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EDIÇÃO ABR/2017
NESTA EDIÇÃO...
03 MATÉRIA PRINCIPAL
CONTRIBUIÇÕES DA NEUROPSICOLOGIA PARA O FENÓTIPO COGNITIVO
DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA E DO
TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE
07 ENTREVISTA
CENTRO DE REFERÊNCIA ESTADUAL PARA PESSOAS COM
TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (CRE-TEA)
11 RELATO DE PESQUISA
PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA TRIAGEM COGNITIVA NAS
DOENÇAS CEREBROVASCULARES (TRIACOG)
15 RESUMO DE ARTIGO
EXISTEM SUBTIPOS DE DISFUNÇÃO EXECUTIVA NO TDAH?
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L Contribuições da Neuropsicologia para
o Fenótipo Cognitivo do Transtorno do
Espectro Autista e do Transtorno do
Déficit de Atenção e Hiperatividade
Nesta matéria apresentaremos a
importância de ampliar as formas de diag-
nóstico do Transtorno do Espectro Autista
(TEA) e do Transtorno de Déficit de Aten-
ção e Hiperatividade (TDAH), considerando
as dimensões cognitivas e comportamen-
tais evidenciadas pela neuropsicologia. A
partir de um enfoque neuropsicológico é
possível melhor caracterização do mapea-
mento funcional da criança direcionando
melhor as intervenções.
Os transtornos do desenvolvimento
afetam a organização do sistema neurocog-
nitivo expressando alterações em um con-
junto de funções que interferem no bem-
estar das crianças e de suas famílias. Den-
tre as condições de alterações do desen-
volvimento neuronal o TEA e TDAH repre-
sentam uma parte significativa da popula-
ção infantil que necessita de atendimento
da área de saúde mental.
O TEA é caracterizado por prejuí-
zos significativos na interação social e na
comunicação, assim como pela apresenta-
ção de comportamentos e interesses restri-
tos e repetitivos. Essa tríade de sintomas
representa um conjunto com alta variabili-
dade, ocasionando impactos para funciona-
mento adaptativo. O TEA pode ser classifi-
cado como leve, moderado ou grave, supri-
mindo as classificações anteriores que dis-
criminavam os tipos de autismo, como por
exemplo a síndrome de Asperger. A preva-
lência do TEA é de 20 a 50 crianças afeta-
das a cada 10.000, sendo o terceiro lugar
na lista dos transtornos do desenvolvimento
(Fombonne, 2009). É possível verificar es-
tudos que apresentam aumento da incidên-
cia do TEA nos últimos 20 anos, o que tem
sido possível a partir do aperfeiçoamento
dos procedimentos de diagnóstico, permi-
tindo inclusive a identificação precoce, por
volta do 18 meses de idade (Karalunas,
Geurts, Konrad, Bender, Nigg, 2014).
Outro transtorno do neurodesenvol-
vimento que é muito frequente na clínica
neuropsicológica é o TDAH - o distúrbio
psiquiátrico mais comum na infância, que
afeta aproximadamente 5% de todas as
crianças no mundo, com prejuízos significa-
tivos no funcionamento cognitivo
(Lansbergen, Dongen-Boomsma, Buitellar,
Slaats-Willemse, 2011). Para crianças em
idade escolar Cormier, (2008) encontrou
uma prevalência entre 3% a 7%. Os sinto-
mas que representam essa condição clínica
são déficit de atenção, hiperatividade e im-
pulsividade (APA, 2014). As alterações re-
lacionadas ao TDAH interferem nas intera-
ções sociais, nas relações no ambiente
familiar e desempenho escolar.
As características sintomatológicas
são os principais eixos de investigação pa-
ra o diagnóstico, porém é importante relaci-
onar os desfechos cognitivos que estão
presentes no TEA e no TDAH. Para ambos
os transtornos a principal forma de diagnós-
tico é a identificação dos padrões de com-
portamento, através do exame clínico. Ape-
sar do comprometimento neurocognitivo, as
alterações cognitivas são pouco enfatiza-
das, especialmente no TEA. Embora a cog-
nição não seja um dos critérios diagnósti-
cos do TEA, o fenótipo cognitivo contribui
de forma significativa para a compreensão
desse transtorno. É recorrente na literatura
a consideração da alta variabilidade dos
sintomas no TEA, sendo possível verificar a
associação dessa variabilidade com os di-
ferentes padrões de habilidades e déficits
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cognitivos que parecem estar associados a
diferentes fenótipos (Rommelse, Franke,
Geurts, Hartman, & Buitelaar, 2010).
O perfil neuropsicológico indica al-
terações relacionadas aos déficits de fun-
ções executivas tendo como principal corre-
lato anatômico o córtex pré-frontal. As evi-
dências produzidas a partir das pesquisas
em neuropsicologia do desenvolvimento
demonstram a importância de considerar-
mos as características clínicas relacionadas
com seus correlatos neurocognitivos. Os
déficits de funções executivas podem com-
prometer o funcionamento de componentes
específicos que possuem correlato neuroa-
natômico com o córtex-pré-frontal. Essa
região cortical expressa funções cognitivas
complexas: memória de trabalho, atenção,
planejamento, inibição da resposta, flexibili-
dade mental, e de auto-monitoramento
(Diamond, 2013). As alterações neurocogni-
tivas que caracterizam o fenótipo do TEA e
do TDAH possuem convergência para os
déficits de funções executivas. As observa-
ções clínicas indicam que o TEA e TDAH
compartilham muitos sintomas semelhan-
tes, incluindo desatenção, hiperatividade e
baixo auto-controle, déficits de flexibilidade
cognitiva e memória de trabalho (Rubia,
Cubillo, Smith, Woolley, Heyman, et al.
2010; Bledsoe, Semrud-Clikeman, Pliszka
2010).
Evidências mostram como déficits
nas funções executivas têm um importante
papel para explicar as deficiências presen-
tes no TEA. Para o TEA as funções que
mostram mais evidências de déficits são:
inibição resposta e flexibilidade cognitiva
(Pooraghda, Kafi, Sotodeh, 2013). Porém
também existem diversas evidências de
alterações funções como planejamento e
memória de trabalho (Verté, Geurts, Roe-
yers, Oosterlaan, & Sergeant, 2006). Outra
relação importante é que as disfunções
executivas estão relacionadas com as ca-
racterísticas autistas típicas, tais como inte-
ração social ausente ou pobre, reações in-
controláveis comportamentais e emocio-
nais, comportamentos repetitivos, forte ne-
cessidade de mesmice, interesses restritos
e comunicação social inadequada
(Karalunas, Geurts, Konrad, Bender, Nigg,
2014).
O fenótipo cognitivo do TDAH tam-
bém possui claras evidências para déficits
de atenção, controle inibitório, solução de
problemas, memória de trabalho. Esse perfil
tem demonstrado um padrão de comporta-
mento impulsivo, agitado e interesse/
motivações restritos. As características cog-
nitivas estão relacionadas ao perfil compor-
tamental apresentado com dificuldades pa-
ra resolver problemas no dia-a-dia, respon-
dendo impulsivamente, podendo ocasionar
maior frequência de comportamentos
agressivos, dificuldades de seguir regras e
agitação (Verté, Geurts, Roeyers, Oosterla-
an, & Sergeant, 2006).
As dificuldades que configuram o
perfil clínico para crianças com TEA e com
TDAH possuem forte relação com os défi-
cits cognitivos, principalmente com altera-
ções das funções executivas. Para tais con-
dições clínicas tornam-se cada vez mais
importante as investigações sobre métodos
de avaliação para diagnósticos mais rápi-
dos e precisos e intervenções efetivas que
reduzam os sintomas e aumentem o funcio-
namento adaptativo dessas crianças. A
avaliação neuropsicológica deve considerar
a avaliação das funções executivas. A iden-
tificação dos déficits cognitivos pode auxiliar
no diagnóstico diferencial e principalmente
identificar quais são os focos para o plane-
jamento das intervenções (Vries, & Geurts,
2014).
O tratamento de crianças com
transtornos psiquiátricos tem sido realizado
por procedimentos farmacológicos com
maior foco na atenuação dos sintomas e
aplicação de técnicas comportamentais e
treinamento cognitivo para o melhor funcio-
namento adaptativo. O treino comportamen-
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tal é mais aplicado para crianças com TEA para modificação de comportamentos que preju-
dicam o funcionamento adaptativo, assim como para ensinar comportamentos funcionais
principalmente relacionados às atividades de vida diária. O treinamento cognitivo é aplicado
ao TDAH e para o TEA apenas quando a criança apresenta grau leve. O treino cognitivo
tem como objetivo a redução dos déficits de funções executivas fundamentado em mode-
los de resolução de problemas.
REFERÊNCIAS
1. American Psychiatric Association. (2014). DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de
transtornos mentais. Artmed Editora.
2. Bledsoe, J. C., Semrud-Clikeman, M., & Pliszka, S. R. (2010). Response inhibition
and academic abilities in typically developing children with attention-deficit-
hyperactivity disorder-combined subtype. Archives of clinical neuropsychology, ac-
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10. Rubia, K., Cubillo, A., Smith, A. B., Woolley, J., Heyman, I., & Brammer, M. J. (2010).
Disorder‐specific dysfunction in right inferior prefrontal cortex during two inhibition
tasks in boys with attention‐deficit hyperactivity disorder compared to boys with ob-
sessive–compulsive disorder. Human brain mapping, 31(2), 287-299.
11. Verté, S., Geurts, H. M., Roeyers, H., Oosterlaan, J., & Sergeant, J. A. (2006). The
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and inhibition informative specifiers within ASD?. Journal of neural transmission, 121
(9), 1183-1198.
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L Autora
Patrícia Martins de Freitas
Professora adjunta da Universidade Federal da Bahia, campus Vitória
da Conquista, coordenadora do Núcleo de Investigações Neuropsico-
lógicas da Infância e Adolescência (NEURÔNIA). Doutora em Ciências
da Saúde, área de concentração Saúde da Criança e do Adolescente,
pela Faculdade de Medicina da UFMG; Psicóloga e Mestre em Psicolo-
gia, área de concentração Psicologia do Desenvolvimento, pela Fa-
culdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG. Tem experiência e
interesse em Cognição matemática, Desempenho escolar, Transtornos
do Desenvolvimento e da aprendizagem.
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SBNp entrevista:
Centro de Referência Estadual para
Pessoas com Transtorno do Espectro
Autista (CRE-TEA)
A Sociedade Brasileira de Neuropsicologia agradece à equipe do CRE-TEA pela
disponibilidade em apresentar o mais novo serviço de atendimento às pessoas com TEA
no Estado da Bahia.
1. Como surgiu o Centro de Referência Estadual para Pessoas com Transtorno do
Espectro Autista (CRE-TEA)?
O CRE-TEA surgiu a partir da publicação da Lei Estadual 10.553/2007, que determina a
obrigatoriedade do Governo do Estado da Bahia em proporcionar o tratamento especializado,
educação e assistência específicas a todos os autistas do Estado, criou-se um grupo de traba-
lho composto por diversos segmentos (educação, saúde, assistência social, dentre outros), que
com o apoio de órgãos públicos estaduais e municipais iniciou a construção do plano de traba-
lho que fundamentou a criação do centro. A partir de 2012 a Liga Álvaro Bahia Contra a Mortali-
dade Infantil (LABCMI) entrou no projeto após convênio com a Secretaria de Saúde do Estado
para reforma da antiga Escola de Puericultura Raymundo Pereira de Magalhães, local hoje on-
de funciona o CRE-TEA. Desde então todo o empenho do grupo de trabalho para a abertura do
centro culminou com a Portaria n 1096 de 2016 que tornou pública a gestão do CRE-TEA à LA-
BCMI enquanto Organização Social, finalizando a sua abertura em 28 de novembro de 2016.
2. Por quais profissionais é composta a equipe do CRE – TEA?
A equipe é multiprofissional e trabalha em conjunto no sentido de atender da melhor manei-
ra os pacientes do centro. Ela é comporta por médicos, psicólogos, neuropsicólogas, fonoaudió-
logos, assistentes sociais, educadores físicos, terapeutas ocupacionais, musicoterapeutas, psi-
copedagogas, enfermeiras, nutricionistas e fisioterapeutas.
3. Qual o objetivo principal do CRE – TEA?
O principal objetivo do CRE-TEA é assistir aos pacientes com Transtorno do Espec-
tro Autista de forma interdisciplinar e humanizada, possibilitando a criação de um espa-
ço de aprendizagem, interação e desenvolvimento intelectual. Além disso, a ideia é favo-
recer a integração e a socialização, ampliando a autonomia, convivência familiar e co-
munitária e direito e cidadania.
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4. Qual o panorama de atendimento para crianças autistas pelo centro, no estado da
Bahia?
O serviço ofertado é gratuito através do Sistema Único de Saúde, com cobertura estadual,
integral e interdisciplinar, de característica docente-assistencial, com capacidade instalada para
4000 atendimentos/mês e 200 pacientes em terapia.
5. Quais tipos de atividades são realizadas pela equipe da Neuropsicologia no CRE-
TEA?
Avaliação neuropsicológica está inserida no CRE-TEA para auxiliar no diagnóstico, princi-
palmente para o diagnostico diferencial e/ou comorbidade com Deficiência Intelectual. A avalia-
ção neuropsicológica também é empregada para definir o perfil neuropsicológico, no apoio das
terapias e para orientação escolar. Além disso, são realizados os trabalhos de reabilitação/
habilitação de funções cognitivas; orientações para pais e professores; reuniões com a equipe
técnica para discussão de casos e construção do PTS (Plano Terapêutico Singular) dos paci-
entes assistidos no centro.
6. Todos os pacientes que chegam ao CRE - TEA passam pela neuropsicologia?
O objetivo do centro é que todos os pacientes passem pela neuropsicologia, principalmente
pela avaliação neuropsicológica, mas como a demanda é muito grande, dividimos em três eta-
pas. Inicialmente estamos avaliando os pacientes que precisam de auxilio para o diagnóstico e
acompanhamento os pacientes em que a equipe técnica achou necessário ao construir o PTS;
no segundo momento todos os pacientes passarão pela avaliação neuropsicológica e no tercei-
ro momento, faremos avaliação de autistas adultos para inclusão no mercado de trabalho.
7. Como você avalia a iniciativa da inserção de profissionais de Neuropsicologia nes-
se contexto de atendimento a crianças com Transtorno do Neurodesenvolvimen-
to?
É uma iniciativa muito boa, porque sabemos que a Neuropsicologia, apesar de estar pre-
sente no Brasil há algumas décadas, ainda é desconhecida e quase não se encontra no atendi-
mento público. Exemplo disso, podemos citar uma mãe que chegou ao CRE-TEA com uma
solicitação de encaminhamento para acompanhamento com neuropsicológico datada de dois
anos atrás, mas sem sucesso na busca, porque o serviço não é oferecido e divulgado no SUS.
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8. Como é possível ser atendido no CRE-TEA, para as crianças com autismo? Qual
o passo a passo até chegar no centro?
Para o agendamento, a família deve entrar em contato pela central de atendimento no
telefone (71) 3336 – 6147 ou pelo site www.saude.ba.gov.br/cretea, neste primeiro momento
será marcado o dia do cadastro no sistema e entrega da documentação, posteriormente o
paciente será chamado para o acolhimento.
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Entrevistadas
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Marivania Mota
Neuropsicóloga do CRE-TEA. Graduação em psicolo-
gia pela Universidade Salvador (UNIFACS). Tem especi-
alização avançada em Neuropsicologia pela UFBA, com
experiência na área de Psicologia do Desenvolvimento
com ênfase em Neuropsicologia Infantil. Participa da
equipe de validação e normatização do NEPSY-II, uma
bateria de Avaliação Neuropsicológica do Desenvolvi-
mento. Atua como colaboradora dos de pesquisas do Neuroclic (Laboratório de
Pesquisa em Neuropsicologia Clínica e Cognitiva) e COGNI (Centro Especializado
em Cognição Infantil.). Colaboradora e pesquisadora do Ambulatório de Neu-
ropsicologia Infantil do Complexo Hospitalar Professor Edgard Santos.
Adriana Cardoso Gottschald
Diretora Técnica do CRE-TEA. Média pela UFBA, com residência em
Pediatria e em Terapia Intensiva Pediátrica pela USP. Especialista
em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria e em Terapia
Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira. Quali-
ficada em Suporte Avançado de Vida em Pediatria pela American
Heart Association. Diretora de Saúde da Liga Álvaro Bahia contra
a Mortalidade Infantil do Hospital Martagão Gesteira.
Tatiane Chagas
Coordenadora Técnica do CRE-TEA, Especialista em Neurociência e Aprendiza-
gem pela UFRJ e em Trastornos del Espectro Autista en niños y Adolescentes -
Facultad de Medicina pela Universidad de Chile. É terapeuta DIR/Floortime - DIR
C1 – Módulo 1 - ICDL Institute – USA, com certificação internacional em Inte-
gração Sensorial, Dificuldades de Alimentação – Enfoque Sensorial – SP/USA.
Possuí certificação no método ABLC – The Affect Based Language Curriculum -
Reabilitação de Fala e Linguagem – BA. Certificação no Método Prompt - Estimu-
lação de fala e Linguagem - Santiago / Chile, e formação no Método TOMATIS® -
Santiago/Chile, em Conceito Neuroevolutivo Bobath - CERN/RJ e em Motricidade Orofacial pela ABOM/RJ.
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A Processo de Construção da Triagem
Cognitiva nas Doenças
Cerebrovasculares (TRIACOG)
As avaliações neuropsicológicas
com instrumentos do tipo triagem (também
conhecidos como rastreio e screening) são
importantes, principalmente no contexto
hospitalar, por serem práticas, econômicas
e rápidas, uma vez que os pacientes perma-
necem por um tempo máximo de interna-
ção. Muitos adultos apresentam alterações
cognitivas após sofrer um acidente vascu-
lar cerebral (AVC; Lees et al., 2016; Nys
et al., 2005). Desse modo, estes poderiam
se beneficiar de uma avaliação com uma
triagem neuropsicológica, a fim de relacio-
nar aqueles que apresentam indicadores de
déficits e encaminhá-los para uma avalia-
ção mais completa e posteriormente para
tratamento em reabilitação.
No Brasil, não há um instrumento
de triagem para detectar alterações neu-
ropsicológicas em adultos após AVC, ha-
vendo a necessidade de desenvolvê-lo. Es-
tudos nacionais, geralmente, utilizam o
Mini Exame do Estado Mental (MEEM)
para apresentar o perfil cognitivo dos paci-
entes (Brucki, Machado, & Rocha, 2012;
Costa, Silva, & Rocha, 2011; Dantas, Tor-
res, Farias, Sant’Ana, & Campos, 2014).
No entanto, o MEEM é vastamente critica-
do, pois seus itens não medem habilidades
que podem estar comprometidas em paci-
entes com doenças cerebrovasculares,
apresentando efeito teto na maioria delas
(Lees et al., 2016; Nys et al., 2005; Pendle-
bury, Mariz, Bull, Mehta, & Rothwell,
2012). Ainda, o MEEM foi criado para
identificar pacientes com suspeita de doen-
ça de Alzheimer, sendo pouco sensível pa-
ra déficits cognitivos leves.
A tese de doutorado da autora deste
Relato de Pesquisa apresenta o processo de
construção da Triagem Cognitiva nas Do-
enças Cerebrovasculares (TRIACOG) para
avaliar adultos em condições agudas e crô-
nicas deste quadro neurológico. A constru-
ção desse instrumento justifica-se pela
pouca sensibilidade e especificidade en-
contradas nos testes de triagem neuropsi-
cológica disponíveis atualmente, que fo-
ram desenvolvidos com o propósito de
avaliar pacientes com demência. A cons-
trução do TRIACOG seguiu os aportes
teóricos da psicometria, neuropsicologia
cognitiva e neuropsicologia das doenças
cerebrovasculares.
A criação do TRIACOG seguiu as
seguintes etapas: 1) revisão da literatura
para identificar as dimensões cognitivas
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que deveriam constar no instrumento; 2)
análise dos itens e das dimensões cogniti-
vas mais sensíveis de uma avaliação neu-
ropsicológica breve para diferenciar entre
casos com AVC e adultos saudáveis; 3)
inserção dos itens no TRIACOG (primeira
versão); 4) análise do conteúdo por juízes
especialistas (evidências baseadas no con-
teúdo do instrumento); 5) reformulações
no instrumento, considerando observações
dos juízes (segunda versão); 6) primeiro
estudo piloto em amostra com AVC; 7)
reformulação do instrumento, consideran-
do inadequações encontradas no estudo
piloto (terceira versão do TRIACOG); 8)
segundo estudo piloto em amostra com
AVC (quarta e última versão do TRIA-
COG); 9) análise das demais propriedades
psicométricas do TRIACOG (evidências
de validade baseadas na relação com ou-
tras variáveis [validade de critério e con-
vergente], no processo de resposta; evidên-
cias de fidedignidade entre avaliadores e
teste-reteste), com a aplicação em 100
adultos pós AVC e 100 adultos neurologi-
camente saudáveis.
O TRIACOG avalia oito funções
neuropsicológicas principais e apresenta
tarefas de orientação, memória episódica
visual e verbal, praxias (construtiva e ideo-
motora), linguagem (leitura, compreensão,
nomeação, repetição, vocabulário, proces-
samento de inferências e escrita sob dita-
do), habilidades aritméticas (calculias e
transcodificação numérica) e funções exe-
cutivas (fluência verbal, flexibilidade, ini-
bição e velocidade de processamento),
aplicadas em média em 15 minutos. O
TRIACOG apresenta evidências de valida-
de baseadas na relação com outras variá-
veis (critério e convergente), no conteúdo
e no processo de resposta. Ainda, evidên-
cias de fidedignidade foram encontradas
por meio de teste-reteste e concordância
entre avaliadores.
Estas foram análises iniciais com o
instrumento, e para estudos futuros preten-
de-se ampliar as evidências de validade,
buscando investigar sua estrutura interna e
dimensões, e verificar a validade preditiva
do TRIACOG. Ressalta-se que após o ins-
trumento estar disponível para o uso de
clínicos e pesquisadores, estes também de-
vem buscar ampliar as evidências de vali-
dade e de fidedignidade do TRIACOG,
principalmente, no contexto ao qual estão
inseridos, uma vez que esta é uma respon-
sabilidade de todos, ou seja, autores e usu-
ários do instrumento (AERA, APA, &
NCME, 2014). Espera-se que o TRIACOG
possa contribuir com pesquisas e com a
prática clínica neuropsicológica de profis-
sionais da saúde que trabalham com a po-
pulação que sofreu um prejuízo cognitivo
após lesão cerebrovascular.
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CONTINUANDO... REFERÊNCIAS
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ABR/17 Sociedade Brasileira de Neuropsicologia www.sbnpbrasil.com.br
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A Autora
Psicóloga (CRP 07/19832). Especialista em Neuropsicologia (CFP), Mestre e Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Integrante do Núcleo de Estudos em Neuropsicolo-gia Cognitiva (NEUROCOG) e da Sociedade Brasileira de Neu-ropsicologia Jovem (SBNp Jovem). Atua como profissional clí-nica e pesquisadora nas áreas de avaliação neuropsicológica e reabilitação cognitiva.
Jaqueline de Carvalho Rodrigues
ABR/17 Sociedade Brasileira de Neuropsicologia www.sbnpbrasil.com.br
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Existem subtipos de disfunção
executiva no TDAH?
Dificuldades em Funções Executivas
(FE) são comuns em casos de Transtorno de
Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH),
porém, nem todas as crianças com o transtor-
no apresentam estes déficits. Ainda, como o
conceito de FE é multicomponente, o TDAH
caracteriza-se por mais de um perfil de dificul-
dades neste domínio. Dessa forma, um recen-
te estudo teve o objetivo de avaliar se diferen-
tes subgrupos divididos por desempenho em
FE podem ser identificados em crianças com
TDAH por meio do uso de uma bateria breve
de medidas de FE, a qual pode ser facilmente
utilizada em contexto clínico. Além disso, bus-
cou-se avaliar se esses subgrupos se diferen-
ciariam nas associações com sintomas comór-
bidos e no desempenho acadêmico e inteli-
gência.
Participaram do estudo 357 crianças
entre 6 e 13 anos. Destas, 302 crianças pre-
encheram os critérios de TDAH propostos pelo
DSM-IV e 55 apresentaram sintomas de
TDAH, porém abaixo do limiar que caracteriza
o transtorno. Avaliaram-se também sintomas
de transtorno opositivo/desafiador, de condu-
ta, depressivo maior e de ansiedade generali-
zada através do relato dos pais em uma entre-
vista diagnóstica estruturada. O Quociente de
Inteligência (QI) foi medido por subtestes do
WISC. Avaliaram-se também as habilidades
de leitura, escrita e matemática das crianças.
As medidas de FE utilizadas no estudo englo-
baram a capacidade de inibição de resposta,
variabilidade de resposta (Stop Task e Stop
Signal Reaction Time), set-shifting e velocida-
de (medidos pelo Teste de Trilhas partes A e
B).
Utilizou-se Análise de Cluster para as
medidas de FE e Análises de Variância para
comparar os clusters de acordo com desem-
penho acadêmico, inteligência e sintomas
apresentados. Encontraram-se três subperfis
de crianças com TDAH em FE: com dificulda-
des no controle inibitório, em set-shifting/
velocidade e o terceiro grupo sem déficits nos
componentes de FE avaliados.
O cluster sem déficits em FE não exi-
biu dificuldades acadêmicas e QI rebaixado,
embora apresentasse mais sintomas depressi-
vos. Já o subgrupo com déficit em set-shifting/
velocidade foi caracterizado por maior prejuízo
comparado aos outros subgrupos, apresentan-
do menor desempenho acadêmico, menor QI
e mais sintomas de transtorno opositivo/
desafiador e de hiperatividade/impulsividade.
Esses resultados corroboraram as evidências
de que crianças com TDAH e com dificuldades
em FE apresentam maiores prejuízos em ha-
bilidades acadêmicas. A capacidade de flexibi-
lidade cognitiva (set-shifting), em específico,
pode ser essencial para a boa adaptação às
atividades escolares e multitarefas.
Roberts, B., Martel, M., & Nigg, J. (2017). Are there executive dysfunction subtypes within
ADHD?. Journal Of Attention Disorders, 21(4), 284-293.
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O subgrupo com déficit em inibição
de resposta apresentou perfil comportamen-
tal e cognitivo intermediário entre os outros
subgrupos. Sugeriu-se que crianças com
dificuldade em inibir respostas tendem a exi-
bir mais alteração na sensibilidade à recom-
pensa a qual, por sua vez, está menos asso-
ciada ao desempenho acadêmico e a sinto-
mas disruptivos do comportamento.
Concluiu-se que o estudo contribuiu
para o entendimento da heterogeneidade
existente no TDAH, já que foi possível perce-
ber a existência de clusters por desempenho
em componentes das FE e diferentes associ-
ações com sintomas comórbidos e desempe-
nho acadêmico e inteligência. Determinar
perfis por prejuízo em FE pode ser um alter-
nativa para aumentar a homogeneidade no
diagnóstico categórico do TDAH. Esta pers-
pectiva implicaria no desenvolvimento de
intervenções mais adequadas às alterações
cognitivas de crianças com TDAH.
CONTINUANDO...
RESU
MO
DE A
RTI
GO
Psicóloga graduada pela Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM). Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicolo-
gia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e in-
tegrante do Núcleo de Estudos em Neuropsicologia Cognitiva
(Neurocog). Possui interesse nas temáticas de neuropsicologia
e desenvolvimento com ênfases na infância e adolescência.
Gabriella Koltermann
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GESTÃO 2015-2017
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Conselho deliberativo
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