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16 S Ã O L U Í S : U M A L E I T U R A D A C I D A D E
Em outras palavras, a redução de áreas cultiváveis decorrente
da concentração fundiária e da degradação ambiental gerou uma forte
pressão sobre as poucas áreas restantes (que normalmente coincidem
com áreas protegidas) o que implica numa queda de produção agrícola,
numa redução da segurança alimentar dos agricultores familiares e,
por conseqüência, num forte agravamento dos problemas ambientais
(Mapa “Degradação Ambiental”).
A pressão do aumento populacional gerou a ocupação de grande
parte dos solos de São Luís, inclusive em áreas demarcadas para a
constituição de APA’s (Itapiracó e Maracanã) e Parques (Estadual do
Bacanga). Essa ocupação urbana pode ser mencionada como um dos
agravantes dos processos erosivos associados aos desmatamentos
em casos como o do Bairro Coroadinho, Parque Pindorama e
imediações da APA do Itapiracó.
É importante ressaltar que os problemas ambientais do Município
estão diretamente ligados a outros problemas de não menor gravidade.
A exploração madeireira para o fabrico do carvão (utilizado em
atividades domésticas) e para diversas outras atividades (construção
de cercas, alimentação de fornalhas de panificadoras, construção civil
em geral) agravam ainda mais os problemas de degradação dos solos
de São Luís.
2.5 Uso Atual dos Solos
O uso atual dos solos em São Luís está intimamente ligado a
todo um processo histórico de uso e ocupação que remete aos atributos
edáficos de natureza física, química e biológica. As limitações agrícolas
dos solos, aliadas às condições de clima e de vegetação degradada e
ao domínio de terras, atualmente inibem o desenvolvimento da
agricultura em São Luís.
Historicamente, a prática da agricultura na região esteve
associada à capacidade de regeneração das áreas exploradas e a
uma itinerância necessária ao sistema de corte e queima
(roça no toco).
A sucessão secundária em áreas de capoeira e a ciclagem de
nutrientes desenvolvida ao longo dessa feição se configuraram, então,
como fatores essenciais para a sustentação da agricultura local
(FERRAZ JÚNIOR, 2000).
No entanto, práticas agrícolas que antes se mostravam
eficientes do ponto de vista ambiental e da sustentação de uma
produtividade vêm se mostrando problemáticas diante de um
aumento da densidade populacional e de uma redução das
áreas cultiváveis.
Apesar das limitações dos solos de São Luís, a agricultura fa-
miliar de subsistência ainda é bastante presente na zona rural.
Os produtos normalmente cultivados são: mandioca, milho, feijão e
hortaliças em geral.
Dentre os produtos agrícolas mais cultivados, a mandioca as-
sume posição de destaque em São Luís, tanto em produção quanto
em área cultivada. O cultivo da mandioca é bastante difundido em
função da adaptação desta planta às condições de baixa
fertilidade química dos solos e à sua pequena suscetibilidade ao ataque
de pragas e doenças.
A olericultura é também significativa em São Luís, seja pelo
alto valor comercial dos produtos cultivados, seja pela exigência de
uma pequena área para a instalação do plantio. Entretanto, o cultivo
de hortaliças está normalmente vinculado à contaminação dos solos
e dos próprios produtos em função do uso exagerado de agrotóxicos.
Esse problema relaciona-se diretamente à alta incidência de pragas e
doenças nas áreas de cultivos que tem íntima ligação com a degradação
dos solos e da vegetação das áreas do entorno, com a forte presença
de fitopatógenos na fauna do solo (nematóides, fungos, bactérias e
vírus) e com a falta de preparo e planejamento dos agricultores na
aplicação de agrotóxicos.
Grande parte dos solos de São Luís que ainda não foi urbanizada
está hoje ocupada por vegetação frutífera perene e isso acaba
limitando outras práticas agrícolas, já que há uma redução de áreas
disponíveis para o cultivo de grãos e hortaliças. As plantas mais
cultivadas são: manga, caju, abacate, goiaba, banana, mamão dentre
outras (Fig. 2.5).
O cultivo de árvores frutíferas segue a lógica de aproveitamento
das áreas de baixa fertilidade química e manutenção de uma cobertura
vegetal perene diversificada, o que contribui para a redução dos
processos erosivos comuns nas áreas de cultivo de grãos, onde os
solos ficam por um período significativo do ano expostos aos raios
solares e ao rigor das precipitações pluviométricas. Entretanto, é muito
comum os quintais ou sítios terem a sua vegetação rasteira e mate-
rial orgânico retirados nas “limpezas” rotineiras feitas pelos
proprietários e isso implica em problemas relativos à perda da camada
mais superficial dos solos e a prejuízos no processo de ciclagem
de nutrientes.
Figura 2.5 - Cultivo de frutíferas, tais como manga, caju, abacate, goiaba, banana, mamão dentre outras.
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Além da agricultura, o uso dos solos para a criação de animais assume importância no contexto do
Município, apesar de, na maioria dos casos, os rebanhos serem formados por um pequeno número de
animais. A avicultura, bovinocultura, caprinocultura e piscicultura são as atividades de maior destaque
neste setor.
É comum o uso dos solos na Ilha do Maranhão para fins de extração mineral. A atividade mineradora
centra-se basicamente na exploração de jazidas de areia e de pedra (laterita) para a construção civil.
Normalmente essa atividade é feita sem licença do IBAMA.
Em geral, a clandestinidade se dá pela não possibilidade de licenciamento da atividade mineradora
pelo órgão competente, uma vez que a maioria das áreas exploradas estão encravadas em áreas protegidas
por lei (Parque Estadual do Bacanga, APA do Maracanã e em regiões muito próximas a manguezais e corpos
d’água). Essa ilegalidade acaba acelerando a degradação das áreas exploradas e não permitindo o
desenvolvimento de políticas (previstas em lei) voltadas para a reabilitação ou reutilização das áreas degradadas
pelas atividades mineradoras.
A extração de pedra e de areia já é a maior causa dos processos erosivos observados na APA do
Maracanã e em diversos pontos do eixo Itaqui-Bacanga. Além disso, provoca também perda da qualidade
das águas e assoreamento da maioria dos pequenos cursos d’água em função da grande carga de sedimentos
neles depositados (Fig. 2.6).
2.6 Recursos Hídricos Superficiais e Hidrogeologia
A Ilha de São Luís conta com uma grande quantidade de cursos d’água de pequeno volume,
desembocando em superfícies inundáveis pela maré e áreas cobertas de mangues. Ao longo do ano esses
cursos d’água sofrem reduções em seus volumes, devido ao clima da região, porém não chegam a caracterizar
rigores de uma seca.
Para efeitos de planejamento e gestão, as bacias hidrográficas do Município foram classificadas pelo
Plano de Paisagem Urbana da Prefeitura de São Luís (2005) em: Estiva, Inhaúma, Cachorros, Itaqui, Tibiri,
Bacanga, Anil, Paciência e Praias (Mapa da Ilha de São Luís - “Bacias Hidrográficas”).
A hidrografia de São Luís é formada pelos rios Anil, Bacanga, Tibiri, Paciência, Maracanã, Calhau,
Pimenta, Coqueiro, Cachorros e Represa Bacanga. São rios de pequeno porte que deságuam em várias
direções, abrangendo áreas de dunas e praias, sendo que os rios Anil, com 13.800 m de extensão, e
Bacanga com 9.300 m, drenam para a Baía de São Marcos, tendo em seus estuários áreas cobertas de
mangues, cuja hidrodinâmica é influenciada pelas marés que chegam a atingir em média 7 metros
(GERCO, 1998).
Os rios Bacanga, Anil, Tibiri, Paciência e Cururuca formam, na Ilha de São Luís, as principais
bacias hidrográficas locais. A bacia do Anil é a mais populosa com cerca de 244.982 habitantes, seguida
pela bacia do Bacanga com 224.742 habitantes (Mapa Urbano de São Luís - “Bacias Hidrográficas”).
Todavia, o rio Itapecuru, situado fora da Ilha no município de Rosário, é o maior da região para
aproveitamento como manancial de abastecimento, mas de acordo com MARANHÃO (1991), a qualidade
das águas desse rio já está prejudicada em muitos trechos em função de projetos agropecuários
implantados em seus vales que utilizam insumos tóxicos nas atividades agrícolas, além da poluição
residuária doméstica do crescente contingente populacional de sua bacia.
As bacias locais mais importantes em termos de mananciais para abastecimento da Ilha de São Luís
são as do Paciência, Itapecuru e Cururuca. Deve-se acrescentar a estas o subsistema do Sacavém, que não
constitui uma bacia hidrográfica, mas um complexo de abastecimento que agrega seis riachos e a barragem
de acumulação do Batatã. Figura 2.6 - Curso d’água com forte presença de sedimentos.
A presença da unidade hidrogeológica Formação Barreiras, cujos afloramentos representam os
mananciais do Paciência e do Cururuca, é de grande importância para o sistema de abastecimento de água da
CAEMA. Os poços de média profundidade situam-se entre 60 a 70 m; já os mais profundos operados pela
CAEMA atingem de 80 a 140 m de profundidade.
Parte do volume total do consumo de água na ilha de São Luís é suprida pelos mananciais subterrâneos,
sendo que, o limitante da capacidade de exploração desses lençóis é a infiltração de águas salobras.
Estudos de Hidrologia feitos pelo GERCO (1998), aplicou o Índice de Qualidade de Água (IQA), adotado
pela CETESB, às bacias de diversos rios dos municípios da Ilha de São Luís, utilizando para o cálculo do IQA
os seguintes parâmetros: temperatura, oxigênio dissolvido, DBO, pH, coliformes, nitrogênio total, fósforo
total, turbidez e sólidos totais. Foram consideradas “aceitáveis” as bacias do rio Paciência, Cururuca (embora
seu afluente da Mata seja considerado impróprio), dos Cachorros e Tibiri (embora o afluente da Ribeira esteja
impróprio). Foi considerada como “bom” a Bacia do Rio Jeniparana, e “impróprio” as Bacias Oceânicas de São
Luís (litorânea), uma vez que funciona como receptáculo de dejetos produzidos pela região urbanizada.
Estudos mais recentes têm confirmado o grau de contaminação microbiológica das águas da Ilha de
São Luis. Em dois projetos distintos, o Laboratório de Hidrobiologia (LABOHIDRO) da UFMA diagnosticou
índices excepcionais de coliformes e bactérias patogênicas nas águas dos rios Bacanga e Anil, bem como em
alguns poços e nascentes da bacia do rio Bacanga que são utilizados para o abastecimento da população
(ZONEAMENTO COSTEIRO DO ESTADO DO MARANHÃO, 2003).
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Atualmente, as bacias hidrográficas do Município apresentam-
se impactadas, variando apenas a intensidade das ações antrópicas
em cada uma delas. Dentre os problemas observados pode-se destacar:
a) compactação dos solos – muitas residências são construídas
muito próximas aos rios o que ocasiona a retirada da vegetação
de mata ciliar ou substituição da mesma por matas de sítios;
além disso, a construção de vias de acesso intensificam mais
ainda a compactação dos solos das margens dos rios,
impermeabil izando-as parcialmente e intensificando o
escoamento superficial e, consequentemente, a sedimentação
e o assoreamento dos cursos d’água, especialmente nas Áreas
de Proteção Ambiental (Figs. 2.7 e 2.8);
b) retirada da cobertura vegetal – a cobertura vegetal das
margens dos rios é, em geral, caracterizada pela presença
de juçarais e buritizais, ou, no caso de sua substituição
quando da construção de residências, matas de sítios;
essa vegetação vem passando por sérios problemas pela
extração indiscriminada de algumas espécies para utilização
na construção civi l e fabrico de carvão, tais como o
guanandi (Symphoni globulifera), a andiroba (Carapa
guianensis), a juçareira (Euterpe oleracea) e o buritizeiro
(Mauritia flexuosa);
c) processos erosivos – as principais bacias hidrográficas de
São Luís vêm passando por um constante processo de erosão
em toda a sua extensão devido a degradação da mata ciliar, a
extração mineral nas proximidades dos cursos dos rios e a
construção de novas vias de acesso em suas proximidades,
atividades que estão associadas ao processo de expansão
urbana e que têm como conseqüência principal o assoreamento
dos rios (Fig. 2.9);
d) despejo de dejetos sólidos e líquidos – em todas as bacias
hidrográficas de São Luís há problemas relativos ao despejo de
esgotos domésticos e industriais; na bacia do Tibiri, há o despejo
de resíduos líquidos da maior parte dos complexos industriais
ali instalados e problemas de contaminação provenientes da
infiltração e escoamento superficial do chorume do Aterro da
Ribeira; na bacia do Anil destaca-se o despejo de esgotos
domésticos e industriais da Merck; na bacia do Paciência,
ocorre despejo de esgotos domésticos e provenientes de
postos de lavagem de automóveis; na bacia do Itaqui, os
dejetos líquidos domésticos e a deposição de rejeitos de
matadouros clandestinos são muito comuns; além disso, em
todas as bacias há deposição de resíduos sólidos junto às
margens e no leito dos rios, mesmo havendo coleta regular
de lixo na maioria dos bairros;
Figura 2.9 - Curso d’água assoreado na APA do Maracanã.
e) pesca predatória – atividade ainda desenvolvida na maioria
das bacias hidrográficas, constituindo uma ameaça à ictiofauna
por ser praticada de maneira predatória, gerando sérios impactos
para o ambiente como o despovoamento das águas de espécies
nativas em detrimento daquelas inseridas acidentalmente pela
piscicultura (por exemplo a tilápia, Oreochromis sp.) e pela
carcinicultura (por exemplo o camarão gigante da Malásia,
Macrobrachium sp.).
Sabe-se que não é possível discutir a sustentabilidade ambiental
sem se avaliar o papel dos diversos usos dos cursos d’água.
A água, pelas suas características de solvente universal,
incompressibilidade e alto calor específico é o depositório natural de
todos os poluentes e impactos ambientais ocorrentes na bacia
hidrográfica. Conseqüentemente, seu monitoramento é um excelente
indicador de qualidade ambiental. Acrescente-se a estas vantagens,
o fato de existir legislação ambiental abundante sobre os parâmetros
para monitoramento de corpos hídricos (por exemplo, a RESOLUÇÃO
CONAMA 020), e tecnologia acessível para monitoramento eficiente
de grandes extensões hídricas (ZONEAMENTO COSTEIRO DO ESTADO
DO MARANHÃO, 2003).
Figura 2.8 - Ponte ferroviária sobre o rio Maracanã.
Figura 2.7 - Águas do rio Maracanã, escoando sob ponte ferroviária
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2.7 Cobertura Vegetal
A cobertura vegetal de São Luís varia de acordo com as
características do relevo, a proximidade dos cursos d’água e o grau
de alteração antrópica que, em alguns trechos, provoca a
predominância de determinadas feições e espécies.
Historicamente, pouco se conhece sobre a composição florística,
a estrutura e a distribuição das diferentes formações vegetais (com
seus subtipos) de São Luís. Assim, para efeitos de uma análise
inicial, as formações vegetais do município foram divididas em
três grupos fisionômicos: formações pioneiras, matas secundárias
e vegetação frutífera.
a) Formações pioneiras
As formações pioneiras representam as primeiras fases do estágio
sucessório de uma região ecológica. Em São Luís, essas feições estão
representadas por áreas de influência marinha tais como dunas e restingas
e áreas de influência estuarina como os manguezais e ecossistemas
associados tais como apicuns e marismas (Mapa “Cobertura Vegetal).
Nas dunas e restingas (Fig. 2.10) predominam uma vegetação
rasteira, dominada por salsa da praia (Ipomoea pes-caprae), feijão
Figura 2.10 - Vegetação de dunas.
Figura 2.11 - Vegetação de apicum.
Figura 2.12 - Rhizophora mangle, mostrando as raízes escoras.
Figura 2.13 - Avicennia sp., em terrenos mais arenosos.
da praia (Cavalia rosea), murici (Byrsonima sericea), gramíneas
(Panicun racemosun) entre outras. As restingas constituem uma área
de proteção contra a ação erosiva do mar.
Nos apicuns e marismas (Fig. 2.11) dominam gramíneas e
vegetação de junco com inflorescência apical. Esses ambientes podem
ser descritos como salinas naturais, desenvolvendo-se entre o nível
das preamares equinociais e o nível das preamares de quadratura.
Entre as espécies que ali de desenvolvem pode-se citar Spartina
alterniflora, Fimbristilis spadicea, Blutaparon portulacoides, Sporobolus
virginicus e Sesuvium portulacastrum. Também é freqüente a espécie
Batis marítima, constituída de oxalato de cálcio e sódio, apresentando
suas folhas salgadas, além de algumas ciperáceas (gêneros Scipus,
Eleocharis, Crenea). Essa vegetação serve ocasionalmente de
pastagem para bovinos e outros animais.
Nos ecossistemas de manguezais, o “mangue vermelho”
(Rhizophora mangle) é a espécie mais conhecida ao longo do litoral
(especialmente pela presença das raízes escoras ou rizóforos) e ocupa
a linha costeira e a desembocadura dos rios, sendo tolerante ao
alagamento por longos períodos (Fig. 2.12). Seu sistema de reprodução
se dá através de propágulos que se desprendem da árvore-mãe prontos
para germinar (viviparidade). A casca da árvore é rica em tanino
(substância de cor avermelhada e impermeabilizante), que historicamente
foi utilizada pelos curtumes para tingir couro. Além disso, a madeira é
usada para construção civil e, no início do século XX, foi largamente
utilizada como lenha nas caldeiras das indústrias têxteis e como
dormentes na Estrada de Ferro São Luís–Teresina.
Já as outras espécies de mangue são usadas basicamente como
lenha, devido a má qualidade da madeira. O “mangue siriba” (Avicennia
germinans e A. schaueriana) forma uma segunda linha (atrás do
mangue vermelho), acompanhando as margens dos rios, geralmente
na parte protegida próxima a interface entre a água e a terra
(Fig. 2.13); essa vegetação, mais tolerante às altas salinidades, elimina
o sal do interior da planta através de estômatos localizados na superfície
das folhas e apresenta raízes aéreas conhecidas como pneumatóforos.
O “mangue branco” (Laguncularia racemosa) apresenta folhas com
pecíolo avermelhado com duas glândulas na base e também apresenta
pneumatóforos (Fig. 2.14); as folhas dessa espécie é utilizada por
uma espécie de caranguejo muito explorada comercialmente conhecida
como caranguejo uçá (Ucides cordatus). O “mangue de botão”
(Conocarpus erectus) ocorre de modo espaçado e geralmente em
locais bastante arenosos, na transição para a terra firme (2.15);
essa planta não apresenta grande tolerância à salinidade típica
dos manguezais e é identificada por sua inflorescência de forma
arredondada, originando uma infrutescência (muitos frutos juntos).
Figura 2.14 - Laguncularia racemosa em associação com Spartina.
Figura 2.15 - Conocarpus erectus.
24 S Ã O L U Í S : U M A L E I T U R A D A C I D A D E
Estudos realizados em todo o Estado do Maranhão mostram que a Ilha de São Luís é a região onde se
observa a maior degradação dos manguezais, destacando-se as atividades portuárias, o crescimento
desordenado das cidades, a ausência de saneamento, as atividades industriais e as práticas predatórias de
pesca e plantio como geradoras de erosão, assoreamento, desmatamento, poluição e diminuição da
biodiversidade nos manguezais (MOCHEL et all., 2001). A perda da área de manguezais na Ilha de São Luís
no período de 1972 a 1993 foi muito grande de acordo com os dados obtidos por REBELO-MOCHEL (1997):
em 1972 a área estimada era de 28.800 hectares, em 1979 foi reduzida para 23.200 ha, em 1991 para 20.730
e em 1993 restavam apenas 18.900 hectares, distribuídos em franjas ao longo da linha de costa, em depressões
(bacias) atrás das praias e dunas e nas margens de rios e igarapés.
A degradação dos manguezais acelerou-se no período de 1991 a 1993. A perda da área de manguezais,
em dois anos, foi da ordem de 2.000 ha contra 5.000 ha em vinte anos. Em contrapartida, os esforços para
a conservação dos manguezais têm aumentado na última década, tanto pelos novos conhecimentos trazidos
pela pesquisa (MOCHEL, 2002), quanto por ações de organizações não-governamentais, do ministério público,
do batalhão florestal, do IBAMA e por uma maior conscientização popular (ZONEAMENTO COSTEIRO DO
ESTADO DO MARANHÃO, 2003).
b) Matas secundárias
As chamadas matas secundárias correspondem às formações provenientes da devastação de
florestas pioneiras que se regeneram naturalmente nas áreas afetadas. A sucessão ecológica pode
atingir diferentes características, definindo formas diferenciadas de cobertura, tais como “capoeira aberta”
e “capoeira fechada”.
Nas “capoeiras abertas” (Fig. 2.16), são encontradas espécies arbustivas como jurubeba (Solanum
caavurana e S. grandiflorum), língua de vaca ou erva grossa (Elephantopus scaber), malícia (Mimosa sensitiva),
mamona ou carrapateira (Ricinus communis), pião-roxo (Vitex spongiocarpa), tucum (Bactris maraja), imbaúba
(Cecropia scyadophylla), urtiga (Urtica urens) e várias plântulas das espécies de capoeira fechada.
Já nas “capoeiras fechadas” (Fig. 2.17 e 2.18) são encontradas espécies nativas arbóreas em diferentes
estados de recuperação, tais como babaçu (Orbignya speciosa), pau d’arco (Tecoma serratifolia), andiroba
(Carapa guianensis), angelim (gêneros Diniza, Pithecolobium e Hymenplobium), guanandi (Symphoni
globulifera), juçara (Euterpe oleracae), buriti (Mauritia flexuosa), açoita-cavalo (Luthea grandifolia), pati
(Syagrus botryophora), embaúba (Cecropia scyadophylla), visgueiro (Parkia pendula), pente-de-macaco
(Pithecoctenium echinatum), sabiá (Minosa caesappinaefolia), marfim (Melochia umbelata), janaúba (Plumeria
sucuba), goiaba do mato ou de porco (Myrciaria floribunda) entre outras. Algumas dessas espécies ainda em
estágio jovem de sucessão são exploradas comercialmente, especialmente em bairros como Sá Viana, Gapara,
Maracanã, Vila Maranhão, Vila Cascavel (Mapa urbano de São Luís - “Cobertura Vegetal”).
Figura 2.17 - Tucunzeiro em capoeira fechada. Figura 2.18 - Capoeira fechada em avançado grau de regeneração.Figura 2.16 - Capoeiras abertas.
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c) Vegetação frutífera
A vegetação frutífera (Fig. 2.19) é característica das áreas
de sítios ou chácaras de particulares, cuja produção de frutas
destina-se ao consumo e, em alguns casos, à comercialização.
Entre as espécies mais comuns, destacam-se: abricó (Mammea
americana), abacate (Persea americana), abacaxi (Ananás sativus),
ata (Annona squamossa), azeitona (Syzygium jambolana), bacuri
(Plantonia insignis), banana (Musa paradisíaca), cacau (Theobrona
cação), cajá (Spondias macrocarpa), caju (Anacardium occidentallis),
carambola (Averrhoa carambola), coco (Cocos nucifera), cupuaçu
(Theobrona grandiflorum), fruta-pão (Artocarpus communis), goiaba
(Psidium guajava), graviola (Annoma muricata), jaca (Artocarpus
integrifólia), jambo vermelho (Eugenia Malaccensis), jenipapo (Genipa
americana), limão (Citrus limonum), mamão (Carica papaia), manga
(Manjifera indica.), maracujá (da família das passifloráceas), pitomba
(Sapindus esculentos), tamarindo (Tamarindus indica) entre outras.
Esses e outros impactos ambientais, associados à diminuição
gradativa de hábitats favoráveis à manutenção da fauna e da flora,
podem ser observados em outras áreas legalmente protegidas no
munícipio, muito mais fortemente na Área de Proteção Ambiental do
Maracanã (Decreto Estadual nº 12.103), na Área de Proteção Ambiental
do Itapiracó (Decreto Estadual nº 15.618) e Zona de Reserva Florestal
do Sacavém (Lei nº 3.253) que ainda não possuem Plano de Manejo.
2.8 Complexo Estuarino
O sistema estuarino constitui uma espécie de barreira química
e geoquímica entre tudo que é transportado pelo rio, originado
natural ou artificialmente, em direção ao sistema oceânico
(ZONEAMENTO COSTEIRO DO ESTADO DO MARANHÃO, 2003).
A ilha de São Luís faz parte de um grande complexo estuarino
denominado Golfão Maranhense, que é caracterizado como uma
planície flúvio-marinha formada nos estuários afogados dos rios
Mearim, Itapecuru e Munim, constituindo uma região rebaixada com
numerosas lagoas fluviais, extensas várzeas inundáveis, áreas
colmatadas e um sistema hidrográfico divagante e labiríntico.
Toda a região está sob influência da maré que apresenta ampli-
tudes da ordem de 7 metros, provocando intensa invasão das águas
marinhas no continente e penetrando pelos vales dos rios de baixa
declividade até dezenas de quilômetros. Este domínio de correntes
marinhas altera as condições de transporte de sedimentos fluviais,
resultando na formação de bancos de sedimentos e planícies aluviais.
As águas da região são tipicamente estuarinas e resultantes da
mistura das águas doces oriundas dos rios Pindaré e Mearim que
lançam-se na baia de São Marcos, e dos rios Itapecuru e Munim que
desaguam na baia de São José.
As temperaturas elevadas, a salinidade ideal e a riqueza em
nutrientes, propiciam o desenvolvimento de intensa atividade biológica,
favorecendo a produtividade pesqueira. Outra característica importante
dessa mistura de sedimentos e material orgânico é a formação de
denso cinturão de manguezais que fornece um elo básico na cadeia
trófica através da ciclagem de nutrientes e material orgânico associados
ao refúgio natural para organismos jovens, especialmente peixes,
moluscos e crustáceos de importância comercial.
As regiões estuarinas, por constituírem uma zona de transição
entre as águas continentais e marinhas, são as regiões mais duramente
atingidas pelas ações antrópicas. A especulação imobiliária e a
ocupação desordenada das áreas litorâneas têm resultado na
destruição de manguezais por desmatamentos e aterros, invalidando
esta área, como espaço natural para atuações integradas entre a gestão
costeira e o planejamento das bacias hidrográficas (CIRM, 1999).
Segundo dados levantados em campo pela equipe executora
do Zoneamento Costeiro do Estado do Maranhão (2003) os estuários
com maior pressão ambiental na zona costeira maranhense são aqueles
situados nas áreas metropolitana da Ilha de São Luis (rios Anil e
Bacanga). Tal zoneamento partiu do princípio de que o volume total
de água de superfície (marinha e estuarina) nas microbacias é um
bom indicador do potencial de absorção de impactos ambientais, uma
vez que todas as atividades econômicas necessitam de água para seu
sucesso, e que a água utilizada em qualquer atividade humana retorna
ao corpo de água estuarino ou marinho através do ciclo hidrológico.
Assim, a presença de um grande contingente populacional nas áreas
metropolitanas da Ilha de São Luis ofusca o potencial hídrico,
minimizando seu potencial para a absorção de diferentes problemas
ambientais.
Estudos ecológicos executados até o momento evidenciam uma
redução na produção do sururu na região estuarina do Coqueiro e do
Estreito dos Mosquitos, além de certa contaminação dos moluscos
por metais pesados (cromo), devido principalmente à presença de
indústrias de curtumes, fabricação de tintas, entre outras (LABOHIDRO/
UFMA, 2001).
Os peixes da Ilha de São Luís têm sido drasticamente afetados.
Em 1987 MARTINS-JURAS et al verificaram predomínio das famílias
Ariidae (bagres), Mugilidae (tainhas), Sciaenidae (pescadas) e Engraulidae
(sardinhas), tanto em número de indivíduos como de espécies no estuário
do rio Anil. Em 2003 PINHEIRO-JÚNIOR observou dominância das
espécies Arius herzbergii (bagre guribú), Mugil curema (tainha sajuba),
Pseudauchenipterus nodosus (papista) e Mugil gaimardianus (tainha
pitiu), representando cerca de 87% das espécies capturadas, não sendo
mais tão frequentes organismos da família Sciaenidae, de maior valor
comercial. Além disso, certas áreas apresentam índices de diversidade
muito baixos, como é o caso da Lagoa da Jansen, onde em um período
de 12 anos foi observada uma redução de cerca de 60% no número de
espécies presentes na área (CASTRO et al. 2002). A frequência de captura
de certas espécies dominantes nos estuários pela pesca artesanal também
diminuiu drasticamente, segundo entrevistas com pescadores que ainda
exploram esses ambientes.
Os derramamentos de óleo, com ocorrência na Ilha de São
Luís, principalmente na zona de influência do Porto do Itaqui, e
atividades portuárias que promovem circulação de material particulado
em suspensão no ar e sua deposião sobre os manguezais, além de
barragens, canalizações e drenagens interferem na circulação das
marés e da água dos rios, provocando a mortalidade dos manguezais
(ZONEAMENTO COSTEIRO DO ESTADO DO MARANHÃO, 2003).
Resumidamente, os manguezais de São Luís, mesmo sendo
legalmente protegidos pela legislação federal em toda a sua extensão
como Área de Preservação Permanente, estão sendo afetados pela
ação do homem, principalmente em função dos seguintes eventos:
· aterro para construção de condomínios, clubes e casas (São
Francisco, Renascença e Ponta d’Areia);
· desmatamento para a construção de palafitas (Jaracaty,
Alemanha e Ivar Saldanha);
· despejo de esgotos (aterro do Bacanga e rio das Bicas);
· desmatamento e aterro para instalação de portos e marinas
de grande porte (Itaqui, Ponta da Madeira e Ponta da Espera);
· pesca de arrasto para captura de camarão (foz dos rios Anil
e Bacanga);
· desmatamento e dragagens para mineração nas proximidades
do manguezal (bacia do Tibiri);
· desmatamento para obtenção de lenha (toda a extensão dos
manguezais em São Luís);
· descarga de materiais tóxicos provenientes de indústrias
(bacia dos rios Anil e Tibiri).
Figura 2.19 - Vegetação frutífera em sítios de particulares.
Vale ressaltar que a maioria das chácaras e sítios de particulares
estão encravados em áreas legalmente protegidas (Mapa do Município
de São Luís - “Proteção Ambiental”), tais como o Parque Estadual do
Bacanga (Decreto Estadual nº 7.545), que é uma Unidade de
Conservação da categoria “Proteção Integral”, mas que possui cerca
de 13 povoados, segundo dados da Fundação Nacional de Saúde
(2002). Dados da ELETRONORTE de 2002 já mostravam que a área
do Parque havia sofrido uma redução de cerca de 24%, devido a
ocupações irregulares.
Mesmo sendo a única Unidade de Conservação no município de
São Luís que apresenta Plano de Manejo (elaborado em 1992 pela
Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Turismo, com apoio da
Companhia Vale do Rio Doce) apresenta sérios problemas ambientais,
visto que a maioria dos programas propostos não foram
implementados. Entre os impactos observados em campo podem-se
destacar: extração de areia, no manancial na zona primitiva; extração
de madeira, em várias zonas, inclusive em mata de galeria; queimadas,
nas zonas de recuperação, uso extensivo e uso intensivo;
desmatamentos de áreas de juçareiras e buritizais; lixo acumulado na
zona primitiva, adjacente à Vila Conceição; lixo acumulado na área do
Batalhão Florestal; pequenas áreas com cultivo de arroz, milho, ba-
nana e cana-de-açúcar nas zonas de uso extensivo e intensivo
(ANDRADE, 2003).