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 1 TEORIA PRAGMÁTICA   CURSO 2o SEMESTRE DE 2010 PROFA. MÁRCIA CANÇADO ROTEIRO DE LEITURA DE: LEVINSON, S. 2007. Pragmática . Tradução: Luís Carlos Borges e Aníbal Mari. São Paulo: Martins Fontes. (Livro texto) CAPÍTULO 3   A IMPLICATURA CONVERSACIONAL 1. Introdução A noção de implicatura é uma das idéias mais importantes da pragmática, segundo Levinson (2007). Primeiramente, pode-se demonstrar que a origem dessa espécie de inferência pragmática se encontra fora da organização da língua, em princípios gerais da interação cooperativa, entretanto, esses princípios têm um efeito visível em vários pontos da estrutura da língua. Um segundo ponto é o fato de que a implicatura dá uma explicação até certo ponto explicita de como é possível “dizer mais do que é efeti vamente dito”. Veja o exemplo:  (1) A. Você poderia me dizer onde fica a estação de trem? B. Bem, eu ouvi um barulho de trem vindo dali. Tudo que uma teoria semântica pode dizer a respeito da interpretação semântica de um  pequeno texto como esse seria: (2) A. Você tem a capacidade de dizer a localização da estação de trem? B. [partícula que tem uma interpretação pragmática fixa] 1 Eu escutei um barulho de trem vindo de determinada direção em relação à localização em que eu me encontro (A aponta uma direção). É evidente que o que está sendo comunicado em (1) é muito mais do que a interpretação semântica dada em (2). Provavelmente, o pequeno diálogo em (1) pode ser interpretado como: (3) A. Você sabe, e se a resposta for afirmativa, você faria o favor de me informar a localização da estação de trem? 1  Lakoff (1973) sugere que a interpretação de partículas como well  anuncia que o falante tem consciência de que é incapaz de responder completamente à pergunta destinada a ele (ou seja, que é incapaz de cumprir as exigências da Máxima de Quantidade de Grice). Podemos assumir o mesmo tipo de interpretação para o  português, em relação ao bem.

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TEORIA PRAGMÁTICA – CURSO 2o SEMESTRE DE 2010

PROFA. MÁRCIA CANÇADOROTEIRO DE LEITURA DE: LEVINSON, S. 2007.  Pragmática. Tradução: LuísCarlos Borges e Aníbal Mari. São Paulo: Martins Fontes. (Livro texto)

CAPÍTULO 3 – A IMPLICATURA CONVERSACIONAL

1. Introdução

A noção de implicatura é uma das idéias mais importantes da pragmática, segundoLevinson (2007). Primeiramente, pode-se demonstrar que a origem dessa espécie deinferência pragmática se encontra fora da organização da língua, em princípios gerais da

interação cooperativa, entretanto, esses princípios têm um efeito visível em vários pontosda estrutura da língua.

Um segundo ponto é o fato de que a implicatura dá uma explicação até certo pontoexplicita de como é possível “dizer mais do que é efetivamente dito”. Veja o exemplo: 

(1) A. Você poderia me dizer onde fica a estação de trem?B. Bem, eu ouvi um barulho de trem vindo dali.

Tudo que uma teoria semântica pode dizer a respeito da interpretação semântica de um

pequeno texto como esse seria:

(2) A. Você tem a capacidade de dizer a localização da estação de trem?B. [partícula que tem uma interpretação pragmática fixa]1Eu escutei um barulho

de trem vindo de determinada direção em relação à localização em que eu meencontro (A aponta uma direção).

É evidente que o que está sendo comunicado em (1) é muito mais do que ainterpretação semântica dada em (2). Provavelmente, o pequeno diálogo em (1) pode serinterpretado como:

(3) A. Você sabe, e se a resposta for afirmativa, você faria o favor de me informar alocalização da estação de trem?

1 Lakoff (1973) sugere que a interpretação de partículas como well anuncia que o falante tem consciência deque é incapaz de responder completamente à pergunta destinada a ele (ou seja, que é incapaz de cumprir asexigências da Máxima de Quantidade de Grice). Podemos assumir o mesmo tipo de interpretação para oportuguês, em relação ao bem.

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B. Eu não sei direito a localização , mas como eu ouvi um barulho de trem vindodaquela direção, eu imagino que deve ser por ali.

O que esse pequeno diálogo nos mostra é que o que está sendo comunicado em (1) é

muito mais do que uma interpretação semântica poderia nos fornecer. Essa lacuna entre oque é dito e o que está sendo comunicado efetivamente é preenchida pela noção deimplicatura.

Um terceiro ponto que a noção de implicatura parece nos fornecer explicações temrelação com simplificações substanciais na estrutura e no contexto das descriçõessemânticas. Veja o exemplo:

(4) a. Eu entrei no carro e saí dirigindo.b.??Eu saí dirigindo e entrei no carro.

(5) a. A Torre Eiffel fica em Paris e a Disneylândia fica nos EUA.b. A Disneylândia fica nos EUA e a Torre Eiffel fica em Paris.

O sentido de e em (4) e (5) parecem ser distintos. Enquanto (4) a leitura mais provável é eentão, em (5), a leitura de e é apenas de ligação de dois enunciados, sem alterar em nada ainversão dos mesmos. Ou podemos adotar que existem dois sentidos para a palavra e, ouadotamos que os significados das palavras são vagos e influenciados pelo ambiente em queestes são colocados. Se adotarmos a primeira posição, percebemos que teremos de darinfinitos sentidos para muitas palavras que parecem bem mais simples e não necessitam detantos desdobramentos de sentidos. Veja outro exemplo em (6):

(6) a. A bandeira é branca.b. A bandeira é branca, vermelha e azul.

O exemplo acima nos coloca no mesmo dilema: ou adotamos que a palavra branca éambígua, porque em (6a) parece significar “apenas ou inteiramente branca” e em (6b) só

 pode significar “ parcialmente branca”. Ou simplesmente adotamos a noção de implicatura

como saída para esse conjunto de dilemas, pois isso nos permite afirmar que as expressõesdas línguas naturais realmente tendem a ter sentidos simples, estáveis e unitários (emmuitos casos), mas que sobre esse núcleo semântico estável há muitas vezes uma camadapragmática instável, ligada ao contexto, ou seja, um conjunto de implicaturas.

2. As Máximas de Grice

Grice (1975, 1978) afirma que as implicaturas conversacionais podem ser previstaspor um princípio de cooperação entre os falantes:

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(7) O Princípio CooperativoFaça sua contribuição como for exigida, na etapa na qual ela ocorre, pelo fim oudireção aceitos da troca convencional em que você está envolvido. (Levinson,2007)

Esse princípio tem regras que explicita o acordo mútuo existente entre os participantes deuma conversação. É importante realçar que esse princípio não pode ser tomado de umamaneira muito ampla, comparado-o a regras fonológicas, morfológicas, sintáticas, oumesmo a princípios morais. Também, não deve ser associado a uma linguagem ideal,utópica, em que todos nos entendemos de uma maneira racional e cooperativa. Aocontrário, devemos assumir que esse princípio é aplicado em um micronível, em situaçõesde comunicação bem específicas. É esse acordo subjacente de comunicação linguística queGrice identifica como sendo a cooperação entre falantes e ouvintes. Para o autor, osparticipantes de uma conversação sempre serão cooperativos no sentido de que a sua

contribuição para aquela conversação seja adequada aos objetivos da mesma. Trata-se deum princípio bastante simples e que pode ser entendido como um princípio de economia oude menor esforço do ato comunicativo. A realização linguística desse princípio é traduzida,por Grice, em uma série de normas ou máximas, identificadas pelo autor da seguintemaneira:

(8) Máximas de Grice (adaptado de Saeed, 1997: 193)

A) Máxima de QualidadeTente fazer da sua contribuição uma verdade, ou seja, não diga o que você acredita

que seja falso, ou não diga nada de que você não tenha evidências adequadas.

B) Máxima de QuantidadeFaça a sua contribuição tão informativa quanto necessária para o objetivo dacomunicação, nem mais nem menos informativa.

C) Máxima de RelevânciaFaça que suas contribuições sejam relevantes.

D) Máxima de ModoSeja claro e, especificamente, evite ambigüidades, evite obscuridades, seja breve eseja ordenado.

Essas máximas especificam, de uma maneira geral, o que os participantes devem fazer paraconversar de maneira maximamente eficiente, racional e cooperativa: eles devem falar comsinceridade, de modo relevante e claro e, ao mesmo tempo, fornecer informação suficiente.

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Entretanto, às vezes, alguns desses parâmetros não são respeitados, e o falante pode terconsciência disso ou não. Eles são um tipo de guia de orientação que servirá como basepara a comunicação. É realmente difícil imaginar a comunicação sem que essas máximasestejam presentes. Veja, por exemplo, se não respeitássemos a máxima da relevância, os

diálogos seriam uma sucessão de falas desconexas, do tipo:

(9) A: Você já almoçou?B: Realmente eu vendo carros.

Portanto, parece ser verdadeira a afirmação de que nossa comunicação é regida poralguns princípios cooperativos, como as máximas de Grice. A interpretação dessasimplicaturas segue, em geral, as máximas conversacionais. Esse tipo de implicatura quesurge da observação das máximas é chamado por Levinson de implicaturas-padrão.

Entretanto, existe outro tipo de implicatura que surge exatamente quando o falanterompe ou infringe deliberadamente as máximas, o que Grice chama de explorações dasmáximas. Em uma conversação, espera-se, por exemplo, que a pessoa com quemconversamos esteja falando a verdade. Não nos baseamos, a priori, na falsidade dassentenças. Entretanto, fica claro que esses princípios cooperativos divergem dos princípioslingüísticos, no sentido de que eles podem ser e são violados freqüentemente: muitasmentiras são ditas, as conversações são desviadas subitamente do seu curso por respostasdesconexas e quem nunca conversou com alguém que dá muito mais informações do que asnecessárias? O que ocorre é que essas normas podem ser violadas de forma deliberada, demodo que o falante sabe e reconhece que a máxima foi desconsiderada de uma maneira

intencional. E para lidar com esses desvios dos princípios cooperativos, o ouvinte tem duasalternativas. A primeira é alertar seu interlocutor de que ele está se desviando do que seesperaria da cooperação mútua para se efetivar uma comunicação, ou seja, que ele estádesobedecendo às máximas, dizendo: "você é um mentiroso", ou "isso é irrelevante", ou"você está dando mais informações que as necessárias". Ou o ouvinte pode escolher umasegunda alternativa, que quase sempre é a preferida: supõe que o falante está observando oprincípio cooperativo e, como o está violando, ele quer transmitir alguma informação extraque está de acordo com o princípio; além do mais, o ouvinte supõe que o falante sabe queele, ouvinte, pode entender essa informação extra. Vejamos um exemplo do próprio Grice.Um professor, a quem pediram referências de um ex-aluno que se candidatara a um cargode professor de filosofia, responde da seguinte maneira:

(10) "Prezado Senhor, o domínio que Paulo tem da língua portuguesa é excelente, eele sempre compareceu regularmente às aulas."

O professor está violando as máximas de quantidade e de relevância. Ou seja, o professornão deu as informações necessárias e também forneceu informações que não eram

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relevantes para a pergunta em questão. A pessoa que recebeu essa carta como respostacertamente inferiu que, se o professor está violando as máximas do princípio cooperativo,ele deve estar querendo transmitir alguma informação não explícita na carta: a informaçãode que Paulo não é adequado para o cargo. Quando o destinatário dessa carta formula essaimplicação, a carta deixa de violar o princípio da cooperação, pois é exatamente a

implicatura que está contida na carta que é a verdadeira mensagem do professor. SegundoKempson (1977: 76): "Essas implicaturas conversacionais são suposições acima dosignificado da sentença usada, que o falante conhece e pretende que o ouvinte compreenda,frente a uma violação aparentemente clara do princípio cooperativo, para interpretar asentença do falante de acordo com esse mesmo princípio". Segundo Levinson (2007), essetipo de inferência surge para preservar a suposição contrária às indicações superficiais deque as máximas estão sendo violadas. A idéia de Grice é que nunca nos afastamos dessasmáximas, em pelo menos algum nível.

Como uma observação final, é importante realçar que os falantes comunicam algum

significado através das implicaturas e os interlocutores entendem esses comunicadosatravés das inferências. Portanto, é a esse significado do que não é dito, que Grice chama deimplicaturas conversacionais.

3. Implicaturas-padrão

Comecemos por analisar exemplos em que as máximas são seguidas. As inferênciassurgem da suposição de que alguma máxima específica está sendo observada. Um primeiroexemplo envolve a máxima de qualidade (tente fazer da sua contribuição uma verdade).Quando alguém profere os seguintes enunciados, ele está fazendo as seguintes implicaturas

também:

(11) João é engenheiro civil e engenheiro mecânico.(+> Eu acredito que ele é engenheiro civil e mecânico e tenho

evidências adequadas disso)2 (12) Você estuda na Faculdade de Letras?

(+>: Eu não sei se estuda e quero saber isso)

Em circunstâncias cooperativas, quando alguém afirma algo, implica que acredita nela;quando alguém pergunta algo, implica que deseja sinceramente uma resposta. Por isso,sentenças do tipo abaixo são consideradas pragmaticamente anômalas, pois contradizem amáxima da qualidade:

2  O símbolo +> significa que “a enunciação da sentença anterior geralmente produzirá a seguinte

implicatura”. 

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(13) João é engenheiro civil e engenheiro mecânico, mas eu não acredito que eleseja.

Vejamos agora um exemplo envolvendo a máxima de quantidade (faça a suacontribuição tão informativa quanto necessária para o objetivo da comunicação):

(14) A: Você fez todos os exercícios pedidos?B: Eu fiz alguns.(+> (B) não fez todos os exercícios.)

(15) A: Você foi à festa ontem à noite?B: Eu tive a intenção.(+> (B) não foi à festa.)

Veja que, em (14), o falante poderia ter feito todos os exercícios, pois quem fez todos, fez

alguns. Entretanto, observando-se a máxima da quantidade, inferimos que (B) não diria eu fiz alguns, se ele tivesse feito todos os exercícios. O mesmo ocorre em (15). O falante (B)pode ter tido a intenção e depois ter ido efetivamente à festa. Mas se assumirmos haver umamáxima de quantidade que rege a comunicação, o falante (B) não passaria a informaçãodesnecessária eu tive a intenção, se ele tivesse realmente ido à festa.

Vejamos agora um exemplo envolvendo a máxima da relevância (faça que suascontribuições sejam relevantes):

(16) A: Você vai a festa hoje à noite?B: Puxa! Estou com uma gripe de matar.

(+> (B) não vai à festa.)

Para analisar o exemplo em (16), tomamos como ponto de partida que (A) acreditaque a informação de (B) é relevante para a resposta de sua pergunta e pode inferir que aresposta é negativa. Se o falante não acreditar na relevância de (B), ele não terá comoassociar as duas sentenças em um diálogo coerente. A implicatura apresentada em (16) éresultado do contexto específico apresentado, e de nenhum outro; não existe garantia de quea sentença  puxa! estou com uma gripe de matar  seja interpretada como não em outrocontexto.

Vejamos outro exemplo em que os imperativos são interpretados como relevantespara a presente interação, e, portanto, como uma solicitação que a ação seja implementadano momento:

(17) Por favor, passe o sal.(+> no exato momento da fala)

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Se não fizermos esse tipo de inferência, poderíamos simplesmente esperar um ou dois diaspara passarmos o sal, o que não seria mais relevante para o pedido formulado.

A última máxima a ser exemplificada é a máxima de modo (seja claro, eviteambigüidades, evite obscuridade, seja breve e seja ordenado). Essa máxima pode se refletirem sentenças em que há muitas informações específicas. Sempre que escolho uma

expressão mais complexa ao invés de uma paráfrase mais simples, tenho em mente orientarmeu interlocutor que as passagens daquele processo são importantes e relevantes, sendoesta a implicatura de expressões mais detalhadas. Veja os exemplos:

(18) a. Abra a porta.b. Para abrir a porta, vire a maçaneta duas vezes para a esquerda, dê um

pequeno toque na porta e depois ela abre automaticamente.

Se ao invés de (19a), eu uso (19b), é devido a minha intenção de comunicar ao meu

interlocutor que a porta não se abre simplesmente; é necessário uma série de passagensimportantes. Outro exemplo em que seguimos a máxima de modo (seja ordenado) é emsentenças com e:

(19) a. Eu entrei no carro e dirigi.b. ?? Eu dirigi e entrei no carro.

A máxima de modo nos faz inferir de que a ordem em (19a) é relevante e sentenças como(19b) são anômalas.

4. Exploração das máximas

O segundo tipo de implicaturas, como já mostrado, ocorre quando uma ou outramáxima deixa de ser seguida e essa atitude é explorada para fins comunicativos. Gricechama esse tipo de implicatura de desacatos ou explorações das máximas e podemos perceber que essas implicaturas dão origem a muitas das tradicionais “figuras de

linguagem”. Essas inferências baseiam-se na forte suposição do princípio de cooperaçãocomunicativo entre os falantes: mesmo quando alguém se desvia de uma das máximas, suasenunciações ainda são interpretadas como cooperativas, se isso for possível, para que oprincípio cooperativo seja preservado. Vejamos alguns exemplos dessas ocorrências,primeiramente observando a máxima de qualidade:

(20) A: Será que a Europa terá mais futuro que o Brasil?B: Que isso! O Brasil, na área social, já é um avanço!

Qualquer participante de uma conversação, razoavelmente informado, saberá que ainformação de B é completamente falsa,e, portanto, B não está tentando enganar A. Daí, a

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única maneira de mantermos a suposição de que B está cooperando com A, éinterpretarmos que B está querendo dizer algo completamente diferente daquilo. Todas asrespostas irônicas são interpretadas com base na infração da máxima de qualidade.

Observação parecida pode ser feita a partir de construções de metáforas. Porexemplo, se digo (21), há uma violação das restrições selecionais dos itens lexicais

envolvidos, e se estou sendo cooperativo, a única maneira de meu interlocutor entender oque quero comunicar, é tentar mudas as restrições selecionais dos itens envolvidos, até sechegar a uma interpretação adequada:

(21) Esse carro bebe gasolina!

Essa pode ser uma boa explicação para a compreensão das metáforas. Outra forma deinfringirmos a máxima de qualidade é a enunciação de falsidades evidentes:

(22) A: O Brasil é cheio de cobras nas ruas, não é?B: É, assim como os russos comem criancinhas.

B serve para mostrar que a afirmação de A está absolutamente incorreta. Tambémperguntas retóricas tem a capacidade de implicar algo contrário ao que está sendo dito:

(23) O Lula ia ser modesto?

Onde a interpretação de (23) será que, absolutamente, o Lula não é modesto.Vejamos agora como a máxima de quantidade pode ser infringida. Um exemplo

refere-se a tautologias. Tautologias são sentenças que, semanticamente, não trazemnenhuma informação. Entretanto, elas são usadas nos diálogos, para passarem informações:

(24) Criança é criança.(25) Se ele faz, ele faz!

Para se preservar o princípio de cooperação, alguma informação é retirada dessesenunciados.

A exploração da máxima de relevância é um pouco mais difícil de encontrar,segundo observa Grice, pois é difícil construir respostas que precisem ser interpretadascomo irrelevantes. Os exemplos dados são:

(26) A. Eu acho que a Sra. Silva é uma velha tagarela!B. Está calor aqui, em?

B pode está querendo simplesmente desviar o assunto, pois o filho da Sra. Silva pode estarbem atrás dela.

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Para ilustrarmos a exploração da máxima de modo, usarei um exemplo bem típico:

(27) a. A orquestra tocou uma peça de Bach.b. A orquestra reproduziu sons que seguiam exatamente a partitura da peça de

Bach.

Se proferimos (27b), ao invés de (27a), infringindo a submáxima de modo, seja breve,estou implicando, na verdade, que há uma enorme diferença entre seguir uma partitura erealmente tocar.

Exercícios:

1. Dizer qual a máxima está sendo infringida e a implicatura decorrente do diálogo:

(1) A. Seu cachorro morde?B. Não.

(E o cachorro morde B; B, indignado, pergunta:)B. Mas você não falou que seu cachorro não mordia?A. E não morde mesmo, só que esse não é meu cachorro.

(2) A. Você vai à festa hoje à noite?B. Meus pais vêm me visitar.

(3) A. Aonde você vai com o cachorro?B. Vou ao V-E-T-E-R-I-N-A-R-I-O

(4) A. Seu chefe ficou maluco?B. Vamos tomar um café.

(5)A. O que você acha que ela vai fazer?B. Ela é feita de ferro.

(6) A. O que você pensa sobre isso?B. Guerra é guerra.

(7) A. Os vegetarianos comem hamburgures?B. E as galinhas têm lábios?

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(8) A. Ela cantou a ária de Bach?B. Bem, ela fez as mesmas notas que estavam na partitura.

(9) A. Ei, Sally, vamos jogar bolinha de gude?B. Como está indo a sua lição de casa, Jony?

(10) A. Você dirige tem muito tempo?B. Eu aprendi a dirigir e aprendi a andar.

(11) A.Você deu o dinheiro para a Maria?B. Eu estou esperando ela chegar.

(12) A. Você leu o texto para o seminário?B. Eu pretendo.

5. Marcas de precaução

A importância das máximas para a interação cooperativa pode ser medida emportuguês, pelo número de expressões que usamos para indicar que o que vamos falartalvez não esteja totalmente adequado à observação das máximas e que estamos conscientesdisso. Chamaremos a essas expressões de marcas de precaução.

Por exemplo, para indicar que a máxima da qualidade pode não estar sendototalmente atendida, usamos notas do tipo:

(28) a. Até onde eu saiba, eles são casados.b. Eu posso estar errado, mas eu vi uma aliança no dedo deles.c. Eu não tenho certeza, mas parece que houve uma cerimônia de casamento.d. Eu suponho, que ele não pode viver sem ela.

O contexto conversacional para os exemplos acima pode ser sobre rumores que envolvemalgum casal conhecido dos falantes e, sendo assim, as pessoas são cautelosas para afirmarcoisas que não têm certeza.

Marcas de precaução que são usadas para mostrar que os falantes estão conscientesda máxima de quantidade podem ser exemplificadas nas sentenças abaixo, proferidas porum falante que narra sua viagem para outra pessoa bem íntima:

(29) a. Como você deve saber, eu tenho horror a insetos.b. Para encurtar a estória, nós pegamos o barco e descemos o rio.c. Eu não te amolarei com todos os detalhes, mas foi uma viagem excelente.

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Em relação à máxima de relevância, podemos notar que expressões como “ah,

falando nisso...”, “de qualquer jeito...” são usadas para ligar enunciados que parecem não

ter relação com o anterior. Podemos perceber, também, nos exemplos extraídos de umareunião de negócios, expressões que funcionam como marcas de precaução para máxima derelevância:

(30) a. Eu não sei se isso é importante, mas alguns dos arquivos estão sumidos.b. Pode parecer uma questão boba, mas de quem é essa letra?c. Não mudando o assunto, mas isso está relacionado ao orçamento?

A consciência de seguir a máxima de modo também é seguida pelos falantes e podeser detectada nas expressões a seguir, escutadas após uma batida de carros:

(31) a. Isso pode ser um pouco confuso, mas eu me lembro de estar primeiro no

carro, depois no esfalto.b. Eu não tenho certeza se isso faz sentido, mas o carro estava com o farolapagado e logo em seguida ouvi um estrondo.

c. Eu não sei se está totalmente claro, mas eu acho que o outro carro estavavindo de lá, nós freamos e eu desmaiei.

Todos os exemplos dados acima são uma boa indicação de que os falantes não sósão conscientes das máximas, mas também querem mostrar que eles estão tentandoobservá-las. Talvez, possamos concluir que essas formas também indicam a preocupaçãodos falantes com que os seus interlocutores os julguem cooperativos no processo da

conversação.

6. Propriedades das implicaturas

Grice sugere que as implicaturas exibem propriedades, em boa parte, previsíveis.Ele aponta cinco propriedades características. A primeira e, talvez, a mais importante é queas implicaturas sempre têm uma natureza cancelável, ou seja, se adicionarmos outrasinformações, poderemos cancelar a implicatura, sem que sejamos contraditórios. A noçãode anulibilidade é decisiva na pragmática já que a maioria das inferências consideradaspragmáticas têm essa propriedade. A diferença entre inferência anulável ou não-anulável éque na primeira, se acrescentarmos algumas premissas adicionais às premissas originais,elas podem ser canceladas; na segunda, não há a possibilidade de cancelamento dainferência. As inferências não-canceláveis são do tipo dedutivo ou lógico. Vejamos umexemplo:

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(32) i. Todo homem é mortal.ii. Sócrates é um homem.

_________________________iii. Logo, Sócrates é mortal.

Dados os argumentos acima em (32), não é possível derrubarmos o argumento,simplesmente acrescentando premissas; em qualquer situação, se (i) e (ii) foremverdadeiras, (iii) será verdadeira.

Em oposição, as inferências indutivas, podem ser anuladas:

(33) i. Desenterrei 1001 cenouras.ii. Cada uma das 1001 cenouras são laranjas._________________________________________iii. Portanto, todas as cenouras são laranjas.

Imaginemos que agora eu desenterre uma cenoura verde. Se acrescentarmos essa premissaao argumento em (33), a conclusão (iii) se tornará inválida:

(34) i. Desenterrei 1001 cenouras.ii. Cada uma das 1001 cenouras são laranjas.iii. A 1002ª é verde.

_________________________________________iv. Inválida: Portanto, todas as cenouras são laranjas.

Nesse aspecto da anulibilidade, as implicaturas vão se assemelhar às inferênciaindutivas, pois elas são facilmente anuláveis. Por exemplo, retomemos o exemplo em (35):

(35) A: Você vai a festa hoje à noite?B: Puxa! Estou com uma gripe de matar.A: Então você não vai?B: Não! Eu vou assim mesmo.

Com a informação adicional de (B), cancelamos a implicatura inicial de que o falante (B)não iria à festa. Entretanto, não conseguimos anular nenhum tipo de acarretamento, comopor exemplo, o fato de B estar doente, se acrescentarmos qualquer outro tipo deinformação:

(36) A.Você vai a festa hoje à noite?B: Puxa! Estou com uma gripe de matar.B. Mas eu vou assim mesmo.A: ??Então você não está doente?

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A segunda propriedade é que as implicaturas (com exceção da máxima de modo)são não-destacáveis. Grice quis dizer com isso que as implicaturas estão ligadas aoconteúdo semântico do que é dito e não à forma linguística. As implicaturas não podem serretiradas de um enunciado, se trocarmos as palavras do enunciado por sinônimos. Veja oexemplo em (37):

(37) O João é muito esperto!+> O João é ingênuo.

Suponhamos que em um mesmo contexto, em que sabemos que (37) é uma ironia, digamosalgumas das sentenças abaixo:

(38) a. O João é uma raposa!b. O João é realmente vivo!

c. Ninguém engana o João!

Em (38), a leitura irônica de (37) continuará implícita nos enunciados. Ao contrário,existem outros tipos de implícitos pragmáticos, como as pressuposições, por exemplo, queestão ligadas mais à forma e não ao significado do que é dito, sendo, portanto, destacável.Com esse tipo de inferência, podemos evitar o que está implícito, mantendo o conteúdosemântico e trocando a forma. Por exemplo, (39) parece implicar pragmaticamente (40),mas (41), que parece ter o mesmo conteúdo semântico de (39), não tem como inferência(40):

(39) João não conseguiu chegar ao topo.(40) João tentou chegar ao topo.(41) João não chegou ao topo.

A terceira propriedade das implicaturas é que elas são calculáveis. Isto é, a partir dosignificado literal ou do sentido da enunciação, de um lado, e do princípio cooperativo, deoutro lado, um destinatário é capaz de fazer a inferência em questão, preservando acooperação presumida.

A quarta propriedade é que as implicaturas não são convencionais, isto é, elas nãofazem parte do significado convencional das expressões lingüísticas. As duas propriedadesda anulibilidade e da não-destacabilidade já ilustram essa característica. Além disso, já que,segundo Grice, precisamos conhecer o significado ou sentido literal de uma sentença antesde calcular suas implicaturas, as implicaturas não podem fazer parte desse significado.

A quinta e última propriedade tem relação com a multiplicidade de implicaturas.Um único enunciado pode dar origem a mais de uma implicatura. Por exemplo:

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(42) A: Esqueci minha caneta lá em cima!B: Eu pego para você.C: Puxa! Que pena!

Veja que o falante (B) pode ter interpretado que (A) fez um pedido e (C) pode ter

interpretado que (A) fez apenas uma constatação.

7. Tipos de implicaturas

7.1 Implicaturas conversacionais generalizadas

As implicaturas conversacionais generalizadas são as que surgem sem que sejanecessário nenhum contexto específico ou roteiro especial. Veja o exemplo:

(43) A. Eu espero que você tenha trazido o pão e o queijo.B. Ah! Eu trouxe o pão.

Após A ouvir a resposta de B e assumir que B está sendo cooperativo e consciente damáxima de quantidade, A deve inferir que B não trouxe o queijo, senão ele diria. Parachegarmos à implicatura decorrente de (43) não é necessário nenhum conhecimentoanterior e especial do contexto. Outro exemplo seria:

(44) A. Você convidou o João e a Maria?

B. Eu convidei o João.

O mesmo tipo de raciocínio para calcular a implicatura em (43) é usado em (44); não énecessário nenhum tipo de conhecimento específico sobre o contexto do enunciado paraesse cálculo. Podemos representar a estrutura do que foi dito em (43) e (44), como sendo:

(45) A: b & c?B: b +> NÃO c

Um exemplo comum em português de implicatura generalizada envolve sentençascom os artigos indefinidos um/uma/uns/umas. Veja a sentença:

(46) Eu estava sentado em um jardim um dia. Uma menina olhou para mim.(47) Eu entrei em uma casa.

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A implicatura em (46) é que o jardim e a menina mencionadas não são do falante. Em (47),a implicatura é que a casa não é do falante. Se o falante tivesse seguindo a máxima dequantidade e o jardim e a menina ou a casa fossem dele, ele o diria. A representação maisgeral da estrutura é:

(47) um/a X +> X não é do falante

7.2 Implicaturas escalares

Certas informações são sempre comunicadas através de uma palavra escolhida queExpress um valor em uma escala de valores. Isso é óbvio para expressar a quantidade, compalavras como as do exemplo (48), em que os termos são listados do valor maior para o

menor:

(48) a. < todos, maioria, muitos, alguns, poucos>b. < sempre, frequentemente, às vezes>

Quando o falante produz um enunciado, ele seleciona da escala uma palavra que seja a maisinformativa e verdadeira (máxima de quantidade e qualidade) para a circunstância descrita,como no exemplo abaixo:

(49) Eu estou fazendo o Bacharelado em Lingüística e já completei algumas das

disciplinas obrigatórias.

Ao escolher a palavra algumas , o falante pode criar uma implicatura como (+> não todas).Essa é uma das implicaturas possíveis. Mas, a partir das escalas acima, podemos fazer umageneralização: quando qualquer forma da escala é usada, a negativa de todas as formasmais altas na escala é implicada. Portanto, para o exemplo em (49), temos também asimplicaturas (+> não muitas, +> não maioria). Por exemplo, se o falante continua falandodas disciplinas de linguístca e afirma:

(50) Essas disciplinas são interessantes, às vezes.

Ao usar a expressão às vezes, o falante comunica, via implicatura, as formas negativas maisaltas na escala de freqüência, em (48b): (+> não frequentemente, +> não sempre).

Existem muitas implicaturas escalares que, à princípio, podem não ser detectadasimediatamente como parte de uma escala. Veja os exemplos:

(51) É possível que eles estejam atrasados.

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(52) Isso deve ser guardado em um lugar fresco.

Em uma escala de probabilidade, (51) gera a implicatura „+> não necessariamente‟, como

um valor mais alto dessa escala. (52) gera a implicatura de „+> não tem‟, em uma escala de

obrigação; e, em uma escala de temperatura, (52) gera a implicatura „+> não frio.

Vejamos alguns outros exemplos adaptados do inglês (Horn, 1972) para possíveisescalas das línguas:

(53) <n, ..., 4,3,2,1>(54) <excelente, bom>(55) <quente, morno>(56) <conseguir V, tentar v, querer V>(57) <certo que p, provável que p, possível que p>

(58) <ter de, dever, poder>(59) <frio, fresco>(60) <adorar, gostar>(61) <nenhum, não todos>

Uma característica interessante das implicaturas escalares é que, quando o falante secorrige em algum detalhe, ele tipicamente cancela uma das implicaturas escalares:

(63) Eu tenho alguns desses livros de semântica no gabinete...na verdade, eu achoque a maioria está lá.

Em (62), o falante inicialmente implica „+> não maioria‟, quando ele diz “alguns”; mas

quando ele se corrige, ele afirma que é a maioria. Ainda, quando ele assume que é amaioria, ele está implicando „+> não todos‟.

7.3 Implicaturas particularizadas

As implicaturas particularizadas, que são a maioria, exigem contextos bemespecíficos. Veja que (63) só terá a implicatura proposta, se o contexto específico for odescrito em (64):

(63) O cachorro está parecendo muito feliz.+> Talvez o cachorro tenha comido a carne assada.

(64) A. O que aconteceu com a carne assada?B. O cachorro está parecendo muito feliz.

Portanto, a implicatura em (64) será particularizada.

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A maioria das explorações das máximas é particularizada, no sentido de que, porexemplo, as ironias exigem como pano de fundo suposições particularizadas para tornarsem efeito a interpretação literal. Também as implicaturas que surgem da observância damáxima da relevância são particularizadas, já que os enunciados são relevantes apenas noscontextos específicos da enunciação. Entretanto, metáfora como a em (65) ou tautologia

como a em (66) geram um tipo de implicaturas de uma maneira bem independente docontexto específico:

(65) O Brasil é um foguete em decolagem.(66) Amigo é amigo.

7.4 Implicaturas convencionais

As implicaturas convencionais são inferências não sujeitas a condições de verdade,

não são derivadas de princípios pragmáticos mais gerais como as máximas, mas sãosimplesmente ligadas por convenção a itens ou expressões lexicais específicos. Umexemplo dessas implicaturas é a palavra mas. A interpretação de qualquer enunciado dotipo „ p mas q‟ será baseada na conjunção de p & q mais a implicatura de contraste entre ainformação de p e a informação de q. Veja o exemplo:

(67) A Maria sugeriu preto, mas eu escolhi branco. p & q (+> p está em contraste com q)

Em (67), o fato de a Maria ter sugerido preto é contrastado, via a implicatura convencional

de mas, com a minha escolha de branco (=q).Existem outras palavras em português do tipo até , ainda que exibem a implicatura

convencional. Quando até  está incluído em algum tipo de sentença que descreve umevento, existe uma implicatura do tipo „contrariamente às expectativas‟: 

(68) a. Até o João veio a aula hoje.b. O João até ajudou com os embrulhos.

A implicatura convencional de ainda é que se espera que a presente situação seja diferente,ou talvez, o oposto mais tarde:

(69) a. O João não está aqui ainda. (= NÃO p)b. NÃO p é verdade (+> p espera-se ser verdade mais tarde)

Também é possível tratar os diferentes significados do e como tipos de implicaturaconvencional em diferentes estruturas. Quando duas afirmações contendo informaçõesestáticas são ligadas por e , como em (70), a implicatura é simplesmente a adição ou mais.

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Quando duas afirmações contendo informações dinâmicas, relacionada por ações, como em(71), a implicatura de e é <e então>, indicando uma sequência:

(70) Ontem, a Maria estava feliz e pronta para o trabalho. ( p & q, +>  p mais q)(71) Ela colocou as roupas e saiu. (P & q, +> q after p).

Pode-se esperar que as implicaturas convencionais contrastem com asconversacionais em todas as propriedades distintivas que destacamos para as segundas. Asimplicaturas convencionais não são canceláveis porque não se valem de suposiçõesanuláveis a respeito da natureza do contexto; elas serão destacáveis, pois porque dependemdos itens lingüísticos específicos usados; elas não serão calculáveis através de princípiospragmáticos ou conhecimento contextual, mas serão dadas por convenção; e, finalmente,elas terão um significado determinado.

Para concluir, Levinson realça que itens dêiticos do tipo de discurso (72) ou social

(73), como os estudados anteriormente, parecem ter implicaturas convencionais comocomponente central do significado:

(72) entretanto, além do mais, de qualquer jeito, bem, oh, então...(73) senhor(a), excelência, oi...

Exercícios

1. Descreva as propriedades típicas das implicaturas.

2. Dê dois exemplos de cada tipo de implicatura.

3. Dos exercícios feitos anteriormente, diga qual é o tipo da implicatura.