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#286 MARÇO/ABRIL 2016 ENTREVISTA ARTIGO REPORTAGEM Romy Calderón, economista-chefe da Alide, mostra a força do fomento ao crescimento na América Latina. O professor Ricardo Dathein aponta a importância do Estado forte como indutor da economia. O Sistema Nacional de Fomento reflete sobre o desenvolvimento regional. O CAMINHO A SEGUIR Os economistas Samuel Pessoa e Nelson Marconi apresentam duas visões sobre o recente desenvolvimento do país e explicam como e por que chegamos onde estamos.

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Revista Rumos – Março/Abril 2016

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#286

MARÇO/ABRIL 2016

ENTREVISTA ARTIGO REPORTAGEM

Romy Calderón, economista-chefe da Alide, mostra a força do fomento ao crescimento na América Latina.

O professor Ricardo Dathein aponta a importância do Estado forte como indutor da economia.

O Sistema Nacional de Fomento reflete sobre o desenvolvimento regional.

O CAMINHO A SEGUIR Os economistas Samuel Pessoa e Nelson

Marconi apresentam duas visões sobre o recente desenvolvimento do país e explicam como e por quechegamos onde estamos.

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RUMOS 3

SUMÁRIO

FOMENTOLIVROS

CAPA | Entrevistas

O caminho a seguir

ARTIGO | Ricardo Dathein O desenvolvimentismono Brasil de hoje

REPORTAGEM | FÓRUM SNF

Protagonismo regional

MEMÓRIA

Um mergulho naessência

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REPORTAGEM

Assim é... (se lhes parece)

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REPORTAGEM

Crédito para o agronegócio

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ARTIGO Fernanda Feil Andrej SlivnikAjustes (des)necessários

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São tempos estranhos aqueles que não nos permitem acompanhá-los, vivê-los em sua plenitude. Assim está o Brasil de hoje, difí-cil de entender, complicado ao olhar, mas promissor no longo prazo. Para tentar de-cifrar os caminhos futuros do país, a Rumos conversou com os economistas da Fundação Getulio Vargas, Samuel Pessoa, no Rio de Ja-neiro, e Nelson Marconi, em São Paulo, que falam sobre como enxergar a trajetória do desenvolvimento brasileiro e os maus passos que nos levaram até aqui, onde estamos hoje.

Em continuidade às comemorações dos 40 anos da revista, um mergulho na década de 1990, cujo mote foi uma especial atenção ao desenvolvimento, em suas mais diversas abrangências: econômica, social e humana. Também nesta edição, seis correspondentes internacionais contam o que veem, vivem e narram para seus conterrâneos sobre o que acontece no Brasil. Por fim, o artigo do pro-fessor do curso de Economia da Universida-de Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Ricardo Dathein, expõe os pensamentos da economia em relação aos possíveis cami-nhos para o desenvolvimento nacional.

Enfim, ainda que esteja difícil entender o Brasil de hoje, nas páginas da Rumos não faltarão fatos, dados e ideias para que cada um formule a sua visão sobre o desenvolvi-mento do país. Boa leitura!

#286MARÇO/ABRIL 2016

AO LEITOR NESTA EDIÇÃO

SEÇÕES

DESTAQUES

OPINIÃO

Antonio Delfim NettoRealidade imaginária

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EXPERTISE

Romy Calderón AlcasEstímulo ao desenvolvimento latino-americano

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ARTIGO

Ênio MeinenCooperativismo edesenvolvimentosocioeconômico

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EM DIA

Luiz GamboaFelipe SalgadoA fratura no tabuleiro geopolítico

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REPORTAGEM

O filme vai começar12

EditoraThais Sena Schettino

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Um mergulho na essência

Democracia reconquistada e estabilidade econô-mica a caminho, os anos de 1990 trouxeram para as páginas da revista professores, políticos e espe-cialistas nos temas do desenvolvimento. Não seria novidade que esse assunto fosse o norte dos deba-tes, visto a publicação ser voltada para discutir os caminhos para o crescimento do país com a garan-tia do bem-estar, mas a década de 1990 aprofundou os debates, tendo o complexo cenário econômico e social brasileiro como o fio condutor.

O interessante é que não foram ouvidos só eco-nomistas ou políticos, que tiveram, como não an-tes, edições especiais dedicadas a apresentar suas ideias para a concertação de um país então imber-be na democracia e namorador da estabilidade da moeda; foi um momento de ouvir cientistas sociais, educadores, administradores, enfim, uma plurali-dade de profissionais que permitiram um desfile de visões diferentes.

UM PROJETO NACIONAL A economista Tânia Bacelar abria os debates da década (1990, Ano 14, nº 84) chamando a atenção para as políticas de desenvolvimento regional. Embora tratasse dessa questão específica, pen-sando nos instrumentos disponíveis à época, a fala da economista tinha uma sinalização maior do que fazer para trazer o Norte e o Nordeste aos padrões econômicos e sociais do Sul e do Sudeste. “Para mim, o Brasil não tem, verdadeiramente, um projeto de desenvolvimento nacional. Se ti-vesse, não teria perdido as chances que perdeu, nos últimos anos, de estimular o desenvolvimen-to de outros subespaços do território nacional, como é o caso do Nordeste. ”

Ainda sobre essa questão – desenvolvimento –, mas com outra abordagem, em meados dessa déca-da, o geógrafo Milton Santos (1997, Ano 21, nº 121) insistia que, para enfrentá-la, o país devia ter “um

projeto de nação – e nós não te-mos. Por meio dele, poderíamos traçar um destino. Não quero di-zer que seja necessário guardá-lo para sempre. Esse projeto pode mudar, adaptar-se. Mas, se eu te-nho um destino claro, para o qual me encaminho, não vou entregar meu futuro à decisão de tal ou qual empresa, nacional ou estran-geira, que não tem qualquer pre-ocupação ou compromisso, a não ser com seus próprios interesses”. São palavras que completarão vin-te anos e que nos levam a reflexões atuais. Ele continua: “tendo um norte comum, é possível pedir à sociedade pausas no crescimento para realizar determinadas políticas consideradas fundamentais para o coleti-vo, estabelecer prazos para solucionar problemas de interesse nacional.”

Já a globalização foi o tema da entrevista com o economista francês Ro-bert Castel (1998, Ano 22, nº 148 ), em passagem pelo Brasil. Indagado sobre como seria o futuro, considerando os movimentos políticos de esquerda e de direita, ele frisou: “Podemos sonhar com um futuro maravilho ou catastró-fico, mas ele depende de decisões que são tomadas ou não no nível político”.

Ainda que a referida década tenha proporcionado aos brasileiros for-tes oportunidades de participação política, com eleições bianuais, um plebiscito sobre o sistema de governo, além do próprio processo que le-vou ao impeachment do primeiro presidente eleito por voto direto após a ditadura, os anos de 1990 foram paradigmáticos por deixar ao país o fim da inflação. E, no caso da revista, o legado foi a expressão máxima da democracia, com a liberdade de trazer às páginas brancas da publica-ção a impressão de vozes plurais, de variados espectros econômicos ou políticos, que amalgamaram o compromisso da Rumos com sua essência: promover o debate sobre o desenvolvimento do país, diante de qualquer cenário nacional ou internacional, pois, ao fim e ao cabo, a liberdade de expressão é a conquista maior de um projeto de nação soberana.

Promover o debate sobre o desenvolvimento do país, diante de qualquer cenário nacional ou internacional, pois, ao fim e ao cabo, a liberdade de expressão é a conquista maior de um projeto de nação soberana.

MEMÓRIA

Um aprofundamento no debate sobre o desenvolvimento, em especial o regional – foi com esse mote que a revista Rumos atravessou a década de 1990, mergulhando ainda mais fundo no tema que a define. POR THAIS SENA SCHETTINO*

* Editora da revista Rumos e Gerente de Comunicação Social da ABDE. Formada em Comunicação Social, com mestrado e doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (URFJ).

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Desenvolvimento como projeto nacional

Julho/Agosto - 1990 Setembro/Outubro - 1990 Maio/Junho - 1991

Maio/Junho - 1992 Julho/Agosto - 1992 Março/Abril - 1993

Janeiro/Fevereiro - 1995 Março - 1996 Fevereiro - 1999

Em um momento complexo da vida econômica do país, o desenvolvimento foi o tema mais constante nas páginas da Rumos. Abaixo, algumas imagens que demonstram que o termo esteve, literalmente, na capa da revista.

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RealidadeimagináriaOs eventos que ocorrem no Brasil apenas confirmam a fa-mosa lei de Thomas que controla o nosso comportamento. Temos tratado dela algumas vezes nesta coluna. O que diz a lei de Thomas? Apenas que “se alguém define ou sente a sua situação como real, ela será real nas suas consequências”. Em outras palavras: reagimos ao que pensamos (ou sentimos) ser a realidade externa, não importa se ela é real ou imaginária.

A lei de Thomas ajuda a entender os eventuais sucessos de narrativas convincentes de líderes que “vendem o lago azul” no futuro (a felicidade esteve no passado e voltará no futuro, mas nunca estará no presente) pela força ou, pacificamente, pela construção de um pensamento hegemônico majoritário que os leva ao poder.

Quem não lembra da “abertura do novo tempo”, a eleição de François Mitterrand na França, em 1981, um presidente socia-lista, depois de 23 anos de domínio da “direita”? A vague rose elegeu, também, 50% da Assembleia Nacional. Lionel Jospin afirmou em outubro de 1981, no Congresso Socialista de Va-lence: “Estamos diante da missão gloriosa e ameaçadora de criar um precedente bem-sucedido de uma grande première, engajar, praticamente, um país industrialmente avançado e de tradição democrática, no caminho do socialismo democrá-tico”. Começou com uma grande festa: Mitterrand aumentou em 10% o salário mínimo, ampliou a assistência social para famílias, criou o salário mínimo para a velhice, aumentou a bolsa-aluguel, elevou o salário-desemprego, criou uma bolsa para os agricultores menos eficientes, diminuiu o tempo de trabalho (para 39 horas semanais), nacionalizou o sistema bancário, cinco grandes grupos industriais e criou empregos públicos para combater o desemprego...

Como todo político (ignorou a lei de Tancredo: a esperteza, quando é muita, costuma comer o dono) fez tudo aquilo con-tra a opinião de seus ministros, socialistas, mas economistas qualificados. O de Finanças, Jacques Delors, o aconselhava a ter “rigor na solidariedade e vigilância no crescimento” e Mi-chel Rocard, do Planejamento, insistia em “limitar a estatiza-ção das empresas a 51%”. A resposta foi sua prepotência: “Por enquanto, eu faço a política. O rigor, veremos mais tarde”. No final de seu primeiro ano de mandato, começou a colher frutos amargos: um crescimento medíocre, taxa de inflação de 13% e déficit externo. Exatamente o que seus ministros tinham aprendido nos “reacionários” livros de macroeconomia! Em

1988, reeleito para um segundo mandato, nomeia Rocard, primeiro-ministro que reintroduz o “rigor na solidariedade”. Era tarde. O fim do governo foi lamentável e, logo depois, tudo foi reprivatizado.

Por que continuamos sensíveis ao autoengano das belas narrativas que sugerem o caminho fácil para a sociedade civilizada? Por que, diante das de-zenas de malfadadas experiências cerebrinas en-terradas no século XX, resistimos a aprender que a realidade acaba dominando nossas crenças e espe-ranças? O pior é que a verdade quando chega é sem-pre tarde demais para evitar os danos colaterais!

No Brasil de hoje há uma maioria significativa que “sente” que o poder Executivo não sabe o que fazer e, se soubesse, não teria poder para fazê-lo, porque tem dentro de si uma contradição insaná-vel: um corporativismo fantasiado de “esquerda” que apenas defende as vantagens que extraiu da maioria despercebida. Se o poder Executivo não enfrentar e se livrar dessa oposição interna e re-assumir o seu protagonismo, apresentando e tra-balhando para aprovar no Congresso as reformas constitucionais e as medidas infraconstitucionais que assegurem, num horizonte razoável, que a es-tabilidade fiscal estará garantida, vamos continuar afundando, porque a lei de Thomas recomenda a atitude defensiva: sentar e esperar!

No caso de sucesso da ação do Executivo, o “sen-timento” mudará rapidamente. Voltarão a con-fiança e, com ela, o investimento, e o crescimento, porque a lei de Thomas recomendará uma atitude ofensiva: aproveitar as oportunidades oferecidas pelo crescimento possível e que, pela resposta de todos, se tornará real.

ANTONIO DELFIM NETTOProfessor emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP), ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento.

OPINIÃO

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EXPERTISE

Quais os caminhos para o desenvolvimento da América Latina e seu financiamento? Quais as possibilidades de intercâmbio regional e melhores práticas de inovação no continente? Como as instituições financeiras podem aproveitar os desafios e oportunidades impostos nesse momento para promoverem um desenvolvimento sustentável, competitivo e inclusivo? Em conversa com a Rumos, o economista-chefe Associação Latino-americana das Instituições Financeiras de Desenvolvimento(Alide), Romy Calderón Alcas, discute essas e outras questões fundamentais para o progresso da região. POR ANA REDIG

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Estímulo aodesenvolvimento latino-americano

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O recente contexto favorável dos mercados inter-nacionais permitiram à região da América Latina e Caribe alcançar avanços importantes, principal-mente no que tange à inclusão econômica e social, acúmulo de reservas internacionais significativas, implementação de políticas macroeconômicas prudentes e, de forma ainda incipiente, investi-mentos em infraestrutura. No entanto, a expec-tativa para os próximos anos é diferente. Esta é a avaliação do mestre em Finanças pela Universida-de do Pacífico do Peru, atual economista-chefe da Associação Latino-americana das Instituições Fi-nanceiras de Desenvolvimento(Alide), Romy Cal-derón Alcas.

“Já é possível observar uma desaceleração da China e o crescimento norte-americano entrou no estilo ‘stop and go’. Além disso, a recuperação da Eurozona parece incerta, os preços do petróleo e das matérias-primas estão em queda e o comércio internacional cresce abaixo do PIB mundial. Estas tendências, somadas à crescente importância da agenda ambiental, impõem desafios significativos para a região”, avisa o economista.

Então, o que deve ser feito para fomentar o de-senvolvimento da América Latina, especialmente frente a esses desafios futuros? O economista-che-fe da Alide faz questão de deixar claro que não há modelos únicos. “A história econômica mostra que os países se desenvolvem seguindo modelos dife-rentes. Tudo depende das particularidades de cada país, da conjuntura internacional do momento, se há ou não recursos naturais disponíveis, da quali-dade do capital humano, além da existência ou não de políticas públicas para estimular o investimento privado e público. Enfim, uma confluência de di-versos fatores”, resume o especialista. Por essa ra-zão, as instituições financeiras latino-americanas vêm atuando em diferentes frentes para apoiar as políticas e medidas orientadas a induzir mudanças de natureza estrutural no aparato produtivo.

A primeira frente atende às demandas básicas da empresa e do empreendedor, e engloba o apoio à infraestrutura, a modernização das empresas, a di-versificação produtiva, o surgimento de empresas inovadoras, além do fortalecimento e entrada das micro, pequenas e médias empresas nos mercados internacionais, o apoio à inovação e ao desenvol-vimento tecnológico e das cidades sustentáveis, bem como ao conhecimento e à inovação. Uma segunda frente é a capacitação do capital humano, com melhoria da formação básica e técnica, e visão

“É necessário criar um ecossistema favorável para que a empresa recém-criada possa tornar-se competitiva, com potencial de seguir crescendo de forma significativa com base na diferenciação e na inovação.”

empreendedora. A terceira frente, mais estruturante, envolve uma maior interna-cionalização das Instituições Financeiras de Desenvolvi-mento (IFDs), com a aber-tura de agências, sucursais e escritórios de representação para acompanhar as empre-sas latino-americanas, captar recursos e atrair investimen-tos. A ideia é poder estabe-lecer acordos de cooperação com bancos e agências de financiamento nacionais e internacio-nais, a fim de promover o comércio bila-teral e prestação de assistência técnica. “A quarta frente de atuação é o apoio ao financiamento de projetos ambientais que busquem desenvolvimento susten-tável”, revela o especialista.

Romy Calderón explica que, apesar da conjuntura econômica internacional pouco favorável e dos ecos suscitados pela crise mundial de 2008, a visão so-bre o fomento ao desenvolvimento mu-dou. “Hoje se aceita uma maior inter-venção do Estado com políticas ativas, e não como simples observador do que o mercado está fazendo. Sabemos que o mercado tem falhas e algumas delas ele não consegue superar sozinho. Isso tende a perpetuá-las. É aí que o Estado deve ter presença ativa”, defende o eco-nomista. Ele afirma que este fenômeno pode ser observado com maior força e clareza logo depois da crise, mas que se-gue acontecendo atualmente na maior parte das regiões e países que estão ten-do dificuldades para tornar seu cresci-mento.

INOVAÇÃOSegundo dados do Banco Mundial, o Brasil é o país da América Latina que mais realiza investimentos (1,16% do Produto Interno Bruto - PIB) em pro-dutos inovadores para promover o de-senvolvimento. A Argentina vem em segundo lugar, com 0,58% do PIB, se-guidos México, com 0,50% e Chile,

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0,36%. Colômbia e Equador estão impulsionando importantes programas de pesquisa, mas os esfor-ços verificados na região ainda não chegam perto dos níveis de investimentos praticados por Isra-el (4,5%), Coreia do Sul (3,4%), e do conjunto dos países da Organização para a Cooperação e Desen-volvimento Econômico (OCDE), que apresentam uma média de 2,4%. Ainda há, portanto, muito tra-balho a ser feito.

“O Brasil conta com todo um sistema nacional de inovação, com recursos orientados para o fomento da pesquisa e do desenvolvimento. Neste proces-so, é fundamental a presença ativa do Estado, por meio da atuação de instituições como o BNDES, a Finep e o Sebrae”, elogia o economista. Segundo ele, o Innova Chile e o Start-Up Chile também são bons exemplos de promoção da inovação pelo po-der público local. “Neste sentido, o trabalho de fo-mento que a Corporação de Fomento da Produção (Corfo) realiza é de grande importância, já que atua em estreita coordenação com o Ministério da Eco-nomia e também toma como referência as pautas do Conselho de Inovação para a Competitividade e da Política Nacional de Inovação”, avalia Calderón.

As iniciativas implementadas na Colômbia tam-bém mereceram destaque por parte do especialis-ta. A Colombia.Apps.co é uma aceleradora de star-tups tecnológicas financiada com fundos públicos, que fornece capacitação, mentoring e construção de modelos de negócios de Tecnologia de Informa-ção e Comunicação (TIC). Uma particularidade es-trutural – a criação de um fundo de inovação – per-mitiu utilizar parte dos royalties do carbono e do petróleo em plataformas de inovação, por exemplo. Já o INNpulsa Colômbia é um programa especial do Banco de Desenvolvimento Empresarial da Co-lômbia (Bancoldex) que busca fortalecer um ecos-sistema que facilite a criação de empreendimentos dinâmicos e de alto impacto na cadeia de empreen-dimentos. Em julho de 2014 a INNpulsa Colômbia tinha 18 novos instrumentos de cofinanciamento criados para injetar nas etapas iniciais dos projetos. Também ajudou a impulsionar incubadoras nacio-nais, que passaram de 15 para 31 organizações na-quele país. O programa ainda promoveu mais de 50 grupos de pesquisa para transferência tecnológica.

MICRO E PEQUENAS A Colômbia também conta com o Fundo de Mo-dernização e Inovação Empresarial INNpulsa Mi-pyme, programa especial que apoia – por meio da

alocação de recursos de co-financiamento de não reem-bolsáveis – projetos que faci-litem o aumento de receitas, a redução de custos, o desen-volvimento de novos produ-tos e serviços ou a melhoria dos já existentes, abertura de novos mercados e canais de comercialização e geração de novos empregos nas micro, pequenas e médias empresas participantes.

O México é outro país que caminha nessa dire-ção: em 2013, criou o Instituto Nacional do Em-preendedor (Inadem) para fornecer apoio a empre-endedores e MPEs, impulsionando sua inovação, competitividade, projeção nacional e internacional. O Inadem também realiza o processo de reconheci-mento das aceleradoras e incubadoras do México e tem, atualmente, 244 delas registradas e dissemina-das por todo o país. Há fundos que provêem capital semente, capital de risco e private equity, por meio de programas que dirigem investimentos para pro-jetos empreendedores e para fundos.

Todas as experiências citadas têm grande va-lor, mas ainda há um longo caminho a ser trilha-do, alerta Romy Calderón “Não podemos ignorar a existência de 175 milhões de pobres na América Latina e Caribe. Independente do progresso al-cançado por estes países nessa área, todos devem avançar em políticas de investimentos, dado que ainda há muito o que fazer”, recomenda Calderón. O Brasil, por exemplo, possui um dos sistemas institucionais de financiamento de investimentos para o desenvolvimento mais completos da Améri-ca Latina. O problema é que o país é muito grande, e coexistem realidades diferentes em suas distintas regiões. “Isso impõe uma necessidade de mobilizar uma quantidade maior de recursos para atender às demandas insatisfeitas”, observa o economista.

Na área de estímulo às micro, pequenas e mé-dias empresas aconteceram importantes mudan-ças na visão das políticas de financiamento. Hoje entende-se que é preciso ir além, fornecendo apoio integral às empresas e aos empresários. Atualmen-te o mercado compreende a necessidade de estar presente nas diferentes etapas do desenvolvimen-to dessas empresas, acompanhando sua demanda, e de integrá-las na cadeia de valor. “As companhias precisam entrar nos programas e cumprir as exi-

“A transmissão dos conhecimentos e a aquisição das habilidades é a perfeita combinação entre a teoria e a prática. Está provado que uma educação de boa qualidade aumenta as possibilidades de desenvolvimento de um país.”

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gências de desenvolvimento da sua atividade sob as condições de sustentabilidade ambiental, e precisam de apoio continuado”, lembra o econo-mista-chefe da Alide. A capacitação e formação de empresários e empreendedores é uma ferramenta que permanece essencial para o desenvolvimento. “A transmissão dos conhecimentos e a aquisição das habilidades é a perfeita combinação entre a te-oria e a prática. É essencial adquirir conhecimento e poder aplicar na realidade. Está provado que uma educação de boa qualidade aumenta as possibili-dades de desenvolvimento de um país”, defende Calderón.

Ao longo de seus 48 anos de existência, a asso-ciação tem reafirmado a importância da coopera-ção técnica, econômica e financeira, assim como a troca de conhecimentos, a capacitação e o forta-lecimento permanentes. “Quanto maior for a par-ticipação dessas instituições de desenvolvimento sólidas e bem geridas, maior serão as garantias de promoção do desenvolvimento na América Latina e Caribe”, finaliza Romy Calderón Alcas.

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Para Romy, os processos de inovação são fundamentais para as instituições financeiras de desenvolvimento.

SOBRE A ALIDECriada em 1968, a Alide é o organismo internacional que representa os bancos de desenvolvimento da América Latina. Possui sede em Lima, no Peru, e conta com mais de 80 membros ativos na região, além de membros associados na Alemanha, Canadá, China, Espanha, Portu-gal, Suécia e Rússia. Entre seus associados estão importantes institui-ções brasileiras, como o BNDES, a Finep, a Caixa Econômica Federal e o Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae).

A organização tem como objetivo contribuir para o desenvolvimen-to regional, a cooperação financeira e os negócios, impulsionando se-tores econômicos na América Latina. Para isso, a associação busca es-timular o intercâmbio, a disseminação e a reprodução de experiências e práticas financeiras. Também divulga informações sobre produtos e serviços, normas e procedimentos, investimentos e oportunidades de negócios, entre outras facilidades que entidades nacionais e interna-cionais ofereçam em matéria de financiamento, fomento, cooperação técnica e capacitação.

Além disso, a Alide oferece soluções educacionais presenciais e a dis-tância voltadas à melhoria da capacidade técnica e gerencial de dirigen-tes e colaboradores das instituições associadas e afins. Também realiza consultorias e assistência técnica em temas afetos a microfinanças e de-senvolvimento, entre outros. Igualmente organiza fóruns, reuniões téc-nicas e seminários setoriais, regionais e sub-regionais. Promove, ainda, a realização de acordos e convênios, o desenvolvimento de programas e projetos e a criação de instituições financeiras.

Este ano, a Alide realiza a 46ª Reunião Ordinária da sua Assembleia Geral no Brasil. O encontro tem como tema central uma pergunta ins-tigante: “Para onde vai a América Latina e o Caribe? Crescimento, In-vestimento, Finanças e Bancos de Desenvolvimento”. Especialistas da comunidade financeira latino-americana e internacional vão analisar, entre os dias 18 a 20 de maio, no Rio de Janeiro, os possíveis caminhos para o desenvolvimento e seu financiamento, as possibilidades de in-tercâmbio regional, bem como os desafios e oportunidades que permi-tam às instituições financeiras promoverem um desenvolvimento sus-tentável, competitivo e inclusivo.

Cerca de 300 representantes das principais instituições vinculadas ao financiamento e à promoção do desenvolvimento de mais de 20 pa-íses da América Latina e Caribe devem participar do evento. Também estão confirmadas as presenças de representantes de banqueiros, economistas e executivos de entidades países de outras regiões que mantêm relações de cooperação e de negócios com bancos de desen-volvimento. Na assembleia, o presidente do BNDES, Luciano Couti-nho e o presidente do Banco de Desenvolvimento da América Lati-na (CAF), Enrique García, entre outras dezenas de palestrantes, vão abordar quatro pontos principais: a transformação produtiva para o desenvolvimento sustentável; a promoção do desenvolvimento e da ampliação dos mercados internos, regionais e mundial; infraestru-tura como novo vetor de crescimento; e a integração como fator de estabilização do desenvolvimento das economias latino-americanas.

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Atual agente financeiro do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), a his-tória do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) com o setor vem de longa data, exatamente na década de 1970, quando pouco se falava em leis de incentivo à cultura no país. Em 1972, o recurso destinado para o filme Ela tornou-se freira marcou o início da filmografia da Teixeirinha Produções Artísticas, produtora cujas obras marcaram a produção cinematográfica brasileira à época.

O longa metragem foi o primeiro, de um total de dez filmes produzidos pela empresa criada pelo cantor Teixeirinha, um produtor independen-te, no Rio Grande do Sul. A Guerra dos Pelados (1970); A morte não marca tempo (1973); Ana Terra (1970); e Pontal da Solidão (1971) também são títulos produzidos na Região Sul que tiveram o financiamento do BRDE.

“O aporte, mesmo não sendo de 100%, ajudou para que o filme fosse concluído com qualidade e com honra no cumprimento de todos os com-promissos financeiros assumidos pela empresa. Isto, sem dúvidas, tem ex-

O Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) completa 55 anos com histórico de apoio ao audiovisual brasileiro; da produção independente à gestão do Fundo Setorial do Audiovisual. POR DANILE REBOUÇAS

pressivo valor, pois estas produções envolvem equi-pe técnica e material de qualidade para que chegue ao mercado qualificando o cinema nacional”, disse Gessi Elizabeth Teixeira, diretora-executiva da Fun-dação Vitor Mateus Teixeira, que preserva e divulga o acervo artístico de Teixeirinha, além de desenvol-ver projetos nas áreas cultural e social.

Este ano, o banco comemora 55 anos de atuação e destaca-se no cenário nacional na área cultural, por valorizar a cultura como fonte de geração de renda, emprego e desenvolvimento. O BRDE foi credenciado para atuar com FSA em junho de 2012, junto com a Agência Nacional de Cinema (Ancine) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). E, antes mesmo de completar quatro anos dessa parceria, os números merecem destaque.

Ao menos 933 projetos foram contemplados e 607 já foram contratados, até o mês de março de 2016. A cada ano, aumentam os contratos emitidos pelo banco e a quantidade de projetos inscritos. Em 2013, por exemplo, houve 1.591 projetos inscritos.

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Em 2014, aumentou para 2.277. Os resultados de 2015 serão divulgados no decorrer do ano de 2016, quando se realizam os procedimentos para contratação dos projetos contemplados.

“Esses números são motivo de orgulho para o BRDE, pois mostram a capacidade da instituição de enfrentar desafios e entregar resultados”, afirma o superintendente de Planejamento do banco, Maurício Mocelin.

Nos últimos anos, o nome do banco pôde ser visto em projetos de grande projeção nacional, obras que tiveram investimento do FSA, com apoio e operacionalização do BRDE. Como exemplo, citam-se os filmes Faroeste Caboclo, Copa de Elite, Os homens são de Marte... e é pra lá que eu vou!, e projetos de televisão como As Canalhas e Assunto de Família.

“Tudo o que fazemos tem sempre o objetivo de promover o desenvol-vimento socioeconômico. O setor audiovisual é representativo na econo-mia brasileira e na Região Sul. Na medida em que o banco contribui para que a indústria se desenvolva, gerando emprego e renda nos diferentes segmentos de sua cadeia produtiva, acreditamos estar cumprindo nossa missão”, ressalta o superintendente.

RESULTADOSMaurício Mocelin atribui o crescimento da atuação do BRDE nessa área à consolidação do FSA como instrumento de fomento à produção audio-visual. “Os valores aportados ao fundo têm aumentado ano a ano e isso, certamente, chama a atenção do mercado, atraindo um número cada vez maior de interessados’’, diz.

Desde que iniciou a atuação como agente financeiro do FSA, o BRDE e a Ancine lançaram, em conjunto, 39 chamadas públicas, totalizando mais de R$ 1 bilhão em financiamento. Em 2012, as chamadas públicas conta-ram com um orçamento de R$ 205 milhões. Em 2013, esse valor foi para R$ 407 milhões. Nos anos de 2014 e 2015, atingiram, respectivamente, cerca de R$ 232 milhões e R$ 234 milhões.

Outro fator importante para o crescimento da procura foi a diversi-ficação das modalidades de apoio do FSA. Entre as novas modalidades, destaca-se o apoio ao desenvolvimento de projetos e as linhas destina-das à produção de conteúdo para a televisão pública, com editais regio-nalizados. O desafio está no atendimento dessa demanda crescente. Para corresponder, o banco e a Ancine procuram aperfeiçoar os processos, aumentando a produtividade do pessoal envolvido. “Um fator chave é o desenvolvimento dos sistemas utilizados na operação. A cada chamada pública são identificadas oportunidades de melhorias nos sistemas, o que tem sido fundamental para que possamos prestar um bom serviço ao fundo”, acrescenta Maurício Mocelin.

Os editais do FSA contemplam os diversos segmentos do setor au-diovisual – produção, distribuição/comercialização, exibição e infraes-trutura de serviços. As diretrizes e as áreas prioritárias para a aplicação dos recursos do fundo são estabelecidas pelo Comitê Gestor do FSA, que é formado por representantes do Ministério da Cultura, da Ancine, do agente financeiro e do setor audiovisual. As chamadas para o FSA focam nas diferentes regiões brasileiras, com ações que incentivam a produção audiovisual conforme a realidade do local.

O superintendente de Planejamento do BRDE reforça que, ao longo

de sua história, a instituição tem dedicado tempo e atenção para pensar, avaliar e propor soluções im-portantes para o desenvolvimento da economia da Região Sul. “É nesse contexto que apoiamos a pro-dução de filmes nos anos 1970. Foi uma ação inova-dora e já vista como importante para a economia da cultura na região e no país”, completa.

OUTRAS AÇÕESA atenção especial à área cultural acompanha a trajetória do banco, não somente com o audiovi-sual e o FSA. No campo da literatura, Maurício Mocelin destaca o programa criado em 2001 para financiamento da indústria do livro, com foco em micro e pequenas empresas. Em Porto Alegre, o BRDE mantém um “Balcão Literário”, que capta e disponibiliza livros para interessados do banco e da comunidade, em parceria com algumas edito-ras locais e com o Banco de Livros, que compõe os Bancos Sociais da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs).

Além disso, possui nas agências de Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba bibliotecas especializadas e atualizadas em temas ligados ao desenvolvimen-to, abertas ao público. O BRDE apoia, via patrocí-nio ou concessão de incentivos fiscais, a publicação de livros com temas regionais.

Nas agências também mantém Espaços Cultu-rais com realização de eventos e mostras, em ca-lendários próprios ao longo dos anos. “Essas ações, que são anteriores ao FSA, mostram que o banco valoriza e apoia a cultura nas suas diversas formas de manifestação”, orgulha-se Maurício Mocelin.

Quanto ao FSA, o superintendente ressalta que o retorno positivo recebido das empresas motiva ainda mais a realização do trabalho. E o principal desafio é atender da melhor forma possível a de-manda. O FSA propicia também ao BRDE apri-moramento na gestão de um fundo federal, qua-lificando-o para participação em outros fundos semelhantes. “Uma de nossas bandeiras, inclusive, é a criação de um fundo federal para o desenvolvi-mento da Região Sul do Brasil, nos moldes dos já existentes para as regiões Nordeste, Norte e Cen-tro-Oeste”, revela. E acrescenta: “Acreditamos que a ampliação dos recursos do Fundo, por si só, já representa ampliação de nossa atuação na área cultural. Porém, estamos sempre abertos a novas oportunidades e a área cultural, evidentemente, é do interesse do BRDE”.

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A fratura no tabuleiro geopolítico: o petróleo no fundo do poçoO mercado global pode se “afundar em excesso de oferta”, alertou a Agência Internacional de Ener-gia (IEA). A organização prevê que a sobreoferta de 1,5 milhão de barris por dia (bpd) deve durar pelo menos até o fim de 2016. Nesse caso, a solução mais rentável pode ser armazenar petróleo em navios--tanques em alto-mar, já que a capacidade de esto-cagem em terra está saturada.

Motivada pelo excesso de oferta no mercado e o enfraquecimento da demanda global, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) mante-ve os níveis de produção de seus membros e derru-bou a cotação do barril do tipo brent para assegurar seu market share, a fim de deter o avanço dos Esta-dos Unidos da América (EUA) com o shale gas/oil (gás não convencional) e atenuar o crescimento da produção dos países que não integram o cartel – que devem ter uma baixa de 720 mil bpd de petróleo.

O preço do brent – que em junho de 2014 era negociado a US$ 115 – chegou a ficar abaixo de US$ 27 em janeiro de 2016 (menor valor desde 2003). De acordo com a consultoria Wood Mackenzie, 68 projetos em fase inicial no setor de óleo e gás ava-liados em US$ 380 bilhões foram adiados, causan-do um impacto da ordem de 27 bilhões de barris de óleo equivalente (petróleo e gás associados) na curva de produção. O relatório da Baker Hughes (empresa fornecedora de serviços de petróleo) afirma que, em janeiro de 2016, o número de son-das de perfuração em operação no mundo alcançou o menor nível desde 2009: 1.891.

Se, em particular, a baixa cotação do barril afetou a receita dos países exportadores do “ouro negro”, ela tornou-se um problema para o desem-penho da economia mundial a tal ponto que Arábia Saudita, Rússia, Venezuela e Qatar concordaram em congelar a produção aos níveis de janeiro de 2016 para conter o efeito da derrocada.

Em julho de 2015, os EUA se tornaram os maiores produtores de commodities no mundo pela primeira

vez desde 1975 e, em dezembro, o Congresso norte-americano suspen-deu a proibição que, por 40 anos, impediu o país de exportar petróleo. Em fevereiro de 2016, o país alcançou o maior nível de óleo cru estocado nos últimos 80 anos: 503 milhões de barris.

Os EUA foram os primeiros a desenvolver tecnologia economi-camente viável para explorar as formações rochosas de folhelho (sí-tio com jazidas de fósseis). À medida que a técnica do fraturamento hidráulico (ou fracking) começou a ser utilizada, em 2008, os EUA aumentaram sua oferta em 1 milhão bpd a cada ano desde 2009: em 2005, produziam 6,9 milhões bpd; em 2014, 11,6 milhões bpd. Por sua vez, as importações caíram de 13,4 milhões bpd, em 2004, para 7,3 mi-lhões bpd em 2014.

Segundo a IEA, o Brasil – líder no desenvolvimento em águas ultraprofundas – será responsável pelo segundo maior aumento da produção de petróleo fora da Opep até 2021. A despeito dos desafios tecnológicos e logísticos, a Petrobras atingiu 1,091 milhão de barris de óleo equivalente por dia (boe/d) na camada pré-sal em fevereiro de 2016. O campo de Libra (a maior província petrolífera descoberta no país), na Bacia de Santos, terá o primeiro óleo extraído em 2017.

Diante da maior crise financeira e institucional da história da Petrobras (dívida de US$ 127,5 bilhões no 3° trimestre de 2015), foi aprovada a mudança do marco regulatório do pré-sal. A flexibilização da legislação retira a exclusividade e obrigatoriedade de a companhia participar de todos os consórcios de exploração com pelo menos 30%. A decisão alivia o impacto econômico sobre a empresa, abre o merca-do para investimentos no setor e confere fôlego à cadeia produtiva.

EM DIA

LUIZ GAMBOAÉ geólogo, mestre em geociências pela UFRS e Ph.D em Geofísica Marinha pela Columbia University (EUA). Atua como consultor sênior de óleo e gás e docente na UFF. Trabalhou durante 30 anos na Petrobras.

FELIPE SALGADOFelipe Salgado é jornalista, com pós-graduação em Gestão Ambiental e MBA em Economia de Petróleo e Gás, ambos cursados na Escola Politécnica da UFRJ.

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O caminhoa seguir Os economistas Samuel Pessoa e Nelson Marconi, da Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro e São Paulo, apresentam duas visões sobre o recente desenvolvimento do país e explicam como e por que chegamos onde estamos. POR MARCO ANTONIO A. DE ARAUJO LIMA, THAIS SENA SCHETTINO E JADER MORAES

ENTREVISTA - CAPA

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Nesta edição, a Rumos apresenta duas visões distintas – e mes-mo antagônicas em alguns aspectos – a respeito do desenvolvi-mento brasileiro. Os economistas Samuel Pessoa e Nelson Mar-coni, ambos professores da Fundação Getulio Vargas (FGV), defendem seus pontos de vista sobre quais são as ações neces-sárias para que o Brasil volte a crescer e o desenvolvimento no-vamente esteja no horizonte futuro do país. Indústria, serviços, câmbio, juros, inovação, direitos sociais, setor público, iniciati-va privada. Esses e outros temas estão nesse debate, em que, en-tre muitos dissensos, há uma ideia que parece encontrar abrigo nas duas visões: as Instituições Financeiras de Desenvolvimen-to continuarão a ter papel importante para a economia, qual-quer que seja o caminho que o país resolva trilhar.

Samuel Pessoa é doutor em Economia pela Universidade de São Paulo (USP), bacharel e mes-tre em física pela mesma instituição, e especialista em crescimento, flutuações e planejamento eco-nômico. Atua na FGV do Rio de Janeiro.

Nelson Marconi, graduado em Ciências Eco-nômicas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, é doutor em Economia de Empresas pela FGV- SP, tendo realizado bolsa sanduíche na Sloan School of Management, em Boston.

Nas próximas páginas, eles discutem o futuro desejado para o país e os erros e acertos da política presente. Confira!

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O economista Samuel Pessoa, professor assistente da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas no Rio de Janeiro (EPGE/FGV) e chefe do Centro de Crescimento Econômico do Ins-tituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), é enfático ao dizer que as escolhas da socie-dade brasileira, pós-Constituição de 1988, nos cobram o caro preço dos juros altos. Nesta entrevista, Pessoa analisa o cenário econômico atual e pontua: não há atalhos para o desenvolvimento.

POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO Uma das questões que mais me intriga é como que recuperamos, por volta de 2008 e 2009, o nacio-nal desenvolvimentismo, que, na minha visão, era algo passado, que já tinha dado o que tinha que dar, pois a agenda de desenvolvimento naquele mo-mento era outra completamente diferente. Penso como nós revivemos erros do passado. Como que isso voltou? Estávamos em uma agenda de melho-ra institucional, no período que chamo de “Maloc-ci”, que são os anos dos ex-ministros Pedro Ma-lan e Antonio Palocci no Ministério da Fazenda. O que foi essa agenda? O que a sociedade delegou na Constituição de 1988: um Estado em que carga tributária é alta, pois a sociedade decidiu que terí-amos um Estado de bem-estar social, padrão eu-ropeu continental; uma decisão legítima. E me pa-rece que para implementar essa decisão – ou seja, consiguir implantar um Estado de bem-estar so-cial em uma sociedade em que a poupança é estru-turalmente baixa – seria preciso promover a libe-ralização dos mercados, reduzindo a intervenção

direta do Estado na economia. No período “Malocci” estávamos construindo

o que me parecia possível, dada a escolha da nossa sociedade, que é: poupamos pouco, então somos uma sociedade em que a taxa de juros é estrutu-ralmente alta e a de poupança é estruturalmente baixa, o que faz com que políticas de desenvolvi-mento sejam sempre muito caras. E política de desenvolvimento, de alguma forma, acaba envol-vendo alocação da poupança. No caso asiático foi muito claro; se olharmos as experiências de polí-ticas de desenvolvimento na América Latina tam-bém. Quer dizer, políticas de desenvolvimento passam em algum momento por intervenção do Estado na alocação da poupança nacional e com algum tipo de subsídio. Ora, em uma economia, como é o caso dos asiáticos, que produz em equi-líbrio taxa de poupança expressiva e taxa de juros muito baixa, o custo dessa política é muito menor do que em uma sociedade em que a taxa de pou-pança é muito baixa e, portanto, para o equilíbrio, a taxa de juros é muito alta. Por uma série de ra-zões, estávamos num caminho que era o possível seguir, dadas as escolhas da sociedade, e estava gerando resultados, que não eram brilhantes, mas eram bons.

MUDANÇAS NA POLÍTICA ECONÔMICATivemos um choque externo, que foi a crise de 2008. Tivemos outro choque externo, que foi a des-coberta do pré-sal, que gerou uma sensação de que não tínhamos mais restrição orçamentária. E tive-mos um terceiro choque externo, que foi uma res-posta da comunidade de economistas acadêmicos internacionais à crise de 2008, gerada por conta de excessos de liberalismos desde os anos 1980, que estão na raiz da crise da bolha imobiliária dos Esta-

Acertos e desacertos: o ajuste do contrato social

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dos Unidos, em que houve uma falha re-gulatória cavalar. O reconhecimento da comunidade de que houve esse excesso e de que tínhamos que corrigir, portan-to aumentar a regulação do Estado nes-ses setores, foi lido aqui, internamente, como um sinal verde para o país pisar o pé no acelerador do intervencionismo estatal. Isso promoveu uma mudança de agenda.

É interessante entender por que houve essa mudança, porque isso ex-plica muito dos problemas que esta-mos vivendo hoje. Passamos, prova-velmente, pela pior crise econômica dos últimos 120 anos. Não é exagero: no Centro de Crescimento Econômico do Ibre, analisamos as taxas médias de crescimento do Produto Interno Bru-to (PIB) per capita brasileiro, por qua-driênio, desde 1904, e o pior até agora é o período entre 1981 e 1984, quando o PIB per capita caiu 9,5%. Se as nossas estimativas para esse ano estiverem corretas, e nós estamos longe de ser-mos a ponta pessimista do mercado, no quadriênio 2014-2017, o PIB per capita vai recuar 10%. E o mais impressionan-te é que temos esse recuo, com essa or-dem de grandeza, com a situação exter-na absolutamente em equilíbrio, o que é um fato absolutamente novo. A crise dos anos 1980 foi uma crise de balan-ço de pagamento, como em geral são as crises brasileiras, tanto que até produ-ziram aquela famosa frase, que eu acho que é do economista Mário Henrique Simonsen: “a inflação aleija, o câmbio mata”. A origem dessa frase é que as grandes crises brasileiras tradicional-mente são de balanço de pagamento: o país não consegue mais pagar suas contas externas, não dá para entrar in-sumos importados, a economia para, e o que acontece é um estrangulamento dramático do setor produtivo, o setor real da economia. Agora, temos um re-cuo no PIB per capita de 10% sem esse estrangulamento. Pelo contrário, há um processo de ajuste de balanço de pagamento muito rápido. Em 2014,

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tivemos um déficit de US$ 104 bilhões nas transações correntes e esse ano devemos ter um déficit de US$ 8 bilhões, um ajuste de 96 bilhões de dólares em apenas 24 meses. É algo espetacular, e quem está promovendo este ajuste é, por um lado, a forte desacele-ração da economia, que gera, pelo canal de importação, uma redução muito grande da balança comercial; e por outro, o ajuste do câmbio, que já se faz sentir um pouco nas exportações, mas, principalmente, no item viagens internacionais, dentro da conta de serviços.

INDÚSTRIA E SERVIÇOSNo desenvolvimentismo, o ponto de partida é a ideia de que a indústria manufatureira é um

setor especial da economia e o crescimento é puxado por esse setor. Essa é uma visão do desenvolvimento econômico que eu não com-partilho. Tenho uma visão mais liberal, ou o que podemos chamar de “novo institucionalista”, muito influenciado pelas ideias do historia-dor econômico Douglas North, que faleceu ano passado, e vê o desen-volvimento não a partir de um setor que cresce; ou seja, tem uma vi-são menos tecnológica para o desenvolvimento, e mais institucional.

O desenvolvimento é um fenômeno institucional. Do ponto de vista contábil, sem olhar as causas últimas, o subdesenvolvimen-to brasileiro é um fenômeno do setor de serviços. O Brasil é pobre porque a produtividade de serviços é pobre. Se compararmos Brasil e Coreia, a diferença de produtividade entre o nosso setor manufatu-reiro e o coreano, e o setor de serviços brasileiro e o coreano, veremos que a diferença de produtividade relativa é muito maior no setor de serviços do que no setor manufatureiro. Ao analisarmos o diferencial de produtividade por subsetores – varejo, saúde, educação –, obser-varemos essa diferença em cada um desses. Ou seja, o subdesenvolvi-mento brasileiro é um fenômeno de baixa produtividade no setor de serviços, especialmente na educação.

Outro fator de desenvolvimento da Coreia é contar com um Es-tado muito eficiente tanto para ofertar infraestrutura, quanto para fazer política de desenvolvimento. Sou um economista liberal, mas entendo que para diversificar uma economia é possível que se tenha que passar por uma fase de maior intervencionismo. Essa discussão está ocorrendo agora no Chile. Mas, para isso, precisa-se de um Esta-do muito competente. O nosso era razoável nos anos 1970, hoje é um desastre. Entender o crescimento coreano é muito fácil: uma socie-dade que estuda o que eles estudam, trabalha o que eles trabalham, poupa o que eles poupam, investe o que eles investem, vai ficar rica. O problema é que fazer o que eles fazem é extremamente caro.

O professor Pessoa acredita que um dos fatores primordiais para o desenvolvimento da Coreia é a produtividade do setor de serviços, especialmente a educação: “uma sociedade que estuda o que eles estudam, trabalha o que eles trabalham, poupa o que eles poupam, investe o que eles investem, vai ficar rica.”

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INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS DE DESENVOLVIMENTOHá lugar para os bancos de desenvolvimento. Mas não o que foi feito nos últimos 10 anos. Banco de desenvolvimento é nicho, para pegarmos tecnologia, incubadora, setores que o mercado não resolve, e auxiliar o setor privado. É menos dinheiro, mais instituições, regras e apoio. Escolhe-se uma atividade produ-tiva sofisticada que não existe na região, que aquela região tem uma vantagem para aquela atividade, e o privado sozinho é di-fícil de fazer. Está aí o espaço para o banco de desenvolvimen-to, não tenho nenhuma dúvida.

Estávamos no caminho certo, os juros estavam baixando. Enquanto estávamos naquele mundo de superávit primário, o período “Malocci”, com superávits primários elevados e polí-tica macroeconômica sólida, os juros estavam caindo. É lento o processo, sei que é exasperante ficar produzindo superávits primários de 3% do PIB durante muitos anos, ter aquela infla-ção que não para, aquele juro que vai caindo aos pouquinhos. Entendo o desejo dos operadores e dos políticos para baixar os juros na marra, pôr o pé no freio. Mas não funciona. Não tem atalho para o desenvolvimento econômico. Há custos, não adianta não querer pagar o preço.

REEQUILIBRAR O PAÍSDe 1992 até hoje, a cada ano, o gasto primário da União, excluin-do transferências para estados e municípios, aumenta 0,4% do PIB. Se não encaminharmos uma solução para esse desequilí-brio estrutural fiscal, não vamos sair do buraco. Acredito que esse desequilíbrio tenha duas origens: uma é o que estamos chamando de contrato social; outra é a hipersensibilidade do sistema político brasileiro àquela lógica da ação coletiva do eco-nomista Mancur Olson – os grupos de pressão pequeno-organi-zados têm um poder muito grande de colocar na legislação um favorecimento para si, com o custo sendo jogado no interesse difuso, na forma de aumentos graduais na carga tributária, que incide sobre todos. Todas as democracias têm essa falha, mas há algo específico da democracia brasileira que faz com que seja-mos muito mais sensíveis a essa lógica. A soma disso tudo gerou um Estado grande, disfuncional e quebrado.

Apesar de considerar que uma parte grande da desacelera-ção brasileira é fruto das medidas desastrosas da nova matriz econômica, outra parte importante da desaceleração é queda de demanda. O investimento despencou porque o desequilí-brio fiscal estrutural fez com que seja muito difícil um cálcu-lo de taxa interna de retorno em qualquer investimento nesse país. Sabemos que vai ter ajustamento lá na frente, pois a situa-ção atual é explosiva, mas a natureza desse ajustamento é total-mente desconhecida, portanto não dá para investir em um país que tem grave problema fiscal e que não está clara, nem deline-ada, qual vai ser a solução para esse problema.

“Banco de desenvolvimento é nicho, para pegarmos tecnologia, incubadora, setores que o mercado não resolve, e auxiliar o setor privado. É menos dinheiro, mais instituições, regras e apoio. ”

Autores citados

Douglas NorthEconomista norte-americano (1920-2015). Ele ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 1993. Autor de Institutions, Institutional Change and Economic Performance (1990), dentre outros títulos.

Mancur Lloyd OlsonEconomista norte-americano (1932-1998). Autor de vários livros, dentre eles, A Lógica da Ação Coletiva (Edusp, 1999).

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Nelson Marconi, economista e coordena-dor do curso de graduação em economia da Escola de Economia de São Paulo, da Fun-dação Getulio Vargas (FGV-EESP), explica o pensamento do novo desenvolvimentis-mo e aponta os caminhos para a concerta-ção política. Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

HISTÓRIA ECONÔMICANo começo dos anos 1970, o desenvolvimento

brasileiro tinha uma estratégia baseada no modelo de substituição de exportações, que foi importan-te para um grande período da nossa economia, mas se esgotou depois daquela década e tivemos uma crise em meados da década seguinte. Não estou pe-nalizando o modelo de exportações; ao contrário, ele teve um papel muito importante na economia, mas até certo período. Algo que ajudou muito nos anos 1970 foi o começo da exportação mais intensa de manufaturados, elevando a participação deles no total de exportações até meados da década de 1990. Tivemos uma crise por causa da inflação, mas conseguiu-se manter essa participação crescente de manufaturados em nossas exportações, com a indústria desempenhando um papel relevante na economia até o começo dos anos 1990. É quando o nosso modelo de desenvolvimento começa a pati-nar bastante. Houve a crise dos anos 1980, que lo-gicamente foi uma crise macroeconômica muito importante; mas do ponto de vista de modelo de desenvolvimento, enquanto estávamos tendo um papel importante das exportações de manufatu-rados e da indústria no crescimento, o país estava indo numa direção correta – não em termos ma-

croeconômicos, mas em termos da questão geral de desenvolvimento.

Em 1990, o país fez uma abertura co-mercial, que eu entendo como correta, mas promoveu uma abertura financeira tam-bém, que de certa forma não existia an-tes. A abertura comercial acabou sendo mais orientada para as importações do que para colocar as exportações em condições de continuar concorrendo com o resto do mundo. E a abertura financeira, que foi im-portante para trazer uma série de recursos para o país, ao mesmo tempo fez com que a política monetária e a cambial perdessem certo grau de liberdade. O fluxo de capitais começou a influenciar a condução da políti-ca monetária e a taxa de câmbio.

Desse período para a frente, assisti-mos a um período de valorização da taxa de câmbio, que começou em 1994 e se es-tendeu, com algumas mudanças, até 2014 fundamentalmente. Esse binômio juros e câmbio altos durante um longo tempo atrapalhou, do ponto de vista macroeco-nômico, o desenvolvimento da nossa es-trutura produtiva. A indústria começou a sofrer nesse processo. Na década passada e no começo dessa, até 2013, tivemos um avanço considerável dos produtos impor-tados na composição da nossa demanda interna, e isso contribuiu para solapar a nossa indústria.

INDÚSTRIAO problema do nosso desenvolvimento é que, a partir de certo momento, deixamos de olhar para a indústria. Não apenas a tra-

Em busca do equilíbrio perfeito: juros e câmbio

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dicional, mas também uma indústria com estrutura mais associada ao se-tor de serviços, especialmente ao que hoje chamamos de “serviços moder-nos”. Essa combinação entre indústria e serviços é a chave do processo de de-senvolvimento. No momento em que deixamos de ter uma política macro-econômica que auxiliasse a indústria, ela começou a sofrer muito. O setor de serviços foi se tornando mais sofistica-do, mas não conseguiu evoluir porque ficou faltando a indústria, e então nós deixamos de crescer de forma consis-tente. Enfim, o país fez uma política muito errada, inclusive fiscal, que nos levou a esse quadro de estagnação.

O Brasil vem nesse processo de de-sindustrialização desde a década de 1980, por causa da inflação alta; depois na década de 1990, em função da aber-tura comercial e financeira; e nos anos 2000, em virtude da valorização da mo-eda. Ou seja, há uma série de eventos que fizeram com que a participação da indústria no PIB tenha caído nos últi-mos anos. Eu não entendo esse processo como irreversível.

Quando o Brasil voltou a exportar manufaturados em 2004 e 2005, a in-dústria começou a ter um fôlego e a mostrar um sinal, pelo menos, de esta-bilidade. Com a nova queda das expor-tações de manufaturados e do desem-penho da indústria, ocorreu uma nova perda de espaço. Mas isso significa que se esboçou um início de recuperação da in-dústria. Esse processo, normalmente, vai começar pela recuperação da produção de bens manufaturados, que é o que está acontecendo agora. A quantidade de ex-portações de manufaturados vem se re-cuperando nos últimos meses – ano pas-sado, nesse mesmo período, a variação era negativa de 15%, hoje está positiva em 8%. É preciso, agora, deixar o câmbio no lugar, com a taxa no patamar que está hoje, e esse é um dos problemas mais sé-rios no curto prazo: se houver uma mu-dança no cenário político e a equipe econômica deixar a taxa de câmbio se

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valorizar, todo o ganho que tivemos até agora em termos de ex-portação em manufaturados pode ser abortado.

PRODUTIVIDADE E INVESTIMENTOA produtividade deixou de crescer fundamentalmente por-que o investimento estagnou. É fundamental que os traba-lhadores sejam mais qualificados, isso é óbvio. Mas se não houver investimento, esses trabalhadores não vão ter empre-go e também não terão estímulo para se capacitar, justamen-te porque não abrirão vagas em setores mais qualificados. Além disso, com uma mão de obra qualificada, mas sem uma sofisticação maior também do ponto de vista da estrutura do capital, da estrutura produtiva, esses trabalhadores estarão subutilizados.

O segredo do desenvolvimento é o país ser capaz de produ-zir os bens que já produz com maior eficiência, assim como pro-duzir bens mais sofisticados ao longo da cadeia produtiva. Um país nunca terá produtividade alta se desenvolver apenas cami-sa ou café. E por que o setor que produz computador tem o valor adicionado mais alto do que o setor que produz camisa ou café? Porque demanda trabalho mais qualificado. O país tem que ter trabalho mais qualificado na economia, mas para isso é preci-so que o setor demande isso, caso contrário não conseguirá em-pregar esses trabalhadores mais qualificados, nem aumentar o

valor adicionado per capita, e a economia fica estagnada. Então, o processo de desenvolvimento deve fazer com que a estrutura produtiva caminhe na direção da produção de bens que têm maior valor adicionado per capita. Quando observamos os países asiáticos, eles começaram com indústrias de menor valor adicionado e foram para as de maior valor adicionado. O Bra-sil, ao contrário, está parado no setor de menor valor adicionado e acaba gerando empregos de baixa qualidade. Isso é produtividade baixa.

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS DE DESENVOLVIMENTOSe a taxa de juros cair, o câmbio ficar no lugar certo e o cenário da econo-mia melhorar, há condições de recuperar a indústria. O papel das agên-cias de fomento e bancos de desenvolvimento vai ser importante para subsidiar esse processo por meio do desenho de estratégias. Desenhar estratégias de desenvolvimento é um papel que essas instituições deviam fazer. Pensar em modelos de financiamento, desenhar os programas de inovação etc. são tarefas fundamentais; mas acredito que a ação mais im-portante que essas instituições de desenvolvimento deviam fazer agora seria desenhar um plano nacional de desenvolvimento, uma estratégia clara de desenvolvimento, e entregar para o governo.

A retomada exige financiamento, recursos para desenvolvimento e principalmente para exportar, e subsídios no sentido de formulação de po-líticas de inovação. As agências podem ter um papel muito importante nis-so, tanto para canalizar recursos, como para ajudar no desenvolvimento de programas de inovação e financiarem esse tipo de atividade, que é im-portante para o desenvolvimento. Há um papel grande para ser executado.

Para o economista, um país nunca terá produtividade alta se desenvolver apenas camisa ou café. É preciso aumentar a produção de bens que possuem maior valor agregado.

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NOVO DESENVOLVIMENTISMO O novo desenvolvimentismo é uma teoria que possui um conjunto de ideias e de estratégias que entendemos adequadas para países de nível de renda médio e que precisam aumentá-lo para poder se tornarem ricos e re-alizarem o chamado catching up. Primeiro, entendemos que a política ma-croeconômica deve estar muito bem azeitada e bem administrada para que o país possa atingir o crescimento. A política macroeconômica ganha um peso como antigamente dava-se, no desenvolvimentismo, para a questão da intervenção do Estado na estrutura produtiva, pois não adianta criar política industrial se a política macroeconômica estiver desequilibrada. A taxa de câmbio, por exemplo, tem que estar num patamar que seja compe-titivo, inclusive para produzir bens de capital internamente e não impor-tado. A taxa de juros também deve estar em um patamar baixo. A política fiscal tem que gerar um resultado equilibrado, e nisso temos uma discor-dância com as pessoas de perfil mais desenvolvimentista, que neste mo-mento dizem que o governo deveria fazer política fiscal expansionista. O Estado precisa recuperar a capacidade de investir, claro, mas isso significa, nesse momento, cortar gasto corrente. O governo pode adotar uma série de medidas para ser mais eficiente na gestão dos recursos públicos, o que abrirá espaço para aumentar os investimentos.

Além disso, entendemos que o país tem que estar inserido na economia mundial, as exportações dos manufaturados são fundamentais para o proces-so de desenvolvimento. O processo de substituição de importações já acabou há muito tempo, então temos que abrir a economia do ponto de vista comer-cial, mas privilegiando as exportações de manufaturados fundamentalmen-te, para poder importar e desenvolver a nossa indústria. O mercado tem um papel importante nesse processo e o governo deve regular essa intervenção, mas são duas coisas que andam juntas: o mercado e o Estado. Em resumo, o grau de intervenção do Estado na economia é um pouco menor para nós do que pensam os desenvolvimentistas; temos uma preocupação fiscal maior, uma compreensão da taxa de câmbio diferente etc. No debate, vemos clara-mente que eles dão um peso maior para a política industrial e, nós, à política macroeconômica. Se a política macroeconômica se ajustar, a política indus-trial pode voltar a ter papel importante.

CONCERTAÇÃO POLÍTICAEu sempre torço pela concertação, porque seria a melhor opção para o país. Mas existem alguns pontos que são muito importantes para nós. Sempre há um campo de negociação, mas de alguns princípios não se abre mão, e, neste sentido, algo fundamental é manter a taxa de câmbio num patamar competitivo. Logo, qualquer estratégia de desenvolvimen-to sustentável e de longo prazo passa por privilegiar as exportações de manufaturados, com uma política específica, o que tem relação funda-mental com a taxa de câmbio. Agora, em outros pontos é possível nego-ciação sim. Como o ajuste na política fiscal, uma série de reformas que precisam ser feitas. Se disserem: “Vamos acabar com os bancos de de-senvolvimento e agências de fomento”, não temos acordo sobre isso; é algo que para nós, os novos desenvolvimentistas, é impensável. Ter ins-tituições de financiamento é fundamental, o Estado tem um papel im-

“Acredito que a ação mais importante que as instituições de desenvolvimento deviam fazer neste momento seria desenhar um plano nacional de desenvolvimento, com uma estratégia clara, e entregar ao governo.”

portante nesse processo. Ou seja, com uma agenda muito liberal não haveria um acordo.

De um lado, há correntes que defen-dem o aumento do gasto público, o que somos contrários; e do outro lado, tem aqueles mais liberais. Os novos desen-volvimentistas ficam numa situação menos conservadora e mais progressis-ta, mas em um meio do caminho entre essas duas visões. Portanto, há uma ca-pacidade de concertação grande, mas também possuímos os princípios que não abrimos mão.

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O desenvolvimentismo no Brasil de hoje

No conceito de desenvolvimentismo de Pedro Cezar Dutra Fonseca¹ há uma série de elementos que se devem con-siderar como centrais ao Brasil atual. Há a necessidade de políticas econô-micas (o mercado entendido, assim, como insuficiente, em termos teóricos e empíricos, para o desenvolvimento econômico), sendo o Estado instituição essencial, como agente da ação social, com um governo que elabora e executa uma estratégia para reverter o status quo (portanto, promovendo intencionalmen-te a mudança estrutural). O objetivo é, sob a liderança do setor industrial, alcan-çar maior produção e produtividade, com difusão de progresso técnico, de forma a transformar a sociedade a partir de um projeto de futuro (ou seja, de uma ideolo-gia inconformada com a realidade vigen-te), em uma economia de mercado (logo, com níveis adequados de rentabilidade).

A partir dessa concepção, um primeiro ponto a se destacar é a necessidade de um Estado capaz, com um governo com su-ficiente força política e econômica. Isso inclui a obrigação do mesmo de propor e de executar estratégias de desenvolvi-mento e macroeconômicas coerentes, interagindo com agentes relevantes. Financeiramente, o Estado precisa es-tar relativamente saneado, de forma a poder tomar iniciativas, inclusive con-tracíclicas no curto prazo, mas também para ampliar e financiar gastos de inves-timento. Ou seja, precisa privilegiar a liberdade de ação de longo prazo, assim como a liberdade de ação coletiva, em contradição com a liberdade absoluta de ação individual no mercado.

Observe-se que, mesmo de um ponto de vista li-beral, o Estado precisa ser forte, tanto para fazer os investimentos governamentais nos casos de falhas de mercado, como a partir da noção de credibilida-de. E a melhor forma de adquirir credibilidade é sua capacidade de liderança. Ou seja, este Estado precisa ser capaz de liderar um projeto de desenvolvimento, de definir estratégias para alcançar esse fim, de criar instrumentos institucionais e de administrar os con-flitos inerentes ao processo de mudança estrutural. Resumidamente, a capacidade de planejamento deve ser forte.

A taxa de investimento da economia brasileira tem sido muito baixa, insufi-ciente para um processo de catching up, comparando-se com outros países. Assim, um objetivo prioritário de uma política de desenvolvimento deve ser a elevação des-sa taxa. Além disso, a taxa de investimen-tos governamentais é pequena, devendo avançar muito, principalmente em infra-estrutura. Esse objetivo deve ser alcança-do em parceria com os investimentos privados. Neste sentido, o Sistema Nacional de Fomento possui um papel fundamental de alavancagem.

O setor industrial sempre é prioritário em um processo de desenvolvimento, tendo em vista os efeitos de encadeamento para a frente e para trás nas cadeias produtivas (incluindo os crescentes en-cadeamentos entre indústria e serviços de alta qua-lificação), por suas maiores economias de escala e de escopo, pela sua maior intensidade de inovação, pelos seus mais consistentes impactos no sentido de liberar restrições de Balanço de Pagamentos, além de proporcionar maior potencial de integração re-gional. Ou seja, o que leva ao desenvolvimento como um todo é a mudança da estrutura produtiva no sen-tido de construção de uma indústria madura, com capacidade de inovação e de inserção internacional dinâmica.

O Estado precisa ser forte, tanto para fazer os investimentos governamentais nos casos de falhas de mercado, como a partir da noção de credibilidade.

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As empresas estatais devem ser consideradas instrumentos essenciais no projeto de desenvolvi-mento, pois dinamizam setores estratégicos, têm capacidade de realização de grandes blocos de in-vestimentos, podem estimular fortemente cadeias produtivas, são instrumentos do mecanismo bási-co de compras governamentais (importante para viabilizar a capacidade inovadora de terceiros), são elas próprias fundamentais para aumentar a taxa de inovação da economia, além de instrumentos de política regional.

Na maioria dos países hoje desenvolvidos e nos que estão em processo acelerado de desenvolvi-mento, as grandes empresas (públicas ou privadas) tiveram e têm papel central. Isso ocorre porque elas possuem elevada capacidade de investimen-tos, de inovação e de estimular cadeias produtivas, além de serem as maiores exportadoras em merca-dos menos voláteis. Internacionalmente, a capaci-dade de criar e comandar cadeias globais de valor está nas mãos de grandes grupos econômicos.

Possuir uma economia dominada por empre-sas multinacionais, como o Brasil, gera produção e modernização, mas não capacidade de apren-dizado e capacitações para inovações e, com isso, para exportações dinâmicas. Esses elementos são produzidos por empresas nacionais. Não por aca-so, os principais países do leste asiático constituem seus próprios grandes grupos econômicos, com capacidade de expansão internacional criadora de comércio e de cadeias de valor. Assim, um objetivo de política econômica, certamente complexo, deve ser estimular grupos industriais nacionais. As mi-cro, pequenas e médias empresas possuem papel muito importante, na maioria dos setores econô-micos, por sua permeabilidade e capacidade de ge-rar empregos. Mas também, e fundamentalmente, trabalhando em redes com grandes empresas.

Para que as políticas de longo prazo (industrial, tecnológica e de comércio exterior, mais os investi-mentos em infraestrutura) funcionem adequada-mente como geradores de crescimento, é necessário que as políticas macroeconômicas de curto prazo estejam em sintonia. Para que a produção seja priori-dade, é necessário que o processo de financeirização seja controlado, pois esse amplifica atividades rentis-tas que passam a comandar a economia.

O Brasil possui um problema grave de contradi-ção entre políticas de curto e longo prazo. O tripé macroeconômico impede um ajuste adequado dos preços básicos (taxa de lucro, taxa de juros, taxa de

câmbio, taxa de salários e taxa de inflação). Especi-ficamente sobre a taxa de câmbio, a experiência re-cente dos países do leste asiático mostra que nenhum país que almeja o catch up pode admitir essa taxa como variável de ajuste. O regime de metas de infla-ção e de metas de superávit primário é o verdadeiro elemento de rigidez que bloqueia a possibilidade de políticas de longo prazo. E isso traz, por consequên-cia, problemas de curto prazo, impedindo o adequado equilíbrio macroeconômico. Assim, é necessário um novo regime macroeconômico, que permita melhor desempenho de curto e de longo prazo, abandonan-do-se o fetiche do regime do tripé.

Além disso, é básica a adoção de uma reforma tributária que diminua os custos de produção, com menor tributação indireta, compensada por maior tributação direta. Essa reforma deve ter também um caráter redistributivo, conectando os objetivos econômicos aos políticos e sociais.

Investimentos geradores de crescimento neces-sitam de lucratividade adequada. Para isso, os pre-ços básicos devem estar razoavelmente ajustados ao longo do tempo. Mas, além disso, são necessárias políticas de longo prazo, incluindo os investimen-tos governamentais e das estatais, com seu efeito crowding in, fazendo surgir novas oportunidades de lucro e “criando mercados”.

Por fim, deve-se levar em conta que o cresci-mento econômico provoca impactos distributivos concentradores. Como o desenvolvimento econô-mico deve promover melhorias sociais, políticas redistributivas se impõem, tanto de renda quanto de riqueza. Do mesmo modo que as políticas indus-triais devem ser coerentes com as políticas macro-econômicas, as políticas sociais devem ser compa-tibilizadas com as políticas econômicas de curto e de longo prazo, e devem ser executadas concomi-tantemente ao crescimento econômico.

1 FONSECA, P. C. D. Desenvolvimentismo: a construção do conceito. In: DATHEIN, R. (Org.). Desenvolvimentismo: o conceito, as bases teóricas e as políticas. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2015.

RICARDO DATHEINEconomista, doutor em Economia pelo IE/Unicamp, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

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Assim é... (se lhes parece)O Brasil sempre foi um país complexo e a atual crise institucional só potencializou a complexidade, tornando ainda mais difícil o entendimento, até mesmo para os brasileiros. O que dizer dos jornalistas estrangeiros que cobrem o país e dos brasilianistas, que procuram nos entender para poder explicar o Brasil para o mundo, muito além dos estereótipos do país do samba e do futebol. Ao contrário do que imagina o orgulho nacionalista, o Brasil não é um país conhecido e é difícil para outros povos compreenderem o que se passa por esta banda dos trópicos, como atestam os seis correspondentes internacionais – um deles também brasilianista – ouvidos nesta reportagem. Eles alegam que o distanciamento acaba ajudando a obter uma visão mais objetiva da realidade. POR CARMEN NERY E THAIS SENA SCHETTINO

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Decifrar os caminhos futuros do país está cada vez mais desafiador para nós, brasileiros, imagine então para aqueles que, por dever de ofí-cio, precisam informar aos estrangeiros como funciona o Brasil. Essa tarefa cabe aos correspondentes internacionais que, nos últimos anos, ganharam mais espaço na arena nacional, seja entrevistando políticos ou empresários, seja servindo de fonte de informações para os próprios brasileiros. Segundo a Associação de Correspondentes de Imprensa Estrangeira no Brasil (ACIE), são 125 jornalistas-membros atuando no país para 136 veículos internacionais, entre agências de notícias, rádios, jornais, revistas, sites e canais de televisão. Mas esses números podem ser maiores, visto que muitos profissionais trabalham de forma freelan-cer, ou seja, sem vinculação direta com um veículo de imprensa.

Para esses jornalistas nem sempre é fácil compreender a notícia de momento sem saber um pouco da história do país, o antes e o depois que fizeram com que os fatos acontecessem dessa ou daquela forma. Para tanto, muitos incluem em sua rotina o acompanhamento da imprensa local, mas também reservam espaço para entrevistas exclusivas, seja com pessoas comuns ou políticos. Nesse especial momento da vida bra-sileira, com tantos dados novos no cenário político, os correspondentes têm dado mais atenção à Constituição brasileira e às fontes alternativas de informação para fazer com que seus leitores entendam o que acon-tece no Brasil.

Um dos mais famosos correspondentes em atuação no país é o pre-miado jornalista norte-americano Glenn Greenwald, que, mesmo mo-rando no Brasil desde 2005, afirma que não consegue compreender como uma presidente eleita com 54 milhões de votos e contra quem não há, efetivamente, nenhuma acusação concreta de corrupção, está so-frendo um processo de impeachment. Em outro extremo, Dom Phillips, correspondente do jornal Washington Post, o mais importante jornal da capital da principal potência do planeta, diz que não consegue entender como uma agremiação envolta em denúncias de corrupção, como o Par-tido dos Trabalhadores (PT), ainda possui tantos seguidores.

Greenwald e Phillips são exemplos da legião de jornalistas altamente qualificados que chegaram ao Brasil nos últimos anos atraídos pelo boom econômico do país, como descreveu Gareth Chetwynd, presidente da As-sociação de Correspondentes da Imprensa Estrangeira e correspondente do jornal norueguês Upstream, especializado na cobertura do setor de óleo e gás. Ele destaca que o Brasil está vivenciando um ciclo que justifica o inte-resse de toda a mídia global. Há dois anos vieram diversos profissionais de imprensa para o Brasil, pois era um período bem rico para jornalistas co-brirem um país em transformação, com Copa do Mundo de Futebol, Olim-píadas, grandes movimentos sociais e, agora, o período político turbulento.

“Muitos jornalistas são freelancers e dependem do que os seus edito-res acham interessante cobrir. O fato é que estão todos felizes por pode-rem trabalhar em um ambiente muito rico nos esportes, na sociedade e na cultura”, descreve. “Os correspondentes perceberam que o cenário é mais complexo do que a revolta da população para exigir o combate à corrupção. As matérias ficaram mais amplas e com mais nuances em relação aos jogos de poder e dos interesses dos dois lados. Todo mun-

do precisou melhorar a sua compreensão sobre a Constituição e as instituições brasileiras”, analisa.

O jornalista destaca que, neste momento es-pecial do cenário político do Brasil, novamente a imprensa internacional tem um certo distan-ciamento. Há uma abertura maior para perceber que há elementos incorretos e preocupantes nos processos criminais da Justiça, como prender preventivamente, promover o vazamento de in-formações. Uma das iniciativas da Associação dos Correspondentes Internacionais para checar os fatos foi realizar uma coletiva de imprensa com o deputado federal Wadih Damous, do PT flumi-nense, para explicar aos correspondentes o que estava acontecendo.

“Ele ficou surpreso ao perceber que os cor-respondentes internacionais estavam muito mais abertos a escutar. Logo após essa coletiva, o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula chamaram os correspondentes. Eles perceberam que havia não necessariamente um apoio, mas uma predisposição para escutar seus argumen-tos”, conta Chetwynd, lembrando que no início do governo o PT achava que os correspondentes internacionais eram hostis às causas naciona-listas. Agora parece que essa visão mudou, pois perceberam que o correspondente internacional tem uma postura um pouco mais aberta. “Nós temos liberdade de buscar a nossa própria inter-pretação, até pela distância que temos das reda-ções”, explica.

Chetwynd chegou ao país em 1993, ficou qua-tro anos entre Rio de Janeiro e de São Paulo co-brindo o setor financeiro, foi para Portugal, onde ficou um ano e meio, e voltou para a Inglaterra. Em 1998, com a abertura do setor de petróleo no Brasil, o interesse do mundo sobre o segmento

Segundo a Associação de Correspondentes de Imprensa Estrangeira no Brasil (ACIE) são 125 jornalistas-membros atuando no país para 136 veículos internacionais, entre agências de notícias, rádios, jornais, revistas, sites e canais de televisão.

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no país aumentou e ele recebeu a proposta do jornal Upstream.

“É um setor fechado, mas com o tempo vamos conquistando as fontes. É muita informação em off e leva tempo para construir essa relação de confiança”, sinaliza Chetwynd. Ele explica que, hoje em dia, em função da operação da Lava-Jato, da Polícia Federal, e da importância do pré-sal para a economia, o inte-resse pelo setor aumentou bastante. Há alguns anos havia muitos assuntos interessantes que eram cober-tos apenas por ele e poucos jornalistas especializados. “Agora ficou mais competitivo, mas o tempo de rela-cionamento conta nesses momentos. Obviamente, muitas das fontes estão envolvidas com essa opera-ção, dos dois lados, tanto acusados quanto acusadores e delatores”, ressalta.

Ele diz que, inevitavelmente, é preciso olhar o que os jornais locais estão publicando, mas se fosse ape-nas reproduzir o que outros jornalistas escrevem, seu trabalho não sobreviveria. Os leitores da Upstream pagam uma assinatura que não é barata. Então, além de informações de valor, querem fatos exclusivos. “Encontro com pessoas da Petrobras, com acusados e delatores, para buscar informações exclusivas”, reitera.

Embora tenha consciência de que ao investidor internacional interessa o fim do regime de partilha e da Petrobras como operadora única do pré-sal, o cor-respondente observa que não se interessa pelo que o leitor quer, se um sistema aberto de leilões livres ou o modelo fechado da Venezuela. O que ele procura fazer é a busca permanente pela realidade dos fatos. Mas pondera que qualquer mídia tem interesses: “querem mais vender seu produto do que melhorar o mundo”. Ele conta que quando era estudante na Inglaterra a imprensa era muito tendenciosa pró-Margareth Tha-tcher e antitrabalhista. Porém, o jornalista estrangei-ro em geral mantém um distanciamento um pouco mais objetivo, pois não viveu a história do país. Che-twynd observa, ainda, que o correspondente também tem experiência internacional. Então, quando relata questões políticas, é porque já viu que outros países passaram pela mesma situação.

Percepção semelhante tem Tom Hennigan, corres-pondente do principal jornal irlandês, The Irish Ti-mes. Ele diz que procura entender a parte complexa do mundo e explicar o que se passa para os leitores. Qual-quer pauta de economia ou política procura mostrar a realidade brasileira sem estereótipos.

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Hennigan afirma que o Brasil não é um país muito importante para a Irlanda, não por falta de relevância do país para o mundo, mas por-que estão mais preocupados com o que acontece na União Europeia e nos EUA, que são os maiores investidores na economia irlandesa. Para muitos dos seus conterrâneos foi difícil entender como todo o mundo estava fascinado pelo Brasil e, em um piscar de olhos, tudo mudou.

“Entre 2008 e 2010 o país estava ‘bombando’, mas ainda com gran-des problemas estruturais, e nós, correspondentes internacionais, tí-nhamos a percepção de que, sem enfrentar esses problemas, seria difí-cil sustentar o crescimento”, analisa Hennigan. Para ele, os escândalos envolvendo a Petrobras e a instabilidade no Brasil deixam claro que o país precisa de uma reforma política, mas ninguém está falando disso. Para ele, esse ciclo está esgotado, e o mais preocupante é que ninguém fala em reformas.

Hennigan observa que o país tem uma imprensa conservadora e o correspondente tem que ter a capacidade de ver onde há lacunas e bus-car a informação em outro local. Um fato positivo é que há uma impren-sa alternativa atuante, e isso fica claro principalmente na periferia. Ele faz um paralelo entre o momento atual e as eleições de 1989, quando a população não teve acesso a outra imprensa que não fosse a maior rede televisiva do país. “Hoje tem. O correspondente estrangeiro deve acessar essas novas fontes de informação”, defende.

CRÍTICASO jornalista Glenn Greenwald venceu os prêmios Esso e Pulitzer com as matérias sobre as denúncias de espionagem de Edward Snowden, ana-lista de sistemas e ex-administrador de sistemas da Agência Central de Inteligência e ex-contratado da Agência de Segurança Nacional (NSA), que tornou públicos detalhes de vários programas que constituem o sis-tema de vigilância global da agência norte-americana, provocando forte crise dipomática e obrigando o governo dos Estados Unidos a rever sua política de espionagem. Com esse currículo, ele também tem feito duras críticas à mídia nacional, a quem acusa de incitar os protestos e agir como ferramenta de propaganda da oposição.

O correspondente norte-americano atendeu a Rumos brevemente, momentos antes de uma de suas, entre tantas, viagens. Ele disse que, no início de seu trabalho no país, respeitava a mídia dominante e chegou a fazer trabalhos para diversas publicações. Mas agora considera que a imprensa nacional não tem comportamento jornalístico e sim polí-tico-partidário. Ele disse que o mais difícil de explicar sobre o Brasil é a forma como o país é dividido em classes, assim como o racismo – o que contraria nosso mito de democracia racial. Para Greenwald, foi muito impressionante o desenvolvimento econômico do país no governo Luís Inácio Lula da Silva. “Tudo estava melhorando, inclusive a perspecti-va e as esperanças da população. Os brasileiros estavam otimistas, en-quanto os americanos estavam pessimistas. Esse clima mudou nos úl-timos dois anos por conta da crise, mas o Brasil tem força para superar este momento. O maior problema é a ameaça à democracia com troca de partidos e políticos corruptos”, disse Greenwald.

A percepção sobre o Brasil mudou ao longo do tempo, na visão de uma das mais prestigiadas revistas de economia do mundo.

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Já Dom Phillips, do Washington Post, observa que a corrupção é um problema enraizado no Brasil em todos os segmentos da sociedade. E explica que, em países da Europa, a possibilidade de ter um presiden-te da Câmara que é réu no Supremo Tribunal Federal e enfrenta outros casos de denúncias contra ele seria inacreditável.

“Conversei com um correspondente alemão e ele disse que um fato como esse é claramente impossível de ocorrer na Alemanha. Sobre o PT, trata-se de um partido que promoveu avanços muito importantes de justiça social, tirando 30 milhões de pessoas da linha da pobreza, e eu tive a oportunidade de constatar essa pobreza com meus olhos em vários lugares do Brasil. Mas acho muito interessante, por exemplo, a Mídia Ninja, que, pela sua independência, foi muito impor-tante nas manifestações de 2013, agora defendendo esse partido que enfrenta a questão do impeachment e um escândalo de corrupção que é um dos maiores da história”, contrapõe.

Phillips diz que o Brasil é importante para os ame-ricanos porque é um país muito grande e a maior po-tência nas Américas depois dos Estados Unidos. Aos leitores do Washington Post, o mais importante jornal da capital da maior potência do planeta, interessa en-tender o que se passa na economia e na política. Mas eles não querem saber tudo, querem saber, em linhas gerais, o que está acontecendo; como a sociedade está reagindo; qual a abrangência e a importância das in-vestigações; e qual o impacto da corrupção no país.

“Em dezembro de 2015, entrevistei o advogado da

“Entre 2008 e 2010 o país estava ‘bombando’, mas ainda com grandes problemas estruturais, e nós, correspondentes internacionais, tínhamos a percepção de que, sem enfrentar esses problemas, seria difícil sustentar o crescimento.”

Tom Hennigan, The Irish Times

Durante as manifestações de 2013, no Rio de Janeiro, o jornalista e correspondente internacional Luigi Spera, fez uma série de registros que serão publicado em livro, nas versões em inglês e italiano. As fotos mostram um Rio de Janeiro noturno, entremeado pelas luzes da cidade e pelo vulto daqueles que resolveram ocupar o espaço urbano.

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Odebrecht, Nabor Bulhões, e relatei suas críticas sobre a violação à Cons-tituição; também mostrei o impacto que o juiz Sergio Moro estava dando ao caso. É importante lá fora saber que um juiz está sendo saudado como herói pela classe média. A percepção que se tem do Brasil é que todo mundo sabe que há uma crise gigante de corrupção. As pessoas, no entan-to, não conhecem os detalhes, sabem que a economia está sofrendo e que o quadro é preocupante”, descreve Phillips. Ele, que já trabalhou para algumas das mais importantes publicações globais como The Guardian, Bloomberg, The Times, Financial Times, diz que não se baseia apenas no que a mídia local reporta. Procura ter suas próprias fontes de apuração, conversa com as pessoas comuns e com os políticos e vai às ruas durante as manifestações. Ele informa que não tem sido difícil o acesso às fontes. “Pelo fato de ser estrangeiro, tenho mais mobilidade na sociedade que as outras pessoas. Se vou a uma comunidade do Rio ou ao Congresso, consigo conversar com pessoas e trato todos com o mesmo respeito”, diz Phillips. Para ele, a fonte mais difícil de falar é a corporativa. “Já trabalhei para o Financial Times e uma vez fiz um especial sobre consumo. Tentei falar com o representante de uma grande rede de supermercados e não fui atendido. A empresa não autorizou ninguém a falar. Achei absurdo”, lamenta.

Phillips é inglês, e escreve no mínimo uma vez por semana para o Wa-shington Post, mas pode fazer cobertura diária, dependendo do que está acontecendo no Brasil e no mundo. Se há um ataque terrorista em Paris, o Brasil vai ter que esperar. O jornal tem uma sessão internacional que já teve 66 milhões de acessos.

GRANDES OBRASO jornalista Mario Osava cobre os grandes projetos de infraestrutura na América Latina para a agência de notícias Interpress, formada nos anos 1960 por jornalistas exilados do continente e da Europa. Brasileiro, ele morou muitos anos fora do país como exilado, tendo regressado em 1979 com a Anistia. Ele diz que a agência pratica um jornalismo explicativo e há seis anos identificou na América Latina um boom de grandes obras, o que passou a explicar o desenvolvimento da região a partir dos gran-des projetos de infraestrutura, como hidrelétricas, ferrovias e, no Brasil, também a transposição do rio São Francisco. “Procuro ouvir muitas pes-soas e dar voz àqueles que não são ouvidos nas favelas, nas periferias, nos movimentos sociais e nas Organizações Não Governamentais (ONGs) e o terceiro setor em geral. A ideia é sair do mainstream, ouvindo muito pou-co as empresas e muito a sociedade civil”, diz Osava. Andando muito pelo Brasil, ele conta que é visível a transformação no Nordeste nos governos petistas. A imigração se inverteu e as pessoas estão fazendo o caminho de volta. Mas ele diz que no extremo oposto, no interior de São Paulo, a crise do álcool deixa claro o porquê do movimento anti-PT.

Já o italiano Luigi Spera tem uma visão crítica dos investimentos na Copa do Mundo de Futebol e nas Olimpíadas. Jornalista freelancer que atua para diversas publicações na Europa, como o jornal de negócios ita-liano Il Sole 24 Ore, ele é especializado em cobertura de conflitos e em segurança pública e judiciária. Em 2014, esteve no Brasil para cobrir os

protestos contra a Copa do Mundo que renderam reportagens para diversas publicações, como o portal Il Fatto Quo-tidiano.

Há alguns anos, Spera vem estudando o Brasil e já se considera um brasilianis-ta, tendo investigado a fundo o progra-ma das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). Esse trabalho rendeu uma série de reportagens publicadas no portal Gli Occhi Della Guerra e o livro Crime e Fa-vela – Tráfico, violência institucional e po-líticas de segurança pública no Rio de Ja-neiro desde a fundação até a pacificação olímpica, lançado em italiano e em inglês pela editora Eiffel Edizioni. Ele diz que o Brasil é complexo para se entender e que infelizmente muitos jornalistas italianos baseiam-se apenas no que diz a mídia do-minante sobre o momento atual, mas em todas as suas matérias tem procurado de-nunciar as irregularidades do processo. “Estou muito preocupado com o Brasil”, finaliza Spera.

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Durante dois dias, as agências de fomento e os bancos de desenvolvimen-to debateram as necessidades e os desafios para que o Brasil volte a crescer e para que o faça por meio da redução de sua histórica desigualdade regio-nal. Realizado nos dias 27 e 28 de abril, na sede do Banco Nacional de De-senvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro, o Fórum do Sistema Nacional de Fomento, organizado pela Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), com o apoio do Banco Interamericano e do BNDES, foi a oportunidade para que os executivos das Instituições Finan-ceiras de Desenvolvimento pensassem em estratégias e metas para aumen-tar a qualidade de vida e a revitalizar a realidade econômica de suas regiões.

Na abertura do evento, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, lembrou que o debate sobre as disparidades entre as diferentes regiões do país tem relação com o surgimento da nação e, mesmo com os avanços obtidos na última década, é preciso intensificar essa agenda.

“O Brasil nasceu desigual, estamos tratando então de um desafio mul-

REPORTAGEM

Fórum do Sistema Nacional de Fomento discute desafios e propõe ações para que as agências de fomento e os bancos de desenvolvimento se consolidem como principais parceiros dos estados na execução das políticas regionais. POR JADER MORAES

ticentenário. Houve de fato uma desconcentração nos últimos anos, com o crescimento do Norte e do Nordeste acima da média brasileira, mas a atualida-de demanda de nós a imaginação para sustentarmos os vetores que propiciaram esse ciclo de redução das desigualdades e também para pensarmos em no-vas maneiras de desenvolvimento nessas regiões”, afirmou Coutinho, listando entre os motivos para o crescimento das regiões citadas os investimentos induzidos no Norte, como no caso da energia, e as decisões de políticas sociais e econômicas acertadas em relação ao Nordeste – com o exemplo da cons-trução de mais de um milhão de cisternas, que per-mitiu que a região passasse sem maiores efeitos por um recente período de secas prolongadas.

O presidente do BNDES lembrou ainda que mesmo nas regiões mais desenvolvidas e nas gran-des metrópoles existem áreas desiguais. Por isso, destacou a importância das instituições que atuam em diferentes partes do país estarem unidas, em torno da ABDE e do fórum especificamente, de-

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batendo a questão. “O Sistema Nacional de Fomento é repositório do conhecimento e pode identificar as oportunidades para atuarmos sobre essa situação”, finalizou.

O presidente da ABDE, Milton Luiz de Melo Santos, lembrou das arti-culações recentes com o Banco Central e os ministérios da Fazenda e do Planejamento, que colaboram para a missão da Associação de atuar em prol do desenvolvimento do país. As instituições financeiras controladas por estados da federação, defendeu Santos, são decisivas para a melhoria do quadro econômico brasileiro. “São instituições diretamente ligadas aos problemas de suas regiões que podem destravar a questão do desen-volvimento do país. O BNDES é o órgão mater desse sistema, evidente-mente, mas as agências de fomento e os bancos de desenvolvimento es-tão intimamente ligados às políticas públicas de cada um dos estados, às políticas de desenvolvimento necessárias para o crescimento de todas as partes do país”, destacou ele, que também preside a Agência de Desen-volvimento Paulista (Desenvolve SP).

Os debates sobre o desenvolvimento regional contaram ainda com a participação do vice-presidente do BNDES, Wagner Bittencourt, do pre-sidente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), Marco Aurélio Crocco, da consultora do Departamento Econômico do Banco Central, Katherine Henning, do especialista líder do Banco Interameri-cano de Desenvolvimento (BID), Luciano Schweizer, e da economista do BNDES Ana Cláudia Além.

MODELOS PARA AGÊNCIAS DE FOMENTOO segundo dia de debates foi dedicado à apresentação de um estudo con-tratado pela ABDE e pelo BID, elaborado por Jorge Ávila, professor de Pla-nejamento e Gestão Governamental na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e ex-diretor da Finep, sobre a situação atual e perspectivas para as agências de fomento e bancos de desenvolvimento

estaduais e regionais no Brasil. O documento pro-põe modelos para a consolidação dessas instituições enquanto atores fundamentais para as políticas de desenvolvimento de estados e municípios.

A pesquisa apontou a necessidade de um posi-cionamento mais claro das instituições em relação ao nicho no qual devem operar. Para isso, é preciso solucionar muito dos problemas que elas enfren-tam, entre eles a baixa capitalização e a captação insuficiente de recursos para repasse, além de di-ficuldades regulatórias.

“As agências de fomento e os bancos de desenvol-vimento são fundamentais para financiarem o polo privado do desenvolvimento traçado pelos estados em suas políticas. Assim como o BNDES no plano federal, são as instituições que melhor têm capaci-dade de entender os planos estaduais e apoiarem, financiando a participação da iniciativa privada”, explicou Ávila, que foi irá propor no estudo, enco-mendado pela Associação e pelo BID, soluções aos desafios encontrados pelas instituições.

No documento apresentado aos presentes, Ávila faz uma série de proposições para que, em determi-nado espaço temporal, as instituições de fomento superem os desafios e se consolidem como órgão primordial para o desenvolvimento de seus estados. O plano tem por objetivo propiciar maior nivela-mento entre as agências, respeitadas as diferentes realidades de cada região.

“Inicialmente, a proposta do estudo era menor, de um diagnóstico sobre a situação das agências. Mas avançamos justamente por-que vimos que muitos dos problemas elencados têm soluções possíveis”, explicou o consultor. Para comentar e validar o estudo, executivos das instituições de fomento associadas à ABDE participa-ram de uma série de mesas de debate, ao longo do segundo dia do evento.

Milton Luiz de Melo Santos, presidente da ABDE, e Luciano Coutinho, presidente do BNDES .

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Com uma carteira de clientes que engloba, ao menos, 70% dos finan-ciamentos realizados pelo agronegócio na região amazônica e R$ 10,5 bilhões aplicados atualmente em empreendimentos rurais na região, o Banco da Amazônia tem se consolidado como opção para produtores tanto da agricultura familiar quanto do agronegócio empresarial. Eles movimentam a economia regional, nacional e até mesmo internacional pela comercialização de seus produtos e também investem em inovações e melhorias que garantem frutos no futuro. Os dados fechados de 2015 confirmam que o segmento representa 65% da carteira de financiamen-tos do banco, configurando um aumento significativo em comparação com o patamar de 36% verificado em 2013.

O bom desempenho em termos de penetração no mercado do agro-negócio amazônico se deve à presença de 124 agências localizadas nos principais municípios dos estados onde o banco atua. Outra estratégia é o estabelecimento de parcerias com as entidades ligadas à cadeia produ-tiva do agronegócio e com os órgãos estaduais e municipais. “Esse é um

Responsável por importante fatia do mercado de crédito regional, o Banco da Amazônia atua para a promoção do agronegócio sustentável no norte do Brasil. POR SARAH BARROS

patamar satisfatório, dado o expressivo crescimen-to da carteira, com destaque para o agronegócio empresarial, que, em 2013, totalizou R$ 1,3 bilhão, chegando a R$ 2,4 bilhões em 2014 e R$ 2,2 bilhões em 2015”, avalia a gerente executiva de Pessoa Fí-sica da instituição, Márcia Mithie. A expansão da carteira em relação aos outros segmentos atendi-dos pela instituição é atribuída à simplificação da concessão do crédito de curto prazo, como custeio agrícola e pecuário e recria e engorda de animais bovinos, com a inclusão da análise de limite pré--aprovado, não havendo mais necessidade de ela-boração de projetos para essas finalidades.

A principal fonte de recursos do Banco da Amazônia nos financiamentos rurais é o Fundo Constitucional do Norte (FNO), com taxa de juros prefixada que varia de 6,50% ao ano a 10,50% ao ano, já com Bônus de Adimplência. Consideran-do apenas as contratações com recursos do FNO destinadas ao agronegócio nos últimos três anos,

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Crédito para o agronegócio

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foram distribuídos cerca de R$ 4,9 bilhões em 6.592 operações. O pro-duto com maior volume de contratação é o FNO Amazônia Sustentável, que atende às finalidades de custeio e investimento, agrícola e pecuário. Além dele, os clientes do agronegócio amazônico têm à disposição ou-tras opções como o FNO ABC (Agricultura de Baixo Carbono) e o FNO Biodiversidade, que financiam a recuperação de áreas degradadas e cul-tivo de plantas nativas.

Assim como em todas as demais operações do banco, os critérios de análise cadastral e de crédito seguem as diretrizes da política desenha-da pela instituição, além de cumprir as normas de cada tipo de recurso e legislações ambientais. “Os impactos macroeconômicos estimados para a ação creditícia do Fundo no exercício de 2015 ratificam a sua impor-tância como principal instrumento econômico-financeiro propulsor do desenvolvimento regional sustentável, bem como o papel do Banco da Amazônia como agente executor das políticas, planos e programas do go-verno federal para a região”, destaca Márcia. Além do FNO, o banco ali-menta suas linhas de crédito com recursos oriundos do BNDES, da Pou-pança Rural, de aplicações em Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) e por meio de Recurso Obrigatório, de tal forma que os depósitos dos clien-tes no banco retornam como investimento à sociedade.

GANHOSA estimativa é de que os efeitos multiplicadores dos financiamentos re-alizados pelo Banco da Amazônia relacionados ao FNO incrementem em R$ 35,4 bilhões o valor bruto da produção regional e expandam o PIB da Região Norte em R$ 18,75 bilhões. Para o poder público, as operações fomentadas contribuem para o reforço às contas públicas, levando-se em consideração o valor dos tributos gerados em decorrência dos negócios necessários para implementar os projetos financiados, correspondente a R$ 5,2 bilhões. “Outro aspecto relevante a ser considerado como efei-to dos financiamentos do FNO refere-se à qualidade de vida dos traba-lhadores, com expansão da massa salarial em, aproximadamente, R$ 3,8 bilhões, mediante a criação de aproximadamente 644 mil novos postos de trabalho diretos, indiretos ou induzidos, tanto no campo como nas ci-dades”, enumera a gerente executiva do banco.

Os principais tomadores do crédito da instituição para fomento do agronegócio são de produtores de pequeno porte – que possuem fa-turamento anual de até R$ 16 milhões, como empreendimentos ru-rais dos agricultores familiares, extrativistas, pescadores artesanais. Quanto à atividade, destaca-se na produção agrícola o cultivo do mi-lho, soja e arroz, e, na pecuária, a produção de leite e de corte. Estes representam 80% da carteira do agronegócio, em consonância com as políticas públicas federais e com a missão do banco em promover o desenvolvimento sustentável da região. Para a instituição, o foco é estimular o atendimento às normas regulamentares da legislação ambiental, atuando no fortalecimento das boas práticas sustentáveis e conscientização do produtor rural quanto à necessidade de imple-mentação das práticas inovadoras, tecnológicas e sustentáveis, como forma de preservar a riqueza ambiental e ainda otimizar a receita da atividade rural.

Mesmo que concentrado, sobretudo, nos pe-quenos negócios, essa característica não inibe a atuação da instituição junto aos demais atores do setor, com incentivos também voltados para em-preendedores agroindustriais de médio e grande portes, fato que tem contribuído para a inserção competitiva do segmento nos mercados nacional e internacional. “Um exemplo é a produção do biocombustível na Amazônia, cuja atividade tem envolvido e beneficiado centenas de famílias que estão diversificando a base produtiva da região por meio do aprimoramento da produção do bio-diesel”, aponta Márcia.

Além de atuar diretamente junto aos produ-tores, com projetos estruturados que englobam a industrialização e a comercialização de insumos produzidos pelos agricultores familiares, envol-vendo todo ciclo da cadeia produtiva, o banco de desenvolvimento também tem criado oportunida-des e benefícios ao financiar grandes projetos de infraestrutura. Tais iniciativas contribuem para a geração de renda e de emprego e ainda solucionam problemas logísticos, reduzem custos de produção e, com isso, viabilizam o aumento da comercializa-ção e, inclusive, a exportação dos grãos.

Para o Banco da Amazônia, o resultado final de sua ação creditícia ratifica a importância do FNO como principal instrumento econômico-finan-ceiro indutor do desenvolvimento sustentável da Região Norte, contribuindo significativamente para a redução das desigualdades intra e inter--regionais. Os impactos incluem aspectos sociais como a melhoria da qualidade de vida da popula-ção regional, a criação de novas oportunidades de trabalho, com a decorrente diminuição do êxodo rural, a mitigação da pobreza e a inclusão social.

Em termos econômicos, o apoio do banco per-mite o surgimento de um agronegócio fortaleci-do, paralelamente ao desenvolvimento das micro e pequenas empresas, a expansão do turismo e o incremento do valor bruto da produção e do PIB regionais, com a elevação da arrecadação tributá-ria dos estados. “Prospecta-se que os créditos do FNO contribuirão para a elevação do produto, da renda, do emprego, dos salários e da arrecadação tributária nas regiões onde se efetivam os empre-endimentos financiados, bem como em outras regiões com as quais são estabelecidos fluxos eco-nômicos, por meio do efeito transbordamento”, completa Márcia.

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Ajustes(des)necessários

A década de 1980 assistiu a mudanças consideráveis no âmbito econômico, com a emergência da doutrina liberal, defendida por Ronald Reagan (EUA) e Margaret Thatcher (Inglaterra), no de-bate econômico mundial. O discurso de Estado mínimo alcançou os sistemas fi-nanceiros e conformou um novo espaço regulatório. Como argumentou o eco-nomista Paul Singer em entrevista à Ru-mos na primeira edição de 1994, havia uma pressão muito forte por parte do mercado para a implantação de progra-mas a la Tatcher e a la Menem (este úl-timo, em referência ao então presidente argentino Carlos Menem).

Paralelamente à emergência desta nova doutrina, o período foi marcado, no Brasil, por baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), grave cri-se fiscal e aceleração inflacionária, con-figurando o que ficou conhecido como a “década perdida”. Como resposta às dificuldades enfrentadas neste contexto, muitos estados recorreram às institui-ções financeiras públicas que contro-lavam, com o intuito de financiar seus déficits orçamentários. Além dos bancos federais, o Brasil contava com outras 45 Instituições Financeiras de Desenvolvi-mento Regional, cuja utilização no finan-ciamento a seus controladores acabou gerando graves problemas patrimoniais.

Se a década de 1980 originou tais desafios, a década seguinte consolidou as políticas destinadas a sua solução. A combinação entre onda liberalizante e a crise doméstica levou à busca por alternativas que refletiam a tendência de redução da participação do Estado

na economia, inclusive no setor financeiro. A de-sestruturação das Instituições Financeiras de De-senvolvimento (IFDs) não passaria despercebida, tornando-as parte importante das reformas pro-postas para tirar a economia brasileira da crise.

Concomitantemente, a estabilização monetária alcançada com o Plano Real acarretou problemas de rentabilidade ao Sistema Financeiro Nacional (SFN), que tinha no imposto inflacionário grande parte de suas receitas. As instituições financeiras, inclusive as IFDs, enfrentaram dificuldades em pro-mover os ajustes necessários para sua sobrevivência, situação que ensejou uma profunda reforma no SFN.

Os problemas enfrentados pelas instituições privadas foram equacionados com a criação do Pro-grama de Estímulo à Reestruturação e ao Fortale-cimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer), cujo objetivo principal era evitar uma crise sistê-mica por meio de uma linha especial de assistência financeira. Os bancos federais passaram por um processo de reestruturação e saneamento no âmbi-to do Programa de Fortalecimento das Instituições Financeiras Federais (Proef ), sendo preservados, mas com atuação voltada primordialmente para a função de bancos comerciais e redução considerá-vel em sua função de agentes de desenvolvimento. Por fim, o saneamento das instituições públicas regionais foi endereçado com o Programa de In-centivo à Redução do Setor Público Estadual na Atividade Bancária (Proes), por meio do qual os es-tados controladores puderam privatizar, extinguir ou sanear suas instituições financeiras. Em conso-nância com as políticas liberalizantes do período, estes programas objetivavam a drástica redução do setor público no SFN.

Este movimento não poderia ficar fora das pá-ginas da Rumos, que publicou artigos e entrevistas de políticos, economistas e membros da autorida-de monetária, favoráveis e contrários às reformas. Entre defensores e opositores ferrenhos, a comple-

ARTIGO

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ANDREJ SLIVNIKÉ economista, formado pela Universidade de Campinas, e mestrando pela mesma instituição. Atua como técnico da Gerência de Estudos Econômicos da ABDE.

xidade da questão era tema suficientemente polê-mico para gerar opiniões de variadas tonalidades, formando um verdadeiro mosaico de ideias.

Em entrevista à edição janeiro/ fevereiro de 1995, o economista e então professor da Unicamp, Luciano Coutinho, lembrou que no Brasil o mercado de mé-dio e longo prazo sempre foi dependente do Estado. Para ele, a reforma deveria buscar uma melhor coor-denação entre o público e o privado, o que estávamos ainda longe de alcançar. Isso ocorria porque o mer-cado privado não estava disposto a correr risco de longo prazo, uma vez que a taxa de retorno dos títulos de curto prazo era bastante alta, devido às elevadas taxas de juros. O posicionamento de Coutinho não era simplesmente favorável à presença do Estado no SFN: “obviamente não estou querendo, com isso, co-locar-me contra o sistema financeiro. Apenas estou tentando dizer que é preciso avançar ainda muito, e que esse avanço requer a presença do setor público, não de maneira tradicional”. “Imagine-se o absurdo que seria propor a privatização do BNDES...”

Roberto Saturnino Braga concordava. Na edição março/abril de 1995, o ex-senador defendeu que o Estado tinha papel fundamental no processo de de-senvolvimento econômico, e parte importante desse papel era a intermediação financeira – “o financia-mento desenvolvimentista é a prioridade número um, junto com a educação”. Saturnino argumentou que o SFN era o aparelho circulatório da economia, o sistema de irrigação de todo o desenvolvimento. Para ele, as IFDs sofreram sobremaneira com a onda liberalizante e as instituições que sobraram acaba-ram se desviando de suas funções principais. Era preciso manter fortes agências estatais, por meio das quais o poder público recobrasse o controle sobre o sistema, de forma estratégica.

Para a Rumos, o destino das IFDs com vocação re-gional era tema particularmente sensível. Ao abor-dar a questão, Saturnino Braga ressaltava sua im-portância para projetos em âmbito local, com menor envergadura. Coutinho aprofundava o argumento, afirmando que a relevância dos bancos comerciais estaduais refletia sua capacidade de alavancar siner-gias locais, identificando polos de desenvolvimento e de aglomeração de determinadas vocações indus-triais e de serviços. Para ambos, as reformas preten-didas deveriam buscar boas práticas administrati-vas, que garantissem eficiência e sustentabilidade às IFDs regionais. Mas o ideal seria restaurá-las, não extingui-las.

Na mesma edição, João Alberto Capiberibe, então

governador do Amapá, ressaltou a importância das IFDs regionais para as economias locais. Segundo ele, “o Brasil são dois países em um” e as políticas pú-blicas deviam levar em conta os diferentes estágios de desenvolvimento entre as regiões do país, sendo as IFDs regionais mais capacitadas para alavancar o desenvolvimento local, justamente por conhecerem melhor os desafios econômicos de suas regiões. Para Capiberibe, a onda neoliberal que invadira o país po-dia eventualmente atender às necessidades do Sul e do Sudeste, mas ameaçava a oferta de crédito para os estados periféricos.

Como desejavam os reformistas, houve expres-siva redução da presença do setor público no SFN, em decorrência da retração operacional dos bancos federais e da extinção da maioria das 45 IFDs regio-nais até então existentes. Ainda que esta tendência tenha se estabilizado a partir de 2003, foi com a crise de 2007/2008 que as IFDs voltaram a ter protagonis-mo, em função da relevância de sua atuação anticí-clica, pondo em questão o aparente sucesso daquelas reformas e fortalecendo o argumento dos que defen-dem maior presença do Estado no SFN.

Entre idas e vindas, o aspecto crucial do proble-ma permanece em aberto e parece estar no cerne do impasse que molda os contornos da crise atual. A melhor coordenação entre o público e o privado no financiamento ao desenvolvimento, desejada por Luciano Coutinho em 1995, é ainda um sonho dis-tante, possivelmente pelos mesmos motivos apon-tados pelo economista, 21 anos atrás: as taxas de retorno dos títulos de curto prazo seguem elevadas e continuam constituindo um impeditivo para o for-talecimento do mercado privado de crédito de longo prazo no Brasil.

FERNANDA FEILÉ formada em economia pela USP, mestre na mesma área pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e gerente de Estudos Econômicos da ABDE.

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Cooperativismo edesenvolvimento socioeconômico

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ÊNIO MEINENAdvogado, pós-graduado em direito e em gestão estratégica de pessoas. É diretor de operações do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob).

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“O cooperativismo, dada a multifuncionalidade que o caracteriza, tem abertas todas as possibilidades de criar bem-estar em qualquer atividade econômica, social, cultural etc., desde que mantenha indepen-dência em relação ao Estado e a outras doutrinas ou instituições eventualmente conflitantes com os seus valores e princípios” (Roberto Rodrigues, Revista Saber Cooperar, edição especial OCB 45 anos).

As organizações de natureza cooperativa são as únicas iniciativas socioeconômicas alicerçadas em doutrina de aplicação universal, baseada em valo-res e princípios cujas diretrizes convergem para a edificação de um mundo mais equitativo ( justo) e inclusivo.

Nesse modelo empresarial, que se origina de uma necessidade da sociedade, o ser humano é o centro das atenções, enquanto o capital é mero insumo para a construção de soluções de uso com-partilhado entre os donos do empreendimento co-letivo. Os resultados, orientados pelo equilíbrio e pela isonomia, são de cada um na proporção de seu esforço e de sua fidelidade à organização. Em sínte-se, nesse formato não se cogita a transferência de renda ou riqueza do menos para o mais favorecido, uma vez que inexiste separação – o antagonismo clássico – entre dono do negócio/do capital (em-presário) e cliente (consumidor). Têm-se, numa mesma pessoa, proprietário e usuário. Por isso, não se fala em “lucro”. Todos, enfim, como empreende-dores cooperativos, prosperam segundo a intensi-dade de sua cooperação ou de seu trabalho.

Diante de sua inserção comunitária, uma vez que as cooperativas são empresas do lugar, de pro-ximidade, o cooperativismo está naturalmente vo-cacionado para fazer o bem nos locais em que está estabelecido, rigorosamente em linha com o 7º princípio universal do movimento (“interesse pela comunidade”). Há, pois, uma preocupação de gerar progresso conforme a aptidão das populações e de acordo com o potencial econômico da região assis-tida (a cooperativa atua como braço econômico do núcleo social), compromisso que leva à melhoria da qualidade de vida de todos os cidadãos lá fixados, associados ou não.

Ou seja, o fato de a cooperativa impulsionar o

desenvolvimento local e de assegurar o reinvesti-mento dos recursos nas comunidades de origem, criando um círculo virtuoso, leva à geração de novos empregos, ao aumento do consumo e, por via da elevação das receitas tributárias, amplia a capacidade de investimento em saúde e na edu-cação das populações residentes. Nesse sentido, levantamento conduzido pela Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB (www.ocb.org.br), tendo como referência dados divulgados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi-mento (PNUD), autoriza a concluir que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) apresenta melhores resultados em municípios nos quais o cooperativismo se faz presente. Em projeção na-cional, os estudos indicam um IDH médio de 0,701 para o conjunto de municípios atendidos por coo-perativas e de 0,666 para os não servidos (a refe-rência é 1 – quanto mais alto, melhor).

As cooperativas lideram, ainda, inúmeras ini-ciativas de caráter sociocultural. É até mesmo difícil imaginar um evento cultural, um encontro esportivo ou uma mobilização para arrecadar fun-dos com propósitos humanitários, sem o engaja-mento de associados, dirigentes e colaboradores de alguma cooperativa presente nessas comuni-dades. E o apoio jamais se limita à simples entre-ga de fundos financeiros. Na maioria das vezes, a própria organização é confiada aos representantes das cooperativas.

Em síntese, como uma empresa, a cooperativa caracteriza-se por aliar diretamente, na mesma organização, dois aspectos fundamentais do desen-volvimento sustentável: a racionalidade econômica e o sentido da solidariedade social.

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LIVROS

Um ideólogo do desenvolvimento e da industrialização. Assim foi definido o industrial e intelectual brasileiro Ro-berto Simonsen, figura decisiva para o processo de desenvolvimento brasi-leiro nas primeiras décadas do século XX, durante o lançamento da biografia que conta a sua história. O evento, or-ganizado pela Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) e pelo Ban-co Nacional de Desenvolvimento Eco-nômico e Social (BNDES), reuniu eco-nomistas, cientistas sociais e público diverso para debater a obra e o legado do industrial, à luz do livro Roberto Si-monsen – Prelúdio à Indústria, de Luiz Cesar Faro e Mônica Sinelli.

Com 303 páginas e prefaciado pelo economista Luiz Gonzaga Belluzzo, o li-vro conta a trajetória de Simonsen desde estudos como aluno da Escola Politécni-ca de São Paulo, até chegar à posição de principal líder empresarial do Brasil, já na década de 1930. Tendo passado por setores diversos, como construção civil, mineração, bancário e frigorífico, além de dirigir instituições de ponta e órgãos go-vernamentais, o biografado foi uma figu-ra influente no governo de Getúlio Vargas e transformou-se – caso raro – em sinôni-mo de, simultaneamente, “capitão de in-dústria e intelectual de proa”, como defi-nem os autores do livro.

Para a economista Vera Cepêda, pro-fessora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que defendeu sua tese de doutorado sobre o persona-gem, Simonsen inaugura a tradição da economia política no Brasil. Ela desta-cou a inovação contida no pensamen-to do biografado e seu papel de criador das instituições modernas da economia brasileira, como o Sistema S, a Escola Livre de Sociologia e Política da Univer-sidade de São Paulo (USP) e a Federação das Indústrias. “É impossível entender o processo de industrialização do país

RECUPERAR O LEGADOsem considerar a presença de Si-monsen. Não só por sua teoria, mas também pela experiência histórica, em que ele foi protagonista de pro-cessos muito importantes para o de-senvolvimento do Brasil”, afirmou a economista.

Presidente do Centro Internacio-nal Celso Furtado, o ex-senador Sa-turnino Braga lembrou que Simon-sen foi precursor ao enfrentar a ideia dominante em sua época de que o de-senvolvimento brasileiro se daria com base no setor agrícola. Mesmo originário dos setores agrícolas, ele foi um dos grandes formuladores das direções que o Brasil deveria tomar, via industrialização, e influen-ciou toda uma geração de economistas, políticos e intelectuais. “Por isso, vim prestar minha home-nagem a uma figura de dimensão tão grande para o país”, disse o ex-senador.

Na mesma linha, o economista Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES, afirmou que a leitura do livro lhe deu “alegrias intelectuais”, por relembrar de um autor que compreendeu que a economia não deve ser lida separadamente, mas sim em perma-nente diálogo com outros saberes, principalmente a história. Para ele, o livro será extremamente impor-tante às novas gerações, para ajudar o Brasil a sair da crise em que se encontra. “Hoje vivemos uma cri-se política, ancorada em uma crise econômica, mas sou otimista: no interior dessa crise está sendo gera-do um novo protagonismo. É para esta nova geração, sobretudo, que o livro será útil, pois Simonsen é um personagem que pode nos ajudar a pôr novamente em discussão o desenvolvimento das forças produ-tivas brasileiras”, avaliou Lessa.

A importância de resgatar esse legado foi des-tacada pelo secretário-executivo da ABDE, Mar-co Antonio Lima, que no encerramento do evento recordou que todas as questões fundamentais so-bre as quais são realizadas os debates econômicos hoje, estão contempladas na trajetória concreta e intelectual do personagem. “Estamos em um mo-mento em que precisamos, urgentemente, discu-tir o desenvolvimento e fazer com que o país volte a trilhar por essa rota. Simonsen pode nos inspi-rar”, finalizou.

Roberto Simonsen – Prelúdio à Indústria.Luiz Cesar Faro e Mônica Sinelli. Insight, 303 p., 2016.

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Os autores do livro durante o lançamento.

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#Socialholic – Tudo o que você precisa saber sobre marketing nas mídias sociaisFernando Polo e Juan Luis PoloSenac, 398 p., 2016.

MARKETING NA REDEAs redes sociais transformaram subs-tancialmente a forma como as pessoas se comunicam neste novo século. Essas transformações, em escala global e cada vez mais abrangente, afetam, também, a maneira como a indústria e os serviços são solicitados e avaliados por seus con-sumidores e pela sociedade em geral.

Composto por quatro partes, que tra-tam de uma nova era do atendimento ao cliente, da empresa enquanto meio de comunicação e da importância da ino-vação nas redes, entre outros temas, o livro mostra como as organizações es-tão utilizando as plataformas digitais para escutar o público e superar suas expectativas.

Com a explosão de aplicativos que fa-cilitam a identificação da oferta e a com-paração de preços de diferentes forne-

cedores, e que permitem a postagem de opiniões de clientes sobre sua satisfação ou frustração ao consumir um artigo, as empresas enxergaram a necessidade de, também elas, lançarem suas próprias plataformas. As redes sociais ganharam uma dimensão jamais vista nas relações entre consumidores, clientes e seus for-necedores e a obra aponta os caminhos futuros para essa nova relação.

Os autores, Fernando Polo e Juan Luis Polo, possuem grande experiência em Marketing 2.0 e são sócios na agên-cia de consultoria Territorio Creativo, especializada em transformação digital, com presença em quatro países: Espa-nha, Inglaterra, Colômbia e México. Os irmãos também são professores em di-versas escolas de negócios e palestran-tes em congressos.

A HISTÓRIA DA DÍVIDAEscrito pelo antropólogo americano David Graeber, o livro Dívida: os pri-meiros 5.000 anos apresenta em nova perspectiva a história da dívida e do crédito, bem como da origem do di-nheiro. A obra, que vem sendo consi-derada uma das mais importantes de história e antropologia econômicas dos últimos tempos, ganhou edição bra-sileira no início de 2016, pela editora Três Estrelas, com tradução de Rogé-rio Bettoni.

A análise de Graeber, autor de ou-tros seis livros ainda não traduzidos para o português, questiona alguns dos mitos dos estudos econômicos, como o de que o dinheiro teria sido inventado para substituir o escambo. O antropó-logo demonstra que, antes mesmo da criação da moeda, existiram civiliza-ções que lidaram com elaborados siste-

mas de endividamento e comércio. O aparecimento do dinheiro, defen-

de o autor, trouxe graves consequên-cias para as sociedades, e a dívida, an-tes ligada à reciprocidade e à troca de favores, tornou-se um instrumento de escravização, dominação e guerra.

O professor de antropologia na Lon-don School of Economics e doutor pela Universidade de Chicago, que teve participação destacada no movimento Occupy Wall Street, em 2011, foi eleito uma das personalidades do ano pela re-vista Time. Graeber apresenta em mais de setecentas páginas uma fascinante história da civilização, com ênfase na dimensão social das relações econômi-cas e na crítica radical ao modo como o capitalismo, por meio do endivida-mento, é capaz de produzir controle e destruição.

Dívida: os primeiros 5.000 anosDavid GraeberTrês Estrelas, 704 p., 2016.

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FOMENTO

BB LIBERA CRÉDITO PARA EMPREENDEDORES SEM CONTA BANCÁRIAO Banco do Brasil lança um serviço inovador para libe-ração de recursos de Microcrédito Produtivo Orientado (MPO): o Conta Fácil MPO. A solução busca atender em-preendedores não bancarizados, oferecendo uma forma simplificada e ágil para obtenção de crédito. Por meio de conta cartão pré-paga, operada diretamente pelo celular, o empreendedor pode acessar o crédito, sem necessidade de abrir uma conta corrente.

“O Banco do Brasil, ao oferecer a inovadora solução do Conta Fácil MPO, busca simplificar e ampliar o acesso ao crédito, que conta com orientação financeira no local do empreendimento por agentes capacitados, favorecendo a educação financeira do empreendedor e a obtenção do crédito conforme as necessidades e condições de seu empreendimento”, afirma Osmar Dias, vice-presidente de Agronegócios e Micro e Pequenas Empresas do Ban-co do Brasil. A expectativa é liberar 30 mil operações de MPO, via Movera, ao longo do ano, totalizando R$ 63 mi-lhões, sendo 30% desse montante por meio do BB Conta Fácil MPO.

A Agência de Fomento de Mato Grosso (MT Fomen-to) vai desenvolver uma linha de crédito específi-ca para o segmento dos camelôs, com recursos do Fundo de Desenvolvimento Industrial e Comercial (Fundeic). A previsão é de que a linha de crédito seja apresentada ao setor ainda neste mês. A ação faz parte dos eixos centrais que serão trabalhados pelo governo do estado para fomentar a atividade. A definição ocorreu durante reunião realizada en-tre o secretário de Desenvolvimento Econômico (Sedec), Seneri Paludo, o presidente da Associação dos Camelôs do Shopping Popular, Misael Galvão, o presidente da MT Fomento, Mário Milton Ferreira Mendes, e a equipe técnica da agência.

Os tomadores do crédito produtivo junto à Agência de Fomento de Goiás (GoiásFomento) passam a re-ceber capacitação para que os empréstimos atinjam seus objetivos junto aos setores do empreendedoris-mo a que se destinam. O crédito foi disponibilizado pelo governo de Goiás por meio da Superintendência de Micro e Pequenas Empresas, e tem a GoiásFo-mento como agente financeiro. O recurso poderá ser realizado em 600 mil operações com valor médio de R$ 1,4 mil e manter perto de 125 mil postos de trabalho.

O curso, desenvolvido juntamente com o Ser-viço Nacional das Micro e Pequenas Empresas de Goiás (Sebrae-GO), ensina técnicas de planeja-mento empresarial e de mercado, que servirão de apoio na gestão da empresa ou empreendimento. Os recursos, oriundos do programa Produzir, fi-nanciam valores de até R$ 30 mil, em até 36 me-ses, através do agente financeiro GoiásFomento, a juros subsidiados pelo governo do estado de 0,8% ao mês, que totalizam 9,6% ao ano. São qua-tro edições oferecidas do curso, nas cidades de Goiânia, Ipameri, Silvânia e Acreúna.

GOIÁSFOMENTO OFERECE CURSO SOBRE PLANO DE NEGÓCIOS

MT FOMENTO CRIA LINHA DE CRÉDITO PARA CAMELÔS

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A Caixa irá liberar R$ 550 milhões para obras de duplicação e manutenção da BR-050 entre Cristalina (GO) e Delta (MG), na divisa entre Minas Gerais e São Paulo. Pelo trecho sob concessão da MGO Rodovias circula uma média diária de 55 mil veículos.

O contrato de financiamento é o primeiro do banco dentro da primeira fase do Programa de Investimentos em Logística (PIL), que construiu cinco mil quilômetros de rodovias entre maio de 2014 e setembro de 2015. A segunda etapa, lançada em junho do ano passado, prevê investimentos de R$ 69 bi-lhões em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos até 2018.“É um momento muito importante para a Caixa e para o governo federal, que dinamizam o seu investimento. Estamos falando em R$ 550 milhões que vão ajudar a desenvolver os estados de Goiás e Minas Gerais”, afirmou o vice-presidente de governo da Caixa, Paulo José Galli.

O Banco Central, por meio da Re-solução nº 4.470, do Conselho Mo-netário Nacional (CMN) de março deste ano, definiu os encargos fi-nanceiros e o bônus de adimplên-cia a quem pagar em dia as opera-ções contratadas com recursos dos Fundos Constitucionais de Finan-ciamento para projetos do setor não rural. O benefício alcançará quem realizar contratações até 31 de dezembro de 2016. A medida beneficiará os tomadores do Fun-do Constitucional de Financia-mento do Norte (FNO), principal crédito de fomento da região, ad-ministrado pelo Banco da Amazô-nia em todo o Norte do país. “É uma redução bastante significativa. A deci-são do governo contribuirá para a estabilização e recuperação da economia, através do estímulo ao crédito. Com taxas de juros reduzidas, mais projetos tornam-se viáveis, promovendo uma cadeia de desenvolvimento, através da geração mais empregos e renda”, explica Roberto Batista Schwartz (foto), ge-rente de Planejamento, Políticas e Normas de Crédito do Banco da Amazônia, instituição que nos últimos cinco anos investiu R$ 11,9 bilhões em créditos de fomento direcionados ao setor não rural.

Responsável por mais da metade da pro-dução científica brasileira, São Paulo é berço das empresas mais inovadoras do país. Aproveitando toda essa matéria-pri-ma, a Agência de Desenvolvimento Pau-lista (Desenvolve SP) lançou a websérie “Caminhos da Inovação”. São histórias de empreendedores visionários que trans-formaram suas ideias em negócios ins-piradores. Dividida em sete capítulos, a websérie será apresentada toda sexta-fei-ra pela especialista em inovação Martha Gabriel e revelará como essas empresas foram capazes de impactar positivamente a sociedade ao transformar conhecimen-to em riqueza e desenvolvimento. “Todos têm uma história para contar, e as mais interessantes são contadas pelos visio-nários, aqueles que enxergam as oportu-nidades”, diz Martha. Toda semana tem uma nova história de empreendedores de sucesso. Os episódios estão disponíveis no site www.caminhosdainovacao.com.br.

DESENVOLVE SP LANÇA WEBSÉRIE

CAIXA ASSINA CONTRATO DE R$ 550 MILHÕES PARA A DUPLICAÇÃO DA BR-050

JUROS DO FNO SÃO REDUZIDOS PARA SETOR NÃO RURAL

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MARÇO | ABRIL 201646

EXPEDIENTE CARTAS DO LEITOR

RecebimentoConsulto a possibilidade de ser reincluido para o rol dos leitores da publicação Rumos, cujo conteúdo é sempre interessante e últil. Osmar Santos.

LeituraEnvio o e-mail no intuito de agradecer pelo recebimento do periódico Rumos, e dizer que o periódico é um dos consultados por nossos usuários. Roberta Alves, bibliotecária da Associação Comercial do Rio de Janeiro - ACRio. Rio de Janeiro (RJ).

CulturaTransferi minha residênsia para Santos (São Paulo) e gostaria de voltar a receber a revista, cujo conteudo é sempre um banho de cultura.Consulto tambem se posso receber edições/números dos últimos dois anos, pois estive afastado e não recebia a revista em minha moradia em Maceió. O. Carvalho

Números AnterioresRecebemos periodicamente o título Rumos, porém verificamos que não recebemos os seguintes números a partir de abril de 2014 e as demais até a data de hoje. Solicitamos que, por gentileza, e se possível nos sejam enviados os números faltantes, pois este Título é de suma importância para o enriquecimento de nosso acervo. Ivonete Almeida Serafim Duran. Associação Prudentina de Educação e Cultura (APEC)Presidente Prudente (SP).

Sede: SCN – Qd. 2 - Lote D, Torre A Salas 431 a 434 Centro Empresarial Liberty Mall | Brasília | DF | CEP 70712-903 Telefone: (61) 2109.6500 E-mail: [email protected]

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CONSELHO DOS ASSOCIADOS Presidente: Luciano Coutinho

DIRETORIA Presidente: Milton Luiz de Melo Santos 1º Vice-Presidente: Marco Aurélio Crocco Afonso 2º Vice-Presidente: Ilton Luis Schwaab

Diretores: Francisco Soares, José Henrique Paim, Humberto Tannús Junior, Otto Alencar Filho, Rogério Tavares, Susana Kakuta

Secretário-Executivo: Marco Antonio A. de Araujo Lima

AFAP – Agência de Fomento do Estado do Amapá S.A.AFEAM – Agência de Fomento do Estado do Amazonas S.A.AFERR – Agência de Fomento do Estado de Roraima S.A.AGÊNCIA DE FOMENTO TOCANTINS – Agência de Fomento do Estado de TocantinsAGEFEPE – Agência de Fomento do Estado de Pernambuco S.A.AGN – Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S.A.AGERIO – Agência Estadual de FomentoBADESC – Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A.BADESUL – Badesul Desenvolvimento S.A. – Agência de FomentoBANCO DA AMAZÔNIA – Banco da Amazônia S.A.BANCO SICREDI – Banco Cooperativo Sicredi S.A.BANCOOB – Banco Cooperativo do Brasil S.A.BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S.A.BANPARÁ – Banco do Estado do Pará S.A.BB – Banco do Brasil S.A.BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A.BNB – Banco do Nordeste S.A.BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e SocialBRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo SulBRB – Banco de BrasíliaCAIXA – Caixa Econômica FederalDESENBAHIA – Agência de Fomento do Estado da Bahia S.A.DESENVOLVE – Agência de Fomento de Alagoas S.A.DESENVOLVE SP – Agência de Desenvolvimento PaulistaFINEP – Inovação e PesquisaFOMENTO PARANÁ – Agência de Fomento do Paraná S.A.GOIÁSFOMENTO – Agência de Fomento de Goiás S.A.MT FOMENTO – Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S.A.PIAUÍ FOMENTO – Agência de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S.A.SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

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Publicação bimestralISSN 1415-4722 Ano 40 - nº 286

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