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Pouco tempo depois de ter celebrado o seu trigésimo aniversário, o Royal Oak dotou-se de um mecanismo de corda automática criado pela própria Audemars Piguet: o calibre 3120. O célebre relógio octogonal, que ao longo das últimas três décadas tem conhecido múltiplas versões, rejuvenesceu neste modelo clássico, vendo aumentada a sua fiabilidade, ergonomia e segurança. Todas estas questões são analisadas e testadas ao pormenor durante o processo de reparação e manutenção do relógio. Solidez de forma e conteúdo. LABORATÓRIO ESPIRAL DO TEMPO > 127 texto Vanda Jorge > fotos Nuno Correia Royal Oak Automatic E m 1972, a Audemars Piguet abalou os códigos da alta-relojoaria ao apre- sentar um relógio que na altura es- capava aos padrões mais tradicionais. As reacções deixaram desde logo adivinhar o sucesso que o Royal Oak teria a muito curto pra- zo. A forma octogonal inédita, a utilização do aço como material nobre e a integração da caixa na bracelete revolucionaram o mercado. Três dé- cadas depois, o Royal Oak mantém a personali- dade e o rigor técnico que fazem dele uma peça extraordinária e quem faz questão de reforçar a ideia são os próprios relojoeiros, que por muitos anos que tenham de experiência não conseguem ficar indiferentes ao que vão redescobrindo de cada vez que desmontam uma destas peças. Para nos elucidar, um dos técnicos a trabalhar no ate- lier da Torres Distribuição, mostra-nos um esto- jo gravado com a inscrição ‘Royal Oak’. No seu interior estão organizadas por tamanhos as difer- entes chaves de manutenção fornecidas pela pró- pria manufactura do Vale de Joux. «Este é um modelo com muitos parafusos, e é por isso que fazemos a manutenção destes relógios com peças próprias», explica o relojoeiro, enquanto vai retirando os emblemáticos oito parafusos da caixa do Royal Oak. Na sua bancada começa por separar o me- canismo da caixa, de forma a poder fazer uma primeira avaliação ao estado do relógio. «Des- montar a caixa deste relógio é um pouco mais complexo porque tudo é feito separadamente. Neste caso não é suficiente abrir só o fundo, é

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Page 1: Royal Oak Automatic Solidez de forma e conteúdo. fileSolidez de forma e conteúdo. LABORATÓRIO ESPIRAL DO TEMPO> 127 ... zo.A forma octogonal inédita,a utilização do aço

Pouco tempo depois de ter celebrado o seu trigésimo aniversário, o Royal Oak dotou-se de um mecanismo de corda automática criado

pela própria Audemars Piguet: o calibre 3120. O célebre relógio octogonal, que ao longo das últimas três décadas tem conhecido

múltiplas versões, rejuvenesceu neste modelo clássico, vendo aumentada a sua fiabilidade, ergonomia e segurança. Todas estas

questões são analisadas e testadas ao pormenor durante o processo de reparação e manutenção do relógio.

Solidez de forma e conteúdo.

LABORATÓRIO

ESPIRAL DO TEMPO > 127

t e x t o Vand a Jo rg e > f o t o s Nuno C o r r e i a

Royal Oak Automatic

E m 1972, a Audemars Piguet abalouos códigos da alta-relojoaria ao apre-sentar um relógio que na altura es-capava aos padrões mais tradicionais.

As reacções deixaram desde logo adivinhar osucesso que o Royal Oak teria a muito curto pra-zo.A forma octogonal inédita, a utilização do açocomo material nobre e a integração da caixa nabracelete revolucionaram o mercado. Três dé-cadas depois, o Royal Oak mantém a personali-dade e o rigor técnico que fazem dele uma peça

extraordinária e quem faz questão de reforçar aideia são os próprios relojoeiros, que por muitosanos que tenham de experiência não conseguemficar indiferentes ao que vão redescobrindo decada vez que desmontam uma destas peças. Paranos elucidar, um dos técnicos a trabalhar no ate-lier da Torres Distribuição, mostra-nos um esto-jo gravado com a inscrição ‘Royal Oak’. No seuinterior estão organizadas por tamanhos as difer-entes chaves de manutenção fornecidas pela pró-pria manufactura do Vale de Joux. «Este é um

modelo com muitos parafusos, e é por isso que fazemos a manutenção destes relógios com peças próprias», explica o relojoeiro, enquanto vairetirando os emblemáticos oito parafusos dacaixa do Royal Oak.

Na sua bancada começa por separar o me-canismo da caixa, de forma a poder fazer uma primeira avaliação ao estado do relógio. «Des-montar a caixa deste relógio é um pouco maiscomplexo porque tudo é feito separadamente.Neste caso não é suficiente abrir só o fundo, é

Page 2: Royal Oak Automatic Solidez de forma e conteúdo. fileSolidez de forma e conteúdo. LABORATÓRIO ESPIRAL DO TEMPO> 127 ... zo.A forma octogonal inédita,a utilização do aço

preciso desmontar a caixa toda», acrescentaVictor Serrão.

Na bancada ao lado, Simão já iniciou a des-montagem do rotor com rolamento de esferasem cerâmica, uma peça elegantemente persona-lizada e que é possível observar através do fundoem safira. A partir desse momento é feita umaanálise rigorosa ao estado do relógio, um proces-so cumprido com todos os relógios que passampor este atelier.

O mesmo relojoeiro chama-nos para mostraro original sistema de regulagem deste RoyalOak,que como explica, «é feita através de contra-pesos». «Este relógio é um pouco diferenteporque não tem raquete de registo e a regulagemé feita por contra-pesos, quanto mais pesado foro balanço, ou quanto mais distante o centro degravidade dos pesos estiver do centro, maior seráo atraso do relógio», explica Víctor Serrão. E dá--nos um exemplo prático: «imagine um fio deprumo; quanto mais curta for a distância entre ocentro e a extremidade, melhor ele gira».

A correcta regulagem é um dos momentosfulcrais nesta visita para eventual reparação emanutenção,desta que é uma realização audacio-sa da Audemars Piguet. Mas como os técnicosfazem questão de sublinhar, numa peça comoesta, «é preciso ter atenção a todos os por-

menores. Basta um relógio estar mal lubrificadopara não trabalhar bem e depois há a preocu-pação com os acabamentos, e a Audemars primanesse ponto».

Durante a semana, o tempo que em média eem caso de não haver grandes reparações é feitaa manutenção do Royal Oak, os relojoeiros têmtambém a missão de zelar pelo aspecto perfeitoda caixa e da bracelete. «As arestas são polidas eacetinamos a caixa, repare como estão: a caixa éalinhada com a bracelete como se houvesse umfio,na decoração das peças eles são uns mestres!»,diz-nos Víctor Serrão. Em tornos próprios, ostécnicos ocupam-se do tratamento da caixa e dabracelete, e explicam que há questões simplesmas essenciais a ter em conta para garantir umbom funcionamento do relógio. «Sempre que um

relógio chega para manutenção é importanteverificar o estado dos parafusos e substituí-los sefor caso disso; o mesmo em relação aos outroscomponentes do relógio, e se for necessário po-limos as arestas» vai enumerando o mesmo relo-joeiro. O teste de estanquicidade é outro mo-mento chave de todo este processo, até porque acaixa deste Royal Oak tem a particularidade deestar protegida com multi-vedantes devido à suacomplexidade. Em caso de registo de qualqueranomalia, todos os vedantes são substituídos deimediato.

Praticamente pronto para ser entregue aocliente, os relojoeiros certificam-se uma últimavez que os oito parafusos da caixa foram remon-tados na sua posição exacta. Eles são a imagemde marca deste modelo! ET

«Este relógio é um pouco diferente porque não tem raquete de

registo e a regulagem é feita por contra-pesos, quanto mais pesado

for o balanço, ou quanto mais distante o centro de gravidade dos

pesos estiver do centro, maior será o atraso do relógio»

Vitor Serrao‘ ~

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