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SEBENTA
IMUNOLOGIA BSICA
MARIA JOO
FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DO PORTO
2012/2013
Faculdade de Medicina da Universidade do Porto Sebenta de Imunologia Bsica
1
ndice
2 9 23
36 Organizao e expresso dos genes das imunoglobulina 45
59 74 83
Clulas Natural Killer 91 Tolerncia 95
99
110 116
121 Tabelas-sntese 132 Glossrio de Clusters of Differentiation 136
Esto includos nesta sebenta, resumos de Imunologia Bsica da Faculdade de Medicina da Universidade
do Porto acompanhados por ilustraes e esquemas. Esperamos, pois, que esta sebenta se revele til para
o estudo de Imunologia.
Bom trabalho e votos de sucesso nos exames,
Bernardo Sousa Pinto, Cludia Correia, Filipe Cabral, Gustavo Costa, Ldia Gomes, Maria Joo Cunha,
Maria Joo Domingues, Sara Gil Mata
Faculdade de Medicina da Universidade do Porto Sebenta de Imunologia Bsica
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Antignios
Enquanto os componentes da imunidade inata esto programados para fazer reconhecimento de
padres, reconhecendo caractersticas partilhadas por grupos de molculas estranhas, os anticorpos e
os receptores de clulas T (molculas distintivas do sistema imunitrio adaptativo) tm um maior grau
de especificidade, reconhecendo estruturas moleculares especficas, as quais se designam por
determinantes antignicos ou eptopos.
Assim, os eptopos definem-se como sendo
regies imunologicamente activas de um
imunognio, que se ligam a anticorpos
circulantes ou de receptores membranares
especficos expressos em linfcitos. Por seu
turno, os anticorpos definem-se como sendo
protenas de ligao a eptopos, podendo ser
encontrados sob duas formas (1) como
constituintes das membranas das clulas B; (2) como produtos de secreo de plasmcitos. Note-se que
a regio de um anticorpo capaz de se ligar a um eptopo designa-se por paratopo.
A capacidade de induzir uma resposta imunitria humoral e/ou mediada por clulas designa-se por
imunogenicidade. Assim, apesar de as substncias que induzem uma resposta imune especfica serem
antignios imunognios
De facto, o conceito de antigenicidade diz respeito capacidade de uma molcula se combinar
especificamente com os produtos finais de respostas imunitrias (tais como anticorpos ou TCR). Apesar
de todas as molculas que tm imunogenicidade terem tambm antigenicidade, o contrrio no se
verifica. De facto, algumas molculas de pequenas dimenses, designadas por haptenos, so antignicas
mas carecem de imunogenicidade.
A ligao qumica de um hapteno a
uma grande protena imunognica,
designada por transportador, gera
um conjugado hapteno-
transportador com propriedades
imunognicas. Ora, a imunizao
com este tipo de conjugado leva
gnese de anticorpos especficos
para trs tipos de determinantes
antignicos: o determinante do
hapteno, os eptopos inalterados na
protena transportadora, e os novos
eptopos formados pela combinao
de regies quer do hapteno, quer
da protena transportadora.
Deste modo, um hapteno no
consegue funcionar como um
eptopo imunognico per se.
Todavia, quando vrias protenas de
um nico hapteno esto ligadas a
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uma protena transportadora (ou at a um homopolmero no imunognico), o hapteno torna-se
acessvel ao sistema imunitrio e passa a poder actuar como um imunognio.
Muitas substncias biologicamente importantes, tais como frmacos e hormonas peptdicas e
esterides, podem funcionar como haptenos, de tal modo que os conjugados destes haptenos com
grandes protenas transportadoras podem ser usados para produzir anticorpos especficos para
haptenos. Esses anticorpos so teis para avaliar a presena de vrias substncias no corpo, sendo, por
exemplo, usados nos testes de gravidez.
A imunogenicidade no depende apenas de propriedades intrnsecas de um antignio, mas tambm de
um vasto nmero de propriedades do sistema biolgico particular encontrado pelo antignio, bem
como da maneira como o imunognio apresentado.
Propriedades que contribuem para a imunogenicidade:
No-pertena ao self
Para despoletar uma resposta imune, uma molcula deve ser reconhecida como "non-self" pelo sistema
imunolgico. Caso isso no acontea, verifica-se um fenmeno de tolerncia, ou seja, falta de resposta
imunolgica aps contacto com um antignio (algo que se verifica na presena de antignios do self). De
referir que os antignios que induzem tolerncia designam-se por tolerognios.
aquando do seu desenvolvimento (de facto, os
self reconhec-los como tal).
Os antignios que no forem apresentados aos linfcitos neste perodo crtico podem vir mais tarde a
ser reconhecidos como "non-self" (estranhos) pelo sistema imune, o que pode causar graves patologias.
No que concerne sua provenincia, os antignios reconhecidos como non-self podem ser classificados
como:
Xenoantignios: Os xenoantignios dizem respeito a imunognios no pertencentes a
indivduos da mesma espcie. Assim, os xenoantignios incluem os patogneos, as exotoxinas
(substncias com forte antigenicidade e patogenicidade) e os toxoides (exotoxinas que perdem
a toxicidade, mas mantm a sua antigenicidade).
Quando um xenoantignio introduzido num organismo, o grau da sua imunogenicidade
dependente de quo diferente este dos antignios do self. De facto, quanto mais afastadas na
escala filogentica, maior ser a disparidade estrutural entre as molculas. Existem, contudo,
algumas excepes a esta regra - algumas macromolculas (tais como colagnio e citocromo c)
tm sido muito conservadas ao longo da escala filogentica, pelo que geram muito poucas
reaces de imunogenicidade em diversas linhagens de espcies.
Aloantignios: Os aloantignios so imunognios provenientes de diferentes indivduos da
mesma espcie. Assim, os aloantignios incluem os antignios dos sistemas ABO, Rh e MHC,
que so alvo de variaes entre indivduos distintos da mesma espcie.
Auto-antignios: Alguns componentes do "self" (tais como os espermatozides e o tecido da
crnea) so separados do sistema imune de modo muito eficaz (sequestro de antignios), pelo
que se pores destes tecidos forem injectadas numa outra localizao do mesmo organismo,
estas funcionaro como imunognios, nomeadamente, como auto-antignios. Para alm dos
antignios sequestrados, os auto-antignios incluem molculas alteradas de tecidos do self, tais
como antignios de clulas tumorais.
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Peso Molecular
Existe uma correlao entre o tamanho da macromolcula e a sua imunogenicidade. De facto, os
imunognios mais activos tendem a ter uma massa molecular superior a 100.000Da. Geralmente, as
substncias com massa molecular inferior a 5000-10.000Da so imunognios fracos, apesar de se ter
verificado que algumas molculas com massa molecular inferior a 1000 Da tm propriedades
imunognicas.
Composio qumica e heterogeneidade
per se para tornar uma molcula imunognica, pelo que
so necessrias outras caractersticas. A ttulo de exemplo, independentemente do seu tamanho, os
homopolmeros sintticos no so, geralmente, imunognicos. Por oposio, os heteropolmeros so,
normalmente, mais imunognicos que os homopolmeros.
Assim, a complexidade qumica tambm contribui para a imunogenicidade. Sabe-se, por exemplo, que
as protenas, os lipopolissacardeos e os polissacardeos tm forte aco imunognica. Por contraponto,
os cidos nucleicos (excepto se em cadeia simples ou complexados com protenas) e os lipdeos so
fracos imunognios. Contudo, se apresentados convenientemente (conjugados com protenas
transportadoras), os antignios lipdicos tambm podem induzir respostas nas clulas B de facto, a
imunizao de organismos com estes conjugados lpideo-protena permite obter anticorpos altamente
especficos para os lpideos em questo. Este conhecimento apresenta importncia prtica significativa,
sendo, por exemplo, utilizado no doseamento de leucotrienos em asmticos, ou para a deteco de
prednisona em transplantados.
Susceptibilidade ao processamento e apresentao de antignios
O desenvolvimento das respostas humorais e celulares requer a interaco das clulas T com o
antignio previamente processado e apresentado em conjunto com molculas MHC. As macromolculas
maiores, insolveis e agregadas so mais imunognicas que as molculas pequenas e solveis, dado
serem mais prontamente fagocitadas e processadas. Contudo, as macromolculas que no podem ser
degradadas ou apresentadas ligadas ao MHC so consideradas imunognios fracos.
Dosagem de imunognios e via de administrao
A aco dos imunognios dependente da dose em que so administrados. Uma dose insuficiente de
antignio incapaz de estimular uma resposta imune, quer pelo facto de falhar a activao de um
nmero suficiente de linfcitos, quer por, em certos casos, baixas doses de antignios poderem induzir
anergia (ausncia de resposta) ou tolerncia imunolgica. Contudo, doses muito elevadas e persistentes
de antignios tambm podem acabar por tolerncia
Em termos experimentais, sabe-se que, na maior parte dos casos, a administrao de uma dose nica de
imunognios no suficiente para induzir uma resposta imunolgica forte. De facto, a induo de uma
resposta forte requer, frequentemente, a administrao de doses baixas e repetidas ao longo de
algumas semanas. Estas administraes repetidas ("boosters") aumentam a proliferao clonal de
clulas B e T especficas para o antignio, aumentando a populao de linfcitos especficos para o
mesmo.
A via de administrao do antignio tambm influencia fortemente que rgos imunolgicos e que
populaes celulares estaro envolvidas na resposta. A administrao por via sub-cutnea ou intra-
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drmica aumenta a imunogenicidade de um antignio, enquanto a administrao por via oral, inalatria
ou intra-venosa promove a sua tolerncia.
Adjuvantes
Os adjuvantes so substncias que,
quando combinadas com um antignio e
injectadas num organismo, aumentam a
imunogenicidade desse antignio. Os
adjuvantes so frequentemente usados
(nomeadamente na rea da investigao e
na vacinao) para aumentar a resposta
imune de um antignio com
imunogenicidade baixa ou que exista em
baixa quantidade.
Sabe-se que alguns importantes
polirribonucletidos e lipopolisacardeos
bacterianos, por exemplo) so ligandos dos
Toll-like receptors das clulas dendrticas e
dos macrfagos, estimulando assim as
respostas imunes, por via da activao da imunidade inata.
Apesar disso, a contribuio quantitativa de cada adjuvante para o desenvolvimento de uma resposta
imune ainda no est completamente clarificada. De qualquer modo, pode-se dizer que, no cmputo
geral, os adjuvantes parecem exercer pelo menos um dos seguintes efeitos:
Prolongamento da persistncia do antignio;
Aumento da intensidade de sinais co-estimulatrios;
Aumento da inflamao local;
Estimulao da proliferao linfocitria no-especfica.
O nico adjuvante aprovado para uso humano o sulfato de alumnio-potssio (alum), que prolonga a
persistncia do antignio provavelmente, por interaco com os Nod-like receptors (NLR). Quando o
alum misturado com o antignio, este precipita. Ora, a injeco deste precipitado de alum leva a que o
antignio seja libertado mais lentamente a partir do local de injeco, o que aumenta a exposio ao
antignio de alguns dias para vrias semanas. O precipitado de alum tambm aumenta o tamanho do
antignio, aumentando a probabilidade de fagocitose.
Existem ainda adjuvantes gua-leo, no aprovados para uso humano, tais como o adjuvante
incompleto de Freund, que composto por uma soluo aquosa contendo o antignio, leo mineral e
um agente emulsionante (como o mono-oleato de sorbitano). Este agente dispersa o leo em pequenas
gotculas em torno do antignio, que ento libertado de modo muito lento a partir do local de
injeco.
Tanto o alum como os adjuvantes de Freund estimulam uma reaco inflamatria crnica localizada,
que atrai tanto fagcitos como linfcitos. Esta infiltrao celular no local da injeco do adjuvante
resulta frequentemente na formao de um granuloma (massa de clulas densa e rica em macrfagos).
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Gentipo do indivduo imunizado
Mesmo que uma molcula apresente propriedades que contribuem para a imunogenicidade, a sua
capacidade para induzir uma resposta imune vai depender de certas propriedades do sistema biolgico
com o qual contacta.
De facto, a constituio gentica de um indivduo imunizado influencia a resposta imune que este
manifesta, assim como o seu grau de resposta. Ora, de acordo com vrios estudos experimentais, sabe-
se que o controlo gentico da resposta imune encontra-se amplamente dependente dos genes que
codificam para o MHC. Isto significa que os produtos genmicos do MHC, que participam na
apresentao do antignio processado s clulas T, desempenham um papel fundamental na
determinao do grau de resposta aos imunognios. Esta resposta ainda influenciada pelos genes que
codificam para os receptores de clulas B e clulas T, bem como por genes que codificam diversas
protenas envolvidas nos mecanismos de regulao imunitria.
O gentipo do indivduo particularmente importante para definir a sua susceptibilidade a alergnios.
Os alergnios so antignios que despoletam reaces imediatas de hipersensibilidade, as quais se
caracterizam pela produo exacerbada do anticorpo IgE, que se liga aos mastcitos e promove a
libertao de mediadores.
Eptopos
Como anteriormente mencionado, as clulas imunes no interagem nem reconhecem uma molcula
imunognica por inteiro. Em vez disso, os linfcitos reconhecem locais discretos nessa macromolcula,
os quais so designados por eptopos, ou determinantes antignicos. De referir que, j foi demonstrado
que as clulas B e T reconhecem diferentes eptopos na mesma molcula antignica.
Os linfcitos podem interagir com um antignio complexo em vrios nveis da estrutura antignica, ou
seja, um eptopo de uma protena antignica pode envolver elementos da sua estrutura primria,
secundria, terciria ou mesmo quaternria. No caso dos polissacardeos, estes contm normalmente
ramificaes, sendo que os pontos de ramificao contribuem frequentemente para a conformao dos
eptopos.
Normalmente, os eptopos reconhecidos pelas clulas B encontram-se expostos superfcie dos
imunognios (isto porque as clulas B interagem com antignios presentes em soluo). Por oposio,
os eptopos reconhecidos pelas clulas T so geralmente peptdeos derivados da digesto enzimtica de
protenas patognicas, sendo apenas reconhecidos pelo T-cell receptor quando complexados com uma
molcula MHC assim, os eptopos das clulas T podem se encontrar em qualquer local da protena.
Eptopos das clulas B
Os eptopos das clulas B so normalmente constitudos por aminocidos hidroflicos localizados na
superfcie de um imunognio. Assim, estes eptopos so topograficamente acessveis a anticorpos livres
ou ligados membrana das clulas B.
Isto , os eptopos das clulas B devem encontrar-se superfcie das respectivas protenas, de modo a
permitir a ligao dos respectivos anticorpos. Assim, normalmente, os eptopos correspondem a regies
mais salientes da superfcie das protenas, sendo que estas regies so predominantemente
constitudas por aminocidos hidroflicos. Por oposio, as sequncias aminoacdicas "escondidas" no
interior das protenas so predominantemente hidrofbicas, e no podem funcionar como eptopos das
clulas B, a no ser que as respectivas protenas sofram desnaturao.
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Os eptopos das clulas B podem ser de natureza linear ou, mais frequentemente, conformacional. Os
eptopos lineares so constitudos por resduos contguos sequenciais localizados ao longo de uma
cadeia polipeptdica, enquanto os eptopos conformacionais so constitudos por resduos no
sequenciais de segmentos, que se tornam mais prximos quando o antignio adquire uma determinada
conformao estrutural. Note-se que, contrariamente aos eptopos B que so maioritariamente
conformacionais, os eptopos T so de natureza linear.
Os eptopos sequenciais e no sequenciais geralmente comportam-se de maneira diferente quando a
protena desnaturada, fragmentada ou reduzida. A ttulo de exemplo, a fragmentao adequada de
uma protena pode reter eptopos sequenciais sem os alterar, pelo que os anticorpos mantm a
capacidade de se ligar ao seu eptopo. Por oposio, os eptopos no sequenciais so geralmente
eliminados quando uma protena fragmentada, ou quando as suas ligaes dissulfito so reduzidas.
Na sua maioria, os anticorpos gerados aps ligao a protenas globulares ligam-se a essas protenas
apenas quando estas se encontram na sua conformao nativa. Como a desnaturao destes antignios
normalmente muda a estrutura dos seus eptopos, os anticorpos para estas protenas no se ligam a
protenas desnaturadas.
Os eptopos das clulas B tendem a estar localizados em regies flexveis de um imunognio e tm,
frequentemente, mobilidade local. Considera-se que a mobilidade local dos eptopos maximiza a
complementaridade com o local de ligao ao anticorpo, de tal modo que os eptopos mais rgidos
parecem ligar-se menos eficazmente aos respectivos anticorpos. Apesar disso, a ligao de um anticorpo
a um eptopo mais rgido revela maior afinidade que a ligao de um anticorpo a um eptopo mais
flexvel.
A superfcie de uma protena , na sua maioria, potencialmente imunognica, apresentando um grande
nmero de locais antignicos potenciais. Contudo, o nmero de locais antignicos de uma protena
reconhecidos pelo sistema imune inferior ao seu repertrio potencial antignico (ou seja, nem todos
os potenciais locais antignicos de uma protena so reconhecidos pelo sistema imunitrio), sendo que o
reconhecimento de locais antignicos varia entre indivduos da mesma espcie ou diferentes espcies.
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Isto , para alguns indivduos, certos eptopos de um antignio so considerados imunognicos,
enquanto para outros no.
A intensidade da resposta imune despoletada por diferentes imunognios tambm no idntica
alguns imunognios so capazes de induzir uma resposta imune mais pronunciada, sendo designados
por imunognios imunodominantes. A imunodominncia dos eptopos varivel de indivduo para
indivduo e, de facto, pensa-se que a imunodominncia dos eptopos influenciada, no s pelas
propriedades topogrficas intrnsecas do eptopo, mas tambm pelos mecanismos regulatrios do
indivduo.
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MHC e apresentao de antignios
Contrariamente aos anticorpos e aos receptores das clulas B (que so capazes, per se, de reconhecer
um antignio), os receptores das clulas T apenas reconhecem antignios que tenham sido processados
e que sejam apresentados por molculas do complexo major de histocompatibilidade (MHC).
As molculas de MHC so essenciais num contexto de imunidade adaptativa, sendo que o conjunto
particular de MHC expressas por um indivduo influencia o repertrio de antignios para os quais as
clulas TC e TH respondem.
Consideraes genticas
O complexo MHC (complexo HLA) um conjunto de genes dispostos ao longo de um segmento de DNA
sito no brao curto do cromossoma 6. Nesse complexo, existem 121 genes funcionais, os quais se
encontram organizados em regies que codificam trs classes de molculas:
Genes MHC classe I: Codificam glicoprotenas expressas superfcie de quase todas as clulas
nucleadas. As molculas MHC classe I tm como funo a apresentao de antignios
peptdicos s clulas TC.
Existem molculas MHC I clssicas e no clssicas. As molculas clssicas so codificadas pelos
loci A, B e C, sendo expressas na maior parte das clulas. Por oposio, as molculas no-
clssicas so codificadas por outros loci, desempenhando papis mais especficos a ttulo de
exemplo, o HLA-G expresso no citotrofoblasto, impedindo que o feto seja reconhecido como
estranho e que seja rejeitado pelas clulas TC maternas (de qualquer modo, ainda no so
conhecidas as funes de todas as molculas). J o HLA-E expresso em conjunto com as
molculas de MHC I clssicas, desempenhando importantes funes na sinalizao das clulas
Natural Killer.
Genes MHC classe II: Codificam para glicoprotenas expressas, sobretudo, superfcie de
clulas apresentadoras de antignios (macrfagos, clulas B e clulas dendrticas). As molculas
MHC classe II apresentam peptdeos antignicos processados s clulas TH. De referir que, em
termos genticos, as molculas MHC II so codificadas pelos loci DP, DQ e DR.
Existem - de entre essas molculas
destaque para as protenas TAP, LMP, HLA-DM e HLA-DO (vide infra).
Genes MHC classe III: Codificam para protenas com funo imune, que so secretadas. Essas
protenas incluem elementos do sistema de complemento e molculas envolvidas na
inflamao.
A regio dos genes do MHC classe III encontra-se flanqueada pelas regies dos genes da classe I
e da classe II. Essa regio codifica molculas fundamentais para a funo imunitria, mas que
apresentam poucas coisas em comum (quer em termos funcionais, quer em termos estruturais)
com as molculas MHC classe I/II. De facto, os produtos codificados pela regio MHC classe III
incluem:
Protenas do complemento C4, C2 e factor B;
TNF e outras citocinas inflamatrias;
Enzima 21-hidroxlase e outras molculas que no participam na funo imunitria
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Os loci que constituem os MHC so altamente polimrficos. Todavia, os genes MHC encontram-se muito
perto uns dos outros, de tal modo que a frequncia de recombinao (ou seja, a frequncia de
ocorrncia de crossing-over durante a meiose) muito reduzida. Deste modo, a maior parte dos
indivduos herda um hapltipo (conjunto de alelos) de cada progenitor, sem que o hapltipo (na maior
parte dos casos) tenha sofrido recombinao.
Os alelos do MHC so co-dominantemente expressos. Isto , em cada clula, so simultaneamente
expressas molculas de origem paterna e as molculas de origem materna. Assim, um indivduo pode
partilhar dois hapltipos de MHC com um seu irmo, sendo que a probabilidade de tal acontecer
prxima de . Ora, indivduos que partilhem dois hapltipos do MHC designam-se por HLA-idnticos.
Todavia, nenhum indivduo ser compatvel com os seus progenitores. De facto, cada descendente
apenas pode partilhar um hapltipo de MHC com os seus progenitores nessas situaes, os indivduos
so referidos como haplo-indnticos.
Apesar de a taxa de recombinao por crossing-over ser baixa para os genes MHC, este fenmeno
contribui significativamente para a diversidade de loci nas populaes humanas. Assim, como resultado
da recombinao e de outros mecanismos que permitem gerar mutaes, muito difcil que dois
indivduos no-relacionados apresentem conjuntos idnticos de genes MHC.
Molculas MHC classe I
Em termos estruturais, as molculas de MHC classe I so constitudas por duas cadeias:
: Glicoprotena transmembranar codificada pelos genes polimrficos das
regies A, B e C do complexo MHC.
o Trs domnios externos 1 2 3), cada um com cerca de 90 aminocidos.
o Domnio transmembranar (cerca de 25 aminocidos)
o Segmento citoplasmtico (cerca de 30 aminocidos)
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-microglobulina de 12 kDa: Protena altamente conservada, codificada por um gene
expresso num cromossoma distinto. Esta cadeia similar em tamanho e organizao ao
- -microglobulina
no contm uma regio transmembranar.
Por outro lado, podemos considerar que as molculas de MHC apresentam dois pares de domnios
interactuantes:
Um par distal 1 2;
Um par proximal 3 2 microglobulina.
Os domnios 1 2 interagem
entre si, formando uma
anti-paralelas entre duas
-hlice. Esta
estrutura forma uma fenda
-hlices e cujo pavimento
Esta fenda encontra-
se superfcie das molculas
MHC classe I, sendo
responsvel pela ligao aos
peptdeos antignicos de
facto, esta fenda suficiente
grande para permitir a ligao
de um peptdeo com 8-10
aminocidos.
3 e
2-microglobulina apresentam,
cada um, duas
aminocidos dispostos anti-paralelamente. Ora, conhecendo esta estrutura, torna-se fcil de
2-microglobulina integram a superfamlia das
imunoglobulinas.
O 3 encontra-se altamente conservado entre as molculas de MHC, contendo uma sequncia
que interage com a molcula membranar CD8, a qual expressa nas clulas TC. Por seu turno, a 2-
microglobulina 3 1 e
2). Ora, essas interaces so essenciais para que se forme uma protena MHC I - de facto, as clulas do
tumor de Dandi 2-microglobulina. Essas clulas tumorais produzem as
Interaco MHC classe I-peptdeo
As molculas MHC I ligam-se a peptdeos, apresentando-os a clulas T CD8+. Normalmente, esses
peptdeos so derivados de protenas intracelulares endgenas digeridas no citosol. Subsequentemente,
esses peptdeos so transportados desde o citosol at as cisternas do retculo endoplasmtico rugoso,
onde interagem com as molculas do MHC I - este processo constitui a via citoslica (vide infra).
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Cada tipo de molcula MHC I (A, B e C) liga-se a um conjunto nico de peptdeos. Para alm disso, cada
variante allica de MHC I liga-se a um conjunto distinto de peptdeos. Como cada clula nucleada
expressa 105 cpias de cada molcula MHC I, vrios peptdeos distintos so simultaneamente
apresentados pelos MHC I expressos superfcie celular.
A capacidade de uma dada molcula MHC I se ligar a um amplo espectro de peptdeos depende da
presena de sequncias especficas de aminocidos expressas ao longo de posies definidas desses
peptdeos. Esses resduos de aminocidos ancoram o peptdeo antignico fenda do MHC I, sendo por
isso designados por resduos de ancoragem.
No admira, portanto, que as cadeias laterais dos resduos de ancoragem de um peptdeo sejam
complementares s estruturas de superfcie da fenda da molcula MHC I. Para alm disso, fcil
compreender porque que todos os peptdeos que se ligam a MHC I apresentam aminocidos de
ancoragem sitos no terminal carboxilo (de referir que estes aminocidos so, normalmente, de natureza
hidrofbica). Contudo, perto do terminal amina tambm possvel encontrar aminocidos de
ancoragem.
Em termos quantitativos, basta um nico complexo MHC-
reconhecimento e lise (processos esses que so operados por um linfcito TC com um receptor
especfico para esse complexo).
Molculas MHC classe II
As molculas MHC classe II so constitudas por
uma (33kDa) e por uma (28kDa),
as quais se encontram associadas por interaces
no covalentes. Note-
regio
pela regio HLA-DR apenas emparelha com a
Contudo, se forem da mesma regio, duas cadeias
codificadas por cromossomas distintos podem,
eventualmente, emparelhar
(transcomplementao), embora isso no seja
deveras frequente.
Cada uma destas cadeias apresenta dois domnios
externos, uma poro transmembranar e uma
poro intracelular, de tal modo que as molculas
MHC classe II so glicoprotenas ancoradas
membrana citoplasmtica.
1 2 domnios 1 2. Os 1 1 constituem os
domnios distais do MHC II, formando a fenda de ligao para o antignio. J os 2 2
constituem os domnios proximais do MHC II, apresentando uma estrutura sim Ig fold
explica porque que as molculas MHC II pertencem superfamlia das imunoglobulinas.
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O pavimento da fenda de ligao para o antignio das molculas MHC II constitudo por oito folhas
anti- -hlices. Apesar disso, existem diferenas
entre as fendas do MHC I e do MHC II:
A fenda do MHC I apresenta alguns resduos conservados, os quais se ligam aos resduos terminais dos pequenos peptdeos antignicos. Assim, a fenda do MHC I apresenta uma forma
socket
A fenda do MHC II no apresenta resduos conservados e tem uma forma de sulco aberto
Interaco peptdeo-MHC II
As molculas MHC II ligam-se a peptdeos antignicos, apresentando-os s clulas T CD4+. A maior parte
destes peptdeos antignicos deriva de protenas exgenas (quer do self ou do non-self), as quais so
degradadas pela via endoctica. Assim, a maior parte dos peptdeos associados com o MHC II so
derivados de protenas do self ligadas a protenas, ou de protenas estranhas internalizadas por
fagocitose ou por endocitose mediada por receptores.
Os peptdeos que formam complexos com o MHC II normalmente contm 13-25 resduos aminoacdicos.
Todavia, a capacidade de um peptdeo se ligar ao MHC II depende do seu ncleo central de 13
aminocidos.
Por vezes, os peptdeos antignicos que se ligam ao MHC II apresentam regies conservadas. Porm,
estes peptdeos no apresentam resduos de ancoragem. Assim, as pontes de hidrognio estabelecidas
-se distribudos ao longo do local de ligao, em
vez de se agregarem predominantemente nas extremidades (como acontece com os peptdeos de
ligao ao MHC I).
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Polimorfismos das molculas MHC
Existem inmeras variedades allicas de molculas MHC. Todavia, cada indivduo apenas expressa uma
pequena quantidade de molculas diferentes (at seis molculas MHC I diferentes e at doze molculas
MHC II diferentes). Contudo, este nmero limitado de molculas MHC deve ser capaz de apresentar
uma grande quantidade de peptdeos antignicos diferentes s clulas T. Ora, isto possvel, porque a
ligao de peptdeos s molculas MHC no requer uma especificidade to grande, como a ligao de
um antignio a um anticorpo ou a um receptor de clula T.
Em suma, uma molcula MHC consegue ligar a muitos peptdeos diferentes e alguns peptdeos so
capazes de ligar a vrios MHC. Como j foi referido, a fenda do MHC I fechada em ambos os lados,
enquanto a fenda do MHC II aberta em ambas as extremidades. Como resultado, a fenda do MHC I
liga-se a peptdeos contendo 8-10 aminocidos, enquanto a fenda do MHC II liga-se a peptdeos
contendo 13 a 18 aminocidos.
As molculas MHC expressas por um indivduo so sempre as mesmas ao longo de toda a vida, sendo
que os genes que codificam para estas molculas no se alteram ao longo do tempo (contrariamente ao
que ocorre com os genes que codificam para as imunoglobulinas, que sofrem recombinao gentica).
Assim, a diversidade de molculas MHC gerada por dois processos distintos:
Dentro da mesma espcie, a variedade de molculas MHC resulta da presena de vrios
polimorfismos (existncia de vrios alelos para os loci que codificam para o MHC)
Dentro do mesmo indivduo, a diversidade de molculas MHC depende da existncia de vrios
alelos para cada gene, mas tambm da presena de genes duplicados com funes similares ou
sobreponveis (diz-se que os genes MHC so polignicos).
Os genes MHC I e II so altamente polimrficos, a tal ponto que existem indivduos que apresentam
diferente nmero de genes DRB cadeia
DRA (cad de
facto, existem apenas trs alelos desta cadeia, sendo que mais de 99% dos indivduos partilham um
mesmo alelo. De referir que a variabilidade de cada cadeia do MHC avaliada pelos grficos de Wu-
Kabot.
A enorme quantidade de polimorfismos leva a que existam quase 4x1019
possveis combinaes de
alelos de MHC I e MHC II. Todavia, na prtica, a diversidade de combinaes um pouco menor, uma
vez que se verifica algum desequilbrio de ligao no modo como so transmitidos os alelos MHC. Ou
seja, certas combinaes allicas ocorrem com maior frequncia nos hapltipos de MHC, que o que
seria expectvel caso as recombinaes ocorressem todas meramente ao acaso.
Existem trs hipteses que procuram explicar o porqu da existncia deste desequilbrio de ligao,
nomeadamente:
a) As combinaes mais comuns so mais vantajosas;
b) O crossing-over ocorre mais frequentemente em determinadas regies de DNA;
c) Ainda passaram poucas geraes humanas, de tal modo que ainda no ocorreram os
crossing-over necessrios para o estabelecimento de equilbrio de ligao;
De qualquer modo, sabe-se que existem regies das molculas de MHC mais susceptveis a
apresentarem diversidade essas regies concentram- 2 1 1 do
MHC II.
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Sabe-se ainda que diferentes hapltipos de MHC podem induzir diferente intensidade de resposta
imunitria. Actualmente, existem dois modelos que procuram explicar este fenmeno, ponderando-se,
inclusive, se ambos estaro correctos:
Modelo de seleco dos determinantes: De acordo com esta hiptese, diferentes molculas
MHC II diferem na sua capacidade de se ligarem a antignios processados;
Modelo de lacunas no repertrio: De acordo com este modelo, as clulas T circulantes nem
sempre expressam receptores capazes de reconhecer um dado complexo peptdeo-MHC
(porque muitas foram eliminados no timo).
Regulao da expresso do MHC
Tanto os genes MHC de classe I com os de classe II so flanqueados por sequncias promotoras, s
quais se ligam factores de transcrio especficos (que tanto podem estimular como inibir a transcrio).
Por exemplo, o CIITA e o RFX so dois factores de transcrio que promovem a transcrio MHC II -
defeitos nesses factores esto associados ao desenvolvimento da (nesta
doena, os linfcitos esto desprovidos de molculas MHC II e, por isso, os pacientes apresentam uma
grave imunodeficincia.
A expresso de molculas MHC ainda regulada por vrias citocinas. De facto, os interferes e o TNF
aumentam a expresso celular de MHC I. Por outro lado, o promove a expresso celular de
MHC II (por aumento da expresso de CIITA), incluindo em clulas no-apresentadoras de antignios
(como os queratincitos).
No que concerne aos factores responsveis pela diminuio da expresso do MHC, destaque para os
corticosterides, prostaglandinas e (em situaes muito particulares) o interfero-
MHC tambm diminui na sequncia de uma infeco por certos vrus, nomeadamente:
Citomegalovrus 2-microglobulina;
Adenovrus 12: Induz menor transcrio dos genes TAP (vide infra);
Outros vrus: Induzem menor transcrio dos genes MHC
Por vezes, a menor expresso de MHC I deve-se a menor transcrio dos genes necessrios para o
transporte dos peptdeos antignicos (genes TAP). O bloqueio da expresso dos genes TAP inibe o
transporte dos componentes da molcula MHC I e, como resultado, as molculas MHC I deixam de ser
capaze 2-microglobulina, no podendo ser transportadas para a membrana celular.
Como bvio, a menor expresso de MHC I resulta numa menor resposta imunitria.
Expresso celular de MHC
As molculas MHC I clssicas so expressas na maior parte das clulas nucleadas, embora o seu nvel de
expresso varie entre diferentes tipos de clulas:
Os linfcitos so as clulas que expressam maiores nveis de MHC I;
Os fibroblastos, as clulas musculares e os hepatcitos expressam baixos nveis de MHC I;
Os neurnios e algumas clulas da espermatognese no expressam MHC I.
Em clulas saudveis normais, as molculas MHC I encontram-se ligadas a peptdeos do self resultantes
do turn-over de protenas endgenas. J as clulas infectadas por vrus, expressam vrias MHC I na sua
membrana, cada uma ligada a diferentes peptdeos vricos. Como existem diferenas allicas inter-
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individuais nas fendas do MHC I, diferentes indivduos apresentam capacidade de se ligarem a
diferentes conjuntos peptdicos vricos.
Contrariamente s molculas MHC I, as molculas MHC II so apenas constitutivamente expressas por
clulas apresentadoras de antignios (sobretudo macrfagos, clulas dendrticas e clulas B). Contudo,
algumas clulas no-apresentadoras de antignios (tais como as clulas tmicas ou as clulas T) podem
ser induzidas a expressar MHC II, sob certas condies e sob estimulao de diversas citocinas.
Para alm disso, em alguns casos, a expresso de MHC II depende do estado de diferenciao celular. A
ttulo de exemplo, estas molculas no so detectadas nas clulas pr-B, mas so constitutivamente
expressas na membrana das clulas B maduras. Paralelamente, os moncitos e os macrfagos
expressam baixos nveis de MHC II at serem activados por um antignio - a partir da, passam a
expressar grande quantidade de MHC II.
Clulas apresentadoras de antignios
Para que os antignios possam ser apresentados, estes devero primeiro de ser processados. Ou seja, o
processamento (que ocorre no interior das clulas) converte os antignios em peptdeos antignicos, os
quais podem depois ser apresentados complexados com uma molcula MHC I ou II.
Todas as clulas que expressem MHC I ou II so capazes de apresentar peptdeos s clulas T. Deste
modo, todas essas clulas poderiam ser classificadas como clulas apresentadoras de antignios.
Todavia, por conveno, apenas as clulas que expressam MHC II so designadas por clulas
apresentadoras de antignios (APC). Todas as restantes so simplesmente designadas por clulas-alvo.
As clulas apresentadoras de antignios podem ser classificadas como profissionais ou no-
profissionais. De facto clulas profissionais expressam MHC de forma praticamente constitutiva (com
excepo dos macrfagos no-activados). Por seu turno, as clulas no-profissionais apenas actuam
como APC durante curtos perodos de tempo e durante uma resposta inflamatria sustentada de
facto, estas clulas devero ser induzidas a expressar MHC II ou um sinal co-estimulatrio.
As clulas apresentadoras de antignios profissionais incluem as clulas dendrticas, os macrfagos e as
clulas B:
Clulas dendrticas: So as APC mais eficazes, na medida em que expressam nveis
constitutivamente elevados de MHC II, bem como de molculas co-estimulatrias. Assim, estas
clulas so capazes per se de activar as clulas T naf;
Macrfagos: Devem ser activados por fagocitose de antignios particulados, antes de
expressarem molculas MHC II ou molculas membranares co-estimulatrias (como B7);
Clulas B: expressam constitutivamente MHCII, mas devem ser activados antes de expressarem
molculas co-estimulatrias.
Como quase todas as clulas nucleadas expressam MHC I, quase todas as clulas podem actuar como
clulas-alvo, apresentando antignios s clulas TC. Normalmente, as clulas actuam como clulas-alvo
aps terem sido infectadas por um vrus (ou outros microrganismos), ou caso se tratem de clulas
tumorais, envelhecidas ou transplantadas.
MHC e susceptibilidade a patologias
Alguns alelos do MHC so expressos em muito maior frequncia em indivduos que padecem de certas
doenas. Essas patologias incluem doenas auto-imunes, certas doenas vricas, doenas do sistema de
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complemento, doenas endcrinas (como a doena de Graves e a doena de Addison), doenas
inflamatrias (como a artrite reumatide), doenas malignas (como a doena de Hodgkin), alergias e
perturbaes neurolgicas. De facto, de entre os alelos do MHC mais fortemente associados com o
desenvolvimento de patologia, destaque para os seguintes:
HLA-B27 espondilite arquilosa;
HLA-DR2 narcolepsia;
Hapltipo A3/B14 hemocromatose.
Isto no quer dizer que estes alelos causem as respectivas doenas, at porque estas tm, na maior
parte das vezes, etiologia multifactorial. De facto, os MHC apenas podem condicionar maior
susceptibilidade ao desenvolvimento de doena (por exemplo, codificando molculas que sejam
reconhecidas como receptores vricos ou toxinas bacterianas; ou codificando molculas menos capazes
de activar os linfcitos T).
Vias de apresentao de antignios
O sistema imunitrio recorre
a diferentes vias para
apresentar antignios.
Normalmente, os antignios
endgenos (sintetizados no
interior das clulas) so
processados por via
citoslica e apresentados
superfcie celular
complexados com molculas
MHC I. Por seu turno, os antignios exgenos (ou seja, aqueles que so captados por endocitose) so processados pela via
endoctica e apresentados superfcie celular complexados com molculas MHC II. Deste modo:
A administrao de um inibidor de sntese proteica inibe a apresentao de MHC I, mas no de
MHC II;
A administrao de um bloqueador da endocitose inibe a apresentao de MHC II, mas no de
MHC I.
De referir que, quando um vrus infecta uma clula e ocorre produo vrica no meio intracelular, as
protenas vricas sintetizadas so consideradas antignios endgenos (por serem produzidas no meio
intracelular) e seguem a via citoslica.
Via citoslica
A via citoslica verifica-se para os peptdeos endgenos conjugados com o MHC I. Esses peptdeos
derivam de protenas endgenas, as quais sofreram poli-ubiquitinao, tendo sido seguidamente
degradadas em peptdeos pelo complexo proteossmico (que envolve o proteossoma e um peptdeo
regulador). Contudo, no se sabe ainda como que o sistema imunitrio selecciona peptdeos
particulares para serem expressos com o MHC.
Nas clulas com actividade imune, existe um tipo adicional de proteossoma o imunoproteossoma, o
qual constitudo pelas protenas LMP2, LMP7 e LMP10 trs molculas no-clssicas do MHC II. Note-
-
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imunoproteossoma actua mais rapidamente que o
proteossoma clssico, pensando-se que algumas doenas
auto-imunes resultem de um maior processamento
proteico, em clulas com maiores nveis de
imunoproteossoma. Sabe-se ainda que o
imunoproteossoma encontra-se presente em clulas
infectadas por vrus, o que sugere que este complexo
participa no processamento de protenas vricas para
posterior apresentao.
Os peptdeos gerados no citosol pelo
proteossoma/imunoproteossoma so translocados para o
retculo endoplasmtico rugoso pelas protenas TAP. A
TAP um heterodmero transmembranar (ou seja, atravessa a membrana do retculo endoplasmtico),
sendo constituda pelas subunidades TAP1 e TAP2. Note-se que, para a TAP actuar, esta dever
hidrolisar ATP.
A TAP tem afinidade para peptdeos contendo entre 8 e 16 aminocidos - ora, o MHC I tem afinidade
mxima para peptdeos de 9 aminocidos. Para alm disso, a TAP privilegia o transporte de peptdeos
com aminocidos hidrofbicos no terminal carboxilo, os quais constituem os resduos de ancoragem
preferenciais para as molculas MHC I. Assim, a TAP est optimizada para transportar peptdeos que
interagem com o MHC I. No admira, portanto, que as deficincias de TAP levem ao desenvolvimento
de uma sndrome que apresenta caractersticas de imunodeficincia e auto-imunidade.
Os peptdeos captados pela TAP que no se associam
logo com o MHC, sofrem aco das ERAPs, duas
protenas do retculo endoplasmtico. A ERAP-1
remove o terminal amina dos peptdeos muito
longos, para que estes tenham tamanho ptimo de
ligao. J a ERAP-2 degrada peptdeos muito
pequenos para se associarem com MHC I.
De entre as protenas reticulares, destaque ainda
para a Sec61, que catalisa o transporte de protenas
demasiado grandes para fora do retculo
endoplasmtico. No citosol, essas protenas so
degradadas pelo proteossoma, originando peptdeos
que entram no retculo e so conjugados com o MHC I.
Uma vez compreendido o processo de captao de peptdeos endgenos para o retculo
endoplasmtico, atentemos no modo como se processa a ligao entre estes e as molculas de MHC.
2-microglobulina so sintetizadas separadamente nos ribossomas, sendo que a
juno desses componentes num complexo MHC I estvel requer a presena de um peptdeo no sulco
de ligao de MHC I. Assim, a formao de um complexo MHC I segue vrias etapas, nomeadamente:
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Via endoctica
As APC podem internalizar os antignios por fagocitose, endocitose ou ambos os processos. Os
macrfagos e as clulas dendrticas internalizam os antignios por ambos os processos, enquanto as
restantes APC (como as clulas B) internalizam os antignios exclusivamente por endocitose exclusiva.
Aps um antignio ser internalizado, este passa, sequencialmente, para um endossoma precoce, para
um endossoma tardio e para um lisossoma nestas estruturas, o antignio contacta com proteases e
com um pH progressivamente inferior. Deste modo, o processamento antignico pode ser inibido por
agentes qumicos que aumentem o pH dos compartimentos, ou por inibidores das proteases.
Ao sofrer a via endoctica, o antignio degradado em peptdeos de 13-18 aminocidos, os quais se
ligam a molculas MHC II, ficando protegidos de ulterior protelise. Contudo, as APC expressam
simultaneamente MHC I e MHC II, sendo que dever existir um mecanismo para prevenir as MHC II de
se ligarem ao mesmo conjunto de peptdeos que as MHC I.
-se
com a cadeia invariante (CD74). Esta cadeia invariante liga-se fenda das molculas MHC II, impedindo
que esta seja ocupada por peptdeos endgenos do retculo. Para alm disso, a cadeia invariante medeia
o folding
endocticos (via complexo de Golgi).
Os complexos MHC II/cadeia invariante so transportados ao longo da via endoctica. Todavia, medida
que a actividade proteoltica aumenta ao longo da via, a cadeia invariante progressivamente
A calnexina associa- , promovendo o seu folding
2-microglobulina liga-se cadeia
Forma-se uma molcula MHC I, qual se ligam a calreticulina e a tapasina
A tapasina aproxima o transportador TAP da molcula MHC I, fazendo com que esta adquira um peptdeo antignico (a captura do antignio promovida pela TAP)
A ERp57 interage com tapasina e com a calreticulina, permitindo a libertao do complexo MHC I/peptdeo antignico para fora do retculo endoplasmtico rugoso
O complexo MHC I/peptdeo antignico inserido na membrana
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degradada. A clivagem final da
cadeia invariante ocorre ao nvel
dos endossomas, mas um
fragmento desta (o CLIP) mantm-
se ligado ao MHC II, o que previne
a ligao de qualquer peptdeo
prematuro.
Uma molcula MHC II no-clssica
designada por HLA-DM
necessria para catalisar a troca do CLIP por peptdeos antignicos. A HLA-DM no polimrfica nem
expressa superfcie membranar (s no interior do compartimento lisossomal), contrariamente s
restantes molculas MHC II.
A HLA-DO impede a troca entre o CLIP e o peptdeo antignico. De facto, a HLA-DO liga-se HLA-DM,
diminuindo a eficcia da sua reaco. A HLA-DO tambm uma MHC II no-clssica e no-polimrfica,
que s expressa nas clulas B e no timo. Para alm disso, a expresso de HLA-DO no induzida pela
HLA-DM. Em suma, sabe-se que a HLA-DO modula o papel de HLA-DM, mas desconhece-se a relevncia
exacta deste mecanismo.
Tal como acontece com MHC I, a ligao a um peptdeo essencial para manter a estabilidade e
estrutura das MHC II. Aps se formar um complexo MHC II/peptdeo antignico, este complexo
transportado para membrana citoplasmtica onde contacta com pH neutro e assume uma forma
estvel.
Cross-presentation de antignios exgenos
Em alguns casos, as APC podem apresentar antignios exgenos complexados com molculas MHC I
(cross-presentation). Assim, o processo de cross-presentation requer que os antignios internalizados
-se
a MHC I. Desconhece-se o processo
atravs do qual isto ocorre e desconhece-
se se esta uma via alternativa de
apresentao antignica, ou se a nica
via para apresentao de MHC I nas APC.
De qualquer forma, existem muitas
vantagens no processo de cross-
presentation. Este processo permite que
as clulas dendrticas capturem vrus e
processem antignios virais (as clulas
dendrticas s conseguem capturar vrus
por endocitose, pois no apresentam
receptores vricos), o que resulta numa
rpida activao de uma resposta
antivrica, que preceda a ocorrncia de
infeco vrica generalizada.
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Apresentao de antignios no-peptdicos
As clulas T tambm reconhecem antignios no-peptdicos
(lipdicos e glicolpidos). Todavia, esses antignios so apresentados
complexados com membros da famlia CD1 das molculas MHC I
no-clssicas. De facto, as molculas CD1 associam- 2-
microglobulina, formando uma estrutura similar ao MHC I (mas com
uma fenda mais profunda).
As molculas CD1 so codificadas por 5 genes (de A a E):
Os genes CD1A, CD1B e CD1C so expressos em timcitos
imaturos e APC profissionais (sobretudo do tipo dendrtico);
O gene CD1D1 expresso maioritariamente em APC no-
profissionais e clulas B.
As clulas apresentadoras de CD1 so reconhecidas por uma vasta
gama de clulas T (
clulas NKT. Sabe-se ainda, os organelos onde cada uma destas molculas CD1 se expressa so distintos
(por exemplo, o CD1A encontra-se sobretudo expresso em endossomas precoces ou na superfcie
celular).
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Linfcito B
A ontogenia do linfcito B pressupe a ocorrncia
de trs etapas (a primeira das quais independente
da presena de antignios, enquanto as restantes
so dependentes da presena de antignios):
1) Maturao: Gnese de clulas B
imunocompetentes maduras. Este
processo ocorre na medula ssea.
2) Activao: As clulas B ficam activas aps
contactarem com o antignio.
3) Diferenciao: As clulas B activas
diferenciam-se em plasmcitos e clulas B
de memria.
Assim, em termos gerais, antes de abandonarem a
medula ssea, as clulas B imaturas com IgM
membranar sofrem maturao, passando a
expressar simultaneamente IgM e IgD
membranares. Geram-se, assim, clulas B nave que
so enviadas para o sangue e na linfa, sendo
transportadas para os rgos linfides secundrios
(nomeadamente, bao e gnglios linfticos). A,
caso uma clula B seja activada por interaco com
um antignio, esta clula prolifera e diferencia-se,
gerando plasmcitos e clulas B de memria.
Durante a activao e a diferenciao, algumas clulas B sofrem maturao por afinidade (aumento
progressivo da afinidade dos anticorpos para os antignios) e comutao isotpica (alterao do istipo
Maturao da clula B
As primeiras clulas B so geradas no perodo embrionrio, no fgado e medula ssea. Todavia, aps o
nascimento, as clulas B maduras passam a ser produzidas na medula ssea. Estas clulas tm origem
em clulas precursoras linfides, que se
comeam por diferenciar em clulas B
progenitoras (clulas pr-B), as quais
expressam fosfatse membranar CD45R.
Subsequentemente, as clulas pr-B
proliferam e diferenciam-se em clulas B
precursoras (clulas pr-B) todavia, este
processo requer a presena das clulas do
estroma da medula ssea. De facto, as
clulas do estroma da medula interagem
directamente com as clulas pr-B e pr-B
e libertam citocinas (IL-7), promovendo
assim a diferenciao celular.
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Nas fases mais precoces, as clulas pr-B tm de contactar directamente com as clulas do estroma. Em
termos moleculares, isto traduz-se pela ligao estabelecida entre as VLA-4 da clula pr-B com o
VCAM-1 da clula do estroma. Simultaneamente, o c-Kit da clula pr-B liga-se ao SCF das clulas
estromais.
A interaco c-Kit/SCF promove a actividade da cnase de tirosina do c-Kit, o que leva a que a clula pr-
B comece a dividir-se e a diferenciar-se em pr-B. Subsequentemente, a IL-7 secretada pelas clulas do
estroma liga-se ao receptor da IL-7 da clula pr-B, estimulando a maturao desta ltima. Para alm
disso, a IL-7 induz down-regulation das molculas de adeso, de tal modo que as clulas em proliferao
se passam a destacar das clulas do estroma. Assim, as clulas pr-B deixam de contactar com as clulas
do estroma, embora continuem a precisar de IL-7.
A maturao das clulas B depende da ocorrncia de rearranjos no DNA das Ig:
1- Na clula pr-B comea por haver um rearranjo gnico da cadeia pesada Dh-Jh. Este rearranjo
seguido por outro (tambm nas cadeias pesadas) de Vh-Dh-Jh. Quando esse rearranjo est
completo, estamos perante uma clula pr-B.
2- Na clula pr-B ocorre rearranjo gnico das cadeias leves. Esse rearranjo destina a clula B para
uma especificidade antignica. Quando este rearranjo est completo, estamos perante uma
clula B imatura, a qual expressa um BCR capaz de responder a um antignio. Ora, este BCR
De referir que estes rearranjos dependem da actividade das enzimas RAG-1, RAG-2 e TdT. As enzimas
RAG-1 e RAG-2 so necessrias para os rearranjos dos genes que codificam para as cadeias leves e
pesadas. Deste modo, estas enzimas so expressas nas fases pr-B e pr-B. Por seu turno, a TdT insere
N-nucleotdeos nas recombinaes Dh-Jh e Vh-Dh-Jh. Assim, esta enzima s est expressa na fase pr-B.
As clulas B imaturas no se encontram totalmente funcionais. De facto, quando estas clulas
contactam com um antignio, estas entram em apoptose ou em anergia (deixam de responder). Assim,
para se tornarem maduras, as clulas B devem co-expressar IgD e IgM nas sua membranas, o que
envolve a ocorrncia de processamento do RNA, de tal modo que passa a ser produzido um mRNA para
Enquanto as clulas B expressam BCR, as clulas pr-B expressam pr-BCR, que inclui:
1- pseudo-cadeia leve (uma cadeia homloga s cadeias
leves contendo uma regio do tipo varivel, designada por sequncia Vpr-B, e uma sequncia
do tipo constante, designada por ).
2-
Aps gnese do pr-BCR,
cada clula pr-B sofre
mltiplas divises celulares,
sendo que, nessas divises,
ocorre rearranjo dos
diferentes segmentos dos
genes da cadeia leve. Ora,
isto resulta num aumento da
diversidade de anticorpos
produzidos.
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A maturao das clulas B no ocorre sem a presena de vrios factores de transcrio, de entre os
quais se destacam o Sox-4, o BSAP, o EBF e o E2A. Para alm disso, existem alguns marcadores de
superfcie, que permitem identificar cada fase do desenvolvimento celular:
1) Clulas pr-B: Expressam a fosftase CD45R, o , CD19, CD43
(leucosialina), CD24 (HSA) e c-Kit.
2) Clulas pr-B: Expressam todos os marcadores da clula pr-B, com excepo do CD43 e c-
Kit. Passam a expressar CD25 -21) e pr-BCR.
3) Clulas B imaturas: Deixam de expressar pr-BCR e CD25. Passam a expressar BCR.
Eliminao clonal de clulas B
As clulas B produzidas na medula ssea sofrem um processo de seleco negativa. Isto , apenas as
clulas cujos anticorpos no reajam contra antignios do self completam a sua maturao. Por oposio,
as clulas que reagem com molculas do self multivalentes sofrem eliminao clonal (por apoptose) ou
atrasam a sua maturao.
leve do seu receptor, com ajuda da RAG-1 e RAG-2. Se o novo BCR continuar a ser auto-reactivo, ocorre
elimi
auto-reactiva, as clulas escapam seleco negativa e abandonam a medula ssea.
Por outro lado, caso as clulas B apresentem imunoglobulinas que reajam com molculas solveis do
self, estas migram para a periferia sem completarem a sua maturao tornam-se anrgicas. Algo
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semelhante ocorre quando estas clulas reagem com molculas do self, estabelecendo ligaes de baixa
afinidade nessas situaes, as clulas tornam-se ignorantes, ou seja, completam a sua maturao, mas
revelam-se incapazes de ser activadas.
Clulas B1 e clulas B2
As clulas B1 so um subtipo de clulas B, constituindo cerca de 5% da populao de clulas B. Estas
clulas tm origem na medula ssea, sendo que a maior parte no expressa IgD. Para alm disso,
clulas B2), as clulas B1 so capazes de se auto-renovar,
originando clulas B1 nave.
As clulas B1 revestem-se ainda de outras particularidades, nomeadamente:
As clulas B1 expressam CD-5, um marcador associado s clulas T.
Nos tecidos linfides secundrios, existem poucas clulas B1. Todavia, as clulas B1 constituem
a maior parte das clulas B das cavidades pleural e peritoneal.
O repertrio de regies variveis das clulas B1 muito mais restrito que o das clulas B2.
Os anticorpos produzidos pelas clulas B1 ligam-se aos antignios com menor afinidade que os
anticorpos produzidos pelas clulas B2. De facto, considera-se que as clulas B1 produzem IgM
de baixa afinidade.
As clulas B1 respondem melhor a antignios glicdicos que a antignios proteicos.
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A activao das clulas B1 no requer a presena de clulas T.
Nas clulas B1 no comum haver formao de clulas B de memria, comutao isotpica ou
maturao por afinidade (o que explica a baixa afinidade das clulas B1 para os seus
antignios). Em vez disso, as clulas B1 produzem anticorpos multi-especificos (capazes de se
ligar a mltiplos antignios diferentes). Estes dados levantam a hiptese de que as clulas B1
podero contribuir para a imunidade inata.
Antignios timo-dependentes e timo-independentes:
Quando uma clula B encontra um antignio timo-dependente, esta apenas se torna activa se, para
alm de contactar com o antignio, contactar com uma clula TH (e com as citocinas produzidas pelas
clulas TH). Por oposio, os antignios timo-independentes conseguem activar as clulas B, sem que
estas precisem de contactar directamente com clulas TH.
Existem dois tipos de antignios timo-independentes:
a) Antignios timo-independentes tipo 1 (TI-1): Estes antignios so mitognios que activam
vrios clones de clulas B, independentemente da sua especificidade antignica. Em termos
estruturais, estes antignios consistem em molculas altamente repetitivas, tais como a
flagelina, unidades polisacardicas repetidas bacterianas e o lipopolissacardeo (LPS). De facto, o
LPS um componente bacteriano que actua como antignio TI-1, na medida em que activa
simultaneamente os BCR especficos para o LPS e para o Toll-like receptor 4 (TLR 4). Ora, todas
as clulas B expressam TLR, de tal modo que o LPS induz activao das clulas B com BCR
especifico para LPS e sem BCR especifico para LPS (atravs da activao TLR). Assim, passa a
ocorrer produo de um grande conjunto de anticorpos, alguns dos quais podem neutralizar as
bactrias contendo LPS.
b) Antignios timo-independentes tipo 2 (TI-2). Estes antignios diferem dos TI-1 em trs
aspectos:
1) No so mitognios (no so activadores policlonais)
2) Activam clulas B maduras e inactivam clulas B imaturas
3) A proliferao das clulas B e a ocorrncia de comutao isotpica necessita da presena de
citocinas produzidas pelas clulas TH.
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De referir que a resposta humoral aos antignios TI mais fraca que a resposta aos antignios timo-
dependentes. Para alm disso, os antignios TI no induzem a formao de clulas de memria e
induzem pouca comutao isotpica (a IgM a principal Ig secretada nestas situaes).
Activao das clulas B
As clulas B nave so clulas em repouso que esto na fase G0 do ciclo celular. Ora, a activao de uma
clula B faz com que ela reentre no ciclo celular. Todavia, para isso, a clula B precisa de dois sinais:
a) Se o antignio for TI, ambos os
sinais provm da ligao do
antignio imunoglobulina
membranar (mIg);
b) Se o antignio for timo-
dependente, o sinal 1 provm da
ligao do anticorpo ao antignio,
enquanto o sinal 2 provm da
interaco entre o CD40 da clula
B e o CD40L da clula TH.
Receptor das clulas B
O BCR (receptor das clulas B) constitudo por dois componentes:
a) mIg: Corresponde poro de ligao ao antignio
b) : Corresponde ao heterodmero de transduo de sinal. As suas caudas contm um
motivo de 18 resduos designado por ITAM (imunoreceptor tyrosine based activating motif).
Assim, os estmu
cnases. Ora, os resduos fosforilados de ITAM servem de ncora s cnases SyK, que, por sua vez,
fosforilam o BLNK (activando-o). Por seu turno, o BLNK activo serve de ncora BTK e PLC- (que
ficam fosforilados). Ora, isto leva activao de cascatas de sinalizao (que podem envolver a PKC, o
Ca2+
que conduzem a alteraes na expresso gnica, que podem passar pela
estimulao/inibio da transcrio de vrios genes, de entre os quais se destaca o factor NF-
O BCR actua em conjunto com um co-receptor, que permite amplificar a resposta celular B. Este co-
receptor constitudo por trs componentes, nomeadamente:
CD19 Envolvida na transduo de sinal.
CR2 (CD21) Receptor do C3d (fragmento do sistema de complemento)
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TAPA-1 (CD81) Protena transmembranar
Assim, na presena de um antignio
envolvido por C3d, a Ig liga-se ao antignio
e o CR2 liga-se ao C3d. Ora, isto activa a
CD19, que fosforilada por cnases de
tirosina, e serve de ancoragem a vrias
molculas de sinalizao, amplificando
assim o sinal gerado por activao do BCR.
Note-se que este mecanismo de
amplificao permite explicar porque
que clulas B nave com baixa afinidade
para o antignio so capazes de responder
mesmo perante baixas concentraes de
antignio.
O receptor da clula B tambm expresso
em conjunto com o CD22, que inibe a
activao das clulas B. De facto, ao ocorrer activao das clulas B, ocorre fosforilao do motivo
inibitrio da tirosina do imunoreceptor (ITIM) da cauda citoplasmtica do CD22. Subsequentemente,
uma fosfatse de tirosina passa se a ligar aos resduos fosforilados de ITIM, activando outras fosfatses,
que desfosforilam (e inactivam) as molculas envolvidas na transduo de sinal. Assim, o CD22 inactiva
as clulas B, regulando-as negativamente.
Interaco entre clulas T e clulas B
Na presena de antignios timo-dependentes, as clulas B apenas proliferam se, para alm da ligao
antignio/Ig, tiver ocorrido interaco entre a clula B e uma clula TH.
A formao do conjugado B-T permite que as clulas B proliferem. Para alm disso, as citocinas
produzidas pelas clulas T so essenciais para que as clulas B se diferenciem. Assim, quando se forma o
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conjugado B-T, o complexo de Golgi e o centro organizador de microtbulos da clula TH migram em
direco clula B, o que facilita a libertao de citocinas de actuao na clula B. Subsequentemente,
as citocinas actuam nos receptores da IL-2, IL-4 e IL-5, os quais so expressos pela clula B, desde que
esta sofre activao. Assim, este processo resulta na proliferao e diferenciao das clulas B, bem
como na maturao por afinidade e comutao isotpica.
Alguns auto-antignios tm acesso medula ssea. As clulas B com mIgM contra esses antignios no
podem ser eliminadas pelo processo de seleco negativa da medula ssea. Assim, essas clulas
devero ser eliminadas ou inactivadas nos tecidos linfides perifricos.
Resposta humoral primria e secundria
O primeiro contacto de um indivduo com
um antignio exgeno gera uma resposta
humoral primria. Neste tipo de resposta,
a IgM constitui a principal Ig secretada,
embora mais tardiamente possa ocorrer
um aumento proporcional da sntese de
IgG.
Quer na resposta humoral primria, quer
na resposta humoral secundria, existe
lag phase
B sofrem seleco clonal, expanso clonal e
diferenciao em plasmcitos ou clulas de
memria (ou seja, esta fase corresponde ao
tempo que vai desde o contacto com o
antignio at produo macia de anticorpo). A lag phase tem durao varivel, dependendo da
natureza do antignio - todavia, esta fase mais longa na resposta primria, do que na resposta
secundria.
A resposta humoral secundria depende da existncia de clulas B de memria (as quais apresentam
um perodo de semi-vida varivel, podendo existir durante todo o perodo de vida do individuo) e de
clulas T de memria. De facto, a activao das clulas de memria por um antignio induz uma
resposta secundria.
Como referido anter lag phase
magnitude e dura mais tempo que a resposta humoral primria. Para alm disso, na resposta humoral
secundria, h secreo de anticorpos com maior afinidade para o antignio e predominam outros
istipos para alm do IgM (o que leva a que sejam sintetizados anticorpos mais adequados para aquele
antignio em concreto).
Ora, em parte, isto deve-se ao facto de a populao de clulas de memria para um dado antignio ser
maior que a populao de clulas B nave especficas para esse mesmo antignio. Para alm disso, as
clulas B de memria so mais facilmente activadas que as clulas B nave, sendo que nelas existe mais
maturao por afinidade e comutao isotpica.
Note-se que a existncia de clulas B de memria de longa durao responsvel por um efeito
pecado antignico original
similares aos de um antignio com o qual contactamos h muito tempo (por exemplo na infncia),
passam a ser produzidos anticorpos com maior afinidade para o antignio com o qual tnhamos
contactado h muito tempo (por reaco cruzada).
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Resposta humoral secundria contra um conjugado
Quando ocorre contacto com um conjugado (conjunto de um hapteno e de um transportador), este
induz uma resposta imuno-humoral caracterizada pela produo de anticorpos contra os eptopos do
hapteno e do transportador. Assim, de modo a que seja induzida uma resposta humoral contra o
hapteno, este dever estar quimicamente acoplado a uma molcula transportadora.
Ora, de modo a gerar uma resposta secundria para o mesmo hapteno, dever ocorrer contacto com o
mesmo conjugado hapteno-transportador, com o qual houve contacto prvio. Caso o hapteno seja o
mesmo mas a protena transportadora seja diferente, no ocorre resposta secundria anti-hapteno
(efeito do transportador). Assim, a resposta das clulas B imunizadas contra o hapteno requer a
presena de clulas TH CD4+ imunizadas contra a protena transportadora, de modo a que seja induzida
uma resposta contra o conjugado. De referir que as clulas imunizadas contra o hapteno e as clulas
imunizadas contra a protena transportadora, pertencem a populaes diferentes. Note-se ainda que,
por vezes, algumas clulas B reagem a eptopos da protena transportadora.
Esta explicao permite ainda concluir que as clulas B e TH devem reconhecer determinantes
antignicos na mesma molcula, para que ocorra activao das clulas B.
Quando um antignio introduzido no
organismo, este passa se a concentrar em
vrios rgos linfides perifricos. De
facto, os antignios presentes na
circulao sangunea so filtrados pelo
bao, enquanto os antignios presentes
nos tecidos so drenados pelo sistema
linftico at aos gnglios linfticos.
Os gnglios linfticos actuam como
de 90% dos antignios transportados pelos
linfticos aferentes. Note-se que os
antignios ou os complexos antignio-
anticorpos entram nos gnglios linfticos sozinhos, ou associados a clulas transportadoras de
antignios.
Ora, medida que os antignios se deslocam ao longo dos gnglios, estes vo encontrar clulas
dendrticas (no paracortex), macrfagos (ao longo do gnglio) e clulas foliculares dendrticas (nos
folculos e centros germinativos). Estas clulas actuam como clulas apresentadoras de antignios e so
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essenciais para os processos de seleco das clulas B (vide infra). De facto, as clulas foliculares
dendrticas apresentam grandes extenses, onde esto expostos receptores Fc e receptores do
complemento. Esses receptores permitem que as clulas foliculares dendrticas retenham e apresentem
complexos antignio-anticorpos por largos perodos de tempo sua superfcie.
Formao dos centros germinativos
Ao nvel dos gnglios linfticos, as clulas B concentram-se preferencialmente no crtex, enquanto as
clulas TH se concentram, sobretudo, no paracortex. Ora, na presena de um antignio, as clulas B e as
clulas TH especficas para esse antignio migram para a zona de fronteira entre o crtex e o paracortex,
onde interagem entre si, formando conjugados B-T.
Assim, aps as clulas B serem activadas por um antignio, formam-se focos de clulas B em
proliferao, nas proximidades das zonas ricas em clulas T. Subsequentemente, essas clulas B
diferenciam-se em plasmcitos secretores de IgM e IgG. No admira, portanto, que a maior parte dos
anticorpos produzidos durante uma resposta primria provenham desses focos de clulas B.
De referir que, embora estes processos tenham sido descritos para os gnglios linfticos, no bao
ocorrem processos similares.
Alguns dias aps formao dos focos dos gnglios linfticos, algumas clulas B activadas e algumas
clulas TH migram para os folculos primrios. Estes evoluem depois para folculos secundrios, os quais
fornecem um micro-ambiente favorvel para a ocorrncia de interaces entre as clulas B, as clulas TH
e as clulas foliculares dendrticas. Subsequentemente, as clulas B activas e as clulas TH migram para o
centro do folculo secundrio, onde formam um centro germinativo.
Ao nvel dos centros germinativos, ocorre maturao de afinidade, comutao isotpica e formao de
plasmcitos e clulas B de memria. Contudo, apenas os processos de maturao por afinidade e
formao de clulas B de memria requerem a presena de centros germinativos, sendo que a
comutao isotpica e a gnese de plasmcitos podem ocorrer fora desses centros.
Processos ocorridos nos centros germinativos
Durante a primeira etapa de formao dos centros germinativos, as clulas B activadas sofrem intensa
proliferao essas clulas B em proliferao designam-se por centroblastos, concentrando-se na zona
escura dos centros germinativos. Em termos morfolgicos, os centroblastos caracterizam-se pelas suas
grandes dimenses, citoplasma expandido, cromatina difusa, e ausncia (ou quase ausncia) de Ig
membranar.
Posteriormente, os centroblastos originam centrcitos clulas pequenas que no se dividem e que
expressam Ig membranar. Os centrcitos deslocam-se desde a zona escura para uma regio contendo
clulas foliculares dendrticas, a qual se designa por zona clara. A, alguns centrcitos contactam com os
antignios apresentados pelas clulas foliculares dendrticas.
O processo de maturao por afinidade ocorre na zona escura, caracterizando-se, e sendo responsvel,
pelo aumento da afinidade dos anticorpos produzidos ao longo de uma resposta humoral. Este processo
resulta da existncia de hipermutao somtica, ou seja, da existncia de muitas mutaes nos genes
das Ig que respondem ao antignio em questo.
Estas mutaes ocorrem a uma elevada velocidade em cada duas divises celulares, um centroblasto
adquire uma mutao na regio varivel leve ou pesada. Para alm de ocorrerem a elevada velocidade,
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estas mutaes actuam com grande preciso nos genes das Ig, tendo como alvo principal os segmentos
CDR (hipervariveis) dos genes das Ig.
Como as mutaes somticas ocorrem aleatoriamente, estas geram algumas clulas com receptores de
maior afinidade e muitas clulas com receptores de igual ou menor afinidade. Assim, as clulas B com
receptores de elevada afinidade para o antignio tm maior probabilidade de serem positivamente
selecionadas e abandonarem o centro germinativo. J as clulas com receptores de baixa afinidade so
mais susceptveis de sofrerem seleco negativa e, por conseguinte, apoptose.
Este processo de seleco ocorre j na zona clara, entre os centrcitos. De facto, o processo de seleco
depende da capacidade das Ig membranares dos centrcitos reconhecerem e ligarem-se aos antignios
expressos pelas clulas foliculares dendrticas (estes antignios esto ligados a receptores Fc ou do
complemento). Assim, um centrcito cuja Ig membranar se ligue aos antignios expressos nas clulas
foliculares dendrticas, recebe um sinal que essencial para a sua sobrevivncia. Por oposio, os
centrcitos que no recebem esses sinais so eliminados.
Como a quantidade de antignio ligada s clulas foliculares dendrticas limitada, os centrcitos com
receptores de elevada afinidade tm maior probabilidade de se ligarem com sucesso a um antignio e,
como tal, de serem seleccionados positivamente.
Para sobreviver, um centrcito dever ainda receber sinais resultantes da sua interao com uma clula
TH CD4+. Para isso, dever ocorrer interao entre CD40 do centrcito e o CD40L da clula TH, bem como
interao entre o receptor das clulas T (TCR) e o complexo MHC II/antignio (expresso na clula B).
Mais uma vez, os centrcitos que no recebam sinais provenientes das clulas TH so eliminados.
Resta apenas abordar o
processo de comutao
isotpica, to importante para
a gnese de uma resposta
imunitria humoral. Ora, este
fenmeno permite que um
dado domnio VH se associe
com a regio constante de
qualquer istipo. Assim,
continua a ocorrer
especificidade para o antignio
em questo, mas a actividade
efectora biolgica altera-se.
De referir que, a escolha de
qual a classe de Ig a ser
escolhida no processo de comutao isotpica depende muito da aco de vrias citocinas.
Como referido anteriormente, os antignios timo-independentes induzem uma resposta humoral
caracterizada por baixos nveis de comutao isotpica, de tal modo que a maior parte das Ig produzidas
so do tipo IgM. Por oposio, os antignios timo-dependentes induzem uma resposta humoral
caracterizada por elevada taxa de comutao isotpica, sendo libertadas muitas outras Ig para alm da
IgM. Assim, a interao entre o CD40 e o CD40L (ou seja, entre as clulas B e as clulas TH) revela-se
essencial para a ocorrncia de comutao isotpica. No admira, portanto, que dfices nas clulas TH se
possam traduzir por defeitos na comutao isotpica.
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A ttulo de exemplo, a sndrome de hiper-IgM caracteriza-se pela ausncia de expresso de CD40L por
parte das clulas TH. Assim, os pacientes com esta doena ligada ao X no produzem outros istipos,
para alm da IgM. Para alm disso, nesta doena, no ocorre formao de clulas B de memria nos
centros germinativos, nem hipermutao somtica.
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Gnese de plasmcitos e clulas de memria
Apesar de os centros germinativos constiturem importantes locais de produo de plasmcitos, estas
clulas tambm podem ser produzidas noutros locais. Os plasmcitos normalmente no expressam
nveis detectveis de Ig membranares, mas sintetizam uma grande quantidade de Ig secretadas.
Assim, a diferenciao das clulas B maduras em plasmcitos implica uma alterao no processamento
do RNA, de modo a que passe a ser produzida a forma secretada da cadeia pesada (em vez da forma
membranar). Para alm disso, a taxa de transcrio das cadeias leves e pesadas significativamente
maior nos plasmcitos, comparativamente s clulas B.
As clulas B tambm se podem diferenciar em clulas de memria. Existem poucas molculas
membranares que distingam as clulas B nave das clulas B de memria. Isto com excepo das Ig as
clulas B nave expressam apenas IgM e IgD, enquanto as clulas B de memria expressam istipos
adicionais, nomeadamente IgG, IgA, IgE.
Regulao da resposta imune efectora
A resposta imune efectora passvel de ser regulada de vrias formas, sendo que as mais importantes
incluem:
Competio antignica - Os anticorpos competem com clulas B pela ligao ao antignio, o
que inibe a expanso clonal das clulas B. Este mecanismo explica porque que algumas
vacinas no so administradas a bebs com menos de um ano - caso o beb seja imunizado
ainda na presena de anticorpos maternos, a resposta humoral fraca e a produo de clulas
de memria inadequada para conferir
imunidade de longa durao.
Um anticorpo inibe a sua prpria
produo Os complexos antignio-
anticorpo contendo IgG ligam-se aos
, reduzindo
a sinalizao pelo receptor das clulas B
B induz desfosforilao de alguns locais
de BCR, o que est associado a menor
actividade de sinalizao intracelular).
Contudo, os complexos antignio-
anticorpo contendo IgM podem actuar
de modo oposto, promovendo a
activao das clulas B.
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Imunoglobulinas
As imunoglobulinas (anticorpos; Ig) so
constitudas por quatro cadeias peptdicas:
duas cadeias leves (L) e duas cadeias
pesadas (H). Cada cadeia pesada encontra-
se unida a uma cadeia leve por pontes
dissulfureto e por interaes no-
covalentes (pontes de hidrognio e
interaes hidrofbicas), formando um
heterodmero H-L.
Os primeiros 110 aminocidos das regies
terminal amina das cadeias leves e pesadas
variam muito entre Ig de diferente
especificidade antignica. Esses
aminocidos constituem as regies
variveis (V), as quais so responsveis
pela especificidade da Ig note-se que
cada cadeia contm uma regio varivel
(VH ou VL). As regies no-variveis
designam-se por regies constantes (C),
constituindo os locais de ligao aos
glicdeos, tais como os receptores.
Os fragmentos de uma Ig envolvidos na
ligao ao antignio designam-se por Fab,
sendo constitudos pela cadeia leve e pela
pesada constituem os fragmentos Fc. A
separao das Ig em fragmentos Fab e Fc
conseguida com recurso digesto com
papana.
As cadeias leves podem ser do ou do
(existem quatro subtipos de cadeias
leves , os quais so determinados por diferenas na regio constante). De referir que nunca co-existem
os dois tipos de cadeia leve na mesma imunoglobulina.
Por oposio, existem cinco subtipos diferentes de cadeias pesadas (os quais constituem os istipos de
uma Ig), os quais determinam a classe qual pertence a Ig em questo. Assim, existem cinco classes de
Ig:
IgA: expressa (existem dois subistipos)
IgD: expressa
IgE: expressa
IgG: expressa (existem quatro subistipos)
IgM: expressa
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Estrutura molecular das imunoglobulinas
Os aminocidos das Ig dispem-se em
folhas beta-pragueadas anti-paralelas,
que se dobram em domnios
globulares compactos unidos entre si
estrutura
terciria das Ig). A estrutura
quaternria das Ig envolve a
interaco entre os domnios
globulares das cadeias leves e
pesadas, algo que essencial para
conferir funcionalidade s Ig.
Tanto as cadeias pesadas como as
leves contm unidades homlogas de
cerca de 110 aminocidos, as quais se
designam por domnios. As cadeias leves contm um domnio constante (CL) e um domnio varivel
(VL), enquanto as cadeias pesadas contm trs ou quatro domnios constantes (CH) e um domnio
varivel (VH).
Dentro de cada domnio, uma ligao dissulfido intra-cadeia forma uma ansa de cerca de 60
aminocidos. Para alm disso, os domnios formam estruturas compactas - os Ig fold. Cada fold contm
As Ig medeiam funes efectoras atravs dos seus terminais carboxilo, e ligam-se aos antignios atravs
dos seus terminais amina. As regies determinantes de complementaridade (CDRs) constituem as
regies mais variveis dentro dos domnios variveis (regies de hipervariabilidade), constituindo os
locais de ligao aos antignios. Em termos moleculares, as CDRs correspondem a ansas que unem as
poro dos domnios variveis constitui as framework regions (FR).
Na maior parte das vezes, o domnio VH contribui mais para a ligao aos antignios (tem mais resduos
envolvidos) que o domnio VL. Porm, em algumas reaces, a cadeia leve responsvel por interaes
mais importantes.
A ligao de um antignio a um anticorpo induz alteraes conformacionais no antignio, no anticorpo,
ou em ambos. De facto, as ansas CDR so capazes de mudar a sua conformao, o que permite que o
anticorpo assuma a forma complementar mais eficiente para o seu eptopo.
Domnios das regies constantes
Os domnios CH1 e CL servem para estender os braos Fab da Ig, facilitando assim a interaco com o
antignio, e maximizando a rotao dos braos Fab. Para alm disso, essas regies constantes contm
uma ligao dissulfureto, a qual ajuda a manter os domnios VH e VL juntos. Assim, os domnios CH e CL
parecem aumentar o nmero de interaes VH e VL estveis possveis, contribuindo para a diversidade
geral das molculas de anticorpos.
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Regio de charneira
H1 e CH2, a qual no tem
homologia com quaisquer outros domnios. Esta regio de charneira rica em prolina e permite uma
maior flexibilidade das IgA, IgD e IgG, respectivamente - assim, a regio de charneira permite que os
braos Fab possam assumir vrios ngulos entre si. Para alm disso, esta regio tem tambm muitos
resduos de cistena, o que lhe permite estabelecer pontes dissulfureto.
com caractersticas semelhantes.
Assim, a IgA, a IgD e a IgG tm trs pares de domnios nas cadeias pesadas (CH1/CH1, CH2/CH2 e CH3/CH3),
bem como uma regio de charneira. Nessas Ig, o terminal carboxilo encontra-se em CH3. Por oposio, a
IgE e a IgM tm quatro pares de domnios nas cadeias pesadas (CH1/CH1, CH2/CH2, CH3/CH3 e CH4/CH4).
Nessas Ig, o terminal carboxilo encontra-se em CH4.
O domnio carboxilo nas Ig secretadas (sIg) difere do das Ig ligadas membrana (mIg). Nas sIg, o
terminal carboxilo apresenta uma sequncia aminoacdica hidroflica, enquanto nas mIg, o terminal
carboxilo apresenta trs regies:
Sequncia hidroflica extracelular (26 aminocidos)
Sequncia transmembranar de tamanho constante em todos os istipos
Sequncia citoplasmtica (curta)
No incio da sua maturao, as clulas B imaturas expressam somente mIgM. Numa fase mais tardia da
maturao, estas clulas passam a expressar co-expressar mIgD. Por seu turno, as clulas B de memria
podem expressar mIgG, A ou E.
Funes efectoras mediadas por imunoglobulinas
As funes efectoras das imunoglobulinas so da responsabilidade da regio CH, que interage com
outras protenas, clulas e tecidos, exercendo respostas efectoras humorais.
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Opsonizao
A opsonizao caracteriza-se pela ligao das regies variveis das
Ig aos antignios dos microorganismos. Subsequentemente, os
receptores Fc (expressos superfcie de macrfagos e neutrfilos)
ligam-se regio constante das Ig -
patognico membrana dos fagcitos, desencadeando uma via de
transduo promotora da fagocitose, e posterior destruio dos
microrganismos.
Activao do sistema de complemento
A IgM e a maioria das subclasses de IgG (IgG1, IgG2 e IgG3)
apresentam a capacidade de activar o sistema de complemento,
que essencial para a neutralizao de microorganismos,
apresentado aco sinrgica das Ig. De facto, nas proximidades do
loca