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EDIÇÃO MAI/2017
NESTA EDIÇÃO...
03 MATÉRIA PRINCIPAL
LAUDO NEUROPSICOLÓGICO DE IDOSOS: QUESTÕES LEGAIS
07 ENTREVISTA
ESTILO PARENTAL
10 RELATO DE PESQUISA
CODIFICAÇÃO E RECUPERAÇÃO DA MEMÓRIA DECLARATIVA APÓS
INTERFERÊNCIA RETROATIVA EM PALAVRAS HOMÔNIMAS
14 RESUMO DE ARTIGO
MORAL TRANSGRESSIONS CORRUPT NEURAL
REPRESENTATIONS OF VALUE
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L Laudo Neuropsicológico de Idosos:
Questões legais
O laudo neuropsicológico de idosos
deve ser elaborado cuidadosamente, já que
poderá ser utilizado em contexto jurídico,
devido às intervenções necessárias nos
quadros demenciais (Zimmermann, Koch-
hann, Goncalves, & Fonseca, 2016). Nas
demências os prejuízos cognitivos interfe-
rem com a habilidade nas atividades de
vida diária. Inicialmente este prejuízo englo-
ba as atividades de vida diária mais com-
plexas (ou instrumentais), que incluem a
capacidade de preparar refeições, cuidar
das finanças, administrar sua própria medi-
cação, entre outros. Com a evolução do
quadro demencial as atividades de vida
diária básicas, que compreendem o au-
tocuidado (como a capacidade para realizar
a higiene pessoal e o controle esfincteria-
no), são afetadas (Chaves et al, 2011).
Desta maneira, a independência
dos indivíduos com demência acaba sendo
comprometida, culminando com a depen-
dência total. Nesses casos, a interdição
judicial pode ser necessária com a evolu-
ção da doença, pois estes indivíduos tor-
nam-se incapazes de cuidar de si próprios
de forma autônoma (Reisberg et al, 2011).
Nesse sentido, alguns domínios cognitivos
podem ser mais relevantes para a capaci-
dade funcional do que outros, por exemplo,
o prejuízo no funcionamento executivo está
relacionado a um maior prejuízo no desem-
penho funcional do que o prejuízo mnemô-
nico (Royall et al, 2007).No entanto, mes-
mo instrumentos de rastreio cognitivo, co-
mo o Mini-Exame do Estado Mental, podem
evidenciar associação entre o prejuízo cog-
nitivo e o declínio funcional (Royall et al,
2007). Ainda, a utilização de tarefas eco-
lógicas, como a escrita de uma carta, tam-
bém demonstrou associação entre a ex-
pressão gráfica e o declínio cognitivo
(Onofri et al, 2016). Neste estudo, os auto-
res salientam que a identificação de erros
na escrita pode facilitar para a com-
preensão da progressão de um quadro
demencial e identificar os estágios em que
o paciente pode ser considerado suficiente-
mente lúcido para tomar decisões.
Assim, na elaboração de um laudo
de avaliação neuropsicológica de um idoso
é fundamental que haja a descrição da ca-
pacidade funcional deste indivíduo. A defi-
nição das tarefas que ele ainda consegue
realizar e a identificação das atividades que
ele deveria evitar, devido possíveis danos
que possa ocorrer para si ou para terceiros,
necessitam ser relatadas. Há evidências
que a capacidade para tomar decisões rela-
cionadas ao tratamento farmacológico en-
contra-se prejudicada já em idosos com
Comprometimento Cognitivo Leve, que é o
estágio anterior aos quadros demenciais
(Okonkwo et al, 2008), ficando mais com-
prometida com a evolução da demência
(Huthwaite et al, 2006). Ainda, foi demons-
trado que um percentual maior de pacien-
tes com demência apresenta prejuízo ao
dirigir do que idosos com envelhecimento
normal, 62% em relação a 3%, (Barco et al,
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2015). Portanto, o posicionamento do neu-
ropsicólogo em relação à capacidade funci-
onal do idoso deverá estar claramente re-
portado no laudo a fim de que não traga
dúvidas para a fonte encaminhadora ou
outros profissionais que possam fazer uso
deste documento, como no caso de ser utili-
zado em processo judicial.
Dessa forma, todas as informações
contidas no laudo devem estar descritas de
maneira clara, objetiva e adequada
(Zimmermann et al, 2016). O documento
necessita ser compreensível aos leitores,
seja ele o próprio paciente avaliado, os
seus familiares, o médico que solicitou a
avaliação ou para o advogado e o juiz. Ain-
da, os dados contidos no laudo deverão ser
úteis para o caso que esteja sendo avalia-
do, sem a inclusão de conteúdo que não
seja pertinente ou que possa causar dúvida.
Adicionalmente, o contato com informantes
deve ser reportado, indicando quem foi a
pessoa que forneceu as informações sobre
o paciente. De maneira geral, a avaliação
da capacidade funcional conta com as infor-
mações disponibilizadas através de infor-
mante. É imprescindível que ele seja confiá-
vel, tenha conhecimento de como o pacien-
te era antes do aparecimento do quadro
para o qual ele está sendo avaliado e consi-
ga fornecer as informações adequadas e
necessárias para a avaliação. Outro aspec-
to que deverá constar no laudo diz respeito
à duração dos prejuízos avaliados, pois
poderá ser temporária (como em pacientes
pós acidente vascular cerebral), nos quais
poderá haver recuperação dos prejuízos, ou
o quadro poderá ser progressivo (como no
caso da demência ocasionada pela doença
de Alzheimer). Em grande parte dos casos
a reavaliação será necessária para defini-
ção/delimitação das capacidades funcionais
ao longo do tempo.
Desse modo, os principais aspectos
que deverão constar no laudo neuropsicoló-
gico de idosos estão relacionados à capaci-
dade funcional do idoso e se esta pode ser
referente a alguma doença progressiva,
pois neste caso a autonomia e independên-
cia poderão estar prejudicadas e haver a
necessidade da interdição judicial. Portanto,
mesmo que o encaminhamento para a ava-
liação não tenha vindo dentro de um con-
texto judicial, o laudo poderá ser utilizado
para este fim. Assim, a escrita do mesmo
deverá ser realizada com muita cautela.
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REFERÊNCIAS
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um laudo neuropsicológico? 1. ed. São Paulo: Pearson Clinical Brasil, 244p.
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L Autora
Renata Kochhann
Psicóloga formada pela UNISINOS; Doutora em Medicina pela
UFRGS; Professora colaboradora do PPG em Psicologia da
PUCRS, área Cognição Humana. Coordenadora do Grupo de
Neuropsicologia do Envelhecimento (GNE). Pesquisadora do
Hospital de Clínicas de Porto Alegre e do Hospital Moinhos de
Vento.
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SBNp entrevista:
Estilo Parental
1. O que é Estilo Parental?
Os pais utilizam de várias técnicas e comportamentos quando estão educando seus
filhos, seja para estabelecer uma regra, ensinar algo novo, estimular certo comportamento ou
acabar com outro comportamento indesejado. Esse conjunto de comportamentos e técnicas é
chamado de Estilo Parental.
Diana Baumrind foi uma das pioneiras em estudos sobre estilos parentais e trouxe um
modelo que classifica três estilos diferentes: Democrático, Autoritário e Permissivo. O estilo De-
mocrático é aquele caracterizado por altos níveis de controle comportamental e de afeto. Nesse
estilo os pais conseguem acolher seus filhos quanto às necessidades emocionais e físicas, são
capazes de dar suporte às crianças, conseguem ser assertivos, dão autonomia à criança, con-
seguem controlar o comportamento de seus filhos e costumam explicar os motivos das regras
como forma de estipulá-las. O estilo Autoritário é caracterizado por um alto nível de controle e
níveis muito baixos de afeto. Pais autoritários costumam utilizar de muita punição como forma
de controle comportamental, não explicam os motivos das regras, não conseguem atender às
necessidades emocionais dos filhos, não dão suporte nem autonomia às crianças. Por fim, o
estilo Permissivo é caracterizado por um nível baixo de controle e nível alto de afeto. Pais per-
missivos não conseguem manejar o mau comportamento da criança, costumam ser inconsis-
tentes, quando estipulam uma regra acabam por não conseguir segui-la, cedem às vontades e
desejos de seus filhos, apesar de serem afetuosos e responsivos às necessidades emocionais
da criança.
2. O Estilo Parental pode influenciar aspectos da vida da criança?
Pode sim, e muito! Estudos encontraram que o estilo parental democrático está relacio-
nado com desfechos positivos nas crianças, além de estar associado com os comportamentos
mais desenvolvidos e bem adaptados das crianças. Os estilos autoritário e permissivo estão
ambos relacionados a desfechos negativos nas crianças e estão associados ao mau comporta-
mento também. Alguns estudos encontraram que o estilo parental pode influenciar o desempe-
nho acadêmico, as habilidades sociais e o desenvolvimento emocional das crianças.
Em uma revisão realizada em 2014 são apresentados achados acerca da influência que
o estilo parental e algumas técnicas adotadas pelos pais pode ter sobre o desenvolvimento das
Funções Executivas das crianças. Os autores relatam que o suporte que os pais dão aos seus
filhos tem uma correlação direta com o desenvolvimento da flexibilidade cognitiva e do controle
inibitório. Existem estudos que trazem que a combinação entre estimulação e sensibilidade às
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necessidades da criança, aspectos que condizem com o estilo democrático, predizem o de-
sempenho em tarefas de atenção e de memória, além de mediarem os efeitos negativos do
nível socioeconômico baixo nas funções executivas.
3. Alguma característica da criança pode influenciar o Estilo Parental de seus pais?
Não só pode como estudos encontraram que essa direção parece mais importante.
Pardini, um pesquisador da relação entre pais e suas crianças, diz que essa interação pai-filho
é bidirecional. Segundo o autor, tanto a criança influencia o estilo parental adotado por seus
pais, como os pais influenciam o comportamento de seus filhos dependendo do estilo parental
utilizado. Dentro desse modelo bidirecional, grande foco tem sido dado a crianças com proble-
mas de comportamento e estudos indicam que a influência do comportamento das crianças
sobre o estilo parental é mais relevante do que o contrário. Pesquisas com crianças com com-
portamentos disruptivos mostram que esse comportamento na criança elicia práticas parentais
negativas, como o maior uso de punição, hostilidade verbal, coerção física e inconsistência.
Essas práticas parentais, por sua vez, acabam por agravar os problemas comportamentais das
crianças e as famílias entram em um ciclo desastroso!
4. Existe alguma forma de ensinar os pais a adotarem o estilo Democrático, já que ele
parece ser o mais vantajoso?
Existe sim e essa forma é por meio de técnicas efetivas de manejo comportamental. A
Psicologia Comportamental é a linha que pode ajudar os pais com isso, por meio do Treina-
mento de Pais. Esse programa foi criado para ensinar os pais como reforçar e como punir os
comportamentos de seus filhos da forma mais eficaz. Os pais aprendem a usar controle com-
portamental assertivo, estabelecendo regras claras e simples e as fazendo cumprir por meio de
reforço. Também se ensina formas de punição, mas sem hostilidade verbal ou punição física,
para tornar o controle comportamental mais efetivo e estimular o desenvolvimento de afeto en-
tre pais e filhos. O Treinamento de Pais é comprovadamente um programa eficaz, que traz uma
melhora do ambiente familiar e do repertório comportamental da criança e dos pais.
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REFERÊNCIAS
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for future research. Childhood Obesity, 9(s1), S-14.
Thaís Dell'Oro Oliveira
Graduação em Psicologia pela Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG). Mestre em Medicina Molecular pela Faculdade
de Medicina da UFMG. Vinculada ao do Laboratório de Neuro-
ciência/UFMG e integrante do Núcleo de Investigação da Im-
pulsividade e Atenção (NITIDA) do Hospital das Clínicas,
UFMG.
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A Codificação e Recuperação da
Memória Declarativa após
Interferência Retroativa em Palavras
Homônimas
A memória inclui um conjunto de me-
canismos que processam as informações de
formas diferentes, entre esses está a Memória
de Longo Prazo Declarativa (MLPD). A MLPD
é responsável pelo armazenamento e recupe-
ração de eventos passados em longo prazo de
forma explícita e consciente (Tulving, 2001). A
Memória Episódica e a Memória Semântica
são subsistemas da MLPD e permitem, res-
pectivamente: a recordação consciente de
episódios específicos, registradas pela per-
cepção original de um acontecimento ou resí-
duos desta percepção; e a recordação de fa-
tos em um contexto geral, auxiliando a estrutu-
rar o mundo em conceitos, sem necessaria-
mente estar associada ao episódio em que ele
foi aprendido (Squire, 2004; Tulving, 2001).
A perda destas informações pode ser
chamada de esquecimento. Uma teoria que
busca elucidar aspectos do esquecimento é a
Teoria da Interferência Retroativa. Esta teoria
sugere que há a disputa entre duas informa-
ções, em que uma informação apresentada
posteriormente age como fator interveniente
na recordação de uma informação apresenta-
da previamente (Alves & Bueno, no prelo; Le-
chner, Squire & Byrne, 1999).
Na linguagem, um mesmo termo pode
evocar várias representações e uma palavra
pode ser associada a diversas representações
cognitivas. Trabalhos clássicos demonstraram
que o contexto pode afetar a forma pela qual
uma palavra homônima é codificada (Barclay
e cols., 1974). Palavras homonimas possuem
duas ou mais representações semânticas
(significado), apesar de possuirem a mesma
fonética e grafia. Por exemplo, os sentidos da
palavra “macaco” só podem ser diferenciadas
pelo contexto: o macaco comeu a banana
(animal); o macaco levantou o carro
(ferramenta). Uma das hipoteses é a de que
tais palavras possuem representações
distintas na Memória de Longo Prazo, e o
contexto se limitaria a determinar qual delas é
acessada (Barclay & Reid, 1974).
O presente estudo se propôs investi-
gar o efeito interferente de palavras homôni-
mas com frases com contexto congruentes e
incongruentes, tendo em vista que a forma
como as palavras homônimas são codificadas
e recuperadas podem ser influenciadas pelo
contexto em que elas são apresentadas, verifi-
cando assim a relação dos distintos tipos de
MLPD para a codificação e recuperação des-
sas informações. Para isso, um experimento
com participantes saudáveis (N-90) foi realiza-
do. Neste experimento, foram apresentadas
listas de palavras (9 listas com 15 palavras),
sendo que cada uma possuía tríades de pala-
vras localizadas na 7ª, 8ª e 9ª (esta sendo
considerada a palavra-chave) posições, sendo
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elas: 1) palavras com relação semântica e com uma palavra homônima como palavra-chave (rim
- pedra - cálculo; três listas); 2) palavras não-homônimas, mas com relação semântica (fogo -
incêndio - bombeiro; três listas); e 3) palavras sem relação semântica (túnel - raquete - válvula;
três listas). Após ouvir uma lista o participante ouvia uma frase contendo a palavra-chave. Para
as listas sem palavras homônimas, o conteúdo da frase remetida ao sentido da palavra (i.e. “O
bombeiro apagou as chamas” e “Maria acionou a válvula de escape”), contudo, os participantes
foram divididos em três grupos que na condição em que ouviam uma das listas que continham
palavras homônimas eram apresentadas frases com sentido congruente ao da palavra (“Pedro
retirou o cálculo na cirurgia”); uma frase com sentido incongruente (“Pedro resolveu o cálculo da
prova”) e uma frase controle (“Pedro leu o livro”). Em seguida, era solicitado ao participante que
esse recordasse livremente a lista de palavras e a frase correspondente. Este procedimento era
repetido para cada uma das nove listas.
Procedimento repetido nove vezes durante o experimento. Todas as listas e condições foram pseudoaleatorizadas.
Foram realizados procedimentos para ajustes do experimento, tais como avaliações das
tríades com palavras homônimas e das frases que foram utilizadas no experimento, com a inten-
ção de construir e testá-las a partir do parecer de juízes em um questionário aberto on-line (N -
310), além de um piloto (N-25) com o objetivo de testar se a posição das palavras-chave nas tría-
des podia influenciar na recordação, assim como testar o uso das tríades homônimas com os
sentidos mais ou menos comuns na língua portuguesa. A posição da palavra homônima nas tría-
des se deu pelo fato das duas primeiras palavras com relação semântica serem essenciais para
o fortalecimento do contexto em que a última homônima seria apresentada possibilitando uma
maior ativação semântica.
Os resultados do piloto indicaram que as listas com palavras homônimas com sentido
mais comum e as listas de palavras com relação semântica foram mais recordadas que as listas
com palavras homônimas com sentido menos comum e todas foram mais recordadas que a lista
de palavras sem relação semântica. Este resultado demonstrou que as palavras homônimas com
sentido mais comum agem semânticamente como as palavras com relação semântica, já as com
sentido menos comum tendem a ir de encontro às redes semânticas dos indivíduos, dificultando
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sua recordação. No experimento foram utiliza-
das as palavras homônimas mais comuns.
No experimento principal não houve
diferença estatística entre as frases congruen-
tes, incongruentes e controle. Os resultados
mostraram que a relação semântica entre as
tríades é mais resistente do que a flexibilidade
semântica representada pelas palavras homô-
nimas mesmo na presença das frases congru-
entes ou incongruentes ao contexto das pala-
vras nas listas. A utilização das frases incon-
gruentes não interferiu suficientemente a re-
cordação das palavras nas listas, assim como
as frases congruentes não a facilitaram.
Esperava-se que um conteúdo con-
gruente a uma representação semântica seria
lembrado com mais facilidade do que um con-
teúdo incongruente devido à interferência re-
troativa, porém neste trabalho este efeito não
foi encontrado. Ao contrário do que era previa-
mente esperado, a partir de uma tendência
nos resultados em que as frases incongruen-
tes apresentaram um efeito maior - porém não
significativo - hipotetizamos para próximos
estudos de que as frases incongruentes funci-
onarão como facilitadores para a recordação
das palavras homônimas da lista, justamente
por estas serem apresentadas no contexto
oposto ao contexto da palavra da lista. Resul-
tando em um possível efeito de novidade
(“novelty”) a qual o contexto incongruente re-
mete quando apresentado.
Este é um indicativo de que o espraia-
mento semântico em palavras homônimas vai
depender de sua constância na língua e do
contexto em que são apresentadas, indicando
um possível método para estudar com mais
afinco a relação episódica e semântica da
MLPD.
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REFERÊNCIAS
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Lond. B, 356, 1505-1515
Susanny Tassini e Deborah Lima são graduandas em Psicologia pela Universidade Anhembi Morumbi e estudantes de Iniciação Científica do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo.
O estudo aqui relatado faz parte de uma pesquisa de iniciação cien-tífica realizado sob a orientação do Prof. Dr. Orlando Francisco Amodeo Bueno e do pesquisador Marcus Vinicius Alves pelo Depar-tamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo, com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (projeto: 2015/18464-9) e Associação Fundo de Incen-tivo à Pesquisa (AFIP).
Susanny Tassini e Deborah Lima
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Moral Transgressions Corrupt Neural
Representations Of Value
Há alguns anos, estudos têm sugerido
que nosso processo de tomada de decisão
tem base mais afetiva do que racional, diferen-
te do que se pensou por muito tempo. Entre-
tanto, o comportamento pró-social ainda não
tem suas bases neurais bem definidas, ou
seja, o que acontece quando a tomada de de-
cisão é de cunho moral e social? Que meca-
nismos neurobiológicos se encontram por trás
do nosso comportamento de preservar o ou-
tro, em detrimento de um ganho próprio?
Um grupo de pesquisadores se propu-
seram a responder essas questões através de
um estudo de Ressonância Magnética Funcio-
nal (fMRI), um aparelho de neuroimagem, ava-
liando o comportamento moral em uma tarefa
onde os participantes poderiam escolher se
beneficiar através da penalização com cho-
ques elétricos dolorosos a si mesmos ou a
outro participante anônimo. Além disso, os
participantes avaliaram sequências de deci-
sões morais tomadas por dois agentes fictí-
cios, fornecendo um julgamento moral.
Como resultado, esse estudo mostrou
que a maioria das pessoas prefere prejudicar
a si mesma em detrimento de outras, com fins
lucrativos. Esta preferência moral foi associa-
da à diminuição das respostas neurais em
regiões sensíveis ao valor quando relacionada
ao lucro acumulado por prejudicar os outros.
O córtex pré-frontal lateral
(CPFlateral), implicado em calcular o valor
moral das ações para orientar a tomada de
decisão moral, codificou negativamente a
magnitude do lucro obtido por prejudicar os
outros, mas não o lucro obtido por se prejudi-
car. E a força dessa codificação previu dife-
renças individuais no comportamento moral. O
CPFlateral foi mais ativo em experimentos nos
quais a dor infligida produziu lucro mínimo, as
mesmas consideradas mais culpáveis pelo
segundo grupo de participantes que forneceu
julgamentos de culpa.
As preferências morais também foram
associadas com a redução das respostas do
Estriado Dorsal em relação ao lucro obtido por
prejudicar os outros em detrimento de si mes-
mo. Esta região mostrou conectividade funcio-
nal alterada com o CPFlateral durante as deci-
sões morais, o que pode sugerir que as pes-
soas estão incertas sobre suas preferências
(sobre prejudicar ou não o outro) e usam infor-
mações sociais para 'aprender' o que querem.
Esses resultados sugerem uma expli-
cação neural de porque as pessoas são relu-
tantes em buscar lucros com ações imorais, e
desaprovam indivíduos e organizações que
aceitam dinheiro de fontes moralmente conta-
minadas, revelando que transgressões morais
corrompem representações neurais de valor.
Além disso, destacam a importância das nor-
Crockett, M. J., Siegel, J. Z., Kurth-Nelson, Z., Dayan, P., & Dolan, R. J. (2017). Moral trans-
gressions corrupt neural representations of value. Nature Neuroscience, 20(6), 879-885.
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mas para restringir o interesse próprio, uma vez que o comportamento pró-social parece ter
menos a ver com o mecanismo de empatia do que com preferências morais (que podem re-
presentar julgamentos morais antecipados ou internalizados de outros).
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Graduação em psicologia pela Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG). Mestranda em Medicina Molecular pela Faculda-
de de Medicina da UFMG. Vinculada ao Laboratório de Neuroci-
ência/UFMG e integrante do Núcleo de Investigação da Impulsivi-
dade e Atenção (NITIDA) do Hospital das Clínicas, UFMG.
Lorrayne Soares
MAI/17 Sociedade Brasileira de Neuropsicologia www.sbnpbrasil.com.br
GESTÃO 2015-2017
Presidente: Neander Abreu
Vice-presidente: Gabriel Coutinho
Conselho deliberativo
Leandro Fernandes Malloy-Diniz
Paulo Mattos
Jerusa Salles
Lucia Iracema
Conselho fiscal
Rodrigo Grassi-Oliveira
Annelise Júlio
Laiss Bertola
Secretária Executiva
Carina Chaubet D’Alcante Valim
Secretário Geral
Andressa M. Antunes
Tesouraria Executiva
Beatriz Bitttencourt
Tesouraria Geral
Deborah Azambuja
Presidente: Alina Teldeschi
Vice-presidente: Gustavo Siquara
Comissão SBNp Jovem:
Ana Luiza Alves
Breno Marques
Camila Bernardes
Cássio Lima
Fuuka Sunano
Jaqueline Rodrigues
Natália Becker
Natália Canário
Samara Reis
Thais Quaranta
Victor Polignano
Comissão SBNp Kids:
Nayara Argollo
Editoração:
Fuuka Sunano
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