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SUJEIÇÃO PASSIVA DO IPTU: UMA ANÁLISE PRAGMÁTICA DOS RESPS. 1.110.551/SP E 1.111.202/SP TAX LIABILITY OF IPTU: A PRAGMATIC ANALYSIS OF RESPS. 1.110.551/SP AND 1.111.202/SP VICTOR MONTEIRO Pós-Graduado em Direito Processual Civil pela Universidade Anhanguera - Uniderp. Pós-Graduado em Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários - IBET. Mestrando em Direito Tributário pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP. Professor Seminarista Adjunto do Curso de Especialização em Direito Tributário da PUC/SP, Unidade COGEAE. Advogado. [email protected] Resumo: Historicamente, desde a vigência do novo Sistema Constitucional Tributário com a promulgação da Constituição Federal de 1988, acentuou-se a polêmica em torno da figura dos possíveis sujeitos passivos do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana – IPTU. Contudo, diante dos julgamentos dos Recursos Especiais Nº s 1.110.551/SP e 1.111.202/ SP, julgados sob o rito de recursos representativos de controvérsia, a polêmica acerca do tema em debate aparentemente foi pacificada, ao passo em que a maior parte da doutrina especializada quedou-se inerte à crítica dos mencionados precedentes. Todavia, o Superior Tribunal de Justiça, quando dos julgamentos em tela, não pareceu se pautar em uma inferência abdutiva ou, tampouco, em qualquer técnica científica de interpretação da realidade jurídica, balizando-se exclusivamente pelo raso cunho político-econômico. Desta forma, o estudo ora proposto tem a audaciosa pretensão de analisar o tema sob os auspícios do método do Pragmatismo Jurídico, perpassando pelas formulações abdutivas, levadas ao crivo do raciocínio dedutivo e testadas empiricamente pela indução para, com isto, percorrer as implicações práticas de nossas conclusões visando identificar quais indivíduos – e em quais casos – podem figurar como sujeitos passivos do IPTU. Ao final, pretendemos nos devotar à crítica do entendimento apadrinhado pela Corte Superior de Justiça. Palavras-chaves: pragmatismo jurídico; sistema constitucional tributário; sujeito passivo do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana - IPTU. Abstract: Historically, since the new Constitutional Tax System (1988 Federal Constitution), the controversy surrounding the possible taxable persons of the Property and Urban Land Tax - IPTU has been accentuated. However, given the judgment of Special Appeals Nº s 1.110.551/SP and 1.111.202/SP, ruled under the appeals representing controversy proceeding, the controversy about the matter under discussion was apparently pacified, albeit most of the specialized doctrine remained inert to the criticism of the aforementioned precedents. Nevertheless, the Superior Court of Justice, at the time of the judgments hereinabove, did not appear to be based in an abductive inference or, by any means, by any scientific technique for interpreting the legal reality, based exclusively on the shallow political-economic nature. Hence, the study now proposed has the audacious intention of analyzing the subject under the Legal Pragmatism method, going through the abductive formulations, applying the deductive reasoning and tested empirically by induction to, with this, go through the practical implications of our conclusions aiming at identifying which individuals – and in which cases – can be considered as taxpayers of IPTU. At last, we intend to devote ourselves to the criticism of the understanding sponsored by the Superior Court of Justice. Keywords: legal pragmatism; constitutional tax system; taxable subject of the Property and Urban Territorial Property Tax.

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SUJEIÇÃO PASSIVA DO IPTU: UMA ANÁLISE PRAGMÁTICA DOS RESPS. 1.110.551/SP E 1.111.202/SP

TAX LIABILITY OF IPTU: A PRAGMATIC ANALYSIS OF RESPS. 1.110.551/SP AND 1.111.202/SP

VICTOR MONTEIROPós-Graduado em Direito Processual Civil pela Universidade Anhanguera -

Uniderp. Pós-Graduado em Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários - IBET. Mestrando em Direito Tributário pela Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo - PUC-SP. Professor Seminarista Adjunto do Curso de Especialização em Direito Tributário da PUC/SP, Unidade COGEAE. Advogado.

[email protected]

Resumo: Historicamente, desde a vigência do novo Sistema Constitucional Tributário com a promulgação da Constituição Federal de 1988, acentuou-se a polêmica em torno da figura dos possíveis sujeitos passivos do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana – IPTU. Contudo, diante dos julgamentos dos Recursos Especiais Nºs 1.110.551/SP e 1.111.202/SP, julgados sob o rito de recursos representativos de controvérsia, a polêmica acerca do tema em debate aparentemente foi pacificada, ao passo em que a maior parte da doutrina especializada quedou-se inerte à crítica dos mencionados precedentes. Todavia, o Superior Tribunal de Justiça, quando dos julgamentos em tela, não pareceu se pautar em uma inferência abdutiva ou, tampouco, em qualquer técnica científica de interpretação da realidade jurídica, balizando-se exclusivamente pelo raso cunho político-econômico. Desta forma, o estudo ora proposto tem a audaciosa pretensão de analisar o tema sob os auspícios do método do Pragmatismo Jurídico, perpassando pelas formulações abdutivas, levadas ao crivo do raciocínio dedutivo e testadas empiricamente pela indução para, com isto, percorrer as implicações práticas de nossas conclusões visando identificar quais indivíduos – e em quais casos – podem figurar como sujeitos passivos do IPTU. Ao final, pretendemos nos devotar à crítica do entendimento apadrinhado pela Corte Superior de Justiça.Palavras-chaves: pragmatismo jurídico; sistema constitucional tributário; sujeito passivo do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana - IPTU.

Abstract: Historically, since the new Constitutional Tax System (1988 Federal Constitution), the controversy surrounding the possible taxable persons of the Property and Urban Land Tax - IPTU has been accentuated. However, given the judgment of Special Appeals Nºs 1.110.551/SP and 1.111.202/SP, ruled under the appeals representing controversy proceeding, the controversy about the matter under discussion was apparently pacified, albeit most of the specialized doctrine remained inert to the criticism of the aforementioned precedents. Nevertheless, the Superior Court of Justice, at the time of the judgments hereinabove, did not appear to be based in an abductive inference or, by any means, by any scientific technique for interpreting the legal reality, based exclusively on the shallow political-economic nature. Hence, the study now proposed has the audacious intention of analyzing the subject under the Legal Pragmatism method, going through the abductive formulations, applying the deductive reasoning and tested empirically by induction to, with this, go through the practical implications of our conclusions aiming at identifying which individuals – and in which cases – can be considered as taxpayers of IPTU. At last, we intend to devote ourselves to the criticism of the understanding sponsored by the Superior Court of Justice.

Keywords: legal pragmatism; constitutional tax system; taxable subject of the Property and Urban Territorial Property Tax.

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1. INTRODUÇÃO

Em que pese a pacificação no âmbito jurisprudencial protagonizada pelo Superior Tribunal de Justiça (Recursos Especiais 1.110.551/SP e 1.111.202/SP, ambos submetidos ao regime de recursos representativos de controvérsia), as discussões científicas quanto ao tema abordado estão longe do esgotamento.

Isto porque as famigeradas decisões, ao que nos parecia, não haviam se preocupado com a lógica do Sistema Tributário Nacional, pelo contrário, revestiam-se, exclusivamente, de forte cunho político-econômico tendo em vista que respaldadas na interpretação isolada dos Arts. 32 e 34, ambos do Código Tributário Nacional.

Diante daqueles precedentes do Superior Tribunal de Justiça, o Poder Judiciário, através das mais diversas decisões em todos os graus de jurisdição, passou a responsabilizar as construtoras – na figura de promitentes vendedoras – pela obrigação tributária do Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU com fundamento, tão-só, no status de proprietárias formais.

Decisões tais que outorgaram autenticidade ao posicionamento das inúmeras Fazendas dos milhares de Entes Federados Municipais, posto que delegam ao bel prazer do Fisco Municipal a eleição do contribuinte que comporá o polo passivo da relação jurídico-tributária.

Desta forma, buscar-se-á enfrentar o tema sob a ótica do Método Hermenêutica do Pragmatismo Jurídico, perpassando pelas categorias sugeridas por este método para, com isto, enfrentar o tema aparentemente, até então, solidificado.

Como efeito prático da adoção deste método hermenêutico norte-americano, poderemos esquivar da clássica óptica de jurisprudência como fonte do direito para retomarmos a discussão no que tange à problematização adiante pormenorizada.

Desta forma, o estudo ora proposto buscará fazer uma digressão acerca do fato jurídico suficiente à configuração da sujeição passiva do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana - IPTU.

Pautar-nos-emos pelo atual cenário jurisprudencial e sugeriremos valioso corte metodológico para nortear nossa análise pelos preceitos constitucionais e os precedentes do Superior Tribunal de Justiça, tomando-os como literatura jurídica.

Sumário: 1. Introdução - 2. O pragmatismo jurídico: 2.1. Situando-o no tempo e no espaço; 2.2. Características do pragmatismo jurídico; 2.3. Pragmatismo jurídico como método; 2.3.1. Pragmatismo jurídico e o seu “percurso gerador de sentido” - 3. Inferências abdutivas no caso concreto: o pragmático “percurso gerador de sentido relacionado à sujeição passiva do IPTU: 3.1. Primeira etapa: raciocínio abdutivo; 3.2. Segunda etapa: raciocínio dedutivo; 3.3. Terceira etapa: raciocínio indutivo - 4. Análise crítica dos REsps. 1.110.551/SP e 1.111.202/SP sob a óptica do pragmatismo jurídico - 5. Considerações finais - 6. Referências.

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Alicerçados na inferência abdutiva, buscaremos conjecturar nossas formulações abdutivas para, após, confirmá-las ou rechaçá-las através do raciocínio dedutivo e, ao final, testar empiricamente aquelas formulações dedutivamente confirmados, através da indução.

Ao derradeiro, teceremos comentários e críticas quanto ao posicionamento consolidado pelo mencionado tribunal superior quando do julgamento dos Recursos Especiais 1.110.551/SP e 1.111.202/SP, apreciados sob a sistemática do regime de recursos representativos de controvérsias, a fim de concluirmos com a audaciosa pretensão de sugerir o fato jurídico suficiente à definição da sujeição passiva do IPTU.

2. O PRAGMATISMO JURÍDICO

2.1. Situando-o no tempo e no espaço

O Pragmatismo é uma corrente filosófica que surgiu nos Estados Unidos da América no interregno compreendido entre o final do século XIX e os primórdios do século XX, concebida em contraponto à metafísica ocidental, já difundida como europeia clássica.

Esta corrente norte-americana nasceu no clube metafísico em Cambridge, Massachusetts – apelido atribuído sarcasticamente – tendo sido primeiramente empregada com este nome (pragmatismo) por William James em 1898. Porém, o próprio James consignou que tal nomenclatura eclodiu de uma discussão que travara com Charles Sanders Peirce (HAACK, 2015, p. 31)

Ocorre que, os próprios founding fathers do pragmatismo não o enxergavam como filosofia, mas sim como método de perquirição da realidade, como eximiamente anotado pela Profa. americana Susan Haack:

Em seus textos, tanto Peirce quanto James afirmam conceber o pragmatismo não como um corpo de doutrinas filosóficas, mas antes como um método, uma abordagem de questões filosóficas voltada para suas consequências pragmáticas. (HAACK, 2015, p. 32)

No entanto, este método científico de perquirição de questões filosóficas, embora hoje fortemente difundido como filosofia jurídica, não foi pensado como método de perquirição aplicado ao direito, ao passo em que aqueles próprios founding fathers não tinham a contribuir sobre este tema.

Novamente, invocamos os ensinamentos de HAACK (2015, p. 33/34):

Por mais abrangentes que fossem seus respectivos interesses filosóficos – Peirce: lógica, semiótica, metafísica, cosmologia, teoria da inquirição, filosofia da ciência, etc.; James: metafísica, filosofia da religião, filosofia da

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mente, ética, entre outros –, nenhum dos dois tinham muito a dizer sobre a filosofia do direito.

Conquanto, em que pese este desinteresse pela filosofia do direito em sua matriz

(Peirce e James), o pragmatismo foi apadrinhado por diversos juristas como Oliver Wendell Holmes (HAACK 2015, p. 34) e Richard Posner (CAMAGO, 2009, p. 366).

No Brasil, o pragmatismo como corrente jusfilosófica foi abraçado pela escola da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, de vanguarda da Profa. Dra. Clarice Von Oertzen de Araújo, bem como pela escola da Universidade Federal de Pernambuco, encabeçada pelo Prof. Dr. George Browne Rego.

Dentre as vastas preleções dispendidas por aquela doutrinadora da mencionada universidade paulista, em sua obra sobre incidência jurídica, destaca que o pragmatismo jurídico compreende o direito como um sistema interacional e, portanto, que tem por enfoque os processos da comunicação que fará interagir os utentes desta linguagem jurídica:

A pragmática jurídica compreende o direito como um sistema interacional, encarando-o como um discurso em elaboração, em continuidade. Os objetos dos sistemas interacionais são o funcionamento da própria comunicação, e não os agentes que venham a interagir ou o conteúdo das mensagens, pois estes dois últimos aspectos são mutáveis, e não servem a uma definição. O que ressalva como característica dos sistemas interacionais é a presença dos comunicadores e o processo da comunicação, que irá definir as relações entre eles. (ARAUJO, 2011, p. 182)

Ademais, como todo e qualquer método de perquirição filosófica, o pragmatismo é marcado por fortes traços conotativos; os quais, inclusive, em tudo se aplicam a sua vertente jusfilosófica.

Neste ponto, Rafael Carvalho Rezende OLIVEIRA (2012, p. 18) defende existirem diversas formas não homogêneas de compreensão do pragmatismo, porém, todas elas apresentam como características comuns os traços do antifundacionalismo, do contextualismo e do consequencialismo.

Nós, no entanto, endossamos as lições de Margarida Lacombe CAMARGO (2009, p. 367/368), a qual defende serem cinco as características do pragmatismo; sendo elas o antifundacionalismo, o contextualismo, o instrumentalismo, o consequencialismo e a interdisciplinaridade.

Diante desta farta gama de critérios conotativos, passaremos a melhor nos debruçarmos sobre cada qual no tópico a seguir.

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2.2. Características do pragmatismo jurídico

Os critérios de diferenciação específica do pragmatismo não podem ser analisados de modo apartado, ao passo em que diversas outras correntes jusfilosóficas utilizam um ou alguns destes critérios; contudo, somente o pragmatismo se vale de todos estes critérios conjuntamente.

Isto, entretanto, não nos tolhe a possibilidade de uma abordagem analítica sobre cada um destes critérios de distinção específica, o que nos propomos a fazer a seguir de modo demasiadamente sucinto, restringindo-nos a brevíssimos comentários.

Muito bem, um dos principais critérios distintivos entre o pragmatismo e o neopositivismo se percebe no critério do antifundacionalismo, isto porque enquanto aquela corrente norte-americana refuta a ideia de postulados imaculáveis, esta corrente vienense – oriunda do movimento denominado de Círculo de Viena – toma-os como pressuposto estrutural de seu discurso; como é o exemplo da norma hipotética fundamental idealizada pelo jusfilósofo alemão Hans KELSEN (1999, p. 217/221)

Também é este critério do pragmatismo, enquanto diferença específica, que o diverge do jusnaturalismo, ao passo em que esta última corrente jusfilosófica concebe o direito como inerente à natureza humana e, nestes termos, como um postulado imaculável, o qual não pode ser submetido ao teste empírico (tão caro ao pragmatismo).

Já o contextualismo marca o pragmatismo especialmente em razão das formulações abdutivas – as quais veremos com maior esmero nos capítulos adiante –, posto que prega que as questões de ordem práticas e contextuais devem ser ponderadas no momento da construção das normas jurídicas. Portanto, este critério específico segrega o pragmatismo do empirismo exegético (ou exegetismo).

Avante, com relação ao instrumentalismo, destaca-se que o direito é um instrumento político que se volta à regulação das condutas intersubjetivas e, portanto, deve interferir diretamente na realidade; diferença específica que, inclusive, diferencia o pragmatismo jurídico do pragmatismo filosófico (ou pragmatismo lógico).

No que tange ao consequencialismo, esta talvez seja uma das caraterísticas mais marcantes do pragmatismo, posto que, ao revés do que pregara Hans Kelsen em sua teoria pura do direito (normativismo jurídico), para o pragmatismo, o aplicador do direito deverá ponderar as consequências práticas de sua decisão com o escopo de construir a melhor decisão para solucionar o caso concreto individualizado, não se limitando ao “texto frio da lei”.

Por fim, ainda urge destacar o caráter da interdisciplinaridade peculiar ao pragmatismo jurídico, caráter este que permite ao exegeta se socorrer aos diversos subsistemas do macrossistemasocial (econômico, político, cultural, sociológico, etc.), em total contraponto à escola do constructivismo lógico-semântico abalizada pelo Prof. Paulo de Barros Carvalho.

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Destacados os critérios de distinção (diferenças específicas) que destoam o pragmatismo jurídico das demais correntes jusfilosóficas, resta-nos abordar esta filosofia jurídica norte-americana como método.

2.3. Pragmatismo jurídico como método

Como método, o pragmatismo jurídico oferta ao aplicar, do direito, instrumentos adequados para criar a melhor norma jurídica, adequando-a (norma jurídico) a todos os critérios conotativos delineados no tópico anterior.

Ainda, como método jurídico-científico, o pragmatismo jurídico opera com a semiótica, albergando-se na teoria das funções comunicativas da linguagem concebida pelo filósofo russo Roman Osipovich Jakobson (ARAUJO, 2018, p. 94/95).

Neste sentir, para ser transmitida, a mensagem jurídica necessitará preencher todas as etapas daquela teoria comunicacional, isto é, dever-se-á verificar o contexto, o emissor, o receptor, o contato, o código e a mensagem.

Contudo, outro ponto relevante proveniente da adoção desta teoria é que o sentido da mensagem transmitida não é construído pelo emissor, mas sim pelo receptor desta mensagem, haja vista que é este último que atribuirá significado aos signos (interpretantes dinâmicos) até que – após satisfeitas as regulações prescritas pelo próprio sistema (contraditório, duplo grau de jurisdição, variados recursos, etc.) – construa-se o interpretante final. (ARAUJO, 2005, p. 134/137)

Aqui, faz-se oportuna breve, porém, cirúrgica inserção.

A exemplo do neopositivismo, para o pragmatismo, esta visão semiótica da interpretação (atribuição de significados aos signos pelo intérprete) não se restringe à construção da norma jurídica, mas se estende a toda e qualquer formulação linguística, como o próprio fato jurídico. No entanto, ao contrário daquela corrente vienense, esta filosofia jurídica norte-americana supera a dicotomia entre ser (Sein) e dever-ser (Solen), proclamando que a própria linguagem e, consequentemente, os fatos linguisticamente construídos não são autônomos e autorreferenciais e, portanto, não podem ser concebidos completamente apartado dos eventos. (REGO, 2009, p. 34)

Nesta senda, eclode uma questão fulcral. Como construir as normas jurídicas para regular os fatos, através da teoria comunicacional (interpretante dinâmico interpretante final); sem, contudo, desassociá-la da realidade social?

É exatamente aí que o pragmatismo jurídico oferta ao intérprete as três espécies de argumentos (abdução, dedução e indução), integrando-os como etapas de um mesmo “percurso gerador de sentido”.

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2.3.1. Pragmatismo jurídico e o seu “percurso gerador de sentido”

Ainda como método, neste subtópico, propor-nos-emos a abordar, também sucintamente, a inferência abdutiva proposta por Peirce, a qual apelidamos neste ensaio de “percurso gerador de sentido” do pragmatismo.

Esta corrente filosófica norte-americana compreendia que, para atribuir significado aos signos – enquanto interpretantes dinâmicos – o sujeito cognoscente deveria perpassar pelos três tipos de raciocínio.

Aliás, este “percurso gerador de sentido” foi eximiamente sintetizado no modelo proposto por Scott Brewer:

1. Abdução, aplicada em um contexto de dúvida sobre a extensão de algum predicado ou o sentido de um texto, em que “o raciocinador procura ‘descobrir’ uma classificação de [...] exemplo semelhante a uma regra”. Brewer dá à regra assim “descoberta” o nome de “regra garantidora de analogia” (AWR – analogy-warranting rule). 2. Confirmação ou desconfimação indutiva da AWR para determinar se ela constitui uma classificação “aceitável” dos exemplos. Para tanto, o raciocinador precisa confrontá-la com “um conjunto de proposições explanatórias e justificatórias”. Brewer dá a estas o nome de “razões garantidoras de analogia”. 3. Dedução, aplicando-se a AWR descoberta no primeiro passo e confirmada no segundo ao exemplo em pauta (HAACK, 2015, p. 34)

Como vimos, Susan Haack se alberga em Brewer para elucidar que o exegeta primeiro deverá conceber as formulações abdutivas, gerando a dúvida do estágio da descoberta da regra garantidora de analogia; após, deverá confirmar ou rechaçar está dúvida através do raciocínio dedutivo, no estágio das razões garantidoras de analogia; e, por fim, valendo-se do raciocínio indutivo, testar empiricamente a regra descoberta no primeiro estágio (regra garantidora de analogia) e confirmada no segundo (razões garantidoras de analogia), a fim de aplicá-la.

Não é outro o discurso da Profa. Dra. Maria Lucia Santaella Braga, em sua obra doutrinária sobre a semiótica:

(...) Peirce dividiu os argumentos em três tipos: abdutivos, indutivos e dedutivos, considerados como os três tipos possíveis de raciocínio. Posteriormente, esses raciocínios foram integrados como estágios interdependentes da investigação científica. Mas seguir por essa via nos levaria longe dos propósitos que guiaram este livro. (BRAGA, 1995, p. 192)

Neste sentido, com relação ao pragmatismo jurídico, o sujeito cognoscente – enquanto intérprete competente – deverá articular as formulações abdutivas criando as dúvidas (abdução) para, após, socorrer-se à literatura para repudiar ou ratificar

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aquelas formulações (dedução) e, por fim, testá-las empiricamente visando aplicá-las ao caso concreto (indução).

Este “percurso gerador de sentido do pragmatismo” seria, pois, o que Peirce denominou de inferência abtutiva, a qual coloca o raciocínio abdutivo como ponto de partida do método científico (NÓBREGA, 2013, p. 129). Valendo, aqui, transcrevermos as precisas e ilustrativas lições da Dra. Flavianne Fernanda Bitencourt NÓBREGA (2006, p. 11/12):

Para ilustrar observe os três tipos de raciocínios: o dedutivo, que infere do geral para o particular, o indutivo que infere do particular à regra e a abdução que infere dos efeitos à causa:DeduçãoRegra – Todos os grãos de feijão no saco são brancosCaso – Estes grãos de feijão foram retirados deste sacoResultado – Logo, estes grãos de feijão são brancosInduçãoCaso – Estes grãos de feijão foram retirados deste sacoResultado – Estes grãos de feijão são brancosRegra – Logo, todos os grãos de feijão no saco são brancosAbduçãoRegra – Todos os grãos de feijão no saco são brancosResultado – Estes grãos de feijão são brancos (indício, não é conclusão)Caso – Estes grãos de feijão foram retirados deste saco (hipótese)

Ainda, conclui a mencionada doutora pernambucana:

Tenha-se que a inferência na abdução não é justificada pela mediação de um termo médio, mas pela heurística da descoberta de hipóteses que é o princípio que habilita esta forma de raciocinar. É uma inferência sui generis. A abdução é, assim, uma inferência provável, e, portanto falibilista, não necessária e está relacionada com uma adivinhação, a formulação de uma hipótese a partir de um insight (...). (NÓBREGA 2006, p. 12)

Sendo o ponto de partida do nosso “percurso gerador de sentido” jurídico, será desta abdução que formularemos nossas dúvidas para, por meio do raciocínio dedutivo, repudiá-las ou confirmá-las e, só então, submetê-las ao crivo do teste empírico (raciocínio indutivo).

3. INFERÊNCIAS ABDUTIVAS NO CASO CONCRETO: O PRAGMÁTICO “PERCURSO GERADOR DE SENTIDO RELACIONADO À SUJEIÇÃO PASSIVA DO IPTU

3.1. Primeira etapa: raciocínio abdutivo

Neste ponto, após nossos introitos inaugurais, resta-nos empregar o método pragmático ao tema objeto deste artigo científico, cabendo-nos aplicar a inferência

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abdutiva no caso prático, inferência esta que apelidamos de “percurso gerador de sentido”.

Outrossim, invocando a acurado lição doutrinária de Charles Sanders Peirce, recobramos que deveremos elaborar nossas formulações abdutivas a fim de perscrutar seus possíveis efeitos para, submetendo-as (formulações) ao raciocínio dedutivo, descobrir-lhes suas causas; e, ao final, através do raciocínio indutivo, descobrir a norma jurídica que melhor solucionará o caso investigado.

We naturally conceive of science as having three tasks – (I) the discovery of Laws, which is accomplished by induction; (2) the discovery of Causes, which is accomplished by hypothetic inference; and (3) the prediction of Effects, which is accomplished by deduction. (PEIRCE apud HILPINEN, 2007, p. 215)

Perlustramos nosso “percurso gerador de sentido” (inferência abdutiva), pois, inaugurando este capítulo com a concepção de nossas formulações abdutivas.

Pois bem, é de amplo conhecimento da comunidade jurídica que o contribuinte do Imposto sobre a propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) pode ser quaisquer dos três sujeitos elencados no Art. 34 do Código Tributário Nacional - CTN;1 não sendo outra a interpretação sistemática construída a partir do inc. II do Art. 156 da Constituição Federal, complementado pelo caput do Art. 32 daquele mesmo CTN, respectivamente:

Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:I - propriedade predial e territorial urbana; (BRASIL, 1988, n.p.)Art. 32. O imposto, de competência dos Municípios, sobre a propriedade predial e territorial urbana tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel por natureza ou por acessão física, como definido na lei civil, localizado na zona urbana do Município. (BRASIL, 1966, n.p.)

Diante da clarividência dos enunciados prescritivos supramencionados, no hodierno sistema jurídico, não há maiores divagações sobre a possibilidade de quaisquer daqueles três sujeitos figurarem na relação jurídico-tributária como contribuinte; e, pois, os imbróglios no cotidiano forense eclodem no momento de saber em quais hipóteses cada qual daqueles sujeitos poderá ostentar a qualidade de contribuinte do referido imposto.

Neste tópico, porém, devemos nos limitar às formulações abdutivas, i.e., aos insights acerca de quais fatos jurídicos auferem relevância na definição da sujeição passiva deste imposto de competência municipal e distrital.

1 Art. 34. Contribuinte do imposto é o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título. (BRASIL, 1966, n.p.)

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Sendo assim, a primeira formulação abdutiva que conjecturamos seria se a propriedade formalmente concebida seria fundamento jurídico suficiente para, isoladamente, configurar a sujeição passiva do IPTU?

Por sua vez, ainda seria oportuna formularmos questão indagando se a propriedade formalmente concebida seria suficiente, isoladamente, para investir o proprietário formal – isto é, aquele consignado como proprietário na matrícula do imóvel – de quaisquer dos atributos da propriedade prescritos pelo Art. 1.228 do Código Civil (usar, gozar, dispor, reaver das injustas posse ou detenção).

Ainda, uma terceira perquirição seria se os contratos de promessa de compra e venda não levados a registro apresentam alguma relevância jurídica passível de ser oposta perante o Fisco; e também, como uma quarta indagação, se estes contratos poderiam ser opostos ao Fisco para fins de definição do contribuinte do imposto predial e territorial urbano.

Concebidas nossas formulações abdutivas, resta-nos avançar ao raciocínio dedutivo para confirmá-las ou refutá-las. Para tanto, desde já registramos que esta segunda etapa partirá de um oportuno corte metodológico, posto que nos limitaremos à análise do tema sobre os preceitos constitucionais e sob a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, quando mais, valendo-nos das definições de direito privado dispostas no Código Civil.

3.2. Segunda etapa: raciocínio dedutivo

Tendo em vista que já conjecturamos as formulações abdutivas no tópico anterior, agora nos resta socorrer-nos à literatura jurídica para confirmar ou refutar cada uma daquelas formulações; e, como antecipado, valer-nos-emos de valioso metodológico para nos limitarmos a fazê-los sobre os preceitos constitucionais, ponderando o contemporâneo entendimento jurisprudencial do STJ.

Neste sentir, percorreremos o raciocínio dedutivo ora proposto abordando cada qual das formulações abdutivas concebidas no tópico anterior por sua ordem cronológica, iniciando este raciocínio balizando-nos pelos argumentos constitucionais.

Conforme elucida o inigualável mestre Alfredo Augusto BECKER (2018, p. 282), o legislador constituinte somente detém competência para onerar por meio de tributo os fatos-signos presuntivos da capacidade contributiva, ou seja, as manifestações de riqueza reveladas pelos súditos da Administração.

Partindo desta premissa, resta-nos investigar se a propriedade formalmente concebida é suficiente para revelar a riqueza do administrado, ou em outras palavras, se este fato jurídico per se configura um fato-signo presuntivo de riqueza.

Novamente nos apoiando em uma interpretação sistemática, parece-nos que a resposta será negativa, ao passo em que o próprio texto constitucional (Art. 150, §3º,

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in fine, CF) traça hipóteses em que a mera propriedade formal será irrelevante para fins da identificação do contribuinte deste imposto:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:(...)VI instituir impostos sobre: a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;(...)§ 2º A vedação do inciso VI, "a", é extensiva às autarquias e às fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes.§ 3º As vedações do inciso VI, "a", e do parágrafo anterior não se aplicam ao patrimônio, à renda e aos serviços, relacionados com exploração de atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos privados, ou em que haja contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo usuário, nem exonera o promitente comprador da obrigação de pagar imposto relativamente ao bem imóvel. (...)Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:I propriedade predial e territorial urbana; (BRASIL, 1988, n.p., destacamos dos originais).

Aliás, não foi outra a conclusão alcançada pelo próprio Superior Tribunal de Justiça, quando enfrentou a questão para decidir entre a sujeição passiva do mero proprietário formal ou do usufrutuário do bem imóvel; oportunidade em que assentou que a mera propriedade formal não se deflagra como fato jurídico suficiente para configuração da sujeição passiva daquele tributo predial e territorial urbano:

RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. IMPOSTO PREDIAL E TERRITORIAL URBANO. USUFRUTO. LEGITIMIDADE PASSIVA DO USUFRUTUÁRIO. PRECEDENTE DESTE SODALÍCIO. Segundo lição do saudoso mestre Pontes de Miranda, "o direito de usufruto compreende o usar e fruir, ainda que não exerça, e a pretensão a que outrem, inclusive o dono, se o há, do bem, ou do patrimônio, se abstenha de intromissão tal que fira o uso e a fruição exclusivos. É direito, erga omnes, de exclusividade do usar e do fruir'. O renomado jurista perlustra, ainda, acerca do dever do usufrutuário de suportar certos encargos, que "os encargos públicos ordinários são os impostos e taxas, que supõem uso e fruto da propriedade, como o imposto territorial e o predial". Na mesma linha de raciocínio, este Superior Tribunal de Justiça, ao apreciar a matéria, assentou que, "em tese, o sujeito passivo do IPTU é o proprietário e não o possuidor, a qualquer título (...) Ocorre que, em certas circunstâncias, a posse tem configuração jurídica de título próprio, de investidura do seu titular como se proprietário fosse. É o caso do usufrutuário que, como todos

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sabemos, tem a obrigação de proteger a coisa como se detivesse o domínio" (REsp 203.098⁄SP, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 8.3.2000).Dessarte, nas hipóteses de usufruto de imóvel, não há falar em solidariedade passiva do proprietário e do usufrutuário no tocante ao imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana quando apenas o usufrutuário é quem detém o direito de usar e fruir exclusivamente do bem. Recurso especial improvido. (BRASIL, 2019a, p. 1/2, os grifos são por nossa conta)

Com relação à segunda formulação, faz-se necessária nova interpretação sistemática, desta vez entre os Artigos 1.228 e 1.245 do Código Civil,2 os quais prescrevem que a propriedade do bem imóvel pertencerá àquele que ostentar a prerrogativa de “usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua”, a qual será transferível “mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis”.

Com isto, em resposta à segunda perquirição, facilmente percebemos que não basta que o sujeito esteja registrado como proprietário no Registro de Imóveis (propriedade formal) para que ele aufira qualquer daquelas faculdades de “usar, gozar e dispor da coisa”. Ilustrativamente, tomamos como exemplo o caso dos contratos de promessa de compra e venda, os quais, mesmo que não levados a registro, obstam que o promitente vendedor exerça qualquer daqueles direitos elencados no Art. 1.228 do Código Civil.

Isto porque, face ao princípio do pacta sunt servanda que rege as relações privadas, o promitente vendedor perderá o direito de “de usar, gozar e dispor da coisa” em favor do promissário comprador e, ainda que este contrato de promessa não seja levado a registo, o vendedor não poderá reaver a coisa do comprador.

Neste sentido, corroboramos com a jurisprudência daquele mesmo Superior Tribunal de Justiça:

DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DO CPC⁄73. EMBARGOS DE TERCEIRO. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA NÃO REGISTRADO. NATUREZA JURÍDICA. EFEITOS. ALEGAÇÃO DE NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL AFASTADA. AUSÊNCIA DO REGISTRO DO MEMORIAL DE INCORPORAÇÃO E DEMAIS DOCUMENTOS PREVISTOS NO ART. 32 DA LEI Nº 4.591⁄1964. ÔNUS DA INCORPORADORA. NULIDADE AFASTADA. SUCUMBÊNCIA. PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE. 1. Inexiste ofensa ao Art. 535 do CPC quando o tribunal de origem pronuncia-se de forma clara e precisa sobre a questão posta nos autos.2. O descumprimento, pela incorporadora, da obrigação prevista no Art. 32 da Lei 4.591⁄64, consistente no registro do memorial de incorporação no

2 Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. (...) Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis. (BRASIL, 2002, n.p.)

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Cartório de Imóveis e dos demais documentos nele arrolados, não implica a nulidade ou anulabilidade do contrato de promessa de compra e venda de unidade condominial. Precedentes.3. É da natureza da promessa de compra e venda devidamente registrada a transferência, aos adquirentes, de um direito real denominado direito do promitente comprador do imóvel (Art. 1.225, VII, do CC⁄02). 4. A promessa de compra e venda gera efeitos obrigacionais adjetivados, que podem atingir terceiros, não dependendo, para sua eficácia e validade, de ser formalizada em instrumento público. Precedentes.5. Mesmo que o promitente-vendedor não outorgue a escritura definitiva, não tem mais ele o poder de dispor do bem prometido em alienação. Está impossibilitado de oferecê-lo em garantia ou em dação em pagamento de dívida que assumiu ou de gravá-lo com quaisquer ônus, pois o direito atribuído ao promissário-comprador desfalca da esfera jurídica do vendedor a plenitude do domínio. 6. Como consequência da limitação do poder de disposição sobre o imóvel prometido, eventuais negócios conflitantes efetuados pelo promitente-vendedor tendo por objeto o imóvel prometido podem ser tidos por ineficazes em relação aos promissários-compradores, ainda que atinjam terceiros de boa-fé. 7. Recurso especial provido. (BRASIL, 2019b, p. 1/2, os grifos não estão nos originais)

Ainda, oportuno colacionar enxertos do voto de lavra do Ministro Moura Ribeiro, enquanto relator do Recurso Especial acima ementado, o qual foi tombado sob o REsp Nº 1.490.802/DF e julgado por unanimidade em 14/04/2018:

Por ser um contrato preliminar qualificado pelos atributos de irrevogabilidade e de irretratabilidade, dele decorrem direitos obrigacionais que estabelecem um vínculo direto entre o imóvel prometido e a pessoa do promissário-comprador. Não é outra a razão pela qual este STJ vem reconhecendo que a promessa de compra e venda, ainda que não registrada, é oponível ao próprio vendedor ou a terceiros, haja vista que tal efeito não deriva da publicidade do registro, mas da própria essência do direito de há muito consagrado em lei (Arts. 22 do DL Nº 58/1937 e 26 da Lei Nº 6.766/1979). (BRASIL, 2019b, p. 11, destaques por nossa conta)

Avante à análise da terceira formulação abdutiva, é dado o momento de perquirir se os contratos de promessa de compra e venda podem ser opostos perante o Fisco, ainda que tais contratos não tenham sido levados a registro.

Pois bem, neste ponto, socorremo-nos ao tradicional entendimento jurisprudencial também do Superior Tribunal de Justiça, cristalizado e exemplificado na breve ementa abaixo:

RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. FRAUDE À EXECUÇÃO. CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA.

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DESNECESSIDADE DE REGISTRO. ALIENAÇÃO DO BEM EM DATA ANTERIOR À CITAÇÃO DO DEVEDOR. RECURSO PROVIDO.1. É assente na jurisprudência desta Corte de Justiça que a celebração de compromisso de compra e venda, ainda que não tenha sido levado a registro no Cartório de Registro de Imóveis, constitui meio hábil a impossibilitar a constrição do bem imóvel, discutido em execução fiscal, e impede a caracterização de fraude à execução, aplicando-se o disposto no enunciado da Súmula 84⁄STJ: "É admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que desprovido do registro."2. A fraude à execução apenas se configura quando demonstrado que a alienação do bem ocorreu após a efetiva citação do devedor, em sede de execução fiscal. 3. Na hipótese dos autos, a celebração do compromisso de compra e venda ocorreu em data anterior ao ajuizamento da execução fiscal e, por conseguinte, da citação válida do devedor. Assim, não se configurou a alegada fraude à execução. 4. Recurso especial provido. (BRASIL, 2019c, p. 1, grifamos)

Desta forma, em resposta à indagação conjectura pela terceira formulação abdutiva, somos compelidos a respondê-la afirmativamente, isto é, os contratos de promessa de compra e venda podem ser opostos ao Fisco, ainda que não levados à registro.

Com relação à quarta e última formulação, o STJ vivenciou uma abrupta alteração do panorama jurisprudencial, ao passo em que aquele tribunal superior, quando do julgamento conjunto dos Recursos Especiais Nº 1.110.551/SP (BRASIL, 2019d) e 1.111.202/SP (BRASIL, 2019e), julgados sob a sistemática de recursos representativos de controvérsia, decidiu que o contrato de promessa de compra e venda não levado a registro não desonera o promitente vendedor (mero proprietário formal) da sujeição passiva do IPTU:

TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. IPTU. CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. LEGITIMIDADE PASSIVA DO POSSUIDOR (PROMITENTE COMPRADOR) E DO PROPRIETÁRIO (PROMITENTE VENDEDOR).1. Segundo o Art. 34 do CTN, consideram-se contribuintes do IPTU o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil ou o seu possuidor a qualquer título.2. A jurisprudência desta Corte Superior é no sentido de que tanto o promitente comprador (possuidor a qualquer título) do imóvel quanto seu proprietário⁄promitente vendedor (aquele que tem a propriedade registrada no Registro de Imóveis) são contribuintes responsáveis pelo pagamento do IPTU. Precedentes: REsp No 979.970⁄SP, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJ de 18.6.2008; AgRg no REsp 1022614 ⁄ SP, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, DJ de 17.4.2008; REsp 712.998⁄RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJ 8.2.2008; REsp 759.279⁄RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Segunda Turma, DJ de 11.9.2007; REsp

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868.826⁄RJ, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma, DJ 01.8.2007; REsp 793073⁄RS, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma, DJ 20.2.2006.3. "Ao legislador municipal cabe eleger o sujeito passivo do tributo, contemplando qualquer das situações previstas no CTN. Definindo a lei como contribuinte o proprietário, o titular do domínio útil, ou o possuidor a qualquer título, pode a autoridade administrativa optar por um ou por outro visando a facilitar o procedimento de arrecadação" (REsp 475.078⁄SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ 27.9.2004).4. Recurso especial provido. Acórdão sujeito ao regime do Art. 543-C do CPC e da Resolução STJ 08⁄08. (BRASIL, 2019d, p. 1, sem destaques nos originais)

No próximo capítulo nos deteremos com maior afinco ao precedente vinculante supratranscrito, porém, para agora, basta-nos ratificar que o STJ compreende que a mera propriedade formal é suficiente para configuração da sujeição passiva do imposto em tela; razão pela qual somos compelidos a responder positivamente aquela quarta e última formulação abdutiva.

Isto é, para fins de definição da sujeição passiva do Imposto Predial e Territorial Urbano, os contratos de promessa de compra e venda somente agremiarão relevância jurídica após a formalização do respectivo registro.

Ratificadas ou rechaçadas as formulações abdutivas concebidas no tópico anterior, através do raciocínio dedutivo percorrido neste tópico, passaremos então ao teste empírico de nossas abduções por meio do raciocínio indutivo.

3.3. Terceira etapa: raciocínio indutivo

No tópico anterior, consignamos que a propriedade formalmente concebida não seria fundamento jurídico apto para, isoladamente, configurar a sujeição passiva do IPTU; e ainda, que o cumprimento desta formalidade não se faz suficiente para permitir o uso, o gozo ou o usufruto de determinado bem imóvel.

Ademais, também registramos que os contratos de promessa de compra e venda se revestem como instrumentos jurídicos hábeis a serem opostos perante o Fiscos, ainda que não levados a registro; todavia, para fins da configuração da sujeição passiva do IPTU, estes mesmos contratos somente poderão ser opostos face ao Fisco se formalmente registrados.

Destas assertivas, explicitamos a contradição das conclusões alcançadas, o que implica admitir que as formulações abdutivas confirmadas por nosso raciocínio dedutivo não resistiram ao teste empírico promovido pelo raciocínio indutivo.

Neste mote, alguma destas formulações se demonstrou incompatível com as demais, razão pela qual necessitaremos abandoná-la, a fim de harmonizar os preceitos construídos a partir da literatura jurídica alhures.

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De pronto, prematuramos que iremos abandonar nossa quarta e última formulação abdutiva, haja vista que, além de ser a única incongruente com as demais, tal formulação não suportará as críticas que dispenderemos no próximo capítulo.

4. ANÁLISE CRÍTICA DOS RESPS. 1.110.551/SP E 1.111.202/SP SOB A ÓPTICA DO PRAGMATISMO JURÍDICO

Em que pese os Recursos Especiais Nºs 1.110.551/SP e 1.111.202/SP terem sido julgados sob o rito dos recursos repetitivos (precedente de observância obrigatória) – pautados pelo caráter da falibilidade e pelo conceito de continuidade próprios ao Pragmatismo de Peirce (NÓBREGA, 2013, p. 127/134) – digressões como a ora proposta nos permitem, com a devida vênia, criticar o posicionamento jurisprudencial consolidado.

Partindo desta premissa, ousamos discordar da Primeira Seção do STJ, ao passo em que o argumento econômico (“visando a facilitar o procedimento de arrecadação” [BRASIL, 2019d, p. 7]), isoladamente, não nos parece o melhor fundamento para embasar decisões judiciais, especialmente as de caráter vinculante.

Afinal, voltando ao nosso raciocínio dedutivo sob as bases constitucionais, foi ao STJ que o Legislador Constituinte confiou o papel de guardião da ordem jurídica infraconstitucional (Art. 105, inc. III, CF),3 motivo pelo qual não nos parece adequado que este tribunal superior ignore sua função constitucional para atuar como se órgão fazendário fosse.

Como guardião da ordem jurídica infraconstitucional, compete ao Superior Tribunal de Justiça velar pelo summum bonum do Estado Democrático de Direito; isto é, compete ao STJ defender, acima de tudo, a segurança jurídica que empresta legitimidade ao Sistema Constitucional Brasileiro.

Tomando a mencionada segurança jurídica como summum bonum do Estado Democrático de Direito, seria vedado àquele tribunal superior pacificar entendimento jurisprudencial antagônico e contraditório.

Deste norte, ponderando que as três primeiras formulações abdutivas4 conjecturadas no capítulo anterior desta digressão científica foram confirmadas pelo raciocínio dedutivo, necessariamente, a quarta e última formulação,5 por ser incompatível com as demais, deveria ser rechaçada.

3 Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: (...)III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais

ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal. (BRASIL, 1988, n.p.)

4 A propriedade formalmente concebida não é fundamento jurídico suficiente para, isoladamente, configurar a sujeição passiva do IPTU; nem, tampouco, para investir o proprietário formal de quaisquer dos atributos da propriedade prescritos pelo Art. 1.228 do Código Civil; e, os contratos de promessa de compra e venda não levados a registro apresentam relevância jurídica passível de ser oposta perante o Fisco.

5 Os contratos de promessa de compra e venda não levados a registro não podem ser opostos perante o Fisco para fins de

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Neste sentido, valendo-nos do silogismo abdutivo como técnica hermenêutica, elucidados nas lições da Dra. Flavianne Fernanda Bitencourt NÓBREGA (2006, p. 11/12), saturaríamos a regra com as três formulações abdutivas dedutivamente confirmadas – ou seja, a regra seria que os contratos de promessa de compra e venda não levados a registro podem ser opostos perante o fisco, e ainda, que a propriedade formalmente concebida não se deflagra como fato jurídico suficiente para investir o proprietário formal de quaisquer dos atributos da propriedade e nem, tampouco, suficiente à configuração da sujeição do IPTU – e o caso com a alienação de bem imóvel por meio de contrato de promessa de compra e vende não registrado, logo, como resultado fatalmente concluiríamos que o alienante (promitente vendedor) não poderá figurar como sujeito passivo da relação jurídico-tributária do imposto predial e territorial urbano.

Noutro giro, não há dúvidas de que, sob os auspícios do pragmatismo jurídico, os argumentos econômicos e consequenciais merecem ser sopesados, haja vista que os critérios da interdisciplinaridade e do consequencialismo são caros a esta corrente jusfilosófica norte-americana. Critérios tais, tão marcantes, que se revestem como diferenças específicas que apartam o pragmatismo jurídico das demais correntes jusfilosóficas.

No entanto, como já dissemos, somente por meio da interpretação sistemática poderemos identificar o fato jurídico suficiente à configuração da sujeição do IPTU; e, para nós, do cotejo entre o inciso I do Art. 156 e o final do §3º do Art. 150 da Constituição Federal, parece claro que o Legislador Constitucional prestigiou o animus domini em detrimento da propriedade formal; razão pela qual advogamos que sobeja insofismável que é este o fato jurídico (animus domini) suficiente à definição da sujeição passiva deste imposto propter rem.

Apenas como argumento de reforço ao raciocínio dedutivo, faz-se oportuno trazermos a baile as lições doutrinárias do Prof. e Dr. Caio Mário da Silva Pereira, o qual – invocando os ensinamentos de saudoso Lafayette – sustenta que os atributos da propriedade podem ser decompostos e, por esta razão, sua essência (propriedade) não está na formalização, mas sim no animus domini:

Depois de promover a decomposição da propriedade em seus elementos, salienta Lafayette que a essência da propriedade está no direito à “substância da coisa”, em torno do qual se congregam as faculdades elementares. E acrescenta que estas podem ser destacadas em favor de terceiros, sem com isso ser atingida a condição jurídica do proprietário; mas este deixa de sê-lo desde o momento em que a outrem passa a substância da coisa. (PEREIRA, 2018, p. 76)

Ademais, também é exatamente nesta linha que preleciona o autor do anteprojeto da lei de alienação fiduciária de bens imóveis, Prof. Melhim Namem Chalhub, para

definição da sujeição passiva do IPTU.

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quem o sujeito passivo do IPTU será aquele que usufrui do imóvel como se dono fosse (usufrutuário com animus domini):

A obrigação de pagamento dos impostos e das despesas de condomínio sobre imóvel objeto de alienação fiduciária e de promessa de compra e venda tem fontes normativas distintas.Em relação ao Imposto Territorial Rural (ITR) e ao Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), o fato gerador é a propriedade, o domínio útil ou a posse do bem imóvel (CTN, Arts. 29 e 32), e o contribuinte é o proprietário, o titular do domínio útil ou o possuidor a qualquer título (CTN, Arts. 31 e 34).A propriedade, ou o domínio útil, é o fato gerador natural dos impostos reais, por traduzir o feixe de direitos subjetivos correspondentes à fruição e à disposição do bem, e por exercê-los é que seu titular é qualificado como contribuinte.A posse também é fato gerador dos impostos reais, mas somente se exercida com fundamento em direito real, tal como reconhecido pelo direito positivo nos casos do usufruto, do uso e da habitação (CC/2002, Arts. 1.403, 1.413 e 1.416),75 da alienação fiduciária (CC/2002, Art. 1.368-B,76 e Lei Nº 9.514/1997, Arts. 23, Parágrafo único, 24, V, e 27, § 8º77) e da promessa de compra e venda (Constituição Federal, Art. 150, § 3º, e CC/2002, Art. 1.417).78O CTN qualifica o possuidor como contribuinte, de maneira genérica (“possuidor a qualquer título”), mas ele só será sujeito passivo se estiver investido em posse vinculada a direito real, como observa Sacha Calmon: “a posse prevista no Código Tributário Nacional, como tributável, é a da pessoa que já é ou pode vir a ser proprietária da coisa”, sendo essa a posição jurídica da qual estão investidos o promitente comprador e o fiduciante, que são os destinatários da propriedade plena do imóvel quando efetivarem o pagamento da dívida.Não constitui fato gerador do ITR e do IPTU a posse resultante de relação meramente obrigacional, como aquela exercida nos contratos de locação, comodato ou leasing (arrendamento mercantil), pois nesses casos há obrigação do possuidor perante o locador, o comodante ou o arrendante, mas não perante o Fisco.Alinhada a essa concepção consagrada no direito positivo, a jurisprudência do STJ fundamenta-se em que o usufrutuário é o contribuinte do IPTU porque é titular da parte substancial dos direitos subjetivos inerentes à propriedade, notadamente a fruição, não havendo solidariedade do nu-proprietário, pois “apenas o usufrutuário é quem possui o direito de usar e fruir exclusivamente do bem”.(...)A qualificação da posse como fato gerador dos impostos reais tem especial relevância quando resultante de compra e venda a crédito com pacto adjeto de alienação fiduciária em garantia ou de promessa de compra e venda de imóveis, celebradas no contexto de incorporação imobiliária, atividade na qual essas espécies de contrato são empregadas com maior frequência.

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É que a função primordial desses contratos é propiciar a fruição do imóvel pelo adquirente (devedor fiduciante) ou pelo promitente comprador e é para realizá-la que eles são investidos na posse e no direito real de aquisição (CC/2002, Arts. 1.368-B e 1.417, e Lei Nº 9.514/1997, Art. 23, Parágrafo único), enquanto na outra face desse negócio, o fiduciário ou o promitente vendedor é titular do domínio resolúvel, sem qualquer direito de fruição, até porque seu direito cumpre função de garantia. (CHALHUB, 2017, p. 218/221)

Em igual posição e em invejável simbiose matrimonial, ao abordarem o princípio constitucional da capacidade contributiva, proclamam respectivamente a Dra. Elizabeth Nazar Carrazza e o Dr. Roque Antonio Carrazza:

Por incidir sobre o direito de propriedade, a capacidade contributiva a que alude a Constituição Federal – e que o legislador ordinário deverá levar em conta ao criar o imposto – é de natureza objetiva. Refere-se a uma manifestação objetiva de riqueza do contribuinte (ter um imóvel). Este o fato-signo presuntivo de riqueza, a que se refere ALFREDO AUGUSTO BECKER. (CARRAZZA, 1996, p. 94)A capacidade contributiva à qual alude a Constituição e que a pessoa política é obrigada a levar em conta ao criar, legislativamente os impostos de sua competência é objetiva, e não subjetiva. É objetiva porque se refere não às condições econômicas reais de cada contribuinte, individualmente considerado, mas às suas manifestações objetivas de riqueza (ter um imóvel, possuir um automóvel, ser proprietário de joias ou obras de arte, operar em Bolsa, praticar operações mercantis etc.).Assim, atenderá ao Princípio da Capacidade Contributiva a lei que, ao criar o imposto, colocar em sua hipótese de incidência fatos deste tipo. Fatos que Alfredo Augusto Becker, com muita felicidade, chamou de fatos-signos presuntivos de riqueza (fatos que, a priori, fazem presumir que quem os realiza tem riqueza suficiente para ser alcançado pelo imposto específico). Com o fato-signo presuntivo de riqueza tem-se por incontroversa a existência de capacidade contributiva.(...)Aliás, nos impostos sobre a propriedade (como o IPVA, o IPTU, O ITR, o imposto sobre grandes fortunas etc.), a capacidade contributiva revela-se com o próprio bem. (CARRAZZA, 2013, p. 101/102, grifos por conta do autor no original)

Ora, se nos casos dos impostos que oneram o próprio imóvel – como é o caso do IPTU – o princípio constitucional da capacidade contributiva é objetivo, isto é, prescreve que deve ser ponderado o valor do próprio imóvel como fato-signo presuntivo de riqueza; por óbvio que quem ostentará este fato-signo será o usufrutuário do imóvel, ou seja, o sujeito que possuir o ânimo de dono.

Deste desiderato, através da inferência abdutiva suso percorrida (abduçãodedução indução), concluímos que o fato jurídico suficiente à configuração da sujeição passiva do IPTU somente poderá ser a verificação do animus domini e, desta

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forma, a autoridade fazendária só poderá lançar como contribuinte aquele dentre os três sujeitos em potencial (proprietário, possuidor ou detentor do domínio útil) que estiver investido deste ânimo de dono.

Assim, arrematamos ratificando a análise quanto aos enunciados prescritivos veiculados pelos Arts. 32 e 34 do CTN (BRASIL, 1966, n.p); os quais, ao valerem-se da conjunção alternativa ou, prescrevem que o Fisco Municipal só poderá promover a exação do IPTU em desfavor de um daqueles três sujeitos – alternativamente –, lançando obrigatoriamente como contribuinte aquele que manifestar o animus domini.

Por fim, explicitamos que é abissal a diferença entre o posicionamento defendido e o entendimento consolidado pelo STJ, posto que, para nós, o contribuinte poderia comprovar que não ostenta o animus domini, furtando-se da exação do IPTU; enquanto que para o STJ, o Fisco Municipal poderia eleger quaisquer dos três sujeitos “visando a facilitar o procedimento de arrecadação”.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O pragmatismo é uma corrente filosófica norte-americana, cuja concepção se deu pelos lógicos Charles Sanders Peirce e William James no interregno compreendido entre o final do século XIX e o início do século XX.

Em sua matriz original, o pragmatismo não foi pensado como filosofia jurídica, ao passo em que seus founding fathers não se debruçaram sobre este sistema linguístico-normativo (Direito).

Contudo, a difusão desta corrente filosófica passou a seduzir diversos juristas, os quais passaram a adotar o pragmatismo como filosofia jurídica, como Oliver Wendell Holmes, Richard Posner, Clarice Von Oertzen de Araújo e George Browne Rego; e assim, o pragmatismo foi travestido de corrente jusfilosófica (pragmatismo jurídico).

Por sua vez, a compreensão do pragmatismo enquanto corrente jusfilosófica não é homogênea, contudo, todas as compreensões apresentem como características comuns os traços do antifundacionalismo, do contextualismo e do consequencialismo.

Nós, no entanto, endossamos as lições Margarida Lacombe Camargo, a qual defende serem cinco as características do pragmatismo jurídico (antifundacionalismo, contextualismo, instrumentalismo, consequencialismo e interdisciplinaridade).

Outro ponto interessante desta corrente jusfilosófica é que os próprios founding fathers (Peirce e James) compreendiam o pragmatismo como método. E, sendo assim, esta concepção também se aplica ao pragmatismo jurídico, cuja conceituação pode ser definida como método científico de perquirição da realidade jurídica.

Como método, o pragmatismo jurídico é norteado pelo modelo da inferência abdutiva, o qual pressupõe que o percurso do intérprete competente perpasse pelos

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três tipos de raciocínio (abdução dedução indução), percurso tal que apelidamos neste ensaio de “percurso gerador de sentido”.

Ao operacionalizar este modelo inferencial, o exegeta deverá articular as formulações abdutivas para, após, confirmá-las ou rechaçá-las por meio do raciocínio dedutivo; e ainda, ao final, testar empiricamente as formulações abdutivas, dedutivamente confirmadas, através do raciocínio indutivo.

Destas premissas, pudemos conceber quatro formulações abdutivas, dentre as quais, em razão da confirmação pelo raciocínio dedutivo das três primeiras, a quarta formulação precisou ser refutada pelo raciocínio indutivo para não dilacerar a coerência do discurso lógico-jurídico que trilhamos.

Isto é, tendo em vista que consignamos que a propriedade formalmente concebida não seria fundamento jurídico apto para, isoladamente, configurar a sujeição passiva do IPTU; nem, tampouco, para investir o proprietário formal de quaisquer dos atributos da propriedade prescritos pelo Art. 1.228 do Código Civil; bem como que os contratos de promessa de compra e venda não registrados apresentam relevância jurídica passível de ser oposta perante o Fisco; fatalmente tivemos refutar a formulação que perquiria se os contratos de promessa de compra e venda não levados a registro não poderiam ser opostos perante o Fisco para fins de definição da sujeição passiva do IPTU.

Ou ainda, valendo-nos do silogismo abdutivo como técnica hermenêutica, tomamos como regra que os contratos de promessa de compra e venda não registrados podem ser opostos perante o fisco, e ainda, que a propriedade formalmente concebida não se deflagra como fato jurídico suficiente para investir o proprietário formal de quaisquer dos atributos da propriedade e nem, tampouco, suficiente à configuração da sujeição do IPTU; já como caso tomamos a alienação de bem imóvel por meio de contrato de promessa de compra e venda não levado a registro, logo, como resultado fatalmente concluímos que o alienante (promitente vendedor) não poderá figurar como sujeito passivo da relação jurídico-tributária do imposto predial e territorial urbano.

Destarte, tendo a segurança jurídica como summum bonum do Estado Democrático de Direito, não poderíamos alcançar conclusão distinta através de nossa inferência abdutiva, sob pena de albergarmos (confirmarmos) formulações abdutivas antagônicas e contraditórias.

Partindo da confirmação daquelas três primeiras formulações abdutivas, bem como da consequente refutação da quarta e última formulação, arrematados que nos casos dos impostos que oneram o próprio imóvel – como é o caso do IPTU – o fato jurídico a ser ponderado para fins de identificação da sujeição passiva é a manifestação de riqueza dos súditos do Estado (fato-signo presuntivo de riqueza); e, por óbvio, este fato jurídico se consubstanciará como o animus domini, o qual será verificado na pessoa do usufrutuário da coisa (bem imóvel).

Desta forma, restamos convictos de que o fato jurídico suficiente à configuração da sujeição do IPTU somente poderá ser a verificação do animus domini e, assim,

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a autoridade fazendária só poderá lançar como contribuinte aquele dentre os três sujeitos em potencial (proprietário, possuidor ou detentor do domínio útil) que estiver investido deste ânimo de dono.

O que, aliás, é ratificado pela análise sistemática dos enunciados prescritivos veiculados pelos Arts. 32 e 34 do CTN; os quais, ao valerem-se da conjunção alternativa ou, prescrevem que o Fisco Municipal só poderá promover a exação do IPTU em desfavor de um daqueles três sujeitos – alternativamente –, lançando obrigatoriamente como contribuinte aquele que manifestar este fato jurídico (animus domini).

Por fim, destacamos que foi abissal a diferença entre o posicionamento defendido e o entendimento consolidado pelo STJ, posto que, para o STJ, o Fisco Municipal poderá eleger quaisquer dos três sujeitos “visando a facilitar o procedimento de arrecadação”; enquanto que, para nós, na hipótese de o contribuinte comprovar que não ostenta o animus domini, ele se furtará da exação deste imposto predial e territorial urbano.

6. REFERÊNCIAS

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