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EDIÇÃO MAI/2017

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EDIÇÃO MAI/2017

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NESTA EDIÇÃO...

03 MATÉRIA PRINCIPAL

LAUDO NEUROPSICOLÓGICO DE IDOSOS: QUESTÕES LEGAIS

07 ENTREVISTA

ESTILO PARENTAL

10 RELATO DE PESQUISA

CODIFICAÇÃO E RECUPERAÇÃO DA MEMÓRIA DECLARATIVA APÓS

INTERFERÊNCIA RETROATIVA EM PALAVRAS HOMÔNIMAS

14 RESUMO DE ARTIGO

MORAL TRANSGRESSIONS CORRUPT NEURAL

REPRESENTATIONS OF VALUE

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L Laudo Neuropsicológico de Idosos:

Questões legais

O laudo neuropsicológico de idosos

deve ser elaborado cuidadosamente, já que

poderá ser utilizado em contexto jurídico,

devido às intervenções necessárias nos

quadros demenciais (Zimmermann, Koch-

hann, Goncalves, & Fonseca, 2016). Nas

demências os prejuízos cognitivos interfe-

rem com a habilidade nas atividades de

vida diária. Inicialmente este prejuízo englo-

ba as atividades de vida diária mais com-

plexas (ou instrumentais), que incluem a

capacidade de preparar refeições, cuidar

das finanças, administrar sua própria medi-

cação, entre outros. Com a evolução do

quadro demencial as atividades de vida

diária básicas, que compreendem o au-

tocuidado (como a capacidade para realizar

a higiene pessoal e o controle esfincteria-

no), são afetadas (Chaves et al, 2011).

Desta maneira, a independência

dos indivíduos com demência acaba sendo

comprometida, culminando com a depen-

dência total. Nesses casos, a interdição

judicial pode ser necessária com a evolu-

ção da doença, pois estes indivíduos tor-

nam-se incapazes de cuidar de si próprios

de forma autônoma (Reisberg et al, 2011).

Nesse sentido, alguns domínios cognitivos

podem ser mais relevantes para a capaci-

dade funcional do que outros, por exemplo,

o prejuízo no funcionamento executivo está

relacionado a um maior prejuízo no desem-

penho funcional do que o prejuízo mnemô-

nico (Royall et al, 2007).No entanto, mes-

mo instrumentos de rastreio cognitivo, co-

mo o Mini-Exame do Estado Mental, podem

evidenciar associação entre o prejuízo cog-

nitivo e o declínio funcional (Royall et al,

2007). Ainda, a utilização de tarefas eco-

lógicas, como a escrita de uma carta, tam-

bém demonstrou associação entre a ex-

pressão gráfica e o declínio cognitivo

(Onofri et al, 2016). Neste estudo, os auto-

res salientam que a identificação de erros

na escrita pode facilitar para a com-

preensão da progressão de um quadro

demencial e identificar os estágios em que

o paciente pode ser considerado suficiente-

mente lúcido para tomar decisões.

Assim, na elaboração de um laudo

de avaliação neuropsicológica de um idoso

é fundamental que haja a descrição da ca-

pacidade funcional deste indivíduo. A defi-

nição das tarefas que ele ainda consegue

realizar e a identificação das atividades que

ele deveria evitar, devido possíveis danos

que possa ocorrer para si ou para terceiros,

necessitam ser relatadas. Há evidências

que a capacidade para tomar decisões rela-

cionadas ao tratamento farmacológico en-

contra-se prejudicada já em idosos com

Comprometimento Cognitivo Leve, que é o

estágio anterior aos quadros demenciais

(Okonkwo et al, 2008), ficando mais com-

prometida com a evolução da demência

(Huthwaite et al, 2006). Ainda, foi demons-

trado que um percentual maior de pacien-

tes com demência apresenta prejuízo ao

dirigir do que idosos com envelhecimento

normal, 62% em relação a 3%, (Barco et al,

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2015). Portanto, o posicionamento do neu-

ropsicólogo em relação à capacidade funci-

onal do idoso deverá estar claramente re-

portado no laudo a fim de que não traga

dúvidas para a fonte encaminhadora ou

outros profissionais que possam fazer uso

deste documento, como no caso de ser utili-

zado em processo judicial.

Dessa forma, todas as informações

contidas no laudo devem estar descritas de

maneira clara, objetiva e adequada

(Zimmermann et al, 2016). O documento

necessita ser compreensível aos leitores,

seja ele o próprio paciente avaliado, os

seus familiares, o médico que solicitou a

avaliação ou para o advogado e o juiz. Ain-

da, os dados contidos no laudo deverão ser

úteis para o caso que esteja sendo avalia-

do, sem a inclusão de conteúdo que não

seja pertinente ou que possa causar dúvida.

Adicionalmente, o contato com informantes

deve ser reportado, indicando quem foi a

pessoa que forneceu as informações sobre

o paciente. De maneira geral, a avaliação

da capacidade funcional conta com as infor-

mações disponibilizadas através de infor-

mante. É imprescindível que ele seja confiá-

vel, tenha conhecimento de como o pacien-

te era antes do aparecimento do quadro

para o qual ele está sendo avaliado e consi-

ga fornecer as informações adequadas e

necessárias para a avaliação. Outro aspec-

to que deverá constar no laudo diz respeito

à duração dos prejuízos avaliados, pois

poderá ser temporária (como em pacientes

pós acidente vascular cerebral), nos quais

poderá haver recuperação dos prejuízos, ou

o quadro poderá ser progressivo (como no

caso da demência ocasionada pela doença

de Alzheimer). Em grande parte dos casos

a reavaliação será necessária para defini-

ção/delimitação das capacidades funcionais

ao longo do tempo.

Desse modo, os principais aspectos

que deverão constar no laudo neuropsicoló-

gico de idosos estão relacionados à capaci-

dade funcional do idoso e se esta pode ser

referente a alguma doença progressiva,

pois neste caso a autonomia e independên-

cia poderão estar prejudicadas e haver a

necessidade da interdição judicial. Portanto,

mesmo que o encaminhamento para a ava-

liação não tenha vindo dentro de um con-

texto judicial, o laudo poderá ser utilizado

para este fim. Assim, a escrita do mesmo

deverá ser realizada com muita cautela.

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REFERÊNCIAS

1. Barco, P. P., Baum, C. M., Ott, B. R., Ice, S., Johnson, A., Wallendorf, M., & Carr, D. B.

(2015). Driving errors in persons with dementia. Journal of the American Geriatrics Soci-

ety, 63(7), 1373-1380.

2. Chaves, M. L. F., Godinho, C. C., Porto, C. S., Mansur, L., Carthery-Goulart, M. T., Yassu-

da, M. S., Beato, R. (2011). Avaliação cognitiva, comportamental e funcional. Dementia &

Neuropsychologia, June;5(Suppl 1):21-33.

3. Huthwaite, J. S., Martin, R. C., Griffith, H. R., Anderson, B., Harrell, L. E., & Marson, D. C.

(2006). Declining medical decision‐making capacity in mild AD: a two‐year longitudinal

study. Behavioral sciences & the law, 24(4), 453-463.

4. Okonkwo, O. C., Griffith, H. R., Copeland, J. N., Belue, K., Lanza, S., Zamrini, E. Y., ... &

Marson, D. C. (2008). Medical decision-making capacity in mild cognitive impairment A 3-

year longitudinal study. Neurology, 71(19), 1474-1480.

5. Onofri, E., Mercuri, M., Archer, T., Rapp-Ricciardi, M., & Ricci, S. (2016). Legal medical

consideration of Alzheimer’s disease patients’ dysgraphia and cognitive dysfunction: a 6

month follow up. Clinical interventions in aging, 11, 279.

6. Reisberg, B., Jamil, I. A., Khan, S., Monteiro, I., Torossian, C., Ferris, S., … Shulman, M. B.

(2011). Staging dementia. Principles and Practice of Geriatric Psychiatry, 3, 162–169.

7. Royall, D. R., Lauterbach, E. C., Kaufer, D. M., Malloy, P., Coburn, K. L., Black, K. J.

(2007). Committee on Research of the American Neuropsychiatric Association. The cogni-

tive correlates of functional status: a review from the Committee on Research of the Ameri-

can Neuropsychiatric Association. The Journal of Neuropsychiatry & Clinical Neuroscienc-

es, 19(3): 249-265.

8. Zimmermann, N., Kochhann, R., Gonçalves, H. A., Fonseca, R. P. (2016). Como escrever

um laudo neuropsicológico? 1. ed. São Paulo: Pearson Clinical Brasil, 244p.

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L Autora

Renata Kochhann

Psicóloga formada pela UNISINOS; Doutora em Medicina pela

UFRGS; Professora colaboradora do PPG em Psicologia da

PUCRS, área Cognição Humana. Coordenadora do Grupo de

Neuropsicologia do Envelhecimento (GNE). Pesquisadora do

Hospital de Clínicas de Porto Alegre e do Hospital Moinhos de

Vento.

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SBNp entrevista:

Estilo Parental

1. O que é Estilo Parental?

Os pais utilizam de várias técnicas e comportamentos quando estão educando seus

filhos, seja para estabelecer uma regra, ensinar algo novo, estimular certo comportamento ou

acabar com outro comportamento indesejado. Esse conjunto de comportamentos e técnicas é

chamado de Estilo Parental.

Diana Baumrind foi uma das pioneiras em estudos sobre estilos parentais e trouxe um

modelo que classifica três estilos diferentes: Democrático, Autoritário e Permissivo. O estilo De-

mocrático é aquele caracterizado por altos níveis de controle comportamental e de afeto. Nesse

estilo os pais conseguem acolher seus filhos quanto às necessidades emocionais e físicas, são

capazes de dar suporte às crianças, conseguem ser assertivos, dão autonomia à criança, con-

seguem controlar o comportamento de seus filhos e costumam explicar os motivos das regras

como forma de estipulá-las. O estilo Autoritário é caracterizado por um alto nível de controle e

níveis muito baixos de afeto. Pais autoritários costumam utilizar de muita punição como forma

de controle comportamental, não explicam os motivos das regras, não conseguem atender às

necessidades emocionais dos filhos, não dão suporte nem autonomia às crianças. Por fim, o

estilo Permissivo é caracterizado por um nível baixo de controle e nível alto de afeto. Pais per-

missivos não conseguem manejar o mau comportamento da criança, costumam ser inconsis-

tentes, quando estipulam uma regra acabam por não conseguir segui-la, cedem às vontades e

desejos de seus filhos, apesar de serem afetuosos e responsivos às necessidades emocionais

da criança.

2. O Estilo Parental pode influenciar aspectos da vida da criança?

Pode sim, e muito! Estudos encontraram que o estilo parental democrático está relacio-

nado com desfechos positivos nas crianças, além de estar associado com os comportamentos

mais desenvolvidos e bem adaptados das crianças. Os estilos autoritário e permissivo estão

ambos relacionados a desfechos negativos nas crianças e estão associados ao mau comporta-

mento também. Alguns estudos encontraram que o estilo parental pode influenciar o desempe-

nho acadêmico, as habilidades sociais e o desenvolvimento emocional das crianças.

Em uma revisão realizada em 2014 são apresentados achados acerca da influência que

o estilo parental e algumas técnicas adotadas pelos pais pode ter sobre o desenvolvimento das

Funções Executivas das crianças. Os autores relatam que o suporte que os pais dão aos seus

filhos tem uma correlação direta com o desenvolvimento da flexibilidade cognitiva e do controle

inibitório. Existem estudos que trazem que a combinação entre estimulação e sensibilidade às

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necessidades da criança, aspectos que condizem com o estilo democrático, predizem o de-

sempenho em tarefas de atenção e de memória, além de mediarem os efeitos negativos do

nível socioeconômico baixo nas funções executivas.

3. Alguma característica da criança pode influenciar o Estilo Parental de seus pais?

Não só pode como estudos encontraram que essa direção parece mais importante.

Pardini, um pesquisador da relação entre pais e suas crianças, diz que essa interação pai-filho

é bidirecional. Segundo o autor, tanto a criança influencia o estilo parental adotado por seus

pais, como os pais influenciam o comportamento de seus filhos dependendo do estilo parental

utilizado. Dentro desse modelo bidirecional, grande foco tem sido dado a crianças com proble-

mas de comportamento e estudos indicam que a influência do comportamento das crianças

sobre o estilo parental é mais relevante do que o contrário. Pesquisas com crianças com com-

portamentos disruptivos mostram que esse comportamento na criança elicia práticas parentais

negativas, como o maior uso de punição, hostilidade verbal, coerção física e inconsistência.

Essas práticas parentais, por sua vez, acabam por agravar os problemas comportamentais das

crianças e as famílias entram em um ciclo desastroso!

4. Existe alguma forma de ensinar os pais a adotarem o estilo Democrático, já que ele

parece ser o mais vantajoso?

Existe sim e essa forma é por meio de técnicas efetivas de manejo comportamental. A

Psicologia Comportamental é a linha que pode ajudar os pais com isso, por meio do Treina-

mento de Pais. Esse programa foi criado para ensinar os pais como reforçar e como punir os

comportamentos de seus filhos da forma mais eficaz. Os pais aprendem a usar controle com-

portamental assertivo, estabelecendo regras claras e simples e as fazendo cumprir por meio de

reforço. Também se ensina formas de punição, mas sem hostilidade verbal ou punição física,

para tornar o controle comportamental mais efetivo e estimular o desenvolvimento de afeto en-

tre pais e filhos. O Treinamento de Pais é comprovadamente um programa eficaz, que traz uma

melhora do ambiente familiar e do repertório comportamental da criança e dos pais.

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REFERÊNCIAS

1. Baumrind, D. (1967). Child care practices anteceding three patterns of preschool behavior.

Genetic psychology monographs, 75(1), 43-88.

2. Fay‐Stammbach, T., Hawes, D. J., & Meredith, P. (2014). Parenting influences on execu-

tive function in early childhood: A review. Child Development Perspectives, 8(4), 258-264.

3. Kazdin, A. E. (2005). Parent management training: Treatment for oppositional, aggressive,

and antisocial behavior in children and adolescents. Oxford University Press.

4. Pardini, D. A. (2008). Novel insights into longstanding theories of bidirectional parent –child

influences: Introduction to the special section. Journal of abnormal child psychology, 36(5),

627-631

5. Power, T. G. (2013). Parenting dimensions and styles: a brief history and recommendations

for future research. Childhood Obesity, 9(s1), S-14.

Thaís Dell'Oro Oliveira

Graduação em Psicologia pela Universidade Federal de Minas

Gerais (UFMG). Mestre em Medicina Molecular pela Faculdade

de Medicina da UFMG. Vinculada ao do Laboratório de Neuro-

ciência/UFMG e integrante do Núcleo de Investigação da Im-

pulsividade e Atenção (NITIDA) do Hospital das Clínicas,

UFMG.

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A Codificação e Recuperação da

Memória Declarativa após

Interferência Retroativa em Palavras

Homônimas

A memória inclui um conjunto de me-

canismos que processam as informações de

formas diferentes, entre esses está a Memória

de Longo Prazo Declarativa (MLPD). A MLPD

é responsável pelo armazenamento e recupe-

ração de eventos passados em longo prazo de

forma explícita e consciente (Tulving, 2001). A

Memória Episódica e a Memória Semântica

são subsistemas da MLPD e permitem, res-

pectivamente: a recordação consciente de

episódios específicos, registradas pela per-

cepção original de um acontecimento ou resí-

duos desta percepção; e a recordação de fa-

tos em um contexto geral, auxiliando a estrutu-

rar o mundo em conceitos, sem necessaria-

mente estar associada ao episódio em que ele

foi aprendido (Squire, 2004; Tulving, 2001).

A perda destas informações pode ser

chamada de esquecimento. Uma teoria que

busca elucidar aspectos do esquecimento é a

Teoria da Interferência Retroativa. Esta teoria

sugere que há a disputa entre duas informa-

ções, em que uma informação apresentada

posteriormente age como fator interveniente

na recordação de uma informação apresenta-

da previamente (Alves & Bueno, no prelo; Le-

chner, Squire & Byrne, 1999).

Na linguagem, um mesmo termo pode

evocar várias representações e uma palavra

pode ser associada a diversas representações

cognitivas. Trabalhos clássicos demonstraram

que o contexto pode afetar a forma pela qual

uma palavra homônima é codificada (Barclay

e cols., 1974). Palavras homonimas possuem

duas ou mais representações semânticas

(significado), apesar de possuirem a mesma

fonética e grafia. Por exemplo, os sentidos da

palavra “macaco” só podem ser diferenciadas

pelo contexto: o macaco comeu a banana

(animal); o macaco levantou o carro

(ferramenta). Uma das hipoteses é a de que

tais palavras possuem representações

distintas na Memória de Longo Prazo, e o

contexto se limitaria a determinar qual delas é

acessada (Barclay & Reid, 1974).

O presente estudo se propôs investi-

gar o efeito interferente de palavras homôni-

mas com frases com contexto congruentes e

incongruentes, tendo em vista que a forma

como as palavras homônimas são codificadas

e recuperadas podem ser influenciadas pelo

contexto em que elas são apresentadas, verifi-

cando assim a relação dos distintos tipos de

MLPD para a codificação e recuperação des-

sas informações. Para isso, um experimento

com participantes saudáveis (N-90) foi realiza-

do. Neste experimento, foram apresentadas

listas de palavras (9 listas com 15 palavras),

sendo que cada uma possuía tríades de pala-

vras localizadas na 7ª, 8ª e 9ª (esta sendo

considerada a palavra-chave) posições, sendo

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elas: 1) palavras com relação semântica e com uma palavra homônima como palavra-chave (rim

- pedra - cálculo; três listas); 2) palavras não-homônimas, mas com relação semântica (fogo -

incêndio - bombeiro; três listas); e 3) palavras sem relação semântica (túnel - raquete - válvula;

três listas). Após ouvir uma lista o participante ouvia uma frase contendo a palavra-chave. Para

as listas sem palavras homônimas, o conteúdo da frase remetida ao sentido da palavra (i.e. “O

bombeiro apagou as chamas” e “Maria acionou a válvula de escape”), contudo, os participantes

foram divididos em três grupos que na condição em que ouviam uma das listas que continham

palavras homônimas eram apresentadas frases com sentido congruente ao da palavra (“Pedro

retirou o cálculo na cirurgia”); uma frase com sentido incongruente (“Pedro resolveu o cálculo da

prova”) e uma frase controle (“Pedro leu o livro”). Em seguida, era solicitado ao participante que

esse recordasse livremente a lista de palavras e a frase correspondente. Este procedimento era

repetido para cada uma das nove listas.

Procedimento repetido nove vezes durante o experimento. Todas as listas e condições foram pseudoaleatorizadas.

Foram realizados procedimentos para ajustes do experimento, tais como avaliações das

tríades com palavras homônimas e das frases que foram utilizadas no experimento, com a inten-

ção de construir e testá-las a partir do parecer de juízes em um questionário aberto on-line (N -

310), além de um piloto (N-25) com o objetivo de testar se a posição das palavras-chave nas tría-

des podia influenciar na recordação, assim como testar o uso das tríades homônimas com os

sentidos mais ou menos comuns na língua portuguesa. A posição da palavra homônima nas tría-

des se deu pelo fato das duas primeiras palavras com relação semântica serem essenciais para

o fortalecimento do contexto em que a última homônima seria apresentada possibilitando uma

maior ativação semântica.

Os resultados do piloto indicaram que as listas com palavras homônimas com sentido

mais comum e as listas de palavras com relação semântica foram mais recordadas que as listas

com palavras homônimas com sentido menos comum e todas foram mais recordadas que a lista

de palavras sem relação semântica. Este resultado demonstrou que as palavras homônimas com

sentido mais comum agem semânticamente como as palavras com relação semântica, já as com

sentido menos comum tendem a ir de encontro às redes semânticas dos indivíduos, dificultando

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sua recordação. No experimento foram utiliza-

das as palavras homônimas mais comuns.

No experimento principal não houve

diferença estatística entre as frases congruen-

tes, incongruentes e controle. Os resultados

mostraram que a relação semântica entre as

tríades é mais resistente do que a flexibilidade

semântica representada pelas palavras homô-

nimas mesmo na presença das frases congru-

entes ou incongruentes ao contexto das pala-

vras nas listas. A utilização das frases incon-

gruentes não interferiu suficientemente a re-

cordação das palavras nas listas, assim como

as frases congruentes não a facilitaram.

Esperava-se que um conteúdo con-

gruente a uma representação semântica seria

lembrado com mais facilidade do que um con-

teúdo incongruente devido à interferência re-

troativa, porém neste trabalho este efeito não

foi encontrado. Ao contrário do que era previa-

mente esperado, a partir de uma tendência

nos resultados em que as frases incongruen-

tes apresentaram um efeito maior - porém não

significativo - hipotetizamos para próximos

estudos de que as frases incongruentes funci-

onarão como facilitadores para a recordação

das palavras homônimas da lista, justamente

por estas serem apresentadas no contexto

oposto ao contexto da palavra da lista. Resul-

tando em um possível efeito de novidade

(“novelty”) a qual o contexto incongruente re-

mete quando apresentado.

Este é um indicativo de que o espraia-

mento semântico em palavras homônimas vai

depender de sua constância na língua e do

contexto em que são apresentadas, indicando

um possível método para estudar com mais

afinco a relação episódica e semântica da

MLPD.

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REFERÊNCIAS

1. Alves & Bueno (no prelo). Psicologia: Teoria e Pesquisa.

2. Barclay, J. R; Bransford J. D; Franks, J. J; McCarrell, N. S & Nitsch, K. (1974). Journal of

Verbal Learning and Verbal Behavior. 13, 471-481.

3. Bueno, O. F. A. (2001) Tese (Livre Docência), UNIFESP, São Paulo.

4. Lechner, H. A.; Squire, L. R.; Byrne, J. A. (1999) 100 Years of Consolidation Remembering

5. Squire, L. R. (2004) Memory System of the brain: A brief history and current perspective.

Neurobiology of Learning and Memory, 82, 171-177.

6. Tulving, E. (2001) Episodic memory and common sense: how far apart? Phil. Trans. R.Soc.

Lond. B, 356, 1505-1515

Susanny Tassini e Deborah Lima são graduandas em Psicologia pela Universidade Anhembi Morumbi e estudantes de Iniciação Científica do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo.

O estudo aqui relatado faz parte de uma pesquisa de iniciação cien-tífica realizado sob a orientação do Prof. Dr. Orlando Francisco Amodeo Bueno e do pesquisador Marcus Vinicius Alves pelo Depar-tamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo, com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (projeto: 2015/18464-9) e Associação Fundo de Incen-tivo à Pesquisa (AFIP).

Susanny Tassini e Deborah Lima

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Moral Transgressions Corrupt Neural

Representations Of Value

Há alguns anos, estudos têm sugerido

que nosso processo de tomada de decisão

tem base mais afetiva do que racional, diferen-

te do que se pensou por muito tempo. Entre-

tanto, o comportamento pró-social ainda não

tem suas bases neurais bem definidas, ou

seja, o que acontece quando a tomada de de-

cisão é de cunho moral e social? Que meca-

nismos neurobiológicos se encontram por trás

do nosso comportamento de preservar o ou-

tro, em detrimento de um ganho próprio?

Um grupo de pesquisadores se propu-

seram a responder essas questões através de

um estudo de Ressonância Magnética Funcio-

nal (fMRI), um aparelho de neuroimagem, ava-

liando o comportamento moral em uma tarefa

onde os participantes poderiam escolher se

beneficiar através da penalização com cho-

ques elétricos dolorosos a si mesmos ou a

outro participante anônimo. Além disso, os

participantes avaliaram sequências de deci-

sões morais tomadas por dois agentes fictí-

cios, fornecendo um julgamento moral.

Como resultado, esse estudo mostrou

que a maioria das pessoas prefere prejudicar

a si mesma em detrimento de outras, com fins

lucrativos. Esta preferência moral foi associa-

da à diminuição das respostas neurais em

regiões sensíveis ao valor quando relacionada

ao lucro acumulado por prejudicar os outros.

O córtex pré-frontal lateral

(CPFlateral), implicado em calcular o valor

moral das ações para orientar a tomada de

decisão moral, codificou negativamente a

magnitude do lucro obtido por prejudicar os

outros, mas não o lucro obtido por se prejudi-

car. E a força dessa codificação previu dife-

renças individuais no comportamento moral. O

CPFlateral foi mais ativo em experimentos nos

quais a dor infligida produziu lucro mínimo, as

mesmas consideradas mais culpáveis pelo

segundo grupo de participantes que forneceu

julgamentos de culpa.

As preferências morais também foram

associadas com a redução das respostas do

Estriado Dorsal em relação ao lucro obtido por

prejudicar os outros em detrimento de si mes-

mo. Esta região mostrou conectividade funcio-

nal alterada com o CPFlateral durante as deci-

sões morais, o que pode sugerir que as pes-

soas estão incertas sobre suas preferências

(sobre prejudicar ou não o outro) e usam infor-

mações sociais para 'aprender' o que querem.

Esses resultados sugerem uma expli-

cação neural de porque as pessoas são relu-

tantes em buscar lucros com ações imorais, e

desaprovam indivíduos e organizações que

aceitam dinheiro de fontes moralmente conta-

minadas, revelando que transgressões morais

corrompem representações neurais de valor.

Além disso, destacam a importância das nor-

Crockett, M. J., Siegel, J. Z., Kurth-Nelson, Z., Dayan, P., & Dolan, R. J. (2017). Moral trans-

gressions corrupt neural representations of value. Nature Neuroscience, 20(6), 879-885.

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mas para restringir o interesse próprio, uma vez que o comportamento pró-social parece ter

menos a ver com o mecanismo de empatia do que com preferências morais (que podem re-

presentar julgamentos morais antecipados ou internalizados de outros).

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Graduação em psicologia pela Universidade Federal de Minas

Gerais (UFMG). Mestranda em Medicina Molecular pela Faculda-

de de Medicina da UFMG. Vinculada ao Laboratório de Neuroci-

ência/UFMG e integrante do Núcleo de Investigação da Impulsivi-

dade e Atenção (NITIDA) do Hospital das Clínicas, UFMG.

Lorrayne Soares

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GESTÃO 2015-2017

Presidente: Neander Abreu

Vice-presidente: Gabriel Coutinho

Conselho deliberativo

Leandro Fernandes Malloy-Diniz

Paulo Mattos

Jerusa Salles

Lucia Iracema

Conselho fiscal

Rodrigo Grassi-Oliveira

Annelise Júlio

Laiss Bertola

Secretária Executiva

Carina Chaubet D’Alcante Valim

Secretário Geral

Andressa M. Antunes

Tesouraria Executiva

Beatriz Bitttencourt

Tesouraria Geral

Deborah Azambuja

Presidente: Alina Teldeschi

Vice-presidente: Gustavo Siquara

Comissão SBNp Jovem:

Ana Luiza Alves

Breno Marques

Camila Bernardes

Cássio Lima

Fuuka Sunano

Jaqueline Rodrigues

Natália Becker

Natália Canário

Samara Reis

Thais Quaranta

Victor Polignano

Comissão SBNp Kids:

Nayara Argollo

Editoração:

Fuuka Sunano

MAI/17 Sociedade Brasileira de Neuropsicologia www.sbnpbrasil.com.br