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Sebastião e maria 15

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Esta obra relata os aspectos históricos característicos da zona rural do sertão Goiano no início do século XX, mostrando, com detalhes, como era a vida das pessoas naquela época. Traz a trajetória da família de Sebastião e Maria, suas lutas e labutas para criar os fi lhos com dignidade e construir os alicerces básicos para prosperidade de uma família honrada. As dificuldades enfrentadas pelo casal naquelas terras longínquas não foram obstáculos para impedir que ti vessemuma bela história de amor, deixando um legado exemplar de um casal que souberam viver a plenitude do amor verdadeiro.

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100 anos de história

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São Paulo - 2015

Sebastião e Maria

100 anos de história

Dinailta Gomes do Carmo

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Copyright © 2015 by Editora Baraúna SE Ltda.

Capa Eduardo Maruo de Matos Ribeiro

Foto da Capa Simone Prado Cerqueira / Acervo da família

Diagramação Felippe Scagion

Revisão Andrea Bassoto

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

________________________________________________________________B174c

Gomes do Carmo, Dinailta Sebastião e Maria: Cem anos de história / Dinailta Gomes do Carmo. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2015.

ISBN 978-85-437-0067-0

1. Biografia. I. Título.

15-25173 CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3________________________________________________________________17/08/2015 17/08/2015

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 – 3º andarCEP 01012-010 – Centro – São Paulo – SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br

Todos os direitos reservados.Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem a expressa autorização da Editora e do autor. Caso deseje utilizar esta obra para outros fins, entre em contato com a Editora.

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“Este livro é dedicado aosnetos, bisnetos e tataranetosda família de Sebastião e Mariapara que, conhecendo o passado,possam compreender melhoro presente e ter um relacionamentomais harmonioso e fraternocom seus pais e avós”.

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Agradecimentos: primeiramente, agradeço a Deus pela família de meus avós, que deram início à nossa geração, que foi a fonte inspiradora para a realização deste livro.

*Agradeço à prima Aldenir, que muito colaborou, ti-rando dúvidas inúmeras vezes e também fornecendo seu tra-balho, no periódico “Histórias de tataravós, bisavós e avós”.

*Agradeço à minha estimada mãe, que foi uma cola-boradora valiosa na confirmação de fatos desde sua infân-cia. Ela teve toda paciência, esclarecendo e complemen-tando algumas passagens em que ela já se fazia presente. Ela gostou muito da ideia de registrar esta história.

*Agradeço a todos os(as) tios(as) e primos(as), que sempre foram atenciosos quando precisei buscar auxílio para confirmar fatos e nomes dos familiares.

*Agradeço à minha irmã Marileida, que esteve sem-pre ao meu lado, colaborando com o aprimoramento das ideias para melhor fazer o livro.

*Agradeço a todos os meus irmãos, sobrinhos(as) e cunhado(as), que sempre me incentivaram a fazer o livro.

*Agradeço ao meu grande amigo Marcos, que colabo-rou com a parte do gráfico da árvore genealógica das famílias.

*Agradeço à minha amiga Conceição, que colabo-rou na edição preliminar desta obra.

*Agradeço ao Eduardo, que colaborou na edição de fotos e montagem da capa.

*Agradeço ao meu afilhado Mateus, que fez uma re-visão preliminar desta obra.

*Agradeço a todos aqueles que se empenharam para melhorar a história deste livro.

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Introdução

A ideia de escrever este livro em homenagem ao meu avô foi amadurecendo aos poucos. Todas as vezes que me encontrava com ele e ouvia as histórias de fatos acontecidos há muito tempo, com todos os detalhes, e a importância de suas atitudes enérgicas e sábias para resolver as questões mais complicadas da época, fizeram com que eu percebesse a necessidade de registrar a sua experiência de vida.

Ele trabalhou desde menino junto com seus pais e avós. Casou-se com Maria, ambos jovens. Teve a sua pró-pria fazenda e juntos criaram 11 filhos. Hoje, a família conta com 42 netos, 65 bisnetos, 11 tataranetos.

Admiro este senhor centenário, sua conduta inques-tionável e seu passado ilibado e honrado. Pessoa muito simples, aprendeu a ler e a escrever mais ou menos em um mês de aula, lá mesmo, na fazenda. Nunca desfrutou de riquezas que não fossem frutos de seu trabalho junto com a família. Passou por peripécias e também vitórias. Seu lema era: agir corretamente, trabalhar bem a terra, respeitar a família, honrar seus compromissos, ser um ho-mem de palavra e zelar por sua esposa e filhos.

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Após ouvir um pouco mais sobre a história de vida deste casal quase centenário, seus familiares e uma épo-ca distante, estou convicta de que os protagonistas desta história são exemplos de vida para toda família e para as futuras gerações.

Suas histórias na fazenda no interior de Goiás a par-tir de 1915, tão bem relembradas por ele, que viveu ao lado de sua esposa e companheira Maria por 77 anos, destes, a maior parte vivida na fazenda Boa Vista, (apro-ximadamente 65 anos) e o restante em sua casa, situada na Rua Itarumã nº 362, em Jataí − Goiás.

Este livro traz relatos com alguns detalhes de como era viver no interior de Goiás no começo do século XX, longe do conforto, sem contar com tecnologias para auxiliar nas culturas de subsistência. Na época, o trabalho era todo ma-nual e ainda com poucas ferramentas, e o serviço se tornava muito pesado. Era impossível viver sem a força do homem. Uma colheita de arroz, por exemplo, era cortada no facão. O cutelo chegou depois e formavam os feixes da palha com os cachos de grãos maduros. Em seguida, estes eram batidos em jiraus de madeiras para soltar os grãos sobre couro ou barraca. Depois de ensacados, eram transportados em carro de boi e guardados em tulhas.

O primeiro automóvel que apareceu por lá foi por volta de 1950.

Eles viviam isolados e não sabiam o que acontecia em outros estados e no mundo. O rádio só chegou na fazenda por volta dos anos 60.

Apesar de ter as mãos calejadas, amavam-se, viviam em paz e foram muito felizes.

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PrImeIra Parte

um Pouco da História de Goiás e mato Grosso

Antes de iniciar a história de meus avós maternos Sebastião Marçal Gomes e Maria Garcia Gomes, va-mos relembrar um pouco a história do Estado de Goiás e Mato Grosso no final do século XIX e início do sécu-lo XX, com os fatos mais relevantes que influenciaram a economia e a política da época. Este enfoque ajuda a contextualizar as histórias dos protagonistas.

GoiásEm 1748, foi criada a capitania de Goiás, desmem-

brada da de São Paulo que, em 1824, tornou-se provín-cia. Ao mesmo tempo em que as minas começavam a se esgotar, a lavoura e a pecuária se transformavam nas principais atividades econômicas, a partir de 1860.

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A colonização de Goiás deveu-se também à migra-ção de pecuaristas, que partiram de São Paulo, no século XIX, em busca de melhores terras para o gado. Desta ori-gem ainda hoje deriva a vocação do estado para a produ-ção pecuária.

Do final do período monárquico até  1930,  o po-voamento se intensifica graças à atividade agrícola e à construção de ferrovias, que contribuiu para o desen-volvimento das regiões sul, sudeste e sudoeste do estado. Novos povoados se formam a partir de 1888 e até 1930, 12 novos municípios são constituídos e posteriormente derrubados por índios daquela região.

As características mais relevantes do período monár-quico são representadas pela busca de soluções para os problemas econômicos e financeiros e para a pacificação social. A economia da província passa a sustentar-se na pecuária, motivando a migração de: baianos, maranhen-ses, piauienses, mineiros e paulistas.

Esse povoamento oriundo da pecuária, entretanto, apresentou numerosos problemas. Não foi, por exemplo, um povoamento uniforme: caracterizou-se pela má dis-tribuição e pela heterogeneidade do seu crescimento. En-quanto algumas áreas permaneceram estacionárias, ou-tras decaíram (os antigos centros mineradores) e outras, ainda, localizadas principalmente na região centro-sul, surgiram e se desenvolveram em decorrência, sobretudo, do surto migratório de paulistas, mineiros e nordestinos.

A mineração em Goiás teve o seu ápice em 1750. De 1751 a 1770, a extração e a exploração do ouro foram diminuindo drasticamente, e do ano de 1770 adiante,

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a mineração entrou em decadência, o que provocou o abandono de muitos povoados goianos.

O movimento de Independência do Brasil no século XIX não alterou o quadro social e econômico de Goiás. Alguns grupos oligárquicos se destacaram durante o pe-ríodo imperial e permaneceram no poder até as primeiras décadas do século XX, como os Bulhões, os Fleury e os Caiados. No ano de 1818, por carta régia de Dom João VI, a vila tornou-se a cidade de Goiás.  

Após a mineração, a economia goiana, nos séculos XVIII e XIX, passou a se dedicar mais às atividades li-gadas à pecuária e à agricultura, pois com a ruralizarão da sociedade e com o tipo de pecuária exercida na épo-ca, no século XX, Goiás desenvolveu a agricultura como principal atividade econômica. Porém, durante as três primeiras décadas deste século, Goiás continuou atrelado à política oligárquica da Primeira República.

A abolição da escravidão, em 1888, não alterou as condições de trabalho e de moradia dos escravos que vi-viam em Goiás. Aliás, a população de Goiás era constituí-da por uma maioria negra e uma minoria branca.

“O primeiro automóvel que entrou em Rio Verde e Jataí foi um Ford Modelo T de 1916, no dia 22 de agosto de1918”. A abertura de estradas automotivas na região deu-se a partir de 1920, assim como as principais pontes também foram construídas nas primeiras décadas do sé-culo XX. Estes fatos facilitaram o escoamento dos produ-tos, enquanto a construção das novas capitais − Goiânia (1937) e Brasília (1956) − favoreceu a economia.

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Mato GrossoSéculo XVI, quando os primeiros europeus chega-

ram à região do atual estado de Mato Grosso, ela era ha-bitada por uma grande diversidade de povos indígenas, pertencentes, principalmente, a quatro grupos linguísti-cos: tupi, macro-je, aruaque e caribe.

Foram feitas diversas expedições, entre elas as  en-tradas e as bandeiras. As entradas eram financiadas por Portugal e partiam de qualquer lugar do Brasil, não ul-trapassando o Tratado de Tordesilhas. As bandeiras foram financiadas pelos paulistas. Somente eles foram ao oeste, ultrapassando a linha de Tordesilhas.

Durante as bandeiras, em 1718, uma expedição de bandeirantes organizada por Pascoal Moreira Cabral Leme chegou ao Rio Coxipó em busca dos índios coxipo-nés, e logo descobriu ouro nas margens do rio, alterando, assim, o objetivo da expedição.

Em 8 de abril de 1719 foi fundado o Arraial da For-quilha, às margens dos rios dos Peixes, Coxipó e Mutuca. O nome “forquilha” vem do fato de que nesse ponto de encontro dos rios era formado o desenho de uma forqui-lha. Esse núcleo deu origem à atual cidade de Cuiabá. A região do Mato Grosso era subordinada à Capitania de São Paulo, governada por Rodrigo César de Meneses, para fiscalizar a exploração do ouro e da renda. O gover-nador da capitania mudou-se para o Arraial de Cuiabá, que em 1726 foi elevado à categoria de vila, recebendo um novo nome: Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuia-bá. Em 1748, foi criada a  capitania de Mato Grosso,

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concedendo, à coroa portuguesa, isenções e privilégios a quem ali quisesse se instalar.

Cinco anos antes da Proclamação da Independência do Brasil, todas as capitanias se tornaram províncias. O primeiro acontecimento político da época foi a  Rusga, em que os grupos políticos liberais e os conservadores queriam reformas políticas, sociais e administrativas. Em 1864, iniciou-se a Guerra do Paraguai. Paraguai fa-zia fronteira com Mato Grosso (na região do atual Mato Grosso). Mato Grosso participou da guerra com índios, protegendo as fronteiras do estado na época.

A partir de 1748, Mato Grosso e Goiás foram des-membrados da capitania de São Paulo, criando-se, então, a capitania de Mato Grosso.

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a FamílIa

antônIo José Gomes

Pesquisando um pouco as raízes até a 2ª geração dos familiares dos meus avós maternos, percebi que não foi diferente a história do meu tataravô, o sr. An-tônio José Gomes (avô de Sebastião Marçal Gomes, meu avô materno).

Primeiro realizou o fluxo migratório de São Paulo para Mato Grosso, mais ou menos em 1890, e posterior-mente para Goiás, onde se instalou definitivamente em uma grande fazenda chamada Fazenda Campo Belo da Boa Fé, no interior de Goiás, município de Jataí, onde se dedicou à criação de gado e à agricultura de subsistência.

Vamos conhecer um pouco o sr. Antônio José Go-mes: homem de aparência magra, estatura mediana, cor clara, olhos castanhos, cabelos lisos e castanhos. Um ho-mem bonito. Ele era alfabetizado e tinha um livro gran-de em que eram registrados os fatos importantes. Nele anotava as datas de nascimento de filhos e netos. De bom caráter, muito trabalhador e bom zelador de toda sua família. Ensinou ao meu avô a importância de cumprir com pontualidade os compromissos e de ter crédito nos estabelecimentos comerciais da época.

Por volta de 1889, ele morava em Franca, São Paulo, com a esposa D. Maria Cecilia de Jesus, sua mãe já idosa e cinco filhos: Ana Cândida, Jonas, João José, José e Ma-ria, ainda bebê. Passavam por dificuldades financeiras e era muito difícil sustentar a família, em que já somavam oito pessoas. Então, resolveu sair sozinho em busca de emprego.

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Por indicação ele foi parar em Mato Grosso, em uma fazenda chamada Boa Esperança, situada às margens do Rio Corrente, região mais ao centro do Mato Gros-so, onde o proprietário, o sr. José Flavio, já mantinha como principal atividade a criação de gado. Este senhor era paulista, pessoa muito distinta e também muito rica.

O sr. Antônio José conseguiu emprego nessa fa-zenda, que era muito grande. O patrão gostou do tra-balho do sr. Antônio José cuidando do gado. Concedeu algumas regalias ao empregado, como deixá-lo criar seu próprio gado na fazenda (os bezerros enjeitados), e até o pagamento, que era anual, ele fazia parte em bezerros.

Ele foi trabalhando e economizando com a finali-dade de buscar a sua família em São Paulo e recomeçar uma nova vida. Havia perspectiva de vida melhor para toda a família.

Após um ano de trabalho duro ele conseguiu voltar à cidade de Franca para buscar sua família. Arrumaram todos os seus pertences, como a mobília da casa, malas de roupas e as provisões de alimentos, e partiram com a mudança. O meio de transporte da época eram o carro de boi, cavalos e mulas. Foi num carro de boi que toda a família saiu de Franca, São Paulo, em maio de 1890-,com destino à fazenda no Mato Grosso.

Deixaram para trás seus parentes e amigos. Adentra-ram sertão afora, com o carro lotado (toldado), até cobrir a esteira e os fueiros. Este seguia vagaroso, cortando as es-tradas e varando selvas, cantando sem parar. Para alguns marcava a tristeza da partida e para outros era o canto da esperança de novas possibilidades.