições estruturadas nas quais essa prática se efetiva. (LUCCHESI, 2004, p.171).

Como encarar o falante como passivo, se percebemos que nossas escolhas

linguísticas, muitas vezes, são determinadas, por exemplo, pela intenção de ser

aceito socialmente ou mesmo de confrontar o padrão linguístico de outro grupo

social?

2.2.11. Alternância entre códigos

Lucchesi (2004) reconhece que a “alternância de formas ou regras que estão

disponíveis a todos os membros de uma comunidade de fala não é, por assim dizer,

uma descoberta da sociolinguística; ela já é referida dentro da literatura

estruturalista” (p. 201). No entanto, como a abordagem estruturalista poderia lidar

com a heterogeneidade dentro de um sistema homogêneo? Para resolver esse

impasse, criou-se um artifício teórico: a noção de diassistema. O diassistema é um

conjunto formado por sistemas homogêneos e independentes entre si. Essa

definição não constitui uma ruptura com a visão homogênea de língua, visto que

cada sistema é específico e, em conjunto com outros sistemas, todos coerentes,

forma o sistema geral da comunidade. Nesse sentido, “a mudança e a variabilidade

seriam vistas como processos aleatórios, contingenciais de empréstimos, ou

interferência entre um sistema e outro.” (LUCCHESI, 2004, p. 202)

Page 25: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

25

2.3. CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLINGUÍSTICA PARA O DESENVOLVIMENTO DA TEORIA LINGUÍSTICA

Em primeiro lugar, a Sociolinguística considera, ao contrário das teorias

supracitadas, que a associação entre estrutura e homogeneidade é ilusória. Postula

uma heterogeneidade ordenada da língua, ou seja, reconhece que existe variação,

contudo essa variação não é livre: existem regras (fatores estruturais e sociais) que

a governam na comunidade de fala (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968, p.

125). Assim sendo, a Sociolinguística inaugura uma nova concepção de língua, na

qual a variação é estruturada. Essa estrutura bem como a competência linguística,

por sua vez, são heterogêneas. Nesse sentido, as variáveis sociais fazem parte da

competência dos falantes (e não do desempenho). Os falantes não são passivos,

mas ativos, já que suas realizações possuem estrutura.

Outro avanço diz respeito à mudança, pois estas era considerada resultado

do contato entre idioletos. Nessa nova teoria, passa a ser concebida como resultado

de um período de variação. Para o Gerativismo, o período no qual a língua sofre

pressões pela mudança seria um momento menos eficiente e as variações

linguísticas, nesse sentido, seriam resultado do multidialetalismo ou do desempenho.

Para a Sociolinguística, as variações e, consequentemente, a mudança estão na

competência monolíngue.

Embora o fato de as línguas serem heterogêneas ser algo aparentemente

óbvio, os estudos sociolinguísticos inauguram um avanço que reside no fato de essa

heterogeneidade ser ordenada, como explicitado acima. Labov (1972 a, p. 3), ao

estudar as variantes fonéticas /ay/ e /aw/ na ilha de Marthas Vineyard, no estado de

Massachusetts (EUA), afirma que não se pode compreender o desenvolvimento de

uma mudança linguística sem considerar a vida social da comunidade na qual ela se

insere.

Reconhecemos, no entanto, que a sociolinguística também apresenta

limitações, como não possibilitar o estudo da aquisição da linguagem e não dar

conta da gramática universal. A apresentação dos paradoxos se realiza no sentido

de apontar avanços e não de descartar teorias anteriores, fundamentais para o

desenvolvimento da linguística atual. Nesta dissertação, por exemplo, analisamos o

rotacismo com base na fonologia gerativa que, por sua vez, apresenta outros pontos

Page 26: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

26

de vista do fenômeno, de modo tão relevante quanto a análise baseada na

sociolinguística.

2.4. COMUNIDADE DE FALA

A definição do que seja uma comunidade de fala é algo complexo. Como bem

afirma Scherre (2006, p. 716), há diferentes pontos de vista, com enfoque em

diferentes aspectos sociais ou formais.2 Labov (1972 a, p. 248) afirma que a

comunidade de fala não é definida por qualquer acordo marcado no uso de

elementos da linguagem, tanto quanto pela participação em um conjunto de normas

comuns, que podem ser observadas em tipos claros de comportamento de avaliação

e pela uniformidade dos padrões abstratos de variação.3

Gregory Guy (2000, p. 18), em seu artigo intitulado “A identidade linguística

da comunidade de fala: paralelismo interdialetal nos padrões da variação linguística”,

apresenta três características comuns a diversos estudos na definição de

comunidade de fala:

1. Compartilhamento de características linguísticas, ou seja, uso comum de

palavras, sons, construções gramaticais na comunidade, porém não

comum fora dela;

2. Comunicação interna dentro da comunidade maior que fora dela;

3. Compartilhamento de normas, ou seja, a comunidade compartilha as

mesmas normas em relação à variação estilística e são comuns suas

avaliações sociais de variáveis linguísticas.

No capítulo 5, apresentaremos o grupo de informantes investigado na

pesquisa e as características apontadas em Guy (2000) que possibilitam entender

esse grupo como comunidade de fala.

2 “Some viewpoints emphasize formal or political configurations, while others high-light social or interactional circumstances, and still others attempt to achieve equilibrium between social and formal aspects.” 3 “…the speech community is not defined by any marked agreement in the use of language elements, so much as by participation in a set of shared norms; these norms may be observed in overt types of evaluative behavior, and by the uniformity of abstract patterns of variation (…).”

Page 27: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

27

2.5. TEMPO APARENTE X TEMPO REAL

Segundo Labov (1994), o estudo da mudança em progresso pode ser

realizado consoante duas estratégias: a análise em tempo aparente e a análise em

tempo real. A análise em tempo aparente apresenta a distribuição, a frequência de

uso de uma variável em cada faixa etária. Essa estratégia pode revelar

características de determinada faixa etária; no entanto, pode ser insuficiente para

revelar mudança na comunidade.

A combinação da análise em tempo real com a análise em tempo aparente

parece dar conta mais satisfatoriamente do estudo da mudança. A análise em tempo

real se configura pela análise de dois períodos distintos de tempo, porém na mesma

comunidade. Essa segunda análise pode ser realizada pelo estudo “painel”, que se

concretiza pelo recontato dos mesmos indivíduos, após um intervalo de tempo de

pelo menos uma geração (cerca de 18 anos), para o reconhecimento da estabilidade

ou da mudança na fala do indivíduo ou da comunidade. Há ainda o estudo

“tendência”, com amostras distintas, porém de falantes da mesma comunidade.

Nesta dissertação, os mesmos informantes foram recontactados em um

curtíssimo período de tempo, quatro anos, por acreditarmos que, pelo forte estigma

que recobre o fenômeno do rotacismo e pelas pressões que a escola exerce sobre a

fala dos alunos, a mudança se processa de forma mais rápida.

Além das questões já comentadas, a Teoria de Variação enfatiza a

necessidade do tratamento matemático dos dados de fala. Como uma variável

dependente pode possuir diversas variáveis independentes, que podem aumentar

ou diminuir a frequência de cada variante em estudo, necessitamos dispor de um

programa computacional que calcule a significância de cada um desses fatores.

Utilizamos o GoldVarb 3.0, que é uma versão para ambiente Windows do pacote de

programas Varbrul, capaz de calcular os pesos de cada variante e de cada variável

independente, bem como analisar em conjunto esses fatores. No capítulo 5,

detalhamos o programa.

Page 28: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

28

3. OS SEGMENTOS LÍQUIDOS: ASPECTOS FONÉTICOS E FONOLÓGICOS

Segundo Callou e Leite (2003, p. 26), “líquida é um termo herdado dos

gramáticos da antiguidade e abrange a classe das laterais e das vibrantes”.

Conforme o próprio vocábulo “líquido” pressupõe, podemos pensar em segmentos

com certa fluidez na produção. Jakobson (1972, p. 72) aponta o deslizamento como

característico na produção dos segmentos líquidos.

O estudo das consoantes líquidas, segundo Oliveira (1983, p. 64), apresenta,

no entanto, certa complexidade por não haver consenso nas análises de diferentes

estudiosos.

Do ponto de vista histórico, o termo “líquido” provém da poesia e da filologia

gregas. Inicialmente, na classe das consoantes líquidas consideravam-se não só as

laterais e os róticos, mas também as nasais (ALLEN, 1973, p. 211). Camara Jr.

(1977, p. 40), do mesmo modo, ao falar das consoantes líquidas, cita os gregos,

afirmando que eles assim chamaram essa classe de sons, por compararem-na a um

líquido que obliqua somente na sua direção ao vir correndo e ser interceptado.

As laterais e os róticos são agrupados na classe das líquidas por

compartilharem características fonéticas, fonológicas e fonotáticas (LADEFOGED &

MADDIESON, 1996, p. 182). Além disso, essas consoantes são articuladas com

uma configuração aberta do trato, e, ainda que exista obstáculo à saída do ar, tal

obstáculo não impede que ele escoe livremente. Essa articulação assemelha esses

sons aos vocálicos, situando-se as líquidas, portanto, entre os sons consonânticos e

vocálicos (D’INTRONO et al., 1995, p. 113).

Consoante Cunha e Cintra (2001, p. 41), do ponto de vista acústico, os

segmentos líquidos apresentam um traço que os opõe aos demais segmentos

consonânticos: a proximidade com os sons vocálicos. Por isso, as laterais e as

vibrantes recebem a denominação de soantes. Segundo os autores, em algumas

línguas, esses segmentos podem até mesmo servir de centro de sílaba.

Page 29: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

29

3.1. A LATERAL

As consoantes laterais, segundo Cunha e Cintra (2001, p. 41), são

caracterizadas pela passagem da corrente expiratória pelos dois lados da cavidade

bucal, em virtude de um obstáculo formado no centro desta pelo contato da língua

com os alvéolos, dentes ou palato. Como o ar é expelido por ambos os lados desta

obstrução, esses segmentos são denominados laterais (SILVA, 2003, p. 34).

Segundo Tasca (2002, p. 271), a corrente de ar não é obstruída oralmente na

produção do segmento lateral, porém desviada. Para Matzenauer (2005, p. 23), na

produção de um som lateral, “o ar sai da boca na vizinhança dos dentes molares”.

Em português, são laterais os segmentos [l] (lateral alveolar vozeada) e [λ]

(lateral palatal vozeada). O primeiro caracteriza-se pelo fato de o articulador ativo,

que é a lâmina da língua, tocar os alvéolos (articulador passivo). Já o segundo

possui como articulador ativo a parte média da língua e como articulador passivo, a

parte final do palato duro (SILVA, 2003, p. 32).

Para Camara Jr. (2004, p. 49), as laterais são consoantes linguais, pela

atuação da articulação da língua, sendo que para a produção de [l], a ponta da

língua toca os dentes superiores, o que deixa seus lados caídos, e, para a produção

de [λ], “o médio-dorso central da língua se estende no médio-palato”, deixando os

seus lados com o mesmo movimento presente nos lábios. Interessa-nos, nesse

trabalho a lateral alveolar como segundo elemento do grupo consonantal.

3.2. A VIBRANTE

As vibrantes são “caracterizadas pelo movimento vibratório rápido de um

órgão ativo elástico (a língua ou o véu palatino), que provoca uma ou várias

brevíssimas interrupções da passagem da corrente expiratória” (CUNHA e CINTRA,

2001, p. 41).

Segundo Monaretto (2002, p. 253), a vibrante apresenta realizações diversas,

que vão desde a vibrante alveolar à aspiração laríngea, podendo até mesmo sofrer

apagamento em posição final na palavra. Esses sons não-laterais, de acordo com a

Page 30: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

30

maneira de articulação, são classificados como vibrante (múltipla), tepe (vibrante

simples) ou retroflexo.

Na produção da vibrante múltipla, produz-se vibração, quando o articulador

ativo toca algumas vezes o articulador passivo, a exemplo da pronúncia “forte” de

“marra”. Já na produção do tepe, há um toque rápido do articulador ativo no

articulador passivo, ocorrendo obstrução rápida da passagem da corrente de ar

através da boca, como em “cara” e “brava”. Na articulação do som retroflexo, a

ponta da língua é o articulador ativo e o palato duro, o articulador passivo. A ponta

da língua se levanta e se encurva em direção ao palato duro. A pronúncia de “mar”

no dialeto caipira é retroflexa. (SILVA, 2003, p. 34).

Segundo Callou & Leite (2003, p. 74), no que concerne à vibrante do

português, embora o r ocorra em variados contextos, tradicionalmente, há duas

espécies que, fonologicamente, se opõem apenas em posição intervocálica (caro:

carro). Nos outros contextos, segundo as autoras, a oposição fica neutralizada.

Wiese (2001, p. 335), diante dos diversos tipos de r, questiona o

reconhecimento de uma unidade nesses segmentos que, por sua vez, são

denominados róticos4. Para Wiese, o traço rótico é problemático por não ter um

correlato fonético.5 Questiona a unidade desses segmentos, embasada, por

exemplo, em termos de traços segmentais. Desse modo, propõe que os róticos

sejam definidos em termos de traços prosódicos.

Após apresentar várias abordagens a respeito da vibrante e refutá-las, Wiese

(op. cit.) apresenta sua proposta para a unificação dos róticos. Para tal, questiona a

escala de sonância proposta por Clements (1990), na qual as duas líquidas

possuem o mesmo valor de sonância: Obstruintes > Nasais > Líquidas > Glides >

Vogais. Wiese propõe então uma revisão dessa hierarquia. Segundo o autor, o /r/

deve ter seu próprio valor na escala de sonância, situado entre a consoante lateral e

os glides.6 O autor apresenta algumas línguas como exemplo. Aponta algumas

sequências na coda que, em outras línguas, denunciam que o /r/ é mais alto na 4 “Phoneticians and phonologists have always referred to a type of sound segment symbolized by "r", and recognized that this comes in various varieties. The Ipa-system recognizes at least eight such kinds of "r", which can be very different from each other. The problem then in this: what makes the unity of these r-sounds, or rhotics? Ladefoged and Maddieeson (1996) in their survey of r-sounds conclude that there is no phonetic basis for a unity within this otherwise well-motivated class, and see only a historical and orthographic basis for referring to a group of r-sounds.” (Wiese, 2001,335) 5 “...[rhotic] works more like a cover feature, one with no phonetic correlate and no basis identifiable in the data.” (Wiese, 2001,344) 6 “…/r/ is the point on the sonority scale between laterals and vowels” (Wiese, 2001, p.350).

Page 31: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

31

hierarquia de sonância que o /l/, e este é superior à nasal, pois o Princípio de

Sequenciamento de Sonância postula uma coda com queda de sonância.

Nesse sentido, para Wiese (op. cit., 360), o rotacismo, deve ser visto não

como mudança segmental, mas como uma mudança em termos de pontos na

hierarquia de sonância.7 Como vimos, na escala de sonância de Wiese há um lugar

para a lateral e outro para a vibrante.

No português brasileiro, embora ocorram várias realizações das vibrantes,

existe um padrão de distribuição, ou seja, a vibrante múltipla (incluindo o flape

alveolar, a fricativa velar e a aspirada, entre outros) e a vibrante simples (tepe)

ocorrem nos mesmos ambientes e se revezam por diferentes contextos. O quadro

abaixo possibilita visualizar a distribuição entre os róticos, nele referenciados, do

mesmo modo que em Camara Jr. (2004), como vibrante simples (tepe) e múltipla

(realizações variadas):

QUADRO 2: DISTRIBUIÇÃO DOS RÓTICOS (CAMARA JR, 2004)

contextos simples múltipla

V – V (intervocálico) fera ferra

V – (coda silábica) cor (RJ) cor (RS)

C–V (grupo consonântico) – praça

C. – V (após coda) Israel, honra –

– V (início de palavra) rato –

Dickey (1997, 171-172), por sua vez, afirma não haver uma propriedade única

compartilhada por todos os róticos e sim uma família de semelhanças cuja base

fonética não é única, mas um conjunto de propriedades ligadas. Define a classe dos

róticos por traços de Ponto de Consoante. Os róticos, desse modo, seriam sons com

um Nó Laminal não primário (Coronal>Apical>Laminal), como veremos no capítulo

seguinte.

7 “A rhotacism in the sense of “some sound turns into /r/” should then be seen not as segmental change, but as a change in terms of points on the sonoroty hierarchy”. (Wiese, 2001, 360)

Page 32: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

32

4. ROTACISMO

As mudanças fônicas que ocorreram nas palavras ao longo de sua história

(metaplasmos) são apresentadas, do ponto de vista histórico, como um processo

natural de variação da língua. Na perspectiva sincrônica, entretanto, as variantes são

consideradas “erros” com relação à forma padrão por muitos estudiosos da língua.

Nesse sentido, mostra Bagno (2005, p. 40), “o preconceito linguístico se baseia na

crença de que só existe uma única língua portuguesa digna deste nome e que seria

a língua ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogada nos

dicionários”. Para o autor, todavia, devem-se considerar as variantes linguísticas das

camadas mais populares dentro de um contexto de bilinguismo ou plurilinguismo.

Reassumindo o tema da evolução fonética, dividem-se os metaplasmos em

quatro tipos: permuta (transformação ou troca), adição (aumento), subtração

(diminuição) e transposição (COUTINHO, 1968). Esta investigação compreenderá

um metaplasmo por permuta, o rotacismo.

Segundo Freire (1987, p. 28), rotacismo é o “fenômeno fonético em virtude do

qual a fricativa dental s, em posição intervocálica, se sonoriza na vibrante sonora r”,

como ocorreu na palavra latina arbos>arbosis>arboris.

Sincronicamente, temos vários exemplos desse fenômeno, como em

pobrema, pranta, Framengo, úrtimo, arface, paper, crasse, Cráudia, chicrete,

exempro. Como se vê pelos exemplos, qualquer permuta de uma lateral por um

rótico constitui caso de rotacismo. Na dissertação, no entanto, restringimo-nos à

análise do rotacismo nos grupos consonantais tautossilábicos, ou seja, adotamos o

conceito de rotacismo como a transformação do segmento [l] em [Ȏ].

Conforme Gomes e Souza (2007, p. 76), a alternância entre as líquidas, ou

rotacismo, é bastante antiga, conforme podemos observar no Appendix Probi (cf.

clatri non cracli), e, em determinado momento, passou da condição de mudança em

progresso à condição de variação estável. As autoras baseiam sua afirmativa em

textos do português arcaico e em gramáticos, como Fernão de Oliveira.

Castilho (2006, p. 249), ao descrever a variedade de sujeitos não-

escolarizados do português falado, apresenta como uma das características a troca

entre as líquidas, com documentação em São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco,

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33

Bahia e Rio Grande do Sul. Apresenta as conclusões de Head (1985) no estudo

desse fenômeno na Bahia: as líquidas são alternantes, com frequência maior de uso

na posição de coda não final de palavra e como segundo elemento do grupo

consonantal. Além disso, as formas com [Ȏ] predominam na fala de homens

analfabetos e a pronúncia com [l], na fala das mulheres alfabetizadas. Esse autor

destaca a ocorrência de rotacismo no Norte de Portugal, como prova contrária à

hipótese meridionalista da origem do português brasileiro.

Camara Júnior (1970, p. 55) afirma que o quadro consonântico do português

atual apresenta oposições instáveis, transitórias, mesmo no estilo de articulação

cuidada da língua padrão. Para o autor, as mudanças se processam no estilo

relaxado da língua padrão, ou por intromissão de subsistemas dialetais. Nesse

sentido, afirma que “é lábil a oposição entre /l/ e /r/ (a preferência é para a última)

quando em seguimento à constritiva labial ou oclusiva (cf. fluir “correr (um líquido)”:

fruir “gozar”) e a língua literária tem casos até de variação livre” (cf. flecha ao lado de

frecha). O mesmo autor (2004, p. 51) reconhece o fenômeno do rotacismo como um

dos contrastes precários, presentes “nos dialetos sociais inferiores e mesmo num

registro muito familiar”. Segundo o autor, nos grupos de líquidas como segundo

elemento do grupo consonantal, há nos dialetos sociais populares o rotacismo de /l/,

que se transforma em /r/.

Para Wiese (2001, p. 360), o rotacismo seria resultado de uma mudança em

termos de pontos na hierarquia de sonância e não uma mudança segmental, como

vimos no capítulo 3. Assim, postula que a vibrante, sendo uma unidade prosódica,

encontra-se com valor de sonância superior à lateral, fato que pode favorecer o

rotacismo. Na abordagem de Dickey (1997, p.171-172), o rotacismo pode ser visto

como resultado da perda do traço dorsal no nó coronal e do acréscimo de um nó

laminal não primário. A autora considera que os segmentos líquidos são

especificados com o traço [líquido] no nó de raiz e com um nó de ponto de

consoante complexo, apical-laminal nos róticos e coronal-dorsal nas laterais.

De acordo com a escala de sonância de Kiparsky (1979) e Bonet e Mascaró

(1996), o rotacismo pode ser resultado das diferenças de sonância entre a vibrante,

a lateral e o tepe. Os valores distintos entre esses segmentos justificam a

predominância da vibrante no ataque, pois o crescimento de sonância seria mais

abrupto (da vibrante à vogal), e do tepe como segundo elemento de grupo

Page 34: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

34

consonantal (ataque complexo) ou na coda silábica. Como a teoria postula que o

ataque complexo tenha uma subida maior de sonoridade, prefere-se o tepe à lateral

nesse contexto. Como podemos observar na escala de sonância abaixo, o tepe está

mais próximo dos segmentos vocálicos, portanto possui maior valor de sonância que

a lateral:

QUADRO 3: ESCALA DE SONÂNCIA DE BONET E MASCARÓ (1996)

Oclusivas > Fricativas e Vibrantes > Nasais > Laterais > Glides e Tepe > Vogais

4.1. PONTO DE VISTA HISTÓRICO

A relação entre a diacronia e as variedades do português não-padrão é de

extrema importância para o presente estudo, visto que o fenômeno aqui abordado,

representativo no português não-padrão, embora encarado como demonstração do

uso incorreto da língua, reflete processos fonológicos que contribuíram para a

formação do português padrão.

Observando o quadro abaixo, retirado de Bagno (2005, p. 41), comprovamos

que esse fenômeno atual da língua apresentou-se em outros momentos históricos:

QUADRO 4 – ORIGEM DO PORTUGUÊS PADRÃO (BAGNO 2005)

PORTUGUÊS PADRÃO ETIMOLOGIA ORIGEM

branco Blank germânico

brando Blandu latim

cravo Clavu latim

dobro Duplu latim

escravo Esclavu latim

fraco Flaccu latim

frouxo Fluxu latim

grude Glúten latim

obrigar Obligare latim

praga Plaga latim

prata Plata provençal

prega Plica latim

Page 35: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

35

Analisando o quadro, observamos uma tendência da língua à rotacização do

/l/ nos encontros consonantais formados tanto por oclusivas quanto por fricativas. Do

mesmo modo, verifica-se essa inclinação no português não-padrão. Entretanto, esse

falar é considerado “errado”, por ser comumente realizado nas classes sociais mais

baixas, nas quais o acesso à escola ainda é muito limitado.

Para demonstrar essa visão preconceituosa, Bagno (2005, p. 45) apresenta

trechos do ilustre poeta Luís de Camões, em Os Lusíadas, nos quais se verificam

palavras rotacizadas: “E não de agreste avena, ou frauta ruda” (canto I, verso 5).

Como “o estudo do passado para iluminar o presente” constitui uma

importante via de análise linguística (FARACO, 1990), a abordagem do fenômeno no

latim vulgar pode nos trazer dados relevantes para a investigação do rotacismo em

grupos consonânticos no português não-padrão da comunidade de fala aqui

relevada.

Segundo Ismael de Lima Coutinho (2005, p. 30), o latim vulgar era falado

pelas classes mais humildes da sociedade romana. Dessas classes, faziam parte as

pessoas ditas “incultas”, sem preocupações literárias ou artísticas: agricultores,

homens de circo, soldados, enfim, aqueles não-escolarizados ou que da escola

reservaram apenas conhecimentos indispensáveis à profissão.

Essa gente do povo, segundo Bagno (2005, p. 41), era enviada para os

territórios conquistados pelas legiões romanas, a fim de colonizar novas terras para

o Império. Além de colonizar as terras, cidadãos romanos pobres transmitiram sua

língua para os habitantes originais das províncias conquistadas. Desse latim

simples, surgiram as línguas românicas, dentre elas o português. Essa língua, ao

contrário do latim clássico (latim falado por poetas e oradores), era uma língua de

grande flexibilidade.

Embora tenha originado tantas línguas, “um romano de alta linhagem

certamente achava que o latim vulgar era ‘latim falado errado’” (BAGNO, 2005, p.

41), exatamente o mesmo preconceito que sofrem pessoas que falam Framengo,

crube, bicicreta.

Page 36: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

36

Uma das fontes do latim vulgar que demonstra claramente a não-aceitação

desse sermo vulgaris8 é o “Appendix Probi”. Esse documento, que data,

provavelmente, do século III d.C., teria sido escrito por um autor anônimo, de origem

africana. O “Appendix Probi” possui 227 registros de vocábulos incorretos e sua

correção, procurando preservar a norma culta e considerada “correta” da língua

latina. Por outro lado, revelou-nos claramente a língua falada pelo povo. Recebeu o

nome de Probi, visto essa fonte ter sido encontrada em apêndice à gramática de

Valério Probo, que viveu no século I d.C.9. Na listagem, há registro de duas palavras

rotacizadas:

a) flagellum non fragellum

b) clatri non cracli

É interessante verificar a tendência ao rotacismo, tanto no latim vulgar, quanto

no PNP, e observar, ainda, a semelhança entre os contextos social, econômico e

cultural favorecedores da ocorrência do fenômeno, independentemente de

realizações em épocas bastante distantes.

Viaro (2005, p. 233), ao descrever a origem das variantes no português,

afirma que “rotacismos de encontros consonantais como pl>pr datam desde os

empréstimos latinos no período medieval e são encontrados em toda parte, do Brasil

à China, incluindo o Português Europeu”.

No caso do rotacismo nos grupos consonantais, há variação estável

(GOMES, 1987): a alternância entre as líquidas, no português brasileiro, perpassa

toda sua história, desde sua formação, sem a substituição total de uma variante em

favor de outra.

4.2. CARACTERÍSTICAS FONOTÁTICAS

Utilizando-se como base o dialeto carioca, observa-se que as consoantes /l/ e

/Ȏ/ assemelham-se também do ponto de vista fonotático, visto que, na sílaba, 8 “Sermo vulgaris é linguagem da vida corrente, da vida cotidiana, linguagem mais familiar ou linguagem coloquial” (Freire, 1998: 382). 9 Informações extraídas de ARAUJO, Ruy Magalhães de. Fontes do latim vulgar, com alguns comentários ao Appendix Probi por Serafim da Silva Neto. Disponível na internet via http:// www.filologia.org.br/soletras/5e6/07.htm. Rio de Janeiro, 10 dez. 2005. Arquivo consultado em : 23 abr. 2006.

Page 37: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

37

ocupam praticamente as mesmas posições: ambas podem apresentar-se sozinhas

na posição prevocálica – /l/ no começo e no meio de palavras e /Ȏ/, apenas no meio,

como se vê no esquema a seguir, com os respectivos exemplos:

Consoante início de palavra meio de palavra

/ l / / l / ata ma / l / a

/ Ȏ / _* ka / Ȏ / a

* Encontramos o tepe em início de palavra, na fala de algumas pessoas, porém não no

dialeto carioca.

Os segmentos em questão podem figurar como a segunda consoante

prevocálica em encontros consonantais, como se vê nos exemplos abaixo, extraídos

de Cristófaro Silva (2003: 156):

QUADRO 5: DISTRIBUIÇÃO DAS DUAS CONSOANTES PREVOCÁLICAS (SILVA, 2003)

Encontro

consonantal Início de palavra Meio de palavra

/p Ȏ/ /p Ȏ/ece a/p Ȏ/eço

/p Ȏ/ /p l/ano a/p l/ica

/b Ȏ/ /b Ȏ/asil a/b Ȏ/e

/b l/ /b l/oco em/b l/ema

/t Ȏ/ /t Ȏ/ato a/t Ȏ/ás

/t l/ _____________ a/t l/as

/d Ȏ/ /d Ȏ /acula enqua/d Ȏ /ei

/d l/ _____________ _____________

/k Ȏ/ /k Ȏ/avo la/k Ȏ/ei

/k l/ /k l/áusula es/k l/erose

/g Ȏ/ /g Ȏ/ave ma/g Ȏ/a

/g l/ /g l/utão en/g l/oba

/f Ȏ/ /f Ȏ/aco Á/f Ȏ/ica

/f l/ /f l/ama a/f l/uente

Page 38: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

38

/v Ȏ/ _____________ li/v Ȏ/o

/vl/ /vl/admir _____________

Os encontros consonantais com /Ȏ/ são mais frequentes na língua portuguesa.

Pode-se mesmo dizer que aqueles com /l/ constituem formas congeladas que

sobreviveram através do freio imposto artificialmente por convenções ortográficas

que interromperam, na modalidade escrita, a tendência natural do português ao

rotacismo na modalidade oral: são combinações não mais produtivas na língua em

seu estágio atual. Como se pode observar acima, há várias células vazias para a

combinação de uma consoante com /l/, o que não acontece com /Ȏ/, que

praticamente não apresenta restrições (exceto na combinação com /v/ em início de

palavra).

Fato digno de nota é a fragilidade da oposição entre esses segmentos na

situação ora focalizada. Há, na língua, pouquíssimos pares mínimos envolvendo a

permuta e muitos deles constituem formas eruditas, pouco usuais no PNP:

/f l/ uir /f Ȏ/ uir

/g l/ ande /g Ȏ/ ande

/b l/ indar /b Ȏ/ indar

/f l/ anco /f Ȏ/ anco

/g l/ ossa /g Ȏ/ ossa

/c l/ ave /c Ȏ/ ave

As consoantes /l/ e /Ȏ/ figuram, também, na posição posvocálica, em sílabas

travadas, quer no meio, quer no fim da palavra. Vejam-se os exemplos no quadro

abaixo:

QUADRO 6: LÍQUIDAS NA POSIÇÃO POSVOCÁLICA

Consoante Meio de palavra Final de palavra

/ l / fa / l/ ta cana / l /

/ Ȏ / a / Ȏ / ma ma / Ȏ /

Page 39: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

39

Também são raros os pares mínimos nessa oposição, a exemplo de ‘falto’ e

‘farto’. Nesse caso, a oposição se perde porque está praticamente consolidada a

vocalização da lateral na posição de coda silábica. A realização de uma alveolar

velarizada, [ǻ], é encontrada em pouquíssimas áreas dialetais brasileiras (CALLOU

& LEITE, 2002).

4.3. FONÉTICA E FONOLOGIA

As consoantes /l/ e /Ȏ/ são muito parecidas do ponto de vista articulatório, fato

que pode justificar, em termos de produção, a troca de uma consoante pela outra.

Na fonologia de inflexão estruturalista, tais segmentos são comumente referenciados

como no quadro a seguir:

QUADRO 7: ARTICULAÇÃO DAS LÍQUIDAS

/ l / / Ȏ /

Ponto de articulação alveolar alveolar

Modo de articulação lateral vibrante

Ressonância oral oral

Vibração laríngea sonora sonora

Quanto à articulação, percebe-se que a diferença entre os dois segmentos

reside apenas no modo de articulação: enquanto o primeiro é lateral, ou seja, o som

é produzido à medida que o ar escapa pelos lados de um obstáculo formado no

centro da cavidade bucal pelo contato do ápice da língua com os alvéolos, o

segundo é vibrante simples (um tepe). Assim, o som é produzido à medida que o ar

escoa por uma passagem estreita formada por um toque rápido da lâmina da língua

contra os alvéolos.

Tomando como base os traços binários propostos por Chomsky e Halle

(1968), no escopo da fonologia gerativo-transformacional chamada de standard,

pode-se apresentar uma matriz descritiva para tais sons (cf. Christófaro Silva, 2003:

195), de modo a salientar ainda mais as semelhanças entre eles:

Page 40: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

40

QUADRO 8: MATRIZ FONÉTICA (CHOMSKY E HALLE, 1968)

/llll/ /ȎȎȎȎ/

Soante + +

Contínua + +

Anterior + +

Coronal + +

Sonora + +

Nasal - -

Lateral + -

Como se pode observar no quadro acima, uma única diferença entre os

segmentos em análise, levando-se em conta uma abordagem baseada em traços, é

detectada na última linha das matrizes: enquanto /l/ é especificado positivamente

para o traço [lateral], /Ȏ/ é marcado negativamente para esse mesmo traço. Nas

demais propriedades fonológicas, portanto, os segmentos são idênticos.

A Fonologia Autossegmental trabalha não apenas com matrizes de traços e

com segmentos completos, como a acima citada, mas também com a segmentação

de maneira independente de partes dos sons das línguas. Ao contrário de Chomsky

& Halle (op. cit.), rejeita a bijectividade, relação de um-para-um entre um segmento e

o conjunto de traços que o caracteriza. Nesse sentido “os traços podem estender-se

além ou aquém de um segmento” e o “apagamento de um segmento não implica

necessariamente o desaparecimento de todos os traços que o compõem”

(MATZENAUER, 2005, p.45).

Cagliari (2002, p. 125) afirma que a abordagem da Fonologia Autossegmental

“difere basicamente da forma como os traços eram tratados, ou seja, formando

matrizes, cujo resultado era apenas um feixe de elementos ajuntados

aleatoriamente”. Nesse novo modelo, as regras passam a agir sobre os traços e não

sobre as matrizes, como no modelo anterior.

Além de rejeitar a relação bijetiva entre segmento e traços que o compõem, a

Fonologia Autossegmental reconhece que existe uma hierarquização entre os traços

que caracterizam determinado segmento da língua; desse modo, o segmento

apresenta uma estrutura interna. Com o reconhecimento dessa hierarquia, os

Page 41: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

41

segmentos são analisados em camadas (tiers), ou seja, o som é dividido em partes

que podem ser manipuladas de modo independente (MATZENAUER, 2005, p. 46).

A Geometria de Traços (CLEMENTS & HUME, 1995) faz parte do modelo

autossegmental; entretanto amplia a concepção autossegmental, por organizar

hierarquicamente os traços. Segundo Clements & Hume (1995, p. 251) os valores

dos traços são ordenados em camadas separadas, onde podem entrar em relações

não-lineares (não-bijetivas entre si); traços são, ao mesmo tempo, organizados

numa hierarquia (‘árvore’) e essa hierarquia obedece a critérios específicos (nível de

constrição). Os traços se apresentam em fileiras hierarquizadas, nas quais cada

constituinte pode funcionar como uma unidade individual nas regras fonológicas.

Nesse modelo, os traços são organizados em camadas e agrupados em nós

de classe (no final de um nó classe está um traço terminal). Os nós emanam

diretamente da raiz (o lugar que os traços mais importantes ocupam, no topo). A

raiz, por sua vez, está ligada a uma posição de esqueleto, que corresponde a uma

unidade abstrata de tempo. Na representação esquemática a seguir, observa-se a

organização dos traços no modelo de Clements & Hume (1995, p. 249):

FIGURA 1: ÁRVORE DE ORGANIZAÇÃO DOS TRAÇOS (CLEMENTS & HUME, 1995)

a

D C

B A

r

X

b

c d

e

f g

Page 42: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

42

Apresentamos, na figura abaixo, a forma de organização das consoantes pela

Geometria de Traços (CLEMENTS & HUME,1995, p. 292):

FIGURA 2: ORGANIZAÇÃO DAS CONSOANTES PELA GEOMETRIA DE TRAÇOS

No esquema acima, percebe-se uma configuração hierárquica em uma

estrutura arbórea, na qual os traços estão organizados em camadas e agrupados

em nós de classe, que designam unidades funcionais de traços, incluindo o nó

laringal, o nó do local de articulação, o nó da cavidade oral, dentre outros. Os nós

dependem diretamente da raiz (que corresponde ao som da fala); cada nó, terminal

ou não-terminal, constitui um plano independente e hierarquizado (CLEMENTS &

HUME, 1995, p. 249).

Na representação acima, de modo detalhado, verifica-se que:

[espalhado] Cavidade

oral

Laringal

[nasal]

raiz

[constrito]

[vozeado]

Local de c [contínuo]

[labial]

[coronal] [dorsal]

[anterior]

[distribuído]

+ soante

+ aproximante

+ vocóide

Page 43: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

43

1. Há uma relação direta entre a raiz e os traços de modo de articulação que

constituem as duas grandes classes de sons ([cons] e [soan]), especificando-

se, portanto, o nível de constrição;

2. Da raiz, desdobram-se imediatamente dois traços de modo de articulação:

([lateral] e [nasal]);

3. Da raiz, emanam, ainda, dois nós de classe ligados ao vozeamento e ao

ponto de articulação (Laríngeo e Cavidade Oral);

4. Os nós de classe são escritos em maiúsculas e os traços entre parênteses

retos;

5. Do nó Laríngeo, ramifica-se o traço [vozeado];

6. Do nó Cavidade Oral, provêm os traços [contínuo] e os 3 nós de classe do

ponto de articulação: o Labial, o Coronal (de que dependem os traços

[anterior] e [distribuído]) e o Dorsal;

7. Deve especificar-se, ainda, entre o nó Cavidade Oral e os 3 traços de ponto

de articulação, se se trata de um Ponto de V (articulação vocálica) ou Ponto

de C (articulação consonantal).

Essa estrutura se justifica, segundo Matzenauer (2005, p.52), pois atende ao

“princípio de que as regras fonológicas constituem uma única operação, seja de

desligamento de uma linha de associação ou de espraiamento de um traço”. Como

os traços funcionam de modo solidário em regras fonológicas, são agrupados em um

mesmo nó de classe.

Sendo a fala produzida pelo uso de vários articuladores (lábios, parte anterior

da língua, corpo da língua, raiz da língua, palato mole, laringe) que funcionam de

modo independente e que exercem papel fundamental na organização estrutural dos

segmentos, Clements e Hume (1995, p. 292) propõem a representação desses

articuladores por seus próprios nós (nós de classe).

Na representação a seguir, descrevem-se, nesta ordem, a lateral alveolar e o

tepe, ambos caracterizados, no nó de raiz, como [+soante, +aproximante, -vocálico],

por serem segmentos soânticos. Como se vê, a diferença está na especificação

[lateral], presente apenas em /l/:

Page 44: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

44

FIGURA 3: REPRESENTAÇÃO DA LATERAL PELA GEOMETRIA DE TRAÇOS

Cavidade oral

Laringal

[lateral]

raiz / l /

[+vozeado]

Local de c [+contínuo]

[coronal]

[+anterior]

[+distribuído]

+ soante

+ aproximante

- vocóide

Page 45: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

45

FIGURA 4: REPRESENTAÇÃO DA VIBRANTE PELA GEOMETRIA DE TRAÇOS

As configurações acima refletem a estrutura interna de um segmento e têm

uma base fonética (articulatória). Os traços redundantes não devem estar presentes

na representação de um segmento, já que são previsíveis. A Geometria de Traços

vale-se dessa representação/organização para explicitar e descrever os processos

que podem ocorrer numa dada língua ou num dado enunciado de fala.

A estrutura arbórea possibilita expressar a naturalidade dos processos

fonológicos que ocorrem nas línguas do mundo, atendendo ao princípio de que as

regras fonológicas constituem uma única operação, seja de desligamento de uma

Cavidade oral

Laringal

raiz / r /

[+vozeado]

Local de c [+contínuo]

[coronal]

[+anterior]

[+distribuído]

+ soante

+ aproximante

- vocóide

Page 46: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

46

linha de associação ou de espraiamento de um traço (MATZENAUER, 2005).

Consequentemente, a estrutura apresenta, sob o mesmo nó de classe, traços que

funcionam solidariamente em processos fonológicos. Portanto, os nós têm razão de

existir quando há comprovação de que os traços que estão sob o domínio funcionam

como uma unidade em regras fonológicas.

Mostramos, na seção precedente, que o sistema de traços de Chomsky e

Halle (1968) diferencia as líquidas em análise pela especificação +/- no traço

[lateral]. De modo análogo o faz a Geometria de Traços (doravante GeoTr), apesar

de apresentar esse traço de modo hierarquizado (e não disposto aleatoriamente

numa matriz) e interpretá-lo como monovalente (sem especificação +/-). Na GeoTr, o

rotacismo pode ser descrito pelo desligamento do traço [lateral], referenciado apenas

em /l/, como se vê na representação a seguir, em que o desligamento é formalizado

com o corte da linha de associação que liga [lateral] diretamente ao nó de raiz.

FIGURA 5: REPRESENTAÇÃO DO ROTACISMO PELA GEOMETRIA DE TRAÇOS

Cavidade

oral

Laringal

[lateral]

raiz / r /

[+vozeado]

Local de c [+contínuo]

[coronal]

[+anterior]

[+distribuído]

+ soante

+ aproximante

- vocóide

Page 47: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

47

No âmbito da GeoTr, há estudos que postulam outras possibilidades de

organização dos traços e que, até mesmo, questionam a existência de alguns deles.

Para Wiese (2001), por exemplo, o rotacismo seria resultado de uma

mudança em termos de pontos na hierarquia de sonância e não uma mudança

segmental. Assim, postula o autor que a vibrante, sendo uma unidade prosódica,

encontra-se com valor de sonância superior à lateral, fato que pode favorecer o

rotacismo, como vimos no capítulo precedente.

Dickey (1997), por sua vez, defende a abordagem para a qual as líquidas são

diferenciadas por traços de ponto e não de modo. O traço lateral é abolido nessa

versão. Ao nó de raiz é acrescido o traço [líquido], de modo a especificar as

consoantes líquidas laterais e os róticos. Na proposta de Dickey (op. cit.), do nó

coronal não mais emanariam os traços [anterior] e [distribuído]; as laterais seriam

definidas pela dorsalidade e os róticos, pela articulação apical e pelo traço [laminal]

não primário, conforme podemos observar na representação abaixo (DICKEY, p.67 e

106):

FIGURA 6: REPRESENTAÇÃO DA LÍQUIDAS (DICKEY, 1997)

/l/ /r/

PC

Coronal

PC

Coronal

Dorsal Apical

Laminal

Como a articulação lateral é consequência de um ponto de consoante

coronal-dorsal, o traço [lateral] torna-se redundante, sendo, desse modo,

dispensável na representação.

Quanto à lateral alveolar e o tepe, objetos de estudo nesta dissertação, temos

a seguinte representação (DICKEY, p. 172 e 174):

Page 48: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

48

FIGURA 7: REPRESENTAÇÃO DA LATERAL E DO TEPE (DICKEY, 1997)

[l] [Ȏ]

líquido

+ soante

+ cons.

PC

líquido

+ soante

+ cons.

PC

Coronal Coronal

Dorsal Apical

Apical

Laminal

De acordo com Dickey (1997), o rotacismo é resultado da perda do traço

[dorsal] no nó coronal e do acréscimo de um nó [laminal] não primário, como ilustra a

representação a seguir:

FIGURA 8: REPRESENTAÇÃO DE ROTACISMO (DICKEY, 1997)

[líquido]

PC

Coronal

Dorsal

Apical

[laminal]

Page 49: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

49

Como se vê, o rotacismo nos grupos consonânticos pode ser descrito com

bastante naturalidade na GeoTr: trata-se de uma operação fonológica que manipula

um traço hierarquizado – seja ele [lateral], no modelo de Clements & Hume (1995),

ou [dorsal], na proposta de Dickey (1997). Cabe, no entanto, mostrar sob que

condições o processo se aplica, já que constitui operação variável em português. No

próximo capítulo, com base em resultados estatísticos, analisamos as variáveis

linguísticas e extralinguísticas relevantes.

Page 50: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

50

5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E ANÁLISE VARIACIONISTA

5.1. TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS DADOS

Neste trabalho, utilizamos o GoldVarb 2001, que é uma versão para ambiente

Windows do pacote de programas VarbRul (Variable Rules Analysis). Segundo Guy

e Zilles (2007, p.105), o GoldVarb “é um conjunto de programas computacionais de

análise multivariada, especificamente estruturado para acomodar dados de variação

sociolinguística”. Esse programa foi idealizado por Steve Harlow, que tomou como

base a versão anterior, GoldVarb 2.0, de Rand & Sankoff (1990) para Macintosh. O

GoldVarb 2001 foi desenvolvido na Universidade de York, como um projeto

colaborativo entre o Departamento de Língua e Linguística e o Departamento de

Ciências da Computação (ROBINSON, LAWRENCE & TAGLIAMONTE, 2001).

Por ser um aplicativo .exe (executável), não necessita de instalação ou de

outros programas para complementá-lo. Os resultados da análise obtidos através do

GoldVarb 2001 são evidências que vão auxiliar o pesquisador a confirmar ou não

sua hipótese inicial. Assim, se um fenômeno linguístico tem seus grupos de fatores

apontados como não significativos pelo programa, a hipótese é rejeitada; se os

grupos de fatores são significativos, mas a influência dos fatores não é como se

previu no valor de aplicação, a hipótese também é rejeitada; se os grupos de fatores

são significativos e a influência dos fatores é como a prevista no valor de aplicação,

a hipótese é confirmada.

Segue abaixo um modelo de como foi organizado o arquivo de dados no

Goldvarb:

QUADRO 9: MODELO DE CODIFICAÇÃO GOLDVARB

(0fnhxStIA

p[Ȏ]ástico

(2moixRtNL prob[Ø]ema

Page 51: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

51

A codificação representada na primeira linha acima significa que, na palavra

“plástico”, proferida por um informante do sexo feminino, ocorreu o rotacismo (0).

Tanto o pai (n) quanto a mãe (h) dessa informante possuem Ensino Fundamental

incompleto. Nesse exemplo, o primeiro elemento do grupo consonantal é oclusivo

(x). O segmento que precede à líquida é surdo (S). Além disso, a sílaba com grupo

consonantal é tônica (t) e inicial (I). Por fim, não há nessa palavra outro segmento

líquido (A). Na segunda linha, ocorreu apagamento (2) da líquida do grupo

consonantal. Trata-se de um informante do sexo masculino, seu pai (o) e sua mãe (i)

possuem Ensino Fundamental completo. O primeiro elemento do grupo consonantal

é oclusivo (x) e sonoro (R). A sílaba do grupo consonantal é tônica (t) e não-inicial

(N). Por fim, nessa palavra há outra líquida, a vibrante na primeira sílaba, além da

que aparece no grupo consonantal (L).

Os dados codificados são salvos em uma extensão “.tkn”. Ao renomearmos a

pasta, usamos o nome de nossa variante enfocada: Rotacismo.tkn.

Após esse passo, procedemos à inserção e especificação dos grupos de

fatores (variáveis estruturais e sociais).

Page 52: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

52

Para inserção dos grupos de fatores no programa, visualizamos a janela

Groups, através da janela página principal, e clicamos em View > Groups. Nessa

etapa, priorizamos como grupo 1 a variável dependente e, em seguida, as

independentes. Nas entrevistas, encontramos três variantes em competição: (0)

rotacismo (utilização da vibrante no grupo consonantal), (1) padrão (utilização da

lateral no grupo consonantal) e (2) apagamento da líquida. Por isso, foram inseridos

três fatores nesse primeiro grupo (0, 1, 2), sendo considerado Default, ou seja, fator

base, a variante rotacismo (0). No programa, para adicionarmos novos grupos de

fatores, clicamos na janela group, depois em New Group. Em seguida, clicamos no

número do grupo e na caixa New Factor digitamos os fatores e clicamos em add

para adicioná-los. No campo Default, digitamos o fator considerado base. Repetimos

esses passos com cada grupo de fatores. Para finalizarmos, salvamos em Save to

token file e Ok.

O GoldVarb 2001 possui um comando que nos permite verificar se há algum

erro de digitação na sequência de códigos. Realizamos a verificação por meio da

janela token, clicando em Action > No recod. Na janela Token, clicamos em Action >

Check Tokens. Após esse passo, o programa cruza os dados digitados com os

fatores especificados para as variáveis, apontando possíveis erros.

Page 53: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

53

Ao comando Chec Tokens, o GoldVarb faz uma verificação e nos aponta

possíveis erros nos códigos digitados (números ou letras trocadas, sequência de

códigos inválida etc.). Ao indicar os erros, o programa sempre informará o grupo

onde está o erro e a linha onde foi digitado, facilitando a localização. Após as

correções, aplicamos novamente o comando Check Tokens.

Se são executadas todas as correções indicadas, o programa informa o

número de fatores inseridos e a quantidade de linhas utilizadas.

Uma vez digitados os grupos e os fatores, vamos para os comandos que

definirão os primeiros resultados da análise quantitativa. Isso é obtido, na janela

principal, com um clique em View > Results. Na janela Results, clicando em Action >

Load cell to memory, o programa solicita que se informe o valor de aplicação. O

valor de aplicação define qual das variedades estudadas é nossa hipótese de

“preferência dos falantes”. Nesse caso, nossa hipótese é de que a maioria dos

falantes tende à troca l ~ r; assim, marcamos o código 0 como nosso valor de

aplicação.

Page 54: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

54

São dois os problemas mais comuns nas rodadas do programa: KnockOut e

Singleton Group. KnockOut ou nocaute é uma terminologia de análise do GoldVarb

(também utilizada em todos os programas da série VarbRul): “é um fator que, num

dado momento da análise, corresponde a uma frequência de 0% ou 100% para um

dos valores da variável dependente” (GUY e ZILLES, 2007, p. 158). O nocaute é um

problema analítico no processamento dos dados com GoldVarb, uma vez que um

grupo de fatores é zero, não há variação e o programa não tem com o que exprimir

pesos e frequências. Assim, quando obtemos um nocaute nos resultados, significa

que, para um determinado fator, não há seu par opositor nos dados colhidos dos

informantes.

Page 55: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

55

No exemplo acima, temos um KnockOut, pois, para o grupo adjetivos (a),

encontramos frequência 0% para /l/ e 100% para /r/.

Singleton Group é uma terminologia utilizada pelo GoldVarb para indicar a

ocorrência de um único fator dentro do grupo de fatores, ou seja, significa que na

tabela Groups, há um grupo de fatores com somente um código na coluna Factors.

Nesse caso, portanto, temos a ocorrência de um Singleton Group, pois para o

grupo (2) só ocorreram substantivos (s).

Há duas possibilidades para a correção desses problemas: acrescentar um

dado fictício no grupo de fatores nulo e rodar o programa novamente ou excluir os

grupos de fatores em questão, uma vez que não apresentaram variação. Corrigidos

os problemas, vamos para a segunda etapa de resultados: Cross Tabulation, o que

é obtido, na janela Results, clicando-se em Action > Cross Tabulation > Text.

Page 56: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

56

Os resultados Cross Tabulation aparecem na própria janela Results. Até esta

etapa, o GoldVarb 2001 apresenta resultados referentes ao número de ocorrências e

às percentagens. As próximas duas etapas de análise nos fornecem resultados

referentes ao input, peso relativo e grupos favoráveis à ocorrência do fenômeno

estudado.

Por fim, a opção Step testa a significância de cada grupo de fatores,

fornecendo informações sobre os “melhores” grupos de fatores (GUY & ZILLES,

2007, p. 164), ou seja, aqueles que favorecem a presença do fenômeno observado.

Page 57: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

57

5.2. DESCRIÇÃO DA COMUNIDADE DE FALA

Conforme os Cadernos Favela-Bairro (2005), a comunidade de Jardim

Moriçaba – a estudada neste trabalho – compreende uma área de 105 mil metros

quadrados, possuindo aproximadamente 4750 moradores. Está delimitada pelo

Maciço da Pedra Branca, localizado no bairro de Senador Vasconcelos, zona oeste

do Rio. A região, a 50 quilômetros do centro da cidade, integra a XVIII Região

Administrativa (Cadernos Favela-Bairro, 2005, p. 15).

O material da Prefeitura do Rio de Janeiro nos traz ainda a origem da

ocupação do espaço que surgiu com a abertura de um loteamento de mesmo nome,

em 1952, pelo loteador J. Polatinik. Os anos 1960 são o marco histórico, à medida

que a ocupação da área ocorreu a partir da construção do Hospital Geriátrico

Eduardo Rabelo do Instituto de Assistência aos Servidores do Estado do Rio de

Janeiro - IASERJ. A situação fundiária da comunidade se estruturou em posses de

áreas pertencentes ao estado, à medida que, além de pertencente ao IASERJ, parte

da comunidade era propriedade do INCA - Instituto Nacional do Câncer.

Os Cadernos Favela-Bairro contam também a história dessa comunidade,

que começa de fato em 1920, quando chegaram moradores de áreas agrícolas do

interior do estado. Todavia, em 1947, a ocupação se adensa devido à abertura da

Estrada Moriçaba, que significa “carinho” em língua indígena. Até 1971, o acesso à

comunidade era feito por terra batida, em meio a plantações de goiaba, de manga e

de jamelão, dentre outras frutas, sendo inexistentes as redes de esgotamento

sanitário e abastecimento de água ou luz até os anos 1970 (Cadernos Favela-Bairro,

2005, p. 17).

O material disponibilizado pela Prefeitura sobre a comunidade comemora

ainda a nomeação de espaços em homenagem a antigos moradores. É o caso do

Caminho do Veloso, nome atribuído à família Veloso, uma das primeiras a chegar ao

local e que construiu um asilo para cuidar dos idosos. Caracteriza os primeiros anos

da favela como predominantemente rurais, ricos em chácaras e terrenos onde se

cultivavam taioba, caruru e couve, entre outros legumes e verduras.

O crescimento da comunidade após as primeiras ocupações, no entanto,

deixou os moradores longe dos pequenos serviços oferecidos. A convivência com

esgoto a céu aberto fez com que ocorresse a proliferação de ratos e de insetos.

Page 58: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

58

Além disso, havia problemas de abastecimento de água, sendo a dos serviços

domésticos retirada de poços e de outras minas (Cadernos Favela-Bairro, 2005, p.

18).

O histórico da comunidade aponta algumas características relevantes para o

nosso objeto de estudo: em primeiro lugar, a ocupação da comunidade Jardim

Moriçaba iniciou-se com moradores oriundos de áreas rurais. Sabe-se que o

rotacismo, tanto em ataque complexo (grupo consonantal), quanto na posição de

coda, é comum na fala rural. Amadeu Amaral, ao descrever o dialeto caipira,

apresenta essas duas realizações. Primeiro, em final de sílaba, “muda-se em r:

quarquér, papér, mér, arma. Quando subjuntivo de um grupo, igualmente se muda

em r: craro, cumpreto, cramô(r), frô(r)” (AMARAL, 1955, p.82). Amaral considera o

rotacismo um vício de pronúncia. A troca l ~ r, segundo o autor, é um dos vícios mais

enraizados no falar dos paulistas, sendo frequente “entre muitos dos que se acham,

por educação ou posição social, menos em contato com o povo rude”.

Bortoni-Ricardo (2004, p. 51-52), para esclarecer a variação no português

brasileiro, estabelece três contínuos, dentre os quais cabe aqui destacar o contínuo

de urbanização. Segundo a autora, em um dos extremos do contínuo situam-se os

falares rurais mais isolados; no outro extremo, residem as variedades urbanas

padronizadas difundidas pela escola, pela imprensa e por obras literárias. O espaço

entre os dois extremos é ocupado pela zona “rurbana”. Essa área intermediária é

ocupada por grupos que, embora sofram influência urbana, através da mídia e do

acesso à tecnologia, ainda preservam muito da cultura e do repertório linguístico

rural. Poderíamos postular que nossa comunidade, por seu histórico, situa-se entre

os polos urbano e rural, sendo um dos índices dessa posição o uso do rotacismo.

Para a autora, esse fenômeno é encontrado em falares rurais e “rurbanos” e, às

vezes, até em falares urbanos. Entretanto, o rotacismo é considerado um traço

descontínuo, por não ser gradual, ou seja, por não estar presente na fala da maioria

ou de todos os brasileiros e, principalmente, por receber uma maior carga de

avaliação negativa.

Em segundo lugar, embora, nos anos seguintes, a comunidade tenha

recebido moradores de origens diversas, parece-nos que o crescimento populacional

não foi acompanhado pelas condições adequadas de saneamento básico. Somente

após a implantação do Programa Favela Bairro, os moradores passaram a ter

Page 59: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

59

condições mais adequadas, com a chegada dos serviços básicos de água, esgoto e

luz. A precariedade de condições revela que os moradores desse grupo social

pertenciam a classes sociais mais baixas. Acrescente-se a isso o acesso restrito à

escola. Segundo relatos do Diretor da unidade escolar, na qual foram realizadas

entrevistas, à época da inauguração da escola, em 1991, foi necessário adentrar a

comunidade em busca de alunos, pois ali não havia uma cultura que visualizasse a

escola como relevante para a vida dos moradores. Além disso, durante muitos anos,

quando chovia, a escola ficava praticamente vazia, pois era difícil para os moradores

circularem nas ruas enlameadas.

Analisemos as características apontadas por Gregory Guy (2000, p. 18) na

definição de comunidade de fala, elencadas na seção 2.4, em relação ao grupo de

informantes desta dissertação.

Quanto à primeira característica, compartilhamento de características

linguísticas, podemos verificar que o rotacismo é uma variante comum na fala dos

moradores dessa comunidade geograficamente considerada.

A respeito da segunda característica, comunicação interna dentro da

comunidade maior que fora dela, podemos observar, a partir de entrevistas com os

informantes, que seus contatos sociais, em geral, realizam-se dentro dos limites da

própria comunidade. Por fim, quanto ao compartilhamento de normas, parece haver

um compartilhamento da norma vernácula da comunidade, sendo uma das

características o uso de rotacismo, porém quem utiliza essa variante parece não ter

consciência da avaliação negativa desse fenômeno. Não analisamos a fala de outros

grupos; somente analisamos a escola. Essa instituição faz o papel de avaliar as

variáveis linguísticas, reconhecendo o grupo em questão como uma comunidade de

fala, pelo valor social negativo atribuído ao rotacismo. Assim, podemos visualizar o

limite entre a escola, representativa de outros grupos que não utilizam a variante

estigmatizada, e essa comunidade.

Admitimos, contudo, a dificuldade em considerar esses informantes como

pertencentes a uma comunidade de fala. Reconhecemos que a variante aqui

estudada é característica de diversos outros grupos e compartilhada por muitos

falantes do dialeto carioca, e mesmo por falantes de outras regiões do país,

conforme podemos visualizar em atlas linguísticos de outras regiões (anexo D).

Desse modo, utilizamos o termo comunidade nesta dissertação, considerando esse

Page 60: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

60

grupo de informantes, representativo de muitos outros, em oposição à escola e ao

grupo que a representa, com uma norma diferenciada.

5.3. O GRUPO AMOSTRAL CONTROLADO

Como este trabalho orientou-se pela sociolinguística laboviana e por ter sido,

segundo Tarallo (2004, p. 7), “William Labov quem, mais veementemente, voltou a

insistir na relação entre língua e sociedade e na possibilidade, virtual e real, de se

sistematizar a variação existente e própria da língua falada”, esta pesquisa não

poderia deixar de analisar dados concretos, exemplos de fala real. Assim, procurou-

se, como realidade-modelo, a fala de crianças de uma escola municipal situada em

Senador Vasconcelos (Zona Oeste do Rio de Janeiro) e com maioria da clientela

oriunda da própria comunidade. A comunidade em questão é muito carente e

apresenta características sócio-econômicas aparentemente facilitadoras da

ocorrência da rotacização do /l/ nos encontros consonantais.

Analisando entrevistas feitas pelos professores, verificou-se que grande parte

dos pais possui escolaridade baixa. Há muitos que sequer frequentaram a escola.

Quanto ao aspecto econômico, muitos atuam em áreas que não necessariamente

exigem escolarização elevada: são vendedores ambulantes, pedreiros, empregadas

domésticas, empregados do comércio, dentre outros. Há, ainda, muitos

desempregados.

Os informantes desta pesquisa, em 2006, faziam parte de turmas distintas:

eram 20 alunos de turmas de Educação Infantil, compostas de alunos com 5 anos

de idade, e 20 alunos do segundo ano do ensino fundamental, de 7 anos de idade.

Tenciona-se avaliar, além da ocorrência da rotacização do /l/, até que ponto dois

anos de diferença na escolarização podem exercer influência na fala dessas

crianças.

Para a análise, foram selecionadas trinta e uma palavras. Algumas foram

representadas por meio de desenhos. No caso de verbos, faziam-se perguntas. O

desenho era apresentado e o aluno devia dizer o nome. Em alguns casos, solicitava-

se que os informantes completassem a frase ou respondessem a perguntas10. Dada

10 Em anexo, encontram-se as estratégias utilizadas na realização do questionário.

Page 61: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

61

a resposta do aluno, imediatamente era registrado um X em uma das opções

presentes ao lado da palavra. Havia três alternativas: a primeira representava a fala

padrão; a segunda, a alternância do /l/ pelo /Ȏ/ e a terceira, por fim, a opção 0 (zero),

para a ocorrência de síncope do /l/, como em f[Ø]oresta. Ao lado das três

possibilidades de ocorrência, havia um espaço para registro de resposta diferente da

esperada (caso de sinônimos ou mesmo para a ausência de resposta do aluno). As

palavras que compõem o corpus da pesquisa, bem como o modelo que serviu de

guia para a recolha dos dados, aparecem no quadro a seguir:

QUADRO 10: FORMULÁRIO DE COLETA DE DADOS

PALAVRAS REALIZAÇÃO DO ALUNO OUTRAS

RESPOSTAS plástico pl ( ) pr ( ) 0 ( )

Flamengo Fl ( ) Fr( ) 0 ( )

Fluminense Fl ( ) Fr( ) 0 ( )

placa pl ( ) pr ( ) 0 ( )

planta pl ( ) pr ( ) 0 ( )

explodir pl ( ) pr ( ) 0 ( )

Pluto pl ( ) pr ( ) 0 ( )

claro cl ( ) cr ( ) 0 ( )

planeta pl ( ) pr ( ) 0 ( )

flocos fl ( ) fr ( ) 0 ( )

flor fl ( ) fr ( ) 0 ( )

chiclete cl ( ) cr ( ) 0 ( )

blusa bl ( ) br ( ) 0 ( )

bloco bl ( ) br ( ) 0 ( )

Globo gl ( ) gr ( ) 0 ( )

Cláudia cl ( ) cr ( ) 0 ( )

flagra fl ( ) fr ( ) 0 ( )

flecha fl ( ) fr ( ) 0 ( )

floresta fl ( ) fr ( ) 0 ( )

bicicleta cl ( ) cr ( ) 0 ( )

biblioteca bl ( ) br ( ) 0 ( )

Bíblia bl ( ) br ( ) 0 ( )

problema bl ( ) br ( ) 0 ( )

flauta fl ( ) fr ( ) 0 ( )

clóvis cl ( ) cr ( ) 0 ( )

Page 62: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

62

cloro cl ( ) cr ( ) 0 ( )

glacê gl ( ) gr ( ) 0 ( )

atleta tl ( ) tr ( ) 0 ( )

completo pl ( ) pr ( ) 0 ( )

nublado bl ( ) br ( ) 0 ( )

Floribela Fl ( ) Fr ( ) 0 ( )

O formulário contou também com informações importantes para a análise das

respostas: dados pessoais do informante e escolaridade dos pais.

Como se objetiva contextualizar a ocorrência do rotacismo, investigou-se não

somente a escolaridade dos pais, mas todo o contexto sócio-econômico e cultural.

Entretanto, os dados sobre escolaridade foram obtidos diretamente com os alunos

entrevistados, por meio de um questionário entregue aos pais; já a realidade cultural,

social e econômica da comunidade foi analisada a partir de entrevistas realizadas

pelos professores, constantes dos arquivos da escola.

De modo a analisar os dados de forma representativa, fez-se uma

amostragem com quatro combinações diferentes envolvendo sexo e idade:

QUADRO 11: COMBINAÇÕES DA AMOSTRA 2006

masculino 5 anos Grupo A 10 informantes

masculino 7 anos Grupo B 10 informantes

feminino 5 anos Grupo C 10 informantes

feminino 7 anos Grupo D 10 informantes

Para cada uma das quatro células formadas, foram selecionados,

aleatoriamente, dez informantes de turmas diferentes, totalizando quarenta crianças.

Pretendeu-se, desse modo, atingir um número razoável de entrevistados, bem como

permitir que diversos membros da comunidade participassem da pesquisa,

ampliando a visão da ocorrência do fenômeno na escola trabalhada. Não foi casual,

entretanto, a escolha das crianças em certos aspectos, como visto anteriormente, já

que se firmaram determinados critérios, como, por exemplo, possuírem os alunos

determinada idade, pertencerem a uma determinada série e, ainda, terem nascido,

obrigatoriamente, na comunidade.

Acreditávamos que haveria diferenças entre a fala dos informantes de 5 anos

e os de 7 anos, pois esses últimos já haviam iniciado o processo de alfabetização.

Page 63: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

63

Entretanto, não houve diferença significativa (cf. TEM TEM, 2006). Os dois grupos

realizavam um percentual considerável de rotacismo.

Em 2010, recontactamos 30 desses informantes: 15 de cada sexo. Desse

total, para a análise comparativa dos dados de 2006 e 2010, estabelecemos a

seguinte combinação:

QUADRO 12: COMBINAÇÃO DAS AMOSTRAS 2006 E 2010

masculino 5-7 anos Grupo A

feminino 5-7 anos Grupo B

masculino 9-11 anos Grupo C

feminino 9-11 anos Grupo D

5.4. VARIÁVEIS CONTROLADAS

5.4.1. Variável dependente

Consideramos como variável dependente a ocorrência ou não da troca entre

as líquidas /l/ e /Ȏ/ nos grupos consonantais, ou melhor, a realização ou não de

rotacismo. Como ressaltamos anteriormente, nosso fenômeno variável apresentou

três variantes: rotacismo (substituição da líquida lateral pela vibrante /l/ por /Ȏ/,

variante codificada como 0), padrão (realização da líquida lateral, considerada

padrão pela escola, codificada como 1) e apagamento (supressão da líquida,

codificada como 2). Exemplos da cada uma dessas realizações são vistos a seguir:

QUADRO 13: CODIFICAÇÃO DAS VARIANTES

Variante Realização Codificação

Rotacismo f[Ȏ]oresta (0)

Padrão f[l]oresta (1)

Apagamento f[Ø]oresta (2)

De modo a compreender a realização de uma ou outra variante, propusemos

grupos de fatores de natureza interna e externa à língua que podem influenciar no

emprego, em especial, de rotacismo.

Page 64: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

64

5.4.2. Variáveis independentes

As variáveis independentes controladas nesta dissertação dividem-se em

estruturais e sociais. As variáveis estruturais ou linguísticas consideradas foram:

modo de articulação do segmento precedente à líquida no grupo consonantal (x=

oclusivo/ y= fricativo), vozeamento do segmento precedente à líquida (S= SURDO/

R=SONORO), tonicidade da sílaba do grupo consonantal (t= tônica/ a= átona),

posição do grupo consonantal na palavra (I= Inicial/ N= Não inicial) e presença de

outro segmento líquido na palavra (L=presença de outra líquida/ A= ausência de

outra líquida). Já as variáveis sociais ou extralinguísticas consideradas foram: faixa

etária (5-7 e 9-11), sexo (f= feminino/ m=masculino), escolaridade dos informantes

(menos de 4 anos de escolarização/ mais de quatro anos de escolarização) e

escolaridade do pai (n= ensino fundamental incompleto; o= ensino fundamental

completo; p= ensino médio incompleto; q= ensino médio completo e r= não

respondeu) e escolaridade da mãe (h= ensino fundamental incompleto; i= ensino

fundamental completo; j= ensino médio incompleto; k= ensino médio completo e l=

não respondeu) .

5.4.2.1. Modo de articulação do segmento precedente à líquida do grupo consonantal (fricativo ou oclusivo)

Por meio dessa variável, pretendemos identificar a classe de consoantes,

precedente à líquida (oclusivas ou fricativas) que influencia mais significativamente a

ocorrência de rotacismo. Supomos que as oclusivas (plástico, atleta, bicicleta)

favoreçam a troca de líquidas /l/ e /Ȏ/ em maior proporção que as fricativas (flauta,

flor). Baseamo-nos, para sustentar essa hipótese, na articulação das oclusivas, das

fricativas e do tepe, como veremos na análise dos resultados.

5.4.2.2. Vozeamento do segmento precedente à líquida

Tencionamos investigar se um segmento sonoro precedente à liquida (bloco,

glacê) é a variável que mais fortemente condiciona a ocorrência de rotacismo ou se

é um segmento surdo (placa, flocos) o que melhor desempenha esse papel.

Mollica e Paiva (1991) realizaram o cruzamento entre modo de articulação e

grau de sonoridade do segmento precedente à líquida, concluindo que há uma forte

tendência à realização da vibrante quando a consoante do grupo consonantal é uma

Page 65: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

65

consoante [+ forte], no continuum de força proposto por Hooper (1976, p. 206).

Pretendemos verificar essa hipótese, mais adiante, em nossa análise.

Apresentamos também a escala de força consonantal proposta por Murray

(1987, p. 119), na qual os segmentos são diferenciados quanto à sonoridade.

5.4.2.3. Tonicidade da sílaba do grupo consonantal

Essa variável diz respeito ao acento do grupo consonantal. Investigamos se o

grupo consonantal presente em sílaba tônica, como em ‘planta’, favorece mais

fortemente a realização de rotacismo ou se sua posição em sílaba átona, como em

'floresta', motiva mais a aplicação do fenômeno.

5.4.2.4. Posição do grupo consonantal na palavra

Investigamos se o grupo consonantal em sílaba inicial ('plástico', 'Flamengo')

é mais significativo na aplicação do fenômeno ou em posição não inicial ('bíblia',

'bicicleta').

5.4.2.5. Presença de outra líquida na palavra

Investigamos se a presença de outra líquida na palavra ('cloro', 'claro')

favorece o rotacismo, como sustentam Mollica e Paiva (1991). Nesse trabalho, as

autoras investigam, no dialeto carioca, a hipótese de dissimilação (substituição da

lateral) quanto a de enfraquecimento (apagamento da vibrante), pela presença de

outra líquida, em função da escala de força proposta por Hooper (1976).

5.4.2.6. Faixa etária

Na primeira pesquisa realizada, como ressaltamos mais acima, os

informantes foram divididos da seguinte forma: 20 informantes de Educação Infantil,

com 5 anos de idade e 20 informantes no segundo ano do ensino fundamental, com

7 anos de idade (TEM TEM, 2006). Acreditava-se que, aos sete anos de idade, pelo

fato de esses alunos já terem iniciado o processo de alfabetização (letramento),

haveria uma queda na realização de rotacismo. Entretanto, essa hipótese não se

confirmou. Os percentuais de rotacismo continuaram elevados.

Nesta dissertação, recontactamos os mesmos informantes, quatro anos após

as primeiras entrevistas. Conjecturamos que, nessa nova faixa etária, o fenômeno

de rotacismo já não se faz presente na mesma escala na fala desses alunos; ao

Page 66: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

66

contrário, acreditamos que haverá uma redução no percentual dessa variante não-

padrão.

5.4.2.7. Sexo

Esse fator extralinguístico costuma ser apontado como um indício de

diferenças de comportamento linguístico de homens e mulheres. Diversos estudos

(CHAMBERS & TRUDGILL, 1980; LABOV, 1991) apresentam a influência dessa

variável na fala. Alguns apontam a ocorrência de formas não-padrão como comum

na fala masculina, sendo as mulheres mais conservadoras da fala padrão, por ser

uma variante de maior prestígio. Tencionamos verificar a significância dessa variável

na aplicação de rotacismo.

5.4.2.8. Escolaridade dos informantes

Diversos estudos (SCHERRE, 1996; VOTRE, 2007) apontam escolaridade

como um fator relevante no comportamento dos falantes, em relação ao uso de

determinadas variantes. A escola, ao mesmo tempo em que gera mudanças na fala

de seus alunos, incutindo-lhes a forma considerada padrão, mostra-se resistente

através da preservação dessa variante de prestígio, em face de mudanças dentro da

comunidade. Presumimos que esse fator exerce grande influência na realização de

rotacismo, no sentido de que quanto maior a escolaridade, menor a ocorrência do

fenômeno na fala dos alunos.

5.4.2.9. Escolaridade dos genitores

Como nos primeiros dados de fala, coletados em 2006, os informantes

encontravam-se nos anos iniciais de escolarização, acreditamos que essa fala fosse

influenciada diretamente pelo núcleo familiar e, mais especificamente, pelos pais

dessas crianças. Como supomos que a escolaridade dos genitores apresente

reflexos em sua fala, relacionamos essa variável com a ocorrência de rotacismo na

fala dos filhos. Realizaremos, ainda, uma análise distinta entre os resultados de pais

e mães.

Além da escolaridade, pretendemos traçar um perfil social, econômico e

cultural dos pais, por meio de dados coletados em entrevistas atuais, que permitem

a análise de fatores como mercado de trabalho, redes sociais e acesso aos bens

Page 67: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

67

culturais. Esses fatores, no entanto, não foram rodados no Goldvarb, visto que nem

todos os informantes responderam à entrevista.

Page 68: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

68

6. ANÁLISE DAS VARIÁVEIS (RESULTADOS)

6.1. RODADA GERAL (VARIANTES REALIZADAS)

Na tabela abaixo, apresentam-se os resultados sobre o comportamento dos

encontros consonantais controlados na pesquisa.

TABELA 1: APLICAÇÃO DAS VARIANTES AMOSTRA 2006

VARIANTE APL./ TOTAL %

Rotacismo 294/648 45.4

Padrão 259/648 40.0

Apagamento 95/648

14.7

Os resultados foram obtidos a partir das médias gerais sobre os percentuais

individuais de cada criança. É importante destacar que os percentuais individuais

correspondem às realizações de cada fenômeno somente sobre as palavras

identificadas. Assim sendo, do total de palavras reconhecidas, 40 % foram

pronunciadas na forma-padrão, 14,7 % foram pronunciadas com síncope do /l/ e

45,4 % das palavras reconhecidas foram rotacizadas. Somando-se os percentuais

de apagamento aos de rotacismo, fica ainda mais evidente o uso do português não-

padrão nessa comunidade.

Já se esperava a predominância de rotacismo sobre a forma padrão, uma vez

que a realidade social da comunidade, de certa forma, favorece o fenômeno.

Contudo, desconhecia-se a realização de encontros consonantais com síncope do

segundo elemento. A palavra ‘floresta’, por exemplo, foi pronunciada “foresta” por 20

crianças, ou seja, 50% dos informantes promoveram o apagamento da líquida lateral

nesse vocábulo.

Outra palavra que sofreu síncope da lateral em sua realização foi ‘bíblia’. Por

possuir sílabas parecidas em sequência, além do apagamento da lateral (“bíbia”),

esse vocábulo apresentou várias realizações, como “blíbia”, “blíblia”, “briba”, “bibra e

Page 69: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

69

“bríbria”. Observa-se que o encontro consonantal sofre metátese11, alternando entre

a primeira e a segunda sílaba, ou mesmo ocorrendo nas duas ora com /l/, ora com

/Ȏ/. A pronúncia “bíbia” pode ser explicada por um fenômeno comum, mesmo entre

os falantes que utilizam a forma-padrão: em palavras tautossilábicas, ou seja, em

palavras que possuem as sílabas praticamente idênticas, como em ‘próprio’ e

‘propriedade’, é comum a redução de um dos grupos consonânticos. Em geral,

produzem-se formas como prop[Ø]iedade e próp[Ø]io.

Os dados mostram, como explicitado anteriormente, que a maioria dos

informantes realizou o fenômeno. Mesmo aqueles que usaram a forma padrão, na

maior parte das respostas rotacizaram uma ou outra palavra. Houve quatro

informantes que não realizaram rotacismo, dentro das palavras que reconheceram.

Dois desses alunos apresentaram elevado percentual de apagamento nas palavras

que reconheceram. Nesse caso, em função do índice elevado, tornou-se necessário

realizar um teste após a pesquisa, a fim de verificar-se a habilidade fonológica

desses informantes em pronunciar o /l/, como forma de validar os resultados da

pesquisa. Caso esses alunos não conseguissem pronunciar o encontro consonantal

com a lateral, seriam excluídos da pesquisa, pois talvez apresentassem problemas

fonoaudiológicos. O teste foi simples: o entrevistador pediu aos alunos que

repetissem as palavras “floresta” e “planeta” e os entrevistados deviam repetir na

forma padrão. As duas crianças conseguiram pronunciar o [l], o que descarta a

possibilidade de patologia na fala (dislalia, por exemplo).

Apesar de não entrar nos percentuais, a opção “outras respostas” revelou um

dado social interessante: nas primeiras entrevistas, em 2006, as crianças possuíam

um vocabulário bastante restrito, fato relacionado diretamente ao nível sócio-

econômico da comunidade. Como se tratava de informantes de pouca idade, houve

dificuldade no reconhecimento de grande parte das figuras apresentadas pelo

entrevistador; em geral, as crianças tentavam chegar à solução por meio de suas

vivências, oferecendo como resposta o relato de acontecimentos próximos ao que a

figura mostrada representa em suas vidas. No quadro a seguir, percebemos um

percentual maior de reconhecimento das palavras. Esse percentual seria ainda

maior, se considerássemos sinônimos como dados válidos para a pesquisa, como

‘rosa’ para ‘flor’.

11 Metátese é a troca de posição de segmentos, verificada na mesma sílaba ou entre sílabas.

Page 70: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

70

QUADRO 14: PERCENTUAL DE PALAVRAS RECONHECIDAS 2006 E 2010

INFORMANTES IDADE RECONHECIDAS

2006 Total % recon

RECONHECIDAS 2010

Total % recon

Bár 9 16 31 51,61% 23 30 76,67% Let 9 14 31 45,16% 20 30 66,67% Mar 9 12 31 38,71% 20 30 66,67% Nat 9 13 31 41,94% 17 30 56,67% Val 9 18 31 58,06% 21 30 70,00%

Vit L. 9 5 31 16,13% 23 30 76,67% Vit O. 9 15 31 48,39% 22 30 73,33% Yas 9 16 31 51,61% 21 30 70,00% Ana 11 21 31 67,74% 24 30 80,00% Taí 11 23 31 74,19% 29 30 96,67% Vit 11 16 31 51,61% 25 30 83,33%

And 11 16 31 51,61% 19 30 63,33% Tha 11 17 31 54,84% 25 30 83,33% Kar 11 21 31 67,74% 27 30 90,00% Bea 11 25 31 80,65% 26 30 86,67% Dou 9 15 31 48,39% 26 30 86,67% Eri 9 23 31 74,19% 25 30 83,33% Mar 9 7 31 22,58% 16 30 53,33% May 9 13 31 41,94% 21 30 70,00% Ren 9 17 31 54,84% 22 30 73,33% Ric 9 18 31 58,06% 21 30 70,00% Lor 9 12 31 38,71% 19 30 63,33% Ath 9 16 31 51,61% 25 30 83,33% Edi 11 12 31 38,71% 23 30 76,67% Gio 11 20 31 64,52% 25 30 83,33% Joã 11 20 31 64,52% 28 30 93,33% Leo 11 25 31 80,65% 27 30 90,00% Val 11 15 31 48,39% 24 30 80,00%

Leo. B 11 19 31 61,29% 24 30 80,00% Van 11 19 31 61,29% 26 30 86,67%

TABELA 2: APLICAÇÃO DAS VARIANTES AMOSTRAS 2006 E 2010

Variante Apl./ Total -

2006 %

Apl./ Total -

2010 %

Rotacismo 294/648 45.4 160/694 23.1

Padrão 259/648 40.0 519/694 74.8

Apagamento 95/648

14.7 15/694 2.2

Page 71: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

71

Como se vê nos resultados, os mesmos informantes apresentam

comportamento diferenciado em relação às variantes consideradas; percebe-se uma

redução no percentual de rotacismo. Ao mesmo tempo, há uma elevação

considerável do uso da variante padrão (algumas palavras são pontuais,

apresentando a vibrante como segundo elemento, como é o caso de ‘flagra’). Já o

percentual de apagamento chega a um nível de quase inexistência, apesar de

ocorrer em palavras com onsets idênticos, a exemplo de 'bíblia', 'biblioteca'. Esses

dados confirmam nossa hipótese de redução no percentual de rotacismo em virtude

da aquisição da variante padrão.

6.2. MODO DE ARTICULAÇÃO DO SEGMENTO PRECEDENTE À LÍQUIDA DO GRUPO CONSONANTAL (FRICATIVO OU OCLUSIVO)

No questionário, apresentaram-se nove palavras com encontro consonantal

formado pela fricativa /f/ acrescida de líquida /l/. Além disso, selecionaram-se vinte e

duas palavras com a presença de oclusivas também seguidas da líquida /l/. Um dos

objetivos da presente pesquisa foi verificar se a incidência de rotacismo é maior em

grupos formados por oclusivas ou por fricativas. Os resultados aparecem na tabela a

seguir:

TABELA 3: ROTACISMO 2006 (MODO DE ARTICULAÇÃO DO SEGMENTO PRECEDENTE À LÍQUIDA)

Modo de

articulação Frequência Peso relativo

Oclusivo 219/467=46,9% .51

Fricativo 75/181=41,4% .46

Os percentuais apresentados na tabela acima foram extraídos das

realizações de rotacismo em encontros com segmentos fricativos e oclusivos, a

partir do número de fricativas e oclusivas reconhecidas por cada informante.

Exemplifiquemos: os dados abaixo representam a realização de um dos informantes:

Page 72: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

72

QUADRO 15: EXEMPLO DE REALIZAÇÃO DE ROTACISMO POR INFORMANTE

Quantidade de palavras

rotacizadas

Quantidade de palavras

reconhecidas

Aluno fricativas oclusivas fricativas oclusivas

Ric 4 11 5 13

No quadro acima, vemos que, de um total de nove fricativas apresentadas na

pesquisa, o aluno em questão reconheceu apenas cinco. Dessas cinco, quatro foram

rotacizadas. De um total de vinte e duas oclusivas pesquisadas, o aluno reconheceu

treze e, dessas, rotacizou onze. Assim sendo, o aluno Ric rotacizou 80% das

palavras com fricativas que reconheceu e, quanto às oclusivas, rotacizou 84,6% das

que reconheceu.

A tabela acima demonstra que as palavras com encontros com oclusivas

favorecem, com maior frequência, a realização de rotacismo. Nesse sentido, com o

objetivo de se esclarecer esses percentuais, abre-se um parêntese para uma

discussão do ponto de vista fonético e fonológico. Para tal, apresentam-se abaixo

algumas informações extraídas de Cagliari (2002, p. 94) em relação ao sistema de

traços de Jakobson, Fant e Halle (1963):

Resumo do sistema de Jakobson, Fant e Halle (1963)

Vocálico: vogais e líquidas

Não-vocálico: os glides e as obstruintes

Consonântico: obstruintes e líquidas

Não-consonântico: vogais e glides

Contínuo: fricativas e laterais

Não-contínuo: oclusivas, vibrantes e africadas.

Dos traços distintivos apresentados acima, esta pesquisa ressalta as duas

últimas propriedades, referentes à continuidade na produção dos sons. De acordo

com Christófaro Silva (2003: 193), “um som é [+ contínuo] quando a constrição

principal do trato vocal permite a passagem do ar durante todo o período de sua

produção”; quando há bloqueio da passagem da corrente de ar, o som é [-contínuo].

Page 73: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

73

Analisando os dados, explica-se a proximidade entre as oclusivas e o tepe

(vibrante simples), do ponto de vista articulatório, visto que a soltura da corrente de

ar é abrupta nas duas classes de sons. As oclusivas e o tepe são, portanto, sons

não-contínuos. Já as fricativas e o /l/ possuem em comum a soltura sem interrupção

do fluxo de ar, sendo, desse modo, sons contínuos.

Assim sendo, de forma a justificar os percentuais do gráfico, pode-se

entender que as oclusivas favorecem a rotacização, pois têm pouca semelhança

com o /l/ e são mais próximas do /Ȏ/, enquanto as fricativas podem favorecer o uso

da forma padrão, pela proximidade com o /l/, ou mesmo tenderem ao apagamento

do /l/. Nesta pesquisa, como citado anteriormente, a palavra ‘floresta’ realizou-se

‘f[Ø]oresta’ na fala de muitos entrevistados.

TABELA 4: ROTACISMO 2010 (MODO DE ARTICULAÇÃO DO SEGMENTO PRECEDENTE À LÍQUIDA)

Modo de

articulação Frequência Peso relativo

Oclusivo 101/490= 20,6% .46

Fricativo 59/204= 28,9% .57

Os resultados revelam um percentual maior de rotacismo nos grupos iniciados

por fricativa. Percebemos, por exemplo, que a palavra ‘flagra’ foi produzida 17 vezes

com a vibrante, mesmo entre aqueles que apresentaram um percentual alto de

variante padrão. Parece-nos que o vocábulo, talvez por seu uso restrito, já tenha se

cristalizado com a vibrante como segundo elemento na expressão utilizada na

entrevista para que os alunos a completassem: Peguei no... (flagra). Antes da frase,

apresentamos uma situação: imagine que você encontra um amigo que está fazendo

algo errado sem perceber que você o vê. Ao tocá-lo nos ombros, você diz: “Peguei

no...”.

6.3. VOZEAMENTO DO SEGMENTO PRECEDENTE A LÍQUIDA

Os resultados abaixo revelam um peso maior dos segmentos sonoros

precedentes à líquida:

Page 74: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

74

TABELA 5: ROTACISMO 2006 (VOZEAMENTO DO SEGMENTO PRECEDENTE À LÍQUIDA)

Vozeamento Frequência Peso relativo

Surdo 211/477= 44,2% .49

Sonoro 83/171= 48,5% .53

De acordo com a escala de força consonantal proposta por Murray (1987, p.

119), os segmentos são diferenciados quanto à sonoridade. Os segmentos surdos

apresentam maior valor de força consonantal; desse modo, as estruturas silábicas

formadas por um segmento sonoro como primeiro elemento do grupo consonantal

tendem a sofrer processos. Isto justificaria o fato de segmentos sonoros precedentes

à líquida favorecerem o rotacismo.

Na figura abaixo, verificamos o cruzamento das variáveis modo de articulação

e vozeamento:

FIGURA 9: CRUZAMENTO DAS VARIÁVEIS MODO DE ARTICULAÇÃO E VOZEAMENTO

x % y % ∑ %

+ - - - - + - - - - + - - - -

S 0: 136 46: 75 41| 211 44

-: 160 54: 106 59| 266 56

∑: 296 : 181 | 477

+ - - - - + - - - - + - - - -

R 0: 83 49: 0 --| 83 49

-: 88 51: 0 --| 88 51

∑: 171 : 0 | 171

+---------+---------+---------

∑ 0: 219 47: 75 41| 294 45

-: 248 53: 106 59| 354 55

∑: 467 : 181 | 648

Os resultados acima revelam um percentual maior de aplicação de rotacismo

nas oclusivas sonoras (49%); enquanto as oclusivas surdas apresentaram 46% de

realização da vibrante. Mollica e Paiva (1991), no entanto, em análise da variação

l~r, verificaram o contrário, conforme veremos a seguir.

Page 75: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

75

TABELA 6: ROTACISMO 2010 (VOZEAMENTO DO SEGMENTO PRECEDENTE À LÍQUIDA)

Vozeamento Frequência Peso relativo

Surdo 129/533=24,2% .51

Sonoro 31/161= 19,3% .44

Os dados obtidos no recontato apresentam um resultado diferente do obtido

nas entrevistas de 2006. Aqui, os segmentos surdos mostram-se mais favorecedores

de rotacismo que os sonoros. Ao realizarem o cruzamento entre modo de articulação

e grau de sonoridade do segmento precedente à líquida, Mollica & Paiva (1991)

concluíram, seguindo a proposta de continuum de força de Hooper (1976, p. 206),

que há uma forte tendência à realização da vibrante quando a consoante do grupo

consonantal é uma consoante [+ forte]. Segundo esse contínuo, os segmentos

surdos são mais fortes que os sonoros.

Assim como no modo de articulação, talvez a palavra “flagra” tenha ajudado a

aumentar o percentual de rotacismo em grupos com primeiro segmento surdo, pois

foi pronunciada com a vibrante por 17 informantes. Conforme podemos observar na

tabela abaixo, a célula yStIL pode ser representativa das palavras ‘flor’ e ‘flagra’, pois

ambas possuem primeiro elemento do grupo consonantal fricativo (f), surdo (S), são

tônicas (t), o grupo consonantal está no início da palavra (I) e possuem duas líquidas

(L). A palavra ‘flagra’, foi codificada como mStIL, para o sexo masculino e como

fStIL, para o sexo feminino. Das quatorze realizações dessa palavra, os meninos

rotacizaram oito. Todas essas oito, além de rotacismo, apresentaram apagamento

da outra líquida, sendo pronunciadas f[Ȏ]ag[Ø]a. De quinze realizações de ‘flagra’

pronunciadas pelas meninas, 10 foram rotacizadas e, como na fala dos meninos,

tiveram a segunda líquida apagada. No quadro abaixo, podemos visualizar o total de

células, as palavras correspondentes, bem como o total de aplicação de rotacismo

em cada uma delas.

Page 76: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

76

QUADRO 16: CÉLULAS AMOSTRA RECONTATO (TOTAIS DE APLICAÇÃO DE ROTACISMO)

Codificação Palavras Pronunciadas Aplic. de Rotacismo % aplic.

myStIL flor/flagra 26 11 42,31% myStIA flecha/flauta 37 5 13,51% mySaIL floresta 13 1 7,69% mySaIA Flamengo/Fluminense 29 5 17,24% mxStNA chiclete/bicicleta/completo/atleta 50 9 18,00% mxStIL claro/cloro 25 2 8,00% mxStIA plástico/placa/planta/Pluto/Cláudia/clóvis 66 11 16,67% mxSaNL explodir 13 4 30,77% mxSaIA planeta 14 3 21,43% mxRtNL problema 9 2 22,22% mxRtNA nublado 12 1 8,33% mxRtIA blusa/Globo/bloco 26 4 15,38% mxRaNA biblioteca/Bíblia 25 1 4,00% mxRaIA glacê 7 1 14,29% fyStIL flor/flagra 27 14 51,85% fyStIA flecha/flauta 33 10 30,30% fySaIL floresta 10 3 30,00% fySaIA Flamengo/Fluminense 29 10 34,48% fxStNA chiclete/bicicleta/completo/atleta 45 10 22,22% fxStIL claro/cloro 24 2 8,33% fxStIA plástico/placa/planta/Pluto/Cláudia/clóvis 67 22 32,84% fxSaNL explodir 12 4 33,33% fxSaIA planeta 12 2 16,67% fxRtNL problema 10 3 30,00% fxRtNA nublado 10 3 30,00% fxRtIA blusa/Globo/bloco 28 7 25,00% fxRaNA biblioteca/Bíblia 27 5 18,52% fxRaIA glacê* 7 4 57,14% * Em 'glacê' o percentual de aplicação de rotacismo foi alto, porém o número de palavras pronunciado foi pequeno. (f)= sexo feminino (m)= sexo masculino

6.4. TONICIDADE DA SÍLABA DO GRUPO CONSONANTAL

Na tabela a seguir, registram-se os percentuais de rotacização em função do

acento. Observe os resultados:

TABELA 7: AMOSTRA 2006 ROTACISMO (FATOR TONICIDADE)

Tonicidade Frequência Peso relativo

Tônica 222/456= 48,7% .53

Átona 72/192= 37,5% .42

Page 77: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

77

Analisando-se a tabela acima, percebe-se que, nas palavras pesquisadas, a

incidência de rotacismo foi maior nos grupos consonantais situados em sílaba tônica.

A explicação para esse fato se encontra, na realidade, nos encontros consonantais

presentes em sílabas átonas, visto que, neste trabalho, percebeu-se que muitas das

sílabas átonas se realizaram com apagamento da lateral. Foram muito comuns as

seguintes respostas:

Bíblia> Bíbia

biblioteca> bibioteca

floresta> foresta

Floribela> Foribela

No cruzamento de dados entre modo de articulação e tonicidade, percebemos

um percentual baixo de aplicação de rotacismo em fricativas átonas (28%); esses

segmentos favoreceram o apagamento:

QUADRO 17: CRUZAMENTO DE MODO DE ARTICULAÇÃO E TONICIDADE

x % y % ∑ %

+ - - - - + - - - - + - - - -

t 0: 172 47: 50 54| 222 49

-: 192 53: 42 46| 234 51

∑: 364 : 92 | 456

+ - - - - + - - - - + - - - -

a 0: 47 46: 25 28| 72 38

-: 56 54: 64 72| 120 62

∑: 103 : 89 | 192

+---------+---------+---------

∑ 0: 219 47: 75 41| 294 45

-: 248 53: 106 59| 354 55

∑: 467 : 181 | 648

Um fenômeno apontado como evidência para a classe das líquidas é a

dissimilação, processo fonológico no qual dois segmentos iguais tendem a ficar

diferentes, podendo um deles, até mesmo, desaparecer, para se evitar identidade, a

exemplo do que ocorreu na evolução de liliu > líriu, calamelu > caramelo e memorare

> membrar > lembrar, entre tantas outras. No caso de ‘Bíblia’ e ‘biblioteca’, temos

duas oclusivas sonoras iguais, porém não verificamos mudanças nesses segmentos;

entretanto, sobre a lateral, atuaram diversos processos fonológicos: esse segmento

Page 78: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

78

dissimilou para uma vibrante ’Bíbria’; sofreu apagamento ‘Bíbia’; sofreu metátese, ou

seja, mudou de posição na palavra ‘Blíbia’; dentre outras alterações. Acreditamos

que essas mudanças foram motivadas pela presença de segmentos idênticos que,

por sua vez, dificultam a articulação da palavra. Para Lloret (1997), a dissimilação é

um processo fonológico de alteração de um segmento que tem a função de evitar

sequências de segmentos iguais restringidas pelo Princípio do Contorno Obrigatório

(OCP).

No caso de ‘floresta’ ter se realizado com apagamento, não diríamos que a

tonicidade foi o fator fundamental, porém acreditamos que a interação desse fator

com o modo de articulação pode esclarecer essa ocorrência: essa palavra possui um

grupo complexo, no qual o segmento fricativo, a lateral e a vogal são elementos

contínuos; esses segmentos possuem produção muito parecida, o que não seria

ideal, pelo Princípio do Contorno Obrigatório. Desse modo, a líquida tende a sofrer

processos como o apagamento ou o rotacismo nessas condições.

Os resultados da tabela abaixo demonstram, pelos percentuais e pesos muito

próximos, não ser o fator tonicidade tão revelador dessa variável na troca entre as

líquidas:

TABELA 8: AMOSTRA 2010 ROTACISMO (FATOR TONICIDADE)

Tonicidade Frequência Peso relativo

Tônica 116/495= 23,4% .50

Átona 44/199= 22,1% .48

Embora os percentuais de rotacismo em sílaba tônica e átona sejam muito

próximos, esse percentual ainda é levemente superior em sílabas tônicas. Talvez,

mais uma vez, a palavra ‘flagra’ tenha favorecido o aumento desse percentual. O

segmento fricativo de ‘flagra’, embora contínuo, no caso específico dessa palavra,

apresenta um maior número de realizações com a vibrante, possivelmente, pela

cristalização da palavra com essa variante na comunidade estudada.

Page 79: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

79

6.5. POSIÇÃO DO GRUPO CONSONANTAL

Os resultados da tabela abaixo demonstram um peso maior de ocorrência de

rotacismo em palavras nas quais o encontro consonantal apresenta-se em sílaba

inicial:

TABELA 9: ROTACISMO 2006 (POSIÇÃO SILÁBICA DO GRUPO CONSONANTAL)

Posição silábica Frequência Peso relativo

Inicial 192/416= 46,6% .51

Não-inicial 100/232= 43,1% .47

Nos dados obtidos, percebe-se que em palavras como ‘biblioteca’, ‘problema’

e ‘Bíblia’, com encontros em sílaba não inicial, houve favorecimento de outras

variantes como o apagamento. Palavras como ‘Bíblia’ e ‘biblioteca’, como já vimos

anteriormente, com segmentos próximos igualmente especificados como [+

contínuo], apresentaram diversas realizações: apagamento da líquida no grupo

consonantal e acréscimo da líquida, ora a vibrante, ora a lateral na sílaba inicial:

Blíbia, Bríbia; rotacismo no grupo consonantal e acréscimo da vibrante na sílaba

inicial: Bríbria; acréscimo da líquida vibrante na sílaba inicial: Blíblia; dentre outras.

TABELA 10: ROTACISMO 2010 (POSIÇÃO SILÁBICA DO GRUPO CONSONANTAL)

Posição silábica Frequência Peso relativo

Inicial 117/480= 24,4% .52

Não-inicial 43/214= 20,1% .46

Em 95 de 127 palavras rotacizadas, o grupo consonantal se encontrava em

sílaba inicial. Os mesmos processos ocorridos nas palavras ‘Bíblia’ e ‘biblioteca’ na

entrevistas de 2006 são recorrentes em 2010, o que talvez explique o percentual

baixo de aplicação de rotacismo em sílaba não-inicial.

A palavra ‘problema’ também sofreu diversos fenômenos, possivelmente

motivados pelo fato de possuir segmentos homorgânicos (p e b), ou seja, segmentos

que só se diferenciam pelo vozeamento, sendo um surdo e outro sonoro, além de

duas líquidas, igualmente homorgânicas (/l/ e /r/). Mais uma vez, o Princípio do

Contorno Obrigatório parece ter influência na realização de um vocábulo. Tanto na

Page 80: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

80

primeira entrevista quanto no recontato, verificamos as seguintes realizações:

’poblema’, ’probema’, ‘pobrema’, plobema’ e ‘ploblema’.

6.6. PRESENÇA DE OUTRA LÍQUIDA NA PALAVRA

Mollica & Paiva (1991, p.185) investigam, no dialeto carioca, a hipótese de

dissimilação (substituição da lateral) e de enfraquecimento (apagamento da

vibrante), pela presença de outra líquida, em função da escala de força proposta por

Hooper (1976), que vai do segmento mais forte ao mais fraco:

QUADRO 18: ESCALA DE FORÇA DE HOOPER (1976)

glides líquidas nasais contínuas sonoras obstruintes sonoras

contínuas surdas

obstruintes surdas

1 2 3 4 5 6

Os resultados encontrados pelas autoras indicam que a presença de outra

líquida na palavra favorece a ocorrência da vibrante nos grupos formados por

consoante + líquida lateral. Nos grupos formados por consoante + vibrante, a

presença de outra líquida favorece o apagamento, como em prop[Ø]ietário.

Em nossa pesquisa, não contemplamos os encontros consonantais com

vibrantes. Nossos dados baseiam-se em palavras que apresentam encontros com

líquida lateral + líquida em outra sílaba, que podem vir a sofrer rotacismo ou mesmo

apagamento. Eis os resultados:

TABELA 11: ROTACISMO 2006 (AUSÊNCIA OU PRESENÇA DE OUTRA LÍQUIDA NA PALAVRA)

Outra líquida Frequência Peso relativo

Ausência 221/459= 48,1% .53

Presença 73/189= 38.6% .43

A palavra ‘floresta’, como visto anteriormente, foi pronunciada f[Ø]oresta por

20 crianças, ou seja, 50% dos informantes promoveram o apagamento da líquida

lateral nesse vocábulo. Assim como nos grupos com a vibrante, como ‘próprio’,

realizado próp[Ø]io, nossos resultados demonstram que a presença de outra líquida

também favorece o apagamento em grupos com a lateral. De modo a esclarecer

Page 81: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

81

melhor esses resultados, realizamos o cruzamento entre modo de articulação e

presença de outra líquida, conforme quadro abaixo:

QUADRO 19: CRUZAMENTO DAS VARIÁVEIS MODO DE ARTICULAÇÃO E PRESENÇA DE OUTRA LÍQUIDA

x % y % ∑ %

+ - - - - + - - - - + - - - -

A 0: 180 48: 41 51| 221 48

-: 198 52: 40 49| 238 52

∑: 378 : 81 | 459

+ - - - - + - - - - + - - - -

L 0: 39 44: 34 34| 73 39

-: 50 56: 66 66| 116 61

∑: 89 : 100 | 189

+---------+---------+---------

∑ 0: 219 47: 75 41| 294 45

-: 248 53: 106 59| 354 55

∑: 467 : 181 | 648

Os resultados do cruzamento entre modo de articulação e presença de outra

líquida revelam uma aplicação de 48% de rotacismo nas palavras com oclusivas

sem a presença de outra líquida; além disso, observa-se uma aplicação de 44% de

rotacismo em oclusivas com a presença de outra líquida. No cruzamento de

fricativas e presença de outra líquida, verificamos uma aplicação de 51% de

rotacismo, em fricativas sem a presença de outra líquida; em fricativas com a

presença de outra líquida, 34% de aplicação de rotacismo.

Esses dados revelam um percentual menor de rotacismo em fricativas com

duas líquidas, como é o caso de ‘floresta’. Postulamos que a fricativa pode favorecer

o apagamento em virtude de ser um som contínuo. Segundo Silva (2003, p. 193), um

som é contínuo quando “a constrição principal do trato vocal permite a passagem do

ar durante todo o período de sua produção.” Como a líquida lateral e as vogais

também são sons contínuos, essa característica pode favorecer o enfraquecimento e

até mesmo o apagamento desse segmento.

TABELA 12: ROTACISMO 2010 (AUSÊNCIA OU PRESENÇA DE OUTRA LÍQUIDA NA PALAVRA)

Outra líquida Frequência Peso relativo

Ausência 114/525= 21,7% .48

Presença 46/169= 27,2% .56

Page 82: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

82

Os resultados na amostra recontato apontam a presença de outra líquida

como favorecedora de um percentual um pouco mais alto de rotacismo,

provavelmente, como exposto anteriormente, pela realização de ‘flagra’ como f[ſ]

ag[Ø]a.

6.7. FAIXA ETÁRIA

No gráfico 3, a seguir, aparecem os resultados da variável idade na pesquisa

de TEM TEM (2006). Observem-se os percentuais de rotacização:

GRÁFICO 1: ROTACISMO (FATOR IDADE) NA AMOSTRA 2006

5 anos48%

7 anos52%

O gráfico demonstra que a ocorrência de rotacismo entre as crianças de 7

anos é um pouco maior que entre os alunos de 5 anos. Esperava-se que com a

diferença de dois anos de escolaridade ocorresse uma diminuição nesse percentual,

dada a influência da escola, a ampliação dos contatos sociais ao longo do tempo e,

até mesmo, a influência da mídia. Entretanto, não foi o que ocorreu. Nesse sentido,

é interessante observar que, embora a maioria dos informantes tenha acesso à

televisão, realiza “Framengo”, “Fruminense”, o que torna clara a força da fala da

família e da comunidade, em detrimento de veículos de comunicação, como a TV, e

em prejuízo da escola, com sua tentativa de estabelecer a forma padrão.

Page 83: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

83

Percebeu-se, contudo, uma ampliação do vocabulário nos alunos de 7 anos

(ver gráfico 4). Porém, algumas dessas novas palavras chegam à criança já

rotacizadas em seu meio social ou são rotacizadas por ela por analogia a palavras

que já conhece.

Segundo Coutinho (2005, p. 150), analogia “é o princípio pelo qual a

linguagem tende a uniformizar-se, reduzindo as formas irregulares e menos

frequentes a outras regulares e frequentes”. Acrescenta ainda que, em todo fato

análogo, há um termo considerado ativo, que exerce influência ou modela um termo

passivo.

Para um termo ser considerado ativo, ainda consoante Coutinho (2005, p.

153), deve satisfazer algumas condições, das quais, para a presente pesquisa,

destacam-se: a) que seja de uso mais geral; b) que seja mais “de harmonia com a

índole da língua”.

Esclarecendo a primeira condição citada acima, pode-se verificar, até mesmo

pelos dados obtidos neste estudo, que a comunidade estudada realiza com mais

frequência os encontros consonantais com [Ȏ], em prejuízo do [l] padrão. Desse

modo, o rotacismo constitui termo ativo, na terminologia de Coutinho (2005),

influenciando novas palavras que surjam no vocabulário. Assim, por exemplo, nas

entrevistas, todos os alunos de 5 anos não pronunciaram a palavra “glacê”. Algumas

meninas de 7 anos reconheceram e rotacizaram esse termo, talvez por analogia a

outras palavras, como “globo”, realizada “grobo” por muitos.

Quanto à harmonia com a “índole da língua”, observa-se uma tendência

natural da língua à rotacização, até mesmo pelas semelhanças entre /l/ e /Ȏ/, do

ponto de vista fonético, fonológico, fonotático, e pela própria história de formação da

língua portuguesa, como apresentado no capítulo 4.

Convém, nesse ponto do trabalho, realizar uma digressão, com o objetivo de

esclarecer o assunto em pauta. Para tal, procura-se conhecer a evolução de cada

grupo consonantal do latim ao português, de modo a reforçar essa inclinação da

língua a realizar encontros consonantais com /Ȏ/ e não com /l/.

Coutinho (2005, p. 118-123), ao discorrer sobre os grupos consonantais,

apresenta cada grupo e exemplos de transformação. Dentre eles, ressaltam-se, para

Page 84: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

84

efeitos desta pesquisa, aqueles formados por oclusiva ou constritiva e a líquida /l/: cl,

fl, pl, bl, gl em posição inicial e cl, fl, pl, bl, gl, tl em posição medial.

Os grupos iniciais latinos conservam-se, em português, se a líquida é /Ȏ/,

porém modificam-se quando a líquida é /l/. Aqueles formados por cl-, fl-e pl- se

modificam em ch. Já vocábulos de época posterior transformam-se em cr-, fr- e pr-,

respectivamente, como se observa abaixo:

QUADRO 20: TRANSFORMAÇÕES NOS GRUPOS INICIAIS, DO LATIM AO PORTUGUÊS (1)

cl > ch-: clamare > chamar

> cr-: clavu > cravo

fl > ch-: flagrare > cheirar

> fr-: flaccu > fraco

pl > ch-: plenu > cheio

> pr-: placere > prazer

Já os grupos iniciais bl- e gl- se modificaram em br- e gr ou reduziram-se a

simples l.

QUADRO 21: TRANSFORMAÇÕES NOS GRUPOS INICIAIS, DO LATIM AO PORTUGUÊS (2)

bl > br-: blandu > brando

> l-: blastimare > lastimar

gl > gr-: glute > grude

> l-: glattire > latir

Os grupos mediais -cl-, -fl- e -pl-, latinos ou românicos, precedidos de

consoantes, evoluem, em português, para -ch-; os mesmos grupos, e ainda -bl- e -gl,

depois de vogal, passam a -lh-. Em época posterior, esses grupos modificaram-se,

respectivamente, em -cr- ou -gr-; -fr-, -br- ou -pr-, -br- ou -vr-; -gr-; -tl- já se reduzira a

-cl- no próprio latim:

Page 85: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

85

QUADRO 22: TRANSFORMAÇÕES NOS GRUPOS INICIAIS, DO LATIM AO PORTUGUÊS (3)

Retomando a questão do aumento de vocabulário nos alunos de 7 anos, o

gráfico abaixo demonstra significativamente essa elevação. Os alunos de 5 anos

reconheceram somente 41,9% das palavras. Já os maiores tiveram um aumento no

vocabulário de 16,2 %. Esse aumento não se realiza apenas com o vocabulário

padrão, mas com palavras em que, como exposto acima, a criança aprende já

rotacizadas ou em que ela rotaciza por analogia a outras de uso mais geral em seu

meio social.

GRÁFICO 2: AUMENTO NO VOCABULÁRIO DOS ALUNOS 5-7 ANOS

-cl-

>- ch-: manc(u)la por macula > mancha

> -lh-: oc(u)lu > olho

> -gr-: eclesia > igreja

> -cr-: concludere > concruir (arc.)

-bl-

> -lh-: trib(u)lu > trilho

> -br-: obligare > obrigar

> -vr-: parab(o)la > palavra

-fl- > -ch-: inflare > inchar

> -cr-: affligere> afrigir (arc.) -gl-

> -lh-: coag(u)lu > coalho

> -gr-: reg(u)la > regra

-pl-

>- ch-: implere> encher

> -lh-: scop(u)lu > scoclu > escolho

> -br-: duplu > dobro

> -pr-: implicare > empregar

-tl-

> -cl- > -ch-: ast(u)la>ascla

>acha

> -cl- > -lh-: vet(u)lu>veclu

>velho

41,9%

58,1%

58,9%

41,1%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

5 anos 7 anos

reconhecidas não-reconhecidas

Page 86: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

86

Para Paiva & Duarte (2007, p. 186), o estudo “painel” se realiza no recontato

de indivíduos gravados há algum tempo. Considera-se, segundo as autoras, que

cerca de 18 anos, ou seja, o espaço de uma geração, “é suficiente para fornecer

indícios acerca da estabilidade ou mudança no comportamento linguístico do

indivíduo e da comunidade de fala.”

Nossos resultados, no entanto, apontam um espaço de tempo menor para a

mudança na fala de nossos informantes, conforme podemos observar a seguir:

TABELA 13: ROTACISMO (FAIXA ETÁRIA)

Variante Apl./ Total % PR

Faixa 5-7 294/648 45,4% .62

Faixa 9-11 160/694 23,1% .38

Conforme prevíamos, os mesmos informantes, em outra faixa etária,

reduziram o percentual de rotacismo em sua fala, ao passo que aumentaram o uso

da variante padrão. Essa redução da variante estigmatizada, no entanto, não

creditamos somente à mudança de faixa etária, mas à escolarização. Esse valor

conferido à escolaridade pôde ser observado na fala dos alunos que nesses quatro

anos, após as entrevistas, conseguiram acompanhar o processo de letramento. O

aumento da realização da forma padrão é significativo. Entretanto, a fala daqueles

que não conseguiram concluir o processo de alfabetização, daqueles que ficaram

retidos nos anos iniciais do ensino fundamental, revela ainda a predominância da

variante não-padrão. Assim, ainda que o tempo na escola seja o mesmo (quantidade

de anos), o aspecto qualitativo, ou seja, o que foi feito desses anos de escola é

decisivo na implementação da variante de prestígio. Dos alunos que recontactamos,

os que ainda não leem e não escrevem são os que apresentam um percentual alto

de rotacismo em sua fala.

Detalhando a situação atual desses alunos, o grupo de crianças de 5 anos

deveria estar cursando o quarto ano (antiga 3ª série); já o grupo de sete anos

deveria cursar o sexto ano (5ª série). Entretanto, dos trinta alunos recontactados,

seis não seguiram o curso normal de escolarização. Desses alunos, quatro estão no

terceiro ano, antiga 2ª série, e só alcançaram esse nível, devido ao regime de ciclos,

no qual o aluno só pode ficar retido se não atingir os objetivos propostos ao final de

Page 87: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

87

um ciclo de três anos. Quanto aos outros dois alunos, um está cursando o quarto

ano, porém deveria estar no sexto; o outro, que também deveria estar na 5ª série,

ano passado, foi inserido em uma classe de realfabetização, conseguindo ser

alfabetizado. Atualmente, está em uma classe de aceleração, para dar conta dos

conteúdos que ficaram defasados em função das dificuldades de leitura e de escrita

que apresentava. Esse último, talvez pelo trabalho de alfabetização, foi o único com

percentual reduzido de rotacismo (7,7%).

Quanto ao índice de reconhecimento de palavras, conforme se pode verificar

no item 6.1.1 deste trabalho, observamos um aumento no percentual de

identificação das palavras na amostra recontato.

6.8. GÊNERO/SEXO

John L.Fischer (1958), em seu trabalho “Influências sociais na escolha de

variantes linguísticas”, realizado a partir de entrevistas com 24 crianças, apresenta a

distribuição entre as variantes –ing e –in, sufixo de gerúndio em inglês, entre

meninos e meninas. Seus resultados demonstram que –ing, forma de maior

prestígio, simboliza os falantes do sexo feminino e –in (forma de menor prestígio), os

meninos.

Mollica, Paiva & Pinto (1989) apresentam os resultados quanto à variável

sexo em relação ao apagamento da vibrante nos grupos consonantais, no linguajar

carioca, a exemplo de propriedade/ propiedade:

TABELA 14: RESULTADOS DE APAGAMENTO PELA VARIÁVEL SEXO (MOLLICA, PAIVA & PINTO, 1989)

Gênero/ sexo Frequência PR

Masculino 280/1137=25% .45

Feminino 468/1411=33% .57

Os resultados apontam que as mulheres fazem menor uso da forma não-

padrão que os homens. Diversos estudos (Chambers & Trudgill, 1980; Labov, 1991)

apresentam a influência da variável sexo na fala. Alguns apontam a ocorrência de

formas não-padrão como comum na fala masculina, sendo as mulheres mais

conservadoras da fala padrão, por ser a variante de maior prestígio. Outros estudos,

Page 88: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

88

como o empreendido por Labov (1966), sobre o inglês de Nova York, demonstram

que as mulheres participam mais ativamente da mudança quando a nova forma

possui prestígio social. A esse respeito, Labov (1972, p. 243) assim se posiciona:

Aqui, como noutros, é evidente que as mulheres são mais sensíveis que os homens à ostensiva dos valores sociolinguísticos. Mesmo quando as mulheres usam as formas mais extremas de uma variável sociolinguística, avançando em seu discurso casual, corrigem de forma mais acentuada do que os homens em contextos formais.12

Pressupondo que as mulheres utilizam mais as formas de prestígio,

pretendemos verificar se o rotacismo é mais recorrente na fala masculina. Os

resultados estão na tabela a seguir:

TABELA 15: ROTACISMO 2006 (FATOR SEXO)

Gênero/sexo Frequência Peso relativo

Feminino 170/322= 52,8% .57

Masculino 124/326= 38% .42

Conforme podemos observar, nossos resultados apontam, ao contrário do

esperado, as meninas realizando um percentual de rotacismo (variante

desprestigiada, estigmatizada) bem maior que o percentual dos meninos.

É importante salientar que a presença de outros fatores, como classe social,

conjugados ao gênero/sexo, podem apontar resultados diferentes em relação ao uso

de formas de prestígio. Paiva (2007, p. 37) afirma que as diferenças na fala de

homens e mulheres podem ser acentuadas ou atenuadas, de acordo com a classe

social a qual pertencem. Segundo a autora, de modo geral, na classe média as

diferenças na fala entre os gêneros são mais visíveis que nas classes alta e baixa.

Os resultados da tabela demonstram que as meninas rotacizaram mais

palavras que os meninos. A primeira hipótese para esse fato é de que elas teriam

reconhecido mais palavras que os meninos, porém essa diferença foi mínima e os

percentuais foram extraídos apenas das palavras reconhecidas. Uma explicação

para esse resultado poderia residir no perfil do sexo feminino na comunidade em

estudo. Há um percentual grande de mulheres que não concluem os estudos. Essas

12 Here as elsewhere, it is clear that women are more sensitive than men to overt

sociolinguistic values. Even when women use the most extreme forms of an advancing sociolinguistic variable in their casual speech, they correct more sharply than men in formal contexts.

Page 89: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

89

situações são muito comuns na comunidade, visto que ainda há muitos casos de

meninas que deixam a escola para cuidar da casa e dos irmãos mais novos, bem

como há muita ocorrência de gravidez na adolescência: há muitas mães solteiras e

desempregadas, que se dedicam a cuidar dos filhos.

TABELA 16: ROTACISMO 2010 (FATOR SEXO)

Gênero/sexo Frequência Peso relativo

Feminino 100/342=29,2% .58

Masculino 60/352=17% .41

Percebemos que as diferenças quanto ao rotacismo, na fala das crianças,

mantiveram-se, na amostra recontato. As meninas realizaram 29,2% de rotacismo,

enquanto os meninos apresentaram 17% de substituição da lateral pela vibrante. As

meninas, no entanto, aumentaram o peso relativo do fenômeno e os meninos

reduziram o peso, ainda que com um valor mínimo.

Cabe destacar que, na comunidade estudada é comum as mulheres se

dedicarem aos cuidados com o lar e com os filhos, enquanto os homens trabalham

fora de casa. Em entrevista recente com os pais dos entrevistados, percebemos que

60% das mães entrevistadas não trabalham; apenas os pais são responsáveis pelo

sustento do lar. Além disso, como já citado anteriormente, muitas meninas

abandonam os estudos em razão de gravidez precoce ou em virtude da necessidade

de auxiliar seus pais nos afazeres domésticos.

6.9. ESCOLARIDADE DOS INFORMANTES

Diversos estudos apontam a escolaridade como fator relevante no

comportamento dos falantes, em relação ao uso de determinadas variantes. A

escola, ao mesmo tempo em que gera mudanças na fala de seus alunos, incutindo-

lhes a forma considerada padrão, mostra-se fiel à preservação da variante de

prestígio, em face de mudanças dentro da comunidade.

Para uma análise cuidada das correlações entre variação e a variável

escolaridade, Votre (2007) estabelece algumas “distinções no interior de categorias

presentes na dinâmica social em que interage a escola”. Uma delas diz respeito à

Page 90: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

90

diferença entre fenômeno socialmente estigmatizado e fenômeno imune à

estigmatização. O fenômeno socialmente estigmatizado é uma forma rejeitada pela

escola, considerada vício ou erro que na comunidade discursiva, como um todo,

funciona como um indicador de que o falante que a utiliza não possui prestígio

econômico e social. Segundo o autor, “a forma estigmatizada é interpretada como

inferior em termos estéticos e informativos, pelos membros da comunidade

discursiva. Assim, criam-se consensos quanto ao caráter estigmatizado dos usuários

de framengo, pobrema e homi.”

Outra distinção interessante diz respeito aos fenômenos controlados e os não

controlados pela escola. É interessante verificar que a escola “pune, com

veemência, o uso de formas com supressão e/ou troca de líquidas” (VOTRE, 2007,

p. 53). Entretanto, aceita formas redundantes como a expressão “há anos atrás”.

Podemos perceber que há um grau de estigmatização muito alto em relação ao

rotacismo; por isso resolvemos investigar, em pouco tempo, o resultado da

escolarização na fala dos mesmos informantes. Acreditamos que não só as

pressões da escola, como também a busca do falante, quando se conscientiza do

prestígio das formas valorizadas pela escola, podem ser responsáveis, em pouco

tempo, pelo abandono parcial ou total de formas estigmatizadas como o rotacismo.

A tabela abaixo mostra claramente a redução no percentual de rotacismo com

o aumento da escolarização:

TABELA 17: ROTACISMO TOTAL DE ANOS DE ESCOLARIDADE

Escolaridade Apl./ Total %

1-3 anos 294/648 45.4

5-7 anos 127/512 24.8

Nos primeiros anos de escolarização 45,4% das palavras reconhecidas foram

rotacizadas, enquanto com cinco ou mais anos de escolarização, percebe-se uma

redução do percentual de rotacismo, que passa a 24,8% das palavras reconhecidas.

Soma-se a isso, o crescimento do percentual de uso da variante padrão. Com base

nesses resultados, percebemos que fenômenos avaliados negativamente, como é

caso do rotacismo, tendem a desaparecer mais rápido com a escolarização. Em

apenas quatro anos, confirmando nossa hipótese, observamos que a variante

Page 91: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

91

padrão passa a dominar as outras, principalmente se essa é estigmatizada, marcada

pelo preconceito.

Entretanto, a quantidade de anos que o aluno passa na escola não pressupõe

que todos sejam “afetados” por essa instituição normativa, da mesma maneira. Os

informantes desta pesquisa cumpriram mais quatro anos na escola, desde a primeira

entrevista. No entanto, alguns ficaram retidos, tendo de rever objetivos que ficaram

para trás. Parte desses alunos não consolidou o processo de letramento. Alguns não

leem e não escrevem. A escola não conseguiu, por diversos fatores, muitas vezes

externos a sua jurisdição, incutir-lhes a norma. Considerando que tempo não

significa qualidade, fizemos uma análise da aplicação de rotacismo na fala desses

alunos, em comparação com a fala dos alunos que seguiram o curso natural de

escolarização. Os resultados são observados a seguir:

TABELA 18: ESCOLARIDADE E ROTACISMO (ASPECTO QUALITATIVO)

Qualidade

Escolaridade

(2010)

Apl./ Total %

(w) Aprovados 106/574 18.5

(z) Retidos 54/120 45.0

A aplicação de rotacismo na fala dos alunos aprovados é de 18, 5%,

enquanto na fala dos alunos que ficaram retidos em um ou mais anos de

escolaridade é de 45%. Os resultados demonstram claramente que o percentual de

rotacismo não é elevado apenas nos primeiros anos de escolaridade: se não houver

paridade entre a quantidade de anos que se passa na escola e a qualidade do

processo de letramento, esse percentual continua elevado.

Page 92: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

92

6.10. ESCOLARIDADE DOS GENITORES

Abaixo, seguem os resultados em cada faixa etária:

TABELA 19: ESCOLARIDADE PAI

Pai13

Variante Apl./ Total % Peso relativo

EFI 210/374 56.1 .62

EFC 73/172 42.4 .49

EMI 2/20 10.0 .13

EMC 2/22 9.1 .11

Nos resultados dos pais, percebe-se claramente que nos filhos de pais com

ensino fundamental incompleto, a incidência de rotacismo é considerável (56,1%).

TABELA 20: ESCOLARIDADE MÃE

Mãe14

Variante Apl./ Total % Peso relativo

EFI 183/375 48.8 .54.

EFC 33/138 23.9 .27

EMI 25/44 56.8 .61

EMC 43/78 55.1 .60

Nos resultados das mães, houve certo enviezamento, visto que, pelos

percentuais, os filhos de mães com maior escolaridade parecem realizar mais

rotacismo que os filhos de mães com menor nível de escolarização. Percebe-se,

entretanto, que o total de mães em nível mais alto é menor que nos níveis menores

de escolaridade. Além disso, esse total de ensino médio incompleto representa

13 Legenda e codificação Goldvarb: EFI= ensino fundamental incompleto (n); EFC= ensino fundamental completo (o); EMI= ensino médio incompleto (p) e EMC= ensino médio completo (q).

14 Legenda e codificação Goldvarb: EFI= ensino fundamental incompleto (h); EFC= ensino fundamental completo (i); EMI= ensino médio incompleto (j) e EMC= ensino médio completo (k).

Page 93: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

93

apenas 2 informantes e o total de ensino médio completo, 4 informantes. Veja-se o

gráfico a seguir:

GRÁFICO 3: PERCENTUAL ESCOLARIDADE PAIS X ROTACISMO NA FALA DOS FILHOS

66,9%

12,4% 14,0%

6,7%

0

2

4

6

8

10

12

14

16

EFI EFC EMI EMC

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Pai Mãe rotacismo

Legenda:EFI - Ensino Fundamental IncompletoEFC - Ensino Fundamental CompletoEMI - Ensino Médio IncompletoEMC - Ensino Médio Completo

O gráfico demonstra que quanto menor a escolaridade dos pais, maior a

ocorrência de rotacismo nos filhos. Fica evidente a queda na realização de rotacismo

entre o ensino fundamental incompleto e o ensino fundamental completo. É

interessante observar essa diferença em um mesmo nível de ensino.

Embora se esperasse que o percentual de rotacismo sofresse queda

progressiva com o aumento da escolaridade, há uma pequena alteração (subida) no

percentual de rotacismo nos filhos de pais com ensino médio incompleto. Entretanto,

percebe-se que o percentual de mães nesse nível de escolaridade é menor que o

percentual de pais. A questão que se faz é a seguinte: terá a escolaridade das mães

influenciado esse aumento no índice de rotacismo dos filhos?

É inegável que as mães, nessa comunidade em especial, são mais atuantes

na educação dos filhos, devido a vários fatores, já sinalizados mais acima e aqui

repetidos por conveniência: muitas são mães solteiras, não havendo participação

dos pais na criação dos filhos; há, ainda, muitas mães que não trabalham fora de

casa, enquanto os pais ficam a maior parte do dia no trabalho; nos dois casos, as

Page 94: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

94

mães permanecem mais tempo com os filhos e, de certo modo, essa permanência

repercute na fala das crianças. Além disso, analisando os dados obtidos na

entrevista, observa-se que, em uma mesma família, o pai concluiu o primeiro

segmento (anos iniciais) do ensino fundamental, enquanto a mãe estudou até, no

máximo, a segunda série. Enfim, há um percentual grande de mulheres que não

concluem os estudos.

6.11. PERFIL ECONÔMICO E CULTURAL DOS PAIS

Quanto ao perfil econômico e cultural dos pais, utilizaram-se como fonte de

informações entrevistas realizadas no início do ano letivo com os responsáveis. A

partir das declarações sobre funções exercidas no trabalho e salário, práticas de

lazer, acesso à tecnologia, contatos sociais e práticas de leitura, desenhamos um

retrato que acreditamos ser favorecedor da fala não-padrão, sendo um dos índices o

rotacismo.

6.11.1. Mercado de trabalho e renda

Concluiu-se que grande parte das famílias possui renda inferior a dois salários

mínimos, embora seja constituída, em geral, de, no mínimo, quatro pessoas. Essa

realidade é consequência de vários fatores, dentre eles, a baixa escolaridade que,

por sua vez, é resultado da pobreza, da falta de oportunidades. Enfim, uma

dificuldade origina outras ainda maiores.

QUADRO 23: MERCADO DE TRABALHO (DIFERENÇAS ENTRE PAIS E MÃES)

Mercado de trabalho 60% DAS MÃES NÃO TRABALHAM

30% GANHAM ATÉ UM SALÁRIO MÍNIMO 10% GANHAM ATÉ DOIS SALÁRIOS MÍNIMOS

59% DOS PAIS GANHAM ATÉ UM SALÁRIO MÍNIMO

23% GANHAM ATÉ DOIS SALÁRIOS MÍNIMOS 18% GANHAM ATÉ 3 SALÁRIOS

Bortoni-Ricardo (2004, p. 48) aponta mercado de trabalho como um fator

condicionador do repertório linguístico de um falante. Para a autora, há certas

Page 95: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

95

profissões que precisam de flexibilidade estilística, como professor, advogado, juiz,

caracterizadas pelo domínio dos estilos monitorados.

Na entrevista realizada com os pais, conforme podemos verificar a seguir,

percebe-se que as profissões por eles ocupadas não exigem escolarização

avançada e, nem tampouco, um monitoramento na fala.

QUADRO 24: PROFISSÕES EXERCIDAS PELOS GENITORES

PROFISSÕES

Mães Pais

Diarista Doméstica Acompanhante de idoso Manicure Auxiliar de limpeza

Montador de andaime Ajudante de caminhão Salgadeiro Motorista Ajudante de carga de engradados Motorista autônomo Pedreiro Padeiro Auxiliar de rampa aeroporto Taxista Carregador Bombeiro Lancheiro Auxiliar de serviços gerais Ajudante de eletricista Repositor de estoque Açougueiro

Essas profissões, bem como o nível de escolarização, são fatores que estão

estreitamente ligados ao nível socioeconômico dos entrevistados. Verificamos, como

dito anteriormente, que a maioria dos informantes possui renda até um salário

mínimo. Há ainda aqueles que vivem da informalidade, não possuindo rendimento

fixo.

Segundo Bortoni-Ricardo (op. cit.) “as diferenças de status socioeconômico

representam desigualdades na distribuição de bens materiais e bens culturais, o que

se reflete em diferenças sociolinguísticas.”

6.11.2. Rede social

De acordo com Bortoni-Ricardo (2004, p. 49), “cada um de nós adota

comportamentos muito semelhantes ao das pessoas com que convivemos em nossa

rede social.” Além da rede social, a autora considera o grupo de referência, ou seja,

pessoas que são modelos de conduta para o indivíduo, embora não haja entre eles

Page 96: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

96

interação. Essa referência é construída, por exemplo, quando o indivíduo assiste à

televisão. As características das pessoas com as quais um indivíduo interage, nos

diferentes domínios sociais, podem ser determinantes em seu repertório linguístico.

A mesma autora (2005, p. 96), ao associar resultados de estudos

socioantropológicos de redes e análises sociolinguísticas, conclui:

... as redes densas, cujos laços são contraídos em um território limitado, são próprias de grupos de nível socioeconômico mais baixo, onde prevalece a orientação para a identidade. Em termos sociolinguísticos, verifica-se que nesses grupos, há uma forte tendência à preservação do vernáculo, ou seja, da variedade usada no lar e no círculo de amigos e vizinhos.

Já os indivíduos com maior mobilidade social, por estabelecerem redes de

relacionamento mais esparsas, estão mais propensos a mudanças, no sentido da

aquisição da forma de prestígio.

Milroy (2001, p. 557) afirma que o comportamento linguístico (conservador vs

inovador) está relacionado à integração de três importantes redes, incluindo aquelas

que envolvem trabalho e exposição de variedades de línguas não-local. 15

Consoante Milroy (op. cit., p. 567), “enquanto o relacionamento entre a classe,

rede e mobilidade é evidente, o seu caráter exato ainda não é tão claro quanto são

os resultados linguísticos associados com as interações entre essas variáveis

sociais.”16

Após análise das entrevistas, vimos que a maioria das mães não trabalha;

suas relações, desse modo, se estabelecem dentro da própria comunidade. Já os

pais, embora saiam da comunidade para trabalhar, em geral, seus empregos

localizam-se em comunidades próximas.

Os genitores citam como motivos para deixar o local onde residem: trabalho,

visitas a parentes, passeios a shoppings; entretanto, relatam que essas saídas são

raras. Na comunidade, a integração com outros indivíduos ocorre na praça, na

escola, nas igrejas e nas lanchonetes. As práticas de lazer ocorrem nesses locais.

Seus grupos de referência poderiam ser encontrados principalmente na televisão, já

que a maioria não tem acesso à internet. Entretanto, não nos parece haver uma

influência desses meios de comunicação na fala dessas pessoas. 15 Overall, the best correlate of linguistic behavior (conservative vs. innovatory) was integration into three important networks, including those which involved workplace and exposure to non-local language varieties. 16 While the relationship between class, network, and mobility is evident, its precise character is a yet unclear as are the linguistic outcomes associated with interactions between these social variables. (Milroy, p. 567)

Page 97: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

97

Apresentamos um quadro com o percentual de programas preferidos por

nossos informantes:

QUADRO 25: REDES SOCIAIS (GRUPOS DE REFERÊNCIA)

TV % preferência

novelas 39,29% esportes 7,14% prog auditório 10,71%

noticiários 21,43% prog religioso 7,14%

filmes 14,29%

Constatamos ainda que a maioria possui televisão e faz uso frequente desse

entretenimento. Quanto ao rádio, sua utilização não é tão frequente. Contudo, pelo

menos é o que indica esta pesquisa; esses meios parecem, como dito

anteriormente, não exercer tanta influência na linguagem dos membros da

comunidade.

6.11.3. Acesso aos bens culturais (práticas de leitura)

O perfil cultural dos pais foi analisado por meio de informações sobre práticas

de leitura e escrita no lar. A maioria dos pais revelou que leitura e escrita não são

práticas comuns nas famílias. A leitura de jornais é esporádica, destacando-se

resumos de novelas, classificados e notícias policiais. Não desconsideramos a

leitura de jornal pelo conteúdo ou pelas seções mais lidas, mas por sua frequência.

A leitura de revistas é rara nessa comunidade; de livros, também. Para este trabalho,

importa reconhecer que a realidade linguística desse grupo está atrelada a fatores

socioeconômicos e culturais.

Page 98: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

98

CONCLUSÃO

Esta dissertação se propôs a investigar o processo de rotacismo do /l/ nos

encontros consonantais, formulando hipóteses que comprovassem que fatores

sociais são decisivos na substituição de [l] por [Ȏ], considerando escolaridade como a

principal variável.

Procuramos evidenciar que o rotacismo constitui fenômeno de variação

estável no português, de uma forma geral, e na comunidade estudada, mais

particularmente. Por meio de informações sobre a formação da língua portuguesa a

partir do latim vulgar, conseguimos demonstrar a estabilidade da alternância entre as

líquidas.

Além da relevância dos fatores sociais, pretendemos identificar os fatores

estruturais significativos para a ocorrência do fenômeno. As análises empreendidas

demonstraram que o cruzamento de fatores, como modo de articulação, presença de

líquida, vozeamento e tonicidade, mostrou-se mais produtivo que a análise dos

fatores isoladamente.

No decorrer da análise, observou-se uma interessante coincidência de

fatores, principalmente no que se refere à escolaridade. Assim sendo, quanto menor

a escolarização, maior a ocorrência de rotacismo. A influência dessa variável na

realização do fenômeno foi confirmada. A baixa escolaridade revelou-se uma das

principais variáveis favorecedoras ao fenômeno na primeira amostra. Na amostra

resultante do recontato, verificamos uma queda considerável no percentual de

rotacismo. Para uma análise mais precisa, realizamos a comparação entre a fala dos

alunos que seguiram o curso normal da escolarização e a fala daqueles que ficaram

retidos, na amostra recontato. Os dados revelaram que o rotacismo permanece com

percentual elevado de realização na fala dos informantes que não consolidaram o

processo de letramento. Comprovamos através dos resultados que, pelo fato de ser

o fenômeno do rotacismo estigmatizado socialmente, a mudança no sentido da

implementação da variante padrão na fala desses informantes vem ocorrendo com

mais velocidade que em outros fenômenos, para os quais, geralmente, a mudança

se verifica no período de, pelo menos, uma geração.

Page 99: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

99

Apresenta-se abaixo um trecho, extraído de Coutinho (2005: 30), que retrata

claramente as classes que falavam o latim vulgar:

A estas pertenciam os soldados (milites), os marinheiros (nautae), os artífices (fabri), os agricultores (agricolae), os barbeiros (tonsores), os sapateiros (sutores), os taverneiros (caupones), os artistas de circo (histriones), etc., homens livres e escravos, que se acotovelavam nas ruas, que se comprimiam nas praças, que freqüentavam o fórum, que superlotavam os teatros, a negócio ou em busca de diversões, toda essa gente, enfim, que, se passara pela escola, dela só conservara os conhecimentos mais necessários ao exercício da sua atividade.

Em comparação com a realidade do grupo amostral estudado, há muitas

semelhanças, como apontado anteriormente nos dados sobre perfil social dos pais.

Essas similaridades envolvem grau de escolaridade, profissão e acesso a bens

culturais. Em primeiro lugar, a maioria dos pais não concluiu o ensino fundamental.

Depois, quanto às profissões, estas não exigem um grau de escolaridade elevado:

há muitos pedreiros, motoristas, empregadas domésticas, auxiliares de serviços

gerais, trabalhadores do comércio, trabalhadores que exercem serviços temporários

e, ainda, muitos desempregados. O acesso aos bens culturais é bastante limitado.

Além disso, a leitura e a escrita, em geral, não são práticas comuns na família. As

características acima propiciam a realização da fala não-padrão, sendo um índice

dessa ocorrência o rotacismo. É certo que a continuidade dos estudos, a ampliação

dos contatos sociais e o acesso à cultura podem incutir a fala padrão, mesmo nas

pessoas que nasceram em comunidades desfavorecidas.

Acreditamos ter cumprido nossos objetivos, contribuindo para a descrição do

português, visto que utilizamos dados de fala para a descrição do fenômeno, por

meio de uma análise variacionista. Além disso, formalizamos o processo fonológico

de substituição de /l/ por /r/ nos grupos consonantais, por meio da Geometria de

Traços (CLEMENTS & HUME, 1995), observando que características articulatórias

favorecem a substituição e que traços são manipulados nessa operação.

Evidentemente, a simplificação e sistematização aqui propostas merecem um

aprofundamento posterior, seja através do levantamento de outros vocábulos, seja

pela ampliação das obras referenciais ou mesmo pela realização da pesquisa em

outras faixas etárias. Espera-se, contudo, que a pesquisa tenha prestado alguma

contribuição para os estudos sobre variação fonológica, de uma forma geral, e sobre

o rotacismo, mais especificamente.

Page 100: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

100

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Page 104: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

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Page 105: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

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Page 106: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

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Page 107: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

107

ANEXO A: FORMULÁRIO DE ENTREVISTA

Page 108: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

108

PALAVRAS ESTRATÉGIAS DA ENTREVISTA

plástico Apresentou-se uma embalagem de cola e perguntou-se: “De que

material é feito esse tubo de cola?”

Flamengo Foto de jornal

Fluminense Foto de jornal

placa Foto de jornal

planta Ilustração de um livro

explodir Desenho de uma bomba seguido de pergunta: “Se eu acender o pavio,

o que vai acontecer?”

Pluto “Como se chama o cachorro do Mickey?”

claro “Quando o dia não está escuro, está...?”

planeta Ilustração de um livro

flocos Ilustração de um sorvete. “Qual o sabor desse sorvete?”

flor Ilustração de um livro

chiclete Embalagem do doce

blusa Ilustração de um livro

bloco Ilustração de um livro

Globo Logomarca da TV Globo

Cláudia “Qual o nome da professora que trabalha nessa sala à tarde?”

flagra O entrevistador perguntava: “O que você costuma dizer quando vê

alguém fazendo algo errado às escondidas? Peguei no...”

flecha Ilustração de um livro

floresta Ilustração de um livro

bicicleta Ilustração de um livro

biblioteca “Como se chama o local onde são guardados os livros e onde

podemos consultá-los?”

Bíblia Ilustração de um livro

problema “Quando você está em situação difícil, está com um...para resolver.”

flauta Ilustração de um livro

clóvis “Qual o outro nome dado ao bate-bola?”

cloro “Como se chama o líquido que colocamos em roupas brancas para

retirar manchas?”

glacê Ilustração de um bolo, no qual o entrevistador perguntava o nome

dado à cobertura.

atleta Ilustração de um livro

completo “Terminei minha coleção de figurinhas, meu álbum está...”

nublado “Quando há sol forte, o tempo está ensolarado. E quando há muitas

nuvens escuras no céu, o tempo está...”

Floribela Foto de revista

Page 109: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

109

ANEXO B: RODADAS DO GOLDVARB PARA A FAIXA 5-7

Page 110: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

110

• CELL CREATION • 27/7/2010 20:31:16

•••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

Name of token file: ROTACISMO 5-7.tkn

Name of condition file: Untitled.cnd

(

(1)

(2)

(3)

(4)

(5)

(6)

(7)

(8)

(9)

)

Number of cells: 194

Application value(s): 0

Total no. of factors: 22

Non-

Group Apps apps Total %

--------------------------------------

1 (2)

f N 170 152 322 49.7

% 52.8 47.2

m N 124 202 326 50.3

% 38.0 62.0

Total N 294 354 648

% 45.4 54.6

--------------------------------------

2 (3)

n N 210 164 374 57.7

% 56.1 43.9

o N 73 99 172 26.5

% 42.4 57.6

r N 7 53 60 9.3

% 11.7 88.3

p N 2 18 20 3.1

% 10.0 90.0

q N 2 20 22 3.4

% 9.1 90.9

Total N 294 354 648

Page 111: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

111

% 45.4 54.6

--------------------------------------

3 (4)

h N 183 192 375 57.9

% 48.8 51.2

j N 25 19 44 6.8

% 56.8 43.2

i N 33 105 138 21.3

% 23.9 76.1

l N 10 3 13 2.0

% 76.9 23.1

k N 43 35 78 12.0

% 55.1 44.9

Total N 294 354 648

% 45.4 54.6

--------------------------------------

4 (5)

x N 219 248 467 72.1

% 46.9 53.1

y N 75 106 181 27.9

% 41.4 58.6

Total N 294 354 648

% 45.4 54.6

--------------------------------------

5 (6)

S N 211 266 477 73.6

% 44.2 55.8

R N 83 88 171 26.4

% 48.5 51.5

Total N 294 354 648

% 45.4 54.6

--------------------------------------

6 (7)

t N 222 234 456 70.4

% 48.7 51.3

a N 72 120 192 29.6

% 37.5 62.5

Total N 294 354 648

% 45.4 54.6

--------------------------------------

Page 112: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

112

7 (8)

I N 194 222 416 64.2

% 46.6 53.4

N N 100 132 232 35.8

% 43.1 56.9

Total N 294 354 648

% 45.4 54.6

--------------------------------------

8 (9)

A N 221 238 459 70.8

% 48.1 51.9

L N 73 116 189 29.2

% 38.6 61.4

Total N 294 354 648

% 45.4 54.6

--------------------------------------

TOTAL N 294 354 648

% 45.4 54.6

Name of new cell file: .cel

• GROUPS & FACTORS • 27/7/2010 20:31:29

••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

----------------

Group Default Factors

1 0 012

2 f fm

3 n nopqr

4 h hijkl

5 x xy

6 S SR

7 t ta

8 I IN

9 L LA

• BINOMIAL VARBRUL • 27/7/2010 20:31:48

••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

Name of cell file: .cel

Averaging by weighting factors.

Threshold, step-up/down: 0.050001

Stepping up...

---------- Level # 0 ----------

Page 113: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

113

Run # 1, 1 cells:

Convergence at Iteration 2

Input 0.454

Log likelihood = -446.378

---------- Level # 1 ----------

Run # 2, 2 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.453

Group # 1 -- f: 0.575, m: 0.426

Log likelihood = -439.234 Significance = 0.000

Run # 3, 5 cells:

Convergence at Iteration 6

Input 0.433

Group # 2 -- n: 0.627, o: 0.492, r: 0.148, p: 0.127, q: 0.116

Log likelihood = -408.467 Significance = 0.000

Run # 4, 5 cells:

Convergence at Iteration 5

Input 0.449

Group # 3 -- h: 0.540, j: 0.618, i: 0.279, l: 0.804, k: 0.602

Log likelihood = -426.498 Significance = 0.000

Run # 5, 2 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.454

Group # 4 -- x: 0.515, y: 0.461

Log likelihood = -445.591 Significance = 0.212

Run # 6, 2 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.454

Group # 5 -- S: 0.489, R: 0.532

Log likelihood = -445.908 Significance = 0.344

Run # 7, 2 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.453

Group # 6 -- t: 0.534, a: 0.420

Log likelihood = -442.937 Significance = 0.009

Run # 8, 2 cells:

Convergence at Iteration 3

Input 0.454

Group # 7 -- I: 0.513, N: 0.478

Log likelihood = -446.003 Significance = 0.405

Run # 9, 2 cells:

Page 114: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

114

Convergence at Iteration 4

Input 0.453

Group # 8 -- A: 0.528, L: 0.432

Log likelihood = -443.910 Significance = 0.029

Add Group # 2 with factors norpq

---------- Level # 2 ----------

Run # 10, 8 cells:

Convergence at Iteration 6

Input 0.432

Group # 1 -- f: 0.543, m: 0.457

Group # 2 -- n: 0.625, o: 0.480, r: 0.156, p: 0.148, q: 0.135

Log likelihood = -406.501 Significance = 0.048

Run # 11, 13 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.433

Group # 2 -- n: 0.611, o: 0.515, r: 0.224, p: 0.130, q: 0.046

Group # 3 -- h: 0.493, j: 0.563, i: 0.339, l: 0.735, k: 0.732

Log likelihood = -395.964 Significance = 0.000

Run # 12, 10 cells:

Convergence at Iteration 6

Input 0.432

Group # 2 -- n: 0.627, o: 0.492, r: 0.148, p: 0.128, q: 0.118

Group # 4 -- x: 0.514, y: 0.464

Log likelihood = -407.878 Significance = 0.282

Run # 13, 10 cells:

Convergence at Iteration 6

Input 0.432

Group # 2 -- n: 0.627, o: 0.492, r: 0.148, p: 0.128, q: 0.117

Group # 5 -- S: 0.489, R: 0.530

Log likelihood = -408.090 Significance = 0.403

Run # 14, 10 cells:

Convergence at Iteration 6

Input 0.432

Group # 2 -- n: 0.628, o: 0.491, r: 0.145, p: 0.126, q: 0.118

Group # 6 -- t: 0.537, a: 0.414

Log likelihood = -404.830 Significance = 0.009

Run # 15, 10 cells:

Convergence at Iteration 6

Input 0.432

Group # 2 -- n: 0.627, o: 0.492, r: 0.147, p: 0.126, q: 0.116

Group # 7 -- I: 0.516, N: 0.471

Log likelihood = -407.912 Significance = 0.294

Page 115: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

115

Run # 16, 10 cells:

Convergence at Iteration 6

Input 0.432

Group # 2 -- n: 0.627, o: 0.494, r: 0.145, p: 0.124, q: 0.114

Group # 8 -- A: 0.533, L: 0.420

Log likelihood = -405.416 Significance = 0.014

Add Group # 3 with factors hjilk

---------- Level # 3 ----------

Run # 17, 18 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.432

Group # 1 -- f: 0.553, m: 0.448

Group # 2 -- n: 0.614, o: 0.497, r: 0.229, p: 0.158, q: 0.049

Group # 3 -- h: 0.489, j: 0.517, i: 0.347, l: 0.690, k: 0.760

Log likelihood = -393.506 Significance = 0.029

Run # 18, 26 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.433

Group # 2 -- n: 0.611, o: 0.516, r: 0.224, p: 0.130, q: 0.046

Group # 3 -- h: 0.493, j: 0.565, i: 0.337, l: 0.734, k: 0.735

Group # 4 -- x: 0.517, y: 0.457

Log likelihood = -395.169 Significance = 0.209

Run # 19, 26 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.433

Group # 2 -- n: 0.611, o: 0.515, r: 0.224, p: 0.131, q: 0.046

Group # 3 -- h: 0.493, j: 0.562, i: 0.338, l: 0.734, k: 0.733

Group # 5 -- S: 0.488, R: 0.534

Log likelihood = -395.510 Significance = 0.354

Run # 20, 26 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.432

Group # 2 -- n: 0.612, o: 0.515, r: 0.222, p: 0.129, q: 0.045

Group # 3 -- h: 0.492, j: 0.567, i: 0.335, l: 0.740, k: 0.738

Group # 6 -- t: 0.540, a: 0.406

Log likelihood = -391.845 Significance = 0.007

Run # 21, 26 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.433

Group # 2 -- n: 0.611, o: 0.516, r: 0.223, p: 0.129, q: 0.046

Group # 3 -- h: 0.493, j: 0.564, i: 0.339, l: 0.739, k: 0.730

Group # 7 -- I: 0.515, N: 0.474

Log likelihood = -395.532 Significance = 0.368

Page 116: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

116

Run # 22, 26 cells:

Convergence at Iteration 9

Input 0.432

Group # 2 -- n: 0.611, o: 0.518, r: 0.222, p: 0.126, q: 0.044

Group # 3 -- h: 0.492, j: 0.570, i: 0.335, l: 0.748, k: 0.735

Group # 8 -- A: 0.536, L: 0.413

Log likelihood = -392.462 Significance = 0.009

Add Group # 6 with factors ta

---------- Level # 4 ----------

Run # 23, 35 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.432

Group # 1 -- f: 0.553, m: 0.448

Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.496, r: 0.227, p: 0.156, q: 0.048

Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.521, i: 0.344, l: 0.694, k: 0.766

Group # 6 -- t: 0.540, a: 0.406

Log likelihood = -389.402 Significance = 0.030

Run # 24, 52 cells:

Convergence at Iteration 9

Input 0.432

Group # 2 -- n: 0.612, o: 0.515, r: 0.223, p: 0.129, q: 0.045

Group # 3 -- h: 0.492, j: 0.568, i: 0.335, l: 0.739, k: 0.739

Group # 4 -- x: 0.507, y: 0.481

Group # 6 -- t: 0.538, a: 0.411

Log likelihood = -391.704 Significance = 0.612

Run # 25, 52 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.432

Group # 2 -- n: 0.612, o: 0.515, r: 0.222, p: 0.130, q: 0.045

Group # 3 -- h: 0.492, j: 0.566, i: 0.335, l: 0.739, k: 0.740

Group # 5 -- S: 0.486, R: 0.539

Group # 6 -- t: 0.541, a: 0.404

Log likelihood = -391.230 Significance = 0.273

Run # 26, 52 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.432

Group # 2 -- n: 0.612, o: 0.515, r: 0.222, p: 0.128, q: 0.045

Group # 3 -- h: 0.492, j: 0.567, i: 0.336, l: 0.742, k: 0.737

Group # 6 -- t: 0.539, a: 0.409

Group # 7 -- I: 0.509, N: 0.484

Log likelihood = -391.696 Significance = 0.602

Run # 27, 52 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.432

Page 117: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

117

Group # 2 -- n: 0.612, o: 0.517, r: 0.221, p: 0.126, q: 0.044

Group # 3 -- h: 0.492, j: 0.572, i: 0.333, l: 0.751, k: 0.739

Group # 6 -- t: 0.534, a: 0.419

Group # 8 -- A: 0.530, L: 0.427

Log likelihood = -389.546 Significance = 0.036

Add Group # 1 with factors fm

---------- Level # 5 ----------

Run # 28, 68 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.431

Group # 1 -- f: 0.553, m: 0.448

Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.497, r: 0.227, p: 0.156, q: 0.048

Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.522, i: 0.343, l: 0.694, k: 0.766

Group # 4 -- x: 0.507, y: 0.482

Group # 6 -- t: 0.538, a: 0.410

Log likelihood = -389.282 Significance = 0.640

Run # 29, 68 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.431

Group # 1 -- f: 0.552, m: 0.448

Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.496, r: 0.227, p: 0.157, q: 0.048

Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.520, i: 0.343, l: 0.694, k: 0.767

Group # 5 -- S: 0.486, R: 0.538

Group # 6 -- t: 0.541, a: 0.404

Log likelihood = -388.831 Significance = 0.288

Run # 30, 68 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.432

Group # 1 -- f: 0.552, m: 0.448

Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.497, r: 0.226, p: 0.155, q: 0.048

Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.522, i: 0.344, l: 0.696, k: 0.765

Group # 6 -- t: 0.539, a: 0.408

Group # 7 -- I: 0.507, N: 0.487

Log likelihood = -389.301 Significance = 0.665

Run # 31, 68 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.431

Group # 1 -- f: 0.554, m: 0.447

Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.498, r: 0.226, p: 0.154, q: 0.047

Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.525, i: 0.342, l: 0.706, k: 0.767

Group # 6 -- t: 0.534, a: 0.419

Group # 8 -- A: 0.531, L: 0.425

Log likelihood = -387.008 Significance = 0.032

Add Group # 8 with factors AL

Page 118: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

118

---------- Level # 6 ----------

Run # 32, 125 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.431

Group # 1 -- f: 0.554, m: 0.446

Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.498, r: 0.225, p: 0.153, q: 0.047

Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.525, i: 0.342, l: 0.706, k: 0.767

Group # 4 -- x: 0.496, y: 0.510

Group # 6 -- t: 0.535, a: 0.417

Group # 8 -- A: 0.532, L: 0.423

Log likelihood = -386.973 Significance = 0.793

Run # 33, 116 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.431

Group # 1 -- f: 0.554, m: 0.447

Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.498, r: 0.225, p: 0.155, q: 0.047

Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.524, i: 0.341, l: 0.705, k: 0.768

Group # 5 -- S: 0.491, R: 0.526

Group # 6 -- t: 0.535, a: 0.417

Group # 8 -- A: 0.529, L: 0.430

Log likelihood = -386.756 Significance = 0.484

Run # 34, 129 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.431

Group # 1 -- f: 0.554, m: 0.447

Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.499, r: 0.225, p: 0.152, q: 0.047

Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.525, i: 0.342, l: 0.708, k: 0.766

Group # 6 -- t: 0.533, a: 0.422

Group # 7 -- I: 0.509, N: 0.484

Group # 8 -- A: 0.531, L: 0.425

Log likelihood = -386.850 Significance = 0.590

No remaining groups significant

Groups selected while stepping up: 2 3 6 1 8

Best stepping up run: #31

---------------------------------------------

Stepping down...

---------- Level # 8 ----------

Run # 35, 194 cells:

Convergence at Iteration 9

Input 0.431

Group # 1 -- f: 0.553, m: 0.448

Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.499, r: 0.224, p: 0.153, q: 0.047

Page 119: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

119

Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.524, i: 0.342, l: 0.708, k: 0.766

Group # 4 -- x: 0.497, y: 0.509

Group # 5 -- S: 0.487, R: 0.535

Group # 6 -- t: 0.535, a: 0.418

Group # 7 -- I: 0.511, N: 0.480

Group # 8 -- A: 0.530, L: 0.427

Log likelihood = -386.444

---------- Level # 7 ----------

Run # 36, 152 cells:

Convergence at Iteration 9

Input 0.432

Group # 2 -- n: 0.612, o: 0.517, r: 0.219, p: 0.126, q: 0.044

Group # 3 -- h: 0.492, j: 0.571, i: 0.334, l: 0.752, k: 0.738

Group # 4 -- x: 0.499, y: 0.503

Group # 5 -- S: 0.487, R: 0.536

Group # 6 -- t: 0.534, a: 0.420

Group # 7 -- I: 0.514, N: 0.475

Group # 8 -- A: 0.529, L: 0.430

Log likelihood = -388.874 Significance = 0.031

Run # 37, 100 cells:

Convergence at Iteration 9

Input 0.446

Group # 1 -- f: 0.572, m: 0.429

Group # 3 -- h: 0.536, j: 0.557, i: 0.282, l: 0.770, k: 0.651

Group # 4 -- x: 0.499, y: 0.503

Group # 5 -- S: 0.488, R: 0.534

Group # 6 -- t: 0.533, a: 0.422

Group # 7 -- I: 0.511, N: 0.480

Group # 8 -- A: 0.527, L: 0.435

Log likelihood = -414.580 Significance = 0.000

Run # 38, 99 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.431

Group # 1 -- f: 0.543, m: 0.457

Group # 2 -- n: 0.626, o: 0.482, r: 0.150, p: 0.143, q: 0.135

Group # 4 -- x: 0.497, y: 0.508

Group # 5 -- S: 0.488, R: 0.532

Group # 6 -- t: 0.531, a: 0.426

Group # 7 -- I: 0.514, N: 0.475

Group # 8 -- A: 0.528, L: 0.433

Log likelihood = -400.113 Significance = 0.000

Run # 39, 160 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.431

Group # 1 -- f: 0.553, m: 0.448

Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.499, r: 0.224, p: 0.153, q: 0.047

Page 120: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

120

Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.525, i: 0.342, l: 0.708, k: 0.766

Group # 5 -- S: 0.488, R: 0.533

Group # 6 -- t: 0.534, a: 0.420

Group # 7 -- I: 0.513, N: 0.477

Group # 8 -- A: 0.529, L: 0.429

Log likelihood = -386.469 Significance = 0.829

Run # 40, 165 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.431

Group # 1 -- f: 0.553, m: 0.447

Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.499, r: 0.225, p: 0.152, q: 0.047

Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.526, i: 0.342, l: 0.708, k: 0.765

Group # 4 -- x: 0.501, y: 0.496

Group # 6 -- t: 0.533, a: 0.423

Group # 7 -- I: 0.510, N: 0.482

Group # 8 -- A: 0.531, L: 0.426

Log likelihood = -386.850 Significance = 0.385

Run # 41, 145 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.432

Group # 1 -- f: 0.552, m: 0.449

Group # 2 -- n: 0.614, o: 0.500, r: 0.225, p: 0.153, q: 0.048

Group # 3 -- h: 0.489, j: 0.524, i: 0.344, l: 0.707, k: 0.762

Group # 4 -- x: 0.511, y: 0.472

Group # 5 -- S: 0.492, R: 0.521

Group # 7 -- I: 0.523, N: 0.459

Group # 8 -- A: 0.532, L: 0.423

Log likelihood = -389.018 Significance = 0.025

Run # 42, 164 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.431

Group # 1 -- f: 0.554, m: 0.447

Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.498, r: 0.225, p: 0.154, q: 0.047

Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.523, i: 0.342, l: 0.706, k: 0.768

Group # 4 -- x: 0.491, y: 0.522

Group # 5 -- S: 0.488, R: 0.533

Group # 6 -- t: 0.537, a: 0.412

Group # 8 -- A: 0.532, L: 0.424

Log likelihood = -386.594 Significance = 0.601

Run # 43, 145 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.431

Group # 1 -- f: 0.551, m: 0.450

Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.498, r: 0.225, p: 0.155, q: 0.048

Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.522, i: 0.344, l: 0.698, k: 0.765

Group # 4 -- x: 0.509, y: 0.477

Group # 5 -- S: 0.486, R: 0.538

Page 121: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

121

Group # 6 -- t: 0.536, a: 0.414

Group # 7 -- I: 0.517, N: 0.469

Log likelihood = -388.454 Significance = 0.047

Cut Group # 4 with factors xy

---------- Level # 6 ----------

Run # 44, 126 cells:

Convergence at Iteration 9

Input 0.432

Group # 2 -- n: 0.612, o: 0.517, r: 0.219, p: 0.126, q: 0.044

Group # 3 -- h: 0.492, j: 0.571, i: 0.333, l: 0.752, k: 0.738

Group # 5 -- S: 0.487, R: 0.536

Group # 6 -- t: 0.534, a: 0.420

Group # 7 -- I: 0.514, N: 0.474

Group # 8 -- A: 0.528, L: 0.431

Log likelihood = -388.879 Significance = 0.031

Run # 45, 81 cells:

Convergence at Iteration 5

Input 0.446

Group # 1 -- f: 0.572, m: 0.429

Group # 3 -- h: 0.536, j: 0.557, i: 0.282, l: 0.770, k: 0.651

Group # 5 -- S: 0.488, R: 0.533

Group # 6 -- t: 0.533, a: 0.422

Group # 7 -- I: 0.511, N: 0.480

Group # 8 -- A: 0.526, L: 0.436

Log likelihood = -414.585 Significance = 0.000

Run # 46, 79 cells:

Convergence at Iteration 6

Input 0.431

Group # 1 -- f: 0.544, m: 0.457

Group # 2 -- n: 0.626, o: 0.482, r: 0.150, p: 0.143, q: 0.135

Group # 5 -- S: 0.489, R: 0.530

Group # 6 -- t: 0.531, a: 0.427

Group # 7 -- I: 0.515, N: 0.473

Group # 8 -- A: 0.527, L: 0.435

Log likelihood = -400.135 Significance = 0.000

Run # 47, 129 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.431

Group # 1 -- f: 0.554, m: 0.447

Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.499, r: 0.225, p: 0.152, q: 0.047

Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.525, i: 0.342, l: 0.708, k: 0.766

Group # 6 -- t: 0.533, a: 0.422

Group # 7 -- I: 0.509, N: 0.484

Group # 8 -- A: 0.531, L: 0.425

Log likelihood = -386.850 Significance = 0.401

Page 122: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

122

Run # 48, 116 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.432

Group # 1 -- f: 0.553, m: 0.448

Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.500, r: 0.225, p: 0.153, q: 0.047

Group # 3 -- h: 0.489, j: 0.523, i: 0.344, l: 0.706, k: 0.762

Group # 5 -- S: 0.490, R: 0.528

Group # 7 -- I: 0.517, N: 0.469

Group # 8 -- A: 0.536, L: 0.414

Log likelihood = -389.211 Significance = 0.019

Run # 49, 116 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.431

Group # 1 -- f: 0.554, m: 0.447

Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.498, r: 0.225, p: 0.155, q: 0.047

Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.524, i: 0.341, l: 0.705, k: 0.768

Group # 5 -- S: 0.491, R: 0.526

Group # 6 -- t: 0.535, a: 0.417

Group # 8 -- A: 0.529, L: 0.430

Log likelihood = -386.756 Significance = 0.462

Run # 50, 119 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.431

Group # 1 -- f: 0.552, m: 0.449

Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.497, r: 0.225, p: 0.156, q: 0.048

Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.521, i: 0.344, l: 0.697, k: 0.766

Group # 5 -- S: 0.484, R: 0.545

Group # 6 -- t: 0.540, a: 0.407

Group # 7 -- I: 0.512, N: 0.478

Log likelihood = -388.565 Significance = 0.043

Cut Group # 7 with factors IN

---------- Level # 5 ----------

Run # 51, 90 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.432

Group # 2 -- n: 0.612, o: 0.517, r: 0.221, p: 0.127, q: 0.044

Group # 3 -- h: 0.492, j: 0.571, i: 0.333, l: 0.749, k: 0.740

Group # 5 -- S: 0.490, R: 0.528

Group # 6 -- t: 0.535, a: 0.416

Group # 8 -- A: 0.528, L: 0.432

Log likelihood = -389.256 Significance = 0.028

Run # 52, 56 cells:

Convergence at Iteration 5

Input 0.446

Page 123: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

123

Group # 1 -- f: 0.572, m: 0.428

Group # 3 -- h: 0.536, j: 0.557, i: 0.282, l: 0.767, k: 0.652

Group # 5 -- S: 0.490, R: 0.527

Group # 6 -- t: 0.534, a: 0.420

Group # 8 -- A: 0.526, L: 0.437

Log likelihood = -414.833 Significance = 0.000

Run # 53, 56 cells:

Convergence at Iteration 6

Input 0.431

Group # 1 -- f: 0.544, m: 0.456

Group # 2 -- n: 0.626, o: 0.481, r: 0.151, p: 0.145, q: 0.135

Group # 5 -- S: 0.492, R: 0.522

Group # 6 -- t: 0.532, a: 0.424

Group # 8 -- A: 0.527, L: 0.435

Log likelihood = -400.570 Significance = 0.000

Run # 54, 68 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.431

Group # 1 -- f: 0.554, m: 0.447

Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.498, r: 0.226, p: 0.154, q: 0.047

Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.525, i: 0.342, l: 0.706, k: 0.767

Group # 6 -- t: 0.534, a: 0.419

Group # 8 -- A: 0.531, L: 0.425

Log likelihood = -387.008 Significance = 0.484

Run # 55, 68 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.432

Group # 1 -- f: 0.554, m: 0.447

Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.499, r: 0.227, p: 0.155, q: 0.047

Group # 3 -- h: 0.489, j: 0.522, i: 0.344, l: 0.701, k: 0.764

Group # 5 -- S: 0.494, R: 0.518

Group # 8 -- A: 0.536, L: 0.413

Log likelihood = -389.762 Significance = 0.015

Run # 56, 68 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.431

Group # 1 -- f: 0.552, m: 0.448

Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.496, r: 0.227, p: 0.157, q: 0.048

Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.520, i: 0.343, l: 0.694, k: 0.767

Group # 5 -- S: 0.486, R: 0.538

Group # 6 -- t: 0.541, a: 0.404

Log likelihood = -388.831 Significance = 0.044

Cut Group # 5 with factors SR

---------- Level # 4 ----------

Page 124: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

124

Run # 57, 52 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.432

Group # 2 -- n: 0.612, o: 0.517, r: 0.221, p: 0.126, q: 0.044

Group # 3 -- h: 0.492, j: 0.572, i: 0.333, l: 0.751, k: 0.739

Group # 6 -- t: 0.534, a: 0.419

Group # 8 -- A: 0.530, L: 0.427

Log likelihood = -389.546 Significance = 0.026

Run # 58, 32 cells:

Convergence at Iteration 5

Input 0.446

Group # 1 -- f: 0.573, m: 0.428

Group # 3 -- h: 0.536, j: 0.557, i: 0.282, l: 0.768, k: 0.651

Group # 6 -- t: 0.533, a: 0.422

Group # 8 -- A: 0.528, L: 0.433

Log likelihood = -415.122 Significance = 0.000

Run # 59, 32 cells:

Convergence at Iteration 6

Input 0.431

Group # 1 -- f: 0.545, m: 0.456

Group # 2 -- n: 0.626, o: 0.481, r: 0.151, p: 0.144, q: 0.135

Group # 6 -- t: 0.532, a: 0.425

Group # 8 -- A: 0.528, L: 0.432

Log likelihood = -400.759 Significance = 0.000

Run # 60, 35 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.432

Group # 1 -- f: 0.554, m: 0.446

Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.499, r: 0.227, p: 0.154, q: 0.047

Group # 3 -- h: 0.489, j: 0.522, i: 0.344, l: 0.702, k: 0.763

Group # 8 -- A: 0.537, L: 0.411

Log likelihood = -389.882 Significance = 0.017

Run # 61, 35 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.432

Group # 1 -- f: 0.553, m: 0.448

Group # 2 -- n: 0.615, o: 0.496, r: 0.227, p: 0.156, q: 0.048

Group # 3 -- h: 0.488, j: 0.521, i: 0.344, l: 0.694, k: 0.766

Group # 6 -- t: 0.540, a: 0.406

Log likelihood = -389.402 Significance = 0.032

All remaining groups significant

Groups eliminated while stepping down: 4 7 5

Best stepping up run: #31

Best stepping down run: #54

Page 125: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

125

• BINOMIAL VARBRUL, 1 step • 27/7/2010 20:32:05

••••••••••••••••••••••••••••••••

Name of cell file: .cel

Averaging by weighting factors.

One-level binomial analysis...

Run # 1, 194 cells:

Convergence at Iteration 9

Input 0.431

Group Factor Weight App/Total Input&Weight

1: f 0.553 0.53 0.48

m 0.448 0.38 0.38

2: n 0.615 0.56 0.55

o 0.499 0.42 0.43

r 0.224 0.12 0.18

p 0.153 0.10 0.12

q 0.047 0.09 0.04

3: h 0.488 0.49 0.42

j 0.524 0.57 0.46

i 0.342 0.24 0.28

l 0.708 0.77 0.65

k 0.766 0.55 0.71

4: x 0.497 0.47 0.43

y 0.509 0.41 0.44

5: S 0.487 0.44 0.42

R 0.535 0.49 0.47

6: t 0.535 0.49 0.47

a 0.418 0.38 0.35

7: I 0.511 0.47 0.44

N 0.480 0.43 0.41

8: A 0.530 0.48 0.46

L 0.427 0.39 0.36

Cell Total App'ns Expected Error

mriyStIL 3 1 0.226 2.874

mriyStIA 4 0 0.439 0.493

mriySaIL 3 0 0.145 0.152

mriySaIA 3 0 0.214 0.231

mrixStNA 6 0 0.563 0.621

mrixStIL 2 0 0.144 0.155

mrixStIA 9 1 0.945 0.004

Page 126: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

126

mrixSaNL 2 0 0.082 0.085

mrixRtNL 1 0 0.076 0.083

mrixRtNA 2 0 0.222 0.250

mrixRtIA 4 0 0.497 0.568

mrixRaNA 3 0 0.218 0.235

mrixRaIA 1 1 0.081 11.278

mqkyStIL 2 1 0.161 4.762

mqkyStIA 2 0 0.234 0.265

mqkySaIL 2 0 0.104 0.109

mqkySaIA 2 0 0.153 0.165

mqkxStNA 3 0 0.300 0.334

mqkxStIA 4 0 0.448 0.505

mqkxSaNL 1 0 0.044 0.046

mqkxSaIA 1 0 0.073 0.079

mqkxRtNL 1 1 0.082 11.254

mqkxRtNA 1 0 0.119 0.135

mqkxRtIA 1 0 0.132 0.153

mqkxRaNA 2 0 0.155 0.168

mphyStIL 1 0 0.085 0.093

mphyStIA 2 0 0.248 0.283

mphySaIL 1 0 0.055 0.058

mphySaIA 2 0 0.162 0.177

mphxStNA 3 0 0.319 0.357

mphxStIL 1 0 0.082 0.089

mphxStIA 4 1 0.475 0.658

mphxSaNL 1 0 0.047 0.049

mphxSaIA 1 0 0.078 0.084

mphxRtNL 1 0 0.087 0.095

mphxRtIA 2 1 0.280 2.149

mphxRaNA 1 0 0.082 0.090

mokyStIL 2 2 1.277 1.132

mokyStIA 2 2 1.456 0.747

mokySaIL 2 0 1.049 2.208

mokySaIA 2 2 1.252 1.196

mokxStNA 3 3 2.077 1.334

mokxStIL 1 1 0.627 0.594

mokxStIA 5 5 3.591 1.961

mokxSaNL 1 1 0.481 1.078

mokxSaIA 1 1 0.614 0.628

mokxRtNL 1 1 0.642 0.557

mokxRtNA 1 1 0.731 0.368

mokxRtIA 2 2 1.510 0.648

mokxRaNA 2 1 1.259 0.144

moiyStIL 3 1 0.656 0.230

moiyStIA 1 1 0.298 2.357

moiySaIL 2 0 0.298 0.350

moiySaIA 3 1 0.629 0.278

moixStNA 7 3 1.839 0.993

moixStIL 1 0 0.211 0.267

moixStIA 8 3 2.302 0.297

moixSaNL 3 1 0.385 1.130

Page 127: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

127

moixRtNL 3 1 0.665 0.217

moixRtNA 2 0 0.603 0.862

moixRtIA 3 1 0.985 0.000

moixRaNA 3 1 0.637 0.263

mnkyStIL 1 0 0.740 2.840

mnkyStIA 1 1 0.811 0.232

mnkySaIL 1 0 0.640 1.775

mnkySaIA 2 1 1.458 0.530

mnkxStNA 2 2 1.567 0.553

mnkxStIL 1 0 0.730 2.706

mnkxStIA 3 2 2.412 0.358

mnkxSaNL 1 1 0.599 0.671

mnkxSaIA 1 1 0.719 0.391

mnkxRtNL 1 1 0.743 0.346

mnkxRtIA 1 0 0.832 4.957

mnkxRaNA 1 1 0.732 0.366

mnixStIA 1 0 0.394 0.650

mnhyStIL 14 8 6.333 0.802

mnhyStIA 10 5 5.558 0.126

mnhySaIL 9 0 3.063 4.644

mnhySaIA 13 6 5.703 0.028

mnhxStNA 27 10 13.836 2.181

mnhxStIL 1 1 0.440 1.271

mnhxStIA 32 15 17.399 0.725

mnhxSaNL 11 5 3.327 1.207

mnhxSaIA 2 2 0.854 2.686

mnhxRtNL 9 5 4.107 0.357

mnhxRtNA 2 1 1.119 0.029

mnhxRtIA 18 12 10.627 0.433

mnhxRaNA 12 2 5.312 3.706

friyStIL 1 1 0.110 8.064

friySaIA 1 0 0.105 0.117

frixStNA 1 1 0.136 6.337

frixStIA 1 0 0.152 0.179

frixRtIA 1 1 0.178 4.621

frhyStIL 1 0 0.185 0.227

frhySaIA 1 0 0.177 0.215

frhxStNA 2 0 0.449 0.579

frhxStIL 1 0 0.178 0.217

frhxStIA 2 0 0.494 0.657

frhxSaNL 1 0 0.107 0.119

frhxRtIA 2 1 0.568 0.458

frhxRaNL 1 0 0.126 0.144

frhxRaNA 1 0 0.180 0.219

fojyStIL 2 1 0.951 0.005

fojySaIL 2 0 0.723 1.133

fojySaIA 1 1 0.462 1.165

fojxStNA 3 0 1.607 3.462

fojxStIL 1 0 0.463 0.864

fojxStIA 2 0 1.134 2.617

fojxSaNL 1 1 0.323 2.101

Page 128: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

128

fojxRtNL 1 0 0.480 0.922

fojxRtNA 1 0 0.583 1.396

fojxRtIA 2 1 1.226 0.107

fojxRaNA 2 0 0.932 1.744

foiyStIL 3 2 0.898 1.931

foiyStIA 1 1 0.393 1.546

foiySaIL 4 0 0.843 1.067

foiySaIA 2 1 0.576 0.439

foixStNA 6 0 2.113 3.261

foixStIL 1 0 0.289 0.407

foixStIA 5 1 1.906 0.697

foixSaNL 1 1 0.183 4.460

foixRtNL 1 0 0.303 0.434

foixRtNA 1 0 0.397 0.657

foixRtIA 4 2 1.708 0.087

foixRaNA 2 0 0.582 0.822

fohyStIL 4 1 1.757 0.582

fohyStIA 5 4 2.714 1.334

fohySaIL 6 2 1.972 0.001

fohySaIA 2 1 0.852 0.045

fohxStNA 8 4 3.994 0.000

fohxStIL 4 1 1.710 0.514

fohxStIA 11 5 5.837 0.256

fohxSaNL 3 1 0.874 0.025

fohxSaIA 1 1 0.414 1.416

fohxRtNL 1 0 0.443 0.796

fohxRtNA 2 0 1.093 2.412

fohxRtIA 7 4 4.043 0.001

fohxRaNA 5 2 2.149 0.018

fnlyStIL 1 1 0.763 0.311

fnlySaIL 2 1 1.335 0.253

fnlxStNA 3 2 2.410 0.355

fnlxStIA 2 2 1.645 0.432

fnlxSaNL 1 1 0.628 0.593

fnlxRtNL 1 1 0.765 0.306

fnlxRtIA 2 1 1.697 1.892

fnlxRaNA 1 1 0.755 0.324

fnkyStIL 2 1 1.625 1.281

fnkyStIA 1 0 0.868 6.561

fnkySaIL 1 0 0.730 2.706

fnkySaIA 1 0 0.804 4.099

fnkxStNA 2 2 1.693 0.363

fnkxStIL 1 0 0.805 4.126

fnkxStIA 2 2 1.724 0.320

fnkxSaIA 1 0 0.796 3.905

fnkxRtNL 1 1 0.815 0.227

fnkxRtIA 2 2 1.766 0.265

fnkxRaNA 1 1 0.806 0.240

fnjyStIL 3 2 1.779 0.067

fnjyStIA 1 1 0.688 0.453

fnjySaIL 2 0 0.953 1.821

Page 129: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

129

fnjySaIA 2 2 1.159 1.450

fnjxStNA 4 4 2.599 2.156

fnjxStIL 1 0 0.581 1.389

fnjxStIA 5 5 3.389 2.377

fnjxSaNL 1 1 0.433 1.307

fnjxRtNL 1 1 0.597 0.675

fnjxRtIA 3 3 2.154 1.179

fnjxRaNA 2 1 1.167 0.058

fnjxRaIA 1 1 0.614 0.629

fniyStIL 2 1 0.814 0.072

fniyStIA 1 0 0.510 1.040

fniySaIL 1 0 0.300 0.429

fnixStNA 3 0 1.399 2.621

fnixStIA 4 0 1.991 3.962

fnixSaNL 1 1 0.265 2.775

fnixSaIA 1 1 0.382 1.616

fnixRtNL 1 1 0.411 1.433

fnixRtIA 2 1 1.090 0.016

fnixRaNA 2 0 0.795 1.321

fnixRaIA 1 1 0.428 1.336

fnhyStIL 9 7 5.017 1.771

fnhyStIA 7 5 4.593 0.105

fnhySaIL 8 1 3.523 3.229

fnhySaIA 6 6 3.263 5.034

fnhxStNA 18 15 11.084 3.600

fnhxStIL 8 2 4.363 2.816

fnhxStIA 25 17 16.126 0.133

fnhxSaNL 6 4 2.388 1.807

fnhxSaIA 2 2 1.063 1.761

fnhxRtNL 5 3 2.807 0.030

fnhxRtNA 3 2 1.979 0.001

fnhxRtIA 14 10 9.622 0.047

fnhxRaNA 11 6 6.026 0.000

fnhxRaIA 2 2 1.157 1.456

Total Chi-square = 235.0051

Chi-square/cell = 1.2114

Log likelihood = -386.444

• CROSS TABULATION • 27/7/2010 20:33:46

••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

• Cell file: .cel

• 27/7/2010 20:31:16

• Token file: ROTACISMO 5-7.tkn

• Conditions: Untitled.cnd

Group #4 -- horizontally.

Group #5 -- vertically.

x % y % ∑ %

+ - - - - + - - - - + - - - -

S 0: 136 46: 75 41| 211 44

Page 130: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

130

-: 160 54: 106 59| 266 56

∑: 296 : 181 | 477

+ - - - - + - - - - + - - - -

R 0: 83 49: 0 --| 83 49

-: 88 51: 0 --| 88 51

∑: 171 : 0 | 171

+---------+---------+---------

∑ 0: 219 47: 75 41| 294 45

-: 248 53: 106 59| 354 55

∑: 467 : 181 | 648

• CROSS TABULATION • 27/7/2010 20:33:55

••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

• Cell file: .cel

• 27/7/2010 20:31:16

• Token file: ROTACISMO 5-7.tkn

• Conditions: Untitled.cnd

Group #4 -- horizontally.

Group #6 -- vertically.

x % y % ∑ %

+ - - - - + - - - - + - - - -

t 0: 172 47: 50 54| 222 49

-: 192 53: 42 46| 234 51

∑: 364 : 92 | 456

+ - - - - + - - - - + - - - -

a 0: 47 46: 25 28| 72 38

-: 56 54: 64 72| 120 62

∑: 103 : 89 | 192

+---------+---------+---------

∑ 0: 219 47: 75 41| 294 45

-: 248 53: 106 59| 354 55

∑: 467 : 181 | 648

• CROSS TABULATION • 27/7/2010 20:34:05

••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

• Cell file: .cel

• 27/7/2010 20:31:16

• Token file: ROTACISMO 5-7.tkn

• Conditions: Untitled.cnd

Group #4 -- horizontally.

Group #7 -- vertically.

x % y % ∑ %

+ - - - - + - - - - + - - - -

I 0: 119 51: 75 41| 194 47

-: 116 49: 106 59| 222 53

∑: 235 : 181 | 416

+ - - - - + - - - - + - - - -

Page 131: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

131

N 0: 100 43: 0 --| 100 43

-: 132 57: 0 --| 132 57

∑: 232 : 0 | 232

+---------+---------+---------

∑ 0: 219 47: 75 41| 294 45

-: 248 53: 106 59| 354 55

∑: 467 : 181 | 648

• CROSS TABULATION • 27/7/2010 20:34:19

••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

• Cell file: .cel

• 27/7/2010 20:31:16

• Token file: ROTACISMO 5-7.tkn

• Conditions: Untitled.cnd

Group #4 -- horizontally.

Group #8 -- vertically.

x % y % ∑ %

+ - - - - + - - - - + - - - -

A 0: 180 48: 41 51| 221 48

-: 198 52: 40 49| 238 52

∑: 378 : 81 | 459

+ - - - - + - - - - + - - - -

L 0: 39 44: 34 34| 73 39

-: 50 56: 66 66| 116 61

∑: 89 : 100 | 189

+---------+---------+---------

∑ 0: 219 47: 75 41| 294 45

-: 248 53: 106 59| 354 55

∑: 467 : 181 | 648

Page 132: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

132

ANEXO C: RODADAS DO GOLDVARB PARA A FAIXA 9-11

Page 133: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

133

• CELL CREATION • 27/7/2010 20:14:54

•••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

Name of token file: ROTACISMO 9-11.tkn

Name of condition file: Untitled.cnd

(

(1)

(2)

(3)

(4)

(5)

(6)

(7)

)

Number of cells: 29

Application value(s): 0

Total no. of factors: 12

Non-

Group Apps apps Total %

--------------------------------------

1 (2)

f N 100 242 342 49.3

% 29.2 70.8

m N 60 292 352 50.7

% 17.0 83.0

Total N 160 534 694

% 23.1 76.9

--------------------------------------

2 (3)

x N 101 389 490 70.6

% 20.6 79.4

y N 59 145 204 29.4

% 28.9 71.1

Total N 160 534 694

% 23.1 76.9

--------------------------------------

3 (4)

S N 129 404 533 76.8

% 24.2 75.8

R N 31 130 161 23.2

% 19.3 80.7

Total N 160 534 694

% 23.1 76.9

Page 134: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

134

--------------------------------------

4 (5)

t N 116 379 495 71.3

% 23.4 76.6

a N 44 155 199 28.7

% 22.1 77.9

Total N 160 534 694

% 23.1 76.9

--------------------------------------

5 (6)

I N 117 363 480 69.2

% 24.4 75.6

N N 43 171 214 30.8

% 20.1 79.9

Total N 160 534 694

% 23.1 76.9

--------------------------------------

6 (7)

A N 114 411 525 75.6

% 21.7 78.3

L N 46 123 169 24.4

% 27.2 72.8

Total N 160 534 694

% 23.1 76.9

--------------------------------------

TOTAL N 160 534 694

% 23.1 76.9

Name of new cell file: .cel

• BINOMIAL VARBRUL • 27/7/2010 20:15:24

••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

Name of cell file: .cel

Averaging by weighting factors.

Threshold, step-up/down: 0.050001

Stepping up...

---------- Level # 0 ----------

Run # 1, 1 cells:

Convergence at Iteration 2

Input 0.231

Page 135: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

135

Log likelihood = -374.716

---------- Level # 1 ----------

Run # 2, 2 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.225

Group # 1 -- f: 0.587, m: 0.415

Log likelihood = -367.391 Significance = 0.000

Run # 3, 2 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.229

Group # 2 -- x: 0.467, y: 0.578

Log likelihood = -371.995 Significance = 0.020

Run # 4, 2 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.230

Group # 3 -- S: 0.517, R: 0.445

Log likelihood = -373.838 Significance = 0.189

Run # 5, 2 cells:

Convergence at Iteration 3

Input 0.230

Group # 4 -- t: 0.505, a: 0.487

Log likelihood = -374.646 Significance = 0.708

Run # 6, 2 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.230

Group # 5 -- I: 0.519, N: 0.457

Log likelihood = -373.938 Significance = 0.215

Run # 7, 2 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.230

Group # 6 -- A: 0.482, L: 0.556

Log likelihood = -373.652 Significance = 0.154

Add Group # 1 with factors fm

---------- Level # 2 ----------

Run # 8, 4 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.223

Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414

Group # 2 -- x: 0.466, y: 0.581

Log likelihood = -364.517 Significance = 0.017

Page 136: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

136

Run # 9, 4 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.224

Group # 1 -- f: 0.588, m: 0.414

Group # 3 -- S: 0.518, R: 0.441

Log likelihood = -366.399 Significance = 0.168

Run # 10, 4 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.225

Group # 1 -- f: 0.587, m: 0.415

Group # 4 -- t: 0.505, a: 0.487

Log likelihood = -367.319 Significance = 0.706

Run # 11, 4 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.224

Group # 1 -- f: 0.587, m: 0.415

Group # 5 -- I: 0.519, N: 0.457

Log likelihood = -366.609 Significance = 0.214

Run # 12, 4 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.224

Group # 1 -- f: 0.588, m: 0.415

Group # 6 -- A: 0.481, L: 0.557

Log likelihood = -366.292 Significance = 0.148

Add Group # 2 with factors xy

---------- Level # 3 ----------

Run # 13, 6 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.223

Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414

Group # 2 -- x: 0.469, y: 0.574

Group # 3 -- S: 0.508, R: 0.473

Log likelihood = -364.346 Significance = 0.573

Run # 14, 8 cells:

Convergence at Iteration 5

Input 0.222

Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414

Group # 2 -- x: 0.464, y: 0.586

Group # 4 -- t: 0.511, a: 0.472

Log likelihood = -364.221 Significance = 0.456

Run # 15, 6 cells:

Convergence at Iteration 4

Page 137: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

137

Input 0.223

Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414

Group # 2 -- x: 0.468, y: 0.577

Group # 5 -- I: 0.504, N: 0.490

Log likelihood = -364.493 Significance = 0.831

Run # 16, 8 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.222

Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414

Group # 2 -- x: 0.469, y: 0.575

Group # 6 -- A: 0.487, L: 0.541

Log likelihood = -363.983 Significance = 0.302

No remaining groups significant

Groups selected while stepping up: 1 2

Best stepping up run: #8

---------------------------------------------

Stepping down...

---------- Level # 6 ----------

Run # 17, 29 cells:

Convergence at Iteration 5

Input 0.222

Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.413

Group # 2 -- x: 0.470, y: 0.572

Group # 3 -- S: 0.505, R: 0.483

Group # 4 -- t: 0.509, a: 0.477

Group # 5 -- I: 0.501, N: 0.497

Group # 6 -- A: 0.487, L: 0.539

Log likelihood = -363.661

---------- Level # 5 ----------

Run # 18, 15 cells:

Convergence at Iteration 5

Input 0.228

Group # 2 -- x: 0.471, y: 0.569

Group # 3 -- S: 0.504, R: 0.486

Group # 4 -- t: 0.509, a: 0.478

Group # 5 -- I: 0.502, N: 0.496

Group # 6 -- A: 0.488, L: 0.538

Log likelihood = -371.172 Significance = 0.000

Run # 19, 23 cells:

Convergence at Iteration 5

Input 0.223

Group # 1 -- f: 0.588, m: 0.414

Page 138: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

138

Group # 3 -- S: 0.512, R: 0.460

Group # 4 -- t: 0.502, a: 0.495

Group # 5 -- I: 0.513, N: 0.470

Group # 6 -- A: 0.484, L: 0.550

Log likelihood = -365.231 Significance = 0.081

Run # 20, 22 cells:

Convergence at Iteration 5

Input 0.222

Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414

Group # 2 -- x: 0.468, y: 0.576

Group # 4 -- t: 0.510, a: 0.475

Group # 5 -- I: 0.502, N: 0.495

Group # 6 -- A: 0.487, L: 0.540

Log likelihood = -363.719 Significance = 0.740

Run # 21, 18 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.222

Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414

Group # 2 -- x: 0.472, y: 0.567

Group # 3 -- S: 0.507, R: 0.478

Group # 5 -- I: 0.503, N: 0.494

Group # 6 -- A: 0.487, L: 0.539

Log likelihood = -363.852 Significance = 0.548

Run # 22, 22 cells:

Convergence at Iteration 5

Input 0.222

Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.413

Group # 2 -- x: 0.469, y: 0.573

Group # 3 -- S: 0.505, R: 0.482

Group # 4 -- t: 0.509, a: 0.477

Group # 6 -- A: 0.488, L: 0.539

Log likelihood = -363.662 Significance = 0.971

Run # 23, 20 cells:

Convergence at Iteration 5

Input 0.222

Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414

Group # 2 -- x: 0.467, y: 0.578

Group # 3 -- S: 0.506, R: 0.479

Group # 4 -- t: 0.510, a: 0.476

Group # 5 -- I: 0.500, N: 0.499

Log likelihood = -364.129 Significance = 0.345

Cut Group # 5 with factors IN

---------- Level # 4 ----------

Run # 24, 11 cells:

Page 139: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

139

Convergence at Iteration 5

Input 0.228

Group # 2 -- x: 0.470, y: 0.571

Group # 3 -- S: 0.504, R: 0.485

Group # 4 -- t: 0.509, a: 0.477

Group # 6 -- A: 0.488, L: 0.538

Log likelihood = -371.175 Significance = 0.000

Run # 25, 14 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.223

Group # 1 -- f: 0.588, m: 0.414

Group # 3 -- S: 0.515, R: 0.449

Group # 4 -- t: 0.503, a: 0.493

Group # 6 -- A: 0.484, L: 0.550

Log likelihood = -365.566 Significance = 0.051

Run # 26, 16 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.222

Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414

Group # 2 -- x: 0.467, y: 0.579

Group # 4 -- t: 0.510, a: 0.474

Group # 6 -- A: 0.487, L: 0.540

Log likelihood = -363.724 Significance = 0.729

Run # 27, 12 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.222

Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414

Group # 2 -- x: 0.471, y: 0.569

Group # 3 -- S: 0.507, R: 0.477

Group # 6 -- A: 0.487, L: 0.539

Log likelihood = -363.864 Significance = 0.534

Run # 28, 12 cells:

Convergence at Iteration 5

Input 0.222

Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414

Group # 2 -- x: 0.467, y: 0.579

Group # 3 -- S: 0.506, R: 0.479

Group # 4 -- t: 0.510, a: 0.476

Log likelihood = -364.128 Significance = 0.346

Cut Group # 3 with factors SR

---------- Level # 3 ----------

Run # 29, 8 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.228

Page 140: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

140

Group # 2 -- x: 0.468, y: 0.575

Group # 4 -- t: 0.510, a: 0.475

Group # 6 -- A: 0.487, L: 0.539

Log likelihood = -371.217 Significance = 0.000

Run # 30, 8 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.224

Group # 1 -- f: 0.588, m: 0.415

Group # 4 -- t: 0.505, a: 0.487

Group # 6 -- A: 0.481, L: 0.557

Log likelihood = -366.225 Significance = 0.028

Run # 31, 8 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.222

Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414

Group # 2 -- x: 0.469, y: 0.575

Group # 6 -- A: 0.487, L: 0.541

Log likelihood = -363.983 Significance = 0.479

Run # 32, 8 cells:

Convergence at Iteration 5

Input 0.222

Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414

Group # 2 -- x: 0.464, y: 0.586

Group # 4 -- t: 0.511, a: 0.472

Log likelihood = -364.221 Significance = 0.326

Cut Group # 4 with factors ta

---------- Level # 2 ----------

Run # 33, 4 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.228

Group # 2 -- x: 0.470, y: 0.572

Group # 6 -- A: 0.487, L: 0.540

Log likelihood = -371.472 Significance = 0.000

Run # 34, 4 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.224

Group # 1 -- f: 0.588, m: 0.415

Group # 6 -- A: 0.481, L: 0.557

Log likelihood = -366.292 Significance = 0.035

Run # 35, 4 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.223

Group # 1 -- f: 0.589, m: 0.414

Page 141: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

141

Group # 2 -- x: 0.466, y: 0.581

Log likelihood = -364.517 Significance = 0.302

Cut Group # 6 with factors AL

---------- Level # 1 ----------

Run # 36, 2 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.229

Group # 2 -- x: 0.467, y: 0.578

Log likelihood = -371.995 Significance = 0.000

Run # 37, 2 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.225

Group # 1 -- f: 0.587, m: 0.415

Log likelihood = -367.391 Significance = 0.017

All remaining groups significant

Groups eliminated while stepping down: 5 3 4 6

Best stepping up run: #8

Best stepping down run: #35

• BINOMIAL VARBRUL, 1 step • 27/7/2010 20:15:29

••••••••••••••••••••••••••••••••

Name of cell file: .cel

Averaging by weighting factors.

One-level binomial analysis...

Run # 1, 29 cells:

Convergence at Iteration 5

Input 0.222

Group Factor Weight App/Total Input&Weight

1: f 0.589 0.29 0.29

m 0.413 0.17 0.17

2: x 0.470 0.21 0.20

y 0.572 0.29 0.28

3: S 0.505 0.24 0.23

R 0.483 0.19 0.21

4: t 0.509 0.23 0.23

a 0.477 0.22 0.21

5: I 0.501 0.24 0.22

Page 142: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

142

N 0.497 0.20 0.22

6: A 0.487 0.22 0.21

L 0.539 0.27 0.25

Cell Total App'ns Expected Error

myStIL 26 11 6.512 4.127

myStIA 37 5 7.913 1.364

mySaIL 13 1 2.955 1.674

mySaIA 29 5 5.604 0.081

mxStNA 50 9 7.542 0.332

mxStIL 25 2 4.538 1.735

mxStIA 66 11 10.096 0.096

mxSaNL 14 5 2.095 2.065

mxSaIA 14 3 1.921 0.703

mxRtNL 9 2 1.498 0.202

mxRtNA 12 1 1.678 0.318

mxRtIA 26 4 3.686 0.031

mxRaNA 25 1 3.130 1.656

mxRaIA 7 1 0.889 0.016

fyStIL 27 14 10.922 1.456

fyStIA 33 10 11.752 0.406

fySaIL 10 3 3.743 0.236

fySaIA 29 10 9.498 0.039

fxStNA 45 10 11.940 0.429

fxStIL 24 2 7.459 5.797

fxStIA 67 22 17.993 1.220

fxSaNL 12 4 3.370 0.164

fxSaIA 12 2 2.931 0.392

fxRtNL 10 3 2.887 0.006

fxRtNA 10 3 2.484 0.143

fxRtIA 28 7 7.040 0.000

fxRaNA 27 5 6.085 0.250

fxRaIA 7 4 1.598 4.680

Total Chi-square = 32.7628

Chi-square/cell = 1.1298

Log likelihood = -363.661

• GROUPS & FACTORS • 27/7/2010 20:17:03

••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

----------------

Group Default Factors

1 0 012

2 f fm

3 x xy

4 S SR

5 t ta

6 I IN

7 L LA

Page 143: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

143

• CROSS TABULATION • 27/7/2010 20:18:38

••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

• Cell file: .cel

• 27/7/2010 20:14:54

• Token file: ROTACISMO 9-11.tkn

• Conditions: Untitled.cnd

Group #3 -- horizontally.

Group #4 -- vertically.

S % R % ∑ %

+ - - - - + - - - - + - - - -

t 0: 96 24: 20 21| 116 23

-: 304 76: 75 79| 379 77

∑: 400 : 95 | 495

+ - - - - + - - - - + - - - -

a 0: 33 25: 11 17| 44 22

-: 100 75: 55 83| 155 78

∑: 133 : 66 | 199

+---------+---------+---------

∑ 0: 129 24: 31 19| 160 23

-: 404 76: 130 81| 534 77

∑: 533 : 161 | 694

• CROSS TABULATION • 27/7/2010 20:19:05

••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

• Cell file: .cel

• 27/7/2010 20:14:54

• Token file: ROTACISMO 9-11.tkn

• Conditions: Untitled.cnd

Group #3 -- horizontally.

Group #5 -- vertically.

S % R % ∑ %

+ - - - - + - - - - + - - - -

I 0: 101 25: 16 24| 117 24

-: 311 75: 52 76| 363 76

∑: 412 : 68 | 480

+ - - - - + - - - - + - - - -

N 0: 28 23: 15 16| 43 20

-: 93 77: 78 84| 171 80

∑: 121 : 93 | 214

+---------+---------+---------

∑ 0: 129 24: 31 19| 160 23

-: 404 76: 130 81| 534 77

∑: 533 : 161 | 694

• CROSS TABULATION • 27/7/2010 20:20:48

••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

• Cell file: .cel

Page 144: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

144

• 27/7/2010 20:14:54

• Token file: ROTACISMO 9-11.tkn

• Conditions: Untitled.cnd

Group #3 -- horizontally.

Group #6 -- vertically.

S % R % ∑ %

+ - - - - + - - - - + - - - -

A 0: 88 23: 26 18| 114 22

-: 295 77: 116 82| 411 78

∑: 383 : 142 | 525

+ - - - - + - - - - + - - - -

L 0: 41 27: 5 26| 46 27

-: 109 73: 14 74| 123 73

∑: 150 : 19 | 169

+---------+---------+---------

∑ 0: 129 24: 31 19| 160 23

-: 404 76: 130 81| 534 77

∑: 533 : 161 | 694

• CROSS TABULATION • 27/7/2010 20:22:49

••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

• Cell file: .cel

• 27/7/2010 20:14:54

• Token file: ROTACISMO 9-11.tkn

• Conditions: Untitled.cnd

Group #2 -- horizontally.

Group #3 -- vertically.

x % y % ∑ %

+ - - - - + - - - - + - - - -

S 0: 70 21: 59 29| 129 24

-: 259 79: 145 71| 404 76

∑: 329 : 204 | 533

+ - - - - + - - - - + - - - -

R 0: 31 19: 0 --| 31 19

-: 130 81: 0 --| 130 81

∑: 161 : 0 | 161

+---------+---------+---------

∑ 0: 101 21: 59 29| 160 23

-: 389 79: 145 71| 534 77

∑: 490 : 204 | 694

• CROSS TABULATION • 27/7/2010 20:23:00

••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

• Cell file: .cel

• 27/7/2010 20:14:54

• Token file: ROTACISMO 9-11.tkn

• Conditions: Untitled.cnd

Page 145: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

145

Group #2 -- horizontally.

Group #4 -- vertically.

x % y % ∑ %

+ - - - - + - - - - + - - - -

t 0: 76 20: 40 33| 116 23

-: 296 80: 83 67| 379 77

∑: 372 : 123 | 495

+ - - - - + - - - - + - - - -

a 0: 25 21: 19 23| 44 22

-: 93 79: 62 77| 155 78

∑: 118 : 81 | 199

+---------+---------+---------

∑ 0: 101 21: 59 29| 160 23

-: 389 79: 145 71| 534 77

∑: 490 : 204 | 694

• CROSS TABULATION • 27/7/2010 20:23:11

••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

• Cell file: .cel

• 27/7/2010 20:14:54

• Token file: ROTACISMO 9-11.tkn

• Conditions: Untitled.cnd

Group #2 -- horizontally.

Group #5 -- vertically.

x % y % ∑ %

+ - - - - + - - - - + - - - -

I 0: 58 21: 59 29| 117 24

-: 218 79: 145 71| 363 76

∑: 276 : 204 | 480

+ - - - - + - - - - + - - - -

N 0: 43 20: 0 --| 43 20

-: 171 80: 0 --| 171 80

∑: 214 : 0 | 214

+---------+---------+---------

∑ 0: 101 21: 59 29| 160 23

-: 389 79: 145 71| 534 77

∑: 490 : 204 | 694

• CROSS TABULATION • 27/7/2010 20:23:20

••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

• Cell file: .cel

• 27/7/2010 20:14:54

• Token file: ROTACISMO 9-11.tkn

• Conditions: Untitled.cnd

Group #2 -- horizontally.

Group #6 -- vertically.

Page 146: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

146

x % y % ∑ %

+ - - - - + - - - - + - - - -

A 0: 84 21: 30 23| 114 22

-: 313 79: 98 77| 411 78

∑: 397 : 128 | 525

+ - - - - + - - - - + - - - -

L 0: 17 18: 29 38| 46 27

-: 76 82: 47 62| 123 73

∑: 93 : 76 | 169

+---------+---------+---------

∑ 0: 101 21: 59 29| 160 23

-: 389 79: 145 71| 534 77

∑: 490 : 204 | 694

Page 147: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

147

ANEXO D: REGISTROS DE ROTACISMO EM ATLAS LINGUÍSTICOS

Page 148: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

148

ESBOÇO DE UM ATLAS LINGUÍSTICO DE MINAS GERAIS (CARTA 11):

Page 149: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

149

ESBOÇO DE UM ATLAS LINGUÍSTICO DE MINAS GERAIS (CARTA 23):

Page 150: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

150

ATLAS LINGUÍSTICO-ETNOGRÁFICO DA REGIÃO SUL DO BRASIL-ALERS (CARTA 38):

Page 151: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

151

ATLAS LINGUÍSTICO DO AMAZONAS- ALAM (CARTA 95):

Page 152: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

152

ATLAS LINGUÍSTICO DO SERGIPE (CARTA 25):

Page 153: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

153

ATLAS LINGUÍSTICO DA PARAÍBA (CARTA 16):

Page 154: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

154

ATLAS LINGUÍSTICO DA PARAÍBA (CARTA 20):

Page 155: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

155

ATLAS LINGUÍSTICO DA PARAÍBA (CARTA 36):

Page 156: Rotacização das líquidas nos grupos consonantais: representação

156