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Fontes consultadas Entrevista com Dona Maria Ester e João do Pasto em outubro de 2014. Entrevista com Márcio Risonho em 2013. ANDRADE, M. de. O samba rural paulista. In: Revista do Arquivo, n. 41. São Paulo: Departamento de Cultura,1937. CUNHA, M. W. V. da. Descrição da festa do Bom Jesus de Pirapora, 1937. MANZATTI, M. Samba paulista, do centro cafeeiro à periferia do centro: estudo sobre o samba de bumbo ou samba rural paulista. São Paulo: PUC, 2005 (Dissertação de mestrado) Músicos parcipantes Maria Ester de Camargo Lara - Voz João Alves do Amaral (João do Pasto) - Voz e reco-reco Dirceu Fellippe - Voz e chocalho João Mário Machado - Zabumba e voz Miguel Pais de Oliveira (Cordé) - reco-reco Paulo Fabiano Fellippe - Surdinho Rhian Onofre Fellippe - Bumbo pequeno Caa Crisna Fellippe - Voz Vera Lucia Fogaça Fellippe - Voz Coro Brenda Crisna Fellippe de Assis, Jaqueline, Fellippe de Andrade, Helena Macedo, Henry Durante , João Fernandes, Laura Ghellere, Ligia Fernandes, Lucas Laganaro, Mariana Viriato, Marina Macedo, Renato Dias, Rosângela Macedo Idealização, pesquisa e direção de produção - Henry Durante Gravado em outubro de 2014 na Casa do Samba em Pirapora do Bom Jesus e em novembro no Estúdio 185 (São Paulo, SP) por Beto Mendonça e Isaac James Chiara. Edição, mixagem e masterização - Gustavo do Vale, Beto Mendonça e Henry Durante. Produção local - João Mário Machado e Mariana Tornieri Egry Revisão de texto - Alberto Ikeda Projeto Gráfico - Adriana L. Sales (Lazz Design) Fotos - Henry Durante, Claude Lévi-Strauss, Mário de Andrade e acervo da Casa do Samba de Pirapora Agradecimentos Alberto Ikeda Grupo Sambaqui Kolombolo diá Piraninga Núcleo de Samba Paulista Bumbo do Japi Samba de Roda de pirapora 1 Eu venho vindo (tradicional) 2 Tomara que o mato seque (tradicional) 3 Ê, Maria, ê João (tradicional) 4 Eu não vou na sua casa (tradicional) 5 Soldado não me prenda (tradicional) 6 Gavião que pega o pinto (tradicional) 7 Ê, Pirapora (tradicional) 8 Mulata, sacuda a saia (tradicional) 9 Eu tenho pena, eu tenho dó (tradicional) 10 Na Festa de Pirapora, mataram meu companheiro (tradicional) 11 Você fala mal de mim (tradicional) 12 Se seu chifre está crescendo (tradicional) 13 Nunca vi prefeito pobre (tradicional) 14 Bicho que atrai o homem (tradicional) 15 Carreiro bom (tradicional) 16 Eu sou filha do Raé (Vera Lúcia Fellippe) 17 No alto daquele morro tem uma velha pra morrer (tradicional) 18 No alto daquele morro tem um relojoeiro (tradicional) 19 No samba de roda a coisa é séria (Dirceu Fellippe) 20 Minha cria já criou (João Mário Machado) 21 Deus fez o Paraíso (Dirceu Fellippe) 22 Coruja canta no toco (Dirceu Fellippe) 23 Sabiá canta bonito (João Mário Machado) 24 Quem foi que disse (tradicional) 25 Vamos, Maria, vamos (tradicional) 26 Ê, Pirapora, Parnaíba aqui vai bem (tradicional) 27 Curimbatá, lambari mandou dizer (Maria Ester) 28 Eu tenho um chapéu de palha (tradicional) 29 Eu estava na roda de samba (tradicional) 30 Na Festa de Pirapora, quem achar um lenço é meu (tradicional) 31 Eu tenho um tatu (tradicional) 32 Dona Maria, comadre minha (tradicional) 33 Olê, olê, está chegando a hora (tradicional) Mário de Andrade

Samba de Roda · 2017. 5. 23. · O samba rural desempenhou importante papel também na formação do samba pau-listano, não só por conta da peregrinação de sambadores à Festa

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Page 1: Samba de Roda · 2017. 5. 23. · O samba rural desempenhou importante papel também na formação do samba pau-listano, não só por conta da peregrinação de sambadores à Festa

Fontes consultadas

Entrevista com Dona Maria Ester e João do Pasto em outubro de 2014.

Entrevista com Márcio Risonho em 2013.

ANDRADE, M. de. O samba rural paulista. In: Revista do Arquivo, n. 41. São Paulo: Departamento de Cultura,1937.

CUNHA, M. W. V. da. Descrição da festa do Bom Jesus de Pirapora, 1937.

MANZATTI, M. Samba paulista, do centro cafeeiro à periferia do centro: estudo sobre o samba de bumbo ou samba rural paulista. São Paulo: PUC, 2005 (Dissertação de mestrado)

Músicos participantes

Maria Ester de Camargo Lara - VozJoão Alves do Amaral (João do Pasto) - Voz e reco-recoDirceu Fellippe - Voz e chocalhoJoão Mário Machado - Zabumba e vozMiguel Pais de Oliveira (Cordé) - reco-recoPaulo Fabiano Fellippe - SurdinhoRhian Onofre Fellippe - Bumbo pequenoCatia Cristina Fellippe - VozVera Lucia Fogaça Fellippe - Voz

Coro Brenda Cristina Fellippe de Assis, Jaqueline, Fellippe de Andrade, Helena Macedo, Henry Durante , João Fernandes, Laura Ghellere, Ligia Fernandes, Lucas Laganaro, Mariana Viriato, Marina Macedo, Renato Dias, Rosângela Macedo

Idealização, pesquisa e direção de produção - Henry Durante

Gravado em outubro de 2014 na Casa do Samba em Pirapora do Bom Jesus e em novembro no Estúdio 185 (São Paulo, SP) por Beto Mendonça e Isaac James Chiaratti.

Edição, mixagem e masterização - Gustavo do Vale, Beto Mendonça e Henry Durante.

Produção local - João Mário Machado e Mariana Tornieri Egry

Revisão de texto - Alberto Ikeda

Projeto Gráfico - Adriana L. Sales (Lazz Design)

Fotos - Henry Durante, Claude Lévi-Strauss, Mário de Andrade e acervo da Casa do Samba de Pirapora

AgradecimentosAlberto IkedaGrupo Sambaqui Kolombolo diá PiratiningaNúcleo de Samba Paulista Bumbo do Japi

Samba de Roda de pirapora

1 Eu venho vindo (tradicional)

2 Tomara que o mato seque (tradicional)

3 Ê, Maria, ê João (tradicional)

4 Eu não vou na sua casa (tradicional)

5 Soldado não me prenda (tradicional)

6 Gavião que pega o pinto (tradicional)

7 Ê, Pirapora (tradicional)

8 Mulata, sacuda a saia (tradicional)

9 Eu tenho pena, eu tenho dó (tradicional)

10 Na Festa de Pirapora, mataram meu companheiro (tradicional)

11 Você fala mal de mim (tradicional)

12 Se seu chifre está crescendo (tradicional)

13 Nunca vi prefeito pobre (tradicional)

14 Bicho que atrai o homem (tradicional)

15 Carreiro bom (tradicional)

16 Eu sou filha do Raé (Vera Lúcia Fellippe)

17 No alto daquele morro tem uma velha pra morrer (tradicional)

18 No alto daquele morro tem um relojoeiro (tradicional)

19 No samba de roda a coisa é séria (Dirceu Fellippe)

20 Minha cria já criou (João Mário Machado)

21 Deus fez o Paraíso (Dirceu Fellippe)

22 Coruja canta no toco (Dirceu Fellippe)

23 Sabiá canta bonito (João Mário Machado)

24 Quem foi que disse (tradicional)

25 Vamos, Maria, vamos (tradicional)

26 Ê, Pirapora, Parnaíba aqui vai bem (tradicional)

27 Curimbatá, lambari mandou dizer (Maria Ester)

28 Eu tenho um chapéu de palha (tradicional)

29 Eu estava na roda de samba (tradicional)

30 Na Festa de Pirapora, quem achar um lenço é meu (tradicional)

31 Eu tenho um tatu (tradicional)

32 Dona Maria, comadre minha (tradicional)

33 Olê, olê, está chegando a hora (tradicional)

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Page 2: Samba de Roda · 2017. 5. 23. · O samba rural desempenhou importante papel também na formação do samba pau-listano, não só por conta da peregrinação de sambadores à Festa

A cidade de Pirapora do Bom Jesus tem uma importância vital na formação do chamado samba de bumbo, identificado também como samba campineiro ou samba rural paulista. Os milagres atribuídos à imagem do Senhor Bom Jesus encontrada nas águas do Rio Tietê em 1725 fizeram com que se tor-nasse ponto de uma intensa peregrinação de devotos, romeiros e piraporeanos.

Geralmente, identificavam-se como devotos e romeiros os indivíduos brancos, advindos de inúmeras cidades, que participavam das atividades religiosas “oficiais” da Festa do Padroeiro para cumprirem promessas e se hospedavam nos hotéis. Já como pirapo-reanos eram chamados os negros, embora viessem de cidades tais como Campinas, Piracicaba, Tietê, Rio Claro, entre outras. Estes foram trazidos pelo fluxo de mão de obra escravizada para a região durante os séculos XVIII e XIX decorrente de fatores tais como o declínio das plantações de café do Vale do Paraíba Fluminense e Paulista

e anteriormente das áreas produtoras de açúcar no Nordeste. Tais fatos, somados aos efeitos da Lei Eusébio de Queirós, de 1850, proibindo o ingresso de escravos no Brasil, fizeram aumentar o tráfico ilegal interno para as fazendas de café da região chamada anti-gamente de “Oeste paulista”.

Como um dos resultados deste fluxo, temos a formação do chamado samba rural paulista, samba campineiro ou samba de bumbo, fruto da incorporação do bumbo, de origem ibérica, à musicalidade dos negros bantos, os quais adap-taram o modo de tocar o instrumento à rítmica africana, rica em síncopas e polirritmias.

Este fenômeno em muito se deve às festas do catolicismo realizadas em Pirapora, em particular as de Nossa Senhora das Dores

e do Bom Jesus, realizadas nos dias 5 e 6 de agosto, respectivamente, a partir do momento em que foram adotadas pelos negros, que passaram a realizar uma festividade paralela nos barracões, mantidos pelos padres, onde se hospedavam e se alimentavam. Nos dias em que ali permaneciam, os diversos “batalhões” negros advindos de diversas localidades se “desafiavam” por meio dos cantos impro-visados, marcados pela presença do bumbo e outros instrumentos de percussão.

Dona Maria Ester, com 90 anos, e Seo João do Pasto, com 83, os quais vivenciaram estes tempos, se recordam de sambadores tais como João Grande e Alfredão, vindos de Campinas, além de Honorato Missé, Nhô Abel e Miguel Critelli, de Pirapora.

O samba rural desempenhou importante papel também na formação do samba pau-listano, não só por conta da peregrinação de sambadores à Festa de Pirapora, como por conta da estrada de ferro que ligava Jundiaí a São Paulo. O Largo da Banana, na Barra Funda, em São Paulo, foi no início do século XX o local de encontro entre os negros que chegavam com os trens trazendo as mercadorias do in-terior paulista e aqueles que aqui já se encon-travam nos bairros da Barra Funda, Campos Elíseos, Glicério, Aclimação, Bela Vista, entre outros. Nos intervalos entre os trens tocava-se o samba e jogava-se a tiririca, espécie de ca-poeira de pernada executada também ao som do samba batucado em caixotes.

Assim, a partir da reunião dos negros no Largo da Banana e adjacências, tiveram origem os

cordões paulistanos, os quais tinham primei-ramente a mesma instrumentação do samba de bumbo das festas de Pirapora (principal-mente bumbo, caixa e chocalho), antes de incorporarem elementos do carnaval das “elites” e do Rio de Janeiro.

A festa “profana”, feita pelos negros, com o tempo passou a rivalizar com a festa religiosa, o que fez com que a Igreja derrubasse os barracões, que eram de sua propriedade. O samba de bumbo, entretanto, continuou a acontecer em Pirapora, mas sem um ponto determinado e sempre sendo muito reprimido pela polícia, como demonstram alguns dos sambas reunidos neste CD.

Henry Durante

SAMBA DE RODA DE PIRAPORA

Clau

de L

évi-S

trau

ss

Dona Matia Ester