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GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ
SECRETARIA DO ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
ARTIGO CIENTÍFICO
LEI 10.639/03: REFLEXÃO E COMBATE À DISCRIMINAÇÃO RACIAL NAS ESCOLAS
Artigo Científico apresentado à Secretaria de Estado da Educação – SEED como requisito final de participação no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) na Área de História. Orientadora: Prof.ª . DRª. Janete Leiko Tanno
CORNÉLIO PROCÓPIO
2012
LEI 10.639/03: Reflexão e combate à discriminação racial nas escolas
Autor: Lenir Aparecida de Moraes1
Orientadora : Janete Leiko Tanno2
RESUMO
O dia a dia nas escolas mostra que a convivência entre alunos é permeada por
situações frequentes de racismo, preconceito e discriminação e que, portanto, o
conhecimento e o debate sobre tais questões são necessários e urgentes na
comunidade escolar. Nesse sentido, a partir da Lei 10.639/03 - que estabelece a
obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, em nossas
escolas-, o projeto objetiva a promoção de uma imagem positiva do negro em nosso
país, abordando conteúdos que tragam para a sala de aula a História da África e do
Brasil africano levando, dessa forma, à reflexão sobre a discriminação racial, a
valorização da diversidade étnica, a estimulação de comportamentos de respeito,
solidariedade e tolerância, para que a criança negra descubra o valor de sua cultura
e de seus costumes. Tal consciência da contribuição da cultura afro para a
sociedade brasileira consubstanciada na implementação da lei 10.639/03, pode
constituir-se como uma ferramenta importante para o combate ao racismo e
consequentemente para a superação do quadro de desigualdades raciais e sociais
presente na sociedade brasileira. Debater e refletir sobre a lei, não deve ser
responsabilidade somente da escola, mas temos que reconhecer que sendo um
veículo de disseminação da cultura é na escola que podemos dar o primeiro passo
para a valorização da cultura negra e para o desenvolvimento de um Brasil mais
justo e igualitário.
1 Professora da Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná.
e-mail: [email protected] 2 Professora Adjunta do Departamento de História da Universidade Estadual do Norte do Paraná –
UENP –CCHE/Jacarezinho. e-mail: [email protected]
Palavras- chave: Lei 10.639/3; Discriminação Racial; Escola.
1 INTRODUÇÃO
Este estudo é resultado do programa de formação continuada de docentes, -
Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) -, promovido pelo governo do
Estado do Paraná, envolvendo instituições de ensino de educação básica e superior,
apresentando um relato sobre uma lei, sua importância para uma etnia e uma nação,
e que deseja contribuir para uma reflexão que se faz necessária na atualidade.
Durante o governo do presidente Lula em 2003, foi assinada a Lei
10.639/03, que estabelece o ensino obrigatório em nosso país da História da África e
da cultura afro brasileira. Tal lei significa o reconhecimento do necessário combate
ao preconceito, ao racismo e à discriminação em nossa sociedade. Na educação é
uma política de ação afirmativa, pois reconhece a escola como lugar da formação de
pessoas, espaço ideal para a valorização das diversas culturas existentes em nosso
país, que contribuem significativamente para tornar o Brasil uma nação rica, múltipla
e plural que somos.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96), tem
como um dos desafios regulamentar a atuação da União para gerir o modelo
educacional brasileiro, estabelecer em colaboração com estados, distrito federal e
municípios, diretrizes que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos. Nesse
sentido, apesar de várias lacunas, a LDB contribui para colocar na pauta de
discussões questões relativa à diversidade cultural e à pluralidade étnica. Pautada
nesta legislação surgiram os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) que,
embora não sejam normativos adentram no cotidiano das escolas com esse caráter
e é assumido como instrumento legal por muitos gestores e professores.
Para (ROCHA, 2007, p.35) a efetivação da Lei 10.639/03 na educação
brasileira é um fator importante no sentido de desconstruir mecanismos ideológicos
que dão sustentabilidade aos mitos da inferioridade do negro e da democracia racial.
A permanência de tais mitos na atualidade é um obstáculo de difícil superação e
acaba por atrasar o desenvolvimento igualitário das diferentes parcelas da
população brasileira. É mister ressaltar que até o momento, apesar de algumas
iniciativas do governo federal e de alguns estados, a nova legislação configura-se
mais como uma ferramenta de atuação dos movimentos sociais do que de uma
realidade concreta no interior das escolas. Muito ainda precisa ser feito. Para tanto é
fundamental que a sociedade organizada e o movimento social negro cobre do
Estado espaços, mecanismos e estruturas para o acompanhamento da implantação
da Lei nas redes de educação pública e privada, que poderá trazer contribuição para
a superação das desigualdades raciais e sociais no Brasil, o que não depende
apenas da educação escolar, embora seja a escola um espaço privilegiado para a
desconstrução de mecanismos ideológicos criados ao longo da existência de nosso
país.
ROCHA, 2007, p. 29, também relata que é de longa data a reivindicação do
movimento negro pela inclusão da história da África e da Cultura Afro-brasileira no
currículo de nossas escolas, o objetivo era o de incluir no capítulo da educação e da
nova Constituição ações visando o combate ao racismo.
Diferentemente de Rocha, (LIMA, 2008, p.277) conclui que alguns avanços
já se instalaram nas escolas brasileiras, impulsionados pelos espaços abertos pela
Lei 10.639/03. Todavia, o processo histórico de criação de condições políticas,
sociais e culturais favoráveis à efetiva implementação do conjunto de ações
constitutivas de uma educação escolar antirracista, numa sociedade de justiça e
igualdade, apenas foi iniciado. Segundo LIMA, para que uma formação escolar com
perspectivas de combate ao racismo seja implementada, é fundamental discutir
condições de preparação e atuação dos professores. Considerando a docência
aspecto central para a promoção de condições não discriminatórias na escola,
percebe-se que ainda é necessário investimento na formação docente de modo a
proporcionar o conhecimento da Lei 10.639/03, que como política de ação afirmativa
na escola deve combater a discriminação e o preconceito gerando avanços
necessários para dar o real valor que a cultura afro merece na formação e
desenvolvimento de uma sociedade mais justa e igualitária.
Indo ao encontro das necessidades apontadas pelo autor acima citado, este
projeto pretende questionar a realidade do negro na atualidade, o uso do
preconceito para a dominação econômica, visando levar o aluno a analisar e refletir
sobre o valor histórico, social e cultural da raça negra para o Brasil, privilegiando a
reflexão sobre a discriminação racial ainda hoje existente em nosso país.
2 DISCRIMINAÇÃO RACIAL E PRECONCEITO: RESQUÍCIOS DA
COLONIZAÇÃO.
Em seu livro, Souza (2006 p. 162), descreve que durante a época de
colonização, os negros foram explorados pelos brancos com a desculpa de
“civilizar”. O racismo sobreviveu à abolição e ainda se perpetua em nossos dias,
trazendo transtornos que são causados pela discriminação racial ainda presente em
nossa sociedade.
Quando estudamos a trajetória da etnia negra em nosso país ela nos remete
à África, local onde os portugueses seguiram na busca de mão de obra para seu
crescimento e desenvolvimento econômico. Para esse fim, pessoas foram tiradas de
seus locais de origem sem respeito algum pela sua cultura, seus costumes e seus
sentimentos. Essas pessoas eram vendidas como mercadorias, eram consideradas
inferiores, pois só assim os europeus poderiam usufruir de seu trabalho sem dar
nada em troca, partindo da desculpa da pretensa falta de cultura, como se a cor da
pele e os diferentes valores e modos de viver fossem falta de civilização. Tais
motivos serviram de justificativa para arrancar, explorar, dominar e discriminar por
um longo tempo estes seres humanos. Mesmo fazendo uso do trabalho, da cultura e
até da vida do africano, o branco só o enxergava como um objeto de trabalho e de
lucro3. (Revista TV Escola março/abril 2010). Esse conjunto de elementos gerava
preconceitos e a discriminação racial, infelizmente, ainda presentes na sociedade
brasileira.
De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
Relações Étnico Raciais e para o Ensino de História e Cultura afro brasileira e
Africana 2004, p. 16 “pedagogias de combate ao racismo e a discriminações
3Artigo: De onde vem o racismo? Racismo uma história. Publicado na Revista TV escola.
março/abril, 2010, p.39.Curitiba/PR.
elaboradas com o objetivo de educação das relações étnico/raciais positivas têm
como objetivo fortalecer entre os negros e despertar entre os brancos a consciência
negra” a tomada de consciência desses fatos em nossa sociedade, certamente
levará os alunos a valorizarão dos traços e da cultura afro, perceber a contribuição
desta na formação do país, ter orgulho de ser negro, de conviver entre todos
gerando oportunidades iguais ao invés do sentimento de inferioridade e preconceito
criado pela sociedade capitalista.
Para que nossas ideias de convivência pacífica e de igualdade se
concretizem, ações afirmativas como são chamadas algumas propostas de governo
vem sendo introduzidas no Brasil desde a segunda metade dos anos de 1990.
Entretanto, ideias e preconceitos existentes há séculos, não são mudados somente
com a boa vontade de alguns ou a implementação de algumas leis. Nessa
perspectiva, conhecer, debater e refletir sobre a Lei 10.639/03 nas escolas é algo
fundamental, ainda que isso não deva ser de responsabilidade somente dessa
instituição, mas temos que reconhecer que sendo um veículo de disseminação da
cultura é na escola que podemos dar o primeiro passo para a valorização da cultura
negra.
Até que ponto a implementação da Lei 10.639/03 vai efetivar e gerar práticas
que levem a não discriminação, o fim ou a diminuição do preconceito racial no
Brasil? Como os movimentos sociais negros agem nesse sentido?
3 OS MOVIMENTOS SOCIAIS NEGROS E A IMPLANTAÇÃO DA LEI 10.639/03.
De acordo com as reflexões de Ilse Scherer – Warrer, um movimento social
é um grupo mais ou menos organizado, sob uma liderança determinada ou não,
possuindo programa, objetivos ou plano comum, baseando-se numa mesma
doutrina, princípios valorativos ou ideologia, visando um fim específico ou mudança
social. No caso dos movimentos negros, os objetivos giravam, em geral, em torno da
valorização da raça, da escolarização dos negros, pelo fim dos preconceitos e contra
a discriminação.
A luta em que mais se engaja o Movimento Negro é a luta pela igualdade
contra o racismo e a discriminação. Luta que começou a ganhar força na década de
1930, com a Frente Negra Brasileira e mais tarde em 1978 foi fundado o Movimento
Negro Unificado, de onde originaram vários outros grupos de combate ao racismo.
O Movimento Negro no Brasil é dividido em três fases, que se apresentam
como início da luta pelos direitos dos negros. Em sua primeira fase, estão a criação
de agremiações negras, palestras, atos públicos e criação de periódicos. Na
segunda fase, vem o teatro, os eventos acadêmicos e na imprensa, escritos que
proporcionem o conhecimento do branco em relação às dificuldades encontradas
pelos afrodescendentes no Brasil. A terceira fase, é composta pelas manifestações
públicas, imprensa, a formação também de comitês de base e movimentos sociais.
O movimento Negro teve sua maior repercussão através da Frente Negra Brasileira
(FNB) fundada em 16 de setembro de 1931 e durou até 1937, tornando-se partido
político em 1936. Foi a mais importante entidade de afrodescendentes na primeira
metade do século, no campo sociopolítico como partido político, mas devido ao
Estado Novo finalizou em 1937. Nessa época todos os partidos foram considerados
ilegais, então Abdias do Nascimento fundou o Teatro Experimental do Negro (TEN),
que pretendia promover o resgate e a valorização social do negro no Brasil, através
da educação e da arte, resgate que há muito tempo já pode ser considerado
necessário para os afrodescendentes.
Ao longo do tempo, a luta do movimento negro vem somar-se com a da
sociedade brasileira nas reivindicações por igualdade e democracia, para a
valorização não só de uma etnia, mas de toda uma nação e juntando-se os
movimentos a sindicatos e partidos políticos conseguem aos poucos progressos
significativos em ações afirmativas para os afrodescendentes, como em 1951 a Lei
Afonso Arinos que considerava como contravenção o preconceito racial e não como
crime. Somente em 1989 a Lei Caó, que tem o nome em homenagem ao seu autor,
o então deputado Carlos Alberto Caó de Oliveira (PDT – RJ), estabeleceu o racismo
como crime inafiançável.
O movimento social negro teve grande participação no governo Lula no qual,
pela primeira vez na história do país, foi criada a Secretaria Especial, funcionando
como um Ministério para implementar políticas públicas junto aos demais Ministérios,
na luta pela valorização da cultura afro e para desconstruir ou minimizar as
desigualdades e preconceitos. Foi então no governo do presidente Lula que a Lei
10639/03, reivindicada pelo movimento negro, foi instituída em nosso país. A
referida lei é de autoria da Deputada Esther Grossi e do Deputado Bem-Hur Ferreira,
ambos pertencentes ao Partido dos Trabalhadores do qual faz parte o presidente. A
lei veio preencher uma lacuna há muito reivindicada pelo movimento negro.
Refletir e analisar sobre a implementação da Lei 10.639/03 e as práticas de
racismo, preconceito e discriminação no espaço escolar nos permitem vislumbrar
novos rumos para a superação da situação vigente e o aprimoramento das relações
étnico-raciais. A lei representa um passo fundamental dentre as políticas afirmativas.
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
Relações Étnico Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana, “temos, pois pedagogias de combate ao racismo e a discriminação por
criar. É claro que há experiências de professores e de algumas escolas, ainda
isoladas, que muito vão ajudar”. Com relação às práticas de racismo e
discriminação no espaço escolar a efetivação das propostas de superação depende
de ações contínuas por parte de todos os envolvidos no processo de ensino e
aprendizagem. Que os educadores revejam suas metodologias e práticas
pedagógicas e voltem sua atenção para o alunado afrodescendente penalizado
dentro de um contexto histórico construído sobre bases eurocêntricas. As
metodologias devem priorizar a análise crítica dos recursos didáticos comumente
utilizados nas escolas tais como: livros, textos, imagens e filmes.
Dessa época até os nossos dias muita coisa mudou. O advento da Lei nº
10.639/03 é um grande passo. A aprovação pelo Conselho Nacional de Educação
das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das relações Étnico-Raciais e
para o Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, em nossas escolas, foi
um mergulho nessa questão, estabelecendo passos, ritmos, princípios e programas.
Efetivar a lei é tarefa não só dos professores negros, mas de todos os professores,
pois esta não é uma lei para os negros, mas para o Brasil, pois a discriminação e o
racismo vigoram em nossa sociedade sob as mais diversas formas, como constata
Hélio Santos (Apud, Caderno temático, p.22, 2006).
“A história narrada nas escolas é branca, a inteligência e a beleza mostrados pela mídia também o são. Os fatos apresentados por todos na sociedade como se houvesse uma preponderância absoluta, uma supremacia definitiva dos brancos sobre os negros. Assim o que se mostra é que o lado bom da vida não é nem pode ser negro. Aliás, a palavra negra, além de designar o indivíduo deste grupo étnico-racial, pode significar sujo, lúgubre, funesto, maldito, perverso, triste, nefando, etc..”
Diante desse quadro a lei 10.639/03 pode constituir-se como uma
ferramenta importante para o combate ao racismo e consequentemente para a
superação do quadro de desigualdades raciais e sociais presente na sociedade
brasileira.
4 REFLETINDO E FAZENDO MUDANÇAS NAS ESCOLAS E NA SOCIEDADE
O dia a dia nos mostra a diferenciação dada ao negro na escola, a começar
pelos conteúdos que não abordam positivamente a história africana, como se o
continente só tivesse servido para a obtenção de mão de obra.
Rocha vê a escola como “espaço privilegiado de intervenção”, e argumenta:
“Ao omitir conteúdos sobre a historia do pais, relacionados à população negra, ao omitir contribuições do continente africano para o desenvolvimento da humanidade e ao reforçar determinados estereótipos, a escola contribui fortemente para o reforço das construções ideológicas racistas”. (Rocha, 2007, p. 28).
Com base nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
Relações Étnico Raciais 2004, p. 19 e 20: “ações educativas de combate ao racismo
e a discriminação o princípio encaminha para a valorização da oralidade, da
corporeidade e da arte, por exemplo, como a dança, marcas da cultura de raiz
africana, ao lado da escrita e da leitura” conteúdos que não mostram só questões
consideradas negativas aos nossos alunos, mas também a contribuição dos negros
para o nosso país. Trabalhar de forma a valorizar a importância que esta cultura tão
rica teve e tem para todos brasileiros.
BENCINI, (2004, p. 46-53), coloca que a questão racial é assunto de todos e
deve ser conduzida para a reeducação das relações entre descendentes de
africanos, de europeus e de outros povos e, portanto, não devemos abordar a
história dos negros somente a partir da escravidão, somente apresentar o continente
africano cheio de estereótipos, como o exotismo dos animais selvagens, a miséria e
as doenças.
A lei 10639/03 está aí com o objetivo de atacar os efeitos acumulados em
virtude das discriminações ocorridas ao longo da história, a partir de um processo de
ensino-aprendizagem que parta da valorização da História e Cultura Afro brasileira.
De acordo com (LIMA, 2008, p. 271), novos cursos já começaram a
incorporar disciplinas abordando os aspectos destacados na Lei 10639/03, a
modificação nas instituições formadoras de professores é um fator contribuinte para
que comecem a chegar às escolas profissionais que incorporem não somente
conteúdos, mas posturas políticas comprometidas com uma abordagem não
preconceituosa da questão racial no Brasil, pois para que um currículo modificado
seja implementado, a função docente é essencial.
Os docentes e suas disciplinas podem fazer um trabalho em conjunto,
unindo a teoria e a prática, pois é através da integração das diversas áreas do
conhecimento que teremos resultados positivos contra o preconceito e a
discriminação racial. Nessa perspectiva, deve-se procurar sempre que possível
realizar trabalhos em conjunto com outras áreas de conhecimento como, por
exemplo, com os professores de geografia, artes, língua portuguesa, etc., cada qual
fazendo a sua parte dentro de um mesmo tema a ser abordado como é o caso da
cultura africana e afro-brasileira, demonstrando os aspectos que levam ao
conhecimento da África, tanto históricos quanto geográficos, mas também a invasão
europeia, o domínio sobre o povo e sua cultura e no que resultou para o mundo
principalmente para o povo africano e seus descendentes. Buscar desta forma,
também valorizar este povo através de suas importantes contribuições para o
mundo, que até os dias de hoje estão presentes e que muitas vezes
desconhecemos ou não nos damos conta destas contribuições seja na religiosidade,
na dança, na música, na linguagem, entre outros.
Enriquecer o aprendizado por meio da inserção da cultura negra africana é
revelar a África pela própria visão africana, isso mostra que a África tem uma história
contada por ela mesma:
“Esse entendimento de cultura é necessário para o professor na medida em que ele atua em um sistema que através da tradição seletiva impõe a cultura dominante efetiva a alunos de segmentos étnicos e raciais diversos, colocando-a como a “tradição” e o passado significativo. O conteúdo é realmente significativo quando este é relacionado com o contexto sociocultural do aluno e lhe proporciona o domínio do conhecimento sistematizado” (SILVA, 2001, p. 175).
Para as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações
Étnico Raciais 2004, p.18.
“precisa o Brasil, país multi-étnico e pluricultural, de organizações escolares em que todos se vejam incluídos, em que lhes seja garantido o direito de aprender e de ampliar conhecimentos, sem ser obrigados a negar a si mesmos, ao grupo étnico/racial a que pertencem e a adotar costumes, ideias e comportamentos que lhe são adversos. E estes, certamente, serão indicadores da qualidade da educação que estará sendo oferecida pelos estabelecimentos de ensino de diferentes níveis”.
Ao referir-se a Lei 10.639/03, Rocha (2007, p.33) diz:
“a Lei 10.639/03 deve atuar no sentido de desvelar construções ideológicas que deram suporte à efetivação do quadro de exclusão social da população negra no país, como a da inferioridade do negro e a do mito da democracia racial brasileira”.
De acordo com MUNANGA(2009, p. 12-13,) essa lei já foi objeto de crítica
das pessoas que acham que isso também seria uma racialização do Brasil. Pessoas
que acham que, sendo a população brasileira uma população mestiça, não é preciso
ensinar a cultura do negro, ensinar a história do negro ou da África. Temos uma
única história, uma única cultura, que é uma cultura mestiça. Tem pessoas que vão
nessa direção, pensam que isso é uma racialização da educação no Brasil.
Segundo (FERNANDES, 1972, p.42) o racismo, aqui, toma formas
especiais; ele é negado, velado, “o brasileiro tem preconceito de ter preconceito”. A
lei provocou o racismo velado e o transformou em um racismo revelado, ou seja,
com a implementação da Lei os/as racistas de plantão ficaram alertas e vieram à
tona os discursos de igualdade, de sociedade com as mesmas oportunidades, de
irmandade, de discriminação às avessas, então, trabalhar a lei é dar visibilidade à
população negra, porém essa visibilidade provoca a fúria de muitos, que enquanto
os negros/as ficavam na periferia, na sarjeta, nos guetos, não incomodavam
ninguém, mas agora que estão saindo do limbo passam a incomodar essa
população racista, que estava escondida atrás da ideia de democracia racial e que
hoje se apresenta às claras mostrando como esse país é racista. Acho que devemos
conversar com nossos alunos sobre a África, mostrar sim as mazelas dos povos
africanos, porém é importante mostrar os motivos dessas mazelas, mostrar
historicamente quem foram os responsáveis por guerras, fome e toda a sorte de
tragédias humanas que lá existem.
É preciso desmascarar a história, mostrar que a África é pobre, tem guerras
e doenças, isso tudo devido à intervenção direta dos europeus que em nome da
civilização mataram milhares de africanos, roubaram a riqueza do continente,
sequestraram seus trabalhadores, isso tem que ser mostrado valorizando também a
beleza cultural desse povo. Precisamos discutir isso na escola, provocar o debate,
promover em nossos alunos a indignação e criar um discurso e prática antirracista.
Para Wagner de Cerqueira e Francisco,
“O continente africano é o mais pobre economicamente do planeta, além de apresentar vários problemas de ordem social (conflitos étnicos, fome, doenças, etc.). Um dos principais motivos desse cenário foi o processo de colonização e independência dos países africanos, em que apenas os interesses das potências imperialistas foram levados em conta. Ao abordar os problemas sociais da África é de fundamental importância esclarecer sobre as raízes históricas desse fenômeno, despertando o senso crítico dos alunos. Explique que a divisão territorial do continente teve como critério apenas os interesses dos colonizadores europeus, desprezando as diferenças étnicas e culturais da população local. Esse processo foi marcado por muita violência e intensa exploração das riquezas dos países africanos que, após conquistarem a independência, ficaram instáveis politicamente e economicamente, visto que os colonizadores simplesmente abandonaram a região em meio a diversos conflitos étnicos e separatistas”
4.
Realmente, a maioria dos professores sabe da importância social de refletir
junto com alunos temas como: racismo, preconceito, discriminação. No entanto,
alguns não sabem qual a melhor forma de trabalhar com os conceitos e contextos da
história da África, durante o desenvolvimento da aula. Pior que isso, são aqueles
professores que além de não saberem trabalhar com a temática, não procuram se
informar. Por mais difícil que seja a nossa jornada de educadores temos poder
suficiente para melhorar esse país. No entanto, isso só é possível quando nos
unirmos por um bem comum. Vamos transformar os recursos de comunicação e
informação disponíveis, em recursos didáticos para melhorar a qualidade de nossas
aulas, mostrando que a história pode ser contada por diferentes grupos, de diversas
maneiras.
O estudo proposto contribui com a necessidade atual de nossa sociedade,
que consiste na formação urgente de consciência permeada de tolerância e de
princípios da igualdade. Deve-se estabelecer diálogo constante entre os alunos
4 FRANCISCO, Wagner de Cerqueira e. A Colonização e a violência na África (texto)– Disponível em:
http://educador.brasilescola.com/estrategias-ensino/a-colonizacao-violencia-na-Africa.htm - Acessado em 04 de
maio de 2011.
como forma de combater o racismo e as discriminações em sala de aula e o
professor deve interferir adequadamente inibindo qualquer comentário racista ou
preconceituoso, mostrando que ele não é conivente com o racismo. Além dessas
práticas, outras devem ser inseridas no cotidiano escolar como: procurar identificar
as dimensões do preconceito racial e como elas se manifestam na escola; buscar a
recuperação do orgulho de ser negro, isto é, buscar uma pedagogia de autoestima
elevada, ao contrário da pedagogia da reiteração da inferioridade. Criar condições
para que os estudantes negros não sejam desencorajados de prosseguir os estudos
e de estudar questões que digam respeito à comunidade negra. Tolerância é uma
característica que deve ser abordada todos os dias na escola. Nossos alunos ainda
não tem uma clareza do que é isso.
Bem, a sociedade também não tem. Nós, enquanto professores,
educadores, teremos de plantar essa semente, cuidar dela, fazê crescer. Buscamos
uma vida melhor, uma sociedade mais consciente, mais acolhedora. Fazer a
diferença é o que importa.
Efetivar a lei é tarefa não apenas dos professores, mas de toda a sociedade,
inclusive do governo, visto que jogar a responsabilidade apenas nos professores é
limitar a lei no seio da escola, é uma lei geral, que deve abranger toda a sociedade.
A lei é uma construção política de luta do Movimento Negro interessado em buscar o
reconhecimento da população negra nesse país. Como vemos no nosso dia a dia na
escola os temas relativos à Lei 10.639/03 não são muito estudados, mas muitos
problemas existem por este motivo. Durante muito tempo a cultura Africana e Afro-
Brasileira ficou um tanto oculta dos nossos conteúdos disciplinares, colocando de
forma secundária as contribuições dadas por esses grupos étnicos para a formação
cultural do nosso país.
Buscar materiais alternativos para serem trabalhados em sala de aula, é o
que faz com que o aluno se interesse e compreenda melhor o assunto. Cabe ao
professor não escamotear esta situação, mas potencializá-la, destacando a beleza
de cada etnia, a riqueza da diversidade de tipos humanos. Isto vai fazer com que os
alunos negros assumam, sem maiores problemas, sua negritude, a criança negra
descubra o valor de sua cultura, de seus costumes, segundo o que diz (Munanga
1986, p. 32):
Aceitando-se o negro, afirma-se cultural, moral, física e psiquicamente. Ele se reivindica com paixão, a mesma paixão que fazia admirar e assimilar o
branco. Ele assumirá a cor negada e verá nela traços de beleza e de feiura com qualquer ser humano “normal”.
Mas para que uma transformação ocorra é necessário que a Lei 10.639/03
seja estudada e vista como uma grande possibilidade de desmistificar o racismo e
preconceito e valorizar a cultura afro, e que o diálogo constante pode combater a
intolerância e desrespeito em sala de aula. Também é necessário os educadores
quererem capacitar-se nessa temática. Quebrar seus ranços, preconceitos,
estereótipos carregados ao longo dos anos por uma sociedade que não só
escravizava o corpo físico como escravizava a alma do ser humano. Portanto, é hora
de buscarmos eleger o tema para discussão em grupos de estudos e fomentar a
criação de cursos nas escolas sobre a educação antirracista. O racismo é um
entrave para a consolidação de uma sociedade mais justa e democrática, onde
todos sejam realmente cidadãos. Acredito que todos os participantes que escolhem
essa temática estão tendo essa preocupação.
Segundo (Rocha, 2007, p. 29), “é de longa data a reivindicação do
movimento social negro pela inclusão da História da África e da Cultura Afro
brasileira no currículo das escolas brasileiras”;
Para que possamos concretizar o nosso trabalho sobre o tema, é necessário
também que ele esteja presente no PPP (Projeto Político Pedagógico) e PTD (Plano
de Trabalho Docente) para as devidas discussões acerca das relações étnico
raciais, do preconceito e sua manifestação na sociedade brasileira, pois é importante
ampliar a compreensão do problema, para então poder refletir sobre o que deve ser
escolhido como conteúdo para compor um currículo escolar que prestigie os negros
mestiços na nossa história e cultura, onde não haja desiguais, porém, diferentes. O
respeito à diferença deve ser um dos pilares de uma sociedade democrática, que
caminhe para um país justo e de uma sociedade marcada pela cidadania e pela
inclusão. O fato de escolhermos esse tema já demonstra que realmente queremos
fazer a diferença e fazer parte das mudanças que vem ocorrendo em nossa
sociedade.
O PPP da escola é feito para ser colocado em prática, ajudando assim a
melhorar a escola no seu cotidiano. Assim, é realmente necessário efetivar, acreditar
que a Lei 10639/03 pode servir como uma base forte para erradicar o racismo, o que
deveria ser o consenso entre todos os educadores. Ela deveria estar sendo
aplicada desde a sua promulgação, pois lei não se aplica gradualmente, lei se
executa a partir de sua promulgação. Somente a necessidade do resgate dos
conhecimentos acerca da história dos negros no Brasil, por parte dos professores é
que fez com que a lei tivesse uma implantação, um pouco mais tardia em relação à
data de sua promulgação.
5 A IMPLANTAÇÃO DO PROJETO NA ESCOLA.
A Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica foi no Colégio
Estadual Vandyr de Almeida - Ensino Fundamental e Médio, cidade de Cornélio
Procópio – PR, no 3ª Ano, turma A, no Período Matutino.
Em julho de 2011, durante a Semana Pedagógica, apresentei o Projeto a
toda comunidade escolar e pedi a colaboração de todos, pois apesar de ser um
trabalho desenvolvido na área de História, ele visa o envolvimento de todas as
disciplinas, pois o conteúdo faz parte do Plano de Trabalho Docente de todos os
professores. O projeto foi bem aceito pelos colegas de profissão e o tema despertou
interesse no meio docente.
Ao iniciar as atividades docentes em agosto de 2011, expus o Projeto de
Intervenção Pedagógica, ao meu público-alvo, os alunos do Ensino Médio do 3º ano
A, expliquei como ele foi desenvolvido e que meu objetivo era levar ao conhecimento
dos alunos a importância desta Lei. Dei início aos trabalhos questionando junto aos
alunos, qual conhecimento eles tinham da Lei 10.639/03, e de sua aplicação nas
escolas e, pude verificar que a maioria dos alunos a desconheciam, mesmo ela
tendo aproximadamente dez anos, pude constatar que pouco foi trabalhado ou
discutido e sendo assim, coloquei a Lei aos alunos e expliquei que ela foi criada em
virtude da desvalorização dentro da nossa história, da cultura Afro, e que esta Lei é
uma conquista deste povo marginalizado pela sociedade. Com base nisto, trabalhei
as definições de preconceito e discriminação e para reforçar estes conceitos, passei
o vídeo: “A Morte do Cisne”5, que tem a participação de John Lennon da Silva, um
5Vídeo: A Morte do Cisne com John Lennon da Silva, disponível em
<http:www.youtube.com.watch?V=RM2Aio9mvNE> Acessado em 04 de maio de 2011. Apresentação de John Lennon da Silva, no Programa: Se ela dança eu danço, do SBT.
rapaz afrodescendente que participou de um programa musical na TV e ao se
apresentar parar dançar A Morte do Cisne o rapaz é inquerido por uma das juradas
do programa se era com a roupa que ele se encontrava que iria se apresentar e
quando o mesmo responde que sim, a jurada com ar de quem não acredita na
capacidade do rapaz fala: então vamos ver sua apresentação. Durante a dança, o
rapaz faz uma apresentação diferente e se sai muito bem provocando lágrimas em
um dos jurados. Mesmo tendo causado uma surpresa boa, o rapaz sofreu
preconceito pela maneira como estava vestido e foi pré-julgado antes de sua
apresentação.
Após assistirmos o vídeo, senti que os alunos ficaram sensibilizados e
participaram da discussão, falando da importância da Lei para a valorização da
cultura afro em nosso país, com objetivo de acabar ou diminuir com situações
parecidas, que acontecem inclusive com os próprios alunos, não só pelo problema
da cor, mas pela maneira como se vestem situação que muitos vivenciaram e deram
exemplos.
Após a discussão do vídeo, apliquei três questões aos alunos e pedi que
respondessem, e com base nestas respostas pude verificar o conhecimento prévio
e ter noção de como estava fluindo o tema. São elas:
a) Mesmo tendo contribuído para a formação do país nos aspectos culturais,
econômicos e sociais os afrodescendentes recebem hoje o devido valor?
b) No Brasil a democracia étnica é um fato consolidado?
c) Por que mesmo tendo contribuído para a formação de nosso país em vários
aspectos, os afrodescendentes ainda fazem parte da população marginalizada social
e economicamente.
Com as respostas em mãos, fiz uma análise e pude constatar, no que se
refere à primeira questão, que a maioria dos alunos é unânime em dizer que os
afrodescendentes não recebem da nossa sociedade o devido valor, seja nos
aspectos políticos, sociais, educacionais, embora poucos opinem que acham que
não existe discriminação em nossa sociedade.
As respostas da segunda questão mostram que entre a maioria dos alunos
houve concordância de que não existe uma democracia étnica, que em várias
situações as pessoas mais claras, mais bem vestidas têm oportunidades melhores.
Na questão que se refere à indagação da contribuição dos afrodescendentes
para nosso país e que mesmo assim eles continuam na, maioria, marginalizados
social e economicamente, as respostas dos alunos foram que faltam mais projetos
governamentais para a inclusão dos afros descendestes na sociedade, que faltam
incentivos quanto ao primeiro emprego, mais oportunidades na educação superior,
enfim, precisamos de conscientização no que se refere a essa cultura.
Os objetivos de estimular a conscientização dos alunos para a valorização
da cultura afro propostos para esta atividade foram alcançados, uma vez que as
questões faziam um paralelo entre a contribuição da cultura afro para nosso país e
de como na atualidade o afrodescendente é tratado.
Dando continuidade, em outra aula, levei os alunos à sala de informática,
que fica nas dependências do Colégio, e orientei para que fizessem uma pesquisa
sobre a contribuição da cultura afro em nosso país, na música, na alimentação, na
religião, nas artes e na linguagem.
Verificou-se que o uso da informática para a pesquisa escolar proporcionou
maior interesse pelos alunos nas discussões, incentivando a reflexão e estímulo pelo
assunto. Após esta pesquisa sendo de grande valia para o bom desenvolvimento do
projeto. Após a pesquisa os alunos foram divididos em grupos e, cada equipe ficou
com a responsabilidade de produzir cartazes e desenhos sobre o assunto que lhe
fora designado.
Estas produções tiveram bons resultados, havendo a participação da maioria
dos alunos. Avaliei este desempenho como uma resposta positiva do trabalho.
Como forma de incentivo, os cartazes e desenhos confeccionados, foram
expostos na escola. Esta exposição coincidiu com as comemorações da Semana da
Consciência Negra, e houve a participação de outras disciplinas como português,
geografia e artes, que também expuseram seus trabalhos. Os resultados desta
atividade foram muito bons, pois houve participação efetiva dos envolvidos e a
exposição dos trabalhos despertou a curiosidade de outros alunos que se
interessaram pelo conteúdo.
Em suma, posso dizer que ao final da aplicação do Projeto de Intervenção
na Escola, os alunos se inteiraram e tomaram consciência da Lei 10639/03 e de sua
abrangência, isto feito através de pesquisas, de trabalhos e, de discussões nas
quais puderam expressar as suas opiniões, ampliando suas visões sobre a
valorização e influência positiva da cultura afro para nossa nação.
Além das atividades com os alunos, também tivemos durante a
implementação, que tutoriar o GTR (Grupo de Trabalho em Rede), que é um
programa de capacitação de responsabilidade do professor PDE no
acompanhamento e desenvolvimento de um curso à distância, onde se trocaram
ideias e experiências com outros professores da rede Estadual de Ensino do
Paraná, que participavam do evento, a respeito do tema proposto.
Foi de grande valia a participação e contribuição do GTR a este trabalho,
pois a partir das experiências descritas, das trocas de ideias e discussões entre os
educadores, sentimos quanto o assunto é de suma importância nas escolas, pois
mesmo com tantos trabalhos já realizados sobre este tema, existe ainda um alto
índice de preconceito e discriminação, mesmo velado em nosso meio.
Penso que a lei completando quase dez anos levou um tempo bem extenso
para ser trabalhada, mas havendo uma maior integração e interesse dos docentes,
nossos alunos irão aos poucos visualizar perspectivas de uma nova história para
nossos compatriotas afros descendentes que imprimiram autenticidade e
africanidade em nossa cultura e no modo de ser dos brasileiros.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A reflexão da Lei 10.639/03 implica a necessidade do resgate positivo e da
valorização do afrodescendente em nossa sociedade, proposto pelo estudo da
história da África e dos Afrodescendentes no Brasil. Visa destacar os valores
humanos e culturais da etnia os quais há pelo menos 400 anos são relegados ou
colocados no esquecimento por uma elite dominante que pra se impor e continuar a
ter suas regalias convive até os dias atuais com conceitos de desigualdade,
preconceito e discriminação racial.
Trabalhar a Lei 10.639/03 que resgata e valoriza a cultura afro é papel que
nós enquanto professores, educadores, temos de realizar. Plantar tal semente,
cuidar dela, fazê crescer, fazer a diferença, sensibilizará nossos colegas professores
para um trabalho que há muito deveria ter começado, mas acredito que vivemos um
tempo onde muitas mudanças acontecem e onde todos nós, seres humanos,
estamos aprendendo a necessidade do respeito à diversidade étnico cultural e á
valorização de uma etnia que tanto tem feito pelo nosso país e merece o seu lugar
em todos os setores, para o desenvolvimento e respeito de todos indistintamente, o
que certamente levará o progresso a esta nação. Buscando uma vida melhor, uma
sociedade mais consciente, mais acolhedora.
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